19 LING LP 9ANO 3BIM Sequencia Didatica 2 TRT

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Material Digital do Professor

Língua Portuguesa – 9º ano


3º bimestre – Sequência didática 2

Concordância verbal em diferentes variedades


linguísticas
Duração: 2 aulas
Referência do Livro do Estudante: Unidade 3, Capítulo 3

Relevância para a aprendizagem


Conhecer e legitimar algumas regras de concordância verbal do português falado no Brasil,
especialmente as regras da variedade que os alunos utilizam no dia a dia, permite a eles desenvolver
mais segurança e autonomia em relação à forma como usam a língua. Além disso, comparar esses
usos com as regras da norma-padrão, a fim de discutir sua adequação, contribui para afastar os
alunos de uma postura dogmática ou preconceituosa, desenvolvendo neles uma atitude mais
reflexiva sobre os usos da língua.

Objetivos de aprendizagem
• Compreender a variação linguística como um fenômeno natural da língua, desfazendo
preconceitos linguísticos.
• Compreender algumas regras de concordância verbal em variedades não padrão, em
contraposição à norma-padrão.
• Refletir sobre algumas regras de concordância verbal em seus contextos de produção,
valorizando os diferentes falares e combatendo o preconceito linguístico.

Objeto de conhecimento e habilidades (BNCC)


Objeto de conhecimento Habilidades
(EF69LP55) Reconhecer as variedades da língua falada, o conceito de norma-
padrão e o de preconceito linguístico.
Variação linguística
(EF69LP56) Fazer uso consciente e reflexivo de regras e normas da norma-padrão
em situações de fala e escrita nas quais ela deve ser usada.
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3º bimestre – Sequência didática 2

Desenvolvimento
Aulas 1 e 2 – Concordância verbal, variação e preconceito linguístico
Duração: cerca de 90 minutos.
Local: na sala de aula.
Organização dos alunos: sentados em suas carteiras, organizados grupos.
Recursos e/ou material necessário: lousa, lápis, caderno, borracha, cópia do texto 1 para cada aluno, computador com
acesso à Internet, áudio da música “Saudosa maloca” e recurso para reproduzir a música.
Sugestão de texto e áudio:
• BARBOSA, Adoniran. “Saudosa maloca”. Disponível em: https://www.letras.com.br/adoniran-barbosa/saudosa-
maloca. Acesso em: 3/10/2018.

Atividade 1 – Levantamento dos conhecimentos prévios (20 minutos)

Inicie a aula fazendo perguntas que levem os alunos a compreender o que significa a
expressão “variedade linguística”:

• Vocês acham que a língua que nós falamos muda com o tempo? Ou ela é sempre a
mesma?
• A forma como as pessoas falam muda de um lugar para outro, ou seja, existem
diferenças no jeito de falar entre alguém que mora no Rio de Janeiro, em Porto Alegre ou
em São Paulo e alguém que mora em Roraima, por exemplo? Como vocês percebem as
diferenças?
• Vocês acham que existe apenas uma forma correta de falar e escrever? Ou podemos
dizer que há formas diferentes de falar e escrever, adequadas a determinados
contextos?

Faça a mediação da discussão, explique que a língua está sujeita a transformações e é


modificada pelos falantes de acordo com as necessidades de comunicação. Além disso, a língua não
é única nem estática: ela muda conforme a região — uma mesma fruta pode ser conhecida como
mexerica, bergamota, tangerina, etc. — e com o passar do tempo — variação histórica. Os arcaísmos
— formas que caíram em desuso — e as gírias são exemplos de variação histórica.

Deve ficar claro para os alunos que nenhuma forma ou variedade é certa ou errada, na
verdade ela pode ser menos ou mais adequada ao contexto de comunicação.

Para finalizar, pergunte o que eles acham que significa variação linguística e explique que são
usos da língua que caracterizam o jeito de falar de uma comunidade ou de um grupo, podendo se
constituir em fatores de diferenciação e identificação. Lembre-os de que a adequação da variedade a
ser utilizada geralmente depende da finalidade e da situação de comunicação, tanto para os textos
escritos quanto para os textos orais.
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Atividade 2 – “Saudosa maloca” e a concordância verbal (50 minutos)

Em seguida, pergunte se eles conhecem a canção “Saudosa maloca, de Adoniran Barbosa —


compositor e cantor conhecido por canções que retratam o cotidiano da população urbana mais
simples. Diga que a música que irão ouvir e depois analisar foi criada por ele para denunciar o que
estava acontecendo em São Paulo na época: o despejo de muitas famílias para a demolição de
casarões para a construção de edifícios.

Primeiro reproduza a música, se houver equipamento disponível. Distribua as cópias do texto


e peça que acompanhem a letra observando como ela foi construída, inclusive o ritmo criado tanto
pela melodia quanto pelos recursos estilísticos.

