Teatro - Pluft, o Fantasminha
Teatro - Pluft, o Fantasminha
Teatro - Pluft, o Fantasminha
Do Capitão Bonança!?
Premiada pela Associação Paulista de Críticos
Teatrais Quando aparecem no palco, devem estar
1 ATO acabando o canto.
PERSONAGENS: SEBASTIÃO
SEBASTIÃO
PRÓLOGO
Então vamos!
O prólogo se passa à frente da cortina. Pela
esquerda surgem os 3 marinheiros amigos, JOÃO
meio bêbedos, cantando. O da frente é
Sebastião, o mais corajoso. Leva um toco de (Desanimado) Já andamos muito! Pobre
vela aceso ou um lampião. Segue-se Julião, Maribel!
segurando uma garrafa. Por fim, João,
segurando um mapa. Deve-se ouvir a canção JULIÃO
antes de avistá-los.
Pobre Maribel!
Ainda era uma criança,
Quando saiu para o mar
A aprender a navegar
O Capitão Bonança! SEBASTIÃO
Depois morreu no mar,
Deixou de navegar.
Pobre Maribel!
Um sótão. A direita uma janela dando para
(Os três se abraçam e sentam-se no chão.) fora de onde se avista o céu. No meio,
encostado à parede do fundo, um baú. Uma
SEBASTIÃO cadeira de balanço. Cabides onde se vêem,
pendurados, velhas roupas e chapéus. Coisas
(Levantando-se) Precisamos salvar a neta do de marinha. Cordas, redes. O retrato velado do
nosso grande capitão Bonança! capitão Bonança. A esquerda, a entrada do
sótão.
JOÃO
Ao abrir o pano, a Senhora Fantasma faz tricô,
(Mesmo) Precisamos achar o tesouro da neta balançando-se na cadeira, que range com
do grande Capitão Bonança! passadamente. Pluft, o fantasminha, brinca
com um barco. Depois larga o barco e pega
JULIÃO uma velha boneca de pano. Observa-a por
algum tempo.
Precisamos pegar o ladrão do tesouro da neta
do grande capitão Bonança! PLUFT
SEBASTIÃO Mamãe!
Vivaaaa! PLUFT
ATO ÚNICO
MÃE
Cenário:
2
Viu o que, Pluft? PLUFT
3
de gente. Peguei! Peguei! Peguei mamãe com medo...
medo de gente... peguei mamãe com medo de
gente!... MÃE
MÃE GERÚNDIO
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dez anos que eu espero. Estou cansado, (Chegando) Ora, Pluft, quem mandou você
também, ora... Sabem lá o que é esperar 10 aparecer?... assustou a menina...
anos pelo tesouro do navio fantasma?
(Começa a procurar) Aqui está o chapéu do PLUFT
Capitão Bonança! (Põe o chapéu e faz
continência, depois, aos brados, imitando (Agarrando-se à saia da mãe) E agora?
capitão de navio) Levantar velas! Carrega
punhos aos papa-figas! Afrouxar a bujarrona! MÃE
Entra a bombordo, agüenta a guinada! Ah! ah!
ah! Agora o capitão sou eu... (Escurece de (Coloca a menina na cadeira) Agora temos
repente) Que é isto? (Vai à janela) Ainda é que esperar que ela volte do desmaio.
cedo, sol dorminhoco! Que escuro! Oh! eu me Coitadinha! (Saindo) Vou procurar algum
esqueci de trazer a lanterna. Temos que achar remédio para desmaio de gente. Fica aí
o tesouro. (Procurando na sacola) Quem tem tomando conta dela.
uma lanterna? (Para a menina) Você tem?
(Ela faz que não) (Mal humorado) Então PLUFT
preciso ir até a cidade buscar uma lanterna.
Você vai ficar aí presinha na cadeira. Mas não (Segurando a mãe) Eu?!
precisa fazer essa cara de vítima, que o
Capitão Perna de Pau é bonzinho... Ele não vai MÃE
te matar não... ele vai... ele vai casar com
você... Vamos comprar outro navio e vamos (Voltando-se) Você, sim.
navegar... navegar... navegar... (Faz a mímica
de um barqueiro remando) Ninguém te achará PLUFT
nunca! A neta dødo Capitão Bonança vai
navegar com o Capitão Perna de Pau... Vou Mas eu tenho medo de gente, mamãe!
buscar a lanterna e já volto... Navegar...
navegar... navegar... (Dá uma gargalhada e MÃE
sai assobiando a “Menina Maribel”.)
