Revista IBBCRIM - Justiça Penal Negociada
Revista IBBCRIM - Justiça Penal Negociada
Revista IBBCRIM - Justiça Penal Negociada
A complexidade em
torno da simplif icação
do processo
A ideia de inserção de fórmulas negociais no processo penal sempre gerou controvérsia. A cada nova proposta de lei
buscando a abreviação do processo ou a obtenção de provas por meios consensuais, renovam-se as críticas relativas à
suposta sobreposição de critérios de efetividade em relação aos critérios de justiça.
As últimas décadas foram pródigas em trazer categorias negociais ao processo penal brasileiro. Desde a entrada em vigor
da Lei 9.099/95, a legislação pátria viu-se constantemente modificada para abranger institutos como a transação penal,
suspensão condicional do processo, colaborações premiadas e acordos de não-persecução penal.
Diante da dificuldade do Estado de investigar, processar e julgar os milhares de casos que deságuam diariamente nas varas
criminais, os institutos de consenso foram vistos como uma solução acessível. Como uma válvula de escape para a rápida
resolução de muitos feitos. Não se observa nada a indicar que essa tendência irá mudar.
No entanto, a questão permanece válida. É possível falar em uma justiça penal verdadeiramente negocial em nosso país?
Apesar da introdução de instrumentos que dependem de um “acordo” entre as partes, são raríssimas ainda as ocasiões nas
quais há uma negociação efetiva. O que se vê, na imensa maioria dos casos, é a assinatura de documentos semiprontos,
que mais parecem contratos de adesão.
O modelo consensual de justiça penal nasceu no sistema norte-americano, no qual as partes detêm uma autonomia de fato
para gerir as provas e determinar os rumos do processo. Lá, portanto, os institutos consensuais estão alinhados com a base
principiológica-processual existente naquele sistema. Eles funcionam dentro de uma dinâmica específica – e, não é demais
lembrar, com uma série de críticas.
A pretensão de que essas categorias negociais produzam aqui, num sistema processual bastante diferente, os mesmos
efeitos de lá exige muito mais do que a simples inserção de dispositivos legais no nosso ordenamento jurídico. Sempre
envolve adaptação tanto do instituto consensual como do próprio sistema. Caso contrário, haverá conceitos e institutos que
não se comunicam entre si – o que é prejudicial para a efetividade e para a justiça.
Nessa nova dinâmica consensual, também os atores do processo devem se adaptar. Ao juiz cabe compreender, por exemplo,
sua nova posição, mais simbólica e menos protagonista, dentro da instrução. É essencialmente uma função de garantidor da
lei. Isso significa que o magistrado deverá deixar às partes a liberdade de escolherem o rumo do processo. De outra forma,
não será uma justiça negocial.
Por sua vez, os representantes do Ministério Público devem ser conscientes de que o modelo de justiça negocial acarreta ainda mais
responsabilidade para o dominus litis. Por exemplo, eventuais erros de estratégia processual produzirão mais consequências.
Além disso, a própria existência de institutos consensuais deve levar a um maior cuidado na apresentação dos feitos, em
plena aderência à prova colhida. Ao contrário do que às vezes se pensa, categorias consensuais exigem maior qualidade
do trabalho acusatório. É falso – e absolutamente injusto – o argumento de que, como caberá ao acusado aceitar ou não as
condições, poderia haver um menor cuidado nessa fase inicial.
Por óbvio, não é possível fechar os olhos ao fato de que nossa realidade social concreta impõe ainda maiores cautelas para
a justiça negocial. Não basta dizer que o réu tem liberdade para aceitar ou não. A imensa maioria da população não tem
acesso a uma orientação jurídica efetiva sobre os acordos. Além de que, muitas vezes, inexistem condições mínimas que
assegurem um exercício autônomo dessa faculdade.
A advocacia também tem de aprender a lidar com a sistemática negocial. Acostumados a um processo de embate,
contencioso, advogados precisarão desenvolver habilidades novas, capazes de prover uma defesa eficiente aos seus
clientes. A postura de mera crítica aos institutos negociais, sem a devida compreensão, pode gerar perigoso déficit na
representação dos imputados.
Há muito a aprender, estudar e aprimorar. É preciso olhar para cada instituto de forma madura. Tome-se, por exemplo,
a colaboração premiada. Introduzido em nosso sistema para casos específicos, o instituto foi fortemente banalizado nos
crimes econômicos. De alguma forma, observam-se efeitos inversos aos objetivos da lei. Em vez de multiplicar os casos
elucidados por meio de poucos acordos, houve uma multiplicação de acordos de colaboração (e diminuição de pena). Nos
casos em que a delação poderia ser mais útil para promover justiça, a colaboração raramente aparece.
Recentemente implantado em nosso ordenamento, o acordo de não persecução penal é também exemplo de nossa
dificuldade em lidar com categorias consensuais. Por exemplo, a confissão do imputado como condição para assinatura
do acordo. Além de sua questionável constitucionalidade, essa exigência não tem o menor sentido em uma justiça
verdadeiramente negocial.
A justiça negocial exige reflexão. Não é mero preciosismo técnico. A vida de muitas pessoas é afetada pela utilização dos
instrumentos de justiça negocial. Não cabe tratamento simplista – com fórmulas prontas ou negacionista – fingindo não ver
a existência desses instrumentos. É mais que hora do aprofundamento teórico, da crítica madura, do diálogo aberto sobre a
justiça negocial criminal. Eis a razão para o presente dossiê.
7. Justiça criminal negocial e direito de defesa: Os acordos no processo penal e seus limites necessários
Vinicius Gomes de Vasconcellos
12. Os acordos penais como efeito da retórica do catastrofismo: uma análise a partir do plea bargaining
estadunidense
Michelle Gironda Cabrera e Bárbara Feijó Ribeiro
15. Plea bargaining: o perigoso caminho em direção ao alargamento das práticas de negociação penal
André Peixoto de Souza e Kauana Vieira da Rosa Kalache
18. Breves notas sobre o cabimento do acordo de não persecução penal após o recebimento da denúncia
Gabriel Marson Junqueira
23. Acordo de não persecução penal como instrumento de promoção de programas de compliance?
Anna Carolina Canestraro e Túlio Felippe Xavier Januário
29 . DIÁLOGOS
O risco de overcharging na prática negocial do processo penal brasileiro
Pedro Luís de Almeida Camargo
CADERNO DE JURISPRUDÊNCIA
Tema: ANPP: Aplicabilidade na fase processual e retroatividade a fatos anteriores à Lei 13.964/2019
Resumo: O artigo analisa a tendência de expansão dos espaços de Abstract: The article analyzes the tendency for the expansion of
negociação no processo penal brasileiro, desde uma análise crítica dos negotiation spaces in the Brazilian criminal process, from a critical analysis
argumentos justificacionistas e da equivocada tendência de importação do of the justificationist arguments and the mistaken tendency to import the
problemático instituto do plea bargaining norte americano. Aborda a ausência problematic north american plea bargaining institute. It addresses the absence
de igualdade processual para desconstruir o mito da voluntariedade da of procedural equality in order to deconstruct the myth of voluntariness in
negociação. A crise do processo penal e o entulhamento da justiça criminal negotiation. The criminal process crisis and the clogging of criminal justice
precisam ser enfrentadas de outras formas, não sendo a expansão da must be dealt with in other ways, and the expansion of negotiation is not the
negociação o remédio adequado. appropriate remedy.
