Manual - Rumo À Transparência
Manual - Rumo À Transparência
Manual - Rumo À Transparência
RUMO À
TRANSPARÊNCIA:
Prestação de Contas nas
Organizações de Economia
Social em Portugal
Ficha Técnica
Título
Manual – Rumo à Transparência: Prestação de Contas nas Organizações de Economia Social em Portugal
Autoria
Vanessa Marcos e Filipe Pinto (coordenação)| Ana Bragança | Maria da Paz Moura | Isadora Freitas
Edição
Área Transversal de Economia Social da Universidade Católica Portuguesa – Porto
Edifício Central
Rua de Diogo Botelho, 1327
4169-005 Porto, Portugal
ates.projetos@porto.ucp.pt | http://www.porto.ucp.pt/pt/transparenciaOES?
Data de Edição
2021
Execução Gráfica
Officina Digital – Impressão e Artes Gráficas
Manual produzido no âmbito do Projeto “Transparência nas Organizações de Economia Social Portuguesas”, promovido pela ATES – Área
Transversal de Economia Social da Universidade Católica Portuguesa – Porto e apoiado pelo BPI/Fundação “la Caixa”.
Reconhecendo a Igualdade de Género como um valor intrínseco aos Direitos Humanos, procuramos garantir o respeito pela mesma na escrita do
presente Manual.
O Manual segue a grafia do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Nas referências bibliográficas respeitamos a grafia original.
Os conteúdos deste Manual são da exclusiva responsabilidade da ATES – Área Transversal de Economia Social e não refletem necessariamente
as posições do BPI/Fundação “la Caixa”.
ÍNDICE
Prefácio coletivo 5
Referências Bibliográficas32
[Fase 1]
Preparação da Terra – Entre a contextualização, as motivações e os objetivos 37
[Fase 2]
É tempo de semear! A escolha das Sementes e os desafios da Germinação 41
[Fase 3]
A Colheita e a Celebração 45
[Fase 4]
Caracóis e Lesmas – Desafios à manutenção de uma Horta saudável 52
Por esse motivo, fez-nos também sentido trazer a(s) sua(s) voz(es) para o Prefácio deste
Manual, pelo que estendemos mais um agradecimento aos membros que se disponibilizaram
para escrever coletivamente as generosas palavras que tão bem identificam o propósito deste
Projeto, que resumem o nosso caminho conjunto e que vos convidam a juntarem-se a nós e a
mergulharem neste Manual.
Bem-hajam!
PREFÁCIO COLETIVO
Os temas da Transparência e da Prestação de Contas são cruciais para a credibilização e
valorização crescentes do setor da Economia Social e Solidária. A afirmação deste setor
como parceiro no desenvolvimento e coesão social, bem como na efetivação dos direitos
sociais constitucionalmente reconhecidos, depende, cada vez mais, da sua capacidade de
partilhar e divulgar informação - tanto quantitativa quanto qualitativa - junto das suas Partes
Interessadas, quer sobre os resultados da sua gestão, quer sobre a sua ação e respetivas
atividades, ao que se soma a medição do seu real impacto. Trata-se de uma matéria que radica
na própria licença para operar e que estimula o autoconhecimento e a divulgação rigorosa do
que fazem as entidades e os seus atores.
Longe de pretender ser um documento fechado, este Manual é, antes de mais, uma experiência
em crescimento, que se enriquecerá ao longo das partilhas e apropriações subsequentes,
facilitando, por sua vez, a aprendizagem organizacional, pelo que fazemos um apelo claro e
expresso à sua utilização.
Rumo à Transparência:
Prestação de Contas nas Organizações da Economia Social em Portugal 5
01
PARA QUE
SERVE ESTE
MANUAL? Um roteiro
de construção conjunta
PARA QUE SERVE
ESTE MANUAL?
Um Roteiro de Construção Conjunta
Este Manual é o resultado de um percurso de dois anos pelo mundo da Accountability/
Prestação de Contas e da Transparência no setor da Economia Social em Portugal, no
âmbito do Projeto “Transparência nas Organizações de Economia Social Portuguesas”,
Conscientes do amplo promovido pela Área Transversal da Economia Social da Universidade Católica
debate teórico-concetual em Portuguesa – Porto e apoiado pelo BPI/Fundação “la Caixa”.
torno deste setor, no âmbito
Durante este horizonte temporal, o Projeto teve como objetivos:
do Projeto e para efeitos de
operacionalização empírica, • Contribuir para a legitimação do setor da Economia Social em Portugal, através do
assumimos o conceito de reforço da eficácia e da transparência gestionária das suas organizações;
Economia Social dado o
reconhecimento político- • Revisitar a literatura existente e contribuir para um conhecimento mais
legal do seu significado em aprofundado sobre as práticas de prestação de contas e de transparência no âmbito
Portugal, com a Lei de Bases do setor da Economia Social;
da Economia Social (Lei nº
30/2013), que estabelece o • Desenhar e construir, de forma crítica e participada, um Mecanismo de Prestação de
enquadramento jurídico do Contas transparente, útil às Organizações de Economia Social (OES) em Portugal e
setor. Para mais informações capaz de horizontalizar responsabilidades;
consultar: https://data.dre.pt/
• Promover a capacitação de técnicos e dirigentes de OES sobre Prestação de Contas
eli/lei/30/2013/05/08/p/dre/
pt/html e Transparência.
Capítulo I
Para que serve este Manual? Um roteiro de construção conjunta 9
Num processo pautado por diversas expectativas, pela desconstrução
das temáticas da Prestação de Contas e da Transparência, pela criação de SESSÕES DO COMITÉ DE
relação, por uma partilha e retroalimentação constantes e pela produção TRANSPARÊNCIA
coletiva de conhecimentos, procuramos reconhecer e acolher diferentes No âmbito do Projeto, criamos um grupo
lugares e tempos de participação. Assim, promovemos encontros quer de trabalho — o Comité de Transparência
de reflexão crítica e de escuta ativa entre diferentes atores, quer de — constituído por 12 representantes de
mapeamento de práticas, de ambiguidades e de inquietações e, também, OES portuguesas, que aceitaram o desafio
de diálogos entre convergências e dissonâncias, numa lógica de construção de participar, entre 2020 e 2021, em seis
conjunta, comprometida e de aprendizagem contínua e coletiva, em torno sessões (online e com uma duração de
das temáticas da Prestação de Contas e da Transparência no setor da duas horas cada), de coconstrução de:
Economia Social em Portugal. • um quadro analítico do Projeto, sob
Ao nosso lado estiveram 12 representantes de OES portuguesas que deram uma lógica participada e crítica, para
a compreensão da realidade das OES
corpo ao Comité de Transparência desenhado no Projeto, numa estreita
portuguesas, de suporte à conceção
articulação entre a academia e o setor da Economia Social. De acordo com
e produção deste Manual, ao nível de
a sua disponibilidade, reconhecendo os seus diferentes lugares de partida saberes, práticas e desafios do setor em
e em conjunto, pudemos partilhar, interpelar e colocar em diálogo saberes torno das temáticas da Transparência e
e vivências organizacionais quotidianas, bem como imaginar utopias e da Prestação de Contas.
materializar um Mecanismo de Prestação de Contas transparente, de
caráter exploratório, útil às OES em Portugal, capaz de horizontalizar • um Mecanismo de Prestação de Contas
transparente, numa modalidade
responsabilidades e de preenchimento online e, preferencialmente,
online, de fácil utilização e adaptado à
coletivo.
realidade do setor da Economia Social
Acresce, ainda, a realização de três workshops que possibilitaram a partilha em Portugal.
pública da proposta de Mecanismo desenhada e a correspondente recolha Ao longo das sessões tivemos a
de contributos para a sua construção. companhia de uma ilustradora, a Dirce
Russo, que interpretou, imaginou e
No global, procuramos construir lugares de encontros, de diálogos críticos
deu forma aos intensos e ricos debates
e de aprendizagens conjuntas, que não se esgotam no horizonte temporal
com os membros do Comité. Após cada
do Projeto, mas que acreditamos poderem contribuir para uma maior sessão, produzimos a respetiva Memória,
compreensão do setor da Economia Social em Portugal. Este Manual encarada como um registo visual e escrito
convida a imergir no roteiro percorrido, visando (re)criar narrativas, dos olhares, das vozes, dos diálogos, das
significados e práticas de prestação de contas transparentes e, portanto, inquietações e das vivências em torno da
com potencial para provocar mudanças organizacionais. Prestação de Contas e da Transparência
nas OES portuguesas. Neste sentido,
Neste sentido, o capítulo 1 — onde nos encontramos — acolhe-vos e gostaríamos de vos convidar a espreitar
enquadra o Manual e as paragens de um roteiro construído em conjunto. o conjunto dessas Memórias individuais,
Importa referir que recorremos a duas metáforas para (des)construir bem como a compilação das mesmas em
conceitos e práticas e para corporizar — a partir do registo ilustrativo da formato de “Itinerário de Viagem”, no site
do Projeto.
Dirce Russo — o processo de trabalho com o Comité de Transparência do
Projeto, que reflete a riqueza do encontro, da partilha e do diálogo entre Ao longo deste Manual damos eco a essas
Memórias através das caixas de texto
olhares individuais e a criação de uma linguagem comum e plural.
“Vozes do comité”.
Da nossa Horta
Nas três últimas sessões da nossa viagem com o
Comité de Transparência escolhemos a metáfora da
Horta para representar o trabalho cíclico efetuado,
assente no acolhimento e no cruzamento de diversos
saberes, na análise do contexto, na criação de
relação, bem como no cuidado e na aprendizagem
constantes. Assim, em 2020 preparamos a terra para
plantarmos a nossa Horta comum – o Mecanismo
de Prestação de Contas transparente –, e em 2021,
escolhemos as sementes – as Dimensões – que
queríamos lançar à terra (com a preocupação que
fossem adequadas às condições do meio envolvente),
cuidamos (fazendo os ajustes necessários) do
processo de germinação – os Indicadores – e
partilhamos e celebramos a(s) colheita(s).
Capítulo I
Para que serve este Manual? Um roteiro de construção conjunta 11
O capítulo 2 — “Entre as Janelas da Prestação de Contas e da
Transparência” — conduz-nos pela literatura visitada e, neste âmbito, pela
diversidade, complexidade e ambiguidade dos significados inerentes aos
As citações de publicações
conceitos de Accountability e de Prestação de Contas, e pela problematização
em língua estrangeira
contidas neste Manual
dos conceitos de Transparência e de Boa Governação. Ao longo desta
foram traduzidas em deambulação teórico-concetual, identificamos as inquietações e as questões
formato livre pela equipa que nos acompanharam durante essa etapa do Projeto e que refletem, de
do Projeto forma consciente, as escolhas que assumimos e que mobilizamos para outras
etapas.
Capítulo I
Para que serve este Manual? Um roteiro de construção conjunta 13
02
ENTRE AS
JANELAS da Prestação
de Contas e da Transparência
REFLEXÕES E
INTERROGAÇÕES
sobre Prestação de Contas Transparente
Atualmente, e cada vez com mais frequência, os conceitos de “Transparência”, “Prestação de Contas”
ou “Accountability” assumem visibilidade, particularmente no contexto do setor das Organizações de
Economia Social (OES). Com efeito, tem sido muito relevante o contributo deste setor em torno da
reflexão concetual e operacional, sobretudo ao nível internacional, como podem ilustrar os exemplos
das iniciativas Independent Setor, One World Trust, Accountable Now, Plataforma de ONG de Acción Social
y Coordinadora de ONGD España, Rendir Cuentas, entre outros. É, portanto, hoje, um debate vivo. Os
termos animam um amplo número de discussões, mas encerram ainda incertezas dada a diversidade
de quadros concetuais, de referenciais de análise e de práticas existentes e sendo escassa a literatura
disponível, nomeadamente no setor das OES em Portugal e em língua portuguesa.
Neste sentido, com que lente olhamos a realidade? Desconstruir e construir estas temáticas passa
por reconhecermos que existe uma diversidade de olhares e interpretações destes conceitos e
que se refletem em práticas diferentes e frequentemente ambíguas. De igual modo, conduziu-
nos ao reconhecimento de que os conceitos de Transparência e Accountability estão intimamente
ligados, sendo esperado que a Transparência gere Accountability (Fox, 2007). Assim, entendemos a
Transparência como um princípio que “vai mais além” do que o de Accountability (Marcuello et al., 2007).
A Transparência reflete uma atitude de abertura no que respeita às ações, políticas e práticas
que afetam a sociedade, bem como a disponibilidade efetiva de as comunicar de uma maneira
compreensível, acessível, oportuna e honesta, por iniciativa própria ou de modo compulsório
(OCDE, 2010, in van Doeveren, 2011; IBGC, 2009, in Freire da Silva et al., 2015; Rawlins,
2009, in Auger, 2014).
Capítulo II
Entre as Janelas da Prestação de Contas e da Transparência 17
Edwards & Hulme (1995, p.9), pioneiros no debate sobre a prestação de contas
(accountability) no setor das organizações de economia social, definem-na como
“os meios pelos quais indivíduos ou organizações reportam a uma autoridade
reconhecida (ou autoridades) e são responsabilizados pelas suas ações”.
Reconhecendo o caráter dinâmico que o conceito de prestação de contas enformou e mantém, com múltiplos enfoques,
identificamos, no entanto, uma perspetiva amplamente consensual que apresenta a prestação de contas como um
“conceito relacional”, resultante das relações que se estabelecem entre diferentes atores num determinado contexto
social e institucional (Ebrahim, 2005). Assim, a prestação de contas opera ao longo de múltiplas dimensões – envolvendo
numerosos atores, compreendendo mecanismos distintos, que podem ser ferramentas, processos ou uma combinação
dos dois (Ebrahim, 2003a) e que exploraremos ao longo deste capítulo.
Capítulo II
Entre as Janelas da Prestação de Contas e da Transparência 19
perante a organização, podendo ter consequências absolutamente devastadoras não só em termos de perdas financeiras,
mas também no que diz respeito à perda de confiança por parte de indivíduos e doadores” (Hou, Zhang & Guo, 2020,
p.71). Neste sentido, a prestação de contas não se esgota no cumprimento de uma obrigação legal, respondendo perante
a missão organizacional e a confiança do público (Ebrahim, 2010), elementos que justificam a legitimidade de uma OES.
De grande importância no combate às irregularidades nas organizações, como fraude ou corrupção, e na promoção de
uma boa governação (Pasquier & Villeneuve, 2007, in Auger, 2014), a transparência surge como “um indicador da saúde
moral de uma organização” (Bennis, Goleman & Biederman, 2008, p.26, in Auger, 2014). Considerando que o conceito
“governação” tem origem no latim e significa “guiar, conduzir”, remete, assim, genericamente para a forma como o poder
é assumido numa sociedade ou organização. A relação entre a prestação de contas e a governação no contexto das
OES implica que as Direções estatutárias sejam responsáveis por procurar e considerar informações adequadas para
fundamentar as suas decisões (cuidado), por divulgar conflitos de interesse e colocar os interesses da organização à
frente dos interesses pessoais (lealdade) e por agir de acordo com a missão da organização enquanto também aderem aos
protocolos internos organizacionais de tomada de decisões (obediência) (Ebrahim, 2010).
Neste sentido, apesar das diferentes abordagens, definições, interpretações e operacionalizações, o conceito de
boa governação tem vindo a afirmar-se, cada vez mais, enquanto fator de legitimação das OES, compreendendo
“a transparência, a responsabilidade organizacional e a prestação de contas” (Freire da Silva et al., 2015, p.25), a
descentralização e a participação no processo de tomada de decisão, como princípios que importa garantir (Wyatt,
2011, in Shava & Thakhathi, 2016). A boa governação contribui, portanto, para a equidade, a eficiência e a eficácia
organizacionais (Shava & Thakhathi, 2016), sendo fundamental para o cumprimento da missão e valores advogados,
elementos legitimadores da ação das OES e que lhe conferem, também, credibilidade.
O diálogo plural em torno da pertinência da prestação de contas conduz-nos inevitavelmente até ao seu propósito,
materializado na pergunta – “Prestar contas sobre o quê?”
1
Integridade Financeira
Engloba questões relacionadas com a origem e o uso de fundos,
métodos de mobilização de recursos financeiros, sistemas de
contabilidade e auditoria, etc., que têm recebido uma atenção
considerável após vários escândalos relacionados com práticas
abusivas e/ou pouco transparentes relativamente à gestão financeira
das OES. A este respeito, alguns governos têm-se debruçado sobre
quadros regulamentares no sentido de aplicar leis restritivas
direcionadas às OES de forma a assegurar a sua responsabilização.
2
Governação
Envolve as competências e o papel dos órgãos de governo, mas também
questões respeitantes à idoneidade e ao compromisso efetivo dos seus
membros. É neste âmbito, que os apelos à disponibilização pública de
informação sobre políticas, processos e sistemas de gestão das OES têm
sido frequentes.
3
Desempenho Organizacional
Baseando-se na premissa de que as organizações devem ser
responsabilizadas pelo que realizam e alcançam, demonstrando
resultados e apresentando o nível de benefícios e tipos de
impactos experimentados pelos membros, bem como pelos
públicos em geral (ou destinatários). Incluem-se neste ponto a
eficácia das práticas gestionárias e os processos internos que
asseguram a melhoria contínua e a qualidade da intervenção,
numa lógica de aprendizagem organizacional.
4
Missão
Se as OES existem com o propósito de servir um bem comum e,
portanto, com objetivos intrinsecamente articulados à primazia do
interesse social, que premissa de mudança social subjaz a sua missão?
Trata-se, assim, de assegurar a transparência da missão organizacional,
ao prestarem contas sobre a relação com os públicos que representam
e sobre os valores orientadores da sua ação.
Capítulo II
Entre as Janelas da Prestação de Contas e da Transparência 21
PRESTAR CONTAS
A quem?
A prestação de contas envolve uma relação de influência mútua entre diversos atores de diferente pertença setorial, que,
segundo Kilby (2006), define as relações entre atores e a distribuição de poderes entre eles. Trata-se, portanto, de um
“conceito relacional” e sobre poder (Ebrahim, 2005, p.60) que se materializa pelas relações concretas que se estabelecem
entre duas ou mais partes, em que as OES respondem a múltiplos apelos:
pessoas e comunidades
com quem trabalham
procurando responder ou
minimizar determinadas
problemáticas
órgãos reguladores
responsáveis por
certificações
parceiros que
colaboram em
projetos
financiadores
e doadores que
fornecem recursos
recursos humanos,
remunerados e voluntários,
que investem as suas
competências
A quem reportar?
Representações das OES inquiridas sobre o que significa uma prestação
de contas transparente
44,3% (31) das 70 OES analisadas considerou relevante o envolvimento das Partes Interessadas
numa prestação de contas transparente. Destas 31 organizações,17, 51,6% (16) indicou as Partes
Interessadas em geral comodestinatários do seu reporte e 41,9% (13) incluiu os ÓrgãosSociais
nessa prática. Acresce que 6,5% (2) fizeram referênciaaos Financiadores. Não obstante este
cenário, apuramos que 25,8% (8) das OES diferenciou os Órgãos Sociais das Partes Interessadas
e 3,2%(1) fê-lo relativamente aos Financiadores. A este respeito, importaria compreender se esta
distinção corresponde a significados alternativos ao pensamento dominante, ao desconhecimento
da perspetiva mais generalizada do conceito de Partes Interessadas ou se as representações das
entidades inquiridas têm subjacente outro(s) propósito(s).
Atendendo à multiplicidade de atores com quem as OES dialogam e interagem, verificam-se diferentes tipos de prestação
de contas, algumas das quais nomeamos de seguida:
e
ent
d
cen É, provavelmente, a forma mais usual de prestação de contas,
As reconhecendo que as OES devem reportar às partes interessadas que
regulam a sua atividade, em concreto àqueles que provêm fundos
e que, por isso, querem saber como o seu investimento financeiro
é executado. Este tipo de prestação de contas traduz-se em vários
mecanismos diferentes, no entanto, e comummente, materializa-se
na realização de relatórios de natureza financeira, apenas incidindo
em resultados quantitativos, segundo formatos preestabelecidos por
cada um dos financiadores (Christensen & Ebrahim, 2006).
Assenta na premissa que OES não devem prestar contas apenas às entidades que as D
financiam, mas também aos públicos-alvo (ou destinatários) da sua ação. Esta é uma esc
en
abordagem que exige mecanismos de prestação de contas flexíveis e adequados, de
nte
reconhecendo que as OES melhoram e fortalecem a sua ação a partir do envolvimento ativo,
da experiência e do feedback das partes interessadas com quem trabalham (Edwards & Hulme,
1995; Ebrahim, 2003a; Christensen & Ebrahim, 2006), numa lógica de influência mútua e de
aprendizagem conjunta.
