Você Não Soube Me Amar - Maria Vitória

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Sinopse

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11
Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17

Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21

Capítulo 22

Capítulo 23

Capítulo 24

Capítulo 25
Capítulo 26

Capítulo 27

Capítulo 28

Capítulo 29

Capítulo 30

Capítulo 31

Capítulo 32

Capítulo 33

Capítulo 34

Capítulo 35

Capítulo 36

Epílogo

Bônus

Agradecimentos
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Demais Obras da autora


Sophia acreditava em contos de fadas, que encontraria o seu príncipe
encantado e teria o tão aguardado “final feliz”, mas mudou de ideia no instante

em que Dominic surgiu em seu caminho, mostrando que a vida real não é tão

bela quanto nos livros.

Depois de um breve relacionamento com Dominic, Sophia encontra-se


devastada, e o pior, com uma bebê em seus braços, um tanto sem rumo. Em

contrapartida, Dominic está em busca de sua redenção, mas sequer sabe aonde ir

para reencontrar seu amor do passado e se redimir.

Será que o destino dará ajudará essas duas almas se reencontrarem?


O final é sempre a parte mais

difícil de uma história

Como é difícil dar fim a um ciclo,

se despedir daquilo que já te fez feliz

Mas com o tempo aprendi que os

finais são necessários

E os recomeços inevitáveis
― Não me deixe, eu te imploro! Não me deixe, Dominic... ― Lágrimas

escorrem dos meus olhos compulsivamente. ― Não faça isso comigo. ―


Imploro para o homem ao qual eu jurava que me amava.

Jamais imaginei que poderia me humilhar tanto por uma pessoa, mas
agora vejo a que ponto cheguei por amor. Não consigo imaginar minha vida sem

ele, pode parecer bobagem, mas não é, eu o amo, daria minha própria vida por
esse homem.

― Acabou, Sophia. ― Me olha com desprezo. ― Não posso ficar com


uma pessoa como você.

Se uma faca estivesse atravessando meu peito seria menos dolorido.


― Você disse que me amava! ― Grito. ― Por quê? ― Pergunto
chorando.

― Porque queria apenas um passatempo, tudo que tivemos não passou

disso.

Não consigo simplesmente acreditar em tudo que acabei de ouvir.

Ergo o olhar, vendo o homem bem arrumado de olhos claros, que

continua a me encarar com desprezo.

― Mas... ― Dou uma curta pausa, buscando a coragem necessária para

dar a tão temida notícia a ele. ― Estou grávida.

― Sophia, não posso assumir essa criança. ― Vejo raiva em seu olhar.

― Não posso criar essa criança sozinha, não tenho condições, você mais
do que ninguém sabe disso.

― Retire, ou até mesmo dê para adoção quando nascer. ― Diz ríspido,

evitando a todo custo manter contato visual.

Não acredito no que acabei de ouvir, jamais teria coragem de matar meu

filho, não seria capaz de tal atrocidade. Raiva me consome, realmente não
conhecia esse monstro verdadeiramente.

Em um ato impensado, desfiro um tapa em sua face. Afasto, vendo que

sua pele adquiriu um tom avermelhado.

Ele me olha com fúria, não parecendo o mesmo homem que conheci há
meses.
― Por que fez isso? ― Pergunta em um sussurro, fazendo os pelos do
meu corpo se arrepiarem com seu tom de voz gélido. ― Espero nunca mais te

ver, quero que você desapareça da minha vida com essa criança. Esse golpe não

funcionará comigo. ― Essas palavras foram como se uma faca perfurasse meu
coração.

― Você sabe que eu nunca abortaria. ― Digo, deixando o ódio evidente

em minhas palavras. ― Tenho dó do meu filho por ter um pai como você, uma

pessoa mesquinha, sem coração. Fique tranquilo, nunca mais irei aparecer em

sua vida, isso será uma honra para mim. ― Passo o dorso da mão nas bochechas,

enxugando as lágrimas.

― E não tente entrar na justiça para que eu reconheça a criança.

Deus, como pude ter amado esse ser humano?!

― Não irei entrar na justiça, não quero nada que te pertença. ― Falo

firme.

― Não é o que parece. Se não queria nada por que engravidou? Para de

mentir, Sophia. Nunca te assumiria, muito menos agora que está grávida.

Hoje pela manhã, quando estava me preparando para ter uma conversa
com Dom, não imaginei que esse seria o desfecho de nossa curta história.

― Você é a pior pessoa que já cruzou meu caminho. Sempre me iludiu,

mas sabe, foi melhor assim. Tenho vergonha de ter me envolvido com você. ―
Sussurro a última frase, tentando parecer forte, mas por dentro estou destruída.
Pego minha bolsa, saindo rapidamente da enorme sala da diretoria,
deixando lá o homem que amo, ou amava. Há alguns dias não conseguia ver um

futuro sem ele, mas é assim será daqui para frente, sei que aos poucos irei

esquecê-lo, daqui alguns anos Dom será apenas uma dolorosa lembrança
passado.

Saio o mais rápido possível da maior empresa de engenharia dos Estados

Unidos. Deixo o prédio com a entrada imponente para trás, deixando também

tudo que me fez mal, vou reconstruir minha vida longe daqui. Não preciso do

dinheiro dele, nunca precisei. Eu só queria o amor do Dominic, somente isso.

Para algumas pessoas o amor faz bem, mas para mim ele fez apenas mal,
conseguiu me destruir por inteira, esse maldito sentimento.
Dias atuais...
Aqui estou eu com uma bebê de dez meses, desempregada há um bom
tempo, quase sendo despejada por não pagar o aluguel, com uma mãe jogando

em sua cara que foi uma falta de responsabilidade ter engravidado, que eu

deveria ter abortado. Ninguém sabe o quanto é duro ouvir isso de sua própria

mãe. Sim, minha vida está do avesso!

Minha raiva por Dominic só se intensifica, tenho raiva por ele ter me

deixado quando mais precisei. Não tenho raiva por ele ter me engravidado,

minha filha é uma benção. Na época, eu era muito boba, boba por pensar que um

homem como Dom poderia nutrir sentimentos por mim. Seria hipócrita se

dissesse que não o amo, tenho ódio desse sentimento, não quero e nem posso

amá-lo.

— Amiga, tudo ainda pode mudar. Tenha calma, você irá conseguir um

emprego. — Evelyn tenta me acalmar.

Evelyn é minha única amiga, e sempre esteve ao meu lado, a única


pessoa que me apoiou durante a gravidez, nos conhecemos desde a infância.

Costumo dizer que ela foi um presente que o universo me concebeu.

— Não, Evy, não vai mudar. Nada nunca mudou. Só não quero que
minha filha sofra. Eu queria dar uma vida digna a ela, mas não está sendo

possível, nós mal temos comida em casa. — Digo, olhando para minha filha,
meu pequeno porto seguro.
Se tem uma coisa que não me arrependo é ter tido minha filha, muitos
julgam como um erro, mas eu não consigo a ver como um erro, vejo ela como

um tesouro, meu maior tesouro.

— Soph, não fale assim. Você sabe que passar fome vocês não vão, eu

nunca deixaria isso acontecer. Sei que as coisas só estão piorando com o passar
do tempo, mas podem mudar, ou melhor, vão mudar. Você não está sozinha, eu

sempre vou estar com você, não pense que está desamparada.

— Obrigada por tudo, Evelyn. Sei que você nunca vai me deixar. —

Abraço ela.

— Nunca pense que está sozinha. — Reforça. Evelyn é a melhor pessoa

desse mundo.

— Por que isso aconteceu comigo? — Pergunto de cabeça baixa.

Por que a vida teve que ser tão má comigo? Por que me apaixonei por
aquele cretino? Por que tudo isso teve que acontecer? São tantas perguntas.

— Acredite, tudo na vida tem um propósito. Lembre-se que antes do


arco-íris vem a tempestade, pode ser uma tempestade forte, até assustadora, mas

olhe o arco-íris, como é belo. — Evelyn sempre sabe o que me dizer.

— Espero que meu arco-íris seja lindo, pois a minha tempestade não está
fácil de enfrentar.

— Seu arco-íris será o mais lindo. Eu já vou indo, Sophia. — Levanta do

sofá. — Se eu pudesse ficaria mais tempo, mas infelizmente tenho que ir


trabalhar.

— Tchau, amiga. — Abraço-a.

— Tchau, se cuida.

A acompanho até a porta, abrindo a mesma. A vida da Evelyn também

não é nada fácil, ela trabalha como garçonete em uma lanchonete. A dona do

estabelecimento é uma senhora intragável, nem sei como Evelyn a suporta. Falo

isso, mas se tivesse um emprego de garçonete estaria feliz.

Volto para o interior da casa, pegando minha lindinha nos braços.

Infelizmente ou felizmente Bela nasceu a cara do pai, tem intensos olhos azuis

como os dele, puxou até os cabelos negros como a noite, ou seja, é a cópia fiel

de Dominic.

— Não vai sair para procurar um emprego? — Mamãe questiona,

entrando na sala de estar. — Ou vai ficar mofando aqui?

— Sim, irei procurar um emprego, acho que a senhora deveria fazer o

mesmo.

Apenas eu trabalho, minha mãe vive as minhas custas, ela também


deveria procurar um emprego para me ajudar.

— Para de ser abusada, garota. ― Exclama, descontente com minhas

palavras. ― Não se esqueça que ainda sou sua mãe.

— Seria ótimo se fizesse o papel de mãe e me apoiasse, mas não, prefere


ficar me julgando. — Cuspo as palavras.
— Eu sempre fiz papel de mãe, foi você que não fez o papel de uma boa
filha. — Diz, me olhando feio.

— Você nunca fez papel de mãe.

— Eu não mandei você engravidar de um homem que sequer sabe quem

é, mas o que eu poderia esperar de alguém como você?!

Não contei quem era o pai da minha filha para ela, achei melhor assim.

— Acho que puxei a senhora. — Falo, me retirando da sala, subindo para

meu quarto.

Já me acostumei a discutir com minha mãe, é algo normal, ela sempre

fica me provocando, jogando na minha cara que não trabalho, e que tenho uma

filha para cuidar.

— Não ligue para sua avó, minha princesinha, ela é chata assim mesmo.

— Falo para Bela, que apenas sorri mostrando os poucos dentes.

A coloco no berço, desejando tomar banho. Vou até o banheiro, retirando

a roupa, entrando no box. Ligo o chuveiro, deixando que água quente relaxe
meus músculos, passando sabonete líquido por todo corpo. Minutos depois, saio
do banho, seguindo até meu quarto, encontrando Bela quietinha no berço. Pego

uma calça jeans e uma regata preta. Escovo meus cabelos fazendo um coque
simples.

Pego Bela nos braços, salpicando beijos em suas bochechas rosadas,

sendo agraciada com sua gargalhada gostosa. A levo até o banheiro, onde uma
banheira com a água quentinha a aguarda. Depois de vestir minha princesa,
começo arrumar minha bolsa, colocando tudo que vou precisar, fazendo o

mesmo com a bolsa da Bela. Pego minha bebê, descendo até a sala, onde

encontro minha mãe assistindo TV.

— Vai sair? — Pergunta, com a cara amarrada.

— Vou procurar emprego. — Respondo, indo até a porta, vendo o quanto

as paredes de nossa casa estão sofrendo com as infiltrações.

— Vai levar a Bela? — Questiona, como se ela importasse com a neta.

— Não, vou deixá-la na casa da Evelyn.

Depois de cinco minutos de caminhada chego na casa da Evelyn. Bato na

porta da casa simples, e quem a abre é a mãe da minha amiga. Maísa é bonita,

tem olhos verdes, cabelos ruivos, e a pele bem branquinha, Evelyn é

completamente o oposto da mãe na aparência.

— Oi, Sophia! Entre, querida. — Ela dá passagem para que eu possa

entrar.

— Será que a senhora pode olhar a Bela por algumas horas? — Pergunto,
um pouco envergonhada.

— Claro que posso. Você sabe que fico muito sozinha, ter a companhia

dessa pequena será ótimo. — Sorri para mim.

— Então já vou indo. Prometo que não vou demorar, qualquer coisa é só
me ligar, Maísa.
— Tudo bem. — Entrego Bela para ela, dando um beijo na testa da
minha bebê, sentindo meu coração ficar apertado por ter que ficar longe dela. —

Mamãe te ama muito. — Digo, juntando todas as minhas forças para deixá-la.

— Pode ficar despreocupada, Sophia. — Maísa me conforta, percebendo

meu desconforto em deixar minha filha.

— Eu sei que a senhora cuidará muito bem dela. — Digo sorrindo.

Maísa sempre me ajuda quando preciso de alguém para olhar a Bela.

Agora começa a parte mais difícil: procurar um emprego. Vou até uma

banca de revistas, onde compro um jornal. O primeiro lugar que vou se trata de

uma lanchonete, onde infelizmente não consigo o emprego, pois a vaga já havia

sido preenchida. Hoje não é o meu dia de sorte, depois sigo até um escritório,

onde tinha uma vaga de secretária, mas falaram que eu não possuía capacidade
para o cargo. E eu não tenho mesmo, não tive chance de fazer uma graduação

por conta da gravidez.

O último lugar é uma advocacia, onde tem um cargo de faxineira

disponível. Pego um ônibus, indo até o local, a empresa é linda por fora. Se trata
de um prédio todo espelhado, com um enorme jardim na entrada.

— Oi, a senhora poderia me informar se é aqui que tem uma vaga de

faxineira disponível? — Pergunto a uma senhora que está na recepção, ela deve
ter mais de cinquenta anos de idade, percebo isso pelos fios brancos de seu

cabelo.
— Sim, mas sinto muito em lhe informar que a vaga já foi preenchia.

Comprimo os lábios, tentando conter as lágrimas de frustação.

— Obrigada! Quando surgir qualquer vaga de emprego a senhora poderia

me informar?

— Claro. — Responde, abrindo um largo sorriso.

Pego um pequeno bloco de folhas na bolsa, anotando meu número de


telefone, entregando para a senhora.

Caminho para fora do prédio imponente, completamente chateada pelo

fracasso que foi meu dia. O dinheiro que me resta só dará para a comida desse

mês, e tenho certeza que seremos despejadas, há dois meses não pago o aluguel.

Pego um ônibus, dando por encerrado o dia. Desço no ponto mais


próximo, seguindo até a casa da minha amiga, antes mesmo de bater na porta

Evy abre a mesma.

— Entra, amiga. — Entro me sentando no sofá. — Conseguiu um

emprego?

— Infelizmente não. — Dona Maísa me entrega a Bela, que demonstra o


quanto está feliz em me ver com um sorriso. — Você também sentiu saudades da
mamãe? — Pergunto, brincando com ela.

— Sinto muito. — Evy lamenta.

— Mas não irei desistir, amanhã vou continuar procurando um emprego,


tenho uma filha para sustentar.
— Você vai conseguir, tenho certeza.

— Nunca imaginei que achar um emprego fosse algo tão difícil.

— Para quem não tem uma graduação é muito difícil. Só Deus sabe o

quanto foi difícil para mim conseguir um emprego naquela lanchonete.

— Eu tenho que ir, já está tarde. — Levanto-me, pegando minha filha

nos braços.

— Tchau, Sophia. — Ela me abraça. — Tchau, Bela. — Ela beija a

bochecha da Bela.

— Maísa, muito obrigada por ter ficado com a Bela.

— Por nada, menina. Se precisar, pode trazê-la para cá. — Ela me

acompanha até a porta.

— Tudo bem, muito obrigada mesmo, Maísa. — Agradeço novamente.

Vou caminhando para casa o mais rápido possível, é perigoso andar pelas

ruas à noite, mais perigoso ainda quando se está com uma criança.

Chego em casa, encontrando minha mãe ainda sentada no velho sofá, do


mesmo jeito que estava quando saí.

— Conseguiu um emprego, Sophia? — Pergunta ríspida, como sempre.

— Não, mãe, eu não consegui. — Vou direto para o quarto, evitando uma
discussão. Odeio ter que discutir com ela, na verdade, odeio discutir com
qualquer pessoa.
Dou um banho na Bela, a vestindo com um pijama, logo após dou a
mamadeira, colocando meu anjinho para dormir. A observo dormir

tranquilamente em seu berço, como a verdadeira mãe babona que sou. A cubro

com uma coberta fina, deixando apenas a luz fraca do abajur iluminando o
quarto.

Desço as escadas, avançando até a cozinha. Abro a geladeira, me

servindo com um copo de leite gelado.

— Aqui está você. — Assusto ao ouvir a voz da minha mãe.

— O que a senhora quer? — Pergunto, vendo-a se aproximar.

— Quero que você trabalhe, não vê que vamos ser despejadas. — Exalta

o tom de voz.

— Como se fosse fácil encontrar um emprego.

— Não é fácil, mas também não é algo impossível.

— Por que você não vai procurar um emprego também ao invés de ficar

me enchendo o saco? — Questiono, saindo da cozinha.

— Se não tivesse engravidado não estaríamos nessa miséria.

Decido não revidar, é o melhor a se fazer.

Volto para o quarto, que nos últimos anos tem sido meu refúgio.

Olho para o berço, e lá está meu pedacinho do céu, quando a vejo todas
as palavras da minha mãe perdem o sentido. Tudo o que ela fala não me atinge, o
amor que sinto pela minha filha só cresce a cada dia mais. Aliso os cabelos da

minha pequena, que dorme calmamente agarrada a uma boneca de pano.

Deito-me, o dia foi extremamente cansativo, andei horrores, amanhã

também será um dia cansativo, pois continuarei à procura de um emprego. Tudo

poderia ter sido diferente, mas não foi, então eu preciso aceitar.
Minha vida se transformou em um verdadeiro inferno desde que deixei

Sophia. Mesmo sem saber, ela acabou me conquistando, descobri tarde demais

que a amava, daria tudo para tê-la ao meu lado. Depois do fatídico dia, não tive

um dia sequer de paz, já procurei Sophia e o nosso filho por toda parte, mas ela
simplesmente desapareceu, nunca mais tive notícias, contratei detetives, mas não

obtive resultados. Tenho consciência que errei ao falar palavras tão duras, foram
palavras difíceis, mas naquele tempo eu não tinha noção do quanto aquela
mulher era importante, o dia era mais bonito ao seu lado. Sophia era como o sol

da minha vida. Às vezes fico contente por saber que já tenho um filho, é incrível
imaginar que já sou pai, mas a tristeza toma conta ao pensar que ele nasceu
longe de mim.

Quase dois anos já se passaram, muitas coisas mudaram.

Infelizmente me encontro em um relacionamento completamente

frustrado, estou noivo de uma mulher a qual não amo. Eu e Natália ficamos

noivos há algumas semanas, claro, tudo não passa de pura conveniência. Ela não
é uma mulher inocente, sabe das minhas reais intenções.

— Acorde, Dominic! Parece que estava em outro mundo. — Wesley

resmunga.

— Estava me lembrando da Sophia.

— Novamente? Esquece ela. — Meu primo diz, se sentando a minha

frente.

— É inevitável. Todas as vezes que entro nesta sala me lembro dela. A vi

pela última vez aqui. — Abaixo a cabeça. — Aquela mulher me mudou, Wesley.

Eu e ela temos um laço eterno.

— Ninguém sabe se essa criança nasceu. Você irá se casar com a Natália
daqui alguns meses, trate de esquecer a Sophia, vocês nunca teriam dado certo,
Dom. Você sabe que nossa família não iria aceitá-la. — Diz, passando a mão

entre os fios do cabelo.

— Eu lutaria por nós. Lutaria até com nossa família por ela.

— E a Natália? — Indaga, enquanto olha fixamente para mim, Wesley


sabe que não sinto nada por ela.
— Você sabe que Natália não me ama. Ela está comigo por conveniência,
não faria diferença se eu a deixasse. Eu amo a Sophia, somente ela, e pretendo

encontrá-la. — Falo, olhando para ele. — Aquela mulher é a dona do meu

coração, mesmo tentando, Natália nunca conseguiu fazer com que eu a amasse.

Natália surgiu em minha vida em um momento conturbado, minha mãe


fazia questão de me infernizar todos os dias, foi então que acabei cedendo,

engatei um namoro que agradou bastante minha família, o que de certa forma foi

proveitoso por um curto período.

— Você não a achou até hoje. Desista, será melhor para todos.

— Eu nunca irei desistir. — Digo decidido.

— Você está louco, perdeu o sentido do que é a realidade.

— Ao contrário, agora que pude perceber a mulher incrível que perdi por

ser um idiota.

— Mesmo que você a ache novamente, ela nunca iria te aceitar, você fez

aquela menina sofrer muito.

— Não preciso que me recorde do quão imbecil eu fui, minha


consciência faz questão de me lembrar todos os dias de como fui um crápula

com Sophia. Saia da minha sala, quero ficar sozinho.

— Tá bom. — Concorda, se retirando.

Odeio recordar de tudo que disse para Sophia. Eu não queria, não tinha
ideia naquela época, fui muito idiota, tinha uma mulher espetacular e a deixei ir
embora por bobeira, por classe social.

Somente Wesley sabe de tudo que aconteceu entre mim e Sophia. Não
quis que o restante da minha família soubesse. Tenho vergonha de tudo que fiz.

Fui um monstro quando pedi que ela abortasse nosso filho, isso não é atitude de

um homem, também fui idiota ao pensar que ela estava comigo por dinheiro.

Sou despertado dos meus pensamentos com o toque do celular.

— Oi. — Digo assim que atendo a ligação.

— Dominic, meu amor. — Natália diz, com uma voz melancólica.

— Oi, Natália. O que deseja? — Pergunto sério.

— Que mau-humor, querido! Só liguei para avisar que chegarei de

viagem na sexta-feira, que tal sairmos sábado à noite?

— Não posso.

— Por quê? — Indaga nervosa.

— Porque estou muito cansado, Natália. Podemos remarcar para outro

dia. — Invento uma desculpa qualquer para dispensá-la.

— Sim, podemos. Mas estou com saudades, quero te ver logo, baby.

— Veremos isso depois.

— Claro, para você tudo é depois. — Diz, com uma certa irônica.

— Agora estou bastante ocupado, não tenho tempo para discussões

banais. Nos falamos em uma outra hora. — Tento dar um fim no assunto.
— Tchau, querido. — Se despende um tanto chateada, posso perceber
através de sua voz.

Encerro a ligação rapidamente.

Natália é uma pessoa fútil, não consigo passar muito tempo em sua

presença. Sei que a escolha de estar com ela é apenas minha, e apenas eu posso
dar um fim nesse relacionamento.

Quando Sophia me deixou, abandonei completamente a vida de playboy

que mantinha desde a adolescência, parei de frequentar festas. Precisei passar


por uma perda para rever a forma com que estava levando a vida.

Volto a arrumar alguns documentos da empresa, ocupando meus

pensamentos apenas com eles.

— Está mais calmo, querido amigo? — Wesley pergunta, ao entrar em

minha sala. Ele nunca bate na porta antes de entrar.

— Até parece que você não sabe bater antes de entrar. — Resmungo.

— Você precisa melhorar seu humor, mas só vim avisar que amanhã
teremos um evento da empresa. Lá iremos comemorar o bom desenvolvimento,
então não se esqueça. — Fala, ainda de pé.

— Sério que tenho que comparecer?

— Claro que sim, Dominic. Você é o presidente, sua presença é


inevitável. — Finalmente ele se senta à minha frente, me encarando sério.

— Eu vou, mas irei sozinho. Não estou a fim de ir acompanhado de


Natália.

— Pode ir se acostumando, ela será sua futura esposa. Você terá que
suportá-la diariamente.

— Nem me lembre disso.

— É melhor dar um ponto final nesse relacionamento, já que não a ama.

— Eu gosto dela, mas não a amo, mas quem sabe com o passar do tempo
ela me ajude a esquecer Sophia. — Volto minha atenção para o computador.

— Você sabe muito bem que isso não irá acontecer, não se esquece

alguém dessa forma. — Seu tom de voz sério deixa claro que não gostou do que

eu disse. — Não faça as coisas da forma errada.

— Tá bom. — Concordo. — Chega desse assunto, não quero mais tocar


nele.

— Não irei mais tocar nesse assunto, mas pense muito bem antes de fazer

qualquer coisa.

— Irei pensar no que é melhor para mim. Não se preocupe comigo, Wes,

já tenho vinte e oito anos de idade. Não sou nenhuma criança.

— Eu sei, mas tenho medo das escolhas que você ainda irá fazer.

— Pode ter certeza de que irei fazer o que é melhor para mim, não vou
fazer nada que possa me arrepender futuramente. Já estourei minha cota de

arrependimentos.
— Minha tia tem reclamado, segundo ela você não a vê há dias, ela está
com saudades, Dom.

— Tenho consciência que nesses últimos meses me afastei de nossa

família. — Confesso. — Eu sei que meus problemas não irão se resolver se eu

me afastar, só não consigo ir lá e ter que escutar eles dizendo que preciso me
casar logo com Natália.

— Minha tia quer que você constitua uma família logo.

— Eu já tenho uma família. — Falo nervoso. — Minha família é a


Sophia e nosso filho.

— Você nem sabe se Sophia se casou. Ela pode ter uma família.

Essas palavras machucam, e a ideia de serem verdade é sufocante.

— Quero acreditar que isso não seja verdade.

— É uma possibilidade. — Ele continua a insistir.

— Eu a conheço, sei que não se casaria com outro homem. Ela disse que

me amava, e eu acredito.

— Sentimentos mudam, os dela podem ter mudado. Olhe só para você,

não a amava, e agora morre por ela. — Retruca.

Tudo que Wes acabou de dizer é verdade, sentimentos mudam, os dela


em relação a mim podem ter mudado.

— Você tem razão. — Concordo, um tanto desanimado.


— Já está na hora de você mudar. Cadê aquele Dominic alegre que
gostava de sair e se divertir?

— Aquele Dominic morreu.

— Então trate de ressuscitá-lo.

— Eu não posso, não dou conta.

— Você conseguiu transformar essa empresa na maior empresa de


engenharia dos Estados Unidos, vai me dizer que não consegue voltar a ser o

velho Dominic?

— Eu sei, mas acredite, os assuntos do coração são bem mais

complicados do que negócios.

Passamos o restante da tarde revisando alguns projetos para a empresa, o


trabalho de certa forma me ajuda a esquecer Sophia. Tenho em mente que não

irei desistir de procurá-la, e quando a achar irei fazer de tudo para tê-la

novamente, vou enfrentar tudo e todos por ela e nosso filho.

Já são nove horas da noite quando dou por encerrado meu experimente.
Sempre sou o último a deixar o prédio, ficar em casa não tem sido um dos meus
hobbies favoritos. A casa que antes era confortável, passou a ser espaçosa

demais.

Muitas vezes me pego imaginando como seria se estivesse com Sophia,


eu estaria casado com ela, estaria com nosso filho em nossa casa, e com certeza

estaria feliz.
Abro a porta de entrada da minha casa, adentrando na mesma. O local
está silencioso, mas logo Vanessa surge da cozinha, ela era empregada da minha

mãe, mas quando decidi morar sozinho ela preferiu me acompanhar.

— Vai jantar, menino? — Pergunta carinhosamente.

— Hoje não, Vanessa. Estou sem fome. — Falo, ao subir as escadas.

— Assim você ficará doente. Não está se alimentando corretamente nos

últimos meses, Dom.

Paro no meio das escadas, encarando-a.

— Não seria má ideia ficar doente, minha vida não tem sentido algum.

— Volto a subir as escadas.

— Não fale isso, Dominic. — Repreende, vindo em minha direção.

— Vanessa, há um bom tempo minha vida não tem sentido algum.

— Isso não é verdade, você tem uma família, uma noiva, e tem a mim

também. A vida nunca perde o sentido. — Ela passa as mãos no meu rosto.

— Meu caso é diferente, Vanessa. — Não dou oportunidade que ela diga
mais nada, seguindo diretamente para meu quarto.

Meu caso é totalmente diferente, e é tudo mais complicado pelo que fiz,

se eu não tivesse dito tudo aquilo seria bem mais fácil.

Entro em meu quarto, seguindo diretamente para o banheiro, tomo um


longo banho. A água gelada alivia um pouco a tensão muscular acumulada por
longas horas de trabalho.

Ao me deitar, percebo que a insônia será minha companheira durante


mais uma madrugada, ela parece nunca me abandonar. Passo noites em claro, e

sem dormir minha mente é invadida por pensamentos ruins.


Sou despertada com o som estridente do toque do celular. Levanto-me

rapidamente, pegando o aparelho na cômoda, antes que a Bela acorde com o

barulho.

Olho para a tela, vendo o nome da minha melhor amiga estampado.

— Oi, Evelyn.

— Bom dia, amiga! Desculpe por ligar tão cedo, mas tenho uma ótima
notícia para a senhorita.

— Qual a notícia, Evy? Não me deixe curiosa. — Falo impaciente,

querendo saber do que se trata.

— Tá bom. Tenho uma colega que trabalha como produtora de eventos,


essa noite ela irá organizar uma confraternização e está precisando de

garçonetes. Pensei que você se interessaria, o pagamento é bom.

— Claro que me interesso, mesmo nunca tendo trabalhado como

garçonete. Sabe que estou precisando de dinheiro, então aceito.

— Eu já imaginava, então confirmei sua presença. Mas existe um porém,


o evento será à noite, mas se quiser, posso cuidar da Bela.

Bela poderia ficar com a avó, mas minha mãe não perderia a

oportunidade de jogar na minha cara o erro que foi ter engravidado, que não dou
conta de cuidar da minha própria filha.

— Se você fizer isso, ficarei muito agradecida. Minha mãe poderia ficar

com ela, mas claro, reclamaria muito, você a conhece. — Desabafo.

— Eu sei como é a sua mãe, por isso me ofereci para cuidar da Bela, e

ela é um anjo.

Se tem alguém que eu sempre posso contar, esse alguém é a Evelyn, ela

me ajuda desde o nascimento da Bela. Quando nos tornamos mãe, nosso círculo
de amizade reduz drasticamente.

— Minha bebê realmente é um anjo. Tem que ir com alguma roupa

especial?

— Eles fornecem o uniforme, mais tarde levarei aí.

— Amiga, você é um anjo, não sei o que seria de mim sem você.

— Você que é um anjo, ou melhor, você e a Bela são dois anjos. Eu amo
poder ajudar vocês.

— Obrigada por tudo. — Agradeço.

— Por nada. Agora tenho que ir trabalhar. No horário do meu almoço

levarei o uniforme aí na sua casa. Beijos, Soph.

— Até mais tarde. — Me despeço.

Evelyn encerra a ligação. Coloco o aparelho novamente sobre a cômoda,


direcionando o olhar para Bela, vendo que minha pequena ainda está dormindo

profundamente. Aproveito a oportunidade para tomar um longo banho e escovar

os cabelos, algo que só faço quando me resta algum tempo livre.

Desço até a cozinha, começando a preparar o café da manhã.

— Acordada tão cedo. Algum motivo especial? — Minha mãe indaga,


curiosa como sempre.

— Acordei com uma ligação da Evelyn. — Respondo vagamente,

bebendo um pouco de café.

— O que ela queria? — Questiona.

— Ela ligou para avisar que encontrou um emprego para mim, não é algo

fixo.

— O que você vai fazer? — Ela se senta na mesa comigo.

— Ser garçonete.

— Olha só aonde você chegou, irá trabalhar como garçonete. Poderia ter
feito uma graduação, caso tivesse feito, estaria em um emprego digno.

— Eu tenho dó da senhora. Com esses pensamentos não chegará a lugar


algum, não vejo problemas em trabalhar como garçonete.

Minha mãe é a primeira a julgar, não importa qual seja a situação, mas

não faz absolutamente nada para mudar nossa realidade. Mesmo que
indiretamente, toda responsabilidade da casa recai sobre mim.

— Com licença. — Levanto, disposta a não levar essa discussão a frente.

— Quem é o pai da Bela?

— Bela não tem pai, tem somente uma mãe.

— Me poupe! É claro que ela tem um pai. — O sarcasmo contido em seu

tom de voz acaba me irritando.

— Não quero falar sobre, então vamos esquecer esse assunto, por favor.

— Peço.

Odeio quando ela toca nesse assunto. É bastante incômodo lembrar de

todo mal que Dominic causou.

— Como se fosse fácil. Você é muito boba mesmo, essa criança tem um

pai sim, e você deveria procurá-lo, a responsabilidade não é apenas sua. E não
venha falar que você não sabe quem é o pai.

— Já falei que ela não tem um pai. — Repito pela milésima vez.

— Para de bobeira, Sophia. Se você não falar quem é o pai dela irei
descobrir sozinha.

Nunca tive a intenção de contar quem era o pai da Bela, sei que a
informação mexeria com a ambição da minha mãe, algo que não quero que

aconteça.

— Pode ir em frente. Só irá perder seu precioso tempo. — Minhas


palavras saem totalmente carregadas de ódio.

Saio as pressas da cozinha, indo diretamente para meu quarto. Ao chegar

no cômodo, me jogo sobre a cama, encarando o teto com a pintura descascada.

Fecho os olhos, sentindo uma lágrima escorrer pelo meu rosto, ainda dói

recordar de tudo, evito ao máximo pensar em Dom, mas parece que tudo acaba

me levando a ele. Tenho as piores lembranças daquele homem, as palavras dele

jamais serão apagadas da minha mente, vou levá-las para sempre.

Eu era a menina que sonhava com um conto de fadas, imaginava que


minha vida seria exatamente como havia planejado, o que obviamente não

aconteceu, ao contrário, tudo foi diferente.

Desde que me afastei de Dominic tinha em mente que não contaria para a

minha mãe quem era o pai da minha filha. Obviamente ela sempre me julgou,
mas não me arrependo de forma alguma dessa decisão.

Ouço o choro da Bela, levanto, indo até a minha princesinha, apoio no

berço, pegando-a nos braços, distribuindo beijos em suas bochechas.

— Calma, anjinho. A mamãe está aqui. Você está com fome, né? — Olho
sorrindo para ela.

Aos poucos ela vai se acalmando. É mágico ver que tenho o poder de
acalmar um ser humano, Bela pode estar desesperada, mas sempre se acalma

quando a pego nos braços.

— Mama, mama. — Murmura, puxando meus cabelos, é tão bom ouvi-la


me chamar.

— Hoje você acordou animada. — Digo, brincando com ela.

A coloco sobre a cama, vendo o quanto o quarto ficou apertado nos

últimos anos. O berço da minha pequena ocupa grande parte do espaço.

— Quem é a bebê mais linda do mundo? — Pergunto, brincando com a

Bela.

Levo um susto assim que a porta se abre, revelando minha mãe, seu

semblante sério deixa claro que não está nada contente, o que não é nenhuma

novidade.

— Aquela sua amiga está aí. — Resmunga, enxugando as mãos em um


pano de prato.

— Peça para que ela suba, por favor.

Mamãe apenas meneia a cabeça em silêncio. Como consigo suportá-la?

Ela vive emburrada, com um péssimo humor, é quase impossível vê-la sorrindo,
queria saber o que aconteceu a ela, não sei nada do seu passado, pode parecer
um tanto estranho não saber do passado da própria mãe. Mas ela sempre foi
bastante fechada, então nunca tivemos conversas normais entre mãe e filha.

Apesar de tudo, continuo amando-a, só quero o melhor para minha mãe,


e queria que um dia ela tivesse confiança em mim, que aceitasse minhas

decisões, e que aceitasse minha filha, mas pelo jeito isso nunca irá acontecer.

Sou despertada dos meus pensamentos quando Evelyn entra em meu


quarto.

— Oi, minhas flores. — Nos cumprimenta, sentando-se ao meu lado na

cama.

— Olá, Evelyn. — Digo alegremente. — Fala oi pra sua titia, meu amor.

Bela me olha um tanto confusa, sorrindo em seguida.

— O que a sua mãe tem? — Indaga, pegando Bela nos braços. — Ela
estava com uma cara péssima.

— Discutimos. — Suspiro. — Ela veio com uma história que queria

saber quem é o pai da Bela, e você sabe que para mim ela não tem pai.

— Mas tente entendê-la, Soph. Como sua mãe, ela tem uma certa

curiosidade em saber quem é o pai da Bela.

— Você sabe como ela é, Evelyn. Se descobrir quem é o pai da Bela, irá
atrás dele. Minha mãe é movida pelo dinheiro, e eu não quero depender

financeiramente do Dom.

Dominic pediu que eu abortasse, ou seja, renunciou a nossa filha naquele


exato momento. Não quero ir atrás dele, me humilhar por uma segunda vez é
algo que não desejo fazer tão cedo.

— Isso é complicado, tenha paciência. Sua mãe realmente gosta bastante


de dinheiro, mas ela te ama, e quer que o pai da Bela te ajude. Soph, mesmo que

não queira admitir, você está sobrecarregada.

— Ele não quis a filha, apenas você sabe tudo o que Dominic falou,
aquele imbecil pediu que eu abortasse. Acha que ele merece saber da existência

da Bela? — Indago, olhando para Bela, que é uma mini versão do pai.

— Realmente Dominic não a queria, mas com o tempo as pessoas


amadurecem, ele pode ter mudado de ideia.

As pessoas realmente podem amadurecer com o passar do tempo, mas

não acredito que esse seja o caso de Dominic.

— Não, ele não mudou. Pessoas ruins como ele não mudam.

— Esse ódio não te faz nada bem, Sophia. — Fala, brincando com Bela.

— Você não pode deixar esse ódio te consumir.

— Não vou deixar, Evy. Mas nunca irei esquecer de tudo que ele me fez,
é impossível. Acha que já não tentei? Mesmo que queira, eu olho para o pequeno
clone dele todos os dias.

— Eu sei que você nunca irá esquecer, e não estou pedindo tal coisa.

— Trouxe o uniforme que irei usar para trabalhar esta noite? —


Pergunto, mudando de assunto.

Não quero continuar falando do passado. Ele não me traz boas


lembranças. Sinto que vivo um loop infinito desde minha última conversa com
Dom.

— Sim, eu trouxe. — Ela pega a bolsa, retirando um embrulho da

mesma, me entregando. — Aqui está.

— Obrigada. — Agradeço. — Você tem o endereço do local? Afinal


preciso do endereço para poder chegar lá.

— Claro que tenho. — Ela abre a bolsa novamente. — Aqui está o

endereço, como vai fazer para chegar lá?

— Terei que ir de ônibus, provavelmente voltarei tarde da noite, mas

darei um jeito.

— Você sempre dá um jeito. Me espelho em você, que mesmo tendo uma

vida tão complicada, não desiste. Sabe que tem mais coragem que muitos por aí?

Você desistiu da faculdade por amor a sua filha, sabe, essa atitude te fez essa
mulher guerreira, você mudou muito nos últimos meses.

Essas palavras me fizeram sentir um imenso orgulho de mim mesma.


Nunca parei para pensar no quanto fui guerreira, eu faria tudo novamente se

fosse possível. Renunciaria tudo pela minha filha, até a minha própria vida, se
fosse necessário.

— A dor me fez mudar, me fez perceber que não preciso ser apenas uma

pessoa doce, amável, gentil, ela me mostrou que também preciso ser forte,
porque a vida não é tão fácil quanto parece.
No passado, eu era uma menina doce, não via maldade em ninguém. Não
vi maldade alguma em Dominic, só enxergava a bondade, e foi por isso que ele

conseguiu me iludir tão facilmente, mas graças a ele me tornei uma mulher forte.

Aprendi ver o lado ruim das pessoas. Aprendi que nem todos que se aproximam
são pessoas boas, aprendi que não posso confiar em palavras, que o mundo não é

perfeito como nos contos de fadas. Imaginava que iria encontrar um príncipe e

me casar, e assim seríamos felizes para sempre, o que não aconteceu, pois eu

encontrei apenas um sapo, que por ironia do destino não se transformou em um

príncipe.

— Só não deixe que sua doçura desapareça, essa é a sua principal


qualidade. — Ela passa uma mão em meu rosto, de forma carinhosa.

— Não vou deixar desaparecer, pode ter certeza. — Sorrio para ela.

— Assim que sair da lanchonete venho pegar a Bela. — Ela beija minha

bebê.

— Está bem. Odeio quando tenho que ficar longe do meu pedacinho do

céu.

— Vai ser só por algumas horas, mamãe coruja. — Zomba.

— Horas longe dela parecem dias, não vivo sem ela.

— Amiga, o papo está ótimo, mas alguém tem que voltar para a

lanchonete, e esse alguém sou eu. — Ela me entrega a Bela, se levantando. —


Tchau, meus amores! — Ela dá um beijo na minha bochecha, fazendo o mesmo
com a Bela.

— Tchau, Evelyn! Quer que eu te acompanhe até a porta? — Pergunto.

— Não precisa. — Diz abrindo a porta. — Ah, eu já ia me esquecendo.

Você precisa ir bem maquiada, e com um salto preto, parece que vai ser um

evento formal.

— Eles são exigentes, pra que tudo isso? Acho um tremendo exagero da

parte deles.

— São mesmo. Mas tenha paciência, você precisa desse emprego.

— Eu preciso muito.

Ela apenas sorri, se retirando do quarto. Evelyn trabalha em uma

lanchonete há algum tempo, o trabalho não é nada agradável, o cansaço presente


em seu olhar deixa claro que ela está quase no limite.
Coloco Bela sentada em sua cadeirinha, começando a alimentá-la com

uma sopa de legumes. Olho para a janela, me distraindo por alguns segundos,

tempo o bastante para Bela colocar as mãos no prato.

— Não acredito que você fez isso, Bela! Que coisa feia. — Repreendo-a.

— Olha que bagunça.

— Mama. — Ela coloca as duas mãos sujas em meu rosto, abrindo um

largo sorriso.

— Coisa linda da mamãe. — Pego-a nos braços.

A levo até o banheiro, colocando-a sentadinha na pia, aproveitando para

a limpar.

Bela tem a aparência do pai, fez questão de puxar exatamente tudo. Mas

a doçura em seu sorriso me faz lembrar que ela não possui a mesma

personalidade. Minha princesa é extremamente carinhosa.

O dia se arrastou como de costume, minha mãe fez questão de me evitar


a todo custo. Nossa relação teve uma piora drástica desde que revelei que estava
grávida, desde então ela se afastou ainda mais.
Olho para o velho relógio dourado na parede, constatando que já se passa

das cinco da tarde, o que significa que necessito me apressar, já que preciso

comparecer ao evento às sete da noite.

Coloco Bela no berço, avançando até o banheiro, aproveitando o fato da

minha princesa estar calma para tomar um banho rápido, retornando ao quarto
em um tempo recorde, agradecendo por Bela ainda estar quietinha em seu berço.

Depois que ela nasceu não sei o que é um longo banho sem preocupação alguma.

Pego o embrulho que Evy entregou, retirando o uniforme do mesmo.


Revelando um vestido preto com um pequeno logo dourado na região dos seios.

— Mama, mama, mama. — Bela resmunga, erguendo os bracinhos,


pedindo colo.

— Vem aqui, princesinha linda. — Pego-a nos braços. — Vamos preparar


a mamadeira da menininha da mamãe. — Cantarolo, saindo do quarto, indo em

direção a escada.

Sigo diretamente para a cozinha, começando a preparar a mamadeira da


Bela. Entrego para ela, que a pega sorrindo, o sorriso nunca abandona seu

rostinho rosado.

Ouço batidas na porta, o que me faz ir rapidamente até a sala de estar.


Abrindo a porta de entrada com uma certa dificuldade por estar com Bela nos

braços.

— Oi, Evelyn. — Cumprimento-a.

— Você está maravilhosa, Sophia. — Me elogia. ― Vai arrebatar o

coração de muitos homens esta noite.

Há muito tempo eu não me produzia, tanto que estou me sentindo

estranha.

— Obrigada! Segura a Bela que eu vou lá no meu quarto pegar a bolsa.


— Comunico, entregando minha bebê para ela.

— Vai lá então.

Vou até meu quarto, pegando minha bolsa e a da Bela, retornando para a
sala em seguida.

— Aqui está a bolsa da Bela, tem tudo, fralda, mamadeira, roupa,


chupeta, remédio, comida e um brinquedinho dela. — Explico, entregando a
bolsa.

Posso parecer exagerada por colocar tudo isso na bolsa, mas se tem uma

coisa que aprendi quando me tornei mãe, foi que sempre preciso que andar

prevenida.

— Meu Deus, Sophia! Bela não irá se mudar para a minha casa. —

Começa a gargalhar.

— Nunca se sabe do que ela vai precisar.

— Você já vai trabalhar?

— Sim. Vou te ligar assim que tiver um tempinho para ver como a Bela

está, qualquer coisa me ligue, por favor.

— Não se preocupe tanto, Sophia. — Fala me olhando docemente. —

Agora vá, não quero que acabe perdendo o ônibus.

— Já estou indo. Minha mãe saiu, então será que você poderia esperá-la

para avisar que já fui trabalhar? Não quero que ela tenha algo para jogar na
minha cara.

— Claro que posso, amiga.

— Obrigada! — Sorrio para a Evelyn. Aproximo, beijando a bochecha

da Bela. — A mamãe te ama muito, desculpe por não poder ficar com você. — A
essa altura meus olhos já estão cheios de lágrimas.

Sou uma mãe completamente protetora, que quer o filho por perto
sempre. A perda de Dominic fez com que eu me apegasse mais a Bela, ela foi
quem me deu forças para continuar vivendo, então todo o amor que eu tinha

guardei para ela, quando Dom me deixou eu me senti sozinha, mas não estava,

afinal tinha minha menina.

— Não chora. — Evelyn fala, me abraçando. — Eu sei que é difícil, mas


não chore. E eu vou cuidar muito bem do nosso anjinho.

— Irei ser forte. Tchau! — Me despeço, dando uma última olhada para
minha filha.

Assim que fecho a porta, solto um longo suspiro. Preciso me acalmar, sei

que Bela está em ótima companhia, mas não consigo deixar de ficar preocupada.

Só consigo ficar em paz quando ela está em meus braços.

Caminho até o ponto de ônibus rapidamente, vendo que a noite será mais
fria que o comum. Assim que chego ao ponto, cumprimento uma senhora com

um sorriso, sentando ao seu lado. Não demorou muito para que o ônibus

chegasse, e o trajeto até o hotel foi relativamente rápido.

Vou caminhando até o local do evento, fico completamente boba quando


o vejo. Se trata de um hotel luxuoso, ele possui uma fachada branca com alguns
detalhes dourados, ao lado há dois coqueiros. Todo o local está muito bem

iluminado, vejo que na parte interna algumas paredes são de vidro. Sigo até uma
mulher que aparenta estar recepcionando os convidados.

— Será que a senhorita poderia me informar para onde vão os garçons


que irão trabalhar esta noite?

— Claro. Você pode seguir reto, lá na frente tem um salão de festas onde
ocorrerá o evento. Logo na entrada terá uma pessoa responsável por receber os

garçons.

— Muito obrigada. — Agradeço.

Adentro ao hotel, prosseguindo pelo corredor que a mulher indicou.

Posso dizer que tudo aqui é lindo, o piso é todo no mármore, as paredes são

brancas como a neve. Entro no salão principal, ficando embasbacada com todo o
luxo. O enorme lustre de cristal posicionado no centro do teto toma toda atenção

para si.

— Você veio para trabalhar como garçonete? — Um homem de meia

idade pergunta. Pelo seu traje deduzo que também está trabalhando.

— Sim. — Confirmo sorrindo.

— Então venha. — Me puxa até a cozinha. O local está uma loucura,

pessoas correm de um lado para outro, garçons entram e saem a todo instante. —
Você vai começar servindo champanhe e alguns aperitivos, depois teremos o

jantar, cada garçom ficará encarregado de servir uma mesa. Estamos entendidos?
— Ele fala tudo rapidamente.

— Claro que sim.

— Então pode pegar sua bandeja e ir servir as mesas. A propósito, me

chamo Robert. Se tiver qualquer dúvida em relação ao trabalho, pode falar


comigo.

— Me chamo Sophia. — Me apresento, recebendo um belo silêncio


como resposta.

Dou de ombros, ignorando sua falta de educação, focando no que

realmente interessa: o trabalho. Pego uma bandeja prateada, começando a


circular pelo salão lotado de pessoas.

