O Ensaio Coral Sob A Perspectiva Da Performance Musical
O Ensaio Coral Sob A Perspectiva Da Performance Musical
O Ensaio Coral Sob A Perspectiva Da Performance Musical
corais amadores
Curitiba
2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
Curitiba
2010
Catalogação na Publicação
Aline Brugnari Juvenâncio – CRB 9ª/1504
Biblioteca de Ciências Humanas e Educação - UFPR
CDD 782.5
Autorizo a cópia de minha dissertação, intitulada O ensaio coral sob a perspectiva da performance
musical: abordagens metodológicas, planejamento e aplicação de técnicas e estratégias de ensaio
junto a corais amadores, para fins didáticos. © Priscilla Battini Prueter
O ensaio coral sob a perspectiva da performance musical: abordagens
Banca Examinadora:
___________________________________________
Presidente, Profª. Drª. Zélia Maria Marques Chueke (UFPR)
___________________________________________
Presidente, Profª. Drª. Rosane Cardoso de Araújo (UFPR)
___________________________________________
Presidente, Prof. Dr. Sérgio Luiz Ferreira Figueiredo (UDESC)
___________________________________________
- suplente
Curitiba
Outubro de 2010
Dedico aos meus amados filhos, Thiago e Gabriel.
Agradecimentos
Agradeço meu marido, Luiz Guilherme: por ser a tônica da minha vida, onde sempre
posso encontrar repouso. Pelo companheirismo e apoio infinitos. Enfim, quem
realmente me rege e me conduz a novas descobertas.
Agradeço meus filhos, Thiago e Gabriel. Por meio de vocês pude vivenciar o amor
mais intenso, sincero e incondicional que eu poderia sentir por alguém.
Agradeço toda a minha família, que me apoiou nos momentos mais difíceis deste
mestrado. Especialmente minha mãe, que acreditou que este sonho seria possível e
mesmo contra a opinião de muitas pessoas, sempre me apoiou na escolha
profissional que fiz.
Agradeço a todos os meus queridos coralistas dos vários corais que já regi. Faço um
agradecimento especial aos meus queridos cantores dos Corais da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná.
(DECKER, 1995)
O ensaio coral sob a perspectiva da performance musical: abordagens
RESUMO
ABSTRACT
From the perspective of musical performance, the present study discusses the
methodological approaches and the technical applications that effectively contribute
for the development of choral performance during rehearsals. It expatiates on the
interpretative process related to choral practice and to the aspects of performing,
which conductor and singer practice simultaneously while playing a musical piece. It
broaches the aspects that must be considered for an adequate ensemble repertoire
choice.
This study also analyzes issues such as the importance of using a correct singing
technique in rehearsals, as well as the significance of the conductor's own singing
technique. Finally, this research delineates the rehearsal planning, content
organization and the use of rehearsal strategies and techniques which might offer the
conductor a better rehearsal pace and improve choir performance.
1. Introdução _____________________________________________________ 1
1. INTRODUÇÃO
1
Cf : Chueke, Zélia. “Music Never Heard Before: the fear of the unknown”.
MusicaHodie.Vol.3n°1/2003, p.102. Included in the category of educator are critics, performers,
concert managers, all who are involved in leading people into the music world.
2
STORTI, Carlos Alberto. 1987. p, 37. YARRINGTON, John. 1990. p, 45-52. GREEN, Elizabeth A. H.
1997. p, 221. ZANDER, Oscar. 2003. p, 227.
3
Vide capítulo 2, subtítulo sobre Performance, interpretação e prática musical, p. 12.
2
tenha sido realizada com antecedência nos ensaios”. Não seria o caso de se repetir
exatamente a mesma coisa todos os ensaios, mas sim de buscar a fixação da
performance almejada.
Portanto, o regente precisa considerar várias questões ao preparar e planejar
seus ensaios, como aponta Moore (1999, p.47)
4
Escola de Música e Belas Artes do Paraná
4
Por vezes o mau resultado de alguns grupos corais é, ora justificado pela falta
de recurso humano, ora por falta de capacidade técnica dos coralistas, ora pela
diferença de objetivos entre a função do coral e o desejo do regente.
Para a autora desta pesquisa, os fatores discutidos acima, além de poder
revelar uma situação atual do profissional coral, também podem possibilitar uma
nova abordagem. Uma abordagem onde todos os mesmos fatores também farão
parte da preparação do regente, pois serão considerados durante o planejamento
dos ensaios. Nesse sentido, a falta de um preparador vocal, por exemplo, deve ser
discutida na forma em como o regente desenvolverá os aspectos vocais do coro e
não somente esperar que o desenvolvimento vocal ocorra apenas quando tiver a
possibilidade de agregar a presença deste profissional ao trabalho coral.
A exigência de um profissional polivalente frente aos grupos corais sugere um
aprofundamento sobre o tema, pois não se acredita que um mau desempenho do
coro possa ser justificado por tais fatores. Acredita-se que todos esses fatores
devem fazer parte do planejamento do regente.
A autora sustenta que o desenvolvimento do gestual está implícito na
preparação do ensaio e deve ser igualmente adaptado ao grupo.
Como citado por Fonterrada (2004)
5
Os termos leigo e amador serão discutidos posteriormente.
6
Tradução da autora: Two major functions will be pertinent to your role as conductor: organizing and
teaching. Your success as a conductor will be based on your competence to perform these two
functions.
6
7
A discussão sobre regência e comunicação será ampliada no capítulo 2.
7
O som do seu coro será uma exposição da sua habilidade em transmitir seu
conhecimento, em aumentar e refinar suas técnicas pedagógicas, em
estimular e manter nos seus cantores a dedicação às normas vocais e
musicais, em dar forma às nuances silábicas e melódicas, em expandir o
conhecimento e proficiência técnica de seu coro e em conduzir o grupo à
performance artística.
1.1 Metodologia
8
LIMA, 2006, p.12
9
The term commonly used to describe the process of preparing for a performance is of course
‘practice’ – but this can mean many things.
10
[…] Musical practice in fact consists of a variety of different but interrelated activities including
memorization, the development of technical expertise and, ultimately, the formulation of
interpretations. REID (2008, p. 102)
11
Developing the ability to perform, DAVIDSON (2008); Preparing for performance, REID (2008); The
fear of performance, VALENTINE (2008)
13
Dentre todas as artes, a música é por excelência uma arte temporal. Cada
performance, cada ensaio torna-se um acontecimento único, uma vivência que se dá
no momento da execução musical.
Pareyson (apud LIMA, 2005, p. 22) relata que “a música só encontra sentido
na execução, ela é que manifesta o texto musical em sua plenitude, mesmo que haja
possibilidade de uma interiorização sonora por parte do intérprete e do compositor”.
Ou seja, o intérprete se torna um “embaixador” das intenções do compositor,
sendo que as intenções primárias da criação musical precisam ser compreendidas e
corretamente repassadas para o espectador.
Fernandes, Kayama, Östergren, (2006, p. 52) reforçam que “no que tange a
questionamentos envolvendo a performance coral em épocas e culturas diversas, a
busca de respostas calcadas em evidências é uma atitude que pode dar grande
dimensão ao processo interpretativo”.
Historicamente, a própria figura do maestro nos mostra o caminho que foi
trilhado até os dias atuais para que se consolidasse seu papel frente ao grupo coral,
todavia tais modificações históricas não serão discutidas aqui. Basicamente, o
regente exerce, no mínimo, três funções básicas frente ao coro: mantém o battere13,
faz decisões de cunho interpretativo sobre a obra e também administra o coro 14.
De acordo com Fernandes, Kayama, Östergren (2006, p. 34)
12
A discussão sobre ensaio será discutida posteriormente.
13
Termo utilizado para definir a pulsação feita pela mão direita do regente, enquanto a mão esquerda
é responsável basicamente pelas entradas, cortes e dinâmicas.
14
Funções do regente retiradas do verbete Conducting do The New Grove Dictionary.
14
15
Tradução da autora: Creating music with choral instrument.
15
Moore (1999, p. 48) diz que “o ensaio torna-se o foco do processo de música
coral, até mais significativo que a própria apresentação”. Assim sendo, o foco da
preparação do regente deve ser o ensaio de seu coro. É durante o ensaio que o coro
aprende música e todos os aspectos importantes relacionados à execução musical.
A apresentação apenas encerra um ciclo e o canto coral sob esta perspectiva,
conota que a performance ocorre durante todo o processo, ou seja, da escolha do
repertório – que gira em torno dos objetivos e capacidade do coro - até a
apresentação.
16
Tradução da autora: Every rehearsal is a performance for the conductor.
17
Tradução da autora: The purpose of the rehearsal is to bridge the gap from conductor to
performers, to give the players an opportunity to fit their own individual part into the unified whole. The
conductor is the unifying agent.
16
o regente precisa escutar, ouvir o que se canta, ou mais ainda, deixar soar a
canção engasgada na garganta! Só assim o cantor deixará de temer que a
sua canção não esteja de acordo com o pensamento do regente, quando
esse ao contrário do que foi dito, fica distante, assumindo poder e
autoridade.
18
Tradução da autora: The function of conducting is communication.
17
1.
2.
O gráfico esquematiza que “após ensaiar, regente e coro terão como meta
comum uma comunicação artística com o público19” (DECKER, 1995, p. 2)
Ainda de acordo com Decker (1995, p. 1) “a regência apresenta
oportunidades musicais e desafios para a comunicação” 20.
19
Tradução da autora: After rehearsing, conductor and ensemble will have as their common goal an
artistic communication with an audience.
