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resultados
Daniel Goleman
Em resumo
Muitos gestores supõem, erradamente, que o estilo de liderança tem
mais a ver com a personalidade do que com uma opção estratégica.
Em vez de escolherem o estilo que se encaixa em seu temperamento,
deveriam se perguntar qual estilo atende melhor às exigências de de-
terminada situação.
A pesquisa demonstrou que a maioria dos líderes bem-sucedidos
são fortes nas seguintes competências da inteligência emocional: au-
toconhecimento, autocontrole, motivação, empatia e destreza social.
Há seis estilos de liderança básicos, e cada um faz uso desses com-
ponentes da inteligência emocional em diferentes combinações. Os
melhores líderes não conhecem apenas um estilo de liderança – estão
capacitados para vários e têm a flexibilidade de mudar de estilo segun-
do as circunstâncias.
Na prática
Poucos gestores levam em consideração o fato de o clima organizacional
influenciar os resultados, podendo responder por cerca de um terço do
desempenho financeiro. Por sua vez, o clima organizacional é influencia-
do pelo estilo da liderança – pelo modo com que gestores estimulam os
subordinados, reúnem e usam informação, tomam decisões, gerenciam
iniciativas de mudança e lidam com crises. Existem seis estilos básicos
de liderança. Cada um deriva de competências distintas da inteligência
emocional, funciona melhor em determinadas situações e afeta o clima
organizacional de diferentes maneiras.
Os estilos em detalhes
Os executivos empregam seis estilos de liderança, mas apenas quatro
têm consistentemente um efeito positivo no clima e nos resultados. Exa-
minemos, portanto, cada estilo de liderança de forma minuciosa. (Para um
resumo do material que se segue, veja o quadro Os seis estilos de liderança
em síntese, na página 21.)
Liderança que gera resultados 13
O estilo coercitivo
A empresa de computadores estava em crise – vendas e lucros caindo, o
estoque se desvalorizando vertiginosamente, e os acionistas em polvorosa.
A diretoria contratou um novo CEO com reputação de recuperar empresas.
Ele arregaçou as mangas e começou reduzindo cargos, vendendo divisões
e tomando as decisões duras que deveriam ter sido tomadas anos antes. A
empresa foi salva, ao menos a curto prazo.
No entanto, desde o início o CEO criou um ambiente de terror, intimi-
dando e rebaixando executivos, expressando aos berros sua insatisfação ao
menor deslize. Os escalões superiores da empresa foram dizimados não
só pelas demissões erráticas dele, mas também por abandonos. Os que se
reportavam diretamente ao CEO, aterrorizados pela tendência dele de cul-
par o portador de más notícias, pararam de informá-lo de qualquer coisa.
O moral era o mais baixo de todos os tempos – o que se refletiu em outra
queda nos negócios após a recuperação de curto prazo. Pouco depois, o
CEO foi exonerado pelo conselho deliberativo.
É fácil entender por que, de todos os estilos de liderança, o coercitivo é
um dos menos eficazes na maioria das situações. Considere como esse estilo
afeta o clima de uma organização. A flexibilidade é o fator mais atingido. A
tomada de decisão extremamente autoritária do líder mata novas ideias pela
raiz. As pessoas sentem-se tão desrespeitadas que pensam: “Nem vou sugerir
ideias – sei que vão ser rejeitadas.” Da mesma forma, o senso de responsabili-
dade se evapora: impedidas de agir por iniciativa própria, elas não se sentem
copartícipes nem que estão no controle do próprio desempenho. Algumas
ficam tão ressentidas que adotam a atitude hostil de não querer oferecer con-
tribuições ao CEO.
A liderança coercitiva também tem efeito danoso no sistema de recom-
pensa. A maioria dos trabalhadores de desempenho alto é motivada por
mais do que dinheiro – eles buscam a satisfação de um trabalho bem-feito.
