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SEÇÃO LIVRE 183

ESPAÇOS PÚBLICOS, LAZER E CIDADE:


CONFORMAÇÃO DE PRAÇAS PÚBLICAS EM BELÉM-PARÁ

Jessika Paiva França1


Mirleide Chaar Bahia2

RESUMO

Este artigo identifica alguns acontecimentos marcantes na cidade de Belém-Pará, os quais


influenciaram na produção e reconfiguração de Espaços Públicos, em especial na conformação dos
largos que, atualmente, são mais conhecidos pela denominação de Praças Públicas. Para tanto,
utilizou-se de ampla pesquisa bibliográfica e documental sobre a fundação e expansão urbana da
cidade de Belém. Os resultados apontaram que, por aproximadamente dois séculos, a
institucionalização desses espaços esteve vinculada a interesses religiosos de consolidação do
catolicismo, por favorecer a aglutinação de pessoas. Somente no final do século XIX, foram
denominados de praças e passaram a servir, mais fortemente, às práticas de lazer e de sociabilidade na
cidade.

Palavras-chave: Praças Públicas. Espaços Públicos. Lazer. Belém-Pará.

RESUMEN
Este artículo identifica algunos eventos notables en la ciudad de Belém-Pará, que influyeron en la
producción y reconfiguración de espacios públicos, especialmente en la conformación de las plazas
que ahora se conocen mejor con el nombre de Plazas públicas. Para ello, utilizamos una amplia
investigación bibliográfica y documental sobre los cimientos y la expansión urbana de la ciudad de
Belém. Los resultados mostraron que, durante aproximadamente dos siglos, la institucionalización de
estos espacios estuvo vinculada a intereses religiosos de consolidación del catolicismo, para favorecer
la aglutinación de personas. Solo a fines del siglo XIX, se llamaron plazas y comenzaron a servir, con
mayor fuerza, a las prácticas de ocio y sociabilidad en la ciudad.

Palabras clave: plazas públicas. Espacios publicos. Ocio Belém-Para.

INTRODUÇÃO

A fundação da cidade de Belém, assim como a maioria das cidades brasileiras


litorâneas, a citar Natal, Salvador e Recife, esteve ligada à construção de uma fortificação,
com fins de proteção territorial. De acordo com Moreira (1966), em 1616, o Forte do Presépio
foi edificado às margens do Rio Guamá, em uma parte mais elevada do território e com
significativo isolamento da área continental, em decorrência das áreas alagadas que o
1
Doutora em Arquitetura e Urbanismo pelo Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo do
Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP). Professora da Faculdade de Turismo
do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) da Universidade Federal do Pará (UFPA).
2
Doutora em Ciências: Desenvolvimento Socioambiental pelo Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento
Sustentável do Trópico Úmido (PPGDSTU) do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da Universidade
Federal do Pará (UFPA). Professora do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da Universidade Federal
do Pará (UFPA).
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circundavam. As irregularidades no nivelamento do território, apresentando baixa elevação,


eram extremamente propícias aos alagamentos. O clima úmido e chuvoso da região mantinha
as áreas alagadas durante o ano inteiro, em forma de igapó. Para Corrêa (1989), o maior de
todos os alagados localizava-se no entorno do Forte, recebendo dos índios a denominação de
Piry, também conhecido como Juçara, desta forma escrito em alguns registros da época.

Águas paradas, aves multicores, ambiente tranquilo e soberbo de verdejantes


mururés compunham o Piry que os nativos denominavam de baixios da Juçara, para
caracterizar o igapó que originava a formação do “lago”, criando uma enorme bacia
alagada no interior da urbe (FILHO, 1976, p. 153).

A ilustração abaixo, representativa da evolução urbana no século XVII, revela o Forte


enquanto eixo fundacional do vilarejo, cercado pelo Rio Guamá e o alagado Piry.

Figura 1: Início do processo de urbanização de Belém (fins do século XVII).

Fonte: França (2018). Adaptado a partir do trabalho de Corrêa (1989).


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O pequeno vilarejo foi progredindo lentamente em seu avanço territorial, com uma
composição espacial marcada por chão de terra batida, cercado por grandes áreas,
progressivamente baixas (partindo do Forte em direção ao interior), conforme é possível
observar na imagem acima. Neste mapa, o Forte aparece no ponto de maior elevação da
nascente cidade. “Belém começava a dilatar-se para além das muralhas frágeis de madeira
trançada que circundavam o forte, fixando seus limites e garantindo sua proteção” (FILHO,
1976, p. 59).
As primeiras igrejas e conventos de Belém foram edificadas a partir do Forte do
Presépio, seguindo em direção ao interior da cidade, como forma de apoio à expansão
territorial objetivada pela Coroa Portuguesa. Eram erguidas em grandes terrenos
descampados, com arquitetura simples, utilizando, em muitos casos, palha, pedra e barro.
Estas eram construídas sempre interligadas ao eixo inicial da cidade, onde o largo assumia um
papel periférico, pois era utilizado como um espaço complementar das mesmas, para fins de
organização da vida social, por meio da coesão dos fiéis, sem que houvesse fins do que se
denomina atualmente de lazer, especificamente.

Era costume na instituição das igrejas que se reservassem dois espaços


imediatos em sua frente: o pátio, considerado de uso privativo para eventos
religiosos e adiante o largo, para frequência popular em romarias (SOARES,
2009, p. 26).