20
Tradução da autora: Conducting presents musical opportunities and challenges for communication.
18
Verifica-se que o coro amador, de acordo com este último autor, é formado
por amadores e por pessoas que não leem partitura. Ambos fazem parte do coro
amador, o que dentro do contexto oferecido por Rocha, pode conotar que o coro
amador também é formado por pessoas sem conhecimento técnico em música.
O termo profissional geralmente está relacionado ao nível técnico que o coro
possui. Rocha (2004) discorre em um exemplo sobre corais profissionais, que estes
são formados por cantores profissionais e apresenta problemas relacionados ao
conhecimento técnico dos cantores, como por exemplo, a falta de leitura à primeira
vista.
(Corais) Apenas são instrumentos nas mãos de nossa cultura que os julga e
os classifica em a [sic] segundo escalão e os enquadra no estereótipo
cantar “cantar para ser feliz, só”, “cantar de graça ou em troca de um
lanchinho”etc. Quem pensa assim a respeito de todos os corais amadores,
pode estar redondamente enganado. Muitos corais amadores superam
corais profissionais em repertório, nível técnico e qualidade artística.
[...] Não existe uma técnica padrão para ensaios, mas antes uma técnica
específica para cada ensaio, escolhida em função do conjunto (orquestra
e/ou coro), da obra e da circunstância, dividiremos este item em duas
partes, considerando a particularidade da cada uma. São elas: técnicas em
função do conjunto e técnicas em função da obra22.
Este autor traz uma importante colaboração para esta pesquisa quando
afirma que não existe uma única técnica, mas uma técnica para cada ensaio e em
função de diversos fatores. Ao se pensar desta forma, o ensaio então, pode ser
compreendido como algo orgânico e mutável. Corroborando com esta afirmação,
pode-se verificar que Martinez (2000, p. 121) afirma que “existem diversas maneiras
de se realizar um ensaio”. O autor destina um capítulo de seu livro ao tema técnicas
de ensaio e sugere procedimentos que podem fazer parte do ensaio, como por
exemplo: relaxamento corporal, técnica vocal, aquecimento, ensaio de naipes,
ensaio em conjunto, estudo do texto.
Martinez (2000) sustenta que todo o trabalho do maestro, sobre técnicas de
ensaio, deve ser planificado. Essa planificação deve conter horários e a descrição
exata dos procedimentos adotados. No capítulo destinado à técnicas de ensaio,
discorre sobre o posicionamento do coro como forma de proporcionar equilíbrio
entre os naipes.
Não obstante, o planejamento do regente deve ser elaborado com o intuito de
colaborar para organização do trabalho, definição de objetivos e clareza de
propostas. Portanto, deve haver uma flexibilidade sobre os procedimentos adotados
21
Monografia de conclusão de curso: Dinâmica de Ensaio Coral. LOPES, PEREZ, PATRIOTA,
NOGUEIRA, URTADO. 2007. Universidade Federal de São Carlos.
22
Grifo do autor.
24
para que a planificação sugerida por Martinez (2000) não se torne um impedimento
no desenvolvimento de novas propostas e descobertas que venham a ocorrer
durante o ensaio coral.
Zander (2003, p.13) também direciona um de seus capítulos ao tema técnica
de ensaio. Aborda a temática com exemplos de exercícios que podem ser aplicados
em casos específicos de dificuldade de aprendizagem do coro em situações como:
passagens difíceis da partitura, expressões corretas que devem ser utilizadas pelo
regente enquanto explica e a aplicação de exercícios para correta execução de
efeitos assim como coloraturas e vocalizes.
Zander (2003) afirma que
Até que ponto deve um regente preparar seu ensaio? Este é, para mim, um
ponto problemático. Sem dúvida, durante o estudo de uma obra, vão
surgindo as idéias sobre a maneira de como conduzir o ensaio, em suas
várias etapas. Uma das preocupações iniciais, principalmente na fase de
leitura, é que notas e ritmos errados não se estabeleçam. È a grande
paranóia dos regentes. Ao estudarmos uma partitura, começamos a
perceber pontos onde, provavelmente, o coro terá dificuldades, tanto no
ritmo, quanto nas alturas, ou na pronúncia. O problema é que
“provavelmente” não significa “certamente”. A paranóia pode fazer ocorrer,
27
por exemplo, que o regente fique buscando, durante todo o ensaio, “aqueles
pontos” que ele previu. Se “aqueles pontos” não ocorrem, acaba o regente
ficando perplexo, sem ter o que dizer, repetindo os trechos eternamente até
que, eventualmente, o problema ocorra e ele apareça com a solução tão
acalentada. Pior, ainda, é a situação em que o regente está tão preocupado
com “aqueles pontos” previstos, que não percebe outros, mais graves, que
ele não havia previsto.
Nesse sentido, o ensaio deveria ser o centro das atenções de todo regente
coral, uma vez que é durante esse período que se dá o aprendizado dos cantores e
uma consequente construção da performance do grupo.
28
Neste caso, o cantor coral precisa que o regente dê a ele um retorno sobre
sua performance pois ela está sendo construída a cada ensaio. Até mesmo cantores
experientes necessitam desse tipo de retorno. Nesse caso, o papel do regente é
também de servir como um terceiro ouvido para o cantor coral.
23
Tradução da autora: Too often when choirs sing the correct rhythms and pitches musically, with
perfect tone and dynamics, we give them global feedback. We simply congratulate them by saying,
“Good”. Or worse, when things are good, sometimes we say nothing at all.
29
O mesmo autor também sustenta que os regentes precisam “ser tão exatos e
detalhistas ao fornecer ao coro um reforço positivo quanto são ao descrever seus
erros enquanto cantam24” (op. cit. BRINKMEYER, 2006, p. 9)
Silatien (1999) enfatiza que o ensaio só deve ser interrompido com um
propósito bastante específico e que durante a interrupção deve-se trabalhar apenas
um objetivo, pois “jogar para o coro várias informações de uma vez apenas confunde
os cantores e não é eficaz no que se refere a promover mudanças” (1999, p. 92-3).
Silatien (1999) ainda aponta que as repetições durante o ensaio devem fazer
sentido e que repetições de notas incorretas reforçam o erro (1999, p. 92-3).
O regente poderá desenvolver a escuta de seus cantores por meio de
reforços positivos na maneira como ensaia. Lembrando que, como já dito
anteriormente, cada aspecto trabalhado com o coro, irá se refletir em outros pontos
do repertório ou do ensaio.
Brinkmeyer (2006, p. 9) corrobora com tal afirmação ao apontar que os
maestros precisam oferecer oportunidades para que os estudantes possam
manipular suas habilidades e que cantar no coro é um meio bastante propício para
isso25.
Ainda na forma como o maestro conduz o seu ensaio, Silatien (1999, p. 94)
verifica que “a proporção do tempo em que o coro se encontra cantando durante o
ensaio em relação ao tempo despendido em conversa pode ser muito reveladora”.
Busch (1984) compartilha alguns dos procedimentos que podem orientar a
atuação do regente durante os ensaios, quais sejam:
24
Tradução da autora: Be as accurate and detailed in providing your positive reinforcement as you are
in describing the errors in their singing.
25
Tradução da autora: Provide opportunities for students to manipulate their language skills. Singing
in a choir ensemble provides an excellent vehicle for this. Brinckmeyer, Lynn. Does your verbal
feedback nurture or starve your students? Food for thought. In: The Choral director’s cookbook:
Insights and inspired recipes for beginners and experts. Meredith Music Publications. 2006
30
incentivar positivamente;
comunicar claramente quais são os problemas a serem resolvidos;
ensaiar;
prestar atenção ao relógio para administrar o tempo que se despende com
cada trecho do ensaio e repetir uma seção inteira após ensaiar apenas um
trecho problemático, ou seja, contextualizar o acerto dentro da obra.
26
KERR (2006), SILATIEN (1999), SCHIMITI (1997), DECKER (1995), MARTINEZ (2000)
27
Ver a discussão sobre planificação de ensaios na p. 24 desta dissertação.
31
Decker (1995, p. 82) afirma “o ensaio inicial de uma obra pode influenciar
notadamente a velocidade com que a obra será aprendida e lapidada” 29.
Silatien (1999, p. 92) oferece uma opção de como se pode iniciar 30 o ensaio
de uma nova obra com o coro
Tente uma leitura completa de uma nova obra para oferecer ao coro uma
visão geral da peça. Em seguida, divida a obra em seções e ensaie
passagens difíceis. Nessas passagens, isole os elementos musicais –
melodia, ritmo e texto - e trabalhe um elemento de cada vez. Se muitas
dificuldades forem apresentadas de uma só vez, nenhuma será tratada
apropriadamente.
Nem sempre será necessário seguir esta orientação, visto que uma aparente
dificuldade para um determinado coro pode não ser tão difícil para outro.
O regente precisa avaliar como mensurar a dificuldade técnica de um trecho
musical. Onde está a dificuldade? Trata-se de um problema de emissão vocal no
registro agudo das sopranos? Trata-se de um intervalo? Trata-se de uma célula
28
Ver p. 24 sobre técnicas de ensaio.
29
Tradução da autora: The initial rehearsal of a work can influence markedly the speed with which
that work is learned and polished.
30
KERR (2006, p. 212) comenta que Robert Shaw recomendava que os regentes andassem em
direção à sala de ensaio no tempo da primeira música a ser ensaiada [...]. Tal prática pode contribuir
para uma melhor concentração do maestro na música e colaborar para o início do ensaio.
