Apostila Completa Gravura
Apostila Completa Gravura
Apostila Completa Gravura
INTRODUÇÃO
Prezado aluno,
Bons estudos!
GRAVURA – HISTÓRIA, TÉCNICAS E RELAÇÕES COM A IMPRESSÃO DE
PAPEL MOEDA
1
Gravura é a denominação genérica das técnicas que permitem obter imagens (impressões) por
meio de matrizes.
2
Nas sociedades “primitivas”, os totens eram representados por plantas, imagens, pelos, penas
ou demais objetos que fossem associados a animais com os quais algumas dessas sociedades
se identificassem, transformando-os em objeto de adoração. N. da A..
3
EICHENBERG, Fritz. The Art of the Print – Masterpieces, History and Techniques. Harry N.
Abrams, Inc. Publishers, New York. 1976. p. 20.
4
EICHENBERG, Fritz. The Art of the Print – Masterpieces, History and Techniques. Harry N.
Abrams, Inc. Publishers, New York. 1976. p. 21.
5 HIBBARD, Howard. The Metropolitan Museum of Art. Harrison House, New York, USA. 1980. p.
54.
6
Os selos eram usados como assinaturas antes da invenção da escrita e continuaram, a partir
de então, apenas como assinaturas. Ibid.. p. 53.
7
EICHENBERG, Fritz. The Art of the Print – Masterpieces, History and Techniques. Harry N.
Abrams, Inc. Publishers, New York. 1976. p. 27.
8
EICHENBERG, Fritz. The Art of the Print – Masterpieces, History and Techniques. Harry N.
Abrams, Inc. Publishers, New York. 1976. p. 29.
9
EICHENBERG, Fritz. The Art of the Print – Masterpieces, History and Techniques. Harry N.
Abrams, Inc. Publishers, New York. 1976. p. 34.
10
Ibid. p. 29.
Figura 7 – Buda Sentado, da Gruta dos Mil Budas, Tun-huang, xilogravura, Sc. VII,
9 ¼ x 13". Collection Spencer, New York Public Library, Astor, Lenox e Tilden
Foundation11.
11
EICHENBERG, Fritz. The Art of the Print – Masterpieces, History and Techniques. Harry N.
Abrams, Inc. Publishers, New York. 1976. p. 35.
12
PETIT, Gaston e ARBORELA, Amadio. Evolving Techniques in Japanese Woodblock
Printing. Kodansha International Ltd. Tokyo, New York e San Francisco.1977. p. 11.
13
BUNKO, Seikadõ. 100 Seikado Masterpieces. The Mitsubishi Corporation, Dentsu
Incorporated e Benrido Co., Ltda.1984. p. 41.
14
Cada uma das duas preces do cânon da missa. (Memento dos Vivos e Memento dos Mortos).
TREVISAN, Rosana (coordenadora). Dicionário Michaelis – Moderno Dicionário da Língua
Portuguesa. Editora Melhoramentos, S. Paulo. p. 1352.
Para tanto, elas eram impressas juntamente com os tipos móveis. Logo após sua
introdução, além de motivos religiosos e aqueles usados nas cartas de baralho, as
xilogravuras eram utilizadas para a criação de estampas e ilustração de livros. Sua
introdução ocorreu na Alemanha, mas logo depois ela se espalhou pela França,
Itália e Holanda. Esses exemplares, na maioria das vezes, eram repletos de
detalhes, cortados na madeira com goivas e facas de diversos formatos. Os
alemães eram exímios nesta técnica, como também o foram os italianos15.
Aos poucos, as imagens foram se tornando cada vez mais sofisticadas e os
ilustradores e artistas passaram a acrescentar grande variedade de traços,
sombreados e texturas.
Diversos movimentos artísticos a partir de então tiveram representantes que
praticaram a xilogravura, sendo importante destacar o pintor, desenhista e gravador
alemão Albert Dürer. As primeiras xilogravuras européias apresentavam conteúdos
mais direcionados à ilustração, mas no Renascimento foram notáveis algumas
obras artísticas criadas a partir dessa técnica.
Mais tarde, os artistas ligados ao Impressionismo foram muito influenciados pelas
estampas produzidas no Japão, depois que tiveram contato com as criações dos
artistas gravadores japoneses, por intermédio de uma exposição apresentada na
Europa no Sc. XIX.