É importante destacar que a categoria lazer é aqui abordada enquanto fenômeno


sociocultural, existente em diferentes sociedades e espaços. Neste contexto, a vivência
sociocultural do lazer não se encontra condicionada à rígida disposição socioespacial da época
citada.
O Forte do Presépio, mesmo em sua precariedade em termos de construção, foi
considerado um largo aglutinador, por comportar o primeiro espaço religioso de Belém,
dedicado à Nossa Senhora das Graças. O Largo das Armas (Foto 1) funcionou no centro da
fortificação, sendo visto por alguns estudiosos, como “[...] o primeiro largo da nova terra”
(SOARES, 2009, p. 13).
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Figura 2: Largo das Armas no Forte do Presépio.

Fonte: Jéssika França (2018).

Após a reforma na estrutura física do Forte, o templo religioso de N. Sa. das Graças
ganhou nova sede, mas continuou às proximidades do Forte, distante poucos metros. Em
frente à nova igreja, havia uma área descampada, que deu origem ao segundo largo da cidade:
O Largo da Matriz, no ano de 1619 (SOARES, 2009). Atualmente, é mais conhecido como
Largo da Sé e Praça Frei Caetano Brandão, em continuidade à igreja Matriz Nossa Senhora
das Graças, hoje nomeada de Catedral Metropolitana de Belém ou Catedral da Sé.
Esta modificação tratou-se de uma tentativa de expansão do vilarejo e adequação aos
hábitos culturais dos colonizadores. “[...] a construção para a nova ermida, marcaria para a
posteridade, desde 1619, o centro de toda a irradiação construtiva da futura cidade de Belém”
(FILHO, 1976, p. 126). Neste sentido, a expansão urbana teve como ponto de partida o eixo
fundacional, seguindo em direção ao interior, onde as ruas abertas sempre convergiam ao
centro.
Como todas as atividades realizadas pela sociedade, na época, tinham o Forte como
ponto inicial ou final, as ruas foram traçadas com o intuito de possibilitar o seu acesso,
seguindo um modelo português, de hierarquização a partir de edificações religiosas com
algumas adaptações à topografia local, resultando na composição de caminhos e ruas
tortuosas. “Em 1619, soldados, colonos e índios trabalharam conjuntamente no processo de
fortalecimento da colônia, buscando caminhos mais distantes do Forte, resultando nas
primeiras ruas, a citar: Rua do Norte, Rua do Espírito Santo, Rua dos Cavaleiros, Rua de São
João” (VALENTE, 1993, p. 11).
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A estrutura urbana apresentava, neste período, ruas estreitas e irregulares, nas quais
prevalecia a existência de casas com um único pavimento de taipa ou eram revestidas de
barro. Este era considerado por estudiosos, como Penteado (1968) e Moreira (1989), um
desenvolvimento urbano próximo do que se pode chamar de “espontâneo”. Eidorfe Moreira
(1989) acredita que o crescimento aditivo da cidade conduziu a uma certa irregularidade no
traçado urbano, revelado no desenho das quadras. Há predominância das linhas retas, que em
muitas situações ignoraram a singularidade geográfica local, marcada por alagamentos.
Ainda nas primeiras décadas após a fundação, alguns santos padroeiros foram
homenageados, por meio de cultos, procissões e festividades, se expandindo pelas novas
igrejas e construindo, processualmente, relações de identidade com a população originária
local. Igrejas, largos e ruas da crescente cidade constituíam-se em lócus desses
acontecimentos.

A partir de 1626, no Largo de São João, de caráter altamente festivo, iniciou-se a


promoção dos portugueses em 24 de junho, com enorme adesão dos tupinambás, que
participavam com grande alegria em meio à animação com fogueiras, danças e,
certamente, atrevimentos alcoólicos. Houve, portanto, coincidência entre o propósito
católico de atrair os índios ao convívio missionário catequético e as práticas rituais
indígenas, simbolizadas pelas fogueiras de São João. Talvez seja por causa disso que
os festejos juninos tenham tomado a proporção e a importância que ganharam no
calendário festivo (SOARES, 2009, p. 33).

A disseminação de largos, como ampliação territorial das igrejas, teve continuidade


nos anos seguintes, quando em 1751, Francisco Xavier de Mendonça Furtado assumiu o
governo, dando continuidade à institucionalização dos largos como espaços de extensão do
poder religioso, com fins apenas de aglutinação de pessoas para a realização de atividades
voltadas à consolidação do catolicismo. Somente em fins do século XIX, é que os largos
passam a receber a denominação de praças públicas e com isso, passam a ser associados ao
que se nomeia atualmente de lazer.

O projeto urbanístico do governador, apesar de manter a institucionalização dos


largos, continha a filosofia urbana portuguesa de que eles eram apenas espaços para
ajuntamento público, sem necessidade de se transformar em recantos de lazer e
encontros, o que só aconteceria posteriormente (SOARES, 2009, p. 34).