O estilo coercitivo corrói esse orgulho. E, finalmente, enfraquece uma das
principais ferramentas de um líder: motivar as pessoas ao mostrar a elas
que o trabalho de cada uma se encaixa numa grande missão compartilha-
da. A perda dessa ferramenta, medida em termos de uma diminuição na
clareza e no comprometimento, deixa as pessoas alienadas das próprias ta-
refas, se perguntando: “Para que fazer tudo isso?”
14 Daniel Goleman
O estilo visionário
Tom era vice-presidente de marketing numa rede de pizzarias em difi
culdade. Desnecessário dizer que o baixo desempenho da empresa preo
cupava os gestores do alto escalão, mas eles não sabiam o que fazer.
Reuniam-se toda segunda-feira para analisar as vendas, lutando para en-
contrar soluções. Para Tom, essa abordagem não fazia sentido. “Estávamos
sempre nos perguntando por que nossas vendas tinham sido baixas na se-
mana anterior. A companhia inteira ficava olhando para trás em vez de
descobrir o que deveria fazer no dia seguinte.”
Numa reunião externa sobre estratégia, Tom divisou uma oportunidade
para mudar o modo de pensar das pessoas. A conversa começou com luga-
res-comuns antigos: a empresa precisava aumentar os ganhos dos acionistas
Liderança que gera resultados 15
e o retorno sobre ativos. Tom acreditava que esses conceitos não tinham o
poder de inspirar um gestor de restaurante a ser inovador ou fazer mais do
que um trabalho meramente satisfatório.
Assim, ele tomou uma atitude ousada. No meio de uma reunião, fez um
apelo apaixonado aos colegas para que pensassem a partir da perspectiva
dos clientes. “Os clientes querem conveniência”, disse ele. A empresa não
estava no mercado de restaurantes, estava no mercado de distribuição de
pizzas de alta qualidade, fáceis e convenientes de se obter. Essa noção – e
nenhuma outra – deveria impulsionar tudo o que a empresa fizesse.
Com seu entusiasmo vibrante e sua visão clara – marcas do estilo vi-
sionário –, Tom preencheu um vácuo na liderança. De fato, seu conceito
tornou-se o cerne de uma nova definição da missão da empresa. Mas essa
inovação conceitual foi só o começo. Tom assegurou-se de que a missão se
inserisse no processo de planejamento estratégico como o fator propulsor
de seu crescimento. E garantiu que essa visão fosse articulada de tal modo
que os gestores dos restaurantes em cada local compreendessem que eram
a chave para o sucesso do negócio e que tinham liberdade para descobrir
novos métodos de distribuição de pizza.
As mudanças surgiram rapidamente. Em questão de semanas, muitos
gestores locais começaram a obter novos recordes de entrega das pizzas.
Melhor ainda, passaram a agir como empreendedores, encontrando solu-
ções criativas de locação para abrir novas filiais: quiosques em esquinas
movimentadas e em estações de ônibus e trens, até mesmo carrocinhas em
saguões de aeroportos e de hotéis.
O sucesso de Tom não foi um golpe de sorte. Nossa pesquisa indica
que dos seis estilos de liderança, o visionário é o mais eficaz, impulsio-
nando cada aspecto do clima. Vejamos o caso da clareza, por exemplo.
O líder visionário motiva as pessoas fazendo com que fique claro para
elas como seu trabalho se encaixa numa visão maior da organização.
Profissionais que trabalham para líderes assim compreendem a impor-
tância e a razão do que fazem. A liderança visionária também maximiza
o comprometimento com os objetivos e a estratégia da organização. Ao
enquadrar as tarefas individuais dentro de uma visão maior, o líder visio-
nário define padrões que circulam essa visão. Quando ele dá o feedback
de um desempenho – seja positivo ou negativo –, o único critério é se
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Autoconhecimento
• Autoconhecimento emocional: a aptidão de ler e compreender suas emoções
assim como de reconhecer seu impacto no desempenho profissional, nos rela-
cionamentos, etc.
• Precisão na autoavaliação: uma avaliação realista de suas forças e de suas limi-
tações.
• Autoconfiança: uma noção forte e positiva de seu próprio valor.
Autogestão
• Autocontrole: a capacidade de manter sob controle emoções e impulsos de-
sintegradores.
