I - PPANutricao I
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Carenciais
Conteudista: Prof.ª Dra. Karolina Marie Alix Benedictte Van Sebroeck Dória
Revisão Textual: Esp. Luiza Venturini
Objetivo da Unidade:
📄 Material Teórico
📄 Material Complementar
📄 Referências
📄 Material Teórico
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Vitaminas, Minerais e a
Fisiopatologia
As vitaminas são compostos orgânicos (ou moléculas relacionadas) e são micronutrientes
essenciais que os organismos dos seres humanos necessitam em quantidades mínimas, cada
uma com as suas especificidades, de microgramas a miligramas, para um bom funcionamento
do metabolismo. Elas devem ser ingeridas por meio da alimentação, uma vez que, na sua
maioria, não podem ser produzidas ou sintetizadas pelo corpo humano (AWUCHI, 2019).
Existem algumas exceções em que os seres humanos podem produzir algumas vitaminas a
partir da ingestão de precursores, como a vitamina A, que pode ser sintetizada a partir do
betacaroteno ou, ainda, a niacina, que pode ser sintetizada a partir do triptofano. As células da
pele humana, quando expostas a alguns comprimentos de onda de UV presente na luz solar,
também produzem a vitamina D.
A quantidade dos micronutrientes exigidos pelo corpo humano é variável ao longo da vida para a
manutenção da saúde (GERNAND et al. 2016; TUCKER, 2016). A recomendação nutricional de
referência internacional é dada pelo Dietary Reference Intakes (DRI), publicado pelo Instituto de
Medicina (EUA) e Health Canada (Canadá). No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA) estabelece os valores nacionais de DRI.
Saiba Mais
A palavra “vitamina” foi criada em 1912 pelo bioquímico polonês
Casimir Funk, que isolou um complexo de micronutrientes essenciais à
vida que presumia ser “aminas”, dando o nome em inglês de
“vitamin”.
corpo, é necessária a sua ingestão contínua. As lipossolúveis (A, D, E e K) são absorvidas pelo
trato intestinal com o auxílio dos lipídeos (gorduras). As vitaminas desse último grupo ficam
armazenadas no fígado.
Vídeo
Qual é o Valor das Vitaminas? – Ginnie Trinh Nguyen
How do vitamins work? - Ginnie Trinh Nguyen
Os minerais são elementos inorgânicos essenciais para o organismo realizar suas funções
necessárias à vida. Os elementos químicos carbono, nitrogênio, oxigênio e hidrogênio, juntos
com os minerais cálcio, sódio, magnésio, fósforo e potássio, compõem 96% do peso do corpo
humano e são denominados macroelementos (BERDANIER, 2013, apud AWUCHI, 2020). O
restante é composto por oligoelementos, que apresentam função bioquímica específica no
corpo humano e são representados pelo zinco, manganês, molibdênio, iodo, selênio, enxofre,
ferro, cloro, cobalto e cobre (BERDANIER et al., 2016, apud AWUCHI, 2020).
Figura 2 –Minerais
Fonte: Getty Images
Levando em consideração que o termo “fisiopatologia” pode ser definido como: “A área da
medicina que estuda as funções fisiológicas durante uma doença ou das modificações dessas
funções, permitindo a determinação da origem” (MICHAELIS, 2023, on-line), o conteúdo que
você estudará a seguir aborda a relação da fisiopatologia com a nutrição, a partir dos efeitos das
principais deficiências vitamínicas, de minerais e de oligoelementos no organismo dos seres
humanos.
Deficiências de Micronutrientes
A carência de micronutrientes, também conhecida como deficiência dietética, é a insuficiência
de ao menos um micronutriente necessário à saúde humana. Essa carência pode ser de
vitaminas ou minerais.
são responsáveis por muitas doenças, agravam outras e são conhecidas pelos impactos que
podem ter à saúde global.
Importante!
As deficiências de micronutrientes estão associadas a 10% de todas as
mortes de crianças, sendo, portanto, preocupação para as pessoas
envolvidas com o bem-estar e cuidados infantis (WESTPORT, 2012).
Também pode ocorrer devido à necessidade aumentada, como durante a gravidez, lactação e
certas doenças ou, ainda, pela escolha de estilo de vida.
Doenças Carenciais
Desde meados do século XVIII, tem-se o conhecimento de que o escorbuto poderia ser evitado
pela ingestão de suco de frutas cítricas ou pela vitamina C. Essa moléstia conduzia os
navegadores ao sangramento das gengivas, a perdas dentárias, à desnutrição grave ou mesmo
ao óbito, quando partiam em longas travessias oceânicas (FAINTUCH, 2016).
Figura 4 – As frutas cítricas previnem o escorbuto
Fonte: Getty Images
Walter Norman Haworth, por suas pesquisas sobre carboidratos e vitamina C, e Paul Karrer, por
suas investigações sobre carotenoides, flavinas e vitaminas A e B2 (THE NOBLE FOUNDATION,
2023).
