Finanças Públicasl
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As Falhas de Mercado
Segundo a teoria tradicional do bem-estar social (welfare economics), sob certas condições, os
mercados competitivos geram uma alocação de recursos na qual é impossível promover uma realocação de
recursos de modo que um indivíduo aumente o seu grau de satisfação, sem que, ao mesmo tempo, isso
esteja associado a uma piora da situação de algum outro indivíduo.
A propriedade de que ninguém pode melhorar sua situação sem causar algum prejuízo a outros agentes é
denominada de ótimo de Pareto. Paralelamente, para atingir uma alocação “Pareto eficiente” de recursos
não é necessário que exista a figura de um “planejador central”, já que a livre concorrência, com as firmas
operando em um mercado competitivo e procurando maximizar seus lucros, permitiria atingir esse ideal. A
ocorrência desta situação, entretanto, depende: da não existência de progresso técnico e do funcionamento
do modelo de concorrência perfeita, o que implica a existência de um mercado atomizado (as decisões
quanto à quantidade produzida de grande número de pequenas firmas são incapazes de afetar o preço de
mercado) e de informação perfeita da parte dos agentes econômicos. As falhas de mercado impedem essa
situação. Tais circunstâncias são representadas por: a existência de bens públicos, a falha de competição
que se reflete na existência de monopólios naturais, as externalidades, os mercados incompletos, as falhas
de informação, e a ocorrência de desemprego e inflação.
consequentemente, custos de produção mais altos. No caso da ocorrência do monopólio natural, o governo
pode exercer apenas sua regulação, a fim de impedir que o poder de mercado detido pelas empresas
monopolistas reflita-se na cobrança de preços abusivos, o que representaria uma perda de bem-estar para a
sociedade como um todo. Ou, o governo pode responsabilizar-se diretamente pela produção do bem ou
serviço.
As externalidades
Externalidades são os casos em que a ação de um indivíduo ou de uma empresa afeta direta ou
indiretamente outros agentes do sistema econômico. As situações nas quais essas ações implicam benefícios
a outros são caracterizadas como externalidades positivas. Por outro lado, as chamadas externalidades
negativas correspondem àquelas situações nas quais a ação de um determinado agente da economia
prejudica os demais indivíduos ou empresas. A existência de externalidades justifica a intervenção do
Estado, que pode se dar através: da produção direta ou da concessão de subsídios, para gerar
externalidades positivas; de multas ou impostos, para desestimular externalidades negativas e da
regulamentação.
Os mercados incompletos
O mercado completo é aquele capaz de ofertar qualquer bem/serviço cujo custo de provisão é menor do
que as pessoas estão dispostas a pagar por ele. Em contraposição, em um mercado incompleto, um
bem/serviço não é ofertado, ainda que o seu custo de produção esteja abaixo do preço que os potenciais
consumidores estariam dispostos a pagar. Esta falha pode acontecer porque, mesmo que se trate de
atividades típicas de mercado, nem sempre o setor privado está disposto a assumir riscos.
As falhas de informação
Nas falhas de informação, a intervenção do Estado justifica-se em razão de o mercado por si só não
fornecer dados suficientes para que os consumidores tomem suas decisões racionalmente. A forma dessa
ação pode ser mediante a introdução de uma legislação que indutora de maior transparência do mercado.
Entretanto, tendo em vista que a informação pode ser considerada um bem público, favorecendo todos os
agentes do sistema econômico, o grande objetivo do Estado deve ser contribuir para que o fluxo de
informações seja o mais eficiente possível.
A função alocativa
Os bens públicos não podem ser fornecidos de forma compatível com as necessidades da sociedade
através do sistema de mercado. O fato de os benefícios gerados estarem disponíveis para todos os
consumidores faz com que não haja pagamentos voluntários aos fornecedores desses bens. Sendo assim,
perde-se o vínculo entre produtores e consumidores, o que leva à necessidade de intervenção do governo
para garantir o seu fornecimento.
