Dissertação Renata Camarotti
Dissertação Renata Camarotti
Dissertação Renata Camarotti
RENATA CAMAROTTI
Salvador
2009
2
RENATA CAMAROTTI
Salvador
2009
3
Termo de Aprovação
Renata Camarotti
_____________________________________
Profª Dra. Ruthy Nadia Laniado
(Orientadora)
_____________________________________
Profª Dra. Anete Brito Leal Ivo
Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS – UFBA)
Universidade Católica do Salvador
_____________________________________
Profª Dra. Maria Victória Espiñeira González
Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS – UFBA)
Dedicatória
A Tito,
Agradecimentos
Aos professores e colegas de Curso, pelos ricos debates em sala de aula que
colaboraram para um avanço na minha formação profissional e intelectual.
Sou muito grata à minha orientadora, Profa. Dra. Ruthy Nadia Laniado, pela atenção
minuciosa, pelos conselhos preciosos e, principalmente, por ter aceitado caminhar
comigo neste projeto.
À Teresinha Fróes Burnham e Paul Burnham, pela tradução do resumo para o inglês.
A meus pais, Walkyria e Ricardo, e aos meus irmãos Daniela e Paulo pelo acolhimento
e carinho de todos os dias, sem os quais fazer este trabalho seria impossível.
Por fim, agradeço a toda sociedade brasileira por manter o ensino público e gratuito que
me permitiu concluir um curso de qualidade, infelizmente, ainda um privilégio de
poucos.
6
RESUMO
ABSTRACT
Ever since the reopening up of politics in Brazil in the 1980‟s, a number of social
movements have been campaigning in their majority for a realignment of income
distribution. Within the Brazilian context, however, there are also movements claiming
"new rights", relating to a "new citizenship". Among them is the Lesbian, Gay,
Bisexual, Transvestite and Transgender (LGBT) Movement, which only recently has
come to the fore and become part of the setting of political struggle in Brazil.
Considering the path this movement has taken, and the launch within the federal ambit
of the Brazil Without Homophobia Program in 2004, this work examines the
relationship between the State and the LGBT movement. The object of study is the
performance of the movement in Bahia, in the period between 2004 and 2008, against
the backdrop of the national and international sociopolitical scenarios. Changes in the
relationship between state and civil society and the consolidation of movements that
demand recognition are analyzed for, from the standpoint of the paradigm of the New
Social Movements, the critical theory of Recognition, and new notions of rights and
citizenship. The research is a case study that focuses on data generated through formal
and informal communication. From the focal points of two established forms of analysis
- internationalization / internalization and civil society / State - four types of action
repertoires are identified: visibility, denunciation, presence in the field of formal policy,
and articulation. The data show two distinct processes: stagnation in regard to the
approval of federal laws, and partial gains regarding the implementation of public
policies. Despite the State looking on favorably to the setting up of such policies, the
data suggest that only in 2006 did the objectives of the Program become more evident,
especially in the fields of education, culture and human rights. In the face of the
difficulties encountered by the movement, it can be said that there has been a greater
legitimization of their demands, and that the idea of recognition has gradually gained
ground in the sphere of the public state. The strategies adopted have represented a step
forward and aim at, simultaneously, an assertion (in the short term) and a transformation
(in the long term). It can be concluded, however, that there is still a long way to go to
the putting into effect of the Brazil Without Homophobia Program, both at the federal
and state levels.
LISTA DE QUADROS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.............................................................................................................12
2.2 Sob o signo da cidadania e dos direitos humanos - em busca da justiça social.........47
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................128
REFERÊNCIAS...........................................................................................................134
ANEXO.........................................................................................................................140
12
INTRODUÇÃO
1
A análise da trajetória do movimento, conforme sugere Facchini (2005), aponta para a transformação da
forma utilizada pelo movimento para referir a si mesmo como reflexo de discussões internas acerca da
questão da pluralidade identitária contida pelo movimento. Genericamente referido como Movimento
Homossexual Brasileiro – MHB, em um primeiro momento, torna-se, posteriormente, mais específico. É
o caso das denominações MGL - Movimento de Gays e Lésbicas, GLT – Gays, Lésbicas e Travestis e
GLBT – Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros. Mais recentemente, uma nova mudança alterou a
sigla para LGBT, visando dar maior visibilidade à presença lésbica no movimento. Ainda que não haja
um consenso por parte do movimento quanto ao uso de uma única sigla, optou-se, no caso deste trabalho,
pela utilização da sigla LGBT, por ser esta aquela que representa o posicionamento mais recente do
movimento em nível nacional.
13
Para o movimento LGBT, esta é uma luta dirigida tanto ao Estado quanto à
sociedade civil, na medida em que a articulação entre esses dois atores tem sido a base
para transformações que sempre geram efeitos para ambos. Mas, pode-se dizer que a
batalha mais dura é aquela dirigida ao Estado que, principalmente após o advento da
Aids, passou a estabelecer uma interlocução mais freqüente com o movimento.
Como se pode constatar, com relativa facilidade, na vasta literatura sobre o tema
(BOBBIO, 1987, 1992; DOMINGUES, 2002; NOGUEIRA, 2005; DALLARI, 2007;
SANTOS, 1999a, 1999b, GOHN, 1997; TEIXEIRA, 2001), as relações existentes entre
Estado e sociedade civil sofreram transformações significativas ao longo das últimas
décadas. Essas mudanças refletiram-se em novas “formas de pensar, informar, produzir,
consumir, gerir, fazer política” (TEIXEIRA, 2001, p. 56).
... movimentos sociais são ações sociopolíticas construídas por atores sociais coletivos
pertencentes a diferentes classes e camadas sociais, articuladas em certos cenários da
conjuntura socioeconômica e política de um país, criando um campo político de força
social na sociedade civil. As ações se estruturam a partir de repertórios criados sobre
temas e problemas em conflitos, litígios e disputas vivenciados pelo grupo na
sociedade. As ações desenvolvem um processo social e político-cultural que cria uma
identidade coletiva para o movimento, a partir dos interesses em comum. Esta
identidade é amalgamada pela força do princípio da solidariedade e construída a partir
da base referencial de valores culturais e políticos compartilhados pelo grupo, em
espaços coletivos não institucionalizados. Os movimentos geram uma série de
inovações nas esferas pública (estatal e não-estatal) e privada; participam direta ou
indiretamente da luta política de um país, e contribuem para o desenvolvimento e a
transformação da sociedade civil e política. (...) Eles têm como base de suporte
entidades e organizações da sociedade civil e política, com agendas de atuação
construídas ao redor de demandas socioeconômicas ou político-culturais que abrangem
as problemáticas conflituosas da sociedade onde atuam. (GOHN, 1997, p. 251-252)
Segundo Gohn (1997), tais elementos seriam: o passado colonial; o tipo de Estado
nacional, cujas elites políticas sempre foram representantes dos interesses econômicos
do capital internacional; a constituição de uma república de coronéis e, posteriormente,
de líderes populistas, em uma cultura política caracterizada por relações de clientelismo
e paternalismo; a dificuldade de criação de espaços democráticos ou a consolidação e o
aprofundamento de períodos de democratização; o surgimento e permanência dos
regimes militares autoritários nos anos 60; a existência de uma fase de redemocratização
em fins dos anos 70 e durante os anos 80, com forte mobilização e pressão da sociedade
civil e política, o que deu maior visibilidade aos movimentos sociais que lutavam pela
redemocratização ou por causas específicas; a transformação da cultura política latino-
americana, que passa a reivindicar direitos sociais coletivos e cidadania para os grupos
sociais oprimidos; e, finalmente, nos anos 90, a globalização, que altera o panorama do
24
capitalismo ocidental, com uma nova divisão internacional do trabalho. A partir das
diferenças históricas identificadas, Gohn (1997) assinala os principais pontos a serem
considerados na formulação de um paradigma pertinente à análise dos movimentos
sociais latino-americanos; aqui, se destacam aqueles que, efetivamente, explicam as
questões propostas no presente trabalho, as quais se referem à análise da relação entre
sociedade civil e Estado a partir da atuação do movimento de Lésbicas, Gays,
Bissexuais e Transgêneros (LGBT) 2, majoritariamente caracterizado por uma demanda
de reconhecimento.
2
Em lugar da sigla GLBT, a sigla LGBT – referente a Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais – foi estabelecida como nomenclatura padrão a ser utilizada pelos movimentos sociais e pelo
governo brasileiros, em consonância com a nomenclatura utilizada internacionalmente, por ocasião da 1ª
Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais, realizada no dia 7 de junho
de 2008. A mudança correspondeu a uma antiga demanda relacionada à necessidade de promover a
visibilidade lésbica. <http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2008/06/07/materia.2008 -06-
07.2850057054/view>. Acesso em: 20 de fevereiro de 2009.
25
No Brasil, a questão dos direitos humanos tem criado redes de solidariedade entre
os movimentos, mas mobiliza apenas pequenas parcelas das camadas médias da
população. A luta do movimento LGBT brasileiro encontra-se aqui situada como um
movimento cujas demandas são por reconhecimento, com pouca relação com demandas
econômicas, cujo nascimento deu-se pela mobilização de uma classe média
intelectualizada proveniente, em princípio, do eixo Rio de Janeiro/ São Paulo. A
exceção são os transgêneros3 que, geralmente, se encontram em situação difícil de
inserção social.
No que se refere à questão da luta pela garantia dos direitos humanos, pode-se
dizer que os “novos movimentos sociais” presentes no contexto latino-americano
apresentaram grandes diferenças em relação aos europeus e aos norte-americanos. Para
os últimos, a bandeira dos direitos humanos focalizou, essencialmente, os direitos
sociais e culturais, enquanto na América Latina continuaram a ter relevância os direitos
econômicos elementares para a sobrevivência.
3
Além da alta vulnerabilidade a situações de violência, as transexuais e travestis encontram dificuldades
em permanecer freqüentando a escola em função dos comportamentos hostis e discriminatórios que lhes
são dirigidos. Posteriormente, não só em função de sua baixa escolaridade mas, sobretudo, em função de
uma aparência ambivalente que contraria o que se estabelece como “normal” com relação à orientação de
gênero, são excluídas do mercado de trabalho, restando como opções de sobrevivência, quase que
exclusivamente, a prostituição, a inserção no mercado de trabalho informal, por meio de serviços ligados
à beleza (manicures, cabeleireiras etc) e, em casos mais raros, serviços domésticos, conforme percebido
na pesquisa “Violações de Direitos Humanos de Grupos Minoritários” (CAMAROTTI, 2004), realizada
pela autora em parceria com o Grupo de Apoio à Prevenção à AIDS - GAPA/BA.
26
lugar e conjuntura, influenciadas, inclusive, pela própria ação dos movimentos sociais
em tornar relevantes questões que anteriormente não eram concebidas como tal e que,
agora, são motivadoras de algum tipo de intervenção por parte do Estado. Trata-se,
portanto, da luta por significados e por quem tem o direito de atribuí-los, não somente
como uma luta política em si mesma, mas, também, “como inerente e constitutiva de
toda política” (DAGNINO, 2000, p.75).
de 90, passou a ocupar a cena pública quase como um substituto dos movimentos
sociais (GOHN, 1997). O período, também, foi marcado pela construção de novos
espaços de cidadania e o estabelecimento de novas leis, como no capítulo sobre novos
direitos sociais da constituição brasileira de 19884. Ademais, de acordo com Gohn
(1997), é também nesse período que novas categorias de referência foram introduzidas
na agenda dos analistas sobre os movimentos sociais: a questão do cotidiano; a
problemática da relação entre a democracia direta e a democracia representativa; a
questão das esferas públicas e privadas enquanto espaço de participação social para a
construção da democracia; a questão da cidadania; e, além disso, a cultura política
presente nos espaços associativos.
Em síntese, os novos atores sociais que emergiram na sociedade civil brasileira, após 1970,
à revelia do Estado, e contra ele num primeiro momento, configuraram novos espaços e
formatos de participação e de relações sociais. Estes novos espaços foram construídos
basicamente pelos movimentos sociais, populares ou não, nos anos 70-80; e nos anos 90
por um tipo especial de ONGs que denominamos anteriormente de cidadãs, ou seja,
entidades sem fins lucrativos que se orientam para a promoção e para o desenvolvimento de
comunidades carentes a partir de relações baseadas em direitos e deveres da cidadania.
(GOHN, 1997, p.303)
Duas outras características marcam as ações coletivas nos anos 90: primeiramente,
o fortalecimento de redes e estruturas nacionais de movimentos sociais e a criação de
estruturas centralizadoras de vários movimentos sociais; e, em segundo lugar, o
surgimento de movimentos internacionais e de caráter transnacional. Além disso, outro
destaque é que as políticas públicas da década de 90 passaram a ser formuladas visando
a segmentos sociais focados, numa perspectiva que privilegia áreas temáticas-problema
e não mais atores sociais organizados em movimentos ou interesses das classes
organizadas.
Nos anos 90, há, também, a participação da população nas estruturas de conselhos
e colegiados criados por exigências da Carta Magna de 1988, ou como fruto de políticas
específicas, nas suas mais variadas instâncias: federais, estaduais, municipais, tutelares,
populares etc.; uma demanda dos movimentos sociais brasileiros dos anos 80. A
estratégia política da participação popular em conselhos foi absorvida pela maioria dos
planos e projetos governamentais, de modo a contemplar a questão da participação nos
órgãos e políticas estatais. Cabe ressaltar que o papel mais significativo desempenhado
pelos movimentos sociais não se restringe à presença em estruturas organizacionais,
mas, sim, à sua capacidade de promover uma nova mentalidade sobre a coisa pública e
gerar uma nova cultura política (GOHN, 1997). Em síntese:
...a relação da sociedade civil organizada com o Estado é de outra natureza nos anos 90 (...)
as arenas de negociação estão normatizadas e a institucionalidade da relação sociedade
organizada – poder público é um fato. As agendas dos órgãos públicos necessariamente
contemplam a interação com a sociedade civil, mas esta interação ainda ocorre segundo os
interesses e regras estabelecidos pelas elites ou grupos que estão no poder. Os movimentos
sociais criaram, nos anos 80, um paradigma da ação social, conferindo legitimidade a si
próprios enquanto portadores de direitos legítimos e deslegitimando as políticas que os
ignoram, mas não conseguiram manter estas posições nos anos 90 diante da voracidade das
políticas neoliberais. (GOHN, 1997, p.318)
33
São essas características que fazem com que o presente trabalho tenha como
aportes teóricos o paradigma europeu dos Novos Movimentos Sociais e a Teoria do
Reconhecimento, para uma análise das relações entre o movimento homossexual no
contexto brasileiro/baiano e o Estado. Ambas as perspectivas enfatizam aspectos
políticos e culturais e não causas constituídas em torno de reivindicações
predominantemente econômicas, de classe. A discussão sobre o perfil e a dinâmica dos
movimentos sociais é um viés de análise que não se baseia na convicção de que possa
dar conta dos movimentos sociais, no contexto brasileiro, de forma generalizada, ainda
que esta perspectiva possa lançar luzes muito interessantes para a análise de tais
aglutinações e tornar visíveis especificidades que perpassam movimentos aparentemente
homogêneos, como gênero, raça, sexualidade etc.
