Ancomplexeti06 Dvi-1
Ancomplexeti06 Dvi-1
Ancomplexeti06 Dvi-1
Maio de 2011
Capítulo 1
Funções analíticas
onde u(x, y) e v(x, y) são funções reais de duas variáveis reais x e y, designadas por parte real e
parte imaginária de f (z), respectivamente. O conjunto D ⊆ C é designado por domínio de f
e o conjunto das imagens w é designado por contradomínio de f .
Dado que
z 2 + 1 = 0 ⇔ z 2 = −1 ⇔ z = i ∨ z = −i,
Nota 1 Verificamos que a cada função f (z) corresponde um par de funções reais de duas var-
iáveis reais, u(x, y) e v(x, y), e que o recíproco também se verifica, isto é, f (z) fica completamente
determinada pelas respectivas funções u(x, y) e v(x, y).
Exemplo 1 Seja f a função complexa de variável complexa tal que u(x, y) = xy e v(x, y) =
3x2 − y 3 . Sem determinar a expressão f (z) de f na variável z é possível determinar a imagem w
de qualquer objecto z. Por exemplo, a imagem de z = 1 − 2i é o número complexo w = −2 + 11i,
visto que
f (1 − 2i) = u(1, −2) + iv(1, −2) = 1 · (−2) + i(3 − (−8)) = −2 + 11i.
z0
• ε
Eixo real
Exemplo 4
Exemplo 5 1 Seja A o conjunto definido pela condição Re(z) > 2. Esta condição define um
semiplano direito no plano complexo. O conjunto A é constituído pelos números complexos
z = x + yi com x > 2. Trata-se de um conjunto aberto.
Eixo
imaginário
Re(z)>2
2 l
Eixo real
Eixo
imaginário
5i
4i
2+3i
•
2i
1 3 4 Eixo real
B = {z ∈ C : 1 ≤ |z − 2 − 3i| ≤ 2} ,
designado por coroa circular fechada, tem a mesma fronteira que A. O conjunto comple-
mentar de A é definido pela condição |z − 2 − 3i| ≤ 1 ∨ |z − 2 − 3i| ≥ 2.
Exercícios resolvidos
z 1
(a) f (z) = ; (b) f (z) = ;
z + 3i z2 + 2
x
(c) f (z) = 2 + ixy; (d) f (z) = ln x + (x − 2y) i.
x + y2
2. Determine as funções parte real e parte imaginária das seguintes funções complexas de variável
complexa:
(a) f (z) = 2iz + 6z; (b) g(z) = |z|2 ; (c) h(z) = z/z.
Calcule f (1 + 3i), g(−3i) e h(2 − 2i).
(a) |z| < 2; (b) Re(z + 1) ≥ 4; (c) |Im z| > 1 ∧ |z| < 5.
Propostas de resolução
1.
Logo, D = C\ {0} .
(d) Recordemos que o domínio da função real de variável real logaritmo neperiano, ln x, é
o conjunto R+ . Logo, o conjunto dos pontos para os quais faz sentido calcular ln x +
(x − 2y) i é
D = {z = x + iy ∈ C : x > 0} ,
2. Seja z = x + iy.
(a) Temos f (z) = 2i (x + yi) + 6 (x − yi) = −2y + 6x + (2x − 6y)i. Logo, u(x, y) = −2y + 6x
e v(x, y) = 2x − 6y. Como
3. Seja z = x + yi.
Re(z + 1) = 4 ⇔ Re(x − yi + 1) = 4 ⇔ x + 1 = 4 ⇔ x = 3,
4.
Re(z + 1) ≥ 4 ⇔ x ≥ 3.
(c) Se z = x + iy então
Definição 1 Diz-se que f tem limite L no ponto z = z0 (ou que o número complexo L é o
limite de f quando z se aproxima do ponto z0 ), e denota-se
lim f (z) = L,
z→z0
se para qualquer δ > 0 existe ε > 0 tal que |f (z) − L| < δ sempre que 0 < |z − z0 | < ε. Se existe o
limite de f no ponto z0 então este limite é único.
(c) lim f (z)/g(z) = lim f (z)/ lim g(z), desde que lim g(z) 6= 0.
z→z0 z→z0 z→z0 z→z0
onde os dois últimos limites são de funções reais de duas variáveis reais.
Exercícios resolvidos
não é contínua em z = 0.
Propostas de resolução
e q
2 2
(x − x0 ) + (y − y0 ) = |(x − x0 ) + (y − y0 ) i| = |(x + yi) − (x0 + y0 i)|
Reciprocamente, suponhamos que existe o limite limz→z0 f (z) = w0 com w0 = u0 + iv0 . Para
cada δ > 0 sabemos, então, que existe ε > 0 tal que
sempre que 0 < |(x + yi) − (x0 + y0 i)| < ε. Dado que
2.
(a) Comecemos por observar que u(x, y) = 3xy e v(x, y) = x − y 2 . Atendendo ao exercício
1,
¡ ¢
lim 3xy + i(x − y 2 ) = lim 3xy + i lim (x − y 2 )
z→−1+2i x→−1 x→−1
y→2 y→2
¡ ¡ ¢¢
= 3 (−1) 2 + i −1 − 22 = −6 − 5i.
(c) Substituindo z por i, obtemos uma indeterminação do tipo 0/0. No entanto, se obser-
varmos que z 2 + 1 = (z − i) (z + i), podemos calcular facilmente o limite:
¡ ¢
z z2 + 1 z (z + i) (z − i)
lim = lim = lim z (z + i) = −2.
z→i z−i z→i z−i z→i
3. É preciso que mostrar que dado δ > 0 existe um ε > 0 tal que
¯ ¯
¯1 ¯
¯ − i¯ < δ sempre que |z − (−i)| = |z + i| < ε.
¯z ¯
10 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS
Dado que z → −i, podemos supor que |z| > 1/2. Como tal,
¯ ¯
¯1 ¯
¯ − i¯ = |z + i| 1 < 2 |z + i| .
¯z ¯ |z|
Mas para que |z| > 1/2 é necessário que |z + i| < ε = 1/2. De facto,
Logo, f é contínua.
z2 x2 − y 2 + 2xyi
lim f (z) = lim = lim
z→0 z→0 |z 2 | x→0 x2 + y 2
y→0
x2 − y 2 2xy
= lim + i lim 2 .
x→0 x2 + y 2 x→0 x + y 2
y→0 y→0
¡ ¢ ¡ ¢
A obtenção de dois limites diferentes permite concluir que não existe o limx→0,y→0 x2 − y 2 / x2 + y 2 .
Como tal, não existe o limz→0 f (z) e, logo, a função f não é contínua no ponto z = 0.
1.3. DERIVAÇÃO E ANALITICIDADE 11
Por outro lado, se escolhermos outra direcção, por exemplo que ∆z → 0 ao longo de uma
recta vertical (caminho II), temos ∆x = 0 e o valor do limite (direccional) é
2∆x + 3i∆y 3i∆y
lim = lim = 3.
∆z→0 ∆x + i∆y ∆y→0 i∆y
Δy
II
• z0+Δz
z0• I
Δx
A obtenção de dois limites direccionais diferentes permite concluir que não existe o limite
pretendido.
12 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS
A análise complexa estuda essencialmente as funções complexas de variável complexa que são
diferenciáveis nalguma região do seu domínio.
Definição 4 Seja f uma função complexa de variável complexa definida num conjunto aberto D e
seja z0 ∈ D. A função f diz-se analítica em z0 se é diferenciável em z0 e numa certa vizinhança
de z0 . Se f é analítica em todos os pontos de D então diz-se analítica (regular ou holomorfa)
em D.
• Sabemos, por (d), que as potências inteiras não negativas 1, z, z 2 , z 3 ,... são analíticas em C.
Podemos então concluir, por (a), que toda a função polinomial f (z) = cn z n + cn−1 z n−1 +
... + c2 z 2 + c1 z + c0 é inteira e a sua derivada é
Exercícios resolvidos
é diferenciável na origem.
Propostas de resolução
1. As funções f e g são polinomiais e logo, o seu domínio é C. A função h é uma função racional,
cujo domínio é o conjunto dos pontos tais que 2z + 9 6= 0, ou seja, C\ {−9/2}. Da mesma
forma, a função j (designada usualmente por função de Joukowski) é também racional e
tem por domínio o conjunto C\ {0}. Mais, estas funções são diferenciáveis nos seus domínios.
Para obter a expressão da derivada podemos simplesmente usar as regras de derivação:
¡ ¢0 ¡ ¢0 0
(a) f 0 (z) = 2 z 4 − z 3 + 10i (z) = 8z 3 − 3z 2 + 10i, ∀z ∈ C;
h i0
(b) g 0 (z) = (2z + 3)4 = 4 (2z + 3)3 2 = 8 (2z + 3)3 , ∀z ∈ C;
(1 + (2 − i) z)0 (2z + 9) − (1 + (2 − i) z) (2z + 9)0
(c) h0 (z) = 2
(2z + 9)
(2 − i) (2z + 9) − (1 + (2 − i) z) · 2 16 − 9i
= 2 =
, ∀z ∈ C\ {−9/2} ;
(2z + 9) (2z + 9)2
£ ¤0 1
(d) j 0 (z) = z + z −1 = 1 + (−1)z −2 = 1 − 2 , ∀z ∈ C\ {0} .
z
£¡ ¢¡ ¢¤
2. A função f (z) = 1/ z 3 − 1 z 2 + 2 é racional e tem por domínio o conjunto aberto
© ª
D = z ∈ C : z 3 − 1 6= 0 ∧ z 2 + 2 6= 0 .
14 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS
Conforme visto no exemplo 22.1 da secção 1.2, a equação z 3 = 1 tem por raízes os pontos
√ √
z0 = 1, z1 = −1/2 + 3/2i e z2 = −1/2 − 3/2i. Quanto à equação z 2 = −2 = 2cis(−π),
as suas raízes são dadas pela expressão
µ ¶
√ π 2kπ
z = 2cis − + , para k = 0, 1,
2 2
ou seja,
√ ³ π´ √ √ ³ π ´ √
z0 = 2cis − = − 2i ∨ z1 = 2cis − + π = 2i.
2 2
Concluímos, assim, que
n √ √ √ √ o
D = C\ 1, −1/2 + 3/2i, −1/2 − 3/2i, − 2i, 2i .
ρ3 cos3 θ (1 + i) − ρ3 sin3 θ (1 − i)
−0
f (∆z) − f (0) ρ2 cos2 θ + ρ2 sin2 θ
lim = lim
∆z→0 ∆z ρ→0 ρ (cos θ + i sin θ)
£ ¤
ρ3 cos3 θ (1 + i) − sin3 θ (1 − i)
= lim
ρ→0 ρ3 (cos θ + i sin θ)
¡ ¢
cos3 θ − sin3 θ + i cos3 θ + sin3 θ
= ,
cos θ + i sin θ
que depende do ângulo θ tomado. Concluímos então que f não é diferenciável na origem.
Assim, se as derivadas parciais de 1a ordem das funções u e v existem, são contínuas e satisfazem
as equações de Cauchy-Riemann em D então f é analítica em D.
Exemplo 7 Consideremos a função f (z) = 2x + 3yi. Vimos no exemplo 13.1, que f não é
diferenciável em nenhum ponto do seu domínio C. De facto, as equações de Cauchy-Riemann não
são válidas em nenhum ponto (x, y):
∂u ∂v ∂u ∂v
= 2 6= 3 = embora =0=− .
∂x ∂y ∂y ∂x
Exemplo 8 Consideremos a função f (z) = 2x2 + y + (y 2 − x)i definida em C. Temos u(x, y) =
2x2 + y e v(x, y) = y 2 − x, donde
∂u ∂v ∂u ∂v
= 4x, = 2y e =1=− .
∂x ∂y ∂y ∂x
Verificamos que as funções u e v são contínuas e têm derivadas contínuas em todos os pontos.
Pelo teorema de Cauchy-Riemann, f é diferenciável em todos os pontos em que as equações de
Cauchy-Riemann são satisfeitas, ou seja, em pontos (x, y) tais que
4x = 2y ⇔ y = 2x
Logo f é diferenciável nos pontos da recta y = 2x. No entanto, dado que nenhum ponto desta recta
tem uma vizinhança na qual as equações de Cauchy-Riemann sejam válidas, f não é analítica em
nenhum ponto do seu domínio C.
Exercícios resolvidos
5. Mostre que as equações de Cauchy-Riemann, escritas em coordenadas polares, são dadas por
∂u 1 ∂v ∂v 1 ∂u
= e =− .