Você tem medo dela?
(A menina começa a chorar baixinho,
desvencilha-se da cadeira, tira a mordaça e PLUFT
corre até a janela.)
Dela... muito não. Mas dele, tenho, sim!...
MARIBEL
MÃE
Socorro! Socorro! Socorro! João! Julião!
Sebastião! meus amigos... me salvem! (De dentro) Ele não volta tão cedo. A cidade é
(Sempre choramingando, Maribel com muito muito longe. (Pluft fica na dúvida, vendo se
medo procura conhecer o sótão, olhando segue a mãe ou não. Por fim, na ponta dos pés
amedrontada para todos os lados; Pluft, que trata de observar a menina com curiosidade e
estava à espreita, aproxima-se devagarinho e medo. Um momento a menina se mexe e Pluft
muito receoso.) sai correndo, quase sem fole go,fôlego,
voltando depois para tornar a observá-la.
PLUFT Pega nos cabelos da menina e sente prazer.)
Oh! PLUFT
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MÃE PLUFT
PLUFT MARIBEL
MÃE PLUFT
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MARIBEL
PLUFT
(Relaxando) Engraçado, de você eu não tenho
medo!... Meu pai era fantasma da Ópera.
PLUFT MARIBEL
MÃE MARIBEL
PLUFT PLUFT
(Gabando-se) Ora mamãe, com gente... (Puxando-a para o baú) Tio Gerúndio dorme
(Aproximando-se mais da menina com ar de aqui dentro. Ele era fantasma de navio. (Os
velha amizade) Com Maribel. dois se sentam no baú.)
MÃE MARIBEL
MARIBEL PLUFT
Mas sua mãe também é fantasma? É. Dum navio fantasma. Ele trabalhava à
beça...
PLUFT
MARIBEL
Claro, ora! (Ofendido) Você queria que ela
fosse peixe? Será que era o navio de meu avô, o Capitão
Bonança Arco-Íris?
MARIBEL
PLUFT
E seu pai?
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É isto mesmo. Ele é meu tio. O fantasma do enxugar os olhinhos dela.
navio de seu avô era meu tio.
PLUFT
MARIBEL
(Sai e torna a voltar) Para pegar o choro dela?
Que coincidência, hem?
MÃE
PLUFT
É. (A mãe fantasma passa a mão na cabeça da
Que coincidência: seu avô e meu tio menina, que se assusta ao vê-la) Ah! Tinha
trabalharem no mesmo navio! (Os dois ficam me esquecido. (Formaliza-se toda para se
rindo por alguns momentos, contentes com a apresentar. Põe na cabeça um chapéu fora de
descoberta mútua. Maribel cutuca o moda) Sou a mãe de Pluft. (cumprimentos)
fantasminha e acha graça de ele ser diferente Aceita um pastel de vento? (Sai)
dela.)
PLUFT
MARIBEL
(Chegando com um pano) Toma para você
(Lembrando-se) Oh! (Vai até a janela) O pegar seu choro.
Perna de Pau vai voltar, meu Deus do Céu. Ele
quer roubar o tesouro do meu avô e vai me (Dona Fantasma volta com uma bandeja
levar para o mar... cheia de pastéis imaginários que oferece ao
mesmo tempo que come.)
PLUFT
MARIBEL
(Imitando a mímica do marinheiro) Navegar...
Muito obrigada, senhora Fantasma, a senhora
Navegar... Navegar... não é? é muito gentil. Mas estou tão nervosa, que
nem posso comer. Tenho medo do marinheiro
MARIBEL Perna de Pau. Ele quer roubar o tesouro do
vovô Bonança e me levar para o mar. E meus
(Começando a chorar) Não... não... não... (Cai amigos, João, Julião e Sebastião, que vinham
sentada à beira da janela.) para me salvar, desapareceram... (Desanda a
chorar.)
PLUFT
(Dona Fantasma, muito comovida, mas
Que lindo! Que lindo! Que lindo!... Mamãe, sempre mastigando, vai saindo meneando a
mamãe... acode aqui... a menina está cabeça, mas é interrompida por Gerúndio.)
derramando o mar todo pelos olhos!...
