A Complexa Sutileza Da Acao Pedagogica C

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ATRAVESSAMENTOS:

ENSINO-APRENDIZAGEM DE ARTE,
FORMAÇÃO DO PROFESSOR E
EDUCAÇÃO INFANTIL
Ana Cristina Carvalho Pereira
(org.)

ATRAVESSAMENTOS:
ENSINO-APRENDIZAGEM DE ARTE,
FORMAÇÃO DO PROFESSOR E
EDUCAÇÃO INFANTIL

Escola de Belas Artes da UFMG


2015
ORGANIZADORA Ana Cristina Carvalho Pereira

PRODUTOR EDITORIAL Marcos Alves


Projeto Gráfico, Diagramação e Capa

LOGO DO CURSO Nathalia de Souza Ridolfi

Copyright © 2015, Os autores e organizadora


Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita do editor.

Ficha catalográfica
COM BEBÊS
AÇÃO PEDAGÓGICA
A COMPLEXA SUTILEZA DA
ATRAVESSAMENTOS: ENSINO-APRENDIZAGEM DE ARTE,

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FORMAÇÃO DO PROFESSOR E EDUCAÇÃO INFANTIL
A COMPLEXA SUTILEZA DA AÇÃO
PEDAGÓGICA COM BEBÊS
Paulo Sergio Fochi

A temática que abordo neste texto é fruto que consigamos conversar de forma mais
do que nos últimos anos tenho optado profunda sobre as decisões que estamos
por estudar, dialogar, escrever e refletir: tomando, no que diz respeito a construir
a experiência dos bebês nos contextos currículos, formar professores e ser
de vida coletiva. Nesta ocasião, tratarei a professor de bebê.
respeito daquilo que chamo de “complexa
sutileza”, a fim de evidenciar como é para As questões que aqui busquei travar
esses meninos e essas meninas, recém- emergiram em certa ocasião do encontro
chegados ao mundo, darem conta de um que tive com os cursistas do Curso Educação
entorno repleto de situações a serem Infantil, Infância e Arte, promovido pela
compreendidas e tomadas para si no Escola de Belas Artes da Universidade
exercício de se tornar humano. Federal de Minas Gerais – EBA/UFMG, em
meados de agosto de 2014.
Além do desejo de destacar algumas
questões inerentes à chegada dos bebês Sendo assim, apresento os seguintes
no mundo, quero também reforçar a questionamentos: como construir
ideia de que a dimensão da docência a docência para e com as crianças
a ser construída acontece a partir da bem pequenas?; o que implica para
reinterpretação que se faz a respeito da os bebês chegar em uma instituição
nossa imagem de bebê. Essa premissa, e, cotidianamente, aventurar-se e se
apreendida a partir do pensamento de desventurar nessa jornada intensa?; e
Loris Malaguzzi (1999), parece-me ser o como criar um contexto satisfatório aos
elo que conecta a difícil e sutil tarefa de bebês, de tal modo que garanta o direito
inventar, ou reinventar, a docência com a aprender e não os acelere?. Essas são as
bebês e, ao mesmo tempo, trazer à luz a questões que me ocuparei de desenvolver,
complexidade que reside nos bebês em tendo como ponto de partida a crença de
seus inícios no mundo. que a experiência de aprendizagem dos
bebês e a reflexão sobre a constituição da
Basta estarmos um pouco atentos ao docência são complexas e sutis.
ATRAVESSAMENTOS: ENSINO-APRENDIZAGEM DE ARTE,

nosso entorno para nos darmos conta da


UM RECORTE ESPACIAL, TEMPORAL E SOCIAL:
FORMAÇÃO DO PROFESSOR E EDUCAÇÃO INFANTIL

importância de resistir a alguns discursos


sobre estimulação, agenda de atividades e AS INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL
aceleração da vida que diversos segmentos
da sociedade – incluindo a escola – estão Atualmente, o acesso de muitas crianças
promovendo em nome de uma “pseudo nas instituições voltadas à Educação
felicidade” dos bebês. Nesse sentido, o Infantil está ocorrendo cada vez mais cedo
que quero garantir nesse texto é que seja e a permanência desse público é cada vez
possível pararmos para pensar sobre a maior. Trata-se de um cálculo rápido e
nossa experiência humana, em especial, simples: não raro, nos seis primeiros anos

