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Aula 2

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BIOMECÂNICA DO ESPORTE E

DO EXERCÍCIO
AULA 2

Prof.ª Renata Wolf


CONVERSA INICIAL

O core envolve a musculatura de estabilização do corpo humano. Suas


funções são imprescindíveis para manter a postura ereta, até o controle dos mais
complexos movimentos relacionados ao esporte. Quando pouco estimulado e
quanto mais fraco, maiores as chances de lesões na coluna vertebral. Portanto,
nesta aula discutiremos sobre o core, desde sua anatomia óssea e muscular até
funções e cuidados básicos para preservar essas estruturas durante os
exercícios.

TEMA 1 – CONCEITO E ANATOMIA DO CORE

O core tem um papel importante na estabilização corporal e na prevenção


de lesões na coluna vertebral, tanto em movimentos simples, como levantar um
objeto pesado, até os movimentos complexos relacionados as modalidades
esportivas.

1.1 Conceito

Anatomicamente, o Core envolve as musculaturas que suportam e


estabilizam a região lombopélvica (Bliss; Teeple, 2005). Essa musculatura fica
ao redor de toda a região do tronco e inclui os músculos abdominais em sua
região anterior, os músculos paravertebrais em sua região posterior e o
diafragma na sua região superior (Bliss; Teeple, 2005). Todos esses músculos
têm ligações diretas ou indiretas com a coluna vertebral, que conecta os
membros superiores e os membros inferiores.

1.2 Anatomia região abdominal

A região abdominal refere-se à porção média do tronco, entre a pelve e o


diafragma. Ao contrário de outras estruturas do tronco, o abdômen não tem
proteção óssea anteriormente. É formado por músculos em suas paredes
laterais e anteriores e, posteriormente, pela coluna vertebral. Essa anatomia
confere ao abdômen a maior mobilidade do tronco. Os músculos abdominais
podem ser divididos em anterolaterais e posteriores. Os músculos anterolaterais
se estendem ao púbis, à crista ilíaca, às costelas inferiores e à coluna vertebral.
Alguns músculos posteriores, como o ilíaco e psoas, são comuns ao quadril.

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Cinco músculos compõem a porção anterolateral do abdômen: reto abdominal,
oblíquo interno, oblíquo externo, transverso do abdômen e piramidal:

1. Reto abdominal: é o músculo mais superficial do abdômen. É longo e


recobre toda a face anterior do abdômen. A origem ocorre na crista ilíaca
e sínfise púbica. Tem sua inserção nas cartilagens da 5ª a 7ª costelas e
no processo xifoide. Tem como função a flexão lombar e auxilia na
expiração forçada.
2. Piramidal: é pequeno e plano, e como o nome já diz, tem formato
triangular. Está situado no interior da bainha do reto do abdômen, na
região inferior próximo ao púbis. Sua origem é na face ventral do púbis,
e sua inserção é na linha alba. Sua função é de tensionar a linha alba.
3. Oblíquo externo: é um músculo grande, plano e quadrangular. Recobre a
face lateral e anterior do abdômen, localizado lateralmente ao reto
abdominal. Tem sua origem na 5ª a 12ª costelas, e sua inserção é na
crista ilíaca e na linha alba. Suas funções são de compressão do
abdômen, flexão e rotação do tronco para o lado oposto, além de auxiliar
na expiração forçada.
4. Oblíquo interno: é menor e mais fino que o músculo oblíquo externo. Está
localizado entre o oblíquo externo e o transverso do abdômen. Tem sua
origem ocorre na crista ilíaca, fáscia toracolombar e dois terços laterais
do ligamento inguinal, quanto sua inserção ocorre nas 7ª a 10ª cartilagens
costais e a linha alba. Suas funções são de compressão do abdômen,
flexão e rotação do tronco para o mesmo lado, além de auxiliar na
expiração forçada.
5. Transverso do abdômen: possui esse nome porque suas fibras correm
em direção transversal pelo abdômen. Está situado na parte mais
profunda da parede muscular, nas regiões laterais e anterior do
abdômen. Sua origem é na crista ilíaca, ligamento inguinal, fáscia lombar
e na 5ª a 10ª cartilagens costais. A inserção ocorre no processo xifoide,
na linha alba e no púbis. Sua função é de comprimir o abdômen para
estabilizar a coluna vertebral.