∂r r ∂θ ∂r r ∂θ
Propostas de resolução
∂u ∂v ∂u ∂v
= 2x + 3, = 2x + 3, = −2y e = 2y,
∂x ∂y ∂y ∂x
∂u ∂v ∂u ∂v
= 2x, = −2y e =0=− .
∂x ∂y ∂y ∂x
Verificamos que as equações de Cauchy-Riemann são válidas em pontos (x, y) tais que 2x =
−2y, ou seja, na recta de equação y = −x. Como as funções u, v, ∂u/∂x, ∂u/∂y, ∂v/∂x e
∂v/∂y são contínuas em todos os pontos, concluímos, pelo teorema de Cauchy-Riemann, que
f é diferenciável nos pontos da recta y = −x e a derivada é dada por
f 0 (z) = 2x + 0i = 2x = −2y.
No entanto, dado qualquer ponto desta recta, não existe uma vizinhança desse ponto na qual
as equações de Cauchy-Riemann sejam válidas. Logo, f não é analítica em nenhum ponto
do seu domínio C.
3.
(a) Pretendemos determinar os pontos em que f é diferenciável. Para esta função temos
u(x, y) = x3 e v(x, y) = −(1 − y)3 . Logo,
∂u ∂v ∂u ∂v
= 3x2 , = 3(1 − y)2 , =0e = 0.
∂x ∂y ∂y ∂x
1.4. EQUAÇÕES DE CAUCHY-RIEMANN 17
∂u ∂v ∂u ∂v
= 0 6= =2 e =0= = 0.
∂x ∂y ∂y ∂x
Verificamos que as equações de Cauchy-Riemann não são válidas qualquer que seja o
ponto (x, y). Pelo teorema de Cauchy-Riemann concluímos que f não é analítica (nem
diferenciável) em nenhum ponto do seu domínio C.
∂u ∂v
= −ey sin x, = ey sin x
∂x ∂y
∂u ∂v
= ey cos x e = ey cos x.
∂y ∂x
Verificamos que as equações de Cauchy-Riemann são válidas em pontos (x, y) tais que
−ey sin x = ey sin x e ey cos x = −ey cos x, ou seja, tais que sin x = 0 e cos x = 0 (notemos
que ey 6= 0, ∀y ∈ R). Não e
xiste qualquer valor real x tal que sin x = cos x = 0, como tal nenhum ponto do domínio
C de f verifica as equações de Cauchy-Riemann. Pelo teorema de Cauchy-Riemann, f
não é analítica (nem diferenciável) em nenhum ponto do seu domínio.
∂u ∂v ∂u ∂v
= 2x, = 2y e =0= .
∂x ∂y ∂y ∂x
18 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS
Verificamos que as equações de Cauchy-Riemann são válidas em pontos (x, y) tais que
2x = 2y, ou seja, na recta de equação y = x. Como as funções u, v, ∂u/∂x, ∂u/∂y,
∂v/∂x e ∂v/∂y são contínuas em todos os pontos, pelo teorema de Cauchy-Riemann, f
é diferenciável nos pontos da recta y = x. A derivada de f nos pontos da recta y = x é
dada por
f 0 (z) = 2x + 0i = 2x = 2y.
No entanto, dado qualquer ponto desta recta, não existe uma vi-zinhança desse ponto
na qual as equações de Cauchy-Riemann sejam válidas. Concluímos então que f não é
analítica em nenhum ponto do seu domínio C.
p
4. À função f (z) = |z| corresponde u(x, y) = x2 + y 2 e v(x, y) = 0. Temos
∂u x ∂v ∂u y ∂v
=p , = 0, =p e = 0.
∂x x2 + y 2 ∂y ∂y x2 + y 2 ∂x
Verificamos que as equações de Cauchy-Riemann são válidas em pontos (x, y) tais que
p p
x/ x2 + y 2 = 0 e y/ x2 + y 2 = 0, ou seja, no ponto (0, 0). Como as funções u e v e
as suas derivadas parciais de 1a ordem são contínuas em todos os pontos, concluímos pelo
teorema de Cauchy-Riemann que f é diferenciável no ponto z = 0. A derivada de f neste
ponto é dada por
à ! à !
0 x y
f (0) = p = −i p = 0,
x2 + y 2 (0,0)
x2 + y 2 (0,0)
x = r cos θ e y = r sin θ.
Proposição 5 Seja f (z) = u(x, y) + v(x, y)i uma função complexa de variável complexa. Se f é
analítica num conjunto aberto D então u e v são funções harmónicas em D.
• Verificamos então que as partes real e imaginária de uma função analítica verificam a equação
de Laplace. Esta ligação entre funções analíticas e a equação de Laplace reforça a importância
das funções de variável complexa e abre caminho para numerosas aplicações da matemática.
Proposição 6 Se u é uma função harmónica num conjunto aberto D e z0 ∈ D, então existe uma
vizinhança de z0 na qual u = Re(f ). Por outras palavras, existe uma função harmónica v definida
em D tal que a função definida por f (z) = u(x, y) + v(x, y)i é analítica em D.
Exemplo 3 Seja u(x, y) = x3 − 3xy 2 . Trata-se de uma função harmónica em todos os pontos do
plano
∂2u ∂
= (3x2 − 3y 2 ) = 6x
∂x2 ∂x
∂2u ∂
= (−6xy) = −6x.
∂y 2 ∂y
Pela proposição 29, existe uma função f analítica em C (trata-se de uma função inteira) tal que
¡ ¢
u = Re(f ). Determinemos então a função f . Sabemos que f é tal que f (z) = x3 − 3xy 2 +v(x, y)i,
onde a função v(x, y) está por determinar. Pelas equações de Cauchy-Riemann, temos
∂v ∂u
=− = 6xy
∂x ∂y
o que implica v(x, y) = 3x2 y + c(y). Por outro lado,
∂v ∂u
= = 3x2 − 3y 2
∂y ∂x
¡ ¢
ou seja, ∂ 3x2 y + c(y) /∂y = 3x2 − 3y 2 . Então,
3x2 + c0 (y) = 3x2 − 3y 2 ⇒ c0 (y) = −3y 2
⇒ c(y) = −y 3 + K, para qualquer K ∈ R.
Obtemos v(x, y) = 3x2 y − y 3 + K e, como tal, para z = x + yi,
O exemplo apresentado mostra que a função harmónica conjugada de uma dada função har-
mónica u está univocamente determinada a menos de uma constante aditiva real.
1.5. FUNÇÕES HARMÓNICAS 21
Exercícios resolvidos
1. Considere a função u(x, y) = x3 − 3xy 2 . Encontre uma função conjugada harmónica v que
verifique v(0, 0) = 2.
Propostas de resolução
1. Podemos mostrámos que v(x, y) = 3x2 y − y 3 + K para qualquer constante K ∈ R. Para que
v verifique v(0, 0) = 2 a constante real K não pode ser arbitrária. De facto,
v(0, 0) = 2 ⇔ 3 · 0 − 0 + K = 2 ⇔ K = 2.
2.
(a) Notemos que u é parte real da função f (z) = z + 1/z, analítica no conjunto aberto
C\ {0}. Então, pela proposição 27, a função u é harmónica em C\ {0}.
(b) A função u não está definida nos pontos para os quais o denominador se anula. Como
2
x2 + (y + 1) = 0 se e só se x = 0 e y = −1, o domínio de u é D = C\ {−i}. Efectuando
os cálculos necessários para z 6= −i, obtemos
³ ´
2 2
2
∂ u 2 (y + 1) x + (y + 1) − 8x2 (y + 1)
= ³ ´3 ,
∂x2 2
x2 + (y + 1)
³ ´ ³ ´
2 2
∂2u 2 (y + 1) x2 + (y + 1) − 4 (y + 1) (y + 1) − x2
= ³ ´3 .
∂y 2
x2 + (y + 1)2
Então,
∂2u ∂2u
+ 2 =0
∂x2 ∂y³ ´ ³ ´
⇔ 4 (y + 1) x2 + (y + 1)2 − 4 (y + 1) x2 + (y + 1)2 = 0
⇔ 0 = 0.
Logo, u é harmónica no seu domínio, isto é, em D = C\ {−i}.
Alternativamente, se observarmos que u(x, y) é parte imaginária da função analítica em
C\ {−i}, f (z) = 1/ (z + i), concluímos de imediato que u é harmónica neste conjunto.
22 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS
3. A função u é harmónica,
∂2u ∂
= (2x − 3) = 2
∂x2 ∂x
∂2u ∂
= (−2y) = −2
∂y 2 ∂y
e está definida em todo o conjunto C. Pela proposição 29 existe v(x, y) tal que u(x, y)+v(x, y)i
é analítica em C. Pelas equações de Cauchy-Riemann, temos
∂v ∂u
=− = 2y,
∂x ∂y
que implica v(x, y) = 2xy + c(y). Por outro lado,
∂v ∂u
= = 2x − 3,
∂y ∂x
ou seja, ∂ (2xy + c(y)) /∂y = 2x − 3. Então,
2x + c0 (y) = 2x − 3 ⇔ c0 (y) = −3
⇒ c(y) = −3y + K, para qualquer constante real K.
Exercícios propostos
1. Determine as funções parte real e parte imaginária de cada uma das seguintes funções com-
plexas de variável complexa:
z+2
(a) f (z) = z 2 + 3z − 2i; (b) f (z) = ;
z−1
z−i
(c) f (z) = 3iz + 4(i + z); (d) f (z) = .
|z − i|
2. Caracterize geometricamente os conjuntos definidos pelas seguintes condições e indique quais
os que são regiões:
2
(a) |z + 4| > 2; (b) (Im z) ≤ 4;
(c) 1 < |Re z| ≤ 2; (d) 3π/4 < arg z < π.
3. Estude as seguintes funções definidas em C quanto à continuidade na origem:
⎧ ⎧
⎨ Im z ⎨ Re z
se z 6= 0 se z 6= 0
(a) f (z) = |z| ; (b) f (z) = 1 + |z| .
⎩ 0 se z = 0 ⎩ 0 se z = 0
¡ ¢
4. Mostre que a função f (z) = − (2xy + 5x) + x2 − 5y − y 2 i é inteira e calcule f 0 (z).
5. Mostre que as funções f (z) = Re z, g(z) = y + xi e h(z) = z 2 não são analíticas em nenhum
ponto do plano complexo.
1.5. FUNÇÕES HARMÓNICAS 23
6. Determine em que pontos as seguintes funções são diferenciáveis. Mostre que não são analíti-
cas em nenhum ponto do plano complexo.
¡ ¢
(a) f (z) = 3x2 y 2 − 6x2 y 2 i; ; (b) f (z) = x2 − x + y + y 2 − 5y − x i.
10. Mostre que a função u(x, y) = x3 − 3xy 2 − 5y é harmónica em R2 e determine uma função
conjugada harmónica v.
11. Determine a função analítica f (z) = u(x, y) + v(x, y)i tal que
(a) u(x, y) = x2 − y 2 ; (b) v(x, y) = 2y(x − 1);
3 2
¡ ¢
(c) u(x, y) = x − 3xy ; (d) u(x, y) = ln x2 + y 2 .
12. Determine os valores reais de a e b para os quais as seguintes funções são harmónicas em R2
e determine as funções conjugadas harmónicas.
14. Mostre que, dada uma função analítica f , são válidas as seguintes expressões para cálculo da
derivada
∂u ∂u ∂v ∂v
f0 = −i e f0 = +i .
∂x ∂y ∂y ∂x
1 y
f (z) = ln(x2 + y 2 ) + i arctan .
2 x
24 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS
(a) Use as equações de Cauchy-Riemann para mostrar que f é diferenciável em todo o seu
domínio;
(c) Mostre que a função conjugada f não é diferenciável em nenhum ponto do seu domínio.
Soluções
x2 + y 2 + x − 2
1. (a) u(x, y) = x2 − y 2 + 3x − 5, v(x, y) = 2xy + 3y; (b) u(x, y) = 2 , v(x, y) =
(x − 1) + y 2
3y x
− 2 ; (c) u(x, y) = 4x + 3y, v(x, y) = 3x + 4y + 4; (d) u(x, y) = ,
(x − 1) + y2 x2 + (y − 1)2
y−1
v(x, y) = 2.
x2 + (y − 1)
√
2. (a) Todo o plano complexo excepto o círculo de centro (−4, 0) e raio 2; (b) união de dois
semiplanos fechados: y ≥ 2 e y ≤ −2; (c) união de duas faixas ilimitadas verticais, definidas
pelas condições −2 ≤ x < −1 e 1 < x ≤ 2; (d) porção do plano complexo no 2o quadrante
delimitada pelas rectas y = −x e x = 0, excluindo-as. São regiões os conjuntos definidos em
(a) e (d).
