Paulo - 05

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PAULO

SUA VIDA, CARTAS E


TEOLOGIA
Instituto Bereana
Prof. Danilo Moraes
2 A CONTROVÉRSIA SOBRE A CIRCUNCISÃO DOS
GENTIOS E a nova compreensão da lei
 Alguns homens desceram da Judéia para Antioquia e passaram a ensinar
aos irmãos: "Se vocês não forem circuncidados conforme o costume
ensinado por Moisés, não poderão ser salvos". Atos 15:1
 Alguns desceram de Jerusalém à Antioquia reivindicando terem sido
enviados por Tiago, e sua visita precipitou um pequeno terremoto na igreja
de Antioquia e uma controvérsia descrita pelo próprio Paulo de modo tão
duro que coramos, mesmo à distância. Essa pode muito bem ser a
situação a que Paulo se refere, quando fala dos "falsos irmãos" que se
infiltraram na comunidade gentio-cristã, "com o fim de espreitar a nossa
liberdade que temos em Cristo Jesus e reduzir-nos à escravidão" (Gl 2.4).
 Paulo então partiu para Jerusalém na esperança de esclarecer tudo com
aqueles que pareciam causar o problema — obviamente, eles pensavam
que Paulo era o causador do problema, pois controvérsias são sempre
assim.
3 A CONTROVÉRSIA SOBRE A CIRCUNCISÃO DOS
GENTIOS E a nova compreensão da lei
 Pedro foi a Antioquia, talvez no início de 48 d.C. O motivo de sua
chegada é desconhecido, visto que toda sua movimentação
não é registrada depois de seu escape surpreendente da prisão,
em Atos 12:17; tudo que sabemos é que ele trabalhou como
missionário itinerante. O mais importante é saber que,
inicialmente, Pedro ficou contente em aceitar a prática local dos
seguidores de Jesus, tendo cristãos judeus e cristãos gentios
vivendo juntos como “família”, compartilhando a mesma mesa.
Afinal, era esse o princípio que ele mesmo, Pedro, havia adotado
em Atos 10— 11 ao visitar Cornélio, justificando sua ação aos
críticos em Jerusalém. “Ao que Deus purificou”, lhe havia sido
dito, “você não pode considerar algo comum”. (At 11.9)
4 A CONTROVÉRSIA SOBRE A CIRCUNCISÃO DOS
GENTIOS E a nova compreensão da lei
 Algumas pessoas — não sabemos quem são, porém Paulo diz que
“vieram da parte de Tiago”, de Jerusalém — chegaram em
Antioquia e insistiram que, se aqueles gentios desejassem
pertencer à verdadeira família e tomar parte da grande
operação de resgate ocasionada pelo Único Deus, teriam de ser
circuncidados. Paulo, descrevendo esse momento aos gálatas,
diz que isso fez com que Pedro mudasse de ideia. “até mesmo
Barnabé se deixou levar pela farsa deles”. (Gl 2.13).
 Paulo cria e proclamava que, em Cristo, não havia "nem judeu
nem grego" (Gl 3.28), não importa a distinção que persistisse no
mundo em volta. O muro de separação entre eles tinha sido
demolido pela obra de Cristo.
5 A CONTROVÉRSIA SOBRE A CIRCUNCISÃO DOS
GENTIOS E a nova compreensão da lei
 Quando, porém, Pedro veio a Antioquia, enfrentei-o face a face, por sua
atitude condenável. Pois, antes de chegarem alguns da parte de Tiago, ele
comia com os gentios. Quando, porém, eles chegaram, afastou-se e
separou-se dos gentios, temendo os que eram da circuncisão. Os demais
judeus também se uniram a ele nessa hipocrisia, de modo que até Barnabé
se deixou levar. Quando vi que não estavam andando de acordo com a
verdade do evangelho, declarei a Pedro, diante de todos: "Você é judeu,
mas vive como gentio e não como judeu. Portanto, como pode obrigar
gentios a viverem como judeus? Gálatas 2:11-14
 "Nós, judeus de nascimento e não ‘gentios pecadores’, sabemos que o
ninguém é justificado pela prática da lei, mas mediante a fé em Jesus
Cristo. Assim, nós também cremos em Cristo Jesus para sermos justificados
pela fé em Cristo, e não pela prática da lei, porque pela prática da lei
ninguém será justificado. Gálatas 2:15,16
6 A CONTROVÉRSIA SOBRE A CIRCUNCISÃO DOS
GENTIOS E a nova compreensão da lei
 A própria lei havia previsto um momento em que seria ofuscada por uma
nova realidade, uma realidade messiânica. Quando alguém passa a fazer
parte dessa realidade messiânica, então é essa realidade, não seu
posicionamento anterior como “judeu” ou “gentio” (juntamente com
qualquer outra marca exterior desse posicionamento), a única coisa que
importa.
