Priscila Maria Iraci Santos
Priscila Maria Iraci Santos
Priscila Maria Iraci Santos
Pichações, grafites e Bel Borba: o diálogo artístico urbano através das paredes de
Salvador.
Priscila Maria de Jesus
Os primeiro grafites que se tem registro na história, são fruto de uma construção
que envolve um universo mítico de assegurar uma caça bem sucedida e como forma
de comunicação, para o qual o homem apropriou materiais que dispunha e utilizou
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Graduanda em Museologia pela Universidade Federal da Bahia - FFCH/UFBA; Voluntária de Iniciação
Científica PIBIC/UFBA; E-mail: priscilamdj@ig.com.br
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Graduanda em Museologia pela Universidade Federal da Bahia - FFCH/UFBA; Voluntária de Iniciação
Científica PIBIC/UFBA; E-mail: iraci.dossantos@bol.com.br
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Pesquisa orientada pelo Prof. Dr. José Antonio Saja Ramos Neves dos Santos, docente do Departamento
de Filosofia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia
FFCH/UFBA, do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes EBA/UFBA e
orientador do Programa de Pós-Graduação em Filosofia Contemporânea da FFCH/UFBA.
formas até então não pensadas para se representar nas paredes. No interior das cavernas
os homens fizeram os seus primeiros registros artísticos bidimensionais, representações
do cotidiano, que se tem notícia, no final do período Paleolítico, que teve fim entre 10
mil e 5 mil anos ante de Cristo.
Essa forma de linguagem humana caracterizou-se por suas representações
zoomorfas, antropomorfas e geométricas, elo de comunicação entre o artista da rupes e
o meio em que vivia, [...] A geometrização das formas, abstrações e reproduções
antropomorfas e/ou zoomorfas, o estilo, o cromatismo, a caracterização de conjuntos
vivenciais, entre outros, são fatores determinantes considerados na taxonomia dos
registros rupestres (CARVALHO, 2003:74). As mais conhecidas imagens do
Paleolítico encontram-se nas paredes de Lascaux, na França, e Altamira, na Espanha.
Essas representações do cotidiano se basearão, sobretudo, em cenas de caça, cujas
imagens parecem movimentar-se, como seus modelos originais tirados do cotidiano.
Essas pinturas apresentarão, às vezes, apenas um contorno na cor preta, outras serão
pintadas com mais cores, mas todas, [...] revelam a mesma sensação fantástica de vida
(JANSON, 1996: 14).
Essas imagens, diferentemente dos grafites de Pompéia e da
Contemporaneidade, que estavam à vista de todos, em lugares extremamente acessíveis,
encontravam-se nos locais mais profundos e inacessíveis das cavernas, afastadas das
entradas, o que favoreceu a sua preservação. Diferentemente as pichações pompéianas
foram preservadas graças a uma erupção vulcânica ocorrida em 79 d.C., cujas paredes
abrigavam mensagens diversas, desde xingamentos à poesias. Segundo Gitahy
(1999:20), [...] predominavam xingamentos, cartazes eleitorais, anúncios, poesias,
praticamente tudo se escrevia nas paredes , o que demonstra a diversidade de temas
abordados pelo cidadão romano nos muros da cidade, nos quais se escrevia de tudo um
pouco.
O ato de escrever nas paredes não era exclusivo dos moradores de Pompéia, mas
do romano, acostumado a deixar mensagens gravadas nas paredes de sua cidade.
Pompéia se destaca por suas inscrições preservadas por quase dois mil anos, as quais
constituem um registro, uma memória da sociedade romana, que chegam até o homem
do terceiro milênio, como um fato atual e cotidiano o ato de se expressar utilizando a
cidade como suporte.
Freqüência e intensidade, marcas das pichações antigas, e porque não das
contemporâneas, atestam como eram presentes no cotidiano das cidades romanas, as
quais deviam pintar regularmente as paredes, para que essas ficassem liberadas para
novas inscrições serem feitas. Essas inscrições, cujos autores pertencem aos mais
diversos segmentos populares, de agricultores a comerciários, homens ou mulheres,
escravos ou livres, [...] de fato, as paredes de Pompéia testemunham a ocupação pelos
grafiteiros de todos os espaços disponíveis: ali encontramos cerca de uma inscrição por
adulto, homens e mulheres, livres e escravos, feitas nos últimos momentos da cidade, o
que significa dez mil inscrições (FUNARI, 2003:80-81).
Na contemporaneidade, foi o Maio de 68, em Paris, que estimulou jovens
universitários, em sua maioria, a utilizarem os muros parisienses como suporte para
expressarem as suas insatisfações políticas. Assim, a parede foi tida como um meio de
comunicação e de intervenção em larga escala, o qual atingia a todos, com seu teor
político e revolucionário, na qual espalhavam pela cidade francesa frases e pensamentos
de reivindicações sociais.
Mais recentemente as pichações são vistas como vandalismo ou sujeira. Sua
intermitência em prédios públicos ou monumentos, muros ou residências, fazem da
pichação um ato transgressor. Realizadas geralmente à noite, por serem ilegais, esse ato
confere, também, a esse tipo de intervenção no espaço urbano um teor transgressor
como demonstra a escolha do horário pelos pichadores, [...] por ser considerada ilegal
e subversiva, a atividade da pichação era executada sempre à noite (GITAHY,
1999:21).
