Lean Healthcare
Lean Healthcare
Lean Healthcare
INSTITUTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO SAÚDE AMBIENTAL E
SAÚDE DO TRABALHADOR
UBERLÂNDIA - MG
2022
RICARDO VILAR CASTELLO
Uberlândia - MG
2022
Ficha Catalográfica Online do Sistema de Bibliotecas da UFU
______________ com dados informados pelo(a) próprio(a) autor(a)._____
C348 Castello, Ricardo Vilar, 1987
2022 Lean Healthcare: Um caminho para melhorias de gestão e
serviços de saúde [recurso eletrônico] / Ricardo Vilar
Castello. - 2022.
CDU: 910.1:61
Programa de
Pós-Graduação Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador
em:
Defesa de: Dissertação de Mestrado Profissional PPGSAT
Matrícula do
11912GST020
Discente:
Nome do
Ricardo Vilar Castello
Discente:
Título do
Lean Healthcare: Um caminho para melhorias de gestão e serviços de saúde
Trabalho:
Área de
Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador
concentração:
Linha de
Saúde do Trabalhador
pesquisa:
Projeto de
Um estudo sobre evidências do Sistema Lean Healthcare: propostas de implementação no
Pesquisa de
serviço de saúde pública
vinculação:
Reuniu-se em web conferência pela plataforma Zoom, em conformidade com a PORTARIA N° 36, DE 19
DE MARÇO DE 2020 da COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR -
CAPES, pela Universidade Federal de Uberlândia, a Banca Examinadora, designada pelo Colegiado do
Programa de Pós-graduação em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador, assim composta: Professores
Doutores: Antônio Carlos Freire Sampaio , da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e orientador do
candidato; Gerusa Gonçalves Moura, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU); Carlos Alberto Póvoa,
da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM).
Iniciando os trabalhos o presidente da mesa, Dr. Antônio Carlos Freire Sampaio apresentou a Comissão
Examinadora e a candidata, agradeceu a presença do público e concedeu ao Discente a palavra para a
exposição do seu trabalho. A duração da apresentação do Discente e o tempo de arguição e resposta
foram conforme as normas do Programa.
A seguir o senhor presidente concedeu a palavra, pela ordem sucessivamente, aos(às) examinadores(as),
que passaram a arguir a candidata. Ultimada a arguição, que se desenvolveu dentro dos termos
regimentais, a Banca, em sessão secreta, atribuiu o resultado final, considerando a candidata:
APROVADA
Esta defesa faz parte dos requisitos necessários à obtenção do titulo de Mestre
O competente diploma será expedido após cumprimento dos demais requisitos, conforme as normas do
Programa, a legislação pertinente e a regulamentação interna da UFU.
Nada mais havendo a tratar foram encerrados os trabalhos. Foi lavrada a presente ata que após lida e
achada conforme foi assinada pela Banca Examinadora.
https://www.sei.ufu.br/sei/controlador.php?acao=documento_imprimir_web&acao_origem=arvore_visualizar&id_documento=4059088&infra_siste... 1/2
03/08/2022 10:02 SEI/UFU - 3615814 - Ata de Defesa - Pós-Graduação
https://www.sei.ufu.br/sei/controlador.php?acao=documento_imprimir_web&acao_origem=arvore_visualizar&id_documento=4059088&infra_siste... 2/2
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador Prof. Sampaio, pela paciência e sabedoria dedicada aos nossos
estudos. Ao estimado corpo docente do Programa de Pós-graduação em Saúde Ambiental
e Saúde do Trabalhador (PPGAT) pelos conhecimentos oferecidos. Aos meus colegas de
turma que compartilharam comigo vivências muito ricas de cumplicidade e troca de
saberes.
Gostaria de agradecer a minha querida, e eterna, equipe do Centro de Educação
Permanente em Saúde (CEPS), pois partilharam comigo minhas angústias, me deram
forças para continuar e tocaram em frente diante das adversidades que passamos.
Guardarei em minha alma os momentos de vitória, de cumplicidade, de amizade, de
sintonia, de muito esforço e dedicação, especialmente tudo que aprendi nesse período tão
importante com essa equipe incrível.
Grato por toda a equipe do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST)
que me estenderam a mão e me acolheram tão bem. Dispostos em seguir uma caminhada
longa de trabalho e perseverança.
Gratidão aos meus pais por tudo o que sou e o que posso ser. Ao meu irmão, que mesmo
de longe me acompanha e torce por mim. Aos meus sogros, por estarem sempre por perto
apoiando.
Minha dedicação e amor as minhas filhas, Mel e Bela. Por elas e com elas, sempre
obstinado em proporcionar o melhor de mim. Agradeço a minha esposa Kati pelo cuidado
e amor parceiro que tem me proporcionado ao longo desses anos. Ela é minha força
inspiradora de iluminação.
RESUMO
Health researchers and managers are looking for sustainable methodologies and
management tools that guarantee quality care with lower costs and waiting times, in
addition to offering adequate working conditions for health professionals and user
satisfaction. Lean Healthcare, known as a lean approach to healthcare, is a set of
concepts, principles and tools used to create and deliver maximum value. It consists of
the commitment of professionals involved in a corporate class to apply scientific
methods, to plan, execute and continuously improve the work environment and service
provided, generating more value to the user. The aim of this study is to study the
application of lean methodology in health systems and their ability to develop
improvements in management and health services. The study is qualified as a literature
review and exploratory literature research, with case analysis on the implementation of
lean tools. In the end, it was observed that the implementation of lean presented itself positively. Given
that, in the case studies presented on the experience of implementing lean resources,
advances were identified by reducing the average patient lead time (average interval
between the beginning and end of a process), leveling the workload of professionals and,
finally, patient satisfaction by reducing the waiting time. In addition, it revealed how to
better readjust human and material resources at the unit. Finally, it was concluded that the
use of lean instruments can be advantageous, because through simple but effective
methodologies, it is possible to create value and eliminate waste, to benefit users and
employees of the health system.