 “Não rejeito a graça de Deus. Se a “justiça” vem pela lei, então o Messias
morreu em vão”. (Gl 2.21). Deus não precisava ter se incomodado. Se a
Torá, os Cinco Livros de Moisés, fosse suficiente para definir o povo de Deus
de uma vez por todas, então não haveria necessidade de um Messias
crucificado. Ou, colocando-o de outra forma, se Deus declarou, na
ressurreição, que o Jesus crucificado realmente é o Messias, então
também declara que Moisés poderia levá-los apenas até certo ponto.
Moisés apontava para uma terra prometida, uma “herança”, mas ele
próprio não podia conduzir o povo até ela.
7 A CONTROVÉRSIA SOBRE A CIRCUNCISÃO DOS
GENTIOS E a nova compreensão da lei
 “circuncisão… não é nada; nem incircuncisão! O importante é a nova criação”. (Gl
6.15). Em Jesus, Deus fez o que prometeu, inaugurando o movimento por meio do
qual a nova criação estava acontecendo, o reino de Deus na terra como no céu,
e isso leva Paulo ao crucial ponto: em Jesus, o problema posto por Moisés é
resolvido.
 A Torá de Moisés foi dada por Deus para um propósito vital; no entanto, esse
propósito era temporário, cobrindo apenas o período até o cumprimento da
promessa feita a Abraão. Agora que a promessa se cumpriu, a Torá não tem mais
nada a dizer sobre o assunto.
 Todo aquele que pertence ao Messias é o verdadeiro “descendente” de Abraão e
tem a garantia de herdar a promessa do reino, da nova criação. Abraão creu em
Deus, cita Paulo a partir de Gênesis: “e isso lhe foi creditado como um ato de
justiça”. (Gn 15.6, conforme citado e Gl 3.6)
 Aqueles, que creem no evangelho e permanecem leais ao Único Deus devem ser
conhecidos, e se autoconhecer, como parte de uma única família mundial,
prometida a Abraão.
8 A CONTROVÉRSIA SOBRE A CIRCUNCISÃO DOS
GENTIOS E a nova compreensão da lei
 Paulo se opunha à ideia de que, ao submeter-se à circuncisão como
obrigação religiosa, o homem adquire mérito aos olhos de Deus. De modo
similar, a observância de certos dias ou de várias restrições alimentares não
era boa nem má, a não ser que se pensasse que essa observância era
necessária para obter a aprovação divina. Esses eram aspectos da antiga
ordem da lei, que fora substituída pela nova ordem da graça.
 Mas se, como essas pessoas afirmavam, "a justiça é mediante a lei, segue-
se que morreu Cristo em vão" (Gl 2.21); na verdade, se a lei ainda estivesse
em vigor como caminho de justificação, então a era do Messias ainda não
tinha raiado, e Jesus não podia ser o Messias.21 Não é de admirar que
Paulo declarou um anátema sobre o portador de uma mensagem que
levasse a essa conclusão. Uma mensagem assim não era evangelho;
podia ser chamada de qualquer outra coisa, com aparência de
evangelho.
9 A CONTROVÉRSIA SOBRE A CIRCUNCISÃO DOS
GENTIOS E a nova compreensão da lei
 Além disso, se a justificação vinha pela lei, então tem de ser toda a lei. Não se
podia optar e escolher entre as ordens da lei; era tudo ou nada. A lei
pronunciava uma maldição explícita sobre os que não a guardavam
inteiramente. (Dt 27.26)
 "Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos
submetais, de novo, a jugo de escravidão" (Gl 5.1).