Essas intervenções dos pichadores, com letras, nomes ou símbolos que o
identificam perante o seu grupo e os grupos rivais, conhecidas como Tags ou
assinaturas, representam [...] restos de um comportamento de insatisfação (COSTA,
2000:112), que funcionam como uma identidade, um espelho no qual o pichador se
reflete por todo o espaço urbano. Falar sobre as pichações, nesse momento, serve para
distinguir as pichações dos grafites, ambos presente na história da evolução do homem
como produtor de símbolos.
Os grafites, diferentemente das pichações com seus símbolos pouco
identificáveis, se utilizarão das paredes para satirizar, protestar ou expor uma situação
vivida pelo grafiteiro ou pela sua sociedade. Nesse sentido serão vistas várias imagens
com esse cunho de ruptura e protesto com os problemas e situações do dia-a-dia. Nesse
caso, o grafite assumirá uma função de denúncia para a sociedade do que está
acontecendo, como exemplifica a Figura 1, ao satirizar um momento político vivido
pela sociedade brasileira. Nesse grafite, localizado à Rua Carlos Gomes, centro da
cidade de Salvador, o grafiteiro utilizou-se de uma parede de grande acessibilidade pela
população para denunciar o mensalão e perguntar para a sociedade, para que essa
reflita a respeito, quem são os verdadeiros envolvidos numa fraude que compromete a
reputação da política brasileira, sem falar o descaso desses envolvidos com a situação da
população brasileira, ao colocar seus interesses próprios como prioridade.
Assim, pelas paredes da cidade soteropolitana aparecerão outras representações
que possuam essa linguagem mais conceitual, no sentido de passar uma mensagem, seja
política, moral ou até mesmo filosófica.
Uma outra vertente do grafite analisada e muito difundida, é o grafite como uma
produção artística, puramente estética, que pouco ou nada assumirá uma postura de
protesto e ruptura por meio de suas imagens, como ilustra a Figura 02. O grafite será
entendido, nessa situação, muito mais por se utilizar da técnica e do suporte (a cidade)
do que por sua função primeira de protesto, como o painel de cerca de cinco metros de
comprimento elaborado para as comemorações do descobrimento do Brasil no ano de
2005, localizado na Calçada. Esse painel, apenas ilustra uma cena referente ao
acontecido, sem questionar ou propor uma reflexão para o transeunte. Dessa forma, têm
surgido na cidade de Salvador, com o patrocínio da Prefeitura Municipal, concursos de
grafite, onde os grafiteiros se utilizarão dos muros disponibilizados pela prefeitura, para
grafitar um tema proposto por esta.
Figura 01 Figura 02
Figura 03 Figura 04
Estou convencido de que uma análise das formas estéticas é suscetível de nos dar
também testemunhos marcantes sobre as estruturas de base das sociedades. Uma forma
de civilização se descreve igualmente pela maneira pela qual se dança ou se canta
assim como se escreve ou se reza ponto de vista da História. As modas da prece, da
dança, do canto, da Arquitetura não são infinitos, eles se classificam e nos ajudam a
classificar os tipos de organizações sociais que os reclamam ponto de vista da
Sociologia (FRANCASTEL, 1993: 46).
Figura 05
O Parque das Escultoras do MAM - Museu de Arte Moderna da Bahia é um
espaço onde se pode contempla peças criadas por respeitados artistas plásticos. Temos
também como destaque o Espaço Mário Cravo idealizado como um museu a céu
aberto com um acervo de duas mil esculturas e peças de arte. Esses espaços são
tentativas válidas de integra o trabalho tridimensional no espaço aberto, e torná-lo
visível a um número maior de pessoas. Porém esses espaços não podem ser
considerados um local público no sentido da configuração urbana de ruas e praças da
cidade de Salvador:
A escultura adquire sua grandeza especifica quando respira livre nos espaços abertos,
sob o sol e sob a chuva. Quanto mais acessíveis ao homem e ao uso deste, estiverem as
artes e, em particular, a escultura, estarão cumprindo sua finalidade concreta
(CRAVO, 2003:31).
Quando a escultura sai dos museus ela adquire vida própria e interferem na
paisagem e sobre o homem. O ser humano necessitaria do estimulo que uma obra
escultórica pode provocar, Faz-se então necessária a presença da arte para [...] o
homem comum, que tem poucos estímulos visuais, além das cores de sua tevê, do painel
do seu carro ou da mesa de escritório (MENDONÇA apud PRIETO,1980:174).
A obra de arte precisa modificar o espaço, a escultura tem que se afirmar não só
como sentido estético e, assim, provocando a sensibilidade do homem.
Para Prieto:
A função da escultura parece-nos que durante os anos 70 ela deve ser diversa da que se
instaurou há meio século. Intrínseca a própria obra, a função primordial seria a de
expressar uma problemática estética reveladora talvez dos conflitos da humanidade em
nossos dias e da busca de soluções, não se atendo mais ao retrato exterior, mas
sintetizando um apelo ou uma procura de equilíbrio mais universal, no que a
criatividade de cada artista pode transmitir. A função dentro do espaço urbano seria a
de fazer a arte participar do cotidiano e ser fruída por maior número de pessoas,
contribuindo para o desenvolvimento mental de cada individuo, reencontrando, enfim, o
papel que ela já teve na Antiguidade (PRIETO,1980:174).
Referências: