Jurisprudencia de Apoio Hora Extra e Desvio de Função
Jurisprudencia de Apoio Hora Extra e Desvio de Função
Jurisprudencia de Apoio Hora Extra e Desvio de Função
TRABALHO DA 1ª REGIÃO
EMENTA
RELATÓRIO
Éo relatório.
FUNDAMENTAÇÃO
ADMISSIBILIDADE
MÉRITO
Interrogada, disse que trabalhou para a ré de 2010 a 2018; que iniciou como
escriturária e terminou como gerente pessoa jurídica; que propôs ação trabalhista
em face da ré; que foi dispensada por justa causa sob a alegação de dados
cadastrais para seu próprio benefício; que a primeira audiência está marcada para
meados de julho de 2019; que tomou ciência das alegações no momento da
dispensa.
Arguiu a ré a contradita da testemunha sob a alegação de que ela não tem isenção
par depor, uma vez que foi dispensada por justa causa.
Não torna suspeita a testemunha o simples fato de estar litigando ou de ter litigado
contra o mesmo empregador.
Nego provimento.
DESVIO DE FUNÇÃO
Desvio de Função
"(...)que em 2017 a depoente ocupava cargo com jornada de oito horas; que
também foi considerada a carga horária de oito horas no período em que foi
assistente de gerente; que trabalhava, em média, das 08h às 17h30/18h; que nos
períodos em que foi assistente e gerente não tinha subordinados; (...)"- fls.382.
Com efeito, pelos depoimentos é possível constatar que a reclamante foi contratada
em 2014 na função de operadora de caixa e que posteriormente foi promovida à
função de assistente de gerente e, em seguida, para gerente relacionamento prime.
A controvérsia cinge-se ao período em que exerceu cada uma dessas funções.
No entanto, ela foi clara quando declarou que a assistência iniciou em 2015 e não
em 2016 como registrado no CTPS: "(...)que a autora foi assistente do setor em
que a depoente trabalhava como gerente pessoa física; que havia 4 gerentes PF e
ela dava assistência as quatro gerentes; que isso ocorreu de 2015 a 2017; que em
2017 a autora passou a ocupar o cargo de gerente pessoa física do segmento
prime; que a depoente trabalhava das 08h às 18h, em média;(...)
A autora disse que começou como escriturária, que trabalhou como assistente, e
que quando foi assistente (gerente assistente prime) tinha uma carga horária de
oito horas. A testemunha Sra. Julia confirma esse fato ao dizer que: "que como
assistente gerente a autora cumpria a carga horária de oito horas".
Os controles anexados aos autos não estão assinados pela autora. Embora, não
tenham sido impugnados, o fato é que a prova testemunhal confirmou que as
atividades de assistência de gerência começaram em 2015 e não em 2016. A prova
oral também evidencia que, em 2017, as atividades desempenhadas passaram a
ser de gerente, antes mesmo do efetivo registro na CTPS.
Vale ainda registrar que a prova oral deixou claro que a ré colhia as assinaturas dos
empregados e os relatórios que vieram aos autos são apócrifos.
A testemunha indicada pela ré disse que o assistente de gerente não tem contas
para administrar e a testemunha Sra. Julia declarou que a autora passou a ocupar
o cargo de gerente pessoa física do segmento prime em 2017, pelo que concluo
que em 2017 ela passou a ter contas para administrar.
Pelos e-mails anexados pela autora, também há indícios que essa promoção tenha
ocorrido em julho/agosto de 2017, pois houve o pedido tal, como se observa nos e-
mails de fls. 49, enviado em 13 de julho, no qual consta que o processo havia sido
indeferido, pois o "funcionário com apenas 07 meses no cargo de gerente
assistente. Para que possa ser indicado ao cargo de gerente de relacionamento
prime, o funcionário necessita ter no mínimo 01 ano e 05 meses no cargo anterior".
Sendo assim, julgo procedente o pedido para declarar que a reclamante passou a
exercer a função de assistente de gerente no período de maio de 2015 a dezembro
de 2016 e de Gerente Prime, de julho de 2017 a janeiro de 2018, razão pela qual
condeno a ré a proceder a retificação da função da autora para constar assistente
de gerente, em 02 de maio de 2015, e gerente de relacionamento prime, em 11 de
setembro, de 2017, bem como a pagar as diferenças salariais daí decorrentes, com
reflexos em horas extras, férias com acréscimo de 1/3, , décimo terceiro salário e
FGTS e gratificação de função chefia.
PREMIAÇÃO
Alega a autora que a reclamada concedeu uma premiação aos melhores gerentes
no ano de 2017, por meio de PAD, do qual a reclamante foi o destaque. No entanto,
aduz que pelo fato de não estar formalmente enquadrada na função de gerente não
recebeu a premiação equivalente a R$7.000,00, que era convertida em crédito no
seu cartão.
No mérito, tem-se que a testemunha indicada pela autora confirmou que a autora
ganhou o prêmio PAD de 2017 a 2018.
