Tema 01 - PV - Aluno

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BALCÃO DE REDAÇÃO

tEmA 1 – 2011 V | PERÍODO DE 7 A 13 DE FEVEREIRO

PERSPECTIVAS

Orientações para o aluno


Assistimos, dia após dia, com uma velocidade e uma intensi-
Tanto no campo sociopolítico como no econômico, quanto dade inimagináveis há uma década, à “tragédia dos bens comuns”,
em relação à cultura, à ciência e à tecnologia, deparamo-nos como a definiu Garret Hardin, no distante 1968: um empobrecimen-
com um novo contexto mundial, com novos protagonistas, no- to contínuo e irremediável de recursos naturais, de bens e valores
vas crises, novos paradigmas... que compõem a inestimável biodiversidade natural, social e cultural
Entramos em 2011 cheios de expectativas e dúvidas. E do planeta; o aprofundamento de uma tendência ao consumo ilimi-
neste primeiro tema, mister se faz uma reflexão acerca das pers- tado destes bens, que por sua natureza constituem um patrimônio
pectivas em relação aos novos desafios. inalcançável para alguns.
Bom início! Essa é também uma das manifestações da crise da qual não
Margaret Cristina Toba conseguimos ver o fim, não tanto pelas tendências flutuantes da bol-
Coordenadora do Colégio Mater Amabilis sa ou pela lentidão da “reativação econômica”, mas sim porque
não há sinais tangíveis de uma inversão de orientação na governa-
Texto 1 bilidade mundial da economia. Está difícil atingir a percepção do
limite dos recursos naturais e dos bens comuns que impulsione a
“É preciso pensar nossa realidade na perspectiva da trans- construção de um terceiro e mais sustentável caminho, um caminho
formação”, Leonardo Boff, em palestra dada pelo filósofo du- alternativo à privatização ou ao consumo irresponsável. Por isso, em
rante o programa “Gestão Estratégica para a Sustentabilidade”, meio à crise, os governos dos países que integram o G20 introduzi-
realizado pelo UniEthos em 2010. ram no sistema financeiro 13,6 bilhões de dólares, sem condicionar
a liberação desses recursos a mudanças estruturais nem destiná-los
Texto 2 a investimentos para o desenvolvimento ou a redução dos dese-
quilíbrios sociais. Foram recursos mobilizados rapidamente, apesar
Ano novo, vida nova de ter sido declarado impossível, algum tempo antes, mobilizar um
[...] montante 20 a 30 vezes inferior, necessário para alcançar os Obje-
Em volta, a violência da paisagem urbana e nossa dificuldade tivos do Milênio.
de conectar efeitos e causas. Como se meninos de rua fossem co- [...]
gumelos espontâneos e não frutos do darwinismo econômico que Em 2010, assistimos a um número impressionante de eventos
segrega a maioria pobre e favorece a minoria abastada. O mesmo extremos relacionados com um modelo de desenvolvimento
executivo que teme sequestro e brada contra bandidos abastece o destruidor dos bens comuns e com seu uso desequilibrado e
crime ao consumir drogas e corromper o poder público. irresponsável. Esses eventos nos sugerem que é urgente ter outro
Ano novo, vida nova. No fundo da garganta, um travo. Vonta- olhar, uma mudança radical de rota na forma de utilizar esses
de de remar contra a corrente e, enquanto tantos celebram a pós- recursos. O desastre ecológico causado pelo acidente petrolífero
-modernidade, pedir colo a Deus e resgatar boas coisas: a oração da BP no Golfo do México mostrou a impotência, inclusive dos EUA,
em família, o amor sem pressa, a leitura dos místicos, o diálogo para prevenir o desastre e avaliar suas reais consequências. Os
amigável com os filhos, a solidão entre matas, o gesto solidário ca- incêndios dos bosques russos; as mudanças climáticas produzidas
paz de amenizar a dor de um enfermo. Reencontrar, no ano que se pelo deslocamento de 260 quilômetros quadrados do maior iceberg
inicia, a própria humanidade. Despir-se do lobo voraz que, na arena do mundo na Groenlândia; temperaturas inéditas como os 37,2° na
competitiva do mercado, nos faz estranhos a nós mesmos. Finlândia ou os 54° no Paquistão.
[...] Mas 2010 também foi o ano em que, segundo avaliação da
Frei Betto, Adital, 16 jan. 2010. <www.adital.com.br/site/noticia. Global Footprint Network, cruzamos a fronteira crítica para além da
asp?lang=PT&cod=44255>. qual o consumo global dos recursos naturais superou a taxa de rege-
neração deles por parte da natureza. Apesar de que, há décadas, a
Texto 3 comunidade científica e o movimento ecológico venham assinalando
o risco de superação desse ponto, não soubemos parar, moderar nos-
O cuidado com os bens comuns so consumo, estabelecer um limite, e fizemos a coisa mais irresponsá-
[...] vel que poderíamos fazer: decidimos gastar as reservas de recursos de
O que é comum à maioria dos indivíduos recebe o mínimo nossos netos, nos demos o direito de comer o futuro.
cuidado. Cada um pensa especialmente em si mesmo e quase nada [...]
no interesse comum.
Aristóteles. Política.