32
rítmica específica? Uma dicção imprecisa poderia atrapalhar uma parte rítmica? O
coro todo ou apenas um naipe apresenta problemas?
O estudo da obra e o planejamento de ensaio devem preparar o regente, a
ponto deste saber se alguma dificuldade pode aparecer durante o ensaio, mas
principalmente, o motivo do trecho ser de aprendizagem complicada. Sabendo o
motivo, torna-se mais simples e prático estabelecer uma maneira de resolver o
problema, caso ele apareça.
Ainda sobre possíveis abordagens metodológicas do ensaio coral, pode haver
questionamentos quanto ao uso da partitura para cantores que não possuem leitura
musical. Sobre este assunto Figueiredo (2006, p. 23) afirma que
Todo cantor de coro deve ter consigo sua partitura, mesmo que nada saiba
sobre notas ou valores. A experiência demonstra que cantores
permanentemente estimulados a ler música durante os ensaios
desenvolvem essa habilidade de maneira espantosa.
Outro autor pesquisado que abordou uma metodologia de ensaio coral foi
Boers (2006, p. 5-7). Este autor especificamente traz o que ele próprio chama de
Pedagogical Pie (PP).
12 1
11 2
10 3
9 4
8 5
7 6
3- Equilíbrio;
4- Afinação harmônica;
5- Afinação melódica;
6- Estado emocional/psicológico;
7- Fraseado;
8- Texto/poesia;
9- Texto/dicção
10- Articulação;
11- Ritmo;
12- Energia respiratória.
Boers (2006) sugere que para aplicar a PP, o regente confeccione um disco
contendo os doze “pedaços” a serem desenvolvidos com o coro durante o período
de ensaios. A sugestão de aplicação é que cada semana, seja enfatizado um
pedaço da PP e sugere que a escolha seja feita por sorteio.
Boers (2006) também sugere que se discuta com os alunos formas de se
aproveitar um aspecto forte do coro que faça parte da PP e que se utilize dessas
características para melhorar aspectos que necessitam de algum tipo de revisão.
Outra forma de aplicação da PP é quando o regente estabelece um ou dois
critérios para se trabalhar num ensaio. Em um determinado ensaio, o regente pode
ter como objetivo principal, por exemplo, melhorar a dicção de um trecho da obra.
No ensaio seguinte, sua meta será melhorar o fraseado de outro trecho, por
exemplo.
Boers (2006) ainda demonstra mais uma possível forma de utilizar a PP, sem
a participação dos cantores, quando o regente escolhe o foco do trabalho dentro das
áreas sugeridas pela PP.
Zander (2003, p. 30) afirma que
é sempre melhor ter uma solução que um problema. Os cantores não têm
por função resolver problemas, ao contrário, devem ser movidos por
soluções, que estarão nas mãos do regente e, muitas vezes, na consciência
dos cantores.
31
Ver p. 11-21.
32
O count-singing, basicamente, se trata de uma metodologia de leitura musical onde o cantor conta
os tempos enquanto canta as notas.
35
Afinar implica não apenas na reprodução correta das alturas das notas
isoladas, mas também na compreensão da estrutura musical em que essas
alturas se encontram; para afinar uma nota, a pessoa deve ser capaz de
perceber sua função dentro do contexto musical embora, em geral, tal
procedimento seja feito de maneira inconsciente. (SOBREIRA, 2003, p.23)
33
Canto coral e cognição musical: as práticas brasileiras e sua articulação com a memória.
Dissertação de mestrado. João Luís Komosinski. UFPR, 2009
36
Oakley (1999, p. 120) também sustenta que “os coros devem ser capazes de
afinar intervalos tanto horizontalmente dentro de cada naipe quanto verticalmente
em relação às demais vozes”.
Uma maneira proposta de se aproveitar o tempo ao se trabalhar com várias
vozes simultaneamente foi exposta por Silatien (1999, p. 93) que aponta que
“quando tiver que insistir no trabalho com algumas notas, tente sempre ensaiar pelo
menos duas vozes ao mesmo tempo para que o contexto harmônico seja
estabelecido”.
Silatien (apud Oliveira, Oliveira, 1995, p. 91) lista 15 motivos que podem
causar desafinação nos coros:
Apoio respiratório insuficiente, falta de energia, desatenção ao final de frases;
Vogais sem foco;
Duração incorreta do som vocálico, precipitação dos ditongos;
Incerteza quanto à entoação do intervalo;
Falta de equilíbrio entre os cantores de um naipe ou entre os naipes;
Ritmo ou articulação pobre;
Consoantes sonoras34;
Intervalos descendentes;
Notas repetidas;
Notas longas;
Andamento lento;
Tessitura aguda;
Dissonância harmônica;
Tonalidades problemáticas (por exemplo, Fá maior 35);
Ambiente físico.
34
Ambos os autores (OLIVEIRA, OLIVEIRA e SILATIEN) não esclarecem o sentido da expressão
utilizada. Foneticamente, a consoante sonora é aquela em que a prega vocal necessita realizar uma
adução para que haja a fonação. Vide capítulo sobre Técnica vocal, subtítulo Consoantes.
35
Acredita-se que o autor tenha citado esta tonalidade específica pelo fato de que a nota de
passagem das sopranos aconteça na região da terça (que indica o modo maior ou menor), o que
poderia indicar dificuldade em se manter a afinação do grupo.
38
Conhecer a música;
Esperar um ensaio estimulante e repleto de acontecimentos musicais;
Preparar-se para ajustar estilos, tempos, harmonia, timbre, dificuldades
técnicas. Antecipar problemas e se preparar para resolvê-los;
Iniciar e finalizar o ensaio pontualmente;
Avisar a ordem em que as músicas serão ensaiadas para que cantores
possam se preparar, evitando gasto desnecessário de tempo ao
procurar partituras;
Se necessário, especificar a quantidade de tempo que irá utilizar para
ensaiar cada peça;
39
Portanto, faz parte deste processo uma avaliação constante por parte do
regente sobre sua própria atuação frente ao grupo que lidera.
Silatien (1999, p. 94) reforça essa linha de pensamento ao dizer
41
Modelo de Ensaio I
Objetivos Procedimentos
Iniciar o vocalize com a vogal A;
Ressonância Continuar o vocalize utilizando Mmmm
Modelo de Ensaio II
Vocalização
Baixos e contraltos precisam equalizar a sonoridade para o trecho X da obra Y.
Tenores e sopranos precisam de vocalizes cromáticos descendentes.
36
Os modelos apresentados foram adaptados. Modelos originais, vide Decker (1995, p. 114-16)
42
Repertório
Obra Y: Repassar o compasso inicial com tenores e contraltos; cantar o trecho da parte B da
obra a cappella.
Acho que repertório é uma escolha do regente, que, aliás, tem a obrigação
de estar preparado para essa escolha. [...] Pode parecer até autoritarismo,
37
Martinez (2000, p.41)
38
Existem obras que necessitam de um grande coro. Essas obras, em geral, possuem uma grande
orquestração ou uma estrutura de escrita que exige uma grande sonoridade vocal. Um coro pequeno,
ao interpretar esse tipo de repertório não consegue, por um lado, superar a massa sonora da
orquestra e, por outro lado, a estrutura musical da obra “engole” o pequeno coro. O resultado é que
não aparecem os efeitos desejados pelo compositor. Já o inverso, ou seja, uma obra destinada a um
pequeno coro não se torna tão estranha ao ser cantada por um grande conjunto, no entanto pode-se
perder um pouco da sensibilidade e da leveza da obra quando isso acontece (MARTINEZ, 2000,
p.41)
43
mas a atitude do regente na hora dessa escolha faz toda a diferença. Não
escolhia uma obra somente porque “eu sempre quis reger essa peça”,
porque “acho essa música muito bonita”, ou porque “o coro tal e tal a canta
muito bem”. Nem mesmo o nível de dificuldade é o primeiro parâmetro a ser
levado em consideração.
39
Tradução da autora: Selection of repertory is a serious responsability and a source pleasure for the
choral conductor.
40
Tradução da autora: Since the quantity of choral composition is vast, it is possible to discover
repertory that is appropriate for: vocal and emotional maturity of children, adolescents and adults;
attaining teaching-learning objetives, with concern for age level, musical readiness and rehearsal time
available; developing artistic potential and musical responsiveness; building interesting and engaging
concert programs that satisfy philosophical and practical considerations.
44
1. Importância musical: os coralistas ainda irão gostar da música após várias horas
de ensaio?
2. Execução vocal favorável: O coro é capaz de dominar a música? A extensão e a
tessitura estão de acordo com as possibilidades vocais dos cantores? Dificuldades
rítmicas e intervalares podem ser dominadas?
3. Acompanhamento: Existe algum tipo de acompanhamento musical? Este
acompanhamento irá tocar uma redução da partitura ou existe um arranjo específico
para algum instrumento?
4. Recursos financeiros: Será necessário comprar a partitura original? Encomendar
o arranjo? Quanto se gastará?
5. Atemporalidade: a música ainda terá valor daqui a um ano? E daqui a dez ou vinte
anos?
6. Valor educacional: o repertório escolhido se adéqua às necessidades de
aprendizado do coro? Existe algo a ser aprendido por meio da prática deste
repertório? O público irá aprender algo com a performance do coro dentro do
repertório proposto?
7. Programação: Dentro do programa, o que virá antes e depois? Por quê?
8. Edições, arranjos e transcrições: A versão escolhida preserva a intenção original
do compositor?