Palavras-chave: Justiça negocial – Plea bargaining – Transação penal – Keywords: Negotiation justice - Plea bargaining - Criminal transaction - Non-
Acordo de não persecução penal – Espaço de consenso criminal prosecution agreement - Space of consensus
O entulhamento da justiça criminal e a incapacidade do sistema de dar Estados Unidos, acordos assim superam 90% dos meios de resolução
conta da imensa demanda não é novidade e tampouco exclusividade de casos penais, chegando a 97% nos casos federais [Walsh3] e até
do sistema jurídico-penal brasileiro, mas sem dúvida esses fatores são 99% em Detroit [Langbein4]. Significa dizer que mais de 90 de cada
decisivos para o fortalecimento do discurso expansionista dos espaços 100 casos criminais são resolvidos com a aplicação de uma pena sem
de consenso. Essa desarmonia temporal (ou da percepção do tempo) nenhum processo, sem contraditório e sem produção de provas.
facilita, imensamente, a aceitação de atalhos e soluções imediatas,
Convenhamos, não existe (e nem teria como existir) sistema judicial no
pois conduz à ilusão de uma justiça instantânea, desconsiderando que mundo que condene 9 de cada 10 acusados, pelo simples fato de que o
a ruptura temporal é crucial para que se respeite o tempo do direito e o número de acusações abusivas e erradas supera longe a casa dos 10%,
tempo do processo.1 Iniciamos em 1995, com a Lei 9099 e os institutos sem mencionar a importância do contraditório5 e do direito de defesa
da transação penal e suspensão condicional do processo, mas pouco enquanto mecanismos de desconstrução da versão unilateralmente
aprendemos com o fracasso das expectativas incialmente criadas. construída; as inúmeras e eternas discussões sobre os limites semânticos
Os juizados especiais criminais não só defraudaram a expectativa dos tipos penais; a possibilidade de provar a existência de causas de
de desafogo da justiça criminal, como se mostraram perversos na exclusão da ilicitude; etc. Ademais, existe um argumento bastante óbvio
ampliação do Direito Penal bagatelar. Não apreendemos com esse e irrefutável: partindo da presunção de inocência6 (fruto da evolução
erro e seguimos acelerando, em verdadeira narcose dromológica, civilizatória), o nível de exigência de qualidade probatória necessário
rumo ao suicídio do plea bargaining,2 felizmente ainda não consagrado, para condenação é sempre significativamente maior do que aquele
mas não faltam esforços para tanto. necessário para mera acusação. Logo, sempre haverá um número maior
Negociar é possível e talvez até salutar, mas é preciso saber a dose de acusações improcedentes do que procedentes, sendo sintoma de
certa do remédio para não se transformar em veneno. Primeiro ponto distorção um sistema que gere cifras de condenações superiores a 90%,
é compreender que nosso sistema jurídico (civil law) impõe limites como ocorre nos modelos negociais sem limite de pena.
que não permitem a importação de uma negociação tão ampla e Mas o principal argumento justificacionista da justiça negocial, o
ilimitada como o plea bargaining norte americano (common law), que ‘entulhamento’, precisa ser visto desde outra perspectiva: banalizamos
era o sonho do ex-juiz-ex-ministro Sergio Moro. Uma negociação dessa o Direito Penal como resposta a problemas sociais complexos,
magnitude representa o fim do processo penal brasileiro, na medida em priorizando soluções paliativas e sem enfrentar as causas reais. Sem
que legitima em larguíssima escala a “aplicação de pena privativa de dúvida o enfrentamento da crise do bem jurídico contribuiria para a
liberdade sem processo” (o que é absolutamente inconstitucional). Nos redução significativa desse argumento eficientista, ainda mais se aliado
Notas
Referências
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Autor convidado
Resumo: Neste artigo, almeja-se assentar a importância da proteção de Abstract: In this article, the aim is to establish the importance of protecting
direitos e garantias nos procedimentos negociais hoje existentes ou em debate rights and guarantees in criminal agreements procedures that currently exist
para previsão futura, especialmente em relação ao direito de defesa. Para or are under debate for future creation, especially in relation to the right of
tanto, serão analisados casos julgados pela Supremo Corte dos Estados Unidos defense. For this purpose, relevant cases judged by the Supreme Court of the
que alteraram posições relevantes na temática, de modo a, considerando as United States will be analyzed in order to, considering the differences between
relevantes diferenças entre os sistemas, poder ressaltar a necessidade de limites the US and the Brazilian systems, emphasize the need for limits and controls
e controles aos acordos penais. A partir de tal premissa, serão expostos pontos on criminal agreements. From this premise, problematic points that need more
problemáticos que carecem de maior atenção e desenvolvimento doutrinário academic and jurisprudential attention in Brazil will be exposed, indicating
e jurisprudencial no Brasil, indicando-se possíveis sugestões de reformas. possible suggestions for reforms.
Palavras-chave: Justiça criminal negocial - Acordos penais - Direito de defesa Keywords: Negotiated criminal justice - Plea bargaining - Right of defense -
- Controle judicial. Judicial control.
“A realidade é que a justiça criminal hoje caracteriza, em regra, um recebeu proposta de acordo feita pelo MP para confessar e obter
sistema de barganhas, não um sistema de julgamentos”.1 Em tradução uma pena reduzida (51-81 meses). Em contato com o juízo, o acusado
livre, essa constatação foi feita pelo Justice Anthony Kennedy em admitiu a sua culpa e demonstrou interesse no acordo. Contudo,
precedente assentado pela Suprema Corte dos Estados Unidos no seu advogado afirmou que a acusação não teria como comprovar
sentido de ampliar a importância da defesa técnica durante a fase o dolo, visto que os tiros teriam sido abaixo da cintura da vítima. No
pré-processual, que envolve, em muitos casos, as negociações julgamento, o réu foi condenado a pena superior àquela oferecida
de acordos. Por óbvio, a situação brasileira ainda está longe dos anteriormente (185-360 meses) e, então, passou a alegar que a
percentuais altíssimos de condenações obtidas por acordos que
assistência técnica deficiente causou prejuízo manifesto ao instruí-
ocorrem no modelo estadunidense; contudo, a tendência de expansão
lo a não aceitar o acordo. Por maioria de um voto, decidiu-se que a
dos espaços de consenso no nosso processo penal é marcante, como
deficiência na defesa acarretou manifesto prejuízo ao imputado, visto
já destacamos neste Boletim.2 Sem as cautelas devidas, a barganha
triunfará entre nós e, embora não sustente uma inconstitucionalidade que demonstrada uma “razoável possibilidade de que o resultado do
incontornável no sistema negocial, há muito ressalto os seus riscos e acordo teria sido diferente com uma assistência técnica competente”
problemas inerentes.3 e, assim, determinou-se que o acordo deveria ser novamente
oferecido e, se aceito, submetido ao controle judicial.
Diante disso, neste artigo, almeja-se assentar a importância da
proteção de direitos e garantias nos procedimentos negociais hoje A divergência afirmou que não haveria direito ao acordo e, portanto, a
existentes ou em debate para previsão futura, especialmente em submissão ao julgamento tradicional não poderia ser vista como prejuízo.
relação ao direito de defesa. Para tanto, serão analisados casos Tal posição, semelhante ao majoritariamente aceito no Brasil, deve ser
julgados pela Suprema Corte dos Estados Unidos (SCOTUS) que analisada com cautela em um cenário de generalização dos mecanismos
alteraram posições relevantes na temática de modo a, considerando as negociais, onde a persecução penal precisa, ainda assim, pautar-se pela
relevantes diferenças entre os sistemas, poder ressaltar a necessidade legalidade, previsibilidade e isonomia de tratamento. Simplesmente
de limites e controles aos acordos penais. A partir de tal premissa, afirmar que o réu não pode questionar ilegalidades na fase negocial,
serão expostos pontos problemáticos que carecem de maior atenção porque submetido ao juízo tradicional, é ignorar que o sistema precisa se
e desenvolvimento doutrinário e jurisprudencial no Brasil. estruturar de modo a tendencialmente dar respostas isonômicas a casos
Primeiramente, no caso Lafler v. Cooper (2012), a SCOTUS analisou semelhantes, e não depender de uma discricionariedade incontrolável do
caso em que o réu, acusado de tentativa de homicídio doloso, representante do MP no caso concreto.
Notas
1 SCOTUS, p. 11, 2012. 12 Disponível em: <http://www.mpf.mp.br/atuacao-tematica/ccr5/orientacoes/orientacao-
conjunta-no-1-2018.pdf>. Acesso em: 22 mai. 2021. p. 4.
2 FALAVIGNO; VASCONCELLOS, 2018.
13 PEZZOTTI, 2020. p. 260.
3 Ver: VASCONCELLOS, 2018.
14 LAUAND, 2008, p. 114.
4 SCOTUS, 2012.
15 Sobre isso: MIRZA MADURO, 2020.
5 Sobre isso: ROBERTS, 2013.
16 VASCONCELLOS, 2020. p. 94-101.
6 Ressaltando a importância dos precedentes, mas afirmando que ainda carecem de
atenção diversos problemas graves no sistema negocial estadunidense, como abusos
17 MCCANNON, 2015.
acusatórios e falta de acesso a provas e investigações: ALKON, 2014. 18 VASCONCELLOS, 2015. p. 446.