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de vida de uma criança, mais de cinco são Todas essas atividades, inerentes ao ser
vividos em uma instituição de educativa; humano que nasce, não só correspondem
de suas vinte e quatro horas diárias, ela a uma tipologia de experiência concreta da
passa na instituição entre dez e doze vida motivada por aquilo que poderíamos
horas; dos sete dias da semana, cinco são chamar de “ímpeto por apreender”, pois
de permanência na instituição; e, dos doze todos nós nascemos mobilizados para
meses anuais, dez ou onze são dentro da isso, como também implicam em um
instituição. esforço muito grande para organizar e
compreender todas essas aprendizagens
Além desse exaustivo tempo, é preciso que acontecem de modo intensificado nos
destacar que essas crianças recém estão primeiros dois anos de vida.
chegando à cena humana e, por essa
razão, concomitantemente, precisam-se Em contrapartida, para atender a esse
constituir como indivíduos e em um grupo, “ímpeto por apreender” dos bebês, o adulto
tarefa nada simples. Ademais, precisam precisa criar aquilo que Goldschimied
suportar o afastamento dos pais e (2007) chamou de espaço satisfatório e
estabelecer uma nova relação de confiança Pikler (2010) de entorno positivo. Significa
com adultos que não são familiares. Vale dizer que é necessário criar as condições
dizer que todas essas transformações e externas para esses meninos e meninas
informações novas acontecem de forma terem a possibilidade de colocar à prova
simultânea e em um espaço de tempo aquilo que é do seu desejo interno, ou
muito curto, quantos de nós adultos seja, apreender o mundo. Conforme dito
suportaríamos isso? anteriormente, é preciso profundamente
a organização dos espaços, dos materiais
Ao refletirmos sobre essa questão, disponibilizados e do tempo que é
percebemos que os bebês não são frágeis, garantido para as experiências dos bebês.
ao contrário, existe uma potência em
cada um deles, garantindo que suportem Ao me referir às formas os bebês estão
todos os fatores anteriormente citados. em atividades e fazer atividades para
Essa força os torna capazes de prosseguir os bebês, penso que seja importante
no percurso de suas vidas, curiosos por esclarecer ao leitor minha interpretação
compreender tudo aquilo que os cerca. sobre tais questões. A primeira diz
respeito às ações motivadas pelos bebês,
Nesse sentido, considero importante como: descobrir suas mãos, investigar um
destacar que aqui reside uma reflexão objeto qualquer que esteja próximo a eles,
necessária a ser feita nos interiores assombrarem-se com o som produzido
das escolas que acolhem bebês. É por eles mesmos, estas são atividades
ATRAVESSAMENTOS: ENSINO-APRENDIZAGEM DE ARTE,

fundamental entender o intenso leque de dos bebês. Diferentemente de fazer


FORMAÇÃO DO PROFESSOR E EDUCAÇÃO INFANTIL

atividades que já está posto às crianças tapetes sensoriais, que forçam os bebês
bem pequenas, pelo fato de desejarem se a descobrirem texturas, sons, de modo
comunicar, deslocar-se, compreender seu artificial, exemplo este que é facultado às
entorno, participar do mundo, vincular- atividades realizadas para os bebês.
se aos outros. Sendo assim, não devemos
transformá-los em alunos, com grades Além do exposto acima, os educadores
de horários e uma rotina acelerada de precisam se atentar ao silêncio e à
atividades. palavra do adulto, pois entre estes há

