Livro Gotas Literárias 16 - Livro Formatado
Livro Gotas Literárias 16 - Livro Formatado
Livro Gotas Literárias 16 - Livro Formatado
Literárias
16
Escritores Paragominenses
Paragominas -Pa
2023
COMISSÃO JULGADORA:
Denise Guiomar Franco Leal dos Santos
Mestra em letras na área da Linguagem e Letramento
Pela Universidade Federal do Pará
Neila Garcês
Mestra em Letras pela
Universidade Federal do Pará
Pablo Rossini Pinho Ramos
Mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal do Pará
Ribamar Barroso
Especialista em Letras pela Universidade Federal do Pará
Elayne Nobre
Digitação dos originais, diagramação
Capa/Designer
Lucas Eduardo Moreira
Revisão ortográfica:
Gotas Literárias 16
Governo do Estado do Pará
PREFEITURA MUNICIPAL DE PARAGOMINAS
Gotas Literárias 16
Mensagem
A leitura faz parte da minha vida desde a infância, e se tornou
um dos meus maiores prazeres. Neste mundo particular, consigo
sonhar, imaginar e viajar nos mais diversos mundos e conhecer
novas culturas, ideologias, filosofias e mais, aventuro-me no
desconhecido mundo das narrativas, deleito-me e apaixono-me nos
mais lindos Poemas e Cordéis, relembro emocionado das variadas
histórias contidas nas Memórias Literárias. Nas crônicas, seja qual for
o estilo, consigo abstrair, neste recorte do tempo, lições jamais
esquecidas.
Nesta 16ª edição especial do livro Gotas Literárias, tenho a
honra de ampliar o amor e o prazer pela leitura e, desta vez,
deleitando-me e conhecendo ainda mais o potencial literário de
escritores da nossa tão amada Paragominas.
Portanto, descobrir novos talentos e ratificar os que já existem
é mais que um desafio, é um prazer. Pois acredito que a leitura muda
vidas e permite ir além do que pensamos ou imaginamos. É com
imensa satisfação, que lançamos esta preciosa edição cujo objetivo é
despertar o gosto pela leitura literária e valorizar ainda mais nossos
queridos artistas.
Obrigado!
Gotas Literárias 16
Apresentação
O Gotas Literárias é uma das ações da Biblioteca Municipal
Welton Marques Gonzaga, em parceria com a Prefeitura Municipal
de Paragominas e a Secretaria Municipal de Cultura, Turismo,
Desporto e Lazer. Dentre os mais diversos objetivos do projeto, os
que mais se destacam são os de fazer conhecer e reconhecer os
nossos artistas da literatura e o melhor, contribui para o
desenvolvimento das habilidades e competências leitora da
sociedade paragominense.
Nesta 16ª edição, o tema escolhido foi “O fazer literário, um
caminhar entre tempos”, o qual foi discorrido, nos mais diversos
gêneros textuais. A novidade desta edição foi também o formato que
abrangeu mais artistas, pois atendeu tanto a categoria amadora
quanto a categoria profissional, além da inserção do gênero textual
Memórias Literárias.
Portanto, todas as modificações permitiram que o presente
livro se tornasse lindo e especial, estes adjetivos se confirmam em
cada verso dos poemas e dos cordéis ou em cada parágrafo das
crônicas, das memórias literárias e dos contos. Então, convidamos
você, caro leitor, a se permitir mergulhar neste mundo fantástico que
é a leitura.
Claudei Madalena de Souza
Secretario de Cultura, Turismo, Desporto e Lazer
Gotas Literárias 16
SUMÁRIO
POEMA PROFISSIONAL:
CONTO PROFISSIONAL:
CRÔNICA PROFISSIONAL
LINHA CRUZADA
Jorge Wellington Corrêa Quadros
A GRÁMATICA DO AMOR
Jorleide Antunes Arruda
CONTO AMADOR:
Gotas Literárias 16
CAMINHO A ESMO
Fábio Alves Silva
ROSAS BRANCAS
Alan Souza Cesário
EXPLORADOR – A SINA
Natalia Araújo Silva
MAIS DO QUE ADIANTA?
Moises Lemos Damacena
AMPULHETA
Maria Clara Lima Coutinho
CORDEL AMADOR:
MEMÓRIAS AMADOR
PENSAMENTOS A CAMINHO DA ESCOLA
Ryan Dasmaceno dos Santos
POEMA AMADOR
Gotas Literárias 16
CRÔNICA AMADOR
PASTEL CROCANTE
Albino Soares Costa
Gotas Literárias 16
Poema
Profissional
Gotas Literárias 16
Borboleta cor de violeta
No céu
O arco-íris apareceu
Feito calda de cometa
As crianças olhavam e davam piruetas
Foi quando a menina viu
Uma borboleta
Cor de violeta
Logo ela gritou:
-Julieta, Julieta, Julieta!
A borboleta fez uma careta.
E perguntou:
Eu?
Sim, sim,
Você não gostou?
A menina perguntou.
A borboleta pensou, pensou, pensou.
Bateu as asas, voou e gritou:
Mas que nome porreta.
Julieta, rima com violeta.
Menina agora vou pousar na alça de sua jaqueta
E nunca mais isso sairá da minha cabeça
No dia em que o arco-íris apareceu
Um nome lindo você me deu
Julieta agora sou eu!
Gotas Literárias 16
POESIA EM TEMPOS DIFÍCEIS - EM SERTÕES
ESQUECIDOS.
Naquele árido sertão
a chuva era presente caro
sublime e raro,
carne era artigo de luxo
a fome resmungava no bucho...
vencidos, a gente dormia
e dela momentaneamente esquecia...
Naqueles tempos obscuros
a efêmera alegria brejeira
era admirar vaga-lumes
atraídos pela luz da fogueira
cintilando no escuro...
no escuro da noite
onde a dor se escondia!
Entre estreitas paredes
famílias se apertavam
seus meninos magros
em uma única cama se amontoavam...
O sono, a inocência guardava
as dores e desventuras do dia apaziguava!
Naquele chão esmarrido
umedecido pelo suor
de um povo sofrido
o rio corria na secura do tempo
tropeçando nos bancos de areia
sem cardumes, poesia e alento
sem esperança de mar!
Entre a chuva e a estiagem
morte & renascimento
na contramão do romantismo
a poesia social em movimento
Gotas Literárias 16
denunciando as escassas e magras riquezas
que os "fortes" alimentavam
e as gordas misérias
que os "fracos" sepultavam!
Naqueles tempos difíceis
uma menina franzina e arredia
de livros emprestados & sonhos intangíveis
sua humilde infância nutria
e o frágil dedo indicador
na terra seca e estéril
versos estorvantes já escrevia!
Jorleide Antunes
2º Lugar
Gotas Literárias 16
MULHER BELA
Mulher! Mulher!
Como te descrever?
Sem de ti nenhum milímetro esquecer?
No teu dia tornas-te malabarista,
Nessa ribalta viras artistas.
Mulher! Mulher!
De beleza feroz,
Onde muitas vezes
Escondes teu luar
a fim de tua família iluminar.
Mulher bela!
Que em defesa da família,
Te esmera e vira a mulher fera;
Tal qual a aurora boreal.
Nada temes, nada te faz mal.
Tuas lágrimas, tornam-se grandes enchentes;
Para proteger seus entes queridos.
