Concurso SES-MT 2024 Nível Superior
Concurso SES-MT 2024 Nível Superior
Concurso SES-MT 2024 Nível Superior
Língua Portuguesa
Elementos de construção do texto e seu sentido: gênero do texto (literário e não literá-
rio, narrativo, descritivo e argumentativo); interpretação e organização interna........... 1
Língua Portuguesa
Semântica: sentido e emprego dos vocábulos; campos semânticos............................. 16
Emprego de tempos e modos dos verbos na Língua Portuguesa. MorFologia: reconhe-
cimento, emprego e sentido das classes gramaticais;................................................... 17
Processos de formação de palavras.............................................................................. 33
Mecanismos de flexão dos nomes e verbos.................................................................. 34
Sintaxe: frase, oração e período; termos da oração; processos de coordenação e su-
bordinação...................................................................................................................... 39
Concordância nominal e verbal;..................................................................................... 44
Transitividade e regência de nomes e verbos;............................................................... 46
Padrões gerais de colocação pronominal na Língua Portuguesa.................................. 49
Mecanismos de coesão textual...................................................................................... 50
Ortografia....................................................................................................................... 52
Acentuação gráfica......................................................................................................... 54
Emprego do sinal indicativo de crase............................................................................. 56
Pontuação...................................................................................................................... 57
Estilística: figuras de linguagem..................................................................................... 61
Reescritura de frases: substituição, deslocamento, paralelismo;.................................. 66
Variação linguística: norma padrão................................................................................ 70
Exercícios....................................................................................................................... 73
Gabarito.......................................................................................................................... 84
Elementos de construção do texto e seu sentido: gênero do texto (literário e não literá-
rio, narrativo, descritivo e argumentativo); interpretação e organização interna
Definição Geral
Embora correlacionados, esses conceitos se distinguem, pois sempre que compreendemos adequadamente
um texto e o objetivo de sua mensagem, chegamos à interpretação, que nada mais é do que as conclusões
específicas. Exemplificando, sempre que nos é exigida a compreensão de uma questão em uma avaliação,
a resposta será localizada no próprio no texto, posteriormente, ocorre a interpretação, que é a leitura e a
conclusão fundamentada em nossos conhecimentos prévios.
Compreensão de Textos
Resumidamente, a compreensão textual consiste na análise do que está explícito no texto, ou seja, na
identificação da mensagem. É assimilar (uma devida coisa) intelectualmente, fazendo uso da capacidade de
entender, atinar, perceber, compreender. Compreender um texto é apreender de forma objetiva a mensagem
transmitida por ele. Portanto, a compreensão textual envolve a decodificação da mensagem que é feita pelo
leitor. Por exemplo, ao ouvirmos uma notícia, automaticamente compreendemos a mensagem transmitida por
ela, assim como o seu propósito comunicativo, que é informar o ouvinte sobre um determinado evento.
Interpretação de Textos
É o entendimento relacionado ao conteúdo, ou melhor, os resultados aos quais chegamos por meio da
associação das ideias e, em razão disso, sobressai ao texto. Resumidamente, interpretar é decodificar o sentido
de um texto por indução.
A interpretação de textos compreende a habilidade de se chegar a conclusões específicas após a leitura de
algum tipo de texto, seja ele escrito, oral ou visual.
Grande parte da bagagem interpretativa do leitor é resultado da leitura, integrando um conhecimento que
foi sendo assimilado ao longo da vida. Dessa forma, a interpretação de texto é subjetiva, podendo ser diferente
entre leitores.
Exemplo de compreensão e interpretação de textos
Para compreender melhor a compreensão e interpretação de textos, analise a questão abaixo, que aborda
os dois conceitos em um texto misto (verbal e visual):
FGV > SEDUC/PE > Agente de Apoio ao Desenvolvimento Escolar Especial > 2015
Português > Compreensão e interpretação de textos
A imagem a seguir ilustra uma campanha pela inclusão social.
“A Constituição garante o direito à educação para todos e a inclusão surge para garantir esse direito também
aos alunos com deficiências de toda ordem, permanentes ou temporárias, mais ou menos severas.”
1
A partir do fragmento acima, assinale a afirmativa incorreta.
(A) A inclusão social é garantida pela Constituição Federal de 1988.
(B) As leis que garantem direitos podem ser mais ou menos severas.
(C) O direito à educação abrange todas as pessoas, deficientes ou não.
(D) Os deficientes temporários ou permanentes devem ser incluídos socialmente.
(E) “Educação para todos” inclui também os deficientes.
Comentário da questão:
Em “A” o texto é sobre direito à educação, incluindo as pessoas com deficiência, ou seja, inclusão de
pessoas na sociedade. = afirmativa correta.
Em “B” o complemento “mais ou menos severas” se refere à “deficiências de toda ordem”, não às leis. =
afirmativa incorreta.
Em “C” o advérbio “também”, nesse caso, indica a inclusão/adição das pessoas portadoras de deficiência
ao direito à educação, além das que não apresentam essas condições. = afirmativa correta.
Em “D” além de mencionar “deficiências de toda ordem”, o texto destaca que podem ser “permanentes ou
temporárias”. = afirmativa correta.
Em “E” este é o tema do texto, a inclusão dos deficientes. = afirmativa correta.
Resposta: Logo, a Letra B é a resposta Certa para essa questão, visto que é a única que contém uma
afirmativa incorreta sobre o texto.
IDENTIFICANDO O TEMA DE UM TEXTO
O tema é a ideia principal do texto. É com base nessa ideia principal que o texto será desenvolvido. Para
que você consiga identificar o tema de um texto, é necessário relacionar as diferentes informações de forma
a construir o seu sentido global, ou seja, você precisa relacionar as múltiplas partes que compõem um todo
significativo, que é o texto.
Em muitas situações, por exemplo, você foi estimulado a ler um texto por sentir-se atraído pela temática
resumida no título. Pois o título cumpre uma função importante: antecipar informações sobre o assunto que será
tratado no texto.
Em outras situações, você pode ter abandonado a leitura porque achou o título pouco atraente ou, ao
contrário, sentiu-se atraído pelo título de um livro ou de um filme, por exemplo. É muito comum as pessoas se
interessarem por temáticas diferentes, dependendo do sexo, da idade, escolaridade, profissão, preferências
pessoais e experiência de mundo, entre outros fatores.
Mas, sobre que tema você gosta de ler? Esportes, namoro, sexualidade, tecnologia, ciências, jogos, no-
velas, moda, cuidados com o corpo? Perceba, portanto, que as temáticas são praticamente infinitas e saber
reconhecer o tema de um texto é condição essencial para se tornar um leitor hábil. Vamos, então, começar
nossos estudos?
Propomos, inicialmente, que você acompanhe um exercício bem simples, que, intuitivamente, todo leitor faz
ao ler um texto: reconhecer o seu tema. Vamos ler o texto a seguir?
CACHORROS
Os zoólogos acreditam que o cachorro se originou de uma espécie de lobo que vivia na Ásia. Depois os
cães se juntaram aos seres humanos e se espalharam por quase todo o mundo. Essa amizade começou há
uns 12 mil anos, no tempo em que as pessoas precisavam caçar para se alimentar. Os cachorros perceberam
que, se não atacassem os humanos, podiam ficar perto deles e comer a comida que sobrava. Já os homens
descobriram que os cachorros podiam ajudar a caçar, a cuidar de rebanhos e a tomar conta da casa, além de
serem ótimos companheiros. Um colaborava com o outro e a parceria deu certo.
2
Ao ler apenas o título “Cachorros”, você deduziu sobre o possível assunto abordado no texto. Embora você
imagine que o texto vai falar sobre cães, você ainda não sabia exatamente o que ele falaria sobre cães. Repare
que temos várias informações ao longo do texto: a hipótese dos zoólogos sobre a origem dos cães, a associa-
ção entre eles e os seres humanos, a disseminação dos cães pelo mundo, as vantagens da convivência entre
cães e homens.
As informações que se relacionam com o tema chamamos de subtemas (ou ideias secundárias). Essas
informações se integram, ou seja, todas elas caminham no sentido de estabelecer uma unidade de sentido.
Portanto, pense: sobre o que exatamente esse texto fala? Qual seu assunto, qual seu tema? Certamente você
chegou à conclusão de que o texto fala sobre a relação entre homens e cães. Se foi isso que você pensou,
parabéns! Isso significa que você foi capaz de identificar o tema do texto!
Fonte: https://portuguesrapido.com/tema-ideia-central-e-ideias-secundarias/
ANÁLISE E A INTERPRETAÇÃO DO TEXTO SEGUNDO O GÊNERO EM QUE SE INSCREVE
Compreender um texto trata da análise e decodificação do que de fato está escrito, seja das frases ou das
ideias presentes. Interpretar um texto, está ligado às conclusões que se pode chegar ao conectar as ideias do
texto com a realidade. Interpretação trabalha com a subjetividade, com o que se entendeu sobre o texto.
Interpretar um texto permite a compreensão de todo e qualquer texto ou discurso e se amplia no entendi-
mento da sua ideia principal. Compreender relações semânticas é uma competência imprescindível no merca-
do de trabalho e nos estudos.
Quando não se sabe interpretar corretamente um texto pode-se criar vários problemas, afetando não só o
desenvolvimento profissional, mas também o desenvolvimento pessoal.
Busca de sentidos
Para a busca de sentidos do texto, pode-se retirar do mesmo os tópicos frasais presentes em cada parágra-
fo. Isso auxiliará na apreensão do conteúdo exposto.
Isso porque é ali que se fazem necessários, estabelecem uma relação hierárquica do pensamento defendi-
do, retomando ideias já citadas ou apresentando novos conceitos.
Por fim, concentre-se nas ideias que realmente foram explicitadas pelo autor. Textos argumentativos não
costumam conceder espaço para divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas entrelinhas. Deve-se
ater às ideias do autor, o que não quer dizer que o leitor precise ficar preso na superfície do texto, mas é funda-
mental que não sejam criadas suposições vagas e inespecíficas.
Importância da interpretação
A prática da leitura, seja por prazer, para estudar ou para se informar, aprimora o vocabulário e dinamiza o
raciocínio e a interpretação. A leitura, além de favorecer o aprendizado de conteúdos específicos, aprimora a
escrita.
Uma interpretação de texto assertiva depende de inúmeros fatores. Muitas vezes, apressados, descuidamo-
-nos dos detalhes presentes em um texto, achamos que apenas uma leitura já se faz suficiente. Interpretar exi-
ge paciência e, por isso, sempre releia o texto, pois a segunda leitura pode apresentar aspectos surpreendentes
que não foram observados previamente. Para auxiliar na busca de sentidos do texto, pode-se também retirar
dele os tópicos frasais presentes em cada parágrafo, isso certamente auxiliará na apreensão do conteúdo ex-
posto. Lembre-se de que os parágrafos não estão organizados, pelo menos em um bom texto, de maneira alea-
tória, se estão no lugar que estão, é porque ali se fazem necessários, estabelecendo uma relação hierárquica
do pensamento defendido, retomando ideias já citadas ou apresentando novos conceitos.
Concentre-se nas ideias que de fato foram explicitadas pelo autor: os textos argumentativos não costumam
conceder espaço para divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas entrelinhas. Devemos nos ater às
ideias do autor, isso não quer dizer que você precise ficar preso na superfície do texto, mas é fundamental que
não criemos, à revelia do autor, suposições vagas e inespecíficas. Ler com atenção é um exercício que deve
ser praticado à exaustão, assim como uma técnica, que fará de nós leitores proficientes.
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Diferença entre compreensão e interpretação
A compreensão de um texto é fazer uma análise objetiva do texto e verificar o que realmente está escrito
nele. Já a interpretação imagina o que as ideias do texto têm a ver com a realidade. O leitor tira conclusões
subjetivas do texto.
DISTINÇÃO DE FATO E OPINIÃO SOBRE ESSE FATO
Fato
O fato é algo que aconteceu ou está acontecendo. A existência do fato pode ser constatada de modo in-
discutível. O fato é uma coisa que aconteceu e pode ser comprovado de alguma maneira, através de algum
documento, números, vídeo ou registro.
Exemplo de fato:
A mãe foi viajar.
Interpretação
É o ato de dar sentido ao fato, de entendê-lo. Interpretamos quando relacionamos fatos, os comparamos,
buscamos suas causas, previmos suas consequências.
Entre o fato e sua interpretação há uma relação lógica: se apontamos uma causa ou consequência, é
necessário que seja plausível. Se comparamos fatos, é preciso que suas semelhanças ou diferenças sejam
detectáveis.
Exemplos de interpretação:
A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em outro país.
A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão do que com a filha.
Opinião
A opinião é a avaliação que se faz de um fato considerando um juízo de valor. É um julgamento que tem
como base a interpretação que fazemos do fato.
Nossas opiniões costumam ser avaliadas pelo grau de coerência que mantêm com a interpretação do fato.
É uma interpretação do fato, ou seja, um modo particular de olhar o fato. Esta opinião pode alterar de pessoa
para pessoa devido a fatores socioculturais.
Exemplos de opiniões que podem decorrer das interpretações anteriores:
A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em outro país. Ela tomou uma decisão acertada.
A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão do que com a filha. Ela foi egoísta.
Muitas vezes, a interpretação já traz implícita uma opinião.
Por exemplo, quando se mencionam com ênfase consequências negativas que podem advir de um fato, se
enaltecem previsões positivas ou se faz um comentário irônico na interpretação, já estamos expressando nosso
julgamento.
É muito importante saber a diferença entre o fato e opinião, principalmente quando debatemos um tema
polêmico ou quando analisamos um texto dissertativo.
Exemplo:
A mãe viajou e deixou a filha só. Nem deve estar se importando com o sofrimento da filha.
TEXTOS LITERÁRIOS E NÃO LITERÁRIOS.
Detecção de características e pormenores que identifiquem o texto dentro de um estilo de época
Principais características do texto literário
Há diferença do texto literário em relação ao texto referencial, sobretudo, por sua carga estética. Esse tipo
de texto exerce uma linguagem ficcional, além de fazer referência à função poética da linguagem.
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Uma constante discussão sobre a função e a estrutura do texto literário existe, e também sobre a dificul-
dade de se entenderem os enigmas, as ambiguidades, as metáforas da literatura. São esses elementos que
constituem o atrativo do texto literário: a escrita diferenciada, o trabalho com a palavra, seu aspecto conotativo,
seus enigmas.
A literatura apresenta-se como o instrumento artístico de análise de mundo e de compreensão do homem.
Cada época conceituou a literatura e suas funções de acordo com a realidade, o contexto histórico e cultural e,
os anseios dos indivíduos daquele momento.
Ficcionalidade: os textos baseiam-se no real, transfigurando-o, recriando-o.
Aspecto subjetivo: o texto apresenta o olhar pessoal do artista, suas experiências e emoções.
Ênfase na função poética da linguagem: o texto literário manipula a palavra, revestindo-a de caráter artístico.
Plurissignificação: as palavras, no texto literário, assumem vários significados.
Principais características do texto não literário
Apresenta peculiaridades em relação a linguagem literária, entre elas o emprego de uma linguagem con-
vencional e denotativa.
Ela tem como função informar de maneira clara e sucinta, desconsiderando aspectos estilísticos próprios
da linguagem literária.
Os diversos textos podem ser classificados de acordo com a linguagem utilizada. A linguagem de um texto
está condicionada à sua funcionalidade. Quando pensamos nos diversos tipos e gêneros textuais, devemos
pensar também na linguagem adequada a ser adotada em cada um deles. Para isso existem a linguagem lite-
rária e a linguagem não literária.
Diferente do que ocorre com os textos literários, nos quais há uma preocupação com o objeto linguístico
e também com o estilo, os textos não literários apresentam características bem delimitadas para que possam
cumprir sua principal missão, que é, na maioria das vezes, a de informar. Quando pensamos em informação,
alguns elementos devem ser elencados, como a objetividade, a transparência e o compromisso com uma lin-
guagem não literária, afastando assim possíveis equívocos na interpretação de um texto.
GÊNEROS E TIPOS DE TEXTOS
Definições e diferenciação: tipos textuais e gêneros textuais são dois conceitos distintos, cada qual com
sua própria linguagem e estrutura. Os tipos textuais gêneros se classificam em razão da estrutura linguística,
enquanto os gêneros textuais têm sua classificação baseada na forma de comunicação. Assim, os gêneros são
variedades existente no interior dos modelos pré-estabelecidos dos tipos textuais. A definição de um gênero
textual é feita a partir dos conteúdos temáticos que apresentam sua estrutura específica. Logo, para cada tipo
de texto, existem gêneros característicos.
Como se classificam os tipos e os gêneros textuais
As classificações conforme o gênero podem sofrer mudanças e são amplamente flexíveis. Os principais
gêneros são: romance, conto, fábula, lenda, notícia, carta, bula de medicamento, cardápio de restaurante, lista
de compras, receita de bolo, etc. Quanto aos tipos, as classificações são fixas, e definem e distinguem o texto
com base na estrutura e nos aspectos linguísticos. Os tipos textuais são: narrativo, descritivo, dissertativo,
expositivo e injuntivo. Resumindo, os gêneros textuais são a parte concreta, enquanto as tipologias integram
o campo das formas, da teoria. Acompanhe abaixo os principais gêneros textuais inseridos e como eles se
inserem em cada tipo textual:
Texto narrativo: esse tipo textual se estrutura em: apresentação, desenvolvimento, clímax e desfecho. Esses
textos se caracterizam pela apresentação das ações de personagens em um tempo e espaço determinado. Os
principais gêneros textuais que pertencem ao tipo textual narrativo são: romances, novelas, contos, crônicas e
fábulas.
Texto descritivo: esse tipo compreende textos que descrevem lugares ou seres ou relatam acontecimentos.
Em geral, esse tipo de texto contém adjetivos que exprimem as emoções do narrador, e, em termos de gêneros,
abrange diários, classificados, cardápios de restaurantes, folhetos turísticos, relatos de viagens, etc.
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Texto expositivo: corresponde ao texto cuja função é transmitir ideias utilizando recursos de definição,
comparação, descrição, conceituação e informação. Verbetes de dicionário, enciclopédias, jornais, resumos
escolares, entre outros, fazem parte dos textos expositivos.
Texto argumentativo: os textos argumentativos têm o objetivo de apresentar um assunto recorrendo a
argumentações, isto é, caracteriza-se por defender um ponto de vista. Sua estrutura é composta por introdução,
desenvolvimento e conclusão. Os textos argumentativos compreendem os gêneros textuais manifesto e abaixo-
assinado.
Texto injuntivo: esse tipo de texto tem como finalidade de orientar o leitor, ou seja, expor instruções, de forma
que o emissor procure persuadir seu interlocutor. Em razão disso, o emprego de verbos no modo imperativo é
sua característica principal. Pertencem a este tipo os gêneros bula de remédio, receitas culinárias, manuais de
instruções, entre outros.
Texto prescritivo: essa tipologia textual tem a função de instruir o leitor em relação ao procedimento. Esses
textos, de certa forma, impedem a liberdade de atuação do leitor, pois decretam que ele siga o que diz o texto.
Os gêneros que pertencem a esse tipo de texto são: leis, cláusulas contratuais, edital de concursos públicos.
Gêneros textuais predominantemente do tipo textual narrativo
Romance
É um texto completo, com tempo, espaço e personagens bem definidosl. Pode ter partes em que o tipo nar-
rativo dá lugar ao descritivo em função da caracterização de personagens e lugares. As ações são mais exten-
sas e complexas. Pode contar as façanhas de um herói em uma história de amor vivida por ele e uma mulher,
muitas vezes, “proibida” para ele. Entretanto, existem romances com diferentes temáticas: romances históricos
(tratam de fatos ligados a períodos históricos), romances psicológicos (envolvem as reflexões e conflitos inter-
nos de um personagem), romances sociais (retratam comportamentos de uma parcela da sociedade com vistas
a realização de uma crítica social). Para exemplo, destacamos os seguintes romancistas brasileiros: Machado
de Assis, Guimarães Rosa, Eça de Queiroz, entre outros.
Conto
É um texto narrativo breve, e de ficção, geralmente em prosa, que conta situações rotineiras, anedotas e até
folclores. Inicialmente, fazia parte da literatura oral. Boccacio foi o primeiro a reproduzi-lo de forma escrita com
a publicação de Decamerão.
Ele é um gênero da esfera literária e se caracteriza por ser uma narrativa densa e concisa, a qual se desen-
volve em torno de uma única ação. Geralmente, o leitor é colocado no interior de uma ação já em desenvolvi-
mento. Não há muita especificação sobre o antes e nem sobre o depois desse recorte que é narrado no conto.
Há a construção de uma tensão ao longo de todo o conto.
Diversos contos são desenvolvidos na tipologia textual narrativa: conto de fadas, que envolve personagens
do mundo da fantasia; contos de aventura, que envolvem personagens em um contexto mais próximo da reali-
dade; contos folclóricos (conto popular); contos de terror ou assombração, que se desenrolam em um contexto
sombrio e objetivam causar medo no expectador; contos de mistério, que envolvem o suspense e a solução de
um mistério.
Fábula
É um texto de caráter fantástico que busca ser inverossímil. As personagens principais não são humanos e
a finalidade é transmitir alguma lição de moral.
Novela
É um texto caracterizado por ser intermediário entre a longevidade do romance e a brevidade do conto. Esse
gênero é constituído por uma grande quantidade de personagens organizadas em diferentes núcleos, os quais
nem sempre convivem ao longo do enredo. Como exemplos de novelas, podem ser citadas as obras O Alienis-
ta, de Machado de Assis, e A Metamorfose, de Kafka.
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Crônica
É uma narrativa informal, breve, ligada à vida cotidiana, com linguagem coloquial. Pode ter um tom humo-
rístico ou um toque de crítica indireta, especialmente, quando aparece em seção ou artigo de jornal, revistas e
programas da TV. Há na literatura brasileira vários cronistas renomados, dentre eles citamos para seu conheci-
mento: Luís Fernando Veríssimo, Rubem Braga, Fernando Sabido entre outros.
Diário
É escrito em linguagem informal, sempre consta a data e não há um destinatário específico, geralmente, é
para a própria pessoa que está escrevendo, é um relato dos acontecimentos do dia. O objetivo desse tipo de
texto é guardar as lembranças e em alguns momentos desabafar. Veja um exemplo:
“Domingo, 14 de junho de 1942
Vou começar a partir do momento em que ganhei você, quando o vi na mesa, no meio dos meus outros pre-
sentes de aniversário. (Eu estava junto quando você foi comprado, e com isso eu não contava.)
Na sexta-feira, 12 de junho, acordei às seis horas, o que não é de espantar; afinal, era meu aniversário.
Mas não me deixam levantar a essa hora; por isso, tive de controlar minha curiosidade até quinze para as sete.
Quando não dava mais para esperar, fui até a sala de jantar, onde Moortje (a gata) me deu as boas-vindas,
esfregando-se em minhas pernas.”
Trecho retirado do livro “Diário de Anne Frank”.
Gêneros textuais predominantemente do tipo textual descritivo
Currículo
É um gênero predominantemente do tipo textual descritivo. Nele são descritas as qualificações e as ativida-
des profissionais de uma determinada pessoa.
Laudo
É um gênero predominantemente do tipo textual descritivo. Sua função é descrever o resultado de análises,
exames e perícias, tanto em questões médicas como em questões técnicas.
Outros exemplos de gêneros textuais pertencentes aos textos descritivos são: folhetos turísticos; cardápios
de restaurantes; classificados; etc.
Gêneros textuais predominantemente do tipo textual expositivo
Resumos e Resenhas
O autor faz uma descrição breve sobre a obra (pode ser cinematográfica, musical, teatral ou literária) a fim
de divulgar este trabalho de forma resumida.
Na verdade resumo e/ou resenha é uma análise sobre a obra, com uma linguagem mais ou menos formal,
geralmente os resenhistas são pessoas da área devido o vocabulário específico, são estudiosos do assunto, e
podem influenciar a venda do produto devido a suas críticas ou elogios.
Verbete de dicionário
Gênero predominantemente expositivo. O objetivo é expor conceitos e significados de palavras de uma lín-
gua.
Relatório Científico
Gênero predominantemente expositivo. Descreve etapas de pesquisa, bem como caracteriza procedimentos
realizados.
Conferência
Predominantemente expositivo. Pode ser argumentativo também. Expõe conhecimentos e pontos de vistas
sobre determinado assunto. Gênero executado, muitas vezes, na modalidade oral.
Outros exemplos de gêneros textuais pertencentes aos textos expositivos são: enciclopédias; resumos es-
colares; etc.
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Gêneros textuais pertencentes aos textos argumentativos
Artigo de Opinião
É comum1 encontrar circulando no rádio, na TV, nas revistas, nos jornais, temas polêmicos que exigem uma
posição por parte dos ouvintes, espectadores e leitores, por isso, o autor geralmente apresenta seu ponto de
vista sobre o tema em questão através do artigo de opinião.
Nos tipos textuais argumentativos, o autor geralmente tem a intenção de convencer seus interlocutores e,
para isso, precisa apresentar bons argumentos, que consistem em verdades e opiniões.
O artigo de opinião é fundamentado em impressões pessoais do autor do texto e, por isso, são fáceis de
contestar.
Discurso Político
O discurso político2 é um texto argumentativo, fortemente persuasivo, em nome do bem comum, alicerçado
por pontos de vista do emissor ou de enunciadores que representa, e por informações compartilhadas que
traduzem valores sociais, políticos, religiosos e outros. Frequentemente, apresenta-se como uma fala coletiva
que procura sobrepor-se em nome de interesses da comunidade e constituir norma de futuro. Está inserido
numa dinâmica social que constantemente o altera e ajusta a novas circunstâncias. Em períodos eleitorais, a
sua maleabilidade permite sempre uma resposta que oscila entre a satisfação individual e os grandes objetivos
sociais da resolução das necessidades elementares dos outros.
Hannah Arendt (em The Human Condition) afirma que o discurso político tem por finalidade a persuasão do
outro, quer para que a sua opinião se imponha, quer para que os outros o admirem. Para isso, necessita da
argumentação, que envolve o raciocínio, e da eloquência da oratória, que procura seduzir recorrendo a afetos
e sentimentos.
O discurso político é, provavelmente, tão antigo quanto a vida do ser humano em sociedade. Na Grécia an-
tiga, o político era o cidadão da “pólis” (cidade, vida em sociedade), que, responsável pelos negócios públicos,
decidia tudo em diálogo na “agora” (praça onde se realizavam as assembleias dos cidadãos), mediante pala-
vras persuasivas. Daí o aparecimento do discurso político, baseado na retórica e na oratória, orientado para
convencer o povo.
O discurso político implica um espaço de visibilidade para o cidadão, que procura impor as suas ideias,
os seus valores e projetos, recorrendo à força persuasiva da palavra, instaurando um processo de sedução,
através de recursos estéticos como certas construções, metáforas, imagens e jogos linguísticos. Valendo-se
da persuasão e da eloquência, fundamenta-se em decisões sobre o futuro, prometendo o que pode ser feito.
Requerimento
Predominantemente dissertativo-argumentativo. O requerimento tem a função de solicitar determinada coisa
ou procedimento. Ele é dissertativo-argumentativo pela presença de argumentação com vistas ao convenci-
mento
Outros exemplos de gêneros textuais pertencentes aos textos argumentativos são: abaixo-assinados; mani-
festos; sermões; etc.
Gêneros textuais predominantemente do tipo textual injuntivo
Bulas de remédio
A bula de remédio traz também o tipo textual descritivo. Nela aparecem as descrições sobre a composição
do remédio bem como instruções quanto ao seu uso.
Manual de instruções
O manual de instruções tem como objetivo instruir sobre os procedimentos de uso ou montagem de um de-
terminado equipamento.
Exemplos de gêneros textuais pertencentes aos textos injuntivos são: receitas culinárias, instruções em
geral.
1 http://www.odiarioonline.com.br/noticia/43077/VENDEDOR-BRASILEIRO-ESTA-MENOS-SIMPATICO
2 https://www.infopedia.pt/$discurso-politico
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Gêneros textuais predominantemente do tipo textual prescritivo
Exemplos de gêneros textuais pertencentes aos textos prescritivos são: leis; cláusulas contratuais; edital de
concursos públicos; receitas médicas, etc.
Outros Exemplos
Carta
Esta, dependendo do destinatário pode ser informal, quando é destinada a algum amigo ou pessoa com
quem se tem intimidade. E formal quando destinada a alguém mais culto ou que não se tenha intimidade.
Dependendo do objetivo da carta a mesma terá diferentes estilos de escrita, podendo ser dissertativa, narra-
tiva ou descritiva. As cartas se iniciam com a data, em seguida vem a saudação, o corpo da carta e para finalizar
a despedida.
Propaganda
Este gênero aparece também na forma oral, diferente da maioria dos outros gêneros. Suas principais ca-
racterísticas são a linguagem argumentativa e expositiva, pois a intenção da propaganda é fazer com que o
destinatário se interesse pelo produto da propaganda. O texto pode conter algum tipo de descrição e sempre é
claro e objetivo.
Notícia
Este é um dos tipos de texto que é mais fácil de identificar. Sua linguagem é narrativa e descritiva e o objetivo
desse texto é informar algo que aconteceu.
A notícia é um dos principais tipos de textos jornalísticos existentes e tem como intenção nos informar acerca
de determinada ocorrência. Bastante recorrente nos meios de comunicação em geral, seja na televisão, em
sites pela internet ou impresso em jornais ou revistas.
Caracteriza-se por apresentar uma linguagem simples, clara, objetiva e precisa, pautando-se no relato de
fatos que interessam ao público em geral. A linguagem é clara, precisa e objetiva, uma vez que se trata de uma
informação.
Editorial
O editorial é um tipo de texto jornalístico que geralmente aparece no início das colunas. Diferente dos outros
textos que compõem um jornal, de caráter informativo, os editoriais são textos opinativos.
Embora sejam textos de caráter subjetivo, podem apresentar certa objetividade. Isso porque são os edito-
riais que apresentam os assuntos que serão abordados em cada seção do jornal, ou seja, Política, Economia,
Cultura, Esporte, Turismo, País, Cidade, Classificados, entre outros.
Os textos são organizados pelos editorialistas, que expressam as opiniões da equipe e, por isso, não rece-
bem a assinatura do autor. No geral, eles apresentam a opinião do meio de comunicação (revista, jornal, rádio,
etc.).
Tanto nos jornais como nas revistas podemos encontrar os editoriais intitulados como “Carta ao Leitor” ou
“Carta do Editor”.
Em relação ao discurso apresentado, esse costuma se apoiar em fatos polêmicos ligados ao cotidiano so-
cial. E quando falamos em discurso, logo nos atemos à questão da linguagem que, mesmo em se tratando de
impressões pessoais, o predomínio do padrão formal, fazendo com que prevaleça o emprego da 3ª pessoa do
singular, ocupa lugar de destaque.
Reportagem
Reportagem é um texto jornalístico amplamente divulgado nos meios de comunicação de massa. A reporta-
gem informa, de modo mais aprofundado, fatos de interesse público. Ela situa-se no questionamento de causa
e efeito, na interpretação e no impacto, somando as diferentes versões de um mesmo acontecimento.
A reportagem não possui uma estrutura rígida, mas geralmente costuma estabelecer conexões com o fato
central, anunciado no que chamamos de lead. A partir daí, desenvolve-se a narrativa do fato principal, ampliada
e composta por meio de citações, trechos de entrevistas, depoimentos, dados estatísticos, pequenos resumos,
dentre outros recursos. É sempre iniciada por um título, como todo texto jornalístico.
9
O objetivo de uma reportagem é apresentar ao leitor várias versões para um mesmo fato, informando-o,
orientando-o e contribuindo para formar sua opinião.
A linguagem utilizada nesse tipo de texto é objetiva, dinâmica e clara, ajustada ao padrão linguístico divul-
gado nos meios de comunicação de massa, que se caracteriza como uma linguagem acessível a todos os
públicos, mas pode variar de formal para mais informal dependendo do público a que se destina. Embora seja
impessoal, às vezes é possível perceber a opinião do repórter sobre os fatos ou sua interpretação.3
Gêneros Textuais e Gêneros Literários
Conforme o próprio nome indica, os gêneros textuais se referem a qualquer tipo de texto, enquanto os gêne-
ros literários se referem apenas aos textos literários.
Os gêneros literários são divisões feitas segundo características formais comuns em obras literárias, agru-
pando-as conforme critérios estruturais, contextuais e semânticos, entre outros.
- Gênero lírico;
- Gênero épico ou narrativo;
- Gênero dramático.
Gênero Lírico
É certo tipo de texto no qual um eu lírico (a voz que fala no poema e que nem sempre corresponde à do
autor) exprime suas emoções, ideias e impressões em face do mundo exterior. Normalmente os pronomes e os
verbos estão em 1ª pessoa e há o predomínio da função emotiva da linguagem.
Elegia
Um texto de exaltação à morte de alguém, sendo que a morte é elevada como o ponto máximo do texto. O
emissor expressa tristeza, saudade, ciúme, decepção, desejo de morte. É um poema melancólico. Um bom
exemplo é a peça Roan e Yufa, de William Shakespeare.
Epitalâmia
Um texto relativo às noites nupciais líricas, ou seja, noites românticas com poemas e cantigas. Um bom
exemplo de epitalâmia é a peça Romeu e Julieta nas noites nupciais.
Ode (ou hino)
É o poema lírico em que o emissor faz uma homenagem à pátria (e aos seus símbolos), às divindades, à
mulher amada, ou a alguém ou algo importante para ele. O hino é uma ode com acompanhamento musical.
Idílio (ou écloga)
Poema lírico em que o emissor expressa uma homenagem à natureza, às belezas e às riquezas que ela dá
ao homem. É o poema bucólico, ou seja, que expressa o desejo de desfrutar de tais belezas e riquezas ao lado
da amada (pastora), que enriquece ainda mais a paisagem, espaço ideal para a paixão. A écloga é um idílio
com diálogos (muito rara).
Sátira
É o poema lírico em que o emissor faz uma crítica a alguém ou a algo, em tom sério ou irônico. Tem um forte
sarcasmo, pode abordar críticas sociais, a costumes de determinada época, assuntos políticos, ou pessoas de
relevância social.
Acalanto
Canção de ninar.
Acróstico
Composição lírica na qual as letras iniciais de cada verso formam uma palavra ou frase. Ex.:
3 CEREJA, William Roberto & MAGALHÃES, Thereza Cochar. Texto e interação. São Paulo, Atual Editora,
2000
10
Amigos são
Muitas vezes os
Irmãos que escolhemos.
Zelosos, eles nos
Ajudam e
Dedicam-se por nós, para que nossa relação seja verdadeira e
Eterna
https://www.todamateria.com.br/acrostico/
Balada
Uma das mais primitivas manifestações poéticas, são cantigas de amigo (elegias) com ritmo característico e
refrão vocal que se destinam à dança.
Canção (ou Cantiga, Trova)
Poema oral com acompanhamento musical.
Gazal (ou Gazel)
Poesia amorosa dos persas e árabes; odes do oriente médio.
Soneto
É um texto em poesia com 14 versos, dividido em dois quartetos e dois tercetos.
Vilancete
São as cantigas de autoria dos poetas vilões (cantigas de escárnio e de maldizer); satíricas, portanto.
Gênero Épico ou Narrativo
Na Antiguidade Clássica, os padrões literários reconhecidos eram apenas o épico, o lírico e o dramáti-
co. Com o passar dos anos, o gênero épico passou a ser considerado apenas uma variante do gênero literário
narrativo, devido ao surgimento de concepções de prosa com características diferentes: o romance, a novela,
o conto, a crônica, a fábula.
Épico (ou Epopeia)
Os textos épicos são geralmente longos e narram histórias de um povo ou de uma nação, envolvem aventu-
ras, guerras, viagens, gestos heroicos, etc. Normalmente apresentam um tom de exaltação, isto é, de valoriza-
ção de seus heróis e seus feitos. Dois exemplos são Os Lusíadas, de Luís de Camões, e Odisseia, de Homero.
Ensaio
É um texto literário breve, situado entre o poético e o didático, expondo ideias, críticas e reflexões morais e
filosóficas a respeito de certo tema. É menos formal e mais flexível que o tratado.
Consiste também na defesa de um ponto de vista pessoal e subjetivo sobre um tema (humanístico, filosófico,
político, social, cultural, moral, comportamental, etc.), sem que se paute em formalidades como documentos ou
provas empíricas ou dedutivas de caráter científico. Exemplo: Ensaio sobre a tolerância, de John Locke.
Gênero Dramático
Trata-se do texto escrito para ser encenado no teatro. Nesse tipo de texto, não há um narrador contando a
história. Ela “acontece” no palco, ou seja, é representada por atores, que assumem os papéis das personagens
nas cenas.
Tragédia
É a representação de um fato trágico, suscetível de provocar compaixão e terror. Aristóteles afirmava que a
tragédia era “uma representação duma ação grave, de alguma extensão e completa, em linguagem figurada,
com atores agindo, não narrando, inspirando dó e terror”. Ex.: Romeu e Julieta, de Shakespeare.
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Farsa
A farsa consiste no exagero do cômico, graças ao emprego de processos como o absurdo, as incongruên-
cias, os equívocos, a caricatura, o humor primário, as situações ridículas e, em especial, o engano.
Comédia
É a representação de um fato inspirado na vida e no sentimento comum, de riso fácil. Sua origem grega está
ligada às festas populares.
Tragicomédia
Modalidade em que se misturam elementos trágicos e cômicos. Originalmente, significava a mistura do real
com o imaginário.
Poesia de cordel
Texto tipicamente brasileiro em que se retrata, com forte apelo linguístico e cultural nordestinos, fatos diver-
sos da sociedade e da realidade vivida por este povo.
Discurso Religioso4
A Análise Crítica do Discurso (ADC) tem como fulcro a abordagem das relações (internas e recíprocas) entre
linguagem e sociedade. Os textos produzidos socialmente em eventos autênticos são resultantes da estrutura-
ção social da linguagem que os consome e os faz circular. Por outro lado, esses mesmos textos são também
potencialmente transformadores dessa estruturação social da linguagem, assim como os eventos sociais são
tanto resultado quanto substrato dessas estruturas sociais.
O discurso religioso é “aquele em que há uma relação espontânea com o sagrado” sendo, portanto, “mais
informal”; enquanto o teológico é o tipo de “discurso em que a mediação entre a alma religiosa e o sagrado se
faz por uma sistematização dogmática das verdades religiosas, e onde o teólogo (...) aparece como aquele que
faz a relação entre os dois mundos: o mundo hebraico e o mundo cristão”, sendo, assim, “mais formal”. Porém,
podemos falar em DR de maneira globalizante.
Assim, temos:
- Desnivelamento, assimetria na relação entre o locutor e o ouvinte – o locutor está no plano espiritual (Deus),
e o ouvinte está no plano temporal (os adoradores). As duas ordens de mundo são totalmente diferentes para
os sujeitos, e essa ordem é afetada por um valor hierárquico, por uma desigualdade, por um desnivelamento.
Deus, o locutor, é imortal, eterno, onipotente, onipresente, onisciente, em resumo, o todo-poderoso. Os seres
humanos, os ouvintes, são mortais, efêmeros e finitos.
- Modos de representação. A voz no discurso religioso (DR) se fala em seus representantes (Padre, pastor,
profeta), essa é uma forma de relação simbólica. Essa apropriação ocorre sem explicitar os mecanismos de
incorporação da voz, aspecto que caracteriza a mistificação.
- O ideal do DR é que o ‘representante’, o que se apropria do discurso de Deus’, não o modifique. Ele deve
seguir regras restritas reguladas pelo texto sagrado, pela Igreja, pelas liturgias. Deve-se manter distância entre
‘o dito de Deus’ e ‘o dizer do homem’.
- A interpretação da palavra de Deus é regulada. “Os sentidos não podem ser quaisquer sentidos: o discurso
religioso tende fortemente para a monossemia”.
- Dualismos, as formas da ilusão da reversibilidade: plano humano e plano divino; ordem temporal e ordem
espiritual; sujeitos e Sujeito; homem e Deus. A ilusão ocorre na passagem de um plano para outro e pode ter
duas direções: de cima para baixo, ou seja, de Deus para os homens, momento em que Ele compartilha suas
propriedades (ministração de sacramentos, bênçãos); de baixo para cima, quando o homem se alça a Deus,
principalmente, através da visão, da profecia. Estas são formas de ‘ultrapassagem’.
4 https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/soletras/article/download/4694/3461#:~:text=O%20dis-
curso%20religioso%20%C3%A9%20aquele,discurso%20(Orlandi%2C%201996).&text=locutor%20est%-
C3%A1%20no%20plano%20espiritual,plano%20temporal%20(os%20adoradores).
12
- Escopo do discurso religioso. A fé separa os fiéis dos não-fiéis, “os convictos dos não-convictos. Logo, é
o parâmetro pelo qual delimita a comunidade e constitui o escopo do discurso religioso em suas duas forma-
ções características: para os que creem, o discurso religioso é uma promessa, para os que não creem é uma
ameaça.
Os discursos religiosos, como já vimos, se mostram com estruturas rígidas quanto aos papéis dos interlocu-
tores (a divindade e os seres humanos). Os dogmas sagrados, por exemplos, fé e Deus, são intocáveis. “Deus
define-se (...) a si mesmo como sujeito por excelência, aquele que é por si e para si (Sou aquele que É) e aquele
que interpela seu sujeito (...) eis quem tu és: é Pedro.”
Outros traços do DR se configuram com o uso do imperativo e do vocativo – características inerentes de
discursos de doutrinação; uso de metáforas – explicitadas por paráfrases que indicam a leitura apropriada para
as metáforas utilizadas; uso de citações no original (grego, hebraico, latim) – traduzidas para a língua em uso
através de perífrases extensas e explicativas em que se busca aproveitar o máximo o efeito de sentido advindo
da língua original; o uso de performativos – uso de verbos em que o ‘dizer’ representa o ‘fazer’; o uso de sintag-
mas cristalizados – usadas em orações e funções fáticas.
Ainda em relação às unidades textuais, podemos acrescentar o uso de determinadas formas simbólicas do
DR como as parábolas, a utilização de certos temas, como a efemeridade da vida humana, a vida eterna, o
galardão, entre outros. Acrescenta-se também como marca a intertextualidade.
Discurso Jurídico5
O discurso legal caracteriza-se como um discurso hierárquico e dominante, baseado numa estrutura de ex-
clusão e discriminação de várias minorias sociais, como os pobres, os negros, os homossexuais, as mulheres,
etc. A especificidade da linguagem jurídica, e as restrições educacionais quanto a quem pode militar na Área
(advogados, promotores, juízes, etc.), são apenas algumas das estratégias utilizadas pelo sistema jurídico para
manter o discurso legal inacessível à maioria das pessoas, e desta forma protege-lo de análises e críticas.
Como em todo discurso dominante, as posições de poder criadas para os participantes de textos legais são
particularmente assimétricas, como é o caso num julgamento (e.g. entre o juiz e o réu; entre o juiz e as teste-
munhas; etc.). Os juízes, por exemplo, detêm um poder especial devido ao seu status social e ao seu acesso
privilegiado ao discurso legal (são eles que produzem a forma final dos textos legais). Portanto, é a visão de
mundo do juiz que prevalece nas sentenças, em detrimento de outras posições alternativas.
Além de relações de poder, os textos legais também expressam relações de gênero. A lei e a cultura mascu-
lina estão intimamente ligadas; o sistema jurídico é quase que inteiramente dominado por homens (só recente-
mente as mulheres passaram a fazer parte de instituições jurídicas) e, de forma geral, ele expressa uma visão
masculina do mundo. As mulheres que são parte em processos legais (e.g. reclamantes, rés, testemunhas,
etc.) estão expostas a um duplo grau de discriminação e exclusão: primeiro, como leigas, elas ocupam uma
posição desfavorecida se comparadas com militantes legais (advogados, juízes, promotores, etc.); segundo,
elas são estigmatizadas também por serem mulheres, e têm seu comportamento social e sexual avaliado e
controlado pelo discurso jurídico.
Discurso Técnico6
Para o desempenho de tal papel, eles contam com suas características intrínsecas, as quais são responsá-
veis pelo “rótulo” que cada tipo textual carrega.
Tais características se evidenciam formal e funcionalmente e são percebidas, de maneira mais ou menos
clara pelo leitor/ouvinte. Afinal, todos os tipos de texto têm um público fiel, ao qual se destinam.
Os autores que têm o texto técnico como objeto de estudo concordam que ele apresenta as seguintes ca-
racterísticas:
• Linguagem monossêmica;
• Vocabulário específico ou léxico especializado;
• Objetividade;
• Emprego de voz passiva;
5 https://periodicos.ufsc.br/index.php/revistacfh/article/download/23353/21030/0
6 https://revistas.ufg.br/lep/article/download/32601/17331/
13
• Preferência pelo emprego do tempo verbal presente.
As características apontadas acima coadunam-se com o objetivo principal de qualquer produção de cunho
técnico: transmissão de conhecimentos de forma clara e imparcial. Embora a objetividade e a neutralidade
sejam fiéis parceiras do texto técnico, não se pode afirmar que esse tipo textual seja isento das marcas de seu
autor, enquanto produtor de ideias e veiculador de informações. Quando há a troca da 3ª pessoa do singular
pela 1ª pessoa do plural, por exemplo, o autor tem a intenção de conquistar o seu interlocutor, tornando-o um
parceiro “na assunção das informações dadas, numa forma de estratégia argumentativa.”
Todo tipo textual possui a argumentatividade, porém essa aparece de modo mais intenso e explícito em al-
guns textos e de modo menos intenso e explícito em outros. Para complementar a afirmação dessas autoras,
cita-se Benveniste para o qual, o sujeito está sempre presente no texto, não havendo, portanto, texto neutro ou
imparcial.
Percebe-se, então, que o texto técnico possui características que o diferenciam dos demais tipos de textos.
No entanto, não se deve afirmar que ele seja desprovido de marcas autorais. Tanto é verdade, que alguns au-
tores de textos técnicos não dispensam o uso de certos advérbios e conjunções, por exemplo, expedientes que
têm a função de modalizar o discurso.
A modalização, nesse tipo de texto, pode aparecer de forma implícita e/ou explícita. Sob essa última forma,
verificam-se o aparecimento de construções específicas, tais como as nominalizações, a voz passiva, o empre-
go de determinadas conjunções e preposições.
Discurso Acadêmico/Científico7
O texto como objeto abstrato se configura no campo da linguística como teoria geral. Já discurso é uma
realidade de interação-enunciação objeto de análises discursivas. Enquanto os textos, como objetos concretos,
são aqueles que se apresentam completos constituídos de um ato de enunciação que visa à interação entre
produtor e interlocutor. Partindo dessas concepções, percebe- se que texto e discurso se complementam, pois,
para o autor, “a separação do textual e do discursivo é essencialmente metodológica”, o que leva à distinção
entre os dois a anular-se. Neste caso, texto e discurso são unidades complementares.
A partir da compreensão de discurso, passa-se a refletir sobre o que vem ser discurso científico. Para Gui-
marães é aquele em que “o autor pretende fazer o leitor saber.” Ou seja, a intenção do autor é fazer o leitor ou
pesquisador saber como os resultados daquela pesquisa foram alcançados, dando-lhe oportunidade de repetir
os procedimentos metodológicos em outras pesquisas similares.
Para Carioca, “o discurso científico é a forma de apresentação da linguagem que circula na comunidade
científica em todo o mundo. Sua formulação depende de uma pesquisa minuciosa e efetiva sobre um objeto,
que é metodologicamente analisado à luz de uma teoria.” Outra posição é que o discurso científico não se dá
apenas pela comprovação ou refutação do que foi escrito, dá-se também pela aceitabilidade dos pares que
compõem a comunidade específica.
Desse modo, pode-se dizer que a estrutura global da comunicação científica está respaldada em parâmetros
normativos referentes à produção de gêneros e à produção da linguagem, ou seja, o discurso acadêmico se
estabeleceu dentro de convenções instituídas pela comunidade científica, que, ao longo do tempo, se expres-
sa por características, como impessoalidade, objetividade, clareza, precisão, modéstia, simplicidade, fluência,
dentre outros.
É importante apresentar a posição de Charaudeau sobre a problemática entre o discurso informativo (DI) e
discurso científico (DC). Para o autor, o que eles têm em comum é a problemática da prova. “[...] o primeiro se
atém essencialmente a uma prova pela designação e pela figuração (a ordem da constatação, do testemunho,
do relato de reconstituição dos fatos), o segundo inscreve a prova num programa de demonstração racional.”.
Percebe-se que o interesse principal do discurso informativo é transmitir uma verdade através dos fatos. Já
o discurso científico se impõe pela prova da racionalidade que reside na força da argumentatividade. E mais,
este deve se comprometer com a logicidade das ideias para estas se tornem mais convincentes.
7 http://www.repositorio.jesuita.org.br/bitstream/handle/UNISINOS/4823/MARIA%20DE%20F%c3%81TI-
MA%20RIBEIRO%20DOS%20SANTOS_.pdf?sequence=1&isAllowed=y
14
Como se viu, o discurso acadêmico é produzido dentro de uma esfera de comunicação relativamente defi-
nida chamada de comunidade científica. Em geral, no ensino superior, vão se encontrar modelos de discurso
acadêmico que já se tornaram consagrados para essa comunidade. Na subseção que segue se mostrará es-
pecificamente alguns deles.
O primeiro modelo, monografia de análise teórica, evidencia uma organização de ideias advindas de biblio-
grafias selecionadas sobre um determinado assunto. Nesse tipo, pode-se fazer uma análise crítica ou compara-
tiva de uma teoria ou modelo já consagrado pela comunidade científica. O modelo metodológico indicado pelos
autores é: escolha do assunto/ delimitação do tema; bibliografia pertinente ao tema; levantamento de dados
específicos da área sob estudo; fundamentação teórica; metodologia e modelos aplicáveis; análise e interpre-
tação das informações; conclusões e resultados.
No segundo modelo, monografia de análise teórico-empírica, faz-se uma análise interpretativa de dados pri-
mários, com apoio de fontes secundárias, passando-se para o teste de hipóteses, modelos ou teorias. A partir
dos dados primários e secundários, o autor /pesquisador mostrará um trabalho inovador. Quanto ao modelo
metodológico, tem-se: realidade observável; pergunta problema e objetivo proposto; bibliografia e dados se-
cundários; teoria pertinente ao tema (conceitos, técnicas, constructos) e dados secundários; instrumentos de
pesquisa (questionário); pesquisa empírica; análise; conclusões e resultados.
No terceiro modelo, monografia de estudo de caso, o autor/pesquisador faz uma análise específica da re-
lação existente entre um caso e hipóteses, modelos e teorias. O modelo metodológico adotado obedece aos
seguintes passos: escolha do assunto/delimitação do tema; bibliografia pertinente ao tema (área específica sob
estudo); fundamentação teórica; levantamento de dados da organização sob estudo; caracterização da organi-
zação; análise e interpretação das informações; conclusões e resultados.
Observa-se que esses modelos possuem suas particularidades, mas também aspectos que coincidem. Este
é o caso da pesquisa bibliográfica, que é imprescindível em qualquer trabalho científico.
Discurso Literário8
O discurso literário pode não ser apenas ligado aos procedimentos adotados pelo autor, mas também, e tal-
vez mais diretamente do que se pensa, ligado ao contexto sociocultural no qual está inserido, evidenciando-se,
nem sempre claramente, uma influência das instituições que o cercam na escolha de determinados procedi-
mentos de linguagem.
A ideia de que o discurso literário constrói-se a partir de elementos intrínsecos ao texto literário tomou corpo
com os estudos realizados no início do século XX. Foram os formalistas russos que demonstraram uma preocu-
pação com a materialidade do texto literário, recusando, num primeiro momento, explicações de base extralite-
rária. Neste sentido, o que importava para os integrantes do movimento era o procedimento, ou seja, o princípio
da organização da obra como produto estético. Assim, a preocupação dos formalistas era investigar e explicar
o que faz de uma determinada obra uma obra literária, nas palavras de Jakobson: “a poesia é linguagem em
sua função estética. Deste modo, o objeto do estudo literário não é a literatura, mas a literariedade, isto é, aquilo
que torna determinada obra uma obra literária”. A questão da literariedade como processo ou procedimento de
elaboração está centrado nas estruturas que diferenciam o texto literário de outros textos.
A literariedade é conceituada não só pela linguagem diferenciada que gera o estranhamento, mas também
histórica e culturalmente. Uma obra literária não pode ser apenas uma construção bem elaborada, mas deve
também retratar o homem de sua época ou época anterior, com todas as suas angústias, desejos e forma de
pensar. Tornando-se, assim, não apenas um material para ser estudado linguisticamente, mas também e, prin-
cipalmente, uma obra viva em que toda vez que se relê encontre-se algo novo e representativo do ser humano.
8 http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/LinguaPortuguesa/artigo12.pdf
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Semântica: sentido e emprego dos vocábulos; campos semânticos
Visão Geral: o significado das palavras é objeto de estudo da semântica, a área da gramática que se dedica
ao sentido das palavras e também às relações de sentido estabelecidas entre elas.
Denotação e conotação
Denotação corresponde ao sentido literal e objetivo das palavras, enquanto a conotação diz respeito ao
sentido figurado das palavras. Exemplos:
“O gato é um animal doméstico.”
“Meu vizinho é um gato.”
No primeiro exemplo, a palavra gato foi usada no seu verdadeiro sentido, indicando uma espécie real de
animal. Na segunda frase, a palavra gato faz referência ao aspecto físico do vizinho, uma forma de dizer que
ele é tão bonito quanto o bichano.
Hiperonímia e hiponímia
Dizem respeito à hierarquia de significado. Um hiperônimo, palavra superior com um sentido mais abrangente,
engloba um hipônimo, palavra inferior com sentido mais restrito.
Exemplos:
– Hiperônimo: mamífero: – hipônimos: cavalo, baleia.
– Hiperônimo: jogo – hipônimos: xadrez, baralho.
Polissemia e monossemia
A polissemia diz respeito ao potencial de uma palavra apresentar uma multiplicidade de significados, de
acordo com o contexto em que ocorre. A monossemia indica que determinadas palavras apresentam apenas
um significado. Exemplos:
– “Língua”, é uma palavra polissêmica, pois pode por um idioma ou um órgão do corpo, dependendo do
contexto em que é inserida.
– A palavra “decalitro” significa medida de dez litros, e não tem outro significado, por isso é uma palavra
monossêmica.
Sinonímia e antonímia
A sinonímia diz respeito à capacidade das palavras serem semelhantes em significado. Já antonímia se refere
aos significados opostos. Desse modo, por meio dessas duas relações, as palavras expressam proximidade e
contrariedade.
Exemplos de palavras sinônimas: morrer = falecer; rápido = veloz.
Exemplos de palavras antônimas: morrer x nascer; pontual x atrasado.
Homonímia e paronímia
A homonímia diz respeito à propriedade das palavras apresentarem: semelhanças sonoras e gráficas,
mas distinção de sentido (palavras homônimas), semelhanças homófonas, mas distinção gráfica e de sentido
(palavras homófonas) semelhanças gráficas, mas distinção sonora e de sentido (palavras homógrafas). A
paronímia se refere a palavras que são escritas e pronunciadas de forma parecida, mas que apresentam
significados diferentes. Veja os exemplos:
– Palavras homônimas: caminho (itinerário) e caminho (verbo caminhar); morro (monte) e morro (verbo
morrer).
– Palavras homófonas: apressar (tornar mais rápido) e apreçar (definir o preço); arrochar (apertar com força)
e arroxar (tornar roxo).
16
– Palavras homógrafas: apoio (suporte) e apoio (verbo apoiar); boto (golfinho) e boto (verbo botar); choro
(pranto) e choro (verbo chorar) .
– Palavras parônimas: apóstrofe (figura de linguagem) e apóstrofo (sinal gráfico), comprimento (tamanho) e
cumprimento (saudação).
CAMPOS SEMÂNTICOS
Campos semânticos referem-se a áreas específicas de conhecimento ou vocabulário que estão relaciona-
das de alguma forma. Esses campos descrevem os diferentes domínios de significado que as palavras podem
ter e como elas são usadas em contextos específicos.
Alguns exemplos de campos semânticos incluem:
1. Alimentos: palavras relacionadas a comida, como frutas, vegetais, carnes, temperos, etc.
2. Animais: palavras relacionadas a diferentes espécies de animais, seus habitats, características físicas,
etc.
3. Transporte: palavras relacionadas a meios de transporte, como carros, bicicletas, aviões, barcos, etc.
4. Emoções: palavras relacionadas a sentimentos e estados emocionais, como felicidade, tristeza, raiva,
etc.
5. Esportes: palavras relacionadas a diferentes modalidades esportivas, regras, equipamentos esportivos,
etc.
6. Natureza: palavras relacionadas a elementos naturais, como plantas, árvores, flores, montanhas, rios,
etc.
7. Ciências: palavras relacionadas a diferentes disciplinas científicas, como biologia, química, física, etc.
8. Tecnologia: palavras relacionadas a computadores, celulares, internet, softwares, hardwares, etc.
9. Artes: palavras relacionadas a diferentes formas de arte, como pintura, escultura, dança, música, etc.
10. Profissões: palavras relacionadas a diferentes ocupações e áreas de trabalho, como médico, professor,
engenheiro, etc.
Esses são apenas alguns exemplos de campos semânticos, mas existem muitos outros, cada um com seu
próprio conjunto de palavras e conceitos associados.
— Definição
As classes gramaticais são grupos de palavras que organizam o estudo da gramática. Isto é, cada palavra
existente na língua portuguesa condiz com uma classe gramatical, na qual ela é inserida em razão de sua
função. Confira abaixo as diversas funcionalidades de cada classe gramatical.
— Artigo
É a classe gramatical que, em geral, precede um substantivo, podendo flexionar em número e em gênero.
A classificação dos artigos
– Artigos definidos: servem para especificar um substantivo ou para se referirem a um ser específico por já
ter sido mencionado ou por ser conhecido mutuamente pelos interlocutores. Eles podem flexionar em número
(singular e plural) e gênero (masculino e feminino).
– Artigos indefinidos: indicam uma generalização ou a ocorrência inicial do representante de uma dada
espécie, cujo conhecimento não é compartilhado entre os interlocutores, por se tratar da primeira vez em que
aparece no discurso. Podem variar em número e gênero.
17
Observe:
— Substantivo
Essa classe atribui nome aos seres em geral (pessoas, animais, qualidades, sentimentos, seres mitológicos
e espirituais). Os substantivos se subdividem em:
– Próprios ou Comuns: são próprios os substantivos que nomeiam algo específico, como nomes de pessoas
(Pedro, Paula) ou lugares (São Paulo, Brasil). São comuns os que nomeiam algo na sua generalidade (garoto,
caneta, cachorro).
– Primitivos ou derivados: se não for formado por outra palavra, é substantivo primitivo (carro, planeta); se
formado por outra palavra, é substantivo derivado (carruagem, planetário).
– Concretos ou abstratos: os substantivos que nomeiam seres reais ou imaginativos, são concretos (cavalo,
unicórnio); os que nomeiam sentimentos, qualidades, ações ou estados são abstratos.
– Substantivos coletivos: são os que nomeiam os seres pertencentes ao mesmo grupo. Exemplos: manada
(rebanho de gado), constelação (aglomerado de estrelas), matilha (grupo de cães).
18
— Adjetivo
É a classe de palavras que se associa ao substantivo para alterar o seu significado, atribuindo-lhe
caracterização conforme uma qualidade, um estado e uma natureza, bem como uma quantidade ou extensão
à palavra, locução, oração ou pronome.
Os tipos de adjetivos
– Simples e composto: com apenas um radical, é adjetivo simples (bonito, grande, esperto, miúdo, regular);
apresenta mais de um radical, é composto (surdo-mudo, afrodescendente, amarelo-limão).
– Primitivo e derivado: o adjetivo que origina outros adjetivos é primitivo (belo, azul, triste, alegre); adjetivos
originados de verbo, substantivo ou outro adjetivo são classificados como derivados (ex.: substantivo morte →
adjetivo mortal; verbo lamentar → adjetivo lamentável).
– Pátrio ou gentílico: é a palavra que indica a nacionalidade ou origem de uma pessoa (paulista, brasileiro,
mineiro, latino).
O gênero dos adjetivos
– Uniformes: possuem forma única para feminino e masculino, isto é, não flexionam seu termo. Exemplo:
“Fred é um amigo leal.” / “Ana é uma amiga leal.”
– Biformes: os adjetivos desse tipo possuem duas formas, que variam conforme o gênero. Exemplo: “Menino
travesso.”/”Menina travessa”.
O número dos adjetivos
Por concordarem com o número do substantivo a que se referem, os adjetivos podem estar no singular ou
no plural. Assim, a sua composição acompanha os substantivos. Exemplos: pessoa instruída → pessoas
instruídas; campo formoso → campos formosos.
O grau dos adjetivos
Quanto ao grau, os adjetivos se classificam em comparativo (compara qualidades) e superlativo (intensifica
qualidades).
– Comparativo de igualdade: “O novo emprego é tão bom quanto o anterior.”
– Comparativo de superioridade: “Maria é mais prestativa do que Luciana.”
– Comparativo de inferioridade: “O gerente está menos atento do que a equipe.”
– Superlativo absoluto: refere-se a apenas um substantivo, podendo ser:
• Analítico: “A modelo é extremamente bonita.”
• Sintético: “Pedro é uma pessoa boníssima.”
– Superlativo relativo: refere-se a um grupo, podendo ser de:
• Superioridade - “Ela é a professora mais querida da escola.”
• Inferioridade - “Ele era o menos disposto do grupo.”
Pronome adjetivo
Recebem esse nome porque, assim como os adjetivos, esses pronomes alteram os substantivos aos quais
se referem. Assim, esse tipo de pronome flexiona em gênero e número para fazer concordância com os subs-
tantivos. Exemplos: “Esta professora é a mais querida da escola.” (o pronome adjetivo esta determina o subs-
tantivo comum professora).
Locução adjetiva
Uma locução adjetiva é formada por duas ou mais palavras, que, associadas, têm o valor de um único adje-
tivo. Basicamente, consiste na união preposição + substantivo ou advérbio. Exemplos:
– Criaturas da noite (criaturas noturnas).
– Paixão sem freio (paixão desenfreada).
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– Associação de comércios (associação comercial).
— Verbo
É a classe de palavras que indica ação, ocorrência, desejo, fenômeno da natureza e estado. Os verbos se
subdividem em:
– Verbos regulares: são os verbos que, ao serem conjugados, não têm seu radical modificado e preservam
a mesma desinência do verbo paradigma, isto é, terminado em “-ar” (primeira conjugação), “-er” (segunda
conjugação) ou “-ir” (terceira conjugação). Observe o exemplo do verbo “nutrir”:
– Radical: nutr (a parte principal da palavra, onde reside seu significado).
– Desinência: “-ir”, no caso, pois é a terminação da palavra e, tratando-se dos verbos, indica pessoa (1a,
2a, 3a), número (singular ou plural), modo (indicativo, subjuntivo ou imperativo) e tempo (pretérito, presente ou
futuro). Perceba que a conjugação desse no presente do indicativo: o radical não sofre quaisquer alterações,
tampouco a desinência. Portanto, o verbo nutrir é regular: Eu nutro; tu nutre; ele/ela nutre; nós nutrimos; vós
nutris; eles/elas nutrem.
– Verbos irregulares: os verbos irregulares, ao contrário dos regulares, têm seu radical modificado quando
conjugados e/ou têm desinência diferente da apresentada pelo verbo paradigma. Exemplo: analise o verbo di-
zer conjugado no pretérito perfeito do indicativo: Eu disse; tu dissestes; ele/ela disse; nós dissemos; vós disses-
tes; eles/elas disseram. Nesse caso, o verbo da segunda conjugação (-er) tem seu radical, diz, alterado, além
de apresentar duas desinências distintas do verbo paradigma”. Se o verbo dizer fosse regular, sua conjugação
no pretérito perfeito do indicativo seria: dizi, dizeste, dizeu, dizemos, dizestes, dizeram.
FLEXÃO VERBAL
1) Número: singular ou plural
Ex.: ando, andas, anda → singular
andamos, andais, andam → plural
2) Pessoas: são três.
a) A primeira é aquela que fala; corresponde aos pronomes eu (singular) e nós (plural).
Ex.: escreverei, escreveremos.
b) A segunda é aquela com quem se fala; corresponde aos pronomes tu (singular) e vós (plural).
Ex.: escreverás, escrevereis.
c) A terceira é aquela acerca de quem se fala; corresponde aos pronomes ele ou ela (singular) e eles ou
elas (plural).
Ex.: escreverá, escreverão.
3) Modos: são três.
a) Indicativo: apresenta o fato verbal de maneira positiva, indubitável. Ex.: vendo.
b) Subjuntivo: apresenta o fato verbal de maneira duvidosa, hipotética. Ex.: que eu venda.
c) Imperativo: apresenta o fato verbal como objeto de uma ordem. Ex.: venda!
4) Tempos: são três.
a) Presente: falo
b) Pretérito:
- Perfeito: falei
- Imperfeito: falava
- Mais-que-perfeito: falara
Obs.: O pretérito perfeito indica uma ação extinta; o imperfeito, uma ação que se prolongava num determina-
do ponto do passado; o mais-que-perfeito, uma ação passada em relação a outra ação, também passada. Ex.:
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Eu cantei aquela música. (perfeito)
Eu cantava aquela música. (imperfeito)
Quando ele chegou, eu já cantara. (mais-que-perfeito)
c) Futuro:
- Do presente: estudaremos
- Do pretérito: estudaríamos
Obs.: No modo subjuntivo, com relação aos tempos simples, temos apenas o presente, o pretérito imperfeito
e o futuro (sem divisão). Os tempos compostos serão estudados mais adiante.
5) Vozes: são três.
a) Ativa: o sujeito pratica a ação verbal.
Ex.: O carro derrubou o poste.
b) Passiva: o sujeito sofre a ação verbal.
- Analítica ou verbal: com o particípio e um verbo auxiliar.
Ex.: O poste foi derrubado pelo carro.
- Sintética ou pronominal: com o pronome apassivador se.
Ex.: Derrubou-se o poste.
Obs.: Estudaremos bem o pronome apassivador (ou partícula apassivadora) na sétima lição: concordância
verbal.
c) Reflexiva: o sujeito pratica e sofre a ação verbal; aparece um pronome reflexivo. Ex.: O garoto se machu-
cou.
Formação do Imperativo
1) Afirmativo: tu e vós saem do presente do indicativo menos a letra s; você, nós e vocês, do presente do
subjuntivo.
Ex.: Imperativo afirmativo do verbo beber
Bebo → beba
bebes → bebe (tu) bebas
bebe beba → beba (você)
bebemos bebamos → bebamos (nós)
bebeis → bebei (vós) bebais
bebem bebam → bebam (vocês)
Reunindo, temos: bebe, beba, bebamos, bebei, bebam.
2) Negativo: sai do presente do subjuntivo mais a palavra não.
Ex.: beba
bebas → não bebas (tu)
beba → não beba (você)
bebamos → não bebamos (nós)
bebais → não bebais (vós)
bebam → não bebam (vocês)
Assim, temos: não bebas, não beba, não bebamos, não bebais, não bebam.
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Observações:
a) No imperativo não existe a primeira pessoa do singular, eu; a terceira pessoa é você.
b) O verbo ser não segue a regra nas pessoas que saem do presente do indicativo. Eis o seu imperativo:
- Afirmativo: sê, seja, sejamos, sede, sejam.
- Negativo: não sejas, não seja, não sejamos, não sejais, não sejam.
c) O tratamento dispensado a alguém numa frase não pode mudar. Se começamos a tratar a pessoa por
você, não podemos passar para tu, e vice-versa.
Ex.: Pede agora a tua comida. (tratamento: tu)
Peça agora a sua comida. (tratamento: você)
d) Os verbos que têm z no radical podem, no imperativo afirmativo, perder também a letra e que aparece
antes da desinência s.
Ex.: faze (tu) ou faz (tu)
dize (tu) ou diz (tu)
e) Procure ter “na ponta da língua” a formação e o emprego do imperativo. É assunto muito cobrado em
concursos públicos.
Tempos Primitivos e Tempos Derivados
1) O presente do indicativo é tempo primitivo. Da primeira pessoa do singular sai todo o presente do sub-
juntivo.
Ex.: digo → que eu diga, que tu digas, que ele diga etc.
dizes
diz
Obs.: isso não ocorre apenas com os poucos verbos que não apresentam a desinência o na primeira pessoa
do singular.
Ex.: eu sou → que eu seja.
eu sei → que eu saiba.
2) O pretérito perfeito é tempo primitivo. Da segunda pessoa do singular saem:
a) o mais-que-perfeito.
Ex.: coubeste → coubera, couberas, coubera, coubéramos, coubéreis, couberam.
b) o imperfeito do subjuntivo.
Ex.: coubeste → coubesse, coubesses, coubesse, coubéssemos, coubésseis, coubessem.
c) o futuro do subjuntivo.
Ex.: coubeste → couber, couberes, couber, coubermos, couberdes, couberem.
3) Do infinitivo impessoal derivam:
a) o imperfeito do indicativo.
Ex.: caber → cabia, cabias, cabia, cabíamos, cabíeis, cabiam.
b) o futuro do presente.
Ex.: caber → caberei, caberás, caberá, caberemos, cabereis, caberão.
c) o futuro do pretérito.
Ex.: caber → caberia, caberias, caberia, caberíamos, caberíeis, caberiam.
d) o infinitivo pessoal.
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Ex.: caber → caber, caberes, caber, cabermos, caberdes, caberem.
e) o gerúndio.
Ex.: caber → cabendo.
f) o particípio.
Ex.: caber → cabido.
Tempos Compostos
Formam-se os tempos compostos com o verbo auxiliar (ter ou haver) mais o particípio do verbo que se quer
conjugar.
1) Perfeito composto: presente do verbo auxiliar mais particípio do verbo principal.
Ex.: tenho falado ou hei falado → perfeito composto do indicativo tenha falado ou haja falado → perfeito
composto do subjuntivo.
2) Mais-que-perfeito composto: imperfeito do auxiliar mais particípio do principal.
Ex.: tinha falado → mais-que-perfeito composto do indicativo.
tivesse falado → mais-que-perfeito composto do subjuntivo.
3) Demais tempos: basta classificar o verbo auxiliar.
Ex.: terei falado → futuro do presente composto (terei é futuro do presente).
Verbos Irregulares Comuns em Concursos
É importante saber a conjugação dos verbos que seguem. Eles estão conjugados apenas nas pessoas,
tempos e modos mais problemáticos.
1) Compor, repor, impor, expor, depor etc.: seguem integralmente o verbo pôr.
Ex.: ponho → componho, imponho, deponho etc.
pus → compus, repus, expus etc.
2) Deter, conter, reter, manter etc.: seguem integralmente o verbo ter.
Ex.: tivermos → contivermos, mantivermos etc.
tiveste → retiveste, mantiveste etc.
3) Intervir, advir, provir, convir etc.: seguem integralmente o verbo vir.
Ex.: vierem → intervierem, provierem etc.
vim → intervim, convim etc.
4) Rever, prever, antever etc.: seguem integralmente o verbo ver.
Ex.: vi → revi, previ etc.
víssemos → prevíssemos, antevíssemos etc.
Observações:
- Como se vê nesses quatro itens iniciais, o verbo derivado segue a conjugação do seu primitivo. Basta con-
jugar o verbo primitivo e recolocar o prefixo. Há outros verbos que dão origem a verbos derivados. Por exemplo,
dizer, haver e fazer. Para eles, vale a mesma regra explicada acima.
Ex.: eu houve → eu reouve (e não reavi, como normalmente se fala por aí).
- Requerer e prover não seguem integralmente os verbos querer e ver. Eles serão mostrados mais adiante.
5) Crer, no pretérito perfeito do indicativo: cri, creste, creu, cremos, crestes, creram.
6) Estourar, roubar, aleijar, inteirar etc.: mantém o ditongo fechado em todos os tempos, inclusive o presente
do indicativo. Ex.: A bomba estoura. (e não estóra, como normalmente se diz).
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7) Aderir, competir, preterir, discernir, concernir, impelir, expelir, repelir:
a) presente do indicativo: adiro, aderes, adere, aderimos, aderimos, aderem.
b) presente do subjuntivo: adira, adiras, adira, adiramos, adirais, adiram.
Obs.: Esses verbos mudam o e do infinitivo para i na primeira pessoa do singular do presente do indicativo
e em todas do presente do subjuntivo.
8) Aguar, desaguar, enxaguar, minguar:
a) presente do indicativo: águo, águas, água; enxáguo, enxáguas, enxágua.
b) presente do subjuntivo: águe, águes, águe; enxágue, enxágues, enxágue.
9) Arguir, no presente do indicativo: arguo, argúis, argúi, arguimos, arguis, argúem.
10) Apaziguar, averiguar, obliquar, no presente do subjuntivo: apazigúe, apazigúes, apazigúe, apaziguemos,
apazigueis, apazigúem.
11) Mobiliar:
a) presente do indicativo: mobílio, mobílias, mobília, mobiliamos, mobiliais, mobíliam.
b) presente do subjuntivo: mobílie, mobílies, mobílie, mobiliemos, mobilieis, mobíliem.
12) Polir, no presente do indicativo: pulo, pules, pule, polimos, polis, pulem.
13) Passear, recear, pentear, ladear (e todos os outros terminados em ear)
a) presente do indicativo: passeio, passeias, passeia, passeamos, passeais, passeiam.
b) presente do subjuntivo: passeie, passeies, passeie, passeemos, passeeis, passeiem.
Observações:
- Os verbos desse grupo (importantíssimo) apresentam o ditongo ei nas formas rizotônicas, mas apenas nos
dois presentes.
- Os verbos estrear e idear apresentam ditongo aberto.
Ex.: estreio, estreias, estreia; ideio, ideias, ideia.
14) Confiar, renunciar, afiar, arriar etc.: verbos regulares.
Ex.: confio, confias, confia, confiamos, confiais, confiam.
Observações:
- Esses verbos não têm o ditongo ei nas formas rizotônicas.
- Mediar, ansiar, remediar, incendiar, odiar e intermediar, apesar de terminarem em iar, apresentam o ditongo
ei.
Ex.: medeio, medeias, medeia, mediamos, mediais, medeiam, medeie, medeies, medeie, mediemos, me-
dieis, medeiem.
15) Requerer: só é irregular na 1ª pessoa do singular do presente do indicativo e, consequentemente, em
todo o presente do subjuntivo.
Ex.: requeiro, requeres, requer
requeira, requeiras, requeira
requeri, requereste, requereu
16) Prover: conjuga-se como verbo regular no pretérito perfeito, no mais-que-perfeito, no imperfeito do sub-
juntivo, no futuro do subjuntivo e no particípio; nos demais tempos, acompanha o verbo ver.
Ex.: Provi, proveste, proveu; provera, proveras, provera; provesse, provesses, provesse etc.
provejo, provês, provê; provia, provias, provia; proverei, proverás, proverá etc.
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17) Reaver, precaver-se, falir, adequar, remir, abolir, colorir, ressarcir, demolir, acontecer, doer são verbos
defectivos. Estude o que falamos sobre eles na lição anterior, no item sobre a classificação dos verbos. Ex.:
Reaver, no presente do indicativo: reavemos, reaveis.
— Pronome
O pronome tem a função de indicar a pessoa do discurso (quem fala, com quem se fala e de quem se fala),
a posse de um objeto e sua posição. Essa classe gramatical é variável, pois flexiona em número e gênero. Os
pronomes podem suplantar o substantivo ou acompanhá-lo; no primeiro caso, são denominados “pronome
substantivo” e, no segundo, “pronome adjetivo”. Classificam-se em: pessoais, possessivos, demonstrativos,
interrogativos, indefinidos e relativos.
Pronomes pessoais
Os pronomes pessoais apontam as pessoas do discurso (pessoas gramaticais), e se subdividem em
pronomes do caso reto (desempenham a função sintática de sujeito) e pronomes oblíquos (atuam como
complemento), sendo que, para cada o caso reto, existe um correspondente oblíquo.
Observe os exemplos:
– Na frase “Maria está feliz. Ela vai se casar.”, o pronome cabível é do caso reto. Quem vai se casar? Maria.
– Na frase “O forno? Desliguei-o agora há pouco. O pronome “o” completa o sentido do verbo. Fechei o que?
O forno.
Lembrando que os pronomes oblíquos o, a, os, as, lo, la, los, las, no, na, nos e nas desempenham apenas
a função de objeto direto.
Pronomes possessivos
Esses pronomes indicam a relação de posse entre o objeto e a pessoa do discurso.
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Pronomes demonstrativos
Sua função é indicar a posição dos seres no que se refere ao tempo, ao espaço e à pessoa do discurso –
nesse último caso, o pronome determina a proximidade entre um e outro. Esses pronomes flexionam-se em
gênero e número.
PESSOA DO
PRONOMES POSIÇÃO
DISCURSO
Este, esta, estes,
1a pessoa Os seres ou objetos estão próximos da pessoa que fala.
estas, isto.
Esse, essa, esses, Os seres ou objetos estão próximos da pessoa com quem
2a pessoa
essas, isso. se fala.
Aquele, aquela,
3a pessoa aqueles, aquelas, De quem/ do que se fala.
aquilo.
Observe os exemplos:
“Esta caneta é sua?”
“Esse restaurante é bom e barato.”
Pronomes Indefinidos
Esses pronomes indicam indeterminação ou imprecisão, assim, estão sempre relacionados à 3ª pessoa do
discurso. Os pronomes indefinidos podem ser variáveis (flexionam conforme gênero e número) ou invariáveis
(não flexionam). Analise os exemplos abaixo:
– Em “Alguém precisa limpar essa sujeira.”, o termo “alguém” quer dizer uma pessoa de identidade indefinida
ou não especificada.
– Em “Nenhum convidado confirmou presença.”, o termo “nenhum” refere-se ao substantivo “convidado” de
modo vago, pois não se sabe de qual convidado se trata.
– Em “Cada criança vai ganhar um presente especial.”, o termo “cada” refere-se ao substantivo da frase
“criança”, sem especificá-lo.
– Em “Outras lojas serão abertas no mesmo local.”, o termo “outras” refere-se ao substantivo “lojas” sem
especificar de quais lojas se trata.
Confira abaixo a tabela com os pronomes indefinidos:
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CLASSIFICAÇÃO PRONOMES INDEFINIDOS
Muito, pouco, algum, nenhum, outro, qualquer, certo, um,
VARIÁVEIS
tanto, quanto, bastante, vários, quantos, todo.
Nada, ninguém, cada, algo, alguém, quem, demais,
INVARIÁVEIS
outrem, tudo.
Pronomes relativos
Os pronomes relativos, como sugere o nome, se relacionam ao termo anterior e o substituem, ou seja, para
prevenir a repetição indevida das palavras em um texto. Eles podem ser variáveis (o qual, cujo, quanto) ou
invariáveis (que, quem, onde).
Observe os exemplos:
– Em “São pessoas cuja história nos emociona.”, o pronome “cuja” se apresenta entre dois substantivos
(“pessoas” e “história”) e se relaciona àquele que foi dito anteriormente (“pessoas”).
– Em “Os problemas sobre os quais conversamos já estão resolvidos.” , o pronome “os quais” retoma o
substantivo dito anteriormente (“problemas”).
Pronomes interrogativos
Os pronomes interrogativos são palavras variáveis e invariáveis cuja função é formular perguntas diretas e
indiretas. Exemplos:
“Quanto vai custar a passagem?” (oração interrogativa direta)
“Gostaria de saber quanto custará a passagem.” (oração interrogativa indireta)
— Advérbio
É a classe de palavras invariável que atua junto aos verbos, aos adjetivos e mesmo aos advérbios, com
o objetivo de modificar ou intensificar seu sentido, ao adicionar-lhes uma nova circunstância. De modo geral,
os advérbios exprimem circunstâncias de tempo, modo, vlugar, qualidade, causa, intensidade, oposição,
aprovação, afirmação, negação, dúvida, entre outras noções. Confira na tabela:
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Antes, depois, hoje, ontem, “Sempre que precisar de algo,
ADVÉRBIO DE TEMPO amanhã, sempre, nunca, cedo, basta chamar-me.” “Cedo ou tarde,
tarde far-se-á justiça.”
“Eles formam um casal tão bonito!”
ADVÉRBIO DE INTEN- Muito, pouco, bastante, tão,
SIDADE demais, tanto “Elas conversam demais!” “Você
saiu muito depressa.”
Sim e decerto; palavras afirma-
“Decerto passaram por aqui.”
tivas com sufixo “-mente” (certa-
ADVÉRBIO DE AFIR-
mente, realmente). Palavras como “Claro que irei!”
MAÇÃO
claro e positivo podem ser advér-
“Entendi, sim.”
bio, dependendo do contexto
Não e nem; palavras como “Jamais reatarei meu namoro com
negativo, nenhum, nunca, jamais, ele.”
ADVÉRBIO DE NEGA-
entre outras, podem ser advér-
ÇÃO “Sequer pensou para falar.” “Não
bio de negação, dependendo do
contexto. pediu ajuda.”
Talvez, quiçá, porventura, e “Quiçá seremos recebidas.” “Pro-
palavras que expressem dúvida, vavelmente, sairei mais cedo.”
ADVÉRBIO DE DÚVIDA
acrescidas do sufixo “: -mente”,
como possivelmente. “Talvez eu saia cedo.”
“Por que vendeu o livro?” (Oração
Quando, como, onde, aonde, interrogativa direta, que indica causa)
donde, por que; esse advérbio
“Quando posso sair?” (oração inter-
ADVÉRBIO DE INTER- pode indicar circunstâncias de
rogativa direta que indica tempo)
ROGAÇÃO modo, tempo, lugar e causa; é
usado somente em frases interro- “Explica como você fez isso.”(ora-
gativas diretas ou indiretas. ção interrogativa indireta, que indica
modo.
— Conjunção
As conjunções integram a classe de palavras que tem a função de conectar os elementos de um enunciado
ou oração e, com isso, estabelecer uma relação de dependência ou de independência entre os termos ligados.
Em função dessa relação entre os termos conectados, as conjunções podem ser classificadas, respectivamente
e de modo geral, como coordenativas ou subordinativas. Em outras palavras, as conjunções são um vínculo
entre os elementos de uma sentença, atribuindo ao enunciado maior clareza e precisão.
– Conjunções coordenativas: observe o exemplo:
Eles ouviram os pedidos de ajuda. Eles chamaram o socorro.” – “Eles ouviram os pedidos de ajuda e
chamaram o socorro.”
No exemplo, a conjunção “e” estabelece uma relação de adição ao enunciado, ao conectar duas orações
em um mesmo período: além de terem ouvido os pedidos de ajuda, chamaram o socorro. Perceba que não há
relação de dependência entre ambas as sentenças, e que, para fazerem sentido, elas não têm necessidade uma
da outra. Assim, classificam-se como orações coordenadas, e a conjunção que as relaciona, como coordenativa.
– Conjunções subordinativas: analise este segundo caso:
Não passei na prova, apesar de ter estudado muito.”
Neste caso, temos uma locução conjuntiva (duas palavras desempenham a função de conjunção). Além
disso, notamos que o sentido da segunda sentença é totalmente dependente da informação que é dada
na primeira. Assim, a primeira oração recebe o nome de oração principal, enquanto a segunda, de oração
subordinada. Logo, a conjunção que as relaciona é subordinativa.
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Classificação das conjunções
Além da classificação que se baseia no grau de dependência entre os termos conectados (coordenação e
subordinação), as conjunções possuem subdivisões.
– Conjunções coordenativas: essas conjunções se reclassificam em razão do sentido que possuem cinco
subclassificações, em função o sentido que estabelecem entre os elementos que ligam. São cinco:
Conjunções subordinativas: com base no sentido construído entre as duas orações relacionadas, a conjunção
subordinativa pode ser de dois subtipos:
1 – Conjunções integrantes: introduzem a oração que cumpre a função de sujeito, objeto direto, objeto
indireto, predicativo, complemento nominal ou aposto de outra oração. Essas conjunções são que e se.
Exemplos:
“É obrigatório que o senhor compareça na data agendada.”
“Gostaria de saber se o resultado sairá ainda hoje.”
2 – Conjunções adverbiais: introduzem sintagmas adverbiais (orações que indicam uma circunstância
adverbial relacionada à oração principal) e se subdividem conforme a tabela abaixo:
29
Numeral
É a classe de palavra variável que exprime um número determinado ou a colocação de alguma coisa dentro
de uma sequência. Os numerais podem ser: cardinais (um, dois, três...), ordinais (primeiro, segundo, terceiro...),
fracionários (meio, terço, quarto...) e multiplicativos (dobro, triplo, quádruplo...). Antes de nos profundarmos em
cada caso, vejamos o emprego dos numerais e suas três principais finalidades:
1 – indicar leis e decretos: nesses casos, emprega-se o numeral ordinal somente até o número nono;
após, devem ser utilizados os numerais cardinais. Exemplos: Parágrafo 9° (parágrafo nono); Parágrafo 10°
(Parágrafo 10).
2 – indicar os dias do mês: nessas situações, empregam-se os numerais cardinais, sendo que a única
exceção é a indicação do primeiro dia do mês, para a qual deve-se utilizar o numeral ordinal. Exemplos:
dezesseis de outubro; primeiro de agosto.
3 – indicar capítulos, séculos, reis e papas: após o substantivo emprega-se o numeral ordinal até o décimo;
após o décimo utiliza-se o numeral cardinal. Exemplos: capítulo X (décimo); século IV (quarto); Henrique VIII
(oitavo), Bento XVI (dezesseis).
30
Os tipos de numerais
– Cardinais: são os números em sua forma fundamental e exprimem quantidades.
Exemplos: um dois, dezesseis, trinta, duzentos, mil.
– alguns deles flexionam em gênero (um/uma, dois/duas, quinhentos/quinhentas).
– alguns números cardinais variam em número, como é o caso: milhão/milhões, bilhão/bilhões, trilhão/
trilhões, e assim por diante.
– a palavra ambos(as) é considerada um numeral cardinal, pois significa os dois/as duas. Exemplo: Antônio
e Pedro fizeram o teste, mas os dois/ambos foram reprovados.
– Ordinais: indicam ordem de uma sequência (primeiro, segundo, décimo, centésimo, milésimo…), isto é,
apresentam a ordem de sucessão e uma série, seja ela de seres, de coisas ou de objetos.
– os numerais ordinais variam em gênero (masculino e feminino) e número (singular e plural). Exemplos:
primeiro/primeira, primeiros/primeiras, décimo/décimos, décima/décimas, trigésimo/trigésimos, trigésima/
trigésimas.
– alguns numerais ordinais possuem o valor de adjetivo. Exemplo: A carne de segunda está na promoção.
– Fracionários: servem para indicar a proporções numéricas reduzidas, ou seja, para representar uma parte
de um todo. Exemplos: meio ou metade (½), um quarto (um quarto (¼), três quartos (¾), 1/12 avos.
– os números fracionários flexionam-se em gênero (masculino e feminino) e número (singular e plural).
Exemplos: meio copo de leite, meia colher de açúcar; dois quartos do salário-mínimo.
– Multiplicativos: esses numerais estabelecem relação entre um grupo, seja de coisas ou objetos ou coisas,
ao atribuir-lhes uma característica que determina o aumento por meio dos múltiplos. Exemplos: dobro, triplo,
undécuplo, doze vezes, cêntuplo.
– em geral, os multiplicativos são invariáveis, exceto quando atuam como adjetivo, pois, nesse caso, passam
a flexionar número e gênero (masculino e feminino). Exemplos: dose dupla de elogios, duplos sentidos.
– Coletivos: correspondem aos substantivos que exprimem quantidades precisas, como dezena (10
unidades) ou dúzia (12 unidades).
– os numerais coletivos sofrem a flexão de número: unidade/unidades, dúzia/dúzias, dezena/dezenas,
centena/centenas.
— Preposição
Essa classe de palavras tem o objetivo de marcar as relações gramaticais que outras classes (substantivos,
adjetivos, verbos e advérbios) exercem no discurso. Por apenas marcarem algumas relações entre as unidades
linguísticas dentro do enunciado, as preposições não possuem significado próprio se isoladas no discurso. Em
razão disso, as preposições são consideradas classe gramatical dependente, ou seja, sua função gramatical
(organização e estruturação) é principal, embora o desempenho semântico, que gera significado e sentido,
esteja presente, apenas possui um menor valor.
Classificação das preposições
Preposições essenciais: só aparecem na língua propriamente como preposições, sem outra função. São
elas:
– Exemplo 1) ”Luís gosta de viajar.” e “Prefiro doce de coco.” Em ambas as sentenças, a preposição de man-
teve-se sempre sendo preposição, apesar de ter estabelecido relação entre unidades linguísticas diferentes,
garantindo-lhes classificações distintas conforme o contexto.
– Exemplo 2) “Estive com ele até o reboque chegar.” e “Finalizei o quadro com textura.” Perceba que nas
duas fases, a mesma preposição tem significados distintos: na primeira, indica recurso/instrumento; na segun-
da, exprime companhia. Por isso, afirma-se que a preposição tem valor semântico, mesmo que secundário ao
valor estrutural (gramática).
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Classificação das preposições
– Preposições acidentais: são aquelas que, originalmente, não apresentam função de preposição, porém, a
depender do contexto, podem assumir essa atribuição. São elas:
— Interjeição
É a palavra invariável ou sintagma que compõem frases que manifestam por parte do emissor do enunciado
uma surpresa, uma hesitação, um susto, uma emoção, um apelo, uma ordem, etc., por parte do emissor do
enunciado. São as chamadas unidades autônomas, que usufruem de independência em relação aos demais
elementos do enunciado. As interjeições podem ser empregadas também para chamar exigir algo ou para
chamar a atenção do interlocutor e são unidades cuja forma pode sofrer variações como:
– Locuções interjetivas: são formadas por grupos e palavras que, associadas, assumem o valor de interjeição.
Exemplos: “Ai de mim!”, “Minha nossa!” Cruz credo!”.
– Palavras da língua: “Eita!” “Nossa!”
– Sons vocálicos: “Hum?!”, “Ué!”, “Ih…!”
Os tipos de interjeição
De acordo com as reações que expressam, as interjeições podem ser de:
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Processos de formação de palavras
Visão geral: a formação de palavras que integram o léxico da língua baseia-se em dois principais processos
morfológicos (combinação de morfemas): a derivação e a composição.
Derivação: é a formação de uma nova palavra (palavra derivada) com base em uma outra que já existe na
língua (palavra primitiva ou radical).
1 – Prefixal por prefixação: um prefixo ou mais são adicionados à palavra primitiva.
4 – Parassintética: também consiste na adição de prefixo e sufixo à palavra primitiva, porém, diferentemente
do tipo anterior, para existência da nova palavra, ambos os acréscimos são obrigatórios. Esse processo parte
de substantivos e adjetivos para originar um verbo.
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PREFIXO PALAVRA PRIMITIVA SUFIXO PALAVRA DERIVADA
em pobre cer empobrecer
em trist ecer estristecer
5 – Regressiva: é a remoção da parte final de uma palavra primitiva para, dessa forma, obter uma palavra
derivada. Esse origina substantivos a partir de formas verbais que expressam uma ação. Essas novas palavras
recebem o nome de deverbais. Tal composição ocorre a partir da substituição da terminação verbal formada
pela vogal temática + desinência de infinitivo (“–ar” ou “–er”) por uma das vogais temáticas nominais (-a, -e,-o).”
6 – Imprópria (ou conversão): é o processo que resulta na mudança da classe gramatical de uma palavra
primitiva, mas não modifica sua forma. Exemplo: a palavra jantar pode ser um verbo na frase “Convidaram-me
para jantar”, mas também pode ser um substantivo na frase “O jantar estava maravilhoso”.
Composição: é o processo de formação de palavra a partir da junção de dois ou mais radicais. A composição
pode se realizar por justaposição ou por aglutinação.
– Justaposição: na junção, não há modificação dos radicais. Exemplo: passa + tempo - passatempo; gira +
sol = girassol.
– Aglutinação: existe alteração dos radicais na sua junção. Exemplo: em + boa + hora = embora; desta +
arte = destarte.
FLEXÃO NOMINAL
Flexão de número
Os nomes (substantivo, adjetivo etc.), de modo geral, admitem a flexão de número: singular e plural.
Ex.: animal – animais.
Palavras Simples
1) Na maioria das vezes, acrescenta-se S.
Ex.: ponte – pontes / bonito – bonitos.
2) Palavras terminadas em R ou Z: acrescenta-se ES.
Ex.: éter – éteres / avestruz – avestruzes.
Observação: o pronome qualquer faz o plural no meio: quaisquer.
3) Palavras oxítonas terminadas em S: acrescenta-se ES.
Ex.: ananás – ananases.
Observação: as paroxítonas e as proparoxítonas são invariáveis. Ex.: o pires − os pires / o ônibus − os ôni-
bus.
4) Palavras terminadas em IL:
a) átono: trocam IL por EIS. Ex.: fóssil – fósseis.
b) tônico: trocam L por S. Ex.: funil – funis.
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5) Palavras terminadas em EL:
a) átono: plural em EIS. Ex.: nível – níveis.
b) tônico: plural em ÉIS. Ex.: carretel – carretéis.
6) Palavras terminadas em X são invariáveis.
Ex.: o clímax − os clímax.
7) Há palavras cuja sílaba tônica avança.
Ex.: júnior – juniores / caráter – caracteres.
Observação: a palavra caracteres é plural tanto de caractere quanto de caráter.
8) Palavras terminadas em ÃO, ÃOS, ÃES e ÕES.
Fazem o plural, por isso veja alguns muito importantes:
a) Em ões: balões, corações, grilhões, melões, gaviões.
b) Em ãos: pagãos, cristãos, cidadãos, bênçãos, órgãos.
Observação: os paroxítonos, como os dois últimos, sempre fazem o plural em ÃOS.
c) Em ães: escrivães, tabeliães, capelães, capitães, alemães.
d) Em ões ou ãos: corrimões/corrimãos, verões/verãos, anões/anãos
e) Em ões ou ães: charlatões/charlatães, guardiões/guardiães, cirugiões/cirurgiães.
f) Em ões, ãos ou ães: anciões/anciãos/anciães, ermitões/ermitãos/ermitães.
9) Plural dos diminutivos com a letra Z
Coloca-se a palavra no plural, corta-se o S e acrescenta-se zinhos (ou zinhas). Exemplo:
Coraçãozinho → corações → coraçõe → coraçõezinhos.
Azulzinha → azuis → azui → azuizinhas.
10) Plural com metafonia (ô → ó)
Algumas palavras, quando vão ao plural, abrem o timbre da vogal o; outras, não. Veja a seguir.
Com metafonia singular (ô) e plural (ó)
coro - coros
corvo - corvos
destroço - destroços
forno - fornos
fosso - fossos
poço - poços
rogo - rogos
Sem metafonia singular (ô) e plural (ô)
adorno - adornos
bolso - bolsos
endosso - endossos
esgoto - esgotos
estojo - estojos
gosto - gostos
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11) Casos especiais:
aval − avales e avais
cal − cales e cais
cós − coses e cós
fel − feles e féis
mal e cônsul − males e cônsules
Palavras Compostas
Quanto a variação das palavras compostas:
1) Variação de dois elementos: neste caso os compostos são formados por substantivo mais palavra variá-
vel (adjetivo, substantivo, numeral, pronome). Ex.:
amor-perfeito − amores-perfeitos
couve-flor − couves-flores
segunda-feira − segundas-feiras
2) Variação só do primeiro elemento: neste caso quando há preposição no composto, mesmo que oculto.
Ex.:
pé-de-moleque − pés-de-moleque
cavalo-vapor − cavalos-vapor (de ou a vapor)
3) A palavra também irá variar quando o segundo substantivo determina o primeiro (fim ou semelhança). Ex.:
banana-maçã − bananas-maçã (semelhante a maçã)
navio-escola − navios-escola (a finalidade é a escola)
Observações:
- Alguns autores admitem a flexão dos dois elementos, porém é uma situação polêmica.
Ex.: mangas-espada (preferível) ou mangas-espadas.
- Quando apenas o último elemento varia:
a) Quando os elementos são adjetivos. Ex.: hispano-americano − hispano-americanos.
Observação: a exceção é surdo-mudo, em que os dois adjetivos se flexionam: surdos-mudos.
b) Nos compostos em que aparecem os adjetivos GRÃO, GRÃ e BEL. Ex.: grão-duque − grão-duques /
grã-cruz − grã-cruzes / bel-prazer − bel-prazeres.
c) Quando o composto é formado por verbo ou qualquer elemento invariável (advérbio, interjeição, prefixo
etc.) mais substantivo ou adjetivo. Ex.: arranha-céu − arranha-céus / sempre-viva − sempre-vivas / super-ho-
mem − super-homens.
d) Quando os elementos são repetidos ou onomatopaicos (representam sons). Ex.: reco-reco − reco-recos
/ pingue-pongue − pingue-pongues / bem-te-vi − bem-te-vis.
Observações:
- Como se vê pelo segundo exemplo, pode haver alguma alteração nos elementos, ou seja, não serem
iguais.
- Se forem verbos repetidos, admite-se também pôr os dois no plural. Ex.: pisca-pisca − pisca-piscas ou
piscas-piscas.
4) Quando nenhum elemento varia.
- Quando há verbo mais palavra invariável. Ex.: o cola-tudo − os cola-tudo.
- Quando há dois verbos de sentido oposto. Ex.: o perde-ganha − os perde-ganha.
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- Nas frases substantivas (frases que se transformam em substantivos). Ex.: O maria-vai-com-as-outras −
os maria-vai-com-as-outras.
Observações:
- São invariáveis arco-íris, louva-a-deus, sem-vergonha, sem-teto e sem-terra.
Ex.: Os sem-terra apreciavam os arco-íris.
- Admitem mais de um plural:
pai-nosso − pais-nossos ou pai-nossos
padre-nosso − padres-nossos ou padre-nossos
terra-nova − terras-novas ou terra-novas
salvo-conduto − salvos-condutos ou salvo-condutos
xeque-mate − xeques-mates ou xeques-mate
- Casos especiais: palavras que não se encaixam nas regras.
o bem-me-quer − os bem-me-queres
o joão-ninguém − os joões-ninguém
o lugar-tenente − os lugar-tenentes
o mapa-múndi − os mapas-múndi
Flexão de gênero
Os substantivos e as palavras que o acompanham na frase admitem a flexão de gênero: masculino e femi-
nino. Ex.:
Meu amigo diretor recebeu o primeiro salário.
Minha amiga diretora recebeu a primeira prestação.
A flexão de feminino pode ocorrer de duas maneiras.
1) Com a troca de o ou e por a. Ex.: lobo – loba / mestre – mestra.
2) Por meio de diferentes sufixos nominais de gênero, muitas vezes com alterações do radical. Veja alguns
femininos importantes:
ateu − ateia
bispo − episcopisa
conde − condessa
duque − duquesa
frade − freira
ilhéu − ilhoa
judeu − judia
marajá − marani
monje − monja
pigmeu − pigmeia
Alguns substantivos são uniformes quanto ao gênero, ou seja, possuem uma única forma para masculino e
feminino. E podem ser divididos em:
a) Sobrecomuns: admitem apenas um artigo, podendo designar os dois sexos. Ex.: a pessoa, o cônjuge, a
testemunha.
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b) Comuns de dois gêneros: admitem os dois artigos, podendo então ser masculinos ou femininos. Ex.: o
estudante − a estudante, o cientista − a cientista, o patriota − a patriota.
c) Epicenos: admitem apenas um artigo, designando os animais. Ex.: O jacaré, a cobra, o polvo.
Observações:
- O feminino de elefante é elefanta, e não elefoa. Aliá é correto, mas designa apenas uma espécie de ele-
fanta.
- Mamão, para alguns gramáticos, deve ser considerado epiceno. É algo discutível.
- Há substantivos de gênero duvidoso, que as pessoas costumam trocar. Veja alguns que convém gravar.
Masculinos - Femininos
champanha - aguardente
dó - alface
eclipse - cal
formicida - cataplasma
grama (peso) - grafite
milhar - libido
plasma - omoplata
soprano - musse
suéter - preá
telefonema
- Existem substantivos que admitem os dois gêneros. Ex.: diabetes (ou diabete), laringe, usucapião etc.
Flexão de grau
Por razões meramente didáticas, incluo, aqui, o grau entre os processos de flexão.
Grau do substantivo
1) Normal ou positivo: sem nenhuma alteração. Ex.: chapéu.
2) Aumentativo:
a) Sintético: chapelão;
b) Analítico: chapéu grande, chapéu enorme etc.
3) Diminutivo:
a) Sintético: chapeuzinho;
b) Analítico: chapéu pequeno, chapéu reduzido etc.
Obs.: Um grau é sintético quando formado por sufixo; analítico, por meio de outras palavras.
Grau do adjetivo
1) Normal ou positivo: João é forte.
2) Comparativo:
a) De superioridade: João é mais forte que André. (ou do que);
b) De inferioridade: João é menos forte que André. (ou do que);
c) De igualdade: João é tão forte quanto André. (ou como);
3) Superlativo:
a) Absoluto
Sintético: João é fortíssimo.
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Analítico: João é muito forte. (bastante forte, forte demais etc.)
b) Relativo:
De superioridade: João é o mais forte da turma.
De inferioridade: João é o menos forte da turma.
Observações:
a) O grau superlativo absoluto corresponde a um aumento do adjetivo. Pode ser expresso por um sufixo
(íssimo, érrimo ou imo) ou uma palavra de apoio, como muito, bastante, demasiadamente, enorme etc.
b) As palavras maior, menor, melhor e pior constituem sempre graus de superioridade. Ex.:
O carro é menor que o ônibus. (menor - mais pequeno = comparativo de superioridade.)
Ele é o pior do grupo. (pior - mais mau = superlativo relativo de superioridade.)
c) Alguns superlativos absolutos sintéticos também podem apresentar dúvidas.
acre − acérrimo
amargo − amaríssimo
amigo − amicíssimo
antigo − antiquíssimo
cruel − crudelíssimo
doce − dulcíssimo
fácil − facílimo
feroz − ferocíssimo
fiel − fidelíssimo
geral − generalíssimo
humilde − humílimo
magro − macérrimo
negro − nigérrimo
pobre − paupérrimo
sagrado − sacratíssimo
sério − seriíssimo
soberbo – superbíssimo
FLEXÃO VERBAL
Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado em tópicos anteriores.
Definição: sintaxe é a área da Gramática que se dedica ao estudo da ordenação das palavras em uma frase,
das frases em um discurso e também da coerência (relação lógica) que estabelecem entre si. Sempre que
uma frase é construída, é fundamental que ela contenha algum sentido para que possa ser compreendida pelo
receptor. Por fazer a mediação da combinação entre palavras e orações, a sintaxe é essencial para que essa
compreensão se efetive. Para que se possa compreender a análise sintática, é importante retomarmos alguns
conceitos, como o de frase, oração e período. Vejamos:
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Frase
Trata-se de um enunciado que carrega um sentido completo que possui sentido integral, podendo ser
constituída por somente uma ou várias palavras podendo conter verbo (frase verbal) ou não (frase nominal).
Uma frase pode exprimir ideias, sentimentos, apelos ou ordens. Exemplos: “Saia!”, “O presidente vai fazer seu
discurso.”, “Atenção!”, “Que horror!”.
A ordem das palavras: associada à pontuação apropriada, a disposição das palavras na frase também é
fundamental para a compreensão da informação escrita, e deve seguir os padrões da Língua Portuguesa.
Observe que a frase “A professora já vai falar.” Pode ser modificada para, por exemplo, “Já vai falar a professora.”
, sem que haja prejuízo de sentido. No entanto, a construção “Falar a já professora vai.” , apesar da combinação
das palavras, não poderá ser compreendida pelo interlocutor.
Oração
É uma unidade sintática que se estrutura em redor de um verbo ou de uma locução verbal. Uma frase pode
ser uma oração, desde que tenha um verbo e um predicado; quanto ao sujeito, nem sempre consta em uma
oração, assim como o sentido completo. O importante é que seja compreensível pelo receptor da mensagem.
Analise, abaixo, uma frase que é oração com uma que não é.
1 – Silêncio!”: É uma frase, mas não uma oração, pois não contém verbo.
2 – “Eu quero silêncio.”: A presença do verbo classifica a frase como oração.
Unidade sintática (ou termo sintático): a sintaxe de uma oração é formada por cada um dos termos, que,
por sua vez, estabelecem relação entre si para dar atribuir sentido à frase. No exemplo supracitado, a palavra
“quero” deve unir-se às palavras “Eu” e “silêncio” para que o receptor compreenda a mensagem. Dessa forma,
cada palavra desta oração recebe o nome de termo ou unidade sintática, desempenhando, cada qual, uma
função sintática diferente.
Classificação das orações: as orações podem ser simples ou compostas. As orações simples apresentam
apenas uma frase; as compostas apresentam duas ou mais frases na mesma oração. Analise os exemplos
abaixo e perceba que a oração composta tem duas frases, e cada uma tem seu próprio sentido.
– Oração simples: “Eu quero silêncio.”
– Oração composta: “Eu quero silêncio para poder ouvir o noticiário”.
Período
É a construção composta por uma ou mais orações, sempre com sentido completo. Assim como as orações,
o período também pode ser simples ou composto, que se diferenciam em razão do número de orações que
apresenta: o período simples contém apenas uma oração, e o composto mais de uma. Lembrando que a oração
é uma frase que contém um verbo. Assim, para não ter dúvidas quanto à classificação, basta contar quantos
verbos existentes na frase.
– Período simples: “Resolvo esse problema até amanhã.” - apresenta apenas um verbo.
– Período composto: Resolvo esse problema até amanhã ou ficarei preocupada.” - contém dois verbos.
— Análise Sintática
É o nome que se dá ao processo que serve para esmiuçar a estrutura de um período e das orações que
compõem um período.
Termos da oração: é o nome dado às palavras que atribuem sentido a uma frase verbal. A reunião desses
elementos forma o que chamamos de estrutura de um período. Os termos essenciais se subdividem em:
essenciais, integrantes e acessórios. Acompanhe a seguir as especificidades de cada tipo.
1 – Termos Essenciais (ou fundamentais) da oração
Sujeito e Predicado: enquanto um é o ser sobre quem/o qual se declara algo, o outro é o que se declara
sobre o sujeito e, por isso, sempre apresenta um verbo ou uma locução verbal, como nos respectivos exemplos
a seguir:
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Exemplo: em “Fred fez um lindo discurso.”, o sujeito é “Fred”, que “fez um lindo discurso” (é o restante da
oração, a declaração sobre o sujeito).
Nem sempre o sujeito está no início da oração (sujeito direto), podendo apresentar-se também no meio da
fase ou mesmo após o predicado (sujeito inverso). Veja um exemplo para cada um dos respectivos casos:
“Fred fez um lindo discurso.”
“Um lindo discurso Fred fez.”
“Fez um lindo discurso, Fred.”
– Sujeito determinado: é aquele identificável facilmente pela concordância verbal.
– Sujeito determinado simples: possui apenas um núcleo ligado ao verbo. Ex.: “Júlia passou no teste”.
– Sujeito determinado composto: possui dois ou mais núcleos. Ex.: “Júlia e Felipe passaram no teste.”
– Sujeito determinado implícito: não aparece facilmente na oração, mas a frase é dotada de entendimento.
Ex.: “Passamos no teste.” Aqui, o termo “nós” não está explícito na oração, mas a concordância do verbo o
destaca de forma indireta.
– Sujeito indeterminado: é o que não está visível na oração e, diferente do caso anterior, não há concordância
verbal para determiná-lo.
Esse sujeito pode aparecer com:
– Verbo na 3a pessoa do plural. Ex.: “Reformaram a casa velha”.
– Verbo na 3a pessoa do singular + pronome “se”: “Contrata-se padeiro.”».
– Verbo no infinitivo impessoal: “Vai ser mais fácil se você estiver lá.”
– Orações sem sujeito: são compostas somente por predicado, e sua mensagem está centralizada no verbo,
que é impessoal. Essas orações podem ter verbos que constituam fenômenos da natureza, ou os verbos ser,
estar, haver e fazer quando indicativos de fenômeno meteorológico ou tempo. Observe os exemplos:
“Choveu muito ontem”.
“Era uma hora e quinze”.
– Predicados Verbais: resultam da relação entre sujeito e verbo, ou entre verbo e complementos. Os verbos,
por sua vez, também recebem sua classificação, conforme abaixo:
– Verbo transitivo: é o verbo que transita, isto é, que vai adiante para passar a informação adequada. Em
outras palavras, é o verbo que exige complemento para ser entendido. Para produzir essa compreensão, esse
trânsito do verbo, o complemento pode ser direto ou indireto. No primeiro caso, a ligação direta entre verbo e
complemento. Ex.: “Quero comprar roupas.”. No segundo, verbo e complemento são unidos por preposição.
Ex.: “Preciso de dinheiro.”
– Verbo intransitivo: não requer complemento, é provido de sentido completo. São exemplos: morrer, acordar,
nascer, nadar, cair, mergulhar, correr.
– Verbo de ligação: servem para expressar características de estado ao sujeito, sendo eles: estado
permanente (“Pedro é alto.”), estado de transição (“Pedro está acamado.”), estado de mutação (“Pedro esteve
enfermo.”), estado de continuidade (“Pedro continua esbelto.”) e estado aparente (“Pedro parece nervoso.”).
– Predicados nominais: são aqueles que têm um nome (substantivo ou adjetivo) como cujo núcleo significativo
da oração. Ademais, ele se caracteriza pela indicação de estado ou qualidade, e é composto por um verbo de
ligação mais o predicativo do sujeito.
– Predicativo do sujeito: é um termo que atribui características ao sujeito por meio de um verbo. Exemplo:
em “Marta é inteligente.”, o adjetivo é o predicativo do sujeito “Marta”, ou seja, é sua característica de estado
ou qualidade. Isso é comprovado pelo “ser” (é), que é o verbo de ligação entre Marta e sua característica atual.
Esse elemento não precisa ser, obrigatoriamente, um adjetivo, mas pode ser uma locução adjetiva, ou mesmo
um substantivo ou palavra substantivada.
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– Predicado Verbo-Nominal: esse tipo deve apresentar sempre um predicativo do sujeito associado a uma
ação do sujeito acrescida de uma qualidade sua. Exemplo: “As meninas saíram mais cedo da aula. Por isso,
estavam contentes.
O sujeito “As meninas” possui como predicado o verbo “sair” e também o adjetivo “contentes”. Logo, “estavam
contentes” é o predicativo do sujeito e o verbo de ligação é “estar”.
2 – Termos integrantes da oração
Basicamente, são os termos que completam os verbos de uma oração, atribuindo sentindo a ela. Eles
podem ser complementos verbais, complementos nominais ou mesmo agentes da passiva.
– Complementos Verbais: como sugere o nome, esses termos completam o sentido de verbos, e se
classificam da seguinte forma:
– Objeto direto: completa verbos transitivos diretos, não exigindo preposição.
– Objeto indireto: complementam verbos transitivos indiretos, isto é, aqueles que dependem de preposição
para que seu sentido seja compreendido.
Quanto ao objeto direto, podemos ter:
– Um pronome substantivo: “A equipe que corrigiu as provas.”
– Um pronome oblíquo direto: “Questionei-a sobre o acontecido.”
– Um substantivo ou expressão substantivada: “Ele consertou os aparelhos.»
– Complementos Nominais: esses termos completam o sentido de uma palavra, mas não são verbos; são
nomes (substantivos, adjetivos ou advérbios), sempre seguidos por preposição. Observe os exemplos:
– “Maria estava satisfeita com seus resultados.” – observe que “satisfeita” é adjetivo, e “com seus resultados”
é complemento nominal.
– “O entregador atravessou rapidamente pela viela. – “rapidamente” é advérbio de modo.
– “Eu tenho medo do cachorro.” – Nesse caso, “medo” é um substantivo.
– Agentes da Passiva: são os termos de uma oração que praticam a ação expressa pelo verbo, quando este
está na voz passiva. Assim, estão normalmente acompanhados pelas preposições de e por. Observe os exem-
plos do item anterior modificados para a voz passiva:
– “Os resultados foram motivo de satisfação de Maria.”
– “O cachorro foi alvo do meu medo.”
– “A viela foi atravessada rapidamente pelo entregador.”
3 – Termos acessórios da oração
Diversamente dos termos essenciais e integrantes, os termos acessórios não são fundamentais o sentido da
oração, mas servem para complementar a informação, exprimindo circunstância, determinando o substantivo
ou caracterizando o sujeito. Confira abaixo quais são eles:
– Adjunto adverbial: são os termos que modificam o sentido do verbo, do adjetivo ou do advérbio. Analise
os exemplos:
“Dormimos muito.”
O termo acessório “muito” classifica o verbo “dormir”.
“Ele ficou pouco animado com a notícia.”
O termo acessório “pouco” classifica o adjetivo “animado”
“Maria escreve bastante bem.”
O termo acessório “bastante” modifica o advérbio “bem”.
Os adjuntos adverbiais podem ser:
– Advérbios: pouco, bastante, muito, ali, rapidamente longe, etc.
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– Locuções adverbiais: o tempo todo, às vezes, à beira-mar, etc.
– Orações: «Quando a mercadoria chegar, avise.” (advérbio de tempo).
– Adjunto adnominal: é o termo que especifica o substantivo, com função de adjetivo. Em razão disso, pode
ser representado por adjetivos, locuções adjetivas, artigos, numerais adjetivos ou pronomes adjetivos. Analise
o exemplo:
“O jovem apaixonado presenteou um lindo buquê à sua colega de escola.”
– Sujeito: “jovem apaixonado”
– Núcleo do predicado verbal: “presenteou”
– Objeto direto do verbo entregar: “um lindo buquê”
– Objeto indireto: “à amiga de classe” – Adjuntos adnominais: no sujeito, temos o artigo “o” e “apaixonado”,
pois caracterizam o “jovem”, núcleo do sujeito; o numeral “um” e o adjetivo “lindo” fazem referência a “buquê”
(substantivo); o artigo “à” (contração da preposição + artigo feminino) e a locução “de trabalho” são os adjuntos
adnominais de “colega”.
– Aposto: é o termo que se relaciona com o sujeito para caracterizá-lo, contribuindo para a complementação
uma informação já completa. Observe os exemplos:
“Michael Jackson, o rei do pop, faleceu há uma década.”
“Brasília, capital do Brasil, foi construída na década de 1950.”
– Vocativo: esse termo não apresenta relação sintática nem com sujeito nem com predicado, tendo sua
função no chamamento ou na interpelação de um ouvinte, e se relaciona com a 2a pessoa do discurso. Os
vocativos são o receptor da mensagem, ou seja, a quem ela é dirigida. Podem ser acompanhados de interjeições
de apelo. Observe:
“Ei, moça! Seu documento está pronto!”
“Senhor, tenha misericórdia de nós!”
“Vista o casaco, filha!”
— Estudo da relação entre as orações
Os períodos compostos são formados por várias orações. As orações estabelecem entre si relações de
coordenação ou de subordinação.
– Período composto por coordenação: é formado por orações independentes. Apesar de estarem unidas por
conjunções ou vírgulas, as orações coordenadas podem ser entendidas individualmente porque apresentam
sentidos completos. Acompanhe a seguir a classificação das orações coordenadas:
– Oração coordenada aditiva: “Assei os salgados e preparei os doces.”
– Oração coordenada adversativa: “Assei os salgados, mas não preparei os doces.”
– Oração coordenada alternativa: “Ou asso os salgados ou preparo os doces.”
– Oração coordenada conclusiva: “Marta estudou bastante, logo, passou no exame.”
– Oração coordenada explicativa: “Marta passou no exame porque estudou bastante.”
– Período composto por subordinação: são constituídos por orações dependentes uma da outra. Como as
orações subordinadas apresentam sentidos incompletos, não podem ser entendidas de forma separada. As
orações subordinadas são divididas em substantivas, adverbiais e adjetivas. Veja os exemplos:
– Oração subordinada substantiva subjetiva: “Ficou provado que o suspeito era realmente o culpado.”
– Oração subordinada substantiva objetiva direta: “Eu não queria que isso acontecesse.”
– Oração subordinada substantiva objetiva indireta: “É obrigatório de que todos os estudantes sejam
assíduos.”
– Oração subordinada substantiva completiva nominal: “Tenho expectativa de que os planos serão melhores
em breve!”
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– Oração subordinada substantiva predicativa: “O que importa é que meus pais são saudáveis.”
– Oração subordinada substantiva apositiva: “Apenas saiba disto: que tudo esteja organizado quando eu
voltar!”
– Oração subordinada adverbial causal: “Não posso me demorar porque tenho hora marcada na psicóloga.”
– Oração subordinada adverbial consecutiva: “Ficamos tão felizes que pulamos de alegria.”
– Oração subordinada adverbial final: “Eles ficaram vigiando para que nós chegássemos a casa em
segurança.”
– Oração subordinada adverbial temporal: “Assim que eu cheguei, eles iniciaram o trabalho.”
– Oração subordinada adverbial condicional: “Se você vier logo, espero por você.»
– Oração subordinada adverbial concessiva: “Ainda que estivesse cansado, concluiu a maratona.”
– Oração subordinada adverbial comparativa: “Marta sentia como se ainda vivesse no interior.”
– Oração subordinada adverbial conformativa: “Conforme combinamos anteriormente, entregarei o produto
até amanhã.”
– Oração subordinada adverbial proporcional: “Quanto mais me exercito, mais tenho disposição.”
– Oração subordinada adjetiva explicativa: “Meu filho, que passou no concurso, mudou-se para o interior.”
– Oração subordinada adjetiva restritiva: “A aluna que esteve enferma conseguiu ser aprovada nas provas.”
Visão Geral: sumariamente, as concordâncias verbal e nominal estudam a sintonia entre os componentes
de uma oração.
– Concordância verbal: refere-se ao verbo relacionado ao sujeito, sendo que o primeiro deve, obrigatoriamente,
concordar em número (flexão em singular e plural) e pessoa (flexão em 1a, 2a, ou 3a pessoa) com o segundo.
Isto é, ocorre quando o verbo é flexionado para concordar com o sujeito.
– Concordância nominal: corresponde à harmonia em gênero (flexão em masculino e feminino) e número
entre os vários nomes da oração, ocorrendo com maior frequência sobre os substantivos e o adjetivo. Em
outras palavras, refere-se ao substantivo e suas formas relacionadas: adjetivo, numeral, pronome, artigo. Tal
concordância ocorre em gênero e pessoa
Casos específicos de concordância verbal
Concordância verbal com o infinitivo pessoal: existem três situações em que o verbo no infinitivo é flexiona-
do:
I – Quando houver um sujeito definido;
II – Sempre que se quiser determinar o sujeito;
III – Sempre que os sujeitos da primeira e segunda oração forem distintos.
Observe os exemplos:
“Eu pedir para eles fazerem a solicitação.”
“Isto é para nós solicitarmos.”
Concordância verbal com o infinitivo impessoal: não há flexão verbal quando o sujeito não for definido, ou
sempre que o sujeito da segunda oração for igual ao da primeira oração, ou mesmo em locuções verbais, com
verbos preposicionados e com verbos imperativos.
Exemplos:
“Os membros conseguiram fazer a solicitação.”
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“Foram proibidos de realizar o atendimento.”
Concordância verbal com verbos impessoais: nesses casos, verbo ficará sempre em concordância com a 3a
pessoa do singular, tendo em vista que não existe um sujeito.
Observe os casos a seguir:
– Verbos que indicam fenômenos da natureza, como anoitecer, nevar, amanhecer.
Exemplo: “Não chove muito nessa região” ou “Já entardeceu.»
– O verbo haver com sentido de existir. Exemplo: “Havia duas professoras vigiando as crianças.”
– O verbo fazer indicando tempo decorrido. Exemplo: “Faz duas horas que estamos esperando.”
Concordância verbal com o verbo ser: diante dos pronomes tudo, nada, o, isto, isso e aquilo como sujeito,
há concordância verbal com o predicativo do sujeito, podendo o verbo permanecer no singular ou no plural:
– “Tudo que eu desejo é/são férias à beira-mar.”
– “Isto é um exemplo do que o ocorreria.” e “Isto são exemplos do que ocorreria.”
Concordância verbal com pronome relativo quem: o verbo, ou faz concordância com o termo precedente ao
pronome, ou permanece na 3a pessoa do singular:
– “Fui eu quem solicitou.» e “Fomos nós quem solicitou.»
Concordância verbal com pronome relativo que: o verbo concorda com o termo que antecede o pronome:
– “Foi ele que fez.» e “Fui eu que fiz.»
– “Foram eles que fizeram.” e “Fomos nós que fizemos.»
Concordância verbal com a partícula de indeterminação do sujeito se: nesse caso, o verbo cria concordância
com a 3a pessoa do singular sempre que a oração for constituída por verbos intransitivos ou por verbos transitivos
indiretos:
– «Precisa-se de cozinheiro.” e «Precisa-se de cozinheiros.”
Concordância com o elemento apassivador se: aqui, verbo concorda com o objeto direto, que desempenha
a função de sujeito paciente, podendo aparecer no singular ou no plural:
– Aluga-se galpão.” e “Alugam-se galpões.”
Concordância verbal com as expressões a metade, a maioria, a maior parte: preferencialmente, o verbo fará
concordância com a 3° pessoa do singular. Porém, a 3a pessoa do plural também pode ser empregada:
– “A maioria dos alunos entrou” e “A maioria dos alunos entraram.”
– “Grande parte das pessoas entendeu.” e “Grande parte das pessoas entenderam.”
Concordância nominal muitos substantivos: o adjetivo deve concordar em gênero e número com o substantivo
mais próximo, mas também concordar com a forma no masculino plural:
– “Casa e galpão alugado.” e “Galpão e casa alugada.”
– “Casa e galpão alugados.” e “Galpão e casa alugados.”
Concordância nominal com pronomes pessoais: o adjetivo concorda em gênero e número com os pronomes
pessoais:
– “Ele é prestativo.” e “Ela é prestativa.”
– “Eles são prestativos.” e “Elas são prestativas.”
Concordância nominal com adjetivos: sempre que existir dois ou mais adjetivos no singular, o substantivo
permanece no singular, se houver um artigo entre os adjetivos. Se o artigo não aparecer, o substantivo deve
estar no plural:
– “A blusa estampada e a colorida.” e “O casaco felpudo e o xadrez.”
– “As blusas estampada e colorida.” e “Os casacos felpudo e xadrez.”
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Concordância nominal com é proibido e é permitido: nessas expressões, o adjetivo flexiona em gênero e
número, sempre que houver um artigo determinando o substantivo. Caso não exista esse artigo, o adjetivo deve
permanecer invariável, no masculino singular:
– “É proibida a circulação de pessoas não identificadas.” e “É proibido circulação de pessoas não identificadas.”
– “É permitida a entrada de crianças.” e “É permitido entrada de crianças acompanhadas.”
Concordância nominal com menos: a palavra menos permanece é invariável independente da sua atuação,
seja ela advérbio ou adjetivo:
– “Menos pessoas / menos pessoas”.
– “Menos problema /menos problemas.”
Concordância nominal com muito, pouco, bastante, longe, barato, meio e caro: esses termos instauram
concordância em gênero e número com o substantivo quando exercem função de adjetivo:
– “Tomei bastante suco.” e “Comprei bastantes frutas.”
– “A jarra estava meia cheia.” e “O sapato está meio gasto”.
– “Fizemos muito barulho.” e “Compramos muitos presentes.
Visão geral: na Gramática, regência é o nome dado à relação de subordinação entre dois termos. Quando,
em um enunciado ou oração, existe influência de um tempo sobre o outro, identificamos o que se denomina
termo determinante, essa relação entre esses termos denominamos regência.
— Regência Nominal
É a relação entre um nome o seu complemento por meio de uma preposição. Esse nome pode ser um
substantivo, um adjetivo ou um advérbio e será o termo determinante.
O complemento preenche o significado do nome, cujo sentido estaria impreciso ou ambíguo se não fosse
pelo complemento.
Observe os exemplos:
“A nova entrada é acessível a cadeirantes.”
“Eu tenho o sonho de viajar para o nordeste.”
“Ele é perito em investigações como esta.”
Na primeira frase, adjetivo “acessível” exige a preposição a, do contrário, seu sentido ficaria incompleto. O
mesmo ocorre com os substantivos “sonho“ e “perito”, nas segunda e terceira frases, em que os nomes exigem
as preposições de e em para completude de seus sentidos. Veja nas tabelas abaixo quais são os nomes que
regem. Veja nas tabelas abaixo quais são os nomes que regem uma preposição para que seu sentido seja
completo.
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avesso a favorável a necessário a
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valor, preço NÃO “Esse imóvel custa caro.”
Custar desafio, dano, peso
SIM “Dizer a verdade custou a ela.”
moral
fundamento / verbo
NÃO “Isso não procede.”
instransitivo
Proceder
“Essa conclusão procede de muito
origem SIM
vivência.”
finalidade, objetivo SIM “Visando à garantia dos direitos.”
Visar
avistar, enxergar NÃO “O vigia logo visou o suspeito.”
desejo NÃO “Queremos sair cedo.”
Querer
estima SIM “Quero muito aos meus sogros.”
pretensão SIM “Aspiro a ascensão política.”
Aspirar absorção ou
NÃO “Evite aspirar fumaça.”
respiração
consequência / verbo “A sua solicitação implicará alteração do
NÃO
Implicar transitivo direto meu trajeto.”
insistência, birra SIM “Ele implicou com o cachorro.”
convocação NÃO “Chame todos!”
“Chamo a Talita de Tatá.”
Chamar Rege complemento, “Chamo Talita de Tatá.”
apelido com e sem
preposição “Chamo a Talita Tatá.”
“Chamo Talita Tatá.”
o que se paga NÃO “Paguei o aluguel.”
Pagar
a quem se paga SIM “Pague ao credor.”
quem chega, chega
Chegar a algum lugar / verbo SIM “Quando chegar ao local, espere.”
transitivo indireto
quem obedece a algo
Obedecer / alguém / transitivo SIM “Obedeçam às regras.”
indireto
Esquecer verbo transitivo direito NÃO “Esqueci as alianças.”
... exige um
verbo transitivo direito complemento
Informar “Informe o ocorrido ao gerente.”
e indireto, portanto... sem e outro com
preposição
quem vai vai a algum
Ir lugar / verbo transitivo SIM “Vamos ao teatro.”
indireto
Quem mora em algum “Eles moram no interior.”
Morar lugar (verbo transitivo SIM
indireto) (Preposição “em” + artigo “o”).
verbo transitivio
Namorar NÃO “Júlio quer namorar Maria.”
direito
verbo bi transitivo
Preferir SIM “Prefira assados a frituras.”
(direto e indireto)
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quem simpatiza
simpatiza com
Simpatizar SIM “Simpatizei-me com todos.”
algo/ alguém/ verbo
transitivo indireto
A colocação do pronome átono está relacionada à harmonia da frase. A tendência do português falado no
Brasil é o uso do pronome antes do verbo – próclise. No entanto, há casos em que a norma culta prescreve o
emprego do pronome no meio – mesóclise – ou após o verbo – ênclise.
De acordo com a norma culta, no português escrito não se inicia um período com pronome oblíquo átono.
Assim, se na linguagem falada diz-se “Me encontrei com ele”, já na linguagem escrita, formal, usa-se “Encon-
trei-me’’ com ele.
Sendo a próclise a tendência, é aconselhável que se fixem bem as poucas regras de mesóclise e ênclise.
Assim, sempre que estas não forem obrigatórias, deve-se usar a próclise, a menos que prejudique a eufonia
da frase.
Próclise
Na próclise, o pronome é colocado antes do verbo.
Palavra de sentido negativo: Não me falou a verdade.
Advérbios sem pausa em relação ao verbo: Aqui te espero pacientemente.
Havendo pausa indicada por vírgula, recomenda-se a ênclise: Ontem, encontrei-o no ponto do ônibus.
Pronomes indefinidos: Ninguém o chamou aqui.
Pronomes demonstrativos: Aquilo lhe desagrada.
Orações interrogativas: Quem lhe disse tal coisa?
Orações optativas (que exprimem desejo), com sujeito anteposto ao verbo: Deus lhe pague, Senhor!
Orações exclamativas: Quanta honra nos dá sua visita!
Orações substantivas, adjetivas e adverbiais, desde que não sejam reduzidas: Percebia que o observavam.
Verbo no gerúndio, regido de preposição em: Em se plantando, tudo dá.
Verbo no infinitivo pessoal precedido de preposição: Seus intentos são para nos prejudicarem.
Ênclise
Na ênclise, o pronome é colocado depois do verbo.
Verbo no início da oração, desde que não esteja no futuro do indicativo: Trago-te flores.
Verbo no imperativo afirmativo: Amigos, digam-me a verdade!
Verbo no gerúndio, desde que não esteja precedido pela preposição em: Saí, deixando-a aflita.
Verbo no infinitivo impessoal regido da preposição a. Com outras preposições é facultativo o emprego de
ênclise ou próclise: Apressei-me a convidá-los.
Mesóclise
Na mesóclise, o pronome é colocado no meio do verbo.
É obrigatória somente com verbos no futuro do presente ou no futuro do pretérito que iniciam a oração.
Dir-lhe-ei toda a verdade.
Far-me-ias um favor?
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Se o verbo no futuro vier precedido de pronome reto ou de qualquer outro fator de atração, ocorrerá a pró-
clise.
Eu lhe direi toda a verdade.
Tu me farias um favor?
Colocação do pronome átono nas locuções verbais
Verbo principal no infinitivo ou gerúndio: Se a locução verbal não vier precedida de um fator de próclise, o
pronome átono deverá ficar depois do auxiliar ou depois do verbo principal.
Exemplos:
Devo-lhe dizer a verdade.
Devo dizer-lhe a verdade.
Havendo fator de próclise, o pronome átono deverá ficar antes do auxiliar ou depois do principal.
Exemplos:
Não lhe devo dizer a verdade.
Não devo dizer-lhe a verdade.
Verbo principal no particípio: Se não houver fator de próclise, o pronome átono ficará depois do auxiliar.
Exemplo: Havia-lhe dito a verdade.
Se houver fator de próclise, o pronome átono ficará antes do auxiliar.
Exemplo: Não lhe havia dito a verdade.
Haver de e ter de + infinitivo: Pronome átono deve ficar depois do infinitivo.
Exemplos:
Hei de dizer-lhe a verdade.
Tenho de dizer-lhe a verdade.
Observação
Não se deve omitir o hífen nas seguintes construções:
Devo-lhe dizer tudo.
Estava-lhe dizendo tudo.
Havia-lhe dito tudo.
— Definições e diferenciação
Coesão e coerência são dois conceitos distintos, tanto que um texto coeso pode ser incoerente, e vice-
versa. O que existe em comum entre os dois é o fato de constituírem mecanismos fundamentais para uma
produção textual satisfatória. Resumidamente, a coesão textual se volta para as questões gramaticais, isto é,
na articulação interna do texto. Já a coerência textual tem seu foco na articulação externa da mensagem.
— Coesão Textual
Consiste no efeito da ordenação e do emprego adequado das palavras que proporcionam a ligação entre
frases, períodos e parágrafos de um texto. A coesão auxilia na sua organização e se realiza por meio de
palavras denominadas conectivos.
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As técnicas de coesão
A coesão pode ser obtida por meio de dois mecanismos principais, a anáfora e a catáfora. Por estarem
relacionados à mensagem expressa no texto, esses recursos classificam-se como endofóricas. Enquanto a
anáfora retoma um componente, a catáfora o antecipa, contribuindo com a ligação e a harmonia textual.
As regras de coesão
Para que se garanta a coerência textual, é necessário que as regras relacionadas abaixo sejam seguidas.
Referência
– Pessoal: emprego de pronomes pessoais e possessivos.
Exemplo:
«Ana e Sara foram promovidas. Elas serão gerentes de departamento.” Aqui, tem-se uma referência pessoal
anafórica (retoma termo já mencionado).
– Comparativa: emprego de comparações com base em semelhanças.
Exemplo:
“Mais um dia como os outros…”. Temos uma referência comparativa endofórica.
– Demonstrativa: emprego de advérbios e pronomes demonstrativos.
Exemplo:
“Inclua todos os nomes na lista, menos este: Fred da Silva.” Temos uma referência demonstrativa catafórica.
– Substituição: consiste em substituir um elemento, quer seja nome, verbo ou frase, por outro, para que ele
não seja repetido.
Analise o exemplo:
“Iremos ao banco esta tarde, elas foram pela manhã.”
Perceba que a diferença entre a referência e a substituição é evidente principalmente no fato de que a
substituição adiciona ao texto uma informação nova. No exemplo usado para a referência, o pronome pessoal
retoma as pessoas “Ana e Sara”, sem acrescentar quaisquer informações ao texto.
– Elipse: trata-se da omissão de um componente textual – nominal, verbal ou frasal – por meio da figura
denominando eclipse.
Exemplo:
“Preciso falar com Ana. Você a viu?” Aqui, é o contexto que proporciona o entendimento da segunda oração,
pois o leitor fica ciente de que o locutor está procurando por Ana.
– Conjunção: é o termo que estabelece ligação entre as orações.
Exemplo:
“Embora eu não saiba os detalhes, sei que um acidente aconteceu.” Conjunção concessiva.
– Coesão lexical: consiste no emprego de palavras que fazem parte de um mesmo campo lexical ou que
carregam sentido aproximado. É o caso dos nomes genéricos, sinônimos, hiperônimos, entre outros.
Exemplo:
“Aquele hospital público vive lotado. A instituição não está dando conta da demanda populacional.”
— Coerência Textual
A Coerência é a relação de sentido entre as ideias de um texto que se origina da sua argumentação –
consequência decorrente dos saberes conhecimentos do emissor da mensagem. Um texto redundante e
contraditório, ou cujas ideias introduzidas não apresentam conclusão, é um texto incoerente. A falta de coerência
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prejudica a fluência da leitura e a clareza do discurso. Isso quer dizer que a falta de coerência não consiste
apenas na ignorância por parte dos interlocutores com relação a um determinado assunto, mas da emissão de
ideias contrárias e do mal uso dos tempos verbais.
Observe os exemplos:
“A apresentação está finalizada, mas a estou concluindo até o momento.” Aqui, temos um processo verbal
acabado e um inacabado.
“Sou vegana e só como ovos com gema mole.” Os veganos não consomem produtos de origem animal.
Princípios Básicos da Coerência
– Relevância: as ideias têm que estar relacionadas.
– Não Contradição: as ideias não podem se contradizer.
– Não Tautologia: as ideias não podem ser redundantes.
Fatores de Coerência
– As inferências: se partimos do pressuposto que os interlocutores partilham do mesmo conhecimento, as
inferências podem simplificar as informações.
Exemplo:
“Sempre que for ligar os equipamentos, não se esqueça de que voltagem da lavadora é 220w”.
Aqui, emissor e receptor compartilham do conhecimento de que existe um local adequado para ligar
determinado aparelho.
– O conhecimento de mundo: todos nós temos uma bagagem de saberes adquirida ao longo da vida e que é
arquivada na nossa memória. Esses conhecimentos podem ser os chamados scripts (roteiros, tal como normas
de etiqueta), planos (planejar algo com um objetivo, tal como jogar um jogo), esquemas (planos de funciona-
mento, como a rotina diária: acordar, tomar café da manhã, sair para o trabalho/escola), frames (rótulos), etc.
Exemplo:
“Coelhinho e ovos de chocolate! Vai ser um lindo Natal!”
O conhecimento cultural nos leva a identificar incoerência na frase, afinal, “coelho” e “ovos de chocolate” são
elementos, os chamados frames, que pertencem à comemoração de Páscoa, e nada têm a ver com o Natal.
Elementos da organização textual: segmentação, encadeamento e ordenação.