Capítulo II
Entre as Janelas da Prestação de Contas e da Transparência 23
Responsabiliza as OES face aos seus recursos humanos e a outros membros internos à
organização e em relação à sua missão. Parte da vontade de melhoria organizacional contínua,
L expressando a intenção das OES de aprenderem com o que resulta e o porquê, e mesmo com o
a que não resulta, em prol do reforço das suas práticas organizacionais e gestionárias, através de um
t conjunto de mecanismos de prestação de contas, como a avaliação e a participação, manifestados
e de formas variadas (reuniões de trabalho, comunicados, etc.), que colocam o enfoque nos
r
a elementos que trabalham nas OES e contribuem para um bom ambiente organizacional
l (Christensen & Ebrahim, 2006). Ainda assim, como a cultura das OES tende a sobrepor a sua ação
a uma reflexão e análise críticas, numa lógica de aprendizagem organizacional, a prestação de
contas lateral é um tipo de prestação de contas desafiante.
Horizontal
Refere-se à relação entre OES (muitas vezes organizada sob a forma de plataformas, federações
ou uniões setoriais) e traduz-se na construção conjunta e voluntária de mecanismos de
autorregulação, como códigos de conduta e desempenho, desenvolvidos dentro do setor ou
dos subsetores em que as OES se inserem, tendo em vista incentivar determinados padrões
de comportamento e a partilha de boas práticas. O processo de desenvolvimento destes
mecanismos contribui indelevelmente para que as organizações olhem para si próprias e criem
uma identidade partilhada, possibilitando o fortalecimento interno do setor e a apresentação
coletiva da sua missão, valores e princípios às suas principais partes interessadas e à sociedade em
geral. São altamente significativos para o desenvolvimento da prestação de contas nas OES, pois
institucionalizam procedimentos básicos, como declarações públicas, e reforçam a norma de que
devem ser transparentes (Jordan, 2005; Ebrahim, 2010; Cruz & Pousadela, 2008; Pinto, 2012).
Face ao apresentado, pareceria evidente o desenvolvimento de um sistema de prestação de contas que operacionalizasse
as diferentes tipologias em simultâneo e na mesma profundidade. Contudo, algumas preocupações têm emergido na
sua aplicação prática. Ou seja, as OES relacionam-se com múltiplos atores e têm de desenvolver formas de prestação
de contas diferentes para cada um deles de acordo com as suas necessidades, expectativas e exigências. Ora, tendo
as organizações recursos (humanos, financeiros, tecnológicos e temporais) limitados, por vezes, têm dificuldade em
responder a todos os apelos e em selecionar o tipo de prestação de contas que devem priorizar. Esta questão agudiza-se
ao reconhecermos que a prestação de contas define as relações entre as partes interessadas e a distribuição de poderes
entre elas (Kilby, 2006). As diferenças de poder dos diferentes atores com quem as OES estabelecem relações influem
bastante sobre a capacidade de algumas das partes fazerem com que outras sejam accountables, ou responsabilizáveis.
Nesta linha de pensamento, as OES tendem a preferir a prestação de contas ascendente, que advém de exigências
externas com implicações para a sua sobrevivência financeira, em detrimento dos outros três tipos, que resultam, mais
frequentemente, da “responsabilidade sentida” e que são impulsionados a partir de motivações internas com baixo
poder coercivo (Christensen & Ebrahim, 2006). A tendência atual para uma prestação de contas ascendente pode ser
problemática, uma vez que desvia a atenção organizacional para os interesses daqueles que controlam os recursos,
em detrimento da própria missão organizacional ou das pessoas e comunidades alvo da sua ação. Os financiadores e
reguladores têm o poder de punir, podem retirar fundos e impor condicionantes à intervenção. A ênfase neste tipo de
prestação de contas tende a recompensar as respostas rápidas e resultados tangíveis da atuação das OES, enquanto
negligencia abordagens estratégicas de longo prazo ou tentativas de inovação que se dirigem a problemas sociais
sistémicos e mudanças políticas (Ebrahim, 2010). Alguns críticos alertam para a questão de que uma prestação de contas
unicamente centrada no reporte de resultados quantitativos, em detrimento de informação narrativa sobre os processos,
pode prejudicar o trabalho das OES comprometidas com a construção de relações de autonomização e cujos esforços
podem levar tempo para “dar frutos” (Benjamin, 2008; Lindenberg & Bryant, 2001, in Ebrahim, 2010).
PRESTAR CONTAS
Como?
Na revisão bibliográfica realizada, no âmbito do Projeto, encontramos diversas respostas à pergunta “Como prestar
contas?”, bastante convergentes com a perspetiva de Ebrahim (2003a), que sugere uma prestação de contas integrada,
englobando múltiplos atores, compreendendo mecanismos distintos, que se podem traduzir em ferramentas, processos
ou numa combinação dos dois.
A este respeito, o autor identifica cinco categorias de mecanismos de prestação de contas usados pelas OES e distingue
cada mecanismo enquanto “ferramenta” e/ou “processo”
As ferramentas referem-se a técnicas usadas para prestar contas, são aplicadas durante um período de tempo
limitado, podem ser documentadas fisicamente e podem ser repetidas, enquanto que os processos são mais
amplos e multifacetados, menos tangíveis e fechados no tempo. Enfatizam mais o caminho da ação e menos o
resultado final, sendo que os meios se consideram importantes por si só.
Como reportar?
Representações das OES inquiridas sobre o que significa uma prestação de
contas transparente
95,7% (67) das OES inquiridas respondeu que a forma de prestar de contas é relevante para que seja
transparente. Assim, 53,7% (36) considera que a organização deve informar, tendendo para uma atitude
proativa nos moldes da prestação de contas. No entanto, 17,9% (12 ex aequo) das OES respondeu que o
reporte para uma prestação de contas transparente deve ser através da disponibilização e apresentação
de informação, o que indicia uma perspetiva mais passiva. Importa, ainda, assinalar que 4,5% (3) das OES
inquiridas associou uma prestação de contas transparente à participação, aventando, por conseguinte,
uma perspetiva ativa e bidirecional.
Capítulo II
Entre as janelas da Prestação de Contas e da Transparência 25
Categorias de mecanismos de prestação de contas, segundo Ebrahim (2003a):
[Ferramenta]
Relatórios
São as «ferramentas» de prestação de contas mais comuns e são usualmente exigidos por órgãos
de regulação públicos, a quem se reportam informações detalhadas sobre as contas e atividades
realizadas. Adicionalmente, os financiadores exigem relatórios relacionados com os projetos que
apoiam financeiramente. Trata-se de ferramentas importantes de prestação de
contas, no entanto, priorizam sobretudo a prestação de contas ascendente, por vezes incidindo
em exclusivo no relato sobre a execução financeira e outros indicadores, não traduzindo em
profundidade o trabalho efetuado pelas organizações.
[Ferramenta]
Avaliações
Também bastante utilizadas como «ferramentas» facilitadoras de prestação de contas, as avaliações
focam-se comummente no desempenho e na análise de resultados, podendo realizar-se em diversas
fases de um projeto e assumindo um enfoque externo ou interno. Se envolvidos os públicos-alvo
ou destinatários nas avaliações, o potencial da prestação de contas descendente é potencialmente
significativo.
As avaliações externas são, em geral, efetuadas por financiadores a meio ou, mais frequentemente,
na fase final dos projetos. Focam-se normalmente nas atividades e resultados imediatos e são
determinantes para futuros financiamentos, pelo que enfatizam a prestação de contas ascendente. Nas
avaliações internas, os recursos humanos envolvem-se no seu progresso, seja em redor dos objetivos
dos financiadores, seja em torno da melhoria contínua e dos seus próprios objetivos internos.
Quando a avaliação interna decorre num clima de confiança e diálogo aberto, em que a assunção do
“erro” é permitida, a prestação de contas lateral pode ganhar predominância, dando-se espaço para uma
aprendizagem organizacional.
[Processo]
Participação
É um mecanismo de prestação de contas bastante diferente dos dois anteriores. De facto, a
participação além de ser assumida como um «processo», é um princípio basilar na intervenção social, de
caráter consensual, subjacente genericamente a práticas diárias das OES e que prioriza a prestação de
contas descendente. O problema coloca-se, quando se reduz a participação a um mero ritual entre os
públicos-alvo ou destinatários e interventores das organizações, em que o exercício de “voz” se torna
meramente simbólico e se negligencia a capacidade transformadora que a participação contém de
reequilibrar as relações de poder.
Considerando que um financiador dominante, como o Estado, detém um poder de influência elevado
sobre uma OES, também as assimetrias de poder entre as OES e as pessoas e comunidades-alvo da sua
ação deve ser encarada. Com efeito, a desigualdade de poder entre estes dois atores pode conduzir
a resistências por parte destes últimos em interpelar ou criticar práticas dos primeiros. A literatura e
o senso comum narram múltiplos casos em que, embora muitas organizações e projetos se nomeiem
como “espaços de participação”, as dificuldades de concretização de objetivos podem revelar que
não atenderam às necessidades, forças e potencialidades dos atores com quem trabalham. Posto
isto, reuniões, assembleias plenárias ou contextos informais de diálogo, desde que estruturados,
combinados com ferramentas adequadas de “escuta” e de envolvimento efetivo, asseguram uma
prestação de contas participada. Ferramentas – como as avaliações – podem ser articuladas com
processos de participação, como abordagem para reunir feedback e influenciar tomadas de decisão,
recorrendo a modalidades em que também a ação dos financiadores e das OES sejam analisadas
pelas comunidades.
O processo de desenvolvimento destes mecanismos promove a possibilidade das OES dialogarem entre
si, conhecerem-se melhor e construírem uma identidade comum. A ideia subjacente aos mecanismos
de autorregulação é que o próprio setor da Economia Social deve estar ativamente empenhado na
promoção de um conjunto de valores e normas como parte da manutenção de uma credibilidade
pública de bom desempenho e elevados comportamentos éticos. A partilha de práticas, a cooperação
e a aprendizagem mútua visam o reforço do setor e, simultaneamente, procuram demonstrar que este
compreende e cumpre com as suas responsabilidades.
[Ferramenta e Processo]
Auditoria Social
A auditoria social é simultaneamente um «processo» e uma «ferramenta» que pretende diagnosticar,
analisar, reforçar o desempenho e o comportamento ético das organizações e reportar resultados,
particularmente, através do diálogo com as diferentes partes interessadas. Uma das suas maiores
virtudes é o envolvimento das pessoas, das comunidades destinatárias e dos financiadores no
desenvolvimento dos objetivos e valores organizacionais, mas também na construção de indicadores
de desempenho ajustados à complexidade do contexto onde operam as OES, sejam estes indicadores
relativos a resultados de curto prazo ou de longo prazo. Pode, ainda, servir como oportunidade para o
planeamento estratégico e para a aprendizagem organizacional.
Uma vez que as auditorias sociais mobilizam vários dos mecanismos referidos anteriormente, alcançam
uma profundidade de análise e contêm um potencial de mudança não menosprezíveis e, ao serem
realizadas por uma entidade externa, promovem a credibilidade das organizações ao comunicarem
informações isentas e fundamentadas. A auditoria social pode equilibrar e melhorar a prestação de
contas ascendente e descendente, contudo, as partes interessadas têm de ser sistematicamente
incluídas no diálogo, no desenvolvimento de indicadores e na avaliação de desempenho.
Não obstante estas virtudes, não é um mecanismo sobejamente conhecido e utilizado no contexto
português, sobretudo, por exigir um investimento financeiro considerável.
Capítulo II
Entre as Janelas da Prestação de Contas e da Transparência 27
DIALOGANDO
entre obstáculos e potencialidades de uma
Prestação de Contas transparente
A visão atual sobre a prestação de contas pretende potenciar uma reflexão construtiva e a promoção de práticas mais
inclusivas e transformadoras, alinhadas com as aspirações e objetivos das OES. Os argumentos procuram distanciar-
se de perspetivas burocráticas e sancionatórias, mas as prioridades e os mecanismos ainda não estão suficientemente
incorporados. É preciso percorrer algum caminho para que a prestação de contas ultrapasse algumas barreiras e
condicionalismos vigentes. Assim, introduzimos, ainda neste capítulo, alguns obstáculos que gravitam no campo
das OES.
Limitações a uma Prestação de Contas Transparente
Representações das OES inquiridas sobre o que significa uma prestação de contas
transparente
No inquérito por questionário aplicado, apuramos uma distribuição diversa, com algumas combinatórias de limitações
que, na perspetiva e na prática das OES portuguesas respondentes, se colocam a uma prestação de contas transparente:
- 20,0% (14) das 70 OES inquiridas mencionaram exclusivamente questões relacionadas com a gestão ou contabilidade,
em concreto a normalização contabilística, ajustada às OES, as exigências burocráticas, os custos com serviços
contabilísticos, as ferramentas e os mecanismos de recolha, monitorização e verificação da informação;
- 11,4% (8) das entidades respondentes referiu, exclusivamente, a comunicação com as Partes Interessadas (linguagem
contabilística pouco explícita, apresentação excessivamente técnica de certas matérias e sem transposição para modelos
de compreensão facilitada e ausência de divulgação, em tempo oportuno, de informação diversa);
- 8,6% (6) indicou a falta de recursos (humanos, formação e ferramentas);
- 7,1% (5) mencionou os Órgãos Sociais (falta de interesse e fraca participação dos associados na vida da organização,
incipiente formação sobre as estruturas e compreensão de normas contabilísticas);
- 5,7% (4) apontou a exposição a riscos reputacionais;
- 4,3% (3) salientou a privacidade da informação, nomeadamente relacionada com os doadores;
Acresce que 12,9% (9) das OES responderam não haver nenhuma limitação a uma prestação de contas transparente.
Sendo assim, como é que uma organização pode garantir uma prestação de
contas lateral ou descendente? Christensen e Ebrahim (2006) sugerem, a partir
Capítulo II
Entre as Janelas da Prestação de Contas e da Transparência 29
do trabalho empírico realizado com uma OES internacional, três fatores para
gerir estas tensões:
Mas, os desafios não se colocam apenas às OES. Para que se possa criar uma cultura de prestação de contas construída
a partir do propósito e valores da organização, e não do escrutínio externo, órgãos de regulação e financiadores
têm de ser necessariamente parte ativa da mudança. Terá de se construir uma perspetiva mais integrada para que se
ultrapassem as relações tradicionais ancoradas na autoridade e no controlo e para que seja possível edificar uma visão
partilhada entre as partes interessadas. A visão pressupõe que todas as partes tenham possibilidade de argumentar no
desenvolvimento dos objetivos esperados, padrões de medida e regimes de monitorização e avaliação e que a negociação
possa minimizar os conflitos de interesses. Alicerça-se na criação de uma prestação de contas transparente, que vincula
as partes interessadas através de valores e aspirações partilhados, em que as relações associadas à responsabilidade
e responsabilização requerem que se desenvolva uma compreensão efetiva, respeito, confiança e algum grau de
reciprocidade (Ebrahim, 2003). Pressupõe uma mudança na concetualização da prestação de contas, que transite de um
recurso a mecanismos maioritariamente formais para uma relação de interação e diálogo contínuos entre financiadores
e OES (Tweedie, 2016). Convocar este encontro, debater e estabelecer compromissos, parece ser a via para lidar com
as diferenças de perspetivas, possibilitando o reequilíbrio das relações e conferindo relevância à prestação de contas
lateral e descendente. Aliás, aumentar o peso desta última é essencial. Pessoas e comunidades são determinantes para
uma nova etapa da prestação de contas, o que pressupõe que as OES tenham capacidade criativa na mobilização,
envolvimento e mais engenho na recolha de feedback de qualidade. O paradigma já está em mudança.
Uma última nota relativa à prestação de contas horizontal, onde o mecanismo de autorregulação proposto neste manual
se encerra. A prestação de contas entre pares não é isenta de desafios, sobretudo num setor onde a diversidade – forma
jurídica, idade, dimensão, etc. – é vasta. É, contudo, uma oportunidade para o reforço das capacidades endógenas de cada
organização, em que se identificam forças e debilidades e se podem estabelecer medidas de melhoria. A transparência e
a prestação de contas contêm em si o potencial de serem um meio efetivo das OES “fortalecerem a sua imagem pública
enquanto agentes que servem a sociedade” (Christensen & Mohr, 2003; Taylor & Warburton, 2003, in Cabedo et al., 2018,
p.331) e, desse modo, aumentarem a confiança das partes interessadas e conferirem ao setor uma “voz” mais límpida e
articulada entre outros atores com elevado poder de influência na ação organizacional.
Neste sentido, as OES podem monitorizar e avaliar a sua governação, estratégia, eficiência e desempenho, em função
da sua missão e numa lógica de aprendizagem organizacional. A adesão e o compromisso com mecanismos de prestação
de contas horizontal partilhados pelo setor ou subsetores, temáticos ou territoriais, contém em si a virtuosidade de
responder voluntariamente às partes interessadas, internas e externas, o que são e o que alcançam, aumentando assim a
sua legitimidade e tornando-se accountables, ou responsabilizáveis (Cabedo et al., 2018), em prol de uma transformação
social. Abraçamos o desafio?
Capítulo II
Entre as Janelas da Prestação de Contas e da Transparência 31
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Capítulo II
Entre as Janelas da Prestação de Contas e da Transparência 33
03
DA UTOPIA
IMAGINADA
À HORTA
PLANTADA:
Um
Mecanismo de Prestação de
Contas transparente construído
em comunidade
Ventana sobre la utopía
Na organicidade do nosso caminho pela Utopia, enquanto processo de interpelação e de aprendizagem contínuo e
conjunto, definimos motes orientadores e geradores de reflexão, debate e cocriação, que plasmamos na estrutura do
presente capítulo:
1
[Fase 1]
Preparação da Terra – Entre a
contextualização, as motivações e os objetivos
2
[Fase 2]
É tempo de semear! A escolha das
Sementes e os desafios da Germinação
3
[Fase 3]
A Colheita e
a Celebração
4
[Fase 4]
Caracóis e Lesmas – Desafios à
manutenção de uma Horta Saudável
Capítulo III
Da Utopia imaginada à Horta plantada 37
Em que medida estas organizações operacionalizam, no seu quotidiano,
uma prestação de contas assumida enquanto prática de aprendizagem
organizacional?
Não obstante a classificação apurada acima relativamente a um número significativo das OES
analisadas, importa também referir que 30,0% (21 do total de 70) das OES que classificou a sua
prática de prestação de contas como «Totalmente transparente» aplica exclusivamente Disclosure
Statements e Relatórios.
3
Permitir a identificação de dimensões organizacionais e gestionárias
que, à luz dos pressupostos deste Mecanismo, podem ser
exploradas e melhoradas pelas OES, numa lógica de aprendizagem
organizacional, através de um relatório de recomendações.
1
Aflorar as características fundamentais de um Mecanismo de
Prestação de Contas que pudesse ser utilizado de forma transversal
no setor da Economia Social em Portugal.
2
Desenhar passos para um possível caminho na coconstrução de um
Mecanismo que permitisse aliar linguagens (de natureza qualitativa e
quantitativa), tornando palpável o valor social gerado pelas OES.
3
Selecionar as dimensões que sustentam o Mecanismo, de forma a
alimentar as práticas e os processos de aprendizagem das OES em
torno de uma prestação de contas transparente.
Capítulo III
Da Utopia imaginada à Horta plantada 41
Partindo do benchmark das ferramentas de Transparência e Accountability/Prestação de Contas mobilizadas no âmbito
do Projeto, reagrupamos e renomeamos um conjunto de dimensões de análise — que designamos de sementes, à luz da
metáfora da Horta — enformadoras do Mecanismo em construção. Assim, num exercício preliminar, identificamos seis
dimensões-sementes: (1) Questões Identitárias, (2) Governança, (3) Planeamento Estratégico, (4) Gestão Financeira,
(5) Gestão de Pessoas e (6) Aprendizagem Organizacional. Como princípios transversais, isto é, princípios que
funcionam como eixos unificadores e transversais às várias dimensões de análise, propusemos: a Transparência, o Bom
Governo, a Igualdade de Género e o Ambiente.
Nos tempos e lugares de encontro com o Comité de Transparência, refletimos e debatemos criticamente as dimensões e
os princípios propostos, a sua pertinência e o seu alcance, e consideramos que:
• A semente «Questões Identitárias (1)», em que se aninha a questão ‘Quem somos?’, deveria
focar-se nos valores que orientam as OES e em como estes se operacionalizam na ação
organizacional. Por outras palavras, deveria poder refletir a conciliação entre os valores da
organização e a resposta às necessidades das comunidades com quem trabalham. Neste
sentido, embora a missão e o modo como a queremos servir seja uma questão identitária, o
envolvimento e o reporte aos públicos-alvo ou destinatários não caberiam nesta dimensão.
• A «Governança (2)» é uma dimensão que, muitas vezes, reflete um dos maiores
condicionalismos no setor da Economia Social, dada a frequente ausência de renovação de
poder, suportada por um processo democrático que pode conduzir a um sentido de posse de
uma OES por uma pessoa ou um conjunto de pessoas. Assim, percebemos ser fundamental
ter em conta não só a forma como tomamos decisões, mas também como elegemos quem
toma decisões.
