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Veredas da História, [online], v.15, n. 1, p. 9-20, jun., 2022, ISSN 1982-4238

IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE HISTÓRIA NA


FORMAÇÃO DO ESTUDANTE
COMO INDIVÍDUO
IMPORTANCE OF HISTORY TEACHING IN
EDUCATION OF STUDENTS
AS INDIVIDUALS

Heloísa Marina Pereira1


Centro Universitário Estácio Brasília de Taguatinga/DF

Juliana Paula de Oliveira Gomes2


Ordem dos Advogados do Brasil
Departamento de Educação da Universidade Federal de Lavras

Resumo: O ensino de história Abstract: The teaching of history


impacta na formação dos impacts on the formation of
estudantes, influenciando o students, influencing the
desenvolvimento da identidade development of the individual and
individual e coletiva na formação de collective identity of the student, in
cidadãos para exercer a cidadania e the formation of citizens to exercise
no desenvolvimento do citizenship and in the development
pensamento crítico. O objetivo do of critical thinking. The objective of
presente artigo é analisar a this paper is to analyze the
importância da história na formação importance of history in the
da identidade, que começa a ser formation of identity, which begins
constituída a partir do contato do to be constituted from the
indivíduo com o meio social e individual's contact with the
cultural ao qual está inserido; o environment in which he is inserted;
impacto na formação para o the impact on training for the

1 Heloísa Marina Pereira - Advogada, graduada pelo Centro Universitário Estácio Brasília de Taguatinga/DF, Brasil;
especialista em Direito Público pela Faculdade Processus de Águas Claras/DF, Brasil. Licenciada em História pela
Faculdade Unyleya, Águas Claras/DF, Brasil. E-mail: helocorgozinho@gmail.com.
2 Juliana Paula de Oliveira Gomes - - Pedagoga, especialista em alfabetização e letramento, especialista em gestão

educacional, mestre em educação, professora na educação básica, professora no ensino superior, pesquisadora do
Núcleo de Estudos em Linguagens Leitura e Escrita do Departamento de Educação da Universidade Federal de
Lavras. E-mail: ju.p.oliveira2010@hotmail.com. Endereço para correspondência: Avenida Tenente João Bispo, n.º
749, Centro, Bonfinópolis de Minas, CEP: 38650-000.
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exercício da cidadania e no exercise of citizenship and on the


desenvolvimento do pensamento development of critical thinking, and
crítico, formando o aluno para ser the student should be able to
capaz de analisar contextos analyze historical contexts and carry
históricos e realizar reflexões e out reflections and draw
elaborando conclusões. conclusions.

Palavras-chave: Educação; História; Keywords: Education; History;


Identidade; Cidadania. Identity; Citizenship.

Introdução
Não é novidade, que matérias como História, Sociologia, Filosofia são tidas
como matérias de menor importância tanto por alunos como por muitos
profissionais da educação. Isso ocorre, muitas vezes, porque o conteúdo é abordado
de forma mecânica, no qual o professor expõe o conteúdo e o aluno decora, no caso
da História, decorar datas e acontecimentos, por serem fatos que já aconteceram em
aulas expositivas nas quais pouco se discute ou instiga os alunos a questionarem o
porquê dos acontecimentos.
No entanto, diferentemente do pensamento comum, o ensino de História deve
ser visto sob uma perspectiva ampla, uma vez que a História tem impacto relevante
na formação do indivíduo pois, além de ser componente curricular obrigatório, é
parte da processo na qual o estudante encontra-se, aprendendo e produzindo
constantemente. Pretende-se com essa pesquisa, analisar e demonstrar alguns dos
pontos impactados pelo ensino/estudo de História.
A presente pesquisa teve como metodologia o processo do materialismo
histórico-dialético, utilizando-se de revisão bibliográfica de autores com trabalhos
relacionados à temática. Por meio desta, almejou-se uma reflexão crítica acerca da
influência do ensino de História para a formação do indivíduo
Começaremos por um breve resumo do histórico do ensino da disciplina no
Brasil, logo após dissertaremos sobre o tema especificamente, primeiro
discorreremos sobre a importância da História na formação da identidade individual
e coletiva do aluno, em seguida sobre a importância da História na formação do
aluno para o exercício da cidadania e, por último, discutiremos a contribuição da
disciplina História para o desenvolvimento do pensamento crítico.
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Histórico do ensino da disciplina História como componente curricular no Bra-


sil
A disciplina História é um componente curricular desde o século XIX e,
portanto, tem sofrido mudanças quanto a metodologia e finalidade, muitas dessas
influenciadas por questões políticas no país.
O ensino obrigatório da matéria começou em 1837, com a criação do Colégio
Dom Pedro II. Normalmente, o ensino de História é dividido em dois momentos:
Primeiro, a introdução no currículo escolar e posteriormente com a elaboração da
história nacional. E um segundo momento, quando o país passou a regulamentar o
ensino, a partir das décadas de 30 e 40, “orientado por uma política nacionalista e
desenvolvimentista” (PCN, 1998, p. 19).
De acordo com a Base Nacional Comum Curricular:

As questões que nos levam a pensar a História como um saber


necessário para a formação das crianças e jovens na escola são as
originárias do tempo presente. O passado que deve impulsionar a
dinâmica do ensino-aprendizagem no Ensino Fundamental é aquele
que dialoga com o tempo atual. (BNCC, 2018, p. 397).

Contudo, é possível acrescentar a influência de novas tecnologias sendo que o


maior acesso à informações também possibilita a disseminação de várias versões,
inclusive falsas, sobre o mesmo fato.
Quanto à metodologia, o ensino era caracterizado pela memorização, método
pelo qual o aluno deveria memorizar fatos e datas. Essa metodologia foi utilizada por
muitos anos, o que trouxe ao estudo da História uma mácula de tédio, enfadonha e
desnecessária, haja vista a utilização de metodologias maçante e ultrapassadas. Com
o avanço das técnicas de ensino e novas visões sobre métodos de aprendizado,
observamos uma dinâmica maior no ensino do conteúdo, o que torna o aprendizado
mais prazeroso e participativo aos alunos.
Quanto à finalidade, no Brasil, o ensino foi usado para incutir o senso de
nacionalismo desejado pelos governantes. Depois para controlar os ânimos durante a
ditadura militar, quando o ensino da disciplina foi substituído pelas aulas de estudo
sociais, trabalhando com a História mais factual e menos reflexiva. Apenas
recentemente, a História passou a ser ensinada visando a formação de cidadãos com
pensamento crítico (MENDES, 2022).
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Atualmente, a compreensão que se tem sobre o que é a História e de sua


importância na formação dos indivíduos mudou muito da visão tradicional, isso
possibilitou um avanço na metodologia de ensino o que influencia positivamente na
formação dos estudantes.
No mesmo sentido, a Base Nacional Comum Curricular afirma que “Os
processos de identificação, comparação, contextualização, interpretação e análise de
um objeto estimulam o pensamento.” (BRASIL, 2018, p. 398) Afirmação que corrobora
a necessidade do diálogo, da pesquisa, do debate e do respeito para que o ensino
aprendizagem de História seja, em sua totalidade, favorecedor o desenvolvimento do
pensamento crítico do estudante.

Importância do ensino da disciplina História


Conhecer a história, principalmente a de onde se está inserido está
intimamente ligada à formação do indivíduo, a formação de sua identidade social e
individual, ao desenvolvimento do pensamento crítico, bem como possibilita ao
indivíduo se posicionar como agente modificador da história.
Para Mattoso não importa se gosta ou não de História, “mas estar convencido
que sem ela não se pode compreender o mundo em que vivemos (...)” (MATTOSO,
2006. pp. 14-17, apud BOAS, 2022, p. 34). Ou seja, sem conhecer a história não é
possível entender o mundo em que se vive, não é possível estabelecer relações
sociais e culturais e, também, não é possível conhecer-se.
Sobre as relações culturais, a Base Nacional Comum Curricular no traz que:

Contempla, antes de mais nada, a construção do sujeito. O processo


tem início quando a criança toma consciência da existência de um
“Eu” e de um “Outro”. O exercício de separação dos sujeitos é um
método de conhecimento, uma maneira pela qual o indivíduo toma
consciência de si, desenvolvendo a capacidade de administrar a sua
vontade de maneira autônoma, como parte de uma família, uma
comunidade e um corpo social (BRASIL, 2018, p. 403).

Veremos a seguir, algumas das áreas da vida humana que são impactadas pelo
ensino de História.
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Na formação da identidade individual e social dos estudantes


A identidade pode ser definida como o conjunto de características que
individualizam uma pessoa, um grupo ou uma civilização. Sendo ela responsável,
também, por nos distinguir enquanto espécie das demais.
A constituição da identidade está diretamente ligada à História de onde a
pessoa está inserida. A História do bairro, da cidade, estado, país etc., afeta a
identidade da pessoa, ou seja, afeta o conjunto de caracteres que individualizam o
indivíduo. Esse é um dos principais pontos que tornam o estudo da História
importante, muito mais do que saber os momentos históricos, as guerras, os
governantes e memorizar datas importantes. Estudar, conhecer e entender a História
da comunidade de onde está inserido está diretamente ligado à sua formação como
pessoa.
Na concepção de LIMA (et. al 2007, p. 371):

A formação de identidades baseia-se em elementos discursivos


fornecidos pela história, geografia, biologia, memória coletiva, por
instituições, relações de poder, interesses, relatos e mitos, entre
outros aspectos que compõem a cultura de um determinado grupo
de pessoas.

De acordo com Martinazzo (2010, p. 33) a constituição da identidade se inicia


a partir do momento em que o indivíduo entra em contato com o mundo, a partir
desse contato ele produz e transforma a cultura. São os fatores culturais que
moldaram a forma de pensar, agir e ser. Ainda de acordo com o autor:

A cultura e as manifestações culturais representam uma síntese de


toda a atividade histórica de um povo, de uma civilização, enfim, da
história das experiências criativas do ser humano e da construção da
humanidade. Cultura é o modo peculiar de viver e de se manifestar
de um povo. A família e, sobretudo, a educação escolar, exercem
um papel central no processo de aprendizagem, de
endoculturação e, portanto, são os principais agentes
moldadores da cultura (Grifos meus, MARTINAZZO, 2010, p. 34).

Como demonstrado, a cultura, que é formada pela História dos povos, exerce
influência significativa na formação da identidade do indivíduo e a forma como essa
História será repassada/ensinada, seja pelas famílias seja por educadores é de
extrema importância para essa constituição.
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A identidade social, se traduz no sentimento de pertencimento a determinado


grupo ou comunidade com pensamentos, desejos e outras características
semelhantes. Para BERLATTO (2010) a identidade social se constrói e reconstrói no
interior de contextos sociais através das trocas sociais, ou seja, “é resultado de uma
construção histórico-social, onde o individual se inter-relaciona com o coletivo,
construindo e reconstruindo-se constantemente” (DAGOSTIN E MOLI, 2022, p. 1847).
Nesse contexto, adotar uma abordagem educacional onde o estudante se veja
como sujeito da história, faz com que este perceba a relação que têm com o meio em
que está inserido. Muito mais do que mero telespectador, passando a se ver como
agente criador e modificador da história e consequentemente da cultura.
Visando essa mudança de posicionamento no ensino/aprendizado de História,
o manual de Parâmetros Curriculares Nacional sugere a adoção de práticas
pedagógicas voltadas para a reflexão e percepção:

Uma das escolhas pedagógicas possíveis, nessa linha, é o trabalho


favorecendo a construção, pelo aluno, de noções de diferença,
semelhança, transformação e permanência. Essas são noções que
auxiliam na identificação e na distinção do “eu”, do “outro” e do “nós”
no tempo; das práticas e valores particulares de indivíduos ou grupos
e dos valores que são coletivos em uma época; dos consensos e/ou
conflitos entre indivíduos e entre grupos em sua cultura e em outras
culturas; dos elementos próprios deste tempo e dos específicos de
outros tempos históricos; das continuidades e descontinuidades das
práticas e das relações humanas no tempo; e da diversidade ou
aproximação entre essas práticas e relações em um mesmo espaço ou
nos espaços (BRASIL, 1998, p. 34 e 35).

É importante, colocar o aluno no centro do aprendizado, onde ele seja mais do


que um mero receptor, colocá-lo como agente da história, isso modificará como ele
compreende os contextos históricos, modificando sua compreensão de mundo, bem
como a relação dele com o estudo da disciplina, deixando de ser apenas expectador
e passando a ser agente criador da história.
Assimilar a cultura e a história como parte de si, como parte de sua identidade
muda a perspectiva do indivíduo. Lima (et. al, 2007, p. 364) defendem que conhecer a
história local, regional ou nacional tem grande impacto no desenvolvimento local “na
medida em que reflete o processo de formação e consolidação dessa mesma
comunidade.” Esse é outro ponto que torna o estudo de História relevante, uma vez
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que é através dessa consciência histórica que os indivíduos promoverão mudanças


no meio em que estão inseridos.
De acordo com Pellegrini:

Sujeitos históricos são todos aqueles que, por meio de suas ações,
participam do processo histórico, seja de maneira consciente ou não.
Todos nós somos sujeitos da história e, diariamente, interferimos nos
rumos da história. (PELLEGRINE et. al, 2009, p. 10 apud MIRANDA E
SCHIER, 2016, p. 32)