A segmentação é a divisão do texto em pequenas partes para melhorar a compreensão. A encadeamento
é a ligação dessas partes, criando uma lógica e coesão no texto. A ordenação é a disposição dessas partes
de forma a transmitir uma mensagem clara e coerente. Juntos, esses elementos ajudam a criar uma estrutura
eficiente para o texto.
Ortografia
— Definições
Com origem no idioma grego, no qual orto significa “direito”, “exato”, e grafia quer dizer “ação de escrever”,
ortografia é o nome dado ao sistema de regras definido pela gramática normativa que indica a escrita correta
das palavras. Já a Ortografia Oficial se refere às práticas ortográficas que são consideradas oficialmente como
adequadas no Brasil. Os principais tópicos abordados pela ortografia são: o emprego de acentos gráficos que
sinalizam vogais tônicas, abertas ou fechadas; os processos fonológicos (crase/acento grave); os sinais de
pontuação elucidativos de funções sintáticas da língua e decorrentes dessas funções, entre outros.
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Os acentos: esses sinais modificam o som da letra sobre a qual recaem, para que palavras com grafia
similar possam ter leituras diferentes, e, por conseguinte, tenham significados distintos. Resumidamente, os
acentos são agudo (deixa o som da vogal mais aberto), circunflexo (deixa o som fechado), til (que faz com que
o som fique nasalado) e acento grave (para indicar crase).
O alfabeto: é a base de qualquer língua. Nele, estão estabelecidos os sinais gráficos e os sons representados
por cada um dos sinais; os sinais, por sua vez, são as vogais e as consoantes.
As letras K, Y e W: antes consideradas estrangeiras, essas letras foram integradas oficialmente ao alfabeto
do idioma português brasileiro em 2009, com a instauração do Novo Acordo Ortográfico. As possibilidades da
vogal Y e das consoantes K e W são, basicamente, para nomes próprios e abreviaturas, como abaixo:
– Para grafar símbolos internacionais e abreviações, como Km (quilômetro), W (watt) e Kg (quilograma).
– Para transcrever nomes próprios estrangeiros ou seus derivados na língua portuguesa, como Britney,
Washington, Nova York.
Relação som X grafia: confira abaixo os casos mais complexos do emprego da ortografia correta das
palavras e suas principais regras:
«ch” ou “x”?: deve-se empregar o X nos seguintes casos:
– Em palavras de origem africana ou indígena. Exemplo: oxum, abacaxi.
– Após ditongos. Exemplo: abaixar, faixa.
– Após a sílaba inicial “en”. Exemplo: enxada, enxergar.
– Após a sílaba inicial “me”. Exemplo: mexilhão, mexer, mexerica.
s” ou “x”?: utiliza-se o S nos seguintes casos:
– Nos sufixos “ese”, “isa”, “ose”. Exemplo: síntese, avisa, verminose.
– Nos sufixos “ense”, “osa” e “oso”, quando formarem adjetivos. Exemplo: amazonense, formosa, jocoso.
– Nos sufixos “ês” e “esa”, quando designarem origem, título ou nacionalidade. Exemplo: marquês/marque-
sa, holandês/holandesa, burguês/burguesa.
– Nas palavras derivadas de outras cujo radical já apresenta “s”. Exemplo: casa – casinha – casarão; análise
– analisar.
Porque, Por que, Porquê ou Por quê?
– Porque (junto e sem acento): é conjunção explicativa, ou seja, indica motivo/razão, podendo substituir o
termo pois. Portanto, toda vez que essa substituição for possível, não haverá dúvidas de que o emprego do
porque estará correto. Exemplo: Não choveu, porque/pois nada está molhado.
– Por que (separado e sem acento): esse formato é empregado para introduzir uma pergunta ou no lugar de
“o motivo pelo qual”, para estabelecer uma relação com o termo anterior da oração. Exemplos: Por que ela está
chorando? / Ele explicou por que do cancelamento do show.
– Porquê (junto e com acento): trata-se de um substantivo e, por isso, pode estar acompanhado por artigo,
adjetivo, pronome ou numeral. Exemplo: Não ficou claro o porquê do cancelamento do show.
– Por quê (separado e com acento): deve ser empregado ao fim de frases interrogativas. Exemplo: Ela foi
embora novamente. Por quê?
Parônimos e homônimos
– Parônimos: são palavras que se assemelham na grafia e na pronúncia, mas se divergem no significado.
Exemplos: absolver (perdoar) e absorver (aspirar); aprender (tomar conhecimento) e apreender (capturar).
– Homônimos: são palavras com significados diferentes, mas que divergem na pronúncia. Exemplos: “gosto”
(substantivo) e “gosto” (verbo gostar) / “este” (ponto cardeal) e “este” (pronome demonstrativo).
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Acentuação gráfica.
— Definição
A acentuação gráfica consiste no emprego do acento nas palavras grafadas com a finalidade de estabelecer,
com base nas regras da língua, a intensidade e/ou a sonoridade das palavras. Isso quer dizer que os acentos
gráficos servem para indicar a sílaba tônica de uma palavra ou a pronúncia de uma vogal. De acordo com as
regras gramaticais vigentes, são quatro os acentos existentes na língua portuguesa:
– Acento agudo: Indica que a sílaba tônica da palavra tem som aberto. Ex.: área, relógio, pássaro.
– Acento circunflexo: Empregado acima das vogais “a” e” e “o”para indicar sílaba tônica em vogal fechada.
Ex.: acadêmico, âncora, avô.
– Acento grave/crase: Indica a junção da preposição “a” com o artigo “a”. Ex: “Chegamos à casa”. Esse
acento não indica sílaba tônica!
– Til: Sobre as vogais “a” e “o”, indica que a vogal de determinada palavra tem som nasal, e nem sempre
recai sobre a sílaba tônica. Exemplo: a palavra órfã tem um acento agudo, que indica que a sílaba forte é “o”
(ou seja, é acento tônico), e um til (˜), que indica que a pronúncia da vogal “a” é nasal, não oral. Outro exemplo
semelhante é a palavra bênção.
— Monossílabas Tônicas e Átonas
Mesmo as palavras com apenas uma sílaba podem sofrer alteração de intensidade de voz na sua pronún-
cia. Exemplo: observe o substantivo masculino “dó” e a preposição “do” (contração da preposição “de” + artigo
“o”). Ao comparar esses termos, percebermos que o primeiro soa mais forte que o segundo, ou seja, temos
uma monossílaba tônica e uma átona, respectivamente. Diante de palavras monossílabas, a dica para identifi-
car se é tônica (forte) ou fraca átona (fraca) é pronunciá-las em uma frase, como abaixo:
“Sinto grande dó ao vê-la sofrer.”
“Finalmente encontrei a chave do carro.”
Recebem acento gráfico:
– As monossílabas tônicas terminadas em: -a(s) → pá(s), má(s); -e(s) → pé(s), vê(s); -o(s) → só(s), pôs.
– As monossílabas tônicas formados por ditongos abertos -éis, -éu, -ói. Ex: réis, véu, dói.
Não recebem acento gráfico:
– As monossílabas tônicas: par, nus, vez, tu, noz, quis.
– As formas verbais monossilábicas terminadas em “-ê”, nas quais a 3a pessoa do plural termina em “-eem”.
Antes do novo acordo ortográfico, esses verbos era acentuados. Ex.: Ele lê → Eles lêem leem.
Exceção! O mesmo não ocorre com os verbos monossilábicos terminados em “-em”, já que a terceira pessoa
termina em “-êm”. Nesses caso, a acentuação permanece acentuada. Ex.: Ele tem → Eles têm; Ele vem → Eles
vêm.
Acentuação das palavras Oxítonas
As palavras cuja última sílaba é tônica devem ser acentuadas as oxítonas com sílaba tônica terminada em
vogal tônica -a, -e e -o, sucedidas ou não por -s. Ex.: aliás, após, crachá, mocotó, pajé, vocês. Logo, não se
acentuam as oxítonas terminadas em “-i” e “-u”. Ex.: caqui, urubu.
Acentuação das palavras Paroxítonas
São classificadas dessa forma as palavras cuja penúltima sílaba é tônica. De acordo com a regra geral,
não se acentuam as palavras paroxítonas, a não ser nos casos específicos relacionados abaixo. Observe as
exceções:
– Terminadas em -ei e -eis. Ex.: amásseis, cantásseis, fizésseis, hóquei, jóquei, pônei, saudáveis.
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– Terminadas em -r, -l, -n, -x e -ps. Ex.: bíceps, caráter, córtex, esfíncter, fórceps, fóssil, líquen, lúmen, réptil,
tórax.
– Terminadas em -i e -is. Ex.: beribéri, bílis, biquíni, cáqui, cútis, grátis, júri, lápis, oásis, táxi.
– Terminadas em -us. Ex.: bônus, húmus, ônus, Vênus, vírus, tônus.
– Terminadas em -om e -ons. Ex.: elétrons, nêutrons, prótons.
– Terminadas em -um e -uns. Ex.: álbum, álbuns, fórum, fóruns, quórum, quóruns.
– Terminadas em -ã e -ão. Ex.: bênção, bênçãos, ímã, ímãs, órfã, órfãs, órgão, órgãos, sótão, sótãos.
Acentuação das palavras Proparoxítonas
Classificam-se assim as palavras cuja antepenúltima sílaba é tônica, e todas recebem acento, sem exceções.
Ex.: ácaro, árvore, bárbaro, cálida, exército, fétido, lâmpada, líquido, médico, pássaro, tática, trânsito.
Ditongos e Hiatos
Acentuam-se:
– Oxítonas com sílaba tônica terminada em abertos “_éu”, “_éi” ou “_ói”, sucedidos ou não por “_s”. Ex.:
anéis, fiéis, herói, mausoléu, sóis, véus.
– As letras “_i” e “_u” quando forem a segunda vogal tônica de um hiato e estejam isoladas ou sucedidas por
“_s” na sílaba. Ex.: caí (ca-í), país (pa-ís), baú (ba-ú).
Não se acentuam:
– A letra “_i”, sempre que for sucedida por de “_nh”. Ex.: moinho, rainha, bainha.
– As letras “_i” e o “_u” sempre que aparecerem repetidas. Ex.: juuna, xiita. xiita.
– Hiatos compostos por “_ee” e “_oo”. Ex.: creem, deem, leem, enjoo, magoo.
O Novo Acordo Ortográfico
Confira as regras que levaram algumas palavras a perderem acentuação em razão do Acordo Ortográfico
de 1990, que entrou em vigor em 2009:
1 – Vogal tônica fechada -o de -oo em paroxítonas.
Exemplos: enjôo – enjoo; magôo – magoo; perdôo – perdoo; vôo – voo; zôo – zoo.
2 – Ditongos abertos -oi e -ei em palavras paroxítonas.
Exemplos: alcalóide – alcaloide; andróide – androide; alcalóide – alcaloide; assembléia – assembleia;
asteróide – asteroide; européia – europeia.
3 – Vogais -i e -u precedidas de ditongo em paroxítonas.
Exemplos: feiúra – feiura; maoísta – maoista; taoísmo – taoismo.
4 – Palavras paroxítonas cuja terminação é -em, e que possuem -e tônico em hiato.
Isso ocorre com a 3a pessoa do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo. Exemplos: deem; lêem –
leem; relêem – releem; revêem.
5 – Palavras com trema: somente para palavras da língua portuguesa. Exemplos: bilíngüe – bilíngue;
enxágüe – enxágue; linguïça – linguiça.
6 – Paroxítonas homógrafas: são palavras que têm a mesma grafia, mas apresentam significados diferentes.
Exemplo: o verbo PARAR: pára – para. Antes do Acordo Ortográfico, a flexão do verbo “parar” era acentuada
para que fosse diferenciada da preposição “para”.
Atualmente, nenhuma delas recebe acentuação. Assim:
Antes: Ela sempre pára para ver a banda passar. [verbo / preposição]
Hoje: Ela sempre para para ver a banda passar. [verbo / preposição]
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Emprego do sinal indicativo de crase.
Definição: na gramática grega, o termo quer dizer “mistura “ou “contração”, e ocorre entre duas vogais, uma
final e outra inicial, em palavras unidas pelo sentido. Basicamente, desse modo: a (preposição) + a (artigo femi-
nino) = aa à; a (preposição) + aquela (pronome demonstrativo feminino) = àquela; a (preposição) + aquilo (pro-
nome demonstrativo feminino) = àquilo. Por ser a junção das vogais, a crase, como regra geral, ocorre diante
de palavras femininas, sendo a única exceção os pronomes demonstrativos aquilo e aquele, que recebem a
crase por terem “a” como sua vogal inicial. Crase não é o nome do acento, mas indicação do fenômeno de união
representado pelo acento grave.
A crase pode ser a contração da preposição a com:
– O artigo feminino definido a/as: “Foi à escola, mas não assistiu às aulas.”
– O pronome demonstrativo a/as: “Vá à paróquia central.”
– Os pronomes demonstrativos aquele(s), aquela(s), aquilo: “Retorne àquele mesmo local.”
– O a dos pronomes relativos a qual e as quais: “São pessoas às quais devemos o maior respeito e consi-
deração”.
Perceba que a incidência da crase está sujeita à presença de duas vogais a (preposição + artigo ou prepo-
sição + pronome) na construção sintática.
Técnicas para o emprego da crase
1 – Troque o termo feminino por um masculino, de classe semelhante. Se a combinação ao aparecer, ocor-
rerá crase diante da palavra feminina.
Exemplos:
“Não conseguimos chegar ao hospital / à clínica.”
“Preferiu a fruta ao sorvete / à torta.”
“Comprei o carro / a moto.”
“Irei ao evento / à festa.”
2 – Troque verbos que expressem a noção de movimento (ir, vir, chegar, voltar, etc.) pelo verbo voltar. Se
aparecer a preposição da, ocorrerá crase; caso apareça a preposição de, o acento grave não deve ser empre-
gado.
Exemplos:
“Vou a São Paulo. / Voltei de São Paulo.”
“Vou à festa dos Silva. / Voltei da Silva.”
“Voltarei a Roma e à Itália. / Voltarei de Roma e da Itália.”
3 – Troque o termo regente da preposição a por um que estabeleça a preposição por, em ou de. Caso essas
preposições não se façam contração com o artigo, isto é, não apareçam as formas pela(s), na(s) ou da(s), a
crase não ocorrerá.
Exemplos:
“Começou a estudar (sem crase) – Optou por estudar / Gosta de estudar / Insiste em estudar.”
“Refiro-me à sua filha (com crase) – Apaixonei-me pela sua filha / Gosto da sua filha / Votarei na sua filha.”
“Refiro-me a você. (sem crase) – Apaixonei-me por você / Gosto de você / Penso em você.”
4 – Tratando-se de locuções, isto é, grupo de palavras que expressam uma única ideia, a crase somente
deve ser empregada se a locução for iniciada por preposição e essa locução tiver como núcleo uma palavra
feminina, ocorrerá crase.
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Exemplos:
“Tudo às avessas.”
“Barcos à deriva.”
5 – Outros casos envolvendo locuções e crase:
Na locução «à moda de”, pode estar implícita a expressão “moda de”, ficando somente o à explícito.
Exemplos:
“Arroz à (moda) grega.”
“Bife à (moda) parmegiana.”
Nas locuções relativas a horários, ocorra crase apenas no caso de horas especificadas e definidas: Exemplos:
“À uma hora.”
“Às cinco e quinze”.
Pontuação.
— Visão Geral
O sistema de pontuação consiste em um grupo de sinais gráficos que, em um período sintático, têm a
função primordial de indicar um nível maior ou menor de coesão entre estruturas e, ocasionalmente, manifestar
as propriedades da fala (prosódias) em um discurso redigido. Na escrita, esses sinais substituem os gestos e
as expressões faciais que, na linguagem falada, auxiliam a compreensão da frase.
O emprego da pontuação tem as seguintes finalidades:
– Garantir a clareza, a coerência e a coesão interna dos diversos tipos textuais;
– Garantir os efeitos de sentido dos enunciados;
– Demarcar das unidades de um texto;
– Sinalizar os limites das estruturas sintáticas.
— Sinais de pontuação que auxiliam na elaboração de um enunciado
Vírgula
De modo geral, sua utilidade é marcar uma pausa do enunciado para indicar que os termos por ela isolados,
embora compartilhem da mesma frase ou período, não compõem unidade sintática. Mas, se, ao contrário,
houver relação sintática entre os termos, estes não devem ser isolados pela vírgula. Isto quer dizer que, ao
mesmo tempo que existem situações em que a vírgula é obrigatória, em outras, ela é vetada. Confira os casos
em que a vírgula deve ser empregada:
• No interior da sentença
1 – Para separar elementos de uma enumeração e repetição:
ENUMERAÇÃO
Adicione leite, farinha, açúcar, ovos, óleo e chocolate.
Paguei as contas de água, luz, telefone e gás.
REPETIÇÃO
Os arranjos estão lindos, lindos!
Sua atitude foi, muito, muito, muito indelicada.
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2 – Isolar o vocativo
“Crianças, venham almoçar!”
“Quando será a prova, professora?”
3 – Separar apostos
“O ladrão, menor de idade, foi apreendido pela polícia.”
4 – Isolar expressões explicativas:
“As CPIs que terminaram em pizza, ou seja, ninguém foi responsabilizado.”
5 – Separar conjunções intercaladas
“Não foi explicado, porém, o porquê das falhas no sistema.”
6 – Isolar o adjunto adverbial anteposto ou intercalado:
“Amanhã pela manhã, faremos o comunicado aos funcionários do setor.”
“Ele foi visto, muitas vezes, vagando desorientado pelas ruas.”
7 – Separar o complemento pleonástico antecipado:
“Estas alegações, não as considero legítimas.”
8 – Separar termos coordenados assindéticos (não conectadas por conjunções)
“Os seres vivos nascem, crescem, reproduzem-se, morrem.”
9 – Isolar o nome de um local na indicação de datas:
“São Paulo, 16 de outubro de 2022”.
10 – Marcar a omissão de um termo:
“Eu faço o recheio, e você, a cobertura.” (omissão do verbo “fazer”).
• Entre as sentenças
1 – Para separar as orações subordinadas adjetivas explicativas
“Meu aluno, que mora no exterior, fará aulas remotas.”
2 – Para separar as orações coordenadas sindéticas e assindéticas, com exceção das orações iniciadas
pela conjunção “e”:
“Liguei para ela, expliquei o acontecido e pedi para que nos ajudasse.”
3 – Para separar as orações substantivas que antecedem a principal:
“Quando será publicado, ainda não foi divulgado.”
4 – Para separar orações subordinadas adverbiais desenvolvidas ou reduzidas, especialmente as que
antecedem a oração principal:
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2 – Utiliza-se a vírgula em casos de polissíndeto, ou seja, sempre que a conjunção “e” é reiterada com com
a finalidade de destacar alguma ideia, por exemplo:
“(…) e os desenrolamentos, e os incêndios, e a fome, e a sede; e dez meses de combates, e cem dias de
cancioneiro contínuo; e o esmagamento das ruínas...” (Euclides da Cunha)
3 – Emprega-se a vírgula sempre que orações coordenadas apresentam sujeitos distintos, por exemplo:
“A mulher ficou irritada, e o marido, constrangido.”
O uso da vírgula é vetado nos seguintes casos: separar sujeito e predicado, verbo e objeto, nome de
adjunto adnominal, nome e complemento nominal, objeto e predicativo do objeto, oração substantiva e oração
subordinada (desde que a substantivo não seja apositiva nem se apresente inversamente).
Ponto
1 – Para indicar final de frase declarativa:
“O almoço está pronto e será servido.”
2 – Abrevia palavras:
– “p.” (página)
– “V. Sra.” (Vossa Senhoria)
– “Dr.” (Doutor)
3 – Para separar períodos:
“O jogo não acabou. Vamos para os pênaltis.”
Ponto e Vírgula
1 – Para separar orações coordenadas muito extensas ou orações coordenadas nas quais já se tenha
utilizado a vírgula:
“Gosto de assistir a novelas; meu primo, de jogos de RPG; nossa amiga, de praticar esportes.”
2 – Para separar os itens de uma sequência de itens:
“Os planetas que compõem o Sistema Solar são:
Mercúrio;
Vênus;
Terra;
Marte;
Júpiter;
Saturno;
Urano;
Netuno.”
Dois Pontos
1 – Para introduzirem apostos ou orações apositivas, enumerações ou sequência de palavras que explicam
e/ou resumem ideias anteriores.
“Anote o endereço: Av. Brasil, 1100.”
“Não me conformo com uma coisa: você ter perdoado aquela grande ofensa.”
2 – Para introduzirem citação direta:
“Desse estudo, Lavoisier extraiu o seu princípio, atualmente muito conhecido: “Nada se cria, nada se
perde, tudo se transforma’.”
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3 – Para iniciar fala de personagens:
“Ele gritava repetidamente:
– Sou inocente!”
Reticências
1 – Para indicar interrupção de uma frase incompleta sintaticamente:
“Quem sabe um dia...”
2 – Para indicar hesitação ou dúvida:
“Então... tenho algumas suspeitas... mas prefiro não revelar ainda.”
3 – Para concluir uma frase gramaticalmente inacabada com o objetivo de prolongar o raciocínio:
“Sua tez, alva e pura como um foco de algodão, tingia-se nas faces duns longes cor-de-rosa...” (Cecília -
José de Alencar).
4 – Suprimem palavras em uma transcrição:
“Quando penso em você (...) menos a felicidade.” (Canteiros - Raimundo Fagner).
Ponto de Interrogação
1 – Para perguntas diretas:
“Quando você pode comparecer?”
2 – Algumas vezes, acompanha o ponto de exclamação para destacar o enunciado:
“Não brinca, é sério?!”
Ponto de Exclamação
1 – Após interjeição:
“Nossa Que legal!”
2 – Após palavras ou sentenças com carga emotiva
“Infelizmente!”
3 – Após vocativo
“Ana, boa tarde!”
4 – Para fechar de frases imperativas:
“Entre já!”
Parênteses
a) Para isolar datas, palavras, referências em citações, frases intercaladas de valor explicativo, podendo
substituir o travessão ou a vírgula:
“Mal me viu, perguntou (sem qualquer discrição, como sempre)
quem seria promovido.”
Travessão
1 – Para introduzir a fala de um personagem no discurso direto:
“O rapaz perguntou ao padre:
— Amar demais é pecado?”
2 – Para indicar mudança do interlocutor nos diálogos:
“— Vou partir em breve.
— Vá com Deus!”
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3 – Para unir grupos de palavras que indicam itinerários:
“Esse ônibus tem destino à cidade de São Paulo — SP.”
4 – Para substituir a vírgula em expressões ou frases explicativas:
“Michael Jackson — o retorno rei do pop — era imbatível.”
Aspas
1 – Para isolar palavras ou expressões que violam norma culta, como termos populares, gírias, neologismos,
estrangeirismos, arcaísmos, palavrões, e neologismos.
“Na juventude, ‘azarava’ todas as meninas bonitas.”
“A reunião será feita ‘online’.”
2 – Para indicar uma citação direta:
“A índole natural da ciência é a longanimidade.” (Machado de Assis)
As figuras de linguagem ou de estilo são empregadas para valorizar o texto, tornando a linguagem mais
expressiva. É um recurso linguístico para expressar de formas diferentes experiências comuns, conferindo ori-
ginalidade, emotividade ao discurso, ou tornando-o poético.
As figuras de linguagem classificam-se em
– figuras de palavra;
– figuras de pensamento;
– figuras de construção ou sintaxe.
Figuras de palavra
Emprego de um termo com sentido diferente daquele convencionalmente empregado, a fim de se conseguir
um efeito mais expressivo na comunicação.
Metáfora: comparação abreviada, que dispensa o uso dos conectivos comparativos; é uma comparação
subjetiva. Normalmente vem com o verbo de ligação claro ou subentendido na frase.
Exemplos
...a vida é cigana
É caravana
É pedra de gelo ao sol.
(Geraldo Azevedo/ Alceu Valença)
Encarnado e azul são as cores do meu desejo.
(Carlos Drummond de Andrade)
Comparação: aproxima dois elementos que se identificam, ligados por conectivos comparativos explícitos:
como, tal qual, tal como, que, que nem. Também alguns verbos estabelecem a comparação: parecer, asseme-
lhar-se e outros.
Exemplo
Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol, quando você entrou em mim como um sol no quintal.
(Belchior)
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Catacrese: emprego de um termo em lugar de outro para o qual não existe uma designação apropriada.
Exemplos
– folha de papel
– braço de poltrona
– céu da boca
– pé da montanha
Sinestesia: fusão harmônica de, no mínimo, dois dos cinco sentidos físicos.
Exemplo
Vem da sala de linotipos a doce (gustativa) música (auditiva) mecânica.
(Carlos Drummond de Andrade)
A fusão de sensações físicas e psicológicas também é sinestesia: “ódio amargo”, “alegria ruidosa”, “paixão
luminosa”, “indiferença gelada”.
Antonomásia: substitui um nome próprio por uma qualidade, atributo ou circunstância que individualiza o ser
e notabiliza-o.
Exemplos
O filósofo de Genebra (= Calvino).
O águia de Haia (= Rui Barbosa).
Metonímia: troca de uma palavra por outra, de tal forma que a palavra empregada lembra, sugere e retoma
a que foi omitida.
Exemplos
Leio Graciliano Ramos. (livros, obras)
Comprei um panamá. (chapéu de Panamá)
Tomei um Danone. (iogurte)
Alguns autores, em vez de metonímia, classificam como sinédoque quando se têm a parte pelo todo e o
singular pelo plural.
Exemplo
A cidade inteira viu assombrada, de queixo caído, o pistoleiro sumir de ladrão, fugindo nos cascos de seu
cavalo. (singular pelo plural)
(José Cândido de Carvalho)
Figuras Sonoras
Aliteração: repetição do mesmo fonema consonantal, geralmente em posição inicial da palavra.
Exemplo
Vozes veladas veludosas vozes volúpias dos violões, vozes veladas.
(Cruz e Sousa)
Assonância: repetição do mesmo fonema vocal ao longo de um verso ou poesia.
Exemplo
Sou Ana, da cama,
da cana, fulana, bacana
Sou Ana de Amsterdam.
(Chico Buarque)
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Paronomásia: Emprego de vocábulos semelhantes na forma ou na prosódia, mas diferentes no sentido.
Exemplo
Berro pelo aterro pelo desterro berro por seu berro pelo seu
[erro
quero que você ganhe que
[você me apanhe
sou o seu bezerro gritando
[mamãe.
(Caetano Veloso)
Onomatopeia: imitação aproximada de um ruído ou som produzido por seres animados e inanimados.
Exemplo
Vai o ouvido apurado
na trama do rumor suas nervuras
inseto múltiplo reunido
para compor o zanzineio surdo
circular opressivo
zunzin de mil zonzons zoando em meio à pasta de calor
da noite em branco
(Carlos Drummond de Andrade)
Observação: verbos que exprimem os sons são considerados onomatopaicos, como cacarejar, tiquetaque-
ar, miar etc.
Figuras de sintaxe ou de construção
Dizem respeito a desvios em relação à concordância entre os termos da oração, sua ordem, possíveis re-
petições ou omissões.
Podem ser formadas por:
omissão: assíndeto, elipse e zeugma;
repetição: anáfora, pleonasmo e polissíndeto;
inversão: anástrofe, hipérbato, sínquise e hipálage;
ruptura: anacoluto;
concordância ideológica: silepse.
Anáfora: repetição da mesma palavra no início de um período, frase ou verso.
Exemplo
Dentro do tempo o universo
[na imensidão.
Dentro do sol o calor peculiar
[do verão.
Dentro da vida uma vida me
[conta uma estória que fala
[de mim.
Dentro de nós os mistérios
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[do espaço sem fim!
(Toquinho/Mutinho)
Assíndeto: ocorre quando orações ou palavras que deveriam vir ligadas por conjunções coordenativas apa-
recem separadas por vírgulas.
Exemplo
Não nos movemos, as mãos é
que se estenderam pouco a
pouco, todas quatro, pegando-se,
apertando-se, fundindo-se.
(Machado de Assis)
Polissíndeto: repetição intencional de uma conjunção coordenativa mais vezes do que exige a norma gra-
matical.
Exemplo
Há dois dias meu telefone não fala, nem ouve, nem toca, nem tuge, nem muge.
(Rubem Braga)
Pleonasmo: repetição de uma ideia já sugerida ou de um termo já expresso.
Pleonasmo literário: recurso estilístico que enriquece a expressão, dando ênfase à mensagem.
Exemplos
Não os venci. Venceram-me
eles a mim.
(Rui Barbosa)
Morrerás morte vil na mão de um forte.
(Gonçalves Dias)
Pleonasmo vicioso: Frequente na linguagem informal, cotidiana, considerado vício de linguagem. Deve ser
evitado.
Exemplos
Ouvir com os ouvidos.
Rolar escadas abaixo.
Colaborar juntos.
Hemorragia de sangue.
Repetir de novo.
Elipse: Supressão de uma ou mais palavras facilmente subentendidas na frase. Geralmente essas palavras
são pronomes, conjunções, preposições e verbos.
Exemplos
Compareci ao Congresso. (eu)
Espero venhas logo. (eu, que, tu)
Ele dormiu duas horas. (durante)
No mar, tanta tormenta e tanto dano. (verbo Haver)
(Camões)
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Zeugma: Consiste na omissão de palavras já expressas anteriormente.
Exemplos
Foi saqueada a vila, e assassina dos os partidários dos Filipes.
(Camilo Castelo Branco)
Rubião fez um gesto, Palha outro: mas quão diferentes.
(Machado de Assis)
Hipérbato ou inversão: alteração da ordem direta dos elementos na frase.
Exemplos
Passeiam, à tarde, as belas na avenida.
(Carlos Drummond de Andrade)
Paciência tenho eu tido...
(Antônio Nobre)
Anacoluto: interrupção do plano sintático com que se inicia a frase, alterando a sequência do processo lógi-
co. A construção do período deixa um ou mais termos desprendidos dos demais e sem função sintática definida.
Exemplos
E o desgraçado, tremiam-lhe as pernas.
(Manuel Bandeira)
Aquela mina de ouro, ela não ia deixar que outras espertas botassem as mãos.
(José Lins do Rego)
Hipálage: inversão da posição do adjetivo (uma qualidade que pertence a um objeto é atribuída a outro, na
mesma frase).
Exemplo
...em cada olho um grito castanho de ódio.
(Dalton Trevisan)
...em cada olho castanho um grito de ódio)
Silepse
Silepse de gênero: Não há concordância de gênero do adjetivo ou pronome com a pessoa a que se refere.
Exemplos
Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho...
(Rachel de Queiroz)
V. Ex.a parece magoado...
(Carlos Drummond de Andrade)
Silepse de pessoa: Não há concordância da pessoa verbal com o sujeito da oração.
Exemplos
Os dois ora estais reunidos...
(Carlos Drummond de Andrade)
Na noite do dia seguinte, estávamos reunidos algumas pessoas.
(Machado de Assis)
Silepse de número: Não há concordância do número verbal com o sujeito da oração.
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Exemplo
Corria gente de todos os lados, e gritavam.
(Mário Barreto)
A reescrita é tão importante quanto a escrita, visto que, dificilmente, sobretudo para os escritores mais cui-
dadosos, chegamos ao resultado que julgamos ideal na primeira tentativa. Aquele que observa um resultado
ruim na primeira versão que escreveu terá, na reescrita, a possibilidade de alcançar um resultado satisfatório.
A reescrita é um processo mais trabalhoso do que a revisão, pois, nesta, atemo-nos apenas aos pequenos de-
talhes, cuja ausência não implicaria em uma dificuldade do leitor para compreender o texto.
Quando reescrevemos, refazemos nosso texto, é um processo bem mais complexo, que parte do pres-
suposto de que o autor tenha observado aquilo que está ruim para que, posteriormente, possa melhorar seu
texto até chegar a uma versão final, livre dos erros iniciais. Além de aprimorar a leitura, a reescrita auxilia a
desenvolver e melhorar a escrita, ajudando o aluno-escritor a esclarecer melhor seus objetivos e razões para
a produção de textos.
Nessa perspectiva, esse autor considera que reescrever seja um processo de descoberta da escrita pelo
próprio autor, que passa a enfocá-la como forma de trabalho, auxiliando o desenvolvimento do processo de
escrever do aluno.
Operações linguísticas de reescrita:
A literatura sobre reescrita aponta para uma tipologia de operações linguísticas encontradas neste momento
específico da construção do texto escrito.
- Adição, ou acréscimo: pode tratar-se do acréscimo de um elemento gráfico, acento, sinal de pontuação,
grafema (...) mas também do acréscimo de uma palavra, de um sintagma, de uma ou de várias frases.
- Supressão: supressão sem substituição do segmento suprimido. Ela pode ser aplicada sobre unidades
diversas, acento, grafemas, sílabas, palavras sintagmáticas, uma ou diversas frases.
- Substituição: supressão, seguida de substituição por um termo novo. Ela se aplica sobre um grafema, uma
palavra, um sintagma, ou sobre conjuntos generalizados.
- Deslocamento: permutação de elementos, que acaba por modificar sua ordem no processo de encadea-
mento.
Graus de Formalismo
São muitos os tipos de registros quanto ao formalismo, tais como: o registro formal, que é uma linguagem
mais cuidada; o coloquial, que não tem um planejamento prévio, caracterizando-se por construções gramaticais
mais livres, repetições frequentes, frases curtas e conectores simples; o informal, que se caracteriza pelo uso
de ortografia simplificada e construções simples ( geralmente usado entre membros de uma mesma família ou
entre amigos).
As variações de registro ocorrem de acordo com o grau de formalismo existente na situação de comuni-
cação; com o modo de expressão, isto é, se trata de um registro formal ou escrito; com a sintonia entre inter-
locutores, que envolve aspectos como graus de cortesia, deferência, tecnicidade (domínio de um vocabulário
específico de algum campo científico, por exemplo).
Expressões que demandam atenção
– acaso, caso – com se, use acaso; caso rejeita o se
– aceitado, aceito – com ter e haver, aceitado; com ser e estar, aceito
– acendido, aceso (formas similares) – idem
– à custa de – e não às custas de
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– à medida que – à proporção que, ao mesmo tempo que, conforme
– na medida em que – tendo em vista que, uma vez que
– a meu ver – e não ao meu ver
– a ponto de – e não ao ponto de
– a posteriori, a priori – não tem valor temporal
– em termos de – modismo; evitar
– enquanto que – o que é redundância
– entre um e outro – entre exige a conjunção e, e não a
– implicar em – a regência é direta (sem em)
– ir de encontro a – chocar-se com
– ir ao encontro de – concordar com
– se não, senão – quando se pode substituir por caso não, separado; quando não se pode, junto
– todo mundo – todos
– todo o mundo – o mundo inteiro
– não pagamento = hífen somente quando o segundo termo for substantivo
– este e isto – referência próxima do falante (a lugar, a tempo presente; a futuro próximo; ao anunciar e a
que se está tratando)
– esse e isso – referência longe do falante e perto do ouvinte (tempo futuro, desejo de distância; tempo
passado próximo do presente, ou distante ao já mencionado e a ênfase).
Expressões não recomendadas
– a partir de (a não ser com valor temporal).
Opção: com base em, tomando-se por base, valendo-se de...
– através de (para exprimir “meio” ou instrumento).
Opção: por, mediante, por meio de, por intermédio de, segundo...
– devido a.
Opção: em razão de, em virtude de, graças a, por causa de.
– dito.
Opção: citado, mencionado.
– enquanto.
Opção: ao passo que.
– inclusive (a não ser quando significa incluindo-se).
Opção: até, ainda, igualmente, mesmo, também.
– no sentido de, com vistas a.
Opção: a fim de, para, com a finalidade de, tendo em vista.
– pois (no início da oração).
Opção: já que, porque, uma vez que, visto que.
– principalmente.
Opção: especialmente, sobretudo, em especial, em particular.
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PARALELISMO
O termo paralelismo9 corresponde a uma relação de equivalência, por semelhança ou contraste, entre dois
ou mais elementos (é a repetição de ideias mediante expressões aproximadas). É um recurso responsável por
uma boa progressão textual. Dizemos que há paralelismo em uma estrutura quando há uma correspondência
rítmica, sintática/gramatical ou semântica entre as estruturas.
Vejam a tirinha a seguir da famosa personagem Mafalda10:
Fonte: Quino
Reparem que, no segundo quadrinho, na fala da mãe da menina, há uma estrutura sintaticamente equiva-
lente:
“[Para trabalhar,] [para nos amar,] [para fazer deste mundo um mundo melhor]”
Notem que as três orações em destaque obedecem a uma mesma estrutura sintática: iniciam-se com a
preposição “para” e mantêm o verbo no infinitivo. A essa relação de equivalência estrutural, damos o nome de
paralelismo.
Analisemos o próximo exemplo:
Vejam como o slogan da marca de cosméticos “Nívea” também segue uma estrutura em paralelismo – “Be-
leza que se vê, beleza que se sente”. Notem que a repetição é intencional, mantendo uma unidade gramatical.
O paralelismo é um recurso de coesão textual, ou seja, promove a conexão das ideias, através de repetições
planejadas, trazendo unidade a um texto. Vejamos o exemplo a seguir:
Ministério da educação prevê [mudar a data do Enem] e [melhorias no sistema.]
Reparem que há um desequilíbrio gramatical na frase acima. Para respeitarmos o paralelismo, poderíamos
reescrevê-la das seguintes maneiras:
a) Ministério da educação prevê [mudar a data do Enem] e [melhorar o sistema.]
Ou
b) Ministério da educação prevê [mudanças na data do Enem] e [melhorias no sistema.]
Vejam que, na primeira reescrita, mantivemos verbos no infinitivo iniciando as orações “mudar” e “melhorar”.
Já na segunda, mantivemos bases nominais, substantivos, “mudanças” e “melhorias”. Dessa forma, estabele-
cemos o paralelismo nas frases.
9 http://soumaisenem.com.br/portugues/coesao-e-coerencia/paralelismo-parte-02
10 BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Português. Editora Nova, 2009.
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“Mas como achar o tal do paralelismo?”. Uma dica boa é encontrar os conectivos na frase. Eles são im-
portantes marcadores textuais para ajudá-los a identificar as estruturas que devem permanecer em relação de
equivalência. Olhem esse exemplo:
Queremos amor e ter paz.
O verbo querer possui duas ideias que o complementam: “amor” e “ter paz”. O conectivo “e” marca o para-
lelismo. As estruturas por ele ligadas estão iguais gramaticalmente?
Não. Uma é um substantivo e a outra uma oração. Para equilibrá-las, podemos reescrever, por exemplo,
das seguintes formas:
a) Queremos [amor] e [paz].
Ou
b) Queremos [ter amor] e [ter paz].
Ou
c) Queremos ter [amor] e [paz].
Paralelismo Sintático ou Gramatical
É aquele em que se nota uma correlação sintática numa estrutura frasal a partir de termos ou orações seme-
lhantes morfossintaticamente. Veja os exemplos a seguir:
Exemplo 1: O condenado não só [roubou], mas também [é sequestrador].
Corrigindo, temos: Ele não só roubou, mas também sequestrou.
Reparem que os termos “não só... mas também” estabelecem entre as orações coordenadas uma relação
de equivalência sintática. Dessa forma, é preciso que as orações apresentem a mesma estrutura gramatical.
Exemplo 2: O cidadão precisa [de educação], [respeito] e [solidariedade].
Corrigindo, temos: O cidadão precisa [de educação], [de respeito] e [de solidariedade].
Os três complementos verbais devem vir preposicionados - encadeamento de funções sintáticas.
Exemplo 3: [Gosto] e [compro] livros.
Nesse caso, temos um problema na construção. O verbo “gostar” é transitivo indireto, enquanto o verbo
“comprar” é transitivo direto. A frase mostra-se incompleta sintaticamente, uma vez que só há um complemento
verbal (“livros”).
Corrigindo, temos: Gosto [de livros] e [os] compro.
OI OD
Exemplo 4: Quero [sua ajuda] e [que você venha].
Nesse caso, o paralelismo foi quebrado, uma vez que os complementos do verbo “querer” têm “pesos sin-
táticos” diferentes: “sua ajuda” é um objeto direto “simples” e “que você venha” é um objeto direto oracional.
Repare que os objetos estão ligados pelo conectivo “e”, devendo, portanto, haver uma equivalência entre eles.
Corrigindo, temos:
Quero [sua ajuda] e [sua vinda].
ou
Quero [que você me ajude] e [que você venha].
Paralelismo Semântico
É aquele em que se observa uma correlação de sentido entre as estruturas. Observem os exemplos a seguir:
“Trocava [de namorada] como trocava [de blusa]”.
“Marcela amou-me durante [quinze meses] e [onze contos de réis]”
(Machado de Assis – Memórias Póstumas de Brás Cubas)
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Notem que, apesar de haver paralelismo gramatical ou sintático nas frases, não há uma correlação semân-
tica.
No primeiro caso trocar “de namorada” não equivale a trocar “de blusa”; no segundo, amar “durante quinze
meses” (tempo) não corresponde a amar “durante onze contos de réis”.
São relações de sentido diferentes. Dessa forma, podemos dizer que houve uma “quebra” do paralelismo
semântico, pois é feita uma aproximação entre elementos de “carga significativa” diferente. Entretanto, isso foi
intencional e não deve ser visto como uma falha de construção.
Na maioria das vezes, esse tipo de construção é proposital para trazer a um trecho determinado efeito de
sentido a partir da ironia ou do humor, como nos exemplos acima.
Paralelismo Rítmico
É um recurso estilístico de grande efeito, do qual alguns autores se servem com o propósito de dar maior
expressividade ao pensamento. Vejam os exemplos a seguir, retirados do livro “Comunicação em prosa moder-
na”, de Othon Garcia:
“Se os olhos veem com amor, o corvo é branco; se com ódio, o cisne é negro; se com amor, o demônio é
formoso; se com ódio, o anjo é feio; se com amor, o pigmeu é gigante”.
(“Sermão da quinta quarta-feira”, apud M. Gonçalves Viana, Sermões e lugares seletos)
“Nenhum doutor as observou com maior escrúpulo, nem as esquadrinhou com maior estudo, nem as enten-
deu com maior propriedade, nem as proferiu com mais verdade, nem as explicou com maior clareza, nem as
recapacitou com mais facilidade, nem as propugnou com maior valentia, nem as pregou e semeou com maior
abundância”.
(M.Bernardes)
Reparem as repetições intencionais, enfáticas, presentes nas construções acima, caracterizando um para-
lelismo rítmico.
— Definição
A língua é a expressão básica de um povo e, portanto, passa por mudanças conforme diversos fatores,
como o contexto, a época, a região, a cultura, as necessidades e as vivências do grupo e de cada indivíduo nele
inserido. A essas mudanças na língua, damos o nome de variações ou variantes linguísticas. Elas consistem
nas diversas formas de expressão de um idioma de um país, tendo em vista que a língua padrão de uma nação
não é homogênea. A construção do enunciado, a seleção das palavras e até mesmo a tonalidade da fala, entre
outras características, são considerados na análise de uma variação linguística.
Confira a seguir os quatro tipos de variantes linguísticas existentes.
– Variações sociais (diastráticas): são as diferenças relacionadas ao grupo social da pessoa que fala. As
gírias, por exemplo, fazem parte da linguagem informal dos grupos mais jovens. Assim como ocorre com os
mais novos.
– Os jargões de grupos sociais específicos: outras turmas têm seu vocabulário particular, como é o caso dos
capoeiristas, por exemplo, no meio dos quais a expressão “meia-lua” tem um significado bem diverso daquele
que fará sentido para as pessoas que não integram esse universo; o mesmo ocorre com a expressão “dar a
caneta”, que, entre os futebolistas é compreendida como um tipo de driblar o adversário, bem diferente do que
será assimilado pela população em geral.
70
– Os jargões profissionais: em razão dos tempos técnicos, as profissões também têm bastante influência nas
variantes sociais. São termos cuja utilização é restrita a um círculo profissional. Os contadores, por exemplo,
usam os temos “ativo” e “passivo” para expressar ideias bem diferentes daquelas empregadas pelas pessoas
em geral.
– Variações históricas (diacrônicas): essas variantes estão relacionadas ao desenvolvimento da história.
Determinadas expressões deixar de existir, enquanto outras surgem e outras se transformam conforme o tempo
foi passando. Exemplos:
– Vocabulário: a palavra defluxo foi substituída, com o tempo, por resfriado; o uso da mesóclise era muito
comum no século XIX, hoje, não se usa mais.
– Grafia: as reformas ortográficas são bastante regulares, sendo que, na de 1911, uma das mudanças mais
significativas foi a substituição do ph por f (pharmácia – farmácia) e, na de 2016, a queda do trema foi apenas
uma delas (bilíngüe – bilingue).
– Variações geográficas (diatópicas): essa variante está relacionada com à região em que é gerada, assim
como ocorre o português brasileiro e os usos que se fazem da língua portuguesa em Angola ou em Portugal,
denominadas regionalismo. No contexto nacional, especialmente no Brasil, as variações léxicas, de fonemas
são abundantes. No interior de um estado elas também são recorrentes.
– Exemplos: “abóbora”, “jerimum” e “moranga” são três formas diferentes de se denominar um mesmo fruto,
que dependem da região onde ele se encontra. Exemplo semelhante é o da “mandioca”, que recebe o nome de
“macaxeira” ou mesmo de “aipim”.
– Variações situacionais (diafásicas): também chamadas de variações estilísticas, referem-se ao contexto
que requer a adaptação da fala ou ao estilo dela. É o caso das questões de linguagem formal e informal,
adequação à norma-padrão ou descaso com seu uso. A utilização de expressões aprimoradas e a obediência
às normas-padrão da língua remetem à linguagem culta, oposta à linguagem coloquial. Na fala, a tonalidade
da voz também importante. Dessa forma, a maneira de se comunicar informalmente e a escolha vocabular
não serão, naturalmente, semelhantes em ocasiões como uma entrevista de emprego. Essas variações
observam o contexto da interação social, considerando tanto o ambiente em que a comunicação se dá quanto
as expectativas dos envolvidos.
A Linguagem Culta ou Padrão
É aquela ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências em que se apresenta com terminologia
especial. É usada pelas pessoas instruídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se pela obediência às
normas gramaticais. Mais comumente usada na linguagem escrita e literária, reflete prestígio social e cultural.
É mais artificial, mais estável, menos sujeita a variações. Está presente nas aulas, conferências, sermões,
discursos políticos, comunicações científicas, noticiários de TV, programas culturais etc.
Ouvindo e lendo é que você aprenderá a falar e a escrever bem. Procure ler muito, ler bons autores, para
redigir bem.
A aprendizagem da língua inicia-se em casa, no contexto familiar, que é o primeiro círculo social para uma
criança. A criança imita o que ouve e aprende, aos poucos, o vocabulário e as leis combinatórias da língua.
Um falante ao entrar em contato com outras pessoas em diferentes ambientes sociais como a rua, a escola e
etc., começa a perceber que nem todos falam da mesma forma. Há pessoas que falam de forma diferente por
pertencerem a outras cidades ou regiões do país, ou por fazerem parte de outro grupo ou classe social. Essas
diferenças no uso da língua constituem as variedades linguísticas.
Certas palavras e construções que empregamos acabam denunciando quem somos socialmente, ou seja,
em que região do país nascemos, qual nosso nível social e escolar, nossa formação e, às vezes, até nossos
valores, círculo de amizades e hobbies. O uso da língua também pode informar nossa timidez, sobre nossa
capacidade de nos adaptarmos às situações novas e nossa insegurança.
A norma culta é a variedade linguística ensinada nas escolas, contida na maior parte dos livros, registros es-
critos, nas mídias televisivas, entre outros. Como variantes da norma padrão aparecem: a linguagem regional, a
gíria, a linguagem específica de grupos ou profissões. O ensino da língua culta na escola não tem a finalidade
de condenar ou eliminar a língua que falamos em nossa família ou em nossa comunidade. O domínio da língua
71
culta, somado ao domínio de outras variedades linguísticas, torna-nos mais preparados para nos comunicar-
mos nos diferentes contextos lingísticos, já que a linguagem utilizada em reuniões de trabalho não deve ser a
mesma utilizada em uma reunião de amigos no final de semana.
Portanto, saber usar bem uma língua equivale a saber empregá-la de modo adequado às mais diferentes
situações sociais de que participamos.
A norma culta é responsável por representar as práticas linguísticas embasadas nos modelos de uso en-
contrados em textos formais. É o modelo que deve ser utilizado na escrita, sobretudo nos textos não literários,
pois segue rigidamente as regras gramaticais. A norma culta conta com maior prestígio social e normalmente é
associada ao nível cultural do falante: quanto maior a escolarização, maior a adequação com a língua padrão.
Exemplo:
Venho solicitar a atenção de Vossa Excelência para que seja conjurada uma calamidade que está prestes
a desabar em cima da juventude feminina do Brasil. Refiro-me, senhor presidente, ao movimento entusiasta
que está empolgando centenas de moças, atraindo-as para se transformarem em jogadoras de futebol, sem
se levar em conta que a mulher não poderá praticar este esporte violento sem afetar, seriamente, o equilíbrio
fisiológico de suas funções orgânicas, devido à natureza que dispôs a ser mãe.
A Linguagem Popular ou Coloquial
É aquela usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mostra-se quase sempre rebelde à norma gramatical
e é carregada de vícios de linguagem (solecismo – erros de regência e concordância; barbarismo – erros
de pronúncia, grafia e flexão; ambiguidade; cacofonia; pleonasmo), expressões vulgares, gírias e preferência
pela coordenação, que ressalta o caráter oral e popular da língua. A linguagem popular está presente nas
conversas familiares ou entre amigos, anedotas, irradiação de esportes, programas de TV e auditório, novelas,
na expressão dos esta dos emocionais etc.
Dúvidas mais comuns da norma culta
Perca ou perda
Isto é uma perda de tempo ou uma perca de tempo? Tomara que ele não perca o ônibus ou não perda o
ônibus? Quais são as frases corretas com perda e perca? Certo: Isto é uma perda de tempo.
Embaixo ou em baixo
O gato está embaixo da mesa ou em baixo da mesa? Continuarei falando em baixo tom de voz ou embaixo
tom de voz? Quais são as frases corretas com embaixo e em baixo? Certo: O gato está embaixo da cama
Ver ou vir
A dúvida no uso de ver e vir ocorre nas seguintes construções: Se eu ver ou se eu vir? Quando eu ver ou
quando eu vir? Qual das frases com ver ou vir está correta? Se eu vir você lá fora, você vai ficar de castigo!
Onde ou aonde
Os advérbios onde e aonde indicam lugar: Onde você está? Aonde você vai? Qual é a diferença entre onde
e aonde? Onde indica permanência. É sinônimo de em que lugar. Onde, Em que lugar Fica?
Como escrever o dinheiro por extenso?
Os valores monetários, regra geral, devem ser escritos com algarismos: R$ 1,00 ou R$ 1 R$ 15,00 ou R$
15 R$ 100,00 ou R$ 100 R$ 1400,00 ou R$ 1400.
Obrigado ou obrigada
Segundo a gramática tradicional e a norma culta, o homem ao agradecer deve dizer obrigado. A mulher ao
agradecer deve dizer obrigada.
Mal ou mau
Como essas duas palavras são, maioritariamente, pronunciadas da mesma forma, são facilmente confundi-
das pelos falantes. Qual a diferença entre mal e mau? Mal é um advérbio, antônimo de bem. Mau é o adjetivo
contrário de bom.
“Vir”, “Ver” e “Vier”
72
A conjugação desses verbos pode causar confusão em algumas situações, como por exemplo no futuro do
subjuntivo. O correto é, por exemplo, “quando você o vir”, e não “quando você o ver”.
Já no caso do verbo “ir”, a conjugação correta deste tempo verbal é “quando eu vier”, e não “quando eu vir”.
“Ao invés de” ou “em vez de”
“Ao invés de” significa “ao contrário” e deve ser usado apenas para expressar oposição.
Por exemplo: Ao invés de virar à direita, virei à esquerda.
Já “em vez de” tem um significado mais abrangente e é usado principalmente como a expressão “no lugar
de”. Mas ele também pode ser usado para exprimir oposição. Por isso, os linguistas recomendam usar “em vez
de” caso esteja na dúvida.
Por exemplo: Em vez de ir de ônibus para a escola, fui de bicicleta.
“Para mim” ou “para eu”
Os dois podem estar certos, mas, se você vai continuar a frase com um verbo, deve usar “para eu”.
Por exemplo: Mariana trouxe bolo para mim; Caio pediu para eu curtir as fotos dele.
“Tem” ou “têm”
Tanto “tem” como “têm” fazem parte da conjugação do verbo “ter” no presente. Mas o primeiro é usado no
singular, e o segundo no plural.
Por exemplo: Você tem medo de mudança; Eles têm medo de mudança.
“Há muitos anos”, “muitos anos atrás” ou “há muitos anos atrás”
Usar “Há” e “atrás” na mesma frase é uma redundância, já que ambas indicam passado. O correto é usar
um ou outro.
Por exemplo: A erosão da encosta começou há muito tempo; O romance começou muito tempo atrás.
Sim, isso quer dizer que a música Eu nasci há dez mil anos atrás, de Raul Seixas, está incorreta.
Exercícios
73
Tal receptividade decerto não elimina o imperativo de contar com pessoal capacitado, em cada estabeleci-
mento, para lidar com necessidades específicas de cada aluno. O censo escolar indica 1,2 milhão de alunos
assim categorizados. Embora tenha triplicado o número de professores com alguma formação em educação
especial inclusiva, contam-se não muito mais que 100 mil deles no país. Não se concebe que possa haver um
especialista em cada sala de aula.
As experiências mais bem-sucedidas criaram na escola uma estrutura para o atendimento inclusivo, as
salas de recursos. Aí, ao menos um profissional preparado se encarrega de receber o aluno e sua família para
definir atividades e de auxiliar os docentes do período regular nas técnicas pedagógicas.
Não faltam casos exemplares na rede oficial de ensino. Compete ao Estado disseminar essas iniciativas
exitosas por seus estabelecimentos. Assim se combate a tendência ainda existente a segregar em salas es-
peciais os estudantes com deficiência – que não se confunde com incapacidade, como felizmente já vamos
aprendendo.
(Editorial. Folha de S.Paulo, 16.10.2019. Adaptado)
Assinale a alternativa em que, com a mudança da posição do pronome em relação ao verbo, conforme
indicado nos parênteses, a redação permanece em conformidade com a norma-padrão de colocação dos pro-
nomes.
(A) ... há melhora nas escolas quando se incluem alunos com deficiência. (incluem-se)
(B) ... em educação especial inclusiva, contam-se não muito mais que 100 mil deles no país. (se contam)
(C) Não se concebe que possa haver um especialista em cada sala de aula. (concebe-se)
(D) Aí, ao menos um profissional preparado se encarrega de receber o aluno... (encarrega-se)
(E) ... que não se confunde com incapacidade, como felizmente já vamos aprendendo. (confunde-se)
74
Os pronomes pessoais oblíquos átonos, em relação ao verbo, possuem três posições: próclise (antes do
verbo), mesóclise (no meio do verbo) e ênclise (depois do verbo).
Avalie as afirmações sobre o emprego dos pronomes oblíquos nos trechos a seguir.
I – A próclise se justifica pela presença da palavra negativa: “E não se contenta em brindar os mares, rios e
lagoas com seus próprios dejetos.”
II – A ênclise ocorre por se tratar de oração iniciada por verbo: “Intoxica-os também com garrafas plásticas,
pneus, computadores, sofás e até carcaças de automóveis.”
III – A próclise é sempre empregada quando há locução verbal: “Não quero dizer que os micróbios comedo-
res de lixo podem se tornar as salamandras de Čapek.”
IV – O sujeito expresso exige o emprego da ênclise: “O ser humano revelou-se capaz de dividir o átomo,
derrotar o câncer e produzir um ‘Dom Quixote’”.
Está correto apenas o que se afirma em
(A) I e II.
(B) I e III.
(C) II e IV.
(D) III e IV.
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(A) Prosopopeia / pleonasmo / gradação / antítese.
(B) Metáfora / pleonasmo / gradação / antítese.
(C) Metáfora / hipérbole / gradação / antítese.
(D) Pleonasmo / metáfora / antítese / gradação.
(E) Nenhuma das alternativas.
6. (COMPESA - Analista de Gestão - Advogado - FGV) A substituição da oração adjetiva por um adjetivo de
valor equivalente está feita de forma inadequada em:
(A) “Quando você elimina o impossível, o que sobra, por mais improvável que pareça, só pode ser a verda-
de”. / restante
(B) “Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância”. / consciente dos limites da própria igno-
rância.
(C) “A única coisa que vem sem esforço é a idade”. / indiferente
(D) “Adoro a humanidade. O que não suporto são as pessoas”. / insuportável
(E) “Com o tempo não vamos ficando sozinhos apenas pelos que se foram: vamos ficando sozinhos uns
dos outros”. / falecidos
07. (SEPOG/RO - Técnico em Tecnologia da Informação e Comunicação - FGV/2018) Temos uma notícia
triste: o coração não é o órgão do amor! Ao contrário do que dizem, não é ali que moram os sentimentos. Puxa,
para que serve ele, afinal? Calma, não jogue o coração para escanteio, ele é superimportante. “É um órgão
vital. É dele a função de bombear sangue para todas as células de nosso corpo”, explica Sérgio Jardim, cardio-
logista do Hospital do Coração.
O coração é um músculo oco, por onde passa o sangue, e tem dois sistemas de bombeamento independen-
tes. Com essas “bombas” ele recebe o sangue das veias e lança para as artérias. Para isso contrai e relaxa,
diminuindo e aumentando de tamanho. E o que tem a ver com o amor? “Ele realmente bate mais rápido quando
uma pessoa está apaixonada. O corpo libera adrenalina, aumentando os batimentos cardíacos e a pressão
arterial”.
(O Estado de São Paulo, 09/06/2012, caderno suplementar, p. 6)
Nas frases “ele é superimportante” e “Ele realmente bate mais rápido quando uma pessoa está apaixona-
da”, há dois exemplos de variação de grau.
Sobre essas variações, assinale a afirmativa correta.
(A) Apenas na primeira frase há uma variação de grau de adjetivo.
(B) Nas duas ocorrências ocorre o superlativo de adjetivos.
(C) Apenas na segunda ocorrência ocorre o grau comparativo do adjetivo.
(D) Na primeira ocorrência, a variação de grau ocorre por meio de um sufixo.
(E) Apenas na primeira frase há variação de grau.
8. (Banestes - Técnico Bancário - FGV/2018) O adjetivo ilimitado corresponde à locução “sem limites”; a
locução com igual estrutura que NÃO corresponde ao adjetivo abaixo destacado é:
(A) Os turistas ficaram inertes durante a ação policial / sem ação;
(B) O turista incauto ficou assustado com a ação policial / sem cautela;
(C) O vocalista da banda saiu ileso do acidente / sem ferimento;
76
(D) O presidente da Coreia passou incógnito pela França / sem ser percebido;
(E) O novo livro do autor estava ainda inédito / sem editor.
9 (Banestes - Analista Econômico Financeiro - Gestão Contábil - FGV/2018) Na escrita, pode-se optar fre-
quentemente entre uma construção de substantivo + locução adjetiva ou substantivo + adjetivo (esportes da
água = esportes aquáticos).
O termo abaixo sublinhado que NÃO pode ser substituído por um adjetivo é:
(A) A indústria causou a poluição do rio;
(B) As águas do rio ficaram poluídas;
(C) As margens do rio estão cheias de lama;
(D) Os turistas se encantam com a imagem do rio;
(E) Os peixes do rio são bem saborosos.
10. (Pref. Paulínia/SP - Engenheiro Agrônomo - FGV) “O povo, ingênuo e sem fé das verdades, quer ao
menos crer na fábula, e pouco apreço dá às demonstrações científicas.” (Machado de Assis)
No fragmento acima, os dois adjetivos sublinhados possuem, respectivamente, os valores de
(A) qualidade e estado.
(B) estado e relação.
(C) relação e característica.
(D) característica e qualidade.
(E) qualidade e relação.
77
12. FGV - 2022 - SEAD-AP - Cuidador Uma das marcas da textualidade é a coerência. Entre as frases abai-
xo, assinale aquela que se mostra coerente.
(A) Avise-me se você não receber esta carta.
(B) Só uma coisa a vida ensina: a vida nada ensina.
(C) Quantos sofrimentos nos custaram os males que nunca ocorreram.
(D) Todos os casos são únicos e iguais a outros.
(E) Como eu disse antes, eu nunca me repito.
14. FCC - 2022 - TRT - 14ª Região (RO e AC) - Analista Judiciário - Área Judiciária
O meu ofício
O meu ofício é escrever, e sei bem disso há muito tempo. Espero não ser mal-entendida: não sei nada
sobre o valor daquilo que posso escrever. Quando me ponho a escrever, sinto-me extraordinariamente à
vontade e me movo num elemento que tenho a impressão de conhecer extraordinariamente bem: utilizo ins-
trumentos que me são conhecidos e familiares e os sinto bem firmes em minhas mãos. Se faço qualquer ou-
tra coisa, se estudo uma língua estrangeira, se tento aprender história ou geografia, ou tricotar uma malha,
ou viajar, sofro e me pergunto como é que os outros conseguem fazer essas coisas. E tenho a impressão
de ser cega e surda como uma náusea dentro de mim.
Já quando escrevo nunca penso que talvez haja um modo mais correto, do qual os outros escritores se
servem. Não me importa nada o modo dos outros escritores. O fato é que só sei escrever histórias. Se tento
escrever um ensaio de crítica ou um artigo sob encomenda para um jornal, a coisa sai bem ruim. O que
escrevo nesses casos tenho de ir buscar fora de mim. E sempre tenho a sensação de enganar o próximo
com palavras tomadas de empréstimo ou furtadas aqui e ali.
Quando escrevo histórias, sou como alguém que está em seu país, nas ruas que conhece desde a in-
fância, entre as árvores e os muros que são seus. Este é o meu ofício, e o farei até a morte. Entre os cinco
e dez anos ainda tinha dúvidas e às vezes imaginava que podia pintar, ou conquistar países a cavalo, ou
inventar uma nova máquina. Mas a primeira coisa séria que fiz foi escrever um conto, um conto curto, de
cinco ou seis páginas: saiu de mim como um milagre, numa noite, e quando finalmente fui dormir estava
exausta, atônita, estupefata.
(Adaptado de: GINZBURG, Natalia. As pequenas virtudes. Trad. Maurício Santana Dias. São Paulo: Cosac
Naify, 2015, p, 72-77, passim)
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As normas de concordância verbal encontram-se plenamente observadas em:
(A) As palavras que a alguém ocorrem deitar no papel acabam por identificar o estilo mesmo de quem as
escreveu.
(B) Gaba-se a autora de que às palavras a que recorre nunca falta a espontaneidade dos bons escritos.
(C) Faltam às tarefas outras de que poderiam se incumbir a facilidade que encontra ela em escrever seus
textos.
(D) Os possíveis entraves para escrever um conto, revela a autora, logo se dissipou em sua primeira tenta-
tiva.
(E) Não haveria de surgir impulsos mais fortes, para essa escritora, do que os que a levaram a imaginar
histórias.
15. SELECON - 2019 - Prefeitura de Cuiabá - MT - Técnico em Nutrição Escolar- Considerando a regência
nominal e o emprego do acento grave, o trecho destacado em “inerentes a esta festa” está corretamente subs-
tituído em:
(A) inerentes à determinado momento
(B) inerentes à regras de convivência
(C) inerentes à regulamentos anteriores
(D) inerentes à evidência de incorreções
17. MPE-GO - 2022 - MPE-GO - Oficial de Promotoria - Edital nº 007- Sendo (C) para as assertivas corretas
e (E) para as erradas, assinale a alternativa com a sequência certa considerando a observância das normas da
língua portuguesa:
( ) O futebol é um esporte de que o povo gosta.
( ) Visitei a cidade onde você nasceu.
( ) É perigoso o local a que você se dirige.
( ) Tenho uma coleção de quadros pela qual já me ofereceram milhões.
(A) E – E – E – C
(B) C – C – C – E
(C) C – E – E – E
(D) C – C – C – C
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18. FADCT - 2022 - Prefeitura de Ibema - PR - Assistente Administrativo- A frase “ O estudante foi convidado
para assistir os debates políticos.” apresenta, de acordo com a norma padrão da Língua portuguesa, um desvio
de:
(A) Concordância nominal.
(B) Concordância verbal.
(C) Regência verbal.
(D) Regência nominal
80
pois por vezes um ponto que deveria ser descartado é inserido em uma lógica apenas por ser chamativo. E
outro, ao contrário, deveria ser considerado, mas é menosprezado, pois à primeira vista não atendeu a um
pressuposto.
Essas interpretações podem provocar outras tragédias além de acidentes de carro.
Disponível em:<https://www1.folha.uol.com.br>. Acesso em: 20 abr. 2019. (texto adaptado)
No trecho “[...]poderemos assistir à queda de um deles.”, a ocorrência do acento grave é justificada
(A) pela exigência de artigo do termo regente, que é um verbo, e pela exigência de preposição do termo
regido, que é um nome.
(B) pela exigência de preposição do termo regente, que é um nome, e pela exigência de artigo do termo
regido, que é um verbo.
(C) pela exigência de artigo do termo regente, que é um nome, e pela exigência de artigo do termo regido,
que é um verbo.
(D) pela exigência de preposição do termo regente, que é um verbo, e pela exigência de artigo do termo
regido, que é um nome.
81
Assim, seguindo a regra gramatical acerca da crase, assinale a alternativa em que há o emprego da crase
indevidamente:
(A) cara a cara; às ocultas; à procura.
(B) face a face; às pressas; à deriva.
(C) à frente; à direita; às vezes.
(D) à tarde; à sombra de; a exceção de.
82
1 – Variações históricas.
2 – Variações geográficas.
3 – Variações sociais.
4 – Variações estilísticas
COLUNA II
( ) Condicionam a existência de, pelo menos dois estados sucessivos de uso da língua: a substituta e a
substituída.
( ) A língua sofre influências dos ambientes em que ela é aprendida e utilizada e apresenta padrões de uso
da língua.
( ) A língua serve às situações de comunicação das quais o sujeito participa, revelando diferenças notáveis.
( ) É decorrente da extensão da comunidade linguística, traduzida na forma de pronunciar alguns fonemas,
nas construções sintáticas e nas escolhas vocabulares.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA.
(A) 1, 4, 2, 3
(B) 4, 2, 1, 3
(C) 1, 2, 3, 4
(D) 3, 1, 4, 2
83
(C) C – E – E – C – E
(D) C – E – C – E – C
Gabarito
1 D
2 A
3 D
4 A
5 A
6 C
7 A
8 E
9 A
10 E
11 CERTO
12 B
13 D
14 B
15 D
16 B
17 D
18 C
19 D
20 D
21 B
22 D
23 A
24 B
25 A
84
SES-MT
Comum aos cargos de nível Superior e Especialista
Raciocínio Lógico-matemático
Raciocínio Lógico-matemático
Proposições, conectivos; Estrutura lógica de relações arbitrárias entre pessoas, luga-
res, objetos ou eventos fictícios;.................................................................................... 1
Equivalências lógicas, ................................................................................................... 2
Quantificadores.............................................................................................................. 8
Predicados..................................................................................................................... 10
Conjuntos e suas operações,......................................................................................... 11
Diagramas. .................................................................................................................... 15
Números inteiros, racionais e reais e suas operações,.................................................. 18
Porcentagem. ................................................................................................................ 31
Proporcionalidade direta e inversa. ............................................................................... 33
Medidas de comprimento, área, volume, massa e tempo.............................................. 37
Dedução de novas informações das relações fornecidas e avaliação das condições
usadas para estabelecer a estrutura daquelas relações................................................ 43
Compreensão e análise da lógica de uma situação, utilizando as funções intelectuais:
raciocínio verbal, raciocínio matemático, raciocínio sequencial, reconhecimento de pa-
drões, orientação espacial e temporal,.......................................................................... 52
Formação de conceitos, discriminação de elementos Compreensão de dados apre-
sentados em gráficos e tabelas...................................................................................... 57
Problemas de lógica e raciocínio................................................................................... 62
Problemas de contagem e noções de probabilidade. ................................................... 62
Geometria básica: ângulos, triângulos, polígonos, distâncias, proporcionalidade, perí-
metro e área................................................................................................................... 68
Noções de estatística: média, moda, mediana e desvio padrão.................................... 76
Exercícios....................................................................................................................... 79
Gabarito.......................................................................................................................... 87
Proposições, conectivos; Estrutura lógica de relações arbitrárias entre pessoas, luga-
res, objetos ou eventos fictícios
Raciocínio lógico é o modo de pensamento que elenca hipóteses, a partir delas, é possível relacionar
resultados, obter conclusões e, por fim, chegar a um resultado final.
Mas nem todo caminho é certeiro, sendo assim, certas estruturas foram organizadas de modo a analisar a
estrutura da lógica, para poder justamente determinar um modo, para que o caminho traçado não seja o errado.
Veremos que há diversas estruturas para isso, que se organizam de maneira matemática.
A estrutura mais importante são as proposições.
Proposição: declaração ou sentença, que pode ser verdadeira ou falsa.
Ex.: Carlos é professor.
As proposições podem assumir dois aspectos, verdadeiro ou falso. No exemplo acima, caso Carlos seja
professor, a proposição é verdadeira. Se fosse ao contrário, ela seria falsa.
Importante notar que a proposição deve afirmar algo, acompanhado de um verbo (é, fez, não notou e etc).
Caso a nossa frase seja “Brasil e Argentina”, nada está sendo afirmado, logo, a frase não é uma proposição.
Há também o caso de certas frases que podem ser ou não proposições, dependendo do contexto. A frase
“N>3” só pode ser classificada como verdadeira ou falsa caso tenhamos algumas informações sobre N, caso
contrário, nada pode ser afirmado. Nestes casos, chamamos estas frases de sentenças abertas, devido ao seu
caráter imperativo.
O processo matemático em volta do raciocínio lógico nos permite deduzir diversas relações entre declarações,
assim, iremos utilizar alguns símbolos e letras de forma a exprimir estes encadeamentos.
As proposições podem ser substituídas por letras minúsculas (p.ex.: a, b, p, q, …)
Seja a proposição p: Carlos é professor
Uma outra proposição q: A moeda do Brasil é o Real
É importante lembrar que nosso intuito aqui é ver se a proposição se classifica como verdadeira ou falsa.
Podemos obter novas proposições relacionando-as entre si. Por exemplo, podemos juntar as proposições p
e q acima obtendo uma única proposição “Carlos é professor e a moeda do Brasil é o Real”.
Nos próximos exemplos, veremos como relacionar uma ou mais proposições através de conectivos.
Existem cinco conectivos fundamentais, são eles:
^: e (aditivo) conjunção
Posso escrever “Carlos é professor e a moeda do Brasil é o Real”, posso escrever p ^ q.
v: ou (um ou outro) ou disjunção
p v q: Carlos é professor ou a moeda do Brasil é o Real
: “ou” exclusivo (este ou aquele, mas não ambos) ou disjunção exclusiva (repare o ponto acima do conec-
tivo).
p v q: Ou Carlos é professor ou a moeda do Brasil é o Real (mas nunca ambos)
¬ ou ~: negação
~p: Carlos não é professor
->: implicação ou condicional (se… então…)
p -> q: Se Carlos é professor, então a moeda do Brasil é o Real
⇔: Se, e somente se (ou bi implicação) (bicondicional)
1
p ⇔ q: Carlos é professor se, e somente se, a moeda do Brasil é o Real
Vemos que, mesmo tratando de letras e símbolos, estas estruturas se baseiam totalmente na nossa lingua-
gem, o que torna mais natural decifrar esta simbologia.
Por fim, a lógica tradicional segue três princípios. Podem parecer princípios tolos, por serem óbvios, mas
pensemos aqui, que estamos estabelecendo as regras do nosso jogo, então é primordial que tudo esteja extre-
mamente estabelecido.
1 – Princípio da Identidade
p=p
Literalmente, estamos afirmando que uma proposição é igual (ou equivalente) a ela mesma.
2 – Princípio da Não contradição
p=qvp≠q
Estamos estabelecendo que apenas uma coisa pode acontecer às nossas proposições. Ou elas são iguais
ou são diferentes, ou seja, não podemos ter que uma proposição igual e diferente a outra ao mesmo tempo.
3 – Princípio do Terceiro excluído
pv¬p
Por fim, estabelecemos que uma proposição ou é verdadeira ou é falsa, não havendo mais nenhuma opção,
ou seja, excluindo uma nova (como são duas, uma terceira) opção).
DICA: Vimos então as principais estruturas lógicas, como lidamos com elas e quais as regras para jogarmos
este jogo. Então, escreva várias frases, julgue se são proposições ou não e depois tente traduzi-las para a lin-
guagem simbólica que aprendemos.
Equivalências lógicas,
Definição: Duas ou mais proposições compostas são equivalentes, mesmo possuindo fórmulas (ou estruturas
lógicas) diferentes, quando apresentarem a mesma solução em suas respectivas tabelas verdade.
Se as proposições P e Q são ambas TAUTOLOGIAS, ou então, são CONTRADIÇÕES, então são
EQUIVALENTES.
Exemplo:
Dada as proposições “~p → q” e “p v q” verificar se elas são equivalentes.
Vamos montar a tabela verdade para sabermos se elas são equivalentes.
p q ~p → q p v q
V V F V V V V V
V F F V F V V F
F V V V V F V V
F F V F F F F F
Observamos que as proposições compostas “~p → q” e “p ∨ q” são equivalentes.
~p → q ≡ p ∨ q ou ~p → q ⇔ p ∨ q, onde “≡” e “⇔” são os símbolos que representam a equivalência entre
proposições.
— Equivalências fundamentais
1 – Simetria (equivalência por simetria)
A–p^q⇔q^p
2
p q p ^ q q ^ p
V V V V V V V V
V F V F F F F V
F V F F V V F F
F F F F F F F F
B–pvq⇔qvp
p q p v q q v p
V V V V V V V V
V F V V F F V V
F V F V V V V F
F F F F F F F F
C–p∨q⇔q∨p
p q p v q q v p
V V V F V V F V
V F V V F F V V
F V F V V V V F
F F F F F F F F
D–p↔q⇔q↔p
p q p ↔ q q ↔ p
V V V V V V V V
V F V F F F F V
F V F F V V F F
F F F V F F V F
2 – Reflexiva (equivalência por reflexão)
p→p⇔p→p
p p p → p p → p
V V V V V V V V
F F F V F F V F
3 – Transitiva
Se P(p,q,r,...) ⇔ Q(p,q,r,...) E
Q(p,q,r,...) ⇔ R(p,q,r,...) ENTÃO
P(p,q,r,...) ⇔ R(p,q,r,...) .
— Equivalências notáveis
1 – Distribuição (equivalência pela distributiva)
A – p ∧ (q ∨ r) ⇔ (p ∧ q) ∨ (p ∧ r)
p q r p ^ (q v r) (p ^ q) v (p ^ r)
V V V V V V V V V V V V V V V
V V F V V V V F V V V V V F F
V F V V V F V V V F F V V V V
V F F V F F F F V F F F V F F
3
F V V F F V V V F F V F F F V
F V F F F V V F F F V F F F F
F F V F F F V V F F F F F F V
F F F F F F F F F F F F F F F
B – p ∨ (q ∧ r) ⇔ (p ∨ q) ∧ (p ∨ r)
p q r p v (q ^ r) (p v q) ^ (p v r)
V V V V V V V V V V V V V V V
V V F V V V F F V V V V V V F
V F V V V F F V V V F V V V V
V F F V V F F F V V F V V V F
F V V F V V V V F V V V F V V
F V F F F V F F F V V F F F F
F F V F F F F V F F F F F V V
F F F F F F F F F F F F F F F
2 – Associação (equivalência pela associativa)
A – p ∧ (q ∧ r) ⇔ (p ∧ q) ∧ (p ∧ r)
p q r p ^ (q ^ r) (p ^ q) ^ (p ^ r)
V V V V V V V V V V V V V V V
V V F V F V F F V V V F V F F
V F V V F F F V V F F F V V V
V F F V F F F F V F F F V F F
F V V F F V V V F F V F F F V
F V F F F V F F F F V F F F F
F F V F F F F V F F F F F F V
F F F F F F F F F F F F F F F
B – p ∨ (q ∨ r) ⇔ (p ∨ q) ∨ (p ∨ r)
p q r p v (q v r) (p v q) v (p v r)
V V V V V V V V V V V V V V V
V V F V V V V F V V V V V V F
V F V V V F V V V V F V V V V
V F F V V F F F V V F V V V F
F V V F V V V V F V V V F V V
F V F F V V V F F V V V F F F
F F V F V F V V F F F V F V V
F F F F F F F F F F F F F F F
3 – Idempotência
A – p ⇔ (p ∧ p)
p p p ^ p
V V V V V
F F F F F
4
B – p ⇔ (p ∨ p)
p p p v p
V V V V V
F F F F F
4 – Pela contraposição: de uma condicional gera-se outra condicional equivalente à primeira, apenas
invertendo-se e negando-se as proposições simples que as compõem.
1º caso – (p → q) ⇔ (~q → ~p)
p q p → q ~q → ~p
V V V V V F V F
V F V F F V F F
F V F V V F V V
F F F V F V V V
Exemplo:
p → q: Se André é professor, então é pobre.
~q → ~p: Se André não é pobre, então não é professor.
2º caso: (~p → q) ⇔ (~q → p)
p q ~p → q ~q → p
V V F V V F V V
V F F V F V V V
F V V V V F V F
F F V F F V F F
Exemplo:
~p → q: Se André não é professor, então é pobre.
~q → p: Se André não é pobre, então é professor.
3º caso: (p → ~q) ⇔ (q → ~p)
p q p → ~q q → ~p
V V V F F V F F
V F V V V F V F
F V F V F V V V
F F F V V F V V
Exemplo:
p → ~q: Se André é professor, então não é pobre.
q → ~p: Se André é pobre, então não é professor.
4 º Caso: (p → q) ⇔ ~p v q
p q p → q ~p v q
V V V V V F V V
V F V F F F F F
F V F V V V V V
F F F V F V V F
5
Exemplo:
p → q: Se estudo, então passo no concurso.
~p v q: Não estudo ou passo no concurso.
5 – Pela bicondicional
A – (p ↔ q) ⇔ (p → q) ∧ (q → p), por definição
p q p ↔ q (p → q) ^ (q → p)
V V V V V V V V V V V V
V F V F F V F F F F V V
F V F F V F V V F V F F
F F F V F F V F V F V F
B – (p ↔ q) ⇔ (~q → ~p) ∧ (~p → ~q), aplicando-se a contrapositiva às partes
p q p ↔ q (p ^ q) v ^ ~q)
V V V V V V V V V F F F
V F V F F V F F F F F V
F V F F V F F V F V F F
F F F V F F F F V V V V
6 – Pela exportação-importação
[(p ∧ q) → r] ⇔ [p → (q → r)]
p q r [(p ^ q) → r] [p → (q → r)]
V V V V V V V V V V V V V
V V F V V V F F V F V F F
V F V V F F V V V V F V V
V F F V F F V F V V F V F
F V V F F V V V F V V V V
F V F F F V V F F V V F F
F F V F F F V V F V F V V
F F F F F F V F F V F V F
— Proposições Associadas a uma Condicional (se, então)
Chama-se proposições associadas a p → q as três proposições condicionadas que contêm p e q:
– Proposições recíprocas: p → q: q → p
– Proposição contrária: p → q: ~p → ~q
– Proposição contrapositiva: p → q: ~q → ~p
Observe a tabela verdade dessas quatro proposições:
6
p q p q →p ~p →~q ~q →~p
→q
V V V V V V
V F F V V F
F V V F F V
F F V V V V
Note que:
Observamos ainda que a condicional p → q e a sua recíproca q → p ou a sua contrária ~p → ~q NÃO SÃO
EQUIVALENTES.
Exemplos:
p → q: Se T é equilátero, então T é isósceles. (V)
q → p: Se T é isósceles, então T é equilátero. (F)
Exemplo:
Vamos determinar:
A – A contrapositiva de p → q
B – A contrapositiva da recíproca de p → q
C – A contrapositiva da contrária de p → q
Resolução:
A – A contrapositiva de p → q é ~q → ~p
A contrapositiva de ~q → ~p é ~~p → ~~q ⇔ p → q
B – A recíproca de p → q é q → p
A contrapositiva q → q é ~p → ~q
C – A contrária de p → q é ~p → ~q
A contrapositiva de ~p → ~q é q → p
7
— Equivalência “NENHUM” e “TODO”
1 – NENHUM A é B ⇔ TODO A é não B.
Exemplo:
Nenhum médico é tenista ⇔ Todo médico é não tenista (= Todo médico não é tenista).
2 – TODO A é B ⇔ NENHUM A é não B.
Exemplo:
Toda música é bela ⇔ Nenhuma música é não bela (= Nenhuma música é bela).
Referências
ALENCAR FILHO, Edgar de. Iniciação a lógica matemática. São Paulo: Nobel – 2002.
CABRAL, Luiz Cláudio Durão; NUNES, Mauro César de Abreu. Raciocínio lógico passo a passo. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2013
Quantificadores
Quantificador
É um termo utilizado para quantificar uma expressão. Os quantificadores são utilizados para transformar
uma sentença aberta ou proposição aberta em uma proposição lógica.
Exemplo:
Todo homem é mortal.
A conclusão dessa afirmação é: se você é homem, então será mortal.
Na representação do diagrama lógico, seria:
8
A forma simbólica da expressão “Todo A é B” é a expressão (∀ (x) (A (x) → B).
Observe que a palavra todo representa uma relação de inclusão de conjuntos, por isso está associada ao
operador da condicional.
Aplicando temos:
x + 2 = 5 é uma sentença aberta. Agora, se escrevermos da forma ∀ (x) ∈ N / x + 2 = 5 ( lê-se: para todo
pertencente a N temos x + 2 = 5), atribuindo qualquer valor a x a sentença será verdadeira?
A resposta é NÃO, pois depois de colocarmos o quantificador, a frase passa a possuir sujeito e predicado
definidos e podemos julgar, logo, é uma proposição lógica.
• Quantificador existencial (∃)
O símbolo ∃ pode ser lido das seguintes formas:
Exemplo:
“Algum matemático é filósofo.” O diagrama lógico dessa frase é:
O quantificador existencial tem a função de elemento comum. A palavra algum, do ponto de vista lógico,
representa termos comuns, por isso “Algum A é B” possui a seguinte forma simbólica: (∃ (x)) (A (x) ∧ B).
Aplicando temos:
x + 2 = 5 é uma sentença aberta. Escrevendo da forma (∃ x) ∈ N / x + 2 = 5 (lê-se: existe pelo menos um x
pertencente a N tal que x + 2 = 5), atribuindo um valor que, colocado no lugar de x, a sentença será verdadeira?
A resposta é SIM, pois depois de colocarmos o quantificador, a frase passou a possuir sujeito e predicado
definidos e podemos julgar, logo, é uma proposição lógica.
ATENÇÃO:
– A palavra todo não permite inversão dos termos: “Todo A é B” é diferente de “Todo B é A”.
– A palavra algum permite a inversão dos termos: “Algum A é B” é a mesma coisa que “Algum B é A”.
Forma simbólica dos quantificadores
Todo A é B = (∀ (x) (A (x) → B).
Algum A é B = (∃ (x)) (A (x) ∧ B).
Nenhum A é B = (~ ∃ (x)) (A (x) ∧ B).
Algum A não é B= (∃ (x)) (A (x) ∧ ~ B).
Exemplos:
Todo cavalo é um animal. Logo,
(A) Toda cabeça de animal é cabeça de cavalo.
(B) Toda cabeça de cavalo é cabeça de animal.
(C) Todo animal é cavalo.
9
(D) Nenhum animal é cavalo.
Resolução:
A frase “Todo cavalo é um animal” possui as seguintes conclusões:
– Algum animal é cavalo ou Algum cavalo é um animal.
– Se é cavalo, então é um animal.
Nesse caso, nossa resposta é toda cabeça de cavalo é cabeça de animal, pois mantém a relação de “está
contido” (segunda forma de conclusão).
Resposta: B
(CESPE) Se R é o conjunto dos números reais, então a proposição (∀ x) (x ∈ R) (∃ y) (y ∈ R) (x + y = x) é
valorada como V.
Resolução:
Lemos: para todo x pertencente ao conjunto dos números reais (R) existe um y pertencente ao conjunto dos
números dos reais (R) tal que x + y = x.
– 1º passo: observar os quantificadores.
X está relacionado com o quantificador universal, logo, todos os valores de x devem satisfazer a propriedade.
Y está relacionado com o quantificador existencial, logo, é necessário pelo menos um valor de x para satis-
fazer a propriedade.
– 2º passo: observar os conjuntos dos números dos elementos x e y.
O elemento x pertence ao conjunto dos números reais.
O elemento y pertence ao conjunto os números reais.
– 3º passo: resolver a propriedade (x+ y = x).
A pergunta: existe algum valor real para y tal que x + y = x?
Existe sim! y = 0.
X + 0 = X.
Como existe pelo menos um valor para y e qualquer valor de x somado a 0 será igual a x, podemos concluir
que o item está correto.
Resposta: CERTO
Predicados.
Uma certa evolução de uma lógica sentencial é a lógica de primeira ordem ou lógica de predicados, onde
além dos conectivos, estão presente os quantificadores (com expressões como qualquer e algum, por exem-
plo)1.
Esta forma de raciocinar segue os mesmos preceitos que a lógica com conectivos (e, ou, ou exclusivo, im-
plicação, …), tendo também novos símbolos, que são:
∀: qualquer, todo
∀x(A(x) -> B(x))
Para todo elemento, se pertence a A, pertence a B.
∃: existe, algum, pelo menos um
∃x(A(x)^B(X): existe elemento que pertence a A e a B
1 Dizemos que a lógica de primeira ordem é uma extensão da lógica sentencial.
10
∄: Não existe, nenhum
Nenhum A é B = Todo A é não B
A negativa de tais estruturas não são tão diretas como às apresentadas nas Leis de Morgan. A negativa de
∃ (existe,) é ∄ (não existe), mas a negativa de ∄ pode ser ∃ ou ∀ (para todo), assim como a negativa de ∀ pode
ser tanto ∃ e ∄, por isso, cada caso deve ser analisado atentamente.
Tendo elencado estas novas estruturas, basta construirmos tabelas verdade com elas, para resolvermos
questões.
Repare que agora estamos trabalhando não só com o aspecto verdadeiro/falso mas com a ideia de quanti-
dade (existe um, todo, nenhum), então nosso estudo das afirmações devem levar em consideração estas novas
peculiaridades.
Um conteúdo matemático comum de ser associado com a temática da lógica é a Teoria de Conjuntos. Vere-
mos que podemos estabelecer diversas relações entre os temas, enriquecendo ainda mais nosso repertório de
abordagem para as questões. Mas primeiro devemos entender do que se trata um conjunto.
Um conjunto é uma coleção de objetos quaisquer. Podem ou não seguir alguma lógica para se formarem.
Podemos elencar um conjunto através de enumerar seus objetos (um conjunto formado por parafuso, prego
e uma chave de fenda), ou a partir de uma “lei” (conjunto de ferramentas que tenho em casa: chave de fenda,
furadeira, chave inglesa, entre outras). Além disso, cada um desses objetos pertencentes a um conjunto iremos
chamar de elemento. Assim, um conjunto é formado por uma coleção de elementos.
Iremos chamar os conjuntos através de letras maiúsculas (A, B, C, X, Y, Z, …), enquanto que seus elementos
por letras minúsculas (a, b, c, …).
Fonte: autor
Podemos listar que Pedra, Rubi, Esmeralda, Pérola e Diamante pertencem a esse conjunto A, enquanto
Pente, Jeans e Acerola não pertencem.
Simbolicamente, podemos definir o conjunto A enumerando seus elementos da seguinte forma:
A = {Pedra; Rubi; Esmeralda; Diamante; Pérola}.
Podemos ter também subconjuntos, ou seja, um conjunto dentro de outro. Se criássemos um conjunto onde
seus elementos são alimentos amarelos, poderíamos agrupar seus elementos e obter um subconjunto com
frutas amarelas.
11
Fonte: Autor
Neste caso, dizemos que o conjunto E é um subconjunto do conjunto D.
Dessa forma, dizemos que um conjunto X está contido em outro Y quando todos seus elementos de Y tam-
bém são elementos de X, mas o contrário não vale (no nosso exemplo, abacaxi e maracujá fazem parte de D,
mas milho e quindim não fazem parte de E).
Para tudo isso que vimos, há uma simbologia apropriada. Para indicar que um elemento está no conjunto
(que pertence ao conjunto) utilizamos o signo ∈, quando ele não está no conjunto (quando não pertence), utili-
zamos o mesmo sinal, mas cortado, ∉.
Pedra ∈ A (o elemento Pedra pertence ao conjunto A)
Jeans ∉ A (o elemento Jeans não pertence ao conjunto A)
Quindim ∉ D
Quindim ∉ E
E além de elementos, podemos fazer o mesmo para conjuntos, através dos símbolos ⊂ (contido), ⊄ (não
contido), ⊃ (contém) e ⊅ (não contém).
D ⊃ E (o conjunto D contém o subconjunto E)
E ⊂ D (o conjunto E está contido em D)
A ⊅ D (o conjunto A não contém o conjunto D)
D ⊄ E (o conjunto D não está contido no conjunto E)
Repare que os símbolos são muito próximos, sempre voltados ao “conjunto principal” que se referem. Mais
uma vez, tanto os símbolos de pertencimento quanto os de contenção fazem alusão a linguagem oral.
Além destes símbolos, temos também outros que, tais quais os conectivos lógicos, se assemelham a certas
estruturas, são eles: união, intersecção e diferença.
União (∪)
É a “soma” entre dois ou mais conjuntos, unindo-os.
G = conjunto dos números pares
F= conjunto dos números menores que 10
G ∪ F = {1; 2; 3; 4; 5; 6; 7; 8; 9; 10; 12; 14; 16; 18; …}
12
Fonte: Autor
Representação da união entre conjuntos
Intersecção (∩)
São os elementos comuns entre os conjuntos (há nos dois ao mesmo tempo)
G = conjunto dos números pares
F= conjunto dos números menores que 10
G ∩ F = {2; 4; 6; 8}
Fonte: autor
Representação da intersecção entre conjuntos
Diferença ( — )
São os elementos que um conjunto não tem em comum com outro. Nos nossos exemplos, G — F seria pen-
sar o que há em G que não há em F?, assim como F — G seria o que há em F que não há em G?
G = conjunto dos números pares
F= conjunto dos números menores que 10
G — F = {10; 12; 14; 16; 18; …}
F — G = {1; 3; 5; 7; 9}
Ou seja, em G — F, tirei os elementos de F de G (tirei os números menores que 10 do conjunto de todos os
números pares, tirando assim os números 2; 4; 6 e 8.
13
Fonte: autor
À esquerda temos a representação de G-F, enquanto que à direita temos F-G.
Um tipo específico de conjuntos são os conjuntos numéricos, conjuntos os quais seus elementos são núme-
ros (conjunto dos números pares, conjunto dos números inteiros).
Os principais conjuntos numéricos são:
Conjunto dos números naturais - números positivos
ℕ = {0; 1; 2; 3; 4; 5; 6; …)
Conjunto dos números inteiros - números positivos e negativos
ℤ = {...; -3; -2; -1; 0; 1; 2; 3; …}
Conjunto dos números racionais - números que podem ser escritos como uma fração (razão), ou seja,
números com vírgulas, dízimas periódicas, números inteiros.
ℚ = {...; -½; …; -0,25; …; 0; 3; 0,222222222222…; …}
Conjunto dos números irracionais - números que não podem ser escritos como uma fração, ou seja, números
que resultam em dízimas não periódicas.
𝕀 = {...; √ 2; π; 7,135794613…; …}
Conjunto dos números reais - união entre o conjunto dos números racionais e dos números irracionais.
ℝ=𝕀∪ℚ
Interessante notar que estamos aumentando o escopo dos conjuntos numéricos, podendo assim fazer a
seguinte representação por diagrama destes conjuntos todos:
Fonte: Autor
Vimos então o quão prático é a representação de conjuntos através de diagramas, fazendo ficar muito mais
intuitivo as operações e estabelecer relações entre os elementos e os subconjuntos devido ao apelo visual.
Por fim, iremos ver uma equação que nos será muito útil para contar elementos de um conjunto quando
ocorre uma união:
A∪B=A+B-A∩B
Lemos esta expressão como o número de elementos da união entre A e B (A ∪ B) é igual a soma do número
de elemento de A com o número de elementos de B - a intersecção entre A e B (A ∩ B).
Pode parecer complicada esta equação, mas pense assim. Quando somo os elementos de A com os de B,
pode ser que existam elementos repetidos entre estes conjuntos, estes elementos repetidos são justamente a
intersecção. Quando a tiramos, tiramos esta repetição e obtemos então o número exato de elementos da união
entre A e B.
14
Diagramas
Os diagramas lógicos são usados na resolução de vários problemas. É uma ferramenta para resolver-
mos problemas que envolvam argumentos dedutivos, as quais as premissas deste argumento podem ser
formadas por proposições categóricas.
ATENÇÃO: É bom ter um conhecimento sobre conjuntos para conseguir resolver questões que envol-
vam os diagramas lógicos.
Vejamos a tabela abaixo as proposições categóricas:
TODO
A
AéB
NENHUM
E
AéB
15
ALGUM
O
A NÃO é B
Perceba-se que, nesta sentença, a atenção está sobre o(s) elemento (s) de A que não
são B (enquanto que, no “Algum A é B”, a atenção estava sobre os que eram B, ou
seja, na intercessão).
Temos também no segundo caso, a diferença entre conjuntos, que forma o conjunto
A-B
Exemplo:
(GDF–ANALISTA DE ATIVIDADES CULTURAIS ADMINISTRAÇÃO – IADES) Considere as proposições:
“todo cinema é uma casa de cultura”, “existem teatros que não são cinemas” e “algum teatro é casa de
cultura”. Logo, é correto afirmar que
(A) existem cinemas que não são teatros.
(B) existe teatro que não é casa de cultura.
(C) alguma casa de cultura que não é cinema é teatro.
(D) existe casa de cultura que não é cinema.
(E) todo teatro que não é casa de cultura não é cinema.
Resolução:
Vamos chamar de:
Cinema = C
Casa de Cultura = CC
Teatro = T
Analisando as proposições temos:
- Todo cinema é uma casa de cultura
16
- Algum teatro é casa de cultura
(B) existe teatro que não é casa de cultura. – Errado, pelo mesmo princípio acima.
(C) alguma casa de cultura que não é cinema é teatro. – Errado, a primeira proposição já nos afirma o
contrário. O diagrama nos afirma isso
(D) existe casa de cultura que não é cinema. – Errado, a justificativa é observada no diagrama da alter-
nativa anterior.
(E) todo teatro que não é casa de cultura não é cinema. – Correta, que podemos observar no diagrama
abaixo, uma vez que todo cinema é casa de cultura. Se o teatro não é casa de cultura também não é ci-
nema.
17
Números inteiros, racionais e reais e suas operações
NÚMEROS INTEIROS
Definimos o conjunto dos números inteiros2 como a reunião do conjunto dos números naturais N = {0, 1,
2, 3, 4,..., n,...}, o conjunto dos opostos dos números naturais e o zero. Este conjunto é denotado pela letra Z
(Zahlen = número em alemão).
18
Z_ = {..., -5, -4, -3, -2, -1, 0}
- O conjunto dos números inteiros negativos:
Z*- = {..., -5, -4, -3, -2, -1}
Módulo: chama-se módulo de um número inteiro a distância ou afastamento desse número até o zero, na
reta numérica inteira. Representa-se o módulo por | |.
O módulo de 0 é 0 e indica-se |0| = 0
O módulo de +7 é 7 e indica-se |+7| = 7
O módulo de –9 é 9 e indica-se |–9| = 9
O módulo de qualquer número inteiro, diferente de zero, é sempre positivo.
Números Opostos: Dois números inteiros são ditos opostos um do outro quando apresentam soma zero;
assim, os pontos que os representam distam igualmente da origem.
Exemplo: O oposto do número 3 é -3, e o oposto de -3 é 3, pois 3 + (-3) = (-3) + 3 = 0
No geral, dizemos que o oposto, ou simétrico, de a é – a, e vice-versa; particularmente o oposto de zero é
o próprio zero.
19
1 - Na segunda-feira, a temperatura de Monte Sião passou de +3 graus para +6 graus. Qual foi a variação
da temperatura?
Esse fato pode ser representado pela subtração: (+6) – (+3) = +3
2 - Na terça-feira, a temperatura de Monte Sião, durante o dia, era de +6 graus. À Noite, a temperatura bai-
xou de 3 graus. Qual a temperatura registrada na noite de terça-feira?
Esse fato pode ser representado pela adição: (+6) + (–3) = +3
Se compararmos as duas igualdades, verificamos que (+6) – (+3) é o mesmo que (+6) + (–3).
Temos:
(+6) – (+3) = (+6) + (–3) = +3
(+3) – (+6) = (+3) + (–6) = –3
(–6) – (–3) = (–6) + (+3) = –3
Daí podemos afirmar: Subtrair dois números inteiros é o mesmo que adicionar o primeiro com o oposto do
segundo.
Fique Atento: todos parênteses, colchetes, chaves, números, ..., entre outros, precedidos de sinal negativo,
tem o seu sinal invertido, ou seja, é dado o seu oposto.
Ex.:
10 – (10+5) =
10 – (+15) =
10 – 15 =
-5
Multiplicação de Números Inteiros
A multiplicação funciona como uma forma simplificada de uma adição quando os números são repetidos.
Poderíamos analisar tal situação como o fato de estarmos ganhando repetidamente alguma quantidade, como
por exemplo, ganhar 1 objeto por 30 vezes consecutivas, significa ganhar 30 objetos e esta repetição pode ser
indicada por um x, isto é: 1 + 1 + 1 ... + 1 + 1 = 30 x 1 = 30
Se trocarmos o número 1 pelo número 2, obteremos: 2 + 2 + 2 + ... + 2 + 2 = 30 x 2 = 60
Se trocarmos o número 2 pelo número -2, obteremos: (–2) + (–2) + ... + (–2) = 30 x (-2) = –60
Na multiplicação o produto dos números a e b, pode ser indicado por a x b, a . b ou ainda ab sem nenhum
sinal entre as letras.
Divisão de Números Inteiros
20
Exemplo: (+7) : (–2) ou (–19) : (–5) são divisões que não podem ser realizadas em Z, pois o resultado não
é um número inteiro.
- No conjunto Z, a divisão não é comutativa, não é associativa e não tem a propriedade da existência do
elemento neutro.
- Não existe divisão por zero.
- Zero dividido por qualquer número inteiro, diferente de zero, é zero, pois o produto de qualquer número
inteiro por zero é igual a zero.
Exemplo: 0 : (–10) = 0 b) 0 : (+6) = 0 c) 0 : (–1) = 0
Regra de Sinais da Multiplicação e Divisão
→ Sinais iguais (+) (+); (-) (-) = resultado sempre positivo.
→ Sinais diferentes (+) (-); (-) (+) = resultado sempre negativo.
Potenciação de Números Inteiros
A potência xn do número inteiro a, é definida como um produto de n fatores iguais. O número x é denominado
a base e o número n é o expoente. xn = x . x . x . x ... x, x é multiplicado por x, n vezes.
Exemplos:
33 = (3) x (3) x (3) = 27
(-5)5 = (-5) x (-5) x (-5) x (-5) x (-5) = -3125
(-7)² = (-7) x (-7) = 49
(+9)² = (+9) x (+9) = 81
- Toda potência de base positiva é um número inteiro positivo.
Exemplo: (+3)2 = (+3) . (+3) = +9
- Toda potência de base negativa e expoente par é um número inteiro positivo.
Exemplo: (–8)2 = (–8) . (–8) = +64
- Toda potência de base negativa e expoente ímpar é um número inteiro negativo.
Exemplo: (–5)3 = (–5) . (–5) . (–5) = –125
- Propriedades da Potenciação:
1) Produtos de Potências com bases iguais: Conserva-se a base e somam-se os expoentes.
(–7)3 . (–7)6 = (–7)3+6 = (–7)9
2) Quocientes de Potências com bases iguais: Conserva-se a base e subtraem-se os expoentes.
(-13)8 : (-13)6 = (-13)8 – 6 = (-13)2
3) Potência de Potência: Conserva-se a base e multiplicam-se os expoentes.
[(-8)5]2 = (-8)5 . 2 = (-8)10
4) Potência de expoente 1: É sempre igual à base.
(-8)1 = -8 e (+70)1 = +70
21
5) Potência de expoente zero e base diferente de zero: É igual a 1.
(+3)0 = 1 e (–53)0 = 1
Radiciação de Números Inteiros
A raiz n-ésima (de ordem n) de um número inteiro x é a operação que resulta em outro número inteiro não
negativo b que elevado à potência n fornece o número x. O número n é o índice da raiz enquanto que o número
x é o radicando (que fica sob o sinal do radical).
=b
bn = x
A raiz quadrada (de ordem 2) de um número inteiro x é a operação que resulta em outro número inteiro não
negativo que elevado ao quadrado coincide com o número x.
Atenção: Não existe a raiz quadrada de um número inteiro negativo no conjunto dos números inteiros.
Erro comum: Frequentemente lemos em materiais didáticos e até mesmo ocorre em algumas aulas apare-
cimento de:
Observamos que não existe um número inteiro não negativo que multiplicado por ele mesmo resulte em um
número negativo.
A raiz cúbica (de ordem 3) de um número inteiro x é a operação que resulta em outro número inteiro que
elevado ao cubo seja igual ao número x. Aqui não restringimos os nossos cálculos somente aos números não
negativos.
Exemplos:
(a)
3
8 = 2, pois 2³ = 8
(b)
3
−8 = –2, pois (–2)³ = -8
(c) − 27 = 3, pois 3³ = 27
3
(d)
3
− 27 = –3, pois (–3)³ = -27
Observação: Ao obedecer à regra dos sinais para o produto de números inteiros, concluímos que:
(1) Se o índice da raiz for par, não existe raiz de número inteiro negativo.
(2) Se o índice da raiz for ímpar, é possível extrair a raiz de qualquer número inteiro.
Propriedades da Adição e da Multiplicação dos números Inteiros
Para todo a, b e c
1) Associativa da adição: (a + b) + c = a + (b + c)
2) Comutativa da adição: a + b = b + a
3) Elemento neutro da adição: a + 0 = a
4) Elemento oposto da adição: a + (-a) = 0
5) Associativa da multiplicação: (a.b).c = a.(b.c)
6) Comutativa da multiplicação: a.b = b.a
7) Elemento neutro da multiplicação: a.1 = a
22
8) Distributiva da multiplicação relativamente à adição: a.(b + c) = ab + ac
9) Distributiva da multiplicação relativamente à subtração: a.(b – c) = ab – ac
Atenção: tanto a adição como a multiplicação de um número natural por outro número natural, continua como
resultado um número natural.
NÚMEROS RACIONAIS
m
n
Um número racional3 é o que pode ser escrito na forma , onde m e n são números inteiros, sendo que n
deve ser diferente de zero. Frequentemente utilizamos m/n para significar a divisão de m por n.
Como podemos observar, números racionais podem ser obtidos através da razão entre dois números intei-
ros, razão pela qual, o conjunto de todos os números racionais é denotado por Q. Assim, é comum encontrar-
mos na literatura a notação:
m
Q = { n : m e n em Z, n diferente de zero}
p
Tomemos um número racional q , tal que p não seja múltiplo de q. Para escrevê-lo na forma decimal, basta
efetuar a divisão do numerador pelo denominador.
Nessa divisão podem ocorrer dois casos:
1º - O numeral decimal obtido possui, após a vírgula, um número finito de algarismos. Decimais Exatos:
23
2º - O numeral decimal obtido possui, após a vírgula, infinitos algarismos (nem todos nulos), repetindo-se
periodicamente Decimais Periódicos ou Dízimas Periódicas:
Existem frações muito simples que são representadas por formas decimais infinitas, com uma característica
especial:
Aproveitando o exemplo acima temos 0,333... = 3. 1/101 + 3 . 1/102 + 3 . 1/103 + 3 . 1/104 ...
Representação Fracionária dos Números Decimais
Trata-se do problema inverso, estando o número racional escrito na forma decimal, procuremos escrevê-lo
na forma de fração. Temos dois casos:
1º Transformamos o número em uma fração cujo numerador é o número decimal sem a vírgula e o deno-
minador é composto pelo numeral 1, seguido de tantos zeros quantas forem as casas decimais do número
decimal dado:
2º Devemos achar a fração geratriz da dízima dada; para tanto, vamos apresentar o procedimento através
de alguns exemplos:
24
a) Seja a dízima 0, 333...
Veja que o período que se repete é apenas 1(formado pelo 3) • então vamos colocar um 9 no denominador
e repetir no numerador o período.
3
Assim, a geratriz de 0,333... é a fração 9 .
512
Assim, a geratriz de 5,1717... é a fração 9 .
Neste caso para transformarmos uma dízima periódica simples em fração, basta utilizarmos o dígito 9 no
denominador de acordo com a quantidade de dígitos que tiver o período da dízima.
c) Seja a dízima 1, 23434...
O número 234 é a junção do anteperíodo com o período. Neste caso dizemos que a dízima periódica é
composta, pois existe uma parte que não se repete e outra que se repete. Temos então um anteperíodo (2) e
o período (34). Ao subtrairmos deste número o anteperíodo (234-2), obtemos 232 no qual será o numerador.
O denominador é formado por tantos dígitos 9 – que correspondem ao período, neste caso 99 (dois noves) – e
pelo dígito 0 – que correspondem a tantos dígitos tiverem o anteperíodo, neste caso 0 (um zero).
611
Simplificando por 2, obtemos x = 495 , que será a fração geratriz da dízima 1, 23434...
Módulo ou valor absoluto: É a distância do ponto que representa esse número ao ponto de abscissa zero.
25
Exemplos:
3 3 3 3
1) Módulo de – 2 é 2 . Indica-se 2 = 2
3 3 3 3
2) Módulo de + 2 é 2 . Indica-se 2 = 2
3 3
Números Opostos: Dizemos que – 2 e 2 são números racionais opostos ou simétricos e cada um deles é o
oposto do outro.
3 3
As distâncias dos pontos – 2 e 2 ao ponto zero da reta são iguais.
Observa-se que entre dois inteiros consecutivos existem infinitos números racionais.
Soma (Adição) de Números Racionais
Como todo número racional é uma fração ou pode ser escrito na forma de uma fração, definimos a adição
c c
entre os números racionais d e d , da mesma forma que a soma de frações, através de:
A subtração de dois números racionais p e q é a própria operação de adição do número p com o oposto de q,
a a
isto é: p – q = p + (–q), onde p = b e q = b .
Como todo número racional é uma fração ou pode ser escrito na forma de uma fração, definimos o produto de
a c
dois números racionais b e d , da mesma forma que o produto de frações, através de:
26
Para realizar a multiplicação de números racionais, devemos obedecer à mesma regra de sinais que vale
em toda a Matemática:
Podemos assim concluir que o produto de dois números com o mesmo sinal é positivo, mas o produto de
dois números com sinais diferentes é negativo.
Propriedades da Potenciação:
1) Toda potência com expoente 0 é igual a 1.
27
3) Toda potência com expoente negativo de um número racional diferente de zero é igual a outra potência
que tem a base igual ao inverso da base anterior e o expoente igual ao oposto do expoente anterior.
6) Produto de potências de mesma base. Para reduzir um produto de potências de mesma base a uma só
potência, conservamos a base e somamos os expoentes.
7) Divisão de potências de mesma base. Para reduzir uma divisão de potências de mesma base a uma só
potência, conservamos a base e subtraímos os expoentes.
8) Potência de Potência. Para reduzir uma potência de potência a uma potência de um só expoente, conser-
vamos a base e multiplicamos os expoentes.
Indica-se =
28
2) 0,216 Representa o produto 0,6 . 0,6 . 0,6 ou (0,6)3. Logo, 0,6 é a raiz cúbica de 0,216. Indica-se 0,216
3
= 0,6.
Um número racional, quando elevado ao quadrado, dá o número zero ou um número racional positivo. Logo,
os números racionais negativos não têm raiz quadrada no conjunto dos números racionais.
100
− 10 1
0
9
Por exemplo, o número não tem raiz quadrada em Q, pois tanto + como +
3 3 , quando elevados ao
100
quadrado, dão .
9
Já um número racional positivo, só tem raiz quadrada no conjunto dos números racionais se ele for um qua-
drado perfeito.
2
3
E o número não tem raiz quadrada em Q, pois não existe número racional que elevado ao quadrado dê
2
3.
NÚMEROS REAIS - R
O conjunto dos números reais4 R será a união entre os números racionais Q e os números irracionais I. As-
sim temos:
R = Q U I , sendo Q ∩ I = Ø (Se um número real é racional, não irracional, e vice-versa).
Lembrando que N Ϲ Z Ϲ Q , podemos construir o diagrama abaixo:
29
Ordenação dos números reais
A representação dos números reais permite definir uma relação de ordem entre eles. Os números reais
positivos são maiores que zero e os negativos, menores. Expressamos a relação de ordem da seguinte manei-
ra: Dados dois números reais a e b,
a≤b↔b–a≥0
Exemplo: -15 ≤ ↔ 5 – (-15) ≥ 0
5 + 15 ≥ 0
Operações com números reais
Operando com as aproximações, obtemos uma sucessão de intervalos fixos que determinam um número
real. É assim que vamos trabalhar as operações adição, subtração, multiplicação e divisão. Relacionamos, em
seguida, uma série de recomendações úteis para operar com números reais.
Intervalos reais
O conjunto dos números reais possui também subconjuntos, denominados intervalos, que são determinados
por meio de desiguladades. Sejam os números a e b , com a < b.
Em termos gerais temos:
- A bolinha aberta = a intervalo aberto (estamos excluindo aquele número), utilizamos os símbolos:
> ;< ou ] ; [
- A bolinha fechada = a intervalo fechado (estamos incluindo aquele número), utilizamos os símbolos:
≥ ; ≤ ou [ ; ]
Podemos utilizar ( ) no lugar dos [ ] , para indicar as extremidades abertas dos intervalos.
Às vezes, aparecem situações em que é necessário registrar numericamente variações de valores em sen-
tidos opostos, ou seja, maiores ou acima de zero (positivos), como as medidas de temperatura ou reais em
débito ou em haver etc... Esses números, que se estendem indefinidamente, tanto para o lado direito (positivos)
como para o lado esquerdo (negativos), são chamados números relativos.
Valor absoluto de um número relativo é o valor do número que faz parte de sua representação, sem o sinal.
Valor simétrico de um número é o mesmo numeral, diferindo apenas o sinal.
Operações com números relativos
1) Adição e subtração de números relativos
a) Se os numerais possuem o mesmo sinal, basta adicionar os valores absolutos e conservar o sinal.
b) Se os numerais possuem sinais diferentes, subtrai-se o numeral de menor valor e dá-se o sinal do maior
numeral.
Exemplos:
3+5=8
4-8=-4
- 6 - 4 = - 10
30
-2+7=5
2) Multiplicação e divisão de números relativos
a) O produto e o quociente de dois números relativos de mesmo sinal são sempre positivos.
b) O produto e o quociente de dois números relativos de sinais diferentes são sempre negativos.
Exemplos:
- 3 x 8 = - 24
- 20 (-4) = + 5
- 6 x (-7) = + 42
28 2 = 14
Porcentagem
5 https://www.todamateria.com.br/calcular-porcentagem/
31
Calculando Porcentagem de Forma Rápida
Alguns cálculos podem levar muito tempo na hora de fazer uma prova. Pensando nisso, trouxemos dois
métodos que te ajudarão a fazer porcentagem de maneira mais rápida.
Método 1: Calcular porcentagem utilizando o 1%
Você também tem como calcular porcentagem rapidamente utilizando o correspondente a 1% do valor.
Vamos continuar usando o exemplo do 20% de 200 para aprender essa técnica.
1º passo: dividir o valor por 100 e encontrar o resultado que representa 1%.
2º passo: multiplicar o valor que representa 1% pela porcentagem que se quer descobrir.
2 x 20 = 40
Chegamos mais uma vez à conclusão que 20% de 200 é 40.
Método 2: Calcular porcentagem utilizando frações equivalentes
As frações equivalentes representam a mesma porção do todo e podem ser encontradas dividindo o
numerador e o denominador da fração pelo mesmo número natural.
Se a fração equivalente de é , então para calcular 20% de um valor basta dividi-lo por 5. Veja como
fazer:
32
2º passo: aplicar a taxa na fórmula do fator multiplicativo.
Fator de multiplicação = 1 + 0,25.
Fator de multiplicação = 1,25.
3º passo: multiplicar o valor inicial pelo fator multiplicativo.
100 x 1,25 = 125 reais.
Um acréscimo de 25% fará com que o valor final da mercadoria seja R$ 125.
Fator multiplicativo para desconto em um valor
Para calcular um desconto de um produto, a fórmula do fator multiplicativo envolve uma subtração.
Fator de multiplicação = 1 - 0,25.
Exemplo: Ao aplicar um desconto de 25% em uma mercadoria que custa R$ 100, qual o valor final da
mercadoria?
1º passo: encontrar a taxa de variação.
Quando realizamos uma divisão diretamente proporcional estamos dividindo um número de maneira propor-
cional a uma sequência de outros números. A divisão pode ser de diferentes tipos, vejamos:
Divisão Diretamente Proporcional
• Divisão em duas partes diretamente proporcionais: para decompor um número M em duas partes A e B
diretamente proporcionais a p e q, montamos um sistema com duas equações e duas incógnitas, de modo que
a soma das partes seja A + B = M:
33
Divisão Inversamente Proporcional
• Divisão em duas partes inversamente proporcionais: para decompor um número M em duas partes A e B
inversamente proporcionais a p e q, deve-se decompor este número M em duas partes A e B diretamente pro-
porcionais a 1/p e 1/q, que são, respectivamente, os inversos de p e q. Assim basta montar o sistema com duas
equações e duas incógnitas tal que A + B = M:
Exemplos:
(PREF. PAULISTANA/PI – PROFESSOR DE MATEMÁTICA – IMA) Uma herança de R$ 750.000,00 deve ser
repartida entre três herdeiros, em partes proporcionais a suas idades que são de 5, 8 e 12 anos. O mais velho
receberá o valor de:
(A) R$ 420.000,00
(B) R$ 250.000,00
(C) R$ 360.000,00
(D) R$ 400.000,00
(E) R$ 350.000,00
Resolução:
5x + 8x + 12x = 750.000
34
25x = 750.000
x = 30.000
O mais velho receberá: 12⋅30000=360000
Resposta: C
(TRF 3ª – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC) Quatro funcionários dividirão, em partes diretamente proporcionais
aos anos dedicados para a empresa, um bônus de R$36.000,00. Sabe-se que dentre esses quatro funcionários
um deles já possui 2 anos trabalhados, outro possui 7 anos trabalhados, outro possui 6 anos trabalhados e o
outro terá direito, nessa divisão, à quantia de R$6.000,00. Dessa maneira, o número de anos dedicados para a
empresa, desse último funcionário citado, é igual a
(A) 5.
(B) 7.
(C) 2.
(D) 3.
(E) 4.
Resolução:
2x + 7x + 6x + 6000 = 36000
15x = 30000
x = 2000
Como o último recebeu R$ 6.000,00, significa que ele se dedicou 3 anos a empresa, pois 2000.3 = 6000
Resposta: D
(CÂMARA DE SÃO PAULO/SP – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – FCC) Uma prefeitura destinou a quantia
de 54 milhões de reais para a construção de três escolas de educação infantil. A área a ser construída em cada
escola é, respectivamente, 1.500 m², 1.200 m² e 900 m² e a quantia destinada à cada escola é diretamente
proporcional a área a ser construída.
Sendo assim, a quantia destinada à construção da escola com 1.500 m² é, em reais, igual a
(A) 22,5 milhões.
(B) 13,5 milhões.
(C) 15 milhões.
(D) 27 milhões.
(E) 21,75 milhões.
Resolução:
Chamemos de x, y e z as quantias destinadas às áreas de 1.500 m2, 1.200 m2 e 900 m2, respectivamente.
Sendo as quantias diretamente proporcionais às áreas, teremos:
35
(Apenas dividi cada denominador por 300).
Resposta: A
(SABESP – ATENDENTE A CLIENTES 01 – FCC) Uma empresa quer doar a três funcionários um bônus de
R$ 45.750,00. Será feita uma divisão proporcional ao tempo de serviço de cada um deles. Sr. Fortes trabalhou
durante 12 anos e 8 meses. Sra. Lourdes trabalhou durante 9 anos e 7 meses e Srta. Matilde trabalhou durante
3 anos e 2 meses. O valor, em reais, que a Srta. Matilde recebeu a menos que o Sr. Fortes é
(A) 17.100,00.
(B) 5.700,00.
(C) 22.800,00.
(D) 17.250,00.
(E) 15.000,00.
Resolução:
* Fortes: 12 anos e 8 meses = 12.12 + 8 = 144 + 8 = 152 meses
* Lourdes: 9 anos e 7 meses = 9.12 + 7 = 108 + 7 = 115 meses
* Matilde: 3 anos e 2 meses = 3.12 + 2 = 36 + 2 = 38 meses
* TOTAL: 152 + 115 + 38 = 305 meses
* Vamos chamar a quantidade que cada um vai receber de F, L e M.
36
M = 38 . 150 = R$ 5 700,00
As unidades de medida são modelos estabelecidos para medir diferentes grandezas, tais como comprimento,
capacidade, massa, tempo e volume6.
O Sistema Internacional de Unidades (SI) define a unidade padrão de cada grandeza. Baseado no sistema
métrico decimal, o SI surgiu da necessidade de uniformizar as unidades que são utilizadas na maior parte dos
países.
— Medidas de Comprimento
Existem várias medidas de comprimento, como por exemplo a jarda, a polegada e o pé.
No SI a unidade padrão de comprimento é o metro (m). Atualmente ele é definido como o comprimento da
distância percorrida pela luz no vácuo durante um intervalo de tempo de 1/299.792.458 de um segundo.
Assim, são múltiplos do metro: quilômetro (km), hectômetro (hm) e decâmetro (dam)7.
Enquanto são submúltiplos do metro: decímetro (dm), centímetro (cm) e milímetro (mm).
Os múltiplos do metro são as grandes distâncias. Eles são chamados de múltiplos porque resultam de uma
multiplicação que tem como referência o metro.
Os submúltiplos, ao contrário, como pequenas distâncias, resultam de uma divisão que tem igualmente como
referência o metro. Eles aparecem do lado direito na tabela acima, cujo centro é a nossa medida base - o metro.
6 https://www.todamateria.com.br/unidades-de-medida/
7 https://www.todamateria.com.br/medidas-de-comprimento/
37
— Medidas de Capacidade
As medidas de capacidade representam as unidades usadas para definir o volume no interior de um
recipiente8. A principal unidade de medida da capacidade é o litro (L).
O litro representa a capacidade de um cubo de aresta igual a 1 dm. Como o volume de um cubo é igual a
medida da aresta elevada ao cubo, temos então a seguinte relação:
1 L = 1 dm³
Mudança de Unidades
O litro é a unidade fundamental de capacidade. Entretanto, também é usado o quilolitro(kL), hectolitro(hL) e
decalitro que são seus múltiplos e o decilitro, centilitro e o mililitro que são os submúltiplos.
Como o sistema padrão de capacidade é decimal, as transformações entre os múltiplos e submúltiplos são
feitas multiplicando-se ou dividindo-se por 10.
Para transformar de uma unidade de capacidade para outra, podemos utilizar a tabela abaixo:
8 https://www.todamateria.com.br/medidas-de-capacidade/
38
Em algumas situações é necessário transformar a unidade de medida de volume para uma unidade de
medida de capacidade ou vice-versa. Nestes casos, podemos utilizar as seguintes relações:
1 m³ = 1 000 L
1 dm³ = 1 L
1 cm³ = 1 mL
Exemplo: Um tanque tem a forma de um paralelepípedo retângulo com as seguintes dimensões: 1,80 m de
comprimento, 0,90 m de largura e 0,50 m de altura. A capacidade desse tanque, em litros, é:
A) 0,81
B) 810
C) 3,2
D) 3200
Para começar, vamos calcular o volume do tanque, e para isso, devemos multiplicar suas dimensões:
V = 1,80 . 0,90 . 0,50 = 0,81 m³
Para transformar o valor encontrado em litros, podemos fazer a seguinte regra de três:
Além das unidades apresentadas existem outras como a tonelada, que é um múltiplo do grama, sendo que
1 tonelada equivale a 1 000 000 g ou 1 000 kg. Essa unidade é muito usada para indicar grandes massas.
A arroba é uma unidade de medida usada no Brasil, para determinar a massa dos rebanhos bovinos, suínos
e de outros produtos. Uma arroba equivale a 15 kg.
9 https://www.todamateria.com.br/medidas-de-massa/
39
O quilate é uma unidade de massa, quando se refere a pedras preciosas. Neste caso 1 quilate vale 0,2 g.
— Conversão de unidades
Como o sistema padrão de medida de massa é decimal, as transformações entre os múltiplos e submúltiplos
são feitas multiplicando-se ou dividindo-se por 1010.
Para transformar as unidades de massa, podemos utilizar a tabela abaixo:
Exemplos:
a) Quantas gramas tem 1 kg?
Para converter quilograma em grama basta consultar o quadro acima. Observe que é necessário multiplicar
por 10 três vezes.
1 kg → g
1 kg x 10 x 10 x 10 = 1 x 1000 = 1.000 g
b) Quantos quilogramas tem em 3.000 g?
Para transformar grama em quilograma, vemos na tabela que devemos dividir o valor dado por 1.000. Isto é
o mesmo que dividir por 10, depois novamente por 10 e mais uma vez por 10.
3.000 g → kg
3.000 g : 10 : 10 : 10 = 3.000 : 1.000 = 3 kg
c) Transformando 350 g em mg.
Para transformar de grama para miligrama devemos multiplicar o valor dado por 1.000 (10 x 10 x 10).
350 g → mg
350 x 10 x 10 x 10 = 350 x 1000 = 350.000 mg
— Medidas de Tempo
Existem diversas unidades de medida de tempo, por exemplo a hora, o dia, o mês, o ano, o século. No
sistema internacional de medidas a unidades de tempo é o segundo (s)11.
Horas, Minutos e Segundos
Muitas vezes necessitamos transformar uma informação que está, por exemplo, em minuto para segundos,
ou em segundos para hora.
Para tal, devemos sempre lembrar que 1 hora tem 60 minutos e que 1 minuto equivale a 60 segundos. Desta
forma, 1 hora corresponde a 3.600 segundos.
Assim, para mudar de hora para minuto devemos multiplicar por 60. Por exemplo, 3 horas equivalem a 180
minutos (3 . 60 = 180).
O diagrama abaixo apresenta a operação que devemos fazer para passar de uma unidade para outra.
10 https://www.todamateria.com.br/medidas-de-massa/
11 https://www.todamateria.com.br/medidas-de-tempo/
40
Em algumas áreas é necessário usar medidas com precisão maior que o segundo. Neste caso, usamos seus
submúltiplos.
Assim, podemos indicar o tempo decorrido de um evento em décimos, centésimos ou milésimos de segundos.
Por exemplo, nas competições de natação o tempo de um atleta é medido com precisão de centésimos de
segundo.
Instrumentos de Medidas
Para medir o tempo utilizamos relógios que são dispositivos que medem eventos que acontecem em
intervalos regulares.
Os primeiros instrumentos usados para a medida do tempo foram os relógios de Sol, que utilizavam a
sombra projetada de um objeto para indicar as horas.
Foram ainda utilizados relógios que empregavam escoamento de líquidos, areia, queima de fluidos e
dispositivos mecânicos como os pêndulos para indicar intervalos de tempo.
Outras Unidades de Medidas de Tempo
O intervalo de tempo de uma rotação completa da terra equivale a 24h, que representa 1 dia.
O mês é o intervalo de tempo correspondente a determinado número de dias. Os meses de abril, junho,
setembro, novembro têm 30 dias.
Já os meses de janeiro, março, maio, julho, agosto, outubro e dezembro possuem 31 dias. O mês de fevereiro
normalmente têm 28 dias. Contudo, de 4 em 4 anos ele têm 29 dias.
O ano é o tempo que a Terra leva para dar uma volta completa ao redor do Sol. Normalmente, 1 ano
corresponde a 365 dias, no entanto, de 4 em 4 anos o ano têm 366 dias (ano bissexto).
Na tabela abaixo relacionamos algumas dessas unidades:
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Tabela de Conversão de Medidas
O mesmo método pode ser utilizado para calcular várias grandezas.
Primeiro, vamos desenhar uma tabela e colocar no seu centro as unidades de medidas bases das grandezas
que queremos converter, por exemplo:
Capacidade: litro (l)
Comprimento: metro (m)
Massa: grama (g)
Volume: metro cúbico (m3)
Tudo o que estiver do lado direito da medida base são chamados submúltiplos. Os prefixos deci, centi e mili
correspondem respectivamente à décima, centésima e milésima parte da unidade fundamental.
Do lado esquerdo estão os múltiplos. Os prefixos deca, hecto e quilo correspondem respectivamente a dez,
cem e mil vezes a unidade fundamental.
Exemplos:
a) Quantos mililitros correspondem 35 litros?
Para fazer a transformação pedida, vamos escrever o número na tabela das medidas de capacidade.
Lembrando que a medida pode ser escrita como 35,0 litros. A virgula e o algarismo que está antes dela devem
ficar na casa da unidade de medida dada, que neste caso é o litro.
Depois completamos as demais caixas com zeros até chegar na unidade pedida. A vírgula ficará sempre
atrás dos algarismos que estiver na caixa da unidade pedida, que neste caso é o ml.
42
Depois completamos com zeros até chegar na casa da unidade pedida, que neste caso é o quilograma. A
vírgula passa então para atrás do algarismo que está na casa do quilograma.
A argumentação é a forma como utilizamos o raciocínio para convencer alguém de alguma coisa. A argu-
mentação faz uso de vários tipos de raciocínio que são baseados em normas sólidas e argumentos aceitáveis.
A lógica de argumentação é também conhecida como dedução formal e é a principal ferramenta para o ra-
ciocínio válido de um argumento. Ela avalia conclusões que a argumentação pode tomar e avalia quais dessas
conclusões são válidas e quais são inválidas (falaciosas). O estudo das formas válidas de inferências de uma
linguagem proposicional também faz parte da Teoria da argumentação.
Conceitos
Premissas (proposições): são afirmações que podem ser verdadeiras ou falsas. Com base nelas que os
argumentos são compostos, ou melhor, elas possibilitam que o argumento seja aceito.
Inferência: é o processo a partir de uma ou mais premissas se chegar a novas proposições. Quando a in-
ferência é dada como válida, significa que a nova proposição foi aceita, podendo ela ser utilizada em outras
inferências.
Conclusão: é a proposição que contém o resultado final da inferência e que está alicerçada nas premissas.
Para separar as premissas das conclusões utilizam-se expressões como “logo, ...”, “portanto, ...”, “por isso, ...”,
entre outras.
Sofisma: é um raciocínio falso com aspecto de verdadeiro.
Falácia: é um argumento inválido, sem fundamento ou tecnicamente falho na capacidade de provar aquilo
que enuncia.
Silogismo: é um raciocínio composto de três proposições, dispostas de tal maneira que a conclusão é ver-
dadeira e deriva logicamente das duas primeiras premissas, ou seja, a conclusão é a terceira premissa.
Argumento: é um conjunto finito de premissas – proposições –, sendo uma delas a consequência das de-
mais. O argumento pode ser dedutivo (aquele que confere validade lógica à conclusão com base nas premissas
que o antecedem) ou indutivo (aquele quando as premissas de um argumento se baseiam na conclusão, mas
não implicam nela)
O argumento é uma fórmula constituída de premissas e conclusões (dois elementos fundamentais da argu-
mentação).
43
Alguns exemplos de argumentos:
1)
Todo homem é mortal Premissas
João é homem
Logo, João é mortal Conclusão
2)
Todo brasileiro é mortal Premissas
Todo paulista é brasileiro
Logo, todo paulista é mortal Conclusão
3)
Se eu passar no concurso, então irei viajar Premissas
Passei no concurso
Logo, irei viajar Conclusão
Todas as PREMISSAS têm uma CONCLUSÃO. Os exemplos acima são considerados silogismos.
Um argumento de premissas P1, P2, ..., Pn e de conclusão Q, indica-se por:
P1, P2, ..., Pn |----- Q
Argumentos Válidos
Um argumento é VÁLIDO (ou bem construído ou legítimo) quando a conclusão é VERDADEIRA (V), sempre
que as premissas forem todas verdadeiras (V). Dizemos, também, que um argumento é válido quando a con-
clusão é uma consequência obrigatória das verdades de suas premissas.Ou seja:
A verdade das premissas é incompatível com a falsidade da conclusão.
Um argumento válido é denominado tautologia quando assumir, somente, valorações verdadeiras, indepen-
dentemente dos valores assumidos por suas estruturas lógicas.
Argumentos Inválidos
Um argumento é dito INVÁLIDO (ou falácia, ou ilegítimo ou mal construído), quando as verdades das pre-
missas são insuficientes para sustentar a verdade da conclusão.
Caso a conclusão seja falsa, decorrente das insuficiências geradas pelas verdades de suas premissas,
tem-se como conclusão uma contradição (F).
Um argurmento não válido diz-se um SOFISMA.
Os argumentos falaciosos podem ter validade emocional, íntima, psicológica, mas não validade lógica. É
importante conhecer os tipos de falácia para evitar armadilhas lógicas na própria argumentação e para analisar
a argumentação alheia.
- A verdade e a falsidade são propriedades das proposições.
- Já a validade e a invalidade são propriedades inerentes aos argumentos.
- Uma proposição pode ser considerada verdadeira ou falsa, mas nunca válida e inválida.
- Não é possível ter uma conclusão falsa se as premissas são verdadeiras.
- A validade de um argumento depende exclusivamente da relação existente entre as premissas e conclu-
sões.
Critérios de Validade de um argumento
Pelo teorema temos:
Um argumento P1, P2, ..., Pn |---- Q é VÁLIDO se e somente se a condicional:
44
(P1 ^ P2 ^ ...^ Pn) → Q é tautológica.
Métodos para testar a validade dos argumentos12Estes métodos nos permitem, por dedução (ou inferência),
atribuirmos valores lógicos as premissas de um argumento para determinarmos uma conclusão verdadeira.
Também podemos utilizar diagramas lógicos caso sejam estruturas categóricas (frases formadas pelas pa-
lavras ou quantificadores: todo, algum e nenhum).
Os métodos constistem em:
1) Atribuição de valores lógicos: o método consiste na dedução dos valores lógicos das premissas de um
argumento, a partir de um “ponto de referência inicial” que, geralmente, será representado pelo valor lógico
de uma premissa formada por uma proposição simples ou de uma conjunção. Lembramos que, para que um
argumento seja válido, partiremos do pressuposto que todas as premissas que compõem esse argumento são,
na totalidade, verdadeiras.
Para dedução dos valores lógicos, utilizaremos como auxílio a tabela-verdade dos conectivos.
DICA:
Para dedução dos valores lógicos, utilizaremos como auxílio a tabela-verdade dos conectivos, portanto,
tente memorizar quando é verdadeiro e quando é falso os conectivos lógicos!
Exemplo
Sejam as seguintes premissas:
P1: O bárbaro não usa a espada ou o príncipe não foge a cavalo.
P2: Se o rei fica nervoso, então o príncipe foge a cavalo.
P3: Se a rainha fica na masmorra, então o bárbaro usa a espada.
P4: Ora, a rainha fica na masmorra.
Se todos os argumentos (P1,P2,P3 e P4) forem válidos, então todas premissas que compõem o argumento
são necessariamente verdadeiras (V). E portanto pela premissa simples P4: “a rainha fica na masmorra”; por
ser uma proposição simples e verdadeira, servirá de “referencial inicial” para a dedução dos valores lógicos das
demais proposições que, também, compõem esse argumento. Teremos com isso então:
Já sabemos que a premissa simples “a rainha fica na masmorra” é verdadeira, portanto, tal valor lógico
confirmará como verdade a 1a parte da condicional da premissa P3 (1º passo).
12 ALENCAR FILHO, Edgar de – Iniciação a lógica matemática – São Paulo: Nobel – 2002.
CABRAL, Luiz Cláudio Durão; NUNES, Mauro César de Abreu - Raciocínio lógico passo a passo – Rio de
Janeiro: Elsevier, 2013.]
45
Lembramos que, se a 1ª parte de uma condicional for verdadeira, implicará que a 2ª parte também deverá
ser verdadeira (2º passo), já que a verdade implica outra verdade (vide a tabela-verdade da condicional). Assim
teremos como valor lógico da premissa uma verdade (V).
Confirmando-se a proposição simples “o bárbaro usa a espada” como verdadeira (3º passo), logo, a 1ª parte
da disjunção simples da premissa P1, “o bárbaro não usa a espada”, será falsa (4º passo).
Como a premissa P1 é formada por uma disjunção simples, lembramos que ela será verdadeira, se pelo
menos uma de suas partes for verdadeira. Sabendo-se que sua 1ª parte é falsa, logo, a 2ª parte deverá ser,
necessariamente, verdadeira (5º passo).
Ao confirmarmos como verdadeira a proposição simples “o príncipe não foge a cavalo”, então, devemos
confirmar como falsa a 2a parte da condicional “o príncipe foge a cavalo” da premissa P2 (6o passo).
E, por último, ao confirmar a 2a parte de uma condicional como falsa, devemos confirmar, também, sua 1a
parte como falsa (7o passo).
46
Através da analise das premissas e atribuindo os seus valores lógicos chegamos as seguintes conclusões:
- A rainha fica na masmorra;
- O bárbaro usa a espada;
- O rei não fica nervoso;
- o príncipe não foge a cavalo.
Observe que onde as proposições são falsas (F) utilizamos o não para ter o seu correspondente como váli-
do, expressando uma conclusão verdadeira.
Caso o argumento não possua uma proposição simples ou uma conjunção “ponto de referência inicial”, de-
vem-se iniciar as deduções pela disjunção exclusiva ou pela bicondicional, caso existam. Lembrando que, no
caso da bicondicional(VV ou FF) e a disjunção exclusiva(VF ou FV), cada uma possui duas possibilidades de
serem verdadeiras, logo, é necessário testar as duas possibilidades.
2) Método da Tabela Verdade: para resolvermos temos que levar em considerações dois casos.
1º caso: quando o argumento é representado por uma fómula argumentativa.
Exemplo
A → B ~A = ~B
Para resolver vamos montar uma tabela dispondo todas as proposições, as premissas e as conclusões afim
de chegarmos a validade do argumento.
(Fonte: http://www.marilia.unesp.br)
O caso onde as premissas são verdadeiras e a conclusão é falsa está sinalizada na tabela acima pelo as-
terisco.Observe também, na linha 4, que as premissas são verdadeiras e a conclusão é verdadeira. Chegamos
através dessa análise que o argumento não é valido.
2o caso: quando o argumento é representado por uma sequência lógica de premissas, sendo a última sua
conclusão, e é questionada a sua validade.
Exemplo:
“Se leio, então entendo. Se entendo, então não compreendo. Logo, compreendo.”
P1: Se leio, então entendo.
P2: Se entendo, então não compreendo.
C: Compreendo.