Os músculos que compõem a porção posterior do abdômen são: ilíaco,


psoas maior, psoas menor e quadrado lombar.

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1. Ilíaco: faz parte do músculo iliopsoas. Tem sua origem na fossa ilíaca e
sua inserção no trocânter menor. Assim, é um músculo que também atua
nos movimentos da articulação do quadril. Sua função no tronco é de
flexão da coluna vertebral.
2. Psoas maior: faz parte do músculo iliopsoas. Tem sua origem nos corpos
vertebrais de L1 a L4 r nos processos transversos de T12 a L5, e sua
inserção ocorre no trocânter menor. Percebe-se que o músculo ilíaco e o
psoas maior têm a mesma inserção, por isso é chamado de músculo
iliopsoas. Assim, é um músculo que também atua nos movimentos da
articulação do quadril. Sua função no tronco é de flexão da coluna
vertebral.
3. Psoas menor: tem sua origem na superfície lateral da vértebra T12 e da
vértebra L1. Sua inserção ocorre na eminência iliopúbica e na linha
pectínea do púbis. Também tem função nos movimentos da pelve e do
quadril. De forma geral, suas funções são secundárias. No tronco, esse
músculo auxilia na flexão e inclinação lateral da coluna vertebral.
4. Quadrado lombar: encontra-se profundamente dentro do abdômen e é
dorsal ao iliopsoas. Tem sua origem na crista ilíaca do ílio e inserção na
12ª costela e apófises transversais das 1ª a 4ª vértebras lombares. Suas
ações incluem a extensão da coluna lombar, a inclinação lateral
homolateral e auxílio na expiração.

1.3 Anatomia da coluna vertebral

A coluna vertebral fornece suporte rígido ao corpo humano e flexibilidade.


É uma estrutura complexa que liga os membros inferiores e os membros
superiores. Na coluna vertebral há 33 vértebras, sendo que 24 são móveis e
contribuem para o movimento do tronco. As vértebras estão dispostas em quatro
curvaturas, que ajudam a suportar as cargas internas e externas e a manter o
equilíbrio; são elas: a lordose cervical, a cifose torácica, a lordose lombar e a
cifose sacrococcígea. Quando as curvaturas da coluna vertebral são exageradas
– hiperlordose ou hipercifose – ela será mais móvel. No entanto, se as curvaturas
forem atenuadas – retificação das porções da coluna vertebral – a coluna
vertebral será mais rígida. As regiões cervical e lombar são as mais móveis da
coluna vertebral, já as regiões torácica e pélvica são as mais rígidas.

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A coluna cervical tem 7 vértebras, a coluna torácica 12 vértebras, a coluna
lombar 5 vértebras e a região sacrococcígea, formada por 5 vértebras sacrais
fundidas e pelas 4 vértebras fundidas do cóccix (Sobotta, 2012). O segmento
móvel das vértebras consiste em duas vértebras adjacentes e um disco
intervertebral que as separa. O disco vertebral é constituído por um disco fibroso
periférico composto por tecido fibrocartilaginoso, chamado anel fibroso, e uma
substância interna, elástica e macia, chamada núcleo pulposo. Os discos
formam fortes articulações, permitem vários movimentos da coluna vertebral e
absorvem os impactos.
A estrutura das vértebras é semelhante por todo o segmento móvel da
coluna vertebral, exceto pelas duas primeiras vértebras cervicais, a atlas (C1) e
a áxis (C2), por possuírem sete elementos básicos (Figura 1):

1. corpo;
2. processo espinhoso;
3. processo transverso;
4. processos articulares;
5. lâminas; pedículos;
6. forame vertebral.

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Figura 1 – A estrutura das vértebras

Crédito: Ellen Bronstayn/Shutterstock.