Quando te machucas
Te esconde nos condimentos
Afirmas ser ele o culpado
De teus tristes sentimentos.
Ah! Cebola malina,
Me fazendo chorar?
Ardes-me os olhos...
E ficas a malina
Mulher! Mulher!
Que no teu cotidiano,
Viras circense, alegras
A todos e esqueces-te do teu Eu;
Nisso se perdeu.
Parabéns!
Mulher guerreira, fenomenal.
Gotas Literárias 16
E creias és a estrela,
Mesmo escondendo-te afinal.
Mulher! Mulher!
Mulher aguerrida
És a luz da tua e de muitas vidas.
Pegas os filhos no colo
Viras delegada, juíza...
Até o fim da vida.
Mulher de alma!
Depois da bravura e entre quatro paredes...
Que te apuras!
Nos braços do companheiro,
Ou no teu mundo criado
Por ti, par te alegrar
Sem a ninguém culpar!
Bravo! Mulher.
Mulher águia!
Que teu voo seja bem alto;
Que nunca por nada dessas do salto,
Com um sorriso sempre brilhas,
Exalas formosura constante,
Apesar da alma ferida,
Não se queixas da vida.
Oh! Mulher! Mulher!
Bravo! Bravo! Querida.
Vires e mostras-te feliz,
A todo instante;
Não importa o que sentes!
ELA, DE NOVO
Gotas Literárias 16
Me tira os pés do chão.
Me arrebata de mim e
Me altera a realidade.
Me altera toda a vontade
Num sonho sem fim.
Afasta tudo de mim:
Dor, problema ou aflição,
Me traz uma sensação
Que nada mais traz igual.
Não tem como pensar no mal
Eu diria até em nada, afinal.
Em pouco tempo termina,
Volto à minha rotina
De ver as coisas como são,
Mas fica em meu coração
Aquela sensação sem igual.
E a música chegou ao final.
Gotas Literárias 16
Conto
Profissional
Gotas Literárias 16
As Formigas Cirurgiãs ou
O Segundo Nascimento de Tomás
Gotas Literárias 16
caixa eletrônico no interior de Minas. Nascia o primeiro ser humano
gestado por um homem. Os periódicos davam conta de uma senhora
sexagenária que sofreu combustão espontânea. Nenhum desses
eventos, porém, afetou em absoluto a ciranda dos globos celestes.
O mundo nunca parou de girar. E enquanto a vida se esvaía pelas
rachaduras do solo, o mato seco agradecia pelo alimento.
– Paimmmmmmmm! Olha ali, paimmmmmmmm!
Joana e Damião avistaram o corpo franzino e correram na sua
direção, já esperando pelo pior.
Quando lá chegaram, o susto foi ainda maior. Volteando o inteiro
corpo do menino, havia centenas de cadáveres de formigas, todas
sem cabeça. Pai e filha se entreolharam estarrecidos.
Joana minguou a toada. Já Damião, destemido, chegou mais perto
para ver, desacreditando nos próprios olhos. As formigas entraram
na ferida e vieram costurando o menino de dentro para
fora. As mordidas uniam pele com pele. Depois de cada mordida, o
corpo era arrancado e a cabeça ficava lá, dependurado feito pinça. O
menino havia sido operado. Mas, por quem?
Joana saiu do transe, embrulhou o menino no manto, tal qual Maria
ao pé da cruz, encostou levemente o ouvido no frágil peito e gritou:
– Ele vive! Ele vive, paim! Meu filho vive!
O garoto voltou à vida, mas não voltou a si. Acordou depois de três
dias. Falava em línguas estranhas.
– É língua de anjo, paim. – dizia Joana, conformada e agradecida por
cada respiração do menino. Damião olhava de canto, sem expressar
palavra. O menino não saía do quarto, passava o dia perdido em
devaneios, conversando com sombras, nada se aproveitando do
incompreensível colóquio. Quando ganhou força, passou a investir
contra os membros da casa. Não os reconhecia, nem a eles nem a si
mesmo. Damião decidiu falar, dizia que aquilo era coisa de
encantado. Queria levá-lo à dona Bené, curandeira da região,
para tentar reverter o feitiço. Joana não concordava, dizia que aquilo
Gotas Literárias 16
era mistério divino, não queria profanar o menino com crendices
pagãs. Por isso, decidiram levá-lo ao padre Odílio, homem de pouca
fala, barba branca escorrida, vestia-se como um capuchinho e tinha
sempre à mão um cajado. Diziam que era santo. Em uma terra de
coronéis, talvez ele realmente fosse. Mas padre, mesmo, ele não era
não. Muitos vinham à igrejinha de taipa onde operava milagres.
Gente de toda parte e a todo o momento. Dizem que não dormia,
recolhia-se em oração num quartinho aos fundos do casebre. Nessas
ocasiões, deixava o cajado em pé, na frente da igreja, para receber os
peregrinos. O cajado ficava em pezinho, sustentado apenas pelo
vento, indício da força mística do padre.
Pai, filha e neto foram se encontrar com o santo. Joana se benzeu
diante do cajado e partiu para a entrada da igrejinha. Padre Odílio
surgiu de dentro das sombras e ergueu uma das mãos na
direção dos três que se detiveram de imediato. Em seguida, fez um
sinal chamando apenas a mulher e o menino. Padre, menino e
mulher mergulharam na escuridão. Quando saíram de lá,
Joana disse ao pai:
– Esse não sabe de nada não, paim! Disse que é encantamento e que a
única pessoa com autoridade para libertar o menino é dona Bené.
Joana partiu de lá arrastando o filho pelo braço. Tinha um olhar
abrumado e a esperança coberta de cinzas. De certo não levaria o
menino à mulher. Não achava correto. Ia contra os seus princípios.
Princípios estes não herdados, já que o próprio pai vinha de uma
longa linhagem de pajés. Por essa razão não lhe havia sido concedida
a permissão para pisar no terreiro do padre.
Para Damião, seria bem fácil, se quisesse, rebentar qualquer feitiço
atirado sobre um dos seus.
O porém é que ele, em circunstâncias pretéritas, passara o cajado
adiante. Era um fardo difícil de carregar, assim como o é para a
própria dona Bené. Mais fácil era levar a vida no arado. E a razão da
sua decisão carece de mais linha do que esse novelo pode dar.
Gotas Literárias 16
Fiquemos, por ora, com as razões de Joana, coitadinha. Nunca
culpou o pai pelo ocorrido com o menino. Entendeu no seu
desespero que a mão do destino havia guiado a faca. E decidiu,
portanto, que o destino era o rival com quem lutaria até o fim para
salvar a cria de suas entranhas. Não deixaria mais o menino brincar
sozinho no terreno, à beira do mato, temendo que fosse levado de
vez por aquela força que lhe queria tomar de conta. Teve-o sempre à
beira da saia, resguardado dos perigos e da própria infância. Só às
vezes é que dava a ele algum alento. Era quando o pavio do dia já
estava quase queimado e os raios solares tingiam de um dourado
cobre as roupas no varal.
Enquanto Joana recolhia as roupas, o menino ia ajuntando pedrinhas
pelo caminho e depositando numa lata. De volta a casa, a mulher
rasgava três tiras da barra do vestido que lhe cobria o corpo e com
elas fazia um boneco para o pequeno. Ele se distraía um pouco com o
brinquedo de pano e mais tarde voltaria a se ocupar das pedrinhas,
lavando-as na bacia de borracha e polindo-as com uma escova de
engraxate. Não eram pedras comuns, descobriu que tinham um
coração translúcido, ligeiramente avermelhado, tal qual um rubi.