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Se o argumento acima for válido, então, teremos a seguinte estrutura lógica (fórmula) representativa desse
argumento:
P1 → P2 → C
Representando inicialmente as proposições primitivas “leio”, “entendo” e “compreendo”, respectivamente,
por “p”, “q” e “r”, teremos a seguinte fórmula argumentativa:
P1: p → q
P2: q → ~r
C: r
[(p → q) → (q → ~r)] → r ou
Sendo a solução (observado na 5a resolução) uma contingência (possui valores verdadeiros e falsos), logo,
esse argumento não é válido. Podemos chamar esse argumento de sofisma embora tenha premissas e con-
clusões verdadeiras.
48
Implicações tautológicas: a utilização da tabela verdade em alguns casos torna-se muito trabalhoso, prin-
ciplamente quando o número de proposições simples que compõe o argumento é muito grande, então vamos
aqui ver outros métodos que vão ajudar a provar a validade dos argumentos.
3.1 - Método da adição (AD)
2º caso:
2º caso:
3.4 - Método da absorção (ABS)
49
3.8 – Dilema destrutivo (DD)
2º caso:
2º caso: Importação
Produto lógico de condicionais: este produto consiste na dedução de uma condicional conclusiva, que será
a conclusão do argumento, decorrente ou resultante de várias outras premissas formadas por, apenas, condi-
cionais.
Ao efetuar o produto lógico, eliminam-se as proposições simples iguais que se localizam em partes opostas
das condicionais que formam a premissa do argumento, resultando em uma condicional denominada condicio-
nal conclusiva. Vejamos o exemplo:
Nós podemos aplicar a soma lógica em alguns casos, como por exemplo:
50
1º caso - quando a condicional conclusiva é formada pelas proposições simples que aparecem apenas uma
vez no conjunto das premissas do argumento.
Exemplo
Dado o argumento:
Se chove, então faz frio.
Se neva, então chove.
Se faz frio, então há nuvens no céu.
Se há nuvens no céu, então o dia está claro.
Temos então o argumento formado pelas seguintes premissas:
P1: Se chove, então faz frio.
P2: Se neva, então chove.
P3: Se faz frio, então há nuvens no céu.
P4: Se há nuvens no céu, então o dia está claro.
Vamos denotar as proposições simples:
p: chover
q: fazer frio
r: nevar
s: existir nuvens no céu
t: o dia está claro
Montando o produto lógico teremos:
Exemplo
51
Seja o argumento: Se Ana trabalha, então Beto não estuda. Se Carlos não viaja, então Beto não estuda.
Se Carlos viaja, Ana trabalha.
Temos então o argumento formado pelas seguintes premissas:
P1: Se Ana trabalha, então Beto não estuda.
P2: Se Carlos não viaja, então Beto não estuda.
P3: Se Carlos viaja, Ana trabalha.
Denotando as proposições simples teremos:
p: Ana trabalha
q: Beto estuda
r: Carlos viaja
Montando o produto lógico teremos:
RACIOCÍNIO VERBAL
O raciocínio verbal lida com problemas de lógica quase que totalmente escritos, abordando geralmente a
negação de certas frases que podem parecer óbvias mas que muitas vezes nos pregam peças.
Podemos nos perguntar se a lógica, em geral, não é estabelecer símbolos para traduzir estas frases. Sim! A
diferença é que negar certas frases podem fazer sentido verbalmente, mas devemos nos ater a lógica em si e
buscar então absorver isso ao nosso raciocínio.
Uma importante ferramenta neste momento são as Leis de Morgan:
1ª lei de Morgan
¬(p ∧ q) = (¬p) ∨ (¬q)
2ª lei de Morgan
¬(p ∨ q) = (¬p) ∧ (¬q)
Exemplo:
p: João dirige
q: a capital do mundo é Itapeva.
p ∧ q: João dirige e a capital do mundo é Itapeva.
Vamos negar esta proposição. Num primeiro momento, podemos estar inclinados a responder que a negati-
va seria João não dirige e a capital do mundo não é Itapeva. Mas a 1ª Lei de Morgan nos sinaliza que está erra-
do13. Devemos, negar as proposições simples e trocar o nosso conectivo. Se estava e, agora precisa estar ou.
Assim, a negação da frase seria: João não dirige ou a capital do mundo não é Itapeva. Diferença sutil, mas
muito importante.
p ∨ q: João dirige ou a capital do mundo é Itapeva
13 Repare que as Leis de Morgan se tratam de equivalências lógicas. Caso se interesse em ver essas igual-
dades, veja o tópico equivalências lógicas.
52
Vamos novamente negar esta frase. Da mesma forma da anterior, nosso senso pode nos levar a responder
que a negação seria João não dirige ou a capital do mundo é Itapeva. Mais uma vez, pela 2ª Lei de Morgan,
temos que a negação se trata de João não dirige e a capital do mundo não é Itapeva.
Podemos então estabelecer que para negar logicamente uma frase verbal, devemos não só negar suas
partes, mas também inverter seu conectivo. Se antes estava e, deve se tornar ou na negação. Igualmente, se
antes estava ou, deve se tornar e.
Outra negativa importante, não abordada diretamente pelas Leis de Morgan, é a negativa de “se…então…”.
Se João dirige, então a capital do mundo é Itapeva.
Como iremos negar esta proposição? A ideia aqui é manter a primeira proposição e negar a segunda, reti-
rando os termos “se” e “então”. Ficamos então com a negativa: João dirige e a capital do mundo não é Itapeva.
Neste exemplo, vemos que essa questão é menos intuitiva comparada àquelas que são abordadas pelas
Leis de Morgan, mas novamente, sendo bem absorvidas, farão sentido e evitarão erros na resolução das
questões.
RACIOCÍNIO ESPACIAL E TEMPORAL
Existem tipos de questões de lógica que envolvem situações específicas que necessitam de algo a mais
para resolver do que somente as tabelas verdade. Um exemplo disso são questões envolvendo espaço (posi-
ção, fila e tamanho e etc.) e tempo (horas, dias, calendário e etc.).
Não há uma forma de elaborar estratégias específicas para a resolução de questões deste tipo, então iremos
fornecer alguns exemplos para inspirar quais análises podem ser feitas.
Exemplos:
1 – Em um determinado ano, o mês de setembro teve 5 sábados e 5 domingos. Rodrigo faz aniversário no
dia 1º de setembro. Em qual dia da semana foi o seu aniversário esse ano?
Aqui, temos um exercício lidando com tempo. Neste caso, estamos lidando com calendário, envolvendo dias
de um mês. Numa primeira vista, esta questão pode parecer muito difícil de resolver, pois, aparentemente, há
informações faltando. Mas vamos ver como proceder na análise:
1º) Vamos nos atentar que setembro possui 30 dias;
2º) Dessa forma, dividindo este valor por 7, descobrimos quantas semanas há nesse mês: 30 : 7 = 4 (e sobra
2).
3º) Assim, esse mês terá 4 semanas e mais dois dias.
4º) Se o mês começasse numa quinta-feira, teríamos então:
4 domingos
4 segundas
4 terças
4 quartas
4 quintas
5 sextas
5 sábados
5º) No exemplo acima, para dar 5 sextas e 5 sábados, o mês começou numa quinta. Assim, para termos 5
sábados e 5 domingos, o mês deve começar numa sexta.
6º) Como o aniversário de Rodrigo é no dia 1º de setembro, então seu aniversário será numa sexta-feira
---
2 – Observando o calendário de 2021, temos que o dia 23 de outubro caiu em um sábado. Sabendo que o
ano de 2020 foi o último ano bissexto, o dia 23 de outubro de 2024 cairá em uma:
Vamos operar de maneira semelhante à questão anterior:
53
1º) Vamos dividir 365 (dias por ano) por 7 (dias por semana) para vermos quantas semanas temos no ano
365 : 7 = 52 (sobra 1)
2º) A divisão acima nos diz que a cada ano, avançamos um dia. Ou seja, se o dia 1º de janeiro de 2023 foi
num domingo, em 2024 será numa segunda.
3º) Devemos analisar também o ano bissexto, pois nestes anos, há um dia a mais, então seria para dividirmos
366 por 7.
366 : 7 = 52 (sobra 2)
4º) O último ano bissexto foi em 2020, então o próximo será em 2024. Nos anos bissextos, fevereiro ganha
um dia a mais.
5º) Temos então que de 2021 para 2024:
54
Sabe-se que:
– Ana não está em frente a Bela.
– Bela tem Carla a sua esquerda.
– Ana e Dora estão nas cadeiras pares.
Onde cada uma está sentada?
Vamos proceder com a seguinte análise:
1º) Como Ana não está na frente a Bela, então elas estão uma do lado da outra.
2º) Bela tem Carla a sua esquerda.
Então ela tem a Ana a sua direita.
E por fim, Dora está a sua frente.
3º) Ana e Dora estão nas cadeiras pares
Se Ana estiver na cadeira 2, temos a configuração:
1 – Carla 2 – Ana 3 – Bela 4 – Dora
Se Ana estiver na cadeira na cadeira 4, temos a configuração
1 – Dora 2 – Bela 3 – Carla 4 – Ana
Mas essa opção não é possível, pois Ana e Dora estão nas pares.
Logo, estão sentadas Carla na cadeira 1, Ana na cadeira 2, Bela na cadeira 3 e Dora na cadeira 4.
---
Vemos que cabe ao candidato uma certa criatividade aliada ao raciocínio para abordar as questões. Não há
nada muito complexo, mas deve ser cuidadosamente vista para evitar deslizes e más interpretações.
RACIOCÍNIO SEQUENCIAL.
A lógica sequencial envolve a percepção e interpretação de objetos que induzem a uma sequência, buscan-
do reconhecer essa sequência e estabelecer sucessores a este objeto.
Muitas vezes essas questões vêm atreladas com aspectos aritméticos (sequências numéricas) ou geometria
(construção de certas figuras).
Não há como sistematizar este assunto, então iremos ver alguns exemplos para nos inspirar para que bus-
quemos resolver demais questões.
Exemplos:
1 – A sequência de números a seguir foi construída com um padrão lógico e é uma sequência ilimitada:
0, 1, 2, 3, 4, 5, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 40, …
A partir dessas informações, identifique o termo da posição 74 e o termo da posição 95. Qual a soma destes
dois termos?
Vamos analisar esta sequência dada:
1º) Vemos que a sequência vai de 6 em 6 termos e pula para a dezena seguinte
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Os primeiros 6 termos vão de 0 a 5
Do 7º termo ao 12º termo: 10 a 15
13º termo ao 18º termo: 20 a 25
2º) Vemos que o padrão segue a tabuada do 6
6 x 1 = 6 (0 até 5)
6 x 2 = 12 (10 até 15)
6 x 3 = 18 (20 até 25)
3º) O número que está multiplicando o 6 menos uma unidade representa a dezena que estamos começando
a contar:
6 x 1 1 - 1 = 0 (0 até 5)
6 x 2 2 - 1 = 1 (10 até 15)
6 x 3 3 - 1 = 2 (20 até 25)
4º) Se dividirmos 74 por 6 e 95 por 6 descobriremos seus valores
74 : 6 = 12 (sobra 2)
95 : 6 = 15 (sobra 5)
5º) O termo 74 então está dois termos após 6 x 12
56
O padrão de formação dessa sequência permanece para as figuras seguintes. Desse modo, a figura que
deve ocupar a 131ª posição na sequência é idêntica à qual figura?
1º) Vemos que o padrão retorna para a origem a cada 7 termos.
2º) Os termos 14, 21, 28, 35, …, irão ser os mesmos que o padrão da 7ª figura.
3º) Os termos 8, 15, 22, 29, 36, …, irão ser os mesmos que o padrão da 1ª figura.
4º) Vamos então dividir 131 por 7 para descobrir essa equivalência.
131 : 7 = 18 (sobra 5)
5º) Justamente essa sobra, 5, será a posição equivalente.
Assim, a figura da 131ª posição é idêntica a figura da 5ª posição.
— Gráficos
Os gráficos são representações que facilitam a análise de dados, os quais costumam ser dispostos em
tabelas quando se realiza pesquisas estatísticas14. Eles trazem muito mais praticidade, principalmente quando
os dados não são discretos, ou seja, quando são números consideravelmente grandes. Além disso, os gráficos
também apresentam de maneira evidente os dados em seu aspecto temporal.
Elementos do Gráfico
Ao construirmos um gráfico em estatística, devemos levar em consideração alguns elementos que são
essenciais para sua melhor compreensão. Um gráfico deve ser simples devido à necessidade de passar
uma informação de maneira mais rápida e coesa, ou seja, em um gráfico estatístico, não deve haver muitas
informações, devemos colocar nele somente o necessário.
As informações em um gráfico devem estar dispostas de maneira clara e verídica para que os resultados
sejam dados de modo coeso com a finalidade da pesquisa.”
Tipos de Gráficos
Em estatística é muito comum a utilização de diagramas para representar dados, diagramas são gráficos
construídos em duas dimensões, isto é, no plano. Existem vários modos de representá-los. A seguir, listamos
alguns.
• Gráfico de Pontos
Também conhecido como Dotplot, é utilizado quando possuímos uma tabela de distribuição de frequência,
sendo ela absoluta ou relativa. O gráfico de pontos tem por objetivo apresentar os dados das tabelas de forma
resumida e que possibilite a análise das distribuições desses dados.
Exemplo: Suponha uma pesquisa, realizada em uma escola de educação infantil, na qual foram coletadas
as idades das crianças. Nessa coleta foi organizado o seguinte rol:
14 https://brasilescola.uol.com.br/matematica/graficos.htm
57
Rol: {1, 1, 2, 2, 2, 2, 3, 3, 4, 4, 4, 4, 4, 4, 5, 5, 6}
Podemos organizar esses dados utilizando um Dotplot.
Observe que a quantidade de pontos corresponde à frequência de cada idade e o somatório de todos os
pontos fornece-nos a quantidade total de dados coletados.
• Gráfico de linha
É utilizado em casos que existe a necessidade de analisar dados ao longo do tempo, esse tipo de gráfico é
muito presente em análises financeiras. O eixo das abscissas (eixo x) representa o tempo, que pode ser dado
em anos, meses, dias, horas etc., enquanto o eixo das ordenadas (eixo y) representa o outro dado em questão.
Uma das vantagens desse tipo de gráfico é a possibilidade de realizar a análise de mais de uma tabela, por
exemplo.
Exemplo: Uma empresa deseja verificar seu faturamento em determinado ano, os dados foram dispostos
em uma tabela.
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Veja que nesse tipo de gráfico é possível ter uma melhor noção a respeito do crescimento ou do decrescimento
dos rendimentos da empresa.
• Gráfico de Barras
Tem como objetivo comparar os dados de determinada amostra utilizando retângulos de mesma largura e
altura. Altura essa que deve ser proporcional ao dado envolvido, isto é, quanto maior a frequência do dado,
maior deve ser a altura do retângulo.
Exemplo: Imagine que determinada pesquisa tem por objetivo analisar o percentual de determinada população
que acesse ou tenha: internet, energia elétrica, rede celular, aparelho celular ou tablet. Os resultados dessa
pesquisa podem ser dispostos em um gráfico como este:
• Gráfico de Colunas
Seu estilo é semelhante ao do gráfico de barras, sendo utilizado para a mesma finalidade. O gráfico de
colunas então é usado quando as legendas forem curtas, a fim de não deixar muitos espaços em branco no
gráfico de barra.
Exemplo: Este gráfico está, de forma genérica, quantificando e comparando determinada grandeza ao longo
de alguns anos.
59
• Gráfico de Setor
É utilizado para representar dados estatísticos com um círculo dividido em setores, as áreas dos setores
são proporcionais às frequências dos dados, ou seja, quanto maior a frequência, maior a área do setor circular.
Exemplo: Este exemplo, de forma genérica, está apresentando diferentes variáveis com frequências diversas
para determinada grandeza, a qual pode ser, por exemplo, a porcentagem de votação em candidatos em uma
eleição.
• Histograma
O Histograma é uma ferramenta de análise de dados que apresenta diversos retângulos justapostos (barras
verticais)15.
Por esse motivo, ele se assemelha ao gráfico de colunas, entretanto, o histograma não apresenta espaço
entre as barras.
15 https://www.todamateria.com.br/tipos-de-graficos/
60
• Infográficos
Os infográficos representam a união de uma imagem com um texto informativo. As imagens podem conter
alguns tipos de gráficos.
— Tabelas
As tabelas são usadas para organizar algumas informações ou dados. Da mesma forma que os gráficos,
elas facilitam o entendimento, por meio de linhas e colunas que separam os dados.
61
Sendo assim, são usadas para melhor visualização de informações em diversas áreas do conhecimento.
Também são muito frequentes em concursos e vestibulares.
A análise combinatória ou combinatória é a parte da Matemática que estuda métodos e técnicas que permitem
resolver problemas relacionados com contagem16.
Muito utilizada nos estudos sobre probabilidade, ela faz análise das possibilidades e das combinações
possíveis entre um conjunto de elementos.
— Princípio Fundamental da Contagem
O princípio fundamental da contagem, também chamado de princípio multiplicativo, postula que:
“quando um evento é composto por n etapas sucessivas e independentes, de tal modo que as possibilidades
da primeira etapa é x e as possibilidades da segunda etapa é y, resulta no número total de possibilidades de o
evento ocorrer, dado pelo produto (x) . (y)”.
Em resumo, no princípio fundamental da contagem, multiplica-se o número de opções entre as escolhas que
lhe são apresentadas.
Exemplo: Uma lanchonete vende uma promoção de lanche a um preço único. No lanche, estão incluídos um
sanduíche, uma bebida e uma sobremesa. São oferecidas três opções de sanduíches: hambúrguer especial,
sanduíche vegetariano e cachorro-quente completo. Como opção de bebida pode-se escolher 2 tipos: suco
de maçã ou guaraná. Para a sobremesa, existem quatro opções: cupcake de cereja, cupcake de chocolate,
cupcake de morango e cupcake de baunilha. Considerando todas as opções oferecidas, de quantas maneiras
um cliente pode escolher o seu lanche?
Solução: Podemos começar a resolução do problema apresentado, construindo uma árvore de possibilidades,
conforme ilustrado abaixo:
16 https://www.todamateria.com.br/analise-combinatoria/
62
Acompanhando o diagrama, podemos diretamente contar quantos tipos diferentes de lanches podemos
escolher. Assim, identificamos que existem 24 combinações possíveis.
Podemos ainda resolver o problema usando o princípio multiplicativo. Para saber quais as diferentes
possibilidades de lanches, basta multiplicar o número de opções de sanduíches, bebidas e sobremesa.
Total de possibilidades: 3.2.4 = 24.
Portanto, temos 24 tipos diferentes de lanches para escolher na promoção.
— Tipos de Combinatória
O princípio fundamental da contagem pode ser usado em grande parte dos problemas relacionados com
contagem. Entretanto, em algumas situações seu uso torna a resolução muito trabalhosa.
Desta maneira, usamos algumas técnicas para resolver problemas com determinadas características.
Basicamente há três tipos de agrupamentos: arranjos, combinações e permutações.
Antes de conhecermos melhor esses procedimentos de cálculo, precisamos definir uma ferramenta muito
utilizada em problemas de contagem, que é o fatorial.
O fatorial de um número natural é definido como o produto deste número por todos os seus antecessores.
Utilizamos o símbolo ! para indicar o fatorial de um número.
Define-se ainda que o fatorial de zero é igual a 1.
Exemplo:
0! = 1.
1! = 1.
3! = 3.2.1 = 6.
7! = 7.6.5.4.3.2.1 = 5.040.
10! = 10.9.8.7.6.5.4.3.2.1 = 3.628.800.
Note que o valor do fatorial cresce rapidamente, conforme cresce o número. Então, frequentemente usamos
simplificações para efetuar os cálculos de análise combinatória.
— Arranjos
Nos arranjos, os agrupamentos dos elementos dependem da ordem e da natureza dos mesmos.
Para obter o arranjo simples de n elementos tomados, p a p (p ≤ n), utiliza-se a seguinte expressão:
63
Exemplo: Como exemplo de arranjo, podemos pensar na votação para escolher um representante e um
vice-representante de uma turma, com 20 alunos. Sendo que o mais votado será o representante e o segundo
mais votado o vice-representante.
Dessa forma, de quantas maneiras distintas a escolha poderá ser feita? Observe que nesse caso, a ordem
é importante, visto que altera o resultado.
Exemplo: Para exemplificar, vamos pensar de quantas maneiras diferentes 6 pessoas podem se sentar em
um banco com 6 lugares.
Como a ordem em que irão se sentar é importante e o número de lugares é igual ao número de pessoas,
iremos usar a permutação:
Logo, existem 720 maneiras diferentes para as 6 pessoas se sentarem neste banco.
— Combinações
As combinações são subconjuntos em que a ordem dos elementos não é importante, entretanto, são
caracterizadas pela natureza dos mesmos.
Assim, para calcular uma combinação simples de n elementos tomados p a p (p ≤ n), utiliza-se a seguinte
expressão:
Exemplo: A fim de exemplificar, podemos pensar na escolha de 3 membros para formar uma comissão
organizadora de um evento, dentre as 10 pessoas que se candidataram.
De quantas maneiras distintas essa comissão poderá ser formada?
Note que, ao contrário dos arranjos, nas combinações a ordem dos elementos não é relevante. Isso quer
dizer que escolher Maria, João e José é equivalente a escolher João, José e Maria.
Observe que para simplificar os cálculos, transformamos o fatorial de 10 em produto, mas conservamos o
fatorial de 7, pois, desta forma, foi possível simplificar com o fatorial de 7 do denominador.
Assim, existem 120 maneiras distintas formar a comissão.
64
— Probabilidade e Análise Combinatória
A Probabilidade permite analisar ou calcular as chances de obter determinado resultado diante de um
experimento aleatório. São exemplos as chances de um número sair em um lançamento de dados ou a
possibilidade de ganhar na loteria.
A partir disso, a probabilidade é determinada pela razão entre o número de eventos possíveis e número de
eventos favoráveis, sendo apresentada pela seguinte expressão:
Sendo:
P (A): probabilidade de ocorrer um evento A.
n (A): número de resultados favoráveis.
n (Ω): número total de resultados possíveis.
Para encontrar o número de casos possíveis e favoráveis, muitas vezes necessitamos recorrer as fórmulas
estudadas em análise combinatória.
Exemplo: Qual a probabilidade de um apostador ganhar o prêmio máximo da Mega-Sena, fazendo uma
aposta mínima, ou seja, apostar exatamente nos seis números sorteados?
Solução: Como vimos, a probabilidade é calculada pela razão entre os casos favoráveis e os casos possíveis.
Nesta situação, temos apenas um caso favorável, ou seja, apostar exatamente nos seis números sorteados.
Já o número de casos possíveis é calculado levando em consideração que serão sorteados, ao acaso, 6
números, não importando a ordem, de um total de 60 números.
Para fazer esse cálculo, usaremos a fórmula de combinação, conforme indicado abaixo:
Assim, existem 50 063 860 modos distintos de sair o resultado. A probabilidade de acertarmos então será
calculada como:
— Probabilidade
A teoria da probabilidade é o campo da Matemática que estuda experimentos ou fenômenos aleatórios e
através dela é possível analisar as chances de um determinado evento ocorrer17.
Quando calculamos a probabilidade, estamos associando um grau de confiança na ocorrência dos resultados
possíveis de experimentos, cujos resultados não podem ser determinados antecipadamente. Probabilidade é a
medida da chance de algo acontecer.
Desta forma, o cálculo da probabilidade associa a ocorrência de um resultado a um valor que varia de 0 a 1
e, quanto mais próximo de 1 estiver o resultado, maior é a certeza da sua ocorrência.
Por exemplo, podemos calcular a probabilidade de uma pessoa comprar um bilhete da loteria premiado ou
conhecer as chances de um casal ter 5 filhos, todos meninos.
17 https://www.todamateria.com.br/probabilidade/
65
— Experimento Aleatório
Um experimento aleatório é aquele que não é possível conhecer qual resultado será encontrado antes de
realizá-lo.
Os acontecimentos deste tipo quando repetidos nas mesmas condições, podem dar resultados diferentes e
essa inconstância é atribuída ao acaso.
Um exemplo de experimento aleatório é jogar um dado não viciado (dado que apresenta uma distribuição
homogênea de massa) para o alto. Ao cair, não é possível prever com total certeza qual das 6 faces estará
voltada para cima.
— Fórmula da Probabilidade
Em um fenômeno aleatório, as possibilidades de ocorrência de um evento são igualmente prováveis.
Sendo assim, podemos encontrar a probabilidade de ocorrer um determinado resultado através da divisão
entre o número de eventos favoráveis e o número total de resultados possíveis:
Sendo:
P(A): probabilidade da ocorrência de um evento A.
n(A): número de casos favoráveis ou, que nos interessam (evento A).
n(Ω): número total de casos possíveis.
O resultado calculado também é conhecido como probabilidade teórica.
Para expressar a probabilidade na forma de porcentagem, basta multiplicar o resultado por 100.
Exemplo: Se lançarmos um dado perfeito, qual a probabilidade de sair um número menor que 3?
Solução: Sendo o dado perfeito, todas as 6 faces têm a mesma chance de caírem voltadas para cima.
Vamos então, aplicar a fórmula da probabilidade.
Para isso, devemos considerar que temos 6 casos possíveis (1, 2, 3, 4, 5, 6) e que o evento “sair um número
menor que 3” tem 2 possibilidades, ou seja, sair o número 1 ou 2. Assim, temos:
66
Por exemplo, ao retirar ao acaso uma carta de um baralho, o espaço amostral corresponde às 52 cartas que
compõem este baralho.
Da mesma forma, o espaço amostral ao lançar uma vez um dado, são as seis faces que o compõem:
Ω = {1, 2, 3, 4, 5, 6}.
A quantidade de elementos em um conjunto chama-se cardinalidade, expressa pela letra n seguida do
símbolo do conjunto entre parênteses.
Assim, a cardinalidade do espaço amostral do experimento lançar um dado é n(Ω) = 6.
— Espaço Amostral Equiprovável
Equiprovável significa mesma probabilidade. Em um espaço amostral equiprovável, cada ponto amostral
possui a mesma probabilidade de ocorrência.
Exemplo: Em uma urna com 4 esferas de cores: amarela, azul, preta e branca, ao sortear uma ao acaso,
quais as probabilidades de ocorrência de cada uma ser sorteada?
Sendo experimento honesto, todas as cores possuem a mesma chance de serem sorteadas.
— Tipos de Eventos
Evento é qualquer subconjunto do espaço amostral de um experimento aleatório.
Evento certo
O conjunto do evento é igual ao espaço amostral.
Exemplo: Em uma delegação feminina de atletas, uma ser sorteada ao acaso e ser mulher.
Evento Impossível
O conjunto do evento é vazio.
Exemplo: Imagine que temos uma caixa com bolas numeradas de 1 a 20 e que todas as bolas são vermelhas.
O evento “tirar uma bola vermelha” é um evento certo, pois todas as bolas da caixa são desta cor. Já o
evento “tirar um número maior que 30”, é impossível, visto que o maior número na caixa é 20.
Evento Complementar
Os conjuntos de dois eventos formam todo o espaço amostral, sendo um evento complementar ao outro.
Exemplo: No experimento lançar uma moeda, o espaço amostral é Ω = {cara, coroa}.
Seja o evento A sair cara, A = {cara}, o evento B sair coroa é complementar ao evento A, pois, B={coroa}.
Juntos formam o próprio espaço amostral.
Evento Mutuamente Exclusivo
Os conjuntos dos eventos não possuem elementos em comum. A intersecção entre os dois conjuntos é
vazia.
Exemplo: Seja o experimento lançar um dado, os seguintes eventos são mutuamente exclusivos
A: ocorrer um número menor que 5, A = {1, 2, 3, 4}.
B: ocorrer um número maior que 5, A = {6}.
— Probabilidade Condicional
A probabilidade condicional relaciona as probabilidades entre eventos de um espaço amostral equiprovável.
Nestas circunstâncias, a ocorrência do evento A, depende ou, está condicionada a ocorrência do evento B.
A probabilidade do evento A dado o evento B é definida por:
67
Onde o evento B não pode ser vazio.
Exemplo de caso de probabilidade condicional: Em um encontro de colaboradores de uma empresa que
atua na França e no Brasil, um sorteio será realizado e um dos colaboradores receberá um prêmio. Há apenas
colaboradores franceses e brasileiros, homens e mulheres.
Como evento de probabilidade condicional, podemos associar a probabilidade de sortear uma mulher (evento
A) dado que seja francesa (evento B).
Neste caso, queremos saber a probabilidade de ocorrer A (ser mulher), apenas se for francesa (evento B).
A geometria é uma área da matemática que estuda as formas geométricas desde comprimento, área e
volume18. O vocábulo geometria corresponde a união dos termos “geo” (terra) e “metron” (medir), ou seja, a
“medida de terra”.
A Geometria é dividida em três categorias:
- Geometria Analítica;
- Geometria Plana;
- Geometria Espacial;
Assim, a geometria analítica, também chamada de geometria cartesiana, une conceitos de álgebra e
geometria através dos sistemas de coordenadas. Os conceitos mais utilizados são o ponto e a reta.
Enquanto a geometria plana ou euclidiana reúne os estudos sobre as figuras planas, ou seja, as que não
apresentam volume, a geometria espacial estuda as figuras geométricas que possuem volume e mais de uma
dimensão.
— Geometria Plana
É a área da matemática que estuda as formas que não possuem volume. Triângulos, quadriláteros, retângulos,
circunferências são alguns exemplos de figuras de geometria plana (polígonos)19.
Para geometria plana, é importante saber calcular a área, o perímetro e o(s) lado(s) de uma figura a partir
das relações entre os ângulos e as outras medidas da forma geométrica.
Algumas fórmulas de geometria plana:
— Teorema de Pitágoras
Uma das fórmulas mais importantes para esta frente matemática é o Teorema de Pitágoras.
Em um triângulo retângulo (com um ângulo de 90º), a soma dos quadrados dos catetos (os “lados” que
formam o ângulo reto) é igual ao quadrado da hipotenusa (a aresta maior da figura).
Teorema de Pitágoras: a² + b² = c²
— Lei dos Senos
Lembre-se que o Teorema de Pitágoras é válido apenas para triângulos retângulos. A lei dos senos e lei dos
cossenos existe para facilitar os cálculos para todos os tipos de triângulos.
Veja a fórmula abaixo. Onde a, b e c são lados do triângulo.
Para qualquer triângulo ABC inscrito em uma circunferência de centro O e raio R, temos que:
18 https://www.todamateria.com.br/matematica/geometria/#:~:text=A%20geometria%20%C3%A9%20
uma%20%C3%A1rea,Geometria%20Anal%C3%ADtica
19 https://bityli.com/BMvcWO
68
— Lei dos Cossenos
A lei dos cossenos pode ser utilizada para qualquer tipo de triângulo, mesmo que ele não tenha um ângulo
de 90º. Basta conhecer o cosseno de um dos ângulos e o valor de dois lados (arestas) do triângulo.
Veja a fórmula abaixo. Onde a, b e c são lados do triângulo.
Para qualquer triângulo ABC, temos que:
69
— Teorema de Tales
O Teorema de Tales é uma propriedade para retas paralelas.
70
Fórmulas da Circunferência
71
Conversão para radiano, comprimento e área do círculo:
Conversão de unidades: π rad corresponde a 180°.
Comprimento de uma circunferência: C = 2 · π · R.
Área de uma circunferência: A = π · R²
— Geometria Espacial
É a frente matemática que estuda a geometria no espaço. Ou seja, é o estudo das formas que possuem três
dimensões: comprimento, largura e altura.
Apenas as figuras de geometria espacial têm volume.
Uma das primeiras figuras geométricas que você estuda em geometria espacial é o prisma. Ele é uma
figura formada por retângulos, e duas bases. Outros exemplos de figuras de geometria espacial são cubos,
paralelepípedos, pirâmides, cones, cilindros e esferas. Veja a aula de Geometria espacial sobre prisma e esfera.
— Fórmulas de Geometria Espacial
Fórmula do Poliedro: Relação de Euler
Para saber a quantidade de vértices e arestas de uma figura espacial, utilize a Relação de Euler:
Onde V é o número de vértices, F é a quantidade de faces e A é a quantidade de arestas, temos:
V+F=A+2
Fórmulas da Esfera
Fórmulas do Cone
Onde r é o raio da base, g é a geratriz e H é a altura.
Área lateral do cone: Š = π · R . g
Área da base do cone: A = π · R²
Área da superfície total do cone: S = Š + A
Volume do cone: V = 1/3 . A . H
72
Fórmulas do cilindro
73
Diagonal de um paralelepípedo: .
Área total de um paralelepípedo:
.
Volume de um paralelepípedo: .
Prismas retos são sólidos cujas faces laterais são formadas por retângulos.
Volume de um prisma:
Volume (V): V = . AB . h.
E sendo a (apótema da base), h (altura), g (apótema da pirâmide), r (raio da base), b (aresta da base) e t
(aresta lateral), temos pela aplicação de Pitágoras nos triângulos retângulos.
h² + r² = t²
h² + a² = g²
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Altura da face =
Altura do tetraedro =
Área da face: AF =
Área total: AT =
Volume do tetraedro:
— Geometria Analítica
A geometria analítica utiliza coordenadas e funções do plano cartesiano para solucionar perguntas
matemáticas. É a área da matemática que relaciona a álgebra com a geometria. A álgebra utiliza variáveis para
representar os números e u utiliza fórmulas matemáticas.
Conhecer essa frente da matemática também é importante para resolver questões de Física. Por exemplo, o
cálculo da área em um plano cartesiano pode informar o deslocamento (ΔS) se o eixo x e o eixo y informarem
a velocidade e o tempo.
O primeiro passo para estudar essa matéria é aprender o conceito de ponto e reta.
- Um ponto determina uma posição no espaço.
- Uma reta é um conjunto de pontos.
- Um plano é um conjunto infinito com duas dimensões.
Entender a relação entre ponto, reta e plano é importante para resolver questões com coordenadas no plano
cartesiano, mas também para responder perguntas sobre a definição de ponto, reta e plano, e a posição relativa
entre retas, reta e plano e planos.
Para representar um ponto (A, por exemplo) em um plano cartesiano, primeiro você deve indicar a posição
no eixo x (horizontal) e depois no eixo y (vertical). Assim, segue as coordenadas seguem o modelo A (xa,ya).
— Equação Fundamental da Reta
A equação fundamental da reta que passa pelo ponto P (x0, y0) e tem coeficiente angular m é:
y – y0 = m . (x – x0)
Equação Reduzida e Equação Geral da Reta
• Equação reduzida: y = mx + q e m = tgα.
• Equação geral: ax + by + c = 0.
75
— Distância entre Dois Pontos
O ponto médio M do segmento de extremos A(xA, yA) e B(xB, yB) é dado por:
Média aritmética de um conjunto de números é o valor que se obtém dividindo a soma dos elementos pelo
número de elementos do conjunto.
Mediana (Md)
Sejam os valores escritos em rol: x1 , x2 , x3 , ... xn
Sendo n ímpar, chama-se mediana o termo xi tal que o número de termos da sequência que precedem xi é
igual ao número de termos que o sucedem, isto é, xi é termo médio da sequência (xn) em rol.
Sendo n par, chama-se mediana o valor obtido pela média aritmética entre os termos xj e xj +1, tais que
o número de termos que precedem xj é igual ao número de termos que sucedem xj +1, isto é, a mediana é a
média aritmética entre os termos centrais da sequência (xn) em rol.
76
Exemplo 1:
Determinar a mediana do conjunto de dados:
{12, 3, 7, 10, 21, 18, 23}
Solução:
Escrevendo os elementos do conjunto em rol, tem-se: (3, 7, 10, 12, 18, 21, 23). A mediana é o termo médio
desse rol. Logo: Md=12
Resposta: Md=12.
Exemplo 2:
Determinar a mediana do conjunto de dados:
{10, 12, 3, 7, 18, 23, 21, 25}.
Solução:
Escrevendo-se os elementos do conjunto em rol, tem-se:
(3, 7, 10, 12, 18, 21, 23, 25). A mediana é a média aritmética entre os dois termos centrais do rol.
Logo:
Resposta: Md=15
Moda (Mo)
Num conjunto de números: x1 , x2 , x3 , ... xn, chama-se moda aquele valor que ocorre com maior frequência.
Observação:
A moda pode não existir e, se existir, pode não ser única.
Exemplo 1:
O conjunto de dados 3, 3, 8, 8, 8, 6, 9, 31 tem moda igual a 8, isto é, Mo=8.
Exemplo 2:
O conjunto de dados 1, 2, 9, 6, 3, 5 não tem moda.
Medidas de dispersão
Duas distribuições de frequência com medidas de tendência central semelhantes podem apresentar carac-
terísticas diversas. Necessita-se de outros índices numéricas que informem sobre o grau de dispersão ou va-
riação dos dados em torno da média ou de qualquer outro valor de concentração. Esses índices são chamados
medidas de dispersão.
Variância
Há um índice que mede a “dispersão” dos elementos de um conjunto de números em relação à sua média
aritmética, e que é chamado de variância. Esse índice é assim definido:
Seja o conjunto de números x1 , x2 , x3 , ... xn, tal que é sua média aritmética. Chama-se variância desse
conjunto, e indica-se por , o número:
Isto é:
E para amostra
77
Exemplo 1:
Em oito jogos, o jogador A, de bola ao cesto, apresentou o seguinte desempenho, descrito na tabela abaixo:
b) A variância é:
Desvio médio
Definição
Medida da dispersão dos dados em relação à média de uma sequência. Esta medida representa a média das
distâncias entre cada elemento da amostra e seu valor médio.
Desvio padrão
Definição
Seja o conjunto de números x1 , x2 , x3 , ... xn, tal que é sua média aritmética. Chama-se desvio padrão
desse conjunto, e indica-se por , o número:
Isto é:
78
Exemplo:
As estaturas dos jogadores de uma equipe de basquetebol são: 2,00 m; 1,95 m; 2,10 m; 1,90 m e 2,05 m.
Calcular:
a) A estatura média desses jogadores.
b) O desvio padrão desse conjunto de estaturas.
Solução:
Exercícios
79
3.(FGV - ATCE (TCE-AM)/TCE-AM/AUDITORIA DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO/2021)
Assunto: Sistemas de numeração (decimal, binário, hexadecimal, octal, romano, conversão entre sistemas).
A representação binária complemento a dois do número decimal -32 é:
(A) 00100000
(B) 10100000
(C) 11011111
(D) 01111111
(E) 11100000
80
(C) 30.
(D) 35.
(E) 40.
Remuneração por
Profissão Carga horária Remuneração
hora de trabalho
Técnico de enfermagem 30 h R$ 5.100,00 X
Técnico de radiologia 20 h R$ 3.600,00 Y
Técnico administrativo 40 h R$ 6.000,00 Z
Em relação à remuneração por hora de trabalho é correto afirmar que
(A) X > Y > Z.
(B) Y > X > Z.
(C) X > Z > Y.
(D) Y > Z > X.
(E) Z > X > Y.
81
(D) 4/13
(E) 9/20
82
(B) se não há fumaça então não há fogo.
(C) se não há fogo, então não há fumaça.
(D) se não há fumaça pode haver fogo.
(E) se há fogo então pode haver fumaça.
83
Caso III
•Todos os professores gostam de cinema.
•Existem advogados que são professores. Conclusão: Todos os advogados gostam de cinema.
As conclusões são, segundo a ordem dos casos apresentados, respectivamente,
(A) V – F – F.
(B) F – V – F.
(C) F – F – V.
(D) V – V – F.
(E) V – V – V.
84
Laura está imediatamente à frente de Míriam, que é a mais jovem de todas. A mais alta não é a mais velha.
Paula é mais baixa do que Rita, mas não é a mais baixa de todas.
É correto concluir que:
(A) Paula é a primeira da fila.
(B) a mais velha está no 3º lugar da fila.
(C) Míriam é mais baixa que Laura.
(D) Laura está imediatamente atrás de Míriam.
(E) a primeira da fila é mais velha que Paula.
85
(A) 21003.
(B) 20100.
(C) 19221.
(D) 18315.
(E) 17934.
25. FUNDEPES - 2023 - Prefeitura de Marechal Deodoro - AL - Agente de Combate às Endemias- A respeito
do raciocínio lógico sequencial, dada a sequência numérica,
3, 4, 8, 11, 44, 49, ...
De acordo com a lógica sequencial, o próximo termo da sequência é
(A) 55.
(B) 59.
86
(C) 88.
(D) 123.
(E) 294.
Gabarito
1 C
2 E
3 E
4 E
5 D
6 D
7 B
8 E
9 D
10 D
11 D
12 E
13 C
14 D
15 A
16 A
17 B
18 A
19 B
20 A
21 D
22 D
23 C
24 A
25 E
87
SES-MT
Comum aos cargos de nível Superior e Especialista
A Amazônia, o maior bioma do Brasil e lar da maior floresta tropical do mundo, abrange nove países da
América do Sul, incluindo Bolívia, Equador e Peru. Essa vasta região contribui com um quinto da água doce
que flui para os oceanos globais. Dos 100 mil tipos de plantas presentes nos países sul-americanos, 30 mil são
encontradas na Amazônia.
Ao longo do tempo, o cenário amazônico passou por transformações significativas. Inicialmente, durante a
colonização europeia, a Amazônia era um espaço minimamente alterado, predominando uma extensa área na-
tural utilizada principalmente para atividades extrativistas. Algumas áreas eram destinadas a pequenas lavou-
ras, conhecidas como “roças”. Nesse período, as modificações na natureza eram limitadas, pois a população
utilizava apenas o necessário para sua subsistência, sem as grandes rodovias existentes atualmente. Os rios,
apesar de serem utilizados como vias de transporte e fonte de alimentos, não sofriam a poluição observada nos
dias de hoje.
Contudo, nas últimas décadas, a situação mudou devido a fatores sociais, políticos e econômicos. O gover-
no passou a incentivar grandes investimentos na Amazônia, desencadeando um processo intenso e muitas ve-
zes violento de ocupação e povoamento. Esse processo resultou em inúmeras consequências negativas para
o espaço amazônico, como a desordenada derrubada da mata, a implementação de projetos lucrativos para
poucos e a grilagem de grandes propriedades rurais por grandes latifundiários.
O bioma enfrenta sérios problemas de degradação devido à exploração ilegal de madeira e ao avanço da
agropecuária. Em resposta a esses desafios, o governo brasileiro criou o programa Amazônia Legal, visan-
do promover a sustentabilidade, aliada ao desenvolvimento social e econômico das populações amazônicas.
Atualmente, nove estados fazem parte do projeto: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia,
Roraima, Tocantins e parte do Maranhão.
Destaques sobre a Amazônia
– Considerada a região de maior biodiversidade do planeta.
– Não é exclusiva do território brasileiro, abrangendo áreas de outros países.
– Engloba a Floresta Amazônica, maior floresta tropical do mundo, e a Bacia Amazônica, a maior bacia hi-
drográfica do planeta.
– Possui uma fauna extremamente rica, com mais de 30 milhões de espécies.
– Sua flora é diversificada, composta por árvores, ervas, arbustos, lianas e trepadeiras.
– Aproximadamente 17% do bioma foi devastado nos últimos 50 anos.
Devastação
Nas últimas décadas, a Amazônia testemunhou um aumento significativo no desmatamento de suas exten-
sões. Uma pesquisa conduzida pelo norte-americano Thomas Lovejoy, professor da George Mason University,
e pelo brasileiro Carlos Nobre, coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Cli-
máticas, alerta para o risco de perdas irreversíveis no bioma Amazônia devido a essa prática. De acordo com os
pesquisadores, o desmatamento já atingiu 17% nos últimos 50 anos, aproximando-se do limite crítico de 20%,
além do qual as consequências para o clima e o ciclo hidrológico poderiam se tornar irreversíveis.
O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) relata um aumento expressivo de aproxima-
damente 40% no desmatamento do bioma entre os anos de 2017 e 2018, resultando na perda de quase 4.000
km2 de mata nativa. Essa devastação ocorreu predominantemente em áreas privadas, assentamentos e uni-
dades de conservação. A persistência desse padrão de desmatamento levanta sérias preocupações quanto ao
impacto ambiental e destaca a urgência de medidas eficazes para preservar a Amazônia e suas funções vitais
no equilíbrio ambiental global.
1
Localização do bioma Amazônia, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (Fonte: IBGE.)
O processo de ocupação com fins econômicos tem gerado, e continua gerando, uma série de problemas am-
bientais na Amazônia, como desmatamento, queimadas, tráfico de espécies animais e vegetais, entre outros.
A seguir, apresentamos a ordem cronológica da ocupação e destruição da maior floresta tropical do mundo:
1494: o Tratado de Tordesilhas, assinado entre Portugal e Espanha, concedeu aos espanhóis o domínio da
porção oeste da América do Sul, onde se localiza a Floresta Amazônica.
1540: apesar do domínio espanhol na região, os portugueses ocuparam a Amazônia, impedindo a invasão
de ingleses, franceses e holandeses na floresta.
1637: os portugueses realizaram a primeira grande expedição pela Amazônia, explorando frutos como cacau
e castanha.
1750: Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Madri, concedendo o domínio da Floresta Amazônica
àquele que realizasse sua ocupação e exploração. Os portugueses conquistaram esse direito.
Final do século XIX: período marcado pela exploração da borracha, que se tornou expressiva para a econo-
mia local.
1960: com receio de internacionalização, os militares promoveram obras de infraestrutura, como a Transa-
mazônica, visando integrar a Amazônia ao restante do país.
1970: políticas públicas de ocupação levaram a um aumento populacional significativo, atingindo sete mi-
lhões de habitantes. Surgiram os primeiros problemas ambientais, com 14 milhões de hectares desmatados.
1980: intensificação dos desmatamentos, impulsionados pela venda de madeira e expansão agropecuária.
A Amazônia, erroneamente considerada o “pulmão do mundo”, sofreu pressões internacionais.
1988: introdução do PRODES para monitorar o desmatamento na Amazônia. Assassinato do ativista Chico
Mendes.
1990: cultivo de soja na região, alcançando 41 milhões de hectares desmatados.
2000: introdução da pecuária em larga escala, com 64 milhões de cabeças de gado. Expansão urbana e
aumento populacional, com mais de 21 milhões de pessoas na região.
2005–2009: início de políticas eficazes de preservação ambiental. Assassinato da ambientalista Dorothy
Stang e desmatamento de 70 milhões de hectares. Entre 2008 e 2009, o menor índice de desmatamento em 20
anos, sendo 46% inferior ao período anterior.
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O espaço natural: estrutura geológica e características do relevo
— Relevo
Conforme a classificação de Ross (1996), como descrito por Vasconcelos (2005), o relevo do Estado de
Mato Grosso exibe três tipos de unidades geomorfológicas que refletem suas origens:
Planaltos
– Planaltos em bacias sedimentares: estas são quase inteiramente circundadas por depressões marginais,
apresentando relevos escarpados em relação às depressões circundantes ou incorporados em seu interior.
Exemplos incluem o Planalto e Chapada dos Parecis, o Planalto e Chapada dos Guimarães, e o Planalto dos
Alcantilados-Alto Araguaia. Esses planaltos integram o planalto central brasileiro, com extensiva substituição da
cobertura original de cerrados pela agricultura tecnificada.
– Planaltos em intrusões e coberturas residuais de plataforma: estas unidades não são exclusivamente com-
postas por coberturas sedimentares residuais, mas também por serras e morros isolados associados a intru-
sões graníticas, derrames vulcânicos antigos e dobramentos. Exemplos incluem Planaltos e Serras Residuais
do Norte de Mato Grosso e Planaltos e Serras Residuais do Guaporé-Jauru.
– Planaltos em cinturões orogênicos: estes ocorrem em faixas de orogenia ou dobramentos antigos, sendo
relevos residuais sustentados por rochas metamórficas associadas a intrusivas. Em Mato Grosso, estão rela-
cionados às estruturas dobradas do cinturão Paraguai-Araguaia, como a Província Serrana/Serras Residuais
do Alto Paraguai, Planalto do Arruda-Mutum e Planalto de São Vicente.
Depressões periféricas e marginais
Essas depressões são geradas por processos erosivos nos contatos das bordas das bacias sedimentares
com maciços antigos. Atividades erosivas esculpiram depressões periféricas, marginais e monoclinais, circun-
dando as bordas das bacias e se interpondo entre estas e os maciços antigos do cristalino.
Planícies
Relevos enquadrados como Planícies são áreas planas geradas por deposição fluvial de sedimentos re-
centes, predominantemente associadas a processos agradacionais recentes do Quaternário, especialmente
do Holoceno. Três grandes unidades de planícies e pantanais foram identificadas em Mato Grosso: Planície e
Pantanal do Rio Guaporé, Planície e Pantanal do Rio Paraguai e Planície do Rio Araguaia.
Além disso, foram identificadas diversas depressões em Mato Grosso, incluindo a do Norte de Mato Grosso,
do Guaporé, do Araguaia, do Alto Paraguai, Cuiabana e a Depressão Interplanáltica de Paranatinga.
Solo
Os ambientes naturais diversificados do Estado de Mato Grosso refletem uma variedade de coberturas pe-
dológicas, destacando-se as seguintes classes de solos em termos de extensão:
– Latossolo Vermelho-Amarelo e Latossolo Vermelho-Escuro: Aproximadamente 366.389,81 km².
– Podzólicos Vermelho-Amarelos: Cerca de 216.286,72 km².
– Areias Quartzosas: Com uma extensão de 116.202,38 km², todas em caráter de dominância.
Os Latossolos e Podzólicos, presentes em áreas de relevos planos e suavemente ondulados sob Cerrados
e Florestas, são predominantemente ácidos e de baixa fertilidade, requerendo correção com calcário e aduba-
ção química para uso agropecuário. Os Latossolos na parte centro-sul do Estado, sobre planaltos e chapadas,
apresentam condições físicas excelentes para a prática de agricultura mecanizada.
Os Podzólicos sob florestas, distribuídos na parte norte do Estado, demandam atenção especial devido ao
regime climático (predominantemente sob clima equatorial), menor profundidade efetiva, presença de casca-
lhos, pedregosidade e gradiente textural, tornando-os mais suscetíveis a processos erosivos.
Os solos de areias quartzosas, com baixa retenção de umidade e nutrientes, podem ser utilizados para pre-
servação, culturas adaptadas, pastagens nativas e reflorestamentos.
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Destacam-se, devido à fertilidade mais elevada, os Podzólicos Vermelho-Escuros e Terras Roxas Estru-
turadas, encontrados em pequenas áreas no embasamento cristalino ao norte do Estado. No sudeste, como
dominantes, ocupam um total de 1.282,66 km², distribuídos em relevo suave ondulado a ondulado, tornando-se
suscetíveis a processos erosivos.
No Planalto de Tapirapuã, os Latossolos Roxos ocupam 1.576,34 km². Outras classes de solos ocorrem em
menor extensão, incluindo Cambissolos, Solos Litólicos, Planossolos e Solos Concrecionários, todos caracteri-
zados por baixa fertilidade natural.
Clima
O Estado de Mato Grosso apresenta um clima predominantemente continental, caracterizado por duas es-
tações bem-definidas:
– Verão Chuvoso: essa estação ocorre de outubro a março, compreendendo a primavera e o verão.
– Inverno Seco: inicia em abril e se estende até setembro, abrangendo o outono e o inverno.
A variação nas médias de temperatura é influenciada principalmente por dois fatores: a ampla extensão do
território no sentido norte-sul e a localização no interior do continente, resultando em uma reduzida influência
marítima. Essa configuração climática contribui para uma baixa amplitude térmica.
No extremo norte do estado, a temperatura média anual atinge cerca de 26°C, enquanto no extremo sul,
essa média é de 22°C. As variações diárias de temperatura podem ser significativas apenas durante a penetra-
ção de massas de ar frio de origem polar, principalmente nos meses de junho e julho.
O regime de chuvas segue um padrão tropical continental:
– Estação Chuvosa: de outubro a março, abrangendo primavera e verão.
– Estação Seca: de abril a setembro, compreendendo outono e inverno.
As médias anuais de chuva variam de 1.250 a 2.750 mm. Na região norte do estado, as precipitações ultra-
passam os 2.000 mm por ano, enquanto no Pantanal, a média é inferior a 1.200 mm.
Dois principais tipos de clima predominam em Mato Grosso:
– Clima Equatorial: no norte do estado, caracterizado por chuvas intensas ao longo de todo o ano, com
temperaturas elevadas. Essa área sofre a influência da massa equatorial continental, resultando em altas tem-
peraturas, baixas pressões atmosféricas, forte evaporação e intensas precipitações.
– Clima Tropical Continental: apresenta duas estações distintas, uma chuvosa e outra seca. No verão, essa
região é influenciada pela massa equatorial continental, enquanto no inverno, essa massa permanece estacio-
nária sobre a Região Norte do Brasil. Durante o inverno, a massa tropical continental avança sobre o Centro-
-Oeste, ocasionando estiagem devido às altas pressões e impedindo a chegada de ventos úmidos. Eventuais
chuvas podem ocorrer pela penetração da massa polar atlântica.
A vegetação no Estado de Mato Grosso está inserida nos Biomas e/ou Domínios dos Cerrados e das Flores-
tas, conforme definido pela SEPLAN/CNEC (2002), em consonância com a classificação de Ab’Saber (1977).
No bioma do Cerrado, a fisionomia vegetal predominante é caracterizada por bosques abertos, compostos por
árvores contorcidas e de pequena estatura (entre 8 e 12 metros), acompanhadas por um estrato arbustivo e
herbáceo onde predominam gramíneas e leguminosas.
Devido a peculiaridades edáficas, topográficas e climáticas desse bioma, destacam-se os seguintes tipos
relevantes no Estado, conforme estudos da SEPLAN/CNEC (2002):
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– Campo Cerrado (Savana Parque): nesta fisionomia, predomina o componente herbáceo e arbustivo, com
árvores esparsas, formando uma expressão campestre da savana conhecida como “Campo Cerrado”. Possui
uma diversificada composição florística, com arbustos e árvores de 1 a 2 metros de altura, características da
Savana Arborizada.
– Cerrado Propriamente Dito (Savana Arborizada): caracteriza-se por um tapete gramíneo lenhoso contínuo,
com presença de espécies arbóreas de troncos retorcidos e folhas grandes. Variações fisionômicas e estru-
turais, decorrentes de características pedológicas e perturbações antropogênicas, resultam em distribuição
irregular de indivíduos, com alturas entre 2 e 7 metros.
– Cerradão (Savana Florestada): Esta expressão florestal das formações savânicas apresenta árvores de
troncos grossos, dossel simples, e estratificação lenhosa perenifólia. Não possui um estrato arbustivo nítido, e
o estrato graminoso é entremeado por espécies lenhosas de pequeno porte. Alcança alturas em torno de 15 a
18 metros, com uma composição florística diversificada.
– Florestas de Galeria: estas florestas, também conhecidas como matas ciliares, iniciam-se nos nascedou-
ros dos ribeirões, formando alamedas de buritis (Mauritia.sp). Ao longo dos cursos d’água, adquirem outras
espécies arbóreas, ocupando gradualmente as “rampas” dos interflúvios. As matas ciliares são consideradas o
fim da área nuclear do Domínio dos Cerrados.
No Bioma das Florestas, que compreende as Florestas Ombrófila e Estacional, destacam-se:
– Floresta Ombrófila: presente no extremo Noroeste do Estado, esta formação florestal pluriestratificada
possui dossel de 20 a 30 metros de altura e emergentes que atingem até 45 metros. Predominam espécies
perenifólias, com a presença frequente de epífitas, lianas e plantas escandentes.
– Floresta Estacional: associada à estacionalidade climática e solos mais férteis do que nas Savanas, esta
floresta ocorre entre os paralelos 10°00’ e 14°00’S. A faixa de contatos, chamada de áreas de transição, repre-
senta comunidades indiferenciadas entre dois ou mais tipos de vegetação, podendo ser encraves preservados
ou ecótonos onde diferentes tipos de vegetação se misturam.
– Complexo do Pantanal: considerado uma área de transição entre os Domínios dos Cerrados e o Chaco
Central, o Pantanal é um hotspot fitogeográfico que convergem quatro das principais províncias fitogeográficas
da América do Sul: Amazônia, Cerrados, Florestas Meridionais e Chaquenha. A dinâmica de cheias e vazantes
contribui para uma complexidade biótica única, com pequenas variações de terreno condicionando formações
vegetais distintas.
O clima
Mato Grosso é um estado de clima variado. Sua capital, Cuiabá, é uma das cidades mais quentes do Brasil,
com temperatura média que gira em torno de 24°C e não raro bate os 40º. Mas há 60 quilômetros, em Chapada
dos Guimarães, o clima já muda completamente. É mais ameno, com ventos diurnos e noites frias. Chapada já
registrou temperaturas negativas, fato nunca ocorrido em Cuiabá.
O estado de Mato Grosso apresenta sensível variedade de climas. Prevalece o tropical super-úmido de
monção, com elevada temperatura média anual, superior a 24º C e alta pluviosidade (2.000mm anuais); e o
tropical, com chuvas de verão e inverno seco, caracterizado por médias de 23°C no planalto. A pluviosidade é
alta também nesse clima: excede a média anual de 1.500mm.
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A rede hidrográfica
O Estado de Mato Grosso ocupa uma posição proeminente no contexto nacional, sendo um divisor de águas
que abriga as nascentes de rios que formam as três principais bacias hidrográficas do Brasil: Amazônica, do
Paraná e Tocantins. Os rios mato grossenses que fazem parte da Bacia Amazônica drenam a porção norte do
Estado, escoando rapidamente em direção à Planície Amazônica. Entre esses rios, destacam-se o Juruena,
Teles, Pires, Arinos, Aripuanã, Roosevelt e Xingu.
Seus principais rios da bacia do Amazonas são Araguaia, Rio das Mortes, Xingu, Juruena, Manoel Teles
Pires e Roosevelt.
Na Bacia do Tocantins, o rio Araguaia destaca-se, tendo sua nascente no extremo sul do Estado e fluindo
para o norte, marcando o limite com os Estados de Goiás e Tocantins. Seus principais afluentes incluem os rios
das Mortes, das Garças, Cristalino e Xavante.
Na Bacia do Paraná, a rede de afluentes do rio Paraguai domina a porção sul e sudeste do Estado. Esses rios
caracterizam-se por um escoamento mais lento sobre aluviões recentes. O rio Paraguai é navegável em grande
parte de seu curso, com afluentes notáveis como Jauru, Cabaçal, Sepotuba e Cuiabá, este último cortando a
cidade de Cuiabá, a capital do Estado, e sendo um dos principais contribuintes do Pantanal Mato-Grossense.
A hidrografia do estado também é marcada por diversas cachoeiras, como as do Véu de Noiva (Chapada dos
Guimarães), da Fumaça (Jaciara) e o Salto dos Dardanellos (Aripuanã). A represa do Rio Manso, localizada a
60 km de Cuiabá, é destacada pela presença da Usina Hidrelétrica do Rio Manso, oferecendo grande potencial
turístico para esportes náuticos, assim como as baías de Chacororé, Siá-Mariana, Uberaba e Guariba.
Embora o Estado seja rico em recursos hídricos, a navegabilidade de seus rios é pouco explorada. Alguns
trechos notáveis incluem os rios Paraguai, Guaporé, Juruena, Araguaia e rio das Mortes, integrando as hidro-
vias Paraguai-Paraná e Tocantins-Araguaia.
O Mato Grosso é caracterizado por uma vasta diversidade de ecossistemas, incluindo florestas, cerrados e
áreas úmidas. Essa riqueza biológica torna a região uma fonte significativa de recursos naturais, como madeira,
plantas medicinais, frutos e fibras.
Os rios que cortam Mato Grosso, como o Rio Paraguai e seus afluentes, oferecem recursos hídricos abun-
dantes. Essa disponibilidade de água é essencial para diversas atividades econômicas, desde a agricultura até
a geração de energia.
O solo fértil da região é propício para a prática agrícola. Mato Grosso é conhecido por ser um grande produ-
tor de grãos, com destaque para a soja, milho e algodão.
Além de sua diversidade biológica, Mato Grosso possui um potencial mineral significativo, com a presença
de depósitos de ouro, calcário, fosfato e outros minerais.
Desafios no Aproveitamento Sustentável
– Desmatamento e pressão ambiental: o avanço da fronteira agrícola e a expansão agropecuária têm sido
associados ao desmatamento, representando um desafio significativo para o aproveitamento sustentável dos
recursos naturais. A pressão ambiental decorrente dessas atividades demanda práticas mais sustentáveis.
– Conflitos socioambientais: a exploração de recursos naturais muitas vezes está associada a conflitos so-
cioambientais, especialmente quando não envolve a participação e o respeito aos direitos das comunidades
locais, incluindo populações indígenas e tradicionais.
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– Necessidade de regularização ambiental: a regularização ambiental é crucial para garantir o aproveita-
mento sustentável dos recursos naturais. Instrumentos como o Cadastro Ambiental Rural (CAR) são essenciais
para monitorar e controlar as atividades que impactam o meio ambiente.
Oportunidades para a Sustentabilidade:
– Manejo Florestal Sustentável: o extrativismo florestal com base em práticas sustentáveis pode ser uma
oportunidade para aproveitar recursos como madeira, óleos essenciais e produtos não madeireiros, contribuin-
do para a conservação da biodiversidade.
– Agricultura Sustentável: a implementação de práticas agrícolas sustentáveis, como a agricultura de pre-
cisão e a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), pode permitir o aproveitamento dos solos férteis sem
comprometer os recursos naturais.
– Turismo Sustentável: a biodiversidade única e as belezas naturais de Mato Grosso oferecem oportunida-
des para o desenvolvimento do turismo sustentável, promovendo a preservação ambiental e gerando renda
para as comunidades locais.
Desmatamento
O desmatamento da Floresta Amazônica emerge como uma preocupação global, representando uma amea-
ça ao equilíbrio ecológico da região. Desde o início da exploração definitiva da Amazônia na década de 1970,
aproximadamente 12 a 13% de sua área original já foi desmatada.
A prática do desmatamento resulta em desequilíbrios ecológicos significativos, afetando a evaporação, pre-
judicando a infiltração da água no solo e reduzindo o reabastecimento dos lençóis freáticos e rios.
Além disso, compromete a biodiversidade, podendo levar à extinção de espécies vegetais desconhecidas.
Em uma área relativamente pequena de 300 centímetros cúbicos de floresta, podem coexistir cerca de 1500
espécies de animais e vegetais.
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Organização do espaço mato-grossense: posição geográfica; mesorregiões e microrregiões
Localizado no coração do Centro-Oeste brasileiro, Mato Grosso ocupa o centro geodésico da América Lati-
na. A capital, Cuiabá, repousa precisamente no ponto médio entre os oceanos Atlântico e Pacífico, configuran-
do-se como o epicentro linear do continente. A determinação exata desse marco foi realizada pelo Marechal
Rondon durante suas expedições pelo estado, sendo solenemente demarcada por um monumento, o imponen-
te obelisco da Câmara dos Vereadores.
O estado de Mato Grosso caracteriza-se por altitudes moderadas, apresentando um relevo marcado por
vastas áreas planas esculpidas em rochas sedimentares. Três regiões distintas delineiam essa geografia: a
porção centro-norte exibe chapadões sedimentares e planaltos cristalinos, situados a altitudes entre 400 e 800
metros, integrando o planalto central brasileiro. A região sul, por sua vez, é dominada pelo planalto arenito-ba-
sáltico, uma extensão do planalto meridional. Já a porção centro-ocidental é ocupada pela singular baixada do
Pantanal Mato-Grossense.
Devido à vasta extensão no sentido Leste-Oeste, Mato Grosso atravessa quatro fusos horários a oeste de
Greenwich. O estado adota o fuso horário quatro negativo (-4), o que implica uma diferença de 4 horas em re-
lação ao horário GMT (Greenwich Meridian Time), tomando Londres como referência.
Com uma extensão territorial de 903.208,361 km² (Fonte: IBGE 2022), classificando-se como o terceiro
maior estado do Brasil, sendo superado apenas pelo Amazonas e Pará. Mato Grosso está na posição 15 entre
os 27 estados. Já a área urbanizada em 2019 era de 1.244,2 km², o que o deixava na posição 13 entre os 27
estados. Mato Grosso é um estado único que apresenta características dos três principais biomas brasileiros:
Pantanal, Cerrado e Amazônia. Com um clima continental bem definido, o estado possui duas estações distin-
tas: uma chuvosa, de outubro a março, e uma seca, de abril a setembro.
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O ponto mais elevado de Mato Grosso está na Serra de Santa Bárbara, atingindo 1.118 metros de altitude,
localizada entre os municípios de Pontes e Lacerda e Porto Esperidião.
Quanto ao relevo, o estado possui diversas unidades, incluindo altos planaltos, planaltos rebaixados, de-
pressões e planícies fluviais. Após pesquisas do Projeto RADAMBRASIL, foram identificadas 17 regiões altimé-
tricas em Mato Grosso, cada uma associada a diferentes características de relevo.
Mato Grosso apresenta uma diversidade de climas, compreendendo seis tipos distintos: Clima Tropical Mon-
çoico (AM), Clima Tropical de Savana (AW), Clima Tropical de Savana com Primavera Quente, Clima Tropical
do Pantanal, Clima Tropical de Altitude e Clima Tropical com Verão Chuvoso.
Quanto à hidrografia, Mato Grosso destaca-se por abrigar o maior divisor de águas da América do Sul. Esse
divisor percorre o estado no sentido oeste-leste, separando as bacias hidrográficas da Amazônica e Platina.
A Chapada dos Parecis e a Serra Azul funcionam como divisores entre essas bacias. As cabeceiras dos rios
Guaporé, Jauru e Juruena formam o início desse divisor, seguindo até as cabeceiras dos rios Teles Pires, Xingu
e Cuiabá. O divisor desce para sudeste, alcançando as cabeceiras dos rios Araguaia e Taquari nas proximida-
des das divisas de Mato Grosso do Sul e Goiás. Em alguns pontos, ocorrem as águas emendadas, onde um
banhado dá origem a rios vertentes para o norte e sul.
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Esse estado diversificado também conta com a Bacia do Tocantins, com o Rio Araguaia como tributário es-
sencial em terras mato-grossenses. Mato Grosso desempenha um papel crucial na separação dessas bacias
hidrográficas, com suas chapadas atuando como divisores naturais.
Mesorregiões
As mesorregiões de Mato Grosso são divisões geográficas que consideram aspectos como relevo, clima e
características econômicas mais amplas. O estado é dividido cinco mesorregiões:
– Norte Mato-Grossense;
– Nordeste Mato-Grossense;
– Centro-Sul Mato-Grossense;
– Sudoeste Mato-Grossense;
– Sudeste Mato-Grossense.
Microrregiões
As microrregiões são subdivisões mais detalhadas, considerando elementos mais específicos, como aspec-
tos culturais e econômicos. Mato Grosso possui diversas microrregiões que refletem as particularidades locais:
– Cuiabá: a microrregião da capital Cuiabá destaca-se por ser um polo econômico, político e cultural, além
de possuir uma diversidade ambiental significativa.
– Alto Teles Pires: esta microrregião, situada no norte do estado, é marcada pela atividade agrícola e pela
presença de rios importantes.
– Guiratinga: localizada no Sudeste, essa microrregião tem uma economia voltada para a agricultura e pe-
cuária.
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Fonte: IBGE, 2010. Elaboração cartográfica dos autores.
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– Reforço da competitividade.
– Impacto positivo na balança comercial brasileira.
– Atendimento das demandas internas, inter-regionais, intra-regionais e externas.
Além de ser um importante fornecedor de matéria-prima, o estado destaca-se pelos seguintes feitos:
– Crescimento substancial do Produto Interno Bruto (PIB).
– Participação ativa na integração sul-americana, notadamente no Mercosul.
– Expansão contínua da economia.
– Construção do gasoduto Brasil-Bolívia.
– Ativação da Hidrovia no Rio Paraguai, apesar de questões polêmicas.
– Implantação de rodovias com acesso ao Oceano Pacífico.
– Intensificação das relações comerciais com países como Peru, Chile, Bolívia, Argentina, entre outros.
Ocupação do território
O que hoje conhecemos como Mato Grosso já foi parte do território espanhol. As primeiras incursões na
região datam de 1525, quando Pedro Aleixo Garcia explorou as terras em direção à Bolívia, seguindo os cursos
dos rios Paraná e Paraguai. Posteriormente, portugueses e espanhóis foram atraídos pela região, motivados
pelos rumores de riquezas inexploradas. Jesuítas espanhóis também chegaram à área, construindo missões
entre os rios Paraná e Paraguai.
A história de Mato Grosso no período colonial é de grande importância, pois durante nove governos, o Brasil
defendeu seu perfil territorial, consolidando a propriedade e posse até os limites dos rios Guaporé e Mamoré.
Com a independência proclamada, os governos imperiais de Dom Pedro I e das Regências nomearam cinco
governantes para Mato Grosso. Durante esses anos (7/9/1822 a 23/7/1840), eventos significativos incluíram a
oficialização de Cuiabá como a capital da Província (Lei nº 19 de 28/8/1835) e o movimento nativista conhecido
como “Rusga” (30/05/1834), que resultou na matança de portugueses.
Após a maioridade de Dom Pedro II em 23 de julho de 1840, Mato Grosso foi governado por 28 presidentes
nomeados pelo imperador até a Proclamação da República em 15/11/1889. Durante o Segundo Império, a
Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai (27/12/1864 a 01/03/1870) foi um evento marcante. Destacam-
-se episódios notáveis durante a guerra em Mato Grosso, como a invasão pelas tropas paraguaias, a defesa
heroica do Forte de Coimbra, o sacrifício de Antônio João Ribeiro em Dourados, a evacuação de Corumbá, os
preparativos para a defesa de Cuiabá e a expulsão dos inimigos do sul de Mato Grosso.
A via fluvial trouxe 4.200 homens sob o comando do Coronel Vicente Barrios, enfrentando a resistência em
Coimbra, e a via terrestre viu 2.500 homens liderados pelo Coronel Isidoro Rasquin enfrentando a bravura de
Antônio João Ribeiro em Dourados. A evacuação de Corumbá, desprovida de recursos para a defesa, foi notá-
vel, com a população dirigindo-se a pé para Cuiabá em abril de 1865.
Com a expectativa de invasão a Cuiabá, a população e as autoridades iniciaram preparativos para a resis-
tência, destacando-se o Barão de Melgaço na organização das fortificações. Os invasores, ao saberem que
o Almirante Augusto Leverger (futuro Barão de Melgaço) comandava a defesa, desistiram de avançar para
Cuiabá. A expulsão dos invasores do sul de Mato Grosso foi realizada por uma coluna expedicionária composta
de soldados da Guarda Nacional e voluntários, originários de São Paulo e Minas Gerais, que reprimiram os
inimigos para dentro do território paraguaio.
A Retirada da Laguna
A Retirada da Laguna durante a Guerra da Tríplice Aliança representou uma das páginas mais notáveis da
atuação do Exército Brasileiro. Imortalizada por aqueles que participaram, como o Visconde de Taunay, esse
episódio foi registrado em uma das obras mais renomadas da literatura brasileira. Da mesma forma, a retomada
de Corumbá foi uma conquista brilhante para as forças brasileiras no conflito.
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O presidente da Província na época, o Dr. Couto de Magalhães, tomou a decisão de organizar três corpos
de tropa para recuperar Corumbá, que estava sob domínio inimigo há quase dois anos. O 1º corpo, liderado
pelo Tte. Cel. Antônio Maria Coelho, partiu de Cuiabá em 15/05/1867. Essa tropa, composta por 400 homens,
avançou através dos Pantanais em canoas, utilizando o Paraguai-Mirim, um braço do rio Paraguai.
Desconfiando de uma possível detecção pelos inimigos, Antônio Maria optou por lançar um ataque surpresa
usando apenas o 1º Corpo. Com estratégia e combate corpo a corpo, o comandante conseguiu recuperar a
praça, contando até mesmo com a ajuda de duas mulheres que o acompanharam desde Cuiabá e enfrentaram
trincheiras paraguaias com baionetas. Quando o 2º Corpo dos Voluntários da Pátria chegou a Corumbá, a cida-
de já estava nas mãos brasileiras em 13/06/1867.
Contudo, o presidente Couto de Magalhães, que participava do 2º Corpo, teve que evacuar a cidade devido
a um surto de varíola, que causou muitas vítimas. O combate do Alegre foi outro episódio notável, quando na-
vios paraguaios tentaram abordar os retirantes de Corumbá que se dirigiam a Cuiabá. A soldadesca brasileira,
liderada pelo Comandante José Antônio da Costa, venceu as tropas paraguaias em confrontos intensos.
Após a vitória, os remanescentes da retomada de Corumbá retornaram a Cuiabá, transmitindo inadvertida-
mente a varíola à população, resultando na perda de quase metade da cidade. Com o fim da guerra, a notícia
da derrota e morte de Solano Lopez nas Cordilheiras (Cerro Corá) chegou a Cuiabá em 23 de março de 1870,
pelo vapor “Corumbá”. Dezenove anos depois, em 9 de dezembro de 1889, Cuiabá foi informada sobre a Pro-
clamação da República, marcando outro capítulo significativo na história do Brasil.
Origem do nome
Os irmãos Paes de Barros descobriram as Minas de Mato Grosso em 1734, e o nome foi mantido após
a transformação da região em Estado. Em 1718, Pascoal Moreira Cabral Leme descobriu jazidas de ouro,
iniciando a corrida do ouro, e em 1726, o Arraial de Cuiabá foi fundado. Em 1734, os irmãos Paes de Barros
descobriram veios auríferos, nomeando a área de Minas do Mato Grosso. A origem do nome refere-se a sete
léguas de mato espesso nas margens do rio Galera. A Capitania de Cuiabá foi criada em 1748, consolidando a
posse portuguesa na fronteira com a Espanha. A Rainha D. Mariana de Áustria ratificou o nome Mato Grosso
em 1748. Com a independência do Brasil em 1822, tornou-se Província e, em 1899, Estado de Mato Grosso. A
economia teve altos e baixos, com um período de decadência no século XIX. Em 1977, o estado foi dividido em
Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
O plano de desenvolvimento de Mato Grosso (MT+20)
Focaliza na “descentralização e desconcentração territorial e estruturação de uma ampla rede urbana” como
um dos principais eixos estratégicos. Essa abordagem visa promover um desenvolvimento equilibrado no ter-
ritório, integrar regiões, desconcentrar atividades econômicas e nivelar indicadores sociais. O plano é dividido
em duas partes: a primeira abrange macrocenários global, nacional e estadual, além das Estratégias de De-
senvolvimento do Estado; a segunda detalha a Estratégia de Desenvolvimento das Regiões de Planejamento,
apresentando planos de ação específicos para cada região, baseados em suas potencialidades e desafios. A
regionalização busca reorganizar o território mato-grossense, contribuindo para a desconcentração regional
da economia e da qualidade de vida. A elaboração dos planos regionais envolveu oficinas com representantes
da sociedade de cada região, proporcionando uma análise das características internas confrontadas com as
condições externas expressas nos cenários estaduais. As propostas resultantes dessas oficinas foram sistema-
tizadas e consolidadas de acordo com a estrutura do MT+20, contribuindo para a coerência entre a estratégia
global e as particularidades regionais. O recorte territorial adotado divide o Estado em 12 Regiões de Planeja-
mento, facilitando a gestão e organização das iniciativas de desenvolvimento.
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Aspectos socioeconômicos: crescimento da população; dinâmica dos fluxos migratórios e pro-
blemas sociais
População
Com uma população estimada em 3.658.649 habitantes em 2022, conforme dados do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), o Mato Grosso figura como o décimo-sexto estado mais populoso do Brasil.
Apresentando uma densidade demográfica de 4,05 habitantes por quilômetro quadrado, o perfil demográfico
destaca um predomínio de adultos, indicando um declínio na proporção de jovens e um aumento no contingente
de idosos.
A distribuição por gênero revela uma predominância masculina, impulsionada pela migração de outros es-
tados para o Mato Grosso. No entanto, na região metropolitana de Cuiabá, observa-se um predomínio de mu-
lheres, alinhando-se com a média nacional. O Mato Grosso ocupa a nona posição entre os estados brasileiros
com os maiores índices de desenvolvimento humano.
População no último censo [2022] ----- 3.658.649 pessoas
Densidade demográfica [2022] ----- 4,05 habitante por quilômetro quadrado
Total de veículos [2022] ----- 2.568.240 veículos
Mato Grosso é um estado caracterizado pela diversidade étnica, resultado da miscigenação entre índios, ne-
gros, espanhóis e portugueses nos primeiros anos do período colonial. Essa população miscigenada foi poste-
riormente enriquecida pela chegada de migrantes de diversas partes do país. Atualmente, 41% dos residentes
do estado são provenientes de outras regiões do Brasil ou do exterior.
Conforme o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizado em 2010,
Mato Grosso abriga uma população de 3.035.122 habitantes, representando 1,59% do total da população bra-
sileira. A predominância urbana é evidente, com 81,9% dos habitantes residindo em áreas urbanas, enquanto
18,1% vivem em zonas rurais. A distribuição entre homens e mulheres é ligeiramente favorável aos homens,
correspondendo a 51,05%, em comparação com 48,95% de mulheres.
Apesar de suas proporções geográficas vastas, Mato Grosso apresenta extensas áreas desabitadas, impac-
tando diretamente na taxa de densidade demográfica, que é de 3,3 habitantes por km². O estado é o segundo
mais populoso da região Centro-Oeste, ficando atrás apenas de Goiás, que possui quase o dobro de habitantes
(6.003.788), e ultrapassando levemente Mato Grosso do Sul (2.449.341). A taxa de crescimento demográfico
em Mato Grosso é de 1,9% ao ano.
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Economia
Mato Grosso, conhecido como o celeiro do país, destaca-se como líder na produção de soja, milho, algodão
e rebanho bovino. O estado busca conquistar novos títulos além das fronteiras das fazendas, concentrando
esforços em cinco setores de grande potencial de crescimento: agroindústria, turismo, piscicultura, economia
criativa e polo joalheiro.
Dois fatores cruciais moldam a compreensão do estado de Mato Grosso:
– A construção de Brasília nos anos 1960, refletindo a filosofia do presidente Juscelino Kubitscheck de inte-
riorizar o Brasil. Essa visão visava expandir o desenvolvimento e a nacionalidade, historicamente concentrados
no litoral, para o interior do país.
– Na década de 1970, a estratégia dos governos militares de integrar o Centro-Oeste à Amazônia, comple-
mentando a expansão de Brasília.
Esses avanços foram influenciados por contextos específicos:
– No Rio Grande do Sul, problemas sociais afetaram descendentes de imigrantes europeus que chegaram
ao Brasil nos séculos XIX e XX. O minifúndio de 25 hectares, recebido inicialmente, foi dividido entre os des-
cendentes, levando a migrações para Santa Catarina, Paraná e Sul de Mato Grosso a partir da década de 30
do século XX.
– A segunda geração remanescente no Rio Grande enfrentou desafios sociais, acampando na entrada de
Porto Alegre após ser expulsa de terras indígenas invadidas anos antes. Esses descendentes, juntamente com
cafeicultores impactados pelas geadas de 1974/75 no Paraná, agravaram a crise social no Sul do Brasil, que
era uma referência econômica nacional.
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Esses eventos, aliados à perspectiva estratégica de ocupar a Amazônia, levaram o governo do presidente
Emílio Garrastazu Médici (1971-1975) a instituir programas especiais de desenvolvimento. Essas iniciativas vi-
savam criar infraestrutura nas regiões Sul e Norte de Mato Grosso, preparando o estado para se tornar o “Portal
da Amazônia” e, a partir dele, expandir para o norte amazônico.
Como suporte para essa ocupação, o governo federal, por meio do Programa de Integração Nacional – PIN,
realizou a pavimentação das rodovias BR-163 e 364. Essas estradas conectam Cuiabá a Goiânia e Campo
Grande, estendendo-se pela malha rodoviária nacional.
Além disso, foi criada a Universidade Federal de Mato Grosso, e foram estendidos linhões de energia elétrica
a partir de Cachoeira Dourada, em Goiás. Como medida final para consolidar o “Portal da Amazônia”, o governo
federal dividiu Mato Grosso em 1977, efetuando a separação de Mato Grosso do Sul em 1º de janeiro de 1979.
Essa divisão ocorreu porque a região Sul possuía uma infraestrutura mais desenvolvida e uma posição geográ-
fica mais favorável em relação ao Sul e Sudeste.
Economia (Dados IBGE)
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) [2021] ------ 0,736
Receitas orçamentárias realizadas [2017] ------23.958.528,84 R$ (×1000)
Despesas orçamentárias empenhadas [2017] ------ 18.187.363,27 R$ (×1000)
Número de agências [2021] ------ 279 agências
Depósitos a prazo [2021] ------ 18.125.344.030,00 R$
Depósitos à vista [2021] ------ 4.227.014.379,00 R$
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Municípios mais populosos e IDH1
Os municípios mais populosos de Mato Grosso são Cuiabá (585.831 habitantes), Várzea Grande (248.307
habitantes), Rondonópolis (180.783), Sinop (115.762) e Cáceres (88.175). A Baixada Cuiabana, que engloba
13 municípios, destaca-se como a região mais densamente povoada do estado.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), uma métrica compreensiva de riqueza, alfabetização, educa-
ção, expectativa de vida, natalidade e outros fatores, é uma ferramenta padronizada utilizada para avaliar e
medir o bem-estar de uma população, especialmente o bem-estar infantil. Segundo o PNUD-Brasil, os municí-
pios de Mato Grosso com os maiores índices de desenvolvimento humano são: Sorriso, Cuiabá, Lucas do Rio
Verde, Cláudia, Campos de Júlio, Campo Novo dos Parecis e Sinop.
Fluxo migratório e problemas sociais
O asfaltamento da BR-364 facilitou o acesso, resultando na chegada de novos migrantes a Mato Grosso
e Rondônia, principalmente de estados onde a modernização agrícola era intensa, como São Paulo, Paraná,
Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Bahia. O elevado número de migrantes superou as previsões, tornando
insuficientes os recursos para assentamento e fixação dos produtores, levando a conflitos pela posse da terra,
invasões de áreas indígenas e reservas florestais.
Em Mato Grosso, a situação fundiária entrou em colapso, com produção ilegítima de títulos de proprieda-
de. A regularização fundiária precária exacerbou conflitos e falta de garantias nas transações imobiliárias. O
asfaltamento da BR-364 causou intensa valorização fundiária, pressionando o Estado para a regularização de
terras, diluindo patrimônio de terras devolutas estaduais.
Falhas nas obras de infraestrutura, como escolas e saúde, foram evidentes, com dimensionamento inade-
quado e localização inadequada. Algumas estradas vicinais beneficiaram apenas grandes fazendeiros, distan-
ciando a produção agrícola da infraestrutura. A eletrificação rural teve baixa média de ligações por quilômetro,
sendo mais usada para iluminação doméstica. Houve aumento significativo da malária na década de 80, desta-
cando a falta de instrumentos para fixação dos produtores em seus lotes.
A falta de contrapartidas, como crédito e assistência técnica, favoreceu a concentração de propriedade. O
crescimento da pecuária extensiva teve impactos ambientais e estruturais, com surtos especulativos impulsio-
nando aumentos nos preços da terra. O segmento ambiental não harmonizou desenvolvimento rural e ecológi-
co, com invasões de reservas florestais, queimadas e desmatamentos ilegais.
A integração institucional necessária enfrentou dificuldades, com interesses distintos e atrasos na liberação
de verbas. Investimentos em infraestrutura física absorveram a maior parte dos recursos, revelando descom-
passo entre segmentos e destacando a necessidade de melhor coordenação entre esferas federal, estadual e
municipal.
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O extrativismo florestal (importância da biodiversidade; biodiversidade e manipulação genética
para fins comerciais; ecoturismo)
O extrativismo florestal em Mato Grosso desempenha um papel crucial na interface entre a preservação da
biodiversidade e o desenvolvimento econômico. Ao reconhecer a importância da biodiversidade na região, é
possível criar estratégias que promovam práticas sustentáveis, conservação ambiental e o bem-estar das co-
munidades locais, contribuindo para a construção de um futuro equilibrado e resiliente.
Importância da Biodiversidade no Extrativismo Florestal em Mato Grosso
– Diversidade de Espécies: Mato Grosso, com sua vasta extensão de florestas e ecossistemas, abriga uma
riqueza extraordinária de espécies vegetais e animais. O extrativismo florestal na região se beneficia dessa
diversidade, explorando uma ampla gama de recursos, como madeira, frutas, óleos e plantas medicinais.
– Culturalmente Significativo: para as comunidades locais em Mato Grosso, especialmente as indígenas e
tradicionais, o extrativismo florestal é parte integrante de suas culturas. Essas comunidades têm conhecimen-
tos profundos sobre a biodiversidade local, transmitidos por gerações, e utilizam esses recursos de maneira
sustentável para suas necessidades cotidianas.
– Manutenção da Biodiversidade: o extrativismo sustentável em Mato Grosso incentiva práticas que visam à
preservação da biodiversidade. A coleta seletiva, quando realizada de maneira responsável, permite a regene-
ração natural das espécies, contribuindo para a manutenção de ecossistemas equilibrados.
– Fonte de Renda: além de seu valor cultural, o extrativismo florestal em Mato Grosso é uma fonte signifi-
cativa de renda para muitas comunidades. A comercialização de produtos florestais sustentáveis, como óleos
essenciais e produtos derivados de plantas nativas, contribui para a economia local.
– Conservação de Espécies Ameaçadas: em Mato Grosso, onde diversas espécies podem enfrentar amea-
ças, o extrativismo florestal pode desempenhar um papel importante na conservação de plantas e animais
ameaçados de extinção. A coleta responsável pode ser parte de estratégias mais amplas de conservação.
Madeira
O setor agroindustrial madeireiro destaca-se como um componente significativo na economia do Estado.
Segundo o IBGE, em 2010, aproximadamente 28% da força de trabalho em Mato Grosso estava envolvida
na indústria madeireira. No mesmo ano, existiam 2.520 indústrias de produtos de madeira no estado, gerando
22.057 empregos diretos. Embora o setor estivesse em um período de crescimento notável, o ano de 2005 foi
marcado por dois eventos significativos que o impactaram profundamente: a Operação Curupira, conduzida
pela Polícia Federal para combater a extração e o transporte ilegal de madeira, e as mudanças na política am-
biental estadual. Além disso, enfrentou as sucessivas desvalorizações cambiais do dólar, resultando em uma
perda de US$ 52 milhões em 2011.
Diante desses eventos desfavoráveis, o beneficiamento da madeira contou apenas com 719 unidades indus-
triais em 2011, empregando 14.122 trabalhadores. Comparando com os resultados de 2010, registrou-se uma
queda de 31% no número de empregos gerados pelo setor em 2011.
Agronegócio
Em um período um pouco superior a uma década, o Produto Interno Bruto (PIB) do estado experimentou
um notável aumento, elevando-se de R$ 12,3 bilhões em 1999 para R$ 80,8 bilhões em 2012, registrando um
crescimento de 554%. Em comparação, no mesmo intervalo, o PIB nacional cresceu 312%, conforme dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse desempenho positivo é amplamente atribuído ao
setor agrícola. Atualmente, Mato Grosso lidera a produção nacional de soja, estimando-se 28,14 milhões de
toneladas para a safra 2014/2015. Além disso, destaca-se na produção de algodão em pluma, com 856.184
toneladas previstas para o mesmo período, e lidera também em rebanho bovino, contando com 28,41 milhões
de cabeças. O Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) estima que o agronegócio contribua
com expressivos 50,5% do PIB do estado.
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Com o agronegócio solidamente estabelecido, Mato Grosso tornou-se propício para as indústrias que atuam
tanto antes quanto depois da produção agrícola. Até 2013, segundo dados da Federação das Indústrias do
Estado de Mato Grosso (Fiemt), o estado abrigava 11.398 unidades industriais em operação, gerando aproxi-
madamente 166 mil empregos.
Não obstante, há uma necessidade de agregar maior valor aos produtos originários de Mato Grosso. Interna-
mente, há um potencial considerável para empresas que fornecem insumos como adubos, defensivos agrícolas
e maquinário aos produtores. No âmbito externo, as indústrias de beneficiamento, como a têxtil e de etanol,
também têm espaço para crescimento e desenvolvimento.
Pesquisa e tecnologia
Mato Grosso, além de ser um grande produtor de grãos, destaca-se como o principal produtor de pescado de
água doce no Brasil, contribuindo com 20% da produção nacional, totalizando 75,629 mil toneladas em 2013,
conforme dados do IBGE. O estado apresenta um potencial significativo para o crescimento desse mercado,
impulsionado pela abundância de rios e lagos em seu território.
Atualmente, aproximadamente 72% do pescado produzido em Mato Grosso é direcionado ao consumo inter-
no, conforme informações de 2014 do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). O Pará é o
segundo maior consumidor, respondendo por 9,71%, seguido pelo Tocantins, com 2,35%.
A Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer) desempenha um papel re-
levante nesse setor, investindo tanto em pesquisa quanto na produção. Localizada no município de Nossa Se-
nhora do Livramento, a estação de piscicultura da instituição produz e comercializa alevinos de espécies como
pacu, tambacu e tambatinga. A Empaer mantém 39 tanques de reprodução, com capacidade para um milhão de
alevinos, oferecendo cursos para produtores rurais e técnicos agrícolas sobre noções básicas de piscicultura.
Outro enfoque importante na política de incentivos do Governo de Mato Grosso é a borracha natural. O
estado é o segundo maior produtor do país, com 40 mil hectares de área plantada e o envolvimento de 25 mil
famílias nessa atividade, de acordo com dados da Empaer. A empresa pioneira na produção e pesquisa da
seringueira mantém um campo experimental em Rosário Oeste, onde são conduzidos estudos e disponibiliza-
do suporte à agricultura familiar. O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf Eco)
oferece apoio aos produtores, disponibilizando uma linha de crédito com prazo de 20 anos para pagamento e
oito de carência.
Além disso, o estado investe em inovação e qualificação de mão de obra na área de tecnologia, com a cria-
ção do primeiro parque tecnológico de Mato Grosso pela Secretaria de Ciência e Tecnologia (Secitec). Parale-
lamente, são realizadas negociações com centros europeus para cooperações no campo da tecnologia.
No que tange à energia, Mato Grosso é superavitário no setor, alcançando uma produção de 14 milhões/
MWh em 2014. Do total, 9 milhões/MWh foram consumidos internamente, enquanto 5 milhões/MWh foram ex-
portados via Sistema Interligado Nacional (SIN).
Paraíso do ecoturismo
Cachoeiras majestosas, safaris envolventes, trilhas ecológicas deslumbrantes, observação de pássaros fas-
cinante e mergulhos em aquários naturais. Seja explorando o Pantanal, imerso no Cerrado ou desbravando
o rio Araguaia, Mato Grosso emerge como o destino ideal tanto para entusiastas do ecoturismo quanto para
investidores interessados no segmento que ostenta o maior crescimento no setor turístico.
Conforme dados da Organização Mundial de Turismo (OMT), o ecoturismo registra uma média de cresci-
mento anual de 20%, enquanto o turismo convencional apresenta uma taxa de incremento de 7,5% ao ano,
conforme divulgado pelo Ministério do Turismo em 2014. A OMT estima, ademais, que cerca de 10% dos turis-
tas globais optam pelo turismo ecológico.
Em virtude das abundantes belezas naturais em Mato Grosso, os governos Federal e Estadual investem
consideravelmente na infraestrutura para acesso aos paraísos naturais do estado, notadamente no Pantanal.
Um exemplo é o projeto de substituição das pontes de madeira ao longo da rodovia Transpantaneira, que co-
necta a cidade de Poconé à localidade de Porto Jofre, atravessando a planície alagável. Este ambicioso em-
preendimento contempla a construção de 31 pontes de concreto.
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Outro foco prioritário da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec) é a Chapada dos Guimarães,
atraindo visitantes apaixonados pelo turismo contemplativo e esportes de aventura. Na cidade, estão em anda-
mento a conclusão do Complexo Turístico da Salgadeira e a pavimentação das rodovias MT-060 e MT-020. O
Governo Estadual também retomou as negociações com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiver-
sidade (ICMBio) para avançar nas obras do Portão do Inferno e na entrada da Cachoeira Véu de Noiva, ambos
pontos de destaque para apreciação no Parque Nacional de Chapada.
Recursos Minerais
A mineração foi o impulso inicial para a ocupação de Mato Grosso, marcando a presença avançada dos por-
tugueses nessa região. Cidades como Cuiabá, Vila Bela, Diamantino, Cocais e outros surgiram em decorrência
dessa atividade. Ao contrário do senso comum, os minerais úteis são escassamente distribuídos na crosta ter-
restre, e suas concentrações seletivas naturais, além de raras, nem sempre são exploráveis.
A exploração mineral exige a presença de certos fatores para ser bem-sucedida, incluindo:
a) Níveis atuais da economia, refletindo o desenvolvimento econômico-industrial da região ou do país, de
acordo com o tamanho do empreendimento e a tecnologia disponível;
b) Condições geográficas da ocorrência;
c) Peculiaridades do depósito e qualidade do minério.
Além de sua escassez, os depósitos minerais estão se tornando cada vez mais efêmeros devido ao contínuo
crescimento do consumo. A probabilidade de descobrir novas jazidas está em declínio constante. Mato Grosso
possui diversas reservas minerais identificadas pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM-MT),
incluindo água mineral, areia, apatita, argila, água termal, ametista, calcário, cascalho, chumbo, cristal de ro-
cha, cobre, diamante, ferro, grafite, manganês, molibdênio, ouro, pirita, sal, turfa, titânio, topázio e zinco.
Do ouro às pedras coradas
Durante a colonização, Mato Grosso se notabilizou pela riqueza do ouro, mas hoje em dia, destaca-se como
um mercado promissor para a produção de joias e semijoias a partir de pedras preciosas. Além de liderar a
produção nacional de diamantes, contribuindo com 88% do total no Brasil, de acordo com o Departamento
Nacional de Produção Mineral (DNPM), o estado sobressai-se também pelas pedras coradas, como ametistas,
quartzo rosa, ágatas e turmalinas.
A atividade mineral em Mato Grosso possui raízes históricas, vinculadas à exploração do ouro e diamante. A
descoberta do ouro às margens do Rio Coxipó em 1719 marcou o início desse ciclo, enquanto a exploração do
diamante teve início no final do século XVIII nas regiões de Coité, Poxoréu e Diamantino.
Atualmente, conforme informações da Companhia Mato-grossense de Mineração (Metamat), as pedras co-
radas concentram-se nas regiões noroeste, centro-sul e leste do estado. Granada, zircão e diopsídio são fre-
quentemente encontrados associados ao diamante, nas áreas de Paranatinga e Juína. Próximo a Rondolândia,
há um depósito de quartzo rosa, enquanto as turmalinas são encontradas nas proximidades de Cotriguaçu, e as
ametistas estão concentradas nas regiões próximas aos municípios de Aripuanã (noroeste) e Pontes e Lacerda
(oeste).
Política fundiária
A política fundiária e as tensões sociais no campo foram profundamente influenciadas pelo encerramento
oficial do sistema de sesmarias com a promulgação da Lei de Terras de 1850. Essa legislação estabeleceu a
compra como a única forma de aquisição de terras, favorecendo as camadas mais abastadas e excluindo os
pobres do acesso às terras públicas. As camadas mais ricas eram as únicas capazes de adquirir terras do go-
verno, deixando os homens livres pobres sem a oportunidade de obter um pedaço de terra.
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A Lei de Terras também determinou que a legalização das posses, anteriormente concedidas por meio das
Cartas de Sesmarias, deveria ser realizada em Cartório a partir de 1850. Ficou a cargo dessa instituição reco-
nhecer e registrar as posses adquiridas pelo antigo sistema. Com a Proclamação da República e a Constituição
de 1891, as terras devolutas passaram para o domínio dos Estados, que assumiram a responsabilidade sobre
as terras em seus territórios.
A primeira lei de terras específica para Mato Grosso, datada de 16 de novembro de 1892, criou a Diretoria
de Obras Públicas, Terras, Minas e Colonização, a primeira instituição estadual encarregada das questões de
terras no estado. Além da legalização de terras, o governo mato-grossense iniciou um processo vigoroso de
venda de terras devolutas a partir de 1893, com compradores geralmente sendo pessoas abastadas buscando
investir em terras.
Em 1927, um novo regulamento de terras foi implementado, estabelecendo maior rigor na regularização das
terras para coibir abusos. O Estado do Mato Grosso teve seu primeiro Código de Terras em 1949, intensifican-
do a venda de terras devolutas e aprimorando a ação dos medidores e demarcadores a serviço do Estado.
No entanto, o código foi modificado em 1951 para facilitar o processo de venda de terras devolutas, visando
preencher “vazios populacionais”.
A criação da Superintendência do Plano de Valorização da Amazônia (SPVEA) em 1953 aumentou o interes-
se pelas terras mato-grossenses, visando a apropriação dos recursos naturais da Amazônia Legal. A SPVEA
buscava modernizar as tecnologias na região para tornar o extrativismo mais lucrativo, considerando os habi-
tantes locais, como índios e caboclos, como atrasados e pouco produtivos. O ano de 1954 testemunhou um
aumento significativo na compra de terras.
A urbanização do Estado
O processo de urbanização em Mato Grosso é uma trajetória que se desenvolve ao longo do tempo, sendo
notável o crescimento urbano no estado. Na década de 1960, a população brasileira era predominantemente
rural, com 55% no campo e 45% nas áreas urbanas. No censo de 1970, o Brasil registrou pela primeira vez que
a população urbana ultrapassou a rural. Atualmente, aproximadamente 85% da população brasileira reside em
áreas urbanas.
Mato Grosso, seguindo essa tendência, passou por um processo significativo de urbanização, consolidando-
-se como um estado predominantemente urbano a partir da década de 1970. A industrialização desempenhou
um papel crucial no impulso desse fenômeno.
A taxa média de crescimento da urbanização tem diminuído ao longo do tempo, e diversos fatores influen-
ciam esse movimento. O êxodo rural, impulsionado pela mecanização agrícola, a implementação de leis tra-
balhistas no campo, fatores naturais, como a seca no Nordeste, e a percepção de uma melhor qualidade de
vida nas cidades são alguns dos elementos atrativos. No entanto, há também fatores repulsivos, como a con-
centração fundiária e desafios de infraestrutura em algumas áreas urbanas em comparação com determinadas
regiões rurais.
A mitificação da vida urbana, associada à busca por oportunidades econômicas, acesso à saúde e perspec-
tivas de futuro para os filhos, contribui para a decisão de muitos migrarem para centros urbanos. Esse movi-
mento reflete uma complexa interação entre fatores socioeconômicos e culturais que moldam a dinâmica da
urbanização em Mato Grosso.
Trabalho e Rendimento
Em 2022, o rendimento nominal mensal domiciliar per capita era de R$ 1.674, ficando na posição 9 entre os
27 estados. Em 2016, o número de pessoas de 16 anos ou mais, ocupadas na semana de referência, era de
1.577 pessoas (x1000), ficando na posição 16 entre os 27 estados. Em 2016, a proporção de pessoas de 16
anos ou mais em trabalho formal, considerando apenas as ocupadas na semana de referência era de 58,5%,
ficando na posição 10 entre os 27 estados. Em 2022, a proporção de pessoas de 14 anos ou mais de idade,
ocupadas na semana de referência em trabalhos formais era de 59,7%, ficando na posição 9 entre os 27 esta-
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dos. Em 2022, o rendimento médio real habitual do trabalho principal das pessoas de 14 anos ou mais de idade,
ocupadas na semana de referência em trabalhos formais era de R$ 2.774, ficando na posição 11 entre os 27
estados. Em 2021, a quantidade de pessoas ocupadas na administração pública, defesa e seguridade social
era de 132.197 pessoas, ficando na posição 19 entre os 27 estados.
O fornecimento de energia elétrica em Mato Grosso é assegurado por dois sistemas distintos: o sistema
interligado, abastecido pela Eletronorte através da energia proveniente dos sistemas de Furnas e Celg, e o sis-
tema isolado, suprido por usinas termelétricas (UTE) movidas a óleo diesel, bem como por pequenas centrais
hidrelétricas (UHE), integrando um sistema híbrido de geração de energia (MATO GROSSO, 1994).
Até o ano de 2002, a geração de energia permaneceu aquém da demanda, tornando-se historicamente um
dos desafios ao desenvolvimento industrial de Mato Grosso. Para atender à população, o estado necessitava
adquirir energia de outras unidades federativas, dado que sua capacidade de geração hidráulica e térmica não
atendia às exigências mínimas de consumo.
Conforme dados do Anuário Estatístico de Mato Grosso (2002), o estado não dispunha, até 2001, de capa-
cidade de geração de energia suficiente para suprir a demanda existente. A energia consumida naquele ano
totalizou 3.017.463 MWh, com um contingente de 625.688 consumidores. A energia adquirida foi de 3.193.562
MWh, sendo a maior parte (78,66%) proveniente da Eletronorte/Furnas, e o restante de produtores indepen-
dentes dentro do estado.
A Rede Cemat, concessionária responsável pela distribuição de energia elétrica no estado, registrou em
2003 um total de 706.456 consumidores, com um consumo total de 3.644.818 MWh, representando um au-
mento de 17,21% em relação a 2001. A classe residencial manteve a posição histórica de maior consumidora
do estado, enquanto a classe industrial demonstrou um crescimento constante entre 1999 e 2003. Neste setor,
a indústria de transformação, especialmente a de produtos alimentícios, liderou o consumo, seguida pelos se-
tores madeireiro e têxtil. A classe comercial apresentou uma redução em seu desempenho estável dos últimos
quatro anos. A classe rural, vinculada ao setor primário, foi a menos consumidora. A mecanização agrícola e a
eletrificação rural foram fatores decisivos para a modernização do consumo no setor agropecuário. A principal
fonte de energia para essa classe provém das usinas térmicas a óleo diesel e das pequenas usinas alimen-
tadas pelo sistema misto hidrelétrico/termelétrico, com a região Norte Mato-grossense liderando esse tipo de
consumo.
Criadas em 1961, as Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobras) gerenciaram o sistema de energia em
todo o país até 1995, quando se iniciou o programa de privatização das empresas estatais, alinhado à política
neoliberal vigente. Em Mato Grosso, o setor elétrico era administrado pelas Centrais Elétricas Mato-grossenses
(Cemat), uma concessionária estadual estabelecida em 1958, sendo o Estado de Mato Grosso o principal acio-
nista. Essas empresas foram responsáveis pela operação do sistema isolado de energia, além da distribuição
e atendimento aos consumidores nesse período.
Usinas hidrelétricas
- Usina Hidrelétrica de Colíder
- Complexo Teles Pires
- Usina Hidrelétrica de Manso
- Usina Hidrelétrica de São Manoel
- Usina Hidrelétrica de Sinop
- Usina Hidrelétrica Teles Pires
- Usina Hidrelétrica Dardanelos
- Usina Hidroelétrica Canoa Quebrada
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Questões ambientais
A Usina Hidrelétrica de Sinop, no Rio Teles Pires, está operando há mais de um ano, mas a população afe-
tada ainda não foi devidamente compensada pelos impactos ambientais e sociais. Perícias estimam o valor da
terra na região em cerca de R$ 23 mil por hectare, mas o consórcio responsável pela usina pagou seis vezes
menos aos moradores pelas terras perdidas. Seca no rio, alta mortandade de peixes e surgimento de malária
e leishmaniose agravam a qualidade de vida na área. A população afetada luta por compensações justas e
proteção dos recursos naturais pela empresa responsável, Companhia Energética Sinop (CES). A degradação
ambiental tem consequências dramáticas para as comunidades que dependem do rio, agora afetado por outros
empreendimentos hidrelétricos. A qualidade da água deteriorou-se, resultando em surtos de doenças como
malária e leishmaniose, enquanto a diminuição do nível do reservatório aumentou os focos de mosquitos trans-
missores a apenas 500 metros do assentamento das famílias.
Localizado no centro geográfico do Brasil, o estado de Mato Grosso apresenta uma infraestrutura de trans-
porte em constante expansão, com foco particular no desenvolvimento da malha rodoviária.
As principais rodovias que cruzam o estado são:
- A BR-364, orientada no sentido Leste-Oeste, conecta Mato Grosso tanto ao Sudeste do país (incluindo o
Porto de Santos) quanto a estados como Rondônia, Acre e aos portos do Peru, via Estrada do Pacífico. A dis-
tância entre Cuiabá e o Porto de Santos é de 1640 km, com Cuiabá situada a 1400 km de Porto Velho, 1900 km
de Rio Branco, 3290 km da cidade portuária peruana de Ilo e 3900 km da cidade portuária peruana de Matarani.
- A BR-163 (Cuiabá-Santarém) percorre o estado no sentido Norte-Sul, conectando-o ao Mato Grosso do
Sul e ao Rio Amazonas, via estado do Pará. Essa rodovia facilita o acesso aos portos da região de Santarém,
fundamentais para o escoamento da produção agropecuária local. Santarém é a área portuária mais próxima
da maioria das cidades do Mato Grosso, com distâncias que variam de 1000 km a 1760 km, dependendo da
localização.
- A BR-070 liga Cuiabá a Brasília.
- A BR-158 percorre a região leste do estado, conectando Mato Grosso a Belém, no Pará.
- A MT-060, conhecida como Transpantaneira, é uma rodovia turística que liga Cuiabá a Corumbá, passando
por diversos trechos do Pantanal Mato-grossense.
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Devido ao seu vasto território, Mato Grosso conta com vários aeroportos, sendo o Aeroporto Internacional
de Cuiabá o maior. Outros aeroportos relevantes incluem o de Alta Floresta, com a quarta maior pista na região
Centro-Oeste, além dos aeroportos de Cáceres e Barra do Garças, entre outros.
No que diz respeito à ferrovia, destaca-se a Ferrovia Norte Brasil, que conecta Mato Grosso ao Sudeste,
estabelecendo uma ligação vital com o Porto de Santos, em São Paulo. A Ferrovia conta com terminais estraté-
gicos, como Alto Araguaia, Alto Taquari, Itiquira e Rondonópolis, este último sendo o maior terminal intermodal
da América Latina.
Apesar das condições favoráveis de navegação nos rios que banham o estado, as hidrovias em Mato Grosso
são menos exploradas devido a questões ambientais e sociais, com várias obras atualmente embargadas. As
principais hidrovias incluem Paraguai-Paraná, Rio das Mortes-Araguaia-Tocantins e Madeira-Amazonas.
O transporte ainda enfrenta desafios devido às grandes distâncias e ao estágio inicial de desenvolvimento do
estado. Nos últimos anos, o Governo Federal intensificou os investimentos na região, com melhorias notáveis,
como a duplicação da rodovia entre Cuiabá e Rondonópolis e o asfaltamento da BR-163 no Estado do Pará,
concluído em novembro de 2019, proporcionando avanços logísticos significativos para o escoamento das sa-
fras de Mato Grosso.
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Corredores
1) Corredor Noroeste: A principal via de transporte para a região noroeste é composta pela BR 364/MT-235,
BR-174 e a Hidrovia do Madeira-Amazonas, conectando os municípios de Campo Novo dos Parecis, Sapezal,
Porto Velho, Itacoatiara e Rotterdam. A conclusão da pavimentação da BR-364 entre Comodoro e Sapezal e
a pavimentação da MT-343 entre Cáceres e Barra do Bugres são essenciais para facilitar o escoamento pela
Hidrovia do Rio Paraguai.
2) Corredor Norte (Centro-amazônico): A rota principal segue de Sorriso para Alto Araguaia, Santos e Rot-
terdam, incluindo também a rota Sorriso-Paranaguá-Rotterdam, utilizando as BR-163/BR-364/BR-262 e a Fer-
ronorte. A conclusão da pavimentação da BR-163 até o Porto de Santarém é crucial para otimizar essa rota.
Corredor Sudeste: A principal rota envolve Primavera do Leste, Alto Araguaia, Santos e Rotterdam, com a
rota alternativa de Primavera do Leste-Paranaguá-Rotterdam pelas MT-130/BR-070/BR-163/BR-364/BR-262 e
a Ferronorte. A conclusão da implantação da Ferronorte até Rondonópolis e da pavimentação da MT-130 entre
Primavera do Leste e Paranatinga é desejável para a eficiência dessa rota.
3) Corredor Centro-Nordeste: A rota principal vai de Nova Xavantina a Alto Araguaia, Santos e Rotterdam,
com a rota alternativa de Nova Xavantina-Paranaguá-Rotterdam pelas BR-163/BR-364/BR-158/BR-262/MT-
130 e a Ferronorte. A conclusão da pavimentação da BR-158 entre Ribeirão Cascalheira e a divisa de MT/PA
é fundamental para conectar essa região até o Porto de Itaqui, seja pela Ferrovia de Carajás ou pela Hidrovia
Mortes-Araguaia e BR-242 até São Félix do Araguaia.
Rede Ferroviária
A integração de Mato Grosso à malha ferroviária nacional é recente e foi realizada pela iniciativa privada,
notadamente pelo Grupo Itamarati, por meio da implantação do corredor ferroviário Ferronorte/Brasil Ferrovias.
Este corredor liga Aparecida do Taboado (MS) a Cuiabá, abrangendo 956km e passando por Alto Taquari, Alto
Araguaia e Rondonópolis. A operação inclui terminais em Alto Araguaia e Alto Taquari, movimentando produtos
como soja, farelo de soja e açúcar, com retorno de adubo, gasolina e óleo diesel.
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Questões atuais: a questão indígena: invasão, demarcação das terras indígenas
A questão indígena
Cerca de metade dos aproximadamente 900 mil indígenas que habitam o território brasileiro reside na região
Norte do país. As diversas tribos e comunidades indígenas enfrentaram significativa redução populacional ao
longo do processo de ocupação da região, um cenário que só começou a ser revertido com a demarcação de
terras e a criação de áreas de preservação. Atualmente, as populações indígenas experimentam um cresci-
mento numérico.
Na década de 70, a região amazônica tornou-se alvo das políticas de integração territorial do governo fede-
ral. As chamadas rodovias de integração nacional, como a Transamazônica, a Perimetral Norte, a Cuiabá-San-
tarém e a Manaus-Boa Vista, cortaram a região em várias direções, facilitando o acesso às terras amazônicas,
mas também expondo grandemente as áreas das aldeias indígenas.
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Devido à ocupação de suas terras por atividades como exploração madeireira, mineração, construção de
hidrelétricas e garimpos, as comunidades nativas muitas vezes ficaram em condições precárias de sobrevivên-
cia, resultando no desaparecimento de algumas e na total incorporação de outras como mão de obra barata, ou
ainda, na migração para áreas urbanas. A introdução de técnicas mais avançadas de exploração dos recursos
naturais na Amazônia trouxe sérias consequências para a vida indígena, que, em muitos casos, se encontra
impactada por esse processo.
Assim, a demarcação das terras indígenas emerge como uma medida crucial para preservar e assegurar
a sobrevivência dos povos indígenas e de suas futuras gerações. No entanto, muitos setores da sociedade,
interessados na exploração dessas terras, são contrários a essas demarcações e frequentemente entram em
conflito com os grupos nativos.
Demarcação das terras indígenas2
Conforme estabelecido pela Constituição Federal de 1988, uma Terra Indígena (TI) representa um território
demarcado e protegido para a posse permanente e o usufruto exclusivo dos povos indígenas. Essas áreas são
reconhecidas como patrimônio da União e destinam-se à preservação de suas culturas, tradições, recursos
naturais e formas de organização social. Além disso, têm como objetivo garantir a reprodução física e cultural
dessas comunidades. A demarcação das terras indígenas é um direito constitucional fundamental que visa as-
segurar a autodeterminação, autonomia e proteção dos direitos dos povos indígenas, incluindo sua participação
ativa na gestão e preservação desses territórios.
Conforme a legislação vigente, especificamente a Constituição Federal de 1988, o Estatuto do Índio (Lei
6001/73) e o Decreto n.º 1775/96, as terras indígenas podem ser categorizadas nas seguintes modalidades:
- Terras Indígenas Tradicionalmente Ocupadas: Refere-se às áreas habitadas pelos indígenas de maneira
permanente, utilizadas para atividades produtivas, culturais, bem-estar e reprodução física, em conformidade
com seus usos, costumes e tradições.
- Reservas Indígenas: Correspondem a terras doadas por terceiros, adquiridas ou desapropriadas pela
União, destinadas à posse permanente dos indígenas. São áreas que pertencem ao patrimônio da União, mas
não se confundem com as terras de ocupação tradicional.
- Terras Dominiais: Representam as terras de propriedade das comunidades indígenas, adquiridas por meio
de qualquer uma das formas de aquisição do domínio, conforme estabelecido pela legislação civil.
Atualmente, constam 736 terras indígenas nos registros da Funai. Essas áreas representam aproximada-
mente 13,75% do território brasileiro, estando localizadas em todos os biomas, sobretudo na Amazônia Legal.
O processo de demarcação de terras indígenas, regulamentado pelo Decreto nº 1775/96, envolve diver-
sas etapas coordenadas pelo Poder Executivo. Estas etapas incluem estudos de identificação e delimitação
realizados pela Funai, contraditório administrativo, declaração de limites pelo Ministro da Justiça, demarcação
física, levantamento fundiário avaliado em conjunto com o cadastro dos ocupantes não-índios, homologação da
2 Disponível em https://www.gov.br/funai/pt-br/atuacao/terras-indigenas/demarcacao-de-terras-indigenas
Acesso 06.01.2024
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demarcação pela Presidência da República, retirada de ocupantes não-índios com pagamento de benfeitorias,
reassentamento, registro das terras na Secretaria de Patrimônio da União e interdição de áreas para proteção
de povos indígenas isolados.
Em casos excepcionais, como conflitos internos irreversíveis, impactos de grandes empreendimentos ou
impossibilidade técnica de reconhecimento de terra de ocupação tradicional, a Funai pode promover o reconhe-
cimento do direito territorial na modalidade de Reserva Indígena, envolvendo compra direta, desapropriação ou
doação de imóveis.
No caso de povos isolados, a Funai utiliza restrições legais para proteger a área ocupada pelos indígenas
enquanto realiza estudos de identificação e delimitação, garantindo a integridade física desses povos. O órgão
busca transparência e legalidade em suas ações, evitando conflitos fundiários locais e contribuindo para o or-
denamento territorial em nível local e regional através da sistematização de informações fundiárias.
O procedimento demarcatório das terras tradicionalmente ocupadas por povos indígenas, regido pelo Decre-
to 1775/1996, passa por diversas fases:
- Em estudo: Realização de estudos antropológicos, históricos, fundiários, cartográficos e ambientais para
fundamentar a identificação e delimitação da área indígena.
- Delimitadas: Conclusão dos estudos aprovados pela Presidência da Funai, publicados no Diário Oficial da
União e do Estado onde se localiza a área em processo de demarcação.
- Declaradas: Submissão do processo ao Ministro da Justiça, que decide sobre o tema, declara os limites e
determina a demarcação física da área por meio de Portaria publicada no Diário Oficial da União.
- Homologadas: Publicação dos limites materializados e georreferenciados da área por Decreto Presidencial,
constituindo-a como terra indígena.
- Regularizadas: A Funai auxilia a Secretaria de Patrimônio da União (SPU) no registro cartorário da área
homologada, conforme a Lei 6.015/73.
Além dessas fases, pode haver restrições de uso e ingresso de terceiros para a proteção de indígenas iso-
lados, com a interdição de áreas pela Presidência da Funai.
No caso das Reservas Indígenas
- Encaminhadas à constituição de Reserva Indígena (RI): Áreas em processo administrativo de constituição
de reserva (compra direta, desapropriação ou doação) ainda não finalizado.
- Regularizadas: Áreas em procedimento administrativo de constituição de reserva já finalizado, com a área
registrada em cartório imobiliário em nome da União, mantendo o usufruto indígena.
A questão ecológica: desmatamento, queimadas, poluição das vias hídricas, alterações climáticas
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mente maior do que a de cultivos ou pastagens, e a mudança no uso do solo reduz consideravelmente o fluxo
de vapor de água para a atmosfera, modificando o ciclo hidrológico. Na Amazônia, estudos indicam que, até
2100, a temperatura pode aumentar de 5 a 8ºC, e a redução na precipitação pode atingir 20%.
O desmatamento, a exploração madeireira e os incêndios florestais, frequentemente associados aos even-
tos de El Niño, podem ampliar significativamente as emissões de carbono provenientes de mudanças no uso
do solo. Este ciclo vicioso de empobrecimento da paisagem amazônica começa com o desmatamento ou ex-
ploração madeireira, reduzindo a liberação de água pela vegetação para a atmosfera (evapotranspiração) e,
consequentemente, diminuindo a quantidade de chuva. Com menos chuva, há maior propensão a incêndios
florestais, resultando na mortalidade de árvores. A fumaça gerada pelos incêndios e queimadas interfere na
formação de nuvens, prejudicando a precipitação. Esses fatores podem ser intensificados pelo aquecimento
global, tornando os eventos de El Niño mais intensos e frequentes, ameaçando a biodiversidade da floresta
amazônica.
Todo ano tem fogo na Amazônia por causa da estação seca?4
Infelizmente, sim, e isso ocorre principalmente devido a um motivo específico: a ignição causada pelo ser
humano, muitas vezes originada pela simples ação de acender um fósforo. A floresta amazônica é um ambiente
naturalmente úmido, e o fogo natural ocorre extremamente raramente nesse bioma, com intervalos de aproxi-
madamente 500 anos ou mais. Mesmo durante a estação seca, quando as condições ambientais e o material
combustível tornam-se mais propícios, a umidade presente na região impediria a proliferação de tantos focos
de calor se não fosse pela ação humana como uma fonte constante de ignição.
O fogo na Amazônia resulta da interação de três fatores, conhecidos como o “triângulo do fogo”:
- Condições ambientais: Especialmente durante o “verão amazônico,” entre maio e outubro, quando o clima
está mais seco.
- Material combustível: Abundância de vegetação seca, incluindo folhas e galhos caídos das copas das ár-
vores e até mesmo árvores derrubadas.
- Ignição: A fonte que inicia o fogo.
Existem três tipos principais de fogo na Amazônia:
- Fogo de manejo agropecuário: Utilizado por diversos produtores rurais, desde grandes fazendeiros até
comunidades tradicionais, para limpar áreas de pragas e renovar o solo. Geralmente ocorre em áreas de pas-
tagem e é sempre intencional.
- Fogo de desmatamento recente: O ato de queimar a vegetação derrubada é uma prática mais econômica
do que removê-la com tratores; além disso, as cinzas contribuem para a fertilidade do solo amazônico, favore-
cendo, por exemplo, o plantio de pasto. Este tipo de fogo é sempre intencional.
- Incêndios florestais: Incêndios que atingem a floresta viva, propagando-se rapidamente pelas folhas secas
acumuladas no solo. Podem ser acidentais, escapando de queimadas próximas, ou intencionais, quando inicia-
dos deliberadamente com o propósito de degradar a floresta.
Poluição
Poluição nos rios de pequeno e médio porte da bacia passa a apresentar notáveis trechos com alterações
significativas. A presença de poluentes, como carbono e outros nutrientes, como nitrogênio e fósforo, se inten-
sifica nos rios devido à água da chuva não absorvida pelo solo. Em concentrações elevadas, esses compostos
acabam contaminando os rios ao longo de extensas distâncias. A problemática da poluição nos rios da bacia
do Ji-Paraná, localizada em Rondônia, assemelha-se à situação observada nos rios Atibaia, afluente do Piraci-
caba, no estado de São Paulo.
Na Amazônia brasileira, embora a exploração de petróleo seja relativamente recente, já ocorreram alguns
derramamentos nos rios próximos às áreas de exploração. Um poliduto de Urucú para Coari foi concluído em
1998, permitindo o transporte de petróleo de Coari para Manaus por meio de barcaças que cruzam o rio. Em
1999, um oleoduto rompeu entre o porto e a refinaria em Manaus, resultando em um vazamento de petróleo
no igarapé de Cururú em 2001. Incidentes de vazamento de petróleo de barcaças entre Coarí e Manaus e de
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embarcações fluviais em geral têm causado uma série de pequenos eventos de poluição por óleo. A contami-
nação por óleo pode ser particularmente prejudicial se afetar as florestas de várzea, onde muitas espécies de
peixes da região se reproduzem.
Os solos amazônicos apresentam concentrações elevadas de mercúrio proveniente de fontes naturais. Es-
ses solos são antigos, com milhões de anos de idade, e acumularam mercúrio ao longo do tempo por meio da
deposição de poeira resultante de erupções vulcânicas e outras fontes ao redor do mundo.
Desmatamento
O desmatamento na Amazônia é uma prática antiga que ganhou intensidade nas últimas décadas. Inicial-
mente impulsionado por projetos de infraestrutura, como a Rodovia Transamazônica, o desmatamento evoluiu
devido à expansão do agronegócio, mineração e extrativismo ilegal. O Instituto Nacional de Pesquisas Espa-
ciais (Inpe) foi criado nos anos 1970 para monitorar o desmatamento.
Nos últimos 30 anos, as taxas variaram, sendo afetadas por fatores econômicos. Em 2004, o governo im-
plementou o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm),
associado ao sistema DETER de alerta. Houve uma redução significativa até 2015, mas as taxas aumentaram
novamente após 2016, alcançando níveis alarmantes em 2019.
O desmatamento é causado por projetos de infraestrutura, expansão do agronegócio e extrativismo, sendo
a falta de fiscalização um fator contribuinte. As consequências incluem perda de habitat, extinção de espécies,
contribuição para o aquecimento global, empobrecimento do solo e problemas de saúde. Queimadas também
aumentaram, com motivos como preparo do solo para agricultura, manutenção de áreas agrícolas e incêndios
florestais.
O governo enfrenta críticas por políticas que podem favorecer o desmatamento, incluindo redução na fis-
calização ambiental. A preservação da Amazônia é vital para o equilíbrio climático global e a biodiversidade,
exigindo esforços para promover o desenvolvimento sustentável na região.
A rica história do povoamento humano na Amazônia tem início praticamente junto com a formação da flo-
resta que conhecemos hoje. Embora não existam vestígios concretos da presença humana na Amazônia entre
20.000 e 12.000 a.p. (antes do presente), é provável que os primeiros grupos humanos, provenientes da Ásia,
tenham chegado durante esse período, marcado por uma longa migração até a América do Sul. Esses grupos
eram nômades, dedicados à caça e à coleta, perseguindo grandes manadas de animais.
A população indígena do Brasil Pré-cabraliano exibia notáveis diversidades, abrangendo diferenças linguís-
ticas, modos de vida e culturas distintas. Em geral, as sociedades indígenas brasileiras adotavam um regime
comunitário-familiar, com posse coletiva da terra, distribuição do trabalho por sexo e idade, respeito à hierarquia
familiar e ênfase na produção para subsistência. Na Amazônia, os povos indígenas estavam harmoniosamente
integrados ao ambiente, baseando sua subsistência na caça, pesca e na agricultura de subsistência praticada
nas várzeas, onde cultivavam mandioca, milho, algodão, tabaco, frutas e vegetais durante as épocas de vazan-
te dos rios. Os ameríndios amazônicos também demonstravam características expansionistas, estabelecendo
alianças políticas para a defesa comum diante de ameaças. Muitos desses grupos indígenas não eram originá-
rios da Amazônia, tendo migrado do litoral para escapar do avanço português.
A colonização da Amazônia, que hoje compreende os estados do Amazonas e do Pará, foi impulsionada pela
necessidade de assegurar a posse e o acesso ao rio Amazonas, bem como evitar a presença de rivais de outros
países. A ocupação da região teve como base o extrativismo vegetal e o apresamento indígena.
O extrativismo vegetal envolveu a exploração das “drogas do sertão”, como cacau, guaraná, borracha, uru-
cu, salsaparrilha, castanha-do-pará, gergelim, noz de pixurim, baunilha, coco, entre outras. Nesse contexto, a
escravidão enfrentava obstáculos, pois a exploração da Amazônia demandava um conhecimento profundo da
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região, destacando a importância dos índios locais que atuavam como guias. A forma predominante de inte-
gração da Amazônia à economia colonial foi o estabelecimento de missões jesuíticas, que chegaram a aldear
cerca de 50 mil índios.
A Expansão Lusa
No ano de 1415, Portugal conquistou Ceuta, marcando o início de sua expansão para o litoral da África e
as Ilhas do Atlântico. Esse feito representou a superação dos limites da navegação e o começo de novas con-
quistas. Ao longo do século XV, a descoberta de uma nova rota para as Índias, com a possibilidade de adquirir
produtos orientais a preços mais acessíveis, tornou-se o principal objetivo do Estado português.
Nesse processo de conquistas e expansão, Lisboa se tornou um centro comercial crucial, oferecendo pro-
dutos considerados exóticos no mercado europeu. Em 1500, a oficialização da posse sobre o Brasil ocorreu
quando Cabral chegou ao novo território. Isso marcou o início de um ambicioso empreendimento português,
com a grande colônia prometendo prosperidade e lucro substancial.
A Expansão Espanhola
Em 1492, após superar a presença árabe e resolver divisões internas, a Espanha consolidou-se como uma
potência para participar das disputas comerciais e da exploração do mundo colonial, impulsionada por suas ne-
cessidades mercantis. Cristóvão Colombo, navegador genovês, embarcou em agosto de 1492 com o objetivo
de descobrir novas terras e horizontes que enriquecessem a Espanha. Sua jornada o levou à ilha de Guanabara
(San Salvador) nas Bahamas, marcando o início da exploração de novos territórios nas Américas.
Os Traçados Ultramarinos
No século XV, a corrida expansionista de Portugal e Espanha levantou controvérsias que resultaram em
diversos tratados. O Tratado de Toledo, assinado em 1480, foi o mais antigo, garantindo a Portugal as terras
ao sul das Ilhas Canárias, assegurando a rota das Índias pelo sul da África. Em 1493, a Bula Intercoetera, do
papa Alexandre VI, determinou a partilha ultramarina entre espanhóis e portugueses. Devido a discordâncias,
Portugal propôs o Tratado de Tordesilhas em 1494, estabelecendo que a Espanha ficaria com terras a oeste de
uma linha imaginária e Portugal com as terras a leste.
A divisão resultante concedeu à Espanha grande parte da América, incluindo o Amazonas, Pará, Mato Gros-
so, Goiás, São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Para Portugal, restava uma
porção de terra na foz do Rio Madeira, na Amazônia. Em 1500, Vicente Yanez Pinzon, espanhol, atingiu o
Brasil, enquanto Pizarro, em 1532, chegou ao Peru. A exploração espanhola na Amazônia foi abandonada em
1538 por falta de recursos.
Na América Portuguesa, o amansamento do indígena ocorreu por descimentos, resgates (escambo de mer-
cadorias por prisioneiros) e guerra justa (expedições para extermínio ou captura). O contato europeu com os
indígenas amazônicos resultou em aculturação, extermínio, fuga ou assimilação, incluindo a conversão ao ca-
tolicismo, troca de vestuário e adaptação a novos costumes e culinária.
O Povoamento e a Mão de Obra Utilizada na Economia
Os elementos humanos que contribuíram para o povoamento na Amazônia foram semelhantes aos encon-
trados em outras regiões do Brasil:
- O índio: Apesar de ser uma população numerosa, não era considerado uma fonte suficiente para o traba-
lho árduo. Assim, era caçado violentamente pelos sertanistas, reunido em aldeamentos pelos missionários e
empregado pelas autoridades civis e militares. Os aldeamentos eram núcleos humanos com maior número de
membros e utilizados para diversas tarefas.
- O negro africano: Embora não fosse tão representativo, era escravizado. Como a agricultura era incipiente,
sua mão de obra não era tão necessária inicialmente. A falta de fundos financeiros não permitia o comércio de
escravos pelos colonos, mesmo com a insistência do governo para facilitar o mercado negreiro. Os primeiros
negros foram introduzidos pelos holandeses.
A Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará trouxe 12.587 pessoas para a região, sendo 7.606 escra-
vos. No início da colonização, a força de trabalho do negro era menos valorizada devido à facilidade de apri-
sionamento dos índios. A Lei de 6 de junho de 1755 aboliu a escravidão dos índios, intensificando a procura
por trabalhadores africanos. Desde 1616, com a fundação do Presépio, os portugueses consideravam trazer
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açorianos para a região. Entre 1620 e 1921, mais de 200 pessoas chegaram e se distribuíram nas capitanias.
Em 1667, foram distribuídas mais de 700 pessoas nos distritos políticos. Cada capitão-mor ou governador que
chegava de Portugal a Belém trazia consigo novos povoadores.
As primeiras décadas de colonização da Amazônia baseavam-se em expedições coletoras, organizadas
com os índios, para extrair substâncias naturais como óleo de tartaruga, especiarias, madeiras nobres, óleos
vegetais e sementes de cacau. Em troca, os índios recebiam ferramentas, bugigangas e, ocasionalmente, sa-
lários dos missionários e comerciantes portugueses.
A Coroa Portuguesa incentivava oficialmente empreendimentos agrícolas para estabilizar a colonização da
região. No entanto, as condições ainda eram desfavoráveis devido à distância do acesso aos escravos negros,
transporte caro, falta de recursos agrícolas excepcionais e baixa produção nas colheitas. A maioria dos colonos
na Amazônia era pobre para comprar escravos.
Diante desses desafios, os colonos portugueses optaram por escravizar os índios para utilizá-los como mão
de obra. Os maus tratos aos índios levaram os missionários a impedir o acesso deles às missões, hostilizando
ainda mais os colonos, cujos investimentos econômicos regrediram por falta de mão de obra. A atividade cole-
tora tornou-se atraente para a população “cabocla” devido às exigências mínimas de capital. Entre 1760 e 1822,
mais da metade das exportações do Pará provinha principalmente de fontes silvestres do que de plantações.
Povoamentos Indígenas nos Séculos XVI a XVIII
O desaparecimento das nações indígenas ao longo do Rio Amazonas, substituídas por grupos de índios
descendentes dos afluentes pelos colonizadores, resultou em uma transformação etnográfica em relação à
encontrada pelos primeiros exploradores. Os padrões demográficos e organizacionais das populações originais
desapareceram, dando lugar a novos grupos e desencadeando processos de desenraizamento e aculturação
intertribal e interétnica. Essa nova população assimilou técnicas essenciais ao manejo fluvial, formando a cultu-
ra do tapuio ou caboclo, que inclui também a população branca e mameluca da região.
A história dos povoados ribeirinhos do Rio Amazonas remonta ao mito das amazonas americanas e das
terras de Omagua e El Dorado. Após o fim da ilusão de fabulosas riquezas, franceses, holandeses e ingleses
estabeleceram feitorias e relações de escambo na região. Os portugueses reagiram e expulsaram os invasores.
A chegada de dois franciscanos a Belém, via rios Napo e Amazonas, demonstrou a viabilidade de alcançar o
Peru por meio do Rio Amazonas.
Alguns dos povos principais das regiões do Alto e Médio Amazonas são caracterizados por suas bases ter-
ritoriais, etnias, relações genéticas, filiações linguísticas e traços culturais marcantes.
A várzea, parte integrante do sistema fluvial do Rio Amazonas, consiste em um tipo de solo formado por ele-
mentos depositados pelas inundações características da área. Representa o leito maior dos rios, podendo ocor-
rer em ambas as margens ou em apenas uma delas, ou até mesmo estar ausente em determinados trechos,
dependendo da região. A várzea não constitui um ecossistema homogêneo, sendo seu ciclo biótico influenciado
pelo regime fluvial. Essa área concentra significativa parte da história indígena ao longo do Rio Amazonas.
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O Tratado de Tordesilhas, firmado em 1494, dividiu o mundo americano entre Portugal e Espanha, estipulan-
do que as terras situadas até 360 léguas a leste das Ilhas de Cabo Verde pertenceriam a Portugal, enquanto as
do lado oeste seriam da Espanha.
As Entradas, organizadas pelo governo, buscavam explorar o território e metais preciosos, partindo princi-
palmente de Salvador, Bahia, enquanto as Bandeiras, expedições particulares, não respeitavam os limites de
Tordesilhas, partindo da Vila de São Paulo de Piratininga, em São Vicente, dedicando-se também ao apresa-
mento de índios para escravização.
O bandeirantismo prospectivo foi realizado em busca de metais e pedras preciosas, sendo a busca por ouro
uma constante preocupação da Coroa portuguesa. Governadores da metrópole organizaram expedições cha-
madas Entradas, sendo notáveis as lideradas por Fernão Dias Paes Leme, Borba Gato, Garcia Rodrigues Paes
e Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera, que penetraram o interior do Brasil, alcançando Minas Gerais,
Goiás e Mato Grosso.
Já o bandeirantismo apresador destinava-se à captura de indígenas, que eram escravizados. Essas bandei-
ras atacavam aldeias ou missões jesuítas para escravizar os índios, contribuindo para o desenvolvimento das
regiões açucareiras.
As Descidas eram expedições realizadas pelos jesuítas em busca de índios para suas missões ou reduções.
As primeiras incursões no território do Mato Grosso datam de 1525, quando Pedro Aleixo Garcia explorou
a região, seguindo os rios Paraná e Paraguai. A presença de portugueses e espanhóis foi motivada pelos ru-
mores de riquezas inexploradas na região, enquanto jesuítas espanhóis estabeleceram Missões entre os rios
Paraná e Paraguai para assegurar os limites de Portugal.
Exploração do Ouro
Antônio Pires de Campos, em 1718, explorou o ribeirão Mutuca e o rio Coxipó, descobrindo índios, mas
não ouro. Pascoal Moreira Cabral, em 1719, ao subir o rio Coxipó-Mirim, encontrou ouro nas proximidades do
Arraial de São Gonçalo Velho, fundando Cuiabá em 1719. Miguel Sutil, em 1722, descobriu uma grande jazida
aurífera às margens do rio Cuiabá. Com as descobertas, Cuiabá tornou-se o centro do desenvolvimento.
Conquistas espanolas
Em 1538, Pedro de Anzurey liderou uma nova tentativa de exploração na Amazônia, conduzindo uma expe-
dição composta por espanhóis e índios, atravessando os Andes. No entanto, essa empreitada enfrentou sérias
dificuldades e não obteve sucesso devido às adversidades climáticas, temporais, geográficas e à falta de co-
nhecimento da densa floresta, o que impossibilitou o avanço da expansão territorial.
Em fevereiro de 1541, Francisco Pizarro partiu de Quito, no Peru, em busca do lendário “El Dorado”. Durante
essa jornada, Orellana, que estava em Guayaquil, juntou-se à expedição, mesmo enfrentando fome e falta de
recursos financeiros. As principais barreiras encontradas pelos exploradores eram os desafios apresentados
pela região tropical, ainda desconhecida para o mundo europeu.
A expedição de Pizarro encontrou diversas adversidades, incluindo doenças que acometeram o líder, levan-
do-o a ser acolhido por um cacique local que ofereceu assistência com medicamentos e alimentos. Pizarro per-
maneceu dois meses nesse local. Apesar das tentativas, os espanhóis do século XVI acabaram por abandonar
a exploração da Amazônia. Muitos membros da expedição, tanto espanhóis quanto índios, perderam a vida,
enfrentando as belezas naturais, mas desafiadoras, da floresta.
Em um contexto mais amplo, entre 1580 e 1640, devido a eventos históricos, sociais e políticos, incluindo a
morte de D. Henrique, rei de Portugal, Portugal foi anexado à Espanha. Durante esse período, em 1595, holan-
deses, ingleses e franceses tentaram colonizar a Amazônia, realizando inúmeras tentativas que se estenderam
de 1530 a 1668. Dezenas de expedições desceram dos Andes para a selva tropical, enfrentando os desafios
da mata e dos rios.