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................14
Contextualização ......................................................................................................................14
Justificativa...............................................................................................................................15
OBJETIVOS ...........................................................................................................................17
Objetivo geral ...........................................................................................................................17
Objetivos específicos ................................................................................................................17
METODOLOGIA E ESTRUTURA DO TRABALHO ......................................................17
Caracterização de pesquisa e de desenvolvimento do trabalho ................................................19
O pensamento lean na saúde .................................................................................................20
O Triângulo Toyota: ferramentas, cultura e sistema de gestão ................................................22
Princípios da filosofia lean .......................................................................................................24
Valor .....................................................................................................................24
Desperdício...............................................................................................................................27
Superprodução ...................................................................................................... 28
Espera ................................................................................................................... 28
Processos inapropriados........................................................................................ 28
Movimentação desnecessária................................................................................ 29
Defeitos................................................................................................................. 29
Potencial Humano.................................................................................................30
Gestão Visual....................................................................................................... 34
Kaizen ................................................................................................................... 3 6
Heijunka................................................................................................................ 37
Kanban .................................................................................................................. 3 8
Gemba................................................................................................................... 39
DMAIC ................................................................................................................. 39
Diagrama de Ishikawa 40
O lean healthcare 41
2 CASOS APLICADOS EM SETORES DA SAÚDE ...................................................... 42
Caso 1 - Aplicação de ferramentas lean em um hospital brasileiro......................................... 42
Resultado do caso prático ..................................................................................... 45
1 INTRODUÇÃO
Contextualização
A temática de lean na saúde é pouco explorada no Brasil e seus estudos ainda são
incipientes considerando a magnitude da literatura internacional das quais se destacam países
como Estados Unidos, Reino Unido, Suécia e Austrália. A aplicação do lean em ambientes
hospitalares demonstra sua aplicabilidade em áreas assistenciais, portanto, a filosofia lean
aplicada aos serviços de saúde já é uma realidade. Alguns hospitais brasileiros, como Sírio
Libanês, Albert Einstein, Instituto de Oncologia do Vale etc. já apresentam benefícios com a
implementação de programas, pois estão utilizando a filosofia lean ou utilizaram ferramentas
na tentativa de diminuir a lotação dos prontos-socorros e melhorar a gestão (PINTO, 2014;
RÉGIS, GOHR, SANTOS, 2018).
Neste sentido, a intenção desta pesquisa será verificar a aplicabilidade do método lean
no setor da saúde, através do estudo de duas experiências em Unidades de Saúde que
utilizaram ferramentas lean para melhorias de seus processos de trabalho frente a assistência
ao paciente e fluxo de atendimento, perfazendo de maneira indireta na satisfação do usuário
do sistema de saúde.
Justificativa
OBJETIVOS
Objetivo geral
Objetivos específicos
Segundo Gil (2002), uma pesquisa pode ser definida como um procedimento racional
e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos.
De acordo com Silva e Menezes (2005), existem várias formas de classificar a
pesquisa. Por essa razão, este trabalho pode ser classificado como Pesquisa Aplicada, pois
tem o interesse de aplicar as ferramentas lean no âmbito dos serviços de saúde, com a
intenção de diminuir os desperdícios nos processos de trabalho e concomitantemente prover
publicações cientificas acadêmicas relacionadas ao tema.
Do ponto de vista da forma dos objetivos do trabalho, segundo Gil (2002), este estudo
pode ser classificado como Pesquisa Exploratória, pois o objetivo da pesquisa, como dito
anteriormente, é estudar a aplicação da metodologia lean em sistemas de saúde e sua
capacidade de desenvolver melhorias de gestão e serviços de saúde.
Do ponto de vista da forma dos procedimentos técnicos, a pesquisa pode ser
considerada Pesquisa Bibliográfica, pois foi elaborada a partir de material já publicado,
utilizando, conforme mencionado anteriormente, as palavras-chave: Lean healthcare; Sistema
enxuto; Lean health.
A análise do material encontrado foi direcionada para atender às questões de pesquisa.
Por isso, identificou-se dois casos da aplicação de ferramentas lean onde o autor do estudo em
questão;—participou ativamente do processo de desenvolvimento da implantação da
metodologia lean no setor da saúde para fazer a análise. Ademais, ao longo do trabalho são
apresentados exemplos de utilização de instrumentos lean.
O trabalho aqui apresentado está organizado e estruturado da seguinte maneira:
Primeiramente; na introdução existe a contextualização e justificativa do tema; além
da apresentação do objetivo geral e objetivos específicos. Em seguida; identifica-se a
metodologia; a caracterização da pesquisa e de desenvolvimento. Finalizando com a
apresentação das fases do trabalho.
Após; designa-se a fundamentação teórica; descrevendo as origens do lean; o
pensamento lean; a filosofia e princípios lean. Expõe-se também 13 ferramentas utilizadas
nessa metodologia e finaliza descrevendo o que é lean healthcare.
Posteriormente; são expostos dois casos de aplicação da metodologia lean em
unidades de saúde. O primeiro caso relata a experiência em um hospital oncológico e o
segundo caso apresenta uma experiência da utilização do pensamento lean em uma unidade
de Atenção Primária.
20
instituição. O lean é um processo de pensamento, mais do que uma simples lista de “como
fazer”, com ferramentas a serem implementadas (GRABAN, 2013). Por isso, compreende-se
a importancia de conhecimento sobre o pensamento e filosofia do lean, relatado a seguir, pois
este estudo cuida para que não seja um manual de ferramentas a serem utilizadas nos
processos de trabalho dos setores envolvidos. Importa-se observar aspectos mais profundos
sobre a execução de determinados ofícios, considerando portanto, aspectos físicos,
intelectuais e ambientais dos setores.
