19 LING LP 9ANO 3BIM Sequencia Didatica 2 TRT
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Objetivos de aprendizagem
• Compreender a variação linguística como um fenômeno natural da língua, desfazendo
preconceitos linguísticos.
• Compreender algumas regras de concordância verbal em variedades não padrão, em
contraposição à norma-padrão.
• Refletir sobre algumas regras de concordância verbal em seus contextos de produção,
valorizando os diferentes falares e combatendo o preconceito linguístico.
Desenvolvimento
Aulas 1 e 2 – Concordância verbal, variação e preconceito linguístico
Duração: cerca de 90 minutos.
Local: na sala de aula.
Organização dos alunos: sentados em suas carteiras, organizados grupos.
Recursos e/ou material necessário: lousa, lápis, caderno, borracha, cópia do texto 1 para cada aluno, computador com
acesso à Internet, áudio da música “Saudosa maloca” e recurso para reproduzir a música.
Sugestão de texto e áudio:
• BARBOSA, Adoniran. “Saudosa maloca”. Disponível em: https://www.letras.com.br/adoniran-barbosa/saudosa-
maloca. Acesso em: 3/10/2018.
Inicie a aula fazendo perguntas que levem os alunos a compreender o que significa a
expressão “variedade linguística”:
• Vocês acham que a língua que nós falamos muda com o tempo? Ou ela é sempre a
mesma?
• A forma como as pessoas falam muda de um lugar para outro, ou seja, existem
diferenças no jeito de falar entre alguém que mora no Rio de Janeiro, em Porto Alegre ou
em São Paulo e alguém que mora em Roraima, por exemplo? Como vocês percebem as
diferenças?
• Vocês acham que existe apenas uma forma correta de falar e escrever? Ou podemos
dizer que há formas diferentes de falar e escrever, adequadas a determinados
contextos?
Deve ficar claro para os alunos que nenhuma forma ou variedade é certa ou errada, na
verdade ela pode ser menos ou mais adequada ao contexto de comunicação.
Para finalizar, pergunte o que eles acham que significa variação linguística e explique que são
usos da língua que caracterizam o jeito de falar de uma comunidade ou de um grupo, podendo se
constituir em fatores de diferenciação e identificação. Lembre-os de que a adequação da variedade a
ser utilizada geralmente depende da finalidade e da situação de comunicação, tanto para os textos
escritos quanto para os textos orais.
Material Digital do Professor
Língua Portuguesa – 9º ano
3º bimestre – Sequência didática 2
Para iniciar a conversa, pergunte as impressões dos alunos sobre a estrutura das frases que
compõem os versos. Eles devem notar que o falante usa uma variedade linguística que não segue a
norma-padrão da língua. Questione qual teria sido a intenção do compositor ao optar por essa
variedade. Muito provavelmente, a ideia era refletir, na letra da música, a fala típica da variedade
linguística utilizada pelas classes de menor prestígio socioeconômico e, dessa forma, retratar o eu
lírico: alguém que dividia sua moradia — chamada por ele de “maloca” —, uma construção que havia
no local (um “palacete assobradado”), com os amigos Mato Grosso e Joca. O emprego da palavra
maloca dá a dimensão das condições do lugar, mas, ao mesmo tempo, o termo mostra a forma
afetuosa que ele usava para se referir ao lar, refletindo o sentimento de pertencimento: é uma
maloca, mas é a casa deles. A expulsão dos moradores e a demolição para a construção de um
edifício no lugar é o tema da composição.
Com os alunos, identifique os versos em que há a estrutura sujeito e verbo. Solicite que
grifem todos os casos, tanto aqueles que seguem a norma-padrão da língua, quanto os que não a
seguem. Por exemplo, veja se eles notam que, na maior parte dos casos, a concordância é feita
assim: uso do pronome nós (1.a pessoa do plural) com o verbo na 3.a pessoa do singular: “Nóis
sentia”, “Nóis arranja”, “Nóis pega”. Observe, no entanto, que há casos como esses em que o falante
concorda o pronome nós com o verbo na 1.a pessoa do plural: “Nóis cantemos”, “Nóis passemos”.
Outros exemplos podem ser vistos nos versos 9 e 15 (supressão do s do final do verbo) e no
penúltimo verso (“os dias feliz”).
Explique que construções como “Nóis sentia” são frequentemente estigmatizadas porque
geralmente são usadas por falantes de menor prestígio social. Não há, entretanto, nenhum
fundamento linguístico que as classifique como inferiores a outras construções não estigmatizadas,
como “nós sentíamos” ou “a gente sentia”.
