2010 - Zimba, Horácio Francisco
2010 - Zimba, Horácio Francisco
2010 - Zimba, Horácio Francisco
BRASÍLIA - DF
Março - 2010
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
Faculdade de Administração, Contabilidade, Economia e Ciência da Informação
Departamento de Ciência da Informação e Documentação
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação
Horácio F. Zimba
BRASÍLIA – DF
Março - 2010
Z71p Zimba, Horácio Francisco
CDU 002:5/6
Contacto:
Horácio Francisco Zimba
Email: horacio.zimba@uem.mz
Endereço Profissional:
Universidade Eduardo Mondlane,
Faculdade de Veterinária
C.Postal 257
Maputo - Moçambique
A,
À Professora. Dra. Suzana Pinheiro Machado Mueller, pela competência, dedicação e atenção
que sempre demonstrou nos nossos encontros de orientação,
Aos membros da banca, Profa. Dra. Maria Aparecida Moura, Prof. Dr. Michelangelo
Trigueiro, Profa. Dra. Maria Alice Guimarães Borges, Prof. Dr. Rogério Henrique de Araújo e
Prof. Dr. Murilo Bastos da Cunha que aceitaram prontamente participar na avaliação e
aperfeiçoamento deste estudo,
A meus colegas de trabalho, em especial, Dr. Alberto Pondja e Elviro Fraqueza, pelo apoio no
desenvolvimento das atividades profissionais durante os períodos em que estive ausente para
realizar esta pesquisa,
Arthur Schopenhauer
SUMÁRIO
SUMÁRIO.. ............................................................................................................................................................. i
LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................................................ iii
LISTA DE TABELAS ........................................................................................................................................... iv
LISTA DE ANEXOS ............................................................................................................................................. iv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ............................................................................................................. v
RESUMO.... ............................................................................................................................................................ x
ABSTRACT ........................................................................................................................................................... xi
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................. 1
1.1 Apresentação ............................................................................................................................................. 1
1.2 Contextualização da Pesquisa ................................................................................................................... 2
1.3 Definição do Problema .............................................................................................................................. 9
1.4 Objetivo Geral ......................................................................................................................................... 11
1.4.1 Objetivos Específicos .......................................................................................................................... 11
2 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO ......................................................................................................... 12
2.1 Tipo de Estudo ........................................................................................................................................ 12
2.2 Universo e Amostra................................................................................................................................. 13
2.2.1 Documentos Institucionais ................................................................................................................. 15
2.2.2 Bases de Dados Bibliográficas ........................................................................................................... 15
2.2.3 Atores e Gestores da C&T moçambicana........................................................................................... 16
2.3 Variáveis em Estudo ............................................................................................................................... 17
2.4 Pressuposto Básico .................................................................................................................................. 18
2.5 Limitações da Pesquisa ........................................................................................................................... 18
2.6 Coleta, Tratamento e Análise de Dados .................................................................................................. 19
2.6.1 Análise Documental ........................................................................................................................... 19
2.6.2 Análise Bibliométrica ......................................................................................................................... 20
2.6.3 Análise de Conteúdo das Entrevistas ................................................................................................. 20
2.7 Modelo de Análise Adotado .................................................................................................................... 23
3 PRINCIPAIS ABORDAGENS TEÓRICAS DE ANÁLISE DO PROCESSO DE
INSTITUCIONALIZAÇÃO DE C&T NA SOCIEDADE MODERNA ......................................................... 26
3.1 A Ciência e Tecnologia como Atividades Sociais .................................................................................. 27
3.2 Estudos Sobre C&T no Período Pós-Guerras.......................................................................................... 29
3.3 Modelo Linear ou Modelo Tradicional de Produção de Conhecimento .................................................. 32
3.4 Modelos Interativos de Produção de Conhecimento ............................................................................... 34
3.4.1 Novo Modo de Produção de Conhecimento ...................................................................................... 37
3.4.2 Modelo da Tríplice Hélice ................................................................................................................... 42
3.5 A Teoria de Ator-Rede - ANT ................................................................................................................ 45
4 CONTEXTO HISTÓRICO DO SISTEMA DE ENSINO EM MOÇAMBIQUE ............................................ 47
4.1 A Situação da Educação no Período Colonial (1845-1974) .................................................................... 48
4.2 A Situação da Educação no Período da Luta de Libertação (1964-1974) ............................................... 50
4.3 A Situação da Educação no Período Pós-Independência (1975-1992) ................................................... 52
4.4 A Situação da Educação no Período Pós-Guerra Civil (1992-2009) ....................................................... 54
4.4.1 Planos Governamentais e a Evolução do Sistema de Educação ........................................................ 55
4.4.2 Informação Estatística do Ensino Geral e Técnico Profissional, 1998-2008....................................... 55
5 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA C&T EM MOÇAMBIQUE..................................................................... 61
5.1 A Formação da Universidade Moçambicana .......................................................................................... 62
5.1.1 A Herança Portuguesa ....................................................................................................................... 62
5.1.2 A Situação no Período Pós-Independência......................................................................................... 64
5.1.3 Os Programas Econômicos e a Evolução do Setor ............................................................................. 67
i
5.1.4 As Novas IES Públicas (1975-1995) .................................................................................................... 70
5.1.5 A Privatização e Expansão das IES 1996-2009 ................................................................................... 71
5.1.6 Evolução da População Estudantil nos Cursos de Graduação e Pós-Graduação 2003-2007 ............. 73
5.1.7 Evolução do Corpo Docente 2003-2007 ............................................................................................. 77
5.2 As Instituições de Pesquisa de Desenvolvimento ................................................................................... 79
5.2.1 Alguns Dados Sobre Recursos Humanos Vinculados à Instituições de Pesquisa ................................ 82
5.2.2 Despesas com Pesquisa e Desenvolvimento ...................................................................................... 85
5.3 A Dimensão Política e Formação da Comunidade Científica ................................................................. 89
5.3.1 O Movimento de Pós-Graduação no Estrangeiro e a Consolidação de Grupos e Linhas de Pesquisa 93
5.3.2 A Dimensão Política e o Financiamento à C&T .................................................................................. 95
5.3.3 Definição de Políticas e Linhas de Investigação ................................................................................. 99
5.4 A Cooperação Internacional e o Processo de Institucionalização da C&T no País ............................... 101
5.4.1 Rede de Relacionamento entre Moçambique e os Principais Países e Organizações que Financiam o
Setor de C&T .............................................................................................................................................. 103
5.4.2 Atuação de Agências Internacionais de Ajuda Financeira/Institucional na Definição e
Implementação de Programas de Investigação no País ............................................................................ 106
5.5 As Redes de Pesquisa e o Processo de Institucionalização da C&T em Moçambique.......................... 113
5.5.1 Algumas Considerações Sobre o Modelo de Parceria Público Privado no Desenvolvimento da C&T
em Moçambique ........................................................................................................................................ 114
5.5.2 Redes Internacionais de Colaboração Científica e a Evolução do Setor de C&T em Moçambique .. 116
6 A DISSEMINAÇÃO E DIVULGAÇÃO DE INFORMAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA ............. 120
6.1 Indicadores de Produção, Visibilidade e Colaboração Científica ......................................................... 122
6.1.1 Produtividade e visibilidade científica.............................................................................................. 123
6.1.2 Principais veículos de disseminação científica utilizados por autores nacionais ............................. 125
6.1.3 Principais parceiros na produção científica ..................................................................................... 127
6.1.4 Principais Temáticas Pesquisadas no País ....................................................................................... 129
6.2 Publicação em Revistas Internacionais como Resultado do Movimento de Formação em Pós-Graduação
no Exterior ...................................................................................................................................................... 130
6.3 As Instituições Científicas Nacionais, a Organização de Eventos e Edição de Revistas para
Disseminação de Informação .......................................................................................................................... 133
6.4 A Publicação em Veículos Internacionais e o Acesso Local de Informação Científica ........................ 134
6.5 Popularização e Transferência de Informação para Sociedade ............................................................. 135
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................................................... 142
7.1 Herança Portuguesa ............................................................................................................................... 143
7.2 Primeira República ................................................................................................................................ 144
7.3 Segunda República ................................................................................................................................ 149
7.3.1 O ensino superior ............................................................................................................................. 150
7.3.2 A Pesquisa e Desenvolvimento ........................................................................................................ 152
7.3.3 Associações Científicas e Profissionais ............................................................................................. 157
7.3.4 Grupos de Pesquisa .......................................................................................................................... 160
7.4 Síntese do Capítulo ............................................................................................................................... 161
7.4.1 Proposta de Estudos Futuros ........................................................................................................... 162
8 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................ 163
ANEXOS.... ......................................................................................................................................................... 169
ii
LISTA DE FIGURAS
iii
LISTA DE TABELAS
LISTA DE ANEXOS
iv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
v
LEGENDA - NOME DA INSTITUIÇÃO + CÓDIGO DO PAÍS
TH_SA TYGERBERG HOSPITAL UM_MW UNIVERSIDADE DE MALAWI
TU_USA UNIVERSITY OF TULANE UM_TH UNIVERSITY OF MAHIDOL
UA_EG UNIVERSIDADE DE ALEXANDRIA UM_TZ MUHIMBILI UNIVERSITY
UA_NL UNIVERSIDADE DE AMSTERDAM UM_UG MAKERERE UNIVERSITY
UA_PT UNIVERSIDADE DE AVEIRO UM_USA UNIVERSIDADE DE MARYLAND
UA_UK UNIVERSIDADE DE ABERDEEN UM_USA UNIVERSIDADE NEBRASKA
UAB_ES UNIVERSIDADE AUTONOMA DE BARCELONA UM_USA UNIVERSIDADE DE MINNESOTA
UB_BW UNIVERSIDADE DE BOTSWANA UMES_USA UNIVERSIDADE MARYLAND EASTERN SHORE
UB_ES UNIVERSIDADE DE BARCELONA UNC_USA UNIVERSIDADE CAROLINA DO NORTE
UB_IT UNIVERSIDADE DE BOLOGNA UNESP_BR UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
UB_MALI UNIVERSIDADE DE BAMAKO UNICAMP_BR UNIVERSIDADE ESTADUAL CAMPINAS
UB_NO UNIVERSIDADE DE BERGEN UNL_PT UNIVERSIDADE DE NOVA LISBOA
UB_UK UNIVERSIDADE BRADFORD UNUT_UK UNIVERSIDADE NEWCASTLE UPON TYNE
UBC_CA UNIVERSIDADE DE BRITISH COLUMBIA UO_NO UNIVERSIDADE DE OSLO
UC_CA UNIVERSIDADE DE CALGARY UO_UK UNIVERSIDADE DE OXFORD
UC_DK UNIVERSIDADE DE COPENHAGEN UOFS_SA UNIVERSIDADE ORANGE FREE STATE
UC_DK UNIVERSITY OF COPENHAGEN UP_FR UNIVERSIDADE DE PARIS
UC_PT UNIVERSIDADE DE COIMBRA UP_IT UNIVERSIDADE PERUGIA
UC_USA UNIVERSIDADE DE CALIFORNIA UP_MZ UNIVERSIDADE PEDAGOGICA
UCL_BE UNIVERISDADE CATOLICA DE LOUVAIN UP_PT UNIVERSIDADE DO PORTO
UCM_MZ UNIVERSIDADE DE CATOLICA DE MOCAMBIQUE UP_SA UNIVVERSIDADE DE PRETORIA
UCOL_USA UNIVERSITY OF COLUMBIA UPF_ES UNIVERSIDADE POMPEU FABRA
UCSC_IT UNIVERSIDADE CATTOLICA SACRO CUORE UPI_IT UNIVERSIDADE DE PISA
UCT_SA UNIVERSIDADE DE CAPE TOWN UPOITIERS_FR UNIVERSIDADE POITIERS
UD_SN UNIVERSIDADE DE DAKAR UQ_AU UNIVERSIDADE DE QUEENSLAND
UDES_TZ UNIVERSIDADE DE DAR ES SALAAM UR_UK UNIVERSIDADE READING
UEM_MZ UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE URS_IT UNIVERSIDADE ROMA LA SAPIENZA
UF_IT UNIVERSIDADE DE FLORENCE US_AU UNIVERSIDADE DE SYDNEY
UF_JO UNIVERSIDADE DE JORDAN US_HU UNIVERSIDADE DE SZEGED
UF_USA UNIVERSIDADE DA FLORIDA US_IT UNIVERSIDADE DE SASSARI
UFBA_BR UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA US_SA UNIVERSIDADE DE STELLENBOSCH
UFMG_BR UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS US_SE UNIVERSITY OF STOCKHOLM
UFRJ_BR UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO US_SZ UNIVERSITY OF SWAZILAND
UG_BE UNIVERSIDADE DE GHENT USP_BR UNIVERSIDADE DE SAO PAULO
UG_GH UNIVERSIDADE DO GHANA UT_DE UNIVERSIDADE DE TUBINGEN
UG_NL UNIVERSIDADE DE GRONINGEN UT_TZ UNIVERSIDADE DE TUMAINI
UG_SE UNIVERSIDADE DE GOTHENBURG UT_USA UNIVERSIDADE DO TEXAS
UH_USA UNIVERSIDADE DE HARVARD UT_USA UNIVERSITY OF TUFTS
UI_NIGERIA UNIVERSIDADE DE IBADAN UTA_IL UNIVERSIDADE DE TEL AVIV
UKN_SA UNIVERSIDADE DE KWAZULU NATAL UTV_IT UNIVERSIDADE TOR VERGATA
UL_IT UNIVERSITY OF LUMSA UU_NL UNIVERSIDADE DE UTRECHT
UL_NL UNIVERSITY OF LEIDEN UU_NO UNIVERSIDADE DE ULLEVAL
Ul_PT UNIVERSIDADE DE LISBOA UU_SE UNIVERSITY OF UPPSALA
UL_SA UNIVERSITY OF LIMPOPO UV_IT UNIVERSIDADE DE VERONA
UL_SE UNIVERSITY OF LUND UV_USA UNIVERSIDADE DA VIRGINIA
UL_UK UNIVERSIDADE DE LONDRES UW_NL UNIVERSIDADE DE WAGENINGEN
UL_UK UNIVERSIDADE DE LIVERPOOL UW_SA UNIVERSIDADE DE WITWATERSRAND
UL_UK UNIVERSIDADE DE LEEDS UW_UK UNIVERSIDADE DE WALES
UL_UK UNIVERSITY OF LOUGHBOROUGH UW_USA UNIVERSIDADE DE WASHINGTON
ULM_MZ UNIVERSIDADE DE LOURENCO MARQUES UZ_ZM UNIVERSIDADE DA ZAMBIA
UM_AU MONASH UNIVERSITY UZ_ZW UNIVERSIDADE DE ZIMBABWE
UM_AU UNIVERSITY OF MELBOURNE VU_BE VRIJE UNIV BRUSSELS
UM_CA UNIVERSITY OF MCGILL VUA_NL VRIJE UNIV AMSTERDAM
UM_CA UNIVERSIDADE MONTREAL WMU_PL WROCLAW MED UNIV
UM_KE UNIVERSIDADE DE NAIROBI WSU_SA WALTER SISULU UNIV
vi
Códigos utilizados nos diagramas de redes de colaboração entre países
CÓDIGO DE PAÍSES
ALBANIA AL ENGLAND UK LESOTHO LS SENEGAL SN
ALGERIA DZ ERITREA ER LIBERIA LR SERBIA RS
ANGOLA AO ETHIOPIA ET LITHUANIA LT SEYCHELLES SC
ARGENTINA AR FINLAND FI LUXEMBOURG LU SINGAPORE SG
AUSTRALIA AU FR POLYNESIA PF MADAGASCAR MG SLOVAKIA SK
BAHRAIN BH FRANCE FR MALAWI MW SOUTH AFRICA ZA
BANGLADESH BD GABON GB MALI ML SOUTH KOREA KR
BELGIUM BE GAMBIA GM MEXICO MX SPAIN ES
BENIN BJ GER DEM REP DRA MOROCCO MA SUDAN SD
BOLIVIA BO GERMANY DE MOZAMBIQUE MZ SWAZILAND SZ
BOTSWANA BW GHANA GH NAMIBIA NA SWEDEN SE
BRAZIL BR GREECE GR NEPAL NP SWITZERLAND CH
BULGARIA BG GUINEA GN NETHERLANDS NL SYRIA SY
BURKINA FASO BF GUINEA BISSAU GW NEW ZEALAND NZ TAIWAN TW
CAMBODIA KH HAITI HT NIGERIA NG TANZANIA TZ
CAMEROON CM HUNGARY HU NORWAY NO THAILAND TH
CANADA CA INDIA IN OMAN OM TOGO TG
CHINA CN INDONESIA ID PAKISTAN PK TUNISIA TN
COLOMBIA CO IRAN IR PALESTINA PS TURKEY TR
CONGO CG IRELAND IE PERU PE UGANDA UG
COTE IVOIRE CI ISRAEL IL PHILIPPINES PH UKRAINE UA
CUBA CU ITALY IT POLAND PL UNO UN
CZECH REPUBLIC CZ JAMAICA JM PORTUGAL PT USA US
CZECHOSLOVAKIA CS JAPAN JP QATAR QA VENEZUELA VE
DENMARK DK JORDAN JO ROMANIA RO VIETNAM VN
ECUADOR EC KAZAKHSTAN KZ RUSSIA RU ZAIRE CD
EGYPT EG KENYA KE SAO TOME & PRIN ST ZAMBIA ZM
ZIMBABWE ZW
ix
A Dimensão Política e o Processo de Institucionalização
da Ciência e Tecnologia em Moçambique
RESUMO
x
The Political Dimension and the Science and Technology
Institutionalization in Mozambique
ABSTRACT
The aim of this study was to describe and understand the evolution, development and
institutionalization of science and technology (S & T), in order to collect the elements that
may contribute for the formulation of public policies in various sectors of the area of S & T in
Mozambique. The main institutions of higher education and scientific research in the country
were the universe of this research. Data collection was performed in two stages: in first stage,
a documentary survey was conducted based on institutional reports and other primary sources
that were available. While the documentary surveys was taking place, a search in the
international bibliographic databases ISI Web of Science (ISI WoS) was being done with the
aim of outlining a bibliometric profile of the Mozambican scientific output covering the
period of creation of the first scientific institutions - the 1960s to 2009. And in the second
stage, semi-structural interviews were conducted to teachers, researchers and managers of
institutions pre-selected for sample and other persons indicated by them. This study was a
descriptive-analytic with use of qualitative and quantitative methodological approach, which
sought to identify related facts between the events that marked the institutionalization of S &
T and the political, economic and social forces, as determined by country historical moments
according the adopted periodization to facilitate the analysis in context (Colonial Period -
1845 to 1974, First Republic - 1975 to 1990 and the Second Republic - 1991 to the current
stage). The theoretical framework included the conceptual foundations of the new mode of
knowledge production suggested by Gibbons et al (1994), the theory of the triple helix
proposed by Etzkowitz and Leydesdorff (1995), the concept of field in Bourdieu (1983) and
the actor network theory by Latour (2000). The bibliometric data were processed with the aid
of specific applications such as Excel, and Unicet NetDraw, and the interviews were handled
using the technique of content analysis through categorization. The analytical categories were
defined from a preliminary examination of the interviews. The organization of data into
analytical categories was based on the criteria of similarity and differentiation of the
interviews. Therefore, starting from the basis that the political lines and programs of
development adopted by the leaders of the country over time can be considered as non-human
actors, who have strongly shaped the whole process analyzed in this study, but on the other
hand should not be overlooked that they are the result of human action. So the main
conclusion is that the institutionalization of S & T is closely related to the flow, circulation,
interconnections and negotiations between human actors and non-human, which may be
internal or external to the context and environment of production of science and technology in
Mozambique.
xi
C APÍTULO I
1 INTRODUÇÃO
(...) Como o assunto relacionado ao desenvolvimento científico e tecnológico, analisado tanto como processo de
avanço do conhecimento quanto como objeto de políticas públicas, tem sido tratado especificamente nas áreas de
políticas científicas, econômicas e sociais, e qual a relação entre os momentos históricos (políticos, econômicos e
sociais) e os processos de institucionalização da C&T em Moçambique?
Problema
1.1 Apresentação
Para facilitar a condução da pesquisa e entendimento lógico de como esse processo vem
decorrendo ao longo dos tempos, foi adotada uma periodização1 correspondente aos
diferentes momentos históricos de Moçambique. Esse arranjo visa especificamente auxiliar a
contextualização dos principais aspectos relacionados à questão da educação escolar e
científica que caracterizaram cada estágio de desenvolvimento do País. A periodização
proposta para este estudo não pretende substituir nem ir de encontro com as adotadas na
historiografia de Moçambique, mas sim, servir de fio condutor e/ou ponto de referência para a
compreensão do processo de evolução e desenvolvimento científico moçambicano.
1
Período colonial – 1845-1974; período da luta de libertação 1964-1974; período pós-independência até final da guerra civil – 1975 -1992;
período pós-guerra civil – 1992 – atual. Alternativamente também designado de Primeira República, o período de vigência da primeira
constituição -1975 a 1990; e Segunda República, que representa o período de 1990 para o momento atual.
2
vêm colaborando para a institucionalização da ciência e tecnologia no Moçambique
independente.
Em relação aos primeiros estágios do processo histórico e evolutivo de Moçambique, foi dada
maior ênfase para a questão das ideologias que dominaram a formação sócio-cultural da
sociedade, buscando as características que marcaram os períodos: colonial; da luta de
libertação até a independência; e da pós-independência até ao início da democracia
multipartidária. Especial atenção foi dada ao período pós-independência, que para efeitos de
análise foi dividida em duas épocas: primeira república – vigência da primeira constituição de
Moçambique independente e segunda república – constituição de 1990 até ao momento atual.
4
Este cenário de produção de conhecimento baseado em modelos interativos pode ser de fácil
implementação em países industrializados e de tradição científica. Mas para o caso de nações
em via de desenvolvimento, sobretudo de fraca industrialização e sem tradição científica, a
introdução desses modelos de produção de conhecimento representa um grande desafio. Pois,
como é de domínio público, a maior parte destes países enfrenta problemas de escassez de
todo tipo de recursos. Sem se esquecer também da debilidade das relações entre a produção e
a utilização do conhecimento que se manifesta pela baixa utilização dos resultados de
pesquisa para a definição de políticas e programas e para a produção de bens e serviços nesses
países. Em relação a esses aspectos Pellegrini Filho (2004, p. 341) argumenta que
5
Em outro contraponto, Pellegrini Filho argumenta que vários fatores de ordem política como,
por exemplo, o modelo protecionista e a vinculação quase exclusiva da comunidade científica
com as universidades, concorreram para o fracasso de alguns planos do setor, ou seja, as
primeiras tentativas de institucionalização da
(...) C&T não conseguiram influenciar as demais instâncias do Estado, nem empolgar outros
setores da sociedade. Seus planos estavam fortemente marcados por um enfoque "ofertista", ou
seja, limitavam-se ao fomento da capacidade científica nacional (da "oferta"), com pouca
preocupação por responder a demandas derivadas do entorno social, econômico e político.
Some-se a isso uma visão centralizadora do planejamento, despreocupada em construir as
condições necessárias para a realização de seus objetivos e o resultado não poderia ser outro
senão a crônica debilidade das relações entre C&T e o setor de produção de bens e serviços
(PELLEGRINI FILHO, 2004, p. 341).
Contudo pode-se dizer que as ações levadas a cabo pelo Estado em conjunto com as
instituições científicas nesse período contribuíram para o atual estágio do Brasil no contexto
nacional de produção científica e tecnológica apesar de ainda ser pouco significativo na arena
internacional (SCHWARTZMAN, 2002, ALBUQUERQUE 2006, BARROS, 1997).
Para Barros, o ano de 1985 marca o início de uma nova fase de institucionalização do
desenvolvimento científico, caracterizado por um lado, pelo aumento de recursos para o
fomento científico e tecnológico direcionados para o desenvolvimento de tecnologias de
pontas. Por outro lado, conforme aponta o autor não houve uma reestruturação do arcabouço
institucional no sistema de C&T, tendo em vista, a acompanhar as mudanças geopolíticas
ocorridas na época com a criação do novo Ministério no governo da Nova República. Portanto
isso gerou uma instabilidade institucional, agravado pela diminuição dos recursos para C&T a
partir de 1987, consequentemente registrou-se um declínio no processo de desenvolvimento
do sistema de C&T brasileiro (BARROS, 1997, p. 76).
6
mais recentemente pela criação de fundos setoriais; a rápida capacitação tecnológica em
algumas áreas de ponta como é o caso do projeto genoma, são algumas das linhas de
investimentos que demonstram o esforço do Brasil tendo em vista a afirmação do país na
arena científica e tecnológica internacional (SCHWARTZMAN, 2002, p. 382).
Mais importante ainda é que os investimentos públicos no Brasil dos últimos anos, aliados
com os arranjos institucionais entre o setor produtivo industrial e o de produção de
conhecimento, mesmo que ainda insignificante comparativamente aos países mais
desenvolvidos, favoreceram o estabelecimento de uma rotura no modo de produção de
conhecimento no Brasil. Atualmente verifica-se uma tendência de transição de paradigma
científico em direção ao modo 2 de produção de conhecimento. Um exemplo nesse sentido é
o programa de sequenciamento do genoma da Xylella Fastidiosa, que segundo Pellegrini
Filho (2004, p. 344) o seu desenvolvimento foi levado a cabo
(...) por uma rede de 34 laboratórios de São Paulo, envolvendo mais de 200 pesquisadores e
publicado na revista Nature em julho de 2000. O problema de pesquisa foi colocado pela
indústria cítrica que estava sofrendo perdas de cerca de 30% dos cultivos de laranjas por causa
da bactéria. Esta foi a primeira publicação do genoma de um patógeno vegetal e desde então os
pesquisadores brasileiros vêm recebendo manifestações de reconhecimento mundial tanto da
comunidade científica como de setores governamentais e empresariais. Agências do governo
americano solicitaram apoio dos pesquisadores brasileiros para sequenciar o genoma de uma
cepa desta mesma bactéria que está atacando as plantações de uva da Califórnia, causando
sérios prejuízos (TRAFFORD, 2001 apud PELLEGRINI FILHO, 2004, p. 345).
7
riqueza das nações, mas claramente são de difícil alcance para pais em desenvolvimento
(ALBUQUERQUE, 2006).
Nesse sentido, Lastres (1995) destaca o papel preponderante do governo na identificação das
oportunidades científicas e tecnológicas relevantes, expandido a capacidade de sua absorção
na esfera socioeconômica em geral, assim como, na promoção do processo de aprendizado e
articulação das inter-relações entre política industrial, política de C&T, política educacional e
política de emprego, dentre outras ações importantes para a concepção e desenvolvimento de
sistemas de ciência e tecnologias das nações.
Para se ter uma idéia, Moçambique, no período que demarca o início da institucionalização de
C&T no Brasil, ainda era colônia de Portugal e o evento mais importante que ocorreu nesse
peroído foi a criação da primeira instituição de ensino superior no início da década de 1960.
Conforme se descreve mais adiante, essa instituição servia de instrumento de dominação
colonialista e não propriamente de desenvolvimento científico em prol do progresso
socioeconômico da colônia.
Já na época considerada como sendo a segunda fase das políticas científicas brasileiras,
Moçambique, ganha sua independência de Portugal em 1975. Alguns anos depois da
independência o país entra num conflito armado que tem seu auge na década de 1980,
inibindo assim qualquer possibilidade de o Estado intervir na área de ciência e tecnologia,
uma vez que toda a sua atenção estava voltada para os problemas trazidos pela guerra civil.
A partir de 1986 inicia-se a fase de transição do modelo de economia centralizada para uma
economia do capitalismo. Portanto, opera-se na esfera econômica moçambicana a introdução
8
da política neoliberal caracterizada pela abertura e liberalização da economia e inicio de
privatização das empresas estatais. Essas medidas visavam principalmente seguir as
orientações determinadas pelas agências internacionais de ajuda externa como é o caso do
Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
O início da década de 1990 foi marcado pela transição política e pelo fim do conflito armado
que envolvia o governo e o movimento de resistência política a RENAMO (Resistência
Nacional de Moçambicana). Portanto esse período demarca a mudança política de um sistema
de partido único para um sistema democrático multipartidário (Constituição de 1990 e revista
em 2004), que culminou com a realização das primeiras eleições multipartidárias em 1994, as
segundas em 1999, as terceiras em 2004 e recentemente as quartas eleições realizadas em
outubro de 2009. Com vitorias sucessivas do mesmo partido político – a FRELIMO.
9
que mantêm convênios no domínio de educação, ciência e tecnologia. iii) ao número de
instituições de ensino superior, públicas e particulares, e a sua distribuição nas diferentes
regiões do país. iv) aos esforços do governo no sentido de criação e melhoria dos centros de
pesquisa nas diferentes áreas do conhecimento e com localização estratégica nas principais
regiões consideradas como importantes para o desenvolvimento do país, assim como, de
criação de órgãos de promoção, coordenação e financiamento de C&T no país.
Mas, por outro lado, a exiguidade de estudos sistematizados sobre indicadores de C&T
colabora para o desconhecimento das principais limitações e capacidades da base técnico-
científica moçambicana. Entende-se como base técnico-científica o conjunto dos institutos de
pesquisa e desenvolvimento do setor produtivo, tanto público quanto privado; universidades,
órgãos públicos ligados ao setor de C&T; e a comunidade de pesquisadores especializados nas
diferentes áreas de conhecimento. Sem deixar de lado os programas de financiamento e de
formação de recursos humanos para C&T disponibilizado, principalmente, pelas agências de
fomento do governo e/ou através de mecanismos de cooperação internacional.
De realçar que Moçambique é país jovem, com 34 anos (em 2009) de independência do
colonialismo português e recém saído de uma guerra civil que durou cerca de 16 anos de
muita destruição e entraves no seu desenvolvimento em todos os domínios (cultural,
científico, político e socioeconômico). Com a assinatura dos acordos de paz em 1992 e a
consequente instauração da democracia multipartidária, cujo ponto mais alto desse processo
foi a realização das eleições gerais e presidenciais em 1994, inicia-se uma nova era no
desenvolvimento da sociedade moçambicana, caracterizada por adoção de novas formas de
pensar e planejar as atividades econômicas, políticas, sociais e científicas do país.
10
1.4 Objetivo Geral
11
C APÍTULO II
2 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
“Estudamos a ciência em ação, e não a ciência ou a tecnologia pronta; para isso, ou chegamos antes que fatos e
máquinas se tenham transformados em caixas-pretas, ou acompanhamos as controvérsias que as reabrem”.
Latour (2000)
12
Qualitativa, que foi desenvolvida em duas etapas distintas, mas complementares.
Na primeira parte foi realizada a pesquisa e análise documental, tendo em vista a
reconhecer e descrever os principais elementos históricos associados ao processo
de desenvolvimento e institucionalização da ciência e tecnologia moçambicana. Na
segunda etapa, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com atores
contemporâneos (docentes, pesquisadores e gestores) filiados às principais
instituições de ensino e pesquisa e órgãos do governo. Estas entrevistas tinham
como principal objetivo trazer à luz aspetos complementares relacionados com o
processo de institucionalização de C&T, que não foram possíveis de serem
identificados nos documentos históricos e relatórios institucionais;
Para a realização desta pesquisa foi necessária a conjugação dos métodos de abordagem do
problema já mencionados com o uso de estudos de múltiplos casos. A aplicação de estudos de
múltiplos casos tinha como objetivo facilitar a coleta e análise de dados nas diferentes
unidades constituintes do universo de estudo, através da identificação e caracterização da
maior quantidade possível de informações relacionadas às variáveis pesquisadas. Com relação
a esse tipo de abordagem, Bruyne et al. (1991, p. 225) advertem que os estudos de múltiplos
casos, por meio de pesquisas não comparativas, tendem a recorrer a formas integradas de
coleta e análise de dados. Ainda segundo os mesmos autores, os estudos de casos reúnem
“informações tão numerosas e tão detalhadas quanto possível com vistas a apreender a
totalidade de uma situação”. Por isso recorrem a técnicas de coleta de dados variadas como,
por exemplo, a observação, entrevistas e documentos.
O universo da pesquisa foi constituído por três grupos importantes para desenvolvimento das
atividades no âmbito da ciência e tecnologia em Moçambique. O primeiro grupo compostos
pelos órgãos governamentais, ou seja, ministérios e institutos de pesquisa do governo,
13
nomeadamente: Ministério da Ciência e Tecnologia; Ministério da Educação; Ministério da
Agricultura, Ministério da Saúde; Ministério de Recursos Minerais, Ministério das Pescas;
Ministério da Indústria e Comércio; Ministério para a Coordenação de Ação Ambiental. Neste
grupo foram selecionados quatro ministérios para fazer parte da amostra da pesquisa. Os
Ministérios da Agricultura e Saúde por possuírem Institutos de Pesquisas com uma produção
científica apreciável. E os Ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia devido
fundamentalmente aos seus papeis de reguladores, formuladores e gestores de políticas da
área de C&T no país. Alem dos ministérios fizeram parte da amostra, deste grupo, quatro
institutos de pesquisa, a saber: o Instituto Nacional da Saúde (INS), o Instituto de
Investigação Agrária (IIAM), Instituto Nacional de Investigação Pesqueira (INIP) e o Centro
de Investigação em Saúde da Manhiça (CISM). Outros institutos e centros de pesquisa com
baixo desempenho, em termos de produtividade científica, também foram incluídos para
complementar o universo e amostra das instituições examinadas, fundamentalmente, para
relacionar e enaltecer os aspectos e o contexto de sua criação e atuação. Como por exemplo, o
Laboratório de Engenharias de Moçambique (LEM), o Instituto Nacional de Geologia (ING),
o Instituto Nacional do Algodão (INA), entre outros.
A lista geral inclui outras IES públicas criadas recentemente, a saber: os Institutos
Politécnicos de Gaza, Tete e Manica, as Universidades de Lúrio e a de Zambeze. Por último
foram selecionadas algumas IES privadas com destaque para a Universidade Politécnica, o
Instituto Superior de Ciência e Tecnologia de Moçambique (ISCTEM), Universidade Católica
de Moçambique (UCM), Instituto Superior de Transportes e Comunicações, e a Universidade
São Tomás de Moçambique.
O terceiro grupo constituinte do universo da pesquisa tomou como base, a lista de todos os
atores contemporâneos, ou seja, docentes, investigadores e gestores das instituições de ensino
14
e pesquisa e órgãos do governo ligados ao setor de C&T. Desse universo foi selecionada uma
amostra não probabilística, intencional por conveniência formada fundamentalmente por 12
membros do primeiro escalão, e por docentes e investigadores seniores.