Os artistas ligados ao Movimento Expressionista, já no Sc. XX, usaram a
xilogravura para expressar sua arte, em virtude das possibilidades oferecidas pela
técnica, que permite criar imagens em que a dramaticidade e a expressão gráfica
podem se fazer presentes. Os artistas de vários países continuam a praticar a
xilogravura, bem como as demais técnicas de gravura, apesar das dificuldades que
as técnicas apresentam e mesmo depois da introdução e circulação crescente das
imagens digitais e do ferramental tecnológico hoje disponível.
Algumas imagens colocadas a seguir permitem constatar o uso disseminado da
xilogravura nos séculos que sucederam sua introdução na Europa. As duas
primeiras são xilogravuras de artistas desconhecidos, enquanto a segunda é um
15
BUCKLAND-WRIGHT, John. Etching and Engraving – Techniques and the Modern Trend.
DOVER Publications, Inc. New York. 1973. p. 172.
16
BUCKLAND-WRIGHT, John. Etching and Engraving – Techniques and the Modern Trend.
DOVER Publications, Inc. New York. 1973. p. 177.
17
Figura 10 – Albert Dürer, Apocalipse XVI, xilogravura, 15 x 10 ¾ “ .
17
BUCKLAND-WRIGHT, John. Etching and Engraving – Techniques and the Modern Trend.
DOVER Publications, Inc. New York. 1973. p. 178.
18
EICHENBERG, Fritz. The Art of the Print – Masterpieces, History and Techniques. Harry N.
Abrams, Inc. Publishers, New York. 1976. p. 118.
18
EICHENBERG, Fritz. The Art of the Print – Masterpieces, History and Techniques. Harry N.
Abrams, Inc. Publishers, New York. 1976. p. 118.
19
Xilogravura de Cordel de autoria de Stênio, encontrada na Internet. N. da A.
Maria Bonomi nasceu na Itália em 1935, vindo para o Brasil ainda jovem. Ela fez
estudos no Ateliê de Gravura do MAM (Museu de Are Moderna do Rio de Janeiro) e
montou, juntamente com Lívio Abramo, o Estúdio de Gravura em São Paulo, em
1960. Ela inaugurou um novo estilo na xilogravura brasileira, utilizando
A Xilogravura – Técnicas
Existem duas formas básicas de preparar matrizes para impressões em
xilogravura22. Uma delas é pela utilização da madeira cortada no sentido
longitudinal em relação ao tronco, ou seja, na direção de seu comprimento. A outra
forma é por meio de cortes e incisões sobre fatias da madeira, ou seja,
23
MARTINS, Itajahy, Gravura – Arte e Técnica.Fundação Nestlé da Cultura e Laserprint
Editorial, S. Paulo. 1987.p. 37.
24
MARTINS, Itajahy. Gravura – Arte e Técnica.Fundação Nestlé da Cultura e Laserprint
Editorial, S. Paulo. 1987. p. 39.
Figura 17 – Cortes com buril sobre madeira de topo. Henri Thitiat, Retrato de M.
25
Victorien Sardou .
25
PETIT, Gaston. Evolving Techniques in Japanese Woodblock Prints. Kodansha, International
Ltda. Tóquio. 1977. p. 59 e MARTINS, Itajahy. Gravura – Arte e Técnica.Fundação Nestlé da
Cultura e Laserprint Editorial, S. Paulo. 1987. p . 63.
26
PETIT, Gaston. Evolving Techniques in Japanese Woodblock Prints. Kodansha, International
Ltda. Tóquio. 1977. p. 59, 60 e 61.
27
PETIT, Gaston. Evolving Techniques in Japanese Woodblock Prints. Kodansha, International
Ltda. Tóquio. 1977.Ibid. p. 26 e 27.
28
MONESTIER, Martin. L’Art du Papier Monnaie. Editions Point Neuf Paris. 1982. p. 18
29
Ibid.
30
EINCHENBERG, Fritz. The Art of the Print – Masterpieces, History and Techniques. Harry N.
Abrams, Inc. Publishers, New York. 1976. p. 180.
31
SHESTACK, Alan. Fifteenth Century Engravings of Northern Europe From the National Gallery
of Art, Washington D. C.. National Gallery of Art, Washington D. C. , 1967/1968. p. 1
32
SHESTACK, Alan. Fifteenth Century Engravings of Northern Europe From the National
Gallery of Art, Washington D. C.. National Gallery of Art, Washington D. C. p. 263.
