LV - 21 Dias Na Vida de Um Discipulo

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Copyright © 2009 Aluízio A.

Silva

VINHA Editora

Editora associada à ASEC – Associação Brasileira de Editores Cristãos

Diretor geral Aluízio A. Silva

Diretor Superintendente Naor Pedroza

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Gerente comercial Alexander Rodrigues

Produção Robson Júnior

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de qualquer forma ou por qualquer meio sem a autorização prévia e por escrito
do autor. A violação dos Direitos Autorais (Lei nº 9610/98) é crime estabelecido
pelo artigo 48 do Código Penal.

Impresso no Brasil

Printed in Brazil

2010
21 dias na vida de um discípulo - Edificando relacionamentos para o reino
Categoria: Vida cristã / Devocional / Jejum

Copyright © 2009 Aluízio A. Silva


Todos os direitos reservados

1ª edição outubro de 2009


Revisão Thaís Monteiro
Projeto gráfico e diagramação Michele Araújo Fogaça
Capa Julio Carvalho
Impressão Gráfica Renascer

Os textos das referências bíblicas foram extraídos da versão Almeida Revista e


Atualizada (Sociedade Bíblica do Brasil), salvo Indicação específica.

Dados internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Silva, Aluízio A., 2009


21 dias na vida de um discípulo - Edificando relacionamentos para o reino
/ Aluízio A. Silva. – Goiânia: VINHA Editora, 2009
ISBN: 978-85-98510-55-2
1: Vida cristã 2: Devocional 3: Jejum 4: Título CDD : 230/240

Índice para catálogo sistemático:


1: Vida cristã: Devocional: Jejum 230/240

Editado e publicado no Brasil por:


VINHA Editora
Av T-7, 1361 Setor Bueno CEP: 74.210.260
Goiânia – GO – Brasil
Telefone: (62) 3251-0440 sac@vinhaeditora.com.br
Índice
Introdução 7
1º Dia – Multidão, seguidor e discípulo 11
2º Dia – Objetivos do discipulado 27
3º Dia – Como formar um discípulo 39
4º Dia – Um roteiro de discipulado 47
5º Dia – Estágios do discipulado 63
6º Dia – Paulo, o discipulador de Timóteo 71
7º Dia – Elementos do discipulado 83
8º Dia – Jesus como padrão de discipulador 93
9º Dia – Qualificações que nunca nos disseram 103
10º Dia – Abusos no discipulado 113
11º Dia – O bom discípulo 125
12º Dia – O alvo do líder de célula é discipular novos líderes 137
13º Dia – As microcélulas 147
14º Dia – A relação do discípulo com o discipulador 157
15º Dia – Qualificações do discipulador 169
16º Dia – Doze diferenças entre filhos e empregados 181
17º Dia – O valor de um discipulador 197
18º Dia – Doze características de pais e patrões 213
19º Dia – A mentalidade de um discípulo 227
20º Dia – O discipulador como um supervisor 241
21º Dia – Os resultados do discipulado 257
Introdução

O discipulado nos fala da aceitação do preço da cruz. É inte-


ressante vermos que Jesus pegou homens comuns, analfabetos,
sem formação religiosa alguma e passou a esses homens todo o seu
ministério, sua unção e sua autoridade. Jesus passou o seu “man-
to”. É importante entendermos que Ele não deixou por herança
o ministério para a multidão. Somente os discípulos receberam
um ministério.
No Velho Testamento, vemos que a formação do ministério pro-
fético era realizada através de um vínculo de discipulado no qual o
discípulo servia e tinha uma vida em comum com o profeta a quem
estava ligado. A Palavra diz que Eliseu deitava água nas mãos de Elias.
Em II Rs 3:11, vemos que Eliseu havia se disposto a se submeter,
a seguir e a servir Elias. Abdicou de viver independentemente para
ter vínculos com ele. É importante vermos que, quando Elias foi
arrebatado, o seu “manto”, que representava toda a sua unção, o seu
poder e o seu ministério profético reconhecido nacionalmente, foi
passado apenas para Eliseu, que era o seu único discípulo. Da mesma
forma, é necessário entender que antes de alguém ser enviado para
8 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

um lugar, ou liberado para ocupar uma função qualquer na igreja,


ou estar à frente de qualquer obra, como líder, como obreiro, ou
como pastor é necessário que sejam estabelecidos fortes vínculos
de discipulado.
Muitos têm priorizado o “ir” em prejuízo do “ser”, o realizar a obra
de Deus em vez de enfatizar a necessidade de vida, de formação do
caráter de Cristo como condição para isso. Antes de dar qualquer coisa
para alguém fazer, precisamos aprovar essa pessoa através de vínculos
de discipulado, em confiança, em amor e em sujeição.
Discipulado nos fala de pegarmos alguém no nível do vale e o
levarmos para o nível do monte. Fala-nos de ensinar e praticarmos
juntos as disciplinas espirituais, corrigindo os princípios de vida
errados enraizados em sua alma, as heranças familiares, as formas
erradas de responder às falácias do diabo, etc.
Só o discipulado equilibrado pode gerar líderes de fato apro-
vados. Todavia é importante ressaltarmos que não podemos levar
alguém além de onde nós mesmos já chegamos. O discípulo não
pode ser superior ao seu mestre. Assim, o discipulado é uma visão
de reprodução, de multiplicação. Precisamos ser cuidadosos para
não permitirmos discipuladores que possam reproduzir na vida da
igreja um padrão fraco ou diferente da visão.
Discipulado é uma questão de apropriação. No relacionamento
de discipulado, o discipulador vai plantar a Palavra, vai instruir nos
princípios de Deus, vai armar, vai equipar, vai adestrar, vai tornar
o discípulo íntimo das armas, torná-lo perigoso espiritualmente
contra as trevas, e então vai enviá-lo.
Não são programas que vão instruir discípulos. A Palavra diz que
é o Espírito Santo quem gera crescimento em nós. Na carta aos Fi-
lipenses, lemos que “Aquele que em vós começou a boa obra há de
aperfeiçoá-la”. Assim, quando oramos pedindo a Deus que nos forme,
Ele responde nos levando a situações que irão nos quebrar e moldar.
Devemos responder positivamente nessas situações de tratamento.
Introdução 9

Desta forma, num vínculo de discipulado não existe um currículo


previamente estabelecido a ser cumprido, mas simplesmente nos
abrimos para nos relacionar, aguardando as circunstâncias geradas
pelo Espírito de Deus. Quando tais situações vierem, simplesmente
avaliamos e corrigimos as atitudes e as motivações erradas que virão
à tona. Deus certamente criará circunstâncias de correção, de disci-
plina, que pelo mover do Espírito vão gerar um crescer de fé em fé,
de glória em glória.
Em Mateus 4:23, a Palavra nos diz: “Percorria Jesus toda a Galiléia
ensinando nas Sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando
toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo”. O aspecto de
ensino a um público é apenas umas das formas de ensino usadas por
Jesus. Esta forma de instruir traz resultados, mas não é completa. Jesus
era também um professor, mas investiu mais no discipulado. Uma
grande perda é nos prendermos exclusivamente ao ensino de sala de
aula. Basicamente só existem professores em nossas igrejas. Precisamos
desesperadamente de discipuladores.
Finalmente, no final do Evangelho de Mateus, fechando seu
ministério, Jesus orienta a Igreja a ir e a fazer discípulos, ensinando-
os a guardar a Palavra. Ele não disse: “Ensine-os a entender”, mas
ensine-os a guardar. O ensino de púlpito atinge tanto o visitante
quanto o frequentador, mas não faz discípulos. Jesus não tinha o
pensamento de que o ensino impessoal praticado nas sinagogas
formaria alguém. O que levou vidas a serem semelhantes a Ele foi
um vínculo sólido e profundo de discipulado.
O nível de ensino que precisamos praticar é o “ensinar a guar-
dar”, e só se atinge este nível de ensino com profundo compromisso
de relacionamento, onde eu posso ver a realidade de vida do meu
discipulador e entrar naquela realidade.
Precisamos entender com clareza isto: discipulado são vínculos
formados em Deus, vínculos que implicam em decisão, custos a
serem pagos e um objetivo a ser cumprido.
10 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Para que Jesus chamou os doze? Ele não os chamou para uma
reunião de estudo bíblico, nem para uma reunião de discipulado.
Evidentemente, Ele também não os chamou para uma escola bíbli-
ca. Marcos 3:14 diz que Jesus os chamou para estarem com Ele e
para os enviar a pregar. A expressão “para estarem com Ele” define
a estratégia básica de Jesus. Ele queria uma relação estreita com os
seus discípulos para transmitir-lhes a sua vida pelo exemplo. Jesus
era um homem de relacionamentos e seus discípulos aprenderam
tudo, vendo.
Os discípulos viam como Jesus se relacionava com os pobres, o
que dizia para os ricos, como tratava os enfermos, como respondia
aos hipócritas, como expulsava os demônios, o que fazia quando
estava cansado, como reagia a uma tempestade no mar, como tra-
tava as prostitutas, como reagia às mentiras e calúnias, como amava
a Israel, como orava ao Pai, quando ria, quando chorava, quando
esbravejava e derrubava mesas, quando era preso e até como morreu.
Quando Jesus mandou fazer discípulos (Mateus 28:18-20), o que
os discípulos entenderam? O que passou pela mente deles quando
ouviram a ordem de Jesus? Certamente, para eles era como se Jesus
estivesse dizendo: “O que eu fiz com vocês, façam com outros”.
Esta comissão incluía pregar a muitos como Jesus pregou mas, es-
sencialmente, se referia a relações de discipulado.
Isso não é um método a mais. É a prática de Jesus. É o que sus-
tenta, edifica e ajusta ao corpo cada membro. Assim, ninguém fica
só. Todos têm um “pai” ou uma “mãe” espiritual.
Em II Timóteo 2:2, vemos que Paulo fala de várias gerações de
discípulos. Este texto mostra como estas relações de discipulado
prosseguem para a formação de vários níveis de ministérios. É neste
desenvolvimento que vão surgir líderes de célula, discipuladores e
até pastores.
1º Dia

Multidão, seguidor e discípulo

Podemos ver, através do capítulo 13 de Gênesis, a partir do ver-


so 14: “O Senhor disse a Abraão, depois que Ló se separou dele:
Ergue os olhos e olha para o Norte, para o Sul, para o Ocidente e
para o Oriente, porque, toda essa terra que vês, eu te darei a ti e à
tua descendência para sempre”.
Antes de Deus nos dar a posse da promessa, Ele nos dá uma
visão clara dela. Antes de conquistarmos a terra, Deus nos mostra
qual é a terra e como Ele quer que a conquistemos. Assim, antes
de começarmos qualquer obra na casa de Deus, precisamos ter o
modelo e as explicações detalhadas a respeito de como edificá-la.
Quando Deus mandou Moisés edificar o Tabernáculo, disse: “Cui-
de para que tudo seja feito conforme o modelo que te foi dado no
monte” – conforme a visão.
Uma das causas de frustrações é a falta de entendimento claro
de como fazer. Nestes dias queremos unidade em nossa igreja lo-
cal, mas nos falta a clareza necessária para a alcançarmos. Digo isso
porque toleramos situações que contradizem nosso alvo e uma delas
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é permitirmos líderes entre nós que não são realmente discípulos.


Eles até se dizem discípulos de Jesus, mas se recusam a aprender
conosco na condição de discípulos na igreja.
O discipulado é uma condição fundamental para que haja
unidade entre nós. Dizemos que o praticamos e temos até irmãos
que são chamados de discipuladores, mas são realmente discípu-
los? São discipuladores de quem? Quem os segue? Quem os ouve?
Precisamos definir melhor nossos termos e esclarecer expectativas.
Vamos primeiro dizer o que não é discipulado, para depois
defini-lo com mais precisão.
Discipulado não é uma classe de aula cheia de alunos com um
professor à frente. Salas de aula são necessárias para se passar uma
visão e até para formar alguns discipuladores, mas uma reunião des-
se tipo não é discipulado. Podemos dizer que é uma boa forma de
ensino, mas não é o próprio princípio de discipulado em operação.
Outra coisa que não é discipulado: um relacionamento de acon-
selhamento esporádico no qual uma pessoa, quando precisa, quando
tem alguma necessidade ou problema, procura alguém mais expe-
riente, um pastor ou um líder, para receber conselho e uma luz nova
sobre determinada circunstância. Isso pode ser um relacionamento
de aconselhamento, mas não é discipulado.
Também não é discipulado uma mera relação hierárquica. O
líder não é necessariamente o discipulador do liderado. O liderado
exerce uma função por causa da estrutura, mas não existe um re-
conhecimento espiritual do seu líder. Podem até chamar o líder de
discipulador, mas na prática é só um título hierárquico.
Por que nada disso é discipulado? Porque o cerne do discipulado
não é uma programação humana e nem a estrutura de uma orga-
nização, mas vínculos fortes entre alguém com coração ensinável e
um discipulador aprovado. O centro do discipulado são vínculos,
ligaduras no espírito, alianças entranháveis, compromisso de sub-
missão, de andar na luz, de se deixar tratar. Esse comprometimento
1º Dia – Multidão, seguidor e discípulo 13

é que define se o relacionamento é ou não discipulado. Esse vínculo


é o compromisso pelo qual aceito o desafio de andar na luz com
alguém e “herdar o seu manto”, submeter-me a ele e abrir mão dos
meus conceitos errados. Esses vínculos é que definem o discipulado.
Discipulado é “vínculo íntimo, sólido e entranhável entre duas
pessoas – discipulador e discípulo”. O discípulo, que deve ser aberto,
maleável, tratável e desejar ser formado em Deus, será conduzido
por um discipulador: alguém cuja vida cristã global foi aprovada e
anteriormente discipulado por outrem, para levá-lo a uma posição
mais elevada em Deus, de aprendizado da Palavra e de vida.
Entrar no padrão do discipulado é entrar no estilo de vida de
Jesus. Somos convidados a viver uma vida de despojamento, ne-
gando-nos a nós mesmos e diariamente tomando a cruz.
O convite é para servirmos, honrarmos e nos submetermos
ao outro. É mais do que algo exterior, é uma renúncia completa
a ocuparmos o primeiro lugar, seja qual for o contexto. A ênfase
não está no quanto de unção, autoridade e revelação eu tenho ou
posso vir a ter, mas no quanto estou disposto a abrir mão para
aprender. O convite é para humilharmo-nos, esvaziarmo-nos de
nós mesmos e então começarmos a crescer, pois o alvo do disci-
pulado é o crescimento. A promessa de Jesus é infalível: “Aquele
que se humilhar será exaltado”. “Humilhai-vos, portanto, diante
de Deus e Ele vos exaltará”.
Discipulado é viver uma vida de renúncia. Mas por que devemos
renunciar? Porque essa é a única forma que Deus tem para produzir
em nós quebrantamento e real dependência dEle, que é o caminho
para a maturidade.
Foi no cárcere que José, tendo um coração correto, tornou-se
rei do Egito; foi no deserto, despojado e humilhado, que Moisés
tornou-se o homem que falava com Deus face a face; foi sendo
humilhado, aceitando servir e depois aprendendo com ministé-
rios já reconhecidos, que Paulo tornou-se apóstolo. Discipulado é
14 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

aparentemente uma perda, mas uma perda que desemboca numa


gloriosa vida quebrantada. Quem aceita torna-se discípulo, perde
a sua vida da alma para ganhar a vida não criada de Deus. Quem
não aceita vive uma vida natural e medíocre, não cresce e é uma
eterna criança na fé.
Jesus desenvolveu pelo menos três tipos de relacionamentos.
Podemos observar esses mesmos três tipos de pessoas frequentando
nossa igreja hoje. Podemos dizer que em toda igreja existe o visitante,
o participante e o discípulo.
Ao visitante vamos chamar de multidão. Ao participante vamos
denominar de seguidor ocasional e vamos colocar esses dois níveis de
relacionamento em contraste com a vida de um discípulo.

1. Jesus e a multidão
O primeiro nível de relacionamento que Jesus travou foi o rela-
cionamento com a multidão. No capítulo 6 do Evangelho de João,
lemos no verso 2 que: “Seguia-o numerosa multidão porque tinham
visto os sinais que Ele fazia na cura dos enfermos”.
O ministério de Jesus foi um ministério de multidões, mas Ele
nunca as priorizou. Por quê? Porque o nível de resposta e de com-
promisso da multidão é pequeno, inseguro, desconhecido e o nível
de impacto e transformação da Palavra sobre ela é pequeno. Jesus
deu prioridade aos vínculos profundos que tinha com os discípulos.
A Bíblia diz que a multidão o seguia por causa dos sinais e das curas
que Ele fazia. O que quer dizer isso? Quer dizer que a multidão, por
não ter um relacionamento com Jesus, não era conhecida em suas
motivações, e quem não é conhecido não é confiável.
A massa é levada pelos seus ídolos. Ela vai e vem com extrema
facilidade. Uma atitude do ídolo pode levar a multidão a delírios
ou explodi-la, criando uma tragédia.
1º Dia – Multidão, seguidor e discípulo 15

Precisamos reconhecer em nossa igreja aqueles amados que são


da multidão, para não errarmos cobrando compromissos de quem
não os quer ter.
Não se sabe o porquê da multidão estar conosco. Não temos
segurança do compromisso da multidão. Não a conhecemos e nem
somos conhecidos dela. E porque não conhecemos seu coração,
suas motivações e seu compromisso, não devemos ter expectativas
sobre irmãos desse grupo. Jesus sabia disso. Sabia que aquele povo
estava ali somente para receber e nada poderia ser cobrado dele. O
Senhor, entretanto, não se negava a atendê-lo.
Quando exigimos da multidão algo que só poderíamos cobrar
dos discípulos, ela nos deixa. Grande parte dos que estavam com
Jesus depois se voltaram contra Ele. As opiniões da multidão os-
cilam e fluem de acordo com o conjunto da massa. Por isso Jesus
não priorizava a multidão. Ela define o lugar de pessoas que não
têm compromisso, que não estão dispostas a pagar os custos do
discipulado, de ter um compromisso de andar na luz, de submis-
são, de entrar no padrão dado pelo discipulador. A multidão nunca
decidiu abraçar a cruz, por essa razão Jesus não a priorizava. O seu
relacionamento era distante, ela O via de longe e esporadicamente.
A vida íntima de Jesus era um mistério para aquela gente. Certa
vez o Senhor perguntou a seus discípulos: “Quem diz o povo ser
o Filho do Homem? E eles responderam: Uns dizem: João Batista;
outros: Elias; e outros: Jeremias ou algum dos profetas”. Dizia-se
muitas coisas sobre a Sua procedência, porque não havia laços de
compromisso e o relacionamento entre Jesus e a multidão era de-
terminado por um contato impessoal. Como a multidão vê Jesus
de longe, possui uma percepção distorcida dEle.
Outra coisa que define o comportamento da multidão é a busca
da satisfação de suas próprias necessidades. Só se buscava o profeta
de Nazaré quando havia uma necessidade esporádica. Assim, o com-
promisso estava condicionado às necessidades, por isso, a decisão
16 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

de estar com Ele era uma decisão provisória, onde a independência


conduzia o compromisso.
Sendo assim, do que esse nível de relacionamento de Jesus com
a multidão nos fala? Fala-nos de crentes, possivelmente converti-
dos, salvos, batizados, mas que não têm nenhuma aliança com a
igreja local, nem têm compromisso com o corpo. Buscam sempre
seus próprios caminhos e suas diretrizes particulares. São pessoas
que não se deixam tratar, têm uma forma de apresentação simpá-
tica, são até afetuosas, mas não se deixam tratar. O próprio fato
de serem “afetuosamente superficiais” mostra o seu desejo de se
manterem à distância. Não nos permitem penetrar na sua intimi-
dade, nos seus problemas, nos seus pecados, nas suas deficiências.
São pessoas que não têm nenhum compromisso com a liderança e
muito menos com a visão da igreja. Nem sequer têm compromisso
de assiduidade e de participação naquilo que acontece na igreja.
Como consequência disso, são eternas crianças, conversadores,
materialistas, problemáticos e, é duro admitir, em muitos lugares
formam a maior parte do rol de membros das igrejas-berçário. São
crentes, eventualmente dão o dízimo, têm uma conduta religiosa,
mas se acostumaram com relacionamentos superficiais na casa de
Deus. O relacionamento que a liderança tem com essas pessoas é
um relacionamento de massa, impessoal e distante; um relaciona-
mento de multidão. São irmãos que não têm visão clara de nada:
da vida cristã, dos princípios de vitória, do andar no espírito, etc.
Todas as áreas de sua vida são mais ou menos nebulosas. Vivem
em altos e baixos em sua vida cristã.

O que leva alguém a ser multidão?


Evidentemente, existem pessoas que vivem nesse nível de re-
lacionamento por não terem recebido instrução ou ensinamento.
Diríamos que são multidão involuntariamente. Mas a maioria faz
uma opção por esse nível de relacionamento por inúmeras razões.
Vamos ver algumas:
1º Dia – Multidão, seguidor e discípulo 17

Decepção com estruturas e líderes


Relações frustrantes, escândalos, feridas profundas e decepção
com as estruturas da igreja produzem crentes assim: descrentes de
tudo e de todos, apenas seguem adiante, sem nenhum compromisso
com o Corpo. Infelizmente tais pessoas não percebem que a desilu-
são é o começo do crescimento. Enquanto idealizamos nossos pais,
somos apenas crianças, mas quando os vemos como são, começamos
a entrar na maturidade.

Medo de serem conhecidas


O temor da rejeição, da decepção ou de serem exploradas ou
manipuladas leva as pessoas a fugirem de um compromisso de disci-
pulado. Tais receios são legítimos. Ninguém gosta de ser usado por
outros. Todavia isso não é uma justificativa para ficarmos à parte
do mover de Deus e da vida da igreja.

Ignorância do melhor de Deus


Alguns acham que a vida espiritual miserável em que vivem é o
único modelo de vida com Deus, que seus problemas são só seus e
que ninguém os ajudaria ou entenderia. Creem, em sua ignorância,
que a vontade de Deus é essa.

Por participarem de “obras mortas”


Existem igrejas que produzem crentes da multidão porque não
possuem um fluir do Espírito e da Palavra que confronte e traga à
intimidade com Deus. São igrejas-berçário que se contentam em
fazer programação para entreter os crentes em vez de desafiá-los a
uma vida profunda. São os crentes de campanha, que pulam de um
lugar ao outro procurando a unção mais poderosa.

Falta de compromisso mesmo


Há pessoas que sabem o que Deus quer, convivem com pessoas
de visão, no entanto, optam por uma vida descompromissada.
18 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Nunca têm certeza de nada, porque também nunca se deixaram


tratar pela Palavra. São pessoas que não têm vida abundante com
Deus, não têm vida frutífera, não têm vitórias. São crentes centra-
lizados em si mesmos. Seus compromissos são totalmente baseados
no interesse pessoal. Todos os seus projetos vêm antes do interesse
por Deus ou pela igreja. Não se preocupam em dar satisfação a
ninguém, mandam em seu próprio nariz.
Talvez o motivo que traga a multidão à igreja seja um mero
compromisso religioso, ou a necessidade de libertação em alguma
área, a necessidade de cura, ou de manter um agradável convívio
social. Enfim, são pessoas completamente independentes, cujos
motivos são desconhecidos. Em consequência, crescem até certo
ponto e então ficam estagnadas. Seu processo de crescimento é
comprometido porque crescem no máximo até o nível do relacio-
namento periférico e “ralo” que construíram na igreja: superficial
com o povo, superficial na Palavra e superficial com Deus. O cres-
cimento deles é determinado pelo relacionamento superficial que
mantêm com Deus e com a liderança. O pouco que eles absorvem
do ministério da Palavra não é suficiente para penetrar em suas
vidas e produzir frutos.

Características da multidão
™™ Relacionamento distante e impessoal.
™™ Diálogos sempre muito superficiais, conversas frívolas e fúteis.
™™ Fraca resposta ao desafio da Palavra de Deus.
™™ Não aceitam ser cobrados ou confrontados em sua conduta.
™™ Não se deixam tratar por ninguém.
™™ Possuem motivação desconhecida, portanto não são con-
fiáveis para qualquer obra ou posição de responsabilidade
e liderança.
™™ O nível de crescimento é baixo.
™™ São totalmente independentes.
™™ São infantis, confusos, religiosos e materialistas.
™™ Nada herdam espiritualmente de seus líderes.
1º Dia – Multidão, seguidor e discípulo 19

™™ Fogem de tomar a cruz, pois não toleram o desprazer.


™™ Possuem uma vida egocêntrica.
™™ Vivem de aparência.

2. Jesus e os seguidores
O segundo nível de relacionamento de Jesus foi com aquelas
pessoas que O procuravam para serem aconselhadas. Nós temos
alguns exemplos. O primeiro é Nicodemos em João 3. Ele não era
propriamente da multidão, tinha um relacionamento mais próximo
com Jesus. Todavia, não se obrigava a obedecer a Palavra que Ele
lhe dava. O fato de ele procurar Jesus de noite mostra que ele tinha
vergonha de sua fé e estava preocupado com a opinião dos outros
a seu respeito. Entretanto, ele ainda desejava saber mais do Senhor.
Seu relacionamento com o Senhor era mais próximo do que o da
multidão, mas não o suficiente para transformá-lo em discípulo.
O segundo exemplo de seguidor ocasional é o jovem rico.
Ele era um homem que não pertencia à multidão e simpatizava
com Jesus. Essa era a sua característica que mais se destacava: a
fidelidade religiosa e até legalista. Mas, sendo confrontado em sua
superficialidade, voltou atrás. Quando Jesus mostrou-lhe a cruz,
logo retrocedeu. Há uma classe de pessoas na igreja que sempre
procura os pastores e líderes para aconselhamento e é assídua na
igreja, participa das programações regularmente. Quando é época
de algum evento, são verdadeiros ativistas. São legalistas até mesmo
nas normas externas da igreja e místicos na guerra espiritual, mas
não possuem o compromisso de se desgastarem e tomarem a cruz
como um discípulo para a expansão do reino de Deus. Não aceitam
se submeter ao discipulado.
Os seguidores ocasionais sempre têm algumas ou todas
estas características:
™™ São religiosos e legalistas, alimentam-se da Palavra, mas
com uma ótica religiosa e mística. Assim, são anêmicos
20 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

na fé, incrédulos, apáticos e mornos; crianças, quando já


deveriam ser maduros.
™™ São festivos, chegam, marcam presença, dão boas sugestões,
estão nos jejuns, mostram-se intensos e desaparecem até a
próxima temporada de fogo. Querem a festa, mas não pagar
o preço para ministrá-la aos outros.
™™ São místicos, se conduzem com base no fervilhar de sonhos,
profecias, visões e fábulas. Um simples sonho torna-se uma
enorme elocubração. Vivem saturados de conhecimento
mental morto.
™™ São mornos. Deixam-se tratar apenas superficialmente
quando há pressões, ou quando há alguma dificuldade.
Deus os usa, mas o relacionamento com Ele é caracterizado
pela superficialidade e pelo limite com que se deixam tratar.
Podem até estar convencidos de que são muito espirituais,
mas têm um relacionamento distante, tanto com Deus
quanto com a liderança e os demais irmãos. O fato de serem
superficiais com os líderes mostra que são superficiais com
Deus. Quando se tornam líderes, o Corpo sofre porque o
relacionamento construído com a liderança não é de dis-
cipulado. Andam por conta própria, produzem desunião,
multiplicidade de pensamentos e de opiniões dentro da
igreja. Por não aceitarem a liderança e o discipulado, vivem
conforme “o que mais lhe parece bem aos olhos”. São o
retrato do povo de Israel nos dias dos juízes: inconstantes,
derrotados e sem direção.
É interessante observar que o relacionamento dessas pessoas é
mais próximo do que o das pessoas que fazem parte da multidão,
da massa. Frequentemente, até criticam a multidão por sua falta
de compromisso. Seu enfoque aborda apenas a assiduidade e o
legalismo com as normas exteriores. Acham até que têm alguma
vantagem sobre os demais.
O compromisso de trabalhar na igreja não define a profundidade
da operação de Deus em nossa vida. A falta do discipulado produz
1º Dia – Multidão, seguidor e discípulo 21

líderes não confiáveis, imprevisíveis, que não se deixam conhecer à


luz dos vínculos de relacionamento. Infelizmente existem até mesmo
líderes de célula que são seguidores ocasionais. Não são discípulos.
Normalmente, quando falam muito, estes irmãos chegam até a
serem estabelecidos na igreja como líderes. Muitas vezes possuem
tino de liderança, mas não produzem os frutos esperados. Essa falta
de critério bíblico em estabelecer líderes e obreiros precisa mudar,
se quisermos uma estrutura de igreja forte e frutífera.
Para sermos estabelecidos como líderes na casa de Deus, pre-
cisamos ter vínculos de discipulado com aqueles que nos vão es-
tabelecer. Qualquer outro meio é inseguro, pois constrói vínculos
superficiais e torna imprevisível qualquer resultado: acerta-se com
uns, frustra-se com outros. Com alguns nos damos bem porque são
pessoas sinceras, submissas, mesmo que não as conheçamos bem;
com outros nos damos muito mal porque são pessoas que roubam
ovelhas, que dividem a liderança, que dividem o Corpo. São cheios
de orgulho e de presunção, procurando títulos, cargos e posições,
enfim, desejam o reino, o poder e a glória.
É interessante que a medida de crescimento dessas pessoas, apesar
de ser um pouco superior a do crescimento da multidão, é limita-
da. O limite é a obediência aos princípios exteriores de conduta da
Palavra de Deus, o cumprimento das tradições da igreja local e o
relacionamento de aconselhamento com a liderança.
Enquanto há conveniência, enquanto se faz o seu gosto, en-
quanto essas pessoas são vistas pela multidão no lugar de liderança,
enquanto recebem atenção e têm cargos, caminham bem e em uni-
dade, mas quando começam a ser confrontadas, tratadas, quando
têm de abrir mão de posições ou de razões pessoais, quando vêm
as pressões, se escandalizam e fogem do compromisso que haviam
firmado anteriormente. São cegas quanto às circunstâncias que
Deus gera para tratar com elas. Estão com os olhos fixos de um
modo natural nas situações, nas injustiças supostamente cometidas
contra elas, no líder que falhou com elas, na “política da igreja” e,
22 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

sem perceberem, se deixam tomar por sentimento de autopieda-


de ou justiça-própria que paralisam sua caminhada. Sempre estão
esperando que a liderança volte atrás e reconsidere. Estão com os
olhos presos às circunstância naturais, ao invés de estarem com
entendimento aberto sobre as circunstâncias espirituais nas quais
Deus espera que cedam, abram mão de direitos, se deixem tratar,
aprofundem seus vínculos, amadureçam e deem frutos.
Características dos seguidores ocasionais
™™ Possuem um relacionamento frequente, mas superficial.
™™ Os diálogos são abrangentes, mas não permitem o trata-
mento do caráter.
™™ Possuem uma resposta superficial e até religiosa à Palavra.
™™ Estabelecem ligações por conveniência com a liderança.
™™ Fogem de cobrança e de confrontação.
™™ Vivem estagnadas na apatia espiritual.
™™ São fiéis às programações, normas e preceitos da estrutura
religiosa, mas não se deixam tratar pela cruz.
™™ Nada herdam espiritualmente.
™™ Suas opiniões próprias são muito fortes, sendo fechados
para aprender com outros.

3. Jesus e os discípulos
O terceiro nível de relacionamento que Jesus construiu foi com
seus discípulos. Neste nível, a proximidade é total, a intimidade e
a liberdade com as quais se expressam pensamentos e sentimentos
são completas; o compromisso e a renúncia também são totais. As
motivações dos discípulos e o potencial de resposta de cada um são
intimamente conhecidos e sobre essas bases os desafios são realizados.
O discipulado nos fala da aceitação do preço da cruz. É inte-
ressante vermos que Jesus pegou homens comuns, analfabetos,
sem formação religiosa alguma e passou a esses homens todo o seu
ministério, sua unção e sua autoridade. Jesus passou o seu “man-
to”. É importante entendermos que Ele não deixou por herança
1º Dia – Multidão, seguidor e discípulo 23

o ministério para a multidão. Somente os discípulos receberam


um ministério.
No Velho Testamento, vemos que a formação do ministério pro-
fético era realizada através de um vínculo de discipulado no qual o
discípulo servia e tinha uma vida em comum com o profeta a quem
estava ligado. A Palavra diz que Eliseu deitava água nas mãos de Elias.
Em II Rs 3:11, vemos que Eliseu havia se disposto a se submeter,
a seguir e a servir Elias. Abdicou de viver independentemente para
ter vínculos com ele. É importante vermos que, quando Elias foi
arrebatado, o seu “manto”, que representava toda a sua unção, o seu
poder e o seu ministério profético reconhecido nacionalmente, foi
passado apenas para Eliseu, que era o seu único discípulo. Da mesma
forma, é necessário entender que antes de alguém ser enviado para
um lugar, ou liberado para ocupar uma função qualquer na igreja,
ou estar à frente de qualquer obra, como líder, como obreiro, ou
como pastor é necessário que sejam estabelecidos fortes vínculos
de discipulado.
Muitos têm priorizado o “ir” em detrimento do “ser”, o realizar a
obra de Deus em vez de enfatizar a necessidade de vida, de formação
do caráter de Cristo como condição para isso. Antes de dar qualquer
coisa, para alguém fazer, precisamos aprovar essa pessoa através de
vínculos de discipulado, em confiança, em amor e em sujeição.
Discipulado nos fala de pegarmos alguém no nível do vale e o
levarmos para o nível do monte. Fala-nos de ensinar e praticarmos
juntos as disciplinas espirituais, corrigindo os princípios de vida
errados enraizados em sua alma, as heranças familiares, as formas
erradas de responder às falácias do diabo, etc.
Só o discipulado equilibrado pode gerar líderes de fato aprovados.
Todavia, é importante ressaltar que não podemos levar alguém além
de onde nós mesmos já chegamos. O discípulo não pode ser supe-
rior ao seu mestre. Assim, o discipulado é uma visão de reprodução,
de multiplicação. Precisamos ser cuidadosos para não permitirmos
24 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

discipuladores que possam reproduzir na vida igreja um padrão


fraco ou diferente da visão.
Discipulado é uma questão de apropriação. No relacionamento
de discipulado, o discipulador vai plantar a Palavra, vai instruir nos
princípios de Deus, vai armar, vai equipar, vai adestrar, vai tornar
o discípulo íntimo das armas, torná-lo perigoso espiritualmente
contra as trevas, e então vai enviá-lo.
Não são programas que vão instruir discípulos. A Palavra diz
que é o Espírito Santo quem gera crescimento em nós. Na carta
aos Filipenses, lemos que “Aquele que em vós começou a boa obra
há de aperfeiçoá-la”. Assim, quando oramos pedindo a Deus que
nos forme, Ele nos responde nos levando a situações que irão nos
quebrar e moldar. Deus é prático. Devemos responder positiva-
mente nessas situações de tratamento. Desta forma, num vínculo
de discipulado não existe um currículo previamente estabelecido a
ser cumprido, mas simplesmente nos abrimos para nos relacionar,
aguardando as circunstâncias geradas pelo Espírito de Deus. Quando
tais situações vierem, simplesmente avaliaremos e corrigiremos as
atitudes e as motivações erradas que virão à tona. Deus certamente
criará circunstâncias de correção, de disciplina, que pelo mover do
Espírito vão gerar um crescer de fé em fé, de glória em glória.
Em Mateus 4:23, a Palavra nos diz: “Percorria Jesus toda a Ga-
liléia ensinando nas Sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e
curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo”. O
aspecto de ensino a um público é apenas umas das formas de ensino
usadas por Jesus. Esta forma de instruir traz resultados, mas não
é completa. Jesus era também um professor, mas investiu mais no
discipulado. Uma grande perda é nos prendermos exclusivamente
ao ensino de sala de aula. Basicamente só existem professores em
nossas igrejas. Precisamos desesperadamente de discipuladores.
Finalmente, no final do Evangelho de Mateus, fechando seu
ministério, Jesus orienta a Igreja a ir e a fazer discípulos, ensinando-
os a guardar a Palavra. Ele não disse: “ensine-os a entender”, mas
1º Dia – Multidão, seguidor e discípulo 25

ensine-os a guardar. O ensino de púlpito atinge tanto a multidão


quanto o seguidor ocasional, mas não faz discípulos. Jesus não tinha
o pensamento de que o ensino impessoal praticado nas sinagogas
formaria alguém. O que levou vidas a serem semelhantes a Ele foi
um vínculo sólido e profundo de discipulado.
O nível de ensino que precisamos praticar é o “ensinar a guardar”
e só se atinge este nível de ensino com profundo compromisso de
relacionamento, onde eu posso ver a realidade de vida do meu dis-
cipulador e entrar naquela realidade. Eu vejo a altura em Deus que
ele atingiu, vejo o monte e caminho do nível do vale, onde estou,
até chegar onde ele está.
O discipulado não é algo de tempo indefinido. Ele eventual-
mente se encerrará. Quando já tiver a prática de todo o conselho
de Deus, o discipulado se encerra, mas permanecem os vínculos.
Alguém pode ficar longos anos tentando aprender inglês num deter-
minado curso, ao passo que se fosse viver num país onde se fala essa
língua, não precisaria esperar tanto tempo. Por que tais resultados?
Por causa do nível de vínculo e de intimidade gerados para com a
língua. Precisamos vencer nossos medos e chamar alguns discípulos
para estarem mais próximos de nós.
Precisamos entender com clareza isto: discipulado são vínculos
formados em Deus, vínculos que implicam em decisão, custos a
serem pagos e um objetivo a ser cumprido.
Características do discípulo:
™™ Possui intimidade e transparência para com o discipulador.
™™ Responde de forma completa à Palavra de Deus.
™™ É submisso.
™™ Manifesta um crescimento constante e desobstruído.
™™ É aberto e maleável o suficiente para se deixar tratar.
™™ Suas motivações são conhecidas.
™™ É dependente de Deus.
™™ Possui uma vida de vitória.
™™ Ao final do processo alcança um ministério reconhecido.
™™ Possui clareza dos princípios da Palavra de Deus.
2º Dia

Objetivos do discipulado

Em nosso trabalho de formar discípulos, devemos nos dedicar


basicamente a duas coisas. Podemos dizer que estes são os dois ob-
jetivos do discipulado:
1 - A edificação da vida do discípulo para que tenha o caráter
de Cristo.
2 - A capacitação ministerial do discípulo para que possa fazer
a obra de Deus. Quando falo de edificar a vida e o caráter de um
discípulo não estou falando de transformação de vida. A transfor-
mação de vidas compete a Deus. Transformar os pecadores nasci-
dos de Adão em homens santos não é tarefa que nos compete, e
sim a Deus. Só Ele pode mudar, transformar o homem orgulhoso,
rebelde e egoísta em um novo homem, manso e humilde. Disci-
pulado algum jamais poderia realizar esse milagre. Isso é obra do
Espírito de Deus.
Somente pelo novo nascimento o nosso coração de pedra pode
ser retirado. É pelo novo nascimento que nos tornamos novas
criaturas. Mas não é só o novo nascimento que é obra do Espírito
28 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Santo, também o crescimento e a transformação de vidas à imagem


de Cristo são operados pelo Espírito do Senhor (II Co 3:18).
Nesse caso podemos dizer como Paulo, que nem o que planta
é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus que dá o crescimento
(I Co 3:7).
Por isso é fundamental que cada discípulo tenha uma forte expe-
riência com Deus, recebendo em sua vida, pela fé, a ação transfor-
madora do Espírito Santo, e seja continuamente cheio do Espírito,
pois sem isso a relação de discipulado terá muito pouco resultado.

1. A edificação da vida do discípulo


O primeiro objetivo de um relacionamento de discipulado é a
edificação da vida do discípulo para que tenha o caráter de Cristo. O
propósito de Deus é que todos os seus filhos cresçam até atingirem
a estatura de Cristo. A vontade de Deus é que nosso caráter seja de
tal forma transformado, que possamos expressar a Cristo em todas
as áreas de nossa vida.
“Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno co-
nhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à
medida da estatura da plenitude de Cristo” (Efésios 4:13).
Paulo também nos mostra que o seu alvo era apresentar seus
filhos na fé perfeitos em Cristo. Assim, entendemos que é função e
responsabilidade dos líderes cooperarem com o Espírito Santo na
obra de crescimento e aperfeiçoamento dos santos. Nós fazemos
isso por meio do discipulado.
“Aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza
da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo
em vós, a esperança da glória; o qual nós anunciamos,
advertindo a todo homem e ensinando a todo homem
em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo
homem perfeito em Cristo” (Cl 1:27)
2º Dia – Objetivos do discipulado 29

As áreas mais importantes em que você deve observar essas


coisas são:
™™ Na família
™™ No trabalho
™™ No tratamento com o próximo
™™ Na área sexual
™™ Na administração do dinheiro
™™ Na moral e na ética
™™ Na sua relação com Deus
™™ Nos tempos de provações.

a. A responsabilidade do discipulador
Se a obra de transformação do discípulo é do Espírito Santo, en-
tão qual é o papel do discipulador nesse processo? Paulo afirma que
“nós somos cooperadores de Deus” (I Co 3:9). É verdade que nem
o que planta nem o que rega é alguma coisa; todavia, ainda assim,
devemos plantar e regar. Somos cooperadores de Deus. Existe uma
parte da obra que é de Deus, mas existe outra obra que cabe a nós
realizar. É Deus quem faz a parte misteriosa de dar o crescimento,
mas somos nós que plantamos e regamos. Nossa ação nunca pode
substituir a ação de Deus; assim também a ação de Deus não nos
exime de nossa responsabilidade.
Qual é então a nossa responsabilidade na formação de um dis-
cípulo? Creio que devemos observar os exemplos do Senhor e de
Paulo, no Novo Testamento, e então fazer o mesmo.

™™ Estar com eles


Então, designou doze para estarem com Ele e para os enviar a
pregar. Marcos 3:14

™™ Ser exemplo
Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo.
I Co 11:1
30 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Ninguém despreze a tua mocidade; pelo contrário,


torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento,
no amor, na fé, na pureza. I Tm 4:12

™™ Amá-los
Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos
outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis
uns aos outros. João 13:34

™™ Conhecê-los
Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas
me conhecem a mim. João 10:14

™™ Ensinar-lhes a Palavra de Deus


Mantém o padrão das sãs palavras que de mim ouviste
com fé e com o amor que está em Cristo Jesus. II Tm 1:13

™™ Instruí-los
E o que de minha parte ouviste através de muitas teste-
munhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também
idôneos para instruir a outros. II Tm 2:2

™™ Animá-los
Dou graças a Deus, a quem, desde os meus antepassa-
dos, sirvo com consciência pura, porque, sem cessar, me
lembro de ti nas minhas orações, noite e dia. Lembrado
das tuas lágrimas, estou ansioso por ver-te, para que eu
transborde de alegria pela recordação que guardo de
tua fé sem fingimento, a mesma que, primeiramente,
habitou em tua avó Lóide e em tua mãe Eunice, e es-
tou certo de que também, em ti. Por esta razão, pois,
te admoesto que reavives o dom de Deus que há em ti
pela imposição das minhas mãos. Porque Deus não nos
tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor
e de moderação. II Tm 1:3-7
2º Dia – Objetivos do discipulado 31

™™ Corrigi-los
Dize estas coisas; exorta e repreende também com toda
a autoridade. Ninguém te despreze. Tito 2:15

™™ Adverti-los e repreendê-los
Quanto aos que vivem no pecado, repreende-os na
presença de todos, para que também os demais temam.
I Tm 5:20
Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não,
corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade
e doutrina. II Tm 4:2

™™ Orar por eles


Dou graças a Deus, a quem, desde os meus antepassa-
dos, sirvo com consciência pura, porque, sem cessar, me
lembro de ti nas minhas orações, noite e dia. II Tm 1:3

™™ Honrá-los
Se alguém me serve, siga-me, e, onde eu estou, ali estará
também o meu servo. E, se alguém me servir, o Pai o
honrará. João 12:26

™™ Ser amigo
Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o
que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos,
porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado
a conhecer. João 15:15

™™ Dar a vida por eles


Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas
ovelhas. João 10:11

™™ Enviá-los
Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito
32 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos


tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias
até à consumação do século. Mt 28:19-20
Devemos discipular aqueles irmãos que estão sob nosso cuidado
com toda diligência, responsabilidade, amor e autoridade. Precisa-
mos ter o mesmo zelo que Paulo, a fim de apresentarmos nossos
discípulos perfeitos em Cristo.

b. A responsabilidade do discípulo
Devemos enfatizar que é responsabilidade do discípulo estar
sujeito, ser transparente, tratável, fiel, sincero, servo e esforçado
para corresponder em tudo o que lhe for pedido pelo discipulador.

2. A capacitação ministerial do discípulo


O segundo objetivo do discipulado é a capacitação ministerial
do discípulo para que possa fazer a obra de Deus. Mais uma vez,
precisamos ter clareza que não é função do discipulador uma série
de coisas com relação ao trabalho ministerial do discípulo.
Há algumas coisas que são obra exclusiva de Deus. Em pri-
meiro lugar, precisamos lembrar que é o Senhor quem chama
homens para o ministério (Rm 1:1, II Co 1:1). Também é obra
do Espírito Santo dar dons aos homens (Ef 4:7, 8,11) e dotá-los
de habilidade para o ministério (Rm 12:6-8). E, por fim, é obra
do Senhor enviá-los (Mt 9:38, I Co 12:28). Mais uma vez deve-
mos frisar qual é a parte de Deus e qual é a nossa, na capacitação
ministerial dos obreiros do Senhor. Creio que a parte que nos
compete como discipuladores é a mesma que se diz a respeito dos
apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres: “aperfeiçoar
(katartismos) aos santos para a obra do ministério”.
“E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para
profetas, outros para evangelistas e outros para pastores
2º Dia – Objetivos do discipulado 33

e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos


para o desempenho do seu serviço...” (Ef 4:11-12)
A palavra aperfeiçoar aqui significa simplesmente treinar, ensi-
nar e repetir até que sejam capazes de executar a obra do ministério.
O discipulador é um treinador. Como um discipulador pode
levar o seu discípulo a ser capacitado para a obra do ministério?
Em outras palavras, como fazer de forma prática esse aperfeiçoa-
mento ou treinamento? Vamos entender qual é a responsabilidade
de um discipulador.

a. A responsabilidade do discipulador
Podemos dizer que a responsabilidade do discipulador envolve
pelo menos quatro aspectos:
™™ Equipar
™™ Treinar
™™ Edificar e
™™ Enviar, colocando o discípulo em funções.

Equipar os discípulos
Em primeiro lugar, nós equipamos nossos discípulos com o
conhecimento da Palavra de Deus.
Ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado.
Mt 28:20
Porque jamais deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus.
Atos 20:27
Também precisamos ajudá-los a serem cheios do Espírito Santo
e aprenderem a viver em completa dependência de Deus. (At 1:8)
Precisamos levar nossos discípulos a conhecerem intimamente
a Deus mediante uma vida de oração e de estudo das Escrituras.
Não foi fácil para o Senhor ensinar seus discípulos a orarem. O
sono parecia ser um inimigo constante. No Getsêmani eles não
34 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

conseguiram orar e dormiram (Mt 26:40); no Monte da Transfi-


guração, estavam bêbados de sono e, talvez por isso mesmo, Pedro
sugeriu que se fizessem três tendas (Lc 9:32).
Além disso, precisamos levá-los a cultivar uma sensibilidade es-
piritual para ouvir a voz de Deus e mover-se nos dons do Espírito.
Por fim, devemos incentivar nossos discípulos a buscarem
uma formação teológica, motivando-os também a uma superação
intelectual.

Treinar os discípulos
Já dissemos que a maior lição de Jesus para formar obreiros foi
a própria obra. Não há nada que possa superar este método. Ele é
muito simples.
Estágio 1 — “Eu faço, você observa”. Leve os discípulos consigo.
Esse é o “siga-me”.
Estágio 2 — “Eu faço, você ajuda”. Faça diante deles o que se
pretende que eles façam depois: ensine-os com o exemplo.
Estágio 3 — “Você faz, eu ajudo”. Instrua-os especificamente,
atribuindo as tarefas que devem fazer (Mt 10:5-15).
Estágio 4 — “Você faz, eu observo”. Avaliar a tarefa realizada
para alertá-los e corrigi-los.
Isso é um círculo, voltando novamente ao primeiro ponto cada
vez que uma nova tarefa ou desafio for colocado, e assim por dian-
te. Na medida em que vão ganhando experiência, lhes é dada mais
liberdade para o desenvolvimento de seu talento pessoal. O treina-
mento é uma capacitação prática para que os discípulos aprendam
a fazer a obra.
O que deve constar no treinamento do seu discípulo?
Eles devem aprender a:
™™ Evangelizar e testemunhar aos de fora;
2º Dia – Objetivos do discipulado 35

™™ Levar os que crêem ao arrependimento e ao encontro com


Deus;
™™ Batizar, entendendo todas as suas implicações;
™™ Ministrar o batismo do Espírito Santo;
™™ Discipular outros;
™™ Orar pelos enfermos;
™™ Expulsar demônios;
™™ Aconselhar;
™™ Ensinar a Palavra;
™™ Pregar em público;
™™ Liderar uma célula;
™™ Dirigir um culto ou reunião da igreja;
™™ Servir;
™™ Fazer boas obras;
™™ Pastorear e consolidar vidas;
™™ Resolver problemas;
™™ Suportar cargas e situações difíceis, etc.

Edificar os discípulos
A terceira responsabilidade de um discipulador é edificar os seus
discípulos. Edificar é colocar dentro do edifício. Um tijolo edifi-
cado é aquele que foi completamente integrado na edificação. Ele
possui um tijolo acima dele, possui outros ao lado e possui tijolos
abaixo. Não é uma relação de superioridade ou inferioridade, mas
uma relação de edificação.
O discipulador é o tijolo acima, os tijolos ao lado são os com-
panheiros de discipulado e os tijolos abaixo são nossos próprios
discípulos. Tudo isso está vinculado e edificado junto.
A igreja é um corpo, e nela não existem ministérios indepen-
dentes. Os discípulos, desde o princípio de sua formação, devem
aprender a atuar em equipe. Não há lugar para individualismo entre
36 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

os servos do Senhor. Cada um complementa o outro naquilo que


é bom para a edificação.
De quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado
pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação
de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a
edificação de si mesmo em amor. Efésios 4:16.
Todo discípulo e líder de célula deve saber a quem está sujeito,
ou quem é seu pastor ou discipulador. Por sua vez, o irmão mais
velho deve saber quais são os irmãos que estão sob sua responsabi-
lidade de edificar e capacitar.
As relações devem ser claramente definidas e estabelecidas. Uma
relação ambígua ou indefinida não permite uma edificação genuína.
Alguns são discipuladores, mas seus discípulos não sabem que ele
os discipula. Sentem-se constrangidos com a relação de discipula-
do. Mas isso está errado. Jesus sabia quais eram os seus “doze”. Os
doze também sabiam. Timóteo, Tito, Lucas e Epafras tinham uma
relação clara e comprometida com Paulo, que sabia que a formação
de suas vidas estava sob sua responsabilidade. Estas relações não de-
vem ser eternas, mas, enquanto não produzirem mudanças, devem
ser claras e firmes.
O discipulado não precisa ser eterno porque certamente teremos
muitos discipuladores no decorrer de nossa vida. Isso acontece por
muitas razões: porque mudamos de cidade, porque aspiramos ao
pastorado, ou por direção de Deus. Um exemplo bíblico é João
Marcos. A Palavra de Deus nos mostra claramente que João Marcos
esteve inicialmente sob o ministério de Barnabé (At 12:25, 15:37-
39), logo depois, de Paulo (II Tm 4:11), e finalmente foi discípulo
de Pedro (I Pe 5:13).