As bases de dados bibliográficas foram utilizadas como fonte principal para o levantamento
de informações relacionadas à produção científica do país. Importante realçar que atualmente
não existem bases de dados nacionais sistematizadas, que possam ser utilizadas para o tipo de
levantamento feito nesta pesquisa. Sem contar que a maior parte de autores e/ou
pesquisadores filiados a instituições de pesquisa nacionais publicam seus trabalhos em
periódicos internacionais. A publicação em veículos locais e até regionais tem sido ocasional
e de pouca expressão.
Assim, nesta pesquisa foram utilizadas bases de dados bibliográficas da ISI Web of Science
(WoS) mantida pela Thomson Scientific. De salientar que num estudo recente elaborado por
Zimba e Mueller (2008) constatou-se que as bases da SCOPUS e da ISI WoS apresentam
diferenças insignificantes em termos do número de artigos publicados por autores oriundos de
Países de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). Essa situação se repete em relação ao registro
de citações recebidas por publicações de autores daqueles países, e indexadas nas mesmas
bases.
É importante citar que estas bases têm recebido várias críticas a respeito da sua real cobertura.
Essas críticas incidem essencialmente ao fato de elas registrarem fraca indexação de pesquisas
realizadas em países menos desenvolvidos. Mas, estas bases continuam sendo as mais
15
importantes quando se trata de avaliação e produção de indicadores de produtividade e
visibilidade científica das nações de uma maneira geral.
16
foram indicados pelos seus pares, mas isso não desmerece a sua importância como potenciais
fontes de informação para este estudo. De salientar que as entrevistas não obedeceram
necessariamente a ordem numérica adotada na Figura 2, foram realizados de acordo com a
disponibilidade e aceitação da efetivação da entrevita pelos atores contatados para o efeito.
Esta numerção serviu apenas para falicitar a organização e controle das atividades de contato
e realização das entrevistas.
Seguindo o mesmo modelo adotado para desenhar a rede de interconexões entre os atores, a
Figura 3, apresenta um esquema que ilustra o grau de centralidade das conexões entre os
atores e as principais instituições de ensino e pesquisa moçambicanas. Em termos reais essas
conexões revelam o grau de importância dada a essas instituições pelos atores entrevistados.
Conforme visualizado pela Figura 3 as instituições representadas pelo símbolo quadrangular,
IIAM, UEM e INS foram as mais citadas, pelos entrevistados (representados pelo símbolo
cicular), como sendo fundamentais no desenvolvimento do setor de C&T no País. Estes dados
fundamentam, em parte, a seleção da amostra das instituições objetos desta pesquisa.
Figura 3: Instituições de Ensino e Pesquisa Nacionais Relevantes na Ótica dos Atores Entrevistados
Fonte: Elaboração do autor
17
i) Ensino e pesquisa, esta categoria foi formada por todos aqueles elementos vinculados
à formação de recursos humanos para a pesquisa; evolução das instituições de ensino
superior no país; programas de formação em pós-graduação internos e/ou externos;
programas de financiamento e fomento para pós-graduação e para pesquisa;
Esta pesquisa teve como principal limitação a dificuldade de recolha de dados sistematizados
em órgãos públicos moçambicanos que constituíam a fundamental fonte de informação para o
presente trabalho. Essa limitante deve-se ao fato de a maioria dos órgãos não possuírem esses
dados sistematizados e disponíveis para o público em formatos de fácil acesso (planos,
políticas, relatórios anuais regulares e outros documentos produzidos por essas instituições).
18
2.6 Coleta, Tratamento e Análise de Dados
Conforme ilustrado pela Figura 4, a coleta, tratamento e análise de dados foram desenvolvidos
em de três etapas distintas: a primeira consistiu em levantamento e análise documental, a
segunda em levantamento e análise bibliométrica e na terceira fase foram realizadas as
entrevistas semi-estruturadas seguidas da análise de conteúdo e da triangulação metodológica.
Conforme já referido, a fonte de dados para esta fase foram os documentos e manifestos
políticos de governo, documentos históricos sobre o sistema de ensino e pesquisa, legislação
do setor, relatórios anuais e outros documentos institucionais. Essa coleta foi conduzida em
duas frentes: uma para descrever e sistematizar o contexto histórico, econômico, político e
social do país; e a outra voltada para a descrição e análise dos fatos que marcaram o processo
da institucionalização da C&T moçambicana. Para facilitar o tratamento e análise, as
informações coletadas foram agrupadas nas seguintes categorias analíticas: i) fatos históricos;
ii) atuação do governo; iii) cooperação internacional; iv) programas de fomento e
financiamento a C&T; v) disseminação e divulgação científica.
19
2.6.2 Análise Bibliométrica
A segunda etapa da coleta foi caracterizada pelo levantamento bibliométrico na base de dados
internacional ISI WoS. Esses dados foram importantes para a elaboração do quadro geral do
estado e evolução da produção científica moçambicana. A extração de dados na referida base
foi operacionalizada através da busca por descritor geográfico “MOZAMBIQUE”. no campo
filiação/endereço de autores dos documentos indexados nessa base. Os dados foram
organizados em tabelas de frequências simples, matrizes de co-ocorrências e gráficos de
dispersão para facilitar a realização das análises de produtividade e visibilidade de autores e
de instituições. Por outro lado, esses dados possibilitaram a elaboração e mapeamento de
redes de colaboração e parcerias institucionais; a identificação das principais fontes de
disseminação científica utilizadas pelos autores filiados a instituições de pesquisa
moçambicanas; e outros indicadores de produção científica. O tratamento de dados foi
operacionalizado basicamente com apoio de softwares estatísticos e específicos para cada
etapa, a saber: Aplicativos Integrados a Bases de Dados Bibliográficos, Excel, EdiPad Lite,
Ucinet e NetDraw.
A terceira etapa da coleta de dados foi basicamente reservada para a realização das entrevistas
in loco e dirigidas pessoalmente. Conforme já referido as entrevistas semi-estruturadas foram
feitas intencionalmente a indivíduos que ocupam ou ocuparam um cargo de direção de
primeiro escalão e a docentes e pesquisadores seniores, filiados as principais instituições de
ensino e pesquisa do País, selecionadas para a amostra. Para o efeito foram preparados dois
roteiros de entrevistas: uma utilizada para as entrevistas com os gestores das unidades
selecionadas, e outra para guiar as entrevistas com os docentes e investigadores das
instituições de ensino e pesquisa objetos de análise (ver Anexos 1 e 2). O primeiro contato
com os entrevistados na maioria dos casos foi via telefone, a partir do qual apresentava-se a
intenção da realização da entrevista e marcava-se a data, local e hora da entrevista. Mas
existiram casos em que o pedido teve que ser feito via carta de solicitação de audiência formal
conforme instruções recebidas no primeiro contato (ver Anexo 3). Todas as entrevistas foram
gravadas com autorização prévia dos entrevistados. Os arquivos de áudio no formato mp3
foram gravados com o auxílio de um parelho celular de marca HTC-HD. Depois esses
arquivos foram transferidos para o computador e com auxilio de aplicativos reprodutores de
mp3 fez-se a transcrição dos conteúdos e armazenados em arquivos txt.
20
A realização destas entrevistas teve como objetivo principal complementar e esclarecer
lacunas surgidas nas etapas de levantamento e análise documental, e de análise bibliométrica
desenvolvidas nas fases anteriores. Posteriormente as informações conseguidas em ambas as
etapas foram submetidas a técnicas de análise de conteúdo visando encontrar os
relacionamentos e/ou associações entre as variáveis em estudo. Para o tratamento dos
elementos textuais, coletados nas entrevistas, recorreu-se à abordagem qualitativa de análise
de dados, operacionalizada através do uso do método de análise de conteúdo, especificamente
a técnica de categorização ou classificação dos elementos textuais constitutivos de um grupo
de análise (BARDIN, 2009).
Elementos históricos
Elementos políticos
Elementos econômicos
As instituições de pesquisa
As universidades
As organizações científicas
As linhas de pesquisa
Parcerias estratégicas
Pesquisa e desenvolvimento
Este modelo analítico sugere que naquela altura, o campo científico era influenciado
principalmente pelas oportunidades, ajuda internacional e consultores científicos (pessoal
estrangeiro que apoiou a condução do sistema de C&T no período pós-independência). Nesse
período o campo científico tinha como principais elementos ou subcampos a universidade,
alguns institutos de pesquisa, uma base técnico-científica não identificada e as empresas
estatais. Na fronteira tinha-se a dimensão política exercendo uma interferência e autoridade
muito forte em todos os campos e subcampos científicos e da sociedade de forma geral.
Noutro extremo, é possível observar que a dimensão política, por sua vez, era influenciada
pela geopolítica internacional (por exemplo, a Guerra Fria), mas ao mesmo tempo à margem
da situação política existiam oportunidades externas que foram cruciais para o
desenvolvimento do campo científico na época.
2
Primeiro momento que também será designado de Primeira República, coberto pelo período de vigência da primeira constituição -1975 a
1990; e o Segundo momento também designado de Segunda República, representa o período de 1990 para o momento atual. A
característica principal desse período é a introdução da nova constituição em 1990, revista em 2000, que preconiza a mudança na estrutura
política e econômica do país. De país socialista marxista de partido único e economia centralizada para democracia multipartidária e
economia liberal.
23
As mudanças na dimensão política nacional, que ocorreram a partir da segunda metade da
década de 1980, galvanizadas pela introdução na nova Constituição da República em 1990,
ditaram a reconfiguração dos atores sociais e não sociais responsáveis pelo processo de
institucionalização da C&T em Moçambique (ver Figura 6).
Figura 6: Modelo II de Análise de C&T – Influenciada pelas Agendas Globais e Redes de Colaboração Científica
Fonte: Elaboração do autor
Portanto, como se pode perceber o percurso metodológico orientador desta pesquisa apoiou-se
em duas perspectivas principais: uma baseada na análise dos campos sociais de Bourdieu, ou
24
em modelos quase-econômicos da ciência alicerçadas aos modelos de comunidade consensual
e cooperativa de Merton guardadas as suas diferenças e controvérsias, conforme explicitado
no capitulo sobre as principais abordagens teóricas de análise da C&T. E como contraponto
serviu-se da teoria e análise construtivista de Latour para percorrer a trajetória dos fluxos e
micronegociações que ocorreram entre os atores sociais e não sociais no processo de
construção e institucionalização da C&T em Moçambique.
25
C APÍTULO III
26
3.1 A Ciência e Tecnologia como Atividades Sociais
i) a aceitação, por uma sociedade, de determinada atividade com uma importante função social,
valorizada por si mesma; ii) a existência de normas que regulam a conduta em determinado
campo de atividade, de uma forma coerente com a realização dos objetivos e com autonomia
diante de outras atividades; iii) certa adaptação de normas sociais em outros campos de
atividade às normas da atividade considerada. Uma instituição social é uma atividade que foi
assim institucionalizada.
O progresso socioeconômico das nações traz consigo várias desordens, por exemplo, nas
questões ambientais, éticas, de reprodução, da privacidade que transcendem as dimensões
fronteiriças individuais dos países envolvidos, levando à necessidade de união de esforços em
níveis globais para a sua superação. Esse contexto obriga a que nações centrais se aliem aos
periféricos ou vice-versa em busca de conhecimentos técnico-científicos para a solução desses
problemas. Essas alianças favorecem em última instância o estabelecimento e/ou a
institucionalização de sistemas nacionais e transnacionais de ciência e tecnologia. De salientar
que o processo de institucionalização da C&T na sociedade moderna tem sido influenciado
por vários modelos teóricos dos quais, para este trabalho, se destacam: a noção mertoniana de
compartilhamento (comunismo) da ciência através da publicação dos resultados das pesquisas
(MERTON, 1968); o conceito de campo científico proposto por Bourdieu (1983); a teoria de
modo 2 de produção de conhecimento sugerido por Gibbons et al (1994); e a idéia da tríplice
hélice proposta por Etzkowitz & Leydesdorff (1995). A seguir são revisitados alguns autores
consagrados da sociologia da ciência que analisaram o processo da institucionalização da
ciência e tecnologia principalmente no período posterior a primeira guerra mundial.
28
3.2 Estudos Sobre C&T no Período Pós-Guerras
Os impactos nefastos provocados pela Primeira Guerra Mundial, aliados a crise econômica da
década de 1920 e outros eventos que levaram a produção e lançamento da bomba atômica em
Hiroshima, contribuíram para que as diferentes nações atingidas por aquelas situações (como
é o caso da Alemanha nazista, dos Estados Unidos e outros) repensassem o papel e os modos
de produção da ciência e da tecnologia na sociedade moderna. Esses aspectos foram
analisados por estudiosos da sociologia da ciência na década de 1930, com destaque para os
trabalhos de: i) Merton que no seu estudo publicado em 1937 analisou o papel da ciência na
Alemanha nazista, defendendo a tese da autonomia e do ethos na produção da ciência; e ii)
Bernal, que em seu trabalho de 1939 analisa a organização da atividade cientifica e a
aplicação de seus resultados para a melhoria de condições socioeconômicas na Inglaterra.
29
em última análise constitui a sua maior recompensa. Sobre a questão de reconhecimento
social do trabalho dos cientistas, Hagstrom (1974, p. 100-101) considera que
Os cientistas são orientados para receber reconhecimento por parte dos seus colegas e que essa
orientação influencia as suas decisões de investigação. [Mas adiante ele argumenta que] (...) se
as decisões do cientista forem influenciadas pela probabilidade de serem reconhecidas, ele
tenderá a desviar-se de certas normas científicas centrais, [ou seja], deixará de ser original e
crítico (...). Embora seja verdade que os cientistas são motivados por um desejo de obter
reconhecimento social, e embora seja verdade que só o trabalho em certos tipos de problemas e
segundo certas técnicas receberá reconhecimento em determinada altura, é também verdade
que, se um cientista admitisse ser influenciado na sua escolha de problemas e técnicas pela
probabilidade de obter reconhecimento, seria considerado como desviante.
Neste contexto, pode se argumentar que a aspiração por um reconhecimento pelos pares não
só leva o cientista a comunicar os seus resultados, mas também influencia a escolha de
problemas e métodos para desenvolvimento das suas atividades de pesquisa. Nessa ordem de
idéias é praticamente lógico que o cientista procurará eleger problemas cuja solução
proporcione maior reconhecimento, assim como optará por selecionar e utilizar métodos que
tornem o seu trabalho aceitável pelos seus pares (HAGSTROM, 1974, p. 93). Na visão de
Reif (apud BOURDIEU, 1976, p. 125) um determinado pesquisador busca desenvolver
pesquisas que considera serem importantes. Mas essa busca incessante pelas temáticas
extraordinárias, assim como a sua satisfação por chegar a resultados aceitáveis não são as
únicas motivações. Portanto os pesquisadores convivem no seu dia a dia com os chamados,
interesse intrínseco e interesse extrínseco. Essa dualidade de interesses representa a qualidade
de desenvolver trabalhos que não sejam apenas importantes para o próprio pesquisar, mas que
também possam ser importantes para os outros.
De salientar que a ciência deve ser considera como uma instituição ou como uma organização
social governada por determinadas regras funcionais que ultrapassam a barreira da ciência em
si, da ciência como assunto privado de certos indivíduos chamados cientistas, mas que
também integra uma realidade eminentemente social e pública (DEUS, 1974, p. 26). Isso
sugere que uma ciência guiada simplesmente por normas internas, não integradas a questões
sociais e públicas seria importante, por exemplo, para o avanço da ciência impulsionada pela
própria ciência, mas também poderia implicar em efeitos nefastos para a sociedade se não
fossem consideradas medidas de controle social externo as pesquisas desenvolvidas pelas
comunidades científicas. Essa idéia concorda com a afirmação do Merton (1968, p. 658)
segundo a qual, os “(...) efeitos sociais da ciência têm que ser benéficos a curto ou longo
prazo”. Na ciência contemporânea observa-se uma tendência maior no sentido de se instituir
30
medidas para o controle social, visto que o cientista por si só, não tem controle ou não pode
controlar a destinação ou aplicação dos resultados de suas descobertas, que tanto podem ser
para o beneficio ou mesmo destruição da própria sociedade em que elas são produzidas.
O estudo de Bernal (1939, p. xiii) retrata muito bem a problemática enfrentada pela sociedade
nas primeiras décadas do século XX. Na sua abordagem ele assegura que os métodos de
produção que a ciência e a tecnologia ofereciam naquela época além de não resolverem
problemas tradicionais que afligiam a sociedade como é o caso da pobreza, poderiam estar
associados ao agravamento de outros, como a guerra, e também ao surgimento de novos,
como o desemprego. Nesse estudo Bernal já sinalizava a necessidade de interação entre
ciência, tecnologia e sociedade, pois esse seria o caminho ideal pela qual a ciência poderia
contribuir para impulsionar o desenvolvimento socioeconômico no período pós-crises. De tal
forma que se pode dizer que a visão de Bernal sobre a possibilidade de haver interação entre
ciência, tecnologia e sociedade na produção de conhecimento, que em última análise iria
favorecer o bem-estar social, implicou em um reexame do papel e da função social das
atividades científicas, que por sua vez contribuiu para a reconfiguração das estruturas e modos
de produção de conhecimento hoje conhecidas (BARROS, 1997, p. 63).
Segundo Bernal (1939, p. 11) a ciência moderna tornou-se numa instituição comparável ou
mesmo mais importante que a Igreja ou Direito, principalmente, devido a vinculação entre as
atividades científicas e as industriais, que implicaram em grandes avanços tecnológicos na
sociedade contemporânea. Todavia Bernal considera que a interação entre ciência e sociedade
só pode atingir um equilíbrio plenamente benéfico a partir de uma ação planejada envolvendo
todos os atores que participam do processo de produção científica e tecnológica. Assim, para
ele a ciência e a tecnologia estariam cada vez mais relacionadas às condições da vida humana,
o que determinaria uma responsabilidade cada vez maior na condução da atividade cientifica e
tecnológica. Isto sugere que o desenvolvimento científico e tecnológico no mundo
contemporâneo ocorre a partir de fatores internos e externos ao campo científico. Onde existe
uma complexidade de relações entre a ciência com a cultura em geral e/ou com outras
instituições e atividades gerais da sociedade. Segundo Haberer (1974, p. 127) essa
preocupação com a responsabilidade social demonstrada na maioria dos estudos da época teve
origem no sentimento de crise provocado pelo conhecimento do fato de que os triunfos da
ciência em certa medida ameaçam a sobrevivência do homem. Basta lembrar os efeitos
31
destruidores do projeto Manhattan3 que derrubaram a convicção, baseada numa fé na ciência,
segundo a qual o progresso científico era inevitável e benéfico, essa crença começou a se
deteriorar quando se tornou evidente que a ciência como poder era igualmente um agente de
destruição e de morticínio (p. 108). Portanto os trabalhos desses autores ratificam a idéia de
que a estrutura e organização das atividades de ciência e tecnologia transcendem a dimensão
da neutralidade da ciência e individualista das disciplinas científicas, que até então eram
características consagradas no mundo acadêmico-científico.
3
Nome atribuído pelos Serviços Secretos dos Estados Unidos ao programa de pesquisa nuclear que tinha como objetivos de desenvolver
bombas atômicas.
32
Esses aspectos serão explorados com detalhes mais adiante nos modelos interativos de
produção de conhecimento com referência especial para o novo modo ou modo 2 de produção
de conhecimento proposto por Gibbons e seus colaboradores. Em relação ao modelo linear ou
modo 1 de produção de conhecimento, Gibbons et al (1994) acrescentam outras
características à noção de pesquisa básica e pesquisa aplicada desenvolvida por Bush,
nomeadamente a questão de predomínio de interesse acadêmico nas pesquisas e
principalmente de caráter mono disciplinar; a tendência de as pesquisas se realizaram em
comunidades basicamente homogêneas que podem ser de domínio institucional, nacional,
regional ou internacional; instituições científicas hierarquizadas, centralizadas e de caráter
permanente; autonomia relativa de cada área científica; e uma tendência forte para a
divulgação de resultados de pesquisa intrapares.
33
engavetados nos respectivos departamentos, sem a devida divulgação e disseminação para a
comunidade científica e muito menos para outros setores da sociedade moçambicana.
Os avanços constatados nos diferentes setores sócio-políticos e econômicas das nações vêm
modificando as formas e os processos de produção e desenvolvimento científico e
tecnológico, com a clara transição de modelos lineares consagrados nas décadas de 1950 e
1960 que pressupunham que o progresso do conhecimento era impulsionado pela própria
ciência e nas décadas de 1970 e 1980 que defendiam a idéia de que o desenvolvimento
científico era impulsionado pela demanda do mercado. Em ambos os casos o
desenvolvimento das atividades científicas obedeciam a uma sequência de estágios em que
novos conhecimentos resultados de pesquisa básica levariam a processo de inovação através
da pesquisa aplicada. Em relação ao modelo de impulsão pela demanda a principal
característica era que ao invés de as necessidades de pesquisas serem definidas nos lócus
principais de produção de conhecimento (universidade e institutos de pesquisa
governamentais), as escolhas eram provocadas pelas demandas do mercado que
influenciavam a direção e a velocidade do progresso tecnológico e ao mesmo tempo
reorientavam os investimentos para a ciência e tecnologia.
Um dos primeiros trabalhos nessa linha foi publicado por Kline e Rosenberg em 1986. Nesse
estudo, os autores introduziram o conceito de modelo interativo do processo de inovação
caracterizado pela combinação de interações complexas intra-empresariais e entre as
empresas e o sistema de C&T. Essa abordagem enfatiza o papel fulcral da concepção e da
retroalimentação entre as diversas fases do modelo linear, já discutido anteriormente, que
deverão ser conjugadas com as complexas interações entre ciência, tecnologia e o processo de
inovação em todas as fases do processo de produção do conhecimento no modelo interativo
(KLINE, ROSENBERG, 1986, p. 275).
É importante realçar que esse novo cenário de produção de conhecimento que ocorre
subsidiado através de arranjos institucionais é em grande medida facilitado e promovido pelas
novas tecnologias de informação e comunicação. Pois estas oferecem uma infraestrutura
flexível que propicia as interações necessárias entre universidades, governos, indústrias,
organizações não governamentais e outros atores envolvidos na cadeia de P&D, que tanto
podem ser em níveis interinstitucionais, nacionais, regionais ou internacionais. Nessa ordem
de idéias, os países em desenvolvimento, ou seja, com fraca infraestrutura de pesquisa e
desenvolvimento instalada internamente, podem se beneficiar desses arranjos institucionais
tendo em vista a criar alianças que favoreçam o seu progresso científico e tecnológico.
Gibbons caracteriza esses arranjos como sendo de natureza flexível, não-hierárquicos e
transitórios entre instituições de diversos tipos organizadas em redes de colaboração.
35
O ambiente de produção de conhecimento em sociedades contemporâneas é constituído por
uma complexa rede de comunidades de pesquisadores que atuam dentro de seus campos
científicos. Segundo o sociólogo francês Bourdieu (1983, p. 122) o processo de produção de
conhecimento se desenvolve dentro de um campo científico, definido por ele como um
“sistema de relações objetivas entre posições adquiridas em lutas anteriores (...) [onde] o que
está em jogo (...). é o monopólio da autoridade científica”. Um pouco adiante em seu texto,
ele chama a atenção para a impossibilidade de separar o interesse político do interesse
científico: “uma análise que tentasse isolar uma dimensão puramente „política‟ nos conflitos
pela dominação do campo científico seria tão falsa quanto o pressuposto inverso, mais
frequente, de só considerar as determinações puras e puramente intelectuais dos conflitos
científicos” (BOURDIEU, 1983, p. 124).
36
de produção de conhecimento, representados genericamente pelas universidades, o sector
público, a iniciativa privada, agentes da sociedade e os parceiros internacionais.
Nota-se também a transferência do locus central da atividade científica, lugar que no modelo
tradicional era ocupado pela universidade e pelas instituições de pesquisa do governo. No
modo 2 privilegiam-se as interações entre diferentes atores completamente evolvidos com o
processo de desenvolvimento do conhecimento científico e tecnológico, com destaque para a
37
inclusão e participação de outros atores na formação das redes de pesquisa como é o caso dos
laboratórios industriais, agências governamentais e de consultoria, grupos de especialistas que
interagem entre si criando redes interconectadas com as universidades e os institutos e centros
de pesquisa, organizações não governamentais, entre outros. A interação entre os vários
arranjos institucionais é facilitada pelas tecnologias de informação e comunicação que
propiciam a geração de fluxo informacional dentre as diversas camadas sociais e
organizacionais, principalmente, através do funcionamento de redes de comunicação
informal. Os arranjos institucionais e a reconfiguração das áreas de conhecimento originam o
deslocamento da pesquisa centralizada em uma determinada disciplina para a chamada
pesquisa desenvolvida em ambientes de aplicação ou contextos sociais de solução de
problemas dirigida por equipes multidisciplinares (GIBBONS et al., 1994, p. 6).
Com a emergência do modo 2, parece ter havido uma quebra das fronteiras entre os dois tipos
fundamentais de pesquisa, pois conforme já retratado, no modo 2 o tipo de pesquisa que
interessa é aquele necessário à solução do problema identificado no contexto de aplicação,
incluindo desde a pesquisa básica até a operacional.
38
normalmente o formato da solução final situa-se fora dos limites das contribuições singulares
de uma determinada disciplina, ou seja, a solução é apresentada de uma forma
transdisciplinar. Ao contrário do modo 1 onde a comunicação e disseminação dos resultados
está intrinsecamente ligada aos canais institucionais da comunidade científica, no modo 2 os
resultados são comunicados à todos os participantes e ao longo do processo de
desenvolvimento das atividades de pesquisa e produção do conhecimento. Por outras palavras,
inicialmente a difusão dos resultados é realizada em paralelo com o processo de sua produção.
Isso garante a retroalimentação e o aprimoramento dos resultados até se chegar a uma solução
sustentável do problema.
Outro ponto interessante é o fato de que no modelo tradicional, a relação entre produtores e
usuários do conhecimento se estabelece principalmente pela via de transferência unidirecional
e a posterior a publicação dos resultados, ou seja, no final da cadeia de produção. Já no modo
2, essa relação entre os diversos atores que participam do contexto de aplicação mantêm um
fluxo regular, em todas as etapas do processo, desde a identificação do problema até a
explicação, julgamento e uso de resultados. O ambiente de aplicação se transforma ao mesmo
tempo em um lugar de aprendizagem e mediação, aproximando os códigos e interesses de
produtores e usuários do conhecimento através de uma prática comum.
De salientar que apesar da alta mobilidade dos atores que integram as redes de pesquisa em
busca de soluções para os problemas, e da característica transitória dos contextos e ambientes
de produção do conhecimento, as redes de comunicação e disseminação tendem a ser
persistentes, e o conhecimento produzido nesses ambientes disponível para as novas
configurações das equipes multidisciplinares que irão trabalhar em novos problemas surgidos
após a solução dos problemas inicias ou pela sua redefinição. As redes de comunicação entre
as equipes de pesquisadores são cruciais para a dinâmica das novas configurações que surgem
ao longo do processo de produção do conhecimento e solução dos problemas apresentados
pela sociedade. Elas são mantidas em parte através de ligações formais ou por meio de canais
informais entre os elementos das equipes (GIBBONS et al., 1994, p. 5).
39
Esses membros podem posteriormente integrar outras equipes envolvendo outros elementos
diferentes, em outros locais, e em torno de novos e diferentes problemas.
Mais interessante ainda é que a experiência adquirida pelos pesquisadores integrantes das
equipes favorece a criação de habilidades e competências com valor agregado que são
transferidas ao longo desse processo para os novos contextos de solução de problemas e
produção de conhecimento, em um processo dinâmico e contínuo. Assim, no modo 2 o
conhecimento é produzido em um complexo arranjo institucional com participação de uma
variedade de organizações e instituições, incluindo empresas multinacionais, firmas de alta
tecnologia, rede de empresas, instituições governamentais, universidades, centro de pesquisa,
laboratórios, bem como programas de pesquisa nacionais e internacionais.
Isso se reflete na composição diversificada das equipes de pesquisa onde é possível encontrar
cientistas sociais trabalhando paralelamente com os demais cientistas das áreas exatas,
engenheiros, juristas e empresários, exatamente porque a natureza dos problemas exige a
formação de equipes multidisciplinares. Portanto a responsabilidade social permeia todo o
processo de produção de conhecimento, não somente na interpretação e divulgação de
40
resultados, mas também como já referido anteriormente na definição dos problemas e na
seleção das prioridades de investigação.
Nesse modelo o processo de revisão pelos pares também funciona como canal pelo qual a
comunidade cientifica define, que problemas podem ser julgados como importantes para o
avanço de uma determinada área ou disciplina científica. Logicamente os problemas assim
definidos são julgados dentro de critérios que refletem os interesses e preocupações
intelectuais da disciplina desprezando na maioria dos casos os interesses gerais da sociedade
como um todo.
41
será competitiva ou não no mercado?", "se esta será rentável?", e ainda "se ela será
socialmente aceite?", entre outros. Portanto no novo modo a qualidade dos produtos técnico-
científicos é determinada por um vasto conjunto de critérios, que são o reflexo do arranjo
social que interage na solução de problemas. Ao mesmo tempo em que se ampliam os
critérios de controle de qualidade, é preciso tomar certo cuidado, pois também pode ser que se
aumente a dificuldade para determinar o que seria uma “boa ciência”, devido principalmente a
abertura de fronteiras de julgamento para além dos limites de uma disciplina específica
(GIBBONS et al., 1994, p. 8).
De acordo com os mesmos autores, atualmente, a maioria dos países industrializados vem
adotando esse tipo de arranjo institucional, tendo em vista fortalecer um ambiente inovador
com ações trilaterais para o desenvolvimento econômico baseado no conhecimento e alianças
estratégicas entre empresas, institutos de pesquisa governamentais e grupos de pesquisa
acadêmicos. Acrescentam ainda, que esse tipo de arranjo institucional seria apenas
encorajado, sem um controle direto do governo, mas que este pode, eventualmente, municiar a
assistência financeira direta ou indireta para o desenvolvimento das atividades de inovação
(ETZKOWITZ e LEYDESDORFF, 2000 apud CONDE e ARAÚJO-JORGE, 2003, p.731).
42
Inovação4 que coloca a empresa como o ponto central e líder no processo de inovação, e
também difere do modelo de Triângulo de Sábato que privilegia o governo como principal
motor da dinâmica de inovação nas noções (ETZKOWITZ e LEYDESDORFF, 2000, p. 109).
Como já referido, a Tríplice Hélice focaliza o poder nas interações trilaterais das redes de
comunicações e na expectativa destas provocarem reformulações nos arranjos institucionais
entre a universidade, o setor privado e as agencias dos governos, gerando novas interações em
um processo contínuo.
Governo
Indústria Academia
4
O conceito de Sistema Nacional de Inovação tem sido extensamente utilizado pelos documentos e estudos da OECD. Esse conceito
analítico é usado tanto para identificar as redes de inter-relações entre instituições como a geração e difusão de inovações, quanto como
instrumento de política para promover essas relações (CONDE; ARAÚJO-JORGE, 2003, p. 730).
43
ii) a Tríplice Hélice 2, consiste em esferas institucionais separadas com fortes fronteiras
dividindo-as, mas com alto grau de relações circunscritas entre elas; e
Governo
Academia Indústria
Redes Tri-laterais e
Organizações Híbridas
Universidade
Governo Indústria
O modelo da Tríplice Hélice assim como os demais modelos interativos são produto das
transformações ocorridas na sociedade contemporânea principalmente depois da Segunda
Guerra Mundial e aceleradas com fim da guerra fria na década de 1980. Anteriormente à
emergência dos modelos interativos a universidade tinha como papel primordial o ensino e
pesquisa desinteressada. Com as transformações socioeconômicas as redes de relações entre a
universidade, governo e indústria foram crescendo culminando com a incorporação por parte
44
da universidade de uma terceira missão que é a inovação, ou seja, desenvolvimento
tecnológico.
45
interligados em fios e malhas. Essas conexões transformam os recursos esparsos numa teia
que parece se estender por toda parte. (LATOUR, 1999, p. 22; LATOUR, 2000, p.294).
A rede de atores não é redutível a um único ator e nem a uma única rede. A rede de atores
consagrada por esta teoria deve ser diferenciada dos tradicionais atores advogados nas teorias
clássicas da sociologia da ciência. Pois essas teorias geralmente excluem qualquer
componente não-humano em suas categorias de análise de redes. Mais importante ainda, na
teoria ator-rede, a rede não pode ser vista como sendo uma estrutura de vínculos de elementos
estáveis que se ligam de modo previsível e em nós perfeitamente definidos. Porque as
entidades que a constituem, naturais e/ou sociais, são heterogenias, transitórias e suscetíveis a
mudanças tanto da sua identidade como das suas mútuas relações, podendo trazer novos
elementos para a rede (CALLON, 1987, p.93).
A noção de rede assim percebida pode auxiliar a compreender como Moçambique, a partir das
poucas oportunidades existentes à época da independência estabeleceu a sua rede de
associações entre os atores humanos e não humanos tendo em vista a institucionalização do
setor de C&T. Portanto, este modelo teórico apresenta-se como um contraponto ao modelo
mertoniano que enfatizava o ethos e a autonomia de atores sociais na produção da ciência, ou
ainda a noção de campo científico de Bourdieu que também concentra sua análise em disputas
entre atores sociais. Para Trigueiro (2008) o construtivismo advogado por Bruno Latour e
Michel Callon conduz a discorrer a respeito de um desenvolvimento científico-tecnológico
“invadido”, não apenas por pressões políticas conforme debatido nos estudos do Merton
(1949) e Bourdieu (1983), mas, sobretudo por interesses e pressões econômicas e sociais, no
sentido mais amplo, envolvendo atores sociais e não sociais. Assim, as redes sócio-técnicas e
os laboratórios expandidos - conceitos propostos por Callon (1987) e Latour (2000), e as
arenas transepistémicas - idéia consagrada por Knorr-Cetina (1982), que representam o
conjunto de atores e interesses diversificados, envolvendo cientistas e não-cientístas, na
atividade científico-tecnológica, constituem modelos analíticos e/ou metodológicos
importantes que permitem acompanhar as estruturas e relações do desenvolvimento científico
e tecnológico contemporâneo (TRIGUEIRO, 2008, p. 28)
46
C APÍTULO IV
Freire de Andrade,
Governador Geral de Moçambique (1906-1910)
47
desempenhados pelo governo de Moçambique para a criação e estabelecimento de um sistema
nacional de ensino, no período pós-independência do País (1975-2009).
Segundo Silva (2005, p. 34) o período colonial foi caracterizado por um “sistema de educação
estruturado para reforçar a ideologia do regime”, (...) as reformas feitas na época procuravam
“... apenas contornar a possibilidade de produzir uma „elite negra educada‟, que viesse a
constituir um grupo forte de intelectuais, e uma oposição política”. Nesse período o esforço
empreendido pelo governo português nas suas colônias visava principalmente à formação e
educação dos filhos dos portugueses, e quando esta formação era estendida para os indígenas
tinha como objetivo principalmente a assimilação cultural5, ou seja, era voltada para incutir
nos nativos os valores culturais portugueses (BUENDIA GÓMEZ, 1999, p. 41).