33
MARTINS, Itajahy. Gravura – Arte e Técnica.Fundação Nestlé da Cultura e Laserprint
Editorial, S. Paulo. 1987. p. 102.
34
GROSS, Anthony. Engraving, & Intaglio Printing. London Oxford University Press, New York,
1970. p 31.
35
GROSS, Anthony. Engraving, & Intaglio Printing. London Oxford University Press, New York,
1970. p. 32.
36
GROSS, Anthony. Engraving, & Intaglio Printing. London Oxford University Press, New York,
1970. p. 38.
Nos processos de gravação em metal, a primeira tarefa que deve ser levada a
efeito é a limpeza da chapa, removendo oxidações e demais imperfeições da
mesma. As ferramentas devem estar perfeitamente polidas e com bom corte. Pode-
se fazer o esboço do desenho a ser gravado com papel carbono ou por outro
método qualquer. Depois de feita a incisão na peça, a rebarba deixada por cada
traço deve ser removida. Para isso se usa um raspador. Quando toda a gravação
está completa, a chapa pode ser entintada e impressa. As imagens abaixo
apresentam o preparo do buril e a gravação de uma chapa de metal por meio desse
instrumento.
37
MONESTIER, Martin. L’Art du Papier Monnaie. Editions Point Neuf Paris. 1982. p. 29.
Uma outra técnica bastante usada para gravações em placas de metal é a água-
forte, que consiste na aplicação de uma cera sobre a chapa, na qual são feitos
traços ou desenhos, removendo-se partes da película aplicada por meio de
agulhas. Depois disso, a peça é imersa em uma vasilha contendo água e ácido
(geralmente ácido nítrico), que se encarrega de gravar ou corroer a chapa. Na
medida em que os traços são devidamente gravados, o artista repõe a cera,
38
GROSS, Anthony. Etching, Engraving, & Intaglio Printing. London Oxford University Press,
New York, 1970. p. 46 e 47.
Figura 27- Etapas para a gravação de uma chapa de metal pelo processo
conhecido como água-forte39.
39
MARTINS, Itajahy. Gravura – Arte e Técnica.Fundação Nestlé da Cultura e Laserprint
Editorial, S. Paulo. 1987. p. 104.
40
EICHENBERG, Fritz.. The Art of the Print – Masterpieces, History and Techniques. Harry N.
Abrams, Inc. Publishers, New York. 1976. p. 200.
41
GROSS, Anthony. Etching, Engraving, & Intaglio Printing. London Oxford University Press,
New York, 1970. p. 85 e 86 e 87.
42
GROSS, Anthony. Etching, Engraving, & Intaglio Printing. London Oxford University Press,
New York, 1970. p. 63.
43
MARTINS, Itajahy. Gravura – Arte e Técnica.Fundação Nestlé da Cultura e Laserprint
Editorial, S. Paulo. 1987.p. 129 e 131.
44
MARTINS, Itajahy. Gravura – Arte e Técnica.Fundação Nestlé da Cultura e Laserprint
Editorial, S. Paulo. 1987. p. 133.
44
MARTINS, Itajahy. Gravura – Arte e Técnica.Fundação Nestlé da Cultura e Laserprint
Editorial, S. Paulo. 1987. p. 133.
45
MARTINS Itajahy. Gravura – Arte e Técnica.Fundação Nestlé da Cultura e Laserprint Editorial,
S. Paulo. 1987. p. 185.
46
BOZANO, SIMONSEN Vol. 1. SPALA Editora Ltda., Rio de Janeiro, RJ, 1981. p. 95.
Marcello Grassmann foi um dos expoentes da gravura no Brasil. Criou várias obras
nas técnicas de água-forte e água tinta. Ele utilizou com maestria os contrastes
entre claro e escuro, muitas texturas e áreas de zonas de preto “aveludadas”. O
artista nasceu em São Simão, S. Paulo, em 1925 e é um dos artistas mais
expressivos no panorama da arte brasileira como desenhista e gravador 47.
47
http://br.news.yahoo.com/02/0607/11/6ho4.html/.
Figura 36 – Marcello Grasmann, sem título, água forte e água tinta. Coleção Acervo
do Banco do Brasil 48.
O artista brasileiro Adelmir Martins trabalhou com gravuras, desenho e pintura . Ele
nasceu no Ceará, em 1922 e ligou-se à Sociedade Cearense de Artes Plásticas.
Adelmir Martins participou de exposições em São Paulo e no Rio de
48
Banco do Brasil – Relatório Anual 1972. p. 15.
O artista Maciej Babinsiki nasceu na Polônia, em 1931, e teve sua formação como
artista no Canadá. Ele conheceu o gravador Osvaldo Goeldi no Rio de Janeiro, de
quem se tornou amigo. Ele é ligado ao Expressionismo como o era Osvaldo Goeldi
e além de intensa atividade como gravador, expressa sua arte por meio da pintura.
Ele foi professor do Departamento de Artes Visuais da UnB e atualmente vive na
cidade de Crato, no Ceará. A imagem seguinte mostra uma das obras de Babinski
em gravura em metal, sendo possível apreciar o uso da água-forte e água-tinta.
Note-se as variadas tonalidades de cinza, obtidas pelas diversas imersões da
chapa em ácido e água, além das linhas, obtidas por meio de riscos
49
GASPARINI FILHO, Ítalo Sydney (Coordenador). Mvbcb – Museu de Valores do Banco
Central do Brasil. Banco Safra Editora Melhoramentos – São Paulo, S. Paulo.1988. p. 136.
50
Iconografia de Valores Impressos no Brasil. Banco Central do Brasil. 1979. p. 278.
51
Ibid. 282.
Não foram encontradas informações sobre o modo como foi impresso, mas eles
eram numerados e a presença de desenhos e estampa decorativa permitem supor
que foi utilizada a gravura em metal.
Havia naquela época, no Brasil, a emissão exagerada de moedas de cobre. Assim,
para minimizar os problemas decorrentes disso, começaram a circular as
52
GASPARINI FILHO, Ítalo Sydney (Coordenador). Mvbcb – Museu de Valores do Banco
Central do Brasil. Banco Safra Editora Melhoramentos – São Paulo, S. Paulo.1988. p. 162.
53
GASPARINI FILHO, Ítalo Sydney (Coordenador). Mvbcb – Museu de Valores do Banco
Central do Brasil. Banco Safra Editora Melhoramentos – São Paulo, S. Paulo.1988. p. 186.
As imagens seguintes representam uma nota de 500 mil réis impressa em gravura
em metal, em que se vê uma paisagem panorâmica do Rio Antigo. Depois aparece
um detalhe da mesma nota, em que se pode observar os mínimos traços usados na
gravação para dar maior segurança às notas. Note-se a presença da marca d’água
na frente e no verso da nota.
Até os dias atuais são utilizados processos de gravura em metal para a impressão
de papel moeda. No Brasil, uma vez escolhidos os temas e desenhos a serem
executados nas notas, estes são gravados pelos burilistas. A seguir, a placa de
metal é enviada para a seção de Galvanoplastia da Casa da Moeda (as notas e
moedas brasileiras são inteiramente fabricadas no Brasil). As linhas raiadas a buril
são transpostas para placas de PVC e transformadas em relevo, utilizando-se
prensas hidráulicas para este fim. Pulveriza-se sobre o PVC uma substância
condutora de corrente, formando-se o alto-relevo. Outros processos são aplicados
na seção de galvanização, de modo que se obtenha uma contra-matriz em baixo
54
GASPARINI FILHO, Ítalo Sydney (Coordenador). Mvbcb – Museu de Valores do Banco
Central do Brasil. Banco Safra Editora Melhoramentos – São Paulo, S. Paulo.1988. p. 224/225,
Emulsões sensíveis à luz são aplicadas sobre chapas de metal para que possam
ser gravadas depois de serem expostas à luz com os fotolitos criados para
reproduzir imagens fotográficas, tais como retratos, paisagens, detalhes da flora,
fauna e outros. A esse processo dá-se o nome de clicheria. É importante
acrescentar que essas emulsões podem também ser aplicadas à litografia, à
55
MONESTIER, Martin. L’Art du Papier Monnaie. Editions Point Neuf Paris. 1982. p. 29.
56
MONESTIER, Martin. L’Art du Papier Monnaie. Editions Point Neuf Paris. 1982. p. 31.
Por outro lado, todo o processo de fabricação de notas tem se tornado cada vez
mais elaborado e maior número de máquinas cada vez mais precisas tem sido
incorporado aos processos de gravação e impressão de papel moeda. No entanto,
procedimentos manuais ligados à gravura em metal convivem com tais avanços.
57
MONESTIER, Martin. L’Art du Papier Monnaie. Editions Point Neuf Paris, 1982. p. 70.
57
MONESTIER, Martin. L’Art du Papier Monnaie. Editions Point Neuf Paris, 1982. p. 70.
58
KNIGIN, Michael e ZMILES, Murray. The Contemporary Lithographic Workshop Around the World.
Van Nostrand Reinhold Company. New York, Toronto, London, Melbourne. p. 189.
59
DAWSON, John (editor), Guia Completo del Grabado. H. Blume Ediociones1982. p. 107.
60
KNIGIN, Michael e ZMILES, Murray. The Contemporary Lithographic Workshop Around the World.
Van Nostrand Reinhold Company. New York, Toronto, London, Melbourne, 1974. p.49.
61 DAWSON, John (editor), Guia Completo del Grabado. H. Blume Ediociones1982. p. 111 e 113.
62
DAWSON, John (editor), Guia Completo del Grabado. H. Blume Ediociones1982. p.108
63
Ibid. p. 114 e 115.
64
KNIGIN, Michael e ZMILES, Murray. The Contemporary Lithographic Workshop Around the World.
Van Nostrand Reinhold Company. New York, Toronto, London, Melbourne, 1974. p.147.
65
MARTINS, Itajahy. Gravura – Arte e Técnica.Fundação Nestlé da Cultura e Laserprint
Editorial, S. Paulo. 1987. p. 186.
66
Ibid. p. 154.
67
MORAIS, Frederico. Da Coleção – os caminhos da arte brasileira. Júlio Bogoricin Imóveis e
Raízes Editora ltda. S. Paulo,. 1986. p.133.
68
MONESTIER, Martin. L’Art du Papier Monnaie. Editions Point Neuf Paris. 1982. p. 34, 35,
36, 37, 38, 39 e 41.
Figura 57 – Laurence Heller, Dadles lo Suyo, 1944. Imagem produzida para uma
unidade militar69.
69
DAWSON, John (editor). Guia Completo del Grabado. H. Blume Ediociones 1982. p.123.
Diversos artistas têm utilizado a serigrafia para expressar sua arte e é importante
acrescentar que, como nos demais tipos de gravura, cada cor necessita de uma
impressão, quando todos os passos e etapas descritos são repetidos ou
modificados, de acordo com a imagem e a cor a serem acrescentadas, até que se
70 DAWSON, John (editor). Guia Completo del Grabado. H. Blume Ediociones 1982. p.122, 134 e
135.
A Serigrafia no Brasil
No Brasil, a serigrafia teve como tem, até os dias atuais, diversos usos nas
impressões comerciais. No entanto demorou um pouco até que fosse utilizada em
grande escala por artistas e impressores dedicados à impressão de obras de arte.
Muitas vezes essas impressões eram e são encomendadas por firmas comercias
de grande porte para imprimir gravuras de artistas de renome nacional e dá-las de
presente a seus clientes durante as festas de fim de ano. Firmas menores, por
outro lado, contratam serviços de impressores para a reprodução de brindes dos
mais diversos portes e naturezas.
O Banco Central possui em seu acervo algumas serigrafias de artistas brasileiros,
dentre as quais se destaca uma coleção de imagens do artista Cícero Dias. A
imagem seguinte é uma reprodução de uma das criações do artista. Ele nasceu
em Pernambuco em 1907, falecendo em Paris em janeiro do corrente ano (2003).
Ainda jovem foi para o Rio de Janeiro onde se formou na Escola de Belas Artes.
Cícero Dias manteve estreito contato com os artistas modernistas do Rio e de São
Paulo e passou por vários movimentos artísticos, tendo iniciado sua carreira de
pintor com obras figurativas, passando, depois, pelo Surrealismo e pelo
Abstracionismo. Ele esteve em Paris durante a maior parte de sua vida, tendo
residência fixa naquela cidade, mas jamais deixou de se ater à suas raízes
brasileiras. Em Paris participou de grupos de artistas abstratos, tendo mantido
estreito relacionamento de amizade com Picasso. O artista teve uma vida intensa,
realizando muitas exposições e criando uma arte muito expressiva não só em
termos de qualidade, com também em relação ao número de obras produzidas. A
imagem seguinte é uma serigrafia de sua autoria, enfocado um de seus temas
favoritos que foi a mulher.
Bibliografia
BERESINER, Yasha. A Collector’s Guide to Paper Money. André Deutsch Limited,
Great Britain, 1977.
BOZANO, SIMONSEN Vol. 1. SPALA Editora Ltda., Rio de Janeiro, RJ, 1981.
BUCKLAND-WRIGHT, John. Etching and Engraving – Techniques and the Modern
Trend. DOVER Publications, Inc. New York. 1973.
BUNKO, Seikadõ. 100 Seikadõ Masterpieces. The Mitsubishi Corporation, Dentsu
Incorporated e Benrido Co., Ltda.1984.
DAWSON, John (editor), Guia Completo del Grabado. H. Blume Ediociones, 1982.
EICHENBERG, Fritz. The Art of the Print – Masterpieces, History and Techniques.
Harry N. Abrams, Inc. Publishers, New York. 1976.
ATIVIDADE
Andy Warhol, (1928-1987) foi um pintor e cineasta norte-americano, um importante artista da Pop
Art, lembrado por suas pinturas nas latas de sopa Campbell e, principalmente, pela sequência de
retratos de Marilyn Monroe, ambas realizadas em serigrafia.
OBS: Para redigir sua resposta, use uma linguagem acadêmica. Faça um texto com
no mínimo 20 linhas e máximo 25 linhas. Lembre-se de não escrever em primeira
pessoa do singular, não usar gírias, usar as normas da ABNT: texto com fonte tamanho
12, fonte arial ou times, espaçamento 1,5 entre linhas, texto justificado.
Pesquisa
AUTOESTUDO
Assista ao vídeo e descreva como realizar a impressão da mesma maneira que Andy Warhol
fazia.
N
GRAVURA
AULA 8
Do mercado ao
museu: a
legitimação
artística da
gravura popular
Abertura
Olá!
Se todas as categorias de arte passam por variados processos de legitimação, existe uma em
particular, onde a questão da legitimidade é fundamental, por ser determinante de sua própria
existência: a arte popular, que só existe realmente, como categoria artística, a partir do
momento em que é reconhecida pelas instâncias oficiais. Acompanhe esta aula e saiba mais
sobre esse assunto.
BONS ESTUDOS!
Referencial Teórico
Convidamos você a fazer a leitura do texto selecionado como base teórica para esta aula e, ao
final de seu estudo, você será capaz de:
Conhecer a história da gravura popular.
Entender a trajetória histórica da gravura popular.
Refletir sobre a importância da gravura popular na história da arte.
BOA LEITURA!
Do mercado ao museu: a legitimação
artística da gravura popular
Everardo Ramos
Resumo
Palavras-chave:
Arte popular, gravura popular,
folheto de cordel
Keywords:
popular art, popular
engraving, cordel booklet
40 VISUALIDADES
Recentemente, uma pesquisa de grande extensão trouxe à tona um
tema muitas vezes esquecido pela História da Arte: o da legitimação
artística. Partindo de perguntas como “o que legitima um artista?” ou
“como se dá e o que representa essa legitimação?”, Clarissa Diniz
mostrou de que maneira se formam espaços específicamente “ar-
tísticos” no vasto campo do conhecimento e do fazer humanos, a
partir de variados processos que vão da autolegitimação à legitima-
ção por diferentes instâncias (instituições, mercado, especialistas,
mídia, público, ensino)¹. Revela, portanto, que o conceito de “arte”,
pelo menos no contexto contemporâneo, é tão dependente da idéia
de transcendência das obras e dos artistas, quanto de complexas
relações de ordem social, cultural, política e econômica.
42 VISUALIDADES
na Grande, e João José da Silva, em Recife. Ambos também vendem
suas xilogravuras, apesar destas ainda serem utilizadas nas reedi-ções
dos folhetos. Vale ressaltar que essa transação contrasta muito com a
atitude dos intelectuais de Recife, que sempre tiveram o cui-dado de
devolver as matrizes tomadas de empréstimo aos editores populares,
depois de utilizá-las em suas próprias ações, como tinha feito Théo
Brandão em Maceió. Em uma carta ao organizador da exposição de
Neuchâtel, por exemplo, Abelardo Rodrigues sugere que seja feita
uma plaqueta ilustrada com as obras enviadas de Reci-fe, mas
acrescenta: “Pediria, apenas, a devolução das matrizes, logo após a
impressão, pois os folhetos populares ilustrados por aquelas
xilogravuras ainda estão em franca circulação, sendo frequentes as
pequenas reedições”5. Assim, quando a Universidade do Ceará com-
pra as matrizes dos editores populares, retirando-as de seu meio na-
tural, são bastante criticados pelos intelectuais recifenses 6.
Figura 01
Cartaz da exposição Gravures
populaires brésiliennes, Biblio-
thèque Nationale, Paris, 1961,
50 x 32,5 cm (Col. Museu de
Arte da Universidade do
Ceará, Fortaleza).
Figura 02.
Cartaz da exposição Grabados
populares brasileños, Palacio de
la Virreina, Barcelona, 1962, 49 x
34,5 cm (Col. Museu de Arte da
Universidade do Ceará,
Fortaleza).
Europa e em Minneapolis, nos Estados Unidos, entre 1961 e 1962, em 6. Informação de Lívio Xavier
instituições tão prestigiosas quanto a Bibliothèque Nationale de Paris, Júnior, um dos funcionários da
Universidade do Ceará envol-
o Palacio de la Virreina de Barcelona (Figura 01 e 02), o Museu de Arte vidos na questão, em entrevista
Contemporáneo de Madri e o Kunstmuseum realizada em 2000.
44 VISUALIDADES
cordel da primeira metade do século XX, suas origens se encon-
tram em outros tipos de impressos, bem mais antigos. De fato,
como pudemos demonstrar em outros estudos, essa gravura
surge nos jornais e nas revistas do século XIX, onde já apresen-ta
muitas características das futuras ilustrações de cordel, seja em
termos de técnicas, de formas ou de princípios de criação.
Quando os artistas e intelectuais “descobrem” as imagens dos
folhetos, acreditam, porém, que estão diante de algo completa-
mente novo, esquecendo de explorar com mais cuidado o que
poderia ser anterior. Na verdade, para se compreender verda-
deiramente a gravura popular, é preciso inseri-la na vasta e com-
plexa história das ilustrações de impressos de grande circulação,
que começa com os primórdios da imprensa brasileira, na pri-
meira metade do século XIX 9.
46 VISUALIDADES
péssimas reproduções de fotos tiradas de revistas de cinema,
ou de oleogravuras sulpicianas (MACHADO, 1960 p.6).
48 VISUALIDADES
Figura 08 - Xilogravura de João Pereira da Silva para folheto religioso não identificado,
8,5 x 6,8 cm (col. Geová Sobreira, Brasília).
uma rubri-ca, tal como o gravador João Pereira da Silva.12 Nordeste (1960), s. p.
Figura 09
Folheto de cordel com zincogravu-
ra (fotografia): As grandes aventu-
ras de Armando e Rosa conhecidos
por “Côco Verde” e “Melancia”,
Juazeiro do Norte, Filhas de J.
Bernardo da Silva, 1976, c. 15 x 11
cm (col. Idelette Muzart, Paris).
Figura 10
Xilogravura de Mestre Noza
realizada para folheto de amor não
identificado, 9 x 7 cm (col. Geová
Sobreira, Brasília).
50 VISUALIDADES
luxo: esta publicação teria uma enorme repercussão, marcando
uma nova fase na história da gravura popular e na vida de Mestre
Noza, que subitamente se torna famoso no Brasil e no exterior.
Para João Pereira da Silva, no entanto, a situação é exatamente
contrária. Sem produzir novas obras, ele fica de fora do movi-
mento de renovação da xilogravura do Ceará, caindo pouco a
pouco no esquecimento. Não raro, inclusive, seu papel de pio-
neiro da gravura de cordel em Juazeiro do Norte é omitido, em
favor justamente de Mestre Noza13. Assim, enquanto este rece-be
inúmeras homenagens em vida e mesmo depois de morto 14, João
Pereira da Silva vive seus últimos anos, e morre, no maior e mais
injusto dos silêncios.