A testemunha indicada pela ré, por sua vez, não soube dizer se o nome da autora
foi divulgado, pois trabalha em outra área, não servindo de prova quanto ao
presente tópico.
destaque
{...] que no período de 20017 a 2018 a autora foi premiada pelo PAD; que houve
divulgação desse evento; que quando a depoente ocupou o cargo de operador de
caixa suas atividades eram aquelas desempenhadas por um assistente de gerente.
Nada mais respondeu nem lhe foi perguntado.
Os e-mails não mencionam expressamente o PAD, mas parabenizam
a autora pelo trabalho quando, como já reconhecido, atuava como gerente.
HORAS EXTRAORDINÁRIAS
Horas Extraordinárias
Aduz que a partir de maio de 2015 até o seu desligamento passou a laborar na
jornada contratual de segunda a sexta feira, das 09:00h às 18:00h, com uma hora
de intervalo intrajornada.
Sustenta que a ré fraudou a previsão contida no art. 224 da CLT, impondo à autora
uma jornada contratual de 08 horas diárias, não havendo respaldo fático para
excepcioná-la da jornada de seis horas da categoria de bancária, pois após receber
um rótulo de um cargo supostamente de chefia/confiança não foi afastada das
rotinas bancárias que sensibilizaram o legislador a normatizar a redução da jornada
da categoria.
A ré contesta dizendo que o autor, como escriturário e caixa, tinha a jornada média
das 10:00h às 16:15h com 15 minutos de intervalo, totalizando 6 horas diárias, na
forma do caput do artigo 224 da CLT. Diz que a partir de 01/12/2016 esteve
enquadrada em cargo de confiança bancário, desempenhando atividades de
inegável fidúcia dentro da estrutura bancária, sendo submetida à jornada de 08
horas diárias, com uma hora de intervalo.
"(...)que nos períodos em que foi assistente e gerente não tinha subordinados; que
os operadores de caixa se reportavam ao gerente operacional ou administrativo (...)
" - Fls. 408.
A testemunha Sra. Julia disse que a autora não possuía subordinados e o Sr.
Rafael falou que se reporta ao gerente geral e ao gerente administrativo.
Tenho a ressaltar que, revendo posicionamento anterior, entendo que o art. 62,
inciso II da CLT não se aplica aos bancários que possuem regulamentação própria
cujas normas preveem apenas, para os ocupantes de cargo de gerência, a jornada
de 08 horas.
Como regra geral, a jornada dos bancários é de 06 horas como dispõe o art. 224 da
CLT: " A duração normal do trabalho dos empregados em bancos, casas bancárias
e Caixa Econômica Federal será de 06 horas contínuas nos dias úteis, com
exceção dos sábados, perfazendo um total de 30 horas de trabalho por semana. "
Desse modo, verifica-se que não há previsão para a aplicação do art. 62, II da CLT.
Nem poderia ser diferente, pois, os gerentes gerais, embora possam ser a
autoridade máxima na agência, não possuem poderes de gestão, pois todos os
negócios precisam de mais de uma assinatura, de forma a evitar que um deles
possa, sozinho, criar obrigações à instituição financeira. Diante do exposto, aquele
ato de gestão, que põe em risco um setor do empreendimento, deve ser exercido
com certo limite.
Mesmo que se entendesse pela aplicação do art. 62, II da CLT aos bancários, o
fato é que o gerente precisa de poder de gestão, o que não ocorre no caso dos
gerentes gerais que precisam da anuência de outro gestor para fechar quaisquer
negócios, e ainda assim, dentro dos limites impostos via sistema.
A autora efetivamente nunca ocupou cargos que se estejam na exceção do art. 224
da CLT e por isso deveria ter cumprido a jornada de 06 horas e de trinta por
semana.
Assim, as horas trabalhadas além da sexta hora devem ser consideradas como
extra e a gratificação paga pela ré, por não remunerar chefia (já que essa não
existe), representa salário e como tal deve ser considerado para o cálculo das
parcelas deferidas nesta sentença.
Desse modo, é devida a hora extra de uma hora em razão da ausência de intervalo
intrajornada por todo o contrato de trabalho, observado o controle de ponto não
impugnado, quanto aos eventuais dias em que a reclamante gozou do intervalo em
sua integralidade.
No tocante aos cursos Trainet, a reclamante disse que apenas o realizou fora do
expediente até 2016, fazendo apenas os cursos obrigatórios, o que totalizaria uma
média de 20 horas por mês, sendo que a testemunha Sr. Rafael declarou que
gastava duas horas por semana com cursos trainet obrigatórios.
Ora, tendo em vista que a autora não trouxe provas acerca do tempo gasto na
realização dos cursos, e considerando a prova testemunhal, convidada pela ré, que
declarou que os cursos trainet obrigatórios realizados em casa totalizavam 02 horas
por semana, presumo que a reclamante realizava 08 horas de cursos por mês fora
do horário de trabalho.
Sendo assim, julgo procedente o pedido para condenar a ré a pagar como horas
extras: 1) todo o período contratual: uma hora de intervalo intrajornada não gozado
para os dias em que ultrapassou a jornada de 06 horas, com exceção dos dias em
que foram gozados na integralidade, de acordo com o controle de ponto anexado
aos autos; 2) de maio de 2015 até o término do contrato: a sétima e oitava horas
trabalhadas; 3) da admissão até dezembro de 2016: 08 horas extras por mês
referentes aos cursos trainet.
