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AUTORIDADE NACIONAL DE SEGURANÇA RODOVIÁRIA

EXMO. SENHOR PRESIDENTE

Auto 949142530 – Processo número 393524/2023


EA n.º 220060800

, arguida nos autos supra identificados vem ao abrigo do artigo 175.º, n.º
2 do Código da Estrada apresentar defesa nos termos e com os fundamentos
seguintes:

1.º - Vem a arguida acusada no auto de notícia, num processo, imagine-


se sem número para contestar, o que a arguida só soube porque indagou junto
da GNR qual era o número do processo, com referência somente ao número do
auto e entidade autuante, que de no dia 16 de maio de 2023 pelas 9h e 00m,
no local “A 13, 192,50, Almalaguês”, ter praticado a infração: “manuseamento de
forma continuada pelo condutor, durante a marcha do veículo de aparelho
radiotelefónico (telemóvel) em frente ao rosto, com recurso à mão direita. A
condutora era a única ocupante do veículo”.

2.º - De acordo com o mesmo auto a norma infringida foi: “CE - Art.º 84.º
n.º 1” e as sanções correspondem a: “Coima: 250.00 Euros (duzentos e cinquenta
euros) a 1.200.00 Euros (mil e duzentos euros) Prevista em Art.º 84.º n.º 4” e
“Sanção acessória de Inibição de conduzir de 1 a 12 meses Prevista em Art.º
145.º n.º 1 e 147. n.º 2 Cód. Estrada.

3.º - Ora, este Auto padece de nulidade, devendo como tal ser declarado
e portanto dele não pode ser retirado qualquer efeito, designadamente
sancionatório, seja a título de coima, seja de sanção acessória por violação do

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artigo 170.º do Código da Estrada (CE) e do princípio constitucional do
contraditório.

Para que o contraditório seja plenamente exercido faltam ao Auto de


Contra-ordenação aqui em crise, elementos objetivos essenciais sendo, na
verdade, omitidos do referido Auto.

4.º - O art.º 170.º do CE diz que:


1 - Quando qualquer autoridade ou agente de autoridade, no
exercício das suas funções de fiscalização, presenciar
contraordenação rodoviária, levanta ou manda levantar auto
de notícia, que deve mencionar os factos que constituem a
infração, o dia, a hora, o local e as circunstâncias em que
foi cometida, o nome e a qualidade da autoridade ou agente
de autoridade que a presenciou, a identificação dos agentes
da infração e, quando possível, de, pelo menos, uma
testemunha que possa depor sobre os factos.
2 - O auto de notícia é assinado pela autoridade ou agente
de autoridade que o levantou ou mandou levantar e, quando
for possível, pelas testemunhas.
3 - O auto de notícia levantado e assinado nos termos dos
números anteriores faz fé sobre os factos presenciados pelo
autuante, até prova em contrário.
4 - O disposto no número anterior aplica-se aos elementos de
prova obtidos através de aparelhos ou instrumentos
aprovados nos termos legais e regulamentares.

Sendo os caracteres nossos.

5.º - Na verdade do auto não constam com exatidão e rigor não só os


factos que constituem a infração, como o local e as circunstâncias em que foi
cometida a alegada infração, não sendo conhecidas “as circunstâncias relevantes
para a decisão” exigíveis pelo artigo 181.º, do CE, conforme infra se explanará.

6.º - Começando pelo local e as circunstâncias em que foi cometida a


alegada infração, dir-se-á que o auto não explica qual o exato local da alegada
infração sendo apenas referido “A 13, 192,50, Almalaguês”

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7.º - A via em causa estende-se por vários sentidos de trânsito e tem no
seu perímetro vários outros pontos de referência que podem servir para identificar
o ponto específico daquela artéria.

8.º - Ou seja, o agente autuante por razões que a razão desconhece


podendo e devendo ter identificado claramente o local exato onde o veículo
alegadamente estaria a circular em infração não o fez.

9.º - Mais, apesar do autuante ter feito registar que tinha presenciado a
infração, a verdade é que não pode ter visto o que afirma ter visto, pois inexistiu
qualquer manuseamento de telemóvel, nem podia ver pois não sabemos o local
onde estava e o local onde a arguida circulava.

10.º - Aliás na própria descrição da infração o autuante refere-se ao


“manuseamento de forma continuada pelo condutor” e não à condutora.

11.º - Da forma como é imputada a hipotética infração impede-se que a


arguida se possa defender da acusação que lhe está a ser imputada.

12.º - De facto no texto elaborado pelo agente, não é sequer referido se


a infração teve lugar no sentido Norte/Sul ou Sul/Norte, Este/Oeste ou
Oeste/Este – nada que permita o exercício cabal do contraditório.

13.º - O lugar da prática da infração é um dos elementos essenciais do


tipo de ilícito contraordenacional (Cf. Artigo 6.º do DL 433/82) e tem
necessariamente que constar de uma acusação em moldes claros e precisos –
Cf. Artigo 170.º do Código da Estrada.

14.º - Ora nas infrações estradais o lugar da prática de qualquer infração


tem especial relevância pois que os ilícitos estradais assentam essencialmente
na circunstância espacial: o local onde ocorre um determinado facto é
determinante para que o mesmo seja qualificado como contraordenação ou não.

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15.º - Desconhece-se igualmente a fonte da obrigação alegadamente
violada: não se sabendo sequer em que sentido de trânsito foi cometida a
infração.