Enviá-los, colocando-os em funções


Dos dois objetivos do discipulado, certamente a capacitação
ministerial do discípulo para que possa fazer a obra de Deus é o
2º Dia – Objetivos do discipulado 37

mais importante. Em nossa igreja, só consideramos que alguém


se tornou um discípulo a partir do momento que ele se dispõe a
ser um líder de célula em treinamento. Porque somente a partir
desse ponto ele pode exercitar tudo aquilo que tem aprendido e
assumir responsabilidades.
Para o desenvolvimento dos discípulos, é muito importante que
eles sejam colocados em funções, dando-lhes responsabilidades es-
pecíficas de acordo com seu nível de habilidade no momento. Isso
é muito necessário para conhecê-lo e continuar completando sua
capacitação. É muito importante ir promovendo os que são fiéis a
posições de maior responsabilidade, para que se vejam obrigados a
se esforçar na graça recebida e crescerem ainda mais.

b. A responsabilidade do discípulo
O discípulo deve estar atento para ver, ouvir e perguntar. O re-
lacionamento espontâneo e constante entre o discípulo e o discipu-
lador fará surgir oportunidades de ensino, exortação e treinamento.
A atitude do discípulo é a chave para que ele cresça no discipu-
lado. Podemos dizer que existem três tipos básicos de discípulos: os
passivos, os pródigos e os produtivos.

a. Os discípulos passivos
Entram e saem do relacionamento livremente. Quando uma
correção é aplicada, eles procuram outro discipulador que ainda
não tenha descoberto suas falhas. Eles se distanciam quando seus
discipuladores são atacados, difamados ou passam por dificuldades.

b. Os discípulos pródigos
Estes buscam a credibilidade da posição e não a correção. Eles
usarão o nome e a influência do discipulador para manipular outros
em algum relacionamento. Na verdade, eles querem o que discipu-
38 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

lador conseguiu e não o que ele aprendeu. Eles desejam reputação


e reconhecimento, sem preparação e sem preço.

c. O discípulo produtivo
É aquele que possui um coração de servo. Ele vê o discipulador
como um presente de Deus, por isso ele procura não tomar decisões
importantes sem ouvir o discipulador. Como verdadeiro discípulo,
ele honra o seu discipulador.
3º Dia

Como formar um discípulo

Certamente o fator mais importante do trabalho de qualquer


pessoa é o produto final, o resultado obtido. A finalidade de nosso
trabalho como líderes é a formação e a edificação de vidas. Assim,
todo líder de célula e todo discipulador de líderes deve conhecer
bem o seu trabalho e a tarefa que lhe foi confiada.
Em nossas células nós pregamos, ensinamos, fazemos reuni-
ões, retiros, encontros, visitamos, aconselhamos, etc. Todas essas
são atividades muito importantes, mas nenhuma delas é um fim
em si mesma. Elas são um meio para atingirmos o nosso objetivo.
Tudo o que fazemos é com o fim de edificar e discipular aqueles
que estão sob a nossa liderança. Paulo diz em Colossenses 1:28,
“a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo”.
Essa deve ser a aspiração de todo líder e discipulador.
Todo líder precisa ter objetivos claros, concretos e precisos, metas
a serem atingidas nas vidas daqueles que estão sob seu cuidado espi-
ritual. Uma vez que essas metas estejam claras, ele precisa também
saber como alcançá-las de maneira prática. Se um discipulador não
40 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

sabe para onde está conduzindo seu discípulo, ele não vai conseguir
ministrar a fé devida. Todo discípulo precisa sentir que seu discipu-
lador sabe para onde está indo.
Creio que é útil termos um roteiro básico daquilo que deve ser
tratado na vida de um discípulo. Evidentemente não se trata de uma
fórmula, mas apenas um sinalizador para nos ajudar nesse processo.

A edificação pelo discipulado


Nestes dias queremos renovar o encargo pela edificação da igreja
local, mas algumas vezes nos falta a clareza necessária para alcançar-
mos isso. Digo isso porque toleramos situações que contradizem
nosso alvo, e uma delas é permitirmos líderes entre nós que não
são realmente discípulos. Eles até se dizem discípulos de Jesus, mas
se recusam a aprender conosco na condição de discípulos na igreja.
O discipulado é uma condição fundamental para que haja edi-
ficação sólida e permanente da igreja local. Dizemos que o pratica-
mos e temos até irmãos que são chamados de discipuladores, mas
são realmente discípulos? São discipuladores de quem? Quem os
segue? Quem os ouve? Precisamos definir melhor nossos termos e
esclarecer expectativas.
Antes de mais nada, vamos dizer o que não é discipulado. Disci-
pulado não é uma classe de aula cheia de alunos com um professor
à frente. Salas de aulas são necessárias para se passar uma visão, e
até para formar alguns discipuladores, mas uma reunião desse tipo
não é discipulado. Podemos dizer que é uma boa forma de ensino,
mas não é o próprio princípio de discipulado em operação.
Outra coisa que não é discipulado: um relacionamento de acon-
selhamento esporádico, no qual uma pessoa quando precisa, quando
tem alguma necessidade ou problema, procura alguém mais expe-
riente, um pastor ou um líder, para receber conselho e uma luz nova
sobre determinada circunstância. Isso pode ser um relacionamento
de aconselhamento, mas não é discipulado.
Também não é discipulado uma mera relação hierárquica. O
líder não é necessariamente o discipulador do liderado. O liderado
3º Dia – Como formar um discípulo 41

exerce uma função por causa da estrutura, mas não existe um re-
conhecimento espiritual do seu líder. Podem até chamar o líder de
discipulador, mas na prática é só um título hierárquico.
Por que nada disso é discipulado? Porque o cerne do discipulado
não é uma programação humana e nem a estrutura de uma orga-
nização, mas vínculos fortes entre alguém com coração ensinável e
um discipulador aprovado. O centro do discipulado são vínculos,
ligaduras no espírito, alianças profundas, compromisso de submis-
são, de andar na luz, de se deixar tratar. Esse comprometimento é
que define se o relacionamento é ou não discipulado. Esse vínculo
é o compromisso pelo qual aceito o desafio de andar na luz com
alguém, e “herdar o seu manto”, submeter-me a ele e abrir mão dos
meus conceitos errados. Esses vínculos é que definem o discipulado.
Discipulado é “vínculo íntimo e sólido entre duas pessoas – dis-
cipulador e discípulo”. O discípulo, que deve ser aberto, maleável,
tratável e ter um desejo de ser formado em Deus, será conduzido
por um discipulador: alguém cuja vida cristã global foi aprovada e
anteriormente discipulado por outrem, para levá-lo a uma posição
mais elevada em Deus de aprendizado da Palavra e de vida.
Entrar no padrão do discipulado é entrar no estilo de vida de Je-
sus. Somos convidados a viver uma vida de despojamento, negando-
nos a nós mesmos e diariamente tomando a cruz.
O convite é para servirmos, honrarmos e nos submetermos. É
mais do que algo exterior, é uma renúncia completa a ocuparmos o
primeiro lugar, seja qual for o contexto. A ênfase não está no quanto
de unção, autoridade e revelação eu tenho ou posso vir a ter, mas
no quanto estou disposto a abrir mão para aprender. O convite é
para nos humilharmos, esvaziarmo-nos de nós mesmos e então
começarmos a crescer; pois o alvo do discipulado é o crescimento.
A promessa de Jesus é infalível: “Aquele que se humilhar será exal-
tado”; “Humilhai-vos, portanto, diante de Deus e Ele vos exaltará”.
Discipulado é viver uma vida de renúncia. Mas por que deve-
mos renunciar? Porque essa é a única forma que Deus tem para
42 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

produzir em nós o quebrantamento e a real dependência dEle, que


é o caminho para a maturidade.

2. As bases do discipulado
A primeira base de edificação de um discípulo é o reconheci-
mento do Senhor Jesus como rei. Isso significa que cada um precisa
entender que, ao ser introduzido no reino de Deus, foi colocado
debaixo de um governo de autoridade, onde Jesus Cristo é o único
rei. Conversão significa mudança de governo. A partir de agora, a
Palavra de Deus é a base de nossa vida.
Nesse reino existem leis e ordenanças, onde autoridades delega-
das foram instituídas. Se uma pessoa não reconhece autoridade não
pode ser edificada, não há como ser discipulada. Não aprendemos a
submissão no discipulado, mas a submissão é a primeira condição
e a base do discipulado.
Toda atitude de rebeldia e insubmissão deve ser abandonada e
toda postura arrogante deve ser rejeitada. Assim, a primeira base de
edificação e discipulado é a submissão à autoridade.
No decorrer dos anos, temos visto que a causa de muitos proble-
mas foi tentar discipular alguém que não havia se colocado numa
posição de discípulo, com um coração humilde e submisso.
A segunda base do discipulado é a transparência. Somos trans-
parentes quando confessamos nossos pecados. João diz que “Deus
é luz, e não há nele treva nenhuma. Se dissermos que mantemos
comunhão com ele e andarmos nas trevas, mentimos e não pra-
ticamos a verdade. Se, porém, andarmos na luz, como ele está na
luz, mantemos comunhão uns com os outros...” (I Jo 1:5-7). Só há
comunhão genuína na luz.
João também diz que “Se dissermos que não temos pecado
nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em
nós [...]. Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo
mentiroso, e a sua palavra não está em nós” (I Jo 1:8, 10). Alguns
3º Dia – Como formar um discípulo 43

discípulos simplesmente nunca confessam coisa alguma, isso indica


um coração orgulhoso e independente.
Tiago diz para confessarmos os nossos pecados para sermos
curados (Tg 5:16). Quando confessamos o nosso pecado, torna-se
mais difícil ele se repetir e somos guardados do tentador quando
crescemos no temor de Deus.
Paulo diz para não darmos lugar ao diabo e certamente uma
forma de fazermos isso é trazendo segredos de pecados ocultos que
produzem acusação e culpa (Ef 4:27). O inimigo sabe tirar proveito
quando há áreas ocultas.
Quando confessamos nosso pecado para um discipulador amo-
roso e firme, somos exortados e corrigidos, mas também somos
ajudados no dia da luta.
A terceira base para a edificação no discipulado é o enchimento
do Espírito Santo. É a ação do Espírito Santo em nós que nos torna
dóceis à sua Palavra. É Ele que nos faz ver, testificando no nosso
coração que a palavra de nosso discipulador procede de Deus.
Depois disso a pessoa está pronta para ser edificada na “sua ma-
neira de viver”. Um discipulado eficiente deve estar alicerçado nessas
bases. Não adianta tentar discipular uma pessoa rebelde, que não é
transparente e que nunca foi cheia do Espírito Santo.

3. A maneira de viver
Certamente a primeira coisa que um discipulador precisa atentar
é para a maneira de viver de seu discípulo, seu estilo de vida. Pedro
diz que fomos resgatados do fútil procedimento que nossos pais nos
legaram (I Pe 1:18). Todos nós recebemos ou herdamos de nossos
pais, antepassados, familiares e das pessoas que nos rodeiam uma
determinada maneira de viver.
O que é a maneira de viver? Nossa maneira de viver pode ser
dividida em quatro aspectos:
44 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

™ ™ Estilo de vida - são os nossos gostos, preferências e


costumes;
™™ Conduta - aponta para aquilo que fazemos e falamos;
™™ Forma de pensar - representa a nossa escala de valores;
™™ Forma de ser - aponta para o nosso temperamento.
Tudo isso nós herdamos em nossa história de vida, mas hoje
as cadeias do passado podem ser rompidas pelo poder do Senhor
operando em nós. Todas essas quatro áreas serão completamente
afetadas quando o discípulo entender o senhorio completo de
Cristo sobre ele.
O que faz um irmão se tornar um discípulo é justamente a
compreensão do Evangelho do Reino. O Evangelho do senhorio do
Senhor Jesus. Um evangelho “diluído” é ineficaz para romper com as
cadeias do passado. Somente o Evangelho do Reino, apresentando
a Jesus como Senhor, nos dá a base sólida para edificar uma vida.
Como o discipulador pode formar um discípulo?
™™ Desenvolvendo com ele uma relação de amor e cuidado.
™™ Orando pelo discípulo, dependendo do Senhor e da direção
do Espírito Santo.
™™ Fazendo coisas juntos, com companheirismo.
™™ Animando e estimulando a fé do discípulo.
™™ Avaliando os resultados e supervisionando o trabalho do
discípulo.
™™ Dando diretrizes claras e específicas. Existem quatro níveis
de instrução:
™™ Básica - é geral e se aplica à vida como um todo.
™™ Pelos problemas - é específica para resolver determinado
problema.
™™ Formativa - é aquela que mostra como a pessoa deve ser,
segundo o padrão de Deus.
™™ Para alcançar maturidade - é em função de torná-lo um
servo útil.
3º Dia – Como formar um discípulo 45

4. O discipulado através do estabelecimento


de metas
A melhor maneira de conduzirmos um relacionamento de disci-
pulado é identificando as áreas que precisam ser edificadas, e então
estabelecermos metas para o discípulo.
Uma vez que essas metas foram estabelecidas, o discípulo deve
agora prestar contas ao discipulador de como tem avançado, e o
discipulador, por sua vez, deve prover meios e estratégias para ajudar
seus discípulos a atingi-las.
As metas ou alvos são objetivos estabelecidos para a vida de um
discípulo, que o ajudarão a avançar na vida cristã e a tornar-se cada
vez mais como Jesus.
Todos nós vivemos mais ou menos movidos por metas, o proble-
ma é que muitas vezes colocamos metas erradas e frequentemente
não temos a quem prestar contas de nossos avanços.
Assim, o discipulador precisa ter bem claro que edificar a vida
de um discípulo é mais que ajudar a resolver os problemas pessoais
dele, é completar o que falta para alcançar a meta proposta.
Orando noite e dia, com máximo empenho, para vos ver
pessoalmente e reparar as deficiências da vossa fé? (1Ts 3:10)
De maneira geral, o discipulador precisa estabelecer metas em
áreas como:
™™ Transformação do caráter e santidade - humildade, mansi-
dão, generosidade, temperança, etc.(Gl 5:22)
™™ Prosperidade financeira - trabalho, vida digna, salário me-
lhor, vida profissional.
™™ Vida familiar estável e harmoniosa - de acordo com o pro-
pósito e padrão de Deus.
™™ Relação correta com Deus - vida de fé e orientação do Es-
pírito Santo.
46 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

™™ Disposição para servir - ser disponível para a expansão do


reino de Deus, liderança.
Quando estabelecemos metas corretas, claras e definidas para
um discípulo, devemos logo determinar os passos a serem dados
para alcançá-las. Além disso, precisamos analisar o valor da meta e o
esforço que se vai empregar. Em alguns casos, podemos determinar
o tempo ou o prazo para se alcançá-las.
Quando houver clareza sobre os objetivos que se quer alcançar,
então se devem determinar os passos para a conclusão.
Vamos tomar o exemplo de um casal jovem rumo ao casamento.
Os dois são fiéis ao Senhor, estão firmes na igreja, são líderes em
treinamento, têm idade suficiente e querem se casar. Ele, porém,
não tem profissão e nem trabalho. O discipulador deve começar
fixando metas para um ano, por exemplo. O que ele deverá ter al-
cançado neste tempo?
™™ Trabalho – meta: seu próprio negócio ou profissão definida.
™™ Casa – meta: sua própria casa ou um terreno para construir.
Se essa meta for demasiadamente alta, então pode-se defi-
nir, pelo menos, a capacidade de pagar um aluguel digno.
™™ Noivado – meta: casamento
™™ Obra do Senhor – meta: liderar uma célula.
Vamos tomar mais um exemplo: Um casal com problemas de
caráter. Eles já não conseguem se comunicar e estão a ponto de
separar-se.
O discipulador pode fixar metas como:
™™ Fazer o curso de casais.
™™ Colocar-se à disposição dos dois para buscar a solução dos
problemas.
™™ Fixar metas com respeito ao caráter. Por exemplo, para o
homem:
– Fazer uma lista das coisas em que acha que está mal;
– Fazer outra lista com as características que gostaria de ter ;
– Conquistar o amor da esposa com atitudes práticas.
4º Dia

Um roteiro de discipulado

O mandamento do Senhor Jesus para nós é bastante claro: “Ide


e fazei discípulos de todas as nações”. Não se trata de um ministé-
rio especial e nem de um dom extraordinário, é simplesmente um
mandamento. Não temos outra escolha senão obedecê-lo. Fomos
chamados para fazer discípulos.
“Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a
autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portan-
to, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os
em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho
ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à
consumação do século.” (Mt 28:18-20)

1. O que é o discipulado?
O discipulado é um relacionamento de vida entre um discipu-
lador e seu discípulo, onde o discipulador procura levar o seu dis-
cípulo a se tornar como Jesus. Nesse sentido, não temos discípulos.
48 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

O discipulador é apenas uma placa de sinalização apontando


para Cristo.
O alvo do relacionamento de discipulado é levar o discípulo
a perceber a direção do Espírito Santo em seu espírito humano e
assim fazer a vontade de Deus.
É um relacionamento entre um mestre e um aluno, baseado no
modelo que é Cristo. Todavia, não devemos pensar no discípulo
apenas como aluno. O discípulo não somente aprende o ensino do
discipulado, mas também se compromete com esse ensino. Uma
pessoa pode estudar os ensinos de Karl Marx e não ser um discípulo
de Karl Marx. Discípulo é aquele que se torna um seguidor, um
adepto do ensino que lhe foi passado.
Este relacionamento liga o discípulo à cadeia de autoridade
existente na igreja. Assim, não há discipulado a não ser que o dis-
cípulo se disponha a liderar na casa de Deus. O discipulado não
é só apascentamento, mas um treinamento que envolve a obra e a
vida do discípulo.
Assim, em nossa estrutura, um líder em treinamento é discipu-
lado pelo líder de célula. O líder de célula é discipulado por um
discipulador de líderes, que, por sua vez, é discipulado por um
pastor ou obreiro.
Desse modo, o discípulo é acompanhado em seu processo de
crescimento e ajudado em suas lutas e crises peculiares ao processo
de crescimento. Discipular é transmitir a vida de Jesus. É reprodu-
zir essa vida em outras pessoas, ensinando-as a guardar tudo que
Ele ordenou.

2. Equilibrando a autoridade no discipulado


Sem submissão, não há formação ou discipulado. O discípulo
precisa ser manso e humilde, estando sujeito aos irmãos, aos líderes,
sem rebeldia ou obstinação. Um risco que muitos temem é o abuso
da autoridade por parte do discipulador. Mas sem submissão não
4º Dia – Um roteiro de discipulado 49

há autoridade. O próprio discipulador precisa ser discípulo porque


o princípio básico para ter autoridade é estar debaixo de autoridade
e se sujeitar a ela.
Ninguém tem autoridade em si mesmo. Nossa autoridade vem
do Senhor Jesus. Quando manifestamos a unção e o caráter manso
do Senhor, buscando sinceramente em primeiro lugar o interesse de
nosso discípulo, espontaneamente a autoridade flui. A submissão,
porém, nunca é simples, é preciso que o discípulo se disponha a
negar a si mesmo e submeter-se.
Autoridade é diferente de autoritarismo. Cada discipulador pre-
cisa entender que ele é servo do discípulo e não dono. Deve ensinar
todo o conselho de Deus e não os seus gostos e preferências pessoais,
porque não temos discípulos de fato, os discípulos são de Cristo.
Nós apenas os ajudamos a seguir o Senhor. Assim, nossos gostos e
preferências devem ser colocados de lado, em segundo plano.
Um grande problema em nossa igreja é a rapidez com que alguns
discipuladores taxam certos discípulos de rebeldes. Isso acontece
porque se julgam donos do discípulo e presumem que aquilo que
pensam deve ser seguido pelo discípulo cegamente. Mas isso é um
absurdo. Um discípulo pode discordar e até debater uma ideia com
seu discipulador e, ainda assim, ter um coração correto e submisso.
Para equilibrar essa questão, precisamos entender que a palavra
de um discipulador a seu discípulo pode ser de três níveis diferentes:

A Palavra de Deus
O primeiro nível é quando ele fala a Palavra de Deus. Eviden-
temente, diante da Palavra de Deus a submissão de um discípulo
deve ser completa e absoluta. Se falarmos algo claro da Palavra de
Deus a um discípulo e ele simplesmente ignorar, podemos então
afirmar que ele é rebelde.
50 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Quando isso acontecer, devemos seguir a orientação do Senhor


com respeito ao irmão surpreendido no pecado, em Mateus 18:15-
20. Há situações em que um discípulo pode ser disciplinado.

O conselho do discipulador
O segundo nível de palavra é quando o discipulador dá um
conselho a seu discípulo. Mesmo sendo um bom conselho ou um
conselho realmente sensato, neste caso a submissão é relativa.
Vamos imaginar uma situação. Suponha que um discípulo
esteja interessado em uma moça que é incrédula. O discipulador
pode falar a Palavra de Deus, mostrando o erro do casamento
misto. Essa seria uma palavra completamente embasada na
Bíblia e, por isso mesmo, inquestionável. O discípulo deve se
submeter completamente.
Mas suponha uma situação em que o discípulo esteja interessado
em uma irmã, mas o discipulador resolve aconselhá-lo mostrando
que seria melhor que se relacionasse com outra irmã, usando, para
isso, motivos bem apropriados, mas não necessariamente bíblicos.
Nesse caso é apenas um conselho. Pode ser que o conselho seja bem
sensato porque o discipulador conhece as duas moças e pensa saber
que a outra seria melhor, mas mesmo assim é apenas um conselho.
Um discipulador não pode obrigar o seu discípulo a seguir cega-
mente seus conselhos. Neste caso, a submissão ao discipulador é
relativa. Se o discípulo rejeitar o conselho, ele não pode ser taxado
de rebelde por causa disso.
É preciso, porém, dizer que aquele discípulo que nunca aceita
um conselho do seu discipulador é orgulhoso e autossuficiente.
Apesar de não ser necessariamente rebelde, é resistente ao ensino e
dificilmente poderá ser edificado.
4º Dia – Um roteiro de discipulado 51

A opinião do discipulador
O terceiro tipo de palavra do discipulador são as suas opiniões.
Seguindo o exemplo, suponha que o discipulador resolva dizer ao
discípulo que ele acha que a moça na qual o discípulo está interes-
sado é muito feia e que ele deveria se casar com outra mais bonita.
Nem precisamos dizer que não é necessário nenhum tipo de sub-
missão às opiniões e gostos pessoais do discipulador. O discípulo
pode ignorar tal opinião completamente.

3. O que caracteriza um discípulo


O Senhor deu condições para alguém se tornar seu discípulo. As-
sim, alguém que hoje foi salvo ainda precisa se tornar um discípulo.
Ser um discípulo de Cristo é caminhar no caminho do vencedor.

a. O discípulo é aquele comprometido com a Palavra


de Deus
Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se
vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeira-
mente meus discípulos. João 8:31
Não há como discipular alguém que não deseja se comprometer
com a Palavra de Deus.

b. O discípulo é aquele que ama a Jesus sobre todas as coisas


Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e
mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria
vida, não pode ser meu discípulo. E qualquer que não
tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu
discípulo. Lucas 14:26-27
A primeira condição para ser útil ao Senhor é ter um coração
cheio de amor por Ele. Se alguém não O ama, nem deveria cogitar
ser usado por Ele. Deus usa aqueles que O amam, aqueles que têm
um coração para Ele. Porque amamos ao Senhor, expressamos paixão
52 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

e intensidade em Sua obra e sem esses ingredientes o discipulado se


torna pobre e sem resultado.

c. O discípulo é aquele que tem a sua vida totalmente


comprometida com o Senhor
Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a
tudo quanto tem não pode ser meu discípulo. Lucas 14:33

d. O discípulo é aquele que produz fruto


Nisto é glorificado meu Pai, em que deis muito fruto;
e assim vos tornareis meus discípulos. João 15:8
Jesus também disse que a verdadeira característica de um dis-
cípulo é que ele produz fruto. Não é completamente o oposto do
conceito natural? Alguns pensam que precisam se tornar discípulos
para darem frutos, mas o Senhor diz que dar fruto é uma condição
para se tornar discípulo.
Dar fruto não é uma opção. É uma consequência inevitável
quando alguém é discípulo de Cristo. Mas, que fruto é esse que
devemos dar? Certamente não é o fruto do Espírito, que vemos
em Gálatas 5:22-23. Muitos insistem em interpretar os frutos
como virtudes do caráter, mas há uma distinção clara: em João
15, Jesus fala do fruto do discípulo, e em Gálatas, Paulo fala do
fruto do Espírito.
Se lermos a parábola dos talentos, veremos que o senhor não veio
buscar aquilo que ele mesmo deu ao servo, mas sim o lucro que o
servo obteve aplicando aquilo que recebeu do senhor. Ora, o fruto
do Espírito é aquilo que Deus nos dá pela vida de Cristo em nós.
Amor, alegria, paz, etc. São os talentos que Deus colocou em nossas
vidas. Ele não busca aquilo que nos deu (o fruto do Espírito). Ele
busca o lucro (o fruto do discípulo).
4º Dia – Um roteiro de discipulado 53

O texto de Mateus 13:23 é claro e definitivo. Diz que frutificar


é reproduzir a cem, a sessenta e a trinta por um. Assim, frutificação
tem a ver com reprodução.
Podemos afirmar, sem receio, que o fruto do qual Jesus fala em
João 15 é a reprodução e a multiplicação da sua vida. E como é
que um discípulo dá fruto? Quando a vida de Cristo se reproduz
através do discípulo. Este é o seu fruto: quando ganhamos almas
ou multiplicamos líderes.

e. O discípulo é aquele que é comprometido com


outros num amor que envolve sacrifícios
A quinta condição é que o discípulo é aquele que é compro-
metido com outros discípulos numa comunhão de amor. Sem
esse amor, não somos conhecidos como discípulos simplesmente
porque não o somos.
Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos
outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis
uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus
discípulos: se tiverdes amor uns aos outros. Jo 13:34-35.

f. O discípulo é aquele que faz discípulos


Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito
Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos
tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias
até à consumação do século. Mt 28:19-20
Quero mais uma vez lembrá-lo que todo líder de célula precisa
ser um discípulo. Sem essa cobertura espiritual e essa relação de
submissão, a obra de Deus pode ter muitas perdas. O líder de célula
que se recusa a ser um discípulo não pode liderar na casa de Deus.
Mas muitos líderes não recusam abertamente o discipulado, apenas
assumem atitudes que não são próprias de um discípulo.
54 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

4. O que caracteriza um discipulador


A pergunta que frequentemente nos fazem é sobre a tarefa do
discipulador. Respondendo de maneira bem ampla, pode-se dizer
que a tarefa do discipulador é “ensinar o discípulo a observar todas
as coisas que Jesus ordenou” (Mt 28:20).
Falando assim parece que poucos são qualificados para serem
discipuladores, mas eu creio que todo aquele que tem recebido de
Deus tem a obrigação de compartilhar o que tem recebido com um
discípulo. Mesmo que não seja um grande pregador ou mestre, você
precisa estar disposto a se envolver num relacionamento de vida para
se multiplicar como Jesus o fez.
Não podemos dizer que Jesus não era um homem de púlpito,
pois as multidões ficavam maravilhadas com o seu ensino e com a
sua autoridade. Apesar de não ser um homem de mensagens elabo-
radas, no sentido de serem estruturadas como as que fazemos hoje,
sabemos que seu ensino era prático e extremamente profundo, ainda
que colocado por meio de ilustrações simples do dia-a-dia. Todavia,
a sua característica mais forte era ser um homem de relacionamentos.
Seus discípulos aprenderam tudo vendo. Ele os ensinou por preceito
e por demonstração (I Jo 1:1).
Assim, um discipulador precisa ter algumas características:

a. Amar os discípulos
Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos
outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis
uns aos outros. João 13:34
O Espírito Santo já derramou o amor de Deus em nossos co-
rações. Devemos expressar esse amor de forma terna e afetuosa aos
nossos discípulos. O amor é a única maneira de conquistarmos uma
reação favorável dos nossos discípulos.
4º Dia – Um roteiro de discipulado 55

b. Conviver com os discípulos


Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas
me conhecem a mim. Jo 10:13
O Senhor conhecia os seus discípulos e nós devemos conhecer
os nossos. Esse conhecimento vem pela convivência, pelo compar-
tilhar da vida.
Para isso, precisamos ter encontros ou reuniões frequentes. Creio
que o melhor seja numa base semanal, mas em tempos mais tumul-
tuados as reuniões deveriam ser no máximo quinzenais.

c. Ser exemplo para os discípulos


Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo.
I Co 11:1
Esse é o paradigma do discipulado. O discipulador apenas apon-
ta para Cristo, mostrando-O no próprio exemplo. O discipulador
deve ir à frente, em vez de só apontar o caminho. Fazer antes, para
só depois pedir para que os discípulos o façam.
Mahatma Ghandi era muito respeitado na Índia. Conta-se que
um dia uma mulher veio até ele com seu filho e lhe rogou que
pedisse ao seu filho para que parasse de comer açúcar. Depois de
ouvi-la atentamente, Ghandi pediu para que ela voltasse quinze
dias depois. Passado o tempo, ela voltou e Ghandi então exortou o
garoto para que parasse de comer açúcar. A mulher ficou intrigada
e lhe perguntou: “Se era apenas para dizer isso, por que você me
mandou voltar depois de quinze dias? Ele então respondeu: “É que
eu precisei de quinze dias para parar de comer açúcar.” A melhor
escola é o exemplo. O que não ensinamos por exemplo, na verdade,
não ensinamos.

d. Delegar responsabilidades
É no processo de delegar responsabilidades que o discipulador
pode ajudar o discípulo a descobrir suas deficiências, virtudes
56 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

e habilidades desconhecidas; tornando o discípulo mais aberto


ao ensino.

e. Supervisionar os discípulos
Nosso trabalho como discipuladores certamente inclui a super-
visão. Muitos discípulos presumem que a supervisão seja algo me-
cânico e impessoal, mas na verdade é uma demonstração de amor
e cuidado pela obra. O discipulador precisa averiguar com atenção
se o discípulo está indo na direção do alvo proposto.

f. Levar os discípulos à frutificação


Todo discípulo deve dar fruto porque o Senhor disse que só nos
tornamos realmente seus discípulos quando damos frutos e o nosso
fruto permanece.
Nisto é glorificado meu Pai, em que deis muito fruto;
e assim vos tornareis meus discípulos. João 15:8
Por isso, o discipulador precisa ensinar o discípulo a evangeli-
zar, levá-lo a perder o medo de testemunhar e a tornar-se ousado
e frutífero.

4. Alvos para os vários níveis do discipulado


a. O discipulado do recém-convertido nós chamamos
de consolidação
Esse nível de discipulado é feito pelos líderes em treinamento
da célula, ou por algum irmão mais experiente. Ele tem um tempo
limitado de três meses e tem o alvo de levar o novo convertido a:
™™ Experimentar o batismo no Espírito Santo
™™ Batizar-se nas águas
™™ Aprender a manusear a Bíblia
™™ Aprender a sujeição à autoridade de Cristo e da igreja
™™ Demonstrar compromisso e envolvimento com os irmãos
na célula, na reunião de celebração e no serviço mútuo
4º Dia – Um roteiro de discipulado 57

™™ Ter revelação da pessoa e da obra de Jesus


™™ Estudar o livro de consolidação (junto com o anjo
da guarda)
™™ Aprender a ser um dizimista
™™ Vencer os principais problemas do velho homem como
vícios, impurezas, rebeldias, mentiras, desonestidade, etc.

b. O discipulado do líder em treinamento da célula


Esse nível é exercido pelo líder da célula. O líder da célula deve
discipular o líder em treinamento.
Esse discipulado vai acontecer até que o líder em treinamento
se torne um líder de célula, e tem o alvo de levar o líder em trei-
namento a:
™™ Aprender a proclamar e testemunhar de Jesus
™™ Manifestar os dons do Espírito Santo
™™ Caminhar em companheirismo na oração, ensino e edifi-
cação mútua na célula
™™ Aprender a liderar uma célula
™™ Ter clareza sobre o Evangelho do Reino
™™ Ter clareza sobre o centro do coração de Deus, que é gerar
filhos
™™ Aprender a servir
™™ Fazer boas obras
™™ Pastorear e consolidar vidas
™™ Resolver problemas na célula
™™ Fazer o Curso de Maturidade no Espírito e o CTL.
™™ Manter e aperfeiçoar o que foi alcançado.

c. O discipulado do líder de célula


Esse nível de discipulado é feito pelo discipulador de líderes.
Ocasionalmente, um pastor ou obreiro poderá também assumir essa
posição. Esse nível de discipulado vai acontecer até que o líder de
célula se torne um discipulador de líderes. O alvo do discipulador
aqui é levar o líder de célula a:
58 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

™™ Ter revelação de que sua liderança é um chamado de Deus


e não um cargo (Rm 8:29; Mt 28:18-20)
™™ Ter uma disciplina diária de oração e leitura da Palavra
™™ Ter uma vida de jejum
™™ Buscar capacidade e unção para compartilhar a Palavra
™™ Aprender a lidar com problemas na célula
™™ Ter ousadia para evangelizar
™™ Ministrar o batismo nas águas, entendendo todas as suas
implicações
™™ Ministrar o batismo do Espírito Santo
™™ Orar pelos enfermos com ousadia
™™ Expulsar demônios com autoridade
™™ Aprender a discipular o líder em treinamento da sua célula
™™ Aprender a servir no encontro
™™ Manter e aperfeiçoar o que foi alcançado.

d. O discipulado do discipulador de líderes de célula


Esse é o estágio em que o discipulador de líderes é discipulado
por um pastor ou obreiro. Nesse nível, o pastor tem o alvo de levar
seu discípulo a:
™™ Aprender a ter uma visão geral do trabalho da igreja
™™ Saber lidar com diferentes tipos de problemas nas células
™™ Saber conduzir reuniões com a rede
™™ Pregar e ensinar para públicos maiores
™™ Estar apto a organizar um encontro
™™ Aprender a resolver problemas na rede
™™ Aprender a planejar eventos maiores com a sua rede
™™ Saber ensinar a Palavra no Cursão e no CTL
™™ Aprender a suportar cargas e situações difíceis
™™ Conhecer bem e guardar os valores da igreja em célula
4º Dia – Um roteiro de discipulado 59

™™ Conhecer a guardar a visão do Reino


™™ Manter e aperfeiçoar o que foi alcançado.
Se, ao pensarmos na igreja, nos limitamos à reunião de celebração
e às células, nos enganamos. A nossa edificação passa também pelas
reuniões de discipulado, que devem acontecer em todos os níveis. O
novo convertido com o seu anjo da guarda, o líder em treinamento
com o seu líder de célula, o líder de célula com o seu discipulador
e os pastores com os seus discípulos. É nessas reuniões que estamos
de fato formando vidas e levantando uma igreja de vencedores.

5. Áreas que o discipulador deve supervisionar


Um bom discipulado requer uma supervisão em todas as áreas
da vida do discípulo. Não se trata de um controle da vida da pessoa,
e sim de uma ajuda em seu crescimento.

a. Relacionamento com Deus


™™ Oração, fé e dependência de Deus
™™ Leitura e estudo da Palavra de Deus
™™ Louvor e adoração
™™ Confiança na provisão de Deus
™™ Ser um dizimista fiel
™™ Amor e conhecimento de Deus
™™ Fazer jejum
™™ Leituras de livros devocionais.
Muitas pessoas têm dificuldade em manter o período diário
devocional, por isso, algumas atitudes podem ser úteis:
™™ Ajude o discípulo a encontrar o melhor horário para esse
período
™™ Estimule o discípulo a desenvolvê-lo
™™ Faça o devocional junto com o discípulo por algum tempo,
caso ele não consiga fazer sozinho.
60 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

b. Relacionamento familiar
Para os casados:
™™ Ter relacionamento marido-mulher saudável
™™ Desenvolver boa comunicação no casamento
™™ Desempenhar os papéis básicos de cada um
™™ Ter um bom relacionamento com os filhos
™™ Participar da vida dos filhos
™™ Ter um relacionamento sexual gratificante
™™ Buscar ordem e administração doméstica
™™ Encontrar equilíbrio nas finanças no lar
™™ Resolver conflitos
™™ Desenvolver uma vida devocional com a família
Para os solteiros:
™™ Ter envolvimento com a família
™™ Obedecer e honrar aos pais
™™ Ter amizade e relacionamento com os irmãos
™™ Desenvolver relacionamento com o sexo oposto: corte,
noivado e casamento
™™ Preparação para o vestibular
™™ Ter alvos profissionais.

c. Relacionamento com a igreja


Relacionamento com o discipulador:
™™ Alcançar um nível de intimidade e confiança para ter abertura
(confissão de pecados, sinceridade e transparência)
™™ Observar o nível de submissão (Está sujeito aos ensinos?)
™™ Detectar se há algum problema de relacionamento com
os pastores

Relacionamento com as pessoas do mesmo nível:


™™ Observar se o discípulo consegue ou não se aproximar e ser
amigo de pessoas do mesmo nível
™™ Estimular e orientar o relacionamento de companheirismo
™™ Verificar se existem barreiras ou mágoas com outros irmãos
4º Dia – Um roteiro de discipulado 61

™™ Checar a convivência, o estar junto com diversos irmãos


na igreja e na célula
™™ Servir aos irmãos no espiritual e no natural

Participação na vida da igreja:


™™ Observar se há disposição em servir à igreja
™™ Identificar os dons que a pessoa tem e procurar desenvolvê-los
™™ Checar o nível de participação na célula
™™ Observar a participação em todas as atividades e eventos
da igreja
™™ Observar e participar semanalmente do culto de celebração
™™ Levar a liderar uma célula
™™ Levar a ter discípulos.

d. Relacionamento com a sociedade

No trabalho:
™™ Manifestar disposição para trabalhar
™™ Pontualidade
™™ Submissão ao patrão, respeito pelos empregados
™™ Constância no emprego
™™ Testemunho de vida e de palavras
™™ Responsabilidade do empregado e do empregador

Na escola:
™™ Frequência
™™ Rendimento escolar (trabalhos, provas)
™™ Relacionamento com professores e colegas
™™ Testemunho

Em relação ao governo:
™™ Obediência às autoridades civis e militares
™™ Pagamento de dívidas e impostos

Vida financeira:
™™ Prosperidade financeira
62 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

™™ Negócios e empreendimentos
™™ Administração financeira
™™ Dízimos, ofertas, generosidade
™™ Sociedade com incrédulos
™™ Ter o nome limpo

Relacionamento consigo próprio:


™™ Integridade
™™ Humildade
™™ Domínio próprio
™™ Higiene, bons hábitos, modos e costumes
™™ Provações e sofrimentos
™™ Altruísmo
™™ Cuidado com o corpo
™™ Santidade
™™ Masculinidade/Feminilidade
™™ Desenvolvimento da personalidade
™™ Amor-próprio
™™ Fruto do Espírito
™™ Ser guiado e andar no Espírito
™™ Exercício do corpo e da mente
™™ Iniciativa própria
™™ Vida de vitória.
5º Dia

Estágios do discipulado

Todo líder de célula precisa compreender que ele é também um


discipulador. Chamamos de discipuladores em nossa igreja aqueles
que são chamados de supervisores ou superintendentes em outros
modelos celulares. Esse é um caso em que a terminologia pode
atrapalhar a visão.
Não queremos que o discipulador seja um mero cargo em nos-
sa estrutura celular. É muito importante que cada líder de célula
entenda que ele também é um discipulador. Ele precisa ter junto
de si líderes em treinamento que sejam seus discípulos. O alvo do
seu discipulado é levar cada um desses líderes em treinamento a se
tornar um líder de célula como ele.
No processo de discipulado de nossos líderes em treinamento,
inevitavelmente eles passarão por quatro estágios. Como líder de
célula, que é também um discipulador, você deve estar ciente de
todos esses estágios. Quer se deem conta disso ou não, eles passarão
por estágios de um processo de crescimento pelo qual o próprio
Espírito Santo vai conduzi-los.
64 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Por isso, é muito importante que cada líder em treinamento per-


ceba que está inserido com você num relacionamento de discipulado.
Atender ao chamado para ser discípulo é, na verdade, atender a uma
convocação de líderes. Esse relacionamento precisa estar bem claro,
o líder em treinamento precisa saber que você é o seu discipulador.
Existe muita crítica hoje em dia sobre a liderança e o discipulado.
Mas essas críticas vêm daqueles que não gostam de estar submissos
à autoridade.
Vamos encarar um fato: Se você é um líder e as pessoas no seu
grupo lhe disserem que querem que você faça o que elas mandarem,
você vai rir. Líderes precisam dar a direção. Os pais fazem isso, os
professores fazem isso, os empregadores fazem isso, não há como
ser diferente, o líder precisa também ser diretivo.
Mas nós, líderes, não devemos ser servos? Não devemos fazer
tudo que os irmãos nos pedem? Mas de que forma Jesus foi um
modelo de líder-servo?
™™ Dizendo aos seus discípulos: “Vocês ainda não sabem como
a obra deve ser feita, mas eu sei. Então, deixem-me dizer o
que vocês devem fazer”. Ele não fez uma enquete para definir
a visão nem pediu uma votação sobre as suas estratégias.
™™ Jesus serviu, entrando na linha de fogo; levando os tiros
disparados àqueles que Ele liderava.
™™ Serviu lavando os pés dos discípulos e, assim, removendo a
sujeira e a imundície que fazia parte das suas vidas.
™™ Liderando de uma maneira clara e dizendo objetivamente
o seu propósito.
™™ Repreendendo a Pedro de forma severa ao ponto de chamá-
lo de “Satanás”, porque Pedro estava falando na carne e não
pelo espírito.
O tipo de liderança que Jesus demonstrou contraria a maneira
como convencionalmente se pensa que um servo deveria agir. Mas
esse é o paradoxo da liderança na casa de Deus. Às vezes, um pas-
tor precisa usar um gancho para agarrar uma ovelha pelo pescoço e
5º Dia – Estágios do discipulado 65

arrastá-la de volta para a segurança do aprisco. Pode não ser agradável


para a ovelha, mas certamente é melhor do que ser devorada por um
lobo. Liderar como servo significa saber o que fazer quando alguém
que você conhece se perde no caminho, mas também é saber o que
fazer para levar seu discípulo ao ponto em que ele precisa estar.
No processo de discipulado, você vai seguir com os seus discí-
pulos os quatro estágios clássicos de um treinamento:
Estágio 1 — “Eu faço, você observa”.
Estágio 2 — “Eu faço, você ajuda”.
Estágio 3 — “Você faz, eu ajudo”.
Estágio 4 — “Você faz, eu observo”.
Não sei quem primeiro usou essas expressões, mas elas traduzem
perfeitamente o processo.
Gostaria, porém, de usar outra forma de ver essas mesmas fases
no desenvolvimento de liderança por meio do discipulado.

Estágio 1
Eles não sabem e não sabem que não sabem
No primeiro estágio de discipulado, os discípulos são confiantes,
mas incompetentes. Eles não sabem e não sabem que não sabem.
O discipulador precisa ser diretivo e estabelecer o exemplo. Nesta
fase o Espírito Santo vai tratar com a arrogância do discípulo. Ele
presume que é capaz de fazer a obra e que pode usar suas habilidades
para isso. Será um tempo difícil porque o Senhor vai frustrá-lo. Cada
uma de nossas estratégias e iniciativas vai parecer um grande fiasco
diante da célula. Alguns possuem muitas habilidades e recursos, e
o Senhor vai aguardar até que todos eles se esgotem. Quanto mais
rápido chegarmos ao fundo do poço, mais rapidamente avançaremos
para a próxima fase. Mas, em nossa mente, presumimos que assumir
66 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

incapacidade ou incompetência é um tipo de derrota espiritual e


demoramos a descobrir que não podemos por nós mesmos.
Tudo o que o discípulo precisa nesta fase é de um discipulador
que seja diretivo. Não é momento de consenso ou longas explicações.
É tempo do discípulo simplesmente assistir e fazer tudo como foi
determinado. O comportamento precisa ser modelado e as expec-
tativas precisam ser claras.
Quando você está ensinando seu filho a usar o vaso, você não se
perde em longas divagações, mas simplesmente ensina e determina
como deve ser. Quando você estiver liderando uma nova célula ou
consolidando um novo discípulo, seja diretivo sem ser desagradável
nem indelicado.
Quando se inicia uma nova célula, o líder precisa definir clara-
mente a visão. Essa visão une os discípulos; ela confronta aqueles
que não reagem e motiva aqueles que a recebem. Qualquer tentativa
de consenso neste estágio dilui a visão.
Um pai jamais vai perguntar ao seu filho de sete anos como ele
acha que deveria ensiná-lo a se comportar. Isso é um problema para
alguns. Temos um legado de líderes diretivos que foram tiranos, que
manipularam as vidas dos seus liderados. Além disso, vivemos em
uma sociedade democrática onde todos votam – quer entendam os
assuntos, quer não – achamos que precisamos viver dessa maneira
em tudo o que fizermos.
Quando começamos uma nova jornada, precisamos de um líder
forte e confiante que nos mostre o caminho. Alguém que saiba onde
está indo, alguém que saiba onde estão os pontos difíceis e como
ultrapassá-los. Resista à tentação de explicar interminavelmente
o que você está fazendo ou de obter um feedback daqueles que o
seguem. Defina o seu plano e execute-o.
5º Dia – Estágios do discipulado 67

Estágio 2
Eles não sabem e sabem que não sabem
Neste segundo estágio, os discípulos não têm entusiasmo nem
competência. Eles não sabem e sabem que não sabem.
Este é um tempo de pressão e desânimo. Os discípulos acabaram
percebendo que eles realmente não tinham a menor ideia do que
estavam fazendo. Antes se achavam tão capazes, mas agora caíram
no lado oposto. Eles simplesmente têm receio de qualquer iniciativa.
Não têm confiança, nem experiência, nem entusiasmo.
Na primeira fase, o discipulador diz: “Eu faço, vocês olham”.
Mas agora ele começa a dizer: “Eu faço, vocês ajudam”. Nesta nova
fase, o discipulador precisa mudar seu estilo diretivo para um estilo
de treinador. Agora se torna importante dar explicações. É preciso
investir tempo para que eles aprendam a ser confiantes na base
correta, ou seja, na dependência da força de Deus.
O estágio 2 realmente começa quando a empolgação esmorece
e os sentimentos de incompetência e de inexperiência vêm à tona.
Os desapontamentos se acumulam; as expectativas não se cumprem.
As dificuldades se tornam esmagadoras. Os discípulos esquecem a
visão e começam a questionar se é isso o que eles realmente querem.
Este é o estágio mais importante no processo de desenvolvimen-
to de um discípulo. O discipulador precisa estar disponível para
oferecer o incentivo de Deus em um nível pessoal e individual. O
discípulo precisa de atenção graciosa e de renovação da visão. A
visão precisa ser reafirmada.
Durante este estágio, libere a sua agenda e passe algum tempo
no fundo do poço com o discípulo. Ele precisa aprender que só é
possível continuar pela graça de Deus, e não por seu próprio esfor-
ço. É maravilhoso o que acontece quando uma pessoa é tirada do
estado de luta sem frutos para um lugar de graça onde haja repouso.
68 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

A confiança começa a crescer porque a pessoa está vendo a obra de


Deus pela graça e não como resultado do esforço humano.

Estágio 3
Eles sabem, mas não sabem que sabem
Neste estágio, os discípulos têm uma confiança crescente. Eles
sabem, mas não sabem que sabem.
Os discípulos já estão conduzindo as coisas. O entusiasmo está
de volta, mas desta vez está baseado em algum real conhecimento
dos princípios espirituais. A frase que leva o discípulo para este es-
tágio é “Deus está no comando”. A única coisa que nos levará ao
crescimento e à maturidade é o conhecimento da graça de Deus.
Neste estágio o discipulador se torna amigo do seu discípulo. Ele
é menos diretivo e está disponível e acessível para os discípulos por
meio de um relacionamento pessoal. Esta é uma fase de crescimento
e de fortalecimento da confiança.
A liderança muda de um estilo diretivo para um estilo de consen-
so. Muitos discipuladores cometem o erro de iniciar o discipulado
como se o discípulo estivesse nesta fase. Começam com amizade,
quando a amizade é uma posição a ser alcançada. Os amigos têm
objetivos comuns e compartilham as suas vidas.
Alguns tentam seguir um estilo democrático desde o começo,
mas isto simplesmente não funciona. Os discípulos precisam pas-
sar pelos estágios anteriores para terem a experiência e a visão para
poderem oferecer opiniões e sugestões confiáveis.
Neste estágio o discipulador deve começar a preparar o discípulo
para ser enviado. Ele já recebeu o que era necessário e agora está che-
gando o momento de repetir o processo com outros. Os discípulos
agora têm a visão; eles sabem em que direção precisam se mover,
portanto já podem eles próprios discipular outros.
5º Dia – Estágios do discipulado 69

Estágio 4
Eles sabem e sabem que sabem
No último estágio, os discípulos são confiantes e também com-
petentes. Eles sabem e sabem que sabem.
O discipulador agora dá poucas instruções e poucos exemplos.
O discípulo já tem a visão e já a praticou. O entusiasmo é elevado
e a confiança também, porque a experiência está em um nível ele-
vado. Tudo isso leva a um alto nível de competência para realizar o
trabalho sozinho. Em outras palavras, o discípulo está pronto para
ser um líder.
O grande entusiasmo deste estágio não é apenas uma empolgação
passageira. Ele tem raízes profundas na confiança, criada por um
forte sentimento de competência e experiência. A confiança que
tinha sido perdida agora começa a retornar.
Nesta fase o discipulador dá poucas instruções. Ele apenas per-
gunta aos discípulos o que eles pensam, só para checar se seguem a
visão recebida. Depois de tanto tempo juntos, os discípulos estão
aptos a contribuir para o planejamento e para a estratégia.
Agora é a hora de delegar autoridade e responsabilidade. Os bons
líderes sempre levam as pessoas a um estágio em que elas estejam
prontas para aceitar a responsabilidade delegada. Delegá-la aos dis-
cípulos antes de chegar a este estágio é uma receita para o desastre.
Os líderes devem estar sempre procurando entregar o seu tra-
balho a pessoas que possam executá-lo bem ou até melhor do que
eles. A delegação do trabalho passa pelos quatro estágios de um
treinamento apropriado:
Estágio 1 — “Eu faço, você observa”.
Estágio 2 — “Eu faço, você ajuda”.
Estágio 3 — “Você faz, eu ajudo”.
Estágio 4 — “Você faz, eu observo”.
6º Dia

Paulo, o discipulador
de Timóteo

Um dos relacionamentos de discipulado mais claros e instrutivos


das Escrituras foi o que houve entre Paulo e Timóteo.
A imagem de discipulador transparece em I e II Timóteo, em
especial no início de II Timóteo. Leia o texto e tente enumerar
nos versículos cada palavra, frase ou conceito que você considere
expressão típica de um discipulador.
Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, pela vontade de Deus,
de conformidade com a promessa da vida que está em
Cristo Jesus, ao amado filho Timóteo, graça, misericór-
dia e paz, da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso
Senhor. Dou graças a Deus, a quem, desde os meus
antepassados, sirvo com consciência pura, porque, sem
cessar, me lembro de ti nas minhas orações, noite e dia.
Lembrado das tuas lágrimas, estou ansioso por ver-te,
para que eu transborde de alegria pela recordação que
72 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

guardo de tua fé sem fingimento, a mesma que, pri-


meiramente, habitou em tua avó Lóide e em tua mãe
Eunice, e estou certo de que também, em ti.
Por esta razão, pois, te admoesto que reavives o dom
de Deus que há em ti pela imposição das minhas mãos.
Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia,
mas de poder, de amor e de moderação. Não te enver-
gonhes, portanto, do testemunho de nosso Senhor, nem
do seu encarcerado, que sou eu; pelo contrário, participa
comigo dos sofrimentos, a favor do evangelho, segundo
o poder de Deus. Mantém o padrão das sãs palavras
que de mim ouviste com fé e com o amor que está em
Cristo Jesus. Guarda o bom depósito, mediante o Espí-
rito Santo que habita em nós. Estás ciente de que todos
os da Ásia me abandonaram; dentre eles cito Fígelo e
Hermógenes. Tu, pois, filho meu, fortifica-te na graça
que está em Cristo Jesus. E o que de minha parte ouviste
através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a
homens fiéis e também idôneos para instruir a outros
(II Tm 1.1-8, 13-15; 2.1-2).
Qualquer um que se coloque como pai espiritual, pastor ou dis-
cipulador precisa manifestar as qualidades de Paulo descritas nessas
passagens. Vamos ver algumas delas:

Qualidades de Paulo como discipulador


1. Relacionamento de pai e filho (v. 2)
Paulo trata Timóteo repetidas vezes como filho (1 Tm 1.2, 18 e 2
Tm 1.2; 2.1). Vivemos em uma geração de muitos líderes órfãos, que
nunca aprenderam como ser filhos, e em um tempo no qual muitos
pais nunca foram cuidados e que, por isso mesmo, não conseguem
exercer uma paternidade espiritual livre e saudável.
6º Dia – Paulo, o discipulador de Timóteo 73

Um relacionamento de discipulado certamente deve envolver


uma relação de paternidade espiritual.
Precisamos desesperadamente que o Senhor restaure em nós esse
tipo de relacionamento.

2. Amor
É precioso ver como Paulo se referia a Timóteo: “meu amado
filho” (v. 2). Isso é extremamente afetuoso. Não espere ter discípulos
se não consegue expressar amor e afeto para com aqueles que Deus
lhe deu. Todos sabemos como essa expressão de pai é vital para o
crescimento e a identidade do filho.
Não é por acaso que as Escrituras mencionam oito vezes em que
o Pai se referiu a Jesus como: “Este é meu filho amado em quem
tenho todo o meu prazer” (Mt 3.17). Isso certamente foi vital para
que o Senhor assumisse seu ministério na terra (Is 42.1; Mt 12.18,
17.5; Mc 1.11, 9.7; Lc 3.22, 9.35 e II Pe 1.17). Seja instrumento de
Deus para que muitos filhos e discípulos desenvolvam ministérios
fortes e frutíferos debaixo de um forte senso de amor e aceitação.
Há filhos que geramos, há outros que adotamos, mas em ambos os
casos devemos amá-los incondicionalmente.