A coluna vertebral tem outro papel importante no corpo: o de proteger a


medula espinhal. A medula espinhal avança através das vértebras num canal
formado pelo corpo, pedículos e pilares das vértebras, o disco vertebral e um
ligamento, o ligamento amarelo. Nervos periféricos da medula saem das
vértebras pelo forame intervertebral, que formam agregados de fibras nervosas
e inervam o corpo todo. Por isso, lesões na coluna vertebral podem levar a
pinçamentos dos nervos, levando a formigamentos, dores adjacentes,
incapacidade física e, em casos mais sérios, lesões medulares, como paraplegia
e tetraplegia.
A região lombar da coluna vertebral possui as vértebras com maior corpo
vertebral, pois é a região submetida às maiores cargas no sistema esquelético.
As cinco vértebras da região lombar são grandes, com corpos mais largos nas

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laterais do que no diâmetro anteroposterior. Também são maiores verticalmente
na parte anterior do que na parte posterior. Os pedículos do arco vertebral das
vértebras lombares são curtos, os processos espinhosos são amplos e
pequenos processos transversos se projetam para trás, para cima e para os
lados (Sobotta, 2012). Os discos intervertebrais da região lombar são espessos,
sendo mais espessas na região ventral do que na região dorsal, pois isso
contribui para a curvatura da região lombar, a lordose lombar.
Os músculos da região lombar da coluna vertebral são: longuíssimo
torácico, iliocostal lombar, espinhal do tórax, multífido e intertransversal.
1. Longuíssimo torácico: esse é um longo músculo com uma origem vertebral
nos processos espinhosos e inserções nos processos costais das vértebras
lombares. O músculo longuíssimo pode estender a coluna sob contração
bilateral, e a contração unilateral realiza a inclinação homolateral da coluna
vertebral.
2. Iliocostal lombar: é um músculo longo, que contém três porções – a cervical,
torácica e lombar. Em relação à porção lombar, sua origem ocorre na face
dorsal do sacro, e sua inserção ocorre no ângulo das seis últimas costelas.
Esse músculo realiza a extensão e a inclinação homolateral da coluna
vertebral.
3. Espinhal: é um músculo que contém três porções – da cabeça, do pescoço
e do tórax. Em relação à porção torácica, sua origem ocorre nos processos
espinhosos das vértebras T11 a L2, e sua inserção ocorre nos processos
espinhosos das vértebras torácicas superiores. Tem ação de extensão da
coluna vertebral.
4. Multífido: apresenta um complexo de feixes que se originam no dorso do
sacro, nas espinhas ilíacas posteriores superiores e nos processos
mamilares das vértebras lombares, enquanto se inserem no processo
espinhoso de três a cinco vértebras acima. Realizam a estabilização e a
extensão da coluna vertebral.
5. Intertransversal: percorrem toda a coluna. Os músculos
intertransversários lombares laterais têm sua origem e inserção nos
processos costais das vértebras lombares. Já os músculos
intertransversários lombares têm sua origem e inserção nos processos
mamários das vértebras lombares. Esses músculos têm como ação a
extensão da coluna e a inclinação homolateral da coluna.

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TEMA 2 – ESTRUTURA FUNCIONAL DA COLUNA

A coluna vertebral é um segmento móvel, assim, ela é capaz de realizar


movimentos. Cada região da coluna vertebral – cervical, torácica e lombar – tem
a sua mobilidade e realiza determinados movimentos com maior ou menor
amplitude. Portanto, nesta aula vamos estudar a cinesiologia da coluna vertebral.

2.1 Região cervical

A região cervical da coluna vertebral possui sete vértebras. A curvatura


dessa região é chamada de lordose cervical. A primeira vértebra (C1) é chamada
de atlas. Faz articulação com o osso occipital da cabeça, chamada de
atlantoccipital, e com a segunda vértebra (C2), áxis, chamada de atlantoaxial. A
C2 também tem uma anatomia uma anatomia diferenciada, o que compete a
esta articulação ser a mais móvel da região cervical (Hamill; Knutzen; Derrick,
2016). As vértebras C3 a C7 possuem a anatomia comum às outras vértebras
da região torácica e lombar. Os discos vertebrais da região cervical são menores
na lateral comparada ao corpo da vértebra, maior na sua porção ventral
comparada a porção dorsal, contribuindo para a curvatura de lordose.
As vértebras cervicais são capazes de realizar movimentos de flexão e
extensão, que ocorre no plano sagital e no eixo transversal, rotação, que ocorrem
no plano transversal e no eixo longitudinal, e flexão lateral, que ocorre no plano
frontal e no eixo sagital (Kapandji, 2000).