Ou seja, todos nós somos sujeitos da história e estamos sempre interferindo


nos acontecimentos e mudando os rumos da história. As identidades individual e
coletiva são influenciadas, em sua formação, pela história e influenciará a história,
trata-se de um processo cíclico, por isso é tão importante essa conscientização a
respeito da relevância do ensino da disciplina História.
Nesse ponto, algumas pessoas se destacam como agentes transformadores da
história, atuando efetivamente para a modificação da história, rompendo com
padrões, mudando hábitos culturais, inserindo uma nova cultura, modificando ideias
e comportamentos que muitas vezes estavam enraizados nas bases da
sociedade. Fato, esse, que ratifica todo o exposto, ressaltando a importância do
ensino de História para nossos jovens em formação e para definir os rumos da
humanidade.

Na formação para a cidadania


A cidadania é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, conforme
previsão do art. 1º, caput, inciso II da constituição Federal de 1988:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; (Vide Lei nº
13.874, de 2019)
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
Constituição. (Grifos meus)
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O exercício da cidadania é de extrema importância, mas os cidadãos estão


preparados para isso? Os nossos educandos estão sendo preparados para o pleno
exercício da cidadania?
Nesse aspecto, se analisarmos a história, veremos que nem sempre houve essa
preocupação com a formação para cidadania, sendo evidente que em raros
momentos as pessoas estiveram preparadas para exercer os direitos emanados da
cidadania.
O que ocorre, na verdade, é que muitos não sabem o que é de fato a
cidadania nem como exercê-la. Isso se dá, devido a falha na formação dos indivíduos.
A disciplina de História é um dos pilares nessa formação. A partir do final do século
XIX a disciplina passou a ter o encargo de formar cidadãos, com isso surgiu a
preocupação do estado em definir o que seria cidadania.
O conceito de cidadania mudou ao longo dos vários períodos da história, até
chegar ao que temos hoje e, ainda assim, não há um consenso ao que vem a ser
cidadania. Bonito traz o conceito de cidadania como sendo um processo individual e
coletivo que “Exige de cada indivíduo, e daqueles com quem interage, uma reflexão e
tomada de consciência, uma decisão, e uma ação sobre os problemas sentidos por si
e pela sociedade” (BONITO, 2022, p. 63). O autor defende, ainda, que a educação é
um alicerce fundamental para o exercício pleno da cidadania. Corroborando esse
entendimento, Boas (2022, p. 18) destaque que a “Educação para a Cidadania é uma
das preocupações, e bem, dos estados democráticos atuais e do setor educativo”.
Ao dissertar sobre a importância do ensino de história na educação infantil,
MIRANDA e SCHIER (2016) defendem que o ensino da disciplina é fundamental
porque conhecer o passado possibilita entender o presente e desenvolver o futuro,
além do papel importante na formação da cidadania, que ocorre também na escola.
Nesse mesmo sentido, BOAS (2022, p. 35) entende que:

(...) o conhecimento histórico crítico e a noção de sistemas


políticos, culturais, sociais e económicos confluem numa cultura
democrática essencial para uma cidadania ativa. Esta
compreensão crítica de fenómenos históricos proporciona o adquirir
de competências para uma cultura de democracia (CCD), sendo
inegável a convergência entre a disciplina de História e a Educação
para a Cidadania 115. (Grifos meus)
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Também temos a orientação do Parâmetro Curricular Nacional destacando


essa importância do ensino de História na formação do estudante como cidadão,
vejamos:

A seu modo, o ensino de História pode favorecer a formação do


estudante como cidadão, para que assuma formas de participação
social, política e atitudes críticas diante da realidade atual,
aprendendo a discernir os limites e as possibilidades de sua atuação,
na permanência ou na transformação da realidade histórica na qual
se insere. (BRASIL, 1998, p. 36)

Ou seja, é necessário para o indivíduo o conhecimento do contexto histórico,


realizar uma análise crítica desses fatos para que possa se posicionar e exercer de
fato os seus direitos e deveres sociais.