7 MENDONÇA, 2017. p. 126. 19 DIAS, 2011. p. 97. Em sentido contrário, posicionando-se favoravelmente à renúncia ao
direito de recorrer: FONSECA, 2017. p. 132.
8 PEREIRA, 2020. p. 233.
20 Sobre isso: ROMERO, 2017. p. 272. Em relação ao direito ao recurso no processo penal,
9 ALSCHULER, 1975, p. 1.180 (tradução livre). ver: VASCONCELLOS, 2020.
10 VASCONCELLOS, 2018. p. 403-419. 21 O controle judicial sobre o acordo e seus limites são temas complexos, de modo que se
11 VASCONCELLOS, 2018. remete a: VASCONCELLOS, 2021; DE-LORENZI, 2021.
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Autor convidado
Hiroshi Kawatsu
Attorney at Law. Director, Research Office for Criminal Affairs, Japan Federation of Bar Associations
ORCID: 0000-0003-1556-6106
kawatsu@kasumigaseki.gr.jp
Abstract: In Japan, the plea bargaining system was introduced with Resumo: No Japão, o sistema do plea bargaining foi introduzido com a
the amendment of the Code of Criminal Procedure in 2016. However, under alteração do Código de Processo Penal em 2016. No entanto, sob a estrutura
this structure of Japanese criminal justice, even before the introduction of the da justiça criminal japonesa, mesmo antes da inovação legislativa, a prática do
plea bargaining system, informal plea bargaining has been practiced, but they plea bargaining já existia informalmente, muito embora ela tenha sido declarada
were declared illegal by the new legislation. Further legal reforms are needed ilegal pela nova legislação. São necessárias mais reformas jurídicas para
to ensure the fairness and transparency of the proceedings, and it is also garantir a justiça e a transparência dos procedimentos, e também é importante
important for the courts to play an independent role from the prosecution. que os tribunais desempenhem um papel independente do Ministério Público.
Keywords: Japanese Law - Criminal Justice - Plea Bargaining - Criminal Palavras-chave: Direito japonês - Justiça Criminal - Plea Bargaining -
Procedure. Processo Penal.
1. Plea bargaining system introduced in 2016 2. Background of the introduction of the plea bargaining system
In Japan, the Code of Criminal Procedure was amended in 2016 to The background of the introduction of such a plea bargaining system
introduce several new systems, including a plea bargaining system, which is somewhat complicated and unique. This system was not introduced
took effect in 2019. The plea bargaining system, titled “Agreement on simply because there was a need to strengthen the methods of criminal
Cooperation with Collection of Evidence and Prosecution,” allows public investigation. Even before the introduction of this system, informal plea
prosecutors to make an agreement with a suspect (a person who has bargaining existed in Japan. However, the practice of such informal
not yet been indicted) or an accused (a person who has been indicted). plea bargaining was unfair and unclear, reflecting the feature of the
Under this system, in exchange for the suspect/accused’s cooperation criminal justice system.
with the public prosecutor on another person’s criminal case for a specific
crime, the public prosecutor grants the suspect/accused benefits such A distinguishing feature of criminal investigations in Japan is that police
as non-prosecution. However, another type of plea bargaining, in which officers and public prosecutors interrogate suspects for long periods of time
the public prosecutor reduces the sentence in exchange for the suspect/ and on many occasions. The Japanese Constitution guarantees the right
accused pleading guilty to his/her crime, was not introduced. to remain silent and the right to counsel. However, in practice, both police
Crimes for which the plea bargaining system can be used include officers and public prosecutors interrogate suspects without allowing
criminal offenses such as fraud and embezzlement, and violations of defense counsel to be present. Even when suspects exercise their right to
the Act on Punishment of Organized Crime, the Anti-Monopoly Act, remain silent, police officers and public prosecutors continue to interrogate
the Financial Instruments and Exchange Act, the Stimulants Control and demand statements from suspects. Moreover, the public prosecutor
Act and Firearms Control Act. The suspect/accused’s cooperation can arrest and detain the suspect. In principle, an arrest warrant issued by
may include making a statement during an interrogation by a public a judge is required to make an arrest, but in 2019, the number of cases
prosecutor or a police officer, testifying as a witness, and submitting in which judges rejected requests for arrest warrants was only 0.1% of
evidence to a public prosecutor or a police officer. In return, the public the total number of requests. Once arrested, suspects are in custody for
prosecutor may grant the suspect/accused the benefits of not be up to 72 hours. In addition, the public prosecutor may detain the suspect
indicted, a withdrawn indictment, indictment of a lesser offense, or for 10 days. The judge’s permission is required to detain a suspect, but in
request for a pre-agreed sentence at trial. 2019, the percentage of cases where the judge did not give permission for
A plea bargain is negotiated between the public prosecutor, the suspect/ detention was 5.2% (this percentage was below 1% until 2009). In addition,
accused and the defense counsel. The public prosecutor may conduct the public prosecutor may, with the judge’s permission, extend the period
the negotiations solely with the defense counsel and is prohibited from of detention for up to another 10 days. In 2019, the percentage of cases in
negotiating with the suspect/accused in the absence of counsel. The which the judge did not grant an extension was only 0.4 percent. The public
police officer is not a direct party in the negotiations, but the public prosecutor has the discretion whether to indict or not and can decide not
prosecutor is required to confer with the police officer in advance. Judges to indict a suspect who has pleaded guilty to a crime. On the other hand,
are not involved in these negotiations or agreements. in 2019, only 0.2 percent of the cases indicted by the public prosecutor
When an agreement has been reached, the public prosecutor, the were ruled not guilty by the court. Once the public prosecutor has indicted
suspect/accused, and the defense counsel shall produce a document a suspect, the suspect automatically remains in detention as an accused.
stating the contents of the agreement. When the public prosecutor calls a The court can rescind the detention of the accused, but the percentage of
suspect/accused who has entered into the plea agreement as a witness accused whose detention was rescinded by the court was only 0.4 percent
in another person’s criminal trial, the public prosecutor is required to in 2019. The accused has the right to bail, but judges, in accordance with the
request the examination of this document as well. This way, the judge and opinion of the public prosecutor, tend not to grant bail when the accused
the defense counsel of the other person will know that the witness is a pleads not guilty, judging that there is a high probability that the accused
person who has entered into a plea agreement with the public prosecutor. may conceal or destroy evidence. In 2019, around 90% of accused who
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Autor convidado
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Resumo: As relações entre processo penal e justiça negocial tornaram- Abstract: The relationship between criminal proceedings and negotiated
se bastante estreitas nas últimas décadas. Tal aproximação pode ser explicada justice has grown closer in recent decades. This approach can be explained when
pela penetração no Direito e, especialmente, no campo processual penal, de investigating the penetration in law and, especially, in the criminal procedural
institutos que se relacionam com a ideia de “eficientismo”, o que pode levar, field, of institutes that are related to the idea of “efficiency”. Efficiency can lead, if
se não se realizarem as devidas reflexões críticas, a uma maximização das the necessary critical reflections are not carried out, to the maximization of the
esferas mais perversas conexas à instrumentalidade do processo. O texto most perverse spheres connected to the instrumentality of the process. The text
realiza uma análise crítica a respeito da atual tendência de abertura a um seeks to carry out a critical analysis of the growing trend of proceedings to a
ambiente de negociação penal, crítica especialmente relevante quando se negotiating environment, a criticism that is especially relevant when discussing
problematiza o atual “estado de coisas” do processo penal brasileiro, ainda the current “state of affairs” of the Brazilian criminal process, still far from being
adequate to an accusatory/adversarial model. Such theoretical effort is justified,
longe de se adequar a um modelo acusatório. Tal esforço teórico justifica-se
in particular, due to the attempt to introduce, with Law 13.964/2019 the institute of
em razão, especialmente, da tentativa de se introduzir, com a Lei 13.964/2019,
plea bargaining, having not, however, been approved in Brazil.
o instituto do plea bargaining, não tendo sido, contudo, aprovado.
Keywords: Plea bargaining - Criminal agreement - Negotiated Justice - “Anti-
Palavras-chave: Plea bargaining - Acordo penal - Justiça Negocial - “Lei Anticrime”. crime Law”.
