Direito Reais Ta Exames

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FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA

Ano letivo de 2021/2022


DIREITOS REAIS – 3º Ano/Turma A - Dia
Exame Escrito (duração: 90 minutos)
20 de junho de 2022
Professor Doutor António Menezes Cordeiro/Professor Doutor José Luís Ramos

I
Antoninho era proprietário da quinta “Paraíso”, situada em Alcácer do Sal. Antoninho
falece no dia 20 de março de 2001. Não tendo outorgado testamento, deixou sobrevivos
como únicos sucessores os seus filhos, Bernardo e Carminho. Apesar de nunca se ter
efetuado a partilha, como Bernardo estava fora do país, quem ficou a tomar conta da
quinta foi Carminho. Ao longo dos anos, Carminho aproveitou para realizar várias obras:
em 2005 construiu uma piscina; em 2007 uma churrasqueira. Adicionalmente, desde 2010
que Carminho aproveita o Verão para rentabilizar a quinta, afetando-o ao turismo rural.
Ao longo destes anos foi sempre Carminho que procedeu a todas as obras de
restauração da habitação presente na quinta, ainda que o pagamento do Imposto
Municipal sobre Imóveis tenha sido pago, alternadamente, pelos irmãos. Em janeiro de
2022, Bernardo regressa a Portugal, interpelando imediato Carminho para solucionar a
questão da partilha do imóvel, que nunca havia sido realizada. Carminho contrapõe
afirmando que, passado tantos anos, o direito de propriedade sobre a quinta só a ela lhe
pertenceria. Segunda ela, nem seria injusto, pois seria uma forma de “compensar” o facto
de Bernardo ter ficado com todo o ouro que pertencia ao pai. Furioso, Bernardo decide
então intentar uma ação possessória para reaver a posse, a titularidade do direito e para
que lhe sejam restituídos parte dos frutos obtidos com a utilização do imóvel. Por seu
turno, Carminho é aconselhada a reagir em juízo e a invocar a exceptio dominii.
Responda, de forma fundamentada, a todas as questões jurídico-reais suscitadas pela
hipótese. (10 valores)

- Referir posse de B e C; aquisição por via do artigo 1255.º, após o falecimento do


de cuius a posse transmite-se para os sucessores, independentemente da
apreensão material da coisa (sucessão jurídica, manifestação da desmaterialização
do corpus); constitui-se uma situação de composse, que terá os mesmos
caracteres da posse do de cuius (classificar);
- Discutir se C, apesar de, numa primeira fase, ser compossuidora, adquire ou não a
posse (singular) por inversão do título da posse (artigo 1263.º, d) conjugado com o
artigo 1406.º, n.º 2); referir em que consiste, modalidades e requisitos (artigo
1265.º); discutir, em especial, a exigência da oposição (direta) do detentor, no
sentido de ser necessário (ou não) informar B de que se considera titular singular
do direito de propriedade sobre a quinta; caso haja inversão do título da posse,
deve-se classificar a posse de C e referir que estamos perante um esbulho,
aplicando-se o artigo 1267.º, n.º 1, d); de qualquer forma, haverá sempre uma
inversão do título da posse em janeiro de 2022, quando C refere que o terreno lhe
pertence a título singular.
- Referir ações possessórias à disposição de B; caso tivesse existido inversão do
título da posse por parte de C em 2005, 2007 ou 2010 e, consequentemente,
esbulho, B já não seria possuidor, pelo que já não poderia intentar ação
possessória; referir artigo 1286.º, que estatui que nas relações entre
compossuidores não cabe ação de manutenção; porém, a contrario afirmar-se-á
que cabem os demais meios de defesa, onde se inclui a ação de restituição da
posse e a ação de prevenção (artigo 1278.º, n.º 1); a ação de restituição da posse
não tem como objeto a titularidade do direito, nem a restituição de parte dos frutos
obtidos com a utilização do imóvel, mas apenas a posse.
- referir em que consiste a exceptio dominii bem como a sua relação para com a
ação de reivindicação (artigo 1311.º); a titularidade singular do direito de
propriedade de C apenas se poderia consubstanciar numa aquisição por via da
usucapião (mediante o preenchimento dos requisitos respetivos) ou da acessão do
direito de propriedade: referir diferença para as benfeitorias e critérios aplicáveis; in
casu, a má-fé de C impediria sempre que adquirisse o direito de propriedade por via
do regime da acessão (artigo 1341.º).

II
Duarte tem uma luxuosa casa de férias no Algarve e com o intuito de a rentabilizar, a
longo prazo e sem grandes preocupações, em junho de 2005, celebra um negócio com
Eduarda, sua amiga de infância, pelo prazo de 15 anos, e nos termos do qual, mediante o
pagamento de uma quantia anual, esta última poderia usar, fruir e administrar a casa da
forma que melhor lhe aprouvesse. No mês seguinte, Eduarda aceita uma proposta de
trabalho fora de Portugal e por esse motivo, transmite este direito, nos exatos termos em
que lhe foi concedido, a Francisco, seu primo, que regista a posse da casa. Eduarda
falece em junho de 2007 e Francisco aproveita para constituir um direito de passagem a
favor de Gabriela, proprietária do terreno agrícola vizinho, uma vez que o mesmo não
tinha saída para a estrada, mediante o pagamento de uma avultada quantia, e ainda para
ceder o gozo da casa a Hugo nos meses de junho a setembro, também mediante o
pagamento de uma elevada soma. Considerando que até junho de 2020, não teve
qualquer notícia de Duarte, Francisco deixa de providenciar os pagamentos a Duarte e
muda-se para a casa com a sua família, passando a fazer da mesma habitação
permanente. Em junho de 2022, Duarte, que se ausentara do país desde 2010, regressa
e depara-se com esta situação, exigindo a devolução imediata da casa, ao que Francisco
se opõe, afirmando ser o proprietário da casa; simultaneamente Gabriela e Hugo
pretendem fazer valer os seus direitos, que consideram ter adquirido de forma vitalícia, a
primeira invocando o decurso do tempo e o segundo apresentando o registo a seu favor.
Responda, de forma fundamentada, a todas as questões jurídico-reais suscitadas pela
hipótese. (10 valores)

- Aquisição, conservação, transmissão, perda e classificação da posse de D, E, F e


G (artigos 1251.º, 1252.º, 1257.º, 1258.º a 1262.º, 1263.º, 1267.º e 1268.º), bem como
ponderação da posse/detenção (artigo 1253.º) em especial a propósito do direito de
H, mediante verificação dos requisitos legais e aplicação das orientações
doutrinárias.
- Regime do direito de propriedade a propósito do direito de D, bem como distinção
entre propriedade plena e onerada (artigos 1302.º, 1305.º, 1316.º, 1317.º).
- Noção, limites, conteúdo, aquisição, transmissão e extinção do direito de usufruto
(artigos 1439.º, 1440.º, 1443.º, 1444.º, 1446.º e 1476.º), a propósito do direito de E e
do direito de F.
- Noção, conteúdo, constituição, caraterísticas e modalidades do direito de servidão
a propósito do direito de G (artigos 1543.º, 1544.º, 1545.º, 1546.º, 1547.º, 1548.º,
1550.º e 1551.º).
- Análise do princípio da tipicidade/numerus clausus dos direitos reais (artigo
1306.º), direitos pessoais de gozo e possibilidade de aplicação do regime da
locação (artigo 1022.º e ss), a propósito do direito de H.
- Ponderação da possibilidade de aquisição da propriedade a favor de F através do
registo/usucapião, bem como da possibilidade de aquisição da servidão a favor de
G através da usucapião e da possibilidade de aquisição da locação a favor de H
através do registo, mediante verificação dos requisitos legais e aplicação das
orientações doutrinárias (artigos 1.º, 2.º, n.º 1, alíneas a) m), 4.º, 6.º, 7.º, 8.º-A, 8.º-B,
8.º-C, 8.º-D, 9.º, 16.º e 17.º CRP e artigos 291.º, 1287.º, 1288.º, 1289.º, 1292.º, 303.º,
1293.º alínea a), 1295.º, n.º 1, alínea b) e n.º 2 e 1296.º).
- Possibilidade de D intentar contra F ação de reivindicação (artigo 1311.º), mas não
ações possessórias (artigos 1276.º e ss.).
- Referência aos princípios do registo predial (instância, legalidade, trato sucessivo,
prioridade, obrigatoriedade), bem como aos princípios dos direitos reais (imediação
jurídica/inerência, sequela, prevalência; especialidade; numerus clausus/tipicidade;
absolutidade; publicidade; elasticidade; transmissibilidade; consensualidade e
causalidade).
FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA
Ano letivo de 2020/2021
DIREITOS REAIS – 3º Ano/Turma A - Dia
Exame escrito (Época Coincidências) (duração: 90 minutos)
29 de junho de 2021/Professor Doutor José Luís Ramos

Tópicos de Correção

I
Em março de 2015, Armindo encontrava-se a viajar no expresso Lisboa-Faro
quando encontrou uma pedra preciosa dentro da bolsa traseira do Banco. Armindo
guardou-a discretamente, tendo, logo que chegou a Faro, perguntado ao seu amigo, o
Bruno, dono de uma casa de penhor, que tipo de pedra era aquela. Após analisar, Bruno
disse-lhe que era um mineral muito valioso, nomeadamente uma esmeralda rara. Bruno
combinou então com António que este vendesse a pedra preciosa na sua loja, ficando
este último com 10% da venda. De forma a promover a venda, Bruno decide colocar a
esmeralda num anel de ouro. O conjunto acabou por ser vendido em julho de 2015, a
Catarina. Em janeiro de 2021, Catarina é surpreendida por Diana, que reconhece a sua
esmeralda, pedindo-a de volta. Catarina recusa-se a devolvê-la, aduzindo os seguintes
argumentos: (i) que o comprou a um legítimo comerciante; (ii) que já não estava mais em
causa apenas a esmeralda, mas sim um anel com uma gema; (iii) que já detinha a
esmeralda há muito tempo e, por isso, Diana já não tinha direitos sobre a pedra preciosa.
Responda, de forma fundamentada, às seguintes questões:
1) Caracterize a situação jurídica dos vários intervenientes na hipótese. (3 v)

- Forma de aquisição da posse de A, que se deu por via do esbulho (não sendo previsto,
expressamente, ainda assim, este modo de aquisição possessória pode ser retirado dos
artigos 1278.º a 1282.º)); a aquisição por via do esbulho deverá ser mantida,
independentemente de se defender que D perdeu a posse, uma vez que A não cumpre
com os requisitos do artigo 1323.º, n.º 1 e 2, excluindo-se, por conseguinte, a aplicação
deste regime; classificação da sua posse, em especial, discutindo se a mesma é pública
ou oculta.
- B é apenas detentor (artigo 1253.º, c)). Embora a sua detenção lhe atribua tutela
possessória (artigo 670.º, a)), a mesma não constitui posse.
- C adquire a posse do anel com a esmeralda por tradição material da coisa (artigo
1263.º, b)); classificação da sua posse; C não adquire, porém, o direito real de
propriedade sobre a esmeralda, pois constitui uma venda de bens alheios (artigo 892.º).
- D é, aparentemente, titular do direito real de propriedade sobre a esmeralda; discutir se
a posse de D se extingue por perda (artigo 1267.º, b)), configurando a situação como
sendo correlativa com a aplicação do regime das coisas perdidas e esquecidas (artigo
1323.º) ou, pelo contrário, aplicando esta causa de extinção num sentido restrito, uma vez
que D poderia, ainda, encontrar a coisa, tendo em conta a factualidade do caso concreto,
e, aplicando-se, assim, o artigo 1267.º, d).

2) Tendo em conta a factualidade da hipótese, analise os argumentos apresentados por


Catarina a Diana. (4,5 v)

- Como primeiro argumento apresentado por C, está em causa a aplicação do artigo


1301.º. Esta disposição é aplicável no presente caso (naturalmente, apenas à esmeralda),
dado que C, além de ter celebrado um contrato de compra e venda com um comerciante
que tem uma casa de penhor – B -, estava de boa-fé no momento da aquisição. Com
efeito, nos termos desta disposição, D deverá restituir o preço que C deu pelo bem, tendo
direito de regresso contra A.
- O segundo argumento está relacionado com a eventual acessão industrial mobiliária
(artigos 1338.º e seguintes) levada a cabo por B, in casu, na modalidade de confusão e a
favor de B, já que foi este que reuniu os dois objetos. Porém, a reunião levada a cabo por
B não preenche um pressuposto essencial deste regime, que consiste em não ser
possível reverter as coisas ao estado de separação.
- Como terceiro argumento, C invoca a usucapião (artigos 1287.º e seguintes); referir
requisitos (em especial, a invocação) e efeitos deste tipo de aquisição originário de
direitos reais; in casu, os requisitos estavam preenchidos, pois C estava de boa-fé,
aplicando-se o prazo de três anos (artigo 1299.º).

3) Imagine que Armindo também intervém na contenda, argumentando ainda que a


forma como tinha encontrado a pedra preciosa era como se houvesse encontrado uma
concha na praia ou um tesouro muito valioso. O que responderia? (2,5 v.)

- A parece invocar, em abstrato, a aplicação do regime jurídico dos tesouros, presente no


artigo 1324.º.
- Porém, a fattispecie da norma não se encontra preenchida no presente caso, pois a
coisa não estava escondida ou enterrada;
- Finalmente, ainda que o regime jurídico fosse aplicável em abstrato, A não beneficiaria
do mesmo, pois, nos termos do artigo 1324.º, n.º 2, o achador deve anunciar o achado
nos termos do n.º 1 do artigo 1323.º (exceto se fosse evidente que a coisa estava
escondida ou enterrada há mais de 20 anos) (artigo 1324.º, n.º 2), perdendo, em benefício
do Estado, os direitos conferidos (artigo 1324.º, n.º 3).

II
Em janeiro de 2010, Francisco herda um monte alentejano que decide entregar a
Guilherme no mês seguinte, para que este proceda à respetiva manutenção e
rentabilização da forma que entender adequada. Guilherme reserva uma parte do monte
para fazer plantações agrícolas, comercializando os respetivos frutos e em fevereiro de
2010, cede outra parte a Hugo, para que este aí construa e explore um alojamento
destinado a turismo rural, o que não comunica a Francisco por considerar desnecessário.
Em março de 2021, Guilherme morre e Francisco vende o monte a Inês. Em maio do
mesmo ano, Inês muda-se para o monte e depara-se com a presença de Hugo, exigindo
que este abandone a propriedade, exibindo-lhe a escritura e o comprovativo do registo.
Hugo recusa-se, atendendo ao tempo decorrido entretanto, bem como ao montante por si
despendido na construção do alojamento.
Responda, de forma fundamentada, às seguintes questões:

1) Identifique e caracterize os negócios jurídicos celebrados entre Francisco e


Guilherme e entre Guilherme e Hugo. (3 v)
- Regime do direito de propriedade a propósito do direito de F, bem como distinção entre
propriedade plena e onerada (artigos 1302.º, 1305.º, 1316.º, 1317.º).
- Regime do usufruto (artigos 1439.º e ss.) / superfície (artigos 1524.º e ss.) e discussão
sobre o princípio da tipicidade (artigo 1306.º), a propósito do direito de G. e do negócio
jurídico por este celebrado com F.
- Regime da superfície (artigos 1524.º e ss., em especial artigo 1534.º) a propósito do
direito de H e análise da validade do negócio jurídico, em função da caraterização do
direito de G.
2) Tendo em conta a factualidade da hipótese, analise os argumentos apresentados por
Hugo e por Inês. (3 v)
- Aquisição, conservação e caraterização da posse de H e I (artigos 1251.º, 1257.º, 1258.º
a 1262.º, 1263.º, 1267.º e 1268.º).
- Regime da propriedade a propósito do direito de I, bem como distinção entre
propriedade plena e onerada (artigos 1302.º, 1305.º, 1316.º, 1317.º, 408.º, n.º 1).
- Possibilidade de aquisição da propriedade plena a favor de I através do registo,
mediante verificação dos requisitos legais e aplicação das teses doutrinárias (artigos 5.º,
1.º, 2.º, n.º 1 a), 4.º, 6.º, 7.º, 8.º-A, 8.º-B, 8.º-C, 8.º-D e 9.º CRP) e (im)possibilidade de
aquisição da superfície a favor de H através da usucapião (artigos 1287.º, 1288.º, 1289.º,
1292.º, 303.º e 1296.º).
- Referência aos princípios do registo predial (instância, obrigatoriedade, prioridade,
legitimação e trato sucessivo), bem como aos princípios e caraterísticas dos direitos reais
(tipicidade, elasticidade, publicidade, boa-fé, inerência e prevalência).
- Análise da aplicação do regime das benfeitorias úteis (artigos 216.º, 1273.º/1275.º) ou da
acessão industrial imobiliária (artigos 1340.º/1341.º), mediante verificação dos requisitos
legais e aplicação das teses doutrinárias, em função da caraterização do direito de H.

III (4 v.)

Comente, de forma fundamentada, a seguinte frase:

“O regime do tesouro oscila entre uma necessidade de autonomia e o seu declínio”.

- As especificidades do regime jurídico do tesouro mereceu, segundo alguns, a defesa


da sua autonomia, perante o achamento.
- Por outro lado, em face do regime aquisitivo prescrito no artigo 1324º CC, existe grande
desajustamento perante a realidade actual. Tendo em conta, sobretudo, o regime dos
bens arqueológicos e dos bens culturais.
- Por isso, certa doutrina aludiu ao decaimento e esvaziamento tesouro e, em
consequência, à urgente necessidade de revisão daquele preceito do Código.
FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA

Ano letivo de 2020/2021


DIREITOS REAIS – 3º Ano/Turma A - Dia
Exame escrito (duração: 90 minutos) – Tópicos de Correção
23 de julho de 2021/Professor Doutor José Luís Ramos

I
Em julho de 2010, Ana, proprietária de um terreno em Alcácer do Sal, decide
constituir, a favor de Bruno, um usufruto pelo período de 30 anos. Nos termos do
contrato, ficaria vedado a Bruno trespassar a sua posição jurídica a terceiros,
podendo, porém, alterar o aproveitamento económico do terreno, que era, à data,
utilizado para a cultura do arroz. Bruno, que tomou posse imediata do terreno,
procedeu à transformação do mesmo para a cultura da batata-doce, bem como à
oneração de uma parcela deste a Carlos pelo período do usufruto, ficando
estabelecido, contratualmente, que o contrato teria eficácia real.
Em fevereiro de 2021, após o falecimento de Ana, o seu legítimo herdeiro,
Daniel, envia uma carta a Bruno, declarando que o contrato era inválido tendo em
conta dois fundamentos: (i) falta de forma legalmente exigida, uma vez que o
contrato de usufruto tinha sido celebrado, unicamente, por escrito particular; (ii)
violação das regras imperativas do regime de usufruto. Bruno contradita, referindo a
que a falta de validade do contrato não se aplica no presente caso, dado que está há
muito tempo na posse do terreno. Adicionalmente, Bruno refere que a alteração
para a cultura da batata-doce foi prevista contratualmente e que tal não viola as
regras do usufruto, pois ficou estabelecido que, no final do contrato, Bruno colocaria
o terreno no estado em que se encontrava anteriormente.
Responda, de forma fundamentada, às seguintes questões:

1) Caracterize a situação jurídica dos vários intervenientes na hipótese. (4 v)

- A, titular do direito real de propriedade sobre o terreno em Alcácer do Sal, onerou a


coisa por via da constituição de um usufruto a favor de B. A é, igualmente,
possuidora; caracterização e classificação (presumida) da sua posse.
- B torna-se usufrutuário por via contratual: caracterização, limites negativos e
duração (temporária) (artigos 1439.º, 1440.º, 1443.º, 1445.º e 1446.º). Em especial,
a cláusula que vedava o trespasse do usufruto era válida, à luz do artigo 1444.º.
Quanto à cláusula que autorizava B a alterar o aproveitamento económico do
terreno, discute-se se esta seria válida, atendendo a dois limites que caracterizam o
usufruto, nomeadamente o respeito pela forma e substância (artigo 1439.º) e o
respeito pelo destino económico (artigo 1446.º).
- B torna-se, igualmente, possuidor nos termos do seu direito de usufruto (e detentor
nos termos do direito de propriedade (artigo 1253.º, c)); caracterização e
classificação da posse; forma de aquisição: aparentemente, por via da tradição
(artigo 1263.º, b)). A posse de B irá conviver com a posse de A (sobreposição de
posses, sem conflito)
- O contrato celebrado entre B e C cabe nos poderes do usufrutuário, que tem
poderes de oneração, que podem ser limitados pelo título constitutivo, o que não foi
o caso. Estes poderes de oneração têm como limite a duração do usufruto, o que
também é respeitado (pode-se retirar do artigo 1460.º, n.º 2, que apesar de dizer
respeito à servidão, o seu enunciado pode ser aplicado a qualquer oneração por
parte do usufrutuário). C parece ser apenas detentor (artigo 1253.º, c)).
- D adquire o direito real de propriedade por sucessão por morte (artigos 1316.º e
1317.º, b)). Torna-se, igualmente, possuidor (artigo 1255.º).

2) Tendo em conta os argumentos apresentados por Bruno e Daniel, quem tem


razão? (3,5 v)

- Quanto aos argumentos de D, o primeiro é verdadeiro, uma vez que a aquisição de


direitos reais se dá, unicamente, quando o facto jurídico respetivo for eficaz
(princípio da causalidade). Sendo o negócio translativo de constituição de usufruto
inválido, esta circunstância atinge, igualmente, a eficácia real. Em termos formais, o
contrato de constituição de usufruto poderia ser celebrado por escritura pública ou
por documento particular autenticado (o artigo 22.º, a), do Decreto-Lei n.º 116/2008,
de 4 de julho). No que diz respeito ao segundo argumento, conforme referimos na
primeira questão, discute-se se esta cláusula seria válida, atendendo a dois limites
que caracterizam o usufruto, nomeadamente o respeito pela forma e substância
(artigo 1439.º) e o respeito pelo destino económico (artigo 1446.º); expor, com
sentido crítico, as diversas posições doutrinárias sobre esta questão, em especial as
posições assumidas por Oliveira Ascensão, Menezes Cordeiro, Menezes Leitão e
José Alberto Vieira. Expor posição da Regência, que, no âmbito desta dicotomia,
admite apenas como limite principal o respeito pelo destino económico da coisa,
uma vez que o respeito pela forma e substância é dificilmente conciliável com o
poder de transformação do usufrutuário. Não obstante, o limite pelo destino
económico pode ser ultrapassado por acordo entre as partes, acordo esse que
parece ser válido, inclusive o respeitante à devolução da coisa no estado em que se
encontrava (segundo argumento de B), ainda que, pela exclusividade do direito de
usufruto, a coisa não tenha de ser entregue, exatamente, no estado em que se
encontrava.
- Quanto ao primeiro argumento de B, este parece invocar que adquiriu o direito
correspondente à sua posse (usufruto temporalmente limitado a 30 anos) por
usucapião: requisitos da usucapião (artigos 1287.º e ss.). Aparentemente, não havia
registo (sendo, ainda, a sua posse não titulada), pelo que não teria existido
aquisição por via da usucapião (artigo 1296.º).

3) Imagine que, entretanto, Carlos intervém no litígio, declarando que, a cláusula do


seu contrato assegura a oponibilidade da sua posição contra Bruno e Daniel. Quid
iuris? (2 v.)

- Referir o princípio da tipicidade como princípio estruturante dos Direitos Reais:


caracterização e explicação sobre o conteúdo do artigo 1306.º. Este princípio afasta,
assim, o relevo do acordo entre as partes, impondo-se, assim, a qualquer cláusula
que imponha a natureza real ao direito constituído, ainda que o intérprete deva
verificar, em concreto, se determinada situação jurídica se pode qualificar como
direito real (o que pode levar à qualificação como real, se, por exemplo, estivermos
perante um contrato de locação).
II
Em janeiro de 2005, Eduardo e Francisca adquirem, conjuntamente, um
apartamento num prédio composto por cinco apartamentos autónomos, todos
destinados a habitação. O apartamento foi adquirido pelo valor total de €
500.000,00, tendo Eduardo suportado € 350.000,00 e Francisca € 150.000,00.
Apenas Eduardo procedeu ao registo; Francisca não o fez por considerar que seria
suficiente o registo efetuado por Eduardo.
Em fevereiro de 2010, Eduardo vende o apartamento a Guilherme, em
virtude de Francisca usar o apartamento a maior parte do tempo a seu bel-prazer e
da deliberação da assembleia de condóminos que proibiu a presença de animais de
estimação nos apartamentos.
Em março de 2021, Guilherme, que vivia no Brasil, volta definitivamente para
Portugal e dirigindo-se ao apartamento, depara-se com a presença de Francisca,
que afirma ser a única proprietária do apartamento por nele permanecer a título
exclusivo há mais de dez anos, ao que Guilherme contrapõe o registo da
propriedade plena e exclusiva do apartamento efetuado logo imediatamente a seguir
ao negócio celebrado com Eduardo.
Responda, de forma fundamentada, às seguintes questões:

1) Poderia Eduardo reagir quanto ao uso do apartamento e à deliberação da


assembleia? Em caso afirmativo, em que termos e condições? (3,5 v)

- Objeto e conteúdo do direito de propriedade (artigos 1302.º e 1305.º).


- Regime da compropriedade (artigos 1403.º e ss.).
- Direitos dos comproprietários qualitativamente iguais, embora possam ser
quantitativamente diferentes, apesar da presunção de igualdade quantitativa das
quotas (e possibilidade da sua ilisão), em especial aplicação do artigo 1403.º, n.º 2.
- Exercício conjunto dos direitos pelos comproprietários e participação nas
vantagens e encargos da coisa em proporção das quotas, em especial aplicação do
artigo 1405.º, nº 1.
- Uso da coisa comum por qualquer comproprietário, salvo acordo contrário, com
respeito pelo fim a que a coisa se destina e pelo uso dos demais comproprietários,
em especial aplicação do artigo 1406.º e ainda, administração da coisa comum, em
especial aplicação do artigo 1407.º.
- Regime da propriedade horizontal (artigos 1414.º e ss.).
- Propriedade exclusiva da fração, compropriedade das partes comuns do edifício e
limitações ao exercício dos direitos, em especial aplicação dos artigos 1418.º, 1420.º
1421.º e 1422.º.
- Convocação e funcionamento da assembleia de condóminos, deliberações da
assembleia de condóminos e respetiva impugnação, em especial aplicação dos
artigos 1430.º, 1431.º, 1432.º e 1433.º.
- Intervenção e competência da assembleia de condóminos em matérias de
interesse geral do condomínio, para além das partes comuns, designadamente
possibilidade de deliberações deste órgão sobre matérias respeitantes às frações
autónomas, considerando as limitações ao direito de propriedade incidentes sobre
as frações autónomas de um edifício submetido a propriedade horizontal.
- Proteção jurídica dos animais (artigos 201.º-B e ss.)
2) Tendo em conta a factualidade da hipótese, analise os argumentos apresentados
por Francisca e Guilherme? (3,5 v)

- Aquisição, conservação e caraterização da posse de F e G (artigos 1251.º, 1257.º,


1258.º a 1262.º, 1263.º, 1267.º e 1268.º).
- Regime da (com)propriedade a propósito do direito de F e G (artigos 1302.º,
1305.º, 1316.º, 1317.º, 408.º, n.º 1 e 1403.º).
- Nulidade da venda de bens alheios (artigo 892.º) e direito de preferência a favor de
F no caso de venda da quota do seu comproprietário E (artigo 1409.º).
- Análise da possibilidade de aquisição da propriedade exclusiva a favor de G
através do registo, mediante verificação dos requisitos legais e aplicação das teses
doutrinárias (artigos 1.º, 2.º, n.º 1 a), 4.º, 5.º, 6.º, 7.º, 8.º-A, 8.º-B, 8.º-C, 8.º-D e 9.º
CRP) e da possibilidade de aquisição da propriedade exclusiva a favor de F através
da usucapião (artigos 1287.º, 1288.º, 1289.º, 1292.º, 303.º e 1296.º),
- Referência aos princípios do registo predial (instância, obrigatoriedade, prioridade,
legitimação e trato sucessivo), bem como aos princípios e caraterísticas dos direitos
reais (tipicidade, elasticidade, publicidade, boa fé, inerência e prevalência).

III

Comente, de forma fundamentada, a seguinte frase (3,5 v.):

“No tocante ao direito real de habitação duradoura, o proprietário e o morador


assumem diversas e incomportáveis obrigações reais e não reais”.

-Em primeiro lugar, as obrigações contidas no diploma não colidem com a tipicidade.

-Em segundo, devem confinar-se as obrigações reais a obrigações de conteúdo


positivo. Que se traduzam, para o vinculado, num comportamento de dare ou facere.

-Assim, quanto ao proprietário, podemos indicar, como obrigação real, o dever de


pagar os custos e demais encargos relativos às partes comuns do prédio.

-Por seu turno, quanto ao morador, o dever de realizar e suportar o custo de obras
de conservação ordinária na habitação.

-Ademais, analisando o conjunto de obrigações reais e não reais, elas afiguram-se


equilibradas e não incomportáveis, face ao gozo da coisa que é preciso assegurar.
FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA
Ano letivo de 2020/2021
DIREITOS REAIS – 3º Ano/Turma A - Dia
Exame escrito (Época especial) (duração: 90 minutos)
7 de setembro de 2021/Professor Doutor José Luís Ramos

Tópicos de correção

I (10 valores)
Em fevereiro de 2010, Alberto e Bruno adquiriram por compra e venda um terreno
a Carlos, na região de Santarém. O facto jurídico aquisitivo foi devidamente registado.
Em janeiro de 2011 Bruno falece, fazendo com que Alberto assuma o controlo dos
negócios da quinta. Nos anos seguintes, Alberto procede à construção de dois casões
para armazenar máquinas agrícolas, bem como de uma piscina. Em janeiro de 2021,
Alberto é surpreendido por Daniel filho de Bruno, que reclama ser, igualmente,
possuidor e comproprietário do terreno, referindo que todos os atos práticos por Alberto
eram inválidos, pois não tiveram a sua anuência. Alberto contrapõe dizendo ter sido o
único a preocupar-se com o terreno desde a morte de Bruno, sendo que ao fim destes
anos será ele o único proprietário.
Responda, de forma fundamentada, às seguintes questões:
1) Caracterize a situação jurídica dos vários intervenientes na hipótese. (3 v)

- Forma de aquisição do direito real (artigos 1316.º e 1317.º, a)), em regime de


compropriedade (artigos 1403.º e seguintes). A e B tornam-se, igualmente,
compossuidores (pluralidade de posses nos termos de um direito com a mesma natureza)
da coisa nos termos da compropriedade, aparentemente, por via do constituto
possessório (artigos 1263.º, c) e 1264.º); classificação da posse; a composse está
relacionada também às situações de comunhão de direitos reais (artigo 1404.º); nos
termos do artigo 1406.º, n.º 2, o uso da coisa comum por um dos comproprietários não
constitui posse exclusiva. C perde a posse (artigo 1267.º, n.º 1, c))
- Princípios e efeitos do registo do facto aquisitivo.
- Eventual sucessão da posse de C (artigo 1255.º); explicar em que consiste,
nomeadamente a questão de constituir uma sucessão jurídica e estarmos perante um
fenómeno de desmaterialização do corpus. Porém, a resposta depende da questão de
saber se A inverteu o título da posse.