Pode-se supor que, talvez, ainda mais relevantes do que as mudanças nos
padrões de relacionamento entre Estado e movimentos sociais e seus novos formatos e
estruturas organizacionais em ONGs e redes, seja o surgimento dos novos conteúdos
das reivindicações da sociedade civil que alcançam a esfera pública e o Estado. Assiste-
35
se, de algumas décadas para cá, paralela à existência de demandas relacionadas à classe,
a emergência e consolidação de reivindicações referentes ao status, nas quais, muitas
vezes, as questões econômicas estão em posição secundária, e o foco do discurso dirige-
se às questões identitárias. É importante que fique claro, sobretudo no contexto de
países com desigualdades distributivas gravíssimas, que tal posição não significa o
abandono do discurso da necessidade de redistribuição; mais pertinente seria falar do
acréscimo de um outro tipo de demanda, ligada à questão do reconhecimento social, que
tanto pode aparecer sozinha como articulada às questões distributivas. Esse movimento
pode, certamente, ser compreendido como uma sofisticação do discurso da sociedade
civil na luta por direitos, ainda que haja críticas no sentido de que as demandas ligadas à
identidade possam obscurecer a luta contra a desigualdade.
Para Gohn (1997), ainda que se possa observar no paradigma europeu uma
multiplicidade de correntes diferenciadas entre si, agrupadas como Novos Movimentos
Sociais, é possível a identificação de algumas características básicas: a construção de
um modelo teórico baseado na cultura, que deixa de lado a questão da ideologia como
falsa representação do real; a negação da corrente clássica do marxismo como campo
teórico capaz de explicar a ação do indivíduo e a ação coletiva da sociedade
contemporânea; a redefinição da política, que deixa de ser uma escala com hierarquias e
determinações e passa a ser considerada como uma dimensão da vida social, a qual
abarca todas as práticas, abrindo a possibilidade de se pensar o poder na esfera pública
da sociedade civil; e, por fim, a construção de análises acerca dos atores sociais com
36
foco nas ações coletivas e na identidade coletiva criada no processo. São esses
elementos que assumem certa centralidade nas explicações do novo paradigma.
A noção de movimento social só é útil se permitir por em evidência a existência dum tipo
muito particular de ação coletiva, aquele tipo pelo qual uma categoria social, sempre
particular, questiona uma forma de dominação social, simultaneamente particular e geral,
invocando contra ela valores e orientações gerais da sociedade, que ela partilha com seu
adversário, para privar este de legitimidade. (TOURAINE, 1999a, p. 113)
... os novos movimentos sociais rejeitam toda identificação a uma categoria social; apelam
para o próprio sujeito, para sua dignidade ou sua auto-estima como força de combinação de
papéis instrumentais e de individualidade. Isto supõe o reconhecimento da especificidade
psicológica e cultural de cada um. (TOURAINE, 1999a, p. 129)
Nos anos 90, Touraine reviu sua teoria sobre os novos movimentos sociais em
função das transformações ocorridas nos movimentos e no sistema capitalista. O autor
identificou uma crise na noção de movimento social, advinda de mudanças na natureza
do conflito social, em relação ao século XIX e boa parte do século XX, quando o
conflito esteve marcado, sobretudo, pelos interesses antagônicos entre a burguesia e os
trabalhadores. Agora, não se trata mais de lutar pelo controle dos meios de produção,
mas, sim, pelas finalidades das produções simbólicas e culturais, com o objetivo de
transformar a vida com relação à defesa dos direitos do homem, sejam estes referentes
ao direito à vida ou à livre expressão (TOURAINE, 1995).
Para Melucci (1996 apud GOHN, 1997), a análise da ação coletiva pode se dar em
cinco níveis, concernentes a: sua definição, sua formação na estrutura social, seus
componentes, as formas assumidas e os campos onde a ação ocorre. A idéia de
movimento social seria uma construção analítica referente a formas de ação coletiva que,
ao mesmo tempo, invoca solidariedade, manifesta um conflito, e se estrutura na forma de
39
redes complexas. A existência de um conflito estaria definida na luta entre dois atores
por uma mesma coisa, podendo ser o campo conflitual dividido entre tensões baseadas
na ação organizacional e aquelas baseadas na ação política. Portanto, o sistema político
e a organização social de uma sociedade seriam as mediações através das quais
emergem os comportamentos coletivos (GOHN, 1997), podendo os movimentos sociais
ser compreendidos “como fenômenos simultaneamente discursivos e políticos,
localizados na fronteira entre as referências da vida pessoal e a política” (MELUCCI,
2004, p.185). Ademais, Melucci (1996, apud GOHN, 1997) refere-se aos movimentos
sociais como sinais antecipados de processos de transformação prestes a entrar em
curso, próprios dos processos de transformação social:
Movimentos são um sinal; eles não são meramente o resultado de uma crise. Assinalam
uma profunda transformação na lógica e no processo que guiam as sociedades complexas.
Como os profetas, eles falam antes: anunciam o que está tomando forma mesmo antes de
sua direção e conteúdo tornarem-se claros. Os movimentos contemporâneos são os profetas
do presente. (MELUCCI, 1996, apud GOHN, 1997, p.157)
Assim como Touraine (1995, 1996, 1999a, 1999b), Melucci (1989, 2001, 2004) vê
os movimentos sociais como uma lente por meio da qual problemas mais gerais podem
ser abordados. Tais movimentos produzem modelos organizacionais, influenciam
instituições e atores sociais públicos e privados, produzem novas elites políticas,
institucionalizam práticas sociais e mudam a linguagem cultural de uma época. Para o
autor, a identidade coletiva é a definição interativa e compartilhada, produzida por
indivíduos ou grupos no que se refere à orientação de suas ações e ao campo de
oportunidades e constrangimentos no qual essas ações têm lugar. A identidade coletiva
é construída e negociada por meio de relacionamentos sociais que conectam os
membros de um grupo ou movimento, provida de referenciais cognitivos
compartilhados e, também, de trocas emocionais e afetivas (MELUCCI, 1996 apud
GOHN, 1997).
Para o tema aqui em estudo, conforme aponta Conde (2004), é possível afirmar
que a identidade construída pelo movimento LGBT pode ser caracterizada como
correspondente às duas últimas formas: a de resistência e a de projeto. No que diz
respeito à resistência, no caso específico do movimento LGBT, tem-se a inversão dos
termos do discurso opressivo, construída a partir de um sentimento de orgulho e
explicitação daquilo que é desqualificado pela norma dominante – o heterosexismo -, o
que pode ser observado nas práticas de parte do movimento LGBT, como a cultura “das
41
bichas loucas”, que assume uma postura de confronto em relação aos significados
instituídos. A identidade de projeto, por sua vez, caracteriza-se por uma intenção de
desconstrução, a partir do questionamento, e “desnaturalização” de “algumas das
estruturas milenares sobre as quais as sociedades foram historicamente construídas:
repressão sexual e heterossexualidade compulsória” (CASTELLS, 1999, p.256). O
movimento homossexual, para Castells (1999), extrapola a defesa dos direitos humanos,
ou o direito básico de “escolher a quem e como amar” (p. 256), traduzindo-se como
uma poderosa expressão de identidade sexual e de liberação sexual, já que a “política da
identidade começa a partir de nossos corpos” (p. 423).
...não resolve o problema de como conectar esses domínios, sua vantagem, no entanto, seria
deixar evidente o sintoma do problema, permitindo a distinção entre as demandas, é
possível analisar a relação entre os diferentes domínios. Além disso, o dualismo de
perspectiva evita a redução de um domínio no outro, evitando a dicotomia entre cultura e
economia que obscurece a visualização da inter-relação entre elas. (MATTOS, 2004, p.155)
Um terceiro autor que contribuiu para o debate sobre o tema, e cuja obra é
relevante para o estudo do movimento LGBT é Taylor. Taylor (1994) está preocupado
tanto com a dimensão institucional quanto com as relações da vida cotidiana (SOUZA,
2003). Para além de qualquer outro pensador moderno, esse autor possibilita um
aprofundamento da temática do reconhecimento a partir de uma genealogia da
hierarquia valorativa, dando sentido e relevância moral a elementos naturalizados da
realidade, cuja eficácia apóia-se, justamente, na sua aparente naturalidade e
neutralidade. Mais do que isso, Taylor (1994) aponta para a necessidade de compartilhar
e disseminar a idéia de dignidade no sentido não jurídico, mas, sim, como um respeito
atitudinal, ou seja, condição para que uma sociedade garanta, como a lei prescreve, a
cidadania e a igualdade.
Nesse contexto, nos interessa, antes de tudo, as repercussões da discussão acerca dos
princípios que regulam a nossa atribuição de respeito, deferência ou, em uma palavra, a
atribuição de „reconhecimento social‟ como base na noção moderna de cidadania jurídica e
política. Essa temática pode nos esclarecer acerca das razões pelas quais em algumas
sociedades periféricas, como a brasileira, (...) torna-se possível, num contexto formalmente
democrático, aberto e pluralista, a constituição de cidadãos de primeira e de segunda classe.
Nos interessa especialmente construir uma gramática que torne visível aquilo que Taylor
pressupõe quando tenta separar o respeito no sentido jurídico (...) do tipo de respeito que
ele chama de atitudinal. (SOUZA, 2003, p.38)
que aqueles que um dia passaram a compartilhar uma mesma situação de exploração
econômica, formando o que se denominou classe social, só ocuparam esse lugar em
função de características que, de algum modo, os colocaram em situação de
desvantagem na escala dos valores correspondentes à ordem das sociedades burguesas.
Para concluir, é importante destacar que, ainda que sejam todas, em princípio,
lutas por reconhecimento, é possível supor que, na dimensão concreta dos movimentos,
seja possível perceber distinções entre: movimentos focados exclusivamente nas
questões de reconhecimento; movimentos focados exclusivamente nas questões de
redistribuição; e outros tantos que trazem esses dois elementos em arranjos variados.
Perceber tais variações é fundamental para analisar os novos movimentos sociais, na
medida em que esses parâmetros denunciam a sua heterogeneidade, permitindo crer
que, na medida em que apresentam perfis diferenciados, os atores da ação coletiva
adotam estratégias específicas que os fazem participar do campo político de uma
determinada forma. Isto permite supor que também a influência da dualidade pode
determinar as estratégias usadas pelos movimentos, o impacto de sua ação junto ao
Estado e, conseqüentemente, a institucionalização das lutas (legislação, políticas
públicas e justiça).
2.2 Sob o signo da cidadania e dos direitos humanos – em busca da justiça social
Pode-se dizer que a “condição homossexual” tem sido objeto de concorrência por
definições legítimas, na qual defrontam-se e aliam-se estudiosos, religiosos, agentes do
espaço político - legisladores, partidos, Estado e, nas últimas décadas (...) as associações e
organizações que fazem parte da "sociedade civil", as quais, de forma explícita ou tácita,
estão identificados a diferentes subgrupos no interior da categoria homossexual, atuando a
partir de formas que não dizem respeito apenas à representação política. (ANJOS, 2002,
p.3)
Assim, a construção da "causa" envolveu sua redefinição: de causa "baixa", quer dizer, dos
homossexuais, ou, "coisa de veado", "bichice", e mesmo "sem-vergonhice", entre outras
designações que desqualificam, impedindo de mobilizar e de tornar a organização presente
politicamente, para uma "causa" defensável, nobre, boa: os "direitos humanos". (ANJOS,
2002, p.7)
Bobbio (1992) observou que os direitos não foram todos concebidos de uma só
vez, sendo os direitos civis os primeiros a surgir, como resultado da luta contra o
absolutismo, seguidos dos direitos políticos e sociais, frutos das lutas travadas pelos
movimentos populares. Portanto, o autor refuta a crença de um fundamento absoluto
para os direitos, e afirma a importância da tarefa de tornar concretos os direitos
humanos fundamentais. Bobbio (1992) considera três momentos da trajetória percorrida
pelos direitos humanos: a sua conversão em direito positivo; a sua posterior
generalização e internacionalização; e, por fim, a sua mais recente tendência de
especificação. É a esta última tendência que corresponde a emergência dos movimentos
de minorias de negros, de mulheres e de homossexuais, os quais percebem nas
mudanças culturais um elemento essencial para a democratização, em que grande parte
da sua luta é travada no sentido de confrontar a cultura autoritária hegemônica.