Novas Tentativas de Colonização
No ano de 1538, o imperador Carlos V da Espanha concedeu aos comerciantes da cidade de Augsburg o
direito de posse de uma parte da Venezuela, buscando uma estratégia para adentrar na Amazônia. Diversas
expedições foram enviadas na tentativa de ocupar a região. Pedro de Candia e Pedro Anzurey exploraram-na
em 1533, navegando pelos rios Madre de Dios e Beni (Bolívia). Em 1536, George de Spires, sucessor de Alfin-
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ger, liderou outra expedição que, no entanto, não gerou lucros. Em abril de 1539, Alonso de Alvarado fundou a
cidade que atualmente é Chachapoyas, no vale do Marañon. Em 1541, o alemão Philip von Huten navegou pelo
rio Caquetá por quase um ano, sem sucesso. Ao retornar à costa da Venezuela, encontrou a povoação alemã
ocupada por piratas espanhóis e foi decapitado.
Diante da dificuldade de conquista, Pizarro confiou a Francisco Orellana a continuação da exploração. A
expedição de Orellana identificou a formação do rio Amazonas pela confluência dos rios Negro e Madeira, ten-
tando desembarcar em aldeias indígenas em vários trechos do rio. Em 1541, Orellana encontrou as índias Ama-
zonas, distintas das outras tribos indígenas. Um ano depois, alcançou o Oceano Atlântico. Em 13 de fevereiro
de 1544, Orellana recebeu os títulos de Adelantado, Governador e Capitão Geral das terras que colonizou, de-
nominadas Nova Andaluzia, posteriormente chamada de Amazônia. Há controvérsias sobre a rota de Orellana,
com alguns historiadores sugerindo a entrada pelo rio Pará e outros pelo Amazonas. Orellana faleceu em 1546.
Outros navegadores tentaram alcançar a Amazônia pelo Atlântico, como Luiz de Melo da Silva e o piloto
francês João Afonso, sem sucesso. Diversas tentativas espanholas ocorreram em 1560, lideradas por Pedro
de Ursua, Gusman e Lope de Aguirre. Surgiram várias lendas e histórias acerca do El Dorado, afirmavam que
a riqueza era inestimável, os templos, palácios e pavimentação das ruas de Manao eram construídos com ouro
puro, e o rei banhava-se em um lago de águas perfumadas, sobre o qual espalhavam ouro em pó.
Reação Portuguesa
Durante esse período, a expansão das atividades dos portugueses no Brasil foi notavelmente lenta, dada
a escassez de população no reino de Portugal disposta a emigrar, especialmente para dedicar-se ao trabalho
na colônia. A ocupação da região amazônica teve início por volta de 1600, quando outras potências europeias,
como holandeses, ingleses e franceses, competiam pela posse das terras, invadindo e explorando a área do
delta do rio, estabelecendo comércio com os nativos como se fossem os legítimos proprietários.
Em resposta às tentativas de colonização estrangeira, os portugueses partiram de Pernambuco para con-
frontar os franceses, que estavam se estabelecendo nas costas brasileiras, notadamente no Maranhão, onde
São Luiz se destacava como o principal ponto da colônia francesa. Em 1616, uma expedição liderada por Fran-
cisco Caldeira Castelo Branco expulsou os franceses do Maranhão e avançou para o norte, estabelecendo o
Forte do Presépio, que se tornou o núcleo inicial da povoação de Belém e a base estratégica dos portugueses
contra os invasores estrangeiros.
No ano de 1612, os primeiros jesuítas adentraram o Maranhão, assumindo a responsabilidade pela cateque-
se dos nativos, sujeitando-os às atividades laborais em prol dos colonizadores.
Expedição de Pedro Teixeira
Em 1621, sob o comando de Pedro Teixeira, os portugueses derrotaram os últimos bastiões ingleses, ir-
landeses e holandeses na região. Além de Teixeira, exploradores adentraram o território amazônico, ultrapas-
sando significativamente o alcance de Teixeira. Originados de Belém, Gurupá e Cametá, eles percorreram as
regiões de Tapajós, indo em direção ao Oeste, alcançando os limites com as colônias espanholas e avançando
até o rio Solimões, com o intuito de buscar ouro e produtos naturais da região interiorana. Enquanto explora-
vam a floresta, também caçavam os nativos, mas enfrentaram dificuldades na busca por ouro e na colheita de
recursos do interior. Embora a caça aos indígenas fosse mais lucrativa, era também mais trabalhosa, levando
os portugueses a se tornarem os ocupantes efetivos da Amazônia em um período de 10 anos.
Entre 1600 e 1630, os portugueses consolidaram seu domínio total na foz do rio Amazonas. Em 28 de outu-
bro de 1637, sob o comando de Pedro Teixeira, uma expedição partiu com sucesso do Porto de Belém, violando
o Tratado de Tordesilhas em quase 1.500 milhas.
Em 1669, para bloquear a passagem de navios holandeses que desciam do Orenoco para negociar com os
índios Omágua, o comandante Pedro da Costa Favela construiu a fortaleza da Barra de S. José do Rio Negro.
Frei Teodoro, um franciscano, foi responsável pelo estabelecimento dos índios Tarumá na boca do rio Negro,
originando o povoado que se tornaria, no futuro, a cidade de Manaus.
Após diversas aventuras e descobertas, a região acabou sendo negligenciada e caiu no esquecimento, até
que os frades Domingos de Brieba e André Toledo desceram novamente o rio Amazonas, chegando a Belém do
Pará e despertando o interesse de outros capitães portugueses. Pedro Teixeira, apesar da oposição da Câmara
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Municipal de Belém do Pará, liderou a viagem em 1637 em direção aos confins da Amazônia, conquistando a
região de Paianino em 16 de agosto de 1639. Essa expedição foi justificada pela Carta Régia, que estabeleceu
a capitania do Cabo do Norte em 1637, por decreto de Felipe IV da Espanha.
No entanto, todos os esforços empreendidos pela expedição não foram suficientes para evitar o abandono
da Amazônia naquela época, especialmente considerando a vasta extensão geográfica que ia da foz do rio
Amazonas à província de Quito e dos altiplanos guianenses à Bacia do Mamoré – Guaporé.
O Povoamento e a Mão de Obra utilizada na Economia
Os fatores humanos que contribuíram para o povoamento da Amazônia foram semelhantes aos encontrados
em outras partes do Brasil:
- O Índio: Apesar de constituir uma população numerosa, os indígenas não eram considerados fonte sufi-
ciente para o árduo trabalho requerido na região. Por isso, eram frequentemente caçados violentamente pelos
sertanistas, reunidos em aldeamentos pelos missionários e submetidos pelas autoridades civis e militares. Os
aldeamentos representavam o maior núcleo humano, utilizado para diversas tarefas.
- O Negro Africano: Embora não tenha sido tão representativo, os africanos eram escravizados. Devido à
incipiência da agricultura na época, sua mão de obra não era tão essencial. A falta de recursos financeiros
também limitava o comércio de escravos pelos colonos, mesmo com a insistência do governo para facilitar o
mercado negreiro. Os primeiros africanos foram introduzidos pelos holandeses.
A Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará trouxe 12.587 pessoas para a região, incluindo 7.606 escra-
vos. No início da colonização, a força de trabalho negra era subestimada devido à facilidade de aprisionamento
dos indígenas. A procura por escravos africanos intensificou-se após a abolição da escravização indígena pela
Lei de 06 de junho de 1755.
A Coroa Portuguesa oficialmente incentivava empreendimentos agrícolas para estabilizar a colonização.
No entanto, as condições para o desenvolvimento agrícola eram desfavoráveis devido ao acesso distante aos
escravos negros, altos custos de transporte, falta de recursos agrícolas excepcionais e metais preciosos, baixa
produção nas colheitas e a pobreza dos colonos incapazes de comprar escravos.
Diante dessas dificuldades, os colonos optaram por escravizar os índios para utilizá-los como mão-de-obra,
apesar da resistência dos missionários. Esta prática hostilizava os colonos, cujos investimentos econômicos
regrediam por falta de mão-de-obra, enquanto florescia a agricultura e a pecuária dos jesuítas. A atividade
coletora tornou-se atraente para a população “cabocla” devido às exigências mínimas de capital. Entre 1760
e 1822, mais da metade das exportações do Pará provinha principalmente de fontes silvestres, em detrimento
das plantações agrícolas.
Povoamentos Indígenas nos séculos XVI a XVIII
O desaparecimento das nações indígenas que habitavam as margens do Rio Amazonas, substituídas por
grupos indígenas trazidos pelos colonizadores dos afluentes, resultará em uma etnografia distinta daquela
encontrada pelos exploradores iniciais. Os padrões demográficos e organizacionais da população original de-
saparecem, dando lugar a novos grupos, levando ao desenraizamento e ao processo de aculturação intertribal
e interétnica. Essa nova população assimilará técnicas cruciais para a navegação fluvial, formando a cultura do
tapuio ou caboclo, na qual também se incluirá a população branca e mameluca da região.
A narrativa dos povoados ribeirinhos do Rio Amazonas começa com os mitos das amazonas americanas e
das terras de Omagua e El Dorado. Quando a ilusão de riquezas fabulosas se dissipa, franceses, holandeses
e ingleses estabelecem feitorias e relações de escambo na região. Os portugueses reagem, desalojando os
invasores. A chegada de dois franciscanos a Belém, via rios Napo e Amazonas, demonstra a viabilidade de
alcançar o Peru através do Amazonas.
Nas regiões do Alto e Médio Amazonas, alguns povos principais apresentam características distintas em
termos de bases territoriais, etnias, relações genéticas, filiações linguísticas e traços culturais significativos.
A várzea, integrante do sistema fluvial do Rio Amazonas, representa um tipo de solo formado pelos elemen-
tos depositados durante as inundações características da região. O leito maior dos rios, a várzea pode ocorrer
em ambas as margens ou apenas em uma delas, ou mesmo inexistir em determinadas áreas, dependendo da
região. Esse ecossistema não é homogêneo, e seu ciclo biótico está intrinsecamente ligado ao regime fluvial. A
várzea concentra uma parte significativa da história indígena ao longo do Rio Amazonas.
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A política pombalina: Portugal Metropolitano; medidas pombalinas; Demarcações de limites:
tratados de Madri e de Santo Ildefonso. A capitania de Mato Grosso.
O primeiro-ministro do Rei D. José I atendia pelo nome de Sebastião José de Carvalho e Melo, que pos-
teriormente se tornaria o Marquês de Pombal. Durante seu mandato, uma série de reformas econômicas e
administrativas significativas foram implementadas em Portugal, em seu império colonial e, notadamente, na
Amazônia. Pombal era um autêntico déspota esclarecido, caracterizado por governar de maneira absolutista,
porém, influenciado pelas ideias iluministas. O iluminismo, ou movimento das luzes, preconizava a emancipa-
ção humana do estado de ignorância, promovendo o uso da razão e da ciência, com ênfase no ser humano
como foco central de atenção.
O governo de Pombal destacou-se por sua tentativa de modernizar Portugal em relação às demais potências
europeias, adotando medidas inspiradas nas ideias iluministas. Seu objetivo primordial era recuperar o controle
sobre todas as riquezas provenientes das colônias em direção a Lisboa. Antes do governo de Pombal, grande
parte das riquezas coloniais portuguesas caía nas mãos de holandeses que participavam do comércio ou de
piratas que atacavam as embarcações portuguesas. Além disso, os jesuítas detinham considerável poder nas
colônias portuguesas, principalmente devido ao controle sobre a mão-de-obra. Por meio das reformas, Portugal
almejava modernizar-se e restabelecer o domínio sobre o que restava de seu vasto império colonial.
As principais medidas das reformas pombalinas incluíram:
- Expulsão da ordem jesuíta de todas as colônias portuguesas;
- Criação das companhias de comércio, iniciada pela Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Mara-
nhão;
- Instituição do Diretório dos índios, transferindo o controle da mão-de-obra para funcionários da coroa por-
tuguesa;
- Política de integração e assimilação dos indígenas aos colonizadores.
A expulsão dos jesuítas
A expulsão dos jesuítas, ocorrida no século XVI, foi uma resposta da Igreja Católica à Reforma Protestante.
A Ordem Jesuíta, diretamente subordinada ao Papa, causava descontentamento em Portugal, uma vez que o
restante do clero respondia primeiramente à coroa portuguesa e, em seguida, ao Papa. A independência dos
jesuítas poderia gerar conflitos de ideias na metrópole e, principalmente, confrontos de ações nas colônias.
Na Amazônia, os jesuítas acumulavam considerável riqueza, chegando a rivalizar com o Estado português em
poder econômico.
Em 1734, um exemplo da sua influência econômica era evidenciado pelo embarque para Lisboa de 2.538
arrobas de cacau, além de uma considerável quantidade de cravo e salsa parrilha, todos provenientes do inte-
rior, sem o pagamento de dízimos ao Estado nem direitos alfandegários na metrópole.
A riqueza dos jesuítas, sua isenção fiscal, o controle sobre a mão de obra e sua participação nas câmaras
municipais tornavam-nos um grande obstáculo para os esforços do Marquês de Pombal em modernizar Portu-
gal. Ao expulsá-los, Pombal almejava retomar o controle sobre a mão de obra indígena, aumentar a produtivi-
dade nas colônias e elevar a arrecadação de impostos.
Tratado de Madri – 1750 - D. João V (Portugal) / D. Fernando VI (Espanha) – 13 de janeiro de 1750
Com o desejo de consolidar eficazmente a sincera e cordial amizade, especialmente no que se refere aos
limites das duas Coroas na América, cujas conquistas têm avançado com incerteza e dúvida devido à falta de
averiguação dos verdadeiros limites desses domínios, ou da localização para a qual se deve imaginar a Linha
Divisória, ambas as Coroas, Portugal e Espanha, apresentaram alegações. Por parte da Coroa de Portugal,
afirmava-se que ao contar os 180º da demarcação, desde a linha para o Oriente, a Espanha ocupava mais
espaço do que o atribuído aos portugueses na América meridional, ao Ocidente da mesma Linha, devido à
extensão do domínio espanhol na extremidade Asiática do mar do sul, que ultrapassava os 180º.
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Já por parte da Coroa de Espanha, alegava-se que ao imaginar a linha de norte a sul a 370 léguas a oeste
das ilhas de Cabo Verde, mesmo que não estivesse especificado de qual ilha começar a contar, e concordando
que se começasse pela mais ocidental, Santo Antão, as 370 léguas chegariam apenas à cidade do Pará. No
entanto, Portugal ocupou as duas margens do rio Amazonas, estendendo-se até a boca do rio Javarí, assim
como no interior do Brasil com a internação que fez até o Cuiabá e Mato Grosso.
Após a análise dessas razões pelos dois Monarcas, decidiram encerrar as disputas passadas e futuras,
deixando de usar e esquecer todos os direitos e ações que poderiam pertencer-lhes em virtude dos tratados de
Tordesilhas, Lisboa, Utrecht e da escritura de Saragoça, ou de qualquer outro fundamento que pudesse influen-
ciar a divisão de seus domínios por linha meridiana.
Tratado preliminar de limites - Sto. Ildefonso Dona Maria I (Portugal) / Carlos III (Espanha) 1º outubro de
1777
Com a Divina Providência inspirando os nobres corações de Suas Majestades Fidelíssima (Portugal) e Ca-
tólica (Espanha) com o sincero desejo de pôr fim às discordâncias que perduram entre as duas Coroas, assim
como entre seus respectivos súditos, ao longo de quase três séculos, em relação aos limites de seus domínios
na América e na Ásia. Com o intuito de alcançar esses objetivos de grande importância, foram nomeados re-
presentantes, os quais, após compartilhar e validar seus plenos poderes de maneira apropriada, concordaram
nos seguintes artigos, guiados pelas diretrizes e intenções de seus Soberanos.
Capitania do Mato Grosso
A Coroa portuguesa estabeleceu a Capitania de Mato Grosso, no Brasil, em 9 de maio de 1748, por meio de
desmembramento do território da Capitania de São Paulo. A capital da nova capitania foi Vila Bela da Santíssi-
ma Trindade, mantendo-se nessa posição de 1752 a 1815.
Antecedentes
No século XVI, as atuais regiões Centro-Oeste e Sul do Brasil faziam parte do território da Coroa espanhola,
conforme estipulado pelo Tratado de Tordesilhas (1494). A área, explorada ocasionalmente por aventureiros e
missionários, viu os jesuítas espanhóis iniciarem a colonização da região das Missões (Itatín, Guairá) no século
XVII, até serem expulsos pelos bandeirantes paulistas a partir de 1680.
No século XVIII, o bandeirante Pascoal Moreira Cabral descobriu ouro na região de Mato Grosso (1719),
resultando na fundação de Cuiabá (1723), elevada à categoria de vila com o nome de Vila Real do Senhor Bom
Jesus em 1º de janeiro de 1727, pelo Governador e Capitão-general da Capitania de São Paulo, Rodrigo César
de Meneses.
Bartolomeu Bueno da Silva, conhecido como “Anhanguera,” entre 1722 e 1728, explorou Goiás, descobrindo
ouro e estabelecendo os primeiros arraiais e povoações.
A Capitania de Mato Grosso
Por volta de 1732, o ouro de aluvião em Cuiabá mostrava sinais de esgotamento, levando à exploração do
vale do rio Guaporé (1733-1734). Manuel Félix de Lima desceu os rios Guaporé, Madeira e Amazonas, abrindo
caminho até Belém do Pará (1742). Posteriormente, foram encontrados diamantes em Goiás (1746) e Mato
Grosso (1747). Essas descobertas levaram ao desmembramento da Capitania de São Paulo (Carta-régia de
9 de março de 1748), criando as Capitanias Gerais de Goiás (sede em Vila Boa de Goiás) e Mato Grosso. A
capital desta última foi estabelecida em Pouso Alegre e, posteriormente, em Vila Bela da Santíssima Trindade
de Mato Grosso, a partir de 19 de março de 1752. A instalação da Casa dos Quintos (1751) em ambas as capi-
tais visava arrecadar tributos e fortificar o limite ocidental da Colônia. Os Tratados de Madrid (1750) e de Santo
Ildefonso (1777) com a Espanha finalizaram o processo, definindo as fronteiras na região.
Ao longo de sua história, os governadores e capitães-generais foram:
- Antônio Rolim de Moura Tavares (1751-1765)
- João Pedro da Câmara (1764-1769)
- Luís Pinto de Sousa Coutinho (1769-1772)
- Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres (1772-1789)
- João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres (1789-1796)
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- Caetano Pinto de Miranda Montenegro (1796-1802)
- Manuel Carlos de Abreu e Meneses (1802-1807)
- João Carlos Augusto d’Oeynhausen e Gravembourg, Marquês de Aracati (1807-1819)
- Francisco de Paula Magessi de Carvalho, Barão de Vila Bela (1819-1821).
Da Independência aos nossos dias
Em 28 de fevereiro de 1821, às vésperas da Independência do Brasil, a região foi elevada à categoria de
província, mantendo o mesmo nome.
Com a Proclamação da República Brasileira (1889) e a Constituição de 1891, a antiga província foi transfor-
mada no estado de Mato Grosso, que posteriormente foi subdividido nos estados atuais de Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul e Rondônia.
Economia de Mato Grosso durante a Primeira República: Usinas de Açúcar e Criação de Gado
No ano de 1894, os salesianos foram solicitados pelo bispo Dom Carlos Luís D’Amour, a pedido do fundador
Dom Bosco, a estabelecerem-se em Mato Grosso. Sua presença deixou um marcante legado cultural no esta-
do, destacando-se por suas missões junto aos povos indígenas. O período político tumultuado de 1889 a 1906
foi marcado por avanços econômicos significativos. Usinas de açúcar às margens do Rio Cuiabá prosperaram,
transformando-se em importantes potências econômicas no estado.
Dentre essas, destacam-se as Usinas da Conceição, Aricá e Itaicy, entre outras. A produção de borracha
também experimentou um notável impulso, e as plantações de erva-mate na região fronteiriça com o Paraguai
emergiram como outra fonte crescente de riqueza. Em 1905, teve início a construção da estrada de ferro, que
cortou o sul do estado.
A pecuária, com a criação de gado e suínos, desempenhou um papel crucial na economia de Mato Grosso
durante os séculos XVII e XIX.
Economia entre os séculos XVIII, XIX e meados dos séculos XX
• Culturas agrícolas: Cana-de-açúcar, erva-mate (arrendamento pela Cia Matte Laranjeira, gerando uma
renda seis vezes maior que a do estado de Mato Grosso), poaia (exportação rica em emetina com propriedades
medicinais, presente na Bacia do Rio Paraguai e do Guaporé, abrangendo Cáceres, Barra do Bugres, Vila Bela
e Cuiabá).
• Borracha: Mangabeiras nas regiões dos rios Paraguai e Amazonas.
• Pecuária: Século XVIII - Atividade subsidiária (Cuiabana e Guapareana) - impulsionou o desenvolvimento
da indústria do charque em Cáceres.
• Hidrovia - Rio Paraná/Rio Paraguai - 1858-1870 - Ativada em 1880, ligando Cáceres ao Uruguai.
• Território com aproximadamente 1.750.000 km² - População de 17 milhões de habitantes (Argentina, Bo-
lívia, Brasil, Paraguai) - Zona de Processamento de Exportação (ZPE) em Cáceres, com um parque industrial
voltado para exportação de produtos via Mercosul.
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A Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai: a participação de Mato Grosso
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-Ofensiva paraguaia (dezembro de 1864 a dezembro de 1865); a iniciativa militar coube aos paraguaios e a
guerra desenrolou-se em território brasileiro e argentino;
-Invasão do Paraguai (de janeiro de 1866 a janeiro de 1868): a guerra já em território paraguaio, foi coman-
dada pelo aliado general Mitre;
-Comando de Caxias (de janeiro de 1868 a janeiro de 1869): Caxias assumiu o comando geral dos Aliados;
-Campanha da Cordilheira (janeiro de 1869 a março de 1870): sob o comando de Conde D’Eu, destruiu-se
o remanescente do exército paraguaio.
Consequências da Guerra
A Guerra do Paraguai teve consequências dramáticas para ambos os lados.
O Paraguai ficou completamente destruído, e perdeu 150000 km² de territórios cedidos ao Brasil e à Argen-
tina. Durante a ocupação aliada (1870-1876), o nascente parque industrial paraguaio foi totalmente destruído
pelos aliados, sendo a fundição de Ibicuí completamente demolida. A ferrovia foi vendida a preço de sucata para
os ingleses e as reservas de mate e madeira vendidas para empresas estrangeiras. As terras públicas que eram
cultivadas pelos camponeses passaram para as mãos de banqueiros ingleses, holandeses e estadunidenses,
que passaram a aluga-las aos próprios paraguaios.
Além desses aspectos, a consequência mais trágica da guerra foi a dizimação da população paraguaia:
estima-se que 75% da população paraguaia tenha morrido em decorrência da guerra, com 90% da população
masculina dizimada.
Guerra no Mato Grosso5
Proclamada a 23 de julho de 1840 a maioridade de Dom Pedro II, Mato Grosso foi governado por 28 pre-
sidentes nomeados pelo Imperador, até à Proclamação de República, ocorrida a 15/11/1889. Durante o Se-
gundo Império (governo de Dom Pedro II), o fato mais importante que ocorreu foi a Guerra da Tríplice Aliança,
movida pela República do Paraguai contra o Brasil, Argentina e Uruguai, iniciada a 27/12/1864 e terminada a
01/03/0870 com a morte do Presidente do Paraguai, Marechal Francisco Solano Lopez, em Cerro-Corá.
Os episódios mais notáveis ocorridos em terras mato-grossenses durante os 5 anos dessa guerra foram:
a) o início da invasão de Mato Grosso pelas tropas paraguaias, pelas vias fluvial e terrestre;
b) a heroica defesa do Forte de Coimbra;
c) o sacrifício de Antônio João Ribeiro e seus comandados no posto militar de Dourados.
d) a evacuação de Corumbá;
e) os preparativos para a defesa de Cuiabá e a ação do Barão de Melgaço;
f) a expulsão dos inimigos do sul de Mato Grosso e a retirada da Laguna;
g) a retomada de Corumbá;
h) o combate do Alegre;
Pela via fluvial vieram 4.200 homens sob o comando do Coronel Vicente Barrios, que encontrou a heroi-
ca resistência de Coimbra ocupado por uma guarnição de apenas 115 homens, sob o comando do Tte. Cel.
Hermenegildo de Albuquerque Porto Carrero. Pela via terrestre vieram 2.500 homens sob o comando do Cel.
Isidoro Rasquin, que no posto militar de Dourados encontrou a bravura do Tte. Antônio João Ribeiro e mais 15
brasileiros que se recusaram a rendição, respondendo com uma descarga de fuzilaria à ordem para que se
entregassem.
Foi ai que o Tte. Antônio João enviou ao Comandante Dias da Silva, de Nioaque, o seu famoso bilhete dizen-
do: “Ser que morro mas o meu sangue e de meus companheiros será de protesto solene contra a invasão do
solo da minha Pátria” A evacuação de Corumbá, desprovida de recursos para a defesa, foi outro episódio notá-
vel, saindo a população, através do Pantanal, em direção a Cuiabá, onde chegou, a pé, a 30 de abril de 1865.
5 http://www.mt.gov.br/historia
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Na expectativa dos inimigos chegarem a Cuiabá, autoridades e povo começaram preparativos para a re-
sistência. Nesses preparativos sobressaia a figura do Barão de Melgaço que foi nomeado pelo Governo para
comandar a defesa da Capital, organizando as fortificações de Melgaço. Se os invasores tinham intenção de
chegar a Cuiabá dela desistiram quando souberam que o Comandante da defesa da cidade era o Almirante
Augusto Leverger - o futuro Barão de Melgaço -, que eles já conheciam de longa data. Com isso não subiram
além da foz do rio São Lourenço. Expulsão dos invasores do sul de Mato Grosso- O Governo Imperial determi-
nou a organização, no triângulo Mineiro, de uma “Coluna Expedicionária ao sul de Mato Grosso”, composta de
soldados da Guarda Nacional e voluntários procedentes de São Paulo e Minas Gerais para repelir os invasores
daquela região. Partindo do Triângulo em direção a Cuiabá, em Coxim receberam ordens para seguirem para
a fronteira do Paraguai, reprimindo os inimigos para dentro do seu território.
A missão dos brasileiros tornava-se cada vez mais difícil, pela escassez de alimentos e de munições. Para
cúmulo dos males, as doenças oriundas das alagações do Pantanal mato-grossense, devastou a tropa. Ao
aproximar-se a coluna da fronteira paraguaia, os problemas de alimentos e munições se agravava cada vez
mais e quando se efeito a destruição do forte paraguaio Bela Vista, já em território inimigo, as dificuldades che-
garam ao máximo. Decidiu então o Comando brasileiro que a tropa segue até a fazenda Laguna, em território
paraguaio, que era propriedade de Solano Lopez e onde havia, segundo se propalava, grande quantidade de
gado, o que não era exato. Desse ponto, após repelir violento ataque paraguaio, decidiu o Comando empreen-
der a retirada, pois a situação era insustentável.
Iniciou-se aí a famosa “Retirada da Laguna”, o mais extraordinário feito da tropa brasileira nesse conflito.
Iniciada a retirada, a cavalaria e a artilharia paraguaia não davam tréguas à tropa brasileira, atacando-as dia-
riamente. Para maior desgraça dos nacionais veio o cólera devastar a tropa. Dessa doença morreram Guia
Lopes, fazendeiro da região, que se ofereceu para conduzir a tropa pelos cerrados sul mato-grossenses, e o
Coronel Camisão, Comandante das forças brasileiras. No dia da entrada em território inimigo (abril de 1867),
a tropa brasileira contava com 1.680 soldados. A 11 de junho foi atingido o Porto do Canuto, às margens do rio
Aquidauana, onde foi considerada encerrada a trágica retirada. Ali chegaram apenas 700 combatentes, sob o
comando do Cel. José Thomás Gonçalves, substituído de Camisão, que baixou uma “Ordem do dia”, concluída
com as seguintes palavras: “Soldados! Honra à vossa constância, que conservou ao Império os nossos ca-
nhões e as nossas bandeiras”.
Retirada da Laguna
A retirada da Laguna foi, sem dúvida, a página mais brilhante escrita pelo Exército Brasileiro em toda a Guer-
ra da Tríplice Aliança. O Visconde de Taunay, que dela participou, imortalizou-a num dos mais famosos livros da
literatura brasileira. A retomada de Corumbá foi outra página brilhante escrita pelas nossas armas nas lutas da
Guerra da Tríplice Aliança. O presidente da Província, então o Dr. Couto de Magalhães, decidiu organizar três
corpos de tropa para recuperar a nossa cidade que há quase dois anos se encontrava em mãos do inimigo. O
1º corpo partiu de Cuiabá a 15.05/1867, sob as ordens do Tte. Cel. Antônio Maria Coelho. Foi essa tropa levada
pelos vapores “Antônio João”, “Alfa”, “Jaurú” e “Corumbá” até o lugar denominado Alegre. Dali em diante se-
guiria sozinha, através dos Pantanais, em canoas, utilizando o Paraguai -Mirim, braço do rio Paraguai que sai
abaixo de Corumbá e que era confundido com uma “boca de baía”.
Desconfiado de que os inimigos poderiam pressentir a presença dos brasileiros na área, Antônio Maria resol-
veu, com seus Oficiais, desfechar o golpe com o uso exclusivo do 1º Corpo, de apenas 400 homens e lançou
a ofensiva de surpresa. E com esse estratagema e muita luta corpo a corpo, consegui o Comandante a recu-
peração da praça, com o auxílio, inclusive, de duas mulheres que o acompanhavam desde Cuiabá e que atra-
vessaram trincheiras paraguaias a golpes de baionetas. Quando o 2º Corpo dos Voluntário da Pátria chegou a
Corumbá, já encontrou em mãos dos brasileiros. Isso foi a 13/06/1867. No entanto, com cerca de 800 homens
às suas ordens o Presidente Couto de Magalhães, que participava do 2º Corpo, teve de mandar evacuar a ci-
dade, pois a varíola nela grassava, fazendo muitas vítimas. O combate do Alegre foi outro episódio notável da
guerra. Quando os retirantes de Corumbá, após a retomada, subiam o rio no rumo de Cuiabá, encontravam-se
nesse porto “carneando” ou seja, abastecendo-se de carne para a alimentação da tropa eis que surgem, de
surpresa, navios paraguaios tentando uma abordagem sobre os nossos.
A soldadesca brasileira, da barranca, iniciou uma viva fuzilaria e após vários confrontos, venceram as tropas
comandadas pela coragem e sangue frio do Comandante José Antônio da Costa. Com essa vitória chegaram
os da retomada de Corumbá à Capital da Província (Cuiabá), transmitindo a varíola ao povo cuiabano, perden-
do a cidade quase a metade de sua população. Terminada a guerra, com a derrota e morte de Solano Lopez
41
nas “Cordilheiras” (Cerro Corá), a 1º de março de 1870, a notícia do fim do conflito só chegou a Cuiabá no dia
23 de março, pelo vapor “Corumbá”, que chegou ao porto embandeirado e dando salvas de tiros de canhão.
Dezenove anos após o término da guerra, foi o Brasil sacudido pela Proclamação da República, cuja notícia só
chegou a Cuiabá na madrugada de 9 de dezembro de 1889.
Consequências do pós Guerra para a Província de Mato Grosso:
- Reabertura da Bacia Platina.
- Afirmação dos principais portos: Corumbá, Cuiabá e Cáceres.
- Surgimento de um nova burguesia: comercio de importação e exportação.
- Aumento territorial.
- Imigração.
República: definição das fronteiras; incorporação do Acre ao Estado Nacional Brasileiro; o Terri-
tório de Rondônia
42
Em 1898, a Bolívia estabeleceu uma alfândega no rio Aquiri, em Puerto Alonso, iniciando a cobrança de
pedágios aos brasileiros, que resistiram a essa imposição, resultando em repressões e retaliações. Nesse
mesmo ano, diversos seringalistas expulsaram os bolivianos, dando início ao conflito. Paralelamente, a Bolívia
negociava com empresários internacionais para criar uma empresa destinada a explorar a região do Acre, com
apoio militar dos Estados Unidos.
O Estado do Amazonas financiou a segunda rebelião em 1899, com o objetivo de incorporar o território do
Acre ao Amazonas. Em 1900, ocorreu a terceira revolta. Temendo a intervenção inglesa no mercado da borra-
cha, os bolivianos aceleraram as negociações com grupos estrangeiros da Bélgica e dos Estados Unidos.
Em 1902, a quarta revolta foi liderada por Plácido de Castro. O conflito teve início em Xapuri, que foi procla-
mado como o Estado Independente do Acre. A luta prosseguiu pela bacia do Purus. Em janeiro de 1903, Puerto
Alonso foi tomada e renomeada Porto do Acre.
No dia 17 de novembro de 1903, Brasil e Bolívia assinaram o Tratado de Petrópolis. Segundo o acordo, a
Bolívia vendeu o Acre ao Brasil por dois milhões de libras esterlinas, e o Brasil se comprometeu a concluir a
construção da estrada de ferro Madeira–Mamoré.
O território de Rondônia
Até a Constituição de 1988, o Brasil tinha dispositivos legais que permitiam a criação de Territórios da União,
unidades autônomas administrativas dependentes do poder central. A Constituição de 1891 não previa novas
conquistas de terras, mas a consolidação dos estados na América do Sul resultou na criação do Território do
Acre pelo Tratado de Petrópolis (1903). Outros Territórios, incluindo o do Guaporé (1943), surgiram nas déca-
das seguintes. A Constituição de 1967, durante o regime militar, permitiu a criação de novos territórios. Rondô-
nia, antes Território do Guaporé, tornou-se Estado em 1981.
A Comissão Rondon, responsável pela exploração dos sertões, deu nome ao Território de Rondônia. A re-
gião foi habitada por tribos nativas, que ao longo do século XX foram dizimadas ou integradas. Na década de
1930, com o declínio dos seringais, o governo transferiu a administração da ferrovia Madeira-Mamoré para o
Ministério da Viação, liderado pelo tenente Aluízio Ferreira. Projetos de colonização e agricultura visavam à
integração e soberania das fronteiras.
Durante a Segunda Guerra, a borracha teve novo ciclo de demanda. Nos anos 1950, a descoberta de cas-
siterita atraiu mais população. Em 1960, a BR-364 foi aberta, impulsionando o desenvolvimento. Em 1971, o
governo fechou as lavras manuais de cassiterita, resultando em impactos negativos na economia local. Na
década de 1970, projetos desenvolvimentistas dos governos militares incentivaram a migração para Rondônia,
expondo a região a processos de expropriação e violência.
Rondônia tornou-se Estado em 1981, com foco econômico na pecuária de corte, seguida do cultivo de soja
e milho.
A iniciativa conhecida como Marcha para o Oeste foi concebida por Getúlio Vargas durante o período da
ditadura do Estado Novo, com a finalidade de fomentar o crescimento demográfico e promover a integração
econômica entre as regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil. Esse projeto incentivou a formação de pequenos
núcleos de colonização, embora tenha alcançado resultados limitados.
Contexto histórico da Marcha para o Oeste no Brasil
A Marcha para o Oeste foi uma iniciativa inserida no programa de desenvolvimento econômico e populacio-
nal das regiões Norte e Centro-Oeste durante a ditadura do Estado Novo, que teve início em 1937 com o golpe
político liderado por Getúlio Vargas. Esse período foi caracterizado pela repressão ideológica e pela intensa
propaganda política promovida pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), sendo a marcha para o
oeste um dos projetos propagandeados por essa instância governamental.
43
As regiões Norte e Centro-Oeste eram identificadas como áreas pouco povoadas e pouco conectadas às
regiões litorâneas, especialmente o Sudeste e Sul do Brasil. Dessa forma, o objetivo inicial era impulsionar o
desenvolvimento populacional e econômico dessas regiões, incluindo a integração por meio do aprimoramento
da malha rodoviária, com foco em Goiás, considerado estratégico devido à sua localização central no mapa do
Brasil.
A responsabilidade de liderar a promoção desse programa foi atribuída ao escritor modernista Cassiano
Ricardo, que exerceu funções de censor e diretor do Jornal A Manhã entre 1941 e 1945, além de chefiar o
Departamento Político Cultural da Rádio Nacional. Cassiano Ricardo defendeu o projeto varguista por meio de
sua obra ‘Marcha para o Oeste: a influência da bandeira na formação social e política do Brasil’. Nesse livro, ele
sustentou a visão ditatorial de Vargas.
A propaganda elaborada por Cassiano Ricardo baseava-se em um nacionalismo que argumentava que a
verdadeira essência brasileira só poderia ser encontrada no interior do país, considerando o litoral como um
espaço permeado por influências estrangeiras. Esse tema foi explorado por Getúlio Vargas durante sua visita
a Goiânia em 1940.
Características da Marcha para o Oeste
O cerne desse projeto residia na promoção da integração entre o interior do Brasil e as áreas litorâneas por
meio do desenvolvimento populacional e da conectividade rodoviária. Para concretizar esse objetivo, foram
estabelecidas colônias de habitação em diversos estados, incluindo Goiás, Amazonas, Mato Grosso, Pará e
Maranhão.
A proposta varguista preconizava a integração econômica dessas regiões, especialmente por meio do au-
mento da produção agrícola. Para alcançar esse objetivo, a Marcha para o Oeste advogava pelo desmantela-
mento dos latifúndios existentes e pela implementação da reforma agrária, permitindo que os colonos desenvol-
vessem uma agricultura familiar em pequenas propriedades. A interação com as populações indígenas também
era parte integrante dessa estratégia.
O incremento populacional seria alcançado por meio de voluntários, principalmente provenientes do Nordes-
te, que se dispusessem a se mudar para as regiões contempladas pelo projeto. Essa iniciativa visava, principal-
mente, envolver brasileiros de condição econômica mais precária, conforme detalhado a seguir.
Segundo a visão de Vargas, a ocupação dos chamados ‘vazios demográficos’ deveria ser conduzida prefe-
rencialmente por brasileiros economicamente desfavorecidos. A ‘Marcha para o Oeste’ defendia uma valoriza-
ção do trabalhador nacional, considerando que, na perspectiva do governo, os estrangeiros representavam um
risco, como evidenciado pelos que residiam em áreas urbanas e participavam de movimentos grevistas antes
de 1930.
Por fim, era crucial para o governo que o desenvolvimento da malha rodoviária ocorresse para facilitar o es-
coamento da produção agrícola dessas regiões em direção às áreas litorâneas. Dada a sua posição geográfica
estratégica, o estado de Goiás era considerado fundamental, pois conectava o litoral ao interior do país.
A campanha do governo varguista obteve sucesso na promoção do desenvolvimento populacional dessas
regiões, juntamente com o avanço da produção e o crescimento da malha rodoviária. Entretanto, o projeto não
conseguiu desarticular os latifúndios existentes, e as colônias de habitação enfrentaram desafios significativos
devido à falta de estímulo e apoio, como foi observado no caso goiano, em que muitos colonos venderam suas
terras pouco tempo após estabelecerem-se na colônia que originou a cidade de Ceres
44
A construção de Brasília: repercussões. A integração pelas rodovias. As políticas de integração e
os planos de desenvolvimento dos governos militares
A criação de Brasília foi um empreendimento realizado durante o mandato de Juscelino Kubitschek e trans-
correu entre 1957 e 1960. A mudança da capital do Brasil para o Planalto Central estava inserida em um plano
concebido desde os primórdios da República brasileira. A construção de Brasília tornou-se o emblemático sím-
bolo do desenvolvimentismo promovido pelo governo de JK.
Estima-se que tenham sido despendidos bilhões de dólares para concretizar a nova capital, e fala-se em
significativo custo humano, dado que os trabalhadores desempenhavam suas funções em condições bastante
adversas. A edificação de Brasília estava integrada ao Plano de Metas, elaborado com o intuito de impulsionar
o crescimento e o desenvolvimento do país.
Contexto
A edificação de Brasília ocorreu durante o mandato de Juscelino Kubitschek, que foi presidente do Brasil de
1956 a 1961. Juscelino Kubitschek, um proeminente membro do Partido Social Democrático (PSD) e ex-gover-
nador de Minas Gerais, conquistou a presidência ao vencer a eleição de 1955 por uma estreita margem.
A década de 1950 foi marcada por agitação na política brasileira, especialmente em 1955, quando grupos
conservadores associados à União Democrática Nacional (UDN) promoviam a possibilidade de um golpe con-
tra a eventual posse de JK. A ameaça de um golpe era tão iminente que o ministro da guerra, Henrique Teixeira
Lott, conduziu um contra-ataque em 11 de novembro de 1955, assegurando a posse de JK.
Juscelino Kubitschek foi eleito com uma plataforma desenvolvimentista, enfatizando a necessidade de o
Brasil retomar o caminho do crescimento econômico e prometendo que o país cresceria 50 anos em cinco. Ele
obteve a vitória com 36% dos votos, e sua posse ocorreu em 31 de janeiro de 1956.
Plano de Metas
Ao longo de seu mandato, Juscelino Kubitschek realizou investimentos substanciais visando o desenvolvi-
mento e a industrialização do Brasil. A materialização de sua busca por esses objetivos foi concretizada por
meio do Plano de Metas, um programa de modernização implementado a partir de 1º de fevereiro de 1956.
O Plano de Metas estabeleceu 31 objetivos a serem atingidos pelo governo, por meio de investimentos tanto
públicos quanto privados. Esses propósitos abrangiam áreas consideradas fundamentais pelo governo, tais
como energia elétrica, transportes (infraestrutura), indústria de base, alimentos e educação.
Essa estratégia impulsionou a construção de rodovias e usinas hidrelétricas, contribuindo de forma significa-
tiva para o crescimento industrial do Brasil. Do ponto de vista econômico, o Plano foi bem-sucedido, sendo que
grande parte desse êxito se deveu à construção da nova capital, a cidade de Brasília.
Idealização da construção de Brasília
A ideia de construir uma nova capital no interior do Brasil surgiu no período monárquico, ganhando força
com a Proclamação da República. A Constituição de 1891 já previa a posse de um território no planalto central
para a futura capital. A Missão Cruls, em 1892, demarcou as terras. Em 1922, Epitácio Pessoa lançou a pedra
fundamental em Planaltina. Getúlio Vargas também ordenou estudos nesse território.
O historiador Jônatas Soares de Lima destaca que a construção de Brasília ocorreu após um questionamen-
to de um eleitor a JK durante a campanha de 1955. A resposta afirmativa de JK impulsionou o plano de construir
Brasília, destacando-se como um projeto modernizador.
Em 1956, o Congresso aprovou o projeto de construção de Brasília, apesar da resistência da UDN. A No-
vacap foi criada para implementar o plano, liderada por Israel Pinheiro, com participação de Oscar Niemeyer e
Bernardo Sayão. Um concurso, vencido por Lúcio Costa, definiu o desenho urbano.
45
Com os principais protagonistas, como JK, Israel Pinheiro, Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, a construção foi
iniciada. O trabalho frenético envolveu migrantes nordestinos, conhecidos como candangos. A inauguração ofi-
cial de Brasília ocorreu em 21 de abril de 1960, simbolizando a transferência da capital do Rio de Janeiro para
o centro do país. O projeto custou bilhões de dólares em valores atuais, e sua construção refletiu os ideais de
modernização de JK, servindo também como distração para outros problemas do governo.
No processo de divisão do estado de Mato Grosso, ocorreu a fundação de Mato Grosso do Sul em 11 de
outubro de 1977, mediante a sanção presidencial de Ernesto Geisel, então líder da ditadura militar que gover-
nava o Brasil desde 1964. Contudo, a efetiva concretização dessa divisão só ocorreu em 1º de janeiro de 1979.
Diversos fatores são apontados como motivadores para a criação do estado de Mato Grosso do Sul, embora
não haja um consenso sobre todos eles. Os movimentos “divisionistas” no sul do estado, liderados pela elite
ruralista e latifundiária, encontravam-se em um período de baixa atuação e com escasso apoio popular. De
acordo com a historiadora Marisa Bitar, os motivos que levaram a ditadura a impor a divisão, sem consultar a
população, foram:
a) Impulsionar o desenvolvimento regional e a ocupação territorial;
b) Fortalecer as fronteiras locais com a Bolívia e o Paraguai;
c) Manter uma melhor relação política com o partido da ditadura, o Arena, ampliando a sua base de apoio
por meio da criação de mais uma seção.
A criação de Mato Grosso do Sul gerou tanto defensores quanto críticos. Os argumentos favoráveis à di-
visão incluíam a expectativa de um maior desenvolvimento na região emancipada, baseados nas constantes
alegações de que o governo sediado em Cuiabá não estava providenciando os investimentos necessários para
o desenvolvimento do sul. Entre as críticas à criação de Mato Grosso do Sul, destaca-se o fato de a divisão ter
sido realizada sem consulta prévia à população, além de ter sido conduzida sob circunstâncias predominante-
mente políticas e sem um planejamento adequado.
Durante o período colonial do Brasil, a capitania de São Paulo (atualmente Mato Grosso) detinha o monopó-
lio do comércio com a Metrópole, Portugal. Os principais setores produtivos eram a mineração, cana-de-açúcar,
erva-mate, poaia, borracha e pecuária.
A mineração foi o sustentáculo vital para os habitantes da região durante as expedições bandeirantes no sé-
culo XVIII, com a mão-de-obra composta por escravos negros e índios, sob uma fiscalização rigorosa imposta
pela coroa portuguesa. A estrutura social baseava-se essencialmente em mineradores e escravos.
A cana-de-açúcar, originária do litoral do Brasil, passou por duas fases: os engenhos nos séculos XVIII e XIX,
e as usinas nos séculos XIX e XX. A distinção entre essas épocas reside na mão-de-obra, sendo escrava nos
engenhos e tanto escrava quanto livre nas usinas. Nos engenhos, o consumo era interno, enquanto nas usinas
expandia-se para além da região, graças à abertura de vias fluviais para escoamento.
A era da erva-mate, de 1882 a 1947, teve seu pioneirismo com Tomás Laranjeira, conforme indicado no de-
creto de 1879 do Marechal Deodoro da Fonseca. Inicialmente, muitos imigrantes de regiões ervateiras do Para-
guai migraram para Mato Grosso, mas as condições desfavoráveis, como a falta de infraestrutura e as doenças,
prejudicaram a produção. O ápice ocorreu na década de 1920, e a atividade declinou após o cancelamento do
decreto em 1937, persistindo até seu fim em 1947.
A poaia, uma das principais exportações para a Europa no século XIX, era utilizada na fabricação de medi-
camentos, conhecida cientificamente como Cephaeles Ipecapuanha.
46
A borracha era obtida da mangabeira nas matas próximas às baias do Paraguai e Amazonas. O látex extraí-
do dessas árvores era exportado e também consumido internamente.
A pecuária, envolvendo a criação de gado e porcos, desempenhou um papel significativo na economia de
Mato Grosso entre os séculos XVII e XIX.
Economia atual
A economia atual do Mato Grosso é predominantemente agrícola, com foco na produção de soja e na criação
de gado. A região Centro-Oeste, em que se insere, tem sua base econômica centrada no setor agrícola, con-
tando também com atividades como o extrativismo mineral e vegetal, além da indústria, entre outros. O Produto
Interno Bruto (PIB) da região atinge aproximadamente R$ 279 bilhões, conforme dados do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE).
Na agricultura, destacam-se cultivos como milho, mandioca, abóbora, feijão e arroz. Além disso, grãos como
café, trigo e soja, anteriormente plantados nas regiões sul e sudeste, também encontram espaço no Centro-
-Oeste. A economia do Mato Grosso é fortemente impulsionada pela agricultura e pecuária, sendo a soja o
principal produto de exportação. No período colonial, a produção agrícola incluía cana-de-açúcar, algodão,
erva-mate, poaia e borracha, além da criação de gado.
Atualmente, com ênfase na exportação de grãos, o Mato Grosso se destaca com oito municípios entre os
dez mais ricos, responsáveis por 65% das exportações da região Centro-Oeste. A região é o segundo maior
exportador de grãos no país, com um Produto Interno Bruto totalizando cerca de R$ 42 bilhões. A soja tornou-
-se uma moeda de troca na região, sendo utilizada até mesmo para transações comerciais, como a compra de
carros.
Na agricultura, o Centro-Oeste responde por 46% da produção nacional de cereais, leguminosas e oleagino-
sas. O Mato Grosso lidera como maior produtor de grãos do Brasil, com destaque para a soja, milho, algodão
e feijão. Na pecuária, o estado possui o maior rebanho bovino do país, representando quase 14% da produção
nacional. Na indústria, os setores de construção, alimentos, serviços industriais de utilidade pública, bebidas
e derivados de petróleo e biocombustíveis são os mais relevantes, concentrando 86,9% da indústria estadual.
Quanto à energia, Cuiabá gera parte significativa da eletricidade consumida no estado, contando com a
Usina Termelétrica de Cuiabá, que utiliza gás natural boliviano para reduzir a dependência de importação de
energia do Sistema Interligado Nacional.
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GAMBINI, Roberto. O Espelho Índio. Rio de Janeiro: Espaço Tempo, 1988.
MAXWELL, Keneth. Marquês e Pombal – Paradoxo do Iluminismo. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1996,
SANTOS, Francisco Jorge dos. Além da Conquista - Guerras e Rebeliões Indígenas na Amazônia Pombali-
na. Manaus: EDUA, 1999.
Queiroz, Jonas Marçal e Coelho, Mauro Cezar. A Cultura do Trabalho – O Diretório dos Índios em novo
paradigma de Colonização na Amazônia do século XVIII in Amazônia Modernização e Conflito. Belém: UFPA/
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Disponível em http://querepublicaeessa.an.gov.br/uma-supresa/305-rondonia-1981.html Acesso 08.01.2024
Disponível em https://mundoeducacao.uol.com.br/historiadobrasil/construcao-de-brasilia.htm Acesso
08.01.2024
47
Geografia de Mato Grosso: Seleção de Conteúdo para o Concurso Público do Governo de Mato Grosso
– 2009./ Gislaene Moreno (org.), Tereza Cristina Souza Higa (org.), Gilda Tomasini Mai- telli (colab.). Cuiabá:
Entrelinhas, 2009.
Disponível em https://brasilescola.uol.com.br/datas-comemorativas/mato-grosso-sulfundacao.htm Acesso
08.01.2024
Exercícios
1. FGV - 2023
De acordo com proposição do geógrafo Aziz Ab’Saber, no estado de Mato Grosso incidem dois domínios
morfoclimáticos principais: o Domínio dos Cerrados e o Domínio Equatorial Amazônico.
A região situada no extremo noroeste do Estado do Mato Grosso é caracterizada pelo clima quente e úmido,
com temperaturas médias em torno de 25°C, com pequena variação anual, e precipitação anual entre 2.000 e
2.500mm.
Nessa região, a fisionomia vegetal predominante corresponde à
(A) floresta aluvial.
(B) savana lenhosa.
(C) savana florestada.
(D) savana arborizada.
(E) floresta ombrófila.
2. FGV - 2023
Leia o fragmento a seguir.
A Chapada dos Guimarães corresponde a uma extensa superfície de relevo plano e pouco dissecado, po-
sicionada no topo de uma região de planaltos na borda norte-noroeste da ____ do Paraná, no Estado de Mato
Grosso. A Chapada é quase que totalmente delimitada por escarpas, estabelecendo conexão com superfícies
de relevo mais baixas e aplanadas do entorno, denominadas genericamente de _____. Os solos da Chapada
dos Guimarães tendem a ser muito profundos, com textura argilosa ou areno-argilosa de coloração vermelho-
-escura ou vermelho-amarela, denominados _____,com elevada concentração de óxido de ferro e alumínio.
(Adaptado de: ROSS, Jurandyr L S. Chapada dos Guimarães: borda da bacia do Paraná. Revista do Depar-
tamento de Geografia - USP, v. 28, 2014, p. 181-182)
Assinale a opção que apresenta os termos que completam corretamente as lacunas do fragmento acima.
(A) Serra Residual - Planícies Marginais-Cambissolos
(B) Serra Residual - Depressões Periféricas - Latossolos
(C) Plataforma-Baixadas Intermontanas - Cambissolos
(D) Bacia Sedimentar - Depressões Periféricas - Latossolos
(E) Bacia Sedimentar - Baixadas intermontanas - Cambissolos
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3. F-MT - 2023
O Rio Tapajós é um afluente da margem direita do Rio Amazonas e tem sua nascente na confluência de dois
importantes rios mato-grossenses, que são:
(A) Teles Pires e Juruena.
(B) Aripuanã e das Mortes.
(C) Paraguai e Aripuanã.
(D) Araguaia e Roosevelt.
(E) Xingu e Arinos.
4.SELECON - 2023
Observe a figura abaixo, que representa o estado do Mato Grosso:
49
5. SELECON - 2023
Observe o mapa a seguir.
Fonte: https://www.gov.br/defesa/pt-br/arquivos/programa_calha_norte/pcnestaddo-do-mato-grosso.pdf
O estado de Mato Grosso integra a região centro-oeste do Brasil, com uma superfície de 903.331,48 km² e
faz divisa com os seguintes estados:
(A) Roraima, Acre, Amazonas, Tocantins, Maranhão e Pará.
(B) Acre, Goiás, Roraima, Pará, Amapá e Mato Grosso do Sul.
(C) Pará, Amazonas, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins e Rondônia.
(D) Roraima, Amazonas, Amapá, Rondônia, Tocantins e Mato Grosso do Sul.
6. IF-MT - 2023
Sobre conhecimentos gerais do estado de Mato Grosso, julgue os itens a seguir:
I. O estado situa-se tanto na Região Centro-Oeste, de acordo com a divisão político-administrativa do Insti-
tuto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quanto no Centro-Sul, em sua maior porção, segundo a divi-
são em Complexos Geoeconômicos ou Regionais.
II. O principal bioma no centro-sul do estado é o Cerrado, um dos mais impactados pelo avanço do agrone-
gócio.
III. As principais bacias hidrográficas do estado têm seus rios com nascentes no Planalto e na Chapada dos
Parecis, segundo a classificação de relevo brasileiro mais atual.
IV. O clima no extremo norte do estado é quente e úmido, caracterizado pela entrada, no verão, de uma
massa de ar denominada de tropical continental (mTc).
V. O estado possui atualmente 79 municípios (IBGE, 2010), sendo a capital, Cuiabá, a cidade mais populo-
sa.
Estão CORRETOS os itens:
(A) II e V.
(B) I e IV.
(C) III e IV.
50
(D) II e III.
(E) I e II.
7. IF-MT - 2023
O processo de ocupação de Mato Grosso, ocorrido a partir do século XVI, foi motivado:
(A) pelas grandes riquezas minerais da região, especialmente o ouro, que atraíram desbravadores e ban-
deirantes.
(B) pelas importantes áreas agrícolas que tornariam a região uma “nova fronteira agrícola” do Brasil.
(C) pelos biomas relevantes em biodiversidade da região, especificamente na fauna e flora, que atraíram
inúmeros viajantes em busca de novas descobertas científicas.
(D) pelos excelentes rios de planaltos navegáveis da região, que facilitaram a travessia entre os aventureiros
das capitanias de São Paulo e Mato Grosso.
(E) pela população nativa da região, especificamente de indígenas, disciplinados, obedientes e adaptados
ao trabalho nas lavouras canavieiras do Sudeste.
8. FGV - 2023
A possibilidade de o Brasil constituir um Estado nacional autônomo, desde a década de 1820, abriu espaço
para disputas sobre os diversos projetos de nação Independente em todo o Brasil, inclusive na província de
Mato Grosso, onde eclodiu a revolta denominada “Rusgas” (1834).
Essa revolta pode ser qualificada como um movimento de caráter
(A) nacionalista, pois liderada pelos grandes proprietários liberais, insatisfeitos com os altos preços do char-
que local e por serem preteridos na indicação para presidente da província.
(B) antilusitano, pois intencionava livrar a província de Mato Grosso da ação de uma elite de portugueses
restauradores, substituindo-a por autoridades enviadas pelo governo regencial, tido como legítimo.
(C) nativista, pois o seu setor liberal exaltado defendia que a administração da província e o comando das
armas deveriam ser exercidos pelos elementos da terra, não aceitando as nomeações da Regência.
(D) separatista, pois planejava o desmembramento da nova nação em repúblicas autônomas, seguindo o
exemplo resultante do processo de independência na América espanhola.
(E) federalista, pois os “bicudos”, que organizaram a revolta, apoiavam o projeto de um Estado descentrali-
zado e defendiam uma ampla autonomia local.
9. FGV - 2023
Leia o trecho de Instrução da rainha D. Maria Ana de Áustria para D. Antônio Rolim de Moura, de 1749.
Por ser entendido que Mato Grosso é a chave e o propugnáculo do sertão do Brasil pela parte do Peru, e
quanto é importante por esta causa que naquele distrito se faça população numerosa, e haja forças bastantes
a conservar os confinantes em respeito, ordenei se fundasse naquelas paragens uma vila, e concedi diversos
privilégios e isenções para convidar a gente que ali quisesse ir estabelecer-se; e que, para decência do Gover-
no e pronta execução das ordens, se levantasse uma Companhia de Dragões e, ultimamente, determinei se
erigisse Juiz de Fora no mesmo distrito. Encomendo-vos, que depois que a ela chegardes, considereis e me
façais presente quais outras providências serão próprias para o fim proposto de aumentar e fortalecer a povo-
ação daquele território.
Apud MOURA, C.F. D. António Rolim de Moura, Primeiro conde de Azambuja: biografia. Cuiabá EdUFMT,
1982, p. 24.
As instruções enviadas ao futuro governador da capitania de Mato Grosso faziam referência
51
(A) aos interesses da Coroa em assegurar o controle das áreas centrais da América do Sul conquistadas
pelos colonos luso-brasileiros em função da assinatura do Tratado de Madri.
(B) à necessidade de garantir a militarização da capitania mato-grossense diante da eclosão da guerra bra-
sílica e dos levantes sediciosos nos arraiais do Cuiabá e da Forquilha.
(C) ao favorecimento da migração de colonos e ameríndios castelhanos para povoar a região, em um con-
texto de expulsão dos padres jesuítas da América espanhola.
(D) ao estabelecimento de uma rede de povoações na área de fronteira com o Vice-Reino do Peru, para
garantir um maior controle da região, sobretudo do vale do rio Guaporé.
(E) à criação de um aparato político-administrativo para enraizar a presença da Coroa na fronteira ociden-
tal, com a transferência da sede do governo da capitania para Cuiabá e a formação de uma Companhia de
Dragões.
52
(C) Mato Grosso e Goiás
(D) Mato Grosso e Pará
14. (AL/MT – Técnico – FGV) A divisão do estado de Mato Grosso em dois estados, com a consequente
criação do estado de Mato Grosso do Sul ocorreu
(A) na República Velha, em 1906.
(B) na Era Vargas, em 1930.
(C) no Estado Novo, em 1942.
(D) no Regime Militar, em 1977.
(E) na Nova República, em 1987
53
Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), entre os 15 Municípios que dobra-
ram a população no período compreendido entre 2000 e 2010, quatro estão localizados no Estado do Mato
Grosso na mesorregião
(A) Sudoeste mato-grossense.
(B) Nordeste mato-grossense.
(C) Norte mato-grossense.
(D) Centro-Sul mato-grossense.
(E) Sudeste mato-grossense.
Gabarito
1 E
2 D
3 A
4 B
5 C
6 D
7 A
8 C
9 D
10 D
11 C
12 B
13 E
14 D
15 C
54
SES-MT
Comum aos cargos de nível Superior e Especialista
Para tentar entender as principais diferenças entre os dois modelos de administração, acredita-se que o
“ponto de partida” está na própria finalidade de cada uma das duas esferas de ação, ou seja, o Estado se de-
fine pelo seu objetivo de bem comum ou interesse geral que, no caso do Brasil, está explícito na Constituição
Federal1.
Inclusive destaca-se sobre a importância do preâmbulo da Constituição Federal Brasileira, quando estabe-
lece a razão de ser do Estado brasileiro:
Um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a
segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade
fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e inter-
nacional, com a solução pacífica das controvérsias.
Ainda de acordo com a Constituição Federal, no artigo 3° determina os principais objetivos fundamentais do
Brasil, dentre eles:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
de discriminação.
Sob esse prisma, observa-se que todas as constituições modernas fazem a definição do Estado de um modo
semelhante, sendo que a maioria dessas constituições foram inspiradas na dos Estados Unidos que, em 1787,
onde foi estabelecida no seu preâmbulo os objetivos nacionais: formar uma União perfeita, estabelecer a justi-
ça, assegurar a tranquilidade interna, prover a defesa comum, promover o bem-estar geral, além de garantir os
direitos referentes a liberdade.
Todavia, todos esses fatos, sabe-se que não são considerados como finalidades de uma empresa, que tem
como sua definição, uma organização de recursos materiais, financeiros, humanos e tecnológicos, destinada a
produzir um bem ou prestar um serviço para, em geral, obter um ganho econômico. Neste sentido, entende-se
que fatores ligados a racionalidade bem como a própria essência da atividade estatal são caracterizadas por
serem diferentes da gestão de empresas.
Sendo que a relação existente das organizações governamentais perante o seu público não pode ser vista
como um provedor com um cliente. A gerência pública refere-se a dependentes, cidadãos, fornecedores, pre-
sidiários, contribuintes, bem como aqueles indivíduos que recebem benefícios e subsídios, como no caso dos
clientes, além do mais, a proximidade não é sempre uma característica desejável para essas relações.
A questão para a gerência pública está no fato de construir relacionamentos apropriados entre as organi-
zações e seus públicos, todavia nessa relação quem é considerado como o “chefe” dos burocratas é o político
e não o cidadão. No governo, a prova definitiva para os administradores não pode ser o produto ou então um
ganho, mas sim precisa ser vista como a reação favorável dos políticos eleitos.
Além disso, como eles são motivados geralmente pelos grupos de interesses, os administradores públicos
no caso, ao contrário dos gerentes de empresas, precisam incluir os grupos de interesse na sua “equação”,
no que tange ao seu trabalho. Não é à toa que é por esses motivos que um governo democrático e aberto tem
movimentos mais lentos se comparados aos das empresas, cujos administradores podem tomar decisões rapi-
damente e a portas fechadas.
1 Gestão de organizações públicas, privadas e da sociedade civil [recurso eletrônico] / Organizador Elói
Martins Senhoras. – Ponta Grossa, PR: Atena, 2020.
1
Existem diferenças entre as questões da administração pública e privada, sendo que um desses fatores está
ligado à motivação, visto que, esse fator nos chefes do setor público é a reeleição, enquanto os empresários
têm como fim último o lucro. A missão fundamental do governo é ‘fazer o bem’, e o da empresa é “fazer dinhei-
ro”.
Assim, apresenta-se uma visão similar quando afirma que as burocracias públicas são totalmente diferentes
das firmas privadas num aspecto fundamental, que contribui de certa forma que para possibilidade de uma
supervisão mais efetiva. Os serviços estatais geralmente são executados e produzidos por meio de uma buro-
cracia, no qual os membros normalmente são indicados por políticos, por isso acredita-se que o controle dos
cidadãos sobre a burocracia só poderá ser de fato indireto, isto é, pelo fato que as instituições democráticas não
contêm mecanismos que permitam que os cidadãos sancionem diretamente as ações legais dos burocratas.
Na verdade, o que pode acontecer é os cidadãos poderem avaliar o desempenho da burocracia ao sancio-
narem, pelo voto, os políticos eleitos.
— Elementos de diferenciação
Considera-se que existem vários elementos que são fundamentais para a diferenciação das duas formas de
administração. Logo, de um modo geral, as empresas privadas pautam sua ação pelo planejamento e gestão
estratégicos.
Neste sentido, destaca-se que a administração pública está baseada em função de sistemas de planeja-
mento governamental mais rígido, no qual se orientam por princípios gerais previstos na Constituição, e, por
sistemas de política pública. No setor público existem sistemas mais abrangentes de planejamento em alguns
setores, como por exemplo, o elétrico, transporte, industrial e dentre outros.
Assim, a empresa privada tem como objetivo principal a realização da sua atividade principal de produção de
um bem ou de prestação de um serviço, e, como finalidade mediata, captar um lucro econômico para a sua or-
ganização. Ainda, uma organização pública também tem como objetivo essencial a realização do cumprimento
de sua missão institucional, para, através dela, obter o bem da comunidade e servir ao interesse geral.
Por isso que muitos autores acreditam que partem dessa premissa o interesse de mobilizador da empresa
privada seja a lucratividade e o das organizações públicas seja a efetividade. Abaixo, resumem-se as principais
diferenças e relação a esse tipo de organização.
Diferenças dos Modelos de administração do setor privado e do setor público
No que se refere ao Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado no Brasil, observa-se que o referido
plano conseguiu sustentar praticamente a mesma linha de pensamento, quando afirmava que: “enquanto a
receita das empresas depende dos pagamentos que os clientes fazem livremente na compra de seus produtos
e serviços, a receita do Estado deriva de impostos, ou seja, de contribuições obrigatórias, sem contrapartida
direta”. Desse modo, entende-se que na medida em que o mercado controla a administração das empresas, a
sociedade, através da eleição de políticos é responsável por controlar a administração pública.
2
Diferente por exemplo da administração de empresas, já que a mesma tem o seu objetivo voltado principal-
mente para o lucro privado, além da maximização dos interesses dos acionistas, esperando-se que ao longo do
tempo, por meio do mercado, o interesse coletivo seja atendido, a administração pública gerencial está explícita
e diretamente voltada para o interesse público.
Também é muito importante mencionar a influência direta que o Plano Diretor teve e ainda mantém na admi-
nistração pública brasileira, no âmbito federal e, especialmente, em vários estados e cidades. Portanto, consi-
dera-se que ao se mencionar do ponto de vista da propriedade, o patrimônio da empresa é privado, enquanto
que da organização pública é público, sendo que, o regime jurídico aplicável para a empresa é de direito privado
e para a organização pública, pelo menos, em princípio, é o direito público.
Logo, as pessoas que trabalham em instituições privadas estão regidas pelo direito trabalhista (CLT) e as
pessoas que trabalham pela administração pública é, em princípio, estatutárias ou de direito público.
2 https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/97354/000919637.pdf?sequence=1
3
Para que ocorra a motivação dos agentes públicos, é necessário que eles sintam que prestam um serviço
que agrega valor à sociedade, e não apenas servem à burocracia. Dessa forma, é importante um trabalho de
comunicação que permita a esses agentes visualizar os benefícios que trazem para a sociedade.
Nesse processo, a gestão da qualidade é válida, pois aumenta a eficiência da prestação de serviços, me-
lhora a comunicação organizacional e focaliza resultados. Qualidade já é um requisito básico para a existência
das empresas da iniciativa privada.
Em alguns mercados, uma qualidade superior significa, ainda, um diferencial competitivo. A disseminação
dessa filosofia nas empresas ocorreu, em grande parte, devido à criação dos prêmios da qualidade.
Neste momento, para que os governos sirvam à população com qualidade, os prêmios da qualidade públicos
estão sendo utilizados enquanto estratégia gerencial. Um prêmio da qualidade público pode ser definido como
um instrumento que incentiva inovação e desempenho no setor público, por meio da identificação de organiza-
ções públicas com excelência em serviços.
Dessa forma, introduz competição em setores que não possuem concorrência e incentivam o aprendizado
organizacional, pois as companhias que se destacam mostram suas virtudes para outras organizações, parti-
cipantes ou não da premiação. Boa parte das premiações da qualidade premiam tanto organizações privadas
quanto as públicas.
O que motiva a criação de prêmios exclusivamente públicos é o fato de as restrições desse ambiente serem
diferentes das do ambiente privado. Fundamentalmente, o setor público pertence a uma comunidade, enquanto
o setor privado pertence a um empresário ou grupo de acionistas.
Além disso, os serviços públicos são custeados, majoritariamente, com recursos de impostos, enquanto
que os serviços privados são sustentados pelos valores pagos pelos clientes. Assim, as organizações públicas
são guiadas, principalmente, por forças políticas ao invés de forças econômicas, gerando diferentes fontes de
autoridade, que podem ser conflitantes.
Tais características influenciam no modo de administração. Na administração privada, os empresários ou
sócios procuram controlar o negócio diretamente, e os administradores possuem benefícios financeiros diretos
de um bom resultado da companhia, seja através de ações ou de programas de incentivo. Na administração
pública, geralmente, os administradores não obtêm benefícios financeiros de um bom resultado alcançado na
instituição.
Outro entrave é a burocracia, que tende a ser maior no setor público, devido à necessidade de controle sobre
o patrimônio público. Muitas vezes, essa característica pode levantar barreiras à busca de inovações, ou, ainda,
uma preocupação excessiva com regras e processos ao invés de resultados.
Por fim, o horizonte de planejamento, geralmente é curto, dada a instabilidade decorrente do fato de as
forças políticas mudarem periodicamente. Em relação à medição da qualidade em serviços públicos, definem-
-se dez dimensões principais: acesso ao serviço (p.ex., localização, tempo de espera, disponibilidade, dentre
outros), nível de comunicação (associado à linguagem simplificada, mas que mantenha o rigor à legislação),
sistema administrativo inteligível (por meio de processos simplificados com informação suficiente e de boa qua-
lidade), respostas flexíveis e rápidas (realização de adaptação quando as necessidades dos cidadãos mudam),
receptividade aos serviços (privilegiando o envolvimento dos cidadãos na definição dos serviços), competên-
cia do pessoal que presta o serviço (habilidade técnica do servidor), polidez e gentileza do pessoal (que é um
elemento-chave na qualidade de um serviço), credibilidade (no setor público, requer tratamento igualitário e
profissionalismo.
Possui relação direta com a imagem da organização), confiabilidade e responsabilidade (consistência e
precisão na prestação do serviço), e segurança e qualidade dos aspectos tangíveis (instalações adequadas,
acesso a pessoas deficientes, por exemplo, e que passem uma imagem de serviço de qualidade, mobiliário,
por exemplo).
Quanto à medição de desempenho, no setor privado ela ocorre de forma mais simples, visto que pode-se
utilizar resultados financeiros como forma de comparação, enquanto que, no setor público, há que se consi-
derar resultados para os diferentes interessados (usuários do serviço, sociedade, dentre outros). Os prêmios
públicos, em sua maioria, são compostos por modelos gerenciais, conhecidos como modelos de excelência em
gestão.
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Esses modelos são focados numa gama de atividades gerenciais, comportamentos e processos que influen-
ciam a qualidade dos produtos e serviços entregues pelas organizações e contêm critérios a serem atendidos
pelo setor. Eles estão baseados nos princípios, conceitos e linguagem próprios da natureza pública das orga-
nizações.
— Critérios de Excelência em Gestão Pública
Critérios de Excelência definem o que uma organização deve apresentar para que seu modelo de gestão seja
considerado compatível com o modelo de determinada premiação. Os critérios constituem-se de requisitos, e a
forma de atingi-los é determinada pela própria organização.
Os critérios de grande parte dos prêmios existentes atualmente baseiam-se nos critérios de três premiações:
o japonês, Prêmio Deming; o europeu, EQA (do inglês, European Quality Award); e o norte-americano, Malcolm
Baldrige National Quality Award (MBNQA).
Cada premiação elenca os seus critérios de acordo com o enfoque desejado, por exemplo, o Prêmio Deming
é mais voltado para a implementação de ferramentas de controle estatístico da qualidade, enquanto que o EQA
possui maior foco no impacto na sociedade e na gestão de pessoas da organização.
O objetivo do Prêmio Nacional da Gestão Pública - PQGF é o de elevar o padrão dos serviços públicos
prestados e aumentar a competitividade do país. O prêmio está inserido no Programa Nacional de Gestão
Pública e Desburocratização (GESPÚBLICA), criado em 2005, a partir da união do Programa de Qualidade no
Serviço Público com o Programa Nacional de Desburocratização.
O modelo de excelência utilizado pelo PQGF é o Modelo de Excelência em Gestão Pública - MEGP, cujos
critérios são voltados para os clientes externos e internos da organização, inspirados nos critérios do Prêmio
Nacional da Qualidade - PNQ, que são utilizados para organizações privadas.
Esses critérios estão em constante atualização, de forma a estarem alinhados com o que há de mais atual
em excelência em gestão e com as mudanças que ocorrem na administração pública.
O MEGP está alicerçado sobre os cinco princípios constitucionais da Administração Pública (legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência) e sobre treze fundamentos que expressam o estado da
arte da gestão pública contemporânea: pensamento sistêmico, aprendizado organizacional, cultura da inova-
ção, liderança e constância de propósitos, orientação por processos e informações, visão de futuro, geração
de valor, comprometimento com as pessoas, foco no cidadão e na sociedade, desenvolvimento de parcerias,
responsabilidade social, controle social, e gestão participativa.
Além disso, o MEGP está dividido em oito partes, que constituem os critérios, os quais estão integrados em
quatro blocos, como mostra a figura abaixo.
Em cada caixa encontra-se o número, o nome e a pontuação máxima possível de cada critério. Os critérios
de 1 até 7 formam a dimensão “Processos Gerenciais” do modelo, enquanto que o critério 8 compõe a dimen-
são “Resultados Organizacionais”.
5
Relação entre as partes que compõem o MEGP
https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/97354/000919637.pdf?sequence=1
O modelo segue a lógica do PDCA, que vem do inglês, Plan (Planejar), Do (Executar), Check (Verificar) e
Act (Agir).
O primeiro bloco (Liderança, Estratégias e Planos, Cidadãos e Sociedade) corresponde à fase de “planeja-
mento” do modelo, onde a Alta Administração traça estratégias que atendam às necessidades dos cidadãos. O
segundo bloco (Pessoas e Processos) engloba a parte de “execução” do ciclo, transformação das estratégias
em resultados.
No terceiro bloco (Resultados) é onde ocorre a etapa de “controle” do atendimento das necessidades dos
usuários, da gestão de pessoas, da execução orçamentária, dentre outros. O último bloco representa a etapa
de “ação”, pois é a parte onde a organização analisa dados internos e externos e toma atitudes no sentido de
corrigir ou melhorar suas práticas de gestão.
Para efeito de avaliação das organizações, as oito partes são transformadas em Critérios de Excelência.
Esses são desdobrados em itens, que, por sua vez, se desdobram em requisitos.
O GESPÚBLICA trabalha com três instrumentos de auto avaliação da gestão, de acordo com o estágio de
desenvolvimento na busca pela excelência da organização: o instrumento de 250 pontos, o de 500 pontos e
o de 1000 pontos. Os instrumentos de 250 e 500 pontos são utilizados por organizações que estão iniciando
essa busca pela excelência, enquanto que o modelo de 1000 pontos é utilizado por instituições que desejam
concorrer ao PQGF.
A auto avaliação consiste na avaliação do grau de aderência das práticas de gestão da organização em rela-
ção ao referencial de excelência proposto. As deficiências identificadas na organização dão origem a um Plano
de Melhoria da Gestão (PMG), com ações para a melhoria do seu desempenho.
A auto avaliação e o PMG são submetidos ao GESPÚBLICA para validação externa e posterior emissão do
certificado do nível de gestão, o qual possui validade de um ano e seis meses. O sistema de pontuação deter-
mina o estágio de maturidade da gestão da organização nas dimensões “Processos Gerenciais” e “Resultados
Organizacionais”.
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Os processos gerenciais são avaliados em quatro fatores de pontuação: enfoque (que analisa se as práticas
de gestão são adequadas e proativas), aplicação (que avalia a disseminação e continuidade das práticas na
organização), aprendizado (que verifica se houve refinamento das práticas) e integração (que examina se exis-
te coerência com as estratégias, se as práticas estão inter-relacionadas com as outras e se existe cooperação
entre as partes interessadas).
Os resultados organizacionais são avaliados em relação aos seguintes fatores de pontuação: relevância
(que verifica a importância dos resultados para o alcance dos objetivos estratégicos), tendência (que analisa o
comportamento ao longo do tempo) e nível atual (que examina o atendimento ao requerido pelas partes interes-
sadas e a comparação com o nível dos resultados de outras organizações). De acordo com a pontuação global
obtida, a organização é enquadrada em um dos nove estágios de maturidade de gestão do modelo.
A organização deve, antes de proceder à sua auto avaliação, elaborar o seu perfil, onde consta uma apre-
sentação da organização, com aspectos relevantes sobre seus processos, área de atuação, desafios, o rela-
cionamento com as partes interessadas e um histórico da busca pela excelência. Esse perfil proporciona uma
visão sistêmica da organização, tornando explícitos conhecimentos implícitos e, por consequência, facilitando
a auto avaliação.
O MEGP é um modelo genérico para todos os tipos de organizações públicas, mas possui versões adapta-
das às particularidades de alguns setores, como o de saneamento. Ele também serve de referencial para outros
prêmios estaduais e municipais de excelência em gestão pública.
A prática da administração voltada para os resultados tem como requisito uma gestão organizacional articu-
lada acerca de vários elementos que podem ser identificados em quatro principais dimensões3:
a) quadro estratégico responsável pela formulação da estratégia referente à meta da organização e os meios
necessários para alcançá-la;
b) delegação, habilitação e responsabilização;
c) concentração em resultados pela eliminação de controles inúteis;
d) implementação de um sistema de reporting e de comunicação.
A implementação de um quadro estratégico na administração pública requer o abandono da visão legalista.
No setor público, costuma-se cumprir metas orçamentárias preocupando-se sempre com o equilíbrio de recei-
tas e despesas. O enfoque nos resultados deve ser traduzido pela formulação de estratégias gerenciais que
permitam ao órgão público identificar a meta a ser atingida, bem como o caminho apropriado para o alcance da
meta traçada.
O quadro de gestão por resultados exige novos valores que possam catalisar o processo de obtenção de
resultados. A delegação implica a transferência de mais responsabilidades aos gestores, enquanto a habilitação
consiste em disponibilizar-lhes os meios necessários que possam facilitar o processo decisório, como a infor-
mação, a formação e a autoridade exigida.
É necessário que se estabeleçam alguns mecanismos de responsabilização para a habilitação do gestor
público, apontando os seguintes:
(a) objetivos esclarecidos para a conscientização de todos;
(b) definição de indicadores de rendimento para avaliar os resultados;
(c) implementação de sistemas de informações viáveis;
(d) elaboração de relatórios tempestivos de resultados.
3 http://www.anpad.org.br/admin/pdf/ENAPG360.pdf
7
Na busca da administração por resultados, deve-se abandonar o excesso de burocracia, eliminando-se
controles desnecessários que representam limitações ou barreiras para a obtenção de resultados oriundos de
decisões centralizadas. Assim, o processo de evidenciação e comunicação exigem o fornecimento e detalha-
mento de uma informação completa e útil.
Na base da administração por resultados, está o accountability (prestação de contas) que representa uma
etapa crucial na implementação deste modelo de gestão no processo gerencial da administração pública. A
adoção do modelo da administração por resultados requer uma mudança mais cultural do que estrutural.
Compromisso, responsabilidade e envolvimento constituem fatores que devem determinar o comportamento
do agente público frente à máquina administrativa pública, no sentido da busca por resultados concretos. A
conscientização sobre esses valores facilita o processo contínuo da perseguição de resultados no setor público.
Portanto, deduz-se que a dimensão comportamental é parte integrante da gestão por resultados e mostra-
-se como elemento essencial para o seu êxito. O estágio atual da sociedade moderna exige da administração
pública um foco nos resultados.
Assim, é preciso que ela responda às expectativas modernas, o que obriga a passagem pela gestão por
resultados. Com isso, passa-se a exigir dos gestores públicos não somente a prestarem contas, com o principal
objetivo de tornar públicos os relatórios descritivos de fatos gerenciais acontecidos, mas, sobretudo, a eviden-
ciarem um “income of accountability”.
Um modelo de administração centralizado nos resultados permite às organizações centrar constantemente
sua atenção no alcance de resultado. Para tanto devem mensurar seu desempenho de forma regular e objetiva.
Nesse modelo, destaca-se a necessidade de o gestor público apreender novos mecanismos e de adaptá-los,
para melhorar a sua eficácia administrativa.
A nova abordagem da gestão pública requer que os cidadãos sejam colocados no centro das preocupações
da administração, buscando meios de integrá-los aos debates e fazer com que participem nas decisões. Com
essa medida, os administradores públicos podem gerir os recursos colocados à sua disposição de maneira
econômica e eficaz.
— A administração por resultados: novo paradigma da administração pública
No estágio atual da gestão pública, o principal debate acerca da nova administração pública diz respeito à
administração por resultados. Ela representa fortemente um dos elementos-chave da New Public Management
(Nova Gestão Pública).
Esta busca por resultados se evidencia nas reformas ou modernizações de muitas administrações no mun-
do. Em quase todos os projetos de modernização ou de reforma de uma administração pública, é sempre con-
ferida uma ênfase maior na gestão por resultados.
A avaliação dos resultados das políticas, dos programas e dos serviços constitui um elemento essencial da
administração pública. Essa avaliação ajuda a identificar o que funciona e o que não funciona, bem como a
evidenciar outros meios estratégicos de melhorar as políticas, os programas e as iniciativas.
Uma política de administração baseada em resultados favorece a geração de conhecimentos objetivos e
detalhados, no sentido de auxiliar os gestores a tomar decisões mais eficientes sobre suas políticas e seus
programas de governo.
A administração por resultados tem um papel importante neste cenário de reformas recentes do setor público
no mundo. Esse modelo disponibiliza informações relevantes voltadas para a eficácia, a eficiência e a perfor-
mance das políticas vinculadas ao setor público. Além disso, contribui para a otimização da gestão pública.
O direcionamento da administração pública na busca de resultados permite aos gestores responder às preocu-
pações dos contribuintes quanto à utilização dos recursos públicos. Enfim, uma administração pública voltada para
os resultados é essencial para um governo que prioriza os cidadãos e busca assegurar o bem-estar social.
As organizações dos setores público e privado que mensuram e avaliam os resultados de suas atividades
consideram que esta informação as leva a repensar seu papel e contribui para melhorar seu rendimento. Elas
podem, em consequência, recompensar os sucessos, manter as experiências anteriores e gerar a confiança
da sociedade. Sua aptidão para mensurar e avaliar os resultados é indispensável à execução de programas, à
prestação de serviços e à aplicação de políticas de qualidade.
8
No passado, e ainda com resquícios no presente, os governos enfatizavam o que gastavam, o que faziam
e o que produziam. Não se pode negar que é importante ter informações exatas nessas áreas. Entretanto, isto
não é suficiente para concretizar a orientação centralizada em resultados imposta por este modelo de adminis-
tração.
Uma administração baseada em resultados permite aos órgãos públicos oferecer um melhor serviço aos
cidadãos, identificando os pontos fortes e os pontos de estrangulamento dos programas. Com isso, é possível
detectar aqueles que não dão bons resultados.
Um programa de administração moderna impede os gestores de irem além do que fazem (atividades) e do
que produzem (output), orientando-os a centrar sua atenção nos resultados reais, isto é, nas consequências e
nos efeitos dos seus programas.
Os requisitos para a avaliação da performance da administração baseada em resultados têm se acentuado
muito nos últimos anos, tornando complexa a avaliação da performance das atividades em todos os níveis de
todo o governo. Pesquisas sobre a avaliação da performance administrativa, no setor público, vêm apontando
problemas na concepção e gestão desses sistemas, indicando sua eficácia como principal fator no tocante a
accountability dos governos.
Para que se possa implantar uma administração focalizada em resultados, impõe-se redesenhar o modo de ges-
tão dos sistemas de administração pública. Os gestores públicos precisam definir claramente os resultados que se
pretende obter, implementar o programa ou serviço, mensurar e avaliar o rendimento e, caso seja necessário, fazer
ajustamentos para aumentar a sua eficiência e a sua eficácia.
A administração dirigida à geração de resultados assegura um melhoramento contínuo da performance, faci-
lita o alcance de serviços de excelência e favorece o desenvolvimento da liderança e a responsabilização pelos
indivíduos e pela coletividade. A adoção de critérios para a obtenção de resultados, por parte da gestão pública
gerencial, envolve questões relevantes de mensuração.
A literatura voltada à mensuração de resultados da gestão pública tem defendido a utilização de indicadores
físicos ou qualitativos para indicar os benefícios que constituem os objetivos e metas das políticas avaliadas.
Conclui que somente os custos são expressos em termos monetários, fazendo-se necessária a comparação
desses custos aos benefícios quantitativos ou qualitativos para fins de avaliação.
Os resultados no setor público assumem um significado especial. Por isso, devem existir unidades organi-
zadas do setor público, para propiciar o alcance do resultado desejado de uma determinada política. Mas suas
ações se concentram totalmente nos produtos/serviços das políticas, ao invés dos resultados que devem ser
atingidos. A gestão por resultados exige uma visão mais ampla do que aquela preocupada apenas em equacio-
nar recursos com produtos/serviços.
Qualquer organização, seja pública ou privada, precisa desenvolver uma atenção equilibrada para o que
está fazendo, devendo priorizar sua relação com as necessidades dos consumidores.
Um outro aspecto que não se pode silenciar diz respeito a grande quantidade de leis que regem a admi-
nistração pública brasileira que muitas das vezes trazem interpretações contraditórias, dificultado assim sua
eficácia nos três entes federativos, levando assim os gestores a usarem, muita das vezes, técnicas informais
no modo de gerir os recursos públicos.
9
Mesmo assim, os gestores públicos foram gradativamente compreendendo a função dessas ferramentas
digitais de comunicação na organização do século XXI e, dessa forma, estimulando que esse tipo de técnica
conquiste mais áreas dentro do ambiente organizacional. Esse entendimento é uma das exigências implícitas
da Nova Administração Pública (NAP), cada vez mais direcionada para as demandas dos cidadãos e que re-
força a busca de resultados.
A necessidade de inovação no setor público superou assim a morosidade da renovação e a falta de interes-
se político nos avanços tecnológicos. Por isso, nos dias atuais, as organizações públicas estão ampliando a
participação na rede de internet, não só por meio de um website corporativo ou de um portal institucional, mas
também utilizando ferramentas mais modernas e complexas a exemplo dos sites de redes sociais.
Nesse caso, podem-se destacar o Instagram e o Facebook, como ferramentas populares nesse segmento
de organização, mas não se pode desprezar também o uso de blogs, do Twitter, do Youtube, do Linkedin, do
Pinterest, entre outros. A utilização de mídias sociais pelos organismos públicos pode ser traduzida como uma
maneira de se ampliar as ferramentas de comunicação, representando para o Estado uma plataforma onde
ocorre a interação com a sociedade com a finalidade de se divulgar informações públicas e também para o
controle social dos atos da Administração Pública.
Em outras palavras, esses canais digitais favorecem a democratização da comunicação, dando aos indi-
víduos acesso a um maior campo de informações. O uso das ferramentas digitais pelas organizações possui
papel administrativo essencial: a função informacional.
Essa atribuição é um dos pilares da gestão estratégica contemporânea. Estabelecer a informação/comu-
nicação entre a organização e seus públicos interno (funcionários) e externo (clientes/usuários, sociedade,
imprensa) coloca a organização em posição de destaque, seja ela pública ou privada.
Sendo assim, o fortalecimento da comunicação organizacional alcança particularmente uma característica
interna da organização, aquela responsável pela comunicabilidade. Em outras palavras, a atividade comunica-
cional da organização, quando bem planejada, executada e monitorada, pode ser considerada como um dos
pontos fortes na matriz SWOT, uma das ferramentas mais utilizadas na gestão das organizações, principalmen-
te as privadas, o que, em tese, auxilia na construção dos resultados estratégicos.
Esse reforço na gestão interna da organização é que deve garantir uma vantagem competitiva. No entanto,
quando se refere às organizações públicas, precisa-se ter a devida noção de que elas têm o dever de prestar
as informações pertinentes à sociedade, como forma, inclusive, de prestação de contas da gestão.
Nesse caso, trata-se do cumprimento de ditames normativos específicos, aos quais os gestores e as institui-
ções estão submetidos por força de lei, a exemplo da Lei da Transparência, Lei Complementar 131/2009, e da
Lei de Acesso à Informação (LAI), Lei nº 12.527/2011. Um dos grandes objetivos pretendidos com a publicação
da LAI foi que a sociedade tenha noção do que ocorre no interior da Gestão Pública e consiga assim um maior
controle sobre as ações de Estado.
Ou seja, a comunicação é uma forma de accountability necessária aos entes públicos de maneira geral.
Então, numa análise a respeito dos aspectos da gestão pública, não se pode desconsiderar a especificidade da
natureza das organizações públicas, pois estas devem observar certos requisitos dispostos em determinadas
normas, diferentemente da margem de “liberdade” das entidades privadas.
Esse aspecto pode ser considerado um ponto limitador para o avanço mais vigoroso do setor público no
tocante ao uso da nova comunicação organizacional contemporânea.
— O papel do gestor na condução da nova comunicação organizacional
Os gestores públicos precisam levar em consideração a gama de características da nova comunicação
organizacional do século XXI para que possam preparar seus órgãos e entidades, além de qualificar seus
servidores a fim de que exerçam a atividade comunicacional de forma profícua, diante dessa nova realidade
organizacional. Uma vez introduzidos os novos formatos e modelos digitais de comunicação, estes substituirão
ou, adaptarão, algumas práticas e técnicas tradicionais de comunicação.
Para isso, faz-se de extrema necessidade o preparo adequado da organização (orgânico, pessoas, equipa-
mentos, cultura organizacional) para essa nova fase, caso contrário poder-se-á converter num desafio. Nesse
espectro, a formação profissional dos agentes de comunicação torna-se uma variável determinante na qualifica-
ção das estratégias de comunicação e, por conseguinte, em sua devida execução no ambiente organizacional.
10
Uma equipe mal preparada (ou completamente despreparada) para as novas tecnologias e sem o devido
conhecimento desse cenário virtual não deve corresponder satisfatoriamente ao processo de comunicação
esperado pela organização pública. Assim tonifica-se a relevância dos trabalhos desenvolvidos por instituições
responsáveis pelo preparo de técnicos e dirigentes, a exemplo da Escola Nacional de Administração Pública
(Enap) e do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb).
Como em qualquer organização, a atualização e o aperfeiçoamento dos processos internos de gestão, es-
pecialmente aqueles ligados à área da comunicação, podem ser abrangentes ou diminutos em razão de uma
série de fatores no ambiente organizacional. Isso quer dizer que a falta de uma estrutura material, a exemplo
de computadores, acesso à internet, representa um empecilho para o desenvolvimento de um modelo digital
de comunicação.
Esse quadro pode ser ainda mais complexo em tempos de travessia de dificuldade financeira pelas entida-
des públicas, como a vivencia atualmente. Outra questão é a cultura organizacional, compreendida como um
conjunto de normas, valores e crenças contido no ambiente organizacional que resulta num sistema de ideias
e significados partilhados, formas expressivas e manifestações da consciência humana.
Ela também precisa ser moldada para o prisma digital. Uma das dificuldades enfrentadas nos órgãos e enti-
dades públicas, por exemplo, é a presença de servidores públicos que, mesmo tendo participado de cursos de
informática e de ferramentas digitais, se recusam a utilizá-las no dia a dia da organização, por diversos motivos,
inclusive, por estarem habituados a executar as operações de outra maneira.
A tarefa de influenciar e motivar esses servidores a mudar as práticas diárias demanda muita habilidade do
gestor. A gestão tem que ocupar-se com os seres humanos envolvidos na instituição, incentivando suas forças
e tornando irrelevantes suas fraquezas.
Dessa forma, a alta gestão organizacional assume o papel de controlar e direcionar sua equipe para o de-
senvolvimento de práticas inovadoras, estimulando seu fortalecimento. Diante das atuais mudanças no macro
ambiente, política, social, ambiental, e a busca constante por inovação, ressalta-se que o gestor público rece-
beu o desafio de acompanhar a evolução e reorganizar o processo de administração, dirigindo as mudanças, a
inserção da participação da sociedade e o estabelecimento de estratégias mais complexas e contínuas.
Portanto, cabe ao gestor público o papel de catalisador de ações inovadoras e de fomentador de iniciativas
transformadores no âmbito de sua organização, objetivando implementar estratégias em busca de melhorias
continuas e permanentes. É de sua responsabilidade associar as práticas organizacionais, nesse caso, as re-
lacionadas à comunicação, às tecnologias de ponta disponíveis no mercado, sempre com o objetivo maior de
conquistar os propósitos estratégicos da organização de maneira profícua.
Diante dessa macro conjuntura, podem-se formular algumas medidas a serem guardadas no campo da
gestão pública no intuito de se assimilar as modificações paradigmáticas recentes, especialmente relacionadas
ao segmento comunicacional:
(1) institucionalizar o uso de sites de redes sociais nas práticas comunicacionais interna e externa;
(2) fomentar a criação de aplicativos institucionais de comunicação e gestão;
(3) formar grupos institucionais para comunicação via mensageiro instantâneo;
(4) readequar os atuais atos de comunicação organizacional para os moldes digitais;
(5) elaborar um guia/manual específico sobre a comunicação organizacional digital no ambiente institucional.
Ressalta-se, por fim, que a comunicação organizacional contemporânea ou digital traz vantagens à insti-
tuição, a exemplo da diminuição de custos vinculados aos sistemas de produção e veiculação, além de ter o
potencial de alcançar um público mais amplo, porém, se não for adequadamente administrada, com métodos
que permitam a pronta resposta, a comunicação participativa e interativa, e a construção de uma comunicação
flexível, essa modalidade de comunicação poderá se tornar inepta, ineficiente, sem representatividade e sem
as esperadas contribuições à gestão pública.
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— Governança na Administração Pública por meio de redes
A rede interorganizacional é um tipo de rede social, com caráter técnico e operacional. Entre suas carac-
terísticas, destaca-se pouca hierarquia e grande interatividade entre seus atores. A essência de uma rede é o
fenômeno da coopetição, ou seja, cooperação e competição entre empresas. Os elementos fundamentais da
rede são os atores e as relações que são estabelecidas entre eles5.
O governo em rede pode ser entendido como um sistema interligado, uma rede complexa de relações tem-
porárias destinadas à solução dos problemas que a todo instante surgem; uma rede ligada por canais informais
de comunicação, cujo lema seria conectar, comunicar e colaborar. Rede é uma estrutura de organização capaz
de reunir pessoas e instituições em torno de objetivos comuns.
Sua base da formação é o compartilhamento da informação. O conjunto de redes do governo matricial envol-
ve alinhamento horizontal e vertical. No alinhamento horizontal, as redes podem conter ligações simples, quan-
do programas intrasetoriais são implementados por uma única organização, ou podem ser ligações complexas,
em que os programas multisetoriais são implementados por múltiplas organizações, incluindo entidades não
governamentais e entes de outras esferas do governo.
Uma rede não tem centro, e sim nós de diferentes dimensões e com relações internodais diferenciadas.
Cada nó é necessário para a existência da rede.
A tecnologia da informação e comunicação é que podem proporcionar a articulação cotidiana de uma rede
de instituições complexas, pois, de outra forma, a interatividade dos participantes estaria prejudicada. O fun-
cionamento em rede, assegurando descentralização e coordenação na mesma organização complexa, é um
privilégio da era da informação.
Quando se discute redes, destaca-se também a criação e compartilhamento do conhecimento entre as orga-
nizações que se relacionam, seja esse relacionamento próximo ou distante, por meio de vínculos fracos, mas
de grande alcance.
Uma análise mais aprofundada acerca da gestão de redes é necessária para se verificar como as redes
podem ser utilizadas para desenvolver políticas que busquem solucionar os problemas mais complexos. As
organizações entendem que a cooperação é a melhor maneira de atingir objetivos comuns.
Os vários laços fracos mantidos por um indivíduo são mais importantes que os laços fortes na manutenção
das redes sociais, uma vez que possibilitam a interação com vários outros grupos mais dispersos. Sem estes
laços fracos, os grupos seriam como ilhas isoladas e não uma rede.
Existe uma ordem na organização das redes, ou seja, elas não são simplesmente randômicas. O desenvol-
vimento da confiança entre os membros de uma rede é um pressuposto para um estado de cooperação.
A estrutura de uma rede de atores é composta por fios e nós, sendo os fios as expectativas, objetivos e
demandas acerca da atuação dos atores e os nós seriam os próprios atores e sua atuação conjunta. Também
expõem que a função de uma rede é reunir atores com interesses diferenciados, ou até conflitantes, para traba-
lharem em conjunto, buscando agir de acordo com interesses do grupo, e não particulares.
Os membros da rede devem negociar os interesses, ajustando-se uns aos outros. Mas o que leva as insti-
tuições a se organizarem em rede, tendo em vista essa limitação dos interesses particulares? A resposta a esta
questão é que as redes protegem os atores, ou seja, isso quer dizer que elas possibilitam aos atores a resolu-
ção de problemas que representariam uma carga excessiva para um ator isolado, único.
Em outras palavras: quem trabalha sozinho sucumbe. As redes evitam a queda; possibilitam a solução dos
problemas, acima de tudo, pela ação conjunta. Sua estabilidade resulta, assim, da pressão por cooperação e
do bom êxito da cooperação.
A governança pública não pode ser imposta: é um processo de troca que oscila entre o topo e a base em
toda a organização. Portanto, a nova cultura de governança deve estar impregnada em todas as organizações
participantes da estrutura de governança. Desse modo, os parceiros, liderando uma coalizão em rede ou uma
aliança, irão construir efetivamente as bases para o desenvolvimento de uma confiança mútua.
5 http://www.anpad.org.br/diversos/down_zips/63/2012_EOR1733.pdf
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Os estudos preliminares sobre redes de Políticas Públicas, por volta dos anos 60 do século XX, focavam na
importância das relações de cooperação entre organizações, na forma como elas trabalhavam e no impacto
dessas relações na estrutura e comportamento organizacional. Recentemente, o foco de estudo foi ampliado,
buscando verificar a efetividade das atividades da rede, considerando as várias interações entre os atores.
Acerca dessa questão da efetividade da atuação das redes, aponta-se que pairam dúvidas não somente
sobre as bases de cooperação entre esses atores, mas também sobre seus resultados. Ressalta-se também a
importância de se avaliar e controlar o desempenho das alianças de cooperação.
Motivação
É um fator dos principais que cooperam para atingir grandes resultados e, assim, uma boa rentabilidade para
a organização. Uma equipe motivada se dedica mais e tem maior facilidade em entregar a demandas segundo
a qualidade esperada ou até acima.
Nesse ponto, para obter sucesso é indispensável que o RH (Recursos Humanos) e os líderes tenham siner-
gia. Atentando-se aos pontos vulneráveis que podem ser corrigidos com métodos e capacitações. Já os pontos
fortes podem ser desenvolvidos de modo a se tornarem efetivamente crescentes.
Não se trata apenas de ações pontuais, as atividades precisam ser bem planejadas. É importante ter em
mente que a continuidade traz resultados a curto, médio e longo prazo. Se torna crucial o comprometimento
com a gestão correta para que se alcance o desenvolvimento de pessoas.
Liderança
É responsável pelo desafiador papel de gerir e conduzir pessoas à resultados satisfatórios. Nesse papel, as
organizações consideram de extrema importância colocar um indivíduo de excelência, pois cada área necessita
de talentos adequados.
Administrar a equipe sinergicamente, alcançando metas, cumprindo prazos, motivando e inspirando cada
indivíduo a entregar cada vez melhor seu trabalho é função de um bom líder. Para tanto o comprometimento,
planejamento, empatia e inteligência emocional, geram e mantêm bons relacionamentos interpessoais.
Desempenho
É o resultado de uma liderança efetiva e equipe motivada. O RH (Recursos Humanos) junto aos líderes de
cada área, se torna responsável por desenvolver, medir, avaliar regularmente esse desempenho, estimulando
a melhoria contínua. As ferramentas para essa avaliação são: feedbacks periódicos, que promovem a auto
avaliação, análise crítica de cada área e da organização no geral. O plano de carreira que considera evolução
de cargos e salários tem esse processo como primeiro passo.
— Liderança
As organizações têm evoluído, sobretudo em termos estruturais e tecnológicos. As mudanças e o conheci-
mento são os novos paradigmas e têm vindo a exigir uma nova postura nos estilos pessoais e organizacionais,
voltados para uma realidade diferenciada e emergente. Neste contexto, a Liderança passa a ser a chave para o
sucesso organizacional, decorrendo de uma nova cultura e estrutura, na qual se privilegia o capital intelectual,
pois são as pessoas que proporcionam as condições essenciais ao desenvolvimento das organizações.
Ao longo dos tempos, a liderança tem sido alvo de interesse por parte das organizações e dos gestores, es-
tes começaram a perceber a importância que a mesma tem para o sucesso e o alcance dos objetivos traçados.
Os líderes devem procurar incrementar, um melhor relacionamento entre as pessoas, incentivando o tra-
balho em equipa, motivando os colaboradores e proporcionando um ambiente de trabalho saudável, seguro e
propício ao progresso e desenvolvimento das suas capacidades e talentos.
A Liderança é um tema muito atual e de importância estratégica para as organizações, como tal, deve ser
integrada na definição da estratégia organizacional. As organizações precisam das pessoas para atingirem os
seus objetivos e alcançar a sua visão e missão de futuro, assim como as pessoas necessitam das organizações
para atingirem as suas metas e realizações pessoais.
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As pessoas têm sido uma preocupação constante da gestão das organizações, uma vez que uma boa ges-
tão das mesmas se traduz no diferencial que alavanca os bons resultados. Para trabalhar o capital humano de
modo a maximizar o seu desempenho, é necessário que os indivíduos se sintam motivados e satisfeitos com o
seu líder e com a forma como que a Liderança vem sendo exercida.
Os líderes têm a missão de atingir os resultados pretendidos pela organização através das pessoas que
lideram. Assim sendo, para que a gestão de pessoas seja eficaz, os líderes têm de ser os modelos sociais,
dando o exemplo, estando sempre na linha da frente, mostrando como se faz, fazendo.
A liderança é considerada como um processo dinâmico e que vem sofrendo alterações e adaptações aos
vários níveis, daí a necessidade de trabalhar algumas das suas principais características que permitem obter o
máximo de eficiência e eficácia.
Sejam quais forem as características pessoais e de personalidade do líder, estas afetam as relações com os
liderados e, consequentemente, o desempenho destes nas tarefas que executam nas organizações.
As diversas definições de liderança não são unânimes e estão longe de gerar consenso entre os autores.
Desta forma, tem sido muito difícil definir o que é ser líder e o que é a liderança, havendo inúmeras definições
para este conceito.
Segundo Yukl (1998, p.5), “A liderança é um processo através do qual um membro de um grupo ou organiza-
ção influencia a interpretação dos eventos pelos restantes membros, a escolha dos objectivos e estratégias, a
organização das actividades de trabalho, a motivação das pessoas para alcançar os objectivos, a manutenção
das relações de cooperação, o desenvolvimento das competências e confiança pelos membros, e a obtenção
de apoio e cooperação de pessoas exteriores ao grupo ou organização.”
A Liderança é uma tentativa de influência, de modo a conseguir dos seus liderados empenho e cooperação.
Nessa perspectiva, quando um chefe manipula ou exige obediência e cooperação de forma coerciva, não há
liderança.
Liderança X Gestão
A liderança e a gestão são vocábulos que por vezes são vistos por muitos como sinônimos, no entanto exis-
tem diferenças bem notórias entre ambos, além disso um bom líder pode não ser um bom chefe e vice-versa.
De acordo com Rost & Smith (1992), “A liderança é uma influência de relacionamento, ao passo que a ges-
tão é um relacionamento de autoridade. A liderança é levada a cabo com líderes seguidores, enquanto a gestão
é executada com gestores e subordinados.”
• Liderança
A liderança é um processo mais emocional, envolve o coração. Os líderes são dinâmicos, criativos, carismá-
ticos e inspiradores, são visionários, assumem os riscos e sabem lidar com a mudança.
Os líderes são criativos e têm estilos mais imprevisíveis, são mais intuitivos do que racionais. Em vez de se
adaptarem, tentam transformar o estado das coisas. Os líderes atuam proativamente formando ideias em vez
de lhes reagirem.
Um bom líder não é aquele que se preocupa em sê-lo, mas aquele que dá o exemplo mostrando como as
coisas devem ser feitas, que tem ética e se preocupa com as pessoas que o rodeiam, que envolve e motiva
toda a equipa. Deve focar-se no desenvolvimento das pessoas com quem trabalha para que se tornem mais
autónomas.
O líder tem a capacidade de gerir diferentes personalidades mobilizando-as para objetivos comuns. Liderar
é saber comunicar e conquistar a admiração e o respeito dos outros, fazendo com que todo o grupo se identifi-
que com o líder, o siga e execute as suas decisões.
Os líderes são inovadores e criativos, procuram agir sobre a situação em causa, as suas perspectivas e as-
pirações são a longo prazo, têm uma atitude proativa, são emocionais e empáticos e atraem fortes sentimentos
de identidade e diferenciação. As competências de liderança não podem ser ensinadas nem aprendidas são
inatas ao ser humano, estas vão sendo moldadas pelas experiências e conhecimentos adquiridos.
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Para Monford e tal. (2000, p.24), “Os líderes não nascem nem são feitos; de facto, o seu potencial inato é
moldado pelas experiências que lhes permitem desenvolver as capacidades necessárias à resolução de pro-
blemas sociais significativas.
• Gestão
A gestão tem uma abrangência muito maior do que a liderança, envolve tanto os aspectos comportamentais
como os que estão diretamente ligados à sua gestão, tais como: planeamento, controlo e regulamentos internos
e externos. Os gestores são mais racionais, trabalham mais com a “cabeça” do que com o “coração”.
Segundo Bennis & Nanus (1995), “gerir consiste em provocar, realizar, assumir responsabilidades, coman-
dar. Diferentemente, liderar consiste em exercer influência, guiar, orientar. Os gestores são pessoas que sabem
o que devem fazer. Os líderes são as que sabem o que é necessário fazer.”
Os gestores são conservadores e analíticos, reagem e adaptam-se aos factos ao invés de transformá-los.
Tendem a adoptar atitudes impessoais, calculam as vantagens da competição, negoceiam e usam as recom-
pensas e as punições como formas de coação. Estes estão perfeitamente enquadrados na cultura organizacio-
nal e lutam pela optimização dos recursos de modo a alcançarem os resultados desejados.
Para que as organizações possam sobreviver num mercado globalizado e cada vez mais competitivo têm de
ter uma boa gestão. A gestão tem que ter a implementação da mudança através da visão do seu líder de forma
a alcançar os resultados previamente definidos. Sem uma boa gestão as organizações não conseguirão atingir
esses resultados e tornam-se pouco produtivas e competitivas.
Quer a gestão quer a liderança têm diferentes formas de gerir a sua equipa, através dos diferentes líderes.
Esta hipótese é bem acolhida por Rowe (2001), através de um modelo triangular cujos vértices são a liderança
gestionária, a liderança visionária e a liderança estratégica.
Tipos de liderança
• Líder Gestionário
O líder gestionário está mais virado para a estabilidade financeira a longo prazo e orientado para os com-
portamentos de curto prazo e baixo custo. O seu relacionamento com as pessoas está intimamente ligado com
os seus papéis no processo de decisão, mas raramente decide com base em valores. Não investe na inovação
que pode mudar a organização pois falta-lhe visão, iniciativa e criatividade. Normalmente é reativo e adapta
atitudes passivas perante os objetivos, estes centram-se nas necessidades sentidas e não nos desejosos ou
sonhos.
• Líder Visionário
Já o líder visionário fomenta a mudança, a inovação e a criatividade. É proativo, muda o modo de as pesso-
as pensarem acerca daquilo que é desejável e necessário. Está orientado para o desenvolvimento das pessoas
e para o sucesso das organizações. Normalmente decide com base em valores e relaciona-se com as pessoas
de modo intuitivo e empático. Enfatiza a viabilidade de empresa a longo prazo mas os seus sonhos podem ser
destruidores da riqueza no curto prazo.
• Líder Estratégico
O líder estratégico combina as duas orientações, ou seja, combina as qualidades dos gestores com as dos
líderes. Acredita nas escolhas estratégicas que fazem a diferença na organização. Essas estratégias devem ter
impacto imediato, sendo que as responsabilidades serão a longo prazo. Fomenta o comportamento ético e as
decisões baseadas em valores. Tem elevadas expectativas acerca dos seus superiores, colaboradores e dele
próprio.
Podemos então concluir que a liderança estratégica resulta da conciliação da liderança visionária e gestio-
nária.
Alguns indivíduos terão mais aptidão para liderar e outros para gerir, enquanto outros conciliam as duas
vertentes.
No entanto, muitos líderes podem aprender a gerir e muitos gestores podem melhorar as suas capacidades
de liderança.
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Estabelecendo a correspondência com a tese de Zaleznik, Rowe (2001) “ a liderança gestionária está para
os gestores como a liderança visionária está para os líderes. Ao contrário de Zaleznik “considera ainda que os
dois papéis são conciliáveis na figura do líder estratégico.”
A importância dos líderes
HARRIS (2001, p.394) “O Papel dos líderes é criar um ambiente em que as pessoas se sintam livres para
experimentar, exprimir-se com franqueza, tentar novas coisas. Ainda mais importante, o seu papel é o de (…)
construir o espaço, remover obstáculos e permitir que os empregados façam o seu trabalho. Um dos objetivos
primordiais dos líderes deveria ser o de libertar os talentos de cada pessoa para benefício delas próprias e da
empresa como um todo.”
Nas organizações é crucial que os líderes sejam pessoas idóneas e sejam um exemplo para toda a equipa,
pois sem um bom líder não haverá uma boa equipa. É fundamental que exista uma boa liderança por parte dos
líderes, somente assim a equipa será coesa e trabalhará afincadamente para o alcance das metas organizacio-
nais e dos objetivos conjuntos. Se o objetivo primordial de um líder é fazer com que os outros o sigam, então é
imprescindível que dê bons exemplos e lhes mostre o caminho a seguir.
A liderança é um tópico fundamental nas relações de trabalho, os líderes têm de trabalhar no sentido de
evitar conflitos laborais e proporcionar benefícios para todos.
Por vezes, as incompatibilidades pessoais e profissionais entre os líderes e os liderados, fazem com que
surjam conflitos difíceis de gerir, contribuindo para o insucesso das pessoas e o fracasso das organizações,
dificultando assim o alcance das metas traçadas.
Segundo Russo (2005) “a discussão se os líderes nascem líderes ou aprendem a sê-lo é longa. Contudo a
resposta diz Russo é simples e direta: as duas afirmações são verdadeiras.”
O líder deve ser capaz de criar um ambiente saudável, bem como interação e dinâmica com toda a equipa
de trabalho. É fundamental criar desafios e dar autonomia, para que em conjunto se implementem e tomem as
melhores decisões.
Estilos de liderança
As organizações, as equipas e as situações variam no tempo e no espaço, os líderes também, daí que é
bastante comum que o sucesso do líder e dos seus seguidores esteja diretamente relacionado com o estilo de
liderança adoptado.
White & Lippit (1939) fizeram os primeiros estudos para verificar o impacto causado pelas diferentes formas
de liderar. Segundo eles existem essencialmente três estilos de liderança: liderança autoritária, liberal e demo-
crática.
• Liderança Autoritária
Em primeiro lugar aparece a liderança autoritária, “o líder fixa as diretrizes, sem qualquer participação do
grupo”, é ele que fixa todas as diretrizes e determina qual tarefa deve ser realizada, tudo tem que ser feito como
ele define. (CHIAVENATO, 2003)
Na liderança autoritária, autocrática ou diretiva o líder foca-se apenas nas tarefas e determina técnicas para
a execução das mesmas. O líder toma as decisões individualmente e não considera a opinião da equipe, orde-
na e impõe a sua vontade. Este tipo de liderança provoca tensão e frustração no grupo. O líder tem uma postura
essencialmente diretiva e não dá espaço à criatividade dos liderados. A sua postura por vezes é paternalista e
fica satisfeito por sentir que os outros dependem dele. É rápido na tomada de decisão e os seus objetivos são
o lucro e os resultados. Por norma, neste tipo de liderança as consequências são nefastas, existe ausência de
espontaneidade e de iniciativa e quando o líder abandona a organização as pessoas sentem-se completamente
perdidas pois não estavam habituadas a tomar decisões e a terem iniciativa própria.
O trabalho só se realiza na presença do líder, pois na sua ausência o grupo é pouco produtivo e indiscipli-
nado. O líder autoritário normalmente não delega tarefas, prefere ser ele a executá-las. A liderança autoritária
apresenta elevados níveis de produção, mas com evidentes sinais de frustração e agressividade.
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• Liderança Liberal
A liderança liberal é totalmente inversa à autocrática, “há liberdade total para as decisões grupais ou indivi-
duais, e mínima participação do líder.” (CHIAVENATO, 2003)
Na liderança laissez faire ou liberal não há imposição de regras, parte-se do princípio que o grupo atingiu
a maturidade e não necessita do líder para o orientar e o supervisionar. Caracteriza-se pela total liberdade da
equipa o líder não interfere na divisão das tarefas nem na tomada de decisão, quem decide é o próprio grupo.
Este é considerado o pior estilo de liderança, uma vez que não há demarcação dos níveis hierárquicos instala-
-se a confusão, a desorganização, o desrespeito e a falta de um líder com poder e autoridade para resolver os
conflitos.
Na liderança liberal o líder só participa na tomada de decisão quando é solicitado pelo grupo, os níveis de
produtividade são insatisfatórios e existem fortes sinais de individualismo, insatisfação e desrespeito pelo líder.
• Liderança Democrática
No que respeita à liderança democrática, participativa ou consultiva, este estilo está voltado para as pes-
soas e há participação de toda a equipa no processo de decisão. É o grupo que define as técnicas para atingir
os objetivos, no entanto o líder tem a responsabilidade de alertar o grupo para as dificuldades existentes no
alcance desses mesmos objetivos.
Segundo, Chiavenato (2003, p.125), “As diretrizes são debatidas e decididas pelo grupo, estimulado e as-
sistido pelo líder”.
O líder envolve todo grupo, pede sugestões e aceita opiniões, existe confiança mútua, relações amistosas
e muita compreensão. Este estilo de liderança está orientado para as tarefas e para as pessoas. Os grupos
submetidos à liderança democrática, apresentam elevados níveis de produtividade, quer em quantidade quer
em qualidade. Existe ainda, um clima de satisfação, integração e comprometimento das pessoas para com a
organização.
De acordo com Fachada (1998), “A diferença entre o estilo eficaz e ineficaz não depende unicamente do
comportamento do líder, mas da adequação desses comportamentos ao ambiente onde ele desempenha as
suas funções.”
O estilo de liderança a adoptar vai depender sobretudo da equipa a liderar e do seu tamanho. Deverá estar
adaptada a cada pessoa, à equipa e à tarefa a realizar, só assim se conseguirá a máxima eficácia na persecu-
ção dos objetivos.
As organizações contemporâneas têm percebido a importância do comportamento organizacional como
fator competitivo nos últimos tempos.
Atualmente, devido aos avanços em tecnologia e informação, as pessoas têm tido maiores oportunidades
de se desenvolver e se tornar diferenciais no mercado de trabalho em termos de conhecimento técnico, por
exemplo.
Porém, o conhecimento técnico não é o único responsável por gerar diferencial no mercado de trabalho. É
possível o trabalhador de forma geral ter muito conhecimento sobre o que faz, ter habilidade para realizar, mas
não ter atitude para fazer, o que depende da decisão do mesmo.
As empresas por sua vez, têm uma importante tarefa neste contexto. Cada empresa tem seu grupo de
crenças, valores e princípios que formam sua cultura organizacional. Esta cultura é demonstrada a partir do
comportamento das pessoas dentro da organização. A tarefa das empresas diante desta realidade, geralmente
do setor de RH ou gestão de pessoas, é de alinhar o mais próximo possível, o comportamento do colaborador
dentro da empresa e até fora dela, em atuação pelo trabalho, ao comportamento esperado pela organização de
acordo com sua cultura organizacional.
Comportamento organizacional é o estudo do comportamento dos indivíduos e grupos em situação de traba-
lho e seus impactos no ambiente empresarial. O estudo desses comportamentos está relacionado a fatores de
grande influência nos resultados alcançados pelas empresas como: liderança, estruturas e processos de grupo,
percepção, aprendizagem, atitude, adaptação às mudanças, conflito, dimensionamento do trabalho, entre ou-
tros que afetam os indivíduos e as equipes organizacionais.
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Os relatórios gerados pelo estudo do comportamento organizacional geram para os gestores, poderosas
ferramentas que auxiliam na melhor administração diante da complexidade existente devido à diversidade,
globalização, contínuas mudanças, aumento dos padrões de qualidade, ou seja, consequências dos avanços
de modo geral.
Os setores responsáveis por lutarem por esse alinhamento tão importante usam diversas ferramentas e
estratégias para proporcionar os resultados esperados, dente eles estão programas de coaching, questionários
de perfis comportamentais, BSC com foco pessoal, PDCA também com foco pessoal, mapeamento de compe-
tências, dentre muitas outras.
Neste processo é necessário que a empresa consiga o máximo possível, compartilhar com os colaboradores
de todos os níveis estratégicos sua cultura com clareza, de modo que os colaboradores possam entender e
participar praticando a mesma com responsabilidade e convicção.6
Indivíduos e grupos
Fundamentalmente a partir da aprendizagem, o comportamento apresenta uma enorme complexidade e
diversidade nas mais diferentes relações que se estabelece com o meio. As interações sociais são aquilo que
nos separam dos animais.
Grande parte da nossa vida gira à volta de instituições sociais que orientam um novo comportamento. Para
além disso, a maior parte das interações sociais são orientadas por fatores de ordem cognitiva, este fatores de
carácter cognitivo levam-nos a interpretar as situações e a organizar as respostas mais adequadas.
Cognição social – conjunto de processos que estão adjacentes ao modo como encaramos os outros, a nós
próprios e à forma como interagimos.
A cognição social refere-se, assim, ao papel desempenhado por fatores cognitivos no nosso comportamento
social, procurando conhecer o modo como os nossos pensamentos são afetados pelo contexto social. Este
processo é uma forma de conhecimento e de relação com o mundo dos outros.
Como temos uma capacidade limitada de processos de informação relativa do mundo social, recorremos a
esquemas que representam o nosso conhecimento sobre nos, sobre os outros e sobre o nosso papel no mun-
do. É a partir desses esquemas que processamos a informação sobre o mundo social e que formamos opiniões
sobre nós e sobre os outros.
Processos de cognição social:
- Impressões
- Expectativas
- Atitudes
- Representações sociais
Impressões
Este processo é o primeiro que temos no primeiro contato com alguém que não conhecemos, construímos
uma ideia/imagem, sobre essa pessoa a partir de algumas características. Isto também acontece com os ob-
jetos com que contatamos. Contudo, há diferenças assinaláveis quando se trata de pessoas: a produção da
impressão é mútua (o outro também tem impressões); por outro lado, a minha impressão afeta o meu compor-
tamento e por tanto, o seu comportamento para comigo.
Um dos aspectos mais importantes das impressões é a relação interpessoal que se estabelecerá no futuro.
Se, alguma das primeiras impressões for modificada, temos tendência a rejeitar a nova informação, mantendo
a que ficou no primeiro encontro.
Impressão e categorização
Para se simplificar o armazenamento de toda a informação, procedemos a um processo de categorização,
ou seja, reagrupamos os objetos, as pessoas, as situações, a partir daquilo que consideramos serem as suas
diferenças e semelhanças.
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No caso das impressões classificamos a pessoa em categorias, esta ideia global vai orientar o nosso com-
portamento, porque nos fornece um esboço psicológico da pessoa em questão. A caracterização permite sim-
plificar a complexidade do mundo social. Esta categorização contempla três tipos de avaliação:
- Afetiva
- Moral
- Instrumental
A categorização inerente à formação das impressões orienta o nosso comportamento. Ao desenvolvermos
expectativas sobre o comportamento dos outros a partir das impressões que formamos, isso possibilita-nos
planear as nossas ações, o que é um facilitador do processo das interações sociais.
A formação das impressões
Na base da formação das impressões está a interpretação. A maneira como formamos uma impressão tem
como base quatro indícios:
- Físicos – aparência, expressões sociais e gestos. Ex.: se a pessoa for magra posso associar a uma perso-
nalidade irritável.
- Verbais – exemplo: o modo como a pessoa fala, surge como um indicador de instrução
- Não - verbais – exemplo: vestuário, o modo como a pessoa se senta ou gesticula enquanto fala.
- Comportamentais – conjunto de comportamentos. Ex.: o modo como os comportamentos são interpretados
remete para as experiências passadas. Daí que o mesmo comportamento possa ter significados diferentes para
diferentes pessoas.
Teoria implícita da personalidade
Todos nós a partir de poucas informações estamos preparados para inferir a personalidade geral de uma
pessoa, basta dar duas informações e deduzir algo da pessoa.
O efeito das primeiras impressões
A primeira informação é a que tem maior influência sobre as nossas impressões. Por tanto, a ordem com
que conhecemos as características de uma pessoa não é indiferente para a formação de impressões sobre ela.
Uma das características das primeiras impressões é a sua persistência, dado que, a partir de algumas in-
formações constituímos uma ideia geral sobre a pessoa, é muito difícil alterarmos a nossa percepção, mesmo
que, recebamos informações que contradizem a nossa impressão inicial. Á como uma rejeição a entregar novas
informações.
Efeito de Halo – se as primeiras impressões forem positivas, temos tendência a criar algo de bom sobre a
pessoa, a idealizar uma boa relação, sendo que o contrário também se verifica.
Todos nós tendemos a fazer perdurar no tempo as primeiras impressões que obtemos de alguém, sendo que
essas persistem no tempo, sendo que tendemos sempre a crer que novas informações contraditórias sejam
submetidas ao crivo (separação das primeiras impressões).
Expectativas
Podemos definir as expectativas como modos de categorizar as pessoas através dos indícios e das informa-
ções, prevendo o seu comportamento e as suas atitudes. As expectativas são mútuas, isto é, o outro com quem
interagimos desenvolve também expectativas relativamente a nós.
Exemplo: ao entrar num tribunal vimos um homem de toga preta e deduzimos que seja um advogado ou um
juiz. Isto funciona como um indício que me permitiu incluí-lo numa determina da categoria social.
Na categorização estão envolvidas duas operações básicas: indução e a dedução. É pela indução que
passamos da percepção da toga preta à inclusão daquela categoria. É pela dedução que, a partir do momento
em que reconhecemos a categoria a que uma pessoa pertence, passamos a atribuir-lhe determinadas carac-
terísticas. Podemos afirmar que, tal como outros processos de cognição social, as expectativas formam-se no
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processo de socialização por influência da família, da escola, do grupo de pares, da comunidade social. Estão,
portanto, marcadas pelos valores, crenças, atitudes e normas de um dado contexto social, bem como pela his-
tória pessoal.
O facto de não conhecermos o desconhecido leva-nos a construir esquemas interpretativos que organizam
a informação que captamos e que estão na base das impressões e das expectativas.
Nós comportamo-nos de acordo com aquilo que pensamos que os outros pensam de nós.
Expectativas, estatuto e papel
Um exemplo muito claro das expectativas na vida social é por exemplo uma relação entre marido mulher,
pais e filhos.
Ao exercer as funções respectivas, há um conjunto de expectativas mútuas que regulam as relações.
A cada estatuto corresponde um papel, isto é, um conjunto de comportamentos que esperados de um in-
dividuo com determinado estatuto. No caso de uma professora nós esperamos que ela ensine bem. Existe,
portanto, uma complementaridade entre estatuto e papel.
Numa sociedade, os papeis sociais prescrevem todos um conjunto de comportamentos, possuem padrões
de comportamentos próprios, de tal forma institucionalizados que os seus membros sabem quais as reações
que um seu comportamento pode provocar – expectativa de conduta.
Estas experiências (experiência do telefone) mostraram que as expectativas positivas geram comportamen-
tos positivos e as expectativas negativas geram comportamentos negativos.
Atitudes
Uma atitude é uma tendência para responder a um objeto social – situação, pessoa, grupo, acontecimento
– de modo favorável ou desfavorável. A atitude não é, portanto, um comportamento mas uma predisposição.
É uma tomada de posição intencional de um indivíduo face a um objeto social. As atitudes desempenham um
papel importante no modo como processamos a informação do mundo social em que estamos inseridos. Permi-
tem-nos interpretar, organizar e processar as informações. É este processo que explica que, face a uma mesma
situação, diferentes pessoas a interpretem de formas distintas.
Componentes das atitudes
Construídas ao longo da vida, mas com especial incidência na infância e na adolescência, as atitudes envol-
vem diferentes componentes interligadas. Nas atitudes, podem distinguir-se três componentes:
- Componente cognitiva – é construída pelo conjunto de ideias, de informações, de crenças que se têm sobre
um dado objeto social. É o que consideramos como verdadeiro acerca do objeto.
- Componente afetiva - conjunto de valores e emoções, positivas ou negativas, relativamente ao objeto so-
cial. Está ligada ao sistema de valores, sendo a sua direção emocional.
- Componente comportamental – conjunto de reações, de respostas, face ao objeto social. Esta disposição
para agir de determinada maneira depende das crenças e dos valores que se têm relativamente ao objeto so-
cial.
É a partir de uma informação ou convicção a que se atribui um sentimento que desenvolvo um conjunto de
comportamentos.
Por exemplo, uma atitude negativa relativamente ao tabaco pode basear-se numa crença de que há uma
relação entre o tabaco e o cancro (componente cognitiva). A pessoa que partilha desta crença não gosta do
fumo e experimenta sentimentos desagradáveis em ambientes onde as pessoas fumam (componente afetiva).
A esta atitude estão, associados alguns destes comportamentos: a pessoa não fuma, tenta convencer os outros
a não fumar (componente comportamental).
Atitudes e comportamentos
As atitudes não são diretamente observáveis: inferem-se dos comportamentos. Também é possível, a partir
de um comportamento, inferir a atitude que esteve na sua origem. Assim, se soubermos que uma pessoa tem
uma atitude negativa face ao tabaco, podemos prever a forma como se comportará face a uma campanha an-
titabaco, ou como reagirá se fumarmos junto a ela.
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De igual modo, as reações de uma pessoa face a uma situação podem permitir prever a atitude que lhe está
subjacente.
As atitudes são o suporte intencional de grande parte dos nossos comportamentos.
Formação e mudança de atitudes
As atitudes não nascem conosco, formam-se e aprendem-se no processo de socialização. São vários os
agentes sociais responsáveis pela formação das atitudes: os pais e a família, a escola, o grupo de amigos, a
imprensa.
São sobretudo os pais que exercem um papel fundamental na formação das primeiras atitudes nas crianças.
A educação escolar desempenha, na nossa sociedade, um papel central na formação das atitudes. Na adoles-
cência, tem particular relevo o grupo de amigos.
Atualmente, os meios de comunicação, têm grande influência na formação de novas atitudes ou no reforço
das que já existem.
É através da observação, identificação e imitação dos modelos que se aprendem, que se formam as atitu-
des. Esta aprendizagem ocorre ao longo da vida, mas tem particular prevalência na infância e na adolescência.
Há, contudo, uma tendência para a estabilidade das atitudes.
Apesar da relativa estabilidade das atitudes, estas podem mudar ao longo da vida. As experiências vividas
pelo próprio podem conduzir à alteração das atitudes. Por exemplo, uma pessoa é a favor da pena de morte
pode mudar de atitude porque viu um filme que a comoveu, um documentário impressionante. Várias pesqui-
sas levadas a cabo por psicólogos sociais nas últimas décadas permitem identificar situações ou fatores que
favorecem a mudança de atitude.
Dissonância cognitiva
Leon Festinger, psicólogo social, levou a cabo uma investigação a partir da qual elaborou a teoria da disso-
nância cognitiva.
Sempre que uma informação ou acontecimento contradiz o sistema de representações, as convicções, a
atitude de uma pessoa, gera-se um mal – estar e uma inquietação que têm de ser resolvidos: ou se muda o
sistema de crenças, ou se reinterpreta a informação que a contradiz, ou se reformulam as crenças anteriores.
A dissonância cognitiva é um sentimento desagradável que pode ocorrer quando uma pessoa sustenta duas
atitudes que se opõem, quando estão presentes duas cognições que não se adequam ou duas componentes de
atitude que se contradizem. Por exemplo: a pessoa que gosta de fumar e que sabe que o tabaco pode provocar
cancro está perante uma dissonância cognitiva que lhe pode provocar sentimentos de angústia de contradição
ou inconsistência. Poderá atenuar a situação:
- Mudando as duas convicções;
- Alterando a percepção da importância de uma delas;
- Acrescentando uma outra informação;
- Negando a relação entre as duas convicções/informações.
A opção por qualquer uma delas conduz a dissonância cognitiva.
Quanto mais fracas forem as razões para o comportamento discrepante, maior é o sentimento de dissonân-
cia e maior a motivação para se modificar a atitude que provoca a inconsistência.
Representações sociais
É através das representações que somos capazes de evocar uma pessoa, uma ideia e/ou um objeto, na sua
ausência. O conceito de representação foi alargado por Serge Moscovici, que o caracterizou como um conheci-
mento que se distingue do conhecimento científico, elaborado a partir de modelos sociais e culturais e que dão
quadros de compreensão e de interpretação do real.
Assim, podemos definir as representações sociais como o conjunto das explicitações, das crenças e das
ideias que são partilhadas e aceites coletivamente numa sociedade e são produto das interações sociais. Cor-
respondem a determinadas épocas, decorrendo de um conjunto de circunstâncias socioeconómicas, políticas
e culturais, podendo, assim, alterar-se.
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A Elaboração das Representações Sociais
As representações são indispensáveis nas relações humanas, uma vez que fazem parte do processo de
interação social. Moscovci identificou dois processos que estão na sua origem:
- Objetivação – processo através do qual as representações complexas e abstratas se tornam simples e con-
cretas. Neste processo alguns elementos são excluídos/esquecidos e outros valorizados/desenvolvidos, de for-
ma a explicar a realidade de um modo mais simples. Envolve também o reagrupamento das ideias e imagens.
- Construção seletiva – os elementos do objeto de uma representação são selecionados e descontextualiza-
dos, sendo que apenas a parte mais importante da informação é mantida.
- Esquematização figurativa – as informações selecionadas são organizadas num «núcleo figurativo», ou
seja, são convertidas num esquema figurativo simples.
- Naturalização – a representação é materializada, o abstrato torna-se concreto.
- Ancoragem – corresponde à assimilação das imagens criadas pela objetivação. As novas representações
juntam-se às anteriores formando o «universo de opiniões».
Uma vez ancorada, uma representação social desempenha um papel de filtro cognitivo, isto é, as informa-
ções novas são interpretadas segundo os quadros de representação preexistentes. Estão muito marcadas pela
cultura e pela sociedade: a cada época, a cada sociedade correspondem representações próprias.
Funções das Representações Sociais
- Função de saber – as representações dão um sentido à realidade: servem para os indivíduos explicarem,
compreenderem e desenvolverem ações concretas sobre o real.
- Função de orientação – são um guia dos comportamentos. Prescrevem práticas na medida em que prece-
dem o desenvolvimento de uma ação.
- Função Identitária – permitem ao indivíduo construir uma identidade social, posicionando-se em relação
aos outros grupos sociais de pertença ou não-pertença.
- Função de justificação – permitem explicar e justificar as opiniões e comportamentos dos indivíduos.
Influência Social
Pelo processo de socialização, integramos normas, valores, atitudes, comportamentos considerados dese-
jáveis na sociedade a que pertencemos. Todas as pessoas que vivem em sociedade são influenciadas pelas
outras, mesmo que não tenham consciência disso.
Podemos definir influência social como o processo pelo qual as pessoas modificam, afetam os pensamen-
tos, os sentimentos, as emoções e os comportamentos de outras pessoas. Este processo decorre da própria
interação social, não tendo de ser intencional ou deliberado. Segundo o psicólogo social W. Doise, influência é:
“um conjunto de processos que modificam as percepções, juízos, atitudes ou comportamentos de um indivíduo
a partir do conhecimento das percepções, juízos e atitudes dos outros.”
Processos de influência entre indivíduos
A influência social manifesta-se em três grandes processos que vamos analisar para compreender o seu
efeito no comportamento: normalização, conformismo, obediência.
Normalização
Através do processo de socialização, integramos um conjunto de regras, de normas vigentes na socieda-
de em que estamos inseridos e que regulam os comportamentos, dos mais simples aos mais complexos. As
normas estruturam as interações com os outros e são aprendidas nos vários contextos sociais, na sua prática.
As normas são regras sociais básicas que estabelecem o que as pessoas podem ou não podem fazer em
determinadas situações que implicam o seu cumprimento. As normas são uma expressão de influência social.
A sua interiorização progressiva ao longo do processo de socialização torna-as tão naturais que não nos aper-
cebemos da forma como influenciam os nossos pensamentos e comportamentos.
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As normas, que regulam as relações interpessoais e que refletem o que é socialmente desejável, orientam
o comportamento. Definem o que é ou não é desejável, o que é conveniente num dado grupo social, apresen-
tando modelos de conduta.
É graças ao conjunto de normas que os comportamentos dos indivíduos de um dado grupo social são uni-
formizados (toda a gente lava os dentes de manha; toda a gente usa talheres para comer, etc), o que é uma
vantagem, porque sabemos o que podemos esperar dos outros e o que os outros esperam de nós (prever o
comportamento dos outros).
s normas traduzem os valores dominantes de uma sociedade ou de um grupo, constituindo elementos de
coesão grupal, dado que estabelecem um sistema de referência comum: atitudes e padrões de comportamen-
tos. As normas são facilitadoras do processo de adaptação, pois mantêm-se estáveis no tempo, asseguram ao
grupo uma identidade.
Na ausência de normas explícitas, reconhecidas coletivamente, os indivíduos que constituem um grupo
tentam elaborá-las influenciando-se uns aos outros. A este processo dá-se o nome de normalização. Esta ne-
cessidade decorre do facto de a ausência de normas ser geradora de desorientação e angústia nos membros
do grupo. A vida em sociedade seria impossível se não houvesse normas: as interações sociais seriam impre-
visíveis, o que comprometeria a vida social. É pelas normas que prevemos o comportamento dos outros e que
orientamos o nosso comportamento. São as normas que asseguram a estabilidade do nosso viver social.
A falta de cumprimento das normas leva a sanções/castigos, que são aplicados da sociedade ao individuo.
Conformismo
O conformismo é uma forma de influência social que resulta do facto de uma pessoa mudar o seu compor-
tamento ou as suas atitudes por efeito da pressão do grupo.
Existem factos que influenciam e explicam o conformismo:
- A unanimidade do grupo – o conformismo é maior nos grupos em que há unanimidade. Basta haver no
grupo um aliado que partilhe uma opinião diferente (pode ser igual à nossa ou não!), para os efeitos do confor-
mismo serem menores. Na experiência de Asch, bastava um dos indivíduos respondesse corretamente, que o
nível de conformismo baixa de forma significativa.
- A natureza da resposta – o conformismo aumenta quando a resposta é dada publicamente: a resistência à
aceitação da opinião da maioria é maior quando a privacidade é assegurada (ex. mesas de voto).
- A ambiguidade da situação – a pressão de grupo aumenta quando não estamos certos do que é correto.
Por isso, é maior o conformismo quando as tarefas ou as questões são ambíguas, não sendo clara e inequívoca
a opção (ex. nos testes quando não sabemos a resposta, metemos o que nos disserem, mesmo que discordes
parcialmente).
- A importância do grupo – quanto mais atrativo for o grupo para a pessoa maior é a probabilidade de ela se
conformar. A necessidade de pertença ao grupo implica, por parte do individuo, a adopção de comportamentos,
normas e valores do grupo.
- A autoestima – as pessoas com um nível mais elevado de autoestima são mais independentes do que as
que têm uma autoestima mais baixa.
O conformismo está ligado às normas do grupo, pois o individuo conforma-se em relação às normas do
grupo.
As razoes que leva uma pessoa a conformar-se são as mesmas que a levam a fazer parte de grupos: a ne-
cessidade de ser aceite, de interagir com os outros, e de o fazer de forma a terem sentido.
