O Subchefe Da Mafia - Os Guerrie - Jaqueline Motta
O Subchefe Da Mafia - Os Guerrie - Jaqueline Motta
O Subchefe Da Mafia - Os Guerrie - Jaqueline Motta
PatSue Revisão
Capa e Diagramação
Ddsigner2007
Leitura Critica
Alan Marcos
Copyright © 2022 de Jaqueline Motta
Todos os direitos reservados. Este ebook ou qualquer parte dele não pode ser reproduzido ou usado de
forma alguma sem autorização expressa, por escrito, do autor ou editor, exceto pelo uso de citações
breves em uma resenha do ebook.
https://www.instagram.com/autorajaquelinemotta/
Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real
terá sido mera coincidência.
O autor não apoia nenhum tipo de violência.
Sinopse
Prologo
Capitulo 1
Alessandra
Capitulo 2
Capitulo 3
Capitulo 4
Alessandra
Capitulo 5
Capitulo 6
Fabrizio
Capitulo 7
Capitulo 8
Capitulo 9
Capitulo 10
Capitulo 11
Capitulo 12
Capitulo 13
Capitulo 14
Capitulo 15
Capitulo 16
Capitulo 17
Capitulo 18
Capitulo 19
Capitulo 20
Capitulo 21
Capitulo 22
Capitulo 23
Capitulo 24
Capitulo 25
Capitulo 26
Capitulo 27
Capitulo 28
Capitulo 29
Capitulo 30
Capitulo 31
Capitulo 32
Capitulo 33
Capitulo 34
Capitulo 35
Capitulo 36
Capitulo 37
Capitulo 38
Capitulo 39
Capitulo 40
Capitulo 41
Capitulo 42
Capitulo 43
Capitulo 44
Capitulo 45
Capitulo 46
Capitulo 47
Capitulo 48
Capitulo 49
Epilogo
Era um casamento perfeito em meio ao caos da máfia. Assim como uma
planta que não recebe água, o casamento de Alessandra com o subchefe da
máfia, murchou por conta de mentiras e traições.
Em meio ao colapso, ela resolveu forjar a própria morte, cujo motivos a
máfia desconhecia. Principalmente, Fabrizio que fica transtornado ao
descobrir que sua amada está viva, para piorar descobre que ainda a ama
muito. O subchefe fica completamente dividido entre salvar o seu casamento
ou dar uma segunda chance ao amor.
Mas alguns erros são irreparáveis, como eles conseguirão superar tais
diferenças mesmo vivendo em um mundo cheio de regras?
Virei mais uma garrafa de uísque na boca, já tinha bebido além da conta e
não tinha intenção de parar.
O que eu podia esperar da vida além de criar meus filhos e servir a máfia
como sempre fiz? Todo dia era a mesma rotina e já estava cansado de ir
empurrando como dava.
Abri a gaveta para pegar minha arma. Peguei mais uma garrafa de uísque e
fui para o banheiro me trancar lá. Enquanto eu me olhava no espelho
observando parte do homem que eu fui um dia, aproveitava para jogar roleta-
russa, porque não tinha coragem de tirar minha vida assim tão de repente, na
verdade, não tinha coragem. Sendo assim, eu não saberia quando um tiro iria
me acertar de fato.
A imagem foi ficando desfocada de repente e só conseguia ouvir o som do
tambor da arma que estava pressionada na minha garganta. Por frações de
segundos a garrafa escorregou da minha mão e caiu sobre meu pé, por eu
estar descalço os cacos entraram no meu pé. Abaixei-me com dificuldades
para tentar tirá-los, mas a dor aguda no meu calcanhar misturado com a
embriaguez fez com que eu perdesse o equilíbrio e caísse no chão, em
decorrência minha cabeça bateu contra o vaso sanitário e um som agudo
zumbiu meus ouvidos.
Tudo foi ficando distorcido quando a luz branca se aproximou de mim.
Naquele momento, eu só via gotas de chuva caindo sobre o guarda-chuvas e
também no caixão, respingando no meu terno negro que já estava molhado...
Elas caíam com força parecendo alertar o momento fúnebre que se infiltrou
na máfia e no meu coração.
O corpo de Alessandra parecia tão frio ali. Um lugar tão pequeno para
alguém como ela, alguém grandioso no meu coração e de suma importância
estava tão frágil. Ela tomava muito espaço na minha vida, mas naquele
momento estava reprimida naquele caixão frio. Sem poder se mexer, sem se
comunicar.
Era mesmo o fim da linha?
Imagens da nossa lua de mel invadiram meus pensamentos como
relâmpago cortando o céu acinzentado, carregado de ódio pela natureza. O
ódio também tomou meu coração nesse momento. Pela primeira vez, vi-me
incapacitado de fazer algo quer pudesse mudar o seu destino, mudar nossa
realidade, mudar meus atos ao longo do nosso casamento. Eu só queria voltar
no tempo a fim de eliminar as pedras que dificultaram nossa caminhada.