6. (a) É diferenciável ao longo dos eixos coordenados; (b) é diferenciável ao longo da recta de
equação y = x + 2.
8. (a) A parábola de equação v = u2 −2u; (b) os três primeiros quadrantes, incluindo a semirecta
y = 0 e x ≥ 0, e a semirecta x = 0 e y ≤ 0; (c) o círculo de centro em z = 0 e raio 1, excluindo
o ponto z = 0.
9. a = 1, b = 3.
Funções elementares
Nota 3 Quando tomamos z como número real, z = x + 0i, a definição de ez coincide com a
definição já conhecida em R:
(a) ez+w = ez · ew ;
f 0 (z) = ez
(ez )0 = ez
Exercícios resolvidos
π
1. Escreva na forma algébrica os números complexos e3+i , e− 4 i e e2±3πi .
2. Mostre, usando a definição de derivada, que f (z) = ez é uma função inteira (analítica).
Propostas de resolução
1. Relembramos que
Então temos:
¡ ¢
e3+i = e3 (cos 1 + i sin 1) = e3 cos 1 + e3 sin 1 i;
³ ³ π´ ³ π ´´ √ √
−π i 0 2 2
e 4 = e cos − + i sin − =− − i:
4 4 2 2
e2±3πi = e2 (cos (±3π) + i sin (±3π)) = e2 (−1 + 0i) = −e2 + 0i = −e2 .
3. Temos
ez = −1 ⇔ ex (cos y + i sin y) = −1
⇔ ex cos y + (ex sin y) i = −1
⇔ ex cos y = −1 ∧ sin y = 0
⇔ ex cos y = −1 ∧ y = kπ, k ∈ Z
Se k é par então cos y = 1 e logo,
ex cos y = −1 ⇒ ex = −1,
o que sabemos ser impossível. Se k é ímpar, dado que cos y = −1, temos
ex cos y = −1 ⇒ ex = 1 ⇒ x = 0.
Então,
ez = −1 ⇔ x = 0 ∧ y = (2n + 1)π,
S = {(2n + 1)πi : n ∈ Z} .
D = {z ∈ C : ez − 1 6= 0} .
D = C\ {z ∈ C : z = 2nπi, n ∈ Z} .
Proposição 10 As funções sin z e cos z são analíticas em C e tem lugar as seguintes regras de
derivação:
(sin z)0 = cos z e (cos z)0 = − sin z
sin z 0 1
tan z = , onde (tan z) = , cos z 6= 0
cos z cos2 z
cos z 1
cot z = , onde (cot z)0 = − 2 , sin z 6= 0
sin z sin z
1 0
sec z = , onde (sec z) = sec z tan z, cos z 6= 0
cos z
1
csc z = , onde (csc z)0 = − csc z cot z, sin z 6= 0
sin z
Exercícios resolvidos
Propostas de resolução
1. Dado z = x + yi,
ezi + e−zi e(x−yi)i + e−(x−yi)i ey+xi + e−y−xi
cos z = = =
2 2 2
ey (cos x + i sin x) + e−y (cos x − i sin x)
=
2
(ey + e−y ) cos x + i(ey − e−y ) sin x
= .
2
2 2
|sin z| = |sin x cosh y + i cos x sinh y|
= (sin x cosh y)2 + (cos x sinh y)2
= sin2 x(1 + sinh2 y) + cos2 x sinh2 y
¡ ¢
= sin2 x + sin2 x + cos2 x sinh2 y
¯ ¯
= sin2 x + sinh2 y = ¯sin2 x¯ + sinh2 y.
Logo,
|sin z|2 ≥ |sin x|2
e, dado que |sin z| e |sin x| representam números reais positivos, concluímos que |sin z| ≥
|sin x|. De modo análogo prova-se que
2
|cos z| = cos2 x + sinh2 y,
4. Temos
ezi + e−zi
cos z = 2 ⇔ = 2 ⇔ ezi + e−zi = 4.
2
Multiplicando por ezi 6= 0, obtemos a equação quadrática
¡ ¢2
cos z = 2 ⇔ ezi − 4e√zi + 1 = 0
4 ± 16 − 4 √
⇔ ezi = = 2 ± 3.
2
Então,
√
e(x+yi)i = e−y+xi = e−y (cos x + i sin x) = 2 ± 3,
De e−y sin x = 0 concluímos que sin x = 0, ou seja, que x = nπ, para n ∈ Z. Se n ímpar
então cos x = −1 e logo
√ √
−e−y = 2 ± 3 ⇔ e−y = −2 ± 3,
√
o que sabemos ser impossível, visto que −2 ± 3 < 0. Se n par, cos x = 1 e logo,
√ ³ √ ´ ³ √ ´
e−y = 2 ± 3 ⇔ −y = ln 2 ± 3 ⇔ y = − ln 2 ± 3 .
¡ √ ¢ ¡ √ ¢
Atendendo a que ln 2 − 3 = − ln 2 + 3 , podemos concluir que as soluções da equação
¡ √ ¢
são z = 2kπ ± i ln 2 + 3 . Notemos que esta equação é impossível em R.
ex − e−x ex + e−x
(2.1) sinh x = e cosh x = .
2 2
Proposição 11 As funções seno e coseno hiperbólico são analíticas em C e são válidas as seguintes
fórmulas de derivação:
ez + e−z ez − e−z
(sinh z)0 = = cosh z e (cosh z)0 = = sinh z.
2 2
4. sinh (z) = sinh (x) cos (y) + i cosh (x) sin (y)
5. cosh (z) = cosh (x) cos (y) + i sinh (x) sin (y)
Exercícios resolvidos
Propostas de resolução
1. sin z = sin(x + yi) = sin x cos(yi) + cos x sin(yi) = sin x cosh y + i cos x sinh y
cos z = cos(x + yi) = cos x cos(yi) − sin x sin(yi) = cos x cosh y − i sin x sinh y.
4. Temos
assim como
Não seria de esperar outro valor para o período, dado que estas funções são definidas através
da função exponencial.
(2.2) log z = w se e só se z = ew
⇔ u = ln |z| ∧ v = arg z.
Deste modo, para z 6= 0 (visto que ew 6= 0 para todo o w ∈ C), é natural definir
Existem, no entanto, infinitos valores para log z, um para cada argumento de z. A diferença
entre quaisquer dois destes valores é um múltiplo inteiro de 2πi. Assim, a expressão (2.3) não
define uma função.
Observemos que, se z = |z| ei arg z = x + yi,
Mas,
Podemos agora afirmar que a função logaritmo principal, log z, é a função inversa da re-
strição da função exponencial de variável complexa à região fundamental {x + yi : −π ≤ y < π}.
Ou seja, verifica-se (2.2).
Nota 6 Podemos definir a função logaritmo mais geralmente da seguinte forma: a função loga-
ritmo relativa ao intervalo [θ0 , θ0 + 2π[ é a função
Esta função designa-se muitas vezes por ramo do logaritmo correspondente ao intervalo [θ0 , θ0 + 2π[;
quando θ0 = −π, obtém-se o ramo principal do logaritmo. A função logaritmo relativa ao inter-
valo [θ0 , θ0 + 2π[ é a função inversa da restrição da função exponencial à região fundamental
{x + yi : θ0 ≤ y < θ0 + 2π} .
Nota 7 Quando z é um número real positivo, z = x + 0i com x > 0, a definição de log z coincide
com a definição já conhecida em R
Nota 8 No cálculo real, não está definido o logaritmo de números negativos. Em C tal não é
verdade. Por exemplo,
Este é um dos motivos que nos leva a considerar notações diferentes para o logaritmo de um número
complexo e para o logaritmo neperiano de um número real.
p
A parte real da função logaritmo, u(x, y) = ln |z| = ln x2 + y 2 , é contínua em C\ {0}. Con-
tudo, a parte imaginária v(x, y) = arg(x + yi) é descontínua nos pontos de coordenadas (x, 0), com
x < 0 (exercício 5). Como tal, a função logaritmo não é contínua no eixo real negativo, ou
seja, em complexos z da forma z = x + 0i, com x ≤ 0.
As propriedades do logaritmo que se verificam no cálculo real continuam válidas em C, desde
que correctamente interpretadas. Vejamos os seguintes exemplos.
2.4. A FUNÇÃO LOGARITMO 37
Neste caso, verificamos que a diferença (log z + log w) − log (zw) é de −2πi.
1
(log z)0 =
z
Exercícios resolvidos
¡√ ¢
1. Determine os valores de log(−2), log i, log(−1 − i) e log 3+i .
√
2. Resolva a equação ez = 3 + i.
5. Mostre que a função v(x, y) = arg(x + yi) é descontínua nos pontos de coordenadas (x, 0) ,
com x < 0.
6. Mostre que a função f (z) = log z verifica as condições de Cauchy-Riemann para z = x + yi,
com z 6= 0 e z 6= x < 0.
7. Derive a função
f (z) = log(ez + 1),
Propostas de resolução
enquanto que
lim arg(x + yi) = −π.
(x,y)→(x0 ,0)
y<0
Podemos assim concluir que, para x0 < 0, não existe lim(x,y)→(x0 ,0) v(x, y).
∂u 1 ∂u
= e =0
∂r r ∂θ
∂v ∂v
= 0 e = 1,
∂r ∂θ
Escrevendo z = x + yi,
Como y = nπ, n ∈ Z, temos cos y = 1, se n é par, e cos y = −1, se n é ímpar. Se n for par
então ex ≤ −1, o que é impossível. Se n for ímpar então ex ≥ 1, ou seja, x ≥ 0. Concluímos
que f é analítica no conjunto
C\ {z = x + yi : x ≥ 0 ∧ y = 2(k + 1)π, k ∈ Z} .
ez
f 0 (z) = .
ez +1
40 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES ELEMENTARES
Exercícios propostos
5. Determine para que valores de z é válida a igualdade log z 2 = 2 log z, quando se considera o
ramo principal do logaritmo.
6. Mostre que a função f (z) = ez não é analítica em nenhum ponto do seu domínio.
¯ ¯
8. Mostre que ¯eiy ¯ = 1, para todo o y ∈ R.
³ 2´
9. Mostre que u(x, y) = Re ez é uma função harmónica.
10. Mostre que tan z = u+vi onde u(x, y) = sin 2x/ (cos 2x + cosh 2y) e v(x, y) = sinh 2x/ (cos 2x + cosh 2y) .
Soluções
O estudo da integração no plano complexo é importante por duas razões essenciais. Por um
lado, podem ocorrer integrais de variável real cujo cálculo não é imediato pelos métodos usuais de
integração real mas que a integração complexa permite resolver facilmente. Por exemplo, o cálculo
do integral
Z ∞
sin2 x
dx.
0 x2
Por outro lado, algumas propriedades básicas das funções analíticas podem ser estabelecidas com
base na integração complexa não sendo as abordagens alternativas imediatas. O teorema de
Cauchy-Goursat, por exemplo, permite concluir que as funções analíticas possuem derivadas de
todas as ordens.
43
44 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO
Dada uma curva parametrizada por γ(t) = x(t) + y(t)i, t ∈ [a, b], e t0 ∈ [a, b], o vector
Definição 12 Uma curva γ diz-se suave (ou regular) quando as funções x(t) e y(t) têm derivadas
contínuas no intervalo [a, b] e o vector γ 0 (t) = x0 (t) + iy 0 (t) não se anula em [a, b].
Se existir uma partição do intervalo [a, b], ou seja, um número finito de valores reais a0 , a1 , . . . , an ,
com a0 = a < a1 < · · · < an = b, tal que as restrições γ j = γ |]aj−1 ,aj [ , j = 1, 2, . . . , n, são curvas
suaves então a curva γ diz-se seccionalmente suave (ou seccionalmente regular). Neste caso,
γ diz-se a soma (ou união) das curvas γ j , j = 1, 2, . . . , n, e denota-se por γ 1 +γ 2 + · · · + γ n .
γ(b)
•
y γ(t)
γ
•
γ(a)
a t b
•
x
A suavidade de uma curva significa geometricamente que ela tem vector tangente γ 0 (t) = x0 (t) +
iy 0 (t) único em cada ponto e que este varia continuamente em t.