Com o tempo minhas pernas começam a doer, não é fácil andar com

esses saltos enormes por toda parte servido as pessoas. Aposto que amanhã meus
pés estarão inchados e doloridos.

Robert não pode me ver parada nem por um segundo que já me olha com

cara feia. Esse homem chupou limão, única explicação para tamanho mau-

humor.

Vou até a cozinha para pegar mais algumas taças de champanhe, tomando
cuidado para não acabar as derrubando.

— Vamos logo com isso, Sophia. — Robert esbraveja impaciente.

— Estou indo o mais rápido que posso.

— Então vê se acelera. Daqui a pouco vamos começar a servir o jantar.

— Está bem.

Retorno ao salão, voltando a servir as pessoas. Tenho certeza que que no

final da noite minhas bochechas estarão dormentes de tanto sorrir.


— Venha, Sophia, já vamos começar a servir o jantar. — Robert
comunica. — Você ficará encarregada de servir aquela mesa. — Aponta para

uma mesa onde tem um casal e um homem desacompanhado.

— Tudo bem.

Sigo o senhor mau-humor até a cozinha, onde pego uma bandeja maior
que contém os pratos de entrada. Caminho com uma certa dificuldade até a mesa

que estou responsável, quando sem querer esbarro em um homem que estava
prestes a se sentar.

— Me desculpe sen... — Não consigo concluir a frase quando vejo de

quem se trata, fico muda, minhas pernas travam instantaneamente.

Não pode ser!

Nem nos meus mais profundos pesadelos imaginaria que o encontraria

aqui. Dominic está parado a minha frente, ele continua lindo, seus cabelos
negros como a noite estão bem arrumados, seu corpo musculoso combina

perfeitamente com o terno cinza bem alinhado que veste, seus olhos continuam

com o mesmo tom de azul intenso.

Meu coração bate como na primeira vez que o vi, vejo que meus
sentimentos continuam os mesmos de a quase dois anos atrás. Queria ter o poder

de nutrir apenas ódio por esse homem, mas não consigo.

Caso pudesse, excluiria essa noite da minha vida. Maldita hora em que
aceitei esse trabalho!
— Sophia... — Sussurra, tocando suavemente meu braço, seu toque me
deixa frágil.

— Não me toque. — Retiro meu braço do aperto de sua mão.

Não dou oportunidade que ele diga mais nada, sigo o mais rápido

possível para à cozinha. Entro no cômodo onde diversos cozinheiros trabalham,


sentando na primeira cadeira que vejo.

Não Deus, não pode ser! Por que tinha que reencontrá-lo novamente?

Não queria vê-lo nunca mais.

— Sophia, por que não está servindo as... — Robert para de falar quando

me vê. — Meu Deus! Você está bem? Está branca como um papel.

— Eu...eu estou bem. — Minha voz sai trêmula.

— Fique aqui descansando, irei tomar conta da mesa que você era

responsável. — Ele pega a bandeja, saindo da cozinha.

Ainda não estou acreditando que o vi, é como se tudo não passasse de um

pesadelo tenebroso. Tenho medo que ele me humilhe novamente, aquele homem
deixou bem claro que não queria nunca mais me ver em sua frente.

Creio que logo Robert me mandará voltar a servir as mesas, não posso
entrar naquele salão e ter que encarar Dominic normalmente.

Queria ir embora nesse exato momento, mas não posso, preciso do


dinheiro, terei que aguentar firme. Dominic não pode atrapalhar minha vida por
uma segunda vez.
Não sei quanto tempo já se passou desde que estou praticamente
escondida na cozinha.

— Está melhor, Sophia? — Robert pergunta ao se aproximar de onde

estou.

— Sim. — Confirmo com um sorriso fraco.

— Então volte a servir os convidados.

Tento achar forças do além para entrar no salão novamente, pego a

bandeja, respirando fundo, abrindo a porta que dá acesso à área principal.

Vasculho todo o local em busca de Dominic, agradecendo mentalmente

por não encontrá-lo em lugar algum. Olho pela milésima vez para a mesa onde

Dom estava, constatando que ele não está na mesma.

Por sorte não o vi pelo restante da noite. A única coisa que quero de

Dominic é distância.

— Sophia, muito obrigado pelos seus serviços. — Robert agradece,

entregando o pagamento em um pequeno envelope.

— Por nada.

Já são duas da manhã quando finalmente saio do salão de festas, ou seja,


não encontrarei nenhum ônibus a essa hora, e não posso ir andando até minha

casa. Saio do hotel, retirando o celular da bolsa, entrando em um aplicativo,


pedindo um táxi.

— Pensei que não iria revê-la. — Uma voz grossa soa atrás de mim,
fazendo com que todos os pelos do meu corpo se arrepiem.

Um misto de sensações toma conta do meu coração no instante em que


giro os calcanhares, tendo a visão completa do homem parado a minha frente.

Seus olhos azuis me avaliam minuciosamente.

— Saia de perto de mim. — Falo, não conseguindo segurar as lágrimas.


— Por favor. — Imploro.

— Sophia, precisamos conversar. — Fala calmamente.

— Não, não precisamos conversar absolutamente nada, acho que tudo foi

dito a quase dois anos atrás. — Enxugo as lágrimas, meus olhos mais parecem

duas cachoeiras. — Por favor, vai embora.

— Não, você está totalmente errada, nem tudo foi dito.

— Foi sim. — Vejo a táxi se aproximar e agradeço a Deus por ter

chegado rápido. — Tudo já foi dito. — Minhas últimas palavras saem carregadas

de ódio.

Vou caminhando até o táxi quase que correndo, Dominic faz menção de
dizer algo, mas sou mais rápida e entro no veículo.

O taxista passou o caminho todo me encarando, acho que o motivo foi o


meu choro compulsivo.

Ver Dominic foi como se alguém tivesse mexido em uma ferida que
estava apenas adormecida, uma ferida que não está totalmente cicatrizada.
Pensei que com o tempo essa ferida iria parar de doer, mas ainda está doendo
como doeu no dia em que ele me humilhou.

Assim que o táxi estaciona em frente à minha casa me obrigo a sair do


veículo em modo automático, caminhando até a entrada do imóvel. Acendo a luz

da sala de estar, sentando-me no sofá.

— Sophia, está tudo bem? — Minha mãe pergunta, descendo as escadas.


— Você está me assustando. — Ela me remexe, parando a minha frente. — O

que aconteceu? Por favor, fala alguma coisa.

Queria responder, mas simplesmente não consigo, estou em estado de


choque. Não imaginei que ficaria nesse estado por revê-lo, queria ter sido forte,

queria ter o xingado, mas não consegui, sou fraca.

Olho de relance para o canto da sala, vendo que minha mãe está no

telefone. Por mais que queria, não consigo ouvir o que está dizendo.

Dominic não deveria ter voltado, já sofri o bastante com aquele homem,
passei dois meses chorando todos os dias por ele. O abandono dói mais que

qualquer coisa. Nos primeiros meses fiquei completamente perdida, não sabia o

que fazer, não fazia ideia de como seria minha vida, afinal estava sozinha e com
uma bebê a caminho.

Alguém bate na porta e minha mãe vai atender. Vejo Evelyn entrar

desesperada com Bela nos braços, ela entrega a bebê para minha mãe, vindo em
minha direção com um semblante preocupado.

— Sophia, me fala o que você tem? — Pergunta, pegando nas minhas


mãos. — Ela te falou algo, Sônia? — Direciona o olhar para minha mãe, que

está a alguns metros de distância nos observando.

— Não. — Nega. — Ela chegou e se sentou aí, desde então só sabe

chorar.

— Amiga, por favor fala o que fizeram com você? — Pergunta,


aparentemente preocupada.

Não consigo responder, um nó parece ter se formado em minha garganta,

impedindo que eu diga qualquer coisa.

— Ele voltou. — Sussurro.

— Quem, Evelyn? — Minha mãe indaga.

— Não sei. Agora vamos para o seu quarto, você precisa descansar,
amanhã conversaremos direitinho.

Ela me ajuda a levantar, guiando-me até o quarto, ao chegar lá retiro os

sapatos, deitando na cama. Evelyn senta ao meu lado, começando a acariciar

meu cabelo delicadamente.

— Não irei permitir que ele te fazer mal, Soph. Fique calma, não adianta
ficar tão nervosa. — Ela beija o topo da minha cabeça.

Reencontrar os demônios do passado era tudo que eu menos desejava,

não estava preparada para tal coisa, na verdade, acho que nunca estarei. Me sinto
como um animal que é arrisco por conta de feridas.

Evelyn volta a mexer nos meus cabelos, com o tempo o cansaço toma
conta e acabo adormecendo.
Encaro o convite a minha frente, buscando uma boa desculpa para não

comparecer. Meu animo para qualquer aglomeração de pessoas anda baixíssimo.

Fui um tremendo covarde com Sophia. A deixei por medo de assumir que
realmente a amava. Não conhecia o amor antes daquela mulher, foi ela quem me

apresentou esse sentimento tão intenso. Demorou até que eu percebesse que o
que eu sentia era realmente amor, logo no início imaginei que seria uma paixão

passageira.

Não há motivos cabíveis para explicar o que fiz a ela. A culpa me coroe
todos os dias, não a tiro dos meus pensamentos em nenhum momento.

Mesmo sem ter consciência, Sophia mudou minha forma de ver o


mundo. Não sou a mesma pessoa de meses atrás. Precisei perder a mulher que

amava para me dar conta que estava sendo um ser humano desprezível.

— Senhor Watson, tem uma ligação para você. — Vanessa anuncia ao

entrar em meu escritório, me entregando o telefone.

— Obrigado. — Agradeço pegando o aparelho.

— Olá, querido amigo. — Logo reconheço a voz carregada de animação

do Wesley.

— Fala logo o que você quer. Não tenho paciência para suas voltas, então

vá direto ao assunto. — Falo impaciente.

— Definitivamente você precisa melhorar esse seu gênio. Até parece um

cão raivoso. — Zomba.

— Não, eu não preciso. Agora diga o que quer?

— Só liguei para saber se o digníssimo presidente vai comparecer à festa

da sua empresa?

— Não queria, mas infelizmente terei que comparecer. — Resmungo,

nada contente.

— Espero que até lá você tenha melhorado esse humor. Lembre-se que
precisa distribuir sorrisos amigáveis para todos.

— Vai se foder, Wesley!

— Sabe do que você precisa? — Ele não permite que eu responda. — De


uma boa noitada para relaxar. Está parecendo um vovozinho ranzinza.

— Cuida da sua vida que eu cuido da minha.

Posso ouvir o som de sua risada ao fundo.

— Não precisa se irritar. Já tentou tomar um suquinho de maracujá? Pode

ser bom.

— Até mais tarde.

Encerro a ligação, impedindo que ele diga mais alguma idiotice.

Wesley sempre foi meu melhor amigo desde a infância. Temos

personalidades distintas, enquanto ele é extrovertido e faz questão de falar tudo

que pensa, eu sou mais contido, sempre fui mais introvertido.

Meu celular apita, anunciando uma nova mensagem. Quando vejo de


quem se trata, resolvo ignorar, não estou afim de aguentar Natália. Nosso

relacionamento já teve um ponto final há um bom tempo, basta admitirmos.

O restante do dia foi cansativo. Tive que revisar e elaborar alguns

projetos. Optei por trabalhar em casa, não estava com um pingo de paciência de

ir para a empresa.

Fecho os olhos, recordando das palavras de Sophia.

Me lembrar dessas palavras faz meu coração doer, me faz sentir o pior
homem do mundo. Eu tinha tudo para ser feliz. Sophia era uma companheira

incrível, ao contrário das outras mulheres com quem me relacionei, ela não
ligava para minha condição social. Se eu tivesse sido homem o suficiente
estaríamos felizes com nosso filho.

Uma raiva imensa me consome só de imaginar que meu filho pode estar
chamando outro de pai, afinal o recusei quando ainda estava no ventre da mãe.

Me arrependo amargamente disso.

Decido afastar os pensamentos ruins ao ver que estou um tanto atrasado.


Já posso imaginar o quanto minha mãe reclamará por conta desse atraso.

Em menos de meia hora já me encontro completamente pronto e a

caminho do hotel onde acontecerá a confraternização.

Entrego o carro ao manobrista, adentrando ao hotel. Assim que entro no

salão, vejo diversos rostos conhecidos. Cumprimento algumas pessoas logo na

entrada, tentando ser o mais cordial possível.

Avisto meus pais em uma mesa no centro do salão, e aproveito para ir até

eles. Quando estou prestes a me sentar, uma garçonete esbarra em mim.

— Me desculpe sen... — Ela para de falar quando assim que me vê.

Meu coração acelera assim que tenho a visão completa de seu rosto.
Estou diante da Sophia, a mulher que habita meus pensamentos vinte e quatro
horas por dia.

Foco meu olhar em seus grandes olhos verdes, vendo que está

aparentemente assustada. Sophia é dona de uma beleza angelical, seus traços são
delicados. Quando a vi pela primeira vez tive a sensação que estava diante de um

verdadeiro anjo.
— Sophia... — Toco seu braço, sem saber o que dizer.

Ainda não acredito que estou diante dessa mulher.

— Não me toque. — Pede se afastando do meu toque, lançando um olhar

carregado de ódio.

Seu olhar não é o mesmo da última vez que nos vimos, algo mudou.

Antes que eu fale algo, ela sai andando com passos largos. Estou estático,
tanto que não consigo segui-la. Tenho a sensação que meus pés estão grudados

ao chão, impedindo que eu me mova.

Tenho tantas perguntas para fazer. Quero saber do nosso filho, saber onde

ela está morando atualmente. Saber se está com outra pessoa, se algum dia será

capaz de me perdoar por tudo que fiz. Mas sinto medo das respostas que posso

receber.

— Dominic, você não vai se sentar? — Minha mãe indaga, me

encarando.

Direciono o olhar para ela, voltando a realidade. Balanço a cabeça,


tentando colocar meus pensamentos em ordem.

— Vou me sentar. — Murmuro, ainda olhando para a direção onde


Sophia seguiu.

Olho para o Wesley, que está com os olhos arregalados fixos a mim.
Assim como eu, ele a viu.

— Está tudo bem, meu filho?


— Está sim. — Confirmo, me sentando a sua frente.

Logo depois outro garçom veio servir nossa mesa, de certa forma fiquei
um tanto decepcionado.

Durante o restante da noite meus pais seguiram conversando

animadamente, eu sequer consegui prestar atenção no que falavam. Meus


pensamentos estavam todos em Sophia.

Minha maior vontade era procurá-la, mas não posso, meus pais iriam me

bombardear de perguntas que ainda não estou preparado para responder. Como
vou falar para eles que já sou pai?! Pelo que os conheço, ficariam em choque.

Assim que a confraternização chegou ao fim, pensei que finalmente

poderia procurar Sophia, mas fui impedido por diversas pessoas. Não foi fácil

agradecer as felicitações de todos quando o que eu mais queria era ir atrás da


loira.

A procuro pelo salão quando me livro de todos, não a vendo em lugar

algum.

Já na saída, a vejo escorada na parede de entrada do hotel. A luz do luar

reflete diretamente em seu perfeito rosto. Seu olhar parece um tanto perdido.

— Pensei que não iria revê-la. — Me aproximo com receio de sua


reação.

— Saia de perto de mim. — Pede com a voz trêmula por conta do choro.

— Por favor.
Ao vê-la chorar desta maneira, vejo o quanto a machuquei, esse choro me
mostrou o tamanho da ferida que deixei em seu coração. Ferida a qual preciso

ajudar a cicatrizar.

— Sophia, precisamos conversar. — Tento parecer calmo.

— Não, não precisamos conversar absolutamente nada, acho que tudo foi
dito a quase dois anos atrás. — Ela leva as pequenas mãos até o rosto, tentando

enxugar as lágrimas. — Por favor, vai embora. — Pede em um sussurro, que


mais parece uma súplica.

— Não, você está totalmente errada, nem tudo foi dito.

Recordo-me das palavras que desejo falar desde há última vez que nos

vimos.

— Foi sim. Tudo já foi dito. — Reforça.

Rapidamente ela vai até um táxi, entrando no mesmo, me deixando um

tanto atordoado.

Cada lágrima que ela derramou foi como se eu estivesse levando uma
facada.

Porra, eu a deixei ir sem ao menos ter perguntado do nosso filho!

Depois dessa conversa, se é que posso chamar isso de conversa, pude

perceber que não a terei novamente. Sophia ainda está machucada por tudo que
aconteceu no passado, e não a julgo.

Esse breve encontro não esclareceu nenhuma das minhas dúvidas,


continuo sem saber onde ela está morando, não tive a oportunidade de perguntar
sobre nosso filho.

Já perceberam que quando queremos muito encontrar uma pessoa,

ensaiamos mil diálogos, e no final não conseguimos dizer absolutamente nada?!


Assim que abro os olhos, minha mente é invadida por flashs da noite

anterior. Queria poder apagar da memória tudo que envolve Dominic Watson.

Tudo que diz respeito a ele me faz mal.

Quando pensei que minha vida estava começando a entrar nos eixos,

Dom ressurge em minha vida como um fantasma pronto para me atormentar.

— Finalmente você acordou. — Evelyn diz, ao se aproximar da cama,


com Bela nos braços.

— Não queria ter acordado. — Sussurro, sentindo meus olhos se


encherem de lágrimas.

— Olhe para mim. — Pede, colocando Bela no berço. — O que


realmente aconteceu ontem?

Tenho vergonha de falar que estou assim apenas porque reencontrei


Dominic. Abro e fecho a boca diversas vezes, tentando falar o que aconteceu.

Sempre contei tudo para Evelyn. Ela foi a primeira a saber da minha gravidez, na

época brigou bastante comigo, falou que eu deveria ter me prevenido, e ela
estava realmente certa, fui inconsequente. Mas nem por isso me virou as costas,

ao contrário, me ajudou em tudo.

Evy me acompanhava em todas as consultas do pré-natal. Me ajudou a

preparar o enxoval da Bela, e até a escolher o nome da bebê. E quando comecei

a sentir as dores do parto, foi ela que se dispôs a me acompanhar até o hospital.

— Como falei, eu o vi... — Dou uma pequena pausa. — Era ele,

Dominic. Ele estava no evento em que trabalhei ontem. Fui servir a mesa em que

ele iria sentar, e sem querer acabei esbarrando nele. Na hora, fiquei em choque,

depois sai praticamente correndo do salão. Me escondi na cozinha por um bom

tempo, e só o reencontrei na saída.

― Meu Deus! — Fala, levando a mão até boca. — Desculpe, eu não


deveria...— Eu a corto.

— Você não tem que se desculpar, Evelyn. Até porque não sabia que ele

estaria lá. Foi apenas um grande acaso da vida.

— Você ainda o ama? — Pergunta, segurando em minha mão.

— Acho que sim. Sou uma tremenda idiota.


Abaixo a cabeça, tendo vergonha de ainda amá-lo, mesmo depois de
tudo.

— Tome cuidado com esse sentimento. Você já sofreu bastante, amiga.

— Tenho medo de encontrá-lo novamente.

— Ele não irá te fazer mal, não irei permitir. — Fala, me abraçando.

— Obrigada. — Agradeço, retribuindo o abraço.

Dominic devia morrer, pois só assim eu finalmente teria paz. Quando me

envolvi com ele pela primeira vez, não imaginava que tudo acabaria de uma

forma tão ruim. Não me entregarei a ele novamente.

— Então, não fique triste, Sophia. Ele não merece nenhuma lágrima sua.

— Me apoia, enxugando as lágrimas que insistem em rolar livremente pelo meu


rosto. — Lembre-se que sua filha precisa de você.

Direciono o olhar para o berço, vendo minha gordinha brincando feliz.

Seus lindos olhos azuis estão brilhantes, indicando que está contente.

— Não consigo ser forte.

— Você é forte, mais do que possa imaginar. Passou por tantas coisas

ruins e mesmo assim não perdeu a doçura, continua a mesma pessoa gentil. Se
tudo tivesse acontecido comigo, eu com certeza me tornaria uma pessoa

amargurada.

— Sou burra, isso sim. Eu deveria odiá-lo com todas as minhas formas.
— Não. O ódio nos destrói sem que ao menos possamos perceber.

— Você está certa.

— Agora coloque um sorriso nesse rostinho lindo.

— Vou colocar pela minha filha e por você.

— Isso mesmo. — Ela me abraça mais uma vez. — Agora vá tomar um

banho e se arrumar, porque a senhorita está péssima.

— Estou tão feia assim? — Indago, fingindo um falso constrangimento.

— Está. — Responde, gargalhando alto em seguida.

Caminho até o espelho, vendo meu reflexo tenebroso no mesmo. Evy

tem total razão, estou péssima. A maquiagem borrada por conta do choro me faz

parecer uma daquelas atrizes de filmes de terror.

Sigo até o banheiro do quarto, pegando um demaquilante que estava


sobre o pequeno balcão, começando a remover os resquícios de maquiagem.

Aproveito que Evelyn está cuidando da minha pequena, para tomar um longo

banho.

Minutos depois retorno ao quarto um pouco mais apresentável.

— Olha como a sua mamãe está bem mais bonita, Bela. — Evelyn diz,

quando entro no quarto. Ela está sentada na cama com Bela nos braços.

— Mama, mama. — Minha menininha me chama, estendendo os


bracinhos na minha direção.
Caminho até a cama, pegando-a nos braços. Bela dá vários beijos
babados em meu rosto, se tiver um beijo melhor que esse eu desconheço. Suas

mãozinhas macias correm por todo meu rosto, me trazendo uma imensa paz.

— A mamãe te ama mais que tudo, princesinha. — Beijo as bochechas

gordinhas da Bela.

— Cada uma mais linda que a outra. — Evelyn fala, se levantando da

cama.

— Você que é linda.

— Mas claro, a Bela ganha de nós duas. — Pontua, apertando as

bochechas da minha pequena.

— Com certeza. Ela é perfeita.

Nossa conversa é interrompida no instante em que minha mãe entra no

quarto com uma expressão nada contente. Ela olha com desdém para Evy,

dirigindo o mesmo olhar a mim em seguida.

— Vamos tomar café da manhã.

— Desculpe, Sônia, mas não poderei tomar café da manhã com vocês. —
Se desculpa, pegando a bolsa que estava sobre a cômoda. — Queria mesmo
acompanhá-las.

— Pode vir outro dia. — Minha mãe resmunga, se retirando do quarto.

— Tchau, princesas. — Se despede.


— Tchau. Obrigada por me aconselhar. Você é a melhor amiga do
mundo, Evelyn.

— Por nada. Sabe que sempre que precisar, estarei aqui, Sophia.

Antes de se retirar do quarto, Evy faz questão de beijar a bochecha da

Bela, arrancando uma gargalhada gostosa da minha pequena.

Passo os dedos no rostinho rechonchudo da minha filha, admirando os

traços delicados que ela possui.

Mudamos quando nos tornamos mãe. Passamos a ver o mundo de uma

forma diferente. O filho passa a habitar seus pensamentos vinte e quatro horas

por dia.

A maternidade pode ser definida em uma única palavra: doação. Desde

que Bela chegou ao mundo, estou aprendendo o verdadeiro sentido dessa

palavra. Não é nada fácil dedicar todo seu tempo a um pequeno ser humano.

Se eu tenho medo de morrer solteira? Não, eu não tenho medo. Como se

diz "Melhor sozinha que mal acompanhada", não quero alguém que só me faça
sofrer. Já sofri o bastante.

Pego Bela, descendo até a cozinha. A sento na cadeirinha, entregando a

mamadeira a ela.

— Até que enfim desceu. — Minha mãe murmura, assim que me sento
na mesa.

— Estava trocando a fralda da Bela.


— O que aconteceu ontem? — Pergunta, olhando nos meus olhos

E agora o que digo a ela? Claro que não posso falar que vi o pai da Bela,
ela iria surtar.

— Nada.

— Para de ser mentirosa, garota! — Exclama, alterando o tom de voz. —

Agora diga o que realmente aconteceu.

Nunca vi uma mulher tão insistente. Ela sempre quer saber de tudo. Tem

coisas que simplesmente não queremos falar, e ela deveria respeitar, assim como

a respeito. Nunca toco no assunto do divórcio, pois sei que é algo que ainda a

machuca.

— Não aconteceu nada, pode ficar tranquila.

— Sophia, como não aconteceu nada? Você chegou chorando igual uma

louca e agora vem me falar que não aconteceu nada. Pare de mentir.

— Mãe, não aconteceu nada. — Tento parecer o mais convincente

possível.

— Não acha que está na hora de parar de mentir? Você não é mais
nenhuma adolescente para ficar mentindo descaradamente assim. Agora tome a
atitude de uma mulher e me fale o que aconteceu.

Pode parecer um tanto dramático da minha parte, mas não gosto quando
ela me trata de forma grosseira.

— Quer dizer que para ter uma atitude de mulher preciso contar o que
aconteceu? — Sorrio falsamente.

— Sim. — Sua voz sai firme. — Sabe por quê? Porque você mora na
minha casa, me deve satisfação de exatamente tudo que faz.

— Acho que a senhora esqueceu de mencionar que sou eu quem paga as

contas da sua casa. ― Faço questão de frisar a palavra sua.

— Você faz isso porque é sua obrigação. Ninguém mandou abrir as

pernas para um qualquer.

Não tenho que sustentar minha mãe depois de tudo que ela já me falou.

Continuo sustentando porque sou uma boba de coração mole. Ao contrário dela,

não sou um monstro.

— Acho que no fundo a senhora sabe que eu não tenho obrigação alguma

de cuidar da casa sozinha. — Digo, tentando parecer firme. — Bela é minha

única responsabilidade, apenas ela.

— Quer saber, perdi a fome. Faça um bom proveito da refeição, Sophia.

— Sua última frase sai carregada de ironia.

A vejo se retirar da cozinha, resmungando palavras incompreensíveis.

Às vezes penso que nunca mais terei uma conversa digna com ela. Há
meses não temos um diálogo civilizado. Sinto falta de uma mãe que me escute.

Na verdade, ela nunca escutou. Sempre que eu ia falar algo ela falava que não
queria saber. Outras vezes, falava que não tinha tempo para ouvir minhas

bobeiras. Foram incontáveis as vezes em que eu queria ouvir conselhos


maternais, ou ouvir um simples "eu te amo".

Ela tem uma enorme mágoa por eu ter engravidado. Mamãe esperava que
eu tivesse um futuro brilhante, o que infelizmente não consegui.

Mas ela precisa colocar na cabeça que sou um ser humano, tenho

diversas falhas, não sou perfeita. A entendo, eu não ficaria contente se minha
filha aparecesse grávida e não me contasse quem é o pai, mas independente de

tudo, eu não a abandonaria.

Cada pessoa enfrenta uma situação de uma forma, ela usa a indiferença.
Termino de dar banho no meu anjo, enrolando-a em uma toalha rosada. A

coloco sentada na bancada, entregando uma boneca para que fique entretida,

começando a escovar seu cabelo.

Desde ontem minha mãe faz questão de me ignorar, nem um mero "bom

dia" falou. Ela realmente ficou chateada com nossa discussão. Acho que já
estava bem claro que eu não desejava falar de tal assunto, mas ela simplesmente

não aceitou.

Sou despertada dos meus pensamentos quando minha mãe adentra ao


banheiro.

— Tem uma ligação para você, Sophia. Parece ser importante.


— Leve a Bela para o quarto, por favor. — Peço, entregando minha bebê
para ela.

As duas seguem para o quarto e eu desço até a sala de estar para atender

o telefone.

— Oi. — Sussurro, um pouco temerosa.

— Bom dia! Sophia Brant? — Uma voz feminina indaga do outro lado

da linha.

— Sou eu. No que posso ajudar?

— Sou secretária da advocacia Montgomery. Você esteve aqui esta

semana a procura de um emprego. Surgiu uma vaga, a senhorita poderia vir fazer

a entrevista ainda hoje?

Isso foi como se uma chama de esperança acendesse dentro de mim.

— Claro que sim. Qual o horário?

— Às 14h00 horas está bom para a senhorita?

— Está sim. — Confirmo, não me contendo de felicidade.

— Até mais tarde, senhora.

— Muito obrigada. — Agradeço, encerrando a ligação com um sorriso

bobo nos lábios.

Estou precisando muito de um emprego. Depois de tanto tempo terei ao


menos a chance de comparecer a uma entrevista. Se eu conseguir esse emprego,
irei me dedicar ao máximo para preservá-lo.

Quero ter a chance de recomeçar minha vida, poder alugar um


apartamento, e finalmente proporcionar um ambiente saudável para minha filha.

Volto para o quarto, vendo que Bela está no berço brincando com um

ursinho. Ela o coloca na boca, soltando um gritinho ao me ver.

— Oi, meu amor. — Me aproximo do berço. — Esse urso deve estar

muito gostoso. — Sorrio para ela, que retribui o sorriso.

— Quem era no telefone? — Mamãe indagada, cruzando os braços. —

Não vai contar? Irá preferir falar para aquela sua amiguinha? Só não se esqueça

que quem te colocou no mundo foi eu, não ela.

— Acho que a senhora se esqueceu que quem sempre me apoiou foi ela.

Evelyn foi a única pessoa que permaneceu ao meu lado nos momentos bons e

ruins.

— E você esperava que eu batesse palmas por ter engravidado? — O

ódio é bem visível em suas palavras.

— Não. Eu só esperava que a senhora me apoiasse, não que me julgasse.

— Sério? Claro que eu não iria apoiar um erro seu. Só você mesmo para
achar que eu aceitaria sua bastarda sem pestanejar.

— Não quero que a ofenda nunca mais. Pode falar o que quiser sobre
mim, não me importo. Bela é apenas uma criança inocente, não merece lidar
com seu ódio gratuito.
Não é a primeira vez que ela se refere dessa maneira a minha filha, e isso
sempre foi algo que me incomodou bastante. Se ela quer punir alguém, que seja

eu, não a Bela, pois minha pequena ainda é um ser humano inocente.

Dói ver que a própria avó a trata dessa maneira. Normalmente os avós

são apaixonados pelos netos, o que infelizmente não é o caso.

— Não exalte a voz. — Esbraveja, dando pequenos passos até a porta.

Bela começa a chorar alto, chamando minha atenção. Ela com certeza se

assustou com a discussão. Pego-a nos braços, abraçando seu corpo frágil,
tentando a acalmar.

— Calma, anjinho. A mamãe tá aqui. — Passo os dedos entre os fios

ralos do seu cabelo, ouvindo seu choro. — Está tudo bem, Bela.

— Pare de mimar essa menina.

— Por favor, saia do meu quarto. — Peço em um sussurro, evitando

olhá-la.

Agradeço mentalmente quando ela finalmente se retira, me deixando a


sós com minha pequena.

Assim que a porta é fechada, me permito chorar. Abraço Bela, buscando


forças na minha pequena. Estou exausta com a vida que venho levando nos

últimos meses, me sinto sobrecarregada em todas as áreas da minha vida. É


como se eu fosse uma panela de pressão que está prestes a explodir.

Horas depois, saio do quarto já arrumada para a entrevista. Olho meu


reflexo no espelho, repetindo mentalmente que tudo dará certo.

A mãe da Evelyn cuidará da minha pequena no período em que estarei na


entrevista de emprego. Ela sempre acaba me salvando quando não encontro

ninguém para cuidar da Bela.

— Olá, minha querida. — Maísa me cumprimenta com um abraço


apertado. — Oi, anjinho. Estava com saudades. — Ela pega Bela nos braços.

— Oi, Maísa.

— Venha, menina, entre. — Convida, dando passagem para que eu possa

entrar.

Andamos até o sofá, onde nos sentamos de frente uma para outra.

— Tenho uma entrevista de emprego daqui algumas horas. — Explico o


motivo pelo qual preciso que ela olhe minha filha. — Tem certeza que não estou

te atrapalhando?

— Sophia, você não está me atrapalhando. E você mais do que ninguém

sabe o quanto adoro a companhia da Bela. Essa casa é tão solitária quando
Evelyn não está.

— A senhora e a Evelyn são verdadeiros anjos em minha vida. Não sabe


o quanto sou grata.

— Fazemos tudo isso porque amamos você e esse anjinho aqui.

— Eu também amo vocês. Agora já indo, não quero chegar atrasada. —


Me levanto, indo até a porta.
— Se cuida, menina. Tenho certeza que irá conseguir esse emprego. —
Diz, sorrindo de forma terna.

Suas palavras podem parecer um tanto simples, mas me deram um pouco

mais de confiança. Há momentos da vida que só necessitamos de alguém ao

nosso lado para falar que tudo dará certo.

— Obrigada! — Agradeço. — Qualquer coisa pode me ligar, estarei de

olho no celular.

— Pode desativar o modo mãe coruja, cuidarei muito bem da Bela. Vá


tranquila, Sophia.

Aceno sorrindo, vendo o quanto sou boba.


Encaro o prédio luxuoso a minha frente, apertando a bolsa contra o

corpo. Meu coração está batendo freneticamente, tenho a sensação que a

qualquer momento terei um ataque cardíaco.

Respiro fundo antes de finalmente entrar. Um medo de não conseguir

está me atormentando. Caminho em passos rápidos até a recepcionista.

— Oi, vim para a entrevista. — Aviso para a mulher que me atendeu na

última vez em que estive aqui.

— Você deve ser a senhorita Brant.

— Sim. — Confirmo, apertado uma mão na outra, tentando aliviar o

nervosismo.

— Pode seguir até o quarto andar. — Aponta para o elevador, sorrindo

amigavelmente.

Sigo até o elevador, entrando no mesmo acompanhada de um homem.

Olho de relance para ele, vendo o quanto é bonito. O terno bem alinhado abraça
perfeitamente seu corpo.

Assim que as portas do elevador se abrem no quarto andar, uma senhora

me guia até um corredor, indicando a sala onde ocorre as entrevistas de emprego.


Bato na porta, para depois abri-la. Um homem de meia idade sorri ao me
ver, se levantando para me receber.

— Bom dia! — O homem me cumprimenta gentilmente. — Sente-se. —

Ele indica a cadeira a sua frente. — Então a senhorita se chama Sophia Brant?

— Aceno que sim. — Você tem apenas o ensino médio?

— Infelizmente sim. — Confirmo cabisbaixa, sabendo qual será o

resultado final.

Durante os próximos minutos sou bombardeada de perguntas. Mesmo


tendo me preparado bastante, senti uma pontada de insegurança ao respondê-las.

Nos últimos meses compareci a inúmeras entrevistas, o que de certa forma, me

tornou uma verdadeira especialista no assunto. Já decorei todas as perguntas que

costumam fazer.

— Pelo seu currículo, pude perceber que possui pouca experiência

profissional. — Pontua, analisando o papel que está em suas mãos. — Por que

deseja esse emprego, senhorita Brant? — Indaga, direcionamento o olhar em

minha direção.

— Porque realmente estou precisando. — Confesso, um tanto


envergonhada.

— A vaga que disponível no momento é como secretária do senhor


Montgomery. O que acha?

— Acho ótimo. Irei fazer de tudo para ser uma excelente profissional,
senhor.

— Te darei um voto de confiança, senhorita. Espero que não me


decepcione.

— Eu não vou. Muito obrigada pela oportunidade. — Agradeço, um

tanto empolgada.

— Por nada. Pode ir até o rh assinar os papéis da contratação, ele fica no

segundo andar.

— Está bem.

— Bem-vinda, Sophia Brant! — Se levanta, abrindo a porta.

— Obrigada! — Agradeço mais uma vez, recebendo um sorriso amigável

em troca.

Saio da sala saltitante. Na verdade, queria sair gritando para todos que

finalmente consegui um emprego, mas se eu saísse gritando iria ser demitida

antes mesmo de ser contratada, se é que isso é possível.

Felicidade é pouco para o que estou sentindo. Finalmente consegui um

emprego. O que significa que poderei sair da casa da minha mãe daqui alguns
meses, quando já estiver estável financeiramente.

Logo em seguida vou para o andar do rh, onde começo a organizar os

documentos da contratação. Claro, faço tudo com um enorme sorriso estampado


nos lábios, pois agora eu estou oficialmente empregada.
Maísa se dispôs a cuidar de Bela enquanto não encontro uma babá.

Confesso que quando a deixei, senti meu coração apertar. Nunca fiquei longe

dela por muito tempo.

Olho para o céu, vendo que o sol nasceu mais radiante do que nunca.

Paro em frente ao prédio, pronta para iniciar mais uma fase da minha

vida. Atravesso as grandes portas de vidro, um tanto assustada com a


movimentação do local. Pessoas andam de um lado para o outro, todas muito

apressadas.

Ao passar pela recepção, vejo meu reflexo através de uma parede


espelhada. Passo a mão sobre a saia lápis, vendo que está perfeitamente passada.
Aperto o botão do elevador, aguardando-o.

— Olá, Sophia. Bem-vinda! — Ouço uma voz grossa soar atrás de mim.

Giro os calcanhares, vendo o homem que encontrei no elevador no dia

anterior. Olho-o um tanto confusa, pois ainda não fomos devidamente

apresentados. Sequer sei seu nome.

— Olá, senhor. — Cumprimento-o com um sorriso.

— Prazer, me chamo Henrique Wilson. — Estende a mão, sorrindo de

lado.

— É um prazer conhecê-lo, senhor Wilson. — Aperto sua mão.

— Preparada para seu primeiro dia de trabalho? — Indaga em um tom

formal.

— Digamos que ainda estou me preparando mentalmente.

Henrique apenas sorri, evidenciando as pequenas covinhas em suas

bochechas.

— Tenho certeza que logo se acostumará. Fique tranquila.

— A última coisa que posso ficar é tranquila, preciso desse emprego.

Antes que ele diga algo, as portas do elevador se abrem. Ao entrarmos no

mesmo, Henrique retira o celular do bolso, começando a digitar algo no


aparelho.

As portas do elevador se abrem no décimo segundo andar. Posso dizer


que é o andar mais luxuoso do prédio. Saio da caixa de metal, caminhando até o
balcão onde uma senhora de meia idade está. Ela aparenta estar bastante

concentrada nos papeis a sua frente, tanto que leva alguns segundos para

perceber minha presença.

— Você é a nova secretária? — Indaga retirando os óculos de leitura.

— Sim.

— Seja bem-vinda, senhorita.

— Muito obrigada.

— Me chamo Mariane, e estou encarregada de instrui-la. ― Apenas

meneio a cabeça em concordância. ― Já te passaram todo seu horário?

― Ainda não.

― Imaginei, as pessoas do rh são um tanto preguiçosos. ― Ela abre uma

agenda, arrancando uma folha da mesma. ― Aqui está. Terá uma hora para o

almoço. Tudo bem?

― Uma hora está ótimo.

― Essa agenda possui o número de todos os clientes do senhor

Montgomery. ― Aponta para uma agenda da cor preta. ― E nessa, encontrará o


número dos familiares dele. ― Indica uma agenda da cor amarela. ― Alguma

dúvida sobre isso?

Nos próximos minutos Mariane começa a me explicar toda a agenda do


senhor Montgomery, fazendo questão de frisar inúmeras vezes que o chefe era
extremamente exigente, e que não costumava tolerar erros. A agenda do homem
parece uma imensa lista de supermercado, ele aparenta ter compromissos vinte e

quatro horas por dia.

A manhã passou relativamente calma. Sento atrás do balcão, começando

a organizar alguns papéis em ordem.

Ergo o olhar no instante em que vejo as portas do elevador se abrirem,

revelando um homem que julgo ser o senhor Montgomery. Ao contrário do que


imaginei, ele não se trata de um senhor, longe disso, é um homem jovem.

— Você é a nova secretária? — Sua voz sai um tanto trêmula, o que me

deixa intrigada.

O homem está me olhando como se eu fosse um monstro prestes a atacá-

lo.

— Sim. — Confirmo um tanto desconcertada.

Ele apenas balança a cabeça, aparentando estar um pouco atordoado.

Quando penso que vai esclarecer o motivo pelo qual se assustou com minha
presença, ele sai andando rapidamente até sua sala, sem me dar explicações.

Durante o restante do dia o senhor Montgomery não deu as caras. Em

alguns momentos imaginei que estava fugindo de mim, só não conseguia


encontrar um motivo plausível para tal coisa, pois eu seque o conheço.

A advocacia realmente é muito bem conhecida, pois o telefone não para

de tocar. A todo minuto alguém ligava desejando marcar uma reunião com o
senhor Montgomery.

Pego uma folha em branco, anotando um recado deixado por uma mulher
nada simpática que ligou há alguns minutos.

— Estou de saída, senhorita Brant. — Meu chefe diz ao sair de sua sala.

― Se precisar de algo, ligue para o meu número particular.

— Está bem.

Ele segue em direção ao elevador sem ao menos olhar para trás.


Desligo o computador, empilhando as inúmeras agendas no canto direito

da mesa.

Assim que saio do prédio, sou recebida bela brisa suave do início da

noite. Por mais que o dia tenha sido cansativo, estou me sentindo extremamente

grata por finalmente ter um emprego.

Assim que chego na esquina, avisto Henrique apoiado no capô de um

carro branco, seu olhar fixado a mim deixa claro que ele estava apenas me
aguardando sair do prédio.

— Sophia. — Acena com um sorriso tímido pairando sobre seus lábios.

— Quer uma carona?

— Não precisa se incomodar.

— Não é incomodo algum. Aceite. ― Insiste.

— Moro em um bairro um tanto distante, tenho certeza que acabarei

atrapalhando seu trajeto. Posso muito bem ir de ônibus, será melhor para ambos.
Mas de qualquer forma, agradeço pelo convite.

― Aceite como um presente de boas-vindas.

— Já te falaram que você é muito insistente?


― Algumas vezes. ― Dá de ombros.

Como um bom cavalheiro, Henrique abre a porta do carro, me ajudando a


entrar no veículo. O observo dar a volta no mesmo, ocupando o banco do

motorista.

— Você mora sozinha? ― Pergunta colocando o carro em movimento.

— Não, moro com minha mãe e minha filha. — Sorrio ao falar na minha

princesa.

— É casada? ― Retira a atenção da direção, arqueando a grossa

sobrancelha.

Bom, eu adoraria ser casada. Mas infelizmente as coisas não saíram

como eu havia planejado. Desde a infância tinha em mente que me casaria com

um bom homem, e assim constituiria minha família

— Não. — Esclareço.

— Desculpe, acho que fui um tanto indelicado ao fazer essa pergunta. —

Henrique sorri, mordendo o lábio inferior em seguida. — Deve ser complicado


ser mãe solo, né?

Seu sorriso é aquele típico sorriso estampado em comercias de pasta de


dente.

— É um tanto desafiador. Uma criança requer muitas coisas, ainda mais


quando não se tem o apoio de outra pessoa. Só que o amor de mãe supera
qualquer barreira. Escolheria ser mãe mil vezes, mesmo sabendo que não é fácil.
— Você é uma grande mulher. — Sussurra olhando no fundo dos meus
olhos. — Nem todas pensam como você.

― E você, é casado?

Henrique sorri, voltando a prestar atenção na direção.

― Não. Como minha mãe costuma dizer: sou um solteiro solitário. Mas

espero me casar algum dia.

Apenas sorrio, direcionando o olhar para as ruas movimentadas da

cidade.

Realmente Nova York é a cidade que nunca dorme, você sempre

encontrará pessoas andando apressadas nas calçadas, independente do horário.

Sinto um certo alivio assim que Henrique estaciona o carro em frente a minha

casa.

— Obrigada. ― Agradeço retirando o cinto de segurança.

— Por nada, Sophia. Foi um prazer acompanhá-la. Tenha uma boa noite!

― Boa noite, até amanhã. ― Me despeço.

Desço do carro, caminhando rapidamente até a entrada da minha casa.

Meus sapatos fazem um barulho muito incômodo. Esse é um dos defeitos dos
saltos. Eles não nos deixam andar discretamente.

Levo um imenso susto ao entrar em casa e ver que tudo está fora do

lugar. Parece que passou um furacão pelo imóvel.


Respiro algumas vezes, disposta a não discutir com minha mãe. Sempre
odiei brigas, durante a infância pude presenciar incontáveis brigas entre meus

pais. Eles nunca tiveram um relacionamento saudável, tanto que meu pai não

fazia questão de esconder que traia minha mãe com inúmeras mulheres. Como
eu era apenas uma criança, ficava um tanto perdida, pois amava os dois. Essa

situação durou por muito tempo, até se divorciarem, meu pai foi morar com

outra mulher em Nova Jersey, e acabou levando minha irmã consigo. Com isso,

restou apenas eu e a minha mãe.

Balanço a cabeça, decidida a afastar essas lembranças ruins.

Tiro os sapatos, soltando um gemido de satisfação por não ter saltos

esmagando meus pés.

Ergo o olhar assim que vejo minha mãe se aproximar, me preparando

psicologicamente para suas perguntas em relação a carona que aceitei.

— De quem era aquele caro que você chegou?

— De um colega.

— Como você é estúpida! Não vá se envolver com alguém novamente

sem se prevenir. Não quero ter que suportar outra criança dentro da minha casa.

— Acha que sou tão inconsequente? — Pergunto ofendida. — A senhora


deveria revisar seus conceitos sobre mim. Não que seja da sua conta, mas não

pretendo me envolver com nenhum outro homem tão cedo.

— Te conheço muito bem, tão bem que sei que você não vale nada. Se
fosse uma mulher tão integra, ao menos saberia quem é o pai da sua filha.

― Sei muito bem quem é o pai da Bela.

― Tem certeza? ― Indaga com uma certa ironia contida em seu tom de

voz. ― Se realmente soubesse quem é o pai, teria ido até ele.

Abro a boca para retrucar, mas acabo desistindo.

Fico em silêncio, disposta a não trocar mais nenhuma palavra com ela.
Olho-a mais uma vez, antes de caminhar até as escadas.

Essa tortura está prestes a acabar, afinal agora tenho uma renda, logo

poderei ter um cantinho apenas meu.


Direciono o olhar para a janela, constatando que a noite chegou. O tempo

passou voando, já faz três dias desde que vi Sophia. Até pareço um bobo por

estar contando os dias, mas quero tanto vê-la novamente, sentir o calor de sua

pele, sentir o cheiro suave de seu perfume. Aparentemente ela está bem, o que
me tranquiliza. No dia em que nos reencontramos percebi que não será uma

tarefa fácil reconquistá-la, mas estou disposto a tudo para ter uma segunda
chance. Se eu tiver que ser um maldito príncipe encantado que tanto as mulheres
sonham, serei sem problema algum.

Natália está de volta com a mesma petulância de sempre. Desde o dia que

chegou faz questão de me ligar incontáveis vezes ao longo do dia.


Bato a caneta na mesa algumas vezes, enquanto leio os documentos a
minha frente atenciosamente, tentando não me perder em meus próprios

pensamentos.

— Dominic, você não vai acreditar no que aconteceu. — Wesley entra

em minha sala como um verdadeiro furacão. Sua expressão deixa claro que
parece estar assustado com algo.

— Educação te mandou lembranças, Wesley. — Alfineto, retirando a


atenção dos papéis.

— Cala a porra da sua boca e escuta o que eu tenho para falar! Acredite,

é realmente muito importante. — Diz sentando-se na cadeira a minha frente. —

Só não quero que você faça nada sem pensar.

— Você está começando a me assustar.

Raramente Wesley é sério, só quando se trata de negócios ou assuntos


realmente importantes, na maioria das vezes ele é extrovertido.

— Vou ser direto. — Diz brincando com os dedos das mãos, um forte
indício que está nervoso. — Como sabe, estou há um tempo sem secretária, e

ontem contrataram uma, como não sou responsável pelas contrações, não fazia
ideia de quem se tratava. Minha nova secretária é a Sophia.

Paro por alguns instantes, tentando absorver tudo que acabei de escutar.

A minha Sophia está trabalhando para o meu melhor amigo. Mal consigo

acreditar que o destino a colocou em meu caminho novamente.


Respiro fundo, tentando manter a calma.

— Quero vê-la.

— Vá com calma, Dom. — Aconselha, abrindo os botões do blazer. —

Aparentemente ela não está disposta a conversar com você, e deixou isso bem

claro da última vez em que se encontraram.

Wes está certo, Sophia não quer conversar, tanto que fugiu de mim há

três dias. Eu a magoei, e agora preciso lidar com as consequências dos meus

atos. Não há nada pior que lidar com as consequências de algo que apenas você é
responsável.