Nesse sentido, a luta por direitos – pelo direito a ter direitos – revelou o que, de
fato, tinha que ser uma luta política contra uma cultura do autoritarismo social. Isso
permitiu o estabelecimento de um campo comum de articulação entre diversos
movimentos sociais de orientação mais culturalista, como os movimentos de mulheres,
de homossexuais, ecológicos etc., e os movimentos populares urbanos, na busca de
relações mais igualitárias em todos os níveis, o que ajudou a demarcar uma visão
distintiva, ampliada, de democracia. No caso dos homossexuais e de outros grupos que
articulam demandas por reconhecimento, mais especificamente, a luta pelo direito à
50
A nova cidadania assume uma redefinição da idéia de direitos, cujo ponto de partida é a
concepção de um direito a ter direitos. Essa concepção não se limita a provisões legais, ao
acesso a direitos definidos previamente ou à efetiva implementação de direitos formais
abstratos. Ela inclui a invenção/criação de novos direitos, que surgem de lutas específicas e
de suas práticas concretas. Nesse sentido, a própria determinação do significado de
“direito”, e a afirmação de algum valor ou ideal como um direito, são, em si mesmas,
objetos de luta política. O direito à autonomia sobre o próprio corpo, o direito à proteção ao
meio ambiente, o direito à moradia, são exemplos (intencionalmente muito diferentes) dessa
criação de direitos novos. Além disso, essa redefinição inclui não somente o direito à
igualdade, como também o direito à diferença, que especifica, aprofunda e amplia o direito
à igualdade. (DAGNINO, 2000, p. 86)
O primeiro elemento crucial e distintivo nessa noção (de “nova cidadania”) provém da
própria concepção de democracia que tenta por em ação: a nova cidadania busca
implementar uma estratégia de construção democrática, de transformação social, que impõe
um laço constitutivo entre cultura e política. Incorporando características de sociedades
contemporâneas, tais como o papel das subjetividades, o surgimento de sujeitos sociais de
um novo tipo e de direitos também de um novo tipo, bem como a ampliação do espaço da
política, essa estratégia reconhece e enfatiza o caráter intrínseco da transformação cultural
com respeito à construção da democracia. Nesse sentido, a nova cidadania identifica
construções culturais, como as subjacentes ao autoritarismo social, como alvos políticos
fundamentais da democratização. Acredito que a redefinição da noção de cidadania,
formulada pelos movimentos sociais, expressa não somente uma estratégia política, mas
também uma política cultural. (DAGNINO, 2000, p. 85)
O termo gay, que designa o homossexual masculino, tem uma forte conotação
política; surgiu como uma bandeira na luta pelo reconhecimento da homossexualidade
no ambiente contestador dos Estados Unidos dos anos 60, quando do florescimento dos
movimentos pelos direitos civis. Aproximando-se dos movimentos negro e feminista, o
movimento homossexual, desde o seu início, buscou subverter a ótica dominante no que
se refere, especificamente, à heteronormatividade, a partir da adoção de uma postura
que considerou a luta em defesa dos direitos dos homossexuais uma luta travada tanto
através da afirmação de sua igualdade formal na esfera pública, quanto por meio da luta
pelo reconhecimento de sua diferença, decorrente da escolha de iguais biológicos como
parceiros afetivos e sexuais (MELLO, 2005). Assim como o movimento de mulheres, o
movimento homossexual questionou a naturalização dos papéis sexuais e trouxe à
54
Não se pode dizer que o dilema entre movimentos que demandam redistribuição
e movimentos que demandam reconhecimento encontra-se plenamente resolvido, já que
se percebem, ainda hoje, complexas relações entre os partidos políticos e os
movimentos sociais, mesmo aqueles que não são formados por minorias. Deve-se levar
em consideração, também, o próprio enfraquecimento e a descrença nos partidos
enquanto atores legítimos do campo político.
“paradas”, que têm acontecido ao redor de todo o mundo e no Brasil, de norte a sul do
país. A primeira manifestação pública de homossexuais em forma de passeata, com
grande repercussão, ocorreu em meados de 1980 em São Paulo-SP; foi um protesto
contra a violência policial. Em 1981, por iniciativa do grupo Grupo Gay da Bahia
(GGB), houve também uma celebração do orgulho gay em Salvador-BA. Entretanto, foi
somente quando a International Lesbian and Gay Association (ILGA) realizou a sua 17ª
Conferência Internacional no Brasil, em junho de 1995, que aconteceu a primeira parada
gay brasileira na cidade do Rio de Janeiro-RJ. Em 1996, houve uma nova concentração
na Praça Roosevelt de São Paulo, que reuniu cerca de quatrocentos manifestantes,
número bastante modesto se considerados os dados mais recentes divulgados pela
imprensa, em que o número de participantes, facilmente, ultrapassa centenas de
milhares de pessoas5.
5
A título de exemplo, pode-se citar a mais recente parada gay, em São Paulo-SP, ocorrida em 2008, que
reuniu, segundo estimativas feitas pela Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo, cerca de
3,4 milhões de participantes. Com número menor, mas igualmente expressivo, a parada gay realizada em
2008, em Salvador-BA, reuniu aproximadamente 400 mil pessoas, de acordo com estimativas da Polícia
Militar. < www.acapa.com.br/site/noticia.asp?codigo=5705>. Acesso em: 20 de janeiro de 2009.
57
uma sensibilização de pessoas até então indiferentes à causa dos direitos dos
homossexuais. As paradas acabam por provocar “... uma explosão da temática
homossexual que se reflete na abordagem da mídia, nos interesses eleitorais de políticos
e nas sentenças judiciais” (CONDE, 2004, p.133-134). Os “beijaços”, inspirados nos
Kiss-in norte-americanos, também, representaram uma inovação no que se refere aos
repertórios da ação coletiva no contexto brasileiro estudado (SANTOS, 2007).
Após a fundação do grupo “Somos”, novos grupos de defesa dos direitos dos
homossexuais surgiram, de modo que, em dezembro de 1979, foi promovido o “1º
Encontro Nacional do Povo Gay”, na cidade do Rio de Janeiro; participaram grupos
homossexuais de São Paulo, Sorocaba (SP), Rio de Janeiro, Caxias (RJ) e de Brasília,
além de observadores de Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza e Recife (CONDE, 2004).
O encontro decidiu pela realização do “Primeiro Encontro Nacional de Grupos
Homossexuais Organizados”, que aconteceu em São Paulo, em abril de 1980 (MAC
RAE, 1990).
Apesar disso, não se pode afirmar que a busca por uma melhor representação das
especificidades dos grupos seja uma cisão entre lésbicas, gays e transgêneros no
movimento. Os três subgrupos têm buscado desenvolver estratégias que promovam a
visibilidade homossexual em geral e a conquista de direitos comuns. “Tanto lésbicas
quanto gays têm em comum a luta pela expansão dos direitos dos homossexuais e pela
transformação de mentalidades e ampliação da tolerância na sociedade brasileira”
(CONDE, 2004, p. 95). É nessa perspectiva que o movimento LGBT é abordado ao
59
6
Datas e locais de encontros disponíveis em: http://www.estoufelizassim.hpg.ig.com.br/cronologia2.html.
Acesso em: 25 de fevereiro de 2009.
60
7
Ministério da Saúde. Coordenação Nacional de DST e Aids. Aids no Brasil: um esforço conjunto
governo - sociedade. Brasília, 1998.
62
Triângulo Rosa / RJ, GGB / BA e Lambda / SP, que buscava minimizar os preconceitos
comumente veiculados em relação aos homossexuais (SANTOS, 2007).
8
A ILGA e a ABGLT são consideradas, tanto pelo movimento homossexual quanto pelos estudiosos do
tema, como as associações mais representativas em âmbito internacional e nacional, respectivamente.
64
... propor emenda à Constituição Federal para incluir a garantia do direito à livre orientação
sexual e a proibição da discriminação por orientação sexual; apoiar a regulamentação da
parceria civil registrada entre pessoas do mesmo sexo e a regulamentação da lei de
redesignação de sexo e mudança de registro civil para transexuais; propor o
aperfeiçoamento da legislação penal no que se refere à discriminação e à violência
motivadas por orientação sexual; excluir o termo “pederastia” do Código Penal Militar;
incluir nos censos demográficos e pesquisas oficiais dados relativos à orientação sexual;
9
O PNDH lançado em 1996 não contemplou, na sua primeira versão, nenhuma ação governamental
específica destinada a combater a violação dos direitos humanos dos homossexuais. Foi apenas em sua
segunda versão, divulgada em 2002 que o PNDH, pela pressão da militância, passou a contemplar
propostas em relação a esses segmentos específicos (MELLO, 2005).
65
10
De acordo com a atualização referente a 11 de junho de 2007, realizada pelo Projeto Aliadas, a Frente
Parlamentar é integrada atualmente por 216 parlamentares. Informações sobre a Frente Parlamentar pela
Livre Expressão Sexual estão disponíveis em: http://aliadas.org.br/site/arquivos/ALIADAS-adesao.pdf.
Acesso em: 26 de fevereiro de 2009.
66
As decisões do Poder Judiciário, por sua vez, têm favorecido, junto à sociedade
brasileira, a impossibilidade de negação da homossexualidade e das uniões
homossexuais. A relação entre a causa homossexual e o Judiciário após o advento da
Aids, conforme aponta Conde (2004), estreitou-se em virtude dos conflitos entre
companheiros e família de vítimas contaminadas pelo vírus HIV, com várias sentenças
favoráveis à partilha de bens entre homossexuais. Mas isto não representa um consenso
sobre a legitimidade das relações entre pessoas do mesmo sexo. Ainda assim, o
Supremo Tribunal de Justiça fixou jurisprudência a respeito quando a 4ª Turma
reconheceu, por unanimidade, o direito à herança em relacionamento homossexual, no
ano de 1999.
11
No âmbito legislativo local existem leis que disciplinam sanções civis para a discriminação por
orientação sexual nos municípios de Alfenas, Belo Horizonte, Campinas, Curitiba, Fortaleza, Foz do
Iguaçu, Guarulhos, Juiz de Fora, Natal, Nova Iguaçu, Olinda, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, São
José do Rio Preto, e nos estados de Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul,
Santa Catarina, São Paulo e Distrito Federal (MELLO, 2005, p.209).
67
pelo próprio Conselho Federal de Medicina, encontram problemas para alterar o seu
nome de nascimento. Muitas decisões têm sido proferidas para permitir a alteração de
documentação, e outras tantas têm permissão negada.
... também é possível encontrar decisões judiciais que asseguram direitos a gays, lésbicas e
transgêneros, principalmente nas seguintes situações: inclusão de parceiro do mesmo sexo
como dependente em plano de saúde; direito à pensão em caso de falecimento de
companheiro; garantia de visto de permanência a parceiro estrangeiro; registro de mudança
de nome e de sexo de transexual; indenização por danos morais, em casos de homofobia;
guarda e adoção de crianças por homossexuais e transgêneros. No entanto, essas decisões
judiciais ainda fazem parte do campo do extraordinário e estão na dependência da boa
vontade e da liberalidade dos juízes, já que não existe amparo legal explícito para parte
significativa dessas demandas. (MELLO, 2005, p. 210)
Não restam dúvidas, entretanto, de que um número cada vez maior de causas
julgadas em favor dos homossexuais aponta para uma tendência do Judiciário em
garantir direitos conjugais e, em menor escala, parentais, a lésbicas, gays e transgêneros,
em um processo social e semelhante ao da trajetória das lutas a favor das relações
concubinárias heterossexuais ocorridas nas décadas de 1970 e 1980, condição que
passou a ser definitivamente protegida pela lei a partir da Constituição Federal de 1988
(MELLO, 2005).
modalidades de interação, que vão das mais informais, como os “coletivos”, grupos que
defendem a não institucionalização13, até os grupos formalizados, que mantêm estreitas
relações com os governos. A diferenciação entre ser ou não movimento considera,
portanto, as distinções feitas por Teixeira (2001) acerca da natureza das relações
estabelecidas entre os atores, que variam da total ausência de interação até o
estabelecimento de uma relação de cooptação em que militantes se convertem em
eficazes prestadores de serviço do Estado.
13
Um exemplo deste tipo de posicionamento é o assumido pelo Coletivo Kiu!, grupo baiano constituído
em 2004 por estudantes da Universidade Federal da Bahia e da Universidade Católica do Salvador que, de
acordo com relato elaborado por um de seus membros, busca “a construção de novas formas de ativismo,
distantes do pensamento unitário típico das estruturas partidárias da velha esquerda, da abordagem
essencialista da sexualidade e do gênero e, principalmente, crítica em relação à institucionalização,
hierarquização e „ongueirização‟ que dominava qualquer tipo de iniciativa civil desde a década de 80”.
<http://br.groups.yahoo.com/group/coletivokiu/message/3974>. Acesso em: 20 de maio de 2009.
72
será realizado por meio da utilização das seguintes categorias, também sugeridas por
Gohn (1997):
Uma vez que a disputa pela transformação ou conservação dos valores vigentes na
sociedade atinge a sua concretude na esfera pública, é pertinente supor que a
possibilidade de compreender como se dá esse processo encontra-se relacionada,
principalmente, à captura do sentido daquilo que é assumido publicamente pelos
diversos atores, ao posicionarem-se com relação às questões em pauta, através de
discursos organizados, porém suscetíveis a tensões e contradições. Por isso, dentre os
métodos possíveis para a coleta dos dados, optou-se pela seleção e análise de “vestígios
materiais (...) deixados pelos atores e expectadores” (BAUER; GASKELL, 2002, p.19),
ainda que neste caso a adoção de uma pluralidade de métodos pudesse se mostrar
bastante pertinente aos objetivos da pesquisa. A necessidade de escolha de um único
método deve-se tão somente às limitações impostas pelo tempo em relação à natureza
do trabalho aqui pretendido, que acabou por privilegiar uma menor quantidade de
informações na tentativa de analisá-las com maior profundidade.
Considerando que uma pesquisa social apóia-se em dados construídos nos processos
de elaboração de conteúdos comunicados, serão analisados, aqui, dois tipos de dados
sociais: os conteúdos produzidos por meio de comunicação informal, referentes à
produção textual do movimento, e os conteúdos de comunicação formal, que também
correspondem à ação do movimento, mas referem-se, principalmente, aos documentos
produzidos pelo Estado no nível municipal, estadual, nacional e internacional. A opção
por trabalhar com os conteúdos de comunicação formal e informal encontra-se
estreitamente relacionada às características evidenciadas pelo movimento LGBT que,
75
favoráveis à causa LGBT. Em paralelo, buscou-se levantar, por meio dos materiais
produzidos pelo próprio movimento, episódios marcantes de sua trajetória na relação
com os governos (parcerias, projetos de lei, políticas específicas etc.) e com a sociedade
civil (paradas, protestos, ações educativas etc.) A partir desses acontecimentos referidos
pelo movimento, foram identificados e analisados documentos relativos à atuação dos
municípios baianos em relação à causa LGBT.
Por fim, buscou-se ainda, conhecer a participação dos grupos LGBT no campo
político tradicional, ou seja, em conselhos e comissões, lançamento de candidaturas, na
Frente Parlamentar pela Cidadania GLBT do Congresso Nacional, e na Frente
Parlamentar pela Cidadania GLBT de Salvador/Bahia. No âmbito da articulação interna
e externa do movimento foi analisada a sua atuação em fóruns relacionados diretamente
à causa ou temáticas afins.