O pensamento lean define o termo lean como enxuto pois proporciona uma maneira
de fazer cada vez mais com menos, menos esforço humano, menos equipamento, menos
tempo e menos espaço.
As unidades de saúde, estão frequentemente tendo que entregar mais, com menos. Os
usuários querem um atendimento preciso, humanizado e eficiente. Numa perspectiva mais
ampla, os usuários querem se sentir saudáveis. O pensamento lean não se limita a concepção
única de “cada vez menos”; segundo Graban (2013), contrariamente, deve-se proporcionar,
sempre de maneira apropriada, mais valor e mais serviços aos usuários, num preço adequado
e entregar exatamente aquilo que os mesmos ensejam. Todavia, o pensamento lean deve ser
contemplado na dimensão de criar preceitos a serem desenvolvidos para que haja portanto
menos desperdício e que agrega mais valor para os envolvidos.
Esse conceito dito por Taiichi Ohno nos remete a refletir que é necessário existir
equilíbrio entre a melhoria contínua e o respeito pelas pessoas. Não se obtém o sucesso de
qualquer instituição apenas com o foco em eliminar desperdícios, isso pode gerar demissões
em massa, aumento incessante da produtividade e trabalho focado apenas na pressão de fazer
22
o melhor, mais rápido e de maneira mais eficiente. O contraponto evidenciado pelo respeito às
pessoas, nos sugere que o lean tende a prezar pela humanização do trabalho e do atendimento.
Logo, considera-se não só os trabalhadores vinculados nos processos, mas também, clientes,
fornecedores, além da comunidade que envolve as instituições.
No sistema de saúde, a humanização do trabalho e respeito pelas pessoas é
fundamental, antes mesmo do diagnóstico e processo de cura do indivíduo. Entende-se que
equivale a essência do cuidado, pois o trato com a pessoa usuária inicia-se logo no primeiro
contato, ou seja, no acolhimento do indivíduo.
Menor Custo
Maior Qualidade Menor lead time
Jidoka
Just in Time
Parar e notificar as
Desenvolver anormalidades
Fluxo Contínuo
Pessoas
Takt Time Trabalho Humano
X
Sistema Puxado Trabalho das
Máquinas
Valor
A ideia central do lean envolve determinar o valor de qualquer processo, com o intuito
de distinguir as etapas de valor agregado de etapas sem valor agregado. Além de eliminar o
desperdício (ou muda, em japonês) para que, consequentemente, cada etapa agregue valor ao
processo (DIANE MILLER, 2005). O valor do produto ou serviço para o lean deve ser
25
definido pela perspectiva do usuário final. No ambiente de unidades de saúde o valor pode ser
observado de maneira mais ampla; pois compreende todas as pessoas envolvidas no processo
de cuidado; seja a família do usuário; funcionários; fornecedores; entre outros. Valor nos
serviços de saúde é um conceito que; segundo Fitzpatrick e Hopkins (1993; apud
MONTEIRO; 2014) pode ser visto no desfecho dos cuidados de saúde (alívio da dor; ausência
de sequelas); condições interpessoais (competência e cortesia dos profissionais de saúde) e
acessibilidade e disponibilidade dos cuidados (tempos de espera e distância entre áreas do
serviço).
A unidade de saúde precisa observar o que é valor para essa série de indivíduos; de
acordo com os processos por eles vivenciados. Nessa lógica deve-se priorizar a segurança do
paciente e seu conhecimento dos resultados diante da perspectiva do cuidado.
Womack; Jones e Ross (2004) descrevem o que é valor dentro dos processos de
trabalho e sugerem dois juízos sobre a atividade no âmbito do serviço. A considerar: atividade
de valor agregado (AVA); atividades sem valor agregado (ASVA).
As atividades de valor agregado e sem valor agregado podem ser vistas na perspectiva
de serviços; pacientes; usuários; funcionários. Entende-se que o interesse dessa abordagem
não é fazer julgamento de valor no trabalho ou funcionários envolvidos nas tarefas; porém de
avaliar durante o fluxo de trabalho aquilo que agrega ou não a eficiência do trabalho;
considerando o usuário final e interessado do serviço. Por isso; as atividades de valor
agregado; num ambiente de saúde podem ser; como exemplo: preparar uma formulação
intravenosa; interpretar o resultado de um exame; administrar medicamentos no paciente;
realizar uma cirurgia; acolher o paciente; entre outros (GRABAN; 2013).
As atividades sem valor agregado (ASVA); segundo Womack; Jones e Ross (2004);
podem ser compreendidas de duas maneiras: Sem valor agregado e necessárias (ASVAN) e
sem valor agregados e desnecessárias (ASVAD).
As ASVAN são aquelas atividades que para o usuário final não possui
representatividade ou até mesmo desconhece o processo. Porém para um bom funcionamento
do trabalho; essas atividades existem e dificilmente são excluídas; tais como: registro de
informações nos sistemas de gerenciamento da unidade de saúde; organização dos frascos de
imunizantes no armário da sala de vacina. Essas atividades; geralmente burocráticas;
organizacionais e administrativas são difíceis de extraí-las dos processos de trabalho por
serem necessária para a organização das tarefas. Porém devem ser feitas de maneira
producente pois para o usuário final; isso não é visto e apreciado. Haja vista que quem
determina valor; são os usuários finais (PINTO; 2014).
26
Logo, as ASVAD são aquelas atividades que, de fato, são consideradas desperdícios,
ou erros na produção e processos. Alguns exemplos, infelizmente identificados nas unidades
de saúde, são: fila de espera, erros de diagnóstico, deslocamentos de profissionais,
encaminhamentos para outros setores, repetição da situação do paciente, entre outros. Essas
atividades devem ser eliminadas dos processos de trabalhos e oferta de serviço ao usuário
final.