Juntamente com a expansão da cidade, por meio do adentramento ao interior, é que


surgem os primeiros largos como extensão de prédios públicos institucionais, que sediaram as
administrações governamentais.
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Neste contexto, cabe um adendo sobre os tipos e formas de lazer que coexistiram neste
período, mas que por motivos escusos não ganharam destaque nos registros documentais
elaborados nos dois primeiros séculos posteriores à fundação da cidade. Apenas as formas de
sociabilidade desenvolvida pelas elites são apresentadas com algum destaque, ocultando
quase que completamente as manifestações das camadas populares. Estas quase sempre,
foram associadas à desordem social.
É possível inferir que as manifestações não formais de lazer sempre estiveram
presentes nas diferentes disposições socioespaciais. O crescimento e desenvolvimento urbano
da cidade de Belém apenas demarcou à prática de utilização dos espaços públicos para esse
fim. É certo que as manifestações das camadas populares foram reprimidas, sem, contudo,
deixarem de resistir nos espaços não formais, como é possível citar os lares, terreiros e áreas
mais afastadas do centro da cidade. As atividades cotidianas desempenhadas na cidade pelas
camadas populares como por exemplo, as rodas de conversas, trocas comerciais, o banho de
rio, pesca, lavagem de roupa e brincadeiras foram combatidas pelo poder dominante. Não
eram entendidas como lazer, mas sim como estratégias populares de enfrentamento.
A seguir, observa-se o Mapa 1, assinado por Penteado (1968), revelador de uma
ampliação da ocupação territorial, que ultrapassou os limites do alagadiço. Novas ruas e
travessas foram abertas, ocupadas por edificações com diversos fins, além de religiosos e
habitacionais, transformando, sobremaneira, o desenho de cidade neste século. É possível
observar a divisão dos dois núcleos, Cidade e Campina, pelo alagado Piry.
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Mapa 1: Belém nos fins do séc. XVII.

Fonte: França (2018), adaptado a partir do trabalho de Penteado (1968, p. 101).

Com a conformação do núcleo da Campina, houve uma transferência de parte da


população e dos espaços de decisões políticas, religiosas e econômicas do núcleo da Cidade
para o novo espaço.

Segundo Souza Ferreira, por volta de 1685, Belém já possuía quinhentos habitantes
e ao final do século XVIII a cidade já registra 10.620 hab. Ao findar o século XVII,
já era possível distinguir os dois núcleos iniciais da cidade, separados pelo Pirí.
Sendo que o da cidade ficava junto ao Forte do Presépio (SARGES, 2000, p. 42).

Juntamente com o crescimento populacional e a expansão territorial, para além do


primeiro núcleo da cidade, as relações comerciais começaram a exigir novas alternativas de
intermediação na sociedade local. É quando, no ano de 1749, o dinheiro amoedado começa a
circular.
Neste contexto do século XVIII, a expansão urbana local tinha o rio e as áreas
alagadas como um fator impeditivo, sendo apresentado com detalhes por Almeida (2011), que
faz uma análise sob o viés de utilidade.

O combate aos pântanos era considerado importante para moradores que


acreditavam que aqueles eram espaços propícios ao desenvolvimento de
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enfermidades, ou ainda, obstáculos a serem superados. Os dirigentes provinciais


assim pensavam e nos jornais que circularam na Belém dos oitocentos, os textos
reproduziam esse modo de pensar, não raramente expressando o pensamento
médico. Todavia, possivelmente para aqueles que mantinham uma convivência
rotineira e de longa data com aquelas áreas, estas não se constituíssem em lugares
pestíferos. Relativamente a essa questão, nos anos quarenta, Bates anotou a presença
de lavadeiras e aguadeiros, os quais se dirigiam às áreas baixas e pantanosas da
cidade para lavar roupas e encher pipas d’água, o que implicava certamente, em idas
e vindas pelos ditos terrenos baixos e pantanosos da cidade de Belém (ALMEIDA,
2011, p. 7).

As principais atividades das classes populares que foram identificadas nos livros e
registros históricos, são manifestações culturais especialmente originárias dos negros e índios,
e estiveram em grande parte associadas aos banhos de rio. No entanto, permaneceram durante
longo período na clandestinidade, sendo proibidas pelo poder público local.
Vale enfatizar que o imaginário ocidental sobre o uso das águas marítimas para fins de
saúde e lazer entre os séculos XVIII e XIX é muito bem abordado por Alain Corbin (1989,
p.23), que traça uma linha do tempo, revelando os principais acontecimentos históricos que
somaram para a construção de um valor pejorativo destinado ao mar. As grandes expedições
se constituíram em um grande desafio ao homem, que precisou passar longos períodos
navegando e enfrentando dificuldades como fome, pestes, enjoos e tempestades, que eram
interpretadas, na época, pelos viajantes como um a fúria do mar.
Corbin (1989) afirma que antes do século XVIII as representações sociais sobre o mar
eram permeadas por sentimentos de repulsa, muito associadas a naufrágio de embarcações,
proliferação de doenças e mal cheiro, além de enjoos causados pelas longas viagens. Os
avanços nas técnicas de navegação contribuíram para um repensar quanto ao papel do mar e
suas praias para a saúde e lazer da sociedade. Em meados do século XVIII, o mar e o banho
em praias passam a ser associados a fins medicinais. “Doravante espera-se do mar que acalme
as ansiedades da elite, que restabeleça a harmonia do corpo e da alma, que estanque a perda
de energia vital de uma classe social” (CORBIN, 1989, p.74).

