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EE 29 INTRODUCAO, © Procedimento de Desenhos-Estorias (abrevit adamente, D-E) é uma técnica de investigacao da personalidade que emprega, basicamente, desenhos livres associados a estérias*, no con- texto do diagnéstico psicolégico. Foi introdu- zido por Walter Trinca, em 1972, para se pres- tar a exploracao da dinamica inconsciente da Personalidade, em setores que outros meios utilizados na época deixavam muito a desejar. Ou seja, necessitava-se de instrumento com sensibilidade bastante para uma exploracao inconsciente de tipo vertical e focal, relaciona- da especialmente asiqueixase/outras angus: tias'emergentesiem dada situagao. Nessa épo- €@, 0 exame psicolégico, como um todo, ocu- pava-se, na clinica psicolégica, prioritariamen- te com a horizontalidade e a extensao da per- sonalidade em seus multiplos aspectos. Havia predominancia do uso de testes objetivos, e 05 psicélogos afiliavam-se, preferencialmente, a modelos médicos e psicométricos, Nesse contexto, o Procedimento de Dese- nhos-Estérias, juntamente com outras técnicas = N. dos A. Apesar de alguns autores recomendarem a grafia historia, quando se trata de narrativa de ficeao, (0 uso consolidou e justifica a forma estéria, jé incorpo- rada a lingua portuguesa 428 Jurema Actes CuNHA de investigacao psicanaliticamente fundamen: tadas, como a Hora de Jogo Diagnéstica (Abe- rastury, 1982) e o Jogo dé Rabiscos (Winnicott, 1984), ajudou a consolidar uma nova maneira de se conceber e realizar 0 diagnéstico psico- légico. Importante, acreditamos, é sublinhar que 0 D-E veio se inserir no proceso diagnés- ticolde tipo compreensivo (Trinca, W., 1984), que trouxe uma abordagem clinica renovado- ra e uma viso humanistica integradora dos propésitos do diagnéstico psicolégico. Nao somente a psicanalise, como também a psico- logia fenomenolégico-existencial, a psicologia da Gestalt, o behaviorismo, os estudos sobre a dinamica familiar, a analise dos processos de desenvolvimento da crianga e outras areas da psicologia langaram luz sobre 0 foco da pro- blematica humana que foi incorporada no diag- néstico compreensivo Foi, inicialmente, apresentado como tese de doutorado no Instituto de Psicologia da USP (Trinca, W,, 1972). Algum tempo depois, essa tese foi transformada em livro (Trinca, W., 1976). Encontram-se hoje, referidos ao D-E, mais de 100 trabalhos publicados, dentre os quais mais de 30 teses de doutorado e disser- tages de mestrado, feitas a seu respeito ou com o seu emprego. Um resumo, ainda que pélido, dessa producao encontra-se em Trinca, W. (1997).NATUREZA E CARACTERISTICAS 0 Procedimento de Desenhos-Estérias é uma Gico, como meio auxiliar de ampliacao do co- nhecimento da personalidade, em situacées clinicas ou nao-clinicas. Tem por base, como afirmamos, a combinacao do emprego de de- senhos livres com o recurso de contar estérias © examinando realiza uma série de desenhos livres, associados as estérias que eles contam, também de modo livre. Por isso, 0 D-E jé foi referido como uma técnica de desenhos livres que servem como estimulos de apercepgao te- matica. Nesse caso, ele se constitui em instru- mento com caracteristicas préprias, que se vale de processos expressivo-motores e apercepti- vo-dindmicos. Os desenhos livres servem para eliciar as estérias, mas o resultado desse par se compée em um todo uno e indiviso. Além disso, a inte- gridade do conjunto exige a utilizacao de “in- quéritos” e titulos para as unidades gréfico- verbais. 0 examinando realiza um primeiro desenho livre e, a partir deste, inventa uma estoria. Responde, em seguida, as perguntas do examinador e da um titulo a producao. A unidade grafico-verbal é normalmente repeti- da, na mesma sequiéncia, por cinco vezes. Tal reiteracdo seqiiencial nao resulta em unidades isoladas, mas em uma comunicagao continua, que serve aos propésitos da constituicao de um todo, denominado Procedimento de Desenhos- Estorias. Trata-se de uma técnica que deixa o exami- nando livre para se comunicar; simultaneamen- te, fornece um substrato basico de meios est- veis para os participantes se conduzirem. As informagoes advindas do emprego do Proce- dimento sao habitualmente reunidas a outras para a composicdo da compreensao clinica. Em particular, 0 uso conjugado do D-E com as en- trevistas clinicas vem propiciar a obtencao de informagoes focais e nodais dentro do setting do diagnéstico psicolégico. © D-E é uma técnica de investigacao que no se restringe as nocées habituais e particu- lares que temos a respeito dos testes psicolé- gicos. Estes, geralmente, se prendem a ques- tdes fundamentais