Aprendeu a desbastá-las com um cinzel e a dar-lhes diferentes
formas. Mais tarde, descobriu de maneira intuitiva que as pedras
podem conter algum poder, assim como as sementes. O velho que
andava com ele não fazia alarde, mas era um verdadeiro mestre:
apresentou-lhe a uma planta cujas sementes serviriam de amuleto. O
menino sozinho forjou um colar de contas com tais sementes e pôs
no pescoço. Ele não sabia, mas o avô, em outras épocas, usava um
idêntico. Certa tarde, depois de recolher as roupas no varal, Joana
sentiu uma moleza enorme devido ao sol castigante e caiu no sono. O
menino foi para o meio do quintal, dispôs as pedras ao redor e
deitou-se no meio delas com o colar de contas ao peito. Fechou os
olhos e meditou profundamente. Não demorou, caiu no sono
também.
Gotas Literárias 16
Naqueles dias, Damião andava longe de casa, era tempo de levar
para a cidade o produto do cultivo e trazer mantimentos de lá.
Nessas ocasiões, aproveitava para se perder pelas ruelas notívagas
do mercado central à caça de diversão e esquecer-se, por um
momento, de que era um ser humano. A noite mal havia estendido o
seu manto constelado quando Damião saiu por uma porta com uma
garrafa na mão, tentando aprumar o passo. A garrafa fazia plong
plong. E quando virou a esquina continuou plong plong a ecoar no
escuro. Estava acabado e feliz.
Lembrou-se do neto, já tinha idade para vir com ele à cidade, já era
hora de aprender algo sobre a vida e sobre as mulheres. Mas teve o
pensamento interrompido por um farfalhar de asas conhecido. Um
pássaro gigante cruzou o céu e ao passar por sobre a cabeça de
Damião, soltou um sibilo medonho. Damião teve um
pressentimento, sabia que era hora de voltar para casa.
Durante todo o caminho de volta, Damião sentiu um nó na garganta.
Sabia que era tarde para qualquer remédio. Sabia que o destino havia
vencido. E pela primeira vez se sentiu culpado. As nuvens escuras
chegaram antes dele. Uma cascata de raios fez a manhã nascer
prematuramente na floresta. Para encurtar viagem, pegou uma senda
no meio do mato. Ao chegar, avistou Joana, Padre Odílio e dona
Bené no meio do terreno. Eles também ouviram o sibilo da ave
lúgubre cortar o negro véu da noite e correram para acudir o menino.
Os três olhavam pálidos para o céu. Era o menino, suspenso no ar.
Flutuava como num sonho. Bastou que Damião se assomasse
no quintal para que a tempestade de raios cessasse exatamente do
jeito que começou, de repente, e a noite voltasse a reinar serena. Ao
mesmo tempo, o menino despencou lá de cima e caiu diretamente no
colo de dona Bené. A curandeira olhou para a mãe. Joana abaixou a
cabeça resignada e sacudiu afirmativamente.
– Pode levar.
Bené era altiva e resoluta. Descendente de rainha. Guardava pérolas
Gotas Literárias 16
em sua boca e não as malgastava com quem não tivesse ouvidos para
ouvir. Mulher, negra e mãe de milhares, apesar de ela mesma nunca
ter gerado. Era a enfermeira local. Estudou em colégio de freira e
ainda trajava o hábito. Carregava um crucifixo de madeira de
oliveira no peito, mas na cabeça ostentava um ojá da mais alta
hierarquia feito em tecido bramante com urdidura de cânhamo.
Atuava com a ciência e com a magia das ervas, conhecimento
herdado dos ancestrais. Bené sabia das coisas. Ela, sim, sabia de
quem era a culpa. Foi Damião quem não cumpriu a promessa
feita quando passou o fardo adiante. Não é fácil se livrar de um fardo
desses. A cobrança veio e recaiu pesada sobre o neto. Bené acolheu o
menino com doçura e o levou para casa a fim de fechar-lhe o corpo.
Disse-lhe que seria como nascer de novo, um nascimento para uma
arte muito antiga, a arte da encantaria. E decretou que todo o mal
sofrido se voltasse contra quem o conjurou.
Damião era matinta.
Aroma de caráter
Em um reino cujo Rei era um homem íntegro e de bom coração, que
governava com equidade e sabedoria, vivia um monarca já de idade
avançada, viúvo e que nunca tivera filhos, pois era estéreo. No
castelo havia muitos serviçais, entre eles um fabricante de móveis,
este
Gotas Literárias 16
era muito estimado pelos lordes e pelo próprio rei e tinha ele duas
filhas gêmeas fisicamente idênticas que chamavam atenção por
serem magnificamente belas. No entanto, ambas eram de
personalidades distintas. Uma amava e namorava um jovem plebeu
que cultivava terras de terceiros para sobreviver, porém, muito
bonito, honrado e respeitado por todos os agricultores na localidade
onde
vivia. A Jovem não ligava para a condição financeira do seu
namorado, pois sonhava ela em acumular algumas moedas de prata
ou até mesmo de ouro no cultivo de ervas aromáticas, ofício
aprendido com sua mãe, que fora jardineira, e com as ervas
aromáticas que cultivava, fazia chás saborosíssimos, cheirosíssimos e
inigualáveis. Suas habilidades lhes renderam o cargo de fazedora de
chá no palácio real, funções de grande prestígio e inveja por muito
no reino. O próprio rei amava beber seus chás de todas as tardes
sendo servido pela bela donzela e elogiava-a constantemente,
dizendo lhe:
- O aroma dos seus chás é o reflexo do seu caráter e o sabor da sua
doce personalidade.
Enquanto degustava o doce sabor dos chás, contava-lhe os grandes
feitos históricos, aventuras e perigos que vivera em seus longos dia
até ali, e como fora feliz ao lado da sua saudosa rainha, mesmo sem
nunca ter tido o prazer de realizar o sonho dela e dele de gerarem
um herdeiro.
A outra filha do fazedor de móveis, gostava de tirar vantagens da
sua beleza, vivia ganhando presentes dos cavaleiros, lordes e
guerreiros, com quem sempre viajava e não se incomodava com o
fato de ir para cama com eles em troca de moedas e mimos. Para
manter o status de donzela, ela fazia abortos sempre que
engravidava e usava para isso as escondidas, as próprias ervas que
sua irmã cultivava. Não se misturava com os homens do baixo clero,
ainda criticava a irmã por ser virgem e namorar um plebeu:
Gotas Literárias 16
-Você vai morrer pobre sem nada, sua tola.
A moça não ligava para o que dizia a irmã, a sua maior preocupação
era o seu pai, pois ele sofria muito com as atitudes banais e
repugnantes da filha gananciosa.
A jardineira sempre bem centrada, habilidosa e amável fazia seu
velho pai, fabricante de móveis, esquecer as decepções sofridas pelos
comentários que circulavam no reino sobre sua inconsequente filha.
O velho admirava a filha jardineira e gostava do rapaz que ela
escolheu para amar.
- É pobre, mas é trabalhador, dizia o pai.