1. A PRODUÇÃO URBANA APÓS O ATERRAMENTO DO ALAGADO DO PIRY

No século XIX, entre os anos de 1803 e 1806, as obras de aterramento foram


realizadas; isso ocorreu durante a gestão de Dom Marcos Noronha Brito. A falta de
conhecimento sobre métodos e técnicas de aterramento, além da ausência de recursos,
resultou no adiamento em quase dois séculos do desaguamento do Piry, previsto no plano de
expansão da cidade como essencial aos avanços.
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O Mapa 2 é representativo da ocupação da Primeira Légua Patrimonial de Belém, nos


séculos XVII, XVIII e XIX, partindo do Forte em direção ao interior da cidade. Em 1650,
observa-se uma ocupação concentrada ao entorno da fortificação, progredindo lentamente, em
direção ao interior, durante o século XVIII. Com o desaguamento e aterramento do Piry, no
século XIX, ocorre uma expansão mais significativa do espaço intraurbano, no ano de 1886.
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Mapa 2: Ocupação urbana de Belém ao longo dos séculos XVII a XIX.

Fonte: França (2018).


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A área aterrada, limítrofe entre os dois núcleos, deu lugar à construção da Praça Dom
Pedro II, conforme pode ser visto na Foto 3 abaixo.

Foto 3: Praça Dom Pedro II.

Fonte: Jéssika França (2018).

A Praça D. Pedro II, localizada às proximidades do Forte do Presépio, contribuiu ao


embelezamento urbano da área onde antes existia o alagadiço Piry. É um espaço
representativo na história da produção urbana local.
Outra consequência deste aterramento foi a ampliação do desejo por construção de
segunda residência, especialmente pela classe abastada. As rocinhas expandiram-se,
associadas ao desejo de sossego e contemplação voltados a um maior contato com a natureza,
conforme observa-se no fragmento de Tocantins (1987):

Rigorosamente falando era o todo que formava a pequena propriedade rural: campo,
floresta, pomar e casa. Mas, na linguagem usual significava a vivência da cercada de
árvores silvestres, de fruteiras, de jardins rústicos, na paz dos subúrbios. Isto no
começo do século dezenove, quando no auge o prestígio das rocinhas belemense,
decantadas pelos estrangeiros visitantes, caídos de amores por elas (TOCANTINS,
1987, p. 152).

O desejo de fuga da dinâmica urbana e da rotina de trabalho já era percebido na


sociedade local, que vislumbrava, nas rocinhas, o desejo por atividades em ambiente familiar,
ao mesmo tempo em que envolvia a necessidade de deslocamento entre espaço de moradia e
de segunda residência. Desta forma, a rocinha diferenciava-se do espaço habitual.
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A rocinha é apenas um dos elementos sinalizadores dessa produção urbana na época,


haja vista que a expansão da cidade é resultante de um movimento social, político e
econômico. Neste sentido, considera-se que a produção dos bens materiais e imateriais é
reflexo de um movimento político norteador que se manteve após o período, se estendendo
aos dias atuais.

2. O CONTEXTO HISTÓRICO DO CICLO DA BORRACHA, AS INTERVENÇÕES


DE ANTÔNIO LEMOS NO ESPAÇO PÚBLICO E A CONFORMAÇÃO DAS
PRAÇAS PÚBLICAS

No período compreendido entre 1840 a 1920, a Amazônia ganhou destaque no âmbito


do capitalismo mundial, em decorrência da economia da borracha, período em que Belém
transformara-se na principal responsável pelo escoamento da produção para as demais cidades
e países, passando por um processo de modernização, na segunda metade do século XIX.
Os impactos ultrapassaram os limites de Belém e Manaus, refletindo na dinâmica
econômica nacional. Neste sentido, pode-se afirmar que é a partir do ciclo da borracha que o
aumento populacional e a expansão urbana, em direção ao interior da parte continental, são
ampliados. Em 1872, existiam 61.997 habitantes, levando Belém a se posicionar entre as
cinco cidades com maior população urbana no país.
No fim do século XIX, foi implantado o sistema de bondes elétricos e iluminação
pública, pela empresa inglesa Pará Eletric Railways and Lighting, favorecendo, sobremaneira,
a mobilidade econômica e social, além de impactar na construção civil (STIEL, 1984). No
entanto, o bonde revelou fragilidade para o transporte de carga pesada, fazendo com que a
gestão pública local tomasse providências quanto à construção de um Porto, no ano de 1906.
O bonde apresentava maior dinamicidade e frequência no eixo central servindo,
prioritariamente, para fins de mobilidade da população. Contudo, havia uma crescente
necessidade de meios de transportes que servissem ao abastecimento local, dando fluidez à
dinâmica econômica da produção gomífera.
Havia um fluxo mais intenso da linha de bondes nos bairros da Cidade Velha,
Campina, Reduto, Nazaré, Batista Campos e Umarizal, beneficiando os seus moradores, em
termos de mobilidade urbana. Nos bairros de São Brás, Canudos e Marco, a linha de bondes
apresentava um trajeto único, cortando a cidade, objetivando a interligação do eixo central
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com a cidade de Bragança3. Havia também vários bairros não contemplados com a linha de
bondes, a citar: Telégrafo; Pedreira; Fátima; Terra Firme; Canudos; Cremação; Condor;
Universitário. Nos bairros do Guamá e Jurunas, era possível ter acesso a este transporte, em
um único ponto.
Vale enfatizar a dinamização urbana decorrente da gestão de Lemos iniciada em 1897
até 1911. Ele trabalhou no sentido de transformar a cidade em um ambiente menos insalubre,
por meio de ações variadas e interligadas, dentre elas, cita-se: a abertura e o alargamento de
avenidas e travessas (44m e 22m); calçamento de ruas, favorecendo a circulação de pessoas,
do ar e do sol, em bairros e quarteirões; inauguração dos serviços de incineração completa do
lixo; fiscalização pública para a segurança e limpeza; implantação de uma rede d’água;
arborização das praças e avenidas, para melhorar a qualidade ambiental, dentre outras
intervenções (SARGES, 2002). Neste momento percebe-se um fomento da gestão pública, no
que tange à construção de uma cultura de utilização das praças, especialmente para fins de
passeio e de contemplação da paisagem.
O fragmento abaixo, de Tocantins, faz referência aos espaços públicos no início do
século XX.
Eles aí estão (os parques e jardins) a oferecer à população o refrigério, a frescura, a
tranquilidade, nas horas mais calmosas do dia. À noite, são um inestimável encanto,
com a sua profusa iluminação: parecem verdadeiros cenários de mágicas
estonteadoras as praças de Belém. Quisera eu poder incutir no âmbito dos munícipes
a convicção de todo o bem que lhes pode fazer o passeio e o exercício nas praças,
pelas horas mais próprias, haurindo o ar oxigenado dos arvoredos, o eflúvio
maviosíssimo dos arbustos cheirosos e das flores (TOCANTINS, 1987, p. 141).