GERÚNDIO
MÃE
(Levantando a tampa do baú) Pastel! (Senhora
(De dentro) Ela está chorando, meu filho. Fantasma chega até ele e oferece. Gerúndio
faz que tira uns três e torna a entrar no baú,
PLUFT sempre com sono. Senhora Fantasma sai.)
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(Aparecendo só de rosto) Não tem de quê. MARIBEL
MARIBEL MÃE
Não sei. Na certa estão me procurando aí pela (Numa efusão de alegria) Meu Filho!
praia... (Abraçam-se) Se seu pai fosse vivo, ficaria
orgulhoso de você. (Sai rápida.)
PLUFT
PLUFT
Quem sabe, tio Gerúndio pode dar um jeito?
Ele é tão sabido. Vou fingindo de gente. Vem me ajudar,
Maribel. (Põe a cartola e o fraque que estão
MARIBEL pendurados no cabide, ajudado por Maribel.)
PLUFT MARIBEL
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procurar o tesouro. Nunca vi família mais
simpática, muito obrigada... Ah! (Tira a mordaça da menina) Você ainda
está acordada, minha bela? Pois agora
PLUFT podemos procurar a noite toda... Trouxe três
velas... De manhãzinha sairemos para
Vamos, Maribel... Iiiiii! Está me nascendo navegar... navegar... navegar... (Olhando para
urnauma coragem! o encosto da cadeira) Que é isto? O laço
afrouxou? (Deixa o castiçal e começa a
MÃE apertar o laço. Pluft, nas pontas dos pés,
apaga a vela e corre de novo para o seu
(Correndo ao telefone) Zero, zero, zero, zero, lugar; a cena escurece) Oh! O vento apagou a
alô! Prima Bolha querida, imagine que o meu vela. (Tira uma caixa de fósforos do bolso e
Pluft resolveu ir!!! Sim, Sim... Tal pai, tal torna a acender a vela) Vamos começar a
Pluft! Que coragem, busca. (Ilumina uma velha espada que está
bem, prima Bolha? que coragem!... que pendurada na parede) Ah! Cá está a espada
coragem... do Capitão Bonança! Agora é minha. (Pega a
espada, baixa o castiçal e simula uma luta de
(Na disparada entram Pluft e Maribel.) esgrima, depois, satisfeito, coloca a espada na
cintura. Torna a segurar o castiçal e, sempre
PLUFT procurando, dirige-se para o lugar onde está
Pluft [atrás da cortina.J)cortina.])
(Ajoelhando-se aos pés da mãe e agarrando-
se à sua saia) Lá vem ele, mamãe, lá vem MARIBEL
ele... Que medo! que medo! que medo!...
Ai!
MÃE
PERNA DE PAU
(Desiludida) Pluft!...
(Virando-se para ela) Que é? (Pluft aproveita
PLUFT o momento e torna a apagar a vela) Apagou
de novo! O que foi, hem, menina?
Mas ele é enorme, mamãe!
MARIBEL
MARIBEL
(Disfarçando) Estou com medo...
(Pondo a mordaça e sentando-se, na cadeira)
Depressa, para ele não desconfiar... (Pluft e a PERNA DE PAU
mãe ajudam com grande aflição a amarrar a
menina enquanto já se ouve o canto do Perna Medo? Perto do Capitão Perna de Pau?
de Pau.) (Risada) Ah! ah! ah! Foi vento (Acende de
novo) Nem vento pode com o Capitão Perna
PERNA DE PAU de Pau. Pergunta ao mar, se eu tinha medo de
vento. (Lá fora o vento começa a soprar) O
vento é que tem medo de mim. (Ouve-se uma
A menina Maribel... bel... bel... grande trovoada com ventos fortes. É o vento
Tem os olhos cor do céu... céu... céu... protestando. Perna de Pau estremece e corre
E os cabelos cor de mel... mel... mel... para a janela para se desculpar) Eu estava
brincando... eu estava brincando. (O vento
(Pluft e a mãe desaparecem. O marinheiro cessa. Perna de Pau dirige-se ao baú do tio
entra com um castiçal.) Gerúndio) Ah! Aqui está o baú do velho
Bonança. Onde é o lugar de guardar tesouros?