Segundo Buendia Gomez (1999, p. 39) a primeira regulamentação do ensino nas colônias
portuguesas remete-nos a 2 de abril de 1845. No ano seguinte ao do estabelecimento dessa
regulamentação foram criadas por decreto as primeiras escolas primárias no país (Ilha de
Moçambique, no Ibo, Quelimane, Sena, Tete, Inhambane e Lourenço Marques). O sistema
educacional, então instituído, foi reformado em 1869, passando o ensino primário a ser
obrigatório. Mas mesmo assim, o sistema colonialista, continuou a negar ao negro africano o
direito a essa educação básica. Nessa altura o sistema educacional estava maioritariamente
sob a responsabilidade das missões católicas, em detrimento das missões de outras confissões
religiosas (sobretudo as igrejas evangélicas), “que sempre mantiveram uma postura crítica em
relação à colonização portuguesa” (JONHSTON apud BUENDIA GÓMES, 1999, p. 40).
A historiografia de Moçambique mostra que até 1912, altura em que foi criada a primeira
escola secundária (frequentada principalmente pelos filhos dos colonos) existiam 25 escolas
primárias oficiais6 e 100 rudimentares7, para uma população potencial escolar de cerca de um
milhão de alunos. Dessa população, somente 1195 alunos africanos estavam matriculados em
5
A política de assimilação tinha como característica principal de que os nativos africanos deviam, portanto, renegar o seu “eu”, para poder se
tornarem cidadãos portugueses, ou seja, deviam possuir bom caráter e qualidades morais próprias do cidadão português. O que significava
romper com a sua cultura, suas tradições e até com a sua família.
6
Este tipo de escolas só existia onde houvesse uma população européia ou assimilada que as justificassem. Os objetivos e programas desse
subsistema, oficial, eram regidos pelos princípios do ensino metropolitano (BUENDIA GÓMES, 1999, p. 63).
7
O modelo de ensino para africanos, que estava sob a responsabilidade da Igreja Católica, compreendia um primeiro nível: ensino
rudimentar constituída pela iniciação, a 1ª e a 2ª classes; e um segundo nível: o ensino primário onde eram lecionadas a 3ª e 4ª seguidas de
uma preparação para o ingresso no ensino secundário (Buendia Gómez, 1999, p. 60; Mondlane, 1995, p. 57). O objetivo principal desse
sistema de ensino era o de civilizar o indígena, segundo inscreve a Lei nº 238, de 15 de Maio de 1930, e a Concordata de 1940
(MONDLANE, 1995, p. 57).
48
escolas, sendo que a maioria deles (607 alunos) freqüentava as escolas missionárias
(ALMEIDA apud BUENDIA GÓMES, 1999, p. 40).
Para o sistema colonial português, as poucas escolas existentes na época eram suficientes para
educar o negro africano, pois o sistema havia determinado que aos indígenas bastava que lhes
proporcionassem, basicamente, uma profissão manual de modo a que fosse possível o seu
proveito em trabalhos na exploração das províncias ultramarinas (BUENDIA GÓMES, 1999,
p. 41). Essa ideologia estava patente nas afirmações de Freire de Andrade, Governador Geral
de Moçambique (1906-1910), segundo as quais “a única educação a dar ao africano é aquela
que faça dele um trabalhador” (apud BUENDIA GÓMES, 1999, p. 41).
Conforme evidencia o estudo feito por Buendia Gómez (1999, p. 60) no início da década de
1960, Moçambique contava com 311 escolas primárias (oficiais), frequentadas por 25.742
alunos dos quais apenas 1/5 eram africanos. Em relação às escolas rudimentares, os números
indicam que existiam 1.419 das quais 1.356 eram dirigidas pela igreja católica. Além das
escolas rudimentares havia, também, 65 escolas de artes e ofícios de nível elementar do
ensino técnico, que eram destinadas aos negros, sendo na sua maioria dirigidas por padres
(BUENDIA GÓMES, 1999, p. 66).
Em relação ao nível secundário, Buendia Gómez (1999, p. 60) assinala que havia, naquele
mesmo período, apenas 3 (três) escolas secundárias do Estado com cerca de 2.250 alunos, e
outras 3 (três) escolas secundárias particulares que tinham 800 alunos. Mas que na totalidade
apenas 6% dos alunos eram negros. Existiam, também, na mesma época duas escolas técnicas
(comércio e indústria). Os dados estatísticos educacionais daquele período indicam que em
1960, na maior escola secundária oficial de Moçambique (Liceu Salazar, em Lourenço
Marques), atual Escola Secundária Josina Machel, tinha somente 30 estudantes negros, filhos
de assimilados, para um total de 1.000 alunos matriculados (BUENDIA GÓMES, 1999, p.
66).
49
A semelhança do que acontecia nos níveis primários e secundários, naquela época o ensino
superior “[...] estava quase inteiramente destinando aos filhos dos colonos. Em 1973 somente
40 em 2.400 estudantes, eram negros” (BUENDIA GÓMES, 1999, p. 74). Os poucos negros
que frequentavam a universidade por essas alturas pertenciam “[...] à pequeníssima elite de
moçambicanos „assimilados‟ aí residentes” (SILVA, 2005, p. 35).
No início a universidade apenas oferecia alguns cursos que cobriam principalmente as áreas
científicas ligadas a ciências naturais. Este fato deveu-se ao caráter restritivo do ensino nas
colônias portuguesas que impunha um controlo político sobre a universidade. Uma vez que a
então ULM oferecia poucos cursos, os alunos que passavam no exame de admissão à
universidade na colônia, eram contemplados com bolsas de estudos para ingressar em
universidades da metrópole, para aqueles casos em não existiam os cursos de preferência na
colônia (BUENDIA GÓMES, 1999, p. 74). Essa política favoreceu a formação de uma
pequena elite de estudantes moçambicanos para que frequentasse universidades portuguesas.
Alguns destes estudantes formaram, mais tarde, os núcleos de nacionalistas africanos que
tiveram papel importante na organização e desenvolvimento dos movimentos de luta de
libertação nas colônias. Mais adiante, Buendia Gómez relata que o governo português não
permitia que alunos africanos estudassem em “[...] universidades não portuguesas, numa clara
tentativa de conter nestes o crescimento de uma consciência nacionalista e impedir que
estabelecessem contatos com organizações políticas anti-coloniais”, que naquela época se
formavam praticamente em todos os cantos do mundo (BUENDIA GÓMES, 1999, p. 74).
Diante dessas afirmações fica claro o quanto a educação no período colonial foi marcada por
um sistema de ensino alienante, cujo objetivo principal era o de instrumentalizar o africano
por meio de ideologias assimilatórias. Quando este conseguia frequentar alguma escola, por
sua vez, o sistema de ensino em vigência na época, de tudo, fazia para a total desconstrução
do saber sociocultural necessário para o desenvolvimento da auto-estima e progresso dos
povos africanos.
Este período foi caracterizado pela existência de dois sistemas de educação em Moçambique:
o primeiro sob o comando do colonialismo português, que tinha objetivos claramente
vocacionados para o “embutrecimento” sociocultural e científico do negro africano, conforme
50
relatado no item anterior. O segundo sistema implantado paralelamente pela FRELIMO8
visava “destruir/construir” uma “sociedade nova”, um “homem novo” no discurso do primeiro
presidente do Moçambique independente, Samora Machel (NASCIMENTO, 1980, p. 29;
BUENDIA GÓMES, 1999, p. 110). Nos discursos de Machel, é possível perceber a
permanente preocupação do governo da FRELIMO em relação à educação naquela época, ou
seja, era necessário “definir um principio básico da educação”. Uma das características desse
pensamento estava centrada na “articulação entre estudo e produção”, (...) “a combinação da
educação com a produção significava, sobretudo a aquisição teórica e prática de
conhecimentos...” (MACHEL apud NASCIMENTO, 1980, p. 33).
Para Nascimento (1980, p. 33), esse princípio instaurou na realidade moçambicana, naquela
época, um rompimento na esfera educacional. Pois, no sistema de educação colonial havia
uma separação entre a formação e a realidade vivida pelo homem, “[...] criando um abismo
entre teoria e prática, trabalho intelectual/trabalho manual”. Como referido anteriormente o
trabalho intelectual era próprio dos colonos. Ao negro africano apenas era reservado o mínimo
instrumental para desenvolver o trabalho braçal, ao mesmo tempo em que era
despersonalizado de forma a “[...] desligá-lo de seu país e de sua origem, levando-o assim a
negar, a desprezar, a envergonhar-se do seu povo e da sua classe, a perder a iniciativa criadora
e a só reconhecer como válidos os valores do colonizador” (MACHEL apud NASCIMENTO,
1980, p. 29).
8
Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), movimento contrário à dominação colonial portuguesa, fundada em 1962 pela
unificação de três movimentos até então existentes: União Democrática Nacional de Moçambique (UDENAMO); Mozambique African
National Union (MANU); e União Nacional Africana para Moçambique Independente (UNAMI) (BUENDIA GÓMES, 1999, p. 100-101).
51
anos de diligente negligência sob o domínio português” (MONDLANDE apud BUENDIA
GÓMES, 1999, p. 107).
52
das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), estes números revelam a natureza
excludente do sistema de educação colonial.
A privação do “... acesso a escola moderna” foi uma das formas utilizadas pelo colonialismo
português para dominar os povos africanos; (ii) pela saída em massa, do País, do pessoal
qualificado incluindo professores dos diversos níveis de ensino (primário ao superior); e (iii)
pelo empenho do governo da FRELIMO, que tomara posse recentemente, na “... massificação
da educação para fazer da escola uma base para o povo tomar o poder”, palavra de ordem
daquela época, citada em vários documentos oficiais do partido FRELIMO e do governo
(PNUD, 2000, p. 31, grifo do autor).
Dados estatísticos do período pós-independência indicam que entre 1975 e 1980 o país
conheceu um aumento significativo da população escolar do ensino primário. Passando de
cerca de 600 mil alunos, em 1975, para mais de 1 milhão em 1976” (BUENDIA GÓMES,
1999, p. 237).
9
Por exemplo, a nacionalização dos estabelecimentos de ensino, cujo objetivo era eliminar os fatores de discriminação social e assegurar a
democratização do acesso à escola (PNUD, 2000, p. 34).
53
colonial garantiram em parte o funcionamento do sistema, deixando ao governo a missão da
educação desde o ensino infantil até a universidade. Alguns anos mais tarde, esta situação
(estatização e centralização da educação), viria a provocar um retraimento da impetuosa
participação popular, no sistema de educação, que caracterizou os primeiros anos da
independência (PNUD, 2000, p. 34-5).
A situação foi se agravando cada vez mais com a intensificação da guerra civil na década de
1980, que constituiu um entrave para o normal desempenho de todos os setores
socioeconômicos do País. O setor da educação registrou uma considerável redução e
estagnação das taxas de crescimento dos efetivos escolares, tanto em termos de alunos
matriculados, assim como, no que diz respeito à infraestrutura escolar. Cerca de três mil
escolas foram encerradas entre 1983 e 1992. Dados do Ministério da Educação (MEC)
indicam “... que em 1983 os efetivos escolares do ensino primário eram pouco mais de 1,2
milhão de alunos, o mesmo nível que em 1992” (PNUD, 2000, p. 41).
Os últimos anos da década de 1980 e o início dos anos 90 foram caracterizados pela busca
incessante de negociações pelo fim da guerra civil entre o governo da FRELIMO e o
movimento de Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), que culminou com a
assinatura do Acordo Geral de Paz, em Roma em 1992. O clima de paz e estabilidade política
alcançados com o fim da guerra trouxe outra dinâmica nos diversos setores socioeconômica
do País.
Até então a taxa bruta de admissão vinha decrescendo desde 1981, ano que se observou um
dos maiores índice (110%) de oferta de vagas na história da educação em Moçambique. Entre
1991/92 esse índice caiu para cerca de 60%, o mais baixo na história de Moçambique
independente. Deste então os níveis de oferta de acesso ao sistema de ensino observaram um
crescimento consistente e contínuo. Mesmo assim, até 1999, ano em que a taxa bruta de
admissão alcançou 104,2%, ainda não se tinha atingido o nível de capacidade de escolarização
registrado em 1981 (PNUD, 2000, p. 42-3).
54
4.4.1 Planos Governamentais e a Evolução do Sistema de Educação
Em 1995 o MEC concebeu a Política Nacional da Educação (PNE), que integrava o programa
global do primeiro governo multipartidário eleito em 1994, e definiu um Plano Estratégico de
Educação (PEE I) centrado nos seguintes pilares: aumento do acesso e equidade; melhoria da
qualidade e relevância do ensino; reforço da capacidade institucional do MEC; e tinha como
prioridade central o ensino básico.
O PEE I foi implementado entre os anos de 1999 e 2005. Em 2006 sofreu uma reformulação e
passou a integrar a componente cultural, em razão das mudanças estruturais ocorridas na
esfera ministerial. Assim, o PEE passou a designar-se PEEC – Plano Estratégico de Educação
e Cultura. Mas manteve os objetivos iniciais previstos no PEE I, embora com maior ênfase na
melhoria da qualidade e na retenção dos estudantes ate à 7ª classe. Outra grande vertente do
PEEC, mais ainda de forma tímida, é a questão do ensino técnico-profissional e vocacional,
ensino secundário com características profissionalizantes, e por último está o ensino superior
(MOÇAMBIQUE. MEC, 2006, p. 5).
55
Os dados apresentados nas Tabelas 1 e 2 confirmam a preocupação do governo em relação a
criação de condições tendo em vista a aumentar a capacidade de oferta de vagas, sobretudo,
nos primeiros níveis de educação escolar. De 6.114 escolas de EP1 em 1998 o País passou a
contar com 9.649 escolas em 2008 (ver Tabela 1), no mesmo período as matriculas, no EP1,
cresceram de 1.910.189, em 1998, para 4.176.960 em 2008 (ver Tabela 2).
56
Tabela 2: Número de Alunos no Ensino Geral por Nível, 1998 - 2008
A Figura 10 ilustra o acesso limitado às escolas dos níveis de EP2 e mais baixo ainda quando
se trata de escolas do ESG1 e ESG2, que em última instância significa menos candidatos para
o nível superior. Esta figura refere-se à situação da rede pública e somente ao turno diurno.
Mas, mesmo assim, não apresente grande diferença da situação global que inclui as escolas
privadas e o turno noturno.
Os dados estatísticos referentes ao ensino técnico-profissional (ETP) revelam que essa área
recebeu menos investimentos nos últimos 10 anos, ou seja, não constituíam prioridade nos
programas de expansão do sistema de ensino implementados. De 7 escolas do ETM em 1998
passou a contar com apenas 12 em 2008 e com um número de alunos matriculados que variou
de 3.271 à 5.309 inscritos no mesmo período (ver Tabelas 1 e 3).
57
Em relação à formação de professores primários, apesar de não ter havido grande crescimento
em termo de número de escolas, houve um considerável aumento no número de inscritos que
passou de 4.655 em 1998 para 10.810 em 2007 (ver Tabela 3).
Estes números não só respondem aos objetivos traçados no PEE I, mas de certa forma, e
talvez mais importante, refletem os esforço do governo no sentido de honrar os compromissos
assumidos com os seus parceiros de cooperação para a implementação de programas globais
de desenvolvimento. Esta argumentação encontra respaldo no PEEC, por exemplo, quando
afirma que “... esta estratégia reflete o compromisso do Governo para com a Educação para
Todos e aos Objetivos do Desenvolvimento do Milénio (ODM) apoiadas pela comunidade
internacional. Desta forma, tem por objetivo explicito, assegurar a conclusão dos sete anos de
ensino primário a todas as crianças moçambicanas, a ser alcançado em 2015”
(MOÇAMBIQUE. MEC, 2006, p. 8).
A Iniciativa Acelerada de Educação para Todos - Education for All Fast Track Iniciative
(EFAFTI) surgiu depois da Cimeira de Monterrey, realizada em Março de 2002 e apoiada
pela Cimeira dos G8, em Junho de 2002, no Canadá. Esse programa visa, essencialmente,
criar mecanismos de facilitação de ajuda aos países em desenvolvimento a mobilizar os
recursos necessários para executar planos progressivos com vistas à Escolarização Primária
Universal (EPU) e sua conclusão, até 2015. Para o País se beneficiar da EFAFTI precisava
preencher requisitos que compreendiam a existência de um Programa de Desenvolvimento do
Sector, em implementação, um Plano da Redução da Pobreza, acordado com os parceiros de
58
cooperação e com a Sociedade Civil e o compromisso de priorizar a escolarização primária
universal e a sua conclusão (MOÇAMBIQUE. MEC, 2003, p. 1).
Se por um lado no período colonial o sistema foi caracterizado por um ensino alienante, em
que o interesse primário era o de “domesticar” a população nativa transformando-a em mão-
de-obra barata ao serviço da burguesia imperialista; já na primeira República, assiste-se a um
“erguer-se de um povo”, sob o comando do Governo da FRELIMO, que introduz um sistema
político orientado por princípios Socialistas e Marxistas. Os interesses políticos existentes
nessa época forçaram a introdução de mudanças radicais no sistema de ensino nacional, que
visavam primeiramente transformar e educar o Homem Novo (FRELIMO, 1976, p.104).
59
assumidos pelo governo com os seus parceiros de financiamento, que por vezes fazem com os
governos de países em desenvolvimento não tenham muitas escolhas a seguir, senão consentir
aos interesses explicitados nos pacotes de ajuda.
60
C APÍTULO V
(...) é altura de se pensar nas infraestruturas ... porque daqui a algum tempo teremos muitos
doutores sem espaço para desenvolver suas atividades de investigação por falta de
infraestrutura...
Docente (UEM)
61
moçambicana; a evolução das instituições de P&D; a dimensão política e o investimento e
formação da comunidade científica; a cooperação internacional, as redes de colaboração
científica e a definição e consolidação das linhas de pesquisa.
Conforme referido anteriormente, a primeira instituição de ensino superior foi criada pelo
governo colonial português em 1962 com designação de Estudos Gerais Universitários de
Moçambique. Foi elevada para a categoria de Universidade em 1968, e passou a designar-se
Universidade de Lourenço Marques até o ano de 1976, altura em que foi atribuída a atual
denominação de Universidade Eduardo Mondlane.
[...] não é tanto um argumento, neste momento, politicamente tão convincente ... uma das
grandes motivações ... foi a motivação econômica em relação a classe média dos brancos nas
colônias ... ficava mais barato educar os filhos ao nível das colônias, ou seja, aqui do que
exportá-los para a metrópole para ter o ensino universitário.
Docente (UEM)
Nos primeiros anos da sua existência a universidade cobria algumas áreas científicas,
principalmente, ligadas às ciências aplicadas, entre as quais podem se citar os cursos de
Medicina; Engenharias (civil; minas; mecânica; eletrotécnica e químico-industrial);
Agronomia; Silvicultura e Medicina Veterinária; e também, cursos de áreas Pedagógicas
(SILVA et al., 2002 p. 21).
O controle político sobre o sistema de ensino que era imposto pelos portugueses nas suas
colônias, pode ser considerado como sendo uma das razões que determinaram e moldaram a
formação da Universidade moçambicana naquela época. Silva (2005) refere em seu estudo
63
sobre o ensino superior e investigação em ciências sociais em Moçambique que, “[...] a
introdução de cursos como Filologia Românica, História e Geografia [...]” somente foi
permitida muito mais tarde e nesses cursos, os alunos, apenas frequentavam os primeiros
anos, de maneira que eram obrigados a “[...] terminar a sua formação em Portugal, sob o olhar
de um melhor controlo político [...]”. Os cursos de “[...] Sociologia, Ciências Políticas e
mesmo Direito, apenas foram introduzidos depois da independência nacional” (SILVA et al
2002 p. 21; SILVA, 2005, p. 36).
Nesse período o sistema de ensino e pesquisa sofreu várias metamorfoses para atender as
necessidades e os requisitos políticos do governo da FRELIMO, que chega ao poder em 1975.
Assim como, ocorrera no tempo colonial, a motivação política, foi também determinante para
o desenvolvimento e evolução do sistema de investigação e ensino superior no período
imediatamente após independência nacional. Sobre estes aspectos é importante realçar o
domínio político da FRELIMO, em relação à formação da sociedade contemporânea
moçambicana em todas as frentes. No poder a mais de 34 anos, esta força política tem jogado
papel importante (positiva ou negativamente) na evolução e institucionalização da ciência e
64
tecnologia em todos os níveis. A tal ponto que, não se pode pensar em dissertar sobre a
formação da comunidade científica nacional e das suas lideranças, sem mencionar a forte
influência e ligação política, que possuem com o partido no poder. Regra geral pensa-se que a
comunidade científica devia ter, em seu modus operandi, algum distanciamento do sistema
político, e não só, ela deve procurar influenciar as decisões políticas, por forma a
contrabalançar a vontade e interesses meramente políticos, daquilo que são realmente ações
de valor extraordinário para o desenvolvimento sustentado do país nos diversos níveis sociais,
econômicos e culturais.
[...] após a independência as instituições de pesquisa sofrem da crise de abandono dos quadros
portugueses, e a um deslocamento da pesquisa de desenvolvimento para as empresas estatais,
que tinham como missão desenvolver atividades de pesquisa e produção para suprir as
necessidades imediatas de acordo com os planos do governo de então.
Docente (UEM)
Com a criação das empresas estatais, o ensino superior, assim como, as instituições de
pesquisa existentes naquela época foram relegados a um segundo plano. Porque todos os
esforços do governo de então estavam virados para o desenvolvimento e fortificação daquelas
empresas. Uma escolha política um tanto quanto ingênua, pois se as empresas estatais tinham
a missão de produzir com sustentabilidade, certamente iriam necessitar de suporte da pesquisa
de desenvolvimento. E nesse caso precisariam, não só da massa intelectual, mas também das
poucas infraestruturas de pesquisa que o país detinha na época, que se resumiam
fundamentalmente aos poucos institutos de pesquisa e à única universidade então existente.
Mas era necessário fazer alguma escolha. Era preciso começar de algum lugar. Por isso, deve-
se ter em conta que provavelmente as escolhas feitas, muitas vezes eram feitas para alimentar
o protagonismo político, aliado ao despreparo generalizado das lideranças de então, conforme
relato transcrito a seguir:
O objetivo basilar desse plano era de, em 10 anos, promover a melhoria das condições de vida
da sociedade moçambicana, através da satisfação das suas necessidades básicas, requisitos
essenciais para se atingir a felicidade e o progresso do Homem, na sociedade socialista que
estava em construção na época.
[...] Tivemos a guerra de desestabilização que não nos deu tempo para nos concentrarmos na
economia ... todos os esforços estavam virados para a defesa da independência [...] Tentativas
de ensaios de políticas para o desenvolvimento, como por exemplo o PPI foram tentativas que
de fato não tinham sido bem estudadas, do ponto de vista de conhecimentos, porque também
não tínhamos recursos nem humanos nem materiais para desenvolver um país em 10 anos [...]
Gestor (MCT)
10
O PPI definido como guia de ação e instrumento fundamental para a construção de uma economia socialista relativamente desenvolvida.
Para esse objetivo eram defendidos três eixos centrais na materialização do PPI: (i) a socialização do campo e o desenvolvimento agrário
através do desenvolvimento acelerado do sector estatal agrário (com base na grande exploração agrária e na mecanização, a realizar
principalmente através dos grandes projetos) e na cooperativização do campo (transformação de milhões de camponeses num forte
campesinato socialista edificado sob novas relações de produção; fortalecer, expandir e apoiar a criação de cooperativas e envolver os
camponeses num modo de vida coletiva nas Aldeias Comunais); (ii) a Industrialização, com maior enfoque no desenvolvimento da indústria
pesada; e (iii) a formação e qualificação da força de trabalho, através da adoção de normas e metodologias que permitisse a massificação da
formação dos trabalhadores, incluindo a alfabetização e educação de adultos (FRELIMO, 1980 apud CHICHAVA, 2008).
67
como membro do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, em 1984. Isso
permitiu que o país conseguisse uma significativa assistência financeira das instituições
internacionais de ajuda ao desenvolvimento. Foi neste contexto que em 1987 o governo lança
o Programa de Reajustamento Econômico (PRE), que em 1989 incluiu o componente social
passando a designar-se Programa de Reajustamento Econômico e Social (PRES). Estes
programas desenhados com forte influência e condicionados pelo Banco Mundial e também
pelo FMI tinham como objetivo principal liberalizar e adotar uma economia orientada para
mercado. Portanto, era necessário fazer o processo reverso do que aconteceu logo a após a
independência. Naquela época, 1974-1975, o governo tomou, ou seja, nacionalizou todas as
empresas privadas, escolas, hospitais, etc., então existentes. E na segunda metade da década
de 1980 o país assistia ao inicio da privatização das empresas estatais ou de sua
reestruturação. Essa medida visava atender às exigências impostas pelas instituições de ajuda
financeira internacionais, e os requisitos de uma economia do mercado ainda embrionária no
país:
[...] Chegamos numa altura que começamos a analisar a política econômica do país ... depois
com a queda dos parceiros, e com os ensaios feitos na época sobre as formas de
desenvolvimento, que não deram resultados ... chegamos a conclusão que era necessário fazer a
liberalização da economia, naturalmente fizemos a nossa maneira ... foi brusco e também não
tínhamos experiência, muitas vezes fomos forçados a fazer coisas para conseguirmos o apoio
dos doadores ... então foram tomadas medidas duras ... daí que entramos em situações difíceis
... não houve controle da implementação de algumas medidas ... por exemplo, na privatização
de algumas empresas, etc... Entramos nas políticas ou programas de reajustamento
influenciados pelas organizações internacionais, Banco Mundial, FMI ... mas também não
tínhamos muitas alternativas, era necessário.
Gestor (MCT)
Assim, pode considerar-se que a segunda metade da década 1980 marca o renascer do país.
Testemunha-se, nesse período, a mudança do sistema político monopartidário para o
multipartidarismo introduzido pela constituição de 1990. Em 1994 assistem-se as primeiras
eleições multipartidárias, conforme já referido ganhas pela FRELIMO, que sucessivamente
vem conseguindo vitórias, inclusive nas últimas eleições realizadas a 28 de outubro de 2009.
Isso demonstra a grande influência que esta força política exerce, nos diferentes níveis da vida
do país. No período que vai do primeiro governo eleito democraticamente, em 1994, para o
presente momento destacam-se a elaboração, dos planos ou programas governamentais de
ação para a redução da pobreza absoluta (PARPA I em 2001-2005 e PARPA II em 2006-
2009) e da agenda 2025 que é plano estratégico da nação elaborado a partir da consulta a
todos os atores envolvidos nos esforços de desenvolvimento do país. A agenda 2025 é um
68
guião para o desenvolvimento de Moçambique até o ano de 2025. Os PARPA I e II
apresentam como áreas prioritárias o
[...] naturalmente que começamos a receber conselhos de como deviam-se fazer as coisas ...
então começamos a fazer os planos de desenvolvimento como o PARPA... Naturalmente para
implementar os planos seria necessário termos recursos humanos qualificados ... daí
começamos a planificar também a abertura de novas universidades ... e chegamos num certo
ponto ... que também seguindo aquilo que estava na moda ... que bom ... o desenvolvimento era
baseado no conhecimento ... podemos ter recursos mas se não temos conhecimento não
fazemos o uso do recurso [...]
Gestor (MCT)
Deste modo, com a implementação dos PRE/PRES na segunda metade da década 1980 e dos
PARPA I e II na presente década, o país tem registrado avanços em todos os níveis de
desenvolvimento sócio-político e econômico. Nos últimos 10 anos, a economia moçambicana,
registrou um crescimento médio acima dos 6%, com recorde de 8.5% em 2006, tendo fechado
o ano de 2008 com uma taxa de crescimento em torno de 6.5%. Nos períodos de
implementação destes programas assistiu-se, também, a evolução do setor da educação que é
basilar para o desenvolvimento da C&T. Conforme será abordado nos próximos tópicos, de
1985 até o presente, registrou-se um crescimento e expansão acelerado da rede de ensino
superior de dois estabelecimentos de ensino superior públicas, o país passou a contar com
aproximadamente 40 IES públicas e privadas em 2009, cobrindo praticamente todas as
regiões do país (norte, centro e sul).
Durante muitos anos a UEM, a UP e o ISRI foram as únicas instituições públicas de ensino
superior do país. Elas foram se adaptando às necessidades e realidades do contexto econômico
e sócio-político nacional e internacional. Ao longo do tempo de sua existência enfrentaram
problemas como a falta de docentes qualificados para lecionar, o baixo nível de infraestrutura
laboratorial, o baixo nível de pessoal técnico-administrativo, as limitações e disputas políticas
e principalmente os conflitos internos, que impediram grandemente o seu crescimento e
enraizamento. Estas instituições, por muito tempo, mantiveram as suas sedes apenas na cidade
70
capital do país, Maputo. As primeiras delegações fora da capital foram instaladas na década
de 1990 e funcionavam em condições precárias, devido à falta de infraestruturas adequadas.
Mesmo assim foi um esforço louvável, visto que, foi o início da expansão do ensino superior
para o interior do país, o que de alguma forma melhorou a equidade regional de acesso a este
nível de ensino.
As mudanças políticos, sociais e econômicas ocorridas nos finais da década e 1980 e início
dos anos 1990 que culminaram com a liberalização da economia moçambicana, e
consequentemente abertura para privatização de vários seguimentos de atividades sociais e
econômicas do país, abriram espaço para a reintrodução do sistema de ensino privado no país.
Assim, em 1996 foram criadas as duas primeiras instituições privadas de ensino superior, a
saber: Instituto Superior Politécnico Universitário (ISPU) que através do decreto nº 42/2007
de Conselho de Ministros de 5 de Outubro de 2007 passou a designar-se Universidade
Politécnica; e a Universidade Católica de Moçambique (UCM). Na sequência em 1997 era
criada a terceira instituição privada de ensino superior, desta feita, o Instituto Superior da
Ciência e Tecnologia de Moçambique (ISCTEM), e no ano de 2000 o Instituto Superior de
Transportes e Comunicações (ISUTC), a Universidade Mussa Bin Bique (UMBB) e outras
Segundo dados estatísticos do ensino superior elaborados pelo MEC e divulgados em abril de
2009, passados 13 anos, após a entrada em funcionamento de instituições particulares, o país
já contava com 36 estabelecimentos de ensino superiores, públicas e particulares, que
administram diversos cursos, em diferentes regiões do país (ver Anexo 4).
72
A proliferação de IES verificada neste período tem sido acompanhada pela instituição de
cursos de Pós-Graduação, também na sua maioria em áreas das Ciências Sociais e
Humanidades. Se por um lado esse fato deve ser considerado de elevada importância para a
formação de recursos humanos qualificados e produção de conhecimento científico, doutro
deve ser analisado com ponderação. Isto porque, em Moçambique, ainda não existe nenhum
órgão central com a missão de coordenar, avaliar e fiscalizar as atividades de ensino superior.
Essa lacuna pode trazer resultados desastrosos para o sistema da C&T, devido ao aumento
desacelerado de cursos tanto em níveis de graduação como de pós-graduação, não ajustados
às necessidades e contextos nacionais. Fundamentalmente, porque observa-se uma
mercantilização da pós-graduação tanto nas IES particulares como em públicas. Alguns
estabelecimentos de ensino criam estes cursos como forma de aumentar o saldo de seus
balancetes para garantir os orçamentos de funcionamento. São poucas, se existirem, IES que
possuem programas de pós-graduação assentes e com ligação intrínseca a programas e linhas
de investigação institucionalizados, com um quadro de pessoal docente de dedicação
exclusiva e comprometido com as atividades de docência e investigação. Esta ausência de
comprometimento pode estar na origem dos fracos resultados ou baixo rendimento em termos
de graduações comparado aos estudados ingressantes, conforme apresentado nas seções que
se seguem (informação estatística dos cursos de graduação e pós-graduação entre 2003-2007).
A informação estatística do ensino superior publicada pelo MESCT (2004; 2005) e pelo MEC
(2005; 2009) foi importante para se ter um diagnóstico real da situação deste setor de
atividade principalmente nos últimos anos. Não foi possível obter dados sistematizados
referentes a anos anteriores, que seriam essenciais para se fazer uma comparação precisa da
evolução do setor entre o período da primeira e o da segunda República.
Assim, a Figura 12 apresenta os dados que retratam a situação do ensino superior 8 anos após
a introdução das primeiras IES particulares no país. De 2003 a 2005, em termos comparativos,
as IES particulares cobriam aproximadamente o equivalente a metade de toda a população
estudantil que frequentava a IES públicas, ou seja, em 2003 as IES públicas matricularam
1235 estudantes contra 5990 e em 2005 tinham 18863 e 9435 estudantes respectivamente.
Entre 2006-2007 a diferença cresceu, as IES públicas cobrindo um número cada vez maior
73
que o coberto pelas particulares, provavelmente isso deveu-se não só a criação de novas
instituições públicas, mas talvez à introdução de novos cursos e a abertura de cursos no
período pós-laboral na grande maioria das faculdades da UEM e da UP. Portanto, em termos
numéricos as IES públicas mais que triplicaram a população estudantil passando de 11235
estudantes em 2003 para 51001 em 2007, enquanto que as IES particulares passaram dos
5990 em 2003 para 12475 em 2007. O número total de estudantes matriculados em IES
públicas e particulares passou de 17225 em 2003 para 63476 em 2007 (ver Figura 12).