Em um despretensioso dia de sol, quando o crepúsculo da tarde se
aproximava, no horário que a jovem sempre cuidava de suas ervas,
“como borboleta ao redor de uma flor”, assim ela regava seu jardim.
Inesperadamente ela foi surpreendida pelo jovem lavrador, que
trazia consigo um reluzente anel, simples, mas muito bonito, ali
mesmo debaixo da claridade dos raios brilhantes do pôr do sol,
sentados entre as mais lindas e perfumadas ervas, ele pôs o anel no
dedo da moça e olhando o brilho de suas lindas retinas azuis
pediu-a em noivado, imediata ela o beijou, responde com o mais
puro e sincero amor:
- Sim, Sim. Sim.
Tomados de alegria entrelaçaram suas vidas para sempre, fizeram
amor pela primeira vez, o fizeram como quem já sabia, “feliz é, quem
do amor melhor aproveitar o presente dia!
”.
Na volta para casa o tempo mudou, a noite chegara e com ela uma
forte tempestade, o jovem montou em seu cavalo e partiu para seu
rincão, corria contra o vento e a chuva, ainda no meio da floresta,
quando de uma nuvem negra ele viu um raio surgir e atingir uma
árvore, grande e velha; não lhe sobrou tempo para esquivar-se, a
árvore não resistiu ao impacto do raio, caiu sobre o a rapaz e seu
cavalo os matando imediatamente.
Gotas Literárias 16
A dor e a tristeza tomaram o coração da moça que ficou muito
abalada quando soube da fatalidade, chorava copiosamente e
sempre, todos ficaram abatidos por ver a moça em tal estado e por
saberem do triste fato, até o rei tentava em vão consolá-la dizendo:
- Você é linda e jovem, logo alguém ganhará seu coração:
- Meu coração morreu com meu agricultor. Respondeu ela.
Os dias foram passando e tudo no corpo da moça começou a mudar,
sofria repentinamente e sem explicação tonturas, enjoos e desejos
estranhos, sua irmã logo deduziu dizendo:
- Você está grávida, agora você está acabada, quem vai querer uma
mãe solteira? Você vai morrer de trabalhar para criar seu filho
bastardo.
O que a infeliz gananciosa não imaginava é que sua sorte era
terrivelmente triste, pois em uma das suas viagens foi contaminada
com a poderosa bactéria da tuberculose por um lorde a quem ela
acompanhava.
O tempo passou. A criança nasceu um menino forte, saudável e
bonito, sempre que entrava no palácio ele aproveitava, corria
livremente pelos corredores enquanto sua mãe preparava o chá para
o rei. Por sua vez, o rei adorava a criança e com ela brincava, lhe
colocava no colo, lhe fazia cafuné, “o menino ganhou o coração do
rei”.
Já bem debilitado o rei não tinha dúvida, morreria em pouco tempo,
então chamou o clero e decidiu editar e sancionar uma lei:
- O reino deverá ser governado por uma junta formada por membros
da corte até o menino, neto do fazedor de móveis e filho da jovem
cultivadora de ervas atingir a idade adulta, pois a partir de agora ele
é o único herdeiro do trono e será preparado pelos melhores mestres
do reino para então governar, sua mãe receberá também, a honra e
status de uma rainha.
No dia seguinte ainda tomada de alegria, surpreendentemente a
Gotas Literárias 16
jovem chorou mais vez, sua irmã e o rei morrem como quisera o
destino, ambos no mesmo dia.·.
Gotas Literárias 16
Crônica
Profissional
Gotas Literárias 16
Linha Cruzada
Gotas Literárias 16
– Quem é?
– Telebrás, senhor. Como posso ajudar?
– Pensei que a empresa tivesse fechado há anos.
– Não fechou senhor. O crédito da sua ficha vai acabar. Deseja falar
com qual número?
De fato, a estatal foi desativada em 1998, mas reativada em 2010,
acumulando prejuízos desde então.
– Ficha? Não existem fichas desde quando eu era criança. – retrucou.
– Isso é algum tipo de trote, senhor? Vou desligar. Tem outra pessoa
na linha.
A atendente desligou, mas ele continuou lá, tentando entender o que
aconteceu. De repente, entrou uma terceira voz e ele ouviu a
conversa entusiasmada de um jovem casal. Era Lucas que finalmente
ganhava coragem e ia pedir Bruna em casamento. Deixara o interior
onde as oportunidades eram escassas para tentar a sorte na capital.
Foi um ano horrendo, chegou a dormir na rua. Mas era sisudo
e, para ele, tentar era sinônimo de conquistar, tudo era questão de
tempo. Aquela chamada era para dizer que o tempo da colheita
chegara: apenas seis meses depois de sua admissão na Mesbla da
Padre Eutíquio, em Belém do Pará, foi promovido a supervisor de
vendas. A partir de agora, as coisas iam melhorar e Bruna finalmente
ouviria a frase tão esperada. Lucas já tinha a passagem da noiva
comprada e a aguardava com ansiedade. Os dois desligaram, já o
terceiro, seguiu lá, consternado.
Largou o telefone e pôs-se a refletir:
– Como ficou a situação do casal quando a Mesbla faliu em 1999?
Gotas Literárias 16
A GRAMÁTICA DO AMOR
Jorleide Antunes
2º Lugar
Gotas Literárias 16
Conto Amador
CAMINHO A ESMO
Ele tinha o levantar quase imóvel e os seus passos não eram nada
audaciosos.
Gotas Literárias 16
Arrastava-se de maneira quase que inaudível e insolúvel, ei-lo ali.
O seu olhar brumoso era como um abajur sem utilidade para alguém
que nunca lê um livro a noite, mas é esse olhar que perdura e
mantém-se fixo na parede a procura de algo que ainda não se sabe
bem o que. Ele percebe o relógio e sente ser exatamente igual,
aos ponteiros parados, a ausência de ritmo e na escassez de fonemas
que sufocou a onomatopeia deixando tudo em um completo silêncio
estarrecedor.
Seus lábios estalam, ele espreme os olhos e força a vista a fim de
alcançar a superfície do relógio quase ilegível em meio à penumbra,
a hora do relógio parou, e elas não correspondem às horas que
realmente o dia está indicando que são, não se sabe exatamente quais
de fato deveriam estar marcando, só sabe que não está certo, é
intuição pois os últimos raios de sol atravessando as frestas
despedem-se do Hall de entrada abrindo espaço para corpos opacos
e para o frio que parece escapar com a vida quando se esvai ao raiar
do dia. Aquele relógio está parado há tempos (ninguém sabe
quanto), e assim estava ele após ter tomado conhecimento de seu
estado ébrio e hostil. Verdade seja dita, ele apercebeu-se disso
outrora, mas vã era-lhe a razão que não foi suficiente para tentar
consertar ou ao menos trocar as pilhas, em seu âmago algo lhe dizia
para não se esforçar tanto, outras vezes sim, mas nunca correr o risco
de se deixar enganar pois, as pessoas somente veriam aquilo que
querem ver, nenhum palmo além de seus próprios narizes e nenhum
centímetro a mais do que aquilo que as convém.
Em seu afã as coisas passaram a ter mais ênfase, ainda que a ênfase
fosse mínima e insuficiente, pois a vida lhe parecia não passar de um
grande rolo compactador, esmagando tudo ao chão enquanto somos
o asfalto. O seu corpo jaz condenado e toda a sua tortura reduzia-se
na ironia do inferno lhe servir o café frio e amuado de açúcar.
Cansados eram os seus olhos, esses que de chamas singulares
possuíam muitas almas para devorar, e assim caminhava a esmo com
Gotas Literárias 16
aquele velho diabo à espreita de sua companhia quando então cruzar
a esquina, é uma emboscada e essa é a sina, e que façanha era para
ele sentar-se com esse pobre diabo para dividir a mesa, estar a espera
do moer das coisas e cosedura, é decepcionante, ele está frustrado,
quer levantar-se, subir do lume e desviar os seus olhos, é que o diabo
come e mastiga com a boca aberta, mas estava preso nessa visão e as
grades que o prendiam ali se fortaleciam cada vez que lhe surgia o
pensamento de ser livre, suas escolhas somente eram o luxo de
escolher a cela e dividi-la com o seu destino que se igualava à uma
pessoa terrível. E uma pessoa terrível derruba até mesmo os
melhores de nós. O destino era senhor do tempo, ou o tempo era o
senhor do destino, talvez os dois tivessem tomado um ao outro em
matrimônio ou os dois fossem um só. O tempo lhe era como um
velho fumante, com a sua toxicomania consumia a todos como quem
consome cigarros guardados nos bolsos, tira-os, acende, inala, traga e
sopra, por conseguinte o que sobra decora bueiros e as ruas
cinzentas, somos uma parte do vício, morrendo no tempo e assim
matando-o, servimos apenas como uma pequena porcentagem de
nicotina sucumbindo na dependência de um tabagista.
Ele caminha até o armário da pia, lava o rosto e após refrescar a face
analisa o que está ao redor questionando o porquê de haver tantas
sacolas inutilmente acumuladas embaixo da pia? Sem obter a
resposta para a questão do aglomerado de sacolas ali, sabendo que é
ele quem assim o faz, talvez por reflexo do que sua mãe fazia, ou
porque ele à viu fazer, ou quem sabe ainda queira fazer parecer que é
ela que esteja assim fazendo.
É somente uma repetição de cenas nostálgicas, que ele reproduz
igual, no seu armário e na sua pia que agora vomita sacolas das
compras que fazia sozinho. Como essas sacolas,
amassadas e sem serventia; tem esperança de que sirva um dia, ao
menos para armazenar o livro e lançá-lo fora. Exaustiva lhes eram as
especulações baratas e histórias que soavam querendo uma página
Gotas Literárias 16
nos livros como frases de uma caneta já quase sem tinta que
tentando escrever sobre um papel molhado destroça-o por inteiro.
Ele é como o seu jeans morto, desbotado e sem elasticidade, mas que
segue a sua vida com o que disseram sobre um bom jeans nunca sair
de moda, então ele se veste disso e se pega em qualquer rua
onde somente vê construções inacabadas, fantasmas em prédios,
vigas expostas e tudo mais em corrosão. Por que será que eles nunca
acabam? Ninguém se importa.
Ao perceber que sua xícara de chá favorita está vazia enquanto as de
outros descem pelo ralo da pia quando esfriaram demais, ele desce
até o espelho e tenta congelar na face uma única expressão: desânimo
(?) descontentamento (?). Não quer adivinhar. Se
sente tenso e depois triste. Não triste o bastante a ponto de escrever
uma carta suicida para cometer o suicídio após. Mas triste o
suficiente para escrever qualquer coisa.
É o que ele está fazendo agora. Como disse, isso não se trata de uma
carta suicida.
Só é quase a mesma coisa!
ROSAS BRANCAS
Gotas Literárias 16
Explorador: A sina
Gotas Literárias 16
como via o amor em seu próprio mundo.
Conhecimento era a porta do mundo, e muitas vezes odiaria ter a
chave.
Você lia sobre amor, mistério e o medo, aprendia a encontrar suas
encarnações -
produzir? - dentro da realidade, mesmo assim, de boa vontade
migraria para qualquer
terra criada pela mente de homens e mulheres cujas vidas de carne e
osso, eram geográfica e socialmente nada mais que um parágrafo
noutra página.
Invejava até o ódio deles, principalmente a coragem de quem
enfrentava
sistemas distópicos ou questionava a utopia em voga.
Tudo acabava quando fechava o livro. Quem vai fechar minha mente?
Quando a sereia e a vampira partem depois do Fim, você não sabe
quem realmente deixou quem. Era você na pele delas, ou algum tipo
de possessão cósmica, o acesso a um conhecimento remanescente no
astral como os antigos xamãs faziam?
Havia uma proposta no fundo da sua mente, a semente de outra
encarnação começou a brotar, e logo não haveria espaço para outra,
nem a planta do vizinho. As flores brotavam em seus dedos, pétalas
caíam quando o arquivo travava e sua aflição desbordava num
sentimento de abandono.
Quem vai fechar minha mente?
Ela vai para Grécia dançar nos salões dos deuses, e em volta das
fogueiras dos pagãos vikings, ela te obrigava a dançar com a pele de
um urso em sua cabeça, você é um berseker!
“O dragão se convertia em mulher e a mulher se casava com um rei
bastardo.”
“A princesa foi substituída por uma amante de outro mundo e
bradou: Se você
nasceu para ser imperatriz, não pare até se tornar uma!”
“Mas em seguida estava se divorciando do homem a quem foi fiel
por vinte anos.”
Você não tem nada!
Você só inventa, recria. Sobre o tempo deles e o seu, sobre o tempo
de homens reais e o tempo de mundos que nunca foram.
Gotas Literárias 16
Você os cria, navega com eles, como um verdadeiro explorador, é
diretor e roteirista, até atua, mas nunca será eles como eles são você.
Você escreve. Quanto desprezo...
E talvez a filha dele leia, como você leu o filho de outros. Talvez o
tempo encontre o que você criou, ainda que não encontre você,
desbordando em contos que jamais serão lidos.
Ainda assim, você não para!
E mais mundos, mais povos, mais sentimentos desabrocham em seus
dedos do que jamais farão nas mãos do governante mais poderoso de
seu mundo. Seu reinado nem mesmo é real, ele nunca, e com sorte,
vai passar das folhas de um livro ou das telas de cinema. Ele é
abstrato, um delírio é real só para quem cria.
Esquizofrenia ou Criatividade?
Importa? Você explora. É a única verdade nesse mundo, nesse tempo,
e nos outros. Essa é a sua sina.
Gotas Literárias 16
MAS DO QUE ADIANTA?
Senti um frio nas minhas entranhas por conta da queda. Meu corpo
se distanciava do chão à cima cada vez mais rápido, congelando-me
e esvoaçando as mechas dos meus cabelos. Senti um grande
arrependimento de ter criado a máquina para fugir do Mundo
Incrédulo até que me choquei contra o chão, batendo com o
cóccix .
— AAAAAARGH! — gritou um garoto, pulando da sua cama de
susto. Seu semblante manifestava medo e curiosidade. — Quem é
você?
— Eu... — Meu coração batia fortemente, dificultando minha fala. —
Eu sou você... de outro mundo... do Mundo Incrédulo.
— O quê?! — Ele com certeza estava mais assustado que eu. — Você
fugiu?! E
é do mundo-lá-debaixo?
— Sim, digamos que o seu mundo é o melhor de todos, o Mundo
Maravilha,
certo? — indaguei.
— Certo — confirmou ele. — Aqui, todas as decisões de todas as
pessoas são as certas...
—verdes cercando um belo rio corrente, árvores cheias de folhas e
mar de flores distribuídas pela cidade, crianças correndo e
brincando, além do segundo plano: um céu azul repleto de nuvens
brancas como a neve que caía no monte lá no fundo.
Nunca tinha visto algo igual àquilo. Era bem melhor que um bando
de fumantes andando pela minha antiga rua repleta de possas, sem
uma única fonte de luz. Meus olhos brilhavam. Não sentia um pingo
de saudades do meu antigo mundo. Queria ficar ali durante toda a
eternidade.
O menino me olhou torto. Devolvi o olhar, ainda encantado com
tudo que sentia e me indagando o motivo do garoto não estar
encantado também. Ele, por sua vez, parecia estar pensando em
dezenas de perguntas ao mesmo tempo, mas acabou me
Gotas Literárias 16
perguntando a que eu mais temia:
— Como você chegou aqui?
— Então... — eu hesitei, mas sabia que teria de responder. — Eu
quebrei as regras e criei uma máquina capaz de viajar pelo espaço-
tempo tão, mas tão rápido que é capaz de quebrar a realidade.
Assim, eu mudei do pior mundo para o melhor.
— Você tomou essa decisão ainda no seu mundo? — Eu sabia onde
essa conversa chegaria.
— Sim, no meu mundo.
— Essa... essa foi uma péssima decisão!
— Mas... tudo bem, eu não estou certo — aceitei a verdade. — Mas
esse lugar é muito melhor do que de onde eu vim. Por favor, me
deixa ficar?
— Ok, ok — disse ele. Eu não acreditava como alguém poderia ser
tão bom. — Você só precisa de algumas roupas — Ele abriu seu
armário e tirou um dos seus conjuntos, sem pensar muito em qual já
que todos eram iguais. — Tome isto.
Agradeci a ele e me vesti. Não resisti ao impulso e abracei-o. Foi uma
sensação boa poder sentir um pouco de uma amizade, mesmo sendo
comigo mesmo.
— Só tome cuidado, porque eu ouvi falar que existem tipos policiais,
que rastreiam invasores...
Antes dele completar a frase, um homem com o dobro da minha
altura apareceu no local por teletransporte.
— Há um invasor aqui! — bradou ele, fitando nossos olhos.
Meu corpo inteiro se estremeceu. Eu não sabia o que fazer. Não
queria voltar pro meu mundo, aquele lugar podre onde todos
queriam apenas o bem do próprio umbigo. Queria continuar onde eu
estava... queria um mundo que me acolhesse como um filho... queria
o Mundo Maravilha...
— Sou eu! — disse o garoto. Meus olhos se arregalaram, mas eu não
tive coragem de repreendê-lo. — Eu sou o invasor!
O policial jogou o garoto no ombro e caminhou para fora do quarto.
Antes de desaparecer, ele sorriu genuinamente para mim como se
dissesse: “Se cuida”.
Eu não conseguia me movimentar. Meu corpo inteiro estava
tremendo.
Gotas Literárias 16
Eu havia me dado bem. Mas do que adiantou? Senti uma lágrima
escorrer ao perceber que meu único amigo estava agora andando em
uma rua escura com poças de lama e fumaça de cigarro.
Gotas Literárias 16
AMPULHETA
Gotas Literárias 16
MEMÓRIAS
AMADOR
Gotas Literárias 16
PENSAMENTOS A CAMINHO DA ESCOLA
Eram seis e meia da manhã. Meus pés geravam a força que precisava,
e o atrito me empurrava para a frente. A capa de chuva amarela
protegia-me de chegar à escola encharcado; o toró não cessa desde
ontem à noite. Sinto frio. Na tentativa de aquecer-me, coloco minha
mão num dos bolsos da calça; a outra, sustenta o guarda-chuva.
Vagarosamente, sinto a água se acumular no coturno. Me apresso em
passos lentos. Removo os fones de ouvido e os guardo, e a voz de
Renato Russo desvanece: “mas é claro que o sol vai voltar amanhã...”
Chuto uma pedra que aparece no meio do caminho; há alguns anos,
eu daria tudo para poder voltar à escola. Voltar à rotina de uma vida
simples. Voltar à minha vida. Foram dois longos anos de quarentena
em casa, devido à pandemia do COVID-19 e hoje sinto as coisas
voltarem ao normal, embora saiba que nunca voltará a ser como
antes, ao mesmo “normal” que conhecemos... ou melhor,
conhecíamos.
Quantas vezes percorri este trajeto? O que eu mais sinto falta, entre
todas as coisas, é do caminho que percorria até a escola: este mesmo
trajeto que estou percorrendo agora. Mais à frente está um tronco de
uma árvore, bem pequeno, cortado um pouco acima da raiz.
Antigamente, essa era uma colossal mangueira, que me presenteava
com a deliciosa sombra a qual eu parava sob para tomar um gole
d’água e descansar o corpo antes de continuar a andar.
Neste mesmo caminho, à direita, nos fins de tarde, sempre havia
algumas crianças jogando bola na rua. Eu as observava de relance: o
lampejo de coragem e determinação que surgia em seus rostos
quando seus pés tocavam a bola, aquela faísca de esperança no fundo
de seus olhos quando viam a oportunidade perfeita de marcar um
golaço, e então chutavam, e todos gritavam “GOL!”. E o goleador
então, extasiado, removia a camisa, girava-a contra o vento,
pulava de emoção. O suor escorria pelo seu corpo, mas o sorriso
contagiante revelava que foi recompensador. Que o esforço valeu à
pena. Ele sequer imaginaria quando seria a última vez que marcaria
um gol desses com seus amigos. Nunca imaginaria que dali a um
tempo, iria sentir saudade desses dias de ouro. Nunca. E por mais
clichê que possa parecer, nunca imaginaria que essa era a época em
Gotas Literárias 16
que eram felizes, mas não sabiam.
Hoje são outros tempos. A mangueira não existe mais. Só resta a raiz.
A rua iluminada com os gritos felizes das crianças brincando, uma
rua outrora repleta de alegria, hoje é escura e vazia; as crianças
cresceram.
Desapercebida, uma lágrima escorre pelo rosto. Mantenho registros
diários aqui comigo.
Em dias assim, acho importante relembrar das coisas boas. Dos
velhos bons tempos, mas não para lamentar o presente e desejar que
seja diferente, mas para um olhar de nostalgia, para dar
força. Para que todos os sorrisos do passado instiguem força no
coração. Instiguem esperança.
Afinal, esse é o papel de cada escritor, um papel importantíssimo. O
fazer literário: um caminhar entre tempos. Afinal, por meio de
simples palavras num pedaço de papel, vistas ao mais vil par
de olhos é possível registrar memórias, sentimentos, lugares,
acontecimentos, sorrisos e caminhar entre tempos.