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uma linha tênue que separa aquilo que docência com bebês.
auxilia a criança a tomar consciência de
suas ações através da narração realizada Voltando ao aspecto da permanência
nas atividades em conjunto e o silêncio na instituição, gostaria de destacar, a
necessário para não antecipar ou criar respeito das aprendizagens pela vida
expectativas de onde os bebês devem cotidiana, que “se não são completamente
chegar em seus percursos de exploração e negadas como saberes, também não são
descobertas. verdadeiramente reconhecidas como
tais” (BROUGERE; ULMANN, 2012, p. 2).
Tenho a impressão de que não temos Atividades como aprender a caminhar,
paciência para esperar que os bebês a falar, a comer, a se relacionar e tantas
alcancem seus objetivos por si próprios. outras que estão presentes na vida de uma
Para nós, educadores, não basta que a criança pequena são secundarizadas em
criança suba um degrau da escada pela nome daquilo que temos construído como
primeira vez, pois não a percebemos como importante e necessário para a criança em
uma atividade que envolve o mais complexo uma instituição vinculada à educação.
engendramento de fatores. Desejamos
que ela logo suba todos os degraus, como Por esta razão, acredito que a escola
um simples cumprimento de etapa. Essa de Educação Infantil possa configurar-
pressa, que muitas vezes é marcada pelas se como um privilegiado lugar para
palavras de “incentivo”, está naturalizada as crianças (BARBOSA; FOCHI, 2012),
no modo como compreendemos educar as garantindo um espaço que reconheça as
crianças. aprendizagens das experiências concretas
da vida. Assim, parece-me mais adequado
Nesse sentido, também é possível afirmar compreendermos a instituição de
que existe uma impotência nos bebês Educação Infantil como contextos de vida
que exige um adulto aberto e disponível coletiva, ou seja, como um espaço-tempo
para acompanhá-los em suas aventuras de viver a coletividade em um ambiente
e desventuras na vida. Um adulto que que prioriza a dimensão vital de um sujeito
proporcione um espaço seguro, satisfatório que está desejoso por conhecer a si, ao
e equilibrado para que o bebê possa outro e ao mundo.
empreender seu desejo em aprender.
Acredito que isto sublinhe a nossa condição Como referido anteriormente, os primeiros
de sujeitos biologicamente culturais, dois anos de uma criança envolve
mostrando que nossa condição relacional aprendizagens muito rápidas, intensas e
está exatamente pela necessidade da de uma mudança de grau de dificuldade
presença do outro. imensa. Tomando como exemplo, um
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bebê chega a um grupo de berçário sem


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Essa dimensão que aqui destaco, obriga- conseguir deslocar-se, ficando apenas
nos a lançar outro olhar sobre as práticas deitado; neste mesmo ano, esse bebê,
habituais e rotineiras dos berçários. Ao provavelmente, já estará ensaiando seus
mesmo tempo, exige-nos estabelecer primeiros passos. Assim ocorre com a
outros modos de nos relacionar com a fala, com a comunicação das expressões,
ideia de bebê e criança pequena, que com o reconhecimento de situações, com
culturalmente fomos construindo e, com as pessoas e com os objetos. Por isso, é
efeito, a transcender o imaginário sobre a importante perceber que as aprendizagens

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da vida cotidiana, longe de serem fáceis de do encontro do curso de “Educação
serem feitas, envolvem uma capacidade Infantil, Infância e Arte”. Após assistirmos
de organizar, nomear e realização por a um vídeo que mostra os primeiros meses
parte das crianças. de um bebê se descobrindo, até conseguir
virar-se de cabeça para baixo, lancei ao
Como uma metáfora, tentamos vivenciar grupo de cursistas o desafio de vivenciar
essa experiência dos começos na ocasião essa experiência.

Começamos por tentar viver o que é estar a compreender algumas vias possíveis para
com o corpo apoiado em uma superfície e ser construída a docência nos berçários.
não conseguir erguer a cabeça devido ao
peso dela. A partir disso, propus ao grupo Com isso, acredito que o interesse da
que tentasse reproduzir com o seu próprio docência passa a ser por compreender
corpo o que significa descobrir a mão, “como” os bebês agem, a fim de construírem
encontrar pontos de apoio, até conseguir saberes, e não “o que” os bebês sabem.
ter controle da cabeça a ponto de se virar Conhecer, nessa perspectiva, é afirmado
de barriga para baixo. como uma ação, como verbo, já que “o
conhecer emerge a partir do próprio atuar
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Obviamente, esse tipo de experiência não no mundo” (VARELA apud CABANELLAS;


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dá conta de nos fazer sentir em absoluto HOYUELOS, 1994, p. 28).


o que vive um bebê nesse momento, mas,
por outro lado, ajuda-nos a compreender Nesta incrível jornada diária dos bebês de
outra dimensão de estar em atividade. chegarem ao mundo, seus olhos pensam,
Entender todo o esforço que um bebê pode seu corpo fala e seus dedos olham. É
fazer por si, somente para se deslocar, interno seu desejo de aprender, mas é
movimentar-se, girar-se, construir suas necessário darmos as condições externas
primeiras palavras, empilhar objetos, é um para os bebês resolverem suas questões.
modo próprio de autoatividade, que ajuda