de fidedignidade, sensibili- dade e padronizagao, que nao séo igualmente consideradas no D-E. Nao 0 sao justamente por ser ele uma técnica de exploragao livre e am- pla, e por visar a uma compreensao da dind- mica psiquica profunda. Podemos sintetizar, dizendo que o Procedi- mento de Desenhos-Estérias tem como carac- teristicas principais: TECNICA DE APLICACAO Aadministragao do Procedimento é individual, devendo ser aplicado por profissionais devida- mente qualificados. Usam-se folhas de papel em branco de tamanho oficio, ldpis preto e uma caixa de lapis de cor. Preenchidas as condicoes requeridas, o sujeito é colocado sentado, tra- balhando em uma mesa, ¢ 0 examinador sen= ta-se a sua frente. E dada a tarefa apés verifi- cacao de bom rapport entre examinandore am-se os lpis sobre a mesa, ficando o lapis preto (ponta de grafite) locali- zado ao acaso dentre os demais. Coloca-se uma folha de papel na posicao horizontal, com o lado maior préximo do su- jeito. Nao se menciona a possibilidade de este alterar essa posicao, nem se enfatiza a impor tancia do fato. Solicita-se ao examinando que faca um desenho livre: "Voc" tem essa’ folha 0 que acontece”, Na eventualidade de 0 exa- minando demonstrar dificuldades de associa- Psicoptacnostico- V 429sao e de elaboracao da estéria, pode-se intro- duzir recursos auxiliares, dizendo-Ihe, por exemplo: "Vocé pode comecar falando a res- Concluida, no primeiro desenho, a fase de contar estérias, passa-se ao “inquérito”. Nes- te, podem-se solicitar quaisquer esclarecimen- tos necessarios & compreensao e interpretacao do material, produzido tanto no desenho quan- to na estéria. O “inquérito” tem, também, o propésito de obtengao de novas associacées Ainda com o desenho diante do sujeito, pede- se o titulo da estéria. Chegando a esse ponto, retira-se o desenho da vista do examinando. Com isso, temos concluida a primeira unidade de produgao, composta de desenho livre, es- téria, “inquérito”/ititule e demais elementos relatados. O examinador tomara nota detalhada da estéria, da verbalizago do sujeito enquanto desenha, da ordem de realizacdo, dos recur- sos auxiliares empregados, das perguntas e respostas da fase de “inquérito”, do titulo, bem como de todas as reacdes expressivas, verbali- zacées paralelas e outros comportamentos observados durante a aplicacao. Pretende-se conseguir uma série de cinco unidades de pro- dugao. Assim, concluida a primeira unidade, repetem-se os mesmos procedimentos para as demais. Na eventualidade de nao se obterem cinco unidades em uma Unica sessao de 60 minutos, & recomendavel combinar 0 retorno do sujeito a nova sessao de aplicacao. Nao se alcancando o ntimero de unidades igual a cin- co, ainda que utilizado o tempo de duas ses- sdes, seré considerado e avaliado o material que nelas 0 examinando produziu, Se as asso- ciagées verbais forem pobres, convém reapli- car o proceso, a partir da fase de contar esté: rias, No é aconselhavel 0 uso de borracha, Para outros esclarecimentos quanto a aplicacao, vide Trinca, W. (1976). O D-E foi introduzido como técnica de ava- liagao psicolégica individual. Alguns estudos atuais, contudo, consideram a possibilidade de ser aplicado coletivamente (Aiello-Vaisberg, 1997; Gavido & Pinto, 1999). Originalmente, foi apresentado para sujeitos de ambos os se- x05, de cinco a 15 anos de idade. Hoje, esse 4300 Jurema Accipes Cunia uso se estendeu a criancas de trés € quatro anos, bem como a adultos de todas as idades. Os examinandos podem pertencer a quaisquer niveis mental, socioecondmico e cultural (Trin- ca, A,, 1997). FINALIDADES 0 D-E foi proposto, inicialmente, para o estu- do dos contetidos psicodinamicos da persona- lidade, que abrangem especialmente os pro- ‘cess0s de'natureza inconsciente, Ele é de gran- de valor na deteccao de componentes das ex- periéncias subjetivas. Ultimamente, contudo, tem se enfatizado que se presta, também, ao reconhecimento das caracteristicas formais estruturais da personalidad, A producao gré- fica revela, como afirma Grassano (1996), a concepsao e os conflitos inerentes ao manejo espacial, as fungoes e ao interior do préprio corpo, bem como as angiistias e fantasias do- minantes com relacao ao corpo de outras pes- soas, construidas desde as primitivas relacoes de objeto. Como, no D-E, os desenhos livres nao sao somente substitutivos de pranchas destinadas a provocar estérias, mas constituem importantes fatores a serem avaliados de for- ma integrada com os demais elementos pre- sentes, podemos dizer que tal producao grafi- ca é reveladora de caracteristicas formais e es- truturais. Hammer (1991), Van Kolck (1981) e a prépria Grassano (1996) oferecem indicado- res para interpreta-los desse modo. Tardivo (1985; 1997) enfoca os aspectos formais da produgao grafica no D-E e sua coeréncia den- tro do conjunto da produsao global. Com 0 passar do tempo, verificou-se que, em funcao de sua ex- trema adaptabilidade, se prestava a diversas outras situagdes, como, por exemplo, aos Cont Temos encontrado uma ampla utilizagao do D- E na pesquisa, seja dentro, seja fora da clinicapsicolégica. Além disso, ele se revela itil em diagnéstico breve, psicoterapia breve, entre- vista devolutiva, follow-up e inumeras outras areas, FUNDAMENTAGAO © Procedimento de Desenhos-Estérias encon- tra sua fundamentagao nas seguintes suposi- goes: 1) 0 individuo pode revelar suas disposi- es, esforcos e conflitos ao estruturar ou com- pletar uma ssituacaovincompleta; Essa suposi- sao fundamenta as técnicas projetivas em ge- ral. Ela vem sendo comprovada por meio de pesquisas e de experiéncia clinica 2) As associacées livres tendem a se dirigir aa setores em que o individuo é emocionalmen- te mais sensivel. Essa hipdtese, que fundamen- ta a propria psicandlise, aplica-se ao D-E, que, como vimos, deixa o examinando livre para realizar a tarefa. Nesta, ele tende a exprimir seus impulsos, conflitos, angustias, fantasias inconscientes, etc. 3) Nas técnicas projetivas, quanto menor for a estruturacao € a direcdo do estimulo, tanto maior sera a tendéncia de surgir material emo- cionalmente significativo. Quando sao solici- tados livremente desenhos e estérias, e quan- do é minimizada a direcdo oferecida pelo exa- minador, pode-se esperar que os nticleos sig- nificativos da personalidade tenham a oportu- nidade de se manifestar. 4) No contato inicial, o cliente tende a co- municar seus principais conflitos e fantasias inconscientes sobre a doenca e a cura. Aberas- tury (1982) explica, de modo geral, esse fend- meno, dizendo que, no caso da crianca, esta espera que os profissionais que a atendem nao reproduzam a conduta de seus objetos origi- nais, que provocaram a doenca ou 0 conflito Tanto para as criancas quanto para os adultos, +tém se vetificado nas consultas iniciais evidén- cias empiricas e clinicas para essa hipdtese. 5) Criancas e adolescents preferem co- municar-se por desenhos e fantasias apercep- tivas a se expressar por comunicacoes ver- bais diretas, A surpresa, para nés, foi cons- tatar que os adultos, muitas vezes, t&m essa preferéncia 6) Determinada seqiiéncia reiterada de reiteragdo do par desenho-estéria conduz a um proceso unitario de comunicagao, com inicio, meio e fim AVALIACAO © D-€ é uma técnica que permite varias moda- lidades de avaliacao. Do vértice da andlise de contetido com fundamentacao psicanalitica, temos observado, tanto em pesquisas realiza- das, como na clinica psicoldgica, 0 uso do método denominado “livre inspecao do mate- rial”, Essa forma de avaliacao se baseia em uma analise globalistica. Ou seja, levando-se em conta © conjunto da produgao (desenhos, es- térias, respostas aos “inquéritos” e outras as- sociagées), sdo levantadas hipéteses referen- tes A natureza dos impulsos, das fantasias in- conscientes, das angustias e conflitos predo- minantes, dos vinculos mais significativos, das defesas mais utilizadas, entre outros aspectos, Tenta-se relacionar tudo isso com as queixas, Podemos mencionar, aqui, a profundidade do método, que depende da experiéncia clinica. Contudo, ao utilizé-lo, © profissional corre 0 risco de se equivocar, especialmente se nao dispoe de muita experiéncia clinica. Dada a riqueza do material que surge no Procedimento de Desenhos-Estérias, hd a pos- sibilidade de se realizarumalanélise dosiaspec tos formais e estruturais, como foi menciona- do, Nesse caso, a énfase é colocada nas quali- dades aparentes dos desenhos (localiza¢ao) qualidade do grafismo, temas predominantes, uso das cores, significado das cores, etc.). $0 consideradas, também, as qualidades da ver- balizacao: adequa¢ao ao nivel evolutivo do sujeito, grau de coeréncia entre os desenhos, as estdrias e os titulos, além de outros aspec- 05; Por intermédio dessa andlise, pode-se ava- liar © grau de organizacdo das fung6es ego: Psicoptacnéstico - V_ 431cas, como 0 raciocinio, a memoria, a ldgica, a estruturacao\espacial, temporal, etc. Tardivo (1985; 1997) propés itens para a anilise dos aspectos formais. Focalizou, de modo especial, a produsao gréfica e a coeréncia entre os as- pectos que compéem o D-E. Christofi (1995) utilizou esse esquema, comparando os dados de Tardivo (numa amostra de criangas normais) com criangas que apresentavam problemas de aprendizagem. 