1 PB
1 PB
1 PB
http://dx.doi.org/10.5380/petfilo.v22i1.84110
/artigos
Resumo: Esse artigo visa apresentar como foi forjado o conceito de pulsão
de morte pelo pai da Psicanálise, Sigmund Freud. Nesse sentido, estaremos
envoltos com as respectivas modificações do conceito inicial de pulsão
principalmente no decorrer no período da Primeira Guerra Mundial até o final
da década em questão. Esse momento é chave na teoria da pulsão almejada
por Freud nos anos de 1914 até a dualismo pulsional - de pulsões de vida e
pulsões de morte - em 1920 com a publicação de Além do Princípio do Prazer,
e é esse período que pretendemos desenvolver no presente artigo que antecede
o início da Segunda Tópica.
Abstract: This article would like to present how was wrought the concept of
Death Drive by the father of Psychoanalysis Sigmund Freud. In this sense, we
will be involved with those changes in the concept of Drive during the time of
World War One until the end of decade in questioning. This key moment in
Freudian theory was craved by Freud during the years between 1914 until the
1
Trabalho fruto do Trabalho de Conclusão de Curso em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná
(2021).
107
v.22, n.1, 2021 (2022)
final form of Drive dualism – the Life Drive and Death Drive - in 1920 when
was published Beyond Pleasure Principle, and it will be this time previously to
the Second Topic that we would like to demonstrate here.
Introdução
108
CADERNOS PET FILOSOFIA UFPR
2
Sobre a discussão do vocábulo alemão Trieb e seus respectivos problemas de tradução, remonto ao
artigo de Pedro Heliodoro Tavares (2013).
109
v.22, n.1, 2021 (2022)
A Metapsicologia Freudiana
3
Expressão empregada por Theodor Adorno.
110
CADERNOS PET FILOSOFIA UFPR
111
v.22, n.1, 2021 (2022)
4
A respeito dos problemas de tradução do termo alemão Verdrängung, remeto o leitor a Garcia-Roza
(1995, p. 164-165).
112
CADERNOS PET FILOSOFIA UFPR
retorno do recalcado seria, dentro desse processo, aquilo que retorna na forma
de sintomas que contribuem para a desestabilização da psique.
5
Para uma visão oposta a essa tradução do termo alemão denominado Trieb, remeto o leitor a Simanke
(2014).
113
v.22, n.1, 2021 (2022)
114
CADERNOS PET FILOSOFIA UFPR
conceito de pulsão esse processo não foi diferente, pois, em seu texto
programático da Metapsicologia denominado Pulsões e seus Destinos, o autor não
deixa de retomar os pressupostos de toda formulação teórico científica e de
ressaltar o fato de que toda ciência não começa com conceitos fechados e
certos, ao mesmo tempo que eles sempre serão passíveis de reformulação.
Sendo assim, será exatamente por isso que ela sempre exigirá reconstruções
teóricas baseadas na descrição de fenômenos.
115
v.22, n.1, 2021 (2022)
tendo ele por função a tentativa de domínio das excitações pulsionais. Nesse
sentido, então, pode-se dizer que essa força constante teria por imperativo a
própria necessidade, já que a satisfação não faz parte da própria constituição
do aparelho psíquico (além de percebermos que a satisfação, impossível desde
o início, seria a única ferramenta capaz de eliminar a necessidade pulsional).
116
CADERNOS PET FILOSOFIA UFPR
117
v.22, n.1, 2021 (2022)
As gramáticas da pulsão
118
CADERNOS PET FILOSOFIA UFPR
intensidade. Nessa perspectiva, o que fica claro é que essa força constante é
inegociável, que o estímulo interno possui um caráter excedente que impele o
organismo ao movimento e que essa pressão diz respeito a uma certa porção de
atividade que sempre se fará presente na fronteira entre o anímico e o
somático. Em suma, como diz o próprio autor, essa característica impelente é
a essência da pulsão.
119
v.22, n.1, 2021 (2022)
120
CADERNOS PET FILOSOFIA UFPR
abordava a sua prática clínica, exatamente pelo fato de que ela detém um
atributo de barroco epistemológico6, isto é, ela possui o “encontro de diferentes
estilos heterogêneos compostos onde cada heterogeneidade é constituinte”,
exatamente como o conceito de pulsão e sua fundamentação a partir de
campos diferentes entre si (ASSOUN, 1981/1983, p.135).