2.2 Região torácica

Esta região é a que sofre maior restrição de movimentos. É composta por


12 vértebras, que aumentam de tamanho de acordo ao longo da coluna. Ou seja,
a vértebra T12 é maior que a vértebra T1. As vértebras torácicas estão conectas
às costelas, o que limita a realização dos movimentos. As vértebras mais
superiores têm menor amplitude nos movimentos de flexão e extensão e flexão
lateral do tronco, ao passo que as vértebras inferiores têm menor amplitude na
rotação do tronco.
As vértebras torácicas também são capazes de realizar movimentos de
flexão e extensão, que ocorre no plano sagital e no eixo transversal, rotação, que
ocorrem no plano transversal e no eixo longitudinal, e flexão lateral, que ocorre
no plano frontal e no eixo sagital (Kapandji, 2000).
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2.3 Região lombar

As vértebras lombares são as maiores da coluna vertebral, pois são as


estruturas que são mais submetidas às cargas no sistema esquelético (Hamill;
Knutzen; Derrick, 2016). A região lombar possui 5 vértebras, que tem uma
amplitude maior nos movimentos de flexão e extensão do tronco, a flexão lateral
é limitada e a rotação é muito pequena. A articulação que possui maior
mobilidade na região lombar é a lombossacral (L5 e S1), que é responsável por
grande parte da flexão e extensão.
As vértebras lombares também são capazes de realizar movimentos de
flexão e extensão, que ocorre no plano sagital e no eixo transversal, rotação, que
ocorrem no plano transversal e no eixo longitudinal, e flexão lateral, que ocorre
no plano frontal e no eixo sagital (Kapandji, 2000).

2.3 Músculos envolvidos nos movimentos

Hall (2000) afirma que os músculos do pescoço e do tronco são


designados aos pares na coluna vertebral, com um presente no lado direito e
outro no esquerdo do corpo. Assim, quando atuam de forma unilateral podem
causar a flexão lateral e/ou rotação do tronco, e quanto atuam de modo bilateral
podem causar a flexão ou extensão do tronco.
Os músculos abdominais são ativados na flexão da coluna vertebral e na
rotação. Enquanto os músculos posteriores da coluna são ativados durante a
extensão da coluna vertebral, na flexão lateral e na rotação.

TEMA 3 – FUNÇÕES DO CORE

Os músculos do core são responsáveis por dar apoio e estabilidade para


a região lombar da coluna vertebral, da pelve e do quadril. Neste tema, será
estudo a união entre o sistema muscular e esquelético do core.

3.1 Ligação entre core e coluna vertebral

Os músculos do core são responsáveis por promover a estabilidade


proximal da coluna para possibilitar mobilidade distal dos membros durante
diversas atividades, com o menor risco de lesão (Hibbs et al., 2008). O modelo
biomecânico da coluna é semelhante aos modelos biomecânicos de outros

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sistemas, os quais a longevidade dos componentes e da eficiência do sistema
dependem da precisão de cada segmento. Isso inclui o alinhamento da postura
e os padrões de movimentos, que reduzem a tensão do tecido, o que evita
traumas nas articulações ou no tecido mole, permitindo ações musculares
eficientes (Sahrmann, 2002).
Os músculos fornecem apoio e rigidez no nível intervertebral para
sustentar as forças que atuam no nosso corpo no dia a dia ou durante a
realização de algum movimento, seja ele simples ou complexo. Assim, a
estabilidade da coluna vertebral depende dos músculos que a circundam.
Quanto maior a força de cada músculo, maior a rigidez do segmento móvel da
coluna vertebral e maior a estabilidade em situações habituais, em que apenas
uma pequena quantidade de coativação muscular, em torno de 10% da força
máxima, é necessária para fornecer a estabilidade (Barr et al., 2005).
O sistema neuromuscular também é importante, pois é ele quem
coordena a atividade muscular para responder as forças inesperadas e
esperadas. Este sistema deve ativar os músculos corretos no momento certo e
na quantidade correta para proteger a coluna de lesões e também permitir que
o movimento desejado seja realizado (Barr et al., 2005).