0 estudo revelou a utilidade do D-E no diagnéstico psicopedagdgico, de acor- do com as caracteristicas formais. As criancas com dificuldades de aprendizagem apresenta- ram maior imaturidade emocional, incapacida- de de adequacao ao meio e baixa tolerancia & frustracao. Acreditamos ser interessante usar esse tipo de analise em combinagao com a anélise de contetido, pois ambas se comple- mentam. Passemos, agora, aos referenciais de anéli- se de contetido. Mencionamos, inicialmente, o trabalho de Trinca, W. (1972). Ele propés um referencial de andlise elaborado desde as res- postas de 53 sujeitos que compunham a amos- tra de sua pesquisa. Esse referencial & composto por dez areas, ou categorias: Atitude Basica, Figuras Significativas, Sentimentos Expressos, Tendéncias e Desejos, Impulsos, Ansiedades, Mecanismos de Defesa, Sintomas Expressos, Simbolismos e Outras Areas da Experiéncia. Tomando por base esse referencial, Tardivo (1985) analisou 80 protocolos de criangas nor- mais, criando um outro referencial de anélise Das dez areas apresentadas, as sete primeiras foram consideradas relevantes por Tardivo e denominadas Grupos. Estes foram numerados de 1a VII, reunindo cada qual certo numero de tracos, num total de 33. Resumimos, em se- guida, esse referencial de analise. Grupo | - Atitude Basica (tacos de 1 a 5): 1, Aeitagdo (estao incluidas, neste traco, as necessidades e preocupacées com aceitacao, éxito, crescimento e as atitudes de seguranca); 2. Oposi¢ao (atitudes de oposigao, desprezo, hostilidade, competicao, negativismo, etc.); 3. Insegurana (inclui as necessidades de prote- 680, abrigo e ajuda, as atitudes de submissao, inibigao, isolamento e bloqueio e as atitudes de inseguranca); 4. Identificacao Positiva (sen- 432 Jurewa Accives Cunia timentos de autovalorizacao, auto-imagem e autoconceito reais e positivos; busca de iden- tidade e identificacao com o proprio sexo); 5 Identificagao Negativa (este traco se opée ao traco 4 e se refere aos sentimentos de menor valia, menor capacidade, menor importancia e identificagéo com 0 outro sexo) Grupo Il ~ Figuras Significativas (tracos de 61a 11); 6. Figura Materna Positiva (mae senti- da como presente, gratificante, boa, afetiva, protetora, facilitadora — objeto bom); 7. Figu= talMaterna Negativa (mae vivida como ausen- te, omissa, rejeitadora, ameacadora, controla- dora, exploradora - objeto mau); 8. FiguralPa® etna Positival(sentida como préxima, presen- te, gratificante, afetiva e protetora); 9. Figura PaternalNegativa (semelhante ao traco 7, aqui em relacao ao pai); 10. Figura Fratema Positiva e/ou Outras Figuras (aspectos de relacionamen- to com irmaos e/ou com outros iguais, compa- nheiros, amigos, etc., ou seja, cooperacao, co- laboracao, etc.); 11. Figural Fratema\Negativa e/ou Outras Figuras (aspectos negativos do re- lacionamento: competicao, rivalidade, confli- to, inveja). Grupo Ill — Sentimentos Expressos (tracos 12a 14): 12. Sentimentos Derivados do Instin- to/de Vida (ou de tipo construtivo: alegria, amor, energia instintiva e sexual); 13. Sentimen= tos\DerivadiosidolInstintoide!Morte (ou de tipo destrutivo: édio, raiva, inveja, ciime persecu- tério); 14. Sentimentos Derivados do Conflito (Sentimentos ambivalentes, que surgem da luta entre os Instintos de Vida e de Morte, ou seja, sentimentos de culpa, medos de perda, de abandono, sentimentos de solidao, de triste- za, de desprotecao, citime depressive e outros). Grupo IV - Tendéncias e Desejos (tracos 15 alI7): 15. Necessidades de Suprir Faltas Basi- cas (as mais primarias, como desejo de prote- 80 e abrigo, necessidades de compreensao, de ser contido, de ser cuidado com afeto, ne- cessidades orais, etc.); 16. Tendéncias Destrut tivas (as mais hostis, como desejo de vingan- ¢a, de atacar, de destruir, de separar os pais); 17. Tendéncias \Construtivas (as mais evoluidas, como necessidades de cura, de aquisicao, de realizagao e autonomia, de liberdade e cresci- mento).Grupo V — Impulsos (tracos 18 e 19): 18. Amorosos; 19. Destrutivos. Grupo VI- Ansiedades (tracos 20 e 21): 20. Parandides; 21. Depressivas. Grupo Vil = Mecanismos de Defesa (tragos 22 a 33): 22. Cisdo; 23. Projecdo; 24. Repres- s80; 25. Negacao/Anulacao; 26. Repressao ou Fixacao a Estagios Primitivos; 27. Racionaliza- ¢40; 28. Isolamento; 29. Deslocamento; 30. Idealizacao; 31. Sublimagao; 32. Formacao Rea- tiva; 33. Negacdo Maniaca ou Onipotente. Outros autores, também, propuseram re- ferenciais de andlise para o D-E. Em especial, indicamos Castro (1990), Mazzaro (1984), Mestriner (1982) e Paiva (1992). Além da orien- taco psicanalitica, o D-E permite outros tipos de