Desvencilho-me da dor da nostalgia. Lembro de Drummond de
Andrade, de Lygia Fagundes, de Clarice Lispector. E até mesmo da
pequena grande Anne Frank. Tão jovem, um destino tão horrível,
como milhões de outras crianças judias da época. Em seus registros,
a menina se questionava: “Quem, além de mim mesma, lerá estas
cartas? Quem me confortará
senão eu mesma? Preciso muito de conforto, frequentemente sinto-
me fraca e descontente comigo. Minhas deficiências são grandes
demais. Eu sei disso e a cada dia que passa procuro melhorar”; em
suas poucas fotos, é possível ver o olhar doce e seu sorriso gentil.
Anne seria uma mulher incrível quando crescesse. Mas ainda na
época, a menina imaginava que ninguém sequer se interessaria nos
relatos diários de uma judia de apenas 13 anos; em 25 de junho de
1947, os relatos da menina de olhar doce transformaram-se em livro,
e hoje conta com milhões de exemplares vendidos, tornando-se um
importante registro para documentação da Guerra.
O papel do escritor é esse: além de registrar memórias, sentimentos,
lugares, acontecimentos, sorrisos, é caminhar entre tempos, é levar
um pouco disso para o coração das pessoas. Levar algo de bom. Algo
real, algo fictício; mas trazer à tona no rosto do leitor, um sorriso ou
Gotas Literárias 16
uma lágrima. Lembrá-lo do que é ser humano. Lembrá-lo que
palavras podem conectá-lo aos sentimentos de alguém que viveu há
décadas atrás.
Observo novamente o relógio de pulso: 6h03. É incrível como a
mente humana passa por lembranças tão profundas em segundos.
Então, abaixo o guarda-chuva. Cesso o ponderar, acelero o passo,
dessa vez, mais decidido. Quantas vezes percorri este trajeto?
Inúmeras, incontáveis. Inexprimivelmente, quem sabe eu sinta falta
disso tudo no futuro, assim como já senti uma outra vez. As nuvens
findam o choro, a chuva gradativamente diminui, e o céu abre
espaço para um azul vívido que vem à tona. Surge um sorriso em
meu rosto ao ver um arco-íris se formando. Alegro-me com a rara e
diária chance dilemática e maravilhosa de viver. Alegro-me com
tudo isso ao meu redor. Em memórias, caminho entre tempos; em
caminhos, deleito-me de momentos, aproveito todos esses lentos, e
sinto orgulho de ser escritor: posso registrar todas as coisas, todos os
momentos raros e cotidianos de uma vida dilemática, que poucas
pessoas ousam reparar. Sorrio ao chegar na escola. Cumprimento
meus colegas e professores.
Há oportunidade de viver, de ser sol em dia chuvoso, de escrever
essa história novamente.
Finalmente a tempestade cessara
Gotas Literárias 16
Hoje lembrei da minha avó Vitória
Dona Vitória que eu chamava de dindinha. Ela era muito mão boa
para plantar, tudo que plantava dava resultado garantido.
Lembrei das vezes que ela me levava com ela para plantar
amendoim, ela ia abrindo as covas para colocar aquelas sementes
bonitas, saudáveis e sem agrotóxicos e eu com minha inocência dos
meus Cinco aninhos ia retirando as sementes das covas e comendo
uma a uma.
Quando minha avó voltava para cobrir as covas percebia que as
sementes não estavam ali e ela então com toda paciência de uma avó
baiana e carinhosa, me perguntava: Glorinha! Há! Ela me chamava
de Glorinha porque este seria meu nome de batismo, mas minha mãe
resolveu colocar o nome que meu pai escolheu.
Continuando com o plantio, a minha avó falava: Glorinha cadê
amendoim? Era para plantar minha filha, não era para comer não.
Daí ela me dava as sementes e dizia, vá colocando nas covas e eu vou
cobrindo com a terra. Assim fazíamos até terminar o plantio.
Depois ela ia tirar as ervas daninhas das outras plantações, colher
legumes e eu a danada da Glorinha, ia arrancar bonecas de milho
para fazer penteados com as diversas cores de cabelo.
No meio do milharal eu me perdia e me embaraçava toda nas folhas.
Ouvia minha avó gritando: Glorinha! Você está onde?
Eu respondia: aqui
Ela perguntava: aqui aonde?
No milho dindinha!
Perdida no meio do milharal e com a saia do vestido rodado e de
chita, cheio de bonecas de milho, aquelas com cabelos lindos e
coloridos.
Depois de muito procurar no milharal, ela me encontrava com uma
boa qualidade de bonecas de milho.
Assustada, porém boazinha ela falava: minha filha, não arranca as
bonecas não, deixa crescer pra gente fazer canjica.
Eu falava: É só esse pouquinho dindinha. Para eu brincar tá bom?
Chegava o final da tarde e a gente voltava pra casa feliz, eu com
minhas bonecas e ela com abóbora, maxixe e até umas pimentinhas
para o molho do jantar.
Gotas Literárias 16
Oh saudade daquela velhinha, e da minha infância no meio da
pequena roça onde a fartura era tanta que onde tinha fartura, e tudo
tinha um cheiro muito bom.
A gente chegava em casa lá para o final da tarde, a minha mãe
chegava no mesmo horário, ela vinha da colheita do cacau e às vezes
do café.
Duas pessoas batalhadoras e que não tinham tempo nem para
reclamar de dor.
Fui crescendo nesse meio, tomando gosto pela vida e hoje estou aqui
pensando como tudo passa e que bom seria se tudo tivesse
congelado para gente descongelar quando precisasse reviver.
Oh saudade daquela época!
Gotas Literárias 16
CHUVAS DA INFÂNCIA
Albino Lopes
3ª Lugar
Gotas Literárias 16
LEMBRANÇAS DE UM AMOR
Gotas Literárias 16
CORDEL
AMADOR
Gotas Literárias 16
Os valentes Nusa Feitosa e Vicente risca-faca
Gotas Literárias 16
Paragominas: O descortinar dos tempos
Gotas Literárias 16
Sonho e Conquista
Gotas Literárias 16
POEMA
AMADOR
Gotas Literárias 16
Angústia da Mente Incongruente
um caos
um só
um pó
em versos tristes
versos secos
como o peito
arde e bate forte
por todo corpo
pulsando sangue frio
e distribuindo pensamentos mil
não fluídos como rio
mas embaraçados
como um linho desfiado por um gato
um trapo
cada verso escrito
um grito que atormenta
uma facada encravada no peito
delírio?
um enleio despertando a culpa
a angústia
o desistir da luta
de ser quem sou
de entender esse trapo que restou
Gotas Literárias 16
na profundidade de um ser
impossível de ler
matando e ressuscitando
quem tem a má sorte de ter
o barulho incessante
procurando o significado
de ser um nó
que traz a nota dó
faz verso chorando
faz verso sorrindo
se despindo
nesse recorte
que não é mais uma arte
é um fazer palavras loucas
quase um estrondo afônico
trágica e amarga súplica
a tradução da mente
que é gelo quente
que poderia ser apenas um réquiem
agora é só o vazio
de se estar vivo e morto
ouvir estando surdo
um mundo mudo
até mesmo a confusão
com seu próprio barulho
Gotas Literárias 16
desistiu desse poço tão profundo
buscando subterfúgio
de sentir e não se ferir
e não sentir
sem querer para o escuro fugir
agora só me resta partir
o “para onde”
nem sei o nome
seguirei com meu singelo “banal”
sendo eu apenas, um terrível plural.
Gotas Literárias 16
JÁ FUI...