9. Representação da obra coral: o repertório selecionado consegue demonstrar uma
variedade de compositores, períodos e formas?
10. Considerações especiais: As obras escolhidas são em função de algum feriado,
concurso ou temporada?
41
Por se tratar de um texto longo em língua inglesa, a autora optou por resumir o trecho, portanto não
se trata de uma tradução literal.
45
42
Alguns coros possuem pianistas co-repetidores e regentes auxiliares, mas não no coro que foi
objeto desta pesquisa, portanto, fez-se necessária essa observação.
46
É importante ressaltar que todo exercício, toda música, enfim, tudo o que se é
trabalhado num coro, mesmo que não integralmente, permanece com o coro e
poderá retornar em outras obras como sustenta Figueiredo (2006 p. 18) “é preciso
47
ter em mente que tudo o que se trabalha numa obra se reflete em todas as obras do
repertório do coro”.
Figueiredo (2006 p. 28) atesta que “o fio condutor de uma apresentação é,
normalmente, o repertório, ou seja, o conjunto de peças apresentadas”.
Outra questão importante sobre a escolha de repertório foi levantada por
Silatien (1999, p. 91)
Martinez (2000, p. 44) afirma que o estudo da partitura deverá passar por,
basicamente, dois processos que terão desdobramentos específicos. São eles: a
análise estrutural do tecido musical e a audição interior da obra musical.
De acordo com o autor, a análise estrutural do tecido musical desdobra-se em
aspectos fundamentais para uma boa interpretação da obra: ritmo, métrica, altura,
intensidade, vibrato, timbre, articulação e frase.
Dentro dessa discussão, Zander (2003, p. 228) traz sugestões sobre os tipos
de dificuldades que poderão se apresentar num ensaio, por exemplo: texto, ritmo,
saltos melódicos difíceis, afinação nas modulações e passagens enarmônicas.
Durante seu capítulo sobre técnicas de ensaio, o autor promove várias sugestões
para a resolução de possíveis problemas com o coro. Sugere que dois ou mais
elementos se reúnam num mesmo exercício: texto e ritmo, saltos melódicos e ritmo,
etc.
Figueiredo (2006, p. 32-43) aborda a temática sob a perspectiva de etapas de
preparação de uma partitura. Afirma que, basicamente, todo o estudo com uma obra
coral deve ter início pelo texto literário. Isso engloba desde a tradução até uma
pesquisa sobre a pronúncia correta.
Oakley (1999, p. 123) afirma que “coros são frequentemente acusados de
cantar uma longa série de sílabas sem variação tônica. O resultado é uma frase
musical “martelada” em que falta clareza de entendimento e que é destituída de
qualquer musicalidade”. Desta forma, cabe ao maestro identificar possíveis pontos
de apoio nas palavras, ou até mesmo palavras de apoio dentro das frases, para que
a forma cantada apresente as mesmas variações de entonação como quando
falamos o texto normalmente.
Um bom exercício seria pedir ao coro para falar o texto sem entonação
alguma e depois pedir variações. Por exemplo, na frase: “Estou tão animado para
cantar hoje!” existem vários tipos de ênfase que podem ser feitas:
1. Estou tão animado para cantar hoje!
2. Estou tão animado para cantar hoje!
3. Estou tão animado para cantar hoje!
49
Como seria para o coro usar esta frase num tom irônico? Ou ainda, como
seria para o coro usar esta frase como uma pergunta? Como seria falar esta frase
com pausas? Onde elas seriam colocadas? Quais seriam as possibilidades?
Cabe ao maestro também estudar estas possibilidades para saber qual tipo
de entonação se encaixa melhor a prosódia musical. No entanto, o estudo de
entonação, de variação tônica do texto em relação à prosódia musical deve ser
criterioso. Nem sempre a prosódia musical prevalecerá, como se observa neste
trecho da música “Do seu lado”. A tônica da palavra é que dá a entonação que deve
ser trabalhada.
Ilustração 6: variação tônica x prosódia musical. Do seu lado/Nando Reis. Arr: Eduardo
Lakschevitz
3.2.2 Análise
50
A análise formal frente a uma obra, seja ela coral ou não, se mostra
determinante no trabalho do maestro. Por meio da análise o intérprete pode se
inserir na obra e conhecer todos os aspectos inerentes a interpretação musical.
De acordo com Rink (2007, p.25) “a utilização do termo “análise” quando
relacionado à execução musical costuma gerar confusão e controvérsia”.
A aplicação de uma análise formal deve girar em torno da execução musical,
dando respaldo ao intérprete no que tange as decisões que norteiam sua
performance. Corroborando com essa afirmação Berry (apud RINK, 2007, p. 26)
afirma que “a interpretação musical precisa ter o respaldo de uma análise profunda”.
Verificou-se na literatura estudada que existem várias abordagens43 de análise de
uma obra44.
De acordo com Rocha (2004, p. 75)
Carvalho (1999) cita um exemplo que esboça a relação entre estudo, análise
formal e performance.
43
Charles Rosen, Arnold Schoenberg, Heinrich Schenker.
44
Neste trabalho, a análise se refere ao repertório da música tonal tradicional do ocidente. Para esta
dissertação, entretanto, tais metodologias de análise não serão discutidas.
51
Em seu Ave, verum corpus, escrito para coro e órgão, Franz Liszt
escreve a seção central para coro sem acompanhamento. Passados sete
compassos, o órgão entra em cena dobrando o acorde de ré#
menor sustentado pelo coro, e sai de cena novamente no compasso
seguinte. Uma análise puramente formal provavelmente apenas
detectaria a entrada do órgão, mas o regente deve se perguntar
porque Liszt incluiu o órgão neste compasso apenas e quais as
implicações em termos da interpretação do trecho, mesmo que uma
resposta apropriada leve muito tempo para se encontrada (CARVALHO,
1999, p. 58)
Nesse sentido, quanto maior for o conhecimento da obra por parte do regente,
mais ele poderá auxiliar no desenvolvimento dos cantores rumo a excelência da
interpretação.
Não obstante, uma boa investigação partindo do texto propiciará ao regente
uma grande oportunidade de desenvolver exercícios com aplicação direta no
repertório, pois “para a compreensão da estrutura da obra, o trabalho já foi iniciado
com o estudo do texto. A questão [...] é compreender como o compositor estruturou
sua obra a partir do texto literário, tomando suas decisões” (FIGUEIREDO, 2006, p.
33).
Embora várias análises possam ser empregadas com o intuito de esclarecer a
música para o regente, o importante é que toda análise ofereça dados substanciais
que possibilitem a construção da imagem sonora a ser interpretada, como confirma
Figueiredo (2006, p. 35) ao assegurar que
afirma que “em muitos casos, a instituição, ao contratar um maestro, não quer
investir nada”. O resultado dessa prática é que, devido às circunstâncias, muitos
regentes se tornam arranjadores, acompanhadores e preparadores vocais do coro
que regem.
A incorporação do trabalho de técnica vocal ao trabalho do regente merece
uma atenção especial, visto que o instrumento de interpretação do regente e coro
acontece por meio da voz de cada um dos integrantes do grupo45.
Entretanto, nota-se que há regentes que possuem pouco conhecimento
adquirido em cursos de curta duração, workshops, oficinas, e que acreditam que tais
exercícios trarão a sonoridade desejada e resolverão todos os problemas técnicos
de seu coro.
Corroborando com essa observação Fernandes, Kayama, Östergren, (2006,
p. 40) afirmam que
Figueiredo (1990, p.14) ainda afirma que “na observação de corais pode-se
notar, com frequência, a realização mecânica de vocalizes, que provocam
desinteresse nos cantores”.
A técnica precisa servir o repertório. A técnica somente pela sua execução
esmerada, se não aplicada ao repertório, não há razão de fazer parte do ensaio. A
técnica vocal não deve ser entendida apenas como um momento que acontece
45
Não é o foco desta investigação, mas entende-se que faz parte do contexto da pesquisadora e do
coral pesquisado, por isso a relevância de se tratar sobre o trabalho da técnica vocal no canto coral.
53
durante o início dos ensaios e que serve somente para aquecer a voz ou concentrar
os cantores para uma nova atividade.
Observou-se na literatura estudada que por vezes, o aquecimento é
confundido com a técnica vocal e que ambos são compreendidos no início do
trabalho do ensaio com o coro.
Entretanto, Martinez (2000, p. 121) aponta o aquecimento vocal como um
momento diferente do momento da técnica vocal. Sugere que cada naipe tenha seu
próprio dia para um trabalho de técnica vocal que aborde as dificuldades
específicas.
A importância da técnica vocal no coro é abordada por Fernandes, Kayama,
Östergren, (2006, p. 37)
Pfaustch (1988, p. 70) diz que “é muito importante que a base de todo regente
de coro inclua um regime de se cantar num grupo coral. De nenhuma outra forma
ele poderá apreciar o significado da contribuição pessoal dentro da sonoridade do
grupo [...]” 46.
Sabe-se que a técnica vocal aplicada no repertório operístico, com bases, por
exemplo, na escola de canto italiana, costuma preparar a voz de cantores solistas.
Existem características dentro desse repertório e dentro dessa prática vocal que só
são alcançados por meio de vocalizes específicos dentro da técnica acima
mencionada.
No coro, tais características vocais (volume forte, vibratto, harmônicos, etc.)
são geralmente evitadas47, pois se presume que haja um trabalho de
homogeneização vocal. E se todos os coralistas demonstrarem sua identidade vocal,
a equalização entre as vozes se torna difícil de ser alcançada, principalmente em
grupos inexperientes.