14
A declaração foi apoiada por países dos cinco continentes, sendo os signatários da declaração: Albânia,
Alemanha, Andorra, a Antiga República Iugoslava da Macedônia, Argentina, Armênia, Austrália,
Áustria, Bélgica, Bolívia, Bósnia Herzegovina, Brasil, Bulgária, Cabo Verde, Canadá, Chile, Chipre,
Colômbia, Croácia, Cuba, República Tcheca, Dinamarca, Equador, Eslováquia, Eslovênia, Espanha,
Estônia, Finlândia, França, Gabão, Geórgia, Grécia, Guiné-Bissau, Hungria, Irlanda, Islândia, Israel,
Itália, Japão, Letônia, Liechtenstein, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Maurícias, México, Montenegro,
Nepal, Nicarágua, Noruega, Nova Zelândia, Países Baixos, Paraguai, Polônia, Portugal, Reino Unido,
República Centro-Africana, Romênia, São Marino, São Tomé e Príncipe, Sérvia, Suíça, Timor-Leste,
Uruguai, e Venezuela.
78
15
<http://www.abglt.org.br/port/declaracao_conjunta_63_635.html>. Acesso em: 30 de janeiro de 2009.
16
De acordo com a Carta de Belém, o relatório anual denominado “Homofobia Estatal”, produzido pela
Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Pessoas Trans e Intersexo (ILGA), aponta que
86 países criminalizam a homossexualidade, sendo que, em sete, com a pena de morte. Carta de Belém
disponível em: http://www.abglt.org.br/port/IIIcongresso.php. Acesso em: 30 de maio de 2009.
17
<http://www.convencion.org.uy/menu1-39.htm>. Acesso em: 10 de junho de 2009.
79
18
<http://www.senado.gov.br/sf/atividade/Materia/getPDF.asp?t=45607>. Acesso em: 20 de janeiro de
2009.
19
O mesmo ocorre em nível local com a luta pela aprovação de leis nos estados e municípios, com alguns
resultados positivos. Nesses casos, verifica-se uma visão compartilhada de homofobia, que pode ser
observada na proximidade dos conteúdos das respectivas leis. A análise das leis relacionadas à causa
LGBT e sua relação com o Estado, apesar de extremamente relacionadas à análise das demandas e
repertórios de ação do movimento, tratadas nesta seção, serão abordadas posteriormente, no tópico
referente às relações com órgãos estatais e demais agentes da sociedade política.
80
20
Como documento mais atual, apesar de não pertencente ao período delimitado para esta
pesquisa, a análise da Carta de Belém, produzida por ocasião do III Congresso da ABGLT
realizado em Belém neste ano de 2009, reafirma demandas do movimento já presentes em 2004,
principalmente: a criminalização da homofobia; a instituição da uniã o estável entre pessoas do
mesmo sexo; a permissão para que pessoas transexuais e travestis alterem seu pré -nome e usem
seu nome social (demandas dirigidas ao poder legislativo); a participação integral de travestis e
transexuais na sociedade, por meio de políticas que lhes assegurem acesso à educação,
segurança, saúde, trabalho e previdência; o fortalecimento e participação política das mulheres
lésbicas e bissexuais, consideradas vítimas da naturalização da discriminação e da violência; a
atenção às especificidades do preconceito e discriminação dirigidos aos LGBT jovens, idosos,
negros, indígenas, com deficiência e vivendo com HIV/Aids. <http://www.abglt.org.br/port/IIIcongresso.php>.
Acesso em: 30 de maio de 2009.
21
<http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=427692>. Acesso em: 30 de maio de 2009.
81
A análise das Resoluções dos Congresso da ABGLT de 2005 22, dos Anais do II
Congresso da ABGLT de 200623 e da Carta de Brasília, resultado da Conferência
Nacional GLBT realizada em 200824, evidencia, de forma mais detalhada, as demandas
atuais do movimento. A utilização desses documentos permite analisar se, no caso do
movimento LGBT brasileiro, houve uma progressão das demandas, no sentido de
algumas delas não mais fazerem sentido por terem sido atendidas, ou de novas
demandas terem surgido a partir dos debates internos promovidos pelo movimento e
pela interação com outros movimentos sociais. O que se percebe na leitura destes
documentos, que evidenciam a perspectiva da principal entidade de articulação nacional
do movimento LGBT acerca de suas conquistas e derrotas, é a constatação de dois
processos distintos na relação com o Estado: o de estagnação no que se refere à
aprovação de leis favoráveis aos LGBTs, e o de ganhos parciais no que se refere à
implementação de políticas públicas, sobretudo em função da implantação do Programa
Brasil Sem Homofobia.
22
Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros – ABGLT. Resoluções do I Congresso da
ABGLT : avanços e perspectivas. Curitiba: Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros,
2006.
23
<http://www.abglt.org.br/port/publicacoes.php>. Acesso em: 20 de dezembro de 2008.
24
<http://www.abglt.org.br/port/carta_brasilia.html>. Acesso em: 20 de dezembro de 2008.
82
Visando apresentar os dados de forma mais clara, haja vista o fato de todos esses
elementos encontrarem-se profundamente imbricados, os resultados a serem discutidos
a seguir serão organizados em duas seções: “Para olhar o movimento LGBT baiano por
dentro”, em que se aborda as demandas e repertórios da ação coletiva relacionados à
articulação, à visibilidade e à denúncia; e “O movimento LGBT olhando para fora”, em
que se analisa o contexto sociopolítico e cultural, as relações com órgãos estatais e
demais agências da sociedade política, e as articulações e redes externas com outros
movimentos, instituições e lutas sociais.
84
25
<http://www.ilga.org/>. Acesso em: 20 de janeiro de 2009.
26
<http://america_latina_caribe.ilga.org/lac/bienvenid_en_el_sitio_web_de_ilga_lac/miembros/ilga_lac_miemb
ros_membros_members>. Acesso em: 20 de janeiro de 2009.
85
Uma das formas encontradas pelo movimento para o apoio ao surgimento de novos
grupos refere-se à execução de projetos. É o caso do Projeto Somos, idealizado pela
Associação para a Saúde e Cidadania Integral na América Latina e Caribe (ASICAL) e
viabilizado por meio da parceria entre a ABGLT e o Programa Nacional de DST e Aids
do Ministério da Saúde do Brasil, que envolveu na sua execução organizações locais
afiliadas e parceiras da ABGLT 28. De acordo com dados disponíveis no manual “Projeto
Somos Desenvolvimento Organizacional, Advocacy e Intervenção para ONGs que
trabalham com GAYS e outros HSH29”, a ação teve início em 1999, envolvendo 24
grupos; em 2005, estava presente em todos os estados brasileiros, com a participação de
322 lideranças de 132 cidades.
O projeto está voltado para pessoas que estão se mobilizando para formar organizações
de gays e outros HSH, bem como organizações que já estão se estruturando. O Somos
tem dois momentos principais, o primeiro sendo de treinamentos regionais periódicos
promovidos por Centros de Capacitação e Assessoria (CCA), que são grupos de gays e
27
<http://www.abglt.org.br/port/cartaprinc.php>. Acesso em: 15 de janeiro de 2009
28
Ministério da Saúde; Secretaria de Vigilância em Saúde; Programa Nacional de DST e Aids. Projeto
Somos Desenvolvimento Organizacional, Advocacy e Intervenção para ONGs que trabalham com GAYS
e outros HSH. Brasília: Ministério da Saúde. 2005.
29
Homens que fazem sexo com homens.
87
outros HSH com capacidade técnica e infra-estrutura necessárias para repassar seus
conhecimentos para os novos grupos. O segundo momento é quando um técnico do
CCA acompanha e assessora os novos grupos nas suas próprias cidades, dando suporte
na implementação dos conteúdos dos treinamentos. Os treinamentos têm 3 conteúdos
principais: Desenvolvimento Organizacional; Advocacy e Intervenção. No primeiro
treinamento, que normalmente está mais voltado para a questão de desenvolvimento
organizacional, os grupos elaboram planos de ação para seu desenvolvimento imediato
e projetos para a realização de ações de prevenção de DST/HIV/Aids com gays e outros
HSH em suas cidades.
À medida que realizam-se outros treinamentos, os grupos vão se aprofundando nos 3
temas: Desenvolvimento Organizacional, Advocacy e Intervenção. Desta forma,
gradativamente, os grupos se tornam capazes de realizar ações de advocacy, contribuir
para mudanças sociais favoráveis aos gays e outros HSH e também se tornam aptos a
intervir na comunidade local, promovendo a prevenção e a cidadania (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2005).
30
Ministério da Saúde; Secretaria de Vigilância em Saúde; Programa Nacional de DST e Aids. Projeto
Somos Desenvolvimento Organizacional, Advocacy e Intervenção para ONGs que trabalham com GAYS
e outros HSH. Brasília: Ministério da Saúde, 2005.
88
Ainda que não se possa afirmar que a realização do Projeto Somos foi o elemento
preponderante na interiorização do movimento no contexto baiano, as notícias coletadas
a respeito dos diversos grupos fundados na Bahia apontam para uma intensificação das
ações LGBT no interior do estado, a partir do ano 2000, e sua relação com a atuação de
grupos localizados na capital, especialmente o Grupo Gay da Bahia (GGB). Tal
hipótese é confirmada pelo depoimento do Prof. Dr. Luiz Mott, antropólogo, um dos
31
Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis – ABGLT. Juntos Somos Mais Fortes. Curitiba:
Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis – ABGLT, 2003.
89
Nós sempre fomos um grupo guarda-chuva, pelo fato de ter como fundador e
mantenedor um professor universitário, no caso eu, com um salário fixo, sem
depender do meu sustento de qualquer financiamento para o grupo, e o fato de eu
ter uma visão da importância da divulgação, da fundação de mais grupos. Então,
nós participamos diretamente da fundação do Grupo Lésbico da Bahia, da
Associação de Travestis de Salvador, do Grupo Vida Feliz de portadores de
HIV/Aids e do grupo Quimbanda Dudu de negros homossexuais, também tentando
fazer essa ligação com orientação sexual, raça e etnia. Quanto ao interior, nós
tivemos participação, mesmo antes das paradas, de grupos como em Camaçari,
ajudamos o de Feira de Santana. O primeiro grupo teve problemas administrativos,
colaboramos na fundação do atual GLICH. E o de Lauro de Freitas, o de Simões
filho, e mais tarde o de Ilhéus e Canavieiras, mandando material, indo pessoalmente
alguns de nós lá pra ajudar, mandando estatuto para que eles se registrassem [...].
(sic) (Entrevista concedida à pesquisadora em 01/05/2009.)
Quadro 03: Entidades baianas, cidade, ano de fundação e ano de filiação à ABGLT
32
As lacunas no quadro referem-se a entidades sobre as quais não foram encontradas informações de data
de fundação e que não se encontram afiliadas à ABGLT, apesar de citadas pelas fontes consultadas.
90
33
<www.mixbrasil.com.br> (08/10/2004). Acesso em:15 de novembro de 2008.
91
34
<http://www.sjcdh.ba.gov.br/noticias/noticia01_230408.html>. Acesso em: 15 de dezembro de 2008.
35
A associação considera como “eventos do orgulho” paradas, marchas, comícios, feiras, eventos
artísticos, culturais e qualquer atividade: dirigida ao público LGBTI; que aumente a visibilidade e a
valorização desse grupo social; que celebre acontecimentos históricos relevantes à causa; ou que seja
realizada, periodicamente, por uma “entidade do orgulho” (organizações sem fins lucrativos que tenham
entre seus objetivos ou atividades principais a produção de Eventos do Orgulho).
<http://www.interpride.org/171/Missão.htm>. Acesso em: 20 de dezembro de 2008.
92
Ano Tema
1984 Unidade e Tudo Mais em 84
1985 Com Vida e Orgulho em 85
1986 Juntos Adiante
1987 Com Orgulho, Força e União
1988 Legitimamente com Orgulho
1989 Stonewall 20 – Uma Geração de Orgulho
1990 Olhe para o Futuro
1991 Unidos e Unidas no Orgulho
1992 Orgulho = Poder
1993 Uma Família de Orgulho
1994 Stonewall 25 – Uma Comemoração Mundial do Orgulho e do Protesto de Lésbicas e Gays
1995 Orgulho – Do Silêncio à Comemoração
1996 Orgulho sem Fronteiras
1997 Igualdade pela Visibilidade
1998 Unidade em Toda a Diversidade
1999 Passado de Orgulho, Futuro de Poder
2000 Orgulhe-se, Alegre-se, Aja
2001 Abrace a Diversidade
2002 Orgulho em Todo o Mundo
2003 Paz pelo Orgulho
2004 Vive La Différence
2005 Direitos Iguais: Nem Mais, Nem Menos
2006 Orgulho Sim, Preconceito Não
2007 Unidos e Unidas pela Igualdade
2008 Viva, Ame e Seja
Fonte: http://www.interpride.org/158/Portugese_Home.htm. Acesso em: 20/01/2009
36
<http://www.abglt.org.br/port/paradasabc.php>. Acesso em: 20 de janeiro de 2009.
94
“A sociedade ainda não está preparada para isso”, declarou Ana Jaleco, gerente do
estabelecimento. “Por que é que se necessita de um espaço para beijar, porque não
nos pontos de ônibus, em casa, no shopping, por que tem de ser só no bar?”,
argumentava indignada aos participantes. A situação criou um clima de estresse entre
os funcionários e os organizadores do movimento, que logo foi sanado. Mas a
proibição, ao que parece, deve continuar.
Além das faixas, os gays fizeram um grande varal onde estenderam recortes de jornais
e flanelas com nomes de homossexuais que foram assassinados nos últimos 20 anos.
97
Duas camisetas que pertenceram a Joel Lobo, assassinado em 2003 em Salvador, foram
estendidas no Varal da Vergonha e da Impunidade. “Nossa ação é para chamar atenção
das pessoas para o combate e erradicação da homofobia em nossa sociedade”, disse
Marcelo Cerqueira, presidente do GGB.
A Manifestação teve início às 15hs e seguiu até as 18hs, na Praça Municipal. Após o
término, os homossexuais seguiram em grupo para a sede do GGB que fica no
Pelourinho, Centro Histórico de Salvador. Grupos homossexuais de todo o Brasil foram
hoje às ruas protestar. Os relatos das ações serão enviados para uma Central Gay em
Paris que deverá proceder um relatório mundial. Confira galeria de fotos no portal -
http://portal.marccelus.com/ - Salvador, 17 de maio de 2006 – Da equipe local. (MC).