2) Tendo em conta a factualidade da hipótese, analise os argumentos apresentados por


Daniel e Alberto. (4 v)

- A parecer invocar uma posse exclusiva e, consequentemente, a aquisição por usucapião


(referir requisitos: artigos 1287.º e seguintes). Conforme já vimos, nos termos do artigo
1406.º, n.º 2, o uso da coisa comum por um dos comproprietários não constitui posse
exclusiva. Porém, a última parte desta norma estabelece uma exceção a esta regra,
nomeadamente se tiver existido inversão do título da posse (artigos 1263.º, d) e 1265.º);
porém, tal parece não ter sucedido, dado que o artigo 1406.º, n.º 2 não terá lugar pelo
mero uso excessivo por parte de um dos compossuidores; A teria, de qualquer forma,
invertido o título da posse quando, em janeiro de 2021, comunicou a D que era
proprietário exclusivo.
- D seria, assim, comproprietário (artigos 1316.º e 1317.º b)) e compossuidor (artigo
1255.º).
- Quanto ao argumento apresentado por D, respeitante à invalidade das ações tomadas
por A devido à falta de consentimento, é relevante referir que o artigo 1406.º, n.º 1, estatui
que cada consorte pode, na falta de acordo sobre o uso da coisa comum, usar a mesma,
desde que para tal não empregue para fim diversos daquele que a coisa se destina, nem
prive os outros consortes do uso a que têm direito (restrição funcional).
- Porém, in casu, os atos praticados por A correspondem a atos de administração. Neste
âmbito, não existindo convenção expressa, como era o caso, o n.º 1, artigo 1407.º remete
para o artigo 985.º (regras do contrato de sociedade), referindo que os comproprietários
dispõem de igual poder para administrar a coisa (regime da administração disjunta); de
acordo com este regime, D pode opor-se aos atos de administração de A (artigo 985.º, n.º
2 ex vi artigo 1407.º, n.º 1); tendo os atos já sido praticados, a oposição que seja
procedente tornará os atos ineficazes em relação ao outro comproprietário, aplicando-se,
por analogia, o artigo 1407.º,n.º 3; contudo, tratando-se atos materiais e não jurídicos, a
sanção correspondente terá de consistir na restituição da coisa ao seu estado anterior e
não na invalidade dos atos; poderá, ainda, haver lugar a indemnização por danos (artigo
1407.º, n.º 3, última parte).

3) Tendo em conta os investimentos realizados no terreno, poderia Alberto reclamar a


titularidade singular do direito de propriedade? Em que termos? (3 v.)

- A junção de duas coisas corpóreas, cuja titularidade não pertence ao mesmo titular,
pode suscitar a questão da aquisição por acessão (forma de aquisição originária: artigos
1316.º e 1317.º, d)); in casu, a acessão industrial imobiliária (artigos 1339.º e seguintes);
referência aos requisitos.
- Não existindo autorização, a situação reportar-se, de qualquer forma, ao artigo 1341.º.
Em determinadas situações, a transformação, por um dos comproprietários, do terreno
comum, que diz respeito ao seu interesse exclusivo, sem autorização, pode implicar a
aplicação das regras da acessão; porém, como vimos, parece não ter existido inversão do
título da posse, pelo que as regras de acessão não se aplicariam, tendo em conta que a
titularidade pertence a ambos os sujeitos.

II (6 valores)
Alda, titular de uma unidade de alojamento, num empreendimento de turismo rural, no
Douro Vinhateiro, escreveu uma carta ao administrador daquela entidade, nos seguintes
termos:
a) Deixará de pagar a prestação periódica, no fim do mês de Dezembro de 2021, se até lá
não for reparada a canalização da cozinha do apartamento que utiliza durante o mês de
Setembro.
b) Como também é titular da unidade de alojamento contígua, declara ir abrir, de imediato,
uma porta de comunicação, entre os dois apartamentos, que funcionará durante cada
mês de Setembro.
c) Mais declara que, em 2022, irá viajar durante os meses de Agosto e de Setembro. Por
isso, pretende utilizar as unidades de alojamento em Outubro, por troca com o respectivo
usuário
d) Porque pondera a hipótese de alienar as duas unidades de alojamento em 2023, data
previsível do fim da construção da moradia que mandou edificar, a alguns quilómetros de
distância, vem, desde já, dar preferência, nos termos contratuais, declarando que as irá
transmitir a Bento, pelo preço global de X.
Quid Juris?

- Em primeiro lugar, haverá que discutir se estaremos perante um direito real. Em caso
positivo, qual?
- Na verdade, não basta a existência de uma unidade de alojamento, integrada num
empreendimento turístico para estarmos defronte de um direito real de habitação
periódica (Decreto-Lei nº 275/93 de 5 de Agosto, republicado pelo nº 37/2011 de 10 de
Março).
- Em segundo, será necessário ter em conta a especialidade do objecto, como decorre
dos artigos 4º e 5º.
-Se essas condições não estiverem reunidas, suscita-se a questão de uma posse relativa
ao DRHP, mas não da titularidade de um verdadeiro DRHP.
- Ou ainda da eventual existência de um direito real de condomínio, caso a unidade
estivesse em regime de propriedade horizontal.
- O pagamento da prestação é a principal obrigação do utente, constituindo uma
obrigação real ou um ónus real.
-A falta de pagamento das prestações também integra a alínea d) do artigo 46 do CPC,
nos termos do nº 2, do artigo 23º.
- Além de que a falta de pagamento da prestação periódica, permite uma oposição ao seu
exercício por parte do proprietário, nos termos do nº 3 do artigo 23º.
- Por conseguinte, não parece que a cessação de pagamento, por parte de A, seja
admissível.
-Se a ligação entre fracções é admissível no regime do direito de condomínio, não parece
admissível no DRHP, atento o teor do artigo 28º.
- Quanto à troca do período de utilização, cumpre saber se o período de tempo foi
determinado ou é determinável, em cada ano, de acordo com os números 2 e 3 do artigo
3º. Além da eventual existência de um acordo com o outro utente.
-Ao invés do direito de superfície o proprietário do empreendimento não goza do direito de
preferência na venda ou dação em cumprimento dos direitos parcelares de habitação
periódica. Aliás, como recorda Mónica Jardim, se esta matéria é omissa no diploma
actual, a anterior Decreto-Lei nº 130/89 regulava esta matéria no artigo 13º.

III (4 v.)

Comente, de forma fundamentada, a seguinte frase:

“O uso normal do prédio não pode sofrer restrições de terceiros”.

a) As relações de vizinhança impõem, naturalmente, restrições ao uso normal do prédio


por um seu titular (possuidor, proprietário, etc)
b) As relações de vizinhança não constituem relações de natureza contratual, mas antes
assumem uma natureza de imperativa obrigatoriedade legal.
c) A relação de vizinhança não se limita à titularidade de dois prédios contíguos.
d) Logo, o uso normal do prédio pode sofrer restrições, em virtude da fruição de prédio
vizinho.
e) No tocante ao prejuízo substancial para o uso do imóvel, interessa apreciar a natureza
e a finalidade do prédio que sofre as emissões.
f) Por exemplo, a importância do ruído ou do fumo será avaliada de modo diferenciado,
conforme o prédio vizinho for uma clínica, um monumento ou um jardim.
FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA
Ano letivo de 2020/2021
DIREITOS REAIS – 3º Ano/Turma A - Dia
Exame escrito (duração: 90 minutos)
23 de junho de 2021/Professor Doutor José Luís Ramos

Tópicos de correção

I
Em janeiro de 2005, Ana e Bruno receberam de doação um pequeno iate
que se encontrava na marina de Portimão. Como Bruno se encontrava fora, Ana
utilizou sempre o iate a seu belo prazer, realizando, inclusive obras de restauro sem
qualquer autorização de Bruno. Em maio de 2021, Bruno envia uma carta a Ana,
sugerindo-lhe vender a “parte dele do iate”. Ana responde dizendo que, ao fim
destes anos, Bruno já não tem quaisquer direitos sobre o bem, sendo ela
proprietária exclusiva. Bruno, chateado com a situação, decide transmitir a sua
quota a Carlos, em troca de um BMW usado, não informando disso Ana.

Responda, de forma fundamentada, às seguintes questões:

1) Caracterize a situação jurídica dos vários intervenientes na hipótese. (3,5 v)


- Classificar a forma de aquisição do direito real de A, B e, mais tarde, de C.
- A e B são proprietários sobre a mesma coisa, dispondo, cada um, de uma quota
ideal (compropriedade); o direito do comproprietário recai sobre coisa indivisa.
- Regime da compropriedade (artigos 1403.º e ss.), em especial artigos 1403.º,
1405.º, 1406.º, 1407.º e 1411.º.
- Forma de aquisição da posse: atenta a factualidade descrita, a mesma parece ser
adquirida através de constituto possessório, excluindo-se a traditio (artigo 1263.º,
b)), pois nada nos é dito se houve entrega. Ademais, B encontrava-se “fora”. De
qualquer modo, valorariza-se a sub-hipótese de um dos co-possuidores adquirir por
traditio, havendo entrega, em seu nome e de B; classificação a posse de A e B (são
compossuidores), excluindo-se a posse de C (a não ser que se admita que adquiriu
através de constituto possessório (artigo 1263.º, c) e artigo 1264.º).
- Aplicabilidade do nº 2 do artigo 1406º CC. Os comproprietários têm posse da coisa.
Porém, a posse não pode exceder a correspondência à sua quota. No entanto,
defende-se a suscetibilidade de adquirir posse exclusiva de uma parte da coisa,
mediante inversão do título. Por conseguinte, A teria invertido o título da posse
quando, em Maio de 2021, comunicou a B que era proprietária exclusiva

2) Tendo em conta a factualidade da hipótese, analise os argumentos apresentados


por Ana contra Bruno? (3,5 v)
- A invoca a usucapião (artigos 1287.º e ss.).
- Referir requisitos (em especial, a invocação) e efeitos deste tipo de aquisição
originário de direitos reais.
- Caso se entenda que A inverteu o título da posse há, pelo menos dez anos, haverá
prazo para adquirir através da usucapião, tornando-se A proprietária singular (in
casu, 10 anos, de acordo com o artigo 1298.º).
3) Poderia Bruno ter transmitido a sua quota a Carlos? (2 v.)
- Apesar da permissão presente no artigo 1408.º, n.º 1, primeira parte, nos termos do
artigo 1409.º, n.º 1, o comproprietário, aparentemente, goza do direito de preferência
real (direito real de aquisição) e tem o primeiro lugar entre os preferentes legais no
caso de venda ou dação em cumprimento a estranhos da quota.
- Aplicação dos artigos 416.º a 418.º e artigos 1028.º e ss., do CPC (em especial,
comunicação do projeto de venda e as cláusulas do respetivo contrato) (artigo
1409.º, n.º 2).
- Com efeito, A pode intentar ação de preferência (artigo 1410.º).
- Porém, discutir se o contrato de permuta pode enquadrar o conceito de “venda”, do
artigo 1409.º, n.º 1.
- Não obstante, B poderia ter transmitido a sua quota a C, caso o direito de
preferência não fosse exercido.

II
Em março de 2005, Diana adquiriu um apartamento, que decidiu usar como espaço
de trabalho; porém, em fevereiro de 2010, é surpreendida com uma deliberação
aprovada no mês de janeiro transato em assembleia de condóminos, nos termos da
qual as frações apenas podem ser usadas para fins exclusivamente habitacionais.
Em junho de 2011, acaba por vender o apartamento a Emília, que de imediato se
instala com o seu marido Francisco, embora não proceda ao registo. Em janeiro de
2015, Francisco e Emília divorciam-se, ficando Francisco com o direito a
permanecer no apartamento. Em junho de 2021, Diana, tomando conhecimento que
o apartamento ainda se encontra inscrito no registo a seu favor, vende-o a
Guilherme, que de imediato o regista. Emília opõe-se a Guilherme dizendo ser a
proprietária do apartamento atento o decurso do tempo e a atitude pouco cordata de
Diana; enquanto Francisco afirma que, independentemente de quem seja o
proprietário, tem direito a viver no apartamento.

Responda, de forma fundamentada, às seguintes questões:

1) Poderia Diana reagir contra a deliberação da assembleia de condóminos? Em


caso afirmativo, em que termos e condições? (3,5 v)
- Regime da propriedade horizontal (artigos 1414.º e ss.).
- Objeto e conteúdo do direito de propriedade (artigos 1302.º e 1305.º).
- Uso ou fim da fração autónoma, estipulação no título constitutivo, autorização da
assembleia de condóminos, propriedade exclusiva da fração e limitações ao
exercício dos direitos, em especial aplicação dos artigos 1418.º, 1420.º e 1422.º.
- Convocação e funcionamento da assembleia de condóminos, deliberações da
assembleia de condóminos e respetiva impugnação, em especial aplicação dos
artigos 1430.º, 1431.º, 1432.º e 1433.º.
- Intervenção e competência da assembleia de condóminos em matérias de
interesse geral do condomínio, para além das partes comuns, designadamente
possibilidade de deliberações deste órgão sobre matérias respeitantes às frações
autónomas, considerando as limitações ao direito de propriedade incidentes sobre
as frações autónomas de um edifício submetido a propriedade horizontal.
2) Tendo em conta a factualidade da hipótese, analise os argumentos apresentados
por Emília e Francisco? (3,5 v)
- Aquisição, conservação e caraterização da posse de E e F (artigos 1251.º, 1257.º,
1258.º a 1262.º, 1263.º, 1267.º e 1268.º).
- Regime da propriedade a propósito do direito de E, bem como distinção entre
propriedade plena e onerada (artigos 1302.º, 1305.º, 1316.º, 1317.º, 408.º, n.º 1).
- Regime do direito de habitação (artigos 1484.º e ss.) / usufruto (artigos 1439.º e
ss.), a propósito do direito de F.
- Possibilidade de aquisição da propriedade a favor de G através do registo,
mediante verificação dos requisitos legais e aplicação das teses doutrinárias (artigos
5.º, 1.º, 2.º, n.º 1 a), 4.º, 6.º, 7.º, 8.º-A, 8.º-B, 8.º-C, 8.º-D e 9.º CRP) e
(im)possibilidade de aquisição da propriedade a favor de E e da propriedade /
habitação / usufruto a favor de F através da usucapião (artigos 1287.º, 1288.º,
1289.º, 1292.º, 303.º e 1296.º),
- Referência aos princípios do registo predial (instância, obrigatoriedade, prioridade,
legitimação e trato sucessivo), bem como aos princípios e caraterísticas dos direitos
reais (tipicidade, elasticidade, publicidade, boa fé, inerência e prevalência).

III

Comente, de forma fundamentada, a seguinte frase (4 v.):

“A deriva expansionista do registo predial restringe os efeitos possessórios”.

-A deriva expansionista surge a propósito da dispensa de requisitos estruturantes do


efeito atributivo do registo predial, como por exemplo, a onerosidade e a boa-fé.
-A aceitar tais pressupostos, o efeito atributivo constituiria um prémio a um
comportamento desviante e lesivo da tutela de outrem.
-A tentativa de sobrevalorizar a aquisição registal entra em confronto com a
usucapião e a posse.
- Com efeito, Mouteira Guerreiro escreve que o efeito aquisitivo da posse se
encontra desajustado.
-Em conformidade, a frase enunciada poderia ser interpretada à luz daqueles
erróneos pressupostos.
-Contudo, como alega Vassalo e Abreu, a postura de Mouteira Guerreiro é
iconoclasta, carece de base legal e tenta subverter a nossa ordem jurídica
imobiliária.
EXAME DIREITOS REAIS
TÓPICOS DE RESOLUÇÃO

Ano Letivo 2019/2020- 2.º Semestre - 02/07/2020


Duração:100 minutos

I / A)
I / A) 1. António apoderou-se, furtivamente, em 1980 de um conjunto de objetos de ouro
de Bento. Guardou-os numa gruta, situada numa ilha deserta, onde têm estado escondidos
e ocultos desde então. Na semana passada, foi buscá-los e trouxe-os para Lisboa passando
a exibi-los de forma totalmente pública. Apercebendo-se de onde estavam os seus bens,
Bento exige de imediato a António que proceda à respetiva entrega. António alega
usucapião para não ter de devolver. Tem razão?

I / A) 2. Em janeiro de 2000, clandestinamente, Nuno apropriou-se de uma coleção de


livros raros de Francisco. No mês passado, começou a mostrar a coleção, com orgulho,
às suas visitas, incluindo amigos de Francisco, depois de a ter guardado a sete chaves em
sua casa dentro de um armário escondido e bem trancado. Os amigos de Francisco
reconhecendo os livros, relataram o facto a este último. Imediatamente, Francisco ordena
a Nuno a restituição da coleção de livros, o qual, por seu turno, pretende saber se pode
recusar, invocando aquisição do direito de propriedade com base na posse?

I / A) 3. Daniel, proprietário de uma loja de antiguidades, invejava tanto a coleção de


porcelanas de Elvira que, um dia, em 1981, apoderou-se da dita coleção, sem que ninguém
o testemunhasse e levou essas porcelanas para uma casa de família há muito abandonada
e que ninguém frequenta. As porcelanas têm lá estado desde então. Para que ninguém
desconfiasse, Daniel incluiu a coleção de porcelanas na montra da sua loja somente este
ano, há cerca de um mês, exibindo-as com orgulho perante os seus fregueses. Elvira
visitou a loja há uma semana e reconheceu as suas antigas porcelanas, exigindo de Daniel
a sua entrega. Terá Daniel algum fundamento para recusar a entrega?

I / A) 4. Abel, em 1981, invade o apartamento de Berta, furtando uma coleção de gravuras


de Picasso de que esta era proprietária. Após o furto, Abel leva as gravuras para casa,
guarda-as a sete chaves num cofre no seu escritório até ao decorrer do mês de dezembro
de 2019, data em que passa a expô-las numa galeria de arte no Chiado, da sua titularidade.
Berta, passeado pelo Chiado, vê expostas as suas gravuras na aludida galeria. Berta exige
de imediato a Abel a devolução das gravuras, alegando ter a prova da sua aquisição, em
1979. Abel alega que é o legítimo titular das gravuras. Quem tem razão?
I / A) 5. Em 1985, Ana, aquando da visita feita à casa de Bruna, apoderou-se de um colar
de joias muito valioso. Desde então, manteve-o escondido no seu cofre. Na semana
passada, Ana decide, pela primei ra vez, usar o colar nos anos do seu amigo Carlos. Para
sua surpresa, Bruna também foi à festa, sendo que, após aperceber-se que Ana usava o
seu colar, Bruna exigiu de imediato a sua devolução. Ana diz não o ter de devolver,
alegando ter direito pelo “decurso do tempo”. Quem tem razão?

• Não pode haver usucapião. Este resultado poderia ser alcançado com diversas
argumentações.
• A usucapião só poderia ser invocada se houver posse durante um período
estabelecido para o efeito. Neste caso, há um poder de facto ou controlo material
sobre a coisa. Mas haverá algum tipo de posse e será ela boa para usucapião?
Referência à necessidade de ideia publicidade como requisito e caraterística da
posse (artigos 1251.º, 1263.º/a) do Código Civil. Menção, porém, no artigo
1267.º/2 e 1297.º a uma posse oculta. Serão estes preceitos de aplicar ou não há
sequer aqui posse? É possível uma posse oculta? Se sim quais os efeitos?
• Possibilidade de referência à posição de Menezes Cordeiro: a posse pública é
definida, como tal, não por referência ao momento da sua constituição – como
sucede com a posse de boa ou de má fé ou com a posse violenta ou pacífica – mas,
antes de acordo com o modo por que é exercida, em contínuo. Seria esta a chave
do sistema: a posse pode passar de pública a oculta ou inversamente. Para se
constituir, a posse terá de ser cognoscível pelos interessados; pode, porém,
subsistir clandestinamente. Simplesmente, enquanto se mantiver neste último
estado, ela não é boa para usucapião: será uma mera posse interdital. Nesse
sentido parece apontar efetivamente o artigo 1297.º do CC. Em todo o caso, não
haveria usucapião. O tempo de publicidade não o permite, atendendo ao disposto
no artigo 1297.º.
• Possibilidade referência à posição defendida no curso acerca da posse oculta:
uma posse totalmente oculta desde o momento do início do controlo material
sobre a coisa não será verdadeira posse em sentido técnico jurídico. Segundo esta
perspetiva, a referência à posse oculta só se poderá entender se se tiver presente
o disposto no artigo 1267.º. Alusão à possibilidade de consideração, à luz deste
preceito, como posse oculta apenas da posse tomada ocultamente, mas que
entretanto se transformou em pública, desconhecendo contudo o antigo
possuidor, não obstante essa publicidade, a nova posse (esta posse é oponível a
terceiros, mas não ao esbulhado que mantém a sua posse). Esta posse oculta (que
é a tomada ocultamente mas, entretanto, tornada pública) não é oponível ao
esbulhado para efeitos de aplicação do prazo do artigo 1267.º/d) (cfr. artigo
1267.º/2) enquanto não for dele conhecida, mas por ter publicidade face a
terceiros é posse a partir do começo dessa publicidade (e só a partir dela) e torna-
se boa para usucapião a partir desse momento e só desse. Uma posse tomada
publicamente, mas que deixou de ter publicidade deixa de ser posse. Um controlo
material tomado ocultamente e mantido ocultamente também não é posse. Posse,
seja de que tipo for pressupõe sempre publicidade. A esta luz, mesmo perante o
artigo 1297.º, para se poder falar de uma posse tomada ocultamente, é necessário
que o controlo material tomado ocultamente já tenha dado lugar a um exercício
publico desse poder. Antes desse convolação do oculto em público não faz sentido
falar em posse, nem mesmo em posse tomada ocultamente. A referência a uma
posse tomada publicamente ou ocultamente pressupõe já o ato de nascimento
jurídico dessa posse.

I / A) 1. António alega usucapião para não ter de devolver. Tem razão?


• Classificação e efeitos posse de cada um dos respetivos sujeitos da hipótese: A e
B.
• A hipótese refere o “decurso do tempo”, logo estará em causa a eventual
aquisição originária do direito real de propriedade por usucapião por parte de
A. Menção dos requisitos.
• Responder negativamente à aquisição por usucapião por parte de A.

I / A) 2. Imediatamente, Francisco ordena a Nuno a restituição da coleção de livros, o


qual, por seu turno, pretende saber se pode recusar, invocando aquisição do direito de
propriedade com base na posse?
• Classificação e efeitos posse de cada um dos respetivos sujeitos da hipótese: F e
N.
• A hipótese refere o “decurso do tempo”, logo estará em causa a eventual
aquisição originária do direito real de propriedade por usucapião por parte de
N. Menção dos requisitos.
• Responder negativamente à aquisição por usucapião por parte de N.

I / A) 3. Terá Daniel algum fundamento para recusar a entrega?


• Classificação e efeitos posse de cada um dos respetivos sujeitos da hipótese: D e
E.
• Na hipótese, estará em causa a eventual aquisição originária do direito real de
propriedade por usucapião, por parte de D. Menção dos requisitos.
• Responder negativamente à aquisição por usucapião por parte de D.

I / A) 4. Abel alega que é o legítimo titular das gravuras. Quem tem razão?
• Classificação e efeitos posse de cada um dos respetivos sujeitos da hipótese: A e
B.
• Na hipótese estará em causa a eventual aquisição originária do direito real de
propriedade por usucapião, por parte de B. Menção dos requisitos.
• Responder negativamente à aquisição por usucapião por parte de B.
I / A) 5. Ana diz não o ter de devolver, alegando ter direito pelo “decurso do tempo”.
Quem tem razão?
• Classificação e efeitos posse de cada um dos respetivos sujeitos da hipótese: A e
B.
• A hipótese refere o “decurso do tempo”, logo estará em causa a eventual
aquisição originária do direito real de propriedade por usucapião por parte de
A. Menção dos requisitos.
• Responder negativamente à aquisição por usucapião por parte de A.

(5 valores)
I / B)
I / B) 1. António comprou a Bento três jarras de companhia das Índias. Ainda antes da
entrega das jarras, por Bento a António, elas são esbulhadas por Carlos. Quem é neste
caso o possuidor e que tipo de posse tem? Quem é que pode recorrer às ações possessórias
contra Carlos? António, Bento ou ambos?
• Classificação e efeitos posse de cada um dos respetivos sujeitos da hipótese: A, B
e C.
• Em especial, mencionar aquisição da posse de A: requisitos e querela doutrinária
neste ponto, mencionado a posição da Regência, que defende que a posse se
transmite solo consenso por constituto possessório (artigos 1263.º, c) e 1264.º),
nos mesmos termos que se dá a transmissão dos direitos reais (artigo 408.º); A é,
com efeito, possuidor das três jarras, mesmo não tendo o controlo material sobre
as coisas corpóreas (fenómeno de desmaterialização do corpus possessório, que
nos indica, claramente, que a posse é uma questão de direito).
• Em especial, referir que C adquiriu a posse por apossamento (artigo 1263.º/ a)),
referindo os respetivos requisitos, e que, sendo contra a vontade do atual
possuidor, constitui um esbulho material; havendo um esbulho, a posse do
esbulhado mantem-se por um ano (artigo 1267.º/ n.º 1, d)) (mais um caso de
desmaterialização do corpus possessório), podendo este intentar uma ação de
restituição da posse (artigo 1278.º, n.º 1).
• A pode, igualmente, intentar ação de reivindicação (artigo 1311.º), uma vez que
o direito real de propriedade se transmitiu por mero efeito do contrato (artigos
408.º, 874.º e 879.º).
• No que diz respeito a B, a admitir-se a transmissão da posse pelo constituto
possessório, este será detentor nos termos do direito de propriedade (artigo
1253.º, a)), só podendo reagir contra um ato de esbulho se for admitida a
presença de uma posse nos termos de um direito pessoal de gozo típico (como o
depósito) ou atípico, pois a sua posse interdital permitir-lhe-á intentar uma ação
de restituição da posse.
I / B) 2. Francisco doa a Nuno um telemóvel, o qual é furtado por Gonçalo, escassos
momentos antes da entrega a Nuno. Quem tem posse, quais as caraterísticas da posse e
quem pode utilizar ações para defesa da posse?
• Classificação e efeitos posse de cada um dos respetivos sujeitos da hipótese: F,
N e F.
• Em especial, mencionar aquisição da posse de N: requisitos e querela doutrinária
neste ponto, mencionado a posição da Regência, que defende que a posse se
transmite solo consenso por constituto possessório (artigos 1263.º, c) e 1264.º),
nos mesmos termos que se dá a transmissão dos direitos reais (artigo 408.º); A é,
com efeito, possuidor das três jarras, mesmo não tendo o controlo material sobre
as coisas corpóreas (fenómeno de desmaterialização do corpus possessório, que
nos indica, claramente, que a posse é uma questão de direito).
• Em especial, referir que G adquiriu a posse por apossamento (artigo 1263.º/ a)),
referindo os respetivos requisitos, e que, sendo contra a vontade do atual
possuidor, constitui um esbulho material; havendo um esbulho, a posse do
esbulhado mantem-se por um ano (artigo 1267.º/ n.º 1, d)) (mais um caso de
desmaterialização do corpus possessório), podendo este intentar uma ação de
restituição da posse (artigo 1278.º, n.º 1).
• N pode, igualmente, intentar ação de reivindicação (artigo 1311.º), uma vez que
o direito real de propriedade se transmitiu por mero efeito do contrato (artigos
408.º, 874.º e 879.º).
• No que diz respeito a F, a admitir-se a transmissão da posse pelo constituto
possessório, este será detentor nos termos do direito de propriedade (artigo
1253.º, a)), só podendo reagir contra um ato de esbulho se for admitida a
presença de uma posse nos termos de um direito pessoal de gozo típico (como o
depósito) ou atípico, pois a sua posse interdital permitir-lhe-á intentar uma ação
de restituição da posse.

I / B) 3. Daniel vendeu a Elvira um quadro do pintor Lino António. Porém, antes da


entrega do quadro a Elvira, Fernando furtou-o. Poderá Elvira neste caso recorrer às ações
possessórias? Se Elvira tiver posse e, em juízo, for necessário qualificar a respetiva posse,
o que pensa deveria ser dito a este respeito nas peças processuais? E Daniel poderia
recorrer às ações possessórias contra Fernando?
• Classificação e efeitos da posse de cada um dos respetivos sujeitos da hipótese:
D, E e F.
• Em especial, mencionar aquisição da posse de E: requisitos e querela doutrinária
neste ponto, mencionado a posição da Regência, que defende que a posse se
transmite solo consensus por constituto possessório (artigos 1263.º, c) e 1264.º),
nos mesmos termos que se dá a transmissão dos direitos reais (v. artigo 408.º); A
é, com efeito, possuidor das três jarras, mesmo não tendo o controlo material
sobre as coisas corpóreas (fenómeno de desmaterialização do corpus
possessório, que nos indica, claramente, que a posse é uma questão de direito).
• Em especial, referir que F adquiriu a posse por apossamento (artigo 1263.º/ a)),
referindo os respetivos requisitos, e que, sendo contra a vontade do atual
possuidor, constitui um esbulho material; havendo um esbulho, a posse do
esbulhado mantem-se por um ano (artigo 1267.º/ n.º 1, d)) (mais um caso de
desmaterialização do corpus possessório), podendo este intentar uma ação de
restituição da posse (artigo 1278.º, n.º 1).
• E pode, igualmente, intentar ação de reivindicação (artigo 1311.º), uma vez que
o direito real de propriedade se transmitiu por mero efeito do contrato (artigos
408.º, 874.º e 879.º).
• No que diz respeito a D, a admitir-se a transmissão da posse por constituto
possessório, este será detentor nos termos do direito de propriedade (artigo
1253.º, a)), só podendo reagir contra um ato de esbulho se for admitida a
presença de uma posse nos termos de um direito pessoal de gozo típico (como o
depósito) ou atípico, pois a sua posse interdital permitir-lhe-á intentar uma ação
de restituição da posse.