Neste sentido, a cocriação da Horta englobou uma preocupação contínua com a gestão de expectativas de todos
os atores, dada a imprevisibilidade do caminho e os seus desafios, tais como as dúvidas concetuais, as inquietações
operacionais, os posicionamentos convergentes e divergentes sobre a utilidade e as potencialidades do Mecanismo no
setor da Economia Social em Portugal e, ainda, os limites técnicos da própria ferramenta informática. E se foi possível
acolher alguns destes desafios no Mecanismo-piloto construído, outros, de natureza mais complexa, assumiram-se como
oportunidades de exploração futura, numa lógica de aprofundamento e/ou complementaridade, após um processo inicial
de experimentação e correspondente aprendizagem.
Com base nas premissas de que este Manual convive com processos em aberto, que não se esgotam no horizonte
temporal do Projeto, e que procura interpelar a uma ação consciente, coerente e conjunta das OES portuguesas em torno
da temática da Prestação de Contas transparente, reforçamos a importância de, num modelo futuro, (re)pensarmos:
1
O desenvolvimento de um Mecanismo sensível às particularidades de cada
forma jurídica do setor da Economia Social em Portugal. Reconhecendo as
particularidades organizacionais das diversas famílias jurídicas do setor da
Economia Social e os respetivos desafios gestionários quotidianos (e.g. a
indisponibilidade de recursos) e se pretendemos assegurar a transversalidade
do Mecanismo ao setor, um possível caminho consiste em diferenciar o grau de
exigência do reporte de acordo com dois critérios: a dimensão da organização
em termos do número de recursos humanos e do volume da sua atividade
(quantidade de atividades desenvolvidas). Outra possibilidade seria, também,
integrar indicadores específicos, tendo em conta os critérios acima definidos.
Essa diferenciação implica, porém, um conhecimento mais profundo das
características de cada tipo de organização, decorrente de um debate mais
aprofundado e da promoção de processos de aproximação.
2
A aplicação de um Mecanismo não só enquanto ferramenta de aprendizagem
organizacional, mas também como processo de verificação externa. Com
efeito, no que diz respeito à utilidade e à potencialidade do Mecanismo
debatemos se deveria ser encarado, exclusivamente, como uma ferramenta
de autodiagnóstico organizacional ou se poderia, também, ser externamente
auditável e certificável, sem se tornar demasiado burocrático.
Capítulo III
Da Utopia imaginada à Horta plantada 43
Entre lugares e tempos de paragem para questionar, debater e desenhar
caminhos, conscientes dos desafios encontrados e problematizados,
esboçamos um Mecanismo, de caráter exploratório, alicerçado num corpo
comum de dimensões e indicadores, direcionado a todas as OES portuguesas,
com o intuito de possibilitar um autodiagnóstico organizacional. De igual
modo, definimos:
Após a ‘preparação da terra’ (Fase 1), foi ‘tempo de semear’ (Fase 2). E neste
tempo, de caminhar para a Utopia, escolhemos as sementes (as dimensões
de análise) a lançar e acolhemos os desafios da germinação, num processo
comprometido com os lugares da participação, da experimentação, do cuidado e
da aprendizagem. Esta fase englobou, portanto, o esboço de um Mecanismo de
Prestação de Contas transparente — uma Horta construída em comunidade,
interpeladora de mudanças organizacionais e com um horizonte de
possibilidades de exploração futura.
3 [FASE 3]
A Colheita e a Celebração
Chegou o tempo da ‘colheita’! Queremos agora desafiar-vos a olhar para
a Horta. Por isso, na Fase 3 deste capítulo dedicamo-nos a apresentar o
Mecanismo cocriado, a sua estrutura e o seu processo — passo a passo —
de preenchimento. Trata-se, também, de um convite para continuarmos,
convosco, a alimentar este caminho de problematização, de construção e de SE CHEGOU AGORA, PARTILHAMOS
aprendizagem em torno de uma prestação de contas transparente no setor da UM BREVE ENQUADRAMENTO
Economia Social em Portugal.
Resultando de um exercício constante
O Mecanismo de Prestação de Contas proposto assume a forma de um de problematização e debate crítico
questionário de autodiagnóstico, de utilização ampla e replicável, alicerçado sobre Transparência e Accountability
num conjunto de dimensões de análise e indicadores objetivos, procurando (ou Prestação de Contas no
contribuir para que o princípio da Transparência seja, gradualmente, vertido sentido mais amplo da expressão),
nas práticas quotidianas de prestação de contas das OES portuguesas. o Mecanismo tem por base uma
De forma a não entorpecer o desempenho da organização, não obstante extensa revisão bibliográfica, um
a sua dimensão em termos do número de recursos humanos e do volume benchmark de ferramentas de
da sua atividade, é um Mecanismo de preenchimento simples, online e, Transparência e de Prestação de
preferencialmente, coletivo, potenciando a autorreflexão não apenas de Contas de diferentes geografias
dirigentes, mas de diferentes pessoas que integram a OES respondente. territoriais e de conhecimento e
as aprendizagens retiradas das
Em termos de estrutura, o Mecanismo sustenta-se em seis princípios
sessões de trabalho com o Comité de
transversais — (1) a Transparência, (2) a Boa Governação, (3) a Igualdade de Transparência do Projeto, composto
Género, (4) a Sustentabilidade Social, (5) a Sustentabilidade Ambiental e (6) a por doze membros com saberes
Sustentabilidade Financeira –, assumidos como eixos unificadores e em torno e experiências variadas em torno
dos quais se organizam as seis dimensões de análise definidas no Projeto, como do setor da Economia Social em
enformadoras do conceito de Prestação de Contas: I. Questões Identitárias, Portugal. Reveste, ainda, um caráter
II. Governança, III. Planeamento Estratégico e Resultados, IV. Gestão exploratório e assume a inexistência
Financeira, V. Gestão de Pessoas e VI. Aprendizagem Organizacional. Cada de determinada ferramenta,
dimensão é, por sua vez, composta por uma breve nota de contextualização e processo ou procedimento como
por quatro a seis indicadores que se materializam em perguntas, cada uma com uma oportunidade de aprendizagem
quatro opções de resposta, conforme ilustrado abaixo. organizacional, instigadora de
práticas organizacionais melhoradas.
6 Princípios Transversais 6 Dimensões O Mecanismo procura, assim, romper
1 Transparência I Questões Identitárias
2 Boa Governaça II Governança com a abordagem de natureza
3 Igualdade de Género III Planeamento Estratégico e Resultados punitiva que, genericamente, envolve
4 Sustentabilidade Social IV Gestão Financeira e se associa à Prestação de Contas e
5 Sustentabilidade Ambiental V Gestão de Pessoas
6 Sustentabilidade Financeira VI Aprendizagem Organizacional pretende ser útil às diversas famílias
jurídicas do setor da Economia Social
4/5 Indicadores 4/5 Perguntas 4 Opções de Resposta em Portugal e capaz de horizontalizar
por dimensão por dimensão por pergunta responsabilidades.
3 Tipos de
Recomendações
1 por opção de resposta
1 por princípio transversal
1 geral Relatório Final
Capítulo III
Da Utopia imaginada à Horta plantada 45
PRINCÍPIOS
Transversais
[2]
Boa Governação
Sem definição universal ou consensual, o
conceito de Boa Governação tem vindo
a afirmar-se, cada vez mais, enquanto
fator de legitimação e perenidade das [3]
OES. Compreendendo a descentralização Igualdade de Género
e a participação no processo de tomada
A equipa do Projeto está ciente do debate concetual em volta
de decisões, é um conceito assente em
da não-binariedade de género desenvolvido no âmbito da
diferentes princípios cuja implementação
academia desde há várias décadas: da instrumentalização
importa garantir. São exemplo: o
do conceito de «sexo» enquanto regulador social com um fim
planeamento estratégico, a legitimidade,
político, que faz com que as categorias «homens» e «mulheres»
a monitorização e a avaliação, as fontes
não sejam factos naturais; da dissociação entre «sexo» e
de financiamento e a gestão adequada da
«género» e que, por isso, “pode proliferar para lá dos limites
instituição (Shava & Thakhathi, 2016, p.219).
binários impostos pelo binário aparente do sexo” (Butler,
2017, p.231) e do poder da linguagem de agir sobre o real,
enraizando práticas pela repetição até se institucionalizarem,
nomeadamente criando uma estrutura assimétrica que torna
o sujeito masculino universal (Foucault, 1980; Wittig, 1981, in
Butler, 2017; Butler, 2017).
Porém, como refere hooks (2000), o pensamento feminista
revolucionário foi acima de tudo aceite e adotado em círculos
académicos, mas essa teoria não foi adotada pelo público em
geral. Assim, a sua não consideração no âmbito deste Projeto
deveu-se, por um lado, à assunção de que este debate ainda
não está disseminado e apropriado pelas OES a que este
Mecanismo se destina e, por outro, à preservação do princípio
da igualdade e da não discriminação em razão do sexo, entre
homens e mulheres, definido pela Constituição da República
Portuguesa de 1976, que alicerça o regime jurídico nacional.
46 Da Utopia imaginada à Horta plantada
Capítulo III
O presente Mecanismo adota uma definição de Igualdade de Género alinhada com a Estratégia Nacional para
a Igualdade e a Não Discriminação 2018-2030 Portugal + Igual (ENIND), que pressupõe que a prossecução da
Igualdade entre Homens e Mulheres (IHM) se baseia na eliminação de estereótipos de género, que são quer o
resultado quer a causa de discriminações diretas e indiretas em razão do sexo, que se manifestam ao nível de
desigualdades. Em particular, neste Mecanismo, são abordadas desigualdades na participação e estatuto no mercado
de trabalho, nos rendimentos, nos processos de tomada de decisão, na participação cívica, nas opções profissionais,
no exercício de responsabilidade familiares e do cuidado. Estes estereótipos, por sua vez, “constituem ideias
preconcebidas e generalizadas sobre os atributos e características que devem ou não ser possuídos por mulheres
e por homens, sobre os comportamentos considerados socialmente adequados e sobre os papéis que mulheres e
homens devem desempenhar em função do seu sexo”. Esta conceção integra a assunção de que a discriminação
resulta da interseção de múltiplos fatores/natureza multidimensional, ou seja, o “cruzamento do sexo com outros
fatores de discriminação, entre os quais, a idade, a origem racial e étnica, a deficiência, a nacionalidade, a orientação
sexual, a identidade e expressão de género e as características sexuais”.
Sustentabilidade
Sendo um conceito holístico e sistémico, a sustentabilidade engloba três dimensões indissociáveis
para um futuro comum próspero: ambiental, económica e social, e que se encontram refletidas
na Agenda 2030. Definida em 2015, esta é uma agenda alargada que contempla 17 Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável, abordando estas várias dimensões do desenvolvimento sustentável
e promovendo a paz, a justiça e instituições eficazes. O presente Mecanismo propõe, numa
perspetiva organizacional, a coexistência destas três dimensões, aqui identificadas como princípios
transversais: sustentabilidade social, sustentabilidade ambiental e sustentabilidade financeira.
[4]
Sustentabilidade Social [6]
[5]
Sustentabilidade Ambiental
Pode ser definida como a dimensão onde cabem ações
em prol da proteção do meio ambiente. Neste âmbito, na
Agenda 2030, são contemplados os esforços em torno
da proteção das florestas e da biodiversidade, do uso
sustentável dos recursos ambientais e da criação de
planos de ação que permitam combater a crise climática.
Importa referir que os últimos quatro princípios transversais se encontram materializados em diferentes momentos do
Mecanismo, através de um símbolo específico.
De seguida, apresentamos as seis dimensões de análise que alicerçam o Mecanismo, bem como o número e o título dos
indicadores correspondentes.
Capítulo III
Da Utopia imaginada à Horta plantada 47
Dimensões e Indicadores do Mecanismo
Questões Identitárias
Governança
III
A terceira dimensão do Mecanismo prende-se com a importância da Atividades;
4
coerência entre a Missão, Visão e Valores de uma organização e os Cumprimento da
seus objetivos, atividades e resultados a curto, médio e longo prazo. Missão; Impacto
Sendo a eficiência um fator decisivo para aumentar a legitimidade Social.
e o valor de uma organização, assim como para captar recursos
e alavancar o cumprimento da Missão, é fundamental garantir o
planeamento, monitorização e avaliação de todas as atividades,
projetos e programas, assim como do seu impacto social.
Gestão Financeira
Orçamento
— Como gerimos os recursos financeiros de forma estratégica, Anual; Reporte
garantindo a sustentabilidade financeira da organização? Financeiro; Fontes
de Financiamento;
IV Assumindo que é importante manter a autonomização do reporte
financeiro, a Gestão Financeira surge como uma dimensão
5 Angariação
de Fundos;
operacional em que se materializa a Prestação de Contas para as Relação com
Finanças e todas as questões inerentes à mesma, desde a divulgação Doadores e
de transações financeiras à utilização e supervisão de fundos por Financiadores.
parte das OES.
Uma vez preenchido o Mecanismo e submetidas as respostas, a organização respondente terá automaticamente acesso
a um relatório final onde constarão três tipos de recomendações: uma recomendação geral, uma recomendação por
princípio transversal e uma recomendação por cada um dos indicadores que compõem o Mecanismo. Este relatório será
visível na plataforma, sendo também enviado para o e-mail fornecido pela pessoa respondente.
Capítulo III
Da Utopia imaginada à Horta plantada 49
“PASSO A
PASSO”
Tutorial de preenchimento do Mecanismo
Vamos começar?
1. As OES interessadas deverão aceder à plataforma Qualtrics
(https://bit.ly/mecanismoUCP), tendo em conta que o
preenchimento tem uma duração aproximada de 30 minutos e que
é possível interromper o processo de resposta e regressar mais
tarde, no período de uma semana, utilizando o mesmo computador
e browser.
4. Uma vez preenchidos todos os campos obrigatórios, poderão Como preencher o inquérito
avançar na seta no canto inferior direito, encontrando-se, então, na de forma participativa e
página da primeira dimensão (I. Questões Identitárias). descentralizada?
Para cada questão, a organização deverá selecionar apenas uma Uma ideia sugerida pelo Comité
das 4 opções de resposta apresentadas, sendo que todos os pontos de Transparência passa por
são de preenchimento obrigatório e só conseguirá avançar para a organizar atividades em torno do
dimensão seguinte, quando todos estiverem preenchidos. Note-se, preenchimento do Mecanismo.
porém, que, caso a(s) pessoa(s) respondente(s) queira(m) regressar Uma vez que o Mecanismo irá gerar
à página anterior, poderão fazê-lo a qualquer momento, tendo automaticamente um relatório, as
OES poderão preenchê-lo como parte
apenas de clicar na seta no canto inferior esquerdo. Para avançar,
de um exercício de teambuilding.
basta ir clicando na seta no canto inferior direito.
encaradas como uma oportunidade de aprendizagem organizacional, instigadora de práticas gestionárias melhoradas.
Como temos vindo a referir, o Mecanismo é um caminho que exige um compromisso com a aprendizagem
organizacional, pelo que as organizações que decidam aceitar o desafio de realizar o autodiagnóstico proposto podem,
a partir das recomendações presentes no Relatório, elaborar, de forma participativa, planos de ação sensíveis às suas
especificidades e idiossincrasias e alavancar, através da autorreflexão crítica e da construção conjunta, práticas de
prestação de contas mais transparentes.
No próximo capítulo, propomos um conjunto de atividades de cariz pedagógico, organizadas pelas seis dimensões do
Mecanismo, como suporte a um processo de aprendizagem organizacional.
A Fase 3 do nosso caminho abarca, assim, a apresentação da forma e dos conteúdos que habitam o Mecanismo, que
seguramente alimentarão desafios futuros em torno de uma maior compreensão das dinâmicas gestionárias das OES em
Portugal. Esta fase engloba, assim, a ‘colheita’ da nossa Horta, a partir da Utopia imaginada e desenhada em conjunto,
assente no encontro, no compromisso, na partilha e na escuta ativa, no diálogo crítico e cuidado, na revisitação de
questões e inquietações, na interpelação e na aprendizagem.
Capítulo III
Da Utopia imaginada à Horta plantada 51
4
[FASE 4]
Caracóis e Lesmas – Desafios à
manutenção de uma Horta saudável
Ao longo deste capítulo, contamos a história do Mecanismo — uma Horta coconstruída ao longo de dois anos — motivada
pela necessidade das OES (re)avaliarem e (re)pensarem lógicas de funcionamento e práticas gestionárias orientadas
para uma maior transparência, garante de legitimidade e de credibilidade organizacional. Acreditamos que esta Horta
está cheia de vida e que reflete a riqueza da partilha e do diálogo entre os olhares, saberes e vivências individuais
e do acolhimento de representações, significados e práticas plurais, sob uma lógica de construção colaborativa de
conhecimento coletivo e de aprendizagem conjunta.
Auger, G. A. (2014). Trust Me, Trust Me Not: An Experimental Analysis of the Effect of
Transparency on Organizations. Journal of Public Relations Research, 26(4), 325-343. doi:
10.1080/1062726X.2014.908722.
Ebrahim, A. (2005). Accountability Myopia: Losing Sight of Organizational Learning. Nonprofit and
Voluntary Sector Quarterly, 34(1), 56-87. doi: 10.1177/0899764004269430.
Ebrahim, A. (2003). Accountability in Practice: Mechanisms for NGOs. World Development, 31(5),
813–829. doi:10.1016/S0305-750X(03)00014-7.
Resolução do Conselho de Ministros n.º 61/2018 de 21 de maio. Estratégia Nacional para a Igualdade
e a Não Discriminação 2018-2030 “Portugal + Igual” (ENIND). Diário da República n.ª 97, 1.ª série—
Presidência do Conselho de Ministros. Lisboa.
Vanclay, F. (2003). International Principles For Social Impact Assessment. Impact Assessment and
Project Appraisal, 21(1), 5-12, doi: 10.3152/147154603781766491
Capítulo III
Da Utopia imaginada à Horta plantada 53
04
CELEBRANDO
O PERCURSO:
Atividades práticas
e recursos
Parabéns, estamos quase a chegar ao fim do nosso roteiro pelo mundo da Prestação de Contas e da
Transparência no setor da Economia Social em Portugal! Como vos dissemos no início desta jornada,
é nosso desejo — e esperamos que neste ponto, vosso também — que as premissas da (des)construção
das temáticas em questão, do diálogo crítico entre saberes e práticas e da interpelação para uma
ação pertinente, coerente e consciente não se encerrem neste Manual, e que se possam materializar
num processo de aprendizagem organizacional efetivo, contínuo e em coletivo, em prol de práticas
organizacionais melhoradas.
Neste capítulo, e com o propósito de promover uma tomada de consciência crítica, com potencial
para uma ação consciente, responsável e coerente das OES, em torno das temáticas da Prestação de
Contas e da Transparência, no seguimento das recomendações propostas a partir do preenchimento
do Mecanismo, elaboramos uma conjunto de atividades, de cariz pedagógico, sob o mote — Olhar para
as vossas organizações pelas ‘janelas’ de uma Prestação de Contas transparente —, e que vos desafia a
participarem no vosso próprio processo de aprendizagem.
Este capítulo é, por isso, uma interpelação para a ação no seio das vossas organizações, com os
seguintes objetivos:
• Problematizar conceitos e práticas de Prestação de Contas, sob o enfoque da temática da
Transparência, a partir dos saberes e das vivências quotidianas das OES, para uma análise e
compreensão crítica, das pessoas participantes, sobre a realidade organizacional;
• Instigar uma apropriação conjunta dos desafios gestionários das vossas organizações em torno das
temáticas da Prestação de Contas e da Transparência, em estreita articulação com o Mecanismo de
Prestação de Contas transparente;
Assim, e a partir de uma abordagem pedagógica da Educação Não Formal, esta proposta de
atividades possibilita a partilha e o confronto entre perspetivas, conhecimentos, comportamentos
e posicionamentos, pretendendo que seja instigadora quer de tempos para experimentar, atribuir
significados e (re)criar relação entre a singularidade e a diversidade, em contexto organizacional, quer
de espaços de participação democrática e plural.
1 [Atividade 1]
Chão comum
Dimensão (indicadores relacionados):
Princípio Transversal — Transparência
Princípio Transversal — Boa Governação
Descrição:
A Transparência e a Boa Governação são princípios exigidos às OES no seu quotidiano organizacional,
mas são de difícil materialização. Com esta atividade procuramos promover o reconhecimento e o
diálogo entre as diferentes perceções das pessoas participantes sobre a temática de Prestação de
Contas transparente, a partir da partilha de práticas organizacionais, de uma reflexão crítica e do
debate sobre os respetivos desafios, visando a criação quer de um “chão comum” sobre os conceitos
— tendo em conta a sua diversidade de significados e ambiguidade operacional —, quer de um
contexto de confiança e de transparência organizacionais.