— Não precisa dizer o óbvio. Sei que Sophia não quer me ver nem

pintado de ouro, mas preciso conversar com ela, saber do nosso filho.

— Por que tudo isso?

— Eu a amo, quero conhecer nosso filho. Caramba, eu já sou pai e nunca

vi meu filho, não imagina o quanto isso dói. Você não sabe porque nunca teve o

prazer de se apaixonar, no dia em que acontecer, irá me entender perfeitamente.

— Olha, eu não pretendo me apaixonar pelos próximos cem anos. —


Zomba, passando os dedos entre os fios do cabelo. — Pense bem antes de ir até

ela, e não faça escândalo no meu escritório.

— Fique tranquilo, não farei escândalo algum. Você pode conseguir o


endereço dela?

— Dom, você é meu amigo, mas precisa entender que não posso te
passar essa informação, seria antiético. Tente descobrir da maneira correta.

Levanto-me, caminhando até a grande janela de vidro que ocupa toda a


parede, tendo a bela visão noturna de Nova York. Coloco as mãos nos bolsos da

calça, vendo a graciosa lua cheia no céu.

— Irei vê-la amanhã. — Comunico, ainda vidrado na vista deslumbrante.

— Cuidado com o que irá falar, aquela mulher ainda está machucada.

— Eu terei, pode ficar tranquilo.

— E não se esqueça de que está noivo, Dominic. Se não quer nada com

Natália, coloque um ponto final nesse relacionamento. Tente fazer as coisas da

maneira certa.

— Você está parecendo meu pai. Não irei me esquecer de terminar com a
minha "noiva". Não me importo de ficar sozinho. Não amo Natália, não posso

ficar com alguém que não amo pelo resto da minha vida.

Realmente não entendo como alguns casais conseguem manter um

relacionamento ao qual não existe amor. Tentei ao máximo cultivar um


relacionamento agradável com Natália, o que obviamente não consegui. O amor
muitas vezes não é o bastante para manter um relacionamento de pé, mas sem

ele, é praticamente impossível.

Tive a sorte de encontrar o amor ao lado de Sophia, mas não consegui


valorizá-lo, ao contrário, joguei no lixo um sentimento tão belo. Talvez eu nunca

mais ame outra mulher, talvez eu nunca mais saiba o que é dividir uma vida com
a pessoa amada.

— Você está ciente que a minha tia Verônica irá te matar quando souber
que deixou Natália?

— Wesley, já deixei minha mãe influenciar minha vida mais do que

deveria, está na hora de parar de pensar no que ela irá achar. Não posso me casar
com uma pessoa apenas para deixá-la contente. — Dou uma pausa, aproveitando

para respirar fundo. — Quando estava com Sophia não parava de pensar no que
nossa família acharia, e mesmo que de forma indireta, isso nos afetou.

— Sophia não era a nora dos sonhos de tia Verônica, e você sabia muito

bem. — Diz vindo em minha direção, parando ao meu lado.

— Sim, eu sabia. Mas as coisas mudaram.

— Pretende ter um relacionamento sério com Sophia?

— É o que mais quero. — Dou um sorriso carregado de amargura. —

Mas essa decisão não depende apenas de mim. Somente Sophia pode decidir se

me dará ou não uma segunda chance.

Uma parte de mim teme pela reação de Sophia, e a outra implora para vê-
la novamente.

Antes de ir embora, Wesley fez questão de frisar inúmeras vezes que

preciso ter paciência.

Sei que não conseguirei provar que mudei em poucas horas. A mudança
só pode ser demonstrada a partir de pequenos atos do dia a dia.
Assim que paro no sinal vermelho, vejo meu reflexo através do espelho

do retrovisor, constatando que minha aparência não está das melhores. Durante a

madrugada não consegui dormir nem por míseros segundos, meus pensamentos

estavam a mil.

Aperto o volante com força, vendo meus dedos ficarem esbranquiçados.

O trânsito está mais lento que o normal. O universo parece não estar cooperando
comigo.

Ainda não consigo acreditar que finalmente poderei ver Sophia

novamente. Desde há última vez que nos vimos tenho sonhado com ela todos os

dias.

Quase duas horas depois estaciono o carro em frente ao prédio onde

funciona a advocacia Montgomery. Desço do veículo rapidamente, adentrando


ao imóvel. Entro no elevador, apertando o número do andar da presidência.

No instante em que as portas do elevador se abrem, meu olhar recai sobre

a mulher de cabelos loiros sentada em uma mesa a poucos metros de distância.


Mal consigo acreditar que estou a vendo.

Caminho até ela, temeroso por sua reação. Acho que nunca estive tão

nervoso em toda minha vida.


Sophia ergue o olhar, ficando instantaneamente pálida ao notar minha
presença.

— Em que posso ajudá-lo? — Pergunta com a voz trêmula, tentando

parecer o mais profissional possível.

— Preciso falar com você. — Digo, tentando controlar o nervosismo. —


Por favor.

— E quem disse que eu quero falar com você? — Pergunta ríspida. —

Me deixe trabalhar em paz, não quero acabar perdendo meu emprego.

— Sophia, seu chefe permitiu que conversássemos por alguns minutos.

Nós precisamos conversar, e você sabe disso.

— Não quero falar com você.

— Não torne as coisas mais difíceis.

Ela não se parece nem um pouco com a Sophia de quase dois anos atrás.

Seu olhar que antes carregado de doçura, agora está carregado de ódio.

— Não tenho absolutamente nada para conversar com você, Dominic.

— Temos assuntos pendentes.

— Não temos. — Retruca impaciente, colocando uma mecha do cabelo

loiro atrás da orelha.

— Vamos até o café da esquina, lá poderemos conversar com


tranquilidade. — Proponho.
— Me deixe em paz. — Pede olhando no fundo dos meus olhos,
deixando claro que está irredutível. — Você me expulsou da sua vida, a partir

daquele dia cortamos todos os laços.

— Prometo que serei rápido.

Ela dá a volta na mesa, parando a minha frente.

— Está com algum problema de audição?

— Quero conversar civilizadamente com você, por favor.

— Você tem exatamente 15 minutos.

— Tudo bem. — Concordo, comemorando internamente essa pequena

vitória.

Durante o curto trajeto Sophia não disse uma única palavra, seu silêncio
era agonizante. Ela sequer fez questão de direcionar seu olhar a mim. Eu sabia

que não seria fácil convencê-la a conversar comigo, mas não estava preparado

para lidar com sua indiferença.

Assim que chegamos ao café, faço questão de escolher uma mesa

distante das demais, para que possamos conversar em paz. Puxo a cadeira para
ela, me sentando a sua frente.

— Não vai pedir nada? — Aponto para o cardápio.

Ela apenas meneia a cabeça em sinal de negação.

Chamo o garçom com um aceno, pedindo apenas um capuccino.


— O que quer? — Indaga sem rodeios, cruzando os braços na altura dos
seios.

— Onde esteve durante o tempo em que estivemos no separados? Te

procurei em toda parte.

Ela dá uma gargalhada amarga, apoiando os cotovelos na mesa, ficando a


poucos centímetros de distância, me lançando um olhar furioso.

— Isso não te interessa. — Responde impaciente, se ajeitando na cadeira,

aparentemente desconfortável por estar frente a frente comigo. — Você não


passa de um estranho para mim, Dominic.

— Claro que interessa. Não sabe o quanto te procurei, Sophia.

— Não interessa. Desde quando a minha vida particular é do seu

interesse? Pelo que eu saiba, não somos nada um do outro, você fez questão de

deixar isso bem claro em nosso penúltimo encontro.

Respiro fundo.

— Então vamos direito ao que realmente interessa, onde está o nosso


filho?
Sinto o sangue do meu corpo sumir por alguns instantes com a pergunta

de Dominic.

O que eu respondo? Não posso dizer a verdade. Não quero falar que ele
tem uma filha que é a sua cópia fiel. Ele não a quis, afinal me mandou abortar no

dia em que o comuniquei que estava grávida.

Olho-o assustada, tentando formular uma resposta a qual pareça


convincente.

— Morreu. — Falo rapidamente. — Quando eu estava no terceiro mês de


gestação sofri um aborto espontâneo e infelizmente a criança faleceu.

Ele fica paralisado por alguns segundos, parecendo absorver a


informação. Não o culpo, pois nem eu estou acreditando no que acabei de dizer.

— Meu filho morreu? — Pergunta incrédulo, passando os dedos entre os


fios do cabelo negro como a noite.

— Sim. — Confirmo, com a cabeça baixa, incapaz de olhá-lo nos olhos,

desejando sair de perto dele o mais rápido possível.

— Não pode ser, me diz que isso é mentira, Sophia. Por favor. —

Implora com a voz embargada.

Vejo seus olhos ficarem levemente marejados. Uma bela encenação. Esse

homem não quis a filha, a negou quando ela ainda estava em meu ventre.

— É a verdade, Dominic. — Digo, me levantando, pronta para nunca

mais o vê-lo. — Seu tempo acabou, não me procure mais.

Saio andando rapidamente do café, como se estivesse fugindo da polícia.

Tive medo de fraquejar quando vi seus belos olhos azuis ficarem marejados, tive

vontade de abraçá-lo e dizer que tudo não se passava de uma mentira, mas o

medo de acabar perdendo minha filha falou mais alto.

Quando estou prestes a entrar no prédio onde trabalho sinto alguém


segurar levemente meu braço. Viro rapidamente, vendo que se trata de Dominic.

Quando penso em protestar, ele me olha no fundo dos olhos, como se buscasse
algo neles.

— Siga a sua vida assim como eu segui a minha. — Sussurro, dando

alguns passos para trás.


— Desculpe.

Não posso me envolver em sua teia de ilusões novamente, mesmo que


meu maldito coração implore pelo seu toque.

Adentro ao prédio, dessa vez ele não me segue, ao contrário, ficou

parado no mesmo lugar me olhando enquanto eu me afastava.

Por mais que eu tente negar, ainda sou vulnerável ao Dominic, até mais

do que imaginava.

Em modo automático caminho até minha mesa, sentando-me na mesma,

soltando o ar que eu nem havia percebido que estava segurando. Ele não tinha

que ter voltado, não tinha que me procurado, não tinha que perguntar

da minha filha.

Desde que saí da vida de Dominic venho procurando a paz, e agora que

as coisas estavam começando a se encaixarem novamente, ele ressurge em


minha vida pronto para provocar um furacão.

— Senhorita Brant, está tudo bem? — Meu chefe pergunta ao se


aproximar, aparentemente preocupado.

— Sim, senhor. Me desculpe. — Passo o dorso da mão em meu rosto,

enxugando as lágrimas que eu sequer havia percebido.

— Tem certeza? — Arqueia a grossa sobrancelha, provavelmente não


acreditando em minha resposta.

— Sim. — Tento sorrir.


Seu olhar me avalia por mais alguns segundos, antes de retornar para sua
sala.

Sigo até o banheiro, jogando uma grande quantidade de água no rosto,

aproveitando para retocar a maquiagem, tentando ficar o mais apresentável

possível com os poucos produtos que havia em minha bolsa.

Retorno até minha mesa, tentando voltar ao trabalho. Uma tarefa um

tanto difícil, já que meus pensamentos estão distantes, em outro lugar, ou


melhor, eles estavam em uma pessoa, Dominic.

Eu não poderia ter aceitado conversar com ele, desde o momento em que

o vi sabia que deveria manter distância para o bem da minha saúde mental.

Sua reaproximação não pode vir acompanhada de calmaria, tenho medo

do que ainda pode acontecer caso ele descubra a existência da Bela.

Sou despertada dos meus pensamentos com o toque insistente do


telefone.

— Advocacia Montgomery, boa tarde. — Digo assim que atendo a


ligação.

— Senhorita Brant, aqui é Wesley.

— O que o senhor deseja? — Indago com a voz um tanto trêmula,

estranhando a ligação de meu chefe.

— Venha até a minha sala, por favor.

Respiro fundo, imaginando que Dominic já deve ter o comunicado de


nossa conversa, e agora ele já deve estar pronto para me demitir.

Coloco o telefone sobre a mesa, passando as mãos em minha saia preta,


caminhando até a sala do meu chefe. Bato na porta, escutando-o murmurar um

"entre''.

Entro na sala, observando a decoração sofisticada do cômodo. As paredes


são pretas, e uma enorme janela ocupa toda uma parede, o que proporciona uma

bela visão da cidade.

— Sente-se. — Diz, apontando para a poltrona a sua frente. — Hoje terá


um evento do escritório, ao qual a senhorita precisa comparecer. O evento será

às dezenove horas da noite. Seja pontual.

— Tudo bem. — Concordo, agradecendo por não ter sido demitida. —

Alguma exigência sobre a roupa?

— Roupa de gala. — Esclarece, mantendo o olhar preso na dela do


computador a sua frente.

— Ok.

— Era apenas isso, pode voltar ao trabalho.

Me retiro de sua sala, voltando para minha mesa.

Estou contente por não ter sido demitida, mas triste porque não poderei

passar a noite com minha bebê. Se saudades matasse eu já estaria morta, minha
vontade era de tê-la pertinho de mim. O que me tranquiliza um pouco é saber
que minha amiga e Maísa cuidam muito bem dela.
Quando Bela chegou ao mundo, eu chorei como nunca tinha chorado
antes. Não um choro de tristeza, mas sim um choro de felicidade, naquele dia me

senti completa, me senti a pessoa mais feliz do mundo, e o melhor, conheci o

amor mais puro que pode existir.

— Sophia. — Ergo o olhar, vendo Henrique a minha frente.

— Oi, senhor. O que deseja?

— Não precisa me chamar de senhor. — Diz passando as mãos no cabelo

de forma atraente, sorrindo de lado. — Vim te fazer um convite.

— Posso saber do que se trata esse convite?

— Claro que sim. Esse convite se trata sobre o evento de hoje, sei que o

Wesley pediu que a senhorita comparecesse. Então vim lhe perguntar se deseja

me acompanhar? — Ele parece um tanto envergonhado ao me fazer o convite.

— Claro. — Sorrio.

— Então passarei na sua casa para te pegar. Tudo bem para você?

— Claro. Estarei pronta pontualmente.

— Assim espero. — Diz sorrindo. — Porque geralmente as mulheres

demoram uma eternidade para se arrumarem.

— Vocês homens é que não possuem paciência para esperar. — Lanço


um olhar com uma falsa indigitação para ele, sorrindo em seguida.

— Temos paciência sim. — Ele continua a sorrir de lado, conseguindo


me deixar ainda mais atraída por ele. — Já vou indo, ainda tenho muito trabalho

a fazer. Nos vemos daqui algumas horas.

— Então nos vemos a noite, Henrique.

— Até mais tarde. — Acena.

Antes de se afastar, ele faz questão de piscar.

Sem dúvida alguma Henrique é a pessoa mais prestativa que encontrei


nesse escritório. Hoje pela manhã, quando cheguei para trabalhar ele já estava

me aguardando com um belo chocolate quente.


Vasculho o guarda-roupa, em busca de algo para vestir, encontrando um

vestido longo preto, com um pequeno decote em V nos seios. Usei esse vestido

na formatura do ensino médio, não é algo que está na moda, mas terei que me

contentar com ele.

Paro em frente ao pequeno espelho da sala de estar, vendo que o vestido

caiu perfeitamente em meu corpo. Meu cabelo está preso em um coque bem
arrumado. Há muito tempo eu não me via arrumada desta maneira.

Saio silenciosamente de casa, com medo de ter que enfrentar o

interrogatório de minha mãe.

Evelyn se dispôs a cuidar da minha pequena esta noite. Me senti um tanto

culpada por isso, mesmo que Evy já tenha dito mil vezes que não estou a

incomodando.

Sou despertada dos meus pensamentos com o som da buzina do carro do


Henrique, vendo-o descer do veículo sorrindo. Ele está vestindo um smoking

preto. Sem dúvidas ele é um homem bonito.

— Você está linda, Sophia. — Diz me cumprimentando com um beijo na


testa.

— Você também está bonito.


— É um prazer receber um elogio vindo da senhorita.

Apenas sorrio, um tanto sem jeito.

Henrique apoia uma mão na minha lombar, me guiando até o carro,

abrindo a porta para que eu entre. Enquanto coloco o cinto de segurança, vejo-o

dar a volta no mesmo, sentando ao meu lado.

Olho pela janela do carro, vendo que minha mãe estava nos observando

da janela da sala de estar com um olhar nada agradável. Quando eu chegar ela

com certeza me fará um verdadeiro interrogatório.

A cidade está movimentada como sempre. Vários carros andavam de um

lado para o outro, as luzes dão um lindo aspecto para a cidade.

— No que a senhorita está pensando?

— Em nada. — Respondo vagamente, optando por não compartilhar os

pensamentos que estão me atormentando.

— Você parece estar distante.

— É quase isso.

— Você está perfeita. Aposto que será a mais linda da festa.

— Obrigada. — Agradeço sentindo minhas bochechas corarem por conta

de seu elogio. — Com certeza terá mulheres mais bonitas que eu.

— Não haverá, Sophia. — Discorda. — Você não está reconhecendo a


beleza que possui. Você é muito linda, e olhe que não sou de mentir para
ninguém.

Sinto minhas bochechas esquentarem ainda mais.

— Você está me deixando envergonhada.

— Você fica ainda mais linda quando está envergonhada.

— Acho melhor você parar antes que eu comece acreditar nisso tudo.

— Pode acreditar.

Aceno sorrindo.

Claro que os elogios dele me fizeram muito bem. Toda mulher gostar de

ser elogiada, ainda mais por alguém bonito e gentil como Henrique.

O caminho até o lugar do evento foi feito em silêncio, Henrique fazia

questão de me olhar a todo instante. Sabe aquele silêncio bom? Foi esse tipo de

silêncio que predominou entre nós.

A noite está linda, a lua cheia no céu embeleza tudo, assim como as

diversas estrelas.

Quando chegamos ao local da festa, sou surpreendida ao ver um enorme

salão com uma entrada muito bem iluminada.

Henrique estende a mão, me ajudando a descer do carro, entregando as

chaves para o manobrista.

— Quantas pessoas. — Comento, olhando a grande quantidade de


pessoas. — Imaginei que seria algo apenas para os funcionários do escritório.
— O senhor Montgomery nunca dá uma festa para poucas pessoas, pode
ir se acostumando. — Estende o braço, me guiando pelo tapete que leva até a

entrada.

Por dentro o lugar está muito bem decorado em cores claras. Olho ao

redor, vendo alguns rostos conhecidos. Mas com certeza não conheço nem 1%
das pessoas que estão aqui. Estou me sentindo um peixe fora d'água.

Avisto meu chefe em uma mesa no centro no salão, juntamente com mais
algumas pessoas.

— Vamos nos sentar com eles? — Pergunto baixinho, para que somente

Henrique ouça.

— Sim, foi uma exigência do Wesley. Ele irá aproveitar a festa para

conversar com alguns clientes. — Esclarece.

— Entendi.

Assim que nos aproximamos, Henrique faz questão de cumprimentar

todos, com seu típico jeito simpático.

— Boa noite, senhor Montgomery! — Cumprimento meu chefe no


instante em que ele se levanta.

— Que bom que vocês vieram. — O senhor Montgomery nos

cumprimenta com um largo sorriso. — Você está belíssima, Sophia.

Olho para as pessoas que estão na mesa, e levo um susto assim que vejo
um par de olhos azuis que me avaliam atentamente. Dominic está a minha frente,
vestindo um belíssimo terno cinza que contrasta muito com a cor de seus olhos.

Sua expressão deixa claro que ele parece estar tão surpreso quanto eu.

Para o meu azar as únicas cadeiras desocupadas da mesa estão próximas

a Dominic. Henrique puxa uma cadeira para mim ao lado do "pai" da minha

filha, aguardando que eu me sente. No primeiro momento hesito, mas acabo


cedendo, decidida a ser o mais profissional possível para não acabar deixando

que esse pequeno inconveniente atrapalhe meu trabalho.

— Você está bem, Sophia? — Henrique pergunta, próximo ao meu

ouvido, colocando uma mão sobre a minha, atraindo minha atenção.

Provavelmente não consegui esconder tão bem meu desconforto.

— Sim. Adorei a decoração. — Aponto para as flores brancas no centro

da mesa.

Tento sorrir para demonstrar que está tudo bem, para não acabar

arruinando a noite de Henrique com meus problemas pessoais.

Durante os próximos minutos Dominic fez questão de não desviar seu

olhar, tanto que parecia completamente absorto da conversa animada das pessoas
que estão conosco na mesa.

— Será que o senhor poderia pelo menos disfarçar que está me

observando desde que cheguei? Já está ficando desconfortável. — Pergunto com


um tom de voz baixo, para não chamar atenção das pessoas que estão ao nosso

redor.
Dominic arqueia a sobrancelha, me avaliando com seu típico olhar
intimidador.

— É impossível não te olhar. — Dominic sorri fraco, passando o

indicador nos lábios perfeitamente desenhados. — Você está belíssima, ouso

dizer que é a mulher mais linda desse local.

O universo deve me odiar de uma maneira assustadora, pois nunca parece

conspirar ao meu favor. Eu tinha mesmo que encontrá-lo aqui?


— Por que você está me olhando dessa forma? — Pergunta, me fitando

atentamente.

— Nada. — Respondo, comprimindo os lábios, sentindo a onda de


nervosismo tomar conta de todo meu corpo.

Ele sorri de lado, apoiando uma mão no queixo.

Desvio o olhar, focando-o em Henrique, tentando prestar atenção no que


ele está conversando com Wesley, falhando miseravelmente.

Vejo uma belíssima mulher caminhar em direção a nossa mesa. Ela

possui um longo cabelo preto, que contrasta muito bem com seus olhos
castanhos, seu rosto está perfeitamente maquiado. Ela parece ter saído
diretamente de uma capa de revista.

A mulher se aproxima sorrindo e vejo que seu olhar está fixo em


Dominic.

— Meu amor, que saudade. — Diz, um pouco alto demais, atraindo a

atenção de todos na mesa.

Como assim? Amor?

Olho perplexa para Dominic, sentindo todo oxigênio do mundo se esvair,

tanto que meus pulmões começam a clamar por ar. Tento assimilar tudo, mas é

quase impossível, pois meus pensamentos estão a mil por hora.

Sinto meus olhos ficarem marejados, mas eu simplesmente me nego a

chorar por esse idiota, ele não merece minhas lágrimas. Pisco algumas vezes,

afastando toda vontade de chorar, tentando me recompor da surpresa nada

agradável.

— Vou ao toalete, Henrique. — Comunico, me levantado

cuidadosamente, porque minhas pernas mais parecem duas gelatinas.

— Está bem. — Concorda, com um tom de voz doce.

Caminho o mais rápido possível até o banheiro, sentindo um certo alívio


por finalmente ficar um pouco distante de Dominic e sua companheira.

Me olho no grande espelho do banheiro, constatando que estou mais


pálida que o normal. Vejo algumas gotinhas de suor em minha testa por conta do
nervosismo, e aproveito para enxugá-las com os lenços disponíveis no balcão a
minha frente.

Eu não vou chorar. Não vou. Repito mentalmente até que as batidas de
meu coração se acalmem.

Fico me encarando no espelho por longos minutos, eu queria ter o poder

de me teletransportar para outro lugar, longe do imbecil do Dominic.

Respiro fundo diversas vezes antes de sair do banheiro. Quando saio,

vejo que tem alguns casais dançando na pista de dança, e a luz do ambiente está

mais baixa do que quando me retirei.

— Me daria a honra de uma dança, senhorita? — Henrique pergunta,

vindo em minha direção.

Realmente fico agradecida com seu pedido, quanto menos tempo ficar

naquela mesa será melhor.

— Claro, será uma honra. — Confirmo.

Ele segura minha mão, guiando-me até o centro da pista de dança, onde

diversos casais já estão. Henrique enlaça um braço em minha cintura, segurando


minha mão. O toque dele é extremamente suave e delicado. No entanto, não
estou com um pingo de vontade de dançar. Na verdade, nem estou prestando

atenção na dança.

Estou em uma luta interna para não olhar para a mesa onde o Dominic
está, não quero ver os dois juntos.

— Sophia, por que você está estranha desde que aquela mulher chegou
na mesa? — Pergunta, se aproximando ainda mais do meu rosto.

— Não estou estranha, Henrique. Só estou um pouco cansada, o dia foi


bastante cansativo, é apenas isso. — Minto. — Eu nem conheço aquela mulher.

Ele não diz nada, só me aperta um pouco mais meu corpo ao seu. O que

faz com que eu me aproveite para apoiar a cabeça em seu ombro, na tentativa de
que ele não faça mais nenhuma pergunta.

Fecho os olhos, prestando atenção na música calma, tentando organizar

meus pensamentos.

Henrique com toda certeza percebeu que eu não estava muito bem, então

retirou uma mão da minha cintura, começando a acariciar meu cabelo.

Vejo Dominic levantar rapidamente da mesa com uma expressão nada

contente. Ele caminha em nossa direção em passos largos e um semblante sério.

— Com licença, desculpe atrapalhar a dança de vocês. — Se eu não o

conhecesse tão bem deixaria passar batido o tom de ironia contido em sua voz.

—Wesley precisa conversar com você.

— Tudo bem. Me acompanha, Sophia? — Henrique aponta para a mesa a


alguns metros de distância.

— Pode ficar tranquilo, não a deixarei desacompanhada. — Dominic diz,

apontando para mim.

Henrique me olha desconfiado, mas acaba cedendo.

— Está tudo bem. — Sorrio, na tentativa de tranquilizá-lo. De forma


alguma quero gerar problemas a ele. — Posso ficar na companhia desse senhor
enquanto você conversa com o senhor Montgomery.

Dominic é um problema apenas meu, Henrique não tem ligamento algum

com isso.

— Dominic — chamo sua atenção, chegando perto dele assim que vejo
Henrique se distanciar. — O que quer de mim? Não deveria estar fazendo

companhia para a sua companheira?

— Natália já não está mais aqui, e ela não é mais minha companheira. O
que acha de conversarmos em um lugar mais calmo?

— Eu não vou a lugar algum com você. E eu já disse que não temos nada

para conversar. Qual o seu problema em entender isso? — Aproveito que um

garçom está passando ao nosso lado, pegando uma taça de champanhe.

Olho para o outro lado do salão, vendo que o senhor Montgomery está
nos observando. Não posso perder meu emprego por conta das idiotices de

Dominic. Respiro fundo, decidida a aceitar conversar com ele, ou pelo menos

aguardar estar em um lugar mais reservado para finalmente falar tudo que tenho
vontade.

— Tudo bem, podemos conversar.

Dominic apoia uma mão em minha lombar, me guiando até a saída do

salão de festas. Seu toque faz com que arrepios involuntários corram por todo
meu corpo. Eu não deveria reagir ao seu toque.
Caminhamos até o estacionamento que fica na parte exterior em silêncio.
Estou com um leve medo que ele acabe me matando. Ninguém sabe o que esse

doente mental pode fazer comigo.

— Vamos para um lugar mais calmo, creio que um estacionamento

escuro não seja o lugar mais adequado para conversarmos. — Explica, abrindo a
porta do carro.

Arqueio uma sobrancelha.

— Não vou entrar no seu carro. Posso simplesmente pegar um táxi e ir


para a minha casa. E se quer conversar comigo, sou todo ouvidos.

Olho ao redor, observando a escuridão do estacionamento, de certa forma

ele está certo. Entro no veículo, sentindo um certo desconforto.

Dom fecha a porta do carro, dando a volta no mesmo, sentando ao meu

lado. Antes de colocar o veículo em movimento, ele retira o blazer, dobrando as


mangas da camisa social, ficando ainda mais atraente.

O carro começa a movimentar e eu só consigo imaginar que ele me


matará de uma maneira brutal, deixando Bela sem uma mãe. Tá bom, talvez eu

esteja exagerando um pouco.

— Onde você mora? — Pergunta, ainda vidrado da direção do carro.

— Não vou dizer onde eu moro para você. — Falo, cruzando os braços
na altura dos meus seios.

— Não irei te fazer mal, Sophia. Só quero te acompanhar até a sua casa.
— Não quero que me leve até a minha casa.

Meu coração está acelerado com a pequena possibilidade que ele


descubra onde moro, pois seria questão de tempo até que descobrisse que nossa

filha está viva, ao contrário do que eu disse. Talvez agora eu esteja um pouco

arrependida de ter mentido sobre algo tão sério.

— Ótimo, vamos para a minha casa então, já que a senhorita não quer me

dizer onde mora e eu não posso em hipótese alguma de na rua.

Meu Deus!

— Não quero ir para a sua casa, afinal sua namorada pode não gostar

muito. — Faço questão de dar ênfase na palavra namorada.

— Então é só me falar onde mora. Qual o problema em dar uma

informação tão simples?

— Não vou falar. Me deixa aqui que eu pego um táxi.

— Jamais, já está tarde, não posso te deixar em uma rua deserta. — Diz

irredutível. — Ou eu deixo você na sua casa, ou te levarei para a minha.

Olho para a janela do carro, vendo que está começando a chover. Parece
que o mundo está conspirando contra mim. Tinha que chover logo agora?

Como não falei onde moro, ele toma um caminho diferente, seguindo

para um bairro nobre, onde provavelmente mora. E eu tenho a certeza assim que
ele adentra a um condomínio.

Os grandes portões de uma mansão se abrem, me deixando um pouco


intimidade.

Dominic desce do carro, vindo abrir a porta para mim assim que
estaciona o carro na carnagem.

— Vamos, Sophia. — Estende a mão.

— Podemos conversar aqui. — Proponho, recusando sua ajuda para

descer do veículo.

— Vamos conversar lá dentro, aqui fora está frio. — Ele passa a mão nos

cabelos, uma pequena mania de quando está nervoso. — Não vou fazer nada

com você, pode ficar tranquila.

Que homem insistente do inferno!

— Não estou com frio, posso muito bem conversar aqui. — Minto
descaradamente.

O vejo respirar fundo no mínimo dez vezes.

— A chuva está aumentando, tenho certeza que não irá desejar

permanecer aqui pelos próximos minutos. — Dom coloca as mãos no bolso da

calça, aguardando que eu diga algo.

Direciono o olhar para a entrada da garagem, vendo que a chuva calma se


transformou em uma tempestade. Ótimo, era tudo que eu precisava!

— Tudo bem. — Desço do carro.

Dominic me guia até a entrada da casa, permitindo que eu adentre ao


local. Olho para a sala luxuosa, lembrando-me da última vez em que estive aqui.

Sento-me no sofá em formato de L, vendo Dominic se sentar em uma


poltrona a minha frente. Ele parece estar tão nervoso quanto eu.

— Quer beber alguma coisa?

— Não, obrigada. — Agradeço. — O que acha de irmos direto ao ponto?

Não precisa bancar o bom anfitrião, Dominic.

Ele acena que sim, retirando a gravata.

— Me perdoe.

Pisco algumas vezes, não acreditando que ele está me pedindo perdão.

— Acha que irei esquecer de tudo com um simples pedido de perdão?

Você não faz ideia do quanto afetou todas as áreas da minha vida, Dominic.
Quando nos conhecemos eu não passava de uma menina inocente que acreditava

veementemente que você me amava, o que nunca aconteceu. — Dou uma risada

carregada de amargura. — Aprendi da pior maneira que não podemos nos

entregar de corpo e alma a uma pessoa.

— Não sabe o quanto me arrependo.

— O arrependimento não é capaz de reparar todo mal que você me


causou.

— Me deixe reparar tudo.

Suas palavras me causam uma revolta.


— Impossível, Dominic. Acho que a partir de agora você pode seguir sua
vida e esquecer que um dia tivemos algo, será o melhor para nós dois. Você já

disse o que queria, será que agora posso ir embora?

— Quer que eu te leve?

— Não precisa. — Nego rapidamente. — Vou chamar um táxi.

Retiro o celular de dentro da bolsa, entrando em um aplicativo de táxi,

vendo que não há nenhum carro disponível no momento por conta da

tempestade.

— Não conseguiu? — Aceno que sim. — Pode ficar aqui até que a

tempestade passe, Sophia. Depois eu te levo em casa, caso você aceite, ou pode

tentar chamar um táxi.

Queria muito negar sua sugestão, mas não posso. O mundo parece estar

desabando do lado de fora.

— Vem, vou te levar até o quarto onde você irá dormir. — Olho-o com a

cara fechada. — É o quarto de hóspedes. — Esclarece.

— Vou dormir aqui mesmo.

— Tudo bem. Lhe trarei um cobertor.

Minutos depois Dominic retorna com um cobertor e um travesseiro. Ele

não tentou conversar, o que de certa forma me deixou aliviada.

Olho pela milésima vez para a janela da sala de estar, vendo que a
tempestade ainda não se acalmou, ao contrário, parece estar piorando a cada
minuto. As árvores do jardim estão sendo chacoalhadas pelo vento forte. Tantos
dias para acontecer um dilúvio, tinha que ser justo hoje?

Retiro os saltos, fazendo uma breve massagem nos pés, constatando que

eles foram destruídos. Com certeza não nasci para passar o dia de salto.
Mulher teimosa! Definitivamente essa Sophia não se parece nada com a

que eu conheci a quase dois anos atrás. Custava ao menos dormir no quarto de

hóspedes? A cabeça dura preferiu dormir no sofá, que não é tão confortável

quanto uma cama.

Hoje o dia foi uma total catástrofe, não estava esperando que Natália
fosse dar as caras na festa da empresa do Wesley. Eu já havia adiantado que

precisávamos conversar, o que ela entendeu como um convite para ir me


encontrar.

Os últimos dias foram uma tremenda loucura, até o momento estou


tentando assemelhar tudo que aconteceu desde reencontrei Sophia. Ainda não
consigo acreditar que nosso filho faleceu, é uma informação difícil de processar.

Desço as escadas, vendo que Sophia encolhida no sofá, com certeza com
frio. Caminho lentamente até ela, tentando ser silencioso para não a acordar. Ao

me aproximar, tenho a visão completa de seu rosto angelical, os fios loiros de

seu cabelo estão espalhados por todo o travesseiro.

Sem pensar duas vezes pego-a nos braços. Não posso deixá-la aqui

passando frio.

— Dominic. — Sussurra com voz de sono, abrindo os olhos por alguns


segundos, fechando-os em seguida.

— Sim, sou eu. — Aconchego-a ainda mais contra meu peito. — Agora

durma, anjo.

Ela resmunga mais algumas palavras desconexas, voltando a dormir.

Caminho com ela nos braços até o quarto de hóspedes. Empurro a porta com os
pés. A coloco sobre a cama com cuidando, cobrindo seu corpo com uma coberta.

Admiro o fato dela possuir um sono tão pesado. Dou um leve beijo em sua testa,

afastando logo em seguida.

Sentir seu cheiro de flores delicadas é perfeito. Se há dois anos alguém


me falasse que eu estaria de quatro por uma mulher, eu iria ter uma crise de

risos, mas agora, percebo que realmente estou de quatro por Sophia, tanto que
enfrentaria o mundo por ela.

Sento-me em poltrona próxima a cama, velando o sono de Sophia pelos


próximos minutos. A chuva finalmente deu uma pequena trégua, mas os raios

continuam a iluminar o quarto.

Acordo às 03h00 da manhã com o toque de um celular. Deixo o quarto,

seguindo o som que vem da sala de estar. Assim que chego no ambiente vejo o

aparelho de Sophia sobre a mesa de centro. Tomo a liberdade de atender seu


celular.

— Oi. — Sussurro, ao atender a ligação.

— É a Sophia? — Uma voz feminina indaga do outro lado da linha.

— Não, aqui é o Dominic.

— Cadê a Sophia pelo amor de Deus? — Pela sua voz aflita, posso

perceber que está desesperada.

— Ele está dormindo. Por quê?

— Preciso falar com ela agora, por favor.

— Tudo bem, aguarde um instante.

Subo as escadas rapidamente, abrindo a porta do quarto de hóspedes


onde Sophia está. Ela ainda está dormindo como um verdadeiro anjo.

— Sophia, acorde. — Sussurro, sentando-me na beirada da cama,

tocando levemente seu ombro. Ela abre os olhos, ainda sonolenta. — Ligação
para você, a mulher disse que era urgente. — Entrego o celular.

Sophia arregala os olhos, se levantando rapidamente da cama,


caminhando para fora do quarto. Minutos depois ela retorna um tanto assustada,

posso perceber isso através de sua feição. Sophia sempre foi uma pessoa

transparente em relação aos seus sentimentos.

— O que aconteceu? — Pergunto, indo até ela, que está parada na porta

com o gosto banhado por lágrimas. — Está tudo bem?

— Preciso ir embora agora. — Diz rapidamente. — É sério, Dominic.

— Por quê? — Pergunto curioso.

— Eu não quero falar. Preciso ir o mais rápido possível.

— Te levo. Tudo bem para você?

Ela apenas acena que sim.

— Está bem.

Fico um tanto aflito por ela ter aceitado tão facilmente, algo realmente
sério aconteceu.

Em um tempo recorde Sophia recolhe suas coisas, descendo para o

primeiro andar, me acompanhando até a garagem. Abro a porta para ela, vendo-a
entrar no veículo um tanto aflita.

Olho para o lado, vendo que Sophia está com a cabeça escorada no vidro

da janela do carro, seu olhar está carregado de preocupação.

— Onde você mora? — Pergunto, assim que atravessamos os portões do


condomínio.
— Não vamos para a minha casa, Dominic. — Diz, passando a mão no
cabelo loiro. — Eu vou para o hospital, aquele que fica no centro da cidade.

— Quem está doente? — Se ela vai para um hospital, alguém precisa

estar doente.

— Por favor, não faça perguntas.

Prefiro ficar calado, se ela não quer falar, não ficarei insistindo. O resto

do trajeto foi em um total silêncio.

A todo instante eu sentia o desejo de perguntar o que havia acontecido,

mas é como se ela tivesse criado uma bolha ao seu redor para que eu não me

aproxime de forma alguma. É até normal, afinal fui um completo filho da puta

com ela.

Depois de quinze minutos estaciono na porta do hospital, indo abrir a

porta para ela.

— Obrigada por me trazer. — Agradece, descendo do veículo

rapidamente.

— Por nada. — Sorrio.

Apoio no capô do carro, cruzando os braços, observando-a adentrar ao


hospital celeremente. Fico alguns minutos pensando se realmente devo ir atrás

dela. Não sei o que aconteceu, mas acho que não devo deixá-la sozinha, quero
reconquistá-la nas pequenas atitudes.

Entro no hospital, varrendo o local com o olhar, até vê-la seguindo por
um corredor. Sophia para na porta de um quarto, onde conversa com uma mulher

de cabelo castanho, que a abraça antes de se afastar, caminhando em direção

contrária.

Paro em frente ao quarto de número trezentos, abrindo a porta do mesmo.

Vejo Sophia parada ao lado de um berço, onde há uma criança sentada. A bebê
está de cabeça baixa, o que dificulta que eu veja seu rosto. Ela começa a mexer o

pequeno braço, incomodada com o soro.

— Amor da mamãe, não mexa o bracinho. — Sophia diz

carinhosamente.

Como? Amor da mamãe?

Olho para ela, que ainda não percebeu minha presença no quarto.

Finalmente a bebê ergue a cabeça, permitindo que eu veja seus belos olhos azuis
como os meus. Leva pouco tempo para que eu perceba tudo. Essa criança só

pode ser minha filha.

Meu coração bate rapidamente, como se a qualquer momento fosse sair

do meu peito. Abro a boca, mas é como se a minha voz tivesse desaparecido.
Apoio no batente da porta, tentando me acalmar.

A criança é um perfeito clone meu. Ela mentiu quando disse que nosso

filho havia falecido, não consigo acreditar que Sophia teve coragem.

— Como teve coragem de mentir sobre algo tão sério, Sophia? —


Pergunto, tentando não elevar o tom da voz.
Ela me olha assustada. Vejo seu rosto perder a cor, ganhando um aspecto
pálido.

— Com a mesma coragem que você me mandou abortar. — Retruca.

— Eu falei aquilo tudo por raiva, e me envergonho todos os dias. Mas

agora você mentiu em troca de que? De me fazer sofrer? Então meus parabéns,
você conseguiu. Eu fiquei mal em saber que nosso filho havido morrido, mas

tudo não passou de uma mentira. Pode até parecer mentira, mas eu queria essa
criança. — Digo, me aproximando do berço.

— Sei que fiz mal em mentir. — Vejo seus olhos se encherem de

lágrimas. — Só tente entender, tive medo que você tentasse tomá-la de mim.

Você destruiu tudo de bom que havia em mim, e depois reaparece do nada

querendo saber da criança. Ela é tudo que me restou, Dominic.

— Eu jamais a tiraria de você. Não sou esse monstro que você acha.

— Não acredito. Pessoas como você não mudam. Por favor, me deixe em

paz, te quero longe de mim e da minha filha.

— Nossa filha. — Corrijo-a.

— Para com isso. O que você quer de mim agora? Por que você quer

continuar me machucando? Não se cansa nunca?

— Quero reparar o tempo perdido. Tudo que fiz não pode ser apagado,
mas quero fazer tudo diferente.

— Infelizmente não posso te afastar dela. — Aponta para a bebê. — Só


não a tire de mim.

Pelas suas palavras, percebo o quanto gosta dessa criança. Jamais tiraria
a bebê dela.

Até o momento fui um péssimo pai, não estive presente quando ela

chegou ao mundo, não pude presenciar seus primeiros passos.

— Sophia, não estou aqui para tirá-la de você. Não tenho esse direito, só

quero que ela tenha uma figura paterna. Fique tranquila.

Ela não diz nada, apenas olha para a bebê, que abre um largo sorriso para

a mãe.

Uma médica entra no quarto, interrompendo nossa conversa, começando

a examinar nossa filha, explicando em seguida que a febre era por conta dos

dentes que estão nascendo, e que era absolutamente normal.

Agora, olhando para minha filha, me arrependo amargamente por tudo

que fiz no passado. Perdi um tempo que jamais poderei recuperar. Esse pequeno

ser humano merecia um pai melhor que eu.

— Qual o nome dela? — Pergunto, ainda abobalhado com a beleza da


criança a minha frente.

— Bela. — Ela pega a bebê nos braços, beijando sua bochecha. — Quer

pegá-la?

— Sim. — Respondo rapidamente.

Ela me entrega a bebê, que estende os bracinhos em minha direção. Ela


com certeza é o ser humano mais lindo que já vi em toda a minha vida.

Sinto meus olhos arderem.

— Oi, princesa. — Tento conter as lágrimas, mas é impossível. — Sou

seu pai. Nossa, como eu já te amo.

— Ela também irá te amar.

— Espero que sim. Já errei tanto com ela. — Passo o polegar pela
bochecha rosada de Bela, encantado com os traços delicados da minha filha. —

Estou longe de ser um pai exemplar.

— Dominic, ela é uma criança inocente, ama a todos, não guarda

mágoas, ressentimentos e muito menos rancor. Se você se empenhar, logo ela te

amará.

— Não vejo a hora dela me chamar de papai.

— É só começar ensiná-la a falar. Ela já sabe falar mamãe e mais

algumas poucas coisas. — Diz, empolgada ao falar da nossa filha.

— Vou ensinar. — Beijo as bochechas rosadas da Bela.

Abraço minha princesa, vendo-a sorri. Esse sem dúvidas foi o momento

mais emocionante da minha vida, pois finalmente conheci minha filha. A partir
de hoje tenho um motivo para tentar ser uma pessoa melhor, um motivo cheio de

dobrinhas.

Ela passa as mãos gordinhas pelo meu rosto, brincando com os botões da
minha camisa.
— Ela é linda.

— Sim, ela é linda. Pena que não se parece comigo. — Lamenta,


enquanto organiza as coisas da Bela.

Retiro o celular do bolso da calça jeans, enviando uma mensagem para

que Wesley traga uma cadeirinha para Bela.

— Ela puxou para o papai, né? — Pergunto para a Bela sorrindo. — Ela

é o meu clone. Sou o homem mais sortudo do mundo.

Enquanto Sophia pegava as coisas da Bela no quarto, aproveitei para

brincar com ela. Até que o cansaço venceu e ela dormiu em meus braços.

Quando finalmente saímos do hospital o sol já estava prestes a nascer.

Coloco Bela cuidadosamente na cadeirinha dentro do carro, abrindo a


porta para Sophia em seguida. Dou a volta no veículo, ocupando o banco do

motorista.

— Para onde quer que ele leve vocês duas?

— Para a minha casa, por favor. Agora não tenho nada a esconder. — Dá

de ombros, colocando o cinto de segurança.

— Bom saber que a senhorita não tem mais nada a esconder.

Sophia digita seu endereço no GPS, não me deixando nada contente. Ele
mora em um bairro perigoso.

— Dominic, posso te fazer uma pergunta?


— Claro.

— O que tem com aquela mulher da festa? — Pergunta.

— É complicado, ela era minha noiva até essa noite. Quando Natália

chegou me chamando de amor e você saiu nós brigamos e eu acabei terminando

com ela. Só fiz o que estava tentando fazer há meses.

— Tadinha. — Lamenta, com uma falsa tristeza.

Nunca estive tão contente por terminar um relacionamento. Quando

finalmente dei um ponto final, senti uma imensa paz, foi como se eu estivesse

tirando um peso enorme das costas.

Meu relacionamento com Natália estava fadado ao fracasso, afinal

começamos de uma maneira errada, pois ambos não se amavam.

Volto a minha atenção para a estrada, olhando rapidamente para o

retrovisor, vendo que minha filha já pegou no sono novamente.

— Ela não me amava. — Explico.

— Ah sim.
Respiro fundo assim que Dominic estaciona o carro em frente a minha

casa. Tenho certeza que mamãe não estará nada contente, até porque já está

quase amanhecendo e eu não dormi em casa.

Dominic pega minha filha nos braços com cuidado. Espero que isso não
seja passageiro. As crianças se apegam rapidamente as pessoas, e eu odiaria ver

minha filha sofrendo por conta dele.

Quando Evelyn me ligou desesperada falando que Bela estava com febre
e ela estava a levando para o hospital, não pensei duas vezes antes de aceitar que

Dominic me levasse. Mas eu não contava que ele iria me seguir até o quarto da
Bela. Pensei que ele me mataria por conta da mentira, o que felizmente não
aconteceu, tenho consciência que errei ao falar que havia perdido nosso filho.

Por mais que eu não o queira perto da minha filha, ele tem o direito,
afinal é o pai. O medo que Dom a tome de mim ainda me atormenta desde que o

vi na porta do quarto do hospital, mesmo que ele já tenha dito que não irá fazer

tal coisa.

Abro a porta da casa, entrando na mesma, vendo que Dominic está logo

atrás com Bela nos braços.

— Até que enfim a madame deu o ar da graça. — Minha mãe resmunga,


descendo as escadas com uma expressão nada contente.

Não demora muito até que ela perceba que não estou sozinha. A vejo

olhar minuciosamente para Dominic, sorrindo em seguida. O olhar de fúria

desaparece, dando lugar a um olhar amigável. Ela termina de descer os degraus


ainda sorrindo.

— Não vai me apresentar seu amigo, Sophia? Quem é o jovem rapaz? —

Pergunta, ainda analisando o homem que carrega minha filha.

— Que indelicadeza da minha parte. — Ele segura Bela apenas com um

braço, estendendo a outra mão para minha mãe. — Prazer, Dominic Watson.

— Sou chamo Sônia Brant, mãe da Sophia.

Reviro os olhos, não suportando sua falsidade.

— Dominic, me acompanhe até o quarto para que você coloque Bela no


berço. Ela já está bem pesada para ficar nos seus braços. É por aqui. — Aponto
para as escadas.

— Estou gostando de segurar nossa filha. — Diz, olhando para Bela,


abrindo um largo sorriso.

Minha mãe me olha assustada, aguardando uma explicação da minha

parte. Pretendo falar com ela, mas não agora, quero conversar com calma e a sós.
Quero contar só parte da história, não quero que ela saiba o quanto sofri e o

quanto ele me fez mal. Também não pretendo contar isso um dia para Bela, é
deplorável uma mãe envenenar o filho contra o pai, esse problema foi entre eu e

ele, Bela não tem nada com isso. Quero que ele seja responsável por criar apenas

boas memórias para nossa filha.

Subo as escadas, abrindo a porta do quarto, deixando que Dominic entre

antes de mim. Assim que entra no cômodo, Dom avalia tudo com o olhar,

colocando Bela em seu berço com cuidado. Antes de se afastar, ele faz questão

de beijar a testa da nossa bebê, que esboça um sorriso ainda de olhos fechados.

Bela parece estar usando todas as suas armas para ganhar o coração de Dominic.

— Aqui é bem pequeno, né?

— Sim. — Confirmo, observando o cômodo pequeno que divido com


minha filha. — Meu quarto já não era tão espaçoso, e quando a Bela nasceu tive

que colocar as coisas dela aqui, já que minha mãe não quis ceder o quarto que
estava vazio. Mas é confortável na medida do possível.

— Quero poder comprar coisas para a Bela. Dar a ela tudo do bom e do
melhor. Sou o pai dela, tenho que arcar com as despensas também. Tudo que é

meu pertence a essa menina linda.

— Dominic, ela não precisa do seu dinheiro.

— Por favor, me deixe ajudar. — Ele se aproxima, segurando em minha

mão. — Quero me sentir útil.

— Tenho medo que você só queira nos fazer mal.

Dominic pousa as mãos em minha cintura, me abraçando em seguida.

Apoio a cabeça em seu peitoral, fechando os olhos.

— Me deixe tentar novamente, Sophia. — Pede em um sussurro.

— Não entendi o que quis dizer.

Afasto o bastante para conseguir ver seu rosto.

Ouço-o suspirar.

— Quero fazer tudo diferente com você. Me deixe tentar.

— Você tem a sua filha, pode tentar fazer tudo diferente com ela. —
Sorrio.

— Você não me entendeu. — Ele retira as mãos da minha cintura, as


levando até meu rosto, fazendo com que eu olhe no fundo dos seus olhos azuis.

— Quero fazer tudo diferente com você. Quero tentar te reconquistar. Não te
valorizei, mas só agora percebi a mulher que perdi por ser um idiota.

Sonhei com o dia que Dominic me falaria isso, só que infelizmente as


coisas mudaram. O medo de me entregar e acabar me machucando novamente é
gigantesco. Ninguém me garante que ele não me fará de boba por uma segunda

vez.

— Dominic...— Respiro fundo. — As coisas mudam. Você não tem

noção do quanto sofri por você. Me lembro de tudo o que você me disse, cada
palavra. — Uma lágrima escorre livremente por meu rosto.

Dom passa o polegar em minha bochecha, enxugando-a.

— Eu errei. Não fui um homem quando falei tudo aquilo. Me perdoe, por
favor.

— Em muitos momentos senti raiva, mas meu coração já te perdoou há

muito tempo. Acredite, eu tentei te odiar, mas não consegui.

Ele volta a me abraçar, só que dessa vez mais forte. É como se quisesse

demonstrar através desse gesto o quanto está arrependido pelo que fez.

— Por favor, me deixe tentar.

— Não posso, ou melhor, não quero sofrer novamente. E temos que


lembrar que você acabou de sair de um relacionamento recentemente.

— Se é que podemos chamar aquilo de relacionamento, Sophia. ― Posso


sentir o amargor em suas palavras.

— Você só quer me usar novamente. — Me afasto. — Vá embora, Dom.

— Sophia...— Sussurra, se aproximando.


— Por favor. Quando quiser ver a Bela, me ligue antes, não venha sem
avisar, não irei te proibir de vê-la. Se quiser passar um dia com ela me avise,

acho que para isso teremos que procurar um advogado para organizar tudo da

melhor maneira possível.

— Não vejo necessidade de procurar um advogado. — Resmunga.

— Dominic, quero fazer tudo da maneira correta. Claro que vamos

precisar de um advogado. Me avise quando tiver um tempo disponível para


resolvermos tudo isso o mais rápido possível. — Digo, olhando fixamente para

ele.

— Pelo menos dessa forma poderei resolver a parte financeira.

— Ela não precisa. — Retruco.

— Vamos conversar isso depois, Sophia. Bela também é minha filha,

preciso arcar com as despesas.

Dom se aproxima ainda mais, permitindo que eu sinta sua respiração

bater contra minha pele. Ele toca meu rosto, acariciando-o com o polegar. Assim
que faz menção de me beijar, viro o rosto, escutando seu suspiro de pura

frustração. Antes de se afastar, ele planta um beijo em minha testa.

Não podemos fingir que nada aconteceu entre nós no passado, não posso
esquecer de tudo facilmente. Dom parece estar disposto a provar que mudou,

mas eu não estou disposta a ver tal mudança.

— Já estou indo. Não irei desistir tão facilmente.


— Se eu fosse você desistiria.

Ele apenas assente em silêncio, indo em direção ao berço da Bela,


curvando o corpo para poder beijar a bochecha da nossa filha. Antes de sair do

quarto, Dom sorri para mim, se retirando.

Agora vem a parte complicada: conversar com minha mãe e explicar


parte da história.

Ainda é cedo, mas com certeza minha mãe vai estar na sala me

aguardando. Desço as escadas devagar, minhas mãos estão suando, assim como
no dia em que decidi contar a ela que estava grávida.

Como imaginava, ela está sentada na poltrona da sala de estar, me

encarando com cara de poucos amigos. Bom, essa conversa será exaustiva.

Sento-me no sofá, ficando a sua frente.

— Aquele homem é mesmo o pai da sua filha?

Não consigo decifrar seu olhar, não sei se ela está com raiva, ou não.

Queria muito saber o que ela está se passando em sua cabeça.

— Sim, mãe. Ele é o pai da minha filha.

— Se aquela criança não se parecesse tanto com ele eu diria que era
mentira. Você, uma pobre que não tem onde cair morta ter uma filha com um

homem como aquele. Eu percebi, Sophia, ele tem dinheiro, você foi bem esperta
ao engravidar de um homem rico.

Meu Deus! Como ela pode ter coragem de pensar isso de mim? E como
sempre, não perdeu a chance de me menosprezar.

— Nunca liguei para o dinheiro dele, para a sua informação, mamãe.

— Me poupe. Eu não sou boba, Sophia. Claro que você se envolveu com

ele por dinheiro, e ainda por cima engravidou.

Reviro os olhos, tentando conter a raiva.

— Realmente nunca vou poder ter uma conversa civilizada com a


senhora. Eu não sou uma qualquer para fazer isso. Estava com Dominic porque

realmente gostava dele.

Ela se levanta da poltrona, ficando de pé a minha frente, me encarando

como se eu fosse um animal em exposição no zoológico.

— Aceite a pensão que ele quer pagar, boba. — Aconselha, caminhando


em direção as escadas.

Ela estava escutando a conversa que tive com Dominic? Claro que

estava, eu já deveria imaginar que ela faria isso, bem típico dela. É muita falta de

educação fazer uma coisa dessas, nem privacidade nessa casa eu posso ter.

Retorno para o meu quarto, tomando um banho rápido, indo me arrumar.


Visto um vestido da cor creme, fazendo uma trança no cabelo. Passo uma
maquiagem leve, não poderia trabalhar deixando a vista as olheiras horríveis

abaixo dos meus olhos. Na verdade, não sei como irei trabalhar hoje. Estou
exausta, não descansei nada esta noite.

Ouço um chorinho baixinho vindo do berço e sorrio ao constatar que meu


anjo acordou.

Encontro minha bebê sentadinha no berço. Assim que ela me vê abre um


sorriso enorme, erguendo os braços para que eu a pegue.

— Você já está acordada, linda da mãe? — Pego-a nos braços,

depositando um beijo no topo da sua cabeça. — Você está com fome, bebê?

Resolvo amamentá-la, me sento na poltrona de amamentação, abaixando

a blusa para que ela comece a mamar. Não estou a amamentando muitas vezes

ao dia, já que passo horas longe dela. Mas apesar das poucas vezes que a
amamento, essa é e sempre será a melhor parte do meu dia. Aliso seus cabelos,

sentindo seu cheirinho de bebê que está por toda parte da casa. Seus olhinhos

azuis me olham atentamente enquanto ela suga o leite. Eu a amo tanto, nunca

imaginei que amaria tanto alguém, e esse amor só cresce dia após dia.
Já faz cinco dias que não vejo Dominic. Ele simplesmente desapareceu,

não ligou, não mandou mensagem e nem apareceu na empresa do Wesley, nem

sinal de vida deu. Realmente ele não se preocupa, porque alguém que some do

nada não se importa com exatamente ninguém.

Já estou começando acreditar que ele se arrependeu de se reaproximar, e

que não quer saber mais da filha e muito menos de mim. É por esse motivo que
não quero que Bela se apegue a ele.

Meu coração parece que foi feito para ser pisoteado, mesmo não

querendo-o novamente me sinto mal. Estou preocupada, mesmo sabendo que ele
pode estar com outra nesse exato momento.
Nos últimos dias minha mãe se empenhou em infernizar minha vida, faz
questão de perguntar a todo instante onde Dominic está, se já aceitei a pensão.

Não suporto mais isso, será que o mundo resolveu se virar contra mim

novamente? Acho que sim!

— Boa tarde, Sophia. — Henrique me cumprimenta, se aproximando da


mesa onde estou.

— Boa tarde. — Sorrio.

Henrique também não quis tocar no assunto da festa. Pensei que ele iria
me bombardear de perguntas no dia seguinte, o que felizmente não aconteceu.

Sua compreensão ajudou com que eu me aproximasse ainda mais dele.

— Será que a jovem senhorita aceitaria sair comigo esta noite?

— Adoraria, porém, não vou poder. Não tenho com quem deixar minha

filha, e não posso abusar da minha amiga pedindo que ela cuide dela esta noite.

— Se esse for o problema, está resolvido. Vamos levar a pequena, não

vejo a hora de conhecê-la.

— Então se for assim, aceito o convite.

— Passo na sua casa às oito da noite, está bem?

— Sim. Aonde vamos?

— Surpresa. — Pisca, me deixando curiosa.

— Ah não. Não quero ficar curiosa por tanto tempo. Me conte, por favor,
não irei te deixar em paz.

Ele ergue uma sobrancelha, sorrindo em seguida.

— Você está parecendo mais uma criança mimada fazendo birra.

— Para de rir de mim, Henrique. Agora é você que não está parecendo

aquele homem comportado que eu conheci.

Estava tão distraída que nem percebi Dominic entrar e nos encarar. Sua
feição está fechada, acho que ele está com raiva. Mas raiva de que? Nem falar

com ele eu estava falando, ou seja, não fiz nada. Então ele só pode ter brigado

com alguém, algo não deve ter dado certo nos negócios já que ele está aqui na

empresa.

Paro de rir imediatamente, fazendo com que Henrique perceba a presença

de Dominic.

Dominic caminha em nossa direção com passos firmes, hoje está

vestindo um terno preto muito bem alinhado ao seu corpo. Ele para a nossa

frente, com a proximidade posso sentir o cheiro marcante de seu perfume.

— Acho que aqui não é lugar para ficar rindo. — Resmunga com a voz
rouca, direcionando o olhar para Henrique. — O senhor não tem afazeres?

— Claro que sim. Com licença.

Henrique se despede com um sorriso fraco, caminhando até o elevador.


Ele claramente ficou desconfortável com a presença de Dom.

— Não precisava falar com ele daquele jeito. — Saio de trás da mesa,
ficando de frente para Dominic. — Custava ser um pouco mais educado? Ele
não fez nada demais para você tratá-lo tão mal.

— O tratei normalmente, Sophia.

— Então é assim que anda tratando as pessoas? Pensei que havia

evoluído como pessoa, mas com o que acabou de fazer, vejo que estava
enganada.

— O que aquele homem queria aqui com você, Sophia? — Pergunta,

cruzando os braços.

Seu olhar é firme. É como se apenas com um olhar pudesse desvendar até

mesmo meus pensamentos mais profundos. Devolvo o olhar na mesma

intensidade, desafiando-o.

— Isso não diz respeito a você. — Me viro, voltando para minha mesa.

Dom apoio uma mão suavemente em meu braço, impedindo que eu me

afaste.

— Eu gosto de você, obviamente senti ciúmes ao ver aquele cara tão à


vontade ao seu lado. Está claro como o dia que ele está interessado em você.

— Sério isso? — Pergunto, com um tom de voz carregado de ironia. —


Você não é nada meu, então não devo explicações de absolutamente nada.

— Mas posso ser. — Pisca, sorrindo se lado. — O que acha de ser minha
esposa? Poderíamos dar mais uns três irmãos para a Bela.

Engulo em seco com sua frase, sentindo o impacto de suas palavras. Não
consigo acreditar que ele está dizendo a verdade, tenho a sensação que está
apenas me usando como passatempo novamente.

Quando descobri que estava grávida imaginei que formaria uma bela

família com Dominic. Eu sonhava em ficar ao seu lado pelo resto da vida, mas

felizmente meus sonhos mudaram.

— Senhorita Brant, preciso que você cheque alguns e-mails. — Wesley

diz ao sair de sua sala, interrompendo nossa conversa. Assim que ergue o olhar,
sorri ao notar a presença de Dominic. — Você não disse que viria me visitar.

— Me desculpe, já vou olhar. — Abaixo a cabeça.

— Fique calma, eu conheço muito bem esse senhor aqui, sei o quanto ele

é inconveniente. — Diz, apontando para o Dominic, com um sorriso sarcástico

nos lábios. — Aproveitando que está aqui, preciso conversar com você.

Dom me lança um olhar intenso, acompanhando meu chefe até sua sala.

— Ainda não acabamos a nossa conversa, loira.

O vejo adentrar na sala do meu chefe, conservando animadamente com


ele.

Volto para minha mesa, terminando de organizar alguns contratos em


pastas por ordem alfabética, pedindo a Deus que o senhor Montgomery não me

demita pelo pequeno tumulto que Dom causou.

Pela reação de Dominic, pude perceber uma pontada de ciúmes de sua


parte em relação ao Henrique.
Meia hora depois vejo a porta da presidência se abrir, revelando
Dominic. Ele retira o blazer, sorrindo de lado ao ver que estou o observando.

— Agora acho que podemos conversar. — Dominic diz, se aproximando.

— Dominic, não temos nada para conversar. — Digo calmamente. —

Então vá embora, por favor. Não quero perder esse emprego por conta sua.

— Fique tranquila, Wesley não fará isso. Até porque você não fez nada

de errado, Sophia. Wes até te elogiou, disse que você está fazendo um ótimo

trabalho, mas não conte a ele que eu te disse.

— Isso é bom. Agora vá embora, eu preciso terminar meu trabalho, Dom.

— O que acha de sair comigo quando acabar seu expediente? Assim

poderíamos conversar em paz. — Ele pega minha mão, colocando-a no seu

rosto.

Fecho os olhos, respirando fundo.

— Muito obrigada, mas não. Como irei confiar em alguém que sumiu por

cinco dias? É tão fácil fazer uma ligação. — Retiro minha mão de seu rosto.

— Desculpe. Eu tive imprevistos e tive que viajar, pensei que você não
ficaria preocupada.

— Eu não fiquei. — Minto descaradamente.

— Ficou sim. — Ele sorri de lado. — Você ainda se importa comigo. —

Volta a sorrir igual um bobo.


— Não estava preocupada. — Tento mentir novamente.

Dom se aproxima, sentando-se na cadeira a minha frente, apoiando os


cotovelos na mesa, deixando o rosto a centímetros de distância do meu, tanto

que consigo sentir sua respiração bater contra minha pele.

— Confesse, princesa. — Sussurra, próximo ao meu ouvido.

Meu corpo automaticamente responde a sua proximidade, e eu o

amaldiçoo por ser tão traidor. Eu queria ser imune aos charmes de Dom.

— Eu não estava. Você não tem que trabalhar não?

— Resolvi me dar um dia de folga, passei vários dias viajando, precisava

de um pequeno descanso.

O som do elevador me faz afastar rapidamente de Dominic.

— Ah, desculpe. — Henrique fala desconcertado.

Ele ainda parado na porta do elevador nos olhando.

— Eu não queria atrapalhar, depois eu volto, Sophia. — Ele gagueja.

— Não estava acontecendo nada demais, Henrique. Pode falar o que

queria. — Tento contornar a situação constrangedora.

— Vim avisar que não poderei sair com você esta noite, tenho muito

trabalho. Nós podemos marcar para outro dia. Nos vemos depois, Sophia.

Henrique aperta o botão do elevador, não me dando chances de respondê-


lo. As portas do elevador se fecham e eu me viro, vendo que Dominic está me
encarando.

— Você iria sair com ele?

— Sim. — Dou de ombros.

— Não acredito que aquele imbecil teve coragem de te chamar para sair

com ele.

— Ele é só meu amigo. — Esclareço. — E se tivéssemos algo a mais,


você não teria nada com isso.

— Aposto que ele não quer só amizade com você.

— Você está com ciúmes, senhor Watson? — Arqueio uma sobrancelha.

— Sim, eu fiquei com ciúmes. Fiquei puto quando ele disse que iria sair

com você.

— Eu tinha certeza de que estava enciumado.

— Para, Sophia.

— Quem diria, Dominic Watson confessando que está mesmo com


ciúmes, eu deveria gravar quando você confessou. Isso é uma coisa realmente

épica.

— Sophia, para com isso.

— Tá bom, vou parar. — Comprimo os lábios.

— Preciso ir, mais tarde passarei em sua casa para ver a Bela. Estou com

saudades daquela pequena.


— Tudo bem. — Concordo, temendo por sua reaproximação. — Espero
que tenha consciência do que está fazendo. Bela é uma criança, não merece que

você se aproxime e depois se afaste.

— Tomarei cuidado. Quero ser um verdadeiro pai para ela. Nos vemos à

noite, Sophia.

Concordo com um aceno.

Assim que ele se afasta, me pergunto como será o futuro, agora que ele

está de volta em minha vida, e parece que está disposto a me reconquistar.


Cheguei do trabalho há algumas horas, estou completamente exausta,

meu corpo clama por um descanso. O dia não foi fácil, e a madrugada passada

também não, afinal Bela decidiu que não iria dormir.

Dominic está aqui desde que cheguei, está no quarto brincando de


bonecas com Bela. Ele trouxe alguns brinquedos para ela, que ficou bastante

contente.

Graças a Deus estamos a sós em casa. É quase que um milagre que


minha mãe não esteja em casa, dificilmente ela sai. Às vezes sinto que mamãe é

uma pessoa um tanto solitária, até porque não possui amigos, vive trancada em
casa.
Começo a cortar algumas verduras, colocando água para ferver. Pretendo
fazer um macarrão, algo que é rápido, mas não deixa de ser saboroso.

— Olha que linda sua mamãe cozinhando, filha. — Ouço a voz do

Dominic.

Me viro, vendo Dominic com Bela nos braços. Ela passa as mãozinhas
rechonchudas na barba do pai e sorri. Nunca o vi tão descontraído, Dom está

com uma camisa social branca com as mangas arregaçadas.

Ele se aproxima, sentando-se na mesa, colocando a Bela sentada em seu


colo.

Volto minha atenção para o macarrão, terminando de prepará-lo. A todo

momento sinto o olhar de Dom queimar em minha pele. Minutos depois, coloco

a tigela sobre a mesa, vendo que o cheiro está bom.

— Me ajuda a colocar a mesa, Dominic? — Pergunto.

— Claro que sim. Mas onde posso colocar essa pequena?

— Pode deixá-la naquele cantinho, onde tem vários brinquedinhos. Ela


vai ficar quietinha. — Aponto para onde estão os brinquedos da Bela.

Ele levanta-se cuidadosamente com Bela nos braços, colocando-a no


cantinho onde tem os brinquedos. Minha princesa pega uma boneca, começando

a brincar, ou melhor, torturar a pobre boneca.

Dominic retorna, me ajudando a colocar a mesa. Assim que terminamos,


o sirvo em silêncio. Durante o jantar permanecemos em silêncio, nada foi dito.
Trocamos apenas alguns olhares.

Quando terminamos o jantar, recolho a louça suja, as levando até a pia.

Pego minha filha, colocando-a em sua cadeirinha, pego o prato com sua

papinha, começando a alimentá-la. O jeito que ela come é um tanto engraçado,

afinal se lambuza inteira.

Vejo Dominic nos olhando com um sorriso bobo pairando em seus lábios.

— Por que está sorrindo?

— Estou presenciando uma cena maravilhosa, vendo você alimentando

nossa filha, realmente as duas são as mulheres da minha vida. — Volta a sorrir.

— Eu amo vocês duas.

Tento ignorar sua última frase. Não posso deixá-lo me enganar por uma
segunda vez.

Há quase dois anos, ele também me dizia palavras bonitas, e o final de

tudo não foi nada agradável. Aprendi da pior maneira que palavras bonitas

muitas vezes não são verdadeiras.

Volto a alimentar minha filha, que estava faminta, essa criança tem um
apetite enorme. Assim que termino, pego Bela nos braços, fazendo uma careta
ao ver que ela está toda suja.

— Acho que alguém vai precisar tomar um banho.

— Vai lá dar um banho nessa porquinha. Eu arrumo a cozinha e a


bagunça que a Bela fez enquanto você cuida dela.
Arqueio a sobrancelha, me perguntando se alguma vez na vida Dominic
lavou a louça.

Subo para o meu quarto, acreditando no potencial de Dom.

Ligo o chuveiro, colocando a banheira dela para encher. Coloco Bela no

trocador de fraldas, retirando a fralda juntamente com a roupa suja.


Pego minha filha, levando-a até a banheira, antes de colocá-la, checo a

temperatura da água. Pego o sabonete líquido, passando em seu corpinho. As


pequenas mãos delas vão até a água, começando a bater, fazendo com que eu me

molhe.

A retiro da banheira, enrolando-a na toalha. Levo Bela novamente até o

trocador de fraldas, passando o talco e pomada para assadura, a vestindo em

seguida. A coloco no berço, acariciando seu cabelo.

Desço para o primeiro andar, preocupada com o que Dominic possa ter

feito na cozinha.

— Olha, já está pronto para casar-se. — Chamo sua atenção, vendo que

ele realmente limpou tudo. —Arrumou a cozinha inteirinha.

Ele se vira, sorrindo de lado, de uma forma sexy.

— Realmente estou pronto para casar. Mas com uma mulher específica,
uma certa loirinha dos olhos verdes, e que tem um sorriso maravilhoso, e por

último, ela é a mãe da minha filha. — Caminha até mim, enlaçando os braços em
minha cintura.
Apoio a cabeça em seu peito, fechando os olhos. É nesse momento que
vejo que jamais deixei de amá-lo. Eu o amo com a mesma intensidade de antes,

e me odeio por isso.

— Acho que já está tarde, é melhor você ir para a sua casa. — Digo, me

afastando.

— Pare de tentar fugir, Sophia. — Toca meu queixo, fazendo com que eu

erga a cabeça. — De mais uma chance para o nosso amor.

— Ainda não estou pronta para isso. Dominic, ainda tenho uma
insegurança gigantesca, não estou pronta para me entregar novamente.

— Eu irei aguardar até que esteja pronta. — Passa o polegar em minha

bochecha, acariciando-a.

— Pode demorar. As coisas não acontecem de uma hora para a outra. —

Tento explicar.

— Pode ser que leve muito tempo, mesmo assim irei esperar. Você não

entende que eu quero te reconquistar, mesmo que leve uma vida inteira. Assim
como as coisas não acontecem de uma hora para a outra, o amor não morre.

— Estou tentando acreditar nisso. Só que é complicado. Sofri tanto.

Fecho os olhos, apreciando seu toque carinhoso.

Afasto de ser corpo, com medo de acabar me sucumbindo aos meus


desejos. Não posso e não devo me entregar a ele sem ter certeza das suas reais
intenções.
— Já vou indo, anjo. — Beija minha testa. — Não vou lá despedir da
nossa filha. Não quero acordá-la.

— Está bem.

O acompanho até a porta. Ele apenas me abraça, partindo em seguida.

Fico minutos escorada na porta, vendo seu carro se afastar lentamente.

Não posso me entregar a ele novamente, mesmo que meu coração queira

isso. Até porque não darei conta de juntar os cacos do meu coração caso ele se

quebre novamente por conta de Dominic.

Irei tentar resistir a ele, prometi a mim mesma que não me entregaria

novamente.

Olho para a rua novamente, vendo a louca da minha amiga caminhar em

minha direção. Evelyn não tem ideia, como pode andar sozinha uma hora

dessas? As ruas durante as noites são perigosas.

— Você realmente é louca, Evelyn. — Repreendo-a.

— Estou com saudades de você e queria conversar, então resolvi vir aqui.
— Sorri, entrando em minha casa.

Caminhamos até o sofá. Ela se senta à minha frente, cruzando as pernas.

— E então? — Pergunto. — O que a senhorita quer conversar?

— Você acha que eu não te conheço, dona. Me conte o que está te

afligindo. Pensa que eu não vi essa sua carinha agoniada quando foi buscar a
Bela? Foi por esse motivo que vim aqui. Sempre fomos amigas, então pode ir
contando. — Diz, segurando em minha mão. — Ah, e eu acabei de ver o
Dominic passando. Ele estava aqui?

— Respondendo a sua pergunta, sim, ele estava aqui. Veio ver a Bela. —

Esclareço.

— Então ele já descobriu sobre a Bela? — Pergunta, com os olhos


arregalados.

— Descobriu. Lembra aquele dia da festa da empresa? — Ela assente

com a cabeça. — Naquele dia ele descobriu quando foi me levar ao hospital. No
início, ficou nervoso por eu ter mentido ao falar que havia perdido o bebê.

— Você tinha que ter me contado antes. — Ela leva as mãos até a boca.

— Mas não estou entendendo. Ele mesmo falou que não queria a criança?

— Disse sim. Ele me falou que se arrependeu de tudo e que queria a filha

por perto, reconheceu que foi um infeliz quando fez aquilo comigo.

— Amiga, tem mais coisa pode ir me falando.

Minha amiga me conhece muito bem, não consigo esconder


absolutamente nada dela.

— Ele veio com um papo de que tinha mudado, que queria me


reconquistar, que dessa vez faria tudo diferente, mas eu não consigo acreditar,

Evelyn.

— Não estou entendendo nada, esse homem é louco?

— Também não estou entendendo absolutamente nada. Meus


sentimentos estão confusos. Não consigo acreditar nele novamente, por mais que
Dom tente provar que mudou. Porém, meu coração ainda está ferido.

— Amiga, o que você decidir, não irei te julgar, mas não deixe ele te

machuque novamente. — Me abraça. — Não quero ver você mal de novo.

— Irei tentar não me machucar.

Não posso simplesmente aceitar isso, não mandamos no coração, não

escolhemos quando vamos ser feridos. Acho que se eu encontrasse uma lâmpada

mágica e tivesse que fazer um pedido, pediria para ter o total controle dos meus
sentimentos, e que assim pudesse mandar no meu coração. Até hoje não entendo

o porquê de não conseguirmos manter o controle dos nossos sentimentos, por

que não podemos escolher a quem amar? No começo, achava que amava uma

pessoa perfeita, no meu coração e na minha mente eu idealizei muito o Dominic,

e quando idealizamos alguém a decepção é ainda maior.

Durante as próximas horas ficamos entretidas com filmes dramáticos de

romance. Há algumas semanas não tínhamos um momento como esse.

Arrumo um colchão no chão do meu quarto para Evy. Indo dar uma
olhada na Bela, ao me aproximar do berço vejo que ela está dormindo igual a um
anjo, até o seu jeito de dormir parece com o jeito que o Dominic dorme. Os dois

dormem com a boca entreaberta.

Tomo um banho, colocando um pijama confortável, deitando-me.

Amanhã irei trabalhar, então tenho que tentar descansar.


Tento afastar os pensamentos sobre Dom para poder dormir em paz.
Rolo na cama, a sentindo confortável como nunca, possivelmente um

efeito da exaustão dos últimos dias. Há uma semana Dominic está se

reaproximando, tanto que faz questão de ver a Bela todos os dias. A pessoa mais

contente de toda essa história é a minha mãe, que provavelmente está gostando

mais do que Dominic pode oferecer a ela.

Bela também aparenta estar feliz com a aproximação do pai, o que me


deixa temerosa e contente ao meu tempo. Gosto de vê-la na companhia de Dom,

mas temo até quando irá durar.

No trabalho tudo está correndo perfeitamente bem, tirando o fato de que


Henrique está me ignorando desde que viu Dom conversando comigo.
Me obrigado a levantar da cama, lembrando dos planos de Dominic para
hoje. O homem colocou na cabeça que queria apresentar Bela para a família, e

pediu que eu os acompanhasse.

Pego minha bebê nos braços, levando-a até o banheiro, dando um banho

rápido nela. A coloco sobre a cama, já devidamente limpinha, vestindo-a com


um vestido lilás. Passo a escova macia em seu cabelo, vendo que Bela está me

observando, seus belos olhos azuis estão fixos a mim.

Antes de sair do quarto com meu anjo nos braços, vejo meu reflexo no

pequeno espelho, vendo o quanto o vestido vermelho me caiu bem.

— Vai para onde, Sophia?

— Vou sair com o Dominic. Não sei bem quando voltaremos, mas creio

que não será tarde.

— Finalmente está deixando esse seu lado de mosca morta e investindo


em um homem realmente promissor. — Um sorriso presunçoso surge em seus

lábios, me causando náuseas.

— Por favor, não comece. — Peço, não querendo discutir.

Agradeço no instante em que ouço o som provocado pela buzina. Sorrio

ao ver Bela dar gritinhos de felicidade assim que vê o pai.

Quando me aproximo, Bela estende os braços para o pai, permitindo que


ele a pegue.

— Acho que alguém ficou bem animadinha quando viu você. —


Comento, ajeitando o vestido da Bela, que está nos braços de Dom.

— Quem não ficaria animado ao me ver? Sou lindo.

Faço uma careta, discordando do que acabou de dizer.

Vejo-o arrumar Bela na cadeirinha, vindo abrir a porta do carro para mim

em seguida. Dom está demonstrando sua mudança nos pequenos atos.

— Você já conversou com sua família sobre a Bela? — Pergunto, um


pouco temerosa.

Dom suspira pesadamente antes de responder.

— Ainda não. — Ele gira a chave do carro, que começa a movimentar.

— Irei conversar com eles hoje. Nem sei por onde começar. No começo não será

fácil para meus pais se acostumarem, afinal será uma surpresa.

Volto minha atenção para janela, podendo ver a bela lua cheia no céu

estrelado.

Não conheço os pais de Dominic, não sei qual reação esperar deles.

Confesso que quando namorávamos eu tinha uma certa curiosidade sobre sua

família, como qualquer namorada costuma ter, mas infelizmente ele nunca me
apresentou a eles.

Olho para trás, vendo Bela sorrindo ao balbuciar algumas palavras

incoerentes.

Poucos minutos depois atravessamos os portões dourados de uma enorme


mansão luxuosa. Assim que meus olhos focam na construção imponente, sinto
uma pontada de insegurança.

— Sophia.

Olho para o lado, vendo que Dominic já desceu do veículo e está com

Bela nos braços. Seguro em sua mão, sentindo que minhas pernas estão

trêmulas.

— Eu estava um pouco perdida nos meus pensamentos. — Explico,

dando um meio sorriso.

Dom apoia uma mão em minha cintura, me guiando até a entrada da

casa. Ao olhar tudo, percebo que somos de mundos completamente diferentes.

Ouço Dominic apertar a campainha.

Uma senhora extremamente bonita abre a porta. Ela tem o cabelo preto e
olhos azuis como os de Dominic. Com certeza é a sua mãe. A mulher a minha

frente está usando um vestido preto com um singelo decote nas costas, ela

consegue exalar requinte.

— Entrem. — Nos cumprimenta apenas com um aceno, dando passagem.

Ao perceber meu nervosismo, Dom intensifica o aperto em minha


cintura. Ergo a cabeça, vendo que um sorriso despreocupado paira em seus
lábios. Se eu não o conhecesse tão bem, diria que realmente não está nervoso,

mas seu olhar o entrega.

Cumprimento o homem a alguns metros de distância, ele provavelmente


é o pai de Dominic. Sento-me de frente para eles. Os dois parecem estar um
tanto perdidos.

Dou uma rápida olhada ao redor, um tanto perdida com tanto luxo.

— Bom, como eu já disse, tenho algo importante para contar. —

Dominic começa a falar.

— Fale logo, Dominic. — A mulher a minha frente pede, com um tom de

voz ríspido.

— Há quase dois anos atrás conheci Sophia. Acabamos nos envolvendo,

e esse curto relacionamento resultou nessa pequena em meus braços. No início,

não quis assumir a criança, nunca me perdoarei por isso. Mas o tempo passou, e

com isso meus pensamentos mudaram.

Seus pais ficam em silêncio por alguns segundos, provavelmente

tentando digerir a novidade.

— Não estou acreditando que você foi idiota ao ponto de engravidar uma

mulher desconhecida. E o pior, não nos contou. — Sua mãe é a primeira a

explodir.

— Sophia nunca foi nenhuma desconhecida. Fique calma, mãe.

— Ficar calma? Acabei de descobrir que você tem uma filha, Dominic.
— A mulher se levanta, começando a andar de um lado para o outro.

— Acalme-se, Verônica. — Finalmente o pai do Dominic se pronuncia.

— Não posso ficar calma. Você tem certeza de que essa criança é mesmo
sua filha?
— Se a senhora fizer quentão, posso fazer um DNA. — Ergo o olhar,
olhando no fundo dos olhos de Verônica, não me intimidando.

— Não, Sophia, você não vai fazer um DNA, não há necessidade

alguma. Eu tenho certeza absoluta que Bela é minha filha, e isso basta. —

Dominic intervém, colocando uma mão sobre a minha, como uma forma de me
acalmar.

— Se você fosse um pouco esperto aceitarei esse DNA, pois assim teria
certeza.

— A senhora está insinuando que eu menti? E eu faria isso a troca de

que? Dinheiro? — Arqueio a sobrancelha, vendo Verônica me fuzilar com o

olhar. — Pergunte ao seu filho quem procurou quem.

Bela se assusta com os gritos de Verônica, começando a chorar. Pego-a


nos braços, a aconchegando contra meu peito, conseguindo a acalmar aos

poucos.

— Vamos embora. — Levanto, encarando Dom, aguardando uma

resposta de sua parte. — Não quero ficar em um lugar onde não sou bem-vinda.

— Tudo bem. Sophia está mais do que certa em não permanecer em um


ambiente ao qual não é bem-vinda. — Ele se levanta, parando ao meu lado,

apoiando uma mão em minha lombar. — E se ela não é bem-vinda, eu também


não sou.

— Filho, não pode se afastar por conta dessa mulher. — Aponta para
mim, indignada.

— Se a senhora não quisesse isso, teria a tratado bem. Sophia e Bela são
o meu presente e o meu futuro, e vocês precisam aceitar. — Ele lança um olhar

duro para os pais.

Sou guiada para fora da casa cercada de luxo, me sentindo em paz no


instante em que sinto a brisa suave da noite. Permanecer no mesmo ambiente

que a mãe do Dominic estava me sufocando.

Assim que saímos do condomínio, percebo que meu corpo está trêmulo.
Nunca imaginei que teria coragem de desafiar a mãe de Dom.

— Acho que fui grossa com sua mãe. — Sussurro, quebrando o silêncio.

— Você fez o que era correto. — Dom esboça um sorriso. — Não sabe o

orgulho que sinto da mulher que você se tornou, Sophia.

— Fui obrigada a amadurecer, a parar de idealizar um mundo cor-de-

rosa. A vida não me deu a chance de amadurecer aos poucos, em um belo dia ela

me acordou e jogou uma responsabilidade enorme em minhas costas, e eu não


tive escolha.

— Eu deveria ter sido um bom companheiro, ter permanecido ao seu

lado. — Dom suspira.

— Sim, você deveria. Poderia ter permanecido ao meu lado como pai da
minha filha. Eu amo a Bela, mas você não tem noção do trabalho que uma

criança pode dar. Passei quase dois anos sendo mãe e pai para a minha filha.
— Me culparei eternamente, nada que eu faça diminuirá a parcela de
culpa que tenho.

Fico em silêncio, absorvendo tudo que aconteceu desde que chegamos na

casa dos seus pais. Eu já esperava que eles não iriam gostar da novidade, afinal

estavam esperando que o filho se casasse com outra mulher, e não que
aparecesse com uma filha de maneira inesperada.

Desço do carro quando Dom estaciona em frente à minha casa, vendo


Dom pegar Bela nos braços com cuidado. Meu anjinho está dormindo

calmamente. Às vezes não acredito que um ser humano tão lindo foi gerado em

meu ventre.

— Te amo, pequena. — Dom sussurra, beijando a bochecha de Bela, a

entregando para mim. — Desde que me reaproximei, agradeço todos os dias por

ter vocês duas em minha vida.

— Vou entrar, aqui fora está frio. Boa noite, Dom!

— Boa noite, Sophia!


Amor, é você

Você é aquele que eu amo

Você é aquele que eu preciso


Você é o único que eu vejo

Venha, amor, é você

Love on top - Beyoncé


Sorrio ao ver uma mensagem da Evelyn estampada na tela do meu

celular. Ela me enviou uma foto da minha princesa lambuzada de chocolate.

Entro no elevador, vendo que Henrique está no mesmo, no primeiro

instante ele abaixa a cabeça, fingindo estar mexendo no celular.

— Cansada? ― Henrique pergunta, atraindo minha atenção. ― Hoje o

dia foi intenso.

— Um pouco. — Apoio o corpo na caixa de metal, sentindo meus pés


clamarem por uma massagem. — Há dias não tínhamos tanto movimento.

— Realmente. — Concorda, olhando no fundo dos meus olhos, é como

se quisesse dizer algo. — Tenha uma boa noite, Sophia.

Antes mesmo que eu diga algo as portas do elevador se abrem, e

Henrique se distancia em passos largos, fugindo de mim.

Arqueio a sobrancelha ao sair do prédio e ver Dominic me aguardando


apoiado na lataria do carro. Ele não avisou que estaria aqui. Aproximo, sentindo

seu olhar intenso me avaliar minuciosamente.

Nas últimas semanas Dom se aproximou bastante, nos vemos quase


todos os dias. Bela está acostumado a vê-lo sempre. Ainda não tenho uma

opinião formanda sobre essa reaproximação, mesmo que ele tente provar
diariamente que mudou.
— Boa noite, loira! Tenho a sensação de que está mais linda do que
nunca.

— Diga logo o que está querendo.

— Não menti, você está linda. Mas vamos focar no que interessa, tenho

uma empregada, e ela é muito especial. Contei sobre vocês, e ela quer as
conhecer. Pensei em jantarmos juntos hoje.

— Só se você garantir que ela não vai me tratar como a sua mãe. Não

tenho paciência para mais uma pessoa desconfortável.

— Ela não irá te tratar mal, pode ficar despreocupada. Quer uma carona?

— Tudo bem.

Dom abre a porta, permitindo que eu entre no veículo, ocupando o banco


do motorista em seguida. Vejo-o ligar o som, colocando uma música clássica.

Todo o trajeto foi feito em silêncio, o que de certa forma achei bom.

Retiro o cinto de segurança, enquanto Dom dá a volta no carro, abrindo a

porta para mim. Ele segura em minha mão, sorrindo de lado.

— Aguarde um minuto, por favor. — Pede, abrindo a porta de trás do

carro, pegando um embrulho lilás. — Hoje pela manhã estava passando em


frente uma livraria, e foi impossível não me lembrar de você.

Pego o embrulho, abrindo-o um tanto curiosa. É impossível não sorrir ao

ver o livro.
— Obrigada, Dominic! — Agradeço, folheando o livro de romance. — É
um tremendo golpe baixo usar livros para me reconquistar.

— Se quiser, posso até ler o livro para conversar com você. — Pisca,

cruzando os braços.

— Vai entrar?

— Vou aguardar vocês aqui.

— Tem certeza de que não quer entrar?

— Sim. — Confirma.

Caminho até a entrada, girando a maçaneta, abrindo a porta. Não

contenho o sorriso ao ver Bela e Evelyn sentadas no tapete da sala de estar

rodeadas de brinquedos.

Assim que nota minha presença, Bela engatinha em minha direção

sorrindo abertamente.

— Oi, amor da minha vida. — Abaixo para pegá-la. — Como você está

linda. — Beijo a bochecha dela.

— Que mamãe mais babona. — Evy se levanta, vindo me abraçar. — Já

estou indo, estou cansada e tenho que descansar um pouco. Talvez amanhã à
noite venho ver vocês. A titia te ama, Bela.

— Obrigada, Evy. Espero vê-la amanhã.

Subo as escadas, me arrumando em um tempo recorde, afinal Dominic


sequer entrou. Tenho a sensação de que ele está fugindo da minha mãe, que

sempre o bombardeia de perguntas inconvenientes.

Pego Bela no berço, descendo as escadas. Assim que desço o último

degrau, vejo minha mãe me observando. Eu sabia que não conseguiria sair

despercebida.

— Está saindo muitas vezes durante a semana. — Resmunga. — Vai para

onde hoje?

— Eu irei sair com o Dominic.

— Ótimo. Gosto daquele homem.

Decido ignorar sua frase, indo até a porta e entrada, abrindo a mesma.

Vou até Dominic, que está nos observando apoiado no carro. Um belo sorriso

surge em seus lábios assim que seus olhos pousam no pequeno ser humano em

meus braços.

— Oi, filha. — Dom pega Bela nos braços. — Já estava com tanta

saudade de você. Eu não vejo a hora de vê-la começar a me chamar de papai.

— Logo ela fará isso.


Encaro a mansão a minha frente, recordando da última vez em que estive

aqui. Olho para o lado, vendo Dominic sussurrando algo para Bela. Ele percebe

que estou os observando, e apenas esboça um sorriso fraco, apoiando uma mão

em minha lombar, me guiando até a entrada.

A noite está particularmente fria, tanto que o vento gélido que abraça

meu corpo faz com que todos os pelos do meu corpo se arrepiem.

Ao adentramos na casa, vejo uma senhora de meia idade de cabelos


ruivos surgir da sala de jantar, enxugando as mãos em um pano de prato. Seus

olhos castanhos claros me analisam, e um sorriso simpático surge em seus

lábios.

— Olhe quem eu trouxe para você conhecer, Vanessa. — Dominic diz,

sorrindo para a senhora.

A senhora caminha apressadamente até onde estamos, fixando o olhar em


Bela, que está analisando a casa do pai.

— As duas são realmente lindas, menino, até mais do que eu havia

imaginado. — Diz contente. — Prazer em conhecê-la, Sophia.

Levo um susto quando ela me puxa para um abraço.

— O prazer é todo meu, senhora.


— Sua filha é linda. — Ela volta sua atenção para a Bela, visivelmente
encantada. — Menino! Ela é a sua cara, puxou até os olhos azuis.

— Quer pegá-la? — Dominic pergunta.

— Claro que sim.

Dominic entrega Bela para Vanessa, que caminha até o sofá, sentando-se

com a minha pequena. Ela parece ter amado a novidade.

Dom para ao meu lado, as observando. Seu olhar transmite uma paz a

qual nunca havia visto. Quando namorávamos ele não era uma pessoa contente,

sempre parecia incomodado com algo.

A noite foi particularmente agradável, Vanessa me tratou muito bem, ao

contrário da mãe do Dom, que mal olhou na minha cara. Ela fez questão de fazer

um delicioso jantar para nós, me senti extremamente bem acolhida por ela.

— Está tarde. O que acha de dormir aqui?

— Apenas dormir? — Sento-me ao seu lado, acariciando o cabelo da

minha filha, que está sonolenta em meus braços.

— Claro, sem segundas intenções. Montei um quarto para a Bela. —


Conta, passando o polegar sobre a bochecha rosada da nossa filha. — Fiz
questão até de pintar as paredes do cômodo.

— Você está sendo um apressado.

Tento sorrir, evitando demonstrar que estou incomodada com sua atitude.
Ainda tenho um certo receio que ele tente pegar minha filha.
— Sophia, aqui também será a casa da Bela. Quero que ela tenha um
espaço apenas seu. — Seus olhos azuis como o mar fixam em meu rosto, como

se dessa forma pudesse ler todos os meus pensamentos. — Fique tranquila, já te

disse mil vezes que não irei tomá-la de você.

— Você não é a pessoa mais confiável do mundo, e já deixou isso bem


claro.

— Realmente você não tem motivos para acreditar em mim, e não a julgo
por isso. Venha, quero que conheça o quarto da nossa filha. — Se levanta,

estendendo a mão em minha direção.

Seguro em sua mão, acompanhando-o até as escadas que levam até o

segundo andar. Toda a casa é cercada de luxo.

Ao entrar no quarto é impossível não sorrir. As paredes são de um tom de


rosa pastel, e as prateleiras brancas estão abarrotadas com diversos ursos de

pelúcia de cores claras. É o quarto que sempre sonhei para minha filha, mas

infelizmente nunca consegui dar a ela.

— Quando estiver maior, ela amará esse lugar. — Comento, deitando


minha filha no berço posicionado no centro do quarto.

— Espero que sim. Montei tudo com muito amor.

Cubro meu anjinho, admirando-a dormir profundamente. Dom para ao

meu lado, aproveitando para admirá-la.

— Nunca me acostumarei com a beleza da nossa filha. Ela é perfeita.


Podemos fazer mais filhos, loira, pois sabemos que o resultado será ótimo.

— Mais filhos?

— Bela iria adorar ter um irmão. Sou filho único, por muito tempo

desejei um irmão.

Ao sairmos do quarto, Dom apoia uma mão em minha cintura, colando

nossos corpos. Instantaneamente minha respiração se torna ofegante.

— Vamos esquecer de tudo só por uma noite? — Pergunta, tocando meu

queixo.

— Dom. — Fecho os olhos, sentindo todo meu corpo implorar por seu

toque. — Acho melhor não.

— Sinto sua falta, Sophia, sinto falta de ter seu corpo junto ao meu, sinto
falta das nossas noites. — Apoia a testa na minha, levando a outra mão até meu

rosto, acariciando-o com o polegar.

— Apenas uma noite.

Decido me entregar só por uma noite, estaria mentindo se dissesse que

não quero. Desejo mais que tudo passar a noite com ele.

Vejo-o esboçar um sorriso, me guiando até a porta no meio do corretor.


Dom abre a mesma, ainda com um braço enlaçado em minha cintura.

Ele me deita em sua cama com cuidado, deitando-se sobre meu corpo,

apoiando todo seu peso nos cotovelos. Seus lábios quentes correm por toda
extensão do meu pescoço, deixando o clima mais quente do que deveria estar.
Seu olhar procura o meu, em busca de um consentimento. Em resposta,
passo os braços ao redor de seu pescoço, colando nossos lábios, sentindo suas

mãos vagarem pelo meu corpo.

Dom desliza o vestido para fora do meu corpo, sorrindo em seguida ao

me observar minuciosamente. Ele se aproxima, voltando a distribuir beijos sobre


meu corpo.

Em poucos segundos estou completamente nua a sua frente, sentindo seu


olhar carregado de desejo queimar em minha pele.

Como algo tão errado parece ser tão certo?


Ao abrir meus olhos, sinto uma alegria imensa ao sentir o corpo de
Sophia junto ao meu. Acaricio seu cabelo, vendo-a sorrir ainda de olhos

fechados. Começo a distribuir beijos por seu rosto, deslizando uma mão até sua

cintura.

Não há dúvidas que a amo intensamente, amo de uma forma que julgava

ser impossível. Quero passar o restante dos meus dias ao lado de Sophia, desejo
acordar ao seu lado todas as manhãs.

Aos poucos Sophia abre os olhos, fazendo com que eu me perca em suas
duas lindas esmeraldas. Sempre fui apaixonado pelos seus olhos verdes.

— Bom dia, loira. — Dou um selinho rápido em seus lábios macios. —


Como dormiu?

Antes de responder minha pergunta Sophia sorri. Um sorriso que seria


capaz de iluminar até mesmo o dia mais nublado.

— Dormi perfeitamente bem.

— Que ótimo! Fique sabendo que eu também dormi perfeitamente bem,

acho que a senhorita poderia dormir aqui sempre. — A aperto em meus braços,

fazendo seu sorriso aumentar ainda mais.

— Não posso dormir aqui todos os dias, Dominic.

Faço uma careta.

— Por quê?

— Porque eu disse que seria apenas uma noite. — Pisca de maneira


provocativa.

Sophia não diz nada, apenas esboça um sorriso, aconchegando ainda

mais em meu peito. Levo as mãos até os fios dourados de seu cabelo. Seu

perfume suave de rosas paira por todo o cômodo, e parece impregnado em meu

corpo. Se eu pudesse, tornaria o tempo mais lento apenas para passar mais algum
tempo com Sophia.

— Temos que nos levantar. Nossa filha pode acordar a qualquer

momento.

— Pensei que poderíamos ficar juntos por mais alguns minutos.


— Impossível. — Ela segura meu rosto, plantando um beijo em minha
bochecha.

Antes de se levantar, Sophia enrola seu corpo em um lençol branco,

caminhando até o banheiro.

Sophia mudou nesse tempo em que estivemos separados, ela está


aparentemente mais forte, e de certa forma tenho orgulho disso.

Como a senhorita Sophia estava usando o banheiro do meu quarto, sigo

até o quarto de hóspedes para poder me arrumar.

Ouço um choro baixo que mais parece um resmungado, tenho certeza

que está vindo do quarto da minha filha. Caminho até lá rapidamente,

encontrando Bela sentada no berço.

— Oi, princesa. O que você tem? — Pergunto, me aproximando do

berço.

Bela me analisa por alguns segundos, passando a mão sobre os enormes

olhos azuis. Ela sorri, estende os bracinhos para que eu a pegue.

Não sou merecedor de tê-la em minha vida. Fiz tudo errado, e mesmo
assim o destino me presenteou com essa criança perfeita.

Sorrio, pegando-a nos braços. Bela apoia a cabeça em meu ombro,

enquanto desço para o primeiro andar, onde me sento com ela no sofá. Ligo a
televisão em um programa infantil, observando Bela ficar vidrada na mesma.

Ouço passos vindo das escadas, e assim que viro vejo Sophia caminhar
em nossa direção como um verdadeiro anjo. Ela consegue ser ainda mais linda

pela manhã.

— Ela estava chorando, por isso a peguei. — Explico, no instante em que

se senta ao meu lado.

— Sem problemas. Vou fazer a mamadeira para a Bela, ela deve estar
com fome.

— Quer ajuda?

— Não precisa, Dominic. Só fique com ela aqui enquanto eu preparo a

mamadeira.

Sophia pega uma bolsa rosa de bebê, seguindo até a cozinha.

Enquanto Sophia não retorna, fico na sala de estar com a Bela, que ainda
está um pouco sonolenta.

Essa casa finalmente está se parecendo com um verdadeiro lar. Quando a

comprei, imaginei que seria feliz, mas com o tempo ficar aqui passou a ser algo

incômodo, pois sempre parecia estar faltando algo, e agora vejo que faltava essas
duas mulheres.

— Prontinho, filha. — Sophia entrega a mamadeira para a Bela minutos


depois.

— Sente-se aqui. — Seguro em sua mão, trazendo-a para mais perto do


meu corpo.

— Não gosto dessa aproximação, tenho medo.


— Medo de que?

— Medo que isso possa acabar a qualquer momento. Medo de me


decepcionar novamente. Eu sei que esses medos podem parecer bobos e até

infantis, mas é inevitável, sofri muito com tudo que aconteceu, e tenho medo que

volte a acontecer. Não quero sofrer novamente. — Explica.

Me sinto o pior homem da Terra. Eu a machuquei muito, até hoje ainda

resta as cicatrizes. Ela sempre terá um certo receio comigo.

— Não sabe o quanto sofri por conta dos erros do passado. Paguei por
cada um deles, Sophia. Em hipótese alguma quero te fazer sofrer.

Cada dia que passei longe de Sophia pude sofrer com a dor da culpa, uma

das piores dores, pois você sabe que foi o responsável por tudo que aconteceu, e

que apenas você poderia ter feito diferente.

— Estou tentando.

Estou tentando, não queria ouvir essa frase. Sei que não posso exigir

muito dela, não posso exigir um eu te amo. Irei esperar seu tempo, esperar a
confiança dela, reconquistá-la aos poucos.

— Vou levar Bela para o quarto. — Se levanta. — Essa porquinha está

precisando de um banho.

Sophia pega Bela, caminhando em direção as escadas, fico a observando


subir os degraus com nossa filha nos braços, enquanto conversa com ela.

Desligo a televisão, que ainda estava passando um desenho animado para


crianças.

Desde a adolescência sonhava em ser pai, mas sempre tive receio de ser
um pai ausente como o meu. O medo nos torna covardes, nos impende de

vivenciar experiências maravilhosas.

— Menino, cadê a Sophia e a bebezinha? — Vanessa fala, adentrando na


sala de estar, procurando minhas mulheres com o olhar.

— Sophia foi dar um banho na Bela.

O semblante dela muda, e um sorriso brota dos seus lábios.

— Elas ainda estão aqui, isso é bom. Vou preparar um café da manhã

delicioso para vocês. O senhor Wesley pediu para avisar que irá vir te visitar. —

Avisa, voltando para a cozinha.

Saber que Wesley irá me visitar me assusta, nunca sei o que esperar

daquele maluco. Normalmente ele não costuma vir aqui muitas vezes.

Talvez eu esteja com medo de falar com meus pais novamente, eles

ficaram decepcionados comigo.

Caminho até meu escritório, respirando fundo ao ver a quantidade de


papéis espalhadas em toda extensão da mesa.

Há anos o trabalho tem sido meu maior vício, o coloquei como uma

forma de preencher todo o vazio que sentia dentro de mim. Eu ainda era muito
jovem quando comecei a ajudar meu pai, e quando finalmente consegui a
presidência, a Watson engenharia estava à beira da falência, não foi fácil
reerguer tudo em poucos anos.

Depois de quase uma hora trancado no escritório escuto batidas na porta.

— Pode entrar. — Murmuro, massageando as têmporas.

É impossível não sorrir assim que vejo Sophia adentrar ao cômodo.

— Você está aqui há tanto tempo, vim checar se estava bem.

— Está tudo bem. — Sorrio, ainda não acreditando que a tenho tão perto.

Chamo-a com um aceno, fechando o notebook.

Sophia se aproxima, e eu aproveito para puxá-la para os meus braços.

Afasto seu cabelo, aproveitando para fazer uma trilha de beijos por seu pescoço,

vendo seu corpo reagir ao meu toque.

— O que acha de estendermos a noite por mais um dia? — Pergunto,

sorrindo de lado.

— Esse não foi o combinado, Dom.

— Podemos reformular nosso acordo, seria favorável para ambos. Cadê a


nossa filha?

— Está brincando com a Vanessa no jardim.

— Vanessa ama crianças. Sempre sonhou em ter uma nessa casa para
mimar. Bela será como uma neta para ela. — Explico, distribuindo beijos por seu

ombro.

— Vamos tomar café da manhã, você ainda não comeu nada. — Diz se
levantando, segurando em minha mão.

Essa mulher desperta minha melhor versão, talvez o amor seja isso.

Com o passar dos meses longe de Sophia, percebi que necessitava ser

uma pessoa melhor por mim, para depois fazê-la feliz. De nada adiantaria mudar

apenas por ela, pois não seria uma mudança saudável.

Penso em negar, mas acabo desistindo assim que olho para o seu rosto

angelical. Sou incapaz de negar algo assim para ela.

— Vamos. — Levanto-me, seguindo-a.

Caminho até a cozinha, onde a mesa está posta. Puxo a cadeira sentando-

me a sua frente, me servindo com uma xícara de café puro.

Ergo o olhar, percebendo que Sophia está me observando com uma


careta, algo que sempre fazia no passado quando me via tomar café sem

adoçante.

Assim que termino o café da manhã, penso em retornar ao escritório, mas

acabo me repreendendo por pensar em trabalho. Hoje me dedicarei as duas


mulheres da minha vida.

— Vamos para o jardim, Sophia? Acho que nossa princesa está se


divertindo. — Convido-a, escutando os gritos animados de Bela.

— Vamos.

Seguro em sua mão, guiando-a até o jardim, onde encontramos Bela e


Vanessa sentadas sobre o gramado rodeadas de bonecas. Como eu tive medo de
ser pai? Passei um ano longe da minha filha por ser um covarde, e infelizmente
não poderei recuperar esse tempo.

Chego mais perto, me sentando perto delas. Bela logo engatinha em

minha direção.

— Oi, princesa do papai. — Pego-a, distribuindo beijos em suas


bochechas.

— Vem aqui na mamãe, acho que você está me trocando. — Sophia a

chama.

A pequena sai dos meus braços, indo até a mãe que está ao meu lado.

— Vou preparar o almoço. — Vanessa fala, se levantando.

Ela se vai e ficamos somente eu, Sophia e a Bela.

Logo a Bela sai do colo da Sophia, indo brincar com as bonecas.

Como eu queria ter visto o nascimento da minha filha, ter estado ao lado

da Sophia, ouvir o primeiro choro da nossa princesa, daria tudo para ter uma

segunda chance, mas infelizmente as coisas não funcionam desta maneira.

— No que está pensando? — Sophia indaga, apoiando uma mão em

minha perna, me despertando dos pensamentos.

— Perdi muito tempo longe da nossa filha.

— Todos erramos. Mas nunca é tarde para consertar os erros, e tentar


fazer tudo diferente.
— Mas não poderei recuperar o tempo que passou.

— Dom, não adianta se martirizar por algo que você não pode fazer nada
para mudar. Infelizmente não modificamos o passado.

— É impossível não me martirizar.

A manhã está particularmente linda, combinando perfeitamente com meu

humor.

— Olha se não é meu amigo Dominic. — Me viro, vendo Wesley

caminhar em nossa direção com um sorriso debochado estampado nos lábios.

Sophia se levanta rapidamente, e eu faço o mesmo.

— Bom dia, Wesley. ― Cumprimento-o cordialmente.

— Bom dia, Dominic! — Me cumprimenta com um aperto de mão,


fazendo o mesmo com Sophia.

A loira apenas sorri, pegando nossa filha no colo.

— Porra, a menina é a sua cara!

Wesley a olha minuciosamente, um tanto assustado.

— Não é para falar palavrões quando estiver perto da minha filha. — O


repreendo.

— O que você fez com meu amigo ogro, Sophia? — Indaga. — Porque

com esse homem todo bobo aqui não é o homem que eu conheço.

— Não fiz nada.


Ficamos conversando no jardim até Vanessa nos chamar para almoçar.

Já consigo me enxergar dividindo uma vida com Sophia. Quero ter a


tradicional família de comercial se margarina com essa mulher.

O momento teria sido melhor se meus pais também estivessem. Eles não

foram os melhores pais, mas eu os amo, quero que eles aceitem minha decisão.

Quando todos acabam de almoçar, Sophia se levanta, avisando que irá

dar um banho na Bela.

— Preciso conversar com você. — Wesley fala, assim que vê que Sophia

já subiu as escadas.

— Do que se trata?

— Sua mãe, Dominic. Ela não está nada contente desde que descobriu
que você rompeu o noivado com Natália. Na cabeça dela você e a Natália ainda

vão reatar, e acredita que você irá se arrepender de tudo. Ela está criando falsas

esperanças, e está incentivando sua ex-noiva a te reconquistar.

Respiro fundo, tentando conter a raiva. Não sou um maldito boneco para
que minha mãe tente me controlar.

Dona Verônica sempre quis um filho perfeito, ela me idealizou de


diversas formas. Na infância, eu era obrigado a frequentar até malditas aulas de

piano, apenas para satisfazer seu ego.

— Será impossível, não estou disposto a voltar com Natália em hipótese


alguma.
— Tente explicar isso para a sua mãe. Você sabe que elas vão fazer um
verdadeiro inferno na sua vida e na vida da Sophia.

Não estou disposto a deixar Sophia apenas para satisfazer um desejo

patético da minha mãe.

— Espero que não façam nada com Sophia, sou capaz de tudo para
protegê-la.

— Só quis avisar. Tome cuidado, e redobre o cuidado com a Sophia. Não

sabemos do que Natália é capaz por dinheiro.

— Ela nunca me terá de volta, mesmo que Sophia não queira manter um

relacionamento.

Não quero nenhuma outra mulher em minha vida além de Sophia.


Depois de passar um dia com Dom, finalmente retornei para casa.

Felizmente fui muito bem recepcionada em sua casa por Vanessa, que me tratou

muito bem, assim como Wesley. Confesso que foi um tanto estranho ver meu
chefe tão descontraído, eu estava acostumada com um senhor Montgomery sério.

Bela chegou exausta, afinal passou o dia brincando com o pai.

— Sophia, me responda. — Mamãe para a minha frente, chamando

minha atenção, cruzando os braços impaciente.

Desde que cheguei minha mãe está procurando algum motivo para

discutir, ela parece ter necessidade de tal coisa.

— Me responda, Sophia. Você e o pai da Bela estão juntos novamente?


Nos últimos dias tem passado muito tempo com ele.

— Não, mãe. Eu não estou com Dominic, estamos tentando manter um


bom convívio pela nossa filha, apenas por ela.

Em partes, é verdade. Só aceitei a reaproximação de Dominic para o bem

da Bela, que precisa que os pais mantenham uma boa convivência. Ainda não sei
bem se estamos em um relacionamento amoroso, ou se futuramente teremos um.

— Você é muito burra! Quando finalmente tem a chance de ficar com um

homem rico não faz nada. Olha aqui, se você não der um jeito de terem algo, vai
aparecer outra mulher na vida dele.

Reviro os olhos.

— Mãe eu não estou nem aí. Não quero e não preciso do dinheiro do

Dominic.

— Mas eu estou. Não aguento mais viver nessa miséria. Quero ser rica,

não quero passar o resto da vida aqui, com você e aquela criança.

— Fique despreocupada, logo irei me mudar. Vou procurar um


apartamento para nós duas. ― Ao terminar de falar, me surpreendo com a
calmaria em minha voz.

— E vai me deixar? — Questiona, perplexa. — Eu já deveria esperar

isso, afinal até o seu pai e a sua irmã me deixaram, por que você não me
deixaria?

Minha mãe pode até negar, mas guarda uma mágoa enorme por minha
irmã mais velha tê-la deixado para morar com nosso pai. Tudo aconteceu há

muitos anos, mas ela parece não ter superado.

Eu optei por não acompanhar meu pai, não tive coragem de deixar minha

mãe sozinha. Confesso que fiquei com dó dela, mas Sabrina não teve a mesma

dó, não pensou duas vezes antes de nos deixar.

Me lembro claramente que minha irmã falou que eu iria me arrepender

de ficar com nossa mãe. De certa forma, me arrependi, sofri muito com ela. Por
outro lado, meu pai prometeu que manteríamos contato, o que não aconteceu, já

não o vejo há anos. Acho que não tive muita sorte com pais.

— É você que está me afastando. Já não suporto mais ter discussões com

a senhora. — Desabafo, subindo as escadas.

Abro a porta do quarto com cuidado para não acabar acordando a Bela.
Me sento na cama, aproveitando para velar o sono da minha filha. Eu a amo

tanto. Ela está crescendo tão rápido, parece que foi ontem que eu descobri que

estava grávida e agora ela já está um aninho.

Meu celular começa a tocar e eu caminho até a cômoda, pegando o


aparelho.

— Olá.

— Oi, loira. — Instantaneamente reconheço a voz, se trata do Dominic.

— O que aconteceu para você me ligar? — Pergunto preocupada, já que

Dom quase nunca me liga nesse horário.


— Nada, está tudo bem. Só estou com saudades. Essa casa parece tão
vazia sem a presença de vocês.

— Passamos o dia juntos, não era para estar com saudades. — Não

consigo conter o sorriso.

— Não é o bastante para mim, sempre terei saudade de você. Mas vamos
ao ponto, te liguei para te chamar para jantar. Aceita meu convite?

— Aceito, mas teremos que levar a Bela.

— Tudo bem, eu amo passar um tempo com nossa filha. Irei passar aí na

sua casa às 20h00.

— Vamos estar prontas.

— Até mais tarde. Dê um beijo na Bela.

Encerro a ligação.

Espero que essa felicidade não seja momentânea.

Quero tanto ser feliz por completo, ter minha família, ter a minha casa,

um cantinho apenas meu. Um lugar onde não tenha minha mãe discutindo
comigo diariamente.

Escuto um choro baixinho, que me faz sorrir. Vou até o berço, pegando

Bela nos braços.

— Desculpa a mamãe, bebê. Não queria ter te acordado.

— Mama, mama. — Diz, pegando nos meus cabelos.


— A mamãe não resiste a tanto charme.

Ela pega uma mecha do meu cabelo, fazendo menção de colocá-la na


boca, mas sou mais rápida e retiro os fios de sua mãozinha. Realmente a parte

que ela mais gosta de mim é o cabelo.


Desço as escadas com dificuldade assim que escuto o som da buzina,

pois estou com Bela de um lado, e uma bolsa do outro. Minha mãe me olha, mas

fica em silêncio, talvez seja melhor assim.

Assim que abro a porta, Dom caminha em nossa direção, pegando Bela

nos braços.

— Oi, loira. — Me cumprimenta com um beijo na testa. — Você está

maravilhosa. — Elogia, analisando o vestido amarelo que estou vestindo.

— Obrigada! — Agradeço, sentindo minhas bochechas corarem diante

de seu olhar intenso.

Caminhamos até seu carro, ele acomoda Bela no banco de trás em sua

cadeirinha, e depois abre a porta do carro para que eu entre. Ele dá a volta e
ocupa o banco do motorista, me lançando um olhar.

Estamos nos dando bem, as coisas parecem estar se encaixando, mas até
quando? Tudo pode acabar em um piscar de olhar.

Desvio meu olhar, passando a encarar a janela do carro.

— O que aconteceu? — Questiona. — Você estava sorridente e agora

está triste. Quero saber o porquê.


— Não é nada. — Tento sorrir.

— Simplesmente odeio essa falta de confiança sua. Eu errei, mas não me


conformo em saber que você nunca confiará em mim. Como vamos ter algo se

você não tem um pingo de confiança em mim? É quase impossível, Sophia.

— É coisa boba.

— Quero saber até as coisas mais bobas. Me conte, loira.

— Ultimamente estou um tanto insegura com o que estamos tendo. Não

sei se sou a pessoa certa para estar ao seu lado, Dominic.

— Não existe ninguém melhor que você, não irei te deixar, coloque isso

na sua cabeça. Nenhuma mulher tomará seu lugar. Você é e sempre será a dona

do meu coração. — Dom acaricia meu rosto com a ponta dos dedos.

Finalmente ele liga o carro, dando partida. Posso sentir que ficou

chateado comigo. Tudo ainda é muito novo para mim.

Sempre fui a típica adolescente insegura, mas pensei que era apenas uma

fase, que logo deixaria a insegurança de lado. Só que o tempo passou, a


adolescência ficou para trás, e minha insegurança permaneceu. Isso é algo que
estou tentando trabalhar aos poucos.

Quando chegamos ao restaurante me surpreendo apenas com sua entrada.

Se trata um restaurante luxuoso, não sei como me portar em um lugar como esse.
Só percebo que Dominic já desceu do carro, quando ele abre a porta para mim.

— Obrigada. — Agradeço.
Sua mão vai até a minha cintura. Ele me guia até a entrada luxuosa do
restaurante de comida italiana. Ao adentrarmos ao local, sou recebida pela luz

baixa, que proporciona um ambiente agradável.

Dom aponta para a mesa que reservou, me incitando a caminhar até a

mesma. Ele faz questão de puxar a cadeira para mim, se sentando a minha frente
com Bela nos braços.

— O que a senhorita vai querer? — Pergunta.

— Me surpreenda, senhor Watson.

— Tudo bem. — Sorri de lado, analisando o cardápio.

Dom chama o garçom com um aceno, fazendo nosso pedido. Ele se volta

para Bela, cochichando algo para nossa filha, que apenas sorri.

Passo a observá-lo pelos próximos minutos, nos últimos dias tenho

prestado bastante atenção em suas pequenas atitudes. Não quero me entregar de

corpo e alma sem antes ter certeza que ele realmente mudou.

O jantar foi agradável. Só fiquei um pouco desconfortável porque não


estou nada acostumada a frequentar lugares tão refinados. Por sorte, Bela
dormiu, porque ela não costuma ficar tão calma em lugares desconhecidos e com

muitas pessoas.

Dom chama o garçom, pedindo a conta, pagando-a em seguida.

Saímos do restaurante de mãos dadas. Bela ainda está no dormindo em


seu bebê conforto.
— Olha se não é a família do ano. — Uma mulher diz, se aproximando.
Logo a reconheço, se trata da ex-noiva de Dominic. — Não acredito que você

me trocou por essa sem sal, e ainda por cima com uma bagagem. — Aponta para

a Bela.

— Natália, tenha mais respeito. — Dom apoia uma mão em minha


lombar. — Aceite que o que tínhamos chegou ao fim.

— Você não vai se livrar de mim tão facilmente quanto imagina,


Dominic. Não sou descartável.

— Se eu fosse você tomaria mais cuidado ao me ameaçar. — Vejo a

feição do Dominic fechar. — E fique bem longe delas, vai ser melhor para você.

Dom me incentiva a caminhar até o estacionamento, não dando

oportunidade que Natália revide.

Olho para o lado, percebendo o quanto Dominic ficou incomodado por


reencontrar sua ex-noiva. Eu também não gostei nada de encontrá-la, a noite

estava indo tão bem, por que essa mulher tinha que aparecer e acabar com o

clima agradável entre nós?

Ele abre a porta do carro, colocando Bela não em sua cadeirinha.

— Sophia, me perdoe por Natália. — Se desculpa, apoiando as mãos em


minha cintura. — Nós não estaríamos felizes, Sophia. Eu nunca fui feliz com

ela, e você não foi a culpada por termos nos separado. Uma hora ou outra nós
iríamos romper aquele noivado de fachada, porque não havia sentimentos, nem
sei o porquê estava com ela.

Seus lábios vão de encontro aos meus. Ele me beija carinhosamente.


Cada toque de Dom emana carinho. Acho que estamos nos dando uma segunda

chance, por mais que ainda não tenhamos conversado sobre.

— Vamos para a minha casa? — Pergunta, mexendo em meu cabelo.

— Amanhã preciso trabalhar.

— Não tem problema, posso te levar. — Ele beija minha testa.

Dom abre a porta para mim, entrando no carro em seguida. Através de

sua feição pude perceber que ele está calmo novamente.


Escrevo uma mensagem, avisando para minha mãe que não dormirei em

casa. Sei que ela irá mandar mais de mil mensagens perguntando onde estou, e

com quem estou.

O trajeto foi relativamente curto. Quando chegamos à casa de Dominic

fui diretamente amamentar Bela e colocá-la para dormir.

Caminho até o quarto de Dom, abrindo a porta do cômodo. Mordo o

lábio inferior ao ver que ele está vestindo apenas uma calça de moletom branca.

Aproveito que Dom não notou minha presença, e sigo sorrateiramente até

ele, o abraçando por trás. Automaticamente sinto suas mãos segurarem as

minhas. Ele se vira, ficando de frente para mim.

— Como é bom sentir o seu corpo junto ao meu. — Ele deposita um


beijo na ponta do meu nariz.

— Preciso de uma camisa emprestada. Não trouxe nenhum pijama para


dormir. — Mordo o lábio inferior, envergonhada.

— Por mim você dormiria sem nada, mas como sei que a senhorita é uma
moça recatada irei te emprestar uma camisa.

Dom vai até seu enorme closet, trazendo consigo uma camisa azul nas
mãos.
Pego a camisa, seguindo até o banheiro do quarto. Tiro o vestido,
vestindo a peça de roupa que Dominic me emprestou. Retorno ao quarto, vendo

que Dom já está deitado na cama.

— Você ficou maravilhosa. — Elogia, me analisando atentamente,

sorrindo de lado.

Vou até a cama, me deitando ao seu lado. Dom sorri fraco, passando os

braços ao redor da minha cintura, colando nossos corpos.


Olho para o relógio posicionado no centro da parede a minha frente,

constatando que finalmente meu expediente chegou ao fim, normalmente gosto

de vir trabalhar, mas hoje o cansaço parece ter tomado conta do meu corpo por

completo.

Termino de colocar alguns documentos em uma pasta. Levanto-me em


seguida, passando as mãos na saia lápis na tentativa de desamassá-la. Caminho

até a sala do senhor Montegomery, deixando os papéis em cima de sua mesa.

Volto para minha mesa, pegando a bolsa. Seguindo até o elevador,


entrando no mesmo, que por sorte está vazio, apoio na parede de metal. Levanto

o olhar que estava preso em meus sapatos no instante em que o elevador para no
andar seguinte, dando de cara com Henrique.

— Olá, Henrique. — Cumprimento-o sorrindo.

— Boa tarde, Sophia! Há quanto tempo não nos vemos, a correria do dia

à dia fez com que nos afastássemos.

Pode ser apenas coisa da minha cabeça, mas tenho certeza de que

Henrique não está se sentindo confortável quando está próximo a mim, tanto que

vem me evitando nos últimos dias.

As portas do elevador se abrem, fazendo Henrique sair apressadamente,

sem ao menos se despedir.

Ao sair do prédio, sou recebida pelo belo céu de final da tarde. As

nuances alaranjadas contrastam muito bem com o pôr do sol.

— Sophia. — Viro-me assim que ouço a voz grossa de Dominic.

Direciono o olhar para o outro lado da rua, vendo Dom apoiado no capô

de seu carro. Ele está vestindo um terno preto bem alinhado ao seu corpo

juntamente com uma gravata vermelha.

Ando em passos largos até ele, quando já estou próxima o bastante, Dom
enlaça os braços em minha cintura, esboçando um sorriso fraco.

— Boa tarde, anjo.

— O que aconteceu para estar aqui?

— Hoje consegui terminar meu trabalho mais cedo do que o normal, e


aproveitei para vir buscá-la. Algum problema, Sophia?

— Não, nenhum. Assim você acaba poupando o tempo que eu gastaria se


fosse de transporte coletivo. — Pisco para ele, que sorri com minha resposta.

— Vocês vão para a minha casa hoje? Estou sentindo tanta falta das

minhas mulheres por perto.

— Não acha melhor nos mudarmos para lá? — Questiono, com uma

certa ironia.

— Seria ótimo, senhorita. — Dom passa os lábios sobre os meus de

forma provocativa. — Aquela casa tem espaço de sobra para vocês.

Está fora de cogitação ir morar tão rápido com Dominic, quero que as

coisas entre nós aconteçam com calma dessa vez.

Quando nos envolvemos pela primeira vez tudo aconteceu muito

rapidamente, namoramos por pouco mais de quatro meses. Foi um

relacionamento curto, mas acabou gerando o maior amor da minha vida.

Se eu pudesse voltar no tempo, teria sido mais cuidadosa com meus


sentimentos, não teria me entregando tão precipitadamente.
Meus olhos brilham no instante em que eu vejo uma sorveteria a minha

frente ao pararmos no semáforo.

— Dominic, vamos até a sorveteria? Por favor.

— E tem como negar um pedido seu?

Tomo isso como um "sim".

Dom estaciona o carro em frente a sorveteria, vindo abrir a porta para

mim. Ele segura em minha mão, entrelaçando nossos dedos enquanto

caminhamos até a sorveteria. Assim que adentramos no lugar, me sinto como

uma criança ao ver a quantidade de sabores de sorvete disponíveis.

Me sento em uma mesa próxima a parede de vidro que dá a visão das

ruas movimentadas. Pego o cardápio, tentando escolher apenas um sabor de

sorvete, o que é uma missão quase que impossível.

— Vai querer sorvete de que, Dominic?

— Não gosto muito de sorvete, Sophia.

Olho-o perplexa. Como alguém pode não gostar de sorvete?

— Você vai ter que me acompanhar. Já sei, vamos pedir sorvete de

chocolate.
— Chocolate não. — Ele faz uma expressão de reprovação. — Odeio
chocolate, não sei como as pessoas conseguem comer.

Solto uma gargalhada alta.

Mesmo sob seu olhar reprovação, chamo o garçom, fazendo nosso

pedido.

Minutos depois o garçom surge trazendo consigo uma grande taça de

sorvete de chocolate. Ele a coloca a minha frente, se distanciando.

— Tem certeza de que não vai querer? — Indago, experimentando o

sorvete. — Está uma delícia.

— Não, muito obrigado. Pode ficar com seu sorvete de péssimo sabor.

Ficamos um bom tempo na sorveteria, Dom realmente não quis nem ao


menos experimentar o sorvete de chocolate.

Esse momento só nosso foi um tanto especial, é esse tipo de lembrança

que quero guardar para sempre em meu coração, em uma caixinha de momentos

especiais e importantes.

— Vamos para a minha casa, Sophia, por favor. Só hoje. Quero dormir ao
seu lado, me sinto confortável quando estou com você. — Praticamente implora,
assim que deixamos a sorveteria.

— Só hoje, então é melhor que não se acostume.

— Daqui algum tempo vamos dormir juntos todos os dias. — Pisca,


sorrindo em seguida.
— Temos que ir buscar a Bela na casa da Evelyn. — Aviso.

— Já estou morrendo de saudades da nossa pequena, mesmo que tenha a


visto hoje pela manhã.

— Ela está crescendo tão rápido. — Digo, sorrindo ao lembrar que minha

bebê cada dia está maior. — Daqui alguns anos Bela estará nos apresentando seu
namorado.

— Você ficou louca? Ela será apenas nossa por muito tempo, não gosto

nem de imaginar minha bebê com algum homem. Posso ser cardíaco, Sophia,
não brinque com essas coisas.

Comprimo os lábios, tentando não rir.

— Um dia ela vai conhecer uma boa pessoa, irá namorar, se casar e ter

filhos. E nós dois teremos que aceitar, porque é a lei da vida.

— Vamos mudar de assunto.

— Bobo. — Zombo, imaginando como será daqui alguns anos, quando

nossa filha já estiver adulta.


Quando chegamos na casa da Evelyn, Bela ficou eufórica ao ver o pai. É

até assustadora a forma com que minha menina se apegou a ele. Em poucos dias

ela já se sente confortável com ele.

Ainda tenho receio, não quero que Dom a machuque como me machucou

no passado.

Desço do carro, pegando Bela no banco de trás, beijando sua bochecha,

ouvindo sua gargalhada gostosa.

— Quer ajuda?

— Sim, pegue a bolsa da Bela e a minha também.

Entro na enorme casa, como não estou mais aguentando a dor nos pés,

deixo meus sapatos ao lado do sofá, me sentando com Bela em meu colo.

— Dominic... — Chamo-o.

— O que você quer? Sempre que me chama desta forma é porque está
precisando de algo.

— Pode dar um banho na Bela? Estou exausta para fazer isso, meus pés

estão doendo, uma dor de cabeça está me matando. Por favor.

— Está bem, Sophia. — Ele vem em minha direção, pegando Bela nos
braços. — Posso dar um banho nessa princesa, só espero não a derrubar, afinal
não tenho prática alguma com isso.

— Cuidado com a nossa filha, não a mate afogada.

Vejo os dois subirem as escadas. E nos próximos segundos escuto os

gritinhos de animação da minha pequena.

Descanso a cabeça no sofá, fechando os olhos, essa maldita enxaqueca

não me abandona nunca.

Fico por minutos quietinha, sem mover nenhuma parte do corpo,

aguardando que a dor alivie, o que infelizmente não acontece.

— Quer ir ao hospital, Sophia? — Sei que é o Dominic pela voz, pois

nem me dei o trabalho de abrir os olhos.

— Não. — Respondo imediatamente, abrindo os olhos, sentindo um

calafrio correr por todo meu corpo. Odeio hospitais. — Me traga um analgésico,

por favor.

Dom franze o cenho, visivelmente preocupado, se afastando.

Sempre tive um certo pavor de hospitais, e não sei muito bem de onde
surgiu esse pânico.

— Aqui está o remédio. — Dom me entrega o comprimido, juntamente

com um copo d’água.

Pego a cápsula, levando-a até a boca.


— Muito obrigada. — Agradeço, entregando o copo vazio para ele.

Dom pega em minha mão, me incitando a levantar. Ele me abraça,


plantando um beijo em minha testa, enlaçando os braços em minha cintura.

Dominic me guia até a escada, seguindo até seu quarto. Ele abre a porta do

cômodo, me levando até o banheiro. Com cuidado, ele me ajuda a retirar a


roupa, ligando o chuveiro. Durante os próximos minutos ele me ajuda a tomar

banho.

Assim que saímos do banheiro ele me evolve em uma toalha, me

ajudando a secar todo o corpo. Caminhamos até sua cama, onde ele me ajuda a

vestir uma de suas camisas.

Fecho os olhos, ouvindo o som de seus passos, e minutos depois escuto o

som do chuveiro.

Depois de no máximo cinco minutos, sinto Dominic se deitar ao meu

lado, me envolvendo em seus braços. Recosto a cabeça em seu peitoral, ouvindo

seus batimentos cardíacos.

— Obrigada por cuidar de mim, Dom. — Agradeço, olhando para ele,


mesmo com a pouca luz do quarto, posso ver seus intensos olhos azuis.

— Quero cuidar de você todos os dias da minha vida, Sophia. —

Sussurra, beijando o topo da minha cabeça.

Sua frase carrega um peso imenso. Dividir a vida com alguém não é uma
missão nada fácil, tanto que muitas pessoas não conseguem. O casamento é mais
complicado do que imaginamos.

— Espero ter a chance de poder cuidar de você também.

— Você terá a vida toda para fazer isso. Ficaremos velhinhos juntos.

— Amarei cuidar de vocês também. — Beijo seus lábios, acariciando seu

rosto.

— Boa noite. Durma, quem sabe assim essa dor de cabeça passa.

— Boa noite. — Sussurro, fechando os olhos.


Acordo com o choro da Bela, olho para o relógio digital no criado-mudo
ao lado da casa, constatando que ainda são 03h00 da manhã. Não entendo o

porquê os bebês acordam de madrugada.

Nunca imaginei que acordaria com um choro de um bebê durante a


madrugada. Não posso mentir, há dois anos um filho não estava em meus planos

pelos próximos dez anos, eu gostava da vida sem preocupações que levava.

Sinto Sophia se mexer, abrindo os olhos, sentando-se na cama,


aparentando estar um pouco atordoada.

— Volte a dormir, eu irei ver nossa filha.

— Não precisa se incomodar, eu vou.


— Para de ser teimosa, Sophia. — Me sento na cama. — Pode voltar a
dormir.

Sigo até o quarto da minha filha, me sentindo como um verdadeiro

zumbi.

Entro no quarto, vendo que Bela está sentada no berço. Assim que me vê,
passa a mãos nos olhos, parando de chorar por alguns segundos.

— O que aconteceu com a bebê do papai? — Indago, apoiando os braços

nas grades do berço.

— Papa, papa. — Murmura, erguendo os braços para que eu a pegue.

Meus olhos ficam marejados instantaneamente.

Ela me chamou de papai pela primeira vez, estou aguardando esse


momento desde que vi Bela primeira vez. Parece que o meu mundo se iluminou

depois dessa pequena palavra.

Papai, uma palavra tão pequena, mas com um significado enorme. O pai

é o primeiro exemplo de homem que os filhos terão. Quero que Bela e meus
futuros filhos sintam orgulho de mim, que me amem. Desejo ser diferente do
meu pai, não quero abandonar meus filhos por conta do trabalho, a família é mil

vezes mais importante, quero ser o marido que a Sophia sempre sonhou.

Pego-a nos braços. Bela sorri fraco, recostando a cabeça em meu ombro,
visivelmente mais calma. Sento-me na poltrona, acariciando o cabelo da minha

pequena. Ela acordou assustada, certamente por estar em um quarto ao qual não
está habituada.

Olho para ela minutos depois, vendo que meu anjo já está dormindo
profundamente abraçada a mim. Coloco-a no berço com cuidado para não

despertá-la.

Retorno para meu quarto, sorrindo ao ver que Sophia ainda continua
dormindo. Me deito ao seu lado, a puxando para os meus braços, inspirando o

cheiro suave de seu perfume.


— Acorde, Dominic. — Sou despertado com a voz suave de Sophia.

Sorrio ainda com os olhos fechados.

— Bom dia, Sophia. — Finalmente abro os olhos, sentando-me na cama,

sorrindo ainda mais ao olhar para Sophia. — Dormiu bem?

— Sim. Olha quem veio te dar bom dia.

Vejo Bela sair de trás da mãe sorrindo, ela engatinha até mim, subindo

em minha barriga, balbuciando algumas palavras incompreensíveis.

— Não existe um bom dia melhor que esse. — Aperto Bela em meus

braços, distribuindo beijos em suas bochechas. — O papai te ama tanto.

— Aposto que ela também te ama muito. — Sophia se aproxima, se


juntando a nós.

— Hoje irá trabalhar, loira?

— Não, é a minha folga.

— Ótimo! Eu também não irei trabalhar, irei passar o dia com as duas

mulheres da minha vida.

Ouço batidas na porta.

— Pode entrar. — Murmuro, brincando com Bela.


Vejo Vanessa entrar no quarto com a cabeça baixa, ela não está sorrindo
como de costume. Seus olhos pousam em Sophia, e uma pontada de preocupação

surge em seu olhar.

— Dominic, sua mãe está te aguardando na sala de estar. — Comunica.

— Diga para ela aguardar alguns minutos. — Respondo, sentindo um


certo incômodo só de imaginar o que minha mãe deseja.

Vanessa sai sem dizer mais nenhuma palavra, fazendo com que um clima

tenso se instale entre nós.

Realmente estou preocupado, nunca mais falei com minha mãe desde que

apresentei Sophia e Bela. Preferi dar um tempo para que ela digerisse a

novidade.

— Vou descer para falar com ela. — Aviso, entregando Bela para Sophia.

— Tudo bem.

Em poucos minutos já me encontro descendo as escadas, indo de

encontro a minha mãe, que está me aguardando na sala de estar. Apenas pela sua
expressão sei que não está nada contente.

— Mãe. — Chamo sua atenção.

— Dominic, precisamos conversar. — Seu olhar vaga até o tapete da

sala, onde há diversos brinquedos da Bela.

— Vamos até meu escritório, lá teremos mais privacidade.


Eu a acompanho até lá, como ela me ensinou a deixo entrar primeiro, me
sento na minha cadeira e ela se senta na minha frente.

— O que a senhora veio conversar comigo, mãe? — Pergunto, indo

direto ao ponto, sem paciência para darmos voltas.

— Ainda pergunta? Você sabe muito bem o que eu vim conversar com
você.

— Eu acho que sei. — Minha voz sai séria.

— Dominic, abandone a ideia de ficar com aquela moça, conserte as

coisas enquanto ainda há tempo. Vá atrás de Natália, reate seu noivado, você não

percebe que está cometendo a pior besteira da sua vida. Se não quiser abandonar

sua filha, cuide dela, tente conseguir a guarda.

Não queria escutar essas palavras, eu não sou um monstro para tirar a

Bela da Sophia.

— Mãe, não estou com Sophia pela nossa filha — Fecho os olhos para

manter a calma. — Estou com ela porque a amo, eu sei que poderia tomar a
criança dela, mas jamais faria isso.

Vejo-a revirar os olhos, em resposta ao que eu disse.

— Pare de ser burro, ela só está interessada no seu dinheiro.

— Diferente da Natália, Sophia nunca se interessou pelo meu dinheiro.


— Retruco.

Minha mãe idealizou Natália como a nora perfeita, talvez ela realmente
seja a mulher que sempre sonhou que eu me casasse.

Nunca deveria ter me envolvido com Natália, não deveria ter cedido a
pressão da minha família, assim teria evitado muitos problemas.

Minha mãe me lança um olhar mortal, como se eu tivesse falado algo

horrível.

— Natália não é assim. Até parece que você não a conhece.

— Eu a conheço, diga-se de passagem que até melhor que a senhora, por

isso sei perfeitamente que ela não é a mulher ideal para mim.

— O que aquela mulher fez para você ficar tão cego? — Pergunta, me

analisando.

— O que ela me fez? Ela me amou como nenhuma outra mulher. —


Sorrio ao ver a expressão de choque estampada no rosto da minha mãe. — Ela

trouxe a paz que procuro há muito tempo. Aquela mulher será minha futura

esposa, e acho melhor a senhora se acostumar com isso.

— Meu filho, você está ficando maluco, não pode se casar com ela.

— Acontece que ela não é qualquer mulher, ela é a mulher que amo. E
acho que só somos capazes de amar apenas uma vez.

— Me recuso a ficar ouvindo seus elogios para aquela mulher.

— Mãe, uma hora ou outra a senhora terá que aceitá-la, porque com toda

certeza ela será a minha futura esposa, e é a mãe da minha filha.


— Desisto de falar com você. — Se levanta, disposta a não me ouvir. —
Só não venha reclamar quando se decepcionar com aquela mulher.

Acompanho minha mãe até a sala de estar, onde Sophia está juntamente

com a Bela. Ela lança um olhar descontente para as duas.

— Bom dia, senhora. — Sophia a cumprimenta.

— Bom dia, menina.

Sem falar mais nada, mamãe se vai, deixando para trás um clima

carregado de tensão.

— Me desculpe. — Caminho até Sophia, me sentindo incomodado pela

forma com que minha mãe a olhou. — Não fazia ideia de que ela viria.

Passo as mãos ao redor de sua cintura, beijando o topo da sua cabeça,


permitindo que ela apoie a cabeça em meu peitoral.

— Por que ela não gosta de mim? — Sua voz sai baixa.

— Nunca a entenderei, não se preocupe, o importante é que estamos

bem, e nada mais importa. Com o tempo ela irá te aceitar, fique tranquila.

— Tenho a sensação de que ela nunca gostará de mim. Sei que não sou

refinada como sua ex-noiva, talvez nunca serei.

— Isso não importa, Sophia. Gosto de você do jeito que é, e para ser
sincero, não quero que mude apenas para agradá-la.

Acaricio a bochecha de Sophia com o polegar, colando nossos lábios em


um beijo apaixonado. Exploro cada milímetro de sua boca, desejando levá-la

para meu quarto.

— Papa, papa. — Ouço Bela me chamar.

Sorrio entre o beijo, sabendo que Bela não irá permitir que eu sequestre

sua mãe para meu quarto.

— Oi, amor da minha vida. — Me volto para minha filha, indo até ela.

— Não sei descrever o quanto fico feliz quando ela me chama.

— Quando ela te chamou de papai pela primeira vez? — Pergunta,

sentando-se no tapete com nossa filha.

— Hoje de madrugada quando fui cuidar dela. — Explico. — Me senti o

homem mais feliz do mundo, nunca imaginei que essa palavra iria causar tanto

efeito sobre mim.

Ficamos brincando na sala por um bom tempo com Bela, e como

recompensa recebemos os belos sorrisos de nossa pequena. As crianças são

puras, as coisas mais simples do mundo as fazem felizes, por isso elas são mais
felizes que os adultos, não possuem ambição, sempre preferem as coisas simples

da vida.
Me sento no gramado, puxando Sophia para sentar-se no meio das

minhas pernas. Passos os braços ao redor de sua cintura, beijando seu pescoço,

vendo o quanto ela está linda hoje. Entrelaço os dedos de nossas mãos, vendo a

brisa suave brincar com os fios dourados de seu cabelo.

Bela dormiu há alguns minutos, o que não foi uma surpresa, já que

passou a manhã inteira brincando.

— Quero oficializar nosso relacionamento, desejo que todos saibam que


estamos juntos. — Me sento, ficando de frete para ela. — Sophia, você aceita ser

minha namorada?

Tenho plena certeza que quero essa mulher ao meu lado pelo resto de

nossos dias, se eu tivesse certeza que não iria assustá-la, faria logo um pedido de

casamento.

Olho para ela, aguardando ansiosamente uma resposta de sua parte. Meus
batimentos cardíacos só se normalizam no instante em que um sorriso singelo

surge em seus lábios.

— Claro que sim.

— Agora você é oficialmente minha namorada, e espero que daqui algum


tempo seja minha esposa.
Sorrio, puxando-a para um beijo. Afundo os dedos em seu cabelo,
sentindo um sentimento estranho tomar conta de mim se uma forma assustadora.

Acabamos de dar o primeiro passo para uma vida regada de amor.


Depois de um dia cansativo, finalmente estou voltando para casa. Hoje é
sábado, Sophia dormiu em minha casa juntamente com Bela, eu tinha planos de

passar o dia com elas, mas eles foram interrompidos por investidores ingleses

que exigiram uma reunião de última hora. Antigamente eu agradeceria por

trabalhar aos finais de semana, de certa forma me sentia útil.

Já é noite quando finalmente chego em casa. O dia foi chuvoso, quando


acordei pela manhã, estava sem um pingo de disposição para trabalhar, mas
infelizmente não pude me dar ao luxo de passar mais um dia em casa

Caminho calmamente até a porta principal, abrindo-a. Assim que

adentro, sinto o cheiro de chocolate quente invadir minhas narinas. Deixo as


chaves sobre a mesa de centro juntamente com a maleta, seguindo até a cozinha.

Encontro Sophia sentada na mesa com uma caneca de chocolate quente em

mãos, enquanto Bela está sentada no chão retirando algumas panelas de dentro

do armário.

— Oi, meus amores. — Digo, indo até Sophia, beijando seus lábios. —
Senti sua falta. — Abaixo posteriormente, ficando de frente para Bela. — Você

parece estar se divertindo muito destruindo minhas panelas.

— Então o senhor vai surtar ao saber que ela mexeu em seu guarda-

roupa, eu me descuidei por alguns míseros segundos. — Ela se levanta, vindo até

mim. — Mas para a sua sorte já arrumei tudo.

— Bela já é uma completa terrorista, e ainda nem sabe andar. Não quero

imaginar como será quando ela estiver maior.

— Então se prepare, Senhor Watson. Ela vai te deixar de cabelos

brancos.

— Nem me fale, Sophia. Preciso me preparar psicologicamente para isso.

Me sento na mesa, sentindo meu corpo dolorido por conta do cansaço.

Sophia vem até mim, sentando-se em meu colo, levando as pequenas

mãos até meus ombros, massageando-os suavemente.

— Está cansado, né? — Pergunta, retirando minha gravata.

— Muito. — Apoio a cabeça em seus seios.

Sophia começa a brincar com os fios do meu cabelo, permitindo que eu


sinta o calor de seu corpo junto ao meu. Nosso momento tinha tudo para ser
romântico, mas Bela parece fazer questão de deixá-lo engraçado, pois a cada

segundo que passa bate com mais força nas panelas, provocando um som

estridente.

Até imagino a cara de desespero de Vanessa quando ver todas as panelas


no chão. Acho que a partir de hoje vou cogitar a possibilidade de colocar

cadeados em todos os armários da casa.

Quando o barulho da Bela piora, Sophia sai dos meus, pegando nossa

filha, que logo começa a chorar.

Vendo Bela praticamente se debater no colo da Sophia decido intervir.

— Vem aqui para o papai. — Falo, pegando-a nos braços. — A senhorita

ainda é muito pequena para estar fazendo birra. — Repreendo-a.

Bela apoia a cabeça em meu ombro, se acalmando aos poucos.

— Eu não acredito que ela parou. Isso é completamente injusto. —

Sophia cruza os braços, indignada com o que Bela acabou de fazer.

— Aceite, querida. Sou bom com crianças. — Brinco, me recordando


que há um mês eu sequer sabia trocar uma fralda. — Posso colocá-la para

dormir.

— Mas você está cansado.

— Jamais estarei cansando o bastante para não conseguir cuidar da nossa


filha, tenho certeza de que você também está cansada, então estamos empatados,
loira. — Beijo sua bochecha.

— Disso eu tenho certeza, ela está ficando terrível.

Subo as escadas calmante, adentrando ao quarto da Bela. Os olhos da

minha pequena brilham ao ver os brinquedos nas prateleiras.

Vou até o banheiro, colocando a banheira para encher enquanto retiro a

roupa da minha filha, colocando-a na água morna. Ela me avalia com os

enormes olhos azuis, batendo na água em seguida.

Paciência.

Eu preciso ser paciente.

É difícil brigar com ela, realmente terei que aprender a colocar limites, se

Bela puxou meu gênio, isso não será uma tarefa nada fácil.

Depois de longos minutos consegui banhá-la. A coloco no trocador de

fraldas, tentando vestir a maldita meia em se pé.

— Ajude o papai, filha. — Praticamente imploro.

Ela apenas sorri, provavelmente se divertindo em me fazer de bobo.

Consigo pegar seu pé, colocando a maldita meia.

— Pensei que você não conseguiria, papai. — Ouço a voz de Sophia.

Me viro, vendo-a escorada no batente da porta sorrindo.

— Acredite, não foi uma tarefa fácil arrumar essa princesa. — Pego Bela

no colo.
— Me dê ela, preciso amamentá-la.

Entrego minha filha para ela, ficando abobalhado com sua beleza..

Sophia se senta com Bela na poltrona de amamentação, abaixando a alça

da blusa, permitindo que Bela comece a mamar. Me sento no tapete próximo a

poltrona, apoiando a cabeça nas pernas de Sophia.

— Meus amores. — Sussurro.

Eu amo tanto essas mulheres que chega a doer. Se pudesse, as manteria

por perto sempre, apenas para ter a certeza de que estão bem.

Depois de amamentar nossa filha, Sophia a coloca deitada em seu berço,

já adormecida.

Beijo a bochecha de Bela antes de sair do quarto, apagando a luz. Esse


simples gesto me fez perceber o quanto é bom ser pai. Estou amando essa nova

experiência, mas ao mesmo tempo estou com medo de falhar com Bela.

Desço as escadas ao lado da Sophia, seguindo até o sofá, onde nos

deitamos.

— Quer que eu faça algo para você comer?

— Não precisa, estou sem fome. Acho que a única coisa que eu quero é
dormir durante um ano. — Confesso, encarando o teto branco.

— Você está bem cansado mesmo. — Ela leva as pequenas mãos até meu

rosto, o acariciando. — Você não pode trabalhar tanto, Dom.


— Prometo que tentarei diminuir o trabalho.

— Está sabendo da novidade? — Pergunta animada.

Faço uma nota mentalmente de tudo que aconteceu hoje, não chegando a

nenhuma conclusão.

— Que novidade? — Arqueio a sobrancelha.

— Vanessa foi a um encontro essa noite. — Ela sorri. — Ela parecia uma
adolescente de tão animada que estava.

Faço uma careta, não gostando muito de saber de tal novidade.

Vanessa merece encontrar um bom homem que a faça feliz. Ela está

solteira há anos, pelo pouco que sei, foi casada com um homem que só a fez mal,

desde estão, optou por permanecer sozinha.

— Em partes, isso é bom para ela. — Digo, analisando o rosto de Sophia.

Ela possui traços extremamente delicados, sua pele pálida tem total harmonia

com os lábios rosados.

— Sim. — Concorda. — Não vejo a hora de conhecê-lo, pelo que

Vanessa me disse, ele parece ser uma boa pessoa.

— Espero conseguir conter o ciúme diante dessa situação.

— Aprenda a controlar seus ciúmes. Vanessa já é bem grandinha, sabe o


que está fazendo.

— Eu não conhecia esse meu lado superprotetor, até você surgir em


minha vida mexendo com todos os meus sentimentos.

— Pode ficar tranquilo, eu sei me cuidar muito bem, não preciso que seja
superprotetor comigo. Sempre me cuidei sozinha, e olhe só, estou inteira.

— Vou tentar. Não sabe o quanto sou grato por ter você em minha vida,

Sophia.

— Sua mãe não parece gostar muito do nosso relacionamento. —

Resmunga, revirando os olhos. — Eu sei que ela prefere sua ex-noiva.

— Será questão de tempo para dona Verônica perceber o quanto você é

uma mulher incrível, e que eu não poderia ter uma namorada melhor.

Durante as próximas horas conversamos sobre assuntos aleatórios. Aos

poucos estou aprendendo a valorizar os momentos mais simples ao lado de

Sophia. Ao lado dela, percebo que o sexo não é a parte mais importante de nosso

relacionamento.

Quando um total silêncio toma conta do ambiente, percebo que a Sophia

adormeceu, até porque quando ela está acordada faz questão de tagarelar.

Passo os dedos em seu cabelo, aconchegando-a em meus braços, a vendo


suspirar.

O único som que ouço é o da chuva, lá fora está uma completa

tempestade.

Levanto-me com cuidado para não a acordar, pegando-a nos braços,


seguindo até meu quarto no segundo andar da casa, ficando impressionado com
o quanto ela tem o sono pesado, ou talvez seja apenas cansaço por ter cuidado da

Bela. Empurro a porta do quarto, adentrando ao cômodo, acomodando Sophia na

cama, me deitando ao seu lado, afundando a cabeça na curva de seu pescoço,

inspirando o cheiro suave de seu perfume.


Sou despertado com o som do toque do meu celular. Sento-me na cama

ainda sonolento, passo a mão nos olhos, piscando repetidas vezes.

Atendo a ligação, sentindo uma sensação ruim tomar conta de mim.

— Boa noite, filho.

A sensação ruim aumenta assim que ouço a voz do meu pai.

Com certeza aconteceu algo grave para ele me ligar a essa hora da

madrugada.

— O que aconteceu para me ligar de madrugada?

— A sua mãe... — Ele faz uma longa pausa antes de continuar. — Ela

sofreu um acidente de carro, e está no hospital.

Durante os próximos minutos minha mente ignora completamente as


falas do meu pai.

Depois de encerrar a ligação coloco o celular no criado mudo.

— Domini, está tudo bem? — Ouço a voz de Sophia. Eu sequer percebi o

momento em que ela acordou.

— A minha mãe. — Sussurro, sentindo um nó se formar em minha

garganta.
Olho para ela, vendo o quanto está preocupada.

— O que aconteceu com ela?

— Sofreu um acidente. — Mesmo me controlando para não chorar, uma

lágrima escorre livremente por meu rosto.

Sophia se aproxima, me envolvendo em um abraço.

— Eu sei que não sou a melhor pessoa para te consolar, mas fique calmo,
tudo vai ficar bem. — Sinto ela acariciar meu cabelo. — Você vai ver que logo

sua mãe estará bem. Ela é uma mulher forte.

— Tomara que sim. Vou para o hospital, não posso deixar meu pai lidar

com tudo sozinho.

Me levanto da cama, caminhando em direção ao closet.

— Eu vou com você, acho que a Vanessa pode ficar cuidando da Bela. —

Diz, surgindo logo atrás de mim.

Me viro, ficando de frente para ela, agradecendo ao universo por tê-la

colocado em meu caminho. Sophia é a pessoa mais pura que já tive o prazer de

conhecer.

Apoio a testa na sua, iniciando um beijo lento, carregado de amor.

— Eu te amo. — Digo, interrompendo o beijo. — Te amo muito.

Sempre imaginei que teria medo de verbalizar essas simples palavras,


mas com Sophia tudo é diferente, quero que ela saiba o quanto o amo.
— Eu também te amo. — Ela deposita um beijo suave em meu nariz. —
Agora troque de roupa enquanto vou falar com Vanessa.

Vejo pelo reflexo do grande espelho Sophia sair apressadamente do

quarto.

O mundo precisa de mais pessoas como Sophia, ela é doce, amável,


carinhosa, e ao mesmo tempo é a mulher mais forte que já conheci.
Desço as escadas rapidamente, indo até o quarto da Vanessa. Assim que

dou a notícia para ela, a vejo se assustar, se recompondo minutos depois para

cuidar da Bela.

Mesmo que a mãe de Dominic tenha sido uma verdadeira crápula quando
nos encontramos, não consigo desejar mal a ela, ao contrário, torço para que se

torne uma pessoa melhor.

Retorno ao quarto, me arrumando em um tempo recorde, enquanto Dom


está em um completo silêncio, visivelmente perdido em seus pensamentos.

Vou até Dominic, me ajoelhando a sua frente, finalmente chamando sua

atenção. Passo as mãos carinhosamente em seu rosto.


O caminho até o hospital foi feito em um total silêncio. Era visível que
Dom não queria conversar, e eu respeitei sua escolha.

Quando chegamos ao hospital a chuva havia dado uma pequena trégua,

ao contrário de quando deixamos a casa de Dominic.

Assim que caminhamos pelo extenso corredor que a recepcionista


indicou, avisto o pai de Dom sentado na sala de espera sozinho.

Dominic solta minha mão, indo até ele, o abraçando carinhosamente. Os

olhos de seu pai estão levemente avermelhados, o que indica que estava
chorando.

— Olá, moça. — Me cumprimenta.

— Boa noite, senhor.

— Ainda não fomos devidamente apresentados, me chamo Marco. — Ele

estende a mão.

Seguro em sua mão, sorrindo fraco.

— Papai, já deram alguma notícia sobre a mamãe enquanto estávamos a

caminho? — Pergunta, passando o dedo entre os fios do cabelo.

— Não, meu filho. Ela deu entrada há uma hora, desde então não tive
nenhuma informação sobre ela.

Dom se senta ao lado do pai, me chamando para sentar-se ao seu lado.

Coloco a mão sobre sua perna, o vendo sorrir fraco.


Nesse momento eu queria saber falar palavras bonitas de consolo, mas
simplesmente não sei o que dizer a ele.

— Familiares da senhora Verônica Watson. — Um médico fala, atraindo

nossa atenção.

Vejo os dois homens que estão comigo se levantarem rapidamente.

— As visitas já foram liberadas. — Diz, olhando para uma prancheta em

suas mãos. — Ela não teve nada de grave, apenas uma fratura no braço, algumas

escoriações e arranhões pelo corpo. Provavelmente será liberada pela manhã.

— Vou ver minha mãe. — Dom avisa. — Prometo que voltarei logo,

amor.

Aceno que sim, vendo-o se afastar juntamente com o médico.

— Dominic está exalando felicidade, Sophia. Não o vejo dessa forma há

muito tempo. Fico em paz em saber que você está fazendo bem ao meu filho. —

Marco diz, olhando no fundo dos meus olhos.

— Amo seu filho. E ao contrário do que sua esposa disse, não estou com
ele por dinheiro.

— Eu sei que não. Reconhecemos as pessoas ruins apenas pelo olhar,


Sophia. Tenho certeza absoluta de que você será muito feliz ao lado do meu

filho.

— É o que mais quero.

— Menina, eu sei reconhecer muito bem duas pessoas apaixonadas. —


Marco dá uma pequena pausa, parecendo escolher suas próximas palavras. —
Sigam em frente, um sentimento tão lindo merece florescer. As pessoas com o

tempo distorcem o amor, o colocam como um vilão, mas ele não é, as pessoas

são.

— Estamos fazendo o possível.

— Verônica logo te aceitará, agora ela está chateada pois finalmente

percebeu que não tem mais total controle sobre a vida de Dominic.

— Não há necessidade que me aceite, só quero que ela me respeite,


apenas isso.

— Ela vai. E como está minha neta? Ainda estou assimilando que sou

avó. Dom ao menos poderia ter preparado o terreno, meu velho coração quase

não suportou quando ele deu a notícia.

Pelos próximos minutos conto a Marco tudo sobre minha pequena, afinal
ele a viu apenas uma vez. Quero que Bela tenha um bom relacionamento com a

família de Dominic.

Paro de tagarelar no instante em que vejo Dom vir em nossa direção,

apenas pelo seu semblante sei que já não está tão preocupado como antes.

— Obrigado por ter feito companhia a Sophia. — Dom estende a mão,


me incitando a levantar. — Mamãe está querendo falar com o senhor. Nós vamos

tomar café da manhã, não iremos demorar.

— Tudo bem. Até mais, Sophia, foi bom poder conversar com você.
— Digo o mesmo, Marco.

— O que conversaram? — Apoia a mão em minha lombar, me guiando


para fora do hospital.

— Assuntos confidenciais. — Pisco.

— Então agora os dois mantém segredos?

— De certa forma sim. — Dou de ombros, sorrindo em seguida.

O vento frio bate contra meu corpo assim que desço a escadaria do

hospital acompanhada por Dom. Ele segura em minha mão, entrelaçando os

dedos de nossas mãos, colocando seu casaco sobre meu corpo, plantando um

beijo em minha cabeça.

— Mais calmo, amor? — Indago, abraçando-o de lado, sentindo o calor


de seu corpo.

— Aliviado. Minha relação com ela nos últimos dias não estava das

melhores, eu ficaria me sentindo culpado se algo mais grave tivesse acontecido.

— Enlaça um braço em minha cintura. — Obrigado por me acompanhar, loira.

— Conversei um pouco com seu pai, ele foi bastante simpático. —


Conto, enquanto caminhamos em direção ao pequeno café em frente ao hospital.

— Meu pai tem sido uma boa pessoa nos últimos anos.

— Por que nos últimos anos? — Arqueio a sobrancelha, não entendendo

muito bem.
— Ele acabou deixando a bebida alcoólica tomar grande parte de sua
vida, foram anos para finalmente se livrar desse maldito vício.

— Você sofreu com isso, né?

Dom abre a porta do café, fazendo que o barulho de um sino ecoe por

todo ambiente. O lugar está relativamente vazio, provavelmente somos um dos


primeiros clientes do estabelecimento.

— As pessoas que convivem com viciados sofrem como eles. Ele só se

tornou uma pessoa melhor quando entrou em um coma alcoólico, antes disso, ele
sequer aceitava que era um viciado.

— Você nunca tinha comentado sobre comigo.

Dom ainda não me contou tudo sobre sua vida, e eu respeito sua escolha,

sei que aos poucos iremos ganhar a confiança um do outro. Estamos em um

processo, sinto que estamos reescrevendo nossa história aos poucos, sem pressa
alguma.

Não posso dizer que está sendo fácil tentar um relacionamento com Dom
pela segunda vez, ainda não tenho total confiança nele. Mas suas pequenas

atitudes do dia a dia me fazem acreditar que ele realmente está disposto a
permanecer ao meu lado.

Estamos oficialmente namorando há pouco mais de dois meses. Dom

está sendo um bom companheiro, me mima de todas as maneiras possíveis,


sempre cumpre com suas obrigações em relação a Bela.
— Não é um assunto que me deixa confortável, Sophia. — Sorri fraco,
puxando a cadeira para mim. — Minha mãe e eu sofremos por anos. Ele era uma

ótima pessoa quando estava sóbrio, uma pena que tal coisa durava muito pouco

tempo. E o seu pai? Não me recordo de você ter falado sobre ele.

— Não o vejo há muitos anos, Dom. Ele não foi um bom marido para
minha mãe, traia ela com diversas mulheres, e em um belo dia simplesmente

avisou que estava saindo de casa para se casar com uma mulher que até então era

sua amante.

— Guarda mágoas?

Comprimo os lábios, buscando a resposta de sua pergunta. Quando meu

pai se mudou de cidade, eu repetia diariamente que não deveria guardar mágoas,

e foi um longo processo até aceitar que ele realmente havia me deixado por

completo.

— Ele disse que não iria me abandonar, mas foi isso que fez. Tenho um

certo trauma com abandonos. Vamos mudar de assunto, por favor. Como foi com

sua mãe?

— Ela estava um pouco sonolenta, conversamos apenas o básico.


Quando ela receber alta, poderemos conversar calmamente. Quero resolver as

coisas entre nós, Sophia. — Dom sorri fraco.

— Acho bom que vocês tentem se entender. Se sua mãe preferir, posso

me manter distante dela. Só espero que ela me respeite, assim como a respeito. O
que vai pedir?

— Apenas um café.

Franzo o cenho, nada satisfeita com sua resposta.

Dominic tem uma péssima alimentação, na maioria das vezes faz a

refeições nos horários errados, algo que estou tentando mudar.

— Nada disso, Dom. Você precisa se alimentar melhor. — Pego o


cardápio, analisando as opções. — O que acha de uma fatia de bolo de laranja?

Dom revira os olhos, sorrindo em seguida.

— Tudo bem, Sophia, você ganhou. — Se dá por vencido, permitindo

que eu faça nosso pedido. — Preciso aprender a dizer não para você.

Agradeço o garçom com um sorriso gentil assim que ele coloca nosso
pedido sobre a mesa se retirando, nos deixando a sós novamente. Ergo o olhar,

vendo que Dom está me encarando fixamente enquanto um sorriso genuíno paira

em seus lábios.

— Como será daqui para frente?

— Como assim? — Ele me lança um olhar confuso, desfazendo o

sorriso.

— Nós dois estamos tão bem. Tenho medo que com o tempo isso acabe.

— Loira, nós aceitamos reconstruir nossa história, nada será como antes.
O passado está para trás. Nenhum livro conta a mesma história do anterior.
— Estamos há dois meses juntos, e esse tempo ao seu lado tem sido
incrível.

— Amor, e continuará assim. Não posso te prometer que não teremos

problemas, porque infelizmente isso está fora do meu controle, mas posso te

prometer que estarei ao seu lado em cada um deles, enfrentaremos tudo juntos.

Apenas sorrio, afastando os pensamentos ruins que estão me

atormentando nos últimos dias.

Confiar em alguém depois que ela cometeu um grande erro não é fácil,
afinal a confiança foi quebrada. Mas sei que se pretendo seguir em frente com

Dom preciso melhorar nesse quesito.


— Estava com saudades da mamãe, Bela? — Abraço minha filha,

escutando seus soluços. — Fique calma, meu pequeno grude.

Vanessa nos ligou há alguns minutos, nos comunicando que Bela estava

chorando incessantemente desde que acordou e não me encontrou.

— Acalme-se, filha. — Dom me abraça, fazendo com que Bela fique


entre nós, beijando o topo da cabeça de nossa filha. — Vamos ver a vovó?

— Pode levá-la, prefiro os aguardar aqui.

— Ela quer falar com você. Posso afirmar que não será como da última
vez. — Afirma, aguardando que eu aceite. — Por favor, Sophia.

Mordo o lábio inferior, com medo de acabar brigando com Verônica uma
segunda vez.

— Tudo bem, Dom. — Consinto, com medo de me arrepender caso ela


despeje seu ódio em mim novamente.

— Confie em mim.

Vanessa precisou trazê-la ao hospital, já que minha princesa não parava

de chorar. Bela normalmente não é uma criança chorona, ao contrário, sempre

foi bastante boazinha.

Acompanho Dom até o quarto onde sua mãe está, temendo pela reação

da mulher que aparentemente nutre um ódio mortal por mim. Ele abre a porta,

permitindo que eu entre.

Verônica não está com uma aparência nada agradável, não se parece com

a mulher que vi há algumas semanas. Seu olho esquerdo está levemente inchado,

um de seus braços está engessado.

— Bom dia. — Cumprimento os pais de Dom.

Verônica me analisa minuciosamente, esboçando um sorriso fraco.

— Oi, Sophia. — Meu sogro me cumprimenta.

Dominic vem até mim, pegando Bela nos braços. Minha pequena abre
um largo sorriso para o pai, o que me causa uma pontada de ciúmes. Ele a coloca

sentada ao lado de Verônica, no primeiro instante minha filha apenas a observa,


mas logo em seguida sorri, fazendo a avó fazer o mesmo.

— Bela se parece muito com você, só que ela é uma versão feminina. —
Comenta, analisando cada traço do rosto delicado da Bela.

— Ela é perfeita. — Dom sussurra, também olhando para nossa filha.

— Sim. — Sua mãe concorda. — Ela é perfeita, e com certeza foi o

melhor presente que você poderia nos dar, meu filho.

Pela primeira vez, Verônica demonstra carinho pela neta. Entendo que

para ela não foi nada fácil assimilar a ideia de que já era avó.

Desde que Dom me comunicou que contaria aos pais eu senti medo pela

minha filha, em hipótese alguma gostaria que os avós não a aceitassem.

— Acho que devo desculpas a você, Sophia, não a tratei bem em nosso

primeiro encontro. Já que seremos uma família, devemos nos dar bem.

— Tudo bem. — Concordo, sem reação alguma.

— Temos que nos dar bem pela Bela. — Marco se aproxima da cama,

tocando a mãozinha da minha pequena.

— Eu amo essas mulheres, estou disposto a tudo para tê-las ao meu lado.

— Dom reforça.

Existem diversos "eu te amo". Há alguns que não possuem significado

algum, são apenas palavras vazias. A primeira vez que me envolvi com Dom,
falávamos um eu te amo que não era verdadeiro, o que tínhamos estava longe de

ser amor. Éramos apenas duas pessoas confusas com os sentimentos.

No fundo, todas as vezes em que ele dizia que me amava, eu sabia que
não era verdade, e bastava olhar em seus olhos para ter certeza, mas eu preferia
fingir que acreditava, apenas para não aceitar a realidade e continuar vivendo
uma completa ilusão. De certa forma, a ilusão sana alguns de nossos desejos.

Apenas agora estamos vivendo o verdadeiro eu te amo, estamos

descobrindo o que realmente é amar uma pessoa. O amor não é um sentimento

que surge do dia para a noite, ele precisa ser cultivado com paciência
diariamente.
Dom segura em minha mão, me ajudando a descer do carro. Ele sorri,

aproveitando para me puxar para junto de seu corpo.

— Não sei se ela vai gostar da minha presença.

— Ela não te tratará mal. — Dom passa a ponta dos dedos em meu rosto,

acariciando-o. — Foi Dona Verônica que instituiu que você viesse almoçar

conosco.

Tenho certeza de que Verônica bateu forte com a cabeça durante o

acidente, pois desde que a vi pela manhã no hospital, a mulher parece uma outra

pessoa.

— Posso esperar você no carro.

Encaro a enorme mansão mais uma vez, vendo o quanto eu e Dominic

somos de mundos completamente diferentes. Ele cresceu em meio ao luxo, ao

contrário de mim.

— Nada disso, não irei te deixar aqui. — Dom me lança um olhar sério.
— Vamos, querida.

— Tudo bem. — Concordo, me dando por vencida. — Sua mãe está

estranha, mas estranha de uma forma boa.


— Tivemos uma conversa, Sophia. — Conta, entrelaçando nossos dedos.

— Então é por isso que ela está me tratando melhor?

— Não, ela está te tratando bem por livre espontânea vontade. Eu apenas

deixei bem claro que não te deixaria apenas por um capricho dela. Eu te amo

tanto, mulher. — Dom passa os lábios sobre os meus, me dando um selinho.

— Eu também te amo.

Caminhamos juntos pelo extenso jardim, até chegarmos na porta de

entrada. Assim que entro na casa é impossível não me recordar das palavras de

Verônica. Balanço a cabeça, tentando esquecer de tudo e dar uma segunda

chance.

Verônica se levanta assim que nos vê, nos cumprimentando com um

abraço.

Dom aponta para o sofá, se sentando no mesmo, sendo acompanhado por

mim.

Minha pequena se apoia em minhas pernas, ficando de pé, enquanto


observa o pai conversar com os avós. Bela parece ter uma fascinação pelo pai,
sempre gosta de admirá-lo.

Não me sinto totalmente confortável estando nessa casa, pois ainda

consigo me lembrar perfeitamente de como foi a última vez em que estive aqui.
Mesmo que Verônica tenha sido simpática no hospital, tenho medo que tudo

tenha sido apenas efeito dos remédios.


A campainha toca, e logo uma senhora surge da sala de jantar, indo abrir
a porta. Assim que vejo de quem se trata, sinto meu coração acelerar. Natália

adentra a sala de estar. Como sempre, ela está parecendo uma modelo que

acabou de sair da capa de revista.

— Boa noite! Fiquei sabendo que você sofreu um acidente, Verônica, não
sabe o quanto fiquei preocupada. — Natália se aproxima da minha sogra, sem ao

menos notar minha presença.

— Pode ficar tranquila, eu estou bem, Natália, foi apenas um susto. —

Verônica a acalma.

Pode ser coisa da minha cabeça, ou apenas uma implicância boba, mas

não consegui sentir verdade nas palavras de Natália.

— Disfarce, amor. — Dom murmura, colocando a mão sobre a minha.

— Não consigo, não gosto dela. — Resmungo, fitando Natália, que no


momento está me olhando como se eu fosse um verdadeiro fantasma.

— Não sabia que já estava a recebendo em sua casa, Verônica. — O


olhar de Natália deixa bem claro que ela não está nada satisfeita com minha

presença. — Parece que me trocaram rapidamente.

— Meu filho escolheu estar ao lado de Sophia, só nos resta aceitar a


decisão de Dominic.

— Então você vai permitir que essa mulher frequente sua casa quando

bem entender?
— Natália, acho que você ainda não entendeu muito bem que a Sophia é
a namorada do meu filho e a mãe da minha neta.

— Eu esperava isso de qualquer pessoa, menos de você, Verônica. A

senhora aparentava apoiar tanto meu relacionamento com Dominic.

— E eu apoiava, mas chegou ao fim, agora ele está com outra pessoa. E
eu como mãe dele tenho apenas que apoiá-lo.

— Natália, acho melhor que você vá embora. Verônica ainda está se

recuperando, não é nada bom que se estresse. — Marco intervém. — Vocês


podem conversar em um momento mais oportuno.

— Pode ficar tranquilo, Marco. Não pretendo voltar nessa casa uma

segunda vez. Já vi que não sou nada bem-vinda. — Ela caminha até a porta. —

Espero que você se arrependa amargamente por aceitar essa mosca morta em sua
casa, Verônica.

Antes que minha sogra retruque, ela se retira da casa pisando duro. Tenho

certeza que se tivesse como matar alguém apenas com um olhar, ela teria me

matado sem pensar duas vezes.

— Onde eu estava com a cabeça quando imaginei que essa mulher seria
uma boa companheira para Dom? — Verônica questiona, tentando se levantar.

— Por sorte Dom rompeu com ela. — Marco ajuda a esposa a se

levantar.

— Preciso ver o que Marta está fazendo, com licença.


O observo caminhar em direção a sala de jantar juntamente com Marco.

— O dia está cheio de emoções, tenho até medo do que ainda vira pela
frente. — Digo, apoiando a cabeça no ombro de Dominic.

— Desculpe por isso. Se eu soubesse que Natália iria visitar minha mãe,

jamais teria aceitado comparecer a esse almoço. — Comenta, mantendo os olhos


fixos a nossa filha, que está a alguns metros de distância.

— Espero não ver aquela cobra nunca mais.

— Então somos dois, loira. Bela, solte esse vaso. — Ele se levanta

rapidamente, pegando um vaso de flores que Bela havia pegado. — Você tem

algum problema em ficar quieta? — Dom a pega nos braços, trazendo-a para

perto de nós dois.

Bela sorri para o pai, começando a mexer em seu relógio, ignorando tudo

que ele disse a ela.

— Bem-vindo ao mundo das crianças, querido. Bela está em uma fase

que não quieta nem por um mísero segundo. Ela quer descobrir o mundo.

Curvo o corpo, beijando a bochecha da minha pequena, sentindo-a


colocar as mãozinhas em meu rosto, retribuindo o beijo.

Ao contrário do que imaginei, o almoço com os pais do Dom foi um

momento agradável, ambos me trataram muito bem, e parece que finalmente


estão podendo curtir a nova fase como avós.

Seguro na mão de Dom, o acompanhado até a saída.


Sinto um calafrio correr por todo meu corpo quando a cólica que estava
sentindo se intensifica. Essa bendita dor começou ontem durante a tarde, e ao

invés do que imaginei, ela não passou, parece estar piorando a cada minuto.

— Estou sentindo uma cólica forte, Dom. — Aviso, quando cruzamos a

porta de entrada.

Apoio em Dom, curvando o corpo quando sinto mais uma fisgada.

Respiro fundo, tentando me recuperar da dor.

— Você está pálida, loira. — Ele apoia as mãos em minha cintura,


visivelmente preocupado. — Vamos para um hospital.

— Dom, é apenas uma cólica menstrual, não tem necessidade alguma de

irmos para o hospital. — Me arrependo do que falei no instante em que sinto

uma fisgada ainda mais intensa que a interior. — Tudo bem, acho que podemos
ir.
Ando de um lado para o outro da sala de espera do hospital, preocupado
com Sophia. Desde que chegamos não tive notícia alguma sobre minha mulher, o

que está me deixando atormentado. Sei que só se passaram alguns minutos, mas

para mim esses minutos foram como uma eternidade.

Eu sei como Sophia é quando se trata de ir ao hospital, ela só aceita ir

quando realmente está mal, e isso é o que me preocupa. Não consigo entender
como não percebi que ela não estava bem, acho que estava tão focado no que
aconteceu com minha mãe que mal vi que minha mulher não estava bem.

Felizmente mamãe se dispôs a cuidar da Bela juntamente com Vanessa.

Minha pequena ficou visivelmente preocupada com a mãe, por mais que não
soubesse muito bem o que estava acontecendo.

— Filho, você vai acabar abrindo um buraco no piso de tanto fazer o


mesmo trajeto. Fique calmo, logo algum médico vira nos dar noticiais. — Meu

pai tenta me acalmar, falhando drasticamente.

— Não consigo me acalmar. A amo demais, papai.

— Eu sei que a ama, e não me restam dúvidas de que esse sentimento é

recíproco.

— Senhor Watson, sua esposa pediu que vá a ver. — Uma enfermeira

avisa. — Daqui alguns minutos o médico irá falar com vocês.

Acompanho a enfermeira até o quarto indicado, abrindo a porta com

cuidado. Sorrio fraco ao ver Sophia deitada na cama, assim que percebe minha

presença, ela me chama com um aceno.

— Como você está se sentindo, loira? — Vou até minha mulher, parando

ao seu lado, aproveitando para beijar sua testa.

— Estou me sentindo bem, a dor passou. — Ela sorri fraco, se sentando


na cama do hospital. — Acho que fui dramática demais, Dom.

— Fiquei tão preocupado com você.

Nossa conversa é interrompida no instante em que um médico bate na

porta, que estava entreaberta.

— Boa noite, senhorita Brant! — O médico responsável por minha


esposa adentra ao quarto. — Está se sentindo melhor? — Indaga.
— Sim. — Responde, pousando a mão sobre a minha.

— A senhorita está com seis semanas de gestação, sangramentos nesse


período são um tanto recorrentes.

Fico estático por alguns segundos, não sabendo como digerir a

informação. Apoio o corpo na parede, com medo de desmaiar a qualquer


momento.

Eu obviamente sonhava em ter mais filhos com Sophia, mas eram planos

futuros. E a julgar pela expressão da loira ao meu lado, um bebê também não
estava nos seus planos.

Deus, estamos juntos há quase três meses e ela já está grávida!

— O senhor só pode estar enganado, eu coloquei um dispositivo

intrauterino há alguns meses, não posso estar grávida. O ginecologista afirmou

que era um método seguro. — Sophia diz rapidamente, atropelando as palavras,


demonstrando o quanto está assustada com a notícia.

Nos próximos minutos o médico faz questão de fazer um discurso sobre


todos os métodos contraceptivos conterem algum risco de falha, e que Sophia

precisará fazer alguns exames para saber por que o método contraceptivo falhou.
E logo em seguida, começa a explicar o porquê ocorre os sangramentos no início

da gestação.

Aproximo de Sophia, que ainda está estática, tanto que parece estar fora
de órbita. Eu a entendo perfeitamente, minhas pernas mais parecem duas
gelatinas. Quando acordei pela manhã, não imaginava que receberia a notícia

que seria pai novamente. Eu e Sophia sequer tínhamos pensado nessa

possibilidade, afinal estamos juntos há pouco tempo.

— Se você ao menos pensar em fazer o mesmo que fez com a Bela, eu

juro que deceparei seu pescoço sem piedade alguma. — Cruza os braços na
altura dos seios, me lançando um olhar mortal.

Apenas esboço um sorriso, me divertindo com sua postura de defesa.


Nesse momento, tenho certeza que ela seria capaz de decepar meu pescoço.

— Eu jamais repetiria o mesmo erro. — Sento-me ao seu lado na cama,

pousando uma mão em sua barriga, a acariciando. — Não sabe o quanto estou

contente por saber que mais um fruto do nosso amor está a caminho.

— Não sei como isso foi acontecer, eu estava usando um dispositivo


intrauterino. Sou tão azarada que nem mesmo um método contraceptivo

considerado eficiente funcionou. — Coloca a mão sobre a minha. — Depois

desse bebê eu acho que irei retirar o útero, só assim para ter certeza que não

engravidarei novamente.

— Nossa família irá surtar quando souberem que tem mais um bebê a
caminho. — Beijo seu pescoço, inspirando o cheiro de seu perfume. — Apesar

de não ser um bebê planejado, eu já o amo.

— Eu também já o amo, mas estou tão apavorada. — Coloca uma mecha

do cabelo dourado atrás da orelha. — Mais um bebê, Dom. Eu estava com tantos
planos, e nenhum deles envolviam um bebê.

— Nós dois daremos conta.

— Teremos dois bebês, Dom. — Seu olhar perdido encontra o meu,

deixando claro que está apavorada, por mais que tente demonstrar ao contrário.

— A gravidez da Bela foi tão conturbada.

Não consigo dimensionar o quanto foi difícil para Sophia enfrentar todas

as responsabilidades que acompanham o nascimento de uma criança sozinha.

Por mais que ela já tenha me perdoado, eu ainda não consegui me perdoar, me
culpo todos os dias por ter a deixado.

Entrelaço os dedos de nossas mãos, atraindo a atenção de Sophia. Apoio

a testa na sua, admirando seus estonteantes olhos verdes.

— Tudo será diferente, Soph. Eu estarei ao seu lado em todos os

momentos, você não estará sozinha. Farei o possível e o impossível para ser um
bom pai para Bela e para o bebê que está a caminho.

— Nunca mais irei acreditar em nenhum método contraceptivo. —


Resmunga, apoiando a cabeça em meu peitoral. — Segundo o ginecologista o

diu teria duração de dez anos, e olha só o resultado, serei mãe pela segunda vez
em menos de três anos.

— Não vamos levar essa notícia como algo ruim.

— Estou assustada, com medo. — Seus olhos ficam marejados, e logo

uma lágrima escorre lentamente por seu rosto. — Não sei se tenho capacidade de
cuidar de mais uma criança, Dom.

Ela não teria esses medos se eu tivesse a apoiado quando descobriu que
estava grávida da Bela.

— Não tenha essas inseguranças, tenho certeza que você será uma mãe

incrível para esse bebê, assim como já é para a Bela.

— Vou ficar redonda novamente.


— Daqui alguns meses você terá um irmãozinho ou uma irmã. —

Entrego a chupeta para Bela, a deitando em meu ombro, vendo o quanto minha

filha é perfeita. — Prometo que tentarei ser um bom pai para vocês dois.

— Papa, papa. — Bela leva uma mão até meu rosto, abrindo um lindo

sorriso, fazendo com que sua chupeta caia.

— Você não sabe o quanto te amo. — Retiro uma mecha do seu cabelo

do rosto. — Você faz a minha vida melhor, pequena.

Começo a cantar para Bela, que está me fitando com os enormes olhos

azuis, indicando que não está com muito sono, o que me apavora. Depois de

diversas músicas, minha filha finalmente adormece em meus braços, a coloco

com cuidado no berço, ligando a luz fraca do abajur.

Paro por alguns segundos, apenas para admirar minha filha. Já não

consigo imaginar como seria minha vida sem essa criança, minha casa ganhou
novas cores desde que ela chegou.

Apoio no batente da porta, observando Sophia dormir profundamente

abraçada ao travesseiro. Eu poderia passar horas apenas admirando sua beleza.


Ela é tão linda que não parece ser real.

Vou até ela, a cobrindo com o edredom, apagando a luz do quarto. Antes
de me afastar, planto um beijo em sua bochecha, acariciando sua barriga.
Caminho até a sacada, retirando o celular do bolso da calça. Digito o número do

Wesley rapidamente, disposto a contar a ele a novidade.

— Sophia está grávida. — Conto, no instante em que Wesley atende à

ligação.

— Você só pode estar brincando, Dom. Vocês dois não conhecem

métodos contraceptivos?

— Nosso bebê foi o 1% de falha do contraceptivo.

— Se vocês continuarem com esse mesmo ritmo terão uma creche.

Compre um colete à prova de balas quando for contar a tia Verônica. Você não

pode morrer, tem dois filhos para cuidar. Cara, seu salário irá apenas para

fraldas.

— Você não sabe o quanto está me deixando mais calmo, Wesley. —


Resmungo. — Ela está assustada, não sei o que fazer para tranquilizá-la. —

Desabafo.

— Sophia ainda sente medo, tente demonstrar que você não irá deixá-la,

que dessa vez será tudo diferente.

— Faço isso todo os dias, mas parece que não é o bastante. — Apoio no
parapeito, observando o céu incrivelmente estrelado.

— A confiança não se ganha do dia para a noite. Tenha paciência, em

breve ela voltará a confiar totalmente em você, Dominic.


— É o que mais quero. Eu a amo tanto que chega a doer, Wesley.

Wesley dá uma gargalhada.

— Acho que perdi completamente meu companheiro de balada. —

Lamenta, ironicamente.

— Pode ter certeza que sim.

Wesley tem razão, eu quebrei a confiança de Sophia no passado, e agora


estou sofrendo as consequências dos meus atos. Mas estou disposto a ser

paciente.

Retorno ao quarto, fechando a porta que dá acesso a sacada, me deitando

ao lado de Sophia, puxando-a para os meus braços. Pouso as mãos em sua

barriga, sentindo um amor imenso tomar conta de mim. Nos últimos meses estou

conhecendo o amor.

— Bela dormiu? — Sophia pergunta, ainda sonolenta, apoiando a cabeça

em meu peitoral.

— Sim, pode ficar tranquila. — Beijo o topo da sua cabeça. — Te amo.


— Sussurro, mesmo sabendo que ela já adormeceu novamente.
Paro na porta da lanchonete, vendo Evelyn sentada em uma mesa

próxima ao balcão. Abro a porta, indo em sua direção, sentindo minhas mãos

transpirarem de puro nervosismo.

Sento-me ao lado da minha amiga, vendo-a me olhar feio. Evelyn me


enviou uma mensagem assim que acordei, ela praticamente me convocou para

um encontro. No fundo, ela sabe que estou escondendo algo, afinal me conhece
muito bem.

Respiro fundo, buscando coragem para contar a ela que estou grávida.

Passei os últimos dias na casa do Dominic, ainda não tive coragem para

voltar para casa, estou evitando ao máximo encarar minha mãe.


— Desculpe, os últimos dias foram tão cheios. — Aproximo da minha
amiga, me sentindo culpada por não ter contado nada a ela. — Descobri que

estou grávida. — Comento, colocando um pouco de adoçante no chá, evitando a

todo custo olhar para Evelyn.

Descobri há dois dias que serei mãe pela segunda vez, mas parece que até
o momento não consigo acreditar que uma nova vida está crescendo em meu

ventre. Em hipótese alguma eu imaginava que poderia engravidar, até porque

estava com o dispositivo intrauterino.

— Está brincando, né? — Finalmente ergo o olhar, vendo a expressão de

decepção estampada no rosto da Evelyn. — Sophia, vocês estão juntos há

pouquíssimo tempo, como pode ser tão inconsequente? Ou melhor, vocês dois

foram. Ainda não consigo acreditar, Bela ainda é uma bebê.

― Fui uma completa idiota, confiei completamente no diu que estava

usando, e acabei quebrando a cara. Não estou triste por estar gerando uma vida,

só acho que não estava preparada, minha vida ainda está uma bagunça.

― Como Dominic reagiu?

― Até melhor que eu, ficou contente com a notícia. Me senti um pouco
culpada, pois imaginei que ele não aceitaria nada bem.

― Se ele te deixasse grávida e sozinha por uma segunda vez, juro que o
mataria. Não acho que foi certo ter engravidado, Sophia, mas compreendo que

não teve total culpa. E apesar de tudo, saiba que continuarei aqui para te apoiar
em tudo.

Sinto meus olhos ficarem marejados.

— Eu te amo tanto, amiga. Você sabe que é como uma irmã para mim.

— Não começa, bomba de hormônios. — Usa o mesmo apelido de

quando eu estava grávida da Bela e chorava por exatamente tudo.

— Temo morrer de desidratação, até porque normalmente já sou chorona.

— Beba bastante água, e não se esqueça de comprar lenços. — Zomba.

— Já contou para a sua mãe?

— Não. — Nego, sentindo calafrios correram por todo meu corpo. —

Nós duas sabemos que a reação dela não será nada boa. Estou adiando o

inevitável, até porque uma hora ou outra terei que contar.

— Ela ficará nervosa com razão.

Se algum dia alguém me disser que só engravida quem quer, juro que

esgano a pessoa sem um pingo de dó. Eu e mais milhares de mulheres caem nas

pequenas porcentagens de falhas dos métodos contraceptivos. Imagino que essa

situação seria mil vezes pior se eu não tivesse desejo algum de ser mãe. Apesar
das dificuldades, amo ser mãe, mas compreendo que existem mulheres que não
se veem cuidando de um bebê.

Não culpo minha amiga por ter se decepcionado, ela mais do que
ninguém sabe o quanto foi difícil quando eu descobri que estava grávida da Bela.
Não foi um período fácil, e teria sido ainda pior se eu não tivesse o apoio da
Evelyn.
Pela manhã combinei com Dom que iríamos almoçar juntos, já que

ontem não tivemos tanto tempo, pois Dom passou grande parte do dia envolvido

com o trabalho.

Meu olhar vaga pelo ambiente luxuoso, o que faz com que eu me sinta

desconfortável, fecho os olhos, buscando coragem para não sair correndo desse

lugar. Essa é a primeira vez que venho aqui desde que tudo aconteceu.

― Boa tarde! Dominic está? ― Aproximo da mesa da secretária, um


tanto perdida.

A mulher me analisa minuciosamente, voltando a encarar a tela do

computador.

― O senhor Watson está ocupado, se quiser falar com ele em outro


momento recomendo que marque um horário antecipadamente.

― Marcar um horário? ― Arqueio a sobrancelha, percebendo que a


mulher a minha frente acha que sou uma cliente de Dominic.

― Vejo que já conheceu minha namorada, senhora Jackson. ― Agradeço


assim que Dom caminha em nossa direção com um sorriso bobo nos lábios. ―

Está atrasada, Sophia. ― Reclama, me dando um selinho, parando ao meu lado.

― Desculpe, senhor Watson. Eu não fazia ideia de que ela era sua
namorada.

― Tudo bem, eu deveria ter me apresentado antes.

― Tenho um presente para você na minha sala, me acompanhe. ― Dom

apoia uma mão em minha lombar, me incitando a caminhar em direção a sua

sala.

― Pelo que eu me lembre, hoje não é nenhuma data especial. ― Busco

em minha memória, chegando à conclusão que hoje não é nenhuma data

importante.

Dom abre a porta, indo até sua mesa, onde pega um embrulho lilás.

― Dom, você vai falir se continuar me presenteando com livros toda

semana. ― Sussurro, encantada com o pelo exemplar de um romance em capa

dura. ― Não que eu esteja reclamando, amo ganhar livros de presente. ― Passo

os dedos nas letras douradas do título, desejando ter a tarde livre para devorar a
história.

― Não seja boba. Sei que adora ganhar livros de presente. Não há mal
algum em mimar um pouco a mulher da minha vida. Tenho uma reunião daqui

uma hora, podemos almoçar em um restaurante mais próximo?

― Claro que sim. ― Passo um braço ao redor do seu pescoço, plantando


um beijo em sua bochecha.

― Tem uma bela biblioteca em minha casa, caso fosse morar comigo,

poderia usufruir. ― Seus lábios encontram a pele exposta do meu pescoço, me


causando arrepios involuntários. ― O que acha? ― Suas mãos encontram meu
quadril.

― Não acredito que está usando a biblioteca para me convencer a morar

com você. ― Fecho os olhos, aproveitando suas carícias. ― Se continuar a me

provocar dessa maneira, não iremos almoçar coisa nenhuma.

― Sabe, não estou com fome. ― Ele se distancia, indo trancar a porta.

― Podemos aproveitar um pouco.

Sento-me na mesa, abrindo os botões da blusa, a retirando. Dom para a


minha frente, me encarando com um olhar carregado de luxuria.

― A cada dia que passa você fica mais linda, loira. ― O vejo se

acomodar entre minhas pernas, abrindo o fecho do sutiã, libertando meus seios.

― Seja silenciosa, não somos os únicos no andar.

Mordo o lábio inferior quando Dom toca meus seios, os massageando,


me ajudando a retirar a saia juntamente com a calcinha. Ele se afasta o bastante

para ter a visão completa do meu corpo, sorrindo de lado posteriormente.

Puxo-o pela gravata, o ajudando a se livrar da calça com uma certa

urgência. Dom apoia as mãos em meu quadril, me penetrando com cuidado,


fazendo questão de manter o olhar fixo ao meu.

Dom cola nossos lábios, interrompendo meus gemidos com um beijo

urgente. Passo os braços ao redor do seu pescoço, fechando os olhos.

Apoio a cabeça em seu ombro minutos depois, não acreditando no que


acabamos de fazer. Acaricio o cabelo de Dominic, aguardando que minha
respiração se normalize.

― Vamos almoçar, lembre-se que agora eu preciso comer por dois. ―

Uso a velha desculpa de todas as grávidas, me afastando.

— Tudo bem, loira. — Dom de veste, recolhendo minhas roupas que


estavam espalhadas pelo chão. — Você nua é uma verdadeira obra de arte. Está

linda, como sempre. — Sussurra, abotoando minha blusa, começando a salpicar


beijos pelo meu pescoço.

Sempre me questionei se as pessoas realmente mudavam, agora vejo que

elas podem mudar, Dom é um grande exemplo. Dia após dia ele demonstra com

pequenas atitudes que não é a mesma pessoa que conheci. Aprendi a não cobrar

amor, ou qualquer outra coisa. Quando cobramos esse sentimento tão belo, ele

perde completamente o brilho, o amor jamais pode ser exigido.

O acompanho até o elevador, sentindo minhas bochechas esquentarem

assim que passamos por sua secretária, que me lança um olhar enigmático.

— Engraçado, você não estava tão envergonhada há alguns minutos, ao


contrário, estava mais solta do que nunca. — Provoca, provavelmente se
divertindo.

— Você está me corrompendo aos poucos. Evelyn ficou chateada quando


contei a ela que estou grávida. — Conto, mudando de assunto.

― No fundo, acho que todos ainda não confiam 100% em mim. ― Dom
sorri fraco, entrelaçando os dedos de nossas mãos assim que as portas do

elevador se abrem no térreo, me guiando até o outro lado na rua, onde há um

restaurante. ― Mas provarei a eles que não cometerei o mesmo erro novamente.

Serei o melhor marido do mundo para você.

― Só falta me pedir em casamento. Um anel de noivado ficaria lindo em


meu dedo anelar. ― Estendo a mão, fazendo Dom dar uma gargalhada alta.

― Sua indireta foi recebida com sucesso, loira. Tudo que eu mais quero é
me casar com você. ― Ele abre a porta do restaurante, permitindo que eu entre

antes dele. ― Quando menos esperar já estará casada comigo.

― Ainda é cedo para nos casarmos, Dominic. ― Comento, assim que ele

puxa a cadeira, aguardando para que eu me sente.

― Amor, você já está grávida do nosso segundo filho, acho que estamos
atrasados, deveríamos estar casados há anos. ― Dom sorri de lado, me

entregando o cardápio. ― Hoje a escolha é sua, senhorita Brant.

— Estou com tanta fome, que seria capaz de pedir no mínimo três pratos

diferentes.

— Vá com calma, mamãe. Tem fotos de quando estava grávida da Bela?

— Algumas, posso te mostrar depois. Evelyn insistiu que eu tirasse fotos


para relembrarmos do quanto eu estava redonda. — Faço uma careta ao

relembrar do quanto engordei durante a gravidez.

Apesar de ter sido um período turbulento, tentei ao máximo curtir a


gravidez, direcionei todo meu amor para o pequeno ser que estava crescendo em
meu ventre. Bela foi minha paz em meio ao caos.

— Não sabe o quanto estou ansioso para ver sua barriga crescendo.

Queria ter acompanho esse processo quando estava grávida da Bela. — O olhar

de Dom automaticamente se torna triste.

Já o perdoei pelos erros do passado, mas Dominic ainda não se perdoou.

Mesmo que não comente muito, eu sei que a culpa o coroe dia após dia. Nos
perdoar é uma das coisas mais difíceis. Não posso fazer nada para ajudá-lo, pois

a escolha de se perdoar pertence apenas a ele.


Ontem tive minha primeira consulta, Dominic fez questão de me

acompanhar, e por incrível que pareça, fez mais perguntas do que eu. Em alguns

momentos cheguei a ter pena da pobre obstetra. Tenho a sensação que ele deseja

recuperar tudo que perdeu quando eu estava grávida da Bela.

Dominic finalmente está podendo acompanhar esse momento mágico, e

está ficando encantado com cada pequeno detalhe desse mundo ainda
desconhecido por ele.

— Nosso peixinho amou a piscina. — Sorrio para Bela, vendo-a bater na

água incansavelmente. — Calma, assim você vai se cansar rápido.

— Ela está se divertindo com o melhor tio do mundo. — Wes se gaba,


ajeitando Bela na boia em formato de um morango. É até difícil saber quem é a
criança. — O que acha de ir morar com o titio? Sou bem mais legal que o

ranzinza do seu pai.

— Pare de querer roubar a filha dos outros. — Dom resmunga, me

puxando para sentar-se em seu colo. — Ele já passou a manhã aqui, deveria ir
embora.

— Pare de ser mal-humorado, Wesley está se divertindo com a Bela.

Wesley chegou ainda pela manhã com diversos brinquedos para Bela,
desde então não se desgrudou da minha filha. Imaginei que ele apenas a

presentearia, mas não, ele fez questão de experimentar cada brinquedo com

minha pequena.

Ainda não tive coragem de retornar para casa, passei a última semana
com Dom. Não me sinto preparada para enfrentar os julgamentos da minha mãe.

— Loira, ele está tentando a roubar de mim. E a traidora da Bela parece

estar amando.

— Pelo amor de Deus, Dom! Pare de ser infantil, ele está apenas se

divertindo com nossa filha.

— Olhe como ela está feliz com ele.

— Você vai agradecer ao Wesley quando ele ficar com a Bela daqui
alguns meses. — Retiro os óculos de sol. — Estou com fome, vou ver o que

Vanessa está preparando. Fiquei de olho na Bela e no Wes.


— Está me deixando responsável por duas crianças? — Arqueia a
sobrancelha, me ajudando a vestir a saída de banho.

— Pelo menos você poderá ir treinando.

Dom resmunga algumas palavras incompreensíveis, como um verdadeiro

ranzinza, me fazendo sorrir.

Olho mais uma vez para a piscina, vendo que Wesley está conversando

com Bela como se ela já fosse uma adulta que está entendendo tudo. Ele

naturalmente leva bastante jeito com crianças, tanto que minha pequena está
grudada a ele.

Caminho até a cozinha, vendo que Vanessa já está preparando o almoço.

Como Dom já havia dito, ela é uma pessoa incrível, e tem cooperado para eu

queria morar nessa casa para sempre.

— O que está preparando? O cheiro está ótimo.

— Acabei de preparar uma torta de limão, o menino Dom disse que você

amava.

— Se continuar assim não irei embora nunca mais dessa casa.

— Essa é a intenção. — Vanessa sorri abertamente. — É muito bom tê-la


aqui. Você e a pequena Bela trouxeram uma alegria imensa para essa casa.

Sento-me na banqueta próxima ao balcão de mármore, observando


Vanessa me servir uma deliciosa fatia de torta de limão. Corto um pequeno
pedaço, sentindo minha boca salivar.
Nos últimos três dias estou comendo como uma desesperada, e por
incrível que pareça ainda não senti nenhum enjoou.

— Estou grávida. — Conto para Vanessa, que para o que está fazendo

imediatamente.

— Vocês foram rápidos.

— Não planejamos o bebê, mas estamos muito felizes com a chegada de

mais uma vida. — Coloco uma mão sobre a barriga, sentindo um amor imenso

pelo bebezinho que está dentro de mim.

— Essa criança será muito bem-vinda, senhorita. A pequena Bela amará

ter um irmãozinho.

— Tenho certeza que sim. Mas será uma loucura quando o bebê nascer,

pode ir se preparando para ver essa casa do avesso.

— Estou preparada há muito tempo. Sempre desejei que essa casa fosse

barulhenta. Antes de vocês chegarem, o silêncio era algo cotidiano. — Ela me

serve um copo de suco de laranja.

— Essa torta de limão está deliciosa, Vanessa! Você precisa parar de


cozinhar tão bem, ou me tornarei uma baleia em poucos meses.

— Agora que está grávida precisa se alimentar muito bem, precisamos de

um bebê saudável.

No fundo, eu também não quero ir embora dessa casa, me sinto


confortável nesse lugar, ao contrário de como me sentia na casa da minha mãe.
Amo acordar todos os dias ao lado de Dom, amo os cafés da manhã em família,

amo chegar em casa no final do dia e ter alguém para conversar.

Estou vivendo a vida que sempre sonhei, mas ao mesmo tempo sei que é

algo passageiro, nem tudo continuará tão perfeito por tanto tempo. Infelizmente

a vida não é feita apenas de calmaria.


— Bela já está dormindo como um anjo, Wesley conseguiu a cansar. —

Avisa, se jogando sobre a cama. — Amor, venha se deitar, deixe para organizar

esses papéis amanhã. — Pede, batendo no colchão. — Você já está mexendo

nesses documentos há horas.

— Dom, está uma bagunça. — Começo a empilhar os papéis que Dom

estava organizando, e eu precisei intervir para colocar tudo em ordem.

— Não quer trabalhar comigo? Dobro seu salário.

— Muito obrigada, estou contente trabalhando com o Wesley, e não

quero privilégios apenas por ser sua namorada. — Levanto-me, retirando os

óculos de leitura.

— Não estou fazendo esse convite apenas porque você é minha


namorada. — Se defende. — Quando o bebê nascer, você pode fazer uma

graduação, posso cuidar das crianças.

— Esse seria meu sonho, mas vamos esperar esse bebezinho nascer.

Me aconchego nos braços do Dom, abrindo o livro que ele me presenteou


a alguns dias. Suas mãos automaticamente vão de encontro a minha barriga.

Ultimamente seu maior hobby tem sido admirar minha barriga todos os dias.

Viro o bastante para ficar de frente para Dom, aproveitando para beijá-lo.
Ele aprofunda o beijo, deslizando as mãos pelo meu corpo. Afasto quando

percebo suas intenções, sorrindo ainda com os lábios grudados aos seus.

— Não vejo a hora de poder sentir o bebê se mexer. — Dom planta um

beijo em meu pescoço, passando a ponta dos dedos sobre minha barriga.

Somos interrompidos com o toque do meu celular, pego o aparelho,


aceitando a ligação, não reconhecendo o número.

— Boa noite, Sophia! Desculpe por estar te ligando tão tarde, mas eu

realmente estava precisando falar com você urgentemente. — Leva alguns


segundos para que eu finalmente reconheça a voz.

— O que aconteceu, Sabrina? — Me sento na cama, deixando o livro de

lado.

— O papai acabou sofrendo um infarto. Ele ainda não está muito bem, e

quer vê-la. Por favor, venha nos ver. — Praticamente implora.

Meu pai passou anos sem ao menos me fazer uma simples ligação, me

excluiu da sua vida sem pensar duas vezes. E agora, que percebeu que corre
risco de vida resolveu me procurar, talvez ele queira apenas se sentir em paz, o

que não adianta tanto, afinal teve tempo o suficiente para me procurar.

— Tudo bem, Sabrina. Me mande o endereço do hospital que irei


encontrá-lo.

— Muito obrigada, Sophia!

— Até mais. — Me despeço, encerrando a ligação, não dando


oportunidade que ela diga mais nada.

Abraço Dom, sentindo meus olhos ficarem marejados. Falar com


Sabrina, fez com que a cicatriz adormecida em meu coração voltasse a doer.

Tive tanto medo que Bela passasse pela mesma dor que passei no

passado, que crescesse tendo um pai completamente ausente.

— Meu pai sofreu um infarto, e minha irmã quer que eu vá vê-lo. Não sei

nem que pessoa ele se tornou, sendo sincera, eu não consigo nem me recordar da

voz dele. Ele é um desconhecido.

— Sinto muito. — Coloca a mão sobre a minha, entrelaçando os dedos

de nossas mãos. — Em que posso ajudá-la, Sophia?

— Não sei muito bem se ir de encontro a ele é a melhor opção, Dom.

Somos completos estranhos, por mais que doa, já entendi que não somos uma

família, e estamos longe de sermos. Mas sei que posso ficar com a consciência
pesada caso algo de ruim aconteça a ele. — Desabafo, completamente perdida,

sem saber o que fazer.

— Não faça nada pelos outros, faça por você. Só vá se estiver

confortável. Você é a prioridade da sua vida, Sophia. — Sussurra, olhando no


fundo dos meus olhos, tocando meu queixo.

— Preciso encontrá-lo para finalmente virar a página, não quero mais

guardar mágoas daquele homem. Não consigo o ver como meu pai, o vejo
apenas como uma pessoa que convivi no passado.
— Posso te acompanhar, loira.

Essa é uma parte da minha vida que diz respeito apenas a mim, não quero
que Dominic se envolva. Preciso enfrentar os fantasmas do passado para

finalmente dizer que estou livre para ser feliz. Há coisas que precisamos

enfrentar sozinhos.

— Não, prefiro ir sozinha, sei que amanhã você tem uma

videoconferência importante. E eu sei muito bem me cuidar sozinha, senhor


Watson.

— Posso remarcar a videoconferência para outro dia, até porque você é

mais importante, Sophia.

— Dom, eu irei sozinha. Prometo que te ligarei várias vezes durante o

dia, então não tem motivos para você se preocupar. — Apoio a cabeça em seu
peitoral, ouvindo as batidas do seu coração.

— Não me agrada saber que você viajará sozinha para uma cidade

distante, me preocupo tanto com você. Nunca imaginei que amar alguém poderia

doer tanto, diariamente tenho medo que algo de ruim aconteça a você. Não sei se
consigo sobreviver sem ter a senhorita ao meu lado.

— O amor não é perfeito, assim como tudo na vida. E você não vai me

perder, então fique tranquilo. Acho que agora só terminaremos nossa história
quando estivermos velhinho.

O amor infelizmente não aparece para todos, ao contrário, ele é seletivo,


para algumas pessoas, o amor aparece duas vezes, claro, de maneiras diferentes.

Você nunca amará duas pessoas da mesma forma, independentemente do tipo de

amor.

— Não vejo um futuro melhor. Não me restam dúvidas de que você é o

grande amor da minha vida.


Observo Dom se despedir de Bela com um sorriso bobo nos lábios, ele

está agindo como se fôssemos passar anos em outro estado, e não poucos dias.

— Amor, tem certeza que não quer que eu vá com você? Já disse que

posso remarcar tudo. — Dom beija minha bochecha, visivelmente preocupado,


me entregando nossa pequena.

Passo a mão em seu rosto delicadamente, sorrindo fraco com sua

preocupação excessiva. Nas últimas horas Dominic insistiu incansavelmente


para me acompanhar, mas optei por ir apenas com Bela.

— Pode ficar tranquilo, vou me cuidar muito bem. — Passo a ponta dos

dedos em seu rosto, sentindo sua barba me causar cócegas. — Agora me dê essa
pequenininha, não podemos perder o voo.

— Cuide muito bem da sua mãe. — Ele me entrega a Bela, dando um


beijo na testa da nossa filha, repetindo o gesto comigo. — Não vejo a hora de te

ver novamente, loira.

— Serão apenas dois dias, não um mês.

— Não consigo viver sem vocês. Me ligue assim que o avião aterrissar,

por favor. — Passa o polegar em minha bochecha. — Te amo, loira.

Apenas sorrio, caminhando até o portão de embarque, repetindo

mentalmente a todo instante para não pensar o pior. Controlar meus pensamentos

com certeza é o meu maior desafio.


Sabrina foi ao meu encontro no aeroporto, fui muito bem recebida por

ela. É tão estranho pensar que temos um laço sanguíneo, não consigo a enxergar

como minha irmã, talvez seja pela pouca convivência que tivemos.

Quando vi Sabrina no aeroporto foi impossível não a reconhecer, ela é

como uma versão mais jovem de nossa mãe. Mesmo que tenha puxado a cor do

cabelo de nosso pai, o restante parece ter sido apenas copiado de mamãe,
principalmente o sorriso.

— Está nervosa? — Sabrina pergunta, ao perceber minha hesitação ao

abrir a porta do quarto do hospital onde nosso pai está.

— Foram anos sem ao menos ouvir a voz dele. É impossível não sentir

um certo receio ao encontrar alguém que logicamente deveria ser próximo a

mim. — Toco a maçaneta, sentindo o frio do metal.

— Te entendo. — Abaixa o olhar, parecendo se perder em seus


pensamentos por alguns segundos. — Estarei te aguardando aqui fora. — Se

afasta, sentando-se em uma cadeira a poucos metros de distância.

Respiro fundo, repassando todos os motivos pelos quais eu aceitei


reencontrar meu pai, não permitindo que o medo tome conta dos meus

pensamentos.
Entro no quarto de hospital, e assim que o olhar do meu pai recai sobre
mim sinto um frio na barriga. Em passos curtos, me aproximo da cama, vendo-o

me analisar minuciosamente.

Esperei tanto para reencontrá-lo, por muitas vezes cheguei a fantasiar

como seria tal momento, principalmente no dia dos pais, onde eu mais sofria
com sua ausência.

As linhas de expressão adquiridas com a idade fazem meu pai um tanto


diferente da última vez em que nos vimos. Agora, cara a cara com ele, não

consigo sentir o amor inexplicável que sentia quando o via na infância, ao

contrário, parece que estou de frente com um estranho ao qual nunca tive contato

algum.

O afeto é nutrido com a presença, não necessariamente a presença física,

atualmente existem inúmeras outras formas de se manter presente na vida de

uma pessoa sem estar ao lado dela.

— Como o senhor está? Sabrina contou o que aconteceu, sinto muito. —

Quebro o silêncio, tentando sorrir, falhando miseravelmente.

— Estou melhor. — Responde vagamente, se ajeitando na cama com a


ajuda da mulher que julgo ser sua atual esposa.

— De quem é essa criança? — Aponta para Bela, parecendo estar


confuso.

— É a minha filha, ela se chama Bela.


— Não fazia ideia de que já era mãe. — Seu olhar se fixa sobre minha
filha, que se agarra ainda mais ao meu pescoço. — Já está casada?

— Não. — Nego, me sentindo extremamente desconfortável com suas

perguntas invasivas, é como se eu estivesse sendo interrogada.

— Não esperava que seu futuro fosse esse. — Resmunga, colocando um


travesseiro sobre a cabeça, evitando ao máximo manter contato visual. —

Sabrina está terminando a graduação, imaginei que você estivesse no mesmo


caminho.

— Quando aceitei vê-lo o propósito não era falar sobre meus problemas

pessoais.

— Você é minha filha. — Afirma com convicção.

Pisco algumas vezes, não acreditando no que acabei de ouvir.

— Engraçado, não fui sua filha por muitos anos. — Minha voz sai

extremamente calma e firme. — Infelizmente é impossível não me recordar do

quanto foi ruim ter um pai ausente por anos. Acha que eu ficava feliz quando
chegava o dia dos pais?

— Não te chamamos aqui para você julgar seu pai. — Minha madrasta

murmura, se colocando ao lado do meu pai, me olhando feio, deixando claro que
não está nada satisfeita com minha presença.

— E por que estão me julgando? Já tive julgamentos o bastante, tenho

certeza que não preciso de mais. — Fecho os olhos, tentando me manter calma,
não posso perder a compostura.

— Não estamos... — A mulher a qual sequer sei o nome começa a falar,


mas acabo a interrompendo.

— O senhor não me queria aqui para aliviar sua culpa? — Arqueio a

sobrancelha, vendo-o me olhar com desdém. — Não vou me submeter a ficar em


um lugar onde não sou bem-vinda. Sabe, foi até bom ter vindo aqui, pelo menos

assim eu pude ter certeza que o homem que me abandonou no passado não
mudou.

Eu ainda tinha um resquício de esperanças de que ele havia mudado e

que me receberia muito bem. Por que insistimos em pensar que uma pessoa que

nos causou dor no passado pode ter mudado? Meu pai me não deu nenhuma

evidência de que estava arrependido, ou que ao menos queria tentar reparar todo

sofrimento que me causou.

Saio do quarto de hospital em passos largos, deixando o homem que fez

parte do meu passado para trás, vendo Sabrina me acompanhar até a saída do

hospital.

Acaricio as costas da minha filha, sentindo o vento gélido da noite entrar


em contato com minha pele assim que chego na área exterior do prédio.

Finalmente consigo respirar em paz.

— Aconteceu algo? — Sabrina pergunta, tentando acompanhar o ritmo

dos meus passos.


— Digamos que ele não queria tanto me encontrar, e fez questão de
deixar claro que não estava nada satisfeito com a filha que abandonou há anos.

— Me desculpe, Sophia! Ele pediu tanto para te ver, não imaginei que

reagiria tão mal. Quer que eu fique no hotel com você? É o mínimo que poderia

fazer, já que te fiz viajar horas para aguentar insultos do nosso pai.

— Ele não é meu pai. — A corrijo. — Raul é um estranho, não temos

ligação alguma. Infelizmente não somos uma família, não conheço vocês, como
posso dizer que são meus familiares? E pode ficar tranquila, posso ficar sozinha.

— Eu queria que fossemos uma família. — Lamenta. — Se um dia

quiser, podemos tentar uma aproximação. Não me esqueci de você, senti sua

falta todos os dias da minha vida.

Apenas aceno que sim, desejando mais que tudo me afastar logo desse
lugar.

— Tudo bem.

— Sinto muito, Sophia. Se eu ao menos tivesse noção que ele reagiria


assim jamais teria pedido que viesse até aqui. — Sabrina segura em minha mão,

permitindo que eu veja seus olhos marejados.

— Não se culpe pelas atitudes dele.

— Podemos nos encontrar em outro momento? — Sabrina coloca uma


mecha do cabelo atrás da orelha, evidenciando seu rosto tão parecido com o de

nossa mãe.
— Claro, creio que podemos ser amigas.

Desejo não perder o contato com Sabrina mais uma vez, infelizmente não
poderemos recuperar o tempo perdido, mas podemos construir novas memórias a

partir de agora.

— Quer que eu te acompanhe até o hotel?

— Não precisa, irei pedir um táxi. Até mais, Sabrina. — Me despeço,

aproveitando para caminhar até a parada de táxi a alguns metros do hospital.

Tudo na vida precisa de um ponto final, tanto as fases boas quantos as

ruins. Agora, a única sensação é que acabei de chegar ao fim de uma fase, eu

poderia questionar o porquê ter vindo de tão longe para não ser bem recebida,

mas eu precisava disso, precisava olhar nos olhos do homem que me deixou na

infância e ver que ele se manteve distante por escolha, e que infelizmente não
posso fazer nada para mudar nossa relação.
Bela engatinha até mim, se deitando sobre minhas pernas, sorrindo

abertamente, fazendo a chupeta cair. Esse pequeno ser humano me trouxe mais

felicidade que qualquer pessoa no mundo.

Digito o número de Dom, me culpando por não ter ligado antes. Minha

cabeça estava tão exausta com os acontecimentos das últimas horas que quando

cheguei ao hotel acabei adormecendo juntamente com a Bela.

— Está tudo bem, amor? — Sua voz sai carregada de preocupação ao


atender a ligação.

— Foi horrível, Dom, ele não me tratou nada bem, foi pior do que

imaginei. — Desabafo, passando a ponta dos dedos sobre o rosto da minha filha,

que está dormindo tranquilamente em meus braços.

— Por que não me ligou antes? Está em um hotel?

— Sim, eu não poderia ficar na casa do homem que se diz meu pai.
Assim como minha mãe, ele não ficou nada contente quando viu que já era avó.
Amanhã já estarei de volta.

— A única pessoa que perderá algo é ele, você fez sua parte, o que faz

com que eu sinta mais orgulho ainda. Infelizmente não podemos mudar a escolha
das pessoas.
Dom tem razão, eu não posso e nunca poderei fazer escolhas para os
outros. Tenho controle apenas sobre a minha vida.
Olho para o relógio em meu pulso, constatando que já se passa das duas
da manhã quando entro no táxi, seguindo até o hotel onde Sophia está

hospedada.

Quando ela me contou tudo que havia acontecido com seu pai, não
pensei duas vezes antes de arrumar as malas e comprar uma passagem para

encontrá-la.

Desço às pressas do táxi no instante em que ele estaciona em frente ao


hotel onde as mulheres da minha vida estão. Sigo em passos até a recepção, me
informando sobre o número do quarto onde Sophia está.

— Não poderia te deixar sozinha. — Digo, no momento em que Sophia


abre a porta do quarto.

Seus olhos levemente inchados indicam que ela chorou nas últimas
horas.

A puxo para meus braços delicadamente, plantando um beijo suave em

sua testa, inspirando o cheiro agradável que seu cabelo exala, desejando protegê-
la de qualquer pessoa que se aproxime apenas para machucá-la.

— Você tem sido um companheiro incrível. — Seus olhos ficam

marejados instantaneamente, revelando o quanto ela precisa de alguém para estar


com ela.

— Estou fazendo apenas a minha obrigação, quando resolvemos tentar

por uma segunda vez prometi a mim mesmo que sempre estaria ao seu lado, e é

isso que estou fazendo nesse momento. — Acaricio sua bochecha com o polegar,
vendo um sorriso tímido brotar em seus lábios.

— Acho que me arrependi de não ter aceitado ter sua companhia,

digamos que não foi o encontro mais agradável do mundo. — Comenta, dando

passagem para que eu entre no quarto. — Nossa pequena sapeca acabou


dormindo, estava exausta da viagem.

— Descobri que não consigo viver sem as duas, já estava morrendo

saudades de vocês.

Caminho até a cama, onde meu pequeno anjinho está dormindo rodeada
por travesseiros. Aproximo com cautela para não acabar a acordando, dando um
beijo rápido em sua bochecha rosada.

— O papai sentiu sua falta. — Sussurro, ajeitando a coberta em seu


corpo.

Deito-me ao lado da minha filha, puxando Sophia para deitar-se conosco.

Nesse exato instante, tenho tudo de mais precioso em minha vida em meus
braços.
Comprimo os lábios, tentando não rir da falha tentativa de minha mãe de

bordar uma toalha. Pelo que me disse, estava tentando bordar seu nome, mas só

de olhar superficialmente sei que falhou miseravelmente. Ela está em uma fase

que quer aprender novas coisas, apenas essa semana tentou ser confeiteira e

pintora, o que obviamente não deu certo.

Dona Verônica bufa pela milésima vez, colocando a toalha juntamente


com a agulha dentro de sua caixa de costura rapidamente.

Levo a xícara de café até a boca, sorvendo uma grande quantidade da

bebida amarga, tomando coragem para contar meus planos a minha mãe.

— Estou pensando em pedir Sophia em casamento amanhã, tenho plena

certeza que quero envelhecer ao lado daquela mulher. — Comento, observando-a

se servir com uma xícara de chá de camomila.

Ao contrário do que imaginei, não vejo descontentamento em seu olhar.

Talvez seja cedo para noivarmos, mas tempo nunca foi nosso forte. Na
verdade, o tempo é algo relativo de casal para casal, alguns levam anos para

finalmente subirem no altar, outros precisam de alguns poucos meses.

— Tem certeza de que quer isso? Um casamento é algo sério, pois


estamos falando da vida de duas pessoas, e não podemos esquecer que existe
também uma criança envolvida.

— Não me restam dúvidas, eu a amo, e agora mais do que nunca quero


oficializar nossa união. Sophia está grávida. — Conto, temeroso por sua reação.

— Que notícia maravilhosa, meu filho! — Comemora, abrindo um largo

sorriso, me deixando atordoado.

Não esperava que ela fosse ficar contente, já esperava preparado para

ouvir um longo sermão sobre não termos nos prevenido.

— Essa não era bem a reação que eu esperava da senhora, por isso

demorei para contar.

— Dom, como sua mãe, preciso reconhecer que Sophia tem sido ótima

para você. Nunca te vi tão radiante antes. — Mamãe sorri. — No início pensei

que ela não era a mulher apropriada para você, e me envergonho disso, afinal ela

vem demonstrando que é perfeita para você.

Sempre fui uma pessoa indecisa, nunca tive certeza de nada, mas desde

que Sophia me deu uma segunda chance soube qual é a sensação de ter certeza,
agora sei que a quero ao meu lado pela eternidade.

Durante o restante da tarde mamãe me ajudou a preparar tudo para um

pedido de casamento como Sophia merece.


O olhar desconfiado de Sophia me analisa por alguns segundos assim que

a vejo descer os degraus da porta de entrada de minha casa.

Hoje pela manhã deixei um pequeno bilhete no criado-mudo avisando

que teríamos um compromisso ao entardecer.

Seguro em sua mão delicada, ajudando-a entrar no veículo, antes de

ocupar o banco do motorista repasso tudo que desejo falar para ela mentalmente,

pedindo ao universo que ela aceite o pedido. Preciso dessa mulher para sempre
em meu lado tanto quanto as estrelas precisam do céu.

Durante o curto trajeto ficamos em um silêncio absoluto, ambos perdidos

em seus próprios pensamentos.

Estaciono na beira da estrada, vendo que os tons alaranjados do final da


tarde já tomam conta do céu. Abro a porta para Sophia, a observando descer com

um olhar extremamente desconfiado.

Retiro o buquê do banco de trás do carro, entregando-o para Sophia, que


logo abre um largo sorriso, indicando que gostou do presente.

— Que flores lindas, Dom. — Suas mãos delicadas correm pelo buquê de

rosas vermelhas, enquanto ela se apoia na lataria do carro, inspirando o perfume


das rosas, sorrindo logo em seguida.
— Tenho uma surpresa para você. — Conto, vendo o quanto o simples
buquê a deixou contente.

Aos poucos estou aprendendo que preciso a conquistar todos os dias com

pequenos gestos.

Me empenhei durante toda a manhã para poder preparar um pedido de


casamento para Sophia, queria algo simples que refletisse nosso relacionamento.

Assim que contei a minha mãe que já havia comprado o anel no dia anterior ela
prontamente se dispôs a me ajudar.

Não sei dizer precisamente em que momento Sophia se tornou a dona do

meu coração, a única coisa que posso afirmar com convicção é que a quero ao

meu lado por toda eternidade.

— Hoje é um dia especial? — Arqueia a sobrancelha loira, ainda


observando as rosas.

— Digamos que sim. — Retiro a venda preta de dentro do bolsa da calça,

notando que Sophia já está morrendo de curiosidade. — Posso? — Peço

permissão para colocar à venda em seus olhos.

Entrelaço os dedos de nossas mãos, a ajudando a caminhar pelo pequeno


caminho no meio das flores, abraçando-a por trás, plantando um beijo em sua

bochecha, retirando a venda de seus olhos assim que chegamos ao local


desejado.

— Que lugar lindo, Dom!


Seu olhar vaga pelo campo de tulipas vermelhas. As nuances de laranja
presentes no céu por conta do pôr do sol contrastam muito bem com o vermelho

das flores, fazendo o lugar ficar digno de um quadro pintado à mão.

— A cada dia que acordo ao seu lado tenho mais certeza de que você é a

mulher da minha vida. Sei que no início não soube te amar da maneira correta, e
se for preciso estou disposto a dedicar toda a minha vida para provar o quanto

realmente te amo. Você aceita ser minha futura esposa?

— Claro que sim.

Retiro o anel de ouro com uma pequena pedra de esmeralda no centro,

com diversos diamantes cravejados ao redor. Não foi fácil escolher um anel,

passei horas na joalheria observando as diversas opções, e quando finalmente a

atendente me mostrou esse anel, consegui ver os olhos de Sophia na pequena

pedra de esmeralda.

Deslizo a joia delicado em seu dedo anelar, vendo o quanto combinou

com ela.

— Te farei a mulher mais feliz desse mundo. — Beijo sua barriga, antes
de me levantar. — Obrigada por me apresentar o amor.

Depois que percebi o quanto amava essa mulher, comecei a acreditar em

predestinação, tenho certeza que meu coração pertence a ela mesmo antes de
nossas almas se encontrarem. Eu não poderia em hipótese alguma amar nenhuma

outra mulher, na verdade, só consigo imaginar uma vida ao lado de Sophia.


— Venha. — Dou um selinho em minha noiva, pousando uma mão em
sua lombar.

A guio até o centro da plantação, onde pedi que minha mãe preparasse

um piquenique com todas as comidas favoritas de Sophia. Quero que ela se

lembre desse dia daqui alguns anos e sorria como uma boba, assim como eu
provavelmente farei.

Ajudo Sophia a se sentar no tecido vermelho abarrotado de almofadas


brancas, sentando-me ao seu lado, vendo a mulher da minha vida sorrir ao ver a

torta de chocolate recheada com morangos. Ela se serve com uma fatia, vindo se

sentar entre as minhas pernas, sorrindo ao experimentar o doce.

Deslizo a mão pelos fios loiros do seu cabelo, encantado com a beleza de

Sophia, cada pequeno traço de seu rosto é simplesmente perfeito.

— Essa torta está maravilhosa, tenho certeza que o bebê também amou.

Hoje Evelyn comprou um sapatinho branco de crochê para o nosso

pequenininho. — Ela coloca a mão sobre a minha que está em sua barriga. —

Esse anjo já é tão amado por tantas pessoas.

Esse pequeno ser humano que ainda está em formação no ventre da


minha noiva já é amado de uma forma assustadora por mim. Não o planejamos,

mas sinto que ele veio no momento certo. O inesperado muitas vezes reflete o
que desejamos no nosso mais profundo.

— Wesley estava fazendo compras esta manhã para o nosso bebê. — É


impossível não gargalhar com a ligação do meu amigo. — Ele é um grande risco

para os nossos filhos.

— Ele está se divertindo com essa ideia de ser tio.

— Wesley é apaixonado por crianças.

Ao lado da mulher da minha vida presenciei o sol se pôr lentamente, um

simples ciclo natural nunca foi tão especial, tanto que desejei eternizar esse dia

para sempre em minha memória, cada pequeno detalhe, cada sentimento que

tomou conta de mim enquanto ainda estava pensando em como pedi-la em


casamento.
Talvez eu tenha sido a típica adolescente que sonhava em viver um conto

de fadas ao lado de um verdadeiro príncipe encantado, o que automaticamente

me fez imaginar infinitas vezes em como eu seria pedida em casamento. Mas

com o passar do tempo fui aprendendo que a vida não é como um conto de

fadas, então fui obrigada a deixar meus sonhos bobos para trás e me conformar
com a realidade.

Assim que saímos da plantação onde fui pedida em casamento, Dom

insistiu em me vendar por uma segunda vez, dizendo que as surpresas ainda não
haviam chegado ao fim.

Abro os olhos quando o sinto retirar o tecido que me impedia de


enxergar, não contendo o sorriso assim que vejo uma mesa no centro do jardim.

A única luz provém das lâmpadas que estão em volta das árvores.

Tenho a sensação que estou dentro de um livro de romance clichê, mas as

vezes tudo que precisamos é de um gesto clichê, como ganhar flores. Caminho

pelo estreito caminho de pedras que levam até a mesa acompanhada por
Dominic.

— Minhas flores favoritas. — Aponto para os lírios perfeitamente


posicionados no vaso de cristal no centro da mesa de madeira rústica.

— Fui a floricultura para escolher os mais belos lírios. — Comenta,

puxando a cadeira para que eu me sente, fazendo o mesmo em seguida. —

Quando os vi tinha certeza que amaria.

O amor habita nos detalhes que parecem insignificantes. Para se


demonstrar que ama não é necessário planejar grandes surpresas muito bem-

preparadas.

Desde que decidi que daria uma segunda chance para Dominic venho o

avaliando dia após dia, e me surpreendo em ver seu empenho para me ver sorrir,
mesmo que seja com coisas bobas.

Dom nunca será o companheiro completamente perfeito, assim como eu

também não serei, afinal somos seres humanos sujeitos a errar sempre. A
diferença é que vejo seu esforço em tentar ser a melhor versão de si dia após dia.

Não posso dizer que fui a culpada pela mudança de Dominic, porque sei
que não sou, nenhum ser humano ter o poder de mudar o outro. Dom mudou por

livre espontânea vontade. Sinto orgulho dele por tal feito, mudar hábitos e

pensamentos é mais difícil do que imaginamos, não se trata de um processo

fácil, é algo gradativo.

— Parece que quis me agradar em cada pequeno detalhe. — Comento


quando o garçom nos serve com suco de uva.

— Sempre. — Pisca, sorrindo de forma singela. — Já que não está


podendo ingerir bebidas alcoólicas, optei pelo suco de uva. Quando nosso filho

nascer farei questão de abrir o melhor vinho da adega.

Fito o anel presente em meu dedo anelar, ainda não acreditando que estou

noiva.

— Qual o menu de hoje? — Pergunto, em um tom de voz divertido.

Dom começa a dizer o que teremos para o jantar, fazendo questão de


explicar o motivo pelo qual escolheu cada prato.

O restante da noite transcorreu calmamente, nosso jantar foi regado de


conversas agradáveis sobre os preparativos para o nosso casamento. Talvez eu

esteja enganada, mas tenho a leve impressão que Dominic está mais animado
que eu, pois parece já ter escolhido até o local da cerimônia.
São exatamente 00h00 quando Dom estaciona o carro em frente à sua

casa, vindo rapidamente abrir a porta para mim, como o bom cavalheiro que é.

— Irei estacionar o carro na garagem. — Avisa, me dando um selinho.

Subo os primeiros degraus que levam até a porta de entrada, girando a

maçaneta dourada, sorrindo ao ver minha filha dormindo nos braços da avó a

poucos metros de distância. Os brinquedos espalhados pelo tapete felpudo da

sala de estar mostram que a noite da mãe do Dominic foi bastante animada.

Aproximo das duas com a pouca luz que a lareira emana, vendo o quanto

o ambiente está agradável. Deixo a bolsa na mesa de centro com cuidado para

não provocar nenhum barulho e acabar acordando minha filha, parando ao lado

de Verônica.

— Sinto falta de quando Dom ainda era um bebê que amava dormir em

meus braços. — Comenta, passando os dedos entre os fios escuros do cabelo de


Bela, que dorme calmamente em seus braços.

— Creio que também sentirei falta quando Bela estiver adulta. — Sento-

me na poltrona ao lado de Verônica, focando o olhar na lareira.

— Nos últimos dias estive pensando em adotar uma criança, até comentei
com meu esposo, que apesar de achar loucura amou a ideia.
Olha-a surpresa.

— A adoção é uma ótima escolha, Verônica, e não acho loucura seu


desejo de adotar uma criança.

— Não sou mais uma jovem, o que me impede de gerar uma vida da

maneira convencional, e para ser sincera, esse nem é o meu desejo. Quero gerar
um filho do coração. Me perdoe por não ter sido gentil com você em nosso

primeiro encontro, Sophia. — Fica em silêncio, parecendo selecionar


cuidadosamente suas próximas palavras. — Nunca havia visto Dominic tão feliz

como tenho visto nos últimos dias. Não existe nada melhor para uma mãe do que

ver que seu filho está feliz.

— Tudo bem.

Não preciso ser melhor amiga da Verônica, mas precisamos ter um bom
relacionamento para o bem dos meus filhos e do meu noivo.

— Boa noite, mulheres da minha vida! — Dom cantarola, assim que

entra na sala de estar, indo diretamente até sua mãe. — Estava com saudades da

minha princesinha. — Com uma delicadeza imensa, Dom pega Bela nos braços,
plantando um beijo em sua testa.

— A leve para o quarto, meu filho, enquanto isso vou preparar um chá

para mim e para a Sophia. — Verônica se coloca de pé, passando as mãos sobre
o vestido.

Levanto-me, indo até Dom, beijando a bochecha da minha pequena, que


suspira com meu toque.

— A mamãe te ama. — Sussurro, para Bela.

Assisto Dom caminhar até as escadas, seguindo até o segundo andar da

casa, assim que o perco de vista, vou de encontro a Verônica, que já me aguarda

na cozinha. Ocupo a cadeira da pequena mesa de vidro, vendo Verônica sentar-se


à minha frente, colocando a chaleira com água quente no centro da mesa.

— Me conte, como foi o pedido de casamento? — Pergunta, apontando

para o anel em meu dedo, nos servindo com uma xícara de chá. — Quando falei
com Dom pela última vez pensei que meu filho teria um ataque do coração por

conta do nervosismo, ele estava morrendo de medo que você dissesse não.

— Foi perfeito. Dom é um bobo por pensar que eu diria não. — Pego o

adoçante, colocando algumas gotas em minha xícara. — Estou tão ansiosa para
começar os preparativos do casamento.

— Se precisar de ajuda, sabe que pode contar comigo. — Verônica sorri,

direcionando o olhar para o relógio dourado em seu pulso, arregalando os olhos

em seguida. — Fiquei tão entretida com a Bela que nem percebi o passar das
horas, disse ao meu marido que não voltaria tão tarde, preciso ir. Nos vemos
amanhã, Sophia. Tenha uma boa noite.

— Boa noite, Verônica!

Acabo de tomar meu chá, seguindo até o quarto que venho dividindo
com Dom nos últimos dias, aos poucos acabei me mudando para esta casa sem
que ao menos percebesse. Abro a porta, percebendo que Dom não está no

cômodo.

Sento-me na beirada da cama, retirando os saltos, sentindo meus pés

agradecerem por finalmente estarem completamente livres. Retiro os brincos,

colocando-os sobre o criado mudo, amarrando o cabelo, fazendo uma massagem


em meu pescoço. Meu corpo está implorando por um banho relaxante depois do

dia repleto de surpresas.

— Se soubesse que estava aqui teria vindo antes. — Dom diz no instante

em que entra no quarto, se sentando ao meu lado da cama. — Bela acordou

quando a coloquei no berço e precisei cantar para que ela dormisse. Minha mãe

já se foi?

— Sim, ela não havia percebido que estava tão tarde. — Apoio a cabeça

no ombro do meu noivo. — O que acha de preparar um banho para nós? —

Tento fazer a típica cara de coitada que uso quando quero algo.

— Seu pedido é uma ordem, senhorita. — Dom sorri, beijando a ponta

do meu nariz, acariciando suavemente minha barriga antes de se levantar.

O analiso seguir até o banheiro, repassando tudo que aconteceu nas


últimas horas, acho que meu cérebro está com uma certa dificuldade para

processar o fato de que estou noiva e me casarei nos próximos meses. Tenha a
impressão que estou vivendo um sonho e que a qualquer momento acordarei

com o som estridente do despertador me acordando para a realidade.


Deito-me na cama, fechando os olhos, aguardando que Dom prepare
nosso banho.
Adentro a loja de vestidos de noivas, ficando um tanto perdida por onde

começar, já que existe inúmeros modelos. Passei a madrugada pesquisando sobre

vestidos de noiva na internet, perdi a conta de quantos modelos vi e não gostei.

Levei um susto quando acordei com a ligação da mãe de Dominic ainda


pela manhã me convidando para começarmos a procurar o vestido de noiva.

— Bom dia, sejam bem-vindas. — A atendente da loja nos cumprimenta.

— Eu amo lojas de vestidos de noivas. — Evelyn comenta, enquanto


passa os dedos sobre o tecido dos vestidos disponíveis na arara de roupas. — O
que acha desse modelo, Sophia?

Encaro o vestido com uma quantidade excessiva de tecido, não me


agradando com o modelo extremamente chamativo, chegando a conclusão de
que ele não combina nada comigo.

— Não quero algo tão chamativo, prefiro um vestido mais simples e sem

tanto tecido. Temos que nos lembrar que até o casamento eu estarei com algumas

medidas a mais por conta da gravidez, preciso de um vestido que me deixará


confortável.

— Tinha me esquecido que você vai estar barriguda, então podemos


esquecer esse aqui. — Evy diz chateada, colocando o vestido novamente na

arara de roupas.

— O que acha de pedirmos um modelo sob medida? Assim você poderá

escolher cada pequeno detalhe de acordo com sua preferência. — Verônica

sugere, se colocando ao meu lado, fazendo uma careta ao observar os vestidos a

nossa frente.

— Apoio a ideia da sua sogra, será ótimo fazer um vestido do jeito que

desejar.

— Tudo bem.

— Que ótimo! — Verônica comemora, abrindo um largo sorriso. —


Conheço uma estilista muito talentosa que tem um ateliê a algumas quadras

daqui.

— O que estamos para irmos até lá? — Evelyn pergunta. — Temos


pouco tempo para organizar todos os detalhes do casamento.
— Sua amiga tem razão, Sophia. Marquei horário com uma
cerimonialista ainda esta tarde, ela irá nos auxiliar com os detalhes mais

improváveis.

— Não sei como vamos conseguir organizar todo um casamento em tão

pouco tempo. Dom é maluco em optar por se casar em tão pouco tempo.

A manhã foi uma verdadeira loucura, após sairmos da loja de vestidos de

noiva fomos diretamente para o ateliê que Verônica havia nos indicado, onde
passei três horas descrevendo como queria o vestido, enquanto a estilista tirava

minhas medidas. No final fiquei mais que satisfeita com o esboço do desenho do

meu vestido de noiva.

Ainda pela manhã também tive a primeira reunião com a cerimonialista,

e posso dizer que por alguns instantes cheguei a cogitar a possibilidade de ficar

louca até a data do casamento por conta de tantos detalhes.

— Quero lírios. — Digo ao florista, passando as páginas de seu

portifólio, admirando os lindos arranjos feitos por ele. — É a minha flor favorita

desde sempre.

— Dom vai precisar vender um dos rins só para pagar os arranjos. —


Evy comenta baixinho, para que apenas eu a escute.

— Ele me deu liberdade para que eu escolhesse todos os detalhes, Evy.


— Dou de ombros.

— Ele não tem noção do quanto é perigoso dizer isso a uma mulher.
— O que acha de um mix com lírios rosas e brancos. — Verônica sugere.

— Gostei da ideia. — Falo, imaginando os arranjos mentalmente,


satisfeita com o resultado.

— Anotei tudo, na próxima semana já envio fotos com a prévia dos

arranjos. — O florista comunica, ainda anotando algo em seu pequeno bloco de


notas.

— Por hoje é só? — Evy pergunta, quando o florista se retira da sala. —

Minha cabeça não aguenta mais ouvir falar de tantos detalhes.

— Por hoje sim. — Verônica confirma, fazendo Evy soltar um gritinho

de comemoração. — Amanhã escolheremos o cardápio.


Me jogo no sofá, tentando não rir ao ver Dom descer as escadas com

Bela nos braços, o semblante de cansaço presente em seu rosto deixa claro que

Bela não facilitou nada para o pai durante o dia.

Pela manhã, Dom se prontificou para passar o dia com nossa filha

enquanto eu estivesse fora, desde o primeiro momento eu soube que Bela

cansaria o pai.

— Como foi passar o dia cuidando da nossa filha? — Estendo os braços


para Bela, que se joga em meus braços sorridente.

— Você merece o mundo por ter cuidado dela por tanto tempo sozinha.

— Senta ao meu lado, massageando as têmporas. — Nunca andei tanto em

minha vida. — Confessa.

Comprimo os lábios, tentando não rir.

— Ainda quer ter muitos filhos?

— Com certeza.

— Acho que precisarei de uma boa massagem nos pés, sua mãe me fez
andar tanto.

— Me descreva a sensação de se estar preparando tudo para o casamento.


— Um misto de desespero com felicidade. Estou me sentindo no final de
algum daqueles filmes de comedia romântica, onde a mocinha finalmente está

tendo o final feliz. — Sorrio ao me recordar do quanto amava esses filmes na

adolescência.

— Amanhã te acompanharei. — Dom diz, acariciando minha bochecha


com o polegar. — Mamãe me disse que vão escolher o cardápio.

— Então já vai se preparando psicologicamente, sua mãe irá te


enlouquecer quando chegarmos lá. — Tento conter a risada.

— Estou acostumado com a empolgação de dona Verônica quando se

trata de preparar alguma festa. — Pisca, sorrindo em seguida. — Na infância ela

me deixava louco quando estava próximo ao meu aniversário com os

preparativos. Minha salvação foi aos dez anos de idade, quando Wes me deu a

brilhante ideia de trocar as festas de aniversário por uma viagem em família.

— Wesley tem uma mente diabólica. — Faço uma careta.

— Ele é a mente maligna para nós dois. — Dom dá de ombros, dando

uma gargalhada.
Confiro se Bela dormiu, saindo de seu quarto, deixando a porta

entreaberta. Minha pequena estava exausta, um forte indício que deu bastante

trabalho para o pai durante o dia. Desço as escadas, atravessando a sala de estar,

entrando na cozinha.

— Acho que o meu bebê se encontra desesperado por um doce. —

Comento, ao adentrar a cozinha, sentindo um cheiro maravilhoso.

Doce tem sido meu maior desejo até o momento, tenho a leve
desconfiança de que conseguiria falir Dom caso entre em alguma loja de doces.

Na gravidez da Bela tive desejo de absolutamente tudo, quando não

estava enjoada comia como um dragão tudo que encontrasse pela frente, o que

me rendeu uns bons quilos a mais no final da gestação.

— Para a sua sorte acabei de tirar uma torta quentinha do forno. —

Vanessa aponta para a mesa, onde há uma forma.

Ocupo uma cadeira na mesa, sentindo minha boca salivar ao observar a


torta a minha frente. Acho que nunca quis tanto comer algo na vida.

— O que acha de tomar conta do buffet da festa? — Pergunto, para

Vanessa, enquanto ela me serve uma fatia de torta de maça. — O sabor da sua
comida é sensacional.
— Tem certeza, senhorita?

— Claro que sim. Dom te pagará pelo serviço.

— Será uma honra participar desse momento tão especial para o meu

menino. — Seus olhos brilham no instante em que fala de Dominic. — Nunca o

vi tão radiante, e olha que eu conheço Dom há muitos anos. Você e Bela
trouxeram vida para essa casa.

— Ele está me fazendo tão bem. Eu não fazia ideia de que o amor

poderia ser um sentimento tão lindo.

— Vai ver que ficará ainda mais lindo com o passar dos anos.

Não sei o que o futuro nos reserva, só espero do fundo do meu coração

envelhecer ao lado de Dom.


Aguardo ansiosamente pelo dia de nosso casamento desde que a
reencontrei e tive a oportunidade de fazer tudo diferente. Posso afirmar que

estou em uma contagem regressiva para ter Sophia oficialmente como minha

esposa.

Enxugo as mãos na calça, elas estão transpirando de puro nervosismo.

Nunca me senti tão ansioso por um momento em minha vida.

— Será que ela vai vir? — Pergunto, ao Wesley, direcionando o olhar


para o tapete onde Sophia deveria ter entrado a exatamente trinta e cinco
minutos atrás. — Talvez ela tenha desistido de última hora.

— Não seja idiota. — Wesley revira os olhos. — Nunca foi a casamentos


antes? As noivas sempre atrasam, creio que deve ser algum tipo de tradição

esquisita.

— Estou com medo de sofrer um infarto fulminante. — Afrouxo um

pouco a gravata, respirando fundo.

— Para de ser dramático! — Wesley repreende. — Noivas sempre


atrasam.

— Você tem razão. Noivas atrasam. — Repito em alto e bom som, para

não acabar tendo um ataque cardíaco.

— Preparou os votos?

Retiro o papel amassado de dentro do bolso do blazer, relendo as

palavras que escrevi na noite em que a pedi em casamento.

— Estão prontos há muito tempo. — Volto a guardar o papel.

O celular de Wesley apita, indicando a chegada de uma nova mensagem.

Ele retira o aparelho do bolso da calça, sorrindo ao ver o conteúdo.

— Sua noiva está pronta, vou buscá-la. — Conta, guardando o celular. —

Tente não morrer, volto em poucos minutos.

Apenas assinto que sim com um aceno, vendo meu amigo dar a volta no
altar, indo em busca da minha noiva.
Passo a ponta dos dedos pelo tecido rendado do vestido, pairando a mão

sobre a barriga pontuda, a renda florida combinou muito bem com o modelo

escolhido por mi,. Meu menino me acompanhará até o altar.