O desenho urbano local sofreu influência francesa de Georges Eugène Haussmann,


que atuou na urbanização de Paris, entre os anos de 1853 e 1870. A intendência de Antônio
Lemos4 apropriou-se desta experiência francesa, para dar um ar de cidade moderna a Belém e,
para isso, tratou a pobreza e a insalubridade com intervenções na saúde pública, saneamento e
paisagismo, focando na Primeira Légua Patrimonial (LOBATO, 2005).
Antônio Lemos considerava a Primeira Légua Patrimonial a área mais importante, por
compor o centro da cidade e abranger um público de moradores de alta renda, em detrimento
às áreas periféricas. De acordo com Lobato (2005), a população pobre foi expulsa do centro,

3
A Estrada de ferro Belém (EFB) entrou em operação no ano de 1884, mas somente em 1908 passou a operar
até a cidade de Bragança, distante 222 km do município de Belém. Esteve ativa até a década de 1960 do século
XX. Ver Andrade (2010).
4
Esteve na intendência municipal de Belém entre os anos de 1897-1911, sendo reconhecido por suas
intervenções voltadas à renovação estética e de higiene no ambiente urbano, sob influências europeias. Foi
responsável pela criação de códigos de conduta, para reger o comportamento da sociedade nos espaços públicos.
Ver Belém (1902).
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partindo em direção às áreas mais desprivilegiadas em termos de intervenções urbanísticas


como, por exemplo, as áreas alagadas, denominadas de baixadas.
Houve nesta época muitas ações no sentido de regulamentar as edificações, tratar a
incineração das imundícies, aterrar e drenar os pântanos, fechar os matadouros, além de
construir um espaço para enterrar os mortos da crescente população. Em janeiro de 1901, foi
construída uma grande usina crematória, localizada entre a Travessa Vinte e Dois de Junho e
Nove de Janeiro, utilizando tecnologia avançada, oriunda da Inglaterra, que tratava a fumaça
produzida, evitando a poluição urbana.
O governo havia mandado construir, nos arrabaldes da cidade, instalações apropriadas
para os presos e doentes mentais, reduzindo-se assim a visibilidade destes segmentos
destoantes na cidade reordenada e asseptizada do início do século. A fiscalização médica, sob
ordens do Intendente Antônio Lemos, atuava também na fiscalização sobre a alimentação
pública, para verificar as condições de higiene de produtos como peixe, carne, leite, entre
outros (BELÉM, 1902). Belém foi abastecida por água potável, proveniente de poços e bicas,
até o fim do século XVII, e passou a contar com um sistema mais moderno de abastecimento
e distribuição em ferro fundido apenas em 1905.
Os reflexos da economia da borracha ultrapassaram as fronteiras da região, atingindo
as cidades brasileiras, impactando-as em termos de renovação urbana e estética. Em Belém,
os logradouros públicos ganharam contornos arquitetônicos, característicos das cidades que
desempenhavam grandes papéis na economia mundial. Em seus projetos, focou na melhoria
urbanística da cidade, por considerar um atraso o sistema de edificações, totalmente
desprovido de beleza, o que prejudicaria a imagem da cidade. Por este motivo, a legislação
municipal tratou de apresentar diretrizes e regras para as novas construções, sob a necessária
apresentação de plano de construção de prédios, sendo esta, uma condição para a obtenção de
licença. Os moradores locais tinham que, em suas residências, respeitar as normas de estética
da cidade; caso contrário, eram afastados do centro (BELÉM, 1902).
Houve uma perceptível organização do espaço urbano, que foi acompanhada de
modificações nos hábitos culturais. Os cronistas dos jornais “A Província do Pará” e “O
Liberal do Pará”, sob influências políticas, faziam comentários antagônicos sobre o Theatro
da Paz e sua estrutura e beleza. Certamente a política influenciou no modo de ver e utilizar os
espaços públicos de lazer na cidade.
Um cronista da época faz comparação da Belém de 1900 a uma pequena Paris. No
bom-gosto, no luxo, no movimento comercial, na intimidade com os vícios elegantes
da civilização, na propensão à cultura brasileira que reúne os atrativos de uma
cidade europeia (TOCANTINS, 1987, p. 139).
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A cidade de Belém5 foi representativa dos interesses progressistas das elites locais,
como seringalistas, comerciantes, fazendeiros e investidores estrangeiros, sedentos por
renovações significativas na cidade em que habitavam, o que, consequentemente, gerou o
afastamento das classes populares dos limites urbanos, tão bem delimitado pelos detentores de
poder. Neste contexto, a localização de grande parte dos espaços públicos de lazer nas áreas
centrais (altas) da cidade é explicada por fatores inicialmente históricos e, posteriormente,
estratégicos.
Os hábitos e costumes da nascente elite estampavam uma segregação social,
visualizada facilmente nos espaços que possibilitavam o lazer na cidade. Belém esbanjava
fartura e progresso: “[...] existiam os cafés, os teatros, as mulheres vindas de todas as partes
do mundo, atraídas pelo dinheiro que rolava de mão em mão, à solta” (CRUZ, 1973, p. 424).
A prosperidade possibilitada pela economia gomífera gerou uma aproximação sociocultural
de algumas cidades, como Belém e Manaus com a Europa, por serem consideradas como os
principais pontos de escoamento do produto.
De acordo com Bahia (2012), seguindo fielmente os princípios da obra de Haussmann,
Antônio Lemos procurou imprimir em Belém ares de uma cidade moderna, com
características de uma época conhecida como Belle Époque, materializados em construções de
boulevards, de praças, de jardins, de bosques e a abertura de longas e largas avenidas. Mas,
esse “progresso” era visivelmente direcionado apenas à área central da cidade, onde
geralmente quem habitava era a elite local e parte da classe média em crescimento.
Foram construídos ou reestruturados e reinaugurados alguns dos principais espaços e
equipamentos de lazer da cidade, como: cafés; casas de espetáculos; o Theatro da Paz (Foto
3); o cinema Olympia; vários largos ou praças, como a Praça da República e a Praça Batista
Campos (Foto 4), assim como o Bosque Rodrigues Alves, inicialmente denominado de
Bosque Municipal. Com o objetivo de proporcionar o entretenimento da classe burguesa
paraense, Lemos mandava buscar grandes companhias artísticas da França, de Portugal e do Rio
de Janeiro, para se apresentarem no Theatro da Paz (BAHIA, 2012).