 A declaração de que "o fim da lei é Cristo“ (Rm 10.4) tem sido entendida de
várias maneiras. A palavra "fim" (telos) pode significar "meta" ou "término", e
aqui, provavelmente, significa os dois. Cristo, para Paulo, era a meta da lei no
sentido de que a lei era uma provisão temporária introduzida por Deus, até a
vinda do descendente de Abraão, em quem a promessa feita a Abraão foi
consumada; a lei, em outras palavras, "nos serviu de aio para nos conduzir a
Cristo, a fim de que fossemos justificados por fé" (Gl 3.19, 24). Mas Cristo
também foi, pela mesma razão, o término da lei; se, como Paulo diz, a lei era
uma provisão temporária, a vinda de Cristo significou que o seu período de
validade tinha chegado ao fim.
10 A CONTROVÉRSIA SOBRE A CIRCUNCISÃO DOS
GENTIOS E a nova compreensão da lei
 Pode ser dito, como princípio de teologia pastoral, que o confronto com a lei é
um meio salutar de levar o pecador a reconhecer sua incapacidade e a
apelar à misericórdia de Deus.
 Romanos 6.14: "O pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo
da lei, e sim da graça." Estar debaixo da lei — Não apenas a lei de Moisés, mas
a lei de Deus — significa estar sob o domínio do pecado. Estar debaixo da
graça — a graça de Deus trazida por Cristo — significa ser liberto, ao mesmo
tempo, do governo da lei e do domínio do pecado. Isso Paulo tinha provado
em sua própria vida.
 "a lei é pecado“? (Rm 7.7). Paulo não pode concordar; a lei é lei de Deus,
cada um dos seus mandamentos é "santo, e justo, e bom" (Rm 7.12). Mas
podemos ver como o opositor pensa que está levando o argumento de Paulo
à sua conclusão lógica. De acordo com Paulo, a lei não apenas traz o pecado
à luz; ela proíbe o pecado, realmente, mas incentiva exatamente o que
proíbe. Na verdade, diz Paulo, "a força do pecado é a lei" (ICo 15.56).
11 A CONTROVÉRSIA SOBRE A CIRCUNCISÃO DOS
GENTIOS E a nova compreensão da lei
 Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não impor a vocês nada além das
seguintes exigências necessárias: Abster-se de comida sacrificada aos
ídolos, do sangue, da carne de animais estrangulados e da imoralidade
sexual. Vocês farão bem em evitar essas coisas. Que tudo lhes vá bem.
Atos 15:28,29
 PAULO JAMAIS MENCIONA a “conferência de Jerusalém”, descrita em Atos
15; por isso, não podemos ter certeza de sua opinião a respeito dela. Está
claro que as coisas não podiam continuar como estavam, com diferentes
grupos enviando mensagens frenéticas, diversas e contraditórias. No
mínimo, se as coisas continuassem do jeito que estavam.
 Era importante que os seguidores de Jesus alcançassem um meio de
viverem juntos como uma única família, a despeito de tensões inevitáveis
que um movimento novo, porém em rápida expansão, experimentaria.
12 A CONTROVÉRSIA SOBRE A CIRCUNCISÃO DOS
GENTIOS E a nova compreensão da lei
 Pedro deixou a assembleia sem qualquer dúvida de que a pura graça de
Deus, por meio da mensagem de Jesus, havia transformado o coração e a
vida de não judeus sem que se sujeitassem a qualquer lei mosaica e sem
que se circuncidassem. A palavra final é então reservada para Tiago, que,
como sabemos a partir de várias fontes, gozava de enorme respeito não
apenas por ser o próprio irmão de Jesus, mas por devotar-se tão
assiduamente à oração.
 A decisão contrária à imposição da circuncisão aos cristãos gentios deve
ter proporcionado grande satisfação à igreja de Antioquia, e não por
último a Paulo. Não era provável que ele fosse mudar seu costume ou sua
política, qualquer que fosse o veredicto, mas seu trabalho teria ficado
muitíssimo mais difícil, se Jerusalém tivesse continuado a insistir na
circuncisão.