γ
y •
•
-1 2 -1 2 x
Exemplo 11 A circunferência de centro na origem e de raio 1 pode ser parametrizada por γ(t) =
cos t + i sin t = eit , t ∈ [0, 2π]. De facto,
Trata-se de uma curva suave visto que x(t) = cos t e y(t) = sin t são funções contínuas com
derivadas contínuas no intervalo [0, 2π] e γ 0 (t) = − sin t + i cos t 6= 0 para 0 ≤ t ≤ 2π (as funções
seno e coseno não têm zeros coincidentes).
x2 (t) y 2 (t)
+ 2 = cos2 t + sin2 t = 1.
a2 b
é seccionalmente suave. Dado que γ 1 (2) = γ 2 (2), γ é a união da curva γ 1 (t) = γ |]−1,2[ (t) = t + it2
com a curva γ 2 (t) = γ |]2,3[ (t) = t + 4i. Além disso, γ 1 é uma curva suave dado que as funções
x(t) = t e y(t) = t2 têm derivadas contínuas e γ 01 (t) = 1 + 2ti 6= 0. Analogamente, a restrição γ 2
é uma curva suave. Observamos que γ não é suave pois γ 01 (2) = 1 + 4i enquanto que γ 02 (2) = 1.
No que segue todas as curvas consideradas são seccionalmente suaves, salvo indicação em con-
trário.
46 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO
Exemplo 14 A curva γ(t) = z0 + reit , com t ∈ [α, β] e β ≤ α + 2π, define um arco da circun-
ferência de centro z0 e de raio r, com extremidades inicial e final γ (α) e γ (β), respectivamente.
Trata-se de uma curva suave dado que x(t) = x0 + r cos t e y(t) = y0 + r sin t têm derivadas con-
tínuas e γ 0 (t) = ireit 6= 0 em todos os pontos. Quando β = α + 2π, temos γ (α) = γ (β) e a curva é
fechada e descrita no sentido positivo. Atendendo a que se trata de uma circunferência, é imediato
que se trata de uma curva simples. A curva (−γ) (t) = z0 + re−it , t ∈ [α, α + 2π], representa a
mesma circunferência, mas orientada no sentido negativo.
Comecemos por definir o integral curvilíneo de uma função complexa de variável real.
Definição 14 Seja h : [a, b] → C uma função complexa de variável real definida por h(t) =
u(t) + iv(t), para funções u e v contínuas em [a, b]. Define-se o integral curvilíneo da função
h no intervalo [a, b] como sendo o número complexo
Z b Z b Z b
h(t)dt = u(t)dt + i v(t)dt,
a a a
onde os integrais de u e v são integrais usuais de funções reais de uma variável real.
Definição 15 Sejam f uma função contínua definida num aberto A ⊆ C e γ : [a, b] → C uma curva
seccionalmente suave tal que γ ([a, b]) ⊂ A. Define-se o integral curvilíneo (ou simplesmente
R R
integral) ao longo de γ, que se denota por γ f (z)dz (ou simplesmente por γ f ), como sendo o
número complexo
Z n Z
X aj ¡ ¢
f (z)dz = f γ j (t) · γ 0j (t)dt,
γ j=1 aj−1
onde a0 = a < a1 < · · · < an = b é uma partição do intervalo [a, b] tal que as restrições γ j =
γ |]aj−1 ,aj [ , para j = 1, . . . , n, parametrizam curvas suaves. A função f é designada por função
H
integranda. Quando a curva é fechada é usual a notação γ f .
Pretendemos calcular o valor do integral de f (z) = 1/z ao longo da curva γ. A função f está
definida e é contínua em todos os pontos da curva γ (f tem por domínio C\ {0} mas a origem não
pertence à curva). Então, dado que γ 0 (t) = −2 sin t + i2 cos t,
I Z 2π
f (z)dz = f (2 cos t + i2 sin t) (−2 sin t + i2 cos t) dt
γ 0
Z 2π
1
= (−2 sin t + i2 cos t) dt
0 2 cos t + i2 sin t
Z 2π
2 cos t − i2 sin t
= (−2 sin t + i2 cos t) dt
0 4 cos2 t + 4 sin2 t
Z 2π
−4 cos t sin t + 4i cos2 t + i4 sin2 t + 4 sin t cos t
= dt
0 4
Z 2π Z 2π
4i
= dt = i dt = 2πi.
0 4 0
Em alternativa, podemos usar a forma γ(t) = 2eit . Temos então γ 0 (t) = 2ieit e o integral é dado
48 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO
por
I Z 2π ¡ ¢
f (z)dz = f 2eit 2ieit dt
γ 0
Z 2π Z 2π Z 2π
1
= 2ieit dt = idt = i dt = 2πi.
0 2eit 0 0
y
2+2i
0 x
Trata-se de uma curva seccionalmente suave, união de duas curvas suaves: o segmento de recta
que une z = 0 a z = 2 parametrizado por γ 1 (t) = t, t ∈ [0, 2] , e o segmento de recta que une z = 2
a z = 2 + 2i parametrizado por γ 2 (t) = 2 + (t − 2) i, t ∈ [2, 4]. Dado que a função f (z) = z é
contínua em C (em particular, na curva) e γ 01 (t) = 1 e γ 02 (t) = i, o integral curvilíneo é obtido
como soma de dois integrais na variável real t,
Z Z 2 Z 4
f (z)dz = f (t)dt + f (2 + (t − 2) i) i dt
γ 0 2
Z 2 Z 4
= tdt + (2 + (t − 2) i) i dt
0 2
Z 2 Z 4 Z 4
= tdt + i 2dt − (t − 2) dt = 4i.
0 2 2
Exemplo 17 Dada a função f (z) = z 2 contínua em todo o plano complexo, pretendemos calcular
o valor do seu integral ao longo do segmento de recta definido, em coordenadas rectangulares, pela
equação y = 5x, entre os pontos z1 = 0 e z2 = 2 + 10i. Podemos considerar a própria variável x
como parâmetro e usar a parametrização γ(x) = x + 5xi, com x ∈ [0, 2]. Temos γ 0 (x) = 1 + 5i e o
integral é então dado por
Z Z 2 Z 2
f (z)dz = f (x + 5xi) (1 + 5i)dx = (x + 5xi)2 (1 + 5i)dx
γ 0 0
Z 2 Z 2
¡ ¢ ¡ ¢
= 10x2 i − 24x2 (1 + 5i)dx = −74x2 − 110x2 i dx
0 0
Z 2 Z 2
592 880
= −74x2 dx − i 110x2 dx = − − i.
0 0 3 3
Nota 9 Seja f (z) = u(x, y) + v(x, y)i e γ (t) = x(t) + iy(t) a parametrização de uma curva. Sem
perda de generalidade, podemos supor que γ é suave4 . Temos
Z Z
Re f (z)dz = [u(x, y)dx − v(x, y)dy] ,
γ γ
e Z Z
Im f (z)dz = [u(x, y)dy + v(x, y)dx] .
γ γ
R
O integral curvilíneo γ
f (z)dz pode assim ser escrito em termos de dois integrais de linha no plano
bidimensional.
Definição 16 Dada uma curva seccionalmente suave parametrizada por γ : [a, b] → C, uma nova
h i h i
função γe: e a, eb → C diz-se uma reparametrização de γ se existe uma função α : [a, b] → e
a, eb
a, α(b) = eb e γ (t) = γ
tal que α0 (t) > 0, α(a) = e e (α (t)).
R
Exemplo 8 Pretendemos calcular γ
Re(z)dz ao longo do segmento de recta que une z1 = 0 a
z2 = 1 + i. Escolha-se a parametrização γ : [0, 1] → C dada por γ(t) = t + it. A função integranda
é contínua nos pontos da curva. Dado que γ 0 (t) = 1 + i, temos
Z Z 1 Z 1
Re(z)dz = Re (γ(t)) · γ 0 (t)dt = Re (t + it) (1 + i)dt
γ 0 0
Z 1 Z 1
1 1
= t(1 + i)dt = (1 + i) t dt = + i.
0 0 2 2
e : [1, 2] → C
Para a mesma curva podemos considerar outras parametrizações, por exemplo, γ
e(t) = (t − 1) + i (t − 1) . Verificamos que o integral é dado pelo mesmo valor,
definida por γ
Z Z 2 Z 2
Re(z)dz = Re (e e0 (t)dt =
γ (t)) · γ Re [t − 1 + i (t − 1)] (1 + i)dt
h
γ 1 1
Z 2 Z 2
1 1
= (t − 1) (1 + i)dt = (1 + i) (t − 1) dt = + i.
1 1 2 2
Frequentemente, é útil obter uma estimativa superior do módulo de um integral. Dada uma
curva parametrizada por γ(t) = x(t)+y(t)i, com t ∈ [a, b], o comprimento da curva γ é definido
por
Z bp Z b
l (γ) = 0 2 0 2
x (t) + y (t) dt = |γ 0 (t)| dt.
a a
Proposição 16 Seja f uma função complexa de variável complexa definida e contínua num aberto
A ⊆ C e seja γ : [a, b] → A uma curva seccionalmente suave em A. Se f for limitada sobre a
curva, isto é, se existir M ≥ 0 tal que |f (z)| ≤ M , para todo o z ∈ γ ([a, b]), então
¯Z ¯
¯ ¯
¯ f (z)dz ¯ ≤ M · l(γ).
¯ ¯
γ
(como seria de esperar pela fórmula do perímetro de uma circunferência). Quanto à limitação da
função f ao longo desta circunferência, podemos escrever
¯ z ¯
¯ e ¯ |ez | |ez | |ez | |ez | ex e4
¯ ¯
¯ z + 1 ¯ = |z + 1| ≤ |z| − 1 = 4 − 1 = 3 = 3 ≤ 3 ,
52 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO
já que o valor máximo que x = Re(z) pode tomar ao longo da circunferência é 4. Então, pela
proposição 16, obtemos a estimativa pedida,
¯I ¯
¯ ez ¯ e4 8πe4
¯ ¯
¯ z + 1 ¯ ≤ 3 8π = 3 .
dz
γ
Exercícios resolvidos
R
1. Dada a função complexa f (z) = z calcule o valor do integral curvilíneo γ
f (z)dz onde γ é a
2
curva definida por x(t) = 3t e y(t) = t , com t ∈ [1, 4].
R
2. Calcule o valor do integral curvilíneo γ
f (z)dz para
(a) f (z) = y − x − 3x2 i sobre a curva que é a união do segmento de recta que une z = 0 a
z = i com o segmento de recta que une z = i a z = 1 + i;
(b) f (z) = (z + 2)/z sobre a semicircunferência parametrizada por γ(θ) = 2eiθ , com 0 ≤
θ ≤ −π;
(c) f (z) = 1/z sobre os pontos da semicircunferência de centro 2 e de raio 1 com parte real
superior a 2 e percorrida no sentido negativo.
3. Considere o caminho γ(t) = eit , para t ∈ [0, 2π]. Prove que são nulos os integrais curvilíneos
I I
1 1
dz e 2|
dz.
γ |z| γ |z
R
4. Calcule o valor do integral curvilíneo γ
f (z)dz onde γ é a curva de equação dada, em coor-
3
denadas rectangulares, por y = x entre os pontos z = −1 − i e z = 1 + i, e onde f é a função
definida por ½
1 se y < 0
f (z) = .
4y se y > 0
quando a integração é feita ao longo de uma curva seccionalmente suave que una o ponto A
ao ponto B.
3.1. INTEGRAIS CURVILÍNEOS 53
Propostas de resolução
1. Dada a curva γ(t) = 3t + it2 , com t ∈ [−1, 4], temos γ 0 (t) = 3 + 2ti. Sendo x(t) = 3t e
y(t) = t2 funções contínuas com derivadas contínuas no intervalo [−1, 4], a curva γ é suave.
Corresponde ao arco da parábola definida, em coordenadas rectangulares, pela equação y =
x2 /9 entre os pontos z = γ(−1) = −3 + i e z = γ(4) = 12 + 16i. Sendo a função f (z) = z
contínua em todos os pontos da curva γ, o integral curvilíneo é dado por
Z Z 4 Z 4 ¡ ¢
zdz = 3t + it2 (3 + 2ti)dt = 3t − t2 i (3 + 2ti)dt
γ −1 −1
Z 4 Z 4 Z 4
¡ ¢ ¡ ¢
= 9t + 2t3 + 3t2 i dt = 9t + 2t3 dt + 3i t2 dt
−1 −1 −1
9 1 1
= 15 + 255 + 3i 63 = 195 + 63i.
2 2 3
2. (a) O segmento de recta que une z = 0 a z = i pode ser parametrizado por γ 1 (t) = ti, com
0 ≤ t ≤ 1, e o segmento de recta que une z = i a z = 1 + i por γ 2 (t) = t + i, com
0 ≤ t ≤ 1.
Eixo
imaginário
1+i
i • •
•
Eixo real
Dado que a função f (z) = y − x − 3x2 i está definida e é contínua ao longo de cada uma
das curvas suaves consideradas, temos
Z Z 1 Z 1 Z 1 Z 1 ¡ ¢
f (z)dz = f (ti)i dt + f (t + i)1 dt = ti dt + 1 − t − 3t2 i dt
γ 0 0 0 0
Z 1 Z 1 Z 1
1 1 1
= i t dt + (1 − t) dt − 3i t2 dt = i + − 3i = .