- adicional de 50%.
Esclareço quanto ao divisor que até 2012, a jurisprudência do TST previa que o
divisor a ser aplicado no cálculo das horas extras dos bancários seria de 180 para a
jornada de seis horas e 220 para a de oito horas. Em 2012, a redação da Súmula
124 foi alterada para estabelecer que, " se houver ajuste individual expresso ou
coletivo no sentido de considerar o sábado como dia de descanso remunerado ", o
divisor aplicável é de 150 para a jornada de seis horas e 200 para a jornada de oito
horas.
Houve, inclusive, alteração na Súmula 124 do TST, que passou a conter a seguinte
redação:
Julgo procedente, também, o pedido dos reflexos das horas extras no cálculo do
repouso semanal remunerado ( sábados, domingos e feriados), férias com
acréscimo de 1/3, 13º salários e FGTS.
Cumpre observar que o art. 224 da CLT prevê, regra geral, que a
jornada de trabalho do bancário é de 06 (seis) horas, exceto quando os empregados exerçam
atividades de confiança, conforme prevê o § 2º do referido artigo, tais como gerência, direção,
fiscalização, chefia e equivalente ou outro cargo de confiança.
Destaco, por fim, que não há que falar em eventual dedução dos
valores pagos pelo cargo de confiança, ainda que de forma proporcional, conforme entendimento
assente na Súmula nº 109 do C. TST que diz que "O bancário não enquadrado no § 2º do art. 224
da CLT, que receba gratificação de função, não pode ter o salário relativo a horas extraordinárias
compensado com o valor daquela vantagem". Entendo que o valor recebido a tal título visa a
remunerar a maior responsabilidade do cargo, conforme inteligência do item VI da Súmula nº 102
do C. TST.
[...]
PDS PEDIDOS
[...]
Esclareço, por fim, que resta superada pelo teor da Súmula nº 437 do
c. TST a discussão relativa à natureza do intervalo intrajornada não gozado, forma de apuração e
reflexos. Assim, a concessão parcial ou a não concessão do intervalo intrajornada mínimo, para
repouso e alimentação, implica o pagamento total do período correspondente, e não apenas
daquele suprimido, com acréscimo de, no mínimo, 50% sobre o valor da remuneração da hora
normal de trabalho (art. 71 da CLT), sem prejuízo do cômputo da efetiva jornada de labor para
efeito de remuneração. Da mesma forma, evidencia a natureza salarial da parcela prevista no art.
71, § 4º, da CLT. Trata-se, portanto, de ressarcimento pelo intervalo cujo gozo não foi propiciado,
pois, se a empresa exige retorno ao serviço antes do intervalo ou não o concede, ocasionando
desgaste maior por não se haver recuperado, deve indenizá-lo pela exigência suplementar.
Como se viu, a condenação relativa ao intervalo restou reduzida,
tendo como marco final o mês de abril/2015. Assim, seque há que cogitar de aplicação da
alteração legislativa introduzida no art. 71, § 4º, da CLT pela Lei nº 13.467/2017, pois somente
rege os contratos de trabalho iniciados após a sua vigência, pois as situações jurídicas já
consolidadas sob a égide da lei anterior não podem ser atingidas por nova lei prejudicial ao
trabalhador na medida em que o pacto contratual foi firmado tendo, dentre as condições, o
pagamento integral, de natureza salarial, do intervalo intrajornada parcialmente usufruído.
CORREÇÃO MONETÁRIA
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
Honorários advocatícios
Considerando que a presente ação foi ajuizada após 13/11/2017, data da entrada
em vigor da Lei 13.467/17, conclui-se que a nova redação do art. 791-A da CLT se
aplica ao caso concreto, devendo ser interpretada de modo que seja preservado o
direito fundamental de acesso à Justiça.
Prevê o art. 791-A da CLT, com a redação dada pela Lei 13.467/2017, que são
devidos honorários de sucumbência, fixados entre 5% e 15% sobre o valor que
resultar da liquidação da sentença, do proveito econômico obtido ou, não sendo
possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa, devendo o juiz atentar, na
fixação do percentual, para o grau de zelo do profissional; o lugar de prestação do
serviço; a natureza e a importância da causa e o trabalho realizado pelo advogado
e o tempo exigido para o seu serviço.
O art. 791-A § 3º da CLT estabelece que o juiz arbitrará os honorários quando for a
hipótese de sucumbência recíproca, autorizando, portanto, nessa hipótese, certo
grau de subjetividade.
Honorários sucumbenciais
O reclamante está assistido pelo seu sindicato profissional, tendo declarado que
não tem condições de arcar com honorários advocatícios e/ou custas processuais
sem o prejuízo de seu sustento e de seus familiares.
Nego provimento.
DETERMINAÇÕES FINAIS
DETERMINAÇÕES FINAIS
ACÓRDÃO
sg