A dualidade pulsional
6
Tal perspectiva se apresenta de forma similar no estudo O Título da Letra quando os autores afirmam
que, a respeito da constituição teórica da Psicanálise: “a verdade de Freud exigia, para ser articulada, o
recurso a outras ciências que não aquelas que pareciam delimitar seu campo (biologia e psicologia). Era
preciso, pois, construir, para constituir o discurso psicanalítico em geral, um sistema inteiro de
empréstimos, apelando à linguística, à etnologia estrutural, à lógica combinatória. Este processo mesmo,
no entanto, tornava necessário o discurso de sua própria legitimidade, ou seja, um discurso
epistemológico - ou, antes, na medida em que se via constituir-se, dessa forma, não apenas uma ciência,
mas uma cientificidade inédita, um discurso sobre a epistemologia. E o conjunto da operação
representava definitivamente uma passagem explícita do discurso da análise pelo discurso filosófico - a
mesma passagem que Freud, se bem que a tivesse sempre implicitamente evocado ou indicado, não
tivesse jamais praticada como tal.” (LACOUE-LABARTHE, PHILIPPE; NANCY, 1991, p.20, grifos meus e do
autor)
121
v.22, n.1, 2021 (2022)
122
CADERNOS PET FILOSOFIA UFPR
(BIRMAN, 2016, n.p). Fica então, dessa forma, apresentada devidamente essa
dicotomia entre ambas as pulsões e a separação entre indivíduo e espécie.
Destinos da pulsão
123
v.22, n.1, 2021 (2022)
124
CADERNOS PET FILOSOFIA UFPR
125
v.22, n.1, 2021 (2022)
Ademais, Freud atenta para o fato de que essas três formas de oposição
que se identifica através da inversão de conteúdo estão diretamente
submetidas, bem como de toda a vida anímica, a três polaridades nomeadas
por ele na sequência do texto: Sujeito – Objeto; Prazer – Desprazer; Ativo –
Passivo. Cada uma delas diz respeito a maneira que as pulsões operam no
interior do aparelho e como funcionam as transformações plásticas da pulsão
nesses processos psíquicos. Sendo assim, a primeira polaridade que é
comentada pelo autor está diretamente envolta na vida do sujeito, pois desde o
início de sua existência é que a experiência se funda na relação entre esses dois
âmbitos, tendo por fim que a compreensão entre eles pode ser feita mediante
estímulos externos e o controle deles por meio da força muscular. No entanto,
deve-se depreender dessa noção que tal oposição é constituinte direta ou
indiretamente, ao próprio narcisismo. Todavia, os estímulos que se fundam no
interior do aparelho não são passíveis de controle do indivíduo, deixando
claro que essa oposição permanece soberana na experiência do sujeito em sua
vida cotidiana.
126
CADERNOS PET FILOSOFIA UFPR
127
v.22, n.1, 2021 (2022)
128
CADERNOS PET FILOSOFIA UFPR
para fins estritamente sexuais e/ou das pulsões sexuais sublimadas dentro das
relações de objeto. Sendo assim, o que ele argumenta, resumindo sua
concepção de amor, é que o mesmo provém da capacidade do Eu de satisfazer
uma parte de suas moções pulsionais de modo autoerótico, tendo sempre em
mente que tal satisfação é sempre de natureza narcísica e que acompanha o
Eu, inclusive, em seu contato com os objetos provenientes do mundo
externo. Logo em seguida, entende-se que essa perspectiva do amar está
atrelada a fases preliminares do desenvolvimento psíquico, as quais dizem
respeito ao ato de incorporação, ela sendo, literalmente, a destruição do objeto e
trazendo dificuldades para a diferenciação do amor com o ódio. Outrossim,
essa mesma dificuldade está diretamente atrelada, inclusive, com a fase
sádico-anal, pois nela se manifesta o ímpeto, através da pulsão, pela apreensão
e domínio dentro das relações de objeto (MEZAN, 2013, p.184). De todo
modo, essa problemática de esclarecimento da noção de amor e sua oposição
com o ódio apenas estará plenamente resolvida quando estabelecida a
chamada organização genital, pois Freud compreende que nos estágios iniciais
do desenvolvimento do aparelho psíquico é o ódio e sua repulsa ao mundo
exterior que reina dentro do Eu narcísico nesse período. Em suma, a
ambivalência do amor estará sempre presente, pois o mesmo estará
acompanhado do ódio contra o mesmo objeto, sendo por isso que, em
momentos de rompimento de laços amorosos, o ódio toma o lugar do amor
em função das pulsões de autoconservação do aparelho psíquico e da
regressão da fase preliminar sádica.