46
Tradução da autora: It is most important that the background of every choral conductor include the
regimen of singing in a choral ensemble. I no other way can he appreciate the significance of
individual contribution to the ensemble sound […].
47
Exceto repertório que exige esse tipo de sonoridade.
55
Outro fator importante é que nem todas as músicas serão cantadas com a
mesma colocação vocal, a mesma projeção. Dependendo da proposta do coral, das
peças selecionadas e do conhecimento de técnica vocal do regente, podem surgir
várias possibilidades e maneiras de se cantar. A técnica vocal passa a ser, para o
maestro, um meio de se conseguir uma determinada sonoridade para um
determinado repertório.
Obviamente, faz-se muito interessante um trabalho de técnica vocal individual
do regente coral e essa preparação pode trazer informações essenciais se somadas
à experiência de se cantar num coro que também pode oferecer um novo olhar
sobre a técnica vocal.
A abordagem dos conhecimentos de técnica vocal que permeiam a prática
vocal foi feita de maneira a esclarecer assuntos que estão relacionados com o
resultado sonoro do coro.
Como a música coral tem como principal característica a presença de um
texto, ou ainda na falta deste, a presença de fonemas, optou-se por pesquisar
também as diferenças entre a voz falada e a voz cantada. O uso das pregas vocais
é mais intenso no canto e exige um cuidado diferenciado da voz falada.
3.4 Vocalização
O maestro precisa atentar para vários fatores, inclusive para fatores não-
musicais que podem determinar decisões e aspectos da técnica vocal. As condições
do local onde ensaia o coro, como por exemplo: ambiente acústico interno (como o
som se propaga dentro do ambiente), ruídos externos (sala de ensaio próxima a
trânsito intenso), temperatura (muito frio, muito abafado, muito seco) e
posicionamento dos assentos de cada naipe podem influenciar diretamente na
qualidade vocal do coro48. O regente, então, precisa planejar seus exercícios, seu
ensaio considerando essa variável.
Outro exemplo sugerido por Zander (2003, p. 219) quando todos os naipes
podem participar do mesmo exercício, mesmo que este seja direcionado a apenas
um determinado naipe; vários aspectos podem ser trabalhos: um aspecto rítmico
48
SILATIEN (1999); BEHLAU, PONTES (1990)
56
junto ao vocalize criado. Esse mesmo aspecto pode ser substituído por outro, com
outra característica, de acordo com a necessidade de aplicação no repertório.
Figueiredo (1990) também sugere que vocalizes sejam criados para resolver
problemas rítmicos.
A técnica deve estar relacionada com o fazer musical, com o repertório e deve
acontecer durante todo o ensaio. Desta forma, a técnica vocal pode ser
compreendida como um meio de fazer o instrumento vocal soar. Precisa estar
presente em todo o ensaio e não somente durante o período de aquecimento, como
afirma Silatien (1999, p. 91) “o período de vocalização é uma oportunidade para o
desenvolvimento vocal, e não apenas para aquecimento”, pois “em muitos o regente
é o único professor de canto que muitos cantores terão em suas vidas” (SILATIEN,
1999, p. 91).
O fato é que vocalizes precisam ser flexíveis o suficiente para acompanhar o
progresso do cantor, mas ao mesmo tempo, proporcionar um desafio de
aprendizado.
Rocha (2004, p. 162) traz uma importante colaboração ao citar a execução de
vocalizes aplicada ao repertório. Afirma que
1) Respiração
Voz falada Voz cantada
É natural É treinada
O ciclo completo de respiração (entrada e Os ciclos respiratórios são pré-programados
saída de ar) varia de acordo com a emoção e de acordo com as frases musicais;
o comprometimento das frases;
A inspiração é relativamente lenta e nasal nas A inspiração é muito rápida e bucal;
pausas longas, sendo mais rápida e bucal
durante a fala;
Um volume médio de ar é usado durante a Usa-se um volume de ar maior durante o
fala; canto, quase esvaziando os pulmões;
Ocorre pequena movimentação pulmonar Ocorre grande movimentação pulmonar
durante a tomada de ar, com pouca expansão durante a tomada de ar, com expansão de
59
2) Fonação
Voz falada Voz cantada
As pregas vocais fazem ciclos vibratórios com As pregas vocais fazem ciclos vibratórios com
o cociente de abertura levemente maior que o o cociente de fechamento maior que o de
de fechamento; abertura, o que gera um som acusticamente
mais rico e com maior tempo de duração;
Produz-se uma série regular de harmônicos – Produz-se uma série mais rica de harmônicos
uns vinte deles, em média -, decrescendo de - mais de trinta -, com intensidade forte
intensidade em direção aos harmônicos mesmo nos harmônicos mais agudos;
agudos;
O atrito das mucosas das pregas vocais é O atrito das mucosas das pregas vocais é
bastante aumentado nas situações de reduzido; os atos de pigarrear e tossir não
pigarro, tosse, ou mesmo quando se quer dar são aceitos durante a emissão cantada e a
ênfase a determinada palavra da emissão – ênfase não é feita com ataques vocais
ataque vocal brusco; bruscos, mas sim com mudança na tensão
das estruturas;
Percebe-se uma movimentação discreta da A laringe tende a permanecer em posição
laringe no pescoço, determinada por baixa (na maior parte das escolas de canto),
variações na inflexão das frases; estabilizada, mesmo nas frequências mais
agudas;
A extensão de frequências em uso habitual é A extensão de frequência é ampla, ao redor
de 3 a 5 semitons, dependendo da língua que de duas oitavas e meia.
se fala e a entonação empregada;
Tabela 4: Parâmetro: Fonação - Produção de som laríngeo básico. Behlau, Rehder (1997, p. 7)
4) Qualidade vocal
Voz falada Voz cantada
A qualidade vocal na voz falada pode ser A qualidade vocal depende da natureza do
neutra ou com pequenos desvios que coral, do estilo musical e do repertório, sendo
identificam o falante, mas não chegam a ser que características pessoais são geralmente
considerados sinais de disfonia, como por deixadas num segundo plano em favor de
exemplo, a voz levemente rouca, soprosa, uma sonoridade única de grupo; porém, os
áspera ou nasal; desvios na voz tendem a ser percebidos
principalmente no naipe, que se torna
desequilibrado;
A qualidade vocal é extremamente sensível A qualidade vocal é mais estável devido ao
ao interlocutor, à natureza do discurso ou a treino dos cantores e sofre menos influência
aspectos emocionais da situação, podendo de fatores externos à realidade musical;
ficar momentaneamente trêmula ou
sussurrada, por exemplo;
Os distúrbios na produção da voz falada Os distúrbios na produção da voz cantada
chamam-se disfonias chamam-se disodias e podem vir ou não
acompanhadas de disfonias.
Tabela 6: Parâmetro: Qualidade vocal - Timbre da voz. Behlau, Rehder (1997, p. 9)
7) Pausas
Voz falada Voz cantada
As pausas são individuais do falante, As pausas são pré-programadas e definidas
podendo ocorrer por hesitação, por valor pelo compositor e/ou pelo regente do coral,
enfático ou, ainda, refletir interrupções possuindo forte apelo emocional e de
naturais do discurso; interpretação;
As pausas de hesitação são normais e As pausas que ocorrem por hesitação do
aceitáveis, podendo ser silenciosas ou cantor não são aceitáveis e causam
preenchidas por sons prolongados como constrangimento ao cantor e ao público, que
“ahn...” ou “uhm...” pode chegar à vaia. Além disso, falta de
sincronia entre os cantores nas entradas das
músicas também causam efeitos negativos.
Tabela 8: Parâmetro: Pausas - Intervalos. Behlau, Rehder (1997, p. 11)
8) Velocidade e ritmo
Voz falada Voz cantada
A velocidade e o ritmo da emissão falada são A velocidade e o ritmo da emissão cantada
pessoais e dependem de múltiplos fatores, dependem do tipo de música, da harmonia,
tais como características da língua falada, da melodia e do andamento que o regente
personalidade e profissão do falante, objetivo confere ao tema;
emocional do discurso e fatores de controle
neurológico;
Alterações na velocidade e no ritmo da Alterações na velocidade e no ritmo da
emissão geralmente ocorrem independente emissão são controladas, pré-programadas e
da consciência do falante, mas podem ser ensaiadas.
reguladas de acordo com o objetivo
emocional da emissão.
Tabela 9: Parâmetro: Velocidade e ritmo - Andamento da emissão. Behlau, Rehder (1997, p. 12)
9) Postura
Voz falada Voz cantada
É variável, com mudanças constantes; É menos variável, procurando-se sempre
manter o tronco reto;
As mudanças habituais na postura corporal As mudanças na postura corporal interferem
não interferem de modo significativo na tanto na produção da voz quanto na
produção da voz coloquial; estabilidade da qualidade vocal;
A linguagem corporal acompanha a A linguagem corporal não é favorecida pelo
comunicação verbal e a intenção do discurso. canto, que privilegia particularmente a
expressão facial.
Tabela 10: Parâmetro: Postura - Posição do corpo durante a emissão. Behlau, Rehder (1997, p.
13)
62
De acordo com Silva (2008, p. 24-25) pode-se dividir em três os grupos que
desempenham um papel na produção vocal: o sistema respiratório, o sistema
fonatório e o sistema articulatório. Estes três sistemas juntos compõem o aparelho
fonador.