Cadeia de Valor
Womack, Jones e Ross (2004 apud GRABAN, 2013) definiram cadeia de valor como:
Graban (2013) deu um exemplo em seu livro referente à cadeia de valor que se ajusta
ao conceito de Womack, Jones e Ross (2004). O autor exemplificou a “resolução de
problemas” como a chegada de um paciente no pronto atendimento, pois é necessário
descobrir o que há de errado com ele. Cadastramento, informações demográficas ou
diagnósticas que orientam ou assessoram o cuidado com o usuário, como “gerenciamento de
informações” e o caminho físico do tratamento ao longo de sua estada no pronto atendimento.
O mesmo autor resume que a cadeia de valor é a jornada do paciente do começo ao fim, a fim
de gerar valor para o usuário final tornando-se, por isso, essencial a eliminação de todas as
fontes de desperdício (MONTEIRO, 2014).
Fluxo Contínuo
que encurtar o tempo entre a matéria-prima e o produto (ou serviço final) levará a uma melhor
qualidade e a um menor custo.
Produção Puxada
Produção puxada significa que um processo inicial não deve produzir um bem ou um
serviço sem que o próximo departamento ou encarregado o solicite (WOMACK; JONES;
ROSS, 2004). Adota-se, portanto, uma lógica Pull (puxar), que atua apenas quando
necessária/pretendida (AMARAL, 2019). No ambiente de saúde, um exemplo de situação
normalmente observada na rede de atenção à saúde é a falta de comunicação entre os setores
primários e secundários por meio da regulação, ou seja, existe uma alta demanda por exames
e consultas pelo setor primário de maneira a sobrecarregar a fila de espera e serviços do setor
secundário.
Desperdício
Superprodução
Produzir muito ou muito cedo. Este desperdício é criado devido à produção de bens
para além da procura. O desperdício da superprodução é normalmente criado por se adiantar
trabalho; contudo quando isto acontece desenvolve aumento da capacidade produtiva; de
materiais; criam-se estoques. De acordo com Amaral (2019) esse princípio advém do
princípio de “puxar”, ou seja; de produzir somente quando necessário.
Espera
Processos inapropriados
Excesso de inventário
Movimentação desnecessária
Defeitos
Potencial Humano
(WORTH et al.; 2013). O fundamento do ciclo PDCA é testar antes de tornar-se uma
mudança permanente (PINTO; 2014).
O ciclo PDCA; conforme a Figura 3; é um método para resolver um problema ou
melhorar um processo; sendo que qualquer mudança proposta é meramente uma hipótese a ser
testada (GRABAN; 2013; PINTO; 2014). Grilo; Souza Junior e Oliveira (2016); lembram que
o plano de ação deverá seguir o conceito SMART (Specific, Measurable, Attainable,
Relevant, Time-bound); em que cada passo deverá ser específico; mensurável; atingível;
relevante e em tempo definido. A primeira etapa; parte do princípio que tem de haver um
planejamento (Plan); onde se elabora um plano de ação contendo todos os objetivos que se
pretendem atingir e os processos a adotar para que os mesmos sejam atingidos (sempre no
sentido de melhoria); em seguida vem a fase da execução (Do); que significa a implementação
dos processos ou atividades previstas; depois; vem a fase de verificação (Check) esta
engloba o monitoramento dos processos e os resultados obtidos de acordo com os objetivos
planejados; prevendo a possível necessidade de reajustes (BAJJOU; CHAFI; EN-NADI;
2017). Por último; a ação (Act); que revê todos os passos anteriores; de forma a modificar
processos; aplicar reajustes; eliminar defeitos ou corrigir eventuais falhas; de forma a
melhorar a qualidade; eficiência e eficácia; e permitindo a implementação final do projeto
(NICOLAY et al.; 2011).
5S
A metodologia 5S, de acordo com Graban (2013), reduz o desperdício pela melhoria
da organização e do gerenciamento visual do local de trabalho. O objetivo da 5S é prevenir a
ocorrência de problemas e criar um ambiente de trabalho que permita que os profissionais
proporcionem o melhor atendimento aos pacientes da forma mais eficiente possível. A
metodologia 5S, segundo Graban (2013), é frequentemente usada como um dos primeiros
métodos lean para atrair a atenção dos colaboradores mediante pequenas melhorias.
O termo 5S deriva de cinco palavras japonesas: seiri, seiton seiso, seiketsu e shitsuke.
A ferramenta 5S é um modelo de prática compreendido como gestão visual, pois ajuda a
enxergar problemas, a reduzir riscos, a aumentar a segurança nos processos e a eliminar
desperdícios. As instituições de saúde têm utilizado novas abordagens para facilitar o
entendimento dos colaboradores na utilização do método, por isso, uma estratégia seria
traduzir a palavras em japonês para melhor compreensão e sentido para os profissionais,
traduzindo as palavras japonesas para o conceito de dar discernimento, ou “senso de”. No
Quadro 1, a seguir, adaptado de Pinto (2014), representa muito bem a lógica do método.
Seiketsu Padronização, Estabelecer padrões para toda a organização com práticas e rotinas
sustentar a reproduzidas da mesma forma, em todo os lugares. Aumenta a
mudança mobilidade funcional e reduz a necessidade de treinamentos. As
melhorias também podem ser aplicadas por toda a organização se
todos seguem os mesmos padrões.
Shitsuke Autodisciplina Para garantir que os novos padrões não sejam abandonados. Pois
apenas sustentando os padrões é que os processos poderão ser
melhorados ao longo do tempo. É a busca da perfeição.
Fonte: PINTO, 2014. Org.: CASTELLO, 2022.