129
v.22, n.1, 2021 (2022)
130
CADERNOS PET FILOSOFIA UFPR
131
v.22, n.1, 2021 (2022)
7
“Freud só pôde pensar a manifestação da negatividade da pulsão de morte no interior da clínica sob a
forma de reação terapêutica negativa, da destruição do outro na transferência e de outras manifestações
de fantasmas masoquistas ou sádicos que devem ser liquidados a fim de levar o sujeito ao final de
análise” (SAFATLE, 2006, p.276, grifos do autor).
8
“De que maneira os dois processos, primário e secundário, se opõem? Se nos ativermos somente ao
que os define externamente, pode-se dizer o seguinte: o que se passa no nível do sistema primário é
governado pelo princípio do prazer, isto é, pela tendência a voltar ao repouso, enquanto o que se passa
no nível do sistema de realidade é definido pelo que força o sujeito à conduta do desvio na realidade,
como se diz, exterior na condução do desvio” (LACAN, 1978f, S V, p.46, grifos meus).
132
CADERNOS PET FILOSOFIA UFPR
133
v.22, n.1, 2021 (2022)
134
CADERNOS PET FILOSOFIA UFPR
135
v.22, n.1, 2021 (2022)
9
É importante notar que essa não é a primeira vez na história da Psicanálise que alguém conceitualiza
uma tendência a dissolução do indivíduo, haja vista o comentário da psicanalista russa chamada Sabina
Spielrein em seu artigo de 1912 chamado Destruição como causa do devir: “O instinto para
autopreservação é uma simples pulsão que origina exclusivamente através de um componente positivo;
o instinto para preservação da espécie, no qual precisa dissolver o velho e criar o novo, advém de ambos
os componentes positivos e negativos. Nesse sentido, o impulso do componente positivo
simultaneamente soma-se ao impulso do componente negativo e se opõe a ele. Autopreservação é uma
pulsão ‘estática’ porque precisa proteger o indivíduo existente de influências externas; preservação da
espécie é uma pulsão ‘dinâmica’ que luta pela mudança, a ‘ressurreição’ do indivíduo em uma nova
forma. Nenhuma mudança pode surgir sem a destruição de uma condição anterior” (SPIELREIN, 1994,
p.174, grifos meus).
136
CADERNOS PET FILOSOFIA UFPR
137
v.22, n.1, 2021 (2022)
138
CADERNOS PET FILOSOFIA UFPR
139
v.22, n.1, 2021 (2022)
***
Referências
10
Expressão empregada por Gilles Deleuze.
11
“A aporia remete à psicanálise como tal. Por um lado, a libido vale para ela como a própria realidade
psíquica; a satisfação, como positiva; a frustração, por conduzir ao adoecimento, como negativa. Por
outro lado, a civilização, que compele à frustração, é aceita por ela, se não de forma francamente
acrítica, certamente de forma resignada. Em nome do princípio de realidade, ela justifica o sacrifício
psíquico do indivíduo, sem expor o próprio princípio de realidade a uma prova racional.” (ADORNO,
2015, p.67)
140
CADERNOS PET FILOSOFIA UFPR
141
v.22, n.1, 2021 (2022)
142
CADERNOS PET FILOSOFIA UFPR
MAY, U. The third step in drive theory: On the genesis of Beyond the pleasure
principle. Psychoanalysis and History, v. v.17, n.2, p. 205–272, 2015.
Recebido 21/12/2021
Aprovado 12/12/2022
143