avaliacao. J4 tivemos oportunidade de ofe- recer exemplos de avaliacdo junguiana, beha- vioristica e fenomenolégico-existencial, consi- derando-se um caso clinico (vide Tardivo, 1997). ILUSTRAGAO CLINICA Fabiano tem sete anos de idade. Foi encami- nhado pela professora da escola que freqiien- ta, porque, sem motivos aparentes, passou a ir mal na escola, a nao conseguir assimilar as lig6es. Até o meio do ano, ia bem, depois dei- xou de aprender, tendo sido reprovado. Quem 0 trouxe & consulta foi Selma, uma tia paterna de Fabiano, que, juntamente com a avé pater- na e dois outros tios, cuidam da crianca desde bebé. O pai mora em uma cidade distante, no Nordeste, e vé o filho, no maximo, uma vez por ano. Da mae nao se tem noticia, desde que ela abandonou o lar, quando Fabiano era bebé. Ao vir para a casa da avé e dos tios, o bebé estava descuidado e muito doente. Desde cedo, ele se afeicoou aos parentes, especialmente a Selma, que praticamente foi quem o criou. Ele se mantém desligado do pai e da nova mulher deste. Selma tem um namorado, e, por vezes, Fabiano chama a ambos de mamae e papai. A crianga é sustentada financeiramente por ela e pelos dois tios. Sempre se sentiu bem na fami- lia, que o ama. Nas entrevistas, verificou-se que ha um fa- tor encoberto, escondido, de Fabiano pela fa- milia. Selma pretende se casar brevemente. Nao contou esse fato ao menino, porque teme uma reagao desfavordvel da parte dele. Além disso, nao sabe quem cuidaré dele apés seu casamen- to. A avé pensou em envid-lo ao pai. A preocu- pacao de Selma é grande, visto que sao muito ligados entre si: 0 menino a espera todas as noites, antes de ela chegar do trabalho e do curso que faz. Quanto aos tios, é mais ligado a um deles do que ao outro. Tem citimes quan- do a avé e a tia dao atencao a outras criancas. Procedimento de Desenhos-Estérias Verbalizacao: "A menina foi para a casa dela. Ela tava pensando: que casa pequenina, vou ficar logo nessa casa? Que raiva que tem essa casa pequenina, minha mée foi logo morar nessa casa? Queria morar no castelo, 0 castelo. € tao gostoso, ja pensou se eu casasse com 0 filho do principe? Nessa rua deserta nao tem ninguém para brincar. $6 brincar na rua, sO brincar na rua nao adianta, nem tem jogo, porque nao brinca com ninguém. Posso aca- bar? Ai, tchau gente, vou para minha casa. Acabou". (Psicélogo: Quem é menina?) "E uma menina, eu nao sei o nome dela, nao conheco, vou inventar. Renata, eu acho que ela ta certa, numa rua deserta nao dé para brincar, o quin- tal é pequeno, nao tem muita flor, o castelo é maior.” (Psicélogo: Aconteceu alguma coisa?) "Um dia uma cobra ja mordeu, ela tava assim Figura 29.1. Psicootacnostico - VV 433.passeando nos matos, tropecou na pedra e a cobra mordeu. Ela deu um grito, o pai dela veio, ja tinha mordido, foi na esquina pegou um taxi, foi para 0 Pronto-Socorro.” (Psicélogo: E de- pois?) “Vai dar uma tempestade, a casa dela vai cair, a mae dela e ela vao morrer, menos 0 pai dela, porque a casa ta um pouco torta, por isso que eu fiz torta.” (Psicdlogo: E com o cas- telo, o que aconteceu?) "Caiu 0 tijolos, o rei morreu, ficou o principe e 0 filho dele. O prin- cipe foi ser o rei, ele tinha muito dinheiro, moravam cinco pessoas, 0 dinheiro era dele. O pai dele falava que quando ele morresse podia fazer 0 que quisesse com o castelo, podia pe- gar empregada. Cinco empregadas. Ai ele pe- gou, fez outro castelo.” Titulo: A casa pequenina. Interpretacdo: Oposicao entre uma situacdo. favoravel e outra desfavoravel. Angustia de que tenha de se haver com restricées e frustracées. Mais ainda: angustia de ficar s6. Receia passar por mudaneas e sofrimentos traumaticos, com perdas relacionadas a figura materna. Figura 29.2. Verbalizacao: "Um jardim, ai as borboletas falavam: bem que a gente podia ser gente, para morar numa casa, gente bem bonita. Tinha muitos rubim em ouro, mas mesmo assim a gente se transformava em borboleta para nin- guém roubar. Acabou.” (Psiclogo: O que acon- teceu ao jardim?) "Um dia esse jardim ficou muito seco, faz de conta, porque era um dia vero, ficou muito seco, queimava e a borbo- leta falava: ‘que pena que minha irma morreu 434 Jurema Avcipes CuNHA de sol quente’. Eu coleciono borboletas”. (Psi- célogo: Por que queriam ser gente?) “Porque quando chovia elas nao tinham lugar, elas cai- am com as asas pesadas e os meninos que co- lecionavam pegavam elas. Eu tenho uma bor- boleta tao bonita, mas por trés tA toda feia. Quando tiver muitas eu jogo essa fora, vou fa- Zer umas arvores e colo as borboletas com cola tenaz." (Psicélogo: Como termina?) “Um dia as pedras comecaram a rolar, mataram