Derrubar os muros que construímos ao nosso redor.
Só queria voltar no tempo, segurá-la pelo braço enquanto proferia:
Não vamos fazer isso.
Deixe sua irmã longe de nós.
Não esconda seus remédios de mim, se não quiser ter filhos, eu vou
respeitar sua decisão.
Ao olhar o corpo dela naquele caixão prestes a ser esquecido no jazigo,
podia entender que a máfia não era a potência maior. Deus era
Ninguém podia contra Deus, tinha certeza de que ele estava me castigando
nesse momento, tirando algo precioso da minha vida para mostrar que as
coisas iriam piorar dali em diante. Talvez ele estivesse apenas mostrando que
ele era quem decidia tudo. Minha vida era dele e somente ele poderia tirá-la
de mim.
Por que Deus não me levou no lugar dela?, repetia como um mantra.
Alessandra só estava ali devido a minha arrogância, pois insisti para que
tivéssemos um filho. Achei que as coisas entre nós poderiam melhorar
através dessa criança. Mas estava apenas olhando para o meu próprio umbigo
esquecendo de focar na saúde dela. O parto se complicou e minha esposa
morreu minutos depois de trazer meu filho ao mundo. Ali nasceu uma vida,
nasceu meu filho, porém, paguei um preço muito alto quando perdi minha
esposa.
Perdi-a para sempre.
Apesar de os meus erros, eu amava mais do que tudo nesse mundo e não
estava preparado para deixá-la ir assim, de uma hora para outra.
Alessandra... Você pode me ouvir? Será que teria um lugar para nós aí?
Será que se eu me deitasse junto com você, teria oportunidade de dizer pela
última vez que te amo muito e que sinto muito?, insista em pensamentos.
Alessandra?
Minha cabeça parecia que iria explodir de dor e culpa. As emoções
estavam caindo sobre mim em forma de fogos de artifício. Não conseguia me
mexer, minha garganta secou e meus olhos, mesmo ardidos, estavam
vidrados no caixão que embalava o corpo da única mulher que se esforçou
para que eu me tornasse um homem melhor.
Única mulher que me amou.
O peso da culpa tinha o poder de nos enlouquecer. Sentia meus olhos
ardendo de dor e ódio, que desciam queimando pela minha garganta e se
infiltrando em todo meu sistema.
Eu tive tudo nas mãos, tive tudo para fazer dar certo e falhei. Falhei com
ela e o pior, falhei comigo mesmo.
Queria gritar, ao mesmo tempo quero acordar desse pesadelo, para assim
encontrar minha mulher nua nos meus braços depois de termos feito amor.
Eu não iria acordar, sim? Não. Eu não queria.
Meu corpo estava paralisado sobre algo macio, só conseguia ouvir alguns
zumbidos no fundo. O barulho era semelhante ao de máquinas emitindo um
som irritante. Por mais que eu tentasse não conseguia abrir os olhos, eles
estavam pesados e cansados. Ou talvez estivesse apenas fugindo da minha
realidade, enquanto me escondia em um mundo completamente
desconhecido. Embora minha mente fosse escuridão total, podia criar cenas
na minha mente. Cenas felizes de uma vida diferente daquela que vivia. Eu
podia sentir o cheiro da chuva enquanto meus filhos corriam atrás do
cachorro. Minha casa era estilo rústica e eu cortava lenha para preparar o
almoço e acender a lareira mais tarde.
— Fabrizio.
Mas era só a mesma voz me chamar... meus pensamentos ficaram confusos
e nebulosos.
Ignorando mais uma vez a voz que insistia em me tirar a paz, mentalizei
novamente minha família e a vida feliz que compartilhava ao lado dos meus
filhos, por isso não queria sair dali.
— Vamos, Fabrizio. Você tem que reagir. Por favor, irmão.
"Por favor, irmão..."
Ouvir essas palavras fez com que meu corpo despencasse e caísse em um
poço sem fundo. Foi como se eu tivesse despencado das nuvens para cair na
escuridão, uma claridade quase cegou meus olhos, de repente.
O pior foi me dar conta de que havia algo na minha garganta que não
estava me deixando respirar. Tentei mexer uma das mãos para tentar arrancar
aquilo de mim, porém, não consegui. O desespero tomou meu corpo quando
comecei a engasgar.
Vozes alteradas iam ficando cada vez mais perto de mim, tive a impressão
que o objeto foi tirado e assim pude respirar melhor. Minha garganta e meus
olhos ardiam com a sensação estranha. Meu corpo estava dormente e minha
cabeça doía muito.
