SG - Uepb
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POMBAL – PB
2021
MARIA ISABEL CLEMENTINO PEREIRA
POMBAL – PB
2021
MARIA ISABEL CLEMENTINO PEREIRA
Banca Examinadora
O presente trabalho tem como objetivo analisar os processos de luta por territórios
de ocupação ocorridos no Perímetro Irrigado de São Gonçalo, nas duas últimas
décadas. Bem como, discutir e entender os conceitos de territórios e de
territorialidade ao mesmo tempo, procurar entender que o território se trata de um
espaço delimitado, e que por vezes são desconstruídos através das relações de
poder (Raffestin, 1993). No assunto em estudo, o acampamento Federal de São
Gonçalo passou por transformações marcadas pela territorialidade, constatada pela
ação envolvendo uma gama muito grande de atores nas apropriações indébitas com
o passar do tempo, sem registro de conflitos, e que aconteceu gradativamente. Na
obra Memorial de um Sertão publicado em (2018, p.84), de autoria do escritor
Josemar Alves Soares, filho natural de São Gonçalo, faz a historiografia da criação
do acampamento federal através IFOCS na década de 1920, órgão depois
substituído pelo DNOCS. Mostra também a fragmentação espaço-social no
acampamento, causada pela falta de fiscalização, a fragilidade do órgão Federal, a
falta de uma gestão para coibir as construções irregulares teve como consequências
a total descaraterização das residências que historicamente ao longo dos anos
serviram exclusivamente aos funcionários moradores do acampamento.
The present work aims to analyze the processes of struggle for occupation territories
that have taken place in the Irrigated Perimeter of São Gonçalo, in the last two
decades. As well as, discussing and understanding the concepts of territories and
territoriality at the same time, trying to understand that the territory is a delimited
space, and that they are sometimes deconstructed through power relations
(Raffestin, 1993). In the subject under study, the Federal Camp of São Gonçalo
underwent transformations marked by territoriality, evidenced by the action involving
a very large range of actors in misappropriations over time, without any record of
conflicts, and which happened gradually. In the work Memorial de um Sertão
published in (2018, p.84), authored by writer Josemar Alves Soares, natural son of
São Gonçalo, he historiographs the creation of the federal encampment through
IFOCS in the 1920s, an organ later replaced by DNOCS. It also shows the social-
space fragmentation in the camp, caused by the lack of supervision, the fragility of
the Federal agency, the lack of a management to curb irregular constructions, which
resulted in the total de-characterization of the residences that historically served
exclusively to employees camp residents.
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 13
1 INTRODUÇÃO
De acordo com Marques (2002), o território rural corresponde àquilo que não
é urbano, sendo definido a partir de carências e não de suas próprias
características. A autora chama atenção para o rural, assim como o urbano, uma vez
definido pelo arbítrio dos poderes municipais, o que, muitas vezes, é influenciado por
seus interesses fiscais.
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“A paisagem nada tem de fixo, de imóvel. Cada vez que a sociedade passa
por um processo de mudança, a economia, as relações sociais e políticas
também mudam, em ritmos e intensidades variados. A mesma coisa
acontece em relação ao espaço e à paisagem que se transforma para se
adaptar às novas necessidades da sociedade.” (SANTOS, 1997, p. 37).
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Figura 2 – Vista aérea do Açude de São Gonçalo, Distrito de são Gonçalo, Sousa/PB
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Núcleo 01 Núcleo 03
Núcleo 02
São Gonçalo possui vários sítios localizados na sua periferia, não obstante,
há relatos da existência de alguns desde o século XVIII. A partir da construção do
açude da criação do Perímetro Irrigado de São Gonçalo colonos e trabalhadores se
organizaram em núcleos urbanos a partir daí surgiram os Núcleos Habitacionais I, II
e III (SOARES, 2013).
Estas três áreas territoriais delimitadas para as agrovilas, foram fundamentais
na consolidação ou na ocupação territorial do PISG, também dando origem a um
povoado mais próximo da barragem que aos poucos se transformou no Distrito de
São Gonçalo, atraindo muitos moradores e até mesmo os filhos das famílias
nucleares que foram se casando e constituindo novas famílias (Box 1):
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Núcleo I Núcleo II
Núcleo III
Figura 5 – Trecho do rio Piranhas, onde fica a sangria do Açude São Gonçalo, Sousa/PB
Nas áreas bem próximas ao açude registramos uma maior vazão hídrica, mas
na medida em que nos afastamos da calha principal, a semiaridez provoca a seca,
sendo os processos de irrigação indispensáveis para que os agricultores irrigantes
do perímetro, consigam desenvolver as suas culturas.
Nas áreas mais distantes do canal de escoamento das águas do açude é
possível destacar a prática de queimadas nas proximidades do Rio Piranhas e nos
arredores de São Gonçalo, portanto, nota-se a existência de desmatamentos e
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queimadas na região do PISG. Essa é uma prática tradicional, mas que prejudica o
solo ao longo dos anos (Figura 7):
Figura 7 – Queimadas as margens da PB 380, na altura do Sítio Quandú, PISG – Sousa – PB.
consumidores, pois o coco e a banana são frutas consideradas duas das mais
importantes fontes de renda para os irrigantes de São Gonçalo.
É evidente, segundo registros locais, que “a água de coco produzida em
Sousa é julgada a melhor do Brasil (ENTREVISTA NO CANAL DO YOUTUBE DO
DIÁRIO DO SERTÃO, 2013). O reconhecimento econômico dessa produção, no
ramo de importação comercial, assinala uma produção de 120 mil a 150 mil cocos
por dia, os quais são destinados a várias capitais do país (Figura 8):
Figura 8– Produção de coco Verde na área do perímetro irrigado do Açude São Gonçalo,
Sousa/PB
Assim, fica demonstrado a abundante produção de coco nesse local que saía
diariamente dessa área de plantio, caracterizando os lotes com vegetações verdes e
bem irrigadas, o tamanho dos cachos de coco contidos em cada coqueiro, vislumbra
a fartura econômica que existia antes da seca que arrasou o ambiente local.