• Confiabilidade: uma demonstração consistente de honestidade e integridade.
• Conscienciosidade: capacidade de lidar consigo mesmo e com suas responsa-
bilidades.
• Adaptabilidade: aptidão para se adaptar a situações de mudança e para supe-
rar obstáculos.
• Disposição para conquistas: o ímpeto para atingir um padrão interior de exce-
lência.
• Iniciativa: prontidão para aproveitar oportunidades.
Consciência social
• Empatia: aptidão para se colocar no lugar do outro, compreender seu ponto de
vista e assumir um interesse ativo por suas preocupações.
• Consciência organizacional: capacidade de ler as tendências da vida organiza-
cional, construir redes de tomada de decisão e lidar com questões de natureza
política.
• Disposição para atender ao cliente: capacidade de reconhecer e ir ao encontro
das necessidades dos clientes.
Destreza social
• Liderança visionária: aptidão para assumir o comando e inspirar os outros por
meio de uma visão convincente.
• Influência: aptidão para manejar uma gama ampla de táticas de persuasão.
• Desenvolvimento focado nos outros: propensão para incrementar a capacita-
ção de outros profissionais mediante feedback e orientação.
• Comunicação: aptidão para ouvir e enviar mensagens claras, convincentes e
afinadas.
• Catalisação de mudanças: capacidade de dar início a ideias e liderar pessoas
numa nova direção.
• Gestão de conflitos: habilidade para atenuar divergências e orquestrar resolu-
ções.
• Construção de vínculos: proficiência no cultivo e na manutenção de uma rede
de relacionamentos.
• Trabalho em equipe e colaboração: competência para promover cooperação e
formar equipes.
O estilo afetivo
Se o líder coercitivo ordena “Faça o que eu digo” e o visionário con-
voca “Venha comigo”, o líder afetivo diz “As pessoas em primeiro lugar”.
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O estilo democrático
Irmã Mary era diretora de uma instituição educacional católica nu-
ma grande área metropolitana. Uma das escolas – a única particular num
bairro pobre – estava perdendo dinheiro havia anos, e a arquidiocese não
podia mais mantê-la aberta. Quando a irmã Mary recebeu a ordem para
que encerrasse suas atividades, ela não foi simplesmente fechar as portas.
Convocou uma reunião com todos os professores e toda a equipe da escola
e explicou a eles os detalhes da crise financeira – era a primeira vez que
qualquer funcionário era incluído na visão de negócios da instituição. Ela
pediu que sugerissem maneiras de manter a escola aberta e de como cuidar
do processo de fechamento, se a situação chegasse a esse ponto. A irmã
Mary passou grande parte do tempo na reunião apenas ouvindo.
Fez a mesma coisa em reuniões que se seguiram com pais de alunos e
com a comunidade, e durante uma série de reuniões com os professores e a
equipe administrativa. Após dois meses de reuniões, o consenso era claro:
a escola precisaria ser fechada. Foi elaborado um plano para transferir alu-
nos para outras escolas da instituição.
O resultado final não foi diferente do que seria se a irmã Mary tivesse
simplesmente fechado a escola no dia em que foi instruída a fazer isso. Mas,
ao permitir que os membros da equipe chegassem a essa decisão coletiva-
mente, a irmã não precisou enfrentar as reações que viriam dessa ação. As
pessoas lamentavam a perda da escola, mas compreenderam sua inevitabi-
lidade. Ninguém realmente se opôs ao fechamento.
Compare-se este caso com outro da nossa pesquisa, o de um padre que
chefiava outra escola católica. Ele também foi instruído a fechá-la, e o fez,
por decreto. O resultado foi desastroso: pais moveram ações contra a esco-
la, houve manifestações, e os jornais locais publicaram editoriais atacando
a decisão. O padre passou um ano resolvendo as disputas até poder final-
mente fechar a escola.
Liderança que gera resultados 23
passou por uma mudança brusca por conta de uma nova tecnologia, o
CEO ficou sem ação. O conselho de administração o substituiu antes que
conseguisse nomear mais uma força-tarefa para pensar sobre a situação.