O ato de protesto promovido em Salvador pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) aconteceu
paralelamente no mesmo horário no Rio de Janeiro e Goiânia. Em Salvador, cerca de
trinta pessoas participaram da manifestação.
O Grupo Gay da Bahia realiza protesto nesta 4ª feira, às 10hs, no HEMOBA, para
denunciar o preconceito da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que
através da resolução 153/2004 considera inabilitados para a doação de sangue "homens
que tiveram relações sexuais com outros homens em um prazo de 12 meses antes da
coleta”.
Para o Prof. Luiz Mott, Fundador do GGB, e que desde 1996 protesta junto ao Ministério
da Saúde contra esta resolução, “o política e cientificamente correto é perguntar e excluir
doadores que tenham mantido relações de risco sem camisinha, com parceiros
98
Conforme o presidente do GGB, Marcelo Cerqueira, “Fidel Castro tem uma dívida
histórica a ser resgatada com a humanidade: deve assumir que errou gravemente em
tornar Cuba um inferno para os homossexuais e transexuais, causando muita dor,
sofrimento, estigmatização e morte de milhares de amantes do mesmo sexo”.
Esta será a terceira vez que o Grupo Gay da Bahia, o mais antigo da América Latina,
faz protestos contra a homofobia católica: quando das duas visitas de João Paulo II ao
Brasil e nesta primeira visita de Bento XVI. “Não tememos a antipatia dos católicos
mais fervorosos, pois grande parte dos cristãos, inclusive o Presidente Lula,
discordam do Papa e dos Bispos quanto ao uso da camisinha. E a nossa Constituição
proíbe qualquer tipo de preconceito, inclusive contra os homossexuais! Esperamos
que Bento XVI, que teve de pedir desculpas aos muçulmanos por sua crítica a
Maomé, peça perdão de joelhos aos homossexuais, pois tem as mãos sujas de sangue
de todos os gays e travesti assassinados!”, completa o fundador do Grupo Gay da
Bahia. Manifestação: 9 de maio, 4ª feira, 16hs, Terreiro de Jesus em frente à Catedral
de Salvador.
Para comemorar 25 anos de sua fundação, o Grupo Gay da Bahia inaugura neste
próximo domingo, 4 de setembro, durante a 4ª Parada Gay da Bahia, a ESQUINA
DO ARCO ÍRIS, que pretende ser um marco simbólico na defesa do respeito à
diversidade sexual. Decora a nova praça um painel de 6 metros com duas serpentes
entrelaçadas, com as seis cores do arco-íris, simbolizando Oxumaré, divindade
andrógina do Candomblé. Aproveitando a abertura de pequena via ainda sem nome
que faz a ligação entre Rua Carlos Gomes e o Largo Dois de Julho, no Centro de
Salvador, o GGB solicitou há três meses ao Presidente da Câmara dos Vereadores
que tal artéria recém-aberta fosse batizada com o nome Esquina do Arco Íris. Na
ocasião, entregou dossiê onde comprova que se trata de uma área tradicionalmente
101
37
Segundo arquivo do Grupo Gay da Bahia (Fonte: Grupo Liberdade Igualdade e Cidadania
Homossexual, Folha do Estado e Tribuna Feirense/BA em 24/5/2003) ISRAEL DE ALMEIDA
CARLOS, 31, negro, homossexual, técnico em contabilidade, foi morto em 08/09/2002 a golpes de
enxadada e picareta na cabeça, na cidade de Santo Estevão. Após seis meses de desaparecimento foram
presos os assassinos Gilmar Coelho de Araújo, “Bob”, companheiro da vítima, Alex Fabiano Freitas
Lima, “Porco Russo”, Marcos Geovane Araújo e Valdir Ferreira da Silva, pai de santo; Alex Fabiano
disse que foi contratado por “Bob” para matar Israel, pois este tinha muito ciúme da noiva de Alex que
estava grávida. O delegado José Carlos das Neves, 1º DP, contou que, no depoimento do assassino, Alex
Fabiano molhou a flanela com éter e colocou no rosto da vítima, que desmaiou, sendo levada para um
local onde os outros já estavam esperando. O corpo foi levado depois para um matagal na BR 116 Sul.
102
do crime, a morte de Israel teria sido planejada pelo seu amante há quatro anos,
sujeito de pré-nome "Bob", juntamente com Keila (namorada de Bob). (...) Após
cinco dias ao desaparecimento de Israel, o grupo, a família e os amigos fizeram uma
varredura em terrenos baldios próximo às casas de shows que Israel costumava
freqüentar. Fotos em jornais e aparição em programas de televisão procurando por
Israel foram feitos durante meses.
Em 2003, a polícia (...) chegou até Porco Russo que, preso, confessou o crime e
delatou todos os envolvidos (...). Um mês depois todos os suspeitos foram soltos por
força de um Habeas Corpus apresentado pelo advogado dos réus, alegando a não
materialização do crime. Ainda em 2003 um saco de ossos humanos foi encontrado
na casa de show "Mega Fest" local onde Bob trabalhava e onde Israel foi visto pelo
última vez.
Em 2005 a ossada foi remetida para Salvador para realização de exames de DNA, o
teste deu negativo. Novas angústias, sofrimento, manifestações, troca de delegados,
coordenadores de polícia, envolvimento político (o dono da casa de show é amigo de
um grande deputado), e assim tudo voltou à estaca zero, ou seja, faltava a
materialização do crime.
(...) Em 2007, restando apenas 5 ossos, um novo exame de DNA foi solicitado pela
policia técnica (...), o exame de DNA comprova como sendo de Israel a ossada
encontrada na casa de show em 2003.
(...) Seus ossos serão cremados dentro em breve, assim que sair a autorização dos
médicos legistas; um grande ato político estaremos organizando neste dia. (...)
"O repórter, então, apresentou descontrole e gritou: 'Duas mulheres, não. Mulher com
mulher, não. Beijar mulher e mulher, não'. Com o desconforto da situação, surgiu
uma voz em off, encerrando o quadro, mas ainda foi possível ouvir o rapaz dizer 'vou
arrumar dois homens para vocês' ", relata Reis, em sua carta enviada à Band.
Na opinião do militante, é "inadmissível que uma emissora do porte da Bandeirantes
apresente tal atitude discriminatória", principalmente no ano em que o Brasil realiza
sua 1ª Conferência Nacional GLBT, convocada pelo presidente da República.
A Folha Online procurou a assessoria da Band e pediu um comentário sobre a carta
da ABGLT, mas ainda não recebeu uma resposta.
O âmbito das lutas no campo legislativo é aquele que melhor traduz a disputa de
significados em torno da legitimidade da condição homossexual. Paralelos aos projetos
que contemplam as demandas do movimento, muitas críticas são construídas, dando por
vezes origem a outras proposições que buscam legitimar posições diametralmente
opostas às do movimento LGBT. Tais estratégias têm resultado no adiamento de
votações ou no abandono dos projetos de lei considerados mais polêmicos, relativos não
só à temática LGBT, mas a outros temas cruciais, a exemplo do projeto que propõe a
redução da maioridade penal.
38
Disponível em: http://www.abglt.org.br/port/IIIcongresso.php. Acesso em: 20 de maio de 2009.
39
Como exemplo de políticas públicas o documento faz referência à criação de órgãos públicos voltados à
garantia dos direitos da população LGBT. Tanto no caso das políticas públicas quanto no caso das leis já
aprovadas, o documento destaca, entretanto, a ausência de instrumentos eficazes para a sua aplicação.
40
Disponível em: http://pfdc.pgr.mpf.gov.br/grupos-de-trabalho/dir-sexuais-reprodutivos/proposicoes
legislativas/noticia_pl_4914.09_uniao_estavel.pdf. Acesso em: 10 maio de 2009.
41
Disponível em: http://imagem.camara.gov.br/dc_20.asp?selCodColecaoCsv= D&Datain=21/11/1995&
pagina=5827&altura=700&largura=800. Acesso em: 20 de outubro de 2008.
105
Apesar da não aprovação, até o momento, dos referidos projetos de lei há, em
âmbito nacional, uma única lei aprovada, a Lei nº 11.340/2006 ( Lei Maria da Penha ).
Apesar de não se referir especificamente aos LGBT, essa lei ressalta a orientação sexual
como uma das condições a ser considerada de modo igualitário nas situações
relacionadas à violência doméstica.
42
Disponível em: http://www.revistaenfoque.com.br/index.php?edicao=75&materia=863. Acesso em: 10
de janeiro de 2009.
106
43
Disponível em: http://www.camara.gov.br/sileg/integras/335867.pdf. Acesso em: 20 de novembro de
2008.
44
Disponível em: http://portalsaude.vilabol.uol.com.br/4119_1962.htm. Acesso em: 20 de novembro de
2008.
45
O termo homossexualismo vem sendo cada vez menos utilizado, já que corresponde a uma
postura de patologização da prática homossexual. A sua utilização no projeto de lei permite
entrever uma produção de sentido em que, por ser uma doença, a mesma poderia ser alvo de
tratamento a ser realizado por profissionais habilitados. Tal concepção contraria o próprio
posicionamento do Conselho Federal de Psicologia que na Resolução CFP n.º01/99
(<http://www.pol.org.br/pol/export/sites/default/pol/legislacao/legislacaoDocumentos/resolucao1999_1.p
df>. Acesso em: 20 de novembro de 2008) impede os psicólogos de realizar qualquer tipo de tratamento
visando à cura da homossexualidade.
46
<http://www.camara.gov.br/sileg/integras/335867.pdf>. Acesso em: 20 de novembro de 2008.
107
47
Dentre os grupos baianos existentes, o GGB é o de maior projeção nacional e internacional. Conforme
aponta Conde (2004), sua visibilidade pode ser em boa parte atribuída ao perfil de seus fundadores,
militantes intelectuais, que como outros militantes de movimentos de minorias, posicionaram-se de forma
estratégica nas relações com a academia científica, com os meios de comunicação, com as organizações
de defesa dos direitos humanos, e com o Estado. Um exemplo deste último caso foi a nomeação, por meio
do Decreto nº 3.952/2001, de Luiz Mott, liderança mais conhecida da entidade, como membro titular do
Conselho Nacional de Combate à Discriminação, do Ministério da Justiça.
48
A ação foi parte de uma campanha pela exclusão da homossexualidade do rol de doenças, no qual era
identificada precisamente como desvio e transtorno sexual, conforme o código 302.0 da Classificação
Internacional de Doenças (CID). O Prof. Dr. Luiz Mott liderou essa campanha em várias frentes e acabou
por receber o apoio de entidades como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a
Associação Brasileira de Antropologia (ABA), a Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências
Sociais (Anpocs), bem como de várias personalidades e de inúmeros parlamentares. Um abaixo-assinado
com dezesseis mil assinaturas apoiava a reivindicação do movimento. O fruto dessa intensa campanha foi
uma resolução baixada pelo Conselho Federal de Medicina, em fevereiro de 1985, pela qual a
homossexualidade deixou de ser considerada uma doença, e passou a integrar uma das outras
circunstâncias psicossociais, como o desemprego, o desajustamento social e as tensões psicológicas
(CFM, 1985). À decisão do CFM, seguiu-se a Resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP, 1999),
que instrui os psicólogos a se posicionarem de modo a contribuir para o desaparecimento de
discriminações e estigmatizações e que também não colaborem com eventos e serviços que proponham o
tratamento das homossexualidades.
109
49
O termo constante na lei é opção e não orientação sexual. Este último, atualmente considerado pelo
movimento como o mais adequado, só foi adotado de modo consensual posteriormente.
50
Ilhéus aprovou no dia 12 de Dezembro de 2007 o Projeto de Lei 043/2007, que institui penalidades à
Prática de Discriminação em Razão da Orientação Sexual.
51
Não é possível afirmar que estes sejam os únicos municípios baianos que tenham aprovado leis que
garantem os direitos dos LGBT. Os municípios citados foram aqueles referidos nos documentos
analisados pela presente pesquisa sem que tenha sido feito um levantamento exaustivo de todos os
municípios baianos sobre esta questão, já que isto extrapolaria os objetivos do presente trabalho.
52
<http://www.ggb.org.br/proposta_projleiestado.html>. Acesso em: 10 de dezembro de 2008.
110
53
<http://www.ggb.org.br/proposta_de_legislacaonabahia.html>. Acesso em: 10 de outubro de 2008.
111
fortalecida ao longo do tempo por duas razões: a consolidação do que Conde (2004)
descreve como a fase mais recente do movimento, fortemente voltada para a questão
legislativa; e a consequente percepção de que existe uma enorme resistência para a
aprovação de leis que contemplem os homossexuais, motivada, sobretudo, por posturas
baseadas na religião. Em decorrência, o movimento denuncia a posição contraditória do
Estado, ou seja, o Brasil não vive um Estado laico de fato, vez que, quanto à questão
homossexual, a rejeição das propostas tem, sempre, como argumento, questões morais
de ordem religiosa, as quais relacionam a homossexualidade ao pecado, à doença e à
anomia social (o crime, a violência etc.).
Dessa forma, o esforço para ocupar lugares na política formal tem sido uma
estratégia e parte de um repertório da ação coletiva do movimento. Não se trata, apenas,
da candidatura de gays, lésbicas e apoiadores da causa como uma iniciativa individual
ou mesmo gestada dentro dos partidos políticos; trata-se de uma intervenção do
movimento para estimular o nascimento de candidaturas diretamente ligadas à causa e
motivar os participantes do movimento a votar nesses candidatos, inclusive, como
postura de crítica aos candidatos homofóbicos. Tal estratégia é articulada nacionalmente
e tem desdobramentos locais com o lançamento de candidatos nos âmbitos estadual e
municipal.
A análise dos dados produzidos pelo movimento acerca da busca por um espaço
na política formal demonstra que um investimento crescente tem sido feito neste
sentido. Entre 2000 e 2008, observa-se um aumento expressivo no número de
candidatos de algum modo vinculados à causa. Cabe destacar, aqui, a identificação não
apenas dos candidatos homossexuais ou diretamente ligados ao movimento, mas,
também, daqueles reconhecidos como aliados. O levantamento para as eleições de 2000
e 2004, por exemplo, mostra candidatos que são assumidamente homossexuais e que
advogam mais o seu pertencimento a um grupo identitário reconhecido como minoria
do que a convicções político-partidárias.