3. Intercessão (v. 3)
No verso 3 lemos que Paulo orava por Timóteo de noite e de
dia. Quando amamos um filho, oramos por ele; quando amamos
um discípulo, temos encargo pela sua vida. Deixar de orar por um
discípulo é sinal de indiferença e relacionamento superficial. Mas é
um grande privilégio ter um discipulador intercessor.

4. Intimidade
No verso 4 Paulo diz que se lembrava das lágrimas de Timóteo.
Isso significa que ele tinha liberdade para chorar diante de Paulo.
Ele não se envergonhava disso.
74 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Em Atos lemos que Paulo serviu ao Senhor com toda a humil-


dade, lágrimas e provações (At 20.19). Por três anos, noite e dia
não cessou de admoestar, com lágrimas, a cada um dos irmãos (At
20.31). Quando ele estava para deixar a igreja de Éfeso, lemos no
livro de Atos que houve grande pranto entre todos, e, abraçando
afetuosamente a Paulo, o beijavam (At 20.37).
Em um verdadeiro relacionamento de discipulado, é normal
deixar o coração transparecer. Temos liberdade para chorar e
para celebrar.

5. Alegria de estar junto (v. 4)


Das características mais agradáveis do meu ministério como
pastor e discipulador são a alegria e o imenso prazer que sinto de
estar com os meus discípulos. Paulo diz no verso 4 que ele estava
ansioso para ver Timóteo e poder transbordar de alegria.
Um relacionamento de discipulado onde não há alegria na
comunhão, no simples estar junto, certamente não está correto. É
preciso avaliar onde está o problema. No discipulado estamos sempre
procurando oportunidade de compartilhamento.

6. Atitude benigna (v. 5)


Vemos, no verso 5, a atitude resoluta de Paulo de enxergar em
Timóteo suas qualidades e virtudes. Paulo não insistia que seu
discípulo precisava melhorar, mas comunicava-lhe uma profunda
aceitação. Não questionava a fé de Timóteo, mas simplesmente
presumia o melhor a respeito do filho.

7. Desafio ao crescimento (v. 6)


Todo discipulador precisa admoestar e exortar o discípulo ao
crescimento. Paulo sabia do potencial e da unção que havia em Ti-
móteo, ciente disso ele desejava levar seu discípulo a ser plenamente
6º Dia – Paulo, o discipulador de Timóteo 75

útil nas mãos de Deus. Precisamos acreditar em nossos discípulos


e no potencial deles sob a unção do Espírito Santo.

8. Transferência de unção
Em I Timóteo 4.14, Paulo diz que o dom de Timóteo lhe havia
sido concedido pela imposição de mãos do presbitério, mas, aqui
no verso 6, vemos que ele também orou para que Timóteo recebesse
a unção para desempenhar o serviço apostólico. A Palavra de Deus
nos diz que havia uma unção que estava sobre Moisés e que foi
transferida aos setenta anciãos de Israel. Também lemos a respeito
do manto de Elias herdado por Eliseu, que consistia numa porção
dobrada da unção. Paulo é o exemplo do Novo Testamento de que
há poder na imposição de mãos e que de fato existe uma transfe-
rência de unção no discipulado.
A unção é transferida. Em Números 11.16,17, lemos:
Disse o SENHOR a Moisés: Ajunta-me setenta ho-
mens dos anciãos de Israel, que sabes serem anciãos e
superintendentes do povo; e os trarás perante a tenda
da congregação, para que assistam ali contigo. Então,
descerei e ali falarei contigo; tirarei do Espírito que está
sobre ti e o porei sobre eles; e contigo levarão a carga
do povo, para que não a leves tu somente.
Deus tirou do Espírito que estava sobre Moisés e O colocou
sobre sua equipe. Você terá o Espírito Santo e o espírito do seu
discipulador, que está sobre você, em sua vida.
O espírito a que o texto se refere é a atitude, intensidade, como,
por exemplo, ser faminto, ousado, valente ou passivo, retraído,
parado, isso é espírito. O Senhor vai transferir o espírito que está
em você e compartilhá-lo com seus discípulos, por isso discipular
é compartilhar o espírito. Deus tirou do espírito de Moisés e o co-
locou sobre os demais.
76 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Você consegue perceber que coisa séria é ser e ter um discipula-


dor? Entenda a responsabilidade, você é o padrão para eles. Deus
vai transferir o que você tem e compartilhar com os discípulos.

9. Discernimento da condição espiritual do discípulo (v. 7)


Paulo sabia das dificuldades de Timóteo. Primeiro, ele era jo-
vem demais (I Tm 4:12). Isso certamente o fazia tímido e inseguro.
Além disso, Paulo sabia que Timóteo era propenso a doenças. Pau-
lo refere-se às “frequentes enfermidades” de Timóteo (I Tm 5:23).
Mas o principal é que Timóteo tinha mais tendência a apoiar-se
em outros do que a liderar, por isso Paulo teve de lhe dizer: “Deus
não lhe tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de
moderação”. Em outras palavras: “Seja ousado!”

10. Ensino por palavra e por demonstração (v. 13)


Certamente o ensino é uma parte muito importante do dis-
cipulado. Paulo mostrou a Timóteo como ensinar e viver (II Tm
3.10,11). O objetivo de Paulo ao ensinar a Timóteo parece claro.
Ele disse, em II Timóteo 2:2, o paradigma final do discipulado: “E
o que de minha parte ouviste [..], isso mesmo transmite a homens
fiéis e também idôneos para instruir a outros”. Paulo desafia Ti-
móteo a reproduzir o que recebeu dele. Mais que isso. Desafia-o a
multiplicar-se discipulando as pessoas certas para que estas, por sua
vez, transmitam a outras o que receberam.

Qualidades de Timóteo como um discípulo


Mas não é apenas o discipulador que precisa ser qualificado, o
discípulo também precisa ter algumas características fundamentais
para um discipulado efetivo.
Muitos estão procurando discipuladores extraordinários como
Paulo e facilmente se decepcionam quando não são correspondidos
6º Dia – Paulo, o discipulador de Timóteo 77

em suas expectativas irrealistas. Para bons discípulos, nunca faltam


discipuladores levantados por Deus.
Vamos ver algumas características de Timóteo que nos mostram
como deve agir um bom discípulo.

1. Tratar seu discipulador como um pai espiritual


Por esta causa, vos mandei Timóteo, que é meu filho
amado e fiel no Senhor, o qual vos lembrará os meus
caminhos em Cristo Jesus, como, por toda parte, ensino
em cada igreja. (1Co 4.17).
O discípulo, antes de mais nada, precisa aprender a ser filho.
Você pode achar estranho dizer que temos de aprender a ser filhos.
Hebreus diz que o Senhor teve de aprender obediência (Hb 5:8).
Ele era Deus e nunca tinha precisado obedecer a ninguém. Sendo
Deus, teve de aprender a ser filho de um carpinteiro. Ele era Deus,
mas teve de aprender a ser filho. Para aprendermos a sermos pais,
antes precisamos aprender a ser filhos.
Ser filho é reconhecer a fonte sem querer mudá-la, sem forçá-la.
É honrar quem veio antes. É reconhecer que, em última análise, a
verdadeira fonte é Deus.
Ser filho é cuidar da casa do pai como se fosse a sua. Jesus disse
que veio cuidar das coisas do Pai. Ele expulsou os cambistas do
templo por zelo pela casa do seu Pai. Aquilo que Timóteo dizia era
exatamente o que aprendera de seu pai.
Ser filho é honrar o pai. Desonrar é negar a sua linhagem, sua
origem e procedência. Quando Timóteo falava, repetia aquilo que
aprendera de Paulo. Um dos problemas de nossa geração é a falta
de respeito e honra. Desonramos uns aos outros e, por isso mesmo,
colhemos as consequências de relacionamentos superficiais e egoís-
tas. A base do relacionamento de discipulado é o respeito e a honra.
Não reconhecer as fontes é se colocar como “auto-originador” e
isso é o mesmo que se colocar como deus. Ou também é se colocar
78 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

como o primeiro de uma nova linhagem. Eu chamo isso de com-


plexo de Adão. Ele pensa que todo mover de Deus na história vai
começar com ele.
Ser filho é servir suas fontes, os seus pais espirituais. Observe
que Timóteo foi enviado para servir a Paulo.
Saul nunca aprendeu a ser filho. Podemos ver isso na sua re-
lação com Samuel. Mas Davi sempre agiu como filho em todas
as situações, por isso herdou o reino. Os coríntios não tinham
aprendido a ser filhos, por isso Paulo lhes envia um filho verda-
deiro para ensiná-los.

2. Imitar o seu discipulador


Não vos escrevo estas coisas para vos envergonhar; pelo
contrário, para vos admoestar como a filhos meus ama-
dos. Porque, ainda que tivésseis milhares de preceptores
em Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais; pois eu,
pelo evangelho, vos gerei em Cristo Jesus. Admoesto-vos,
portanto, a que sejais meus imitadores (1Co 4.14-16)
Os coríntios não imitavam a Paulo, mas este se coloca como um
modelo a seguir, um exemplo. Evidentemente todo discipulador
possui falhas, mas o discípulo que tem um coração correto sempre
terá de Deus o discernimento do que deve ser imitado.
Em certo sentido, quando observado o discípulo deve compro-
var o ditado: “Tal Pai, tal filho”. As pessoas devem ser capazes de
conhecer o coração e a visão do discipulador pelo simples fato de
conviver com o seu discípulo.

3. Ser um cooperador
Saúda-vos Timóteo, meu cooperador, e Lúcio, Jasom e
Sosípatro, meus parentes. Romanos 16:21
6º Dia – Paulo, o discipulador de Timóteo 79

Todo discípulo é também um cooperador. Um líder em treina-


mento coopera com o líder da célula enquanto é discipulado por
ele. É exatamente enquanto cooperamos que aprendemos.

4. Ser fiel ao discipulador


Por esta causa, vos mandei Timóteo, que é meu filho
amado e fiel no Senhor, o qual vos lembrará os meus
caminhos em Cristo Jesus, como, por toda parte, ensino
em cada igreja. I Coríntios 4:17
O discípulo não murmura com terceiros a respeito das falhas do
discipulador ou dos problemas que possa ter de enfrentar. A relação
entre ambos tem de ser de mútua transparência. O discípulo é um
escudeiro para seu discipulador, protegendo-o e até carregando,
quando puder, algo penoso para o líder.
A lealdade é uma condição vital para acontecer uma relação
de discipulado.

5. Ser confiável
Porque a ninguém tenho de igual sentimento, que sin-
ceramente cuide dos vossos interesses (Filipenses 2:20).
Tornamo-nos confiáveis quando somos transparentes. Um bom
discípulo abre seu coração com o seu discipulador. Também nos
tornamos confiáveis quando nos permitimos ser tratados. Apenas
ser transparente não nos qualifica, mas quando somos transparentes
e nos permitimos ser tratados e disciplinados, conquistamos uma
posição de confiança.

6. Ter um caráter aprovado


E conheceis o seu caráter provado, pois serviu ao evange-
lho, junto comigo, como filho ao pai (Filipenses 2:22).
80 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Todo discípulo precisa ser humilde e ensinável, jamais rejei-


tando a correção. Ele deseja ouvir a avaliação de sua vida e de seu
ministério, de modo que possa crescer. Creio que ser ensinável é a
característica mais importante de um discípulo, pois se precisar de
correção em quaisquer outras áreas, será possível trabalhá-las sem
grandes conflitos.

7. Manifestar um coração sincero


Pela recordação que guardo de tua fé sem fingimento, a
mesma que, primeiramente, habitou em tua avó Lóide
e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também,
em ti. 2 Tm. 1:5
A meu ver, a maior responsabilidade para o bom relacionamento
de discipulado cabe ao discípulo. Normalmente, o discipulador pos-
sui muitas ocupações, cabendo, assim, ao discípulo fazer os ajustes
necessários para se adaptar à rotina do discipulador. Ele deve ter a
iniciativa de buscar o discipulador e assegurar que o relacionamento
cresça gradualmente.
Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com
eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar
contas, para que façam isto com alegria e não gemendo;
porque isto não aproveita a vós outros. Hebreus 13.17.
Muitos discipuladores estão gemendo por causa de discípulos
passivos e mimados que desejam ser carregados o tempo todo.
O discipulado não precisa ser apenas individual. Na verdade, eu
pessoalmente creio que será mais produtivo se a relação de disci-
pulado não for apenas individual, de um para um, mas dentro de
um grupo ou equipe. Esse certamente era o procedimento de Jesus
Cristo. Não há relatos de encontros individuais com os discípulos,
mas de encontros em grupo.
Paulo reafirma a Timóteo o que este recebera “na presença de
muitas testemunhas” (II Tm 2.2), pela imposição de mãos, não
6º Dia – Paulo, o discipulador de Timóteo 81

apenas de Paulo, mas também dos presbíteros (I Tm 4.14). No li-


vro de Atos, Paulo aparece quase sempre em grupo ou em equipe.
Algumas cartas de Paulo como I e II Tessalonicenses, por exemplo,
trazem como remetentes “Paulo, Silvano e Timóteo”.
Discipular pessoas no contexto de uma equipe ou grupo, entre
outras vantagens, permite reunir a riqueza de múltiplas perspectivas.
Isso também oferece ao discípulo mais oportunidade para dar, em
vez de apenas receber. Além disso, haverá outras pessoas envolvidas
que poderão ajudar a solucionar possíveis conflitos, o que torna o
discipulador menos vulnerável aos melindres dos discípulos.
7º Dia

Elementos do Discipulado

A palavra discipulado tem sido distorcida por muitas práticas


manipuladoras e extremistas. Para facilitar o entendimento do
que é o discipulado, podemos dizer que é um tipo de mentore-
amento. A palavra “mentoreamento” vem da mitologia grega.
Mentor era o nome do conselheiro de Ulisses. Quando Ulisses
saiu para uma longa viagem, confiou o treinamento de seu filho
Telêmaco ao seu conselheiro, Mentor. Daí então veio a palavra
“mentoreamento”.
Assim como o mentoreamento, o discipulado descreve um rela-
cionamento entre duas pessoas, um professor e seu aluno, um mestre
e seu discípulo. Esse relacionamento pode ser formal ou informal,
intenso ou ocasional, passivo ou ativo.
O discipulado é um relacionamento onde um discipulador ca-
pacita o discípulo, compartilhando com ele os recursos que recebeu
de Deus. Discipular é capacitar outros para o sucesso. O alvo do
discipulador é levar seu discípulo a desenvolver completamente o
seu potencial em Deus.
84 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

1. Tipos de discipulado
Discipulado ativo
™™ É o discipulado como meio de edificação da igreja.
™™ O anjo da guarda (o exemplo bíblico de Barnabé cuidando
de Paulo)
™™ Um acompanhamento técnico numa empresa
™™ A supervisão de um estagiário.

Discipulado ocasional
™™ Um conselheiro (o exemplo de Jetro, que aconselhou
Moisés)
™™ Um professor.

Discipulado passivo
™™ Seguir outros através de ministrações e exemplo ministerial
™™ Seguir outros através de livros.

2. Elementos de um relacionamento
de discipulado
Ainda que possa ocorrer um discipulado ocasional, e mesmo que
possamos discipular alguém por meio de um discipulado passivo, o
nosso alvo é estabelecer um discipulado ativo. Essa é a forma efetiva
de um discipulado que resulta de fato na edificação da igreja. Ele
possui alguns elementos fundamentais que gostaria de enumerar.

a. Ser modelo
Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo.
I Co 11:1
As pessoas sempre se moldam para serem semelhantes a aqueles
a quem elas admiram ou respeitam. O discípulo é sempre “interes-
seiro”. Ele está inicialmente interessado em adquirir os recursos e o
conhecimento do seu discipulador.
7º Dia – Elementos do Discipulado 85

O discipulador deve então se colocar como modelo de tudo


aquilo que ele deseja edificar na vida do seu discípulo. Ele deve ser
o exemplo, não apenas quanto a sua santidade pessoal, mas tam-
bém quanto ao serviço na obra de Deus. Deve se relacionar, pregar
o evangelho, fazer discípulos, edificá-los, multiplicar células, etc.
Além disso, o discipulador deve se lembrar constantemente que
ele mesmo não possui discípulos, o seu discipulado é para Cristo,
ou seja, o discípulo na verdade segue a Jesus, o discipulador é ape-
nas um instrutor, um bom modelo para inspirar seu discípulo a
seguir a Cristo.

b. Atração
As pessoas tentam viver de acordo com as expectativas das pessoas
que elas admiram ou respeitam. A atração é a chave de um discipu-
lado eficiente. É essa atração que estimula a pessoa a trabalhar duro
e responder apropriadamente para ter a aprovação do discipulador,
cumprindo as condições colocadas por ele.
Jacó, o picareta, sempre procurava Labão porque os dois falavam
a mesma língua e tinham o mesmo jeito. Mas Maria, que era cheia
do Espírito, procurou Isabel. E quando as duas se encontraram algo
dentro de Maria estremeceu, pelo poder da unção de Deus. Quando
Maria encontrou Isabel, a unção aumentou, mas quando Jacó se
encontrou com Labão, a carne se fortaleceu. Precisamos andar com
quem aumenta a nossa unção e não com quem desperta a nossa car-
ne. Todos nós temos as duas coisas. Todos temos um pouco de Jacó
e outro tanto de Maria. Como Maria, todos nós, crentes, carregamos
a Jesus em nosso espírito; mas, como Jacó, trazemos muitas heranças
da nossa carne. Se procurarmos Labão, cairemos, mas se formos
atrás de Isabel, ficaremos cheios do Espírito. O relacionamento de
discipulado é baseado nesse princípio da atração. O discipulador,
por ser alguém mais maduro na fé e mais espiritual, exerce atração
sobre discípulos cheios de fome e sede espiritual.
86 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

c. Relacionamento
Nossa personalidade é moldada em nossos relacionamentos. O
discipulador não se preocupa com o ensino acadêmico, mas em
se relacionar com o discípulo em bases de paternidade espiritual.
Relacionamentos são chaves em nossa vida. Nossa história é a
história de nossos relacionamentos. A sua vida depende das pessoas
que você permite ao seu derredor. As pessoas ao seu redor vão de-
terminar as experiências que você terá em Deus. As pessoas ao seu
redor vão alimentar força ou fraqueza em você. Os relacionamentos
nunca são neutros em sua vida. Sendo assim, seu crescimento espi-
ritual depende dos seus relacionamentos. Existem alguns tipos de
relacionamentos que podem levá-lo para o vale em vez de ajudá-lo
a escalar as montanhas de Deus.
Os relacionamentos são a chave da nossa vitória na guerra espi-
ritual. Nós não fazemos guerra sozinhos. Na batalha, precisamos de
alguém que vigie a nossa retaguarda. Essa pessoa é o seu discipulador.
É ele que vai guardá-lo, que vai adverti-lo dos perigos do caminho.
Nossos relacionamentos falam de nossa condição espiritual. Se
temos relacionamentos saudáveis, então somos estimulados a avan-
çar, mas se nossos relacionamentos nos puxam para baixo, então
devemos renunciar a eles.
Relacionamentos são chaves espirituais, por isso devemos ser ra-
dicais com eles. Relacionamentos espirituais devem ser alimentados
e fortalecidos, mas amizade com gente rebelde e maledicente deve
ser cortada, mesmo que tais pessoas se passem por irmãos.
Os seus relacionamentos vão determinar força ou fraqueza em
você. Então escolha bem aqueles que você aceita na sua intimidade.
Bênçãos ou maldições vêm através de pessoas que permitimos ao
nosso lado.
7º Dia – Elementos do Discipulado 87

d. Prestação de contas
Até nossos compromissos espirituais mais sinceros, se forem
mantidos em segredo, acabam deixados de lado. E o resultado de
compromissos negligenciados e promessas quebradas é que tende-
mos a não fazer nenhum compromisso novamente com a justifi-
cativa de que é melhor não nos comprometer do que não cumprir
o que dissemos. Mas isso é um engano, não podemos viver sem
compromissos. Não podemos crescer em Deus sem compromissos.
Só conheço uma forma de quebrar o círculo vicioso da in-
constância e cumprir nossas promessas: ter uma pessoa a quem
possamos prestar contas de nossos atos. A melhor pessoa para isso
é o nosso discipulador.
A prestação de contas é uma das bases do conceito de vida
em comunidade no Novo Testamento. No entanto, isso tem sido
tão resistido dentro da igreja. Na tentativa de tornar a igreja mais
aceitável aos olhos de pessoas sofisticadas, minamos o conceito de
compromisso e discipulado.
Todos nós precisamos de alguém que nos ajude a cumprir nossas
promessas. Mas como fazer isso de maneira prática? Não posso sim-
plesmente abordar um irmão que mal conheço na igreja e dizer-lhe:
“Acabei de prometer a Deus que nada farei de desonesto em minha
empresa. Será que você poderia me vigiar para eu cumprir minha
promessa?” Imagine alguém levantando no meio do culto e dizendo:
“Irmãos me ajudem a viver uma vida sem pecado”.
Tudo isso seria realmente chocante. Devemos ser mais sábios.
É o discipulado que supre essa necessidade. No discipulado, eu me
coloco debaixo da autoridade de alguém e presto contas de meus
alvos e planos, bem como me abro para receber exortação e correção
quando necessário.
Para evitar desapontamentos no relacionamento de discipulado,
é melhor sempre começar definindo claramente o padrão. Questões
88 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

como frequência dos encontros, atribuições, material, limites de


autoridade e tempo de discipulado devem ser colocadas claramente.

3. Como se processa o discipulado


O crescimento espiritual vai acontecer como consequência de três
fatores: compromisso, disciplina de hábitos e relacionamentos certos.

a. Pelo compromisso
Todo discipulado começa com compromisso. Nós nos tornamos
semelhantes a aqueles com quem nos comprometemos. No casa-
mento os cônjuges passam a ser parecidos depois de algum tempo,
por causa do compromisso. A força do discipulado depende do nível
de compromisso do discípulo.
Jesus exige compromisso dos seus discípulos. Não podemos se-
guir a Jesus sem compromisso. Precisamos ter compromissos com
Deus em primeiro lugar, mas devemos ter também compromissos
com a igreja e com nosso discipulador, com a visão e com os irmãos.

b. Pela formação de hábitos


Os hábitos são formados pela disciplina e repetição durante
certo tempo. Depois que os hábitos são formados, dificilmente são
removidos.
Os hábitos são também chamados de disciplinas espirituais. Elas
são muitas, mas podemos resumi-las em três grupos, precisamos
colocar Deus em primeiro lugar em nosso:
™™ Tempo - Mc 1:35
™™ Dinheiro - I Co 16:2
™™ Relacionamentos - Hb 10:25
No processo de discipulado, o discipulador vai ajudar seu dis-
cípulo a desenvolver novos hábitos. Ele fará isso colocando metas
para o discípulo. É impossível crescer sem disciplina. Vencedores
fazem diariamente o que derrotados fazem ocasionalmente. O seu
7º Dia – Elementos do Discipulado 89

crescimento depende de algo que você deve fazer todos os dias. Algo
que você está fazendo diariamente vai determinar o seu futuro. O
que você vai alcançar depende de algo que você está fazendo todos
os dias. Aquele que não possui hábitos e rejeita toda disciplina não
pode ser discipulado. O homem, na segunda metade da sua vida, é
o resultado dos hábitos que ele formou na primeira metade.

c. Pelo relacionamento de paternidade espiritual


Nossa personalidade é formada pelo nosso relacionamento com
nossos pais e irmãos. O mesmo acontece na vida espiritual, nós cres-
cemos quando nos relacionamos com pais e irmãos espirituais. O
discipulado nada mais é que uma relação de paternidade espiritual.
Todos nós precisamos de um pai espiritual a quem possamos
imitar, mas também de um irmão que possa caminhar conosco.
Todavia, o crescimento só se completará quando tivermos um filho
espiritual, ou seja, um discípulo.
O discipulado é um tipo de relacionamento que nos ajuda a
crescer. No discipulado, eu me coloco debaixo da autoridade de
alguém. Biblicamente, todos nós precisamos manter um relaciona-
mento desse tipo, no mínimo, com três pessoas, conforme o exemplo
de Timóteo, Paulo e Barnabé. Todos nós precisamos de um Paulo,
de um Timóteo e de um Barnabé na nossa vida. Timóteo é aquele
a quem estamos ensinando, instruindo, inspirando. Com a nossa
experiência, ajudamos Timóteo a crescer e desenvolver-se espiritu-
almente. E não é só o meu Timóteo que cresce; eu também cresço
junto com ele, ensinando-o, tirando-lhe as dúvidas, ajudando-o a
resolver seus conflitos. Se você ainda não tem um Timóteo, então
você não está crescendo como poderia. O Timóteo é simplesmente
o seu discípulo.
Barnabé é aquele companheiro com quem conversamos de igual
para igual, com quem choramos e rimos juntos.
Paulo é aquele que está acima de nós, motivando-nos, inspi-
rando-nos e ajudando-nos a crescer. Paulo é aquele a quem nos
90 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

submetemos e prestamos contas da nossa vida. Ele é o nosso discipu-


lador. Paulo é alguém a quem dei liberdade para interagir na minha
vida. Ele fala e eu ouço; ele me exorta e eu me corrijo. Ainda que
eu não goste de ouvir o que ele me diz, vou continuar ouvindo-o,
respeitando-o e honrando-o. Ainda que a correção produza feridas,
eu sei que elas serão curadas. Por isso, não deixarei de responder – e
não apenas reagir – ao tratamento.
A maioria dos crentes apenas reage – e não responde – às corre-
ções. Neste caso, reagir é como quando alguém lhe dá uma martelada
no joelho, por exemplo. Imediatamente, por reflexo, você desfere
um chute nessa pessoa. Muitos só têm esse reflexo. Responder é di-
ferente – a martelada vem e eu me pergunto: “Por que ganhei essa
martelada? Por que ele me deu essa martelada?” Então, em vez de
chutar, eu respondo: “Eu mereci. Glória a Deus por essa martelada”.
Isso é responder. Infelizmente, esta é a razão por que aqueles que
só reagem e não respondem fogem de relacionamentos: não têm
um Paulo a quem responder, um Barnabé com quem compartilhar,
nem um Timóteo a quem ministrar.
Todos nós precisamos primeiramente de um pai espiritual a
quem possamos imitar, depois de um irmão que possa caminhar
conosco. Todavia, o crescimento só se completará quando tivermos
um filho espiritual. Ter um discípulo é condição vital para o nosso
crescimento e o consequente fortalecimento da igreja.

Sinais de um discipulado sólido


O primeiro sinal de que o discipulado está de fato acontecendo
é o prazer mútuo. Em um discipulado saudável, o discipulador e
seus discípulos passam tempo juntos apenas pelo prazer de estarem
juntos. Você tem prazer de estar com o seu discipulador? Tem prazer
em compartilhar sua vida com ele? Se não há prazer, o discipulado
definhará até acabar. Tenha, porém, em mente, que o prazer da
7º Dia – Elementos do Discipulado 91

comunhão pode ser uma doce descoberta. Podemos, a princípio,


achar que o discipulado não é muito agradável, mas depois de algum
tempo descobrimos o quanto ele é precioso e como é agradável estar
unido a aquele grupo.
O segundo sinal de um discipulado que produz resultados é o
respeito. Quando você valoriza seu discípulo você ganha respeito
em troca; e quando você respeita seu discipulador, a unção dele
é acrescentada a você. O verdadeiro discipulado está baseado no
respeito. A palavra respeito significa “consideração, deferência e
acatamento”. Um dos problemas de nossa geração é a falta de res-
peito. Desrespeitamos uns aos outros e por isso mesmo colhemos
as consequências de relacionamentos superficiais.
A base do discipulado é o respeito e a consideração. Se não
respeitamos ou consideramos alguém, não podemos ter com ele
um relacionamento sólido e gratificante. O discípulo que não
respeita o seu tempo também não vai acatar suas palavras. O
discípulo que não reconhece a unção do seu discipulador não
vai receber nada dele. Quem não respeita os seus limites não
pode ser seu discípulo.
O terceiro sinal de um discipulado sólido são as experiências
compartilhadas. Uma ligação muito forte surge entre soldados
no campo de batalha. Quando lutamos ao lado de alguém, surge
entre nós um verdadeiro compromisso. O mesmo acontece entre
colegas de escola que estudam juntos por anos a fio e precisam
se preparar juntos para as provas e passar pelas mesmas pressões.
Quando há experiências comuns compartilhadas o relaciona-
mento se fortalece. Se juntos oramos pela multiplicação, juntos
organizamos o encontro, juntos vencemos todas as dificuldades,
então teremos uma história em comum, será a história de nossas
experiências compartilhadas.
92 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

O quarto sinal é a confiança. Sem confiança não nos relacio-


namos, pois a confiança é a base de qualquer relacionamento.
Precisamos confiar que “leais são as feridas feitas pelo que ama”
(Pv 27:6).
O quinto e último sinal é a reciprocidade. Relacionamentos
unilaterais simplesmente não prosperam. Reciprocidade é retribuir
na mesma medida. Se recebo uma grande quantidade de atenção e
amor, preciso retribuir na mesma medida. Esse é o adubo dos me-
lhores relacionamentos, inclusive do discipulado. O discipulador
precisa investir na sua relação com o discípulo para que este possa
retribuir com respeito e reconhecimento.
8º Dia

Jesus como padrão


de discipulador

Jesus é o nosso padrão de discipulador. Existem alguns princípios


que quero compartilhar com relação a esse padrão. Esses princípios
foram tomados de forma aleatória e não seguiram nenhuma sequ-
ência pré-determinada. No conjunto mostram a atitude de Jesus
para com os seus discípulos.
Não se permita praticar um discipulado meramente organi-
zacional, resultado de uma estrutura hierárquica. Seus discípulos
têm que ser discípulos seus de fato, gerados ou adotados por você.
Às vezes herdamos discípulos assim como adotamos filhos, mas é
necessário que sempre tenhamos discípulos gerados por nós, com
quem mantemos vínculos de vida no espírito.
É muito bom ver a igreja crescendo e alcançando multidões,
mas não há nada que se compare ao prazer de possuir um time,
uma equipe que verdadeiramente está com você. Pastor que não
tem uma equipe ainda não possui nada. Nosso maior desafio é ter
94 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

uma equipe de discípulos. Potencialmente, hoje qualquer um que


queira ser pastor começa exatamente pelo teste da formação de sua
equipe de discípulos. Isso exige fé e trabalho.
Vamos ver algumas atitudes fundamentais no discipulado de
Jesus com os doze.

1. Honre aqueles que vieram antes de você


Jesus honrou João Batista publicamente e se submeteu a seu
ministério antes de começar o seu próprio.
Em Lucas 20:1-8, Jesus mostrou que a Sua autoridade era parte
de uma linhagem espiritual. A Sua autoridade estava associada à
autoridade de João, que veio primeiro.
Ao desonrar alguém que veio antes de você, você desonra a si
mesmo, porque foi ele quem o gerou, e a fonte não pode produzir
uma coisa boa se ela mesma for ruim. Erramos quando tentamos
denegrir os que vieram antes de nós, achando que estamos nos pro-
jetando como melhores; agindo assim, nos fazemos piores do que
eles. Nossa autoridade está ligada àqueles que de alguma maneira
estão sobre nós ou que vieram antes de nós.
Certa vez os fariseus perguntaram a Jesus de quem Ele havia
recebido aquela autoridade, mas não entenderam que Ele havia res-
pondido a pergunta deles (Lucas 20:1-8). Quando Jesus falou sobre
João Batista, Ele mostrou que Sua autoridade vinha da linhagem de
João, pois Ele havia sido batizado por ele. Quando você honra suas
fontes, você pode ter autoridade para discipular. Não é uma questão de
quem você é, mas de você estar debaixo de uma linha de autoridade.
O diabo sempre vai querer nos acusar voltando nossos olhos para
a nossa pequenez. No início de meu ministério com os irmãos, fui
acusado de ser rebelde, e o diabo colocava na minha cabeça se haveria
alguém que iria querer andar comigo. Os irmãos são a prova de que
8º Dia – Jesus como padrão de discipulador 95

não me rebelei contra ninguém e que continuo tendo autoridade,


e as pessoas reconhecem a autoridade. Quando você honra as fon-
tes das quais bebeu, os que vieram antes, você está semeando isso
e outros farão o mesmo com você. Sempre falei que os que vieram
antes de mim eram homens de Deus. Nunca aceitei que falassem
contra os que colocaram as mãos sobre minha cabeça.

2. Não se isole dos seus discípulos


No momento do Getsêmane Jesus preferiu não ficar sozinho,
mas chamou consigo a Pedro, Tiago e João. Mt 26:36-37
Por natureza, tenho tendência de querer me isolar. Mas tive que
aprender a compartilhar com meus discípulos minhas lutas. Aquilo
que poderia ser um sinal de fraqueza acaba sendo fator de força, de
união dentro do grupo. Não tente parecer extraordinário.
É extraordinária a cena de Jesus no Getsêmane. É um momento
de decisão crucial; a angústia e a fraqueza que Ele manifesta ali são
muito grandes. É a fraqueza de saber se vai ou não para a cruz, de
ter certeza de qual é a vontade de Deus. Tem algo pior do que não
ter clareza da vontade de Deus? Esse foi o momento em que Jesus
mais foi homem. Ele poderia ter se isolado, mas chamou os discípu-
los para perto de Si e ainda reclamou quando eles dormiram. Jesus
fez aquilo porque necessitava da companhia deles. Não tente ser
super-líder. Não tenho problema algum em mostrar para os irmãos
as minhas limitações e debilidades próprias de um homem. Você
precisa andar com gente de verdade, porque isso lhe dá chance de
ser gente também. É bom andar com quem chora, ri, tem limites
também. Não coloque sobre si, como discipulador, essa pressão de
ser alguém extraordinário.

3. Não doure a pílula


Jesus não motivou os seus discípulos com frases de efeito ou
promessas vazias. Ele mostrou a seriedade e as consequências do
96 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

discipulado. Faça com que os seus discípulos saibam exatamente o


que está adiante deles (Mt 10:16-39).
Não faça propaganda enganosa. Frases de efeito são boas e, às
vezes, até necessárias, mas o que sustenta a obra é o realismo. Veja
Jesus em Mateus 10, quando disse, “Estou enviando vocês para
o meio de lobos...” Você falaria isso para seus discípulos? “Vocês
serão perseguidos, jogados em prisões, etc.” Sejamos realistas. Cer-
tamente essa foi a reunião de motivação mais louca da história.
Tudo o que Jesus fala não é nada motivante, nada estimulante.
No reino de Deus tudo funciona diferente do mundo. Quan-
to mais alto o padrão, mais as pessoas irão querer responder. Não
tenha a tentação de querer diminuir o padrão do Evangelho para
atrair discípulos. As pessoas querem andar com quem é mais difícil
de andar. Se alguém toma a fama de professor durão, todo mundo
quer pegar matéria com ele. Um discipulador bem falado é aquele
que coloca um padrão alto, padrão do Novo Testamento. Obra de
Deus é feita com gente que se coloca no padrão de Deus. Estamos
aqui para nos desgastar, para nos entregar a fim de que a obra de
Deus avance.

4. Deixe que os resultados falem por você


Diga o que você fez e não o que você pensa a respeito de si
mesmo. Quando João mandou perguntar se Jesus era mesmo o
Messias, a resposta do Senhor foi ilustrativa. Ele não afirmou nem
negou, mas mandou que olhassem para os resultados (Lc 7:20-22).
Certa vez, João Batista pediu que seus discípulos perguntassem se
Jesus era mesmo o Messias e Sua resposta foi para que os discípulos
de João contassem a ele sobre Suas obras (Lc 7:19-22). Não fale de
você; deixe que as obras falem. Não faça propaganda a seu respei-
to. Em todos os evangelhos, em momento algum Jesus testifica a
respeito de si mesmo nem de suas obras; Ele permite que outros o
façam e, na verdade, em algumas ocasiões até os proíbe de falarem.
8º Dia – Jesus como padrão de discipulador 97

5. Tenha clareza do plano e do propósito


Jesus sabia por que viera. Ele mirou Jerusalém e fez do seu rosto
como um seixo (Is 50:7, Lc 9:51). Independentemente das conse-
quências, Ele iria a Jerusalém e executaria o Seu plano.
O propósito impede que desperdicemos nossa energia, tempo e
potencial. Planejamento é crucial. Não pense que foi por acaso que
Jesus entrou em Jerusalém justamente na Páscoa ou que o Espírito
Santo foi enviado justamente no dia de Pentecostes.
O Senhor sabia para que Ele tinha vindo; sabia que tinha nas-
cido para morrer (Lucas 9:51). Jesus não morreu numa Páscoa por
acaso, nem a decida do Espírito Santo no Pentecostes foi por uma
coincidência; tudo fazia parte de um plano. No dia de Pentecostes,
havia pessoas do mundo inteiro reunidas em Jerusalém e quase três
mil se converteram ali com a pregação de Pedro, voltaram para suas
nações e começaram a pregar. De maneira que, mais tarde, quan-
do Paulo começou a pregar, ao chegar nas cidades ali já existiam
crentes. Deus é um Deus de planos, processos e propósito. Nós
também temos planos e propósito como igreja; não andamos sem
rumo. Precisamos estar conscientes do planejamento que temos,
para atingirmos nossos alvos.
Ninguém quer andar com quem não sabe para onde está indo,
pessoas que não têm clareza da visão e do propósito. Bons disci-
puladores deixam bem claro para seus discípulos aonde desejam
levá-los e como chegarão lá.

6. Prepare-se
Segundo o conceito natural, Jesus nunca precisou se preparar.
Todavia, sabemos que, aos seus trinta anos, Ele se preparou e apren-
deu (Hb 2:10, 5:8). Ele se preparou estudando as Escrituras e se
preparou cumprindo toda a justiça.
Preparo inadequado produz resultados inadequados. Tempo
investido no preparo não é tempo desperdiçado.
98 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

7. Gere a sua equipe


Uma das coisas mais problemáticas é quando herdamos líderes
que nós mesmos não geramos. O fato é que Jesus escolheu seus
discípulos e não vice-versa (Jo 15:16).
Jesus escolheu seus discípulos, e não o contrário. Devemos evitar
o máximo possível de discípulos escolherem seus discipuladores.
Você é quem escolhe quem estará andando com você, mas é claro,
debaixo da direção de Deus e não segundo seu conceito natural.
Quanto mais você depender do Espírito e andar com aqueles que
Ele escolheu, mais resultado você terá.
É sempre desconfortável herdar a equipe de outro discipulador;
há um desgaste natural em conquistar aquele povo para segui-lo.
Conquistar discípulos exige um investimento muito grande, é mui-
to trabalhoso. Todavia, sabemos que em muitas ocasiões teremos
mesmo de adotar filhos e tomar conta dos filhos de outros. Invista
nos filhos que você adotar como se tivessem sido gerados por você.
Lembre-se, porém, nunca tente segurar a todo custo pessoas que
não querem andar com você.

8. Exerça autoridade
Conheça a extensão da sua autoridade e exerça-a. Não tenha
receio de exercer autoridade.
Um grande problema que temos no meio da igreja não é o ex-
cesso, mas a falta de autoridade. O excesso não é difícil de corrigir,
mas a falta de autoridade traz muito problema. A falta de autori-
dade permite ao irmão entrar no buraco, sofrer sem precisar; tudo
porque você não quer exercer sua liderança efetivamente com receio
de parecer autoritário, dominador; com receio de perder a imagem
que fizeram de você.
Dentro dos limites que Deus colocou, exerça autoridade. Quan-
do falo sobre exercer dentro dos limites, quero dizer, como exemplo,
que não posso escolher com quem meu discípulo deve se casar, mas
8º Dia – Jesus como padrão de discipulador 99

se ele estiver em pecado dentro do relacionamento, então posso exer-


cer minha autoridade. Certa vez, dois irmãos brigavam por causa
da herança dos pais e chegaram a Jesus pedindo que Ele ordenasse
sobre a repartição da herança, mas Jesus não deu opinião sobre isso,
pois não estava dentro dos limites da autoridade dEle. Jesus apenas
disse: “Quem me constituiu juiz ou partidor entre vós?”

9. Concentre-se naqueles que respondem


Muitas vezes gastamos mais tempo justamente com aqueles que
dão menos retorno em termos de compromisso de discipulado.
Jesus não perdeu tempo nas cidades que o rejeitaram, por isso não
lance pérolas a porcos.
Não fique desperdiçando seu tempo com alguém que já falou
que não quer. Mas saiba o porquê dessa decisão. Tem gente que não
quer trabalhar na igreja porque ficou magoado com o discipulador
que foi um pouco mais firme com ele. Esse, nós remanejamos.
Em todo relacionamento, haverá tensão entre os membros, e ne-
nhuma pessoa deve ser descartada porque não deu certo com você,
afinal você também não é perfeito. Porque não deu certo com você
não significa que não dará certo com outros. Invista seu tempo e
energia em quem o reconhece e tem prazer em andar com você, e
libere os que não querem andar com você.
Quando Jesus foi pregar em Corazim e Betsaída e não quise-
ram ouvi-lo, Ele saiu de lá e nunca mais voltou. Jesus só deu uma
chance para eles; como não O quiseram, foi para outros. Nem
todo mundo tem que gostar da gente. Quando alguém diz que
não gosta de mim, digo que entendo os irmãos porque às vezes
nem eu mesmo gosto de mim. Certa vez, havia alguns irmãos
falando mal do pastor e um irmão foi contar a ele o que estavam
dizendo. Como resposta, o pastor disse: “Fique alegre, eles nem
sabem de tudo”.
100 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

10. Há uma grande diferença entre


bajulação e reconhecimento
Não se iluda com bajulações, olhe a realidade. O jovem rico
chegou a Jesus chamando-o de bom. Jesus rejeitou aquele elogio,
enquanto recebeu adoração de outros. Há uma grande diferença
entre bajulação e reconhecimento genuíno. Lc 18:18
Certa vez um jovem rico chegou a Jesus chamando-O de “bom
mestre”, e Jesus lhe perguntou por que ele O chamava de bom,
pois bom é somente Deus. Por que Jesus agiu assim? Porque Je-
sus sabia a diferença entre bajulação e reconhecimento. Ele não
falou nada à mulher que derramou o perfume em Seus cabelos
nem à que lavou Seus pés com lágrimas, porque Ele sabia que
aquilo era reconhecimento.
Bajulação é fazer média; reconhecimento é submissão. Quem
fica elogiando o tempo inteiro, mas não quer se comprometer, só
está bajulando. Se não se submete, não tem reconhecimento, é
pura bajulação. Quando Jesus mandou aquele jovem vender tudo
que tinha e dar aos pobres, ele não quis obedecer pois o mestre não
era, para ele, tão bom a esse ponto. Não adianta me falarem que eu
prego bem; o que adianta é saber se a pessoa está disposta a ganhar
esta geração comigo, se está disposta a liderar uma célula. Graças a
Deus que tenho andado com pessoas que reconhecem a unção de
Deus em nosso meio e estão dispostas a conquistar nossa geração.

11. Aprenda a exortar


Jesus reservou suas palavras mais duras aos fariseus, mas mesmo
os discípulos foram repreendidos. Nós repreendemos aqueles com
quem nos preocupamos e respeitamos. Não tenha receio de tratar
com aquilo que está fora do padrão. Não seja áspero nem autoritá-
rio, mas não fuja dessa responsabilidade.
8º Dia – Jesus como padrão de discipulador 101

12. Seja um servo


Nós usamos a espada contra o diabo, mas usamos a toalha em
nossos irmãos (Mc 10:45). Jesus, em Mateus 10, falou para pegar
uma espada, mas em João 13 Ele pegou uma toalha. A espada é
contra o diabo; a toalha é para os irmãos. Vencemos a guerra espi-
ritual contra o diabo com a espada, mas só vencemos os conflitos
dentro da igreja com a toalha.
A toalha é a disposição de servir. Cada um tem sua maneira de
servir. Os pastores que andam comigo sabem que não sou muito
meloso, mas eles sabem que podem contar comigo em qualquer
situação. Ser servo também é servir na necessidade do irmão. Tem
muito irmão que tem facilidade para beijar, abraçar, mas quando
chega a dificuldade corre. O principal é servir pra valer. Se você serve
e não lhe custa nada, quer dizer que ainda não está servindo. Há
muitas formas de servir: tempo, energia, patrimônio, dinheiro, etc.

13. Desencoraje a disputa por posições


Não permita que aqueles que andam com você busquem status,
posição ou título (Mt 20:20-28). Isso é um vírus muito maligno.
Não vamos transformar nossa igreja em uma barraca de venda de
cargos. Nós servimos uns aos outros e quanto mais crescemos, mais
oportunidades temos para servir.

14. Seja um inspetor de frutos


Checamos o tipo de fruto, pois cada semente gera de acordo com
a sua espécie (Mt 12:33; Mt 7:15-20). Também checamos a quan-
tidade do fruto, porque o Senhor espera muitos frutos (Jo 15:5,8).
Você checa o tipo e a quantidade de fruto. O tipo porque cada
árvore gera de acordo com sua espécie e porque também existem fru-
tos verdadeiros e outros falsos, feitos de plástico. Em João 15, Jesus
disse que a vontade do Pai é que demos muito fruto. A quantidade
102 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

é de acordo com o potencial de cada um. Às vezes dois ou três fru-


tos para um é muito, mas para outro é pouco. Trabalhe de acordo
com seu potencial; por isso a comparação é proporcional. O melhor
mesmo é se comparar com Jesus. Cuidado com a comparação que
só gera competição e espírito de grandeza.

15. Evite o espírito de grandeza


É interessante que o diabo mandou que Jesus transformasse pe-
dras em pães para provar se de fato era o Filho de Deus. Os fariseus
insistiram para que Ele fizesse um sinal para que cressem nele como
o Messias. Jesus nunca cedeu ao show, todavia, quando João Batista
mandou perguntar se Ele era mesmo o Messias, Jesus fez muitos
milagres diante deles para dar sinal de Si mesmo.
Você não tem que provar que é discipulador, apenas reconheça
sua unção. O diabo e os fariseus tentaram a Jesus pedindo um sinal,
o que Ele não fez, mas quando os discípulos de João Batista foram
questioná-lo se era o Messias, na mesma hora Ele fez um muitos
sinais. Por que isso? Basicamente a pergunta de todos era a mesma.
Isso significa que somos espirituais e devemos agir na igreja de forma
espiritual; para certas pessoas não precisamos provar nada, damos
as costas como resposta, inclusive para o diabo. Não precisamos
provar nada para termos reconhecimento dos de fora. Precisamos
provar algo somente para aqueles que possuem a mesma unção
que nós. E não provamos com demonstração de show, mas com
os frutos que geramos. Temos que mostrar à nossa liderança que
temos compromisso com quem nos constituiu. Precisamos mostrar,
com nossos frutos, e provar nosso chamado somente para aqueles
que podem nos aprovar. Para os de fora, você não tem que provar
nada, saiba apenas que você já recebeu a unção e que a autoridade
já está sobre sua vida.
9º Dia

Qualificações que nunca


nos disseram

Em nossa igreja temos o líder de célula, que discipula o líder


em treinamento, e temos o discipulador de líderes, que discipula os
líderes de célula. Gostaria de falar a respeito deste último.
Como um discipulador de líderes é constituído? O primeiro
critério evidentemente é a multiplicação. O líder de célula que não
multiplica sua célula certamente não tem sido aprovado para se
tornar um discipulador de líderes. Mas apenas multiplicação não é
suficiente. Existe ainda a necessidade de se checar o tipo de fruto,
ou seja, a qualidade das células que ele tem gerado.
No discipulado nós passamos um “DNA espiritual”, por isso
precisamos ter muito cuidado com o tipo de discipuladores que
são levantados dentro da igreja. Quero sugerir aqui uma série de
perguntas que servirão de base para a avaliação de cada discipulador
de líder de célula em nosso meio.
104 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Dez perguntas cruciais


1. As suas células seguem o padrão estabelecido pela igreja?
Normalmente, um discipulador de líderes possui sob sua au-
toridade e supervisão uma quantidade mínima de três células.
(Evidentemente devem ser três células com três líderes distintos,
pois se ele lidera as três, ele não é discipulador, apenas ocupa um
cargo para ter um título.) Essas células devem reproduzir o padrão
da igreja. Se desejarmos conhecer a realidade do discipulador, bas-
ta observarmos seus frutos ou suas células. Cada semente gera de
acordo com a sua espécie. Pelo tipo das células podemos perceber
o perfil do discipulador e do líder.

2. Suas células possuíam líderes em treinamento na


ocasião da multiplicação?
Alguns líderes apenas fazem reuniões nas casas, não multiplicam
discípulos. Quem não multiplica discípulos não é um discipulador.
O alvo não é apenas encher a célula de pessoas, mas multiplicar
liderança. Todo líder de célula precisa ter líderes em treinamento a
quem ele esteja acompanhando e discipulando. É função do disci-
pulador dos líderes de célula checar essa realidade e fazer que isso
de fato aconteça. Um discipulador que não faz isso não está sendo
fiel na sua função.

3. Os novos líderes desejam andar com ele?


Aqui nós checamos se ele tem exercido influência ou simples-
mente executado uma tarefa. É um líder ou apenas um chefe que
dá ordens? Algumas vezes o líder da célula é fruto de outros e não
daquele discipulador. Mesmo que seja fruto de outros, devemos ob-
servar se os novos líderes querem andar com ele. Se, de maneira geral,
as pessoas não querem andar com ele e só estão naquele discipulado
porque foram mandadas, então temos um caso de discipulador que
não tem discípulos. Manter alguém assim na função é condenar
todos aqueles irmãos a um estado de esterilidade e desmotivação.
9º Dia – Qualificações que nunca nos disseram 105

4. Seus discípulos reconhecem os pastores e os demais


discipuladores?
Se os líderes que eu gero não reconhecem a autoridade dos de-
mais, então uma semente de rebeldia está presente no processo. Um
discipulado santo e correto gera discípulos que se submetem a toda
autoridade na igreja, mas se tenho discípulos que somente aceitam
andar comigo e rejeitam a autoridade de outros discipuladores e
pastores, então a lepra do pecado está surgindo. Não treinamos lí-
deres para nós mesmos, mas para a obra de Deus. Não prendemos
as pessoas a nós em algum tipo de ligação de alma doentia, mas
ministramos sobre nossos discípulos o Espírito de Cristo.

5. Os seus discípulos só aceitam liderar se for sob a


liderança dele?
Se os novos líderes só aceitarem liderar uma célula sob a liderança
dele, isso é sinal de que está edificando algo para si, ou de que tem
produzido um tipo de dependência no seu discipulado. No passado
já vimos certos tipos de discipulado que danificaram muito a obra de
Deus. Era um discipulado que gerava dependência do discipulador
e era caracterizado por manipulação e controle da vida do discípulo.
Algumas pessoas jamais se sujeitam a esse tipo de coisa, mas muitas
gostam e até estimulam o discipulador para que aja assim. Esse é
um perigo ao qual precisamos estar atentos sempre.

6. Seus relatórios são reais ou possuem informações


“maquiadas”?
Informações “maquiadas” são sinal de que o discipulador está
procurando apenas uma posição e não a realidade ministerial. Não
podemos tolerar entre nós pessoas interessadas apenas em um em-
prego ou um título ministerial. Essa é uma situação que desqualifica
completamente um discipulador e o faz passível de disciplina.
106 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

7. Ele repete os ensinos dos pastores sem


constrangimento?
Quem não consegue ensinar aquilo que aprendeu com você
não pode ser seu discípulo. Precisamos ser cuidadosos com aqueles
que desejam ser originais desprezando as origens. Há pessoas orgu-
lhosas que simplesmente desejam ser elas mesmas a fonte de tudo.
Sentem-se mal por terem de pregar ou reafirmar algo ensinado pelos
pastores, ou terem de pregar seguindo um esboço preparado por seus
líderes. Há alguns que se sentem constrangidos de serem chamados
de discípulos. Jamais se referem a seu líder como seu discipulador
por enxergarem na relação algo de humilhante. Tais pessoas são
arrogantes e precisam ser corrigidas. Se continuarem assim, não
podem discipular alguém, muito menos os líderes de células.

8. Ele veio para a igreja com um grupo de irmãos e os


continuou liderando?
Se alguém vem para a igreja com um grupo, o melhor é colocar
esse grupo sob a liderança de outro e levar aquele líder para outra
célula, onde possa assimilar a visão como a praticamos. Quando
isso não acontece, esse líder pode tornar-se um problema. Ele pode
se sentir dono daquele grupo, ou transformar seu grupo em uma
pequena congregação particular dentro da igreja. Dá para perceber
que esse é o embrião de uma divisão. Se ele recusar submeter-se, esse
é o sinal de que não é discípulo e, portanto, não pode ser discipula-
dor. Quem não se submete não pode exercer autoridade.