O novo CEO, embora fosse democrático e afetivo dependendo da oca-
sião, baseou-se firmemente no estilo visionário, sobretudo nos primeiros
meses de sua gestão.
O estilo modelador
Assim como o estilo coercitivo, o modelador tem seu lugar no reper-
tório do líder, mas deve ser usado com moderação. Não é o que esperá-
vamos. Afinal, as marcas registradas do estilo modelador parecem ser
admiráveis. O líder estabelece padrões de desempenho extremamente
elevados e ele mesmo serve de exemplo. É obsessivo quanto a fazer tudo
cada vez melhor e mais rápido, e pede que o acompanhem nesse sentido.
Ele rapidamente identifica os que têm baixo desempenho e exige mais de-
les. Se não são capazes de ficar à altura do padrão estipulado, os substitui.
Você pode achar que essa abordagem melhoraria os resultados, mas não
é o que acontece.
Na verdade, o estilo modelador destrói o clima. Muitos funcionários
sentem-se massacrados pelas exigências de excelência por parte do mode-
lador, e seu moral cai. As diretrizes para o trabalho podem estar claras na
cabeça do líder, mas ele não as enuncia com clareza. Espera que os outros
saibam o que devem saber e chega até a pensar: “Se eu preciso explicar a
vocês, é sinal de que não são as pessoas certas para este emprego.” O traba-
lho passa a ser não uma questão de fazer o melhor possível seguindo um
roteiro claro, mas de adivinhar o que o líder quer. Ao mesmo tempo, os
colaboradores sentem com frequência que o modelador não confia que eles
trabalhem bem do seu próprio jeito ou que tomem a iniciativa. A flexibili-
dade e a responsabilidade se dissipam; o trabalho fica tão focado em tarefas
e tão rotineiro que acaba sendo maçante.
Quanto a recompensas, o modelador ou não dá feedback sobre como
as pessoas estão se saindo ou intervém para assumir o controle quando
acha que estão se atrasando. E se o líder se ausenta, as pessoas se sentem
perdidas, pois estão acostumadas a ter sempre o “perito” estabelecendo as
regras. Finalmente, o comprometimento diminui sob o regime de um líder
Liderança que gera resultados 25
modelador porque as pessoas não têm noção de como seus esforços pes-
soais se encaixam no objetivo mais amplo.
Como exemplo do estilo modelador, consideremos o caso de Sam, um
bioquímico de pesquisa e desenvolvimento em uma grande companhia
farmacêutica. A grande aptidão técnica de Sam fez dele um astro num pis-
car de olhos: era a ele que todos recorriam quando precisavam de ajuda.
Logo foi promovido a chefe de uma equipe que desenvolvia um novo pro-
duto. Os outros cientistas na equipe eram tão competentes e automotiva-
dos quanto Sam; sua função como líder acabou transformando-o em um
modelo de como fazer um trabalho científico de primeira linha sob grande
pressão de prazo, intervindo quando necessário. Sua equipe completou a
tarefa em tempo recorde.
Mas então veio outra nomeação: Sam foi encarregado de chefiar a área
de pesquisa e desenvolvimento de toda a sua divisão. Quando suas tarefas
se expandiram e ele precisou articular uma visão mais geral, coordenar
projetos, delegar responsabilidade e ajudar a desenvolver outras pessoas,
Sam se perdeu. Ao não confiar que os subordinados fossem tão capacita-
dos quanto ele, tornou-se um chefe altamente controlador, obcecado com
detalhes e assumindo a tarefa de outros quando o nível do desempenho
deles caía. Em vez de acreditar que melhorariam com orientação e aper-
feiçoamento, Sam acabava trabalhando durante noites e fins de semana
depois de intervir para assumir o lugar do líder de uma equipe de pesqui-
sa que estava deixando a desejar. Finalmente, seu próprio gestor sugeriu,
para seu alívio, que voltasse à antiga função à frente de uma equipe de
desenvolvimento de produto.