60000 70000
63476
Estudantes Matriculados
Estudantes Matriculados
50000 60000
51001
50000
40000
43233
40000
30000 31922
28298 30000
20000 22256
17225 18863 20000
10000 15113
11235 10000
5990 7143 9435 11311 12475
0 0
Anos
Figura 12: Evolução do Número de Estudantes Matriculados em IES Públicas e Particulares 2003-2007
Fonte: MOÇAMBIQUE. MEC (2009) - adaptado
2004 (N) 2006 (N) 2007 (N) 2004 (%) 2006 (%) 2007 (%)
30000 50,0
45,0
25000
40,0
Nº Estudantes Matriculados
% Estudantes Matriculados
35,0
20000
30,0
15000 25,0
20,0
10000
15,0
10,0
5000
5,0
0 0,0
Áreas Científicas
Figura 13: Evolução da Distribuição de Estudantes Matriculados por Área de Formação 2004, 2006 e 2007
Fonte: MOÇAMBIQUE. MESCT (2005) e MOÇAMBIQUE. MEC (2008; 2009) - adaptado
74
Conforme já referido os cursos das áreas Sociais são os mais predominantes no sistema de
ensino superior nacional, dado o pouco investimento requerido para a instalação e
funcionamento dos mesmos. Em termos proporcionais os cursos das áreas de Engenharias,
Manufatura e Construção (EMC), Ciências Naturais (CN), Agricultura, Florestal e Veterinária
(AFV), e Saúde e Bem Estar (SBE) tiveram valores menores de estudantes matriculados se
comparados aos das áreas sociais que registraram valores proporcionais acima de 40% em
2004 e 2007 contra CN – 13,3%, EMC - 10,9%, AFV – 6,6% e SBE – 5,1% em 2004; e CN -
8,4%, EMC – 9,7%, AFV – 3,9% e SBE – 3,9% (Ver Figura 13). Portanto, esta situação é
semelhante ao verificado em países como o Brasil em que grande parte de IES particulares
também seguiram o mesmo modelo de investimento, ou seja, em curso menos onerosos. Mas,
o Brasil criou o sistema muito eficaz de coordenação, acreditação, avaliação e fiscalização
que tem sido importante na manutenção da qualidade de instalação e funcionamento dos
cursos superiores e de pós-graduação. Em Moçambique, a fraca qualidade do ensino oferecido
pelas IES, desde a baixa qualificação dos docentes, insuficiência de bibliografias atualizadas,
laboratórios, entre outros fatores, pode ser a causa do baixo rendimento em termo de
Estudantes diplomados se comparado com os novos ingressos e matriculados nas IES nos
anos de 2003, 2004 e 2007 conforme ilustrado na Figura 14 e 15. Em 2003 estavam
matriculados 17225 Estudantes em todos os níveis bacharelado, licenciatura e pós-graduação
dos quais somente 1409 conseguiram concluir com êxito seus cursos. Em 2007 a relação foi
de 63476 matriculados para 4527 graduados, neste ano o número de novos ingressos ficou na
ordem de 29918. Como se pode observar existe uma baixa taxa de conclusão que pode ser
fruto de um sistema de ensino que ainda está em instituição, com insuficiente ou em nenhum
mecanismo de regulação e controle de padrões mínimos de qualidade.
75
disponíveis, ver Figura 15, as ciências naturais e as engenharias, em 2007, tinham menos de
100 estudantes matriculados e graduaram somente 16.
30000 3000
2558
25000 2500
Estudantes Matriculados
Estudantes Graduados
20000 2000
15000 1500
10000 1000
390 484 289
5000 114 155 500
229 147 161
0 0
Áreas Científicas
Figura 14: Evolução de Estudantes Matriculados e Diplomados em Cursos de Graduação 2003, 2004, 2007
Fonte: MOÇAMBIQUE. MESCT (2004; 2005) e MOÇAMBIQUE. MEC (2009) - adaptado
450 60 70
400
60
Estudantes Matriculados
350
300
50 Estudantes Graduados
250 40
200 30
21
150 16 20
100
1 5 10
50 1
0 0 0
0 0
Áreas Científicas
Figura 15: Evolução de Estudantes Matriculados e Diplomados em Cursos de Pós-Graduação 2003, 2004, 2007
Fonte: MOÇAMBIQUE. MESCT (2004; 2005) e MOÇAMBIQUE. MEC (2009) - adaptado
Através da leitura e análise das informações já apresentadas pode se concluir que o país ainda
carece de condições internas para formação de recursos humanos qualificados essenciais para
o desenvolvimento das atividades de C&T. Apesar das áreas sociais relativamente
contribuírem com mais de 60 diplomados por ano (tomado como referencia dados de 2007),
em níveis de pós-graduação, o país ainda depende grandemente da formação no exterior.
Importante ainda é que a formação no exterior não é suportada diretamente pelo Estado
moçambicano, ou seja, essa formação é dependente das oportunidades de bolsas de estudos
oferecidas por agências internacionais de desenvolvimento, e uma parcela muito pequena é
financiada pelo governo, mas com fundos doados ou créditos internacionais
(MOÇAMBIQUE. MCT, 2008).
Assim, nesse período a docência foi garantida por professores maioritariamente provenientes
de países que na altura possuíam acordos de cooperação no domínio da educação.
Paralelamente eram recrutados indivíduos que na época já tinham nível superior (licenciatura)
para desempenhar as funções de docência. Depois, esse pessoal era enviado para formação em
níveis de mestrados e doutoramento à medida que iam surgindo oportunidades para o efeito
(esta temática será desenvolvida mais adiante). Portanto, durante os primeiros anos
imediatamente pós-independência até a segunda metade da década de 1990 a carga de
docência foi suportada pelo pessoal estrangeiro contratado e por professores moçambicanos
que na sua maioria possuíam apenas o nível de licenciatura. Esta situação foi se alterando a
partir da década de 1990, quando o pessoal moçambicano que estava em formação em vários
países começou a regressar para assumir o seu papel na universidade. Mas mesmo assim,
77
ainda observa-se um elevado contingente de docentes com baixas qualificações, conforme
ilustram as Figuras 16 e 17.
1600 900
1400 1522 847 800
1200 700
568 600
1000
500
800 917 400
600 619 583 329 300
400 465 185 226
160 200
200 2 245 268 197
000 167 146 47 100
21 68 17 7
0 15123 38 49 0
Bach Licenc Dipl Mest Dout
Nível de Formação
LEGENDA: TI – Tempo Inteiro; PB – Pública; PT – Particular; PBTI – Pública Tempo Inteiro; PTTI – Particular Tempo Inteiro
Figura 16: Distribuição de Docentes por Nível de Formação: Comparação Entre 2003 e 2007
Fonte: MOÇAMBIQUE. MESCT (2004) e MOÇAMBIQUE. MEC (2009) - adaptado
1200 2500
1023
2141
Docentes a Tempo Inteiro
1000
Total de Docentes (TI+TP)
2000
800
645 1500
600
1382 1000
386
400 750
226 245
200 175 500
71 36 317
45 19 38 391
0 244
0 7 0
71
Bach Licenc Dipl Mest Dout
Nível de Formação
Figura 17: Distribuição de Docentes por Nível de Formação, 2003-2007 (exceto 2005)
Fonte: MOÇAMBIQUE. MESCT (2004; 2005) e MOÇAMBIQUE. MEC (2008; 2009) - adaptado
78
A análise das Figuras 16 e 17 mostra que tem havido melhorias na estrutura do quadro
docentes das universidades públicas. Em 2003 a IES públicas tinham 160 docentes em regime
de contrato a tempo inteiro, com nível de doutoramente e em 2007 esse número passou para
226. Em contrapartida as IES particulares possuíam no igual período 15 e 19 docentes em
regime de contrato a tempo inteiro, com grau de doutoramento (ver Figura 16). Em relação
aos outros níveis, as IES públicas tinham, em 2003, 185 e 568 docentes com graus de
mestrado e licenciatura respectivamente, em regime de contrato a tempo inteiro. Ainda nesta
mesma categoria de análise é possível observar a predominância de docentes de IES públicas,
com nível de licenciatura no ano de 2007 que atingiu 847 contra 329 mestrados. A figura 17
revela que em 2007 o efetivo total de docentes com nível de licenciatura em todas as IES,
públicas e particulares, era de 2141 dos quais 1023 estavam contratados em regime de tempo
integral, o que significa que mais da metade tinham contratos a tempo parcial. Em relação a
mestras e doutorados os números fixaram-se em 750 e 317 respectivamente, a tempo inteiro,
contra 386 e 245 em tempo parcial. É importar salientar que grande parte de docentes a tempo
inteiro e com grau de mestrado e doutorado, estão filiados as duas maiores IES públicas, a
UEM e a UP, e provavelmente estes docentes são os mesmos que engrossam as estatísticas de
contratados a tempo inteiro e parcial simultaneamente em outras IES. Em 2007 a UEM e a UP
tinham 198 e 85 docentes com mestrado; e 163 e 49 com doutoramento, contra 137 e 33
mestres, e 128 e 30 doutores contratados a tempo inteiro em 2003, respectivamente. Estes
dados mostram claramente o estado prematuro em que a universidade moçambicana se
encontra. Portanto, ela é fortemente depende de docentes com baixas qualificações
acadêmicas. Não existem órgãos governamentais responsáveis pela acreditação, avaliação e
fiscalização das atividades de ensino superior, semelhantes aos existentes, por exemplo, no
Brasil, a CAPES e a SESU que atuam na avaliação qualitativa dos programas de pós-
graduação, e cursos de graduação respectivamente.
79
reconhecimento das condições sócio-culturais da região. Portanto, esses estudos tinham um
interesse político por de trás, que era o de munir os colonos de uma informação de base, tendo
em vista a sua instalação e exploração dos territórios ultramarinos. Essas expedições
científicas eram desenvolvidas por equipes de investigadores vindos da Junta Nacional de
Investigação do Ultramar de Portugal (JNIU), que em conjunto com o Instituto de
Investigação Científica de Moçambique, atual Centro de Estudos Africanos (CEA) da UEM,
foram responsáveis pelo desenvolvimento da investigação científica no país, antes da criação
da Universidade e dos institutos de investigação da área de saúde, agricultura e veterinária, na
década de 1960.
A evolução das temáticas de pesquisas na metade da década de 60, que passaram a integrar
aspectos genéticos de gado bovino, nutrição vegetal, entre outros, foi acompanhada pela
criação de instituições de pesquisa especializada. Assim, foram fundados em 1966, o Instituto
de Investigação Veterinária (INIVE) e o Instituto de Investigação Agronômica de
Moçambique (INIA). Mais tarde foi criado o Centro de Fisiologia de Reprodução e
Inseminação Artificial (CFRIA), que com a expansão da sua área de atuação para atender a
demanda de pesquisas das áreas de nutrição, melhoramento e sistemas de produção, passou a
ser denominado Instituto de Produção Animal (IPA) (ZUCULA, 2000). Ainda sobre
instituições criadas na época colonial é importante fazer referência ao Laboratório de
Materiais de Construção, atual Laboratório de Engenharias de Moçambique (LEM), e ao
Instituto de Investigação Médica, atual Instituto Nacional de Saúde (INS). O período que vai
desde a criação da primeira universidade e dos primeiros institutos de investigação até a
independência em 1975, foi caracterizado por uma produção científica intensa dentro das
80
áreas que eram consideradas prioritárias para o desenvolvimento da colônia, ou seja, áreas da
agricultura e produção animal:
[...] Nessa altura “1967-1975” o INIVE tinha como mandato de investigação das doenças
animais, e o INIA estava mais virado para investigação de culturas ... a ênfase dada nessa altura
era para a satisfação das necessidades das grandes empresas dos colonos e pouco para o setor
familiar ... nessa altura, a investigação era completamente realizada por investigadores
portugueses. O pessoal moçambicano estava mais adstrito a área de apoio ... era mais em
termos de apoio e não realizava nenhuma investigação, portanto tinha um papel mais ou menos
secundarizado nesse processo.
Gestor (IIAM)
[...] O INS criado em 1977 como herdeiro do anterior instituto de investigação médica criado
nos anos 50... que era um braço do instituto de investigação tropical, que existia em Portugal ...
tinha como principal objetivo fazer pesquisa na área das doenças tropicais, cuja finalidade era
proteger os colonos que vinham se instalar em Moçambique.
Gestor (INS)
Estas instituições foram responsáveis pela edição das primeiras publicações periódicas
moçambicanas no período colonial: Memórias do Instituto de Investigação de Moçambique
(editada pelo IIU), Revista dos Estudos Gerais Universitários (editada pela ULM), Revista de
Ciências Médicas (editada pelo IIM), Revista de Ciências Veterinárias e Veterinária
Moçambicana (editada pelo INIVE) e outras. Estas publicações foram descontinuadas no
período pós-independência devido à crise que abalou o sistema conforme já referido.
81
produtividade e visibilidade científica das instituições nacionais de pesquisa naquela base de
dados.
82
Fato interessante é que este número começa a crescer consideravelmente a partir da década de
1990, com uma variação de 38 doutores formados nos primeiros 5 anos da década e 101
graduados na segunda metade (ver Figura 18). Nos anos subsequentes o índice de doutores
continuou a crescer atingindo 113 formados na primeira metade da década de 2000. Os dados
referentes ao período de 2006 em diante estão incompletos, mas pode observar-se que até a
realização da compilação por Guerdes já haviam sido graduados 25 doutores em 2006.
Conforme já referido, este período, considerado de início da construção da nova República,
neste trabalho, também designado de segunda República, ocorre no país um movimento de
entrada de novos atores em todos os domínios sociais, políticos e econômicos, que
possibilitaram a abertura e estabelecimento de novas negociações no cenário de
desenvolvimento científico e tecnológico nacional.
120 113
101
100
Nº de PhD's
80
60
40 38
21 25
20 7 7
2
0
Ano
83
Em termos numéricos o conjunto das instituições de pesquisa agrária apresenta os maiores
índices de recursos humanos alocados, mas com incidência para licenciados 60,1% e 57,2%,
contra 25,9% e 30,1% investigadores com mestrado, e 7,7% e 6,9% com doutoramento em
2003 e 2004 respectivamente. A área da saúde apresenta índices relativamente equilibrados
entre mestrados e doutorados, mas também com grande discrepância se comparado ao número
de licenciados, ou seja, em 2003 e 2004 a saúde contava respectivamente com 71,1% e 67,6%
de investigadores com licenciatura; 13,3% e 13,5% com mestrado e, 13,3% e 18,9% com
doutorado. As áreas de engenharias e ciências sociais tinham muita informação não
disponível, provavelmente as instituições vinculadas a estas áreas não possuem dados
sistematizados. Mas também, dado a carência de recursos humanos qualificados,
diferentemente das outras áreas, os poucos mestrados e doutorados das engenharias e ciências
sociais possivelmente preferem manter vinculados institucionais com a universidade e outros
órgãos onde podem usufruir de melhores condições de trabalho e salariais.
Nível de formação
Total
Área de Bacharel Licenciado Mestrado Doutorado
Instituição
investigação 2003 2004 2003 2004 2003 2004 2003 2004 2003 2004 2006**
Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº Nº Nº
INIA* 6 6,70 2 2,6 58 64,4 44 57,1 17 18,9 23 29,9 9 10,0 8 10,4 90 77
Silvicultura e Pesca
INIVE* n.d n.d 0 0,0 7 43,8 9 45,0 8 50,0 9 45,0 1 6,3 2 10,0 16 20
Agricultura,
128
CEF* 2 18,20 3 27,3 6 54,5 6 54,5 2 18,2 2 18,2 1 9,1 0 0,0 11 11
IPA* n.d n.d 0 0,0 9 69,2 10 62,5 4 30,8 6 37,5 n.d n.d 0 0,0 13 16
IDPP 1 7,70 3 18,8 6 46,2 7 43,8 6 46,2 6 37,5 n.d n.d 0 0,0 13 16 10
IIP n.d n.d 2 6,1 n.d n.d 23 69,7 n.d n.d 6 18,2 n.d n.d 2 6,1 n.d 33 36
Sub total 9 6,30 10 5,8 86 60,1 99 57,2 37 25,9 52 30,1 11 7,7 12 6,9 143 173 184
Engenharias
Terrestres
e Ciências
INS n.d n.d 0 0,0 17 70,8 7 46,7 3 12,5 3 20,0 4 16,7 5 33,3 24 15 21
CRDS n.d n.d 0 0,0 n.d n.d 0 0,0 1 100,0 1 100,0 n.d n.d 0 0,0 1 1 4
Sub total 1 2,20 0 0,0 32 71,1 25 67,6 6 13,3 5 13,5 6 13,3 7 18,9 45 37 40
IISC 1 5,30 0 0,0 15 78,9 17 89,5 3 15,8 2 10,5 n.d n.d 0 0,0 19 19 8
Humanidades
INDE n.d n.d 0 0,0 n.d n.d 2 33,3 n.d n.d 4 66,7 n.d n.d 0 0,0 n.d 6 47
Ciências
Sociaise
CFJJ n.d n.d 0 0,0 n.d n.d 17 85,0 n.d n.d 2 10,0 n.d n.d 1 5,0 n.d 20 9
AHM n.d n.d n.d n.d n.d n.d n.d n.d n.d n.d n.d n.d n.d n.d n.d n.d n.d n.d 15
MHN n.d n.d n.d n.d n.d n.d n.d n.d n.d n.d n.d n.d n.d n.d n.d n.d n.d n.d 4
Sub total 1 5,30 0 0,0 15 78,9 36 80,0 3 15,8 8 17,8 - - 1 2,2 19 45 83
Total 12 6,20 15 5,0 141 63,7 191 64,1 48 22,1 71 23,8 18 8,0 21 7,0 226 298 358
Fonte: MOÇAMBIQUE.MEC (2005); MOÇAMBIQUE.MCT (2008) - Adaptado
* Em 2006 integravam o mesmto Instituto - o IIAM ** Dados por nível não disponíveis n.d = dado não disponível
84
A comparação dos dados globais de 2004 e do último inquérito feito pelo MCT em 2006
revelou uma situação quase estacionária, apesar de ter havido um aumento no numero total de
pesquisadores vinculados às instituições de pesquisa analisadas na Tabela 4. De 298
investigadores em 2004 passou-se para 358 em 2006, dos quais 236 eram licenciados, 83
mestres, 23 doutores e 16 bacharéis (ver Figura 19).
250
Nº de Investigadores
200 236
191
150
141
100
50 83
71
18 21 23 48 12 15 16
0
Dout Mest Licen Bach
Nível de Formação
Em Moçambique ainda existe muita dificuldade para produzir indicadores fiáveis relativos a
investimentos alocados a C&T, devido a vários fatores. De entre os quais, pode-se citar a
fraca organização estrutural do sistema de nacional de C&T. E também ao fato de os órgãos
central de gestão de C&T estarem ainda em formação e padecendo de falta de pessoal
qualificado, com experiência para a produção desses indicadores. Por outro lado, as
instituições de ensino e pesquisa, as empresas de base tecnológica, também ainda não
possuem uma cultura de planejamento, implantação, organização e gestão de sistemas de
informação robustos, que poderiam servir de provedores de dados para as diversas áreas de
interesse e análise socioeconômica. Mais do que isso, as políticas orçamentais para área de
C&T dependem de aportes externos, disponibilizados por credores ou doadores estrangeiros,
que de alguma forma direcionam os investimentos para áreas de interesse, de acordo com os
seus perfis de intervenção no cenário de desenvolvimento internacional.
Tabela 5: Dispêndios com P&D Durante o Ano de 2006 (em Milhões de MT)
Os dados apresentados na Tabela 5 mostram claramente que a maior parte dos gastos com
P&D em Moçambique provém de fundos doados por agentes de cooperação internacional que
financiam as atividades de investigação científicas em institutos de pesquisa do governo.
Portanto, segundo informações da Tabela 5, apresentados no III Conselho Coordenador do
86
MCT, realizado em agosto de 2008, o governo moçambicano gastou um total de 975,01
milhões de Meticais, dos quais 114,39 foram alocados diretamente através de fundos do
Orçamento Geral do Estado (OGE), e os demais 860,58 provinham de doações.
A análise detalhada das informações apresentadas na Tabela 5 indica que grande parte do
investimento em P&D no ano de 2006 foi destinada aos institutos de pesquisa da área agrária
e pescas que receberam 864,63 milhões de Meticais. A maior fatia desse bolo foi para os dois
institutos das pescas, o IIP e o IDPPE que embolsaram respectivamente 683,71 e 144,45
milhões de Meticais cada, e os restantes 36,46 foram alocados ao IIAM. As outras áreas
ficaram assim distribuídas: engenharias e ciências da terra – 18,70, deste valor 11,09 foram
destinados para o INNOQ; saúde – 61,16 dos quais 46,00 foram locados ao CISM; e ciências
sociais, humanidades e educação – 30,52, sendo 20,97 para o INDE.
Portanto, mais de 50% de gastos com P&D em 2006 foram aplicados na área de pescas, que
incomparavelmente recebeu maiores investimentos do que, provavelmente, as duas maiores e
mais antigas instituições de pesquisa nacionais, o Instituto de Investigação Agrária e o
Instituto nacional da Saúde. A razão mais importante que explica esta disparidade tem a ver,
possivelmente, com os interesses dos doadores na obtenção de licença e autorização para o
exercício de atividades pescas nas águas moçambicanas e não necessariamente ao apoio a
pesquisa e desenvolvimento. Esta argumentação pode ser sustentada através do que foi
preconceituado no acordo que rege os fundos doados a IIP pela União Européia:
87
Partindo do pressuposto de que Moçambique é país de economia agrária, seria presumível que
esta área recebesse mais investimentos, quer do OGE quer dos doadores. Mas, o retorno quase
certo de recursos aplicados em atividades de desenvolvimento da área de pescas, pode estar
no centro de tanto interesse em apoiar e incrementar os investimentos naquela área.
Conforme pode-se constatar na Tabela 5 mas de 90% dos gastos com P&D dessa área provém
de doações e não do OGE. E o valor atribuído pelo OGE para o IIP é praticamente igual ao do
IIAM. A explicação para isso pode ser o valor econômico dos produtos marinhos
moçambicanos, que provavelmente, constituem grande trunfo nas mercadorias de exportação
rentáveis para a balança comercial do país.
Outro dado interessante associado aos investimentos para o desenvolvimento das atividades
de C&T é o indicador de intensidade de P&D, expresso pela relação entre os gastos
domésticos brutos com P&D e o PIB. Apesar de ter havido um crescimento entre 2002 e
2007, a razão entre dispêndios domésticos com P&D (GERD) e o PIB ainda está a baixo da
meta traçada pelo governo que é de destinar pelo menos 0,8% do PIB, até 2010, para financiar
as atividades de investigação científica nacional (MOÇAMBIQUE.MCT, 2006). A Figura 20
indica que em 2002 os gastos com P&D situaram-se a 0,5% do PIB, em 2005 passaram para
cerca de 0,67%, com uma estimativa para 2007 de 0,74% do PIB correspondente a despesa
bruta em torno de 1481,89 milhões de meticais.
600 0,3
501,58
400 0,2
200 0,1
0 0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Ano
Figura 20: Dispêndio Doméstico Bruto com P&D (GERD) e sua Relação com o PIB (2003-2007)
Fonte: MOÇAMBIQUE.MCT(2008) - adaptado
88
quase que exclusivamente de financiamento público. A análise dos dados da Tabela 5 indica
que o país, também, recebe grandes volumes investimento em P&D através de financiamento
direto estrangeiro, conforme se pode observar nos dados referentes a alguns institutos de
pesquisa, como o IIP, CISM e IDPPE, em que mais de 90 dos fundos para P&D em 2006
foram de origem externo.
Portanto, o país precisa investir pesadamente em formação de recursos humanos para C&T e
na construção de infraestrutura, acompanhado pelo incremento de gastos públicos e privados
diretos em P&D. O desafio maior talvez seja a atração de investimento privado, pois grande
parte das empresas nacionais ainda não possui cultura e nem ambientes de pesquisa e
desenvolvimento em seus contextos.
Para se ter uma idéia, países relativamente com tradição cientifica e de inovação como o
Brasil, Rússia e China em 2006, aplicaram respectivamente investimentos na ordem de
1,02%; 1,08% e 1,42% do PIB de cada país. A África do Sul que juntamente com os países já
citados pertencem ao grupo dos países emergentes, investiu cerca de 0,92% do PIB em
atividades de P&D, em 2005 (OCDE, 2008). É importante salientar que diferente de
Moçambique, estes países possuem sistemas de C&T consolidados, amplos investimentos
públicos e privados e uma economia com desempenho estável. Isso torna incompatível
qualquer tentativa de comparação entre Moçambique e esses países, mas fica-se com a idéia
do longo cominho a percorrer para se chegar a níveis aceitáveis em termos de investimentos
para a formação de recursos humanos, estabelecimento de infraestrutura e gastos em P&D.
89
Assim, o sistema foi estabelecido primeiramente para atender as necessidades dos próprios
colonos. Por isso que na altura da independência 1975, estima-se que havia pouco mais de 40
negros moçambicanos a frequentar o ensino superior de uma população de cerca de 2400
estudantes matriculados. Com a independência o sistema de ensino superior e pesquisa de
desenvolvimento moçambicano entram em crise fundamentalmente por dois motivos:
primeiro, há um movimento de emigração do pessoal acadêmico e pesquisadores que
mantinham o sistema em funcionamento por razões já exploradas nos capítulos anteriores, e
em segundo lugar, o governo da FRELIMO que herdara o poder não detinha alternativas
imediatas para repor aquela saída em massa de cérebros do país. Portanto o período
imediatamente pós-independência pode ser considerado o marco zero no processo de
reestruturação e desenvolvimento do sistema de ensino superior e pesquisa.
Este período foi marcado pela mudança de paradigma no sistema de ensino superior e
pesquisa. Para sair da crise instalada com o abandono em massa dos portugueses, o governo
da FRELIMO buscou ajuda nos países parceiros. Na época, devido a questões políticas, o país
recebia, fundamentalmente, assistência dos países socialistas do leste europeu. E na tentativa
de reajustar o ensino superior para atender as necessidades políticas de então, o governo
determinou, na década de 1980, o fechamento de algumas faculdades e a abertura de outras.
Por exemplo, foram abertas dentre outras a Faculdade de Educação e a Faculdade para
Antigos Combatentes e Trabalhadores de Vanguarda (FACOTRAV). A Faculdade de Direito
foi uma das encerradas nesse período.
O que acontece, esta escola muda radicalmente, primeiro para se adaptar a nova proposta
política do país, a segunda questão porque dado o vazio da massa intelectual, os professores
foram substituídos por professores, que naquela altura eram maioritariamente provenientes de
90
países socialistas ... existiram três vertentes importantes de cooperação: uma grande entrada de
professores cubanos, alguma de professores búlgaros, professores checoslovacos, essas são as
três nacionalidades que marcaram mais a escola.
Docente (UEM)
[...] que participaram nesse processo para garantir o ensino com qualidade. Pela natureza dos
professores independentemente de onde alguns vinham ... não dominavam a língua
portuguesa... mas o ensino foi excelente, as faculdades de economia, matemática foram
garantidas pelo bloco da República Democrática Alemã e da União Soviética. A veterinária a
cooperação foi mais com Cuba, Checoslováquia e com professores chilenos também...
Docente (UEM)
[...] Recebíamos as bolsas e mandávamos as pessoas sem saber para que áreas iriam se formar
... mas também naquele tempo não havia perigo pois havia falta de tudo ... alguns foram
formados em áreas que não tem como aplicar aqui em Moçambique ... as pessoas que foram
mandadas ... começaram a voltar, o enquadramento também não foi muito bom, não estávamos
preparados para os receber, pois não havia uma política para o encaminhamento dessas
pessoas.
Gestor (MCT)
91
no país a implementação do PRE, programa que marcou a transição do regime de economia
socialista centralizada para uma economia liberal orientada para o mercado. Assim, esse
período marca não só a mudança do paradigma político econômico, mas também o início da
influência ocidental na área de ensino e pesquisa em Moçambique. Ou seja, no período liberal
verificou-se
[...] uma grande mudança que se operou e que se consolidou ... diminuiu brutalmente o
complexo político em relação ao ocidente, nomeadamente a Europa ocidental e os Estados
Unidos, então isso ditou rotas de formação de pós-graduação completamente diferentes ... em
termos da universidade em geral foi sem duvida a Inglaterra e Estados Unidos ... a Inglaterra
era o país com a política mais agressiva em termos de facilitar estudos. Houve uma saída muito
grande para a Inglaterra, uma saída igualmente grande para Estados Unidos, mas depois a
outros países que vem a seguir como a Holanda, França, Espanha [...]
Docente (UEM)
Ao contrário do que acontecia até finais da década 1990, atualmente nota-se que o governo,
através do MEC e do MCT, tem feito um grande trabalho no sentido de coordenar os
programas de bolsas de estudo locais e/ou no estrangeiro, assim como, na definição das áreas
prioritárias para a formação de recursos humanos em C&T. Estas ações têm sido guiadas
através dos objetivos e metas traçados no Plano Nacional de Formação e Desenvolvimento de
Recursos Humanos para a área de Ciência e Tecnologia (PDRHCT), e também pelas
projeções de formação de recursos humanos previstas no documento da estratégia nacional de
ciência, tecnologia e inovação (MOÇAMBIQUE.MCT, 2006; 2008b).
Segundo a compilação feita por Guerdes (2006), grande parte dos doutores moçambicanos
formaram-se no Reino Unido (45), Alemanha (43), EUA (39), Brasil (35), Rússia (22), França
(19), África do Sul (19), Itália (14) e Espanha (13), e seguidos de outros países em menor
escala conforme pode observar-se na Figura 21. Estes dados são cumulativos e referem-se a
todo período desde a independência até a altura da publicação do estudo em 2006.
Provavelmente este cenário tenha mudado um pouco em termos de liderança, pois nos últimos
92
anos tem-se verificado maior fluxo de bolsistas para cursarem pós-graduação no Brasil ao
abrigo do acordo assinado em 2006 que prevê cerca de 50 bolsas anuais para cursos de
mestrados e doutorados financiados pelo CNPq e CAPES.
50 45
43
45
39
40 35
35
Nº de Doutores
30
25 22
19 19
20
13 14
15
9 9
10 5 5 6
3 3 2 3
5 1 1 1 1 1 1 1
0
AU
IT
RU
SE
GH
MZ
CH
UK
CA
FR
NL
DE
CR
DK
NO
ZA
CU
BR
CZ
ES
PL
PT
UA
ZW
US
Codigo do País
93
experiências diferentes, conforme o depoimento citado a seguir, que retrata a situação
vivenciada na área de medicina veterinária:
Por outro lado, ela pode estar na origem da dispersão das linhas de investigação de que até
hoje o país se ressente. Esta constatação está patente no depoimento de outro docente da
UEM, que também foi entrevistado durante o desenvolvimento deste estudo. Apesar de
concordar com o relato anterior, numa das partes do seu depoimento, ele considera que
[...] essa formação dispersa acontece em universidades de diversos países com frentes de
pesquisa diversificadas ... que na maioria dos casos não tem muito a ver com as reais
necessidades do país ... conduzindo a também dispersão das atividades de pesquisa em
Moçambique... não havendo até ao presente linhas e programas de investigação claras e
condizentes com as reais necessidades do país. Mas por outro lado essa formação diversificada,
em termos de escolas, criou um ambiente dinâmico de interação entre as diferentes escolas e
pensamentos trazidos dos locais onde os docentes e investigadores receberam suas formações
acadêmicas.
Docente (UEM)
Outro ponto interessante está relacionado ao fato de que no período imediatamente pós-
independência, o governo da FRELIMO adotou uma linha de desenvolvimento alicerçada nas
grandes empresas estatais. Isso fez com a pesquisa de desenvolvimento fosse deslocada da
Universidade e dos Institutos de Pesquisa existente na época para aquelas empresas. Essas
empresas estatais tinham como atribuição o desenvolvimento de atividades de pesquisas para
resolver problemas imediatos, e havia pouca interação entre essas empresas e a universidade e
os institutos de pesquisa. A seguir cita-se o relato de um docente universitário, que descreve a
problemática da estatização das empresas e sua ligação com as atividades de pesquisa de
desenvolvimento, e o movimento de formação desvinculado dos planos de desenvolvimento
então definidos.
[...] Após a independência as instituições de pesquisa sofrem da crise de abandono dos quadros
portugueses... e há um deslocamento da pesquisa de desenvolvimento para as empresas
estatais, que tinham como missão desenvolver atividades de pesquisa e produção para suprir as
necessidades imediatas de acordo com os planos do governo de então... No governo
centralizado havia um esforço de direcionamento das atividades de pesquisa de
desenvolvimento para aquelas áreas prioritárias... que eram basicamente a produção de
alimentos e a saúde e as pescas... No liberalismo, a massificação da formação superior que
94
ocorreu trouxe consigo problemas da diminuição da qualidade e pouco direcionamento das
atividades de pesquisa de desenvolvimento... uma vez que os projetos de investigação
distanciaram-se do ambiente de produção para academia ... isto devido a própria filosofia que
norteia o seu desenvolvimento ... voltado a formação de docentes universitários e não
concretamente a investigadores alocados a instituições de pesquisa e desenvolvimento.
Docente (UEM)
Para perceber este processo, é preciso recorrer aos acontecimentos verificados no período
imediatamente pós-independência. Conforme mencionado anteriormente, essa época foi
caracterizada pela adoção de políticas governamentais de desenvolvimento de C&T
subalternas, fundamentalmente, no que diz respeito ao ensino superior e as atividades de
investigação realizadas pelos institutos então existentes. Essa situação foi agravada pelos
fatos, também já referidos que conduziram à crise do sistema de investigação e ensino
superior no país. Nomeadamente, a emigração em massa do pessoal qualificado para Portugal,
que provocou o declínio das atividades de pesquisa e do ensino superior de uma forma geral.
95
E por outro lado, a guerra civil que intensifica-se na década de 1980, obrigando o governo a
concentrar esforços e praticamente os poucos recursos de que dispunha para solucionar os
problemas imediatos advindos dos efeitos de destruição daquele conflito armado. Nessa
década os recursos destinados, pelo governo, para o ensino superior e para a investigação
diminuíram significativamente de tal forma que a maior parte das atividades do setor de
ensino superior e C&T, passou a depender quase que exclusivamente dos recursos doados por
algumas organizações internacionais. Cita-se que a Agência Sueca de Cooperação
Internacional para o Desenvolvimento, em inglês Swedish Internacional Development
Cooperation Agency/Swedish Agency for Research Cooperation with Developing Countries
(SIDA/SAREC) foi uma das primeiras organizações que em 1978 se interessaram pela ajuda a
área de investigação em Moçambique. No mesmo período também tem-se a referência da
entrada da Agência Dinamarquesa de Desenvolvimento Internacional - Danish International
Development Agency (DANIDA).
[...] em 1978 começaram a surgir os primeiros doadores que se interessaram pela investigação.
SIDA/SAREC que começa a apoiar o Arquivo Histórico de Moçambique e o Instituto de
Investigação Científica de Moçambique atual Centro de Estudos Africanos. Também a parece a
DANIDA, que oferece algumas bolsas para formação de moçambicanos ... a investigação
reaparece, ressurgindo com o apoio externo... Nos anos 80 parte da investigação foi começando
a diminuir particularmente quando se pensa no financiamento interno da UEM.
Docente (UEM)
Mais tarde com a implementação dos planos de reajustamento econômico, na segunda metade
da década 1980, o país começou a receber assistência financeira de várias organizações
internacionais. Nessa altura o setor de ensino e pesquisa, também, passou a contar com fundos
canalizados pelo Banco Mundial e outros parceiros que se juntaram a SIDA/SAREC e a
DANIDA que já operavam no setor.
A investigação realizada nessa altura era mais de caráter histórico, social e antropológico,
provavelmente encomendada por organizações internacionais que tinham interesse em se
estabelecer em Moçambique. Isso pode ser constatado observando o tipo ou características
das primeiras instituições que se beneficiavam da ajuda da SIDA/SAREC, conforme o
depoimento citado anteriormente.