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Notas
1 Sobre a elevada quantidade de casos resolvidos a partir do plea bargaining, ver United 2 Sobre a nulidade do julgamento pela retenção de provas, ver Ozório de Melo (2012).
States Courts (2019).
Referências
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31, n. 84, p. 567-580, dez. 2018. jun. 2021.
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Resumo: O presente texto pretende analisar criticamente o instituto do Abstract: The text has the objective of critically analyzing the plea-
plea bargaining, mais especificamente os problemas envolvendo critérios e bargaining’s practices, more specifically the issues regarding the lack of
procedimentos para o estabelecimento da negociação penal no sistema de criteria and regulations when offering a deal, as well as the social impact of the
justiça criminal, bem como o impacto social das negociações nas quais estão negotiations in a democratic society. The North American justice system will be
inseridas. Terá como referência o sistema de justiça norte-americano, que serviu used as reference, since it has served as an inspiration to the Brazilian Project.
de inspiração para o projeto nacional no que tange ao referido instituto. A análise The research is justified once criminal negotiation seems to be an unstoppable
se justifica, uma vez que o alargamento da esfera negocial penal no Brasil parece tendency in the Brazilian system.
ser uma tendência imparável. A pesquisa se deu mediante o emprego do método Keywords: Criminal Negotiation - Plea Bargaining - Willingness- Fairness-
de abordagem dedutiva e do método de procedimento sistêmico, auxiliado pela Anticrime Law
análise comparativa entre os sistemas de justiça norte-americano e brasileiro.
Palavras-chave: Negociação penal - Plea bargaining - Voluntariedade-
Legalidade- Lei Anticrime
A negociação penal, em nosso sistema de justiça criminal, não é através da lei 13.964/19, alargando as possibilidades de acordo penal.
recente, tendo sido inserida no ordenamento jurídico pátrio através Assim sendo, antes de formalizada a acusação, havendo a confissão
da lei dos juizados especiais com o instituto da transação penal e por parte do investigado acerca do crime discutido, poderá ser o
da suspensão condicional do processo. O reforço da prática ocorreu acordo proposto pelo Ministério Público. A proposta deverá ser
com a popularização da colaboração (delação) premiada e do acordo homologada por juiz competente, o qual analisará a adequação,
de leniência, em 2013. Soma-se a esses modelos de negociação a proporcionalidade e a voluntariedade do acusado na sua celebração.
possibilidade inovadora do acordo de não persecução penal, como Cumprido o acordo, há a extinção de punibilidade. O instituto é muito
forma de alargamento das possibilidades de transação penal (Art. semelhante ao plea bargaining, porém, com aplicabilidade reduzida.
28-A, CPP, inserido pela Lei 13.964/19). As críticas acerca desta nova possibilidade de negociação são várias.
O racional por trás de tais medidas é sempre o mesmo: a busca Entre elas destacam-se a inobservância ao princípio da presunção
pela celeridade e eficiência do sistema de justiça criminal – como de inocência ao exigir a confissão do investigado para celebração
resume a frase de abertura da apresentação do instituto do acordo do acordo, a unilateralidade de suas condições, determinadas e
de não persecução penal elaborada pelo Ministério Público Federal propostas pelo Ministério Público, e a impossibilidade de propositura
- Acordos de não persecução penal. “Investigações mais céleres, de acordo em crimes que envolvem habitualidade, questionando-
eficientes e desburocratizadas.” (2020). Para apoiadores das se a eficácia da negociação em casos envolvendo organizações
medidas, cria-se espaço de consenso no que se refere à justiça criminosas.
criminal, para além do âmbito do JECRIM. Aury Lopes Jr. é enfático ao afirmar que entende a necessidade de
O acordo de não persecução penal foi incluído às práticas negociais, implementação de mecanismos que otimizem o defasado sistema
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Notas
1 Regra que determina o compartilhamento de provas absolutórias entre as partes. Vide 2 “[A negociação penal] não é acessória ao sistema de justiça criminal; é o sistema de justiça
Brady v. Maryland, 373 U.S. 83 (1963). criminal.” Tradução livre da autora.
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Resumo: O presente trabalho procura contribuir para a identificação Abstract: The present work seeks to contribute to the identification of
do correto momento a partir do qual realmente não se pode mais cogitar o the correct moment from which it is really no longer possible to consider a
acordo de não persecução penal. Após verificação (i) da nota característica non-criminal prosecution agreement. After checking (i) the characteristic note
dos institutos da justiça penal consensual, em geral, (ii) dos principais objetivos of the consensual criminal justice institutes, in general, (ii) the main political-
político-criminais da justiça penal consensual e (iii) da solução adotada por criminal objectives of the consensual criminal justice and (iii) the solution to the
alguns ordenamentos jurídicos pertencentes ao sistema de civil law para o proposed problem, adopted by some legal systems belonging to the civil law
problema proposto, conclui-se que o acordo de não persecução penal deve system, it is concluded that the criminal non-prosecution agreement must be
ser admitido mesmo após o recebimento da denúncia, desde que ainda não admitted even after the receipt of the indictment, as long as the production of
iniciada a produção da prova oral. the oral evidence has not yet started.
Palavras-chave: Acordo de não persecução penal – Justiça penal consensual – Keywords: Plea bargaining - Criminal agreement - Negotiated Justice - “Anti-
Momento para realização do acordo – Tópicos político-criminais da justiça penal crime Law”.
consensual.
A Lei 13.964/19, também conhecida como Lei Anticrime, introduziu procuraremos indicar qual é, a nosso ver, o momento a partir
no CPP o art. 28-A. Por meio desse dispositivo, conferiu disciplina do qual realmente não se pode mais pensar em acordo de não
legal ao instituto do acordo de não persecução penal, antes previsto persecução penal. Para tanto, primeiramente, situaremos o
na Resolução 181/17, do CNMP, de constitucionalidade duvidosa. instituto em causa no âmbito da justiça penal consensual. Em
seguida, identificada, inclusive, a nota característica dos institutos
O art. 28-A, sobretudo o “caput” e os § 8º e § 10º, deixam claro
de justiça penal consensual, procuraremos apontar seus objetivos
que, em princípio, o instituto foi pensado para ser aplicado ao
e os principais tópicos político-criminais que lhes subjazem.
final da fase investigatória, como alternativa ao oferecimento de
Finalmente, averiguaremos, ainda que superficialmente, qual foi
denúncia. Nessa linha, já se o definiu como instrumento pelo
a solução adotada para o problema aqui analisado em outros
qual o investigado pode, ao final da primeira fase da persecução
ordenamentos jurídicos. Percorrido tal caminho, tentaremos,
penal, “reconhecer a responsabilidade pelo fato, abrindo mão
enfim, responder à questão que nos move.
de seu direito a um processo e ao consequente julgamento
judicial de mérito para receber, desde logo, uma pena” (DOTTI; O acordo de não persecução penal representa mais um espaço
SCANDELARI, 2019, p. 05). cedido ao consenso no processo penal brasileiro, ao lado da
composição civil de danos, da transação penal, da suspensão
Não por outro motivo, recentemente, o STJ decidiu que, apesar da
condicional do processo e da colaboração premiada. Integra,
natureza híbrida do novo dispositivo e, pois, da possibilidade de
desse modo, a “justiça penal consensual”, expressão que abrange
aplicação retroativa – leia-se: a casos ocorridos antes da vigência
formas diversas de conclusão do caso penal, com amputação
da Lei 13.964/19 –, não se pode mais cogitar acordo de não
de atos processuais, diante da vontade das partes em assim
persecução penal após o recebimento da denúncia.1
procederem, mas sob controle jurisdicional (GUINALZ, 219, p.
Neste breve artigo, a traço bem grosso, pretendemos verificar 124-125). Como se pode notar, a nosso ver, a essência da justiça
se acertou o STJ ao decidir dessa forma. Em outras palavras, penal consensual, ao menos nos sistemas de civil law, está na
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Notas
Leite (2013, p. 23) e Santos (2020, p. 214-216). Diferentemente, no plea penal de diversos países, tem-se Deu (2012, p. 128).
bargaining norte-americano, a tônica talvez deva ser colocada na – ampla Nesse sentido, ver arts. 784.3 e 787.1, da LECrim, e art. 446.1, do CPP italiano.