Palavras-chave: prestação de contas; transparência; legitimidade; desempenho; responsabilidade;
missão.
Objetivos de Aprendizagem
• Problematizar os conceitos de Prestação de Contas e de Transparência, a partir dos desafios
associados às ferramentas e/ou processos aplicados pela organização onde trabalham.
• Reconhecer as diferentes perceções das pessoas com quem se trabalha em torno da temática da
Prestação de Contas transparente, promovendo um contexto de abertura e de confiança para um
melhor entendimento comum, facilitador de uma aprendizagem individual e organizacional crítica e
contínua.
• Debater os constrangimentos e as potencialidades inerentes a uma prestação de contas
transparente nas OES portuguesas em geral e na organização onde trabalham, em particular.
Capítulo IV
Celebrando o Percurso: Atividades práticas e recursos 57
2 [Atividade 2]
Foco nas nuvens
Dimensão (indicadores relacionados):
Dimensão I
(I.2 — Missão, Visão e Valores)
Descrição:
Compreender quem é a organização, o que faz e com quem, como e para quê o faz, são questões
fundamentais para reorientar e legitimar a sua ação. Esta atividade é uma oportunidade para
estimular um olhar analítico e apropriado sobre a organização no presente e no futuro, bem como a
redefinição dos valores que norteiam a sua ação.
Palavras-chave: missão; visão; valores.
Objetivos de Aprendizagem
• Promover a partilha de perspetivas sobre o presente e o futuro da organização, assumindo-a como
um processo de aprendizagem organizacional, mobilizador e motivador das pessoas que integram a
organização e facilitadora de comunicação interna e externa.
• Criar uma base comum, clara e partilhada da missão e da visão da organização que facilite
processos de tomada de decisão coerentes e com maior autonomia, e consistentes com os valores
que regem a ação organizacional.
3 [Atividade 3]
Linha da Vida
Dimensão (indicadores relacionados):
Dimensão I
(I.3 — Origem e Percurso)
Descrição:
O percurso de uma organização é marcado, transversalmente, por marcos positivos, negativos e até
marcos sem a influência ou mudança esperada, mas que envolveram expectativas e a mobilização
de recursos. Por isso, lembrar, partilhar e analisar o caminho da organização, identificando e
relacionando os seus marcos, os momentos de mudança(s), os posicionamentos e as aprendizagens,
permite uma apropriação coletiva da história organizacional. Com esta atividade desafiamos à
construção conjunta da ‘Linha da Vida’/ história organizacional, a partir das memórias e das vivências
de várias pessoas que são parte da organização.
Palavras-chave: história organizacional; missão; legitimidade.
Objetivos de Aprendizagem
• Promover uma apropriação coletiva da história da organização, a partir da partilha individual e da
reflexão conjunta sobre o seu percurso e mudanças ocorridas no tempo.
• Identificar marcos relevantes (positivos, neutros e negativos) relativos à vida da organização.
• Mapear a diversidade de representações acerca dos marcos identificados, para uma análise crítica
da ação da organização.
Objetivos de Aprendizagem
• Problematizar os conceitos de participação e de poder.
• Conhecer e compreender as diferentes operacionalizações de vários níveis de participação e de
envolvimento de Partes Interessadas, de uma organização, em processos de tomada de decisão.
• Refletir criticamente sobre as práticas organizacionais em torno da participação e do envolvimento
de Partes Interessadas.
5 [Atividade 5]
Mapeando o nosso Universo
Dimensão (indicadores relacionados):
Dimensão II
(II.6 — Diálogo e Participação)
Descrição:
As organizações não estão sozinhas! Através desta atividade propomos um mapeamento coletivo
do universo de Partes Interessadas, internas e externas, da organização e reflexão conjunta sobre as
necessidades e objetivos de cada uma, bem como sobre as suas expectativas em torno da prática de
prestação de contas. A partir desta atividade, desafiamos à identificação participada dos mecanismos
de prestação de contas adequados e direcionados às especificidades de cada Parte Interessada.
Palavras-chave: envolvimento de partes interessadas; mecanismos de prestação de contas;
governança; capital social; sustentabilidade social.
Objetivos de Aprendizagem
• Promover uma reflexão crítica e conjunta sobre o papel de diversos tipos de Partes Interessadas
da organização (e.g. públicos-alvo, parceiros, recursos humanos assalariados e voluntários,
financiadores e doadores), no sentido de valorizar e incorporar o feedback das mesmas e
de operacionalizar mecanismos de prestação de contas adequados e direcionados às suas
especificidades.
• Reforçar conhecimentos e colocar em diálogo diversas perspetivas sobre a sustentabilidade social
e o capital social da organização.
Capítulo IV
Celebrando o Percurso: Atividades práticas e recursos 59
6 [Atividade 6]
Visualizando o futuro
Dimensão (indicadores relacionados):
Dimensão III
(III.1 — Planeamento Estratégico)
Descrição:
No dia a dia das OES não há muitas vezes tempo para (re)pensar a ação organizacional a longo-prazo.
Com esta atividade incentivamos a uma (des)construção crítica e coletiva das áreas estratégicas da
organização, a partir das perguntas “Onde Estamos?”, “Para onde queremos ir?” e “Como podemos lá
chegar?”.
Palavras-chave: planeamento estratégico; análise SWOT; missão.
Objetivos de Aprendizagem
• Promover uma reflexão crítica sobre a estratégia atual da organização em conjunto com suas
Partes Interessadas.
• Construir coletivamente as bases para a redefinição da estratégia da organização no seu próximo
ciclo estratégico.
7 [Atividade 7]
Painel Coletivo
Dimensão (indicadores relacionados):
Dimensão III
(III.3 — Cumprimento da Missão)
Descrição:
Na agitação do dia a dia da organização, até que ponto desenvolvemos uma ação pertinente e
coerente com a missão organizacional? Em que medida a missão da organização está refletida
no trabalho desenvolvido pela organização? A partir desta atividade convidamos a uma análise
crítica sobre o (não) cumprimento da missão organizacional, enquanto processo com potencial de
apropriação coletiva e de aprendizagem organizacional.
Palavras-chave: missão; legitimidade; aprendizagem organizacional.
Objetivos de Aprendizagem
• Problematizar a ação da organização relativamente ao cumprimento da sua missão, numa lógica de
legitimidade organizacional.
• Promover uma análise crítica sobre a missão da organização, enquanto processo com potencial de
apropriação coletiva e de aprendizagem organizacional
9 [Atividade 9]
Tertúlias a fundo
Dimensão (indicadores relacionados):
Dimensão IV
(IV.4 — Angariação de Fundos)
Descrição:
Uma das preocupações das OES reside no financiamento da sua ação. Que fundos angariar e que
estratégias operacionalizar? Através desta atividade promovemos a identificação de potenciais fontes
de financiamentos (públicos e privados) e o desenvolvimento colaborativo de um conjunto de ações e
metas, definidas num horizonte temporal, para pôr em prática uma estratégia de captação de fundos.
Palavras-chave: captação de fundos; sustentabilidade financeira; financiamento.
Objetivos de Aprendizagem
• Promover a reflexão crítica e participada sobre a estratégia de financiamento/captação de fundos
da organização.
• Estabelecer bases para um plano de angariação de fundos, que contribua para a sustentabilidade
financeira da organização.
Capítulo IV
Celebrando o Percurso: Atividades práticas e recursos 61
• retirar balança e menina
10 [Atividade 10]
Confrontando discriminações
Dimensão (indicadores relacionados):
Dimensão V
(V.1 — Diversidade, Equidade e Inclusão)
Descrição:
Cada pessoa tem várias identidades dentro de si, que não são estáticas, que nos tornam singulares
e que se transformam na relação com os outros. Neste contexto de diversidade identitária, como
nos relacionamos com a diferença? Em que medida a diversidade é assumida como um obstáculo ao
funcionamento de uma organização? A partir desta atividade, as pessoas da organização são convidadas
a refletir sobre a diversidade no contexto da organização, sobre riscos de veiculação de estereótipos
que geram discriminações e sobre o ambiente organizacional que desejam criar, visualizando
mecanismos para o reporte de situações discriminatórias e a criação de uma cultura organizacional que
promova a confiança e a segurança de quem denuncia, e a adequada resolução de problemas.
Palavras-chave: diversidade; igualdade; equidade; inclusão; estereótipos; discriminações; mecanismos
de denúncia; cultura organizacional.
Objetivos de Aprendizagem
• Problematizar os conceitos de diversidade, igualdade, equidade e inclusão.
• Identificar e compreender as origens dos estereótipos e de que forma conduzem a discriminações,
enquadrando-as no contexto da organização.
• Refletir criticamente sobre os mecanismos organizacionais para combate às discriminações,
começando pela gestão de denúncias.
11 [Atividade 11]
Círculo mágico
Dimensão (indicadores relacionados):
Dimensão V
(V.4 — Formas Inovadoras de Organização de Trabalho)
Descrição:
As nossas vidas pautam-se por várias dimensões que nem sempre coexistem de forma conciliada
num contexto organizacional. Em que medida a conciliação das diversas esferas da nossa vida
é condicionada pelo género? Com esta atividade convidamos à identificação dos problemas de
conciliação entre a vida profissional, familiar, pessoal e cívica que ocorrem na organização, sob
uma perspetiva de género. De igual modo, promove uma reflexão conjunta sobre (estratégias de)
respostas inovadoras.
Palavras-chave: conciliação da vida-trabalho; igualdade de género; sustentabilidade social.
Objetivos de Aprendizagem
• Identificar e debater os desafios e as possibilidades à conciliação entre a vida profissional, familiar,
pessoal e cívica dos recursos humanos em regime assalariado da organização.
• Compreender estes desafios, numa perspetiva de género.
• Refletir sobre a igualdade de género e sobre a sustentabilidade social da organização.
13 [Atividade 13]
Tecendo nós
Dimensão (indicadores relacionados):
Dimensão VI
(VI.4 — Trabalho em Rede)
Descrição:
Que relações de poder existem numa parceria? Como podemos promover uma ação comum
articulando complementaridades organizacionais? A partir de seis princípios definidos pelo educador
social Oscar Jara, convidamos, através desta atividade, a uma reflexão em torno da forma como uma
organização trabalha com as suas entidades parceiras, identificando-se simultaneamente caminhos
para a transformação de lógicas de redes de trabalho em lógicas de trabalho em rede.
Palavras-chave: trabalho em rede; redes de trabalho; parcerias; relações de poder.
Objetivos de Aprendizagem
• Problematizar o conceito de parceria e as relações de poder implícitas.
• Compreender a diferença entre rede de trabalho e trabalho em rede, a partir de uma proposta de
análise.
• Refletir e debater sobre a forma como a organização trabalha com as suas entidades parceiras e
identificar, em conjunto, potencialidades para a adoção de uma lógica e de práticas de trabalho em
rede.
Capítulo IV
Celebrando o Percurso: Atividades práticas e recursos 63
14 [Atividade 14]
Árvore da Igualdade
Dimensão (indicadores relacionados):
Princípio Transversal — Igualdade de Género
Dimensão I (I.5 — Alinhamento com Políticas Globais)
Dimensão II (II.1 — Órgãos Sociais, II.2 — Direção Executiva)
Dimensão V (V.1 — Diversidade, Equidade e Inclusão, V.2 — Recrutamento e Contratação, V.3 —
Remuneração e Benefícios Sociais, V.4 — Formas Inovadoras de Organização de Trabalho, V.6 —
Avaliação de Desempenho)
Descrição:
Vamos conversar sobre igualdade de género na nossa organização? A partir de pesquisas e dados
oficiais, bem como da partilha de experiências na primeira pessoa ou de situações observadas
na organização, promovemos, com esta atividade, o mapeamento e uma reflexão crítica sobre o
problema da desigualdade de género na organização — somado a outros fatores de discriminação
—, e desafia à identificação, em coletivo, de respostas concretas que potenciem um contexto
organizacional pautado pelo princípio da igualdade de género.
Palavras-chave: desigualdade de género; disparidade salarial; conciliação da vida-trabalho;
segregação vertical; segregação horizontal.
Objetivos de Aprendizagem
• Mapear e refletir sobre práticas existentes na organização relativamente à desigualdade de
género, nomeadamente ao nível da representatividade, da participação na tomada de decisão, da
conciliação vida-trabalho, da disparidade salarial e/ou de estereótipos associados aos papéis de
género.
• Debater e identificar, em coletivo, soluções que potenciem um contexto organizacional pautado
pelo princípio da igualdade de género.
1
conjunto de princípios pedagógicos:
Diversidade de
participantes
Consideramos que o reconhecimento e acolhimento de diversas e diferentes perspetivas sobre os
temas— decorrentes das diferentes identidades que compõem as pessoas participantes, ligadas ao
género, idade, classe social, nacionalidade, situação familiar, perceção sobre racialização e etnia,
orientação sexual, identidade e expressão de género, características sexuais, deficiência, posição
na organização, longevidade na organização, etc.— promovem lugares de participação plurais que,
por conseguinte, alimentam contextos de múltiplas aprendizagens, mais críticas, mais conscientes e
abrangentes, pessoais, interpessoais, conjuntas e em coletivo. Neste sentido, propomos a diversidade
enquanto princípio transversal à realização das atividades e subjacente ao Mecanismo, sendo que
algumas Fichas incluem orientações específicas sobre a seleção de participantes nas atividades.
2 Corresponsabilidade pelo
processo de aprendizagem
A corresponsabilidade sustenta-se na premissa que as pessoas participantes sejam sujeitos e não objetos
das propostas pedagógicas. Ou seja, tal como refere Paulo Freire (1994), que as pessoas aprendentes
reconheçam uma intencionalidade na aprendizagem, que esta seja partilhada e que estejam convictas da
importância das atividades para a melhoria das suas condições de trabalho e da sua ação, inserindo-se
criticamente nas situações propostas, de modo que a transformação seja feita com elas e não para elas.
Assim, as pessoas participantes são desafiadas a participar no seu próprio processo de aprendizagem.
Para tal, as atividades requerem abertura e um envolvimento comprometido das pessoas da organização
para participar, instigando, numa lógica cíclica, à experimentação, à reflexão e à análise crítica da
experiência e à transposição para o quotidiano organizacional, seguindo a abordagem do Ciclo de
Aprendizagem Experiencial de Kolb (1984), com potencial de (re)alimentar aprendizagens e ações, pessoais
e organizacionais, transformadoras.
Capítulo IV
Celebrando o Percurso: Atividades práticas e recursos 65
3 Espaço seguro de partilha
e de experimentação
Acreditamos que o contexto de aprendizagem envolve empatia e o acolhimento e o diálogo entre
diversas experiências e perspetivas. As atividades estão desenvolvidas, por isso, de forma a criar e a
aprofundar relações pelo debate com escuta ativa e pela coconstrução de conhecimentos. Incentiva-
se, assim, a considerar o erro como uma oportunidade de reflexão e de melhoria da ação, ao invés de
o ver como uma fraqueza. Para tal, é fundamental que seja fomentado um espaço de liberdade para
as pessoas participantes se surpreenderem, interagirem e cocriarem, iterativamente, num processo
contínuo de aproximações a caminhos passíveis de se adequarem à realidade da organização em cada
momento - imaginando coletivamente uma utopia partilhada - o caminho que a organização deverá
seguir “Rumo à Transparência”, nas suas diversas dimensões.
4 Desenvolvimento integrado
de competências
Ainda que a maioria das atividades se relacione com um indicador de uma dimensão de análise, ou
com Princípios Transversais enformadores do Mecanismo, estas não pretendem focar-se apenas no
desenvolvimento de competências técnicas. Assim, as atividades foram desenhadas com o objetivo de
interrelacionar, de forma integrada, competências pessoais, relacionais, socioemocionais e técnicas,
catalisadoras de transformação pessoal, coletiva e social.
5 Flexibilidade e
combinatória de atividades
É nosso desejo que as atividades sejam adaptadas ao contexto, ao grupo de participantes e aos
recursos técnico-logísticos de cada organização, bem como às disponibilidades temporais. As
orientações presentes em cada Ficha de Atividade devem ser, por isso, encaradas com abertura e
versatilidade.
Caso não seja possível despender todo o tempo previsto para uma atividade, encorajamos a sua
divisão em várias sessões. De igual modo, tomamos a liberdade de propor combinações de atividades
para aprofundar conteúdos e temáticas.
Importa, também, referir que para a construção, genérica, das atividades que compõem o Capítulo 4, inspiramo-nos no
Manual Compass: Manual for Human Rights Education with Young People, Conselho Europeu, 2ª edição (2020), disponível
em: https://www.coe.int/en/web/compass. Neste sentido, adaptamos algumas atividades propostas nesse Manual a
12 indicadores, alicerçados nas dimensões de análise e nos Princípios Transversais que sustentam o Mecanismo
de Prestação de Contas transparente, recorrendo também, para o suporte teórico, a alguns autores da bibliografia
mobilizada no âmbito do Projeto, devidamente listados na respetiva Ficha de Atividade.
• um resumo da proposta pedagógica e identificação da dimensão (ou princípio transversal) e dos indicadores com que
se relaciona;
• as orientações ‘passo a passo’, com flexibilidade para adaptação ao contexto organizacional. As orientações incluem, a
itálico, notas complementares de suporte à facilitação.
Capítulo IV
Celebrando o Percurso: Atividades práticas e recursos 67
RECURSOS
Se desejarem continuar a mergulhar no tema da Prestação de Contas transparente, deixamos aqui
alguns recursos úteis, bem como as referências convocadas para a escrita desta introdução às Fichas de
Atividades:
• CIDAC & Holliday, O. J. (s.d). Guia para Sistematização de Experiências: Aprender a Dialogar com os Processos. CIDAC.
Disponível em: http://https/www.cidac.pt/files/4513/8497/5266/Aprendizagens_1_v_ligth.pdf
• Cordeiro, D. (s.d) Resumo alargado de Buck, J., Villines, S. (2007) We The People, Consenting to a Deeper Democracy,
Sociocracy.info. Disponível em: https://www.scribd.com/document/275579145/Resumo-Alargado-do-livro-We-The-
People
• Crosby, B. (1991). Strategic Planning and Strategic Management: What are they and how are they different?. IPC Technical
Notes. No. 1. U.S. Agency for International Development. Disponível em: https://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/
download?doi=10.1.1.200.3213&rep=rep1&type=pdf
• Freire, P. (1994) Pedagogia do Oprimido. Paz e Terra: Rio de Janeiro.
• Kolb, D. (1984). Experiential learning: experience as the source of learning and development. Englewood Cliffs, NJ: Prentice
Hall.
• Porteus, A., Howe, N., Woon, T. (s.d) Facilitating Group Discussions. Stanford University. Disponível em: https://web.
stanford.edu/group/resed/resed/staffresources/RM/training/facilguide.html
• Sacramento, A. & Pinho, J.(2009). Accountability: já podemos traduzi-la para o português? Revista de Administração Pública
(RAP-FGV). Disponível em: https://sinapse.gife.org.br/download/accountability-ja-podemos-traduzi-la-para-o-portugues
• Coordinadora de Organizaciones paraor el Desarollo - España: artigos [em espanhol]
• GIFE – Grupo de Institutos Fundações e Empresas. Painel GIFE de Transparência: Mapeamento de referências
internacionais relevantes. Disponível em: https://gife.org.br/painel-gife-de-transparencia/outras-experiencias/
• GlassPockets. Ferramentas de Transparência: vídeos e webinars [em inglês]. Disponível em: https://glasspockets.org/
transparency-tools/videos-and-webinars
• Organização das Nações Unidas (2015). Acordo de Paris: enquadramento e história. Disponível em: https://www.
consilium.europa.eu/pt/policies/climate-change/paris-agreement/
• Organização das Nações Unidas (2015). Acordo de Paris: legislação nacional. Disponível em: https://gddc.
ministeriopublico.pt/instrumento/acordo-de-paris-no-ambito-da-convencao-quadro-das-nacoes-unidas-para-
alteracoes
• Organização das Nações Unidas (2015). Agenda 2030: objetivos de desenvolvimento sustentável. Disponível em:
https://unric.org/pt/Objetivos-de-Desenvolvimento-Sustentavel/
• Organização das Nações Unidas (1979). Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra
as Mulheres. Disponível em; https://www.ministeriopublico.pt/instrumento/convencao-sobre-eliminacao-de-todas-
formas-de-discriminacao-contra-mulheres-0
• Rede Educação Cidadania Global: recursos pedagógicos. Disponível em: http://www.rede-ecg.pt/a/index.php/recursos
• REDE RSO PT – Rede Portuguesa de Responsabilidade Social das Organizações. Guia Prático para a implementação
e certificação da NP 4552:2016 – Sistema de Gestão da Conciliação entre a Vida Profissional, Familiar e Pessoal.