O governo deve determinar o tipo e a quantidade de bens públicos a serem ofertados e calcular o nível
de contribuição de cada consumidor. Neste caso, há um espaço claro de ação dos caronas. Assim, o
financiamento da produção desses bens não pode dar-se de forma voluntária, mas sim depende da obtenção
compulsória de recursos, através da cobrança de impostos. Neste sentido, o processo político surge como
substituto do mecanismo do sistema de mercado. A decisão de um governante através do processo eleitoral
funciona como uma revelação de preferências por parte da sociedade. A eleição mostra quais bens
públicos são considerados prioritários e quanto os indivíduos estarão dispostos a contribuir sob a forma de
impostos para o financiamento da oferta de bens públicos. Há atividades em relação às quais, mesmo que o
Estado deixe de ser responsável pela produção de um bem ou serviço, ele deve zelar – diretamente ou
através dos órgãos reguladores – para que a população seja adequadamente servida em termos da oferta e da
qualidade.
A provisão por parte do setor público dos chamados bens semipúblicos ou meritórios constituem um
caso intermediário entre os bens privados e os bens públicos. Apesar de poderem ser submetidos ao
princípio da exclusão e, desta forma, serem explorados pelo setor privado, o fato de gerarem altos
benefícios sociais e externalidades positivas justifica a produção total ou parcial pelo setor público . Os
principais exemplos são os serviços de educação e saúde.
Capítulo 1 • Teoria das Finanças Públicas
A função distributiva
A distribuição de renda resultante, em determinado momento, das dotações dos fatores de produção –
capital, trabalho e terra – e da venda dos serviços desses fatores no mercado pode não ser a desejada pela
sociedade. Cabem, portanto, alguns ajustes distributivos feitos pelo governo, no sentido de promover uma
distribuição considerada justa pela sociedade. Para isso, o governo se utiliza de alguns instrumentos
principais: as transferências; os impostos e os subsídios.
Através do esquema de transferências o governo pode promover uma redistribuição direta da renda,
tributando em maior medida os indivíduos pertencentes às camadas de renda mais alta, e subsidiando os
indivíduos de baixa renda. Um exemplo desse tipo de política é o imposto de renda negativo, utilizado em
alguns países desenvolvidos, que implica uma transferência de renda para as pessoas que ganhem menos do
que um determinado nível mínimo de rendimentos.
Os recursos captados pela tributação dos indivíduos de renda mais alta podem ser utilizados para o
financiamento de programas voltados para a parcela da população de baixa renda, como o de construção de
moradias populares.
Finalmente, o governo pode impor alíquotas de impostos mais altas aos bens considerados de luxo
(supérfluos), consumidos pelos indivíduos de renda mais alta, e cobrar alíquotas mais baixas dos bens que
compõem a cesta básica, subsidiando, desta forma, a produção dos bens de primeira necessidade, com alta
participação no consumo da população de baixa renda.
Vale destacar o papel do sistema da seguridade social na redistribuição de renda da sociedade. Os
recursos captados pelo sistema e aplicados em hospitais públicos, por exemplo, promovem uma
redistribuição de renda da parcela da população de renda mais alta para a de renda mais baixa, tendo em
vista que este segmento da população utiliza em maior medida os serviços do sistema público de saúde. Os
benefícios assistenciais concedidos a pessoas de baixa renda sem que tenham contribuído para a previdência
social são um outro exemplo importante.
A função estabilizadora
A importância da função estabilizadora do Estado passou a ser defendida, principalmente, a partir da
publicação do livro Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda em 1936, de autoria de John Maynard
Keynes. Até então, acreditava-se que o mercado tinha uma capacidade de se autoajustar ao nível de pleno
emprego da economia. A flexibilidade de preços e salários garantiria este equilíbrio: a existência de
desemprego só seria explicada, por exemplo, por um nível de salários reais acima daquele que equilibraria a
demanda e a oferta de trabalho, o que poderia ocorrer em razão da ação dos sindicatos. Keynes, ao
contrário, apontava que o limite ao emprego era dado pelo nível de demanda: as firmas só estariam
dispostas a empregar determinada quantidade de trabalho conforme as expectativas de venda de seus
produtos. Desta forma, tudo que pudesse ser feito para aumentar a quantidade de gastos na economia
contribuiria para uma redução da taxa de desemprego da economia. Neste sentido, Keynes deu ênfase ao
Capítulo 1 • Teoria das Finanças Públicas
tributação sobre a eficiência econômica e o conceito da simplicidade, segundo o qual o sistema tributário
deve ser de fácil compreensão para o contribuinte e de fácil arrecadação para o governo.
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