Silva 9788579830921 06
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SILVA, VCP. Palmas, a última capital projetada do século XX: uma cidade em busca
do tempo. [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. 294 p. ISBN
978-85-7983-092-1. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>.
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A ESCULTURA DE LINGUAGEM
DA CIDADE IMAGINÁRIA
1 Cecília Prada (2002, p.29), num artigo sobre o fazer poético de Cecília Meire-
les, aborda a sua literatura e a forma associativa com a qual ela olhava o mundo
e o retinha em forma de memória. Ao falar da sua infância numa entrevista,
Cecília narrou o seguinte: “tudo quanto naquele tempo vi, ouvi, toquei, senti,
perdura em mim com uma intensidade poética inextinguível... céus estrela-
dos, tempestades, chuva nas flores, frutas maduras, casas fechadas, estátuas,
negros, aleijados, bichos, suínos, realejos, cores de tapete, bacia de anil, ner-
vuras de tábuas, vidros de remédio, o limo dos tanques, a noite em cima das
árvores, o mundo visto através de um prisma de lustre”.
160 VALÉRIA CRISTINA PEREIRA DA SILVA
Existe outra cidade que se parece com Palmas? Se sim, qual e por
quê?
Você mora num bairro ou quadra? Existe diferença entre bairro e
quadra? Qual?
PALMAS, A ÚLTIMA CAPITAL PROJETADA DO SÉCULO XX 163
parte pelo todo, o efeito pela causa –; a partir dos dados aparente-
mente negligenciáveis, remontaríamos a uma realidade complexa,
não experimentável diretamente. A metáfora é vista como hipótese
indemonstrável, sua rigorosa exclusão reconduz o eixo narrativo
da metonímia. Por nossa vez, consideramos sintomas, indícios,
signos, mas também a capacidade da metáfora de trazer imagens.
Como apresenta Kirinus (2006), a metáfora hidrata o texto. Nessa
hidratação temos um monumento documento que está para ser inter-
pretado, como apontam os estudos de Le Goff (2003).
Para ampliar a perspectiva de Ginzburg (1989), correlaciona-
mos esta com aquela de Calvino (1990a, 1993), para quem não se
pode explicar nada se nos limitamos a buscar uma causa para cada
efeito, pois cada efeito é determinado por uma multiplicidade de
causas, e cada uma delas tem várias outras por trás. Conhecer é
inserir algo no real e, portanto, deformar o real. Qualquer ponto ou
objeto pode ser visto como o centro de uma rede de relações na qual
é possível multiplicar os detalhes. Aos nossos olhos, a realidade
apresenta-se múltipla, espinhosa, com estratos densamente sobre-
postos, próxima à imagem de uma alcachofra, um rolo, um aranzel,
para o autor; ou para nós, como o prisma de um lustre.
No emaranhado inextricável da realidade, cada elemento é um
redemoinho a convergir pares, contrários e paradoxos, que movem
impulsos heterogêneos, os quais não devem ser negligenciados na
observação.
Outro elemento importante nessa lógica é a exigência de que
tudo seja descrito, denominado e localizado no espaço e no tempo,
mediante a exploração do potencial semântico das palavras, de toda
a variedade de formas discursivas com suas alegorias. Em outras
palavras, o leque de possibilidades estilísticas dos discursos e suas
diversas imagens sofrem implicações culturais e contextuais, além
do grande arco-íris de posições filosóficas do racionalismo técnico-
científico mais rigoroso. A isso tudo se somam ainda nossa memó-
ria e seus detritos ancestrais, combinados com o desejo imaginante.
A questão fundamental e irrevogável diante da multiplicidade/
complexidade é como não se perder nesse leque de possíveis? Em
166 VALÉRIA CRISTINA PEREIRA DA SILVA
Percepção de semelhança
Você é Palmense?
1. Acho que é redonda como um girassol. Sei lá, moro aqui só há dois
anos, não sei ainda.
2. A minha cidade é num tamanho grande, é do tipo redonda, entre
as serras.
3. Uma bola, um círculo! Redonda, eu acho.
4. Uma borboleta porque é bonita e tem várias voltas.
5. Palmas parece um queijão com todos os seus queijinhos...
6. Palmas parece um labirinto, toda rua não tem fim...
7. Palmas é a arapuca do Saci.
8. Eu não sei a forma exata, mas é cheia de rotatória e ruas retas,
curvas etc. A praça é meio parecida com um girassol...
9. Dizem que tem o formato de uma cruz, mas para mim é um
círculo.
10. Palmas me lembra a forma de um círculo, sem início, meio e fim.
11. Palmas parece ter a forma de um círculo devido a quantidade de
rotatórias que encontramos aqui.
12. Palmas tem a forma de um retângulo, eu sei porque vi no mapa.
11. Eu moro numa quadra. Bairro é aquele que está fora do Plano
Diretor.
12. Eu moro numa quadra e se morasse em um bairro não haveria
diferença alguma, mas existe um certo preconceito, pois para
algumas pessoas bairro seria de uma população de baixo nível e
quadra de gente nobre, mas aqui em Palmas bairro é centro, aqui
é tudo centro!
16. Eu moro numa quadra. Bairro é tipo uma cidade distante, longe.
17. Quadra, bairro são divisões
18. Moro em quadra. Pelo que já vi, os bairros que frequentei não
encontrei nenhuma diferença. Só é um pouco distante do centro.
192 VALÉRIA CRISTINA PEREIRA DA SILVA
Quem sabe passa pelo Santa Bárbara amanhã. Quem sabe percor-
reu os Aurenys, quem saberá se esteve em Taquaralto? É o bonde.
[...] dessa vez me transportou ao monte de areia da Praia do Prata
à noite. Escalamos as falésias com o zunir dos ventos no corpo, nos
cabelos. No cume, o visual da ponte soluçando luzes e a mansidão
do lago. Decidi falar. Afirmei meu desgosto passageiro [...] Busco
ser parte do bonde e também viajar no tempo em elipses incertas e
causais. (Acâmpora, 1995, p.1, grifos nossos)
Quando você sair, aqui tem uma escultura na porta. Ela tem a
dimensão de escultura urbana. Se você repetir a escala humana não
estará fazendo escultura e sim mimetizando. Quando você vai nesses
lugares históricos, Paris, Roma e vê uma escultura, a dimensão lhe
dá valorização, assim é a escultura antiga. As esculturas modernas
são coisas brutais que têm uma presença na escala, se não for assim,
fica um mosquitinho ali dentro. O monumento 18 do Forte desmereceu
completamente isso. É soldadinho de chumbo. (Narrador 5)
lá é para quem tem bom gosto. Numa outra entrevista, uma senhora
disse sentir muito pela retirada das esferas e que deveriam colocá-
las de volta. Afirmavam que haviam se acostumado com aquelas
bolas e que o Palácio não tinha a mesma beleza sem elas, como ob-
servaram alguns alunos em suas redações:
palmense” tem orgulho da sua capital, mesmo que ela seja muito
difícil de ser discernida: