Capítulo 4 Administração para Engenheiros
Capítulo 4 Administração para Engenheiros
Capítulo 4 Administração para Engenheiros
ORGANIZAÇÃO BUROCRÁTICA:
a jaula de ferro
Resumo:
Quem tem medo de burocracia? O conceito de organização burocrática surgiu
com o intuito de permitir que a administração das Organizações se tornasse
viável. Entretanto, a palavra “burocracia” normalmente é utilizada como
sinônimo de lentidão e demora. Neste capítulo queremos que você mude a sua
opinião sobre burocracia.
Palavras-chave: Organização burocrática, burocracia, impessoalidade,
formalismo, profissionalismo.
Objetivos instrucionais:
Apresentar o conceito de organização burocrática no contexto das organizações
sociais.
Objetivos de aprendizado:
Após a leitura deste capítulo, espera-se que o aluno seja capaz de:
Compreender como a impessoalidade, o formalismo e o profissionalismo
aumentam a previsibilidade de comportamento na organização.
Compreender o conceito de burocracia e sua aplicação para maximizar a
eficiência da Organização.
Introdução
Pirâmide hierárquica
Quando Martin Luther King fez aquele célebre discurso I have a dream, todos
ficaram magnetizados pelas palavras proféticas. Ele foi um grande líder, pois a
sua personalidade era capaz de mover montanhas e atrair seguidores. Mas o tipo
de dominação que ele exercia era meramente carismático, ele não exercia cargo
formal algum em instituições do governo. A oratória cativante era fruto de ele
ser um pastor evangélico.
A família real britânica é constantemente alvo dos paparazzi, que procuram atos
falhos entre seus membros, para demonstrar o quão anacrônica é a monarquia
no século XXI. Um regime monárquico baseia-se na dominação tradicional,
passando o trono de uma geração para outra, não importando se a pessoa está
apta profissionalmente para ocupar o cargo. Os defensores do regime
monárquico dizem que sim, que o herdeiro é sempre o mais apto, pois ele foi
preparado a vida inteira para ser rei, enquanto que em uma democracia qualquer
um pode ser eleito. Mas em termos de organização burocrática, a eleição
também não é um mecanismo válido, pois não é necessariamente o mais
preparado que assume o cargo de primeiro-ministro ou presidente. Há fatores
imponderáveis nesse tipo de escolha.
Michael Bloomberg entregou o cargo de prefeito de Nova York em 2013. A sua
administração recuperou financeiramente a cidade, criou um novo estilo de
administrar, recuperando bairros degradados, com soluções criativas em todas
as áreas. Fez uma verdadeira revolução na administração municipal. Ele ia de
metrô para o trabalho, eliminou os gabinetes e salas da prefeitura, colocando
todos os funcionários para trabalhar em um imenso salão. Como prefeito, não
tinha sala própria, trabalhava em uma das mesas no meio do salão. Os seus
secretários municipais eram constantemente cobrados por resultados e, sempre
que encontrava algum entrave burocrático para fazer o que queria, colocava a
mão no próprio bolso. Ao longo dos seus doze anos como prefeito de Nova
York estima-se que ele tenha gastado por volta de US$ 650 milhões de sua
fortuna pessoal para administrar Nova York do seu jeito. O caso dele é
interessante, pois o tipo de dominação que ele exercia era racional, a ponto de,
quando os aspectos legais não lhe permitiam que gastasse o dinheiro público,
ele utilizava o próprio.
Caso:
Projeto da Cornell NYC-Tech
Um dos últimos projetos que Michael Bloomberg empreendeu como prefeito foi
a criação da Cornell NYC-Tech, uma universidade de tecnologia direcionada
para as necessidades do mercado, para contrabalançar a perda mais de quarenta
mil empregos desde a crise de 2008 no setor financeiro e outras indústrias
fundamentais para a cidade, como a editorial e a fonográfica, a de mídia e o
varejo.
Houve candidaturas de dezoito propostas de quase trinta universidades de nove
países. O MIT não quis participar e, nesse cenário, Stanford parecia ser a
universidade com melhores chances de ganhar a concorrência, tendo em vista
que os seus ex-alunos eram os fundadores da Google, Yahoo, HP, Sun e PayPal,
e participavam das diretorias da Apple, do Facebook e da Microsoft. Mas o
consórcio formado pela Universidade Cornell e o instituto tecnológico
israelense Technion venceu a concorrência em virtude de iniciar as aulas com
um ano de antecedência em relação e garantir um aporte financeiro adicional
além dos US$ 100 milhões da prefeitura para o novo Campus em Nova York,
graças à doação integral para o projeto de US$ 350 milhões por parte de um
ex-aluno de Cornell, o bilionário Charles Feeney, criador da rede Duty Free
Shops.
A primeira fase do campus projetado pelo arquiteto Thom Mayne viabilizará a
vida de 2.500 alunos e 300 professores. Os investimentos estimados para os
próximos quinze anos serão de US$ 2 bilhões. As aulas tiveram início em uma
sede provisória do campus em Manhattan, após uma parceria entre a prefeitura e
a Google que é proprietária do imóvel e alugou 2.500 metros quadrados de um
de seus 15 andares ao consórcio, por um período de cinco anos.
Esse exemplo demonstra que a burocracia pode ser um instrumento para agilizar
o processo quando a relação entre todos os envolvidos se baseia em uma relação
ganha-ganha para as entidades públicas, as empresas e a sociedade.
Mas Weber não foi a única vertente sociológica a pensar a Organização. Havia
também uma corrente que ficou conhecida como socialismo utópico, sendo um
dos seus expoentes Robert Owen, que criou a fábrica New Harmony.
Robert Owen foi um industrial inglês que viveu entre meados do século XVIII e
meados do século XIX e acreditava no bem-estar social do empregado. Ele tinha
a concepção de que o empregado precisava se sentir valorizado e protegido pela
empresa em que ele trabalhava e isso significava criar todo um aparato para
incluir a sua família no processo. Assim, ele criou emprego também para as
mulheres dos empregados, escola para os seus filhos e um sistema de
valorização do funcionário que incluía recompensas em dinheiro. Era como se a
Organização que ele criara de sua empresa fosse um microcosmo.
Posteriormente, Robert Owen mudou-se para os Estados Unidos e também
tentou estabelecer uma Organização dentro dos mesmos princípios. Mas quando
ele morreu essa concepção não se sustentou, pois tudo o que ele criara tinha que
contar com a sua liderança e personalidade.
Pequena empresa:
Na prática a teoria é outra
Há uma frase muito batida no meio empresarial, principalmente com relação à
pequena empresa, de que “na prática a teoria é outra”. “Na prática a teoria é
outra” aplica-se à pequena empresa, porque, em muitos casos, o empresário
desconhece as especificidades da pequena empresa em relação às grandes; dessa
forma, a teoria de administração tradicional não se encaixa. Sendo assim, é
necessário haver adequação da teoria administrativa das grandes corporações
para ser aplicada na pequena empresa. As necessidades de formalização existem
e podem melhorar a eficiência e a eficácia da pequena empresa, no entanto
devem ser observadas e, se for o caso, adaptadas, pois na pequena empresa o
excesso de formalidade pode fazer com que ela perca sua flexibilidade e
capacidade de adaptação ao meio em que opera. A rigor, pela teoria
administrativa elaborada para a grande empresa, a pequena empresa não deveria
existir. Todavia, existe e deve ser compreendida de uma forma diversa e
específica. É importante o desenvolvimento de uma teoria administrativa
específica para as pequenas empresas.
O desconhecimento da teoria faz com que o cotidiano de trabalho seja diferente
e funcione, por vezes ao longo de uma vida inteira do empresário. No entanto, o
desconhecimento ou não existência de uma teoria de administração consolidada
e específica para as pequenas empresas conduz o dirigente a pensar que não está
fazendo o melhor, só porque é diferente da grande empresa. A formalização, por
exemplo, tem um custo, e o empresário da pequena empresa, em função dos
seus recursos limitados, sempre faz uma avaliação do impacto que um novo
investimento terá. Se o controle pelo livro-caixa é suficiente, não há motivo
para implantar um sistema do tipo ERP com módulo financeiro. Há uma
avaliação de custo e benefício, de uma maneira bastante pragmática.
Durante muito tempo as empresas familiares foram incentivadas a abrir as suas
ações para se tornarem empresas controladas por Conselhos de acionistas, para
que pudessem crescer e ganhar novos mercados, baseando a sua administração
nos princípios burocráticos. Entretanto, verificou-se na Alemanha que as
empresas de pequeno e médio porte haviam garantido a sua sobrevivência ao
longo dos anos, em virtude da visão de longo prazo dos empresários familiares,
pois conduzem as suas empresas em uma perspectiva de gerações, portanto, de
longo prazo. Já as grandes empresas, controladas por acionistas, podem ser
prejudicadas pela necessidade de gerar lucro para os seus acionistas em curto
prazo.
“Quando certa manhã Gregor Samsa despertou, depois de uma noite mal
dormida, achou-se em sua cama transformado em um monstruoso inseto. Estava
deitado sobre a dura carapaça de suas costas, e ao levantar um pouco a cabeça
viu a figura convexa de seu ventre escuro, sulcado por pronunciadas
ondulações, em cuja proeminência a colcha mal podia aguentar, pois estava
visivelmente a ponto de escorregar até o solo. Inúmeras patas, lamentavelmente,
esquálidas em comparação com a grossura comum de suas pernas, ofereciam a
seus olhos o espetáculo de uma agitação sem consistência.
– Que me aconteceu?
Não estava sonhando.”
Esse livro faz uma crítica ao modo de vida que a sociedade burocrática impõe
ao ser humano, como se a identidade das pessoas não fosse mais importante.
Somente o trabalho mediria o que a pessoa é. Essa história reflete bem o
conceito de jaula de ferro. De acordo com este conceito, a pessoa vive a vida
que alguém pensou para ela e se mantém na organização mesmo desmotivada,
pois há a expectativa de recompensas futuras. Ao mesmo tempo, sente-se
protegida pela jaula de ferro.
George Orwell escreveu em 1948 o livro “1984” que mostra as relações
humanas controladas pelo Estado em um futuro no qual os meios de
comunicação em massa sufocam a existência do ser humano pela onipresença
do Estado. Todos eram vigiados pelo Grande Irmão (Big Brother), que proibia
qualquer tipo de relação afetiva, cujo castigo era a morte. Em 1984, não existe
mais a democracia. Os governos totalitários dominaram a sociedade
completamente. Criaram-se sistemas inteiros para controlar atividades,
pensamentos, a liberdade e a cultura. Tudo ocorre conforme o Estado determina.
O personagem Winston vive angustiado por demonstrar ainda alguns vestígios
de humanidade.
Caso:
OSESP: uma organização burocrática de excelência
Considerações finais
Em qualquer aspecto da vida social, a burocracia está presente. Sem ela, a sociedade não teria
atingido os níveis de organização atuais. Se a previsibilidade de comportamento nas
Organizações é atingida pela impessoalidade, formalidade e profissionalismo, na realidade, o
que não funciona adequadamente ocorre quando um desses três aspectos não está presente.
Outra questão importante da organização burocrática foi identificar a necessidade do
administrador profissional, que detém os conhecimentos adequados para desempenhar as suas
funções, a sua fidelidade está relacionada ao cargo que ocupa em detrimento da visão do
proprietário da Organização. Nesse caso, ele não dispõe dos meios de produção e recebe um
salário para realizar o seu trabalho. Somente um superior hierárquico pode nomeá-lo, bem
como o cargo dele não tem caráter vitalício, mesmo que isso não signifique necessariamente
que ele ocupe o cargo por um tempo determinado. E chega um dia, quando ele tiver cumprido
o tempo necessário de serviço, em que ele vai se aposentar e dar lugar a outros.
A Figura 4.4 apresenta as características do administrador profissional enquanto funcionário
burocrata.
Questões
Exercícios
1. Explique a definição de burocracia proposta por Max Weber, utilizando a Figura 4.3:
2. Qual é o efeito em termos da eficiência no serviço público da afirmação de Otto von
Bismark?
“Com leis ruins e funcionários bons ainda é possível governar. Mas com funcionários ruins
as melhores leis não servem para nada.”
4. Tome um exemplo e explique o conceito de jaula de ferro, proposto por Max Weber.
5. Apresente um exemplo de disfunção burocrática.
6. Apresente exemplos que representem os tipos de dominação identificados por Max Weber.
Estamos no ano de 1918 e você é um consultor que acaba de ser contratado por uma empresa
industrial situada nos Estados Unidos da América. O presidente da empresa inicia a conversa
dizendo:
Com a volta da prosperidade ao final do século XIX da economia dos EUA e a maior
facilidade de obter capital, todas as indústrias foram sendo dominadas por um pequeno
número de grandes empresas integradas. A promessa de bons lucros com a produção e
comercialização em massa e a penosa lembrança de duas décadas de preços declinantes
tornavam irresistível a perspectiva de consolidação das empresas. O resultado foi o primeiro
grande movimento de fusões na história norte-americana.
No período imediatamente posterior a esse movimento de fusões, um dos grandes desafios
enfrentados pelos administradores das empresas recém-integradas foi descobrir meios de
garantir sua operação eficiente. A tarefa não era fácil, pois vários desses administradores
tinham competido entre si por muito tempo, não raro acirradamente, e com pontos de vista
diferentes sobre negócios e sua administração. Os atacadistas, agora transformados em
executivos de vendas, tinham antes interesses e atitudes que não coincidiam com os dos
industriais, o mesmo acontecendo com os encarregados de compras. Além disso, esses
homens, há muito acostumados a agir de modo independente, não se submetiam facilmente a
qualquer tipo de controle pessoal, contábil ou estatístico.
O presidente encerra a fala dizendo: juntar esses homens e setores numa organização capaz
de funcionar uniformemente tem implicado novos desafios administrativos que se
apresentavam a essas empresas. Nós somos uma dessas empresas que passa por esse
processo.
Administração multimídia
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