4
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Resumo: A consolidação da Justiça Negocial trouxe novos desafios para Abstract: The strengthening of Consensual Justice in Brazil brought new
serem pensados em nosso sistema processual, notadamente quanto ao papel challenges to the Criminal Justice System, notably in the role of its players.
dos sujeitos processuais. O artigo busca entender as funções pertinentes ao This article aims to understand the functions of the Public Prosecutor’s Office,
Ministério Público, em particular no que toca à obrigação de propor a ação penal particularly the obligation to mandatorily file a criminal claim, in a context of
de iniciativa pública no cenário de expansão dos mecanismos consensuais. expansion of consensual mechanisms. Even when this obligation is widely
Mesmo num cenário em que a obrigatoriedade pura é questionada, não vemos challenged, there is no normative background supporting the discretion of the
espaço normativo para se sustentar a existência de uma discricionariedade do Public Prosecutor’s Office. We stand for the necessity of a strict interpretation of
órgão acusatório. Defendemos a necessidade de uma interpretação estrita do the Public Prosecutor’s Office role, which must respect the equality in criminal
papel do Ministério Público, em respeito à igualdade na persecução penal. prosecution.
Palavras-chave: Ministério Público - Justiça Negocial – Obrigatoriedade - Keywords: Public Prosecutor’s Office - Consensual Justice – Mandatory - Discretion.
Discricionariedade.
Introdução: mecanismos negociais e o fim do modelo sanção do sujeito imputado mesmo sem estabelecimento de culpa
estritamente conflitivo no Brasil pelo Estado, tendência que se ampliou nos anos seguintes.
O sistema processual penal brasileiro é alvo de discussões acerca As formas consensuais trazidas por diferentes diplomas legislativos
trouxeram impactos cada vez mais significativos em nosso
de sua natureza, se acusatória ou inquisitiva (PRADO, 2005). Na
ordenamento jurídico, modificando determinadas atribuições de
impossibilidade de uma afirmação categórica acerca disso, há quem
seus atores. Nesta oportunidade, dedicamo-nos à compreensão
avalie o grau de acusatoriedade do ordenamento jurídico (ZILLI,
do papel dos sujeitos processuais em meio a esse contexto.
2021), até como forma de verificar o atendimento a critérios de Importa entender como princípios e regras criados no contexto
respeito a valores democráticos. Independentemente de dissensos de um modelo estritamente conflitivo se harmonizam com os
nas qualificações feitas sobre o caso brasileiro, os princípios e regras novos desafios (teóricos e práticos) surgidos com a realidade do
que estruturam a persecução penal guardam um traço em comum: consenso. À vista disso, faremos uma análise focada sobre o papel
relacionam-se a uma noção conflitiva do processo. do Ministério Público (MP), em especial na avaliação do princípio
da obrigatoriedade,² entendido como a necessidade de exercer
Se há pouco tempo os conflitos penais eram solucionados
o direito de ação (oferecimento da denúncia), verificada a justa
exclusivamente após uma acusação formal contra um sujeito, que
causa (BADARÓ, 2015, p. 182). O afastamento da obrigatoriedade
poderia ter a sua culpa reconhecida pelo Estado depois de uma pura pelas soluções negociais implicou o reconhecimento da
instrução processual, nos últimos anos foi aberto um novo flanco em discricionariedade para atuação funcional do órgão acusatório?
nosso sistema processual: os institutos da Justiça Negocial.¹ Com a
“revolução negociada” (ZILLI, 2017) inaugurada pela Lei 9.099/95, Nem ao céu, nem à terra: inaplicabilidade da obrigatoriedade
pura ou da discricionariedade ao órgão acusatório
mudou-se totalmente a feição do processo, pois saídas consensuais
foram aqui incorporadas. A solução de um processo penal passou a Conceitos e práticas de mecanismos consensuais se solidificaram
também ser alcançada por meio de acerto entre as partes, havendo no Brasil nos últimos anos. Introduzidos com delimitação rígida
20
havido alteração dos dispositivos normativos COLORAÇÕES restando poucas dúvidas sobre a sua aplicação.
mobilizados para sustentá-la (arts. 18, 24 e 395 do TRAZIDAS PELA No mais recente instituto consensual, criado pela
CPP), o seu alcance tem sido colocado em questão LÓGICA NEGOCIAL. Lei 13.964/19, a sistemática parece ser bastante
com frequência. Antes reconhecida de forma semelhante. O acordo de não persecução penal
generalizada, a obrigatoriedade foi acumulando críticas de ordens há de ser proposto sempre que verificadas as condições dispostas
pragmática e teórica. Sob o primeiro prisma,5 já se entendeu que a em lei (e desde que não cabíveis as saídas previstas na Lei 9.099/95,
obrigatoriedade não se verificava na prática porque diversos crimes como se lê do art. 28-A, caput e § 2º do CPP). É garantido o momento
já não eram perseguidos. Sob o outro (GRINOVER, 1996), a existência negocial antes de intentado o processo conflitivo, oportunidade em
de alternativas à persecução penal conflitiva eliminou o cabimento da que uma sanção é aplicada sem estabelecimento de culpa pelo
obrigatoriedade em sua acepção mais pura e deu lugar a formulações Estado. Da mesma forma, a discussão sobre a maior ou menor
teóricas alternativas, sendo a discricionariedade regrada a mais vinculação do órgão acusatório à sua discricionariedade ou aos
difundida. Um conceito gestado numa lógica estritamente conflitiva termos da lei se coloca.
não mais explicava um sistema processual com as diferentes
Resta claro, portanto, um padrão adotado pelo legislador pátrio: a
colorações trazidas pela lógica negocial.
disposição de saídas negociais que operam de maneira mandatória
Em nossa visão, esse conceito puro de obrigatoriedade não mais se e devem ser mobilizadas antes da instrução processual própria
sustenta. Mesmo sem alteração legislativa dos dispositivos que o do processo conflitivo. O momento consensual, por sua natureza
amparam, as novas leis modificaram o seu sentido, sendo contrafactual e da forma como incorporado em nosso ordenamento jurídico
afirmar que, verificados elementos suficientes de autoria e materialidade, (GRINOVER, 1996, p. 357), como regra, precede (de forma
o MP deverá oferecer a denúncia criminal. A existência da justa causa obrigatória) o momento conflitivo. As balizas legais são colocadas
deve continuar sendo a baliza para avaliar se alguma sanção por meio e devem ser obedecidas, havendo algum espaço para justificação
da persecução penal deve ser buscada pelo órgão acusatório, ainda (caso a caso) da não adoção do instituto consensual, como no caso
que não o faça (necessariamente) pelo processo penal conflitivo. E é deste não ser “necessário e suficiente para reprovação e prevenção
justamente aqui que se encontra a principal mudança que sustentamos: do crime” (hipótese do art. 28-A, CPP). Tais requisitos que abrem
verificados os pressupostos processuais, o MP segue obrigado a alguma margem para subjetividade, todavia, devem ser enfrentados
seguir na persecução penal, ainda que diferentes hipóteses tenham se pelo membro do MP, com justificativa formal e escrita sobre eventual
21
Notas
1 Para os fins deste artigo, utilizamos as expressões “negocial” e “consensual” como independência funcional e interpretação jurídica livre sobre os mesmos fatos. Para tais
sinônimas, em oposição a uma lógica de conflito. Vinicius Gomes Vasconcellos se utiliza discussões e delimitações conceituais, ver Mazzilli (2013).
do termo barganha (VASCONCELLOS, 2015, p. 68). As críticas feitas pelo autor a tais 4 É reconhecida de forma bastante difundida essa mitigação – por todos, ver Oliveira (2019,
mecanismos na seara penal, embora relevantes, fogem ao escopo do presente texto. p. 1016). Nas “exceções” à obrigatoriedade são utilizadas diversas expressões, sendo
2 Embora haja discussão, manteremos a expressão princípio (JARDIM, 2007, p. 101- as mais recorrentes obrigatoriedade mitigada ou discricionariedade regrada – como
107). Ainda, são diversas as regras decorrentes da obrigatoriedade, notadamente a exemplos, Lima (2017, p. 1459), Távora e Alencar (2017, p. 80).
explicitamente prevista indisponibilidade da ação penal (CPP, art. 42), daí sua relevância 5 Na Justificação ao Projeto de Lei 1480/1989, que resultou na Lei 9.099/1995, foram
(JARDIM, 2007, p. 118). Outras regras são mencionadas, como oficialidade, autoritariedade aventados argumentos nesse sentido. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/
e oficiosidade (OLIVEIRA, 2019, p. 180-181). fed/lei/1995/lei-9099-26-setembro-1995-348608-exposicaodemotivos-149770-pl.html.