todas as plantas, a semente caiu e nasceram outras.” (Psicélogo: Vai acontecer mais alguma coisa?) "Vai dar uma grande chuva, vai passar aqueles ratos, e as plantas, as borboletas vao morrer, as aguas vo levar as sementes para outro jar- dim, vai ficar florido e esse vai ficar seco, me- nos a flor amarela porque ela tem semente.” Titulo: Jardim florido. Interpretacdo: Receios de perdas e de trans- formaées ameacadoras, destruidoras dos vin- culos amorosos. Por detrés da aparente segu- ranga, esconde-se a angiistia de abandono e 0 medo de uma grande catéstrofe. Inseguranga quanto & manutencao da propria identidade, Figura 29.3. Verbalizacao: "O que eu desenho?" (Psicé- logo: O que vocé quiser.) “Queria fazer uma locomotiva.” Tenta fazer mas nao consegue. Rabisca a folha, diz que errou, devolve 0 pa- pel. Verbalizacao: "Era uma vez um zoolégico. ‘Aideu uma tempestade, os bichos entrou tudo para a casinha. Ai o dono, a casa do dono caiu. Era muito forte, o dono abandonou o zoolégi-ail we Figura 29.3, co. Tinha muitos animais, mas os animais foi jogado pela chuva. Tinha onca, tinha mais ca- melo, tinha jacaré, tinha patos, tinha mais pei- xe, tinha um monte de jaula maior, assim com tubarao. Tinha tigre, tinha serpente, tinha guia, tinha rinoceronte e tinha hipopotamo. Eu tenho um jogo de zoolégico, com varios bichos. Acabou. Sd ficou esses bichos. Esse zoologico era numa ilha que ninguém sabia ‘onde ficava. Quando eu crescer, eu vou achar ossos antigos nas cavernas. Assim, vou estu- dar muito, vou ser isso, vou viajar para Paris, para achar bichos antigos, ir no espaco.” (Psi- c6logo: Vai acontecer alguma coisa?) "Nao vai acontecer, a tempestade ja aconteceu. Eu vejo muitos monstros em desenhos. Gosto do fil- me de trem fantasma, assisto 'Sexto Sentido’. Eu queria ter 18 anos para assistir filmes de fantasma, de mistério.” Interpretagao: A reviravolta, que ele teme, pode atingir as bases de sustentacao de sua personalidade. Uma poderosa forca destruido- ra ameaca levar tudo de roldao. Ele tem de buscar forcas no fundo de si préprio para en- frentar os males, que ja aconteceram. Em face dos medos pelos quais passa, gostaria de ser adulto a fim de desvendar os mistérios que sao dele escondidos. Verbalizacao: “O que eu vou desenhar?” (Psicdlogo: O que vocé quiser.) “Pode ser algo simples?” (Psicdlogo: Como quiser.) “Nao te- nho mais vontade de desenhar.” Desenha ra- pidamente. "Esse daqui nao tem estéria. Nes- se jardim deu uma seca muito forte. As folhas entortaram todas. $6.” (Psicélogo: Vai aconte- Figura 29.4, cer mais alguma coisa?) "Vai dar uma chuva bem forte e as plantas vao sair bem bonitas.” Titulo: Jardim horroroso. Deu uma risada, olhou para o psicélogo e disse: "Nao td feio mesmo? Nao é melhor o titulo buqué horroro- so? Eu tou com uma preguica de fazer dese- nho, nao quero mais!” Interpretacdo: Apesar da anguistia e da re- sisténcia que a situacao provoca, pela reitera- 0 do tema principal da iminéncia de uma catstrofe afetiva, ainda resta uma vaga espe- ranca de recomposicao ("as plantas vao sait bem bonitas”). Discusses: A queixa escolar em relacdo a Fabiano representa apenas o aspecto visivel de um drama vivido inconscientemente por ele, quando 0 ambiente familiar Ihe esconde a ameaca de abandono e de subtracio de vincu- los essenciais. Ele capta essa situagao e a ex- pressa claramente no Procedimento de De- senhos-Est6rias. Permanece, porém, a ques- 480 de saber se a situacao atual nao corre: ponderia a reativacao de um conflito prim tivo, de natureza mais profunda, relacionado a0 abandono. Avaliacao segundo o referencial de Tardivo Como Atitude Bésica, ha 0 predominio da In- seguranca, ja que se evidencia a percepcao que Fabiano tem do mundo e de sua realidade atual como desprotecao. Encontramos contetidos de abandono e perda em quatro unidades de pro- Psicootacnostico - VV 435,ducdo. Na terceira (que ele nao conseguiu con- cluir), hd um “trem que nao péde andar”. Pai e Mae surgem como Figuras Significativas, mas nao so capazes de oferecer contencao as an- guistias de Fabiano. Ele sente que perde essas figuras, sendo abandonado por elas (na ter- ceira unidade, 0 dono abandona os animais). Outras figuras (borboletas, na segunda unida- de) perdem-se e morrem. Em relacdo aos Sen- timentos Expressos, temos a presenca domi- nante de sentimentos derivados do conflito, embora estejam presentes, também, os deri- vados do Instinto de Vida. Ha tentativas de rea- lizar a construtividade (chuva para 0 jardim, 0 castelo para morar), mas elas se mostram in- suficientes e ineficazes. O que prevalece ¢ a sensa¢do geral de perda dos bons