3.2 Importância do core para o esporte e o exercício

A ausência de um bom controle dos músculos abdominais e da cintura


pélvica (transverso do abdômen, multífidos, oblíquo interno, glúteo), faz com que
o atleta ou o praticante de exercício físico seja obrigado a mudar o padrão de
movimento, sobrecarregando outros segmentos corporais e a coluna vertebral,
diminuindo a eficiência do treinamento e aumentando o risco de lesões.
A importância dos exercícios para melhorar o controle dos músculos
profundos do tronco e da necessidade de realizar esse treinamento de forma
constante é para que o atleta ou praticante de exercício físico seja capaz de se
movimentar com maior eficiência, ou seja, melhorando o padrão de movimento
e gastando menos energia.
Ainda, quando fortes, ativos e eficientes, os músculos do core também
protegem a coluna vertebral contra sobrecarga e posturas inadequadas.
Permitem também a manutenção de relações ótimas de comprimento-tensão de
músculos agonistas e antagonistas, e das forças inerentes produzidas nesta

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região, contribuindo para uma boa cinética e cinemática articular durante a
realização dos movimentos (Monteiro; Evangelista, 2010).

TEMA 4 – LESÕES COMUNS NA COLUNA LOMBAR

A coluna vertebral está sujeita a lesões, e cada região, cervical, torácica


e lombar, estão sujeitas a lesões específicas (Hamill; Knutzen; Derrick, 2016).
Neste tema, serão discutidos os mecanismos de lesões na região lombar da
coluna vertebral.

4.1 Lesões na região lombar da coluna vertebral

A região lombar da coluna vertebral é a que mais sofre lesões,


provavelmente por ser a região que suporta cargas de grandes magnitudes
(Hamill; Knutzen; Derrick, 2016). As lesões que ocorrem nessa região
acontecem, normalmente, por dois tipos de eventos que gerem força na lombar:
um evento único, chamado de macrotrauma agudo, ou microtraumas repetitivos
como resultado de lesões por uso excessivo (Micheli; Allison, 1999).
A dor lombar, também chamada de lombalgia, é muito comum e pode ter
várias causas. Distensões nos tendões da região lombar podem ocorrer em
resposta a um traumatismo mecânico ou espasmos reflexos dos músculos
(Wyke, 1983). Esse tipo de lesão também pode ocorrer em decorrência de uma
tensão elevada quando tenta-se levantar uma carga pesada com o tronco
inclinado à frente.
A dor lombar, com o passar do tempo, fica imprecisa, ou seja, não há um
ponto específico de dor, porém toda a região lombar fica dolorida. Essa dor
também pode ser causada por posturas erradas mantidas por longos períodos
de tempo. A musculatura entra em fadiga e pode ocorrer inflamação devido à má
postura (Hamill; Knutzen; Derrick, 2016). Uma má postura remete a posturas
eretas que mantêm os joelhos em hiperextensão, a lombar em hiperlordose,
ombros curvados e hiperlordose da coluna cervical. Em relação à posição
sentada, deve-se evitar cruzar as pernas no joelho, pois essa posição aumenta
a sobrecarga na região lombar. Outro tipo de postura que deve ser evitada, por
acentuar a lordose lombar, são as pernas estendidas com o quadril flexionado.
Cargas pesadas aplicadas subitamente a coluna, fazendo com que haja
esforço máximo, podem gerar forças excessivas de compressão, flexão, torção,