Gestão Visual
Diagrama de Espaguete
O diagrama espaguete facilita criar representações visuais desenhando o real fluxo de
um processo através de um sistema. Com a utilização desta ferramenta, as distâncias
percorridas podem ser determinadas para proporcionar um melhor rendimento do processo de
desempenho do trabalho de um bem ou serviço (ANDERSON; BUTCHER; MORENO,
2010). É uma ferramenta útil para estabelecer o layout ideal de um departamento com base
nas distâncias pelos pacientes ou colaboradores. Esses diagramas muitas vezes demonstram
layouts ineficientes e podem identificar distâncias grandes e desnecessárias que os pacientes
necessitam deslocar entre as etapas de atendimento. A maneira mais simples de criar um
diagrama de espaguete é desenhar um layout do serviço e, em seguida, as linhas que indicam
os fluxos, conforme apresentado na Figura 5, a seguir, demonstrando um exemplo de
aplicação do diagrama de espaguete. Esta ferramenta pode ser utilizada para redesenhar um
processo, mostrando a forma como o fluxo pode ser aperfeiçoado ou reduzido (PHILLIPS;
SIMMONDS, 2013).
Figura 5. Exemplo de aplicação Diagrama de Espaguete
Kaizen
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Kaizen é o termo em japonês para “Melhoria Contínua”. Kai, significa mudar e, zen,
tem sentido de bom, melhor. Ou seja, “Mudança para melhor”, porém é traduzido usualmente
como melhoria contínua (PINTO, 2014). Kaizen permite construir sobre os fundamentos do
trabalho padronizado, por ser um processo diário pelo qual muitas pequenas melhorias são
implementadas de maneira continuada e permanente. Tem como objetivo melhorar
continuamente o fluxo do trabalho, baseando-se em cinco fundamentos: agregar valor,
eliminação de desperdícios, aprimorar a eficiência no local de trabalho, disponibilizar a gestão
visual e, desenvolver o envolvimento dos colaboradores através de melhorias nos processos e
treinamentos. A lógica do kaizen é fomentar a ideia de que o trabalho coletivo prevalece
sempre sobre o individual. De acordo com Graban (2013), os colaboradores devem ser
incentivados a levar sugestões diariamente aos seus colegas ou supervisores, de maneira direta
e sempre que possível. Ademais, é possível uma rápida utilização de ferramentas para a
eliminação de atividades que não geram benefícios. Dessa forma, é possível atingir melhorias
no processo de trabalho e a redução do estresse dos profissionais (HADFIELD et al., 2016).
Os participantes de um “Evento Kaizen” devem contar com o gestor responsável pela
melhoria, que é o líder ou coordenador, juntamente com as pessoas que estão envolvidas
nesse processo, sendo aconselhável incluir representantes de todos os envolvidos, como por
exemplo, os coordenadores de diversas unidades assistenciais, pacientes e familiares, além de
profissionais da assistência direta ao paciente. O Evento Kaizen é dividido em três fases
principais: preparação, o evento propriamente dito e a sustentação da melhoria contínua,
realizada após o encerramento do evento (COSTA, 2015). Por isso, o objetivo do Kaizen,
segundo as autoras, Sinha e Matharu (2019), visa aumentar a qualidade, a melhoria na
produtividade e a redução dos tempos de produção e de espera, tendo grandes impactos no
desempenho e no cotidiano das instituições.
Heijunka
Heijunka é uma palavra japonesa que significa “equilibrar o nível” das cargas de
trabalho ou demandas por serviços, suavizando o fluxo de trabalho e o fluxo do paciente em
toda a organização (GRABAN, 2013). Conforme apresentado anteriormente, essa ferramenta
é um dos três pilares da metáfora da casa Toyota. Uma demanda equilibrada de processos
significa menores exigências de recursos, tanto em pessoal quanto em equipamentos. O lean,
a partir de sua filosofia, propõe identificar fontes de cargas de trabalho desiguais, em japonês,
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significa, mura. Tem como fundamento trabalhar a fim de equilibrar as cargas de trabalho, em
vez de considerar a desigualdade como algo prenunciado e permanente.
Uma das técnicas utilizadas para equilibrar e perceber o nível das demandas no serviço
é a utilização do conceito do tempo takt. Takt é um termo alemão para “batuta” (de maestro),
“equilíbrio” ou “ritmo”. No contexto do pensamento lean, o tempo takt estabelece o equilíbrio
de produção para poder igualar ao ritmo da demanda dos usuários e colaboradores (O
PENSAMENTO... 2013). O mesmo estudo diz que, sem o balanceamento, a qualquer
momento as pessoas ficarão sobrecarregadas de trabalho, enquanto outras estarão sendo
subutilizadas e outras manterão uma carga balanceada. A organização precisa introduzir o
balanceamento do trabalho para reduzir a possiblidade de ocorrência de gargalos e, também
satisfazer as necessidade dos usuários e profissionais.
Kanban
Kanban é um termo japonês que pode ser traduzido como “aviso”, “cartão ou “sinal”.
É um método que se baseia nos conceitos do trabalho padronizado, do 5S e do gerenciamento
visual. Oferece as instituições um método simples, porém efetivo, de administrar suprimentos
e estoques. Essa ferramenta, indica, por exemplo, quando é preciso fazer um novo pedido de
insumo, de qual item e em que quantidade. De acordo com Graban (2013), os sistemas
kanban em geral tem menos quebras de estoque e melhor disponibilidade que os tradicionais
métodos de gerenciamento de materiais.
Um benefício da abordagem kanban é que não se espera até um determinado item
chegar a um nível de estoque muito reduzido para encaminhar o pedido de reabastecimento.
Quando não se utiliza um sistema puxado, por exemplo, nos serviços de atenção às
emergências, é possível um reflexo imediato de superlotação de suas portas de entrada. Nesse
contexto, a ferramenta kanban possui a função de otimizar o tempo de permanência e
contribuir para a melhoria do fluxo do paciente. O tempo de permanência hospitalar é
considerado um indicador de qualidade assistencial e elemento fundamental para o
enfrentamento da superlotação dos hospitais (MASSARO; MASSARO, 2017).