Até 1935, a única fonte de nutrientes era a alimentação. Se a ingestão das vitaminas fosse
insuficiente, o resultado era a deficiência de vitaminas seguida por doenças relacionadas a essa
carência. Na década de 1950, iniciaram-se a produção e a comercialização de suplementos de
vitaminas, incluindo as multivitaminas, para prevenir as deficiências de vitaminas na
população.
Você Sabia?
Você sabe por que surgiu o sal iodado? Na deficiência crônica de iodo, a
glândula tireoide aumenta de tamanho para tentar reter o iodeto do
Vitaminas
Vitamina A
A deficiência de vitamina A pode causar a cegueira noturna, a ceratomalácia (cegueira
permanente se não for tratada) e aumenta o risco de morte por doenças infantis comuns, como
a diarreia. A cegueira infantil é a principal doença evitável. A OMS classificou a deficiência de
vitamina A como problema de saúde pública, pois afeta 1/3 das crianças com idade de seis a 59
meses, com taxas mais elevadas na África subsaariana (48%) e no sul da Ásia (44%) e
recomenda a suplementação em países pobres (UNICEF, 2023).
Saiba Mais
Existem esforços globais para a suplementação de vitamina A. De
acordo com a UNICEF (2023), a suplementação periódica com altas
doses de vitamina A é uma intervenção comprovada e de baixo custo.
Quando realizada, demonstrou reduzir entre 12% e 24% a mortalidade
infantil.
Vitamina B
Vitamina B1 – Tiamina
Sua deficiência ocorre em países em que não há fortificação da farinha de milho, trigo ou arroz.
A perda dessa vitamina ocorre durante o processo de branqueamento, moagem ou polimento do
grão. A deficiência grave de tiamina ocasiona o beribéri, que ganhou destaque na Ásia à medida
Vitamina B2 – Riboflavina
A deficiência de riboflavina é comum em países que não exigem a fortificação da farinha de
milho, trigo ou arroz. A perda também ocorre no processo de branqueamento, moagem ou
polimento do grão. Sua deficiência causa queilite angular (inflamação dos cantos da boca),
língua vermelha dolorida, dor de garganta e lábios rachados. Os olhos tornam-se sensíveis à luz
e podem coçar.
A deficiência de riboflavina também pode ocasionar anemia, com os glóbulos vermelhos
normais em tamanho e níveis de hemoglobina, porém em números reduzidos. A ingestão
regular de alimentos que contenham a vitamina B2 pode evitar o estabelecimento dessa
carência.
Vitamina B3 – Niacina
A deficiência de niacina causa a pelagra. Essa doença nutricional debilitante pode ser reversível.
Ela é conhecida pelos sintomas típicos dos 4 Ds: demência, diarreia, dermatite e death (morte).
A dermatite ocorre na região da pele exposta a raios solares. A deficiência de niacina é resultado
de uma dieta pobre na ingestão de niacina e de triptofano (precursor da niacina). A ingestão
regular de alimentos que contenham a vitamina B3 pode evitar o estabelecimento dessa
carência.
Vitamina B6 – Piridoxina
É muito rara a deficiência de vitamina B6, mas pode ser observada em pacientes com doenças
renais em estágio terminal, nas síndromes de má absorção, como a doença de Chron, a doença
celíaca ou a colite ulcerativa. Os sintomas observados são: anemia microcítica, dermatite,
anomalias eletroencefalográficas e depressão. A ingestão regular de alimentos que contenham a
vitamina B6 pode evitar o estabelecimento dessa carência.
Vitamina B7 – Biotina
É muito rara a deficiência de vitamina B6, mas pode ser observada em pacientes com doenças
renais em estágio terminal, nas síndromes de má absorção, como a doença de Chron, a doença
celíaca ou a colite ulcerativa. Os sintomas observados são: anemia microcítica, dermatite,
anomalias eletroencefalográficas e depressão. A ingestão regular de alimentos que contenham a
vitamina B6 pode evitar o estabelecimento dessa carência.
Figura 11 – Fonte alimentar de vitamina B7
Fonte: Getty Images
gravidez. Com a exigência da fortificação dos alimentos com ácido fólico, houve a diminuição da
incidência de DTN em nações que usam essa fortificação. A deficiência de folato também pode
ocasionar alterações genéticas, como a mutação do gene MTHFR, que compromete o
metabolismo do folato. A ingestão regular de alimentos que contenham o folato pode evitar o
estabelecimento dessa carência.
Figura 12 – Fonte alimentar de vitamina B9
Fonte: Getty Images
Vitamina D
A deficiência de vitamina D é comum. Pode ocasionar o raquitismo e está ligada a vários outros
problemas de saúde. A carência pode ser evitada com a ingestão regular de alimentos que
contenham vitamina D.