Apesar das falhas de Sam, o estilo modelador nem sempre acaba em
desastre. Essa abordagem funciona bem quando todos os funcionários
estão estimulados, são altamente competentes e não precisam de muita
direção ou coordenação – por exemplo, no caso de líderes de profissionais
altamente qualificados e automotivados, como grupos da área de pesqui-
sa e desenvolvimento ou equipes em escritórios de advocacia. E, tendo
uma equipe qualificada sob sua liderança, o modelador faz exatamente
isto: conclui o trabalho a tempo, ou até mesmo antes do prazo. Mas como
todo e qualquer estilo de liderança, o modelador nunca deve ser usado
isoladamente.
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que seu trabalho seja mais desafiador. Ou aquela conversa inicial poderia
sinalizar que o funcionário precisa receber um ultimato: ou melhora o ren-
dimento ou será demitido.
Como exemplo de uma liderança fluida em ação, considere o caso de
Joan, a gerente-geral de uma grande divisão numa empresa global de ali-
mentos e bebidas. Joan foi nomeada para sua função quando a divisão en-
frentava uma profunda crise. Já fazia seis anos que não atingia suas metas
de lucratividade; no ano anterior tinha perdido 50 milhões de dólares. A
autoestima da equipe de gestão era das piores; falta de confiança e ressenti-
mento só faziam piorar o cenário. A diretriz que Joan recebeu dos superio-
res era clara: recuperar o negócio.
E Joan recuperou, fazendo isso com uma fluidez na troca de estilos de lide-
rança que é muito rara. Desde o início ela se deu conta de que sua margem de
tempo e de manobra era muito pequena no que dizia respeito a demonstrar
uma liderança eficaz e estabelecer uma relação de confiança. Sabia também
que precisava urgentemente se informar sobre o que não estava funcionando,
e assim sua primeira tarefa foi ouvir o que pessoas-chave tinham a dizer.
Na primeira semana no cargo teve reuniões no almoço e no jantar com
os membros da equipe de gestão. Joan queria compreender como cada pes-
soa entendia a situação atual. Mas seu foco não era tanto levantar diag-
nósticos, mas conhecer melhor os gestores pessoalmente. Nesse momento
Joan empregou o estilo afetivo: ela se interessou por suas vidas, seus so-
nhos, suas aspirações.
Assumiu também o papel de treinadora, buscando maneiras pelas quais
pudesse ajudar os membros da equipe a alcançar o que queriam profissio-
nalmente. Por exemplo, um gestor que estava tendo um feedback de que
não atuava bem em equipe confiou a ela suas preocupações. Reconhecendo
que era um executivo talentoso e um ativo valioso para a empresa, Joan
fez um acordo com ele, segundo o qual ela lhe diria em particular quando
suas ações estivessem minando seu objetivo de ser considerado um bom
membro de equipe.
Ela deu sequência a essas conversas individuais com um seminário de
três dias fora do ambiente empresarial. Seu objetivo era criar um espí-
rito de equipe, de modo que cada um assumisse qualquer solução que
surgisse para os problemas. Sua postura inicial no evento foi a de líder
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comuns são: “Mas eu só tenho dois destes!” e “Não posso usar todos esses
estilos. Não seria natural”.
É compreensível que se sintam assim, e em alguns casos o antídoto é re-
lativamente simples. O líder pode compor uma equipe com membros que
utilizem os estilos que ele não domina. Tome o caso de uma vice-presidente
de manufatura. Ela conduzia com sucesso um sistema global de fabricação
usando o estilo afetivo. Com frequência encontrava pessoalmente funcio-
nários da sua equipe, reunindo-se com gestores de fábricas, atendendo às
suas necessidades mais urgentes e demonstrando quanto se preocupava
com eles. Ela deixou a estratégia da divisão – eficiência extrema – com um
colaborador em quem confiava e que possuía uma perspicaz compreensão
de tecnologia e delegou o controle dos padrões de desempenho a um colega
adepto da abordagem visionária. Também tinha na equipe um modelador,
que sempre a acompanhava nas visitas às fábricas.
