Vidas-Secas-9 10 23
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DISCIPLINA: LITERATURA
9º ANO DO ENSINO
FUNDAMENTAL
PROFESSSORA: CONCEIÇÃO NERI
A REALIDADE SOCIAL E LINGUAGEM NO ROMANCE VIDAS SECAS
Fabiano é bruto e duro como a terra seca do sertão e sua linguagem acompanha
isso, ele está sempre dividido entre a revolta e a passividade, sendo que predomina
a segunda devido à linguagem escassa que possui.
Sinhá Vitória tem espírito inconformado, sonha em ter uma cama de couro
como a de um antigo patrão, pois dorme em uma cama de varas, é uma pessoa
queixosa e amargurada pela falta de perspectiva para a família, mas é a única da
família que consegue pensar com clareza.
Os filhos não possuem nomes, são chamados de Menino Mais Novo e Menino
Mais Velho, se tornam a representação do anonimato dos meninos nordestinos; o
mais novo sonha em ser vaqueiro como o pai para impressiona-lo; o mais velho
deseja aprender as palavras, tinha um vocabulário tão minguado que era
comparado a um papagaio morto, valia-se de exclamações e gestos.
A REALIDADE SOCIAL E LINGUAGEM NO ROMANCE
VIDAS SECAS
E, finalmente, a personagem Baleia, a cadela de estimação: considerada como
um membro da família é a personagem mais humanizada, por sempre ter
disponibilidade de ajudar e dar carinho a todos.
No decorrer da análise, Graciliano Ramos demonstra indignação ao
evidenciar as dificuldades sofridas pelos sertanejos. A narrativa denuncia as
condições de miséria e o desamparo social, retrata a seca do sertão nordestino, as
dificuldades sociais e comunicativas, as injustiças, os sonhos, as esperanças e
pequenas alegrias.
Como crítica social, a obra trabalha as raízes da opressão no Brasil,
principalmente no campo brasileiro, para isso cria personagens opressoras e
oprimidas. Através das personagens mostra as dificuldades, tanto sociais como
discursivas, de forma que explora em conjunto a dimensão individual e social de
cada uma, com o objetivo de problematizar as questões sociais em um tom crítico
e denunciativo. A fome, a falta de moradia, a opressão do patrão e do Governo
são elementos que atingem Fabiano e sua família que são desamparados no
campo social e até mesmo no campo discursivo, pela deficiência de
comunicação entre as personagens integrantes da família.
A REALIDADE SOCIAL E A LINGUGEM NO ROMANCE VIDAS
SECAS
No romance nota-se que a linguagem verbal não é parte predominante do cotidiano das
personagens, como consequência é utilizada como arma de opressão pelas outras
personagens da trama sobre a família de Fabiano, colocando-os na condição de seres
oprimidos e marginalizados. Nota-se o pensamento inferiorizado e confuso do protagonista
da obra no capítulo 11 - O soldado amarelo:
Aprumou-se, fixou os olhos nos olhos da polícia, que se desviaram. Um homem. Besteira
pensar que ia ficar murcho o resto da vida. Estava acabado? Não estava. Mas para que
suprimir aquele doente que bambeava e só queria ir para baixo? Inutilizar-se por causa de
uma fraqueza fardada que vadiava na feira e insultava os pobres! Não se inutilizava, não
valia a pena inutilizar-se. Guardava a sua força.
Vacilou e coçou a testa. Havia muitos bichinhos assim, havia um horror de bichinhos assim
fracos e ruins. Afastou-se, inquieto. Vendo-o acanalhado e ordeiro, o soldado ganhou
coragem, avançou, pisou firme, perguntou o caminho. E Fabiano tirou o chapéu de couro.
- Governo é governo.
Tirou o chapéu de couro, curvou-se e ensinou o caminho ao soldado amarelo. (RAMOS,
2002, p. 107)
A REALIDADE SOCIAL E A LINGUAGEM NO ROMANCE
VIDAS SECAS
Observa-se que a realidade vivida por Fabiano e sua família não retrata
somente as dificuldades diante da seca, mostra também o desamparo
social das famílias do Nordeste, as injustiças sofridas pelas camadas menos
favorecidas e oprimida pela miséria e o descaso político. Segundo Rosa
(2002, apud Victor Coelho, 2008), “além do desamparo social (acesso a
moradia, saúde, educação, segurança) está o desamparo discursivo
(formação de valores e ideais), fato que dificulta o sujeito de posicionar-se
e ter voz nas relações de poder e contribui mais ainda para o processo de
exclusão social”.
A REALIDADE SOCIAL E LINGUAGEM NO ROMANCE VIDAS
SECAS
Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabeça. Forjara planos. Tolice,
quem é do chão não se trepa. Consumidos os legumes, roídas as espigas de milho, recorria
à gaveta do amo, cedia por preço baixo o produto das sortes. Resmungava, rezingava,
numa aflição, tentando espichar os recursos minguados, engasgava-se, engolia em seco.
Transigindo com outro, não seria roubado tão descaradamente. Mas receava ser expulso
da fazenda. E rendia-se. Aceitava o cobre e ouvia conselhos. Era bom pensar no futuro,
criar juízo. Ficava de boca aberta, vermelho, o pescoço inchando. De repente estourava:
- Conversa. Dinheiro anda num cavalo e ninguém pode viver sem comer. Quem é do
chão não se trepa.
Pouco a pouco o ferro do proprietário queimava os bichos de Fabiano. E quando não
tinha mais nada para vender, o sertanejo endividava-se. Ao chegar a partilha, estava
encalacrado, e na hora das contas davam-lhe uma ninharia. (RAMOS, 2002, pag. 92)
A REALIDADE SOCIAL E A LINGUGEM NO ROMANCE
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