5
As cidades de Belém e Manaus foram as mais impactadas pela economia gomífera no âmbito nacional. Ver
Tocantins (1987).
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Foto 4 - Salão Nobre do Theatro da Paz.

Fonte: Belém (1998).

Foto 5 - Praça Batista Campos (Antes Parque).

Fonte: Belém (1998).


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Os largos ou praças não eram lugares públicos de lazer criados para a frequência do
povo, mas espaços para se demonstrar o status burguês e serviam para ver e ser visto, sendo
este o novo hobby da elite. A praça se transformou num lugar onde, por meio da observação
do vestuário de seus visitantes, era possível se identificar a que classe cada um pertencia,
distinguindo gente do povo e burgueses (BAHIA, 2012).
Para além desses espaços formais como os largos e praças, que foram
progressivamente institucionalizados para a prática do lazer na cidade, as manifestações
culturais das classes populares apresentaram resistência em terreiros, espaços domésticos e
áreas alagadas. Isso porque estas áreas encontravam-se distantes dos olhos vigilantes do poder
dominante. Neste contexto, reafirma-se que o lazer é um fenômeno social presente em todas
as classes e espaços.
Os largos, que atualmente são conhecidos sob a denominação de Praças Públicas6,
eram tidos como uma espécie de pátios das igrejas e utilizados pelos sacerdotes para agregar
pessoas e disseminar a filosofia católica cristã na região. De acordo com Macedo e Robba
(2009), a praça assumiu diferentes funções, quando compreendida a partir da evolução urbana
das cidades brasileiras. No período colonial, esteve especialmente a serviço de fins religiosos
e militares, utilizada como meio de convívio social e caracterizada por uma estrutura física
marcadamente livre de muros, grades e cercas.
No Mapa 3, construído a partir de levantamento bibliográfico ancorado em pesquisa
de Soares (2009), é possível se verificar a representação do processo de conformação das
primeiras praças em Belém. É possível perceber que esses primeiros espaços públicos, que
atualmente são utilizados com fins de vivências de lazer, foram construídos em sintonia com o
processo de expansão do Vilarejo, tendo início nos bairros da Campina e da Cidade Velha.
Aparecem datados entre os séculos XVII e XVIII, ainda no período colonial, sob a
denominação de “largos”, quando a coroa Portuguesa, objetivando a ampliação da ideologia
católica-cristã no vilarejo, obteve nas ordens religiosas, um importante aparato consolidador
de seus interesses no novo território.
O referido mapa demonstra a localização de 13 largos, com as suas respectivas datas
de fundação e nomenclaturas atuais, a citar: Forte do Presépio; Largo da Sé; Largo da
República do Líbano; Largo do Carmo; Praça Dom Macedo Costa; Praça Visconde do Rio