Disponível em: https://rederso.pt/2019/06/29/guia-pratico-para-a-implementacao-e-certificacao-da-np-45522016/
A1
Princípio Transversal - Boa Governação
1h45
[ATIVIDADE 1]
5 a 20 pessoas Chão Comum
Descrição
Palavras-chave: A Transparência e a Boa Governação são princípios exigidos às OES no seu quotidiano organizacional,
prestação de contas; mas são de difícil materialização. Com esta atividade procuramos promover o reconhecimento e o
transparência; diálogo entre as diferentes perceções das pessoas participantes sobre a temática de Prestação de
legitimidade; Contas transparente, a partir da partilha de práticas organizacionais, de uma reflexão crítica e do
desempenho; debate sobre os respetivos desafios, visando a criação quer de um “chão comum” sobre os conceitos —
responsabilidade; tendo em conta a sua diversidade de significados e ambiguidade operacional —, quer de um contexto
missão. de confiança e de transparência organizacionais.
Objetivos de Aprendizagem
• Problematizar os conceitos de Prestação de Contas e de Transparência, a partir dos desafios
associados às ferramentas e/ou processos aplicados pela organização onde trabalham.
• Reconhecer as diferentes perceções das pessoas com quem se trabalha em torno da temática da
Prestação de Contas transparente, promovendo um contexto de abertura e de confiança para um
melhor entendimento comum, facilitador de uma aprendizagem individual e organizacional crítica e
contínua.
• Debater os constrangimentos e as potencialidades inerentes a uma prestação de contas
transparente nas OES portuguesas em geral e na organização onde trabalham, em particular.
Orientações
Preparação: Antes da atividade, devem ser preparados as cartolinas ou cartões com as Material
frases propostas abaixo. • Cartolina (em alternativa, cartão)
Identificar uma pessoa da organização para facilitar a atividade, que deverá selecionar • Caneta ou marcador grosso
as frases de acordo com as especificidades do grupo de participantes e com o seu nível de • Sala ampla (em alternativa, um local
familiaridade com a temática. De igual modo, deve preparar antecipadamente as cartolinas exterior confortável)
com as frases selecionadas.
1. Dividir o grupo participante em pequenos grupos (de 4 a 6 pessoas) e pedir a cada
grupo que identifique uma pessoa para moderar o debate.
2. De seguida, pedir que reflitam individualmente por 5 minutos sobre o que significa
uma prestação de contas transparente no setor da Economia Social. Podem pensar
em exemplos práticos.
3. Colocar os cartões virados para baixo, no meio do grupo. Têm 60 minutos para
o debate e deverão gerir o tempo garantindo uma análise de vários dos cartões
disponíveis no sentido de obterem uma visão mais ampla do tema.
4. Em cada ronda, cada participante escolhe uma carta, lê em voz alta e comenta a
frase. De seguida, os restantes membros do grupo comentam a frase, posicionando-
se e fazendo, de preferência, ligações ao quotidiano organizacional.
5. Quando todas as cartas tiverem sido debatidas ou o tempo tiver terminado,
convida-se o grande grupo para o ”debrief”/balanço da atividade.
“Debriefing” / Balanço
Em seguida, abrir o debate, em plenário, a partir das seguintes questões (40 min.):
• Tiveram algum tipo de dificuldade em relação a alguma das frases da atividade?
Porquê?
• Algum dos factos ou representações foi surpreendente? Porquê?
• Quais as conceções em comum a todas as pessoas?
• O que pensam sobre as perspetivas diferentes?
• De que forma as diferentes perspetivas têm impacto no desempenho da
organização?
• Que aprendizagens retiraram desta atividade e que podem aplicar no vosso
quotidiano de trabalho?
Capítulo IV
Celebrando o Percurso: Atividades práticas e recursos 69
A1 [ATIVIDADE 1]
Chão Comum
Referências bibliográficas
Auger, G. A. (2014). Trust Me, Trust Me Not: An Experimental Analysis of the Effect of
Transparency on Organizations. Journal of Public Relations Research, 26(4), 325-343. doi:
10.1080/1062726X.2014.908722.
Cabedo, J. D.; Fuertes-Fuertes, I.; Maset-LLaudes, A. & Tirado-Beltrán, J. M. (2018). Improving
and measuring transparency in NGOs: A disclosure index for activities and projects. Nonprofit
Management and Leadership, 28(3), 329-348. https://doi.org/10.1002/nml.21298.
Conselho Europeu (2020). Compass: Manual for Human Rights Education with Young People [2ª
edição]. Disponível em: https://www.coe.int/en/web/compass/believers
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Ebrahim, A. (2010). The many faces of nonprofit accountability. Rascunho de pré-impressão para
publicação em The Jossey-Bass Handbook of Nonprofit Leadership and Management (Third Edition),
1-32.
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Voluntary Sector Quarterly, 34(1), 56-87. doi: 10.1177/0899764004269430.
Ebrahim, A. (2003a). Accountability in Practice: Mechanisms for NGOs. World Development, 31(5),
813–829. doi:10.1016/S0305-750X(03)00014-7.
Ebrahim, A. (2003b). Making sense of accountability: Conceptual perspectives for northern and
southern nonprofits. Nonprofit Management and Leadership, 14(2), 191-212. doi:10.1002/
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Fox, J. (2007). The uncertain relationship between transparency and accountability. Development in
Practice, 17(4-5), 663-671. doi: 10.1080/09614520701469955.
Greenlee, J. S. (2003). Accountability in Nonprofit Organizations. Nonprofit Management and
Leadership, 9(2), 205-210. https://doi.org/10.1002/nml.9207.
Kilby, P. (2006). Accountability for empowerment: dilemmas facing Non-Governmental Organizations.
World Development, 34(6), 951–963. doi:10.1016/j.worlddev.2005.11.009.
Maddocks, J.; Novkovic, S. & Smit, S. M. (2011). Measuring Performance for Accountability of a Small
Social Economy Organization: The Case of an Independent School. ANSERJ - Canadian Journal of
Nonprofit and Social Economy Research, 2(1), 45-60.
van Doeveren, V (2011). Rethinking Good Governance. Public Integrity, 13(4), 301-318. doi:10.2753/
PIN1099-9922130401.
A1
Princípio Transversal - Boa Governação
1h45
[ATIVIDADE 1]
5 a 20 pessoas Chão Comum
Uma organização é responsável perante todos aqueles que possam ser afetados pelas suas decisões
ou ações (Veerle van Doeveren, 2011).
Uma perspetiva integrada de accountability/prestação de contas "envolve construir uma visão comum
entre principais e agentes de forma a que as relações de autoridade e controlo convencionais sejam
quebradas e transformadas em colaborações de responsabilidade coletiva para resultados” (Ebrahim,
2003b, p.199).
Como é que as equipas, no dia a dia, mantêm o foco na missão quando confrontados com rigorosas
exigências de reporte? (Christensen & Ebrahim, 2006).
O problema é que as organizações têm obrigações “múltiplas, complexas e difusas” no que diz
respeito à prestação de contas (Donald, 1999, in Kilby, 2006, p.953), na maioria das vezes perante
financiadores, o que faz com que a accountability/prestação de contas descendente não seja uma
prioridade.
A accountability/prestação de contas tem uma dimensão ética, ou baseada em valores, que se reflete
na “responsabilidade sentida” (Fry, 1995, in Ebrahim, 2003b, p.199).
Segundo Ebrahim (2005), o desafio para as organizações consiste em encontrar o equilíbrio entre
mecanismos de accountability/prestação de contas orientados por regras e focados em resultados a
curto-prazo, tendencialmente dirigidos a financiadores, e abordagens a longo-termo que permitam à
organização gerar aprendizagem organizacional.
Capítulo IV
Celebrando o Percurso: Atividades práticas e recursos 71
A1 [ATIVIDADE 1]
Chão Comum
Uma melhoria nos processos internos de tomada de decisão pode otimizar a prestação de contas
perante todos os constituintes (Christensen & Ebrahim, 2006, p.21).
Um desafio central para as organizações sem fins lucrativos [leia-se organizações da economia
social] e financiadores jaz em criar uma cultura de accountability/prestação de contas em que esta é
construída a partir da missão e propósito da organização e não do escrutínio externo (Christensen &
Ebrahim, 2006).
O simples ato de medir algo causa a sua mudança (Maddocks, Novkovic & Smit, 2011).
“Não por coincidência, os termos transparência e accountability são ambos maleáveis e portanto –
convenientemente – podem significar tudo para todos” (Fox, 2007, p.664).
Em relação aos doadores e financiadores, há um receio generalizado de que possam retirar fundos às
organizações se os resultados obtidos não forem ao encontro dos resultados esperados, o que pode
afetar a sua transparência no reporte (Cabedo et al., 2018).
6 a 20 pessoas
2h50
Objetivos de Aprendizagem
• Promover a partilha de perspetivas sobre o presente e o futuro da organização, assumindo-a como
um processo de aprendizagem organizacional, mobilizador e motivador das pessoas que integram a
organização e facilitadora de comunicação interna e externa.
• Criar uma base comum, clara e partilhada da missão e da visão da organização que facilite processos
de tomada de decisão coerentes e com maior autonomia, e consistentes com os valores que regem
a ação organizacional.
Orientações
Preparação: definir uma pessoa da organização para facilitar a atividade, que deverá Material
ter o cuidado de identificar pessoas com diferentes longevidades, cargos e funções na • Cavalete(s) com bloco de papel
organização para participar na atividade e definir uma ou duas pessoas na organização A1 (em alternativa, blocos A4, um
responsáveis pela facilitação da atividade. Como a duração da sessão é longa, considerar quadro ou folhas de flipchart)
um tempo para o grupo fazer uma pequena pausa.
• Marcadores grossos coloridos (se
Antes de começar, dividir as pessoas participantes em grupos de 4-5 pessoas (adaptar possível, uma cor por cada grupo)
consoante o número de participantes) e pedir a cada grupo que defina uma pessoa para
• Sala ampla (em alternativa, um local
moderar e ser porta-voz.
exterior confortável)
Parte 1. Missão (1h20 min.)
1.Tendo em mente que a missão de uma organização define a sua razão de existir e o seu compromisso para com a
comunidade, pedir a cada grupo para refletir e debater as seguintes perguntas, registando as perspetivas num bloco de papel
A1, num quadro ou em folhas de flipchart. (30 min.)
• Quem somos?
• Porquê e para quê fazemos o que fazemos?
• Em que áreas geográficas atuamos?
• Com quem fazemos?
• Como fazemos? (Filosofia de ação, princípios, valores)
• O que fazemos bem?
• Atualmente, o que é que distingue a nossa organização de outras? Em que nos diferenciamos?
2. Em plenário, pedir a todos os grupos que partilhem as reflexões e ideias a que chegaram e as pessoas responsáveis pela
facilitação vão registando, à vista de todas as pessoas participantes, as partilhas num bloco de papel A1, num quadro ou em
folhas de flipchart. (20 min.)
3. Novamente em grupos, procurar formular uma frase agregadora das ideias partilhadas como proposta de missão da
organização. (15 min.)
4. Coletivamente, a partir das frases elaboradas por cada grupo, trabalhar uma só frase até ficar estruturada e o grupo sentir
que reflete a organização e a sua razão de existir. (15 min.)
A Missão deve ser expressa de forma simples, clara, curta, consensual e mobilizadora, para que possa ser facilmente interiorizada e
comunicada, interna e externamente.
Capítulo IV
Celebrando o Percurso: Atividades práticas e recursos 73
A2 [ATIVIDADE 2]
Foco nas nuvens
Parte 2. Visão (50 min.)
5. Em grupo, debater as seguintes perguntas, registando as partilhas efetuadas (20 min.):
• Que mudança queremos que aconteça na sociedade/comunidade/território onde trabalhamos
daqui a 10 anos, através da nossa organização?
• Onde queremos que a organização esteja daqui a 10 anos?
• Se daqui a 10 anos saísse num jornal uma reportagem sobre a nossa organização, qual seria o título?
6. Em plenário, pedir a todos os grupos que partilhem as reflexões e ideias a que chegaram. (10 min.)
7. Em grupo, definir quais são as ideias mais consensuais e registá-las num bloco de papel A1, num
quadro ou em folhas de flipchart, em forma de frase. (10 min.)
8. Coletivamente, trabalhar a frase até ficar estruturada e o grupo sentir que reflete a organização e a
sua visão. (10 min.)
A frase deve ser suficientemente clara e motivadora.
Parte 3. Valores (40 min.)
9. De volta aos grupos, e tendo em conta que os valores facilitam a realização da missão e a
implementação das estratégias da organização e podem contribuir para a diferenciação desta, pedir
que pensem nos valores que guiam a ação da organização, definindo palavras-chave representativas
dos valores organizacionais. (20 min.)
10. Novamente em plenário, pedir a cada grupo que coloque as suas palavras-chave (cada grupo
com a sua cor) num bloco A1 (ou quadro ou folhas de flipchart). O primeiro grupo deverá distribuir
espacialmente as palavras. Os seguintes deverão colocar as suas palavras novas por escrito. Caso
alguma das suas palavras já tenha sido escrita, deverão fazer um círculo à volta. (5 min.)
11. Quando a "nuvem" de palavras/valores estiver construída, pedir a todas as pessoas participantes
que partilhem perceções a respeito (se se sentem confortáveis, se discordam de alguma(s) palavra(s),
se no global a "nuvem" é representativa dos valores que guiam a ação da organização). (15 min.)
12. No final, convida-se o grande grupo para o "debrief"/balanço da atividade.
No passo 10, como alternativa, poderá ser usado um computador e, após cada grupo identificar as
palavras-chave representativas dos valores organizacionais, introduzir na plataforma gerada a partir do site
https://www.mentimeter.com/features/word-cloud e ver a nuvem que é gerada automaticamente. Neste
caso, a facilitação deverá preparar previamente o template a partir do site.
“Debriefing” / Balanço
Em seguida, procura-se recolher feedback sobre o alcance da atividade realizada, convidando o grupo
participante a responder às seguintes questões (30 min.):
• Sentem que a missão da organização se reflete na sua história? Em que medida?
• O que vos surpreendeu mais na realização de cada uma das três partes da atividade?
• Qual foi o maior desafio desta atividade?
• De que forma sentem que esta atividade foi útil para trabalhar, de forma coerente e com maior
autonomia, sabendo/estando conscientes sobre o que se quer alcançar?
Definir um grupo de trabalho responsável por sistematizar a informação partilhada e debatida
ao longo da atividade, como exercício de síntese e com o potencial de alimentar a redefinição da
estratégia organizacional, devendo neste caso ser antecedida da Atividade 3.
Referências bibliográficas
Conselho Europeu (2020). Compass: Manual for Human Rights Education with Young People [2ª edição].
Disponível em: https://www.coe.int/en/web/compass/memory-tags
Jisc (2012). Guide: Defining and articulating your vision, mission and values. Disponível em https://www.
jisc.ac.uk/full-guide/vision-mission-and-values
5 a 20 pessoas
2h00
Linha da Vida
[ATIVIDADE 3]
A3
Descrição
Palavras-chave: O percurso de uma organização é marcado, transversalmente, por marcos positivos, negativos e até
história marcos sem a influência ou mudança esperada, mas que envolveram expectativas e a mobilização de
organizacional; recursos. Por isso, lembrar, partilhar e analisar o caminho da organização, identificando e relacionando
missão; os seus marcos, os momentos de mudança(s), os posicionamentos e as aprendizagens, permite uma
legitimidade. apropriação coletiva da história organizacional. Com esta atividade desafiamos à construção conjunta
da 'Linha da Vida'/ história organizacional, a partir das memórias e das vivências de várias pessoas que
são parte da organização.
Objetivos de Aprendizagem
• Promover uma apropriação coletiva da história da organização, a partir da partilha individual e da
reflexão conjunta sobre o seu percurso e mudanças ocorridas no tempo.
• Identificar marcos relevantes (positivos, neutros e negativos) relativos à vida da organização.
• Mapear a diversidade de representações acerca dos marcos identificados, para uma análise crítica
da ação da organização.
Orientações
Preparação: definir uma pessoa da organização para facilitar a atividade, que deverá Material
ter o cuidado de identificar pessoas com diferentes longevidades, cargos e funções na • 1 rolo de fita-cola larga
organização.
• Uma parede de 10-12 metros (se
Parte 1 (40 min.) necessário, prolongar a partir de um
canto da sala; em alternativa, usar
1. Cola-se uma linha na parede da sala, com a identificação dos anos de vida da um quadro)
organização. Distribuem-se post-its pelas pessoas participantes e marcadores com
• Blocos de post-it
a seguinte indicação: Verde: marcos positivos; Vermelho: marcos negativos; Preto:
marcos neutros. • Marcadores de cores diferentes (por
exemplo, de cor verde, vermelho e
2. Em modo “livre” e fluído, cada participante identifica (a partir das suas memórias preto)
e vivências) marcos importantes (positivos, negativos e neutros) da organização
durante o horizonte temporal referido e desloca-se pela sala para colar os post-its
na "Linha da Vida". (5 min.)
Parte 2 (60 min.)
3. Em plenário, cada participante apresenta brevemente os marcos que identificou,
abrindo espaço para questionar e aprofundar perspetivas, e identificar outros
marcos que devem ser acrescentados ou substituídos na "Linha da Vida".
4. No seguimento das partilhas efetuadas, a pessoa que facilita a atividade
procura identificar as maiores ou menores incidências e explorar com o grupo
as (des)coincidências entre as perspetivas apresentadas, promovendo-se uma
apropriação de todos da "Linha da Vida" da organização.
5. No final, convida-se o grande grupo para o "debrief"/balanço da atividade.
Capítulo IV
Celebrando o Percurso: Atividades práticas e recursos 75
A3 [ATIVIDADE 3]
Linha da Vida
“Debriefing” / Balanço
A partir do debate anterior e para recolher feedback sobre o alcance da atividade realizada, convidar o
grupo participante a responder às seguintes questões (20 min.):
• Que marcos não conheciam?
• Que informação acharam mais relevante para compreender a realidade atual da organização?
• O que vos supreendeu na construção da "Linha da Vida" da organização? Porquê?
• Sentem que a missão da organização se reflete na sua história? Em que medida?
Definir um grupo de trabalho responsável por sistematizar a informação partilhada e debatida ao longo da
atividade, como exercício de síntese e com o potencial de alimentar a redefinição da estratégia organizacional
e de a tornar pública e acessível a todas as Partes Interessadas, no sentido de promover uma apropriação
coletiva do percurso da organização. Se for pertinente, poderão ser desenvolvidas uma versão interna, e uma
versão externa, que resumam apenas os marcos do percurso da organização que pretende tornar públicos.
Referências bibliográficas
Conselho Europeu (2020). Compass: Manual for Human Rights Education with Young People [2ª edição].
Disponível em: https://www.coe.int/en/web/compass/timelines
8 a 25 pessoas
2h00
Objetivos de Aprendizagem
• Problematizar os conceitos de participação e de poder.
• Conhecer e compreender as diferentes operacionalizações de vários níveis de participação e de
envolvimento de Partes Interessadas, de uma organização, em processos de tomada de decisão.
• Refletir criticamente sobre as práticas organizacionais em torno da participação e do envolvimento
de Partes Interessadas.
Orientações
Preparação: identificar uma pessoa da organização para facilitar a atividade. Material
1. Em plenário, perguntar às pessoas participantes o que entendem por • Sala ampla
"participação". (20 min.) • Cópias dos diagramas da escada
de participação (ver verso)
2. Entregar o diagrama da Escada da Participação e explicar que este é um modelo
para refletir sobre diferentes modos de participar. Apresentar de forma breve cada
um dos níveis, ou degraus. (10 min.)
3. Dividir as pessoas por 8 grupos e atribuir um nível a cada grupo. Pedir que
imaginem e encenem uma situação, de 2-3 minutos, que ilustre o nível que lhes
foi pedido para representar. Promover o uso de situações concretas ou que se
relacionem com a realidade da organização, identificando Partes Interessadas e um
cenário concretos. Se não for possível atribuir os 8 níveis por não haver pessoas
suficientes para formar grupos, criar no mínimo 3 grupos, e deverá ser atribuído
pelo menos um nível de cada categoria: Poder dos Cidadãos, Participação Simbólica
e Não-Participação. (30 min.)
4. Em plenário, convidar os grupos a apresentarem as suas encenações. Permitir
questões ou tempo para comentários entre as diferentes apresentações. (30 min.)
5. No final, convidar o grande grupo para o "debrief"/balanço da atividade.
“Debriefing” / Balanço
Começar por uma ronda rápida sobre como cada pessoa se sentiu durante a
atividade. De seguida, fazer uma nova ronda de feedback à atividade realizada, a
partir das seguintes questões (30 min.):
• Para os níveis de não participação ou de participação simbólica, como se sentiram
no lugar das pessoas simuladas, em relação a potenciais obstáculos para chegar
aos degraus cimeiros da escada de participação? Como se poderiam eliminar
esses obstáculos e aumentar o nível de participação?