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Língua Portuguesa – 9º ano
3º bimestre – Sequência didática 2
Explique que a concordância nessa variedade se baseia em uma regra de economia: não são
flexionados todos os termos (como prevê a norma-padrão), mas apenas o primeiro termo da
expressão nominal. Chame a atenção para o fato de se tratar de uma canção escrita por um autor
que certamente conhecia a norma-padrão, e não de um registro genuíno de um falante dessa
variedade. Por isso, em alguns versos, como no 22, o autor mescla variedades: “Os homens tá”, em
vez de “os homem/hômi tá”.
Coloque na lousa outros exemplos que podem ser encontrados no dia a dia e que refletem a
regra de economia. Pergunte aos alunos se eles têm outros para acrescentar. Depois, pergunte como
ficariam essas construções de acordo com as regras da norma-padrão.
Explique que na frase “Os menino dormiu” o artigo definido já apresenta a marca de plural;
em “Nós gostamo de Matemática”, o pronome nós indica que o sujeito é plural. Nesses exemplos há
uma regra de economia, por isso flexiona-se apenas o primeiro termo da expressão nominal. Ao falar
das frases que estão de acordo com as regras da norma-padrão, leve-os a perceber que, nessa
variedade, todos os termos vão para o plural. É o que chamamos de plural redundante.
A partir dos casos estudados, conduza uma discussão a respeito e não deixe de valorizar
todas as formas de falar dos alunos. Leve-os a perceber que mesmo as variedades fora do padrão
seguem regras não aleatórias. Acrescente ainda que a fala deve estar adequada ao contexto, à
situação de comunicação; nesse sentido, as diferentes formas de concordância verbal são legítimas.
Converse com os alunos sobre as diferentes formas de falar (e/ou escrever) dos falantes da
língua portuguesa, para que eles percebam que isso não é um problema, pois a variação é um
fenômeno natural da língua, já que ela é viva, sendo constantemente (re)construída e modificada por
esses mesmos falantes.
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Língua Portuguesa – 9º ano
3º bimestre – Sequência didática 2
Após essa conversa, faça questionamentos que os levem a perceber que há preconceito
linguístico, que ele não é legítimo e que devemos combatê-lo. Por exemplo: Os falantes que usam
um tipo de construção que não segue a norma-padrão são respeitados ou vistos frequentemente de
forma preconceituosa?
Explique que, sem nenhum embasamento científico, há quem associe essas formas de
concordância, as mais econômicas, à deficiência intelectual, considerando-as inaceitáveis ou mesmo
erradas. É importante descontruir esse tipo de preconceito, pois, como foi visto nas análises,
construções como essas podem ocorrer na fala de muitas pessoas, sejam elas menos ou mais
escolarizadas, não tendo nenhum tipo de relação com capacidade intelectual.
Ao entender que há mais de uma forma de falar e escrever e que todas essas formas são
legítimas e relacionadas aos contextos de uso, os alunos perceberão que não deve haver espaço para
o preconceito linguístico.
Para concluir, pergunte aos alunos por que é importante valorizar as variedades linguísticas
usadas por cada um. Entre outros motivos, porque as variantes têm relação com a história, a família
e a identidade de cada pessoa. Nesse sentido, mobilize-os a combater o preconceito linguístico,
assim como combatem outras formas de preconceito.
Além das atividades propostas nesta sequência didática, algumas questões podem ser
utilizadas para aferir a aprendizagem dos alunos em relação aos objetivos de aprendizagem aqui
apresentados. Por exemplo:
1. Segundo o trecho, cada vez mais pessoas usam a construção “para mim fazer”. Considerando
que há preconceito linguístico, avalie: Essa forma de falar é errada? Justifique sua resposta,
tendo em vista o trecho lido.
2. A respeito da construção “para mim fazer”, o autor diz que existem duas formas em uso,
concorrentes, mas cada uma com um valor diferente. Explique qual é a outra forma e que valores
são esses.
1. Não. O trecho mostra que, embora a construção não esteja de acordo com a norma-padrão, ela é
correta pelo fato de ser empregada por muitos falantes, portanto pertence a outra variedade. No
entanto, como os falantes dessa variedade são de uma classe pouco privilegiada, a construção é
estigmatizada.
2. A outra forma seria “para eu fazer”. De acordo com a norma-padrão da língua, a construção
“para mim fazer” estaria incorreta, pois não se usa pronome oblíquo como sujeito. Ambas as
construções gramaticais são lógicas e coerentes, mas uma delas é condenada por ser usada por
uma camada social de pouco prestígio, que não tem influência nas decisões políticas,
econômicas, educacionais, culturais. Assim, entende-se que os valores sociais atribuídos a cada
uma das construções são diferentes.