Processos de relação entre indivíduos e grupos
Atração
A psicologia social procura compreender o que está na base destes processos que explicam a atração inter-
pessoal (não é atração erótica). É um tema importante porque, compreender-se a atração interpessoal, é com-
preender também o funcionamento dos grupos sociais: como se originam, desenvolvem, evoluem e rompem as
relações interpessoais no interior dos grupos.
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Podemos definir atração interpessoal como a avaliação cognitiva e efetiva que fazemos dos outros e que nos
leva a procurar a sua companhia. Manifesta-se pela preferência que temos por determinadas pessoas que nos
levam a gostar de estar com elas, a partilhar confortavelmente a sua presença.
Fatores que influenciam a atração (além da história pessoal):
1. Proximidade – a proximidade geográfica é um fator poderoso na medida em que são as pessoas mais
próximas aquelas por quem poderemos sentir-nos mais atraídas (também são aquelas com quem poderemos
ter mais conflitos)
2. Familiaridade – relaciona-se também com a proximidade; a atração relativamente a uma pessoa pode
aumentar se estivermos frequentemente com ela. São as pessoas com quem lidamos com mais frequência que
nos são mais acessíveis.
3. Atração física – as pessoas fisicamente mais bonitas (segundo os padrões culturais) causam melhores
impressões iniciais, o que incentiva a atração por essa pessoa.
4. Semelhanças interpessoais – sentimo-nos atraídos por pessoas que têm sentimentos, comportamentos,
atitudes, opiniões, interesses e valores semelhantes aos nossos
5. Qualidades positivas - gostamos mais de pessoas que apresentam características que consideramos
agradáveis do que com características que consideramos desagradáveis.
6. Complementaridade – Há autores que consideram que, embora, numa primeira fase, as semelhanças
interindividuais sejam um fator de aproximação, no desenvolvimento de uma relação, as pessoas são atraídas
por características que elas não possuem; são as assimetrias das características que tornam o outro atraente,
na medida em que se complementam.
7. Reciprocidade – gostamos de pessoas que nos apreciam, que gostam de nós: simpatizamos mais com
quem simpatiza conosco.
Existem muitos fatores que influenciam a atração interpessoal, existem outros fatores que se interligam com
os anteriores e entre si:
- Respeito – quando valorizamos a competência, capacidade ou talento do outro
- Aceitação – pela compreensão e disponibilidade demonstrada pelo outro
- Estima – a simpática da outra pessoa aumenta a atração que sinto por ela.
- Gratidão – pelo bem que o outro propicia.7
Trabalho em equipe
Cada vez mais, as equipes se tornam a forma básica de trabalho nas organizações do mundo contemporâ-
neo. As evidências sugerem que as equipes são capazes de melhorar o desempenho dos indivíduos quando
a tarefa requer múltiplas habilidades, julgamentos e experiências. Quando as organizações se reestruturaram
para competir de modo mais eficiente e eficaz, escolheram as equipes como forma de utilizar melhor os talen-
tos dos seus funcionários. As empresas descobriram que as equipes são mais flexíveis e reagem melhor às
mudanças do que os departamentos tradicionais ou outras formas de agrupamentos permanentes. As equipes
têm capacidade para se estruturar, iniciar seu trabalho, redefinir seu foco e se dissolver rapidamente. Outras
características importantes é que as equipes são uma forma eficaz de facilitar a participação dos trabalhadores
nos processos decisórios aumentar a motivação dos funcionários.
Diferença entre Grupo e Equipe
Grupo e equipe não é a mesma coisa. Grupo é definido como dois ou mais indivíduos, em interação e inter-
dependência, que se juntam para atingir um objetivo. Um grupo de trabalho é aquele que interage basicamente
para compartilhar informações e tomar decisões para ajudar cada membro em seu desempenho na sua área
de responsabilidade.
Os grupos de trabalho não têm necessidade nem oportunidade de se engajar em um trabalho coletivo que
requeira esforço conjunto. Assim, seu desempenho é apenas a somatória das contribuições individuais de seus
membros. Não existe uma sinergia positiva que possa criar um nível geral de desempenho maior do que a soma
das contribuições individuais.
7 Fonte: www.notapositiva.com - Texto adaptado de Claudia Fernandes
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Uma equipe de trabalho gera uma sinergia positiva por meio do esforço coordenado. Os esforços individuais
resultam em um nível de desempenho maior do que a soma daquelas contribuições individuais. O quadro abai-
xo ressalta as diferenças entre grupos de trabalho e equipes de trabalho.
Transformando indivíduos em membros de equipe
- partilham suas ideias para a melhoria do que fazem e de todos os processos do grupo;
- respeitam as individualidades e sabem ouvir;
- comunicam-se ativamente;
- desenvolvem respostas coordenadas em benefícios dos propósitos definidos;
- constroem respeito, confiança mútua e afetividade nas relações;
- participam do estabelecimento de objetivos comuns;
- desenvolvem a cooperação e a integração entre os membros.
Fatores que interferem no trabalho em equipe
- Estrelismo;
- Ausência de comunicação e de liderança;
- Posturas autoritárias;
- Incapacidade de ouvir;
- Falta de treinamento e de objetivos;
- Não saber “quem é quem” na equipe.
São características das equipes eficazes:
- Comprometimento dos membros com um propósito comum e significativo;
- O estabelecimento de metas específicas para a equipe que conduzam os indivíduos a um melhor desem-
penho e também energizam as equipes. Metas específicas ajudam a tornar a comunicação mais clara. Ajudam
também a equipe a manter seu foco sobre o obtenção de resultados;
- Os membros defendem suas ideias, sem radicalismo;
- Grande habilidade para ouvir;
- Liderança é situacional; ou seja, o líder age de acordo com o grau de maturidade da equipe; de acordo com
a contingência;
- Questões comportamentais são discutidas abertamente, principalmente as que podem comprometer a
imagem da equipe ou organização
- O nível de confiança entre os membros é elevado;
- Demonstram confiança em seus líderes, tornando a equipe disposta a aceitar e a se comprometer com as
metas e as decisões do líder;
- Flexibilidade permitindo que os membros da equipe possam completar as tarefas uns dos outros.
Isso deixa a equipe menos dependente de um único membro;
- Conflitos são analisados e resolvidos;
- Há uma preocupação / ação contínua em busca do autodesenvolvimento.
O desempenho de uma equipe não é apenas a somatória das capacidades individuais de seus membros.
Contudo, estas capacidades determinam parâmetros do que os membros podem fazer e de quão eficientes
eles serão dentro da equipe. Para funcionar eficazmente, uma equipe precisa de três tipos diferentes de capaci-
dades. Primeiro, ela precisa de pessoas com conhecimentos técnicos. Segundo, pessoas com habilidades para
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solução de problemas e tomada de decisões que sejam capazes de identificar problemas, gerar alternativas,
avaliar essas alternativas e fazer escolhas competentes. Finalmente, as equipes precisam de pessoas que sai-
bam ouvir, deem feedback, solucionem conflitos e possuam outras habilidades interpessoais.
Tipos de Equipe
As equipes podem realizar uma grande variedade de coisas. Elas podem fazer produtos, prestar serviços,
negociar acordos, coordenar projetos, oferecer aconselhamentos ou tomar decisões.
Equipe de soluções de problemas: Neste tipo de equipe, os membros trocam ideias ou oferecem sugestões
sobre os processos e métodos de trabalho que podem ser melhorados. Raramente, entretanto, estas equipes
têm autoridade para implementar unilateralmente suas sugestões.
Equipes de trabalho auto gerenciadas: São equipes autônomas, que podem não apenas solucionar os pro-
blemas, mas também implementar as soluções e assumir total responsabilidade pelos resultados. São grupos
de funcionários que realizam trabalhos muito relacionados ou interdependentes e assuem muitas das respon-
sabilidades que antes eram de seus antigos supervisores.
Normalmente, isso inclui o planejamento e o cronograma de trabalho, a delegação de tarefas aos membros,
o controle coletivo sobre o ritmo de trabalho, a tomada de decisões operacionais e a implementação de ações
para solucionar problemas. As equipes de trabalho totalmente auto gerenciadas até escolhem seus membros e
avaliam o desempenho uns dos outros.
Consequentemente, as posições de supervisão perdem a sua importância e até podem ser eliminadas.
Equipes multifuncionais: São equipes formadas por funcionários do mesmo nível hierárquico, mas de dife-
rentes setores da empresa, que se juntam para cumprir uma tarefa. As equipes desempenham várias funções
(multifunções), ao mesmo tempo, ou seja, não há especificação para cada membro. O sentido de equipe é exa-
tamente esse, os membros compensam entre si as competências e as carências, num aprendizado contínuo.
As equipes multifuncionais representam uma forma eficaz de permitir que pessoas de diferentes áreas de
uma empresa (ou até de diferentes empresas) possam trocar informações, desenvolver novas ideias e solucio-
nar problemas, bem como coordenar projetos complexos. Evidentemente, não é fácil administrar essas equi-
pes. Seus primeiros estágios de desenvolvimento, enquanto as pessoas aprendem a lidar com a diversidade e
a complexidade, costumam ser muito trabalhosos e demorados. Demora algum tempo até que se desenvolva a
confiança e o espírito de equipe, especialmente entre pessoas com diferentes históricos, experiências e pers-
pectivas.
Equipes Virtuais: Os tipos de equipes analisados até agora realizam seu trabalho face a face. As equipes
virtuais usam a tecnologia da informática para reunir seus membros, fisicamente dispersos, e permitir que eles
atinjam um objetivo comum. Elas permitem que as pessoas colaborem on-line utilizando meios de comunicação
como redes internas e externas, videoconferências ou correio eletrônico – quando estão separadas apenas
por uma parede ou em outro continente. São criadas para durar alguns dias para a solução de um problema
ou mesmo alguns meses para conclusão de um projeto. Não são muito adequadas para tarefas rotineiras e
cíclicas.
Em todo processo onde haja interação entre as pessoas vamos desenvolver relações interpessoais.
Ao pensarmos em ambiente de trabalho, onde as atividades são predeterminadas, alguns comportamen-
tos são precisam ser alinhados a outros, e isso sofre influência do aspecto emocional de cada envolvido tais
como: comunicação, cooperação, respeito, amizade. À medida que as atividades e interações prosseguem,
os sentimentos despertados podem ser diferentes dos indicados inicialmente e então – inevitavelmente – os
sentimentos influenciarão as interações e as próprias atividades. Assim, sentimentos positivos de simpatia e
atração provocarão aumento de interação e cooperação, repercutindo favoravelmente nas atividades e ense-
jando maior produtividade. Por outro lado, sentimentos negativos de antipatia e rejeição tenderão à diminuição
das interações, ao afastamento nas atividades, com provável queda de produtividade.
Esse ciclo “atividade-interação-sentimentos” não se relaciona diretamente com a competência técnica de
cada pessoa. Profissionais competentes individualmente podem render muito abaixo de sua capacidade por
influência do grupo e da situação de trabalho.
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Quando uma pessoa começa a participar de um grupo, há uma base interna de diferenças que englobam va-
lores, atitudes, conhecimentos, informações, preconceitos, experiência anterior, gostos, crenças e estilo com-
portamental, o que traz inevitáveis diferenças de percepções, opiniões, sentimentos em relação a cada situação
compartilhada. Essas diferenças passam a constituir um repertório novo: o daquela pessoa naquele grupo.
Como essas diferenças são encaradas e tratadas determina a modalidade de relacionamento entre membros
do grupo, colegas de trabalho, superiores e subordinados. Por exemplo: se no grupo há respeito pela opinião do
outro, se a ideia de cada um é ouvida, e discutida, estabelece-se uma modalidade de relacionamento diferente
daquela em que não há respeito pela opinião do outro, quando ideias e sentimentos não são ouvidos, ou ignora-
dos, quando não há troca de informações. A maneira de lidar com diferenças individuais criam certo clima entre
as pessoas e tem forte influência sobre toda a vida em grupo, principalmente nos processos de comunicação,
no relacionamento interpessoal, no comportamento organizacional e na produtividade.
Valores: Representa a convicções básicas de que um modo específico de conduta ou de condição de exis-
tência é individualmente ou socialmente preferível a modo contrário ou oposto de conduta ou de existência.
Eles contêm um elemento de julgamento, baseado naquilo que o indivíduo acredita ser correto, bom ou dese-
jável. Os valores costumam ser relativamente estáveis e duradouros.
Atitudes: As atitudes são afirmações avaliadoras – favoráveis ou desfavoráveis – em relação a objetos,
pessoas ou eventos. Refletem como um indivíduo se sente em relação a alguma coisa. Quando digo “gosto do
meu trabalho” estou expressando minha atitude em relação ao trabalho. As atitudes não são o mesmo que os
valores, mas ambos estão inter-relacionados e envolve três componentes: cognitivo, afetivo e comportamental.
A convicção que “discriminar é errado” é uma afirmativa avaliadora. Essa opinião é o componente cognitivo
de uma atitude. Ela estabelece a base para a parte mais crítica de uma atitude: o seu componente afetivo. O
afeto é o segmento da atitude que se refere ao sentimento e às emoções e se traduz na afirmação “Não gosto
de João porque ele discrimina os outros”. Finalmente, o sentimento pode provocar resultados no comportamen-
to. O componente comportamental de uma atitude se refere à intenção de se comportar de determinada manei-
ra em relação a alguém ou alguma coisa. Então, para continuar no exemplo, posso decidir evitar a presença de
João por causa dos meus sentimentos em relação a ele.
Encarar a atitude como composta por três componentes – cognição, afeto e comportamento – é algo muito
útil para compreender sua complexidade e as relações potenciais entre atitudes e comportamento. Ao contrário
dos valores, as atitudes são menos estáveis.8
TRABALHO EM EQUIPE - A COMPETÊNCIA COMPORTAMENTAL MAIS VALORIZADA
O trabalho em equipe nos revela algo belo que é chegar aonde sozinhos não chegaríamos. Consiste ainda
em mostrar para nós mesmos que precisamos cocriar e estabelecer conexão uns com os outros. Estar inserido
em grupo em busca de um resultado é um relacionamento que assemelha a um conjunto de engrenagens inter-
ligadas: os atritos são naturais, mas o importante é que a máquina continue funcionando.
Segundo pesquisa da consultoria Manpowergroup, realizada no Brasil e noutros 40 países, com cerca de
60 mil empresas, de diferentes segmentos, para 17% dos entrevistados a Colaboração e o Trabalho em grupo
é a competência comportamental mais relevante em um profissional, e também a mais rara de se encontrar no
mercado atualmente.
Portanto, saber trabalhar em equipe é essencial para a sua carreira! E apesar de estarmos expostos a isso por
toda a nossa vida, em várias empresas esse tipo trabalho é prejudicado por colaboradores que não preferem trabalhar
individualmente a unir suas forças e atuar em grupo.
Para te ajudar a desenvolver esta competência, apresento duas dicas importantes para quem trabalha em
equipe:
Use o bom senso – Procure sempre o bom senso em tudo. Pense bem antes de falar e esteja pronto a ouvir
o outro. E sempre que for emitir alguma opinião, feedback que possa envolver alguma crítica aos seus compa-
nheiros de equipe escolha bem as palavras, seja assertivo para não ferir ninguém.
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Compartilhe a responsabilidade – O trabalho em equipe, às vezes, sofre de um fenômeno chamado “Pregui-
ça Social”. A “Preguiça Social” é quando membros do grupo não se esforçam ao máximo, pois têm a sensação
de não “ser tão responsável pelo resultado”. Evite este comportamento, pois a partir do momento que você está
trabalhando em grupo, não importa que o erro não seja diretamente seu, se alguém falhar a culpa também é
sua. Então, assuma a responsabilidade, seja leal aos seus colegas e honre o sentimento de grupo.9
Muitas pessoas dizem que trabalhar em equipe é mais divertido e fácil do que trabalhar individualmente,
pois contribui muito para melhorar o desempenho de todos. Um exemplo de trabalho em equipe é o das formi-
gas e gafanhotos, que se dividem para pegar alimentos e se um não faz a sua parte, todo o resto fica compro-
metido, dando um modelo de união e força.
Segundo Paula Caproni, os times de alta performance têm seis características básicas:
1-Limites precisos – Todos sabem quem pertence ou não ao time. Da mesma maneira, a equipe é reconhe-
cida pelos outros como uma unidade organizacional.
2-Objetivos comuns – As metas dizem respeito à equipe, e todos reconhecem e assumem a responsabili-
dade por seu cumprimento.
3- Papéis diferenciados – Cada membro do time deve dar sua contribuição individual à equipe.
4- Autonomia – A liberdade para realizar o trabalho é uma marca registrada das equipes.
5-Dependência dos recursos externos – Os membros da equipe sabem que dependem de outras equipes
ou indivíduos para conseguir informações, recursos e apoio. Enfim, eles valorizam tudo o que possa ajudá-los
a cumprir seus objetivos.
6 -Responsabilidade coletiva – Recompensas e feedbacks são uma constante, principalmente para o time
como um todo.10
Sustentabilidade organizacional
O tema sustentabilidade está cada vez mais em evidência, tanto no contexto acadêmico como no empresa-
rial e governamental. A aproximação entre organizações e princípios da sustentabilidade ganha gradativa rele-
vância na academia e no mercado em escala global. Entende-se por atividade sustentável aquela que é execu-
tada levando em conta a proteção ambiental, a atenção às necessidades sociais e a minimização dos custos.
Desta forma, a busca pela sustentabilidade organizacional torna-se um diferencial para uma organização.
A sustentabilidade aplicada ao contexto das organizações envolve relações múltiplas de troca entre o as-
pecto social, econômico e ambiental, almejando a seguridade e o bem-estar das gerações presentes e futuras
a partir do uso racional e consciente dos recursos disponíveis (BRUNSTEIN, SCARTEZINI e RODRIGUES,
2012). Nesse cenário, as empresas desempenham um papel de fundamental importância, sobretudo pelo com-
prometimento da gestão voltada aos valores sustentáveis e às práticas de desenvolvimento produtivo, de com-
petição e de tecnologias aplicadas na minimização da ação empresarial no meio.
A articulação entre práticas de gestão sustentáveis e os modelos de competências adotados pelas organi-
zações tendem a resultar em procedimentos benéficos para a sociedade, a economia e o meio ambiente. O
conhecimento suficientemente claro a respeito das estratégias empresariais, anseios pessoais e interesses
da sociedade permite maior participação dos diversos stakeholders em situações envoltas por condicionantes
sustentáveis.
As organizações envolvidas ativamente no debate sobre a sustentabilidade buscam constantemente iden-
tificar maneiras pelas quais possam desenvolver novas formas de produção e de gestão de recursos que
confluam para o aprimoramento de práticas relacionadas com cada um dos pilares que a fundamentam. É ne-
cessário reconhecer que o comportamento das organizações, refletindo as demandas de movimentos internos
e externos ao ambiente empresarial, suscita o reposicionamento e a reconsideração de atitudes e comporta-
mentos. Tais atitudes procuram estar inseridas no posicionamento estratégico que direciona o comportamento
socioeconômico dessas empresas, motivo pelo qual a sucessão de mudanças, na busca de alinhamento com
os anseios da sociedade, governo e demais entidades, se torna um desafio na busca de um desenvolvimento
sustentável (MUNCK e SOUZA, 2009). Assim, as organizações se empenham em aprimorar suas práticas de
gestão em caminhos estratégicos que as auxiliam a oferecer respostas a tais demandas.
9 Fonte: www.coachingconsultores.com.br – Texto adaptado de Jose Roberto Marques
10 Texto adaptado de Ana Carolina Novaes
28
O envolvimento das organizações em problemáticas de cunho socioambiental pode transformar-se em uma
oportunidade de negócios, contribuindo para a melhoria de qualidade de vida dos stakeholders e a sustentabili-
dade dos recursos naturais. Para Claro, Claro e Amâncio (2008), a preocupação de muitas organizações com o
problema da poluição, por exemplo, tem feito com que elas reavaliem o processo produtivo, buscando a obten-
ção de tecnologias limpas e o reaproveitamento dos resíduos. Isso gera grandes economias de recursos, que
não seriam viabilizadas se elas não tivessem tratado dessa situação. Os benefícios econômicos podem resultar
de economia de custos ou incremento de receitas. Os benefícios estratégicos resultam de melhoria da imagem
institucional, renovação da carteira de produtos, aumento da produtividade, alto comprometimento do pessoal,
melhoria nas relações de trabalho, melhoria da criatividade para novos desafios e melhoria das relações com
os órgãos governamentais, comunidade e grupos ambientalistas.
Com o intuito de compreender o desenvolvimento sustentável de organizações produtivas, Savitz e Weber
(2007) conceituam essa expressão como a busca de um equilíbrio entre o que é socialmente desejável, eco-
nomicamente viável e ambientalmente sustentável. A organização sustentável seria aquela que consegue, efe-
tivamente, gerar lucro para proprietários e acionistas, protege o meio ambiente e melhora a vida das pessoas
com as quais mantém interações (LÉON-SORIANO, MUNÕZ-TORRES e CHALMETA-ROSALEN, 2010). Ainda
de acordo com os autores, a sustentabilidade organizacional pode ser tomada como a capacidade de as or-
ganizações alavancarem seu capital econômico, social e ambiental a fim de contribuir para o desenvolvimento
sustentável em seu domínio político.
As ações organizacionais sustentáveis são, conforme argumentação de Munck e Souza (2009), as que
causam o menor impacto ambiental possível por meio de atividades operacionais preocupadas em simultane-
amente promover um desenvolvimento socioeconômico que propicie a sobrevivência das gerações presentes
e futuras. A implicação do fomento a esse desenvolvimento, segundo os autores, deve dar-se de maneira arti-
culada com os indivíduos inseridos em ambientes sociais e organizacionais, uma vez que é por meio deles que
são estabelecidas as decisões finais validadoras de todas essas proposições.
Assim, objetivando que uma organização se torne realmente sustentável, é necessário que haja integração
de ações com foco nos aspectos econômico, social e ambiental, os quais compõem um constructo maior, que
é a sustentabilidade organizacional. A concepção baseada nos três aspectos fundamentais do ser sustentável
assegura tanto o crescimento econômico quanto a atenção à qualidade ambiental e à justiça social (JAMALI,
2006). Aproximando, portanto, a sustentabilidade do contexto empresarial, busca-se compreender e criar meios
de promover a sustentabilidade econômica, ao mesmo tempo que há preocupação com as dimensões da efici-
ência social e da justiça ambiental. Nesse ponto, a sustentabilidade organizacional assume um caráter comple-
xo, podendo ser segmentada na sustentabilidade organizacional econômica, sustentabilidade organizacional
ambiental e sustentabilidade organizacional social (CALLADO, 2010).
A sustentabilidade econômica, conforme afirmam Lorenzetti, Cruz e Ricioli (2008), diz respeito à atuação da
empresa, influenciando as condições econômicas, o sistema econômico em seus diversos níveis, a geração de
riquezas para a sociedade e o fornecimento de bens e serviços. A viabilidade econômica é o argumento central
do desenvolvimento sustentável, uma vez que é por meio da circulação de riquezas e da geração de lucros que
são providos os empregos e proporciona-se à comunidade a possibilidade de melhoria de suas condições de
vida (AUTIO, KENNEY, MUSTAR et al., 2014). Os autores atestam que a sustentabilidade econômica de uma
organização mensura a capacidade de desenvolver suas atividades de maneira responsável, com lucratividade
suficientemente atrativa para proprietários e investidores.
A sustentabilidade ambiental refere-se ao uso racional dos recursos naturais, como energia e materiais,
bem como à preservação e à recomposição dos espaços naturais (fauna, flora e recursos hídricos) (KRAJNC
e GLAVIC, 2005). Faz-se indispensável que a organização, sob a perspectiva dos impactos de suas operações
e produtos sobre os sistemas naturais vivos e não vivos, objetive reduzir os impactos negativos e amplificar os
positivos, desenvolvendo tecnologias com o intuito de melhorar o desempenho de produção, ao mesmo tempo
que se preservam os recursos naturais. Portanto, a responsabilidade sobre o espaço natural compreende pre-
ocupações além do simples cumprimento da lei, ou iniciativas como reciclagem ou uso eficiente de recursos
energéticos, envolvendo um tratamento que, efetivamente modifique as operações organizacionais (PETRINI
e POZZEBON, 2010).
A sustentabilidade social remete ao estímulo da igualdade e à participação de todos os grupos sociais
na construção e manutenção do equilíbrio do sistema, compartilhando direitos e responsabilidades (GRE-
ENWOOD, 2007). O aspecto social, para as empresas, refere-se a seu impacto na sociedade, comunidade
29
local e entornos em que operam, sendo o desempenho social abordado por meio dessa análise, considerando
os diversos níveis de alcance como local, nacional e global. Para Krajnc e Glavic (2005), o aspecto social da
sustentabilidade, se analisado sob o prisma das empresas, refere-se às atitudes organizacionais em relação
aos próprios colaboradores, fornecedores, contratados e consumidores, além de impactos na sociedade em
geral, para além de seus domínios.
Os três aspectos da sustentabilidade organizacional (social, ambiental e econômica) devem ser trabalhados
de forma conjunta, objetivando o alcance de uma instância maior e mais complexa, que é o desenvolvimento
sustentável (CALLADO, 2010). Assim, aponta-se que, em um contexto no qual se busca o equilíbrio sistêmico
entre as dimensões da sustentabilidade, é indispensável compreender a urgência em fazer uso dos recursos
que a natureza oferece para garantir às gerações futuras uma sociedade de prosperidade e justiça, com melhor
qualidade ambiental e de vida.
Sustentabilidade e Competências
A sustentabilidade organizacional pode ser desenvolvida, também, mediante as competências individuais
sob a ótica do saber agir, assumir responsabilidades e ter iniciativa (DUTRA, 2012; FLEURY e FLEURY, 2004).
A competência voltada para a sustentabilidade deve agregar valor à organização, ao indivíduo, à sociedade e
ao meio ambiente. Entretanto, estudos sobre competências individuais ou coletivas voltadas à sustentabilidade
ainda não são muito numerosos, embora pesquisas recentes tenham tratado da temática.
A pesquisa de Wiek, Withycombe e Redman (2011), de cunho bibliográfico, resultou em uma profunda re-
visão com as sínteses das principais contribuições da literatura sobre o tema. O quadro abaixo apresenta um
resumo detalhado das competências para a sustentabilidade apontadas pelos autores, evidenciando suas prin-
cipais características e definições.11
Competências para a sustentabilidade e características
Competência para a sus-
Definição/característica
tentabilidade
Capacidade de analisar coletivamente sistemas complexos em di-
ferentes domínios (sociedade, meio ambiente, economia etc.) e em
diferentes escalas (local a global), considerando-se, assim, feedback
e outras recursos relacionados com questões de sustentabilidade e
Foco em pensamento sis- quadros de resolução de problemas sustentáveis. A capacidade de
têmico analisar sistemas complexos inclui compreender e verificar empirica-
mente, articulando sua estrutura, os principais componentes e sua di-
nâmica. A capacidade de analisar se baseia no conhecimento sistêmi-
co adquirido, incluindo conceitos como estrutura, função, relações de
causa e efeito, mas também percepções, decisões e regulamentos.
Capacidade de, coletivamente, analisar e avaliar o cenário futuro
relacionado com questões de sustentabilidade e de cenários de re-
solução de problemas de sustentabilidade. A capacidade de analisar
Preventiva cenários futuros inclui ser capaz de compreender e articular sua
estrutura; a capacidade de avaliar se refere às habilidades compara-
tivas que se relacionam com o “estado da arte”; finalmente, a capaci-
dade de criar integra habilidades criativas e construtivas.
11 Fonte: www.scielo.br – Por Edson Luis Kuzma/Sérgio Luis Dias Doliveira/Adriana Queiroz Silva
30
Capacidade de especificar, aplicar, conciliar e negociar valores de
sustentabilidade, princípios, objetivos e metas. Essa capacidade per-
mite, primeiro, avaliar coletivamente a sustentabilidade dos estados
atuais e/ou futuros de sistemas organizacionais e, em seguida, criar
coletivamente as visões de sustentabilidade para esses sistemas.
Normativa
Baseia-se no conhecimento adquirido normativo, incluindo concei-
tos de justiça, equidade, integridade socioecológica e ética. Essas
habilidades são adaptadas para abordar questões-chave da susten-
tabilidade socioecológica, incluindo integridade, sistemas lógicos e
equidade organizacional.
Capacidade de implementar intervenções, transições e estraté-
gias de governança de transformação em direção à sustentabilidade.
Essa capacidade requer uma compreensão profunda de conceitos
Estratégica estratégicos, como intencionalidade, inércia sistêmica, dependências
de caminho, barreiras, transportadoras, alianças etc.; conhecimento
sobre viabilidade, eficácia, eficiência de intervenções sistêmicas,
bem como o potencial de consequências não intencionais etc.
Capacidade de motivar, possibilitar e facilitar a colaboração e a
pesquisa sobre sustentabilidade participativa e resolução de pro-
blemas. Inclui habilidades avançadas na comunicação, tomada de
decisão e de negociação, colaboração, liderança, pluralista e pensa-
Interpessoal
mento cultural, e empatia. A capacidade de compreender, aceitar e
fomentar a diversidade entre culturas, grupos sociais, comunidades
e indivíduos é reconhecida como um componente-chave dessa com-
petência.
31
Inovação e assunção de riscos: o grau em que os funcionários são estimulados a inovar e assumir riscos.
Atenção aos detalhes: o grau em que se espera que os funcionários demonstrem precisão, análise e aten-
ção aos detalhes.
Orientação para os resultados: o grau em que os dirigentes focam mais os resultados do que as técnicas e
os processos empregados para seu alcance.
Orientação para as pessoas: o grau em que as decisões dos dirigentes levam em consideração o efeito dos
resultados sobre as pessoas dentro da organização.
Orientação para as equipes: o grau em que as atividades de trabalho são mais organizadas em termos de
equipes do que de indivíduos.
Agressividade: o grau em que as pessoas são competitivas e agressivas em vez de dóceis e acomodadas.
Estabilidade: o grau em que as atividades organizacionais enfatizam a manutenção do status quo em con-
traste com o crescimento.
Tipos de cultura
Culturas adaptativas: Caracterizam-se pela sua maleabilidade e flexibilidade e são voltadas para a inovação
e a mudança. São organizações que adotam e fazem constantes revisões e atualizações, em suas culturas
adaptativas se caracterizam pela criatividade, inovação e mudanças. De um lado, a necessidade de mudança
e a adaptação para garantir a atualização e modernização, e de outro, a necessidade de estabilidade e perma-
nência para garantir a identidade da organização. O Japão, por exemplo, é um país que convive com tradições
milenares ao mesmo tempo em que cultua e incentiva a mudança e a inovação constantes.
Culturas conservadoras: Se caracterizam pela manutenção de idéias, valores, costumes e tradições que
permanecem arraigados e que não mudam ao longo do tempo. São organizações conservadoras que se man-
têm inalteradas como se nada tivesse mudado no mundo ao seu redor.
Culturas fortes: Seus valores são compartilhados intensamente pela maioria dos funcionários e influencia
comportamentos e expectativas.
Culturas fracas: São culturas mais facilmente mudadas. Como exemplo, seria uma empresa pequena e
jovem, como está no início, é mais fácil para a administração comunicar os novos valores, isto explica a dificul-
dade que as grandes corporações tem para mudar sua cultura.
Com base nesse conjunto, pode-se dizer que a cultura organizacional onde você está inserido é represen-
tada pela forma como os colaboradores em geral percebem as características da cultura da empresa.
Por que é importante entender a cultura organizacional? Aceitar melhor a sua existência, compreender os
seus meandros, entender como ela é criada, sustentada e aprendida, pode melhorar a sua capacidade de so-
brevivência na empresa, além de ajudá-lo a explicar e prever o comportamento dos colegas no trabalho.
Clima organizacional
O clima organizacional pode ser definido como os reflexos de um conjunto de valores, comportamentos
e padrões formais e informais que existem em uma organização (cultura) e, representa a forma como cada
colaborador percebe a empresa e sua cultura, e como ele reage a isso. Resumindo, clima organizacional é a
percepção coletiva que as pessoas têm da empresa.
Essa percepção pode ser boa ou ruim de acordo com a interpretação pessoal que cada colaborador faz das
políticas, normas e conduta da empresa frente às diversas questões, tanto referentes ao mercado em que ela
atua, como com relação às pessoas e a sociedade.
O clima organizacional influi diretamente na motivação da equipe, no seu grau de satisfação e, consequen-
temente, na qualidade de seu trabalho. Por isso, é tão importante para as empresas mensurar essa percepção
que os colaboradores têm dela, ou seja, o clima organizacional.
Através de uma pesquisa de clima organizacional busca-se obter repostas que auxiliem as empresas a
identificar possíveis falhas ou oportunidades de melhoria.
32
Esse tipo de pesquisa tem se tornado mais comum, devido aos cada vez mais utilizados processos de
automação, que reduzem o quadro de funcionários, ao chamado “downsizing”, às fusões e privatizações que
misturam culturas organizacionais completamente diferentes gerando, todos eles, muitas vezes, instabilidade
e insegurança aos funcionários o que prejudica seu desempenho e, consequentemente o desempenho da or-
ganização como um todo.
O clima organizacional então age como um indicador de como as mudanças estão afetando a organização.
Outro ponto que favorece a realização da pesquisa de clima organizacional é a questão da imagem da em-
presa. Os colaboradores são os primeiros clientes que a empresa precisa conquistar para que, depois possa
conquistar o mercado. De nada adianta, por exemplo, uma empresa fazer uma campanha publicitária milionária
a respeito da sua responsabilidade social ou ambiental para os clientes externos, se seus clientes internos não
estão satisfeitos com as condições de trabalho ou não sabem de nada que empresa realiza a respeito destas
questões.
O clima organizacional pode ser medido, também, através da percepção e alguns “sintomas”: quando o
clima é bom, existe alegria no ambiente de trabalho, aplicação e surgimento de ideias novas, os funcionários
se sentem confiáveis, engajados, e predominam atitudes positivas; já quando o clima é ruim, existe tensão,
rivalidades, desinteresse, erros constantes, desobediência às ordens, falta de comunicação, alto índice de ab-
senteísmo, greves, desperdício de materiais e turnover alto (rotatividade de funcionários).12
Atualmente torna-se cada vez mais necessário à área de Recursos Humanos mensurar suas ações através
de procedimentos que possam respaldar ao máximo sua atuação nas organizações.
O objetivo é transformar a área num RH estratégico cuja atuação está alinhada aos planos de negócios.
Mas como fazer? Como criar um RH que funcione como agente de mudanças e que vai além do simples ge-
renciamento do capital humano, apoiando iniciativas e planos de ação que contribuem para a execução das
estratégias do negócio.
Contamos com algumas ferramentas que podem nos ajudar neste objetivo, mas é sobre o Clima Organiza-
cional que vou dar alguns “insight” de como podemos realizar este trabalho.
Mas afinal o que é Clima? Clima é a percepção coletiva que as pessoas têm da empresa, através da expe-
rimentação de práticas, políticas, estrutura, processos e sistemas e a consequente reação a esta percepção.
E o que é uma Pesquisa de Clima Organizacional? É um instrumento voltado para análise do ambiente
interno a partir do levantamento de suas necessidades. Objetiva mapear ou retratar os aspectos críticos que
configuram o momento motivacional dos funcionários da empresa através da apuração de seus pontos fortes,
deficiências, expectativas e aspirações.
Mas por que pesquisar? Porque cria uma base de informações, identifica e compreende os aspectos posi-
tivos e negativos que impactam no Clima e orienta a definição de planos de ação para melhoria do clima orga-
nizacional e, consequentemente, da produtividade da empresa.
Esta atitude da empresa eleva bastante o índice de motivação, pois dentro desta ação está intrínseco a
frase «estamos querendo ouvir você», «você e sua opinião são muito importantes para nós». A crença na em-
presa se eleva sensivelmente.
A Pesquisa de Clima é uma forma de mapear o ambiente interno da empresa para assim atacar efetivamen-
te os principais focos de problemas melhorando o ambiente de trabalho.
Hoje, neste mundo tão cheio de transformações, em meio à globalização, fusões e aquisições, as empresas
devem, cada vez mais, melhorar seus índices de competitividade e para isso ela depende quase que única e
exclusivamente de seus Seres Humanos - motivados, felizes e orgulhosos dos valores compartilhados com a
organização.
Pesquisas indicam que colaboradores com baixos índices de motivação, utilizam somente 8% de sua capa-
cidade de produção. Por outro lado, em setores/áreas/empresas onde encontramos colaboradores motivados
este mesmo índice pode chegar a 60%.
As empresas precisam manter o índice de motivação de seus colaboradores o mais elevado nível possível
de forma que este valor passe a ser um dos seus indicadores de resultado.
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É importante dizer que a Pesquisa de Clima deve sempre estar coerente com o planejamento estratégico da
organização e deve contemplar questões de diferentes variáveis organizacionais, tais como:
- O trabalho em si – com base nesta variável procura-se conhecer a percepção e atitude das pessoas em
relação ao trabalho, horário, distribuição, suficiência de pessoal, etc;
- Integração Setorial e Interpessoal – avalia o grau de cooperação e relacionamento existente entre os fun-
cionários e os diversos departamentos da empresa;
- Salário – analisa a existência de eventuais distorções entre os salários internos e eventuais descontenta-
mentos em relação aos salários pagos por ouras empresas;
- Estilo Gerencial – aponta o grau de satisfação do funcionário com a sua chefia, analisando a Qualidade de
supervisão em termos de competência, feedback, organização, relacionamento, etc;
- Comunicação – buscar o conhecimento que os funcionários têm sobre os fatos relevantes da empresa,
seus canais de comunicação, etc;
- Desenvolvimento Profissional – avalia as oportunidades de treinamento e as possibilidades de promoções
e carreira que a empresa oferece;
- Imagem da empresa – procura conhecer o sentimento das pessoas em relação a empresa;
- Processo decisório – esta variável revela uma faceta da supervisão, relativa à centralização ou descentra-
lização de suas decisões;
- Benefícios – apura o grau de satisfação com relação aos diferentes benefícios oferecidos pela empresa;
- Condições físicas do trabalho – verifica a Qualidade das condições físicas de trabalho, as condições de
conforto, instalações em geral, riscos de acidentes de trabalho e doenças profissionais;
- Trabalho em equipe – Mede algumas formas de participação na Gestão da empresa;
- Orientação para resultados – Verifica até que ponto a empresa estimula ou exige que seus funcionários se
responsabilizem efetivamente pela consecução de resultados.
Além de ouvir seus funcionários sobre o que pensam em relação a essas variáveis, as empresas deveriam
também conhecer a realidade familiar, social e econômica em que os mesmos vivem. Somente assim poderão
encontrar outros fatores do clima organizacional que justificam o ambiente da empresa.
Não existe uma Pesquisa de Clima padrão. Cada empresa adapta o questionário a sua realidade, linguagem
e cultura de seus funcionários.
Para que a empresa tenha sucesso na mensuração do clima organizacional é necessário: credibilidade no
processo, sigilo e confiança.
As principais contribuições que podemos obter da Pesquisa de Clima são:
- O alinhamento da cultura com as ações efetivas da empresa;
- Promover o crescimento e desenvolvimento dos colaboradores;
- Integrar os diversos processos e áreas funcionais;
- Otimizar a comunicação;
- Minimizar a burocracia;
- Identificar necessidades de treinamento e desenvolvimento;
- Enfocar o cliente interno e externo;
- Otimizar as ações gerenciais, tornando-as mais consistentes;
- Aumentar a produtividade;
- Diminuir o índice de rotatividade;
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- Criar um ambiente de trabalho seguro;
- Aumentar a satisfação dos clientes internos e externos.13
Em reuniões sociais, sejam elas formais ou informais, as informações são trocadas através da comunica-
ção oral, a mais importante para a transmissão das ideias. Existe a oportunidade de aprofundar os detalhes de
maior interesse relacionados à informação oferecida, bem como a possibilidade de se obter a repetição ou o
detalhamento de uma informação não completamente entendida. Podem também ser apresentadas observa-
ções ou pontos de vista capazes de enriquecer a informação inicial, tornando-a mais clara, concisa e completa.
O desembaraço na conversa informal do dia a dia, pouco tem a ver com o desempenho na comunicação
verbal, como forma de intercambiar informações. É difícil para a maioria dos profissionais de qualquer área,
utilizar adequadamente essa potente modalidade de comunicação. Isto é consequência do simples fato de que
a formação e o treinamento das pessoas são incompletos. Nós não somos ensinados a organizar e registrar o
nosso trabalho diário, analisá-lo criticamente, tirar conclusões e discuti-las de forma ordenada.
De um modo geral, as pessoas evitam falar em público, por uma série de razões, como vergonha, medo de
enfrentar a audiência, medo de não saber responder a alguma pergunta, receio de parecer ridículo ou de dizer
besteiras, etc.
Essas razões, contudo, não tem o menor fundamento, elas apenas servem para esconder a única e real
razão que é a falta de treino ou de familiaridade com a comunicação oral. É perfeitamente normal que algumas
pessoas pareçam mais naturais ou à vontade do que outras, ao falar em grupo. A diferença, nisso reside apenas
no quanto uns conseguem desligar dos falsos e infundados receios e concentrar-se na comunicação.
Vantagens da comunicação oral:
- Permite o feedback imediato;
- Permite observar as reações do receptor;
- Grande rapidez de transmissão;
- Facilita as retificações e explicações adicionais;
- Permite a utilização de comunicação não verbal;
- Permite a passagem imediata do receptor ao emissor e vice-versa;
- Presença do receptor (exclui-se a televisão, a rádio, ou gravações);
- É necessário conhecimento do tema, clareza, voz agradável, naturalidade, boa dicção, linguagem adapta-
da, segurança autodomínio, e ainda disponibilidade para ouvir.
Desvantagens da comunicação oral:
- É efêmera14.
- Não permite qualquer registro e, consequentemente, não se adequa a mensagens longas e que exijam
análise cuidada por parte do receptor.
Concordância e Discordância entre a Comunicação Verbal e a Comunicação Não Verbal
O código verbal possui o objetivo de transmitir um conteúdo de valor informativo, já o código não verbal é
quase sempre utilizado para manter a relação interpessoal.
Se houver concordância entre elas, o impacto da mensagem é mais forte e a recepção é melhor.
13 Fonte: www.guiarh.com.br/ Texto adaptado de Washington Sorio
14 [ Efêmera é uma matéria impressa ou escrita, que não é feita com a intencionalidade de ser guardada ou
preservada por longo período. A palavra deriva do grego, significando coisas que não duram mais do que um
dia.]
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Se houver discordância entre elas, ocorre uma desorientação do receptor, o sentido da mensagem é altera-
do e o conteúdo se torna preponderante.
Exemplo: uma pessoa ao dar um abraço numa criança demonstrando afeto por ela ao mesmo tempo que a
chama de querida e meiga, fortalece a mensagem. O mesmo não ocorre se, ao dar o abraço, a pessoa chama
a criança de chata. Para a criança, o abraço será mais significativo e ela fará uma distorção da palavra chata.
Apresentação Pessoal
-Em determinadas organizações o uso do crachá é obrigatório, e deve ficar sempre visível. É proibido usar
em bolsos de blusa ou camisa;
-A roupa de trabalho transmite conceitos e códigos de valores da organização;
-A escolha da roupa é diferente para o final de semana ou lazer, situações em que a moda pode ser uma
opção;
-A escolha da roupa deve ser por se sentir confortável, e estar com a roupa adequada à ocasião.
-Opte por roupas que priorizem versatilidade, e não só a beleza;
Liberdade significa responsabilidade mesmo na forma de vestir. Use sempre o bom senso;
-Caso o trabalho lide com o público, a imagem deve comunicar eficiência e gentileza;
-A maneira como uma pessoa se veste pode ser uma pista para saber se ela respeita o ambiente, é deslei-
xada, tem disciplina, é social ou introvertida, dinâmica, moderna ou clássica;
-Profissionalmente, sempre é melhor chamar a atenção pela elegância porque a ousadia ou irreverência,
são incompatíveis com o ambiente de trabalho;
-Escolha peças práticas, econômicas e versáteis, que não interfiram no estilo individual e tipo de trabalho;
-Adote tendências com critério, sem carregar na sobriedade e nem escorregar nos exageros.
O papel do servidor
Nos últimos anos, o funcionalismo público vem ganhando uma maior visibilidade através de lutas para a
melhoria salarial, tornando-se parte fundamental para o funcionamento de um país. Mesmo com cargos que
não são muito privilegiados na questão remuneração, a sociedade ainda rotula o servidor como o vilão do de-
senvolvimento.
Sabemos que há pessoas que pouco contribuem para o bem comum, mas existem muitas exceções, e a
despeito do descaso reinante, há funcionários que honram seu ofício, aplicando-se com todo seu empenho em
seus deveres diários.
O papel do servidor, diante dos cofres do estado, sempre será de espelho de confiança para os contribuintes.
Como o Código de Ética do Servidor preceitua: “não basta distinguir entre o bem e o mal, mas acrescer a isto
a ideia de que o fim é sempre o bem comum”.
Todos os seus atos deverão ser pautados na moralidade administrativa, integrada no Direito, uma vez que
se identifica com seu patronato na sociedade, incluindo a si próprio como contribuinte, ajudando a custear com
pagamento de seus tributos a sua remuneração mensal.
Se a função pública é tida como exercício profissional, está ela vinculada à sua vida particular. Fatos e atos
de sua vida poderão acrescer ou diminuir seu bom conceito.
Reconhecemos que há dificuldades para servir bem à população: baixa remuneração, condições de traba-
lho em níveis críticos, valorização de natureza política e não profissional, absoluta falta de motivação. Porém,
mais do que nunca o funcionário público deve mostrar zelo e empenho no exercício de suas atividades. Quanto
mais serviços prestar à sua comunidade, mais essa o valorizará. Ceder às pressões com desânimo só poderá
apressar sua desvalorização e fundamentar a teoria de seu descarte.
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O Código de Ética do Servidor Público, através do Decreto nº. 1.171 de 22 de junho de 1994, é considerado
um dos mais rigorosos no estabelecimento dos limites comportamentais. Vamos destacar abaixo alguns incisos
deste decreto:
Inciso III – A moralidade da Administração Pública não se limita à distinção entre o bem e o mal, devendo
ser acrescida da ideia de que o fim é sempre o bem comum. O equilíbrio entre a legalidade e a finalidade, na
conduta do servidor público, é que poderá consolidar a moralidade do ato administrativo.
Inciso VIII – Toda pessoa tem direito à verdade. O servidor não pode omiti-la ou falseá-la, ainda que contrária
aos interesses da própria pessoa interessada ou da Administração Pública. Nenhum Estado pode crescer ou
estabilizar-se sobre o poder corruptivo do hábito do erro, da opressão ou da mentira, que sempre aniquilam até
mesmo a dignidade humana quanto mais a de uma Nação.
Inciso X – Deixar o servidor público qualquer pessoa à espera de solução que compete ao setor em que
exerça suas funções, permitindo a formação de longas filas ou qualquer outra espécie de atraso na prestação
do serviço, não caracteriza apenas atitude contra a ética ou ato de desumanidade, mas principalmente grave
dano moral aos usuários dos serviços públicos.
Inciso XI – O servidor deve prestar toda a sua atenção às ordens legais de seus superiores, velando atenta-
mente por seu cumprimento e, assim, evitando a conduta negligente. Os repetidos erros, o descaso e o acúmu-
lo de desvios tornam-se, às vezes, difíceis de corrigir e caracterizam até mesmo imprudência no desempenho
da função pública.
Inciso XII – Toda ausência injustificada do servidor de seu local de trabalho é fator de desmoralização do
serviço público, o que quase sempre conduz à desordem nas relações humanas.
É importante que todo servidor público esteja ciente do conteúdo do Código de Ética, contribuindo assim
para o melhor desempenho de suas funções.
A importância do servidor público
Quando um servidor público menciona a sua função, logo desperta uma série de reações diversas nas pes-
soas.
Enquanto algumas ficam admiradas, pois para ser um servidor público a pessoa precisou submeter-se a
prévio e concorrido concurso; outras enxergam o servidor com certa desconsideração, acreditando que este
trabalha menos e recebe mais, tornando-se, assim, oneroso aos cofres públicos.
O servidor público, qualquer que seja sua formação ou função desempenhada, é um importante agente na
construção social. Ao contrário das pessoas que desempenham cargos políticos, cargos de confiança ou que
são servidores temporários, o servidor público permanece desempenhando sua função, anos e anos a fundo,
tornando-se profundo conhecedor da gerência de prestação de serviços ao cidadão.
Na Roma Antiga, os senadores, ocupando o mais nobre cargo do funcionalismo público, eram consultores do
imperador e governantes das principais províncias. Quer pelo reconhecimento social conquistado, quer pelos
inerentes privilégios decorrentes do cargo, instigavam certa avidez dos não eleitos.
No Brasil, o funcionalismo público fez-se presente desde a chegada da frota de navios portugueses coman-
dada por Pedro Álvares Cabral, em 22 de abril de 1500. O receio de invasões estrangeiras e a necessidade de
desenvolver a economia luso-americana tornaram urgente a ampliação da máquina burocrática metropolitana
atuante na colônia, a partir de 1530.
Em 1808, ao lado de D. João VI, quase 15 mil portugueses, dentre membros da realeza, funcionários, cria-
dos, assessores e pessoas ligadas à corte, se instalaram na cidade do RJ. A partir deste momento, diante da
necessidade de reger-se a colônia conforme a diplomacia real, tomou-se maior consciência da importância do
trabalho administrativo.
Proclamou-se a independência, aboliu-se a escravatura, o Brasil virou República e, durante toda a história
política, lá estavam presentes os funcionários públicos, impulsionando o desenvolvimento do País.
Um dos primeiros documentos consolidando as normas relativas ao funcionalismo público foi o decreto
1.713, de 28/10/39. Razão pela qual, no ano de 1943, o então Presidente da República Getúlio Vargas institui
o dia 28 de outubro como o Dia do Funcionário Público.
37
Hodiernamente, os direitos e deveres dos servidores públicos estão definidos e estabelecidos na Constitui-
ção Federal, a partir de seu artigo 39.
A Constituição do Estado de SP dispõe acerca do tema nos artigos 124 e seguintes, assim como o próprio
Estatuto dos Funcionários Públicos (Lei Estadual 10.261/68).
Obviamente, o papel do servidor público não é apenas o de ser estável. É muito mais do que isso, pois a sua
atuação está necessariamente voltada para os anseios da sociedade.
A estabilidade dos servidores somente se justifica se ela assegura, de um lado, a continuidade e a eficiência
da Administração e, de outro, a legalidade e impessoalidade da gestão da coisa pública.
Com efeito, a responsabilidade do servidor público é muito maior do que se imagina, tornando-se um privilé-
gio por tratar-se de agente transformador do Estado.
Ao longo destes meus quase cinquenta anos de advocacia pública, tive a oportunidade de conhecer e con-
viver, dia após dia, com muitos servidores públicos. Sua grande e avassaladora maioria exerce com zelo as
atribuições do cargo, observando todas as normas legais e regulamentares.
Costumo dizer que, com a Constituição Federal de 1988, nasceu a figura de um novo servidor público que,
mais liberto de estereótipos do passado, possui plena consciência da dimensão de sua tarefa.
A prestação do serviço público é das mais importantes atividades de um corpo social. Nenhum País, Estado
ou Município funciona sem seu quadro de servidores públicos, responsáveis pelos diversos serviços fornecidos
ao cidadão.
Constituição do Estado de Mato Grosso - Título II: dos direitos, garantias e deveres
individuais e coletivos
38
VI - são assegurados a todos, independentemente do pagamento de taxas, emolumentos ou da garantia de
instância, os seguintes direitos:
a) de petição e representação aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou para coibir ilegalidade ou
abuso de poder;
b) de obtenção de certidões em repartições públicas para a defesa de direitos e esclarecimento de situação
de interesse pessoal e coletivo;
VII - são gratuitos para os reconhecidamente pobres:
a) o registro civil em todas as suas modalidades e as respectivas certidões;
b) a expedição da cédula de identidade individual;
VIII - a garantia do direito de propriedade e o seu acesso;
IX - prioridade no estabelecimento de meios para o financiamento e o desenvolvimento da pequena proprie-
dade rural trabalhada pela família;
X - os procedimentos e processos administrativos obedecerão, em todos os níveis dos Poderes do Estado
e dos Municípios, à igualdade entre os administrados e ao devido processo legal, especialmente quanto à exi-
gência de publicidade, do contraditório, da ampla defesa e da decisão motivada;
XI - todos têm direito a tomar conhecimento, gratuitamente, do que constar a seu respeito nos registros em
bancos de dados e cadastros estaduais e municipais, públicos e privados, bem como do fim a que se destinam
essas informações, podendo exigir, a qualquer momento, a retificação ou a atualização das mesmas;
XII - as informações pessoais constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais
ou de caráter público só serão utilizadas para os fins exclusivos de sua solicitação ou cessão, vedando-se a
interconexão de arquivos;
XIII - são vedados o registro ou a exigência de informações, para inserção em bancos de dados estadu-
ais ou municipais, públicos ou privados, referentes a convicções políticas, filosóficas ou religiosas, à filiação
partidária ou sindical e outras concernentes à vida privada e à intimidade pessoal, salvo quando se tratar de
processamento estatístico e não individualizado;
XIV - a garantia do exercício do direito de reunião e de outras liberdades constitucionais, só podendo o apa-
relho repressivo do Estado intervir para assegurá-lo, bem como defender a segurança pessoal e do patrimônio
público, preferencialmente, e privado, cabendo responsabilidade pelos excessos;
XV - qualquer violação à intimidade, à honra, à imagem das pessoas, bem como às garantias e direitos esta-
belecidos no art. 5º, incisos LVIII, LXI, LXII, LXIII, LXIV, LXV, LXVI e LXVII, da Constituição Federal, por parte do
aparelho repressivo do Estado, sujeitará o agente à responsabilidade, independentemente da ação regressiva
por danos materiais ou morais, quando cabível;
XVI - o Estado promoverão política habitacional que assegure moradia adequada e digna, à intimidade pes-
soal e familiar, em pagamentos compatíveis com o rendimento familiar, priorizando, nos projetos, as categorias
de renda mais baixa, estando os reajustes das prestações vinculados, exclusivamente, aos índices utilizados
para reajustamento dos salários dos compradores; (A expressão “e dos Municípios” foi declarada inconstitu-
cional, em controle concentrado, pelo Supremo Tribunal Federal, pela ADI nº 282-1, julgada em 05.11.2019,
publicada no DJE em 28.11.2019)
XVII - é direito subjetivo público daqueles que comprovarem insuficiência de recursos, a assistência jurídica
integral e gratuita pela Defensoria Pública;
XVIII - é assegurada a indenização integral ao condenado por erro judiciário e àquele que ficar preso além
do tempo fixado na sentença;
XIX - ao jurisdicionado é assegurada a preferência no julgamento de ação de inconstitucionalidade, do “ha-
beas-corpus”, do mandado de segurança individual ou coletivo, do “habeas-data”, do mandado de injunção, da
ação popular e da ação indenizatória por erro judiciário;
XX - o “habeas-data” poderá ser impetrado em face de registro em banco de dados ou cadastro de entida-
des particulares e públicas com atuação junto à coletividade e ao público consumidor;
39
XXI - preferência de julgamento da ação indenizatória, dos procedimentos e das ações previstos no inciso
anterior;
XXII - a gratuidade das ações de “habeas-corpus”, “habeas-data”, mandado de segurança e ação popular,
além dos atos necessários ao exercício da cidadania, na forma da lei.
Parágrafo único As omissões dos Poderes do Estado que inviabilizem ou obstaculizem o pleno exercício
dos direitos constitucionais serão sanadas, na esfera administrativa, sob pena de responsabilidade do agente
competente, no prazo de trinta dias após o requerimento do interessado, sem prejuízo da utilização do manda-
do de injunção, da ação de inconstitucionalidade e demais medidas judiciais. Nos casos deste parágrafo único:
I - será destituído do mandato administrativo ou do cargo ou função de direção na Administração Direta ou
Indireta, se o agente integrar o Poder Executivo;
II - haverá previsão de medida semelhante na Lei de Organização Judiciária e no Regimento Interno da
Assembleia Legislativa, referentes aos agentes dos Poderes Judiciário e Legislativo, respectivamente
CAPÍTULO II
DOS DIREITOS E DEVERES SOCIAIS
Art. 11 O Estado e os Municípios garantirão e assegurarão o pleno exercício dos direitos sociais consagra-
dos na Constituição Federal, sendo os abusos cometidos responsabilizados na forma da lei. (A expressão “e
dos Municípios” foi declarada inconstitucional, em controle concentrado, pelo Supremo Tribunal Federal, pela
ADI nº 282-1, julgada em 05.11.2019, publicada no DJE em 28.11.2019)
Art. 11 O Estado e os Municípios garantirão e assegurarão o pleno exercício dos direitos sociais consagra-
dos na Constituição Federal, sendo os abusos cometidos responsabilizados na forma da lei. (Redação original)
Art. 12 A liberdade de associação profissional ou sindical e o direito de greve são assegurados aos agentes
estaduais e municipais nos termos estabelecidos na Constituição Federal.
Parágrafo único A inviolabilidade do domicílio é extensiva às sedes das entidades associativas, obedecidas
as exceções previstas em lei.
Art. 13 É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com prioridade, o direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à convivência familiar e comunitária, bem
como colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência e maus tratos.
Art. 14 Os meios de comunicação comungam com o Estado de Mato Grosso no dever de prestar e socializar
a informação.
Art. 15 O Estado garante a participação dos servidores públicos estaduais e municipais nos organismos
públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação, na
forma da lei.
Parágrafo único Os representantes, a que se referem este artigo, serão eleitos pelas respectivas categorias.
Art. 16 Todos têm direito a receber informações objetivas de interesse particular, coletivo ou geral, acerca
dos atos e projetos do Estado e dos Municípios, antes de sua aprovação ou na fase de sua implementação.
§1º As informações requeridas serão, obrigatoriamente, prestadas no prazo da lei, sob pena de crime de
responsabilidade.
§2º Os documentos que relatam as ações do Poder Público do Estado e dos Municípios serão vazados em
linguagem simples e acessível à população.
§3º Haverá, em todos os níveis dos Poderes Públicos, a sistematização dos documentos e dados, de modo
a facilitar o acesso aos processos de decisão.
40
Estatuto dos Servidores Públicos da Administração Direta, das Autarquias e das Fun-
dações Públicas Estaduais (Lei Complementar nº 04, de 15 de outubro de 1990)
41
II - o gozo dos direitos políticos;
III - a quitação com as obrigações militares e eleitorais;
IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício do cargo;
V - a idade mínima prevista em lei;
VI - a boa saúde física e mental.
§1º As atribuições do cargo podem justificar a exigência de outros requisitos estabelecidos em lei.
§2° Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direito de se inscrever em concurso público para
provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são portadoras; para as
quais deverá ser reservado um mínimo de 5% (cinco por cento) das vagas oferecidas no concurso, observan-
do-se o disposto na Lei Estadual n° 4.902, de 09.10.85.
Art. 9º O provimento dos cargos públicos far-se-á mediante ato da autoridade competente de cada Poder,
do dirigente superior da autarquia ou da fundação pública.
Art 10 A investidura em cargo público ocorrerá com a posse.
Art. 11 São forma de provimento de cargo público:
I - nomeação;
II - ascensão;
III - transferência;
IV - readaptação;
V - reversão;
VI - aproveitamento;
VII - reintegração;
VIII - recondução.
SEÇÃO II
DA NOMEAÇÃO
Art. 12. A nomeação far-se-á :
I - em caráter efetivo, quando se tratar de cargo de carreiras;
II - em comissão, para os cargos de confiança, de livre exoneração, respeitando o que dispõe o Artigo 7º
da Lei, nº 5.601, de 09.05.90.
Parágrafo único A designação por acesso, para a função de direção, chefia, assessoramento e assistência,
recairá, exclusivamente, em servidor de carreira, satisfeitos os requisitos de que trata o Artigo 13, Parágrafo
Único.
Art. 13 A nomeação para cargo de carreira depende de prévia habilitação em concurso público de provas ou
de provas e títulos, obedecida a ordem de classificação e o prazo de sua validade.
Parágrafo único Os demais requisitos para o ingresso e o desenvolvimento do servidor na carreira, mediante
progressão, promoção, ascensão e acesso serão estabelecidos pela lei que fixar as diretrizes do sistema de
carreira na administração pública estadual e seus regulamentos.
SEÇÃO III
DO CONCURSO PÚBLICO
Art. 14. O concurso será de caráter eliminatório e classificatório, compreendendo, provas ou provas e títulos.
§1º A publicação do resultado do concurso deverá ser efetivado no prazo máximo de 30 (trinta) dias após a
realização do mesmo. (Renumerado de p. único para §1º pela LC 298/08)
42
§2º O concurso público e as vagas estabelecidas no edital poderão ser dispostas por região ou municípios
pólos, a critério da Administração Pública. (Acrescentado pela LC 298/08)
§3º A Administração Pública, observando-se estritamente a ordem classificatória e a pontuação obtida no
certame, quando não forem preenchidas todas as vagas existentes em determinada região ou município pólo
poderá aproveitar os candidatos classificados e excedentes dos demais pólos. (Acrescentado pela LC 298/08)
§4º O aproveitamento dos candidatos classificados e excedentes de que trata o §3° se dará por convocação
publicada em Diário Oficial. (Acrescentado pela LC 298/08)
§5º O candidato que opta por assumir vagas em outros municípios ou região pólo que eventualmente tiver
vagas não preenchidas, automaticamente, será considerado desistente de assumir na região ou município pólo
opção para qual se inscreveu para o concurso. (Acrescentado pela LC 298/08)
Art. 15. O concurso público terá validade de até 02 (dois) anos, podendo ser prorrogada uma única vez, por
igual período.
§1º O prazo de validade do concurso e as condições de sua realização serão fixados em edital que será
publicado no Diário Oficial do Estado. (Nova redação dada pela LC 260/06)
§2º Não se abrirá novo concurso enquanto houver candidato aprovado em concurso anterior com prazo de
validade ainda não expirado.
§3º Os princípios da ética e da filosofia serão matérias obrigatórias nos concursos públicos. (Acrescentado
pela LC 400/10)
SEÇÃO IV
DA POSSE E DO EXERCÍCIO
Art. 16. Posse é a investidura no cargo público mediante a aceitação expressa das atribuições, deveres e
responsabilidades inerentes ao cargo público com o compromisso de bem servir, formalizada com a assinatura
do termo pela autoridade competente e pelo empossado.
§1º A posse ocorrerá no prazo improrrogável de 30 (trinta) dias contados da publicação do ato de provimen-
to. (Nova redação dada pela LC 289/07)
§2º Em se tratando de servidor em licença, ou afastamento por qualquer outro motivo legal, o prazo será
contado do término do impedimento.
§3º A posse poderá dar-se mediante procuração especifica.
§4° Só haverá posse nos casos de provimento de cargo por nomeação, acesso e ascensão.
§5º No ato da posse, o servidor apresentará, obrigatoriamente, declaração dos bens e valores que consti-
tuem seu patrimônIo e declaração quanto ao exercício ou não de outro cargo, emprego ou função pública.
§6º Será tornado sem efeito o ato de provimento se a posse não ocorrer no prazo previsto no parágrafo 1º.
§7° O ato de provimento ocorrerá no prazo máximo de 30 (trinta) dias após a publicação do resultado do
concurso para as vagas imediatamente disponíveis conforme o estabelecido no edital de concurso.
Art. 17. A posse em cargo público dependerá de comprovada aptidão física e mental para o exercício do
cago, mediante inspeção médica oficial.
Parágrafo único. Será empossado em cargo público aquele que for julgado apto física e mentalmente pela
assistência médica pública do Estado, excetuando-se os casos previstos no parágrafo 2º do Artigo 8º desta Lei
Complementar.
Art. 18. Exercício é o efetivo desempenho das atribuições do cargo.
§1º É de 15 (quinze) dias o prazo para o servidor empossado em cargo público de provimento efetivo entrar
em exercício, contados da data da posse. (Nova redação dada pela LC 289/07)
§2º Será exonerado o servidor empossado que não entrar em exercício no prazo previsto no parágrafo
anterior.
43
§3º A autoridade competente do órgão ou entidade para onde for designado o servidor compete dar-lhe
exercício.
Art. 19. O início, a suspensão, a interrupção a o reinício do exercício serão registrados no assentamento
individual do servidor.
Parágrafo único Ao entrar em exercício, o servidor apresentará ao órgão competente, os elementos neces-
sários ao assentamento individual.
Art. 20. A promoção ou a ascensão não interrompem o tempo de exercício, que é contado no novo posicio-
namento na carreira a partir da data da publicação do ato que promover ou ascender o servidor.
Art. 21. O servidor transferido, removido, redistribuído, requisitado ou cedido, quando licenciado, que deva
prestar serviços em outra localidade, terá 30 (trinta) dias de prazo para entrar em exercício, incluído nesse tem-
po o necessário ao deslocamento para a nova sede.
Parágrafo único. Na hipótese do servidor encontrar-se afastado legalmente, o prazo a que se refere este
artigo será contado a partir do término do afastamento.
Art. 22. O ocupante de cargo de provimento efetivo, integrante do sistema de carreira, fica sujeito a 30 (trin-
ta) horas semanais de trabalho.
Art. 23 Ao entrar em exercício, o servidor nomeado para o cargo de provimento efetivo ficará sujeito a está-
gio probatório por período de 24 (vinte e quatro) meses, durante o qual sua aptidão e capacidade serão objeto
de avaliação para o desempenho do cargo, observados os seguintes fatores:
I - assiduidade;
II - disciplina;
III - capacidade de iniciativa;
IV - produtividade;
V - responsabilidade;
VI - idoneidade moral.
§1° 04 (quatro) meses antes de findo o período do estágio probatório, será, obrigatoriamente, submetida à
homologação da autoridade competente a avaliação do desempenho do servidor, realizada de acordo com o
que dispuser a lei e o regulamento do plano de carreira, sem prejuízo da continuidade de apuração dos fatores
enumerados nos incisos I a VI.
§2° Se, no curso do estágio probatório, for apurada, em processo regular, a inaptidão para exercício do
cargo, será exonerado.
§3° No curso do processo a que se refere o parágrafo anterior, e desde a sua instauração, será assegurado
ao servidor ampla defesa que poderá ser exercitada pessoalmente ou por intermédio de procurador habilitado,
conferindo-se-lhe, ainda, o prazo de 10 (dez) dias, para juntada de documentos e apresentação de defesa es-
crita.
§4° Para a avaliação prevista neste artigo, deverá ser constituída uma comissão paritária no órgão ou enti-
dade composta por 06 (seis) membros.
§5° Não constituem provas suficientes e eficazes as certidões ou portarias desacompanhadas dos docu-
mentos de atos administrativos para avaliar negativamente a aptidão e capacidade do servidor no desempenho
do cargo, sobretudo nos fatores a que refere os incisos I, II, III, IV, V e VI deste artigo.
SEÇÃO V
DA ESTABILIDADE
Art. 24 O servidor habilitado em concurso público e empossado em cargo de carreira adquirirá estabilidade
no serviço público ao completar 02 (dois) anos de efetivo exercício.
Art. 25 O servidor estável só perderá o cargo em virtude de sentença judicial transitada em julgado ou de
processo administrativo disciplinar no qual lhe seja assegurada ampla defesa.
44
SEÇÃO VI
DA TRANSFERÊNCIA
Art. 26 Transferência é a passagem do servidor estável de cargo efetivo de carreira para outro de igual de-
nominação, classe e remuneração, pertencente a quadro de pessoal diverso e na mesma localidade.
Art. 27 Será admitida a transferência de servidor ocupante de cargo de quadro em extinção para igual situ-
ação em quadro de outro órgão ou entidade.
Parágrafo único A transferência far-se-á a pedido do servidor, atendendo a conveniência do serviço público.
Art. 28 São requisitos essenciais da transferência:
I - interesse comprovado do serviço;
II - existência de vaga;
III - contar, o servidor, com 02 (dois) anos de efetivo exercício no cargo.
Parágrafo único Nos casos de transferência não se aplicam os incisos deste artigo para cônjuge ou compa-
nheiro (a).
Art. 29 As transferências não poderão exceder de 1/3 (um terço) das vagas de cada classe.
SEÇÃO VII
DA READAPTAÇÃO
Art. 30 Readaptação é a investidura do servidor em cargo de atribuições e responsabilidades compatíveis
com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou mental verificada em inspeção médica.
§1° Se julgado incapaz para o serviço público, o readaptando será aposentado, nos termos da lei vigente.
§2° A readaptação será efetivada em cargo de carreira de atribuições afins, respeitada a habilitação exigida.
§3° Em qualquer hipótese, a readaptação não poderá acarretar aumento ou redução de remuneração do
servidor.
SEÇÃO VIII
DA REVERSÃO
Art. 31 Reversão é o retorno à atividade de servidor aposentado por invalidez. quando, por junta médica
oficial, forem declarados insubsistentes os motivos determinantes da aposentadoria.
Art. 32 A reversão far-se-á no mesmo cargo ou no cargo resultante de sua transformação, com remuneração
integral.
Parágrafo único Encontrando-se provido este cargo, o servidor exercerá suas atribuições como excedente,
até a ocorrência de vaga.
Art. 33 Não poderá reverter o aposentado que já tiver completado 70 (setenta) anos de idade.
Art. 34 A reversão far-se-á a pedido.
SEÇÃO IX
DA REINTEGRAÇÃO
Art. 35 Reintegração é a investidura do servidor estável no cargo anteriormente ocupado ou no cargo re-
sultante de sua transformação, quando invalidada a sua demissão por ocasião administrativa ou judicial, com
ressarcimento de todas as vantagens.
§1° Na hipótese do cargo ter sido extinto, o servidor ocupará outro cargo equivalente ao anterior com todas
as vantagens.
§2° O cargo a que se refere o artigo somente poderá ser preenchido em caráter precário até o julgamento
final.
45
SEÇÃO X
DA RECONDUÇÃO
Art. 36 Recondução é o retorno do servidor estável ao cargo anteriormente ocupado e decorrerá de:
I - inabilitação em estágio probatório relativo a outro cargo;
II - reintegração do anterior ocupante.
Parágrafo único Encontrando-se provido o cargo de origem, o servidor será aproveitado em outro, observa-
do o disposto no Artigo 40.
SEÇÃO XI
DA DISPONIBILIDADE E DO APROVEITAMENTO
Art. 37 Aproveitamento é o retorno do servidor em disponibilidade ao exercício do cargo público.
Art. 38 Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, o servidor estável ficará em disponibilidade,
com remuneração integral.
Art. 39 O retorno à atividade de servidor em disponibilidade far-se-á mediante aproveitamento obrigatório
em cargo de atribuições e remunerações compatíveis com o anteriormente ocupado.
Parágrafo único O Órgão Central do Sistema de Pessoal Civil determinará o imediato aproveitamento de
servidor em disponibilidade em vaga que vier a ocorrer nos órgãos da administração pública, na localidade em
que trabalhava anteriormente ou em outra com a concordância do servidor.
Art. 40 O aproveitamento do servidor que se encontra em disponibilidade há mais de 12 (doze) meses de-
penderá de prévia comprovação de sua capacidade física e mental, por junta médica oficial.
§1° Se julgado apto, o servidor assumirá o exercício do cargo no prazo de 30 (trinta) dias, contados da pu-
blicação do ato de aproveitamento.
§2° Verificada a incapacidade definitiva, o servidor em disponibilidade será aposentado, na forma da legis-
lação em vigor.
Art. 41 Será tornado sem efeito o aproveitamento e cassada a disponibilidade se o servidor não entrar em
exercício no prazo legal, salvo doença comprovada por junta médica oficial.
Art. 42 Havendo mais de um concorrente à mesma vaga, terá preferência o de maior tempo de disponibili-
dade e, no caso de empate, o de maior tempo de serviço público.
CAPÍTULO II
DA VACÂNCIA
Art. 43 A vacância do cargo público decorrerá de:
I - exoneração;
II - demissão;
III - ascensão;
IV - acesso;
V - transferência;
VI - readaptação;
VII - aposentadoria;
VIII - posse em outro cargo inacumulável;
IX - falecimento.
Art. 44 A exoneração de cargo efetivo dar-se-á a pedido do servidor, ou de ofício.
Parágrafo único A exoneração de ofício dar-se-á:
I - quando não satisfeitas as condições do estágio probatório;
46
II - quando por decorrência do prazo, ficar extinta a punibilidade para demissão por abandono de cargo;
III - quando, tendo tomado posse, não entrar no exercício no prazo estabelecido.
Art. 45 A exoneração de cargo em comissão dar-se-á: (Repristinado o art. 45 pela LC 550/14)
I - a juízo da autoridade competente, salvo os cargos ocupados por servidores do plano de carreira através
de eleições;
II - a pedido do próprio servidor;
III - em conformidade com o que dispõe a Lei n° 5.601, de 09.05.90.
Parágrafo único Os cargos em comissão ocupados por servidores do quadro de carreiras eleitos conforme
Artigo 134 da Constituição Estadual, só poderão ser exonerados a pedido ou quando comprovadamente atra-
vés de processo administrativo, agir contra os interesses do Estado e da categoria que o elegeu.
CAPÍTULO III
DA PROGRESSÃO, PROMOÇÃO, ASCENSÃO E ACESSO
Art. 46 Progressão é a passagem do servidor de uma referência para a imediatamente superior, dentro da
mesma classe e da categoria funcional a que pertence, obedecidos os critérios especificados para a avaliação
de desempenho e tempo de efetiva permanência na carreira.
Art. 47 Ascensão é a passagem do servidor de um nível para outro sendo posicionado na primeira classe
e em referência ou padrão de vencimento imediatamente superior àquele em que se encontrava, na mesma
carreira.
Art. 48 Promoção é a passagem do servidor de uma classe para a imediatamente superior do respectivo
grupo de carreira que pertence, obedecidos os critérios de avaliação, desempenho e qualificação funcional.
Art. 49 Acesso é a investidura do servidor na função de direção, chefia, assessoramento e assistência, se-
gundo os critérios estabelecidos em lei.
Art. 50 Os critérios para aplicação deste capítulo serão definidos ao instituir o plano de carreira.
Parágrafo único Fica assegurada a participação dos servidores na elaboração do plano de carreira e seus
critérios.
CAPÍTULO IV
DA REMOÇÃO E DA REDISTRIBUIÇÃO
SEÇÃO I
DA REMOÇÃO
Art. 51 Remoção é o deslocamento do servidor a pedido ou de oficio, no âmbito do mesmo quadro, com ou
sem mudança de sede, observada a lotação existente em cada órgão: (Nova redação dada pela LC 187/04)
I - de uma para outra repartição do mesmo órgão ou entidade;
II - de um para outro órgão ou entidade, desde que compatíveis a situação funcional e a carreira especifica
do servidor removido.
§1º A remoção a pedido para outra localidade, por motivo de saúde do servidor, cônjuge, companheiro ou
dependente, fica condicionada à apresentação de laudo pericial emitido pela Corregedoria-Geral de Perícia
Medica da Secretaria de Estado de Administração - SAD, bem como à existência de vagas. (Acrescentado pela
LC 187/04)
§2º A remoção para outra localidade, baseada no interesse público, deverá ser devidamente fundamentada.
(Acrescentado pela LC 187/04)
Art. 52 O ato que remover o servidor estudante de uma para outra cidade ficará suspenso se, na nova sede,
não existir estabelecimento congênere oficial, reconhecido ou equiparado àquele em que o interessado esteja
matriculado, devendo permanecer no exercício do cargo.
§1° Efetivar-se-á a remoção se o servidor concluir o curso, deixar de cursá-lo ou for reprovado durante 02
(dois) anos consecutivos.
47
§2° Semestralmente, o interessado deverá apresentar prova de sua frequência regular do curso que estiver
matriculado perante a repartição a que esteja subordinado.
SEÇÃO II
DA REDISTRIBUIÇÃO
Art. 53 Redistribuição é o deslocamento do servidor, com o respectivo cargo, para o quadro de pessoal do
mesmo ou qualquer órgão ou entidade do Governo, cujo planos de carreira e remuneração sejam idêntico, ob-
servado sempre o interesse da administração. (Nova redação dada pela LC 187/04)
§1º A redistribuição dar-se-á exclusivamente para ajustamento de quadros de pessoal às necessidades dos
serviços, inclusive nos casos de reorganização, extinção, ou criação de órgão ou entidade.
§2º Nos casos de extinção de órgão ou entidade os servidores estáveis que não puderem ser redistribuídos,
na forma deste artigo, serão colocados em disponibilidade com remuneração integral, até seu aproveitamento
na forma do artigo 40.
CAPÍTULO V
DA SUBSTITUIÇÃO
Art. 54 (revogado) (Revogado pela LC 266/06)
Art. 55 (revogado) (Revogado pela LC 266/06)
TÍTULO III
DOS DIREITOS E VANTAGENS
CAPÍTULO I
DO VENCIMENTO E DA REMUNERAÇÃO
Art. 56. Vencimento é a retribuição pecuniária pelo exercício de cargo público, com valor fixado em lei.
Art. 57. Remuneração é o vencimento do cargo efetivo, acrescido das vantagens pecuniárias, permanentes
ou temporárias, previstas na Constituição Federal, Estadual, em acordos coletivos ou em convenções de tra-
balho que venham a ser celebrados. (ADI 559-6 - DOU 24/05/2006: declara inconstitucional a expressão “em
acordos coletivos ou em convenções de trabalho que venham a ser celebrados”)
Art. 58 A remuneração total do servidor será composta exclusivamente do vencimento base, de uma única
verba de representação e do adicional por tempo de serviço.
Parágrafo único O adicional por tempo de serviço concedido aos ocupantes dos cargos de carreira de pro-
vimento efetivo e aos empregados públicos como única vantagem pessoal, não será considerado para efeito
deste artigo.
Art. 59 Ao servidor nomeado para o exercício de cargo em comissão, é facultado optar entre o vencimento
de seu cargo efetivo e do cargo em comissão, acrescido da verba única de representação.
Parágrafo único O servidor investido em cargo em comissão de órgão ou entidade diversa da de sua lotação
receberá a remuneração de acordo com o estabelecido no Artigo 119, §1°.
Art. 60 O vencimento do cargo efetivo, acrescido das vantagens de caráter permanente, é irredutível.
Art. 61 É assegurada a isonomia de vencimento para cargos de atribuições iguais ou assemelhadas do mes-
mo Poder ou entre servidores dos três Poderes, ressalvadas as vantagens de caráter individual e as relativas à
natureza e ao local de trabalho.
Art. 62 Nenhum servidor poderá perceber, mensalmente, a título de remuneração, importância superior à
soma dos valores percebidos como remuneração, em espécie, a qualquer título, no âmbito dos respectivos Po-
deres, pelos Secretários de Estado, por membros da Assembléia Legislativa e membros do Tribunal de Justiça.
Parágrafo único Excluem-se do teto de remuneração, o adicional por tempo de serviço e as vantagens pre-
vistas no Artigo 82, I a VIII.
Art. 63 A relação entre a menor e a maior remuneração atribuída aos cargos de carreira não poderá ser
superior a 08 (oito) vezes.
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Art. 64 No caso de ausência injustificada ao serviço ou não cumprimento da jornada de trabalho diária, será
descontada: (Nova redação dada pela LC 755/2023, efeitos a partir de 1º.01./2023)
I - a remuneração do dia em que não comparecer ao serviço sem motivo legal;
II - a parcela de remuneração diária, proporcional, em horas ou minutos, à jornada de trabalho não cumprida
por motivo de atrasos, saídas antecipadas e demais ausências ao serviço sem motivo legal.
Art. 65 Salvo por imposição legal, ou mandado judicial, nenhum desconto incidirá sobre a remuneração ou
provento.
§1° Mediante autorização do servidor poderá haver consignação em folha de pagamento a favor de ter-
ceiros, ou seja, instituições de previdências, associações, sindicatos, pecúlio, seguros e os demais na forma
definida em regulamento instituído pelas associações e sindicatos dos servidores.
§2° Sob pena de responsabilidade a autoridade que determinar o desconto em folha de pagamento para
instituições de previdência ou associações, deverá efetivar o repasse do desconto, no prazo máximo dos 05
(cinco) primeiros dias úteis do mês subsequente.
Art. 66 As reposições e indenizações ao erário serão descontadas em parcelas mensais não excedentes à
décima parte da remuneração ou provento.
§1° Independente do parcelamento previsto neste artigo, o recebimento de quantias indevidas poderá impli-
car processo disciplinar para apuração de responsabilidades e aplicação das penalidades cabíveis.
§2° Nos casos de comprovada má fé e abandono de cargo, a reposição deverá ser feita de uma só vez, sem
prejuízo das penalidades cabíveis, inclusive no que se refere a inscrição na dívida ativa.
Art. 67 O servidor em débito com o erário que for demitido, exonerado ou que tiver a sua aposentadoria ou
disponibilidade cassada, terá o prazo de 60 (sessenta) dias para quitá-lo.
Parágrafo único A não-quitação do débito no prazo previsto implicará sua inscrição na dívida ativa.
Art. 67-A Serão inscritos em dívida ativa pela Procuradoria-Geral do Estado os créditos constituídos pelo
Estado de Mato Grosso em razão de benefícios previdenciários ou assistenciais pagos indevidamente ou além
do devido, hipótese em que se aplica o disposto na Lei Federal nº 6.830, de 22 de setembro de 1980, para a
execução judicial. (Acrescentado pela LC 659/2020)
Art. 68 O vencimento, a remuneração e o provento não serão objeto de arresto, sequestro ou penhora, ex-
ceto nos casos de prestação de alimentos resultantes de decisão judicial.
Art. 69 O pagamento da remuneração dos servidores públicos dar-se-á até o dia 10 (dez) do mês seguinte
ao que se refere.
§1° O não-pagamento até a data prevista neste artigo importará na correção do seu valor, aplicando-se os
índices federais de correção diária, a partir do dia seguinte ao do vencimento até a data do efetivo pagamento.
§2° O montante da correção será pago juntamente com o vencimento do mês subsequente, corrigido o seu
total até o último dia do mês, pelos mesmos índices do parágrafo anterior.
CAPÍTULO II
DAS VANTAGENS
Art. 70 Além do vencimento poderão ser pagas ao servidor as seguintes vantagens:
I - indenizações;
II - gratificações e adicionais.
Parágrafo único A indenização não se incorpora ao vencimento ou provento para qualquer efeito.
Art. 71 As vantagens não serão computadas nem acumuladas para efeito de concessão de quaisquer outros
acréscimos pecuniários ulteriores, sob o mesmo título ou idêntico fundamento.
49
SEÇÃO I
DAS INDENIZAÇÕES
Art. 72 Constituem indenizações ao servidor:
I - ajuda de custo;
II - diárias.
Art. 73 Os valores das indenizações, assim como as condições para a sua concessão, serão estabelecidos
em regulamento.
Art. 74 (revogado) (Revogado pela LC 59/99)
Art. 75 (revogado) (Revogado pela LC 59/99)
Art. 76 Não será concedida a ajuda de custo ao servidor que se afastar do cargo, ou reassumi-lo, em virtude
de mandato eletivo.
Art. 77 (revogado) (Revogado pela LC 59/99)
Art. 78 O servidor ficará obrigado a restituir a ajuda de custo quando, injustificadamente, não se apresentar
na nova sede no prazo determinado no Artigo 21.
Parágrafo único Não haverá obrigação de restituir a ajuda de custo nos casos de exoneração de ofício, ou
de retorno por motivo de doença comprovada.
SUBSEÇÃO II
DAS DIÁRIAS
Art. 79 O servidor que, a serviço, se afastar da sede, em caráter eventual ou transitório, para outro ponto
do território mato-grossense e de outras unidades da Federação, fará jus a passagens e diárias para cobrir as
despesas de pousada, alimentação, locomoção urbana e rural.
Parágrafo único A diária será concedida por dia de afastamento, sendo devida pela metade quando o des-
locamento não exigir pernoite fora da sede.
Art. 80 O servidor que receber diárias e não se afastar da sede, por qualquer motivo, fica obrigado a resti-
tuí-las integralmente, no prazo de 05 (cinco) dias.
Parágrafo único Na hipótese do servidor retornar à sede em prazo menor do que o previsto para o seu afas-
tamento, restituirá as diárias recebidas em excesso, em igual prazo.
SUBSEÇÃO III
DA INDENIZAÇÃO DE TRANSPORTE
Art. 81 Conceder-se-á indenização de transporte ao servidor que realizar despesas com a utilização do
meio próprio de locomoção para execução de serviços externos, por força das atribuições próprias do cargo,
conforme regulamento.
SUBSEÇÃO IV
DAS GRATIFICAÇÕES E ADICIONAIS
Art. 82. Além da remuneração e das indenizações previstas nesta lei, poderão ser deferidas aos servidores,
as seguintes gratificações adicionais:
I - gratificação natalina;
II - adicional pelo exercício de atividades insalubres, perigosas ou penosas;
III - adicional pela prestação de serviço extraordinário;
IV - adicional noturno;
V - adicional de férias;
VI - adicional por tempo de serviço;
VII - Vetado;
50
VIII - Vetado.
IX - gratificação por eficiência e resultado. (Acrescentado pela LC 756/2023)
SUBSEÇÃO V
DA GRATIFICAÇÃO NATALINA
Art. 83. A gratificação natalina correspondete a um doze avos da remuneração a que o servidor fizer jus ao
mês de dezembro, por mês de exercício, no respectivo ano.
Parágrafo único A fração igual ou superior a 15 (quinze) dias será considerada como mês integral.
Art. 84 A gratificação natalina será paga até o dia 20 (vinte) do mês de dezembro de cada ano. (Nova reda-
ção dada pela LC 479/12)
Parágrafo único (revogado) (Revogado pela LC 479/12)
Art. 85. O servidor exonerado perceberá sua gratificação natalina, proporcionalmente aos de efetivo exercí-
cio, calculada sobre a remuneração do mês de exoneração.
SUBSEÇÃO VI
DO ADICIONAL, POR TEMPO DE SERVIÇO
Art. 86 O adicional por tempo de serviço é devido à razão de 2% (dois por cento), por ano de serviço público
estadual, incidente sobre o vencimento - base do cargo efetivo, até o limite de 50% (cinquenta por cento). (Nova
redação dada pela LC 42/96)
§1º O servidor fará jus ao adicional a partir do mês imediato àquele em que completar o anuênio, indepen-
dente, de requerimento. (Acrescentado pela LC 42/96)
§2º V E T A D O (Acrescentado pela LC 42/96)
§3º Fica excluído do teto constitucional o adicional por tempo de serviço. (Acrescentado pela LC 42/96)
SUBSEÇÃO VII
DOS ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE, PERICULOSIDADE OU PENOSIDADE
Art. 87. Os servidores que trabalham com habitualidade em locais insalubres ou em contato permanente
com substâncias tóxicas ou com risco de vida, fazem jus a um adicional nos termos da legislação pertinente.
§1º O servidor que fizer jus a mais de um adicional será concedido o pagamento, de acordo com a legislação
pertinente.
§2º O direito ao adicional de insalubridade ou periculosidade cessa com a eliminação das condições ou dos
riscos que deram causa a sua concessão.
Art. 88 . Caberá à Administração Estadual exercer permanente controle da atividade de servidores em ope-
rações ou locais considerados penosos, insalubres ou perigosos.
Parágrafo único. A servidora gestante ou lactante será afastada, enquanto durar a gestação e a lactação,
das operações e locais previstos neste artigo, exercendo suas atividades em local salubre e em serviço não
perigoso.
Art. 89 Na concessão dos adicionais de penosidade, insalubridade e de periculosidade serão observadas as
situações especificadas na legislação pertinente aplicável ao servidor público.
Art. 90. O adicional de penosidade será devido ao servidor em exercício em zonas de fronteira ou em locais,
cujas condições de vida o justifiquem. nos termos, condições e limites fixados em regulamento.
Art. 91. Os locais de trabalho e os servidores que operam com Raio X ou substâncias radioativas devem
ser mantidos sob controle permanente, de modo que as doses de radiação, ionizantes não ultrapassam o nível
máximo previsto na legislação própria.
Parágrafo único. Os servidores a que se refere este artigo devem ser submetidos a exame médico oficial.
51
SUBSEÇÃO VIII
DO ADICIONAL POR SERVIÇO EXTRAORDINÁRIO
Art. 92. O serviço extraordinário será remunerado com acréscimo de no mínimo 50 % (cinquenta por cento)
em relação à hora normal de trabalho.
Art. 93. Somente será permitido serviço extraordinário para atender situações excepcionais e temporárias,
respeitado o limite máximo de 02 (duas) horas diárias, conforme se dispuser em regulamento.
SUBSEÇÃO IX
DO ADICIONAL NOTURNO
Art. 94. O serviço noturno prestado em horário compreendido entre 22 (vinte e duas) horas de um dia e 05
(cinco) horas do dia seguinte, terá o valor hora acrescido de 25 % (vinte e cinco por cento) computando-se cada
hora com 52 (cinquenta e dois) minutos e 30 (trinta) segundos.
Parágrafo único. Em se tratando de serviço extraordinário, o acréscimo de que trata este artigo incidirá so-
bre a remuneração prevista no artigo 93.
SUBSEÇÃO X
DO ADICIONAL DE FÉRIAS
Art. 95. Independente de solicitação, será pago ao servidor, por ocasião das férias, um adicional de 1/3 (um
terço) da remuneração correspondente ao período de férias.
Parágrafo único. No caso do servidor exercer função de direção, chefia, assessoramento ou assistência ou
ocupar cargo em comissão, a respectiva vantagem será considerada no cálculo do adicional de que trata este
artigo.
Art. 96. O servidor em regime de acumulação lícita perceberá o adicional de férias, calculado sobre a remu-
neração do cargo em que for gozar as férias.
Art. 97. O servidor fará jus a 30 (trinta) dias de férias, que podem ser cumuladas até o máximo de dois pe-
ríodos, mediante comprovada necessidade de serviço, ressalvadas as hipóteses em que haja legislação espe-
cífica. (Nova redação dada pela LC 141/03)
§1º Para o período aquisitivo de férias, serão exigidos 12 (doze) meses de exercício.
§2º É vedado levar à conta de férias qualquer falta ao serviço.
§3º Fica proibida a contagem, em dobro, de férias não gozadas, para fins de aposentadoria e promoção por
antiguidade acumuladas por mais de 02 (dois) períodos.
§4º Para gozo das férias previstas neste artigo, deverá ser observada a escala a a ser organizada pela
repartição.
§5º As férias poderão ser parceladas em até 03 (três) etapas, se assim requeridas pelo servidor, com perío-
do mínimo de 10 (dez) dias em cada, sendo que o terço constitucional será correspondente ao período usufru-
ído. (Nova redação dada pela LC 640/19)
§6º Caso não cumprido o estabelecido no caput deste artigo, o servidor público, automaticamente, entrará
em gozo de férias a partir do primeiro dia do terceiro período aquisitivo. (Acrescentado pela LC 293/07)
Art. 98 Quando em gozo de férias, o servidor terá direito a receber o equivalente a 01 (um) mês de venci-
mento. (Nova redação dada pela LC 141/03)
Parágrafo único. No caso de férias proporcionais, o servidor perceberá uma remuneração correspondente
ao número de dias gozados. (Acrescentado pela LC 141/03)
Art. 99. O pagamento da remuneração das férias deverá ser efetuado até 2 (dois) dias antes do início do
respectivo período, observando-se o disposto no parágrafo primeiro deste artigo.
§1º É facultado ao servidor converter 1/3 (um terço) das férias ou abono pecuniário desde que o requeira
com pelo menos 60 (sessenta) dias de antecedência de seu início.
52
§2º No cálculo do abono pecuniário será considerado o valor do adicional de férias, previsto no artigo 82,
inciso V.
Art. 100 O servidor que opera direta e permanentemente com Raios X ou substâncias radioativas gozará,
obrigatoriamente, 20 (vinte) dias consecutivos de férias, por semestre de atividade profissional, proibida, em
qualquer hipótese a acumulação.
Art. 101. É proibido a transferência e remoção do servidor quando em gozo de férias.
Art. 102. As férias somente poderão ser interrompidas por motivo de calamidade pública, comoção interna,
convocação para juri, serviço militar ou eleitoral ou por motivo de superior interesse público definidos em lei,
devendo o período interrompido ser gozado imediatamente, após a cessação do motivo da interrupção.
SUBSEÇÃO XI
DA GRATIFICAÇÃO POR EFICIÊNCIA E RESULTADO
(Acrescentado pela LC 756/2023)
Art. 102-A O Poder Executivo fica autorizado a implementar, para os servidores públicos civis e militares,
gratificação por eficiência e resultado em parcela única anual, limitada a 50% (cinquenta por cento) do subsídio
da classe e nível iniciais do respectivo cargo. (Acrescentado pela LC 756/2023)
CAPÍTULO III
DAS LICENÇAS
SEÇÃO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 103. Conceder-se-á, ao servidor, licença:
I - por motivo de doença em pessoa da família;
II - por motivo de afastamento do cônjuge ou companheiro;
III - para serviço militar;
IV - para atividade políticas;
V - prêmio por assiduidade;
VI - para tratar de interesses particulares;
VII - para qualificação profissional.
§1º A licença prevista no inciso I será precedida de exame por médico da junta médica oficial.
§2º O servidor não poderá permanecer em licença da mesma espécie por período superior a 24 (vinte e
quatro) meses, salvo nos casos dos incisos II, III, IV e VII deste artigo.
§3º É vedado o exercício de atividade remunerada durante o período da licença prevista no inciso I deste
artigo, ressaIvada a hipótese do artigo 105 e seus parágrafos.
Art. 104. A licença concedida dentro de 60 (sessenta) dias do término de outra da mesma espécie será
considerada como prorrogação.
SEÇÃO II
DA LICENÇA POR MOTIVO DE DOENÇA EM PESSOAS EM FAMÍLIA
Art. 105. Poderá ser concedida licença ao servidor, por motivo de doença do cônjuge ou companheiro, pa-
drasto ou madrasta, ascendente, descendente, enteado e colateral consanguíneo ou afim até o segundo grau
civil, mediante comprovação médica.
§1º A licença somente será deferida se a assistência direta do servidor for indispensável e não puder ser
prestada simultaneamente com o exercício do cargo, o que deverá ser apurado através de acompanhamento
social.
53
§2º A licença será concedida sem prejuízo da remuneração do cargo efetivo, até um 01 (um) ano, com 2/3
(dois terços) do vencimento ou remuneração, excedente, esse prazo, até 02 (dois) anos.
SEÇÃO III
DA LICENÇA POR MOTIVO DE AFASTAMENTO DO CÔNJUGE
Art. 106. Poderá ser concedida licença ao servidor para acompanhar o cônjuge ou companheiro que for
deslocado para outro ponto do território nacional, para o exterior ou para exercício de mandato eletivo dos Po-
deres Executivo e Legislativo.
§1º A licença será por prazo indeterminado e sem remuneração.
§2º Na hipótese do deslocamento de que trata este artigo, o servidor poderá ser lotado, provisoriamente, em
repartição da Administração Estadual Direta, Autárquica ou Fundacional, desde que para exercício de atividade
compatível com o seu cargo com remuneração do órgão de origem.
SEÇÃO IV
DA LICENÇA PARA O SERVIÇO MILITAR
Art. 107. Ao servidor convocado para o serviço militar será concedida licença, na forma e condições previs-
tas na legislação específica.
Parágrafo único Concluído o serviço militar, o servidor terá 30 (trinta) dias, com remuneração, para reassu-
mir o exercício do cargo.
SEÇÃO V
DA LICENÇA PARA ATIVIDADE POLÍTICA
Art. 108. O servidor terá direito a licença, sem remuneração, durante o período que mediar entre a sua
escolha, em convenção partidária, como candidato a cargo eletivo, e a véspera do registro de sua candidatura
perante a justiça eleitoral.
§1º O servidor candidato a cargo eletivo na localidade onde desempenha sua função e que exerça cargo
de direção, chefia, assessoramento, assistência, arrecadação ou fiscalização, dele será afastado, a partir do
dia imediato ao do registro de sua candidatura perante, a justiça eleitoral, até o décimo quinto dia seguinte ao
do pleito.
§2º A partir do registro de candidatura e até o décimo quinto dia seguinte ao da eleição, o servidor fará jus à
licença como se em exercício estivesse, com o vencimento de que trata o artigo 57.
SEÇÃO VI
DA LICENÇA-PRÊMIO POR ASSIDUIDADE
Art. 109 Após cada quinquênio ininterrupto de efetivo exercício no serviço público estadual, o servidor fará
jus a 90 (noventa) dias de licença, a título de prêmio por assiduidade, com o subsídio do cargo efetivo, acrescido
do valor do cargo em comissão ou função de confiança, se for o caso. (Nova redação dada pela LC 738/2022)
§1º Para fins da licença-prêmio de que trata este artigo, será considerado o tempo de serviço desde seu
ingresso no serviço público estadual.
§2º É facultado ao servidor fracionar a licença de que trata este artigo, conforme disposto em regulamento.
(Nova redação dada pela LC 738/2022)
§3º (revogado) (Revogado pela LC 59/99)
§4º (revogado) (Revogado pela LC 59/99)
Art. 110. Não se concederá licença-prêmio ao servidor que, no período aquisitivo:
I - sofrer penalidade disciplinar, de suspensão;
II - afastar-se do cargo em virtude de:
a) licença por motivo de doença em pessoa da família, sem remuneração;
b) licença para tratar de interesses particulares;
54
c) condenação a pena privativa de liberdade, por sentença definitiva;
d) afastamento para acompanhar cônjuge ou companheiro.
Parágrafo único. As faltas injustificadas ao serviço retardarão a concessão de licença prevista neste artigo,
na proporção de um mês para cada três faltas.
Art. 111. O número de servidor em gozo simultâneo de licença-prêmio não poderá ser superior a 1/3 (um
terço) da lotação da respectiva unidade administrativa do órgão ou entidade.
Art. 112. Para efeito de aposentadoria será contado em dobro o tempo de licença-prêmio não gozado.
Art. 113. Para possibilitar o controle das concessões da licença, o órgão de lotação deverá proceder anual-
mente a escala dos servidores, a fim de atender o disposto no artigo 109, Parágrafo 4º, e garantir os recursos
orçamentários e financeiros necessários ao pagamento, no caso de opção em espécie.
§1º O servidor não poderá cumular duas licenças-prêmio. (Acrescentado pela LC 293/07)
§2º O servidor deverá gozar a licença-prêmio concedida, obrigatoriamente, no período aquisitivo subse-
quente. (Acrescentado pela LC 293/07)
§3º Caso não usufrua no período subsequente, entrará, automaticamente, em gozo da referida licença a
partir do primeiro dia do terceiro período aquisitivo. (Acrescentado pela LC 293/07)
SEÇÃO VII
DA LICENÇA PARA TRATAR DE INTERESSES PARTICULARES
Art. 114. A pedido e sem prejuízo do serviço será concedida, ao servidor estável, licença para o trato de
assuntos particulares, pelo prazo de até 02 (dois) anos consecutivos, sem remuneração, podendo esta licença
ser interrompida a qualquer momento por interesse do servidor.
§1º A licença poderá ser interrompida a qualquer tempo, a pedido do servidor ou no interesse do serviço
público.
§2º Não se concederá nova licença antes de decorridos 02 (dois) anos do término da anterior.
§3º Não se concederá licença a servidor nomeado, removido, redistribuído ou transferido, antes de compIe-
tar 02 (dois) anos de exercício.
§4º O requerente aguardará, em exercício no cargo, a publicação, no diário oficial, do ato decisório sobre a
licença solicitada.
SEÇÃO VIII
DE LICENÇA PARA O DESEMPENHO DE MANDATO CLASSISTA
Art. 115 É assegurado ao servidor público efetivo o direito à licença remunerada, para o exercício de man-
dato eletivo em diretoria de entidade sindical ou associativa, ainda que de caráter nacional, desde que repre-
sentativas das carreiras integrantes da Administração Pública Estadual, nos termos do art. 133 da Constituição
Estadual. (Nova redação dada ao artigo pela LC 662/2020)
Parágrafo único A licença terá duração igual à do mandato, podendo ser prorrogada no caso de reeleição.
SEÇÃO IX
DA LICENÇA PARA QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL
Art. 116. A licença para qualificação profissional se dará com prévia autorização do Governador do Estado
e consiste no afastamento do servidor de suas funções, sem prejuízo dos seus vencimentos, assegurada a sua
efetividade para todos os efeitos de carreira e será concedida para frequência de curso de formação, treina-
mento, aperfeiçoamento ou especialização profissional ou a nível da pós-graduação e estágio, no país ou no
exterior, se de interesse do Estado.
Art. 117. Para concessão da licença de que trata o artigo anterior, terão preferências os servidores que sa-
tisfaçam os seguintes requisitos:
I - Residência em localidade onde não existam unidades universitárias ou faculdades isoladas;
55
II - Experiência no máximo de 05 (cinco) anos de magistério público estadual, e o servidor com 05 (cinco)
anos de efetivo exercício no Estado;
III - Curso correlacionado com a área de atuação.
Art. 118. Realizando-se o curso na mesma localidade da lotação do serviço ou em outra de fácil acesso, em
lugar da licença será concedida simples dispensa do expediente pelo tempo necessário a frequência regular
do curso.
Parágrafo único. A dispensa de que trata o artigo deverá ser obrigatoriamente comprovado mediante frequ-
ência regular do curso.
CAPÍTULO V
DOS AFASTAMENTOS
SEÇÃO I
DO AFASTAMENTO PARA SERVIR A OUTRO ÓRGÃO OU ENTIDADE
Art. 119 O servidor poderá ser cedido para ter exercício em outro órgão ou entidade do Poder Executivo
Estadual ou dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nas seguintes hipóteses:
(Nova redação dada ao caput pela LC 662/2020)
I - para exercício de cargo em comissão ou função de confiança;
II - em situações de comprovado interesse público;
III - em casos previstos em leis específicas.
§1º O ônus da remuneração será do órgão ou entidade cessionária, salvo disposição legal em contrário.
(Nova redação dada pela LC 662/2020)
§2º Mediante autorização da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão, o servidor do Poder Execu-
tivo poderá ter exercício em outro órgão da Administração Pública Estadual, que não tenha quadro próprio de
pessoal, para fim determinado e a certo prazo (Nova redação dada pela LC 627/19)
§3º O afastamento previsto neste artigo será de até 05 (cinco) anos, prorrogáveis por interesse da Adminis-
tração Pública. (Acrescentado pela LC 640/19)
SEÇÃO II
DO AFASTAMENTO PARA EXERCÍCIO DE MANDATO ELETIVO
Art. 120. Ao servidor investido em mandato eletivo aplicam-se as seguintes disposições:
I - tratando-se de mandato federal, Estadual ou distrital, ficará afastado do cargo;
II - investido no mandato de prefeito, será afastado do cargo, sendo-lhe facultado optar pela sua remunera-
ção.
III - investido no mandato de vereador :
a) havendo compatibilidade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo, sem prejuízo da remunera-
ção do cargo eletivo;
b) não havendo compatibilidade de horários, será afastado do cargo, sendo-lhe facultado optar peIa sua
remuneração;
c) não poderá exercer cargo em comissão ou de confiança na Administração Pública, de livre exoneração.
§1º No caso de afastamento do cargo, o servidor contribuirá para a seguridade social como se em exercício
estivesse.
§2º O servidor investido em mandato eletivo ou classista não poderá ser removido ou redistribuído de ofício
para localidade diversa onde exerce a mandato.
56
SEÇÃO III
DO AFASTAMENTO PARA ESTUDO OU MISSÃO NO EXTERIOR
Art. 121. O servidor não poderá ausentar-se do Estado ou País para estudo ou missão oficial, sem autoriza-
ção do Governador do Estado, ou Presidente dos Órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário.
§1º A ausência não excederá de 04(quatro) anos e, finda a missão ou estudo, somente decorrido igual pe-
ríodo, será permitida nova ausência.
§2º Ao servidor beneficiado pelo disposto neste artigo não será concedida exoneração ou licença para tratar
da interesse particular, antes de decorrido período igual ao do afastamento, ressalvada a hipótese do ressarci-
mento da despesa havida com o afastamento.
Art. 122. O afastamento de servidor para servir em organismo internacional de que o Brasil participe ou com
o qual coopere dar-se-á com direito a opção pela remuneração.
Art. 123. O afastamento para estudo ou missão oficial no exterior, obedecerá ao disposto em legislação
específica.
CAPÍTULO V
DAS CONCESSÕES
Art. 124. Sem qualquer prejuízo, poderá o servidor ausentar-se do serviço:
I - por um (01) dia, para doação de sangue;
II - por 02 (dois) dias para se alistar como eleitor;
III - por 08 (oito) dias consecutivos em razão de:
a) casamentos;
b) falecimento do cônjuge, companheiro, pais, madrasta ou padrasto, filhos, enteado, menor sob guarda ou
tutela, irmãos e avós.
Art. 124-A Fica concedido ao servidor público que tenha cônjuge, filho ou dependente com deficiência, re-
dução da jornada de trabalho da respectiva lei de carreira em 50% (cinquenta por cento), sem compensação
de horário e sem prejuízo da remuneração, desde que observados os seguintes requisitos: (Acrescentado pela
LC 607/18)
I - ser titular de cargo efetivo;
II - comprovar a dependência socioeducacional e econômica da pessoa com deficiência;
III - não estar no exercício de cargo em comissão ou função gratificada.
§1º Fica assegurada a redução da jornada prevista no caput deste artigo mediante averiguação por assis-
tente social referente à dependência socioeducativa e a realização de avaliação médica pericial, nos termos do
regulamento.
§2º A redução da jornada prevista no caput deste artigo fica estendida enquanto permanecer a necessidade
de assistência e a dependência econômica da pessoa com deficiência nos termos do regulamento.
§3º Fica concedida a redução da jornada prevista no caput deste artigo apenas para um dos pais ou respon-
sáveis do dependente com deficiência quando ambos forem servidores públicos estaduais efetivos.
§4º Fica vedado ao servidor alcançado pela redução prevista no caput deste artigo a ocupação de qualquer
atividade, remunerada ou não, enquanto perdurar a redução.
Art. 125 (revogado) (Revogado pela LC 293/07)
Art. 126. Ao servidor estudante, que mudar de sede no interesse da administração, assegurada, na locali-
dade da nova residência ou na mais próxima, matrícula em instituto de ensino congênere, em qualquer época,
independente de vaga, na forma e condições estabelecidas na legislação específica.
Parágrafo único O disposto neste artigo estende-se ao cônjuge ou companheiro, aos filhos ou enteados do
servidor, que vivam na sua companhia, bem como aos menores sob sua guarda, com autorização judicial.
57
CAPÍTULO VI
DO TEMPO DE SERVIÇO
Art. 127. É contado para todos os efeitos o tempo de serviço público prestado ao Estado de Mato Grosso,
inclusive o das Forças Armadas.
Art. 128. A apuração do tempo de serviço será feita em dias que serão convertidos em anos, considerado o
ano como de 365 (trezentos e sessenta e cinco) dias.
Parágrafo único Feita a conversão, os dias restantes até 182 (cento o oitenta a dois), não serão computa-
dos, arredondando-se para 01 (um) ano quando excederem deste número, para efeito de aposentadoria.
Art. 129. Além das ausências ao serviço previstas no artigo 125, serão considerados como de efetivo exer-
cício os afastamentos em virtude de:
I - férias;
II - exercício de cargo em comissão, ou equivalente em órgãos ou entidade dos Poderes da União, dos Es-
tados, Municípios e Distrito Federal;
III - exercício de cargo, ou função de governo ou administração, em qualquer parte do território nacional, por
nomeação do Presidente da República, Governo Estadual e Municipal.
IV - participação em programas de treinamento regularmente instituído;
V - desempenho de mandato eletivo federal, estadual, municipal ou do distrito federal, exceto para promo-
ção por merecimento;
VI - juri e outros serviços obrigatórios por lei;
VII - missão ou estudo no exterior, quando autorizado o afastamento.
VIII - licença:
a) à gestante, à adotante e à paternidade;
b) para tratamento da própria saúde, até 02 (dois) anos;
c) por motivo de acidente em serviço ou doença Profissional;
d) prêmio por assiduidade;
e) por convocação para o serviço militar;
f) qualificação Profissional;
g) licença para acompanhar cônjuge ou companheiro;
h) licença para tratamento de saúde em pessoa da família;
i) para desempenho de mandato classista.
IX - deslocamento para a nova sede de que trata o artigo 21.
X - participação em competição desportiva estadual e nacional ou convocação para integrar representação
desportiva nacional, no país ou no exterior, conforme disposto em lei específica.
Art. 130 Contar-se-á apenas para efeito de aposentadoria e disponibilidade:
I - o tempo do serviço público federal, estadual e municipal, mediante comprovação do serviço prestado e
do recolhimento da previdência social;
II - a licença para atividade política, no caso do artigo 108, Parágrafo 2º;
III - o tempo correspondente ao desempenho de mandato eletivo federal, estadual, municipal ou distrital,
anterior ao ingresso no serviço público estadual;
IV - o tempo de serviço em atividade privada, vinculada à Previdência Social, o após decorridos 05 (cinco)
anos de efetivo exercício no serviço público;
V - o tempo de serviço relativo a tiro de guerra;
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VI - Vetado.
§1º O tempo de serviço a que se refere o inciso I deste artigo não poderá ser contado em dobro ou quaisquer
outros acréscimos, salvo se houver norma correspondente na legislação estadual.
§2º O tempo em que a servidor esteve aposentado ou em disponibilidade será apenas contado para nova
aposentadoria ou disponibilidade.
§3º Será contado, em dobro, o tempo de serviço prestado às Forças Armadas em operações de guerra.
§4º É vedado a contagem cumulativa de tempo de serviço prestado concomitantemente em mais de um
cargo ou função em órgão ou entidades dos Poderes da União, Estado, Distrito Federal e Município, autarquia,
fundação pública, sociedade de economia mista e empresa pública.
CAPÍTULO VII
DO DIREITO DE PETIÇÃO
Art. 131. É assegurado ao servidor o direito de requerer aos Poderes Públicos, em defesa de direito ou de
interesse legítimo.
Parágrafo único. É possibilitado, dependente somente de sindicalização prévia, que o requerimento seja
subscrito pelo respectivo Sindicato da categoria do servidor. (Acrescentado pela LC 345/09)
Art. 132. O requerimento será dirigido à autoridade competente para decidi-lo e encaminhado através da-
quela a que estiver imediatamente subordinado o requerente.
Art. 133. Cabe pedido de reconsideração à autoridade que houver expedido o ato ou proferido a primeira
decisão, não podendo ser renovado.
Parágrafo único. O requerimento e o pedido da reconsideração de que tratam os artigos anteriores deverão
ser despachados no prazo de 05 (cinco) dias e decididos dentro de 30 (trinta) dias, contados a partir do recebi-
mento dos autos pela autoridade julgadora, após a apreciação pela Procuradoria-Geral do Estado, consoante
estabelece o art. 14, II, da Lei Complementar nº 111, de 1º de julho de 2002. (Nova redação dada pela LC
123/03)
Art. 134. Caberá recurso:
I - do indeferimento do pedido de reconsideração;
II - das decisões sobre os recursos sucessivamente interpostos.
§1º O recurso será dirigido à autoridade imediatamente superior a que tiver expedido o ato ou proferido a
decisão, e, sucessivamente, em escala ascendente, às demais autoridades.
§2º O recurso será encaminhado por intermédio da autoridade a que estiver imediatamente subordinado o
requerente.
Art. 135. O prazo para interposição de pedido de reconsideração ou de recurso é de 30 (trinta) dias, a contar
da publicação ou da ciência, pelo interessado, da decisão decorrida.
Art. 136. O recurso poderá ter recebido com efeito suspensivo, a juízo da autoridade competente.
Parágrafo único. Em caso de provimento do pedido de reconsideração ou de recurso, os efeitos da decisão
retroagirão à data do ato impugnado.
Art. 137. O direito em requerer prescreve:
I - em 05 (cinco) anos, quanto aos atos de demissão e de cassação de aposentadoria ou disponibilidade ou
que afetem Interesse patrimonial a créditos resultantes das relações de trabalho.
II - em 120 (cento e vinte) dias, nos demais casos, salvo quando outro prazo for fixado em lei.
Parágrafo único O prazo de prescrição será contado da data da publicação do ato impugnado ou de ciência
pelo interessado, quando o ato não for publicado.
Art. 138. O pedido de reconsideração e o recurso, quando cabíveis, interrompem a prescrição;
Parágrafo único Interrompida a prescrição, o prazo recomeçará a correr pelo restante, no dia em que cessar
a interrupção.
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Art. 139. A prescrição é de ordem pública, não podendo ser relevada pela administração.
Art. 140. Para o exercício do direito de petição, é assegurada vista ao processo ou documento na repartição
ao servidor ou a procurador por ele constituído.
Art. 141. A administração deverá rever seus atos , a qualquer tempo, quando eivados de ilegalidade.
Art. 142. São fatais e improrrogáveis os prazos estabelecidos neste Capítulo.
TÍTULO IV
DO REGIME DISCIPLINAR
CAPÍTULO I
DOS DEVERES
Art. 143. São deveres do funcionário:
I - exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo;
II - ser leal às instituições a que servir;
III - observar as normas legais e regulamentares;
IV - cumprir as ordens superiores, exceto quando manifestamente ilegais;
V - atender com presteza:
a) ao público em geral, prestando as informações requeridas, ressalvadas as protegidas por sigilo;
b) a expedição de certidões requeridas para defesa de direito ou esclarecimento de situacões de interesse
pessoal;
c) as requisições para a defesa da fazenda pública.
VI - levar ao conhecimento da autoridade superior as irregularidades de que tiver ciência em razão do cargo;
VII - zelar pela economia do material e a conservação do patrimônio público;
VIII - guardar sigilo sobre assuntos da repartição;
IX - manter conduta compatível com a da moralidade administrativa;
X - ser assíduo e pontual ao serviço;
XI - tratar com urbanidade as pessoas;
XII - representar contra ilegalidade ou abuso de Poder.
Parágrafo único A representação do que trata o inciso XII, será encaminhada pela via hierárquica e obriga-
toriamente apreciada pela autoridade superior àquela contra a qual é formulada, assegurando ao representado
direito de defesa.
CAPÍTULO II
DAS PROIBIÇÕES
Art. 144. Ao servidor público é proibido:
I - ausentar-se do serviço durante o expediente, sem prévia autorização do chefe imediato;
II - retirar, sem prévia anuência da autoridade competente, qualquer documento, ou objeto da repartição;
III - recusar fé a documentos públicos;
IV - opor resistência injustificada ao andamento de documento e processo ou execução de serviço;
V - referir-se de modo depreciativo ou desrespeitoso, à autoridades públicas ou aos atos do Poder Público,
mediante manifestação escrita ou oral, podendo, porém, criticar ato do Poder Público, do ponto de vista doutri-
nário ou da organizanção do serviço, em trabalho assinado;
VI - cometer a pessoa estranha à repartição , fora dos casos previstos em lei, o desempenho de atribuições
que seja sua responsabilidade ou de seu subordinado;
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VII - compelir ou aliciar outro servidor no sentido de filiação a associação profissional ou sindical, ou a par-
tido político;
VIII - manter sob sua chefia imediata, cônjuge, companheiro ou parente até o segundo grau civil, salvo se
ambos servidores forem ocupantes de cargo de provimento efetivo; (Nova redação dada pela LC 692/2021)
IX - valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da dignidade da função
pública;
X - participar de gerência ou administração de empresa privada, de sociedade civil, ou exercer comércio e,
nessa qualidade, transacionar com o Estado.
XI - atuar, como procurador ou intermediário, junto a repartições públicas, salvo quando se tratar de benefí-
cios previdenciários ou assistenciais de parentes até segundo grau, e de cônjuge ou companheiro;
XII - receber propina, comissão, presente ou vantagem de qualquer espécie, em razão de suas atribuições;
XIII - aceitar comissão, emprego ou pensão de Estado estrangeiro, sem licença do Governador do Estado;
XIV - praticar usura sob qualquer de suas formas;
XV - proceder de forma desidiosa;
XVI - utilizar pessoa ou recursos materiais em serviços ou atividades particulares;
XVII - cometer a outro servidor atribuições estranhas às do cargo que ocupa, exceto em situações de emer-
gência e transitórias;
XVIII - exercer quaisquer atividades que sejam incompatíveis com o exercício do cargo ou função e com o
horário de trabalho;
XIX - assediar sexualmente ou moralmente outro servidor público. (Acrescentado pela LC 347/09)
XX - violar prerrogativas e direitos dos advogados no exercício de sua função. (Acrescentado pela LC
657/2020)
CAPÍTULO III
DA ACUMULAÇÃO
Art. 145. Ressalvados os casos previstos na Constituição, é vedada a acumulação remunerada de cargos
públicos.
§1º A proibição de acumular estende-se a cargos. empregos e funções em autarquias, fundações públicas,
empresas públicas, sociedades de economia mista da União, dos Estados e dos Municípios.
§2º A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica condicionada à comprovoção da compatibilidade de ho-
rários.
Art. 146. O servidor não poderá exercer mais de um cargo em comissão nem ser remunerado pela partici-
pação em órgão de deliberação coletiva.
Art. 147. O servidor vinculado ao regime desta lei, que acumular licitamente dois cargos de carreira, quan-
do investido em cargo de provimento em comissão, ficará afastado de ambos os cargos efetivos recebendo a
remuneração do cargo em comissão, facultando-lhe a opção pela remuneração.
Parágrafo único. O afastamento previsto neste artigo ocorrerá apenas em relação a um dos cargos, se hou-
ver compatibilidade de horários.
CAPÍTULO IV
DAS RESPONSABILIDADES
Art. 148. O servidor responde civil, penal e administrativamente, pelo exercício irregular de suas atribuições.
Art. 149. A responsabilidade civil decorre do ato omissivo ou comissivo, doloso ou culposo que resulte em
prejuízo ao erário ou a terceiro.
§1º A Indenização de prejuízo dolosamante causado ao erário somente será liquidado na forma prevista no
artigo 66, na falta do outros bens que assegurem a execução do débito pela via judicial.
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§2º Tratando-se de dano causado a terceiros, responderá o servidor perante a fazenda estadual, em ação
regressiva.
§3º A obrigação de reparar o dano estende-se aos sucessores e contra eles será executada, até o limite do
valor da herança recebida.
Art. 150 A responsabilidade penal abrange os crimes e contravenções imputados ao servidor, nessa quali-
dade.
Art. 151. A resposabilidade administrativa resulta do ato omissivo ou comissivo praticado no desempenho
de cargo ou função.
Art. 152. As sanções civis penais e administrativas poderão cumular-se sendo independentes entre sí.
Art. 153. A responsabilidade civil ou administrativa do servidor será afastada no caso da absolvição criminal
que negue a existência do fato ou de sua autoria.
CAPÍTULO V
DAS PENALIDADES
Art. 154. São penalidades disciplinares:
I - repreensão;
II - suspensão;
III - demissão
IV - cassação de aposentadoria ou disponibilidade;
V - destituição de cargo em comissão.
Art. 155. Na aplicação das penalidades serão consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida,
os danos que dela provieram para o serviço público, as circunstâncias agravantes ou atenuantes a os antece-
dentes funcionais.
Art. 156 A repreensão será aplicada por escrito, nos casos de violação de proibição constante do art. 143, I
a IX, do art. 144, XX, e de inobservância de dever funcional previsto em lei, regulamento ou norma interna, que
não justifique imposição de penalidade mais grave. (Nova redaçao dada pela LC 657/2020)
Art. 157. A suspensão será aplicada em caso de reincidência das faltas punidas com repreensão e de viola-
ção das demais proibições que não tipifiquem infração sujeita a penalidade de demissão, não podendo exceder
de 90 (noventa)dias.
§1º Será punido com suspensão de até 15 (quinze) dias o servidor que injustificadamente, recusar-se a ser
submetido a inspeção médica determinada pela autoridade competente, cessando os efeitos da penalidade
uma vez cumprida a determinação.
§2º Quando houver conveniência para o serviço, a penalidade de suspensão poderá ser convertida em mul-
ta, na base de 50% (cinquenta por cento) por dia de vencimento ou remuneração, ficando o servidor obrigado
a permanecer em serviço.
Art. 158. As penalidades de repreensão e de suspensão terão seus registros cancelados, após o decurso de
01 (um) ano a 03 (três) meses de efetivo exercício, respectivamente, se o servidor não houver, nesse período,
praticado nova infração disciplinar.
Parágrafo único O cancelamento da penalidade não surtirá efeitos retroativos.
Art. 159. A demissão será aplicada nos seguintes casos:
I - crime contra a administração pública;
II - abandono de cargo;
III - inassiduidade habitual;
IV - improbidade administrativa;
V - incontinência pública e conduta escandalosa;
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VI - insubordinação grave em serviço;
VII - ofensa física, em serviço, a servidor ou a particular, salvo em legítima defesa própria ou de outrem;
VIII - aplicação irregular de dinheiro público;
IX - revelação de segredo apropriado em razão do cargo;
X - lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio Estadual;
XI - corrupção;
XII - acumulação ilegal de cargos ou fuções públicas após constatação em processo disciplinar;
XIII - transgressão do artigo 144, incisos X a XVII.
Art. 160 (revogado) (Revogado pela LC 584/17)
Art. 161. Será cassada a aposentadoria ou a disponibilidade do inativo que houver praticado, na atividade,
falta punível com a demissão.
Art. 162. A destituição de cargo em comissão exercido por não ocupante de cargo efetivo será aplicada nos
casos de infração sujeita a penalidades de suspensão e de demissão.
Parágrafo único Ocorrida a exoneração de que trata o artigo 45, o ato será convertido em destituição de
cargo em comissão prevista neste artigo.
Art. 163. A demissão ou a destituição de cargo em comissão, nos casos dos incisos IV, VIII a X do artigo 144,
implica indisponibilidade dos bens e ressarcimento ao erário sem prejuízo da ação penal cabível.
Art. 164. A demissão ou a destituição de cargo em comissão por infringência do artigo 144, inciso X, XII e
XIII, incompatibiliza o ex-servidor para nova investidura em cargo público estadual, pelo prazo mínimo de 05
(cinco) anos.
Parágrafo único. Não poderá retornar ao serviço público estadual o servidor que for demitido ou destituído
do cargo em comissão por infringência do artigo 159, Inciso I, IV, VIII, X e XI.
Art. 165. Configura o abandono de cargo a ausência intencional do servidor ao serviço por mais de 30 (trin-
ta) dias consecutivos.
Art. 166. Entende-se por inassiduidade habitual, a falta ao serviço sem causa justificada por 60 (sessenta)
dias, interpoladamente, durante o período de 12 (doze) meses.
Art. 167. O ato de imposição da penalidade mencionará sempre o fundamento legal e a causa da sanção
disciplinar.
Art. 168. As penalidades disciplinares serão aplicadas:
I - pelo Governador do Estado, pelos Presidentes do Poder Legislativo e dos Tribunais Estaduais, pelo Pro-
curador Geral da Justiça e o pelo dirigente superior de autarquia e Fundação, quando se tratar de demissão e
cassação de aposentadoria ou disponibilidade de servidor vinculado ao respectivo Poder, Órgão ou Entidade;
II - pelas autoridades administrativas de hierarquia imediatamente inferior aquelas mencionadas no inciso I
, quando se trata de suspensão superior a 30 (trinta) dias.
III - pelo chefe da repartição e outra autoridade, na forma dos respectivos regimentos ou regulamentos , nos
casos de repreensão ou de superior de até 30 (trinta) dias;
IV - peIa autoridade que houver feito a nomeação, quando se tratar de destituição de cargo em comissão de
não ocupante do cargo efetivo.
Art. 169 A ação disciplinar prescreverá:
I - em 05 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis com demissão, cassação de aposentadoria ou disponi-
bilidade e destituição de cargo em comissão;
II - em 2 (dois) anos, quanto à representação e suspensão;
§1º O prazo de prescrição começa da data em que, o fato ou transgressão se tornou conhecido.
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§2º Os prazos de prescrição previstos na lei penal aplicam-se às infrações disciplinares capituladas também
como crime.
§3º (revogado) (Revogado pela LC 584/17)
§4º (revogado) (Revogado pela LC 584/17)
§5º (revogado) (Revogado pela LC 584/17)
TÍTULO V
DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 170. A autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público é obrigada a promover a sua
apuração imediata, mediante sindicância ou processo disciplinar, assegurado ao acusado ampla defesa.
Art. 171. As denúncias sobre irregularidades serão objeto de apuração, desde que contenham a identifica-
ção e o endereço do denunciante e sejam formulados por escrito, confirmada a autenticidade.
Parágrafo único Quando o fato narrado não configurar evidente infração disciplinar ou ilícito penal, a denún-
cia será arquivada por falta de objeto.
Art. 172 . Da sindicância poderá resultar:
I - arquivamento do processo;
II - aplicação de penalidade de repreensão ou suspensão de até 30 (trinta) dias;
III - instauração de processo dinciplinar.
Art. 173. Sempre que o ilícito praticado pelo servidor ensejar à imposição de penalidade de suspensão por
mais de 30 (trinta) dias de demissão ou destituição de cargo em comissão, será obrigatória a instauração do
processo disciplinar.
CAPÍTULO II
DO AFASTAMENTO PREVENTIVO
Art. 174. Como medida cautelar e a fim de que o servidor não venha a influir na apuração da irregularidade,
a autoridade instauradora do processo disciplinar poderá ordenar o seu afastamento do exercício do cargo, pelo
prazo de até 60 (sessenta) dias, sem prejuízo da remuneração.
Parágrafo único O afastamento poderá ser prorrogado por igual prazo, findo o qual cassarão os seus efei-
tos, ainda que não concluído o processo.
Art. 175. O processo disciplinar é o instrumento destinado a apurar responsabilidade de servidor por infra-
ção praticada no exercício de suas atribuições, ou que tenha relação mediata com, as atribuições do cargo que
se encontre investido.
§1º O servidor que responde a processo administrativo disciplinar nos termos do caput deste artigo, até
decisão final da autoridade competente e independentemente do que dispõe o artigo anterior, deverá ser re-
manejado para exercer as atribuições do cargo em que se encontra investido em ambiente de trabalho diverso
daquele em que as exercia quando da instauração do referido processo, sem prejuízo da remuneração. (Acres-
centado pela LC 85/01)
§2º Para a aplicação das penalidades previstas nesta lei complementar, observar-se-á o disposto no artigo
168.(Acrescentado pela LC 85/01)
Art. 176 Vetado.
Art. 177. A comissão de inquérito exercerá suas atividades com independência e imparcialidade, assegura-
do o sigilo necessário a elucidação do fato ou exigido pelo interesse da administração.
Art. 178. O processo discipIinar se desenvolve nas seguintes fases:
I - instauração, com publicação do ato que Constituiu a comissão;
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II - inquérito administrativo, que compreende instrução, defesa e relatório;
III - julgamento.
Art. 179. O prazo para a conclusão do processo disciplinar não excederá 60 (sessenta) dias, contados da
publicação do ato que constituir a comissão, admitida a sua prorrogação por igual prazo, quando as circunstân-
cias o exigirem.
§1º Decorrido, sem que seja apresentado o relatório conclusivo, a autoridade competente deverá determinar
a apuração, a responsabilidade dos membros da comissão.
§2º Sempre que necessário, a comissão dedicará tempo integral aos seus trabalhos, ficando seus membros
dispensados do ponto, até a entrega do relatório final.
§3º As reuniões da comissão serão registradas em atas que deverão detalhar as deliberações adotadas.
SEÇÃO I
DO INQUÉRITO
Art. 180. O inquérito administrativo será contraditório, assegurado ao acusado a ampla defesa, com a utili-
zação dos meios e recursos admitidos em direito.
Art. 181. Os autos de sindicância integrarão o processo disciplinar, como peça informativa de instrução.
Parágrafo único. Na hipótese do relatório da sindicância concluir que a infração está capitulada como ilícito
penal, a autoridade competente encaminhará cópia dos autos ao Ministério Público, independentemente da
imediata instauração do processo disciplinar.
Art. 182. Na fase do inquérito, a comissão promoverá a tomada de depoimentos, acareações, investigações
diligências cabíveis, objetivando a coleta de prova, recorrendo quando necessário, a técnicos e peritos, de
modo a permitir a completa elucidação dos fatos.
Art. 183. É assegurado ao servidor o direito de acompanhar o processo em qualquer fase, pessoalmente ou
por intermédio de procurador, arrolar-se e reinquirir testemunhas, produzir provas a contra-provas e formular
quesitos, quando se tratar de prova pericial,
§1º O Presidente da comissão poderá denegar pedidos considerados impertinentes meramente protelató-
rios ou de nenhum interesse para o esclarecimento dos fatos.
§2º Será indeferido o pedido de prova pericial, quando a comprovação do fato independer, de conhecimento
especial de perito.
Art. 184. As testemunhas serão intimadas a depor mediante mandado expedido pelo Presidente da comis-
são, devendo a segunda via, com o ciente do interessado, ser anexada aos autos.
Parágrafo único. Se a testemunha for servidor público, a expedição do mandado será imediatamente comu-
nicado ao chefe da repartição onde serve, com indicação do dia e hora marcados para a inquirição.
Art. 185. O depoimento será prestado oralmente e reduzido a termo, não sendo lícito à testemunha trazê-lo
por escrito.
§1º As testemunhas serão inquiridas separadamente.
§2º Na hipótese de depoimentos contraditórios ou que se infirmem, proceder-se-á a acareacão,entre os
depoentes.
Art. 186. Concluída a inquirição das tentemunhas a comissão promoverá o interrogatório do acusado, ob-
servados os procedimentos previstos nos artigos 184 e 185.
§1º No caso de mais de um acusado, cada um deles será ouvido separadamente, e sempre que divergirem
em suas declarações sobre fatos ou circunstâncias, será promovida a acareação entre eles.
§2º O Procurador do acusado poderá assistir ao interrogatório, bem como à inquirição das testemunhas,
sendo-lhes vedado interferir nas perguntas e respostas, facultando-lhe, porém, reinquirí-las, por intermédio do
Presidente da comissão.
65
Art. 187. Quando houver dúvida sobre a sanidade mental do acusado, a comissão proporá à autoridade
compete que ele seja submetido a exame por junta médica oficial, da qual participe pelo menos um médico
psiquiatra.
Parágrafo único. O incidente de sanidade mental será processado em auto apartado e apenso no processo
principal, após a expedição do laudo pericial.
Art. 188. Tipificada a Infração disciplinar será formulada a indicação do servidor com a especificação dos
fatos a ele imputados a das respectivas provas.
§1º O indiciado será citado por mandado expedido pelo Presidente de Comissão para apresentar defesa
escrita, no prazo de 10 (dez) dias, assegurando-se- lhe vista do processo na repartição.
§2º Havendo dois ou mais indiciados, o prazo será comum e de 20 (vinte) dias.
§3º O prazo de defesa poderá ser prorrogado pelo dobro, para diligências indispensáveis.
§4º No caso de recusa do indiciado em opor o ciente na cópia da citação, o prazo para defesa contar-se-á
da data declarada em termo próprio, pelo membro da comissão que fez a citação.
Art. 189 O indiciado que mudar de residência fica obrigado a comunicar à Comissão o lugar onde poderá
ser encontrado.
Art. 190. Achando-se o indiciado em lugar incerto e não sabido, será citado por edital, publicado no Diário
Oficial do Estado e em jornal de grande circulação na localidade do último domicílio conhecido, para apresentar
defesa.
Parágrafo único Na hipótese deste artigo, o prazo para defesa será de 15 (quinze) dias a partir da última
publicação do edital.
Art. 191.Considerar-se-á revel o indiciado que, regularmente citado, não apresentar defesa no prazo legal,
§1º A revelia será declarada por termo nos autos do processo e devolverá o prazo para a defesa.
§2º Para defender o indiciado revél, a autoridade instauradora do processo designará um servidor como
defensor-dativo de cargo de nível igual ou superior ao do indiciado.
Art. 192. Apreciada a defesa, a comissão elaborará relatório minucioso, onde resumirá as peças principais
dos autos e mencionará as provas em que se baseou para formar a sua convicção.
§1º O relatório será conclusivo quanto a inocência ou responsabilidade do servidor.
§2º O processo disciplinar, com o relatório da comissão, indicará o dispositivo legal ou regulamentar trans-
gredido, bem como as circunstâncias agravantes ou atenuantes.
Art. 193. O processo disciplinar, com o relatório da comissão, será remetido á autoridade que determinou a
instauração, para julgamento.
SEÇÃO II
DO JULGAMENTO
Art. 194. No prazo de 60 (sessenta) dias, contados do recebimento do processo, a autoridade julgadora
proferirá a sua decisão.
§1º Se a penalidade a ser aplicada exceder a alçada da autoridade instauradora do processo, este será
encaminhado à autoridade competente que decidirá em igual prazo.
§2º Havendo mais de um indiciado e diversidade de sanções, o julgamento caberá a autoridade competente
para a imposição da pena mais grave.
§3º Se a penalidade prevista for de demissão, o julgamento caberá às autoridades de que trata o inciso l,
do artigo 169.
Art. 195. O julgamento acatará o relatório da comissão, salvo quando contrário às provas dos autos.
Parágrafo único Quando o relatório da comissão contrariar as provas dos autos, a autoridade julgadora po-
derá motivadamente, agravar a penalidade proposta, abrandá-la, ou isentar o funcionário de responsabilidade.
66
Art. 196. Verificada a existência de vício insanável, a autoridade julgadora declarará a nulidade total ou par-
cial do processo e ordenará a constituição de outra comissão, para a instauração de novo processo.
§1º O julgamento fora do prazo legal não implica nulidade do processo. (Nova redação dada pela LC 123/03)
§2º A autoridade julgadora que der causa à prescrição de que trata o artigo 169, parágrafo 2º, será respon-
sabilizada na forma do Capitulo V, do Título V desta. Lei.
Art. 197. Extinta a punibilidade peIa prescrição, a autoridade julgadora determinará o registro do fato nos
assentamentos individuais do servidor.
Art. 198. Quando a infração estiver capitulada como crime, o processo disciplinar será remetido ao Ministé-
rio Público para instauração da Ação Penal, ficando translado na repartição.
Art. 199. O servidor que responde processo disciplinar só poderá ser exonerado a pedido, do cargo, ou
aposentado voluntariamente, após a conclusão do processo e o do cumprimento da penalidade acaso aplicada.
Parágrafo único. Ocorrida a exoneração de que trata o artigo 44, parágrafo único, inciso I, o ato será con-
vertido em demissão, se for o caso.
Art. 200. Serão assegurados transporte e diárias:
I - ao servidor convocado para prestar depoimento fora, da sede de sua repartição, na condição de testemu-
nha, denunciado ou indiciado;
II - aos membros da comissão e ao secretário, quando obrigados a se deslocarem da sede dos trabalhos
para a realização de missão essencial ao esclarecimento dos fatos.
SEÇÃO III
DA REVISÃO DO PROCESSO
Art. 201. O processo disciplinar poderá ser revisto, a qualquer tempo, a pedido ou de ofício, quando se
aduzirem fatos novos ou circunstanciais suscetíveis de justificar a inocência do punido ou a inadequação da
penalidade aplicada.
§1º Em caso de falecimento, ausência, ou desaparecimento do servidor, qualquer pessoa poderá requerer
a revisão do processo.
§2º No caso de incapacidade mental do servidor, a revisão será requerida pelo respectivo curador.
Art. 202. No processo revisional, o ônus da prova cabe ao requerente.
Art. 203 A simples alegação de injustiça da penalidade não constitui fundamento para revisão que requer
elementos novos, ainda não apreciados no processo originário.