PERNA DE PAU (Demonstrando muita lógica) Lugar de
10
guardar tesouros é baú, ora! (Começa a abrir puxando Maribel.)
o baú, e quando aproxima a vela, Maribel
grita de novo.) PLUFT
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(À platéia) Ele é muito desconfiado. Está de Sebastião.)
dizendo que quem sabe onde está o tesouro é a
prima Bolha. É bem capaz. Prima Bolha JOÃO
trabalha na polícia secretíssima...
(Com o mapa) Uma casa perdida na areia
MÃE branca perto de um mar verde...Deve estar
perto. ..verde... Deve estar perto... Pega a
(Que durante a conversa de Pluft com a luneta, Julião!
platéia ficou conversando com Xisto em
fantasmês) Obrigada, Xisto, vou telefonar já, JULIÃO
já, para prima Bolha. (Corre ao telefone) Zero,
zero, zero, zero. Alô! Quer fazer o favor de Estou vendo um mar calmo com alguma
chamar dona Bolha de Sabão. Alô? Prima espuminha branca...
Bolha, querida, antes de mais nada quero
avisar que amanhã é a reunião das senhoras SEBASTIÃO
fantasmas para incentivar o intercâmbio
cultural entre gente e fantasma. (Barulhos de Então vamos!
bolhas muito agitadas.)
JOÃO
PLUFT
(Desanimado) Já andamos muito... Pobre
(Que está aflitíssimo) Anda, mamãe. Não Maribel! Maribel é a neta...
temos tempo a perder. Deixa de falar difícil e
entra logo no assunto. (Um relógio bate três SEBASTIÃO
horas) Três horas da manhã! Está vendo?
Coitadinha da Maribel... Não agüento mais. Pobre Maribel! Pobre da netinha do grande
Vou sozinho ao mundo salvar minha amiga... capitão Bonança!
(Trepa na janela e fica parado, a olhar,
enquanto a mãe fala rapidamente fantasmês JULIÃO
no telefone. Ouve-se bem longe a canção do
Bonança) Mais gente, mamãe! (Corre pela Precisamos salvar a neta do nosso grande
cena agitado) Os três amigos da Maribel. Só capitão Bonança!
pode ser... Que animação!
MÃE JOÃO
SEBASTIÃO Vivaaaaaaaa!
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JULIÃO PLUFT
JOÃO JOÃO
SEBASTIÃO JULIÃO
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JOÃO
Você está vendo, Sebastião?
(De fora) Uiiiiiii!
SEBASTIÃO
SEBASTIÃO
Estou.
(Chamando) João!
JULIÃO
JOÃO
Estou.
Pronto, Sebastião!...
JOÃO
SEBASTIÃO
Estou.
(Correndo com Julião para a janela, joga uma
OS TRÊS corda e os dois fazem a mímica de puxar
João) Precisamos salvar a neta do nosso
Um fantasma! grande capitão Bonança!
SEBASTIÃO
PLUFT SEBASTIÃO
Uuuuuuu! (Os três dão um berro e saem Viva o grande capitão Bonança!
correndo, cada qual para um lado, sendo que
João desaparece pelo nela;pela janela; Pluft JULIÃO
olha para eles com desprezo e sai com muita
dignidade) Viva o grande capitão Bonança!
PLUFT JOÃO
SEBASTIÃO GERÚNDIO
(Voltando com cautela e olhando para o lugar (Abrindo o baú) Vivooooooo! (Os três, que
onde estava Pluft) Ué! Desapareceu! Era estavam em lugares diferentes, correm e se
sonho mesmo. (Julião também observa o abraçam no meio da cena.)
ambiente e concorda com Sebastião.)
SEBASTIÃO
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Arranjou cada amigo!...
Você ouviu?
PLUFT
JULIÃO
(Observando Julião, que começa a acordar)
Você ouviu? Este também está vindo!. Marinheiro...
Marinheiro...
JOÃO
JULIÃO
(Tremendo e querendo fugir) Ouvi, sim...
Vamos embora! (Esfregando os olhos sem ver Pluft) Hem?
Hem? (Começa a levantar-se, apoiando-se em
SEBASTIÃO Pluft) Precisamos salvar a neta do nosso
amigo o capitão Bonança!