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SABER PENSAR E COMUNICAR A COMPLEXIDADE para dois cenários: o primeiro, que trata
DAS EXPERIÊNCIAS DOS BEBÊS da gramática do acontecimento, e o outro,
que fala das emoções dos acontecimentos.
Como educadores, ao aceitarmos
e assumirmos a postura de desejos A gramática do acontecimento seria os
por conhecer as atuações infantis, elementos presentes na ação propriamente
colocamo-nos diante de um cenário dita: a intenção ou objetivo, a situação,
desconhecido. Concordo com Cabanellas a disponibilidade. O outro cenário,
e Hoyuelos (1994), ao afirmarem que, das emoções dos acontecimentos, diz
para investigarmos sobre as capacidades respeito ao que emerge das experiências
genuinamente infantis, é necessário documentadas. Trata-se da possibilidade
compreendermos que “não existe de dar visibilidade àquilo que é invisível: é
separação entre o investigador e o o dito e o não dito, o que se sabe e o que
investigado. Existe, em certo modo, um não se sabe, o que se pensa e o que não se
intervalo ‘insalvável’ entre a criança e a pensa sobre os acontecimentos.
nossa forma de nos aproximarmos a ela”
(p. 24, grifo meu). Assim, acredito que os Essa parece uma forma de criar uma
autores nos ajudam a compreender que a nova cultura da infância, de evidenciar
nossa forma de ver e falar das crianças são novas imagens a respeito dos meninos
modos que criamos para interpretá-las e e das meninas que possam confrontar
não verdades sobre elas. a sociedade sobre seus modos iniciais e
naturalizados a respeito dos bebês. Além
Por isso, é importante ficarmos atentos disso, parece-me importante destacar
às definições rápidas sobre quem são que todos nós precisamos de alguém que
os bebês e o que podem fazer. A criança nos narre a vida. Somos constituídos por
como conhecimento é inalcançável. estas narrativas que nos são feitas ao
Não existem leis gerais e universais longo de nossa existência. Sendo assim, a
que consigam definir as crianças. Nesse documentação se torna uma possibilidade
sentido, parece necessário irmos além de registro, que autoriza e convida o
da simples descrição dos fatos, buscando adulto a abrir um campo extenso na
construir uma narrativa que comunique as elaboração das narrativas, com o propósito
profundezas das ações infantis. de combinar conhecimento, realidade e
ficção, relação necessária para a nossa
Conforme registra Hoyuelos (2006), condição humana.
para Malaguzzi, “é tão importante
Sem essas histórias que nos contam desde
observar ou investigar sobre os processos pequenos, e que mais adiante lemos e
de conhecimento da criança como, imaginamos, a identidade pessoal e a
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posteriormente, saber narrá-los” (p. nossa existência como seres humanos seria
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179). Isso significa um novo paradigma impossível, porque somos animais que
necessitamos da ficção e da imaginação
para as escolas: romper com a simples para buscar (e encontrar) algum sentido
e pura descrição e avançar rumo à para nossas vidas (BARCENA; MÈLICH,
metainterpretação6. Bruner (1997), ao 2000, p. 97).
estudar a respeito da narrativa, destaca a
possibilidade de pensá-la como um lugar
6
A metainterpretação perpassa todas as etapas da Documentação Pedagógica. No momento da coleta dos
dados, nos contrastes dos dados e sua análise, na construção das narrativas, enfim, é uma competência
necessária para corromper a pura descrição e permanecer o estranhamento com o familiar.