9. Você sente que ele é um discípulo genuíno?


Se ele é discípulo de outro pastor, mas acabou vindo andar com
você meio na marra, ele pode vir a ser um problema. É muito estra-
nho quando encontro líderes em nosso meio, pregando exatamente
como certos pregadores da televisão. Se amam tanto aquele pastor e
seu jeito de pregar, então deveriam ser discípulos dele. Não se trata
de algum tipo de ciúme carnal, mas de um zelo normal da família
da igreja. Um filho não pode ser discípulo do vizinho. Precisamos
9º Dia – Qualificações que nunca nos disseram 107

checar se o discipulador de líderes é realmente um discípulo do


pastor com o qual está caminhando.

10. Ele entende o que se espera dele como


discipulador de líderes?
O discipulador não pode ser apenas um menino de recado.
Muitos simplesmente coletam os relatórios dos líderes, depois os
entregam ao pastor e pegam as orientações do pastor, repassando-as
de volta aos líderes. Os discipuladores devem fazer isso, mas espera-se
muito mais que isso do seu trabalho. Eles devem realmente discipular
e seguir todo o roteiro que apresentamos anteriormente.

Dez cuidados fundamentais


1. Cuidado com aqueles que sempre enxergam o homem
e não a mão de Deus
Aqueles que sempre tomam as decisões da liderança como capri-
chos pessoais ou escolhas naturais, em vez de enxergarem ali a mão
de Deus, possuem uma séria tendência para a rebeldia.

2. Cuidado com aqueles que pressionam


constantemente para serem reconhecidos
Há pessoas que estão trabalhando para o homem e não para
Deus, assim, elas vivem em função do elogio e do reconhecimen-
to humano; quando não os recebem, desistem. Outros possuem
uma motivação oculta, alguns desejam um salário e outros apenas
a vaidade de um título. Não importa a razão, por detrás dessa
atitude há sempre o vírus maligno da religião organizada. Isso
precisa ser combatido.

3. Cuidado com os que valorizam demasiadamente os


títulos e posições
Quem está atrás de posição se revelará no final alguém incapaz de
produzir frutos. Normalmente, tais pessoas não compreenderam de
108 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

fato a nossa visão, pois somos contra o clericalismo. Possivelmente


é alguém que veio de alguma denominação e presume que cami-
nhamos da mesma forma. Se for colocado como um discipulador
de líderes, mesmo que já tenha sido um líder de célula frutífero,
ele vai acabar por disseminar esse vírus religioso em nosso meio.

4. Cuidado com aqueles naturalmente imaturos


Não existe maturidade espiritual sem maturidade natural. Por-
tanto, o natural denuncia o espiritual. Homens de quarenta anos
de idade, mesmo ímpios, devem manifestar sinais de maturidade
próprios dessa idade. É muito ruim quando temos crentes, nasci-
dos de novo, que não possuem nem essa maturidade natural. Não
podemos constituí-los como discipuladores de líderes.

5. Cuidado com aqueles que não percebem os limites


do relacionamento
Quem não respeita o seu tempo também não respeita a sua
palavra. Quem não respeita sua posição não seguirá a sua direção.
Alguns imaginam que você deve estar à disposição deles vinte e
quatro horas por dia. Tais pessoas quando ouvem um “não” mer-
gulham num poço de autopiedade e mágoas. Sentem-se rejeitadas
quando não têm aquilo que desejam na hora que desejam. Isso é
algo que pode ser corrigido com um pouco de trabalho, mas se es-
ses comportamentos continuarem por muito tempo acabarão por
desmotivar os demais membros da equipe.

6. Cuidado com aqueles que o idealizam


É evidente que eles vão se decepcionar. O problema é saber qual
será a reação deles quando isso acontecer. Normalmente essas pes-
soas são rápidas para fazer afirmações sérias como: “Eu tenho uma
aliança com você e jamais o abandonarei”.
9º Dia – Qualificações que nunca nos disseram 109

7. Cuidado com aqueles que sempre reclamam do preço


Precisamos de líderes que rejeitam a autopreservação. Quem re-
clama do preço muito provavelmente não quer pagá-lo. Tome isso
como um princípio para selecionar os seus discípulos. Quem acha
caro demais não paga: “Ah não! Estão cobrando demais, exigindo
demais. Tem que multiplicar, levar pessoas ao encontro, fazer trei-
namento. Quem é que aguenta?”
Quem vive pechinchando, querendo baratear o preço, ou seja,
nada de cobrança, de multiplicação, de pressão, de alvo, de oração
e de levar alguém a algum lugar. Uma pessoa assim não deveria
compor a sua equipe. Não é meramente uma questão de abaixar o
preço, mas da completa anulação do mesmo, ou seja, não querem
pagar nada.
Você quer escolher seus discípulos? Escolha os que acham que
vale pagar o preço, que olham e dizem confiadamente: “Vale. Eu
vou pagar!” Jesus disse:
Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para
trás é apto para o reino de Deus (Lc 9.62).

8. Cuidado com aqueles que nunca abrem a sua vida


É estranho que uma pessoa nunca passe por problemas, crises ou
tentações. Mais estranho ainda é aquela que nunca peca, nunca tem
nada para confessar. Se a pessoa for refratária a todas as perguntas
pessoais, ela se torna um risco na liderança, pois não caminha na luz.
Somente pode haver discipulado se andarmos na luz.
Se, porém, andarmos na luz (...) mantemos comunhão
uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos
purifica de todo pecado. I Jo 1:7
Invariavelmente, quando alguém não anda na luz cairá num
caminho de trevas. Quando não temos luz sempre sentimos medo,
porque o medo acompanha as trevas. Tropeçamos porque não ve-
mos onde caminhamos e o resultado é confusão e falta de direção.
110 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Tudo isso acontece porque, em algum ponto, o discípulo deixou


de andar na luz.

9. Cuidado com líderes autossuficientes


Aqueles que nunca precisam de ninguém e são completamente
independentes produzem em nós uma sensação de desconforto.
Pode ser um sinal de problema.
No começo de um relacionamento de discipulado, podemos
incorrer em dois erros básicos: produzimos dependência em nossos
discípulos, preocupados em mudar suas vidas através de algum meio
de controle, ou presumimos que eles são suficientemente maduros
e independentes e não lhes damos as direções necessárias.
Existem três momentos no relacionamento de discipulado:
™™ Dependência - infância espiritual.
™™ Independência - adolescência espiritual
™™ Interdependência - maturidade espiritual.
Mesmo tendo amadurecido, um discípulo nunca deveria chegar
a uma posição de completa autossuficiência. Mesmo não sendo mais
uma criança na fé, ele faz questão de abrir com o seu discipulador
seus planos e projetos.

10. Cuidado com aqueles que são emocionalmente


dependentes
Devemos ser cuidadosos para não gerarmos dependência nos ou-
tros. Dependência de homens produz ressentimento e esterilidade.
Esse é exatamente o oposto do problema anterior, aqui o discípulo
procura a ajuda do discipulador para as mínimas coisas do dia-a-dia.
É uma bênção de Deus que possamos ser supridos em nossas
necessidades básicas no discipulado. Todos nós nascemos com três
necessidades básicas. Os três famosos “As”:
™™ Aceitação - Significa ser aceito do jeito que se é, fisicamente,
no temperamento e na personalidade;
9º Dia – Qualificações que nunca nos disseram 111

™™ Aprovação - Significa que aquilo que faço é bom e posso


ser útil;
™™ Amor - Implica em receber cuidado e atenção numa lin-
guagem clara, que pode ser: o toque, o abraço, o presente,
o sacrifício, a paciência e a atenção.
Num discipulado normal e amoroso, essas necessidades serão
supridas, o problema acontece quando o discípulo presume que
agora ele não pode mais se separar do discipulador. Nesse caso surge
uma relação anormal e carnal de dependência.
10º Dia

Abusos no discipulado

Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por


constrangimento, mas espontaneamente, como Deus
quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade;
nem como dominadores dos que vos foram confiados,
antes, tornando-vos modelos do rebanho. 1 Pedro 5.2,3
Eu considero que meu ministério pastoral começou no início de
1986. Naquele ano a liderança da igreja me encarregou de liderar
os jovens, então um pequeno grupo de cerca de 80 pessoas. Eu não
tinha nenhuma experiência, mas, juntamente com o Pr. Marcelo
Almeida, tínhamos uma grande fome de Deus e queríamos muito
ser usados por Ele para edificar uma obra que causasse impacto na
vida daqueles jovens.
Não tínhamos muita clareza do que fazer, mas naquele início de
ano havíamos entrado em contato com irmãos da Comunidade da
Graça e aprendemos sobre algo que desconhecíamos: o discipulado.
Aquilo nos marcou profundamente e decidimos que precisávamos
praticar o discipulado.
114 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Pegamos todo o material que eles tinham e repassamos para aque-


les que seriam nossos discípulos. Nunca havíamos sido discipulados
e não tínhamos a menor noção de como fazer. Apenas sabíamos que
era algo revolucionário e estávamos dispostos a fazer uma revolução.
Nem preciso dizer que realmente aplicamos todo o discipulado
que entendêramos e o resultado, a princípio, fora realmente ma-
ravilhoso. Nosso grupo de jovens cresceu de apenas um punhado
para mais de quinhentos jovens em pouco mais de um ano. Mas os
nossos erros não demoraram a aparecer.
O que era para ser um estilo de vida se transformou apenas em
um método de trabalho, e o que era para ser um meio de levar
discípulos à maturidade tornou-se um fim em si mesmo. Muitos
começaram a radicalizar o processo e, com tristeza, vimos os dis-
cipuladores dominando as pessoas, exigindo delas total submissão
à sua autoridade sem mostrar amor nem realidade espiritual. Pe-
quenos tiranos começaram a dominar o rebanho, e logo, algo que
era realmente bíblico tornou-se uma fonte de tristeza e ferimentos
para muitos de nós.
Sem dúvida, praticamos pelo menos um pouco do genuíno disci-
pulado, pois quase todos os nossos discípulos se tornaram pastores e
líderes de destaque tempos depois, mas aqueles excessos produziram
em mim uma certa resistência. Durante anos continuei pessoalmente
praticando o discipulado, mas tinha receio de estimular sua prática
no meio de nossa igreja. Hoje, depois de fazer uma profunda ava-
liação do método e examinar os excessos do passado, entendemos
que a edificação da igreja passa pelo verdadeiro discipulado.
Existem, no entanto, perigos no relacionamento de discipulado.
Você precisa estar atento a certos desvios que poderão ocorrer no seu
relacionamento com seus discípulos. Quero enumerar aqui algumas
advertências, que são também princípios, para o relacionamento
entre o discípulo e o seu discipulador.
10º Dia – Abusos no discipulado 115

1. As relações devem ser compatíveis


Antes de mais nada, precisamos mencionar alguns tipos de rela-
cionamentos impróprios no discipulado. Evitá-los só trará benefícios
à obra de Deus.

a. Solteiros não devem acompanhar casados em seus


problemas matrimoniais e familiares
Os problemas de casais só devem ser tratados por quem é casado
e tem experiência na esfera familiar. E os problemas sexuais, prin-
cipalmente, são os mais difíceis para um solteiro resolver. É claro
que podem ocorrer exceções, mas estou convencido de que serão
bastante raras.

b. Os rapazes não deveriam discipular as moças e vice-versa


Embora um rapaz possa levar uma moça a Cristo e vice-versa,
não deveria ser ele o seu discipulador. O mesmo se aplica às moças,
ou seja, não é prudente uma moça discipular um rapaz. Obviamen-
te nosso receio é que surja um envolvimento emocional entre eles.
Os riscos desse envolvimento estão sempre presentes, e a relação
pode acabar num clima romântico. Se ambos forem já maduros,
creio que não há problemas, e se o discipulado for feito em grupo,
os riscos seriam diminuídos. Mas, regra geral é melhor que rapazes
discipulem rapazes e moças discipulem outras moças.

c. Homens casados não devem acompanhar moças


e mulheres casadas, e mulheres casadas não devem
acompanhar rapazes e homens casados
Você nunca deverá discipular uma mulher casada, a menos que
sua esposa participe diretamente do processo. Isto significa que você
só fará o discipulado de uma mulher com sua esposa presente em
todos os encontros.
Além da evidente aparência do mal, o marido não crente vai
odiar se um homem vier aconselhar a sua esposa na sua casa.
116 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

d. É melhor que o discipulador seja mais velho que


o discípulo
Quando o discípulo for muito mais velho ou muito mais expe-
riente que o discipulador, há o risco de, em vez de salgar, o discipu-
lador venha a ser salgado pelo outro; em vez de influenciar, acabe
sendo influenciado, e isso seria uma completa inversão de papéis
no discipulado. Além disso, é muito embaraçoso para um homem
mais velho ser discipulado por um jovem.

2. Cuidado com a manipulação e a dominação


Cuidado com o assenhoreamento sobre a vida do discípulo. A
Palavra de Deus diz para guardarmos o rebanho de Deus que há
entre nós, não como constrangidos, mas espontaneamente, como
Deus quer; não como dominadores dos que nos foram confiados,
antes tornando-nos modelos do rebanho (I Pe 5:2-3).
A primeira coisa que temos que afirmar com muita clareza e
convicção é que todo discipulado é primeiramente a Cristo, ou seja,
todo discípulo é antes de tudo um discípulo de Cristo. O discípulo
deve ser discípulo de Cristo e não de homens!
Há uma tendência muito sutil no trabalho de discipulado de se
deixar levar pelo legalismo e pelo controle da vida do discípulo. Dis-
cipuladores, quando desconhecem as exigências de Jesus, impõem
suas próprias exigências. Já ouvi pastores afirmando que as pessoas
gostam de ser cobradas, de serem exigidas a vestir e a se comportar
desta ou daquela maneira, e que elas gostam de proibições. Alguém
já chegou a afirmar que os crentes gostam de pregadores que batem
porque passam a ideia de um Evangelho mais sério. Mas o que temos
muitas vezes é apenas legalismo humano.
Assim, irmãos que vivem sob a tutela de líderes dominadores
abrem espaço para um discipulado onde o homem, e não Jesus,
domina o discípulo. Nenhum de nós, infelizmente, está livre dis-
so. Pode ser que em nosso meio não se imponham proibições na
10º Dia – Abusos no discipulado 117

maneira de vestir, de se pentear, de usar ou não usar barba, mas


sempre existe a tendência de querer impor a opinião pessoal do
discipulador nessas e noutras questões.
Já vi casos em algumas igrejas onde discipuladores e pastores
opinam até sobre a frequência da atividade sexual de seus discípu-
los! Mas a tragédia é quando as opiniões de discipuladores e líderes
dominadores influenciam o futuro das pessoas negativamente. O
discipulador começa opinando sobre pequenas coisas, mas pode
acabar querendo determinar com quem o discípulo deve se casar,
quantos filhos deve ter, etc.

3. Não faça do discipulado um curso intensivo


O processo de discipulado é, antes de tudo, uma transferência de
vida e não meramente uma transferência de conhecimento. Muitos
discipuladores transformam o relacionamento de discipulado num
curso de pós-graduação espiritual. Priorize o relacionamento e ensine
quando as circunstâncias o exigirem.
O melhor é esperar que o Espírito Santo crie situações de tra-
tamento no caráter, ou de ensino de princípios espirituais. Tenha
muito cuidado para não tentar criar situações artificiais de ensino
ou de tratamento do caráter.
É preciso aprender o verdadeiro caminho para a prática do dis-
cipulado. Lembre-se constantemente que o discípulo é de Cristo.
Nossa missão é treiná-lo e ajudá-lo, levando-o a crescer na fé. Jamais
devemos impor nossa vontade sobre um discípulo, mas ensiná-lo
que tem de submeter-se totalmente à vontade de Cristo.
O discipulado como forma de treinamento é sumamente
importante para a vida da Igreja e para a extensão do reino de
Deus. Num discipulado existe treinamento. Primeiramente aquele
treinamento que nos leva a sermos discípulos de Cristo, a ter um
comprometimento com Ele. Depois, poderemos desenvolver um
treinamento mais específico preparando o discípulo para fazer a
118 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

obra de Deus! Mesmo assim, temos que entender que o discipu-


lado não é algo eterno.

4. Sirva o seu discípulo


Evidentemente, a autoridade e a submissão são bíblicas, mas o
fato de um discípulo se submeter a um discipulador não compro-
va que ele se submete ao Senhor. Nenhum discipulado funciona
apropriadamente se o ensino claro sobre submissão e obediência
não for precedido ou acompanhado pelo ensinamento do amor e
do serviço. Não que a autoridade e a submissão não precisem ser
enfatizadas, mas elas não têm preeminência sobre a lei do amor. Na
realidade, algumas vezes enfatizamos a autoridade e a submissão,
mas nos esquecemos de dar qualquer ênfase à lei principal de Cristo,
que é a lei do amor. Discipuladores que exercem autoridade sem
o coração cheio de amor costumam se tornar tiranos, ignorando
completamente as necessidades do discípulo.
Lembre-se que se por um lado o discípulo precisa ser submisso,
por outro lado o discipulador precisa entender que ele é o servo do
discípulo e não o dono. Deve ensinar-lhe o conselho de Deus e não
os seus gostos e costumes pessoais. Deve preservar a iniciativa e as
qualificações pessoais do discípulo.
Devemos ter em mente a visão de Deus sobre autoridade. No
mundo autoridade é sinal de posição e domínio, mas no reino de
Deus a autoridade vem quando servimos em amor (Marcos 10.43).
Devemos entender que, como discipuladores, devemos servir,
dando três coisas fundamentais ao nosso discípulo. Em primeiro
lugar, devemos dar a nós mesmos. Jesus não dava reuniões e sermões,
dava a si mesmo (João 1:38-39; Marcos 2:15). Dar a si mesmo é dar
seu tempo, seu interesse, sua amizade. Deixar-se envolver, ter encar-
go, zelar, orar. Temos que dar nossa casa, nosso amor, nossa vida.
Em segundo lugar, devemos dar exemplo. Jesus era exemplo (João
13:15). Ele disse, “vinde e vede”, e não, “vinde e ouvi”. Nós também
10º Dia – Abusos no discipulado 119

devemos dizer “vinde e vede”. Devemos chegar a dizer: “Sede meus


imitadores como eu sou de Cristo”. Isso não é pretensão. Jesus não
era pretensioso, nem Paulo. Deus é que nos torna exemplos pela
vida de Cristo em nós.
E em terceiro lugar, devemos dar a Palavra de Deus. Jesus instruiu
com a Palavra (João 15:3). Ele estava constantemente mostrando a
vontade do Pai. Ele ensinava e orientava em toda parte e em todo o
tempo. No templo, em casa, no caminho, no barco (Marcos 10.1).
Jesus dava ensino para todas as áreas da vida. Nós temos que ensinar
os discípulos a guardar todas as coisas que Jesus ordenou.

5. Não seja legalista


Não tente mudar a pessoa baseado no seu preconceito pessoal.
Não queira mudar o exterior se o interior ainda não foi mudado.
Não se prenda a coisas exteriores, mas leve o discípulo a ter uma
experiência íntima e profunda com Deus.
As questões de comportamento social quanto ao que se deve ou
não fazer, ao que é pecado ou não, o Espírito Santo orientará a cada
discípulo. Não se pode criticar um irmão e julgá-lo porque vai ao
cinema ou ao futebol, nem dizer a um novo convertido que não
deve fazer isto ou aquilo. O discipulador pode testemunhar da razão
por que ele faz ou não faz alguma coisa, mas jamais deve fazer da
sua maneira de viver uma lei para todos. A função do discipulador
é ensinar o discípulo a ouvir o Espírito Santo e ser guiado por Ele,
além de mostrar nas Escrituras o padrão de Deus.
Qualquer método de discipulado que induz as pessoas a seguirem
um líder e a obedecer a regras e não a Cristo é fundamentalmen-
te maligno! Todo discipulado deve levar as pessoas a serem como
Cristo e esse deve ser o grande alvo de todo discípulo. E tudo o que
tirar Cristo do centro, seja um método bom ou um ótimo sistema
de discipulado, deve ser completamente removido do nosso meio.
120 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

6. Cuidado com a negligência


Não seja negligente com a pontualidade e também não des-
marque um encontro na última hora a não ser que haja uma razão
realmente forte para isso. Os discípulos se ressentem dessas atitudes,
que eles interpretam como sendo indisposição, má vontade ou re-
jeição mesmo. Lembre-se que você é para ele o padrão de cristão,
portanto, cuidado para não decepcioná-lo com atitudes como falta
de pontualidade, inconfidencialidade, etc.

7. Cuidado com o horário


Não faça um encontro com mais de uma hora de duração. Evite
tomar o tempo do discípulo desnecessariamente. Seja cuidadoso
para não ter encontros em horários impróprios, como muito tar-
de da noite, nem em lugares muito movimentados onde não seja
possível a privacidade.

8. Cuidado com a aparência


Não há nada de errado com roupas informais como bermudas e
camisetas, mas seja cuidadoso com a higiene pessoal: limpeza, odores
e aparência geral. Se o encontro for na casa do discípulo, seja ainda
mais criterioso com a aparência.

9. Não tente resolver problemas complexos


Pessoas com problema de drogas, alcoolismo, travestismo,
prostituição, depressão profunda, envolvimento severo no sata-
nismo e outras dificuldades semelhantemente graves, exigem um
acompanhamento especializado. Procure o seu pastor. Não tente
fazer algo que está além de sua capacidade e maturidade. Tenha
humildade de reconhecer que você não é a pessoa apropriada para
fazer tais acompanhamentos.
10º Dia – Abusos no discipulado 121

10. Cuidado com o zelo sem sabedoria


Ficar guardando o discípulo o tempo todo compromete a vida
espiritual dele. Os crentes superprotegidos são inseguros e necessi-
tam constantemente de “mamadeira” espiritual. Não faça tudo por
ele, deixe que se esforce um pouco também. Por exemplo, você
não tem que buscá-lo de carro para todas as reuniões da igreja ou
da célula. Assim como as crianças podem ficam mimadas, os discí-
pulos também ficam. E depois eles não vão querer ir para a igreja
sozinhos, sempre vão exigir que alguém vá buscá-los. Isso se aplica
a muitos outros aspectos da vida cristã. Deixe que ele ande com as
próprias pernas.

11. Seja moderado no cuidado com o discípulo


O cuidado exagerado pode ser perigoso. A consequência disso
será que o discípulo se cansará de você e da igreja. Se ele se sentir su-
focado, fugirá, e o inimigo acabará por arrastá-lo de volta ao mundo.
Vamos ilustrar. Certo dia, o pastor disse:
– João, quero confiar o Pedro aos seus cuidados. Quero que você
seja o discipulador dele.
– Pode contar comigo, pastor, o meu sonho era ser um discipu-
lador na igreja. Estarei atento aos passos dele, garantiu. Montarei
uma vigilância constante.
Mas o que o pastor não esclareceu, nem João perguntou, era até
onde ele poderia ir nessa vigilância, sem sufocar o outro. E João levou
muito a sério a incumbência de ser um discipulador. Nos dias que se
seguiram, logo ao se levantar, João telefonava para Pedro. E repetia
o mesmo ao meio-dia e à tarde, sem lhe dar trégua. E mais, “cum-
prindo sua obrigação”, todas as noites ia visitá-lo, constrangendo-
o e tirando sua liberdade. E ainda acrescentou uma longa lista do
que ele “não devia fazer”; e como se isso não bastasse, vigiava-o de
espreita cada vez que Pedro saía de casa. Ao fim de duas semanas,
o pobre discípulo desapareceu da igreja de forma repentina. Isso é
122 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

mais comum entre os jovens, por isso Paulo ordenou a Tito que
exortasse os jovens a serem “moderados”.
Exorta semelhantemente os jovens a que sejam mode-
rados. Tt 2:6.
Tenha equilíbrio. Respeite a privacidade do outro e não o sobre-
carregue com excesso de atenção.

12. Não permita a super-dependência


Quando a ênfase na autoridade no discipulado é muito forte,
leva alguns irmãos à dependência de seus discipuladores em tudo.
Os pastores e discipuladores passam a ser o seu guia espiritual, de-
cidindo tudo pela pessoa. Eles decidem se o discípulo deve ou não
vender o carro, se viaja ou não, se deve ou não se relacionar deter-
minada moça ou rapaz! Esse nível de autoridade e de governo dos
discipuladores sobre os discípulos produz sensação de tranquilidade
e passividade naquele que está sendo discipulado. Afinal, ele já não
precisa decidir sobre nada e nem mesmo preocupar-se em orar a
respeito. Seu discipulador cuida de tudo! E tem gente que gosta
disto! Os discípulos sentem-se tranquilos porque já não precisam
orar nem buscar a Deus sobre este ou aquele assunto, nem correm o
risco de tomar decisões erradas. Se alguém errar, será o discipulador.
Isso não é discipulado, é manipulação espiritual.
No discipulado verdadeiro ensinamos os novos e os velhos a de-
penderem de Deus e a buscarem Sua vontade. Podemos aconselhá-
los sem impor nosso ponto de vista ou nossa autoridade. Mas o
problema está exatamente aqui: por causa da ênfase na autoridade,
sempre que aconselhamos, achamos que o nosso conselho tem que
ser seguido à risca. Somos os profetas dos últimos dias, que recebe-
mos toda a verdade para conduzir as pessoas na vida cristã. Quando
não somos obedecidos, nossa tendência é rejeitá-los. É claro que
precisamos dar orientações claras aos discípulos. Entre elas a de que
devem buscar em Deus a resposta e não em nosso conselho!
10º Dia – Abusos no discipulado 123

Como agir numa situação em que o discípulo procura orienta-


ções? Uma atitude simples é orarmos juntos e levá-lo a tomar uma
decisão. O discipulador deve mostrar todas as saídas possíveis e
deixar que o discípulo decida. Se como discipuladores não enten-
demos certos assuntos, devemos recomendá-lo a buscar o conselho
de pessoas daquela área específica. E em seguida, deixá-lo decidir.
Se decidir corretamente, amadurecerá no Senhor. Se errar, amadu-
recerá com mais rapidez ainda! E jamais devemos culpá-lo por um
eventual erro, nem devemos nos culpar também.
O discipulado autoritário, ao invés de produzir maturidade,
produz imobilidade espiritual. A pessoa “cresce” com eterna de-
pendência em tudo, não aprende a depender de Deus e a buscar
Cristo nas mínimas coisas.

13. Nunca viole a privacidade


Não ultrapasse os limites da privacidade do discípulo, tanto
a nível pessoal quanto familiar. Uma coisa é o discípulo esponta-
neamente contar, confessar, confidenciar algo de sua intimidade;
outra bem diferente é o discipulador forçar a entrada ou invadir
sua privacidade.
Quando a convicção de pecado provém da atuação do Espírito
Santo, naturalmente o discípulo buscará a sua ajuda como irmão
em quem confia e abrirá o coração com você.
Existe uma tendência muito sutil de “posse” sobre as pessoas;
de levar os discípulos a uma total submissão ao seu discipulador, e
não a uma dependência de Cristo.
De forma bastante sutil, prende-se as pessoas ao seu discipulador
e não a Cristo. “É o meu discípulo!” E fica no ar aquele sentimento
de posse, pois por ser “seu discípulo”, o discipulador acredita que
tem controle sobre ele. O discipulador passa a ser o amo que, com
124 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

um simples estalar de dedos, atrai sobre si os olhos dos discípulos.


Este se torna um servo do seu mestre, contrariando tudo o que
Jesus ensinou.
No passado vi um discipulador dizer a seu discípulo que não
podia se relacionar com uma moça porque ele achava que não era
bom, porque ela, sob seu ponto de vista, não era a moça ideal para
ele! Alguém chegou mesmo a pensar que poderia opinar até mesmo
sobre qual carreira profissional o discípulo deveria seguir. É a posse
total sobre as pessoas! Infelizmente, isso existe! Nunca permita que
isso aconteça entre nós.
Nesses mais de vinte anos formando discípulos, muitos dos
quais hoje estão atuando no ministério, descobri quanto mal uma
interpretação errônea do discipulado pode fazer à igreja!

14. Não faça negócios com o discípulo


Durante o tempo de discipulado você não deveria fazer qualquer
tipo de negócio com o seu discípulo. Ele ainda não tem maturidade
e algo muito pequeno poderia ainda destruir a relação. Além disso,
não dê nem empreste dinheiro a ele. Evidentemente o contrário
é verdadeiro: não peça dinheiro, nem mesmo emprestado, ao seu
discípulo. Se você sentir de Deus de ajudá-lo, faça-o de maneira
anônima. Não é bom que discípulos se tornem sanguessugas dos
seus discipuladores.

15. Evite fazer críticas


Julgar não ajuda em nada. Censurar e “pegar no pé” nunca mu-
dam as pessoas. Ninguém gosta de ter alguém censurando-o todo
tempo. Como discipulador, você é um motivador. Tenha sempre
uma palavra positiva e de fé para levantar o ânimo do discípulo.
Lembre-se que você é um consolidador de alicerces e não um di-
namitador de autoestima.
11º Dia

O bom discípulo

Precisamos ser equilibrados na visão do discipulado. O centro


do Evangelho é Cristo dentro de nós. O alvo de Deus é que cada
um de seus filhos seja guiado pelo Espírito que hoje habita dentro
do nosso espírito humano regenerado.
O alvo do discipulado é levar as pessoas a experimentarem o
controle de Cristo em suas vidas por meio do Espírito Santo. Não
temos discípulos nossos realmente, não os temos para nós mesmos,
mas para levar cada um deles a conhecer a Cristo. Todos são, na
verdade, discípulos do Senhor. Nosso trabalho como discipuladores
é levá-los a sentir, ouvir e perceber a voz do Cristo vivo dentro deles.
Devemos ensinar o que o Evangelho diz a respeito de Cristo e da
vontade dEle se cumprindo em cada um. Temos a obrigação de ser
modelos de vida, não para que eles olhem para nós, mas para que
vejam a Cristo em nosso viver diário.
Cristo é o centro de tudo, ninguém é dono de ninguém e tão
pouco o discipulado é um sistema eclesiástico, mas um relaciona-
mento de vida.
126 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Não é questão de morar juntos, nem de ter uma intimidade tal a


ponto de andar juntos o dia inteiro. Não é o discipulador que muda
a vida do discípulo. Isso é obra do Espírito Santo e da Palavra de
Deus operando nele.
Os que buscam muita intimidade supõem de maneira natural
que é o homem que nos muda. Então imaginam que se ficarem
suficientemente próximos e por tempo suficiente do seu discipula-
dor, então eles serão outra pessoa. Mas intimidade só não resolve.
Às vezes, o que deve ocorrer é exatamente o oposto. Intimidade de-
mais produz cegueira. Quanto mais íntimo se é de alguém, menos
se vê suas falhas. Ser discipulador é estar presente nas questões que
interessam. Em certas ocasiões é até saudável um pouco de forma-
lidade, uma vez que a intimidade por si só faz perder um pouco do
respeito. Não pode haver intimidade a ponto de perder o respeito.
É importante haver certa dose de constrangimento quando a pessoa
for falar certas coisas com seu discipulador. Não devemos ter em
mente a manipulação no discipulado, na tentativa de controlar a
vida dos discípulos, ao ponto de definir hora de deitar e levantar,
ou que peso ele deve ter. Não é isso.
O que o discipulador deve ensinar a quem anda com ele é ca-
minhar com as próprias pernas. O discípulo não tem que depender
do discipulador. A glória do pai é ter filhos que não dependam mais
dele. A pior vergonha de um pai é ter um filho de quarenta anos,
que não se casou, não saiu de casa, não fez nada por incapacidade
de viver sozinho. Sejamos francos, isso é vergonhoso. Infelizmente,
sei que há líderes felizes vendo discípulos que andam com eles há
milhões de anos e que até hoje não conseguem fazer o que eles fazem.
O discipulado não é uma mera amizade, mas sim um relaciona-
mento voltado para um propósito, o propósito de ver Cristo sen-
do formado em uma pessoa para que ela possa se espalhar e gerar
muitos filhos para Deus. Mas todos devem sempre se lembrar: o
centro da nossa obra é o Espírito Santo, que é Cristo em nós. Todo
líder de célula precisa ter um discipulador. Não apenas alguém que
11º Dia – O bom discípulo 127

supervisione sua célula, mas alguém reconhecido como autoridade


para ensiná-lo e conduzi-lo nesse caminho de aprender a ser guiado
pelo Espírito para gerar muitos filhos para Deus e edificar a igreja.

Condições do discipulado
O Senhor colocou condições para alguém se tornar seu discípulo.
Assim, alguém que hoje foi salvo ainda precisa se tornar um discípu-
lo. Ser um discípulo de Cristo é caminhar no caminho do vencedor.
A primeira condição que o Senhor colocou é que o discípulo é
aquele comprometido com a Palavra de Deus. “Disse, pois, Jesus
aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha
palavra, sois verdadeiramente meus discípulos” (João 8:31). Não
há como discipular alguém que não deseja se comprometer com a
Palavra de Deus.
A segunda condição é que o discípulo deve ter a sua vida total-
mente comprometida com o Senhor.
Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher,
e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser
meu discípulo. E qualquer que não tomar a sua cruz e vier após
mim não pode ser meu discípulo (Lucas 14:26-27). Assim, pois,
todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não
pode ser meu discípulo (Lucas 14:33).
Jesus também disse que a verdadeira característica de um dis-
cípulo é que ele produz fruto. “Nisto é glorificado meu Pai, em
que deis muito fruto; e assim vos tornareis meus discípulos” (João
15:8). Não é completamente o oposto do conceito natural? Alguns
pensam que precisam se tornar discípulos para dar frutos, mas o
Senhor diz que dar fruto é uma condição para se tornar discípulo.
Não se engane pensando que o fruto aqui é o fruto do Espírito, são
os filhos que geramos para Deus.
A quarta condição é que o discípulo é aquele que é compro-
metido com outros discípulos numa comunhão de amor. “Novo
128 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu
vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão
todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo
13:34-35). Sem esse amor, não somos conhecidos como discípulos
simplesmente porque não o somos.
A última condição é que o discípulo é aquele que faz discípulos.
“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em
nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar
todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco
todos os dias até à consumação do século” (Mt 28:19-20).
Essas foram as condições colocadas pelo Senhor. Mas gostaria
de ver ainda algumas características de um bom discípulo dentro de
um relacionamento de discipulado. Quero lembrá-lo que todo líder
de célula precisa ser um discípulo. Sem essa cobertura espiritual e
essa relação de submissão, a obra de Deus pode ter muitas perdas.
O líder de célula que se recusa a ser um discípulo não pode liderar
na casa de Deus. Entretanto, muitos líderes não recusam aberta-
mente o discipulado, mas assumem atitudes que não são próprias
de um discípulo.
Entre os líderes de célula, existem três tipos de discípulos: os
egocêntricos, os pródigos e os produtivos.

a. Os discípulos egocêntricos
O discípulo egocêntrico é aquele que entra e sai do relaciona-
mento livremente; não tem compromisso; quer aprender por os-
mose, apenas ficando perto, como se fosse receber por transferência.
Certamente que, só por você estar em nosso meio, algo espiritual já
afeta a sua vida. Na verdade existe certo nível de “osmose espiritual”,
mas isso somente não é suficiente.
Esse tipo de discípulo quando recebe uma correção, por não
ter compromisso, normalmente procura outro discipulador, outro
pastor, outra igreja. Tem gente que não suporta ser contrariado, foi
mimado desde o nascimento e não suporta ser confrontado, pois
11º Dia – O bom discípulo 129

percebe toda repreensão como rejeição. Outros são orgulhosos,


se acham tão extraordinários que não admitem que suas opiniões
possam ser rejeitadas. Não aceitam que o discipulador fale sobre a
vida deles. Distanciam-se quando seus discipuladores estão passan-
do por dificuldades, pois esperam alguém perfeito, extraordinário.
Essa é uma expressão do ego, eles creem que somente alguém muito
extraordinário possa discipulá-los e somente alguém muito genial
pode ter a ousadia de rejeitar suas idéias, além disso, é preciso ser
alguém perfeito para ter autoridade para exortá-los.
A primeira condição do discipulado é tomar a cruz. É impossível
discipular alguém assim. Mas nossos líderes carregam muitos discí-
pulos egocêntricos assim nas células e nos grupos de discipulado. É
preciso que sejam confrontados rapidamente para que se posicio-
nem, caso contrário trarão peso e cansaço na vida do discipulador
e ainda contaminarão suas células com atitudes erradas.

b. Os discípulos pródigos
Estes buscam a credibilidade da posição e não a correção. Eles
procuram estar na estrutura da igreja só por causa da credibilidade
da posição, mas não admitem ser corrigidos. Usarão o nome e a
influência do discipulador para manipular outros em algum rela-
cionamento na célula. Ele sonha em ser discípulo de um pastor não
porque deseja ser pastor, mas porque, na cabeça dele, aquilo traz
prestígio. Eles querem o que o discipulador conseguiu, mas não o
que ele aprendeu. Eles desejam reputação e reconhecimento sem
preparação e sem preço.
Os discípulos pródigos só pensam no que podem obter de van-
tagem. Estão apenas procurando o prestígio de um cargo ou posi-
ção. Querem o status, mas não querem a sabedoria, a revelação, o
conhecimento, o encargo e ter o mesmo coração do discipulador.
Isso é terrivelmente demolidor quando acontece na vida da igreja
e não é corrigido. Quem quer ter posição, tem um caminho para
trilhar. Só pode ser pastor aquele que foi aprovado por Deus.
130 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Você consegue perceber que o problema aqui é o mesmo? O


ego. Só que neste caso a pessoa até aceita algumas condições do
discipulado, mas os motivos do coração não são puros. Ela fica anos
conosco e parece que nunca realmente absorveu a visão e o nosso
encargo pela igreja.

c. O discípulo produtivo
Ele toca no coração de Deus e consegue ser frutífero e abundante.
Possui coração de servo e vê o discipulador como presente de Deus,
como instrumento de Deus na vida dele. Entende que o discipula-
dor será boca de Deus para falar-lhe e se abre para receber instrução
através dele. Não é uma questão de cargo nem tampouco ele pensa
que o outro é perfeito ou que sabe tudo; é um relacionamento de
vida. Ele entende que o canal que Deus tem escolhido para lhe fa-
lar é sua liderança, seu discipulador, e não o vê como fardo, como
alguém a quem está obrigado a se submeter.
Ele não toma decisões sem ouvir sua liderança e, como verda-
deiro discípulo, honra seu discipulador não sendo independente,
participando-o do que está acontecendo em sua vida, estendendo-
lhe a mão quando sua liderança estiver em dificuldade. Ele não
tem a postura só do “venha a nós”, mas tem a posição de também
ser um instrumento de bênção na vida de sua liderança. Ele é o
que eu chamo de bom discípulo. A respeito desse discípulo, quero
apresentar sete características.

Características de um bom discípulo


1. O bom discípulo reconhece que seu discipulador é
instrumento de multiplicação e crescimento
O discipulado só se desenvolve quando é baseado em reconhe-
cimento e não unicamente em respeito. O respeito está ligado ao
cargo, título, posição ou meramente educação, mas o reconheci-
mento é a percepção da unção sobre a vida de alguém. “Agora, vos
rogamos, irmãos, que acateis com apreço os que trabalham entre
11º Dia – O bom discípulo 131

vós e os que vos presidem no Senhor e vos admoestam; e que os


tenhais com amor em máxima consideração, por causa do trabalho
que realizam. Vivei em paz uns com os outros” (ITs 5:12-13).
O discipulado é um relacionamento ou uma ligação espiritual.
Não é uma questão de hierarquia, nem uma relação baseada na
superioridade de um e na inferioridade do outro. É um vínculo
espiritual. Naquilo que é delegado aos meus discípulos fazerem eu
me submeto a eles, eu não passo por cima. O que eu tenho não é
para oprimi-los, mas para enriquecê-los. Outro dia um discípulo foi
convidado a escrever uma matéria para um jornal e ele usou como
base uma mensagem minha para a matéria. Sempre digo que aquilo
que passo aos meus discípulos é deles. Ele publicou a matéria no
jornal e colocou o nome dele embaixo; a matéria repercutiu por toda
a cidade e os seus discípulos ficaram orgulhosos dele. Quem precisa
saber que o esboço fui eu quem lhe dei? Estou aqui para dar o que
tenho e não para sugar. O que quero é ter o privilégio de poder dar
algo que eles possam desfrutar. Esqueçamos a visão de hierarquia,
de um maior que o outro; que haja entre nós uma competição para
ver quem é o melhor servo.
O discipulado só se desenvolve quando é baseado em uma re-
lação de reconhecimento e não apenas de respeito. Respeito é uma
relação baseada no título; temos respeito por autoridades.
As igrejas estão levantando novos títulos porque suas estruturas
estão baseadas neles. Mas essa não é a nossa realidade. Aqui não
somos reconhecidos por causa do título. O título não é nada, mas
o ministério, sim. Existem políticos evangélicos que nunca tiveram
rebanho na vida, mas têm título de pastor. Para que, senão para an-
gariar os votos dos fiéis? O reconhecimento é mais importante que
o mero respeito humano. Reconhecemos unções, mas respeitamos
posições. Respeito é importante, mas reconhecimento é superior.
Respeito é compulsório, o reconhecimento é do coração. É possível
respeitar alguém e não reconhecer unção alguma sobre ele. É im-
portante que você reconheça seu discipulador como um canal de
132 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Deus para ensinar-lhe algo. Quando você tem essa postura simples e
humilde, Deus o honra. O reconhecimento é a percepção da unção
que flui através da vida daquela pessoa. Tenha em alta consideração
seu discipulador; dê a ele uma posição de honra. Mas não se torne
tão íntimo ao ponto de perder o respeito por ele.

2. O bom discípulo procura estar com o discipulador


Precisamos lembrar que Rute era nora de Noemi. Hoje mui-
tas noras nem sonham em ter sua sogra como discipuladora, mas
Rute era uma discípula. É notável sua atitude de estar com Noemi
a qualquer custo. “Disse, porém, Rute: Não me instes para que te
deixe e me obrigue a não seguir-te; porque, aonde quer que fores,
irei eu e, onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o
meu povo, o teu Deus é o meu Deus” (Rt 1:16).
Normalmente lemos esse versículo em casamentos, mas ele não
foi proferido em um casamento, foi a atitude de uma discípula para
com sua discipuladora. Não existem muitos discípulos como a gente
imagina e talvez você deva avaliar melhor seu relacionamento de
discipulado. A atitude mais comum é a do discípulo melindroso,
que fica bicudo no meio da igreja, dizendo que foi abandonado,
que o discipulador não liga para ele. O verdadeiro discípulo quer
ficar sempre junto e não aceita ser mandado embora.
Há um pensamento de que é o discipulador quem deve ficar
procurando o discípulo todo o tempo. Mas isso é um desequilíbrio,
o discípulo é quem precisa ir atrás. Somente os orgulhosos é que
não vão atrás de ninguém. Discípulo reconhece no discipulado algo
de que ele precisa e vai atrás para receber. Se você der uma resposta
correta na posição onde está, será promovido em Deus.
Você consegue perceber o ego aqui? “Eu, que sou tão importante,
não posso ir atrás de ninguém. Ele é que deveria se sentir honrado
em ter-me como seu discípulo”. Um discípulo que nunca procura
seu discipulador ainda não negou o próprio ego e vive mergulhado
no próprio orgulho.
11º Dia – O bom discípulo 133

3. O bom discípulo segue a direção do discipulador


Nos dias da Lei de Moisés, a pessoa que se recusava a seguir a
Palavra ensinada pelo sacerdote deveria ser eliminada. Hoje em
dia não eliminamos ninguém, mas precisamos afastar tal pessoa da
liderança e do meio dos discípulos porque ela não ouve a direção.
Aquele que não tem o coração de discípulo e não se esforça para
seguir a Palavra, não está qualificado para estar na comunhão.
“O homem, pois, que se houver soberbamente, não
dando ouvidos ao sacerdote, que está ali para servir
ao SENHOR, teu Deus, nem ao juiz, esse morrerá; e
eliminarás o mal de Israel, para que todo o povo o ouça,
tema e jamais se ensoberbeça” (Dt 17:12-13).
É por causa da soberba, do orgulho e da arrogância que as pes-
soas rejeitam dar ouvidos ao sacerdote. Se você não reconhece sua
liderança como sendo homens e mulheres de Deus, então deve pro-
curar aquela liderança que você reconhece. Não deve ficar preso a
um nome, denominação ou tradição. E uma vez que você encontre
alguém que reconhece, submeta-se a ele.
Receio, porém, que você nunca encontrará essa pessoa porque
não há ninguém tão extraordinário que seja digno de ensinar algo
para você. Por isso, submeta-se àqueles que são gente comum como
nós, mas que foram levantados por Deus.

4. O bom discípulo não oculta o seu coração


O bom discípulo não possui uma vida dupla. Se há problemas,
ele se abre imediatamente para ser ajudado e corrigido.
O discipulador, porém, não deve ser xereta com a vida dos dis-
cípulos. Não deve ficar especulando, mas deve estar aberto a ouvir
aquilo que ele quiser compartilhar. No entanto, esse compartilhar
tem que ser iniciativa do discípulo. Não me refiro aqui a segredos
apenas, mas a aflições, angústias, dificuldades e pressões.
134 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

5. O bom discípulo abre suas dores com o discipulador


Uma cena bonita é ver Davi procurando Samuel para abrir o
seu coração e compartilhar suas dificuldades.
“Assim, Davi fugiu, e escapou, e veio a Samuel, a
Ramá, e lhe contou tudo quanto Saul lhe fizera; e se
retiraram, ele e Samuel, e ficaram na casa dos profetas”
(I Sm 19:18).
Saul tinha tentado matá-lo. Havia prometido sua filha como
esposa e depois a deu para outro e agora o estava perseguindo. Davi
certamente estava triste com tudo que Saul lhe fizera. Então fugiu,
procurou Samuel e contou-lhe tudo. Samuel foi instrumento de
Deus na vida de Davi. Você tem um Samuel em sua vida com quem
pode compartilhar suas aflições, perseguições, lutas?
O discipulador é a pessoa certa para você abrir suas dores, lem-
bre-se, porém, que a atitude dele nem sempre será a atitude do seu
melhor amigo. Seu melhor amigo é a sua torcida organizada, mas
seu discipulador é seu técnico. Seu melhor amigo está pronto para
elogiar sempre, mas seu discipulador quer mostrar-lhe os erros para
que você os corrija. Seu melhor amigo não está aqui para criticá-
lo, mas seu discipulador vai realçar suas falhas para que você possa
avançar. Você deve ter irmãos próximos que são grandes amigos,
mas não abra mão de ter um discipulador honesto.

6. O bom discípulo expõe claramente suas expectativas


no relacionamento
Eliseu disse claramente o que desejava de Elias: “a porção dobrada
do seu espírito” (II Rs 2:9).
Eliseu expôs a Elias exatamente o que ele queria. E Elias também
foi bem claro em sua resposta. Como discipuladores, temos que
ser honestos. Se, por exemplo, você tem um discípulo que deseja
ser pastor, mas você não é, você não pode levá-lo a isso porque não
pode levar seu discípulo a ser o que você não é, nem aonde você
11º Dia – O bom discípulo 135

não chegou. Você precisa ser honesto com ele e dizer que não pode
suprir as expectativas dele. Muitos discipuladores serão apenas um
trampolim para seus discípulos, outros, porém, talvez continuarão
como discipuladores para o resto da vida. Não tenha pretensão de
ter um único discipulador por toda a sua vida. Você terá muitos,
na medida em que avançar no ministério, ou se tornar mais velho.
Por exemplo, você tinha um discipulador quando era solteiro, mas
agora você se casou, mas ele ainda é solteiro. Diante de suas novas
necessidades e experiências e diante da incapacidade dele de ajudá-
lo, é necessário um novo discipulador. Tudo isso é normal e bom
na vida da igreja.

7. O bom discípulo recebe o manto do seu discipulador


- II Rs 2:9-14
Deus vai dar para você aquilo que seu discipulador tem. Creio
que há uma má interpretação no texto de II Reis 2 a respeito da
“porção dobrada”. Nunca vi ninguém recebendo porção dobrada
de nenhum ministério. Eu creio que a expressão “porção dobrada”
é uma referência ao direito de primogenitura. O primogênito tinha
direito a uma porção dobrada da herança em relação aos irmãos,
além de assumir a posição de liderança do pai na família. Se houvesse
porção dobrada e isso estivesse acontecendo nos últimos dois mil
anos, estaríamos vendo hoje ministros super poderosos. Timóteo foi
discípulo de Paulo e foi fiel; se existe porção dobrada, então Timóteo
deveria tê-la recebido, o que significa que Timóteo deveria ter sido
e feito o dobro de Paulo, mas não foi. E o discípulo de Timóteo
também não foi maior que Timóteo ou Paulo. O pedido real de
Eliseu foi pelo direito de primogenitura, pois o primogênito era o
sucessor. Só discípulos genuínos tornam-se sucessores do discipu-
lador. O primogênito tem direito ao manto; manto de autoridade,
de sabedoria e também de poder. Eliseu não era o único discípulo
de Elias, mas ele desejou e se tornou seu sucessor.
Não temos nada de especial, nada de melhor que outros, mas
acredito que o que tem diferenciado este lugar é o coração dos nossos
136 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

líderes; um coração simples e faminto da glória de Deus. Essa sim-


plicidade tem que ser mantida, por isso lancemos fora todo coração
soberbo, arrogante, deixemos de falar de nós mesmos. Que outros
falem de nós, mas quando for para nós mesmos falarmos, digamos
que não estamos satisfeitos e queremos mais no Senhor. O mover
de Deus passa quando as pessoas acham que já chegou. Convém-
nos saber as coisas achando que nada sabemos, segundo a Palavra
de Deus (ICo 8:2). É mais bem alimentado aquele que cultiva sua
fome e não o que fica dizendo quão saborosa é sua comida. Aviva-
mento é buscar avivamento. Quando uma igreja está buscando o
mover de Deus, é porque ela está no mover de Deus, mas quando
ela pensar que o mover chegou e começar a anunciar isso, é porque
o mover acabou. O segredo do mover de Deus é a fome, o apetite,
o anseio. Há um poder no vazio; só o que está vazio é que pode ser
cheio; o que está cheio não pode se encher mais. Somente o que
não tem é que irá receber.
12º Dia

O alvo do líder de célula é


discipular novos líderes

As células não devem ser o foco principal da igreja. Por favor, não
me interprete mal. Não estou dizendo que as células não são uma
parte importante da visão e da edificação da igreja. O que quero
dizer é que células surgem e desaparecem; começam e terminam.
A menos que seus membros se transformem em líderes de células,
em discípulos vencedores, os frutos não serão duradouros. O cres-
cimento da igreja está baseado na formação de líderes. A prioridade
máxima de um líder de célula deve ser identificar líderes em potencial
e iniciar o processo de discipulado para treiná-los e enviá-los para
liderarem a sua própria célula.
A célula não é uma estratégia de organização, mas de liderança,
discipulado e apascentamento. Nosso alvo não é ter membros, mas
discípulos. Cada membro deve ser treinado para ser um ministro
e ser enviado para sua família, escola e trabalho, e para liderar uma
célula como um verdadeiro discípulo.
138 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

No trabalho do Senhor Jesus havia uma organização envolvida.


Ele discipulou uma equipe. O nosso trabalho é, também, discipular
uma equipe. Você está envolvido em uma estrutura onde alguém é
o seu discipulador. Mas, por outro lado, precisa ter clareza que deve
discipular outros. Nós precisamos criar uma reação em cadeia de
discipulado na igreja, ou seja, precisamos criar uma cadeia de dis-
cipulado. Em II Timóteo, Paulo fala a respeito desse princípio. Ele
diz para Timóteo sobre os três elos de uma cadeia de multiplicação
de liderança, uma cadeia de multiplicação espiritual.
É preciso que exista na igreja essa reação, pois é ela quem pro-
duzirá uma geração após outra de líderes instruídos.
E o que de minha parte ouviste através de muitas teste-
munhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também
idôneos para instruir a outros. II Tm 2:2
Se parafrasearmos esse versículo, Paulo diz a Timóteo o seguinte:
“Eu, Paulo, sou o seu discipulador, eu lhe ensinei. Agora, Timó-
teo, o que você aprendeu de mim, quero que você escolha homens
capazes, idôneos e os discipule”. Aparecem então os três elos na
cadeia: Paulo, Timóteo e homens idôneos. Estes últimos, por sua
vez, devem discipular outros.
A cadeia de multiplicação de liderança espiritual acontece da
seguinte forma: Paulo discipulou a Timóteo, Timóteo vai disci-
pular esses homens idôneos, que, por sua vez, discipularão outros
e assim sucessivamente. Essa é a organização do Reino, a visão da
igreja. Para isso treinamos pessoas. Se todos fizerem isso, poderemos
conquistar nossa geração.

