Aula 05 - Recorrências II
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Recorrências - Parte II
Em geral, nesta aula, trataremos equações de recorrência lineares que dependem so-
mente dos dois termos anteriores. Inicialmente, vamos estudar o caso em que as raı́zes da
equação caracterı́stica (que definiremos no texto) são distintas.
an = 3an−1 − 2an−2 .
Podemos escrever an − an−1 = 2 (an−1 − an−2 ) e, em seguida, multiplicar telescopica-
mente várias delas
an − an−1 = 2n−1
an−1 − an−2 = 2n−2
:
a2 − a1 = 2
e chegamos a an − a1 = 2 + ... + 2n−2 + 2n−1 , ou seja, an = 2n − 1.
2 Sequência de Fibonacci
Como já definimos anteriormente, seus termos são dados por F1 = F2 = 1 e, para
n ≥ 3, Fn = Fn−1 + Fn−2 . Na verdade, os cálculos ficam mais interessantes escrevendo
Fn+1 = Fn +Fn−1 . Seria difı́cil ’pedir emprestado’ uma quantidade inteira desta vez pois há
somente Fn no membro direito. Assim, vamos chamar de λ a quantidade que será passada
para o membro esquerdo, ou seja,
1 1−λ
= ,
−λ 1
ou seja,
λ2 − λ − 1 = 0,
a qual chamaremos de equação caracterı́stica da sequência de Fibonacci. Observe desde
já que os coeficientes dessa equação são os mesmos da recorrência que define a sequência.
Sendo λ1 e λ2 as raı́zes, aqui será mais relevante saber que λ1 + λ2 = 1 e λ1 · λ2 = −1 (mas
veja que ambas são reais e distintas) do que escrever seus valores pela fórmula de Baskara.
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ou seja,
Fn+1 − λ1 Fn = λ2 (Fn − λ1 Fn−1 ) .
Assim, deixamos a equação pronta para escrevê-la várias vezes e fazer o produto te-
lescópico
Fn+1 − λ2 Fn = λn1 .
A diferença entre esses 2 últimos resultados gera
λn1 − λn2
Fn =
λ1 − λ2
lembrando que λ1 6= λ2 . Substituindo os valores de λ1 e λ2 , chegamos ao resultado desejado
√ !n √ !n
1 1+ 5 1 1− 5
Fn = √ −√ .
5 2 5 2
Mas há um pequeno problema. Esse método é bastante trabalhoso. A boa notı́cia é que
podemos deixá-lo como uma quase demonstração e realizar, na prática, os seguintes passos:
O termo geral é dado por Fn = Aλn1 + Bλn1 (essa fórmula pode ser encontrada refazendo
os cálculos para a recorrência mais geralmente, ou seja, com a equação xn = axn−1 +bxn−2 ).
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As constantes A e B são dadas pelos valores dos termos iniciais. É interessante, para re-
duzir as contas, calcular o termo de ordem ’0’, que, no caso da sequência de Fibonacci, é
F0 = 0.
Vejamos como seria, então, a resolução na prática para encontrar o termo geral da
sequência de Fibonacci.
0=A+B
1 = Aλ1 + Bλ2
cuja solução é A = −B = √1 .
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Portanto,
√ !n √ !n
1 1+ 5 1 1− 5
Fn = √ −√ .
5 2 5 2
Problema 1. Um garoto tem n reais. Todo dia, ele realiza exatamente uma das seguintes
compras: um bolo que custa R$ 1, 00, um sorvete que custa R$ 2, 00 ou um pastel que
também custa R$ 2, 00. De quantas maneiras o menino pode gastar seu dinheiro?
Assim, para gastar os últimos reais, ou ele gasta n − 1 reais primeiramente e compra
um bolo no final, ou ele gasta n − 2 reais inicialmente e, em seguida, compra um sorvete
ou um pastel. Portanto, podemos escrever
an = an−1 + 2an−2 ,
com a1 = 1 (só dá pra comprar 1 bolo) e a2 = 3 (comprando 2 bolos ou 1 sorvete ou 1
pastel).
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ii) Termos geral: an = A · 2n + B · (−1)n . Podemos calcular a0 , que não faz sentido para
o gasto do dinheiro, mas existe na sequência associada: a2 = a1 + 2a0 ⇒ a0 = 1. Agora,
para n = 0 e n = 1
A+B =1
2A − B = 1,
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cuja solução é A = 3 e B = 13 . Assim
2n+1 + (−1)n
an = .
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Problema 2. Determine o termo geral da sequência definida pela recorrência a1 = 1, a2 = 4
e an = 4an−1 − 3an−1 para n ≥ 3.
Problema 4. Considere um retângulo 1 × n, que deve ser preenchido por dois tipos de
retângulos menores 1 × 1 e 1 × 2. De quantas maneiras se pode fazer isso?
Problema 5. (OPM) Uma escada tem n degraus. Para subi-la, em cada passo, pode-se
subir um ou dois degraus de cada vez. De quantos modos diferentes pode-se subir a escada?
Solução. Inicialmente, veja que essa recorrência não depende dos dois termos anteriores.
A parcela 1 no membro da direita, na verdade, não é bem-vinda. Assim, de
ak+1 = 3ak + 1
ak = 3ak−1 + 1
3n − 1
obtemos ak+1 − 4ak + 3ak−1 = 0. O termo geral dessa recorrência é an = (a de-
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monstração deixamos para o leitor).
3155 − 1
Logo, a155 = . Para finalizar, deixo como sugestão que 35 − 1 = 242 = 11 × 22.
2
21 3
Problema 7. Seja {an } uma sequência tal que a1 = e 2an − 3an−1 = n+1 , n ≥ 2.
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Encontre o valor de a2 e a lei de recorrência de cada termo em função dos dois termos
imediatamente anteriores.
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α2 = −α + 1.
Daı́,
α3 = −α2 + α = 2α − 1
α4 = 2α2 − α = −3α + 2
α5 = −3α2 + 2α = 5α − 3.
Será que existe um padrão entre os coeficientes que aparecem no lado direito de cada
potência de α? Sim, existe! Na próxima aula, que será sobre indução finita, estaremos
aptos a provar que
aα2 + bα + c = 0
aβ 2 + bβ + c = 0.
Daı́, multiplicando por αn−1 e β n−1 , respectivamente, temos
ou seja,
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αn − β n
Problema 10. Sejam α e β as raı́zes de x2 + x − 1 = 0. Sendo an = , n = 1, 2, 3, ....
α−β
Determine os dois primeiros termos a1 e a2 dessa sequência e a lei de recorrência de cada
termo em função dos dois termos imediatamente anteriores.
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Dicas
5. Para finalizar, ou ele sobe um degrau a partir do degrau n − 1, que pode ser alcançado
de an−1 maneiras, ou ele sobe dois degraus a partir do degrau n − 2, que pode ser
alcançado de an−2 maneiras.
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7. Multiplique a equação de recorrência por 2 e subtraia de 2an−1 − 3an−2 = n , que é
2
a equação dada substituindo n por n − 1.
Respostas
3n − 1
2. an =
2
√ !n √ !n
5+3 5−3
3. an = −
2 2
9. −3