Para iniciar a conversa, pergunte as impressões dos alunos sobre a estrutura das frases que
compõem os versos. Eles devem notar que o falante usa uma variedade linguística que não segue a
norma-padrão da língua. Questione qual teria sido a intenção do compositor ao optar por essa
variedade. Muito provavelmente, a ideia era refletir, na letra da música, a fala típica da variedade
linguística utilizada pelas classes de menor prestígio socioeconômico e, dessa forma, retratar o eu
lírico: alguém que dividia sua moradia — chamada por ele de “maloca” —, uma construção que havia
no local (um “palacete assobradado”), com os amigos Mato Grosso e Joca. O emprego da palavra
maloca dá a dimensão das condições do lugar, mas, ao mesmo tempo, o termo mostra a forma
afetuosa que ele usava para se referir ao lar, refletindo o sentimento de pertencimento: é uma
maloca, mas é a casa deles. A expulsão dos moradores e a demolição para a construção de um
edifício no lugar é o tema da composição.

A variedade empregada pode ser observada do ponto de vista fonético, semântico e


sintático, mas o objetivo, nesta atividade, é o viés sintático, mais exatamente o da concordância
verbal. É importante conscientizar os alunos a não fazer piadas nem desmerecer variedades similares
à utilizada na canção. Taxar de erradas ou incorretas essas construções é perpetuar o preconceito
linguístico, que deve ser combatido.

Com os alunos, identifique os versos em que há a estrutura sujeito e verbo. Solicite que
grifem todos os casos, tanto aqueles que seguem a norma-padrão da língua, quanto os que não a
seguem. Por exemplo, veja se eles notam que, na maior parte dos casos, a concordância é feita
assim: uso do pronome nós (1.a pessoa do plural) com o verbo na 3.a pessoa do singular: “Nóis
sentia”, “Nóis arranja”, “Nóis pega”. Observe, no entanto, que há casos como esses em que o falante
concorda o pronome nós com o verbo na 1.a pessoa do plural: “Nóis cantemos”, “Nóis passemos”.
Outros exemplos podem ser vistos nos versos 9 e 15 (supressão do s do final do verbo) e no
penúltimo verso (“os dias feliz”).

Explique que construções como “Nóis sentia” são frequentemente estigmatizadas porque
geralmente são usadas por falantes de menor prestígio social. Não há, entretanto, nenhum
fundamento linguístico que as classifique como inferiores a outras construções não estigmatizadas,
como “nós sentíamos” ou “a gente sentia”.
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Explique que a concordância nessa variedade se baseia em uma regra de economia: não são
flexionados todos os termos (como prevê a norma-padrão), mas apenas o primeiro termo da
expressão nominal. Chame a atenção para o fato de se tratar de uma canção escrita por um autor
que certamente conhecia a norma-padrão, e não de um registro genuíno de um falante dessa
variedade. Por isso, em alguns versos, como no 22, o autor mescla variedades: “Os homens tá”, em
vez de “os homem/hômi tá”.

Comente que é comum falantes utilizarem concordâncias diferentes da norma-padrão


somente em algumas situações, de acordo com o contexto social. Quando o falante é alguém com
prestígio social ou econômico, muitas vezes essas construções divergentes passam despercebidas.

Estimule os alunos a transcrever as falas deles em situações de descontração e juntos


analisem a concordância nessas falas. Faça o mesmo com a sua fala, mencionando exemplos que
também fogem à norma-padrão: “As encomendas que você pediu ontem chegou tudo hoje”, ou
“Esses menino aparece aqui correndo, falando rápido”.

Coloque na lousa outros exemplos que podem ser encontrados no dia a dia e que refletem a
regra de economia. Pergunte aos alunos se eles têm outros para acrescentar. Depois, pergunte como
ficariam essas construções de acordo com as regras da norma-padrão.

Regra de economia Norma-padrão


Os menino dormiu. Os meninos dormiram.

Nós gostamo de Matemática. Nós gostamos de Matemática.

Explique que na frase “Os menino dormiu” o artigo definido já apresenta a marca de plural;
em “Nós gostamo de Matemática”, o pronome nós indica que o sujeito é plural. Nesses exemplos há
uma regra de economia, por isso flexiona-se apenas o primeiro termo da expressão nominal. Ao falar
das frases que estão de acordo com as regras da norma-padrão, leve-os a perceber que, nessa
variedade, todos os termos vão para o plural. É o que chamamos de plural redundante.

A partir dos casos estudados, conduza uma discussão a respeito e não deixe de valorizar
todas as formas de falar dos alunos. Leve-os a perceber que mesmo as variedades fora do padrão
seguem regras não aleatórias. Acrescente ainda que a fala deve estar adequada ao contexto, à
situação de comunicação; nesse sentido, as diferentes formas de concordância verbal são legítimas.