13 A CONTROVÉRSIA SOBRE A CIRCUNCISÃO DOS
GENTIOS E a nova compreensão da lei
 Só porque eles não precisavam ser circuncidados, isso não queria dizer que
seguidores de Jesus dentre os gentios estavam livres para se comportar
como queriam. Eles deviam ter o cuidado de evitar ser motivo de ofensa
aos vizinhos judeus, incluindo os seguidores de Jesus, e, por essa razão, sua
liberdade devia ser reduzida em certas áreas. Entre eles, não deveria existir
imoralidade sexual (uma das grandes diferenças entre estilos de vida
judaico e pagão), nem contato com o que foi “poluído por ídolos” ou
“sacrificado a ídolos”, nem com carne contendo sangue, isto é,
desrespeitando o kosher — pelo menos não enquanto em contato próximo
com comunidades judaicas. Os seguidores de Jesus deviam ter cuidado
quando cercados de questões sensíveis aos judeus.
 Contudo, o problema principal, o da circuncisão, foi resolvido. A
assembleia concordou em enviar uma carta “aos irmãos gentios”, e essa
declaração, por si só, estabelecia o ponto de que cristãos incircuncisos
eram, de fato, parte da família.
14 A CONTROVÉRSIA SOBRE A CIRCUNCISÃO DOS
GENTIOS E a nova compreensão da lei
 No que dizia respeito à comida, a consciência de Paulo estava
totalmente emancipada. Ele sabia, do ensino de Jesus, que
nenhum tipo de comida era impuro ou contaminado em si, em
termos religiosos; (Rm 14.14) toda impureza ou contaminação
atribuída a ela tinha origem não no alimento mas na mente
humana. Contudo, ele estava ansioso por não atrapalhar os que
tinham mais escrúpulos nisso do que ele. Com alegria ele
aceitaria as restrições de alimentos especificadas no decreto
apostólico, se isso facilitasse a comunhão entre os cristãos, e
recomendava sua adoção por outros nas mesmas bases. Essa
aceitação, no entanto, tinha de ser voluntária e não compulsória,
e inteligente, baseada no dever do amor cristão e não na ideia
de que havia algo errado e inadmissível per se em certos tipos de
comida.
15 A CONTROVÉRSIA SOBRE A CIRCUNCISÃO DOS
GENTIOS E a nova compreensão da lei
 Libertação da Lei
 Para Paulo o verdadeiro significado do pecado não foi
descoberto aos pés de Gamaliel, mas aos pés da cruz!
 O homem que conhecia a importância da disciplina pessoal,
"para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser
desqualificado" (lCo 9.27), o homem que corria para ganhar "o
prémio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus" (Fp 3.14)
sabia que era preciso correr por essa "coroa imortal" em meio a
"pó e calor". Contudo, a vitória que lhe fugia, quando a buscava
sob a lei ou por suas próprias forças, foi rapidamente alcançada,
quando aprendeu a depender da ajuda do Espírito.
16 A CONTROVÉRSIA SOBRE A CIRCUNCISÃO DOS
GENTIOS E a nova compreensão da lei
 Deus fizera tudo o que a lei não podia fazer, por causa da
incapacidade da natureza humana na qual ela atuava; ele
enviou seu Filho para fazer um trabalho como ser humano e pelo
ser humano que, de outra forma, não poderia ter sido feito, "a fim
de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos
segundo a carne, mas segundo o Espírito (Rm 8.3s). A lei pertence
à era passada, à era da incapacidade espiritual do ser humano
(que é expressa pelo uso do substantivo "carne", característico de
Paulo); o Espírito é um adiantamento da nova era, em que o ser
humano, liberto da escravidão inevitável na era antiga, pode
"fazer, de coração, a vontade de Deus" (Ef 6.6)30 ou, como Paulo
diz em outro lugar, produzir "o fruto do Espírito" (Gl 5.22s).
17 A CONTROVÉRSIA SOBRE A CIRCUNCISÃO DOS
GENTIOS E a nova compreensão da lei
 A transição da era antiga para a nova — da fraqueza da "carne" para o poder
do Espírito — é efetivada pela vinda de Cristo. A ineficiência da lei era devida
à inadequação da "carne" — a natureza humana fraca — para obedecer.