Contudo, sabemos que, infelizmente, a cadeia sempre se rompe


em alguém. Há aqueles que recebem e matam o processo. Eles ou-
vem, são instruídos e se calam, retendo o conhecimento e tornando-
se uma comporta que impede o avançar do mover de Deus. Há um
12º Dia – O alvo do líder de célula é discipular novos líderes 139

fluir do rio de Deus, um mover dEle se aproximando. Quando esse


rio chegar em você, ele alcançará outros, ou vai estancar em você?
Cada linha de comunicação, cada posição de autoridade dentro
da igreja é uma posição de discipulado. O pastor não tem apenas
pastores auxiliares, tem pastores que são seus discípulos, que ele
treina para fazerem o que ele faz. O pastor de rede não tem ape-
nas uma equipe de discipuladores para ajudar a fazer algo, eles
são seus discípulos.
A mesma coisa acontece com os discipuladores de líderes, eles
não possuem um cargo na igreja, do qual os líderes de células são
subalternos. O discipulador discipula cada líder que faz parte de sua
equipe. O líder de célula, por sua vez, precisa ter em sua célula líde-
res em treinamento. Não precisam ser muitos, mas pelo menos um,
para que haja multiplicação espiritual. Esse líder em treinamento é
o discípulo do líder da célula. Não é somente seu auxiliar, mas seu
discípulo. Por fim, o líder em treinamento é também um anjo da
guarda, ou seja, um discipulador que acompanha os irmãos novos
convertidos. Essa é a estrutura da nossa igreja. O problema é que
nossos líderes de célula ainda não têm agido como discipuladores.

O que impede um líder de se tornar um


discipulador dos líderes em treinamento?
1. Falta de tempo
O foco do nosso trabalho são as pessoas e não as atividades.
O tempo dos membros é escasso, por isso precisamos focar nosso
trabalho em pessoas e não em atividades. O discipulado pode ser
feito num dia da semana. Isso pode acontecer no intervalo de um
almoço, uma hora antes da reunião da célula, ou antes de nossos
cultos de celebração. Se for muito difícil conciliar o horário de todos
140 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

os líderes em treinamento, então faça a reunião um-a-um. O alvo


é que esses encontros de discipulado aconteçam semanalmente,
caso isso não seja possível em algumas épocas do ano, então deve
ser pelo menos quinzenal.

2. Foco na frequência e não no discipulado


Alguns líderes se contentam em ter uma reunião de célula cheia,
mas uma reunião cheia não atinge o alvo completamente. Nosso
alvo é gerar muitas vidas evidentemente, mas a não ser que levemos
cada membro da célula a se tornar também um líder em treinamento
o processo não durará. Nosso chamado é para formar discípulos e
não ganhar membros. No Novo Testamento não se diz que a igreja
tinha membros, mas se diz muitas vezes que eram discípulos.

3. Mentalidade de escola
No treinamento escolar formamos professores e não líderes. Líde-
res são treinados fazendo o trabalho junto com outro líder, que é o
seu discipulador. Líderes lideram pessoas. Um líder que realiza uma
tarefa, mas não lidera ninguém, não está cumprindo o propósito.
Um líder de célula que não possui discípulos está completamente
fora da visão. Alguns se contentam em mandar as pessoas para faze-
rem o Curso de Maturidade e o CTL. Imaginam equivocadamente
que isso é tudo o que se espera deles, mas estão enganados. Nossos
cursos são fundamentais, mas o processo de treinamento de um
líder só estará completo se ele for discipulado pelo líder da célula.

4. Falta de revelação do sacerdócio dos crentes


Não temos cargos, temos encargos. Não ostentamos títulos,
temos funções. Cada membro deve ser treinado para ser um mi-
nistro enviado para ministrar em sua casa, escola ou trabalho. Todo
membro é um líder em potencial e um discípulo, mas ele somente se
tornará um discípulo quando se dispuser a tomar a cruz e se tornar
um líder em treinamento na sua célula.
12º Dia – O alvo do líder de célula é discipular novos líderes 141

5. Falta de um “trilho” que o discipulador possa seguir


Nós temos um trilho para a formação de um líder, mas é fato
que nos faltava uma estratégia clara de como transformar um líder
em um discipulador. Agora já a temos. Nestes capítulos estamos
fornecendo um roteiro básico de como deve acontecer o nosso dis-
cipulado em todos os níveis.

Cada líder de célula, um discipulador


O limite de células para um discipulador de líderes depende de
sua capacidade e tempo disponível para acompanhá-las. Enquanto
o discipulador não atingir seu limite, ele poderá remanejar para si
todas as multiplicações das suas células.
Cada líder de célula já discipula os líderes em treinamento, mas
o seu alvo deve ser levá-los a se tornarem líderes de célula e quando
isso acontece, ele se torna naturalmente um discipulador de líderes.
O alvo é que cada líder de célula se torne um discipulador de líderes.
Para atingir o alvo, cada líder deverá constituir três líderes em
treinamento na célula, que serão seus discípulos e também coope-
radores na mesma, e com quem deverá se encontrar semanalmente,
podendo ser um pouco antes da própria reunião semanal da célula,
a fim de terem um encontro de discipulado.
A terminologia pode afetar a visão, por isso abolimos a expressão
líder “auxiliar”. Muitos irmãos estavam se recusando a liderar uma
célula porque entendiam que a função deles era apenas auxiliar o
líder. Agora todo líder auxiliar deve entender que ele é um discípulo,
um líder em treinamento, o próximo líder da célula.
A partir de agora, teremos o líder da célula e os líderes em trei-
namento, que são seus discípulos. Os membros da célula estarão
divididos em quatro grupos (dentro da própria célula, a princípio),
para que cada líder atue como anjo da guarda e pastoreie o seu
grupo de compartilhamento. A primeira função e encargo do líder
em treinamento deve ser apascentar os demais membros da célula.
142 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Tornamos-nos discípulos para nos multiplicarmos. Multipli-


cação era a visão de Jesus quando ordenou “Ide! fazei discípulos
de todas as nações”. Alguns ficam só com o “ide”. Outros fazem
convertidos, mas não discípulos. É esse modelo incompleto que
a maioria das igrejas nos dias de hoje pratica. A consequência são
as igrejas-berçário. Um amontoado de gente infantil e carnal que
jamais entra no padrão normal da vida cristã. Podemos dizer que o
objetivo de Jesus ao ordenar a grande comissão foi gerar quantida-
de com qualidade. Ele quer salvar, mas não só salvar. Quer salvar e
levar ao pleno conhecimento da verdade.
O modo de isso acontecer é ganhar e depois discipular. Assim nos
multiplicamos e cooperamos com o Espírito Santo para a formação
de crentes maduros que também se multiplicam.
Hoje, como uma igreja em células, a nossa prioridade não são
as campanhas evangelísticas ou os “cultos de evangelismo” onde
os crentes trabalham apenas para levar algum visitante. Hoje cada
membro é desafiado a ganhar e consolidar cada novo convertido.
Jesus nos chamou à multiplicação. Se você não se multiplica e não
faz discípulos, está fora do padrão de Deus.
O nosso ritmo para formar novos líderes tem sido muito lento.
Não é que exista algum curso intensivo para formação de líderes,
mas o nosso processo tem sido muito lento. Em grande parte porque
não tem havido encargo dos líderes de célula para assumirem uma
posição de discipuladores de seus líderes em treinamento.
Jesus, em três anos, formou doze apóstolos. Paulo, em três anos,
formou pastores em Éfeso. Tanto Jesus como Paulo se dedicavam
intensamente à formação de seus discípulos. Estavam todos os dias
com eles, talvez por muitas horas. Havia outra dedicação, outra in-
tensidade, outra concentração e foco. Estavam todos os dias imersos
na obra, mas com seus discípulos ao seu lado. No entanto, nós, em
muitos casos, temos pouquíssimas reuniões com os discípulos ao
mês, e é provável que essas reuniões de discipulado sejam muito
fracas às vezes.
12º Dia – O alvo do líder de célula é discipular novos líderes 143

Precisamos mudar esse quadro. Temos um grande potencial


em nossas mãos de pessoas que nos foram confiadas pelo Senhor.
Precisamos somente entender que não temos escolha, o Senhor
nos mandou fazer discípulos. Um líder de célula que não discipula
ninguém está simplesmente ignorando uma ordem do Senhor Jesus.
Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito
Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos
tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias
até à consumação do século. Mt 28:19-20
Um líder somente pode ser formado por outro líder. Ninguém
pode se tornar um líder apenas estudando em uma sala de aula, é
preciso acompanhamento e discipulado. Analogamente, um homem
não aprende a ser homem, no sentido de sua hombridade, em um
curso preparatório. Um homem aprende a ser homem andando
com outro homem. Um líder só aprende a liderar sendo discipu-
lado por outro líder.

Atitudes de um líder de célula que discipula o líder


em treinamento
™™ Não se isole dos seus discípulos.
™™ Reparta as responsabilidades da célula com eles.
™™ Leve-os consigo em todas as reuniões de liderança.
™™ Delegue a eles uma parte dos membros da célula para que
eles os apascentem.
™™ Estude com eles o Manual da Visão de Células.
™™ Planeje junto com eles cada evento da célula.
™™ Avalie junto com eles como está o acompanhamento dos
membros.
™™ Não tenha medo de que seu discípulo se torne maior do
que você.
Crescimento numérico ilimitado é contrário à natureza. Uma
árvore, por exemplo, não cresce indefinidamente, mas produz novas
144 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

árvores. Este é o princípio natural da multiplicação que permeia toda


a criação de Deus. O princípio da multiplicação influencia todas as
áreas da vida da igreja. Assim como o verdadeiro fruto da macieira
não é a maçã e sim uma nova macieira, o verdadeiro fruto de uma
célula não é mais um cristão, e sim mais uma célula; o verdadeiro
fruto de uma igreja não são novos crentes, mas novas igrejas; o ver-
dadeiro fruto de um pastor não são ovelhas, mas novos pastores; o
verdadeiro fruto de um evangelista não são convertidos, e sim mais
evangelistas. O verdadeiro fruto de um líder de célula são outros
líderes de célula discipulados por ele.

Os equívocos mais comuns do discipulado


1. O discipulador deve andar atrás do discípulo.
2. O discipulado é para alguém cuidar de mim.
3. Discipulado é somente para pegar relatórios.
4. Aceito o discipulado, mas não que falem na minha vida pessoal.
5. Não tenho tempo para o discipulado.
6. Posso crescer sozinho – Pessoas orgulhosas são incapazes de
aprender com outras.
7. Quero ser discipulado, mas não quero liderar – É impossível
ser discípulo e não fazer o que o discipulador faz.
8. Quero liderar, mas não quero o discipulado – Quem não é
discípulo, não pode ser um discipulador. Antes de ser um líder, é
preciso ser um discípulo!
9. Quero ser discipulado, mas não quero que cobrem nada de
mim – O alvo do discipulado é o crescimento. Não existe cresci-
mento sem prestação de contas.
10. Quero ser discipulado, mas não quero cuidar de discípu-
los – O propósito do discipulado é gerar discípulos! O alvo final
é multiplicação.
12º Dia – O alvo do líder de célula é discipular novos líderes 145

Transformando membros em discípulos


Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discí-
pulos, houve murmuração dos helenistas contra os hebreus,
porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distri-
buição diária. Então, os doze convocaram a comunidade dos
discípulos e disseram: Não é razoável que nós abandonemos
a palavra de Deus para servir às mesas. (At 6.1,2)
O livro de Atos descreve os irmãos como “a comunidade dos
discípulos”. Isso revela que o que estava no coração dos líderes da
igreja não era apenas pregar o Evangelho e salvar pessoas, mas sim,
fazer discípulos de Jesus.
Em nossa igreja, a célula é o lugar de formar discípulos. O gran-
de desafio do líder de célula é: transformar os membros da célula
em discípulos.
Para alcançar esse desafio, o líder de célula precisa considerar três
pontos essenciais, que são: primeiro, encarar seus desafios como líder
e superar os seus próprios bloqueios; segundo, suprir as necessidades
dos membros através do ensino da Palavra; terceiro, investir adequa-
damente nos líderes em treinamento, discipulando-os.
A primeira coisa que um líder de célula precisa entender é que
o nosso desafio como igreja não é apenas a salvação de almas, e sim
a formação de discípulos.
Você reparou como o livro de Atos descreve o crescimento da
igreja? Ele diz que muitos eram salvos? Não. “Ora, naqueles dias,
multiplicando-se o número dos discípulos”. Era assim que a igreja
crescia. É lógico que as pessoas não se convertiam como discípulos
prontos, mas desde o momento do novo nascimento elas sabiam
que deveriam se tornar discípulos.
A igreja em célula atua através do discipulado. Esse discipulado
alcança todos os membros da igreja. Começando com o pastor da
146 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

igreja local, até os novos convertidos. O alvo desse discipulado é


passar o DNA.
O DNA são as características genéticas que são transferidas na
reprodução. No caso do discipulado, passamos o “DNA de discípu-
lo”. Existem muitas características de um discípulo de Cristo. Essas
características são passadas através do discipulado. Esse discipulado
se inicia na célula, através da liderança do líder de célula, e atinge
todos os níveis de liderança da igreja.
Para um pastor de uma igreja grande é impossível discipular
cada membro. Mas é importante que todos sejam discipulados pois,
assim, garantimos que todos recebam do mesmo DNA.
A função do líder de célula é passar o seu DNA de discípulo
para cada membro da célula. Não queremos crescer em número
de membros simplesmente, mas em número de discípulos, como
registra o livro de Atos.
O crescimento da igreja está associado diretamente com o cresci-
mento das células. E o crescimento das células, por sua vez, depende
da atitude dos seus líderes em formar discípulos.
13º Dia

As microcélulas

As dificuldades são imensas para os novos líderes, que muitas


vezes não sabem nem sequer conduzir um momento de louvor,
ou mesmo o compartilhamento da palavra na reunião de célula.
Por isso muitas pessoas, mesmo maduras na fé, não se dispõem a
liderar uma célula.
Talvez as dificuldades sejam muitas, mas grande parte delas é
facilmente resolvida quando aplicamos as microcélulas.

Um facilitador de multiplicação
Basicamente, as microcélulas atuam como um facilitador no
processo de multiplicação de uma célula. É muito simples, uma vez
implementado o processo, não há volta e o resultado será sempre o
mesmo: uma multiplicação saudável. Quando a célula atinge um
número de dez membros, então o grupo é subdividido em duas
microcélulas de cinco pessoas, e o líder da célula e o líder em trei-
namento lideram, cada um, uma das duas microcélulas.
148 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

As reuniões da célula devem começar normalmente com quebra-


gelo e louvor, mas, no momento compartilhamento, as duas micro-
células serão separadas em dois grupos distintos, ambos compostos
de cinco pessoas. Podemos também estabelecer as microcélulas
quando o grupo atingir doze pessoas.
Nesse caso seriam três microcélulas com quatro pessoas em
cada. Duas das microcélulas serão lideradas por dois irmãos líderes
em treinamento, sendo que cada um liderará três irmãos. Assim,
podemos ter três microcélulas em uma só célula.
No final do processo, os líderes estarão preparados e a partir do
crescimento das microcélulas, que começam com quatro pessoas,
a multiplicação acontece. A microcélula que atingir sete mem-
bros estará em condições de se multiplicar e tornar-se uma célula,
reunindo-se em outro lugar. As microcélulas podem incentivar e
facilitar a multiplicação, mas o foco principal delas é o treinamento
de novos líderes.

O alvo é treinar novos líderes


Como já dissemos, as células não são o ponto focal. Células sur-
gem e desaparecem, começam e terminam. A menos que os mem-
bros de grupos se transformem em líderes de células, os frutos não
serão duradouros. Por isso cremos que o crescimento da igreja está
baseado na formação de líderes. Sendo assim, a prioridade máxima
de um líder de célula é identificar líderes em potencial e iniciar o
processo de discipulado.
Nosso alvo é a conquista da cidade. A estratégia para atingir esse
alvo é transformar os líderes de célula em discipuladores. O foco
do nosso trabalho são as pessoas e não as atividades. O tempo dos
membros é escasso, por isso precisamos focar nosso trabalho em
pessoas e não em atividades.
13º Dia – As microcélulas 149

Alguns líderes se contentam em ter uma reunião de célula cheia,


mas uma reunião cheia não atinge o alvo completamente. Se ali não
houver líder em treinamento, será uma célula fraca. Precisamos levar
cada membro a se tornar um líder de célula. Além disso, precisa-
mos mudar toda a mentalidade adquirida ao longo dos anos que
passamos na escola. No treinamento escolar formamos professores
e não líderes. Líderes são treinados no relacionamento de discipu-
lado no dia-a-dia.
Liderar é muito mais que realizar tarefas na igreja. Quem é líder
de verdade lidera pessoas. Um líder que realiza uma tarefa, mas não
lidera ninguém, está totalmente fora do propósito da liderança. Não
trabalhamos apenas com cargos, pelo contrário, temos encargos.
Não ostentamos títulos, temos funções. Cada membro deve ser
treinado para ser um ministro enviado para ministrar em sua casa,
escola ou trabalho.
Em nossa igreja, temos um trilho de treinamento de líderes de
células. Esse treinamento é constituído pelo Curso de Maturidade
e pelo C.T.L. Mas, como já disse, apenas treinamento não forma
líderes. É preciso que o líder de célula já experiente se torne um
discipulador de seus líderes em treinamento. Somente assim con-
seguiremos levantar novos líderes.
A prioridade de cada membro da igreja deve ser tornar-se um
líder de célula, e a prioridade máxima do líder de célula é constituir
líderes em treinamento e ser discipulador deles. Cada líder de célula
deve constituir três líderes em treinamento na sua célula, que serão
seus discípulos e cooperadores na célula.
O líder de célula deverá então se encontrar semanalmente com
seus três discípulos. Esse encontro poderá acontecer um pouco
antes ou um pouco depois da reunião da célula, dependendo da
disponibilidade da nova equipe. Durante esses encontros, o líder
de célula estudará o Manual da Visão com seus três discípulos ou
150 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

líderes em treinamento e também seguirá todo o processo proposto


de acompanhamento e crescimento do discípulo. A partir de então,
todos os membros serão distribuídos entre os três discípulos para
que atuem como anjos da guarda cuidando dos demais membros.
Observe que estamos definindo claramente dois níveis de mem-
bros dentro da célula. Temos os líderes em treinamento, que são
discípulos, e temos os demais membros, que consideramos ovelhas.
Os líderes em treinamento são discípulos e por isso o líder da célula
deve discipulá-los. Por serem discípulos, eles têm um nível maior de
compromisso e responsabilidade. Todo líder em treinamento deve
estar ciente do que significa ser um discípulo do Senhor.
Os outros membros da célula, porém, devem ser apascentados.
Apascentar não é o mesmo que discipular. Apascentar é cuidar, pro-
teger, alimentar e atender às necessidades das ovelhas. Se tratarmos
ovelhas como discípulos, o resultado será o sofrimento da ovelha e
a decepção do líder.
Evidentemente, não queremos que as ovelhas sigam nessa posi-
ção indefinidamente. Nós queremos que elas se tornem discípulos.
Sabemos, porém, que isso não acontecerá com todos. Sempre haverá
alguém relutante em tomar a cruz, todavia nunca devemos desprezar
esses irmãos, pois eles são ovelhas que nos foram confiadas e teremos
de prestar contas diante de Deus por cada uma delas.
O trabalho dos líderes de célula deve sempre levar em conta os
níveis ou estágios de maturidade dos membros da célula. O pró-
prio Senhor Jesus trabalhava por níveis. Ele tinha as multidões, os
500, os 120, os 70, os 12, e entre estes, Pedro, João e Tiago. Para
cada nível corresponde uma intensidade de acompanhamento e
compromisso. Cada líder precisa ter clareza desses níveis. Quem
não distingue níveis na igreja e na célula está deixando de lado um
princípio absoluto que percebemos no ministério de Jesus.
13º Dia – As microcélulas 151

Quem compõe a reunião da igreja?


As reuniões das igrejas locais em geral se compõem de quatro
grupos distintos de pessoas: o visitante, o frequentador assíduo, os
membros e os discípulos.

O visitante
Tais pessoas não fazem realmente parte da igreja. Como o pró-
prio nome diz, o visitante é aquele que vai a uma ou duas reuniões,
porque está passando por ali ou é convidado por um dos membros
da igreja. Esses, quando não fazem uma decisão por Cristo, em ge-
ral não voltam mais. Em nossos relatórios das células, os visitantes
são contados porque mostram a saúde daquele grupo. Uma célula
saudável, assim como uma igreja, sempre terá visitantes.

O frequentador assíduo
Estes são pessoas sinceras, que frequentam a maioria das reu-
niões da célula e das atividades da igreja. Até certo ponto pode-se
contar com elas. São consideradas frequentadoras assíduas as pes-
soas que ainda não se batizaram, mas que frequentam a célula com
certa regularidade. Alguns são frequentadores porque possuem
algum impedimento para o batismo - na maioria das vezes, algum
problema de divórcio, amasiamento, ou proibição dos pais para se
batizar. Outros são frequentadores porque gostam dos irmãos ou são
amigos dos anfitriões da célula. Gostam de receber oração e apre-
ciam a comunhão dos irmãos, mas quando desafiados ao batismo
normalmente recuam. Esses possivelmente ainda não nasceram de
novo. Eles são contados em nossos relatórios das células.

O membro
Consideramos membro aquele irmão que se batizou ou aquele
que veio de outra igreja reconhecidamente evangélica e que esteja
frequentando nossas células há pelo menos dois meses (ou oito reu-
niões). Eles constituem a maioria dos participantes da igreja. Como
152 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

membro, o que se espera dele é que frequente a célula e o culto de


celebração aos domingos, seja um dizimista e coopere para a expan-
são da obra, trazendo visitantes para as células. Evidentemente, ele
deve manter um bom testemunho e buscar se encher do Senhor a
cada dia. Um membro ainda precisa se tornar um discípulo. Ele se
torna um discípulo a partir do momento em que aceita o desafio
de ser um líder em treinamento e se torna um discípulo do líder
da célula.

O discípulo
O discípulo é um seguidor, uma pessoa disposta, disponível
quando se precisa dela; que tomou a sua cruz e está seguindo a
Cristo. Somente consideramos discípulos aqueles membros que
aceitaram o desafio da liderança e estão dentro de um relaciona-
mento de discipulado. Membros estão buscando a própria bênção,
mas discípulos entenderam que precisam fazer a vontade de Deus.
O sonho de todo pastor é que a maioria dos irmãos integre este
último grupo, que sejam discípulos. Mas, por experiência própria,
depois de muitos anos de ministério, tenho concluído que eles são
sempre minoria.

Um novo processo de multiplicação


As microcélulas são um processo de multiplicação. Depois que
a célula é subdividida em duas ou três microcélulas, dependendo
da quantidade de membros e de líderes em treinamento, ela se
multiplicará quando atingir quinze pessoas. Todavia, quando isso
acontecer, os líderes em treinamento terão tido várias semanas de
treinamento prático dentro da própria célula.
A partir do momento em que uma célula passa a ter microcélulas,
a reunião passa a ser afetada. Todas as microcélulas farão o louvor
juntas e se separarão no momento da Palavra e do compartilhamen-
to. Assim, cada líder em treinamento estará com a sua microcélula,
mas na mesma casa.
13º Dia – As microcélulas 153

O alvo é que cada microcélula se fortaleça durante esse tempo,


e cada líder em treinamento esteja completamente seguro para sair
com o seu grupo. À medida que as microcélulas atingirem um nú-
mero mínimo de 7 pessoas, elas se multiplicarão e começarão a se
reunir em outras casas como novas células. Uma vez completada a
multiplicação, o líder ainda continuará liderando uma célula, mas
agora também será um discipulador cuidando de outras três ou
quatro células.
E o que de minha parte ouviste através de muitas teste-
munhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também
idôneos para instruir a outros. II Tm 2:2
Veja se você entendeu. “E o que da minha parte ouviste, através
de muitas testemunhas”, Paulo não falou isso em particular, mas
em público. “Isso mesmo transmite”. Para quem? Para qualquer
homem? Para que tipo de homem? Para um homem fiel. Mas qual
é a fidelidade que se espera dele? A fidelidade de manter o processo
e instruir outros. Esse é o processo de reprodução na célula. Nós
não multiplicamos células, nós multiplicamos liderança. Se você
não está reproduzindo liderança na célula, você não compreendeu
a visão apropriadamente.
O próprio Paulo é um exemplo do processo. Paulo diz, “O que
de mim ouviste”, então Paulo começou. Timóteo ouviu. Ele era
o discípulo. E agora Paulo diz: “O que você recebeu, Timóteo,
transmite para homens fiéis”. E esses homens fiéis, por sua vez, vão
transmitir para outros. E esses outros, para outros. Qual é o propó-
sito de Deus? Desencadear um processo, uma reação que ninguém
pode impedir. Você recebe e passa para outro, que passa para outro,
que passa para outro.
Nós temos muitos cursos em nossa igreja, mas os cursos não
substituem o discipulado. Curso não forma líderes e nem gera dis-
cípulos. A única maneira de se tornar um líder é sendo treinado por
outro líder. Se você não anda com um líder, você não se torna líder.
E se você não tem ninguém andando com você como discípulo, o
154 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

processo reprodutivo da célula está interrompido. A célula pode até


crescer, mas não se multiplicará.
Não pense que o seu trabalho como líder é simplesmente mandar
alunos para o curso de treinamento da igreja. Assim como evange-
lizar não é só mandar alguém para o encontro. Cada líder precisa
perceber o espírito da obra de Deus e ter o encargo devido.
A ordem de Jesus foi muito clara: “Ide, portanto, fazei discípulos
[...] ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”
(Mt 28:19-20).
A ordem do Senhor foi para fazermos discípulos. Como é
que os discipulamos? Ensinando-os a guardar. Ensinar a guardar
não é ensinar usando curso de treinamento. Não é só ensinar de
maneira teórica, é ensinar fazendo, ensinar a guardar é você fazer
junto. Você não vai só ensiná-lo a orar, vai orar junto com ele.
Vai ensiná-lo a pregar, sim, mas vai pregar junto com ele. Isso é
se reproduzir. Você, como líder, vai liderar junto com dois ou três
discípulos em treinamento, que vão compartilhando com você
as atividades da célula. O avanço da obra hoje depende da sua
seriedade como líder de célula. O seu principal encargo deve ser
reproduzir-se como líder.

O papel do discipulador de líderes


O discipulador precisa mudar a sua mentalidade de coletor de
dados, ou de supervisor, para discipulador. Um supervisor apenas
acompanha o trabalho de outros, se está sendo feito ou não. A
função do discipulador, porém, é de um estrategista e não apenas
de um fornecedor de dados para o pastor. O discipulador deve ter
a mentalidade de pensar a igreja estrategicamente.
A estratégia para atingirmos os milhares é transformar todos
os líderes de célula em discipuladores. Para isso, o foco do disci-
pulador não deve ser o trabalho dos líderes, e sim a formação de
outro discipulador.
13º Dia – As microcélulas 155

Muitos discipuladores se contentam com a multiplicação de suas


células. Mas logo perceberão que será necessário outro discipulador
para acompanhar as novas células, caso contrário seu trabalho poderá
se perder. Antes que isso aconteça, cada discipulador deve trabalhar
para que os líderes que multiplicam suas células possam acompanhá-
las também, tornando-se assim um discipulador de líderes.
Todo membro de célula sabe o caminho que deve traçar para se
tornar um líder. Assim também deve ser com o líder de célula. Ele
deve saber com clareza o caminho para se tornar um discipulador.
O que o discipulador deve fazer com seus líderes:
™™ Alargar a visão dos líderes para que desejem crescer;
™™ Fazer conhecidos os critérios para se tornar um discipulador;
™™ Estabelecer os critérios como um alvo para o líder;
™™ Estabelecer um tempo determinado para ele alcançar esse
alvo;
™™ Deixar clara a responsabilidade de um discipulador;
™™ Reconhecer o trabalho do líder na célula;
™™ Desafiá-lo a acompanhar a célula que ele multiplicar;
O que o líder deve fazer para se tornar em um discipulador:
™™ Levantar e treinar outro líder;
™™ Multiplicar sua célula;
™™ Ser aprovado no discipulado;
™™ Ser aprovado pelo pastor;
™™ Estar disposto a assumir as responsabilidades como
discipulador.
O sucesso de um bom discipulador está em alcançar o alvo –
passar o seu DNA de discipulador. A tarefa do discipulador não é
somente levantar líderes de célula, mas multiplicar novos discipu-
ladores de líderes.
156 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Princípios utilizados por Jesus com seus doze


1. Antes de ter discípulos, Ele tinha seguidores.
2. Seguiu a liderança do Pai na escolha dos seus doze discípulos.
3. Ele selecionou os seus discípulos entre os seguidores que
compunham a multidão.
4. Ele fez um convite pessoal aos seus discípulos para que
O seguissem.
5. Apresentou-lhes a exigência do discipulado.
6. Trabalhou com uma meta estabelecida.
7. Ele treinou seus doze discípulos.
8. Ele delegou responsabilidades a eles.
9. Deu-lhes instruções claras e objetivas sobre o que fazer.
10. Ele os supervisionou.
11. Fez correções nas áreas que mostravam necessidade de ajustes.
12. Comissionou-os a ser uma reprodução de sua vida
e ministério.
14º Dia

A relação do discípulo com


o discipulador

Quando estávamos no mundo, toda a nossa vida foi estruturada


com base em padrões humanos.
Em I Pedro 1:18, vemos que fomos “resgatados do nosso fútil
procedimento”. Todas as áreas da nossa vida foram afetadas pelo
pecado, agora Deus quer colocar a nossa vida no seu padrão até
que sejamos semelhantes a Jesus. Essa transformação deve atingir
a nossa mente (Romanos 12:2) e os mínimos detalhes de nosso
comportamento (Efésios 4:22 a 6:18), todas as áreas de nossa vida,
relação com Deus, relações familiares, trabalho, estudo, uso do di-
nheiro, casamento, lazer. Sei que pode soar estranho a alguns, mas
na verdade o discipulado é um processo de reeducação.
Todo irmão precisa entender que Deus não mandará um anjo
ao seu quarto para lhe dar orientações. É para isto que existem os
vínculos no Corpo: para que haja edificação. Por isso, para que al-
guém possa ser discipulado, é necessário que seja:
158 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

™™ Manso e humilde (Mateus 11:29).


™™ Sujeito aos irmãos (I Coríntios 16:16; Efésios 5:21).
™™ Submisso aos líderes (Hebreus 13:17).
™™ Alguém que renunciou à rebelião e à obstinação (I Sa-
muel 15:23).
™™ Alguém que dá ouvido aos conselhos (Provérbios 12:15).
Ninguém pode ser edificado por outro se mantiver uma atitude
de independência, orgulho ou autossuficiência. Essas são caracte-
rísticas de quem está nas trevas. A obstinação e a rebeldia são os
piores pecados (I Samuel 15:23). Alguém que se vê correto aos seus
próprios olhos não pode ser ensinado nem corrigido (Provérbios
12:15). Já dissemos isso várias vezes, mas precisamos repetir sempre
que é impossível edificar quem não se submete.

O fim do individualismo
...que também vos sujeiteis a esses tais, como também
a todo aquele que é cooperador e obreiro. I Co 16:16
sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo. Ef 5:21
A primeira atitude que se espera de um discípulo é que ele ab-
dique do individualismo e das decisões unilaterais. É a decisão de
não caminhar só em circunstância alguma. Por um lado, isso vai
ser agradável, pois vai supri-lo. Era solitário, agora terá alguém para
caminhar consigo, alguém para amá-lo, que vai acolhê-lo, receber
suas lágrimas, entendê-lo e ouvi-lo. Esse é o aspecto positivo.
Mas abrir mão de uma completa independência também impli-
ca em perda. Quando começamos a abrir mão da independência,
sentimos a dor de dividir a privacidade com o discipulador. Esse
é o primeiro custo. O diabo fatalmente tentará superdimensionar
esse preço, de maneira que as pessoas o vejam como pesadíssimo.
Alguém poderá dizer que isto não passa de manipulação. Realmente,
em qualquer outro nível de relacionamento não caberia tal vínculo,
mas no discipulado sim. É isso que vemos na prática de vida dos
14º Dia – A relação do discípulo com o discipulador 159

discípulos mostrados pela Bíblia, exceto na vida de Geazi, discípulo


de Eliseu, que se meteu a caminhar sozinho debaixo de uma aliança
de discipulado, e se deu terrivelmente mal. Vemos, no entanto, um
relacionamento aberto na vida dos discípulos do Senhor, na igreja
primitiva, e nos discípulos de Paulo. Ao fim do discipulado esse
compromisso pode até desaparecer, mas será sempre praticado para
com outra pessoa a quem devemos reconhecer e nos submeter como
autoridade, como discipulador, para prestarmos contas.

Submissão ao discipulador
Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com
eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar
contas, para que façam isto com alegria e não gemendo;
porque isto não aproveita a vós outros. Hb 13.17
A segunda atitude que é pedida a um discípulo é o posiciona-
mento, a decisão de submeter-se ao discipulador. Falar de submissão
é sempre algo muito delicado.
Submissão é uma questão de coração, mas obediência é uma
questão de conduta. Devemos nos submeter sempre ao discipula-
dor, mas nem sempre temos de obedecê-lo. Evidentemente existe
um limite de obediência à autoridade. Somente Deus é objeto de
submissão ilimitada. A submissão ao homem é sempre limitada.
Se o discipulador dá uma ordem nitidamente contrária à ordem
de Deus, deve ser desobedecida.
A Palavra de Deus nos ensina que existe uma hierarquia de au-
toridades, que segue a seguinte ordem:
™™ A autoridade soberana de Deus.
™™ A autoridade da Bíblia.
™™ A autoridade de nossas consciências.
™™ A autoridade delegada.
O discipulador é uma autoridade delegada e por isso deve ser sub-
misso aos três níveis mais elevados de autoridade. Se o discipulador
160 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

diz para fazermos algo que esteja em conflito com Deus, com a
Bíblia, ou com nossas consciências, ele precisa ser desobedecido. O
discípulo precisa ser submisso, mas não deve ter uma submissão cega.
Toda autoridade delegada tem um limite. O chefe somente
pode dar ordens com respeito ao trabalho, não pode determinar
nada na minha casa. O mesmo se aplica na igreja. O discipulador
está limitado a aquilo para o que foi delegado ou designado, não
pode escolher com quem devo me casar, ou interferir na minha vida
profissional ou doméstica, a não ser que, como discípulo, eu queira
aceitar sua opinião nessas questões.
Lembre-se daqueles três níveis de palavra que um discipulador
pode falar ao seu discípulo. O primeiro nível é quando ele fala a
Palavra de Deus. Evidentemente, diante da Palavra de Deus a sua
submissão deve ser completa e absoluta. Se um discipulador fala
algo claro da Palavra de Deus a um discípulo e ele simplesmente
ignora, podemos então afirmar que é rebelde.
O segundo nível de palavra é quando o discipulador dá um
conselho a seu discípulo. Mesmo sendo um bom conselho ou um
conselho realmente sensato, neste caso a submissão é relativa. Um
discipulador não pode obrigar o seu discípulo a seguir cegamente
seus conselhos. Quando o discípulo rejeita um conselho, ele não
pode ser taxado de rebelde por causa disso.
Porém, é preciso dizer que aquele discípulo que nunca aceita um
conselho do seu discipulador é possivelmente orgulhoso e autossu-
ficiente. Apesar de não ser necessariamente rebelde, é resistente ao
ensino e dificilmente pode ser edificado.
O terceiro tipo de palavra do discipulador são as suas opiniões.
Nem precisamos dizer que não é necessário nenhum tipo de sub-
missão às opiniões e gostos pessoais do discipulador. O discípulo
pode ouvir ou ignorar tal opinião completamente.
14º Dia – A relação do discípulo com o discipulador 161

Evidentemente, um bom discípulo está sempre interessado no


conselho do seu discipulador. Em muitas situações nas quais a mi-
nha opinião se chocar com a do meu discipulador, a minha decisão
é sempre por ouvir a voz dele. Muitos crentes dizem esperar um
tratamento de Deus diretamente, não querem ouvir homem algum.
Deus tem de vir do céu e tratar com eles pessoalmente, pois o seu
pastor é Jesus. Lembre-se porém que Deus honra a liderança cons-
tituída por Ele. “Certamente o Senhor não fará nada sem primeiro
revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas” (Amós 4:7).
Não existe melhor forma de Deus tratar conosco como através
da liderança constituída. Não existe outro canal melhor, não existe
melhor alternativa. Antes de falar com o povo, Deus quer falar pri-
meiro com a liderança que Ele mesmo estabeleceu.
O aspecto de submissão ao discipulador fala não apenas de
uma atitude de obediência. Obediência é algo externo, que até o
ímpio faz, algo que já é feito pelo homem natural. As autoridades
do mundo exigem e seus auxiliares obedecem. Obediência não
implica em concordância interior, porém em submissão; num
relacionamento de discipulado, indica que eu posso até discordar
interiormente, mas devo me submeter. Isso é algo que acontece no
nível do espírito. Eu abro o meu espírito para me submeter, para
aceitar, mesmo que se choque com o que eu penso. Opto por me
submeter e aceitar o conselho e direção do meu discipulador. O rei
Saul não entendeu isso e Deus passou dele. Na ausência do profeta
Samuel, a decisão mais prudente, mais correta, aparentemente,
seria ele mesmo fazer o sacrifício pelo qual todo o povo esperava.
Era o mais lógico. Mas Deus não estava preocupado com o fazer
e sim com o obedecer.
Toda autoridade é proveniente de Deus. Ele mesmo constitui
autoridades e, nestes dias de restauração, Ele tem reconstituído a
ordem das coisas na sua casa. Por quê? Porque se Deus constitui
162 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

uma cadeia de autoridade, Ele vai falar, vai operar por meio dessa
cadeia de autoridade.
Precisamos entender que se eu me vinculo a alguém, em nível
de discipulado, é por reconhecê-lo como servo de Deus, alguém
que tem vida de Deus, que tem as qualificações necessárias para ser
um discipulador. Se me submeto a esse alguém, Deus certamente
vai falar com ele coisas a meu respeito para a minha edificação. Eu
preciso estar atento a isso e ser submisso. Esse é o segundo custo.
O pecado da insubmissão, quando em meu coração rejeito a au-
toridade de alguém levantado por Deus, é comparado ao da feitiçaria
por sua gravidade e semelhança. O pecado da rebeldia é comparado
ao da feitiçaria porque ambos atraem demônios (I Sm 15:23). Por
isso pessoas rebeldes e insubmissas devem ser tratadas com rigor, a
fim de que sua fermentação não contagie os incautos.

Andar na luz
Ora, a mensagem que, da parte dele, temos ouvido e vos
anunciamos é esta: que Deus é luz, e não há nele treva
nenhuma. Se dissermos que mantemos comunhão com
ele e andarmos nas trevas, mentimos e não praticamos a
verdade. Se, porém, andarmos na luz, como ele está na
luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue
de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. I Jo 1:5-7
A terceira atitude é uma decisão por andar na luz. O que é isso?
Andar na luz diz respeito a expor todas as áreas da minha vida, todos
os campos da minha vida ao conhecimento do meu discipulador:
vida financeira, relacionamento conjugal, relacionamento com a
liderança da igreja, relacionamentos no meu serviço, a minha vida
íntima, os meus pensamentos, as áreas nas quais eu tenho sido ata-
cado, se houver pecado, por quais tenho sido vencido, se o passado
ainda exerce alguma influência, que tipo de influência.
14º Dia – A relação do discípulo com o discipulador 163

Se o meu emocional ainda clama em alguma área, se existe algu-


ma frustração, temores, alguma acusação do diabo, então, preciso
me abrir. Em um vínculo de discipulado, devo me sujeitar a abrir
mão de me esquivar, de esconder-me do meu discipulador e fugir de
um confronto. O terceiro custo é minha decisão voluntária de me
abrir e compartilhar meu interior, andando completamente na luz.

Entrar no padrão do discipulador


O caminho do insensato aos seus próprios olhos parece
reto, mas o sábio dá ouvidos aos conselhos. Pv 12:15
A quarta atitude vivida num vínculo de discipulado é a decisão
por entrar no padrão dado pelo discipulador. É claro que esse padrão
não é fruto de alguma preferência ou opinião pessoal, mas é aquele
apontado pela Palavra de Deus. É muito importante entender que
discipulado é um caminho de crescimento. Discipulado não é um
entretenimento, uma distração interessante, uma programação
agradável a ser cumprida periodicamente com o meu discipulador,
uma ocasião para se conversar, bater um papinho, ouvir um bocado
de coisas “interessantes”. Vai além disso.
Precisamos entender que se discipulado é um caminho de cresci-
mento espiritual, vou começar o meu vínculo de discipulado ao nível
do vale e, depois de caminhar durante certo tempo, vou perceber
que cresci, subi a montanha e cheguei ao cume. Estarei num novo
nível de entendimento, de vitória, de clareza de novos princípios da
Palavra, que outrora eu não possuía de forma prática.
O discipulado tem o objetivo de cumprir uma trajetória de
crescimento. E nesse caminhar, o primeiro aspecto é reconhecer
qual a palavra de Deus para a minha vida. Para cada pessoa que está
num vínculo de discipulado há uma palavra específica de Deus.
É necessário que o discipulador saiba disso para discernir qual o
nível de compromisso a ser exigido de cada pessoa. Esse equilí-
brio é necessário para que não se cobre de um novo convertido
o padrão de um pastor, nem se contente em dar para aquele que
164 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

aspira a ser um pastor um padrão de discipulado de novo conver-


tido. No primeiro caso, o resultado é frustração, e no segundo,
uma vida relaxada.
Precisamos saber qual “palavra” Deus tem sobre o discípulo e
qual o seu “potencial de resposta” a Deus. É obedecendo ao po-
tencial da resposta de cada vida e à palavra recebida de Deus, que
será estabelecido o padrão para o discípulo. Se Deus tem dado
uma palavra para certa pessoa ser um pastor na casa de Deus, vou
cobrar dele que se desenvolva em fé, em oração, com intrepidez,
conquistando, se apropriando da unção e da sabedoria para liderar.
E lhe será cobrada também uma atitude de estudar e liderar uma
célula, investindo tempo em aconselhamento, chamando vidas para
próximo de si, corrigindo, confrontando e ensinando através de
vínculos de relacionamento. Precisamos conhecer o discípulo para
estabelecer o padrão.
Por que isso é custo? Porque o padrão exigido pelo meu disci-
pulador é um forte desafio. Posso dizer, olhando para mim mes-
mo: Isso é alto demais para mim, eu não vou conseguir sozinho.
O discipulador vai exigir o abandono de uma posição comodista,
na qual enxergo o que Deus quer de mim, mas não me disponho
a ir e perseguir a Palavra de Deus que veio sobre mim. Ele vai me
empurrar, vai me estimular, vai me impelir a conquistar tudo o que
Deus tem para mim.
Por que isso é custo? Porque é desconfortável ser pressionado.
Terei de conquistar, num tempo mais rápido, uma altura maior.
Sozinho poderia estar rendendo 30%. Com um discipulador, eu
renderei 100%. Darei tudo. Assim, todo o meu potencial de res-
posta se manifestará num vínculo de discipulado, no qual me será
cobrado um padrão mais alto do que o meu próprio, fazendo-me
enxergar, com ajuda do meu discipulador, muito mais longe do que
sozinho poderia conseguir.
14º Dia – A relação do discípulo com o discipulador 165

Caminhar junto com o discipulador


E disse Elias a Eliseu: Fica-te aqui, porque o Senhor
me enviou a Betel. Porém Eliseu disse: Vive o Senhor,
e vive a tua alma, que te não deixarei. E assim foram a
Betel. II Re 2:22
O discípulo é um seguidor. Não é possível ver os frutos de um
vínculo de discipulado sem estarmos caminhando próximos um
do outro. Nesse sentido, o discípulo precisa ter um privilégio que
os demais irmãos não têm. O privilégio de vir a hora que quiser,
ter livre acesso à casa do discipulador, ir e vir com o discipula-
dor, acompanhá-lo em tudo o que for conveniente e espontâneo.
Às vezes, só por proximidade e amizade. Fazer refeições juntos,
praticar esportes, lavar o carro e a louça do almoço, além de, evi-
dentemente, orar, jejuar, praticar as demais disciplinas espirituais,
acompanhar na prática da ministração da Palavra, no evangelismo,
na oração por enfermos, etc. Este estar junto deve ser uma decisão
do discípulo. Essa prática é uma das melhores para checarmos
quem, de fato, é discípulo.
Infelizmente muitos discípulos mimados supõem que é função
do discipulador estar constantemente procurando-os. Nunca vão
atrás do discipulador certamente porque isso lhes parece algo humi-
lhante. Por causa do ego, imaginam que é uma grande honra para
alguém tê-los como discípulos. Embora não digam abertamente, a
sua atitude passiva certamente nos mostra isso. Procurar o discipu-
lador para estar junto demonstra que de fato alguém é discípulo.

Andar em aliança e fidelidade


E ele, respondendo, disse: O que mete comigo a mão
no prato, esse me há de trair. Mt 26:23
É certo que todo discipulador deve estar disposto a perder na
relação. O discipulador não procura discípulos para ter algum ganho
pessoal ou alguma vantagem. O verdadeiro discipulado implica em
166 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

desconforto de abrir mão da própria comodidade para servir o Reino


na formação de crentes maduros. É impossível entrar na prática do
discipulado sem uma alta dose de revelação e decisão por abraçar
o princípio da cruz.
Há discípulos que não têm entendimento de que a fidelidade
no compromisso é um dos principais traços de caráter que se deve
ter na obra de Deus. Pessoas sem esse traço no caráter são volúveis,
vivem de festa, e do mesmo jeito tempestuoso que chegam, se vão.
Entram na nossa intimidade, usam-na e traem o compromisso com a
mesma facilidade com que estabeleceram o vínculo. Desqualificam-
se a si mesmas diante da igreja e de Deus, são crentes-libélulas, cada
dia estão num lugar diferente. Esse é o traço que caracterizou Judas.
Quando, finalmente Jesus mostrou suas fraquezas, na ocasião do
lava-pés, ele O abandonou quebrando o vínculo. Os demais discí-
pulos não quebraram a aliança, ele sim.
A trajetória normal de todo vínculo de discipulado é um dar-se
a conhecer progressivo ao discipulador. Se antes havia idealização,
agora o padrão é a realidade. Discípulos carnais como Judas, que
desejam ter como discipuladores super-homens, quando percebem
os primeiros traços de humanidade quebram os vínculos e abando-
nam a relação, ignorando que é, nesse exato momento, em que se
dá a hora crucial do vínculo. É nesse contexto que mostramos em
nosso caráter a fidelidade ou a carnalidade. É fácil servir aos fortes,
mas é renúncia e maturidade tomar a mão de uma pessoa maior
que eu, que se despojou da sua posição, conforto e segurança para
fazer-se um igual, e honrá-la, escolhendo ser o menor. Um discí-
pulo deve ser fiel e honrar ao discipulador que se humilha. Este é
o espírito da cruz.

Servir o discipulador nas coisas naturais


... aqui está Eliseu, que deitava água nas mãos de Elias.
II Reis 3:11
14º Dia – A relação do discípulo com o discipulador 167

E o que é instruído na palavra reparta de todos os seus


bens com aquele que o instrui. (Gl 6:6)
No Velho Testamento os discípulos dos profetas eram chama-
dos de servos dos profetas. A atitude básica de todo discípulo é a
humildade, e se desejamos entrar num vínculo profundo de disci-
pulado, precisamos ter uma decisão firme de servir o discipulador
em todas as coisas com alegria. Servir é estar à disposição quanto
ao que sou, tenho e posso fazer. No entanto, uma coisa é falar que
se está à disposição, a outra, é estar à espreita para, quando neces-
sário, servir sem ser mandado ou requisitado. Essa atitude só tem
valor se for voluntária.
15º Dia

Qualificações do
discipulador

Muitos hoje, dentro da ênfase do discipulado, querem estar dis-


cipulando, entretanto, não podem fazê-lo pelo fato de não terem
sido aprovados nas qualificações exigidas para esse fim. Existe uma
espécie de hereditariedade espiritual atuando dentro do princípio
de discipulado. Discipuladores transmitem um DNA aos seus
discípulos. Pessoas desestruturadas e inconstantes, e, portanto,
desqualificadas para discipular, quando se ligam a outras como
discipuladoras, reproduzem nas mais novas as suas debilidades.
Há líderes orgulhosos formando também discípulos orgulhosos
e independentes. Seus princípios perniciosos, nocivos e perigosos
são reproduzidos integralmente nesses discípulos que, ávidos por
receberem de Deus, acabam sendo influenciados por uma liderança
inepta. Esse princípio de “hereditariedade” tanto pode ser canal de
bênção quanto de maldição.
Mas não devemos pensar que é necessário abandonar o disci-
pulado em função dos seus riscos; antes, devemos começar por
170 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

formarmos uma liderança aprovada em seu caráter e em revelação


da doutrina bíblica. Queiramos ou não, o processo que conduz
à vida cristã genuína é o formativo, e não apenas o informativo,
o qual infelizmente predomina na maioria das nossas igrejas. Se
deixarmos que os novos na fé cresçam por si mesmos, alguns deles
certamente crescerão, mas com uma série de defeitos de caráter que
possivelmente nunca serão corrigidos.
A falta do discipulado pode acarretar tantos problemas quanto
um discipulado feito por líderes desqualificados, que passam a seus
discípulos, pelo princípio de transmissão hereditária, os mesmos
problemas que eles próprios possuem. Mas, afinal, quem pode dis-
cipular? Quais são as qualificações de um discipulador?

1 - Qualificações quanto à conduta


Quanto à conduta, o discipulador deve ser irrepreensível e apro-
vado. Ele deve ter todas as áreas de sua vida debaixo de cobertura.
Não que deva ser perfeito, mas deve caminhar de acordo com a luz
que tem recebido. Ele foi ou deve estar sendo discipulado, de ma-
neira que não age de forma independente na vida da igreja. Deve
também estar totalmente submisso e vinculado a alguém. O dis-
cipulado está inserido na estrutura de autoridade da igreja, assim,
ninguém pode ser reconhecido como discipulador fora da estrutura
de liderança e mentoreamento.
A necessidade de o discipulador ser um discípulo é, antes de
tudo, para a proteção da própria igreja, uma vez que existem certas
áreas em nós que somente se tornam visíveis quando somos con-
frontados no discipulado. Daí a necessidade de o discipulador ter
sido ou estar sendo discipulado, pois assim ele passa pelo mesmo
processo que depois deverá conduzir. Passando antes pelo processo,
ele adquire experiência e é aprovado.
O discipulador aprovado é aquele que foi ou está sendo tratado
em todas as áreas de sua vida. De tal maneira que não haja áreas
ocultas ou que ele procure esconder ou disfarçar – antes, todas estão
15º Dia – Qualificações do discipulador 171

abertas para serem corrigidas, mudadas, melhoradas, ou mesmo


tratadas por um discipulador.
O discipulador, como um discípulo que é, deve ser liberado
pelo seu próprio discipulador para estar discipulando outras vidas.
O discipulador reconhece que o seu discípulo está apto e por isso o
envia. Entretanto, é bom que se mencione que, mesmo depois de
ser liberado, os vínculos não desaparecem, e o novo discipulador
deve sempre colocar o seu discipulador a par de tudo pelo que ele
está passando na posição de autoridade sobre outrem. Esse é um
modo de equilibrar o novo relacionamento. Podemos dizer que o
discipulador é aquele que foi aprovado pelo seu próprio discipula-
dor, para estar discipulando.
Para uma melhor compreensão, vamos mencionar as áreas bá-
sicas que um discipulador deve formar em seu discípulo e também
as áreas em que ele próprio tem de ser aprovado.

a. Qualificações naturais
Na família, deve ser alguém que possui um bom relacionamento
com seus pais e irmãos, e, caso seja casado, deve ter o seu próprio
lar bem estruturado. Na igreja, deve estar vinculado à liderança e
atuando no lugar que lhe foi designado. No trabalho, é importante
que tenha uma vida financeira estruturada e seja reconhecido no
seu meio profissional pelo seu caráter cristão, assim como, nos rela-
cionamentos sociais, na área moral, no lazer, no namoro (caso seja
solteiro), no uso do seu tempo, na vida devocional, nos estudos, e
assim por diante.
Ser aprovado não significa ser perfeito, mas aberto constante-
mente para ser instruído e, acima de tudo, transparente e leal para
confessar suas faltas. A sua vida moral deve ser completamente tra-
tada para que não haja brecha para escândalos. E, finalmente, ter o
seu caráter tratado, sendo ensinável, tendo vínculos de comunhão
e de aprovação pela liderança, sendo fiel, submisso e andando no
172 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

princípio da cruz. Essas áreas devem ser completamente edificadas,


caso contrário, não terá nenhuma autoridade para discipular quem
quer que seja.
Devemos ter sempre em mente que discipulado são vínculos
íntimos através dos quais todas as coisas são compartilhadas. São
laços íntimos de conhecimento e confiança mútuos.
Mesmo que eu não abra minha vida com o meu discípulo, a
minha vida prática vai testificar contra o meu ensino se eu não viver
o que falo. E, como dissemos anteriormente, o discipulado não é
um método informativo, uma simples ação de passar um estudo
teórico, antes de tudo, é transferência de vida, ou ainda, passar o
que sou e o que eu tenho. Sendo assim, é um trabalho de forma-
ção. Não apenas ensino a Bíblia, mas pratico-a juntamente com o
meu discípulo. Por isso eu não posso ser discipulador sem antes ser
aprovado no meu dia-a-dia.

b. Qualificações espirituais
É bom não separarmos a vida natural da espiritual, visto que
o homem é um ser total e global, e não um monte de partes que
se juntam e se superpõem. Toda vida espiritual deve ser percebida
também na natural. Toda experiência espiritual deve ser visível nos
frutos do trabalho. Vejamos os aspectos considerados espirituais.
O discipulador deve ser totalmente livre do poder do pecado.
Não apenas viver tentativas para ser livre do poder do pecado, mas
ser de fato liberto do poder atrativo do pecado. Existem muitas
pessoas que não produzem nenhum escândalo, mas que vivem no
pavor e no desespero da possibilidade de caírem em pecado. São
pessoas que, quando atacadas por setas malignas, experimentam
uma ressonância interior forte, e isso acontece exatamente pelo fato
de não terem revelação de sua morte com Cristo. Elas ainda não se
apropriaram do poder da cruz, nem da sua morte por fé. Essas pes-
soas não podem discipular outras, pois não são confiáveis. Se existe
15º Dia – Qualificações do discipulador 173

ressonância do poder do pecado em mim, eu não posso discipular


outros. Isso indica que existem brechas espirituais em minha vida
e é certo que demônios vão se valer delas. Dependendo do tipo de
brecha, isso se torna uma possibilidade de escândalos.
Imaginemos o caso de um discipulador que ainda possui proble-
mas na área de homossexualismo. Se ele não se apoderou por fé da
libertação do poder do pecado, existe a possibilidade de demônios
virem atacá-lo nessa área. E se ele for tratar com alguém que tenha
a mesma dificuldade? Daí a necessidade de ser aprovado pelo seu
próprio discipulador. Toda brecha é potencialmente um escândalo.
Alguém que é livre do poder do pecado certamente é também conhe-
cedor dos princípios da Palavra de Deus, e não anda no escuro, pois
foi ensinado pelo Espírito Santo a se apropriar dos Seus princípios.
Quando falamos isso, não estamos nos referindo àqueles irmãos
convertidos que tentam vencer o pecado pelo seu esforço próprio
ou que aparentemente vivem uma vida cristã plena. Nos referimos
àqueles que possuem a experiência do poder da cruz operante sobre
o seu velho homem. Essa revelação precisa mais do que simples-
mente ser entendida, precisa ser uma experiência revelada e vivida.