Art. 204. o requerimento de revisão do processo será dirigido ao Secretário de Estado ou autoridade equi-
valente, que,se autorizar a revisão encaminhará o pedido ao , dirigente do órgão ou entidade onde se originou
o processo disciplinar.
Parágrafo único. Recebida a petição, o dirigente do órgão ou entidade providenciará a constituição da co-
missão na forma prevista no art. 176, desta lei.
Art. 205. A revisão correrá em apenso ao processo originário.
Parágrafo único. Na petição inicial, o requerente pedirá dia e hora para a produção de provas e inquirição
das testemunhas que arrolar.
Art. 206. A comissão revisora terá até 60 (sessenta) dias para a conclusão dos trabalhos, prorrogável por
igual prazo quando as circunstâncias o exigirem.
Art. 207. Aplicam-se aos trabalhos da comissão revisora, no que couber, as normas e procedimentos pró-
prios da comissão do processo disciplinar.
Art 208. O julgamento caberá à autoridade que aplicou a penalidade nos termos do art. 154 desta lei.
Parágrafo único. O prazo para julgamen to será até 60 (sessenta) dias, contados do recebimento do proces-
so no curso do qual a autoridade julgadora poderá determinar diligências.
67
Art. 209. Julgada procedente a revisão, será declarada sem efeito a penalidade aplicada, restabelecendo-se
todos os direitos do servidor, exceto em relação a destituição de cargo em comissão que será convertida em
exoneração.
Parágrafo único. Da revisão do processo não poderá resultar agravamento de penalidade.
TÍTULO VI
DA SEGURIDADE SOCIAL DO SERVIDOR
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 210. O Estado manterá Plano de Seguridade Social para o servidor e sua família submetido ao Regime
Jurídico Único.
Art. 211. O Plano de Seguridade Social visa dar cobertura aos riscos a que esta sujeito o servidor e sua
família, e compreende um conjunto de benefícios e ações que atendam as seguintes finalidades:
I - garantir meios de subsistência nos eventos de doença, invalidez, velhice, acidente em serviço, inativida-
de, falecimento e reclusão;
II - proteção à maternidade, à adoção e à paternidade;,
III - (revogado) (Revogado pela LC 94/01)
Parágrafo único. Os benefícios serão concedidos nos termos e condições definidos em regulamento, obser-
vadas as disposições desta lei.
Art. 212. Os benefícios do Plano de Seguridade Social do servidor compreendem:
I - quanto ao servidor:
a) aposentadoria;
b) (revogado) (Revogado pela LC 94/01)
c) salário-famílía;
d) licença à gestante, à adotante e licença-paternidade; (Nova redação dada pela LC 263/06)
e) licença por acidente em serviço;
f) licença para tratamento de saúde.
II - quanto aos dependentes:
a) pensão vitalícia e temporária;
b) (revogado) (Revogado pela LC 94/01)
c) (revogado) (Revogado pela LC 94/01)
d) auxílio-reclusão.
§1º (revogado) (Revogado pela LC 254/06)
§2º O recebimento indevido de benefícios havidos por fraude, dolo ou má fé, implicará na devolução ao
erário do total auferido, sem prejuízo da ação penal cabível.
68
CAPÍTULO II
DOS BENEFÍCIOS
SEÇÃO I
DA APOSENTADORIA
Art. 213. O servidor será aposentado:
I - por invalidez permanente, sendo os proventos integrais quando decorrentes de acidentes em serviço,
moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, especificada em lei, com base de conclusões
de junta médica do IPEMAT - Instituto de Previdência do Estado de Mato Grosso e proporcional nos demais
casos. (Nova redação dada pela LC 68/00)
II - compulsoriamente, aos 70 (setenta) anos de idade, com proventos proporcionais ao tempo de serviço;
III - voluntariamente:
a) aos 35 (trinta e cinco) anos de serviço, se homem, e aos 30 (trinta) se mulher, com proventos integrais;
b) aos 30 (trinta) anos de efetivo exercício em funções de magistério, se professor, e 25 (vinte e cinco), se
professora, com proventos integrais;
c) aos 30 (trinta) anos de serviço, se homem e aos 25 (vinte e cinco) se mulher, com proventos proporcio-
nais;
d) aos 65 (sessenta o cinco) anos de idade, se homem, e aos 60 (sessenta), se mulher, com proventos pro-
porcionais ao tempo de serviço.
§1º Consideram-se doenças graves, contagiosas ou incuráveis, a que se refere o inciso I deste artigo, tu-
berculose ativa, alienação mental, neoplasia maligna, cegueira posterior ao ingresso no serviço público, han-
seníase, cardiopatia grave, esclerose múltipla, hepatopatia grave, doença de Parkinson, paralisia irreversível e
incapacitante, expondiloartrose anquilorante, nefropatia grave, estado avançado do mal de Paget, osteíte de-
formante, síndrome da imunodeficiência adquirida, AIDS; no caso de magistério, surdez permanente, anomalia
da fala e outros que a lei indicar com base na medicina especializada. (Nova redação dada pela LC 568/15)
§2º Nos casos de exercícios de atividades consideradas insalubres ou perigosas, bem como nas hipóteses
previstas no artigo 90, a aposentadoria que trata o inciso III, alíneas “a”, “b” e “c”, observará o disposto em lei
especial.
§3º Estende-se aos ocupantes de cargos em comissão, as prerrogativas inseridas no inciso I deste artigo,
quando se tratar de acidente em serviço, moléstia profissional e invalidez permanente. (Acrescentado pela LC
68/00)
§4º Para atender o disposto no inciso I deste artigo, a Junta Médica do IPEMAT terá o prazo de 30 (trinta)
dias para expedir o laudo ou atestado de invalidez, contados da data do requerimento do interessado. (Acres-
centado pela LC 68/00)
Art. 214. A aposentadoria compulsória será automática e declarada por ato com vigência a partir do dia ime-
diato àquele em que o servidor atingir a idade limite de permanência no serviço ativo.
Art. 215. A aposentadoria voluntária ou por invalidez vigorará a partir da data da publicação do respectivo
ato.
§1º A aposentadoria por invalidez será precedida de licença para tratamento de saúde, por período não
excedente a 24 (vinte e quatro) meses.
§2º Expirado o período de licença e não estando em condições de reassumir o cargo, ou de ser readaptado,
o servidor será aposentado.
§3º O lapso de tempo compreendido entre o término de licença e a publicação do ato de aposentadoria será
considerado como de prorrogação de licença.
Art. 216. O provento de aposentadoria será calculado com observância do disposto no artigo 57, e revisto
na mesma data e proporção, sempre que se modificar a remuneração do servidor em atividade.
69
Parágrafo único. São estendidos aos inativos quaisquer benefícios ou vantagens posteriormente concedi-
dos ao servidor em atividade, inclusive, quando decorrentes da transformação ou reclassificação do cargo ou
função em que se deu a aposentadoria.
Art. 217. O servidor aposentado com provento proporcional ao tempo de serviço, se acometido de qualquer
das moléstias especificadas no artigo 213, parágrafo 1º, passará a perceber provento integral.
Art. 218. (revogado) (Revogado pela LC 524/14)
Art. 219. (revogado) (Revogado pela LC 59/99)
Art. 220. O servidor que tiver exercido função de direção, chefia, assessoramento, assistência ou cargo em
comissão, por período de 05 (cinco) anos consecutivos ou 10 (dez) anos interpolados poderá se aposentar com
a gratificação da função ou remuneração do cargo em comissão, de maior valor, desde que exercido por um
período mínimo de 02 (dois) anos.
Parágrafo único. Quando o exercício da função ou cargo em comissão de maior valor não corresponde ao
período de 02 (dois) anos, será incorporada a gratificação ou remuneração da função ou cargo em comissão
imediatamente inferior dentre os exercidos.
Art. 221 Ao servidor aposentado será paga a gratificação natalina, até o dia 20 (vinte) do mês de dezembro,
em valor equivalente ao respectivo provento, deduzido adiantamento recebido.
Art. 222 Ao Ex-combatente que tenha efetivamente participado de operações bélicas, durante a segunda
guerra mundial, nos termos da Lei nº 5.315, de 12 de setembro de 1967, será concedida aposentadoria com
proventos integrais, aos 25 (vinte e cinco) anos de serviço efetivo.
SEÇÃO IL
DO AUXÍLIO-NATALIDADE
Art. 223 (revogado) (Revogado pela LC 124/03)
SEÇÃO III
DO SALÁRIO-FAMÍLIA
Art. 224. O salário-familia, definido na legislação específica, é devido ao servidor ativo ou ao inativo, por
dependente econômico.
§1º Consideram.se dependentes para efeito de percepção do salário-família: (Nova redação dada pela LC
124/03)
I - o filho, até quatorze anos de idade ou inválido.
II - o enteado e o menor que esteja sob sua tutela, comprovada a dependência econômica, e desde que não
possua bens suficientes para o próprio sustento e educação.
§2º O salário-família somente será devido ao servidor que perceber remuneração, vencimento ou subsídio
igual ou interior ao teto fixado para esse fim pelo Regime Geral de Previdência Socia. (Nova redação dada pela
LC 124/03)
Art. 225. Não se configura a dependência econômica quando o beneficiário do salário-familia perceber ren-
dimento do trabalho ou de qualquer outra fonte, inclusive pensão ou provento de aposentadoria, em valor igual
ou superior ao salário-mínimo.
Art. 226. Quando pai e mãe forem servidores públicos e viverem em comum, o salário-familia será pago a
um deles quando separados, será pago a um e outro, de acordo com a distribuição dos dependentes.
Parágrafo único. Ao pai e à mãe equiparam-se o padrasto, a madrasta e, na falta destes, os representantes
legais dos incapazes.
Art. 227. O salário-familia não está sujeito a qualquer tributo, nem servirá de base para qualquer contribui-
ção, inclusive para previdência social.
Art. 228. O afastamento do cargo efetivo, sem remuneração, não acarreta a suspensão do pagamento do
salário-família.
70
SEÇÃO IV
DA LICENÇA PARA TRATAMENTO DE SAÚDE
Art. 229. Será concedida ao servidor licença para tratamento de saúde, a pedido ou de ofício, com base em
perícia médica, sem prejuízo da remuneração a que fizer jus.
Art. 230. A Inspeção para fins de licença para Tratamento de Saúde será feita pelo Médico Assistente do
órgão da Previdência Estadual ou por Junta Médica Oficial, conforme se dispuser em regulamento. (Nova re-
dação dada pela LC 12/92)
§1º Sempre que necessário,a inspeção médica será realizada na residência do servidor ou no estabeleci-
mento hospitalar onde se encontrar internado.
§2º Inexistindo médico do órgão ou entidade no local onde se encontra o servidor, será aceito atestado
passado por médico particular.
§3º No caso do parágrafo anterior, o atestado só produzirá efeitos depois da homologação pelo setor médico
do respectivo órgão ou entidade.
§4º No caso de não ser homologado a licença, o servidor será obrigado a reassumir o exercício do cargo,
sendo considerado, como de faltas justificadas, os dias em que deixou de comparecer ao serviço por esse mo-
tivo, ficando, no caso caracterizado a responsabilidade do médico atestante.
§5º Será facultado à administração, em caso de dúvida razoável, exigir inspeção, por junta médica oficial.
Art. 231. Findo o prazo de licença, se necessário, o servidor será submetido a nova inspeção médica, que
concluirá pela volta ao serviço, pela prorrogação da licença ou pela aposentadoria.
Art. 232. O atestado e o laudo da junta médica não se referirão ao nome ou natureza da doença, salvo
quando se tratar de lesões produzidas por acidente em serviço, doença profissional ou quaisquer das doenças
especificadas no art. 213, parágrafo 1º.
Art. 233. O servidor que apresente indícios de lesões orgânicas ou funcionais será submetido à inspeção
médica.
Art. 234. Será punido disciplinarmente o servidor que se recusar à inspeção médica, cessando os efeitos da
pena logo que se verifique a inspeção.
SEÇÃO V
DA LICENÇA À GESTANTE, À ADOTANTE E DA LICENÇA-PATERNIDADE
Art. 235 Será concedida licença à servidora gestante pelo períod
o de 180 (cento e oitenta) dias consecutivos, contados a partir da data de nascimento da criança, sem pre-
juízo da remuneração, mediante apresentação de requerimento e certidão de nascimento. (Nova redação dada
a íntegra do art. pela LC 724/2022)
§1º O início da licença poderá ser antecipado a partir do primeiro dia do nono mês de gestação ou em razão
de prescrição médica, mediante requerimento e comprovação documental.
§2º Publicada a licença tratada neste artigo, o usufruto não será interrompido, mesmo com o falecimento da
criança, salvo a pedido da servidora.
§3º No caso de natimorto ou aborto devidamente comprovado, poderá ser concedida licença para tratamen-
to de saúde, mediante prescrição de médico assistente e de avaliação médica pericial.
§4º A servidora que entrar em exercício no cargo público após o nascimento da criança terá direito ao usu-
fruto do restante do período da licença.
§5º Ao servidor cujo cônjuge ou convivente estiver no usufruto da licença maternidade e vier a falecer, será
concedido o direito do usufruto do período remanescente de que trata o caput deste artigo, mediante solicitação
e comprovação documental.
71
§6º No caso de recém-nascido prematuro ou com deficiência visual, auditiva, mental, motora ou com má-
-formação congênita, o período da licença estabelecido no caput deste artigo poderá ser prorrogado por até
120 (cento e vinte) dias, mediante fundamentação subscrita em laudo clínico por médico assistente e avaliação
médica pericial.
Art. 236 Pelo nascimento ou adoção de filho, o servidor terá direito à licença-paternidade de 05 (cinco) dias
consecutivos. (Nova redação dada pela LC 263/06)
Art. 237 Para amamentar o próprio filho, até a idade de 06 (seis) meses, a servidora lactante terá direito,
durante a jornada de trabalho, a uma hora de descanso, que poderá ser parcelada em 02 (dois) períodos de
1/2 (meia) hora.
Art. 238 Será concedida licença à servidora que adotar ou obtiver guarda judicial para fins de adoção de
criança pelo período de 180 (cento e oitenta) dias consecutivos, para ajustamento do adotado ao novo lar,
mediante apresentação de documento oficial comprobatório da adoção ou guarda, expedido pela autoridade
judiciária competente. (Nova redação dada pela LC 724/2022)
§1º (revogado) (Revogado pela LC 124/03)
§2º (revogado) (Revogado pela LC 124/03)
§3º (revogado) (Revogado pela LC 724/2022)
§4º (revogado) (Revogado pela LC 724/2022)
§5º Cessados os motivos da licença, a servidora deverá se apresentar no órgão de gestão de pessoas para
revogação da concessão, sob pena de perda total da remuneração ou subsídio a partir da data da revogação
da guarda judicial, sem prejuízo da aplicação das penalidades disciplinares cabíveis. (Nova redação dada pela
LC 724/2022)
§6º No caso da adoção ou guarda judicial conjunta, caberá aos adotantes ou guardiães, em comum acordo,
decidirem aquele que usufruirá da licença fixada no caput deste artigo, por meio de declaração escrita a ser
apresentada no seu respectivo órgão (Acrescentado pela LC 724/2022)
SEÇÃO VI
DA LICENÇA POR ACIDENTE EM SERVIÇO
Art. 239 Será licenciado, com remuneração integral, o servidor acidentado em serviço.
Art. 240 Configura acidente em serviço o dano físico ou mental sofrido pelo servidor e que se relacione me-
diata ou imediatamente com as atribuições do cargo exercido.
Parágrafo único. Equipara-se ao acidente em serviço o dano:
I - decorrente de agressão sofrida a não provocada pelo servidor no exercício do cargo;
II - sofrido no percurso da residência para o trabalho e vice-versa.
Art. 241. O servidor acidentado em serviço que necessite da tratamento especializado poderá ser tratado
em instituição privada, à conta de recursos públicos, dentro ou fora do Estado.
Parágrafo único.O tratamento recomendado por junta médica oficial constitui medida de exceção a somente
será admissível quando inexistirem, meios a recursos adequados, em instituição pública.
Art. 242. A prova do acidente será feita no prazo de 10 (dez) dias, prorrogável quando as circunstâncias o
exigirem.
Art. 243. Por morte do servidor, os dependentes fazem jus a uma pensão mensal de valor correspondente
ao da respectiva remuneração ou provento, a partir da data do óbito, observado o limite estabelecido no artigo
62 desta lei.
Art. 244. As pensões distinguem-se, quanto à natureza, em vitalícias e temporárias.
§1º A pensão vitalícia é composta de cota ou cotas permanentes, que somente se extinguem ou revertem
com a morte de seus beneficiários.
72
§2º A pensão temporária é composta de cota ou cotas que podem se extinguir ou reverter por motivo de
morte, cessação da invalidez ou maioridade do beneficiário.
§3º Aplica-se, para efeito deste artigo, os benefícios previstos na alínea “a” do artigo 140 da Constituição
Estadual.
Art. 245. São beneficiários das pensões:
I - vitalícia:
a) cônjuge;
b) a pessoa desquitada, separada judicialmente ou divorciada, com percepção de pensão alimentícia;
c) o companheiro ou companheira designado(a) que comprove união estável como entidade familiar, por
meio de ação judicial própria ao reconhecimento; (Nova redação dada pela LC 524/14)
d) a mãe e o pai que comprovem a dependência econômica do servidor, por meio de ação judicial própria
ao reconhecimento. (Nova redação dada pela LC 524/14)
e) (revogado) (Revogado pela LC 124/03)
II - temporária:
a) os filhos até que atinjam a maioridade civil ou, se inválidos, enquanto durar a invalidez; (Nova redação
dada pela LC 197/04)
b) (revogado) (Revogado pela LC 197/04)
c) o irmão órfão de pai e sem padrasto, até18 (dezoito) anos e o irmão inválido, enquanto durar a invalidez,
que comprovem dependência econômica do servidor, por meio de ação judicial própria ao reconhecimento.”
(NR) (Nova redação dada pela LC 524/14)
d) (revogado) (Revogado pela LC 124/03)
§1º A concessão da pensão vitalícia aos beneficiários de que tratam as, alíneas “a” a “c” do inciso I deste
artigo, exclui desse direito os demais beneficiários referidos nas alíneas “d” e “e”.
§2º A concessão da pensão temporária aos beneficiários de que tratam as alíneas “a” a “b” do inciso II deste
artigo, exclui desse direito os demais beneficiários referidos nas alíneas “c” e “d”.
Art. 246. A pensão será concedida integralmente ao titular da pensão vitalícia, exceto se existirem benefi-
ciários da pensão temporária.
§1º Decorrendo habilitação de vários titulares à pensão vitalícia, o seu valor será distribuído em partes
iguais entre os beneficiários habilitados.
§2º Ocorrendo habilitação às pensões vitalícia e temporária, metade do valor caberá ao titular ou titulares
da pensão vitalícia, sendo a outra metade rateada em partes iguais, entre os titulares da pensão temporária.
§3º Ocorrendo habilitação somente à pensão temporária, o valor integral da pensão será rateada, em partes
iguais, entre os que se habilitarem.
§4º Quando o beneficiário se tratar de pessoa desquitada, separada judicialmente ou divorciada, com per-
cepção de pensão alimentícia, o valor do benefício corresponderá àquele determinado judicialmente a título de
alimentos. (Acrescentado pela LC 524/14)
Art. 247 A pensão poderá ser requerida a qualquer tempo, sendo que será devida a contar da data: (Nova
redação dada pela LC 524/14)
I - do óbito, quando requerida até 30 (trinta) dias depois deste; (Acrescentado pela LC 524/14)
II - do requerimento, quando requerida após o prazo previsto no inciso anterior; (Acrescentado pela LC
524/14)
III - da decisão judicial, no caso de morte presumida. (Acrescentado pela LC 524/14)
Parágrafo único. Concedida a pensão, qualquer prova posterior ou habilitação tardia que implique exclusão
de beneficiários ou redução de pensão só produzirá efeitos a partir da data em que foi oferecida.
73
Art. 248. Não faz jus à pensão o beneficiário condenado pela prática de crime doloso de que resultou a
morte do servidor.
Art. 249. Será concedida pensão provisória por morte do servidor nos seguintes casos:
I - declaração de ausência, pela autoridade judiciária competente.
II - desaparecimento em desabamento inundação, incêndio ou acidente não caracterizado como em serviço;
III - desaparecimento no desempenho das atribuições do cargo ou em missão de segurança.
Parágrafo único. A pensão provisória será transformada em vitalícia ou temporária conforme o caso, decor-
ridos 05 (cinco) anos de sua vigência, ressalvado o eventual reaparecimento do servidor, hipótese em que a
benefício será automaticamente cancelado.
Art. 250. Acarreta perda de qualidade de beneficiário:
I - o seu falecimento;
II - a anulação do casamento, quando a decisão ocorrer após a concessão da pensão do cônjuge;
III - a cessação da invalidez, em se tratando de beneficiãrio inválido;
IV - a cessação da menoridade civil por qualquer das causas previstas na legislação em vigor, bem como a
da invalidez. (Nova redação dada pela LC 197/04)
V - a acumulação de pensão na forma do artigo 249;
VI - a renúncia expressa.
VII - a constituição de nova união estável ou a celebração de novo casamento para os que recebem o bene-
fício com fundamento nas alíneas “a”, “b” ou “c” do inciso I do art. 245.”VII - a constituição de nova união estável
ou a celebração de novo casamento para os que recebem o benefício com fundamento nas alíneas “a”, “b” ou
“c” do inciso I do art. 245. (Acrescentado pela LC 197/04)
Art. 251. Por morte ou perda da qualidade de beneficiário a respectiva cota reverterá:
I - da pensão vitalícia para os remanescentes desta pensão ou para os titulares da pensão temporária se
não houver pensionista remanescente da pensão vitalícia;
II - da pensão temporária para os co-beneficiários ou, na falta destes, para o beneficiário da pensão vitalícia.
Art. 252 As pensões serão reajustadas segundo critérios estabelecidos pelas normas constitucionais e le-
gais aplicáveis ao benefício. (Nova redação dada pela LC 524/14)
Art. 253. Ressalvado o direito de opção, é vedada a percepção cumulativa de mais de 02 (duas) pensões.
SEÇÃO VIII
DO PECÚLIO ESPECIAL
Art. 254 (revogado) (Revogado pela LC 59/99)
Art. 255 (revogado) (Revogado pela LC 59/99)
Art. 256 (revogado) (Revogado pela LC 59/99)
SEÇÃO IX
DO AUXÍLIO-FUNERAL
Art. 257 (revogado) (Revogado pela LC 59/99)
Art. 258 (revogado) (Revogado pela LC 59/99)
Art. 259 (revogado) (Revogado pela LC 59/99)
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SEÇÃO X
DO AUXÍLIO-RECLUSÃO
Art. 260 A família do servidor ativo é devido o auxílio-reclusão, nos seguintes valores:
I - 2/3 (dois terços) da remuneração quando afastado por motivo de prisão, em flagrante ou preventiva, de-
terminada pela autoridade competente, enquanto perdurar a Prisão;
II - metade da remuneração, durante o afastamento em virtude de condenação, por sentença difinitiva, a
pena que não determine perda do cargo.
§1º Nos casos previstos no inciso I deste artigo, o servidor terá direito à integralização da remuneração,
desde que absolvido.
§2º O pagamento do auxílio-reclusão cessará a partir do dia imediato àquele em que a servidor for posto em
liberdade, ainda que condicional.
§3º O auxilio reclusão somente será devido à família do servidor que perceber remuneração, vencimento ou
subsídio igual ou inferior ao teto fixado para esse fim pelo Regime Geral de Previdência Sócial. (Acrescentado
pela LC 124/03)
CAPÍTULO III
DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE
Art. 261 (revogado) (Revogado pela LC 94/01)
CAPÍTULO IV
DO CUSTEIO
Art. 262 O Plano de Seguridade Social do servidor será custeado com o produto de arrecadação de contri-
buições sociais obrigatório dos servidores dos três Poderes do Estado, da Autarquias e das Fundações e das
Fundações Públicas, criadas e mantidas pelo Poder Público Estadual.
§1º A contribuição do servidor, diferenciada em função da remuneração mensal, bem com dos órgãos e
entidades, será fixada em lei.
§2º O custeio da aposentadoria é de responsabilidade integral do tesouro do Estado.
TÍTULO VII
CAPÍTULO ÚNICO
DA CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA DE EXCEPCIONAL INTERESSE PÚBLICO
Art. 263 Para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público, poderão ser efetuadas
contratações de pessoal por tempo determinado.
Art. 264 (revogado) (Revogado pela LC 600/17)
Art. 265 (revogado) (Revogado pela LC 600/17)
Art. 266(revogado) (Revogado pela LC 600/17)
TÍTULO VIII
CAPÍTULO ÚNICO
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 267. O dia do servidor público será comemorado a vinte e oito de outubro.
Art. 268 Poderão ser instituídos, no âmbito dos Poderes Executivo, Legislativo o Judiciário, os seguintes
incentivos funcionais, além daqueles já previstos nos respectivos planos de carreira:
I - prêmios pela apresentação de idéias, inventos ou trabalhos que favorecem o aumento da produtividade
e a redução dos custos operacionais; e
II - concessão de medalhas, diploma de honra ao mérito, condecorações e elogio.
75
Art. 269. Os prazos previstos nesta lei serão contados em dias corridos excluindo-se o dia do começo e
incluindo-se o do vencimento, ficando prorrogado, para o primeiro dia útil seguinte, o prazo vencido em dia em
que não haja expediente.
Art. 270. Por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, nenhum servidor poderá ser
privado de quaisquer de seus direitos, sofrer discriminação em sua vida funcional, nem eximir-se do cumpri-
mento de seus deveres.
Art. 271. É vedado exigir atestado de ideologia como condição para posse ou exercício de cargo ou função
pública.
Parágrafo único. Será responsabilidade administrativa e criminalmente a autoridade que infringir o disposto
neste artigo.
Art. 272. São assegurados ao servidor público os direitos de associação profissional ou sindical e o de greve.
§1º O direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei.
§2º (Julgado inconstitucional pela ADI STF 554-5 - DOU 24/05/06)
Art. 273. É vedado ao servidor servir sob a direção imediata de cônjuge ou parente até segundo grau, salvo
em função de confiança ou livre escolha, não podendo ultrapassar de 02 (dois) o seu número.
Art. 274. Consideram-se da família do servidor, além do cônjuge e filhos, quaisquer pessoas que vivam as
suas expensas e constem de seu assentamento individual.
Parágrafo único Equipara-se ao cônjuge a companheira ou companheiro, que comprove união estável como
entidade familiar.
Art. 275. Para os fins desta lei, considera-se sede do município onde a repartição estiver instalada e onde o
servidor tiver exercício, em caráter permanente.
Art. 276. Aos servidores regidos pelas Leis especiais, de que trata o parágrafo único do artigo 45 da Consti-
tuição Estadual, com exceção do inciso VII e artigo 79, serão aplicados, subsidiariamente, as disposições deste
estatuto.
Art. 277. Quando da fixação das condições para realização de concurso público de provas ou de provas e
títulos. deverá ser observado que a inscrição de ocupantes de cargo público independerá do limite de idade.
Parágrafo único Ao estipular o limite de vagas, deverá ser reservado 50% (cinquenta por cento) do quanti-
tativo fixado, para fins de ascenção funcional.
Art. 278. A Polícia Militar e Civil do Estado será regido por estatuto próprio.
Art. 279. A investidura em cargo público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou
de provas e títulos, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei, de livre nomeação e
exoneração, conforme artigo 12 desta lei.
TÍTULO IX
CAPÍTULO ÚNICO
DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS E FINAIS
Art. 280. Ficam submetidos ao regime jurídico desta lei, os servidores dos Poderes do Estado da Admi-
nistração Direta, das Autarquias e Fundações criadas e mantidas pelo Estado de Mato Grosso, regidos pelo
Estatuto do Servidores Públicos Civis do Estado, de que trata a Lei nº 1.638, de 28 de outubro de 1961, ou pela
Consolidação das Leis do Trabalho CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 01 de maio de 1943, exceto os
contratados por prazo determinado, conforme o disposto nesta lei.
§1º A submissão de que trata este artigo fica condicionada ao que dispõe a lei que instituir o Regime Jurídico
Único.
§2º Os empregos ocupados pelos servidores incluídos no regime estatutário ficam transformados em car-
gos, na data da publicação desta lei.
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§3º Os contratos individuais de trabalho se extinguem automaticamente pela transformação dos empregos
ou funções, ficando assegurados aos respectivos ocupantes a continuidade da contagem de tempo de serviço
para fins de férias, gratificação natalina, anuênio, aposentadoria e disponibilidade, e ao pessoal optante nos
termos da lei no 5.107, de 13.09. 66, o levantamento do FGTS.
§4º O regime jurídico desta lei é extensivo aos serventuários da justiça, remunerados com recursos do Es-
tado no que couber.
§5º Os empregos dos servidores estrangeiros com estabilidade no serviço público, enquanto não adquiri-
rem a nacionalidade brasileira, passarão a integrar tabela em extinção, do respectivo órgão ou entidade, sem
prejuízo.
§6º Vetado.
§7º Assegura-se aos servidores contratados sob o regime jurídico celetista que não desejarem ser subme-
tidos ao regime jurídico estatutário o direito de, alternativamente:
I - ter o contrato de trabalho rescindido garantindo-lhe a indenização pecuniária integral de todos os direitos
adquiridos na vigência do regime celetista, inclusive os previstos nos parágrafos 3º e 6º deste artigo;
II - obter remanejamento para empresas públicas ou de economia mista do Estado, desde que haja mani-
festação favorável da administração do órgão de origem e da empresa de destino do servidor.
Art. 281 Vetado.
DOS DIREITOS INERENTES AOS PLANOS DE CARREIRA AOS QUAIS SE ENCONTRAM VINCULA-
DOS OS EMPREGOS
Art. 282. A licença especial disciplinada pelo artigo 120, de Lei n 1.638, de 1.961, ou por outro diploma legal,
fica transformada em licença-prêmio por assiduidade, na forma prevista nos artigos 109 a 113 desta lei.
Art. 283. Até a data de vigência da Lei de que trata o artigo 262, §1º, os servidores abrangidos por esta lei
contribuirão na forma e nos percentuais atualmente estabelecidos para o servidor do Estado, conforme regula-
mento próprio.
Art. 284. Esta Lei Complementar entrará em vigor na data de sua publicação, com efeitos financeiros a partir
do primeiro dia do mês subsequente.
Art. 285. Revogam-se as Leis nºs. 1.638, de 28 de outubro de 1961; 5.083, de 03 de dezembro de 1986 e
978, de 04 de novembro de 1957, Decreto nº 511, de 25 de março de 1968, Lei nº 5.063, de 20 de novembro
de 1986 e Decreto nº 2.245, de 02 de dezembro de 1986.
Palácio Paiaguás, em Cuiabá, 15 de outubro de 1990, 168º dia Independência e 101º da República.
Cidadania é termo que advém do latim (com raiz em civitatis, de civitas, que significa cidade, palavra da
qual deriva cidadão e cidadania)15 e possui vários sentidos, que vão desde o técnico-jurídico, isto é, qualidade
daquele que “usufrui de direitos civis e políticos garantidos pelo Estado e desempenha deveres que, nesta con-
dição, lhe são atribuídos”16 , passando pela associação ao ato de fazer valer os direitos, e havendo inclusive, no
Estado Contemporâneo, quem fale em cidadania universal17: exercitada pelo “cidadão do mundo”, ou seja, pelo
indivíduo “que coloca suas obrigações para com a humanidade acima dos interesses de seu país”18.
A polissemia ou ambiguidade do termo ao mesmo tempo que aponta para um potencial ou riqueza de senti-
dos faz com que ele, de certa forma, perca sua força originária, que deita raízes na Antiguidade greco-romana,
conforme se exporá.
15 (CUNHA, 200:182)
16 (HOUAISS, 2001:714)
17 (BENEVIDES, 1998)
18 (BENEVIDES, 1998)
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Atualmente, do ponto de vista estrito do Direito, costuma-se dizer que cidadão é o nacional que está no gozo
dos direitos políticos. Trata-se, portanto, de quem possui título de eleitor e, por conseguinte, pode participar di-
retamente dos assuntos do Estado, via de regra, por meio de eleição, plebiscito, referendo ou iniciativa popular.
Tal sentido, entretanto, enfraquece as potencialidades da noção de cidadania em um Estado Democrático
de Direito. Cidadania é um conceito em construção e não algo dado ou acabado. Ademais, a construção da
amplitude da noção de cidadania não se deu de forma tranquila e pacífica, mas foi produto de lutas travadas
contra privilégios infundados rumo à afirmação de direitos relacionados com a igualdade e consequentemente
à universalização de seu exercício.
Neste contexto, deve-se ressaltar que, no Brasil, a Constituição de 1988 representou um marco na transição
de um regime autoritário para um Estado Democrático de Direito, o que implicou na necessidade de implemen-
tação de várias formas de participação da sociedade nos assuntos coletivos, que não se restringem às três
expressões de democracia direta positivadas na Constituição (art. 14).
A cidadania, conforme especifica o artigo 1º, II, da Constituição Federal, é um dos fundamentos do Estado
Democrático de Direito. Na realidade, rigorosamente falando, nem haveria necessidade de tal alusão, uma vez
que as noções de democracia e cidadania são intrinsecamente indissociáveis.
A tendência, conforme o País avance no processo de consolidação da democracia, será a ampliação das
formas de participação da coletividade nos assuntos de interesse geral, mediante o desenvolvimento de di-
versos expedientes, como audiências e consultas públicas, conselhos de gestão e de fiscalização de serviços
públicos, incremento dos espaços públicos de reivindicação e pelo fortalecimento dos movimentos populares e
das organizações criadas no seio da sociedade civil.
Tal fenômeno resultará na ampliação dos estreitos limites da definição jurídica do conceito de cidadania de
uma noção relativamente passiva, onde o cidadão é visto da perspectiva de mero portador de direitos e deve-
res para com o Estado, para uma concepção mais ativa, na qual “os cidadãos participantes da esfera pública”
(BENEVIDES, 1998) serão potenciais agentes da exigência do respeito aos direitos assegurados e, ainda, da
criação de mais espaços públicos e quiçá de novos direitos não enunciados.
Sentido originário greco-romano de cidadania
Segundo expõe MARILENA CHAUÍ (2001, p. 371), o termo civitas (raiz etimológica de cidadania) é tradução
latina da palavra grega polis, que indica cidade como ente público e coletivo. Também res publica, por exemplo,
é tradução latina de ta politika, “significando, portanto, os negócios públicos dirigidos pelo populus romanus, isto
é, os patrícios ou cidadãos livres e iguais, nascidos no solo de Roma”. Polis e civitas correspondem ao conjunto
de instituições públicas, incluindo leis, erário público, serviços públicos e sua administração pelos cidadãos.
Em Roma, cidadania designava uma situação política detida por alguns, com exclusão, por exemplo, dos
escravos, das mulheres e das crianças, em relação à possibilidade de participação dos assuntos relativos ao
Estado Romano. Segundo expõe DALMO DE ABREU DALLARI:
“a cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da
vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da
tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social” (DALLARI, 1998:14).
Foi, contudo, na Grécia do auge da democracia, que a questão da participação dos cidadãos na condução
dos assuntos coletivos assumiu uma dimensão mais pronunciada. Neste período, houve a cisão entre as con-
cepções de esfera privada, na qual as pessoas desempenhavam atividades ligadas à sobrevivência, num es-
paço de sujeição (dos escravos, das mulheres e dos menores), e de esfera pública, considerada como espaço
de igualdade, no qual homens livres exerciam a cidadania.
Os cidadãos gregos desta época eram iguais em dois sentidos: (a) o da isonomia, que implicava a igualdade
perante a lei; e (b) o da isegoria, a qual atribuía idêntico direito a todos de expor e discutir em público sobre
as ações que a polis deveria ou não realizar. Como os gregos conferiam elevado valor à noção de igualdade,
o sorteio foi considerado a mais justa forma de distribuição de encargos estatais, uma vez que assim todos os
cidadãos seriam, de fato, tratados com isonomia[2].
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Assevere-se que, para os gregos, o espaço público era um referencial valorativo que apontava para a fina-
lidade superior da vida dos homens livres, entendida como racional e justa. Nesta perspectiva, o desenvolvi-
mento das virtudes políticas fazia parte do ideal de educação (JAEGER, 2001:1098) do homem grego, para a
garantia de uma existência livre e ativa em face dos serviços públicos desenvolvidos para a coletividade.
Barreiras históricas e culturais à vivência da cidadania plena no Brasil
Cidadania, conforme visto é conceito relacionado com a atuação dos indivíduos na condução dos negócios
públicos. Trata-se, portanto, de circunstância relacionada com a democracia, que, quando transformada em
realidade, exige e incentiva que o indivíduo tenha uma postura ativa, no sentido de integrar-se, discutir e fazer-
-se ouvir perante o organismo político.
O exercício pleno da cidadania é conquista social, relacionada com a afirmação e respeito aos Direitos Hu-
manos. Mesmo que quase todos os ordenamentos jurídicos nacionais tenham incorporado em seus preceitos
normas que enunciam valores favoráveis ao desempenho da cidadania, a sua prática (práxis) varia muito de
Estado para Estado e de período para período no mesmo local.
É pressuposto do pleno exercício da cidadania o desenvolvimento de relações sociais mais igualitárias, por
isso que incomoda tanto a formulação feita por FRIEDRICH MÜLLER (2000, p.5-60): que grau de exclusão
social ainda pode ser tolerado por um sistema democrático? Tender-se-ia responder cinicamente que em uma
democracia material nenhum grau de exclusão social pode ser tolerado, contudo, a problemática denuncia que
as pessoas, no geral, como cidadãs que são, tendem a retirar de suas costas a responsabilidade de promover
ações no sentido da inclusão social, procurando não se fazer essa verdadeira e, por isso mesmo, incômoda
questão. Também é pressuposto do pleno exercício da cidadania: a consciência da diferenciação que existe
entre vida privada e espaço público. Estes são aspectos que esbarram em problemas históricos e, consequen-
temente, culturais no Brasil.
Sabe-se que o Brasil foi tratado ab ovo, como um local para ser explorado para o enriquecimento de interes-
ses de fora de seu território. Diferentemente do que ocorreu em colônias de povoamento, o objetivo precípuo
de grande parte dos colonizadores que aqui se fixaram foi o enriquecimento rápido mediante a produção extra-
tivista (agrícola ou de mineração) baseada, via de regra, no latifúndio, no trabalho escravo e no suprimento de
carências do mercado externo. Mesmo com a abolição da escravatura e a adoção do trabalho assalariado, que
se deu no País na divisa dos séculos XIX e XX, predominou, a partir da Proclamação da República, com a pro-
gressiva expansão dos direitos políticos no Brasil, o que se denominou de “coronelismo”. Este é fenômeno cuja
análise é imprescindível para que se entenda o nascimento distorcido da noção de espaço público no Brasil.
O coronelismo, segundo VICTOR NUNES LEAL, representou a decadência do poder privado e a ascensão
do poder público, com a emergência do sufrágio universal a partir da Constituição de 1891, que transformou
grande contingente de trabalhadores rurais (em um país que era, à época, essencialmente agrário) em eleito-
res.
O poder privado, que existia relativamente inconteste desde as grandes divisões do território pelo sistema
das sesmarias (que foi fonte de origem dos grandes latifúndios no País), enfrentou acentuada decadência em
função de vários aspectos, dentre os quais se ressaltam: o êxodo rural, produto da industrialização, e a afir-
mação e garantia dos direitos trabalhistas somente aos trabalhadores urbanos, que transformou o campo em
instância menos atraente. Também houve a ascensão progressiva do poder público, advinda da consolidação
do modelo federativo de Estado.
Enfraquecidos diante de seus dependentes e rivais, os coronéis se viram na necessidade de fazer alianças
políticas com o Estado, que expandia sua influência na proporção em que diminuía a dos donos de terra. A
essência do compromisso coronelista repousou, portanto, no acordo firmado entre o poder privado decadente
e o poder público em ascensão, e este complicado arranjo, denominado por NUNES LEAL de “sistema de re-
ciprocidade”, envolveu:
“de um lado, os chefes municipais e os coronéis, que conduzem magotes de eleitores como que toca tropa
de burros; de outro lado, a situação política dominante do Estado, que dispõe do erário, dos empregos, dos
favores e da força policial, que possui, em suma, o cofre das graças e o poder da desgraça” (LEAL, 1975:43).
79
O coronelismo caracterizou-se como sistema político baseado na “troca de favores”. O Estado, de um lado,
negociava a nomeação dos cargos públicos, o erário e o controle da polícia e, de outro lado, o coronel oferecia
a liderança em relação aos trabalhadores de sua circunscrição rural, que com a República foram transformados
em eleitores. A ideia era buscar um compromisso no qual haveria a garantia de eleição dos governadores e
simultaneamente a manutenção do poder privado dos coronéis, mesmo que em decadência.
O governo estadual, em troca do apoio político, concedia uma autonomia “extralegal” aos coronéis que com-
preendia: (1) o poder para a nomeação de cargos públicos, permitindo o surgimento do denominado “filhotis-
mo”, pois o coronel nomeava pessoas com as quais mantinha relações; (2) o apoio do poder de polícia estadual
para a perseguição dos opositores do coronel, o que deu ensejo ao chamado “mandonismo”; e (3) o poder de
administração dos recursos financeiros do município, que eram utilizados para fins pessoais, ocasionando o
que o autor denominou de “desorganização dos serviços públicos locais”.
Assim, os coronéis falseavam os votos dos seus “rebanhos eleitorais”, isto é, direcionavam os votos para o
resultado pactuado com os governantes, utilizando-se dos votos de cabresto e de elementos coercitivos, como
a ação de pistoleiros, geralmente capangas de sua confiança, ou grupo de jagunços, ou seja, de um “bando de
caboclos dedicados ao ofício das armas, que viviam à sombra de sua autoridade”.
Entretanto, após a Revolução de 30, com a promulgação do Código Eleitoral, houve a instauração do voto
secreto, que acabrunhou o sistema coronelista, porém, não foi suficiente para solapá-lo, haja vista que a sua
base de sustentação era a estrutura agrária do País, e não o voto em si.
Portanto, segundo NUNES LEAL, a estrutura agrária, aliada à falta de autonomia municipal, e ao sistema
representativo, cuja universalização fez surgir no cenário local um novo ator político com amplos poderes, isto
é, o governador, são fatores que contribuíram para a manifestação plena do coronelismo em seu período auge,
que foi o da República Velha (de 1889 a 1930).
Contudo, mesmo com as mudanças que foram sentidas no Brasil a partir da década de trinta, a reflexão
acerca do fenômeno é indispensável na medida em que provoca inferências que transcendem aos estreitos
limites de contextualização de sua ocorrência mais evidente, fornecendo uma importante explicação sobre as
origens distorcidas das relações entre o espaço público e privado no Brasil, ao contrário do que ocorreu, por
exemplo, na Grécia no período auge da democracia, onde artesãos e comerciantes não foram considerados
cidadãos, à medida que não dispunham de “tempo livre” para se dedicarem às tarefas efetivamente públicas.
Ademais, a análise evidencia que diante da miséria e da ausência de informação da população, ela acaba
sendo mais facilmente manipulada pelos detentores de poder que, por este motivo, preocupam-se menos em
promover um projeto efetivo de emancipação social do que com a sua permanência no poder.
Portanto, apesar de todo avanço que as instituições públicas foram objeto no Brasil, ao longo do século XX,
com a industrialização e a formação de uma classe média sustentadora de uma nova base de relações sociais,
o coronelismo explica as origens da propensão cultural brasileira à privatização de espaços públicos, o que
surte efeitos até os dias atuais, prejudicando o livre exercício da cidadania.
A partir de sua análise, entende-se parcela da razão pela qual o povo brasileiro ainda prefere sofrer calado
e aguentar a opressão[6] sem levar a sério as instituições públicas e as leis garantidoras de direitos, em vez de
se unir para romper com a idéia distorcida de que os direitos sejam mera concessão dos “donos do poder” aos
que estão abaixo (ou mais próximos) deles.
Não se pode ignorar, todavia, que a partir da década de trinta, apesar de todo desenvolvimento ocorrido, o
Brasil vivenciou longos períodos de autoritarismo, com Getúlio Vargas e, posteriormente, com o golpe militar,
que durou de 1964 até meados da década de oitenta. Assim, pode-se dizer que apenas a partir da Constituição
de 1988 surgiu um cenário institucional mais favorável ao desabrochar pleno da cidadania no País.
Todavia, mesmo com todas as instituições e mecanismos de participação assegurados no ordenamento e
diante do avanço que deve ser comemorado, ainda existem muitas barreiras à plena vivência da cidadania no
Brasil, pois esta pressupõe, inicialmente, relações sociais mais igualitárias e, sobretudo, a predisposição do
povo em fazer valer os direitos assegurados, para que eles saiam do papel e transformem a realidade.
Os direitos e deveres do cidadão são relacionados ao conceito de cidadania. Ser um cidadão consciente e
exercer a cidadania é saber quais são os seus direitos e deveres para participar ativamente das decisões polí-
ticas e sociais que têm consequências na vida de todos.
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É preciso conhecer os direitos que são garantidos para poder fiscalizar o cumprimento deles e cobrar do
Estado que eles sejam prioridade nos governos. Ao mesmo tempo é preciso saber quais são os seus deveres
para contribuir com desenvolvimento do país e com o bem comum.
Direitos do cidadão
Os direitos garantidos são muitos e estão definidos na Constituição, na Declaração Universal dos Direitos do
Homem e em outras leis. Os direitos podem ser classificados em civis, sociais e políticos.
Direitos civis
Os direitos civis são os que têm o objetivo de garantir a liberdade individual e a igualdade entre as pessoas.
São os principais:
-direito à vida;
-direito à liberdade de expressão;
-liberdade de ir e vir;
-igualdade entre homens e mulheres;
-proteção da intimidade e da vida privada;
-liberdade para exercer sua profissão;
-direito à propriedade.
Direitos sociais
Os direitos sociais são os direitos que garantem e protegem a qualidade de vida e dignidade do cidadão.
Estão previstos no art. 6º da Constituição Federal:
-educação;
-saúde;
-alimentação;
-trabalho;
-moradia;
-transporte;
-lazer;
-segurança;
-previdência social;
-proteção à infância e à maternidade;
-assistência aos desamparados.
Direitos políticos
Os direitos políticos são os que se referem à participação nas decisões políticas do país. São os seguintes:
-garantia de voto direto e secreto, com igual valor para todos;
-direito a ser candidato a um cargo nas eleições.
Deveres do cidadão
Além de poder cobrar do Estado o cumprimento dos direitos, é preciso ser um cidadão que cumpre com os
seus deveres.
São os principais deveres do cidadão brasileiro:
participar das eleições, escolhendo e votando nos seus candidatos;
-estar atento ao cumprimento das leis do país;
-pagar os impostos devidos;
81
-participar da escolha das políticas públicas;
-respeitar os direitos dos outros cidadãos;
-proteger o patrimônio público;
-proteger o meio ambiente.
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iminente que ameaça de desemprego inúmeros setores, o que se refletirá sobre o desenvolvimento econômico
e sobre a acessibilidade dos cidadãos aos serviços ofertados, seja pelo regime de mercado ou mesmo através
da delegação de serviços público.
Por outro lado, a América Latina, diante da crise financeira que afeta economias centrais, se viu na neces-
sidade de repensar a adoção indiscriminada, defendida pelo neoliberalismo, de modelos de desenvolvimento
econômico totalmente dependentes de processos transfronteiriços, tendo em vista, entre outros fatores, a ti-
midez da consolidação de uma noção de cidadania universal, pautada no respeito à igualdade entre nações.
Houve a percepção generalizada de que a utilização da força bélica não foi arma descartada do cenário interna-
cional, sobrepondo-se, lamentavelmente, em diversos casos, à desejada busca de solidariedade entre nações,
que justificaria maior integração.
Entretanto, nota-se que mesmo diante de tal percepção, os Estados nacionais de países em desenvolvi-
mento continuaram, em sua maioria, incapazes de suprir adequadamente a demanda por serviços públicos que
atendessem às necessidades básicas de sua população, e buscam na iniciativa privada parcerias capazes de
preencher essa carência.
CONCEITOS DE CIDADÃO E SUAS E ATRIBUIÇÕES
No contexto de reforma do Estado e gerencialismo, o objetivo de aproximar o Estado do cidadão faz surgir di-
versos termos para se referir ao cidadão enquanto receptor dos serviços públicos: usuário-cidadão (NASSUNO,
2000); cidadão-usuário (PECI; CAVALCANTI, 2001), cliente-cidadão (BRESSER PEREIRA, 1999), cidadão-
-consumidor (Citizen’s Charter), cidadão-cliente (BRASIL, 1995; OSBORNE; GAEBLER, 1995), cidadão-pro-
prietário (SCHACHTER, 1995), cidadão virtuoso (HART, 1984) e cidadão-parceiro (PRATA, 1998). Portanto,
nessa seção, procura-se apresentar a origem do conceito de cliente ou consumidor na administração pública e
explorar alguns dos termos utilizados para se referir ao cidadão.
O surgimento do cliente/consumidor na administração pública
Em 1992, na Inglaterra, foi lançada a Carta ao Cidadão (Citizen’s Charter). Nesta, o governo assume a posi-
ção de defensor dos direitos do cidadão frente a serviços públicos monopolistas e define seus padrões mínimos
de desempenho (RICHARDS, 1994). Esse documento inspirou iniciativas em muitos países como os Estados
Unidos, Canadá, França, Bélgica, Austrália e Itália (COUTINHO, 2000, p. 13).
Com base nas recomendações da Carta ao Cidadão, as organizações públicas passam a ter obrigação de:
1) identificar quem são os seus usuários; 2) realizar pesquisas junto a esses usuários para determinar suas
expectativas quanto ao tipo e qualidade dos serviços; 3) estabelecer padrões de qualidade e compará-los à
situação atual;
4) buscar comparações com o desempenho de serviços prestados na iniciativa privada (benchmark); 5)
realizar pesquisa junto aos funcionários públicos para detectar obstáculos e outros problemas para melhorar os
serviços; 6) possibilitar opções de fontes de serviços aos usuários; 7) tornar as informações, serviços e siste-
mas de queixas facilmente acessíveis aos cidadãos-usuários; e 8) providenciar retornos rápidos e eficazes às
reclamações dos usuários (OSBORNE e PLASTRIK, 1997, apud COUTINHO, 2000, p. 13).
Ao seguir as recomendações da Carta ao Cidadão, a gestão pública aproxima-se da gestão privada e, con-
sequentemente, surge a figura do cliente, ou o paradigma do cliente conforme aponta Richards (1994).
Como lembra Abrucio (2005), a associação entre sociedade e mercado chega a atingir um ponto extremo
no New Public Management – o consumerism, segundo o qual se firmava, entre Estado e sociedade, uma re-
lação de prestação de serviços públicos. Esta consumia os serviços prestados por aquele, que, por sua vez,
incorporava práticas comuns da administração privada, como o foco na qualidade, competição, flexibilidade e
demanda.
Para Prata (1998), não há dúvida de que a introdução do conceito de cliente representou uma mudança
importante e positiva na cultura organizacional do setor público. A adoção do consumerism, contudo, suscita
algumas questões importantes. A primeira e mais lógica delas é “quem é o cliente no setor público?”. Para a
autora, esse problema, facilmente equacionado e resolvido para as empresas privadas, se traduz em matéria
bastante controversa na órbita estatal.
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Para Beltramini (1981), a questão é bem simples: o cliente no setor privado é a pessoa que compra e usa os
produtos e/ou os serviços oferecidos por determinada empresa. O cliente no setor público é também a pessoa
que usa os serviços oferecidos por órgão ou instituição governamental. O cliente de uma agência de combate
à pobreza, por exemplo, são os pobres; os clientes de um parque industrial são todas as pessoas que usam o
parque. Os produtores de uma agência de combate à pobreza e de um parque industrial são os administradores
públicos e os legisladores que projetam os serviços oferecidos para resolver os problemas dos pobres e dos
usuários do parque.
Para Prata (1998), contudo, ao examinar a questão de uma forma mais ampla, tem-se o dilema de contraba-
lançar os interesses do contribuinte, aquele que efetivamente fornece os recursos para que os serviços sejam
prestados, com as reivindicações dos beneficiários diretos destes serviços. A autora explica que nem sempre
aquele que recebe serviços públicos é realmente um contribuinte; ou ainda, aqueles que mais contribuem com
impostos são geralmente os que menos necessitam dos serviços públicos oferecidos individualmente, mesmo
que também precisem daqueles prestados de forma coletiva, como segurança e construção de estradas.
Richards (1994) denuncia a suspeita de que, por trás do aparente fortalecimento do cliente para fazer esco-
lhas individuais que influam no serviço recebido no nível micro, estaria um enfraquecimento de sua capacidade
de influenciar, no nível macro, a política pública em questão. Assim, os clientes podem influenciar a maneira
como o serviço deve ser prestado, mas não lhes é facultado definir o objetivo público a alcançar. E é aí que
reside a ameaça à estrutura de poder vigente: investido desse novo status, surge a possibilidade de que o
cidadão venha a dividir com os políticos eleitos e os funcionários públicos o poder de decisão, ao invés de se
contentarem em receber passivamente os serviços. Segundo Potter (1988, p. 155), “é preciso somente um
pequeno, lógico passo para o progresso do princípio de representação para o de participação, mas isso marca
um salto gigantesco na maneira como a maioria dos serviços públicos são atualmente realizados”. Não é por
acaso, como explica Gray (1994, p. 53 apud Prata, 1998), que defender o envolvimento dos consumidores não
gera resistência desde que as estruturas políticas não sejam tocadas: “...a tentação é deixar a participação dos
usuários num nível que as organizações possam acomodar sem demasiado transtorno estrutural ou político”.
Uma das maiores críticas ao conceito de cliente é que ele apresenta o risco de levar à esfera pública o for-
talecimento da perspectiva individualista, já comum no mundo das escolhas privadas. Isto seria particularmente
prejudicial, devido ao papel de redistribuição do Estado. Num mundo formado por indivíduos voltados para a
consecução dos próprios objetivos, considerações sobre ética, bem maior e interesse público seriam pouco sig-
nificantes. Nesse contexto, seria provavelmente considerado natural que os menos privilegiados e os incapazes
de fazer ouvir suas reivindicações fossem abandonados à própria sorte (PRATA, 1998).
Peci et al. (2008) afirmam que é justamente na lógica do mercado que o cliente está inserido, ao contrário
do cidadão. Os autores argumentam, que não é que mercado e sociedade sejam incompatíveis, nem tampouco
cidadãos e clientes, porém a associação dos dois implica em uma dupla interpretação: em primeiro lugar, sig-
nifica um retrocesso no que tange a dimensão pública, visto que representa a supressão da ampla perspectiva
dos direitos; em segundo, e originando-se a partir do primeiro ponto, essa associação à lógica privada das
relações de mercado sobrepõe-se à pública, perpetuando, no Brasil, a confusão entre as duas dimensões, tão
presente na história brasileira.
O próprio desenvolvimento de serviços públicos na base de uma relação meramente contratual, aos moldes
do mercado, conduziria a uma transação privada entre aqueles que prestam os serviços e aqueles que os re-
cebem. Richards (1994) ressalta que, o serviço prestado às crianças nas escolas, por exemplo, sob essa visão,
seria assunto somente das escolas, dos alunos e de seus pais. Por isso, questiona se essa maneira de conduzir
o serviço leva em consideração as solicitações de uma sociedade mais ampla.
Nessa mesma ótica, Gray (1994 apud Prata, 1998) afirma que o termo cliente e o tipo de transações a ele
relacionado não levam em conta as dimensões de equidade, responsabilidade e bem público. Na verdade, este
autor concebe que o conceito é claramente insuficiente para representar o papel do cidadão.
A despeito dos reconhecidos benefícios do foco no cliente e das críticas à aparente superficialidade com
que vem sendo desenvolvida essa perspectiva, Richards (1994) faz restrições à metáfora do cliente no serviço
público e defende o enriquecimento do conceito de cliente com o de cidadão, que é muito mais abrangente,
abrigando uma série de conotações diferentes, que se deslocam do nível individual para o coletivo. É o que se
pretende abordar na próxima seção.
84
O cidadão
Cidadania é um conceito ativo e dinâmico que envolve direitos e deveres. O fato de ser cidadão dá ao indiví-
duo o direito de exigir bons serviços, e não recebê-los como uma dádiva, um favor pelos quais deve ser muito
agradecido. É dever do Estado proporcionar-lhe tais serviços de forma apropriada. Em contrapartida, cidadãos
têm muito mais responsabilidades e obrigações. Eles representam também o papel de “súditos” de seus go-
vernos, tendo que pagar impostos e taxas, prestarem serviço militar, e respeitar as determinações do governo,
em benefício da ordem coletiva. Nas palavras de Mintzberg (1996, p. 77), “somos na verdade cidadãos, com
direitos que vão muito além dos direitos dos consumidores”.
A cidadania como conceito está em constante construção e associada a elementos da vida em sociedade
e a relação com o Estado, no que diz respeito aos direitos e aos deveres, a liberdade, a igualdade, a partici-
pação, a coletividade e o bem comum. Costa (2006) chama a atenção para os diferentes direitos abrangidos
pelo conceito de cidadania: direitos civis, políticos, sociais e difusos, reunindo aqueles que não se encaixam
nas categorias anteriores. Com a redemocratização brasileira na década de 1980, foram alcançados os direitos
políticos, sem que os civis já estivessem garantidos. A fragilidade destes prejudica a existência daqueles e, por
extensão, a própria democracia em um sentido que ultrapassa o simples processo eleitoral. Já os direitos so-
ciais e difusos, na opinião de Costa (2006), estão longe de serem assegurados. A construção da cidadania no
Brasil, assim, mostra-se incompleta, na medida em que os indivíduos não dispõem ainda, de fato, das quatro
categorias de direito.
A cidadania, no sentido “cívico”, enfatiza as dimensões de universalidade, generalidade, igualdade de direi-
tos, responsabilidades e deveres.
A dimensão cívica articula-se à ideia de deveres e responsabilidades, à propensão ao comportamento so-
lidário, inclusive relativamente àqueles que, pelas condições econômico-sociais, encontram-se excluídos do
exercício dos direitos, do “direito a ter direitos” (TEIXEIRA, 2001).
Cerchiaro e Ayrosa (2007) criticam a prática de a Nova Administração Pública tratar os cidadãos como con-
sumidores esquecendo-se do seu papel maior dentro do contexto político. Os autores ressaltam que, apesar de
a maior parte dos serviços públicos ser de natureza profissional, o cidadão é mais do que um mero consumidor.
Na concepção de Mintzberg (1996, p. 77), existe uma grande diferença entre as atividades governamentais
voltadas para o consumidor e as voltadas para o cidadão: “a frequência da ocorrência”. Existem poucas ativi-
dades do governo voltadas puramente para o consumidor, em compensação, muitas das atividades do governo
são voltadas para o cidadão, na forma de infraestrutura: social (como museus), física (estradas e portos), eco-
nômica (políticas monetárias), mediadora (tribunais cíveis), estrangeira (embaixadas e consulados) e de apoio
ao próprio governo (como a máquina eleitoral).
Sob essa ótica, o processo de reestruturação do Estado brasileiro pode terminar por confundir estas duas
entidades políticas: o cidadão e o consumidor (MENDES, 2001). A troca da cidadania por um modelo voltado
para o consumidor no novo paradigma representa uma fundamental degradação moral na relação das institui-
ções para a governança (MINTZBERG, 1996; DOBEL, 2001).
Visando ressaltar a dimensão cidadão, Denhardt e Denhardt (2003) propõem uma abordagem, denomina-
da de Novo Serviço Público. Na concepção desses autores, o Novo Serviço Público apresenta-se como uma
resposta aos modelos de gestão pública burocrática e gerencial, e está centrado em valores de cidadania e
de participação e na crença de que o cidadão saberá tomar as decisões corretas, se, para isso, for-lhe dada
oportunidade. Assim, o cidadão é tido como um indivíduo que anseia não apenas pela satisfação de suas ne-
cessidades e de seus interesses privados, mas que busca também a construção de um bem comum.
Essa abordagem procura resgatar a epistemologia da administração pública que reconhece as pessoas
como seres políticos que, devidamente articulados, agem na comunidade para construção do bem comum
(PARADA et al., 2008). Portanto, a eficiência não deve ser utilizada como o único critério para uma perfeita
gestão pública, mas que esta se paute, sobretudo, por ideais como justiça, equidade, responsividade e respeito
ao cidadão.
Nesse sentido, a administração pública deve ser compreendida como um conjunto de ações voltadas à pro-
dução dos serviços públicos – para o bem comum – considerando as múltiplas dimensões e a capacidade dos
cidadãos de participar de uma sociedade politicamente articulada (SANTOS et al., 2006).
85
A proposta do Novo Serviço Público, enquanto modelo de gestão para o bem comum, propõe que os ser-
viços públicos sejam exercidos de forma compartilhada pelo Estado, organizações de interesse público e não
estatais e pelos cidadãos, lembrando que esses últimos assumem um duplo papel, ou seja, são produtores e
beneficiários dos resultados desse processo. Tal estratégia, chamada de co-produção, parte do princípio de
que a participação conjunta gera maior responsabilidade (accountability) entre os co-produtores e desenvolve
a cidadania.
Por outro lado, convém destacar que o Novo Serviço Público não extingue o pensar estratégico. Pressupõe,
sim, que esse seja orientado por dois tipos de racionalidade: a substantiva e a instrumental (PARADA et al.,
2008). A substantiva como forma de sustentar as práticas nas bases da inteligência, de um conhecimento autô-
nomo gerado da análise das relações entre os fatos da realidade, resguardando a liberdade das instâncias que
produzem e que usufruem o bem público. Já a instrumental é permeada pela funcionalidade, que deve ser vista
como referência a um objetivo específico e pressupõe que ações sejam realizadas para se atingir o máximo
rendimento, de forma eficiente, eficaz e efetiva. Portanto, o Novo Serviço Público não exime a prática técnica
da racionalidade instrumental presente no gerencialismo da reforma administrativa.
Fleury (2003) destaca a existência da dimensão cívica da cidadania que pressupõe a inclusão ativa dos ci-
dadãos na comunidade política, ou seja, eles passam a se relacionar com os poderes legalmente constituídos e
com a sociedade, compondo um cenário de novos direitos e deveres. Nessa dimensão pública dos indivíduos,
a cidadania está inserida em um modelo de integração e sociabilidade e “transcende os interesses egoístas do
indivíduo no mercado, na direção de uma atitude generosa e solidária” (FLEURY, 2003, p. 9).
Sob essa mesma ótica, Prata (1998) argumenta que compreender o cidadão a partir do conceito substantivo
é uma forma de acrescentar solidariedade ao individualismo. Para a autora, a cidadania tem também as fun-
damentais características do altruísmo e da solidariedade. O cidadão deve levar em conta as preferências e o
bem de outros, não só os seus. Conforme afirma também Richards (1994), como cidadãos, podemos chegar a
aceitar decisões que vão contra nossos interesses, uma vez que essas decisões tenham sido tomadas de for-
ma correta ou em benefício da sociedade. A cidadania envolve, portanto, o desenvolvimento de um nível mais
alto de consciência.
A cidadania efetiva assume que os cidadãos agem: monitoram órgãos públicos e fazem com que suas pre-
ferências sejam conhecidas. Sob esse posto de vista, a reforma do Estado requer o empowerment do público
através de educação para a cidadania e constante troca de informações entre governo e cidadãos. Schachter
(1995) conclui que a tarefa mais difícil é reinventar o nosso próprio papel como cidadãos ativos: a natureza
humana e as complexidades de nossa sociedade nos impedem de aceitar o papel de proprietários do governo,
o qual, sem nossa participação, poderia, no máximo, obter sucesso parcial em suas reformas.
A partir do exposto, percebe que o conceito de cidadão-proprietário é utilizado como uma forma de aprimorar
a noção de cidadania, bem como as concepções de cidadão virtuoso e cidadão-parceiro.
Cidadão virtuoso
O termo cidadão virtuoso é incorporado no debate sobre o papel do cidadão a partir da descrição feita por
Hart (1984) discutida por Frederickson (1991). Este autor, defendendo uma noção aprimorada de cidadania
destaca que “um governo não pode ser melhor que as pessoas que ele representa” (p. 409-410). O cidadão
virtuoso é o indivíduo dotado de responsabilidade moral individual, tem o dever de agir em defesa dos valores
vigentes, opondo-se ao racismo, à discriminação sexual ou à invasão de privacidade, por exemplo.
Essa perspectiva conduz a uma responsabilidade individual pelos direitos naturais ou fundamentais de cada
um. Portanto, o cidadão virtuoso necessita também ter conhecimento da Constituição e estar apto a realizar
julgamentos morais e filosóficos; deve acreditar que os valores vigentes de seu país são verdadeiros e corretos
e não apenas ideias aceitas pela maioria ou psicologicamente gratificantes; deve ter civilidade, o que inclui to-
lerância com a expressão de ideias, e indulgência para perceber que as regras devem ser mantidas num nível
mínimo – de forma a não prejudicar a liberdade (PRATA, 1998, p. 11-12).
A partir do exposto, evidencia-se que o conceito de cidadão virtuoso está em consonância com a afirmação
de Fleury (2003, p. 9), para quem, conforme já exposto, a cidadania “transcende os interesses egoístas do in-
divíduo no mercado, na direção de uma atitude generosa e solidária”.
86
O cidadão-parceiro
É no contexto do terceiro setor que surge a figura do cidadão-parceiro. A denominação terceiro setor abarca
uma enorme variedade de entidades privadas sem fins lucrativos ou não governamentais (ONGs): associações
de desenvolvimento comunitário, cooperativas, grupos de mulheres, associações de moradores, organizações
de proteção ambiental e muitas outras.
Muito em razão da generalizada falta de confiança na capacidade do Estado para resolver as necessidades
humanas, agravada pela crise do Estado do Bem-Estar, pessoas no mundo todo estão se organizando em
grupos formais ou informais, tendo por objetivo prestar serviços sociais, incentivar o desenvolvimento local,
impedir a degradação ambiental, assegurar direitos civis e atender às necessidades de segmentos carentes da
população.
Prata (1998) vê o crescimento do terceiro setor como uma possibilidade de alterar de maneira substancial as
relações do cidadão com o Estado. Para a autora, o terceiro setor representa uma verdadeira revolução global
silenciosa em meio a uma grande maioria de indivíduos indiferentes a causas públicas.
Embora uma filosofia política conservadora possa ver um inerente conflito entre o Estado e as instituições
voluntárias, o relacionamento entre o Estado e o Terceiro Setor caracteriza-se mais pela cooperação.
No caso do Brasil, por exemplo, Fischer e Falconer (1998) assinalam que a atuação das organizações desse
setor, principalmente a partir do início da década de 90, longe de se colocarem em confrontação, buscam com
maior frequência estabelecer relações de complementaridade e parceria com o governo.
Assim, surge a possibilidade de os cidadãos, organizados em associações, estabeleçam uma parceria com
seu Estado para atender a importantes necessidades humanas. Pode-se estar, então, assistindo ao que seria
a emergência de uma nova metáfora: a do cidadão-parceiro, um conceito que corresponderia a uma represen-
tação mais justa e adequada da relação cidadão-Estado, conferindo-lhe um caráter de igualdade, respeito e
identidade de interesses (PRATA, 1998).
Essa concepção de cidadão como parceiro ou co-produtor é defendida na abordagem do Novo Serviço Pú-
blico. Para Parada et al. (2008) e Santos et al. (2006), por exemplo, o cidadão é um co-produtor do bem-público
e possui duplo papel, ou seja, ao mesmo tempo, que é beneficiário também deve participar do processo de
prestação de serviço público.
O Cidadão-consumidor
Os termos cidadão-consumidor ou cliente-cidadão surgem no contexto da Reforma do Aparelho de Estado
de 1995. Bresser Pereira (1999, p. 8) na tentativa de elucidar o conceito, afirma:
“Pode-se descentralizar, controlar por resultados, incentivar a competição administrada, colocar o foco no
cliente, mas a descentralização envolve o controle democrático, os resultados desejados devem ser decididos
politicamente, quase-mercados não são mercados, o cliente não é apenas cliente mas um cliente-cidadão re-
vestido de poderes que vão além dos direitos do cliente ou do consumidor” (BRESSER PEREIRA, 1999, p. 8).
Peci et al. (2008) discutem o significado dessas expressões afirmando que se trata de uma dicotomia. Os
autores argumentam que Bresser Pereira, nos seus trabalhos, ao se referir aos indivíduos, fez uso indistinto dos
termos “cidadãos-clientes”, “clientes-cidadãos”, somente “clientes” ou, raras vezes, “cidadãos”.
Para Peci et al. (2008), a proposição é confusa no que se refere aos limites da separação entre as esferas
pública e privada. No que diz respeito ao papel dos indivíduos e ao seu reconhecimento como clientes, cida-
dãos ou uma figura híbrida envolvendo os dois, prevalece a mistura de conceitos com um enfoque distorcido.
Para os autores, a preocupação de uma reforma não deve se concentrar no “poder além dos direitos do consu-
midor” conforme propôs Bresser Pereira; deve, sim, preocupar-se com os direitos inerentes à cidadania.
Contudo, na concepção de Trevisan et al. (2008), para que o Estado passe de uma gestão burocrática para
gerencial é fundamental que os cidadãos sejam vistos como clientes. Pereira (1999) destaca que olhar do cida-
dão como um cliente significa dar-lhe a devida atenção, dedicando-lhe o respeito que ele não tem nas práticas
da administração pública burocrática. Nesse sentido, Conzatti (2003, p. 12) assegura que “a administração
pública, ao longo das décadas, se distanciou em muito da iniciativa privada, no tocante à qualidade, à eficiência
e à eficácia”. Esse distanciamento é reforçado por Campello (2003), que expõe que, com exceção das ilhas de
excelência, formou-se um imenso abismo teórico e prático entre os setores organizacionais público e privados,
indo contra as expectativas da sociedade. Sobre esse aspecto, Vieira e Madruga (2007) afirmam que a insa-
87
tisfação da sociedade com os serviços públicos e a cobrança de uma estrutura administrativa mais ágil exige
do Estado uma forma de gestão diferente, voltada para a qualidade com ênfase no cidadão. Diante disso as
organizações públicas, na busca de excelência na prestação de serviços, estão inovando ao focar suas ações
para as necessidades e expectativas dos cidadãos, tratando-os como um cliente/usuário de seus serviços.
Apoiando nas pressuposições da administração pública gerencial, Nassuno (2000) apresenta algumas expe-
riências concretas que ocorreram na prestação de serviços públicos após a Reforma do Estado e a adoção do
foco usuário-cidadão². Ao avaliar algumas instituições públicas que estão direta ou indiretamente relacionadas
ao Estado e outras de caráter público, porém, não estatal, esta autora destaca que as experiências observadas
apontam que a orientação usuário-cidadão tem sido desenvolvida com o intuito de: i) obter informações sobre
os serviços públicos; ii) o aperfeiçoamento do processo de prestação de serviços públicos; iii) a melhoria da
qualidade do serviço com a incorporação de requisitos relativos a atendimento ao usuário-cidadão, iv) aumentar
o acesso dos cidadãos a informações e serviços públicos, embora em alguns casos com um caráter relativa-
mente excludente.
Por outro lado, Prata (1998) afirma que as reformas de Estado tenderam a priorizar a dimensão do cliente,
deixando para o cidadão um papel apenas reativo, cuja participação se limita a ter as suas preferências pes-
quisadas e sua satisfação como medida de avaliação de desempenho dos serviços públicos. Portanto, a autora
avalia o conceito de cliente como insuficiente para representar os cidadãos nas suas várias dimensões e defen-
de o enriquecimento do conceito de cliente com o conceito substantivo de cidadão.
A crítica da autora é a de que, embora o conceito de cliente tenha representado um avanço considerável
nas relações do cidadão com o Estado, a abordagem até agora parece ter sido apenas superficial. Por isso,
Prata (1998) defende ainda o aprimoramento do conceito fazendo uso das metáforas do cidadão-proprietário
e do cidadão virtuoso para mostrar que seria aconselhável dotá-lo de uma postura mais ativa e de um maior
refinamento moral. Contudo, para a autora, é a metáfora cidadão-parceiro a mais adequada para que realmente
haja uma representação mais justa e adequada para o cidadão, imprimindo à relação cidadão-Estado o respeito
mútuo e a identidade de interesses que caracterizam as parcerias.
Diante desse contexto no qual se configuram os diversos termos utilizados para se referir ao cidadão e ao
seu papel na relação com o Estado, questiona-se a necessidade de utilização de tantos termos. Por isso, na
próxima seção, procura-se clarear o conceito de cidadão-consumidor defendendo o mesmo como um conceito
apropriado para tratar o indivíduo nas suas duas dimensões: cidadão (Estado) e consumidor (mercado).
CIDADÃO-CONSUMIDOR: UM SER DE MERCADO OU DE ESTADO?
Com base nos diversos conceitos e papéis atribuídos ao cidadão diante do Estado, duas orientações prin-
cipais podem ser delineadas: i) uma que defende a categoria cidadão e seus adjetivos proprietário, virtuoso e
parceiro como a mais adequada para ser utilizada no contexto da administração pública e, considera que são
limitadas ou até mesmo equivocadas as referências de conjugar cidadão como consumidor ou cliente; ii) uma
outra que se posiciona a favor de que haja uma dinamicidade entre os termos cidadão e consumidor, em prol
de que administração pública alcance a tríade eficiência-eficácia-efetividade³ e supere as vicissitudes da buro-
cracia.
Na primeira concepção foram típicas as críticas que relatam que conjugar o cidadão como um consumidor
ou um cliente consiste em uma falha, visto que estes termos são oriundos do setor privado, que por serem
expostos a um mercado diversificado, isto lhes proporcionam uma infinidade de alternativas de consumo, dife-
rentemente do que ocorre no setor público, onde muitos serviços são prestados em forma de monopólio. Essa
primeira orientação faz ressalvas no sentido de que ao carregar princípios de mercado pouco adaptados ao
setor público, corre-se o risco de que a igualdade - como um princípio essencial da cidadania - seja suprimida
por tentar segmentar os cidadãos ou reconhecer as suas diferenças no desenvolvimento das estratégias de
prestação de serviços (NASSUNO, 2000).
Já a segunda concepção se desenvolve no contexto da Reforma do Estado, cujos desafios concentram
em incorporar à administração pública mecanismos gerenciais, provenientes da iniciativa privada. Todo este
movimento concentra-se na busca do trinômio eficácia-eficiência-efetividade e se pauta por ações que visem
transformar as estruturas burocráticas rígidas em organizações mais flexíveis que atendam a esse trinômio ao
mesmo tempo em que promovam crescente transparência administrativa e convivam com controles e interes-
ses públicos, políticos e interinstitucionais cada vez mais complexos e diversificados.
88
Vale destacar ainda que entre os objetivos do gerencialismo na administração pública está a redução dos
gastos e a obtenção de maiores retornos, ou seja, aumentar a produtividade e a eficiência do setor público. Isto
vem de encontro aos anseios do cidadão como contribuinte. Por outro lado, para que se alcance este objetivo
e o nível de serviço não deteriore, a dimensão qualidade deve ser também incorporada ao modelo gerencial,
de modo que não se satisfaça somente a eficiência, mas, sobretudo a eficácia e a efetividade na prestação
dos serviços. Visto agora como um prestador de serviços, que tem de utilizar-se de instrumentos de mercado
para garantir a eficiência de suas organizações, o Estado está sendo gradativamente forçado a enfatizar o
atendimento das necessidades tanto de regulação quanto dos serviços dos seus clientes/cidadãos, através de
incentivos a programas de flexibilização da gestão pública, tornando sua máquina administrativa mais barata,
ágil e receptiva à inovação gerencial e à autonomia administrativa (SILVA, 1994).
Para as organizações públicas, as regras das organizações privadas na busca pela qualidade são bastante
válidas, contudo, se percebe que elas estão um pouco longe da realidade, uma vez que as características que
envolvem a qualidade de serviços têm sido assimiladas de forma lenta pelo setor público. Esse fato é observa-
do através das frequentes reclamações e cobranças com relação à necessidade de quantitativo e qualitativo
dos serviços por elas oferecidos. Segundo Osborne e Gaebler (1995), no setor público, diferentemente da
iniciativa privada, a maioria das instituições atendem a um conjunto muito diversificado de clientes, que na
sua grande maioria saem descontentes com os serviços em função de que a administração pública vem tra-
balhando com processos burocráticos que ocasionam trâmites vagarosos, sistemas de protocolos arcaicos e
ineficientes. Além disso, seus órgãos ou setores trabalham de forma isolada, não existindo integração entre os
diversos setores, sem falar que seus servidores, na sua grande maioria, não possuem motivação para exercer
suas funções, quer seja por falta de perspectivas de crescimento profissional, capacitação e aprimoramento,
subutilização, ou por questões salariais, além da morosidade de absorção de inovações tecnológicas e a ine-
xistência de políticas públicas definidas que sejam coerentes ao pensamento voltado ao bem comum. Pode-se
afirmar que essa realidade se configura também no Brasil porque ainda estamos longe de alcançar a excelência
na prestação de serviços públicos. Essa poderia ser traduzida por serviço de qualidade, atendimento cortês e
personalizado, atendimento das reais necessidades, entre outros.
Portanto, se tratar o indivíduo como cliente/consumidor implica, prestar-lhe um serviço de excelência como
tem sido almejado pelo setor privado, pode-se afirmar que ainda falta muito para que a figura do cliente se
concretize na prática na administração pública brasileira contemporânea. Se por um lado, há críticas de que o
cidadão tem sido tratado apenas como cliente, por outro lado, também se pode criticar se ele for tratado apenas
como cidadão, principalmente, considerando o contexto brasileiro, onde é comum a ocorrência de situações
que suprimem os direitos dos cidadãos (COSTA, 2006) e que consequentemente não eximem reflexos na pres-
tação dos serviços. Talvez seja exatamente por isso que a orientação ou foco no cidadão-consumidor tenha
sido acusada de ser superficial. Por isso, acredita-se que ao enfatizar e operacionalizar a dimensão consumi-
dor, a administração pública possa propiciar ao cidadão a excelência nos serviços públicos.Reis (1990) corro-
bora com esta colocação, mostrando que a prestação de serviços públicos não pode desconsiderar a situação
de que: “temos de fazer clientes reais para que possamos esperar ter cidadãos em sentido pleno, capazes não
só de expressar a autonomia que diz respeito especialmente aos direitos civis e políticos da cidadania, mas
também de eventualmente exibir virtudes cívicas e exercer as responsabilidades que a concepção normativa
da cidadania vê como o anverso daqueles direitos” (p. 188)
Diante do exposto, defende-se a utilização do conceito de cidadão-consumidor na administração pública
por acreditar que esse conceito abrange dois aspectos fundamentais não excludentes: (i) entender o indivíduo,
acima de tudo, como cidadão com todos os direitos e deveres implicados no conceito de cidadania, ou seja,
indivíduo ativo, parceiro do Estado, co-produtor dos serviços públicos; (ii) entender o indivíduo também como
consumidor/cliente que tem o direito (implícito no conceito de cidadania) de exigir o atendimento de suas ne-
cessidades e, consequentemente, a excelência na prestação de serviços públicos.
Por outro lado, vale destacar que ao reconhecer o cidadão como um consumidor ou cliente, isto não elimina
a necessidade de realizar uma reflexão sobre as especificidades da natureza do setor público. Portanto, cida-
dão não pode ser visto apenas como um consumidor, visto que este escolhe o que, onde e como quer adquirir
o produto diferentemente do que ocorre no setor público. Em alguns casos, esse problema é mais acentuado,
pois apenas um prestador de serviços tem a concessão durante um longo período. Portanto, é necessária uma
visão de um cidadão-consumidor que participe dos sistemas de controle das operações concedidas. Não ape-
nas consumidor, não apenas cidadão, mas sim cidadão-consumidor.
89
Conforme escreve Vale (2004), a administração Pública deve desempenhar melhor o seu papel de prove-
dora de serviços públicos e, assim, dinamizar o atendimento ao cidadão. Nesse sentido, uma administração
pública deve relacionar-se não com o que se denomina cliente ou consumidor, mas ter como beneficiário o
cidadão. Deve-se pensar na administração pública não numa perspectiva de quem paga o serviço (cliente) e
quem recebe por ele (o funcionário), mas quem tem o direito de receber (o cidadão) e quem tem o dever de
fornecer (a administração). Portanto, tem que se lutar pelos direitos do cidadão tanto quanto pelos direitos do
consumidor uma vez que ambos não estão sendo plenamente atendidos.
Mesmo que autores como Bueno (2006) ainda interpretem o conceito de cidadão-consumidor como um
termo que está mais imbuído de princípios de mercado, não se identifica problemas maiores desde que este
princípio venha contribuir com a excelência na prestação de serviços públicos. Acredita-se que este não extin-
gue a importância da cidadania e seu contexto de democracia. Concorda-se com Cerchiaro e Ayrosa (2007)
que, nesse conceito, a dimensão cidadão é bem mais ampla do que a dimensão consumidor. Portanto, tratar o
indivíduo também como consumidor não implica retirar-lhe os direitos, mas sim considerá-lo como merecedor
de serviços de qualidade.
A cidadania, no sentido “cívico” articula-se à ideia de deveres e responsabilidades, à propensão ao compor-
tamento solidário conforme expôs Teixeira (2001). Portanto, entende-se que o próprio conceito de cidadania já
abarca a ideia de solidariedade, generosidade, participação e parceria, não necessitando, portanto, da utiliza-
ção de novos conceitos (cidadão virtuoso, cidadão-parceiro, cidadão-proprietário) para se referir a um mesmo
objeto: relação cidadão-Estado. Além disso, vale ressaltar que o significado dos adjetivos virtuoso, parceiro e
proprietário também estão contidos na orientação cidadão-consumidor, ou seja, reconhece-se a necessidade
de que haja participação e controle social por parte dos cidadãos na gestão pública, conforme está expresso no
Plano Diretor de Reforma de Estado (1995).
Dessa forma, entende-se que, no bojo do conceito de cidadão-consumidor, o cidadão não se transforma em
consumidor no sentido de deixar de ser cidadão. “Tratar o cidadão como consumidor é abordá-lo exclusivamen-
te sob a perspectiva do indivíduo que tem uma posição no consumo do mercado de serviços” (FLEURY, 2002,
p. 82). Portanto, não se deve tratar de uma única dimensão. O que ocorre é o acréscimo do status também de
consumidor/cliente, ou seja, aquele que, assim como no setor privado, pode exigir a excelência na prestação
de serviços públicos.
Conforme bem explicitado por Olenscki e Coelho (2005), em um primeiro momento da reforma do Estado,
os serviços públicos foram vistos como adaptação da iniciativa privada ao setor estatal, vislumbrando-se a
prestação de serviços como forma de atender quantitativa e qualitativamente as necessidades e desejos de
consumidores, portanto, no seu aspecto mercadológico; na acepção de prestação de serviços, se necessário e
possível, personalizado. Dessa forma, a orientação estava circunscrita à eficácia.
Em um segundo momento ocorre a incorporação substantiva dos aspectos de participação política com
transparência administrativa e equidade na prestação de serviços públicos, ou seja, uma preocupação com as
demandas sociais, originadas de um ambiente de formulações e de tomada de decisões a partir não só da buro-
cracia estatal e dos mandatos políticos como de outros atores sociais, que se tornam copartícipes de todo o pro-
cesso, repercutindo no longo prazo na transformação do aparelho de Estado e na criação de uma legitimidade
ampliada à ação estatal, visando reduzir as relações assimétricas entre indivíduos-cidadãos, e proporcionando
valor público. Essa corrente do gerencialismo se convencionou denominar Public Service Orientation cuja preo-
cupação principal é guiar-se pelos princípios de equidade e justiça sociais; do ponto de vista da prestação de
serviços, a atenção se volta à orientação de efetividade da ação do Estado (OLENSCKI; COELHO, 2005).
Assim, essa segunda perspectiva extrapola a orientação de mercado, incorporando a orientação para valor,
no caso, voltada para a criação de valor público. Tal perspectiva aproxima-se da orientação de valor na iniciativa
privada na medida em que o setor privado volta-se para a criação de valor não somente para consumidores,
mas para os stakeholders, tal como empresas que prezem pela ética, pelo desenvolvimento sustentável e pela
responsabilidade social (OLENSCKI; COELHO, 2005).
Dentro dessa discussão sobre interesse público e interesse privado, a abordagem do Novo Serviço Públi-
co pode prestar uma grande contribuição. Denhardt e Denhardt (2003) buscam resgatar a epistemologia da
administração pública que reconhece as pessoas como seres políticos que, devidamente articulados, agem
na comunidade para construção do bem comum, propósito que deve preceder os interesses privados (SALM;
MENEGASSO, 2006).
90
No Novo Serviço Público busca-se o desempenho da administração pública não mais na direção da eficiên-
cia e da eficácia apregoadas pela iniciativa privada, tampouco com base em interesses próprios que muitas
vezes não representam os interesses da coletividade. Nele, ideais como justiça, equidade, responsividade,
respeito, empowerment e compromisso não são negados; pelo contrário, tendem a superar o valor da eficiência
como único critério para o perfeito desempenho dos órgãos públicos (DENHARDT; DENHARDT, 2003).
A base do Novo Serviço Público configura-se como complementar e não substitutiva aos outros modelos de
Administração Pública. Nessa perspectiva, a administração pública precisa ser reconhecida pelo conjunto de
ações voltadas à produção dos serviços públicos – para o bem comum – considerando as múltiplas dimensões
e a capacidade dos cidadãos de participar de uma sociedade politicamente articulada (SALM; MENEGASSO,
2006). Esse modelo aponta a participação direta dos cidadãos como uma alternativa para se desenvolver uma
sociedade genuinamente democrática; defende, ainda, que, via atividades de co-produção entre comunidades,
órgãos públicos, privados e não governamentais, é possível desenvolver maior participação, cidadania e ac-
countability na sociedade.
É justamente na busca coletiva que o indivíduo reflete e atua politicamente, deixando aflorar sua condição
humana de ser ativo, com poder de ação, ao invés de ser apenas reativo, comportando-se de acordo com os
estímulos que recebe. Santos et al. (2006), enfatizam a dimensão cidadão mostrando que esse é um co-pro-
dutor do bem-público, ou seja, não basta tratar o cidadão como um consumidor, tem que ter espaços para que
ele delibere e participe.
Embora Bueno (2006, p. 8) critique a reforma administrativa afirmando que o seu foco está em “melhorar
a eficiência do ponto de vista da produção de serviços, para um ser de mercado, o cidadão-consumidor”, ele
reconhece que ao menos em relação à eficiência na provisão dos serviços a reforma administrativa de 1995 foi
positiva. Peci et al. (2008) também reconhecem aspectos positivos. Para eles, na perspectiva da Nova Adminis-
tração Pública, a relação entre público e privado pode ganhar contornos positivos uma vez que é nas práticas
das empresas privadas que a administração pública busca inspiração para corrigir suas falhas. O pluralismo
dos modelos de governança, por exemplo, faz com que o cidadão possa ser considerado e incluído, quando for
o caso, em redes de políticas públicas enquanto cliente e enquanto cidadão (PECI et al., 2008).
Sob a ótica positiva, Olenscki e Coelho (2005) oferecem exemplos de reestruturação organizacional que
prezaram pela orientação da eficiência, da eficácia e até mesmo pela orientação da efetitividade. Com relação à
reestruturação do INSS, evidenciam que esta foi feita com foco no cliente e o usuário foi entendido como consu-
midor de serviços dessa autarquia. Os autores concluem que, nesse programa prevaleceu o modelo gerencial
orientado pela eficácia, em que o Estado, embora fazendo valer um direito do cidadão, provê serviços a um
consumidor, tal como se observa no varejo de serviços privados. Os exemplos fornecidos por Olenscki e Coelho
(2005) conduzem ao entendimento de que cidadãos e consumidores não são atores políticos excludentes e que
lógica de mercado e interesse público caminham juntos no gerencialismo presente nos serviços públicos na
atualidade. Contudo, não se deve perder de vista que a administração pública tem de ter senso público, tem que
estar sensível ao interesse público, deve procurar sempre o equilíbrio entre os novos mecanismos geradores
de eficiência sem jamais perder de vista as questões relativas à cidadania.
Necessidades do cidadão
Novamente estamos no limiar de uma nova gestão pública municipal, quando renovam-se os ocupantes
dos cargos de Prefeito, Vice-Prefeito, Vereadores, Secretários, Diretores, encarregados e cargos técnicos de
confiança; e mais uma vez, temos a oportunidade de assistir uma verdadeira transformação no serviço público,
que poderá, acompanhando a onda de modernidade pela qual passa o mundo privado, alavancar as relações
entre governantes e governados e dar uma nova dimensão à administração pública, voltando toda sua atenção
ao contribuinte e usuário, ou seja ao cidadão.
Como tese, iremos então, traçar um paralelo entre o cliente ->> principal motivo da existência das empresas
de uma forma geral, e o público (desde o mais humilde cidadão) ->> principal e único motivo da existência da
denominada burocracia (funcionalismo público) de uma forma específica.
No caso da economia privada, assistimos uma verdadeira revolução no item atendimento ao cliente, provo-
cada em um primeiro momento apenas por uma questão de marketing, onde cada empresa procurou diferen-
ciar-se das outras e conquistar seu cliente, e em segundo lugar, por uma questão de conceitual e da própria
sobrevivência do negócio, onde à cada dia, procuram conquistar e manter os seus clientes, oferecendo vanta-
gens e benefícios palpáveis e reais.
91
Quanto aos serviços públicos, esta mudança ainda é lenta e incipiente, estando restrita apenas às grandes
empresas públicas e em alguns órgãos governamentais, mas a grande massa de público, cidadãos eleitores e
portadores de direitos constitucionais, ainda está desprotegida das benesses que poderão advir da adoção de
uma nova postura, por parte dos dirigentes públicos, com respeito ao atendimento cotidiano ao cidadão comum.
Definidas as bases da tese, iniciemos então uma análise comparativa entre o atendimento privado e o pú-
blico:
O cliente da economia privada, adquire um bem, sabendo quanto vale, quanto pesa, quais as suas caracte-
rísticas, qual o seu diferencial em relação aos bens concorrentes, e depende somente dele - consumidor - qual
será a destinação. Por outro lado, na economia pública, o contribuinte nem sempre sabe onde será empregado
o produto da arrecadação, nem se será beneficiado de forma direta, ou mesmo indireta por tal arrecadação.
Basta que nos lembremos da arrecadação individual à Previdência e Assistência Social, daquelas pessoas que
apenas para fugir das longas filas, buscam a medicina particular, ou ainda contribuem para os planos de previ-
dência privada, e arcam com o ônus financeiro de tal decisão.
Se para a empresa privada, o cliente é parte essencial do negócio, para os dirigentes públicos, o cidadão é
a razão de ser da existência do governo, e o seu atendimento é o item mais importante em qualquer atividade
pública.
Na economia privada, o cliente, se não for convenientemente atendido, sempre pode optar por um outro for-
necedor, enquanto que o contribuinte e usuário do serviço público ou atividade monopolizada, sempre deverá
retornar ao mesmo balcão de atendimento, e interagir com as mesmas pessoas, nem sempre motivadas para
proporcionar o melhor e mais rápido atendimento.
Face à este panorama, consideramos que os dirigentes que irão se empossar neste próximo primeiro de
janeiro, tem um grande desafio pela frente, qual seja de transformar a máquina adminstrativa e a própria síntese
da burocracia, rumo à modernidade no ato de administrar, sendo que esse desafio representa uma maravilho-
sa tarefa, onde terão a oportunidade de mudar a postura de todos os cargos funcionais equiparando o serviço
público à a economia privada, dentro do conceito de que o cliente sempre tem razão. Assim sendo, descreve-
remos de forma resumida, as principais teses representativas do grande desafio de transformação:
A autoridade no setor público, deriva de um consentimento da população, e fundamenta-se apenas na de-
legação de poderes, concedidos pela comunidade, por um determinado tempo, e condicionado à prestação de
bons serviços à coletividade.
O público (usuário/contribuinte) nunca interrompe o trabalho do funcionalismo, pois ele é a própria essência
e o único propósito deste trabalho, pois sem público, não há funcionalismo; haja vista que ele não é uma parte
descartável do processo, mas sim a parte essencial na continuidade dos cargos burocráticos.
Solucionar problemas e descascar abacaxis, em uma incansável fila que nunca se interrompe, é apenas
parte de “um dia perfeitamente normal”, pois é para exercer tais atividades é que existe a burocracia.
Quem paga a conta, é somente o público, o usuário, o contribuinte, e assim, o salário e os vencimentos
de todos participantes na pirâmide hierárquica depende tão somente do público, aquele mesmo que em um
momento antes, elegeu os dirigentes majoritários, que assim puderam contratar suas assessorias e manter os
demais partícipes do meio burocrático.
Da mesma forma que a empresa privada pesquisa o mercado para verificar o grau de aceitação que está
tendo seus bens e serviços, assim também o serviço público deve pesquisar e ouvir seus cidadãos, no sentido
de fazer os ajustes necessários na máquina administrativa.
Finalmente, a famosa cortesia e o pronto atendimento, não é apenas uma atitude pessoal, nem deve ser
reservada para os protegidos pela sorte, mas antes de tudo, é uma obrigação de todo servidor público.
Cidadão-Contribuinte
Os brasileiros tentam encontrar outro fundamento para a cidadania que não envolva o pagamento de impos-
tos. Supõem que qualquer indivíduo seria cidadão, naturalmente, apenas por nascer ou viver no território na-
cional. Tal condição não estaria ligada a uma contrapartida sob a forma de pagamento de impostos ao Tesouro
Nacional.
92
O problema dessa concepção, aparentemente generosa, é que ela não pensa que aos direitos correspon-
dem obrigações, entre as quais os pagamentos de impostos. O sustento do Estado depende dos cidadãos! Os
diálogos entre Mario Sergio Cortella e Renato Janine Ribeiro no livro “Política: para não ser idiota” advertem
que “daí muitos pensam que o dinheiro público pode ser gasto a rodo, como se não tivesse dono, como se não
tivesse custo”.
Desde a era neoliberal, todas as vezes em que se falou em reforma tributária, no Brasil, a intenção foi a de
diminuir a tributação e não de ordená-la para que se alcance maior justiça social. Associações patronais, liga-
das às elites, chegam a argumentar que o “caixa dois” é obrigatório! Empresários afirmam que, se o imposto
for totalmente pago, não conseguirão obter lucratividade justa! Então, honestamente, o negócio é inviável e o
mais correto é fechá-lo.
É raciocínio similar ao do consumidor que imagina que poderia comprar um automóvel de luxo importado
caso não tivesse de pagar impostos. Autoengano. Na nação sem Estado predominaria a selvageria e ele não
poderia trafegar com esse carro atraente…
Formam a opinião pública com a ilusória ideia de que a presença do Estado como um arrecadador de tribu-
tos é ofensiva, pois seria uma espoliação. E ainda juntam o argumento que “há pouco retorno pelos impostos
pagos, pois se paga ainda por serviços privados”, opção de quem deseja distinção social. Ora, esse “retorno”
sempre estará abaixo das imensas expectativas de que “o Estado tudo pode, mesmo sem a arrecadação de
impostos”. Esse discurso inconsequente completa-se afirmando que “se trata apenas de (má) vontade política
e/ou carência de competência”.
Muitos cidadãos desavisados confundem ineficiência da máquina estatal com delinquência estatal. Eventual
delinquência estatal não está necessariamente ligada à capacidade de ação pública. Ela, geralmente, é con-
sequência de má-fé por parte de corruptores e corruptos. Quanto a isso, cabe investigação de órgãos públicos
como a Polícia Federal, MP e o TCU, para o que também necessita de orçamento com arrecadação de impos-
tos.
Vale lembrar que o Brasil não é um dos países de maior nível de tributação, ele está no pelotão intermediário,
abaixo dos nórdicos que têm o maior IDH. Mesmo que fosse, ainda assim é muito questionável essa ideia que
“os cidadãos não têm um retorno correspondente ao que pagaram”. Basta imaginar a insegurança que teria a
sociedade brasileira sem a saúde pública, a educação pública, a segurança pública, a construção de habita-
ções populares, os programas de transferência de renda, a previdência social, etc. O cidadão brasileiro deve
ter consciência que tem um retorno na proporção inversa do que se sonega.
Esse mesmo cidadão supõe que pode cobrar uma eficácia que não ele próprio não sustenta como um ci-
dadão, em última análise, responsável pelo Estado. É como se o Estado fosse uma coisa e o cidadão comum
fosse outra, com uma separação completa entre a sociedade política e a sociedade civil.
Empresário costuma afirmar que a eliminação da corrupção no Brasil é uma questão de educação, isto é,
“caberia à escola formar os jovens para não serem corruptos”. A resposta é: “há um jeito mais fácil de extinguir
a corrupção. Como, para existir corrupção, tem de haver um corrupto e um corruptor, e como o corruptor, de
maneira geral, é aquele que tem dinheiro para corromper, basta então que este indivíduo rico não corrompa
aos mais pobres…”
Os impostos diretos recaem sobre a propriedade (IPVA, ITCMD, IPTU, ITR) e a renda (IRPF). Os impostos
indiretos recaem sobre o consumo: ICMS, IPI, etc. IOF tributa operações financeiras. Daí é comum alegar que,
embora a maioria da população tenha renda isenta, ela a gasta em consumo, “logo, fica evidente que ela é
gravada com uma tributação proporcionalmente maior que sustenta a máquina estatal”. Menos, menos…
Rozane Bezerra de Siqueira, José Ricardo Bezerra Nogueira e Evaldo Santana de Souza, pesquisadores
da UFPE, argumentam que a visão comum de que o sistema tributário brasileiro é regressivo é reforçada por
estudos que:
• de um lado, subestimam a renda informal dos mais pobres, e,
• de outro, subestimam os tributos pagos pelos mais ricos.
93
Buscando corrigir esses vieses, um artigo deles estima a distribuição da carga tributária com base na POF
2008-09 e na PNAD 2009. Os resultados indicam que o sistema tributário brasileiro incide de forma quase pro-
porcional sobre as famílias em diferentes classes de renda, e, portanto, é aproximadamente neutro do ponto
de vista distributivo.
A parcela de contribuição para a receita tributária é muito próxima da parcela de participação na renda para
todos os décimos, mas vale notar (veja tabela 8 acima) que apenas no caso do último décimo a contribuição
para arrecadação (41,7%) é maior do que a participação na renda ajustada (35,7%). Esse décimo superior
paga 28,6% dos tributos indiretos, mas paga 67,6% dos tributos diretos, entre eles, 40,7% da contribuição pre-
videnciária e 91,6% do IRPF. Esses resultados sugerem que o sistema tributário brasileiro não tem um efeito
significativo sobre a distribuição de renda entre as famílias.
Consolidou-se no país, na era neoliberal, a ideia de que de um lado existe a sociedade, “um pelotão homo-
gêneo de gente”, e, de outro lado, o Estado “que a extorque e não teria nada a ver com ela”. Ora, quem elege
o governo e o parlamento não é responsável?!
A sociedade não tem essa homogeneidade, ela é composta por antagonismo, sendo importantes as disputas
que dizem respeito:
• aos impostos que cada qual paga e
• a quem se beneficia do dinheiro público.
Os brasileiros necessitam ter a consciência de que foram eles próprios que escolheram o governo e os parla-
mentares. Só então eles sentirão ser responsáveis pela escolha que elegeram. E a defenderão contra aqueles
ilusionistas que desejam o desmanche do Estado social-desenvolvimentista.
Princípios de Ética
A ética é um ramo da filosofia que se dedica ao estudo dos princípios morais que governam o comporta-
mento humano na sociedade. É um campo vasto e complexo, abrangendo diversas teorias e perspectivas, mas
existem alguns princípios fundamentais que são amplamente reconhecidos e aceitos no estudo da ética.
Princípio da Autonomia: Este princípio defende que os indivíduos devem ter o direito de tomar decisões so-
bre suas próprias vidas, desde que essas decisões não causem dano a outros. A autonomia está intimamente
ligada à noção de liberdade e respeito pela capacidade de escolha de cada pessoa. No contexto médico, por
exemplo, este princípio é essencial, pois garante que os pacientes tenham o direito de tomar decisões informa-
das sobre seus próprios tratamentos e cuidados de saúde.
Princípio da Beneficência: Este princípio foca na promoção do bem-estar dos outros. Na prática, isso signifi-
ca agir de maneira que beneficie as pessoas, contribuindo positivamente para sua saúde, bem-estar e felicida-
de. Profissionais de diversas áreas, como médicos, professores e assistentes sociais, frequentemente utilizam
este princípio como um guia para suas ações, buscando sempre o melhor para aqueles a quem servem.
Princípio da Não Maleficência: Intimamente ligado à beneficência, este princípio sustenta que deve-se evitar
causar dano aos outros. É um conceito fundamental na ética médica, encapsulado na famosa frase “primeiro,
não prejudicar”. Este princípio é um lembrete de que, ao tentar fazer o bem, deve-se também estar atento para
não causar danos inadvertidos.
Princípio da Justiça: Este princípio aborda a importância da equidade e da igualdade no tratamento das
pessoas. Ele exige que os recursos sejam distribuídos de maneira justa e que todos tenham igual acesso a
oportunidades. Em um contexto social, isso pode se referir à distribuição de riqueza, acesso à educação e cui-
dados de saúde. Na ética profissional, enfatiza a importância de tratar todos os clientes, pacientes ou alunos
de maneira igual e justa.
94
Princípio da Veracidade: Este princípio sustenta a importância da honestidade e da verdade. Em qualquer
interação, seja ela pessoal, profissional ou social, espera-se que as pessoas sejam honestas e transparentes.
Isso é essencial para a construção de confiança e para o funcionamento eficaz de qualquer relacionamento ou
instituição.
Estes princípios, embora simples em sua formulação, são profundos em suas implicações. Eles servem
como alicerce para uma vasta gama de códigos de conduta ética em diferentes profissões e culturas. Compre-
ender e aplicar esses princípios no dia a dia não é apenas uma questão de seguir regras; é uma maneira de
viver uma vida que respeita a dignidade e os direitos de todas as pessoas. A ética, portanto, não é apenas um
campo teórico, mas uma prática diária que desempenha um papel crucial na formação de uma sociedade justa
e compreensiva.
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Função pública é a competência, atribuição ou encargo para o exercício de determinada função. Ressalta-
-se que essa função não é livre, devendo, portanto, estar o seu exercício sujeito ao interesse público, da cole-
tividade ou da Administração. Segundo Maria Sylvia Z. Di Pietro, função “é o conjunto de atribuições às quais
não corresponde um cargo ou emprego”.
No exercício das mais diversas funções públicas, os servidores, além das normatizações vigentes nos órgão
e entidades públicas que regulamentam e determinam a forma de agir dos agentes públicos, devem respeitar
os valores éticos e morais que a sociedade impõe para o convívio em grupo. A não observação desses valores
acarreta uma série de erros e problemas no atendimento ao público e aos usuários do serviço, o que contribui
de forma significativa para uma imagem negativa do órgão e do serviço.
Um dos fundamentos que precisa ser compreendido é o de que o padrão ético dos servidores públicos no
exercício de sua função pública advém de sua natureza, ou seja, do caráter público e de sua relação com o
público.
O servidor deve estar atento a esse padrão não apenas no exercício de suas funções, mas 24 horas por
dia durante toda a sua vida. O caráter público do seu serviço deve se incorporar à sua vida privada, a fim de
que os valores morais e a boa-fé, amparados constitucionalmente como princípios básicos e essenciais a uma
vida equilibrada, se insiram e seja uma constante em seu relacionamento com os colegas e com os usuários
do serviço.
O Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal estabelece no primeiro
capítulo valores que vão muito além da legalidade.
II – O servidor público não poderá jamais desprezar o elemento ético de sua conduta. Assim, não terá que
decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o
inoportuno, mas principalmente entre o honesto e o desonesto, consoante as regras contidas no art. 37, caput,
e§4°, da Constituição Federal.
Cumprir as leis e ser ético em sua função pública. Se ele cumprir a lei e for antiético, será considerada uma
conduta ilegal, ou seja, para ser irrepreensível tem que ir além da legalidade.
Os princípios constitucionais devem ser observados para que a função pública se integre de forma indisso-
ciável ao direito. Esses princípios são:
– Legalidade – todo ato administrativo deve seguir fielmente os meandros da lei.
– Impessoalidade – aqui é aplicado como sinônimo de igualdade: todos devem ser tratados de forma igua-
litária e respeitando o que a lei prevê.
– Moralidade – respeito ao padrão moral para não comprometer os bons costumes da sociedade.
– Publicidade – refere-se à transparência de todo ato público, salvo os casos previstos em lei.
– Eficiência – ser o mais eficiente possível na utilização dos meios que são postos a sua disposição para a
execução do seu trabalho.
A GESTÃO PÚBLICA NA BUSCA DE UMA ATIVIDADE ADMINISTRATIVA ÉTICA
Com a vigência da Carta Constitucional de 1988, a Administração Pública em nosso país passou a buscar
uma gestão mais eficaz e moralmente comprometida com o bem comum, ou seja, uma gestão ajustada aos
princípios constitucionais insculpidos no artigo 37 da Carta Magna.
Para isso a Administração Pública vem implementando políticas públicas com enfoque em uma gestão mais
austera, com revisão de métodos e estruturas burocráticas de governabilidade.
Aliado a isto, temos presenciado uma nova gestão preocupada com a preparação dos agentes públicos
para uma prestação de serviços eficientes que atendam ao interesse público, o que engloba uma postura go-
vernamental com tomada de decisões políticas responsáveis e práticas profissionais responsáveis por parte de
todo o funcionalismo público.
Neste sentido, Cristina Seijo Suárez e Noel Añez Tellería, em artigo publicado pela URBE, descrevem os
princípios da ética pública, que, conforme afirmam, devem ser positivos e capazes de atrair ao serviço público,
pessoas capazes de desempenhar uma gestão voltada ao coletivo. São os seguintes os princípios apresenta-
dos pelas autoras:
96
– Os processos seletivos para o ingresso na função pública devem estar ancorados no princípio do mérito
e da capacidade, e não só o ingresso como carreira no âmbito da função pública;
– A formação continuada que se deve proporcionar aos funcionários públicos deve ser dirigida, entre outras
coisas, para transmitir a ideia de que o trabalho a serviço do setor público deve realizar-se com perfeição, so-
bretudo porque se trata de trabalho realizado em benefícios de “outros”;
– A chamada gestão de pessoal e as relações humanas na Administração Pública devem estar presididas
pelo bom propósito e uma educação esmerada. O clima e o ambiente laboral devem ser positivos e os funcioná-
rios devem se esforçar para viver no cotidiano esse espírito de serviço para a coletividade que justifica a própria
existência da Administração Pública;
– A atitude de serviço e interesse visando ao coletivo deve ser o elemento mais importante da cultura ad-
ministrativa. A mentalidade e o talento se encontram na raiz de todas as considerações sobre a ética pública e
explicam por si mesmos, a importância do trabalho administrativo;
– Constitui um importante valor deontológico potencializar o orgulho são que provoca a identificação do fun-
cionário com os fins do organismo público no qual trabalha. Trata-se da lealdade institucional, a qual constitui
um elemento capital e uma obrigação central para uma gestão pública que aspira à manutenção de comporta-
mentos éticos;
– A formação em ética deve ser um ingrediente imprescindível nos planos de formação dos funcionários pú-
blicos. Ademais se devem buscar fórmulas educativas que tornem possível que esta disciplina se incorpore nos
programas docentes prévios ao acesso à função pública. Embora, deva estar presente na formação contínua
do funcionário. No ensino da ética pública deve-se ter presente que os conhecimentos teóricos de nada servem
se não se interiorizam na práxis do servidor público;
– O comportamento ético deve levar o funcionário público à busca das fórmulas mais eficientes e econômi-
cas para levar a cabo sua tarefa;
– A atuação pública deve estar guiada pelos princípios da igualdade e não discriminação. Ademais a atua-
ção de acordo com o interesse público deve ser o “normal” sem que seja moral receber retribuições diferentes
da oficial que se recebe no organismo em que se trabalha;
– O funcionário deve atuar sempre como servidor público e não deve transmitir informação privilegiada ou
confidencial. O funcionário como qualquer outro profissional, deve guardar o sigilo de ofício;
– O interesse coletivo no Estado social e democrático de Direito existe para ofertar aos cidadãos um conjun-
to de condições que torne possível seu aperfeiçoamento integral e lhes permita um exercício efetivo de todos
os seus direitos fundamentais. Para tanto, os funcionários devem ser conscientes de sua função promocional
dos poderes públicos e atuar em consequência disto. (tradução livre).”
Por outro lado, a nova gestão pública procura colocar à disposição do cidadão instrumentos eficientes para
possibilitar uma fiscalização dos serviços prestados e das decisões tomadas pelos governantes. As ouvidorias
instituídas nos Órgãos da Administração Pública direta e indireta, bem como junto aos Tribunais de Contas e os
sistemas de transparência pública que visam a prestar informações aos cidadãos sobre a gestão pública são
exemplos desses instrumentos fiscalizatórios.
Tais instrumentos têm possibilitado aos Órgãos Públicos responsáveis pela fiscalização e tutela da ética na
Administração apresentar resultados positivos no desempenho de suas funções, cobrando atitudes coadunadas
com a moralidade pública por parte dos agentes públicos. Ressaltando-se que, no sistema de controle atual,
a sociedade tem acesso às informações acerca da má gestão por parte de alguns agentes públicos ímprobos.
Entretanto, para que o sistema funcione de forma eficaz é necessário despertar no cidadão uma consciência
política alavancada pelo conhecimento de seus direitos e a busca da ampla democracia.
Tal objetivo somente será possível através de uma profunda mudança na educação, onde os princípios de
democracia e as noções de ética e de cidadania sejam despertados desde a infância, antes mesmo de o cida-
dão estar apto a assumir qualquer função pública ou atingir a plenitude de seus direitos políticos.
Pode-se dizer que a atual Administração Pública está despertando para essa realidade, uma vez que tem
investido fortemente na preparação e aperfeiçoamento de seus agentes públicos para que os mesmos atuem
dentro de princípios éticos e condizentes com o interesse social.
97
Além, dos investimentos em aprimoramento dos agentes públicos, a Administração Pública passou a insti-
tuir códigos de ética para balizar a atuação de seus agentes. Dessa forma, a cobrança de um comportamento
condizente com a moralidade administrativa é mais eficaz e facilitada.
Outra forma eficiente de moralizar a atividade administrativa tem sido a aplicação da Lei de Improbidade
Administrativa (Lei nº 8.429/92) e da Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº 101/00) pelo Poder
Judiciário, onde o agente público que desvia sua atividade dos princípios constitucionais a que está obrigado
responde pelos seus atos, possibilitando à sociedade resgatar uma gestão sem vícios e voltada ao seu objetivo
maior que é o interesse social.
Assim sendo, pode-se dizer que a atual Administração Pública está caminhando no rumo de quebrar velhos
paradigmas consubstanciados em uma burocracia viciosa eivada de corrupção e desvio de finalidade. Atual-
mente se está avançando para uma gestão pública comprometida com a ética e a eficiência.
Para isso, deve-se levar em conta os ensinamentos de Andrés Sanz Mulas que em artigo publicado pela
Escuela de Relaciones Laborales da Espanha, descreve algumas tarefas importantes que devem ser desenvol-
vidas para se possa atingir ética nas Administrações.
“Para desenhar uma ética das Administrações seria necessário realizar as seguintes tarefas, entre outras:
– Definir claramente qual é o fim específico pelo qual se cobra a legitimidade social;
– Determinar os meios adequados para alcançar esse fim e quais valores é preciso incorporar para alcan-
çá-lo;
– Descobrir que hábitos a organização deve adquirir em seu conjunto e os membros que a compõem para
incorporar esses valores e gerar, assim, um caráter que permita tomar decisões acertadamente em relação à
meta eleita;
– Ter em conta os valores da moral cívica da sociedade em que se está imerso;
– Conhecer quais são os direitos que a sociedade reconhece às pessoas.”
Exercícios
98
3. FGV - 2021 - FUNSAÚDE - CE
A gestão por resultados no setor público, que se tornou relevante no Brasil após a reforma administrativa de
1995, é considerada por vários estudiosos como fundamental para a revitalização da gestão pública no país e
para a retomada do equilíbrio fiscal. Sobre o conceito de gestão por resultados, assinale a afirmativa correta.
(A) Fundamenta-se na no princípio da centralização política, no que diz respeito à delegação de competên-
cias.
(B) Preconiza o fortalecimento processual nas políticas públicas desenvolvidas pelos gestores.
(C) Prioriza a hierarquia decisória na tomada de decisão em detrimento do laissez-faire.
(D) Privilegia a flexibilização de recursos em conjunto com a responsabilização do gestor.
(E) Rechaça a ideia de confiança limitada, contrária à ideia de eficiência administrativa.
99
( ) CERTO
( ) ERRADO
100
( ) CERTO
( ) ERRADO
Gabarito
1 A
2 E
3 D
4 D
5 C
6 CERTO
7 A
8 B
9 CERTO
10 ERRADO
101
SES-MT
Comum aos cargos de nível Superior e Especialista
Legislação Específica
Legislação Específica
Sistema Único de Saúde (SUS): princípios, diretrizes, estrutura e organização; políti-
cas de saúde.................................................................................................................. 1
Estrutura e funcionamento das instituições e suas relações com os serviços de
saúde.............................................................................................................................. 7
Níveis progressivos de assistência à saúde.................................................................. 8
Políticas públicas do SUS para gestão de recursos físicos, financeiros, materiais e
humanos......................................................................................................................... 9
Sistema de planejamento do SUS: estratégico e normativo.......................................... 10
Direitos dos usuários do SUS: participação e controle social........................................ 10
Ações e programas do SUS........................................................................................... 18
Legislação básica do SUS............................................................................................. 20
Política Nacional de Humanização................................................................................. 21
Constituição Federal de 1988 - Título VIII - do Art. 194 ao Art. 200............................... 36
Lei nº 8.142/90 (dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema
Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos
financeiros na área da saúde e dá outras providências)................................................ 38
Lei nº 8.080/90 (dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação
da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras
providências).................................................................................................................. 40
RDC nº 63, de 25 de novembro de 2011 (dispõe sobre os requisitos de boas práticas
de funcionamento para os Serviços de Saúde)............................................................. 57
Resolução CNS nº 553/2017 (dispõe sobre a carta dos direitos e deveres da pessoa
usuária da saúde)........................................................................................................... 65
RDC nº 36, de 25 de julho de 2013 (institui ações para a segurança do paciente em
serviços de saúde e dá outras providências)................................................................. 73
Organização do Sistema de Saúde do Estado de Mato Grosso: metas, programas e
ações em saúde............................................................................................................. 76
Exercícios....................................................................................................................... 93
Gabarito.......................................................................................................................... 98
Sistema Único de Saúde (SUS): princípios, diretrizes, estrutura e organização; políti-
cas de saúde
SUS é a sigla para Sistema Único de Saúde, o sistema público de saúde do Brasil. O conceito do Sistema
Único de Saúde (SUS), no Brasil, tem como objetivo promover o acesso universal e igualitário à saúde. O SUS
é descentralizado e baseado em princípios de integralidade, universalidade e equidade.
— Fundamentação Legal
A Constituição Federal de 1988 é a principal base legal para o SUS. O artigo 196 estabelece que a saúde
é um direito de todos e dever do Estado. A Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8.080/1990) e a Lei nº 8.142/1990
também são fundamentais na organização e funcionamento do SUS.
— Financiamento
O financiamento do SUS é tripartite, envolvendo recursos da União, dos Estados e dos municípios. A Emenda
Constitucional 29/2000 regulamenta a destinação de recursos para a saúde, fixando percentuais mínimos a
serem aplicados pelos entes federativos.
— Princípios
Universalidade: o acesso aos serviços de saúde deve ser garantido a todos, sem discriminação.
Equidade: busca reduzir desigualdades, garantindo atendimento proporcional às necessidades de cada
indivíduo.
Integralidade: prevê a prestação de serviços que contemplem a totalidade das ações de promoção, prevenção
e recuperação da saúde.
— Diretrizes
Descentralização: distribuição de responsabilidades entre os diferentes níveis de governo.
Regionalização: Organização dos serviços de saúde em regiões, buscando maior eficiência e integralidade.
Participação da Comunidade: envolve a população na formulação de políticas e no controle das ações de
saúde.
— Articulação com Serviços de Saúde
O SUS engloba uma rede hierarquizada de serviços que vai desde a atenção básica até a alta complexidade.
A articulação entre esses serviços é essencial para garantir um atendimento integral e eficiente.
É importante ressaltar que o SUS enfrenta desafios, como a necessidade de melhoria na gestão, aumento
de investimentos e superação de desigualdades regionais. O debate contínuo sobre políticas de saúde é
fundamental para aprimorar o sistema e garantir o pleno exercício do direito à saúde no Brasil.
O Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro é mundialmente conhecido por ser um dos maiores, mais
complexos e mais completos sistemas de saúde vigentes. Ele abrange procedimentos de baixa complexidade,
como aqueles oferecidos pela Atenção Primária à Saúde (APS), e de alta complexidade, como por exemplo,
transplante de órgãos. Dessa maneira, garante acesso universal e integral, de forma gratuita para a população.
O SUS pode ser definido como o conjunto de ações e de serviços de saúde prestados pela federação, junto de
seus estados e municípios.
Até meados dos anos 80, a concepção de saúde era dada pela “ausência de doença”, contudo, com o fim da
Ditadura Militar e com a 8ª Conferência Nacional de Saúde (1986), ampliou-se o conceito de saúde pública no
Brasil quando propôs a ideia de uma saúde preventiva, participação da população nas decisões envolvendo a
saúde brasileira, descentralização dos serviços e mudanças embasadas no direito universal a saúde.
Com a publicação do relatório das decisões e pautas discutidas na 8ª Conferência Nacional de Saúde,
a Constituição Federal de 1988 foi o primeiro documento a oficializar a saúde no meio jurídico brasileiro,
determinando, ainda que seja promovida de forma gratuita, universal e de qualidade, para que todos tenham
acesso de maneira igualitária. Dessa forma, a saúde passa a ser um direito do cidadão brasileiro e de todo
aquele que estiver em território nacional e um dever do Estado.
1
Fernando Collor de Mello foi responsável pela sanção das leis que promoviam a criação e a organização do
SUS.
Diretrizes
Conforme a Constituição Federal de 1988, o SUS é definido pelo artigo 198 do seguinte modo: As ações e
serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada, e constituem um sistema único,
organizado de acordo com as seguintes diretrizes:
- Descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
- Atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;
- Participação da comunidade.
*OBSERVAÇÃO: Recomenda-se a leitura na íntegra da Lei n°8.080, de 19 de setembro de 1990 e Lei 8.142,
de 28 de dezembro de 1990, ambas da Constituição Federal
Lei n°8.080, de 19 de setembro de 1990 da Constituição Federal: Também conhecida como Lei Orgânica
da Saúde, traz em seu texto original: “dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação de
saúde, organização e funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências”.
Em referência a essa lei, os objetivos do SUS consistem em identificar fatores determinantes da saúde,
formular políticas destinas a promover nos âmbitos econômico e social, condições para pleno exercício da saúde
e aplicar ações assistenciais de proteção, promoção e recuperação com enfoque em atividades preventivas.
Além disso, determina atribuições do SUS voltadas para a vigilância sanitária e epidemiológica, participação
ativa em estratégias em saneamento básico e o desenvolvimento técnico-científico, com o intuito de ampliar
as atribuições sob responsabilidade dos órgãos gestores do SUS, como o Ministério da Saúde e secretarias
estaduais e municipais de saúde.
Lei 8.142, de 28 de dezembro de 1990 da Constituição Federal: É o resultado da luta pela democratização
dos serviços de saúde. Traz em seu texto original o objetivo: “Dispõe sobre a participação da comunidade na
gestão do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá
outras providências”.
A partir da criação dessa lei, foram criados também os Conselhos e as Conferências de Saúde, que são
de extrema importância para o controle social do SUS. Os Conselhos de Saúde foram constituídos afim de
fiscalizar, formular e promover ações deliberativas acerca das políticas de saúde.
Em seu texto, traz que a Conferência de Saúde é um espaço voltado para discussões sobre as políticas de
saúde em todas as esferas governamentais, acontecendo de maneira ordinária a cada 4 anos em formato de fórum
de discussão afim de avaliar e propor mudanças e novas políticas de saúde. Dentre as conferências nacionais, a
mais importante que já aconteceu até os dias atuais foi a 8ª Conferência Nacional de Saúde de 1986, que ficou
conhecida como o pontapé inicial para a inclusão da saúde no âmbito legislativo do país.
Por fim, determina que a representação dos usuários do SUS dentro desses conselhos e conferências deve
ser paritária em relação aos demais seguimentos, em outras palavras, 50% dos representantes devem ser
usuários do SUS.
Princípios do SUS
Para que o SUS tenha a mesma forma de organização e a mesma doutrina em todo o território nacional, fica
definido pela Constituição Federal um conjunto de elementos doutrinários e organizacionais.
— Princípios Doutrinários do SUS:
Universalização: Cabe o Estado assegurar a saúde como um direito de todas as pessoas, garantindo o
acesso a todos os serviços do SUS sem distinção de sexo, raça ou qualquer outra característica pessoal ou
social.
Equidade: Se faz necessário afim de diminuir desigualdades, visto que, todas as pessoas têm o mesmo
direito aos serviços oferecidos pelo SUS, mas possuem necessidades distintas, ou seja, investir onde existe a
maior carência de investimentos.
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Integralidade: Visa tratar as pessoas em um todo, atendendo todas as necessidades de cada indivíduo, de
modo a integrar ações de promoção de saúde, prevenção e tratamento de doenças. Ou seja, o sistema de
saúde deve estar preparado para acolher o usuário, ouvi-lo e entende-lo como parte de um contexto social e,
assim, identificar suas carências e buscar formas de supri-las.
— Princípios Organizativos:
Regionalização e Hierarquização: Define que os serviços promovidos pelo SUS devem ser organizados
em níveis crescente de complexidade, abrangendo os critérios epidemiológicos, geográficos e baseados na
população a ser atendida.
A hierarquização prevê a divisão de níveis de atenção (primário, secundário e terciário) afim de distribuir o
atendimento de acordo com a necessidade real do paciente para o setor especializado naquilo que ele precisa.
Enquanto isso, a regionalização dispõe da necessidade de não somente dividir os serviços de saúde,
mas também sistematizá-los de maneira eficiente, evitando que dois setores fiquem responsáveis pelo
mesmo serviço e, consequentemente, poupar que recursos materiais, financeiros e humanos sejam gastos
desnecessariamente.
Descentralização: A redistribuição do poder ligado as decisões, aos recursos, com o intuito de aproximar
a tomada de decisão ao fato, pois entende-se que, dessa maneira, haverá mais chance de acerto. Graças a
descentralização, têm-se a tendência da municipalização das decisões a respeito dos serviços de saúde.
Participação dos cidadãos: Há a necessidade, embasada a partir das Leis Orgânicas, da participação da
população nas decisões relacionadas a administração pública do SUS por meio dos Conselhos de Saúde,
sejam eles nacionais, estaduais ou municipais. Além disso, com a ampliação do acesso à internet, foi possível
aumentar o debate sobre assuntos importantes para a saúde através de consultas e audiências públicas.
Humanização: A humanização é um princípio fundamental do Sistema Único de Saúde no Brasil, que busca
valorizar a relação entre profissionais de saúde e usuários, respeitando suas necessidades, desejos e valores.
Se baseia na construção de vínculos mais solidários e acolhedores entre os profissionais de saúde e os usuários,
e visa a promoção da dignidade humana, da autonomia e da cidadania.
Para a efetivação da humanização no SUS, são necessárias diversas ações, tais como a valorização e
capacitação dos profissionais de saúde, estimulando a reflexão crítica e a escuta qualificada dos usuários, a
ampliação e qualificação da participação dos usuários e da sociedade civil na gestão dos serviços de saúde,
a garantia do acesso aos serviços de saúde, respeitando a integralidade e a equidade no atendimento, a
promoção da educação em saúde e da prevenção de doenças, visando a promoção da saúde e o cuidado com
o indivíduo em sua totalidade, o estímulo à promoção da saúde mental, respeitando as diferenças individuais e
os aspectos psicológicos e emocionais dos usuários.
A humanização no SUS busca transformar a relação tradicionalmente vertical entre profissionais de saúde
e usuários, colocando-os em um patamar de igualdade e trabalhando juntos para a promoção da saúde e o
cuidado do indivíduo. É um processo contínuo de transformação da cultura institucional, que busca construir
uma atenção mais resolutiva, equitativa e comprometida com a qualidade de vida dos usuários do SUS.
As diretrizes para a gestão do SUS estabelecem um conjunto de princípios e valores que devem orientar a
gestão do sistema de saúde brasileiro, garantindo o acesso universal, equitativo, integral e humanizado aos
serviços de saúde, com a participação da sociedade na sua gestão e descentralização da gestão para os
estados e municípios.
Financiamento: O financiamento do SUS é composto por recursos públicos provenientes dos orçamentos
das três esferas de governo (federal, estadual e municipal), além de recursos oriundos de contribuições sociais
e impostos específicos, como a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) e a
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).
Os recursos do SUS são alocados de forma descentralizada e destinados para ações e serviços de saúde,
como atendimento médico, consultas, exames, internações hospitalares, ações de vigilância em saúde, entre
outros.
3
A Constituição Federal de 1988 estabeleceu que a saúde é um direito universal e um dever do Estado, e que
a União, os estados e os municípios devem aplicar um percentual mínimo de suas receitas na área da saúde.
Atualmente, a Emenda Constitucional nº 86/2015 fixou o percentual de 15% da Receita Corrente Líquida (RCL)
da União e de 12% da RCL dos estados e do Distrito Federal para a saúde. Já os municípios devem aplicar no
mínimo 15% de suas receitas próprias na saúde, acrescidos dos repasses federais e estaduais.
Além disso, o SUS conta com o Fundo Nacional de Saúde (FNS), que é um mecanismo de financiamento
da saúde pública no país, responsável por receber e repassar os recursos do SUS para estados e municípios,
garantindo a distribuição equitativa e a aplicação adequada dos recursos. O FNS recebe recursos de diversas
fontes, como o Orçamento Geral da União, as contribuições sociais e os repasses dos estados e municípios.
Em resumo, o financiamento do SUS é uma responsabilidade compartilhada entre as três esferas de governo
e é financiado com recursos públicos provenientes de diversos impostos e contribuições sociais, sendo gerido
pelo Fundo Nacional de Saúde.
Regulação: A regulação do SUS no Brasil é um processo que busca garantir o acesso igualitário e oportuno
aos serviços de saúde, de forma a promover a equidade no atendimento e a eficiência na utilização dos recursos
públicos. A regulação é responsável por planejar, organizar e avaliar as ações e serviços de saúde em todo o
território nacional, buscando garantir a integralidade da assistência e a resolubilidade dos serviços.
A regulação do SUS é realizada por meio de três tipos de ações: a regulação assistencial, a regulação
da atenção à saúde e a regulação econômica. A regulação assistencial tem como objetivo garantir o acesso
igualitário aos serviços de saúde, regulando o fluxo de pacientes e os critérios de encaminhamento entre as
unidades de saúde. A regulação da atenção à saúde busca garantir a integralidade e a continuidade do cuidado,
orientando a oferta de serviços e a organização da rede de atenção à saúde. Já a regulação econômica visa
garantir a eficiência na utilização dos recursos públicos, regulando a oferta de serviços e estabelecendo critérios
para a remuneração dos serviços prestados.
A regulação do SUS é uma responsabilidade compartilhada entre as três esferas de governo (federal,
estadual e municipal), com a participação da sociedade civil e dos profissionais de saúde. É importante que a
regulação seja realizada de forma transparente, com a participação da população na definição das prioridades
de saúde e na avaliação da qualidade dos serviços prestados. Além disso, é fundamental que a gestão do SUS
trabalhe para fortalecer a capacidade de regulação em todo o país, visando garantir a oferta de serviços de
saúde de qualidade e em tempo oportuno para toda a população.
Estrutura
O Sistema Único de Saúde (SUS) é constituído pelo conjunto das ações e de serviços de saúde sob gestão
pública. Está organizado em redes regionalizadas e hierarquizadas e atua em todo o território nacional, com
direção única em cada esfera de governo. O SUS não é, porém, uma estrutura que atua isolada na promoção
dos direitos básicos de cidadania. Insere-se no contexto das políticas públicas de seguridade social, que abran-
gem, além da Saúde, a Previdência e a Assistência Social.
A Constituição brasileira estabelece que a saúde é dever do Estado. Aqui, deve-se entender Estado não
apenas como o governo federal, mas como Poder Público, abrangendo a União, os Estados, o Distrito Federal
e os municípios.
A Lei n.º 8.080/90 determina, em seu artigo 9º, que a direção do SUS deve ser única, de acordo com o inciso
I do artigo 198 da Constituição Federal, sendo exercida, em cada esfera de governo, pelos seguintes órgãos:
I – no âmbito da União, pelo Ministério da Saúde;
II – no âmbito dos Estados e do Distrito Federal, pela respectiva Secretaria de Saúde ou órgão equivalente; e
III – no âmbito dos municípios, pela respectiva Secretaria de Saúde ou órgão equivalente.
O artigo 196 cita que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. Com este artigo fica definida a universalidade
da cobertura do Sistema Único de Saúde.
O SUS faz parte das ações definidas na Constituição como sendo de “relevância pública”, sendo atribuído
ao poder público a sua regulamentação, a fiscalização e o controle das ações e dos serviços de saúde.
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Outros Atos Normativos que estruturaram o SUS
Norma Operacional Básica – NOB de 1991: foi criada com a finalidade de disciplinar e padronizar os fluxos
financeiros entre as esferas de governo e de combater a propalada ineficiência das redes públicas federal, es-
tadual e municipal, acusadas de ociosas e caras. Podem ser considerados os seguintes efeitos positivos nesse
período:
- um enorme incremento, sobretudo na esfera municipal, de capacidade institucional e técnica para a gestão
da Saúde, inédita na história e na cultura municipal do País; e
- a emergência de novos atores sociais na arena da Saúde com peso crescente no processo decisório, como
os secretários municipais e os diversos grupos de usuários, por meio dos Conselhos Municipais de Saúde.
Norma Operacional Básica – NOB de 1992: tem como objetivos normalizar a assistência à saúde no SUS;
estimular a implantação, o desenvolvimento e o funcionamento do sistema; e dar forma concreta e instrumentos
operacionais à efetivação dos preceitos constitucionais da saúde.
Norma Operacional Básica – NOB de 1993: estabeleceu uma municipalização progressiva e gradual, em
estágios, de forma a contemplar os diversos graus de preparação institucional e técnica dos municípios para
assumir a gestão da Saúde. A cada estágio correspondia certo número de requisitos gerenciais a serem cum-
pridos pelo município, ao qual cabia uma autonomia crescente na gestão dos recursos, incluindo os da rede
privada contratada.
O SUS teve a sua execução descentralizada por níveis de gestão, começando progressivamente pela inci-
piente, seguida pela parcial e culminando com a semiplena. Essa progressão decorreu do comprometimento
de Estados e municípios com a organização da atenção à saúde, com a sua adequação a parâmetros de pro-
gramação e refletiu em maior autonomia local para dispor de recursos. Na prática, a gestão parcial não gerou
maiores consequências.
Norma Operacional Básica – NOB de 1996: acelerou a descentralização dos recursos federais em direção
aos Estados e municípios, consolidando a tendência à autonomia de gestão das esferas descentralizadas e
criou incentivos explícitos às mudanças na lógica assistencial, rompendo com o produtivismo e implementando
incentivos aos programas dirigidos às populações mais carentes - como o PACS – Programa de Agente Comu-
nitário da Saúde - e às práticas fundadas em uma nova lógica assistencial, como o PSF - Programa Saúde da
Família.
Norma Operacional de Assistência à Saúde NOAS/SUS 01/2001: promover maior equidade na alocação de
recursos e no acesso da população às ações e serviços de saúde em todos nos níveis de atenção.
Norma Operacional de Assistência à Saúde NOAS/SUS 01/2002: amplia as responsabilidades dos municí-
pios na Atenção Básica; estabelece o processo de regionalização como estratégia de hierarquização dos servi-
ços de saúde e de busca de maior equidade; cria mecanismos para o fortalecimento da capacidade de gestão
do Sistema Único de Saúde e procede à atualização dos critérios de habilitação de estados e municípios.
A organização do Sistema Único de Saúde (SUS) envolve diferentes instâncias de gestão, com destaque
para as Comissões Intergestores e os Conselhos Nacionais. Vamos abordar brevemente cada uma delas:
— Comissões Intergestores (CIR e CIB)
Comissão Intergestores Bipartite (CIB): é uma instância de articulação e pactuação entre gestores estaduais
e municipais. Sua função é promover o entendimento e a deliberação sobre questões operacionais, financeiras
e de gestão do SUS no âmbito estadual.
Comissão Intergestores Tripartite (CIT): atua como uma instância de negociação e decisão entre gestores
dos três níveis federativos (União, Estados e Municípios). A CIT é responsável por discutir e pactuar políticas,
estratégias e diretrizes para o SUS em nível nacional.
— Conselhos Nacionais
Conselho Nacional de Saúde (CNS): é o órgão colegiado de controle social do SUS. Suas atribuições incluem
a formulação de estratégias e o controle da execução da política de saúde. O CNS é composto por representantes
de usuários, trabalhadores da saúde, gestores e prestadores de serviços, além de representantes de entidades
e movimentos sociais.
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Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e Conselho Nacional de Secretarias Municipais de
Saúde (CONASEMS): esses conselhos representam, respectivamente, os gestores estaduais e municipais de
saúde. Têm como objetivo auxiliar na formulação e implementação de políticas e diretrizes para a gestão do
SUS em seus respectivos âmbitos.
— Composições
Comissão Intergestores Bipartite (CIB): é composta por representantes das Secretarias Estaduais de Saúde
e das Secretarias Municipais de Saúde. A proporção de representantes de cada esfera varia de acordo com as
características de cada estado.
Comissão Intergestores Tripartite (CIT): é composta por representantes do Ministério da Saúde, do Conselho
Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde
(CONASEMS).
Conselho Nacional de Saúde (CNS): sua composição inclui representantes de usuários, trabalhadores da
saúde, gestores e prestadores de serviços, além de representantes de entidades e movimentos sociais.
Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e Conselho Nacional de Secretarias Municipais de
Saúde (CONASEMS): são compostos por gestores estaduais e municipais de saúde, respectivamente.
A atuação conjunta dessas instâncias é fundamental para garantir a efetividade, a descentralização e a
participação da sociedade na gestão do SUS, promovendo a construção de políticas de saúde mais adequadas
às realidades locais e nacionais.
O Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil está intimamente ligado às políticas sociais do país. A saúde
é considerada uma política social, e o SUS é um dos principais instrumentos para a implementação dessa
política. Aqui estão algumas conexões entre o SUS e as políticas sociais:
— Saúde como Direito Social
O SUS está fundamentado na ideia de que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado, conforme
estabelecido na Constituição Federal de 1988.
A saúde é reconhecida como um dos direitos sociais, ao lado de educação, trabalho, moradia, lazer,
segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância, assistência aos desamparados.
Universalidade, Equidade e Integralidade
Os princípios do SUS, como universalidade (atendimento para todos), equidade (atendimento conforme as
necessidades) e integralidade (prevenção, promoção, tratamento e reabilitação), refletem a busca por justiça
social e igualdade de acesso aos serviços de saúde.