(Segurando-o) Não! Precisamos salvar a neta
do grande capitão Bonança! PLUFT
MÃE SEBASTIÃO
Que gente mais medrosa, meu Deus! Uns Quem está vendo coisas aí? Oh! Acho que
homens deste tamanho com medo de um bebemos demais...
fantasminha. No meu tempo de teatro conheci
muita gente mais corajosa do que estes aí... (A JULIÃO
senhora Fantasma atravessa o palco pulando
os desmaiados) Coitadinha da Maribel. Esta casa é mal assombrada...
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sem fala, tenta avisar Sebastião por meio de
SEBASTIÃO gestos e de urros, apontando freneticamente
para o baú.)
Mas foi aqui que o capitão Bonança escondeu
o tesouro... Precisamos salvar Maribel... - SEBASTIÃO
Vamos esperar o Perna de Pau.
O que é que há com você, homem? Perdeu a
JULIÃO voz? Está sem fala. (Sacode Julião) No baú?
Nunca vi homem mais medroso do que você.
(Continua a procurar) Juro que vi. Eu sim é que sou um bocado corajoso e...
(Abre o baú.)
SEBASTIÃO
GERÚNDIO
De novo?
(Tornando a se levantar) Parem de me
JULIÃO amolar!
JULIÃO
SEBASTIÃO Uiiiiiii!
Claro, Julião; ele era o nosso capitão! (Os três, sem fala, saem correndo, procurando
gritar.)
(Julião dá mostras de que está sentindo
qualquer coisa no baú. O baú começa a se OS TRÊS
mexer.)
Socorro! Socorro! Socorro!
JULIÃO
PLUFT
Ui... Ui... Ui... (Levantando-se) O que é que
há neste baú? (O baú se abre e aparece (Entrando com a mãe) Eles me chamaram de
Gerúndio.) monstrinho, mamãe...
GERÚNDIO MÃE
(Muito calmo) Quer fazer o favor de não se Está aí uma coisa que não admito...
sentar em cima de mim? (Torna a abaixar a Confundir-nos com monstrinhos... Há que
tampa com dignidade. Julião, completamente salvar a dignidade da família. Onde estão eles?
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GERÚNDIO
PLUFT
(Levantando-se) Pastel?! (Desanima e volta a
(Da janela) Foram-se embora. E agora, dormir bocejando.)
mamãe, quem vai salvar a Maribel?
PLUFT
MÃE
Nem pastel adianta mais, meu Deus! Quem
(Andando de um lado para o outro, muito sabe falando na noiva dele? Titio, quem lhe
aflita) Temos que dar um jeito... temos que pede para ajudar a menina é a sua noiva, a
dar um jeito. (Pára e tem urnauma idéia) Vou senhorita Naftalina Vaporosa.
telefonar de novo para a prima Bolha!
(Gerúndio fica de pé, põe a mão no coração,
sorri, mas o sono é mais forte e ele torna a
PLUFT deitar.)
MÃE PLUFT
(No telefone) Bolha querida, sou eu de novo... Tio Gerundinho, será que o seu coração, que
O quê? Sim... Sim... Está bem, então eu fico era tão bom, já está virando teia de aranha?
encarregada dos pastéis de vento?... sei... sei... Tio Gerúndio, estamos querendo salvar a neta
e dos suspiros?... Música? Ah! Eu adoro do seu amigo, o Capitão Bonança Arco-Íris!
música, querida; que ótimo! No tempo do
finado, sabe, fazíamos sempre muito quarteto, GERÚNDIO
muito quinteto, muito sexteto, muito oiteto...
ah! Quem vai cantar é a Aerofagia?!... (Ao ouvir o nome do Capitão Bonança,
Gerúndio dá um salto, saindo do baú) Quem
PLUFT falou no meu amigo, o Capitão Bonança?
MÃE (Animadíssimo)
Ah! Bolha querida, é para te pedir de novo o O Capitão Perna de Pau quer roubar o tesouro
favor de dizer onde é... alô?! Cortaram a dele.
ligação... Alô? Oh! meu Deus! Precisamos
fazer alguma coisa. (Pausa) Acho que vou GERÚNDIO
fazer pastéis! (Sai.)
Bandido!
PLUFT
PLUFT
Só o tio Gerúndio pode salvar a menina! (Abre
o baú) Tio Gerúndio, se você ajudar a salvar a (No meio da maior aflição, muito contente) O
menina, mamãe disse que faz para você mil perna de Pau vai levar a neta Maribel do
pastéis de vento! Capitão Bonança para o mar... navegar,
navegar, navegar e casar com ela. Ela chorou
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muito e não quer ir não, mas o tesouro está GERÚNDIO
aqui e ele vem aí agora...