I / B) 4. Alberto adquiriu na joalharia de Benedita um colar de diamantes. A ourivesaria


de Benedita é assaltada por Carlota, antes que Alberto tivesse tido a oportunidade de
recolher o colar. Atendendo a esta hipótese, quem é o possuidor e qual a natureza da sua
posse? Qual a tutela jurídico-real de que dispõem os sujeitos da hipótese, quem a poderá
exercer e em que moldes?
• Classificação e efeitos posse de cada um dos respetivos sujeitos da hipótese: A, B
e C.
• Em especial, mencionar aquisição da posse de A: requisitos e querela doutrinária
neste ponto, mencionado a posição da Regência, que defende que a posse se
transmite solo consenso, por constituto possessório, (artigos 1263.º, c) e 1264.º),
nos mesmos termos que se dá a transmissão dos direitos reais (v. artigo 408.º); A
é, com efeito, possuidor do colar de diamantes, mesmo não tendo o controlo
material sobre as coisas corpóreas (fenómeno de desmaterialização do corpus
possessório, que nos indica, claramente, que a posse é uma questão de direito).
• Em especial, referir que C adquiriu a posse por apossamento (artigo 1263.º/ a)),
consubstanciado no assalto verificado, referindo os respetivos requisitos, e que,
sendo contra a vontade do atual possuidor, constitui um esbulho material;
havendo um esbulho, a posse do esbulhado mantem-se por um ano (artigo 1267.º/
n.º 1, d)) (mais um caso de desmaterialização do corpus possessório), podendo
este intentar uma ação de restituição da posse (artigo 1278.º, n.º 1).
• A pode, igualmente, intentar uma ação real de reivindicação da propriedade
(artigo 1311.º), uma vez que o direito real de propriedade se transmitiu por mero
efeito do contrato (artigos 408.º, 874.º e 879.º).
• No que diz respeito a B, a admitir-se a transmissão da posse pelo constituto
possessório, este será detentor nos termos do direito de propriedade (artigo
1253.º, c)), só podendo reagir contra um ato de esbulho se for admitida a
presença de uma posse nos termos de um direito pessoal de gozo típico (como o
depósito) ou atípico, pois a sua posse interdital permitir-lhe-á intentar uma ação
de restituição da posse.

I / B) 5. Aníbal comprou a Bruno dois quadros de Monet. Ainda antes da entrega dos
quadros, por Bruno a Aníbal, elas são esbulhadas por Carmen. Tendo em conta a
factualidade do caso, responda ao seguinte: i) quem é o possuidor; ii) qual o tipo de posse;
e iii) quem é que pode recorrer às ações possessórias contra Carmen?
• Classificação e efeitos da posse de cada um dos respetivos sujeitos da hipótese:
A, B e C.
• Em especial, mencionar aquisição da posse de A: requisitos e querela doutrinária
neste ponto, mencionado a posição da Regência, que defende que a posse se
transmite solo consensus por constituto possessório (artigos 1263.º, c) e 1264.º),
nos mesmos termos que se dá a transmissão dos direitos reais (v. artigo 408.º); A
é, com efeito, possuidor das três jarras, mesmo não tendo o controlo material
sobre as coisas corpóreas (fenómeno de desmaterialização do corpus
possessório, que nos indica, claramente, que a posse é uma questão de direito).
• Em especial, referir que C adquiriu a posse por apossamento (artigo 1263.º/ a)),
referindo os respetivos requisitos, e que, sendo contra a vontade do atual
possuidor, constitui um esbulho material; havendo um esbulho, a posse do
esbulhado mantem-se por um ano (artigo 1267.º/ n.º 1, d)) (mais um caso de
desmaterialização do corpus possessório), podendo este intentar uma ação de
restituição da posse (artigo 1278.º, n.º 1).
• A pode, igualmente, intentar ação de reivindicação (artigo 1311.º), uma vez que
o direito real de propriedade se transmitiu por mero efeito do contrato (artigos
408.º, 874.º e 879.º).
• No que diz respeito a B, a admitir-se a transmissão da posse por constituto
possessório, este será detentor nos termos do direito de propriedade (artigo
1253.º, a)), só podendo reagir contra um ato de esbulho se for admitida a
presença de uma posse nos termos de um direito pessoal de gozo típico (como o
depósito) ou atípico, pois a sua posse interdital permitir-lhe-á intentar uma ação
de restituição da posse.

I / B) 6. Aníbal, amante de um célebre escritor, decidiu ir á livraria de Bento e adquirir a


sua obra favorita para oferecer à namorada: uma edição especial e ilustrada do livro “O
Conde de Abranhos”. Sucede que, uma vez que não o podia levar com ele nesse dia,
Aníbal pediu que Bento os guardasse por uma semana. A meio dessa semana, Carmen,
cleptomaníaca já conhecida, esbulhou vários livros, incluindo o livro adquirido por
Aníbal. Tendo em conta a factualidade do caso, responda ao seguinte: i) quem é o
possuidor do livro “O Conde de Abranhos”; ii) classifique a posse de todos os
intervenientes; e iii) quem é que pode recorrer às ações possessórias contra Carmen?
• Classificação e efeitos da posse de cada um dos respetivos sujeitos da hipótese:
A, B e C.
• Em especial, mencionar aquisição da posse de A: requisitos e querela doutrinária
neste ponto, mencionado a posição da Regência, que defende que a posse se
transmite solo consensus por constituto possessório (artigos 1263.º, c) e 1264.º),
nos mesmos termos que se dá a transmissão dos direitos reais (v. artigo 408.º); A
é, com efeito, possuidor das três jarras, mesmo não tendo o controlo material
sobre as coisas corpóreas (fenómeno de desmaterialização do corpus
possessório, que nos indica, claramente, que a posse é uma questão de direito).
• Em especial, referir que C adquiriu a posse por apossamento (artigo 1263.º/ a)),
referindo os respetivos requisitos, e que, sendo contra a vontade do atual
possuidor, constitui um esbulho material; havendo um esbulho, a posse do
esbulhado mantem-se por um ano (artigo 1267.º/ n.º 1, d)) (mais um caso de
desmaterialização do corpus possessório), podendo este intentar uma ação de
restituição da posse (artigo 1278.º, n.º 1).
• A pode, igualmente, intentar ação de reivindicação (artigo 1311.º), uma vez que
o direito real de propriedade se transmitiu por mero efeito do contrato (artigos
408.º, 874.º e 879.º).
• No que diz respeito a B, a admitir-se a transmissão da posse por constituto
possessório, este será detentor nos termos do direito de propriedade (artigo
1253.º, a)), só podendo reagir contra um ato de esbulho se for admitida a
presença de uma posse nos termos de um direito pessoal de gozo típico (como o
depósito) ou atípico, pois a sua posse interdital permitir-lhe-á intentar uma ação
de restituição da posse.

(4 valores)

II
II 1. António, vendedor, celebrou um contrato de compra e venda de um terreno, que era
seu e que estava registado a seu favor, com Bento, comprador. Bento, por sua vez, vende-
o, dois anos mais tarde, a Carlos que regista a sua aquisição. Algum tempo depois vem-
se a apurar que o negócio entre António e Bento sofre de uma invalidade substancial.
António pretende recuperar o terreno e para isso interpõe uma ação destinada a obter a
declaração de invalidade da venda por ele efetuada e obtém ganho de causa. Mas Carlos
opõe-se dizendo nada ter de devolver uma vez que se deu uma aquisição tabular a seu
favor. Tem razão?

II 2. Nuno, proprietário de um apartamento, que se encontrava registado a seu favor,


decide permutar este imóvel por um carro de Francisco, celebrando-se o respetivo
contrato. Decorridos seis meses, Francisco vende este imóvel a Gonçalo, que procede ao
competente registo. No mês seguinte conclui-se que o negócio de permuta celebrado entre
Nuno e Francisco padecia de uma invalidade, pelo que Nuno intenta uma ação judicial
para declaração de invalidade, a qual vem a ser julgada procedente. Nuno solicita por isso
a entrega do imóvel, pretendendo Gonçalo saber se pode recusar, invocando aquisição
tabular a seu favor, em que termos e com que fundamentos?

II 3. Aníbal, sob coação moral, vendeu uma moradia a Bernardo, que não registou a
aquisição. Dois anos depois, Bernardo vendeu a moradia a Carlota, que registou o
negócio. Anos mais tarde, Aníbal intenta com sucesso uma ação de declaração de
invalidade do negócio de compra e venda celebrado com Bernardo. Agora, Aníbal
pretende que Carlota lhe entregue a moradia, mas Carlota recusa-se, afirmando que a
Conservadora do Registo Predial lhe disse, aquando do registo da sua aquisição, que após
o registo a sua posição estava completamente salvaguardada para sempre. Terá razão?

II 4. Adalberto, com inscrição a seu favor, vendeu a Bártolo, em junho de 2018, um


usufruto relativo a um apartamento em Lisboa. Bártolo, um mês depois, celebrou um
contrato de permuta com Camilo, através do qual o primeiro transmitia o usufruto do
apartamento de Lisboa ao segundo e este transmitia ao primeiro o usufruto de um
apartamento em Serpa. Camilo regista o seu facto aquisitivo em junho de 2018. Em julho
de 2019, Dilma, a mãe de Adalberto, apercebeu-se do negócio celebrado entre o seu filho
e Bártolo, enviando a este último uma carta na qual alega que o seu filho estava interditado
por anomalia psíquica, desde abril de 2000, juntando a sentença transitada em julgado.
Dilma apresentou em juízo, em julho de 2019, uma ação declarativa com vista a invalidar
o negócio jurídico celebrado, a qual é registada. Qual seria o desfecho previsível desta
ação? Camilo tem legitimidade para recusar-se a entregar o apartamento?

II 5. Em 2015, Aníbal, proprietário de um terreno sito em Leiria, devidamente registado


a seu favor, decide vendê-lo a Bento, que, por sua vez, constitui um usufruto a favor de
Carlos, que regista o facto jurídico junto da Conservatória de Registo Predial de Lisboa.
Recentemente, o negócio jurídico celebrado entre Aníbal e Bento foi declarado inválido
substancialmente. Aníbal pretende recuperar o terreno, contudo Carlos rejeita devolvê-lo,
pois diz-se legítimo proprietário. Quid iuris?

• Menção à forma legalmente exigida para a aquisição, do direito real de


propriedade por contrato de compra e venda (art. 875.º do CC e art. 22.º/ a), do
Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de julho, com a redação atualmente vigente, que
exige forma de escritura pública ou documento particular autenticado), bem
como do usufruto (se aplicável), incluindo a solenidade exigida. Transmissão do
direito de propriedade por mero efeito do contrato (artigo 408.º CC); referência
aos princípios da causalidade e do consensualismo.
• Referir princípios e efeitos do registo, em especial, a fé pública registal, por
contraposição com a realidade substantiva.
• A aquisição pelo registo alicerça-se em três normas fundamentais: o artigo 291.º
do Código Civil, o artigo 17.º e o artigo 5.º/1 do CRP. Articulação entre si destas
regras. Artigo 5.º do CRP aplica-se aos casos em que existe um registo válido,
mas incompleto. Aplicação do artigo 291.º do Código Civil e do artigo 17.º do
CRP não ao pseudo adquirente, mas sim o subadquirente deste, em caso de
inexatidão do registo.
• Neste caso, temos uma inexatidão. Mas aplica-se o artigo 17.º do CRP ou o 291.º
do Código Civil?
• Menezes Cordeiro delimita o alcance do artigo 291.º do Código Civil face ao
regime do artigo 17.º do CRP, considerando o primeiro aplicar-se aos casos de
inexistência de registo prévio a favor do alienante do bem. Assim, se alguém
alienasse um bem que ainda não tinha sido objecto de registo a um outro sujeito
e ele registasse, quando o negócio fosse nulo ou anulável poder-se-ia assistir à
impossibilidade de invocação da invalidade e, destarte, a uma aquisição nos
termos do artigo 291.º do Código Civil, conquanto naturalmente se verificassem
os demais pressupostos constantes dessa norma.
• A ser verdadeira esta posição, neste caso aplicar-se-ia o artigo 17.º do CRP.
• Nos casos em que se assiste a uma invalidade do negócio de transmissão e o
alienante registou previamente o seu direito aplicar-se-ia o regime do artigo 17.º
do CRP. Quer dizer que ao contrário do resultante de uma primeira leitura, o
artigo 17.º do CRP não se aplicaria apenas aos casos de nulidade do registo. Ele
estabeleceria também a solução para as hipóteses de invalidade substancial do
negócio de transmissão do direito ao qual se reporta o facto registado.
Independentemente de se tratar de invalidade registal ou substancial a
declaração de nulidade não prejudicaria os direitos adquiridos a título oneroso
por terceiro de boa fé, se o registo dos competentes factos for anterior ao registo
de ação de nulidade.
• E a ser verdadeira esta posição deveria debater-se se se aplicaria, ou não, por
analogia o prazo de 3 anos do artigo 291.º. Invocação dos argumentos para a
solução que for defendida pelo aluno, sendo que neste caso haveria uma diferença
fundamental entre os dois preceitos. A existência de registo prévio num caso e
não noutro. Rejeição da analogia – logo aquisição tabular nesta situação.
• Referência à posição defendida no curso. Rejeição da posição de Menezes
Cordeiro por falta de um fundamento suscetível de justificar a aplicação do artigo
291.º às hipóteses de falta de registo. Não será certamente apenas a boa fé a
fundá-la, pois, nesse caso, não se compreenderia a circunscrição da possibilidade
de aquisição tabular fundada no artigo 291.º aos casos de bens sujeitos a registo.
Também não é a realização do registo pelo terceiro porque o registo em geral
não é atributivo. Só pode ser a fé pública do registo anterior no qual o tutelado
confiou.
• Em relação à sub-hipótese II-4, não se aplicaria o do artigo 17.º do CRP, mas
apenas o artigo 291.º do CC. C) não adquire tabularmente o usufruto em virtude
da ação de invalidade do negócio ter sido apresentada por D), no prazo de três
após o negócio celebrado entre A) e B) e tal ação ser procedente. Aplicação do
regime dos arts. 291.º/2, 286.º e 289.º, com a extinção do usufruto de C) e retoma
da plenitude do direito de propriedade de A), devendo C) restituir o apartamento.
(5 valores)

III
III 1. António é tutor na FDL. No âmbito das suas atividades de tutoria António auxilia
o seu condiscípulo Bento que tem particulares dificuldades de aprendizagem em Direitos
Reais. Um dos aspetos em que Bento sente dificuldades prende-se com a noção e conceito
de direito real. Pede, por isso, a ajuda a António para que este explique o que se deve
entender por direito subjetivo real. Em especial, mas não só, Bento tem dificuldades em
perceber se ao direito real corresponde uma obrigação passiva universal, ou não, e o que
isso significa. Bento, também não percebe se o direito real é, ou não, um direito absoluto.
Se fosse o tutor o que diria?

III 2. Joaquim, estudante do dia de Direitos reais, segundo semestre, no ano letivo
2019/2020, é conhecido por todos os seus colegas da FDL como sendo uma pessoa
permanentemente disposta a aceitar desafios. Uma das coisas de que se gaba é de ter uma
memória de elefante. Depois de uma aula de Direitos reais em que é explicado o conceito
de direito subjetivo real, a ideia de obrigação passiva universal e a questão de saber se os
direitos reais são, ou não, absolutos Prudêncio, seu colega, decide desafiá-lo a dizer tudo
o que foi dito nessa aula. O que pensa deverá Joaquim dizer para superar o desafio?

III 3. Bernardino na noite anterior ao exame de Direitos Reais teve um sonho em que ele
aparecia numa oral a explicar aos examinadores o que se devia entender por obrigação
passiva universal no quadro dos direitos subjetivos reais e em que discorria ainda sobre a
própria ideia de direito subjetivo real. Nesse sonho, um dos examinadores enunciou a
Bernardino as caraterísticas dos direitos reais, mas não incluiu a absolutidade. Terá razão?

III 4. Albino está a escrever uns apontamentos destinados a servir de sebenta aos alunos
de Direitos reais. Está neste momento a escrever sobre o conceito de direito real. O que
pensa devia Albino escrever, de forma sucinta, sobre o direito subjetivo real, sobre se a
este corresponde uma obrigação passiva universal, ou não, sobre o que tal significa e no
que concerne à absolutidade dos direitos reais?

III 5. Ana é licenciada em Direito. Ana tem um primo, Norberto, que estuda Direito e
está de momento a preparar-se para o exame de Direitos reais. Em conversa, num almoço
de desconfinamento, começam a debater várias matérias que Norberto tem estudado.
Abordam questões como o que é um direito subjetivo real se lhe corresponde, ou não,
uma obrigação passiva universal e o que isso significa. Bruno, não entende, igualmente,
se o direito real é, ou não, um direito absoluto. O que pensa que Ana e Norberto terão
discutido?
III 6. Alexandre é aluno de Direito na Faculdade de Direito de Coimbra. Bernardo estuda
na Faculdade de Direito de Lisboa. Estando os dois juntos na Festa de aniversário de
Constança começam ambos a gabar a qualidade do ensino da respetivas Faculdades.
Perante os elogios que cada um fazia à sua instituição de ensino David lança-lhes um
desafio: cada um deles devia escrever o que sabia sobre o direito subjetivo real, sobre se
ele corresponde a uma obrigação passiva universal, e se ele é, ou não, um direito
absoluto”. No final ver-se-ia quem está melhor preparado. O que deverá escrever cada
um deles para superar o desafio?

• Possibilidade de menção da contraposição histórica baseada nas ações, de


referência às teses básicas sobre o direito real, rejeição da ideia de obrigação
passiva universal em razão do absurdo linguístico e da contradição nos seus
próprios termos, possibilidade de breve alusão, e valorização dessas alusões, às
tentativas modernas da Doutrina portuguesa de apresentação de um conceito de
direito real.
• Valorização da menção às diversas notas da realidade: na realidade não estão
abrangidos os direitos sobre direito (valorização da referência ao artigo 1302.º
do Código Civil); direitos reais como direitos subjetivos sobre coisas corpóreas
segundo um determinado regime; distinção a esta luz entre créditos e reais
considerando o conteúdo da afetação; o direito real como um direito absoluto
(entendido com Oliveira Ascensão, como direito não relativo ou dependente de
uma relação), inerente a uma coisa corpórea e traduzido numa permissão
jurídica específica de aproveitamento dessa coisa. Referência às censuras
formuladas por Menezes Cordeiro à ideia de absolutidade, entendida na
perspetiva mencionada, e às objeções que se podem fazer a esta crítica.

(5 valores)

Ponderação Global: 1 valor


Exame Direitos Reais (TA) – Época de Recurso

Alberto, em janeiro de 2002, dado não ter terreno para os seus cavalos, combinou com Bento a
utilização do terreno deste para apascentar os seus animais. O acordo entre Alberto e Bento foi selado
através de um contrato revisto por um advogado amigo de ambos. Em março de 2020, Bento chega
a acordo com Carlos, para a permuta deste seu terreno por um pequeno prédio T1 em Lisboa, tendo
o contrato sido celebrado por documento particular autenticado. Imediatamente após o acordo, Carlos
envia uma carta a Alberto, exigindo que o mesmo retire os cavalos do terreno. Alberto rejeita,
opondo o contrato celebrado com Bento.
Refira os problemas jurídico-reais envolvidos na hipótese, fundamentando a sua resposta. (5 v.)

- Referência ao acordo entre Alberto e Bento, como não tendo eficácia real (princípio da tipicidade,
absolutidade e causalidade e respetivos efeitos).
- Em especial, excluir aplicação do regime jurídico da servidão predial, que, apesar de constituir um
tipo aberto, tem como objeto o prédio serviente, e não qualquer tipo de aproveitamento
exclusivamente pessoal (rejeição da existência de servidões pessoais).
- Referência ao acordo entre Bento e Carlos como tendo eficácia real, para a constituição do direito
real de propriedade, apesar de o negócio ser atípico, pois não existe uma tipicidade de factos jurídicos
com eficácia real e não se aplicando a limitação prevista no art. 1378.º (aplicabilidade as normas
relativas à compra e venda (art 939.º). Mencionar princípio da consensualidade (art. 408.º, n.º 1) e
referência ainda à forma que foi respeitada (art. 875.º e art. 22.º, a), do Decreto-Lei n.º 116/2008, de
4 de julho).
- O contrato, com eficácia obrigacional, celebrado entre Alberto e Bento, com aquisição do terreno
por Carlos, extingue-se por impossibilidade absoluta superveniente, podendo Carlos opor o seu
direito a Alberto.

II

Em julho de 2020, quando se preparava para iniciar as suas férias na praia da rocha, ao passar junto
de um bar, Daniel identifica a sua mota Harley Davidson, que tinha sido furtada em outubro de 2019,
na zona de Santos, em Lisboa. A mota estava a ser utilizada por Ernesto, que se recusa a entregar a
mesma, referindo tê-la adquirido num stand em Setúbal.
Explique todas as questões jurídico-possessórias da hipótese. (4 v.)

- O furto corresponde a um esbulho material da coisa, tendo a posse sido adquirida através de
apossamento (art. 1263.º, a)).
- Referir que Daniel não perde o direito de propriedade e só perderá a posse se nova posse houver
durado por mais de um ano. In casu, tal não sucedeu, uma vez que só passaram 8 meses. Classificar
posse de Daniel.
- Quanto à possível ação de restituição (art. 1278.º, n.º 1), existe um problema de legitimidade passiva,
uma vez que Ernesto parece desconhecer o esbulho (art. 1281.º, n.º 2). Classificar posse de Ernesto.
- Daniel só poderia recorrer, assim, à ação de reivindicação (art. 1311.º), aplicando-se, contudo o art.
1301.º, i.e., seria obrigado a restituir o preço que o Ernesto tiver dado pela coisa, gozando, contudo,
do direito de regresso contra aquele que culposamente deu causa ao prejuízo.

III
Em julho de 1988, Francisca vendeu, por documento escrito, uma moradia sita em Oeiras a
Guilherme, que passou a habitá-la de imediato, sem que se tenha procedido ao registo predial do
negócio. Em 1994, Francisca doou o mesmo imóvel à sua sobrinha, Hélia, residente no Brasil, tendo
procedido ao respetivo registo. Em 2010, Guilherme vendeu a referida moradia a Igor por €200.000,
mediante documento particular autenticado. Na semana passada, Hélia retornou a Portugal e pretende
habitar a moradia, onde atualmente reside Igor, o qual recusa a entrega do imóvel, pois afirma “ter
tratado de todos os papéis do registo predial aquando da compra a Guilherme e não haver dúvidas
quanto a ser o proprietário”.
Poderá Igor ter razão? (5 v.)
- Venda de Francisca a Guilherme nula por não respeitar forma legalmente exigida (à data,
escritura pública, nos termos do art.º 875.º CC). Logo, não se deu o efeito transmissivo da propriedade.
- Aquisição da posse por Guilherme mediante tradição material do imóvel e concomitante
perda da posse por cedência de Francisca, nos termos dos artigos 1263.º, b) e 1267.º/1, c) CC
respetivamente.
- Classificação da posse de Guilherme: efetiva, formal, civil, pacífica (1261.º/1 CC), pública
(1262.º CC), não titulada (1259.º/1, parte final CC) e presumindo-se de má fé (1260.º/2 CC; tratando-
se de presunção ilidível, no caso, poderia considerar-se de boa fé).
- Transmissão do direito de propriedade a Hélia por doação, a qual deverá ter sido realizada
mediante escritura pública nos termos do art.º 947.º (redação vigente à data).
- Venda a Igor: o negócio respeita a forma legalmente exigida prevista no art.º 875.º CC desde
a entrada em vigor do DL 116/2008 (art.º 22.º, a) em conjugação com o art.º 36.º/3 do referido DL);
trata-se, porém, de uma venda de bem alheio, a qual padece de nulidade nos termos do art.º 892.º CC,
salvo se Guilherme tivesse invocada a usucapião, nos termos do art.º 303.º CC ex vi art.º 1292.º CC
o que poderia fazer desde julho de 2003, aquando da completude do prazo de 15 anos previsto no art.º
1296.º CC. Tendo em conta a afirmação de Igor de que “tratou de todos os papéis aquando da compra
a Guilherme” parece que terá sido realizado o processo de justificação, nos termos dos artigos 116.º
e ss. CRPr, tendo a usucapião sido assim invocada e o bem inscrito a favor de Igor enquanto
comprador do adquirente por usucapião Guilherme. Considerando que o efeito do registo no caso da
aquisição por usucapião do direito de propriedade sobre um imóvel consiste num efeito (meramente)
enunciativo, esse facto aquisitivo é oponível erga omnes, afastando-se a eventual proteção de um
terceiro (usucapio contra tabulas). No caso, Hélia não alienou a nenhum terceiro, pelo que a questão
é de ainda mais fácil resolução, prevalecendo a aquisição por usucapião de Guilherme e posterior
venda a Igor sobre a posição de Hélia. Valorização à eventual referência à discussão quanto à natureza
da posição de Hélia: extinção do seu direito (Oliveira Ascensão) ou (mera) não oponibilidade perante
a usucapião de Guilherme (Menezes Cordeiro).

IV
“A lei portuguesa inspirou-se na doutrina subjetivista de Savigni, defendendo a maioria da Doutrina
e a Jurisprudência essa solução. Na verdade, o art. 1253º, al. a) e c) introduzem no âmbito
da detenção o exercício do poder de facto sem intenção de agir como beneficiário do direito, e
o exercício da posse em nome alheio, o que corresponde à exigência do animus domini para
caracterizar a posse, qualificando como detenção os casos em que não se tem intenção de possuir a
coisa, designadamente quando a intenção é de a possuir para outrem (nomine alieno) o que
corresponde à formulação subjectivista. A lei, ao distinguir-se posse de mera detenção envereda pela
conceção subjetivista de posse, embora se apresente, contudo, a estender a tutela possessória a
alguns casos de posse precária, ou seja, em que não há animus possidendi (...)” (Ac. Trib. Rel.
Guimarães de 16.11.2017, proc.º n.º 1759/14.3T8CHV.G1, negritos no original).
Concorda com o Tribunal da Relação de Guimarães? Responda fundadamente. (5 v.)

- Distinção entre os conceitos subjetivista e objetivista de posse, mencionando os precursores


de cada uma das posições (Savigny e Jhering, respetivamente).
- Explicação do que é o corpus (controlo material sobre uma coisa) e o animus possidendi
(intenção de exercer em nome próprio o direito real, na conceção originária de Savigny) para a tese
subjetivista. Explicação da tese objetivista como partindo da existência posse sempre que há domínio
material sobre uma coisa, a qual pode ser descaracterizada, passando a mera detenção, na presença
de uma das circunstâncias previstas na lei com esse efeito, que se encontrariam, no direito português,
nas alíneas do artigo 1253.º CC.
- Referência à doutrina portuguesa que defende uma e outra posição (com especial relevo para
AntunesVarela/Pires de Lima na defesa da primeira, tendo em conta os preparatórios do Código Civil
e, mais recentemente, para Costa e Silva, bem como para as diferentes vertentes da tese objetivista
defendidas por Menezes Cordeiro, Oliveira Ascensão, Menezes Leitão e José Alberto Vieira, à luz
das diversas interpretações feitas pelos Autores da al. a) do art.º 1253.º, seja como referindo-se a uma
manifestação de intenção expressa de não exercer posse – Oliveira Ascensão – seja como referindo-
se grosso modo a um domínio material nos termos de um direito/situação no âmbito da qual a própria
lei exclui a possibilidade de existir posse, como por exemplo no caso dos bens de domínio público
ou no caso do direito real de habitação periódica – Menezes Cordeiro, Menezes Leitão, José Alberto
Vieira, com as inerentes variações).
- Tomada de posição fundamentada sobre a posição adotada pela jurisprudência citada à luz
dos argumentos a favor e contra a consagração legal da doutrina subjetivista.

Ponderação global: 1v.


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Exame de Direitos Reais – TA – Época Especial
Regência: Professor Doutor Pedro de Albuquerque

I
António, proprietário de um imóvel em Lisboa, celebra, no dia 08.08.2019, um
contrato com Bento, através do qual o primeiro transmitia ao segundo o direito
de propriedade sobre o imóvel e Bento transmitia a António um usufruto sobre
um apartamento. Bento, por incúria do notário onde a escritura pública havia sido
lavrado, não vê registado o seu facto aquisitivo.
Entretanto, António é penhorado, sendo o seu direito de propriedade vendido em
venda executiva a Carlos. Carlos registou o seu facto aquisitivo no dia
09.08.2020.
Bento, no dia 01.09.2020, dirige-se à Conservatória do Registo Predial de
Lisboa, para pedir uma certidão predial do imóvel de Lisboa, deparando-se com
a inscrição do direito a favor de Carlos.
Vendo o sucedido, Bento pretende reagir, uma vez que havia celebrado negócio
válido com António.

Quid iuris?

Tópicos de correção
Celebração entre A e B de um contrato de permuta, enquanto contrato oneroso
translativo de direitos reais. Cumprimento da forma legalmente prevista para o
negócio jurídico em causa (artigo 875.º do CC). Referência à transmissão do
direito real de propriedade a favor de B, por mero efeito do contrato (artigos
408.º/1 e 879.º a) inerente ao nosso sistema do título e consequentes princípios
da consensualidade e da causalidade.
Facto aquisitivo de B sujeito a registo de acordo com o artigo 2.º/1 a), do CRP,
no prazo de 60 dias (artigos 8.ºA/1, al. a) e artigo 8.ºC/1.
Violação pelo notário da obrigação de promover o registo (artigo 8.ºB/1 e
subsequente responsabilidade civil e disciplinar sua).
Discussão sobre a eventual aquisição tabular de C, atendendo à letra do artigo
5.º/4 do CRP, e dependendo da doutrina que se defenda a propósito da natureza
jurídica da venda executiva. Tomada de posição fundamentada sobre as
posições de B e C, de acordo com a posição seguida.