2 - A vida de Deus que atrai outros a si


Outro princípio espiritual fundamental é que o discipulador
deve ter revelação da vida com Deus. É essa vida que vai fazer toda
a diferença.
Não basta ter o dom de liderança e ser cheio de talentos naturais,
é preciso ter realidade de vida. Ser um canal pelo qual o Espírito
Santo se mova é fundamental, pois quando falamos alguma coisa,
é necessário que falemos com vida.
Existem muitas relações de discipulado falsas, relações superfi-
ciais, em que o discipulador não permite que o discípulo experi-
mente da sua vida com Deus. E isso acontece porque sabem que sua
realidade de vida é fraca. Alguém que não ouve o Espírito Santo,
não está aberto ao Seu ensino e não depende dEle, não tem a unção
174 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

de Deus sendo liberada sobre a sua vida. Nunca poderá alcançar


reconhecimento de discípulo nenhum, por não ter em si mesmo
a prática dos princípios bíblicos que trazem a experiência de auto-
ridade e unção. Quando muito, poderá haver um relacionamento
superficial e formal, o que não é discipulado. Se discipular é passar
vida, isso não é algo natural, mas espiritual.

3 - Ser uma pessoa espiritual


O discipulador aprovado anda no princípio da cruz e na depen-
dência do Espírito Santo. Não reivindica os seus direitos, não briga
por suas razões, não busca estar em primeiro lugar, mas é quebranta-
do. Pessoas que não andam por esse princípio são muito perigosas,
pois irão explorar discípulos, manipular a vida dos outros, e assim
por diante. Não serão confiáveis por causa de suas motivações.
Por fim, o discipulador é alguém que depende de Deus nos
vínculos que forem formados. Sem isso, o relacionamento será algo
simplesmente humano, natural, uma mera amizade, e não uma
oportunidade que permita ao Espírito Santo tratar com a vida do
discípulo, trazendo luz sobre todas as áreas de sua vida, confron-
tando, disciplinando e corrigindo. Não é simplesmente estando
juntos que o Espírito de Deus vai agir, é necessário que haja, por
parte do discipulador, em primeiro lugar, um entendimento da
situação e, em segundo lugar, uma disposição para confrontar com
autoridade. Deus não tem compromisso com pessoas independen-
tes e este talvez seja um dos principais desafios do discipulador: ser
dependente de Deus.
Dependência é a atitude de se achegar ao discípulo sem confiar
em nada, a não ser na provisão de Deus, que dará frutos. Não se-
rão as palavras que farão diferença, mas a direção que Deus der ao
discípulo. Só quando o discipulador conduzir a conversa na direção
que o Espírito quer levar, é que o discípulo será confrontado pelo
poder e pela luz profunda da Palavra. Sem isso, o discipulador pode
conversar horas a fio sobre a Bíblia ou livros, e ainda assim não
15º Dia – Qualificações do discipulador 175

conhecer a necessidade imediata do discípulo. Somente o Espírito


Santo pode conhecer as necessidades do discípulo, por isso, o dis-
cipulador precisa reconhecer sua incapacidade para perceber essas
questões e reconhecer também sua necessidade de depender de Deus.

4 - Qualificações quanto à visão


Para finalizar, queremos ver as qualificações do discipulador
quanto à visão. Muita gente levada pelo modismo do momento
quer fazer discipulado sem entender o que isso significa. Não en-
tendendo o que de fato querem, de onde devem sair e para onde
devem ir. Acham que discipulado é simplesmente ajuntar um grupo
de pessoas e lhes ensinar um amontoado de doutrinas ou simples-
mente fazer uma supervisão do trabalho da igreja. Mas, para que um
discipulador seja qualificado, ele precisa saber o que está fazendo,
ou seja, entender o princípio do discipulado claramente. Precisa
ter vivido isso, e então ter um entendimento claro de onde levar o
seu discípulo. Mas qual a trajetória entre o “vale” e o “monte”? Para
respondermos a essa pergunta satisfatoriamente, é necessário que
entendamos a diferença entre princípios e métodos.
Os princípios são padrões gerais que se aplicam a situações di-
ferentes. Os métodos são usados dependendo das contingências
específicas do momento e do lugar. Os métodos podem variar de
acordo com o estilo de cada um, mas os princípios são imutáveis.
O discipulador deve conhecer claramente os princípios da Pala-
vra de Deus para aplicá-los em cada circunstância específica, e esses
princípios devem ser conhecidos por revelação de Deus e não por
um mero exercício mental; deve saber operar nesses princípios com
fluência e desenvoltura.
Os métodos são consequências da direção específica do Espírito
para uma determinada hora. Não adianta copiar os métodos de de-
terminada igreja, devemos estar abertos para aprender com outros
irmãos os princípios nos quais eles têm entrado, mas buscar de Deus
176 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

os métodos adequados para a nossa realidade. Os métodos não se


copiam; os princípios, sim, são universais.
Não existe meio de se fazer discipulado sem que os princípios
da Palavra sejam aplicados. Agora, quanto aos métodos, se vamos
usar o discipulado um-a-um ou em grupos de três ou quatro, se
vamos conversar individualmente, ou armar uma tenda no quintal
do discipulador, Deus conduzirá. Daí a necessidade da dependência
constante do Espírito. Cada situação será um método diferente, mas
os princípios serão os mesmos.
Então, finalmente, quem é o discipulador? Alguém cuja vida
espiritual deu certo e cuja realidade de vida é aprovada e reconhe-
cida. Evidentemente, o discipulador não é uma pessoa perfeita e
infalível. Ele é homem e continua passível de erro, no entanto, é
quebrantado e provado por Deus.
É preciso que tenhamos critérios claros de maturidade, pois mui-
tas pessoas vivem uma eternidade nas igrejas e nunca são aprovadas,
simplesmente porque não sabem quando alcançaram o padrão e
não sabem qual é o padrão. À medida que conhecemos o padrão e
o buscamos em oração, é que poderemos alcançá-lo. Não podemos
alcançar aquilo que não conhecemos. O objetivo de Deus não é
que sejamos simplesmente aprovados, mas aprovados e enviados.
O discipulador deve designar outros, a fim de serem discipulados
pelo seu próprio discípulo.
Quanto às pessoas que não estão abertas para serem tratadas e
aprovadas, não se submetem, não querem ser tratadas na sua in-
timidade, não querem ter laços com a liderança constituída, não
querem andar totalmente na luz e no princípio da cruz, mas querem
trabalhar para Deus, precisamos duvidar desse “trabalho para Deus”.
O que elas pensam ser obra de Deus é muitas vezes obra do próprio
ego. Pessoas assim não podem fazer nada na casa de Deus. Pessoas
que não são discipuladas não podem exercer qualquer função na
igreja, nem aquelas consideradas mais simples e elementares. Temos
visto, em inúmeras oportunidades, líderes que foram instituídos e
15º Dia – Qualificações do discipulador 177

que desobedeceram esse princípio. As consequências que isso trou-


xe foram: divisão na casa de Deus, tristeza, juízo e vexame. Foram
pessoas que edificaram monumentos para si próprias.
Precisamos ter uma visão clara para entrarmos na prática do
discipulado, e precisamos ter um padrão claro para constituirmos
qualquer tipo de liderança na casa de Deus.

Princípios espirituais do discipulado


Há pelo menos três princípios espirituais envolvidos
no discipulado:

1 - A herança do manto
É totalmente correta esta expressão popular: “Filho de peixe,
peixinho é”; ou esta: “Diga-me com quem andas que eu te direi
quem és”; ou ainda: “Tal pai, tal filho”. Chamamos de herança do
manto todas as características ministeriais e, em especial, a unção
herdada pelo discípulo. Vemos fortemente isso na Bíblia. Josué
herdou o estilo, a visão, o ministério, a autoridade e a unção de
Moisés; Eliseu herdou o manto de Elias; Timóteo, João Marcos,
Tito e outros herdaram de Paulo.

2- Transferência de unção
A Bíblia diz que Deus tirou do Espírito que estava sobre Moisés
e O colocou sobre os homens que foram escolhidos para auxiliá-
lo. Isso nos fala de termos todos a mesma alma, a mesma visão e a
mesma maneira de resolver as coisas. Ter o mesmo espírito é ter a
mesma disposição e a mesma maneira de pensar. Por isso discipu-
lado é o meio de termos unidade e segurança na obra de Deus. Ter
o mesmo espírito é uma das consequências do discipulado e um
dos princípios espirituais. Após algum tempo vinculado a alguém,
vemos o discípulo cada vez mais parecido com seu discipulador. A
unção pode ser transferida. Em Números 11.16,17 diz:
178 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Disse o SENHOR a Moisés: Ajunta-me setenta ho-


mens dos anciãos de Israel, que sabes serem anciãos e
superintendentes do povo; e os trarás perante a tenda
da congregação, para que assistam ali contigo. Então,
descerei e ali falarei contigo; tirarei do Espírito que está
sobre ti e o porei sobre eles; e contigo levarão a carga
do povo, para que não a leves tu somente.

Deus transferiu do Espírito que estava sobre Moisés e colocou-


O sobre sua equipe. Você terá o Espírito Santo e o espírito do seu
discipulador que está sobre você. Por isso algumas pessoas falam
sobre ligações de alma, que certos líderes estabelecem com o lide-
rado, produzindo uma cadeia mental. Isso realmente existe, mas
esse texto está falando de outra coisa: de você, como discipulador,
passar seu espírito aos seus discípulos.
O espírito a que o texto se refere é a atitude, intensidade, como,
por exemplo, ser faminto, ousado, valente ou passivo, retraído,
parado, isso é espírito. O Senhor vai transferir o espírito que está
em você e compartilhá-lo com seus discípulos, por isso discipular
é compartilhar o espírito. O que você será depende muito do que
seu líder é, porque Deus tirou do espírito de Moisés e o colocou
sobre os demais.
Percebe que coisa séria é ser discipulador? Entenda a responsa-
bilidade, você é o padrão para os discípulos. Deus vai transferir o
que você tem e compartilhar com eles.
Não foi Moisés quem fez, foi Deus quem fez. Isso significa que
esta transferência de unção não é uma questão do discipulador ou
pastor querer, é algo que inevitavelmente acontecerá. Há uma unção
sendo transferida para você. Apenas pelo fato de você estar debaixo
da sua liderança, o espírito é transferido.
15º Dia – Qualificações do discipulador 179

3 - Reprodução do modelo
O modelo que elegemos e temos praticado é o que vamos re-
produzir; seja o estilo, a visão, a intensidade, o modo de agir, etc.
O que temos diante dos nossos olhos, praticamos. Se temos diante
de nós mediocridade, mediocridade produziremos. Por isso, todo
o cuidado com o discipulado, para que formemos seguramente
obreiros segundo o modelo que temos recebido de Deus.
16º Dia

Doze diferenças entre


filhos e empregados

De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo


filho, também herdeiro por Deus. Gl 4.7
Nosso encargo é edificar uma igreja de vencedores. Para alcan-
çarmos esse propósito, precisamos compreender claramente nossa
posição no Corpo. Uma igreja de vencedores não pode ser alcançada
por membros que têm mentalidade de empregado.
Avalie-se à luz do Espírito. Você serve a Deus como filho, ou se
vê como um assalariado, um empregado? “Pastor, o que é isso, eu
não recebo nada aqui nessa igreja. Tudo que eu faço é de boa von-
tade”. Sabe de uma coisa? Há assalariado que recebe o pagamento
em dinheiro, mas há outros empregados que querem receber em
outra moeda. Uma pessoa que tem mentalidade de empregado
quer sempre algo em troca porque não faz aquilo para a família,
mas apenas produz um serviço para uma empresa. Ela não lidera
célula porque é filho, nem tampouco quer se envolver na visão do
182 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

seu pai espiritual. Não! Está envolvida apenas em fazer coisas para
receber algo em troca.
Há alguns anos temos ensinado a Visão do Gerar. Não estamos
aqui para fazer coisas, estamos aqui para gerar filhos para Deus!
Filhos geram, empregados fazem coisas. Na edificação da igreja, eu
sou filho, não um empregado. A obra de Deus não é edificada por
empregados, somente por filhos.
Nesse sentido, gostaria de compartilhar alguns princípios espi-
rituais para que possamos edificar a Igreja do Senhor.

1. Filhos edificam a casa, empregados


simplesmente servem na casa
Você está liderando uma célula ou está edificando as pessoas?
Filhos não apenas fazem coisas, mas geram segundo a vontade de
Deus. Se tivermos que fazer algo, procuramos empregados para nos
ajudar, mas o resultado do gerar é sempre os filhos. Se desejarmos
edificar a igreja, precisamos de filhos e não de empregados.
Pessoas com a mentalidade de empregado sempre chegam di-
zendo que querem apenas ajudar a fazer algo e se limitam apenas
àquilo que lhes foi mandado fazer. Sua disposição se limita ao fazer,
mas nunca ao ponto de gerar. Sabe por quê? Porque é muito mais
simples ser um empregado e fazer coisas do que ser pai e gerar fi-
lhos. A relação com o empregado é mais fácil do que a relação com
filhos, mas somente estes trazem realização.
Outro aspecto é o fato de que o empregado nunca toma iniciati-
va, somente faz o que lhe é mandado. No nosso “Manual da Visão”,
definimos que não queremos na igreja este tipo de líder: que faz
somente o que lhe mandam, ou que não cumpre o que lhe mandam.
Empregados se limitam a fazer somente aquilo para o que foram
contratados. Quando veem coisas erradas, ignoram, fingem que
não viram. Se chegam ao prédio e veem algo caído no chão, logo
16º Dia – Doze diferenças entre filhos e empregados 183

pensam: “Eu não tenho nada a ver com isso, não é função minha,
não fui contratado para esse serviço”. Quem é filho sente encargo
pela casa, sente encargo pela família. Se o filho chega em casa e vê
algo pegando fogo, não pensa: “Eu não tenho nada a ver com isso,
isso é função do meu pai”. Ele não diz isso, sai gritando e toma
atitude até resolver a questão. Caso não consiga resolvê-la sozinho,
faz um escarcéu, um estardalhaço até que seu pai o auxilie e a casa
esteja protegida.
Somente filhos edificam permanentemente. Se você deseja fazer
parte da edificação da casa de Deus, você tem que ser filho. Só os fi-
lhos podem edificar a casa. Empregados e assalariados não o podem.

2. Filhos incorporam o coração do pai e


tomam o sucesso do trabalho do pai como
sendo deles
Se não vos tornastes fiéis na aplicação do alheio, quem
vos dará o que é vosso? Lc 16:12
Quero lhe mostrar algo muito sério: Empregados sempre querem
tomar alguma coisa. Filhos herdam. No ano passado, tivemos dois
ou três casos de discipuladores que quiseram sair da igreja. Essas
pessoas não eram filhos. Sabe por quê? Porque eles queriam logo a
paga do seu trabalho. Naquela época, levantamos onze obreiros para
serem testados para o ministério pastoral e eles não estavam entre
eles. Então, vieram me procurar: “Pastor, nós achamos que nosso
tempo aqui já encerrou, pois o fulano e o beltrano foram levantados
e nós não fomos. Já era hora de sermos também levantados aqui!”
Eu falei a cada um deles: “Irmão, espere o seu tempo, não chegou
ainda a sua hora, mas vai chegar”.
Como não eram filhos, acharam que estavam trabalhando para
mim. Então disseram: “Em vez de trabalhar aqui para o senhor vou
trabalhar para mim mesmo! Vou sair e abrir a minha igreja!” A ideia
deles é que estavam trabalhando para um homem, ou seja, fazendo
184 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

algo para alguém. Eram meros empregados. Nós não sabíamos, mas
tínhamos empregados disfarçados de filhos.
Filhos não agem assim, sabe por quê? Filhos sabem que vão her-
dar na hora certa! Filhos regozijam-se diante do sucesso do pai. Eles
não buscam tomar o que é do pai porque sabem que tudo também
lhes pertence. O filho amoroso não fica torcendo para o pai morrer
logo. Somente o filho pródigo, que antes de o pai morrer pediu a
parte da herança que lhe cabia e, mesmo assim, reconheceu mais
tarde que estava errado e voltou atrás. Não somos assim. Estamos
esperando em Deus porque servimos a Deus! Mas estamos servindo
na família. Todavia, empregados sempre estão esperando a oportu-
nidade para tomar algo.
Todos começam sua vida no Reino tendo oportunidade para ser
fiel àquilo que pertence a outros. Você vai receber o ministério do
seu pai espiritual. É o seu pai que reconhece você, é o seu pai que
vai colocar você nos ombros dele e alçar você a uma posição maior.
É o pai. Eu procuro ser pai dos pastores que estão comigo e tam-
bém daqueles que foram enviados. Eles sabem que podem contar
comigo porque reconhecem que são filhos e me veem como pai.
Nós somos a mesma família, estamos no mesmo empreendimento
santo, edificando o Reino de Deus.
E você? Você se coloca como um filho do seu discipulador? Para
você, o seu discipulador é apenas alguém que manda, um chefe, um
supervisor, ou você o tem como pai espiritual na sua vida? Você o
reconhece como alguém que pode falar da parte de Deus em sua
vida? Você é transparente ao ponto de abrir suas lutas, seus medos,
suas tentações, ou se limita apenas a prestar contas do seu trabalho
ou atividade?
Se quisermos edificar uma obra prevalecente, precisamos estar
aliançados como família, como pais e filhos espirituais. Não estamos
interessados no que você pode fazer, nem naquilo que você pode
16º Dia – Doze diferenças entre filhos e empregados 185

dar. Estamos interessados em tê-lo junto conosco para edificarmos


a igreja do Senhor Jesus.

3. Filhos são sempre voltados à família,


empregados estão sempre focados nas
questões problemáticas do ministério
Os empregados sempre procuram dividir a família por causa de
um problema. Sabe por quê? Porque não são da família, por isso
eles não se importam em fazer confusão no meio dela. Uma vez
que estão preocupados somente consigo mesmos, seus interesses se
sobrepõem aos interesses da família.
O empregado nunca tem a agenda do pai. Ele está lá para fazer
sua própria obra. Um filho se preocupa com o que o pai se pre-
ocupa. Seu coração está na família, por essa razão, sempre pensa
corporativamente. Filhos sempre pensam em termos de corpo, em
termos de igreja. Mas empregados sempre estão reivindicando seus
próprios direitos.
Filhos não ficam desconfiados da posição dos pais. Empregados
estão sempre desconfiados. Para eles, seu patrão sempre está buscan-
do um meio de explorá-los. Por essa razão, estão sempre insatisfeitos
com o lugar onde estão. É comum vermos empregados insatisfeitos,
sempre procurando um lugar melhor para trabalhar. Não vemos
filhos procurando outras famílias para viver, pois sabem que não se
escolhe a própria família.

4. Filhos usam a linguagem da família,


empregados usam terminologia própria
Como podemos saber se alguém é filho ou não? Filho não tem
constrangimento de se parecer com a família. Filhos não têm o
constrangimento de ter o sotaque da família, nem de falar as ex-
pressões da família.
186 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Certa vez fui a uma loja de eletrodomésticos com outro pastor


de nossa igreja. Ao conversarmos sobre algo, a atendente nos in-
terrompeu: “Vocês são da Videira!”. Eu pensei comigo: “Ela deve
ter me visto na televisão”. Perguntei a ela se assistia ao nosso pro-
grama e ela nem sequer sabia que tínhamos. Diante dessa resposta,
perguntei: “Como você sabia, então, que somos da Videira?” Ela
respondeu algo que me deixou muito alegre: “Vocês falam todos
do mesmo jeito!”
Nós não percebemos isso aqui, mas os filhos tendem a falar
do mesmo jeito dos pais. Certa vez, um jornalista perguntou para
um pastor da Igreja Universal do Reino de Deus: “Escuta, por
que vocês falam tudo igualzinho?”. Nunca me esqueci da resposta
que ele deu: “Falamos igual porque temos um mesmo coração!
Temos o mesmo coração, então é inevitável termos também a
mesma linguagem”.
Famílias são assim. Fico vendo minha própria família. Existem
algumas coisas que ouvimos nossos pais e avós dizerem, que fala-
mos até hoje. Em uma ocasião, estava no acampamento na hora
de dormir e falei para um pastor: “Irmão, você tem que rebuçar até
a cabeça, senão a muriçoca vai te comer vivo”. Ele retrucou: “Tem
o quê?” Respondi: “Rebuçar! Não sabe o que é isso? É se cobrir! Se
cobrir!” O irmão era da cidade grande e não entendeu o que eu es-
tava dizendo. Falei isso de maneira tão normal e espontânea, porque
na minha casa era assim que falávamos! Na família Videira também
temos coisas próprias que falamos. Você resiste a nossa linguagem,
ou ela também é sua?
Pelas palavras que saem de nossa boca, podemos reconhecer
aqueles que são filhos e os que são empregados. Filhos sempre usam
pronomes que apontam para a família. Eles sempre dizem “nós,
nosso, nos”. Empregados sempre pensam somente em si mesmos e
por isso dizem “eu, meu, eles”.
De fora, criticam sempre o Corpo porque não se veem como
parte dele. Empregados criticam a igreja, a obra, porque são meros
16º Dia – Doze diferenças entre filhos e empregados 187

trabalhadores. Se você aponta o dedo e se levanta dizendo que a


igreja é assim ou assado, você está se colocando fora dela. Se você
se colocou fora é porque você não se vê como filho, como parte
da família. “É, a igreja tem muitas coisas para mudar, a igreja tem
muita coisa errada!”, diz o empregado. O filho fala: “A nossa igre-
ja, a nossa casa, a nossa família. Temos muitas coisas para mudar.”
Empregados sempre apontam sua listinha de defeitos, mas nunca se
dispõem ao preço de solucioná-los. Filhos não ficam preocupados
em encontrá-los, porque filhos se colocam dentro, filhos se veem
como parte da história.
Outro aspecto importante é que filhos trabalham por amor à
sua família. Seu prazer está em sua família. Os empregados, porém,
sempre trabalham esperando o salário. Cedo ou tarde eles cobrarão
a remuneração ou o pagamento. Você já ouviu pessoas dizerem:
“Fizemos tanto por essa igreja, ajudamos tanto esse pastor e, agora,
o que recebemos?” Nem sempre cobram um pagamento em dinhei-
ro, há muitos outros tipos de moeda. Há pessoas que esperam pelo
salário do elogio, do reconhecimento, dos privilégios e da honra
diante dos homens.
Acabei de mencionar que por uma razão ou outra ficaram insatis-
feitos com a igreja e disseram: “Vou sair da igreja”. Qual a primeira
coisa que dizem? “Trabalhei tanto nessa igreja. Liderei célula nessa
igreja tantos anos, e agora olha o que eu recebo em troca?” Espere um
momento: Você estava trabalhando como assalariado? Por que não
nos contou? Teríamos combinado antes a maneira do pagamento ou,
melhor, nem aceitaríamos o seu trabalho.
Gostamos de trabalhar com filhos. Não podemos fazer a obra de
Deus com empregados. Não queremos contratá-los! Muitas vezes
nos iludimos com irmãos que pensávamos serem filhos, mas eram
apenas empregados. Empregados vão embora. Filhos ficam para a
vida inteira.
188 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

5. Filhos honram a autoridade e cobrem a


nudez de seus pais, empregados negociam
para se promoverem expondo a nudez
O Salmo 127 tem um versículo muito interessante. A Palavra
do Senhor diz a respeito dos filhos:
Herança do Senhor são os filhos, o fruto do ventre o Seu galar-
dão, a Sua recompensa! Feliz o homem que enche deles a sua aljava;
não será envergonhado, quando pleitear com os inimigos à porta.
Observe esse teste. Aljava era o lugar onde se guardavam flechas.
Normalmente, nela cabiam sete. Portanto, a Bíblia está dizendo:
“Feliz é o homem que tem sete filhos, porque não será envergonhado
quando enfrentar os seus inimigos à porta”. Sabe por que a Bíblia
afirma que é feliz o homem que têm filhos? Porque quem tem filho
não luta sozinho! O filho sempre luta ao lado dos pais!
Como sabemos quem é filho ou não? Aquele que nos defende
no dia da guerra é filho. O que se junta ao inimigo para jogar
pedra é somente um empregado. Empregado acha bom quando
falam mal do patrão. Quando alguém fala do patrão, ele até ri
e comenta: “Você não sabe nada, vou te contar mais um pouco
do que eu sei!” É um fato: Filhos nunca ficam felizes expondo
a nudez da autoridade espiritual. Empregados usam a nudez da
autoridade para promoverem a si mesmos. Veja o exemplo de Noé
e seus filhos (Gn 9.20).
Experimente falar mal da mãe do garoto se ele estiver por perto
para você ver! Quando era criança, algo em minha turma era inacei-
tável: falar mal de algum dos pais. Era pancadaria na certa. Seu pai
pode ser aquele safado de marca maior, mas ninguém tem o direito
de falar isso dele perto de você, senão o tempo fecha!
Sabe por que temos filhos? Para no dia da guerra não lutarmos
sozinhos! Temos filhos para não termos que enfrentar o inimigo
cara a cara sozinhos. Queremos filhos que digam: “Pai, eu estou
16º Dia – Doze diferenças entre filhos e empregados 189

contigo, onde o senhor for eu irei também! Se é para levar, vamos


levar juntos, mas o senhor não vai sozinho”. O que traz consolo
para o pai é saber que os filhos estão ao seu lado.
Quando alguém se levanta para falar mal do seu discipulador, o
que você faz? Você consente, concorda, ou se coloca ao lado dele e
diz: “Não me interessam os defeitos que ele tem, sei que ele os tem,
mas eu estou com ele, vou caminhar com ele, é assim que vai ser e
não aceito que fale mal dele”. Esse é filho! Nessa situação, aquele que
é somente um empregado dá um risinho de lado e não se posiciona.
Filhos não gostam quando seus pais são agredidos! Não agrida os
pais perto dos filhos. Não há ofensa maior. No dia da guerra, filhos
lutam ao lado do pai. Assalariados vão embora.

6. Filhos espontaneamente honram a


sequência de comando, empregados
assalariados continuamente questionam
essa sequência
Vou ensinar-lhe um teste para você saber se é filho ou não. É
um teste simples. Você é capaz de se submeter a alguém com quem
você não se identifica com o jeito? Se você se submete somente a
quem você gosta, você é assalariado. Filhos podem ter dificuldade,
mas não mudam de família porque foram contrariados.
Hoje em dia vemos um grande rodízio de membros entre igre-
jas. Por que as pessoas mudam tanto de igreja? Porque não são
filhos de verdade! Elas não vão com a cara do novo líder, não se
identificam com seu tipo de liderança e saem. É como se disses-
sem: “Não gostei desse. Vou mudar de emprego”. Cuidado com
isso! A igreja só é edificada genuinamente por filhos. Assalariados
só trazem confusão.
Um bom soldado se submete a qualquer comandante. Reino
significa governo. Jesus opera através da autoridade delegada na
190 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

terra. É assim que Ele reina. Toda autoridade é estabelecida por


Deus (Rm 13.1). Quem rejeita a autoridade espiritual, rejeita Aquele
que a constituiu.

7. Filhos querem compartilhar suas vidas


com o pai, mas empregados querem apenas
ajudar no serviço
Você já viu aquelas pessoas que chegam e dizem: “Pastor, eu
estou aqui para ajudar, quero somente dar uma mãozinha”. Nós
não queremos ajudantes nem voluntários nem empregados para
fazer coisa alguma. Queremos gerar filhos, pessoas que foram
compradas pelo sangue de Jesus e têm a convicção do chamado
de Deus. Sabe o que acontece? No começo, filhos não sabem fazer
direito, fazem mais lambança do que ajudam. Você vai ensinar
seu filho a varrer, ele mais suja do que varre! Os pais genuínos
permitem, mas será que os filhos de fato cooperam? Atrapalham
mais do que ajudam, mas, sabe de uma coisa?, eles vão ficar na
casa até o fim. Querem participar da obra que se faz na casa. Em-
pregado pode ajudar muito hoje, mas amanhã vai embora. Não
tem compromisso de ficar.
Filhos às vezes fazem bagunça, é verdade, mas se forem filhos,
vão crescer um dia e, aí sim, estarão aptos a edificar. Não queremos
meramente alguém para nos ajudar a fazer algo. Nós queremos filhos.
Outro fator importante é a questão da visão. Antes que o filho
viesse, Deus já havia dado uma visão ao pai. Filhos recebem a visão
do pai e dão o primeiro lugar a ela, pois reconhecem que ela é a
visão da casa. Filhos assumem a visão do pai porque reconhecem
que ela vem antes de sua própria visão. Ainda mais, eles identificam
essa visão como a sua própria visão, porque o seu coração está na
família. Não procuram mudar a visão da família, antes, servem a
visão da casa. Contudo, empregados sempre estão querendo levan-
16º Dia – Doze diferenças entre filhos e empregados 191

tar questões e determinar visões paralelas dentro da visão, gerando


divisões no Corpo.

8. Filhos ligam pessoas novas à família e ao pai,


empregados ligam pessoas novas a si mesmos
Você sabe por que isso acontece? Porque o empregado não está
edificando a casa! Ele está edificando a sua própria visão dentro da
casa, o seu interesse pessoal dentro da casa. Não está preocupado em
edificar a obra da família porque ele não é da família. Está preocu-
pado em realizar o seu próprio interesse. Assim sendo, ele procura
ligar e envolver as pessoas. Seu coração não está no Corpo, na visão
da família, mas em seus próprios interesses.
Cuidado com as pessoas perto de você que estão preocupadas em
edificar algo para si mesmas. Provavelmente não são filhos. Filhos
edificam para a família. Filhos cooperam com o pai.

9. Filhos focalizam a edificação,


empregados focalizam as aparências
Às vezes empregados têm que fazer de conta que uma célula
existe, então colocam no relatório nomes e números como se
existissem, mas na verdade não existem. Por quê? Porque em-
pregado tem que mostrar números, empregado tem que mostrar
determinada aparência, porque ele é aceito por ela. Empregados
baseiam sua aceitação naquilo que fazem, mas os filhos sabem
que são amados e aceitos por aquilo que são. Filhos são aceitos
de qualquer jeito, não importa como eles venham. Um filho
pode errar, pode falhar, mas ele continua sendo filho e nada
pode mudar essa realidade.
Filhos não têm que inflar nada, nem que mostrar a aparên-
cia das coisas. A importância e a autoestima do filho procedem
do pai, mas empregados precisam inflar números para parecer
bem-sucedidos.
192 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

10. Filhos compartilham sua vida íntima,


empregados somente dizem o que querem
que você saiba
Jesus disse em João 15.15:
Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que
faz o seu senhor, mas tenho vos chamado amigos, porque
tudo quanto ouvi de meu pai vos tenho dado a conhecer.
Vida íntima é o que realmente você pensa e em que realmente
você acredita. Vida íntima é expressar o coração. Filhos comparti-
lham o coração, mas empregados falam somente o que você quer
ouvir. Empregados estão sempre bem, não importa o que aconteça,
eles sempre querem parecer bem. Mas o filho vai encontrar um
momento para abrir o coração com o pai. Vai chegar a hora em
que ele não vai aguentar a pressão e vai compartilhar com o pai.
Então pergunto: Você tem um pai espiritual, alguém com quem
você se relaciona dessa maneira? Tenha uma atitude de filho para
com aquele que Deus constituiu sobre sua vida.
O que importa é a sua atitude. Você percebeu que estou falando
de duas atitudes? Atitudes de filho e atitudes de assalariado. Qual
a sua atitude? As atitudes que de fato edificam são as de filho. Não
importa a atitude que seu pai tenha, seja filho. Não importa se o
seu pai não é o pai com o qual você sonhou, seja filho. E falo isso
tanto para o natural como para o espiritual. Existem muitos filhos
que rejeitam seus pais naturais porque não são do jeito que eles que-
riam. Seja filho, não importa o jeito do seu pai, seja filho e honre-o.

11. Filhos estão seguros e aguentam a


correção e disciplina, empregados colocam
culpa em outra pessoa
Empregados não suportam disciplina. Não podem assumir a
responsabilidade porque se sentem inseguros. Têm receio de serem
16º Dia – Doze diferenças entre filhos e empregados 193

demitidos, ou seja, rejeitados. Filhos estão dispostos a assumir a culpa


e a responsabilidade porque estão seguros de sua posição de filho.
O empregado sempre fala como quem está de fora, por isso
sempre vai culpar alguém. Ele nunca é responsável por nada. Eis
mais um teste crucial para nós sabermos quem é filho e quem não
é: Filhos aceitam disciplina; empregados não toleram tratamento.
Quem é empregado não aceita que alguém trate com ele, exortando-
o, ou corrigindo-o. Quando isso acontece, sua primeira atitude é
mudar para outro lado da igreja. “Vou continuar aqui, mas andando
em outro lugar”, é o que dizem. E se for tratado de novo, resolve
então mudar de igreja. Por quê? Porque é assalariado, empregado
não tolera receber exortação de chefe nenhum. Se há uma coisa que
irrita empregado é ser exortado.
Filhos não vão embora porque o pai os disciplinou. Filhos não
abandonam a casa porque foram exortados e até corrigidos. Filhos
choram, às vezes ficam até emburrados, mas não desistem do rela-
cionamento, não desistem do pai e da mãe porque foram corrigidos.
Na verdade, depois até entendem que foi uma expressão de amor.
De amor genuíno.
Nós somos pais. Tratamos com o que está errado por amor aos
nossos filhos, porque acreditamos que precisam ser guardados, prote-
gidos. “Não, mas eu abri meu coração pastor!” Abriu? Ótimo! Agora
vai ser corrigido, para o seu bem! Esse é o sinal se você é filho ou
não, querido! Se for empregado, você pega as malas e vai embora no
mesmo dia. Se for filho, você fala: “Me ajuda então, vamos comigo
lá!” Porque filho faz isso também. Ele pede: “Vamos comigo pai,
você fala, me ajuda. Não deixe o negócio piorar muito!” Aí a gente
vai, tem aquele trabalhão todo que todo pai tem. É assim mesmo
que deve ser. Quando você vê alguém querendo ser filho, querendo
mudar, se dispõe a ajudá-lo!
Não desistimos porque o filho errou. Na verdade parece que
aqueles que mais aprontam são os que a gente mais ama. O pai quer
194 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

guardar, vigiar, e nunca desiste de seus filhos. É assim que tem que
ser. Filhos abrem o coração, filhos suportam a disciplina.

12. Filhos podem ser ajudados no seu


potencial, empregados já chegam crescidos.
Não se pode acrescentar nada a eles, mas
eles tentarão acrescentar a você
Filhos chegam para aprender. Empregados já sabem tudo. Não
se pode acrescentar nada a eles, mas eles é que vão tentar mudar e
acrescentar algo a você.
Novo convertido é assim. Certo domingo, após o culto, veio
um irmão líder de célula me apresentar cinco irmãos que foram
batizados em sua célula. Cinco pessoas só de uma célula. Empol-
gante. Então, o líder falou para mim assim: “Pastor, é o seguinte:
Nós já nos reunimos na célula, e já decidimos que essa é a anfitriã
e os demais são líderes em treinamento”. Então, uma se levantou e
disse: “É, eu sou mesmo, o que eu sou mesmo?” O líder respondeu:
“Você é a anfitriã”. Ela confirmou: “É, é isso aí que eu sou, anfitriã!”
Estava na cara que ela não sabia o que era. Mas o que mais me
deixou impressionado foi o líder! Tem líder que precisa amadurecer,
mas é filho. Ele chegou e falou: “Pastor, é o seguinte: Já ensinei para
elas que amamos o Pr. Aluízio.” Eu respondi: “É mesmo?” Então,
subitamente todos se ajuntaram e disseram em uma só voz: “Pastor
Aluízio, nós amamos você!” Eu então falei: “Que coisa! Já ensinou
tudo isso para eles?”, brincando com o líder. Como filho, ele con-
sidera isso algo fundamental, que eles têm que aprender a amar o
pastor, os pastores, tudo o mais.
O mais interessante nessa história é que os novos convertidos
não ficaram questionando. Eles não ficaram falando: “Por que tem
anfitrião aqui? Por que tem esse nome tão esquisito? Vamos mu-
dar esse nome por outra coisa?” Eles não ficaram questionando:
“Célula? Por que célula? Não, não quero frequentar célula não, só
16º Dia – Doze diferenças entre filhos e empregados 195

quero vir domingo”. Eles não questionaram! Sabe o que acontece?


Filhos apenas perguntam: “Como é aqui na igreja?” Aqui na igreja
é assim: tem célula durante a semana e domingo você vem para o
culto. “Ah, então é assim? Ok, assim será!” Não questionam, não
querem mudar, não querem transformar nada porque são filhos,
nasceram aqui, eles querem chegar e querem viver a vida da família.
Agora, pegue alguém que veio de fora. Pegue alguém que não
foi gerado! Ele chega questionando tudo! “Por que é assim? Por que
a célula é assim? Por que tem que ter essa parte? Não, lá de onde
eu vim não tinha isso e nunca precisou! Por que é líder em trei-
namento e não líder auxiliar? Não, eu sou líder auxiliar e não em
treinamento!” “Mas irmão, aqui na igreja é assim que acontece”.
O empregado sempre quer tirar satisfação e reclama: “Não, eu vou
falar com Pr. Aluízio sobre isso.”
Existem irmãos que marcam comigo longas entrevistas para
mudar a igreja, porque não vieram para aprender, para ser filhos,
acham que já têm, que já sabem. Eles vêm para mudar a igreja,
porque não são filhos.
Queremos edificar a igreja com filhos. O senhor quer edificar
a igreja com base nesse relacionamento. Não somos uma igreja de
multidão simplesmente. Não somos um amontoado de crentes
aqui, jogados, sem vínculos. Cada um de nós tem um pai espiritual.
Você está na célula, o seu líder é um pai espiritual para você. Você
que é líder, o seu discipulador é um pai espiritual para você. Você,
discipulador, o seu pastor é um pai espiritual para você. Agora, a
grande questão é: Você é filho, ou você é assalariado?
17º Dia

O valor de um
discipulador

Por que é importante ter um discipulador? Por que é importante


estar vinculado a alguém espiritualmente? Quando você se coloca
debaixo da autoridade de alguém, você recebe algo espiritual daquela
pessoa. Não me refiro somente à unção, mas também à sabedoria,
ao conhecimento e à revelação. Coisas preciosas são transferidas
num relacionamento de discipulado.
Há duas maneiras básicas de você aprender as coisas. Você
aprende através dos erros ou através de um instrutor. Quando bus-
camos aprender pela tentativa, arriscamos algo e tentamos (às vezes
repetidamente) até acertar. Isso é válido? Sim, algumas vezes não
temos alternativa. Contudo, iremos investir muito tempo e ainda
poderemos nos machucar muito no decorrer do processo. Porque
dependendo do que você estiver aprendendo, ou tentando aprender,
você poderá se machucar ao manusear.
198 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Tendo alguém que nos instrua, iremos remir o tempo, anda-


remos mais rápido e inevitavelmente estaremos mais protegidos.
Portanto, é muito melhor termos um instrutor que nos ensine o
caminho mais apropriado.
Tudo de que você necessita é de sabedoria. A sabedoria é o que
determina o seu sucesso na vida ou no ministério. A sabedoria é a
chave para o sucesso e a vitória. Muitos de nós já ouvimos no mun-
do que informação é tudo. Todavia, dizer que informação é tudo
é incompleto. Informação não é tudo. A maneira como você lida
com essa informação é o que realmente conta. A Bíblia chama isso
de sabedoria. É saber o tempo e o modo das coisas.
Vamos analisar: Por que há pessoas que não conseguem ganhar
dinheiro? Porque elas não sabem algo que o outro sabe e, por isso,
o outro está ganhando. Existe algo que você não sabe a respeito
desse assunto que o está impedindo de ter sucesso. Por que certos
casais têm problemas no casamento? Porque eles não sabem algo,
está faltando para eles o conhecimento de como ter um casamento
feliz. Se tiverem o privilégio de ter alguém que conte para eles o
segredo, poderão mudar.
Esse princípio se aplica a todas as áreas da vida. Se não estiver
funcionando, se não estiver obtendo o resultado que você esperava,
é porque tem alguma coisa que você deveria saber e que não o ensi-
naram. Não é precioso ter alguém que nos instrua, que nos oriente
a termos sucesso? Quanto sofrimento teríamos evitado, no começo
de nosso casamento, se houvesse alguém que tivesse nos instruído?
E se alguém mais experiente chegasse e lhe desse uma fórmula? Não
há fórmulas, mas existem princípios. Existem sugestões que podem
mudar a história de alguém em determinado momento.
Uma instrução é suficientemente poderosa para mudar a vida de
uma pessoa. Certo dia, ouvia no rádio um testemunho em que o
irmão dizia que a vida dele foi mudada porque ouviu um pregador
falar o segredo de se ter um casamento feliz. Certo momento, alguém
perguntou: “Conta para a gente qual é o segredo?”. O pregador
17º Dia – O valor de um discipulador 199

falou: “O segredo é um copo d’água”. Ele retrucou: “Mas, um copo


d’água? Um copo d’água? Ah, por favor!”. Então, o pregador lhe
ensinou: “Não, é assim: quando você chegar em casa e a sua esposa
estiver brava, você pega água, põe em um copo, leva à boca e segura.
Quando ela acalmar, você bebe”.
Então fiquei pensando, na verdade a chave não é a água. Con-
tudo, não é precioso ter alguém que nos ensine coisas tão simples
quanto essa, mas que podem ter um efeito enorme no casamento?
“Ah, se eu tivesse um copo d’água naquele dia, quanta coisa teria evi-
tado”. Quantos já falaram coisas das quais se arrependeram depois?
Sabe o que faltou? Alguém lhe falar sobre o “poder do copo d’água”.
Esse é o valor de um discipulador. É ele que pode abençoá-lo,
fazendo isso. Gostaria de compartilhar os valores de um bom dis-
cipulador sobre a sua vida.

1. O seu discipulador é uma das chaves do


seu crescimento
Provérbios 4.7 diz: “O princípio da sabedoria é: adquire a sa-
bedoria, sim, com tudo o que possuis, adquire o entendimento”.
O princípio da sabedoria é: Adquire sabedoria. Em outras pa-
lavras, se o meu discipulador tem algo para me ensinar, eu quero
aprender. Eu vou absorver tudo o que ele tem. O que Provérbios
está ensinando é que o começo, o princípio, a base da sabedoria é
querermos ser sábios. Deseje aprender. Busque saber o que o outro
tem. As pessoas pensam que somente o pregador sabe as coisas, mas
isso é um grande engano.
Todos temos um tesouro, um depósito que o Senhor nos tem
dado. Deus tem distribuído uma medida para cada um de nós. São
coisas que aprendemos pela caminhada, pela experiência com o Se-
nhor. Quantas vezes vemos uma pessoa entrando por um caminho
errado que já trilhamos, tentamos alertá-la e ela simplesmente diz:
200 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

“Por favor, não interfira nisso, deixe que eu ande sozinho”. Pensamos
então: “Oh Deus! Ela vai apanhar como eu apanhei”.
Lembro-me de uma irmã preciosa que um dia veio buscar conse-
lho para se casar e eu lhe disse: “Irmã, esse rapaz não é crente, você
deve se separar dele, pois é melhor ficar solteira do que mal-casada”.
Ela então falou: “Para quem já é casado, é muito fácil falar”. En-
tão, resolveu seguir adiante em sua vontade. Poucos meses depois,
me procurou dizendo: “Pastor, eu quero que você me mostre cada
moça que estiver tentando casar com alguém que não é crente. Eu
quero criar uma sala na igreja para ajudá-las a não cometer o erro
que cometi”.
Não excluímos ninguém porque tomou uma decisão equivo-
cada. Entretanto, não é fato que muitos poderiam ser muitíssimo
abençoados pela instrução de irmãos mais experientes? Imagine
aquelas irmãzinhas solteiras, não fariam bem em ouvi-la, adquirin-
do conhecimento? Para que repetir o erro se tem alguém que pode
ajudar a não cometê-lo? Para que repeti-lo?
Provérbios 8.17 diz assim: “Eu amo os que me amam, e os que
me procuram me acham”.
Nesse versículo, a própria sabedoria está falando: “Eu amo os
que me amam”, ou seja, eu estou à disposição daqueles que que-
rem ser sábios. Observe a chave que Deus nos revela: Os que me
procuram, me acham.
O povo de Israel ficou dando volta durante quarenta anos no
deserto. Para quê? Você pode economizar tempo em sua vida. Temos
pastores na Videira que se converteram há seis anos. Eu demorei
o dobro desse tempo para ser ordenado. Qual é a bênção de Deus
nisso? É que eu, com os meus vinte anos de ministério em tempo
integral, posso explicar para eles algumas coisas que fiz de errado,
e dizer-lhes, “Não façam isso porque eu já fiz e não funciona”. E
sabe o que é bom? Eles têm recebido o conselho e, em muito pouco
tempo, chegado a posições que eu demorei a alcançar.
17º Dia – O valor de um discipulador 201

Eu já fui tão ingênuo e tolo... Eu achava bonito dizer: “Eu


quero aprender sozinho”. Achava que era inteligente falar: “Deixa
que eu cometa meus próprios erros, que eu tenha minhas próprias
experiências”. Eu achava que isso era ser inteligente. Mas não é.
Desprezar a experiência de discipuladores e de mestres é tolice, diz
a Bíblia. Não a despreze. O seu discipulador foi colocado em sua
vida como uma das chaves do seu crescimento espiritual. Não é a
única, talvez nem seja a maior, mas é uma chave. Na sua vida, ela
é importante. Ouvir o conselho de homens e mulheres de Deus é
importante. É para isso que temos discipuladores em nossa igreja.
Eu não quero nunca que o seu discipulador se torne meramente
um supervisor das células.
Não quero que o discipulador seja um mero vigia. Não quero
que o discipulador combine de visitar sua célula e você diga para
os membros: “Irmãos, o supervisor vem aqui hoje, vamos arrumar
tudo porque ele está chegando”. O seu supervisor é seu discipulador.
Ele está lá para ajudá-lo, para instruí-lo. Caso ele não saiba como
ajudá-lo, ele também tem discipulador sobre ele para auxiliá-lo. E
se ninguém souber, fique em paz, o Espírito Santo está aqui para
nos guiar a toda a verdade. Há coisas que ninguém sabe, essa é a
verdade. Mas o Espírito de Deus pode todas as coisas. Então, não
temos que temer.
Não temos de pensar que precisamos aprender tudo diretamente
de Deus. Eu chamo isso de complexo de Adão. Deus não vai ensi-
nar tudo diretamente a você. Aquilo que Ele ensinou ao seu irmão,
Deus espera que você aprenda com ele.
Todavia, há irmão que diz: “Eu vou orar, buscar e aprender direto
de Deus”. Deus então não fala, não importa o quanto ore ou bus-
que. Sabe por quê? Porque você está sendo arrogante e orgulhoso.
Vá aprender com o seu irmão, ele já sabe.
Geralmente é o nosso orgulho que nos impede de ter de fato um
discipulador. Qual é a maior dificuldade do discipulado? O orgulho.
Há pessoas que acham uma grande ofensa ter um discipulador. Mas
202 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

é uma bênção para você, é uma bênção para a sua célula, para o seu
casamento, para a sua vida.
Você não deve ter receio de abrir sua vida ao seu discipulador.
Assim como Jesus, nós nunca esmagamos a cana quebrada. Existe
uma coisa que me deixa angustiado, irmão que tem vida dupla. Mas
se há algo que compreendo e me compadeço é quando alguém vem
a mim e abre as suas fraquezas. Qualquer um que haja assim comigo
já ganha minha atenção e respeito. Todavia, se outra pessoa me conta
a respeito de alguém que está aprontando, eu considero deslealdade.

2. O discipulador transfere sabedoria a


você por meio do relacionamento
Quem anda com os sábios será sábio, mas o companhei-
ro dos insensatos se tornará mau. Pv 13:20
Esse versículo parece um ditado popular, mas é bíblico. A Pala-
vra está afirmando que aquele que anda com o sábio não se tornará
insensato. Essa lei espiritual determina que o que anda com o sábio
se tornará sábio.
Escolha andar com o sábio. É por isso que o princípio da sa-
bedoria é: adquire sabedoria, ou seja, escolha com quem você vai
andar. Ande com quem é sábio. Cultive amizades que o levem a
ser mais espiritual.
Desde a adolescência caminho com o Pr. Marcelo Almeida.
Lembro-me de vezes que o encontrava, com quinze anos de idade,
com os olhos inchados e vermelhos de tanto chorar e lhe perguntava:
“O que foi irmão?” Ele respondia: “Preciso mais de Jesus”. Isso me
deixava em crise: “Eu sou carnal demais. Eu preciso chorar mais,
eu não choro!” Ficava mal. Entendeu o que eu estou dizendo? Não
é uma bênção isso? Alguns anos depois, estávamos os dois fazendo
faculdade. De repente, um dia no ônibus ele vira e fala: “Vou largar
tudo!” Largar o quê, irmão? “Vou largar a faculdade, vou largar tudo,
eu vou para o seminário. Não aguento mais! Tenho que ser pastor,
17º Dia – O valor de um discipulador 203

eu sou um homem de Deus”. No outro dia, ele largou tudo. Foi


até um seminário daquele tipo monástico, com uma vida duríssima
lá dentro, sem sustento, sem nada. Não tinha dinheiro nem para
o básico. O coitado tinha que orar para ter sabonete. Já orou por
um sabonete alguma vez na vida? Mas sabe o que é bom em andar
com gente assim? É que você é desafiado. Ele não foi um discipula-
dor, alguém que tivesse autoridade sobre mim, mas só pelo fato de
andar com ele, fui “puxado” para cima, porque o Marcelo é o cara
mais radical que eu conheço. Penso que ele e o Naor Pedroza estão
disputando quem é o mais radical. Eles são do time dos radicais há
muito mais tempo do que eu. Não sou radical. Radicais são eles.
Ande com o sábio, que você ficará sábio também. Ande com
o seu discipulador. Ele é discipulador porque, de alguma maneira,
alguém passou sabedoria para ele, pode ter certeza.
Não estou dizendo que ele é perfeito. Mas, dentro dos limites
da humanidade que o Senhor nos dá, podemos ser sábios. Anda
com gente assim. É uma escolha sua. O seu discipulador é esse
instrumento de Deus.