(Levantando-se atraído pelos pastéis) Vento
GERÚNDIO sudoeste (prova um) bem salgadinhos.
Deliciosos! (Ouve-se de novo a clarinada) O
Quem vem aí? batalhão me espera! (Gerúndio vai até a
janela mas ainda volta duas vezes para comer
PLUFT mais pastéis. Depois sai pela janela.)
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Pau descobre o tesouro) Lá está ele! lá está
ele! É meu tesouro... (Tira o cofre com muito A chave. Preciso encontrar a chave...
cuidado, acaricia-o, ninando-o como se fosse (Continua sem ver os marinheiros e
uma criancinha: dorme neném... Coloca-o desaparece de gatinhas.)
sobre um banquinho e tenta abri-lo) A chave!
Deve estar por aqui... (Começa a procurar, vai OS TRÊS
ao baú e descobre uma chave) Achei... achei a
chavinha do meu tesourinho! Era uma vez um (Recuperando do susto) O marinheiro Perna
marinheiro que recebeu um tesouro... (Tenta de Pau!
abrir o cofre com a chave e não consegue)
Não é esta!... Quem viu a chave do cofre?
Quem viu? (Perna de Pau procura a chave de PERNA DE PAU
gatinhas pela cena) Meu tesourinho, espera
um minutinho, sim? Venho já te libertar deste (Voltando) Pelo amor de Deus! Procurem a
cofre. Onde está a chave? Onde está a cha- chave...
ve?... (De gatinhas ele sai de cena sempre
dizendo “Onde está a chave?”) OS TRÊS
PLUFT A chave?!
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É o tio Gerúndio com os marinheiros- GERÚNDIO
fantasmas! (Os quatro começam a tremer. O
Perna de Pau desmaia, enquanto caem do teto O dinheiro está no fundo do mar... Pode ir
vários fantasmas- marionetes fazendo grande buscá-lo, Perna de Pau. (Gerúndio apita.
barulho e confusão em cena. Os três, Ouve-se o toque da corneta) Os fantasmas do
cambaleando, vão desmaiando uns por cima mar vão levá-lo ao tesouro que está enterrado
dos outros. No meio da confusão, Pluft, no fundo do mar... (Os fantasmas tornam a
Maribel, senhora Fantasma e Gerúndio dão descer.)
as mãos aos fantasmas do mar e cantam em
roda: “Eu fui no Tororó beber água não PERNA DE PAU
achei”.)
Não! Não! Não! Fantasmas não!... Fantasmas
não!... (Empurrado pelos fantasmas, Perna de
GERÚNDIO Pau recua até a janela e desaparece. Os
fantasmas se recolhem.)
(Apitando) Fantasmas ao mar!... (Ouve-se o MÃE
tambor e a corneta e os marinheiros-
fantasmas do mar sobem.) (Surgindo com uma bandeja) Esperem!
Esperem! Pastel de vento para todos! Pastel!
GERÚNDIO (Também desaparece pela janela enquanto
ainda se ouve sua voz gritando: Pastel!... Pluft
(Dirigindo-se ao Perna de Pau, que começa a e Maribel olham pela janela. Gerúndio boceja
levantar) Levanta, seu medroso! e volta ao seu baú. No proscênio começam a
despertar os três marinheiros.)
PERNA DE PAU
JOÃO
O fantasma do navio do Capitão Bonança!...
Eu só queria a chave do cofre... (quase Maribel!
chorando.)
MARIBEL
PLUFT
João! (Os dois se abraçam no meio da cena.
A chave está aqui, titio. João torna a recuar e Maribel vê Julião)
Julião!
GERÚNDIO
JULIÃO
Abra o cofre, Pluft.
Maribel! (Julião se afasta, Maribel vê
(Pluft abre o cofre, enquanto Perna de Pau se Sebastião.)
precipita, arreda Pluft e tira do cofre um
retrato, um papel e um rosário.) MARIBEL
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PLUFT
Ei!!
OS TRÊS
(Medrosos) Ei!
PLUFT
(Depois de uma pausa) Viva gente!
MARIBEL
Viva fantasma!
PLUFT
Viva gente!
TODOS
PLUFT
GERÚNDIO
TODOS
FIM
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