objetos: sen- timentos de abandono e extrema desprotecao. © menino torna-se muito ameacado por esses sentimentos, mas vem se equilibrando. Pode nao suportar e, entao, corre o risco de desmo- ronamentos no self. Assim, no Grupo IV (Ten- déncias e Desejos), notamos o predominio de Necessidades de Suprir Faltas Basicas. Sao cla- ros seus pedidos de abrigo, protecdo e a ne- cessidade de ser acolhido. Estao presentes os Impulsos amorosos (nos pedidos de ajuda e protecao), mas também os destrutivos (nas casas que caem, nos incéndios que queimam 0s jardins e matam as borboletas). Parece que sobressaem as Ansiedades Depressivas, mas no se descartam, de modo algum, as Para- noides. Fabiano refere-se aos monstros que gosta de ver, aos filmes de terror, aos trens fan- tasmas, provavelmente como projecées de fi- guras ameacadoras. Mas 0 que predomina, acreditamos, sao as intensas ansiedades de perda, portanto, de natureza depressiva. Nos Mecanismos de Defesa, ha a dificuldade de Fabiano poder utiliza-los eficazmente. Tenta se controlar, mas esta presente, sempre, 0 perigo de cair, de ruir, de se desmoronar; e assim, fa- Ihando as defesas, 0 proprio self pode se des- moronar. 0 D-E foi bastante eficaz para fazer ressal- tar anguistias que Fabiano vivencia nesse mo- mento de sua vida. Tendo sido ja abandonado numa primeira vez, vé-se novamente ameaca- do de perder lacos afetivos, sendo reeditadas 436 Jurewa Accives Cunia suas angiistias primitivas. Poderd ser devolvi- do a um pai que ele nao conhece direito. A mae que ele conhece, e que 0 criou, deverd se casar, nao pretendendo levé-lo consigo. Pelo D-E, nota-se que Fabiano percebe, inconsci- entemente, essa situacao e se vé muito amea- cado. Sao claros, também, seus pedidos de ajuda e protecao. PROCEDIMENTO DE DESENHOS DE FAMILIA COM ESTORIAS (DF-E) Desde 1978, tem sido divulgada uma técnica de investigagao psicolégica introduzida, tam- bém, por Trinca, W. (1989) e denominada Pro- cedimento de Desenhos de Familia com Esté- rias (abreviadamente, DF-E). Esse instrumento de avaliacao se origina, igualmente, das técni- cas graficas e tematicas, sendo um desdobra- mento relativamente recente da técnica de desenhos de familia (Trinca, W., et alii, 1991) Consiste na realizacao de uma série de quatro desenhos de familia, na ordem corresponden- te as seguintes instrucées: 1) “Desenhe uma familia qualquer”; 2) “Desenhe uma familia que vocé gostaria de ter”; 3) “Desenhe uma familia em que alguém néo esta bem"; 4) "Desenhe a sua familia”. Apés a realizacao de cada dese- nho, é solicitado ao examinado que conte li- vremente uma estoria, tomando por base o desenho, Faz-se, a seguir, 0 “inquétito” e, fi- nalmente, pede-se o titulo da produgao. As- sim como 0 D-E, 0 DF-E é composto por unida- des de producao grafico-verbais, cada qual contendo desenho, estéria, “inquérito” e titu- lo, A reiteracao sequiencial de quatro unidades de producao, com a anotacéo completa das reacdes do examinado, constitui a base da téc- nica. Esse conjunto passa a ter caracteristicas unitarias ¢ indivisas A administragao ¢ individual, podendo ser aplicado indistintamente a ambos os sexos e a todas as idades, quando 0 examinando conse- gue desenhar e verbalizar. As condigées de aplicagao e 0 material necessario so os mes- mos descritos para o Procedimento de Dese- nhos-Estérias. Ou seja, hd oferecimento de la- pis preto e coloridos, livre utilizagao das cores,impedimento do uso de borracha e recomen- dacao do retorno do examinando, caso nao seja possivel a obtengéo das quatro unidades em uma Unica sessao de aplicacao. Informagées mais detalhadas encontram-se em Trinca, W. (1997). O DF-E tem por finalidade a deteccdo de processos e contetidos psiquicos de natureza consciente e inconsciente, relacionados aos objetos internos e externos que dizem respei- to a dinamica da familia. E empregado com vistas a ampliar 0 conhecimento das relacées intrapsfquicas e intrafamiliares do examinan- do. Por isso, espera-se que sejam postos em evidéncia, relativamente a essas relacdes, con- flitos psiquicos, fantasias inconscientes, angus- tias atuais e pregressas, defesas e outros mo- vimentos das forcas emocionais. Sua aplicacao recomendada quando o profissional percebe ou intui que as dificuldades emocionais tm relacéo com conflitos e fatores familiares pre- sentes no mundo interno e/ou no mundo ex- terno do examinando ‘A fundamentagao do Procedimento de De- senhos de Familia com Estérias sustenta-se, mutatis mutandis, nos pressupostos que ser- vem de base para 0 Procedimento de Desenhos- Estorias. Em particular, funda-se em conheci- mentos sobre a dinamica