54
Diário Oficial da União – Seção 2, Nº 199, sexta-feira, 15 de outubro de 2004, Página 24. Disponível
em: http://www.abglt.org.br/port/minsaude.php. Acesso em: 20 de dezembro de 2008.
115
atenção integral voltada aos LGBT, visando a articulação e o fortalecimento das ações
de saúde dirigidas a esse público; aponta para a necessidade de estratégias intersetoriais
com base no Programa Brasil Sem Homofobia e constata a reduzida sistematização de
conhecimento sobre o tema no país. Tais estratégias, conforme apontadas na Portaria,
devem estar relacionadas a estudos sobre o tema e à educação permanente dos
trabalhadores da saúde para fomentar valores de tolerância e respeito aos direitos
humanos e à escuta dos grupos diretamente envolvidos com a temática. A Portaria prevê
a criação, no Ministério, de um Comitê Técnico de Saúde da População de Gays,
Lésbicas, Transgêneros e Bissexuais (GLTB), tendo como objetivos: sistematizar uma
proposta de política nacional que assegure a equidade na atenção à saúde para os LGBT;
promover a elaboração de propostas de atenção integral à saúde, de participação e de
controle social; incorporar na elaboração da política de saúde subsídios técnico-políticos
provenientes do movimento social e do campo da pesquisa; e participar de iniciativas
intersetoriais relacionadas à saúde dos LGBT. O Comitê Técnico deve incorporar às
suas decisões a consulta ao movimento LGBT e compreender as suas especificidades.
Para isso, a Portaria designa militantes do movimento LGBT para ter representados no
Comitê os diversos segmentos genericamente agrupados como homossexuais; define
dois representantes (titular e suplente) do público gay, dois representantes da população
lésbica, e dois representantes da população transgênero.
55
Diário Oficial da União - Seção 1 - Número 145 de 29/07/2004. Disponível em:
http://www.abglt.org.br/port/mincultura.php. Acesso em: 20 de dezembro de 2008.
116
56
Diário Oficial da União – Seção 2 – Número 249 de 28/12/2007. Disponível em:
http://www.abglt.org.br/port/mineducacao.php. Acesso em 20 de dezembro de 2008.
57
<http://www.prsp.mpf.gov.br/prdc/area-de-atuacao/dsexuaisreprod/Relatorio%20Brasil%20Se
m%Homofobia%20SEDH.pdf. Acesso em: 20 de janeiro de 2009.
58
I Seminário Nacional Afro-GLBT (Dezembro de 2006 / RJ); VI SENALE – Seminário Nacional de
Lésbicas (Maio de 2006 / PE); II Congresso Nacional da ABGLT – Associação Brasileira de Gays,
Lésbicas e Transgêneros (Novembro de 2006 / AL).
117
59
Os dados produzidos pelo movimento contradizem a análise otimista da Secretaria em relação à
implantação dos Centros de Referência. As discussões travadas nas listas existentes na rede mundial de
computadores apontam para a dificuldade de manutenção dos Centros e a insatisfação do movimento a
respeito do modo como os mesmos foram implementados.
118
60
O programa nasceu sem dotação orçamentária em 2004; recebeu em 2005 cerca de R$ 3 milhões e em
2006, cerca de R$ 7 milhões, oriundos de emendas de comissões da Câmara e de parlamentares . No ano
de 2007 houve uma redução dos recursos previstos para o Programa, que passou a contar com R$4
milhões. De acordo com estimativas realizadas pelo movimento seriam necessários R$ 30 milhões para a
fase inicial de implementação do programa. < http://www.direitos.org.br/index.php?option=com_content
&task=view&id=987&Itemid=2>; <http://mixbrasil.uol.com.br/upload/noticia/11_101_54878.shtml>.
Acesso em: 20 de dezembro de 2008
61
De acordo com informações disponibilizadas pelo Ministério da Cultura, os recursos para a
implantação das ações são provenientes da Lei Orçamentária da União, consignados à SID/MinC
e de parcerias agregadas ao programa. <http://www.aliadas.org.br/site/textos/clipping.php?id=19>.
Acesso em: 20 de janeiro de 2009.
62
A Portaria que define a criação do Programa de Fomento a Projetos de Combate à Homofobia também
restabelece o Edital de Apoio às Paradas do Orgulho GLTB/2005, o 1º Edital de Apoio às
Expressões Culturais GLTB/2006 e o 2º Edital de Divulgação da Cultura GLTB/2007.
119
63
Fonte: Ministério da Cultura, Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural. Edital SID/MINC nº
22 de 18 de julho de 2008. Edital de homologação do resultado final do concurso público de apoio a
iniciativas culturais voltadas para o combate a homofobia e transfobia – Prêmio Cultural GLBT – 2008.
64
<http://www.fundacaocultural.ba.gov.br/editais/2009/01/lgbt/lgbt.html>. Acesso em 18 de março de
2009.
65
“Com o objetivo de identificar oportunidades de investimento e prioridades temáticas definidas a partir
da realidade local de cada Território, possibilitando o desenvolvimento equilibrado e sustentável entre as
regiões, o Governo da Bahia passou a reconhecer, em seu Planejamento Territorial, a existência de 26
Territórios de Identidade, constituídos a partir da especificidade dos arranjos sociais e locais de cada
região”. <http://www.seplan.ba.gov.br/mapa_territorios.html>. Acesso em: 20 de março de 2009.
120
sexual, para serem desenvolvidos por meio de convênios firmados com instituições
públicas e ONGs66. Em 2006, de acordo com os dados consultados, foi implementado o
Curso de Formação de Educadores/as em Gênero, Sexualidades e Relações Étnico-
raciais com parceria entre o MEC, a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial e a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. O projeto piloto
do curso, previsto para ser ministrado em regime semi-presencial, com carga horária
total de 200 horas, envolveu seis municípios brasileiros – Dourados - MT, Maringá -
PR, Nova Iguaçú e Niterói - RJ, Porto Velho - RO e Salvador - BA – e teve por objetivo
capacitar 1,2 mil profissionais de educação.
66
<http://gonline.uol.com.br/livre/gnews/html/gnews2557.shtml>;
<http://gonline.uol.com.br/livre/gnews/html/gnews2555.shtml>. Acesso em: 17 de novembro de 2008.
67
<http://www.sec.ba.gov.br/iat/SITE_2007/informes_IAT_1.pdf>. Acesso em: 17 de novembro de 2008.
68
<www.sec.ba.gov.br/iat>; <http://www.sec.ba.gov.br/iat/conteudo_2007/informes_ggb.asp>. Acesso
em: 17 de novembro de 2008.
121
69
< http://www.correiodabahia.com.br/aquisalvador/noticia.asp?codigo=146317> (25 de janeiro de 2008).
Acesso em: 20 de novembro de 2008.
70
Seleção Pública para Projetos de OSC – PAM 2006 – Processo de Seleção – 2ª Etapa – Classificação –
Relatório Final - Portaria SESAB nº 2.559. Publicada no Diário Oficial da Bahia, em de 28 de novembro
de 2006
122
"Um governo para todos", como é o lema do atual governo da Bahia, não pode excluir
10% de baianos representados pelos homossexuais. Só em Salvador, os gays, lésbicas e
travestis devem representar mais de 250 mil indivíduos, mais de 1 milhão no Estado. E
não obstante, ao ser instituído o Observatório da Discriminação Racial e da Violência
contra a Mulher pela Secretaria Municipal da Reparação, os homossexuais foram mais
uma vez discriminados, já que não consta neste observatório o atendimento para os
crimes de ódio contra a comunidade GLTB. Que fique registrado nosso veemente
protesto contra esta inaceitável manifestação de homofobia institucional e que em
qualquer outra iniciativa contra a discriminação racial e sexual em Salvador e na Bahia,
os homossexuais sejam incluídos. Atenciosamente, Prof. Dr. Luiz Mott Fundador do
Grupo Gay da Bahia e Professor Titular da UFBa. Salvador, 2-2-2008.
71
Segurança com respeito aos direitos do cidadão (09 de fevereiro de 2008). Fonte: jornal A Tarde.
72
<http://br.groups.yahoo.com/group/gaylawyers/message/42870>. Acesso em: 13 de janeiro de 2009.
123
73
Um retrato sem retoques da realidade GLBT. (29 de dezembro de 2007). Fonte: Jornal O Tempo.
<http://www.otempo.com.br/otempo/noticias/?IdEdicao=781&IdCanal=4&IdSubCanal=33&IdNoticia=6
5540&IdTipoNoticia=1>. Acesso em: 20 de janeiro de 2009.
124
relacionamento afetivo entre duas mulheres, que uma das companheiras pagasse pensão
alimentícia à outra que necessitava de amparo material74.
74
No direito dos homossexuais, o preconceito ainda prevalece no Brasil. (9 de janeiro de 2008). Fonte:
Globo Online.
<http://oglobo.globo.com/opiniao/mat/2008/01/09/no_direito_dos_homossexuais_preconceito_ainda_pre
valece_no_brasil-327935549.asp. Acesso em: 20 de novembro de 2008>.
75
<http://www.endividado.com/materias_det.php?id=6016>. Acesso em: 10 de janeiro de 2009.
76
GGB ameaça incentivar gays a fechar contas no Bradesco. (30 de julho de 2005). Fonte: jornal A
Tarde. < http://www.trt05.gov.br/sentenca/ssa/J24/S01019200402405008RT.HTM>. Acesso em: 10 de
janeiro de 2009.
125
77
Caixa reconhece direitos de casais homossexuais. (11 de outubro de 2005). Fonte: Mix Brasil.
<http://mixbrasil.uol.com.br/mundomix/centralplus/3303.htm>. Acesso em 22 de novembro de 2008.
78
Na Bahia, já havia ocorrido decisões relacionadas à pensão do INSS, mas não o reconhecimento de uma
união homoafetiva nos moldes de relação estável.
79
Justiça baiana reconhece união homoafetiva. (05 de dezembro de 2006). Fonte: jornal A Tarde.
<http://www.ggb.org.br/parceria_justica_baiana_recon.html. Acesso em: 22 de novembro de 2008>.
126
Paulo Zamboni, representante do site Mídia Sem Máscara (...) disse que “ainda não
existe processo, mas um procedimento administrativo, instaurado pela Procuradoria
Regional dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal na Bahia”.
80
MP contesta guarda provisória por transexual. (8 de janeiro de 2008). Fonte: O Estado de São
Paulo. <http://www.tjm.sp.gov.br/Noticias/0108MP.htm>. Acesso em: 8 de janeiro de 2009.
127
CONSIDERAÇÕES FINAIS
no nível local para aprovar, em âmbito estadual e municipal, leis de conteúdo similar às
que ainda se encontram em tramitação no Congresso Nacional.
Ainda assim, sem dúvida, as paradas têm sido a estratégia mais consolidada de
interação do movimento com a sociedade civil no cenário público. Mais recentemente,
outros eventos culturais com o objetivo de defender o direito à livre expressão sexual
têm sido realizados na capital e no interior, o que evidencia a importância atribuída pelo
movimento à realização de atividades que combinem reivindicar o respeito às diversas
orientações sexuais existentes e promover uma transformação dos valores sociais
vigentes, a partir da desconstrução das concepções referentes a um padrão de
funcionamento social heteronormativo. Tal postura parece apontar para a utilização,
simultaneamente, de estratégias que buscam, em curto prazo, a afirmação e, em longo
prazo, a transformação – um esforço de conciliação entre as categorias sugeridas por
Fraser (2000, 2001) ao tratar de questões dessa natureza.
tema predomina nas manifestações locais, motivadas por questões globais, juntamente
com os protestos contra instituições religiosas que condenam a homossexualidade.
REFERÊNCIAS
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de janeiro: Ed. Campus, 1992.
____________. Estado, governo, sociedade: para uma teoria geral da política. 13 ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
BRYMAN, A. Quality and quantity in social research. London: Unwin Hyman, 1988.
CARDOSO, Ruth Correa Leite. A trajetória dos movimentos sociais. In: Dagnino, E.
(org.). Anos 90: política e sociedade no Brasil. São Paulo, Brasiliense, 2004.
FRASER, Nancy. Rethinking recognition. New Left Review, may/jun, p.107 - 120,
2000.
FRY, Peter; MAC RAE, Edward. O que é homossexualidade. 7 ed. SP: Editora
Brasiliense, 1991.
HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais.
São Paulo: Ed. 34, 2003.
MELUCCI, Alberto. 1989. Nomads of the present. Londres: Hutchinson Radius, 1989.
MILANI, Carlos R. S., LANIADO, Ruthy Nadia. Transnational social movements and
the globalisation agenda: a methodological approach based on the analysis of the World
Social Fórum. Centro Edelstein de Estudos Sociais e Associação Brasileira de Ciência
Política, 2006.
___________. A sociedade civil contra a política? In: São Paulo em Perspectiva. São
Paulo: Fundação SEADE, v.8, nº 2, abr/jun, p.21-25, 1994.