Atividade 3 – Combatendo o preconceito linguístico (20 minutos)

Converse com os alunos sobre as diferentes formas de falar (e/ou escrever) dos falantes da
língua portuguesa, para que eles percebam que isso não é um problema, pois a variação é um
fenômeno natural da língua, já que ela é viva, sendo constantemente (re)construída e modificada por
esses mesmos falantes.
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Após essa conversa, faça questionamentos que os levem a perceber que há preconceito
linguístico, que ele não é legítimo e que devemos combatê-lo. Por exemplo: Os falantes que usam
um tipo de construção que não segue a norma-padrão são respeitados ou vistos frequentemente de
forma preconceituosa?

Explique que, sem nenhum embasamento científico, há quem associe essas formas de
concordância, as mais econômicas, à deficiência intelectual, considerando-as inaceitáveis ou mesmo
erradas. É importante descontruir esse tipo de preconceito, pois, como foi visto nas análises,
construções como essas podem ocorrer na fala de muitas pessoas, sejam elas menos ou mais
escolarizadas, não tendo nenhum tipo de relação com capacidade intelectual.

Ao entender que há mais de uma forma de falar e escrever e que todas essas formas são
legítimas e relacionadas aos contextos de uso, os alunos perceberão que não deve haver espaço para
o preconceito linguístico.

Para concluir, pergunte aos alunos por que é importante valorizar as variedades linguísticas
usadas por cada um. Entre outros motivos, porque as variantes têm relação com a história, a família
e a identidade de cada pessoa. Nesse sentido, mobilize-os a combater o preconceito linguístico,
assim como combatem outras formas de preconceito.

Ressalte também a importância de conhecer a norma-padrão e, principalmente, saber


adequar o texto ao contexto de comunicação, percebendo quando pode ser interessante usar uma
variedade mais próxima da padrão e quando isso não é necessário. Assim, dependendo da situação,
devemos adequar nossa linguagem a um registro mais formal (em palestras e apresentações orais ou
na redação de artigos) ou a um registro menos formal (em conversas com um amigo ou em uma
mensagem de texto para os pais ou responsáveis).

Aferição do objetivo de aprendizagem


A avaliação do processo de aprendizagem pode ser realizada por meio das atividades
propostas nesta sequência didática e deve considerar o desenvolvimento de cada aluno.

Espera-se que os alunos conheçam algumas regras de concordância verbal em diferentes


variedades linguísticas e que, por meio da análise da música “Saudosa maloca” e das falas que
utilizam no cotidiano, reflitam sobre o uso da língua, percebendo a variação como um fenômeno
natural. É importante que eles sejam avessos ao preconceito linguístico.
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Questões para auxiliar na aferição

Além das atividades propostas nesta sequência didática, algumas questões podem ser
utilizadas para aferir a aprendizagem dos alunos em relação aos objetivos de aprendizagem aqui
apresentados. Por exemplo:

Leia o trecho a seguir, da obra A língua de Eulália, para responder às questões.

Não podemos mais, como ainda é feito, querer simplesmente eliminar da


realidade linguística o para mim fazer, um esforço totalmente inútil porque cada vez
mais gente usa e usará essa construção. Podemos, sim, mostrar que há duas formas
em uso, em concorrência, e que cada uma delas tem um valor diferente. [...] um
valor social determinado pelo tipo de sociedade em que vivemos. Embora a forma
para mim fazer seja usada pela ampla maioria da nossa população, essa ampla
maioria não tem poder de influência nas decisões políticas, econômicas,
educacionais, culturais. Por isso o considerado bom, bonito, certo é o que pertence a
uma minoria reduzida de cidadãos. [...]
(Marcos Bagno. A língua de Eulália: novela sociolinguística. 15. ed. São Paulo: Contexto, 2006.)

1. Segundo o trecho, cada vez mais pessoas usam a construção “para mim fazer”. Considerando
que há preconceito linguístico, avalie: Essa forma de falar é errada? Justifique sua resposta,
tendo em vista o trecho lido.

2. A respeito da construção “para mim fazer”, o autor diz que existem duas formas em uso,
concorrentes, mas cada uma com um valor diferente. Explique qual é a outra forma e que valores
são esses.

Gabarito das questões

1. Não. O trecho mostra que, embora a construção não esteja de acordo com a norma-padrão, ela é
correta pelo fato de ser empregada por muitos falantes, portanto pertence a outra variedade. No
entanto, como os falantes dessa variedade são de uma classe pouco privilegiada, a construção é
estigmatizada.

2. A outra forma seria “para eu fazer”. De acordo com a norma-padrão da língua, a construção
“para mim fazer” estaria incorreta, pois não se usa pronome oblíquo como sujeito. Ambas as
construções gramaticais são lógicas e coerentes, mas uma delas é condenada por ser usada por
uma camada social de pouco prestígio, que não tem influência nas decisões políticas,
econômicas, educacionais, culturais. Assim, entende-se que os valores sociais atribuídos a cada
uma das construções são diferentes.

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