inconsciente da per- sonalidade, a regra da associagao livre, a dina mica da familia, os principios gerais das técni- cas projetivas, os principios de condugao das entrevistas clinicas nao-estruturadas e semi estruturadas, etc. Para um roteiro de avaliagao, Trinca, W (1997) sugere alguns itens: a) caracteristicas peculiares das figuras paterna e/ou materna; b) tipos de vinculo e formas de interacao com as figuras parentais; ¢) trocas sexuais e afeti- vas entre as figuras parentais; d) relacionamen- tos com figuras fraternas e outras figuras do meio familiar; e) determinantes da estrutura e da dindmica familiar; f) forcas psicopatolégi- cas e psicopatogénicas existentes na familia; g) eventos familiares reveladores de conflitos e dificuldades; h) pontos centralizados de con- flitos e dificuldades no examinando; i) descri- G40 que 0 examinando faz de si préprio; j) ati- tudes para com a vida e a sociedade; I) ten- déncias, necessidades e desejos; m) tonalida- des das angustias e das fantasias inconscien- tes predominantes; n) caracteristicas das for- gas de vida e de destrutividade; 0) mecanis- mos de defesa; p) fatores de aquisicao da indi- vidualidade e de integracao do self; q) outras reas de experiéncia emocional Lima (1997c), por sua vez, acrescenta ou- tros aspectos de avaliagdo, como, por exem- plo, 0 modo pelo qual o examinando concei- tua a familia, o valor atribuido a esta no con- texto de vida, a vivéncia das fungoes paren- tais, o grau de maturidade do examinando em relacdo as figuras parentais, as expectativas sobre cada membro do grupo familiar, 0 grau de contato do examinando em relacao a si mesmo ¢ aos membros da familia, a relacao entre os sintomas e a dindmica familiar, etc. O DF-E tem se verificado eficaz no diagnds- tico individual e de casal, na utilizagdo cruza- da entre a crianga e os pais e na avaliacdo da dindmica da familia como um todo. Além dis- so, & empregado com sucesso nos processos de psicoterapia de casal e de familia PROCEDIMENTO DE DESENHOS-ESTORIAS COM TEMA Trata-se de uma extensao do D-E para estudos especificos de determinados temas, propostos de maneira explicita, 0 examinando é convi- dado a desenhar algum tema, que o examina- dor indica de antemao. Depois, pede-se que conte uma estéria associada livremente ao de- senho, Seguem-se as mesmas recomendagoes que se fazem para a aplicagéo do D-E comum, ou seja, mantém-se o “inquérito”, o titulo, as cinco unidades de producdo, a oportunidade do uso das cores, etc. Ha grandes beneficios na utilizagao do D-E tematico, quando o set- ting, por si s6, nao ofereca indicacées a respei- to da estruturacéo da tarefa, e 0 examinando tenha duividas sobre o que se espera de suas realizacées. Tem-se verificado que essa forma de apre- sentacao do D-£ é valida para a pesquisa, para as praticas na escola, na empresa, em institui- Ges piiblicas, etc. Possui sobre o D-E comum Psicoptacnostico - V 437a vantagem de poder ser facilmente aplicado, também de modo coletivo. Aiello-Vaisberg (1997) diz que o D-E com Tema é uma alterna- tiva fecunda para pesquisa da representacao social. Ela costuma fazer a aplicagéo em gru- po, pedindo aos sujeitos para criar uma esté- ria, que eles mesmos registram no verso da folha desenhada. A técnica permite, assim, 0 estudo de temas, como o doente mental, 0 deficiente fisico, a situagao escolar, a pessoa gorda, o hospital, a casa, a velhice, a equipe de trabalho, etc. CONSIDERACOES FINAIS Temos, assim, uma técnica de investigacao da personalidade que permite um amplo le- que de possibilidades de uso. Em relacéo a muitas outras técnicas, é de facil manejo, e os custos so baixos. Para a realizacao do 438 Jurewa Accives Cua diagnéstico breve, pode ser comodamente associada as entrevistas ndo-estruturadas. No caso do exame epidemiolégico das popula- gées carentes, seu valor é inestimavel. Além disso, trata-se de um tipo de exame que tem sido descrito como altamente motivador para os seus participantes. Pela liberdade e espon- taneidade de sua penetracao psiquica, opée- se aos métodos invasivos ¢ insere-se no espi- rito de uma nova forma de se conceber a cién- cia (por contraste com a ciéncia dita “classi- ca"), A validacao dessa técnica tem sido perse- guida com afinco, seja pelo método estatistico (vide Mestriner, 1982), seja pelo método clini- co (vide Amiralian, 1997). Como nao dispomos de espaco suficiente para descrever os estudos de validacao jé realizados, remetemos 0 leitor aos trabalhos dessas autoras, que fizeram re- sumos detalhados dos mesmos, bem como & bibliografia sobre o assunto.
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