6
“Praças são espaços livres públicos urbanos destinados ao lazer e ao convívio da população, acessíveis aos
cidadãos e livres de veículos, definidos pela malha urbana formal e que não ocupem mais 2 ou 3 quadras
consecutivas” (MACEDO; ROBBA, 2009, p. 5).
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Branco; Praça Barão do Guajará; Largo do Rosário da Campina; Praça Amazonas; Praça do
Arsenal; Praça Maranhão; Praça Dom Pedro II; Praça da República.
Atualmente, todos esses espaços são denominados de Praças Públicas e servem ao
lazer e ao turismo em Belém. O Largo da Sé é mais conhecido como Praça Frei Caetano
Brandão e possui um importante destaque na produção do lazer local, por sua localização
estratégica, no centro histórico, compondo, juntamente com outros espaços, como por
exemplo a Igreja da Sé e o Forte do Presépio, um complexo arquitetônico e de lazer na cidade.
Se fala cada vez mais a palavra requalificação ao invés de planejamento da cidade,
sob a justificativa de necessária ampliação de estratégias de flexibilização, aplicadas ao
contexto do urbano. Neste sentido, o termo requalificação tem sido empregado para fazer
referência a projetos arquitetônicos que objetivam modificar a funcionalidade do espaço, dado
aos mesmos novos papéis no contexto urbano como, por exemplo, o turismo.
SEÇÃO LIVRE 201

Mapa 3: Primeiras Praças de Belém.

Fonte: França (2018). Adaptado a partir do trabalho de Soares (2009).

Segundo dados do Imazon (2003), 25% das praças de Belém teriam sido criadas antes
da década de 1950. No gráfico 1, é possível se verificar que os séculos XVII e XVIII foram os
mais representativos em termos de conformação de espaços públicos que atualmente são
202 NOVA REVISTA AMAZÔNICA - VOLUME VII - Nº 02 - SETEMBRO 2019- ISSN: 2318-1346

utilizados para fins de lazer e turismo na cidade de Belém. “De 1950 a 1960 criaram-se 82 mil
m² de novas praças; posteriormente, na década de 70, houve um incremento de 47mil m² de
praças e, na década de 90, 135 mil m²” (IMAZON, 2003, p. 41).

Gráfico 1: Conformação de Espaços Públicos em Belém por século.

Conformação de Espaços
Públicos
39%
24%
14% 14% 9%

SÉC. XVII SÉC. XVIII SÉC. XIX SÉC. XX SÉC. XXI

Espaços Públicos

Fonte: França (2018).

No ano de 2000, observa-se um retorno no crescimento desses espaços na cidade, o


que pode ser comprovado no Gráfico 2. “[...] Nesse período, a área de praças cresceu 53% na
cidade de Belém, atingindo 0,61 m² por habitante. Vale lembrar que este número ainda está
abaixo do índice per capta (0,71m²) registrado em 1950 [...]” (IMAZON, 2003, p. 37).

Gráfico 2: Área de praças por década.

Área de praças por década (%)


3000%

2000% 25%

1000%
11,1% 6,5% 8,2% 19% 30,2%
0%
Até 1950 1960 1970 1980 1990 2000

Área de praças por década (%)

Fonte: Imazon (2003, p. 42).

Em pesquisas realizadas por Bahia et al. (2008), ao analisarem os diversos espaços


e equipamentos de lazer de Belém, os autores identificaram a existência de uma
concentração de equipamentos específicos e não específicos de lazer no centro urbano de
SEÇÃO LIVRE 203

Belém e nos bairros mais centrais da cidade; além de uma visível falta de divulgação à
população de alguns equipamentos e de programações culturais existentes nesses. As
praças se caracterizam como o equipamento em maior quantidade na cidade e com uma
distribuição mais igualitária nos bairros (Quadro 1).

Quadro 1 - Distribuição dos equipamentos de Lazer em Belém.


Bairro Pra Mus Tea Cin Par Mer For Igr Bib Memo/ Shop
Comp
Cult-
Esport.
Barreiro 01 ----- --- --- ----- ----- ----- ----- ----- ----- -----
Batista Campos 04 ----- 01 05 ----- ----- ----- ----- 01 ----- 01
Benguí 07 ----- --- --- ----- ----- ----- ----- ----- ----- -----
Campina 21 02 03 01 ------ 03 ----- 02 01 01 -----
Canudos 02 ----- --- --- ----- ----- ----- ----- ----- ----- -----
Atalaia ---- ----- --- 09 ----- ----- ----- ----- ----- ----- 01
Cidade Velha 11 06 --- --- ----- ----- 01 03 ------ 02 ------
Condor 01 ----- --- --- ----- ----- ----- ----- ----- ----- -----
Coqueiro 20 ----- --- --- ----- ----- ----- ----- ----- ----- -----
Cremação 02 ------ ---- ---- ------ ------ ----- ------ ------ ------ ------
Curió-Utinga 04 ----- --- --- 01 ----- 01 ----- ----- ----- -----
DAICO 09 ----- --- --- ----- ----- ----- ----- 01 01 -----
DAMOS 16 ----- --- --- ----- ----- ----- ----- ----- 01 -----
DAOUT 03 ----- --- --- ----- ----- ----- ----- ----- 01 -----
Fátima 07 ----- --- --- ----- ----- ----- ----- ----- ----- ------
Guamá 04 ----- --- --- ----- ----- ----- ----- ----- ----- ------
Jurunas 09 02 --- --- 01 01 ----- ----- ------ ----- ------
Mangueirão 03 ----- --- --- ----- ----- ----- ----- ----- 01 ------
Maracangalha 04 ------ ---- ---- ------ ------ ----- ----- ------ ------ ------
Marambaia 36 ----- --- --- ----- ----- ----- ----- ----- 01 -----
Marco 05 ----- 01 --- ----- ----- ----- ----- ----- 02 -----
Miramar 01 ----- --- --- ----- ----- ----- ----- ----- ----- ------
Montese 04 ----- --- --- ----- ----- ----- ----- ----- ----- ------
Nazaré 02 05 01 04 ------ ------ ----- 01 03 03 ------
Pedreira 04 ----- --- --- ----- ----- ----- ----- ----- 01 ------
Pratinha 01 ----- --- --- ----- ----- ----- ----- ----- ----- -----
Reduto 04 ----- --- 01 ----- ----- ----- ----- ----- 01 ------
Sacramenta 05 ----- --- --- ----- ----- ----- ----- ----- ----- -----
São Brás 07 ----- --- 01 01 ---- ---- ---- ---- 01 ----
Souza 10 01 --- --- ----- ----- ----- ----- ----- ----- ------
Tapanã 09 ----- --- --- ----- ----- ----- ----- ----- ----- -----
Telégrafo 03 ----- --- --- ----- ----- ----- ----- ----- ----- ------
Umarizal 04 01 --- --- ----- ----- ----- ----- ----- ----- -----
Val-de-Cans 06 01 --- --- ----- ----- ----- ----- ----- ----- -----
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 Praças – Pra.  Bibliotecas – Bib.