0 0 0 2 3 2
Eixo
imaginário
1 2 3 Eixo real
Trata-se de uma curva suave onde a função f (z) = 1/z está definida (o seu domínio é
C\ {0}) e é contínua. O integral curvilíneo é dado por
I Z π/2
f (z)dz = f (2 + cos t − i sin t)(− sin t − i cos t)dt
γ −π/2
Z π/2
1
= (− sin t − i cos t)dt
−π/2 2 + cos t − i sin t
Z π/2
(2 + cos t + i sin t) (− sin t − i cos t)
= dt
−π/2 (2 + cos t − i sin t) (2 + cos t + i sin t)
Z π/2
−2 sin t − 2i cos t − i
= dt
−π/2 (2 + cos t)2 + sin2 t
Z π/2
−2 sin t − i (2 cos t − 1)
= dt
−π/2 4 + 4 cos t
Z Z
1 π/2 − sin t i π/2 2 cos t − 1
= dt − dt.
2 −π/2 1 + cos t 4 −π/2 1 + cos t
¡ ¢ ¡ ¢ ¡ ¢
1 − s2 / 1 + s2 e t0 = 2/ 1 + s2 . Obtemos, então,
I Z Z 1 − s2
1 π/2
− sin t i 1 2 −1 2
f (z)dz = dt − 1 + s2 ds
γ 2 −π/2 1 + cos t 4 −1 1 − s2 1 + s2
1+
1 + s2
Z
1 π/2 i 1 2 − 2s2 − 1 − s2 1
= [ln |1 + cos t|]−π/2 − ds
2 2 −1 1 + s2 + 1 − s2 1 + s2
Z 1
1 i 1 − 3s2 1
= (ln 1 − ln 1) − ds
2 2 −1 2 1 + s2
Z Z µ ¶
i 1 3s2 − 1 i 1 4
= 0+ ds = 3 − ds
4 −1 1 + s2 4 −1 1 + s2
i 1 i³ π ³ π ´´
= [3s − 4 arctan s]−1 = 3−4 +3+4 −
4 4 4 4
i 3−π
= (6 − 2π) = i.
4 2
3. Dada a curva γ(t) = eit , para t ∈ [0, 2π] temos γ 0 (t) = ieit . Trata-se da circunferência de
¯ ¯
centro na origem e de raio 1, onde as funções f (z) = 1/ |z| e g(z) = 1/ ¯z 2 ¯, de domínio
C\ {0}, estão definidas e são contínuas. Para esta curva suave os integrais curvilíneos são
dados por
I Z 2π Z 2π
1 1 £ ¤2π
dz = · ieit dt = ieit dt = eit 0 = e2πi − 1 = 0
γ |z| 0 |eit | 0
I Z 2π Z 2π Z 2π
1 1 1 1
dz = · ieit dt = · ieit dt = 2 ieit dt = 0.
γ |z 2 | 0 |e2it | 0 e2 e 0
4. A curva pode ser parametrizada por γ(t) = t + t3 i, com −1 ≤ t ≤ 1. Trata-se de uma curva
suave com γ 0 (t) = 1 + 3t2 i. A função f , de domínio C, é contínua em todos os ponto da
curva. Temos
Z Z 1 Z 1
0
¡ ¢
f (z)dz = f (γ(t)) · γ (t)dt = f (t + t3 i) 1 + 3t2 i dt
γ −1 −1
Z 0 Z 1
¡ ¢ ¡ ¢
= 1 + 3t2 i dt + 4t3 · 1 + 3t2 i dt
−1 0
Z 0 Z 0 Z 1 Z 1
= dt + 3i t2 dt + 4 t3 dt + 12i t5 dt
−1 −1 0 0
3i 4 12i
= 1− + + = 2 + i.
3 4 6
5. A curva γ(t) = eit , para t ∈ [0, π], é a semicircunferência de centro na origem e de raio 1
situada nos 1o e 2o quadrantes. Trata-se de uma curva suave onde a função f (z) = ez /z,
de domínio C\ {0}, está definida e é contínua. Pretendemos obter uma estimativa superior
56 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO
6. Consideremos a parametrização γ(t) com t ∈ [a, b] para uma curva seccionalmente suave que
una o ponto A ao ponto B. Temos a função f (z) = 1 que é contínua ao longo de qualquer
curva seccionalmente suave. Como tal,
Z Z b Z b
0
dz = f (γ(t)) · γ (t)dt = γ 0 (t)dt = γ (b) − γ(a) = B − A.
γ a a
Definição 17 Dada uma função complexa f definida e contínua numa região A ⊆ C, a função F
tal que F 0 (z) = f (z), para todo z ∈ A, diz-se uma primitiva de f (ou uma antiderivada de f ).
Notemos que esta definição implica que F é analítica em A (e, portanto, também contínua em
A) por ter derivada em todos os pontos do aberto A.
0
Exemplo 10 A função F (z) = − cos z é uma primitiva de f (z) = sin z visto que (− cos z) = sin z.
0
Dado que (− cos z + C) = sin z, qualquer que seja C ∈ C, − cos z + C é a expressão geral das
primitivas de f (z) = sin z.
Teorema 3 Seja f uma função contínua numa região A ⊆ C. Então são equivalentes as seguintes
afirmações:
(ii) o valor do integral curvilíneo de f é o mesmo ao longo de qualquer curva contida em A ligando
pontos z1 e z2 fixos;
(iii) o valor do integral curvilíneo de f é zero ao longo de qualquer curva fechada contida em A.
Exercícios resolvidos
1. Mostre que não existe uma função analítica f definida em C\ {0} tal que f 0 (z) = 1/z.
R
2. Calcule γ
z 2 dz, para a curva γ(t) = eit sin3 t, com t ∈ [0, π/2].
R
3. Calcule γ
ez dz sobre o contorno do triângulo de vértices z = 0, z = 1 e z = πi.
R π+2i
(a) 0
cos (z/2) dz;
R i/2
(b) i
eπz dz;
R3
(c) 1
(z − 2)3 dz.
Propostas de resolução
1. Suponhamos, por absurdo, que existe uma função f analítica definida em C\ {0} tal que
f 0 (z) = 1/z. Vimos que a função logaritmo principal log z verificava (log z)0 = 1/z. Contudo,
a função logaritmo, embora definida em C\ {0}, não é analítica no eixo real negativo.
Eixo
imaginário
πi •
• •1
Eixo real
4. (a) A função f (z) = cos (z/2) é contínua em todos os pontos do seu domínio C e F (z) =
2 sin (z/2) é uma primitiva de f . Então, pelo teorema 1,
Z h z iπ+2i ³π ´ e(π/2+i)i − e−(π/2+i)i
f (z)dz = 2 sin = 2 sin +i −0=
γ 2 0 2 2i
e−1+π/2i − e1−π/2i e−1 (0 + i) − e1 (0 − i) e−1 − e 1 − e2
= = = = .
2i 2i 2 2e
(b) A função f (z) = eπz é contínua em todos os pontos do seu domínio C e F (z) = 1/πeπz
é uma primitiva de f . Então, pelo teorema 1,
Z ∙ ¸i/2
1 πz 1 ³ π/2i ´ 1
f (z)dz = e = e − eπi = (i − 1) .
γ π i π π
(c) A função f (z) = (z − 2)3 é contínua em todos os pontos do seu domínio C e F (z) =
(z − 2)4 /4 é uma primitiva de f . Então, pelo teorema 1,
Z ∙ ¸3
(z − 2)4 1
f (z)dz = = (1 − 1) = 0.
γ 4 1 4
5. A função f (z) = 1/z é contínua em todos os pontos do seu domínio C\{0}, ao qual pertencem
todos os pontos da curva, e F (z) = log z é uma primitiva de f . Então, pelo teorema 1, temos
Z ³ π´ ³
i π´
f (z)dz = [log z]−i = log(−i) − log i = ln 1 + i − − ln 1 + i = −πi.
γ 2 2
Em 1825, o matemático francês Louis-Augustin Cauchy provou um dos mais importantes teoremas
da análise complexa: se γ parametriza uma curva simples e fechada (i.e., uma curva de Jordan)
no plano complexo e f é uma função analítica em todos os pontos da curva e do seu interior então
I
f (z)dz = 0.
γ
Se f não for analítica em toda a região do interior da curva então o valor do integral poderá ou
não ser nulo. Consideremos o seguinte exemplo.
Exemplo 11 A função f (z) = 1/z analítica em C \ {0}. Se a curva de Jordan considerada for a
circunferência de centro na origem e de raio r,
I Z 2π Z 2π
¡ ¢ 1 −iθ iθ
f (z)dz = f reiθ reiθ dθ = e ire dθ
γ 0 0 r
Z 2π
= i dθ = i [θ]2π
0 = 2πi.
0
Não era esperado um resultado nulo dado que a função f não é analítica no círculo de centro na
origem e de raio r. No entanto, para a função f (z) = 1/z 2 temos
I Z 2π Z 2π
¡ ¢ 1 −i2θ iθ
f (z)dz = f reiθ reiθ dθ = 2
e ire dθ
γ 0 0 r
1 £ −iθ ¤2π 1¡ ¢
= − e 0
= − e−i2π − e0 = 0,
r r
mas tal não ocorre por consequência do teorema de Cauchy. De facto, f é analítica em C \ {0},
não sendo, portanto, analítica na curva e no seu interior.
Teorema 4 Sejam f uma função analítica e com derivada contínua em todos os pontos de uma
região simplesmente conexa D e γ a parametrização de uma curva de Jordan contida em D. Então
I
f (z)dz = 0.
γ
Uma versão mais precisa do teorema de Cauchy foi desenvolvida pelo matemático francês
Edouard Goursat em 1883. Ele provou que a hipótese de continuidade de f 0 pode ser omitida. A
reformulação do teorema é a seguinte.
Teorema 5 Teorema de Cauchy-Goursat Sejam f é uma função analítica numa região sim-
plesmente conexa D e γ a parametrização de uma curva de Jordan contida em D. Então
I
f (z)dz = 0.
γ
Visto que o interior de uma curva de Jordan é uma região simplesmente conexa, o teorema de
Cauchy-Goursat pode ter a seguinte reformulação mais simples.
Teorema 6 Se f é uma função analítica numa região simplesmente conexa D então, para cada
curva de Jordan γ contida em D, é válido que
I
f (z)dz = 0.
γ
Exemplo 18 Consideremos a função inteira f (z) = sin(ez ). Em particular, é analítica nos pontos
da circunferência de centro na origem e raio 1 bem como no seu interior. Sendo γ uma parame-
trização desta curva de Jordan temos, pelo teorema 4,
I
sin(ez )dz = 0.
γ
62 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO
Visto que a função 1/ (z + i) é analítica na circunferência γ 1 e no seu interior, assim como a função
H
1/ (z − i) é analítica na circunferência γ 2 e no seu interior temos, pelo teorema 4, γ 1/(z +i)dz =
H 1
γ
1/(z − i)dz = 0. Quanto aos restantes integrais curvilíneos, consideremos as parametrizações
2
1 1
γ 1 (θ) = i + eiθ e γ 2 (θ) = −i + eiθ
2 2
com 0 ≤ θ ≤ 2π. Temos, então,
I Z 2π Z 2π Z 2π
1 1 1 1 iθ
dz = γ 01 (θ)dθ = 1 iθ 2 ie dθ = i dθ = 2πi
γ1 z − i 0 γ 1 (θ) − i 0 2e 0
e I Z Z Z
2π 2π 2π
1 1 1 1 iθ
dz = γ 0 (θ)dθ = 1 iθ 2 ie dθ = i dθ = 2πi.
γ2 z+i 0 γ 2 (θ) + i 2 0 2e 0
3.3. TEOREMA DE CAUCHY-GOURSAT 63
Como tal, I
1 1 1
dz = 2πi − 0 − 0 − 2πi = 0.
γ z2 + 1 2i 2i
Exercícios resolvidos
3. Sejam f (z) = u + iv uma função analítica numa região D e γ(t) = x(t) + y(t)i, com t ∈ [a, b],
uma curva de Jordan contida e D.
Mostre que I I I I
∂u ∂v ∂u ∂v
dx = dy e dy = − dx.
γ ∂x γ ∂x γ ∂x γ ∂x
ao longo de qualquer curva que une z = −2i a z = 2i, contida no semiplano direito.
64 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO
Propostas de resolução
(a) A função f (z) = ze−z tem domínio C e é contínua em todo o seu domínio. Podemos
então, pelo teorema 4, concluir que
I
ze−z dz = 0.