3. O discipulador faz crescer a sua


influência
Dt 34.9 – Josué, filho de Num, estava cheio do espí-
rito de sabedoria, porquanto Moisés impôs sobre ele
as mãos; assim, os filhos de Israel lhe deram ouvidos e
fizeram como o SENHOR ordenara a Moisés.
A sua influência depende muito de com quem você anda. De-
pendendo do discipulador que você tem, a influência aumenta. Se
você anda com um líder sério, você passa a ser respeitado como
sendo alguém sério também. Lembro quando eu namorava a mi-
nha esposa. Naquela época não existia a corte. Ela não era como
as demais crentes com quem eu convivia. Eu era daquele tipo bem
legalista, sério, e ela chegou ao culto de motocicleta, vestindo uma
204 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

calça jeans ou de couro, não sei mais o quê. Eu olhei aquilo e pensei:
Não pode ser de Deus. Definitivamente, uma mulher de moto com
essa roupa não está certo. Veja bem como eu era.
Mas Deus é bom, colocou as pessoas certas na minha vida. Co-
mecei a me interessar por ela e ela também por mim. Todavia, estava
em crise, pois ela não era o tipo que eu esperava como esposa. Então
procurei meu pastor e falei: “Olha, a fulana e a beltrana gostam de
mim. Eu estou gostando dessa, e ela parece que está gostando de
mim. Mas ela não é aquela menina espiritual que eu imaginava”.
Eu queria uma mocinha, assim, bem dócil e a minha esposa era
uma líder muito forte. Lembro-me que o pastor me deu uma palavra
que nunca esqueci: “Olha, a gente mede muito as moças pelo tipo
de rapaz por quem elas se interessam. Então, se essa moça não fosse
alguém que tivesse algo dentro de si, ela não se interessaria por você,
porque todos sabem que você quer ser pastor. E ela mesmo assim
gostou? É porque deve ter algo bom dentro dela”. Eu fiquei em paz.
Depois disso, criei essa regra para mim. Se uma moça gosta de um
rapaz espiritual, é porque ela está querendo ser espiritual também.
Pode até ser que não o seja, mas está querendo.
Isso foi sábio. Eu me casei e a minha esposa é uma maravilhosa
bênção em minha vida e ministério. Depois descobri que ela queria
o Senhor. Não era do jeitinho que eu imaginava que uma mulher
de pastor deveria ser. Mas Deus olha o coração. Por isso, se uma
moça quer andar com o sábio é porque ela deve ser sábia. Com
quem que você quer andar?
Josué, em Deuteronômio 34.9, estava cheio do espírito de sabedo-
ria. Por quê? Porque Moisés impôs suas mãos sobre ele. O que acon-
teceu depois? Os filhos de Israel lhe deram ouvidos. Isso aconteceu
porque Moisés colocou a mão na cabeça dele e ministrou em sua vida.
E todo Israel viu. Isso é importante: orar, impor as mãos, consagrar,
ungir. Penso que devemos ungir nossos líderes publicamente. Esse é
um sinal de reconhecimento e influência.
17º Dia – O valor de um discipulador 205

Você está na sua célula em nome da igreja, mas também porque


você aprendeu com alguém. Alguém o ensinou como conduzir,
como dirigir a reunião, como orar com as pessoas, como cantar um
cântico. Se não ensinou falando, ensinou fazendo.
Nós aprendemos ouvindo e aprendemos imitando irmãos.
Aprendemos imitando nosso discipulador. Andando com ele,
ganharemos influência. Se você ora parecido com ele, se você fala
parecido com ele, as pessoas vão reconhecer e o ouvirão. Foi o que
aconteceu com Josué.

4. É o discipulador quem garante promoção


e honra
Pv 4.8-9 – Estima-a, e ela te exaltará; se a abraçares,
ela te honrará; dará à tua cabeça um diadema de graça
e uma coroa de glória te entregará.
O discipulador é quem garante promoção e honra, e isso em
todas as áreas da sua vida. Mais uma vez, Salomão está nos falando
a respeito da sabedoria. Olha que promessas lindas Deus tem para
aquele que é sábio. Se você for sábio, a sabedoria o honrará. Ou
seja, aquele que é sábio, mais cedo ou mais tarde será reconhecido
e honrado na sua posição. A sabedoria será na sua cabeça um dia-
dema de graça e uma coroa de glória. Diadema e coroa nos falam
de reconhecimento, de posição, de promoção, de trono.
Muitos pensam que liderança é uma questão de cargo. Em nossa
igreja não temos cargos. Na verdade não levantamos ninguém, nós
apenas reconhecemos aqueles que Deus está levantando.
Se você é um discípulo que tem realmente tido a postura de
absorver sabedoria, o seu discipulador será o primeiro a reconhecê-
lo. O que eu mais ouço é isto: “Pastor, o irmão tem de conhecer
o fulano de perto”. Eu então falo: “Traga ele, irmão. Traga logo!”.
Outros dizem: “Pastor, o fulano é impressionante, está andando
comigo na célula, mas eu já o vejo lá na frente, vai ser pastor”. É
206 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

incrível. Os discipuladores é que aprovam nossos obreiros. Sabe por


quê? Porque o profundo atrai o profundo. Jacó sempre vai para a
casa de Labão, mas Maria sempre procura Isabel.
Labão era tio de Jacó. Quando Jacó quis encontrar um refúgio,
procurou quem? Labão. Jacó e Labão, a dupla dinâmica. Mas Maria,
grávida de Jesus, procurou quem? Isabel, grávida de João Batista. E
quando as duas se encontraram, ambas ficaram cheias do Espírito.
Você consegue imaginar uma cena dessas? Maria cheia do Espírito
de um lado, Isabel do outro e as crianças também, todos cheios.
Maria não procura Labão. Jacó não vai para casa de Isabel nunca.
Entende o que eu estou dizendo? Isabel pode dizer para Maria, “Você
é uma mulher cheia de graça e honra”. Mas e Labão? Vai dizer o que
para Jacó? “Você acha que me engana?” É um querendo derrubar
o outro. Que tragédia!
Ande com sábios. Assim, você se tornará mais sábio ainda, diz a
Bíblia. Glória a Deus por isso. Receba a sabedoria dEle. Reconheça-
O e você será levantado.

5. O bom discipulador exige que você


o procure
Provérbios 8.17 diz: “Eu amo os que me amam; os que me pro-
curam me acham”.
O bom discipulador é procurado, mas muitas vezes os irmãos
não entendem esse princípio. Já ouvimos muitas reclamações do
tipo: “Meu discipulador não vai a minha casa. Ele não vem atrás
de mim. Eu fiquei sem ir ao culto só para ver se ele sentia a minha
falta”. Isso é um erro. Se você tem essa mentalidade, pare com isso.
Procure você o seu discipulador.
Há pessoas que querem ser mimadas o tempo inteiro. Pensam
que serão discipuladas se alguém ficar indo atrás delas todo o tempo.
Não quero dizer que o discipulador não estará com você, não é isso.
Se você está com alguma dificuldade, é claro que, na sua função de
17º Dia – O valor de um discipulador 207

apascentar, ele deve acompanhá-lo. Todavia, eu me refiro aqui a um


relacionamento de transferência de conhecimento, de sabedoria.
Você é quem tem que ir atrás. O primeiro interessado é o discípulo,
mas existem discípulos que presumem ser uma grande honra para o
discipulador tê-los na equipe. É uma completa inversão de valores.
O Espírito Santo é assim e eu quero ser como Ele. O Espírito
Santo não responde perguntas que não foram feitas. Não fez a per-
gunta, também não tem a resposta. Ele não vai lhe dar o que você não
quer receber. Não pediu, também não tem. Então, você quer ser um
bom discípulo? Você quer absorver o máximo do seu discipulador?
Pergunte para ele. Ligue para ele. Vá atrás dele. “Ah, pastor, tenho
medo de parecer inconveniente”. Bom, faça dentro dos limites do
bom senso. Não vá ligar às quatro da manhã. Procure. Questione.
Pergunte a opinião dele. Fale a respeito da sua célula. “Irmão, na
minha célula tem uma situação assim, o que você acha que poderia
ser feito? Qual é a sua opinião sobre isso? Irmão, a minha célula não
tem crescido, que sugestão você me dá para a gente poder mudar?
Como podemos melhorar essa situação?” Já perguntou isso para o
seu discipulador, ou você fica esperando que ele venha lhe dizer? É
você quem deve perguntar. Pergunte.
Seu discipulador não é só quem está ligado a você diretamente.
Seu pastor também é um discipulador. Você deve estar com ele
também. Mesmo que você não ande com ele o tempo inteiro, seja
discípulo, siga-o. Há pessoas que nunca andaram comigo, que
nem são da Videira, mas são mais discípulos meus do que alguns
membros desta igreja. Há um pastor aqui em Goiânia, da Vinha,
o pastor Cláudio, da Igreja Hebrom. Ele é mais discípulo meu
do que muitos. Antes de conhecê-lo, ele já devia ter umas 400
fitas de pregação minhas. Quando nos conhecemos, ele já tinha
afinidade comigo. Era um discípulo à distância, que se tornou
próximo. Para você ver que é possível ser discipulado às vezes sem
estar tão perto assim.
208 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Mude o seu conceito. Muitos de nós ficamos a vida inteira


querendo alguém para cuidar de nós. Você não precisa de alguém
para cuidar de você, precisa de alguém para instruí-lo. Caso tenha
algum problema, ligue para o seu discipulador. Discipulador não é
adivinho, não fica sabendo automaticamente. Ligue para ele e peça:
“Irmão, ore por mim”. Tenho certeza de que ele vai ajudá-lo. Falo
isso com tranquilidade.
Se o discipulador não esteve com você no meio da sua luta foi
porque você não compartilhou com ele. Você não disse, porque
se disser, ninguém negará ajuda. Ele pode até falar que não con-
segue ajudar, mas fica do seu lado. Chora com você, clama com
você. Ele fica junto.
Seja humilde. Muitas vezes o grande problema é o nosso ego.
Muitos líderes reclamam de seu discipulador porque se veem como
pessoas super especiais, alguém que o discipulador deveria vir até
sua casa para mimá-lo e atendê-lo a todo tempo. Quando se esquece
dele ou não cita o seu nome, o mundo cai: “Como é que ele tem
coragem de não se lembrar de alguém como eu? Logo eu?” Quem
é simples diz: “Lembrar de mim?” Antes que eu corra o risco de
esquecer, ele logo avisa: “Dia tal é o meu aniversário”, ou então,
“Olha, querido, você esqueceu meu aniversário, mas quero lhe
dizer que estou aberto para receber os parabéns, mesmo atrasado”.
Esse é muito mais saudável. Será que você é tão importante assim
que o seu aniversário tem que ser um feriado nacional? E quando
não lembro o nome de alguém? Somente Deus sabe o que eu sofro
com algumas pessoas.
Discípulos que nunca procuram sua liderança são orgulhosos
e independentes. Procurar é humilhante. “Eu, ir atrás? Nem mor-
to!” Se alguns não se dispõem a ir atrás do pastor, o que se dirá a
respeito de procurar o discipulador ou o líder? Tudo isso por causa
do ego. Também não terá o que o discipulado tem, nem receberá
como herança a unção que ele possui. Nunca receberá o manto que
ele tem da parte de Deus.
17º Dia – O valor de um discipulador 209

6. O bom discipulador aumenta os seus


recursos naturais e espirituais
Em Provérbios 8.18, vemos mais uma vez a sabedoria nos dizen-
do: “Riquezas e honra estão comigo, bens duráveis e justiça”. Uma
coisa é certa: os tolos não ficam ricos. Você pode dizer que um rico
é ímpio e até safado. Mas rico idiota é difícil encontrar. Rico tolo
somente se acontecer de ganhar na loteria. Porque para se ganhar
dinheiro, é preciso ter algum tipo de inteligência.
Não quero dizer que quem é pobre é tolo. Não estou dizendo
isso. Estou apenas dizendo que se você buscar a sabedoria, Deus,
através dela, lhe dará estratégias que irão levantá-lo. A sabedoria
tem esse poder porque riquezas e honra estão com ela, diz a Bíblia.
Isto é incrível: o discipulador pode ser um instrumento de prospe-
ridade na sua vida.
Quando ele o impede de fazer uma bobagem, quando ele diz:
“Por favor, não faça isso, espere, tenha prudência! Não seja rápido,
vamos analisar juntos”. Somente por esse conselho ele já mostra que
é sábio, porque “peca quem é precipitado” (Pv 19.2).
Discipuladores não foram dados por Deus para serem um fardo
na sua alma. Eles são bênção para sua vida. Deus planejou que fosse
assim. Todos aqueles que ouvem seus discipuladores estão recebendo
da parte de Deus. Aqueles que têm se disposto a ouvi-los, a serem
discípulos, são os que mais avançam, prosperam e frutificam. O
discipulador é uma chave para o crescimento.

7. O seu discipulador não é


necessariamente seu melhor amigo
Há alguns líderes de célula que estão com o conceito equivocado
de que o seu discipulador tem que ser o seu melhor amigo. Isso não
acontece necessariamente. O seu melhor amigo se sente confortável
com o seu passado, mas o seu discipulador olha para o seu futuro.
210 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Seu melhor amigo ignora as suas fraquezas, mas o seu discipulador


vai trabalhar para eliminá-las.
O seu melhor amigo é o seu líder de torcida, ele torce por você.
Ele é quem diz: “Vai dar certo, vai lá!”. O seu discipulador é o téc-
nico, é o que fala: “Mude isso, corrija aquilo. Faça isso que você
vai conseguir”. Precisamos dos dois, não é verdade? Dizem que a
torcida é o décimo segundo jogador. Eu suponho que seja verdade,
porque quando o time joga em casa, sua chance de ganhar é muito
maior. Você tem torcida a seu favor? Há gente que torce por você?
Então você tem amigos. É bom tê-los. Mas, sabe, tem uma coisa a
respeito de amigos. Amigos normalmente não falam o que deviam
falar para a gente. Normalmente não falam porque eles têm medo
de perder nossa amizade, por isso se calam e aprendem a conviver
com nosso defeito. E, vamos ser francos, o que se espera de um
amigo é isso mesmo, não é verdade? Que ele goste de você, com
seu defeito e tudo.
Isso também ocorre no casamento. Você quer que a sua esposa
fique o dia inteiro contando os seus defeitos para você? Se quiser, eu
o respeito. Mas você deve ser insano. Eu quero que a minha esposa
me ame do jeito que eu sou, que todo dia ela fale apenas que me
ama, com todos os meus defeitos.
Minha mulher tem que ser a minha maior torcida. Eu até pre-
firo que ela seja cega para os meus defeitos. “Meu marido é mara-
vilhoso, é lindo, extraordinário, meu marido é sensacional”. Isso é
que é esposa.
Bom, mas se não for sua esposa, quem então irá alertá-lo a
respeito daquelas coisinhas que precisam ser mudadas? Todos nós
precisamos de alguém que fale em nossa vida. Geralmente ele não
será nosso melhor amigo. Talvez você nem fique tão à vontade com
ele. É provável que nem tenha liberdade de ficar batendo nas costas
dele. Talvez você nem consiga ficar contando piada e até perca um
pouco do seu jeitão. Muitas vezes ele o confrontará, o exortará. Ele
17º Dia – O valor de um discipulador 211

diz: “Irmão, você precisa avançar nisso. Não está certa a maneira de
você falar assim com a sua esposa”. E você ouve, se cala e reconhece:
“Eu tenho que mudar mesmo”.
Nem sempre o seu discipulador será aquele que está mais próxi-
mo de você. Então você diz: “Mas como é que vai falar comigo se
não está próximo? Só pode falar comigo quem é meu amigo ínti-
mo”. Preciso lhe dizer uma verdade: Amigos íntimos também não
falam. Quem fala é quem tem autoridade sobre você. Esses falam
o que precisa ser dito. E, às vezes, são esses que você não quer ou-
vir, quem Deus colocou na sua vida. Quando o discipulador falar
algo para você, ouça-o. Não tenha esta postura: “Ele só sabe cobrar,
nunca vem à minha casa, ele não é meu amigo. Ele não vê televisão
comigo, não vê vídeo comigo, não vai ao cinema comigo, não vai
ao shopping comigo, ele nem viaja comigo!”
Seu discipulador não tem que fazer nada disso. Ele tem que ser
apenas chave de crescimento na sua vida. Quantos querem reco-
nhecer o seu discipulador nesses dias? Diga para ele: “Irmão, você
é uma chave de Deus para o meu crescimento”. Ore por ele e o
abençoe. Agradeça a Deus pelo instrumento do céu que Ele colocou
para abençoar sua vida.
18º Dia

Doze características de
pais e patrões

Jesus não veio para estabelecer um empreendimento. Ele veio


para gerar a sua Igreja. Ele disse que se um grão de trigo caindo na
terra não morrer, fica ele só; mas se morrer, produz muito fruto.
Se a igreja fosse apenas um empreendimento, ficaríamos con-
tentes só em ter um grande movimento. Mas o que está no coração
do Senhor não é um mero ajuntamento dominical. A maneira de
Deus realizar seu objetivo é por meio da geração de filhos. Gerar
filhos é muito mais difícil que abrir um empreendimento. Tornar-se
pai é muito mais complicado que ser um administrador ou patrão.
Nada neste mundo é mais complicado que a relação entre pais e
filhos, porém, nada é mais gratificante. É mais fácil lidar com um
empregado do que lidar com um filho e se acontecer uma decepção
com um filho, certamente ela é muito maior que uma decepção com
empregados. Filhos, entretanto, são insubstituíveis, mas empregados
arrumamos outros.
214 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Muitos preferem encarar a igreja como um empreendimento


justamente porque é um caminho mais fácil, mais largo. O ca-
minho estreito é justamente gerar filhos e discipulá-los. Se fomos
chamados para gerar filhos, então o discipulado é uma relação de
paternidade espiritual. Entretanto, muitos preferem encarar a igreja
como um empreendimento, assim, sua equipe não é gerada, mas
contratada; possuem empregados em vez de filhos e são patrões
em vez de pais espirituais. Nossos discípulos são filhos espirituais.
Alguns foram gerados, outros foram adotados, mas todos devem
ser tratados como filhos.
O centro do coração de Deus é o gerar, mas muitas igrejas pre-
ferem fazer coisas para Deus. O Pai quer filhos, mas muitos insis-
tem em fazer coisas, programas, empreendimentos. Deus não nos
chamou para realizar algo para Ele, mas deseja que geremos filhos.
Uma consequência natural é que aqueles que fazem coisas procu-
ram ajudantes e tendem a se relacionar como se fossem patrões e
empregados. Mas quando entendemos que estamos aqui para gerar,
nos relacionamos como pais e filhos.
Assim, por um lado os discípulos precisam aprender que são
filhos e a se relacionarem com seus discipuladores na posição de
filhos. Isso já compartilhamos no capítulo anterior. Mas é necessário
também que os discipuladores se relacionem com os seus discípulos
como pais e não como patrões, unicamente cobrando resultados e
monitorando o serviço.
Se começarmos a agir como pais, é bem provável que aqueles
discípulos que ainda não se colocaram na posição de filhos mudem
a sua atitude. Mesmo aqueles mais difíceis podem vir a ser trans-
formados por causa do amor de um pai espiritual.
Gostaria de compartilhar doze características ou diferenças en-
tre pais e patrões. Eu ouvi pela primeira vez esse assunto com o Pr.
Donald Shaffer. Tomo a liberdade de usar suas anotações e fazer
aqui as minhas próprias observações do que tenho vivido em minha
experiência de discipulador.
18º Dia – Doze características de pais e patrões 215

1. Pais se interessam pela edificação do


filho, patrões se interessam unicamente
pela produção do empregado
O pai valoriza o filho simplesmente porque é seu filho. Um
patrão valoriza o que um empregado faz. Um discipulador com
atitude de patrão se interessa apenas pela produção do discípulo, e
assim transforma filhos em empregados.
Evidentemente filhos também produzem e pais devem exortar
seus filhos para que façam e produzam em casa. Algumas vezes os
pais são até mais criteriosos com o filho do que com o emprega-
do, isso porque empregados são cobrados apenas pela tarefa, mas
quando pais cobram algo de um filho é visando algo muito maior,
a formação de um ser humano maduro.
Deus não está tão interessado nas coisas que nós fazemos, mas em
nos acrescentar coisas enquanto fazemos algo. Quando minhas filhas
ainda eram pequenas, eu e minha esposa resolvemos que elas deve-
riam também ajudar nas tarefas de casa. Elas eram bem pequenas,
com 7 e 8 anos de idade. A mais velha ficou responsável por cuidar
do cachorro e a mais nova deveria varrer o quintal. No começo elas
se divertiam muito, mas depois faziam por obediência. Lembro-me
que a mais nova, enquanto varria o quintal, não se importava que
o vento trouxesse as folhas todas de volta. Ela queria apenas passar
a vassoura no chão. Quando achava que tinha acabado, ela sempre
perguntava: “Pai, ficou bom?” E eu devolvia a pergunta: “Você fez
o melhor que pôde?” Ela sempre dizia que sim, então eu respondia
que estava maravilhoso. Se qualquer outra pessoa olhasse, teria outro
parecer, mas eu não estava interessado no negócio de limpar quintal,
eu estava treinando minha filha para ser uma mulher.
É como o japonês que tinha uma horta ao lado de um vizinho.
Todos os dias ele ia cuidar da sua horta e seu filho pegava um pé de
alface e ficava desfolhando. O vizinho ficava indignado com aquilo
216 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

e um dia resolveu perguntar para o japonês porque ele não impedia


seu filho de estragar as alfaces. O japonês serenamente lhe respon-
deu: “Eu não estou cultivando alfaces, estou cultivando meu filho”.
Qual é a sua atitude? Você está aqui para construir prédios, enchê-
los de bancos e realizar eventos, ou você está aqui para edificar filhos?
Sempre procuro lembrar meus pastores que quando eles realizam
um encontro não estão realizando um evento, nem mesmo estão
lá em primeiro lugar para ganhar almas. O principal alvo deles deve
ser edificar sua equipe, seus discípulos, seus filhos, enquanto fazem
aquela obra. Pessoas certamente serão salvas, o mais importante,
porém, é que filhos serão edificados nesse processo.
Pais procuram edificar filhos, mas patrões estão preocupados
só com o empreendimento. Quem tem atitude de pai não quer
perder ninguém. Patrões lamentam quando um empregado se vai,
mas sabem que outros tomarão o lugar. Pais sabem que um filho é
único e insubstituível. Você trata seus discípulos como filhos? Sua
atitude é de pai ou de patrão?

2. Pais usam a Palavra para corrigir e


edificar seus filhos, patrões usam a Palavra
de Deus para conseguir o que eles querem
dos empregados
Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensi-
no, para a repreensão, para a correção, para a educação
na justiça. II Tm 3:16
A Palavra de Deus para você é apenas um instrumento de per-
suasão, ou seu objetivo é mesmo a edificação do discípulo? Pais
corrigem, exortam e edificam seus filhos através da Palavra; patrões,
porém, usam a Palavra para alcançar seus objetivos pessoais.
Patrões estão sempre temendo que seus empregados tomem
coisas deles, mas sabemos que os pais preparam herança para seus
18º Dia – Doze características de pais e patrões 217

filhos. Se você tiver mentalidade de patrão, desconfiará que o dis-


cípulo quer tomar o seu lugar, sua posição ou o seu espaço.
Um exemplo prático que nos ajuda a compreender isso é a ques-
tão do dinheiro na igreja. Em muitos lugares, a Palavra de Deus é
usada apenas como meio de persuadir as pessoas a contribuir. Em
nosso meio, os irmãos contribuem porque de fato entenderam que
o mover de Deus passa pela questão de Mamon. Quando falamos
de dinheiro, percebem que falamos por causa deles, para o bem
deles, e não por causa de algum interesse que tenhamos.
Numa ocasião o Espírito Santo me tocou para fazer algo diferente
no momento das ofertas no culto. Chamei os ofertantes à frente
e depois também os desempregados. Para surpresa deles, pedi que
os irmãos dessem as suas ofertas para àqueles irmãos desemprega-
dos. Aquilo foi duplamente instrutivo. Em primeiro lugar, porque
os ofertantes foram tomados de susto e se sentiram constrangidos
em dar para o irmão aquele um real que dariam de oferta. E para
os desempregados foi uma tremenda lição de amor que nenhum
deles esperava.
Pais ensinam pensando no bem dos filhos, mas patrões ensinam
pensando em como obter algo do empregado. Lembre-se sempre
que verdadeiros discipuladores possuem atitude de um pai espiritual.
O que angustia o empregado é que ele sabe que tudo é para o
patrão, nada é para ele. Mas a glória do filho é que, mesmo que o
pai seja mais duro e exigente com ele do que com o empregado, ele
sabe que tudo do pai é dele.

3. Pais veem o sucesso dos filhos como sendo


deles, patrões sentem-se ameaçados quando
um subordinado começa a ter sucesso
Sucedeu, porém, que, vindo Saul e seu exército, e vol-
tando também Davi de ferir os filisteus, as mulheres
de todas as cidades de Israel saíram ao encontro do rei
218 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Saul, cantando e dançando, com tambores, com júbilo e


com instrumentos de música. As mulheres se alegravam
e, cantando alternadamente, diziam: Saul feriu os seus
milhares, porém Davi, os seus dez milhares. I Sm 18:6-7
Esse é um teste fundamental para conhecer o seu coração: ver-
dadeiros pais ficam felizes quando os filhos fazem algo melhor do
que eles. Pais desejam que seus filhos usem seus ombros como um
trampolim para alcançar posições mais altas. Você precisa se sentir
orgulhoso quando seus discípulos pregam ou fazem qualquer outra
coisa melhor que você.
Árvores não crescem na sombra. Precisamos dar espaço e lugar
para que o ministério de nossos discípulos floresça. Um amigo meu
missionário certa vez me confidenciou que, quando ele voltou do
seminário, seu pastor o chamou no gabinete e disse: “Eu vou lhe
pagar tanto de salário apenas para você ficar quieto”. Isso parece
loucura, mas essa insanidade é quase a regra por este país afora. Em
vez de exigir mais trabalho por ser jovem e cheio de vigor, o pastor
lhe exigiu que ficasse quieto. Não era pai, era um patrão travestido
de pastor. E o pior, era um mau patrão, pois nem soube aproveitar
o investimento feito no seminário.
Existem boas famílias e famílias disfuncionais. Nós procuramos
ser uma família exemplar. Nossos filhos sabem que a casa tem regras,
normas e tarefas a serem cumpridas. Nossos filhos têm funções e sa-
bem o que se espera deles dentro da família. Ser família não significa
ser desorganizado ou bagunçado, mas nem por isso transformamos
nossos filhos em empregados.

4. Pais se orgulham dos filhos, patrões se


orgulham da empresa
Você sabe se alguém é patrão ou pai pela maneira como ele
testemunha da obra que está fazendo. A minha glória não é o pré-
dio, a rádio ou a escola que construímos, o que faço questão de
18º Dia – Doze características de pais e patrões 219

testemunhar é a respeito da minha equipe. Eles são os filhos que o


Senhor me deu. A minha glória são os meus discípulos. Verdadeiros
pais se orgulham antes dos filhos e depois da casa que construíram.
Empresários mostram as instalações da empresa e os produtos
que fabricam; mas os pais adoram mostrar como seus filhos estão
crescidos. Patrões promovem o próprio nome, mas verdadeiros pais
sabem que os filhos os carregam dentro de si.

5. Pais se alegram em ver seus filhos


tentarem mesmo quando erram, patrões se
envergonham quando seus empregados erram
Pais às vezes se alegram com certos tipos de erros. Outro dia,
minhas filhas, que mal entraram na adolescência, resolveram ir ao
shopping e, como não havia ninguém para levá-las, elas mesmas
chamaram um táxi e foram sozinhas. A mãe delas ficou atordoada
com aquilo, mas eu confesso que achei positivo. Mostrou certa
iniciativa e independência que me agrada. Naturalmente ninguém
se alegra com pecados e escândalos, mas é bom ver nossos filhos
tentando acertar, mesmo que no começo cometam erros.
Quando eu era criança, minha mãe sempre me mandava com-
prar algo na mercearia. Um dia pediu para eu comprar farinha de
trigo, mas não tinha, então eu perguntei ao vendedor: “Não tem
outra coisa que sirva?” Ele perguntou: “O que sua mãe deseja fazer?”
Como eu não sabia, disse que achava que era pão de queijo e ele
então me vendeu polvilho. Quando entreguei aquele polvilho para
minha mãe, ela ficou perplexa, mas, como ela não tinha essa visão
tão nobre naquela época, o resultado não foi muito bom para mim.
É bom quando filhos pensam em alternativas e são criativos para re-
solver problemas, mesmo que errem ao tentarem achar uma solução.
Muitos querem ter discípulos que nunca fazem nada fora do
esquema, mas bons discípulos são criativos e resolvem problemas.
Muitos pensam que o bom discípulo é aquele dependente, que não
220 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

faz coisa alguma sem antes consultar o discipulador com receio de


errar. Bons pais e discipuladores estimulam a iniciativa. Se o discí-
pulo acertar, ele vai aprender algo, e se ele errar, vai aprender mais
rápido ainda.

6. Pais sonham em enviar seus filhos para


iniciar novas famílias, patrões desejam
manter seus empregados para sempre
Filhos e empregados são alvos de investimento e treinamento.
Quando o empregado manifesta o desejo de sair da empresa, o pa-
trão vê isso como um roubo do seu investimento. Porém, quando
um filho deseja sair para começar uma nova família, o pai sente-se
feliz em ver que seu investimento será utilizado.
Esse é um teste definitivo de nossa paternidade espiritual. O
grande medo de um empresário é que o seu empregado saia e abra
uma empresa concorrente ao lado. Muitas igrejas possuem a mesma
mentalidade carnal e mundana. Pastores não querem treinar outros
com receio de que o discípulo saia e abra uma igreja no bairro ao
lado. Pensam na igreja como empresários pensam no seu empre-
endimento. Abrir mais igrejas para tais pastores é como abrir uma
concorrência. Pastores que pensam assim são patrões e nunca tive-
ram filhos, e se os tiveram, certamente os feriu tratando-os como
simples empregados.
Verdadeiros pais criam filhos para que eles um dia saiam e tenham
sua própria família. Nada mais triste para um pai do que um filho
solteirão que é ainda dependente dele. Pais querem ajudar o filho a
comprar uma casa para se mudar com a esposa. Pais espirituais criam
condições para que seus discípulos tenham o que ele tem e realizem
até mais que eles próprios realizaram. Patrões encaram como grande
deslealdade a iniciativa do empregado de ter seu próprio negócio.
18º Dia – Doze características de pais e patrões 221

Nada prende mais que o amor. Quanto mais abrimos nossos


braços na cruz para liberar nossos discípulos, mais os prendemos
com laços de amor.

7. Pais estão sempre prontos para restaurar


um filho perdido, patrões nunca restauram
a confiança perdida
E, levantando-se, foi para seu pai. Vinha ele ainda
longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele,
correndo, o abraçou, e beijou. Lc 15:20
A regra geral é que patrões nunca dão uma segunda chance. Fi-
lhos podem ser rebeldes, ingratos e pecadores, mas nunca deixam
de ser filhos. Sei que aos olhos naturais é loucura tratar membros
da igreja como filhos espirituais, mas creio firmemente que isso é o
que está no coração de Deus.
Certo dia um de nossos pastores me ligou perguntando como
agir a respeito de um dos seus líderes de célula que repentinamente
resolveu sair da igreja. Ele estava realmente indignado pelo que ele
chamou de deslealdade e grande ingratidão. Ele tinha investido tan-
to tempo cuidando e treinando aquele irmão e agora ele resolvera
sair. O que fazer numa situação assim? Então eu perguntei para ele:
“O que as pessoas naturais do mundo fazem num momento assim?
Simplesmente faça o oposto do que elas fariam”.
Assim, eu sugeri que o pastor reunisse os irmãos da célula e fizesse
uma despedida para ele. Disse-lhe que o abençoasse e lhe agrade-
cesse pelo tempo que esteve na igreja e de como ele foi bênção para
nós. Que dissesse que não gostaria que ele saísse, mas que estava
disposto a ceder por amá-lo, mas que as portas estariam abertas para
quando ele quisesse voltar.
Aquele irmão ficou completamente perplexo. Aquilo era justa-
mente o que ele nunca esperava ouvir. Ele de fato se foi, mas fre-
quentemente passava na secretaria da igreja para cumprimentar o
222 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

pastor. Até que um dia, não resistiu à amizade e voltou. Se o pastor


tivesse agido como faz a maioria dos pastores, e tivesse amaldiçoado
aquele irmão, ele certamente nunca voltaria.
Há pastores que têm uma atitude rancorosa, “Essa ovelha não
merece o meu amor, traidora, cuidei dela, tirei carrapicho, o ca-
samento dela estava ruim e fui eu quem ajudou, quando estava
doente no hospital, eu fui visitar. Eu discipulei, consolidei e agora
é assim que ela me retribui. Foi pastar em um pasto que ela acha
mais verde”. Não é essa a atitude de um líder de verdade. Não é a
maneira como os servos de Deus agem.
Um verdadeiro pastor deveria sempre convidar de volta uma
ovelha que se desgarrou. Mas há pastores que, de tão ressentidos,
transformam aquela ovelha em uma inimiga a ser evitada. Ficam tão
rancorosos que nunca mais dirigem uma palavra à ovelha. Ele a en-
contra e a ignora, faz que não a viu e diz para si mesmo: “Ingrata! Me
largou, como? Logo eu, um cara tão sensacional, ninguém largaria
alguém tão incrível assim”. Eu não me assusto quando alguém diz
que não quer andar comigo, porque às vezes nem eu mesmo quero.
O que me assusta é existir alguém que queira andar comigo. Não
é que eu tenha uma autoestima ruim, eu até gosto de mim mesmo
na maior parte do tempo, contudo, sei das minhas limitações.
Eu estou sempre disposto a trazer de volta uma ovelha que me
abandonou. Chego a me tornar até meio inconveniente, pois a
convido de volta cada vez que a encontro, mesmo nos lugares mais
improváveis. Entretanto, há pastores que se acham sensacionais e a
ovelha deveria se sentir agradecida todos os dias pelo privilégio de
andar com alguém tão maravilhoso assim.
Filhos que em algum tempo foram ingratos algum dia podem
voltar para casa de pais espirituais. Bons pais sempre permitem que
seus filhos reparem o erro cometido.
18º Dia – Doze características de pais e patrões 223

8. Um pai se alegra quando seu filho


compartilha seus pensamentos, patrões não
toleram empregados com ideias triviais
É um dia alegre quando um filho começa a fazer algo que nunca
fez. O pai deseja mostrar aos outros como seu filho está crescen-
do. Patrões exigem perfeição antes de mostrar aos outros, pois não
querem ser envergonhados.

9. Pais deixam herança para seus filhos,


patrões dão apenas o necessário para
manter a motivação e a produção
O pai se sacrifica por seus filhos. O patrão deseja que seus em-
pregados se sacrifiquem por ele. É triste quando um grupo de dis-
cípulos se sente usado pelo discipulador para que ele possa atingir
seus objetivos.

10. Pais deixam os filhos para buscar o filho


perdido, patrões decidem racionalmente
cortando as perdas
Que vos parece? Se um homem tiver cem ovelhas, e
uma delas se extraviar, não deixará ele nos montes as
noventa e nove, indo procurar a que se extraviou? E, se
porventura a encontra, em verdade vos digo que maior
prazer sentirá por causa desta do que pelas noventa e
nove que não se extraviaram. Mt 18:12-13
O pastor da parábola não tinha uma atitude comercial. Para o
mercenário ou comerciante, não é sensato largar noventa e nove
ovelhas no deserto para buscar uma. E se ao voltar perceber que
perdeu as outras noventa e nove? Ele não sairia para buscar apenas
uma ovelha se a sua mentalidade fosse obter lucro.
224 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

O verdadeiro pastor considera cada ovelha com um valor indivi-


dual. Discipuladores são como pais, não querem perder ninguém.
Quando um pai perde um filho, mesmo que tenha dez, não adianta
consolá-lo, dizendo: “Você ainda tem outros nove filhos, morreu
só um”. Isso não consola, porque cada filho é único e sua perda é
irreparável. Se não for assim, não há coração de líder, apenas uma
atitude mercenária.
O pastor da parábola também não teve atitude passiva. Ele não
ficou arrazoando consigo mesmo, dizendo: “Não vou fazer nada. É
assim mesmo, ovelhas vão, ovelhas vêm; ovelhas nascem e às vezes
infelizmente se extraviam e morrem. Daqui a pouco outra nasce
e repõe a que se perdeu. Quando ficar de noite ela volta, quando
der fome ela retorna”, ou então, “Quando ela ouvir o uivo do lobo,
voltará correndo”. Isso é passividade, é por isso que muitos líderes
perdem as suas células.
O discípulo não foi à reunião, e o líder também não vai atrás. Na
semana seguinte, o discípulo não volta, e o discipulador continua
na mesma passividade. A consequência é que, possivelmente, ele
não voltará mais, então, ele se resigna, dizendo: “É assim mesmo,
não tinha compromisso, não queria nada com Deus”.

11. Pais sentem alegria no discipulado


dos filhos, patrões preferem empregados
experientes para que não seja necessário
treinamento
Verdadeiros pais sentem alegria em cada fase da vida de seus
filhos. O mesmo acontece no relacionamento com nossos discí-
pulos, sentimos alegria em vê-los progredindo e avançando. Mas
patrões querem empregados já treinados, prontos para o trabalho.
Não são poucos os líderes que vivem insatisfeitos à procura de uma
equipe já treinada. Igrejas bem-sucedidas e abençoadas são aquelas
que possuem muitos discipuladores com verdadeiro coração de pai.
18º Dia – Doze características de pais e patrões 225

12. Pais veem seus filhos como fruto que


geraram, patrões veem empregados como
meio de sustentarem a empresa
Como flechas na mão do guerreiro, assim os filhos da
mocidade. Feliz o homem que enche deles a sua aljava;
não será envergonhado, quando pleitear com os inimi-
gos à porta. Sl 127:4-5
Há discipuladores que cobram uma dívida eterna de gratidão.
Verdadeiros pais são servos, e não investidores que esperam retorno
com lucros pelo investimento feito.
Não existe nada pior do que discípulos que se sentem usados e
manipulados. É terrível quando se sentem descartáveis e quando não
conseguem produzir resultados como antes. Todos nós procuramos
um ambiente de família onde possamos ser edificados como casa
de Deus. A igreja é essa família onde existem muitos pais e filhos
espirituais. Não podemos permitir que a mentalidade do mundo
transforme a igreja numa espécie de empreendimento onde os dis-
cípulos são apenas empregados usados e descartados como simples
peças de reposição de uma grande engrenagem.
19º Dia

A mentalidade de
um discípulo

Então, suscitarei para mim um sacerdote fiel, que pro-


cederá segundo o que tenho no coração e na mente.
(1Sm 2.35)

A diferença de mentalidade e identidade


Antes de falarmos da mentalidade de discípulo, é importante
ressaltar a diferença da mentalidade e da identidade. Embora se pa-
reçam, a mentalidade abrange um aspecto diferente. A identidade é
como você se vê. Ela é o seu autoretrato, é a imagem que você tem
de si mesmo. Enquanto a mentalidade é a maneira como você vê o
mundo. É como você enxerga as coisas ao seu redor. A identidade
fala de uma visão interna, pessoal, a mentalidade abrange o seu
conceito sobre todas as coisas, até mesmo sobre Deus.
Ambas precisam ser transformadas à luz da Palavra de Deus, pois
influenciam nossos relacionamentos e decisões. Alguns cristãos não
228 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

têm problemas de autoimagem, mas sua mente é natural. Seus pa-


drões de vida são mundanos. Eles precisam urgentemente da mente
de Deus. A mente de Deus é a Bíblia Sagrada.
A primeira coisa que precisa ficar claro é se a pessoa a ser disci-
pulada é nascida de novo. Alguém que já aceitou a Jesus como seu
Salvador deve reconhecer que também o recebeu como Senhor.
Aceitar o senhorio de Cristo é aceitar o senhorio da Sua Palavra.
Embora no novo nascimento Deus faça uma obra completa no
nosso ser, Ele trabalha separadamente no espírito e na mente. A obra
que Deus realiza no espírito é instantânea, mas a obra na mente é
um processo. Isso é claramente percebido na experiência de cada
crente, pois a mudança de mentalidade se reflete na mudança de
comportamento.
Algumas coisas mudam instantaneamente, outras levam mais
tempo. Por quê? Por causa dos conceitos mundanos errados enrai-
zados na mente da pessoa.
Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de
Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: Na mente,
lhes imprimirei as minhas leis, também no coração
lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu
povo. (Jr 31.33)
Deus deixa claro que o Seu povo tem uma mente diferente da
mente do mundo.

A mentalidade de discípulo
Um discípulo é um sacerdote fiel, que procede segundo a mente
de Deus. Esse é o conceito de Deus sobre sacerdócio. Um sacerdote
é um discípulo, é alguém que pensa como Deus e age segundo a
Sua Palavra.
Temos muitos membros participando de grupos de discipulado,
mas poucos discípulos. Por quê? Porque para ser discípulo é preciso
19º Dia – A mentalidade de um discípulo 229

primeiro pensar como discípulo. A primeira coisa que se deve traba-


lhar dentro do discipulado é a mentalidade de discípulo. Essa deve
ser formada no início do discipulado porque se ele não pensar como
discípulo, pouco adiantará ser treinado para fazer um trabalho.
A primeira coisa que Jesus fez com seus discípulos foi investir
na mudança de mentalidade. Por três anos Jesus falou a respeito do
reino de Deus. Ser discípulo é uma questão de enxergar e discernir
o reino de Deus. Somente aqueles que discernem vão se dispor a
pagar o preço do discipulado.

1. O que significa ser discípulo de Jesus?


Significa seguir os Seus passos. Vemos que os discípulos não se
tornaram discípulos só porque andavam com Jesus, mas porque
pensavam como Ele, porque tinham o mesmo coração e decidiram
viver com o mesmo propósito que Jesus.
Em Atos tem um versículo interessante que nos mostra como os
discípulos eram reconhecidos a ponto de serem chamados de “pe-
quenos Cristos” – em Antioquia, foram os discípulos, pela primeira
vez, chamados cristãos (At 11.26).
A palavra “cristão” surgiu no primeiro século. Essa palavra no
original é “christianos”, que significa “aqueles que seguem a Cristo”.
Posteriormente surgiu o Cristianismo.
Veja, eles já eram discípulos, mas receberam um nome de acordo
com a sua maneira de viver – eles seguiam a Cristo. Isso nos mostra
que, segundo a Bíblia, ser cristão é ser discípulo de Cristo.
Hoje, infelizmente essa palavra perdeu o sentido, porque dizer
que é cristão não significa ser de fato alguém comprometido como
discípulo de Cristo. É o que nos mostra uma pesquisa feita em di-
versas igrejas americanas.
230 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

No seu livro “Transformando crianças em campeões”, George


Barna divulga uma pesquisa realizada com dois objetivos. O pri-
meiro era avaliar a idade em que as pessoas se convertem a Cristo.
Descobriram que a probabilidade de alguém aceitar a Jesus é de
32% dos cinco aos doze anos; 4% dos treze aos dezoito anos; 6%
após os dezenove anos. Em outras palavras, se as pessoas não acei-
tarem a Jesus Cristo como Salvador até a adolescência, a chance de
virem a fazê-lo é mínima.
Dentro desta mesma pesquisa, um segundo aspecto foi avaliado:
quantos dos entrevistados que já se consideravam cristãos viviam
de acordo com Bíblia. Veja que interessante o resultado: a cada dez
jovens entrevistados, nove se consideravam cristãos. No entanto,
para grande parte deles ser cristão não significa ter um relacionamen-
to pessoal com Jesus. Apenas 35% afirmaram ser completamente
comprometidos com a fé cristã. A maioria (54%) se considerava
levemente comprometida e 10% negaram qualquer comprometi-
mento com o Cristianismo.
A conclusão é que, dentre aqueles que se consideram cristãos,
existem os cristãos nominais, os cristãos convertidos, os evangélicos
e até os agnósticos. Isso mostra que a maioria dos cristãos professos
não é convertida e muito menos tem compromisso com a pessoa
de Jesus.
Atualmente, ser cristão não significa o mesmo que no primeiro
século. Embora o significado da palavra “cristão” não tenha mudado,
a realidade dentro do Cristianismo mudou muito.
A terminologia pode ter perdido o sentido no mundo, mas não
podemos permitir que ela se perca em relação ao “discipulado”. A
tendência é enxergar o discipulado apenas como uma estrutura, uma
forma de nos organizarmos em grupos para facilitar o trabalho na
igreja. Aqueles que enxergam dessa maneira mudam de um grupo de
discípulo para outro, sem considerar as pessoas envolvidas. Corremos
19º Dia – A mentalidade de um discípulo 231

o mesmo risco da pesquisa acima: considerarmo-nos discípulos, sem


nem mesmo termos compromisso com Jesus.
É preciso compreender que “discipular” é formar discípulos de
Cristo. Precisamos parar e nos perguntar: Estamos formando discí-
pulos ou apenas andando em círculos? Nosso discipulado tem um
propósito: formar Cristo, e começa com formar a mente de Cristo.
A Bíblia é a mente de Cristo. Ter a mente de Cristo é pensar como
Cristo, significa pensar como a Bíblia pensa.
Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa ins-
truir? Nós, porém, temos a mente de Cristo (1Co 2.16).

2. Tipos de discípulos
Vamos considerar dois tipos de discípulos que precisam mudar
sua mentalidade. O primeiro são os discípulos novos na fé. São
aqueles que estão começando na sua vida cristã e alguns estão tam-
bém começando na sua liderança.
Na nossa igreja uma pessoa pode começar a liderar a partir de um
ano de conversão. Nesse tempo é possível se batizar, fazer o Cursão
(Curso de Maturidade Espiritual), que dura seis meses, depois, o
CTL (Curso de Treinamento de Líderes), que dura mais seis meses,
e ser, ao mesmo tempo treinado como líder em uma célula. Se for
aprovada pelo líder, a pessoa pode vir a liderar uma célula no prazo
de um a dois anos. Embora nesse pequeno tempo ela já seja um
líder, temos que considerar que ela ainda é nova na fé.
Temos também um segundo tipo de discípulos, aqueles que já
têm mais tempo de conversão, mas que estão começando ou desen-
volvendo a sua liderança. Ambos são discípulos e precisam renovar a
sua mente com a Palavra de Deus. Alguns com coisas elementares da
vida cristã, outros com coisas mais profundas, mas que estão ainda
guardadas e que definem seu padrão de vida cristã.
232 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Veja o que Paulo fala sobre isso aos novos na fé:


Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espiritu-
ais, e sim como a carnais, como a crianças em Cristo.
Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido;
porque ainda não podíeis suportá-lo. Nem ainda agora
podeis, porque ainda sois carnais. (1Co 3.1,2)
Os novos na fé ainda são carnais, porque sua mente ainda é
mundana, egoísta e infantil. Por exemplo, alguns não compreendem
e não gostam de prestar contas de sua vida de oração ao líder, e às
vezes ficam emburrados se forem confrontados.
Mas ele também exorta os mais velhos dizendo:
A esse respeito temos muitas coisas que dizer e difíceis
de explicar, porquanto vos tendes tornado tardios em
ouvir. Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres,
atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente,
necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais
são os princípios elementares dos oráculos de Deus;
assim, vos tornastes como necessitados de leite e não
de alimento sólido. Ora, todo aquele que se alimenta
de leite é inexperiente na palavra da justiça, porque é
criança. Mas o alimento sólido é para os adultos, para
aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exerci-
tadas para discernir não somente o bem, mas também
o mal. (Hb 5.11-14)
Paulo fala de dois tipos de crentes que precisam de leite, ou seja,
de aprender princípios elementares da fé cristã. São eles: os novos na
fé e os crentes mais antigos, mas que ainda não aprenderam.
Há uma mudança de mentalidade que precisa acontecer no início
da vida cristã. Ela diz respeito a vencer práticas pecaminosas, como
por exemplo: vencer os vícios de cigarros, bebidas, práticas sexuais
erradas etc. Mas, por outro lado, há também uma mudança de men-
19º Dia – A mentalidade de um discípulo 233

talidade que deve acontecer no início da liderança. O líder precisa


passar a se ver como um provedor e não mais como um consumidor.
Por exemplo, antes de liderar, ele recebia tudo pronto, alguém
ligava para ele no dia da reunião, ele era avisado dos eventos da igre-
ja, dos jejuns etc. Agora, como líder, ele precisa tomar iniciativas e
mobilizar outros da mesma maneira. Como líder, ele precisa vencer
o comodismo e se dispor a conviver com os irmãos, a se envolver
com os problemas e ajudá-los a resolvê-los.
Se ele não é um discípulo, vai achar tudo muito difícil e facil-
mente irá abandonar sua liderança. Mas aqueles que mudaram a sua
mentalidade e pensam de fato como discípulos, mesmo encontrando
dificuldades, vão responder porque entenderam o propósito do que
estão fazendo. Portanto, liderança começa na mente.

O discipulado dos novos convertidos


O discipulado é como a criação de filhos, deve-se considerar a
idade deles, ou seja, o tempo de conversão da pessoa. Por exemplo;
mesmo que uma mãe ensine boas maneiras a todos os filhos, di-
ficilmente um filho de cinco anos vai comer com garfo e faca tão
bem como um filho de quinze.
O mesmo acontece no discipulado, é preciso considerar o tem-
po certo para certas coisas. Não adianta tentar mudar o exterior
das pessoas se a sua mente continua da mesma forma. Mude a sua
mente e o comportamento mudará também.
Podemos observar isso no nosso Encontro com Deus. No Mo-
mento da Cruz, é costume, depois de fazer a oração de confissão,
as pessoas colocarem na cruz de madeira suas fichas de confissões
de pecados, como símbolo de sua entrega a Jesus. Algumas pessoas
vão além e jogam objetos que simbolizam práticas erradas, como:
drogas, cigarros, terços etc. Certa vez, uma mulher, mesmo depois
de confessar a Jesus, continuou fazendo o sinal da cruz, toda vez
que passava perto da cruz. Por que ela agia assim? Porque os hábitos
234 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

são mais difíceis de serem abandonados do que os objetos. Hábitos


mudam à medida que mudam os pensamentos.
O novo convertido deve ser discipulado na célula pelo seu líder,
através do ensino da Palavra de Deus e também através do relacio-
namento com os irmãos.
É interessante observarmos no discipulado de Jesus que Ele não
começou falando para os discípulos aquilo que eles tinham que
mudar nas suas vidas. Ele ensinou a respeito do reino de Deus, e o
seu ensino foi moldando as suas vidas.
Precisamos desse modelo de discipulado, onde o ensino é fruto
do amor pelos discípulos. Assim como os filhos muitas vezes são
tão carentes que mudam o comportamento para agradar os pais,
porque amam os pais, os discípulos são capazes de abrir mão de
coisas por amor. Alguns discípulos mudam porque amam os seus
líderes. Foram tão conquistados por eles que abandonam outras
coisas por causa do discipulado.
Lembro-me quando cheguei à igreja, eu fui conduzida a um
grupo de discipulado. E logo, algumas moças implicaram com as
minhas roupas. Certo dia uma delas perguntou: “Quando é que
você vai mudar essa sua maneira de se vestir?” Até aquele momento
eu não sabia que minhas roupas estavam incomodando, mas, depois
disso, percebi claramente. Eu estava tão apaixonada por Jesus, que
não tive nenhum problema em fazer isso, mas acabei me sentindo
deslocada no grupo. Esse tipo de abordagem não é a melhor com
ninguém, muito menos com um novo discípulo.
Naquela época eu precisava de tantas curas na minha alma, que as
minhas roupas eram o que menos importava. Certamente ser amada e
aceita me ajudaria muito mais no meu crescimento espiritual.
Quantas vezes a imaturidade de alguns líderes atrapalha em vez
de contribuir para que o discipulado aconteça apropriadamente.
19º Dia – A mentalidade de um discípulo 235

Por isso, é importante que a mudança comece pelo ensino e não


pelo exterior da pessoa.