Outro fato importante que se deve ter em conta, é que nesse período o país ainda ressentia-se
da falta de quadros qualificados em quase todas as áreas científicas. A investigação que se
realizava na época cingia-se mais a pequenos estudos, que eram desenvolvidos por
consultores externos contratados pelas próprias agências financiadores dos projetos. Portanto
96
não se podia falar em fomento a pesquisa, pois simplesmente não havia em que investir
localmente para realizar atividades de pesquisa de desenvolvimento stricto sensu.
[...] Nessa altura o numero de moçambicanos com formação superior ainda era muito pequeno.
Então havia muito pouca gente em quem investir para a investigação. Houve alguns que se
beneficiaram de bolsas para doutoramento, os que na altura da independência já tinham
licenciatura.
Docente (UEM)
Grande parte da investigação que se fazia, naquele período, estava ligada aos projetos de
formação de pós-graduação (mestrados e doutoramentos). Muitos destes projetos não tinham
vinculação com os programas de desenvolvimento do país, ou seja, não havia um
direcionamento para se realizar este ou aquele programa de investigação. Porque também
nessa altura não haviam diretrizes ou mecanismos estruturados que pudessem guiar a
formação de recursos humanos e o desenvolvimento das atividades de pesquisa. Este processo
acontece durante toda a década de 1980 até ao início dos anos de 1990, quando o pessoal que
recebera as primeiras bolsas começa a regressar ao país, grande parte com as licenciaturas e
algumas dezenas já com níveis de mestrado e doutoramento.
Portanto é a partir da segunda metade da década de 1990 que a investigação volta a ganhar
níveis apreciáveis em termos de desenvolvimento de projetos de pesquisa e publicação de
seus resultados em revistas científicas. Publicação feita, sobretudo em veículos de
disseminação internacional, conforme demonstrado pelas tabelas e gráficos da análise
bibliométrica (ver Capítulo 6). Também é nesse período que a comunidade científica nacional
comandada pelos dirigentes das IES e Institutos de Pesquisa, inicia um trabalho de negociação
com o governo no sentido de dar maior visibilidade às atividades de C&T a nível nacional,
regional e internacional. Foi a partir destes ensaios que mais tarde, já no inicio da década
2000, o país testemunhava a criação do primeiro Ministério de Ensino Superior, Ciência e
Tecnologia, e também ao lançamento, pela primeira vez, de uma política governamental para
o setor e da estratégia de sua implementação num horizonte temporal de 10 anos. O
depoimento a seguir revela alguns passos importantes que antecederam a criação do MESCT,
e a importância que o processo de formação da comunidade científica nacional, ainda que em
fase embrionário, teve para que isso se tornasse efetivo.
[...] Por volta dos anos 95 já existiam muitos jovens a se formar em níveis de doutoramento.
Nessa altura também cria-se o grupo de Diretores das Instituições de Investigação e Ensino
Superiores, que se reuniu na tentativa de dar visibilidade a ciência e investigação... Penso que
foi o trabalho deste grupo que levou a que Moçambique depois participasse no primeiro fórum
de C&T presidencial no Botswana, depois o outro a seguir foi aqui em Moçambique, onde se
97
realizou a primeira mostra de C&T ... foi depois ... que o governo, na pessoa do Presidente da
República mostrou muita vontade de que a C&T fosse parte do processo... por isso no mandato
seguinte era criado o primeiro Ministério de Ensino Superior, Ciência e Tecnologia ... e em
2003 acontece a aprovação da primeira política de ciência e tecnologia [...]
Docente (UEM)
O MESCT entra, para mim, como um catalisador muito importante com uma relação mais ou
menos agradável com a UEM, e uma das coisas que o MESCT na altura lançou foi exatamente
o reforço das bolsas competitivas de investigação. Através do QIF e etc... Portanto era lançado
o primeiro projeto de bolsas competitivas estruturadas fora da UEM, abrindo espaço para
qualquer investigador a nível nacional... isso foi grande reforço... Já no âmbito atual há um
fenômeno interessante que é a criação do Fundo Nacional de Investigação – FNI...
Moçambique é dos poucos países africanos, acho que não há mais do que 4, que tenham um
fundo nacional de investigação estruturado... Portanto isto é um aspecto bastante positivo...
Outra vez é um fundo de bolsas competitivas que abre acesso a qualquer investigador nacional.
Docente (UEM)
98
organizações são consideradas como sendo os grandes parceiros de Moçambique na área de
desenvolvimento das atividades de ciência e tecnologia, especialmente, na formação de
recursos humanos para C&T, capacitação institucional e realização de pesquisa de
desenvolvimento.
11
O PROAGRI teve início a 1 de Janeiro de 1999 após um processo de formulação relativamente longo. O programa de 5 anos, financiado
por mais de 16 doadores, teve um orçamento superior a 200 milhões de USD para financiar atividades no âmbito de oito componentes:
desenvolvimento institucional, pecuária, florestas e fauna bravia, extensão, investigação, terra, irrigação e produção de culturas.
99
O MCT teve um papel importantíssimo em coordenar toda essa área da ciência e tecnologia no
país, e nós como uma instituição cientifica acabamos por ser participantes ativos em todo o
processo de reorganização do MCT, participamos ativamente na formulação da política de
ciência e tecnologia, formulação do estatuto do investigador, formulação do código de ética
para a ciência e tecnologia ... Encontramos no MCT um local excelente para digamos acolher
aquelas preocupações que são comuns para todas as instituições de C&T e que em algum
momento não há resposta na atual organização do ESTADO ... Sem duvida o surgimento do
MESCT e agora do MCT foi fundamental e crucial, temos tido grande ... outras coisas que nós
temos tido também ... utilizamos muito as oportunidades de financiamento que nos são dadas
pelo MCT não só para elaboração de projetos de pesquisa mas também para a formação...
Gestor (INS)
Este depoimento revela o quão positivo tem sido a atuação do MCT no processo de
institucionalização de C&T no país. Mas, segundo outro entrevistado, ainda há muito trabalho
a ser feito ao nível do próprio MCT. O primeiro aspecto que deve ser levado em conta está
relacionado com a questão da clareza da real missão e área de atuação do MCT. Ou seja, o
ministério precisa delimitar a sua a área de atuação, que deve ser ao nível de definição de
políticas, fomento e coordenação do setor, e não propriamente de implementação e execução
na base.
Eu acho que o MCT não está absolutamente muito claro sobre qual é o seu papel. Quando o
MCT deve ter um papel de política e de regulação macro, o MCT está atuar muitas vezes ao
nível micro de intervenção então isso tem causado muitos conflitos e muita pouca coisa prática
... Custa um pouco admitir a idéia de um ministério encomendar isto ou aquilo, porque quebra
um pouco a criatividade do próprio grupo de investigadores... Mas o ministério alocando
recursos em áreas em que o governo acha prioritárias ele pode estimular caminhos de pesquisas
[...]
Docente (UEM)
Existem lacunas nos mecanismos de atribuição dos fundos para a investigação no país, em
todos os níveis ... no nosso país tem um problema em que encontramos pessoas que te dizem
que tem que cozinhar arroz ... e nunca cozinharam arroz ... você se reparar para aqueles que
tem que decidir se tem que financiar o projeto A ou B ... ou os que marcam as políticas de
investigação ... 90% nunca investigaram ... por exemplo, sou farmacologista, não é por eu ser
farmacologista que alguém amanhã diz-me tens que investigar sobre plantas ... não tem que me
dizer o que eu tenho que fazer ... eu tenho que dizer aquilo que vou investigar e em que estou
capacitado ... Existe falta de estruturação de linhas de investigação ... mas as linhas de
investigação não podem ser definidas por licenciados que estão nos ministérios ... não podem
... quer dizer ... aqui estamos numa incongruência total ... ou amanha vamos ter ... é isso que
100
volto a repisar uma pessoa que nunca investigou na vida não pode me dizer para investigar
sobre A ou B, e algumas pessoas confundem consultoria e investigação [...]
Docente (UEM)
Absolutamente ... quanto mais maduro ... a maturidade dos grupos de pesquisa vai influenciar a
alocação de recursos, etc ... não só a maturidade dos grupos de pesquisa, mas também a
maturidade dos oficiais do ministério, porque provavelmente estou a imaginar que neste
momento se tu tiras as pessoas que estão a fazer pesquisa para serem oficiais ... tu tiras os
lideres dos grupos de pesquisa, mas provavelmente daqui a 40 anos, os velhos que hoje são
lideres podem ser oficiais do ministério maduros e orientarem a coisa com muito mais
propriedade do que se orienta hoje[...]
Docente (UEM)
101
menor escala. No mesmo período, áreas como a saúde e agricultura, tiveram grande ajuda das
Nações Unidas (ONU), que dava a sua assistência através de organizações como a FAO,
PNUD, OMS. Essa assistência consistia, essencialmente, em envio de especialistas para o país
e disponibilização de fundos para a capacitação institucional (treinamento de recursos
humanos, e estabelecimento de infraestruturas básicas de funcionamento).
[...] As instituições sobreviviam de maneira que conseguiam, alguns com projetos apoiados por
pessoal estrangeiro principalmente da FAO que dominavam a investigação [...]
Gestor (IIAM)
Este depoimento dado por um gestor de uma das maiores instituição de investigação
moçambicana ilustra o cenário vivido pelo setor de C&T, na segunda metade da década de
1970 até mais ou menos finais da década de 1980, altura em que o setor começa a receber
apoio considerável com a entrada de outros atores de cooperação na arena científica nacional.
Figura 22: Países que Cooperam na Área de Formação de Recursos Humanos para C&T e Produção de Conhecimento
Fonte: Elaboração do autor (adaptado dados do WoS)
A Figura 22 mostra uma rede cujo nó principal é Moçambique que interliga-se a vários países,
que podem ser considerados os mais importantes no processo de institucionalização da C&T.
Portanto, esta figura mostra a rede base dos países que mais colaboram nos domínios de
102
formação de recursos humanos e de produção de conhecimento científico em Moçambique.
Esta rede foi adaptada a partir de dados extraídos da ISI WoS referentes ao período de 1970-
2009. Os desdobramentos desta rede serão analisados mais adiante, onde são apresentados os
outros nodos de associação e negociação entre os atores no processo de produção de
conhecimento no contexto do país.
No período que vai da data de independência até aos finais da década de 1980 os programas
de ajuda e cooperação eram dominados pelos países do bloco socialistas, mas também tem-se
o registro de entrada de outras organizações e/ou de países que não faziam parte desse bloco.
Em 1978 registra-se a entrada da Suécia através da sua agência denominada SIDA/SAREC, e
posteriormente a DANIDA - agência dinamarquesa de ajuda ao desenvolvimento, que
começam a financiar atividades de investigação científica e formação de recursos humanos
para o setor de C&T. Este cenário continua assim até a segunda metade da década de 1980,
altura em que acontece a entrada de outros atores que se interessam pelo financiamento do
setor, como é o caso do Banco Mundial. Atualmente o Banco Mundial e a SIDA/SAREC são
considerados os maiores financiadores do setor de C&T em Moçambique. Grande parte do
orçamento de funcionamento do FNI/MCT e do Fundo Aberto da UEM (FA/UEM) é
canalizada por esses dois parceiros de cooperação. A USAID é outro grande parceiro de
cooperação que financia, fundamentalmente, os fundos do COMPETE/IIAM:
103
Eu diria que mais de 90% de financiamento à investigação vem de parceiros internacionais
como o Banco Mundial (grande parceiro), SIDA/SAREC, Finlândia, e outros. Por isso não se
pode dizer que o FNI é sustentável ainda, visto que depende de fundos externos.
Gestor (MCT)
Sem seguir nenhuma ordem de importância, os países citados pelos entrevistados como sendo
os principais parceiros no desenvolvimento de atividades de formação e investigação foram os
seguintes: Brasil, Índia, Inglaterra, EUA, França, Escócia, Portugal, Bélgica, União Européia,
Venezuela, Itália, Holanda, Dinamarca, Suécia, Alemanha e Espanha. A esta lista juntam
outros países que também colaboram para o desenvolvimento deste setor, conforme pode
observar-se na rede de relacionamento de atores presentes nas pesquisas colaborativas
publicadas em veículos de disseminação científica internacional indexadas na base ISI WoS.
A Figura 23 apresenta uma rede composta por dois tipos de atores: um grupo representado por
um círculo vermelho e outro representado por um retângulo azul. Os círculos vermelhos
indicam a origem dos elos de relacionamentos que formam a teia entre os nodos da rede. A
estrutura da rede apresentada na Figura 23 ilustra que existem alguns países que possuem
maior fluxo de interligações e outros com menores fluxos. Estes fluxos são o reflexo da
dinâmica de internacionalização do processo de institucionalização da C&T e de produção de
conhecimento no contexto moçambicano. Isso porque conforme já mencionado o
desenvolvimento do setor de C&T de Moçambique sempre esteve atrelado às oportunidades
externas. Estas oportunidades foram sendo moldadas de acordo com contexto macro político
nacional, onde as disputas geopolíticas tiveram papel importante na criação de oportunidades
e no modo como o país foi se desenvolvendo até ao momento. Portanto, a Figura 23 mostra
uma situação em que os países ocidentais aparecem com maior predominância, ou seja, como
sendo os principais dinamizadores do processo de institucionalização da C&T em
Moçambique.
104
Figura 23: Rede de Relacionamentos Entre Países Parceiros no Processo de Institucionalização de C&T e Produção de
Conhecimento
Fonte: Elaboração do autor (adaptado dados do WoS)
É importante salientar a presença com menor intensidade de alguns países do leste europeu
que foram fundamentais no desenvolvimento do setor nos primeiros anos após a
independência. A fraca intensidade da presença desses países pode ser explicada de várias
maneiras. Em primeiro lugar talvez a forte influência política tenha determinado e limitado a
formação de redes atuantes naquele período. Por outro lado, conforme citado por alguns
entrevistados naquela época o país não tinha pessoal qualificado que pudesse desenvolver
atividades de investigação, e os docentes/investigadores estrangeiros ocuparam-se
essencialmente com a docência e possivelmente a questão linguística tenha sido um fator
limitante muito forte em relação a produção de conhecimento registrado. Provavelmente isso
justifica a ausência de trabalhos publicados na primeira República, período em que o país teve
uma presença maciça de países do bloco socialista no desenvolvimento das atividades de
ensino e pesquisa nacionais.
105
outros atores sociais. Esses fatos parecem confirmar Bourdieu e sua afirmação de que uma
análise que tentasse isolar uma dimensão puramente política nos conflitos pela dominação do
campo científico seria tão falsa quanto o pressuposto inverso, mas frequente, de só considerar
as determinações puras e puramente intelectuais dos conflitos científicos (BOURDIEU, 1983;
2005).
Uma análise do esquema da Figura 23 sob o ponto de vista da noção rede sócio-técnicas
parece evidente que a institucionalização da C&T e Moçambique tem sido um processo
dependente dos fluxos, circulação, associação e alianças propiciadas por um núcleo de países
ditos centrais como é o caso dos EUA, UK (Reino Unido) e a DK (Dinamarca) e outros
emergentes como a ZA (África do Sul) e BR (Brasil). Esses países atuam como atores
importantíssimos na criação de condições e alocação de recursos concentrados em alguns
nodos da rede, conforme a noção de redes de Latour (1999; 2000).
A idéia central deste tópico é de tentar mostrar, a partir dos depoimentos dos entrevistados, se
existem ou existiram (ao longo dos tempos) interferências explicitas, das agências
financiadoras, na definição e desenvolvimento de programas e atividades de pesquisa,
concebidas e realizadas por investigadores nacionais beneficiários das bolsas de investigação.
De uma forma geral pode se afirmar que as atividades de pesquisa em Moçambique sempre
sofreram de um dualismo condicional, um relacionado à falta de recursos humanos
qualificados que pudessem desenvolver e orientar as atividades internamente, e outro ligado
aos interesses explícitos dos doadores em relação a áreas de pesquisas que eram suscetíveis de
receber os fundos. Esse fato aconteceu com maior incidência até finais da década de 1990,
período em que o país ainda sofria de um déficit muito grande de pessoal qualificado e de
106
políticas públicas do setor. Um exemplo interessante sobre esse fato foi relatado por um dos
entrevistados, pesquisador do ex-INIA e atual gestor do IIAM.
Um fator que esteve sempre presente ... mas a intensidade variou e dependeu de cada setor é a
parte dos recursos financeiros. Por exemplo, digo que a intensidade variou, na altura quando
nós tínhamos aqui o INIA havia setores que tinham projetos específicos, por exemplo, havia
departamentos ... o departamento de terra e água, que tinha um apoio substancial dos
holandeses ... os holandeses injetavam recursos, etc. ... e eles não tinham limitantes, faziam o
trabalho sem nenhum tipo de problema, enquanto que outros setores que de fato não tinham
absolutamente nada, nenhum recurso nem do governo nem externo ... as pessoas ... passa a
expressão ... a vegetar ... muita gente passou o tempo a vegetar na instituição ... em todas as
instituições de investigação.
Gestor (IIAM)
Algumas áreas ligadas à agricultura conforme citado no depoimento anterior recebiam fundos
da Holanda para projetos de irrigação; a área das pescas é outra que também já naquela época
recebia financiamentos substanciais e pelos dados apresentados nas seções anteriores continua
recebendo maiores investimentos em relação a outras áreas. Portanto, nessa altura as
autoridades nacionais tinham pouco poder de negociação na alocação de fundos. E
praticamente as instituições funcionavam movidas por pequenos projetos desintegrados umas
das outras:
O que estava acontecer era uma “projetização” de atividades, quer dizer as atividades eram
feitas em termos de pequenos projetos alguns setores com projetos ... e outros que não tinham
nada ...
Gestor (IIAM)
[...] nos princípios os doadores diziam o que tinha que ser feito ... principalmente na área de
educação [...]
Gestor (MCT)
107
A partir destas experiências o governo começou a buscar alternativas junto com os doadores
com vistas a reorientar os investimentos, que eram canalizados em forma de pequenos
projetos setoriais, de modo a que passassem a ser administrados através de programas
centrais. Esses programas que passaram a ser elaborados conjuntamente entre os parceiros de
cooperação e o governo possibilitaram a alocação de fundos para outros setores, que até então
não recebiam financiamentos porque não preenchiam os requisitos pré-condicionados pelos
doadores.
O PROAGRI pode ser considerado como sendo a primeira iniciativa do governo que
conseguiu reunir diferentes doadores de modo a que canalizassem seus fundos para um
mesmo programa de gestão centralizado. E a partir dos objetivos traçados nesse programa os
investimentos deveriam ser alocados àquelas áreas prioritárias para o desenvolvimento, em
especial, as áreas de formação de recursos humanos, atividades de investigação e de
capacitação institucional. Os trechos da entrevista citados a seguir revelam as experiências
vivenciadas por um pesquisador de uma instituição de investigação agrária do país, no que se
refere à atuação dos doadores e a mudanças ocorridas no sistema de financiamento externo a
pesquisa ao longo dos tempos. Portanto, ele considera que de uma abordagem de projetização,
particularidade que caracterizou os anos de 1980 até praticamente finais da década de 1990,
aos poucos foi passando-se
[...] para uma nova abordagem que foi a abordagem de se tentar pôr os doadores a colocarem
os recursos num único bolo, e o ministério poder distribuir esse bolo de maneiras que chegasse
para todos ... Surgiu então o pré-programa e mais tarde o PROAGRI ... o PROAGRI veio
mudar substancialmente a disponibilidade de recursos financeiros, os setores passaram a ter
mais recursos financeiros para fazer os trabalhos, mas eram sempre limitados pela questão de
recursos humanos isso temos que reconhecer... Isso trouxe melhorias, mas à medida que a
investigação vinha melhorando o seu desempenho ... no contexto de melhorar seus recursos
humanos começou-se também a ver que aquilo que era afeto a investigação era insuficiente,
não só porque havia muitos investigadores, mas particularmente porque havia muitas
infraestruturas a recuperar [...]
Gestor (IIAM)
Outro dado interessante é que mesmo para aquelas faculdades que beneficiavam de
investimentos, também sofriam de certa instabilidade nos financiamento devido à
irregularidades da disponibilidade e aprovação desses projetos. Pois quando os projetos
chegavam ao seu fim às vezes não eram renovados. Isso criava uma quebra do ciclo do
desenvolvimento das atividades de investigação já iniciadas, e ficava-se muito tempo a espera
de aprovação de outros projetos. Esta conjuntura segue o modelo I de análise (ver Figura 5)
adotada para a contextualização do processo de institucionalização da C&T e Moçambique.
Conforme já referido a proposta de análise deste modelo fundamenta-se na existência de uma
forte influência do campo político sobre as demais esferas sociais, não só, também considera
que a comunidade científica nacional ainda estava na fase embrionária, com pouca capacidade
de negociação e legitimação de seus pontos de vistas. Isso significa que muitas das decisões
sobre a manutenção das parcerias e dos projetos de suporte financeiro a investigação eram
dominadas e ditadas pelos vieses políticos de então. Conforme já comentado, esses fatos
remetem a Bourdieu ao demonstrarem a existência de uma relação de disputas e afirmação de
interesses entre os campos político e científico no contexto nacional.
Portanto, Segundo o modelo II de análise (ver Figura 6), adotado para a condução deste
estudo, na segunda República especificamente a partir do início da década de 2000 assisti-se
ao surgimento de novos atores no processo de institucionalização da C&T. De entre os quais é
109
importante citar o lançamento de fundos competitivos de fomento a pesquisa com destaque
para o FA/UEM, QIF/MESC, FIP/MESCT, FNP/MCT, COMPETE/IIAM e outros. Conforme
foi mencionado anteriormente estes fundos são destinados a financiamento de pesquisa dentro
das linhas prioritárias definidas na política e estratégia de C&T moçambicana. Apesar de
serem fundos geridos internamente pelos órgãos do governo (Ministérios, Universidade
Pública e Instituições de Investigação do governo) estes dependem quase que exclusivamente
de doações e/ou empréstimos externos.
Em princípio esses fundos financiam qualquer tipo de pesquisa não havendo interferência
explícita por parte dos doadores. A não interferência dos doadores nos modos de definição e
desenvolvimento das atividades de investigação feitas pelos beneficiários desses
investimentos foi reiterada praticamente por todos os indivíduos entrevistados ao longo da
realização deste estudo. Dois deles ratificaram a imparcialidade dos doadores dos fundos na
definição e desenvolvimento da pesquisa. O terceiro apontou a importância da organização de
órgãos governamentais e da capacidade de negociação do governo com os parceiros de
cooperação, por forma a alocarem fundos de acordo com as políticas de desenvolvimento de
C&T em vigor no país, com o mínimo de interferência:
Os editais financiados pelos fundos abertos (SIDA/SAREC) são totalmente aberto. Não há
interferência do doador sobre a decisão de que investigação fazer com os fundos alocados.
Gestor (UEM)
[...] tivemos que nos organizar internamente para coordenar a gestão dos fundos conseguidos
com os doadores ... porque muitas vezes vamos buscar doações de varias organizações ... e não
tínhamos como coordenar esses fundos ... Para o efeito foi criado o Fundo Nacional de
Investigação – FNI, que é uma instituição que busca fundos com os doadores e no orçamento
geral do estado para financiar a investigação ... com base nas prioridades definidas na
estratégia de ciência e tecnologia ... as chamadas para financiamento são lançadas com base
nas áreas contempladas na estratégia e os investigadores concorrem com os projetos de
investigação ... importante dizer que já temos alguma capacidade de negociar com os doadores
... pois alguns fundos são doações e outros são empréstimos.
Gestor (MCT)
110
Apesar de os entrevistados ressalvarem que na prática não existe interferência dos doadores
na definição e desenvolvimento da pesquisa em Moçambique, esses argumentos devem ser
analisado com ponderação. Porque, embora o país já tenha um FNI e outros de âmbito
institucional, grande parte da investigação ainda depende de projetos de financiamento
setoriais. Esses projetos na sua maioria são financiados por agências internacionais sem uma
ligação explicita com os fundos de financiamento oficialmente instituídos. Sobre esse aspecto
parece haver um consenso, no seio dos entrevistados, em relação à forma de captação desses
fundos. Sobre o fato, eles afirmaram que o país tem identificado os diferentes parceiros de
cooperação de acordo com as suas áreas de interesse. Assim, os investigadores ou instituições
nacionais buscam financiamento nesses países, já sabendo que tipo de áreas eles se interessam
em financiar.
Identificamos países por áreas de financiamento que nos interessa. Por exemplo, nós sabemos
que a Finlândia gosta de financiar este tipo de coisa ... então quando queremos financiamento
para aquela área procuramos aquele país ... Portanto cada país ou organização tem o seu
interesse. Por exemplo, a SAREC ou a Suécia diz que nós atuamos nesta área, e muitas vezes o
financiamento é direcionado, mas não direcionado do ponto de vista de que é obrigatório, mas
sim porque nós fomos ter com aquele doador para financiar aquela área que é do seu interesse.
Gestor (MCT)
Pelos conhecimentos que temos sabemos mais ou menos quais áreas preferências dos doadores
... dependendo do financiador submete-se o projeto dentro da linha que este disponibiliza os
fundos ... A SIDA/SAREC financia praticamente todas as áreas, mas os italianos, por exemplo,
tem preferência em medicina, agronomia, arquitetura e biotecnologia.
Gestor (UEM)
Portanto é razoável afirmar que, ainda que seja de uma forma involuntária, existe um
direcionamento do desenvolvimento das atividades de pesquisa em Moçambique por parte das
agências internacionais que financiam o setor. Esta afirmação é sustentada pelos seguintes
argumentos:
111
de um a dois anos no máximo. Isso pode limitar a proposta de projetos de maior
duração pois à partida serão eliminados. Para os que preenchem os requisitos e são
aprovados às vezes sofrem do problema crônico de demora no desembolso dos fundos,
que é um fator crucial para o bom desempenho de qualquer projeto de pesquisa. Neste
contexto, esses fundos apesar de serem de gestão interna dos órgãos governamentais,
ainda sofrem dos prazos ditados pelos doadores para a prestação de contas, e do tipo
de aplicação de investimentos nas atividades de pesquisa.
ii) Nos outros casos, ou seja, dos fundos geridos pelas próprias agências internacionais,
tem-se por um lado, a questão do interesse explícito da área elegível ao financiamento.
E por outro, coloca-se a problemática do tipo de aplicação de investimentos, citam-se
casos em que as propostas são reprovadas por trazer uma carga enorme do orçamento
para modernização da infraestrutura necessária para a investigação. Os depoimentos
seguintes ilustram algumas destas constatações:
As bolsas são de pequeno valor (cerca de 10, 15 mil este ano 7 mil dolares), lógico isso é para
pôr a maquina andar não é para construir a maquina ... isto é temos que construir a
infraestrutura para a investigação ... podem nos dar combustível mas não temos a maquina ...
portanto essas bolsas não seguem os nossos objetivos ... nós precisamos de investimentos em
infraestruturas de investigação, investimento em equipamento fundamentalmente, investimento
em edifícios ... essas bolsas que circulam são para aquele equipamento de uso corrente ... como
vai ser bolsa de uso corrente se tu não tens infraestruturas ... é por isso que mesmo em bolsas
internacionais e regionais nós estamos a perder ... porque ganham aqueles países que já tem
infraestruturas ... que só precisam de recursos de uso corrente, viagens, transportes, etc.
perdemos sempre porque? Como não temos isso, quando fazemos um projeto colocamos um
certo peso na construção, por exemplo, um cercado para cercar uma área para poder ter as tuas
plantas para poder ter a defesa...
Docente (UEM)
Muitos pensam que o processo de investigação faz-se em três semanas e publica-se na quarta.
Por exemplo, agora a universidade lançou um fundo aberto que foi financiado em junho e
dizem que tem que acabar em dezembro e tem que publicar em fevereiro. Só quem nunca
publicou pode me dizer que em fevereiro tem uma publicação feita ... Portanto, há uma grande
incongruência aqui ... por outro lado os trabalhos bem feitos é verdade que tem que ter prazos,
mas e a qualidade? ... não é correndo ... que a gente vai publicar, quer dizer estamos a traz de
números e mal feito ou sem qualidade...
Docente (UEM)
112
Estes relatos demonstram que deve haver fortes interferências dos financiadores no
desenvolvimento das atividades de pesquisa em Moçambique. Pelos depoimentos percebe-se
que a interferência ocorre não apenas nos fundos que são canalizados e geridos diretamente
pelas próprias agencias, mas também acontece naqueles que são de gestão dos órgãos do
governo como são os casos da UEM, MCT e IIAM. Muito provavelmente este cenário sucede
devido à falta de maturidade da comunidade científica nacional, que devia se envolver cada
vez mais no processo de gestão e definição das políticas de fomento a pesquisa no país.
Conforme mencionado pelos próprios atores (entrevistados) existe uma fragilidade nas
estruturas e órgãos centrais de gestão da C&T no país. Mas também existem disputas dentro
do próprio campo científico em busca de legitimação dos pensamentos e modelos importados
das escolas onde estes receberam suas formações acadêmicas. A diversidade de países e
escolas de formação dificulta a integração e formação de equipes disciplinares e
multidisciplinares importantes para o desenvolvimento científico nacional. Portanto, a
fragilidade e imaturidade da comunidade científica associada a ausência de grupos de
pesquisa com linhas de investigação bem delimitada dificulta o processo de negociação entre
os atores. Estes fatores podem influenciar negativamente a definição de políticas de fomento e
desenvolvimento do setor de C&T, e abrirem espaço para que as agências internacionais
implementem seus projetos e planos dentro da sua conveniência e interesse.
113
à dinâmica de relacionamento entre os principais atores responsáveis pela produção e
legitimação de conhecimento no contexto moçambicano. Essa análise foi realizada tendo
como base informações obtidas nas entrevistas feitas a alguns investigadores, docentes e
gestores do setor de C&T.
A análise dos depoimentos mostra que parece haver um consenso no seio dos entrevistados de
que, no momento atual, discorrer sobre parceria público-privada em ambientes de produção
de conhecimento no país ainda é um mito. Pois, de uma forma geral os atores que constituem
as três principais esferas, ainda carecem de uma estruturação interna para poderem
desenvolver cabalmente suas funções no sistema nacional de pesquisa e inovação. Somente
depois dessa estruturação se pode pensar em alianças estratégicas, tendo em vista o
desenvolvimento e produção de conhecimento em ambientes de aplicação. Quando se fala em
estruturação refere-se, por exemplo, a criação de condições infraestruturais para a realização
de atividades de pesquisa de desenvolvimento dentro da própria indústria, em parceria com a
universidade, e com coordenação do governo.
A parceria público-privada funciona para aquelas empresas que sem muito esforço facilmente
ganham dinheiro... Portanto, são as telecomunicações, antigamente os caminhos de ferro, mas
hoje talvez não, empresas energéticas, o resto tem dificuldades porque os donos das empresas
não acreditam ou não tem interesse em desenvolver Moçambique. Porque produzir é uma coisa
desenvolver é outra ... Então buscam soluções, buscam receitas estudadas em seus países ...
aqui é apenas o local para aplicar as tecnologias, todas as soluções, todas as pautas, as normas,
chegam ... aqui aplicam... É por isso que nós temos dificuldades e que dependemos do exterior
para fazer tomate ... porque é fácil produzir, porque é barato ... é fácil trazer a tecnologia e
montar ... portanto vieram aqui para produzir e não para financiar investigação ... Então é
melhor esquecer essa parceria publico privado ... se queremos mudar ... deve haver alguma
injeção substancial da infraestrutura, claro há teorias que dizem primeiro vamos formar
recursos humanos ... teorias que dizem que não vale apenas construir um edifício para depois
não ter ninguém para pôr ... portanto é altura de se pensar nas infraestruturas ... porque daqui a
algum tempo teremos muitos doutores sem espaço para desenvolver suas atividades de
investigação por falta de infraestrutura [...]
Docente (UEM)
114
Em Moçambique as atividades de pesquisa e produção de conhecimento acontecem em
pequenas estruturas de relacionamentos, que geralmente envolvem o investigador principal e
a agência financiadora. Em alguns casos esse relacionamento se estende para os demais
membros da equipe e às instituições de afiliação das equipes. Existe uma tendência de
formação de equipes mono-disciplinares com pouca ou nenhuma interface com o ambiente
externo. Quer dizer, o ambiente de produção de conhecimento em Moçambique é
caracterizado por formação de pequenas ilhas, umas mais desenvolvidas do que as demais, em
termos de infraestruturas de pesquisa, recursos humanos e financiamentos a elas alocados. Em
alguns casos, essas ilhas formam-se num esforço competitivo, de seus membros,
demonstrarem o poderio de barganha que possuem, em relação à captação de financiamento
para investimento e construção de laboratórios de primeira linha. Essas infraestruturas, muitas
das vezes são usadas por uma minoria de investigadores privilegiados e de renome
internacional.
Por isso, o desafio maior talvez não esteja na construção de novas infraestruturas, mas sim no
melhor aproveitamento das poucas condições já existentes no país. Isso passa por uma maior
coordenação e desenvolvimento de parcerias, fundamentalmente, entre as instituições e
laboratórios nacionais de pesquisa. É necessário quebrar o sentimento de posse manifestado
por alguns lideres de equipes de pesquisa, em relação ao aparato tecnológico por eles montado
em laboratórios nacionais. Esse fato iria contribuir para o estabelecimento gradual de redes
sócio-técnicas internas e multidisciplinares importantes para o desenvolvimento e
fortalecimento da própria comunidade científica nacional
115
desenvolvimento científico baseado nesse modelo pode dificultar a institucionalização de
processos de produção de conhecimento aplicado ao ambiente local. Visto que neste modelo
geralmente o conhecimento produzido é legitimado no centro, nas condições do centro, que na
maioria dos casos diferem das da periferia, logo esse conhecimento pode ser de pouca
utilidade para o desenvolvimento da sociedade local. Mas por outro lado confere aos
investigadores nacionais o tão almejado prestígio internacional conforme foi manifestado por
alguns dos entrevistados.
Nesse contexto, percebe-se que existe uma dualidade de interesses, de um lado os interesses
dos atores e de outro as necessidades em produzir conhecimento para o desenvolvimento
sustentável do país. Como forma de contrabalançar estes interesses o governo deve promover
políticas de desenvolvimento de C&T que possam manter um equilíbrio entre interesses dos
atores e as necessidades de desenvolvimento nacionais. Uma das formas seria o lançamento
de editais de pesquisa induzida. Mas para o efeito é necessário que exista uma definição clara
e precisa das prioridades de pesquisa nas diferentes áreas de conhecimento. Pois o que se
percebe atualmente é que as prioridades de investigação são definidas em linhas macros. É
preciso definir linhas pesquisas setoriais em todas as áreas de conhecimento a exemplo do que
acontece na área de saúde que já existem fundos específicos para pesquisas sociais sobre o
HIV/SIDA canalizadas pelo Conselho Nacional de Combate ao Sida (CNCS). Poderia se
pensar um modelo parecido para outras áreas de conhecimento, por exemplo, na área agrária –
poderiam existir fundos setoriais para pesquisa sobre melhoramento de uma cultura específica
que se considera ser fundamental para melhoria da segurança alimentar duma determinada
região. Portanto esta seria uma de entre tantas alternativas de desenvolvimento setorial que
poderiam ser aplicadas as demais áreas de conhecimento. Como forma de focalizar o
desenvolvimento e produção de conhecimento voltado para a realidade e necessidades
nacionais.