Neste perímetro, observa-se que a agricultura apresenta o principal sustento
econômico, porém, os agricultores utilizam suas terras não só para base agrícola,
mas também outro fator economicamente relevante seria a pecuária, através da
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De acordo com Silva Neto (2013) esta estação meteorológica foi instalada em
08 de outubro de 1938, a estação se encontra em pleno funcionamento, sendo
considerada classe A. Esta estação é referência para a coleta de dados
meteorológicos e/ou atmosférico para toda essa região sertaneja, gerando dados
que permitem o estabelecimento de metas e planejamento sobre a capacidade
produtiva semestral e anual. Sem estes dados, a instabilidade ambiental devido a
semiaridez poderia impedir o desempenho produtivo do território perimetral do açude
São Gonçalo.
No que corresponde aos aspectos religiosos dos moradores do perímetro, a
localidade é também conhecida pelo seu turismo religioso, em função da Gruta de
Nossa Senhora de Lourdes, erguida as margens do açude, desde os primórdios da
construção do manancial, local em que as famílias católicas utilizam para fazer suas
promessas ou pagar as graças alcançadas.
Sem identificarmos nomes, conversamos com uma moradora, Dona MJGS,
73 anos, agricultora e doméstica, que nos revelou ser devota de Nsª. Srª de Lurdes
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e sempre faz promessas para que o ano seja bom de safra para ela, seus familiares
e vizinhos. O local é muto visitado e devido a proximidade do balde do açude,
também foram instalados restaurantes e até moradias, nestas intermediações (figura
11).
Figura 11: Vista panorâmica da Gruta de Nossa Senhora de Lourdes localizada no PISG –
Sousa – PB.
Figura 12: Loja Maçônica Vale do Piranhas localizada no PISG – Sousa – PB.
Figura 13: Prédio histórico do Hotel Catete, Distrito de São Gonçalo, no PISG – Sousa - PB
filhos das famílias que vivem e trabalham no PISG, quanto na área urbana de Sousa
e municípios circunvizinhos (figura 14).
um local com atrativos turísticos que já se encontra nas rotas da região sertaneja
(SOARES, 2013) (Figura 15):
Figura 15 – Vista do Túnel de Tamarineiras localizada no PISG – Sousa – PB.
Box 2 – Restaurante O Mirante as margens do Açude Rio Piranhas no Perímetro Irrigado de São
Gonçalo.
Box 3 – Ocupação na área da Zootecnia em Haras para cavalos no Perímetro Irrigado de São
Gonçalo.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste caso, foram surgindo vários agregados familiares e aqueles que tinham
mais posses, terminaram por também ocupar algumas áreas, foram diversificando
suas atividades, abrindo pontos comerciais, alterando as edificações originais e até
ocupando trechos do perímetro que não estavam previstos.
Então vimos que, com as mudanças constitucionais e as novas leis
ambientais, muitos ocupantes passaram a ser considerados ilegais, além de outros
investidores, que mesmo sabendo dos riscos jurídicos, adquiriram lotes e passaram
a construir edificações as mais variadas, como moradias, prédios comerciais,
galpões e até casas de veraneio. Estes foram os principais aspectos dos conflitos
territoriais locais, provenientes do tipo de ocupação e uso das áreas rurais e urbanas
do entorno do PISG, uma importante área territorial que ultrapassou as expectativas
de acumulo de água para atender as necessidades básicas da população sertaneja
de Sousa/PB.
Por meio deste trabalho, é possível compreender melhor essas
transformações geradas e que trouxe modificações nos aspectos físicos do distrito,
fruto do sucateamento do órgão federal DNOCS que perdeu completamente o
domínio sobre o acampamento federal. Ao longo da pesquisa, foi possível constar as
investidas da iniciativa privada nestas terras de domínio da União, em face das
muitas construções em áreas inapropriadas, a exemplo dos bares e restaurantes as
margens do açude e as casas de veraneio.
Desta forma, fica evidente a necessidade de aprofundar-se por meio de
outros trabalhos para investigar ainda mais a fundo como se deu a comercialização
destas terras e de que forma conseguem manter-se de pé e sendo comercializadas
infringindo as leis.
Temos plena consciência de que, a pesquisa possuí limites e que o período
de Pandemia do Covid-19, iniciada por volta do mês de março de 2020,
atrapalharam em muito os planos para este estudo. Mesmo assim, os argumentos
teóricos foram colhidos através das redes sociais, os documentos encontrados
serviram de base e alguns relatos de pessoas mais próximas foram fundamentais
nesta construção.
Sabemos que devido a pandemia do Covid-19, importante parte de nossa
pesquisa não foi possível, que eram entrevistas com pessoas que atuam no PISG,
entrevistas autoridades políticas, representantes dos agricultores irrigantes,
comerciantes locais, entre outros.
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REFERÊNCIAS
LIMA, C.O.; BARBOSA, M.P.; LIMA, V.L.A.; SILVA, M.J. Uso de imagens
TM/Landsat-5 e termometria na identificação e mapeamento de solos afetados por
sais na região de Sousa-PB. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental,
v.5, n.2, p.361-363, 2001.
SANTOS, Milton. Pensando o espaço do homem. 4. ed. São Paulo: Hucitec, 1997.
TRESMANN, I. A pátria renascida. Revista Globo Rural. Edição 268. Fev. 2008.
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios – TJDFT.