γ
¡ ¢ © ª
(b) A função racional f (z) = 1/ z 2 + 2z + 2 tem por domínio o conjunto z ∈ C : z 2 + 2z + 2 6= 0 .
A equação z 2 + 2z + 2 = 0 é equivalente a
¡ √ ¢ ¡ √ ¢
z = −2 + −4 /2 = −1 + i ∨ z = −2 − −4 /2 = −1 − i.
(c) A função f (z) = log(z + 2) está definida para números complexos tais que z 6= −2.
Temos então Df = C \ {−2}. A função f é analítica em complexos z tais que z + 2 não
seja um número real negativo, ou seja, f é analítica em
C \ {x + yi : x ≤ −2 ∧ y = 0} .
o que implica
p p
(x − 2)2 + y 2 + 2 (x − 2)2 + y 2 (x + 2)2 + y 2 + (x + 2)2 + y 2 = 36.
3.3. TEOREMA DE CAUCHY-GOURSAT 65
p p
Temos, então, −x2 + 14 − y 2 = (x − 2)2 + y 2 (x + 2)2 + y 2 que implica
¡ 2 ¢2 ³ ´³ ´
2 2
−x + 14 − y 2 = (x − 2) + y 2 (x + 2) + y 2 ⇔
¡ ¢2 ¡ ¢¡ ¢
⇔ −x2 + 14 − y 2 = x2 + y 2 + 4 − 4x x2 + y 2 + 4 + 4x
¡ ¢2
⇔ x4 − 28x2 + 2x2 y 2 + 196 − 28y 2 + y 4 = x2 + y 2 + 4 − 16x2
⇔ 20x2 + 36y 2 = 180
⇔ 5x2 + 9y 2 = 45
x2 y 2
⇔ + = 1.
9 5
A função f (z) = e3z / (z − iπ) tem por domínio C \ {πi} e é analítica em todo o seu domínio.
O ponto πi não pertence à elipse definida por |z − 2| + |z + 2| = 6 ou ao seu interior. De
√
facto, |πi − 2| + |πi + 2| = 2 4 + π2 > 6. Podemos então, pelo teorema 4, concluir que
I
e3z
dz = 0.
γ z − iπ
3. Sendo f (z) = u + iv uma função analítica numa região D e γ uma curva de Jordan contida
H
em D, sabemos ser nulo o valor do integral γ f (z)dz. Temos então,
I I
(udx − vdy) + i (udy + vdx) = 0,
γ γ
equivalente a I I I I
udx = vdy e udy = − vdx.
γ γ γ γ
2
4. Consideremos a função f (z) = z 2 /2 + |z| . Trata-se de uma função definida e contínua em
todo o plano complexo. Podemos escrever a expressão de f como segue:
µ ¶
z·z z
f (z) = +z·z =z +z .
2 2
Cada uma das parametrizações γ e η define uma curva suave e f está definida ao longo de cada
uma dessas curvas. Isto garante a existência de cada um dos integrais curvílineos presentes
66 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO
no exercício. Para o cálculo de cada um desses integrais, consideremos que γ 0 (t) = ieit e
η 0 (t) = 2i. Temos então
Z µ 2 ¶ Z µ ¶ Z π/2 Ã !
z z eit
2 it
+ |z| dz = z + z dz = eit +e ieit dt.
γ 2 γ 2 −π/2 2
Basta atender a que F (z) = −1/z é uma primitiva de f (z) = 1/z 2 e que o integral curvilíneo
5. Z
1/z 2 dz é independente do caminho considerado, podendo denotar-se simplesmente por
γ
R z2
z1
1/z 2 dz. Notemos que as funções f (z) = 1/z 2 e F (z) = −1/z estão definidas em C \ {0}
mas, atendendo a que γ é um caminho de z1 para z2 no interior de uma região simplesmente
conexa que não contém a origem, está garantido que F é uma função com derivada contínua
num aberto G contendo a curva. Obviamente, estamos a considerar que γ parametriza uma
curva seccionalmente suave.
6. Um integral indefinido (ou primitiva) de f (z) = 1/z é F (z) = log z. Como tal, temos
Z 2i
1 2i π ³ ³ π ´´
dz = [log z]−2i = ln 2 + i − ln 2 + i − = πi,
−2i z 2 2
considerando qualquer curva seccionalmente suave que una z = −2i a z = 2i orientada no
sentido positivo.
3.4. APLICAÇÕES DO TEOREMA DE CAUCHY-GOURSAT 67
Teorema 7 Fórmula integral de Cauchy Seja f uma função analítica no interior e sobre
uma curva de Jordan γ orientada no sentido positivo. Se z0 é um ponto qualquer no interior de γ,
então
Z
1 f (z)
f (z0 ) = dz.
2πi γ z − z0
já que f (0) = 1.
Recorrendo à fórmula integral de Cauchy podemos, ainda, obter uma fórmula para a derivada
0
f (z0 ).
Teorema 8 Fórmula integral de Cauchy para a primeira derivada Seja f uma função
analítica no interior e sobre uma curva de Jordan γ orientada no sentido positivo. Se z0 é um
ponto qualquer no interior de γ, então
Z
0 1 f (z)
f (z0 ) = 2 dz.
2πi γ (z − z0 )
Podemos agora enunciar o resultado que afirma que uma função analítica é infinitamente difer-
enciável, possui derivadas de todas as ordens. Este resultado fornece ainda uma fórmula para as
derivadas de todas as ordens. A sua demonstração usa o método de indução matemática.
68 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO
Teorema 9 Fórmula integral de Cauchy para derivadas de qualquer ordem Seja f uma
função analítica no interior e sobre uma curva de Jordan γ orientada no sentido positivo. Se z0 é
um ponto qualquer no interior de γ, então
Z
n! f (z)
f (n) (z0 ) = n+1 dz.
2πi γ (z − z0 )
Z
Exemplo 14 Pretendemos calcular o valor do integral curvilíneo ez / (z − 1)4 dz. Para tal,
|z|=2
consideremos a função inteira f (z) = ez que verifica f (n) (z) = ez . O ponto z0 = 1 está no interior
da circinferência definida por |z| = 2. É então possível aplicar a fórmula integral de Cauchy para
a derivada de ordem n = 3, obtendo-se
Z
ez 2πi (3) πe
4 dz =
3!
· f (1) =
3
i,
|z|=2 (z − 1)
Exercícios resolvidos
H
1. Calcule o valor do integral curvilíneo γ
(ez + z) / (z − 2) dz, onde
H
(a) |z|=5
[sin (3z)] / (z + π/2) dz;
H ¡ ¢2
(b) |z−i|=2
1/ z 2 + 4 dz;
H £ ¡ ¢¤
(c) |z|=2
[log (z + 3)] / z z 2 + 9 dz.
Z
¡ ¢ ¡ ¢
3. Seja f (x+iy) = y 3 − x3 + 3xy 2 − 3x2 y +i x3 + y 3 − 3xy 2 − 3x2 y . Calcule f (z)/z 2 dz.
|z|=1
4. Seja f uma função analítica sobre e no interior de uma curva de Jordan parametrizada por
γ. Se z0 é um ponto que não está sobre a curva, mostre que
Z Z
f 0 (z) f (z)
dz = dz.
γ z − z0 γ (z − z0 )2
3.4. APLICAÇÕES DO TEOREMA DE CAUCHY-GOURSAT 69
Propostas de resolução
(a) Embora f seja analítica no interior e sobre a circunferência com centro na origem e raio
1, não é possível aplicar a fórmula integral de Cauchy visto que z0 = 2 não é um ponto
interior a esta circunferência. Consideremos então a função g(z) = (ez + z) / (z − 2) que
é contínua em C \ {2}. Atendendo a que é possível considerar uma região simplesmente
conexa que contenha esta circunferência (que é uma curva de Jordan) e onde g seja
contínua temos, pelo teorema 4,
I
ez + z
dz = 0.
γ z−2
(b) A função f é analítica no interior e sobre a circunferência com centro na origem e raio
3 (que consideramos orientada no sentido positivo). Tomando z0 = 2 que é um ponto
no interior de γ temos, pela fórmula integral de Cauchy,
I z
e +z ¡ ¢
dz = 2πi · f (2) = 2π e2 + 2 i,
γ z−2
já que f (2) = e2 + 2.
2. Qualquer das curvas |z| = 5, |z − i| = 2 e |z| = 2 são curvas de Jordan. Para o que segue
vamos considerar estas circunferências orientadas no sentido positivo.
(a) Consideremos a função f (z) = sin(3z) que é analítica no interior e sobre a circunferência
com centro na origem e raio 5. Tomando z0 = π/2 que é um ponto no interior desta
circunferência temos, pela fórmula integral de Cauchy,
I µ ¶
sin (3z) π 3π
π dz = 2πi · f (− ) = 2πi sin − = −2πi.
|z|=5 z + 2 2 2
¡ ¢2 2 2 2
(b) Temos z 2 + 4 = [(z + 2i) (z − 2i)] = (z + 2i) (z − 2i) . Consideremos a função
f (z) = 1/ (z + 2i)2 , de domínio CÂ {−2i}, que é analítica no interior e sobre a circun-
ferência de centro i e de raio 2. Tomando z0 = 2i que é um ponto no interior desta
circunferência temos, pela fórmula integral de Cauchy para a primeira derivada,
1
I I
1 (z + 2i)2 0
2 dz = 2 dz = 2πi · f (2i) = 16π,
|z−i|=2 (z 2 + 4) |z−i|=2 (z − 2i)
¡ ¢
(c) Consideremos a função f (z) = [log (z + 3)] / z 2 + 9 , de domínio CÂ {−3i, 3i, 3}, que é
analítica no interior e sobre a circunferência de centro na origem e de raio 2. Tomando
z0 = 0 que é um ponto no interior desta circunferência temos, pela fórmula integral de
Cauchy,
I I log (z + 3)
log (z + 3) z 2 + 9 dz = 2πi · f (0) = 2π log 3 i,
dz =
|z|=2 z (z 2 + 9) |z|=2 z 9
já que f (0) = [log 3] /9.
Teorema 10 Teorema de Morera Seja f uma função contínua numa região simplesmente
R
conexa D tal que γ f = 0, para qualquer curva de Jordan γ contida em D. Então f é analítica
em D.
Exercícios propostos
H
1. Calcule γ
f (z)dz onde γ é a curva definida por |z| = 1 e f cada uma das seguintes funções:
£¡ 2 ¢¡ ¢¤
(a) f (z) = [sin z] / z − 25 z 2 + 9 ;
H 2z + 1
2. Calcule γ
f (z)dz onde f (z) = e γ é cada uma das seguintes curvas:
z2 + z
H
3. Determine o valor do integral curvilíneo γ
(z − 1) / [z (z − i) (z − 3i)] dz.
R 2πi
(a) πi
cosh z dz;
R 4i
(b) −4i
1/z 2 dz;
R 1−i
(c) −i/2
(2z + 1)2 dz.
H ¡ ¢
5. Calcule γ
2z dz onde γ(t) = 2t3 + t4 − 4t3 + 2 i, −1 ≤ t ≤ 1.
H
6. Mostre que γ
1/z dz = 2πi onde γ é o contorno do paralelogramo de vértices z = 2i, z = −2,
z = −2i e z = 2.
H
7. Mostre que γ
2z dz = −1 − 2i onde γ é uma curva com ponto inicial z = −1 e ponto final
z = 2.
72 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO
Soluções
1. (a) 0
(b) 0
(c) −6πi
(d) 0
2. (a) 2πi
(b) 0
(c) 4πi
3. −π − πi
4. (a) 0
(b) i/2
5. 48 + 24i
3.5 Integração
3.5.1 Exercícios resolvidos
H
1. Considere a circunferência γ de centro na origem e raio 2. Calcule o valor do integral γ
f (z)dz
para f (z) = 1/z.
R z+2
2. Calcule, pela definição, o valor do integral γ
dz, onde γ é parametrizada por:
z
(a) z = 2eiθ , 0 ≤ θ ≤ π;
3. Seja γ a circunferência de raio 1 centrada na origem e percorrida uma vez no sentifo positivo.
Usando o teorema de Cauchy e as fórmulas integrais de Cauchy, calcule o valor de cada um
dos seguintes integrais:
R
(a) γ
1 dz;
3.5. INTEGRAÇÃO 73
R ez
(b) γ z
dz;
R cos z
(c) dz;
γ
(z − 2i)7
R sin z
(d) γ 6 dz.