Não se pretende nessa breve abordagem aprofundar-se sobre questões
fisiológicas e anatômicas do aparelho fonador e do sistema respiratório. Basta citar
que para se realizar um trabalho vocal, seja em coro ou individual, o professor pode
se instrumentalizar e conhecer estes que também são a base da produção vocal.
O intuito dessa investigação não é se aprofundar na área da fonética,
entretanto, nota-se que os conhecimentos dessa ciência podem colaborar no
estabelecimento de uma técnica vocal mais objetivada e precisa.
Também se compreende que a maior parte da pratica coral/vocal é
constituída de texto, e mesmo nos casos onde há sons onomatopaicos, há a
presença de fonemas.
O objetivo de abordar a fonética é exatamente uma forma de otimizar a
técnica vocal, ao esclarecer para o maestro esta, que é a base da produção vocal
humana.
No canto coral, que se trata de uma prática musical coletiva, a dicção do
cantor deve ser muito trabalhada com o intuito de uma melhor compreensibilidade e
exatidão, portanto, uma articulação precisa se torna determinante nesse aspecto.
64
O som da voz é sustentado pelas vogais. Adler (1984, p.60) afirma que “Se as
vogais podem ser consideradas a carne do corpo sonoro, as consoantes são os
ossos que mantém a carne unida49”.
Coelho (1994, p. 44) observa que “as consoantes são, como sugere o nome,
sons que, isolados, não têm significado algum, mas que têm função de delinear as
vogais” e ainda afirma que “o estudo e a descrição dos sons articulados é assunto
da fonética” (COELHO, 1994, p. 44).
As bases fonéticas que delineiam a articulação, tanto das vogais quanto das
consoantes, foi pouco abordada na literatura coral, especificamente. Observou-
se que Coelho (1994) destinou um capítulo de seu livro “Técnica vocal para coros” a
essa temática, assim como Coelho (2009) destinou uma parte de seu
aprofundamento na dissertação de mestrado intitulada “Técnicas de ensaio coral:
reflexões sobre o ferramental técnico do maestro Carlos Alberto Pinto da Fonseca”.
Coelho (1994, p. 45) afirma que
3.4.2.1 Consoantes
49
Tradução da autora: If the vowels can be considered the flesh of the sound body, the consonants
are the bones that hold the flesh together. Kurt Adler. Phonetics and diction in singing. In: Technique
in singing: A program for singers and teachers. Richard W. Harpster. 1984. Schirmer Books.
65
Consoante Classificação
P Oclusiva bilabial surda
B Oclusiva bilabial sonora
T Oclusiva alveolar surda
D Oclusiva alveolar sonora
K Oclusiva velar surda
G Oclusiva velar sonora
F Fricativa labiodental surda
V Fricativa labiodental sonora
S Fricativa alveolar surda
Z Fricativa alveolar sonora
X Fricativa alveolar surda
J Fricativa alveolar sonora
M Nasal bilabial sonora
69
3.4.2.2 Vogais
Coelho (1994, p. 46) aponta que “as vogais são sons formados pela vibração
das cordas vocais modificados segundo a forma da cavidade bucal e o uso ou não
das demais cavidades de ressonância”.
Segundo Coelho (1994, p. 46)
50
GORIA (2000, p.185-196), COELHO (1994, p. 72-3), MATHIAS (1986, p.52-61), ZANDER (2003, p.
210-11). Alguns exercícios são de exemplo da prática vocal da própria autora, que estuda canto lírico.
71
Ilustração 7: Vocalize
2) nó, vi, iá
Ilustração 8: Vocalize
Ilustração 9: Vocalize
4) Bocca chiusa
5) Ia, na, nó
6) nau, ziu
7) nó, vi
72
8) Vi, vi viu
9) Bocca chiusa
Ilustração 16: Exercício vocal - Consoante fricativa sonora. Cascardo, Beraldo (2009, p. 31)
Ilustração 17: Exercício vocal - Consoante fricativa sonora. Cascardo, Beraldo (2009, p. 41)
Ilustração 18: Exercício vocal - Consoante fricativa sonora. Cascardo, Beraldo (2009, p. 32)
51
Adução: Movimento de aproximação entre as pregas vocais.
74
Martinez (2000) sugere que o regente combine três, quatro ou cinco vogais
para formar exercícios de articulação, como por exemplo: AÉÊ, ÔEA, UÊÉI, IAÔÓ,
ÊIUÓÔ e AÔIÉU. O autor não sugere nenhuma linha melódica ou harmônica como
base para a execução do exercício, ficando a critério do regente esta escolha.
Marcos Leite52 (2001) desenvolveu uma metodologia de canto baseado em
ritmos e sonoridades advindos da música popular brasileira. Seu método é voltado
para vozes médio-graves e médio-agudas e contempla vocalizes e canções.
Leite (2001, p. 5) afirma que “os vocalizes têm a função primeira de exercitar
e moldar a voz e a cabeça do cantor, através das progressões cromáticas
ascendentes e descendentes”.
Leite (2001) ainda afirma que os vocalizes devem ser executados com
intenção, com interpretação e que qualquer tentativa de mecanização por meio de
repetições excessivas e não propositadas induzem a fixação de erro.
O método exposto acima traz vocalizes que desenvolvem os intervalos de
segundas, terças, quarta justa, quinta justa, sextas, sétimas e oitavas justas.
Também apresenta canções onde cada intervalo é o motivo central da
composição. Dessa forma, cada grupo de vocalizes tem sua própria aplicação em
um repertório bastante específico.
Já a metodologia específica para técnica vocal coral, elaborada por Coelho
(1994) aborda marcos teóricos que contornam postura, respiração, articulação,
ressonância e aponta vocalizes específicos para cada uma das áreas mencionadas
anteriormente.
Coelho (1994) faz uma conexão bastante aprofundada entre a técnica vocal e
a fonética.
Sobre os pressupostos que devem nortear a elaboração de vocalizes, a
autora sustenta que:
52
Método de Canto Popular Brasileiro para vozes médio-graves. Rio de Janeiro: Lumiar Editora. 2001
75
pois “cada professor de técnica vocal precisa diagnosticar o problema a ser resolvido
e criar um vocalize que o solucione”.
76
53
Coral UTFPR - Universidade Tecnológica Federal do Paraná – campus Curitiba, ainda fortemente
conhecido como Coral do CEFET, antigo nome da instituição (Centro Federal Tecnológico do
Paraná).
77
Cantar em uníssono;
Cantar em vozes;
Experimentar a voz;
Escutar a sonoridade da própria voz dentro do grupo;
Ouvir a sonoridade do grupo cantando em uníssono;
Ouvir a sonoridade do grupo cantando em vozes;
Perceber o corpo como instrumento musical;
Desenvolver o senso rítmico;
Experimentar ritmos no próprio corpo;
Perceber que é possível desenvolver a respiração, a projeção e a colocação
vocal, apurar a afinação;
Descobrir sonoridades diferentes advindas da mudança de dinâmica e
intensidade sonora.
4.4.2 Respiração
54
Grupo de discussões via internet; exemplos em vídeo; fotos; mini-cursos, workshops ou oficinas
específicas podem ser esquematizados com o intuito de aprofundar o coro dentro da temática. Rocha
(2004) traz um apêndice intitulado: Algumas oficinas de apoio ao trabalho musical do coro amador,
onde sugere momentos durante o ensaio onde tópicos são abordados com objetivos específicos.
Aproveitando a sugestão oferecida por Rocha, as mesmas oficinas podem ser oferecidas fora do
ensaio coral, como apoio ao crescimento dos coralistas.
82
Esta sequencia foi elaborada desta forma por conotar informações lógicas: à
medida que se eleva a altura da nota, eleva-se a sua intensidade.
Entretanto, na sequencia foi proposto que os cantores fizessem exatamente o
contrário.
geralmente confundido por leigos: que o volume do som está relacionado à sua
altura. Muitas pessoas costumam reclamar do “som alto”, quando na verdade, estão
se referindo ao volume, a sua intensidade. Depois da aplicação do exercício, a
pesquisadora fez esse comentário explicando rapidamente a diferença entre ambos
os conceitos.
55
Trata-se de um grupo que desenvolve ritmos variados tendo o próprio corpo e outros materiais,
como por exemplo, latas, vassouras, tampas de panelas, entre outros, como instrumentos musicais. A
partitura original está em anexo.
85
56
Por todo canto. Método de Técnica vocal. Diana Goulart e Malu Cooper. São Paulo G4 edições
limitada. Volume I
86
Então foi proposto aos alunos que criassem uma letra para a música. Foi
sugerido que escolhessem uma frase curta, cuja letra serviria como base para todo o
exercício. A pesquisadora sugeriu que, apesar de curta, as palavras escolhidas
deveriam oferecer várias possibilidades. A frase escolhida pelo grupo, por ser curta
e com várias palavras, foi: Eu sei que canto bem.
Durante a divisão dos grupos a pesquisadora passou por cada equipe e
auxiliou em dúvidas, principalmente no que remete a lembrança do rítmico aplicado.
Sugestões sobre prosódia também foram dadas.
Uma coralista sugeriu que cada grupo apresentasse sua linha para todo o
coro. A pesquisadora aceitou a sugestão.
O resultado da discussão foi a seguinte:
Esta ciranda foi escolhida por poder se cantar em forma de cânone (os dois
grupos cantam tudo em entradas distintas) ou dois grupos simultâneos (partner
song): um que canta só a primeira voz e o outro que canta só a segunda voz.
Num primeiro momento, o coro foi dividido em vozes masculinas e femininas.
Os dois grupos aprenderam a cantar ambas as partes.