Quando se visualiza o tempo de permanência do paciente no serviço de emergência é
possível intervir em cada etapa do atendimento, a partir da investigação das causas dos atrasos
em cada uma de suas etapas. É importante ressaltar que embora a ferramenta possa ter o
potencial de instigar intervenções, por si só não fará que as melhorias aconteçam
(MASSARO; MASSARO, 2017).
39
Gemba
Gemba é um termo japonês para definir o espaço onde ocorre o trabalho (WOMACK;
JONES; ROSS, 2004). Na prática, significa o gestor compreender as peculiaridades que
envolvem o local onde o trabalho é executado, e no caso da saúde, onde o cuidado é prestado.
Durante a visita ao Gemba é importante observar todos os detalhes dos processos, a
disposição física, e todos os envolvidos, sem preconceitos, culpabilizações e com uma mente
aberta, para identificar quais os problemas vivenciados pelos colaboradores, pacientes e
usuários. De acordo com Carter et al. (2012), ao realizar um programa de melhoria lean em
um Hospital Universitário em Gana, o lean ensina a identificar desperdícios que não são
comumente identificados por análises complexas de dados. Permite, através da visita ao
gemba, conversar com pessoas que estão diretamente ligadas ao processo ou na área em
questão.
Cinco Porquês
DMAIC
1. Define: são definidos os objetivos das atividades que necessitam de melhorias, com
envolvimento dos colaboradores, clientes/usuários e gestores;
2. Measure: medir as características principais do processo, o escopo dos parâmetros e
seus desempenhos;
3. Analyse: identificar as principais causas e determinantes do processo, identificando as
lacunas entre o desempenho atual e o objetivo desejado;
4. Improve: otimizar o desempenho a partir da definição dos planos de ação e
implantação das melhorias propostas;
5. Control: sustentar as melhorias através de medição de desempenho para
acompanhamento das melhorias implantadas no processo.
Diagrama de Ishikawa
L.IIYPER FREQUENT
VISITORS.
2. UNNECLSSARYVSÍTSO
PftACTTTONERS
TllECENTER- 1 OVERWIICLMED B¥
3. TIME-LIMÍTCD CONSULTATONS.
ASStSTANCL. ADMÍNISTRATON
2- OVLRLOAD OF
4. INADEOUATE 1. INCREASE ROLE. UNPLANNED ACTlVíTY
UTÍLEATION ofserviccs 2. ADEQUATE PAT1ENT
3. OVLRLOAD OF
5. INFORMATON RELATÍlF MANAGEMENT
PAPERWORK
TO MEANSOF ACCESS 1 3 OVCRWHELMED
4 LfTTLE HOMOGENEATON
RECEPTON
OF U RG ENT CARC CRITERIA.
4, CONTROLCLNTER ACCESS
5 REPLACEMENT DUETO
USLR AND PAT1LNT DIRLCTON.
ABSENCL
O lean healthcare
O caso prático a ser apresentado foi conduzido por um autor que defendeu sua
dissertação como parte dos requisitos para a obtenção do título de mestre em Engenharia de
Produção. O pesquisador é consultor lean e teve como objetivo expor recomendações para
condução de implantações do lean healthcare. Dessa forma, o autor declarou o seu objetivo
como: Identificar áreas, ferramentas, métodos e, consequentemente, as melhores práticas a
serem empregadas na implantação dos conceitos lean em ambientes hospitalares”.
(BERTANI, 2012).
O objeto de estudo do autor foi o Instituto do Câncer Doutor Arnaldo Vieira de
Carvalho (ICAVC). O instituto é uma instituição filantrópica, desempenhando com 95% das
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internações destinadas aos SUS. O ICAVC possui uma estrutura composta por dois prédios,
Ambulatório e Hospital. O primeiro concentra o corpo administrativo e as operações
ambulatoriais, tais como consultas. O segundo, são realizados os procedimentos definidos
pelo atendimento ambulatorial, tais como cirurgias, quimioterapia, radioterapia e exames
(BERTANI, 2012).
O autor utilizou a ferramenta DMAIC para a condução do projeto lean no fluxo do
paciente quimioterápico. A definição do escopo partiu dos objetivos estabelecidos pela equipe
de trabalho, como: melhorar a assistência ao paciente, reduzindo o tempo até o acesso ao
tratamento para o paciente do ICAVC e melhorar a condição financeira do instituto.
Estabeleceu-se uma equipe lean para operacionalizar o projeto, composta por
especialistas em lean e funcionários do ICAVC. De acordo com o autor, a equipe lean atua de
forma matricial, ou seja, sem autoridade perante os colaboradores do ICAVC. Por isso, o
envolvimento da direção do instituto foi fundamental para apoiar e colaborar com as decisões
da equipe. Foram ministrados treinamentos técnicos, na fase inicial do projeto, sobre os
conceitos gerais de lean, além de momentos de sensibilização com apresentações breves em
reuniões para lideranças do instituto.
O autor utilizou a ferramenta MFV na fase de definição do objetivo do plano de ação.
Essa fase corresponde a primeira letra da ferramenta DMAIC, define, que tem como proposta
definir os objetivos das ações de processos que necessitam de melhorias. Nessa fase foram
realizadas reuniões com lideranças dos setores com a finalidade de esclarecer os fluxos dos
processos. Ademais, foram realizadas diversas visitas ao Gemba para coleta de dados e
verificação das condições atuais dos processos.
Depois de definir o escopo do projeto o autor, junto com a equipe lean, estipularam as
métricas de acompanhamento do projeto, divididas em dois tipos: medida de resultado e
medida de acompanhamento.