(2z − i)
1. Uma parametrização para a circunferência γ de centro na origem e raio 2 pode ser definida
por γ(t) = 2 cos t + i2 sin t = 2eit para t ∈ [0, 2π]. Para vector tangente em cada ponto temos
γ 0 (t) = −2 sin t + i2 cos t. Trata-se de uma curva suave, pois x(t) = 2 cos t e y(t) = 2 sin t são
funções contínuas com derivadas contínuas para todo o 0 ≤ t ≤ 2π e a função f está definida
e é contínua em todos os pontos da curva (f tem por domínio C \ {0} mas a origem não
pertence à curva). Não é necessário considerar uma partição e temos, então,
I Z 2π
f (z)dz = f (2 cos t + i2 sin t) (−2 sin t + i2 cos t) dt
γ 0
Z 2π
1
= (−2 sin t + i2 cos t) dt
0 2 cos t + i2 sin t
Z 2π
2 cos t − i2 sin t
= (−2 sin t + i2 cos t) dt
0 4 cos2 t + 4 sin2 t
Z 2π
−4 cos t sin t + 4i cos2 t + i4 sin2 t + 4 sin t cos t
= dt
0 4
Z 2π Z 2π
4i
= dt = i dt = 2πi.
0 4 0
Em alternativa, pode-se usar γ(t) = 2eit tendo-se então γ 0 (t) = 2ieit . O integral pedido é
dado por
I Z 2π ¡ ¢
f (z)dz = f 2eit 2ieit dt
γ 0
Z 2π Z 2π Z 2π
1
= 2ieit dt = idt = i dt = 2πi.
0 2eit 0 0
2. (a) Para a parametrização z (θ) = 2eiθ da semicircunferência tem-se z 0 (θ) = 2ieiθ . Por-
tanto, pela definição de integral, temos
Z Z µ ¶ Z πµ ¶
z+2 2 2
dz = 1+ dz = 1 + iθ 2ieiθ dθ
γ z γ z 0 2e
Z π
¡ iθ ¢ ¯π
= 2ie + 2i dθ = 2eiθ ¯0 + 2πi = −4 + 2πi.
0
74 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO
(b) Analogamente
Z Z µ ¶ Z 2π µ ¶
z+2 2 2
dz = 1+ dz = 1 + iθ 2ieiθ dθ
γ z γ z π 2e
Z 2π
¡ iθ ¢ ¯2π
= 2ie + 2i dθ = 2eiθ ¯π + 2πi = 4 + 2πi.
π
(c) Pela aditividade do integral em relação ao caminho de integração, este integral de linha
é a soma dos integrais das alíneas anteriores,
Z
z+2
dz = (−4 + 2πi) + (4 + 2πi) = 4πi.
γ z
3. (a) A função constante f (z) = 1 é analítica em C, que é uma região simplesmente conexa.
Portanto, pelo teorema de Cauchy, o integral de f (z) ao longo de qualquer caminho
fechado em C é 0. Em particular,
Z
1 dz = 0.
γ
(c) A função
cos z
7
(z − 2i)
é analítica em C \ {2i}. Como 2i não pertence ao interior do contorno γ, a função é
analítica numa região que contem o interior do contorno γ. Portanto, pelo teorema de
Cauchy, Z Z
cos z
7 dz = f (z)dz = 0.
γ (z − 2i) γ
Consideremos o desenvolvimento em série de Taylor para uma função real de variável real f em
torno de um ponto a ∈ Df ,
X∞
f (n) (a) n 1
(x − a) = f (a) + f 0 (a)(x − a) + f 00 (a)(x − a)2 + · · · .
n=0
n! 2
Estabelecer este desenvolvimento pode conduzir a algumas dificuldades. Por um lado, podem não
existir as derivadas de todas as ordens. É o caso da função
½ 2
x se x ≥ 0
f (x) =
−x2 se x ≤ 0
em que temos f 0 (x) = 2 |x| e, como tal, não existe f 00 (0). Por outro lado, as derivadas de todas as
ordens podem existir mas a série de Taylor não convergir para a função f . Por exemplo, é possível
mostrar por indução matemática que a função
½ ¡ ¢
exp −1/x2 se x 6= 0
f (x) = .
0 se x = 0
tem derivadas de qualquer ordem na origem e que f (k) (0) = 0, para todo k ∈ N. Como tal, a série
de Taylor em torno da origem é a série nula, enquanto que a função não vale zero em nenhuma
vizinhança de a = 0.
No caso de funções complexas de variável complexa, a situação é um pouco mais simples
quando falamos de funções f analíticas. Se uma função f é analítica num ponto z0 , a fórmula
integral de Cauchy para derivadas garante que f tem derivadas de todas as ordens nesse ponto.
Como consequência, veremos que uma série de potências de (z − z0 ) designada por série de Taylor
converge para f . Por outro lado, mesmo no caso de f não ser analítica num ponto z0 , há situações
em que é possível obter um outro tipo de desenvolvimento em série através das chamadas séries de
Laurent.
75
76 CAPÍTULO 4. REPRESENTAÇÃO EM SÉRIE DE FUNÇÕES ANALÍTICAS
Exemplo 21 Seja f (z) = exp z. A função f é inteira e f (n) (z) = exp z, para todo o n ∈ N.
Temos então f (n) (0) = 1, para todo o n ∈ N, logo a série de Taylor de f em torno de z0 = 0 é
dada por
X∞
z2 zn
exp z = 1 + z + + ··· = , para todo o z ∈ C.
2! n=0
n!
Notemos que esta série é a obtida do desenvolvimento em série da função real ex substituindo x
por z.
n!
f (n) (z) = ,
(1 − z)n+1
logo f (n) (0) = n!. Como tal, obtemos a série de Taylor
X∞
1
= 1 + z + z2 + · · · = zn,
1−z n=0
1 Em homenagem ao matemático escocês Colin MacLaurin (1698 − 1746).
4.1. SÉRIES DE TAYLOR E DE LAURENT 77
Proposição 17 Uma série de potências com raio de convergência não-nulo é a série de Taylor da
sua função soma.
Teorema 12 Teorema de Laurent Seja f uma função analítica na coroa circular C(z0 , r, R) =
{z ∈ C : 0 < r < |z − z0 | < R}, com r ≥ 0 e R > r. Então
∞
X ∞
X
n bn
f (z) = an (z − z0 ) + n,
n=0 n=1
(z − z0 )
1
Exemplo 15 Consideremos a função f (z) = . A função é analítica em C(0, 0, 1). Pre-
z (z − 1)
tendemos determinar a série de Laurent de f nesta região. Temos
1 1 1
f (z) = =− +
z (z − 1) z z−1
P
∞
e sabemos que 1/(1 − z) = z n para |z| < 1. Podemos então concluir que
n=0
1 1 1
f (z) = − − = − − 1 − z − z2 − z3 − · · ·
z 1−z z
em C(0, 0, 1). Relativamente à região C(0, 1, ∞), podemos colocar a mesma questão. Temos
⎡ ⎤
1 1⎢ 1⎥
= ⎣
z−1 z 1⎦
1−
z
78 CAPÍTULO 4. REPRESENTAÇÃO EM SÉRIE DE FUNÇÕES ANALÍTICAS
Como tal,
∞ µ ¶n X ∞ µ ¶n
1 1 1 X 1 1
f (z) = − + =− + =
z z−1 z n=1 z n=2
z
para |z| > 1.
Exercícios resolvidos
1. Mostre que uma série de potências com raio de convergência não-nulo é a série de Taylor da
sua função soma.
£ ¤
2. Desenvolva a função f (z) = 1/ (z − 1)2 (z − 3) em série de Laurent para 0 < |z − 1| < 2 e
para 0 < |z − 2| < 3
Propostas de resolução
2
f 0 (z) = a1 + 2a2 (z − z0 ) + 3a3 (z − z0 ) + · · · ,
donde f 0 (z) = a1 ,
f 00 (z) = 2a2 + 3 · 2a3 (z − z0 ) + · · · ,
donde f 00 (z) = 2!a2 , e em geral, f (n) (z0 ) = n!an . Deste modo, os coeficientes an são os que
definem a série de Taylor de f em torno de z0 ,
1 (n)
an = f (z0 ) .
n!
1 1 1
f (z) = 2
= 2
(z − 1) (z − 3) (z − 1) z − 3
1 1 −1 1
= = .
(z − 1)2 −2 + (z − 1) 2(z − 1)2 z−1
1−
2
4.1. SÉRIES DE TAYLOR E DE LAURENT 79
X∞ µ ¶n
−1 1 −1 z−1
f (z) = = ,
2(z − 1)2 z−1 2(z − 1)2 n=0 2
1−
2
ou seja,
1 1 1 1 1
f (z) = − − − − (z − 1) − (z − 1)2 − · · ·
2(z − 1)2 4(z − 1) 8 16 32
1 1 1
f (z) = = 2 z−3
(z − 1)2 (z − 3) [2 + (z − 3)]
∙ ¸−2
1 −2 1 z−3
= [2 + (z − 3)] = 1+ .
z−3 4 (z − 3) 2
" µ ¶ µ ¶2 µ ¶3 #
1 −2 z − 3 (−2) (−3) z − 3 (−2) (−3) (−4) z − 3
f (z) = 1+ + + + ··· ,
4 (z − 3) 1! 2 2! 2 3! 2
ou seja,
1 1 3 1
f (z) = − + (z − 3) − (z − 3)2 + · · ·
4(z − 3) 4 16 8
Resíduos e polos
Este capítulo tem como resultado principal o teorema dos resíduos que afirma que o valor do
integral de uma função analítica f ao longo de uma curva fechada e simples é igual a 2πi vezes o
somatório dos resíduos de f no interior dessa curva. Este teorema é muito útil para o cálculo de
integrais.
5.1 Resíduos
Definição 19 Seja f uma função complexa de variável complexa. Diz-se que z0 é um ponto
singular de f (ou que f tem no ponto z0 uma singularidade) se f não é analítica em z0 (podendo
existir em qualquer vizinhança de z0 pontos onde a função é analítica). Se existe uma vizinhança
de z0 onde f é analítica, excepto no ponto z0 , então o ponto singular z0 diz-se um ponto singular
isolado (ou uma singularidade isolada).
£ ¤
Exemplo 23 A função f (z) = 1/ z(z 2 + 4) tem pontos singulares isolados em z = 0, z = 2i e
z = −2i.
Exemplo 24 Se f (z) = log z, todos os pontos do eixo real negativo, incluindo a origem, são pontos
singulares mas não existem pontos singulares isolados.
Seja z0 um ponto singular isolado de uma função f . Então, existe uma série de Laurent que
representa f ,
+∞
X +∞
X +∞
X c−k
f (z) = ck (z − z0 )k = ck (z − z0 )k +
(z − z0 )k
k=−∞ k=0 k=1
c−2 c−1
= ··· + + + c0 + c1 (z − z0 ) + c2 (z − z0 )2 + · · · ,
(z − z0 )2 z − z0
válida para uma vizinhança definida por 0 < |z − z0 | < R. Os termos da série que envolvem
P+∞ P+∞
potências de z − z0 de expoente negativo , k=1 c−k /(z − z0 )k = k=1 c−k (z − z0 )−k , constituem
81
82 CAPÍTULO 5. RESÍDUOS E POLOS
Podemos questionar o porquê de atribuir um nome específico ao coeficiente c−1 ? Note-se que,
dada uma curva de Jordan γ orientada positivamente no disco 0 < |z − z0 | < R e que contenha o
ponto z0 no seu interior, temos
Z
1
(5.1) c−1 = f (z)dz.
2πi γ
Suponhamos agora que f é uma função analítica em todos os pontos, excepto num número
finito de pontos singulares isolados z1 , z2 , ..., zn , e que γ é uma curva simples e fechada (orientada
positivamente) contendo no interior os pontos zk , k = 1, ...n. Para cada k = 1, ...n, consideremos
uma circunferência γ k centrada em zk , contida em γ e não contendo outros pontos singulares para
além de zk . Então, aplicando o teorema de Cauchy-Goursat para regiões multiplamente conexas e
(7), obtemos
I I I I
f (z)dz = f (z)dz + f (z)dz + ... + f (z)dz
γ γ1 γ2 γn
= 2πiRes(f, z1 ) + 2πiRes(f, z2 ) + ... + 2πiRes(f, zn )
n
X
= 2πi Res(f, zk ).
k=1
Teorema 13 Teorema dos resíduos Seja D uma região simplesmente conexa e γ uma curva
de Jordan orientada positivamente contida em D. Se f é uma função analítica em γ e no seu
interior excepto num número finito de pontos singulares isolados z1 , z2 , ..., zn do seu interior de γ,
então I n
X
f (z)dz = 2πi Res(f, zk ).
γ k=1
já que o ponto singular isolado z2 = 3 não está contido no interior da circunferência de centro 0
√
e raio 2.