II
Abel, proprietário de um prédio rústico, pretende intentar ação de reivindicação
contra Bento, exigindo a entrega de um terreno em Serpa.
Abel pede ainda ao seu advogado que em tal ação real seja cumulado um pedido
de demarcação de tal terreno.
Entretanto, Abel constitui a favor de Camilo um usufruto vitalício, sendo previsto
no título constitutivo que Abel poderia continuar a gozar o imóvel conjuntamente
com Camilo e apenas Abel o poderia arrendar a terceiros. Camilo aliena o seu
direito real menor a Dário, que toma posse do imóvel, exigindo a retirada
imediata de Abel do mesmo, que recusa.

Quid iuris?

Tópicos de correção

Referência à acção real de reivindicação consagrada no artigo 1311.º do CC com


o objetivo de o imóvel retomar à esfera jurídica de A e sua inerente função
restitutiva. Indicação dos pedidos centrais desta acção (reconhecimento do
direito real de gozo) e sua entrega ao titular do direito real de gozo.
Referência ao regime do direito de demarcação (artigos 1353.º e ss. do CC) e
subsequente incompatibilidade entre a acção de reivindicação e a demarcação,
uma vez que existe incompatibilidade substancial de pedidos. Tal verifica-se,
uma vez que a acção de reivindicação pressupõe a certeza e indicação concreta
do prédio reivindicado, ao passo que a demarcação pressupõe a incerteza sobre
a linha divisória entre dois prédios confinantes, com a subsequente aposição de
marcos entre os mesmos.
Indicação da violação do princípio da tipicidade na constituição do usufruto por
violação do núcleo intangível deste direito real menor. O nu proprietário não pode
ter o gozo simultâneo com o usufrutuário, nem conservar a possibilidade de fruir.
A disposição entre A e C tem eficácia meramente obrigacional, razão pela qual
é inoponível a C, que tem legitimidade para intentar acçáo de reivindicação do
seu direito real menor (artigos 1311.º e 1315.º do CC) contra A-

III.
Em março de 2000, Francisco acordou com Guilherme arrendar-lhe um
apartamento em Faro por 30 anos, por uma renda mensal de 3000 €. Em abril
de 2010, a braços com dificuldades financeiras, Guilherme deixa de pagar as
rendas. Por amizade, Francisco foi tolerando a situação, não exigindo quaisquer
montantes em falta. Em maio de 2020, Francisco recebe uma carta de
Guilherme, que reclama ter adquiridos direitos pelo facto de Francisco ter
abandonado o prédio.
Refira os problemas jurídico-possessórios envolvidos na hipótese,
fundamentando a sua resposta.

Tópicos de correção

i. Classificação da posse de F e G, este último é detentor nos termos do direito


de propriedade (artigo 1253.º, a), do CC), e possuidor interdital, a partir do
momento da entrega da coisa, nos termos do contrato de arrendamento (direito
pessoal de gozo).
ii. O não uso do prédio não extingue o direito de propriedade de F (artigo 298.º,
n.º 3, do CC). Adicionalmente, para que G tivesse adquirido o direito de
propriedade através de usucapião, os requisitos teriam de estar preenchidos, a
saber: posse boa para usucapir; verificação do prazo; e invocação (artigos 1287.º
e ss, do CC). Conforme vimos, G era possuidor interdital, que não permite
usucapir o direito correspondente. No que diz respeito ao direito de propriedade,
G teria de ter invertido o título da posse por oposição do detentor (artigos 1263.º,
d) e 1265.º, do CC), que constitui um facto constitutivo da posse (originário).
Contudo, a falta de pagamento das rendas não tem, por si só, o significado
correspondente a uma inversão do título da posse, pelo que G só adquire a
posse nos termos do direito de propriedade em maio de 2020, aquando do envio
da correspondência a F (Classificar posse correspondente). Neste sentido, G
não adquiriu quaisquer direitos através de usucapião.

IV
Ana era proprietária de uma quinta em Fafe, onde tinha um pequeno pomar.
Como só conseguia ir à quinta de 2 em 2 meses, Ana decidiu constituir um
usufruto com duração de 15 anos, em maio de 2010, a favor de Bento, tendo o
negócio sido celebrado por documento particular autenticado. Bento
transformou, de imediato, o pomar num pessegal, comprometendo-se, porém,
com a sua restituição à forma anterior, quando o seu direito terminasse. Em
2019, Bento vem a falecer num acidente. Carlos, seu filho, já veio dizer que lhe
irá suceder na exploração do pessegal. Explique todas as questões jurídico-reais
da hipótese.

Tópicos de correção
i. Caracterização do contrato de usufruto celebrado entre A e B (artigos 1439.º e
ss., do CC), em especial, os direitos do nu proprietário e do usufrutuário; referir
que foi cumprida a forma legalmente exigida (artigos 875.º e 939.º, do CC e artigo
22.º, a), do Decreto-Lei n.º 116/2008, de 04 de julho).
ii. No que diz respeito à transformação levada a cabo por B, discutir a sua
admissibilidade tendo em conta os limites negativos do usufruto (artigos 1439.º,
1446.º e 1306.º, do CC), expondo as diversas posições doutrinárias a este
respeito, bem com a discussão sobre a eventual supletividade deste regime
(artigo 1445.º, do CC). Em especial, discutir se a circunstância de o usufrutuário
se comprometer a restituir a coisa à sua forma anterior, tem relevância para a
resposta a esta questão.
iii. Quanto à posição jurídica de C, sendo um usufruto constituído por um
determinado prazo, C sucede na posição jurídica de B.

Cotações: I (5 valores); II (5 valores); III (5 valores); IV (5 valores);


GRELHA DE CORREÇÃO
EXAME DE DIREITOS REAIS – ÉPOCA NORMAL - TURMA A – 21.06.2019

I.
a) A, nu proprietário, assumiu perante M, dono do prédio vizinho, a obrigação de
não serem feitas construções no prédio sobre o qual recai o usufruto, compromisso esse
que à primeira vista não seria possível, tendo em conta o artigo 1460º nº 2 parte final
que diz que “o proprietário não pode constituir servidões sem consentimento do
usufrutuário, desde que delas resulte diminuição do valor do usufruto”.
Porém, há que ter presente que no caso em análise o prédio objeto do usufruto é um
terreno de cultivo, não parecendo haver fundamento para os usufrutuários se poderem
arrogar, hipoteticamente, o direito de construir no terreno, tendo em conta o disposto
nos artigos 1439º, 1446º e 1450 nº 1, segundo os quais os usufrutuários não podem
alterar a forma e a substância da coisa, nem alterar o seu destino económico.
Assim sendo, se se entender que no presente caso aquele concreto direito de usufruto
não confere aos seus titulares o direito de construir no terreno, então uma servidão de
não edificação nunca iria implicar diminuição do valor do usufruto.

b) Essa servidão de não edificação é uma servidão voluntária (porque M não tinha
o direito potestativo de a constituir contra a vontade dos titulares do prédio serviente),
passiva (porque onera o prédio sobre o qual recai o usufruto), negativa (porque impõe
uma obrigação de non facere aos titulares do prédio serviente) e não aparente (porque
não se revela por sinais visíveis e permanentes).

c) B podia doar livremente a sua quota de usufruto a E, nos termos do artigo 1444º
nº 1.
Resulta dos princípios gerais e é entendimento unânime da doutrina que, salvo
disposição da lei em contrário, os contratos celebrados pelo usufrutuário só persistem
enquanto o usufruto durar e que a transmissão deste não liberta o usufruto do termo
final ditado pela morte do trespassante.
Assim sendo, se B morrer antes de E, o direito deste último extingue-se, revertendo a
sua quota no usufruto para os demais usufrutuários (C e D), por força do direito de
acrescer previsto no artigo 1442º.
Caso seja E (cessionário) a morrer antes de B (cedente), a doutrina está dividida.
O entendimento largamente dominante é que a quota desse usufrutuário adquirente
falecido não irá acrescer às quotas de C e D, entrando na sucessão de E e transmitindo-
se aos herdeiros deste, não se aplicando pois, atendendo ao facto de o usufrutuário

1
originário (B) continuar vivo, os artigos 1443º e 1476º nº 1 alínea a) que dizem que o
usufruto não pode exceder a vida do usufrutuário e que se extingue com a morte deste.
Há no entanto uma posição muito minoritária, defendida por Luís Carvalho Fernandes,
que considera que também neste caso serão aplicáveis os artigos 1443º e 1476º nº 1
alínea a), revertendo imediatamente a quota de E no usufruto, por ocasião da morte
deste, para os demais usufrutuários (C e D), por força do direito de acrescer previsto no
artigo 1442º.

d) O registo a favor de R é nulo, nos termos do artigo 16º nº 1 alínea a) do CRP,


visto ter sido lavrado com base em títulos falsos.
O contrato de compra e venda entre R e S é nulo, nos termos do artigo 892º do CC,
visto R não ter qualquer direito sobre o imóvel, cuja propriedade de raiz pertencia a A e
o usufruto a B, C e D.
S é um terceiro de boa fé, que adquiriu onerosamente na sequência de um registo
anterior nulo de R, tendo S registado a sua aquisição antes do registo de qualquer ação
de nulidade do registo predial.
No presente caso, levanta-se a questão de saber se o registo de S é atributivo, ou seja,
se S beneficiou ou não de uma aquisição tabular da propriedade plena nos termos do
artigo 17º nº 2 do CRP.
A resposta a esta questão não é unívoca, havendo três posições distintas defendidas
na doutrina.
A posição dominante, que assenta numa interpretação declarativa do artigo 17º nº 2 do
CRP, é a de que estão aqui reunidos todos os requisitos exigidos nesse artigo e que,
portanto, S adquiriu a propriedade plena do imóvel, nada mais podendo A, B, C e D
fazer do que pedirem uma indemnização a R.
Uma segunda posição, defendida por José de Oliveira Ascensão, parte da constatação
de que existe uma contradição valorativa entre dois preceitos legais que preveem
aquisições tabulares, visto que no caso do artigo 17º nº 2 do CRP a aquisição pelo
terceiro de boa fé que adquiriu a título oneroso e registou é imediata, enquanto que no
caso do artigo 291º do CC a aquisição pelo terceiro de boa fé que adquiriu a título
oneroso e registou só se verifica ao fim de 3 anos a contar da conclusão do negócio, o
que de certo modo se afigura incongruente, visto as situações previstas no artigo 16º nº
1 alínea a) do CRP serem objetivamente mais graves do que as previstas no artigo 291º
do CC.
Por essa razão, Oliveira Ascensão preconiza, com base num raciocínio por maioria de
razão, que o prazo de 3 anos previsto no artigo 291º nº 2 do CC também se aplique à
aquisição tabular prevista no artigo 17º nº 2 do CRP, o que significa que no presente
2
caso, segundo o referido autor, S não poderia invocar o regime do artigo 17º nº 2 do
CRP, visto não terem ainda decorrido 3 anos desde a data do negócio que S celebrou
com R, prevalecendo pois os direitos de A, B, C e D.
Finalmente, cabe referir uma terceira posição, perfilhada por José Alberto Vieira e
Henrique Sousa Antunes, os quais fazem uma interpretação restritiva do artigo 17º nº 2
do CRP e defendem que, no presente caso, nunca se poderia aplicar esse preceito, em
virtude de A, B, C e D terem registado validamente os respetivos direitos antes do registo
de S.
Segundo esses autores, tendo os registos da propriedade de raiz e do usufruto
simultâneo sido efetuados antes do registo do terceiro, tais registos gozam de um efeito
consolidativo, o qual é definitivo, não podendo pois um registo posterior, mesmo feito
por terceiro de boa fé, ter efeito atributivo e prevalecer sobre o efeito consolidativo dos
registos anteriores feitos a favor dos titulares substantivos, os quais, não só adquiriram
validamente, como também registaram primeiro, devendo também eles beneficiar da fé
pública registal, não havendo qualquer razão para A, B, C e D serem preteridos a favor
de S, que não adquiriu validamente a sua posição jurídica e que só registou depois
deles.

II.
A tinha uma posse causal do quadro e celebrou em 2010 um contrato de comodato com
B. A continuou a ter posse nos termos de propriedade, exercendo a sua posse através
de B, o qual se tornou detentor nos termos de propriedade, tendo também B uma posse
interdital em termos de comodato (vide artigos 1252º nº 1, 1253º alínea c) e 1133º nº 2).
Posteriormente, mantendo-se o quadro em poder de B, A vendeu-o a C em 2011, o qual
adquiriu a propriedade por compra e a posse por constituto possessório, nos termos do
artigo 1264º nº 2.
Em Novembro de 2012, ao furtar o quadro, D procedeu a um esbulho, tendo adquirido
posse nos termos do artigo 1263º alínea a), sendo a sua posse oculta nos termos do
artigo 1262º a contrario sensu, visto ele ter mantido o quadro escondido em sua casa.
Em Março de 2016, D vendeu o quadro a H, sendo tal venda nula nos termos do artigo
892º, não tendo H adquirido a propriedade.
Todavia, H adquiriu a posse por tradição, nos termos do artigo 1263º alínea b). Não
sabemos se a posse de H é de boa ou má fé (vide artigo 1260º nº 1), apesar de se
presumir de boa fé visto ser titulada (vide artigos 1259º e 1260º nº 2), mas em qualquer
dos casos H não adquiriu a propriedade do quadro por usucapião.

3
Com efeito, se H tiver uma posse de má fé, o prazo para a aquisição por usucapião seria
de 6 anos, nos termos do artigo 1299º parte final, sendo certo que H só adquiriu a sua
posse em Março de 2016, ou seja, há pouco mais de 3 anos.
Saliente-se que, no presente caso, H nunca poderia invocar o artigo 1256º sobre
acessão da posse e juntar a sua posse de 3 anos e 3 meses à posse de 3 anos e 4
meses de D, visto a posse deste ser uma posse oculta que, por força do artigo 1300º,
não é boa para usucapião.
Mesmo que H tenha eventualmente uma posse de boa fé, também não poderá invocar
a usucapião, visto que nessa eventualidade não seria aplicável o prazo regra de 3 anos
previsto no artigo 1299º parte inicial, mas sim o prazo excecional de 4 anos previsto no
artigo 1300º nº 2.
Com efeito, a posse foi transmitida a H por alguém (D) que possuía o quadro
ocultamente, não tendo ainda decorrido 4 anos desde Março de 2016, data da aquisição
da posse titulada por parte de H.
Quanto ao argumento de H de que teria sempre direito a reter o quadro até ser
indemnizado pelo preço que pagou, tal só será verdade se H tiver comprado o quadro
de boa fé, visto que nessa eventualidade se aplicaria o artigo 1301º, em virtude de o
vendedor (D) ser dono de uma galeria de arte, ou seja, um comerciante que negoceia
em coisa do mesmo ou semelhante género.
Resulta do exposto que C ainda é na presente data (Junho de 2019) o legítimo
proprietário do quadro, podendo intentar uma ação de reivindicação contra H, nos
termos do artigo 1311º, sem prejuízo do que ficou dito acerca da eventual aplicabilidade
do artigo 1301º.
Tendo em conta que a posse de D se constituiu ocultamente em 2012 e se manteve
oculta, tendo depois sido transmitida a H também sem conhecimento de C, é de
entender que não se aplica a alínea d) do nº 1 do artigo 1267º, mas sim o seu nº 2, ainda
tendo C posse em Junho de 2019, o que lhe permite também intentar contra H uma
ação de restituição da posse, nos termos dos artigos 1278º e 1281º, exceto se a posse
de H for de boa fé (vide artigo 1281º nº 2).
Quanto ao conflito entre C e B, mesmo que se entenda que o direito do comodatário (B)
não se extinguiu por impossibilidade de cumprimento aquando da venda feita por A a C
(Menezes Cordeiro entende que sim), o direito real de gozo de C prevaleceria sempre
sobre o direito pessoal de gozo de B, o qual tem natureza obrigacional, não sendo o
contrato de comodato celebrado entre A e B oponível ao novo proprietário C.

4
FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA
Ano letivo de 2018/2019
DIREITOS REAIS – 3º Ano/Turma A-Dia
Exame escrito – Coincidências (duração: 120 minutos)
1 de julho de 2019/Professor Doutor Pedro de Albuquerque

TÓPICOS DE CORREÇÃO1

Qualificar e classificar posse de Arlindo. Existência de um negócio válido que


respeitou a forma (art. 22.º, a), do Decreto-Lei n.º 116/2008) exigida entre Bernardo e
Carlos e Daniel. No que diz respeito ao conflito entre Carlos e Daniel, o art. 1403.º, n.º
2, 2.º parte presume, na falta de indicação em contrário do título constitutivo, que as
quotas são quantitativamente iguais. Não obstante, não é necessário uma indicação
expressa em contrário, sendo que o preço tem sido entendido como um elemento
passível de elidir a presunção, o que sucedia no presente caso. O negócio entre Arlindo
e Ernesto consiste numa venda de bens alheios (art. 892.º), tendo sido uma venda a non
domino. O registo do facto aquisitivo (compra e venda celebrada entre Arlindo e
Ernesto) é nulo, uma vez que foi lavrado com base num título falso (art. 16.º, n.º 1, a),
do Código do Registo Predial). Indagar sobre a possibilidade de existir aquisição tabular
a favor de Ernesto nos termos do art. 17.º, n.º 2, do Código Registo Predial, bem como
os seus respetivos requisitos e, ainda, a diferença para com o art. 291.º, do Código Civil.
Referir o facto de não existir, atualmente, qualquer requisito referente à competência
territorial, pois foram revogados com o Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de julho.
Exclusão da usucapião a favor de Arlindo, pois, mesmo que considerássemos que
Arlindo era possuidor há 10 anos, não tendo registo de título nem da mera posse, a
posse só poderia dar-se no prazo de 20 anos, uma vez que estava de má-fé (art. 1296.º).
Excluir a aquisição de direitos por acessão por parte de Arlindo. Para além do valor das
obras e plantação não trazerem à totalidade do prédio um valor maior do que o valor que
o prédio tinha antes, Arlindo estava de má-fé, podendo aplicar-se, apenas, o art. 1341.º.
Discutir ainda a forma de compatibilizar os arts. 1273.º e seguintes com o regime da
acessão.

II

Constituição de usufruto vitalício (arts. 1433.º e ss., em especial, art. 1443.º); Estava em
causa os limites negativos do usufruto, nomeadamente, a alteração da forma ou
substância (art. 1439.º) e o destino económico da coisa. In casu, estava em causa a
alteração do destino económico da coisa (art. 1446.º), que deveria ser aferido à data da
constituição do usufruto. Referir discussão sobre a natureza imperativa ou supletiva das
normas em causa, bem como do critério subjetivo ou objetivo quanto à aferição destes
limites. Fundamentar quais seriam as consequências da conduta levada a cabo por
Bruno, em especial, se poderia configurar uma hipótese de mau uso nos termos do art.
1482.º.

1
Poderão ser considerados outros elementos que se revelem pertinentes para a correcta resolução das
questões colocadas.
III

1. Ana não poderá fazê-lo. Uma vez que a colocação do canteiro de flores será na parte
exterior do prédio, esta conduta cai, assim, na proibição do art. 1422.º, n.º 3. Teria, para
o efeito, de obter prévia autorização da assembleia de condóminos, aprovada por
maioria de dois terços do valor total do prédio.

2. De referir que nos termos do art. 1421.º, n.º 1, c), as escadas são partes comuns do
edifício. No que respeita aos elevadores, estes presumem-se comuns (art. 1421.º, n.º 2,
b)). Desta feita, não havendo quaisquer outros elementos que descaracterizem a
situação, ambas as partes referidas são ou presumem-se comuns. Nos termos do art.
1424.º, n.º 1, salvo disposição em contrário, as despesas necessárias à conservação e
fruição das partes comuns do edifício são pagas pelos condóminos em proporção do
valor das suas frações. Contudo, no presente caso Ana poderá ter razão, com relação
aos encargos das duas partes referidas, nomeadamente, pela não aplicação do princípio
da proporcionalidade presente no n.º 1, do art. 1424.º. Desde logo, nos termos do art.
1424.º, n.º 3, as despesas relativas aos diversos lanços de escada ou às partes comuns do
prédio que sirvam exclusivamente algum dos condóminos ficam a cargo daqueles que
delas se servem, excluindo assim Ana do encargo com a despesa desta parte do edifício.
Adicionalmente, nos termos do art. 1424.º, n.º 4, nas despesas com os elevadores só
deverão participar os condóminos cujas frações possam por eles ser servidos. Contudo,
deverá ser problematizada a questão, pelo facto de a hipótese se referir apenas ao facto
de a Ana, eventualmente, não usar, mas poder fazê-lo. Ou seja, se tiver acesso aquelas
escadas ou elevadores, Ana deverá pagar os encargos respetivos, pois o que releva é a
possibilidade de utilização e não o seu uso efetivo.
Ana poderá reagir contra as decisões da Assembleia de Condóminos. De acordo com
art. 1433.º, n.º 1, as deliberações contrárias à lei, título constitutivo ou regulamento
aprovado são anuláveis. Contudo, este artigo aplica-se apenas às deliberações onde a
Assembleia tem competência. Nas matérias onde a Assembleia não tem competência,
v.g., deliberação sobre a fração autónoma, a deliberação é nula. Referir a forma de
impugnação das deliberações anuláveis (art. 1433.º, 2 a 6), nomeadamente, a questão da
legitimidade - que estava preenchida no presente caso; menção à tripla alternativa do
condómino que se ache prejudicado com a deliberação, i.e., pedir ao administrador para,
no prazo de 10 dias contados da deliberação, ou contados da sua comunicação caso o
condómino esteja ausente, a convocação da assembleia extraordinária com o objetivo de
deliberar a revogação da deliberação (art. 1433.º, n.º 2); sujeitar a deliberação a um
centro de arbitragem, no prazo de 30 dias a contar da deliberação (art. 1433.º, n.º 3);
propor ação de anulação no prazo de 20 dias contados da deliberação da assembleia
extraordinária se ela teve lugar ou, se ela não tiver sido solicitada, no prazo de 60 dias
(art. 1433.º, n.º 4). Para além da anulação, poderá ainda ser requerida a suspensão da
deliberação (art. 1433.º, n.º 5).
FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA
Ano letivo de 2018/2019
DIREITOS REAIS – 3º Ano/Turma A - Dia
Exame Escrito - Recurso (duração: 120 minutos)
23 de julho de 2019/Professor Doutor Pedro de Albuquerque

Grupo I
1.
Arlete:
Titular do direito real de propriedade, possuidora nos termos da propriedade, causal, civil, efetiva,
titulada, de boa fé e pacífica.
Transmite o seu direito a Bjorg, através de contrato de compra e venda. Opera uma transmissão
da posse por constituto possessório, devendo ser abordada a questão dos seus requisitos. Arlete
passa assim a detentora nos termos do 1253, al. a.
Com a constituição do usufruto a favor de Carlota opera uma inversão do título da posse, passando
Arlete a exteriorizar posse, nos termos do direito de propriedade. A posse é formal, civil, efetiva,
não titulada e de má-fé.
Bjorg:
Adquire o direito de propriedade por um contrato de compra/venda; adquire a posse nos termos
da propriedade através de constituto possessório. A sua posse é causa, civil, não efetiva, titulada,
de boa fé e pacífica.
Não regista, violação do princípio da obrigatoriedade art. 8.º-B do CRP, sendo valorizado a
referência a quem são os seus destinatários e quais as consequências associadas à sua violação.
Em especial, não beneficiar do efeito consolidativo do registo.
Beneficia da tutela conferida pelas ações possessórias (1278.º) e pela ação de reivindicação
(1311.º)
Carlota
Não adquire o usufruto por força do contrato uma vez que Arlete não era titular do direito de
propriedade, art. 892.º do CC ex vi 839.º do CC.
Adquire a posse através de traditio simbólica, nos termos do direito de usufruto. A posse é formal,
civil, efetiva, não titulada e de má-fé (face a informação constante do último parágrafo).
Deve ser levantada a questão do prazo supletivo do usufruto, aplicação analógica do prazo de 30
anos, ou do usufruto vitalício, art. 1443.º, consoante a posição adotada.
Quanto ao registo, identificar um caso de incompatibilidade relativa entre o direito de propriedade
de Bjorg e o putativo direito de usufruto de Carlota. Identificar um caso de dupla disposição, nos
termos do art. 5.º do CRP, sendo Carlota, terceira nos termos do art. 5.º, n.º 4 do CRP.
Distinguir as situações de incompatibilidade absoluta, de incompatibilidade relativa (oneração),
qualificando o caso como uma situação de incompatibilidade relativa.
Verificar os requisitos da aquisição tabular constantes do preceito, incluindo a boa fé do terceiro
e a onerosidade por interpretação sistemática dos demais casos de aquisição tabular. Discutir esta
questão. Concluir pela não aplicação por Carlota estar de má fé.
Quanto às festas, identificar uma questão de relações de vizinhança, aplicação analógica do art.
1346.º aos outros direitos reais de gozo. Identificar os requisitos e concluir pela sua aplicação.
Abordando as questões interpretativas suscitadas por este preceito: o carácter cumulativo, ou não
dos seus requisitos; o que se entende por prédio vizinho
Em adição, será valorizado uma referência à questão dos limites negativos do usufruto,
nomeadamente a interpretação dos conceitos de: forma; substancia e destino económico (arts.
1439 e 1446). Concluir pela sua violação, e referir as consequências que advêm, em abstrato, da
sua violação
Quantos às dívidas ao condomínio, identificar a obrigação como uma obrigação proter rem, a ser
suportada pelo usufrutuário. No entanto, uma vez que Carlota não chegou a adquirir o direito de
usufruto não teria de as suportar. Como tal, deve ser abordada a questão da sua ambulatoriedade,
referindo as diversas opiniões sobre o assunto, devendo concluir, de acordo com a posição
assumida, quem as suportaria, Arlete ou Bjorg, e em que medida.
2.
Enquadramento: Constituição de um direito de superfície nos termos do art. 1524.º e ss, sobre
metade de um prédio rural (derrogação do princípio da especialidade). Referir também a ratio do
regime do direito de superfície, o afastamento do regime da acessão, (1325.º e ss). Prazo de 30
anos, não tendo sido estabelecido qualquer preço, art. 1530.º e 1531º.
Com a passagem do prazo identificar a causa de extinção do direito de superfície, art. 1536.º, n.º
1, c); art. 1538.º
Quanto à indemnização: suscitar a aplicação do regime supletivo do art. 1538.º, n.º 2, fazendo
remissão para o regime do enriquecimento sem causa, arts. 473 e ss.
Quanto à utilização do terreno: aplicar o art. 1532.º. Arlindo mantém o gozo do todo o seu
terreno enquanto Benedito não iniciar as obras. Como tal, não haveria qualquer título
indemnizatório, uma vez que não são indicados factos que levem à conclusão de que o gozo de
Arlindo dificultou a construção.
Também, afastar a possibilidade de extinção por não uso, art. 1536.º, n.º 1, a), por não ter
decorrido o prazo de 10 anos
Quanto à construção do restaurante: identificar um caso de superfície de sobrelevação, art.
1526.º do CC.
Explicar a interpretação feita pela doutrina do artigo., nomeadamente, nos casos em que o prédio
não está sujeito ao regime da propriedade horizontal. Neste sentido, a figura da superfície de
sobrelevação é aplicável independentemente dessa circunstância e podendo o prédio ficar sujeito
ao regime de compropriedade ou de propriedade singular, se as construções foram independentes,
correspondendo este caso à segunda hipótese.
Consequentemente, identificar a constituição de um novo direito de superfície a favor de Castro,
independente do constituído entre Arlindo e Benedito, sujeito ao limite do art. 1539.º
No entanto, a falta de autorização por parte de Arlindo, uma vez que o título apenas permitiria a
construção de balneários, torna este acordo ilícito, gerando a nulidade do mesmo. O que teria
como consequência a sujeição da construção ao regime da acessão industrial imobiliária, de boa
fé, art. 1340.º
Quanto à estrada: identificar uma servidão de passagem aparente. Ponderar a possibilidade de
ser um prédio encravado, art. 1550.º, caracterizando-a como uma servidão legal, com previsão,
no âmbito do regime do direito de superfície, art. 1529.º (n.º 2 no caso concreto). No entanto, não
havia informações que permitissem concluir pelo preenchimento da previsão destes preceitos.
Em adição, dever ser tido em conta o limite nemini res sua servit, as servidões impõem que os
proprietários dos prédios sejam diferentes, e a sua conjugação com o caso concreto.
Neste sentido, seriam valorizadas duas linhas de raciocínio, por um lado a aquisição de uma
servidão de passagem, do prédio de A sobre o de B, por usucapião, face ao tempo já passado. Por
outro, uma aplicação analógica do regime da constituição por destinação do pai de família.
Assim:
1. Recorrendo ao regime da usucapião, Benedito, ao contruir uma estrada pelo seu terreno que
liga o campo à via público, passa a possuidor nos termos de uma servidão de passagem a favor
do prédio de Arlindo, que exerce durante 28 anos. No entanto, esta solução encontra um
obstáculo, a necessidade de haver uma acessão da posse, art. 1256.º, permitindo a Arlindo invocar
a usucapião, que operará contra quem na posse se acedeu, o que não é possível. Como tal, esta
solução não deveria ser seguida.
2. Solucionar o caso através da aplicação analógica da destinação do Pai de Família, art. 1549.º,
De facto, Benedito não era proprietário do prédio de Arlindo, mas gozava de uma situação em
tudo análoga, para efeitos deste regime. Como tal, na ausência de estipulação a servidão dever-
se-ia manter a servidão não podendo este murar o seu terreno bloqueando a estrada.