Conforma advogado por vários estudiosos da sociologia da ciência e outras áreas correlatas,
colaboração científica nos seus diversos níveis (nacional, regional e internacional) deve ser
vista, de um lado, como forma de trazer experiências e consensos diferentes tendo em vista a
solução de um determinado problema de pesquisa. Mas, por outro lado, ela facilita o fluxo e
distribuição de recurso pelos membros que formam as equipes de pesquisa (LATOUR, 1999;
116
2000). Isso significa que, por exemplo, nações com sérios problemas infraestruturais para o
desenvolvimento de atividades de pesquisa, ao se integrarem a redes internacionais de
colaboração científica conseguem reduzir as diferenças entre os dois pontos – centro-periferia.
Ou seja os pesquisadores de nações periféricas que integram equipes de pesquisa
internacionais, passam a ter maiores possibilidades de utilizar laboratórios e métodos mas
sofisticados no desenvolvimento de suas atividades de investigação, do que os que não
participam dessas redes. Portanto, estas são algumas vantagens que as redes internacionais
oferecem principalmente para os pesquisadores de países periféricos como Moçambique.
Mas, também trazem consigo algumas desvantagens como já citado. De entre outras, talvez a
mais importante seja o tipo de pesquisa, que na maioria das vezes foz ao interesses e
necessidades locais, fundamentalmente quando se trata de pesquisa aplicada, em que a sua
legitimação depende e deve ser feita no ambiente de sua aplicação.
117
nacional que não denotam nenhum grau de centralidade, ou seja, estão isolados na rede de
colaboração científica nacional e internacional. Um dado interessante é a ausência ou fraca
centralidade de outras instituições de ensino e pesquisa relativamente mais antigas como a UP
e o ISRI, possivelmente isso foi motivado pelo fato de que até então, o principal foco dessas
instituições, era a formação de recursos humanos para atender as demandas do governo e não
propriamente desenvolver atividades de pesquisa.
Figura 24: Rede de Colaboração de Instituições Nacionais de Ensino e Pesquisa e seus Parceiros Internacionais
Fonte: Elaboração do autor (adaptado dados do WoS)
119
C APÍTULO VI
120
Num estudo recente Zimba e Mueller (2008) constataram que bases bibliográficas
internacionais, Web of Science e Scopus, apresentam similaridades em relação a indexação da
produção científica desenvolvida por autores filiados a instituição dos Países Africanos de
Língua Oficial Portuguesa (PALOP). No caso de Moçambique, esse estudo apontou também
que nos últimos anos houve um crescimento considerável do volume de publicações, de
autores filiados a instituições nacionais de pesquisa desenvolvidas em colaboração com seus
pares de outros países. Fato interessante é que a maior parte das pesquisas indexadas nessas
bases foi publicada em revistas internacionais. Existem várias argumentações avançadas pelos
próprios investigadores moçambicanos que sustentam esse fato. Uns apontam para a não
existência de revistas nacionais com periodicidade regular como fator principal, devido à
exiguidade de materiais publicáveis, e falta de financiamento para a sua edição. Para melhor
entender esta situação recorreu-se a dois períodos de análises: o período antes da
independência e o período posterior a independência até ao momento atual.
Portanto, o primeiro período cobre o tempo que vai desde a criação das primeiras instituições
de ensino e pesquisa (década de 1960) até a altura da independência nacional (1975) que foi
caracterizado por uma produção científica prolífera, publicada em revistas editadas pelas
instituições nacionais que existiam naquela época. Como exemplo podem se citar as
publicações editadas pelo Instituto de Investigação do Ultramar, as revistas da área da saúde e
de veterinária, e outras publicações. Mas, a crise que abalou o sistema do ensino superior e as
instituições de pesquisa, nos anos imediatamente pós-independência, afetou sobremaneira a
continuidade desses veículos de disseminação e divulgação científica. De tal forma que até ao
presente momento ainda não foi possível o re-estabelecimento de edição regular de revistas
nacionais. Conforme já referido, essa crise afetou praticamente todas as áreas ligadas a
atividades de pesquisa motivada, principalmente, pela falta de recursos humanos qualificados
em todos os setores de C&T do país. Portanto, esta foi a causa primária, que levou a
descontinuidade da edição das publicações existentes até então, assim como, afetou o volume
de trabalhos publicados em revistas internacionais naquela época:
Provavelmente uma série de fatores contribuiu para que houvesse pouca publicação no período
pós-independência: para os docentes ... dado o vazio absoluto de alternativas ... eles se
ocuparam de uma carga docente muito alta, isto deixava-lhes pouco tempo para atividade de
pesquisa, por outro lado não houve contratação de gente que pudesse se envolver ativamente na
pesquisa na mesma altura. O fenômeno linguístico é capaz de ter tido alguma influência devido
de serem russos, búlgaros, checoslovacos, etc.; e o terceiro fenômeno ... o seguinte, estávamos
em plena era de guerra fria, provavelmente estas nacionalidades não tinham a ginástica
linguística para publicar em revistas internacionais do mundo ocidental da altura, que eram
digamos lideres da ciência nessa altura. Embora nessa altura de guerra fria, em muitas áreas
121
cientificas a produção cientifica dos países socialistas fosse notável, a União Soviética ... a
Rússia era grande produtor da literatura cientifica.
Docente (UEM)
122
6.1.1 Produtividade e visibilidade científica
De uma maneira geral os dados coletados na ISI/WoS revelam uma tendência de crescimento
quase linear, entre 1970 a 2009, no que se refere a documentos publicados por autores filiados
a instituições de ensino e pesquisa moçambicanas, assim como a citações recebidas por essas
publicações (ver Figura 25).
123
No entanto, uma análise pormenorizada e consubstanciada no contexto histórico do país
evidencia um crescimento tímido e muito instável no período entre a década de 1970 até
inícios da década de 2000. Também é possível observar que no período entre o início da
década de 1960 (período da fundação da primeira universidade em Moçambique) até 1975
(ano da independência do país) registram-se poucas ocorrências de publicações indexadas na
fonte consultada. A primeira ocorrência de registro de documentos publicados por autores
filiados a instituições nacionais, na base ISI/WoS, foi em 1971. Depois segue um período de
três anos com ligeiro aumento de documentos indexados, demarcado pelo ano de 1974, ano
que registrou o pico de produtividade desse primeiro período de análise.
120 1600
Documentos Citações
1400
100
1200
80
Nº de Documentos
1000
Nº de Citações
60 800
600
40
400
20
200
0 0
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
Ano de Publicação/Citação
Figura 25: Evolução da Produtividade e Visibilidade Científica de Autores Filiados a Instituições de Ensino e Pesquisa
Moçambicanas entre 1970-2008
Fonte: Elaboração do autor com dados da Web of Science (2009)
A partir de 1976, início do segundo período de análise, ocorre uma queda de produção anual,
seguida por uma longa fase de oscilação que se estende até 1985. Nesse intervalo de tempo, a
variação de produtividade situou-se entre 2 a 13 documentos publicados por ano. Conforme
retratado no contexto histórico do país, esse período foi caracterizado pela estagnação do setor
de ensino e pesquisa, devido fundamentalmente à redução da capacidade técnico-científca
instalada no país. Essa redução foi causada pelo abandono para Portugal da maior parte do
pessoal qualificado, que sustentava o sistema antes da independência de Moçambique.
O terceiro período de contextualização é delimitado pelo intervalo entre 1986 a 1995. Esse
período marca o início da estabilização da produção científica anual, assim como o ponto a
124
partir do qual a curva da produtividade inicia uma tendência de crescimento cada vez mais
acentuada ao longo dos anos subsequentes. Essa melhora na curva da produtividade ocorre
num momento em que se registravam outras mudanças no contexto político-social e
econômico do país. Dos fatos positivos que aconteceram nesse período destacam-se: a
fundação da segunda instituição superior pública; a transição da política socialista de
economia centralizada para a política neoliberal; e o fim da guerra civil.
Existem várias razões que podem servir para esclarecer e entender as causas desse
crescimento quase exponencial, que vem ocorrendo nas duas últimas décadas em
Moçambique. Em primeiro lugar, pode se citar o fato de que, nesse período o número de
graduados e de pós-graduados cresceu consideravelmente, acompanhado pela entrada em
funcionamento de novas instituições de ensino e pesquisas nas diversas áreas de interesse
nacional. Em segundo lugar, nos últimos anos nota-se uma preocupação maior do Estado, em
relação ao relançamento e desenvolvimento das atividades de ciência e tecnologia, que tinham
sido negligenciadas durante as primeiras duas décadas do período pós-independência. Em
terceiro lugar, situa-se o incremento da cooperação regional e internacional nos domínios de
C&T, favorecido essencialmente pela consolidação da política econômica neoliberal e pela
solidificação do ambiente de paz no país. Em resumo pode se afirmar que o crescimento da
produtividade e visibilidade científica verificado nos últimos anos tem sido motivado pela
entrada de novos atores sociais e não sociais na dinâmica do desenvolvimento das políticas
específicas e globais do país.
Esta seção apresenta o quadro e o gráfico de dispersão das fontes utilizadas para a publicação
de pesquisas realizadas por autores filiados a instituições de investigação moçambicanas (ver
Anexo 5 e Figura 26), desenhados com base em informações extraídas na ISI/WoS. O exame
detalhado dos dados revelou que, a maioria dos pesquisadores identificados publica suas
pesquisas em veículos de divulgação científica internacionais.
125
A escolha para publicar em periódicos internacionais pode ser motivada por vários fatores,
dentre os quais, pode se citar o fato de que, grande parte, desses pesquisadores obteve a sua
preparação para a carreira científica especialmente em países europeus e nos EUA. Isso tem
facilitado a manutenção de intercâmbio científico com seus colegas, sobretudo com seus
professores e orientadores naqueles países. A manutenção desses relacionamentos, em última
instância, pode facilitar a realização de trabalhos de pesquisa em co-autoria que depois são
publicados nos veículos de disseminação científica editados nos lugares de origem da
contraparte estrangeira. Em segundo lugar, mas talvez a mais importante causa para que os
autores nacionais procurem publicar fora do país, é a falta de condições internas para a
publicação.
Conforme mencionado por quase todos os entrevistados em Moçambique não existem revistas
científicas com periodicidade regular, isso faz com muitos dos pesquisados façam a
divulgação de seus resultados de pesquisa em mecanismos internacionais. Mas, também
alguns mostraram-se pouco a favor de criação de revistas nacionais, pois acreditam que esse
fato poderia facilitar a divulgação de material de baixa qualidade que não encontra espaço
para publicação nos periódicos de prestígio internacional. A seguir apresenta-se a análise de
dispersão das fontes utilizadas por autores filiados a instituições moçambicanas.
1400
1000
800
135; 384
600
0
0 50 100 150 200 250 300 350
Figura 26: Dispersão das Fontes (Periódicos) Utilizadas pelos Autores Filiados a IES Moçambicanas para a Publicação das
Pesquisas entre 1970-2009
Fonte: Elaboração do autor com dados da Web of Science (2009)
A curva de dispersão traçada indica que, 1/3 de artigos (que corresponde a 383 artigos do total
de 1159) foram publicados em apenas 28 periódicos, procedentes de um total de 477 fontes
identificadas na base ISI/WoS. A segunda e a terceira proporções de 1/3 de artigos foram
126
publicadas em 135 e 314 periódicos respectivamente (ver Figura 26 e Anexo 5). Em resumo,
isso significa que existe um grupo pequeno de periódicos (28), que foram utilizados com
maior frequência; e outro maior, composto por 314 periódicos, utilizados com baixa
frequência, para a publicação de artigos por esses autores. Os demais 135 periódicos foram
usados moderadamente.
Os resultados mostram uma relação de intercâmbio muito forte entre Moçambique e alguns
países europeus como é caso da Suécia, Espanha, Inglaterra, Portugal, Holanda, Itália, França
Noruega e outros em menor escala. No entanto o maior destaque vai para Estados Unidos da
América – EUA que aparece na primeira posição na relação dos países que desenvolvem
pesquisas em parceria com Moçambique (ver Tabela 7).
Entre os países africanos, observa-se a crescente e forte presença das instituições sul africanas
na produção cientifica moçambicana, sobretudo a partir da década de 1990. Destacam se
também, no continente africano, a Tanzânia, Quênia, Zimbábue, Malaui, Botsuana, Zâmbia e
outros. O Brasil aparece na décima sétima posição com maior incidência para pesquisas
realizadas e publicadas principalmente nas duas ultimas décadas.
127
Tabela 7: Relação de Países Parceiros na Produção Cientifica em Moçambique
A presença maciça de outros países na produção científica nacional pode estar relacionada ao
fato de, Moçambique receber, desses países, a ajuda financeira e institucional que tem
garantido o pleno funcionamento do sistema de ensino e pesquisa nacional, como já
comentado em capítulos anteriores. Só para citar alguns exemplos, a Suécia, se faz presente
em Moçambique através da sua agência de cooperação, Swedish International Development
Cooperation Agency/Swedish Agency for Research Cooperation - SIDA/SAREC. As relações
de cooperação entre a SIDA/SAREC e a UEM datam do longínquo ano de 1978, ou seja,
contam com mais de 30 anos de existência. Passado esse tempo é possível observar que essas
relações produziram resultados relevantes na área de C&T do país. Conforme os dados da
128
Tabela 7, a Suécia é o segundo da lista, ficando apenas atrás dos EUA, no ranking dos países
parceiros de Moçambique nesta área, que é importantíssima para o desenvolvimento
econômico e social de qualquer nação.
Apesar da entrada oficial relativamente tardia dos EUA como parceiro de desenvolvimento
dos vários setores da economia moçambicana, eles aprecem no topo da lista dos países que
mais colaboram na produção científica publicada e indexada nas bases internacional. De entre
as varias formas de participação dos EUA no setor da C&T, citam-se, as ações desenvolvidas
pela Fundação Ford - uma instituição sem fins lucrativos com sede em Nova York, que
oferece bolsas de estudos, especialmente para a formação em níveis de pós-graduação. Em
Moçambique a Fundação Ford é representada pelo África-America Institute (AAI), com um
programa de cooperação iniciado em 1987 e homologado em 1993 (AAI, 2009).
O levantamento efetuado nas bases bibliográficas ISI/WoS mostrou haver maior incidência de
pesquisas realizadas na área de Medicina e de disciplinas correlatas. Depois aprecem
aparecem as Ciências Sociais e Humanidades, seguidas pela área de Agropecuária e Ciências
do Meio Ambiente (ver Tabela 8).
A tendência de abundâncias de estudos nas áreas citadas pode ser explicada pelo fato de
Moçambique ser um país em desenvolvimento. Assim sendo, existe um grande interesse de
realização de pesquisas aplicadas que visam resolver os problemas de subnutrição e de saúde
pública. Esse fato está patente nas pesquisas médicas identificas nas bases ISI/WoS, onde se
129
pode observar que a maior parte delas tratam de aspectos ligados a doenças infecciosas, com
destaque para a AIDS, cólera e a malaria. Esta última é considerada doença endêmica, em
Moçambique, que atinge principalmente a população rural, urbana e periurbana.
Porque temos lá nossos tutores ... temos que começar de algum lado ... mas também temos que
ter uma revista nacional, qualquer coisa nacional que aceite a qualidade de nossos trabalhos,
porque são feito de acordo com as nossas condições ... e é assim que nós temos que valorizar a
nossa auto-estima e dizer que publiquei aqui em Moçambique na revista nacional, não tem
impacto internacional mas tem a publicação nacional é preciso começar daí, as faculdades não
tem, o país não tem [...]
Docente (UEM)
Para o tipo de informação que um artigo científico contém ... eu julgo que aquele é o local mais
apropriado[...]
Docente (UEM)
Não, você não publica dentro porque não tens revistas ... Se quer publicar tem que ser fora ... e
o mundo cientifico não tem que se virar para dentro, se você vai a Europa os europeus
publicam em revistas desde australianas, americanas e os americanos publicam nas revistas
européias, quer dizer a disseminação da informação vai de acordo com aquilo que você tem
como trabalho de investigação e em que revista mais se enquadra.
Docente (UEM)
A tendência de publicar fora era motivada pelo fato de não existir alternativas internas para o
efeito. Também tem o lado do investigador contar em publicar em revista que tenham algum
130
prestigio ... nos últimos anos estão a surgir muitas revistas africanas de várias áreas isso é
muito bom porque vai permitir que possamos publicar sobre o embondeiro que se calhar para
um outro pais não seja interessante. Também está na fase de criação ... a revista científica
eletrônico da UEM, nossa idéia é tentar incentivar a publicação doméstica de assuntos que não
tem encontrado espaço nas revistas internacionais mas que são interessantes e são de boa
qualidade.
Gestor (UEM)
É importante salientar que, a publicação em veículos internacionais não pode ser atribuída
somente a influenciada exercida pelos tutores que publicam em parceria com seus ex-
supervisionados moçambicanos. Pois, segundo relatos de dois docentes da UEM, apesar de no
início muito provavelmente terem se beneficiado dessa influência, não parece oportuno
continuar a aliar a situação de publicação atual com esse fato. Isto porque segundo eles,
muitos pesquisadores nacionais já alcançaram o prestígio internacional na arena científica, de
tal forma que, inclusive, pouco se interessam pela criação de veículos de publicação interna.
Até existem correntes dentro da comunidade científica que consideram que a criação de
revistas nacionais pode favorecer a publicação de trabalhos medíocres, que tenham sido
rejeitados em proposta tentativa de publicação em veículos internacionais.
[...] não vejo por enquanto viabilidade para a criação de revistas nacionais, pois a maioria dos
pesquisadores já o fazem em revistas internacionais de maior prestigio ... e isso concorre para o
não interesse em divulgar internamente daí a relutância em não publicar domesticamente.
Portanto, o MCT devia garantir o acesso a mecanismos de divulgação como o Web of Science
... e esperarmos o estabelecimento dos mecanismos de divulgação domésticos, mas sem
interferir nos modos atuais de publicação fora do pais ... apenas precisa-se criar condições de
circular a informação publicada fora do pais internamente ... A criação de revistas nacionais
pode facilitar a publicação de trabalhos medíocres, ou seja, aqueles que não encontram espaço
para publicação em revistas internacionais ... optarem por submeter esses trabalhos nas revistas
locais ... por um lado pode ser positivo ... mas por outro pode ser negativo ... devido a baixa
qualidade desses trabalhos.
Docente (UEM)
Essa é parte mais fraca que o sistema de investigação sempre teve em Moçambique, por outro
lado, porque também as pessoas não gostam de escrever, não sei porquê? ... havia um colega
que dizia que o africano é agrafo, essa é uma primeira luta que nós estamos a tentar, mas na
verdade foi reconhecendo esta lacuna que no nosso novo instituto criamos uma nova direção
especifica para isso ... direção de formação e transferência de tecnologia...
Gestor (IIAM)
A posição do gestor do IIAM foi secundada por outro entrevistado docente da UEM, que
também considera ser importante o empenho da comunidade científica no sentido de cada vez
mais incorporar em si a vontade e espírito de publicação de seus resultados de pesquisa. Pois
segundo ele o que tem se verificado é que os pesquisadores não publicam os resultados de
suas pesquisas, provavelmente, porque alguns deles não conhecem os procedimentos a seguir,
ou porque falta-lhes a vontade, gosto e por vezes até a capacidade de materializar por escrito
os achados de seus estudos.
Os artigos científicos são submetidos a uma revisão pelos pares, quer dizer qualquer um que
escreva artigo de qualidade não tem dificuldade em publicar. Pode acontecer que alguns dos
colegas não estejam informados dos mecanismos para publicação, este é um ponto, o outro
ponto, pode ser que as pessoas não escrevam os trabalhos, porque a parte mecânica eu
considero que 40% do trabalho, 60% é sentar e escrever, fazer uma revisão bibliográfica,
estruturar a informação.
Docente (UEM)
Em resumo pode se dizer que existe uma lacuna muito grande no país em relação a edição e
publicação de revistas científicas, situação que tende a se manter até dias atuais,
provavelmente, devido a falta de interesse de alguns círculos acadêmicos que preferem e
advogam a publicação em revistas internacionais como forma de ganhar e manter o prestígio
com seus pares externos. Como se pode observar em quase todas as argumentações dos
entrevistados está patente a preocupação com o prestigio que poder ser conseguido ao
publicar em veículos internacionais e que a existência de publicações nacionais de nada
132
melhoraria aos seus CV que de um modo geral são avaliados colocando-se peso maior para as
publicações feitas em revistas mainstream. Portanto, aqui está-se perante o dilema de
manutenção do poder simbólico já adquirido por alguns membros da comunidade científica
nacional na arena internacional, corroborando com a argumentação Bourdieu (2005) sobre as
disputas pela autoridade e competência científica dentro do campo. Para esse pequeno grupo
pouco interessa a existência de veículos nacionais, pois assim continuaram exercendo a sua
dominação em relação aos demais membros que ainda não conseguiram transpor as barreiras
impostas ou encontradas para publicar em revistas centrais. Assim, a manutenção do poder
símbolo traz consigo grandes vantagens como, por exemplo, a facilidade de conseguir a
aprovação de projetos de investigação, em editais e oportunidades de financiamento e
participação de equipes de pesquisa multinacionais.
Com o mínimo de cultura de internet sabendo que existem bases de dados centralizadores
como é o pubmed, etc. em que com um clique de palavras chaves podemos ter tudo que vem,
sabemos também que existe o Hinnary e o Agora em que há maior parte das coisas, sabemos
ainda que coisas mais clássicas como escrever para o autor e pedir um reprint, que era como
fazíamos a 20 anos atrás, então acho que o grande problema de acesso a esse tipo de literatura
em Moçambique é mais falta de cultura de acesso a informação do que um processo que é
transformar...em problema...
Docente (UEM)
134
O corpo docente e de investigadores tem uma forma rápida de buscar a informação dependendo
do seu interesse ... Hoje há buscadores como é o caso da pubmed... hoje tem para os países em
desenvolvimento portais que dão acesso a todas revistas como é o caso do Hinnary da WHO,
tens o Agora da FAO... quer dizer as portas estão abertas ao mundo... não há fronteiras... é
interesse ... agora é preciso também referir que é preciso ter internet, ou seja é preciso ter uma
estrutura mínima para o efeito.
Docente (UEM)
A sociedade civil de uma maneira geral desconhece por completo a existência de instituições
de pesquisa de desenvolvimento. Estas pouco fazem para que o público tome conhecimento
daquilo que são os produtos e serviços por elas desenvolvidas ... e também porque as
atividades nelas desenvolvidas pouco tem a ver com desenvolvimento das comunidades... e há
uma lacuna por parte dos investigadores no que diz respeito a intermediação e divulgação das
atividades de pesquisa para o público.
Docente (UEM)
135
Ainda é muito fraca, não é notória eu sinto que a instituição tinha que ser mais agressiva em
termos de divulgação das suas atividades... Há uma tendência de se mudar, mas devido a esta
instabilidade orgânica de âmbito estrutural o impacto da investigação e dos investigadores não
é sentida, não é conhecida, mesmo dentro da instituição entre os técnicos membro... o impacto
não é conhecido.
Investigador (IIAM)
Hoje as pessoas já sabem o que é ciência e tecnologia pelo menos ouvem e já ouviram falar,
pois já há muita divulgação, palestras nos diferentes níveis, através das expedições científicas
em que nós chegamos num distrito e fazemos a semana da ciência e tecnologia. No distrito
chamamos as pessoas ... fazemos palestras nas escolas... levamos desde o acadêmico até o
inovador que apresenta a sua maquineta e faz uma demonstração... então as pessoas vêem que
também podem fazer... Então fazemos isto, exposições, mostras, palestras... Então pouco a
pouco vão sabendo o que é a ciência e tecnologia, mas claro que as pessoas têm mais
expectativas ... porque nós ainda temos que incutir mais o gosto pela ciência e tecnologia...
Gestor (MCT)
A análise destes depoimentos fornece vários elementos descritivos, que revelam o estágio
atual, e o sentimento quase unânime dos investigadores e gestores do setor de C&T, em
relação à ausência de mecanismos sistematizados, essenciais, para a promoção de atividades
de popularização do conhecimento e para a inserção das instituições de ensino e pesquisa, na
vida cotidiana da sociedade moçambicana. Os entrevistados reconheceram existirem
dificuldades em suas instituições para desenvolver e manter mecanismos formais de
popularização da ciência. Mas do que isso, parece não existirem planos nem estratégias claras
para a materialização dos processos de disseminação e difusão científica e tecnológica no
país. A partir dai pode-se especular que nas instituições de pesquisas, provavelmente,
produzem muita informação, que poderia ser de extrema importância para alguns setores de
atividade, mas acaba ficando perdida e subutilizada, devido ao desconhecimento das
potencialidades de ambas as partes (produtores e beneficiários):
[...] em termos de investigação acho que a sociedade não sabe que a universidade pode ajudar.
É verdade que é um processo que deve ser feito também da nossa parte ... devemos ser mais
proativos. De uma forma geral a sociedade, o próprio governo, com exceção de alguns
ministros (MCT e MEC) que sabem qual é o nosso potencial, os outros ministros não vêem na
136
universidade um sítio onde poderiam resolver muitos dos problemas... vão a busca de soluções
mais caras fora do país ou em empresas de consultorias... em resumo falta uma estratégia de
ação no sentido de ligar a universidade com o setor industrial e com a comunidade no geral...
Gestor (UEM)
Conforme se pode perceber dos depoimentos já citados, a UEM e o INS possuem alguns
mecanismo de disseminação e divulgação instituído, mas com fraco impacto para a sociedade
em geral. As atividades de extensão desenvolvidas na instituição (UEM) são de pouca
expressão, fundamentalmente, porque grande parte das faculdades e instalações desta
instituição está localizada na cidade. Então as suas atividades na maioria das vezes se limitam
a pequenas intervenções dentro da cidade e nas zonas suburbanas e rurais situados nos
arredores da cidade. Já o IIAM, ainda que de forma tímida, tem realizado algum trabalho de
divulgação científica e popularização da ciência relativamente mais impactante. Como
exemplo pode citar-se o dia de campo organizado pela instituição, que conta com a
participação de investigadores e extensionistas em um trabalho conjunto tendo em vista a
transferência de tecnologias para as populações rurais.
Com o aparecimento de bolsas e fundos competitivos há projetos de investigação ... e uma das
formas que tem surgida com muita frequência é uma coisa que se chama dia de campo.
Portanto, está a surgir mais ainda é fraco... A rede de extensão ainda não é visível, há diversos
... tinha que haver uma globalização de todos os intervenientes da extensão. Portanto, as
organizações não governamentais, os extensionistas ou a rede de extensão do ministério da
agricultura entre as comunidades rurais. Portanto, ainda não há uma sincronização da rede de
extensão, mas de qualquer forma a direção técnica de formação do IIAM já tem uma
estratégia... mas ainda há fraqueza na rede de extensão.
Investigador (IIAM)
É importante ressaltar que o IIAM, criado em 2004, através da união das cinco instituições
que constituíam a plataforma de investigação do setor agropecuário nacional, nos últimos 5
anos, concentrou esforços no processo de estruturação e estabelecimento de uma unidade
responsável pelo desenvolvimento dos programas de difusão tecnológica. Neste contexto foi
criada a Direção de Formação, Documentação e Transferência de Tecnologias (DFDTT), que
tem como objetivo fundamental, garantir a divulgação dos resultados de pesquisa do IIAM,
assim como, contribuir para o desenvolvimento do País através da identificação, avaliação e
transferência contínua e sustentada de tecnologias agrárias:
[...] a nova direção ... a direção de formação e transferência de tecnologia ... que está a tentar se
inserir para ver qual é o seu papel ... porque a transferência de tecnologia em si terá que ser
efetivamente efetuado pelos centros zonais que estão próximos dos locais, mas esta direção
deve ver as abordagens... melhores maneiras de se fazer essa transferência.
Gestor (IIAM)
137
Portanto, para que as atividades de divulgação e popularização do conhecimento realmente
atingem os potencias setores sociais e econômicos beneficiários das tecnologias,
evidentemente será necessário repensar e redefinir as responsabilidades de cada interveniente
no processo. Porque, atualmente a maioria dos investigadores apenas se concentra nas
atividades de pesquisa e desenvolvimento da tecnologia, após chegar ao produto final, eles
entregam aos extensionistas para fazer a sua disseminação. Em sociedades contemporâneas,
este modelo de difusão tem sido substituído por outras formas que consideram importante a
participação ativa dos investigadores no processo de divulgação e transferência de
tecnologias, mas em Moçambique parece existirem alguns membros da comunidade que ainda
defendem que o trabalho de difusão deve ser feito simplesmente pelos extensionistas:
Existe uma lacuna na transferência da informação para a sociedade ... não tem que ser feito por
investigador ... falha a falta dos extensionistas com capacidade de levar a informação da
universidade para a sociedade para o terreno. Se você quer que o investigador seja ele a
investigar a disseminar a informação, e a fazer docência num dos pontos ele tem que ser fraco,
se você quer potenciar, tem que diminuir os termos de referencia dele. Você deixa-lhe como
docente investigador e não investigador docente e extensionista, não podemos ser
extensionistas, falta esta componente... Agora, poderia sim formar os extensionista para que
eles disseminem, a este nível sim, a um nível inferior a este eu penso que seria um erro.
Docente (UEM)
De salientar que também não se pode descurar da importância do papel e envolvimento ativo
dos investigadores na transferência de tecnologias por eles produzidos. A participação ativa
dos investigadores no processo de transferência do conhecimento para os beneficiários
constitui um passo importante com vista à adoção de novos modelos de produção de
conhecimento, que cada vez mais são utilizadas em sociedades economicamente mais
desenvolvidas.
138
Analisando o fato sob um ponto de vista macro percebe-se que existe vontade política do
governo, que através do MESCT e atualmente do MCT, tem vindo a desenvolver várias
atividades relevantes tendo em vista à popularização da C&T. Isso pode ser observado, por
exemplo, examinando-se os relatórios das realizações do setor desde a criação do primeiro
ministério em 2000. Portanto, em cerca de 10 anos de existência este órgão governamental de
gestão de C&T organizou duas edições de jornadas científicas, sete edições da mostra de
ciência e tecnologia e outros eventos importantes. Também criou centros regionais de C&T,
que dentre vários objetivos tem a missão de promover a disseminação e divulgação do
conhecimento científico e tecnológico nas regiões e localidades equidistantes dos centros
urbanos do país:
Até aos últimos cinco anos as pessoas não tinham uma idéia clara do que era ciência e
tecnologia, achavam que ciência e tecnologia era para uma pessoa que tinha ido a universidade,
havia essa percepção ... acho que por causa da própria ligação que tinha o ministério ... também
o MCT não tinha representação a nível nacional... então foi criada uma estrutura que divide o
pais em três regiões, por aquilo que chamamos de centros regionais sul, centro e norte. Depois
fomos às províncias e criamos as delegações províncias de ciência e tecnologia. Então os
centros regionais em princípio não são estruturas políticas... mas tivemos que começar por ai,
mas não são de fato estruturas políticas... tem que ser estruturas de atividades, mas como o país
ainda não está preparado para isso e as próprias pessoas que estão a frente desses centros
também ainda não estão preparadas, então nós usamos esses centros como espaço para
divulgação e popularização da ciência. Então nós vamos às escolas, às comunidades ... e
criamos o programa de inovador moçambicano, que identifica pessoas que tem idéias simples
que podem ser trabalhadas para tornar-se em uma tecnologia para o benefício dessas
comunidades... Isso para dizer que a ciência e tecnologia é uma forma de resolver os problemas
até os mais básicos, mas as pessoas não tinham essa percepção.
Gestor (MCT)
Parece existir uma base conceptual bem definia tendo em vista a instituição de mecanismos
reais de difusão tecnológica no país, mas ainda existe a questão do desconhecimento mutua
entre os atores. Pois conforme afirmou o gestor da maior unidade de ensino e pesquisa do
país, existe uma ignorância total, em praticamente todos os níveis da sociedade moçambicana,
em relação à utilidade e benefícios que a universidade pode trazer para as comunidades
(industriais e demais setores de produção). Tendo acrescentado que talvez o maior problema
esteja ligado ao fato de a própria universidade também não se fazer sentir presente nessas
frentes, ou seja, carece de planos de ação concretos tanto dentro da estrutura universitária
assim como em nível do governo como um todo. Estes problemas revelam que não existe
integração entre os principais atores da C&T representados pelo governo, universidade e setor
empresarial. Por isso que alguns entrevistados afirmaram que o MCT muitas das vezes tem
feito intervenções que parece não fazerem parte do seu escopo. A ser verdade, provavelmente
o MCT o faça na tentativa de imprimir maior dinâmica na criação de condições
139
infraestruturais e mecanismos políticos necessários para o rápido desenvolvimento do setor. O
MCT tem atuado em vários níveis, dos quais,
a primeira fase de concentração ... é resolver os problemas das zonas rurais, porque são
problemas concretos, por exemplo, agricultura, produz-se e não há processamento, então é
preciso trazer tecnologias para processar os produtos ... tipo tomate, etc. então a popularização
deve ter essa responsabilidade, trazer tecnologias pequenas para o processamento... Depois
temos a questão da educação, ou seja, educar para ser empreendedor e não esperar de ser
empregado... Então criamos incubadores para orientar os jovens a usar maquinetas pequenas,
de processamento, etc.
Gestor (MCT)
Obviamente este tipo de atividades deve ser executada e dirigida pelas instituições de
pesquisa específicas, em coordenação com as estruturas políticas centrais do governo como é
o caso do MCT. Mas, parece que o MCT tem tomado varias frentes, chegando ao ponto de
fazer intervenções nos níveis mais básicos do processo, o que provavelmente tem causado
certo desconforto de alguns membros da comunidade científica, conforme visto em um dos
depoimentos citado neste estudo.
Portanto, esta parece ser uma situação peculiar de instituições novas, em fase de implantação
e estruturação como é o caso do MCT. Este ministério existe a apenas 5 anos, num país que
mesmo as instituições antigas ainda buscam a sua inserção no contexto nacional, sem contar
que grande parte delas ainda não tem definidas as suas fronteiras e interfaces de atuação. Pela
positiva é evidente que atuação do MCT nos últimos 5 anos trouxe outra dinâmica no
contexto da C&T nacional, fundamentalmente no que diz respeito a adoção e incorporação de
nova mentalidade nos ambientes acadêmicos e industriais. Este argumento pode ser
sustentado, por exemplo, pelas iniciativas do MCT tendo em vista a implementação de novos
modelos de desenvolvimento tecnológico no setor empresarial e acadêmico, de entre os quais
o programa Moçambique Tecnológico. Que é uma experiência importada de Portugal, que
visa essencialmente criar condições de empregabilidade de recém graduados nas empresas
nacionais de base tecnológica:
141
C APÍTULO VII
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
[...] a investigação é um processo complexo, o governo que termina agora tinha como lema o
combate a pobreza absoluta ... eu das reuniões que fui já ouvi pessoas a dizerem que com este
projeto vou combater a pobreza absoluta ... desculpe-la, quer dizer que os investigadores não
tem agenda? ... A agendo do investigador é combater a pobreza absoluta? [...]