88
Os alunos formaram duas rodas. Cada roda representava uma voz. Cada
grupo rodava para lados opostos, reforçando a ideia de que cantavam coisas
diferentes, porém, simultaneamente e por isso, os dois grupos rodavam juntos.
A busca do repertório vai ser isso: conscientizar o coro de que ele tem um
recado a dar. Qual é esse recado? [...] o repertório é o recado do coro e não
aquilo que você sabe do repertório coral. É o recado que o seu coro tem
para dar. É aquilo que seu coro tem a dizer, já que eles (o coro) formam
uma comunidade que realiza uma atividade entre si. Aquilo que a
comunidade coral tem a dizer – esse é o repertório!
Tocando em frente
Trem das onze
Chega de saudade
Conversa de Botequim
Se
Sina
Como nossos pais
Tu vens
Por você
Sutilmente
Caminhando e cantando
Pelo compositor/intérprete
Chico Buarque
Mamonas Assassinas
Tchê Garotos
Tribalistas
Caetano Veloso
Baden Powell
Bohemian Rhapsody
Help
We Will rock you
Grease (Filme)
Happy together
My way
The lions sleeps tonight
Pelo compositor/intérprete
Beach Boys
Elvys
Janis Joplin
The Corrs
Abba (Mamma mia)
Michael Jackson
Madonna
Britney Spears
U2
Mammas and the papas
57
Na verdade, os alunos identificaram como cânone, mas se trata de uma partner song, quando duas
melodias são cantadas separadamente compondo uma única canção. Em seguida as duas partes
são executadas simultaneamente, havendo uma sobreposição de ambas as melodias.
58
Durante o subtítulo destinado à análise será apresentada uma tabela com a tessitura da peça
escolhida.
93
Eu sem você
Não tenho porquê
Porque sem você
Não sei nem chorar
Sou chama sem luz
Jardim sem luar
Luar sem amor
Amor sem se dar
Eu sem você
Sou só desamor
Um barco sem mar
Um campo sem flor
Tristeza que vai
Tristeza que vem
Sem você, meu amor, eu não sou ninguém
Parte A
Eu sem você
Não tenho porquê
Porque sem você
Não sei nem chorar
Sou chama sem luz
Jardim sem luar
Luar sem amor
Amor sem se dar
A’
Eu sem você
Sou só desamor
Um barco sem mar
Um campo sem flor
Tristeza que vai
59
www.youtube.com/watch2v=gsody4xykpw&feature=related. Acessado em 2 agosto de 2010.
96
Parte B
B’
4.6.3 Textura
uma partner song, canção onde se canta a primeira parte, depois se canta a
segunda parte, e então, por último, as duas partes são cantadas simultaneamente,
criando assim uma textura contrapontística.
Parte A
A’
Parte B
Ah que saudade
Que vontade de ver renascer nossas vidas
Volta querido
Os meus braços precisam dos teus teus abraços precisam dos meus
B’
99
A tessitura vocal das vozes foi delimitada de forma aproximada por alguns
dos autores estudados na literatura coral, como segue:
61
São tipos primários de combinação entre as três classes funcionais que atuam como modelos
sintáticos que alimentam todo o sistema harmônico. Freitas (2002, p. 23)
101
62
1. Goria (2000)
63
2. Behlau, Rehder (1997)
64
3. Oliveira, Oliveira (1995)
102
Nessa direção, estratégias puderam ser elaboradas sobre uma base tríplice
para que elementos técnicos, musicais e expressivos pudessem ser executados
simultaneamente. Ainda assim, quando necessário, elementos foram trabalhados
isoladamente.
65
Vide Escolha de repertório, página 92.
104
1) Inspiração/expiração:
Alunos abaixam o tórax em direção ao solo (como quem quer tocar a ponta
dos pés), expiram rapidamente e com força, soltando o ar pela boca. Mantêm a
posição, com a respiração “presa”. Após alguns segundos, soltam a musculatura,
permitindo que o ar adentre os pulmões.
Desta forma, a inspiração torna-se consequência de um ato de relaxamento
muscular quando a musculatura intercostal externa é ativada.
O exercício foi feito algumas vezes sendo solicitado aos alunos que
prestassem atenção no próprio corpo.
A percepção do grupo ocorreu de forma gradual, ou seja, a cada repetição um
elemento era colocado em evidência, como por exemplo: a abertura das costelas, o
aumento da região abdominal durante a inspiração, contrações musculares da
região abdominal no momento da expiração.
3) Apoio/fonação:
Este exercício foi proposto com o intuito de desenvolver uma conexão entre a
respiração e a fonação. Para tanto, o trabalho com grupos consonantais foi o
princípio deste exercício que é uma sequência do exercício anterior.
Consoantes fricativas sonoras foram aplicadas da mesma forma que o
exercício número 2. Esta opção se justifica pelo fato de que, neste caso, as fricativas
sonoras V, Z e J precisam realizar uma adução nas pregas vocais.
Portanto, o apoio respiratório pode ser conectado diretamente com a emissão
vocal.
Os exercícios propostos na sequencia foram executados partindo das
necessidades do repertório.
A frase inicial do Samba em prelúdio foi tocada ao piano pela pesquisadora e
foi explicado que para que o sentido textual não perdesse o sentido e não ficasse
fragmentado demais, o coro precisaria cantar sem cortes de respiração nas duas
primeiras frases: Eu sem você não tenho porquê.
Como os alunos já haviam feito um exercício utilizando a consoante S para
perceber a saída de ar, o princípio da administração do ar e apoio foi incorporado ao
repertório.
Foi solicitado ao coro que sibilasse o som do “s” de duas formas: um S
continuo e vários S numa mesma respiração: S_______________ e S S S S S.
Então a pesquisadora voltou a tocar a frase inicial da obra e pediu que num
primeiro momento o coro sustentasse o fonema durante toda a frase.
107
Num segundo momento, foi solicitado ao coro que cantasse com “s” o mesmo
trecho, articulando todas as notas, porém numa única respiração.
Nota-se que o próprio autor aborda duas consoantes que fazem parte do
mesmo grupo consonantal: ambas são oclusivas bilabiais, entretanto, P é surda e B
é sonora, segundo o grau de vozeamento.
A adaptação feita apenas sugere que os demais grupos consonantais sejam
aplicados no mesmo vocalize, como segue:
Ilustração 36: Vocalize adaptado do método de Marcos Leite (2001). Aplicação grupos
consonantais e segmentos vocálicos
Ilustração 37: Vocalize - Grupos consonantais. Thelma Chan (data não informada)
66
Durante a fase de preparação dos ensaios, a pesquisadora participou de um módulo de canto coral
juvenil com a regente e compositora Thelma Chan, que aplicou esse vocalise com a turma.
110
Após a realização deste vocalize em alguns ensaios, foi proposto que ele
fosse aplicado na forma de cânone. As entradas dos grupos acontecem sempre no
segundo tempo do compasso. Em cada repetição o grupo mudava o grupo de
consoantes. Cada ensaio, grupos consonantais diferentes eram feitos.
Foi proposta aos alunos a execução deste último vocalize como parte do
aquecimento vocal, substituindo o tradicional IÓ por MÚ.
A variação seguiu com:
- (MÚ), NÚ, LÚ
- MÓ, NÓ, LÓ
- MÔ, NÔ, LÔ
- Mesma sequência consonantal com as seguintes vogais: I, Ê, É e A.
O trecho escolhido para ser ensaiado por primeiro foi a parte B da música.
A escolha se justificou pelo fato de que a segunda parte da música apresenta
um contorno melódico com menos saltos (característica forte da parte A da música).
No entanto, o ritmo e a harmonia de ambas as partes são bastante parecidos
fazendo com que todos os exercícios fossem aplicados para todo o coro,
independentemente de qual voz cantaria a parte A ou a parte B do Samba em
Prelúdio.
Para uma melhor fixação dos padrões rítmicos presentes na obra, o exercício
a seguir foi proposto apenas no quinto ensaio, após os coralistas já terem feito
outros exercícios e também aprendido o trecho a ser ensaiado.
Entretanto, este exercício desenvolve dois elementos, ou seja, duas
dimensões simultaneamente: o ritmo e a afinação. O intervalo de sexta menor, sexta
maior e sétima maior, assim como os demais intervalos que vieram na sequencia,
apresentam dificuldade de execução principalmente por se tratar de intervalos
descendentes com deslocamento do acento.
Neste exercício67, a pesquisadora tocou a linha melódica enquanto o coro
cantava os pequenos trechos exemplificados. O exemplo mostra somente os
primeiros compassos, entretanto, o exercício foi executado cantando-se os 32
compassos iniciais da música (parte A) com os intervalos descendentes,
respectivamente.
67
A partitura do exercício foi anexada ao final desta dissertação.
115
Descendente
Ascendente
Após a execução deste exercício, foi sugerido aos alunos que batessem
palma na primeira colcheia do quarto tempo, cortando a emissão vocal, que deveria
retornar na colcheia seguinte. Essa antecipação rítmica ocorre de maneira
expressiva no Samba em prelúdio.
Com base nas notas do acorde de sétima diminuta, foi elaborado um cânone
de quatro compassos. Nesse cânone também foi aproveitado para se trabalhar
aspectos rítmicos da música ensaiada, como se pode verificar no primeiro e
segundo compasso, onde há uma sincopa e quiálteras, respectivamente.
