Tendecias Da Educação Psicomotora Sob o Enfoque Walloniano
Tendecias Da Educação Psicomotora Sob o Enfoque Walloniano
Tendecias Da Educação Psicomotora Sob o Enfoque Walloniano
Tendências da Educação
Psicomotora Sob o Enfoque Walloniano
Psychomotor educational tendencies as seen from the Wallonian approach
Resumo: Esta é uma reflexão que visa a orientar a Educação Psicomotora sob o enfoque psicogenético de
Henri Wallon. Dentre as contribuições, destacamos as suas idéias de alternância funcional e de
complexidade do desenvolvimento humano.
Palavras-Chave: Psicomotricidade,Wallon, educação.
Abstract: This paper presents a discussion on Psychomotor Education within Henri Wallon’s psychogenetic
perspective, focusing his ideas mainly on functional alternation and complexity of human development.
Key Words: Psychomotricity, Wallon, education.
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Elda Maria
Rodrigues de
Carvalho
Mestre em Psicologia
Clínica (PUCCAMP).
Professora do Depto.
de Psicologia da
Universidade Federal do
Ceará (UFC).
Este trabalho é teórico e pretende contribuir para o rumos mais gerais que a Educação Psicomotora
enfoque psicogenético da Educação Psicomotora, tende a assumir ao adotarmos a psicogenética
mais precisamente, através da teoria walloniana. walloniana como referência básica.
Consideramos a teoria de Wallon bastante fértil para
a ciência psicomotora, pois esse autor, ao estudar o Podem-se distinguir dois tipos de intervenção em
desenvolvimento infantil, deu ênfase à motricidade, psicomotricidade: a terapêutica e a educativa. No
encontrando nesta a origem da emoção e da razão. primeiro âmbito, encontram-se a reeducação
São diversas as temáticas da psicomotricidade que psicomotora, a terapia psicomotora e a clínica
podem ser abordadas a partir de Wallon (1925, psicomotora. No segundo, fala-se em Educação
1934, 1941), a exemplo da formação da imagem Psicomotora, a qual tem um caráter eminentemente
84 corporal e dos distúrbios psicomotores; optamos, preventivo, facilitador do desenvolvimento do
porém, nesta oportunidade, por refletir sobre os sujeito, em geral, aplicada às crianças em situação
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gestos de outras crianças. A atitude imitativa assegura a integração dos mecanismos de marcha, preensão
o elo com os iguais, facilitando a identificação com e capacidade de investigação ocular sistemática, que
parceiros. Essa atitude, inicialmente intuitiva, apenas caracterizam o período sensório-motor de
segue o fluxo rítmico dos movimentos do outro, exploração do ambiente.
que logo transbordarão, porém, para níveis de
cognição mais elevados, ampliando sua Nesse momento, figura de maneira preponderante
aprendizagem. A imitação, a princípio vinculante- a dialética homem e versus mundo; indivíduo e
afetiva, propicia a passagem ao cognitivo. Ela é um versus cultura. Wallon (1959, p. 150) é categórico a
instrumento de aprendizagem social. Fonseca esse respeito:
(1987) entende a imitação, conjunto de gesto e
símbolo, como um ato pelo qual a criança se integra
ativamente aos modelos sociais. A função vinculante
da psicomotricidade, ou como a denominamos,
motricidade de relação, é prioritária no trabalho de
Educação Psicomotora; irá facilitar a inserção da
criança no mundo, tanto nos níveis afetivos como
cognitivos. Em primeiro plano, desperta-se a confiança
de que suas necessidades serão atendidas, de que é
compreendido e, no segundo, o sentido da
pertinência, filiação, desafios ditados pelo outro que
irão aguçar e apelar para o desenvolvimento cognitivo,
para a inteligência.
Aí situada, a Educação Psicomotora é um processo de jogo que envolve esses elementos e é integrador
educativo que, por meio do corpo e do movimento do ponto de vista do sujeito em seu grupo são as
do sujeito, tomados como ação psicomotora deste, brincadeiras de roda.
dirige-se ao Outro, às relações sócio-afetivas,
priorizando-as por meio da instauração do diálogo A Educação Psicomotora dirige-se igualmente à
tônico-corporal, do olhar, gestos e posturas, mímicas cultura, ao seu universo físico e conceitual, às
88 e imitações entre outros instrumentos próprios da relações com o meio em que a cognição emerge
psicomotricidade (figura 1). Uma possível ilustração primordialmente, de modo que o sujeito possa, ele
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próprio, descobrir o mundo e produzir no mundo Finalizando, em síntese, podemos dizer que a Educação
por meio de manipulação, contato, exploração, Psicomotora com base na teoria walloniana é um
construção e desconstrução dos objetos (figura 2). processo que acompanha e promove o
Uma possível ilustração desse gênero de atividade desenvolvimento da criança e dos jovens em suas
que envolve esses elementos são os jogos de vicissitudes, centralizada em sua atividade e distribuída
construção, tipo pequeno engenheiro, que em campos funcionais, a saber: a motricidade, a
apresentam tijolinhos para a criança construir cognição e a afetividade. À Educação Psicomotora
castelos, casas, muros e o que mais a sua imaginação cabe prover os recursos sociais, afetivos, lingüísticos,
lhe permitir. culturais, físicos, espaciais, materiais e pedagógicos que
permitam ao sujeito estabelecer uma interação rica
Embora possamos falar e identificar momentos de com seu meio, mobilizando neste elementos para seu
motricidade de relação “pura”, como é o caso da desenvolvimento a partir dos recursos que ela própria
relação mãe-bebê, ou de enamorados, e, embora dispõe em determinado momento e respeitando suas
possamos falar e identificar momentos de motricidade necessidades e tendências, que podem estar orientadas
de realização pura, como quando utilizamos mais para si (centrípetas) e/ou mais para o mundo
(centrífugas). Podemos, mesmo, falar em uma primazia
corretamente um talher para nos alimentar, em geral
da motricidade de relação sobre a motricidade de
encontramos um misto destas. Assim, podemos
realização, destacando-se que, no desenrolar da
formular que há um diálogo possível entre
Educação Psicomotora, esta deve atender ao princípio
motricidade de relação e de realização, do mesmo
da alternância funcional do desenvolvimento,
modo que ocorre interação entre afetividade e
conforme concebido por H. Wallon.
inteligência ou cognição.
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