No desenvolvimento do pensamento crítico


Contribuir para o desenvolvimento do pensamento crítico é um dos papéis do
ensino de História. O pensamento crítico muda a forma como o indivíduo se
posiciona na sociedade, uma vez que ele tem a capacidade de analisar uma situação
por múltiplas perspectivas e se posicionar visando o bem comum e individual, como
bem destaca o Ph.D. YILMAZ (2008, p. 38).
O pensamento crítico pode ser definido como a habilidade de pensar com
racionalidade e clareza, de maneira reflexiva e independente, compreendendo a
lógica da situação. RAINBOL (2010, p. 35), nos diz que o “compromisso com o
pensamento crítico acarreta basear nossas crenças em bons argumentos” e que
basear nossas crenças em argumentos ruins nos deixa “nas mãos do acaso”. Ainda de
acordo com referido autor, “o pensamento crítico é a habilidade de avaliar
corretamente os argumentos feitos por outros e construir bons argumentos por si
mesmo”. (2010, p. 41). Essa habilidade avaliativa mudará de acordo com o contexto,
bem como mudará a definição de “bons argumentos”, mas é certo de essa
capacidade é necessária para o que o indivíduo.
O PCN (Parâmetros Curricular Nacional), nos diz que o ensino de história deve
desenvolver no aluno a capacidade de observar, extrair informações e interpretar.
Através do estudo da história, o aluno, desenvolverá a capacidade de entender o
meio em que vive e a sociedade em que está inserido. Devendo o aluno ser capaz de
“posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações
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sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões


coletivas;” (BRASIL, 1998, p. 7).
A Base Nacional Comum Curricular (2018, p. 402) define que as competências
gerais no ensino de História para o Ensino Fundamental partem dos verbos:
Compreender, elaborar, identificar, analisar e produzir. Assim, o estudante como ser
social, produtor de cultura e tendo pensamento crítico, identifica questões, analisa-
as, compreende para elaborar a criticidade e posteriormente produzir cultura e
informação.
Sobre essas competências, MORETTI (2022) esclarece que:

(...) o ensino de História se faz imprescindível a medida que é através


desta disciplina que o aluno adquire capacidades e
potencialidades que lhe permitirão assumir uma postura mais
autônoma e crítica frente às realidades sociais que lhe permeiam,
não que as demais disciplinas do currículo escolar não exerçam
também papel importantíssimo, ocorre que é por meio do ensino de
história que o aluno conhece os percursos e mecanismos que
construiram as relações sociais e o mundo tal qual o conhecemos
hoje, ou seja, a disciplina de história sozinha não forma cidadãos
críticos porém ela é determinante na construção da leitura de mundo
deste aluno. (Grifos meus)

Ou seja, é analisando o passado, os acontecimentos históricos, que os alunos


começaram a desenvolver o pensamento crítico que lhe será útil por toda sua vida. O
desenvolvimento desse pensamento durará por toda sua vida, sendo cada vez mais
apurado.
Destaca-se, que ao desenvolver a habilidade de pensamento crítico, os
estudantes estarão aptos a analisarem um contexto e perceberem se estão ou não
sendo manipulados, posicionando-se com independência.

Considerações finais
Diferentemente do pensamento geral, o estudo/ensino de história tem um
impacto relevante na formação do indivíduo, influindo na formação da identidade
coletiva e individual, possibilitando a autoidentificação enquanto individuo
pertencente a uma comunidade específica, que o define como pessoa e distingue
enquanto membro de uma comunidade.
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A formação da identidade individual e coletiva é de extrema importância, isso


porque, como demonstrado, a história influência na constituição das identidades que
norteará as atitudes dos indivíduos que são agentes da História influenciando nos
acontecimentos, na formação da identidade dos indivíduos. Tratando-se de um ciclo
ininterrupto, uma vez que a história está sempre acontecendo e sempre está em
constituição a identidade de pessoas que são agentes históricos.
Além da formação da identidade, o ensino de história influência na preparação
do sujeito para o exercício da cidadania, que se define como um conjunto de direitos
e deveres inerentes a ele como membro de uma sociedade. Para o exercício de tal
direito fundamental são necessários conhecimentos, destacando-se a capacidade de
pensar criticamente. O ensino de história, somado a outros pilares/disciplinas, dá ao
individuo o substrato necessário para o exercício consciente da cidadania.
Por último e não menos importante, abordamos a importância da história no
desenvolvimento do pensamento crítico, consiste na capacidade de examinar
situações e se posicionar com coerência.
Como vimos, o ensino de história está diretamente ligado a formação do
indivíduo para vida, exercer seus direitos básicos, bem como, pensar por si, elaborar
argumentos e opinar. Destaca-se que o reconhecimento da pessoa como agente
histórico capaz de modificar a história é de extrema importância para determinar os
rumos da comunidade onde está inserido, seja numa perspectiva micro ou macro.
A história é muito mais uma base para o futuro do que simples estudo um
estudo e memorização do passado.

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Recebido em: 28/11/2022


Aprovado em: 17/02/2023

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