<http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2008/06/07/materia.2008 -06-07.2850057054/view>
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>
< www.acapa.com.br/site/noticia.asp?codigo=5705>
<http://www.estoufelizassim.hpg.ig.com.br/cronologia2.html>
<http://aliadas.org.br/site/arquivos/ALIADAS-adesao.pdf>
<http://www.presidencia.gov.br/estrutura_presidencia/sedh/brasilsem/>
<http://br.groups.yahoo.com/group/coletivokiu/message/3974>
<http://www.abglt.org.br/port/declaracao_conjunta_63_635.html>
<http://www.abglt.org.br/port/IIIcongresso.php>
<http://www.convencion.org.uy/menu1-39.htm>
<http://www.senado.gov.br/sf/atividade/Materia/getPDF.asp?t=45607>
<http://www.abglt.org.br/port/IIIcongresso.php>
<http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=427692>
<http://www.abglt.org.br/port/publicacoes.php>
<http://www.abglt.org.br/port/carta_brasilia.html>
<http://www.ilga.org/>
<http://america_latina_caribe.ilga.org/lac/bienvenid_en_el_sitio_web_de_ilga_lac/miembros/ilga_lac_miembr
os_membros_members>
<http://www.abglt.org.br/port/cartaprinc.php>
<www.mixbrasil.com.br>
138
<http://www.sjcdh.ba.gov.br/noticias/noticia01_230408.html>
<http://www.interpride.org/171/Missão.htm>
<http://www.abglt.org.br>
<www.ggb.org.br>
<http://www.interpride.org/158/Portugese_Home.htm>
<http://www.abglt.org.br/port/paradas2006.php>
<http://www.abglt.org.br/port/paradas2007.php>
<http://www.abglt.org.br/port/paradas2008.php>
< http://www.abglt.org.br/port/paradas2009.php>
<http://www.abglt.org.br/port/paradasabc.php>
<http://www.abglt.org.br/port/paradas2006.php>
<http://www.abglt.org.br/port/paradas2007.php>
<http://www.abglt.org.br/port/paradas2008.php>
<http://www.abglt.org.br/port/paradas2009.php>
<http://www.farofadigital.com.br/direito_beijaco.htm>
<http://www.ggb.org.br/moviment_glbt4.html>
<http://www.ggb.org.br/gays_querem_direitodefrequentar_praianudista.html>
<http://www.ggb.org.br/homofobia_ato_piedade.html>
<http://www.ggb.org.br/sargentos_exercitoato_no%20quatel.html>
<http://www.ggb.org.br/protest_sangue_ggb.html>
<http://www.ggb.org.br/ciad_ggb_protesta.htm>
<http://www.atarde.com.br/cidades/noticia.jsf?id=842186>
<http://correio24horas.globo.com/noticias/noticia.asp?codigo=12405&mdl=50>
<http://www.ggb.org.br/moviment_glbt4.html>
<http://www.ggb.org.br/visita_do_papa_aobrasil_protesto_ggb.html>
<http://www.gaybrasil.com.br/esq.arco-iris-ba.asp?Categoria=Pride&Codigo=2378>
<http://br.groups.yahoo.com/group/gaylawyers/message/42761 (14>
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/colunas/destaquesgls/ult10009u370115.shtml>
<http://www.abglt.org.br/port/IIIcongresso.php>
<http://pfdc.pgr.mpf.gov.br/grupos-de-trabalho/dir-sexuais-reprodutivos/proposicoes
legislativas/noticia_pl_4914.09_uniao_estavel.pdf>
<http://imagem.camara.gov.br/dc_20.asp?selCodColecaoCsv= D&Datain=21/11/1995&
pagina=5827&altura=700&largura=800>
<http://www.revistaenfoque.com.br/index.php?edicao=75&materia=863>
<http://www.camara.gov.br/sileg/integras/335867.pdf>
<http://portalsaude.vilabol.uol.com.br/4119_1962.htm>
<http://www.pol.org.br/pol/export/sites/default/pol/legislacao/legislacaoDocumentos/resolucao1999_1.pdf>
<http://www.camara.gov.br/sileg/integras/335867.pdf>
<http://www.senado.gov.br/sf/senado/unilegis/pdf/UL_TF_DL_2005_Viviane_Brito.pdf>
<http://www.ggb.org.br/proposta_projleiestado.html>
<http://www.ggb.org.br/proposta_de_legislacaonabahia.html>
<http://ultimosegundo.ig.com.br/paginas/cadernoi/materias/194001-194500/194272/194272_1.html>
<http://www.abglt.org.br/port/eleicoes2008.php>
< http://www.abglt.org.br/port/minsaude.php>
<http://www.abglt.org.br/port/mincultura.php>
<http://www.abglt.org.br/port/mineducacao.php>.
<http://www.prsp.mpf.gov.br/prdc/area-de-atuacao/dsexuaisreprod/Relatorio%20Brasil%20Se
m%Homofobia%20SEDH.pdf>
<http://www.direitos.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=987&Itemid=2>
<http://mixbrasil.uol.com.br/upload/noticia/11_101_54878.shtml>
<http://www.aliadas.org.br/site/textos/clipping.php?id=19>
<http://www.fundacaocultural.ba.gov.br/editais/2009/01/lgbt/lgbt.html>
<http://www.seplan.ba.gov.br/mapa_territorios.html
<http://gonline.uol.com.br/livre/gnews/html/gnews2557.shtml>
<http://gonline.uol.com.br/livre/gnews/html/gnews2555.shtml>
<http://www.sec.ba.gov.br/iat/SITE_2007/informes_IAT_1.pdf>
<www.sec.ba.gov.br/iat>
<http://www.sec.ba.gov.br/iat/conteudo_2007/informes_ggb.asp>
<http://www.correiodabahia.com.br/aquisalvador/noticia.asp?codigo=146317>
<http://br.groups.yahoo.com/group/gaylawyers/message/50218>
139
<http://br.groups.yahoo.com/group/gaylawyers/message/42870>
<http://br.groups.yahoo.com/group/gaylawyers/message/42756>
<http://www.otempo.com.br/otempo/noticias/?IdEdicao=781&IdCanal=4&IdSubCanal=33&IdNoticia=6
5540&IdTipoNoticia=1>
<http://oglobo.globo.com/opiniao/mat/2008/01/09/no_direito_dos_homossexuais_preconceito_ainda_pre
valece_no_brasil-327935549.asp>
<http://www.endividado.com/materias_det.php?id=6016>
< http://www.trt05.gov.br/sentenca/ssa/J24/S01019200402405008RT.HTM>
<http://mixbrasil.uol.com.br/mundomix/centralplus/3303.htm>
<http://www.ggb.org.br/parceria_justica_baiana_recon.html>
<www.revistaenfoque.com.br/index.php?edicao=75&materia=863>
<http://www.tjm.sp.gov.br/Noticias/0108MP.htm>
140
RC- O movimento muitas vezes tem sido acusado de ser uma causa superdimensionada.
Discute-se a legitimidade em relação a outras causas sociais que teriam prioridade no
discurso de alguns movimentos sociais e da sociedade civil. Como é que tem se dado a
relação do movimento LGBT ou GLBT (que é a nomenclatura que você prefere) com
esses outros movimentos ligados ao reconhecimento como, por exemplo, o movimento
feminista e o movimento negro, e com os movimentos de demandas mais relacionadas à
redistribuição?
RC- Você acha que o MHB tem conseguido fazer parcerias com outros movimentos,
nesse sentido?
LM- A primeira vez que o Grupo Gay da Bahia – GGB apareceu em público, assim
como na primeira passeata do grupo SOMOS em São Paulo, foi ao lado do movimento
negro, que também acabava de se constituir no Brasil. O movimento feminista
colaborou inicialmente com o Movimento Homossexual, não só sugerindo pautas, mas
abrindo espaços para discussão, sobretudo com os gays, com um pouquinho mais de
dificuldade em relação às lésbicas e, mais ainda, com as transgêneros – as travestis e
141
transexuais. Eu acho importante essa colaboração, mas é muito mais ideológica e social
do que propriamente estratégica e programática, na medida em que cada movimento
específico tem tantas bandeiras e tantas agendas urgentes que essa união, muitas vezes,
é retórica ou por ocasiões muito importantes, como em festas, em celebrações, em dias
nacionais de cada uma dessas minorias e na participação em debates, palestras e
seminários. Na prática, o importante é que, por exemplo, o movimento feminista
erradique do seu meio a homofobia; que o movimento GLBT erradique o machismo; o
mesmo em relação ao movimento negro e demais movimentos sociais.
RC- Você acha que a natureza das demandas do movimento GLBT pode ser
considerada igual a de movimentos como o de negro e de mulheres, que têm trajetórias
mais ou menos próximas historicamente?
RC- Mas a questão é que é uma luta simbólica. Porque se diz, por exemplo, que a
mulher não tem como fugir de sua condição. Já no caso da orientação sexual, há a idéia
de que tratar-se-ia de uma escolha. Nesse sentido, você considera que são movimentos
iguais? O movimento de mulheres, por exemplo, e o movimento gay?
LM- Eu não vejo, a não ser raríssimamente, se discutir sobre o fator natural, genético,
essencialista da sexualidade humana e da orientação sexual vis-à-vis confrontando com
uma outra posição, que seria considerar a homossexualidade como uma escolha, ou
142
como opção ou como uma possibilidade ou não a ser realizada. Acho que é um debate
que está num nível muito mais equivocado, fora do debate político, seja no parlamento,
seja no confronto com homofóbicos mais violentos. Enquanto não se define a origem ou
a gênese das diferentes orientações sexuais, não há porque argumentar que seria menos
legítimo e menos urgente pelo fato de ser eventualmente uma opção sexual.
LM- A minha posição pessoal e do GGB, assim como a do presidente atual, Marcelo
Cerqueira, é a de que o nosso movimento tem que ser suprapartidário e apartidário. Eu
participei do PT logo no começo de sua institucionalização na Bahia, a minha ficha de
inscrição foi assinada pelo atual deputado federal, Zezéu Ribeiro, mas me afastei alguns
anos depois, por discordar de algumas posições do partido em termos de política
nacional. Sempre fui aberto a dialogar e sempre estimulei que o movimento, enquanto
tal, dialogue com todos os partidos, de direita, de centro ou de esquerda, embora
constate que, de fato, a partir do primeiro estatuto do PT, no começo dos anos 80,
quando se inclui o respeito à livre orientação sexual em seu estatuto – apesar de
algumas declarações homofóbicas e infelizes do Lula e de alguns outros petistas,
sobretudo os ligados à movimentos religiosos – os partidos de esquerda ou de centro-
esquerda são mais sensíveis. Isso se patenteou logo no começo do movimento em 1985,
quando nós lutamos para a extinção do parágrafo 302.0 do CID (Código Internacional
de Doenças), que rotulava o homossexualismo como desvio e transtorno sexual, e que
houve partidos como o ARENA, na época, que sequer responderam às nossas questões.
Obtivemos o apoio, sobretudo, de partidos de centro e de esquerda. Quem fez um
excelente trabalho sobre isso, a quem eu considero como o fundador do movimento e
seu primeiro decano, foi o doutor João Antonio Mascarenhas, que tem um livro, se não
me engano chamado “Terceira Margem”, em que fez um levantamento sobre posições
políticas dos nossos deputados amigos e inimigos. Mostra o predomínio da esquerda
mas, também, que importantes vitórias foram obtidas através de políticos nitidamente de
143
centro ou de direita. Em São Paulo, por exemplo, quem fez, propôs e aprovou a lei
pioneira do dia internacional do orgulho gay foi um vereador de direita, que depois foi
até cassado. Outro parlamentar importante, dando apoio a Marta Suplicy, que era da
frente do Collor, o Roberto Jéferson, foi quem fez o substitutivo do projeto de Marta.
Em outros estados se repete a mesma coisa; o governador do Rio de Janeiro, o único
que até agora subiu no carro de uma parada gay é do PMDB, enfim, de um partido que
não é de esquerda.
LM- Eu acho uma idéia brilhante mas, infelizmente, com uma atuação zero a esquerda.
Sou extremamente crítico a todas as frentes parlamentares, não só a federal como
também a municipal. Eu considero muito mais uma coisa pra inglês ver, mas não deixa
de ser importante. Eu aplaudo os deputados e vereadores que têm coragem de se afiliar a
essas frentes, porém, elas não se reúnem, seus membros não se fazem presentes no
momento de votações importantes, um ou outro têm um contato com o movimento,
participando de congressos, mantendo diálogos ou apresentando projetos, como
aconteceu com a grande simpatizante e aliada que é a senadora do Acre, Fátima Cleide.
Ela esteve agora no congresso da ABGLT em Belém, inclusive com participação em
uma mesa, recebeu um prêmio etc. Lastimável é a ausência do deputado do PT baiano
que foi candidato à prefeito, Pinheiro, que disse que ia entrar na frente parlamentar
LGBT e até agora nada. Eu acho que foi um mero oportunismo o apoio que ele disse ter
dado também aos homossexuais.
RC- Em termos legislativos parece que as leis aprovadas são aquelas que, com exceção
das leis municipais que criminalizam a homofobia, estão mais relacionadas, por
exemplo, à instituição de um dia de combate a homofobia ou dia do orgulho, mas que
não se revertem em destinação de recursos, compondo apenas conquistas no plano
simbólico. Esta situação é a que parece caracterizar a maior parte das leis até agora
aprovadas, não é isso?
apoios, de modo que eu não vejo isso como algo que é intencional por parte dos
parlamentares. É uma falta de comunicação entre as bases e os representantes do povo.
RC- Como é que você avalia as estratégias que o movimento tem utilizado, já que você
disse, em alguns momentos, que elas não têm conseguido mobilizar os representantes?
Como você tem avaliado as estratégias? As paradas, a articulação contínua com
representantes do governo, o encaminhamento de denúncias...