Duas correntes ideológicas se destacam, então. A primeira é a 13. Liêdo Maranhão de Souza, no-
tadamente, em sua obra pioneira
eru-dição de tipo folclórico, que vive seus momentos de glória no sobre as ilustrações de cordel,
país, com a constituição de um verdadeiro movimento indica Mestre Noza como o mais
organizado, muito vasto e ativo do final dos anos 1940 ao início antigo xilógrafo de Juazeiro do
Norte, não fazendo nenhuma
dos anos 1960 15. O primeiro intelectual a se interessar pela referência a João Pereira da Silva:
cf. Souza (1981). Por consequ-ência,
gravura po-pular é, inclusive, um folclorista bastante implicado os pesquisadores que reproduzem
nesse mo-vimento: Théo Brandão, secretário da Comissão os dados deste autor cometem a
Alagoana de Folclore, que tem a idéia de imprimir as ilustrações mesma omissão: cf. Iglesias (1992)
e Hata (1999).
de cordel em folhas soltas, para expô-las durante a Semana
Nacional de Folclore de Maceió, em 1952. Com o apoio dos 14. Veja-se, por exemplo, as
poderes institu-cionais e da mídia, os folcloristas desempenham, comemorações póstumas pelos
100 anos de Mestre Noza, pela
assim, um pa-pel fundamental, não somente na promoção, mas Fundação Memorial de Padre
também na “proteção” das artes populares, em conformidade Cícero, de Juazeiro do Norte,
com a missão de salvaguarda que eles mesmos se dão. que incluiu a publicação de uma
série de estudos sobre o artista:
cf. Tavares (1997).
Ora, as iniciativas que têm por objeto a gravura popular ma-
15. Sobre o movimento
nifestam exatamente o que caracteriza as concepções e as ati- folclórico brasileiro, a obra de
tudes de tipo folclórico: a admiração pelas coisas do passado, referência é Vilhena (1997).
É nesse contexto que surge, a partir do final dos anos 1940, o in-
teresse pela arte popular do Nordeste, em particular por aquelas
categorias que – como a xilogravura rústica – servem para “pro-
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var” os anacronismos de um Nordeste constantemente
associa-do à Idade Média e, mais ainda, a uma Idade Média
por si só bastante estereotipada, já que considerada modelo
de civiliza-ção “pura” e “autêntica”, em oposição à civilização
“capitalista” e “tecnicista” que surge com a Idade Moderna 17.
Nesse sentido, é interessante notar a evolução no pensamento
de um dos ícones da “inteligência” nordestina. Em 1952,
quando ainda é um jovem escritor em começo de carreira,
Ariano Su-assuna associa a gravura popular à arte
contemporânea e, em particular, à obra de artistas como
Picasso, Gauguin, Chagall, Rousseau e Modigliani 18. Para ele,
o ponto de contato entre estas produções seria o primitivismo
inerente à arte popular, e incorporado pela arte erudita do
século XX, bem como uma “comunidade de intenções” entre
artistas de culturas diferentes, no momento da criação:
paração, mas evoca exatamente os mesmos elementos plásticos 18. Para uma análise aprofunda-da
que tinha utilizado em 1952, para associar a gravura popular à das ideias de Ariano Suassuna
sobre a gravura popular, cf.
arte moderna: ausência de perspectiva e profundidade na ima- Ramos (2008a).
Referências bibliográficas
(s.a.). Arte Brasileira em Portugal. Módulo. Revista de
Arquitetura e Artes Visuais no Brasil. Rio de Janeiro, ano VIII,
n° 28, p. 49, março de .
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DINIZ, Clarissa. Crachá: aspectos da legitimação artística (Re-
cife-Olinda, 1997 a 2000). Recife: Fundação Joaquim Nabuco,
Editora Massangana, 2008.
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Everardo Ramos
É historiador da arte, formado pela Université de Franche-Comté
(França). Possui Mestrado pela mesma universidade e Doutorado
pela Université Paris X – Nanterre (França), onde defendeu uma
tese sobre a gravura popular brasileira. É autor de Du marché au
marchand. La gravure populaire brésilienne, catálogo da exposi-
ção apresentada no Musée du Dessin et de l’Estampe Originale
de Gravelines (França, 2005), de que também foi curador. É
Professor Adjunto e Coordenador do Curso de Artes Visuais da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em Natal.
E-mail: everardoramos@gmail.com