Mais, o texto sobre a infração está redigido em português impercetível, ou


seja, o arguido não percebe o que é que se quer dizer com o que se encontra
escrito na descrição sumária dos factos.

16.º - Por outro lado, a arguida pode usar o telemóvel durante a marcha.
O que não pode fazer é um manuseamento continuado. Se o agente autuante
viu um condutor a fazer um manuseamento continuado, onde é que ele estava
para ver se era continuado ou não? Estava parado ou em movimento?

17.º - Aliás, mais uma vez se viola o artigo 170.º n.º 1 do Código da
Estrada por não se mencionarem com rigor e exatidão os factos que constituem
a eventual infração.

18.º - Mais um exemplo da impossibilidade do cabal exercício do


contraditório e do direito de defesa previsto no artigo 32.º, n.º 10 da Constituição
da República Portuguesa (CRP).

19.º - A arguida não ia a manusear o telemóvel.

20.º - Naturalmente que se do auto não constam de forma exata factos


conforme já supra descrito, dificilmente se poderiam subsumir quaisquer factos
à legislação infringida.

21.º - No entanto, caso o que se expõem quanto à ausência de factos,


indicação exata do local, que o possa identificar e individualizar, bem como a
correta indicação das circunstâncias, não mereça concordância, ainda assim,
falta no auto correta notificação da legislação infringida, porquanto, não se
percebe que infração é que foi cometida ao artigo 84.º, situação diretamente
relacionada com a ausência de circunstâncias e indicação do local correto…

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22.º - A arguida, sempre incutiu na sua condução um dever especial de
cuidado como lhe é imposto pelo Código da Estrada, certamente, nunca utilizaria
o telemóvel em violação do estatuído no Código da Estrada.

23.º - Face a todo o exposto fica claro que o Auto não permite o pleno
exercício do contraditório violando um princípio legal e constitucional, não
permitindo exercer o direito à defesa consagrada no n.º 10.º do artigo 32.º da
CRP.

24.º - Assim, o auto em crise será nulo e nulos todos os atos praticados
na sua sequência, conforme Acórdão do STJ de 16 de Outubro de 2002, referente
ao processo 02P2534, publicado em www.dgsi.pt: “(…)nula por não conter a
descrição dos factos, nem a sua subsunção à norma ou normas que constituem
a infracção que foi imputada (…)”.-

25.º - Em suma e face a todo o exposto o Auto é nulo e como tal deve
ser considerado, tendo sido violados entre outros, designadamente o n.º 10.º do
artigo 32.º da CRP; o artigo 181.º, 175.º e 170.º do Código da Estrada.

26.º - A arguida é uma condutora extremamente prudente, com carta de


condução há muitos anos, sentindo-se ferido na sua auto-estima por estar a ser
alvo de um procedimento que não obedece às normas legais em vigor e que
não só o penaliza economicamente, como limita a sua futura atuação enquanto
condutor e cidadão.

27.º - O direito contraordenacional não é nem pode ser visto como um


direito menor em que tudo ou quase tudo se ignora para se atingir um fim…

28.º - Naturalmente que é necessário o adequado combate à sinistralidade,


mas não a qualquer preço, sem obedecer às normas e princípios de um Estado
de Direito.

29.º - Na verdade, o direito contraordenacional, tal como o direito penal


e processual penal que, de acordo com o art.º 32 do Regime Geral das Contra-

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ordenações (DL 433/82), lhes são subsidiariamente aplicáveis, assume uma
estrutura acusatória.

30.º - Dito de outro modo: é à entidade acusadora que incumbe o ónus


de aduzir os elementos de facto e de direito que subsumem uma concreta
conduta a um determinado ilícito, sendo certo que a sua insuficiência não cumpre
ser suprida pela ora arguida.

31.º - Não se encontrando descritas no Auto, que é a acusação, as


concretas e exatas circunstâncias em que alegadamente se verificou o ilícito que
determinou o procedimento em causa, é certo que o Auto carece de fundamento
para ser erigido como tal.

32.º - No âmbito de um processo contra-ordenacional como no âmbito


criminal, os factos e as circunstâncias não se presumem, têm de estar expressas
no respetivo texto.

33.º - Na verdade o agente autuante, não teve o cuidado de dotar o auto


com elementos que inequivocamente suportem uma acusação, correspondente à
sua convicção, até porque nem presenciou a infração!...

34.º - O arguido não pode pois defender-se cabalmente desta acusação


pois são omitidos factos importantes, determinantes e concretos sobre o que é
que, em concreto terá feito, estando portanto comprometido o exercício do
contraditório consagrado no artigo 10.º da Constituição da República Portuguesa.

35.º - Face ao exposto, deverão os presentes autos ser arquivados e


consequentemente o arguido absolvido.

Termos em que a acusação deve ser declarada nula, dela não podendo
ser retirado qualquer efeito, por violação do disposto no n.º 10.º do artigo 32.º
da CRP; artigo 181.º, 175.º e 170.º do Código da Estrada, não sendo possível o

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cabal exercício do contraditório e direito à defesa, devendo o arguido ser
absolvido e consequentemente serem os presentes autos arquivados.

PROVA TESTEMUNHAL:

1 –.

O advogado NIF: 188.516.689

Portador da Cédula Prof. N.º 3.429C

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