3 Por escapar ao escopo do presente artigo, não entramos na discussão sobre Acesso em: 22 abr. 21.
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22
Resumo: Pretende-se, com o presente trabalho, levantar o questionamento sobre Abstract: The aim of the present essay is to raise the question of whether
se o acordo de não persecução penal, recentemente incluído no Art. 28-A do CPP pela “Lei the non-prosecution agreement, recently included in Article 28-A of the Brazilian
Anticrime”,seria uma possível nova “porta de entrada” para os programas de compliance Criminal Procedure Code by the “Anticrime Law” (Law 13.964/19), would be a
no ordenamento jurídico brasileiro. Para tanto e a partir de uma metodologia dedutiva, possible new “Gateway” to compliance programs in the Brazilian legal system. To
analisaremos inicialmente quais são os instrumentos dotados pelo poder público para do so and based on a deductive methodology, we will initially analyze what are the
a promoção destes programas, seguindo-se de um estudo sobre o próprio instituto do instruments endowed by the State for the promotion of these programs, followed by
ANPP, seus requisitos e condições. Ao fim do trabalho, buscaremos demonstrar que, a study on the institute of the non-prosecution agreement itself, its requirements
em algumas hipóteses, os programas de compliance poderiam ser propostos como and conditions. At the end of the paper, we will demonstrate that, in some cases,
uma das “condições inominadas” previstas pelo Art. 28-A, V, viabilidade esta, porém, compliance programs could be proposed as one of the “innominate conditions”
que não viria desacompanhada de alguns desafios ainda a serem enfrentados pelos provided by the Art. 28-A, V, but this feasibility would not come without some
operadores do direito, sobre os quais teceremos alguns comentários. challenges yet to be faced by jurists, about which we will make some comments.
Palavras-chave: Direito Penal Negocial – Compliance - Acordo de Não Persecução Penal. Keywords: Negotiated Criminal Law – Compliance - Non-Prosecution Agreement.
Os programas de compliance ocupam atualmente um indiscutível ocupantes de cargos hierarquicamente mais baixos na estrutura
papel de destaque não apenas no cotidiano de grandes sociedades empresarial. Uma vez ausente o Estado, não podemos nos esquecer
empresárias, mas também nas recentes discussões doutrinárias também de eventuais incentivos particulares, tais como aqueles
jurídico-criminais. E um dos aspectos bastante debatidos nesta observados no âmbito do mercado de valores (como requisito
seara diz respeito às formas de incentivo à adoção destes programas, para abertura de capital em determinada bolsa), nas cadeias de
isto é, uma vez se tratando de instrumentos cuja implementação fornecimento (como requisito para a celebração de contratos) ou
representa um elevado custo financeiro para a empresa, há que se também por entidades setoriais, tais como associações.
entender quais seriam as vantagens esperadas desta decisão.
No extremo oposto, uma obrigação geral seria observada na
Ao analisar os patamares de influência do poder público sobre hipotética situação de exigibilidade de programas de compliance
os entes privados na promoção de programas de compliance, para todas as pessoas jurídicas, o que, apesar de se mostrar como
Marc Engelhart (2018, 21 e ss.; 2014, p. 69 e ss.) identifica seis a forma indiscutivelmente mais severa de incentivo, ainda não
níveis progressivos, que vão desde a I) autorregulação pura até existe na generalidade dos ordenamentos jurídicos. Este “nível
uma VI) obrigação geral de implementação dos programas. No VI” é observado tão somente de maneira setorial, com obrigações
primeiro caso, não haveria um incentivo estatal propriamente voltadas para setores extremamente sensíveis, tais como aqueles
dito, sendo que eventual adoção de programas de compliance com alto risco de lavagem de dinheiro (ENGELHART, 2018, p. 29-30)1
por parte das pessoas jurídicas seria motivada por ideais éticos e ou para empresas que pretendam contratar com a administração
reputacionais ou até mesmo, em sentido contrário, na tentativa de pública direta ou indireta, quando assim determinado por lei
delegar responsabilidades (inclusive criminais) da alta direção para (CANESTRARO; JANUÁRIO, 2020, p. 225 e ss.).
23
24
Notas
1 O autor cita como exemplo a legislação portuguesa de “branqueamento de capitais”, interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente,
que através da Lei 83/2017 impôs rigorosos deveres de compliance para entes como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente
atuantes em determinados setores (ENGELHART, 2018, p. 30). Para maiores detalhes lesados pelo delito;...” (BRASIL, 2019).
sobre estes deveres em Portugal, conferir em: Rodrigues (2019, p. 128 e ss.). 7 Neste sentido: “Pela redação legal, deve-se considerar como obrigatórias, aplicadas
2 Para uma análise pormenorizada destes níveis de influência, conferir também em: “cumulativamente”, as quatro primeiras condições, salvo a impossibilidade de
Canestraro e Januário (2020, p. 218-225). adimplemento como, por exemplo, a falta de recursos do investigado para reparar o
3 Conforme aponta Susana Aires de Sousa (2019, p. 10-11), muito embora a colaboração dano ou para pagar a prestação pecuniária, ou a inexistência de instrumentos, produto
da empresa possa assumir, em termos jurídico-criminais, diversas facetas, observa- ou proveito do crime. “Alternativamente”, poderá ser também estabelecida a quinta
se uma tendência recente à sua consideração para fins de celebração de acordos condição, desde que proporcional e compatível com a infração penal imputada”
prévios à própria denúncia penal da sociedade empresária, em um negócio com (MOREIRA, 2020, p. 213).
traços marcantes do princípio da oportunidade. 8 Em sentido próximo: Rocha, 2021, p. 61.
4 Conforme destaca Maria João Antunes (2018, p. 121), do ponto de vista de seus negócios, 9 Para uma análise detalhada da orientação político-criminal do processo penal e de
há um inegável interesse por parte do ente coletivo no seu não envolvimento em um seus institutos, conferir com detalhes em: Fernandes (2001, passim).
processo penal, o qual poderá ensejar em grandes prejuízos. 10 É claro que, por esta lógica, haveria espaço para questionarmo-nos também se as
5 O §2º prevê um amplo rol de requisitos negativos que impediriam a celebração do penas previstas pela Lei 9.605/98 teriam a aptidão para alcançar estes fins, discussão
acordo, os quais não serão explorados em pormenor por não afetarem diretamente ao essa que, a despeito de sua relevância, extrapolaria os objetivos deste trabalho.
objeto central do presente trabalho. Para maiores detalhes, conferir em: Bem (2020,
passim).
11 Para além do já mencionado sistema norte-americano, vide, por exemplo, a LOI 2016-
1691 Sapin-II na França e a Lei Argentina 27.401.
6 “Art. 28-A [...] I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade
de fazê-lo; II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério 12 Conforme bem destaca Eduardo Saad-Diniz (2019, p. 165), “cada um dos elementos
Público como instrumentos, produto ou proveito do crime; III - prestar serviço à só tem sentido para a tecnologia de compliance se decorrentes de avaliação científica
comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima sobre sua real necessidade e adequação às preferências da organização empresarial,
cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da se a confrontação com as evidências científicas na área informa que se trata de
execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código investimento que exercerá real influência no comportamento ético”. Sobre o chamado
Penal); IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do evidence-based compliance e criticamente à sua ausência no atual contexto de
Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de enforced self-regulation norte americano: Laufer (2018, p. 401 e ss.).
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https://doi.org/10.30709/archis-2018-3. abr. 2021.
25
Resumo: O presente artigo tem por objetivo apresentar críticas ao modelo Abstract: This article aims to present a critique on the negotial model
negocial estabelecido pelo acordo de não persecução penal, da forma como instated by the non-prosecution agreement, as established by Law No. 13964/2019.
instituído pela Lei 13.964/2019. Critica-se, primeiramente, a exigência de confissão First, the requirement of a confession to strike a deal is criticized, due to the risk
para a celebração de acordo, sob risco de transformar-se em contrato de adesão em of converting the agreement in an adhesion contract. Likewise, the requirement
vez de propriamente uma negociação. Do mesmo modo, a exigência de determinadas of certain conditions and the manner in which the accusation is conveyed has
condições e a maneira como a imputação é veiculada tem o potencial de conferir the potential to confer excessive discretionary power on the prosecution, which
poder discricionário excessivo ao órgão da acusação, que tende a se comportar tends to behave more as an authority and less as a party to the agreement.
mais como autoridade e menos como parte no acordo. Tratando-se a propositura Considering the proposition of a non-prosecution agreement as a duty of the
de acordo de atuação vinculada do Ministério Público nos casos em que estiverem Public Prosecutor’s Office in cases where the authorizing legal requirements
presentes os requisitos legais autorizadores, defende-se a possibilidade de atuação are present, the possibility of judicial action is defended to ensure an effective
jurisdicional para assegurar uma efetiva negociação entre acusação e defesa. negotiation between the prosecution and the defense.
Palavras-chave: Acordo de Não Persecução Penal – Discricionariedade - Keywords: Non-Prosecution Agreement – Discretion - Legality.
Legalidade.
A denominada justiça penal negocial ganhou novos ares com a É comum se fazer um certo paralelo entre o ANPP e a suspensão
promulgação da Lei 13.964/2019, que deu contornos singulares ao condicional do processo (art. 89, Lei 9.099/95). Apesar de ambos
instituto da colaboração premiada e apresentou o acordo de não serem concebidos como modelos alternativos ao processo penal
persecução penal, entre outras importantes alterações. “tradicional”, o ANPP não pode ser identificado como uma espécie
de “suspensão condicional do processo qualificada”, na medida em
É preciso lembrar que a possibilidade de acordo não é recente na que comporta um componente negocial adicional. Deste modo,
legislação brasileira. A Lei 9.099/95 já previa a transação penal para ao mesmo tempo que integra o rol de medidas despenalizadoras,
as infrações de menor potencial ofensivo e a suspensão condicional difundidas no processo penal brasileiro a partir da Lei 9.099/1995,
do processo para crimes com pena mínima não superior a um ano. também constitui um mecanismo de justiça penal negocial, por sua
O acordo de não persecução penal (ANPP) é verdadeira ampliação das inequívoca natureza de acordo.
oportunidades de o investigado evitar a instauração de um processo Não se reconhece uma natureza essencialmente negocial no sursis
criminal, expandindo largamente as possibilidades anteriormente processual, pois a lei estabelece como pressuposto o cumprimento
existentes de realização de acordo. Trata-se de um instrumento que de condições obrigatórias pelo acusado, durante um período de prova
possibilita ao Ministério Público deixar de oferecer denúncia, mesmo pré-estabelecido. Não há propriamente um acordo e sim termo de
presentes os requisitos para tanto, nos casos em que as partes adesão a que adere acusado, tendo, no máximo, condições de suplicar
cheguem a um ajuste quanto à não continuidade da persecução penal, pela redução da exigência de alguma das condições obrigatórias. Por
devendo o investigado cumprir condições mais brandas do que as parte do Ministério Público, além de não existir discricionariedade
penas supostamente cominadas em eventual sentença condenatória, quanto ao oferecimento da proposta de suspensão condicional
definidas a partir de rol não taxativo previsto em lei. do processo,1 existe uma margem de negociação bastante restrita,
27
Notas
1 O entendimento jurisprudencial predominante é de que constitui poder-dever do processuais — tenha tido conhecimento e tenha logrado recolher, na instrução, indícios
Ministério Público oferecer proposta de suspensão condicional do processo quando suficientes. Não há, pois, lugar para qualquer juízo de «oportunidade» sobre a promoção
preenchidos os requisitos legais pelo acusado. e prossecução do processo penal, antes esta se apresenta como um dever para o MP
[...] A actividade do MP desenvolve-se, em suma, sob o signo da estrita vinculação à lei
2 Veja-se, por exemplo, a Exposição de Motivos 14/2019-MJSP, que deu origem ao “Pacote (daí o falar-se em princípio da legalidade) e não segundo considerações de oportunidade
Anticrime”, resultando na Lei 13.984/2019. Disponível em: https://www.camara.leg.br/ de qualquer ordem, v.g. política (raison d’État) ou financeira (custas).” (1974, p. 126-127).
proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1712088. Acesso em: 11 mar. 2021. 4 A possibilidade de oferta de acordos de não persecução penal pelo Ministério Público
3 Segundo Jorge de Figueiredo Dias: “O MP está obrigado a proceder e dar acusação e/ou pelo querelante em crimes de ação penal de iniciativa privada não será analisada
por todas as infracções de cujos pressupostos — factuais e jurídicos, substantivos e nesta oportunidade, sendo objeto de reflexão futura dos autores.
Referências
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28
Resumo: O presente trabalho visa a avaliar se existe um risco relevante Abstract: This article aims to articulate an analysis of the risk of extensive
de ocorrência do overcharging nas práticas negociais do Direito Penal brasileiro, overcharging practice in the Brazilian Criminal Law’s bargaining mechanisms,
tomando como base a definição desse conceito no Direito norte-americano e as working with the concept as defined in American Law and understanding the
condições que favorecem sua existência nos Estados Unidos. Ao final, verifica-se em factors which favor its existence. At the end, we check if those factors are
que medida essas condições se reproduzem no Direito brasileiro, especificamente present in Brazilian Law, with a special focus on the “penal transaction” and
em relação aos institutos da transação penal e do acordo de não persecução penal. “non-prosecution agreement” regulated by Brazilian Law.
Palavras-chave: Plea bargaining – Overcharging - Transação penal - Acordo Keywords: Plea bargaining – Overcharging - Penal transaction - Non-
de não persecução penal - Direito norte-americano. prosecution agreement - American Law.
29
Ademais, há um poder imenso na mão do acusador na definição Explica-se o primeiro aspecto: apenas uma prática efetiva de controle
de crimes e penas,9 podendo o sistema ser caracterizado como de admissibilidade de acusação nos procedimentos pode garantir
de adjudicação unilateral pelo acusador (LANGER, 2006, p. 248- ao imputado que acusações excessivas infundadas não gerarão
249). Isso ocorre em grande parte porque os juízes não possuem processos ou condenações por crimes mais graves ou por mais crimes
que os efetivamente cabíveis para um fato tido como criminoso.13
um papel ativo no controle da base fática da imputação, checando
apenas a voluntariedade da aceitação e seu conhecimento a respeito Analisando o procedimento de análise de admissibilidade de
das garantias das quais está abrindo mão (BROWN, 2014, p. 77). As acusação no Código de Processo Penal, observa-se que há a
razões para esse papel geral de inatividade são complexas, derivando previsão expressa de controle judicial sobre a denúncia nos termos
tanto do desenho adversarial do sistema (ZILLI, 2019, p. 164) quanto do art. 395, que lista hipóteses de sua rejeição. Como a acusação
de considerações sobre o risco de perda de imparcialidade do juiz excessiva se caracteriza por uma qualificação jurídica excessiva em
e de eficiência do sistema no caso de seu envolvimento ativo nas relação aos fatos ou por uma imputação mais gravosa destituída
negociações (TURNER, 2006, p. 501-502). de base probatória, haveria, respectivamente, inépcia da denúncia e
falta de justa causa para a ação penal nessas hipóteses.14 O mesmo
Há, ainda, um fator de ordem penal material que favorece a prática do ocorreria na audiência de instrução e julgamento no procedimento
overcharging: a proliferação de crimes, que muitas vezes não possuem sumaríssimo, conforme o art. 81 da Lei 9.099/95.
distinções adequadas entre si e se sobrepõem (LANGER, 2006, p.