Grupo II
I
Identificar ambos os regimes, referindo a desconformidade registal subjacente a ambos. No
primeiro caso uma nulidade registal, nos termos do art. 16.º do CRP, no segundo uma nulidade
substantiva.
Em adição, identificar a diferença de regime, quanto ao prazo constante do art, 291 do CC de três
anos, prazo este que é aplicado analogicamente por parte da doutrina aos casos do art. 17.º, n.º 2,
incluindo a Regência. Demonstrar espírito crítico quanto à solução legal, referindo se se justifica
a diferença de tratamento (sendo valorizado a referência à interpretação feita pelo Professor
Menezes Cordeiro do artigo 291.º do CC, que difere da maior parte da doutrina)
Em adição, referir a possibilidade de sobreposição de ambas as figuras, definindo um critério de
resolução de conflitos.
II

Identificar a posse interdital como a posse referente aos direitos pessoais de gozo e alguns direitos
reais de garantia. Referir quais os direitos reias de garantia que conferem posse interdital,
justificando o critério utilizado.
Identificar quais as consequências da posse interdital., aquilo que o Professor Oliveira Ascensão
define como o núcleo da posse. Principalmente, a tutela através do recurso às ações possessórias,
presunção de titularidade, direito a indemnização por violação da posse, mas, a exclusão do direito
à usucapião.
FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA
Ano letivo de 2018/2019
DIREITOS REAIS – 3º Ano/Turma A - Dia
Exame Escrito – Recurso - Coincidências (duração: 2h)
29 de julho de 2019/Professor Doutor Pedro de Albuquerque

Tópicos de Correção1

I (8 valores)
a) António: Qualificação como proprietário, tendo adquirido o direito real através de
sucessão por morte (art. 1316.º e 1317.º, b), do CC); qualificação da posse de António,
adquirida nos termos do art. 1255.º (em princípio, posse causal, titulada, de boa-fé,
efetiva, civil, pacífica e pública); pelo facto de a propriedade estar onerada com um
usufruto, António é nu proprietário, estando, por isso, impedido de gozar a coisa,
restando-lhe apenas o poder de disposição e algum aproveitamento residual não atribuído
ao usufruto.
A comunicação de António à Câmara Municipal demonstra uma vontade de renúncia
abdicativa (tácita) de António relativamente ao direito real de propriedade; discussão
sobre a sua admissibilidade, uma vez que a renúncia não se encontra prevista
relativamente a todos os direitos reais, mas apenas em relação a alguns direitos reais de
gozo - o direito de usufruto, a servidão ou o uso e habitação e de superfície - e de garantia;
ainda que se partilhe a tese da admissibilidade da renúncia ao direito de propriedade, in
casu, a mesma não seria eficaz, pois não foi respeitada a forma ditada pela alínea a) do
artigo 22.º do Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de julho: escritura pública ou documento
particular autenticado; adicionalmente, sendo a renúncia eventualmente admitida, esta
não implicaria a extinção do usufruto e da servidão predial, sendo que, quem passasse a
ser o titular do direito de propriedade sobre a coisa – no caso, por se tratar de coisa imóvel,
o Estado (art. 1345.º, do CC) - ficaria onerado com estes mesmos direitos reais;
finalmente, independentemente da resposta à questão anterior, o comportamento de
António implicaria, pelo menos, a extinção da posse por abandono (art. 1267.º, n.º 1, a),
do CC).
b) Bela: Qualificação do direito real de usufruto (artigos 1439.º e ss., do CC), que foi
adquirido por contrato (art. 1440.º); o usufruto é vitalício, isto é, foi constituído pelo
tempo de vida do usufrutuário (art. 1443.º)
A atuação de António, o proprietário, relativamente a Bela, a usufrutuária, traduziu-se
numa oposição ao gozo da coisa objeto do usufruto, concretizada num desapossamento
através da substituição das fechaduras que dão acesso ao controlo da quinta. Questionar,
assim, se estamos perante um caso usucapio libertatis artigo 1574.º, do CC. Ou seja, a
oposição do proprietário do prédio serviente ao exercício da servidão pelo proprietário do
prédio dominante, mantida por certo período de tempo – calculado nos termos da duração
da posse para efeitos de usucapião (artigo 1574.º, n.º 2, do CC) -, pode conduzir à extinção
do direito real menor onerador, sendo que, apesar de ser uma causa de extinção prevista
1
Poderão ser considerados outros elementos que se revelem pertinentes para a correta resolução das
questões colocadas.
apenas para a servidão predial, poder-se-á aplicar o facto extintivo para os restantes
direitos reais de gozo menores; os requisitos seriam os seguintes: oposição do titular do
direito real maior, decurso do prazo e invocação pelo beneficiário; in casu, apesar de
existir uma oposição de António ao gozo de Bela, não estaria preenchido o decurso do
prazo legal necessário para a usucapio libertatis ser eficaz (arts. 1594.º, n.º 2, e 1294.º,
al. b), do CC), nem existiu invocação pelo respetivo beneficiário (arts. 303.º conjugado
com o artigo 1292.º, ambos CC); com efeito, o direito de usufruto não se encontrava
extinto, podendo Bela intentar uma ação de reivindicação (art. 1311.º conjugado com o
art. 1315.º, ambos do CC).
c) Carlos: Qualificação do direito real de servidão predial (arts. 1543.º e ss. do CC), que
consiste numa servidão de passagem; discutir se estaria em causa a extinção da servidão
predial por não uso (art. 1569.º, n.º 1, b), do CC), pois, uma vez que a servidão deixou de
ser utilizada por Carlos antes de 1999, confirmando-se, em 2019, que a servidão não foi
utilizada durante 20 anos - contados a partir do momento em que a mesma deixou de ser
utilizada, qualquer que seja o motivo para o seu não uso (arts. 1569.º, n.º 1, al. b), e 1570.º,
n.º 1, ambos do CC) -, poderíamos estar perante uma causa de extinção da servidão;
poder-se-ia dar ainda a hipótese de extinção da servidão predial por desnecessidade, no
caso de estarmos perante uma servidão coativa (arts. 1547.º, n.º 2 e 1550.º, ambos do CC),
uma vez que só estas se poderão extinguir por desnecessidade (art. 1569.º, n.º 3, 1.ª parte,
do CC), em virtude da construção de uma comunicação com a via pública pelo prédio
dominante, de que resultou a perda de qualquer utilidade para a sua subsistência.
II (6 valores)
Admissibilidade do trespasse de usufruto (art. 1444.º, n.º 1, do CC); fundamentar
aplicação do art. 1346.º, do CC, devido ao ruído e ao cheiro; apesar de mencionar
proprietário, aplica-se igualmente ao usufrutuário; menção dos requisitos exigidos –
prejuízo substancial para o uso do imóvel e que não resultem da utilização normal do
prédio de que emanam - que não são cumulativos; indicar que a proibição de emissões
abrange não apenas os prédios contíguos, mas sim os prédios com proximidade física
suficiente para que possam ser afetados; referir que a proibição de emissões abrange,
igualmente, os imóveis licenciados por autoridade administrativa, especialmente se se
verificar o requisito do “prejuízo substancial”.

III (3 valores x 2).


Responda, de forma fundamentada, a DUAS das seguintes questões:
1. Enunciar e explicar as duas vertentes da prevalência dos direitos reais,
nomeadamente, no confronto entre direitos reais e no confrontos com os direitos de
crédito, apresentando exemplos concretos; realizar o paralelo para com a situação dos
direitos de crédito e, ainda, dos direitos pessoais de gozo.

2. Explicitar o que são situações jurídicas propter rem, em especial, explicando em que
consistem as obrigações reais e os ónus reais, indicando a respetiva natureza jurídica;
referir o respetivo regime jurídico, explicando como estas duas figuras poderão ser
distinguidas.

3. Referir em que consiste a legitimação registal, presente no art. 9.º, do Código de


Registo Predial, indicando, ainda, a quem está dirigida esta norma; explicitar no que
consiste o Princípio do Trato Sucessivo (art. 34.º, do Código de Registo Predial) e
como a legitimação registal poderá salvaguardar este princípio do registo predial.
FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA
Ano letivo de 2018/2019
DIREITOS REAIS – 3º Ano/Turma A - Dia
Exame Escrito – Época Especial (duração:2h)
6 de setembro de 2019/Professor Doutor Pedro de
Albuquerque

Tópicos de correção1

I (10 valores)
1. O contrato de compra e venda celebrado entre António e Carlos é nulo por falta de
forma (art. 875.º). Quando se deu o negócio, em 2005, a forma exigida era a escritura
pública, tendo o documento particular autenticado sido aceite como título suficiente
apenas com o Decreto-Lei n.º 116/2008, de 04 de Julho.

2. Referir constituição e características do direito de propriedade horizontal,


nomeadamente a incindibilidade do direito sobre a fração autónoma e compropriedade
das partes comuns.

3. Quanto às despesas de conversação dos elevadores, a regra do art. 1424.º, n.º 1, que é
um regra supletiva, diz-nos que estas são pagas pelos condóminos na proporção do valor
das frações, sendo que esta regra poderá ser afastada pelo n.º 2, mediante disposição do
regulamento de condomínio, aprovada sem oposição por maioria representativa de dois
terços do valor total do prédio, podendo as despesas ficar a cargo dos condóminos em
termos iguais ou em proporção da respetiva fruição. Por fim, no que diz respeito,
particularmente, aos elevadores, temos a regra do n.º 4, estipulando a mesma que nas
despesas dos elevadores só participam os condóminos cujas frações por eles possam ser
servidos. Habitando António no 6.º andar, este não poderá eximir-se das despesas com
os elevadores, sendo que, adicionalmente, não nos é referida a existência de qualquer
disposição que estipule o pagamento das despesas de forma diferenciada. Desta feita,
deverá aplicar-se a regra supletiva do n.º 1, devendo António proceder ao pagamento das
despesas com o elevador na proporção do valor da sua fração, tendo, contudo, o direito
de regresso contra o titular da fração do 7.º D, que foi o responsável pelo dano.

4. Quanto às festas diárias que têm prejudicado António, este poderá reagir através do
art. 1346.º, no que diz respeito às relações de vizinhança (referir requisitos e modo de
aplicação).

5. A Assembleia de Condóminos é um dos órgãos do condomínio. A Assembleia reúne


quando convocada para o efeito, devendo sempre ser precedida de uma convocatória (arts.
1431.º e 1432.º, n.º 2), só podendo reunir se existir quorum. A regra geral nas deliberações
é que estas são tomadas por maioria do capital investido (art. 1432.º, n.º 3). No presente
caso seria necessário discutir o âmbito de competência da Assembleia de Condóminos.
Nos termos do art. 1430.º, n.º 1, esta delibera sobre as partes comuns. Contudo, este
princípio encontra exceção em algumas normas, onde se permite que a Assembleia de
Condóminos delibere sobre as frações autónomas, como, por exemplo, nos termos do art.
1422.º, n.º 4. Contudo, é discutível se fora das exceções, a Assembleia de Condóminos
poderá deliberar sobre matérias referentes às frações autónomas. Se se considerar que
1
Poderão ser considerados outros elementos que se revelem pertinentes para a correta resolução das questões
colocadas.
Assembleia de Condóminos não tem competência quanto às matérias referidas, a
deliberação é juridicamente nula (art. 294.º), e não anulável, não se aplicando, assim, o
prazo referido no art. 1433.º

6. Nos termos do art. 1418.º, n.º 2, a), a menção do fim a que se destina cada fração ou
parte comum é uma matéria eventual do título constitutivo. Esta pode estar contida no
título executivo, mas a sua não inclusão não determina a nulidade do título constitutivo
da propriedade horizontal. A inclusão do tipo de uso poderá ser incluída no título
constitutivo através da modificação do mesmo. Contudo, nos termos do art. 1419.º, a
modificação do título constitutivo terá de ser realizada por escritura pública ou por
documento particular autenticado, tendo de existir ainda acordo de todos os condóminos.
Adicionalmente, de acordo com o art. 1422.º, n.º 4, sempre que o título constitutivo não
disponha sobre o fim de cada fração autónoma, a alteração ao seu uso carecerá da
autorização da assembleia de condóminos, aprovada por maioria representativa de dois
terços do valor total do prédio. No presente caso, teria de ser diferenciada duas situações:
ou o Regulamento de Condomínio fazia parte do título constitutivo (art. 1418.º, n.º 2, b)),
podendo, assim, disciplinar o uso das frações autónomas, ou o mesmo não fazia parte do
título constitutivo, tendo o mesmo sido elaborado pela Assembleia de Condóminos ou
Administrador, podendo apenas disciplinar o uso e a conservação das partes comuns (art.
1429.º-A).

II (6 valores)

No presente caso temos 3 negócios referentes ao mesmo imóvel:

(i) Um 1º negócio, que é o testamento feito pelo primitivo proprietário a favor de Inês;
(ii) Um segundo negócio, que é a venda feita por Inês a Gisela;
(iii) Um 3º negócio que é a doação feita por Gisela a Helena

O 1º negócio (testamento) é nulo, o que significa que é absolutamente ineficaz, não se


tendo a propriedade transmitido por sucessão por morte para Inês, apesar de esta ter
registado.

Nessa conformidade, sendo nulo o 1º negócio, também o seriam os 2 negócios


subsequentes, por ilegitimidade quer de Inês quer de Gisela, por força dos artigos 289º nº
1, 892º e 956º do Código Civil.

Há, no entanto, que ponderar se se verificou no presente caso alguma aquisição tabular,
ou seja, se os registos de Gisela e/ou de Helena eram atributivos, sendo certo que qualquer
desses registos só o seria se preenchesse todos os requisitos cumulativos do artigo 291º do
Código Civil.

Quanto ao registo de Helena, tal registo nunca poderia ter carácter atributivo, mesmo que
ela tivesse adquirido de boa fé, em virtude de ter adquirido por doação, ou seja, a título
gratuito.

Quanto ao registo de Gisela, sabemos que a sua compra e o correspondente registo foram
efetuados em 06/06/2007, tendo a sentença do STJ que declarou o testamento nulo só sido
proferida em 10/05/2016, ou seja, quase 9 anos depois do registo da aquisição por Gisela
(e não sabemos quantos anos depois de o testamento ter sido aberto…).

Isso significa que, se por acaso Gisela tiver comprado o imóvel a Inês de boa fé, estariam
reunidos a favor de Gisela todos os requisitos do artigo 291º do Código Civil: bem
registável, aquisição onerosa, boa fé, registo da compra antes do registo da ação de
nulidade do testamento e já ter entretanto decorrido mais de 3 anos.

Assim sendo, caso Gisela tivesse comprado o imóvel de boa fé, teria adquirido este por
força do registo e ter-se-ia tornado dona dele, podendo, por conseguinte, doar
posteriormente o imóvel a Helena, sendo tal doação válida, visto ter sido feita por quem
tinha legitimidade para tal, não se aplicando pois o artigo 956º do Código Civil.

Nos termos desta construção jurídica – subscrita pela grande maioria da doutrina
portuguesa – Helena terá adquirido validamente o imóvel por doação, caso estivessem
preenchidos quanto a Gisela os requisitos do artigo 291º do Código Civil, sendo nessa
eventualidade irrelevante o facto de Helena ter adquirido gratuitamente e sendo também
irrelevante determinar se, quando foi feita a doação a Helena, esta estava ou não de boa
fé, ou seja, ela se sabia ou não que tinha havido previamente um testamento nulo.

Existe no entanto uma posição minoritária, defendida por Menezes Cordeiro, segundo a
qual o direito do titular substantivo – neste caso o João – não se extinguiria
automaticamente em consequência da ocorrência de um registo atributivo a favor de
terceiro, ficando apenas tal direito numa situação de inoponibilidade e retomando ele a
sua plena oponibilidade se o direito do beneficiário do registo atributivo fosse entretanto
transmitido a um terceiro de má fé ou que tivesse adquirido gratuitamente.

A aceitar-se esta última tese – repetimos, muito minoritária – então João poderia
reivindicar o imóvel a Helena e esta só poderia opor-se se conseguisse demonstrar que
tinha adquirido o imóvel por usucapião.

Saliente-se que também na hipótese de Gisela ter comprado de má fé e de não estarem


consequentemente preenchidos quanto a ela os requisitos do artigo 291º do Código Civil,
a doação feita a Helena seria nula e esta precisaria de invocar contra João a usucapião caso
quisesse ficar dona do imóvel.

Ora, tendo Helena posse apenas desde 04/07/2015, ela só poderia adquirir por usucapião
invocando a acessão de posses prevista no artigo 1256º do Código Civil, mas os dados da
hipótese, no que respeita aos caracteres das sucessivas posses, não nos permitem concluir
se, juntando Helena a sua posse à de Gisela e, eventualmente, à de Inês, já terá decorrido
ou não o prazo suficiente para tal.

III (4 valores)

1. Na resposta a esta pergunta há que citar o disposto nos artigos 1439º, 1446º e 1450º nº 1
in fine do Código civil e fazer referência às várias posições doutrinais.

Oliveira Ascensão considera que a exigência do respeito pela forma e substância é


imperativa, visto constar da própria definição do usufruto, enquanto que o respeito pelo
destino económico poderia ser afastado por acordo das partes, visto integrar-se, segundo
ele, na disciplina supletiva do usufruto.

Menezes Cordeiro defende uma tese quase antagónica, dizendo que o artigo 1439º apenas é
imperativo na sua parte inicial, podendo ser alterada a forma e substância da coisa usufruída
desde que não se ponha em causa o destino económico, ou seja, desde que se possa voltar
ao estado anterior uma vez findo o usufruto.

Por sua vez, José Alberto Vieira entende que a forma e substância e o destino económico
são ambos limites negativos do usufruto, devendo ambos ser imperativamente respeitados.
2. Na resposta a esta pergunta há que citar o disposto nos artigos 1333º a 1343º do Código
Civil, bem como o artigo 1317º alínea d), e fazer referência às várias posições doutrinais.

No sentido da aquisição automática, com base numa interpretação discutível do artigo 1317º
alínea d), vide Pires de Lima e Antunes e Antunes Varela.

No sentido do carácter potestativo da aquisição por acessão industrial, dependente da


conditio iuris do pagamento de uma indemnização, vide a restante doutrina, largamente
maioritária, como por exemplo, Oliveira Ascensão, Menezes Cordeiro, Carvalho Fernandes,
Menezes Leitão, Pedro de Albuquerque, José Alberto Vieira, etc.
FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA
DIREITOS REAIS (TURMA A)
EXAME FINAL
12.06.2018

Duração: 2 horas
I
António é proprietário e possuidor do prédio X desde 5 de Agosto de 2008,
por compra a Ricardo. Este contrato foi registado três dias depois.
Em 17 de Abril de 2018, Bento, funcionário do Cartório Notarial de S.
Cristóvão, e inimigo de António, forjou uma escritura de doação do prédio X a
seu favor e registou a mesma. Em 5 de Maio de 2018, Bento celebrou uma
compra e venda com Carlos, que desconhecia tudo o que se passara. O contrato
foi registado no próprio dia, mas Bento esquivou-se a entregar a coisa, dizendo
estar livre para Carlos a ocupar e usar.
Quando Carlos pretendeu iniciar o seu gozo do prédio X deparou com a
oposição de António, com a qual não se conforma.
a) Quid iuris? 7 val.
- Caracterizar sumariamente a posição de proprietário e possuidor de
António
- Registo consolidativo a favor de António
- Título falso de compra e venda; não há qualquer eficácia real
- O registo a favor de Bento é nulo (art. 16.º, alínea a) do CregPred)
- Contrato entre B e C é nulo (art. 892.º do CC), não afectando nem a
propriedade nem a posse de António
- Havendo registo a favor de C importa ponderar a aplicação do art.
17.º, n.º 2 do CregPred. C é terceiro para efeito de aplicação deste
artigo
- Confronto entre registo consolidativo e efeito atributivo do Registo
Predial. C não fica protegido contra António, não havendo lugar a efeito
atributivo do registo predial
- António permanece proprietário e possuidor do prédio X.

b) Suponha agora que o prédio X estava omisso e que Bento, ao registar


a doação tinha igualmente promovido a descrição do imóvel. O que
mudaria? 3 val.

- O efeito consolidativo do registo predial não ocorre nesta hipótese, não


afastando por isso a aplicação do art. 17.º, n.º 2 do CregPred
- Porém, a posse de António não permite a usucapião, por não haver
decorrido o prazo legal.

II
No dia 3 de janeiro de 2007, Daniel, proprietário do prédio Y, constituiu
um direito de superfície a favor de Ermelinda, pelo prazo de 30 anos. Nos termos
do contrato, a superficiária ficou autorizada a construir qualquer edificação que
pretenda.
Ermelinda nunca iniciou o exercício do seu direito e em 5 de Fevereiro de
2017, Francisco, autorizado pelo proprietário do prédio vizinho, construiu no
prédio Y uma torre de telecomunicações, com uma fundação superior a 10
metros de profundidade, inseparável do solo sem a sua destruição.
Com a construção, o prédio Y, que valia € 500.000,00, passou a valer €
1.000.000,00. Por essa razão, Francisco recusa abandonar o prédio e impede
Daniel de praticar qualquer acto de gozo do prédio.
Quid iuris? 6 val.

- Direito de superfície; explicitação do tipo legal


- Ponderar a extinção da superfície por não uso. Explicação deste facto.
O não uso não opera automaticamente, carecendo de invocação do proprietário
- Hipótese de acessão industrial imobiliária. Explicitação da figura e
pressupostos legais
- Confronto do art. 1340.º e 1341.º do CC; há boa fé do agente, pelo que
se aplica o art. 1340.º
- O direito de acessão cabe ao proprietário do prédio Y de acordo com o
critério legal do valor (art. 1340.º, n.º 3 do CC)
- Discutir seo esse direito pode ser exercido pela superficiário
- Eficácia da acessão explicitação
- Momento de aquisição da propriedade por acessão (confronto das
teorias da acessão automática e da indemnização)

III
Ilídio, proprietário do prédio Z, um prédio rústico afecto à cultura de
cevada, constituiu a favor de J um usufruto pelo prazo de 20 anos.
No contrato, celebrado na forma legal e registado, as partes
convencionaram que J pode construir um edifício para turismo rural, contando
que o destrua a devolva o prédio à primitiva forma no termo do usufruto.
Quid juris? 4 val.

- Usufruto. Caracterização do tipo legal


- Discussão sobre o limite negativo consagrado pela lei portuguesa
- hà violação da regra salva rerum substantia, o que implica a violação do
princípio da tipicidade (art. 1306.º, n.º 1 do CC)
FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA
DIREITOS REAIS (TURMA A)
EXAME FINAL
18.07.2018

Duração: 2 horas
I
Em 10 de Janeiro de 2013, António instalou-se para viver no prédio X,
propriedade de Bento, que se encontrava a morar e trabalhar na Nova Zelândia
fazia dois anos e não se deslocava ao seu prédio fazia mais de um ano.
Em 15 de Janeiro de 2015, António, que entretanto convencera os seus
vizinhos de que era o proprietário do prédio X, vendeu o mesmo a Carlos. O
contrato foi celebrado verbalmente, na boa tradição da terra, tendo António
deixado o prédio devoluto nesse mesmo dia para Carlos iniciar o gozo do
mesmo, o que este fez no dia seguinte.
O prédio X encontra-se omisso no Registo Predial.
A) Diga a quem pertence o prédio X e a quem possui o mesmo,
fundamentando sempre (3,5 val).

- Bento é apontado como proprietário da coisa;


- Bento é igualmente o possuidor original do prédio X. A sua ausência da
coisa não quebra o corpus possessório enquanto durar a possibilidade de
actuação sobre a coisa;
- António adquire a posse do prédio X por apossamento. Essa posse é
formal, não titulada, de má-fé, pública e pacífica;
- A posse de Bento mantém-se no ano subsequente (art. 1267.º, n.º 1
alínea d) do CC) (concurso de posses incompatíveis, ambas nos termos
da propriedade);
- Compra e venda nula (falta de legitimidade de António e vício de falta de
forma); o direito de propriedade mantém-se em Bento;
- Carlos adquire, no entanto, a posse do prédio por tradição (art. 1263.º,
alínea b) do CC). A sua posse é formal, não titulada, de boa-fé, pública e
pacífica;
- Bento mantém a sua posse até ao final do ano subsequente ao esbulho
cometido por António, o que significa que já havia perdido a posse
aquando da tradição a Carlos.

B) O que pode fazer Bento para reaver o prédio (2,5 val).

- Bento tem ao seu dispor a acção de reivindicação contra Carlos (art.


1311.ºdo CC). Versar sobre os requisitos desta acção e condições de
procedência. A acção deve ser julgada procedente;
- Bento já não pode intentar uma acção de restituição, visto já não ser
possuidor do prédio (a sua posse caducou).

C) Suponha agora que Bento chegou da Nova Zelândia e se instalou no


prédio X, alertando Carlos para não tentar regressar ao prédio, que
não estava para brincadeiras. O que pode Carlos fazer para recuperar
a posse e que viabilidade tem a sua defesa? (2 val)
- Apossamento de Bento por acção directa. Posse causal, titulada, de boa-
fé, pública e possivelmente violenta (a hipótese não dissipa dúvidas);
- Carlos não tem ao seu dispor a acção de reivindicação, ou melhor, se a
intentar perde, visto não ser proprietário da coisa;
- Carlos pode intentar uma acção de restituição contra Bento, mas este,
se deduzir a exceptio dominii, ganha, por ser o proprietário da coisa;
- Se não fosse deduzida a excepção de propriedade o conflito de posses
(lembro que Carlos só perde a posse um ano após o esbulho) era
resolvido nos termos do n.º 2 e do n.º 3 do art. 1278.º do CC. Bento tem
melhor posse (titulada), o que quer dizer, que a acção seria declarada
improcedente.

II
Daniel adquiriu a propriedade do prédio Y por sucessão de seu pai, Paulo,
falecido a 12 de Fevereiro de 1990 e proprietário e possuidor do prédio desde
1980.
Sobre o prédio Y incidiam ao tempo da morte de Paulo, um usufruto
vitalício na parte norte do prédio, na titularidade de Ernesto, e uma servidão de
pasto a favor do prédio Z, imediatamente contíguo, propriedade de Francisco.
Daniel, que nunca gostou de Ernesto, impediu-o de gozar a coisa desde
o final de 1999, até hoje.
Com Francisco, as coisas passaram-se de modo diferente, pois, este
nunca levou o seu gado a pastar no prédio Y, mas começo a usar a parte sul do
prédio para chegar a estrada mais rapidamente com o seu carro e com o carro
de bois.
Quid juris? (6 val)

- Sucessão de Paulo: efeito real (sucessão na propriedade) e possessório


(sucessão na posse) a favor de Daniel;
- Oneração da propriedade com dois direitos reais menores (usufruto e servidão).
Significado e efeitos jurídicos da oneração;
- Desapossamento do usufrutuário pelo proprietário. Violação do direito real
(usufruto) e da posse (que se perde um ano depois);
- A oposição de Daniel possibilita:
- A reivindicação de Ernesto contra ele;
- A acção de restituição da posse (no ano subsequente ao esbulho);
- A acção confessória de Ernesto contra Daniel;
- Equacionar a “usucapio libertatis” neste caso. Afastar o seu efeito, uma vez que
não decorreu ainda o prazo (20 anos – art. 1296.º do CC, por haver má-fé de
Daniel);

- Servidão de pasto. O que é uma servidão e que conteúdo tem este direito real;
- Equacionar o não uso da servidão, que ocorre no caso (extinção do direito);
- Exercício da posse nos termos de uma servidão de passagem. Caracterizar a
posse (formal, não titulada, de má-fé, pública e pacífica);
- Equacionar a usucapião da servidão de passagem, que não ocorre, por falta de
decurso do prazo (20 anos – art. 1296.º do CC, por haver má-fé de Francisco);
- Meios de defesa de Daniel contra Francisco:
- Acção de reivindicação;
- Acção de restituição;
- Acção negatória.

III
Em 4 de Julho de 2014, Gisela doou a Helena um andar de férias que
comprara a Ildefonso em 6 de Junho de 2006 e que usara desde então nas suas
férias algarvias. Quer a venda quer a doação foram devidamente registadas na
Conservatória do Registo Predial de Portimão.
Porém, em 10 de Maio de 2015, o Supremo Tribunal de Justiça decide
que o testamento que atribuíra a propriedade do andar a Ildefonso é nulo e que
a propriedade do mesmo cabe ao seu irmão João, que comunica a Helena que
lhe deve restituir a coisa.
Quid juris? (6 val)
- Ponderação da protecção registal de Helena contra João;
- Trata-se de uma hipótese do art. 291.º do Código Civil;
- A protecção de helena não ocorre, porquanto ela adquire a título gratuito;
- Equacionar a usucapião de Helena a partir da acessão de posses (a hipótese
não permite uma conclusão definotiva).
FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA
DIREITOS REAIS (TURMA A)
EXAME FINAL
22.06.2017

Duração: 2 horas
I
António declarou em testamento que, quando falecesse, o prédio X, de
que era proprietário registado e possuidor desde 3 de Agosto de 1980, ficaria
em propriedade para Bento e em usufruto simultâneo para Carlos e Daniel, por
um período de 4 anos, findo o qual seria Ermelinda usufrutuária vitalícia.
António faleceu em 31 de Dezembro de 2013. Dias depois, já aberto o
testamento, Bento deu de arrendamento a Francisco a parte norte do prédio X
e Daniel instalou-se com a sua família na parte sul, alegando que a mesma
correspondia à sua parte do usufruto.
Carlos vê-se, assim, impedido de exercer o seu direito e vende o mesmo
a Gisela, que pretende iniciar de imediato esse exercício.
Esclareça as situações jurídico-reais e diga o que pode fazer Gisela para
exercer o seu direito. 10 val.