As métricas de medida de resultado foram: faturamento de quimioterapia, aplicações
de quimioterapia, lead time entre triagem e 1a sessão de quimioterapia e pacientes triados.
As métricas de medida de acompanhamento foram: alocação da capacidade de
quimioterapia, carregamento da quimioterapia, ocupação da agenda do Sistema Integrado de
Gestão de Atendimento (SIGA), ocupação da agenda SIGA por especialidade.
O MFV dos pacientes do ICAVC, de acordo com Bertani (2012), segue uma trajetória:
utilização das ferramentas e consegue conciliar com a filosofia lean. Espera-se que a conduta
desse procedimento seja efetivada de maneira tão eficiente com profissionais que não
necessariamente tenham formação na metodologia lean.
Por fim, vale destacar sobre a importância do monitoramento dos processos de
trabalho e, se esses, continuaram sendo realizados após a intervenção da consultoria.
Entendendo que a intenção de se conduzir a prática lean em ambientes de saúde é que a
cultura coorporativa seja sensibilizada pelo filosofia lean.
O segundo caso foi apresentado por três autores em um artigo no ano de 2021, no
International Journal of Environmental Research and Public Health. Eles fizeram uma
pesquisa-ação sobre um modelo para a implementação de melhorias lean em ambientes de
saúde aplicados em uma unidade de Atenção Primária à Saúde (APS). De acordo com Tripp
(2005), a pesquisa-ação deve ser contínua e não repetida ou ocasional, porque não se pode
repetidamente realizar pesquisas-ação sobre a prática de alguém, mas deve-se regularmente
trabalhar para melhorar um aspecto dela. Ademais, é uma forma de investigação-ação que
utiliza técnicas de pesquisa consagradas para informar a ação que se decide tomar para
melhorar a prática. Por isso, é sempre deliberativa porque, quando se intervém na prática
rotineira, está se aventurando no desconhecido, de modo que é preciso fazer julgamentos
competentes a respeito daquilo que mais provavelmente aperfeiçoará a situação de maneira
mais eficaz. Portanto, a metodologia do trabalho desenvolvido pelos autores, está de acordo
com o pensamento lean, por considerar os princípios de melhoria contínua baseados em
processos validados.
A pesquisa se concentrou em diagnosticar, analisar e melhorar processos dentro de
uma unidade de APS. As APS constituem o primeiro nível de contato com a comunidade, a
família e o indivíduo como paciente do NHS, o NHS proporciona um amplo nível de
cobertura, reduzindo barreiras financeiras, sociais e geográficas do acesso ao cuidado. O papel
da APS, nesse sistema, de acordo com Santandreu, Mascarell e Sabater (2021), é permitir a
entrega de atividades de promoção, prevenção à saúde, diagnóstico, tratamento e reintegração
social. O atendimento deve atender aos critérios de acessibilidade e continuidade dos serviços,
bem como coordenação com outros níveis de atenção tanto em saúde (especializada e
hospitalar) quanto social (atividades para a comunidade).
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Na primeira fase (considerada como Etapa 0), foi realizada a identificação da equipe e
das pessoas envolvidas. Adiante, a Etapa 1, permitiu a definição dos objetivos gerais e o
alinhamento das fases subsequentes. A Etapa 2 definiu-se o plano de ação e as atividades a
serem executadas. Na Etapa 3 verificou-se os resultados obtidos nas ações propostas.
Posteriormente, na Etapa 4, foi feita uma reflexão e avaliação dos resultados obtidos na fase
anterior. Na Etapa 5, foram realizados reajustes, ou seja, a equipe adaptou as ações já
realizadas e aplicou às novas demandas. Por fim, na Etapa 6, concluiu-se o ciclo com
reflexões e avaliações sobre o ganhos e perdas da utilização de ferramentas de melhorias nos
processos de trabalho dos colaboradores e como isso interferiu no atendimento e fluxo da
unidade de saúde. A seguir, será detalhado cada fase desenvolvida pelos autores:
Todavia, deve-se ter representantes de cada segmento profissional que possa ser
afetado por quaisquer possível mudança de melhoria. Além desses, é fundamental a
participação de representantes da comunidade a fim de estimar o valor agregado dos serviços.
Etapa 1 - Planejamento
O objetivo dessa etapa foi de estabelecer uma visão geral do que está sendo feito,
como está sendo feito e quem está fazendo. Essa etapa permitiu a definição dos objetivos
gerais e o alinhamento das fases subsequentes, com o intuito de identificar alterações que
levarão a possíveis melhorias. Foi avaliado as atividades de processo de saúde da unidade
durante um dia de 7 horas (SANTANDREU; MASCARELL; SABATER, 2021).
O mapa apresentou uma distribuição hierárquica em três níveis de atenção, incluindo
administração, médicos e enfermagem (técnicos e auxiliares de enfermagem), analisando o
fluxo do paciente de acordo com suas necessidades assistenciais. No mapa, foi necessário
destacar a diferenciação feita considerando a assistência exigida pelo usuário, sendo uma
atividade eletiva ou não. Se a necessidade fosse de uma consulta eletiva, o usuário iria da
administração ao consultório médico para sua consulta, pois tinha horário agendado. Por outro
lado, se a demanda não fosse programada, era necessário diferenciar se havia ou não um risco
vital para o cuidado. Se houvesse um risco vital, o médico responsável pelo atendimento de
emergência é notificado da emergência, deixando sua atividade agendada e encaminhando
para auxiliar no atendimento do paciente, enquanto a equipe de enfermagem realiza triagem
específica para classificar o motivo do atendimento de emergência.