Docente (UEM)
Este estudo foi motivado por um esforço tentativo para compreender a trajetória da evolução e
desenvolvimento do processo de institucionalização da ciência e tecnologia, com vistas a
reunir fundamentos para a formulação de políticas públicas nos diversos setores ligados a
C&T em Moçambique. Para a sua consecução partiu-se do pressuposto de que os processos de
desenvolvimento e institucionalização da C&T moçambicana são reflexos dos momentos
políticos e socioeconômicos que marcaram a trajetória histórica e evolutiva do país desde o
período colonial até ao estágio atual.
A outra motivação pode estar relacionada à pressão interna, ou seja, dos colonos que viviam
nas colônias, pois estes eram obrigados a enviar seus filhos para cursar os níveis superiores na
metrópole. Portanto, do ponto de vista econômico e social a abertura de estabelecimentos do
gênero na própria colônia era bastante vantajoso para as famílias dos colonos, pois além de
reduzir o custo de manutenção e formação eles tinham a possibilidade de conviver com seus
filhos de perto.
De salientar que nessa época o acesso às escolas superiores era reservado principalmente aos
filhos dos colonos e a uma camada mínima de nativos assimilados. Razão pela qual na altura
da independência havia pouquíssimos moçambicanos formados com nível superior no país.
Esta situação teve reflexos bastante negativos no desenvolvimento e institucionalização do
sistema de C&T, no período pós-independência.
143
A fundação das primeiras instituições de pesquisa aplicada em Moçambique, à semelhança do
que ocorrera com a introdução do ensino superior, também foi condicionada pelos interesses
políticos e econômicos do então regime colonial português. No início as atividades de
pesquisa desenvolvidas pelas missões e expedições científicas tinham como objetivo principal
o reconhecimento sócio cultural e antropológico, tendo em vista o estabelecimento dos
colonos nos territórios ultramarinos. No segundo momento o interesse esteve voltado a
pesquisas da área médica e agropecuária. As pesquisas médicas tinham maior incidência à
investigação de doenças tropicais para proteger os colonos que iam trabalhar ou se instalar
nesses territórios; enquanto que as da área agrária focalizam mais a investigação sobre
culturas de alto rendimento econômico como é o caso do algodão e outros produtos
agropecuários que serviam para a exportação e abastecimento da metrópole.
Nessa época o LMC atual LEM, também, desenvolvia estudos na área de engenharias que
tinham como objetivo fundamental a caracterização geológica e a instrumentalização da área
de engenharia civil tendo em vista a edificação das grandes construções nas zonas urbanas e
outras regiões onde se concentravam as burguesias do então regime colonialista.
As instituições de ensino e pesquisa criadas no período colonial foram responsáveis por uma
produção científica prolífera durante a década de 1960 até finais da década de 1970. Nessa
época, existiram algumas revistas científicas editadas e publicadas com regularidade por
aquelas instituições. Mas devido à crise dos anos 70 essas publicações foram descontinuadas,
hoje apenas fazem parte da memória institucional, e com um grande valor de consulta de
informação histórica nas suas áreas específicas.
A segunda metade da década de 1970 foi caracterizada por grandes mudanças no cenário
político, que foram fundamentais e determinantes para o desenvolvimento de todos os setores
da sociedade moçambicana desde a época da independência até ao momento atual. Primeiro
porque finalmente o país conseguia a independência tão esperada após muitos anos de
disputas sangrentas entre o exército português e o movimento nacionalista de resistência
contra a dominação colonial FRELIMO. Depois, porque as opções políticas adotadas pela
FRELIMO conduziram a uma crise interna, que resultou no abandono para Portugal de quase
todos portugueses que até então viviam em Moçambique e que, portanto, também respondiam
144
pelas principais áreas estratégicas de desenvolvimento, como o ensino superior e a
investigação científica.
Neste contexto, a segunda metade da década de 1970 foi marcada não só pela crise advinda
das nacionalizações, mas também pelo início da entrada de novos atores no âmbito de
desenvolvimento de atividades de ensino e investigação. Deste modo, as atividades de
pesquisa de desenvolvimento que até então eram realizadas fundamentalmente pelos institutos
de pesquisa, foram sendo deslocadas para as empresas estatais, que tinham sido criadas com
objetivo de centralizar as atividades de pesquisa e produção de artigos e alimentos de primeira
necessidade. Assim, as empresas estatais surgidas das nacionalizações constituíam os pólos de
desenvolvimento, transferência e aplicação de tecnologias tendo em vista o desenvolvimento
rápido do país conforme a aposta do governo de então.
A UEM por sua vez teve que se reestruturar para atender aos interesses políticos e
necessidade de formação de recursos humanos, para preencher as lacunas deixadas pelos
portugueses nos diversos setores de atividade. Esta reestruturação significou o fechamento de
alguns cursos e a abertura de outros que atendiam as necessidades e interesses políticos
daquela época. Devido à conjuntura política e econômica o processo de reestruturação da
UEM, assim como, de outros setores de atividade era conduzido fundamentalmente com a
ajuda de docentes, investigadores e/ou consultores procedentes de países do bloco socialista
(Rússia, ex-Checoslováquia, ex-Alemanha Democrática, Hungria, Bulgária, Cuba e outros).
Estas nacionalidades foram importantes na manutenção das atividades de ensino e
investigação durante o período imediatamente pós-independência até meados da década de
1980, altura em que se registrou a abertura política, que permitiu a entrada massiva do
ocidente no contexto do desenvolvimento e institucionalização das atividades científicas e
tecnológicas no país.
145
Portanto, percebe-se que as opções políticas nacionais condicionadas pelo ambiente
geopolítico internacional nortearam grandemente todo o processo de institucionalização da
C&T no período da Primeira República. Ou seja, a produção acadêmica e as atividades de
investigação foram fortemente influenciadas pelas linhas e pensamentos das escolas do bloco
socialista. Em termos de política educacional tinha-se como base o pensamento samoriano
que se concentrava na formação do Homem Novo, que por outras palavras significava a
reconfiguração do simbolismo de assimilação que fora incutida na sociedade moçambicana
pelo poder colonial. Neste sentido, a formação do Homem Novo significava a introdução de
novos valores na sociedade moçambicana orientados pelos princípios do socialismo científico.
De tal modo que, naquela altura praticamente todos os setores de atividades transformaram-se
em campos de disputa entre o novo e o velho. Assim sendo, é importante salientar que as
unidades acadêmicas converteram-se em um forte instrumento, ao serviço do campo político,
para a introdução e manutenção de novos ideais e valores sociais em substituição das
mentalidades de dominação e assimilação cultural que até então era predominantes no país.
Como o país não dispunha de capacidade local para formação e treinamento acadêmico,
científico e político de recursos humanos necessários para a consecução das diversas
orientações filosóficas do então governo da FRELIMO, muitos jovens foram enviados para
estudar, nos vários países que na época constituíam o bloco socialista. Esses jovens
beneficiavam-se de períodos de treinamento, nos diversos níveis de escolarização, à medida
que iam surgindo oportunidades de formação naqueles países. Ou seja, não havia um plano
diretor que orientasse o envio do pessoal para cursar áreas prioritárias ou áreas que realmente
eram de interesse para o desenvolvimento do país. Por essa razão existiram casos de
indivíduos que se formaram em áreas que não tinham aplicação nem enquadramento na
conjuntura socioeconômico do país naquela época. Situação semelhante acontecia mesmo
naqueles casos em que as pessoas tinham recebido formação em áreas de interesse para o país,
mas que devido à fraca capacidade em infraestruturas nos diversos setores de atividade, estes
acabavam não tendo o aproveitamento e enquadramento preciso. É importante salientar que as
oportunidades oferecidas pelos países do bloco socialista foram fundamentais, especialmente
no diz respeito à formação de docentes e investigadores nacionais, que mais tarde foram
substituindo e diminuindo a necessidade de contratação de pessoal estrangeiro que garantiu o
funcionamento do setor de C&T nos primeiros anos após a independência.
146
O grande número de docentes e investigadores que receberam suas titulações de doutorado, na
Rússia (22) e na Alemanha (43), ver figura 20, atesta a importância que esses países
desempenharam no processo de institucionalização da C&T, principalmente no período da
primeira República – modelo I (figura 5). De salientar, que apesar dos dados da Alemanha se
referirem às duas épocas, antes e depois da unificação, provavelmente grande parte dos
doutores tenham se formado na antiga República Democrática Alemã, ou possivelmente a
vinculação com aquele país talvez tenha sido iniciada no período antes da integração. Mas,
existe um fato curioso que deve ser analisado com atenção. Não há duvidas de que os países
do bloco socialista estiveram presentes em todos os setores de atividades do país desde os
primeiros anos após a independência até finais da década de 1987. Alguns, mesmo depois das
mudanças na dinâmica geopolítica internacional continuaram dando a sua assistência técnico-
científica ao país até a atualidade. Mas, nas análises bibliométricas efetuadas neste estudo
estes países aparecem com menor incidência, alguns nem se quer foram identificados como
parceiros e colaboradores na produção científica nacional indexada na base de dados utilizada
como fonte de coleta de informação para esta pesquisa. Portanto, notou-se uma ausência de
muitos desses países que foram fulcrais no desenvolvimento de Moçambique naquele
momento da crise.
Pode-se especular que provavelmente existiram motivos políticos e linguísticos para a não
publicação de pesquisas desenvolvidas por autores desses países naquela época. Razões
políticas, porque a maior parte dos veículos indexados na ISI/WoS são oriundos de países
ocidentais, então possivelmente naquela altura não era uma situação conveniente, do ponto de
vista político, que autores de nações socialista publicassem seu trabalhos em tais revistas. Por
outro lado, pode ser que naquela época eles não tinham o domínio linguístico necessário para
publicar no cenário científico internacional dominado pelo idioma inglês. Mas, também é
possível que tenham publicado em veículos editados em seus países de origem, mas que
devido às restrições impostas pela ISI/WoS, essas pesquisas não estão disponíveis nesta fonte.
Entretanto, analisado o percurso dos atores sociais e não sociais presentes nas
micronegociações, fluxos e interconexões desenvolvidas no período da primeira república,
conclui-se que a comunidade científica ainda estava num estágio bastante imaturo e incapaz
de influenciar as linhas e decisões políticas de então. Razão pela qual, programas como o PPI
e outros foram um total fracasso, visto que foram pensados numa época em que o país não
detinha de recursos humanos qualificados para promover o seu desenvolvimento sustentado.
147
Conforme avançados por um dos entrevistados as lideranças de então “(...) achavam que a
independência política era tudo (...)” [tendo acrescentado que algumas iniciativas de
desenvolvimento não foram] “(...) bem estudados sob o ponto de vista de conhecimentos
(...)”, ou seja, vivia-se um momento da euforia da força política que derrotara o inimigo. E
pensava-se que seguindo as mesmas orientações políticas e experiências das zonas libertadas
alicerçadas na socialização e cooperativização do campo, e através da estatização das grandes
empresas poder-se-ia atingir níveis de desenvolvimento consideráveis em pouco tempo.
Esses ensaios de planos de desenvolvimento falharam por vários motivos, dentre os quais,
provavelmente o mais importante esteja centrado na insuficiência da capacidade técnico-
científica para a sua consecução. Também havia pouca interface ou interconexões entre as
políticas de desenvolvimento sócio econômico com a necessidade de construção da base
científica e tecnológica nacional, que deveria servir de motor principal para a condução dos
demais setores. Dentro da premissa de que o desenvolvimento econômico e social está
intimamente relacionado ao progresso científico e tecnológico de qualquer nação. Isso
significa que o crescimento econômico e melhoria das condições sócio político são
condicionados pelo avanço da ciência e da técnica. Que por sua vez são influenciados pelo
ambiente e contexto político interno e externo. Essa dinâmica, ainda que de forma tímida,
apresentou indícios de melhoria no período da segunda república.
Estes fatos, que foram importantes para a institucionalização da C&T neste período, induzem
a especular que em sociedades onde o campo científico ainda busca sua auto-afirmação e seu
reconhecimento político e social, a dimensão política tende a assumir papel preponderante,
interferindo nas atividades acadêmico-científicas das universidades. Pois nas referidas
sociedades as disputas nem sem sempre são travadas apenas pela autoridade e competência
científica, mas também pela legitimação de ideologias dominantes aí persistentes
(BOURDIEU, 1983). Em Moçambique essa situação agrava-se quando se pensa que o país
vem sendo governado pela mesma força política desde a independência em 1975 até aos dias
atuais, e que, portanto mesmo com as mudanças nos contextos políticos internos e externos,
ainda não é possível separar o Governo do Partido Político – FRELIMO. Na segunda
república acontece uma reconfiguração no sistema de valores da esfera política que ditaram
novas formas de negociação entre os campos político e científico. Mas mesmo assim ainda
percebe-se que existe uma fragilidade da comunidade científica principalmente devido à
148
ausência de instituições representativas e influentes na definição das linhas e estratégias
políticas de C&T no contexto nacional.
A mudança no contexto político nacional que ocorreu a partir da segunda metade da década
de 1980, e que culminou com a introdução da nova constituição em 1990, foi extremamente
importante para reconfiguração da dinâmica do processo desenvolvimentista, que o país vem
conhecendo desde então. Um dos primeiros sinais que caracterizou esse cenário foi a entrada
de novos atores no processo da institucionalização da C&T moçambicana. Ou seja, a
liberação da economia iniciada em meados da década de 1980, através dos programas de
reajustamento econômico (PRE e PRES), permitiu a quebra de barreiras e do estranhamento
do mundo ocidental em relação a Moçambique. A consequência imediata disso foi que abriu-
se espaço para que países ocidentais começassem a se interessar, cada vez mais, pela
assistência técnica e financeira tendo em vista o desenvolvimento e institucionalização do
setor da C&T nacional.
Assim, naquela época, países como os EUA, Reino Unido e outros, que antes não mostravam
muito interesse em cooperar com Moçambique, se juntaram à Dinamarca e Suécia que já
vinham cooperando e dando a sua assistência técnica e financeira ao setor, desde os finais da
década de 1970. O interesse e a entrada de novos atores no processo de institucionalização da
C&T foram impulsionados pelas reformas políticas administrativas introduzidas no país, em
cumprimento de determinações e orientações das instituições internacionais de assistência
econômica e financeira - Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional.
A entrada destes atores não só foi importante em termos de assistência técnica e financeira
interna, mas também aumentou o leque de oportunidades para a formação dos recursos
humanos para o setor de C&T fora do país. No início estas novas rotas eram dominadas por
países como a Inglaterra, os EUA, Portugal, França, Holanda, Espanha, Suécia, e outros
países ocidentais, mas nos últimos anos percebe-se também a presença cada vez mais forte do
Brasil, África do Sul, Índia e outros, que antes estavam à margem do processo de
desenvolvimento e institucionalização do setor de C&T no país. Analisado esse cenário,
entende-se como a dimensão política nacional e a sua interface com o ambiente e contextos
políticos regionais e internacionais foram determinantes para o processo da
institucionalização da C&T moçambicana, que havia sofrido uma hipertrofia generalizada na
149
sua estrutura durante o período da primeira república. Por exemplo, as oportunidades de
cooperação entre Moçambique e a África do Sul no domínio da C&T, somente tomaram
proporções consideráveis após o banimento do regime da Apartheid. Sustentando deste modo
a tese de que o processo de institucionalização da C&T nacional vem sendo influenciado
pelas ações e opções políticas que tem pautado o desenvolvimento e evolução da sociedade
moçambicana, regional e internacional.
A consolidação das políticas de privatização dos diversos setores de atividades, que conduziu
à introdução do sistema de ensino particular em 1995, pode ser considerada como sendo uma
das grandes mudanças na conjuntura interna, que teve um impacto imediato no processo de
institucionalização do setor da C&T. Pois, a partir de então houve um crescimento assinalável
em termos da capacidade instalada de oferta de cursos e vagas para ingressantes no sistema do
ensino superior. Até aquela altura o país contava com apenas três instituições de ensino
superior concentradas na região sul e algumas poucas delegações no centro e norte do país.
Desde a introdução das primeiras IES particulares até ao momento atual já foram instaladas
mais de 30 estabelecimentos de ensino superior, públicas e particulares, em praticamente
todas as regiões administrativas do país. É importante salientar que o setor privado responde
pela maior parte deste número. Mas, à semelhança do que acontece em outros países, as IES
particulares moçambicanas, tendem a investir muito mais em cursos das áreas sócias, com
algumas exceções também em cursos das engenharias e biomedicinas. Obviamente, a razão
principal está relacionada aos custos de instalação e manutenção dos cursos das áreas exatas,
que são muito elevados, consequentemente são poucos atrativos para investidores privados
em termos de lucratividade.
Assim sendo, um dos grandes desafios do setor da educação passa necessariamente pela
instituição de órgãos centrais, com objetivos e missões claras, para atuarem nos processos de
acreditação, fiscalização e avaliação de atividades de ensino e pesquisa desenvolvidas pelas
IES públicas e particulares. Conforme, pode-se perceber através dos dados estatísticos
apresentados no capitulo 5, nos últimos anos houve uma expansão ou crescimento de IES
acompanhada pela abertura de vários cursos de graduação e pós-graduação em diversas áreas
de conhecimento.
Por um lado isso pode ser positivo, pois o país ganha quantitativamente em termos de ofertas
de vagas e opções de formação. Mas, de outro lado é preocupante o fato de não haver
fiscalização, por exemplo, para frear a proliferação de unidades acadêmicas sem mínimas
condições para oferecerem cursos com padrões de qualidade aceitáveis. Pois conforme as
estatísticas apresentadas nesta tese o país ainda possui um déficit muito grande de doutores e
mestres para conduzirem as atividades de ensino e pesquisa nas diversas unidades acadêmicas
151
e de investigação tanto publicas quanto particulares. A situação piora quando se percebe que
as instituições públicas parecem estar a abrirem cursos de pós-graduação como um
mecanismo de captação de fundos, ou seja, parece haver uma mercantilização do ensino e
principalmente da pós-graduação em todas IES públicas e particulares, desvirtuando desta
forma os princípios que orientam a instituição desses níveis de formação. Portanto, custa
aceitar que cursos de pós-graduação possam funcionar em unidades onde a maior parte dos
docentes não demonstra nenhum comprometimento com ensino e nem com pesquisa. Que
graduandos esperam-se desses cursos? Em relação a isto, dois aspectos fundamentais devem
ser tomados a peito pelas estruturas competentes. O primeiro e muito urgente é a elaboração
dum plano de instituição de cursos de pós-graduação, instrumento que parece nunca ter sido
concebido na historia do país. O segundo é a necessidade de instituição de regras rígidas para
a acreditação deste tipo de cursos, pois parece que atualmente não existe nenhum instrumento
que estabelece os padrões mínimos para a abertura de tais cursos. Sobre este aspecto, basta
observar que existem unidades acadêmicas que nunca existiram e já nascem oferecendo
cursos de pós-graduação sem possuir o mínimo de infraestrutra nem recursos humanos para o
efeito.
É importante realçar que o setor agrário, provavelmente, foi o único que nesse período
beneficiou-se de um programa bem estruturado de gestão centralizada de recursos aplicados
em praticamente todos os setores de atividades desde o Ministério, institutos de pesquisa,
direções nacionais e províncias até aos órgãos distritais. As demais áreas também tinham seus
projetos setoriais, mas não na mesma dimensão estrutural que o PROAGRI. Ou seja, nos
outros setores continuou prevalecendo a projetização das atividades que dominou o setor da
C&T nas duas primeiras décadas depois da independência. Quer dizer, alguns setores
recebiam muitos recursos destinados a alguns projetos de pesquisa e desenvolvimento, de
acordo com os interesses dos doadores externo. E aquelas áreas que não eram de interesse de
doadores praticamente ficavam inoperantes, pois o orçamento alocado pelo governo na
maioria dos casos destinava-se apenas a despesas com pessoal e gastos correntes e não para
investimento em investigação. Esta situação ainda continua existindo, mas parece que em
menor escala do que nos tempos idos. Visto que o surgimento de fundos competitivos de
fomento à pesquisa, tanto nacionais, regionais e internacionais diminuiu a dependência dos
investigadores pelo orçamento alocado através de fundos gerais do Estado para o
desenvolvimento de atividades de investigação.
153
Existem várias razões que sustentam essa dinâmica, mas provavelmente uma das mais
importantes esteja relacionada com a questão da assistência financeira e infraestrutural a que
os investigadores nacionais têm acesso fora do país, daí a sua inclinação em realizar as
atividades em colaboração com instituições estrangeira. Essa situação ganha contornos
maiores, porque tirando a assistência externa direta aos investigadores nacionais, as próprias
instituições nacionais de pesquisa e desenvolvimento sobrevivem na base de doações
internacionais que são alocados através de programas de cooperação aos diversos setores de
atividades. O próprio orçamento do MCT, mais de 90% é constituído por doações
internacionais. A minimização dessa dependência passa necessariamente pela elaboração e
materialização de políticas nacionais de investimento e capacitação institucional e fomento a
pesquisa e desenvolvimento. Ou seja, pelo incremento da percentagem do PIB alocado as
atividades de pesquisa e desenvolvimento, e através de ampliação da participação do setor
privado no financiamento das atividades de inovação científica e tecnológica.
De salientar, que já existem no país um plano global e uma estratégia da C&T, mas são
instrumentos relativamente recentes, lançados no inicio da década de 2000. Mesmo assim, já é
possível perceber alguns resultados positivos advindos da concretização dos objetivos
estratégico previstos nesses planos. Um dos mais importantes foi o estabelecimento de fundos
de fomentos à pesquisa, que foram criados logo no primeiro mandato da existência do
ministério do setor. Portanto, atualmente o país conta com vários fundos de fomento como é
caso dos fundos abertos da UEM; o COMPETE do setor agrário; o QIF da área da educação; e
o Fundo Nacional de Investigação (FNI), órgão subordinado ao MCT que financia atividades
de pesquisa em todos os campos do conhecimento, tendo como base as áreas definidas como
prioritárias na política nacional de C&T. Apesar da existência destes fundos de fomento
administrados pelos órgãos do governo, grande parte da investigação realizada em quase todas
as unidades de pesquisa nacionais ainda depende e recebe muito investimento direto
estrangeiro. Isso significa que o processo de institucionalização da C&T moçambicana está
intrinsecamente dependente de oportunidades condicionadas principalmente por atores
externos.
154
parte desses fundos provém do investimento direto estrangeiro, quer por doação ao orçamento
de funcionamento dos fundos de fomento, quer por investimento direto em projetos de
pesquisa institucionais. Portanto, isso equivale a dizer que provavelmente mais de 90% das
atividades de pesquisa em Moçambique funcionam movidos através de investimento direto
estrangeiro, tanto para a capacitação institucional - infraestruturas e recursos humanos, assim
como para o desenvolvimento das atividades de investigação propriamente ditas. Estes fatos,
que caracterizaram o contexto do ensino superior e de pesquisa e desenvolvimento, no
período da segunda república, parecem corroborar não apenas com as visões de Bourdieu
relacionadas aos interesses, disputas e legitimação das ideologias e valores, entre os campos
político e científico, mas também, com a noção de redes sócio-técnicas de Latour.
Fundamentalmente porque segundo consideram os autores da ANT, os recursos concentrados
em poucos locais, representados pelas laçadas e nós, podem ser aproveitados para o
desenvolvimento dos demais elementos da rede que possuem menos recursos, através dos
fluxos, circulação e micronegociações que acontecem na teia (LATOUR, 1999, 2000;
CALLON, 1987).
Assim sendo, é urgente conciliar esforços de todos os atores sociais, políticos, econômicos,
industriais e acadêmico-científicos no sentido de trabalharem em conjunto na criação de bases
nacionais de captação de investimento tendo em vista ao desenvolvimento científico e
tecnológico sustentável. Moçambique possui vários recursos de valor econômico inestimável,
que neste momento são explorados por empresas multinacionais, porque o país não tem
capacidade nem técnica nem financeira para levar a cabo empreendimentos do gênero.
Portanto, todo o investimento que se tem feito devia tomar isto em conta. Ou seja, é preciso
concentrar o investimento, por exemplo, na formação de recursos humanos em áreas voltadas
para aquisição de conhecimento necessário para a exploração e processamento industrial dos
recursos de que o país dispõe, paralelamente devem ser construídos infraestruturas para o
desenvolvimento de pesquisa tecnológica como é o caso de incubadoras e centros de
155
desenvolvimento tecnológicos em ambientes universitários e industriais, etc. Mais importante
ainda é preciso apoiar e valorizar as iniciativas nacionais de desenvolvimento industrial.
Portanto, estas são medidas de longo prazo que devem ser iniciadas o quanto antes para aos
poucos diminuir a necessidade de importação de modelos de desenvolvimento e capacidade
técnica de outros países.
156
fundamental de todo o processo de construção e institucionalização da ciência e tecnologia de
qualquer nação.
A vinculação direta das instituições científicas como a AMC com o poder político pode ser
positiva de um lado, pois facilita o dialogo entre os dois campos, mas por outro pode ser
negativa, pois limita a ação e atuação da comunidade científica dentro das linhas e valores do
157
poder político. É importante citar que existem casos parecidos em que as entidades científicas
têm uma forte vinculação com o poder político com é o caso de Cuba onde estas entidades
estão ligadas aos órgãos centrais to Estado. Mas, por exemplo, nos EUA, Inglaterra e no
Brasil estas instituições foram criadas a partir de iniciativas dos membros da comunidade
científica. Todavia elas funcionam em estreita colaboração com os órgãos governamentais na
elaboração, coordenação e avaliação de políticas e atividades do setor.
É provável que as organizações já existentes no país estejam a trabalhar nessa linha, mas
ainda não é visível a sua presença e impacto na definição, execução, coordenação e avaliação
das políticas setoriais de C&T. As atividades das organizações científicas e profissionais
atualmente existentes muitas das vezes se confundem com as das lideranças políticas
partidárias. Isso acontece muito provavelmente devido à militância partidária da maioria dos
membros dessas comunidades e pela indistinção que ainda existe em quase todos os
organismos, seja do Estado ou da sociedade civil, onde as ações tanto do Estado como das
outras organizações se confundem com as do Partido no Poder, afetando todo o modo
operandis dos atores envolvidos. Portanto, talvez essa seja um dos maiores desafio da
comunidade científica, conseguir instituir entidades próprias que tenham o mínimo de
interferência do poder político, nas suas decisões e ações de desenvolvimento, mas que ao
mesmo tempo elas sejam capazes de persuadir e influenciar o campo político no planejamento
e execução das atividades científicas.
158
nacionais. Visto que a imaturidade das entidades científicas nacionais pode facilitar a
proliferação e publicação de revistas com trabalhos de baixa qualidade. Mas, é preciso tomar-
se em conta que as outras nações também tiveram um processo semelhante. Portanto, é um
risco que se corre, mas é um desafio que deve ser enfrentado desde já, para se poder reduzir o
fluxo e dependência de publicação fora do país. Principalmente porque existem temáticas que
são específicas e importantes a nível nacional, que provavelmente não encontrem espaço de
publicação em revistas internacionais, por não serem de interesse naqueles círculos.
O segundo ponto que também pode obter ganhos qualitativos consideráveis com a instituição
e atuação de organizações científicas e profissionais está relacionado à questão da definição e
execução de planos setoriais de fomento a pesquisa. Atualmente esse planejamento parece que
é feita com fraca participação das associações científicas existentes. Na maioria dos casos os
fundos são disponibilizados seguindo a orientação macro das áreas científicas definidas como
prioritárias no plano estratégico do setor, e provavelmente seguindo determinações e
direcionamentos políticos na afetação dos fundos aos projetos concorrentes, conforme
referido pelos entrevistados. Mas, talvez estes fundos seriam bem aproveitados se fossem
disponibilizados através de editais setoriais de pesquisa induzida com requisitos, linhas e
objetivos bem delimitados. Por exemplo, edital de fomento para pesquisa na área agrária que
condicionassem o envolvimento dos agricultores e empresas de agroprocessamento com os
investigadores ou unidades de pesquisa, que também deviam conter especificações claras das
subáreas de pesquisa ou tipos cultura.
Entretanto, esse tipo de fomento não deve substituir por completo o de editais abertos. Os dois
tipos podem ser lançados e funcionarem em paralelo. Nos editais abertos os investigadores
teriam a liberdade de apresentarem os seus projetos dentro das linhas prioritários conforme
preconizado pelo plano estratégico, mas nos editais setoriais de pesquisa induzida somente
seriam aceites projetos que preenchessem os requisitos especificados. E talvez também
orientados por regras rígidas de execução, ou seja, tentando sempre um envolvimento maior
com as comunidades beneficiárias e, formação de equipes de pesquisa multidisciplinares e
parcerias interinstitucionais. Portanto, esta seria uma forma de estimular o desenvolvimento
de pesquisas em contextos e ambientes heterogêneos, tendo como foco a produção de
conhecimento socialmente distribuído, a partir de problemas trazidos pelas comunidades
beneficiárias, conforme defendido por Gibbons et al (1994) em seu estudo sobre o modo 2 de
produção de conhecimento. Na mesma linha de pensamento, é importante citar o modelo da
159
Tríplice Hélice desenvolvido por Etzkowitz e Leydesdorff (1995), que também propõem uma
dinâmica de relacionamento entre diferentes atores organizados em redes de conexões
envolvendo principalmente o governo, a universidade e a indústria. Portanto as pesquisas
induzidas podem servir como ponto de partida no sentido de envolver os pesquisadores das
universidades na solução problemas propostas pela indústria e com apoio financeiro do
governo ou outros agentes da sociedade.
Assim sendo, pode se especular que esses projetos ao invés de ajudar a combater a aludida
pobreza absoluta criam uma pobreza na capacidade imaginação dos investigadores, que
simplesmente passam a se esforçarem em produzir projetos politicamente financiáveis. Que
provavelmente são insustentáveis e de pouco impacto tanto para o desenvolvimento do corpo
do conhecimento, assim como para a melhoria das condições sociais das populações. Pior
ainda é que esses investigadores passam a ser meros coadjuvantes e propagadores das agendas
políticas do governo. De salientar, que não se pretende afirmar que a ciência deva se dissociar
da questão política, mas sim argumentar que a política não pode estar no centro da demanda
guiando as linhas de investigação. Os pesquisadores devem ter o mínimo de independência e
imaginação para elaborar projetos de pesquisa, dentro das suas reais capacidades acadêmico-
científica de execução ajustadas ao contexto e ambiente de aplicação. Este panorama revela
alguns elementos característicos do próprio campo científico, que como lugar de disputas
estabelece uma série de disposições duráveis, que regem seu cenário, sem necessariamente
constituir regras pré-estabelecidas, mas sim valores, normas e princípios sociais que
incorporados pelos pesquisadores, asseguram a adequação entre as ações do sujeito e a
realidade objetiva, o habitus e ethos científico (BOURDIEU, 1983, 2005).
Sintetizando, pode-se avaliar que a intervenção dinâmica de novos atores no setor da C&T
inicia-se na segunda metade de 1980, através da execução dos planos de reajustamento
econômico, depois foi consagrada por meio de: (i) mudança no contexto político da década de
1990 marcada pela introdução da nova constituição e realização das primeiras eleições
161
multipartidárias em 1994; (ii) privatização dos diferentes setores de atividades incluindo
especificamente o ensino superior a partir de 1995; (iii) abertura de novas oportunidades para
a formação de pessoal moçambicano, especialmente em níveis de pós-graduação em países
ocidentais - finais de anos 80 inicio de anos 90; (iv) elaboração e execução, principalmente
nos anos 2000, dos planos de desenvolvimento globais e setoriais, PROAGRI, PARPA,
AGENDA 2025, Plano de Informática, Plano da Educação, Plano e Estratégia de C&T e
outros; e, (v) estabilidade política e crescimento econômico que tem animado os interesses de
investidores estrangeiros para cada vez mais colaborarem no desenvolvimento do setor da
C&T.
Assim sendo, o contexto e ambiente dinâmico que tem estado a nortear o processo de
desenvolvimento e institucionalização da ciência e tecnologia em Moçambique foi traçado a
partir da trajetória percorrida por estes atores. Partindo-se da base de que as linhas e
programas políticos de desenvolvimento podem ser considerados como sendo atores não
humanos que tem condicionado fortemente todo o processo analisado neste estudo. Mas que
por outro lado, não se deve descurar de que elas são resultados da ação humana. Logo o
processo de institucionalização da C&T está intimamente relacionado ao fluxo, circulação,
interconexão e a micronegociações, entre os atores humanos e não humanos, que podem ser
internos ou externos ao contexto e ambiente de produção da ciência e tecnologia
moçambicana.
162
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164
LASTRES, H. M. M. Dilemas da política científica e tecnológica. Ciência da Informação,
v.24, n.2. 1995.
LATOUR, B. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São
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LATOUR, B. On recalling ANT. In: LAW, J., HASSARD, J. Actor network theory and
after. Oxford: Blackwell, 1999. pp. 14-25.
MERTON, R.K. Os imperativos institucionais da ciência. In. DEUS, Jorge Dias de. A crítica
da ciência: sociologia e ideologia da ciência. Rio de Janeiro: Zahar, 1974. pp. 37-52.
MERTON, R.K. Sociologia: Teoria e estrutura. São Paulo: Mestre Jou. 1968
MOÇAMBIQUE. Governo. Agenda 2025: visão estratégica da nação. Maputo: Agenda 2025,
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MOÇAMBIQUE. MCT. Plano nacional de formação e desenvolvimento de recursos
humanos para a área de ciência e tecnologia (PDRHCT). Maputo: MCT, 2008b. (III
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em: http://www.uem.mz/index.php?option=com_content&task=view&id= 58&Itemid=42.
Acesso: 15/01/10.
OCDE. Manual de Oslo: proposta e diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre
inovação tecnológica. 3 ed. [s.l.]: OCDE/FINEP, 1997. 184 p. Disponível em:
http://www.fiepr.org.br/inovaparana/uploadAddress/Manual%20de%20Oslo%20Terceira%20
Edi%C3%A7%C3%A3o%5B45282%5D%5B7022%5D.pdf. Acesso: 29/01/10.
OCDE. OECD Science, Technology and Industry Outlook 2008. [s.l.]: OECD, 2008.
Disponível em: http://www.oecd.org/dataoecd/18/32/41551978.pdf. Acesso: 30/01/1010.