O cânone foi executado com quatro grupos, cada grupo tendo início nas
entradas de cada compasso. Por exemplo: compasso 1 (primeiro grupo inicia),
compasso 2 (segundo grupo inicia), compasso 3 (terceiro grupo inicia) e compasso 4
(quarto grupo inicia)
Grupo II
Grupo III
Grupo IV
1) Segundas menores
2) Terças menores
3) Quintas diminutas
4) Sétimas diminutas
5) Tríade diminuta
6) Tétrade diminuta
68
Fato observado por Figueiredo (1990) durante a observação de corais durante sua pesquisa sobre
o ensaio coral.
123
69
Coral universitário, não vinculado a cursos de graduação em música, formado por cantores sem
experiência em canto coral (a maior parte), com idades variadas e conhecimento musical muito
variado, tendo pessoas que já tocam instrumento ou têm alguma formação sistemática em música.
Também consta no contexto do coro o fato de não haver, pelo menos por enquanto, outros
profissionais como por exemplo: pianista e preparador vocal.
125
coral deve ser sempre em função de uma característica sonora e não deve ser
conduzida apenas pelo capricho do feito técnico.
Outro fator observado é que quando a técnica vocal está de alguma forma
relacionada com o repertório do coro, os resultados surgem com mais rapidez e
eficácia.
Observou-se, além disso, que muitos problemas que em um primeiro
momento são relacionados à técnica vocal, se tratam na realidade, de uma falta de
compreensão musical. Portanto, os coralistas precisam estar envolvidos no processo
de interpretação como agentes ativos, e não como meros repetidores das intenções
do maestro. É necessário que entendam o que estão cantando.
A preparação do regente é vital para o sucesso do ensaio. O estudo pessoal
não deve ser reduzido a uma análise formal, estudo das vozes e gestual de
regência. O regente precisa antecipar a reação do coro. Precisa procurar maneiras
de o coro entender a obra e não somente acertar notas e ritmos.
O regente precisa observar quais são os aspectos mais relevantes da obra e
saber organizar o ensaio coral de forma a reconstruir a performance durante esse
momento. O maestro ainda precisa ponderar e desenvolver estratégias que
possibilitem um melhor aprendizado frente aos coros mais inexperientes nessa
prática coletiva.
A relação da performance com uma audiência pública é o resultado de todo o
processo de aprendizado da obra ensaiada e apenas encerra um ciclo.
Do mesmo modo, ressalta-se que em geral, técnicas de ensaio assim como
abordagens metodológicas para a prática coral ainda têm pela frente um longo
caminho a ser trilhado. A prática coral precisa ser refletida e estudada com muito
mais afinco e dedicação por parte de quem está à frente dessa atividade e esta
dissertação demonstra apenas mais uma iniciativa de aclarar pontos importantes
dessa arte.
Notou-se que o cantor coral sempre recorre ao modelo oferecido, que tem a
obrigação de ser consistente e condizente com o objetivo do regente. Ressalta-se
que se deve atentar para como a peça está sendo ensaiada. Se num primeiro
momento, for realizada de forma “martelada”, sem nenhuma expressividade, fora do
andamento desejado, por exemplo, será muito mais difícil modificar sua execução
posteriormente, pois o erro já foi fixado pelo coro.
126
Referências Bibliográficas
ANDRADE, Marília Aline Mattos de. Uma realidade brasileira: o canto coral como
meio de musicalização em grupo. Anais do III Encontro de Pesquisa em Música: A
música brasileira na atualidade. Maringá: Editora Massoni, 2006
BEHLAU, Mara, PONTES, Paulo. Avaliação global da voz. São Paulo: Paulista
Publicações Médicas, 1990.
BEHLAU, Mara. REHDER, Maria Inês. Higiene vocal para o canto coral. Rio de
Janeiro: Editora Revinter, 1997
BOERS, Geoffrey. Pedagogical Pie. In: The Choral director’s cookbook: Insights and
inspired recipes for beginners and experts. Meredith Music Publications. 2006
BRINCKMEYER, Lynn. Does your verbal feedback nurture or starve your students?
Food for thought. In: The Choral director’s cookbook: Insights and inspired recipes
for beginners and experts. Meredith Music Publications. 2006
BRANDVIK, Paul. Choral tone. IN: WEBB, Guy B. (ed.). Up front! Becoming the
complete choral conductor. Boston: E. C. Schirmer, 1993. p.147-186
BUSCH, Brian R. The complete choral conductor: gesture and method. University of
Miami. Schirmer Books. 1984
128
CHENG, Stephen Chun-Tao. O Tao da voz: uma abordagem das técnicas do canto
e da voz falada combinando as tradições oriental e ocidental – Editora Rocco – Rio
de Janeiro – (1999)
COELHO, Helena Wölh. Técnica Vocal para coros. 8 ed. São Leopoldo, RS: Sinodal,
1994
COOKSEY, John. Kinesthetics and movement in choral rehearsal. In: The Choral
director’s cookbook: Insights and inspired recipes for beginners and experts.
Meredith Music Publications. 2006
CORBIN, Lynn. Learning about music while learning music. In: The Choral director’s
cookbook: Insights and inspired recipes for beginners and experts. Meredith Music
Publications. 2006
DART, Thurston. Interpretação da música. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2002
FENTON, Kevin. Eight essencial ingredients for preparing choral for performance. In:
The Choral director’s cookbook: Insights and inspired recipes for beginners and
experts. Meredith Music Publications. 2006
129
GOETZE, Mary. Spice up your warm-ups. In: The Choral director’s cookbook:
Insights and inspired recipes for beginners and experts. Meredith Music Publications.
2006
GREEN, Elizabeth A.H. The modern conductor. 2 ed. New Jersey: Prentice Hall.
HOLST, Imogen. Conducting a Choir. Oxford: Oxford University Press, 1995 (1973).
130
KERR, Samuel. Carta canto coral. In: LAKSCHEVITZ, Eduardo. Ensaios: olhares
sobre a música coral brasileira. Rio de Janeiro: Centro de Estudos de Música Coral,
2006. p. 198–238.
LAGO Jr., Sylvio. A arte da regência: história, técnica e maestros. Rio de Janeiro:
Lacerda Editores, 2002
LEITE, Marcos. Método de canto popular brasileiro para vozes médio-graves. Rio de
Janeiro: Lumiar Editora. 2001
LOPES Jr, Carlos Alberto, PEREZ, Karen Anne dos Santos, URTADO, Miguel do
Prado, PATRIOTA, Murilo Vichietti, NOGUEIRA, Nádia de Almeida. Dinâmica de
ensaio coral. Trabalho de conclusão de curso da Universidade Federal de São
Carlos, 2007
MOORE, James A. Como organizar e realizar um ensaio coral eficiente. In: Anais da
Convenção Internacional de Regentes de Coros. Gráfica da Fundação Educacional
do Distrito Federal. 1999
MORAES, Vinicius. Songbook. Vol. 3. Rio de Janeiro: Lumiar Editora. 2ª. Edição.
NOBLE, Weston. Toda música deve dançar. In: Anais da Convenção Internacional
de Regentes de Coros. Brasília, p. 77‐ 86, 1999
PFAUTSCH, Lloyd. The Choral Conductor and the Rehearsal. In: DECKER, Harold
A.; JULIUS, Herford (org.). Choral conducting symposium. Englewood Cliffs, New
Jersey: Prentice Hall, 1988 (1973). Chapter 2 (p. 69–111).
PHILLIPS, C.H. Psychology and the Choir-Trainer. The Musical Times, Vol. 76, No.
1112 (Oct., 1935), pp. 923-924 Published by: Musical Times Publications Ltd. Stable
URL: http://www.jstor.org/stable/920643 Acessado em: 05 de novembro de 2008
SESC SÃO PAULO. Canto, canção, cantoria: como montar um coro infantil. SÃO
PAULO: SESC, 1997
SILANTIEN, John. Técnicas de ensaio coral para aperfeiçoar a afinação. In: Anais
da Convenção Internacional de Regentes de Coros, Brasília, p. 91–94, Julho–
Agosto, 1999.
132
SHARP, Tim. Do’s and don’t’s for Today’s choral rehearsal. Disponível em
http://www.musicnc.org/LinkClick.aspx?fileticket=agfjcsfmipw%3D&tabid=4533&lang
uage=en-US. Acessado em 26 de abril de 2010
SOBREIRA, Silvia Garcia. Desafinação vocal. 2. ed. Rio de Janeiro: MusiMed, 2003.
STAMER, Rick. Teacher behaviors that stimulate student motivation. In: The Choral
director’s cookbook: Insights and inspired recipes for beginners and experts.
Meredith Music Publications. 2006
STROMMEN, Carl. The contemporary chorus: a director’s guide for the jass-rock
choir. Scherman Oaks, California: Alfred Publishing Co., Inc. 1980
WINE, Tom. Making a section rehearsal succesfull. In: The Choral director’s
cookbook: Insights and inspired recipes for beginners and experts. Meredith Music
Publications. 2006
YARRINGTON, John. Building the youth choir: training & motivating teenage singers.
Minneapolis: Augsburg Fortress, 1990
ANEXOS
Samba em Prelúdio
F m F
D/ F
3
3
F 7(b13) G
E Bm B m/
A
5
3
3
3
C 7 9 F m F 1.m/ D
E
10
3 3
C 7 5 F 2.m/ G C 7 9
B m6/ D7
D E
15
3
3
F m7 C 7 9 F m G
G
3 3
20
3
F 7 5 G
G
G B m/A
26
Bm
3
3 3
G /F F m7
1.D B m/D
3
32 3
3
3
G
C 7 9 F m
3 3
2.D 7
37
3 3