 Jesus veio como ser humano verdadeiro nascido de mulher, viveu "debaixo da
lei" (GI 4.4), mas triunfou onde os outros falharam. Além de fazer a vontade de
Deus, assumiu no lugar dos outros a maldição pronunciada pela lei, sobre os
que a transgrediam (ao aceitar a forma de morte que, segundo a lei, a
maldição divina implicava), redimindo, assim, dessa maldição os que estavam
debaixo da lei, para que pudessem receber, pela fé, o Espírito prometido e a
adoção de filhos na família de Deus (Gl 3.10-14; 4.4-6).
 Assim, pela encarnação de Cristo e seu sacrifício de si mesmo pelo pecado
dos outros, Deus (diz Paulo) "condenou, na carne, o pecado" (Rm 8.3) —
condenou-o na natureza humana como um todo — e deu início à nova era de
liberdade espiritual, a era, podemos dizer, da nova aliança.
18 A CONTROVÉRSIA SOBRE A CIRCUNCISÃO DOS
GENTIOS E a nova compreensão da lei
 A diferença esta no fato de que um novo poder interior agora era
concedido, capacitando o crente a cumprir o que não podia
antes. A vontade de Deus não mudara; mas, enquanto ela
estava antes registrada em tábuas de pedra, agora ela estava
gravada em corações humanos; um impulso interior realizava o
que a compulsão exterior não conseguia.
 A referência ao Espírito deve nos lembrar que o ensino de Paulo
aqui aponta para o cumprimento não só do anúncio da "nova
aliança" por Jeremias, mas também dos anúncios paralelos de
Ezequiel 11.19s e 36.25-27, onde Deus promete implantar em seu
povo um novo coração e um novo espírito.
19 A CONTROVÉRSIA SOBRE A CIRCUNCISÃO DOS
GENTIOS E a nova compreensão da lei
 E a esse novo coração, um "coração de carne" (Ez 11.19; 36.26) que
Paulo faz referência, quando diz que a mensagem da nova era foi
escrita "pelo Espírito do Deus vivente, não em tábuas de pedra, mas
em tábuas de carne, isto é, nos corações" (2Co 3.3).
 Um código de leis por escrito era um veículo inadequado para
transmitir a vontade de Deus; ela recebeu essa forma apenas com
um propósito temporário — deixar claro ao ser humano a
incapacidade e pecaminosidade a que ele estava sujeito na carne
— ou seja, em sua fraqueza de criatura. Fazer a vontade de Deus
não é uma questão de conformidade a regras exteriores, mas de
dar expressão ao amor interior, gerado pelo Espírito. Por isso, diz
Paulo, "a letra mata, mas o espírito vivifica" (2 Co 3.6).
 Somente na atmosfera da liberdade espiritual é possível obedecer
corretamente à vontade de Deus e confirmar sua lei.
20 A CONTROVÉRSIA SOBRE A CIRCUNCISÃO DOS
GENTIOS E a nova compreensão da lei
 A lei do amor
 Se a lei do Espírito é a lei do amor, então ela é idêntica ao que
Paulo, em outro lugar, chama de "a lei de Cristo": "Levai as cargas
uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo" (Gl 6.2). Por "lei de
Cristo" ele pode estar pensando na "lei que Cristo exemplificou" ou
na "lei que Cristo delineou", quando disse que toda a lei e os profetas
dependiam dos mandamentos gémeos de amar a Deus e amar o
próximo (Mt 22.40). Essa reinterpretação da lei é ecoada por Paulo,
quando diz que "toda a lei se cumpre em um só preceito, a saber:
Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Gl 5.14), ou que "o amor
não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da
lei é o amor" (Rm 13.10).
21 A CONTROVÉRSIA SOBRE A CIRCUNCISÃO DOS
GENTIOS E a nova compreensão da lei
Lutero ao penetrar na mente de Paulo, disse: "O cristão
é livre de todos e sujeito a ninguém. O cristão é o servo
mais solícito de todos, a todos sujeito." "Sujeito a
ninguém" no que diz respeito à sua liberdade; "a todos
sujeito" no que diz respeito ao bem que faz. Essa, para
Paulo, é a lei de Cristo, porque assim é que Cristo vivia. E
dessa maneira, para Paulo, o propósito divino que
subjazia lei de Moisés, é evidenciado e concretizado.

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