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Moçambique. In: SILVA, T. C. e., ARAÚJO, M. G. M. CARDOSO, C. (eds.). Lusofonia em
África: história, democracia e integração africana. Dakar: CODESRIA, 2005. p. 33-44.
UE.Comissão Européia. A política comum de pesca. [s.l]: [s.n.], 2007. (Acordo). Disponível
em: http://ec.europa.eu/fisheries/cfp/external_relations/bilateral_agreements/mozambique_
pt.htm. Acesso: 16.02.2010.
ZIMBA, H.F., MUELLER, S.P.M. A presença dos países africanos de língua oficial
portuguesa – PALOP – em bases de dados ISI e SCOPUS: análise comparativa 1998-2007.
In. II Conferência Ibero-Americana de Publicações Eletrônicas no Contexto da
Comunicação Científica, Rio de Janeiro, 17 a 21 de novembro de 2008.
168
ANEXOS
169
ANEXO 1: Roteiro das Entrevistas com Gestores de Instituições
Universidade de Brasília
Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e
Ciência da Informação e Documentação
Departamento de Ciência da Informação e Documentação
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação
Pesquisador: Horácio Francisco Zimba
Roteiro da Entrevista
Esta entrevista tem como objetivo coletar dados relacionados aos fatos que marcaram
processo de institucionalização da ciência e tecnologia em Moçambique. Essas informações
seroã coletadas como parte de estudo de campo de uma tese elaborado como requisito para a
conclusão do curso de doutorado em Ciência da Informação na Universidade de Brasília.
Entrevista nº
Instituiçoã
Nome:
Cargo:
Nível de Escolaridade:
Área de Formação/atuação:
Graduação
Especialização
Universidade onde obteve
Mestrado
os Níveis de Escolaridade
Doutorado
Pós-Doutorado
Data da Entrevista:
Brasília, 2009
170
1) Para introduzir a nossa entrevista vou lançar a seguinte pergunta - De uma maneira geral,
poderia falar sobre o processo de institucionalização da ciência e tecnologia em
Moçambique, na sua ótica pessoal? Portanto tentando abarcar todos os aspectos relacionados
a educação básica ate os níveis superiores, e o estabelecimentos de universidades e institutos
de pesquisa no país, mecanismos de fomento e financiamento de pesquisa entre outras
atividades ligadas a C&T.
9) Ate que ponto o senhor, como gestor desta INSTITUIÇAO/UNIDADE, avalia a percepção
da sociedade de uma maneira geral em relação aos produtos de pesquisa aqui desenvolvidos?
11) O senhor poderia me indicar, até pelo menos três, organizações (institutos de pesquisa,
universidades, ONG, etc) que tem desenvolvido parcerias ou colaboração na execução duas
atividades cientificas
12) O senhor poderia me sugerir outras pessoas que eu deveria entrar em contato para obter
mais informações a respeito?
13) O senhor gostaria de sugerir outro tipo de informação que eu deveria obter para
complementar as relacionadas neste roteiro?
171
ANEXO 2: Roteiro das Entrevistas com Docentes e Investigadores
Universidade de Brasília
Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e
Ciência da Informação e Documentação
Departamento de Ciência da Informação e Documentação
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação
Pesquisador: Horácio Francisco Zimba
Roteiro da Entrevista
Esta entrevista tem como objetivo coletar dados relacionados aos fatos que marcaram
processo de institucionalização da ciência e tecnologia em Moçambique. Essas informações
seroã coletadas como parte de estudo de campo de uma tese elaborado como requisito para a
conclusão do curso de doutorado em Ciência da Informação na Universidade de Brasília.
Entrevista nº
Instituiçoã
Nome:
Cargo:
Nível de Escolaridade:
Área de Formação/atuação:
Graduação
Especialização
Universidade onde obteve
Mestrado
os Níveis de Escolaridade
Doutorado
Pós-Doutorado
Data da Entrevista:
Brasília, 2009
172
1) Para introduzir a nossa entrevista vou lançar a seguinte pergunta - De uma maneira geral,
poderia falar sobre o processo de institucionalização da ciência e tecnologia em
Moçambique, na sua ótica pessoal? Portanto tentando abarcar todos os aspectos relacionados
a educação básica ate os níveis superiores, e o estabelecimentos de universidades e institutos
de pesquisa no país, mecanismos de fomento e financiamento de pesquisa entre outras
atividades ligadas a C&T.
2) Poderia me falar, certamente, se for do seu conhecimento quais foram as origens e os fatos
marcantes da criação da INSTITUIÇÃO, e que mudanças ocorreram ao longo da sua
historia? Poderia exemplificar e indicar as fontes e efeitos dessas mudanças.
7) Até que ponto o senhor, como investigador, avalia a percepção da sociedade de uma
maneira geral em relação aos produtos de pesquisa aqui desenvolvidos?
9) Como avalia a sua relação com a INSTITUIÇÃO em termos de suporte dado para o
desenvolvimento das atividades de pesquisa na sua área especifica e no geral?
10) Como avalia os mecanismos de fomento a investigação científica adotados pela sua
INSTIUIÇÃO especificamente e pelas agências de fomento, governamentais e ou
internacional para o desenvolvimento da C&T no contexto atual do país?
11) Reparei que geralmente publica seus artigos em parceria com pesquisadores de outros
países e em revistas internacionais, poderia comentar esse fato?
12) O senhor poderia me indicar, até pelo menos três, organizações (institutos de pesquisa,
universidades, ONG, etc) que tem desenvolvido parcerias ou colaboração na execução duas
atividades cientificas
13) O senhor gostaria de sugerir outro tipo de informação que eu deveria obter para
complementar as relacionadas neste roteiro?
14) O senhor poderia me sugerir outras pessoas que eu deveria entrar em contato para obter
mais informações a respeito?
173
ANEXO 3: Entrevistas - Carta para Pedido de Audiência
__________________________________
__________________________________
Maputo
174
ANEXO 4:Instituições de Ensino Superior Existentes no País, Abril de 2009
175
ANEXO 5:Relação das Fontes (Periódicos) Utilizadas para Publicação de Artigos por
Autores Filiados a IES Moçambicanas
Qtd. de Artigos
Título da Fonte
Publicados
Total 1068
TROPICAL MEDICINE & INTERNATIONAL HEALTH 41
AMERICAN JOURNAL OF TROPICAL MEDICINE AND HYGIENE 31
LANCET 26
GYNECOLOGIC AND OBSTETRIC INVESTIGATION 24
MALARIA JOURNAL 21
TRANSACTIONS OF THE ROYAL SOCIETY OF TROPICAL MEDICINE AND HYGIENE 21
BULLETIN OF THE WORLD HEALTH ORGANIZATION 17
JOURNAL OF TROPICAL PEDIATRICS 17
ACTA TROPICA 14
INTERNATIONAL JOURNAL OF GYNECOLOGY & OBSTETRICS 13
JOURNAL OF INFECTIOUS DISEASES 12
JOURNAL OF HYPERTENSION 11
PLANTA MEDICA 11
TROPICAL ANIMAL HEALTH AND PRODUCTION 11
AMBIO 10
ESTUARINE COASTAL AND SHELF SCIENCE 10
SOUTH AFRICAN MEDICAL JOURNAL 10
AMERICAN JOURNAL OF HYPERTENSION 8
HEALTH POLICY AND PLANNING 8
JOURNAL OF AFRICAN HISTORY 8
JOURNAL OF SOUTHERN AFRICAN STUDIES 8
SOCIAL SCIENCE & MEDICINE 8
TROPICAL DOCTOR 8
ACTA OBSTETRICIA ET GYNECOLOGICA SCANDINAVICA 7
ANNALS OF TROPICAL MEDICINE AND PARASITOLOGY 7
DISASTERS 7
ONDERSTEPOORT JOURNAL OF VETERINARY RESEARCH 7
28 PHYSICS AND CHEMISTRY OF THE EARTH 7 382
GENITOURINARY MEDICINE 6 354
JOURNAL OF NATURAL HISTORY 6
JOURNAL OF THE MARINE BIOLOGICAL ASSOCIATION OF THE UNITED KINGDOM 6
SOUTH AFRICAN JOURNAL OF BOTANY 6
CIRCULATION 5
EUROPEAN HEART JOURNAL 5
INTERNATIONAL JOURNAL OF AFRICAN HISTORICAL STUDIES 5
INTERNATIONAL JOURNAL OF EPIDEMIOLOGY 5
INTERNATIONAL JOURNAL OF STD & AIDS 5
JOURNAL OF TROPICAL MEDICINE AND HYGIENE 5
SAMJ SOUTH AFRICAN MEDICAL JOURNAL 5
AFRICA 4
AFRICA TODAY 4
AGRONOMY JOURNAL 4
BRITISH MEDICAL JOURNAL 4
CENTRAL AFRICAN JOURNAL OF MEDICINE 4
EXPERIMENTAL AGRICULTURE 4
HYDROBIOLOGIA 4
INTERNATIONAL JOURNAL OF PEST MANAGEMENT 4
INTERNATIONAL JOURNAL OF TUBERCULOSIS AND LUNG DISEASE 4
JAIDS-JOURNAL OF ACQUIRED IMMUNE DEFICIENCY SYNDROMES 4
176
JOURNAL OF AFRICAN EARTH SCIENCES 4
JOURNAL OF CRUSTACEAN BIOLOGY 4
JOURNAL OF MEDICAL ENTOMOLOGY 4
LANCET INFECTIOUS DISEASES 4
PARASITOLOGY TODAY 4
PLOS MEDICINE 4
PRECAMBRIAN RESEARCH 4
SCANDINAVIAN JOURNAL OF INFECTIOUS DISEASES 4
TROPICAL AND GEOGRAPHICAL MEDICINE 4
WATER SCIENCE AND TECHNOLOGY 4
WORLD DEVELOPMENT 4
AIDS 3
AIDS RESEARCH AND HUMAN RETROVIRUSES 3
ALLERGY 3
AMERICAN JOURNAL OF CLINICAL NUTRITION 3
AMERICAN JOURNAL OF HUMAN BIOLOGY 3
BJOG-AN INTERNATIONAL JOURNAL OF OBSTETRICS AND GYNAECOLOGY 3
BMC PUBLIC HEALTH 3
CARDIOLOGY IN THE YOUNG 3
CLINICAL INFECTIOUS DISEASES 3
FOOD AND NUTRITION BULLETIN 3
HISTORIA MATHEMATICA 3
HUMAN PATHOLOGY 3
HYPERTENSION 3
INTERNATIONAL FORESTRY REVIEW 3
INTERNATIONAL JOURNAL OF CARDIOLOGY 3
INTERNATIONAL JOURNAL OF INFECTIOUS DISEASES 3
JOURNAL OF CARDIOVASCULAR PHARMACOLOGY 3
JOURNAL OF DISPERSION SCIENCE AND TECHNOLOGY 3
JOURNAL OF MEDICAL MICROBIOLOGY 3
JOURNAL OF MEDICAL VIROLOGY 3
JOURNAL OF PUBLIC HEALTH POLICY 3
LEPROSY REVIEW 3
MARINE ECOLOGY-PROGRESS SERIES 3
MONTHLY REVIEW-AN INDEPENDENT SOCIALIST MAGAZINE 3
NEW ENGLAND JOURNAL OF MEDICINE 3
OIL & GAS JOURNAL 3
PATHOLOGY RESEARCH AND PRACTICE 3
PEDIATRIC CARDIOLOGY 3
PEDIATRIC INFECTIOUS DISEASE JOURNAL 3
PHYSICA STATUS SOLIDI B-BASIC RESEARCH 3
SEED SCIENCE AND TECHNOLOGY 3
SILVAE GENETICA 3
SOUTH AFRICAN JOURNAL OF SCIENCE 3
VETERINARY PARASITOLOGY 3
VIRCHOWS ARCHIV 3
WORLD ANIMAL REVIEW 3
ZEITSCHRIFT FUR GEOLOGISCHE WISSENSCHAFTEN 3
ACTA PAEDIATRICA 2
AFRICAN ECONOMIC HISTORY 2
AFRICAN JOURNAL OF ECOLOGY 2
AGRICULTURAL ECONOMICS 2
ANNALS OF TROPICAL PAEDIATRICS 2
AQUATIC BOTANY 2
ARCHIVES OF CARDIOVASCULAR DISEASES 2
ARCHIVES OF DISEASE IN CHILDHOOD 2
177
ARCHIVES OF VIROLOGY 2
BIOLOGICAL CONSERVATION 2
BMC INFECTIOUS DISEASES 2
BOTHALIA 2
BULLETIN DE LA SOCIETE DE PATHOLOGIE EXOTIQUE 2
BULLETIN OF THE CHEMICAL SOCIETY OF ETHIOPIA 2
BURNS 2
CANADIAN JOURNAL OF AFRICAN STUDIES-REVUE CANADIENNE DES ETUDES AFRICAINES 2
CANADIAN JOURNAL OF CARDIOLOGY 2
CEREAL CHEMISTRY 2
CHEMICAL PHYSICS LETTERS 2
CONTRACEPTION 2
CRUSTACEANA 2
DEEP-SEA RESEARCH PART A-OCEANOGRAPHIC RESEARCH PAPERS 2
DRUG SAFETY 2
ECOTOXICOLOGY 2
ENVIRONMENTAL CONSERVATION 2
EPIDEMIOLOGY AND INFECTION 2
EUROPEAN JOURNAL OF ECHOCARDIOGRAPHY 2
FOOD CHEMISTRY 2
HIV MEDICINE 2
IDS BULLETIN-INSTITUTE OF DEVELOPMENT STUDIES 2
INTERNATIONAL JOURNAL OF FOOD SCIENCES AND NUTRITION 2
INTERNATIONAL JOURNAL OF REMOTE SENSING 2
JOURNAL OF ACQUIRED IMMUNE DEFICIENCY SYNDROMES 2
JOURNAL OF ANIMAL SCIENCE 2
JOURNAL OF DENTAL RESEARCH 2
JOURNAL OF ESSENTIAL OIL RESEARCH 2
JOURNAL OF FISH BIOLOGY 2
JOURNAL OF GENERAL VIROLOGY 2
JOURNAL OF GEOPHYSICAL RESEARCH-ATMOSPHERES 2
JOURNAL OF HUMAN HYPERTENSION 2
JOURNAL OF MEDICAL GENETICS 2
JOURNAL OF MODERN AFRICAN STUDIES 2
JOURNAL OF PALEONTOLOGY 2
JOURNAL OF PLANKTON RESEARCH 2
JOURNAL OF PLANT NUTRITION 2
JOURNAL OF SUSTAINABLE AGRICULTURE 2
JOURNAL OF THE INSTITUTE OF BREWING 2
JOURNAL OF THE SOUTH AFRICAN VETERINARY ASSOCIATION 2
JOURNAL OF VETERINARY DIAGNOSTIC INVESTIGATION 2
MARINE AND FRESHWATER RESEARCH 2
MARINE BIOLOGY 2
NEW STATESMAN & SOCIETY 2
NONLINEAR ANALYSIS-THEORY METHODS & APPLICATIONS 2
NUCLEAR INSTRUMENTS & METHODS IN PHYSICS RESEARCH SECTION B-BEAM INTERACTIONS
WITH MATERIALS AND ATOMS 2
NUTRIENT CYCLING IN AGROECOSYSTEMS 2
OCEAN & COASTAL MANAGEMENT 2
OSTRICH 2
PARASITOLOGY 2
PHYTOPATHOLOGY 2
PLANT DISEASE 2
POULTRY SCIENCE 2
PUBLIC HEALTH 2
REPRODUCTIVE HEALTH MATTERS 2
178
REVISTA DE NEUROLOGIA 2
SEMINARS IN FETAL & NEONATAL MEDICINE 2
135 SEXUALLY TRANSMITTED INFECTIONS 2 284
SMALL RUMINANT RESEARCH 2
SOLAR ENERGY 2
SOUTH AFRICAN JOURNAL OF ANIMAL SCIENCE 2
SOUTH AFRICAN JOURNAL OF GEOLOGY 2
THERIOGENOLOGY 2
TOXICON 2
TROPICAL AGRICULTURE 2
TROPICAL GRASSLANDS 2
VACCINE 2
VETERINARY MICROBIOLOGY 2
WATER AND ENVIRONMENT JOURNAL 2
WATER AS 2
ZEITSCHRIFT FUR CHEMIE 2
ZEITSCHRIFT FUR NATURFORSCHUNG SECTION B-A JOURNAL OF CHEMICAL SCIENCES 2
ZOOTAXA 2
ACTA CIENTIFICA VENEZOLANA 1
ACTA CRYSTALLOGRAPHICA SECTION A 1
ACTA OECOLOGICA-INTERNATIONAL JOURNAL OF ECOLOGY 1
ACTA ONCOLOGICA 1
ACTA VETERINARIA SCANDINAVICA 1
AFRICAN ARTS 1
AGRICULTURAL AND FOREST METEOROLOGY 1
AGRICULTURAL SYSTEMS 1
AGRICULTURE ECOSYSTEMS & ENVIRONMENT 1
AGROCHIMICA 1
AIDS CARE-PSYCHOLOGICAL AND SOCIO-MEDICAL ASPECTS OF AIDS/HIV 1
AJAR-AFRICAN JOURNAL OF AIDS RESEARCH 1
AMERICAN ANTHROPOLOGIST 1
AMERICAN HEART JOURNAL 1
AMERICAN JOURNAL OF AGRICULTURAL ECONOMICS 1
AMERICAN JOURNAL OF DIGESTIVE DISEASES 1
AMERICAN JOURNAL OF EPIDEMIOLOGY 1
AMERICAN JOURNAL OF OBSTETRICS AND GYNECOLOGY 1
AMERICAN JOURNAL OF SURGICAL PATHOLOGY 1
ANALUSIS 1
ANATOMIA HISTOLOGIA EMBRYOLOGIA-JOURNAL OF VETERINARY MEDICINE SERIES C 1
ANESTHESIOLOGY 1
ANIMAL BIODIVERSITY AND EMERGING DISEASES: PREDICTION AND PREVENTION 1
ANIMAL FEED SCIENCE AND TECHNOLOGY 1
ANIMAL PRODUCTION 1
ANNALES DE LA SOCIETE ENTOMOLOGIQUE DE FRANCE 1
ANNALS OF APPLIED BIOLOGY 1
ANNALS OF BEHAVIORAL MEDICINE 1
ANNALS OF EMERGENCY MEDICINE 1
ANNALS OF THE NEW YORK ACADEMY OF SCIENCES 1
APMIS 1
APPLIED LINGUISTICS 1
APPROPRIATE TECHNOLOGY 1
AQUACULTURE 1
AQUACULTURE NUTRITION 1
AQUATIC ECOLOGY 1
ARCHIV FUR DIE GESAMTE VIRUSFORSCHUNG 1
ARCHIVES DE PEDIATRIE 1
179
ARDEA 1
ARQUIVO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINARIA E ZOOTECNIA 1
AUSTRAL ECOLOGY 1
BIOCHEMICAL AND BIOPHYSICAL RESEARCH COMMUNICATIONS 1
BIODIVERSITY AND CONSERVATION 1
BIOLOGICAL CONTROL 1
BIOLOGIZACE A CHEMIZACE ZIVOCISNE VYROBY-VETERINARIA 1
BIOMASS & BIOENERGY 1
BIRD CONSERVATION INTERNATIONAL 1
BLOOD 1
BRENNSTOFF-WARME-KRAFT 1
BRITISH JOURNAL OF OBSTETRICS AND GYNAECOLOGY 1
BULLETIN OF ENTOMOLOGICAL RESEARCH 1
CADERNOS DE SAUDE PUBLICA 1
CAHIERS HISTOIRE MONDIALE-JOURNAL OF WORLD HISTORY 1
CAHIERS INTERNATIONAUX DE SOCIOLOGIE 1
CANADIAN JOURNAL OF PUBLIC HEALTH-REVUE CANADIENNE DE SANTE PUBLIQUE 1
CANCER 1
CEMENT AND CONCRETE RESEARCH 1
CHEMICAL ENGINEERING SCIENCE 1
CHILD DEVELOPMENT 1
CLINICA CHIMICA ACTA 1
CLINICAL AND DIAGNOSTIC LABORATORY IMMUNOLOGY 1
CLINICAL AND EXPERIMENTAL HYPERTENSION PART B-HYPERTENSION IN PREGNANCY 1
CLINICAL AND VACCINE IMMUNOLOGY 1
CLINICAL AUTONOMIC RESEARCH 1
CLINICAL RESEARCH 1
COMMUNITY DEVELOPMENT JOURNAL 1
COMPARATIVE PARASITOLOGY 1
COMPUTERS & CHEMICAL ENGINEERING 1
COMPUTERS & GRAPHICS 1
COMPUTERS & MATHEMATICS WITH APPLICATIONS 1
COMPUTING 1
CONTRIBUTIONS TO MINERALOGY AND PETROLOGY 1
CORAL REEFS 1
CRYSTAL RESEARCH AND TECHNOLOGY 1
CULTURE HEALTH & SEXUALITY 1
CURRENT MOLECULAR MEDICINE 1
DALHOUSIE REVIEW 1
DANISH MEDICAL BULLETIN 1
DEVELOPMENT AND CHANGE 1
DIOGENES 1
DISCOVERY AND INNOVATION 1
EAST AFRICAN MEDICAL JOURNAL 1
ECOLOGICAL ECONOMICS 1
ECOLOGY OF FOOD AND NUTRITION 1
ECONOMIC DEVELOPMENT AND CULTURAL CHANGE 1
ECONOMY AND SOCIETY 1
ECUMENICAL REVIEW 1
EIGHTH INTERNATIONAL CONFERENCE ON LOW-VOLUME ROADS 2003 1
EMERGING INFECTIOUS DISEASES 1
ENVIRONMENTAL & RESOURCE ECONOMICS 1
ENVIRONMENTAL BIOLOGY OF FISHES 1
ENVIRONMENTAL GEOLOGY 1
ENVIRONMENTAL MODELING & ASSESSMENT 1
ENVIRONMENTAL MODELLING & SOFTWARE 1
180
EUPHYTICA 1
EUROPEAN JOURNAL OF CLINICAL CHEMISTRY AND CLINICAL BIOCHEMISTRY 1
EUROPEAN JOURNAL OF MINERALOGY 1
EUROPEAN JOURNAL OF OPERATIONAL RESEARCH 1
EUROPEAN JOURNAL OF PEDIATRICS 1
EUROPEAN SPINE JOURNAL 1
EVALUATION AND PROGRAM PLANNING 1
FEMS IMMUNOLOGY AND MEDICAL MICROBIOLOGY 1
FEMS MICROBIOLOGY ECOLOGY 1
FERTILIZER RESEARCH 1
FIELD CROPS RESEARCH 1
FISHERIES RESEARCH 1
FOOD AND BIOPRODUCTS PROCESSING 1
FOOD HYDROCOLLOIDS 1
FOOD POLICY 1
FORENSIC SCIENCE INTERNATIONAL 1
FOREST ECOLOGY AND MANAGEMENT 1
FORESTRY 1
FRESHWATER BIOLOGY 1
FUNDAMENTAL AND APPLIED NEMATOLOGY 1
GENTICA IBERICA 1
GEODERMA 1
GEOMORPHOLOGY 1
GEOPHYSICAL PROSPECTING 1
GEOSTANDARDS NEWSLETTER-THE JOURNAL OF GEOSTANDARDS AND GEOANALYSIS 1
GLASS TECHNOLOGY 1
HABITAT INTERNATIONAL 1
HAEMATOLOGICA 1
HEALTH & SOCIAL CARE IN THE COMMUNITY 1
HEALTH POLICY 1
HEALTH PROMOTION INTERNATIONAL 1
HEMOGLOBIN 1
HEREDITY 1
HISTORY IN AFRICA 1
HUMAN BIOLOGY 1
HUMAN GENETICS 1
HUMAN ORGANIZATION 1
HYDROGEOLOGY JOURNAL 1
IEEE TRANSACTIONS ON GEOSCIENCE AND REMOTE SENSING 1
IEEE TRANSACTIONS ON POWER ELECTRONICS 1
IEEE TRANSACTIONS ON SYSTEMS MAN AND CYBERNETICS 1
INSECT SCIENCE AND ITS APPLICATION 1
INTENSIVE CARE MEDICINE 1
INTERNATIONAL FAMILY PLANNING PERSPECTIVES 1
INTERNATIONAL HYDROGRAPHIC REVIEW 1
INTERNATIONAL JOURNAL FOR QUALITY IN HEALTH CARE 1
INTERNATIONAL JOURNAL OF ACAROLOGY 1
INTERNATIONAL JOURNAL OF CANCER 1
INTERNATIONAL JOURNAL OF COAL GEOLOGY 1
INTERNATIONAL JOURNAL OF DERMATOLOGY 1
INTERNATIONAL JOURNAL OF EDUCATIONAL DEVELOPMENT 1
INTERNATIONAL JOURNAL OF FOOD SCIENCE AND TECHNOLOGY 1
INTERNATIONAL JOURNAL OF HEALTH PLANNING AND MANAGEMENT 1
INTERNATIONAL JOURNAL OF HEALTH SERVICES 1
INTERNATIONAL JOURNAL OF MEDICAL MICROBIOLOGY 1
INTERNATIONAL JOURNAL OF SCIENCE EDUCATION 1
181
INTERNATIONAL JOURNAL OF THE SOCIOLOGY OF LAW 1
INTERNATIONAL ORTHOPAEDICS 1
INVERTEBRATE REPRODUCTION & DEVELOPMENT 1
JOURNAL DE MYCOLOGIE MEDICALE 1
JOURNAL FOR NATURE CONSERVATION 1
JOURNAL OF ACQUIRED IMMUNE DEFICIENCY SYNDROMES AND HUMAN RETROVIROLOGY 1
JOURNAL OF ADOLESCENT HEALTH 1
JOURNAL OF ADVANCED NURSING 1
JOURNAL OF AFRICAN ECONOMIES 1
JOURNAL OF AGRICULTURAL AND RESOURCE ECONOMICS 1
JOURNAL OF ANTIMICROBIAL CHEMOTHERAPY 1
JOURNAL OF ASTHMA 1
JOURNAL OF BIOLOGICAL REGULATORS AND HOMEOSTATIC AGENTS 1
JOURNAL OF CATALYSIS 1
JOURNAL OF CHEMICAL EDUCATION 1
JOURNAL OF CHROMATOGRAPHY 1
JOURNAL OF CHURCH AND STATE 1
JOURNAL OF CLINICAL MICROBIOLOGY 1
JOURNAL OF CLINICAL PATHOLOGY 1
JOURNAL OF DEVELOPMENT ECONOMICS 1
JOURNAL OF DEVELOPMENT STUDIES 1
JOURNAL OF ETHNOPHARMACOLOGY 1
JOURNAL OF EXPERIMENTAL MARINE BIOLOGY AND ECOLOGY 1
JOURNAL OF FOOD COMPOSITION AND ANALYSIS 1
JOURNAL OF FOOD PROTECTION 1
JOURNAL OF GEOCHEMICAL EXPLORATION 1
JOURNAL OF GEOPHYSICAL RESEARCH-BIOGEOSCIENCES 1
JOURNAL OF HEALTH PSYCHOLOGY 1
JOURNAL OF LUMINESCENCE 1
JOURNAL OF MARINE SYSTEMS 1
JOURNAL OF MATHEMATICAL ANALYSIS AND APPLICATIONS 1
JOURNAL OF METAMORPHIC GEOLOGY 1
JOURNAL OF MICROBIOLOGICAL METHODS 1
JOURNAL OF NUTRITION 1
JOURNAL OF PEASANT STUDIES 1
JOURNAL OF PERINATAL MEDICINE 1
JOURNAL OF PETROLEUM GEOLOGY 1
JOURNAL OF PIDGIN AND CREOLE LANGUAGES 1
JOURNAL OF POLITICS 1
JOURNAL OF REPRODUCTIVE AND INFANT PSYCHOLOGY 1
JOURNAL OF SEA RESEARCH 1
JOURNAL OF THE AMERICAN CERAMIC SOCIETY 1
JOURNAL OF THE AMERICAN COLLEGE OF CARDIOLOGY 1
JOURNAL OF THE CHEMICAL SOCIETY-FARADAY TRANSACTIONS II 1
JOURNAL OF THE ROYAL SOCIETY OF HEALTH 1
JOURNAL OF THE SCIENCE OF FOOD AND AGRICULTURE 1
JOURNAL OF THEORETICAL BIOLOGY 1
JOURNAL OF THORACIC AND CARDIOVASCULAR SURGERY 1
JOURNAL OF TOXICOLOGY AND ENVIRONMENTAL HEALTH-PART A-CURRENT ISSUES 1
JOURNAL OF WATER AND HEALTH 1
JOURNAL OF ZOOLOGY 1
LANCET NEUROLOGY 1
LEBENSMITTEL-WISSENSCHAFT UND-TECHNOLOGIE-FOOD SCIENCE AND TECHNOLOGY 1
LECTURE NOTES IN COMPUTER SCIENCE 1
LIVESTOCK PRODUCTION SCIENCE 1
LYMPHOLOGY 1
182
MALARIA IMMUNOLOGY 1
MARINE POLLUTION BULLETIN 1
MATERIALS AND MANUFACTURING PROCESSES 1
MATHEMATICAL INTELLIGENCER 1
MEASUREMENT SCIENCE & TECHNOLOGY 1
MEDICAL AND VETERINARY ENTOMOLOGY 1
MEDICAL ANTHROPOLOGY QUARTERLY 1
MICAI 2004: ADVANCES IN ARTIFICIAL INTELLIGENCE 1
MICROBES AND INFECTION 1
MICROBIAL DRUG RESISTANCE-MECHANISMS EPIDEMIOLOGY AND DISEASE 1
MINERALOGY AND PETROLOGY 1
MODERN PATHOLOGY 1
MOLECULAR PHYLOGENETICS AND EVOLUTION 1
MYCOSES 1
NATIONALOKONOMISK TIDSSKRIFT 1
NATURE 1
NAUNYN-SCHMIEDEBERGS ARCHIVES OF PHARMACOLOGY 1
NEOPHILOLOGUS 1
NETHERLANDS JOURNAL OF ZOOLOGY 1
NEW MICROBIOLOGICA 1
NUCLEAR MEDICINE-NUKLEARMEDIZIN 1
NUCLEOSIDES NUCLEOTIDES & NUCLEIC ACIDS 1
OBSTETRICS AND GYNECOLOGY 1
OCEAN DEVELOPMENT AND INTERNATIONAL LAW 1
OPEN HOUSE INTERNATIONAL 1
PATHOLOGIE BIOLOGIE 1
PERSPECTIVES IN EDUCATION 1
PHARMACEUTICAL BIOLOGY 1
PHARMACY WORLD & SCIENCE 1
PHARMAZIE 1
PHILOSOPHICAL TRANSACTIONS OF THE ROYAL SOCIETY OF LONDON SERIES A-MATHEMATICAL
PHYSICAL AND ENGINEERING SCIENCES 1
PHOTOGRAMMETRIC ENGINEERING AND REMOTE SENSING 1
PHYCOLOGIA 1
PHYSICS LETTERS B 1
PHYSIOLOGIA PLANTARUM 1
PLACENTA 1
PLANT CELL TISSUE AND ORGAN CULTURE 1
PLANT PATHOLOGY 1
PLOS CLINICAL TRIALS 1
PLOS NEGLECTED TROPICAL DISEASES 1
POPULATION AND DEVELOPMENT REVIEW 1
POPULATION AND ENVIRONMENT 1
PORTUGUESE STUDIES 1
POSTGRADUATE MEDICAL JOURNAL 1
PROCEEDINGS OF THE INSTITUTION OF CIVIL ENGINEERS PART 2-RESEARCH AND THEORY 1
PROGRAM-ELECTRONIC LIBRARY AND INFORMATION SYSTEMS 1
PUBLIC HEALTH NUTRITION 1
QUATERNARY RESEARCH 1
RACE & CLASS 1
RAFFLES BULLETIN OF ZOOLOGY 1
REMOTE SENSING OF ENVIRONMENT 1
RENEWABLE ENERGY 1
REPRODUCTION IN DOMESTIC ANIMALS 1
REVISTA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA TROPICAL 1
REVISTA DE SAUDE PUBLICA 1
183
REVISTA IBERICA DE ENDOCRINOLOGIA 1
REVUE SCIENTIFIQUE ET TECHNIQUE-OFFICE INTERNATIONAL DES EPIZOOTIES 1
SEDIMENTARY GEOLOGY 1
SEDIMENTOLOGY 1
SEXUALLY TRANSMITTED DISEASES 1
SOCIAL DYNAMICS-A JOURNAL OF THE CENTRE FOR AFRICAN STUDIES UNIVERSITY OF CAPE TOWN 1
SOCIAL STUDIES OF SCIENCE 1
SOIL & TILLAGE RESEARCH 1
SOIL USE AND MANAGEMENT 1
SOUTH AFRICAN HISTORICAL JOURNAL 1
SOUTH AFRICAN JOURNAL OF ANIMAL SCIENCE-SUID-AFRIKAANSE TYDSKRIF VIR VEEKUNDE 1
SOUTH AFRICAN JOURNAL OF PSYCHOLOGY 1
SOUTH AFRICAN JOURNAL OF SURGERY 1
SOUTH AFRICAN JOURNAL OF WILDLIFE RESEARCH 1
STUDIES IN FAMILY PLANNING 1
TECTONICS 1
TETRAHEDRON LETTERS 1
TEXAS HEART INSTITUTE JOURNAL 1
THIN SOLID FILMS 1
TLS-THE TIMES LITERARY SUPPLEMENT 1
TRANSFUSION 1
TRANSPORTATION ENGINEERING JOURNAL OF ASCE 1
TRANSPORTATION RESEARCH RECORD 1
TRENDS IN PARASITOLOGY 1
TRIALS 1
TROPICAL PEST MANAGEMENT 1
TYDSKRIF VIR LETTERKUNDE 1
VEGETATIO 1
VETERINARY JOURNAL 1
VETERINARY QUARTERLY 1
VETERINARY RECORD 1
VIRCHOWS ARCHIV-AN INTERNATIONAL JOURNAL OF PATHOLOGY 1
WATER RESEARCH 1
WATER RESOURCES MANAGEMENT 1
WATER SUPPLY & MANAGEMENT 1
WORLD JOURNAL OF MICROBIOLOGY & BIOTECHNOLOGY 1
WORLDS POULTRY SCIENCE JOURNAL 1
314 ZEITSCHRIFT FUR GEOMORPHOLOGIE 1 392
Fonte: Elaboração do autor com dados da Web of Science (2009)
LEGENDA
Revistas publicadas em países africanos
1º, 2º e 3º quadrantes de revistas que publicaram 1/3 de documentos respectivamente
184
ANEXO 6:Plano de Desenvolvimento de Recursos Humanos Para Ciência e Tecnologia:
Projeções por Área de Conhecimento 2010 a 2025
185