Há algumas semanas descobrimos que temos um menino a caminho. Sei

que tenho uma nova experiência pela frente, afinal descobrirei como é ter um

pouco de azul em meu mundo rosa.

O tempo está passando em um piscar de olhos, tenho a breve impressão

de que fui pedida em casamento na semana passada, e não a cinco meses atrás.

— Você está linda, Sophia. — Verônica elogia, ficando com os olhos

marejados. — Sempre quis que Dominic se casasse, e fico feliz por ele estar

fazendo isso com você. Tenho certeza de que serão felizes.

— Obrigada!

— Não vamos chorar.

A felicidade pode ser momentânea ou duradoura, tudo depende de você.

— Esse bebê está tão agitado hoje. — Apoio a mão na barriga, sentindo

meu príncipe se mexer. — Está contente por o papai e a mamãe estarem se


casando? — Pergunto, recebendo como resposta um leve chute.

— Me diga que está pronta, ou ficará viúva antes mesmo de se casar. —


Wes diz, ao entrar no quarto.
— Por quê? — Questiono, dando uma última olhada no espelho.

— Aquele bobão está pensando que você desistiu de se casar com ele. —
Wesley se aproxima. — Vamos?

— Dom é mesmo um bobo, eu jamais desistiria de me casar com ele. —

Pego o buque de lírios brancos com flores do campo.

— Tem certeza de que não quer fugir? — Wesley pergunta, com uma

pitada de humor presente em sua voz. — Eu sei o quanto Dominic pode ser

ranzinza as vezes.

— Não quero fugir, estou tão ansiosa quanto Dom.

Seguro no braço do Wes, saindo do quarto, descendo as escadas, saindo

da casa de campo da família do Dom. O jardim está completamente decorado

com cores claras.

Resolvi entrar acompanhada por Wesley, já que não fazia muito sentido

meu pai me levar até o altar. Dou uma olhada rápida para os convidados, vendo

que meu pai veio juntamente com Sabrina.

O caminho delimitado por pétalas de rosas brancas me faz imaginar que


estou dentro de um sonho, eu já sabia de cada pequeno detalhe da decoração,

afinal escolhi tudo, mas ver tudo pessoalmente é completamente diferente.

Caminho até Dom, esquecendo das dezenas de pessoas ao meu redor,


focando unicamente nele, que também parece estar como eu.

— Cuide muito bem dela, ou quebrarei sua cara.


— Pode ficar tranquilo, cuidarei bem dela. — Dom se vira para mim no
instante em que Wes se afasta. — Você está simplesmente perfeita. — Sussurra,

mantendo o olhar fixo ao meu, deixando que uma lagrima escorra por seu rosto.

— Te amo, Dominic.

— Eu também te amo. — Dominic segura em minha mão, plantando um


beijo em minha testa, me incitando a ficar de frente para o cerimonialista.

Um vento suave toca minha pele, e eu sinto como se fosse uma

confirmação do universo, estou fazendo a coisa certa, me casando com o amor


da minha vida.

O cerimonialista começa a dizer as primeiras palavras, e eu me concentro

em tudo que está dizendo.

— A cada dia que passa estou aprendendo a te amar ainda mais, loira. Os

últimos meses que passamos juntos foram os mais felizes da minha vida, e eu
tenho plena certeza de que desejo passar o restante dos meus dias ao seu lado.

Não te prometo uma vida sem problemas, mas prometo estar ao seu lado em

cada um deles para que possamos os resolver juntos.

— Eu, Sophia Brant, aceito você, Dominic Watson, como meu legítimo
esposo e prometo amar-te e respeitar-te na alegria e na tristeza, na saúde e na

doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias da minha vida, até que a
morte nos separe. — Digo, colocando a aliança em seu dedo, mantendo o olhar

fixo ao seu.
— Eu, Dominic, aceito você, Sophia Brant, como minha legítima esposa
e prometo amar-te e respeitar-te na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na

riqueza e na pobreza, por todos os dias da minha vida, até que a morte nos

separe.

— Te amo. — Sussurro, vendo-o deslizar a aliança em meu dedo anelar.

— Te amo tanto que chega a doer. — Sussurra de volta.

Agora pertencemos oficialmente um ao outro.


4 meses depois...
Estou com trinta e cinco semanas de gestação, ou seja, logo conhecerei

meu menino. Minha barriga está gigantesca, parece que a qualquer momento

posso explodir.

Foi uma briga para escolhermos o nome no bebê, todos queriam opinar,

Wesley chegou a preparar uma lista com os possíveis nomes. Depois de muito

discutirmos decidimos que o nosso príncipe irá se chamar Edward.

Sou uma mãe tremendamente adiantada, quando descobri o sexo do meu

bebê já comecei a montar o quarto dele. Tudo já está pronto para a chegada do

meu menino.

— Amor, vamos descer para tomar café da manhã? — Meu marido

pergunta, me abraçando por trás.

— Vamos, estou faminta. — Respondo me virando, dando um selinho

nele.

— Hoje terá uma festa de um sócio meu, você vai comigo?

— Dom, estou feia, gorda, inchada. — Aponto para o meu corpo


inchado. — Nenhuma roupa entra em mim, aposto que lá só terá mulheres

perfeitas, eu vou me sentir mal em ser o patinho feio da festa.

Ele sorri.

— Meu anjo, você é a mulher mais linda que existe no mundo, e está
mais linda agora que está grávida. Nenhuma mulher é capaz de ser tão bonita

quanto você, e essa barriga redondinha te deixou ainda mais perfeita. — Ele

passa a mão na minha barriga. — Chega de se menosprezar.

Abraço ele com os olhos marejados.

Ultimamente ele vem sendo um amor comigo, muito paciente em tudo, o


melhor marido do mundo. Dom também me ajuda muito na questão da beleza, já

que a gravidez mudou muito meu corpo.

— Mamãe. — Vejo a minha pequena entrar em nosso quarto correndo,


pulando nos braços do Dominic.

Bela está bastante esperta, agora já sabe falar "mamãe" e "papai"

corretamente.

— Oi, princesa. — Digo, beijando a bochecha dela. — O que você quer?

— Quelo a vovó. — Fala, fazendo um biquinho, o que a deixa mais fofa

do que já é.

Verônica é outra que baba bastante na Bela, todos os dias faz questão de
vir ver a neta

— A vovó vai vir aqui mais tarde. Agora vamos tomar café da manhã.

Descemos as escadas juntos, a mesa do café da manhã já está posta.

Vanessa nos cumprimenta com um sorriso, ela vem sendo um anjo para mim.

— Bom dia, Vanessa.


— Como esse menininho está? — Pergunta, passando a mão na minha
barriga, assim que ela encosta na barriga Edward se mexe, é como se ele a

reconhecesse.

— Como você pode ver, ele está elétrico, se mexeu a noite inteira.

Dominic até tentou conversar com ele, mas que ouviu a voz do pai ficou mais
agitado do que já estava. — Explico como foi minha noite.

— Nosso menino já está cansado de ficar aí dentro, ele quer vir ao


mundo logo para conhecer a família. — Dominic comenta, colocando Bela na

cadeirinha ao lado dele.

— Imãozinho. — Bela grita, batendo palminhas.

— É, o seu irmãozinho quer te conhecer, Bela. — Digo, passando a mão

no cabelo preto da minha filha, me sentando na mesa ao lado de Dominic.

Durante esses meses venho preparando minha filha para a chegada do


irmão, eu e toda família. Não queremos que ela se sinta esquecida, ou deixada de

lado por conta do bebê.

Me sento no sofá, colocando um filme infantil para assistir com Bela,

Dom saiu há alguns minutos para trabalhar.

Minha família vai além do que eu sonhava. Em meu aniversário de vinte


e um anos de idade, Dominic fez uma festa maravilhosa, até achei um pouco

exagerado. Ele convidou muitas pessoas, alugou um salão de festas gigante, a


festa foi uma surpresa.
Pego um vestido de manga longa florido que fica um palmo acima do

joelho, vestindo-o em seguida, vendo que a peça de roupa marca perfeitamente

minha barriga. Me olho no espelho, constatando que fiquei bonita.

— Já estou com ciúmes, você ficou muito bonita. — Dominic diz, me

analisando.

— Obrigada, amor. — Agradeço o elogio. — Bela já está pronta? —

Pergunto, arrumando a gravata preta dele que estava torta.

— Sim, Vanessa a arrumou.

— Vanessa é um anjo em nossas vidas, não sei o que seria de nós sem

ela.

Dom termina de pentear o cabelo, me acompanhando até o quarto da

Bela.

Ele a pega no colo, já que eu não estou dando conta. A minha barriga já

está bastante pesada para conseguir segurar uma criança nos braços.
Seguro na mão de Dom, enquanto ele me guia pelo tapete branco. O

salão está repleto de mesas da cor dourada, tudo está decorado no estilo clássico

antigo.

Ele me incita a caminhar até um senhor baixinho de cabelos grisalhos,

que está próximo a porta de entrada do salão. Eles se cumprimentam com um

aperto de mão, e logo o homem se vira para mim.

— Dean, essa é a minha esposa Sophia Watson, e essa é a minha filha


Bela. — Ele nos apresenta para o senhor.

— É um prazer te conhecer, Senhora Watson. — Ele segura em minha

mão, e eu retribuo o gesto com um sorriso. — Sua família é muito linda

Dominic.

— Obrigado.

Dom volta a pegar em minha mão, para irmos até a mesma onde está
nossa família.

Sorrio para todos, ocupando a cadeira ao lado de Dom.

— Então, Sophia, eu vou ser o padrinho desse garotão? — Wesley

pergunta de uma forma divertida, ele quer ser o padrinho do nosso bebezinho,
ele já vem pedindo isso há um bom tempo. — Por favor.
— Sim, Wesley, você será o padrinho do Edward, e a minha amiga
Evelyn será a madrinha.

— Eu tenho uma coisa para contar para vocês. — Verônica começa a

falar, ela está com um sorriso lindo no rosto, o que indica que é uma boa notícia.

— Na próxima semana iremos pegar a criança que adotamos. Ele se chama


Leonardo, tem apenas seis anos de idade.

— Que bom. — Sou a primeira a dizer algo sobre a notícia.

Todos ficamos muito contentes, agora é definitivo, vamos ter mais um


membro na família, e ele chegará no próximo mês.

Depois do jantar pedi para Dominic para irmos embora, meu bebê estava

agitado, e quando ele começa a se mexer muito minha coluna fica dolorida, sem

contar que todo meu corpo doe quando fico sentada por muito tempo.
Tiro a minha sapatilha, me jogando na cama. Logo Dom surge em minha

frente com um olhar carregado de malicia.

Ele se aproxima, segurando em minha mão, fazendo com que eu fique de

pé. Fecho os olhos quando ele passa a barba áspera pelo meu pescoço, fazendo

uma trilha de beijos molhados, o que é o bastante para que eu me derreta em

seus braços.

O puxo para mais perto, porém, a barriga atrapalha um pouco. Ergo os


braços para que ele retire meu vestido.

Com carinho e paciência nos amamos lentamente por boa parte da

madrugada.
Agora é oficial, a qualquer momento meu bebê pode nascer, já estou com

nove meses de gestação. Eu optei pelo parto normal, e estou na doce espera.

Nessa última semana Edward está bastante agitado, é até difícil dormir a noite, já

que ele não quieta. Acho que ele pensa que a minha barriga é uma espécie de

pula-pula para ele ficar nessa festa toda.

Fecho os olhos, apreciando a massagem que Dominic está fazendo em


meus pés, que estão parecendo dois pãezinhos de tão inchando que estão. E o

pior, eles doem muito, eu mal consigo andar por conta da dor e a falta de ar.

Ele se coloca de pé, indo até o closet pegar um paletó preto para poder ir
finalmente trabalhar.
Levanto-me para ir pegar o robe, mas assim que coloco os pés no chão,
sinto uma dor terrível e um líquido quente escorrer por minhas pernas.

Minha bolsa estou, tenho certeza!

— Dominic — Grito, um tanto desesperada, voltando a sentar na cama.

Ele sai rapidamente do closet, vindo até mim com uma expressão

carregada de preocupação.

— O que foi, meu amor?

— A bolsa estourou — Faço uma careta de dor. — O nosso bebê vai

nascer.

— Fique calma, vou ligar para minha mãe enquanto você troca de roupa.

— Diz rapidamente, andando de um lado para o outro do quarto, aparentemente


apavorado com a ideia de que nosso filho vai nascer.

— Fica calmo, d por favor pegue aquele vestido ali. — Aponto para um

vestido que está perto do closet, jogado sobre uma cadeira.

Faço uma careta de dor quando outra contração me atinge. Coloco a mão

na coluna, concentrando na respiração até que a dor passe.

Tiro a minha camisola, vestindo o vestido com a ajuda de Dominic.

— Vá até o quarto do bebê e pegue a bolsa dele que já está pronta em


cima da cômoda. — Digo rapidamente para ver se ele reage de alguma forma,

porque ele está parecendo um retardado.


Minutos depois ele retorna com a bolsa verde do meu bebezinho. A partir
daí tudo aconteceu muito rapidamente, quando dei por mim já estava dentro do

carro a caminho do hospital. O trajeto não foi nada tranquilo, e parece ter durado

uma verdadeira eternidade.

Quando chegamos ao hospital Dominic me acompanhou até em todos os


procedimentos iniciais.

— Está doendo muito? — Meu marido pergunta, retirando os fios de


cabelo que estão grudados em minha testa por conta do suor abundante.

— Muito. — Respondo choramingando. — Já tinha me esquecido do

quão terrível essa dor é.

— Fica calma.

— Ahhh! — Grito, apertando a mão de Dominic com força, tentando não

chorar. Quando sinto que a dor passa abro os olhos. — É um pouco difícil ficar
calma, dói muito.

— Estou com você, meu amor, ao seu lado. — Diz, me dando um


selinho.

— Eu te amo. — Digo ofegante.

— Eu também te amo.
Depois de quatro horas sofrendo com contrações finalmente já está na

hora de dar à luz ao meu filho. Minhas forças já estão quase esgotadas quando

me levam para o centro cirúrgico.

Sinto uma paz enorme quando vejo Dominic entrar já devidamente

vestido para assistir o parto.

Não vejo a hora de ver o rostinho do meu bebê, ver se ele será loirinho

ou moreno como o pai, se vai nascer com o meu temperamento ou não.

— Seja forte loira, em poucos minutos vamos ver o rostinho do nosso

Edward. — Ele beija a minha testa, segurando minha mão.

— Pronta Sophia? — A médica pergunta.

— Sim. — Respondo firme.

Olho para o Dominic que sorri.

— Quando vier a contração você empurra o bebê está bem?

Aceno em concordância.

A contração vem e eu empurro o bebê com força, tenho quase certeza que
quase quebrei a mão do Dominic pela força que usei para apertar. Dominic me

incentiva com um olhar terno, ele sabe que estou quase no meu limite, minha
testa já está banhada pelo suor.

Fecho os olhos e busco forças.

Na quinta tentativa já estou completamente fraca, deixo algumas

lágrimas caírem, meu corpo todo está dolorido, não aguento mais essa dor.

Tenho medo de não dar conta de trazer meu bebê ao mundo e algo de ruim
acontecer com ele.

— Empurra, Sophia, ele já está vindo. — A médica fala calmamente.

Fecho os olhos e empurro meu bebê com força, agarro a mão do meu

marido. A sala é preenchida por um choro forte e alto. Olho para Dominic que

está com os olhos marejados olhando para a enfermeira que pega o nosso bebê.

— Ele é lindo, meu amor. — Dominic diz, deixando algumas lágrimas

escorrerem pelo rosto.

Minutos depois a enfermeira retorna com o bebê enrolado em uma manta

da cor azul. Ela me entrega Edward, e eu não consigo me conter, acabo deixo

mais lágrimas caírem. Seguro ele com todo amor do mundo, passando a mão no
rostinho pequenininho do meu filho.

— Ele é loirinho igual a você. — O Dominic constata, olhando para o

bebê enquanto acaricia o cabelinho loiro e ralo de Edward.

— Sim.

O nosso bebê abre os olhos e nos sorrimos para ele, os olhos de Edward
são azuis como o do pai. Ele é tão lindo, é uma bela mistura minha e de
Dominic.

— Oi garotão. Você é muito lindo, e ainda por cima nasceu com os olhos
iguais aos meus. — Ele pega na mão de Edward, que agarra o dedo do pai.

— Bem-vindo amor da mamãe.

— Desculpem atrapalhar os papais, mas eu preciso levar o bebê para

fazer alguns exames, e a senhorita Brant precisa ir para um quarto. — A

enfermeira diz, pegando meu bebê. — Prometo que mais tarde levarei o seu

bebê, ele é lindo, parabéns.

— Vou aguardar ansiosamente.

Como eu queria ficar com ele, tê-lo pertinho de mim, sentir o calor do

corpo dele, sentir o cheirinho de bebê, mas entendo que ele precisa fazer alguns

exames para ver se está tudo bem, aparentemente Edward parece estar bem, mas

é sempre bom ter total certeza. A saúde dele vem em primeiro lugar, e eu terei
uma vida inteira para mimá-lo.

Sou levada para um quarto, e as enfermeiras me aconselham a descansar.

Assisto Dom pegar uma cadeira e se sentar ao meu lado, ele também está
aparentemente cansado. Meu marido sussurra um "durma" e é o bastante para

que eu feche os olhos e deixe o cansaço me levar para um sono profundo.


Acordo com o barulho das vozes no quarto. Abro os olhos, vendo meus

sogros, e logo atrás Evelyn.

— Oi, minha querida, como está se sentindo? — Verônica pergunta, se

aproximando da cama que estou deitada.

— Bem, só um pouco dolorida. — Respondo, me sentando na cama,

fazendo um coque frouxo no cabelo.

A porta se abre e a enfermeira entra segurando meu pequeno Edward nos

braços.

— Como eu havia prometido, aqui está seu bebezinho — Ela me entrega

o meu pequeno, que está enrolado em uma manta azul, vestindo um macacão

branco com detalhes na cor azul. — Você já pode amamentá-lo, sabe


amamentar? — Pergunta atenciosa.

— Sim, tenho uma filha, mas se precisar te chamo.

Ela sorri e sai do quarto.

— Como meu netinho é lindo. — Verônica comenta, olhando para o meu


bebê, que ainda não abriu os olhinhos. — É loirinho.

— E tem olhos azuis, mãe. — Dominic se manifesta, passando a mão


levemente na cabeça do Edward. — O menino é lindo.

— Parabéns, amiga. O bebê de vocês é muito lindo. — Evelyn diz,


próxima de mim. — Não vou poder ficar aqui, mas amanhã eu venho visitar

vocês.

— Vou te esperar, e o seu afilhado também.

Ela sorri, dando um beijinho na bochecha do meu filho, indo embora.

Foi tão bom poder amamentar meu filho pela primeira vez, ele é bastante

guloso, assim que eu coloquei o peito próximo a boca dele Edward começou a

mamar. Em nenhum momento enquanto eu o amamentava o bebê abriu os olhos

azuis, com certeza será um bebê bem preguiçosos.

Dominic pega Edward, colocando-o deitado no berço ao lado de minha

cama, sentando-se ao meu lado, começando a fazer carinho em meu cabelo, o

que faz com que eu adormeça com facilidade.


Pego o bebê enquanto Sophia desce do carro, depois de dois dias no
hospital finalmente eles receberam alta. Graças a Deus a Sophia está bem e meu

filho nasceu esbanjando saúde. Confesso que quando a vi sofrendo as dores do

parto entrei em desespero, mas tentei não demonstrar para não a deixar ainda

mais apavorada. Todo o meu nervosismo se esvaiu quando ouvi o choro do meu
filho, foi um dos momentos mais importantes da minha vida, nunca havia
presenciado o nascimento de uma nova vida.

Passo um braço pela cintura da minha esposa, a ajudando a subir os

degraus que levam até a entrada de nossa casa, o bebê ainda está dormindo
tranquilamente. Abro a porta, deixando que Sophia entre primeiramente, Bela é a
primeira a vir em nossa direção sorrindo.

— Chegamos com seu irmão, filha. — Sophia conta, apontando para


Edward, que ainda está dormindo. — Diga oi para o pequeno Edward, ele te ama

muito.

Sorrio ao ver o jeito carinhoso que minha mulher está explicando para
Bela.

— Oi, neném. — Minha filha diz, encarando o bebê. — Imazinho? —

Pergunta, apontando para Edward.

— Sim, filha. — Confirmo. — Você quer pegar nele? — Me aproximo

dela com o bebê.

Ela passa a mão minúscula no rosto do irmão, sorrindo para o bebê,

completamente encantada por ele. Um momento como esse me faz perceber o

quanto essas duas mulheres e esse garotão fazem minha vida perfeita.

Ajudo Sophia a sentar-se no sofá, entregando Edward para ela. Bela por

pura iniciativa se senta ao lado da mãe, olhando para o bebê fixamente.

Demora poucos segundos para Vanessa vir até nós como um furacão.

— Vocês chegaram — Comemora, se aproximando. — Meu Deus! Ele é


a coisa mais linda do mundo. Nasceu loiro igual a mãe.

— Mas nasceu com meus olhos. — Me gabo pela semelhança. — Ele é


lindo igual ao pai.

— Você é muito convencido, amor. — Sophia diz, dando um tapa em


meu ombro. — Cadê a Verônica e o Marco, Vanessa? — Pergunta, ajeitado o
bebê nos braços, Edward resmunga por ser incomodado, porém, não acorda.

— Eles estavam aqui mais cedo, mas o menino Leo passou mal e eles

tiveram que levá-lo ao hospital. Não foi nada grave, apenas uma virose, eles

mandaram desculpas por não estarem aqui, e avisaram que em breve vão vir
visitar vocês. E enquanto Verônica não estiver aqui posso te ajudar com as

crianças, Sophia. — Oferece ajuda. — Eu vou fazer uma sopa para você

almoçar, menina, precisa se alimentar bem.

— Obrigada pela gentileza. — Sophia agradece.

— Quero me deitar um pouco Dominic, vem comigo?

— Claro. — Me levanto. — Vanessa eu e a Sophia vamos subir fique de

olho na Bela, por favor. — Grito para a Vanessa, que estava indo para a cozinha.

Subimos as escadas juntos, seguindo até o quarto de Edward. Sophia o


deixa no berço e beija a testa dele, ligando a babá eletrônica antes de sairmos do

quarto. Vamos até o nosso quarto, onde ajudo minha esposa a se deitar, ocupando

o espaço ao seu lado.

Um choro alto atrapalha o nosso momento de paz, que não chegou a


durar nem míseros segundos.

— Com certeza ele estranhou o quarto. — Sophia comenta, com um

olhar cansado.

— Eu vou ver o que aquele bebê chorão quer. — Levanto-me da cama.


— Descanse um pouco, você está bastante cansada, eu tomo conta de tudo.

Saio de nosso quarto, indo de encontro ao meu menino, abro a porta,


vendo-o vermelho de tanto chorar. Pego ele no colo, o deitando em meu peito,

sentando na cadeira de amamentação, fazendo carinho nas costas de Edward,

que aos poucos vai se acalmando.

— É filho, acho que aquele berço só pode ter espinhos ou você prefere o

colo do seu papai. — Digo, divertido.

Aposto que ele nem me ouviu, já que voltou a dormir calmamente.


Fico descansando por um tempo, já que o Dominic se dispôs a cuidar do

bebê chorão.

Olho para o relógio no criado mudo, constatando que já está na hora de

amamentar meu pequeno. Levanto, indo até o quarto, sorrindo ao ver Dom na

poltrona de amamentação com nosso filho.

— Preciso trocar a fralda dele e amamentá-lo. — Explico, pegando o


bebê nos braços. — A fralda dele não está com um cheiro muito bom. — Faço

uma careta ao colocá-lo no trocador de fraldas.

Depois de trocar a fralda suja sento-me na poltrona de amamentação,

começando a alimentar meu filho que aparenta estar faminto.

Durante os próximos trinta minutos me dedico a observar meu pequeno

anjo mamar até adormecer em meus braços.

— Ele é guloso. — Dom comenta. — Obrigada por me fazer o homem

mais feliz do mundo.

— Você que me faz a mulher mais feliz do mundo. — Me viro e dou um


selinho nele.

— Mamãe — Ouço a voz da Bela.

— Shh. — Coloco o dedo carinhosamente na boca dela. — Não pode


gritar, meu amor, se não o seu irmãozinho vai se assustar e chorar. Está bem?
Ela concorda.

— Comer, mamãe. — Diz, apontando para fora do quarto, com certeza


Vanessa já deve ter preparado o almoço e mandou Bela vir nos avisar.

— Vamos comer, princesa linda. — Beijo a bochecha dela, a

acompanhando para fora do quarto, descendo as escadas com a ajuda de Dom.

Nos sentamos na mesa e logo Vanessa nos serve com uma deliciosa sopa

de legumes.

— Família querida — Me viro, vendo Wesley vir em nossa direção com

um largo sorriso nos lábios.

— Titi. — Bela grita, animada por ver Wesley. Ele a mima muito, faz de

tudo, até entope a menina de doces. — Titi.

— Oi, bebê do titio. — Ele diz, pegando Bela da cadeirinha, a colocando

nos braços. — A cada dia você está maior, daqui a pouco já vai estar

apresentando um namorado para seu pai.

Dominic lança um olhar mortal para ele.

— Minha filha não vai apresentar porra nenhuma de namorado. — Rosna


do outro lado da mesa.

— Oi, loirinha. — Ele me cumprimenta, dando um beijo na minha

bochecha.

— Oi Wesley, sente-se e almoce conosco. — Convido ele para almoçar


conosco.
— Obrigado pelo convite, mas eu já almocei. — Responde, sorrindo ao
colocar Bela novamente em sua cadeira. — Cadê o meu pequeno afilhado?

— Está no quarto dormindo.

— Não entendo o porquê que bebês recém-nascidos têm que dormir

tanto.

Acho que seria impossível me sentir mais feliz, tenho um ótimo marido,

dois filhos maravilhosos e saudáveis, a família de Dominic que

consequentemente acabou me acolhendo.

Há quase dois eu estava perdida, sem saber o que fazer da minha vida,

não sabia como iria cuidar do bebê que estava dentro de mim. Como Evelyn diz:

antes do arco-íris você tem que enfrentar uma tempestade.


Peço para o motorista que Dominic contratou, que me leve até a casa de

Evelyn, segundo meu marido, não sou muito confiável atrás de um volante.

Edward está com um pouco mais de um mês de vida, ainda estamos no

período de privação de sono, afinal o pequeno acorda diversas vezes durante a


noite.

Trinta minutos depois o motorista estaciona em frente à casa da Evelyn,

vindo abrir a porta para mim. Retiro Edward de seu acento, enrolando-o com
uma manta azul de tricô, que foi feita por Verônica, saindo do veículo.

— Sophia — Ouço uma voz me chamar, e me surpreendo ao me virar.

Minha mãe está a alguns metros de distância, sua aparência não está das
melhores, seu olhar está cansado, e as olheiras abaixo dos olhos indicam que não
está dormindo nada bem.

— Olá, mãe. — Cumprimento-a, um pouco receosa. — Como a senhora

está?

Durante toda minha gestação ela não fez questão alguma de estar
presente, sequer uma ligação recebi de sua parte. Eu também acabei me

afastando completamente, apenas enviava dinheiro todos os meses para que ela
pudesse se manter.

Ela se aproxima, parando a minha frente.

— Precisamos conversar, minha filha. Se incomoda de ir até minha casa?

O primeiro susto vem com as palavras “minha filha”.

— Tudo bem. — Respondo, com a voz vacilante. — O motorista pode

nos levar. — Proponho, apontando para o motorista, que ainda está parado ao

lado do carro.

Ela apenas confirma que sim com um aceno, aceitando entrar no carro.
Desço do carro com Edward nos braços. O trajeto foi feito em um

absoluto silêncio, minha mãe ficou todo tempo de cabeça baixa.

Mamãe me guia até a entrada da casa, abrindo a porta, me dando

passagem para entrar. Tudo está como dá última vez em que estive, ao mesmo

tempo que esse lugar me traz lembranças ruins, me lembro dos momentos bons

que passei com minha filha.

Sento em uma poltrona, vendo mamãe sentar-se à minha frente.

— Quero pedir perdão por tudo. — Começa a falar, olhando pela

primeira vez em meus olhos. — Não fui uma boa mãe para você nos últimos

anos, quando você mais precisou eu não te apoiei, ao contrário, fui a primeira a

te julgar. A culpa está me atordoando, e somente agora percebi que preciso de

você ao meu lado, quero ter a chance de recomeçarmos como mãe é filha.

Passo o dorso da mão no rosto, enxugando as lagrimas.

Sempre quis ouvir essas palavras, escutá-la me chamar de filha, escutar


que ela aceita os meus filhos. Passei toda minha vida sendo desprezada por

minha mãe, isso me doeu bastante. A mulher que deveria me amar


incondicionalmente, ajudar, apoiar, não fez absolutamente nada disso.

Sorrio para ela.


—Te perdoei há um bom tempo. — Começo a falar. — Te entendo, e
apesar de ter uma mágoa, nunca senti raiva da senhora, sempre te amei e vou te

amar, pois você é minha mãe, a mulher que me deu a vida.

Ela se levanta, me dando um abraço desajeitado, pois estou com o bebê

nos braços.

— Posso vê-lo? — Aponta para Edward.

— Claro. — Retiro a manta, permitindo que ela veja meu bebê.

— Ele é lindo, se parece bastante com você.

— Quer pegá-lo?

— Não, obrigada. — Recusa. — Quem sabe quando ele se acostumar

mais com minha presença eu o pegue.

— Ele é um bebê bem chorão, não se parece com Bela, que era mais

calma.

Conversamos sobre diversos assuntos nas horas seguintes, coisas que eu

nunca havia conversado com ela, nem consigo me recordar quando foi a última

vez que tivemos uma conversa civilizada.

Sai da casa da minha mãe totalmente revigorada, tanto eu quanto ela


estávamos precisando dessa conversa.
Coloco meu filho em seu berço ao lado da cama, agradecendo por ele

finalmente ter adormecido.

Bela senta-se em meu colo, dando um beijo babado em minha bochecha.

— Bela ama a mamãe. — Diz, passando a pequena mãozinha em meu

cabelo.

— A mamãe também ama muito a Bela. — A abraço, distribuindo beijos

em sua bochecha.

— Eu também amo vocês. — Ouço a voz grossa de Dominic invadir o

quarto. Ele vem até a cama, sentando-se de frente para mim.

— Como foi na empresa hoje? — Pergunto.

— Foi cansativo, mas ao mesmo tempo bastante produtivo.

— Isso é bom. — Comento, passando a mão pelo rosto dele.

— E o seu dia, como foi?

— Fui visitar a Evelyn e acabei encontrando minha mãe, nós

conversamos bastante, ela me pediu perdão por tudo. Sai de lá aliviada, agora
sinto que estou feliz por completo. — Conto animada.

— Fico feliz por você, amor. Vou colocar as crianças para dormirem. —
Ele levanta-se com Bela nos braços, indo pegar o Edward.

— Boa noite, filha. — Beijo a testa de Bela. — Dorme com Deus. —


Boa noite, meu homenzinho.

Ele sai do quarto com nossos bebês nos braços.

Dominic vem sendo um pai excelente, cuida das crianças, aprendeu a

trocar fraldas, checar a temperatura da mamadeira para poder dar para a Bela. E

sempre que pode brinca até de bonecas com nossa filha, ele faz questão de ser

um pai presente.

Ligo as torneiras da banheira, jogando alguns sais de banho, retirando a

roupa em seguida, entrando na água quentinha.

Demora poucos minutos para que Dom entre no banheiro, vindo me

acompanhar no banho. Chego para frente, deixando que ele se acomode atrás de

mim, passando os braços pela minha cintura.

— Amor... — O chamo.

— Você fica tão linda rendida aos meus encantos. — Diz, beijando o meu
pescoço.

— Eu te amo muito.

— Eu te amo muito também, você é a mulher da minha vida.

— Eu também meu amor. — Seguro o rosto dele com as duas mãos,

beijando-o carinhosamente.
É com esse homem que desejo passar o resto dos meus dias.
Quatro meses depois...
Não me canso de agradecer a Deus pela família maravilhosa que tenho.

Hoje eu e Dominic completamos um ano de casamento, um ano de muito

amor, cumplicidade, brigas, troca de carícias. Nesse período percebi que nem

tudo é fácil, algumas coisas são mais difíceis do que aparentam. Um casal tem

diversas diferenças, mas o diferencial é a harmonia que possuem. Nós dois

temos muitas diferenças, mas com o tempo aprendemos a lidar com cada uma
delas.

Dom vem se mostrando ser um pai sensacional, mesmo que chegue

exausto do trabalho, faz questão de passar um tempo com os filhos

Demorou algum tempo para que todos se acostumassem com Edward,

lembro-me do quanto foi complicado nos primeiros meses de vida do nosso

menino.

— Seja bem-vindo, papai. — Abraço meu pai, beijando sua bochecha. —


Sabrina está logo ali. — Aponto para a mesa onde minha irmã está sentada.

— Obrigado, filha. — Agradece, indo até minha irmã.

Duas semanas após mamãe me pedir perdão meu pai fez o mesmo, não

foi uma conversa fácil. Eu o perdoei, acho que todos merecemos uma segunda
chance na vida, gradativamente nossa relação está melhorando.

Sinto braços fortes e rígidos me abraçarem por trás, e demora poucos


segundos para que eu descubra de quem se trata.

— Olá, esposa. — Sussurra, próximo ao meu ouvido

— Olá, marido. — Me viro, ficando de frente para ele, dando um selinho

discreto. — Obrigada pela maravilhosa festa. Estou tão feliz por estarmos

completando um ano juntos. — Passo a mão no rosto dele carinhosamente.

— Você merece. — Ele beija minha testa. — Esse vestido te caiu muito

bem. — Dom elogia, olhando para meu vestido verde água, que tem o

cumprimento um pouco abaixo dos joelhos e um decote em formato de V nas


costas. — Não vejo a hora de te ver sem ele.

Coro instantaneamente com sua fala descarada.

— Para de fazer esses comentários aqui, com toda nossa família ao redor.

— Repreendo-o, ainda sentindo meu rosto quente.

O jardim está enfeitado com várias rosas brancas e vermelhas, e as mesas

com belos arranjos com as mesmas rosas. Nosso jardim está abarrotado de

pessoas da nossa família.

— Mamãe, papai. — Ouço um grito, essa voz é a mais linda do mundo.


Viro, vendo Bela correr até nós, se jogando nos braços do pai.

— Oi, anjinho. — Beijo a bochecha dela que está rosada por conta do

calor. — O que aconteceu? — Coloco uma mecha do seu cabelo atrás da orelha.

— Imaozinho tá dando birra no colo da vovó. — Diz, escondendo a


cabeça na curva do pescoço do pai. — Ele tá vemelhinho de tanto chorar.
— Vamos lá, Dominic. Lembre-se que o gênio dele é seu. — Pisco para
Dom, que apenas bufa.

Seguro na mão de Dom, entrelaçando nossos dedos, caminhando até o

outro lado do jardim, onde Verônica está com o nosso pequeno chorão nos

braços.

Assim que me vê, Edward ergue os braços rechonchudos, fazendo com

que eu o pegue. Aos poucos meu manhoso vai parando de chorar.

— Filho, não coloque meu cabelo na boca. — Olho feio para Edward,
que ignora minha frase, continuando a colocar os fios de cabelo na boca.

Com paciência, retiro os fios de sua mão, sentando ao lado de Verônica,

sendo acompanhada por Dom.

— Esse meninão vai dar trabalho para vocês. — Minha sogra comenta.

— A cada dia que passa admiro mais você como mãe, Sophia.

— Obrigada, Verônica. — Sorrio para ela. — Tento ser uma boa mãe

todos os dias.

— Ele está comendo o sapato. — Bela aponta para o irmão, fazendo uma
careta. — Bobão.

— Ele é apenas inocente, não bobo. — Sorrio, vendo que Bela ainda está

observando o irmão com uma certa estranheza.

— Não vão cortar o bolo não? — Wes pergunta, ao se aproximar,


apontando para a mesa onde está o bolo de três andares.
— Cuide do seu sobrinho então. — Entrego Edward para o tio, que não
protesta, ao contrário, vai de bom grado.

— Se dependesse de mim, eu o levaria para morar comigo. O titio é

apaixonado por esse bebê. — Wes começa a salpicar beijos na bochecha de

Edward, que dá uma gargalhada gostosa.

— Já falei para você ter seus filhos e parar de querer roubar os meus. —

Dom revira os olhos.

O dia foi uma loucura, eu e Dom nos esforçamos o máximo para dar
atenção a todos os nossos familiares. Há três anos eu jamais imaginava que teria

uma família tão grande e unida, parece que nos últimos tempos a vida finalmente

resolveu sorrir para mim. Minha relação com minha mãe mudou drasticamente.

Deixo meus pequenos dormindo, descendo as escadas, indo até o jardim,


sentando-me no gramado, aproveitando para admirar o céu, que parece estar

combinando muito com meu humor. A lua cheia e as estrelas refletem a alegria

que estou sentindo depois de um dia incrível.

— A lua está perfeita. — Dom comenta, se aproximando. Sentando-se ao


meu lado no gramado de nosso jardim. — Obrigado por ser a melhor esposa do
mundo, não sei o que seria da minha vida sem a sua ajuda, loira.

Me aconchego em seus braços, ainda mantendo o olhar fixo no céu


estrelado.

— Funcionamos bem juntos.


— Sou sua alma gêmea. — Mesmo não vendo seu rosto, sei que um
sorriso despreocupado deve estar pairando em seus lábios.

Acho que finalmente o meu “felizes para sempre” parece ter chegado,

isso não quer dizer que não terei problemas, mas poderei estar feliz mesmo

diante deles.
Olho sorrindo como um bobo para Sophia, que está sentada no chão da

sala vendo Bela e Edward brincarem, minha pequena está desenhando, enquanto

o irmão está amassando uma folha de papel, se divertindo bastante.

Posso ter um dia estressante ao extremo, mas assim que chego em casa
encontro minha calma em minha família.

Por sorte Sophia está trabalhando comigo, não é todos os dias que ela

consegue me acompanhar, já que se divide entre o trabalho e cuidar das crianças.

— Papai, papai, papai — Bela grita, assim que me vê, vindo correndo em
minha direção com um largo sorriso nos lábios.
Edward vê sua irmã correr e logo se levanta, vindo correndo até mim de
forma desengonçada, equilíbrio ainda não é o seu forte.

Me abaixo, abrindo os braços, aproveitando para abraçar meus dois

filhos.

— Oi meu anjo. — Aproximo de Sophia, que está sentada no tapete,


beijando o topo de sua cabeça. — Como você está? — Faço a mesma pergunta

de todos os dias, é algo que se tornou rotineiro.

— Muito bem. — Responde, se levantando pegando o Edward dos meus


braços. — E você, como está?

— Estou muito bem. — Digo, sorrindo ao ver Edward brincar com os

cabelos loiros de sua mãe.

— Papai, — Bela diz, passando sua mãozinha macia em meu rosto. —

Tem bolo de chocolate.

— Isso me parece muito bom. — Digo, beijando sua bochecha.

Vanessa surge da sala de jantar, vindo até nós sorrindo. Ela está sendo
uma espécie de faz tudo em nossa casa.

— Vou dar um banho nesses dois, já está passando da hora. —


Comunica, pegando Edward nos braços, chamando Bela com um aceno.

A mulher sobe as escadas com meus filhos em seus braços.

Puxo a Sophia pela cintura, trazendo-a para perto do meu corpo. Parece
ser algo impossível, mas a cada dia que passa ela fica ainda mais linda.
A guio até o sofá, a puxando para sentar-se em minhas pernas. Ela se
senta, colocando a cabeça apoiada na curva de meu pescoço enquanto uma de

suas mãos acaricia meu cabelo.

— Eu tenho uma ótima notícia para você, papai. — Conta, sorrindo.

Nesses últimos meses minha esposa está bastante feliz, pois seu pai
acabou de vez o relacionamento que tinha há vários anos com sua ex-madrasta

da Sophia. E agora ele está tentando conquistar a Sônia novamente, ele precisará
ter muita paciência, porque minha querida sogra não é a pessoa mais gentil desse

mundo.

Claro, Sônia melhorou muito a relação com Sophia com o passar do tempo, mas

no fundo sei que minha esposa ainda tem medo de se abrir totalmente para a

mãe.

— Conte-me. — Peço, passando minha mão pela sua coxa, acariciando o

local.

— Há algumas semanas minha menstruação estava atrasada, mas

somente hoje desconfiei do que poderia realmente ser. Então fui até uma clínica
no período da tarde e resolvi fazer o exame de sangue para ver se estava grávida

ou não — Ela se levanta do meu colo, caminhando até a cadeira que fica ao lado
do sofá, pegando um envelope branco. — Parabéns Dominic, você será papai

mais uma vez. — Diz, me entregando o envelope.

Sinto meus olhos ficarem marejados.


— Você está falando sério? — Pergunto, olhando no fundo de seus lindos
olhos verdes para ter a total confirmação de que ela está realmente grávida

novamente.

— É claro que sim. — Responde, sorrindo. Sophia se senta em meu colo

novamente. Com delicadeza ela ergue um pouco sua blusa, deixando a barriga
exposta, pegando em minha mão levando-a até sua pele desnuda. — Aqui dentro

bate mais um coração apaixonado por você, Dom.

Serei pai pela terceira vez!

Passo minha mão pela sua barriga, acariciando o local enquanto uma

lágrima escorre pelo meu rosto. É tão mágico saber que uma vida que carrega o

meu sangue virá ao mundo daqui alguns meses. Mesmo já sendo pai de duas

crianças maravilhosas e perfeitas, eu ainda sinto a mesma emoção ao saber que

serei papai de uma nova vida.

— Você será muito bem-vindo ao mundo, bebê. — Digo, me abaixando

para beijar sua barriga.

Sophia passa seus braços ao redor do meu pescoço, me abraçando.

— Por alguns segundos até imaginei que você não gostaria. — Sophia
confessa, dando um selinho rápido em meus lábios.

— Amor, é impossível não gostar de uma notícia como essa. — Dou um

sorriso para ela. — Bela ficará muito feliz, vai que agora ela dá sorte e venha
uma menininha. — Dou uma gargalhada alta ao lembrar que minha filha quer
roubar os filhos dos outros.

— Nossa menina é terrível.

Sophia parece um anjo, tanto pela sua beleza quanto pela doçura. Ela é a

calmaria na tempestade que é minha vida.

Passo a mão novamente em sua barriga que ainda não aparenta os sinais

da gravidez. Infelizmente não pude acompanhar a gravidez da Bela, mas

felizmente pude acompanhar a gravidez do Edward, e foi um momento mágico e

ao mesmo tempo especial. Claro que a gravidez mexeu muito com as emoções
da Sophia, ela ficou mais sensível, as vezes era até chata. Mas compreendo que a

gestação traz consigo uma explosão de hormônios.

Ouço passos vindos da escada e logo vejo um bebê loiro subir em cima

do sofá, sentando-se ao meu lado sorrindo. É engraçado vê-lo sorrir, pois os


dentes ainda não nasceram completamente. Logo Bela surge juntamente com

Vanessa, conversando como uma matraquinha.

— Papai. — Grita, assim que nota minha presença, vindo até mim

correndo. Ela se senta nas pernas da mãe. — Amanhã a vovó vai me levar para
tomar sorvete.

Bela aprendeu chamar Vanessa de vovó quando ainda era muito pequena.

— Também quelo. — Edward fala, fazendo um bico, indicando que irá

começar a chorar.

— Não chora, pequeno manhoso. — Digo, passando um braço ao redor


do seu corpo, trazendo-o para mais perto de meu corpo, para que assim ele não
chore.

— Ele é chorão. — Bela diz, abraçando a mãe com carinho.

— Sim, meu amor, Edward é um bebê muito chorão. Assim a Luna não

vai querer casar-se com você. — Sophia fala, passando a mão no rosto dele.

— Namolada. — Edward fala, batendo palminhas sorrindo.

— Você está pedindo para morrer pedacinho de gente. — Digo, dando

uma gargalhada ao olhar para meu filho.

— É verdade. — Sophia concorda.

Wesley acabou ensinando para o meu filho que a pequena Luna é sua

namorada, eu só espero que Edward não acabe soltando isso perto do pai da
menina.

— Vamos ter mais um bebezinho. — Digo olhando para os meus filhos.

— Uma menina? — Bela pergunta, bastante animada. — Onde vamos

pegá-la?

— O bebê só vai chegar daqui alguns meses, e não sabemos se é uma

menininha ou um menininho. — Sophia intervém.

— Quero uma menina. — Bela cruza os braços, fazendo uma careta.

— Não podemos escolher, filha — Tento explicar.

Pelo jeito teremos mais uma luta para explicar para Bela que não
podemos escolher o sexo do bebê.

Hoje se inicia mais uma etapa na história de nossa família.


Esse foi o primeiro livro que escrevi até o final, ele nasceu em 2016, até

hoje não sei muito bem de onde veio a inspiração, só me lembro da sensação

gostosa que foi escrevê-lo, acho que foi o livro que escrevi mais rápido em
minha vida

Quero agradecer a cada leitor que tirou um tempinho do seu dia para ler a

história do Dominic e da Sophia, vocês fizeram esse livro ser ainda mais

especial.

E claro, não poderia deixar de agradecer a L.A. Design por essa capa
incrível, que combinou perfeitamente bem com a história.

Espero todos vocês no segundo livro da série!


Instagram - @autoramariavitoria
Facebook - Autora Maria Vitória

Wattpad - @MariaVitoriaSantos1
UM COWBOY PARA AMAR

SINOPSE:

Vocês acreditam que o destino pode dar uma mãozinha em um romance?

Sabe aquela decisão que muda tudo, que chegou de uma maneira inesperada?
Pois é dela que estamos falando.

Rodrigo sempre considerou Ayla como a mulher mais importante de sua

vida, mas até então ambos nutriam apenas um sentimento de amizade. Mas tudo
muda no instante em que um casamento por interesse surge nessa equação.

Um amor adormecido pela amizade poderia ressurgir?


SOMENTE UMA BABÁ
SINOPSE

Mirela é uma mulher comum, que sempre sonhou em se tornar uma

bailarina profissional. Forçada a trabalhar para ajudar o pai nas despesas da casa
e comovida com o câncer da mãe, aceita o cargo de babá na casa de Fernando

Matarazzo, o pai de Noah e magnata das joias, tão belo quanto taciturno e
depressivo. Fernando é um homem que luta contra os demônios do passado, um

pai solteiro que vive para o trabalho e o filho. Contrariado com a presença de
Mirela, tenta afastá-la de todas as formas possíveis, mas acaba tocado por sua

beleza e atraído para seus braços. Mirela se encanta por Noah e aguenta calada
as provocações do patrão, enquanto reluta contra o sentimento que ele desperta
em seu corpo e coração. A paixão desperta e o amor acontece, fazendo-os lutar

por aquilo que não acreditavam ser possível.


UM RECOMEÇO PARA OLIVER
SINOPSE

Oliver Nicolazzi é um juiz respeitado por toda Santa Catarina. Sua vida

estava em perfeita ordem, junto à sua esposa e dois filhos. Entretanto, tudo muda

e ele assiste seu conto de fadas ser destruído, sendo transformado em um terrível
pesadelo sem fim. Em sua vida Oliver não enxerga um recomeço, para ele a sua

vida está fadada a tristeza.

Alessa Torres é uma jovem sonhadora no último semestre da faculdade


de direito. Ela almeja um estágio no tribunal, mas seus planos não vão sair

exatamente como desejava. Um pequeno imprevisto surge em sua vida.

Duas almas completamente destruídas.

Um recomeço irá uni-los.


ALÉM DE UM CORPO (CONTO)
SINOPSE

Tayla é uma mulher bem resolvida e de atitude, completamente dona de

cada passo que dá. Deste modo, nunca imaginou que conheceria alguém capaz

de abalar as estruturas de seu coração. Pietro leva a vida com tranquilidade e

acredita que sorrir é sempre o melhor remédio, assim como, a melhor escolha. O
que o olhar através da vidraçaria de um café pode resultar?

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