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BALCÃO DE REDAÇÃO – tema 1 – 2011

Os interesses individuais e particulares da política pisoteiam os Terra Futura é uma importante iniciativa da sociedade civil ita-
direitos humanos fundamentais (um exemplo evidente é a discrimi- liana dedicada a debater questões globais. Todos os anos, mais de
nação contra a população romena, que foi enviada à fronteira pelo 70 mil pessoas visitam suas exposições e participam de seus deba-
presidente francês Sarkozy, o qual, poucos dias depois, invocou a tes. Este ano, o encontro que será realizado em Florença, no mês de
ajuda da ONU para combater a pobreza por meio da aplicação da maio, terá como tema central os bens comuns.
Taxa Tobin). Ignora-se o direito de cada um ter um espaço público CartaMaior, 28 jan. 2011. Trad. de Katarina Peixoto.
para praticar sua religião, com a ilusão de velar pela própria identi- <www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_
id=17328&boletim_id=815&componente_id=13403>. (Adapt.).
dade (ameaçando lançar textos sagrados na fogueira e impedindo
a construção de mesquitas). A exploração intensiva das terras e das
produções agrícolas empobrece os recursos naturais, cria injustiças Proposta de redação
e conflitos sociais e impulsiona comportamentos irresponsáveis na
política (o exemplo são as quotas de leite europeias na Itália ou o Segundo o Dicionário Aurélio, “perspectiva” é a “arte de
estímulo ao uso de organismos geneticamente modificados). representar os objetos sobre um plano, tais como se apresentam
[...] à vista; pintura que representa paisagens e edifícios a distância;
Estas realidades demonstram uma verdadeira unidade, enten- aspecto dos objetos vistos de uma certa distância; panorama;
dida não como simples fato formal, mas sim como uma autêntica aparência, aspecto sob o qual uma coisa se apresenta, ponto de
unificação de destino entre biosfera e “sociosfera”, uma alternativa vista; expectativa, esperança”.
à degradação dos bens materiais e das relações. Assim, baseado nos textos apresentados e em suas leituras,
Enquanto se realizam uma após outra as cúpulas entre gover- redija uma dissertação em prosa sobre o tema:
nos que mostram sua submissão às lógicas do liberalismo econômi-
co, enquanto as Nações Unidas parecem seguir atuando com méto- Perspectivas de transformação para o contexto atual
dos que não levam a lugar nenhum (a cúpula sobre a biodiversidade
no Japão, em outubro de 2010, foi a última de uma longa cadeia de
encontros – desde o do Rio em 1992 até Johannesburgo em 2002
– cujos resultados foram inversamente proporcionais às expectativas
despertadas), nossa tenaz esperança se situa no que estão fazendo
concretamente no mundo os cidadãos, indivíduos da sociedade civil
organizada, empresas e governos locais.
Todos estes sujeitos estão buscando a forma de construir uma
sociedade mais justa e sustentável, na base dos valores e das rela-
ções no lugar da monetarização e da exploração cega do futuro.
[...]

Milhares de arroios, um rio, Terra Futura


Finalmente, hoje, após anos em que só uns poucos iluminados
pioneiros se atreviam a falar, começa a se construir o vasto e concre-
to projeto de reconversão econômica, ecológica e social do modelo
de desenvolvimento e de redistribuição das riquezas entre as possí-
veis e necessárias soluções. Mas esse rio só conseguirá chegar ao
mar se reunirmos todos os afluentes, todos os riachos em um grande
estuário. É um compromisso importante e complexo porque não é
suficiente somar fluxos. É preciso também equilibrar os muitos e dife-
rentes projetos para ter um olhar global e, ao mesmo tempo, cuidar
cada um de seus cursos-d’água. É um grande trabalho que só pode-
rá ser realizado unindo competências, experiências e sensibilidades
diferentes (como ocorre há 8 anos entre os sócios de Terra Futura)
e tornando as próprias comunidades protagonistas dessa mudança:
só esses sujeitos têm as ferramentas e o interesse (e, portanto, a
responsabilidade) para unir a multiplicidade de arroios e dar assim
um novo nome ao mar do desenvolvimento, convertendo-o no mar
da igualdade, da sustentabilidade e da justiça.

www.sistemapoliedro.com.br

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