Intersetorialidade
A saúde não é vista isoladamente, mas em conexão com outros determinantes sociais. A intersetorialidade
promove a articulação entre diferentes políticas sociais (educação, habitação, assistência social) para abordar
as complexas determinantes sociais da saúde.
Redução das Desigualdades Sociais
O SUS é um instrumento essencial na redução das desigualdades sociais em saúde, buscando assegurar
que todos, independentemente de sua condição socioeconômica, tenham acesso adequado aos serviços de
saúde.
Participação Social
A participação social é um componente crucial das políticas sociais e do SUS. A população participa
ativamente na formulação, implementação, monitoramento e avaliação das políticas de saúde por meio de
conselhos de saúde, conferências e outras instâncias.
Financiamento e Orçamento como Instrumentos de Política Social
O financiamento do SUS, garantido por recursos públicos, é uma expressão do compromisso do Estado em
prover serviços de saúde como parte de sua responsabilidade social.
A elaboração e execução do orçamento público para a saúde são consideradas instrumentos fundamentais
para a implementação efetiva das políticas sociais relacionadas à saúde.
6
Acesso Universal a Serviços de Saúde
A universalidade no SUS significa que todos têm direito ao acesso a serviços de saúde, independentemente
de sua condição social, econômica ou geográfica.
A interseção entre o SUS e as políticas sociais destaca a importância de uma abordagem integrada para
enfrentar os desafios sociais e de saúde no Brasil. Essa integração visa não apenas tratar doenças, mas
também promover o bem-estar e a equidade social.
Os princípios básicos do Sistema Único de Saúde brasileiro garantem a rede de atenção à saúde serviços
dispostos de maneira regionalizada e hierarquizada tendo como propósito o levantamento de dados a respeito
das condições de saúde das mais variadas populações. Isso torna possível que as instâncias superiores do
Ministério da Saúde se articulem de maneira efetiva com os governos municipais e estaduais a fim de propor
intervenções em vigilância sanitária, epidemiológica e em educação em saúde, além de proporcionar o vínculo
entre os setores secundário e terciário com a atenção primária à saúde.
A Atenção Primária à Saúde atua de maneira organizada durante a prestação de serviço, oferecendo para
a população consultas de demanda espontânea e consultas previamente agendadas, articulando entre elas
ações em vigilância em saúde e mapeamento das condições biopsicossociais das áreas adscritas. Esse nível
de atenção é o primeiro nível de atenção à saúde dentro do SUS, sendo considerado a porta de entrada do
indivíduo no sistema de saúde.
A atenção primária é responsável pela realização de procedimentos de baixa complexidade, sendo possível
resolver a maior parte dos problemas de saúde comuns dentro de uma comunidade. Contudo, um fator importante
para que se desenvolva uma boa assistência é o conhecimento da população inserida naquela unidade, visto
que assim é possível desenvolver propostas baseadas nas necessidades daquela área em questão.
Além disso, a Atenção Primária à Saúde também é responsável pelo encaminhamento da população para os
setores secundário e terciário, de acordo com a complexidade da necessidade de cada usuário.
O setor secundário é responsável pelos procedimentos de média complexidade que extrapolam os
recursos disponibilizados na atenção primária mas que de toda forma ainda não são caracterizados como
alta complexidade para serem encaminhados para o setor terciário. Os serviços de diagnóstico e terapia
especializada onde não requerem tanto avanço tecnológico se enquadram nesse setor. Muitas vezes a demanda
pelos procedimentos acabam sendo muito maiores que os pontos de oferta dos serviços secundários, sendo
esse o setor da saúde um dos mais saturados, uma vez que a sua organização baseia-se na disponibilidade
de vagas dos procedimentos em questão, não levando em consideração as necessidades da população e nem
mesmo o perfil epidemiológico populacional.
O setor de alta complexidade abrange altas tecnologias e procedimentos de alto custo, é considerado o setor
que proporciona serviços de qualidade que extrapolam as atribuições do setor primário e secundário. Em sua
grande maioria consistem em procedimentos realizados em âmbito hospitalar, entretanto, alguns podem ser
realizados ainda a nível ambulatorial. O setor terciário é responsável por consumir grande parte dos recursos
financeiros disponibilizados pelo SUS, mesmo que a incidência desses procedimentos seja menor quando
comparado ao número de procedimentos da atenção primária à saúde.
A organização dos hospitais está diretamente relacionada ao tipo administrativo e ao nível de atenção que a
instituição atende. Eles podem ser públicos, privados ou até mesmo filantrópicos. Podem assumir serviços de
baixa, média e alta complexidade, além de setores de urgência e emergência, centro de exames diagnósticos
especializados e exames laboratoriais.
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Níveis progressivos de assistência à saúde
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Políticas públicas do SUS para gestão de recursos físicos, financeiros, materiais e
humanos
O Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil possui várias políticas públicas para a gestão de recursos
físicos, financeiros, materiais e humanos. Essas políticas são implementadas visando garantir o acesso uni-
versal, integral e equitativo aos serviços de saúde. Aqui estão algumas das principais políticas relacionadas à
gestão de recursos no âmbito do SUS:
1.Financiamento:
•Política Nacional de Financiamento do SUS (PNF): Define os critérios e mecanismos de transferência de
recursos entre as esferas de governo (federal, estadual e municipal).
•Emenda Constitucional 29 (EC 29): Regulamenta os percentuais mínimos de gastos com saúde por cada
ente federativo.
2.Gestão de Recursos Humanos:
•Política Nacional de Educação Permanente em Saúde: Busca o desenvolvimento de recursos humanos,
promovendo a educação continuada.
•Programa Mais Médicos: Busca ampliar a presença de médicos em regiões carentes, com a contratação
de profissionais brasileiros e estrangeiros.
3.Gestão de Recursos Materiais:
•Política Nacional de Gestão de Tecnologias em Saúde (PNGTS): Define diretrizes para incorporação, ava-
liação e monitoramento de tecnologias em saúde.
•Programa Nacional de Qualificação da Gestão e da Atenção no SUS (QualiSUS): Visa fortalecer a capaci-
dade de gestão e melhoria da qualidade dos serviços.
4.Infraestrutura e Equipamentos:
•Programa de Requalificação de Unidades Básicas de Saúde (Requalifica UBS): Busca melhorar a infraes-
trutura e a qualidade dos serviços nas unidades básicas de saúde.
•Programa de Aceleração do Crescimento (PAC): Inclui investimentos em infraestrutura hospitalar e unida-
des de pronto atendimento.
5.Gestão de Tecnologia da Informação:
•Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (SISAB): Busca melhorar a coleta e análise de
dados na atenção básica.
•Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS): Busca integrar sistemas de informação em saúde.
6.Farmácia Popular:
•Programa Farmácia Popular do Brasil: Busca ampliar o acesso a medicamentos, oferecendo descontos em
estabelecimentos farmacêuticos conveniados.
Essas políticas refletem a complexidade e a abrangência do SUS, que é um sistema amplo e descen-
tralizado. A implementação e o sucesso dessas políticas dependem da cooperação entre as diferentes esferas
de governo, bem como da participação efetiva da sociedade civil e dos profissionais de saúde.
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Sistema de planejamento do SUS: estratégico e normativo
O Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil possui um sistema de planejamento que inclui componen-
tes estratégicos e normativos. O planejamento é uma ferramenta essencial para orientar as ações e garantir a
efetividade na prestação de serviços de saúde. Aqui estão os principais aspectos do sistema de planejamento
do SUS:
1.Planejamento Estratégico:
•Plano Nacional de Saúde (PNS): O PNS estabelece diretrizes, metas e objetivos para um período deter-
minado, geralmente em ciclos quadrienais. Ele é desenvolvido pelo Ministério da Saúde em colaboração com
estados, municípios e a sociedade civil. O plano visa orientar as ações e investimentos para fortalecer o SUS e
melhorar a saúde da população.
•Planos Estaduais e Municipais de Saúde: Estados e municípios elaboram seus próprios planos alinhados
ao PNS, considerando suas realidades locais e regionais. Esses planos têm como objetivo descentralizar as
ações e adaptar estratégias mais específicas às necessidades da população local.
•Conferências de Saúde: As conferências de saúde, realizadas em níveis federal, estadual e municipal, são
eventos participativos que contribuem para a elaboração e avaliação das políticas de saúde. Elas têm papel im-
portante na construção do planejamento estratégico ao envolver a participação da sociedade civil na definição
de prioridades.
2.Planejamento Normativo:
•Leis e Normativas: Existem leis e normativas que regulamentam o funcionamento do SUS e estabelecem
diretrizes gerais. Exemplos incluem a Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080/1990) e a Lei de Responsabilidade
Fiscal, que estabelece regras para a gestão fiscal e financeira.
•Portarias e Resoluções: O Ministério da Saúde emite portarias e resoluções que estabelecem normas e
procedimentos específicos para áreas como financiamento, recursos humanos, assistência farmacêutica, entre
outros.
•Pactuação Interfederativa: Consiste em acordos entre os gestores das diferentes esferas de governo (fede-
ral, estadual e municipal) para definir responsabilidades, recursos e metas. O Pacto pela Saúde é um exemplo
desse processo de pactuação.
O sistema de planejamento do SUS busca integrar as dimensões estratégicas e normativas, alinhando
as ações e recursos de acordo com as necessidades da população e promovendo a participação da sociedade
na definição das políticas de saúde. Esse processo contribui para uma gestão mais eficiente e transparente do
sistema de saúde no país.
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O presente documento foi elaborado de acordo com seis princípios basilares que, juntos, asseguram ao
cidadão o direito básico ao ingresso digno nos sistemas de saúde, sejam eles públicos ou privados.
1. Todo cidadão tem direito ao acesso ordenado e organizado aos sistemas de saúde.
2. Todo cidadão tem direito a tratamento adequado e efetivo para seu problema.
3. Todo cidadão tem direito ao atendimento humanizado, acolhedor e livre de qualquer discriminação.
4. Todo cidadão tem direito a atendimento que respeite a sua pessoa, seus valores e seus direitos.
5. Todo cidadão também tem responsabilidades para que seu tratamento aconteça da forma adequada.
6. Todo cidadão tem direito ao comprometimento dos gestores da saúde para que os princípios anteriores
sejam cumpridos.
Para o Conselho Nacional de Saúde é importante que todos se apossem do conteúdo da Carta, elaborada
com uma linguagem acessível e, assim, permitir o debate e apropriação os direitos e deveres nela contidos por
parte dos gestores, trabalhadores e usuários do SUS.
Prezado (a) candidato (a) a Portaria nº 1.820, de 13 de agosto de 2009, que dispõe sobre os direitos e
deveres dos usuários da saúde encontra-se revogada, entrando em vigor a Portaria de Consolidação n° 1 de
2.017, as informações sobre os direitos e deveres dos usuários da saúde estão dispostos no Título I.
PORTARIA DE CONSOLIDAÇÃO Nº 1, DE 28 DE SETEMBRO DE 2017 2
Consolidação das normas sobre os direitos e deveres dos usuários da saúde, a organização e o funciona-
mento do Sistema Único de Saúde.
O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, no uso das atribuições que lhe confere o art. 87, parágrafo único,
incisos I e II, da Constituição, resolve:
[...]
TÍTULO I
DOS DIREITOS E DEVERES DOS USUÁRIOS DA SAÚDE
Art. 2º Este Título dispõe sobre os direitos e deveres dos usuários da saúde nos termos da legislação vigen-
te. (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 1º)
Art. 3º Toda pessoa tem direito ao acesso a bens e serviços ordenados e organizados para garantia da pro-
moção, prevenção, proteção, tratamento e recuperação da saúde. (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 2º)
§ 1º O acesso será preferencialmente nos serviços de Atenção Básica integrados por centros de saúde, pos-
tos de saúde, unidades de saúde da família e unidades básicas de saúde ou similares mais próximos de sua
casa. (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 2º, § 1º)
§ 2º Nas situações de urgência/emergência, qualquer serviço de saúde deve receber e cuidar da pessoa
bem como encaminhá-la para outro serviço no caso de necessidade. (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 2º,
§ 2º)
§ 3º Em caso de risco de vida ou lesão grave, deverá ser assegurada a remoção do usuário, em tempo hábil
e em condições seguras para um serviço de saúde com capacidade para resolver seu tipo de problema. (Ori-
gem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 2º, § 3º)
§ 4º O encaminhamento às especialidades e aos hospitais, pela Atenção Básica, será estabelecido em fun-
ção da necessidade de saúde e indicação clínica, levando-se em conta a gravidade do problema a ser analisa-
do pelas centrais de regulação. (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 2º, § 4º)
§ 5º Quando houver alguma dificuldade temporária para atender as pessoas é da responsabilidade da dire-
ção e da equipe do serviço, acolher, dar informações claras e encaminhá-las sem discriminação e privilégios.
(Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 2º, § 5º)
Art. 4º Toda pessoa tem direito ao tratamento adequado e no tempo certo para resolver o seu problema de
saúde. (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º)
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Parágrafo Único. É direito da pessoa ter atendimento adequado, com qualidade, no tempo certo e com ga-
rantia de continuidade do tratamento, para isso deve ser assegurado: (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º,
Parágrafo Único)
I - atendimento ágil, com tecnologia apropriada, por equipe multiprofissional capacitada e com condições
adequadas de atendimento; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único, I)
II - informações sobre o seu estado de saúde, de maneira clara, objetiva, respeitosa, compreensível quanto
a: (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único, II)
a) possíveis diagnósticos; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único, II, a)
b) diagnósticos confirmados; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único, II, b)
c) tipos, justificativas e riscos dos exames solicitados; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo
Único, II, c)
d) resultados dos exames realizados; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único, II, d)
e) objetivos, riscos e benefícios de procedimentos diagnósticos, cirúrgicos, preventivos ou de tratamento;
(Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único, II, e)
f) duração prevista do tratamento proposto; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único, II, f)
g) quanto a procedimentos diagnósticos e tratamentos invasivos ou cirúrgicos; (Origem: PRT MS/GM
1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único, II, g)
h) a necessidade ou não de anestesia e seu tipo e duração; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Pará-
grafo Único, II, h)
i) partes do corpo afetadas pelos procedimentos, instrumental a ser utilizado, efeitos colaterais, riscos ou
consequências indesejáveis; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único, II, i)
j) duração prevista dos procedimentos e tempo de recuperação; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º,
Parágrafo Único, II, j)
k) evolução provável do problema de saúde; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único, II, k)
l) informações sobre o custo das intervenções das quais a pessoa se beneficiou; (Origem: PRT MS/GM
1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único, II, l)
m) outras informações que forem necessárias; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único,
II, m)
III - toda pessoa tem o direito de decidir se seus familiares e acompanhantes deverão ser informados sobre
seu estado de saúde; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único, III)
IV - registro atualizado e legível no prontuário, das seguintes informações: (Origem: PRT MS/GM 1820/2009,
Art. 3º, Parágrafo Único, IV)
a) motivo do atendimento e/ou internação; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único, IV, a)
b) dados de observação e da evolução clínica; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único,
IV, b)
c) prescrição terapêutica; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único, IV, c)
d) avaliações dos profissionais da equipe; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único, IV, d)
e) procedimentos e cuidados de enfermagem; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único,
IV, e)
f) quando for o caso, procedimentos cirúrgicos e anestésicos, odontológicos, resultados de exames comple-
mentares laboratoriais e radiológicos; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único, IV, f)
g) a quantidade de sangue recebida e dados que garantam a qualidade do sangue, como origem, sorologias
efetuadas e prazo de validade; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único, IV, g)
h) identificação do responsável pelas anotações; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único,
IV, h)
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i) outras informações que se fizerem necessárias; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Úni-
co, IV, i)
V - o acesso à anestesia em todas as situações em que for indicada, bem como a medicações e procedi-
mentos que possam aliviar a dor e o sofrimento; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único, V)
VI - o recebimento das receitas e prescrições terapêuticas, devem conter: (Origem: PRT MS/GM 1820/2009,
Art. 3º, Parágrafo Único, VI)
a) o nome genérico das substâncias prescritas; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único,
VI, a)
b) clara indicação da dose e do modo de usar; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único,
VI, b)
c) escrita impressa, datilografada ou digitada, ou em caligrafia legível; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art.
3º, Parágrafo Único, VI, c)
d) textos sem códigos ou abreviaturas; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único, VI, d)
e) o nome legível do profissional e seu número de registro no conselho profissional; e (Origem: PRT MS/GM
1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único, VI, e)
f) a assinatura do profissional e a data; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único, VI, f)
VII - recebimento, quando prescritos, dos medicamentos que compõem a farmácia básica e, nos casos de
necessidade de medicamentos alocados no Componente Especializado da Assistência Farmacêutica deve ser
garantido o acesso conforme protocolos e normas do Ministério da Saúde; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009,
Art. 3º, Parágrafo Único, VII)
VIII - o acesso à continuidade da atenção no domicílio, quando pertinente, com estímulo e orientação ao
autocuidado que fortaleça sua autonomia e a garantia de acompanhamento em qualquer serviço que for neces-
sário; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único, VIII)
IX - o encaminhamento para outros serviços de saúde deve ser por meio de um documento que contenha:
(Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único, IX)
a) caligrafia legível ou datilografada ou digitada ou por meio eletrônico; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009,
Art. 3º, Parágrafo Único, IX, a)
b) resumo da história clínica, possíveis diagnósticos, tratamento realizado, evolução e o motivo do encami-
nhamento; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único, IX, b)
c) linguagem clara evitando códigos ou abreviaturas; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo
Único, IX, c)
d) nome legível do profissional e seu número de registro no conselho profissional, assinado e datado; e (Ori-
gem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único, IX, d)
e) identificação da unidade de saúde que recebeu a pessoa, assim como da unidade a que está sendo en-
caminhada. (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 3º, Parágrafo Único, IX, e)
Art. 5º Toda pessoa tem direito ao atendimento humanizado e acolhedor, realizado por profissionais qualifi-
cados, em ambiente limpo, confortável e acessível a todos. (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 4º)
Parágrafo Único. É direito da pessoa, na rede de serviços de saúde, ter atendimento humanizado, acolhedor,
livre de qualquer discriminação, restrição ou negação em virtude de idade, raça, cor, etnia, religião, orientação
sexual, identidade de gênero, condições econômicas ou sociais, estado de saúde, de anomalia, patologia ou
deficiência, garantindo-lhe: (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 4º, Parágrafo Único)
I - identificação pelo nome e sobrenome civil, devendo existir em todo documento do usuário e usuária um
campo para se registrar o nome social, independente do registro civil sendo assegurado o uso do nome de pre-
ferência, não podendo ser identificado por número, nome ou código da doença ou outras formas desrespeitosas
ou preconceituosas; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 4º, Parágrafo Único, I)
II - a identificação dos profissionais, por crachás visíveis, legíveis e/ou por outras formas de identificação de
fácil percepção; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 4º, Parágrafo Único, II)
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III - nas consultas, nos procedimentos diagnósticos, preventivos, cirúrgicos, terapêuticos e internações, o
seguinte: (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 4º, Parágrafo Único, III)
a) a integridade física; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 4º, Parágrafo Único, III, a)
b) a privacidade e o conforto; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 4º, Parágrafo Único, III, b)
c) a individualidade; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 4º, Parágrafo Único, III, c)
d) os seus valores éticos, culturais e religiosos; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 4º, Parágrafo Único,
III, d)
e) a confidencialidade de toda e qualquer informação pessoal; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 4º,
Parágrafo Único, III, e)
f) a segurança do procedimento; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 4º, Parágrafo Único, III, f)
g) o bem-estar psíquico e emocional; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 4º, Parágrafo Único, III, g)
IV - o atendimento agendado nos serviços de saúde, preferencialmente com hora marcada; (Origem: PRT
MS/GM 1820/2009, Art. 4º, Parágrafo Único, IV)
V - o direito a acompanhante, pessoa de sua livre escolha, nas consultas e exames; (Origem: PRT MS/GM
1820/2009, Art. 4º, Parágrafo Único, V)
VI - o direito a acompanhante, nos casos de internação, nos casos previstos em lei, assim como naqueles
em que a autonomia da pessoa estiver comprometida; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 4º, Parágrafo
Único, VI)
VII - o direito a visita diária não inferior a duas horas, preferencialmente aberta em todas as unidades de in-
ternação, ressalvadas as situações técnicas não indicadas; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 4º, Parágrafo
Único, VII)
VIII - a continuidade das atividades escolares, bem como o estímulo à recreação, em casos de internação de
criança ou adolescente; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 4º, Parágrafo Único, VIII)
IX - a informação a respeito de diferentes possibilidades terapêuticas de acordo com sua condição clínica,
baseado nas evidências científicas e a relação custo-benefício das alternativas de tratamento, com direito à
recusa, atestado na presença de testemunha; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 4º, Parágrafo Único, IX)
X - a escolha do local de morte; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 4º, Parágrafo Único, X)
XI - o direito à escolha de alternativa de tratamento, quando houver, e à consideração da recusa de tratamen-
to proposto; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 4º, Parágrafo Único, XI)
XII - o recebimento de visita, quando internado, de outros profissionais de saúde que não pertençam àquela
unidade hospitalar sendo facultado a esse profissional o acesso ao prontuário; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009,
Art. 4º, Parágrafo Único, XII)
XIII - a opção de marcação de atendimento por telefone para pessoas com dificuldade de locomoção; (Ori-
gem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 4º, Parágrafo Único, XIII)
XIV - o recebimento de visita de religiosos de qualquer credo, sem que isso acarrete mudança da rotina de
tratamento e do estabelecimento e ameaça à segurança ou perturbações a si ou aos outros; (Origem: PRT MS/
GM 1820/2009, Art. 4º, Parágrafo Único, XIV)
XV - a não-limitação de acesso aos serviços de saúde por barreiras físicas, tecnológicas e de comunicação;
e (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 4º, Parágrafo Único, XV)
XVI - a espera por atendimento em lugares protegidos, limpos e ventilados, tendo à sua disposição água
potável e sanitários, e devendo os serviços de saúde se organizarem de tal forma que seja evitada a demora
nas filas. (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 4º, Parágrafo Único, XVI)
Art. 6º Toda pessoa deve ter seus valores, cultura e direitos respeitados na relação com os serviços de saú-
de, garantindo-lhe: (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 5º)
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I - a escolha do tipo de plano de saúde que melhor lhe convier, de acordo com as exigências mínimas cons-
tantes da legislação e a informação pela operadora sobre a cobertura, custos e condições do plano que está
adquirindo; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 5º, I)
II - o sigilo e a confidencialidade de todas as informações pessoais, mesmo após a morte, salvo nos casos
de risco à saúde pública; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 5º, II)
III - o acesso da pessoa ao conteúdo do seu prontuário ou de pessoa por ele autorizada e a garantia de envio
e fornecimento de cópia, em caso de encaminhamento a outro serviço ou mudança de domicilio; (Origem: PRT
MS/GM 1820/2009, Art. 5º, III)
IV - a obtenção de laudo, relatório e atestado médico, sempre que justificado por sua situação de saúde;
(Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 5º, IV)
V - o consentimento livre, voluntário e esclarecido, a quaisquer procedimentos diagnósticos, preventivos ou
terapêuticos, salvo nos casos que acarretem risco à saúde pública, considerando que o consentimento anterior-
mente dado poderá ser revogado a qualquer instante, por decisão livre e esclarecida, sem que sejam imputadas
à pessoa sanções morais, financeiras ou legais; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 5º, V)
VI - a não-submissão a nenhum exame de saúde pré-admissional, periódico ou demissional, sem conheci-
mento e consentimento, exceto nos casos de risco coletivo; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 5º, VI)
VII - a indicação de sua livre escolha, a quem confiará a tomada de decisões para a eventualidade de tornar-
-se incapaz de exercer sua autonomia; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 5º, VII)
VIII - o recebimento ou a recusa à assistência religiosa, psicológica e social; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009,
Art. 5º, VIII)
IX - a liberdade, em qualquer fase do tratamento, de procurar segunda opinião ou parecer de outro profis-
sional ou serviço sobre seu estado de saúde ou sobre procedimentos recomendados; (Origem: PRT MS/GM
1820/2009, Art. 5º, IX)
X - a não-participação em pesquisa que envolva ou não tratamento experimental sem que tenha garantias
claras da sua liberdade de escolha e, no caso de recusa em participar ou continuar na pesquisa, não poderá
sofrer constrangimentos, punições ou sanções pelos serviços de saúde, sendo necessário, para isso: (Origem:
PRT MS/GM 1820/2009, Art. 5º, X)
a) que o dirigente do serviço cuide dos aspectos éticos da pesquisa e estabeleça mecanismos para garantir
a decisão livre e esclarecida da pessoa; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 5º, X, a)
b) que o pesquisador garanta, acompanhe e mantenha a integridade da saúde dos participantes de sua
pesquisa, assegurando-lhes os benefícios dos resultados encontrados; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art.
5º, X, b)
c) que a pessoa assine o termo de consentimento livre e esclarecido; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art.
5º, X, c)
XI - o direito de se expressar e ser ouvido nas suas queixas denúncias, necessidades, sugestões e outras
manifestações por meio das ouvidorias, urnas e qualquer outro mecanismo existente, sendo sempre respeitado
na privacidade, no sigilo e na confidencialidade; e (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 5º, XI)
XII - a participação nos processos de indicação e/ou eleição de seus representantes nas conferências, nos
conselhos de saúde e nos conselhos gestores da rede SUS. (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 5º, XII)
Art. 7º Toda pessoa tem responsabilidade para que seu tratamento e recuperação sejam adequados e sem
interrupção. (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 6º)
Parágrafo Único. Para que seja cumprido o disposto no caput deste artigo, as pessoas deverão: (Origem:
PRT MS/GM 1820/2009, Art. 6º, Parágrafo Único)
I - prestar informações apropriadas nos atendimentos, nas consultas e nas internações sobre: (Origem: PRT
MS/GM 1820/2009, Art. 6º, Parágrafo Único, I)
a) queixas; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 6º, Parágrafo Único, I, a)
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b) enfermidades e hospitalizações anteriores; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 6º, Parágrafo Único, I,
b)
c) história de uso de medicamentos, drogas, reações alérgicas; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 6º,
Parágrafo Único, I, c)
d) demais informações sobre seu estado de saúde; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 6º, Parágrafo
Único, I, d)
II - expressar se compreendeu as informações e orientações recebidas e, caso ainda tenha dúvidas, solicitar
esclarecimento sobre elas; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 6º, Parágrafo Único, II)
III - seguir o plano de tratamento proposto pelo profissional ou pela equipe de saúde responsável pelo seu
cuidado, que deve ser compreendido e aceito pela pessoa que também é responsável pelo seu tratamento;
(Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 6º, Parágrafo Único, III)
IV - informar ao profissional de saúde ou à equipe responsável sobre qualquer fato que ocorra em relação a
sua condição de saúde; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 6º, Parágrafo Único, IV)
V - assumir a responsabilidade pela recusa a procedimentos, exames ou tratamentos recomendados e pelo
descumprimento das orientações do profissional ou da equipe de saúde; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art.
6º, Parágrafo Único, V)
VI - contribuir para o bem-estar de todos nos serviços de saúde, evitando ruídos, uso de fumo e derivados
do tabaco e bebidas alcoólicas, colaborando com a segurança e a limpeza do ambiente; (Origem: PRT MS/GM
1820/2009, Art. 6º, Parágrafo Único, VI)
VII - adotar comportamento respeitoso e cordial com às demais pessoas que usam ou que trabalham no
estabelecimento de saúde; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 6º, Parágrafo Único, VII)
VIII - ter em mão seus documentos e, quando solicitados, os resultados de exames que estejam em seu
poder; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 6º, Parágrafo Único, VIII)
IX - cumprir as normas dos serviços de saúde que devem resguardar todos os princípios deste Título; (Ori-
gem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 6º, Parágrafo Único, IX)
X - ficar atento às para situações de sua vida cotidiana que coloquem em risco sua saúde e a da comunida-
de, e adotar medidas preventivas; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 6º, Parágrafo Único, X)
XI - comunicar aos serviços de saúde, às ouvidorias ou à vigilância sanitária irregularidades relacionadas ao
uso e à oferta de produtos e serviços que afetem a saúde em ambientes públicos e privados; (Origem: PRT MS/
GM 1820/2009, Art. 6º, Parágrafo Único, XI)
XII - desenvolver hábitos, práticas e atividades que melhorem a sua saúde e qualidade de vida; (Origem:
PRT MS/GM 1820/2009, Art. 6º, Parágrafo Único, XII)
XIII - comunicar à autoridade sanitária local a ocorrência de caso de doença transmissível, quando a situa-
ção requerer o isolamento ou quarentena da pessoa ou quando a doença constar da relação do Ministério da
Saúde; e (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 6º, Parágrafo Único, XIII)
XIV - não dificultar a aplicação de medidas sanitárias, bem como as ações de fiscalização sanitária. (Origem:
PRT MS/GM 1820/2009, Art. 6º, Parágrafo Único, XIV)
Art. 8º Toda pessoa tem direito à informação sobre os serviços de saúde e aos diversos mecanismos de
participação. (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 7º)
§ 1º O direito previsto no caput deste artigo, inclui a informação, com linguagem e meios de comunicação
adequados, sobre: (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 7º, § 1º)
I - o direito à saúde, o funcionamento dos serviços de saúde e sobre o SUS; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009,
Art. 7º, § 1º, I)
II - os mecanismos de participação da sociedade na formulação, acompanhamento e fiscalização das políti-
cas e da gestão do SUS; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 7º, § 1º, II)
III - as ações de vigilância à saúde coletiva compreendendo a vigilância sanitária, epidemiológica e ambien-
tal; e (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 7º, § 1º, III)
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IV - a interferência das relações e das condições sociais, econômicas, culturais, e ambientais na situação da
saúde das pessoas e da coletividade. (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 7º, § 1º, IV)
§ 2º Os órgãos de saúde deverão informar as pessoas sobre a rede SUS mediante os diversos meios de
comunicação, bem como nos serviços de saúde que compõem essa rede de participação popular, em relação
a: (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 7º, § 2º)
I - endereços; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 7º, § 2º, I)
II - telefones; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 7º, § 2º, II)
III - horários de funcionamento; e (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 7º, § 2º, III)
IV - ações e procedimentos disponíveis. (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 7º, § 2º, IV)
§ 3º Em cada serviço de saúde deverá constar, em local visível à população: (Origem: PRT MS/GM 1820/2009,
Art. 7º, § 3º)
I - nome do responsável pelo serviço; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 7º, § 3º, I)
II - nomes dos profissionais; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 7º, § 3º, II)
III - horário de trabalho de cada membro da equipe, inclusive do responsável pelo serviço; e (Origem: PRT
MS/GM 1820/2009, Art. 7º, § 3º, III)
IV - ações e procedimentos disponíveis. (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 7º, § 3º, IV)
§ 4º As informações prestadas à população devem ser claras, para propiciar a compreensão por toda e qual-
quer pessoa. (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 7º, § 4º)
§ 5º Os conselhos de saúde deverão informar à população sobre: (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 7º,
§ 5º)
I - formas de participação; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 7º, § 5º, I)
II - composição do conselho de saúde; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 7º, § 5º, II)
III - regimento interno dos conselhos; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 7º, § 5º, III)
IV - Conferências de Saúde; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 7º, § 5º, IV)
V - data, local e pauta das reuniões; e (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 7º, § 5º, V)
VI - deliberações e ações desencadeadas. (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 7º, § 5º, VI)
§ 6º O direito previsto no caput desse artigo inclui a participação de conselhos e conferências de saúde, o
direito de representar e ser representado em todos os mecanismos de participação e de controle social do SUS.
(Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 7º, § 6º)
Art. 9º Toda pessoa tem direito a participar dos conselhos e conferências de saúde e de exigir que os gesto-
res cumpram os princípios anteriores. (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 8º)
Parágrafo Único. Os gestores do SUS, das três esferas de governo, para observância desses princípios,
comprometem-se a: (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 8º, Parágrafo Único)
I - promover o respeito e o cumprimento desses direitos e deveres, com a adoção de medidas progressivas,
para sua efetivação; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 8º, Parágrafo Único, I)
II - adotar as providências necessárias para subsidiar a divulgação deste Título, inserindo em suas ações
as diretrizes relativas aos direitos e deveres das pessoas; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 8º, Parágrafo
Único, II)
III - incentivar e implementar formas de participação dos trabalhadores e usuários nas instâncias e participa-
ção de controle social do SUS; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 8º, Parágrafo Único, III)
IV - promover atualizações necessárias nos regimentos e estatutos dos serviços de saúde, adequando-os a
este Título; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 8º, Parágrafo Único, IV)
V - adotar estratégias para o cumprimento efetivo da legislação e das normatizações do SUS; (Origem: PRT
MS/GM 1820/2009, Art. 8º, Parágrafo Único, V)
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VI - promover melhorias contínuas, na rede SUS, como a informatização, para implantar o Cartão SUS e o
Prontuário Eletrônico com os objetivos de: (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 8º, Parágrafo Único, VI)
a) otimizar o financiamento; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 8º, Parágrafo Único, VI, a)
b) qualificar o atendimento aos serviços de saúde; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 8º, Parágrafo Úni-
co, VI, b)
c) melhorar as condições de trabalho; (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 8º, Parágrafo Único, VI, c)
d) reduzir filas; e (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 8º, Parágrafo Único, VI, d)
e) ampliar e facilitar o acesso nos diferentes serviços de saúde. (Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 8º,
Parágrafo Único, VI, e)
Art. 10. Os direitos e deveres dispostos neste Título constituem a Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde.
(Origem: PRT MS/GM 1820/2009, Art. 9º)
Parágrafo Único. A Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde deverá ser disponibilizada a todas as pesso-
as por meios físicos e na internet, no seguinte endereço eletrônico: www.saude.gov.br. (Origem: PRT MS/GM
1820/2009, Art. 9º, Parágrafo Único)
[...]
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Cartão Nacional de Saúde
O Cartão Nacional de Saúde é um instrumento que possibilita a vinculação dos procedimentos executados
no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) ao usuário, ao profissional que os realizou e também à unidade
de saúde onde foram realizados.
Pronto Atendimento
As UPA 24h são estruturas de complexidade intermediária, entre as Unidades Básicas de Saúde e as portas
de urgência hospitalares, e, em conjunto com estas, compõem uma rede organizada de Atenção às Urgências.
PNAN
A Política Nacional de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde tem o propósito de garantir a qualida-
de dos alimentos disponíveis para consumo no país, bem como de promover práticas alimentares saudáveis e
prevenir e controlar distúrbios nutricionais.
Doação de Órgãos
Conscientizar a população sobre a importância da doação de órgãos é uma das ações do Ministério da Saú-
de. Participe desta mobilização e ajude pessoas que aguardam uma nobre atitude de doação para sobreviver.
SAMU
Prestar socorro à população em casos de urgência é a finalidade do Serviço de Atendimento Móvel de Ur-
gência e Emergência, do Ministério da Saúde. O socorro é feito após chamada para o telefone 192. A ligação
é gratuita.
Olhar Brasil
O projeto Olhar Brasil, criado em parceria pelos ministérios da Educação e da Saúde, em 2007, tem o obje-
tivo principal de identificar problemas visuais em alunos matriculados na rede pública de ensino fundamental e
em pessoas com mais de 60 anos de idade.
Humaniza SUS
A Política Nacional de Humanização aposta em estratégias construídas por gestores, trabalhadores e usu-
ários do SUS para qualificar a atenção e gestão em saúde.
Medicamento Fracionado
Medicamentos fracionados são remédios fabricados em embalagens especiais e vendidos na medida exata
recomendada pelo médico.
Redução da Mortalidade
O Pacto pela Redução da Mortalidade Infantil Nordeste-Amazônia Legal faz parte de um compromisso para
acelerar a redução das desigualdades regionais e construir uma estratégia com Governadores dos estados das
regiões.
Bancos de Leite Humano
A Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano, criada em 1998, pelo Ministério da Saúde e pela Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz), tem o objetivo de promover a expansão quantitativa e qualitativa dos bancos de Leite
Humano no Brasil, mediante integração e construção de parcerias entre órgãos federais, iniciativa privada e
sociedade.
Programas de Controle do Câncer
O Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e o Programa Nacional de Controle do Cân-
cer de Mama têm como objetivos oferecer subsídios para o avanço do planejamento das ações de controle
desses tipos de câncer, no contexto da atenção integral à saúde da mulher no Brasil. Ambos foram afirmados
como prioridade na Política Nacional de Atenção Oncológica, em 2005, e no Pacto pela Saúde, em 2006.
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QualiSUS-Rede
O Projeto QualiSUS-Rede foi instituído como estratégia de apoio à organização de redes de atenção à
saúde. O objetivo é contribuir, no âmbito do SUS, para a qualificação da atenção, gestão em saúde e gestão e
desenvolvimento de tecnologias, por meio da organização de redes regionais e temáticas de atenção à saúde
e da qualificação do cuidado em saúde.
De Volta para Casa
O Programa de Volta para Casa, do Ministério da Saúde, propõe a reintegração social de pessoas acometi-
das de transtornos mentais e egressas de longas internações, segundo critérios definidos na Lei nº 10.708, de
31 de julho de 2003, que também prevê o pagamento do auxílio-reabilitação psicossocial.
Controle do Tabagismo
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) é o órgão do Ministério da Saúde responsável por coordenar e exe-
cutar o Programa de Controle do Tabagismo no Brasil. O objetivo é prevenir doenças e reduzir a incidência do
câncer e de outras doenças relacionadas ao tabaco, por meio de ações que estimulem a adoção de comporta-
mentos e estilos de vida saudáveis.
Projeto Expande
Lançado em 2001 pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) e pelo Ministério da Saúde, o Projeto Expande
tem o principal de objetivo estruturar a integração da assistência oncológica no Brasil, a fim de obter um padrão
de alta qualidade na cobertura da população.
Programa Nacional de Imunização (PNI)
O PNI distribui 300 milhões de doses anuais distribuídas em vacinas, soros e imunoglobulinas, fatos que
contribuíram, por exemplo, com a erradicação de doenças no país.
O Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro é mundialmente conhecido por ser um dos maiores, mais com-
plexos e mais completos sistemas de saúde vigentes. Ele abrange procedimentos de baixa complexidade,
como aqueles oferecidos pela Atenção Primária à Saúde (APS), e de alta complexidade, como por exemplo,
transplante de órgãos. Dessa maneira, garante acesso universal e integral, de forma gratuita para a população.
O SUS pode ser definido como o conjunto de ações e de serviços de saúde prestados pela federação, junto de
seus estados e municípios.
Até meados dos anos 80, a concepção de saúde era dada pela “ausência de doença”, contudo, com o fim da
Ditadura Militar e com a 8ª Conferência Nacional de Saúde (1986), ampliou-se o conceito de saúde pública no
Brasil quando propôs a ideia de uma saúde preventiva, participação da população nas decisões envolvendo a
saúde brasileira, descentralização dos serviços e mudanças embasadas no direito universal a saúde.
Com a publicação do relatório das decisões e pautas discutidas na 8ª Conferência Nacional de Saúde, a
Constituição Federal de 1988 foi o primeiro documento a oficializar a saúde no meio jurídico brasileiro, determi-
nando, ainda que seja promovida de forma gratuita, universal e de qualidade, para que todos tenham acesso
de maneira igualitária. Dessa forma, a saúde passa a ser um direito do cidadão brasileiro e de todo aquele que
estiver em território nacional e um dever do Estado.
Fernando Collor de Mello foi responsável pela sanção das leis que promoviam a criação e a organização do
SUS.
*OBSERVAÇÃO: Recomenda-se a leitura na íntegra da Lei n°8.080, de 19 de setembro de 1990 e Lei 8.142,
de 28 de dezembro de 1990, ambas da Constituição Federal
Lei n°8.080, de 19 de setembro de 1990 da Constituição Federal: Também conhecida como Lei Orgânica
da Saúde, traz em seu texto original: “dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação de
saúde, organização e funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências”.
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Em referência a essa lei, os objetivos do SUS consistem em identificar fatores determinantes da saúde, for-
mular políticas destinas a promover nos âmbitos econômico e social, condições para pleno exercício da saúde
e aplicar ações assistenciais de proteção, promoção e recuperação com enfoque em atividades preventivas.
Além disso, determina atribuições do SUS voltadas para a vigilância sanitária e epidemiológica, participação
ativa em estratégias em saneamento básico e o desenvolvimento técnico-científico, com o intuito de ampliar
as atribuições sob responsabilidade dos órgãos gestores do SUS, como o Ministério da Saúde e secretarias
estaduais e municipais de saúde.
Lei 8.142, de 28 de dezembro de 1990 da Constituição Federal: É o resultado da luta pela democratização
dos serviços de saúde. Traz em seu texto original o objetivo: “Dispõe sobre a participação da comunidade na
gestão do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá
outras providências”.
A partir da criação dessa lei, foram criados também os Conselhos e as Conferências de Saúde, que são de
extrema importância para o controle social do SUS. Os Conselhos de Saúde foram constituídos afim de fiscali-
zar, formular e promover ações deliberativas acerca das políticas de saúde.
Em seu texto, traz que a Conferência de Saúde é um espaço voltado para discussões sobre as políticas de
saúde em todas as esferas governamentais, acontecendo de maneira ordinária a cada 4 anos em formato de
fórum de discussão afim de avaliar e propor mudanças e novas políticas de saúde. Dentre as conferências na-
cionais, a mais importante que já aconteceu até os dias atuais foi a 8ª Conferência Nacional de Saúde de 1986,
que ficou conhecida como o pontapé inicial para a inclusão da saúde no âmbito legislativo do país.
Por fim, determina que a representação dos usuários do SUS dentro desses conselhos e conferências deve
ser paritária em relação aos demais seguimentos, em outras palavras, 50% dos representantes devem ser
usuários do SUS.
Marco Teórico-político
Avanços e Desafios do SUS
O SUS institui uma política pública de saúde que visa à integralidade, à universalidade, à busca da equidade
e à incorporação de novas tecnologias, saberes e práticas.
Entre os avanços e conquistas, pode-se facilmente destacar que há um SUS que dá certo, pois:
- A rede de atenção pública de saúde está presente em todo o território nacional, em todos os estados e
municípios;
- Muitos serviços de saúde têm experimentado, em todo território nacional, inovações na organização e
oferta das práticas de saúde, permitido a articulação de ações de promoção e de prevenção, com ações de
cura e reabilitação;
- O SUS vem reorganizando a rede de atenção à saúde, produzindo impacto na qualidade de vida do bra-
sileiro;
- O SUS tem propiciado a produção de cidadania, envolvendo e corresponsabilizando a sociedade na con-
dução da política de saúde, criando um sistema de gestão colegiada com forte presença e atuação de confe-
rências e conselhos de saúde;
- O SUS construiu novos arranjos e instrumentos de gestão, que ampliaram a capacidade de gestão e de
corresponsabilização, servindo inclusive de referência para a organização de outras políticas públicas no Brasil.
- O SUS vem fortalecendo o processo de descentralização, ampliando a presença, a autonomia e a respon-
sabilização sanitária de municípios na organização das redes de atenção à saúde;
- Tem havido uma ampliação da articulação regional, melhorando a oferta de recursos assistenciais e a re-
lação custo-efetividade, ampliando o acesso da população ao conjunto dos serviços de saúde.
21
Mas o SUS é ainda uma reforma incompleta na Saúde, encontrando-se em pleno curso de mudanças. Por-
tanto, ainda estão em debate as formas de organização do sistema, dos serviços e do trabalho em saúde, que
definem os modos de se produzir saúde e onde investir recursos, entre outros.
Diante disto, muitos desafios para a produção de saúde permanecem, como por exemplo:
- Qualificar o sistema de cogestão do SUS;
- Criar um sistema de saúde em rede, que supere o isolamento dos serviços em níveis de atenção, o que
produz baixa transversalização/comunicação entre as equipes e, consequentemente, segmentação do cuidado
e dificuldades de seguimento/continuidade da ação clínica pela equipe que cuida do usuário;
- Fortalecer e qualificar a atenção básica e ampliá-la como estratégia organizadora das redes de cuidado
em saúde;
- Fortalecer os processos de regionalização cooperativa e solidária, na perspectiva da ampliação do acesso
com equidade;
- Considerar a diversidade cultural e a desigualdade socioeconômica presente no território nacional;
- Considerar o complexo padrão epidemiológico do povo brasileiro, que requer a utilização de multiplicidade
de estratégias e tecnologias;
- Superar a disputa de recursos entre os entes federados, para a afirmação da contratação de correspon-
sabilidades sanitárias;
- Diminuir a interferência da lógica privada na organização da rede de saúde, ampliando a corresponsabili-
zação nos processos de cuidado de todos os serviços que compõem a rede do SUS;
- Superar o entendimento de saúde como ausência de doença (cultura sanitária biomédica), para a amplia-
ção e o fortalecimento da concepção de saúde como produção social, econômica e cultural;
- Garantir recursos suficientes para o financiamento do SUS, para a superação do subfinanciamento;
- Superar a fragmentação do processo de trabalho e das relações entre os diferentes profissionais;
- Implantar diretrizes do acolhimento e da clínica ampliada, para a ratificação do compromisso ético-político
dos serviços de saúde na defesa da vida;
- Melhorar a interação nas equipes e qualificá-las para lidarem com as singularidades dos sujeitos e coleti-
vos nas práticas de atenção à saúde;
- Fomentar estratégias de valorização do trabalhador: promover melhorias nas condições de trabalho (am-
biência), ampliar investimentos na qualificação dos trabalhadores, etc.
- Fomentar processos de cogestão, valorizando e incentivando a inclusão dos trabalhadores e usuários em
todo processo de produção de saúde;
- Incorporar de forma efetiva nas práticas de gestão e de atenção os direitos dos usuários da saúde.
A humanização como política transversal na rede
A humanização vista não como programa, mas como política pública que atravessa/transversaliza as dife-
rentes ações e instâncias gestoras do SUS, implica em:
- Traduzir os princípios do SUS em modos de operar dos diferentes equipamentos e sujeitos da rede de
saúde;
- Orientar as práticas de atenção e gestão do SUS a partir da experiência concreta do trabalhador e usuá-
rio, construindo um sentido positivo de humanização, desidealizando “o Homem”. Pensar o humano no plano
comum da experiência de um homem qualquer;
- Construir trocas solidárias e comprometidas com a dupla tarefa de produção de saúde e produção de su-
jeitos;
- Oferecer um eixo articulador das práticas em saúde, destacando o aspecto subjetivo nelas presente;
- Contagiar, por atitudes e ações humanizadoras, a rede do SUS, incluindo gestores, trabalhadores da saú-
de e usuários;
22
- Posicionar-se, como política pública:
a) nos limites da máquina do Estado onde ela se encontra com os coletivos e as redes sociais;
b) nos limites dos Programas e Áreas do Ministério da Saúde, entre este e outros ministérios (intersetoria-
lidade).
Assim, entendemos humanização do SUS como:
- Valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde: usuários, trabalhadores
e gestores;
- Fomento da autonomia e do protagonismo desses sujeitos e dos coletivos;
- Aumento do grau de corresponsabilidade na produção de saúde e de sujeitos;
- Estabelecimento de vínculos solidários e de participação coletiva no processo de gestão;
- Mapeamento e interação com as demandas sociais, coletivas e subjetivas de saúde;
- Defesa de um SUS que reconhece a diversidade do povo brasileiro e a todos oferece a mesma atenção à
saúde, sem distinção de idade, raça/cor, origem, gênero e orientação sexual;
- Mudança nos modelos de atenção e gestão em sua indissociabilidade, tendo como foco as necessidades
dos cidadãos, a produção de saúde e o próprio processo de trabalho em saúde, valorizando os trabalhadores
e as relações sociais no trabalho;
- Proposta de um trabalho coletivo para que o SUS seja mais acolhedor, mais ágil, e mais resolutivo;
- Compromisso com a qualificação da ambiência, melhorando as condições de trabalho e de atendimento;
- Compromisso com a articulação dos processos de formação com os serviços e práticas de saúde;
- Luta por um SUS mais humano, porque construído com a participação de todos e comprometido com a
qualidade dos seus serviços e com a saúde integral para todos e qualquer um.
Para isso, a Humanização do SUS se operacionaliza com:
- O resgate dos fundamentos básicos que norteiam as práticas de saúde no SUS, reconhecendo os gesto-
res, trabalhadores e usuários como sujeitos ativos e protagonistas das ações de saúde;
- A construção de diferentes espaços de encontro entre sujeitos (Grupo de Trabalho em Humanização; Ro-
das; Colegiados de Gestão, etc.);
- A construção e a troca de saberes;
- O trabalho em rede com equipes multiprofissionais, com atuação transdisciplinar;
- O mapeamento, análise e atendimento de demandas e interesses dos diferentes sujeitos do campo da
saúde;
- O pacto entre os diferentes níveis de gestão do SUS (federal, estadual e municipal), entre as diferentes
instâncias de efetivação das políticas públicas de saúde (instâncias da gestão e da atenção), assim como entre
gestores, trabalhadores e usuários desta rede;
- A construção de redes solidárias e interativas, participativas e protagonistas do SUS.
Princípios norteadores da política de humanização
- Valorização da dimensão subjetiva e coletiva em todas as práticas de atenção e gestão no SUS, fortalecen-
do o compromisso com os direitos de cidadania, destacando-se as necessidades específicas de gênero, étnico
- racial, orientação/expressão sexual e de segmentos específicos (população negra, do campo, extrativista,
povos indígenas, quilombolas, ciganos, ribeirinhos, assentados, população em situação de rua, etc.);
- Fortalecimento de trabalho em equipe multiprofissional, fomentando a transversalidade e a grupalidade;
- Apoio à construção de redes cooperativas, solidárias e comprometidas com a produção de saúde e com a
produção de sujeitos;
- Construção de autonomia e protagonismo dos sujeitos e coletivos implicados na rede do SUS;
23
- Corresponsabilidade desses sujeitos nos processos de gestão e atenção;
- Fortalecimento do controle social, com caráter participativo, em todas as instâncias gestoras do SUS;
- Compromisso com a democratização das relações de trabalho e valorização dos trabalhadores da saúde,
estimulando processos de educação permanente em saúde;
- Valorização da ambiência, com organização de espaços de trabalho saudáveis e acolhedores.
A PNH se estrutura a partir de:
- Princípios;
- Método;
- Diretrizes;
- Dispositivos.
Princípios da PNH
Por princípio entende-se o que causa ou força a ação, ou que dispara um determinado movimento no plano
das políticas públicas. A PNH, como movimento de mudança dos modelos de atenção e gestão, possui três
princípios a partir dos quais se desdobra enquanto política pública de saúde:
Transversalidade
- Aumento do grau de comunicação intra e intergrupos;
- Transformação dos modos de relação e de comunicação entre os sujeitos implicados nos processos de
produção de saúde, produzindo como efeito a desestabilização das fronteiras dos saberes, dos territórios de
poder e dos modos instituídos na constituição das relações de trabalho.
Indissociabilidade entre atenção e gestão
- Alteração dos modos de cuidar inseparável da alteração dos modos de gerir e se apropriar do trabalho;
- Inseparabilidade entre clínica e política, entre produção de saúde e produção de sujeitos;
- Integralidade do cuidado e integração dos processos de trabalho
Protagonismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos e dos coletivos
- Trabalhar implica na produção de si e na produção do mundo, das diferentes realidades sociais, ou seja,
econômicas, políticas, institucionais e culturais;
- As mudanças na gestão e na atenção ganham maior efetividade quando produzidas pela afirmação da
autonomia dos sujeitos envolvidos, que contratam entre si responsabilidades compartilhadas nos processos de
gerir e de cuidar.
O Método da PNH
Por método entende-se a condução de um processo ou o seu modo de caminhar (meta = fim; hodos = ca-
minho). A PNH caminha no sentido da inclusão, nos processos de produção de saúde, dos diferentes agentes
implicados nestes processos. Podemos falar de um “método de tríplice inclusão”:
- inclusão dos diferentes sujeitos (gestores, trabalhadores e usuários) no sentido da produção de autono-
mia, protagonismo e corresponsabilidade. Modo de fazer: rodas;
- inclusão dos analisadores sociais ou, mais especificamente, inclusão dos fenômenos que desestabilizam
os modelos tradicionais de atenção e de gestão, acolhendo e potencializando os processos de mudança. Modo
de fazer: análise coletiva dos conflitos, entendida como potencialização da força crítica das crises.
- inclusão do coletivo seja como movimento social organizado, seja como experiência singular sensível
(mudança dos perceptos e dos afetos) dos trabalhadores de saúde quando em trabalho grupal. Modo de fazer;
fomento das redes.
Diretrizes da PNH
Por diretrizes entende-se as orientações gerais de determinada política. No caso da PNH, suas diretrizes
expressam o método da inclusão no sentido da:
24
- Clínica Ampliada;
- Cogestão;
- Acolhimento;
- Valorização do trabalho e do trabalhador;
- Defesa dos Direitos do Usuário;
- Fomento das grupalidades, coletivos e redes;
- Construção da memória do SUS que dá certo.
Dispositivos da PNH
Por dispositivos entende-se a atualização das diretrizes de uma política em arranjos de processos de traba-
lho. Na PNH, foram desenvolvidos vários dispositivos que são postos a funcionar nas práticas de produção de
saúde, envolvendo coletivos e visando promover mudanças nos modelos de atenção e de gestão:
- Grupo de Trabalho de Humanização (GTH) e Câmara Técnica de Humanização (CTH);
- Colegiado Gestor;
- Contrato de Gestão;
- Sistemas de escuta qualificada para usuários e trabalhadores da saúde: gerência de “porta aberta”; ouvi-
dorias; grupos focais e pesquisas de satisfação, etc.;
- Visita Aberta e Direito à Acompanhante;
- Programa de Formação em Saúde do Trabalhador (PFST) e Comunidade Ampliada de Pesquisa (CAP);
- Equipe Transdisciplinar de Referência e de Apoio Matricial;
- Projetos Cogeridos de Ambiência;
- Acolhimento com Classificação de Riscos;
- Projeto Terapêutico Singular e Projeto de Saúde Coletiva;
- Projeto Memória do SUS que dá certo.
Esses dispositivos encontram-se detalhados em cartilhas, textos, artigos e documentos específicos de refe-
rência, disponibilizados nas publicações e site da PNH <http://www.saude.gov.br/humanizasus>.
Resultados Esperados com a PNH
Com a implementação da PNH, trabalhamos para alcançar resultados englobando as seguintes direções:
- Serão reduzidas as filas e o tempo de espera, com ampliação do acesso, e atendimento acolhedor e reso-
lutivo, baseado em critérios de risco;
- Todo usuário do SUS saberá quem são os profissionais que cuidam de sua saúde e a rede de serviços que
se responsabilizará por sua referência territorial e atenção integral;
- As unidades de saúde garantirão os direitos dos usuários, orientandos e pelas conquistas já asseguradas
em lei e ampliando os mecanismos de sua participação ativa, e de sua rede sociofamiliar, nas propostas de
plano terapêutico, acompanhamento e cuidados em geral;
- As unidades de saúde garantirão gestão participativa aos seus trabalhadores e usuários, com investimento
na educação permanente em saúde dos trabalhadores, na adequação de ambiência e espaços saudáveis e
acolhedores de trabalho, propiciando maior integração de trabalhadores e usuários em diferentes momentos
(diferentes rodas e encontros);
- Serão implementadas atividades de valorização e cuidado aos trabalhadores da saúde.
Tanto no âmbito dos resultados esperados quanto nos processos disparados, está-se procurando ajustar
metodologias para monitoramento e avaliação (articulados aos planos de ação), cuidando para que o próprio
processo avaliativo seja inovado à luz dos referenciais da PNH, em uma perspectiva formativa, participativa e
emancipatória, de aprender-fazendo e fazer-aprendendo.
25
Estratégias Gerais
A implementação da PNH pressupõe vários eixos de ação que objetivam institucionalização, difusão dessa
estratégia e, principalmente, a apropriação de seus resultados pela sociedade:
- No eixo das instituições do SUS, propõe-se que a PNH faça parte dos planos estaduais e municipais dos
governos, como já faz do Plano Nacional de Saúde e dos Termos de Compromisso do Pacto Pela Saúde;
- No eixo da gestão do trabalho, propõe-se a promoção de ações que assegurem a participação dos traba-
lhadores nos processos de discussão e decisão, fortalecendo e valorizando os trabalhadores, sua motivação,
seu desenvolvimento e seu crescimento profissional;
- No eixo do financiamento, propõe-se a integração de recursos vinculados a programas específicos de hu-
manização e outros recursos de subsídio à atenção, unificando-os e repassando-os, fundo a fundo, mediante o
compromisso dos gestores com a PNH;
- No eixo da atenção, propõe-se uma política incentivadora de ações integrais, promocionais e intersetoriais
de saúde, inovando nos processos de trabalho que busquem o compartilhamento dos cuidados, resultando em
aumento da autonomia e protagonismo dos sujeitos envolvidos;
- No eixo da educação permanente em saúde indica-se que a PNH:
1) seja incluída como conteúdo e/ou componentes curriculares de cursos de graduação, pós-graduação e
extensão em saúde, vinculando-se às instituições de formação;
2) oriente processos de educação permanente em saúde de trabalhadores nos próprios serviços de saúde;
- No eixo da informação/comunicação, indica-se por meio de ação da mídia e discurso social amplo a inclu-
são da PNH no debate da saúde;
- No eixo da gestão da PNH, propõem-se práticas de planejamento, monitoramento e avaliação, baseadas
em seus princípios, diretrizes e dispositivos, dimensionando seus resultados e gerando conhecimento específi-
co na perspectiva da Humanização do SUS.
Alguns parâmetros para orientar a implantação de ações /dispositivos
Para orientar a implementação de ações de Humanização na rede SUS, reafirmam-se os princípios da PNH,
direcionados nos seguintes objetivos:
- Ampliar o diálogo entre os trabalhadores, entre os trabalhadores e a população e entre os trabalhadores e
a administração, promovendo a gestão participativa, colegiada e a gestão compartilhada dos cuidados/atenção;
- Implantar, estimular e fortalecer os Grupos de Trabalho e Câmaras Técnicas de Humanização com plano
de trabalho definido;
- Estimular práticas de atenção compartilhadas e resolutivas, racionalizar e adequar o uso dos recursos e
insumos, em especial o uso de medicamentos, eliminando ações intervencionistas desnecessárias;
- Reforçar o conceito de clínica ampliada: compromisso com o sujeito e seu coletivo, estímulo a diferentes
práticas terapêuticas e corresponsabilidade de gestores, trabalhadores e usuários no processo de produção de
saúde;
- Sensibilizar as equipes de saúde para o problema da violência em todos os seus âmbitos de manifestação,
especialmente a violência intrafamiliar (criança, mulher e idoso), a violência realizada por agentes do Estado
(populações pobres e marginalizadas), a violência urbana e para a questão dos preconceitos (racial, religioso,
sexual, de origem e outros) nos processos de recepção/acolhida e encaminhamentos;
- Adequar os serviços ao ambiente e à cultura dos usuários, respeitando a privacidade e promovendo a
ambiência acolhedora e confortável;
- Viabilizar a participação ativa dos trabalhadores nas unidades de saúde, por meio de colegiados gestores
e processos interativos de planejamento e de tomada de decisão;
- Implementar sistemas e mecanismos de comunicação e informação que promovam o desenvolvimento, a
autonomia e o protagonismo das equipes e da população, ampliando o compromisso social e a corresponsabi-
lização de todos os envolvidos no processo de produção da saúde;
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- Promover ações de incentivo e valorização da jornada de trabalho integral no SUS, do trabalho em equipe
e da participação do trabalhador em processos de educação permanente em saúde que qualifiquem sua ação
e sua inserção na rede SUS;
- Promover atividades de valorização e de cuidados aos trabalhadores da saúde, contemplando ações vol-
tadas para a promoção da saúde e qualidade de vida no trabalho.
Parâmetros para implementação de ações na atenção básica
- Organização do acolhimento de modo a promover a ampliação efetiva do acesso à atenção básica e aos
demais níveis do sistema, eliminando as filas, organizando o atendimento com base em riscos/vulnerabilidade
priorizados e buscando adequação da capacidade resolutiva;
- Definição inequívoca de responsabilidades sanitárias da equipe de referência com a população referida,
favorecendo a produção de vínculo orientado por projetos terapêuticos de saúde, individuais e coletivos, para
usuários e comunidade, contemplando ações de diferentes eixos, levando em conta as necessidades/deman-
das de saúde. Avançar na perspectivas do: a) exercício de uma clínica ampliada, capaz de aumentar a auto-
nomia dos sujeitos, das famílias e da comunidade; b) estabelecimento de redes de saúde, incluindo todos os
atores e equipamentos sociais de base territorial (e outros), firmando laços comunitários e construindo políticas
e intervenções intersetoriais;
- Organização do trabalho, com base em equipes multiprofissionais e atuação transdisciplinar, incorporando
metodologias de planejamento e gestão participativa, colegiada, e avançando na gestão compartilhada dos
cuidados/atenção;
- Implementação de sistemas de escuta qualificada para usuários e trabalhadores, com garantia de análise
e encaminhamentos a partir dos problemas apresentados;
- Garantia de participação dos trabalhadores em atividades de educação permanente em saúde;
- Promoção de atividades de valorização e de cuidados aos trabalhadores da saúde, contemplando ações
voltadas para a promoção da saúde e a qualidade de vida no trabalho;
- Organização do trabalho com base em metas discutidas coletivamente e com definição de eixos avaliati-
vos, avançando na implementação de contratos internos de gestão.
Parâmetros para implementação de ações de urgência e emergência, nos prontos-socorros, pronto atendi-
mentos, assistência pré-hospitalar e outros
- Demanda acolhida e atendida de acordo com a avaliação de risco, garantido o acesso referenciado aos
demais níveis de assistência;
- Garantia de resolução da urgência e emergência, provido o acesso ao atendimento hospitalar e à transfe-
rência segura conforme a necessidade dos usuários;
- Promoção de ações que garantam a integração com o restante da rede de serviços e a continuidade do
cuidado após o atendimento de urgência ou de emergência;
- Definição de protocolos clínicos, garantindo a eliminação de intervenções desnecessárias e respeitando a
singularidade do sujeito;
- Garantia de participação dos trabalhadores em atividades de educação permanente em saúde;
- Promoção de atividades de valorização e de cuidados aos trabalhadores da saúde, contemplando ações
voltadas para a promoção da saúde e a qualidade de vida no trabalho.
- Organização do trabalho com base em metas discutidas coletivamente e com definição de eixos avaliati-
vos, avançando na implementação de contratos internos de gestão.
Parâmetros para implementação de ações na atenção especializada
- Garantia de agenda de atendimento em função da análise de risco e das necessidades do usuário;
- Critérios de acesso: identificados de forma pública, incluídos na rede assistencial, com efetivação de pro-
tocolos de referência e contrarreferência;
27
- Otimização do atendimento ao usuário, articulando a agenda multiprofissional de ações diagnósticas e
terapêuticas que demandam diferentes saberes e tecnologias de reabilitação;
- Definição de protocolos clínicos, garantindo a eliminação de intervenções desnecessárias e respeitando a
singularidade do sujeito;
- Garantia de participação dos trabalhadores em atividades de educação permanente;
- Promoção de atividades de valorização e de cuidados aos trabalhadores da saúde, contemplando ações
voltadas para a promoção da saúde e a qualidade de vida no trabalho.
- Organização do trabalho com base em metas discutidas coletivamente e com definição de eixos avaliati-
vos, avançando na implementação de contratos internos de gestão.
Parâmetros para implementação de ações na atenção hospitalar
- Implantação de Grupos de Trabalho de Humanização (GTH) com plano de trabalho definido;
- Garantia de visita aberta, da presença do acompanhante e de sua rede social, respeitando a dinâmica de
cada unidade hospitalar e peculiaridades das necessidades do acompanhante;
- Implantação de mecanismos de recepção com acolhimento aos usuários;
- Implantação de mecanismos de escuta para a população e para os trabalhadores;
- Estabelecimento de equipe multiprofissional de referência para os pacientes internados (com médico e
enfermeiro, com apoio matricial de psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, farmacêuticos,
nutricionistas e outros profissionais de acordo com as necessidades), com horário pactuado para atendimento
à família e/ou sua rede social;
- Implantação de Conselho de Gestão Participativa;
- Implantação de acolhimento com avaliação de risco nas áreas de acesso (pronto atendimento, pronto-so-
corro, ambulatório, serviço de apoio diagnóstico e terapia);
- Implantação de mecanismos de desospitalização, visando alternativas às práticas hospitalares como as
de cuidados domiciliares;
- Garantia de continuidade de assistência, com ativação de redes de cuidados para viabilizar a atenção
integral;
- Garantia de participação dos trabalhadores em atividades de educação permanente;
- Promoção de atividades de valorização e de cuidados aos trabalhadores da saúde, contemplando ações
voltadas para a promoção da saúde e a qualidade de vida no trabalho;
- Realização de atividades sistemáticas de formação, articulando processos de educação permanente em
saúde para os trabalhadores, contemplando diferentes temáticas permeadas pelos princípios e conceitos da
PNH;
- Organização do trabalho com base em metas discutidas coletivamente e com definição de eixos avaliati-
vos, avançando na implementação de contratos internos de gestão.
Observação
Esses parâmetros devem ser associados à definição de indicadores capazes de monitorar as ações imple-
mentadas.
Em outros documentos específicos encontram-se disponibilizados indicadores que podem ser tomados
como referência.
Para maiores detalhes consultar o sítio da PNH. Disponível: <http//www.saude.gov.br/humanizasus>.
Glossário HumanizaSUS
Acolhimento
Processo constitutivo das práticas de produção e promoção de saúde que implica responsabilização do
trabalhador/equipe pelo usuário, desde a sua chegada até a sua saída. Ouvindo sua queixa, considerando
suas preocupações e angústias, fazendo uso de uma escuta qualificada que possibilite analisar a demanda e,
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colocando os limites necessários, garantir atenção integral, resolutiva e responsável por meio do acionamento/
articulação das redes internas dos serviços (visando à horizontalidade do cuidado) e redes externas, com ou-
tros serviços de saúde, para continuidade da assistência quando necessário.
Alteridade
Alter: “outro”, em latim. A alteridade refere-se à experiência internalizada da existência do outro, não como
um objeto, mas como um outro sujeito co-presente no mundo das relações intersubjetivas.
Ambiência
Ambiente físico, social, profissional e de relações interpessoais que deve estar relacionado a um projeto de
saúde voltado para a atenção acolhedora, resolutiva e humana. Nos serviços de saúde a ambiência é marcada
tanto pelas tecnologias médicas ali presentes quanto por outros componentes estéticos ou sensíveis apreendi-
dos pelo olhar, olfato, audição, por exemplo, a luminosidade e os ruídos do ambiente, a temperatura, etc. Muito
importante na ambiência é o componente afetivo expresso na forma do acolhimento, da atenção dispensada ao
usuário, da interação entre os trabalhadores e gestores. Devem-se destacar também os componentes culturais
e regionais que determinam os valores do ambiente.
Apoio matricial
Lógica de produção do processo de trabalho na qual um profissional oferece apoio em sua especialidade
para outros profissionais, equipes e setores. Inverte-se, assim, o esquema tradicional e fragmentado de sabe-
res e fazeres já que ao mesmo tempo em que o profissional cria pertencimento à sua equipe/setor, também
funciona como apoio, referência para outras equipes.
Apoio institucional
Apoio institucional é uma função gerencial que reformula o modo tradicional de se fazer coordenação,
planejamento, supervisão e avaliação em saúde. Um de seus principais objetivos é fomentar e acompanhar
processos de mudança nas organizações, misturando e articulando conceitos e tecnologias advindas da aná-
lise institucional e da gestão. Ofertar suporte ao movimento de mudança deflagrado por coletivos, buscando
fortalecê-los no próprio exercício da produção de novos sujeitos em processos de mudança é tarefa primordial
do apoio. Temos entendido que a função do apoio é chave para a instauração de processos de mudança em
grupos e organizações, porque o objeto de trabalho do apoiador é, sobretudo, o processo de trabalho de co-
letivos que se organizam para produzir, em nosso caso, saúde. A diretriz do apoio institucional é a democracia
institucional e a autonomia dos sujeitos. Assim sendo, o apoiador deve estar sempre inserido em movimentos
coletivos, ajudando na análise da instituição, buscando novos modos de operar e produzir das organizações.
É, portanto, em, uma região limítrofe entre a clínica e a política, entre o cuidado e a gestão – lá onde estes do-
mínios se interferem mutuamente – que a função de apoio institucional trabalha no sentido da transversalidade
das práticas e dos saberes no interior das organizações. O apoiador institucional tem a função de: 1) estimular
a criação de espaços coletivos, por meio de arranjos ou dispositivos que propiciem a interação entre os sujeitos;
2) reconhecer as relações de poder, afeto e a circulação de conhecimentos propiciando a viabilização dos proje-
tos pactuados pelos atores institucionais e sociais; 3) mediar junto ao grupo a construção de objetivos comuns
e a pactuação de compromissos e contratos; 4) trazer para o trabalho de coordenação, planejamento e supervi-
são os processos de qualificação das ações institucionais; 5) propiciar que os grupos possam exercer a crítica
e, em última instância, que os profissionais de saúde sejam capazes de atuar com base em novos referenciais,
contribuindo para melhorar a qualidade da gestão no SUS. A função apoio se apresenta, nesta medida, como
diretriz e dispositivo para ampliar a capacidade de reflexão, entendimento e análise de coletivos, que assim
poderiam qualificar sua própria intervenção, sua capacidade de produzir mais e melhor saúde com os outros.
Atenção especializada/serviço de assistência especializada
Unidades ambulatoriais de referência, compostas por equipes multidisciplinares de diferentes especialida-
des que acompanham os pacientes, prestando atendimento integral a eles e a seus familiares.
Autonomia
No seu sentido etimológico, significa “produção de suas próprias leis” ou “faculdade de se reger por suas
próprias leis”. Em oposição à heteronomia, designa todo sistema ou organismo dotado da capacidade de cons-
truir regras de funcionamento para si e para o coletivo. Pensar os indivíduos como sujeitos autônomos é consi-
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derá-los como protagonistas nos coletivos de que participam, corresponsáveis pela produção de si e do mundo
em que vivem. Um dos valores norteadores da Política Nacional de Humanização é a produção de sujeitos
autônomos, protagonistas e corresponsáveis pelo processo de produção de saúde.
Classificação de Risco (Avaliação de Risco)
Mudança na lógica do atendimento, permitindo que o critério de priorização da atenção seja o agravo à saú-
de e/ou grau de sofrimento e não mais a ordem de chegada (burocrática). Realizado por profissional da saúde
que, utilizando protocolos técnicos, identifica os pacientes que necessitam de tratamento imediato, conside-
rando o potencial de risco, agravo à saúde ou grau de sofrimento e providencia, de forma ágil, o atendimento
adequado a cada caso.
Clínica ampliada
O conceito de clínica ampliada deve ser entendido como uma das diretrizes impostas pelos princípios do
SUS. A universalidade do acesso, a integralidade da rede de cuidado e a equidade das ofertas em saúde obri-
gam a modificação dos modelos de atenção e de gestão dos processos de trabalho em saúde.
A modificação das práticas de cuidado se faz no sentido da ampliação da clínica, isto é, pelo enfrentamento
de uma clínica ainda hegemônica que:
1) toma a doença e o sintoma como seu objeto;
2) toma a remissão de sintoma e a cura como seu objetivo;
3) realiza a avaliação diagnóstica reduzindo-a à objetividade positivista clínica ou epidemiológica;
4) define a intervenção terapêutica considerando predominantemente ou exclusivamente os aspectos orgâ-
nicos.
Ampliar a clínica, por sua vez, implica:
1) tomar a saúde como seu objeto de investimento, considerando a vulnerabilidade, o risco do sujeito em
seu contexto;
2) ter como objetivo produzir saúde e ampliar o grau de autonomia dos sujeitos;
3) realizar a avaliação diagnóstica considerando não só o saber clínico e epidemiológico, como também a
história dos sujeitos e os saberes por eles veiculados;
4) definir a intervenção terapêutica considerando a complexidade biopsíquicossocial das demandas de
saúde.
As propostas da clínica ampliada:
1) compromisso com o sujeito e não só com a doença;
2) reconhecimento dos limites dos saberes e a afirmação de que o sujeito é sempre maior que os diagnós-
ticos propostos;
3) afirmação do encontro clínico entre dois sujeitos (trabalhador de saúde e usuário) que se coproduzem na
relação que estabelecem;
4) busca do equilíbrio entre danos e benefícios gerados pelas práticas de saúde;
5) aposta nas equipes multiprofissionais e transdisciplinares;
6) fomento da corresponsabilidade entre os diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saú-
de (trabalhadores de saúde, usuários e rede social);
7) defesa dos direitos dos usuários.
Colegiado gestor
Em um modelo de gestão participativa, centrado no trabalho em equipe e na construção coletiva (planeja
quem executa), os colegiados gestores garantem o compartilhamento do poder, a coanálise, a codecisão e a
coavaliação. A direção das unidades de saúde tem diretrizes, pedidos que são apresentados para os colegia-
dos como propostas/ofertas que devem ser analisadas, reconstruídas e pactuadas. Os usuários/familiares e
as equipes também têm pedidos e propostas que serão apreciadas e acordadas. Os colegiados são espaços
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coletivos deliberativos, tomam decisões no seu âmbito de governo em conformidade com as diretrizes e con-
tratos definidos. O colegiado gestor de uma unidade de saúde é composto por todos os membros da equipe ou
por representantes. Tem por finalidade elaborar o projeto de ação da instituição, atuar no processo de trabalho
da unidade, responsabilizar os envolvidos, acolher os usuários, criar e avaliar os indicadores, sugerir e elaborar
propostas.
Controle social (participação cidadã)
Participação popular na formulação de projetos e planos, definição de prioridades, fiscalização e avaliação
das ações e dos serviços, nas diferentes esferas de governo, destacando-se, na área da Saúde, as conferên-
cias e os conselhos de saúde.
Diretrizes da PNH
Por diretrizes entendem-se as orientações gerais de determinada política. No caso da PNH, suas diretrizes
apontam no sentido da:
1) Clínica Ampliada;
2) Cogestão;
3) Valorização do Trabalho;
4) Acolhimento;
5) Valorização do trabalho e do trabalhador da Saúde do Trabalhador;
6) Defesa dos Direitos do Usuário;
7) Fomento das grupalidades, coletivos e redes; e
8) Construção da memória do SUS que dá certo.
Dispositivos da PNH
Dispositivo é um arranjo de elementos, que podem ser concretos (ex.: uma reforma arquitetônica, uma
decoração, um manual de instruções) e/ou imateriais (ex.: conceitos, valores, atitudes) mediante o qual se faz
funcionar, se catalisa ou se potencializa um processo. Na PNH, foram desenvolvidos vários dispositivos que
são acionados nas práticas de produção de saúde, envolvendo coletivos e visando promover mudanças nos
modelos de atenção e de gestão:
- Acolhimento com Classificação de Risco;
- Equipes de Referência e de Apoio Matricial;
- Projeto Terapêutico Singular e Projeto de Saúde Coletiva;
- Projetos Cogeridos de Ambiência
- Colegiado Gestor;
- Contrato de Gestão;
- Sistemas de escuta qualificada para usuários e trabalhadores da saúde: gerência de “porta aberta”; ouvi-
dorias; grupos focais e pesquisas de satisfação, etc.;
- Visita Aberta e Direito à Acompanhante;
- Programa de Formação em Saúde do trabalhador (PFST) e Comunidade
Ampliada de Pesquisa (CAP);
- Programas de Qualidade de Vida e Saúde para os Trabalhadores da Saúde;
- Grupo de Trabalho de Humanização (GTH);
- Câmaras Técnicas de Humanização (CTH);
- Projeto Memória do SUS que dá certo.
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Educação permanente em saúde
As ações de educação permanente em saúde envolvem a articulação entre educação e trabalho no SUS,
visando à produção de mudanças nas práticas de formação e de saúde. Por meio da Educação Permanente
em Saúde articula-se o ensino, gestão, atenção e participação popular na produção de conhecimento para o
desenvolvimento da capacidade pedagógica de problematizar e identificar pontos sensíveis e estratégicos para
a produção da integralidade e humanização.
Eficácia/eficiência (resolubilidade)
A resolubilidade diz respeito à combinação dos graus de eficácia e eficiência das ações em saúde. A eficá-
cia fala da produção da saúde como valor de uso, da qualidade da atenção e da gestão da saúde. A eficiência
refere-se à relação custo/benefício, ao menor investimento de recursos financeiros e humanos para alcançar o
maior impacto nos indicadores sanitários.
Equidade
No vocabulário do SUS, diz respeito aos meios necessários para se alcançar a igualdade, estando relacio-
nada com a ideia de justiça social. Condições para que todas as pessoas tenham acesso aos direitos que lhe
são garantidos. Para que se possa exercer a equidade, é preciso que existam ambientes favoráveis, acesso à
informação, acesso a experiências e habilidades na vida, assim como oportunidades que permitam fazer esco-
lhas por uma vida mais sadia. O contrário de equidade é iniquidade, e as iniquidades no campo da saúde têm
raízes nas desigualdades existentes na sociedade.
Equipe de referência/equipe multiprofissional
Grupo que se constitui por profissionais de diferentes áreas e saberes (interdisciplinar, transdisciplinar),
organizados em função dos objetivos/missão de cada serviço de saúde, estabelecendo-se como referência
para os usuários desse serviço (clientela que fica sob a responsabilidade desse grupo/equipe). Está inserido,
num sentido vertical, em uma matriz organizacional. Em hospitais, por exemplo, a clientela internada tem sua
equipe básica de referência e especialistas e outros profissionais organizam uma rede de serviços matriciais de
apoio às equipes de referência. As equipes de referência em vez de serem um espaço episódico de integração
horizontal passam a ser a estrutura permanente e nuclear dos serviços de saúde.
Familiar participante
Representante da rede social do usuário que garante a articulação entre a rede social/familiar e a equipe
profissional dos serviços de saúde na elaboração de projetos de saúde.
Gestão participativa
Modo de gestão que incluiu novos sujeitos no processo de análise e tomada de decisão. Pressupõe a am-
pliação dos espaços públicos e coletivos, viabilizando o exercício do diálogo e da pactuação de diferenças.
Nos espaços de gestão é possível construir conhecimentos compartilhados considerando as subjetividades e
singularidades dos sujeitos e coletivos.
Grupalidade
Experiência que não se reduz a um conjunto de indivíduos nem tampouco pode ser tomada como uma uni-
dade ou identidade imutável. É um coletivo ou uma multiplicidade de termos (usuários, trabalhadores, gestores,
familiares, etc.) em agenciamento e transformação, compondo uma rede de conexão na qual o processo de
produção de saúde e de subjetividade se realiza.
Grupo de Trabalho de Humanização (GTH)
Espaço coletivo organizado, participativo e democrático, que funciona à maneira de um órgão colegiado
e se destina a empreender uma política institucional de resgate dos valores de universalidade, integralidade
e aumento da equidade no cuidado em saúde e democratização na gestão, em benefício dos usuários e dos
trabalhadores da saúde.
É constituído por lideranças representativas do coletivo de profissionais e demais trabalhadores em cada
equipamento de saúde, (nas SES e nas SMS), tendo como atribuições:
- difundir os princípios norteadores da PNH;
- pesquisar e levantar os pontos críticos do funcionamento de cada serviço e sua rede de referência;
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- promover o trabalho em equipes multiprofissionais, estimulando a transversalidade e a grupalidade;
- propor uma agenda de mudanças que possam beneficiar os usuários e os trabalhadores da saúde;
- incentivar a democratização da gestão dos serviços;
- divulgar, fortalecer e articular as iniciativas humanizadoras existentes; estabelecer fluxo de propostas entre
os diversos setores das instituições de saúde, a gestão, os usuários e a comunidade;
- melhorar a comunicação e a integração do equipamento com a comunidade (de usuários) na qual está
inserida.
Humanização/Política Nacional de Humanização (PNH)
No campo da Saúde, humanização diz respeito a uma aposta ético-estético-política: ética porque implica
a atitude de usuários, gestores e trabalhadores de saúde comprometidos e corresponsáveis. Estética porque
acarreta um processo criativo e sensível de produção da saúde e de subjetividades autônomas e protagonis-
tas. Política porque se refere à organização social e institucional das práticas de atenção e gestão na rede do
SUS. O compromisso ético-estético- político da humanização do SUS se assenta nos valores de autonomia e
protagonismo dos sujeitos, de corresponsabilidade entre eles, de solidariedade dos vínculos estabelecidos, dos
direitos dos usuários e da participação coletiva no processo de gestão.
Igualdade
Segundo os preceitos do SUS e conforme o texto da Constituição brasileira, o acesso às ações e aos ser-
viços, para promoção, proteção e recuperação da saúde, além de universal, deve basear-se na igualdade de
resultados finais, garantida mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças
e de outros agravos.
Integralidade
Um dos princípios constitucionais do SUS garante ao cidadão o direito de acesso a todas as esferas de
atenção em saúde, contemplando, desde ações assistenciais em todos os níveis de complexidade (continuida-
de da assistência), até atividades inseridas nos âmbitos da prevenção de doenças e de promoção da saúde.
Prevê-se, portanto, a cobertura de serviços em diferentes eixos, o que requer a constituição de uma rede de
serviços (integração de ações), capaz de viabilizar uma atenção integral. Por outro lado, cabe ressaltar que por
integralidade também se deve compreender a proposta de abordagem integral do ser humano, superando a
fragmentação do olhar e intervenções sobre os sujeitos, que devem ser vistos em suas inseparáveis dimensões
biopsicossociais.
Intersetorialidade
Integração dos serviços de saúde e outros órgãos públicos com a finalidade de articular políticas e progra-
mas de interesse para a saúde, cuja execução envolva áreas não-compreendidas no âmbito do SUS, potencia-
lizando, assim, os recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos disponíveis e evitando duplicidade
de meios para fins idênticos. Se os determinantes do processo saúde/doença, nos planos individual e coletivo,
encontram-se localizados na maneira como as condições de vida são produzidas, isto é, na alimentação, na
escolaridade, na habitação, no trabalho, na capacidade de consumo e no acesso a direitos garantidos pelo
poder público, então é impossível conceber o planejamento e a gestão da saúde sem a integração das políti-
cas sociais (educação, transporte, ação social), num primeiro momento, e das políticas econômicas (trabalho,
emprego e renda), num segundo. A escolha do prefixo inter e não do trans é efetuada em respeito à autonomia
administrativa e política dos setores públicos em articulação.
Núcleo de saber
Demarca a identidade de uma área de saber e de prática profissional. A institucionalização dos saberes e a
sua organização em práticas se dá mediante a conformação de núcleos que são mutantes e se interinfluenciam
na composição de um campo de saber dinâmico. No núcleo há aglutinação de saberes e práticas, compondo
um grupo ou um gênero profissional e disciplinar.
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Ouvidoria
Serviço representativo de demandas do usuário e/ou trabalhador de saúde e instrumento gerencial na me-
dida em que mapeia problemas, aponta áreas críticas e estabelece a intermediação das relações, promovendo
a aproximação das instâncias gerenciais.
Princípios da PNH
Por princípio entende-se o que causa ou força determinada ação ou o que dispara um determinado movi-
mento no plano das políticas públicas. A PNH, enquanto movimento de mudança dos modelos de atenção e
gestão, possui três princípios a partir dos quais se desdobra enquanto política pública de saúde:
1) A transversalidade enquanto aumento do grau de abertura comunicacional intra e intergrupos, isto é, a
ampliação da grupalidade ou das formas de conexão intra e intergrupos promovendo mudanças nas práticas
de saúde;
2) A inseparabilidade entre clínica e política, o que impõe a inseparabilidade entre atenção e gestão dos
processos de produção de saúde;
3) O protagonismo dos sujeitos e coletivos.
Produção de saúde e produção de subjetividade
Em uma democracia institucional, diz respeito à constituição de sujeitos autônomos e protagonistas no pro-
cesso de produção de sua própria saúde. Neste sentido, a produção das condições de uma vida saudável não
pode ser pensada sem a implicação, neste processo, de sujeitos.
Projeto de saúde
Projetos voltados para os sujeitos, individualmente, ou comunidades, contemplando ações de diferentes
eixos, levando em conta as necessidades/demandas de saúde. Comportam planos de ação assentados na
avaliação das condições biopsicossociais dos usuários. A sua construção deve incluir a corresponsabilidade de
usuário, gestor e trabalhador/equipes de saúde, e devem ser considerados: a perspectiva de ações interseto-
riais, a rede social de que o usuário faz parte, o vínculo usuário-equipamento de saúde e a avaliação de risco/
vulnerabilidade.
Protagonismo
É a ideia de que a ação, a interlocução e a atitude dos sujeitos ocupam lugar central nos acontecimentos. No
processo de produção da saúde, diz respeito ao papel de sujeitos autônomos e corresponsáveis no processo
de produção de sua própria saúde.
Reabilitar-Reabilitação/Habilitar-Habilitação
Habilitar é tornar hábil, no sentido da destreza/inteligência ou no da autorização legal. O “re” constitui prefixo
latino que apresenta as noções básicas de voltar atrás, tornar ao que era. A questão que se coloca no plano do
processo saúde/ doença é se é possível “voltar atrás”, tornar ao que era. O sujeito é marcado por suas experi-
ências; o entorno de fenômenos, relações e condições históricas e sempre muda; então a noção de reabilitar é
problemática. Na saúde, estaremos sempre desafiados a habilitar um novo sujeito a uma nova realidade biop-
sicossocial. Porém, existe o sentido estrito da volta a uma capacidade legal pré-existente e, por algum motivo,
perdida, e nestes casos o “re” se aplica.
Rede psicossocial
Esquematicamente, todos os sujeitos atuam em três cenários: a família, o trabalho e o consumo, onde se
desenrolam as suas histórias com seus elementos, afetos, dinheiro, poderes e símbolos, cada qual com sua
força e onde somos mais ou menos hábeis, mais ou menos habilitados, formando uma rede psicossocial. Esta
rede é caracterizada pela participação ativa e criativa de uma série de atores, saberes e instituições, voltados
para o enfrentamento de problemas que nascem ou se expressam numa dimensão humana de fronteira, aquele
que articula a representação subjetiva com a prática objetiva dos indivíduos em sociedade.
Redes de atenção em saúde
Modo de organização dos serviços configurados em redes sustentadas por critérios, fluxos e mecanismos
de pactuação de funcionamento, para assegurar a atenção integral aos usuários. Na compreensão de rede,
deve-se reafirmar a perspectiva de seu desenho lógico, que prevê níveis de complexidade, viabilizando encami-
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nhamentos resolutivos (entre os diferentes equipamentos de saúde), porém reforçando a sua concepção cen-
tral de fomentar e assegurar vínculos em diferentes dimensões: intraequipes de saúde, Inter equipes/serviços,
entre trabalhadores e gestores, e entre usuários e serviços/equipes.
Sujeito/subjetividade
Território existencial resultado de um processo de produção de subjetividade sempre coletivo, histórico e
determinado por múltiplos vetores: familiares, políticos, econômicos, ambientais, midiáticos, etc.
Trabalho
O trabalho tem sido identificado a emprego ou assalariamento e, também, a tarefas e produtos esperados. O
trabalho é mais que isso, é atividade que se opõe à inércia. É o conjunto dos fenômenos que caracterizam o ser
vivo. É, assim, resistência a toda situação de heterodeterminação das normas definidas para a sua execução.
Nos processos de trabalho surgem, a todo o momento, situações novas e “ventos imprevisíveis” não definidos
pelas prescrições da organização do trabalho. Para dar conta dessas situações, os trabalhadores são convoca-
dos a criar, a improvisar ações. Quando as normas são seguidas fielmente, sem serem questionadas, podemos
colocar o trabalho em crise, pois as prescrições não são suficientes para responder aos imprevistos que acon-
tecem a cada dia. O trabalho inclui, também, uma dimensão que não é observável – como os fracassos e as
frustrações por não poder ter sido feito como se gostaria – e exige invenções, escolhas e decisões muitas vezes
difíceis. A atividade do trabalho, portanto, é submetida a uma regulação que se efetiva na interação entre os tra-
balhadores da saúde, numa dinâmica intersubjetiva. Somos gestores e produtores de saberes e de novidades.
Transversalidade
Nas experiências coletivas ou de grupalidade, diz respeito à possibilidade de conexão/confronto com outros
grupos, inclusive no interior do próprio grupo, indicando um grau de abertura à alteridade e, portanto, o fomento
de processos de diferenciação dos grupos e das subjetividades. Em um serviço de saúde, pode se dar pelo
aumento de comunicação entre os diferentes membros de cada grupo, e entre os diferentes grupos. A ideia de
comunicação transversal em um grupo deve ser entendida não a partir do esquema bilateral emissor-receptor,
mas como uma dinâmica multivetorializada, em rede, e na qual se expressam os processos de produção de
saúde e de subjetividade.
Universalidade
A Constituição brasileira instituiu o princípio da universalidade da cobertura e do atendimento para determi-
nar a dimensão do dever estatal no campo da Saúde, de sorte a compreender o atendimento a brasileiros e a
estrangeiros que estejam no País, crianças, jovens, adultos e idosos. A universalidade constitucional compre-
ende, portanto, a cobertura, o atendimento e o acesso ao Sistema Único de Saúde, expressando que o Estado
tem o dever de prestar atendimento nos grandes e pequenos centros urbanos, e também às populações isola-
das geopoliticamente, os ribeirinhos, os indígenas, os ciganos e outras minorias, os prisioneiros e os excluídos
sociais. Os programas, as ações e os serviços de saúde devem ser concebidos para propiciar cobertura e
atendimento universais, de modo equitativo e integral.
Usuário, cliente, paciente
Cliente é a palavra usada para designar qualquer comprador de um bem ou serviço, incluindo quem confia
sua saúde a um trabalhador da saúde. O termo incorpora a ideia de poder contratual e de contrato terapêutico
efetuado. Se, nos serviços de saúde, o paciente é aquele que sofre, conceito reformulado historicamente para
aquele que se submete, passivamente, sem criticar o tratamento recomendado, prefere-se usar o termo cliente,
pois implica em capacidade contratual, poder de decisão e equilíbrio de direitos. Usuário, isto é, aquele que
usa, indica significado mais abrangente, capaz de envolver tanto o cliente como o acompanhante do cliente, o
familiar do cliente, o trabalhador da instituição, o gerente da instituição e o gestor do sistema.
Vínculo
Na rede psicossocial, compartilhamos experiências e estabelecemos relações mediadas por instâncias. No
caso da instância instituição de saúde, a aproximação entre usuário e trabalhador de saúde promove um encon-
tro, este “ficar em frente um do outro”, um e outro sendo sujeitos, com suas intenções, interpretações, necessi-
dades, razões e sentimentos, mas em situação de desequilíbrio, de habilidades e expectativas diferentes, em
que um, o usuário, busca assistência, em estado físico e emocional fragilizado, junto ao outro, um profissional
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supostamente capacitado para atender e cuidar da causa de sua fragilidade. Desse modo cria-se um vínculo,
isto é, processo que ata ou liga, gerando uma ligação afetiva e ética entre ambos, numa convivência de ajuda
e respeito mútuos.
Visita aberta e direito de acompanhante
É o dispositivo que amplia as possibilidades de acesso para os visitantes de forma a garantir o elo entre o
paciente, sua rede social e os demais serviços da rede de saúde, mantendo latente o projeto de vida do pacien-
te durante o tempo de internação.
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I - os percentuais de que tratam os incisos II e III do §2º; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 86,
de 2015)
II – os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúde destinados aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios, e dos Estados destinados a seus respectivos Municípios, objetivando a progressiva
redução das disparidades regionais;
III – as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas esferas federal, estadual,
distrital e municipal;
IV - (revogado).
§4º Os gestores locais do sistema único de saúde poderão admitir agentes comunitários de saúde e agentes
de combate às endemias por meio de processo seletivo público, de acordo com a natureza e complexidade de
suas atribuições e requisitos específicos para sua atuação.
§5º Lei federal disporá sobre o regime jurídico, o piso salarial profissional nacional, as diretrizes para os
Planos de Carreira e a regulamentação das atividades de agente comunitário de saúde e agente de combate
às endemias, competindo à União, nos termos da lei, prestar assistência financeira complementar aos Estados,
ao Distrito Federal e aos Municípios, para o cumprimento do referido piso salarial.
§6º Além das hipóteses previstas no §1º do art. 41 e no §4º do art. 169 da Constituição Federal, o servidor
que exerça funções equivalentes às de agente comunitário de saúde ou de agente de combate às endemias
poderá perder o cargo em caso de descumprimento dos requisitos específicos, fixados em lei, para o seu exer-
cício.
§7º O vencimento dos agentes comunitários de saúde e dos agentes de combate às endemias fica sob res-
ponsabilidade da União, e cabe aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer, além de outros
consectários e vantagens, incentivos, auxílios, gratificações e indenizações, a fim de valorizar o trabalho des-
ses profissionais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 120, de 2022)
§8º Os recursos destinados ao pagamento do vencimento dos agentes comunitários de saúde e dos agentes
de combate às endemias serão consignados no orçamento geral da União com dotação própria e exclusiva.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 120, de 2022)
§9º O vencimento dos agentes comunitários de saúde e dos agentes de combate às endemias não será
inferior a 2 (dois) salários mínimos, repassados pela União aos Municípios, aos Estados e ao Distrito Federal.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 120, de 2022)
§10. Os agentes comunitários de saúde e os agentes de combate às endemias terão também, em razão
dos riscos inerentes às funções desempenhadas, aposentadoria especial e, somado aos seus vencimentos,
adicional de insalubridade. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 120, de 2022)
§11. Os recursos financeiros repassados pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para
pagamento do vencimento ou de qualquer outra vantagem dos agentes comunitários de saúde e dos agentes
de combate às endemias não serão objeto de inclusão no cálculo para fins do limite de despesa com pessoal.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 120, de 2022)
§12. Lei federal instituirá pisos salariais profissionais nacionais para o enfermeiro, o técnico de enfermagem,
o auxiliar de enfermagem e a parteira, a serem observados por pessoas jurídicas de direito público e de direito
privado. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 124, de 2022)
§13. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, até o final do exercício financeiro em que for
publicada a lei de que trata o §12 deste artigo, adequarão a remuneração dos cargos ou dos respectivos pla-
nos de carreiras, quando houver, de modo a atender aos pisos estabelecidos para cada categoria profissional.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 124, de 2022)
§14. Compete à União, nos termos da lei, prestar assistência financeira complementar aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios e às entidades filantrópicas, bem como aos prestadores de serviços contratu-
alizados que atendam, no mínimo, 60% (sessenta por cento) de seus pacientes pelo sistema único de saúde,
para o cumprimento dos pisos salariais de que trata o §12 deste artigo. (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 127, de 2022)
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§15. Os recursos federais destinados aos pagamentos da assistência financeira complementar aos Estados,
ao Distrito Federal e aos Municípios e às entidades filantrópicas, bem como aos prestadores de serviços contra-
tualizados que atendam, no mínimo, 60% (sessenta por cento) de seus pacientes pelo sistema único de saúde,
para o cumprimento dos pisos salariais de que trata o §12 deste artigo serão consignados no orçamento geral
da União com dotação própria e exclusiva. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 127, de 2022)
Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.
§1º As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único de saúde, segundo
diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas
e as sem fins lucrativos.
§2º É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às instituições privadas com
fins lucrativos.
§3º - É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na assistência à saúde
no País, salvo nos casos previstos em lei.
§4º A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias
humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de
sangue e seus derivados, sendo vedado todo tipo de comercialização.
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:
I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e participar da
produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos;
II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador;
III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde;
IV - participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico;
V - incrementar, em sua área de atuação, o desenvolvimento científico e tecnológico e a inovação; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015)
VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem como bebidas e
águas para consumo humano;
VII - participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e pro-
dutos psicoativos, tóxicos e radioativos;
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.
38
§ 1° A Conferência de Saúde reunir-se-á a cada quatro anos com a representação dos vários segmentos
sociais, para avaliar a situação de saúde e propor as diretrizes para a formulação da política de saúde nos ní-
veis correspondentes, convocada pelo Poder Executivo ou, extraordinariamente, por esta ou pelo Conselho de
Saúde.
§ 2° O Conselho de Saúde, em caráter permanente e deliberativo, órgão colegiado composto por represen-
tantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na formulação de estratégias
e no controle da execução da política de saúde na instância correspondente, inclusive nos aspectos econô-
micos e financeiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada
esfera do governo.
§ 3° O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretários Munici-
pais de Saúde (Conasems) terão representação no Conselho Nacional de Saúde.
§ 4° A representação dos usuários nos Conselhos de Saúde e Conferências será paritária em relação ao
conjunto dos demais segmentos.
§ 5° As Conferências de Saúde e os Conselhos de Saúde terão sua organização e normas de funcionamento
definidas em regimento próprio, aprovadas pelo respectivo conselho.
Art. 2° Os recursos do Fundo Nacional de Saúde (FNS) serão alocados como:
I - despesas de custeio e de capital do Ministério da Saúde, seus órgãos e entidades, da administração direta
e indireta;
II - investimentos previstos em lei orçamentária, de iniciativa do Poder Legislativo e aprovados pelo Congres-
so Nacional;
III - investimentos previstos no Plano Qüinqüenal do Ministério da Saúde;
IV - cobertura das ações e serviços de saúde a serem implementados pelos Municípios, Estados e Distrito
Federal.
Parágrafo único. Os recursos referidos no inciso IV deste artigo destinar-se-ão a investimentos na rede de
serviços, à cobertura assistencial ambulatorial e hospitalar e às demais ações de saúde.
Art. 3° Os recursos referidos no inciso IV do art. 2° desta lei serão repassados de forma regular e automática
para os Municípios, Estados e Distrito Federal, de acordo com os critérios previstos no art. 35 da Lei n° 8.080,
de 19 de setembro de 1990.
§ 1° Enquanto não for regulamentada a aplicação dos critérios previstos no art. 35 da Lei n° 8.080, de 19 de
setembro de 1990, será utilizado, para o repasse de recursos, exclusivamente o critério estabelecido no § 1° do
mesmo artigo. (Vide Lei nº 8.080, de 1990)
§ 2° Os recursos referidos neste artigo serão destinados, pelo menos setenta por cento, aos Municípios,
afetando-se o restante aos Estados.
§ 3° Os Municípios poderão estabelecer consórcio para execução de ações e serviços de saúde, remanejan-
do, entre si, parcelas de recursos previstos no inciso IV do art. 2° desta lei.
Art. 4° Para receberem os recursos, de que trata o art. 3° desta lei, os Municípios, os Estados e o Distrito
Federal deverão contar com:
I - Fundo de Saúde;
II - Conselho de Saúde, com composição paritária de acordo com o Decreto n° 99.438, de 7 de agosto de
1990;
III - plano de saúde;
IV - relatórios de gestão que permitam o controle de que trata o § 4° do art. 33 da Lei n° 8.080, de 19 de
setembro de 1990;
V - contrapartida de recursos para a saúde no respectivo orçamento;
VI - Comissão de elaboração do Plano de Carreira, Cargos e Salários (PCCS), previsto o prazo de dois anos
para sua implantação.
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Parágrafo único. O não atendimento pelos Municípios, ou pelos Estados, ou pelo Distrito Federal, dos requi-
sitos estabelecidos neste artigo, implicará em que os recursos concernentes sejam administrados, respectiva-
mente, pelos Estados ou pela União.
Art. 5° É o Ministério da Saúde, mediante portaria do Ministro de Estado, autorizado a estabelecer condições
para aplicação desta lei.
Art. 6° Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 7° Revogam-se as disposições em contrário.
Brasília, 28 de dezembro de 1990; 169° da Independência e 102° da República.
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§ 1° Estão incluídas no disposto neste artigo as instituições públicas federais, estaduais e municipais de
controle de qualidade, pesquisa e produção de insumos, medicamentos, inclusive de sangue e hemoderivados,
e de equipamentos para saúde.
§ 2° A iniciativa privada poderá participar do Sistema Único de Saúde (SUS), em caráter complementar.
CAPÍTULO I
DOS OBJETIVOS E ATRIBUIÇÕES
Art. 5° São objetivos do Sistema Único de Saúde SUS:
I - a identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes da saúde;
II - a formulação de política de saúde destinada a promover, nos campos econômico e social, a observância
do disposto no § 1° do art. 2° desta lei;
III - a assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com
a realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas.
Art. 6° Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS):
I - a execução de ações:
a) de vigilância sanitária;
b) de vigilância epidemiológica;
c) de saúde do trabalhador; (Redação dada pela Lei n° 14.572, de 2023)
d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica;
e) de saúde bucal; (Incluída pela Lei n° 14.572, de 2023)
II - a participação na formulação da política e na execução de ações de saneamento básico;
III - a ordenação da formação de recursos humanos na área de saúde;
IV - a vigilância nutricional e a orientação alimentar;
V - a colaboração na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho;
VI - a formulação da política de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos e outros insumos de interes-
se para a saúde e a participação na sua produção;
VII - o controle e a fiscalização de serviços, produtos e substâncias de interesse para a saúde;
VIII - a fiscalização e a inspeção de alimentos, água e bebidas para consumo humano;
IX - a participação no controle e na fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias
e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos;
X - o incremento, em sua área de atuação, do desenvolvimento científico e tecnológico;
XI - a formulação e execução da política de sangue e seus derivados.
XII – a formulação e a execução da política de informação e assistência toxicológica e de logística de antí-
dotos e medicamentos utilizados em intoxicações. (Incluído pela Lei n° 14.715, de 2023)
§ 1° Entende-se por vigilância sanitária um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos
à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens
e da prestação de serviços de interesse da saúde, abrangendo:
I - o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com a saúde, compreendidas
todas as etapas e processos, da produção ao consumo; e
II - o controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou indiretamente com a saúde.
§ 2° Entende-se por vigilância epidemiológica um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a
detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual
ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou
agravos.
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§ 3° Entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta lei, um conjunto de atividades que se destina,
através das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos tra-
balhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos
e agravos advindos das condições de trabalho, abrangendo:
I - assistência ao trabalhador vítima de acidentes de trabalho ou portador de doença profissional e do tra-
balho;
II - participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde (SUS), em estudos, pesquisas,
avaliação e controle dos riscos e agravos potenciais à saúde existentes no processo de trabalho;
III - participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde (SUS), da normatização, fiscali-
zação e controle das condições de produção, extração, armazenamento, transporte, distribuição e manuseio
de substâncias, de produtos, de máquinas e de equipamentos que apresentam riscos à saúde do trabalhador;
IV - avaliação do impacto que as tecnologias provocam à saúde;
V - informação ao trabalhador e à sua respectiva entidade sindical e às empresas sobre os riscos de aci-
dentes de trabalho, doença profissional e do trabalho, bem como os resultados de fiscalizações, avaliações
ambientais e exames de saúde, de admissão, periódicos e de demissão, respeitados os preceitos da ética
profissional;
VI - participação na normatização, fiscalização e controle dos serviços de saúde do trabalhador nas institui-
ções e empresas públicas e privadas;
VII - revisão periódica da listagem oficial de doenças originadas no processo de trabalho, tendo na sua ela-
boração a colaboração das entidades sindicais; e
VIII - a garantia ao sindicato dos trabalhadores de requerer ao órgão competente a interdição de máquina,
de setor de serviço ou de todo ambiente de trabalho, quando houver exposição a risco iminente para a vida ou
saúde dos trabalhadores.
§ 4° Entende-se por saúde bucal o conjunto articulado de ações, em todos os níveis de complexidade, que
visem a garantir promoção, prevenção, recuperação e reabilitação odontológica, individual e coletiva, inseridas
no contexto da integralidade da atenção à saúde. (Incluído pela Lei n° 14.572, de 2023)
§ 5° Entende-se por assistência toxicológica, a que se refere o inciso XII do caput deste artigo, o conjunto
de ações e serviços de prevenção, diagnóstico e tratamento das intoxicações agudas e crônicas decorrentes
da exposição a substâncias químicas, medicamentos e toxinas de animais peçonhentos e de plantas tóxicas.
(Incluído pela Lei n° 14.715, de 2023)
CAPÍTULO II
DOS PRINCÍPIOS E DIRETRIZES
Art. 7° As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que inte-
gram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da
Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios:
I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência;
II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços pre-
ventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do
sistema;
III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral;
IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie;
V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde;
VI - divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua utilização pelo usuário;
VII - utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orienta-
ção programática;
VIII - participação da comunidade;
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IX - descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de governo:
a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios;
b) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde;
X - integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico;
XI - conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de assistência à saúde da população;
XII - capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; e
XIII - organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idênticos.
XIV – organização de atendimento público específico e especializado para mulheres e vítimas de violência
doméstica em geral, que garanta, entre outros, atendimento, acompanhamento psicológico e cirurgias plásticas
reparadoras, em conformidade com a Lei n°12.845, de 1°de agosto de 2013. (Redação dada pela Lei n° 13.427,
de 2017)
XV – proteção integral dos direitos humanos de todos os usuários e especial atenção à identificação de
maus-tratos, de negligência e de violência sexual praticados contra crianças e adolescentes. (Incluído pela Lei
n° 14.679, de 2023)
CAPÍTULO III
DA ORGANIZAÇÃO, DA DIREÇÃO E DA GESTÃO
Art. 8° As ações e serviços de saúde, executados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), seja diretamente ou
mediante participação complementar da iniciativa privada, serão organizados de forma regionalizada e hierar-
quizada em níveis de complexidade crescente.
Art. 9° A direção do Sistema Único de Saúde (SUS) é única, de acordo com o inciso I do art. 198 da Consti-
tuição Federal, sendo exercida em cada esfera de governo pelos seguintes órgãos:
I - no âmbito da União, pelo Ministério da Saúde;
II - no âmbito dos Estados e do Distrito Federal, pela respectiva Secretaria de Saúde ou órgão equivalente; e
III - no âmbito dos Municípios, pela respectiva Secretaria de Saúde ou órgão equivalente.
Art. 10. Os municípios poderão constituir consórcios para desenvolver em conjunto as ações e os serviços
de saúde que lhes correspondam.
§ 1° Aplica-se aos consórcios administrativos intermunicipais o princípio da direção única, e os respectivos
atos constitutivos disporão sobre sua observância.
§ 2° No nível municipal, o Sistema Único de Saúde (SUS), poderá organizar-se em distritos de forma a inte-
grar e articular recursos, técnicas e práticas voltadas para a cobertura total das ações de saúde.
Art. 11. (Vetado).
Art. 12. Serão criadas comissões intersetoriais de âmbito nacional, subordinadas ao Conselho Nacional de
Saúde, integradas pelos Ministérios e órgãos competentes e por entidades representativas da sociedade civil.
Parágrafo único. As comissões intersetoriais terão a finalidade de articular políticas e programas de inte-
resse para a saúde, cuja execução envolva áreas não compreendidas no âmbito do Sistema Único de Saúde
(SUS).
Art. 13. A articulação das políticas e programas, a cargo das comissões intersetoriais, abrangerá, em espe-
cial, as seguintes atividades:
I - alimentação e nutrição;
II - saneamento e meio ambiente;
III - vigilância sanitária e farmacoepidemiologia;
IV - recursos humanos;
V - ciência e tecnologia; e
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VI - saúde do trabalhador.
Art. 14. Deverão ser criadas Comissões Permanentes de integração entre os serviços de saúde e as insti-
tuições de ensino profissional e superior.
Parágrafo único. Cada uma dessas comissões terá por finalidade propor prioridades, métodos e estratégias
para a formação e educação continuada dos recursos humanos do Sistema Único de Saúde (SUS), na esfera
correspondente, assim como em relação à pesquisa e à cooperação técnica entre essas instituições.
Art. 14-A. As Comissões Intergestores Bipartite e Tripartite são reconhecidas como foros de negociação e
pactuação entre gestores, quanto aos aspectos operacionais do Sistema Único de Saúde (SUS). (Incluído pela
Lei n° 12.466, de 2011).
Parágrafo único. A atuação das Comissões Intergestores Bipartite e Tripartite terá por objetivo: (Incluído
pela Lei n° 12.466, de 2011).
I - decidir sobre os aspectos operacionais, financeiros e administrativos da gestão compartilhada do SUS,
em conformidade com a definição da política consubstanciada em planos de saúde, aprovados pelos conselhos
de saúde; (Incluído pela Lei n° 12.466, de 2011).
II - definir diretrizes, de âmbito nacional, regional e intermunicipal, a respeito da organização das redes de
ações e serviços de saúde, principalmente no tocante à sua governança institucional e à integração das ações
e serviços dos entes federados; (Incluído pela Lei n° 12.466, de 2011).
III - fixar diretrizes sobre as regiões de saúde, distrito sanitário, integração de territórios, referência e contrar-
referência e demais aspectos vinculados à integração das ações e serviços de saúde entre os entes federados.
(Incluído pela Lei n° 12.466, de 2011).
Art. 14-B. O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias
Municipais de Saúde (Conasems) são reconhecidos como entidades representativas dos entes estaduais e
municipais para tratar de matérias referentes à saúde e declarados de utilidade pública e de relevante função
social, na forma do regulamento. (Incluído pela Lei n° 12.466, de 2011).
§ 1°O Conass e o Conasems receberão recursos do orçamento geral da União por meio do Fundo Nacional
de Saúde, para auxiliar no custeio de suas despesas institucionais, podendo ainda celebrar convênios com a
União. (Incluído pela Lei n° 12.466, de 2011).
§ 2°Os Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems) são reconhecidos como entidades que
representam os entes municipais, no âmbito estadual, para tratar de matérias referentes à saúde, desde que
vinculados institucionalmente ao Conasems, na forma que dispuserem seus estatutos. (Incluído pela Lei n°
12.466, de 2011).
CAPÍTULO IV
DA COMPETÊNCIA E DAS ATRIBUIÇÕES
SEÇÃO I
DAS ATRIBUIÇÕES COMUNS
Art. 15. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios exercerão, em seu âmbito administrativo, as
seguintes atribuições:
I - definição das instâncias e mecanismos de controle, avaliação e de fiscalização das ações e serviços de
saúde;
II - administração dos recursos orçamentários e financeiros destinados, em cada ano, à saúde;
III - acompanhamento, avaliação e divulgação do nível de saúde da população e das condições ambientais;
IV - organização e coordenação do sistema de informação de saúde;
V - elaboração de normas técnicas e estabelecimento de padrões de qualidade e parâmetros de custos que
caracterizam a assistência à saúde;
VI - elaboração de normas técnicas e estabelecimento de padrões de qualidade para promoção da saúde
do trabalhador;
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VII - participação de formulação da política e da execução das ações de saneamento básico e colaboração
na proteção e recuperação do meio ambiente;
VIII - elaboração e atualização periódica do plano de saúde;
IX - participação na formulação e na execução da política de formação e desenvolvimento de recursos hu-
manos para a saúde;
X - elaboração da proposta orçamentária do Sistema Único de Saúde (SUS), de conformidade com o plano
de saúde;
XI - elaboração de normas para regular as atividades de serviços privados de saúde, tendo em vista a sua
relevância pública;
XII - realização de operações externas de natureza financeira de interesse da saúde, autorizadas pelo Se-
nado Federal;
XIII - para atendimento de necessidades coletivas, urgentes e transitórias, decorrentes de situações de
perigo iminente, de calamidade pública ou de irrupção de epidemias, a autoridade competente da esfera ad-
ministrativa correspondente poderá requisitar bens e serviços, tanto de pessoas naturais como de jurídicas,
sendo-lhes assegurada justa indenização; (Vide ADIN 3454)
XIV - implementar o Sistema Nacional de Sangue, Componentes e Derivados;
XV - propor a celebração de convênios, acordos e protocolos internacionais relativos à saúde, saneamento
e meio ambiente;
XVI - elaborar normas técnico-científicas de promoção, proteção e recuperação da saúde;
XVII - promover articulação com os órgãos de fiscalização do exercício profissional e outras entidades re-
presentativas da sociedade civil para a definição e controle dos padrões éticos para pesquisa, ações e serviços
de saúde;
XVIII - promover a articulação da política e dos planos de saúde;
XIX - realizar pesquisas e estudos na área de saúde;
XX - definir as instâncias e mecanismos de controle e fiscalização inerentes ao poder de polícia sanitária;
XXI - fomentar, coordenar e executar programas e projetos estratégicos e de atendimento emergencial.
SEÇÃO II
DA COMPETÊNCIA
Art. 16. À direção nacional do SUS compete: (Redação dada pela Lei n° 14.572, de 2023)
I - formular, avaliar e apoiar políticas de alimentação e nutrição;
II - participar na formulação e na implementação das políticas:
a) de controle das agressões ao meio ambiente;
b) de saneamento básico; e
c) relativas às condições e aos ambientes de trabalho;
III - definir e coordenar os sistemas:
a) de redes integradas de assistência de alta complexidade;
b) de rede de laboratórios de saúde pública;
c) de vigilância epidemiológica; e
d) vigilância sanitária;
IV - participar da definição de normas e mecanismos de controle, com órgão afins, de agravo sobre o meio
ambiente ou dele decorrentes, que tenham repercussão na saúde humana;
V - participar da definição de normas, critérios e padrões para o controle das condições e dos ambientes de
trabalho e coordenar a política de saúde do trabalhador;
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VI - coordenar e participar na execução das ações de vigilância epidemiológica;
VII - estabelecer normas e executar a vigilância sanitária de portos, aeroportos e fronteiras, podendo a exe-
cução ser complementada pelos Estados, Distrito Federal e Municípios;
VIII - estabelecer critérios, parâmetros e métodos para o controle da qualidade sanitária de produtos, subs-
tâncias e serviços de consumo e uso humano;
IX - promover articulação com os órgãos educacionais e de fiscalização do exercício profissional, bem como
com entidades representativas de formação de recursos humanos na área de saúde;
X - formular, avaliar, elaborar normas e participar na execução da política nacional e produção de insumos
e equipamentos para a saúde, em articulação com os demais órgãos governamentais;
XI - identificar os serviços estaduais e municipais de referência nacional para o estabelecimento de padrões
técnicos de assistência à saúde;
XII - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde;
XIII - prestar cooperação técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para o aper-
feiçoamento da sua atuação institucional;
XIV - elaborar normas para regular as relações entre o Sistema Único de Saúde (SUS) e os serviços priva-
dos contratados de assistência à saúde;
XV - promover a descentralização para as Unidades Federadas e para os Municípios, dos serviços e ações
de saúde, respectivamente, de abrangência estadual e municipal;
XVI - normatizar e coordenar nacionalmente o Sistema Nacional de Sangue, Componentes e Derivados;
XVII - acompanhar, controlar e avaliar as ações e os serviços de saúde, respeitadas as competências esta-
duais e municipais;
XVIII - elaborar o Planejamento Estratégico Nacional no âmbito do SUS, em cooperação técnica com os
Estados, Municípios e Distrito Federal;
XIX - estabelecer o Sistema Nacional de Auditoria e coordenar a avaliação técnica e financeira do SUS em
todo o Território Nacional em cooperação técnica com os Estados, Municípios e Distrito Federal. (Vide Decreto
n° 1.651, de 1995)
XX - definir as diretrizes e as normas para a estruturação física e organizacional dos serviços de saúde bu-
cal. (Incluído pela Lei n° 14.572, de 2023)
§ 1°A União poderá executar ações de vigilância epidemiológica e sanitária em circunstâncias especiais,
como na ocorrência de agravos inusitados à saúde, que possam escapar do controle da direção estadual do
Sistema Único de Saúde (SUS) ou que representem risco de disseminação nacional. (Renumerado do parágra-
fo único pela Lei n° 14.141, de 2021)
§ 2° Em situações epidemiológicas que caracterizem emergência em saúde pública, poderá ser adotado
procedimento simplificado para a remessa de patrimônio genético ao exterior, na forma do regulamento. (Inclu-
ído pela Lei n° 14.141, de 2021)
§ 3° Os benefícios resultantes da exploração econômica de produto acabado ou material reprodutivo oriun-
do de acesso ao patrimônio genético de que trata o § 2° deste artigo serão repartidos nos termos da Lei n°
13.123, de 20 de maio de 2015. (Incluído pela Lei n° 14.141, de 2021)
Art. 17. À direção estadual do Sistema Único de Saúde (SUS) compete:
I - promover a descentralização para os Municípios dos serviços e das ações de saúde;.
II - acompanhar, controlar e avaliar as redes hierarquizadas do Sistema Único de Saúde (SUS);
III - prestar apoio técnico e financeiro aos Municípios e executar supletivamente ações e serviços de saúde;
IV - coordenar e, em caráter complementar, executar ações e serviços:
a) de vigilância epidemiológica;
b) de vigilância sanitária;
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c) de alimentação e nutrição; (Redação dada pela Lei n° 14.572, de 2023)
d) de saúde do trabalhador;
e) de saúde bucal; (Incluída pela Lei n° 14.572, de 2023)
V - participar, junto com os órgãos afins, do controle dos agravos do meio ambiente que tenham repercussão
na saúde humana;
VI - participar da formulação da política e da execução de ações de saneamento básico;
VII - participar das ações de controle e avaliação das condições e dos ambientes de trabalho;
VIII - em caráter suplementar, formular, executar, acompanhar e avaliar a política de insumos e equipamen-
tos para a saúde;
IX - identificar estabelecimentos hospitalares de referência e gerir sistemas públicos de alta complexidade,
de referência estadual e regional;
X - coordenar a rede estadual de laboratórios de saúde pública e hemocentros, e gerir as unidades que
permaneçam em sua organização administrativa;
XI - estabelecer normas, em caráter suplementar, para o controle e avaliação das ações e serviços de saú-
de;
XII - formular normas e estabelecer padrões, em caráter suplementar, de procedimentos de controle de
qualidade para produtos e substâncias de consumo humano;
XIII - colaborar com a União na execução da vigilância sanitária de portos, aeroportos e fronteiras;
XIV - o acompanhamento, a avaliação e divulgação dos indicadores de morbidade e mortalidade no âmbito
da unidade federada.
Art. 18. À direção municipal do SUS compete: (Redação dada pela Lei n° 14.572, de 2023)
I - planejar, organizar, controlar e avaliar as ações e os serviços de saúde e gerir e executar os serviços
públicos de saúde;
II - participar do planejamento, programação e organização da rede regionalizada e hierarquizada do Siste-
ma Único de Saúde (SUS), em articulação com sua direção estadual;
III - participar da execução, controle e avaliação das ações referentes às condições e aos ambientes de
trabalho;
IV - executar serviços:
a) de vigilância epidemiológica;
b) vigilância sanitária;
c) de alimentação e nutrição;
d) de saneamento básico; (Redação dada pela Lei n° 14.572, de 2023)
e) de saúde do trabalhador;
f) de saúde bucal; (Incluída pela Lei n° 14.572, de 2023)
V - dar execução, no âmbito municipal, à política de insumos e equipamentos para a saúde;
VI - colaborar na fiscalização das agressões ao meio ambiente que tenham repercussão sobre a saúde hu-
mana e atuar, junto aos órgãos municipais, estaduais e federais competentes, para controlá-las;
VII - formar consórcios administrativos intermunicipais;
VIII - gerir laboratórios públicos de saúde e hemocentros;
IX - colaborar com a União e os Estados na execução da vigilância sanitária de portos, aeroportos e fron-
teiras;
X - observado o disposto no art. 26 desta Lei, celebrar contratos e convênios com entidades prestadoras de
serviços privados de saúde, bem como controlar e avaliar sua execução;
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XI - controlar e fiscalizar os procedimentos dos serviços privados de saúde;
XII - normatizar complementarmente as ações e serviços públicos de saúde no seu âmbito de atuação.
Art. 19. Ao Distrito Federal competem as atribuições reservadas aos Estados e aos Municípios.
CAPÍTULO V
DO SUBSISTEMA DE ATENÇÃO À SAÚDE INDÍGENA
(INCLUÍDO PELA LEI N° 9.836, DE 1999)
Art. 19-A. As ações e serviços de saúde voltados para o atendimento das populações indígenas, em todo o
território nacional, coletiva ou individualmente, obedecerão ao disposto nesta Lei. (Incluído pela Lei n° 9.836,
de 1999)
Art. 19-B. É instituído um Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, componente do Sistema Único de Saú-
de – SUS, criado e definido por esta Lei, e pela Lei no 8.142, de 28 de dezembro de 1990, com o qual funcionará
em perfeita integração. (Incluído pela Lei n° 9.836, de 1999)
Art. 19-C. Caberá à União, com seus recursos próprios, financiar o Subsistema de Atenção à Saúde Indíge-
na. (Incluído pela Lei n° 9.836, de 1999)
Art. 19-D. O SUS promoverá a articulação do Subsistema instituído por esta Lei com os órgãos responsá-
veis pela Política Indígena do País. (Incluído pela Lei n° 9.836, de 1999)
Art. 19-E. Os Estados, Municípios, outras instituições governamentais e não-governamentais poderão atuar
complementarmente no custeio e execução das ações. (Incluído pela Lei n° 9.836, de 1999)
§ 1° A União instituirá mecanismo de financiamento específico para os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, sempre que houver necessidade de atenção secundária e terciária fora dos territórios indígenas.
(Incluído pela Lei n° 14.021, de 2020)
§ 2° Em situações emergenciais e de calamidade pública: (Incluído pela Lei n° 14.021, de 2020)
I - a União deverá assegurar aporte adicional de recursos não previstos nos planos de saúde dos Distritos
Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) ao Subsistema de Atenção à Saúde Indígena; (Incluído pela Lei n°
14.021, de 2020)
II - deverá ser garantida a inclusão dos povos indígenas nos planos emergenciais para atendimento dos
pacientes graves das Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde, explicitados os fluxos e as referências para
o atendimento em tempo oportuno. (Incluído pela Lei n° 14.021, de 2020)
Art. 19-F. Dever-se-á obrigatoriamente levar em consideração a realidade local e as especificidades da cul-
tura dos povos indígenas e o modelo a ser adotado para a atenção à saúde indígena, que se deve pautar por
uma abordagem diferenciada e global, contemplando os aspectos de assistência à saúde, saneamento básico,
nutrição, habitação, meio ambiente, demarcação de terras, educação sanitária e integração institucional. (In-
cluído pela Lei n° 9.836, de 1999)
Art. 19-G. O Subsistema de Atenção à Saúde Indígena deverá ser, como o SUS, descentralizado, hierarqui-
zado e regionalizado. (Incluído pela Lei n° 9.836, de 1999)
§ 1o O Subsistema de que trata o caput deste artigo terá como base os Distritos Sanitários Especiais Indí-
genas. (Incluído pela Lei n° 9.836, de 1999)
§ 1°-A. A rede do SUS deverá obrigatoriamente fazer o registro e a notificação da declaração de raça ou cor,
garantindo a identificação de todos os indígenas atendidos nos sistemas públicos de saúde. (Incluído pela Lei
n° 14.021, de 2020)
§ 1°-B. A União deverá integrar os sistemas de informação da rede do SUS com os dados do Subsistema
de Atenção à Saúde Indígena. (Incluído pela Lei n° 14.021, de 2020)
§ 2° O SUS servirá de retaguarda e referência ao Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, devendo,
para isso, ocorrer adaptações na estrutura e organização do SUS nas regiões onde residem as populações
indígenas, para propiciar essa integração e o atendimento necessário em todos os níveis, sem discriminações.
(Incluído pela Lei n° 9.836, de 1999)
48
§ 3° As populações indígenas devem ter acesso garantido ao SUS, em âmbito local, regional e de centros
especializados, de acordo com suas necessidades, compreendendo a atenção primária, secundária e terciária
à saúde. (Incluído pela Lei n° 9.836, de 1999)
Art. 19-H. As populações indígenas terão direito a participar dos organismos colegiados de formulação,
acompanhamento e avaliação das políticas de saúde, tais como o Conselho Nacional de Saúde e os Conselhos
Estaduais e Municipais de Saúde, quando for o caso. (Incluído pela Lei n° 9.836, de 1999)
CAPÍTULO VI
DO SUBSISTEMA DE ATENDIMENTO E INTERNAÇÃO DOMICILIAR
(INCLUÍDO PELA LEI N° 10.424, DE 2002)
Art. 19-I. São estabelecidos, no âmbito do Sistema Único de Saúde, o atendimento domiciliar e a internação
domiciliar. (Incluído pela Lei n° 10.424, de 2002)
§ 1°Na modalidade de assistência de atendimento e internação domiciliares incluem-se, principalmente, os
procedimentos médicos, de enfermagem, fisioterapêuticos, psicológicos e de assistência social, entre outros
necessários ao cuidado integral dos pacientes em seu domicílio. (Incluído pela Lei n° 10.424, de 2002)
§ 2° O atendimento e a internação domiciliares serão realizados por equipes multidisciplinares que atuarão
nos níveis da medicina preventiva, terapêutica e reabilitadora. (Incluído pela Lei n° 10.424, de 2002)
§ 3° O atendimento e a internação domiciliares só poderão ser realizados por indicação médica, com ex-
pressa concordância do paciente e de sua família. (Incluído pela Lei n° 10.424, de 2002)
CAPÍTULO VII
(Redação dada pela Lei n° 14.737, de 2023)
DO SUBSISTEMA DE ACOMPANHAMENTO À MULHER NOS SERVIÇOS DE SAÚDE
Art. 19-J. Em consultas, exames e procedimentos realizados em unidades de saúde públicas ou privadas,
toda mulher tem o direito de fazer-se acompanhar por pessoa maior de idade, durante todo o período do aten-
dimento, independentemente de notificação prévia. (Redação dada pela Lei n° 14.737, de 2023)
§ 1° O acompanhante de que trata o caput deste artigo será de livre indicação da paciente ou, nos casos em
que ela esteja impossibilitada de manifestar sua vontade, de seu representante legal, e estará obrigado a pre-
servar o sigilo das informações de saúde de que tiver conhecimento em razão do acompanhamento. (Redação
dada pela Lei n° 14.737, de 2023)
§ 2° No caso de atendimento que envolva qualquer tipo de sedação ou rebaixamento do nível de consci-
ência, caso a paciente não indique acompanhante, a unidade de saúde responsável pelo atendimento indicará
pessoa para acompanhá-la, preferencialmente profissional de saúde do sexo feminino, sem custo adicional
para a paciente, que poderá recusar o nome indicado e solicitar a indicação de outro, independentemente de
justificativa, registrando-se o nome escolhido no documento gerado durante o atendimento. (Redação dada
pela Lei n° 14.737, de 2023)
§ 2°-A Em caso de atendimento com sedação, a eventual renúncia da paciente ao direito previsto neste
artigo deverá ser feita por escrito, após o esclarecimento dos seus direitos, com no mínimo 24 (vinte e quatro)
horas de antecedência, assinada por ela e arquivada em seu prontuário. (Incluído pela Lei n° 14.737, de 2023)
§ 3° As unidades de saúde de todo o País ficam obrigadas a manter, em local visível de suas dependências,
aviso que informe sobre o direito estabelecido neste artigo. (Redação dada pela Lei n° 14.737, de 2023)
§ 4° No caso de atendimento realizado em centro cirúrgico ou unidade de terapia intensiva com restrições
relacionadas à segurança ou à saúde dos pacientes, devidamente justificadas pelo corpo clínico, somente será
admitido acompanhante que seja profissional de saúde. (Incluído pela Lei n° 14.737, de 2023)
§ 5° Em casos de urgência e emergência, os profissionais de saúde ficam autorizados a agir na proteção e
defesa da saúde e da vida da paciente, ainda que na ausência do acompanhante requerido. (Incluído pela Lei
n° 14.737, de 2023)
Art. 19-L.(VETADO) (Incluído pela Lei n° 11.108, de 2005)
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CAPÍTULO VIII
(INCLUÍDO PELA LEI N° 12.401, DE 2011)
DA ASSISTÊNCIA TERAPÊUTICA E DA INCORPORAÇÃO DE TECNOLOGIA EM SAÚDE”
Art. 19-M. A assistência terapêutica integral a que se refere a alínea d do inciso I do art. 6° consiste em:
(Incluído pela Lei n° 12.401, de 2011)
I - dispensação de medicamentos e produtos de interesse para a saúde, cuja prescrição esteja em confor-
midade com as diretrizes terapêuticas definidas em protocolo clínico para a doença ou o agravo à saúde a ser
tratado ou, na falta do protocolo, em conformidade com o disposto no art. 19-P; (Incluído pela Lei n° 12.401, de
2011)
II - oferta de procedimentos terapêuticos, em regime domiciliar, ambulatorial e hospitalar, constantes de
tabelas elaboradas pelo gestor federal do Sistema Único de Saúde - SUS, realizados no território nacional por
serviço próprio, conveniado ou contratado.
Art. 19-N. Para os efeitos do disposto no art. 19-M, são adotadas as seguintes definições: (Incluído pela Lei
n° 12.401, de 2011)
I - produtos de interesse para a saúde: órteses, próteses, bolsas coletoras e equipamentos médicos; (Inclu-
ído pela Lei n° 12.401, de 2011)
II - protocolo clínico e diretriz terapêutica: documento que estabelece critérios para o diagnóstico da doen-
ça ou do agravo à saúde; o tratamento preconizado, com os medicamentos e demais produtos apropriados,
quando couber; as posologias recomendadas; os mecanismos de controle clínico; e o acompanhamento e a
verificação dos resultados terapêuticos, a serem seguidos pelos gestores do SUS. (Incluído pela Lei n° 12.401,
de 2011)
Art. 19-O. Os protocolos clínicos e as diretrizes terapêuticas deverão estabelecer os medicamentos ou pro-
dutos necessários nas diferentes fases evolutivas da doença ou do agravo à saúde de que tratam, bem como
aqueles indicados em casos de perda de eficácia e de surgimento de intolerância ou reação adversa relevante,
provocadas pelo medicamento, produto ou procedimento de primeira escolha. (Incluído pela Lei n° 12.401, de
2011)
Parágrafo único. Em qualquer caso, os medicamentos ou produtos de que trata o caput deste artigo serão
aqueles avaliados quanto à sua eficácia, segurança, efetividade e custo-efetividade para as diferentes fases
evolutivas da doença ou do agravo à saúde de que trata o protocolo. (Incluído pela Lei n° 12.401, de 2011)
Art. 19-P. Na falta de protocolo clínico ou de diretriz terapêutica, a dispensação será realizada: (Incluído pela
Lei n° 12.401, de 2011)
I - com base nas relações de medicamentos instituídas pelo gestor federal do SUS, observadas as compe-
tências estabelecidas nesta Lei, e a responsabilidade pelo fornecimento será pactuada na Comissão Interges-
tores Tripartite; (Incluído pela Lei n° 12.401, de 2011)
II - no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, de forma suplementar, com base nas relações de medi-
camentos instituídas pelos gestores estaduais do SUS, e a responsabilidade pelo fornecimento será pactuada
na Comissão Intergestores Bipartite; (Incluído pela Lei n° 12.401, de 2011)
III - no âmbito de cada Município, de forma suplementar, com base nas relações de medicamentos institu-
ídas pelos gestores municipais do SUS, e a responsabilidade pelo fornecimento será pactuada no Conselho
Municipal de Saúde. (Incluído pela Lei n° 12.401, de 2011)
Art. 19-Q. A incorporação, a exclusão ou a alteração pelo SUS de novos medicamentos, produtos e procedi-
mentos, bem como a constituição ou a alteração de protocolo clínico ou de diretriz terapêutica, são atribuições
do Ministério da Saúde, assessorado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS. (Inclu-
ído pela Lei n° 12.401, de 2011)
§ 1° A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS, cuja composição e regimento são de-
finidos em regulamento, contará com a participação de 1 (um) representante indicado pelo Conselho Nacional
de Saúde, de 1 (um) representante, especialista na área, indicado pelo Conselho Federal de Medicina e de 1
(um) representante, especialista na área, indicado pela Associação Médica Brasileira. (Redação dada pela Lei
n° 14.655, de 2023)
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§ 2°O relatório da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS levará em consideração,
necessariamente: (Incluído pela Lei n° 12.401, de 2011)
I - as evidências científicas sobre a eficácia, a acurácia, a efetividade e a segurança do medicamento, pro-
duto ou procedimento objeto do processo, acatadas pelo órgão competente para o registro ou a autorização de
uso; (Incluído pela Lei n° 12.401, de 2011)
II - a avaliação econômica comparativa dos benefícios e dos custos em relação às tecnologias já incorpora-
das, inclusive no que se refere aos atendimentos domiciliar, ambulatorial ou hospitalar, quando cabível. (Incluí-
do pela Lei n° 12.401, de 2011)
§ 3° As metodologias empregadas na avaliação econômica a que se refere o inciso II do § 2° deste artigo
serão dispostas em regulamento e amplamente divulgadas, inclusive em relação aos indicadores e parâmetros
de custo-efetividade utilizados em combinação com outros critérios. (Incluído pela Lei n° 14.313, de 2022)
Art. 19-R. A incorporação, a exclusão e a alteração a que se refere o art. 19-Q serão efetuadas mediante
a instauração de processo administrativo, a ser concluído em prazo não superior a 180 (cento e oitenta) dias,
contado da data em que foi protocolado o pedido, admitida a sua prorrogação por 90 (noventa) dias corridos,
quando as circunstâncias exigirem. (Incluído pela Lei n° 12.401, de 2011)
§ 1°O processo de que trata o caput deste artigo observará, no que couber, o disposto na Lei n° 9.784, de
29 de janeiro de 1999, e as seguintes determinações especiais: (Incluído pela Lei n° 12.401, de 2011)
I - apresentação pelo interessado dos documentos e, se cabível, das amostras de produtos, na forma do
regulamento, com informações necessárias para o atendimento do disposto no § 2o do art. 19-Q; (Incluído pela
Lei n° 12.401, de 2011)
II - (VETADO); (Incluído pela Lei n° 12.401, de 2011)
III - realização de consulta pública que inclua a divulgação do parecer emitido pela Comissão Nacional de
Incorporação de Tecnologias no SUS; (Incluído pela Lei n° 12.401, de 2011)
IV - realização de audiência pública, antes da tomada de decisão, se a relevância da matéria justificar o
evento. (Incluído pela Lei n° 12.401, de 2011)
V - distribuição aleatória, respeitadas a especialização e a competência técnica requeridas para a análise
da matéria; (Incluído pela Lei n° 14.313, de 2022)
VI - publicidade dos atos processuais. (Incluído pela Lei n° 14.313, de 2022)
§ 2°(VETADO). (Incluído pela Lei n° 12.401, de 2011)
Art. 19-S. (VETADO). (Incluído pela Lei n° 12.401, de 2011)
Art. 19-T. São vedados, em todas as esferas de gestão do SUS: (Incluído pela Lei n° 12.401, de 2011)
I - o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso de medicamento, produto e procedimento clínico ou cirúr-
gico experimental, ou de uso não autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA; (Incluído
pela Lei n° 12.401, de 2011)
II - a dispensação, o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso de medicamento e produto, nacional ou
importado, sem registro na Anvisa. (Incluído pela Lei n° 12.401, de 2011)
Parágrafo único. Excetuam-se do disposto neste artigo: (Incluído pela Lei n° 14.313, de 2022)
I - medicamento e produto em que a indicação de uso seja distinta daquela aprovada no registro na Anvisa,
desde que seu uso tenha sido recomendado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Siste-
ma Único de Saúde (Conitec), demonstradas as evidências científicas sobre a eficácia, a acurácia, a efetividade
e a segurança, e esteja padronizado em protocolo estabelecido pelo Ministério da Saúde; (Incluído pela Lei n°
14.313, de 2022)
II - medicamento e produto recomendados pela Conitec e adquiridos por intermédio de organismos multi-
laterais internacionais, para uso em programas de saúde pública do Ministério da Saúde e suas entidades vin-
culadas, nos termos do § 5° do art. 8° da Lei n° 9.782, de 26 de janeiro de 1999. (Incluído pela Lei n° 14.313,
de 2022)
51
Art. 19-U. A responsabilidade financeira pelo fornecimento de medicamentos, produtos de interesse para a
saúde ou procedimentos de que trata este Capítulo será pactuada na Comissão Intergestores Tripartite. (Inclu-
ído pela Lei n° 12.401, de 2011)
TÍTULO III
DOS SERVIÇOS PRIVADOS DE ASSISTÊNCIA À SAÙDE
CAPÍTULO I
DO FUNCIONAMENTO
Art. 20. Os serviços privados de assistência à saúde caracterizam-se pela atuação, por iniciativa própria, de
profissionais liberais, legalmente habilitados, e de pessoas jurídicas de direito privado na promoção, proteção
e recuperação da saúde.