1. A sucessão como facto translativo da propriedade. O testamento como facto


constitutivo do usufruto
2. Usufruto simultâneo (co-usufruto) a favor de C e D e usufruto sucessivo
(vitalício) a favor de E
3. Efeitos da oneração do co-usufruto sobre a propriedade. A nua propriedade;
significado jurídico
4. O proprietário onerado com direito de usufruto não tem o gozo da coisa
(pertence aos co-usufrutuários). O arrendamento celebrado por Bento é, assim,
nulo, por falta de legitimidade do nu proprietário para celebrar esse contrato
(sem o consentimento dos co-usufrutuários)
5. C e D são compossuidores da coisa comum (nos termos do usufruto). A sua
posse é titulada, de boa fé, pública e pacífica. Bento mantém a posse como
proprietário
5. O uso da coisa comum cabe a todos os co-usufrutuários (art. 1406.º, n.º 1 do
CC). Daniel viola, com isto, o direito de Carlos
6. Significado da acção de Daniel sobre a posse. Não ocorre alteração da
situação de composse de C e D como usufrutuários, que continuam
compossuidores relativamente ao co-usufruto (art. 1406.º, n.º 2 do CC)
7. Possibilidade legal de venda do direito do co-usufrutuário. O co-usufrutuário
pode dispor da sua “quota” a favor de terceiro (art. 1408.º, n.º 1 do CC)
8. D tem direito de preferência na venda (art. 1409.º do CC). Análise dos
efeitos do exercício deste direito na venda de C a G
9. No cenário de aquisição do direito de C, Gisela pode quanto a Francisco
fazer declarar a nulidade do arrendamento ou, em alternativa, intentar acção de
reivindicação contra ele (art. 1315.º do CC). Analisar os pressupostos desta
acção e a sua procedência (seria procedente por falta do direito de Francisco)
10. Gisela está impedida de lançar mão da acção de manutenção contra Daniel
(art. 1286.º, n.º 2 do CC), mas pode lançar uma acção de condenação contra
ele para exercício do seu direito de uso (art. 1406.º, n.º 1 do CC)
11. Equacionar o recurso à acção de reivindicação contra Daniel, caso este
persista em não permitir o uso da coisa comum (a dita acção é admissível
neste caso)

II
Farta do barulho proveniente do seu vizinho do lado do 3.ª andar direito
do edifício, Helena, condómina da fracção do 3.ª andar esquerdo, solicitou ao
administrador do condomínio que convocasse assembleia geral com o fim de
deliberar a proibição do condómino vizinho de ouvir música e televisão a partir
das 22 horas.
O administrador acedeu ao pedido de Helena e convocou os
condóminos em dia, hora e local designado para deliberarem exclusivamente
sobre a proibição do condómino do 3.ª andar direito de ouvir música e televisão
a partir das 22 horas.
A assembleia reuniu com um terço dos condóminos e votou por
unanimidade a proibição. O condómino visado faltou à reunião.
Nessa mesma reunião, e por iniciativa do condómino do 1.º andar
direito, foi ainda discutida e votada favoravelmente a proibição de cães no
edifício, com o voto contra de um condómino.
Quid iuris? 5 val.
1. O conteúdo negativo da propriedade. A proibição de emissões (art. 1346.º do
CC)
2. As emissões entre condóminos de edifício constituído em propriedade
horizontal
3. Propriedade horizontal. Breve caracterização e efeitos jurídicos
4. Os órgãos do condomínio
5. Competência da assembleia geral (art. 1430.º do CC). Esta não tem
competência para deliberar sobre a matéria da convocatória. A deliberação é,
pois, nula (e não anulável)
6. Análise dos requisitos formais da deliberação de assembleia de condóminos.
Convocatória (requisitos legais) e maioria de deliberação (em primeira e
segunda convocatórias)
7. Preterição dos requisitos formais de deliberação quanto à deliberação
relativa à proibição de cães no edifício. A deliberação é anulável (art. 1433.º,
n.º 1 do CC). Legitimidade para a arguir e prazo para o efeito (regime jurídico
do art. 1433.º do CC)
8. A deliberação é nula igualmente, por falta de competência da assembleia
para a tomar (art. 1430.º do CC)

III
Ilda furtou uma mota propriedade de João e vendeu-a a Luís,
entregando-a imediatamente a este. Dois meses depois, João encontra a mota
em Faro, estacionada na rua, e leva-a consigo.
Luís demanda João alegando ser possuidor da mota e que o réu violou a
sua posse; pede ao tribunal que o condene na entrega da mota a si.
João defende-se alegando ser o proprietário, juntando o contrato de
compra e venda e o registo.
Qualifique a acção, caracterize a defesa de João e diga qual deveria ser
a decisão do tribunal. 5 val.
1. O furto corresponde a um apossamento da coisa. Ilda torna-se
possuidora da mota. A sua posse é formal, não titulada, de má-fé, oculta e
pacífica
2. João não perde a propriedade nem a posse. Esta última permanece
enquanto a posse do novo possuidor for oculta (art. 1267.º, n.º 2 do CC).
Quando se tornar pública a nova posse, a posse do esbulhado caduca
decorrido um ano (art. 1267.º, alínea c) do CC)
3. Exercício da acção directa pelo possuidor. Admissibilidade (resposta
afirmativa)
4. Acção de restituição intentada pelo possuidor esbulhado. Legitimidade
das partes e pressupostos de procedência da acção
5. Invocação da exceptio dominii na acção de restituição.
Admissibilidade e efeitos na análise da procedência da acção de restituição
6. A acção seria improcedente. João permaneceria com a sua mota, por
ser proprietário e Luís não ter qualquer direito à coisa
FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA
Ano letivo de 2016/2017
DIREITOS REAIS – 3º Ano/Turma A-Dia
Exame escrito – Recurso (Época Recurso) (duração: 120 minutos)
20 de Julho de 2017/Professor Doutor José Alberto Vieira

Em Janeiro de 2009, Alexandra, proprietária de uma vinha no Alentejo, constitui a


favor de Bruno, através de documento particular, um usufruto até à morte deste, tendo
sido convencionado ainda que o mesmo deveria ser transmitido ao filho de Bruno, que
o mesmo planeava ter daqui a dois anos.
Bruno não enfrentou uma tarefa fácil: poucos dias após celebrar o contrato,
descobriu que o seu vizinho, Carlão, tinha construído uma conduta no subsolo que
terminava na área onde estava a sua vinha, despejando resíduos tóxicos,
constantemente, sobre o terreno onde incidia o seu direito. Adicionalmente, o vizinho da
outra extrema, Danilo, começou a arrancar as raízes de sobreiros que se introduziam na
sua herdade, referindo que lhe iria apresentar a conta pelas despesas auferidas com esta
operação.
Quid juris? (7 valores)

II

Daniel e Euclides decidiram adquirir uma herdade em Janeiro de 2000, combinando


que a mesma deveria ser usada pelo primeiro nos meses de Janeiro a Setembro e pelo
segundo nos meses de Outubro a Dezembro, tendo Daniel pago para o efeito, 30 mil
euros, e Euclides os restantes 70 mil. Acontece que Daniel, dado o facto de estar no
estrangeiro, apenas se deslocou para o prédio em Março de 2015, sendo que se deparou
com o amigo de Euclides, Filipe, que estava a viver no prédio, tendo o mesmo referido
que tinha acordado com Euclides um contrato de arrendamento em 2001 e que, nada
nem ninguém, o poderia tirar dali, na medida em que até já tinha adquirido direitos com
“o decurso do tempo” e com tantas obras que já tinha realizado na herdade, eles é que
ainda o deviam indemnizar.
Quid juris? (7 valores)

III.
Distinga sucintamente, reportando-se apenas aos elementos de oposição entre as figuras,
entre
(i) Prevalência nos direitos reais de gozo e prevalência nos direitos pessoais de
gozo; (3 valores)

(ii) Ambulatoriedade das obrigações propter rem e ónus reais (3 valores).


TÓPICOS DE CORREÇÃO1

1. Requisitos e forma de constituição do usufruto (arts.1439º e ss., em especial arts.


1439º, 1440º e 1443º). A forma não foi respeitada, havendo nulidade formal (art. 939º).
A constituição do direito de usufruto é um facto sujeito a registo (art. 2º, nº 1, a), do
CRP).

2. Usufruto sucessivo inadmissível a favor de filho de Bruno, por ainda constituir um


concepturo, pois não existe ao tempo em que o direito do primeiro usufrutuário se torna
efetivo (art. 1441º).

3. Posse de Bruno nos termos do direito de usufruto e Alexandra nos termos da


propriedade. Classificação da posse. Ações possessórias que Bruno pode lançar contra
Carlão. Discussão sobre se poderá haver aqui aplicação o art. 1346.º, sendo esta uma
violação efetiva, onde, no caso de Alexandra, poderia propor uma ação negatória. De
facto, as descargas são dirigidas por obra do homem para o prédio vizinho, havendo
assim a violação do dever geral de abstenção que onera todos os sujeitos perante um
direito real.

4. Aplicação do art. 1366º e autonomização dos requisitos. Danilo, se for prejudicado


com as árvores, pode pedir uma indemnização (art. 493º, nº 1). A regra geral de
plantação de árvores e arbustos é a de que o titular do direito real de gozo pode fazer até
ao limite do seu imóvel (art. 1366º, nº 1). Se partes das árvores se introduzirem no
prédio vizinho, este pode cortá-las, se o dono das árvores não o fizer no prazo de três (3)
dias (art. 1366º, nº 1).

II

1. Compropriedade entre Daniel e Euclides: noção e constituição (arts. 1403º e ss.)

2. Uso, administração e fruição da coisa comum: delimitação e normas aplicáveis.

3. Preço como forma de ilidir a presunção presente no art .1403º, nº 2.

4. Oneração da coisa sem o consentimento do consorte. Tendo em conta a composse


constituída, este ato não seria suficiente para inverter o título da posse. Ato nulo de
acordo com o art. 1408º, nº 1 e 2 e art. 1024º, nº 2.

5. Contrato de locação nulo. Ainda que existisse contrato de locação, a posse de Filipe
seria interdictal, que não dá lugar a usucapião (explicação dos seus requisitos), sendo
que o mesmo não tinha, em nenhum momento, invertido o título da posse.

6. Distinção entre acessão e benfeitorias: critérios; Aplicação do art. 1046º, nº 1.

1
Poderão ser considerados outros elementos que se revelem pertinentes para a correta resolução das
questões colocadas.
III

(i)

1. Identificação da questão da característica da prevalência dos direitos reais em geral.

2. Definição dos direitos reais de gozo e direitos pessoais de gozo.

3. Situações onde, eventualmente, a característica da prevalência pode atuar; debate


doutrinal.

4. Diferença entre prevalência e preferência no pagamento;

5. Prevalência entre direitos reais de gozo; entre direitos reais de gozo e direitos
pessoais de gozo; e entre direitos pessoais de gozo.

(ii)

1. Definição de obrigações propter rem e ónus reais e exemplos concretos; ónus reais
distinguindo-se das obrigações propter rem como não fazendo parte do conteúdo dos
direitos reais; atribuição nos ónus reais da preferência no pagamento sobre a coisa.

2. Identificação da ambulatoriedade; Característica a “ambulatoriedade”, no sentido de


que a transmissão do direito real de cuja natureza a obrigação emerge implicar,
automaticamente, a transmissão desta para o novo titular; Discussão da aplicação
característica em cada uma das figuras enunciadas. Questão da renúncia liberatória.
FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA
DIREITOS REAIS (TURMA A)
EXAME FINAL
24.06.2016

Duração: 2 horas
I
António, proprietário do prédio X e possuidor do mesmo, desde 5 de
Agosto de 2000, com registo a seu favor realizado na mesma data, vendeu a B
o direito de usufruto. O contrato, celebrado na forma legal, não foi registado,
mas B recebeu as chaves do prédio e iniciou, de imediato, o exercício do seu
direito.
Em 3 de Janeiro de 2016, António constituiu, na forma legal, a favor de
C um direito de superfície para construção de um parque de estacionamento. O
contrato foi registado nessa data pelo notário que outorgou a escritura.
Quid juris? 9 val.

- Compra e venda. Referência à eficácia real do contrato,


nomeadamente, ao princípio da consensualidade;
- O direito de António fica onerado (nua propriedade). Significado da
oneração;
- À data, o registo não era obrigatório e a sua omissão não afecta a
eficácia real do contrato. O registo predial fica, porém, desconforme à realidade
substantiva e B não beneficia do efeito consolidativo;
- B adquire posse nos termos do usufruto; a sua posse é causal, titulada,
de boa fé, pública e pacífica;
- Para a constituição do direito de superfície António não tem
legitimidade (sem o consentimento de B). O negócio é nulo, mas importa
ponderar o art. 5.º, n.º 1 do CRPred. C é terceiro, pelo que a defesa de B só
pode assentar na usucapião;
- A hipótese não indica a data de início da posse de B, mas este pode
juntar sempre ao seu o tempo de posse a posse de António, o que perfaz o
prazo de usucapião (15 anos – art.1296.º). A usucapião de B impede a
aquisição tabular de C.

II
Em 8 de Janeiro de 2016, Daniel furtou o carro Y, possuído por F nos
termos da propriedade, e propriedade de G, e vendeu-o posteriormente a H,
que desconhecia o furto.
Uma semana depois do furto, F vem a saber que o veículo se encontra
com H e pretende recuperá-lo, dado que este último recusa entregá-lo de livre
vontade.
a) O que pode fazer F para recuperar a coisa?
- F só tem a posse formal e esta não pode ser oposta a terceiro de
boa fé (H) em acção possessória de restituição;
- Não podendo reivindicar a coisa, por não ser proprietário, F não
consegue recuperar a coisa de H.

b) Qual a defesa de H contra ele?


- A defesa de H funda-se na inoponibilidade da posse a terceiro de
boa fé (art. 1281.º, n.º 2 do CC).
c) Se G quiser recuperar a sua coisa, o que pode fazer? 6 val.
- G tem de intentar uma acção de reivindicação;
- O aluno deve discorrer sobre a acção de reivindicação, as
condições de procedência da mesma e a prova a fazer pelo autor.

III
Ilídio, proprietário do prédio Z, um prédio rústico afecto à cultura de
cevada, constituiu a favor de J um usufruto pelo prazo de 20 anos.
No contrato, celebrado na forma legal e registado, as partes
convencionaram que J pode construir um edifício para turismo rural, contando
que o destrua a devolva o prédio à primitiva forma no termo do usufruto.
Quid juris? 5 val.

- Trata-se nesta hipótese de discutir a eventual violação do princípio da


tipicidade, ponderando a controvérsia doutrinária sobre os limites negativos do
usufruto;
- Em nosso entender, trata-se de um usufruto atípico, que viola o limite
salva rerum substantia;
- Interpretar e aplicar o art. 1306.º, n.º 1 parte final.
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa – Ano letivo 2015/2016
EXAME ESCRITO DE DIREITOS REAIS
Turma A – Dia – 30 de junho de 2016

TÓPICOS DE CORREÇÃO

GRUPO I (7 valores)
António é possuidor e proprietário de um terreno desde 1995. Em 2010,
António vendeu o terreno à sociedade Uvas, Lda., por € 50.000,00. O negócio foi
firmado por documento escrito e assinado por António e Bento, gerente da Uvas,
Lda.. Combinaram pedir a autenticação do documento, o que até hoje não aconteceu.
Bento construiu uma vedação no terreno e ordenou aos seus trabalhadores
que começassem a plantação da uva, o que valorizou o terreno em € 30.000,00.
Em junho de 2016, Carlota, única herdeira de António, recentemente falecido,
exigiu a entrega imediata do terreno, bem como uma indemnização pela ocupação
ilegal do mesmo, no montante de € 25.000,00.
a) Assiste a Carlota razão no pedido de restituição do terreno?
b) Como pode a Uvas, Lda. defender-se em relação a este pedido?

- Compra e venda entre A e Uvas, Lda.: invalidade formal (artigos 874.º e 875.º
do CC e artigo 22.º, alínea a), do DL 116/2008, de 4/7; princípio da causalidade
(explicitação);
- À data, o registo era obrigatório: explicitação dos artigos 5.º, n.º 1 e 8.º-A e
8.º-B do CRPredial; conformidade entre situação registal e substantiva, devido à
nulidade da venda;
- Análise da situação possessória: elementos da posse (teorias subjetivista e
objetivista); aquisição da posse pela sociedade compradora (artigo 1252.º, n.º 1, do
CC); ausência de dados quanto à forma de aquisição da posse: sub-hipótese – artigo
1263.º, alínea b), do CC; posse não titulada, presumida de má fé (elidível), pacífica,
pública, civil, formal e efetiva (artigos 1258.º a 1262.º do CC); realização de
benfeitorias úteis e frutos (artigos 1271.º e 1273.º do CC);
- O pedido de C tem fundamento no artigo 1311.º do CC; requisitos da ação de
reivindicação; C não tem posse (transmitida em 2010); não há em princípio direito à
indemnização, uma vez que a utilização do terreno tinha por base a posse;
- Meios de reação da compradora:
- Afastamento da usucapião: mesmo que possa juntar à sua a posse do
seu antecessor (caso haja adquirido por tradição – artigo 1256.º do CC), não permite a
invocação contra o próprio, nem contra os seus herdeiros;
- Diferenciação da realização de benfeitorias face à acessão
(enunciação dos critérios da doutrina; eventual aplicação do artigo 1340.º, n.º 3 (caso
seja afastada a má fé) ou do artigo 1341.º do CC.
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa – Ano letivo 2015/2016
EXAME ESCRITO DE DIREITOS REAIS
Turma A – Dia – 30 de junho de 2016

GRUPO II (7 valores)
Em janeiro de 2014 Dário doou a Eliseu, seu filho, o prédio X. A escritura
pública não foi levada ao registo pelo notário. No dia seguinte, Eliseu vendeu o prédio
X a Fábio, por € 150.000,00. O advogado que autenticou o contrato providenciou pelo
registo da aquisição, o que efetivamente se verificou após alguns dias.
Em maio de 2016, o Banco Z, credor de Dário, registou uma ação em que
pede a nulidade da venda a Eliseu. Considerando que a ação é julgada procedente,
indique:
a) Que direitos reais existem sobre o prédio X?
b) Como podem Eliseu e Fábio defender-se perante o Banco Z?

- Doação entre D e R: validade substantiva (artigo 947.º do CC e artigo 22.º,


alínea a), do DL 116/2008, de 4/7; princípio da consensualidade (explicitação);
- Compra e venda entre E e F: validade substantiva (artigo 875.º do CC e artigo
22.º, alínea a), do DL 116/2008, de 4/7; princípio da consensualidade (explicitação);
- Em ambos os negócios, à data, o registo era obrigatório: explicitação dos
artigos 5.º, n.º 1 e 8.º-A e 8.º-B do CRPredial; desconformidade entre situação registal
e substantiva;
- Direitos reais que existem sobre o prédio X: direito de propriedade de D
(considerando a nulidade do negócio);
- Aquisição tabular: referência à divergência doutrinária quanto aos requisitos
de aplicação do artigo 17.º, n.º 2, do CRPredial e do artigo 291.º do CC; análise dos
requisitos do artigo 291.º do CC – F não é protegido, devido ao n.º 2 do artigo 291.º do
CC; a única eventual defesa seria a posse, mas a hipótese não dá dados quanto à
mesma.

GRUPO III (6 valores)


Guadalberto é usufrutuário da fração autónoma designada pelas letras “AB”,
propriedade de Felisberto. Considerando que:
a) Guadalberto não paga o condomínio, porque entende que este compete a
Felisberto;
b) Na assembleia de condóminos, tanto Felisberto como Guadalberto
pretendem exercer o direito de voto;
c) Em 2016, Guadalberto instalou antenas no telhado do prédio, danificando a
casa das máquinas do edifício.
Indique quem tem razão no conflito entre Felisberto e Guadalberto e como
podem os condóminos reagir à instalação das antenas.
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa – Ano letivo 2015/2016
EXAME ESCRITO DE DIREITOS REAIS
Turma A – Dia – 30 de junho de 2016

- Explicitação do direito de usufruto e seu conteúdo;


- Análise dos artigos 1472.º e 1474.º do CC: o dever de pagar impende, em
princípio, sobre G, que é também quem tem direito a participar na assembleia;
- Telhado: parte obrigatoriamente comum: artigo 1421.º, n.º 1, alínea b), do CC;
artigos 1420.º do CC; discussão acerca da aplicação do artigo 1422.º, n.º 2, alínea a),
do CC – afastamento da existência de obra nova; eventual infração, caso se
demonstre que prejudicou a segurança ou o arranjo estético do edifício (poderá ter
afetado a segurança, por ter danificado a casa das máquinas); obrigação de
indemnizar os danos causados na casa das máquinas; efeitos desta atuação no
usufruto e eventual direito de extinção por parte de F.
FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA
DIREITOS REAIS (TURMA A)
EXAME FINAL (ÉPOCA DE RECURSO)
21.07.2016
TÓPICOS DE CORREÇÃO1

1) Caracterize a situação jurídico-real, possessória e registal que se constituiu com a


celebração do contrato entre António e Bento. (4,5 valores)

- Contrato real quod effectum (artigo 408º, n. º 1). Sistema do título. Princípios da
causalidade e consensualidade.
- Transmissão da posse mediante constituto possessório (artigo 1264º, n. º 1).
Demonstração dos respectivos requisitos:
1) Contrato transmissivo de direito real;
2) O transmitente é possuidor;
3) Há uma causa jurídica (empreitada) para a detenção pelo transmitente.
- A posse de Bento é titulada, de boa-fé, pacífica, pública, causal, civil e efectiva.
Demonstração destes caracteres.
- Enquanto não se realizar o registo da sua aquisição, não se produz o efeito
consolidativo (artigo 5º, n. º 1, CRP), pelo que o direito de Bento não será oponível aos
terceiros que adquiram de António direito incompatível com o seu (artigo 5º, n. º 4,
CRP).
2) O contrato entre António e Bento também abrangia as alfaias agrícolas que
porventura existissem na propriedade? 2 Valores
- As alfaias agrícolas são coisas acessórias do prédio rústico, uma vez que se encontram
afectadas de forma duradoura ao seu serviço (artigo 210º, n. º 1). Logo, em face do
disposto no artigo 210º, n. º 2, as alfaias deviam manter-se na esfera do vendedor, dado
não ter havido estipulação negocial em contrário. De todo o modo, discute-se na
doutrina se essa é a solução mais adequada, tendo nomeadamente em consideração o
sentido normal da declaração negocial.
3) Quem tem razão no conflito entre Bento e Carlos sobre o direito de ocupar o prédio?
(6 valores)

1
Poderão ser considerados outros tópicos que se revelem pertinentes para a correcta resolução das
questões colocadas.
A razão está do lado de Carlos, com base nos seguintes fundamentos:
- O contrato oneroso de constituição do usufruto celebrado entre António e Carlos é
nulo, em virtude de faltar legitimidade a António para onerar um direito alheio (de
Bento), nos termos do artigo 892º, aplicável ex vi artigo 939º.
- Todavia, verificam-se os pressupostos da hipótese de aquisição tabular prevista no
artigo 5º, n. º 4, CRP), uma vez que Carlos adquiriu a título oneroso e de autor comum
um direito relativamente incompatível com o de Bento, estando de boa-fé e tendo
procedido à prévia inscrição no registo do respectivo facto aquisitivo. A aplicação dos
requisitos da boa-fé e da onerosidade da aquisição deve ser explicada, dado o artigo 5º,
n. º 4, não os mencionar.
- Como a incompatibilidade entre os direitos é meramente parcial, a propriedade de
Bento vai subsistir, embora onerada pelo usufruto de que Carlos é titular.
- António, que era detentor desde que transmitira a posse por constituto possessório a
Bento, torna-se novamente possuidor por inversão de título (artigo 1265º), mediante
oposição implícita2, embora a colocação da herdade à disposição de Carlos signifique
que lhe transmitiu a posse agora por tradição, tendo-a perdido por cedência (artigos
1263º, alínea b) e 1267º, n. º 1, alínea c).
- A posse de Carlos é titulada, de boa-fé, pacífica, pública, causal, civil e efectiva.
Demonstração destes caracteres.
- Todavia, nos termos do artigo1267º, n. º 2, o prazo de um ano para a perda da posse de
Bento só corre a partir do momento em que a posse de Carlos se torna conhecida dele,
ou seja, desde Dezembro de 2005.
- Bento não tem quaisquer meios de tutela do seu direito em relação a Carlos, que pode
recusar a restituição da coisa quer em sede de acção de reivindicação (artigo 1311º, n. º
2), quer em sede de acção de restituição da posse, nos termos do artigo 1281º, n. º 2,
parte final, a contrario sensu, visto não ter conhecimento do esbulho sofrido por Bento.

4) Findo o usufruto, Carlos tem o direito de ficar com os móveis que fez ou terá de os
entregar ao proprietário da madeira? (2 Valores)
- A transformação da madeira em móveis rústicos preenche o conceito de especificação
regulado nos artigos 1336º e seguintes. Carlos aplicou o seu próprio trabalho a matéria

2
A oposição implícita é admitida na doutrina, nomeadamente, por ORLANDO DE CARVALHO, Direito
das Coisas, Coimbra Editora, 2012, p. 302, considerando nada ter de absurdo o facto de a posse ser
instantânea.
alheia, confundindo-se o resultado desse trabalho com a propriedade de outrem (artigos
1326º, n. º 1 e 1336º, n. º 1).
Em princípio, estando Carlos de má-fé, em virtude de saber que se tratava de coisa
alheia (aplica-se o conceito de boa-fé subjectiva possessória do artigo 1260º, n. º 1),
aplica-se o artigo 1337º, parte final, dado que o aumento de valor terá sido seguramente
superior a um terço do valor da coisa. De todo o modo, não se afigura indefensável a
boa-fé de Carlos, dado a madeira estar a estragar-se, pelo que poderá ter pensado que
era indiferente ao proprietário o destino que a coisa pudesse ter. Nesse caso, Carlos
poderá fazer sua a coisa transformada, indemnizando o proprietário pelo valor da
madeira (artigo 1336º, n. º 2).

5) Em Agosto de 2006, Bento quis saber se teria adquirido direitos sobre o prédio pela
soma do tempo em que ele próprio e António conservaram a coisa em seu poder. Qual o
aconselhamento jurídico que lhe teria dado, caso tivesse sido consultado? (5,5 valores)

- Apesar de a sua titularidade sobre o prédio rústico ter sido adquirida nos termos do
artigo 408º, n. º 1, Bento quer saber se também pode invocar a aquisição do direito por
usucapião, somando a sua posse à de António através do mecanismo da acessão na
posse. A supressão de uma aquisição tabular é justamente um dos casos em que o
possuidor causal tem interesse na demonstração da usucapião.
- Como Bento adquiriu a sua posse por constituto possessório, pode beneficiar de
acessão nos termos do artigo 1256º, n. º 1, somando a sua posse à de António.
- Contudo, as duas posses não são totalmente homogéneas, uma vez que o título da
posse de Bento não esteve registado entre Agosto e Dezembro de 2005.
Consequentemente, tem que se aplicar o disposto no artigo 1256º, n. º 2, pelo que a
acessão na posse a favor de Bento vai operar nos limites da que tiver menor âmbito, que
é a sua. Logo, não havendo registo, a usucapião só pode dar-se ao fim de quinze anos,
tendo em consideração que Bento está de boa-fé (artigo 1296º).
- Deste modo, tendo a posse de António começado em Julho de 1991, os quinze anos
perfazem-se em Julho de 2006.
- Todavia, como Bento sofreu em Novembro de 2005 a inversão de título, a sua posse
em Julho de 2006 é uma posse não efectiva, pelo que se discute na doutrina se neste
caso o possuidor pode invocar a usucapião. Em sentido afirmativo, pronuncia-se JOSÉ
ALBERTO VIEIRA, Direitos Reais, p. 409 e em sentido negativo, OLIVEIRA
ASCENSÃO, Direito Civil – Reais, p. 298, por paralelismo com a extinção de alguns
direitos reais por não uso, sob pena de se tratar melhor um possuidor formal do que o
titular verdadeiro. A argumentação de OLIVEIRA ASCENSÃO não parece contudo
aplicar-se a este caso, visto se tratar de uma hipótese em que a usucapião funciona a
favor de um possuidor causal.
FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA
DIREITOS REAIS
EXAME FINAL FINALISTAS
13.09.2016

Tópicos de correção

GRUPO I

A)
- Apreciação da situação jurídico-real do prédio X: irrelevância da ausência do
proprietário; manutenção do direito de propriedade em B.
- Apreciação da situação jurídico-possessória do prédio X: conceito e
elementos da posse; teorias subjetivista e objetivista e seu enquadramento no
Direito Português; identificação do apossamento por parte de A (análise dos
requisitos previstos na alínea a) do artigo 1263.º do CC); caracterização da
posse de A (civil, efetiva, formal, não titulada, presumida de má fé, pública e
pacífica; artigos 1258.º a 1262.º; explicitação; artigo 1267.º, n.º 1, alínea d) e
n.º 2; artigo 1268.º).
- Apreciação da situação jurídico-registal do prédio X: obrigatoriedade do
registo apenas a partir de 21.07.2008 (Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de julho);
não aplicação do artigo 7.º CRPredial.
- Caracterização do negócio jurídico celebrado entre A e C: compra e venda de
bens alheios (artigo 892.º; nulidade; princípio da causalidade; explicitação;
manutenção do direito de propriedade em B).

B)
- Ação real: ação de reivindicação (artigos 1311.º e 1315.º; identidficação e
explicitação dos seus requisitos).
- Problema da ação possessória: identificação e explicitação, à luz do n.º 2 do
artigo 1267.º.

C)
- Ação de restituição da posse (artigo 1278.º; explicitação dos requisitos).

1
- Caracterização da posse de B: problema da violência (coação física ou
também coação moral? Apreciação do problema à luz do disposto no artigo
1261.º; relevância para efeitos do meio de reação – artigo 1279.º).
- Prevalência do direito real de propriedade de B (discussão sobre a titularidade
do direito no âmbito da ação possessória).

GRUPO II

- D: sucessão (artigos 1316.º e 2024.º); sucessão na posse (artigo 1255.º).


- Oneração do direito de propriedade; princípio da elasticidade (explicitação).
- Direito de usufruto: direito real menor (artigos 1439.º e seguintes); apreciação
da validade de constituição do direito de usufruto apenas sobre a parte norte do
prédio Y; em princípio, opção pela sua admissibilidade); admissibilidade do
usufruto vitalício (artigos 1439.º, 1443.º e 1476.º, alínea a)).
- Servidão predial: direito real menor (artigos 1543.º e seguintes; explicitação,
em especial, do disposto no artigo 1544.º).
- Atuação de D em relação a E: esbulho do direito de usufruto (apossamento
por parte de D: posse formal, civil, efetiva, não titulada, presumida de má fé,
pública e pacífica; caducidade do prazo de um de que E dispunha para intentar
a ação possessória – artigos 1267.º, n.º 2 e 1278.º; Usucapio Libertatis – artigo
1574.º; apreciação dos requisitos; afastamento da sua aplicação, por ainda não
ter decorrido o prazo de 20 anos – artigo 1296.º); Ação de reivindicação
(artigos 1311.º e 1315.º).
- Servidão de pasto: ponderação da aplicação do artigo 1569.º, n.º 1, alínea b),
admitindo que esta conduta possa ter começado ainda durante a vida de P.
- Atuação de F: posse nos termos do direito de servidão de passagem;
apossamento (artigo 1263.º, alínea a); apreciação dos requisitos); posse
formal, civil, efetiva, não titulada, presumida de má fé, pública e pacífica;
esbulho de D (decurso do prazo de um ano para intentar a ação possessória –
artigos 1267.º, n.º 2 e 1278.º); ponderação da eventual usucapião da servidão
de passagem (apreciação dos requisitos da usucapião: posse boa para
usucapião, decurso do prazo e invocação – artigos 1287.º a 1292.º).