Vitamina E
Sua deficiência é rara. Normalmente, ocorre como consequência de anormalidades no
metabolismo de gordura (ou absorção). Sua deficiência causa má condução de impulsos
elétricos nos nervos ocasionada por modificações nas estruturas e funções da membrana
nervosa. A carência pode ser evitada com a ingestão regular de alimentos que contenham a
vitamina E.
Vitamina K
Sua deficiência ocasionada por ingestão alimentar é rara. Ocorre como resultado da má absorção
de gordura. Os sinais e sintomas variam de sangramento nas gengivas, nasal, menstrual intenso
em mulheres e sensibilidade a hematomas. A carência pode ser evitada com a ingestão regular
de alimentos que contenham a vitamina K.
Minerais
Cálcio
O cálcio está presente nos ossos e nos dentes. Uma baixa ingestão de cálcio na infância e na
adolescência pode causar problemas de calcificação óssea. Em adultos, a osteoporose é comum,
principalmente em mulheres na pós-menopausa.
Sódio
A deficiência de sódio é rara. Os mecanismos de conservação do sódio no corpo são bastante
desenvolvidos, evitando a deficiência. Sintomas de níveis baixos de sódio incluem fraqueza,
cólicas, náuseas, tonturas e até coma.
Potássio
É muito comum nos alimentos, e a deficiência é rara. O potássio pode ser perdido durante uma
diarreia ou vômitos. Os sintomas observados na deficiência de potássio incluem câimbras
musculares, confusão, fraqueza e perda de apetite. Concentrações baixas de potássio no sangue
Oligoelementos
Zinco
A deficiência de zinco causa problemas no sistema imunológico, no sistema reprodutivo e na
proliferação celular, além de aumentar o risco de câncer. Problemas psicomotores também são
relatados pela deficiência de zinco.
Iodo
A deficiência de iodo causa danos cerebrais que podem ser evitáveis. Durante a gravidez, a
deficiência de iodo pode prejudicar o desenvolvimento fetal, ocasionando o cretinismo (retardo
Ferro
É a deficiência nutricional mais comum. A deficiência de ferro pode resultar em anemia. Durante
a infância, a deficiência de ferro pode afetar o comportamento e as habilidades de
aprendizagem, bem como o crescimento. Em países em desenvolvimento, perdas de sangue
devido à ancilostomíase e outras infecções pioram a deficiência de ferro.
Cloro
O cloreto também é perdido em condições semelhantes à perda de sódio. A deficiência de cloreto
resulta em alcalose metabólica.
A Iniciativa de Fortificação dos Alimentos (FFI, 2023) lista todos os países do mundo que
conduzem programas de fortificação dos alimentos e quais os micronutrientes são adicionados
e em quais alimentos.
Site
Food Fortification Initiative
ACESSE
Os programas de fortificação com vitaminas existem em vários países e incluem folato, tiamina,
vitamina A, vitamina B6, niacina, riboflavina, vitamina B12, vitamina E, e vitamina D. A farinha
de trigo é o alimento mais comumente fortificado.
Site
Codex Alimentarius
Clique no botão para conferir o conteúdo.
ACESSE
Em 1990, menos de 20% das famílias que residem em países em desenvolvimento consumiam
sal iodado. No ano de 1994, surgiu a campanha para a iodização universal do sal. De acordo com
a UNICEF (2023), com essa campanha em 2020 foi estimado que 89% das famílias nos países em
desenvolvimento passaram a consumir sal iodado.
Outro exemplo de iniciativa para promoção da saúde pública foi o desenvolvimento do sal duplo
fortificado (DFS) com ferro e iodo. O uso do DFS é obrigatório no Programa Mid-Day Meal em
escolas administradas pelo governo da Índia, alcançando mais de 10 milhões de crianças em
idade escolar (DIOSADY et al., 2019).
Modificação Genética
A estratégia foi adotada pela primeira vez na Guatemala em meados dos anos de 1990 com a
produção da batata-doce de polpa laranja (OFSP), utilizada para reduzir a deficiência de vitamina
A (SOLOMONS; BULUX, 1997).
Figura 15 – Batata doce laranja
Fonte: Getty Images
#ParaTodosVerem: fotografia com vista frontal. Sobre uma toalha preta com
linhas pretas, há dois potes de cerâmica branca contendo grãos de arroz. À
direita, há grãos de arroz dourado escorrendo pela mão de uma pessoa, em
direção à cerâmica, que também contém seus grãos. À esquerda, há grãos de
arroz tradicional escorrendo pela outra mão da pessoa, em direção à cerâmica,
que também contém seus grãos. Fim da descrição.
Em 2017, foram relatados mais de 40 estudos de aceitação sensorial das culturas biofortificadas
envolvendo vários alimentos básicos como batata-doce, feijão, milho, arroz, mandioca e
milheto (TALSMA et al., 2017).
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Sites
UNICEF
ACESSE
Leituras
ACESSE
Carência de Micronutrientes
ACESSE
ACESSE
📄 Referências
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AWUCHI, C. G. et al. Evaluation of Patulin Levels and impacts on the Physical Characteristics of
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Supplement.
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