 Museus – Mus.  Memorial/Complexo Cultural-Esportivo -
 Teatros – Tea. Memo/Comp. Cult. Esport
 Cinemas – Cin.  Shopping – Shop.
 Parques – Par.  DAICO - Distrito de Icoaraci
 Mercados – Mer.  DAMOS - Distrito de Mosqueiro
 Fortes – For.  DAOUT= Distrito de Outeiro
 Igrejas – Igr.

Fonte: Bahia et al.(2008, p. 71-72).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta pesquisa, identificou-se que as praças de Belém apresentaram um papel de


destaque na produção urbana local, bem como em outras cidades brasileiras, servindo
inicialmente a fins de expansão territorial e religiosa. Progressivamente, foi se configurando
como um espaço de encontro entre diferentes, com reais possibilidades para o embelezamento
urbano e práticas de lazer.
Atualmente esse tipo de espaço (praça) é entendido como um espaço representativo da
democracia na cidade, por ser gratuito e estar, em sua maioria, livre dos olhares vigilantes da
segurança terceirizada.
A conformação urbana de Belém, como foi aqui apresentada, com especial destaque
ao papel desempenhado por espaços como largos e praças, objetivou identificar os principais
elementos que caracterizam a relação atual entre a praça pública e a cidade no âmbito da
produção urbana local.
Os processos construtivos de cidade, sejam materiais ou imateriais, são reformulados
processualmente para a continuidade do modo de produção e sustentação de suas bases
financeiras. Para Pádua (2015), há necessidade de identificação das bases ideológicas da
produção do espaço, considerando a importância das mesmas para a produção da vida social
na metrópole.
A hierarquia dos lugares e dos usos decorrentes da centralidade é perceptível na cidade
contemporânea; uma das explicações dada a este fato é a redefinição funcional do centro no
processo de estruturação do espaço urbano, sendo este um processo essencial para a dinâmica
das cidades e fluidez do capital no atual modo de produção.
O espaço público, em especial a praça pública (foco dessa pesquisa), pressupõe muito
além da forma física. Abrange questões relacionadas diretamente à diversidade de usos e
significados dados por seus usuários, sendo, portanto, considerada, uma categoria constitutiva
de cidade. Neste âmbito de discussões, a conformação e reconfiguração de espaços públicos
SEÇÃO LIVRE 205

de lazer na cidade contemporânea é resultante de processos decorrentes das formas de uso


espacial pela sociedade, que nele se materializa, conduzidas por processos ideológicos
focados no consenso sobre a necessidade de melhoria da qualidade ambiental e de vida da
sociedade.
Entendidos também como áreas de sociabilidade e lazer, os espaços públicos são
indispensáveis ao cotidiano das cidades e também podem ser percebidos com dupla função,
pois, de acordo com Figueiredo (2008), ao mesmo tempo em que proporcionam lazer aos
moradores, podem ser vistos como uma pequena amostra cultural do que determinada
sociedade possui, atraindo os visitantes que querem conhecer o que pode ser classificado
como típico do lugar.
Predominou na província de Belém do Grão Pará, entre os séculos XVII e XIX, um
olhar pejorativo sobre o rio e as águas próximas a ele, que pode ser associado aos medos e
traumas que as grandes navegações colonizadoras geraram na humanidade. Tragédias
marítimas decorrentes de naufrágios, proliferação de doenças e náuseas do mar são apenas
alguns dos exemplos citados por Corbin (1989), que fazem muito sentido neste artigo, pois
trata da elevação do espaço formal de lazer e da depreciação de práticas culturais
manifestadas pelas classes populares, a exemplo do banho de rio e rodas de batuque.

Os espaços de uso hegemônico na cidade, quando olhados sob o ponto de vista da


produção urbana, revelam apenas elementos valorativos de embelezamento urbano e
desenvolvimento econômico de uma época. Permanecem ocultos as lutas de classes e formas
de resistências, como foi possível identificar nas manifestações de lazer e sociabilidades das
classes populares, presentes nos séculos que decorreram a fundação da cidade.

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ramal da estrada de ferro de Bragança em Belém do Pará. Tese de Doutorado. São Paulo,
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Recebido em: 22/04/2019


Aprovado em: 28/07/2019

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