Após a análise inicial, essa fase terminou com o estabelecimento dos seguintes
objetivos como prioridades:
• Melhorar a qualidade do atendimento ao paciente;
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enfrentados. Nesta fase, a situação inicial deve ser identificada, determinada e considerada. É
importante que toda a equipe entenda perfeitamente os problemas apresentados por cada
seção e as oportunidades de melhoria existentes, independentemente do papel de cada
membro da equipe, além disso é importante selecionar ferramentas que não sejam
complicadas e sejam facilmente compreendidas pela equipe (SANTANDREU;
MASCARELL; SABATER, 2021).
Após a análise da etapa anterior, foi concluída a análise real da situação em que a
unidade de saúde trabalhava em relação à gestão da agenda e as premissas de melhorias gerais
sobre as quais identificou o trabalho. Para esta tarefa, foi utilizado o Diagrama de Ishikawa, e
por meio de brainstorming ou, tempestade de ideias, foi definido o objetivo de melhorar a
gestão da agenda permitindo a visualização dos nós-críticos ou os sujeitos mais vulneráveis a
possíveis alterações em relação à atividade da unidade. Foram elaboradas 5 estruturas para
identificar a causa-raiz, sendo elas: Fatores dependentes do paciente, fatores dependentes da
equipe de APS; fatores dependentes da organização da unidade; fatores dependentes da
estrutura e fatores dependentes das leis que regulam o NHS.
Dentre as cinco estruturas, quatro delas foram discriminados com itens a serem
melhorados, conforme Quadro 3, a seguir:
O objetivo desta fase foi projetar o processo futuro de como trabalhar para reduzir
ineficiências e alcançar as metas propostas. Com as informações coletadas através da
exposição dos problemas detectados nas fases anteriores foi proposto um plano de
implementação, apresentado no Quadro 4, permitindo-se a reorganização da atividade
assistencial da unidade e, portanto, a gestão da agenda. O que permitiu diferenças
organizacionais e estruturais em termos de demandas do paciente (SANTANDREU;
MASCARELL; SABATER, 2021).
Etapa 2: Implementação
Etapa 5: Reajuste
Etapa 6: Conclusão
podem influenciar a satisfação dos colaboradores no trabalho. Por isso, de forma a identificar
os possíveis efeitos do lean sobre os trabalhadores, Chiavenato (2020) utilizou a teoria de
Maslow, numa hierarquia de necessidades humanas, divididas em cinco estágios e fez relação
com o ambiente de trabalho.
A teoria de Maslow, segundo Motta e Vasconcelos (2006), compreende sobre a teoria
da personalidade e do desenvolvimento humano, independentemente das preocupações com
eficiência organizacional, entendendo que os indivíduos possuem necessidades complexas
que podem ser hierarquizadas. De acordo com os autores, com base nos estudos de Maslow,
passou a ser utilizado o conceito de homo complexus, ou seja, apreende o indivíduo que tem
necessidades ligadas a: ego, desenvolvimento pessoal, aprendizagem e autorrealização. Silva
e Tolfo (2014) relatam que nessa teoria cada indivíduo tem de escalar uma hierarquia de
necessidades, representada num formato de pirâmide, para atingir a sua autorrealização.
Conforme o Quadro 6, a seguir, Chiavenato (2020) relaciona um conjunto de cinco
necessidades da base para o topo: fisiológicas (básicas), segurança, sociais, estima e de
autorrealização, com o trabalho.
comunidade.
Educação, religião, Trabalho desafiante,
entretenimento e crescimento diversidade e autonomia,
5° Autorrealização
pessoal. participação das decisões e
crescimento pessoal.
Fonte: CHIAVENATO, 2020. Org.: CASTELLO, 2022.
realizou um estudo de caso com base numa investigação empírica de recolha de dados, análise
documental e entrevistas em um hospital onde realiza a internação de adultos. A intenção do
autor foi de demonstrar ambos os lados do lean, positivo e negativo, analisando vários pontos
de vista, seja dos líderes tanto dos colaboradores que trabalham diretamente com os pacientes
e usuários. O autor, relatou que foi possível perceber como o lean transforma os processos e
estruturas de trabalho recorrendo a ferramentas como o MFV, Kaizen, PDCA, 5S,
padronização de procedimentos etc., e que podem servir como exemplo a outros serviços ou
unidades hospitalares.
Comprovou-se que o lean não implica demissões, mas sim uma realocação dos
recursos humanos existentes. Com a implementação do pensamento enxuto verificou-se
melhorias no processo de cuidados ao paciente, notadamente em termos de qualidade e
segurança do serviço, visto que as abstenções diminuíram e as reclamações por tempos de
espera quase desapareceram. Assim como a eficiência no atendimento tendo em conta a maior
agilidade refletindo na maior satisfação do paciente (MONTEIRO, 2014).
Por fim, Kaltenbrunner et al. (2019) examinou em que medida e quais mudanças ao
longo do tempo de implementação lean foram associadas a mudanças a longo prazo na
prestação de cuidados, prosperidade e exaustão percebida pelos trabalhadores, com ênfase na
dimensão das demandas e exigências de recursos, percebidos pela equipe. Os autores
realizaram um estudo longitudinal e avaliaram 260 funcionários em 46 unidades de atenção
primária que responderam a uma pesquisa. Foi questionado como a aplicação lean reflete os
julgamentos dos participantes em relação a toda a unidade, considerando: classificações de
cuidados, prosperidade no trabalho, exaustão e as demandas e recursos na prestação do
serviço.
Os resultados foram satisfatórios, pois foi percebido que com aumento da maturidade
lean foi associado ao aumento da satisfação da equipe com a prestação de cuidado e aumento
da prosperidade no serviço. Também foi percebido que a aplicação lean a longo prazo foi
associada com diminuição da exaustão da equipe, mediada pela diminuição da demanda de
emprego. Os resultados indicam que a equipe de atenção primária pode se beneficiar do
trabalho em organizações caracterizadas por alto níveis de maturidade lean e que o cuidado
também pode ser aprimorado conforme percebido pela equipe de saúde
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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