• Para os níveis de participação efetiva, que condições seriam necessárias criar na
organização, de forma a promover movimentos de subida do nível de participação
das Partes Interessadas selecionadas, e nos cenários identificados? No que diz
respeito aos processos de tomada de decisão da organização, existem outros
cenários ou Partes Interessadas que poderiam ser tidos em conta na melhoria
dos níveis de participação, em geral?
• Quais os benefícios de envolver mais Partes Interessadas nos processos de
tomada de decisão da organização? E os desafios?
Capítulo IV
Celebrando o Percurso: Atividades práticas e recursos 77
A4 [ATIVIDADE 4]
Nos degraus da Participação
Referências bibliográficas
Conselho Europeu (2020). Compass: Manual for Human Rights Education with Young People [2ª edição].
Disponível em: https://www.coe.int/en/web/compass/on-the-ladder
Fumega, S. (2013). Trajetos de Participação de Atores Sociais em Processos de Planeamento Estratégico: o
caso do Programa Rede Social no Concelho de Sintra [Tese de Mestrado]. ISCTE. Lisboa. Disponível em:
https://repositorio.iscte-iul.pt/handle/10071/7063?mode=full
A Escada da Participação
[8]
Delegação completa de todas as tomadas de
Controlo Cidadão decisão e ações.
[7]
Delegação de Poder É delegado algum poder às pessoas.
Poder dos
Cidadãos
[6]
As pessoas podem começar a negociar com os
detentores de poder tradicionais, por exemplo na
Parceria gestão de papéis, responsabilidades e níveis de
controlo.
[5] O ponto de vista das pessoas tem alguma
Apaziguamento influência, mas os tradicionais detentores de
poder continuam a tomar as decisões.
[4]
É dada voz às pessoas, mas não lhes é concedido Participação
Consulta nenhum poder para levar a cabo as suas decisões. Simbólica
[3]
É dito às pessoas o que vai acontecer, o que está a
Informação acontecer ou o que aconteceu.
[2]
Terapia
Nestes níveis a comunidade é vista como um ator Não-
passivo. É apenas fornecida alguma informação
[1] que pode ser parcial ou imprecisa.
Participação
Manipulação
Fonte: Adaptado de Arnstein, S.R. (1969). A ladder of citizen participation (Vol. 35). JAIP e de
Adaptado de Diane Waburton, Participatory Action in the Countryside-A Literature Review
(1997).
6 a 20 pessoas
2h40
Mapeando o Universo
[ATIVIDADE 5]
A5
Descrição
Palavras-chave: As organizações não estão sozinhas! Através desta atividade propomos um mapeamento coletivo
envolvimento de do universo de Partes Interessadas, internas e externas, da organização e reflexão conjunta sobre as
Partes Interessadas; necessidades e objetivos de cada uma, bem como sobre as suas expectativas em torno da prática de
mecanismos de prestação de contas. A partir desta atividade, desafiamos à identificação participada dos mecanismos
prestação de contas; de prestação de contas adequados e direcionados às especificidades de cada Parte Interessada.
governança;
capital social; Objetivos de Aprendizagem
sustentabilidade social.
• Promover uma reflexão crítica e conjunta sobre o papel de diversos tipos de Partes Interessadas
da organização (e.g. públicos-alvo, parceiros, recursos humanos assalariados e voluntários,
financiadores e doadores), no sentido de valorizar e incorporar o feedback das mesmas e
de operacionalizar mecanismos de prestação de contas adequados e direcionados às suas
especificidades.
• Reforçar conhecimentos e colocar em diálogo diversas perspetivas sobre a sustentabilidade social e
o capital social da organização.
Orientações
Nota de apoio concetual: esta atividade teve por base a definição de Parte Interessada Material
como "qualquer grupo ou indivíduo que pode afetar ou é afetado pelos resultados de • Folhas A4 (1 a 3 por cada grupo + 10
uma organização’’ (Freeman, 1984, in Wellens & Jegers, 2013, p. 2) e a noção de que folhas)
"visto que o bom funcionamento de uma organização sem fins lucrativos [ou organização
• Folhas ou cartolinas A3 (para dividir
da economia social] é influenciado pela forma como as relações com diferentes partes
por cada grupo, em alternativa usar
interessadas são geridas, um passo importante na criação da relação é tornar-se consciente
folhas de flipchart)
das expectativas em relação à governança de diferentes grupos de partes interessadas. Esta
lógica é suportada pelo facto de vários autores afirmarem que a probabilidade deste tipo • Marcadores de duas cores (1 de
de organização ser percecionada como eficaz aumenta quando esta consegue alinhar as, cada cor por grupo)
possivelmente muito diferentes, expectativas de grupos de partes interessadas com respeito • Bloco de post-it
à boa governação" (Abzug & Galaskiewicz, 2001; Balser & McClusky, 2005; Brown, 2005; • 1 parede livre
Herman & Renz, 2008; Hsieh, 2010; Kilby, 2006; Ospina, Diaz, & O'Sullivan, 2002; Studer • Novelos de lã (1 cor por cada grupo/
& von Schnurbein, 2012 in Wellens & Jegers, 2013, p. 2). PI)
Preparação: definir uma pessoa da organização para facilitar a atividade. No arranque • Tesouras (1 por cada grupo)
da atividade, é importante explicar que o seu objetivo é desenhar um "mapa" das Partes
Interessadas (PI) da organização (e.g., um ou mais tipos de públicos-alvo, um ou mais tipos de parceiros, recursos humanos
assalariados e voluntários, financiadores). Como a duração da sessão é longa, considerar um tempo para o grupo fazer uma pequena
pausa.
Parte 1 (60 min.)
1. Em plenário, durante 20 minutos, debater e identificar tipos de PI da organização e registar numa folha A4.
2. Dividir as pessoas em tantos grupos quanto o número de tipos de PI da organização definidas no passo anterior, com um
limite de 5 a 6. Se for necessário agrupar, usar o critério da familiaridade (e.g, "PI internas" e "PI externas") ou por categorias
específicas (e.g. "públicos-alvo no geral", "parceiros", "financiadores", etc). (5 min.)
3. Dar a cada grupo uma folha A3 (ou folha de flipchart) e um marcador e pedir que debatam e registem (por escrito e/ou de
forma ilustrada) qual o papel que a PI que representam tem no universo da organização e quais as principais necessidades e
objetivos de cada PI. Pedir para escreverem o nome da PI que representam no topo da folha e as necessidades e objetivos em
baixo. (15 min.)
4. Em plenário, cada grupo deverá apresentar o seu "cartaz", com as reflexões a que chegaram e colar numa parede.
Perguntar se todas as pessoas participantes concorda com as necessidades e os objetivos identificados para cada PI e
reajustar, coletivamente, em função das perspetivas (convergentes e divergentes do grupo), assinalando as mudanças com
outra cor. (20 min.)
Capítulo IV
Celebrando o Percurso: Atividades práticas e recursos 79
A5 [ATIVIDADE 5]
Mapeando o Universo
“Debriefing” / Balanço
Em plenário, pedir às pessoas que observem o mapa que criaram e que reflitam sobre as seguintes
questões (20 min.):
• Como se sentiram ao se colocarem no lugar da PI que representaram? Qual foi o maior desafio para
identificar as necessidades, objetivos e expectativas?
• Foi fácil chegar a consenso dentro de cada grupo? Quais foram as decisões que envolveram maiores
discordâncias e porquê?
• De que forma este exercício contribuiu para conhecerem melhor as PI da organização?
• De que forma é que fariam um plano de gestão de partes interessadas PI, na perspetiva da
prestação de contas, a partir deste mapa?
Nota: este é um exercício baseado nas perceções das pessoas da organização sobre as necessidades,
objetivos e expectativas das PI que compõem o seu universo. Encoraja-se a que esta atividade fomente
a comunicação direta com cada PI para aferir a fidedignidade das características intuídas. Sugerimos
uma leitura adicional de uma referência bibliográfica [https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/
pii/S0263237313000194], sobre formas de comunicação e envolvimento de PI focado num contexto
maioritariamente do norte global [em inglês]
Referências bibliográficas
Conselho Europeu (2020). Compass: Manual for Human Rights Education with Young People [2ª edição].
Disponível em: https://www.coe.int/en/web/compass/making-links
Wellens, L. & Jegers, M. (2013) Effective governance in nonprofit organizations: A literature
based multiple stakeholder approach. European Management Journal. http://dx.doi.org/10.1016/j.
emj.2013.01.007
3h00
Objetivos de Aprendizagem
• Promover uma reflexão crítica sobre a estratégia atual da organização em conjunto com as suas
Partes Interessadas.
• Construir coletivamente as bases para a redefinição da estratégia da organização no seu próximo
ciclo estratégico.
Orientações
Esta atividade pode ser feita isoladamente, para apoiar a reflexão crítica sobre a Material
estratégia da organização, ou pode apoiar o processo de Planeamento estratégico da
• 1 bloco de papel A1 e cavalete (em
organização. Nesse caso, ter presente a Missão da organização e um Mapa de Partes
alternativa, fazer uma matriz com
Interessadas e suas expectativas, e apresentar ao grupo no início da sessão. Caso estes
fita-cola colorida numa parede)
não estejam definidos, ou precisem de ser revistos, aconselhamos que esta atividade seja
• Blocos de post-it de 4 cores
precedida da Atividade 2 — Foco nas nuvens e da Atividade 5 — Mapeando o Universo.
diferentes (em alternativa, usar
Recomenda-se que se convidem Partes Interessadas externas à organização (públicos- folhas de papel A4 coloridas
alvo, entidades parceiras, financiadoras,doadoras, etc.) para a realização do exercício. cortadas em 6 e um rolo de fita-cola)
Preparação: identificar uma pessoa da organização para facilitar a atividade. Para • Esferográficas
melhor preparar a facilitação desta atividade, recomendamos a leitura da publicação • Folhas papel A4
"Strategic Planning and Strategic Management: What are they and how are they • Rolos de fita-cola
different?" de Benjamim Crosby (1991) [em inglês]. Como a duração da sessão é longa,
• 1 Parede livre
considerar um tempo para o grupo fazer uma pequena pausa.
Parte 1. Onde estamos? (60 min)
1. Pedir às pessoas que se organizem em grupos pequenos, de três a cinco pessoas. Entregar uma folha A1, 1 bloco de post-it
e esferográficas. Pedir-lhes que desenhem uma cruz na folha A1, dividindo em 4 secções. Fazer o mesmo no bloco A1 no
cavalete. (10 min.)
2. Informar que vão fazer uma análise SWOT da organização - refletindo sobre o contexto interno (debilidades e forças) e o
contexto externo (oportunidades e ameaças), pelo que devem escrever essas palavras em cada um dos campos. (5 min.)
3. Debater sobre cada um dos campos e identificar os aspetos relativos à organização, começando pelo contexto interno e
passando ao contexto externo. Assim que o grupo chegar a um consenso sobre um aspeto, deverão escrever num post-it e
colar no respetivo campo até terem 3 a 4 para cada campo. (30 min.)
4. No final do tempo, ou quando todos os grupos terminarem, pedir que, um a um, passem os seus post-its para o campo
respetivo no bloco do cavalete/parede.
5. Em grupo, reorganizar os post-its encontrando similaridades e divergências, de modo a chegar a uma análise final que seja
consensual. Se o grupo decidir, podem retirar-se post-its. (15 min.)
Parte 2. Para onde queremos ir? (45 min.)
6. Distribuir folhas A4 pelos grupos e pedir a cada um para identificar e debater questões estratégicas para a organização.
Neste momento, apresentar a Missão e o Mapa de Partes Interessadas e suas expectativas para que os grupos tenham esta
informação em mente quando definirem as questões estratégicas. (20 min.)
Capítulo IV
Celebrando o Percurso: Atividades práticas e recursos 81
A6 [ATIVIDADE 6]
Visualizando o futuro
7. Do conjunto de questões identificadas, consensualizar 3 a 5 e pedir para escreverem numa folha A4
(uma questão por folha). Estas podem estar relacionadas com a missão da organização, a sua gestão
e os serviços que providencia, os seus destinatários, financiamento, gestão, ou relação com Partes
Interessadas; se a organização não puder fazer nada em relação a uma questão que seja identificada,
não deve ser considerada (Crosby, 1991). (5 min.)
8. Novamente em plenário, repetir o mesmo processo de colocação das folhas na parede e
agrupamento por familiaridade e consenso de grupo, conforme a Parte 1 da atividade. (15 min.)
9. Quando o grupo chegar a um consenso sobre as questões estratégicas, pedir que definam
prioridades - baixa, média e alta e que reorganizem as folhas na parede de acordo com esta
priorização. (5 min.)
Parte 3. Como podemos lá chegar? (45 min.)
10. Continuando em plenário, debater, ponto a ponto, começando pelas questões mais prioritárias
até às questões menos prioritárias, que estratégias podem ser postas em prática para resolver as
questões identificadas na Parte 2 da atividade.
Questões orientadoras, para apoiar a seleção da melhor estratégia para cada questão em função da
sua viabilidade, praticalidade e conveniência (Crosby, 1991):
• é possível implementar a estratégia do ponto de vista prático, considerando os recursos da
organização, ao longo do tempo?
• a estratégia é sustentável e flexível a mudanças de contexto?
• a estratégia é compatível com o cumprimento da missão da organização e os seus objetivos, bem
como os de entidades parceiras?
• a implementação da estratégia será bem recebida pelas pessoas a quem se destina a ação da
organização? Como afetará as suas Partes Interessadas?
11. Sempre que se chegar a um consenso sobre a estratégia, deve-se escrever numa nova folha de
papel e colocar imediatamente ao lado da questão. Fazer isto para todas as questões.
12. No final, convida-se o grande grupo para o "debrief"/balanço da atividade.
A partir daqui, a organização pode avançar para a definição de Planos de Ação, contando com estes
preciosos contributos da sua equipa (e comunidade alargada)!
“Debriefing” / Balanço
Começar por dar os parabéns pelo trabalho desenvolvido! Fazer uma ronda rápida sobre como cada
pessoa se sentiu durante a atividade e sobre o processo coletivo de decisão e, em seguida, fazer uma
nova ronda de feedback à atividade realizada, a partir das seguintes questões (30 min.):
• Qual foi a parte mais fácil e a mais difícil da atividade? Porquê?
• Como potenciar este exercício para o desenho de um Plano Estratégico da organização? Que
desafios existem para a sua materialização?
• O que aprenderam com esta atividade que não tinham noção anteriormente?
• Por que é importante a gestão estratégica de uma organização?
Referências bibliográficas
Conselho Europeu (2020). Compass: Manual for Human Rights Education with Young People [2ª edição].
Disponível em: https://www.coe.int/en/web/compass/path-to-equality-land
Crosby, B. (1991). Strategic Planning and Strategic Management: What are they and how are
they different? IPC Technical Notes No.1. Disponível em: http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/
download?doi=10.1.1.200.3213&rep=rep1&type=pdf
5 a 20 pessoas
2h30
Painel coletivo
[ATIVIDADE 7]
A7
Descrição
Palavras-chave: Na agitação do dia a dia da organização, até que ponto desenvolvemos uma ação pertinente e
missão; coerente com a missão organizacional? Em que medida a missão da organização está refletida
legitimidade; no trabalho desenvolvido pela organização? A partir desta atividade convidamos a uma análise
aprendizagem crítica sobre o (não) cumprimento da missão organizacional, enquanto processo com potencial de
organizacional. apropriação coletiva e de aprendizagem organizacional.
Objetivos de Aprendizagem
• Problematizar a ação da organização relativamente ao cumprimento da sua missão, numa lógica de
legitimidade organizacional.
• Promover uma análise crítica sobre a missão da organização, enquanto processo com potencial de
apropriação coletiva e de aprendizagem organizacional.
Orientações
Preparação: identificar uma pessoa da organização para facilitar a atividade, que deve Material
preparar antecipadamente a projeção da frase referente à missão da organização e as • Projetor ligado a um computador
logísticas associadas à projeção. (em alternativa, escrever a missão
1. Pedir ao grupo para se juntar no centro da sala, e construir um painel sobre o da organização em letra legível para
trabalho desenvolvido pela organização nos últimos anos. (20 min.) Cada pessoa o grupo)
é desafiada a registar as suas ideias/contributos, de forma livre, no quadro ou em • Quadro (em alternativa, folhas A3 ou
folhas A3 (ou de flipchart) coladas numa parede. de flipchart)
• Bloco de folhas A3
2. Dividir o grupo de participantes em grupos mais pequenos (4 a 5 pessoas),
projetar a missão da organização no quadro ou numa parede, e pedir a cada grupo • Marcadores coloridos (uma cor por
para eleger uma pessoa representante do seu grupo. (10 min.) grupo)
• Fita-cola
3. Os grupos devem confrontar o registo efetuado no Passo 1 com a frase da
• 1 Parede livre
missão projetada, a partir das seguintes perguntas (40 min.):
• O trabalho que desenvolvemos contribui para o cumprimento da missão organi-
zacional? Em que medida?
• Por que fazemos o que fazemos?
• O que não está a ser feito? Porquê?
• O que precisamos de mudar? Como podemos fazê-lo?
• O que precisamos de reforçar? Porquê?
Distribuir folhas A3 (ou de flipchart) pelos grupos para registarem, de forma escrita ou
gráfica, o seu debate.
4. Em plenário, cada representante dos grupos partilha, com recurso ao registo
escrito ou gráfico efetuado, a reflexão e o debate gerado. (30 min.)
5. Convidar o grande grupo para voltar ao registo efetuado no Passo 1 e assinalar,
de forma clara e objetiva, as principais ideias/perspetivas resultantes da partilha
efetuada no Passo 4. Trata-se de confrontar a ação da organização com o
mapeamento construído, de forma crítica e em conjunto, pelos participantes
sobre o que é necessário ajustar ou reforçar para cumprir a missão organizacional,
promotora de uma apropriação coletiva da mesma. (20 min.)
6. No final, convidar o grande grupo para o "debrief"/balanço da atividade.
Capítulo IV
Celebrando o Percurso: Atividades práticas e recursos 83
A7 [ATIVIDADE 7]
Painel coletivo
“Debriefing” / Balanço
A partir do debate anterior e para recolher feedback sobre o alcance da atividade realizada, convidar o
grupo participante a responder às seguintes questões (30 min.):
• Foi desafiante fazer o registo do trabalho desenvolvido pela organização? Porquê?
• Como caracterizam o processo de discussão em pequenos grupos, tendo em conta o confronto do
registo com a missão projetada? Sentiram alguma inquietação? Porquê?
• Na partilha alargada, que perspetivas e/ou posicionamentos vos surpreenderam? Porquê?
• Em que medida esta atividade pode alimentar um debate interno mais alargado sobre a ação
desenvolvida pela organização e o processo de tomada de decisões em prol do cumprimento da
missão organizacional?
• Que aprendizagens retiram desta atividade para o vosso quotidiano organizacional?
5 a 20 pessoas
1h00
Onde me posiciono?
[ATIVIDADE 8]
A8
Descrição
Palavras-chave: Perante uma situação de fragilidade financeira, como se posicionam as OES relativamente às possíveis
fontes de fontes de financiamento? Com esta atividade convidamos à reflexão e ao debate sobre os desafios das
financiamento; fontes de financiamento da organização, reconhecendo diferentes posicionamentos e promovendo
missão. uma identificação crítica, conjunta e coerente dos respetivos constrangimentos e potencialidades
tendo em conta a missão organizacional.
Objetivos de Aprendizagem
• Refletir e debater sobre os desafios da organização em torno das suas fontes de financiamento e
identificar, em conjunto, constrangimentos e potencialidades - caminhos e recursos necessários.
• Reconhecer e promover um diálogo crítico e construtivo perante diferentes posicionamentos em
torno das fontes de financiamento.
Orientações
Preparação: identificar uma pessoa da organização para facilitar a atividade, que deverá Material
preparar antecipadamente várias frases (mínimo 10) relacionadas com a temática das • 2 Cartazes/Folhas A4
Fontes de Financiamento das OES e colar dois cartazes - num escreve-se "CONCORDO"
• Folhas A3 (em alternativa, folhas de
e no outro "NÃO CONCORDO" - em paredes opostas de uma sala espaçosa (adaptar
flipchart ou um quadro)
caso queiram fazer a atividade num espaço exterior). No verso desta Ficha, poderá
encontrar sugestões de frases a utilizar neste exercício, que podem ser adaptadas à • 1 Marcador de uma cor
realidade da organização. • Fita-cola ou bostik
• Duas paredes numa sala espaçosa
1. Pede-se ao grupo para se juntar no centro da sala. (5 min.)
(em alternativa, um espaço exterior)
2. A pessoa que facilitar a atividade lê as afirmações/frases e a cada afirmação, os
membros da organização que participam na atividade têm de se deslocar na sala de
acordo com o seu posicionamento. Quem não tiver opinião formada fica no meio da
sala. (5 min.)