287). Ainda, o standard usado pelas cortes norte-americanas para No entanto, a prática judicial possui alguns indicativos de que isso
excluir o enquadramento de um mesmo fato em múltiplos crimes é não é realizado com a assiduidade devida. O primeiro se refere ao
extremamente estreito, não providenciando conceitos estritos para a brocardo de que “o acusado se defende dos fatos e não da qualificação
resolução do conflito de normas criminalizantes.10 jurídica”,15 com a justificativa de que a mudança da qualificação jurídica
na sentença sanaria qualquer problema daí advindo.16 Outro indicativo
Isso gera um cenário de negociação coercitiva, já que ao imputado são é a ausência de um recurso contra o recebimento da denúncia,
dadas duas opções: aceitar um processo contra si por uma acusação cujo controle se dá apenas por meio do Habeas Corpus, que possui
excessiva com o risco de uma pena mais alta que a devida; ou renunciar limitações procedimentais e uma jurisprudência consolidada em
seus direitos processuais para aceitar a aplicação imediata de uma relação à excepcionalidade da análise de justa causa.17
pena menor, seja por um crime menos grave ou por menos crimes.
Nesse cenário, ainda que isso não gere uma condenação, há a ameaça
Ambas as situações estão aquém do mínimo esperado pelo imputado de um processo derivado de acusação excessiva, que pode produzir
em relação a seus direitos: um julgamento com todas as suas garantias efeitos infamantes, medidas coativas e o próprio impedimento da
pela infração que seja adequada à base fática e jurídica da acusação aplicação dos mecanismos negociais, entre outros.18
contra ele formulada.11 Dessa forma, ambas as opções são coercitivas Por fim, é necessário compreender o papel do juiz nos procedimentos
e não fazem jus aos direitos fundamentais do acusado. negociais em si para verificar se há alguma possibilidade de controle
sobre essas hipóteses.
3. Indicadores do risco de overcharging no direito brasileiro Nesse sentido, verifica-se que o procedimento da transação penal
prevê a submissão da proposta à apreciação do juiz, nos termos do
Para compreender se esses mesmos fatores de risco se reproduzem art. 76, §4º, da Lei 9.099/1995. Esse dispositivo indica requisitos que
no Direito brasileiro, é necessário analisar três pontos: se a aparentam demonstrar que o controle por parte do juiz é meramente
legislação penal material oferece riscos de sobreposição excessiva formal (BADARÓ, 2018, p. 652-653). Assim, não se descarta a
de infrações; se o acusador no sistema processual penal brasileiro possibilidade de um uso informal da ameaça de acusação excessiva
possui ampla discricionariedade; e se há controle judicial sobre a com a finalidade de possibilitar a celebração da transação diante da
acusação e em que termos. ausência de controle judicial.
Em relação ao primeiro ponto, observa-se que há um risco menor Já o procedimento do acordo de não persecução penal prevê um papel
no Direito brasileiro que no norte-americano. Com efeito, ainda que mais robusto para o juiz, declarando que deve haver a verificação da
se presencie no Brasil uma grande proliferação das criminalizações, voluntariedade, nos termos do art. 28-A, § 4º, do Código de Processo
há, na tradição penal derivada do Direito Penal europeu continental, Penal. No entanto, para que essa previsão legal se converta em um
técnicas de manejo do conflito aparente de normas.12 Essas técnicas instrumento efetivo de prevenção de cenários coativos, é necessária
se desenvolvem principalmente em razão da concepção substancial uma visão ampla da voluntariedade, que leve em conta também as
da vedação ao bis in idem, que proíbe o múltiplo sancionamento pela circunstâncias que levaram o imputado a aceitar a proposta, e não
prática dos mesmos fatos (SABOYA, 2018, p. 78). apenas a verificação de ausência de coação direta, por exemplo.19
30
Notas
1 Definidos como meios de se chegar a uma condenação criminal sem julgamento por 10 O chamado Blockburger test, derivado do caso: Blockburger v. United States, 284 U.S.
Máximo Langer (LANGER, 2019, p. 2). Os institutos analisados efetivamente aplicam 299 (1932).
penas restritivas de direitos, se enquadrando na definição dada pelo autor. 11 Esse conceito de coerção é dado por Máximo Langer, utilizando-se do conceito
2 A colaboração premiada não será analisada como objeto do presente trabalho, tendo em de filosofia moral de baseline como sendo o mínimo ao qual o imputado teria direito
vista que foge à definição de “mecanismo de condenação por evitação de julgamento” e (LANGER, 2006, p. 225).
se distancia da noção de plea bargaining. 12 Como os princípios da especialidade, da subsidiariedade e da consunção (BITENCOURT,
3 98% das condenações criminais nos Estados Unidos foram alcançadas por plea 2012, p. 247-252).
bargaining e mecanismos similares no ano de 2014, por exemplo (LANGER, 2019, p. 28). 13 Desde que o imputado esteja devidamente assessorado por uma defesa técnica efetiva,
4 Considerações sobre fatores históricos que influenciaram a adoção extensiva do plea que possa informá-lo devidamente das consequências de uma acusação excessiva.
bargaining podem ser encontradas em: ALSCHULER, 1979. 14 Respectivamente, pela incongruência entre a descrição dos fatos e a qualificação jurídica
5 Os precedentes da Suprema Corte norte-americana definem a voluntariedade nesses do crime, e pela falta de elementos probatórios mínimos para a ação penal (BADARÓ,
casos como a consciência das consequências e a ausência de força, ameaças, erros ou 2018, p. 176).
promessas que vão além daquelas incluídas no acordo. Brady v. United States, 397 U.S. 15 Apenas a título de exemplo: Supremo Tribunal Federal (1. Turma). Inq 4093, Rel. Min.
742 (1970). Roberto Barroso. DJe 18 maio 2016. Disponível em: https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/
6 Conforme apontado por William T. Pizzi, a ampla discricionariedade do acusador norte- paginador.jsp?docTP=TP&docID=10975135, Acesso em: 14 abril 2021.
americano é fruto de uma evolução histórica e de raízes políticas profundas (PIZZI, 1993). 16 Conforme explica Gustavo Badaró, da equivocada premissa de que o réu se defende
7 Apesar de descrever os mecanismos tradicionalmente denominados de overcharging apenas dos fatos, admite-se que o juiz altere a qualificação jurídica na sentença sem que
horizontal e vertical, inclusive citando essa nomenclatura, Andrew Manuel Crespo prefere sequer seja dada oportunidade às partes (BADARÓ, 2019, p. 146).
os termos piling on para o acúmulo de acusações por diferentes crimes e overreaching 17 Apenas a título de exemplo: Supremo Tribunal Federal (2. Turma). HC 150.580 AgR, Rel. Min.
para o ato de inflar as acusações no aspecto fático ou jurídico. Esses mecanismos, Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJe 14 dezembro 2018. Disponível em: https://redir.stf.jus.
juntamente com a habilidade de “retornar” à acusação mais adequada ao caso como br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=748868589. Acesso em: 14 abril 2021
resultado das negociações (“sliding down”), asseguram o incentivo para o guilty plea nos 18 Há julgados que reconhecem a possibilidade de correção da qualificação jurídica dos
casos de acusação excessiva (CRESPO, 2018, p. 1313-1314). fatos nas hipóteses de erro flagrante, alteração de competência absoluta e concessão de
8 Máximo Langer destaca que o controle de grand juries e de audiências preliminares benefícios processuais ao acusado. Cf.: Tribunal Regional Federal da 3ª Região (11. Turma).
sobre a admissibilidade da acusação são frágeis, ao menos na maioria das jurisdições HC 0004307-79.2017.4.03.0000, Rel. Des. Nino Toldo, DJe 27 agosto 2018. Disponível em:
(LANGER, 2006, p. 248). http://web.trf3.jus.br/acordaos/Acordao/BuscarDocumentoGedpro/6698196. Acesso
9 Importante mencionar que o grau de discricionariedade pode variar conforme a regulação em: 14 abril 2021.
estadual de cada um dos aspectos do overcharging nos Estados Unidos, conforme expõe 19 Dentro da incipiente doutrina sobre a regulamentação legal do acordo de não persecução
Andrew Manuel Crespo detalhadamente, inclusive com dados sobre o funcionamento penal, Guilherme de Souza Nucci já adota uma visão de voluntariedade identificada com
em cada Estado (CRESPO, 2018). Mesmo assim, os pilares aparentam ser comuns em a “atitude livre de qualquer coação”, mostrando uma possível adesão a um conceito
todas as jurisdições americanas. restrito de voluntariedade (NUCCI, 2020, p. 63).
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TEMA :
ANPP: APLICABILIDADE NA FASE PROCESSUAL E
RETROATIVIDADE A FATOS ANTERIORES À LEI 13.964/2019
Supremo Tribunal Federal
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