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uma vez que os extensores da coluna são músculos lentos, que não contraem
rapidamente (Hamill; Knutzen; Derrick, 2016).
Baixos níveis de força e flexibilidade também podem gerar lesões na
porção lombar da coluna vertebral. Músculos abdominais fracos fazem com que
não haja controle sobre a pelve, aumentando a chance de ocorrer hiperlordose.
A hiperlordose gera uma sobrecarga indevida nas articulações e nos processos
articulares posteriores e no disco intervertebral (Hamill; Knutzen; Derrick, 2016).
Músculos do core inflexíveis também são associados à dor na lombar.
Em relação às lesões por uso excessivo, impactos, grandes forças
passando pela articulação, hiperextensão da lombar, flexão da lombar que
ocorram repetidas vezes na articulação, podem ser causas das lesões. A
espondilólise é uma lesão de origem indeterminada definida como um defeito,
ou falha mecânica, com descontinuidade óssea do segmento intervertebral.
Acredita-se ser causada por fratura por estresse na pars interarticularis, ou seja,
na articulação entre duas vértebras próximas, sendo mais frequente na
articulação de L5 devido a características específicas desse segmento
(Bozdech; Dufek, 1986).
Quando há a presença de espondilólise e ocorre a translação da vértebra,
ou seja, o deslizamento da vértebra, seja ele posterior ou anterior, ocorre a
espondilolistese. Usualmente, a dor é bem tolerada. Essas lesões são
relativamente comuns em jovens atletas, responsáveis por 47% das dores
lombares. Em adultos, cai consideravelmente, sendo responsável por apenas
5% das dores lombares (Cassidy; Shaffer; Johnson, 2005).
Os discos intervertebrais na região lombar da coluna vertebral exibem
maior incidência de prolapso discal do que qualquer outro segmento da coluna
vertebral (Hamill; Knutzen; Derrick, 2016). A função dos discos intervertebrais é
de amortecer as cargas entre os corpos vertebrais. Os discos conseguem
suportar forças de compressão, cisalhamento, flexão, extensão e rotações do
tronco. No entanto, os discos não toleram com tanta eficiência o torque axial,
principalmente se associado a força de compressão. Estes mecanismos, à
medida que se repetem, desencadeiam a degeneração do núcleo pulposo, que
vai desidratar. Quando o ligamento longitudinal romper e o núcleo pulposo
degenerado migrar para dentro do canal vertebral, teremos a hérnia de disco
(Venner; Crock, 1974). A protusão discal pode acarretar compressão dos nervos

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que deixam a medula espinhal, gerando sintomas de dormência, formigamento
e dor nos segmentos corporais adjacentes.

TEMA 5 – LESÕES COMUNS NA COLUNA CERVICAL E TORÁCICA

A coluna vertebral está sujeita a lesões, e cada região, cervical, torácica


e lombar, estão sujeitas a lesões específicas (Hamill; Knutzen; Derrick, 2016).
Neste tema, serão discutidos os mecanismos de lesões na região cervical e
torácica da coluna vertebral.

5.1 Lesões na região cervical da coluna vertebral

A região cervical da coluna vertebral é muito flexível, podendo realizar os


movimentos de flexão, extensão, rotação e flexão lateral. Assim, essa região
torna-se mais vulnerável a lesões relacionadas aos movimentos de flexão e
extensão e por movimentos de chicote.
As lesões por movimentos de flexão podem estar associadas a forças de
compressão nesta região da coluna vertebral. Alguns esportes, como o futebol
americano e o salto ornamental. Quando ocorre a flexão da cervical, ocorre
também a retificação dessa região, o que diminui a flexibilidade da estrutura e
aumenta o impacto nos discos vertebrais, nos corpos vertebrais, processos e
ligamentos. Quando essa sobrecarga recebida é excedida, pode ocorrer luxação
vertebral e compressão da medula espinhal.
É preciso que os atletas mantenham a região cervical no posicionamento
e postura adequados nas realizações dos movimentos, pois essa região está
mais propensa a lesões por forças repetidas em esportes como salto em altura
e outros esportes que tenham técnicas de aterrissagem incomuns, além dos
esportes já citados anteriormente.
As lesões por movimentos de extensão vigorosa da cervical envolvem
ruptura do ligamento longitudinal anterior e a separação entre as fibras anulares
do disco e das vértebras. A hiperextensão da região cervical está mais
relacionada às lesões pelo mecanismo de chicote.
Lesão pelo mecanismo de chicote é associada a um mecanismo de
aceleração e desaceleração de transferência de energia aplicada ao pescoço,
geralmente decorrente de acidente automobilístico. O impacto pode resultar em
lesões esqueléticas e de tecidos moles, os quais podem ocasionar uma

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variedade de manifestações clínicas, que incluem cervicalgia, rigidez do
pescoço, tontura, parestesias e dificuldades cognitivas como a perda de
memória. Em casos extremos, as colisões automobilísticas causam flexão e
extensão do pescoço muito além dos limites normais, podendo ocorrer fratura da
coluna com lesão da medula e paralisia.
Outra lesão que também pode ocorrer na porção cervical da coluna
vertebral é a hérnia de disco. Os discos intervertebrais funcionam como
elementos de absorção de impacto, a sua degeneração, que se inicia
habitualmente a partir dos 40 anos de idade, provoca um estreitamento do
espaço entre as vértebras, aumentando a sobrecarga exercida sobre as
vértebras cervicais, com um consequente desgaste. Além disso, se o núcleo
pulposo degenerado dos discos intervertebrais migrar para dentro do canal
vertebral, ocorre a hérnia de disco, que comprimir a medula ou outros nervos,
gerando sintomas de formigamento e dor.