3. A cada ronda de afirmações, as pessoas participantes apresentam, brevemente,
os seus argumentos relativamente ao posicionamento em questão, tentando
convencer os outros a mudarem de lado. (30 min.)
4. Em plenário, debate-se o exercício relacionando com a temática da atividade e
sistematizam-se as ideias convergentes e divergentes em folhas de flipchart ou
num quadro. (20 min.)
5. No final, convida-se o grande grupo para o "debrief"/balanço da atividade.
“Debriefing” / Balanço
A partir do debate anterior e para recolher feedback sobre o alcance da atividade realizada, convidar o grupo participante a
responder às seguintes questões (20 min.):
• Como se sentiram durante a atividade?
• Tiveram dificuldade em assumir posicionamentos relativamente a algumas afirmações/frases? Porquê?
• Que posicionamentos das pessoas participantes vos surpreenderam? Porquê?
• Em que medida esta atividade pode alimentar um debate interno mais alargado na tomada de decisões relativas à temática
do financiamento da organização?
O debate e a respetiva síntese poderão alimentar um debate interno mais alargado na tomada de decisões relativas à temática do
financiamento da organização e à sua correspondência com a missão organizacional.
Para aprofundar a reflexão crítica sobre o tema da sustentabilidade financeira da organização, esta atividade pode ser seguida, numa
ou mais sessões, da Atividade 9 — Tertúlias a fundo.
Capítulo IV
Celebrando o Percurso: Atividades práticas e recursos 85
A8 [ATIVIDADE 8]
Onde me posiciono?
Referências bibliográficas
Bray, I. (s.d.) Nonprofit Gifts: When Strings Are Attached. NOLO. Disponível em: https://www.nolo.com/
legal-encyclopedia/nonprofit-gifts-when-strings-attached-32421.html
Conselho Europeu (2020). Compass: Manual for Human Rights Education with Young People [2ª edição].
Disponível em: https://www.coe.int/en/web/compass/where-do-you-stand-
Hager, M. & Hung, C. (2020). Is Diversification of Revenue Good for Nonprofit Financial Health?. Non
Profit Quarterly. Disponível em: https://nonprofitquarterly.org/is-diversification-of-revenue-good-for-
nonprofit-financial-health/
Lesley University (s.d). Ethical Considerations for Nonprofit Fundraising. Disponível em: https://lesley.
edu/article/ethical-considerations-for-non-profit-fundraising
National Council of Nonprofits (s.d.) Ethical Fundraising. Disponível em: https://www.
councilofnonprofits.org/tools-resources/ethical-fundraising
Uma organização deve aceitar qualquer doação ou financiamento, mesmo que não se enquadre nas
suas necessidades imediatas nem seja coerente com a sua missão.
Mesmo que uma pessoa ou entidade ceda fundos ou bens a uma organização, não tem o direito de
determinar o fim a que se destinam ou como são usados.
Uma boa estratégia para angariar fundos é dar uma comissão a quem conseguir que pessoas ou
entidades financiadoras contribuam para a organização.
Não é prioritário orçamentar as atividades e despesas relacionadas com a angariação de fundos, esta
pode ser feita de forma "ad-hoc" por todas as pessoas que trabalham na organização.
Deve-se aceitar todas as doações mesmo que tenham condições difíceis de cumprir pela organização.
As boas intenções de uma organização são mais importantes do que a sua capacidade de gerir os
fundos que recebe de doadores e/ou financiadores.
É possível gerir favoravelmente os riscos reputacionais que podem advir do facto da organização
aceitar fundos de alguns tipos de financiadores.
É melhor não ter demasiadas fontes de financiamento, uma vez que estas levam a maiores desafios
gestionários, custos administrativos e podem dificultar a operacionalidade da organização.
Várias fontes de financiamento permitem que as organizações tenham mais autonomia na definição
da sua ação e maior flexibilidade perante imprevistos.
6 a 20 pessoas
2h35
Tertúlias a fundo
[ATIVIDADE 9]
A9
Descrição
Palavras-chave: Uma das preocupações das OES reside no financiamento da sua ação. Que fundos angariar e que
captação de fundos; estratégias operacionalizar? Através desta atividade promovemos a identificação de potenciais fontes
sustentabilidade de financiamentos (públicos e privados) e o desenvolvimento colaborativo de um conjunto de ações e
financeira; metas, definidas num horizonte temporal, para pôr em prática uma estratégia de captação de fundos.
financiamento.
Objetivos de Aprendizagem
• Promover a reflexão crítica e participada sobre a estratégia de financiamento/captação de fundos
da organização.
• Estabelecer bases para um plano de angariação de fundos, que contribua para a sustentabilidade
financeira da organização."
Orientações
Preparação: definir uma pessoa da organização para facilitar a atividade, que deverá Material
ter o cuidado de identificar pessoas com diferentes longevidades, cargos e funções na • Mesas (uma por cada grupo)
organização para participar na atividade. Como a duração da sessão é longa, considerar
• Folhas A3 (em alternativa, folhas de
um tempo para o grupo fazer uma pequena pausa.
flipchart)
Parte 1. Emergir de possibilidades (65 min.) • Marcadores
1. Dividir as pessoas participantes em 3 grupos. Pedir a cada grupo que nomeie • Fita-cola ou bostik
uma pessoa anfitriã da mesa. Entregar a essa pessoa folhas A3 (ou de flipchart) e • 1 Parede livre (em alternativa,
marcadores. (5 min.) quadro)
2. Lançar a pergunta A para os grupos debaterem. A pessoa anfitriã deverá registar as principais ideias debatidas no grupo,
na folha A3 (ou de flipchart), uma estratégia/fonte por cada folha. Ao fim desse tempo, as pessoas da mesa levantam-se e
trocam de mesa, ficando apenas a pessoa anfitriã. (20 min.)
3. A pessoa anfitriã dá as boas vindas às novas pessoas à mesa e faz uma pequeno sumário das ideias debatidas com o grupo
anterior. A seguir, é lançada a pergunta B, para um novo debate. (20 min.)
4. Repete-se o passo anterior para a pergunta C. (20 min.)
Perguntas:
A. Que estratégias/fontes de financiamento (públicos e privados) é que nunca usámos e que poderiam ser úteis para
alavancar projetos ou atividades atuais da organização?
B. A que fontes recorremos no passado que foram eficazes e adaptadas à organização mas que por algum motivo,
deixámos de o fazer?
C. Imaginem a organização daqui a 10 anos. Quais seriam idealmente as fontes de financiamento que apoiariam os
projetos/atividades da organização?
Parte 2. Plano de ação (60 min.)
5. Cada pessoa anfitriã coloca as folhas A3 (ou de flipchart) na parede, agrupadas por pergunta (A, B e C). (5 min.)
6. Em plenário, o grupo debate e consensualiza quais as fontes de financiamento mais viáveis ou adaptadas ao contexto
presente e futuro da organização. (15 min.)
7. Com recurso a folhas A3 (ou de flipchart), são traçadas ações e metas para cada fonte de financiamento, e o devido
enquadramento temporal/calendarização, com o propósito de esboçar um plano de angariação de fundos. (40 min.)
8. No final, convidar o grande grupo para o "debrief"/balanço da atividade.
Capítulo IV
Celebrando o Percurso: Atividades práticas e recursos 87
A9 [ATIVIDADE 9]
Tertúlias a fundo
“Debriefing” / Balanço
Em plenário, pedir às pessoas que reflitam sobre a atividade, a partir das seguintes perguntas (30
min.):
• Como funcionaram os grupos? Quais as vantagens de mudar de mesa para cada ronda de
perguntas?
• Como se sentiram as pessoas anfitriãs?
• Tiveram dificuldade em pensar em novas opções de fontes de financiamento? Porquê?
• Como foi o processo de estabelecer ações e metas para as possibilidades de fontes de
financiamento identificadas?
• Que aprendizagens retiram desta atividade?
Para aprofundar a reflexão crítica sobre o tema da sustentabilidade financeira da organização, esta atividade
pode ser precedida, numa ou mais sessões, da Atividade 8 — Onde me posiciono?.
4 a 20 pessoas
2h15
Confrontando discriminações
[ATIVIDADE 10]
A10
Descrição
Palavras-chave: Cada pessoa tem várias identidades dentro de si, que não são estáticas, que nos tornam singulares
diversidade; igualdade; e que se transformam na relação com os outros. Neste contexto de diversidade identitária, como
equidade; inclusão; nos relacionamos com a diferença? Em que medida a diversidade é assumida como um obstáculo
estereótipos; ao funcionamento de uma organização? A partir desta atividade, as pessoas da organização são
discriminações; convidadas a refletir sobre a diversidade no contexto da organização, sobre riscos de veiculação
mecanismos de de estereótipos que geram discriminações e sobre o ambiente organizacional que desejam criar,
denúncia; cultura visualizando mecanismos para o reporte de situações discriminatórias e a criação de uma cultura
organizacional. organizacional que promova a confiança e a segurança de quem denuncia, e a adequada resolução de
problemas.
Objetivos de Aprendizagem
• Problematizar os conceitos de diversidade, igualdade, equidade e inclusão.
• Identificar e compreender as origens dos estereótipos e de que forma conduzem a discriminações,
enquadrando-as no contexto da organização.
• Refletir criticamente sobre os mecanismos organizacionais para combate às discriminações,
começando pela gestão de denúncias.
Orientações
Preparação: identificar uma pessoa da organização para facilitar a atividade. Esta Material
atividade desenvolve-se em duas partes: na primeira parte convida-se a um debate sobre • Folhas A3 (em alternativa, folhas de
um ambiente organizacional promotor de diversidade e inclusão e na segunda parte, são flipchart ou quadro)
identificados e consensualizados mecanismos para lidar com potenciais discriminações
• Marcadores de várias cores
que possam existir ou ocorrer no seio da organização e para criar um espaço seguro e
de confiança para sinalizar discriminações (relacionadas quer com Partes Interessadas • Fita-cola ou bostik
internas quer externas). • Parede (em alternativa, cavalete ou
quadro)
Seleção de participantes: assegurar a maior diversidade possível do grupo de
participantes (ao nível da identidade e expressão de género, idade, perceção racial e
étnica, nacionalidade, capacidade funcional, orientação sexual e posição dentro da
organização).
Parte 1. Confrontar perceções e (re)conhecer a realidade da nossa organização (45 min.)
1. Começar com uma breve discussão sobre o que as pessoas entendem por "diversidade", "igualdade", "equidade" e
"inclusão". Considerar que existem cruzamentos de fatores de discriminação, que podem ser cumulativos e criar camadas de
estereótipos que são a base das discriminações.
2. Em plenário, definir quais os fatores de discriminação mais presentes no contexto do universo alargado da organização
(Partes Interessadas internas e externas). Considerar: classe social, idade, nacionalidade, situação familiar, género,
racialização e etnia, orientação sexual, identidade e expressão de género, características sexuais, deficiência, etc.
3. Dividir o grande grupo em grupos mais pequenos, de 4 a 5 pessoas, e pedir que identifiquem uma pessoa representante
do grupo. Distribuir as características identificadas pelos grupos e pedir-lhes que reflitam sobre o impacto de cada fator de
discriminação em relação à população maioritária, perante:
• acesso à educação
• acesso à saúde
• dificuldades financeiras
• condições habitacionais
• respeito pela língua, religião, cultura e celebrações próprias pela sociedade em geral
• reconhecimento do valor das opiniões e perspetivas sobre questões sociais e políticas
• risco de sofrer violência policial
• facilidade de pedir apoio e ajuda se precisar
• sentir valorização pela sociedade em geral
• discriminação pela sua origem
• possibilidade de fazer férias
• fazer programas sociais e culturais, pelo menos duas vezes por mês
Capítulo IV
Celebrando o Percurso: Atividades práticas e recursos 89
A10
•
[ATIVIDADE 10]
Confrontando discriminações
confiança no futuro
• acesso à profissão desejada
• risco de sofrer assédio ou violência nas ruas, ou nas redes sociais ou meios de comunicação social
• acesso ao voto
• receio pelo futuro da sua descendência, se a tiver
• aquisição de vestuário
• acesso à internet
• representação positiva ou negativa nosmeios de comunicação social, cinema, publicidade, etc.
Distribuir folhas A3 (ou de flipchart) e marcadores coloridos pelos grupos para que escrevam, ou representem graficamente, as
principais ideias geradas no e pelo grupo, e quando terminarem, pedir que colem os seus "retratos" numa parede.
4. Voltar ao plenário e pedir às pessoas representantes de cada grupo que partilhem as suas reflexões. Sistematizar as ideias-
chave em folhas A3 (ou de flipchart ou num quadro) à vista de todas as pessoas participantes.
Parte 2. Contribuir para a criação de um espaço seguro e de mecanismos para combater discriminações (60 min.)
5. Em plenário, identificar e debater sobre os mecanismos existentes na organização para gerir queixas de Partes
Interessadas internas e externas perante discriminações. Informar que o Artigo 26.º da Constituição da República
Portuguesa afirma que "[a] todos são reconhecidos os direitos à identidade pessoal, ao desenvolvimento da personalidade,
à capacidade civil, à cidadania, ao bom nome e reputação, à imagem, à palavra, à reserva da intimidade da vida privada e
familiar e à proteção legal contra quaisquer formas de discriminação."
6. Pedir às pessoas que regressem aos seus grupos e que revejam como estes procedimentos se processam e que
identifiquem potenciais obstáculos e problemas no fluxo de tratamento das queixas. Registar as diferentes perspetivas e as
ideias-chave em folhas A3 (ou de flipchart).
7. O passo seguinte dependerá se há ou não mecanismos instituídos pela organização para tratamento de queixas/denúncias.
Se não existirem, os grupos deverão debater e desenvolver ideias de possíveis mecanismos e procedimentos. Se existirem
mas não forem eficazes, o grupo deverá propôr alterações para lidar com os problemas assinalados no passo anterior.
8. Voltar ao plenário e pedir aos grupos que partilhem as suas reflexões e propostas. Consensualizar quais os procedimentos
que poderiam ser desenvolvidos e estabelecer um grupo de trabalho e uma janela temporal para elaborar propostas
concretas a apresentar à Direção da organização, caso não esteja a participar qualquer membro da Direção. Sistematizar as
ideias-chave em folhas A3 (ou de flipchart ou num quadro) à vista de todas as pessoas participantes, como produto da Parte
2 da Atividade.
9. Convidar para o "debrief"/balanço da atividade.
“Debriefing” / Balanço
A partir do debate anterior e para recolher feedback sobre o alcance da atividade realizada, convidar o grupo participante a
responder às seguintes questões (30 min.):
• O que sentiram durante a atividade? Porquê?
• Qual foi o fator de discriminação mais difícil de compreender, à luz dos conhecimentos pessoais ou da informação
disponível dominante?
• De que estereótipos pessoais tomaram consciência com esta atividade?
• De forma geral, o que é preciso mudar para se chegar a uma sociedade mais equitativa?
• As medidas ou políticas de discriminação positiva podem ser justificadas a curto-médio prazo, para despoletar mais
igualdade?
• O que é necessário que aconteça para criar espaços seguros aos grupos minoritários e em desvantagem para que possam
reclamar os seus direitos?
• Por que é que as estruturas organizacionais, no geral, não estão adaptadas a uma maior diversidade no seio das suas Partes
Interessadas? O que precisa de mudar? Qual é o meu papel nesse processo de mudança?
Referências bibliográficas
Conselho Europeu (2020). Compass: Manual for Human Rights Education with Young People [2ª edição]. Disponível em: https://
www.coe.int/en/web/compass/let-every-voice-be-heard
Conselho Europeu (2020). Compass: Manual for Human Rights Education with Young People [2ª edição]. Disponível em: https://
www.coe.int/en/web/compass/take-a-step-forward
A11
Organização de Trabalho)Organização de Trabalho)
2h15
[ATIVIDADE 11]
10 pessoas (máx.) Círculo Mágico
Descrição
Palavras-chave: As nossas vidas pautam-se por várias dimensões que nem sempre coexistem de forma conciliada
conciliação da vida- num contexto organizacional. Em que medida a conciliação das diversas esferas da nossa vida
trabalho; é condicionada pelo género? Com esta atividade convidamos à identificação dos problemas de
igualdade de género; conciliação entre a vida profissional, familiar, pessoal e cívica que ocorrem na organização, sob uma
sustentabilidade social. perspetiva de género. De igual modo, promove uma reflexão conjunta sobre (estratégias de) respostas
inovadoras.
Objetivos de Aprendizagem
• Identificar e debater os desafios e as possibilidades à conciliação entre a vida profissional, familiar,
pessoal e cívica dos recursos humanos em regime assalariado da organização.
• Compreender estes desafios, numa perspetiva de género.
• Refletir sobre a igualdade de género e sobre a sustentabilidade social da organização.
Orientações
Preparação: identificar uma pessoa da organização para facilitar a atividade. Seleção Material
de participantes: assegurar a maior diversidade possível do grupo de participantes (ao • Folhas A6 (1 A4 dividido em 4)
nível da identidade e expressão de género, idade, perceção racial e étnica, nacionalidade,
• 1 caneta/marcador fino por cada
capacidade funcional, orientação sexual e posição dentro da organização)
participante
Parte 1. Desafios diários (45 min.) • 1 bloco de notas por cada
1. Pedir às pessoas que se sentem em círculo. participante
2. Dstribuir 3 folhas de papel e uma caneta por cada pessoa do grupo. Em grupo, • 1 chapéu ou saco opaco
fazer um levantamento de problemas de conciliação entre a vida profissional, • Sala ampla (em alternativa, um local
familiar e pessoal, que já tenham existido ou não, pessoalmente ou não, dentro da exterior confortável)"
organização.
3. Cada pessoa que identificar um problema, escreve-o numa folha de papel, dobra
a folha em quatro e coloca-a no chapéu ou saco. Continuar até todas as pessoas terem identificado pelo menos um problema.
Palavras-chave para apoiar o grupo a identificar problemas - parentalidade (nas suas diferentes fases); igualdade de género; cuidado a
dependentes (ascendentes ou descendentes); saúde mental.
Parte 2. Visualizando (estratégias de) respostas (60 min.)
4. Mantendo-se em círculo, passar o chapéu/saco em roda pelo grupo. Pedir a cada pessoa, que na sua vez, sem olhar, retire
um papel do chapéu/saco.
5. As pessoas têm 5 minutos para, individualmente, se prepararem para falar sem parar durante um minuto sobre uma
(estratégia de) resposta para o problema que retiraram do chapéu/saco. As regras são: falar sem hesitação e sem repetições.
Podem tirar notas durante a preparação, para estruturar a resposta.
6. Em volta do círculo, pedir a cada pessoa para, à vez, fazer o seu "discurso".
7. Após cada "discurso", deixar 2 a 3 minutos para breves comentários. Se as pessoas tiverem muito a dizer, é importante
tomar nota do tópico e combinar voltar ao assunto no fim. O objetivo é fomentar a troca rápida de ideias.
8. Quando todas as pessoas tiverem falado, volte atrás e termine alguma discussão que tenha ficado pendente.
9. Convidar o "debrief"/balanço da atividade.
Se um objetivo adicional desta atividade for estabelecer colaborativamente as bases para a definição de uma política da organização
neste âmbito, definir em conjunto uma ou mais pessoas para registar todas as (estratégias de) respostas para os problemas que
surgiram durante sessão.
Capítulo IV
Celebrando o Percurso: Atividades práticas e recursos 91
A11 [ATIVIDADE 11]
Círculo Mágico
“Debriefing” / Balanço
Em plenário, questionar de forma geral o grupo sobre as diferentes partes da atividade, passando
pelos assuntos/problemas que foram levantados/identificados e sumarizando as (estratégias
de) respostas preconizadas. Em seguida, promover uma reflexão conjunta a partir das seguintes
perguntas (30 min.):
• Foi fácil ou difícil identificar problemas? Porquê?
• Sentem que o vosso género tornou a atividade mais desafiante? Porquê?
• Tiveram alguma dificuldade perante o problema que retiraram do chapéu/saco? Porquê?
• Foi difícil falar sem parar sobre as (estratégias/propostas de) respostas e apresentar a vossa argu-
mentação apenas num minuto?
• A organização já implementa alguma das medidas que foram referidas como respostas?
Para aprofundamento do tema, propor a leitura complementar do "Guia Prático para a implementação e
certificação da Norma Portuguesa 4552:2016", disponível em https://rederso.pt/2019/06/29/guia-pratico-
para-a-implementacao-e-certificacao-da-np-45522016/
Referências bibliográficas
Comissão para a Cidadania e para Igualdade de Género. Estratégia Nacional para a Igualdade e a
Não Discriminação 2018-2030. Disponível em: https://www.cig.gov.pt/estrategia-nacional-para-a-
igualdade-e-a-nao-discriminacao-2018-2030-portugal-igual/
Conselho Europeu (2020). Compass: Manual for Human Rights Education with Young People [2ª edição].