Uma abordagem alternativa, e a que eu mais recomendaria, seria os lí-
deres expandirem os próprios repertórios de estilo. Para isso, eles precisam
primeiro compreender quais competências da inteligência emocional fa-
zem parte dos estilos de liderança que eles não possuem e, depois, trabalhar
assiduamente para aprimorá-las.
Por exemplo, um líder afetivo é forte em três competências da inteligên-
cia emocional: empatia, construção de relacionamentos e comunicação. A
empatia – a aptidão para perceber como as pessoas estão se sentindo no
momento – permite ao líder afetivo responder a um funcionário de um mo-
do que é altamente coerente com as emoções dessa pessoa, formando um
vínculo. Esse tipo de líder também demonstra ter facilidade para criar novos
relacionamentos, interessar-se por conhecer melhor alguém e cultivar uma
ligação com essa pessoa. E por fim, um bom líder afetivo domina a arte da
comunicação interpessoal, especialmente a de dizer a coisa certa ou fazer o
gesto simbólico adequado no momento apropriado.
Assim, se você é um líder modelador que quer se capacitar a usar o
estilo afetivo mais frequentemente, vai precisar melhorar seu nível de
empatia e, talvez, as aptidões para construir relacionamentos ou para se
comunicar com eficácia. Em outro exemplo, um líder visionário que quer
acrescentar o estilo democrático no repertório pode precisar trabalhar
em suas capacidades de colaboração e comunicação. Esse conselho de
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no emprego um laboratório de estudo. Por exemplo, Jack descobriu que era em-
pático quando tudo estava calmo, mas que numa crise ele saía de sintonia com os
outros. Essa tendência diminuía sua capacidade de ouvir exatamente nos momentos
em que mais precisava. O plano de Jack exigia que ele focasse em seu comporta-
mento em situações difíceis. Assim que sentia que estava ficando tenso, sua tarefa
era recuar imediatamente, deixar a outra pessoa falar e depois pedir esclarecimen-
to. O importante era não agir com criticismo ou hostilidade quando estivesse sob
pressão.
A mudança não veio facilmente, mas com a prática Jack aprendeu a acalmar os
ânimos, entrando num diálogo em vez de criar conflitos. Embora nem sempre con-
cordasse com a pessoa, pelo menos ele lhe dava a oportunidade de defender seu
ponto de vista. Ao mesmo tempo, Jack praticou também o hábito de oferecer aos
subordinados diretos mais feedback positivo de seu desempenho, lembrando a eles
como seu trabalho contribuía para a missão do grupo. E se conteve do impulso de ser
altamente controlador em relação à atuação deles.
Jack se reunia com seu coach a cada uma ou duas semanas para fazer uma revi-
são de seu progresso e receber orientação para problemas específicos. Por exemplo,
de vez em quando ele se surpreendia voltando às velhas táticas modeladoras – in-
terrompendo a ação das pessoas, intervindo para assumir o que estavam fazendo e
irrompendo em acessos de raiva. Quase imediatamente ele se arrependia. Ele e seu
coach dissecavam essas recaídas para descobrir o que havia trazido à tona esses
velhos métodos e o que fazer da próxima vez em situações semelhantes. Essas me-
didas de prevenção vacinam as pessoas contra futuros lapsos ou evitam que sim-
plesmente desistam.
Em seis meses Jack melhorou bastante. Os próprios registros demonstravam que
tinha reduzido o número de rompantes de um ou mais por dia no início para somente
um ou dois por mês. O clima melhorou vertiginosamente e os números que expressa-
vam os resultados da divisão estavam começando a subir.
Por que o processo de aprimorar uma competência da inteligência emocional leva
meses, e não dias? Porque os centros emocionais do cérebro, e não só o neocórtex,
estão envolvidos. O neocórtex, o cérebro pensante que aprende aptidões técnicas e
capacidades puramente cognitivas, assimila conhecimento muito rápido, mas o cé-
rebro emocional não. Para dominar um novo comportamento, os centros emocionais
precisam de repetição e de prática. Aprimorar sua inteligência emocional, portanto,
é como mudar hábitos. Os circuitos cerebrais que conduzem hábitos de liderança
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