2
GRUPO III

- Apreciação da situação jurídica substantiva do prédio no seguimento da


sentença do STJ: propriedade de J, por efeito da declaração de nulidade (artigo
289.º; princípio da causalidade e sua explicitação).
- Ponderação da eventual usucapião: apreciação dos requisitos da usucapião:
posse boa para usucapião, decurso do prazo e invocação – artigos 1287.º a
1292.º; acessão na posse por parte de H (artigo 1256.º - explicitação dos
requisitos); a aquisição de G foi registada em 2006, pelo que decorreram
apenas 9 anos até 2015; não aplicação do artigo 1294.º.
- Apreciação da eventual aquisição tabular: registo obrigatório a partir de
21.07.2008 (Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de julho); efeito consolidativo
(artigo 5.º, n.º 1, do CRPredial; explicitação); ausência de dados quanto ao
registo da aquisição de I, na sequência do testamento; ponderação da
aplicação do artigo 17.º, n.º 2, CRPredial ou do artigo 291.º CC; explicitação
das teses doutrinárias acerca da determinação do âmbito de aplicação de cada
uma destas normas; caso a aquisição de I tenha sido registada, ponderação da
aplicação do artigo 291.º CC (explicitação dos requisitos da aquisição tabular a
favor de G e consequente validade da doação a H).

3
FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA
DIREITOS REAIS (TURMA A)
EXAME FINAL
15.06.2015

Duração: 2 horas
I
Em 10 de Janeiro de 2013, António instalou-se para viver no prédio X,
propriedade de Bento, que se encontrava a morar e trabalhar na Nova Zelândia
fazia dois anos e não se deslocava ao seu prédio fazia mais de um ano.
Em 15 de Janeiro de 2015, António, que entretanto convencera os seus
vizinhos de que era o proprietário do prédio X, vendeu o mesmo a Carlos. O
contrato foi celebrado verbalmente, na boa tradição da terra, tendo António
deixado o prédio devoluto nesse mesmo dia para Carlos iniciar o gozo do
mesmo, o que este fez no dia seguinte.
O prédio X encontra-se omisso no Registo Predial.
A) Diga a quem pertence o prédio X e a quem possui o mesmo,
fundamentando sempre (3,5 val).

- Bento é apontado como proprietário da coisa;


- Bento é igualmente o possuidor original do prédio X. A sua ausência da
coisa não quebra o corpus possessório enquanto durar a possibilidade
de actuação sobre a coisa;
- António adquire a posse do prédio X por apossamento. Essa posse é
formal, não titulada, de má-fé, pública e pacífica;
- A posse de Bento mantém-se no ano subsequente (art. 1267.º, n.º 1
alínea d) do CC) (concurso de posses incompatíveis, ambas nos termos
da propriedade);
- Compra e venda nula (falta de legitimidade de António e vício de falta
de forma); o direito de propriedade mantém-se em Bento;
- Carlos adquire, no entanto, a posse do prédio por tradição (art. 1263.º,
alínea b) do CC). A sua posse é formal, não titulada, de boa-fé, pública e
pacífica;
- Bento mantém a sua posse até ao final do ano subsequente ao esbulho
cometido por António, o que significa que já havia perdido a posse
aquando da tradição a Carlos.

B) O que pode fazer Bento para reaver o prédio (2,5 val).

- Bento tem ao seu dispor a acção de reivindicação contra Carlos (art.


1311.ºdo CC). Versar sobre os requisitos desta acção e condições de
procedência. A acção deve ser julgada procedente;
- Bento já não pode intentar uma acção de restituição, visto já não ser
possuidor do prédio (a sua posse caducou).

C) Suponha agora que Bento chegou da Nova Zelândia e se instalou no


prédio X, alertando Carlos para não tentar regressar ao prédio, que
não estava para brincadeiras. O que pode Carlos fazer para
recuperar a posse e que viabilidade tem a sua defesa? (2 val)
- Apossamento de Bento por acção directa. Posse causal, titulada, de
boa-fé, pública e possivelmente violenta (a hipótese não dissipa
dúvidas);
- Carlos não tem ao seu dispor a acção de reivindicação, ou melhor, se a
intentar perde, visto não ser proprietário da coisa;
- Carlos pode intentar uma acção de restituição contra Bento, mas este,
se deduzir a exceptio dominii, ganha, por ser o proprietário da coisa;
- Se não fosse deduzida a excepção de propriedade o conflito de posses
(lembro que Carlos só perde a posse um ano após o esbulho) era
resolvido nos termos do n.º 2 e do n.º 3 do art. 1278.º do CC. Bento tem
melhor posse (titulada), o que quer dizer, que a acção seria declarada
improcedente.

II
Daniel adquiriu a propriedade do prédio Y por sucessão de seu pai,
Paulo, falecido a 12 de Fevereiro de 1990 e proprietário e possuidor do prédio
desde 1980.
Sobre o prédio Y incidiam ao tempo da morte de Paulo, um usufruto
vitalício na parte norte do prédio, na titularidade de Ernesto, e uma servidão de
pasto a favor do prédio Z, imediatamente contíguo, propriedade de Francisco.
Daniel, que nunca gostou de Ernesto, impediu-o de gozar a coisa desde
o final de 1999, até hoje.
Com Francisco, as coisas passaram-se de modo diferente, pois, este
nunca levou o seu gado a pastar no prédio Y, mas começo a usar a parte sul
do prédio para chegar a estrada mais rapidamente com o seu carro e com o
carro de bois.
Quid juris? (6 val)

- Sucessão de Paulo: efeito real (sucessão na propriedade) e possessório


(sucessão na posse) a favor de Daniel;
- Oneração da propriedade com dois direitos reais menores (usufruto e
servidão). Significado e efeitos jurídicos da oneração;
- Desapossamento do usufrutuário pelo proprietário. Violação do direito real
(usufruto) e da posse (que se perde um ano depois);
- A oposição de Daniel possibilita:
- A reivindicação de Ernesto contra ele;
- A acção de restituição da posse (no ano subsequente ao esbulho);
- A acção confessória de Ernesto contra Daniel;
- Equacionar a “usucapio libertatis” neste caso. Afastar o seu efeito, uma vez
que não decorreu ainda o prazo (20 anos – art. 1296.º do CC, por haver má-fé
de Daniel);

- Servidão de pasto. O que é uma servidão e que conteúdo tem este direito
real;
- Equacionar o não uso da servidão, que ocorre no caso (extinção do direito);
- Exercício da posse nos termos de uma servidão de passagem. Caracterizar a
posse (formal, não titulada, de má-fé, pública e pacífica);
- Equacionar a usucapião da servidão de passagem, que não ocorre, por falta
de decurso do prazo (20 anos – art. 1296.º do CC, por haver má-fé de
Francisco);
- Meios de defesa de Daniel contra Francisco:
- Acção de reivindicação;
- Acção de restituição;
- Acção negatória.

III
Em 4 de Julho de 2014, Gisela doou a Helena um andar de férias que
comprara a Ildefonso em 6 de Junho de 2006 e que usara desde então nas
suas férias algarvias. Quer a venda quer a doação foram devidamente
registadas na Conservatória do Registo Predial de Portimão.
Porém, em 10 de Maio de 2015, o Supremo Tribunal de Justiça decide
que o testamento que atribuíra a propriedade do andar a Ildefonso é nulo e que
a propriedade do mesmo cabe ao seu irmão João, que comunica a Helena que
lhe deve restituir a coisa.
Quid juris? (6 val)
- Ponderação da protecção registal de Helena contra João;
- Trata-se de uma hipótese do art. 291.º do Código Civil;
- A protecção de helena não ocorre, porquanto ela adquire a título gratuito;
- Equacionar a usucapião de Helena a partir da acessão de posses (a hipótese
não permite uma conclusão definotiva).
FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA
DIREITOS REAIS (TURMA A)
EXAME FINAL - COINCIDÊNCIA
22.06.2015

Duração: 2 horas
I

António é titular do direito de propriedade de um terreno agrícola desde 1987


com registo a seu favor. Em janeiro de 1997, celebra com Bruno, mediante
escritura pública, contrato de compra e venda do referido terreno e Bruno
passa a cultivar e a explorar a terra. Bruno não procede ao registo da sua
aquisição.
Em fevereiro 2014, António morre e Carlos, seu filho, doa, em fevereiro de
2015, o terreno a David, por escritura pública. David regista a sua aquisição,
não chega a explorar o terreno habitar o imóvel e não conhece que Bruno
explora o terreno e, em maio de 2015, constitui, mediante escritura pública
direito de usufruto por 10 anos a favor de Eduardo mediante o pagamento
mensal por este a Carlos no valor de 3.000 euros. Eduardo regista a sua
aquisição e em 22 de junho de 2015, quando se dirige ao terreno encontra
Bruno e reclama o exercício do seu direito de usufruto, o que é contestado por
Bruno.
Quid iuris? (10 valores)

Alguns tópicos de correção:

 António é proprietário e beneficia, pois, do conteúdo positivo do direito


de propriedade, nos termos do artigo 1305.º do Código Civil (de ora em
diante, CC), termos em que tem legitimidade para celebrar contrato de
compra e venda com Bruno;
 António é igualmente possuidor nos termos do direito de propriedade, à
luz do artigo 1251.º do CC, termos em que pode transmitir a posse a
Bruno;
 O contrato de compra e venda celebrado com Bruno obedeceu à forma
legalmente exigida, nos termos do artigo 875.º do CC;
 Sendo o negócio, formal e substantivamente, válido, o contrato de
compra e venda ditou a transferência do direito de propriedade para a
esfera jurídica de Bruno (artigos 408.º, 879.ª, alínea a), e 1317.º, alínea
a), todos do CC; articular princípios da causalidade e da
consensualidade; o negócio é válido e há transferência do direito de
propriedade por mero efeito do contrato independentemente de qualquer
formalidade subsequente; negócio jurídico real quoad effetum);
 Ao não registar, Bruno não beneficia do efeito consolidativo do registo,
nos termos do artigo 5.º, n.º 1, do Código de Registo Predial (de ora em
diante, CRPr);
 Bruno adquire igualmente a posse nos termos do direito de propriedade
por tradição da coisa, ao abrigo do artigo 1263.º, alínea b), do CC, e
António perde a posse por cedência, nos termos do artigo 1267.º, n.º 1,
alínea c), do CC.
 Caracterizar fundamentadamente a posse de Bruno como titulada, de
boa fé, pública, pacífica, causal, civil e efetiva.
 Quando António morre já não é proprietário nem possuidor, pelo que
Carlos não adquire a propriedade nem a posse por sucessão.
 Assim, quando Carlos doa, em fevereiro de 2015, o terreno a David esta
é uma doação de coisa alheia e assim nula, nos termos do artigo 956.º
do CC, dado que Carlos não tem legitimidade para a celebração de um
negócio translativo do direito de propriedade sobre aquele terreno;
também não transmite a posse, pois não é possuidor; na hipótese não
se identifica outra causa de aquisição da posse por David.
 David regista a sua aquisição, atenta a incompletude do registo
considerando que Bruno não havia registado a sua aquisição e o registo
figurar assim em nome do transmitente que beneficiava da fé pública do
registo, do efeito presuntivo do registo nos termos do artigo 7.º do CRPr.
Há, assim, uma desconformidade entre a ordem substantiva e a ordem
registal. David é terceiro para efeitos do artigo 5.º, n.º 4, do CRPr, mas
não pode beneficiar de uma aquisição tabular pois o negócio é gratuito.
Desenvolver requisitos de aquisição tabular para efeitos do artigo 5.º do
CRPr.
 Quando David celebra contrato de constituição do direito de usufruto
(artigos 1439.º e 1440.º do CC) com Eduardo, o negócio é celebrado
pela forma legalmente exigida, nos termos do artigo 22.º, alínea a), do
Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de julho, na sua atual redação, mas o
negócio é nulo por falta de legitimidade de David, dado que não é o
proprietário do terreno, não tendo legitimidade para a constituição do
direito de usufruto sobre o bem.
 Eduardo procede ao registo, nos termos do artigo 2.º, n.º 1, alínea a), do
CRPr, confiando no registo em nome do cocontratante David. Há uma
desconformidade entre a ordem substantiva e a ordem registal. Discutir
da norma jurídica aplicável e dos requisitos de aquisição tabular.
Apreciar que a situação integra o âmbito de aplicação material do artigo
291.º do CC e que estão verificados os requisitos de aquisição tabular.
Bruno veria a sua propriedade onerada com o direito de usufruto
adquirido tabularmente por Eduardo.
 Discutir da invocação da usucapio contra tabulas, ao abrigo do artigo 5.º,
n.º 2, alínea), do CRPr, considerando que Bruno tinha uma posse,
pública e pacífica, nos termos de propriedade plena desde 1997.

II
Filipe, proprietário do terreno x, em janeiro de 2008, constitui mediante contrato
celebrado por escritura pública, direito de superfície a favor de Guilherme por
10 anos, mediante o pagamento de um cânon superficiário de 20.000 euros,
permitindo que Guilherme construísse um conjunto de moradias destinadas a
turismo rural. Guilherme constrói as referidas moradias e em janeiro de 2015
transmite o direito de superfície a Helder que, em junho de 2015, deixa de
pagar o cânon superficiário a Filipe. Filipe, aborrecido, declara perante Helder
que o direito de superfície se encontra extinto na medida em Helder faltou com
o pagamento do cânon e que, aliás, não tinha autorizado a transmissão do
direito de superfície por Guilherme e impede Helder de aceder ao terreno.
Quid juris? (6 valores)

Alguns tópicos de correção:

 Caraterizar o direito de superfície como direito real de gozo menor, nos


termos do artigo 1524.º do CC, e apreciar do modo da sua aquisição,
nos termos do artigo 1528.º do CC, no caso concreto por contrato
celebrado validamente com o proprietário ao abrigo do artigo 1305.º do
CC; a forma legalmente exigida para a constituição do direito de
superfície, à data da celebração do negócio apenas escritura pública por
força do artigo 80.º do Código do Notariado na redação então vigente, é
observada; Guilherme adquire validamente o direito de superfície
(princípios da causalidade e da consensualidade) e o direito de
propriedade de Filipe passa a estar onerado com o direito de superfície
a favor de Guilherme (explicitar sentido de oneração e princípio da
elasticidade).
 O direito de superfície foi constituído temporariamente, por dez anos, o
que é admitido nos termos do artigo 1524.º do CC.
 Guilherme adquire igualmente a posse nos termos do direito de
superfície e Filipe mantém a posse nos termos do direito de propriedade.
 É convencionado um preço, nos termos do artigo 1530.º do CC; discutir
da natureza jurídica do cânon superficiário e noção e efeitos de
obrigação propter rem. A obrigação de pagamento do cânon
superficiário acompanha a transmissão do direito de superfície.
 Explicitar que o direito de superfície é transmissível, nos termos do artigo
1534.º do CC, mas o superficiário está obrigado a permitir o direito de
preferência, nos termos do artigo 1535.º do CC, sendo aplicáveis os
artigos 416.º a 418.º e 1410.º do CC; Filipe é titular de um direito de
preferência, de base legal, que constitui um direito real de aquisição;
meios de tutela dos direitos reais de aquisição e ação de preferência nos
termos do artigo 1410.º do CC.
 A falta de pagamento do cânon superficiário não dita a extinção do
direito de superfície. Havendo mora do devedor, o proprietário do solo
tem o direito de exigir o triplo das prestações em dívida, como prevê o
artigo 1531.º, n.º 2, do CC.
 Ao impedir Helder de aceder ao terreno, sem prejuízo do exercício da
ação de preferência que pode intentar, leva a apreciar da usucapio
libertatis nos termos do artigo 1574.º do CC e a fazer discutir dos meios
de tutela do direito de superfície (ação de reivindicação, artigos 1315º e
1311.º do CC, e ação confessória) e da posse nos termos do direito de
superfície tendo havido privação da coisa (artigos 1278.º, 1281.º e
1282.º do CC).

III
Em janeiro de 2010, Inês emprestou um seu valioso anel a Joana, sua amiga.
Joana diz a Inês que lamentavelmente perdeu o anel, o que Inês vem a
perdoar em razão da amizade. No entanto, Joana vendeu o anel a Luis, dono
de uma ourivesaria, que, sabendo da origem do anel, oferece a Joana 500
euros, metade do valor de mercado do anel, e coloca-o à venda na montra da
ourivesaria por 1.000 euros. Em janeiro de 2015, Madalena compra o anel na
ourivesaria de Luis. Hoje, Inês, que reconhece o seu anel no dedo de
Madalena, sua colega de trabalho, intenta contra esta ação e exige a
restituição do anel.
Quid juris? (4 valores)

 Ao emprestar o anel a Joana, é celebrado um contrato de comodato, nos


termos do artigo 1129.º do CC, que gera penas um direito pessoal de
gozo e não um direito real de gozo, ficando a comodatária Joana
obrigada a restituir o anel, nos termos do artigo 1135º, alínea h), do CC.
Joana é, pois, possuidora em nome de outrem, e assim detentora, nos
termos do artigo 1253.º do CC e dispondo apenas de uma posse
meramente interdictal atento o disposto no artigo 1133.º do CC.
 O contrato de compra e venda celebrado entre Joana e Luis é nulo, nos
termos do artigo 892.º articulado com o artigo 904.º do CC e não produz
quaisquer efeitos, nos termos dos artigos 286.º e 289.º do CC, desde
logo não produz o efeito translativo previsto no artigo 879.º, alínea a), do
CC. Discutir dos termos da aquisição da posse por Luis e dos caracteres
da posse de Luis.
 O negócio celebrado com Madalena é igualmente nulo pelo mesmos
fundamentos não podendo Luis ter beneficiado de usucapião, atenta a
sua posse ser uma posse de má fé e não ter decorrido o prazo
legalmente exigido em conformidade com esse caracter, seis anos, de
acordo com o artigo 1299.º do CC. Madalena adquire a posse por
tradição em janeiro de 2015, nos termos do artigo 1263.º, alínea b), do
CC. Caracterizar a posse de Madalena e enunciar a posse de Madalena
como boa para efeitos de usucapião, ao abrigo do artigo 1297.º,
aplicável por força do artigo 1300.º, n.º 1, do CC. Madalena, tendo
adquirido a posse de modo derivado diferente da sucessão, pode fazer
acessão na posse, mas o prazo passará a ser contado nos termos da
posse de menor âmbito, nos termos do artigo 1256.º, n.º 2, a posse de
má fé, atento este caracter da posse de Luis. Não decorreu assim o
prazo necessário para usucapião que sempre careceria igualmente de
invocação, atento o disposto nos artigos 1292.º e 303.º do CC.
 Apreciar dos meios de tutela que assistem a Inês; discutir da perda da
posse, nos termos do artigo 1267.º, n.º 1, alínea d), e n.º 2, e da
caducidade do direito potestativo de intentar ação de restituição, artigos
1278.º e 1282.º. Ação de reivindicação, nos termos dos artigos 1311.º e
1313.º.
 Aplicar o regime previsto no artigo 1301.º do CC.
FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
DIREITOS REAIS (TURMA A)
EXAME – ÉPOCA DE RECURSO
23.07.2015

Duração: 2 horas
I

António e Bruno são titulares, desde 2000 e com registo a seu favor, do direito
de propriedade sobre o prédio x. Em janeiro de 2007 celebram, mediante
escritura pública, contrato de compra e venda a favor de Carlos, que não
regista a sua aquisição e passa desde a data da celebração do contrato a
explorar o terreno.
Em janeiro de 2015, Duarte, credor de António e Bruno, atento o contrato de
mútuo com estes celebrados com hipoteca sobre o prédio x, e em razão do
incumprimento de António e Bruno, intenta ação executiva e o prédio é vendido
judicialmente para ressarcimento da dívida de António e Bruno. Eduardo, que
adquiriu o prédio x na venda judicial, regista a sua aquisição, em maio de 2015,
e em junho de 2015 constitui direito de superfície, mediante escritura pública, a
favor de Filipe, que regista a sua aquisição. No título de constituição do direito
de superfície ficou estipulado que Filipe pagaria mensalmente a Eduardo uma
prestação de 1000 euros.
Hoje, Carlos, que pretendia celebrar contrato de compra e venda com
Guilherme, ao dirigir-se à Conservatória do Registo Predial para registar o seu
direito antes da venda a Guilherme, conhece dos registos a favor de Eduardo e
Filipe e pretende defender o seu direito.

Quid iuris? (12 valores)

Alguns tópicos de correção:

 António e Bruno são proprietários e beneficiam, pois, em regime de


comunhão do conteúdo positivo do direito de propriedade, nos termos do
artigo 1305.º do Código Civil (de ora em diante, CC), termos em que têm
legitimidade para, em conformidade com o disposto no artigo 1408.º do
Código Civil (de ora em diante, também CC), celebrar contrato de
compra e venda com Carlos;
 António e Bruno são igualmente possuidores nos termos do direito de
propriedade, à luz do artigo 1251.º do CC, termos em que podem
transmitir a posse a Carlos;
 O contrato de compra e venda celebrado com Carlos obedeceu à forma
legalmente exigida, nos termos do artigo 875.º do CC;
 Sendo o negócio, formal e substantivamente, válido, o contrato de
compra e venda ditou a transferência do direito de propriedade para a
esfera jurídica de Carlos (artigos 408.º, 879.ª, alínea a), e 1317.º, alínea
a), todos do CC; articular princípios da causalidade e da
consensualidade; o negócio é válido e há transferência do direito de
propriedade por mero efeito do contrato independentemente de qualquer
formalidade subsequente; negócio jurídico real quoad effetum);

1
 Ao não registar, Carlos não beneficia do efeito consolidativo do registo,
nos termos do artigo 5.º, n.º 1, do Código de Registo Predial (de ora em
diante, CRPr);
 Carlos adquire igualmente a posse nos termos do direito de propriedade
por tradição da coisa, ao abrigo do artigo 1263.º, alínea b), do CC, e
António e Bruno perdem a posse por cedência, nos termos do artigo
1267.º, n.º 1, alínea c), do CC.
 Discutir do conceito de terceiro para efeitos do artigo 5.º, n.º 4, CRPr e
da adoção da conceção ampla ou da conceção restrita de terceiros para
efeitos do referido preceito e, em consonância, aferir da condição de
terceiro de Eduardo e do efeito substantivo do registo de Eduardo; em
coerência com a opção fundada aí adotada, aferir do efeito do registo do
direito de superfície a favor de Filipe, se consolidativo por se considerar
que Eduardo beneficiou do efeito atributivo por força do artigo 5.º, n.º 4,
do CRPr, e quando Eduardo constitui direito de superfície, por contrato
celebrado mediante escritura pública, Filipe adquire por força do contrato
(princípios da causalidade e da consensualidade; artigos 408.º, 1528.º, e
artigo 22.º, alínea a), do Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de julho, com a
redação atualmente vigente, que exige forma de escritura pública ou
documento particular autenticado, exigência de forma que, no caso em
presença, foi observada), ou efeito atributivo, por efeito e verificados os
requisitos e condições de aplicação do artigo 291.º do CC (explicitar
âmbito de aplicação material do artigo 291.º do CC e enunciar, de forma
completa e clara, os requisitos de aquisição tabular ao abrigo desta
norma legal) ou, não se verificando integralmente esses requisitos (o
negócio foi oneroso, considerando o pagamento do cânon superficiário,
nos termos do artigo 1530.º do CC; no entanto, não decorreu o prazo de
três anos que exige o artigo 291.º do CC), meramente presuntivo sendo
essa presunção ilidível – o negócio é nulo por falta de legitimidade de
Eduardo, consubstancia uma oneração de coisa alheia e não produz
quaisquer efeitos, nos termos dos artigos 286.º e 289.º do CC, e o
registo não tem efeito atributivo pois não estão verificados todos os
requisitos para efeitos de aquisição tabular à luz do artigo 291.º do CC.
 Carlos, que pretendia registar antes da celebração do contrato de
compra e venda com Guilherme com vista a observar o princípio da
legitimação consagrado no artigo 9.º do CC, deve intentar ação de
reivindicação de modo a ver reconhecido o seu direito de propriedade.

II
Helder, titular do direito de propriedade sobre a “Quinta Nascente”, destinada à
exploração agrícola, constitui servidão para aproveitamento de águas a favor
do prédio de Inês, por contrato, mediante escritura pública, celebrado em 2014.
Em abril de 2015, Helder constitui direito de usufruto a favor de Jaime e Luis,
por vinte anos. O contrato de constituição do direito de usufruto foi celebrado
por escritura pública. Jaime e Luis acordam entre si que Jaime exploraria a
parte Norte e Luis a parte Sul. Em maio de 2015, Jaime e Luis constroem um
muro que veda que a água seja transportada até ao terreno de Inês.
Em junho de 2015, Luis vende a parte Norte a Manuel que a passa explorá-la.

2
Quid juris? (6 valores)

Alguns tópicos de correção:

 Helder, no exercício do seu direito de propriedade, ao abrigo do artigo


1305.º do CC, constitui, nos termos dos artigos 1543.º e 1547.º,
mediante contrato, celebrado pela forma legalmente exigida de acordo
com o artigo a 22.º, alínea a), do Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de julho,
direito de servidão predial a favor do prédio de Inês. Enunciar as
características dos direitos reais e a vinculação gerada no direito real;
caracterizar a servidão predial como direito real menor e oneração do
direito de propriedade e explicitar o princípio da elasticidade. Considerar
que Inês adquiriu igualmente a posse nos termos do direito de servidão.
 Quando em abril de 2015, Helder constitui direito de usufruto a favor de
Jaime e Luis, a servidão predial, que onera o direito de propriedade,
acompanha o prédio e impõe, enquanto direito real, o dever geral de
abstenção.
 O direito de usufruto foi constituído pelo prazo certo de 20 anos, nos
termos dos artigos 1439.º e 1443.º e pela forma legalmente exigida nos
termos do artigo 22.º, alínea a), do Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de
julho. Foi constituído usufruto simultâneo, de acordo com o artigo 1441.º
e Jaime e Luis são comunheiros do direito de usufruto, sendo aplicável o
regime da compropriedade, conforme estabelecido no artigo 1404.º do
CC.
 O acordo de que Jaime exploraria a parte Norte e Luis a parte Sul
constitui mero acordo quanto ao uso, nos termos do artigo 1406.º do CC
e uso exclusivo não faz posse exclusiva. Ao alienar a parte Norte a
Manuel, Luis realiza uma venda de parte especificada da coisa comum,
o que carecia do consentimento de Jaime, por aplicação do artigo
1408.º. Não tendo ocorrido esse acordo, o negócio é nulo, atenta a
remissão material do artigo 1408.º, n.º 2, para o regime da venda de
bens alheios e não produz efeitos, de acordo com o regime dos artigos
286.º e 289.º.
 Ao construírem, em maio de 2015, «muro que veda que a água seja
transportada até ao terreno de Inês», Jaime e Luis praticam um ato
lesivo da posse e do direito de servidão predial de Inês. Pode, assim,
Inês intentar ação de restituição da posse, nos termos do artigo 1278.º
do CC, contra Jaime e Luis. Inês tem legitimidade ativa, nos termos do
artigo 1281.º, e Jaime e Luis legitimidade passiva e a ação seria
tempestiva, dado que decorre ainda o prazo de exercício do direito
potestativo de intentar ação de restituição, atento o disposto no artigo
1282.º. Inês pode igualmente defender o seu direito de servidão através
de uma ação de reivindicação, atento o previsto nos artigos 1315.º e
1311.º do CC ou através de uma ação confessória (explicitar requisitos,
fundamentos, pedido e causa de pedir).
 Caso Inês não intente ação de restituição no prazo de um ano, perde a
posse nos termos do direito de servidão, por aplicação do artigo 1267.º,
n.º 1, alínea d), do CC. Caso não intente ação de reivindicação ou ação
3
confessória, poderá vir a ver extinto o direito de servidão a favor do seu
prédio, verificados que estejam os requisitos da usucapio libertatis
enquanto causa de extinção de direitos reais menores, nos termos do
artigo 1574.º do CC, o que ainda não sucedeu naturalmente, uma vez
que não decorreu ainda o prazo que permite invocar a liberdade do
prédio (prazo que será de 20 anos por aplicação do artigo 1574.º em
articulação com o artigo 1296.º do CC).

III
Em assembleia de condóminos validamente convocada e com a presença dos
condóminos de todas as frações, os proprietários das frações que integram o
prédio y deliberam que, quer as despesas necessárias à conservação do
prédio, quer as despesas com os serviços de interesse comum são pagas
pelos condóminos em proporções iguais.

Quid juris? (2 valores)

Alguns tópicos de correção:

Nos termos do artigo 1424.º, n.º 1, do CC, a regra é a de que as despesas


necessárias à conservação e fruição das partes comuns do edifício e ao
pagamento de serviços de interesse comum são pagas pelos condóminos na
proporção do valor das suas frações. No entanto, como decorre da parte inicial
do n.º 1 do artigo 1424.º em articulação com o n.º 2 do mesmo artigo, a referida
regra é supletiva quanto às despesas referentes aos serviços de interesse
comum (como água e eletricidade do prédio), pois o n.º 2 do artigo 1424.º
admite que as despesas relativas ao pagamento de serviços de interesse
comum podem, mediante disposição do regulamento de condomínio, aprovada
sem oposição por maioria representativa de dois teros do valor total do prédio,
ficar a cargo dos condóminos em partes iguais ou em proporção à respetiva
fruição, desde que devidamente especificadas e justificados os critérios que
determinam a sua imputação. Assim, desde que tal seja permitido no
regulamento de condomínio aprovado nos termos constantes da referida
norma, a deliberação é, quanto às despesas com os serviços de interesse
comum, válida. Já quanto às despesas de conservação do prédio, a articulação
do disposto no n.º 1 com os termos da supletividade apresentada no n.º 2, dita
que, quanto a estas despesas, a regra não pode ser afastada – a supletividade
da norma incide apenas quanto às despesas referentes aos serviços de
interesse comum. Nestes termos, quanto às despesas de conservação do
prédio a deliberação é inválida pois contraria norma imperativa e pode ser
impugnada (articular regime do artigo 289.º com o artigo 1433.º do CC).