5.2 Lesões na região torácica da coluna vertebral

A região torácica da coluna vertebral não sofre lesões na mesma


frequência com que a região cervical e lombar. A região torácica tem menor
mobilidade, devido a sua ligação com as costelas, e tem maior estabilidade,
gerando assim, menor probabilidade de lesões.
A escoliose é uma curvatura anormal da coluna para um dos lados do
tronco, determinada pela rotação das vértebras, que afeta a coluna vertebral nos
três planos, sendo o desvio lateral no plano frontal, a rotação vertebral no plano
longitudinal e a lordose no plano sagital, que produz uma topografia irregular na
superfície do tronco. As curvaturas podem surgir como manifestação secundária
para compensar os desajustes causados por um distúrbio em outra parte do
corpo, que geram forças componentes nas vértebras, levando as curvaturas
anormais. Sua causa não é conhecida, porém pode estar relacionada a hábitos
posturais inadequados, traumatismos, tumores, obesidade, atividade física
imprópria, vida sedentária, tabagismo e a estirões do crescimento.
A hipercifose torácica é o aumento da curvatura torácica no plano sagital.
Na adolescência a maioria das situações de hipercifose – cifose superior a
40º/45º – são fisiológicas e corrigem com a hiperextensão do tronco. No entanto,
a hipercifose pode estar relacionada com a doença de Scheuermann, que
apresenta uma prevalência estimada 0,4% a 10 % na adolescência. A causa da
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doença de Scheuermann é desconhecida, mas este distúrbio parece ser mais
prevalente em indivíduos que manuseiam cargas pesadas e em atletas
nadadores do estilo borboleta (Ashton-Miller; Schultz, 1988).

NA PRÁTICA

Um operador de fábrica inicia a prática de musculação na academia onde


você trabalha. Na anamnese, ele diz que levanta caixas e as transporta de um
local ao outro durante todo o seu turno de trabalho. Além disso, ele reclama de
dor na lombar, tanto durante o trabalho, quanto após o expediente. Quais
orientações você daria para ele melhorar seu movimento ao levantar as caixas?
E qual seria o principal foco da prescrição de treinamento?

FINALIZANDO

O core é toda a musculatura que circunda a região lombopélvica. O core


envolve os músculos do abdômen, chamados de músculos anterolaterais e os
músculos posteriores, como o músculo longuíssimo, o iliocostal, o multífido, o
espinhal, o quadrado lombar e o intertransversal.
Essa musculatura é importante para dar estabilidade e proteger a coluna
vertebral de possíveis lesões. A coluna vertebral fornece suporte rígido ao corpo
humano e à flexibilidade. É uma estrutura complexa que liga os membros
inferiores e os membros superiores. A unidade funcional da coluna, ou seja, o
segmento móvel, possui três regiões: a cervical, a torácica e a lombar. Cada
região tem um número específico de vértebras e tamanhos de vértebras
diferentes.
As vértebras e os discos vertebrais formam articulações que permitem
movimentos de flexão, extensão e rotação do tronco. Além disso, absorvem os
impactos e resistem às forças internas e externas.
Quando a musculatura do core está enfraquecida ou tem pouca
flexibilidade, a coluna vertebral não consegue absorver os impactos e absorver
as cargas de maneira correta, podendo sobrecarregar outras estruturas e gerar
lesões.
As lesões podem ocorrer por movimentos de repetição ou, então, por
movimentos bruscos com altas cargas. Cada região da coluna vertebral está
mais predisposta a sofrer diferentes lesões. A região torácica é a que menos

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sofre lesões, pois não é tão móvel quando a região cervical e a lombar. A região
lombar é a que mais sofre lesões, uma vez que essa região é a que mais absorve
as cargas.
Portanto, a musculatura do core deve ser fortalecida e alongada, pois tem
papel importante na estabilização da coluna vertebral, tanto em movimentos
simples, repetitivos de baixa sobrecarga, quanto de movimentos complexos com
alta sobrecarga. É papel do professor de educação física entender o
funcionamento do core e realizar treinamentos específicos para essa região do
corpo humano.

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REFERÊNCIAS

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