Art. 21. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.
Art. 22. Na prestação de serviços privados de assistência à saúde, serão observados os princípios éticos e
as normas expedidas pelo órgão de direção do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto às condições para seu
funcionamento.
Art. 23. É permitida a participação direta ou indireta, inclusive controle, de empresas ou de capital estrangei-
ro na assistência à saúde nos seguintes casos: (Redação dada pela Lei n° 13.097, de 2015)
I - doações de organismos internacionais vinculados à Organização das Nações Unidas, de entidades de
cooperação técnica e de financiamento e empréstimos; (Incluído pela Lei n° 13.097, de 2015)
II - pessoas jurídicas destinadas a instalar, operacionalizar ou explorar: (Incluído pela Lei n° 13.097, de
2015)
a) hospital geral, inclusive filantrópico, hospital especializado, policlínica, clínica geral e clínica especializa-
da; e (Incluído pela Lei n° 13.097, de 2015)
b) ações e pesquisas de planejamento familiar; (Incluído pela Lei n° 13.097, de 2015)
III - serviços de saúde mantidos, sem finalidade lucrativa, por empresas, para atendimento de seus empre-
gados e dependentes, sem qualquer ônus para a seguridade social; e (Incluído pela Lei n° 13.097, de 2015)
IV - demais casos previstos em legislação específica. (Incluído pela Lei n° 13.097, de 2015)
CAPÍTULO II
DA PARTICIPAÇÃO COMPLEMENTAR
Art. 24. Quando as suas disponibilidades forem insuficientes para garantir a cobertura assistencial à popu-
lação de uma determinada área, o Sistema Único de Saúde (SUS) poderá recorrer aos serviços ofertados pela
iniciativa privada.
Parágrafo único. A participação complementar dos serviços privados será formalizada mediante contrato ou
convênio, observadas, a respeito, as normas de direito público.
Art. 25. Na hipótese do artigo anterior, as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos terão preferência
para participar do Sistema Único de Saúde (SUS).
Art. 26. Os critérios e valores para a remuneração de serviços e os parâmetros de cobertura assistencial
serão estabelecidos pela direção nacional do Sistema Único de Saúde (SUS), aprovados no Conselho Nacional
de Saúde.
§ 1° Na fixação dos critérios, valores, formas de reajuste e de pagamento da remuneração aludida neste
artigo, a direção nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) deverá fundamentar seu ato em demonstrativo
econômico-financeiro que garanta a efetiva qualidade de execução dos serviços contratados.
§ 2° Os serviços contratados submeter-se-ão às normas técnicas e administrativas e aos princípios e dire-
trizes do Sistema Único de Saúde (SUS), mantido o equilíbrio econômico e financeiro do contrato.
§ 3 (Vetado).
52
§ 4° Aos proprietários, administradores e dirigentes de entidades ou serviços contratados é vedado exercer
cargo de chefia ou função de confiança no Sistema Único de Saúde (SUS).
TÍTULO III-A
(INCLUÍDO PELA LEI N° 14.510, DE 2022)
DA TELESSAÚDE
Art. 26-A. A tele saúde abrange a prestação remota de serviços relacionados a todas as profissões da área
da saúde regulamentadas pelos órgãos competentes do Poder Executivo federal e obedecerá aos seguintes
princípios: (Incluído pela Lei n° 14.510, de 2022)
I - autonomia do profissional de saúde; (Incluído pela Lei n° 14.510, de 2022)
II - consentimento livre e informado do paciente;
III - direito de recusa ao atendimento na modalidade tele saúde, com a garantia do atendimento presencial
sempre que solicitado; (Incluído pela Lei n° 14.510, de 2022)
IV - dignidade e valorização do profissional de saúde; (Incluído pela Lei n° 14.510, de 2022)
V - assistência segura e com qualidade ao paciente; (Incluído pela Lei n° 14.510, de 2022)
VI - confidencialidade dos dados; (Incluído pela Lei n° 14.510, de 2022)
VII - promoção da universalização do acesso dos brasileiros às ações e aos serviços de saúde; (Incluído
pela Lei n° 14.510, de 2022)
VIII - estrita observância das atribuições legais de cada profissão; (Incluído pela Lei n° 14.510, de 2022)
IX - responsabilidade digital. (Incluído pela Lei n° 14.510, de 2022)
Art. 26-B. Para fins desta Lei, considera-se tele saúde a modalidade de prestação de serviços de saúde a
distância, por meio da utilização das tecnologias da informação e da comunicação, que envolve, entre outros,
a transmissão segura de dados e informações de saúde, por meio de textos, de sons, de imagens ou outras
formas adequadas. (Incluído pela Lei n° 14.510, de 2022)
Parágrafo único. Os atos do profissional de saúde, quando praticados na modalidade tele saúde, terão va-
lidade em todo o território nacional. (Incluído pela Lei n° 14.510, de 2022)
Art. 26-C. Ao profissional de saúde são asseguradas a liberdade e a completa independência de decidir
sobre a utilização ou não da tele saúde, inclusive com relação à primeira consulta, atendimento ou procedimen-
to, e poderá indicar a utilização de atendimento presencial ou optar por ele, sempre que entender necessário.
(Incluído pela Lei n° 14.510, de 2022)
Art. 26-D. Compete aos conselhos federais de fiscalização do exercício profissional a normatização ética
relativa à prestação dos serviços previstos neste Título, aplicando-se os padrões normativos adotados para as
modalidades de atendimento presencial, no que não colidirem com os preceitos desta Lei. (Incluído pela Lei n°
14.510, de 2022)
Art. 26-E. Na prestação de serviços por tele saúde, serão observadas as normas expedidas pelo órgão de
direção do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto às condições para seu funcionamento, observada a compe-
tência dos demais órgãos reguladores. (Incluído pela Lei n° 14.510, de 2022)
Art. 26-F. O ato normativo que pretenda restringir a prestação de serviço de tele saúde deverá demonstrar
a imprescindibilidade da medida para que sejam evitados danos à saúde dos pacientes. (Incluído pela Lei n°
14.510, de 2022)
Art. 26-G. A prática da tele saúde deve seguir as seguintes determinações: (Incluído pela Lei n° 14.510, de
2022)
I - ser realizada por consentimento livre e esclarecido do paciente, ou de seu representante legal, e sob
responsabilidade do profissional de saúde; (Incluído pela Lei n° 14.510, de 2022)
53
II - prestar obediência aos ditames das Leis n°s 12.965, de 23 de abril de 2014 (Marco Civil da Internet),
12.842, de 10 de julho de 2013 (Lei do Ato Médico), 13.709, de 14 de agosto de 2018 (Lei Geral de Proteção
de Dados), 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor) e, nas hipóteses cabíveis,
aos ditames da Lei n° 13.787, de 27 de dezembro de 2018 (Lei do Prontuário Eletrônico). (Incluído pela Lei n°
14.510, de 2022)
Art. 26-H. É dispensada a inscrição secundária ou complementar do profissional de saúde que exercer a
profissão em outra jurisdição exclusivamente por meio da modalidade tele saúde. (Incluído pela Lei n° 14.510,
de 2022)
TÍTULO IV
DOS RECURSOS HUMANOS
Art. 27. A política de recursos humanos na área da saúde será formalizada e executada, articuladamente,
pelas diferentes esferas de governo, em cumprimento dos seguintes objetivos:
I - organização de um sistema de formação de recursos humanos em todos os níveis de ensino, inclusive de
pós-graduação, além da elaboração de programas de permanente aperfeiçoamento de pessoal;
II - (Vetado)
III - (Vetado)
IV - valorização da dedicação exclusiva aos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS).
Parágrafo único. Os serviços públicos que integram o Sistema Único de Saúde (SUS) constituem campo
de prática para ensino e pesquisa, mediante normas específicas, elaboradas conjuntamente com o sistema
educacional.
Art. 28. Os cargos e funções de chefia, direção e assessoramento, no âmbito do Sistema Único de Saúde
(SUS), só poderão ser exercidas em regime de tempo integral.
§ 1° Os servidores que legalmente acumulam dois cargos ou empregos poderão exercer suas atividades em
mais de um estabelecimento do Sistema Único de Saúde (SUS).
§ 2° O disposto no parágrafo anterior aplica-se também aos servidores em regime de tempo integral, com
exceção dos ocupantes de cargos ou função de chefia, direção ou assessoramento.
Art. 29. (Vetado).
Art. 30. As especializações na forma de treinamento em serviço sob supervisão serão regulamentadas por
Comissão Nacional, instituída de acordo com o art. 12 desta Lei, garantida a participação das entidades profis-
sionais correspondentes.
TÍTULO V
DO FINANCIAMENTO
CAPÍTULO I
DOS RECURSOS
Art. 31. O orçamento da seguridade social destinará ao Sistema Único de Saúde (SUS) de acordo com a
receita estimada, os recursos necessários à realização de suas finalidades, previstos em proposta elaborada
pela sua direção nacional, com a participação dos órgãos da Previdência Social e da Assistência Social, tendo
em vista as metas e prioridades estabelecidas na Lei de Diretrizes Orçamentárias.
Art. 32. São considerados de outras fontes os recursos provenientes de:
I -(Vetado)
II - Serviços que possam ser prestados sem prejuízo da assistência à saúde;
III - ajuda, contribuições, doações e donativos;
IV - alienações patrimoniais e rendimentos de capital;
V - taxas, multas, emolumentos e preços públicos arrecadados no âmbito do Sistema Único de Saúde
(SUS); e
54
VI - rendas eventuais, inclusive comerciais e industriais.
§ 1° Ao Sistema Único de Saúde (SUS) caberá metade da receita de que trata o inciso I deste artigo, apu-
rada mensalmente, a qual será destinada à recuperação de viciados.
§ 2° As receitas geradas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) serão creditadas diretamente em
contas especiais, movimentadas pela sua direção, na esfera de poder onde forem arrecadadas.
§ 3° As ações de saneamento que venham a ser executadas supletivamente pelo Sistema Único de Saúde
(SUS), serão financiadas por recursos tarifários específicos e outros da União, Estados, Distrito Federal, Muni-
cípios e, em particular, do Sistema Financeiro da Habitação (SFH).
§ 4 (Vetado).
§ 5° As atividades de pesquisa e desenvolvimento científico e tecnológico em saúde serão cofinanciadas
pelo Sistema Único de Saúde (SUS), pelas universidades e pelo orçamento fiscal, além de recursos de institui-
ções de fomento e financiamento ou de origem externa e receita própria das instituições executoras.
§ 6 (Vetado).
CAPÍTULO II
DA GESTÃO FINANCEIRA
Art. 33. Os recursos financeiros do Sistema Único de Saúde (SUS) serão depositados em conta especial,
em cada esfera de sua atuação, e movimentados sob fiscalização dos respectivos Conselhos de Saúde.
§ 1° Na esfera federal, os recursos financeiros, originários do Orçamento da Seguridade Social, de outros
Orçamentos da União, além de outras fontes, serão administrados pelo Ministério da Saúde, através do Fundo
Nacional de Saúde.
§ 2 (Vetado).
§ 3 (Vetado).
§ 4° O Ministério da Saúde acompanhará, através de seu sistema de auditoria, a conformidade à progra-
mação aprovada da aplicação dos recursos repassados a Estados e Municípios. Constatada a malversação,
desvio ou não aplicação dos recursos, caberá ao Ministério da Saúde aplicar as medidas previstas em lei.
Art. 34. As autoridades responsáveis pela distribuição da receita efetivamente arrecadada transferirão au-
tomaticamente ao Fundo Nacional de Saúde (FNS), observado o critério do parágrafo único deste artigo, os
recursos financeiros correspondentes às dotações consignadas no Orçamento da Seguridade Social, a projetos
e atividades a serem executados no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
Parágrafo único. Na distribuição dos recursos financeiros da Seguridade Social será observada a mesma
proporção da despesa prevista de cada área, no Orçamento da Seguridade Social.
Art. 35. Para o estabelecimento de valores a serem transferidos a Estados, Distrito Federal e Municípios,
será utilizada a combinação dos seguintes critérios, segundo análise técnica de programas e projetos:
I - perfil demográfico da região;
II - perfil epidemiológico da população a ser coberta;
III - características quantitativas e qualitativas da rede de saúde na área;
IV - desempenho técnico, econômico e financeiro no período anterior;
V - níveis de participação do setor saúde nos orçamentos estaduais e municipais;
VI - previsão do plano quinquenal de investimentos da rede;
VII - ressarcimento do atendimento a serviços prestados para outras esferas de governo.
§ 1° (Revogado pela Lei Complementar n° 141, de 2012)
§ 2° Nos casos de Estados e Municípios sujeitos a notório processo de migração, os critérios demográficos
mencionados nesta lei serão ponderados por outros indicadores de crescimento populacional, em especial o
número de eleitores registrados.
55
§ 3 (Vetado).
§ 4 (Vetado).
§ 5 (Vetado).
§ 6° O disposto no parágrafo anterior não prejudica a atuação dos órgãos de controle interno e externo e
nem a aplicação de penalidades previstas em lei, em caso de irregularidades verificadas na gestão dos recur-
sos transferidos.
CAPÍTULO III
DO PLANEJAMENTO E DO ORÇAMENTO
Art. 36. O processo de planejamento e orçamento do Sistema Único de Saúde (SUS) será ascendente, do
nível local até o federal, ouvidos seus órgãos deliberativos, compatibilizando-se as necessidades da política de
saúde com a disponibilidade de recursos em planos de saúde dos Municípios, dos Estados, do Distrito Federal
e da União.
§ 1° Os planos de saúde serão a base das atividades e programações de cada nível de direção do Sistema
Único de Saúde (SUS), e seu financiamento será previsto na respectiva proposta orçamentária.
§ 2° É vedada a transferência de recursos para o financiamento de ações não previstas nos planos de saú-
de, exceto em situações emergenciais ou de calamidade pública, na área de saúde.
Art. 37. O Conselho Nacional de Saúde estabelecerá as diretrizes a serem observadas na elaboração dos
planos de saúde, em função das características epidemiológicas e da organização dos serviços em cada juris-
dição administrativa.
Art. 38. Não será permitida a destinação de subvenções e auxílios a instituições prestadoras de serviços de
saúde com finalidade lucrativa.
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 39. (Vetado).
§ 1 (Vetado).
§ 2 (Vetado).
§ 3 (Vetado).
§ 4 (Vetado).
§ 5° A cessão de uso dos imóveis de propriedade do Inamps para órgãos integrantes do Sistema Único de
Saúde (SUS) será feita de modo a preservá-los como patrimônio da Seguridade Social.
§ 6° Os imóveis de que trata o parágrafo anterior serão inventariados com todos os seus acessórios, equipa-
mentos e outros bens móveis e ficarão disponíveis para utilização pelo órgão de direção municipal do Sistema
Único de Saúde - SUS ou, eventualmente, pelo estadual, em cuja circunscrição administrativa se encontrem,
mediante simples termo de recebimento.
§ 7 (Vetado).
§ 8 O acesso aos serviços de informática e bases de dados, mantidos pelo Ministério da Saúde e pelo Mi-
nistério do Trabalho e da Previdência Social, será assegurado às Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde
ou órgãos congêneres, como suporte ao processo de gestão, de forma a permitir a gerencia informatizada das
contas e a disseminação de estatísticas sanitárias e epidemiológicas médico-hospitalares.
Art. 40.(Vetado)
Art. 41. As ações desenvolvidas pela Fundação das Pioneiras Sociais e pelo Instituto Nacional do Câncer,
supervisionadas pela direção nacional do Sistema Único de Saúde (SUS), permanecerão como referencial de
prestação de serviços, formação de recursos humanos e para transferência de tecnologia.
Art. 42.(Vetado).
Art. 43. A gratuidade das ações e serviços de saúde fica preservada nos serviços públicos contratados, res-
salvando-se as cláusulas dos contratos ou convênios estabelecidos com as entidades privadas.
56
Art. 44.(Vetado).
Art. 45. Os serviços de saúde dos hospitais universitários e de ensino integram-se ao Sistema Único de
Saúde (SUS), mediante convênio, preservada a sua autonomia administrativa, em relação ao patrimônio, aos
recursos humanos e financeiros, ensino, pesquisa e extensão nos limites conferidos pelas instituições a que
estejam vinculados.
§ 1° Os serviços de saúde de sistemas estaduais e municipais de previdência social deverão integrar-se à
direção correspondente do Sistema Único de Saúde (SUS), conforme seu âmbito de atuação, bem como quais-
quer outros órgãos e serviços de saúde.
§ 2° Em tempo de paz e havendo interesse recíproco, os serviços de saúde das Forças Armadas poderão in-
tegrar-se ao Sistema Único de Saúde (SUS), conforme se dispuser em convênio que, para esse fim, for firmado.
Art. 46. o Sistema Único de Saúde (SUS), estabelecerá mecanismos de incentivos à participação do setor
privado no investimento em ciência e tecnologia e estimulará a transferência de tecnologia das universidades
e institutos de pesquisa aos serviços de saúde nos Estados, Distrito Federal e Municípios, e às empresas na-
cionais.
Art. 47. O Ministério da Saúde, em articulação com os níveis estaduais e municipais do Sistema Único de
Saúde (SUS), organizará, no prazo de dois anos, um sistema nacional de informações em saúde, integrado em
todo o território nacional, abrangendo questões epidemiológicas e de prestação de serviços.
Art. 48.(Vetado).
Art. 49.(Vetado).
Art. 50. Os convênios entre a União, os Estados e os Municípios, celebrados para implantação dos Sistemas
Unificados e Descentralizados de Saúde, ficarão rescindidos à proporção que seu objeto for sendo absorvido
pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Art. 51.(Vetado).
Art. 52. Sem prejuízo de outras sanções cabíveis, constitui crime de emprego irregular de verbas ou rendas
públicas (Código Penal, art. 315) a utilização de recursos financeiros do Sistema Único de Saúde (SUS) em
finalidades diversas das previstas nesta lei.
Art. 53.(Vetado).
Art. 53-A. Na qualidade de ações e serviços de saúde, as atividades de apoio à assistência à saúde são
aquelas desenvolvidas pelos laboratórios de genética humana, produção e fornecimento de medicamentos e
produtos para saúde, laboratórios de analises clínicas, anatomia patológica e de diagnóstico por imagem e são
livres à participação direta ou indireta de empresas ou de capitais estrangeiros. (Incluído pela Lei n° 13.097, de
2015)
Art. 54. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 55. São revogadas a Lei n°. 2.312, de 3 de setembro de 1954, a Lei n°. 6.229, de 17 de julho de 1975,
e demais disposições em contrário.
Brasília, 19 de setembro de 1990; 169° da Independência e 102° da República.
57
354 da Anvisa, de 11 de agosto de 2006, republicada no DOU de 21 de agosto de 2006, em reunião realizada
em 24 de novembro de 2011, adota a seguinte Resolução da Diretoria Colegiada e eu, Diretora- Presidente
Substituta, determino a sua publicação:
Art. 1º Fica aprovado o Regulamento Técnico que estabelece os Requisitos de Boas Práticas para Funcio-
namento de Serviços de Saúde, nos termos desta Resolução.
CAPÍTULO I
DAS DISPOSIÇÕES INICIAIS
SEÇÃO I
OBJETIVO
Art. 2º Este Regulamento Técnico possui o objetivo de estabelecer requisitos de Boas Práticas para funcio-
namento de serviços de saúde, fundamentados na qualificação, na humanização da atenção e gestão, e na
redução e controle de riscos aos usuários e meio ambiente.
SEÇÃO II
ABRANGÊNCIA
Art. 3º Este Regulamento Técnico se aplica a todos os serviços de saúde no país, sejam eles públicos, pri-
vados, filantrópicos, civis ou militares, incluindo aqueles que exercem ações de ensino e pesquisa.
SEÇÃO III
DEFINIÇÕES
Art. 4º Para efeito deste Regulamento Técnico são adotadas as seguintes definições:
I - garantia da qualidade: totalidade das ações sistemáticas necessárias para garantir que os serviços pres-
tados estejam dentro dos padrões de qualidade exigidos, para os fins a que se propõem;
II - gerenciamento de tecnologias: procedimentos de gestão, planejados e implementados a partir de bases
científicas e técnicas, normativas e legais, com o objetivo de garantir a rastreabilidade, qualidade, eficácia,
efetividade, segurança e em alguns casos o desempenho das tecnologias de saúde utilizadas na prestação de
serviços de saúde, abrangendo cada etapa do gerenciamento, desde o planejamento e entrada das tecnologias
no estabelecimento de saúde até seu descarte, visando à proteção dos trabalhadores, a preservação da saúde
pública e do meio ambiente e a segurança do paciente;
III - humanização da atenção e gestão da saúde: valorização da dimensão subjetiva e social, em todas as
práticas de atenção e de gestão da saúde, fortalecendo o compromisso com os direitos do cidadão, destacan-
do-se o respeito às questões de gênero, etnia, raça, orientação sexual e às populações específicas, garantindo
o acesso dos usuários às informações sobre saúde, inclusive sobre os profissionais que cuidam de sua saúde,
respeitando o direito a acompanhamento de pessoas de sua rede social (de livre escolha), e a valorização do
trabalho e dos trabalhadores;
IV - licença atualizada: documento emitido pelo órgão sanitário competente dos Estados, Distrito Federal ou
dos Municípios, contendo permissão para o funcionamento dos estabelecimentos que exerçam atividades sob
regime de vigilância sanitária;
V - Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS): documento que aponta e descre-
ve as ações relativas ao manejo dos resíduos sólidos, observadas suas características e riscos, no âmbito dos
estabelecimentos de saúde, contemplando os aspectos referentes à geração, segregação, acondicionamento,
coleta, armazenamento, transporte, tratamento e disposição final, bem como as ações de proteção à saúde
pública e ao meio ambiente.
VI - política de qualidade: refere-se às intenções e diretrizes globais relativas à qualidade, formalmente ex-
pressa e autorizada pela direção do serviço de saúde.
VII - profissional legalmente habilitado: profissional com formação superior ou técnica com suas competên-
cias atribuídas por lei;
58
VIII - prontuário do paciente: documento único, constituído de um conjunto de informações, sinais e imagens
registrados, gerados a partir de fatos, acontecimentos e situações sobre a saúde do paciente e a assistência
a ele prestada, de caráter legal, sigiloso e científico, que possibilita a comunicação entre membros da equipe
multiprofissional e a continuidade da assistência prestada ao indivíduo;
IX - relatório de transferência: documento que deve acompanhar o paciente em caso de remoção para outro
serviço, contendo minimamente dados de identificação, resumo clínico com dados que justifiquem a transferên-
cia e descrição ou cópia de laudos de exames realizados, quando existentes;
X - responsável técnico - RT: profissional de nível superior legalmente habilitado, que assume perante a
vigilância sanitária a
responsabilidade técnica pelo serviço de saúde, conforme legislação vigente;
XI - segurança do Paciente: conjunto de ações voltadas à proteção do paciente contra riscos, eventos adver-
sos e danos desnecessários durante a atenção prestada nos serviços de saúde.
XII - serviço de saúde: estabelecimento de saúde destinado a prestar assistência à população na prevenção
de doenças, no tratamento, recuperação e na reabilitação de pacientes.
CAPÍTULO II
DAS BOAS PRÁTICAS DE FUNCIONAMENTO
SEÇÃO I
DO GERENCIAMENTO DA QUALIDADE
Art. 5º O serviço de saúde deve desenvolver ações no sentido de estabelecer uma política de qualidade
envolvendo estrutura, processo e resultado na sua gestão dos serviços.
Parágrafo único. O serviço de saúde deve utilizar a Garantia da Qualidade como ferramenta de gerencia-
mento.
Art. 6º As Boas Práticas de Funcionamento (BPF) são os componentes da Garantia da Qualidade que asse-
guram que os serviços são ofertados com padrões de qualidade adequados.
§ 1º As BPF são orientadas primeiramente à redução dos riscos inerentes a prestação de serviços de saúde.
§ 2º Os conceitos de Garantia da Qualidade e Boas Práticas de Funcionamento (BPF) estão inter-relaciona-
dos estando descritos nesta resolução de forma a enfatizar as suas relações e sua importância para o funcio-
namento dos serviços de saúde.
Art. 7º As BPF determinam que:
I- o serviço de saúde deve ser capaz de ofertar serviços dentro dos padrões de qualidade exigidos, atenden-
do aos requisitos
das legislações e regulamentos vigentes.
II - o serviço de saúde deve fornecer todos os recursos necessários, incluindo:
a) quadro de pessoal qualificado, devidamente treinado e identificado;
b) ambientes identificados;
c) equipamentos, materiais e suporte logístico; e
d) procedimentos e instruções aprovados e vigentes.
III - as reclamações sobre os serviços oferecidos devem ser examinadas, registradas e as causas dos des-
vios da qualidade, investigadas e documentadas, devendo ser tomadas medidas com relação aos serviços com
desvio da qualidade e adotadas as providências no sentido de prevenir reincidências.
59
SEÇÃO II
DA SEGURANÇA DO PACIENTE
Art. 8º O serviço de saúde deve estabelecer estratégias e ações voltadas para Segurança do Paciente, tais
como:
I. Mecanismos de identificação do paciente;
II. Orientações para a higienização das mãos;
III. Ações de prevenção e controle de eventos adversos relacionada à assistência à saúde;
IV. Mecanismos para garantir segurança cirúrgica;
V. Orientações para administração segura de medicamentos, sangue e hemocomponentes;
VI. Mecanismos para prevenção de quedas dos pacientes;
VII. Mecanismos para a prevenção de úlceras por pressão;
VIII. Orientações para estimular a participação do paciente na assistência prestada.
SEÇÃO III
DAS CONDIÇÕES ORGANIZACIONAIS
Art. 9º O serviço de saúde deve possuir regimento interno ou documento equivalente, atualizado, contem-
plando a definição e a descrição de todas as suas atividades técnicas, administrativas e assistenciais, respon-
sabilidades e competências.
Art. 10. Os serviços objeto desta resolução devem possuir licença atualizada de acordo com a legislação
sanitária local, afixada em local visível ao público.
Parágrafo único. Os estabelecimentos integrantes da Administração Pública ou por ela instituídos indepen-
dem da licença para funcionamento, ficando sujeitos, porém, às exigências pertinentes às instalações, aos
equipamentos e à aparelhagem adequada e à assistência e responsabilidade técnicas, aferidas por meio de
fiscalização realizada pelo órgão sanitário local.
Art. 11. Os serviços e atividades terceirizadas pelos estabelecimentos de saúde devem possuir contrato de
prestação de serviços.
§ 1º Os serviços e atividades terceirizados devem estar regularizados perante a autoridade sanitária compe-
tente, quando couber.
§ 2º A licença de funcionamento dos serviços e atividades terceirizados deve conter informação sobre a sua
habilitação para atender serviços de saúde, quando couber.
Art. 12. O atendimento dos padrões sanitários estabelecidos por este regulamento técnico não isenta o ser-
viço de saúde do cumprimento dos demais instrumentos normativos aplicáveis.
Art. 13. O serviço de saúde deve estar inscrito e manter seus dados atualizados no Cadastro Nacional de
Estabelecimentos de Saúde - CNES.
Art. 14. O serviço de saúde deve ter um responsável técnico (RT) e um substituto.
Parágrafo único. O órgão sanitário competente deve ser notificado sempre que houver alteração de respon-
sável técnico ou de seu substituto.
Art. 15. As unidades funcionais do serviço de saúde devem ter um profissional responsável conforme defini-
do em legislações e regulamentos específicos.
Art. 16. O serviço de saúde deve possuir profissional legalmente habilitado que responda pelas questões
operacionais durante o seu período de funcionamento.
Parágrafo único. Este profissional pode ser o próprio RT ou técnico designado para tal fim.
Art. 17. O serviço de saúde deve prover infraestrutura física, recursos humanos, equipamentos, insumos e
materiais necessários à operacionalização do serviço de acordo com a demanda, modalidade de assistência
prestada e a legislação vigente.
60
Art. 18. A direção e o responsável técnico do serviço de saúde têm a responsabilidade de planejar, implantar
e garantir a qualidade dos processos.
Art. 19. O serviço de saúde deve possuir mecanismos que garantam a continuidade da atenção ao paciente
quando houver necessidade de remoção ou para realização de exames que não existam no próprio serviço.
Parágrafo único. Todo paciente removido deve ser acompanhado por relatório completo, legível, com iden-
tificação e assinatura do profissional assistente, que deve passar a integrar o prontuário no destino, permane-
cendo cópia no prontuário de origem.
Art. 20. O serviço de saúde deve possuir mecanismos que garantam o funcionamento de Comissões, Comi-
tês e Programas estabelecidos em legislações e normatizações vigentes.
Art. 21. O serviço de saúde deve garantir mecanismos para o controle de acesso dos trabalhadores, pacien-
tes, acompanhantes e visitantes.
Art. 22. O serviço de saúde deve garantir mecanismos de identificação dos trabalhadores, pacientes, acom-
panhantes e visitantes.
Art. 23. O serviço de saúde deve manter disponível, segundo o seu tipo de atividade, documentação e re-
gistro referente à:
I - Projeto Básico de Arquitetura (PBA) aprovado pela vigilância sanitária competente.
II - controle de saúde ocupacional;
III - educação permanente;
IV - comissões, comitês e programas;
V - contratos de serviços terceirizados;
VI - controle de qualidade da água;
VII - manutenção preventiva e corretiva da edificação e instalações;
VIII - controle de vetores e pragas urbanas;
IX - manutenção corretiva e preventiva dos equipamentos e instrumentos;
X - Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde;
XI - nascimentos;
XII - óbitos;
XIII - admissão e alta;
XIV - eventos adversos e queixas técnicas associadas a produtos ou serviços;
XV - monitoramento e relatórios específicos de controle de infecção;
XVI - doenças de Notificação Compulsória;
XVII - indicadores previstos nas legislações vigentes;
XVIII - normas, rotinas e procedimentos;
XIX - demais documentos exigidos por legislações específicas dos estados, Distrito Federal e municípios.
SEÇÃO IV
DO PRONTUÁRIO DO PACIENTE
Art. 24. A responsabilidade pelo registro em prontuário cabe aos profissionais de saúde que prestam o aten-
dimento.
Art. 25. A guarda do prontuário é de responsabilidade do serviço de saúde devendo obedecer às normas
vigentes.
§ 1º O serviço de saúde deve assegurar a guarda dos prontuários no que se refere à confidencialidade e
integridade.
61
§ 2º O serviço de saúde deve manter os prontuários em local seguro, em boas condições de conservação e
organização, permitindo o seu acesso sempre que necessário.
Art. 26. O serviço de saúde deve garantir que o prontuário contenha registros relativos à identificação e a
todos os procedimentos prestados ao paciente.
Art. 27. O serviço de saúde deve garantir que o prontuário seja preenchido de forma legível por todos os
profissionais envolvidos diretamente na assistência ao paciente, com aposição de assinatura e carimbo em
caso de prontuário em meio físico.
Art. 28. Os dados que compõem o prontuário pertencem ao paciente e devem estar permanentemente dis-
poníveis aos mesmos ou aos seus representantes legais e à autoridade sanitária quando necessário.
SEÇÃO V
DA GESTÃO DE PESSOAL
Art. 29. As exigências referentes aos recursos humanos do serviço de saúde incluem profissionais de todos
os níveis de escolaridade, de quadro próprio ou terceirizado.
Art. 30. O serviço de saúde deve possuir equipe multiprofissional dimensionada de acordo com seu perfil de
demanda.
Art.31. O serviço de saúde deve manter disponíveis registros de formação e qualificação dos profissionais
compatíveis com as funções desempenhadas.
Parágrafo único. O serviço de saúde deve possuir documentação referente ao registro dos profissionais em
conselhos de classe, quando for o caso.
Art. 32. O serviço de saúde deve promover a capacitação de seus profissionais antes do início das atividades
e de forma permanente em conformidade com as atividades desenvolvidas.
Parágrafo único. As capacitações devem ser registradas contendo data, horário, carga horária, conteúdo
ministrado, nome e a formação ou capacitação profissional do instrutor e dos trabalhadores envolvidos.
Art. 33. A capacitação de que trata o artigo anterior deve ser adaptada à evolução do conhecimento e a iden-
tificação de novos riscos e deve incluir:
I - os dados disponíveis sobre os riscos potenciais à saúde;
II - medidas de controle que minimizem a exposição aos agentes;
III - normas e procedimentos de higiene;
IV - utilização de equipamentos de proteção coletiva, individual e vestimentas de trabalho;
V - medidas para a prevenção de acidentes e incidentes;
VI - medidas a serem adotadas pelos trabalhadores no caso de ocorrência de acidentes e incidentes;
VII - temas específicos de acordo com a atividade desenvolvida pelo profissional.
SEÇÃO VI
DA GESTÃO DE INFRAESTRUTURA
Art. 34. O serviço de saúde deve ter seu projeto básico de arquitetura atualizado, em conformidade com as
atividades desenvolvidas e aprovado pela vigilância sanitária e demais órgãos competentes.
Art. 35. As instalações prediais de água, esgoto, energia elétrica, gases, climatização, proteção e combate
a incêndio, comunicação e outras existentes, devem atender às exigências dos códigos de obras e posturas
locais, assim como normas técnicas pertinentes a cada uma das instalações.
Art. 36. O serviço de saúde deve manter as instalações físicas dos ambientes externos e internos em boas
condições de conservação, segurança, organização, conforto e limpeza.
Art. 37. O serviço de saúde deve executar ações de gerenciamento dos riscos de acidentes inerentes às
atividades desenvolvidas.
62
Art. 38 O serviço de saúde deve ser dotado de iluminação e ventilação compatíveis com o desenvolvimento
das suas atividades.
Art. 39. O serviço de saúde deve garantir a qualidade da água necessária ao funcionamento de suas unida-
des.
§ 1º O serviço de saúde deve garantir a limpeza dos reservatórios de água a cada seis meses.
§ 2º O serviço de saúde deve manter registro da capacidade e da limpeza periódica dos reservatórios de
água.
Art. 40. O serviço de saúde deve garantir a continuidade do fornecimento de água, mesmo em caso de inter-
rupção do fornecimento pela concessionária, nos locais em que a água é considerada insumo crítico.
Art. 41. O serviço de saúde deve garantir a continuidade do fornecimento de energia elétrica, em situações
de interrupção do fornecimento pela concessionária, por meio de sistemas de energia elétrica de emergência,
nos locais em que a energia elétrica é considerada insumo crítico.
Art. 42. O serviço de saúde deve realizar ações de manutenção preventiva e corretiva das instalações pre-
diais, de forma própria ou terceirizada.
SEÇÃO VII
DA PROTEÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR
Art. 43. O serviço de saúde deve garantir mecanismos de orientação sobre imunização contra tétano, difte-
ria, hepatite B e contra outros agentes biológicos a que os trabalhadores possam estar expostos.
Art. 44. O serviço de saúde deve garantir que os trabalhadores sejam avaliados periodicamente em relação
à saúde ocupacional mantendo registros desta avaliação.
Art. 45. O serviço de saúde deve garantir que os trabalhadores com agravos agudos à saúde ou com lesões
nos membros superiores só iniciem suas atividades após avaliação médica.
Art. 46. O serviço de saúde deve garantir que seus trabalhadores com possibilidade de exposição a agentes
biológicos, físicos ou químicos utilizem vestimentas para o trabalho, incluindo calçados, compatíveis com o
risco e em condições de conforto.
§ 1º Estas vestimentas podem ser próprias do trabalhador ou fornecidas pelo serviço de saúde.
§ 2º O serviço de saúde é responsável pelo fornecimento e pelo processamento das vestimentas utilizadas
nos centros cirúrgicos e obstétricos, nas unidades de tratamento intensivo, nas unidades de isolamento e cen-
trais de material esterilizado.
Art. 47. O serviço de saúde deve garantir mecanismos de prevenção dos riscos de acidentes de trabalho,
incluindo o fornecimento de Equipamentos de Proteção Individual - EPI, em número suficiente e compatível
com as atividades desenvolvidas pelos trabalhadores.
Parágrafo único. Os trabalhadores não devem deixar o local de trabalho com os equipamentos de proteção
individual
Art. 48. O serviço de saúde deve manter registro das comunicações de acidentes de trabalho.
Art. 49. Em serviços de saúde com mais de vinte trabalhadores é obrigatória a instituição de Comissão Inter-
na de Prevenção de Acidentes - CIPA.
Art. 50. O Serviço de Saúde deve manter disponível a todos os trabalhadores:
I - Normas e condutas de segurança biológica, química, física, ocupacional e ambiental;
II - Instruções para uso dos Equipamentos de Proteção Individual - EPI;
III - Procedimentos em caso de incêndios e acidentes;
IV - Orientação para manuseio e transporte de produtos para saúde contaminados.
63
SEÇÃO VIII
DA GESTÃO DE TECNOLOGIAS E PROCESSOS
Art. 51. O serviço de saúde deve dispor de normas, procedimentos e rotinas técnicas escritas e atualizadas,
de todos os seus processos de trabalho em local de fácil acesso a toda a equipe.
Art. 52. O serviço de saúde deve manter os ambientes limpos, livres de resíduos e odores incompatíveis com
a atividade, devendo atender aos critérios de criticidade das áreas.
Art. 53. O serviço de saúde deve garantir a disponibilidade dos equipamentos, materiais, insumos e medica-
mentos de acordo com a complexidade do serviço e necessários ao atendimento da demanda.
Art. 54. O serviço de saúde deve realizar o gerenciamento de suas tecnologias de forma a atender as neces-
sidades do serviço mantendo as condições de seleção, aquisição, armazenamento, instalação, funcionamento,
distribuição, descarte e rastreabilidade.
Art. 55. O serviço de saúde deve garantir que os materiais e equipamentos sejam utilizados exclusivamente
para os fins a que se destinam.
Art. 56. O serviço de saúde deve garantir que os colchões, colchonetes e demais mobiliários almofadados
sejam revestidos de material lavável e impermeável, não apresentando furos, rasgos, sulcos e reentrâncias.
Art. 57. O serviço de saúde deve garantir a qualidade dos processos de desinfecção e esterilização de equi-
pamentos e materiais.
Art. 58. O serviço de saúde deve garantir que todos os usuários recebam suporte imediato a vida quando
necessário.
Art. 59. O serviço de saúde deve disponibilizar os insumos, produtos e equipamentos necessários para as
práticas de higienização de mãos dos trabalhadores, pacientes, acompanhantes e visitantes.
Art. 60. O serviço de saúde que preste assistência nutricional ou forneça refeições deve garantir a qualidade
nutricional e a segurança dos alimentos.
Art. 61. O serviço de saúde deve informar aos órgãos competentes sobre a suspeita de doença de notifica-
ção compulsória conforme o estabelecido em legislação e regulamentos vigentes.
Art. 62. O serviço de saúde deve calcular e manter o registro referente aos Indicadores previstos nas legis-
lações vigentes.
SEÇÃO IX
DO CONTROLE INTEGRADO DE VETORES E PRAGAS URBANAS
Art. 63. O serviço de saúde deve garantir ações eficazes e contínuas de controle de vetores e pragas urba-
nas, com o objetivo de impedir a atração, o abrigo, o acesso e ou proliferação dos mesmos.
Parágrafo único. O controle químico, quando for necessário, deve ser realizado por empresa habilitada e
possuidora de licença sanitária e ambiental e com produtos desinfetantes regularizados pela Anvisa.
Art. 64. Não é permitido comer ou guardar alimentos nos postos de trabalho destinados à execução de pro-
cedimentos de saúde.
CAPÍTULO III
DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
Art. 65. Os estabelecimentos abrangidos por esta resolução terão o prazo de 180 (cento e oitenta) dias con-
tados a partir da data de sua publicação para promover as adequações necessárias ao Regulamento Técnico.
Parágrafo único. A partir da publicação desta resolução, os novos estabelecimentos e aqueles que preten-
dam reiniciar suas atividades, devem atender na íntegra às exigências nela contidas.
Art. 66. O descumprimento das disposições contidas nesta resolução e no regulamento por ela aprovado
constitui infração sanitária, nos termos da Lei no- . 6.437, de 20 de agosto de 1977, sem prejuízo das respon-
sabilidades civil, administrativa e penal cabíveis.
Art. 67. Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação.
64
Resolução CNS nº 553/2017 (dispõe sobre a carta dos direitos e deveres da pessoa
usuária da saúde)
65
Considerando que compete ao Conselho Nacional de Saúde o fortalecimento da participação e do controle
social no SUS (artigo 10, IX da Resolução nº 407, de 12 de setembro de 2008).
Resolve:
Aprovar a atualização da Carta dos Direitos e Deveres da Pessoa Usuária da Saúde, que dispõe sobre as
diretrizes dos Direitos e Deveres da Pessoa Usuária da Saúde anexa a esta Resolução.
Homologo a Resolução CNS nº 553, de 9 de agosto de 2017, com base no Decreto de Delegação de Com-
petência de 12 de novembro de 1991.
ANEXO DA RESOLUÇÃO Nº 553, DE 9 DE AGOSTO DE 2017
Primeira diretriz: toda pessoa tem direito, em tempo hábil, ao acesso a bens e serviços ordenados e organi-
zados para garantia da promoção, prevenção, proteção, tratamento e recuperação da saúde.
I- Cada pessoa possui direito de ser acolhida no momento em que chegar ao serviço e conforme sua neces-
sidade de saúde e especificidade, independentemente de senhas ou procedimentos burocráticos, respeitando
as prioridades garantidas em Lei.
II- A promoção e a proteção da saúde devem estar relacionadas com as condições sociais, culturais e eco-
nômicas das pessoas, incluídos aspectos como:
a)segurança alimentar e nutricional;
b)saneamento básico e ambiental;
c)tratamento às doenças negligenciadas conforme cada região do País;
d)iniciativas de combate às endemias e doenças transmissíveis;
e)combate a todas as formas de violência e discriminação;
f)educação baseada nos princípios dos Direitos Humanos;
g)trabalho digno; e
h)acesso à moradia, transporte, lazer, segurança pública e previdência social.
§1º O acesso se dará preferencialmente nos serviços de Atenção Básica.
§2º Nas situações de urgência e emergência, qualquer serviço de saúde deve receber e cuidar da pessoa
bem como encaminhá-la para outro serviço no caso de necessidade.
§3º Em caso de risco de vida ou lesão grave, deverá ser assegurada a remoção do usuário, em tempo hábil
e em condições seguras para um serviço de saúde com capacidade para resolver seu tipo de problema.
§4º O encaminhamento às especialidades e aos hospitais, pela Atenção Básica, será estabelecido em fun-
ção da necessidade de saúde e indicação clínica, levando-se em conta a gravidade do problema a ser analisa-
do pelas centrais de regulação, com transparência.
§5º Quando houver alguma dificuldade temporária para atender as pessoas é da responsabilidade da dire-
ção e da equipe do serviço, acolher, dar informações claras e encaminhá-las sem discriminação e privilégios.
Segunda diretriz: toda pessoa tem direito ao atendimento integral, aos procedimentos adequados e em tem-
po hábil a resolver o seu problema de saúde, de forma ética e humanizada.
Parágrafo único. É direito da pessoa ter atendimento adequado, inclusivo e acessível, com qualidade, no
tempo certo e com garantia de continuidade do tratamento, e para isso deve ser assegurado:
I- atendimento ágil, com estratégias para evitar o agravamento, com tecnologia apropriada, por equipe mul-
tiprofissional capacitada e com condições adequadas de atendimento;
II- disponibilidade contínua e acesso a bens e serviços de imunização conforme calendário e especificidades
regionais;
II- espaços de diálogo entre usuários e profissionais da saúde, gestores e defensoria pública sobre diferen-
tes formas de tratamentos possíveis.
66
III- informações sobre o seu estado de saúde, de forma objetiva, respeitosa, compreensível, e em linguagem
adequada a atender a necessidade da usuária e do usuário, quanto a:
a)possíveis diagnósticos;
b)diagnósticos confirmados;
c)resultados dos exames realizados;
d)tipos de exames solicitados, as justificativas e riscos;
e)objetivos, riscos e benefícios de procedimentos diagnósticos, cirúrgicos, preventivos ou de tratamento;
f)duração prevista do tratamento proposto;
g)quanto a procedimentos diagnósticos e tratamentos invasivos ou cirúrgicos;
h)a necessidade ou não de anestesia e seu tipo e duração;
i)partes do corpo afetadas pelos procedimentos, instrumental a ser utilizado, efeitos colaterais, riscos ou
consequências indesejáveis;
j)duração prevista dos procedimentos e tempo de recuperação;
k)evolução provável do problema de saúde;
l)informações sobre o custo das intervenções das quais a pessoa se beneficiou;
m)outras informações que forem necessárias;
I- que toda pessoa tem o direito de decidir se seus familiares e acompanhantes deverão ser informados
sobre seu estado de saúde;
II- o registro atualizado e legível no prontuário, das seguintes informações:
a)motivo do atendimento ou internação;
b)dados de observação e da evolução clínica;
c)prescrição terapêutica;
d)avaliações dos profissionais da equipe;
e)procedimentos e cuidados de enfermagem;
f)quando for o caso, procedimentos cirúrgicos e anestésicos, odontológicos, resultados de exames comple-
mentares laboratoriais e radiológicos;
g)a quantidade de sangue recebida e dados que garantam a qualidade do sangue, como origem, sorologias
efetuadas e prazo de validade;
h)identificação do responsável pelas anotações;
i)data e local e identificação do profissional que realizou o atendimento;
j)outras informações que se fizerem necessárias;
I- o acesso à anestesia em todas as situações em que for indicada, bem como a medicações e procedimen-
tos que possam aliviar a dor e o sofrimento;
II- o recebimento das receitas e prescrições terapêuticas, deverão conter:
a)o nome genérico das substâncias prescritas;
b)clara indicação da dose e do modo de usar;
c)escrita impressa, datilografada ou digitada, ou em caligrafia legível;
d)textos sem códigos ou abreviaturas;
e)o nome legível do profissional e seu número de registro no conselho profissional; e
f)a assinatura do profissional e a data;
67
I- o recebimento dos medicamentos, quando prescritos, que compõem a farmácia básica e, nos casos de
necessidade de medicamentos de alto custo, deve ser garantido o acesso conforme protocolos e normas do
Ministério da Saúde;
II- a garantia do acesso à continuidade da atenção no domicílio, quando pertinente, com estímulo e orienta-
ção ao autocuidado que fortaleça sua autonomia e a garantia de acompanhamento em qualquer serviço que for
necessário, extensivo à rede de apoio;
III- o encaminhamento para outros serviços de saúde deve ser por meio de um documento que contenha:
a)caligrafia legível ou datilografada ou digitada ou por meio eletrônico;
b)resumo da história clínica, possíveis diagnósticos, tratamento realizado, evolução e o motivo do encami-
nhamento;
c)linguagem clara evitando códigos ou abreviaturas;
d)nome legível do profissional e seu número de registro no conselho profissional, assinado e datado; e
e)identificação da unidade de saúde que recebeu a pessoa, assim como da Unidade a que está sendo en-
caminhada.
Terceira diretriz: toda pessoa tem direito ao atendimento inclusivo, humanizado e acolhedor, realizado por
profissionais qualificados, em ambiente limpo, confortável e acessível.
§1º Nos serviços de saúde haverá igual visibilidade aos direitos e deveres das pessoas usuárias e das pes-
soas que trabalham no serviço de saúde.
§2º A Rede de Serviços do SUS utilizará as tecnologias disponíveis para facilitar o agendamento de proce-
dimentos nos serviços de saúde em todos os níveis de complexidade.
§3º Os serviços de saúde serão organizados segundo a demanda da população, e não limitados por produ-
ção ou quantidades de atendimento pré-determinados.
§4º A utilização de tecnologias e procedimentos nos serviços deverá proporcionar celeridade na realização
de exames e diagnósticos e na disponibilização dos resultados.
§5º Haverá regulamentação do tempo de espera em filas de procedimentos.
§6º A lista de espera de média e alta complexidade deve considerar a agilidade e transparência.
§7º As medidas para garantir o atendimento incluem o cumprimento da carga horária de trabalho dos profis-
sionais de saúde.
§8º Nas situações em que ocorrer a interrupção temporária da oferta de procedimentos como consultas e
exames, os serviços devem providenciar a remarcação destes procedimentos e comunicar aos usuários.
§9º As redes de serviço do SUS deverão se organizar e pactuar no território a oferta de plantão de atendi-
mento 24 horas, inclusive nos finais de semana.
§10 Cada serviço deverá adotar medidas de manutenção permanente dos equipamentos, bens e serviços
para prevenir interrupções no atendimento.
§11 É direito da pessoa, na rede de serviços de saúde, ter atendimento humanizado, acolhedor, livre de
qualquer discriminação, restrição ou negação em virtude de idade, raça, cor, etnia, religião, orientação sexual,
identidade de gênero, condições econômicas ou sociais, estado de saúde, de anomalia, patologia ou deficiên-
cia, garantindo-lhe:
I- identificação pelo nome e sobrenome civil, devendo existir em todo documento do usuário e usuária um
campo para se registrar o nome social, independente do registro civil, sendo assegurado o uso do nome de
preferência, não podendo ser identificado por número, nome ou código da doença ou outras formas desrespei-
tosas ou preconceituosas;
II- a identificação dos profissionais, por crachás visíveis, legíveis e por outras formas de identificação de fácil
percepção;
III- nas consultas, nos procedimentos diagnósticos, preventivos, cirúrgicos, terapêuticos e internações, o
seguinte:
68
a)integridade física;
b)a privacidade e ao conforto;
c)a individualidade;
d)aos seus valores éticos, culturais, religiosos e espirituais;
e)a confidencialidade de toda e qualquer informação pessoal;
f)a segurança do procedimento;
g)o bem-estar psíquico e emocional;
h)a confirmação do usuário sobre a compreensão das questões relacionadas com o seu atendimento e pos-
síveis encaminhamentos.
I- o atendimento agendado nos serviços de saúde, preferencialmente com hora marcada;
II- o direito a acompanhante, pessoa de sua livre escolha, nas consultas e exames;
III- o direito a acompanhante, nos casos de internação, nas situações previstas em lei, assim como naqueles
em que a autonomia da pessoa estiver comprometida, com oferta de orientação específica e adequada para os
acompanhantes;
IV- o direito a visita diária não inferior a duas horas, preferencialmente, abertas em todas as unidades de
internação, ressalvadas as situações técnicas não indicadas;
V- a continuidade das atividades escolares, bem como o estímulo à recreação, em casos de internação de
criança ou adolescente;
VI- a informação a respeito de diferentes possibilidades terapêuticas de acordo com sua condição clínica,
baseado em evidências e a relação custo-benefício da escolha de tratamentos, com direito à recusa, atestado
pelo usuário ou acompanhante;
VII- a escolha do local de morte;
VIII- o direito à escolha de tratamento, quando houver, inclusive as práticas integrativas e complementares
de saúde, e à consideração da recusa de tratamento proposto;
IX- o recebimento de visita, quando internado, de outros profissionais de saúde que não pertençam àquela
unidade hospitalar sendo facultado a esse profissional o acesso ao prontuário;
X- a opção de marcação de atendimento pessoalmente, por telefone e outros meios tecnológicos disponíveis
e acessíveis;
XI- o recebimento de visita de religiosos de qualquer credo, sem que isso acarrete mudança da rotina de
tratamento e do estabelecimento e ameaça à segurança ou perturbações a si ou aos outros;
XII- a não-limitação de acesso aos serviços de saúde por barreiras físicas, tecnológicas e de comunicação;
XIII- a espera por atendimento em lugares protegidos, limpos e ventilados, tendo a sua disposição água
potável e sanitários, e devendo os serviços de saúde se organizarem de tal forma que seja evitada a demora
nas filas;
XIV- soluções para que não haja acomodação de usuários em condições e locais inadequados.
Quarta diretriz: toda pessoa deve ter seus valores, cultura e direitos respeitados na relação com os serviços
de saúde.
Parágrafo único: os direitos do caput serão garantidos por meio de:
I- escolha do tipo de plano de saúde que melhor lhe convier, de acordo com as exigências mínimas cons-
tantes da legislação e a informação pela operadora sobre a cobertura, custos e condições do plano que está
adquirindo;
II- sigilo e a confidencialidade de todas as informações pessoais, mesmo após a morte, salvo nos casos de
risco à saúde pública;
69
III- acesso da pessoa ao conteúdo do seu prontuário ou de pessoa por ele autorizada e a garantia de envio
e fornecimento de cópia, em caso de encaminhamento a outro serviço ou mudança de domicílio;
IV- obtenção de laudo, relatório e atestado sempre que justificado por sua situação de saúde;
V- consentimento livre, voluntário e esclarecido, a quaisquer procedimentos diagnósticos, preventivos ou
terapêuticos, salvo nos casos que acarretem risco à saúde pública, considerando que o consentimento anterior-
mente dado poderá ser revogado a qualquer instante, por decisão livre e esclarecida, sem que sejam imputadas
à pessoa sanções morais, financeiras ou legais;
VI- pleno conhecimento de todo e qualquer exame de saúde admissional, periódico, de retorno ao trabalho,
de mudança de função, ou demissional realizado e seus resultados;
VII- a indicação de sua livre escolha, a quem confiará a tomada de decisões para a eventualidade de tornar-
-se incapaz de exercer sua autonomia;
VIII- o recebimento ou a recusa à assistência religiosa, espiritual, psicológica e social;
IX- a liberdade, em qualquer fase do tratamento, de procurar segunda opinião ou parecer de outro profissio-
nal ou serviço sobre seu estado de saúde ou sobre procedimentos recomendados;
X- a não-participação em pesquisa que envolva ou não tratamento experimental sem que tenha garantias
claras da sua liberdade de escolha e, no caso de recusa em participar ou continuar na pesquisa, não poderá
sofrer constrangimentos, punições ou sanções pelos serviços de saúde, sendo necessário, para isso:
a)que o dirigente do serviço cuide dos aspectos éticos da pesquisa e estabeleça mecanismos para garantir
a decisão livre e esclarecida da pessoa;
b)que o pesquisador garanta, acompanhe e mantenha a integridade da saúde dos participantes de sua pes-
quisa, assegurando-lhes os benefícios dos resultados encontrados; e
c)que a pessoa assine o termo de consentimento livre e esclarecido;
XI- o direito de se expressar e ser ouvido nas suas queixas, denúncias, necessidades, sugestões e outras
manifestações por meio das ouvidorias, urnas e qualquer outro mecanismo existente, sendo sempre respeitado
na privacidade, no sigilo e na confidencialidade; e
XII- a participação nos processos de indicação e eleição de seus representantes nas Conferências, nos
Conselhos de Saúde e nos Conselhos Gestores da Rede SUS.
Quinta diretriz: toda pessoa tem responsabilidade e direitos para que seu tratamento e recuperação sejam
adequados e sem interrupção.
Parágrafo único. Para que seja cumprido o disposto no caput deste artigo, as pessoas deverão:
I- prestar informações apropriadas nos atendimentos, nas consultas e nas internações sobre:
a)queixas;
b)enfermidades e hospitalizações anteriores;
c)história de uso de medicamentos, drogas, reações alérgicas, exames anteriores;
d)demais informações sobre seu estado de saúde.
II- expressar se compreendeu as informações e orientações recebidas e, caso ainda tenha dúvidas, solicitar
esclarecimento sobre elas;
III- seguir o plano de tratamento proposto pelo profissional ou pela equipe de saúde responsável pelo seu
cuidado, que deve ser compreendido e aceito pela pessoa que também é responsável pelo seu tratamento;
IV- informar ao profissional de saúde ou à equipe responsável sobre qualquer fato que ocorra em relação a
sua condição de saúde;
V- assumir a responsabilidade formal pela recusa a procedimentos, exames ou tratamentos recomendados
e pelo descumprimento das orientações do profissional ou da equipe de saúde;
VI- contribuir para o bem-estar de todas e todos nos serviços de saúde, evitar ruídos, uso de fumo e deriva-
dos do tabaco e bebidas alcoólicas, colaborar com a segurança e a limpeza do ambiente;
70
VII- adotar comportamento respeitoso e cordial com as demais pessoas que usam ou que trabalham no
estabelecimento de saúde;
VIII- realizar exames solicitados, buscar os resultados e apresentá-los aos profissionais dos serviços de
saúde;
IX- ter em mão seus documentos e, quando solicitados, os resultados de exames que estejam em seu poder;
X- cumprir as normas dos serviços de saúde que devem resguardar todos os princípios desta Resolução;
XI- adotar medidas preventivas para situações de sua vida cotidiana que coloquem em risco a sua saúde e
da comunidade;
XII- comunicar aos serviços de saúde, às ouvidorias ou à vigilância sanitária irregularidades relacionadas ao
uso e à oferta de produtos e serviços que afetem a saúde em ambientes públicos e privados;
XIII- desenvolver hábitos, práticas e atividades que melhorem a sua saúde e qualidade de vida;
XIV- comunicar à autoridade sanitária local a ocorrência de caso de doença transmissível, quando a situa-
ção requerer o isolamento ou quarentena da pessoa ou quando a doença constar da relação do Ministério da
Saúde; e
XV- não dificultar a aplicação de medidas sanitárias, bem como as ações de fiscalização sanitária.
Sexta diretriz: toda pessoa tem direito à informação sobre os serviços de saúde e aos diversos mecanismos
de participação.
§1º A educação permanente em saúde e a educação permanente para o controle social devem estar incluí-
das em todas as instâncias do SUS, e envolver a comunidade.
§2º As unidades básicas de saúde devem constituir conselhos locais de saúde com participação da comu-
nidade.
§3º As ouvidorias, Ministério Público, audiências públicas e outras formas institucionais de exercício da de-
mocracia garantidas em lei, são espaços de participação cidadã.
§4º As instâncias de controle social e o poder público devem promover a comunicação dos aspectos positi-
vos do SUS.
§5º Devem ser estabelecidos espaços para as pessoas usuárias manifestarem suas posições favoráveis ao
SUS e promovidas estratégias para defender o SUS como patrimônio do povo brasileiro.
§6º O direito previsto no caput deste artigo, inclui a informação, com linguagem e meios de comunicação
adequados sobre:
I- o direito à saúde, o funcionamento dos serviços de saúde e o SUS;
II- os mecanismos de participação da sociedade na formulação, acompanhamento e fiscalização das políti-
cas e da gestão do SUS;
III- as ações de vigilância à saúde coletiva compreendendo a vigilância sanitária, epidemiológica e ambien-
tal; e
IV- a interferência das relações e das condições sociais, econômicas, culturais, e ambientais na situação da
saúde das pessoas e da coletividade.
§7º Os órgãos de saúde deverão informar as pessoas sobre a rede SUS mediante os diversos meios de co-
municação, bem como nos serviços de saúde que compõem essa rede de participação popular, em relação a:
I- endereços;
II- telefones;
III- horários de funcionamento; e
IV- ações e procedimentos disponíveis.
§8º Em cada serviço de saúde deverá constar, em local visível e acessível à população:
I - nome do responsável pelo serviço;
71
II - nomes dos profissionais;
III- horário de trabalho de cada membro da equipe, inclusive do responsável pelo serviço e;
IV- ações e procedimentos disponíveis.
§9º As informações prestadas à população devem ser claras, para propiciar a compreensão por toda e qual-
quer pessoa.
§10. Os Conselhos de Saúde deverão informar à população sobre:
I - formas de participação;
II - composição do Conselho de Saúde;
III - regimento interno dos Conselhos;
IV - Conferências de Saúde;
V- data, local e pauta das reuniões; e
VI- deliberações e ações desencadeadas.
§11. O direito previsto no caput desse artigo inclui a participação de Conselhos e Conferências de Saúde, o
direito de representar e ser representado em todos os mecanismos de participação e de controle social do SUS.
Sétima diretriz: toda pessoa tem direito a participar dos Conselhos e Conferências de Saúde e de exigir que
os gestores cumpram os princípios anteriores.
§1º As Conferências Municipais de Saúde são espaços de ampla e aberta participação da comunidade, com-
plementadas por Conferências Livres, distritais e locais, além das de plenárias de segmentos.
§2º Respeitada a organização da democracia brasileira, toda pessoa tem direito a acompanhar dos espaços
de controle social, como forma de participação cidadã, observando o Regimento Interno de cada instância.
§3º Os gestores do SUS, das três esferas de governo, para observância dessas diretrizes, comprometem-se
a:
I- promover o respeito e o cumprimento desses direitos e deveres, com a adoção de medidas progressivas,
para sua efetivação;
II- adotar as providências necessárias para subsidiar a divulgação desta Resolução, inserindo em suas
ações as diretrizes relativas aos direitos e deveres das pessoas;
III- incentivar e implementar formas de participação dos trabalhadores e usuários nas instâncias e participa-
ção de controle social do SUS;
IV- promover atualizações necessárias nos regimentos e estatutos dos serviços de saúde, adequando-os a
esta Resolução;
V- adotar estratégias para o cumprimento efetivo da legislação e das normatizações do SUS;
VI- promover melhorias contínuas, na rede SUS, como a informatização para implantar o Cartão SUS e o
Prontuário Eletrônico com os objetivos de:
a)otimizar o financiamento;
b)qualificar o atendimento aos serviços de saúde;
c)melhorar as condições de trabalho;
d)reduzir filas; e
e)ampliar e facilitar o acesso nos diferentes serviços de saúde.
Oitava diretriz: Os direitos e deveres dispostos nesta Resolução constituem a Carta dos Direitos Usuária da
Saúde.
Parágrafo único. A Carta dos Direitos e Deveres da Pessoa Usuária da Saúde será disponibilizada nos ser-
viços do SUS e conselhos de saúde por meios acessíveis e na internet, em http://www.conselho.saude.gov.br.
Publicada no DOU em 15/01/2018 – Ed. 10, Seção 1, Pag. 41-44
72
RDC nº 36, de 25 de julho de 2013 (institui ações para a segurança do paciente em
serviços de saúde e dá outras providências)
73
VIII - núcleo de segurança do paciente (NSP): instância do serviço de saúde criada para promover e apoiar
a implementação de ações voltadas à segurança do paciente;
IX - plano de segurança do paciente em serviços de saúde: documento que aponta situações de risco e
descreve as estratégias e ações definidas pelo serviço de saúde para a gestão de risco visando a prevenção e
a mitigação dos incidentes, desde a admissão até a transferência, a alta ou o óbito do paciente no serviço de
saúde;
X - segurança do paciente: redução, a um mínimo aceitável, do risco de dano desnecessário associado à
atenção à saúde;
XI - serviço de saúde: estabelecimento destinado ao desenvolvimento de ações relacionadas à promoção,
proteção, manutenção e recuperação da saúde, qualquer que seja o seu nível de complexidade, em regime de
internação ou não, incluindo a atenção realizada em consultórios, domicílios e unidades móveis;
XII - tecnologias em saúde: conjunto de equipamentos, medicamentos, insumos e procedimentos utilizados
na atenção à saúde, bem como os processos de trabalho, a infraestrutura e a organização do serviço de saúde.
CAPÍTULO II
DAS CONDIÇÕES ORGANIZACIONAIS
SEÇÃO I
DA CRIAÇÃO DO NÚCLEO DE SEGURANÇA DO PACIENTE
Art. 4º A direção do serviço de saúde deve constituir o Núcleo de Segurança do Paciente (NSP) e nomear
a sua composição, conferindo aos membros autoridade, responsabilidade e poder para executar as ações do
Plano de Segurança do Paciente em Serviços de Saúde.
§ 1º A direção do serviço de saúde pode utilizar a estrutura de comitês, comissões, gerências, coordenações
ou núcleos já existentes para o desempenho das atribuições do NSP.
§ 2º No caso de serviços públicos ambulatoriais pode ser constituído um NSP para cada serviço de saúde
ou um NSP para o conjunto desses, conforme decisão do gestor local do SUS.
Art. 5º Para o funcionamento sistemático e contínuo do NSP a direção do serviço de saúde deve disponibi-
lizar:
I - recursos humanos, financeiros, equipamentos, insumos e materiais;
II - um profissional responsável pelo NSP com participação nas instâncias deliberativas do serviço de saúde.
Art. 6º O NSP deve adotar os seguintes princípios e diretrizes:
I - A melhoria contínua dos processos de cuidado e do uso de tecnologias da saúde;
II - A disseminação sistemática da cultura de segurança;
III - A articulação e a integração dos processos de gestão de risco;
IV - A garantia das boas práticas de funcionamento do serviço de saúde.
Art.7º Compete ao NSP:
I - promover ações para a gestão de risco no serviço de saúde;
II - desenvolver ações para a integração e a articulação multiprofissional no serviço de saúde;
III - promover mecanismos para identificar e avaliar a existência de não conformidades nos processos e pro-
cedimentos realizados e na utilização de equipamentos, medicamentos e insumos propondo ações preventivas
e corretivas;
IV - elaborar, implantar, divulgar e manter atualizado o Plano de Segurança do Paciente em Serviços de
Saúde;
V - acompanhar as ações vinculadas ao Plano de Segurança do Paciente em Serviços de Saúde;
VI - implantar os Protocolos de Segurança do Paciente e realizar o monitoramento dos seus indicadores;
VII - estabelecer barreiras para a prevenção de incidentes nos serviços de saúde;
74
VIII - desenvolver, implantar e acompanhar programas de capacitação em segurança do paciente e qualida-
de em serviços de saúde;
IX - analisar e avaliar os dados sobre incidentes e eventos adversos decorrentes da prestação do serviço de
saúde;
X - compartilhar e divulgar à direção e aos profissionais do serviço de saúde os resultados da análise e ava-
liação dos dados sobre incidentes e eventos adversos decorrentes da prestação do serviço de saúde;
XI - notificar ao Sistema Nacional de Vigilância Sanitária os eventos adversos decorrentes da prestação do
serviço de saúde;
XII- manter sob sua guarda e disponibilizar à autoridade sanitária, quando requisitado, as notificações de
eventos adversos;
XIII - acompanhar os alertas sanitários e outras comunicações de risco divulgadas pelas autoridades sani-
tárias.
SEÇÃO II
DO PLANO DE SEGURANÇA DO PACIENTE EM SERVIÇOS DE SAÚDE
Art. 8º O Plano de Segurança do Paciente em Serviços de Saúde (PSP), elaborado pelo NSP, deve estabe-
lecer estratégias e ações de gestão de risco, conforme as atividades desenvolvidas pelo serviço de saúde para:
I - identificação, análise, avaliação, monitoramento e comunicação dos riscos no serviço de saúde, de forma
sistemática;
II - integrar os diferentes processos de gestão de risco desenvolvidos nos serviços de saúde;
III - implementação de protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde;
IV - identificação do paciente;
V - higiene das mãos;
VI - segurança cirúrgica;
VII - segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos;
VIII - segurança na prescrição, uso e administração de sangue e hemocomponentes;
IX - segurança no uso de equipamentos e materiais;
X - manter registro adequado do uso de órteses e próteses quando este procedimento for realizado;
XI - prevenção de quedas dos pacientes;
XII - prevenção de úlceras por pressão;
XIII - prevenção e controle de eventos adversos em serviços de saúde, incluindo as infecções relacionadas
à assistência à saúde;
XIV- segurança nas terapias nutricionais enteral e parenteral;
XV - comunicação efetiva entre profissionais do serviço de saúde e entre serviços de saúde;
XVI - estimular a participação do paciente e dos familiares na assistência prestada.
XVII - promoção do ambiente seguro
CAPÍTULO III
DA VIGILÂNCIA, DO MONITORAMENTO E DA NOTIFICAÇÃO DE EVENTOS ADVERSOS
Art. 9º O monitoramento dos incidentes e eventos adversos será realizado pelo Núcleo de Segurança do
Paciente - NSP.
Art. 10 A notificação dos eventos adversos, para fins desta Resolução, deve ser realizada mensalmente pelo
NSP, até o 15º (décimo quinto) dia útil do mês subsequente ao mês de vigilância, por meio das ferramentas
eletrônicas disponibilizadas pela Anvisa.
75
Parágrafo único - Os eventos adversos que evoluírem para óbito devem ser notificados em até 72 (setenta
e duas) horas a partir do ocorrido.
Art. 11 Compete à ANVISA, em articulação com o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária:
I - monitorar os dados sobre eventos adversos notificados pelos serviços de saúde;
II - divulgar relatório anual sobre eventos adversos com a análise das notificações realizadas pelos serviços
de saúde;
III - acompanhar, junto às vigilâncias sanitárias distrital, estadual e municipal as investigações sobre os even-
tos adversos que evoluíram para óbito.
CAPÍTULO IV
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 12 Os serviços de saúde abrangidos por esta Resolução terão o prazo de 120 (cento e vinte) dias para a
estruturação dos NSP e elaboração do PSP e o prazo de 150 (cento e cinquenta) dias para iniciar a notificação
mensal dos eventos adversos, contados a partir da data da publicação desta Resolução.
Art. 13 O descumprimento das disposições contidas nesta Resolução constitui infração sanitária, nos termos
da Lei n. 6.437, de 20 de agosto de 1977, sem prejuízo das responsabilidades civil, administrativa e penal ca-
bíveis.
Art. 14 Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
O SUS, sistema único de saúde, é gerido pela Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso, e as suas
principais funções são: a definição de políticas para saúde, o assessoramento aos municípios, a programação,
o acompanhamento e a avaliação das ações e atividades em saúde.
A missão da secretária é coordenar a Política Estadual de Saúde juntamente com os Municípios e a
União, auxiliando na melhoria da qualidade de vida da população de acordo com os princípios do SUS.
Visando sempre o reconhecimento de excelência pela gestão inovadora, moderna, democrática e reso-
lutiva do SUS de forma ética, cooperativa, transparente e com compromisso e respeito à vida.
76
Fonte: http://egprocessos.seplag.mt.gov.br/orgao/29
- Gestão e Formulação de politicas públicas na área da saúde
•Analisar demandas de saúde;
•Formular propostas e apoiar implantação de políticas públicas;
•Acompanhar e avaliar as políticas públicas;
•Disponibilizar informações referente a aplicação dos recursos em saúde.
Prezado(a) como não foi especificado qual seria a legislação referente a este tópico segue a seguir a LEI
COMPLEMENTAR Nº 22, DE 09 DE NOVEMBRO DE 1992, que dispõe sobre dispõe sobre a organização, a
regulamentação, a fiscalização e o controle das ações e dos serviços de saúde no Estado, caracteriza o Siste-
ma Único de Saúde nos níveis Estadual e Municipal e dá outras providências.
LEI COMPLEMENTAR Nº 22, DE 09 DE NOVEMBRO DE 1992.
Institui o Código Estadual de Saúde, dispõe sobre a organização, a regulamentação, a fiscalização e o con-
trole das ações e dos serviços de saúde no Estado, caracteriza o Sistema Único de Saúde nos níveis Estadual
e Municipal e dá outras providências.
A ASSEMBLÉIA LEGISILATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO, tendo em vista o que dispõe o artigo 45,
da Constituição Estadual, aprova e o Governador do Estado sanciona a seguinte Lei Complementar:
DISPOSIÇÃO PRELIMINAR
Art. 1º Esta Lei Complementar estabelece normas de ordem pública e interesse social para a proteção,
defesa, promoção, prevenção e recuperação e recuperação de saúde, nos termos dos artigos 6º; 23, 11: 24,
XII e §§ 2º e 3º; 18; 30, VII; 194 a 200 da Constituição da República, dos artigos 217 a 227 da Constituição do
Estado, bem como das normas gerais de caráter nacional.
TÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Art. 2º O direito à saúde é inerente à pessoa humana e constitui direito público subjetivo do cidadão, que
está legitimado para o exercício das prerrogativas estabelecidas nesta Lei, tanto na instância administrativa
como na instância judicial.
Parágrafo único. O dever do Poder Público na concretização do disposto neste artigo não exclui o das pes-
soas da família, das empresas e da sociedade.
Art. 3º Compete ao Poder Público e à sociedade propor e desenvolver, no campo da seguridade social,
ações e serviços destinados a garantir a saúde da população, como uma das condições de igualdade de todos
perante a lei, e da efetiva liberdade individual.
Parágrafo único. Nesta Lei, as ações e os serviços de saúde compreendem, isoladamente ou em seu
conjunto, as iniciativas do Poder Público que tenham por conteúdo ou objetivo a proteção, defesa, promoção,
prevenção, preservação de saúde, individual e coletiva.
Art. 4º O estado de saúde, expresso em qualidade de vida, pressupõe basicamente:
I – condições digna de trabalho e de renda, de educação, de alimentação, de moradia, de saneamento, de
transporte e de lazer, assim como o acesso aos bens e serviços essenciais;
II – coincidências entre as necessidades individuais e coletivas de saúde e as prioridades que o Poder Pú-
blico estabelece nos seus planos e programas na área econômica - social;
III – assistência prestada pelo Poder Público como instrumento que possibilite ao cidadão o melhor uso e
gozo de seu potencial físico e mental;
IV - o direito do indivíduo, como sujeito das ações e dos serviços de saúde, a: (Nova redação dada pela LC
283/07)
a) ter um atendimento digno, atencioso e respeitoso;
b) ser identificado e tratado pelo seu nome ou sobrenome;
77
c) não ser identificado ou tratado por:
1) números;
2) códigos; ou
3) de modo genérico, desrespeitoso, ou preconceituoso;
d) ter resguardado o segredo sobre seus dados pessoais, através da manutenção do sigilo profissional,
desde que não acarrete riscos a terceiros ou à saúde pública;
e) poder identificar as pessoas responsáveis direta e indiretamente por sua assistência, através de crachás
visíveis, legíveis e que contenham:
1) nome completo;
2) função;
3) cargo; e
4) nome da instituição;
f) receber informações claras, objetivas e compreensíveis sobre:
1) hipóteses diagnósticas;
2) diagnósticos realizados;
3) exames solicitados;
4) ações terapêuticas;
5) riscos, benefícios e inconvenientes das medidas diagnósticas e terapêuticas propostas;
6) duração prevista do tratamento proposto;
7) no caso de procedimentos de diagnósticos e terapêuticos invasivos, a necessidade ou não de anestesia,
o tipo de anestesia a ser aplicada, o instrumental a ser utilizado, as partes do corpo afetadas, os efeitos colate-
rais, os riscos e consequências indesejáveis e a duração esperada do procedimento;
8) exames e condutas a que será submetido;
9) a finalidade dos materiais coletados para exame;
10) alternativas de diagnósticos e terapêuticas existentes, no serviço de atendimento ou em outros serviços;
e
11) o que julgar necessário;
g) consentir ou recusar, de forma livre, voluntária e esclarecida, com adequada informação, procedimentos
diagnósticos ou terapêuticos a serem nele realizados;
h) acessar, a qualquer momento, o seu prontuário médico, nos termos do artigo 4º da Lei Complementar nº
22, de 9 de novembro de 1992;
i) receber por escrito o diagnóstico e o tratamento indicado, com a identificação do nome do profissional e o
seu número de registro no órgão de regulamentação e controle da profissão;
j) receber as receitas:
1) com o nome genérico das substâncias prescritas
2) datilografadas ou em caligrafia legível;
3) sem a utilização de códigos ou abreviaturas;
4) com o nome do profissional e seu número de registro no órgão de controle e regulamentação da profis-
são; e
5) com assinatura do profissional;
k) conhecer a procedência do sangue e dos hemoderivados e poder verificar, antes de recebê-los, os carim-
bos que atestaram a origem, sorologias efetuadas e prazo de validade;
78
l) ter anotado em seu prontuário, principalmente se inconsciente durante o atendimento:
1) todas as medicações, com suas dosagens, utilizadas; e
2) registro da quantidade de sangue recebida e dos dados que permitam identificar a sua origem, sorologias
efetuadas e prazo de validade;
m) ter assegurado, durante as consultas, internações, procedimentos diagnósticos e terapêuticos e na sa-
tisfação de suas necessidades fisiológicas:
1) a sua integridade física;
2) a privacidade;
3) a individualidade;
4) o respeito aos seus valores éticos e culturais;
5) a confidencialidade de toda e qualquer informação pessoal; e,
6) a segurança do procedimento.
n) ser acompanhado, se assim o desejar, nas consultas e internações por pessoa por ele indicada;
o) ter a presença do pai nos exames pré-natais e no momento do parto;
p) receber do profissional adequado, presente no local, auxílio imediato e oportuno para a melhoria do con-
forto e bem estar;
q) ter um local digno e adequado para o atendimento;
r) receber ou recusar assistência moral, psicológica, social ou religiosa;
s) ser prévia e expressamente informado quando o tratamento proposto for experimental ou fizer parte de
pesquisa;
t) receber anestesia em todas as situações indicadas;
u) recusar tratamentos dolorosos ou extraordinários para tentar prolongar a vida; e,
v) optar pelo local de morte.
Parágrafo único. A criança, ao ser internada, terá em seu prontuário a relação das pessoas que poderão
acompanhá-la integralmente durante o período de internação. (Acrescentado pela LC 283/07)
Art. 5º Para o efetivo atendimento dos pressupostos de seguridade social enunciados nos incisos I, II e III
do Art. 4º, o Estado buscará realizar a cooperação interinstitucional com a União, os demais Estados, o Distrito
Federal e os Municípios previsto no Parágrafo Único do artigo 23 da Constituição da República, tendo em vista
o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.
TÍTULO II
DO SISTEMA ESTADUAL DE SAÚDE
CAPÍTULO I
DA POLÍTICA DE SAÚDE DO ESTADO
Art. 6º As ações destinadas a assegurar os direitos relativos a saúde integram a seguridade social como ex-
pressão de um dos fundamentos do estado democrático de direito, servindo de suporte e condutor das medidas
voltadas para o fortalecimento do município como unidade política, administrativa e social do Estado, dotado
constitucionalmente de autonomia para decidir sobre assuntos de interesse local.
Art. 7º A Política de Saúde no Estado, exercida pelo Sistema Único de Saúde Estadual e Municipal, estará
orientada para:
I – a atuação articulada do Estado e do Município e deste com os serviços de seguridade e bem-estar social,
mediante o estabelecimento de normas, ações, serviços e atividades sobre fato, situação ou local que ofereça
qualquer grau de risco à saúde individual e coletiva, adotando-se medidas especiais relativamente a grupos su-
jeitos a maiores riscos, como a criança, o adolescente, as gestantes, as parturientes, as puérperas, os idosos,
os deficientes e os índios;
79
II – a incorporação e a valorização de práticas profissionais alternativas, regulamentados pelos Conselhos
Profissionais e leis específicas;
III – a adoção do critério das reais necessidades de saúde da população, identificados por estudos epide-
miológicos loco-regionais, na elaboração de planos e programas e na oferta de serviços de atenção à saúde;
IV – a avaliação, por organizações profissionais e associações não profissionais, dos custos e da qualidade
da atenção oferecida por serviços médico-hospitalares financiados com recursos públicos;
V – a formulação, a ampla divulgação, na sociedade, dos indicadores de avaliações de resultados das
ações e dos serviços de saúde;
VI – a adequação dos programas curriculares da formação de profissionais na área das ciências da saúde e
dos códigos de ética das diversas profissões, de modo a fazer prevalecer o interesse do usuário na qualidade
e eficácia da assistência prestada e a relevância das ações e dos serviços de saúde em prol da comunidade;
VII – A instituição de política de recursos humanos para os profissionais de saúde, baseados em princípios
e critérios que atenda as especificidades do setor, observando pisos salariais nacionais, incentivo a dedicação
exclusiva e tempo integral, capacitação e reciclagem permanente, condições adequadas de trabalho para a
execução de suas atividades em todos os níveis;
VIII – a execução das atividades, programas e ações de saúde do Sistema Estadual de Saúde, reger-se-ão
por um modelo assistencial que contemple as ações promocionais preventivas e curativas integradas, através
de uma rede assistencial composta pelos níveis básicos, geral, especializado, apoio diagnóstico e de interna-
ção conforme a complexidade do quadro epidemiológico estadual;
IX – o Estado, no exercício regular de suas competências legislativa concorrente, fixadas nas Constituições
da República e Estadual, estabelecerá normas supletivas sobre proteção, promoção e defesa de saúde do povo
mato-grossense.
CAPÍTULO II
DA NATUREZA E FINALIDADES
Art. 8º No Estado de Mato Grosso o Sistema Único de Saúde – SUS, regulamentado por esta Lei Com-
plementar, é constituído pelo conjunto de ações e serviços de saúde do Setor Público Estadual e Municipal,
integrante de uma rede regionalizada e hierarquizada e desenvolvida pela administração direta, indireta e fun-
dacional do Estado e dos Municípios.
§ 1º O setor privado participará do SUS em caráter complementar segundo diretrizes deste, mediante con-
trato ou convênio, com preferência para entidades filantrópicas e sem fins lucrativos.
§ 2º A atenção à saúde é livre à iniciativa privada, observadas as normas gerais de regulamentação, fiscali-
zação e controle estabelecidos nesta Lei, na legislação nacional e na legislação estadual supletiva.
Art. 9º Ao Sistema Único de Saúde do Estado de Mato Grosso – US/MT, compete:
I – promover a descentralização, para os municípios dos serviços e das ações de saúde;
II – acompanhar, controlar e avaliar as redes hierarquizadas do serviços e das ações de saúde;
III – prestar apoio técnico e financeiro aos municípios e executar supletivamente ações e serviços de saúde;
IV – coordenar e em caráter complementar executar ações e serviços:
a) de vigilância epidemiológica;
b) de vigilância sanitária;
c) de alimentação e nutrição;
d) de saúde do trabalhador.
V – participar, junto com os órgãos afins, do controle dos agravos do meio ambiente que tenham repercus-
são na saúde humana;
VI –participar da formulação da política e da execução de ações de saneamento básico;
VII – participar das ações de controle e avaliação e condições e dos ambientes de trabalho;
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VIII – em caráter suplementar, formular, executa acompanhar e avaliar a política de insumos e equipamen-
tos para saúde;
IX – identificar estabelecimentos hospitalares de referência estadual e regional;
X – coordenar a rede de laboratórios de saúde pública e hemocentros e girar as unidades que permaneçam
em sua organização administrativa;
XI – estabelecer normas, em caráter suplementar para o controle e avaliação das ações e serviços de saú-
de;
XII – formular normas e estabelecer padrões, em caráter suplementar, de procedimentos de controle de
qualidade por produtos e substâncias de consumo humano;
XIII – colaborar com a União na execução da vigilância sanitária de portos, aeroportos e fronteiras;
XIV – acompanhar, avaliar e divulgar os indicador de morbidade e mortalidade no âmbito do Estado;
XV – organizar e manter, com base no perfil epidemiológico estadual, uma rede de serviços de saúde com
capacidade atuação em promoção de saúde, prevenção da doença, diagnóstico tratamento e reabilitação dos
doentes;
XVI – desenvolver a produção de medicamentos, vacinas soros e equipamentos estratégicos para a auto-
nomia tecnológica produtiva;
XVII – organizar a atuação odontológica, prioritariamente para as crianças de seis a quatorze anos de idade
e as gestante visando a prevenção da cárie dentária;
XVIII – estabelecer normas mínimas de vigilância e fiscalização de estabelecimentos de saúde de qualquer
natureza;
XIX – estabelecer normas mínimas de vigilância e fiscalização de estabelecimentos de saúde de qualquer
natureza em todo Estado;
XX – a fiscalização, o controle e organização da manutenção dos equipamentos e da tecnologia utilizada
no SUS;
XXI – controlar e fiscalizar as pesquisas clínicas farmacológica em saúde individual e coletiva que envolva
seres humanos.
Art. 10 No planejamento e organização dos serviços saúde, o município observará as diretrizes da Política
Estadual de Saúde, através de programas de saúde estabelecidos com princípios mecanismos de coordenação
intersetorial, interinstitucional, entre governos estadual e municipal, objetivando eliminar a duplicidade ações e
dispersão de esforços.
Parágrafo único. Para fins programáticos, os planos municipais de saúde abrangerão, prioritariamente, as
seguintes áreas:
I – de ação sobre o meio ambiente, compreendendo atividades de combate aos agressores encontrados no
ambiente natural e aos criados pelo próprio homem; as que visam criar melhores condições ambientais para a
saúde, tais como a proteção hídrica, a proteção de áreas verdes, a sanidade dos alimentos, a adequada remo-
ção dos objetos e outras obras de saneamentos: condições de saúde ao trabalhador locais de trabalho;
II – de prestação de serviços de saúde e pessoas compreendendo as atividades de proteção, promoção e
recuperação, por intermédio da aplicação de atividades, serviços e ações de saúde individual e / ou coletivas;
III – de atividades de apoio compreendendo programas de caráter permanente, cujos resultados deverão
permitir o conhecimentos dos problemas de saúde da população; o planejamento das ações de saúde neces-
sários a capacitação de recursos humanos para os programas prioritários; a distribuição dos produtos terapêu-
ticos essenciais e outros.
Art. 11 Ao Sistema Único de Saúde municipal, de acordo com suas competências e legais, a nível de seu
território, compete:
I – planejar, organizar, controlar e avaliar as ações e os serviços de saúde, gerir e executar os serviços pú-
blicos de saúde;
81
II – participar do planejamento, programação e organização da rede regionalizada e hierarquizada do Siste-
ma Único de Saúde – SUS, em articulação com a direção estadual;
III – participar da execução controle e avaliação das ações referentes às condições e aos ambientes de
trabalho;
IV – executar serviços:
a) de vigilância epidemiológica;
b) de vigilância sanitária;
c) de alimentação e nutrição;
d) saneamento básico;
e) de saúde do trabalhador.
V – dar execução, no âmbito municipal, à política de insumos e equipamentos para a saúde;
VI – colaborar na fiscalização das agressões ao meio ambiente, que tenham repercussão sobre a saúde
humana, a atuar junto aos órgãos municipais, estaduais e federais competentes, para controlá-los;
VII – formar consórcios administrativos intermunicipais;
VIII – gerir laboratórios públicos de saúde e hemocentros;
IX – colaborar com a União e com o Estado na execução da vigilância sanitária dos portos, aeroportos e
fronteiras.
X – celebrar convênios e contratos com entidades prestadoras de serviços privados de saúde, com aprova-
ção do Conselho Municipal de Saúde e, ainda, controlar e avaliar sua execução;
XI – controlar e fiscalizar os procedimentos dos serviços privados de saúde;
XII – elaborar e atualizar, periodicamente o Plano Municipal de Saúde;
XIII – normatizar, complementarmente, as ações e serviços públicos de saúde no seu âmbito de atuação.
CAPÍTULO III
DA ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
Art. 12 As ações e os serviços públicos de saúde, executados e desenvolvimentos pela administração
direta, indireta e fundacional do Estado e dos Municípios, somadas às ações e aos serviços contratados ou
conveniados com o setor privado, em caráter complementar constituem o Sistema Único de Saúde do Estado
de Mato Grosso, com direção único na esfera do Governo Estadual e nos Municípios.
Art. 13 A organização, o funcionamento e o desenvolvimento do Sistema Único de Saúde obedecerão as
seguintes diretrizes.
I – garantir o acesso universal, gratuito e equânime, aos usuários, sendo vedada a cobrança de despesa
complementar ou adicional sob qualquer título;
II – promover alterações positivas nas condições de saúde da população, elevando a esperança de vida
gestatória e ao nascer e redução de risco de agravo à saúde;
III – descentralizar efetivamente os serviços de saúde, com delegação de autoridade, deslocando as instân-
cias de decisão, recursos e gerência para proximidade dos fatos e das pessoas, e definindo as responsabilida-
des e competências de cada nível do sistema.
IV – democratizar a gestão do Sistema Único de Saúde, com controle social e funcionamento dos Conselhos
Estaduais e Municipal de Saúde como unidades deliberativas do Sistema;
V – considerar o Município como a unidade geopolítica e social do país, com autonomia para decidir sobre
seus peculiares interesses, transferido ações e serviços para aqueles que tenha condições e vontade política
para assumi-lo, como componente estratégico da descentralização e da implantação dos Distritos Sanitários,
com a respectiva transferência de recursos e encargos compatíveis, garantindo assessoria técnica;
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VI – no âmbito municipal, o Sistema Único de Saúde poderá organizar-se em Distritos Sanitários para inte-
grar e articular recursos, técnicas voltadas para a cobertura total das ações e serviços de saúde;
VII – o Sistema Único de Saúde Estadual e Municipal poderá recorrer à participação do setor privado quan-
do sua capacidade desta área, considerando o serviço como de natureza essencial à ..... e sua prestação por
serviço como de natureza essencial à ........ e sua prestação por serviço privados como uma concessão ........
às normas técnicas, científica e administrativa do SUS.
VIII – a participação complementar como concessionárias do setor privado do SUS. Efetiva mediante convê-
nio ou contrato administrativo e por licitação pública, dando preferência a entidades sem fins lucrativos.
CAPÍTULO IV
DA GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
Art. 14 O Sistema Único de Saúde de Mato Grosso contará a nível estadual e municipal, sem prejuízo das
funções do Poder Legislativo, com as seguintes instâncias colegiadas.
I – A conferência Estadual de Saúde;
II – O Conselho Estadual de Saúde.
SEÇÃO I
DA CONFERÊNCIA ESTADUAL DE SAÚDE
Art.15 A Conferência Estadual de Saúde, reunir-se-á a cada 04 (quatro) anos, com a representação dos
vários segmentos sociais, para avaliar a situação de saúde e propor as diretrizes para a formulação da política
de saúde, convocada pelo Poder Executivo ou extraordinariamente, por este, ou pelo Conselho Estadual de
Saúde.
§ 1º A convocação ordinária se fará com antecedência mínima de 06 (seis) meses e a extraordinária, pelo
menos 02 (dois) meses antes.
§ 2º A Conferência Estadual de Saúde terá norma e regimento publicados no Diário Oficial do estado, que
deverão estabelecer o seu tema, delegados, presidências e comissão organizadora com respectivas competên-
cias, aprovadas pelo Conselho de Saúde.
§ 3º A representação dos Usuários nas Conferências e Conselhos de Saúde é paritária ao conjunto dos
demais segmentos.
§ 4º A não convocação ordinária da Conferência Estadual de Saúde implicará em crime de responsabilidade
da autoridade competente.
§ 5º As deliberações da Conferência Estadual de Saúde, na forma de um relatório final, serão homologa-
das por meio de Decreto do Governador do Estado e servirão de base para a elaboração do Plano Plurianual
(PPA), da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e da Lei Orçamentária Anual (LOA). (Acrescentado pela LC
652/2020)
SEÇÃO II
DO CONSELHO ESTADUAL DE SAÚDE
Art. 16 O Conselho Estadual de Saúde, em caráter permanente, deliberativo, normativo, recursal e diligen-
cial, órgão colegiado composto por representantes do governo, prestadores de serviços, profissionais de saúde
e usuários, atua na formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde, inclusive nos as-
pectos econômicos e financeiros cuja decisões serão homologadas pelo chefe do poder legalmente construído.
Art. 17 Ao Conselho Estadual de Saúde compete:
I – propor a política de saúde elaborada pela Conferência de Saúde;
II – propor, anualmente, com base nas políticas de saúde, o orçamento do Sistema Único de Saúde, no nível
respectivo;
III – deliberar sobre questão de coordenação, gestão, normatização e acompanhamento das ações e servi-
ços de saúde;
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IV – deliberar sobre a contratação ou convênio com o serviço privado;
V – deliberar sobre critérios que definam o padrão de qualidade, parâmetros assistenciais e melhor resolu-
tividade das ações e serviços de saúde, verificando avanços tecnológico e científicos;
VI – eleger o Ouvidor Geral;
VII – articular com a Secretaria de Educação, Universidade Federal de Mato Grosso, Escola de Ensino
Superior, Instituições de Ensino, Pesquisas e Órgãos Colegiados na busca de subsídios no que concerne a
caracterização das necessidades sociais na área da saúde;
VIII – elaborar o regimento do Conselho Estadual de Saúde, disciplinando sua estrutura, organização inter-
na e procedimentos administrativos de seus deliberações;
IX – receber, apreciar e deliberar de relatórios o movimentação de recursos repassados à Secretária Esta-
dual, ou aos respectivos Fundos de Saúde, ou aos respectivos Fundos de Saúde, ou aos respectivos Fundos
de Saúde, já analisados pelos setores técnicos de planejamento, orçamento e gestão da SES;
X – examinar propostas, denuncias e reclamações e de setor público e privado do setor saúde, responder
consultas sobre assuntos pertinentes a ações e serviços de saúde , bem como apreciar recursos a respeito;
XI – receber apreciar e deliberar sobre fatos, atos ou omissão que represente risco ou provoquem danos
à saúde, impetrado por qualquer pessoa, tendo o prazo 30 (trinta) dias salvo por força maior, para apuração,
correção e informação ao denunciante;
Art. 18 O Conselho Estadual de Saúde, com 50% (cinquenta por cento) de representação e o segmento de
Usuários do setor com outros 50% (cinquenta por cento).
§ 1º A cada representante titular corresponderá um suplente.
§ 2º Os representantes titulares e respectivos suplentes terão a sua designação formalizada por ato Gover-
namental.
§ 3º Os membros do conselho de Saúde serão investidos na função pelo prazo de 02 (dois) anos, podendo
ser reconduzido.
§ 4º A função de Membro do Conselho não será remunerada, sendo considerada como relevante serviço
público.
§ 5º Entende-se por Governo toda e qualquer instituição, que tem linha de mando e gerência na execução
de seus objetivo na execução de seus objetivos no perímetro do estado, submetido à determinação dos Pode-
res Executivo, Legislativo e Judiciário do Estado de Mato Grosso.
§ 6º Entende-se por Prestadores de Serviços, toda instituição pública, privada, filantrópica, que esteja den-
tro do Sistema Único de Saúde do Estado, que tenha preservado sua autonomia administrativa, financeira e
gerencial própria, sem vínculo ao poder de mando com o Governo Estadual.
§ 7º Entende-se por Trabalhadores do Setor Saúde, toda e qualquer entidade representativa das categorias
profissionais do setor Saúde, com base territorial no Estado de Mato Grosso.
§ 8º Entende-se como Usuários, todas as entidades que representem os seguintes segmentos: federações
de moradores, centrais sindicais de trabalhadores urbanos e rurais, de associações de portadores de doenças
e patologias específicas, entidades de direito humanísticos, representações da raça índio, idosos, crianças e do
adolescente e da mulher, que tenham base territorial no Estado de Mato Grosso.
Art. 19 O Conselho Estadual de Saúde terá, como Presidente Nato, o Secretário de Estado de Saúde, com
a seguinte composição: (Nova redação dada pela LC 102/02)
I – representantes do Governo, prestadores de serviços e trabalhadores do setor saúde, com a seguinte
composição: (Nova redação dada pela LC 102/02)
a) 01 (um) representante do Poder Executivo, indicado pelo Governador do Estado;
b) 02 (dois) representantes da Secretaria Estadual de Saúde;
c) 01 (um) representante do Instituto de Previdência do Estado – IPEMAT;
d) 01 (um) representante da Secretaria Estadual de Meio Ambiente/Fundação Estadual de Meio Ambiente;
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e) 01 (um) representante do Conselho dos Secretários Municipais de Saúde do estado – COSEMS/MT;
f) 01 (um) representante da Universidade Estadual de Mato Grosso;
g) 01 (um) representante da Federação das Misericórdias, Hospitais e Entidades Filantrópicas do Estado;
h) 01 (um) representante do Sindicato dos Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado;
i) 01 (um) representante de Coordenadoria de Cooperação Técnica do INAMPS;
j) 01 (um) representante do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde e Meio Ambiente – SISMA;
K)04 (quatro) representantes retirados do Sindicato dos Trabalhadores de Serviços de Saúde do Estado;
l) 04 (quatro) representantes indicados pelas entidades das seguintes categorias profissionais: Enferma-
gem, Odontologia, Farmácia, Serviço Social, Medicina, Nutrição, Engenharia Sanitária, Psicologia, Medicina
Veterinária, Fisioterapia, Fonoaudiologia e Educação Física. (Nova redação dada pela LC 102/02)
II – representantes dos Usuários com 50% (cinquenta por cento) de representantes:
a) 01 (um) representante da Federação dos Trabalhadores da Agricultura – FETAGRI;
b) 01 (um) representante da Federação Mato-grossense de Associações de Moradores;
c) 01 (um) representante da Associação dos Deficientes;
d) 01 (um) representante da Associação dos Portadores de Patologias;
e) 01 (um) representante do Grupo Saúde popular / MOPS:
f) 01 (um) representante da Associação dos Aposentados do Estado;
g) 01 (um) representante de Entidades de Defesa dos Direitos da Crianças e do Adolescente;
h) 01 (um) representante do Conselho Indigenista Missionário;
i) 01 (um) representante do Movimento Ambientalista e Ecológico;
j) 01 (um) representante do Sindicato dos Garimpeiros;
l) 01 (um) representante do Núcleo de Estudos e Organização da Mulher;
m) 01 (um) representante da Associação de Proteção das Vítimas de Acidentes do trabalhador e Trânsito;
n) 01 (um) representante do Sindicato de Profissionais da Educação;
o) 01 (um) representante Classista das Centrais Sindicais;
p) 01 (um) representante do Movimento Social de Promoção da Igualdade Racial. (Nova redação dada pela
LC 489/13)
§ 1º A indicação dos representantes ao Conselho Estadual de Saúde, é de direito da instituição que partici-
pa, cabendo a ela a responsabilidade dos atos de sua representação legal.
§ 2º A indicação dos representantes, formado por conjunto de representação, deverá ser de forma democrá-
tica, devidamente consubstanciado por documentos comprobatórios, sendo obrigatório 01 (um) representante
com seu respectivo suplente por categoria.
§ 3º A Secretaria de Estado de Saúde proporcionará ao Conselho as condições para seu pleno e regular
funcionamento e lhe dará o suporte técnico, administrativo, financeiro, recursos humanos e materiais, alocando
anualmente em seu orçamento as despesas de custeio necessário ao seu funcionamento, que deverá ser ela-
borado e aprovado pelo Conselho Estadual de Saúde.
§ 4º O secretário de Estado de Saúde terá direito a voto somente na hipótese de ocorrer empate em duas
votações consecutivas.
§ 5º As instituições e representações descriminados no Art. 19, que deixaram de cumprir as normas regi-
mentarias do Conselho Estadual de Saúde, poderão sofrer penalidades de substituição do conselho e se per-
sistindo, até mesmo a substituição da entidade, após deliberação do Conselho Pleno.
§ 6º No que concerne à alínea “p”, a indicação de representante será referendada pelo Conselho Estadual
de Promoção da Igualdade Racial. (Acrescentado pela LC 448/11)
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§ 7º A indicação do representante será feita através do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Ra-
cial, devidamente certificada por documento único comprobatório. (Acrescentado pela LC 489/13)
Art. 20 O Conselho Estadual de Saúde será composto de:
I – Conselho Pleno;
II – Secretaria Geral;
III – Ouvidoria Geral;
IV- Comissões Especiais.
§ 1º O Conselho Pleno, presidido pelo Secretário Estadual de Saúde, será integrado por todos os membros
referidos no Art. 19.
§ 2º A Secretaria Geral será a instância responsável pela execução administrativa técnica às atividades do
Conselho Pleno, sendo seu titular técnico de nível superior.
§ 3º A Ouvidoria Geral terá incumbência de detectar e ouvir reclamações e denúncias, investigar sua proce-
dência sua procedência e apontar responsáveis ao Conselho Estadual de Saúde.
§ 4º O Ouvidor Geral será escolhido pelo Conselho Estadual de Saúde, dentre os sanitaristas de carreira da
administração direta, indireta e fundacional, das instituições participantes do SUS, para um período de 02 (dois)
anos, eleito através de processo eleitoral democrático, com normas fixadas pelo Conselho Estadual de Saúde.
§ 5º O Conselho Estadual de Saúde fixará normas complementares de atuação do Ouvidor.
§ 6º As Comissões Especiais serão grupos de trabalho instituídos no âmbito do Conselho, sob a coordena-
ção de 01 (um) de seus membros, podendo incluir outras instituições, autoridades públicas, cientistas e técni-
cos, nacionais ou estrangeiros, para colaborarem em estudos de interesse do Sistema Único de Saúde.
SEÇÃO III
DA CONFERÊNCIA E DO CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE
Art. 21 A conferência Municipal de Saúde tem competência idêntica às das Conferência Estadual de Saúde
e se reunirá de acordo com o estabelecido na Lei Orgânica Municipal ou Lei específica.
Parágrafo único. A Conferência Municipal de Saúde terá sua composição, organização e funcionamento
estabelecidos pelo Município de acordo com interesse locais, respeitando as leis em vigor.
Art. 22 O Conselho Municipal de Saúde, com atribuições idênticas às do Conselho Estadual de Saúde, terá
sua organização funcionamento e composição estabelecidas de acordo com os interesses locais de cada mu-
nicípio, resguardando o princípio de paridade estabelecidos no § 3º, do Art. 15, Seção I.
CAPÍTULO V
DO ORÇAMENTO E GESTÃO FINANCEIRA
Art. 23 O Sistema Único de Saúde do Estado será financiado por recursos provenientes do:
I – orçamento estadual;
II – transferência federal;
III – taxa, multas e emolumentos obtidos e praticados em função dos serviços e a ações específicas;
IV – convênios e contratos;
V – contribuições, doações, donativos e ajuda;
VI – alienação patrimonial e rendimentos de Capital;
VII – outras fontes.
Parágrafo único. É vedada a destinação de recursos públicos para auxílio e subvenções e instituições pri-
vadas com fins lucrativos.
Art. 24 O Estado assegurará, anualmente em seu orçamento estadual recursos para os serviços implanta-
dos e existentes no que se referem a:
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I – pagamento de pessoal;
II – manutenção da rede física, frota de veículos e equipamentos;
III – insumos, medicamentos, material administrativos, e demais materiais de consumo para operação dos
serviços;
IV – atividades administrativas de planejamento, reciclagem e treinamento de pessoal na área de saúde,
custeio de recursos humanos e demais serviços de terceiros.
§ 1º Deverão ser agregados os valores necessários para cobrir a taxa inflacionária destes recursos durante
cada ano, de acordo com as leis vigentes.
§ 2º Anualmente será assegurado um adicional de recursos no valor de 20% (vinte por cento) do Orçamento
Básico de Saúde do Estado, referido no “caput” deste artigo, que se destinarão a:
I – 5% (cinco por cento) do reserva estratégica para cobertura em caso de epidemia, surto e sinistros que
venham a ocorrer no Estado;
II – 15% (quinze por cento) para a expansão da rede física, equipamento e pessoal, buscando a cobertura
universal das necessidades de saúde da população do Estado.
Art. 25 O Estado de Mato Grosso, obrigatoriamente, destinará um percentual não inferior a 30% (trinta por
cento) do Orçamento a Seguridade Social para a saúde, que deverá ser estabelecido anualmente na Lei de
Diretrizes Orçamentárias.
Parágrafo único. O não cumprimento do “caput” deste artigo e também o impedimento de acesso às infor-
mações de deste artigo e também o impedimento de acesso às informações de aplicação financeira do Sistema
Único de Saúde Estadual e Municipal, implicará em crime de responsabilidade da autoridade competente.
Art. 26 Os recursos financeiros do Sistema Único de Saúde, Estadual e Municipal, serão depositados em
Conta Especial do Fundo Único de Saúde, em cada esfera de Governo, em Banco Oficial e movimentados pelo
dirigente do Sistema sob fiscalização e controle do respectivo Conselho de Saúde, sem prejuízo da atuação dos
órgãos de controle interno e externo.
§ 1º O Fundo Único de Saúde é de natureza contábil e financeira vinculados aos objetivos do Sistema Único
de Saúde, e a aplicação das suas receitas far-se-á através de dotação consignada no Orçamento do Estado
ou Crédito Adicional.
§ 2º O Fundo Único de Saúde deverá ser regulamentado no prazo de 60 (sessenta) dias após a publicação
desta lei.
Art. 27 O processo de planejamento e orçamento do Sistema Único de Saúde será ascendente, do nível
local até o estadual, ouvidos os respectivos Conselho de Saúde, e compatibilizando-se, em Planos de Saúde
Estadual e Municipal, os objetivos da Política de Saúde no Estado com a disponibilidade de recursos.
Art. 28 A quantificação global dos recursos de seguridade social que o Estado destinar aos Municípios, para
atender as despesas com custeio e de investimento, constará do plano Estadual de Saúde elaborado pela di-
reção do Sistema Único de Saúde e aprovado pelo Conselho Estadual de Saúde.
§ 1º Na quantificação de recursos financeiros à serem transferidos aos Municípios, o Estado ponderará:
I – na razão inversas, as seguintes variáveis:
a) situação sanitária;
b) receita municipal por capita;
c) cobertura dos serviços de saúde.
II – na razão direta, as seguintes, variáveis:
a) desempenho do sistema local de saúde;
b) participação do setor social no Orçamento Municipal;
c) dispêndios diretos do Estado da prestação de serviços de abrangência local.
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§ 2º A direção estadual do Sistema do único da Saúde regulamentará a transferência de que trata o § 1º
deste artigo, adaptando-a à especificidade de cada situação.
§ 3º A atribuição da parcela correspondente a cada Município será efetuada com base nos seguintes crité-
rios:
I – 50% (cinquenta por cento), segundo o quociente de sua divisão pelo número de habitantes, independen-
te de qualquer procedimento prévio;
II –50% (cinquenta por cento), para atender as necessidades constantes do Plano Municipal de Saúde ana-
lisado pela instância competente do Sistema Único de Saúde.
§ 4º A parcela de recursos destinados aos municípios será expressa em cronograma de desembolso, que
se elevará de forma regular e automática.
§ 5º A prestação de contas de Município integrará o relação de gestão, na forma a ser definida pelo Conse-
lho Estadual de Saúde, não elidindo a obrigação de prestar contas ao tribunal de Contas do estado e/ou União
na forma da Lei.
CAPÍTULO VI
DOS RECURSOS HUMANOS
Art. 29 O Estado, por sua órgãos competentes e em articulação com os Municípios, executará a política de
administração e desenvolvimento de recursos humanos para o Sistema Único de Saúde, visando sobretudo:
I – a organização de um sistema de formação de recursos humanos e a institucionalização de programas de
capacitação permanente do pessoal da equipe de saúde, mediante integração operacional e curricular com as
instituições, de ensino nos diferentes graus de escolaridade;
II – o estabelecimento, dentro do regime jurídico único dos servidores públicos, de planos de cargos, carrei-
ras e salários, com base nos critérios de especificidade da função, complexidade das atribuições, produtivida-
de, local de exercício, riscos inerentes à atividade e outros fatores determinados em lei;
III – a valorização do tempo integral e da dedicação exclusiva ao serviço;
IV – a adequação dos recursos humanos às necessidades específicas de cada região e de segmentos da
população que requeiram atenção especial;
V – a implementação do Centro Formador como centro formal de educação, priorizando a qualificação e le-
gitimação de pessoal de nível médio e elementar, e também a qualificação em nível de pós-graduação na área
de saúde, objetivando da qualidade técnico/científico da prestação de serviços no Estado;
VI – a rede de serviços públicos de saúde constituirá campo da aplicação para o ensino e a pesquisa em
saúde.
§ 1º Os Planos de Cargos, Carreiras e Salários para os servidores da área da saúde contemplará:
a) a prevalência de mérito para o ingresso e ascensão na carreira;
b) o aperfeiçoamento profissional e funcional mediante programas de educação continuada, formação de
especialistas e treinamento em serviço;
c) o provimento de cargos em comissões e funções gratificadas por servidor efetivo de carreira, com base
no preenchimento de critérios técnicos e experiência do profissional da área;
d) a equivalência entre as categorias profissionais integrantes, dos planos de carreira e as habilitações apro-
vadas pelo sistema de ensino;
e) o incentivo a permanência do servidor na mesma área geográfica do sistema, unificando os seus vínculos
das instituições componentes do sistema único de Saúde Federal, Estadual e Municipal;
f) as peculiaridades loco-regionais decorrentes do desenvolvimento socioeconômico, do nível de vida, da
densidade geográfica, de distâncias geográficas e outras;
g) as especificidades do exercício profissional decorrentes de responsabilidades e riscos oriundos do con-
tato intenso e continuado com clientes portadores de patologia de caráter especial;
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h) o desempenho das metas do Sistema;
i) a valorização do especialista em Saúde Pública.
Art. 30 É obrigatório o regime de tempo integral para o exercício dos cargos e funções de chefia e assesso-
ramento no âmbito do Sistema Único de Saúde.
Art. 31 É vedada a nomeação, para cargo ou função de chefia, direção ou assessoramento na área de
saúde em qualquer nível, de proprietário, sócio majoritário ou pessoa que participe de direção, gerência ou
administração de entidades, que mantenham contratos ou convênios com o Sistema único de Saúde, ou sejam
por ele credenciados.
Art. 32 O servidor da União e do estado lotado ou em exercício na unidade assistencial transferidas aos
Municípios, ficam submetidos à administração municipal incluídos o controle de frequência, pontualidade, férias
e normas disciplinares e de serviços, devendo os órgãos próprios da União e do Estado procederem exclusiva-
mente as anotações pertinentes.
Parágrafo único. No caso de aplicação de penalidades a servidores da União ou do Estado, proposta pelo
diretor da unidade e aprovado pelo Conselho Municipal de Saúde, os processos deverão ser encaminhados às
respectivas chefias específicas da União ou do estado com vistas à adoção de medidas pertinentes, atendidas
as normas que disciplinam o assunto no âmbito de cada instituição.
Art. 33 A movimentação de servidores da União e do Estado entre unidades assistenciais subordinadas
à administração municipal é de competência do Município e do Conselho Municipal de Saúde, respeitada à
legislação pertinente, devendo ser comunicadas às respectivas instituições para devidos registros cadastrais.
Art. 34 A movimentação de servidores da União e do Estado para unidade situada em outro município, de-
verá contar com o assentimento do próprio servidor e a concordância do Município cedente, estando sujeita à
aprovação da Secretaria Estadual de Saúde.
Art. 35 Serão assegurados aos funcionários e servidores estaduais lotados nos serviços transferidos aos
municípios os seus vínculos funcionais ou trabalhista com órgãos de origem, até a aposentadoria ou desliga-
mento por vontade própria ou decisão administrativa na forma da lei, os direitos adquiridos, as vantagens já
incorporadas e outras vantagens que vierem a ser estabelecidas para os integrantes dos quadros de pessoal
de sua instituição de origem.
Art. 36 É reservado ao Município e/ou Conselho Municipal de Saúde, o direito de não se interessar por servi-
dor da União ou do estado, assegurando-lhe o direito de relotação em outro órgão ou entidade a que pertence,
ouvido o Conselho Estadual de Saúde.
Art. 37 A Secretaria Estadual de Saúde baixará norma operacional complementar a esta Lei, dispondo sobre
a política de gerência de recursos humanos cedidos pela mesma.
TÍTULO III
DA ATENÇÃO À SAÚDE
CAPÍTULO I
DOS SERVIÇOS BÁSICOS DE SAÚDE
Art. 38 Os serviços de saúde serão estruturados em ordem de complexidade crescente, a partir dos mais
simples periféricos, executados pela rede de serviços básicos de saúde, até os mais complexos.
Art. 39 As ações dos serviços de saúde do Estado reger-se-ão por um modelo assistencial que contempla
as ações promocionais preventivas, curativas e de recuperação integradas através de uma rede hierarquizadas
e de intervenção conforme a complexidade do quadro epidemiológico local.
Art. 40. O Sistema Único de Saúde do Estado terá como modelo funcional, administrativo, resolutivo e ge-
rencial o Distrito Sanitário, responsável pelos cuidados básicos de saúde da população que vive em um territó-
rio determinado.
§ 1º O Distrito Sanitário será composto de unidades sanitárias, policlínicas, unidades regionais, hospitais e
centros especializados, capaz de resolver os problemas de saúde em todos os níveis de atenção.
89
§ 2º Os critérios para a definição da área da abrangência do Distrito Sanitário, seguirão os seguintes prin-
cípios:
I – área geográfica de abrangência;
II – estratégia e comando único;
III – sistema único de aplicação de recursos;
IV – realidade epidemiológica social;
V – cobertura;
VI – adscrição da Clientela;
VII – unidades e equipamentos dos serviços de saúde;
VIII – resolutividade dos níveis de complexidade;
IX – integralidade dos serviços;
X – relação eficiência e participação social.
§ 3º As práticas assistências nos Distritos Sanitárias as caracterizará com uma abordagem interestadual
e holística, vendo o cidadão como um todo, tanto nas questões individuais como nas questões socais e sua
relação com o meio ambiente.
CAPÍTULO II
DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS
Art. 41 A Secretaria Estadual de Saúde implementará o serviço de vigilância epidemiológica, a fim de exe-
cutar as medidas que visem a prevenção e impeçam a disseminação das doenças transmissíveis, com capaci-
dade de diagnóstico, tratamento, tratamento e controle.
Art. 42 Para efeito do disposto no artigo anterior, os riscos que representam as doenças transmissíveis para
a coletividade, a Secretaria Estadual de Saúde, a adoção das seguintes medidas:
I – notificação obrigatória;
II – investigação epidemiológica;
III – vacinação obrigatória;
IV – quimioprofilaxia;
V – isolamento domiciliar ou hospitalar;
VI – vigilâncias sanitária e epidemiológica;
VII – desinfecção;
VIII – saneamento básico e ambiental;
IX – assistência médico hospitalar;
Art. 43 A Secretaria Estadual de Saúde editará normas técnicas especiais sobre as doenças transmissíveis,
onde a doenças exista com caráter endêmico ou epidêmico.
CAPÍTULO III
DA VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E MODIFICAÇÃO COMPULSÓRIA DA DOENÇA
Art. 44 A ação de Vigilância Epidemiológica incluem, principalmente, a elaboração de informações, pesqui-
sas, inquéritos, investigações, levantamentos e estudos necessários a programação, planejamento e avaliação
das medidas de controle e de situação que ameaçam a saúde.
Art. 45 São obrigados a fazer modificação a autoridade sanitária, os trabalhadores e profissionais de saúde,
os responsáveis por organização e estabelecimento públicos e privados de saúde, ensino e trabalho e os res-
ponsáveis por habitações coletivas.
90
Art. 46 A Secretaria Estadual de Saúde emitirá Normas Técnicas Especiais, contendo o nome das doenças
de notificação compulsória e procedimentos a adotarem.
CAPÍTULO IV
DAS VACINAS OBRIGATÓRIAS
Art. 47 A vacinação obrigatória será gratuita e de responsabilidade da rede de serviços de saúde do SUS,
que atuarão junto a população residente e/ou em trânsito.
Art. 48 É dever de todo cidadão submeter-se os menores, sob sua guarda e responsabilidade, á vacinação
obrigatória, de acordo com a legislação vigente.
CAPÍTULO V
DE PREVENÇÃO A CONTROLE DE ZOONOSES
Art. 49 A Secretaria Estadual de Saúde coordenará, em articulação com os órgãos federais, estaduais e
municipais, as ações de prevenção de zoonoses.
Art. 50 Todo proprietário e possuidor de animal, a qualquer título, deverá submeter a vacinação obrigatória
do animal, e as disposições legais e técnicas das autoridades sanitárias, bem como adotar medidas indicadas
para evitar a transmissão de doenças.
CAPÍTULO VI
DAS CALAMIDADES PÚBLICAS
Art. 51 Nas ocorrências de casos de agravos à saúde decorrentes de calamidades públicas, para o controle
de epidemias e outros ações indicadas, a Secretaria Estadual de Saúde articulará com órgãos federais, esta-
duais e municipais, promovendo a mobilização de todos os seus recursos sanitários, médicos e hospitalares
considerados necessários.
CAPÍTULO VII
DE SAÚDE DO TRABALHADOR
Art. 52 A Secretária Estadual de Saúde implantará serviços de referências especiais para acidentado no
trabalho, promovendo sua recuperação.
Art. 53 A Secretaria Estadual de Saúde, em regime de integração com órgãos federais, estaduais e munici-
pais, investigará, fiscalizará e normatizará:
I – as condições sanitárias e de segurança nos locais de trabalho;
II – as condições de saúde e segurança do trabalhador;
III – os maquinários, equipamentos, aparelhos, instrumentos de trabalho e dispositivos de proteção individu-
al e coletivo, que colocam em risco a saúde do trabalhador e/ou coletividade;
IV – a salubridade dos locais de trabalho;
V – as condições inerentes a própria natureza e as de trabalho.
CAPÍTULO VIII
DA SAÚDE MENTAL
Art. 54 A Secretaria Estadual de Saúde executará iniciativas no campo da saúde mental, visando a preven-
ção e tratamento de transtornos mentais, na rede de serviços, através de estudos epidemiológicos objetivando
conhecer a incidência, a prevalência, a distribuição dos transtornos mentais, a atuação dos fatores etiológicos
e vulnerabilidade do organismo.
CAPÍTULO IX
DA ODONTOLOGIA SANITÁRIA
Art. 55 A Secretaria Estadual da Saúde, em articulação direta com as Secretarias Municipais de Saúde, pla-
nejará, coordenará, executará, normatizará e orientará as atividades em que os integrantes em que se integram
as funções de promoção, proteção e de recuperação de saúde oral.
91
Parágrafo único. No cumprimento do disposto neste artigo será dado prioridade às ações relativas ao grupo
etário escolar, às gestantes, as puérperas, bem como, atividades de urgência odontológicas e as ações simpli-
ficadas e incremental.
CAPÍTULO X
DO SISTEMA DO ESTATÍSTICA E INFORMAÇÃO
Art. 56 A Secretaria Estadual de Saúde elaborará, de modo sistemático e obrigatório, estatísticas de in-
teresse para a saúde com base na coleta, apuração, análise e avaliação dos dados vitais, demográficos, de
morbidade, sistema de prestação de serviços, indicadores socioeconômico, recursos humanos, materiais e
financeiros, de modo a servirem como instrumentos para auferir e diagnosticar o comportamento futuro e dire-
cionar o planejamento necessário.
Parágrafo único. Os serviços que tratam este artigo deverão, obrigatoriamente, existir nos municípios como
forma de retroalimentação do processo.
Art. 57 Os hospitais, clínicas e demais instituições de saúde são obrigados a remeter às Secretarias Mu-
nicipais de Saúde os dados e informações necessários de mortalidades e morbidade e outros que julgarem
necessários, e estas ao Sistema de Estatística e Informação Estadual, Sistema de Informação Estadual de
Vigilância Sanitária (SVS) e Painel de Indicadores do SUS-MT (Indica SUS-MT), conforme o prazo estipulado
pela Secretaria de Estado de Saúde. (Nova redação dada pela LC 649/19)
Art. 58 Os Cartórios de Registro Civil ficam obrigados a remeter a Secretaria Municipal de Saúde de sua
jurisdição, no prazo por ela determinado, cópias de Registro e/ou Certidões de Nascimento e Declarações de
Óbitos no Município, que deverá processar estas informações e encaminhá-las ao nível Estadual.
TÍTULO IV
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 59 A Secretaria Estadual de Saúde expedirá atos, que também sido aprovados pelo Plenário do Conse-
lho Estadual de Saúde, que visam a adaptar a estrutura organizacional da Secretaria Estadual de Saúde aos
termos desta Lei.
Art. 60 Fica a Secretaria Estadual de Saúde autorizada a emitir Normas Técnicas Especais e decreto re-
gulamentar deste que, aprovadas pelo Plenário do Conselho Estadual de Saúde, destinadas a implementar e
regulamentar esta Lei.
Art. 61 Os convênios entre a União e suas Autarquias, o Estado e o município, celebrados para implementa-
ção dos Sistemas Unificados e Descentralizados, ficarão rescindidos à proporção em que seus objetivos forem
sendo absorvidos pelo Sistema Único de Saúde.
Art. 62 O Poder Executivo adotará, no prazo máximo de 90 (noventa) dias, as providências administrativas
necessárias para a concessão de autonomia administrativa, no grau conveniente, aos serviços, institutos e es-
tabelecimentos da área da saúde que, por peculiaridades de organização e funcionamento, exijam tratamento
diversos do aplicável aos demais órgãos da administração direta, visando dar-lhes sustentação financeira me-
diante receita orçamentária compatível com o sustentação financeira mediante receita orçamentária compatível
com o seu desempenho, desde que aprovados pelo Conselho Estadual de Saúde.
Art. 63 De acordo com o artigo 16 do Ato das Disposições Transitórias da Constituição Estadual, fica incor-
porado ao Sistema Único de Saúde do Estado de Mato Grosso os serviços de assistência à saúde e assistência
social prestadas pelo IPEMAT.
§ 1º A gestão das unidades assistenciais da estrutura organizacional do IPEMAT, afetos à área de saúde e
assistência social serão geridos pela Secretaria Estadual de Saúde.
§ 2º Fica assegurado aos funcionários do IPEMAT a preservação de seus vínculos funcionais e trabalhistas.
§ 3º Serão repassados à Secretaria Estadual de Saúde os recursos financeiros alocados no orçamento do
IPEMAT do exercício de 1992, exceto os oriundos das contribuições obrigatórias dos servidores, para a aplica-
ção nos serviços de saúde próprios, contratados e conveniados.
§ 4º O Poder Executivo enviará a Assembleia Legislativa, no prazo máximo de 60 (sessenta dias), após a
aprovação desta Lei, Projeto de Lei dispondo sobre a competência, atribuições e forma organizativa do IPEMAT.
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§ 5º Fica também o Poder Executivo, obrigado a encaminhar dentro de 60 (sessenta) dias, após a aprova-
ção desta Lei, Projeto de lei dispondo sobre a competência, atribuições e forma organizativa do IPEMAT.
Art. 64 O Poder Executivo, Legislativo e Judiciário fará a ampla divulgação do texto desta Lei, às Instituições
Públicas e Privadas, Sindicatos, Associações de Moradores, Clubes de Serviços, a Comunidade Industrial e
Comercial, e a População do Estado de Mato Grosso.
Art. 65 Esta Lei Complementar entra em vigor no prazo de 60 (sessenta) dias, contados de sua publicação,
revogadas as disposições em contrário.
Palácio Paiaguás, em Cuiabá, 09 de novembro de 1992, 171º da Independência e 104º da República.
Exercícios
1-FGV - 2021
O Sistema Único de Saúde – SUS é um sistema solidário, inspirado no sistema europeu de concepção uni-
versalista, pautado em diversos princípios. Desde sua criação, o SUS proporcionou a atenção integral à saúde
e não apenas cuidados assistenciais e está à disposição de todos, desde a gestação e por toda a vida. De
acordo com a doutrina, o princípio específico que, embora ligado ao princípio da igualdade, consiste na necessi-
dade de atendimento das demandas em saúde de acordo com a vulnerabilidade social dos usuários, buscando
oferecer mais a quem mais precisa e com isso reduzir as desigualdades sociais é denominado princípio da
(A) gratuidade.
(B) descentralização.
(C) equidade.
(D) integralidade.
(E) universalidade.
2-FGV - 2023
De acordo com as disposições trazidas pela Lei nº 8.080/1990 (Lei que dispõe sobre as condições para a
promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes
e dá outras providências), assinale a afirmativa correta.
(A) O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e
sociais e exclui o dever das pessoas, da família, das empresas e da sociedade.
(B) Os níveis de saúde expressam a organização social e econômica do País, tendo a saúde como deter-
minantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente,
o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços
essenciais.
(C) Entende-se por vigilância epidemiológica um conjunto de atividades que se destina à promoção e prote-
ção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores
submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho.
(D) A assistência à saúde privada é condicionada ao levantamento das demandas de saúde coletiva pela
vigilância epidemiológica.
(E) É proibida a participação direta ou indireta de empresas ou de capital estrangeiro na assistência à saúde
na hipótese de doações de organismos internacionais vinculados à Organização das Nações Unidas.
93
3- FGV - 2023
Segundo a normatização da atividade na área da urgência-emergência na sua fase pré-hospitalar, o médico
deve exercer a regulação médica do sistema. Sobre esse procedimento, analise as afirmativas a seguir.
I. Receber os chamados de auxílio, analisar a demanda e classificar as prioridades de atendimento.
II. Manter contato diário com os serviços médicos de emergência integrados ao sistema.
III. Conhecer integralmente o veículo e seus equipamentos, tanto a parte mecânica quanto os equipamentos
médicos.
IV. Exercer o controle operacional da equipe assistencial.
Está correto o que se afirma em
(A) I, II e IV, apenas.
(B) I, III e IV, apenas.
(C) I, II e III, apenas.
(D) II, III e IV, apenas.
(E) II e III, apenas.
4-FGV - 2023
O Sistema Único de Saúde (SUS) pauta-se em um conjunto de princípios e diretrizes organizativas, tradu-
zidas corretamente em ações voltadas para
(A) o fomento da participação popular direta, mediante a criação de Comissões Intergestores Tripartites e
de Secretarias Municipais de Saúde.
(B) a promoção da integralidade, para superar a situação de desigualdade na assistência à saúde da popu-
lação e investir mais onde a carência é maior.
(C) a centralização da prestação dos serviços no nível estadual, de modo a assegurar maior qualidade e
garantir o controle e a fiscalização por parte dos cidadãos.
(D) a obrigatoriedade do atendimento público de qualquer cidadão, com o estabelecimento da cobrança
progressiva em dinheiro com base em faixas de renda socioeconômicas.
(E) a organização dos serviços em níveis crescentes de complexidade, circunscritos a uma determinada
área geográfica e planejados a partir de critérios epidemiológicos.
5-FGV - 2023
Com base nas disposições constitucionais acerca do Sistema Único de Saúde – SUS, avalie se as afirmati-
vas a seguir são falsas (F) ou verdadeiras (V).
( ) Uma das atribuições do SUS é participar da formulação da política e da execução das ações de sane-
amento básico.
( ) É facultada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às instituições privadas com
fins lucrativos.
( ) Entre as diretrizes constitucionais do SUS está a descentralização, com direção única em cada esfera
de governo.
As afirmativas são, respectivamente,
(A) V – V – F.
(B) F – F – F.
(C) V – F – V.
(D) F – V – F.
(E) V – V – V.
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6-FGV - 2023
Os Conselhos de Saúde são o principal canal de participação popular nas decisões da Administração Públi-
ca que envolvem o Sistema Único de Saúde (SUS) e, por isso, devem representar a diversidade social e cultural
da sociedade. Por meio dos conselhos, a população pode colaborar de forma participativa do planejamento e
da fiscalização das políticas públicas na área da saúde.
https://www.saude.mg.gov.br/ (Adaptado)
Considerando o trecho, assinale a opção que caracteriza corretamente o Conselho de Saúde.
(A) É um órgão colegiado e paritário do SUS, presente em cada esfera de governo, constituído em situações
emergenciais.
(B) Os conselheiros são representantes do Ministério da Saúde, do Conselho Nacional de Secretários de
Saúde e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde.
(C) É uma instância deliberativa que analisa e aprova o plano de saúde e analisa e aprova o relatório de
gestão.
(D) Os conselheiros são indicados pelos respectivos gestores executivos da Saúde dos municípios, dos
estados e do governo federal.
(E) É uma instância submetida às secretarias de saúde dos municípios, dos estados e do governo federal.
7-FGV - 2023
Uma das formas de participação da sociedade na gestão de políticas públicas se dá por meio dos conselhos
e comitês gestores.
Acerca da Lei nº 8.142/90, que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de
Saúde (SUS), assinale a afirmativa correta.
(A) A representação dos usuários nos Conselhos de Saúde e Conferências será paritária em relação ao
conjunto dos demais segmentos.
(B) A Conferência de Saúde reunir-se-á a cada quatro anos com a representação exclusiva dos gestores,
para avaliar a situação de saúde e propor diretrizes para a formulação da política de saúde.
(C) Os recursos do Fundo Nacional de Saúde, segundo o Art. 4º da referida lei, serão repassados mediante
a apresentação de um plano elaborado pelos usuários.
(D) O Conselho de Saúde, em caráter permanente e deliberativo, é um órgão colegiado composto por repre-
sentantes do governo, prestadores de serviço e profissionais de saúde.
(E) As Conferências de Saúde e os Conselhos de Saúde terão sua organização e normas de funcionamento
definidas exclusivamente pela representação dos usuários.
8-FGV - 2023
O usuário do SUS possui o direito de decidir se seus familiares e acompanhantes deverão ser informados
sobre seu estado de saúde, bem como tem o direito de ter acesso à anestesia em todas as situações em que
for indicada. Essas garantias constam na Carta dos Direitos dos Usuários do SUS e materializam um dos prin-
cípios básicos de cidadania que assegura ao brasileiro o ingresso digno nos sistemas de saúde, seja ele público
ou privado.
A esse respeito, assinale a opção que indica o princípio básico de cidadania que fundamenta os direitos do
usuário do SUS citados no trecho.
(A) O acesso ordenado e organizado aos sistemas de saúde.
(B) O tratamento adequado e efetivo para seu problema.
(C) O atendimento que respeite a pessoa, os valores e os direitos do cidadão.
95
(D) O atendimento humanizado, acolhedor e livre de qualquer discriminação.
(E) O comprometimento dos gestores de saúde para que os princípios de cidadania do usuário do SUS
sejam cumpridos.
9-FGV - 2022
A partir do que dispõe a legislação federal sobre os direitos e garantias dos usuários do SUS, é correto
afirmar que:
(A) é direito líquido e certo do usuário do SUS o acesso a medicamentos não registrados na Anvisa, desde
que a prescrição ocorra por profissional médico vinculado ao SUS;
(B) a Relação Nacional de Medicamentos e os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas aprovados pelo
SUS têm caráter exemplificativo, ou seja, indicam um rol mínimo de fármacos que o SUS deve adquirir e
ofertar;
(C) o usuário do SUS tem a garantia de custeio de seu tratamento em unidade privada de saúde no caso de
negativa de atendimento em emergências de unidades públicas de saúde;
(D) é obrigação do SUS em relação aos seus usuários a oferta de assistência terapêutica integral, inclusive
farmacêutica.
10-FGV - 2023
Em relação ao planejamento em saúde, avalie as afirmativas a seguir.
I. O planejamento consiste em uma atividade obrigatória e contínua: assim, o processo de planejamento em
saúde é de responsabilidade de cada ente federado, a ser desenvolvido de forma contínua, articulada, ascen-
dente, integrada e solidária, entre as três esferas de governo, na medida em que visa a dar direcionalidade à
gestão pública da saúde.
II. O planejamento no SUS deve ser integrado à Seguridade Social e ao planejamento governamental geral:
assim, as políticas de saúde, previdência e assistência devem estar articuladas no âmbito da Seguridade So-
cial, criando sincronia entre os programas e ações voltados para a inclusão social; essa articulação, do ponto de
vista operacional, deve ocorrer nos processos de planejamento e orçamento, sendo necessário que os planos
e os orçamentos do SUS estejam integrados com os das áreas de previdência e assistência.
III. O planejamento deve respeitar os resultados das pactuações entre os gestores nas comissões inter-
gestores regionais, bipartite e tripartite: assim, no processo de planejamento no SUS devem ser consideradas
como essenciais as pactuações realizadas nas comissões intergestores, uma vez que a esses espaços de go-
vernança competem discutir e pactuar, de forma permanente, a política de saúde e sua execução na construção
da gestão compartilhada do SUS.
IV. O processo de planejamento integrado segue a lógica federativa clássica em que, apesar de cada uma
das esferas ter suas responsabilidades específicas, as principais decisões sobre o ciclo de planejamento são
tomadas a partir de consensos. Essa dinâmica de trabalho coletivo é típica de ambientes federativos e tem
como objetivo conferir legitimidade às decisões e estimular o trabalho conjunto entre a União, os Estados e os
Municípios.
Está correto o que se afirma em
(A) I e II, apenas.
(B) III e IV, apenas.
(C) I, II e III, apenas.
(D) II, III e IV, apenas.
(E) I, II, III e IV.
96
11-FGV - 2023
O conceito de seguridade social, adotado pela Constituição Federal de 1988, expresso no Título VIII, Cap.
II, Seção I, art. 194, se refere a “iniciativas dos Poderes Públicos e da sociedade destinadas a assegurar os
direitos relativos à saúde, previdência e assistência social.”
Um preceito, inscrito na Carta Magna, derivado da acepção de seguridade social, estabelece a saúde como
(A) benefício vinculado ao emprego formal e acesso às ações e serviços do seguro social e de instituições
filantrópicas.
(B) direito vinculado ao emprego formal e acesso às ações e serviços do seguro social e instituições filan-
trópicos.
(C) direito de cidadania e acesso gratuito às ações e serviços públicos, filantrópicos e privados.
(D) direito de cidadania e acesso gratuito às ações e serviços públicos e filantrópicas.
(E) direito de cidadania e acesso gratuito às ações e serviços públicos de saúde.
12-FGV - 2021
A Resolução da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária RDC nº 63, de 25 de no-
vembro de 2011, dispõe sobre os requisitos de boas práticas de funcionamento para os serviços de saúde. De
acordo com o mencionado ato normativo, a valorização da dimensão subjetiva e social, em todas as práticas
de atenção e de gestão da saúde, fortalecendo o compromisso com os direitos do cidadão, destacando-se
o respeito às questões de gênero, etnia, raça, orientação sexual e às populações específicas, garantindo o
acesso dos usuários às informações sobre saúde, inclusive sobre os profissionais que cuidam de sua saúde,
respeitando o direito a acompanhamento de pessoas de sua rede social (de livre escolha), e a valorização do
trabalho e dos trabalhadores consiste no conceito de
(A) licença ambiental e de saúde.
(B) gerenciamento de tecnologias e de pessoal.
(C) política de qualidade emocional.
(D) plano de saúde mental.
(E) humanização da atenção e gestão da saúde.
14-FGV - 2021
Em consonância ao princípio constitucional da participação dos cidadãos nas políticas públicas e, em es-
pecial, à diretriz estabelecida no Art. 198, inciso III, da Constituição Federal/1988, o ordenamento jurídico legal
que orienta a organização e o funcionamento do SUS prevê espaços obrigatórios de participação e controle
social da comunidade nos assuntos da saúde pública.
A esse respeito, assinale a opção que descreve corretamente mecanismos de cidadania ativa previstos no
setor da saúde.
97
(A) A Lei nº 8.142/90 afirma que o Conselho Nacional de Saúde tem representação na Comissão Nacional
de Incorporação de Tecnologias no SUS.
(B) A Lei nº 8.080/90 estabelece a participação indígena no Conselho Nacional de Saúde e nos Conselhos
Estaduais e Municipais de Saúde, quando for o caso.
(C) A RDC 63/2011 garante a abertura de audiências públicas no legislativo, na apresentação do relatório
do gestor do SUS.
(D) A RDC 36/2013 institui colegiados com participação comunitária para aprovar ações e serviços de sane-
amento básico de domicílios e pequenas comunidades.
(E) A Resolução CNS 553/2017 dispõe sobre as comissões intersetoriais e suas competências de supervi-
sionar os parâmetros de cobertura assistencial.
15-FGV - 2023
As opções a seguir apresentam princípios do Sistema Único de Saúde – SUS (Lei nº 8.080/90), à exceção
de uma. Assinale-a.
(A) A igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie.
(B) A centralização político-administrativa, com direção variada em cada esfera de governo.
(C) O direito da pessoa assistida à informação sobre sua saúde.
(D) A preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral.
(E) A universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência.
Gabarito
1 C
2 B
3 A
4 E
5 C
6 C
7 A
8 B
9 D
10 E
11 E
12 E
13 C
14 B
15 B
98