Disponível em: https://www.coe.int/en/web/compass/just-a-minute
5 a 10 pessoas*
2h00
* Para alcançar um maior número de pessoas da organização, podem ser promovidas várias sessões.
A12
Descrição
Palavras-chave: Em termos gerais, percecionamos o erro como um problema e, portanto, como algo a esconder e
aprendizagem a esquecer sem grande ou qualquer questionamento. Assim sendo, até que ponto as organizações
organizacional; aprendem com os seus erros, problematizando as suas práticas organizacionais, gestionárias e
desempenho; de intervenção? A partir desta atividade procuramos promover uma reflexão crítica, individual e
sistematização de conjunta, sobre a importância da sistematização de experiências e da identificação do erro como
experiências; erro. oportunidade de aprendizagem pessoal, interpessoal e organizacional. As partilhas e os diálogos em
torno dos erros e das aprendizagens são compilados num dossier — O Livro dos Erros Aprendentes
— numa lógica de construção conjunta, em prol de uma apropriação coletiva e com potencial de
transformação organizacional.
Objetivos de Aprendizagem
• Refletir criticamente sobre as perceções do erro, no contexto organizacional.
• Problematizar a sistematização de experiências como processo de aprendizagem e de
transformação pessoal, interpessoal e organizacional.
Orientações
Preparação: Deve ser definida uma pessoa na organização responsável pela facilitação Material
da atividade. A realização da atividade requer a recolha antecipada de revistas/jornais. • Folhas A4 brancas
1. Inicialmente, pedir a cada pessoa para refletir, identificar e registar numa folha • Marcadores coloridos
A4, com recurso aos marcadores coloridos e às revistas/jornais, um ou mais erros • Revistas antigas e jornais
que ocorreram em projetos ou atividades em que tenha estado envolvida. Para
• Tesouras
além da escrita, pode ser incentivado o recurso ao desenho ou a outras formas de
representação gráfica. (10 min.) • Cola
• Dossier A4 e um furador
2. Em seguida, a partir do passo 1, pedir para desenharem três traços a sair do(s)
• Parede (em alternativa, Quadro ou
erro(s) escrito(s) ou graficamente representado(s). À frente do primeiro traço, as
superfície visível para o grupo)
pessoas participantes devem identificar as consequências do(s) erro(s) registado(s);
o segundo traço corresponde ao que fizeram ou não fizeram para lhe(s) dar
resposta e junto ao terceiro traço devem escrever ou representar graficamente o
que aprenderam com esse(s) erro(s). (10 min.)
3. Em plenário, promove-se uma partilha livre e uma reflexão crítica sobre os erros
identificados, convergências e diferenças de perspetivas, e sobre aprendizagens
pessoais e interpessoais no sentido de identificarem, em coletivo, as mudanças
organizacionais que deveriam ocorrer. Registar o debate em folhas A4 à vista de
todo o grupo. (40 min.)
4. Em seguida, afixar novas folhas A4 numa parede e pedir ao grupo para
sistematizar de forma orgânica e conjunta, e com recurso à escrita, ao desenho
e/ou à representação gráfica, as principais aprendizagens que gostariam que
fossem partilhadas na organização e adotadas/implementadas no quotidiano
da mesma. Esta sistematização pode ser feita com marcadores coloridos e/ou
colagens. (30 min.)
5. No fim, compilar os registos de aprendizagens (referentes aos Passos 3 e 4)
num dossier a que podem chamar "Livro dos Erros Aprendentes" e que deverá ser
partilhado pela organização e alimentado com outros processos de aprendizagem
organizacional.
6. Convidar o grupo para o "debrief"/balanço da atividade.
Capítulo IV
Celebrando o Percurso: Atividades práticas e recursos 93
A12 [ATIVIDADE 12]
Livro dos Erros Aprendentes
“Debriefing” / Balanço
A partir do debate anterior e para recolher feedback sobre o alcance da atividade realizada, convidar o
grupo participante a responder às seguintes questões (30 min.):
• Como se sentiram ao longo da atividade?
• Foi difícil identificar erros e aprendizagens? Porquê?
• Qual é a importância de sistematizar experiências?
• O que aprenderam, numa perspetiva pessoal e interpressoal, com estas partilhas?
• Em que medida esta atividade pode contribuir para uma mudança organizacional (práticas de
gestão e de intervenção)?
• Qual foi o momento mais marcante desta atividade? Porquê?
Referências bibliográficas
Holliday, O. J. (s.d.). Guia para Sistematização de Experiências: aprender a dialogar com os processos.
CIDAC. Disponível em: https://www.cidac.pt/files/4513/8497/5266/Aprendizagens_1_v_ligth.pdf
4 a 20 pessoas
2h00
Tecendo nós
[ATIVIDADE 13]
A13
Descrição
Palavras-chave: Que relações de poder existem numa parceria? Como podemos promover uma ação comum
trabalho em rede; articulando complementaridades organizacionais? A partir de seis princípios definidos pelo educador
redes de trabalho; social Oscar Jara, convidamos, através desta atividade, a uma reflexão em torno da forma como uma
parcerias; organização trabalha com as suas entidades parceiras, identificando-se simultaneamente caminhos
relações de poder. para a transformação de lógicas de redes de trabalho em lógicas de trabalho em rede.
Objetivos de Aprendizagem
• Problematizar o conceito de parceria, e as relações de poder implícitas.
• Compreender a diferença entre rede de trabalho e trabalho em rede, a partir de uma proposta de
análise.
• Refletir e debater sobre a forma como a organização trabalha com as suas entidades parceiras e
identificar, em conjunto, potencialidades para a adoção de uma lógica e de práticas de trabalho em
rede.
Orientações
Preparação: Deve ser definida uma pessoa na organização responsável pela facilitação Material
da atividade. • Projetor ligado a um computador
1. Pedir às pessoas participantes que identifiquem, de forma livre, as entidades • 1 Parede (em alternativa, quadro)
parceiras da organização e as registem num quadro (ou folhas de papel A4 coladas • Folhas brancas A4
na parede para manter visível durante a atividade) (15 min.)
• Folhas A3 (em alternativa, folhas de
2. Visualizar o vídeo do educador social costa-riquenho Óscar Jara flipchart)
Holliday sobre a temática do trabalho em rede [https://www.youtube.com/ • Fita-cola ou bostik
watch?v=8zD5Q6Uqkak]. Durantea visualização do vídeo pedir a cada pessoa para • Marcadores de cores diferentes
registar as ideias principais. (15 min.)
• Parede
3. Dividir o grande grupo em dois grupos mais pequenos, distribuir uma folha A3
(ou folhas de flipchart) e um marcador de cor diferente a cada grupo. A partir do
vídeo e dos registos efetuados no passo 2, debater e registar, numa primeira ronda, os moldes de trabalho da organização, no
geral, com as suas entidades parceiras, tendo em conta as seguintes questões (40 min.):
• A organização promove redes de trabalho ou um trabalho em rede?
• Como são definidos os papéis de cada parceiro na construção das ações que desenvolvem?
• Que relações de poder existem entre as diferentes entidades parceiras com quem trabalham? Em que medida são, ou não,
relações de poder sinérgicas?
• De que forma estas influenciam a ação conjunta que desenvolvem, nomeadamente ao nível do papel e envolvimento de
cada parceiro na construção e implementação da ação?
• De que forma se encontram para debater o curso das parcerias e ações comuns? Sentem que há espaço para firmar
cumplicidades e consensos relativamente aos compromissos comuns?
• Quais os desafios externos que têm em comum com as vossas entidades parceiras, que fortalecem a importância de
colaborarem?
• Quais as diferenças que vos complementam?
• Como têm gerido as dificuldades, conflitos, ou aspetos menos positivos, de trabalhar com cada parceiro?
• Sentem que têm o tempo e espaço necessários para partilhar todos os desafios e celebrar as conquistas, integrando as
aprendizagens na melhoria do processo de trabalho conjunto?
• As estratégias de trabalho são iguais para cada entidade parceira, ou adaptadas às suas idiossincrasias?
Projetar as questões para estarem visíveis para todas as pessoas participantes.
Capítulo IV
Celebrando o Percurso: Atividades práticas e recursos 95
A13 [ATIVIDADE 13]
Tecendo nós
4. Numa segunda ronda, os grupos trocam entre si a sua folha de registo do debate e assinalam,
com uma cor de marcador diferente, os seus comentários (eventuais discordâncias, questões,
inquietações), numa lógica de complementaridade e construção conjunta. Quando terminarem,
devem colar as folhas com fita-cola numa parede. (15 min.)
5. Em plenário, e visualizando as folhas de registo dos dois grupos, sistematizar, em coletivo, as ideias
principais relativamente à temática do trabalho em rede: os desafios atuais da organização e as suas
potencialidades de mudança. O grupo deve nomear uma pessoa para fazer o registo deste passo da
atividade. (20 min.)
6. No final do debate, convidar o grupo para o "debrief"/balanço da atividade.
“Debriefing” / Balanço
A partir do debate anterior e para recolher feedback sobre o alcance da atividade realizada, convidar o
grupo participante a responder às seguintes questões (15 min.):
• O que mais vos supreendeu nesta atividade? Porquê?
• Quais as maiores conclusões a que chegaram sobre as relações da vossa organização com as suas
entidades parceiras?
• Que mudanças concretas e imediatas podem introduzir na forma de trabalhar com as entidades
parceiras, na lógica de trabalho em rede defendida por Oscar Jara? E a médio-longo prazo?
Para consolidar a aprendizagem, propor às pessoas participantes que leiam o texto "O trabalho em Rede:
tecer complexidades e forças" de Oscar Jara Holliday, disponível em http://www.rede-ecg.pt/a/index.php/
download_file/view/36/188.
5 a 15 pessoas
1h30 (por tema)
Descrição
Palavras-chave: Vamos conversar sobre igualdade de género na nossa organização? A partir de pesquisas e dados
desigualdade de género; oficiais, bem como da partilha de experiências na primeira pessoa ou de situações observadas na
disparidade salarial; organização, promovemos, com esta atividade, o mapeamento e uma reflexão crítica sobre o problema
conciliação da da desigualdade de género na organização — somado a outros fatores de discriminação —, e desafia à
vida-trabalho; identificação, em coletivo, de respostas concretas que potenciem um contexto organizacional pautado
segregação vertical; pelo princípio da igualdade de género.
segregação horizontal.
Objetivos de Aprendizagem
• Mapear e refletir sobre práticas existentes na organização relativamente à desigualdade de
género, nomeadamente ao nível da representatividade, da participação na tomada de decisão, da
conciliação vida-trabalho, da disparidade salarial e/ou de estereótipos associados aos papéis de
género.
• Debater e identificar, em coletivo, soluções que potenciem um contexto organizacional pautado
pelo princípio da igualdade de género.
Orientações
Ter o cuidado de assegurar um equilíbro em termos de géneros e identificar pessoas com Material
diferentes longevidades, cargos, funções na organização, tendo particular atenção à • Quadro (em alternativa, cavalete
interseção com outros fatores de discriminação. com folhas de flipchart, ou bloco de
Dependendo do tempo disponível, podem propor-se várias sessões e selecionar-se um ou papel)
mais temas para trabalhar em cada sessão. • Citações pré-selecionadas escritas
1. Em plenário, pedir para cada pessoa ler, à vez, uma das citações abaixo propostas em cartões (em alternativa imprimir
(ou uma pré-seleção), por tema. Preparar previamente os cartões com as citações em folhas A4)
e distribuir na sessão pelas pessoas participantes. No final de cada leitura, pedir • Marcadores coloridos
que ponham a mão no ar se sentirem que se aplica à sua experiência pessoal ou • Sala ampla (em alternativa, local
a experiências observadas no contexto da sua organização (15 min.). Apontar a exterior confortável)
votação no quadro (ou numa folha de flipchart) e passar para a citação seguinte.
2. No final da ronda, pedir a um elemento do grupo para desenhar uma árvore no quadro (ou numa folha de flipchart),
escrever o nome da problemática subjacente à sessão - Desigualdade de Género - no tronco e identificar a citação com mais
votos e o subtema associado (5 min.).
3. Pedir às pessoas que votaram na citação em questão para explicarem por que consideraram que se aplica à organização e
para apontarem as causas do problema na raíz da árvore e as consequências na copa da árvore (40 min.).
4. De seguida, durante 30 minutos, desafiar o grupo de participantes a transformar, em coletivo, a árvore de problemas
numa árvore de respostas, definindo ações concretas, viáveis no contexto da organização, a partir das causas identificadas.
Escrever as ações junto às causas do problema (raízes da árvore desenhada) no quadro ou em folhas de flipchart coladas
junto à árvore para que estejam visíveis para o grupo.
5. Passar para a segunda citação mais votada ou para outro tema ou, então, convidar o grupo para o "debrief"/balanço.
Disparidade salarial
"Os dados mais recentes, do Gabinete de Estratégia e Planeamento (GEP-MTSSS), indicam que o fosso salarial entre homens
e mulheres está a diminuir, mas as mulheres continuam a ganhar menos 14,8% ou, em números absolutos, 149,7 euros que
os homens. Isto significa que a disparidade salarial em Portugal corresponde a uma perda de 54 dias de trabalho remunerado
para as mulheres. Quando desdobramos os números as diferenças são ainda mais notórias. As mulheres com cargos em
quadros superiores ganham menos 617,7 euros que os homens e entre pessoas com o ensino superior ganham menos
505,50 euros."
Fonte: Comunicado Oficial Dia Nacional da Igualdade Salarial 2019. Disponível em: https://www.portugal.gov.pt/download-ficheiros/ficheiro.
aspx?v=%3d%3dBAAAAB%2bLCAAAAAAABACzsLCwBACJjzl2BAAAAA%3d%3d
Capítulo IV
Celebrando o Percurso: Atividades práticas e recursos 97
A14 [ATIVIDADE 14]
Árvore da Igualdade
"O problema da discriminação remuneratória é efetivamente resultante não só do facto de os homens ocuparem as posições
de topo, mas também da estrutura diferenciada de género nas ocupações menos qualificadas dos setores secundário e
terciário da economia. As mulheres continuam sobrerrepresentadas no setor dos serviços, onde os empregos (sobretudo os
menos qualificados nas áreas da saúde, da educação e dos serviços pessoais e de limpeza) são, de uma forma geral, menos
bem remunerados do que os empregos na indústria e na construção, onde predominam os homens. Por outro lado, os dois
setores de atividade onde mais se mantém a segmentação profissional – a educação e a saúde humana/serviço social – são
setores tradicionalmente femininos, que integram de algum modo atividades ligadas ao cuidado a terceiros." (p.8).
Fonte: Wall et al. (2016) LIVRO BRANCO - Homens e Igualdade de Género em Portugal. ICS-UL, CITE: Lisboa.
Conciliação da vida profissional, pessoal, familiar e cívica
"Particularmente relevante, em termos do seu impacto nas formas de articulação do trabalho pago com a vida familiar e
pessoal, são as modalidades de organização do tempo de trabalho remunerado. O horário fixo é a forma predominante de
organização dos tempos de trabalho, tanto para os homens (68,2%) como sobretudo para as mulheres (74,1%). Refira-se,
contudo, que, apesar de ser bem menos frequente, a segunda forma mais referida de organização do tempo de trabalho, é
o trabalho por turnos: 13,5% das mulheres e 16,1% dos homens declaram trabalhar por turnos, em particular por turnos
rotativos. Outras formas de organização do tempo de trabalho, tidas como mais facilitadoras da articulação com a vida
familiar e pessoal, tais como a jornada contínua ou a flexibilidade de horário, têm uma expressão muito diminuta, tanto entre
as mulheres como entre os homens." (p.4)
Fonte: Perista et al. (2016) Os usos do tempo de homens e de mulheres em Portugal. Policy Brief. CESIS, CITE: Lisboa. Disponível em https://
eeagrants.cig.gov.pt/wp-content/uploads/2019/02/INUT_Policy_Brief.pdf
"O trabalho pago extravasa com frequência as suas ‘fronteiras’. Desde logo porque o trabalho remunerado exige, em muitos
casos, um investimento de tempo que vai para além do horário de trabalho contratualizado: 34% dos homens, face a 28,3%
das mulheres, nos últimos 12 meses, trabalharam durante o seu tempo livre para dar resposta a solicitações do trabalho
pago, pelo menos várias vezes por mês." (p.5)
Fonte: Perista et al. (2016) Os usos do tempo de homens e de mulheres em Portugal. Policy Brief. CESIS, CITE: Lisboa. Disponível em https://
eeagrants.cig.gov.pt/wp-content/uploads/2019/02/INUT_Policy_Brief.pdf
"Para além do tempo efetivamente afeto à atividade profissional, importa também ter em conta outras formas de
interpenetração entre trabalho pago e vida familiar e pessoal, nomeadamente ao nível de dimensões mais subjetivas. Quase
metade das mulheres (46,8%, face a 40,6% dos homens) declara que, nos últimos 12 meses, continuou preocupada com o seu
trabalho remunerado, mesmo quando não estava a trabalhar. Em contrapartida, são os homens que, em maior percentagem
(59,4%, face a 53,2% das mulheres), referem que o seu trabalho raramente ou nunca constituiu, no mesmo período, motivo
de preocupação quando não estavam a trabalhar." (p.6)
Fonte: Perista et al. (2016) Os usos do tempo de homens e de mulheres em Portugal. Policy Brief. CESIS, CITE: Lisboa. Disponível em https://
eeagrants.cig.gov.pt/wp-content/uploads/2019/02/INUT_Policy_Brief.pdf
"A interpenetração da vida familiar na vida profissional é, também, mais evidente entre as mulheres. São elas que, muito
mais frequentemente, quando estão no seu local de trabalho, pensam nas tarefas domésticas que têm de realizar, por
exemplo o que fazer para o jantar (50,5%, face a apenas 17,1% dos homens) e/ ou resolvem questões relacionadas com a
sua vida de família ou com o organização do seu quotidiano (embora, a este nível, as diferenças em função do género sejam
significativamente menores, 52,7% das mulheres face a 45,4% dos homens)". (p.7)
Fonte: Perista et al. (2016) Os usos do tempo de homens e de mulheres em Portugal. Policy Brief. CESIS, CITE: Lisboa. Disponível em https://
eeagrants.cig.gov.pt/wp-content/uploads/2019/02/INUT_Policy_Brief.pdf
Segregação vertical
" (...) no que respeita à segregação vertical, as entidades empregadoras podem desempenhar um papel fundamental no
sentido da mudança, sabendo-se, por exemplo, da importância de proporcionar às mulheres maiores oportunidades de
acederem a lugares que proporcionam a tomada de decisões de alto nível. Por exemplo, alguns estudos apontam diversas
razões para que, no que respeita ao género, os conselhos de administração mais heterogéneos contribuam para uma
melhor gestão empresarial. Por um lado, estes conselhos tendem a ter um leque mais alargado de perspetivas, origens,
experiências e competências no que respeita à resolução de problemas. Por outro, uma vez que estão sub-representadas
nas tradicionais redes de colegas de trabalho masculinas, as mulheres em cargos de direção podem introduzir perspetivas
mais independentes nas reuniões do conselho de administração, fortalecendo assim a sua função de controlo. Por outro
lado ainda, mais do que os homens, as mulheres recorrem a competências de liderança, tais como o desenvolvimento dos
colaboradores, prémios, modelos de papel, inspiração e participação na tomada de decisão (Desvaux , Devillard e Sancier-
“Debriefing” / Balanço
A partir do debate anterior e para recolher feedback sobre o alcance da atividade realizada, convidar o grupo participante a
responder às seguintes questões (30 min.):
• Como se sentiram durante a atividade, a partir do vosso lugar de género?
• Houve alguma informação ou partilha que vos tenha surpreendido? Porquê?
• Por que é que é importante no geral, e para a organização, em particular, uma maior igualdade de presença e participação
de pessoas de todos os géneros e a eliminação das discriminações?
Referências bibliográficas
Gabinete da Ministra de Estado e da Presidência & Gabinete da Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. (s.d.)
Comunicado Oficial Dia Nacional da Igualdade Salarial 2019. Disponível em: https://www.portugal.gov.pt/download-ficheiros/
ficheiro.aspx?v=%3d%3dBAAAAB%2bLCAAAAAAABACzsLCwBACJjzl2BAAAAA%3d%3d
Perista et al. (2016). Os usos do tempo de homens e de mulheres em Portugal. Policy Brief. CESIS, CITE: Lisboa. Disponível em:
https://eeagrants.cig.gov.pt/wp-content/uploads/2019/02/INUT_Policy_Brief.pdf
Wall, K. et al. (2016). Livro Branco - Homens e Igualdade de Género em Portugal. ICS-UL, CITE: Lisboa. Disponível em https://
repositorio.ul.pt/bitstream/10451/26649/1/ICs_KWall_LivroBranco_Outros.pdf
Capítulo IV
Celebrando o Percurso: Atividades práticas e recursos 99
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