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Na verdade, a narrativa se torna um torna possível descobrir os modos como
pretexto educativo importante na medida podemos nos relacionar com os bebês e
em que é compreendida como um “fazer como garantir a eles o direito a descobrir
parte”, praticamente como um movimento o mundo.
que possibilita a cada um conhecer e
descobrir o seu caminho, sua própria UMA SUTIL NOTA DE CONCLUSÃO
história de ser professor, para, a partir daí,
poder construir uma memória pedagógica, Ao longo do texto, tentei expressar aquelas
filosófica e estética sobre as crianças. Com questões que marcam a atual discussão
isso, “ao narrar o outro a história de vida de acerca dos bebês e da docência com
um pode adquirir sentido para a existência eles. No entanto, este tema é bastante
tanto do narrador como do personagem complexo e envolve-nos afastarmos de
da narração” (BARCENA; MÈLICH, 2000, modos fortemente naturalizados em
p. 113). Logo, o sentido de refletir e nossos discursos e nossas práticas para nos
comunicar sobre as atuações infantis aproximarmos de outros pontos de vista a
também contribui para toda comunidade, respeito das potências e impotências dos
toda escola, assumir a responsabilidade bebês.
pela educação de suas crianças e do seu
próprio futuro. Dizendo de outro modo, significa assumir
que ainda sabemos muito pouco a respeito
Para produzir narrativas não são das crianças, em especial das crianças bem
necessárias apenas palavras. As narrativas pequenas, e, talvez, jamais será possível
podem estar ancoradas em diversas chegarmos a um nível de conhecimento
formas, isoladas ou em comunhão, a fim que atenda a essa complexidade humana.
de permitir que ao serem compartilhadas Aqui reside a beleza e o mistério de estar
possam ser vistas e escutadas novamente, com os bebês. Uma pista que me parece
permitindo compreender melhor as clara é o desejo de olhar, escutar e estar
experiências documentadas. Para tanto, próximo destes meninos e dessas meninas
é preciso pensar nas diversas ferramentas que estão chegando às instituições infantis.
que se têm à disposição para as
observações e os registros das ações das Acredito ser possível avançar na
crianças, e assumir que “cada modalidade construção de uma pedagogia que esteja
[forma de documentar] acrescenta algo ou mais interessada nas crianças e nas suas
deixa algo fora” (GANDINI; GOLDHABER, possibilidades de reinventar o mundo,
2002, p. 153). do que colocá-las em uma camisa de
força para que se adaptem aos modos
Comunicar as experiências vividas pelas já existentes, prontos e acabados. Este
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crianças no cotidiano das escolas é uma me parece ser o caminho que consegue
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forma de dar valor às aprendizagens pela aceitar a complexidade e a sutileza de ser


vida cotidiana. Torna possível visibilizar os professor de bebês, ao mesmo tempo em
percursos de aprendizagens das crianças, que acolhe a complexidade da chegada
do mesmo modo que faz com que o adulto dos bebês no mundo e as maneiras sutis
construa maneiras de retroalimentar que eles vão engendrando seus modos de
sua ação pedagógica. No exercício sutil aprender.
de observação dos registros é que se

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REFERÊNCIAS GANDINI, Lella; GOLDHABER, Jeanne. Duas
reflexões sobre a documentação. In:
BARBOSA, Maria Carmen Silveira; FOCHI, EDWARDS, Carolyn; GANDINI, Lella (Org.).
Paulo Sergio. O desafio da pesquisa com Bambini: A abordagem italiana à Educação
bebês e crianças bem pequenas. In: Fórum Infantil. Porto Alegre: Artmed, 2002.
Sul de Coordenadores de Programas de
Pós-Graduação em Educação, 2012, Caxias GOLDSCHMIED, Elionor; JACKSON, Sonia.
do Sul. Anais.Caxias do Sul: AnpedSul, Educação de 0 a 3 anos: o atendimento em
2012. [CD-ROM]. creche. Porto Alegre: Artmed, 2007.

BARCENA, Fernando; MÈLICH, Joan Carles. HOYUELOS, Alfredo. La estética en el


La educación como acontecimiento ético. pensamiento y obra pedagógica de loris
Barcelona: Paidós, 2000. Malaguzzi.Barcelona: Octaedro, 2006.

BROUGERE, Gilles; ULMANN, Anne-lise. __________. La ética en el pensamiento


Aprender pela vida cotidiana. Campinas: y obra pedagógica de Loris Malaguzzi.
Autores Associados, 2012. Barcelona: Octaedro, 2004.

BRUNER, Jerome. La educación, puerta MALAGUZZI, Loris. Histórias ideias e


de la cultura. Madrid: Aprendizaje Visor, filosofia básica. In: EDWARDS, Carolyn;
1997. GANDINI, Lella; FORMAN, George. As cem
linguagens da criança. Porto Alegre: Artes
CABANELLAS, Isabel; HOYUELOS, Alfredo. Médica, 1999.
Mensajes entre líneas. Pamplona:
Ayuntamento de Pamplona, 1994. PIKLER, Emmi. Moverse en libertad:
desarrollo de la motricidad global. Madrid:
Narcea, 2010a.
ATRAVESSAMENTOS: ENSINO-APRENDIZAGEM DE ARTE,
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