Exercícios
H 1
(a) γ
exp
dz;
z2
H 1
(b) γ cos dz;
z
H 1 1
(c) γ sin dz.
z z
1
f (z) = 2
(z − 1) (z − 3)
1 1 1 1 1
f (z) = 2 =− − − − (z − 1) − · · ·
(z − 1) (z − 3) 2(z − 1)2 4(z − 1) 8 16
para 0 < |z − 1| < 2. Dado que c−2 = −1/2 6= 0 (sendo c−n = 0 para n = 3, 4, 5, ...), z0 = 1 é um
polo de ordem 2.
z0 = 0 é dada por
∞ µ ¶n
3 X 1 3 3 32 33 34
exp = =1+ + 2
+ 3
+ + ···
z n=0 n! z z 2!z 3!z 4!z 4
Verificámos na secção 7.1 que o teorema dos resíduos é uma boa ferramenta para o cálculo
de integrais. Dado que escrever a série de Laurent em cada ponto singular pode ser trabalhoso, é
conveniente encontrar técnicas que facilitem o cálculo de resíduos. Vejamos que, em casos especiais
mas muito frequentes, os resíduos são de fácil determinação. De facto, para z0 um polo de qualquer
ordem, é fácil determinar Res(f, z0 ).
CASO 1
Suponhamos que z0 é um polo de f em z0 de ordem n. Temos
c−n c−n+1 c−1
(5.2) f (z) = n + n−1 + · · · + z − z + c0 + c1 (z − z0 ) + · · ·
(z − z0 ) (z − z0 ) 0
n n−1 n n+1
(z − z0 ) f (z) = c−n + c−n+1 (z − z0 ) + · · · + c−1 (z − z0 ) + c0 (z − z0 ) + c1 (z − z0 ) +··· ,
a série de Taylor de φ(z) = (z − z0 )n f (z). Pretendemos o coeficiente c−1 de (z − z0 )n−1 que, dada
a definição de série de Taylor, sabemos ser dado por φ(n−1) (z0 )/(n − 1)!. Temos então
φ(n−1) (z0 )
c−1 = Res(f, z0 ) = .
(n − 1)!
Em alternativa, podemos ainda considerar sucessivas derivações (até á ordem n − 1),
(n−−1) 2
[(z − z0 )n f (z)] = (n − 1)!c−1 + n!c0 (z − z0 ) + (n + 1)!c1 (z − z0 ) + · · · ,
ou seja,
1 (n−−1)
c−1 = lim [(z − z0 )n f (z)] .
(n − 1)! z→z0
86 CAPÍTULO 5. RESÍDUOS E POLOS
1 1 φ(n−1) (z0 )
Res(f, z0 ) = lim φ(n−1) (z) = φ(n−1) (z0 ) = .
(n − 1)! z→z0 (n − 1)! (n − 1)!
¡ ¢
Exemplo 18 Calculemos os resíduos de f (z) = (exp z) /z 2 z 2 + 1 . A função tem pontos singu-
lares em z = 0, z = i e z = −i. Para o cálculo do resíduo de f em z0 = 0 consideremos que é um
polo de ordem 2 e, como tal, seja
ez ez
φ(z) = (z − 0)2 = .
z 2 (z 2 + 1) z2 + 1
O resíduo é dado pela expressão
"¡ ¢ #
φ0 (0) z 2 + 1 ez − 2zez
Res(f, 0) = = = 1.
1! (z 2 + 1)2 z=0
Para o cálculo do resíduo de f em z0 = i consideremos que é um polo simples e, como tal, seja
ez ez
φ(z) = (z − i) = .
z 2 (z 2 + 1) z 2 (z + i)
O resíduo é dado pela expressão
∙ ¸
φ(i) ez ei
Res(f, i) = = 2 =− .
0! z (z + i) z=i 2i
e−i
De forma análoga, verificamos que Res(f, −i) = . Se pretendermos determinar o valor do
2i
integral
Z
ez
dz,
γ z2 (z 2 + 1)
onde γ é uma curva de Jordan contendo z = i e z = −i (mas não contendo z = 0), podemos
utilizar o teorema dos resíduos,
Z µ ¶
ez ei e−i
dz = 2πi + = −2πi sin 1.
γ z 2 (z 2 + 1) 2i 2i
CASO 2
Suponhamos que a função f (z) se pode escrver como um quociente de funções
p(z)
f (z) =
q(z)
5.2. POLOS E OUTRAS SINGULARIDADES 87
p(z) cos z
Notemos que f (z) = = z , onde p e q são funções analíticas em ambos os pontos 0
q(z) e −1
6 0, p(2πi) 6= 0, q(0) = q(2πi) = 0 e q 0 (0) = e0 = 1 6= 0,
e 2πi. Temos ainda p(0) = 1 =
q 0 (2πi) = e2πi = 1 6= 0. Como tal,
Exercícios resolvidos
H ¡ ¢
4. Determine o valor do integral γ
(2z + 6) / z 2 + 4 dz, onde γ é a circunferência orientada
positivamente definida por |z − i| = 2.
H ¡ ¢
5. Determine o valor do integral γ
exp z/ z 4 + 5z 3 dz, onde γ é a circunferência definida por
|z| = 2 com orientação positiva.
H
6. Determine o valor do integral γ
exp (3/z) dz, onde γ é a circunferência orientada positiva-
mente definida por |z| = 1.
Propostas de resolução
1. Temos
µ ¶
sin z 1 sin z 1 z2 z4 z6 1 1 z2 z4
= 2 = 2 1− + − + ··· . = 2 − + − + ··· .
z3 z z z 3! 5! 7! z 3! 5! 7!
(a) Calcule a série de Laurent de f (z) para z próximo de 0. Qual é a maior região de
validade desse desenvolvimento em série?
(d) Calcule I
f (z)
2 dz,
|z−1|= 12 (z − 1)
com a curva orientada no sentido directo.
2. Seja g(z) uma função analítica em C tal que g(0) 6= 0. Seja f (z) = z m g(z), com m inteiro
positivo. Mostre que I
1 f 0 (z)
dz = m,
2πi |z|=1 f (z)
(c) Prove que f (z) = 1/ (z − 1) não é a derivada de uma função analítica em C\ {1}.
|f (z)| ≤ c (1 + rα )
(b) Por definição, Res f (z) |z=0 = a−1 , onde a−1 é o coeficiente correspondente à potência
z −1 da série anterior. Como tal,
1
Res f (z) |z=0 = a−1 = .
(k + 1)!
1
Note-se que z=0 é uma singularidade essencial da função z k e z e, como tal, não é um
pólo. Assim, não é válida a aplicação da expressão para cálculo de resíduos de pólos de
ordem n.
(d) Como o disco |z − 1| ≤ 1/2 está contido numa região onde a função f (z) é analítica,
pode aplicar-se a fórmula integral de Cauchy para a primeira derivada,
I
1 f (z)
dz = f 0 (1).
2πi |z−1|= 12 (z − 1)2
¡ ¢ 1
Dado que f 0 (z) = kz k−1 − z k−2 e z , obtem-se
I
f (z) 0
1 (z − 1)
2 dz = 2πif (1) = 2πi (k − 1) e.
|z−1|= 2
2. Seja f (z) = z m g(z) com g(z) analítica, então f 0 (z) = mz m−1 g(z) + z m g 0 (z) e, portanto, para
0 < |z| ≤ 1 tem-se
f 0 (z) mz m−1 g(z) + z m g 0 (z) m g 0 (z)
= m
= + .
f (z) z g(z) z g(z)
Como g(z) 6= 0, se |z| ≤ 1, a função g 0 (z)/g(z) é analítica para |z| ≤ 1. Portanto, z = 0 é a
única singularidade de f 0 (z)/f (z) no disco |z| ≤ 1 e é um pólo simples cujo resíduo facilmente
se calcula, ∙¸ µ ¶
f 0 (z) m g 0 (z)
Res = lim z + = m.
f (z) z=0 z→0 z g(z)
Pelo teorema dos resíduos, tem-se
I ∙ 0 ¸
1 f 0 (z) f (z)
dz = Res = m.
2πi |z|=1 f (z) f (z) z=0
3. (a) Seja γ a curva |z| = 1 parametrizada por z(x) = eix , para x ∈ [−π, π]. Então,
Z π inx Z π Z π ¡ ix ¢n
e einx e
dx = dx = ix + e−ix )
dx
−π f (x) −π 5 + 4 cos x −π 5 + 2 (e
I I
zn dz zn
= = −i dz
5 + 2 (z + z −1 ) iz 2z 2 + 5z + 2
γ γ
I n
i z
= − ¡ ¢ dz
2 z + 12 (z + 2)
γ
" #
i zn
= − 2πiRes ¡ ¢
2 z + 12 (z + 2)
z=− 12
¡ 1 ¢n n
− (−1) π
= π 32 = ,
2
3 · 2n−1
para n = 0, 1, 2, ....
92 CAPÍTULO 5. RESÍDUOS E POLOS
¡ ¢ ¡ ¢
(b) Uma vez que cos (nx) = Re einx e sin (nx) = Im einx , imediatamente se conclui que
1 (−1)n 1
an = Re (In ) = e bn = Im (In ) = 0.
π 3 · 2n−1 π
(c) Os coeficientes an para n = 0, 1, 2, ... e bn para n = 1, 2, ... são os coeficientes de Fourier
da função periódica de período 2π,
1
g(x) = .
5 + 4 cos x
Como esta função é de classe C 1 em R, pelo teorema de Fourier conclui-se que a soma
1
da série é , para cada x ∈ R.
5 + 4 cos x
4. (a) Tem-se ∙ ¸
1 1
Res = lim = −1,
z (z − 1) z=0
z→0 z (z − 1)
e ∙ ¸
1 1
Res = lim = 1.
z (z − 1) z=1
z→1 z
Como tal
I µ ∙ ¸ ∙ ¸ ¶
1 1 1
dz = 2πi Res + Res = 0.
γ z (z − 1) z (z − 1) z=0 z (z − 1) z=1
(b) O teorema de Cauchy afirma que os integrais de funções analíticas num domínio Ω, ao
longo de caminhos homotópicos em Ω, são iguais. Como tal, o valor do integral não
depende de r. Tem-se, atendendo a que |z − 1| ≥ |z| − 1 para |z| > 1,
¯I ¯ I I
¯ 1 ¯ 1 1 2πr
¯ ¯
¯ z (z − 1) dz ¯ ≤ |z| (|z| − 1) |dz| = r (r − 1) |dz| = r2 − r
γ γ γ
¯I ¯ I
¯ 1 ¯ 1
e ¯¯ dz ¯¯ → 0 quando r → +∞. Logo, dz = 0.
γ z (z − 1) γ z (z − 1)
(c) Seja Ω um domínio em C e f : Ω → C uma função contínua. Sabe-se que f é a derivada
de uma função analítica se e só se o integral de f ao longo de qualquer contorno fechado
em Ω for nulo. Ora, I
1
dz = 2πi 6= 0.
|z−1|=1 z − 1
1
Conclui-se que f (z) = não é a derivada de uma função analítica em C\ {1}.
z−1
(d) Se C é um contorno de Jordan fechado em C\ [0, 1], descrito no sentido positivo, então C
é homotópica à curva γ do enunciado (supondo γ também descrita no sentido positivo)
ou C é homotópica a um ponto, pelo que
I I
1 1
dz = dz = 0.
C z (z − 1) γ z (z − 1)
5.2. POLOS E OUTRAS SINGULARIDADES 93
1
Conclui-se que os integrais de g(z) = ao longo de contornos fechados em
z (z − 1)
C\ [0, 1] são nulos. Como tal, g é a derivada de uma função analítica em C\ [0, 1].
5. Designe-se por n a parte inteira de α, ou seja, o número natural tal que α − 1 < n ≤ α.
Provemos que a derivada de ordem n + 1 de f é identicamente nula. Seja a ∈ C e r > 0. Pela
fórmula integral de Cauchy,
Z
(n + 1)! f (z)
f (n+1) (a) = n+2 dz.
2πi |z−a|=r (z − a)
Então
¯ ¯ Z
¯ (n+1) ¯ (n + 1)! |f (z)|
¯f (a)¯ ≤ n+2 |dz|
2π |z−a|=r |z − a|
Z
(n + 1)! c (1 + |z|α )
≤ n+2 |dz|
2π |z−a|=r |z − a|
Z
(n + 1)! c [1 + (r + |a|)α ]
≤ |dz|
2π |z−a|=r rn+2
α
(n + 1)! c [1 + (r + |a|) ]
= 2πr
2π rn+2
rα+1
∼ c (n + 1)! n+2 → 0
r