LM- A agenda do MHB desde a sua fundação, há 30 anos, definiu as suas prioridades
básicas, ou seja: a luta contra homofobia, a criação de leis que garantam a cidadania
plena, entre elas, a parceria civil, o direito a herança etc. Desde que o movimento se
estruturou mais, sobretudo através da ABGLT, da ascensão do PT ao poder e dos
diversos militantes gays que se filiaram ou já eram filiados há, inegavelmente, uma
maior politização do movimento, sobretudo pelo maior conhecimento das estruturas do
poder em Brasília e dos meandros da burocracia estadual e municipal, tentando
inclusive eleger alguns candidatos LGBT ou aliados. O certo é que há uma política mais
inteligente e de captação de recursos por parte do movimento nesse diálogo com poder,
a exemplo do Programa Nacional de Direitos Humanos, onde eu participei da primeira
comissão dos direitos humanos e reivindiquei que as mesmas ações afirmativas – que
eram mais de vinte – que estavam sendo propostas para a população negra e indígena
também beneficiassem os homossexuais. O primeiro contato oficial do governo
brasileiro com o movimento foi logo no início da AIDS, quando eu vi publicado no
jornal a primeira comissão de AIDS, que tinha entre seus membros o Cardeal Arns, de
São Paulo, Pelé e um representante do recém fundado Grupo de Apoio e Prevenção à
AIDS, que era também lá de São Paulo. Eu escrevi para o presidente na época, não sei
se era o Sarney, dizendo que era fundamental a presença de um homossexual, na medida
em que a AIDS estava sendo chamada de peste gay e estava atingindo, sobretudo, os
homossexuais masculinos. Daí então eu fui nomeado e estive na comissão nacional de
AIDS por mais de uma década. Essa foi a primeira brecha que o movimento conseguiu
dentro das esferas governamentais. Eu considero que depois que Fernando Henrique
Cardoso incluiu (os GLBT), por pressão do GGB, através do subsecretário dos direitos
humanos Paulo Sérgio Pinheiro que era do NEV/USP, no Programa Nacional dos
Direitos Humanos, na primeira versão e na segunda, de eu ter participado das primeiras
reuniões em Brasília de direitos humanos e de, se eu não me engano, em 95, eu ter
145
aberto na sala principal do palácio do planalto uma faixa “Gays pedem justiça”,
exigindo maior inclusão da agenda dos homossexuais na pauta do governo, a partir daí,
então, FHC foi o primeiro presidente a falar publicamente a palavra homossexual. Isso
abriu caminho para o Programa Brasil Sem Homofobia e, depois, para a convocação das
conferências, embora eu, assim como acontece com a frente parlamentar, tenha as
maiores críticas com relação à primeira e à já proposta segunda conferência, na medida
em que eu estou vendo que quase nada sai do papel, que estas conferências têm servido,
sobretudo, para empoderar militantes do PT ligados ao movimento GLBT. Eu considero
uma verdadeira afronta a convocação de uma segunda conferência enquanto nem 10%,
ou 20%, das 550 ações afirmativas propostas, saíram do papel. Considero que temos
que espernear e radicalizar, como sugeriu o doutor Perly Cipriano, da própria Secretaria
de Direitos Humanos, no terceiro congresso da ABGLT agora no mês de abril, em
Belém. Temos que radicalizar nossas reivindicações porque, caso contrário, essas
conferências funcionam como um artifício, uma estratégia do governo para neutralizar a
ação reivindicativa e a indignação do movimento, numa tentativa de domesticação, de
aparelhamento, porque permite que os militantes do PT se destaquem, se empoderem, e
o que a gente percebe é um aumento da homofobia, sobretudo depois da proclamação
do Brasil Sem Homofobia.
RC- Você disse que quase nada foi feito do Brasil Sem Homofobia. Tem alguma coisa
que você destacaria como efeito concreto, um ganho concreto, tanto em nível nacional
como em nível local?
LM- Eu sugiro que você consulte a ABGLT e veja o que no site da ABGLT está
divulgado, e consulte, também, o Welton Trindade, fundador e líder do grupo
Estruturação, de Brasília, que é um dos que mais contesta a conferência, dizendo que a
liderança GLBT “tem que ter vergonha na cara” – foi esse o termo que ele usou – para
não querer uma segunda conferência enquanto não se concretizarem grande parte das
demandas.
RC- Como você vê a relação do movimento com o governo do Estado da Bahia e com
as prefeituras? O Programa Brasil Sem Homofobia mudou alguma coisa nesse sentido?
Houve algum aumento de recursos para o movimento pós Brasil Sem Homofobia? Foi
possível desenvolver mais ações?
146
RC- Já houve algum caso de condenação por discriminação de homossexuais pela lei
municipal?
LM- Não. Que eu saiba não. Agora, felizmente, teve esse caso da condenação do
Bradesco. Desse funcionário, bancário, que foi durante anos discriminado e conseguiu,
vai conseguir, uma indenização bastante significativa. O GGB desde o começo
participou, como ele próprio declarou em recente entrevista no site do “A Capa”. Na
penúltima parada ele chegou a mandar fazer diversos cartazes com o nome do Bradesco
e a suástica Nazista. Tivemos algumas vitórias logo na fundação do GGB, junto ao
CONAR (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária), como no caso de
uma propaganda, se eu não me engano, das Casas Bezerra, que mostrava um
homossexual estereotipado sendo ameaçado com um revólver, com muito deboche. Nós
conseguimos a retirada do ar desse anúncio, mas em termos de legislação... tenho aqui,
talvez, quase 10 processos que eu, como autor, denunciei – sejam jornalistas, sejam
147
RC- Em termos de política pública, houve alguma ação que você considera significativa
implementada entre 2004 e 2008? No contexto baiano especificamente, você percebe
alguma diferença? Alguma ação? Historicamente o movimento é muito mais convocado
para ações na área de saúde, mas parece que, recentemente, a educação também tem
sido uma área em que começam a surgir algumas iniciativas.
RC- O GGB apoiou, ou foi diretamente responsável, pelo surgimento de alguns grupos
em Salvador. Mas é a partir do ano 2000 que é possível perceber um aumento da
mobilização no interior do Estado, sobretudo através da realização das paradas. Qual a
participação do GGB nesse processo?
LM- Nós sempre fomos um grupo “guarda chuva”, pelo fato de ter como fundador e
mantenedor um professor universitário – no caso eu – com um salário fixo, sem
depender de qualquer financiamento para o grupo e com uma visão da importância da
organização de mais grupos. Participamos diretamente da fundação do Grupo Lésbico
da Bahia, da Associação de Travestis de Salvador, do Grupo Vida Feliz dos Portadores
de HIV/AIDS e do Grupo Quimbanda Dudu de Negros Homossexuais, também
tentando fazer essa ligação entre orientação sexual e raça e etnia. Aqui em Salvador,
também outros grupos que foram fundados e que tiveram vida efêmera, como o Adé
Dudu. Quanto ao interior, nós também tivemos participação – mesmo antes das paradas
– em grupos como o de Camaçari. Ajudamos o de Feira de Santana, que teve problemas
administrativos, colaboramos para a fundação do atual GLICH, o de Lauro de Freitas, o
de Simões Filho e, mais tarde, os de Ilhéus e Canavieiras mandando material, indo
148
RC - Teve também o projeto SOMOS, no qual vocês foram responsáveis por capacitar
lideranças do interior. Você vê relação entre esta ação e a formação dos grupos?
LM- Toda essa parte de interiorização do movimento é Marcelo Cerqueira que foi o
grande artífice, eu tive pouquíssima participação, quando muito nos eventos, fazendo
alguma palestra ou transmitindo algum conhecimento. Mas foi Marcelo que, através do
projeto SOMOS, e tem isso documentado, teve esse papel fundamental, trazendo
inúmeras pessoas do interior, capacitando-as, mas com resultados nem sempre
satisfatórios. O que eu percebo é que, por exemplo, na primeira conferência estadual
foram visitadas, se eu não me engano, 17 regiões, territórios de identidade, contra a
nossa vontade. Marcelo propôs que fossem apenas cinco regiões onde já havia grupos,
para consolidá-los e, a partir daí, irradiar. Então se gastou muito tempo, energia e
dinheiro por conta desse projeto ambicioso, exageradamente ambicioso, e os resultados
são poucos. Eu perguntaria: quantos grupos foram fundados? Quantas das lideranças
escolhidas – a partir de muito desgaste e debate entre grupos, cada um querendo incluir
os seus representados –, quantas dessas pessoas que participaram da conferência
estadual e da nacional, continuam, hoje, militando? Eu acho que foi uma mobilização
efêmera, que talvez não tenha perdurado.
RC- Em uma entrevista que você deu há cerca de dez anos atrás, acho que para um
aluno de mestrado também, você falou da inexistência de lideranças marcantes no GGB
e no movimento baiano. Como você vê o panorama hoje? Você acha que o GGB
conseguiu formar lideranças, os movimentos no interior têm feito despontar lideranças?
LM- Quanto à questão da formação de lideranças, esta é uma das melancolias que eu
tenho, ao avaliar os trinta anos de luta incansável, sem férias e sem trégua, de minha
149
RC – Você diria que existe um movimento gay baiano consolidado? Porque o GGB
sempre aparece com mais destaque, talvez por ter uma cultura consolidada de
150
divulgação das ações. Você acha que existe um movimento gay baiano atuando
conjuntamente, considerando que alguns grupos do interior se constituíram e que em
algum momento esses grupos trocam informações, desenvolvem ações conjuntamente?
RC- Isso é um grande dilema dentro do movimento? Como é que no movimento baiano
isso se organiza? Essa relação dos trans, dos gays e das lésbicas? Essa coisa da unidade
como gay ou da necessidade de especificar quem são os públicos. Como é isso aqui na
Bahia? O movimento lésbico têm tido uma presença constante?
LM- Durante os anos 90 o GLB, Grupo Lésbico da Bahia, foi o mais dinâmico do
Brasil, com publicações, cartazes, reuniões, atividades. Mas, infelizmente, estava muito
centrado na figura de Jane Pantel, que não foi fundadora, mas que foi a dinamizadora, e
da Zora Yonara, que era sua companheira. Depois que as duas se separaram e mudaram,
o grupo, infelizmente, teve um retrocesso. Daí o grupo foi re-fundado por uma das
participantes, a Valquíria, que foi candidata a vereadora pelo PC do B. Mas o grupo é
muito inexpressivo, apesar de ter uma pequena sede no centro de Salvador. O
movimento de travestis, também fundado pelo GGB, teve como sua grande estrela a
Michele Marie que, durante muitos anos, com pouca capacidade intelectual mas com
grande penetração entre as travestis, teve muita ousadia para enfrentar a polícia e
delegacia quando as travestis eram presas injustamente. Sempre foram movimentos
muito independentes. Apesar de acusarem o GGB de controlar, e eu de manipular, isso
não corresponde à verdade. Os grupos sempre se reuniram na sede do GGB, mas com
total independência. Eu não participava nas reuniões e não interferia em nada na
dinâmica interna, de modo que, nos últimos anos, nós estimulamos a formação de
grupos específicos porque achamos que era uma forma de nos liberarem, também, de
tanto trabalho, de estar supervisionando reunião de lésbica, de gay, de soropositivo etc.
De modo que nunca nos opusemos. Mas, o que a gente percebeu é que, esses
movimentos, se não fosse o apoio material do GGB, oferecendo a sede, material de
apoio etc., esses grupos não teriam vingado e funcionado durante tantos anos.
152
RC- Você é co-fundador da ABGLT não é? Como é que você avalia a atuação da
associação e a relação da ABGLT com os grupos baianos hoje em dia?
LM- Nos anos 80 eu recebi um telefonema de um gay que vivia na Espanha, dizendo
que era de Curitiba, que estudava letras e que queria voltar para o Brasil e fundar um
grupo. Daí teve, se não me engano, o terceiro encontro nacional do movimento em
Recife. O primeiro foi em São Paulo em 80 depois, se eu não me engano, fizemos em
85 aqui em Salvador. Por causa da crise gerada pela AIDS, ficou vários anos sem
acontecer; o terceiro, se não me engano, foi em Recife. Ele então, o Tony Reis, e o seu
namorado inglês, o David Harad, apareceram nesse encontro em Recife. Discutimos
sobre a fundação do grupo lá de Curitiba, sobre o nome Dignidade, etc. Daí eles
voltaram, fundaram o grupo e sempre mantiveram um bom contato. O Tony sempre foi
uma pessoa muito criativa, cada vez está estudando mais, fez doutorado, etc. Ele
percebeu a importância de se organizar nacionalmente, já que tínhamos participado
juntos, na Áustria, do encontro da Associação Gay Lésbica Internacional, a ILGA, e daí,
foi fundada a ABGLT em 95, em Curitiba. Fizemos uma das primeiras manifestações –
ainda não era parada naquela época – e daí o movimento cresceu, com alguns
presidentes mais ativos, outros menos expressivos, e a ABGLT se tornou essa potência
hegemônica que reuniu mais de 200 grupos e que, felizmente, tem definido áreas
importantes de atuação e conseguido contatos fundamentais com diversos ministérios,
secretarias etc. Eu cheguei a ser Secretário de Direitos Humanos durante mais de um
período; Marcelo foi Secretário de Comunicação, infelizmente, sem grande atuação.
Devido à chegada de novos militantes, sobretudo de São Paulo, muitos deles ligados ao
Partido dos Trabalhadores, com uma política de cooptação e aparelhamento, vários
começaram a disputar cargos etc., e houve um afastamento, sobretudo dos chefes.
Houve dificuldades de relacionamento de Marcelo com Tony Reis e outras lideranças da
ABGLT, de tal modo que o relacionamento da ABGLT é bom comigo mas, com o
GGB, sobretudo devido a Marcelo, há certos problemas, “quizilas”, incompatibilidades
que eu espero que sejam superadas, mas que também implicam numa luta de poder
interna da ABGLT, sobretudo por grupos do sul e sudeste.
153
RC- O GGB tem mantido uma interlocução contínua com grupos de outros estados do
país? Você já falou um pouco disso quando falou da ABGLT, mas com relação a outros
países, como tem sido a situação?
LM- Nos primeiros anos nós tínhamos mais esses contatos porque, como havia poucos
grupos no Brasil, o GGB se tornou assim, o grupo de referência nacional e na América
do Sul. Então nós tivemos convênios com grupos dos Estados Unidos, eu e alguns
membros participamos do encontro da Associação de Negros e Brancos “Black and
White Men Together”. Três ou quatro convenções com membros de diferentes grupos
da Alemanha, Holanda, Estados Unidos e da França vieram participar. No Brasil, o
GGB teve uma participação importante. Participou com duas entradas no livro
Dicionário da Homofobia, publicado em Paris no final dos anos 90 pelo sociólogo Tin,
que foi quem propôs a instituição do dia 17 de maio como dia internacional de combate
à homofobia. Eu fui o representante desse grupo no Brasil, tinha participado da
elaboração de dois artigos sobre homofobia nesse dicionário, e foi a partir dessa minha
interlocução que eu propus nas listas a criação do dia nacional, local, contra homofobia,
17 de maio. Houve certa resistência de alguns grupos, dizendo que já havia o Dia do
Orgulho Gay. Dia mundial por ser o dia em que a ONU revogou o homossexualismo
como transtorno sexual e que, hoje, é um dia cada vez mais nacionalizado, com ações já
próprias, se eu não me engano em 17 estados. Acho que até aqui na Bahia, na Câmara,
como projeto de lei instituindo o dia municipal contra homofobia, esse que é o da
Marta, se não me engano.
RC- Tem mais alguma coisa que você queira dizer? Do que é o movimento gay como
movimento político. É um movimento muito transnacional, não é? Isso me chama muito
a atenção. As demandas, por serem ligadas a esse direito básico de expressão da
afetividade, caminham muito juntas, não é? No mundo todo, apesar das especificidades
locais. Você vê dessa forma?
RC- Muito obrigada professor, pela entrevista. Vai me auxiliar bastante na análise dos
dados.