O discipulado de líderes
Líderes também são discípulos. A mudança de mentalidade pre-
cisa começar na própria liderança e, a partir dela, se estender para
todo o discipulado. Líderes que têm uma mentalidade de escravo e
não de vencedor impedem que outros cresçam também. Porque a
sua mentalidade irá refletir diretamente nas suas atitudes e escolhas.
O líder que lidera com uma mente natural age de maneira natural
e influencia os membros a agir da mesma maneira. Por exemplo: se
um líder acha que basta realizar a reunião com os irmãos uma vez
por semana, ele não vai valorizar as visitas e nem o discipulado com
o seu pastor. O foco dele é apenas a reunião da célula.
Por outro lado, os membros vão perceber essa atitude nele e não
serão desafiados a liderar. Qual será a atitude dos membros? Bem,
se um membro da célula pensa que liderar não faz parte dos planos
de Deus para ele, não responderá ao discipulado na célula.
Isso nos leva a concluir que os líderes influenciam com a men-
talidade que têm.
Por isso, devemos considerar a mudança de mentalidade como
um fator de crescimento importante na vida de todos que querem
ser discípulos de Cristo. Isso inclui os membros e toda a liderança.
Vamos usar o exemplo de um líder que se destacou no meio de
outros líderes de sua época: Calebe.
Porém o meu servo Calebe, visto que nele houve outro
espírito, e perseverou em seguir-me, eu o farei entrar
na terra que espiou, e a sua descendência a possuirá.
(Nm 14.24)
O termo que a Bíblia usa, “outro espírito”, está associado à men-
te e à emoção. Refere-se a uma atitude, ou a uma mentalidade em
236 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

relação às coisas espirituais. Uma mentalidade errada leva a uma


atitude errada.
No texto acima, embora o povo hebreu já tivesse sido liberto da
escravidão do Egito, alguns ainda tinham mentalidade de escravos.
Calebe e Josué se distinguiam dos demais líderes de sua época porque
eles tinham outra mentalidade: de vencedor. Eles pensavam como
vencedores e agiam como vencedores; os outros líderes pensavam
como escravos e agiam como derrotados. A Bíblia diz que: “Porque,
como imagina em sua alma, assim ele é” (Pv 23.7).
Temos aqui dois tipos de líderes: os que crêem na Palavra de Deus
e os que se conformam com o mundo. O povo se deixou levar pelo
tipo de mentalidade com o qual eles se identificou, uma mentalidade
mundana. Mas o que caracteriza uma mente mundana? O espírito
que está por trás dela – um espírito maligno.

Os discipuladores influenciam com a


mentalidade que têm
O discípulo precisa entender que só há uma maneira de crescer,
negando-se a si mesmo.
Quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á; e quem
perder a vida por causa de mim e do evangelho salvá-
la-á (Mc 8.35).
Perder a vida é abrir mão do prazer em favor da obra de Deus. O
prazer continua existindo, mas ele não governa a sua vida, ele não
pode ter a prioridade, ele não pode vir antes da vontade de Deus.
Discipular é usar a autoridade espiritual para formar discípulos.
No discipulado temos que enfrentar todos esses tipos de pensamen-
tos que aprisionam a mente de irmãos. Paulo diz, em 2 Coríntios
10.4, que podemos destruir fortalezas e anular sofismas. Sofismas
são pensamentos que resistem a Deus.
19º Dia – A mentalidade de um discípulo 237

Sobre isso Paulo também nos orienta como usar a nossa auto-
ridade espiritual:
Portanto, escrevo estas coisas, estando ausente, para que,
estando presente, não venha a usar de rigor segundo a
autoridade que o Senhor me conferiu para edificação
e não para destruir. (2Co 13.10)
Todos aqueles que discipulam estão investidos de autoridade.
Essa autoridade tem um propósito: formar discípulos de Jesus.
Alguns falam de discipulado referindo-se apenas a uma estrutura,
mas não compreendem o que significa isso. Mas isso não os isenta
da responsabilidade.
A autoridade que Deus nos concede para gerar filhos espiritu-
ais nos faz responsáveis diante de Deus. Temos a responsabilidade
de fazer discípulos na nossa geração, ensinando-os a guardar e a
praticar a Palavra. Portanto, essa autoridade deve ser usada para
ensinar corretamente a Palavra de Deus, pois o discipulado é um
tempo de ensino.
Autoridade se delega, mas responsabilidade não. Podemos de-
legar autoridade para pregar, para expulsar demônios, para batizar,
para ensinar etc. Mas a responsabilidade pelos resultados é daquele
que delegou.
O discipulador não pode se responsabilizar pelas respostas que o
seu discípulo dá a Deus, mas ele é responsável pelo que ele mesmo
faz com o seu discipulado. Por não entender isso, muitos apresentam
muitas desculpas pela falta de resultado: “Ah! Eu tentei levantar um
líder, mas não consegui”.
Entenda algo: Todos são responsáveis pelos resultados que al-
cançam. Josué e Calebe se destacaram na sua geração no meio de
líderes incrédulos. Por quê? Porque decidiram enfrentar os desafios
e buscar os resultados. Qual o resultado que eles tiveram? Eles re-
ceberam uma herança na terra de Canaã, enquanto que os outros
morreram sem herança, no deserto.
238 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Discipular fala de conquista. Isso nos fala de alcançar resultados.


Cada discípulo que você forma é uma conquista. Não se preocupe
com aqueles que não responderem. Algumas pessoas encaram o
discipulado de uma maneira descomprometida, sem se preocupar
de fato com o crescimento do discípulo. Isso não é discipulado de
verdade. É apenas um acompanhamento informal. O discipulado
exige compromisso de ambos os lados e principalmente com a
pessoa de Jesus.
Líderes, discipuladores e pastores estão investidos de autoridade
com esse propósito, fazer discípulos. Por isso, devem ser os primeiros
a assumir uma mentalidade de discípulo. Do contrário, que tipo de
discípulos irão gerar?
Assim como havia líderes, no meio do povo de Deus, que pre-
feriram o Egito a conquistar Canaã, é possível que haja em nosso
meio líderes com mentalidade mundana, que lideram sem propósito,
apenas religiosos, mais preocupados com seus interesses pessoais do
que com o reino de Deus e indiferentes ao propósito do discipulado.
Há uma guerra sendo travada dentro da igreja pelo senhorio da
mente das pessoas. O diabo sabe que não tem o coração, mas ele
tenta aprisionar a mente, impedindo que sejam vencedoras.
Quando você permite que esses padrões de pensamento definam
sua maneira de viver ou de liderar, abre brechas para o inimigo. É
como num jogo de tênis: às vezes o inimigo não marca ponto, mas
tem a vantagem. Quando isso acontece é mais difícil vencê-lo. Num
jogo de tênis, depois que o adversário tem a vantagem, se ele marcar
ponto de novo, pode ganhar a partida.
Nosso desafio é formar a mente de discípulos. Isso começa
ensinando-os a vencer o mundo. Vencer o mundo é vencer a
sua mentalidade.
Certa vez um jovem, ao final de uma palavra, procurou o pre-
gador e disse: “Eu até queria entregar a minha vida a Jesus, mas Ele
19º Dia – A mentalidade de um discípulo 239

pede muito”. O pregador olhou para ele e disse: “Meu jovem, você
não entendeu nada, Jesus não pede muito, Ele pede tudo”.
Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz
de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está
crucificado para mim, e eu, para o mundo. (Gl 6.14)
Você é um discípulo de Cristo? O mundo está crucificado para
você? Ou ele ainda governa sua vida?
20º Dia

O discipulador como
um supervisor

O discipulado possui muitos aspetos diferentes. Por um lado é


uma relação de paternidade espiritual, por outro, uma relação de
treinamento e edificação. Vimos que o discipulado é uma relação
de vida, mas certamente também é uma relação de supervisão.
Equilibrar todos esses aspectos é fundamental para edificarmos
a igreja apropriadamente e levarmos nosso trabalho nas células
a bom termo.
Preencher relatórios e resolver problemas são duas coisas que
muitos tentam evitar, mas são partes importantes da relação entre
o discipulador e seu discípulo, principalmente porque entendemos
que um membro somente se torna um discípulo quando ele se dis-
põe a liderar uma célula.
O problema é que muitos discípulos desvalorizam os relatórios
e ainda enxergam na supervisão uma atitude de falta de amor e
242 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

interesse do discipulador por ele. Mas isso é uma impressão falsa.


O discipulador precisa também cuidar das ovelhas que estão nas
células e faz isso por meio dos seus discípulos, os líderes de célula.
Vamos ver como você pode ter uma atitude mais positiva em
relação aos relatórios e aos eventuais problemas no discipulado.

Relatório: um companheiro indispensável


Muitos discipuladores se comportam como fornecedores de
dados. Eles apenas pegam o relatório do seu líder e o repassam ao
pastor. Nem se dão o trabalho de lê-lo, de checar as informações,
de avaliar a vida pessoal do líder de acordo com o que o relatório
pede, como por exemplo, sua vida de oração.
Tudo isso reflete uma atitude em relação ao relatório, e a atitude
apenas mostra a imagem que o discipulador tem do relatório.
Mude a sua imagem em relação a ele e você mudará a sua atitude!
Como você deve enxergar o seu relatório?

1. O relatório é seu amigo


a. O amigo é alguém presente
Amigo é alguém com quem você mantém contato constante.
Normalmente, ninguém corre de um amigo, pelo contrário, tem
prazer em sua companhia.
Veja o relatório como um amigo presente em sua vida. Sua
presença é algo agradável. Ele não existe para lhe cobrar, ele é
seu companheiro!

b. O amigo ajuda você a ser melhor do que era


O amigo tem o poder de tirar de você coisas boas e ruins, mas
sempre com a motivação correta.
O relatório desafia você a melhorar e a desenvolver o seu poten-
cial, porque ele desperta você para melhorar sua liderança.
20º Dia – O discipulador como um supervisor 243

c. O amigo fala a verdade


O amigo não omite os seus erros. Ele não te abandona, mas
rejeita quando não concorda com algo errado.
O relatório mostra a realidade, ele não omite os fatos. O re-
latório é um registro de fatos. Fatos podem ser alterados se você
planejá-los melhor.

2. O relatório quer se comunicar com você


a. O relatório fala com o líder
Se você não lê o relatório, você perde a comunicação que ele
traz. Quando você pegar o relatório do seu líder, deixe que ele se
comunique com você. Leia-o!

b. O líder “fala” através do relatório


O relatório deve “falar” o mesmo que o seu líder já falou. Se não
for assim, é melhor checar!
Algumas vezes, o líder escreve no relatório dados errados,
como número de membros acima do real, ou inclui pessoas que
já saíram apenas para impressionar o discipulador, ou para não
receber uma exortação.

c. O líder conversa com o seu pastor através do relatório


O relatório fala aquilo que o líder não falou. Uma das coisas mais
difíceis no relacionamento é a comunicação. Quando a comunicação
é saudável, o relacionamento também é.
Por isso, o discipulador precisa aprender a se comunicar com o
seu líder através do seu relatório. Isso não é apenas para checar se
há erros, mas para conhecê-lo melhor, até mesmo para motivá-lo a
continuar crescendo.
244 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

3. O relatório é seu espelho


a. O relatório mostra a realidade da célula
Às vezes gostamos mais da ilusão do que da realidade, pois
a realidade exige uma atitude da nossa parte. Quantas vezes, ao
olhar no espelho, você não tentou mudar a expressão do seu rosto,
puxando os olhos ou levantando o nariz, só para ver como seria se
algo mudasse em seu rosto?
Mas a verdade é que o espelho mostra o que você é e não o que
você gostaria de ser. Com o relatório é a mesma coisa. Ele mostra o
que a célula é, e não o que o líder gostaria que ela fosse.

b. O relatório mostra quem é o líder


No relatório da célula que o líder faz mensalmente, devem
constar dados pessoais do líder porque a célula é o reflexo do líder!
Você já fez aqueles testes de avaliação de desempenho? Normal-
mente, antes de fazer o teste, vem a orientação; responda exatamente
como é e não como você gostaria que fosse. Porque a tendência das
pessoas é mudar os dados. Alguns pensam que agindo pela fé as
coisas vão mudar e já consideram como sendo assim. Mas isso está
errado. Você só muda de verdade, quando você encara a realidade
como ela é.
O relatório deve mostrar a realidade da vida do líder, pois isso
reflete na vida da célula.

c. A imagem pode ser mudada


Se a imagem que você vê no espelho não lhe agrada, pode mudá-
la. Você pode cortar o cabelo, tirar as manchas e muito mais. Com o
relatório é a mesma coisa. Tentar esconder os fatos e os números não
ajuda a mudar a realidade. Mas avaliar e planejar uma mudança, sim.
O discipulador é aquele que ajuda o líder a criar estratégias para
levar a sua célula ao crescimento. Isso começa na prestação de con-
tas do líder através do relatório. Crescimento e multiplicação são
20º Dia – O discipulador como um supervisor 245

alvos planejados e possíveis de serem alcançados por todos e não


apenas por alguns.
Não se esconda atrás de uma maquiagem – relatórios inexis-
tentes. Seja autêntico! Encare os desafios e mude a realidade da
sua liderança!
A prestação de contas através dos relatórios é uma maneira
eficiente de se comunicar. Mas é preciso mudar a maneira como
os líderes enxergam o relatório. Do contrário, cria-se um círculo
vicioso e o relatório vai sempre parecer um bicho-de-sete-cabeças.
Discipulador, ensine o seu líder, desde o começo do discipulado,
a entender essas três características do relatório: ele é seu amigo, ele
quer se comunicar e ele é o seu espelho.
Certa vez um grupo de arquitetos, depois de construir um pré-
dio muito alto, precisava resolver o problema da demora dentro
dos elevadores. Eles descobriram que as pessoas tornavam-se mais
tolerantes quando tinham projetada, diante de si, a sua própria
imagem. Por isso passaram a colocar espelhos dentro dos elevado-
res. Resultado: o tempo dentro dos elevadores não mudou, mas a
atitude das pessoas sim.
As pessoas gostam de olhar no espelho, mas nem sempre gostam
do que veem. Com os relatórios acontece algo semelhante. É ine-
vitável não fazê-los, mas mesmo que os números não sejam o que
gostaria, aprenda a lidar com os fatos e a buscar resultados melhores!
Preencher relatórios é um suplício para muitos líderes. Fazer
com que entreguem pontualmente é outro suplício, agora, levá-los
a gostar do relatório, isso é um verdadeiro milagre!
Bem, talvez seja assim que você esteja pensando. Mas, deixe-me
lhe dizer algo sobre isso, que talvez você não saiba: “As pessoas fazem
as coisas motivadas por suas próprias razões!”
Certa vez em uma fazenda, o vaqueiro estava lutando para levar
um bezerro ao celeiro. Depois de muito suor, quase perdendo a
246 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

paciência, uma garota chega perto do bezerro e coloca o dedo na


sua boca, o bezerro então começa a andar e segue a garota até o
celeiro. O que aconteceu? Estimulado pelo dedo ele foi até a mãe
para mamar.
As pessoas são como esse bezerro. Você pode insistir com elas,
empurrar, ameaçar, mas muitas não se movem, não mudam. Mas,
se você der a elas uma boa razão, de modo que elas mesmas sejam
beneficiadas, elas seguirão em frente.
As pessoas reagem pelas suas próprias razões e não pelas razões
de outros. Normalmente essas razões tocam as suas emoções. É
por isso que as mães acordam durante noites seguidas para cuidar
dos filhos. Elas não fazem isso porque o médico as convenceu, mas
porque elas são tocadas pelo choro do filho.
Conquiste o coração do seu líder e ele vai responder a você. As
pessoas respondem àqueles que elas amam, não a tarefas!

Problemas: Como resolvê-los?


Tudo a seu tempo é saudável, mas fora dele é problemático.
Quando os problemas surgirem, devem ser encarados como uma
oportunidade de crescer, e não de enfraquecer a sua liderança. Tudo
depende da maneira como você os vê. Se forem tratados no tempo
certo, podem contribuir para o seu crescimento, se não, podem ser
prejudiciais a muitos.
Mesmo o líder mais experiente não está isento deles. A diferença
é que aprendeu a lidar com eles de maneira eficaz.
Por isso, vamos sugerir três maneiras de lidar com os problemas e
depois mencionar três tipos de atitudes que muitos têm em relação
a eles. Nosso objetivo é levá-lo a encarar os problemas como parte
do seu crescimento. Vamos chamar essas maneiras de “as três leis
da resolução de problemas”.
20º Dia – O discipulador como um supervisor 247

1. As três leis da resolução de problemas


Uma lei é algo que governa. Uma lei sempre tem resultados prá-
ticos. Por exemplo, a lei da gravidade: se você pular de um muro,
com certeza vai cair, e não voar.
Quando a Bíblia diz que “a lei do espírito da vida nos livrou
da lei do pecado e da morte”, ela nos mostra que existem leis que
têm o poder de anular outras leis. O que queremos dizer é que nos
relacionamentos acontece algo semelhante. Os problemas têm o
poder de roubar as forças do líder e de gerar nele desânimo, mas a
intervenção de alguém mais experiente, do discipulador ou pastor,
pode levá-lo a crescer em vez de desistir.
Discipuladores são pessoas que têm um detector de problemas
interno. Detectar um problema é tão importante quanto saber
solucioná-lo. Há pelos menos três maneiras práticas de você detectar
e resolver os problemas.

a. A lei da prevenção
Essa lei consiste em detectar os problemas antes que eles apare-
çam. Por exemplo, para motivar um líder desanimado, o pastor pode
decidir colocá-lo com um discipulador motivado e que está crescen-
do. A intenção nesse caso é boa, mas o efeito pode ser o contrário,
como? Pode ser que o desânimo do líder contamine o discipulador
que estava motivado e crescendo, e este venha a desanimar. Nesse
caso, o pastor ou responsável pelos dois deve intervir antes que isso
aconteça e separá-los. Melhor é preservar um do que perder os dois.
Percebe como houve uma intervenção para evitar o problema?
Existem muitos problemas que poderiam ser evitados, se a lideran-
ça interviesse antes deles se manifestarem. Mas, para isso, é preciso
ficar ligado e atento aos sintomas.
Um bom médico às vezes, pelos sintomas, consegue ter um
prognóstico. Não espere os problemas aparecerem, intervenha
248 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

assim que você perceber os sintomas. Aprenda a fazer isso, e seus


problemas diminuirão.

b. A lei da manutenção
A manutenção está associada a pelo menos dois aspectos prá-
ticos: a estratégia e a persuasão. As estratégias são planos de ação
para manter o trabalho funcionando adequadamente. Até aqui,
sem problemas à vista. Já a persuasão é a intervenção para evitar
que a situação piore.
Um exemplo de estratégia: Se você percebe que uma célula está
estagnada no seu crescimento e tanto o líder como os membros se
sentem acomodados com isso, é hora de intervir; pois, do contrário,
essa célula corre o risco de definhar e morrer.
Você pode lançar um desafio para cada membro, durante três
meses, levar três visitantes. Um visitante por mês não será um gran-
de desafio, mas irá mobilizar os membros a um propósito que com
certeza resultará em pessoas indo ao Encontro, se batizando e no
crescimento da célula.
A melhor coisa para mobilizar os membros é um novo conver-
tido. É como uma casa que não tem crianças, quando chega uma,
ela movimenta o ambiente. Agora, vamos associar manutenção
com persuasão.
A persuasão é a capacidade do discipulador de convencer o outro
a perseverar, mesmo em situações adversas, ou seja, no meio dos
problemas. Quando tudo está correndo bem, dificilmente alguém
pensa em desistir. Normalmente isso ocorre quando vem a crise.
É nessa hora que se perde o foco e é também nessa hora que a
liderança faz a diferença, pois é necessária a intervenção de outra
pessoa que veja com clareza a situação e ajude quem está desani-
mado a continuar.
Quando você tiver vontade de largar tudo, quero que se lem-
bre de uma coisa: “O pódio é daqueles que suportam as pressões!”
20º Dia – O discipulador como um supervisor 249

Aqueles que enfrentam tempos difíceis para continuar treinando,


que suportam as dores lombares até terminar uma corrida, são esses
que sobem ao pódio, não os que desistem.
Há um pódio celestial nos esperando e um prêmio a ser con-
quistado, mas enfrentar os problemas na liderança é uma das etapas
pela qual todos têm que passar.
Quando viajamos para o exterior, é comum irmos visitar
museus. Eu particularmente gosto muito. É impressionante ver
como eles conseguem manter objetos intactos por milhares de
anos. Com o passar do tempo, desenvolveram-se técnicas de
preservação e isso tem contribuído para que possamos usufruir
do prazer de admirar peças milenares nos museus. Sabe que isso
nos fala também de relacionamentos?
Precisamos aprender a desenvolver técnicas para solucio-
nar problemas no discipulado, pois elas ajudam a preservar
os relacionamentos.
A manutenção refere-se ao cuidado constante. Isso pode ser fei-
to através de comunhão constante no discipulado, com avaliação
periódica da liderança, com ministração espiritual mais profunda
na vida de seus liderados, através de retiro, jejum, algo que vá de
fato tocar na vida espiritual de seus discípulos. Tudo isso nos fala
de manutenção.
Quando é que um líder aprende a avançar? Quando ele aprende
a persuadir. E quando isso acontece? Quando surge algo que se in-
terpõe entre ele e os seus liderados: os problemas! Persuasão é algo
que todos sabem fazer, só é preciso fazer da maneira certa e com
motivações certas. Quando é que uma pessoa aprende a persuadir?
Desde a infância. Um bebê sabe fazer isso muito bem. Ele sabe que
quando chora, alguém vai pegá-lo e ele terá o que quer.
Mas, na liderança, quando isso acontece? Quando surgem os
problemas. Alguns problemas exercem mais poder na vida de alguns
líderes do que a própria visão. Por isso, eles param. É nessa hora
250 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

que o discipulador precisa usar sua influência para fazer duas coisas:
tratar com os problemas e motivar o líder a continuar.

c. A lei da reação
A lei da reação exige uma ação imediata do líder ou pastor para
impedir que os problemas roubem os frutos. É quando já se percebe
a queda dos números, a perda de alguns frutos e é preciso correr
para salvar o que resta.
O melhor é evitar para não chegar nessa situação, mas mesmo
que em alguns casos chegue, ainda é possível uma solução.
É importante que você como líder entenda que, quando os
problemas não são tratados, sua liderança não cresce. Líderes que
não crescem tendem a parar de liderar, porque as pessoas são mo-
tivadas pelos resultados. Quando os resultados não vêm, eles se
desmotivam e param.
É comum quando passamos um número expressivo de células
de um discipulador para outro, algumas células fecharem, porque
na verdade elas já estavam doentes, mas não eram tratadas. Quan-
do outro líder assume e vai checar os números do relatório com a
realidade, acontece o choque, pois os problemas aparecem.
Outras vezes o problema não está nos números, mas na pessoa
do líder. Por ele já estar desmotivado, ele aproveita a mudança de
sua liderança e sai, deixando os problemas para aquele que está
assumindo. Veja, os problemas já estavam lá, apenas não foram
detectados e tratados.
A atitude do discipulador em relação aos problemas é determi-
nante para levar o líder a crescer e se multiplicar de maneira saudável.

2. Atitudes erradas em relação aos problemas


Vamos falar de três atitudes erradas que o discipulador não deve
ter, de maneira nenhuma, para com os problemas.
20º Dia – O discipulador como um supervisor 251

a. Cumplicidade
É aquela atitude de ver o erro e não tomar providências para
corrigi-lo. Ser cúmplice é colaborar com o erro. O cúmplice não
comete o erro, mas se cala sobre ele, mesmo sabendo das consequ-
ências. Quando o discipulador vê o líder fazendo coisas erradas e
permite, sem tomar providências para evitar essa prática, ele está
sendo cúmplice do erro.
Um exemplo: Líderes que não vão à reunião da célula por
motivos fúteis. O discipulador sabe disso, mas apenas diz, “tudo
bem”! Nesse caso o discipulador está sendo cúmplice porque “tudo
bem” significa que a desculpa do líder é mais importante do que a
reunião da célula, que o compromisso do líder com os irmãos da
célula não é tão importante assim, e que o líder pode fazer outras
vezes se ele quiser.
Muitas vezes, a cumplicidade é uma maneira de o discipulador
poder justificar seus próprios erros. Para que no futuro ele possa
fazer o mesmo quando quiser. Quando o discipulador é firme, ele
tem que antes ser firme consigo mesmo. Como muitos não querem
esse padrão, acabam abrindo mão dele para os seus líderes também.
Cumplicidade é pecado: “Não te tornes cúmplice de pecados de
outrem. Conserva-te a ti mesmo puro”. (1Tm 5.22)

b. Complacência
É quando o discipulador ou pastor reconhece o erro, mas não
tem consequências. Ser complacente é ser tolerante com o erro de
outros no sentido de permiti-los. O discipulador complacente é
aquele que chega a falar do assunto, mas não mostra a seriedade do
erro, permitindo que o líder sofra as consequências dos seus atos.
Um exemplo disso: Durante o jejum de 21 dias, todos são con-
vocados a orar na igreja e a participar da leitura do livro. Um líder
não vai a nenhum dos dias, também não lê o livro que todos estão
lendo, então apresenta as suas desculpas e o discipulador aceita. Até
252 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

aqui, o discipulador está sendo cúmplice do erro, pois em 21 dias


com certeza ele poderia ter ido dois ou três dias, no mínimo. Ao ser
cúmplice, o discipulador impede o líder de crescer, pois não coloca
desafios para ele avançar.
Quando então, ele se torna complacente? Quando o discipulador
permite que esse líder vá ao Encontro e pregue. Na hora de formar
a equipe do Encontro, aqueles que foram orar durante os 21 dias
de jejum devem ser convocados e terem a oportunidade de pregar,
mesmo que o líder ausente pregue melhor do que eles. Quando o
discipulador age assim, está disciplinando o líder, permitindo que
ele sofra as consequências de suas próprias escolhas. O pai deve saber
a hora de disciplinar o filho. O pai que dá um sorvete logo depois
de o filho agir com rebeldia e desobediência, é um pai permissivo.
Isso não é bom nem para o filho nem para o discípulo.
Muitos líderes não avançam mais no seu caráter e na sua liderança
porque seus discipuladores perdem oportunidades preciosas de levá-
los a crescer. Nem sempre a maneira de sofrer as consequências é
punindo o líder, mas honrando outros líderes mais comprometidos,
dando-lhes a primazia. Não há nada mais difícil para um líder do que
ver os outros alcançando reconhecimento enquanto ele fica para trás.
Na liderança não deve haver competição, mas às vezes ela desper-
ta o líder a correr e recuperar-se do prejuízo. Cabe ao discipulador
saber trabalhar isso com sabedoria para que todos cresçam.

c. Omissão
É permitir que o líder continue na posição de liderança, depois
de um erro grave. Como o dicionário define o omisso? Como al-
guém negligente, descuidado!
O discipulador omisso é aquele que não diz o que deveria dizer,
não faz o que deveria fazer, não trata com os erros que deveria tra-
tar, faz vista grossa às faltas dos seus líderes. Alguns discipuladores e
pastores têm medo de perder seus líderes. Foi o mesmo caso de Saul,
ele tinha medo do povo abandoná-lo e tornou-se refém do povo. Se
20º Dia – O discipulador como um supervisor 253

você tem agido assim, deixe-me dizer algo: Ou você muda, ou Deus
vai removê-lo, porque você não está liderando na dependência de
Deus. Isso é colocar a confiança em homens.
Pessoas sempre vão nos abandonar, somente o Senhor jamais
nos abandonará. Coloque a sua confiança em Deus e dependa dEle
em tudo, até mesmo para tratar com os problemas e pecados de
maneira devida. Se você honrar o nome de Deus, não permitindo
que líderes liderem relaxadamente, Deus o honrará – “Aos que me
honram, honrarei!”.
Você pode honrar a Deus de várias maneiras, uma delas é quando
age de acordo com a autoridade que Deus lhe deu, autoridade para
ensinar e disciplinar. O discípulo que nunca é disciplinado jamais
será a imagem de Jesus, pois até mesmo Jesus aprendeu a obedecer
através das coisas que sofreu.
Ele não foi disciplinado, mas aprendeu através de sofrimentos.
Por isso, não poupe os seus líderes, deixando de tratar com os erros
que cometerem. Para o bem deles e de sua liderança, trate-os como
filhos; se for necessário, discipline-os! Ainda que, em alguns casos,
signifique removê-los da posição. Para isso é importante ter critérios
justos. Se for o correto, faça-o! Assim, ele e os outros saberão que
tipo de líder você é e que estamos servindo a um Deus santo e zeloso!
Se você for omisso, descuidado, você pode ser derrotado: “Subiu
Gideão pelo caminho dos nômades, ao oriente de Noba e Jogbeá, e
feriu aquele exército, que se achava descuidado.” (Jz 8.11)
Se você for omisso, Deus vai tratar com você. Adão foi omisso
no Éden, por isso ele não confrontou a mulher quando ela pecou.
Deus trata a omissão de maneira severa.

Preparando para se arriscar


O fracasso na identificação e no tratamento dos problemas é
como passar tinta em uma parede cheia de buracos. Mais cedo ou
mais tarde eles vão aparecer e alguém vai ter que tapá-los. Melhor
254 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

é fazer isso quando surgirem, antes que virem grandes brechas e a


parede venha a desmoronar.
O discipulador deve ter credibilidade com o seu líder. A primeira
coisa que o discipulador deve fazer no início do relacionamento é
conquistar a confiança do líder. Essa confiança vai crescer à medida
que o líder perceber que é amado e que o discipulado não é apenas
para cobrar dele uma tarefa.
As pessoas seguem outras por duas razões básicas: primeiro por-
que acreditam na sua visão, ou seja, ela confia que seu líder sabe onde
está indo e, por isso, decide ir junto. Segundo porque são valoriza-
das e amadas. Os discípulos seguiam a Jesus por essas duas razoes.
Na primeira vez que Jesus os chamou, Ele o fez por uma visão:
“Eu vos farei pescadores de homens!” Eles seguiram Jesus porque
creram nessa visão. Mas, na segunda vez, depois da sua ressurreição
quando perderam o foco da visão, Jesus os chamou de volta per-
guntando a Pedro: “Tu me amas?” Eles retornaram porque amavam
ao Senhor.
Credibilidade é confiança. Se o líder confiar nas motivações do
discipulador ao corrigi-lo, ele certamente vai responder de modo
correto. Mas, ainda assim, o discipulador deve se preparar para pos-
síveis perdas, porque nem sempre todos aceitam a correção.
Mas a maioria quer responder a Deus e fazer a coisa certa. Você,
como discipulador ou pastor, faça isso também!

Atraindo-os para uma visão mais alta


As pessoas não compram jornais, elas compram notícias! Mulhe-
res não compram cosméticos, elas compram uma aparência melhor!
Os atletas não se disciplinam apenas para não serem derrotados, eles
fazem isso porque acreditam que podem ser vencedores! Buscar uma
visão mais alta é simplesmente ajudar os outros a se tornarem o que
eles são de fato capazes de ser e o que querem ser.
20º Dia – O discipulador como um supervisor 255

Ao tratar com os problemas, não permita que eles se tornem o


foco. O foco é o crescimento do discípulo. A maneira como agimos
diante dos problemas mostra que tipo de liderança estamos exer-
cendo: a de um chefe ou de um líder?
O chefe dirige as pessoas, o líder as treina. O chefe diz “eu”, o
líder sempre inclui “nós”. O chefe busca culpados, o líder conserta
o erro. O chefe diz “vá”, o líder diz “vamos”. O líder não aponta o
caminho, ele leva o seu discípulo a percorrê-lo junto com ele.
Mas, antes de levar as pessoas, você precisa saber exatamente o
que quer fazer. Se o alvo do discipulador for crescer e multiplicar
suas células, ele dificilmente vai abrir mão de seus líderes por causa
de problemas.
Se ele for de fato preocupado com o crescimento dos líderes,
não permitirá que problemas permaneçam na sua liderança. O
que ele vai fazer? Encarar os problemas, lutar pelos seus discípulos
e motivá-los a um nível mais alto de liderança.
Certa vez, um treinador impôs um ritmo pesado de corrida
para um atleta que treinava para as Olimpíadas. Já exausto, o atleta
reclamou: “Não dá mais, vou parar para descansar”. Antes que ele
parasse, o treinador lhe perguntou: “Em qual lugar você quer chegar
quando estiver competindo?” Ele respondeu: “Em primeiro, é ób-
vio!” O treinador disse: “Então continue correndo!” Os problemas
não podem nos fazer parar. Precisamos continuar correndo. Se de-
pender de alguns líderes, eles vão parar. Mas, se depender de você,
discipulador, não pare e não permita que discípulos parem também!
21º Dia

Os resultados
do discipulado

O alvo do discipulado é a maturidade espiritual. Mas, para isso,


exige-se uma atitude certa tanto do discípulo como do discipulador.
Nosso alvo é reproduzir líderes maduros, e não estabelecer crianças
na fé ocupando posição de líderes.
O discipulado tem um poder tremendo de levar as pessoas a
desenvolverem sua vida espiritual. Quando ele acontece de maneira
viva e eficaz, tem o poder de marcar a vida das pessoas. O discipu-
lador é como um pai e uma mãe espiritual. Ninguém se livra de pai
e mãe, eles ficam dentro de nós para sempre!

O que o discipulado gera no discípulo


1. Desperta a fé do discípulo
Muitas vezes a fé do líder ainda é uma fé latente, que não se
manifestou ainda de forma expressiva na sua liderança. Vemos isso
na vida do profeta Eliseu. Quando ele recebeu a capa de Elias, a
258 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

primeira coisa que fez foi chamar pelo Deus de Elias. Ele viu Deus
usando Elias e isso despertou sua fé para realizar muito mais depois.
Primeiro Eliseu viu Elias fazendo o milagre.
Então, Elias tomou o seu manto, enrolou-o e feriu as
águas, as quais se dividiram para os dois lados; e passa-
ram ambos em seco (2Rs 2.8).
Depois, ele fez o mesmo.
Tomou o manto que Elias lhe deixara cair, feriu as águas
e disse: Onde está o Senhor, Deus de Elias? Quando
feriu ele as águas, elas se dividiram para um e outro
lado, e Eliseu passou (2Rs 2.14).
Certa vez um líder de célula nos contou algo interessante que
aconteceu na sua célula. Um dia apareceu uma pessoa possessa e,
enquanto os irmãos oravam, o endemoninhado saiu correndo. Só
que na varanda tinha uma célula de crianças se reunindo. Quan-
do o endemoninhado passou, uma criança percebeu o que estava
acontecendo, se levantou e o repreendeu em nome de Jesus. O en-
demoninhado caiu na hora. Quando os irmãos adultos chegaram,
ele já estava liberto.
Certamente essa criança conhecia sua autoridade no nome de
Jesus porque ouviu falar e também porque viu outros exercendo-
a. Ela apenas fez o mesmo porque creu. Quando a fé do discípulo
é ativada, ele vai realizar as mesmas obras daquele que o instruiu.

2. Desperta a sede
A sede espiritual não é algo que vem espontaneamente, ela precisa
ser despertada. Existe um ditado popular que diz: “Você não pode
forçar um cavalo a beber água, mas você pode despertar sua sede,
dando-lhe sal pra comer”.
21º Dia – Os resultados do discipulado 259

O discipulado tem o poder de despertar a sede do discípulo,


quando o discipulador é alguém que se relaciona com Deus de
maneira íntima. Esse relacionamento funciona como uma atração.
É como olhar alguém comendo algo saboroso, logo você sente von-
tade de comer o mesmo.
Esse tipo de atração é muito explorado pela mídia. Lembro-me
de uma propaganda de guaraná que mostrava uma pizza com queijo
bem suculento. O desejo pela pizza era associado imediatamente ao
refrigerante. Isso também funciona com as coisas espirituais.
Quando vemos alguém adorando ao Senhor com intimidade,
desejamos fazer o mesmo. Quando vemos o fluir da vida de Deus
na vida de nossos líderes, queremos também o mesmo fluir na
nossa. Por isso, é indiscutível que o testemunho do discipulador é
algo que confronta o líder. O discipulador desperta a sede do líder
pela presença de Deus, por conhecer mais de Deus, ser usado por
Deus, ver milagres, ter mais unção! É a sede que vai levar o discípulo
a buscar o Senhor.
É interessante observarmos como Jacó tinha uma atração pela
primogenitura, mesmo sabendo que ela pertencia a seu irmão Esaú.
De onde surgiu esse interesse? De sua mãe, Rebeca. Ela recebeu a
palavra de Deus que Jacó seria escolhido e não Esaú. Jacó cresceu
com essa sede por Deus, e isso o levou a alcançar a promessa de
Deus na sua vida.
É importante que você entenda que Deus só dá aquilo que
desejamos. Antes de Deus nos dar uma missão, desperta em nós o
desejo por ela, por exemplo, o desejo de casar, de gerar discípulos,
de multiplicar, de pastorear.

3. Desperta para uma visão


Quando viajamos para Israel, visitamos muitos lugares interes-
santes, mas um, em especial, foi de fato marcante, o monte Carmelo.
Lá de cima se tem uma vista belíssima da terra de Israel. É de lá
também que se pode avistar todo o vale do Armagedom.
260 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

Foi nesse monte que Elias orou sete vezes com o rosto em terra,
enquanto o seu servo olhava no horizonte para checar algum sinal de
chuva. Certamente, onde Elias estava não era boa a sua visibilidade,
por essa razão ele enviava o servo a um lugar mais alto.
Aqueles que estão em lugares mais altos têm uma visão
mais clara do que aqueles que estão mais baixo. No caso de
Elias, ele já via no seu espírito o que Deus ia fazer, só queria
uma confirmação.
Dependendo da posição em que uma pessoa está, ela conse-
gue enxergar melhor do que outra. Às vezes precisamos de outros
para nos mostrar a visão de Deus que, por alguma razão, ainda
não enxergamos.
No discipulado, nem sempre o discípulo entende a visão com
clareza. Ele precisa enxergar através dos olhos de seus líderes. Mas,
à medida que seus olhos espirituais são abertos, começa a enxergar
por si mesmo com mais clareza a visão de Deus para ele. O discipu-
lador não tem que despertar para algo novo, mas para a visão que
Deus já nos deu como igreja: multiplicar!

4. Desperta o seu potencial de liderança


Líderes não nascem prontos! Eles se formam através de outros
líderes! O discipulado tem o poder de despertar o potencial do
discípulo. Embora o discípulo não conheça o potencial que tem, o
seu discipulador o enxerga e o traz à existência.
O potencial é percebido de duas maneiras: primeira, através dos
frutos; segunda, através da maturidade. A verdade é que um leva ao
outro e ambos são resultados do discipulado.
Quando Jesus chamou seus discípulos, eles eram, em sua maio-
ria, pescadores. Eles não tinham nenhuma ambição de influenciar
as pessoas da sua época, muito menos em transformar suas vidas.
Mas depois que andaram com Jesus, começaram a se ver com os
21º Dia – Os resultados do discipulado 261

olhos de Deus. Sua perspectiva de vida mudou e cada um deles foi


levantado com ousadia para liderar outros.
Havia naqueles doze homens um potencial de liderança que
ninguém podia enxergar, mas Deus viu! Deus viu os frutos que eles
dariam, antes deles mesmos responderem ao chamado de Jesus.
Há um potencial de reprodução dentro de cada filho de Deus.
Esse potencial é despertado e desenvolvido no discipulado. O po-
tencial é percebido à medida que vêm os frutos, os filhos espirituais
que cada discípulo gera. Não existe nada mais poderoso para nos
levar a amadurecer do que filhos! Uma pessoa amadurece muito
mais depois que tem filhos. Ela é obrigada pelas circunstâncias a
esquecer-se de si mesma e pensar no outro. Enquanto ela for o cen-
tro, não crescerá. Depois que ela sai do centro e aprende a buscar
o melhor para os outros, amadurece rapidamente.
Com filhos espirituais acontece da mesma maneira. Por isso o
discipulado tem o poder de despertar o nosso potencial e nos levar
a crescer em maturidade espiritual.
Lembro-me quando começamos a Videira e estabelecemos os
primeiros líderes de célula. Certa vez um irmão querido, que hoje
é pastor, foi levantado para liderar uma célula. Desesperado, ele
procurou o pastor, um dia antes da reunião, para pedir que colo-
casse outra pessoa como líder. Ele simplesmente quase implorou
dizendo: “Passe de mim esse cálice!” Mas o pastor, depois de tentar
convencê-lo do seu potencial, sabiamente pediu para ele liderar
apenas a primeira reunião, e depois disso, se ele achasse que não
daria mesmo, eles procurariam por outro. Esse irmão fez isso. Ele
liderou a primeira, a segunda, a terceira e continuou liderando. Ele
descobriu o seu potencial de liderança, liderando! Hoje ele é pastor
de igreja local e é uma bênção!
O discipulado não apenas desperta o nosso potencial, mas tam-
bém nos conduz ao propósito de Deus para nós.
262 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

5. Desperta para o propósito de Deus na sua vida


Deus tem um propósito para cada um de nós dentro do Corpo
de Cristo. Pessoas maduras espiritualmente, que nos amam de ver-
dade, têm realmente o poder de nos influenciar. Creio que Deus
providencia pessoas assim na vida de seus filhos. Um exemplo disso
é Ester. Ela era uma jovem, não sabia o que Deus tinha para ela.
Ao ser escolhida para ser rainha, ela pensou apenas nos privilégios
que essa posição lhe concederia. Mas Deus já havia colocado um
homem, com um coração consagrado, que a ajudaria a discernir o
propósito dEle para ela, no tempo certo.
Mordecai foi usado para despertar Ester para o propósito de
Deus para ela.
Porque, se de todo te calares agora, de outra parte se
levantará para os judeus socorro e livramento, mas tu e
a casa de teu pai perecereis; e quem sabe se para conjun-
tura como esta é que foste elevada a rainha? (Et 4.14)
O discipulado é um relacionamento com um propósito: levar
pessoas a discernir e cumprir o propósito de Deus. Muitos têm
uma palavra de Deus que queima em seus corações por anos, mas
não sabem discernir o tempo. Discernir o tempo é um dos grandes
segredos para você ser bem-sucedido.
Se Davi não discernisse o tempo de Deus, ele poderia ter matado
Saul quando teve oportunidade para isso. Se os discípulos não dis-
cernissem o tempo, eles poderiam ter perdido o derramar de Deus
no Pentecostes. Se Jesus não discernisse o tempo, Ele poderia ter
perdido o milagre da ressurreição de Lázaro. Discernir o tempo faz
parte do sucesso da liderança. Muitos têm perdido os frutos porque
não discernem o tempo e não se submetem àqueles que poderiam
discernir por eles.
21º Dia – Os resultados do discipulado 263

O que o discipulado gera no discipulador


À medida que você investe na vida de outras pessoas, você tam-
bém cresce. Os filhos nos desafiam a crescer e a tomar atitudes de
adultos na fé. É nessa hora que você decide: ou você responde a
Deus e cresce, ou continua imaturo e sem frutos.
A verdade é que a maturidade espiritual é perceptível na vida
de todos os que estão comprometidos no relacionamento de dis-
cipulado. Essa maturidade é percebida na vida do discipulador de
cinco maneiras distintas.

1. Gera realidade de vida


Enquanto você não tem filhos, vive como quer: não tem que
prestar contas a ninguém. Depois que os tem, sua realidade é checa-
da nos filhos. Como? Se você é alguém responsável, se cuida direito
deles, se os alimenta, se os educa ou não.
Os filhos espirituais geram em nós realidade de vida porque
nos forçam a crescer. Se você não tem realidade em Deus, você é
obrigado a buscar.
Lembro-me quando tivemos nossa primeira filha. Os três pri-
meiros meses pareciam uma eternidade. Eu pensei que nunca mais
iria dormir na minha vida. Meu maior desejo naqueles dias era po-
der dormir uma noite inteira, oito horas seguidas. Enquanto não
tínhamos filhos, eu dormia o quanto queria.
Mas, veja, se eu continuasse a fazer isso depois que minha filha
nasceu, eu seria irresponsável! Pois ela dependia de mim. Seu filho
espiritual é seu espelho! Se antes você vivia de aparência, agora seu
filho mostrará quem realmente você é!
Um exemplo prático é a frequência aos cultos no domingo. O
fato de você ter que formar esse hábito nos seus líderes força você a
dar o exemplo. Quando você se compromete a ir aos cultos sema-
nalmente, você cresce na vida espiritual, porque é alimentado no
seu espírito. Áreas de sua vida que não tinham realidade espiritual
264 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

passam a ter porque você investe nelas. O fato de ter que prestar
contas a alguém leva as pessoas a crescerem espiritualmente!

2. Gera quebrantamento
Os relacionamentos são as lixas que Deus usa para nos afinar!
Quando falamos em investir em potencial, tudo parece tão bom e
interessante. Mas quando somos obrigados a nos relacionar com
pessoas difíceis ou muito diferentes de nós, acabamos crescendo
mais, porque somos desafiados a praticar o fruto do Espírito: “Mas
o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benigni-
dade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gl 5.22).
Só podemos praticar o fruto do Espírito quando vencemos a
carne. São aqueles momentos em que você tem que se submeter,
quando na verdade você queria mesmo era chutar o balde! Mas, é
assim que amadurecemos em Deus.
No primeiro retiro de discipulado que eu fui, Deus começou
a me ensinar algumas lições preciosas. No primeiro dia, logo pela
manhã o pastor disse para cada um fazer seu devocional separada-
mente, antes do café. Naquele dia eu me prostrei diante de Deus,
chorei na Sua presença, estava me sentindo tão quebrantada e com
forte desejo de conhecer mais de Deus. Então, eu orei e pedi ao Se-
nhor que me ensinasse a ser humilde, pois eu queria crescer. Mas eu
não imaginava que Deus iria responder tão rápido a minha oração.
Logo que voltei do meu devocional, antes de entrar no refeitório
para tomar meu precioso café da manhã, minha discipuladora veio
com um balde e uma vassoura e disse que eu tinha sido escalada
sozinha para lavar cinco banheiros femininos e que eu deveria ir
imediatamente. Eu olhei para ela, respirei fundo, de repente come-
çou a subir aquela vontade de retrucar e dizer um “não” bem alto.
Mas, na hora, eu me lembrei de minha oração. Quase que eu chutei
literalmente o balde, mas fiz o que tinha que fazer. Enquanto eu
lavava o banheiro e fazia vômito, pois alguns estavam em péssimas
21º Dia – Os resultados do discipulado 265

condições, o Espírito de Deus falava comigo, e depois eu fui tre-


mendamente abençoada naquele retiro.
Ora, se dependesse de mim, eu jamais escolheria essas circuns-
tâncias para crescer, mas graças a Deus não depende de nós. Deus
sabe muito bem como nos quebrantar. E Ele usa os relacionamen-
tos dentro do discipulado para isso. Nós só precisamos responder.
O quebrantamento vem quando você tem que reconhecer que
você não é tão maravilhoso como pensava que fosse. É quando
você vê outros líderes crescendo, multiplicando as suas células, tes-
temunhando coisas tremendas que Deus fez e você está passando
por aquela sequidão, quando não vê nada acontecendo, só líderes
desistindo, pessoas problemáticas e os alvos, longe de serem alcan-
çados. Aí, você busca o Senhor e clama por um milagre!
Sem esses desafios do discipulado, dificilmente alguém é que-
brantado. Quebrantamento é quando você reconhece a sua impo-
tência em produzir resultados.
É você ter que encarar os irmãos quando tem vontade de esconder
o rosto. É ter que perseverar na liderança, quando tem vontade de
largar tudo. É perseverar no meio da tribulação, ter uma palavra de
Deus para os irmãos, em tempos de aridez, reconhecer suas fraquezas,
sacrificar a carne, sofrer a perda, sofrer a vergonha, é crer que Deus
fará sair água da rocha. Isso é quebrantamento.

3. Desenvolve a sua liderança


No discipulado você desenvolve a capacidade de organizar, de
liderar pessoas, de levá-las a funcionar na sua função. Os desafios
têm o poder de despertar seu potencial de liderança.
O discipulador é desafiado a fazer coisas que nunca fez, como
por exemplo, pregar, fazer um velório, aconselhar um casal que quer
266 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

se separar, ajudar um pai desesperado com um filho doente. Além


do lado natural da liderança, como organizar uma festa, levantar
dinheiro para comprar uma cesta básica, mobilizar pessoas para
um grande evento evangelístico etc. Tudo isso força a pessoa a ter
iniciativa e procurar soluções, por isso sua liderança se desenvolve.
Há um ditado que diz, “Nada deveria ser feito pela primeira vez!”
Porque nem sempre acertamos na primeira vez. Na liderança isso
é um fato. Liderar é também levar outros a fazer o que precisa ser
feito. Além de desenvolver o seu próprio potencial, o discipulador
também leva outros a fazer o mesmo, o que não é fácil!
Uma das coisas mais difíceis da liderança é saber delegar. Mas
todo líder precisa aprender, pois o líder bem-sucedido é aquele que
alcança bons resultados através do trabalho de outros.

4. Leva a ser cheio do Espírito


É ilusão achar que podemos nos encher do Espírito sozinhos, ou
viver desconectados dos nossos irmãos. O encher-se do Espírito tem
tudo a ver com relacionamento. “Mas, enchei-vos do espírito; falando
entre vós [...] sujeitando-vos uns aos outros” (Ef 5:19).
Os relacionamentos nos forçam a crescer em Deus. Quando
alguém está numa posição de liderança, procura dar o exemplo. Os
filhos se preocupam mais em respeitar os pais, as mulheres procu-
ram ser mais submissas a seus maridos para dar bom testemunho,
os homens se dispõem mais ao quebrantamento. Quando há essa
disposição em ceder e vencer a carne, damos lugar ao espírito, por
isso, nos enchemos mais facilmente.
Alguém que anda sozinho e não dá satisfação a ninguém não
tem esse tipo de preocupação, por isso, corre o risco de se encher
menos. Um bom discipulador ajuda muito o seu líder a crescer,
quando o ensina a submeter-se, dando-lhe o exemplo. Quando
os seus discípulos crescem, a sua liderança cresce também. Pois o
crescimento do discipulador é percebido na vida de seus discípulos.
21º Dia – Os resultados do discipulado 267

A Bíblia diz que a criança entregue a si mesma envergonha a sua


mãe. Esse mesmo princípio se aplica aos discípulos. Um discípulo
que se comporta mal envergonha o seu discipulador. Por outro
lado, aquele que tem um bom testemunho e bons frutos honra o
seu discipulador.

5. Leva-o a multiplicação
A maneira de nos multiplicarmos é através do discipulado. Só
pode gerar discípulo quem é discípulo.
O crescimento do discipulador é visto através de seus frutos,
quando ele levanta discípulos de acordo com o seu DNA, ou seja,
líderes levantam outros líderes, discipuladores transformam líderes
em discipuladores, pastores geram outros pastores. A multiplicação
é a prova da aprovação. É por onde vem o reconhecimento. Tiago
diz que é pelas obras que você prova sua fé.
Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-
me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, te
mostrarei a minha fé. (Tg 2.18)
Certa vez um mestre queria ensinar uma lição ao seu discípulo
e o levou a um rio. Pediu-o para se abaixar e pegou sua cabeça e
enfiou-a dentro d’água, segurando-a por alguns minutos. Quando
o discípulo já estava se debatendo, ele retirou sua cabeça para fora
d’água e lhe perguntou: “O que você desejou mais do que tudo
enquanto você estava debaixo d’água?” Ele logo respondeu: “Ar, é
lógico!” O mestre, então, lhe ensinou uma das lições mais importan-
tes de toda a sua vida, dizendo: “Quando você desejar o Senhor da
mesma maneira que você desejou respirar enquanto estava debaixo
d’água, então você poderá ser realmente um discípulo”.
Essa é uma verdade tremenda. Você só alcançará em Deus aquilo
que buscar de todo o seu coração. Ame ao Senhor de todo coração,
de toda alma e com toda sua força! Alguns querem estar no dis-
268 21 dias na vida de um discípulo – Edificando relacionamentos para o reino

cipulado, mas não querem pagar o preço por ele. O propósito do


discipulado é dar frutos. Frutos têm preço!
Há muito tempo nós tínhamos em nossa casa um quadro com
a seguinte frase: “Terei tudo de Deus, quando Ele tiver tudo de
mim!” Embora não tenhamos mais o quadro, a lição permanece
dentro de nós. É por isso que temos alcançado os frutos que Deus
tem nos dado, porque descobrimos o segredo: uma fome e uma
sede insaciável pelo Senhor!
Guarde no seu coração cada um dos princípios compartilhados
neste livro. Eles não foram tirados de algum manual, mas de expe-
riências ao longo de muitos anos.
Hoje nós temos como igreja uma oportunidade única, de gerar
e multiplicar discípulos de Jesus. Tudo está a nossa disposição para
cumprir esse chamado. Não perca tempo com banalidades na vida
cristã. Responda a esse chamado e lembre-se: um dia todos nós es-
taremos diante do Senhor e os nossos frutos falarão a nosso respeito.
Mas àquele a quem muito foi dado, muito lhe será
exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais
lhe pedirão. (Lc 12.48)
Sobre o Livro

Categoria wVida Cristã / Devocional / Jejum


Fim de execução w Outubro de 2009

Formato w 14 x 21 cm
Mancha w 10 x 18,5 cm
Tipo e corpo/entrelinha w AGaramond w 11,5/14 (texto); AGaramond w 24/28,8
(títulos); AGaramond w 15/18 (subtítulos); AGaramond w 11,5/16 (tópicos);
AGaramond w 11/16,5 (citação)

Papel w Sulfite 70g/m² (miolo); Prolan 80g/m² (capa)

Tiragem w 2000 exemplares


Impressão w Gráfica e Editora Renascer

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