Já fui escritor
Registrei memórias de um coração sonhador
Deitei e deleite-me em mares de versos
Fugi de corações perversos
E aproximei-me daqueles cheios de versos
Com sentimentos diversos de versos inversos
E de versos em versos,
Já fui passarinho céu
Já voei pelo mundo no
Decolei, saí do ninho lá
Conheci um abismo profundo
Já fui magistral
Já fui estudante
Já viajei pelo espaço sideral
Já li, ri, e reli os livros da estante
Já caminhei entre tempos
Já vivenciei e registrei momentos:
Foi mágico
Já vi todo um universo numa só gotinha de orvalho
A gota literária, regando um colossal carvalho
Já nadei em mares de palavras
Fui poeta, fui atleta
Fui amor, fui escritor
Gotas Literárias 16
Vi o passar dos tempos,
Vivenciei o belo e o fugaz dos momentos
Efêmeros
Já vi o azul do céu
Metamorfosear-se em aquarela num pedaço de papel
Já vi o escarlate no ódio dos adultos
Em birras, formar escarcéu
Hoje, não sei quem sou
Talvez um pouco disso, um pouco daquilo...
Coisas que eu sei, aprendi
Coisas que aprendi, sofri
Coisas que sofri, também sorri
E hoje sou escritor
Sou porta entre tempos
Sou mensageiro do amor
Sou colecionador de momentos
E, ao mesmo tempo, não sei quem sou
Pois já fui passarinho,
Fui poeta, fui amor.
Gotas Literárias 16
Transborda Menino!
Gotas Literárias 16
Me pergunto, será que de algum modo, saboto a felicidade?
Menino, você não ocupa o espaço inteiro, mas respeito seu lugar
Pois quando eu erro o dia inteiro, é você que está lá
Me dizendo que os recomeços nunca acreditam nos pontos finais
E que sou sempre capaz, de fazer bem mais, sempre...
Nascer e morrer, mesmo que eu acredite que esse é o resumo da vida
Esse menino sempre me lembra que existe outra versão, não
resumida.
Ô menino, tu que vives a me observar, sei lá.
Será que podes transbordar? Vem pra cá, para o lado de fora.
Gotas Literárias 16
O Viajante
Lá vai o viajante
com um olhar contagiante,
para mais uma aventura,
conhecer outra cultura.
Dizem que ele é do bem,
não fala mal de ninguém.
Já conheceu o protetor,
o nosso Cristo Redentor.
Ouvi falar de uma viagem,
na qual não houve bagagem.
E o viajante espertinho
conheceu o Pelourinho.
Outro dia me contaram,
não sei se exageraram,
que o viajante foi pro Sul,
e explorou as Cataratas do Iguaçu.
Afirmaram também que ele é destemido,
encarou o boi Caprichoso e o Garantido.
Conheceu muitos Sertões,
e bebeu água do Rio Negro e Solimões.
Foi do Norte pro Nordeste,
do Sul ao Centro-oeste.
Segue sendo o maioral,
Conheceu até onça no pantanal.
Gotas Literárias 16
E lá vai ele de novo,
conhecer um novo povo.
Sabe quem é a criatura?
É o viajante da leitura!
Gotas Literárias 16
HÍFEN
Gotas Literárias 16
SOBRE VOCÊ
Gotas Literárias 16
A TAL NOVIDADE
Gotas Literárias 16
SAUDADE DA INFÂNCIA
Gotas Literárias 16
Metade
Tu és
Minha metade
Metade dos sonhos que sonhei
Metade dos risos que dei
Metade das lágrimas que derramei
Metade das palavras que me engasguei
Metade do rio que nadei
Tu és
Metade do caminho orvalhado
Metade do meu rosto marcado pelo sol, pela dor não sei.
Tu és
Metade dos sonhos mais bonitos
Metade dos desejos ocultos
Metade do caminho que parei
Tu és
Metade da resposta que deixei pra lá
Metade da insegurança que me fez pensar
Metade de mim
Metade de nós
Tu és
Pessoa ou anjo?
Sonho ou pesadelo?
Só sei que tu está sempre onde estou.
Gotas Literárias 16
PARAGOMINAS
Gotas Literárias 16
Suspiros à Rosa
Gotas Literárias 16
Um amor que fique
Gotas Literárias 16
OS ENCANTOS DE PARAGOMINAS
Gotas Literárias 16
GOSTO DE VOCÊ
Gotas Literárias 16
MEU QUERIDO PASSADO E FUTURO
Gotas Literárias 16
BELEZAS DO BRASIL
Gotas Literárias 16
Indagações
Gotas Literárias 16
A passos lentos
Todos os dias eu passo naquela faixa ela não estava ali há vinte anos
atrás
Tornou-se uma obrigatoriedade parar na faixa de pedestre
Então eu praticamente me acostumei a parar automaticamente na
faixa de pedestre
Que fica em frente a uma livraria muito antiga no município de
Paragominas.
Aquela livraria, ah como eu me lembro
Há muito tempo atrás ela era cheia de vida
Não existia computador há alguns anos atrás, e os livros eram
valorizados.
Ter um livro era como ter o mundo nas mãos
Através deles podíamos atravessar de um lugar para outro
Desta forma fiquei pensando como aquele lugar tão cheio de vida
hoje se tornou
obsoleto.
Por um leve instante e parada naquela faixa me ocorreu esta
lembrança,
Mais ao ouvir a buzina de um carro despertei daquelas doces
lembranças e vi um
senhor terminando de atravessar a faixa a passos cansados, este
senhor era o dono da
livraria Bastos.
Gotas Literárias 16
Bons tempos
Gotas Literárias 16
Vagamente
As palavras ditas, os momentos que passamos
Nada tem mais significado.
Odeio fingir alegria, quando estou cheio de tristeza
Dói sentir isso sozinha, você nem sequer me amou?
Onde estar aquele sentimento?
Mentiras contadas na forma de canção,
Para encobrir a mentira conspiratória.
Só queria você, sem barreiras
O que falta em meu amor?
Ainda não me doei o suficiente?
Não restou nada, só uma dor imensa;
Jogado nesse inferno de emoções,
Estou quebrado.
Só me der um motivo, quero uma razão para te odiar.
Essa esperança que não morre, o desejo de você voltar permanece.
Queima como fogo e me machuca como uma faca,
Me faça entender, esse sentimento é vácuo.
Não existe mais nada em seu coração?
As cores estão tão sem graça,
Onde está o arco-íris que me prometeu?
Destroços vão com o vento, até onde devo suportar;
Sem escapatória, sem forças, sem nada.
Tire essa venda, não quero mais me perder
Me ajude a achar a saída.
Esse caminho só me machuca.
Meus pés não mais suporta, meus braços não sabem onde segurar.
Tudo tão escuro, sem onde me apoiar,
Desmoronando nesse chão frio, sem onde me aquecer.
Desejo ser aquele que fará lembrar dos sentimentos bons.
Aquele que você irá procurar, mas não vai mais encontrar.
Será então a sua caminhada entre nossos momentos,
Uma procura por um tempo que passou.
Seus gritos de dor serão distantes para mim,
Uma melodia antiga que já não me interessa.
Renata Conceição Rocha
Gotas Literárias 16
20ª Lugar
Gotas Literárias 16
CRÔNICA
AMADOR
Gotas Literárias 16
PASTEL CROCANTE
Gotas Literárias 16