4
FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA
Ano letivo de 2021/2022
DIREITOS REAIS – 3º Ano/Turma A - Dia
Exame Escrito – Época de Recurso (duração: 90 minutos)
21 de julho de 2022
Professor Doutor António Menezes Cordeiro/Professor Doutor José Luís Ramos

I
Os irmãos Amílcar e Bruno, naturais de Beja, são conhecidos na cidade pelas suas
desavenças. Tudo começou em fevereiro de 2001, aquando da morte do seu pai, que colocou
em testamento que Amílcar e Bruno herdariam um monte no Alentejo, mas com a condição de
jamais o poder dividir. Certo é que os irmãos nunca se entenderam sobre a forma de gozar o
terreno. Em julho de 2002, Amílcar ameaçou mesmo o irmão com uma caçadeira, pedindo a
este que saísse do terreno ou então “não sairia dali vivo”. Bruno abandonou o terreno, dizendo
que iria reagir judicialmente. Em fevereiro de 2003, Amílcar celebra, por escritura pública, um
contrato com Carlos, nos termos do qual este teria a faculdade de cuidar de uma parte do
terreno, onde estava o montado de cortiça, por 18 anos, pagando 6000 € anuais. No contrato
foi aposta a menção expressa que o mesmo teria eficácia real.
A partir de 2008, Carlos deixa de cumprir com o pagamento anual. Como forma de se ver livre
do mesmo, transmite o seu direito a Daniel, em fevereiro de 2015. Daniel recusa-se, porém, a
pagar as prestações anuais em atraso, referindo que as mesmas devem ser exigidas a Carlos,
que era ao tempo titular do direito. Em março de 2022, Bruno consegue invalidar o negócio
jurídico celebrado entre Amílcar e Carlos, exigindo, de imediato, a restituição do terreno. Por
sua vez, Amílcar e Daniel referem ter adquirido direitos “pelo decurso do tempo”. No caso
específico de Daniel, este afirma ter adquirido apenas parte do terreno onde explorava o
montado de cortiça, argumentando para o efeito que pode juntar a posse de Carlos.
Responda, de forma fundamentada, a todas as questões jurídico-reais suscitadas pela
hipótese. (10 valores)

Tópicos de Correção

- Atribuição da coisa, por testamento, a dois herdeiros com a condição de não a poder
dividir: referir que não é válida a cláusula que faça depender da verificação de um
acontecimento futuro e incerto a extinção do direito de propriedade (artigos 1307.º, bem
como artigo 1306.º (princípio da tipicidade)); titularidade de dois sujeitos (A e B) sobre a
mesma coisa: compropriedade (artigos 1403.º e ss.).
- Referir e classificar a posse de A, B, C e D; referir e explicar inversão do título da posse
por parte de A (artigos 1263.º, d), 1265.º e 1406.º, n.º 2); posse de A adquirida com
violência (artigo 1261.º: referir critérios); classificar posse de A após esse momento;
referir que, concomitantemente, B é esbulhado, mantendo a posse por um ano (artigos
1267.º, n.º 1, d) e n.º 2 e 1279.º).
- Direito de superfície de A a favor de C (artigos 1524.º e ss.); oneração de coisa alheia
(artigo 1408.º, n.º 1 e 2); o facto de o contrato mencionar que o mesmo tem eficácia real
não tem relevância jurídica, uma vez que a constituição de um direito real de gozo não
depende de uma cláusula atributiva de eficácia real, mas sim de o direito constituído
estar enquadrado num dos tipos legais (princípio da tipicidade ou da taxatividade do
artigo 1306.º).
- Cânon superficiário como uma situação jurídica propter rem (em particular, discutir a
sua natureza jurídica, nomeadamente se estamos perante uma obrigação propter rem ou
um ónus real) (artigo 1530.º); à mora aplica-se o artigo 1531.º, n.º 2; transmissão do
direito de superfície a D, que é possível nos termos do artigo 1534.º; discutir se as
obrigações vencidas continuam a onerar C ou se a “ambulatoriedade” da situação
jurídica propter rem onera D, independentemente de estarem ou não vencidas; referir
direito de preferência do fundeiro que não foi respeitado (artigo 1535.º); referir a falta de
registo do facto jurídico de constituição do direito de superfície (artigos 1.º, 2.º, n.º 1, a)
CRP) ;
- A e D invocação a usucapião: requisitos (artigos 1287.º e ss.); referir que, no caso de A,
a posse violenta inviabiliza a aquisição por usucapião (artigo 1297.º), a não ser que esta
já tivesse cessado, o que não parece ser o caso, uma vez que o critério é a forma com a
posse foi adquirida; no caso de D, explicar e discutir a possibilidade de acessão da
posse (artigo 1256.º), bem como a viabilidade jurídica de usucapir parte do terreno; D
não inverteu o título da posse, pelo que apenas poderia adquirir por usucapião o direito
de superfície.

II
Eduarda é dona de um apartamento que fica situado no último andar de um prédio com 10
frações e aliena este imóvel a Francisco e Gustavo em 2010, sendo que o primeiro pagou de
imediato o valor correspondente 75% do preço, enquanto o segundo convencionou o
pagamento do valor remanescente de 25% apenas em 2015, apesar de ter procedido ao
registo do negócio e ocupado o apartamento imediatamente. Francisco não procedeu ao
registo, por entender que o registo efetuado por Gustavo seria suficiente, assim como permitiu
que este último utilizasse o imóvel em exclusivo até 2015. Sem comunicar a Francisco,
Gustavo decide em 2014 construir mais um andar, para o que obteve autorização do
administrador, o qual conseguiu aprovação verbal de seis proprietários dos apartamentos,
apesar de o assunto não ter sido objeto de deliberação em assembleia. Em 2016, face à
ausência de notícias de Francisco, Gustavo cede o gozo do andar construído a Hugo e a Ivo,
pelo período de 10 anos, mediante o pagamento de uma quantia mensal. Em 2022, Francisco
regressou a Portugal e deparando-se com esta situação exige (i) a devolução imediata do
apartamento afirmando ser o único dono, uma vez que foi ele a liquidar o valor de 25% em falta
a Eduarda, porquanto Gustavo se recusou a fazê-lo, ao que Gustavo contrapõe ser
proprietário exclusivo em virtude do decurso do tempo e da efetivação do registo e (ii) a
demolição do andar construído, ao que Hugo e Ivo contrapõem o registo da sua posse, que no
seu entender lhes confere o direito de uso e fruição nos termos previamente acordados com
Gustavo, sendo que este último exige a Francisco o pagamento do valor correspondente a
50% das obras de construção efetuadas.
Responda, de forma fundamentada, a todas as questões jurídico-reais suscitadas pela
hipótese. (10 valores)

Tópicos de Correção

- Regime do direito de propriedade, em especial objeto e aquisição, a propósito dos


direitos de E, F e G (artigos 1302.º, 1305.º, 1316.º e 1317.º).
- Regime da compropriedade a propósito dos direitos de F e G e de H e I, igualdade
qualitativa e quantitativa dos direitos/quotas, posição dos comproprietários e uso,
administração, disposição e oneração da coisa comum (artigos 1403.º, 1404.º, 1405.º,
1406.º, 1407.º, 1408.º).
- Regime da propriedade horizontal a propósito dos direitos de E, F e G, objeto, título
constitutivo, direitos dos condóminos e limitação ao exercício dos mesmos, frações
autónomas e partes comuns, competência da assembleia de condóminos e do
administrador relativamente às partes comuns (artigos 1414.º, 1415.º, 1417.º, 1418.º,
1420.º, 1421.º, 1422.º, 1430.º, 1431.º, 1432.º, 1435.º e 1436.º).
- Ponderação da aplicação do regime do usufruto, considerando designadamente a
noção, limites, conteúdo, aquisição, transmissão e extinção do direito de usufruto
(artigos 1439.º, 1440.º, 1441.º, 1443.º, 1446.º e 1476.º), a propósito dos direitos de H e I;
exigência da forma de escritura pública ou documento particular autenticado (artigo 22.º,
alínea a), do Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de julho).
- Análise do princípio da tipicidade/numerus clausus dos direitos reais (artigo 1306.º), e
ponderação da aplicação do regime do usufruto considerando os aspetos já
mencionados versus direitos pessoais de gozo e possibilidade de aplicação do regime
da locação (artigo 1022.º e ss), a propósito dos direitos de H e I.
- Aquisição, conservação, transmissão, perda e classificação da posse de E, F, G, H e I
(artigos 1251.º, 1252.º, 1257.º, 1258.º a 1262.º, 1263.º, 1266.º, 1267.º e 1268.º), bem como
ponderação da inversão do título da posse (artigo 1265.º) a propósito do direito de G e
ainda ponderação da posse/detenção (artigo 1253.º) a propósito do direito de H e I,
mediante verificação dos requisitos legais e aplicação das orientações doutrinárias.
- Análise da (im)possibilidade de aquisição da propriedade, através da usucapião e do
registo, a favor de G e da (im)possibilidade de aquisição do direito de usufruto, através
da usucapião, a favor de H e I, considerando também, relativamente a estes últimos, a
(im)possibilidade de aquisição, através do registo, do usufruto/locação, mediante
verificação dos requisitos legais e aplicação das orientações doutrinárias (artigos 1.º,
2.º, n.º 1, alíneas a), e) e m), 4.º, 6.º, 7.º, 8.º-A, 8.º-B, 8.º-C, 8.º-D e 9.º CRP e artigos 1287.º,
1288.º, 1289.º, 1290.º, 1291.º, 1292.º, 303.º, 1294.º, n.º 1, alínea b) e 1295.º, n.º 1, alínea a) e
n.º 2).
- Ponderação da aplicação do direito de superfície/sobreelevação (artigos 1524.º e ss.,
em especial artigo 1526.º), regime das benfeitorias (artigos 216.º e 1273.º) ou da acessão
industrial imobiliária (artigos 1339º e ss.), relativamente à construção do andar, mediante
verificação dos requisitos legais e aplicação das teses doutrinárias.
- Análise da procedência das ações possessórias enquanto meio de defesa da posse
(artigos 1276.º, 1278.º, 1281.º, 1282.º e 1286.º).
- Análise da procedência de ação de reivindicação enquanto meio de defesa do direito de
propriedade e do usufruto (artigos 1311.º e 1315.º).
- Referência aos princípios do registo predial (instância, legalidade, trato sucessivo,
prioridade, obrigatoriedade), bem como aos princípios dos direitos reais (imediação
jurídica/inerência, sequela, prevalência; especialidade; numerus clausus/tipicidade;
absolutidade; publicidade; elasticidade; transmissibilidade; consensualidade e
causalidade).
FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA
Ano letivo de 2021/2022 - 26 de julho de 2022
DIREITOS REAIS – 3º Ano/Turma A - Dia
Exame Escrito – Época de Recurso (Coincidências) (duração: 90 minutos)
Professor Doutor António Menezes Cordeiro/Professor Doutor José Luís Ramos

I
Em janeiro de 2000, Ana adquire, a título oneroso e mediante escritura pública, um pequeno
terreno vinícola sito no Cartaxo, tendo o negócio sido devidamente registado. Em 2005, Ana,
por já estar com uma idade avançada e não tendo filhos, doa o terreno ao seu único
sobrinho Bruno, reservando para si o usufruto vitalício. No âmbito do contrato ficou
estabelecido que Ana não poderia trespassar o usufruto a terceiros. Dois anos depois,
cansada da gestão do terreno e tendo-se incompatibilizado com o sobrinho, Ana decide
acabar com a vinha e permitir, por via contratual, que um seu amigo, Carlos, construísse um
empreendimento de turismo rural. O contrato foi celebrado por documento particular
autenticado. Farto desta situação, em maio de 2022, Bruno envia uma carta de interpelação
a Ana referindo que irá pedir a invalidade do usufruto, por dois motivos: por um lado, (i) o
contrato de usufruto referia, expressamente, a não possibilidade de trespasse; por outro, (ii)
o comportamento de Ana e Carlos indiciava um claro mau uso do terreno. Ana argumenta
que tal não correspondia à verdade, pois com a construção do empreendimento de turismo
rural, o terreno tinha valorizado em mais de 75%, sendo também muito mais rentável do que
a vinha. Por sua vez, Carlos refere que além de o seu direito ser oponível a Bruno, o
decurso do tempo assegurava a sua posição perante terceiros. Como se não bastasse, um
proprietário de um prédio vizinho, Duarte, veio queixar-se do comportamento de Carlos, que
desde que construiu o empreendimento, o tem impedido de passar pelo prédio de forma a
aceder à via pública. Carlos refere que a construção do empreendimento implicou elevadas
despesas e que a passagem de camionetas e tratores pelo terreno, para além de deteriorar
a estrada, afeta a reputação do turismo rural. Para além disso, argumenta Carlos, Duarte
tem à sua disposição uma outra estrada que, apesar de tornar o acesso à via pública mais
longínquo, serve o mesmo propósito.
Responda, de forma fundamentada, a todas as questões jurídico-reais suscitadas pela
hipótese. (10 valores)

Tópicos de Correção

- Forma de aquisição do direito de A (artigos 1316.º e 1317.º, a)); aquisição e


classificação da sua posse (artigos 1251.º ss.); registo do facto jurídico aquisitivo
(artigo 2.º, n.º 1, a)); princípio da causalidade (artigo 22.º, a), do Decreto-Lei n.º
116/2008, de 04 de julho).
- Doação do direito de propriedade com reserva de usufruto a favor de A (artigos
1439.º e ss.); em particular, referir que o usufruto foi constituído contratualmente per
deductionem (artigos 1440.º e 958.º, n.º 1) e de forma vitalícia (artigo 1443.º, primeira
parte); a circunstância de o contrato de usufruto impedir o trespasse do direito real
menor a terceiros é possível à luz do artigo 1444.º, n.º 1.
- Discutir se os atos de A contendem com os limites negativos do usufruto (em
particular, abordar os artigos 1439.º e 1446.º).
- Discutir qual a natureza jurídica do contrato celebrado com C, em especial se se trata
de um direito de superfície (artigos 1524.º e ss.);
- Tendo em conta os fundamentos apresentados por B, referir que a oneração de A a
favor de C era possível, dado que não constitui um trespasse, mas apenas uma
oneração (artigo 1444.º, n.º 1); referir em consiste o mau uso da coisa nos termos do
artigo 1482.º; discutir se as ações de A, no caso concreto, poderão ser enquadradas
como mau uso; discutir se o mau uso pode dar lugar à extinção do direito de usufruto,
uma vez que, em termos literais, parece não ser possível.
- Discutir argumentos apresentados por A, em especial, o facto de esta mencionar a
valorização do terreno para impedir a qualificação como mau uso e, eventualmente, a
aplicação do regime de acessão ou benfeitorias (critérios de distinção).
- C parece invocar o instituto da usucapião: requisitos (artigos 1287.º e ss.); qualificar
e classificar posse de C.
- No caso de D, estamos perante uma servidão predial: qualificar servidão predial
(servidão de passagem) e enunciar regime (artigos 1543.º e ss.); em particular, referir
regime jurídico do lugar da constituição da servidão (artigo 1553.º) e mudança de
servidão (artigo 1568.º).

II
Eduardo é dono de um luxuoso apartamento que cede a Francisca, sua ex-mulher, para
sua residência permanente, em 2005, tendo o negócio sido celebrado por escritura pública.
Em 2010, Francisca, que atravessava graves dificuldades financeiras, transmite o uso e
fruição do apartamento para Gustavo, pelo período de 20 anos, mediante o pagamento de
uma elevada quantia anual, e muda-se para a casa da porteira do prédio, que se encontrava
desocupada, mediante celebração de um contrato com o administrador do condomínio,
através do qual fica estipulado o pagamento de uma quantia mensal, tendo sido
posteriormente dado conhecimento deste negócio aos condóminos através de correio
eletrónico. Em 2020, Eduardo vende o apartamento a Hugo e a Idalina, salvaguardando
verbalmente o direito de Francisca, que de imediato registam este negócio, embora não
tenham ocupado a casa, em virtude de residirem no estrangeiro. Em 2022, pretendendo
mudar-se para Portugal, Hugo e Idalina deparam-se com a presença de Gustavo na casa,
que se recusa a abandoná-la, invocando o registo da posse, bem como o facto de se
encontrar a residir ali há 12 anos. Por seu turno, considerando que 1/3 dos condóminos
discorda do negócio celebrado entre o administrador do condomínio e Francisca, esta
última, para evitar problemas e por não ter outro sítio para morar, pretende reocupar o
apartamento que lhe havia sido cedido por Eduardo, exigindo ademais o reembolso de
todas as obras que realizou no apartamento enquanto o habitava, e que incluíram vários
melhoramentos no interior, para além da colocação de uma piscina no terraço, que aliás os
restantes condóminos pretendem ver demolida, uma vez que não autorizaram esta obra.
Responda, de forma fundamentada, a todas as questões jurídico-reais suscitadas pela
hipótese. (10 valores)

Tópicos de Correção

- Regime do direito de propriedade, em especial objeto e aquisição, a propósito dos


direitos de E, H e I (artigos 1302.º, 1305.º, 1316.º e 1317.º).
- Regime da compropriedade a propósito dos direitos de H e I, igualdade qualitativa e
quantitativa dos direitos/quotas, posição dos comproprietários e uso, administração,
disposição e oneração da coisa comum (artigos 1403.º, 1404.º, 1405.º, 1406.º, 1407.º,
1408.º).
- Regime da propriedade horizontal, objeto, título constitutivo, direitos dos
condóminos e limitação ao exercício dos mesmos, frações autónomas e partes
comuns, competência da assembleia de condóminos e do administrador relativamente
às partes comuns (artigos 1414.º, 1415.º, 1417.º, 1418.º, 1420.º, 1421.º, 1422.º, 1430.º,
1431.º, 1432.º, 1435.º e 1436.º).
- Regime do direito de habitação a propósito do direito de F (artigos 1484.º, 1485.º,
1486.º, 1487.º, 1488.º, 1490.º, 1482.º)
- Ponderação da aplicação do regime do usufruto, considerando designadamente a
noção, limites, conteúdo, aquisição, transmissão e extinção do direito de usufruto
(artigos 1439.º, 1440.º, 1441.º, 1443.º, 1446.º e 1476.º), a propósito do direito de G;
exigência da forma de escritura pública ou documento particular autenticado (artigo
22.º, alínea a), do Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de julho).
- Análise do princípio da tipicidade/numerus clausus dos direitos reais (artigo 1306.º),
e ponderação da aplicação do regime do usufruto considerando os aspetos já
mencionados versus direitos pessoais de gozo e possibilidade de aplicação do regime
da locação (artigo 1022.º e ss), a propósito do direito de G.
- (Im)possibilidade de F constituir uma restrição (ao direito de propriedade) de E com
natureza real/natureza obrigacional a favor de G.
- Aquisição, conservação, transmissão, perda e classificação da posse de E, F, G, H e I
(artigos 1251.º, 1252.º, 1257.º, 1258.º a 1262.º, 1263.º, 1266.º, 1267.º e 1268.º), bem como
ponderação da posse/detenção (artigo 1253.º) a propósito do direito de G, mediante
verificação dos requisitos legais e aplicação das orientações doutrinárias.
- Análise da (im)possibilidade de aquisição do direito de habitação, através da
usucapião a favor de F, da (im)possibilidade de aquisição da propriedade plena livre
de ónus e encargos, através do registo a favor de H e I e da (im)possibilidade de
aquisição do direito de usufruto, através da usucapião, a favor de G, considerando
também, relativamente a este último, a (im)possibilidade de aquisição, através do
registo, do usufruto/locação, mediante verificação dos requisitos legais e aplicação
das orientações doutrinárias (artigos 1.º, 2.º, n.º 1, alíneas a), e) e m), 4.º, 6.º, 7.º, 8.º-A,
8.º-B, 8.º-C, 8.º-D e 9.º, 16.º e 17.º CRP e artigos 1287.º, 1288.º, 1289.º, 1290.º, 1292.º,
1293.º alínea a), 303.º e 1295.º, n.º 1, alínea a) e n.º 2).
- Ponderação da aplicação do regime das benfeitorias (artigos 216.º, 1273.º e 1450.º)
ou da acessão industrial imobiliária (artigos 1339º e ss), relativamente às obras
(melhoramentos no interior e piscina no exterior), mediante verificação dos requisitos
legais e aplicação das teses doutrinárias.
- Análise da procedência das ações possessórias enquanto meio de defesa da posse
(artigos 1276.º, 1278.º, 1281.º, 1282.º e 1286.º).
- Análise da procedência de ação de reivindicação enquanto meio de defesa do direito
de propriedade e do direito de habitação (artigos 1311.º e 1315.º).
- Referência aos princípios do registo predial (instância, legalidade, trato sucessivo,
prioridade, obrigatoriedade), bem como aos princípios dos direitos reais (imediação
jurídica/inerência, sequela, prevalência; especialidade; numerus clausus/tipicidade;
absolutidade; publicidade; elasticidade; transmissibilidade; consensualidade e
causalidade).
FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA
Ano letivo de 2021/2022
DIREITOS REAIS – 3º Ano/Turma A - Dia
Exame Escrito – Época Especial (duração: 90 minutos)
9 de setembro de 2022
Professor Doutor António Menezes Cordeiro/Professor Doutor José Luís Ramos

I
Em março de 2010, Ana, farta da “correria” da cidade, decide ir viver para o Alentejo. Para
tal, iniciou negociações com Bartolomeu para a compra de uma moradia em Mértola, no
valor de 100 mil euros. A negociação chegou a bom termo, porém, como Ana não tinha
fundos suficientes, as partes celebraram um contrato de promessa de compra e venda,
tendo Ana pago apenas 30% do preço definido, devendo o restante montante ser liquidado
no momento da escritura pública do contrato definitivo, que teria lugar decorridos 6 meses.
Atendendo às necessidades de Ana, Bartolomeu entregou-lhe as chaves do prédio no
momento da celebração do contrato promessa. A partir desse momento, Ana fez desde
logo diversas obras de remodelação, assumindo, ainda, o pagamento de todos os encargos
relativo ao mesmo.
Entretanto, como Ana não conseguiu os fundos suficientes, o contrato definitivo nunca
chegou a ser celebrado. Como estava consciente das necessidades de Ana, Bartolomeu
nunca a quis acionar judicialmente. Farto desta situação, em janeiro de 2022 e aproveitando
a ausência de Ana, o filho de Bartolomeu, Carlos ocupa a moradia e muda as fechaduras.
Ana pergunta a um amigo jurista como pode resolver a situação. Este responde-lhe que não
existem opções legais, pois a moradia pertence a Bartolomeu e que o contrato de
promessa não lhe confere nem mesmo tutela possessória.
Responda, de forma fundamentada, a todas as questões jurídico-reais suscitadas pela
hipótese. (10 valores)

Tópicos de Correção

- Analisar a posição jurídico-real dos intervenientes A, B e C, nomeadamente a


titularidade de direitos reais, classificando-os, bem como a posse
correspondente nos vários momentos temporais da hipótese.
- Em especial, classificar a posição jurídico-real de A, analisando se o contrato
promessa com traditio dá lugar a uma posse e em que termos; referir posições
doutrinárias e jurisprudenciais quanto à questão, em particular, a mantida pela
regência e tomar posição; caso a posição adotada seja a de que A é mero
detentor do direito de propriedade, analisar se os seus atos jurídicos
posteriores, nomeadamente as obras de remodelação e o pagamento de todos
os encargos relativos ao prédio ou qualquer outro momento temporal ulterior,
consubstanciam uma inversão do título da posse (artigos 1263.º, d) e 1265.º).
- Em especial, analisar a posição de jurídica de C, que adquire a posse por
apossamento (artigo 1263.º, a)) ou, conforme referem alguns autores, por
esbulho, como forma autónoma de aquisição da posse (artigos 1278.º, 1282.º);
classificar posse de C, em particular, se a mesma consubstancia uma posse
violenta ou pacífica (artigo 1261.º).
- Referir medidas legais à disposição de A: eventual usucapião (artigos 1287.º
e ss., discutindo todos os seus requisitos), a acessão industrial imobiliária do
direito de propriedade (artigo 1339.º e ss.); nenhum dos factos jurídicos
parece ser aplicável no caso concreto. De qualquer forma, fosse por via da
posse civil, fosse através da posse interdital, A teria sempre tutela
possessória contra C (artigos 1278.º).
II
Em 2010, Duarte e Eduarda adquiriram em conjunto um apartamento no Porto e uma
moradia no Algarve, tendo sido convencionado entre ambos que o apartamento serviria de
habitação a Duarte e que Eduarda ficaria com o uso da moradia, sendo que para maior
facilidade e porque os valores eram similares, Duarte efetuou o pagamento do preço do
apartamento e Eduarda efetuou o pagamento do preço da moradia.
Em 2012, Eduarda procedeu a diversas reparações urgentes na moradia, bem como à
construção de um campo de ténis e à plantação de morangos, tendo dado conhecimento a
Duarte, que não se opondo, recusou pagar qualquer valor. Para fazer face a estas
despesas, Eduarda acorda com Francisca a exploração do campo de ténis e da plantação
de morangos pelo período de 20 anos, mediante o pagamento de uma quantia anual. O
negócio foi celebrado por escritura pública, tendo Francisca procedido ao respetivo registo.
Em 2015, Duarte toma conhecimento deste negócio e de modo a suportar os custos de
manutenção do apartamento, bem como as despesas relativas às partes comuns do edifício
e os encargos do condomínio, que Francisca sempre recusou custear, decide conceder o
uso e fruição do apartamento a Gustavo, pelo prazo de 10 anos, mediante o pagamento de
uma quantia anual. Este negócio foi celebrado por documento particular autenticado, tendo
Gustavo registado a sua posse.
Em 2022, Duarte exige a Francisca a cessação imediata da exploração do campo de ténis
e da plantação de morangos e Eduarda exige a Gustavo a desocupação imediata do
apartamento, ao que Francisca e Gustavo contrapõem o registo a seu favor e o decurso
do tempo.
Responda, de forma fundamentada, a todas as questões jurídico-reais suscitadas pela
hipótese. (10 valores)

Tópicos de Correção

- Regime do direito de propriedade, em especial objeto e aquisição, a


propósito dos direitos de D e E (artigos 1302.º, 1305.º, 1316.º e 1317.º).
- Regime da compropriedade a propósito dos direitos de D e E, igualdade
qualitativa e quantitativa dos direitos/quotas, posição dos comproprietários,
uso, administração, disposição e oneração da coisa comum e benfeitorias
necessárias (artigos 1403.º, 1405.º, 1406.º, 1407.º, 1408.º e 1411.º).
- Regime da propriedade horizontal a propósito dos direitos de D e E relativos
ao apartamento, objeto, título constitutivo, frações autónomas e partes
comuns, encargos de conservação e fruição (artigos 1414.º, 1415.º, 1417.º,
1418.º, 1420.º, 1421.º e 1424.º).
- Ponderação da aplicação do regime do usufruto, considerando
designadamente a noção, limites, conteúdo, constituição, duração e extinção
do direito de usufruto (artigos 1439.º, 1440.º, 1443.º, 1446.º e 1476.º), a
propósito dos direitos de F e G; exigência da forma de escritura pública ou
documento particular autenticado (artigo 22.º, alínea a), do Decreto-Lei n.º
116/2008, de 4 de julho).
- Ponderação da aplicação do regime da superfície, considerando
designadamente a noção, conteúdo, constituição e extinção do direito de
superfície (artigos 1524.º, 1528.º, 1530.º e 1536.º), a propósito do direito de F;
exigência da forma de escritura pública ou documento particular autenticado
(artigo 22.º, alínea a), do Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de julho).
- Análise do princípio da tipicidade/numerus clausus dos direitos reais (artigo
1306.º), e ponderação da aplicação do regime do usufruto/superfície versus
direitos pessoais de gozo/aplicação do regime da locação (artigo 1022.º e ss),
a propósito dos direitos de F e G, considerando os aspetos já mencionados.
- Aquisição, conservação, transmissão, perda e classificação da posse de D,
E, F e G (artigos 1251.º, 1252.º, 1257.º, 1258.º a 1262.º, 1263.º, 1266.º, 1267.º e
1268.º), bem como ponderação da posse/detenção (artigo 1253.º) a propósito
dos direitos de F e G, mediante verificação dos requisitos legais e aplicação
das orientações doutrinárias.
- Análise da possibilidade de aquisição do usufruto/superfície, através da
usucapião e do registo, a favor de F e de G, considerando também a
possibilidade de aquisição, através do registo, da locação, mediante
verificação dos requisitos legais e aplicação das orientações doutrinárias
(artigos 1.º, 2.º, n.º 1, alíneas a), e) e m), 4.º, 6.º, 7.º, 8.º-A, 8.º-B, 8.º-C, 8.º-D, 9.º,
16.º e 17.º CRP e artigos 1287.º, 1288.º, 1289.º, 1290.º, 1291.º, 1292.º, 303.º,
1294.º, n.º 1, alínea a) e 1295.º, n.º 1, alínea a) e n.º 2).
- Ponderação da aplicação do regime das benfeitorias (artigos 216.º,1273.º,
1275.º e 1411.º) ou da acessão industrial imobiliária (artigos 1339º e ss.),
relativamente às reparações, construção do campo de ténis e plantação de
morangos, mediante verificação dos requisitos legais e aplicação das teses
doutrinárias.
- Análise da procedência das ações possessórias enquanto meio de defesa da
posse (artigos 1276.º, 1278.º, 1281.º, 1282.º e 1286.º).
- Análise da procedência de ação de reivindicação enquanto meio de defesa
do direito de propriedade, de usufruto e de superfície (artigos 1311.º e 1315.º).
- Referência aos princípios do registo predial (instância, legalidade, trato
sucessivo, prioridade, obrigatoriedade), bem como aos princípios dos direitos
reais (imediação jurídica/inerência, sequela, prevalência; especialidade;
numerus clausus/tipicidade; absolutidade; publicidade; elasticidade;
transmissibilidade; consensualidade e causalidade).

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