Minha garganta estava seca, meu corpo tremia no chão frio do alojamento
subterrâneo. Eu não tinha noção de quanto tempo estava ali, não sabia o dia e
nem o mês em que estávamos. Sentia que, cruelmente, o inverno estava se
aproximando.
O inverno!
Eu amava essa estação, amava poder sentir o frio, poder me perder no
cheirinho da chuva através da minha janela, enquanto eu descansava no sofá
conforme me perdia em algum livro de romance. No entanto, naquele
momento, o frio não era aliado da minha situação, visto que tinha apenas um
colchão estreito que não me protegia do chão gelado e um cobertor gasto que
tentava me aquecer de noite.
Meu Deus... onde fui parar?
Uma Guerrieri jogada num alojamento sujo? Isso não era certo, tal atitude
ia contra todas as leis.
Fechei os olhos enquanto me perguntava quando foi que tudo começou a
dar errado. Sempre fui prestigiada na máfia. Meu pai me adorava e fazia
todas as minhas vontades, com o Fabrizio não foi diferente. Ele me amava,
idolatrava-me e num piscar de olhos, todo seu amor sumiu do dia para noite.
Eu gostava de tê-lo comendo na minha mão e fazendo minhas vontades, por
isso me tornei alvo de inveja de outras mulheres. Enquanto os maridos delas
faziam o que tinham vontade, o meu fazia minhas vontades.
A porta de ferro foi aberta de repente, escolhi-me na parede e fiquei
esperando algum soldado aparecer para trazer minha comida. Embora
estivesse em uma situação deplorável, eu ainda exigia e tinha respeito da
parte deles. Perante toda a situação, eu carregava uma faca comigo para caso
algo saísse do controle. No entanto, nenhum soldado apareceu, e sim Matteo
quem entrou carregando uma cadeira.
— Boa noite, cunhada. — Ele fechou a porta e caminhou na minha direção
enquanto ajeitava o terno. Sentou-se na cadeira e cruzou os braços.
Essa foi a primeira vez que ele veio me ver, na verdade, eu nem fazia ideia
do que ele tinha vindo fazer aqui. Matteo nunca levou nada a sério e,
certamente, estava ali para fazer alguma piada fora de hora.
— O que você quer aqui?
— Vim conversar com você. É... Tão estranho ver você depois de tudo.
Ri sem vontade enquanto fazia um coque no cabelo. Ele costumava me ver
deslumbrante em um vestido de gala.
— Esse lugar não é apropriado para mim.
— Você não está em condições de escolher, Alessandra. Será que você
ainda não entendeu a gravidade da situação? O que deu na sua cabeça?
— Aff. E meu sobrenome?
Ele se levantou de repente e se aproximou de mim. Quase dei um grito de
susto quando a mão fria dele segurou meu rosto.
— Matteo! — Abri a boca, assustada.
— As coisas por aqui mudaram e eu não estou com paciência. Certamente,
Fabrizio irá tirar o nosso sobrenome de você.
Olhei-o firme. Engraçado como eles me viam como a bruxa má que partiu
o coração do irmão amado.
— Você o destruiu.
— Ele quem me destruiu, não o contrário.
— Ah, é? — Ele apertou os lábios com força como se estivesse
controlando a raiva. — Ele só queria um filho seu.
— E eu não queria um filho... — engasguei o soluço. — Não naquele
momento.
Matteo se afastou de mim.
— Você é contraditória. — Olhou-me com raiva. — Disse a todos que não
podia ter filhos, depois Fabrizio descobriu que você tomava remédio
escondido. E como se não bastasse, envolveu Laura nessa sua merda. Qual
foi o propósito disso tudo?
— Eu só não sabia como dizer a Fabrizio. Eu sempre o amei, mas nunca
quis que ele dissesse o que fazer com o meu corpo. Um filho deve ser decisão
do casal, e eu não estava pronta.
— Por que você forjou sua morte?
Abaixei a cabeça, envergonhada. Os motivos reais na época pareciam fazer
sentido, mas naquele momento não mais. Vejo como destruí minha vida por
tão pouco, minhas razões foram fúteis, no entanto, não tinha mais como
voltar atrás.
— Queria que ele se sentisse culpado. — Minha voz ficou embargada pelo
choro. — Queria que ele sentisse o gosto amargo da perda e que ficasse
sozinho remoendo as merdas que fez.
Matteo arregalou os olhos, depois soltou um sorriso desajeitado.
— Em nenhum momento você se arrependeu? Digo... Você deixou seu
filho para trás.
— Sim. Sacrifiquei criar meu filho em nome dessa vingança. Embora no
meio do caminho eu tenha me arrependido, mas não tinha mais como voltar
atrás. Estava cega de ódio.
Lembrar-me das coisas que me fez deixar tudo para trás, faz minha
garganta arder de dor.
Matteo se sentou novamente na cadeira e ajeitou os ombros.
— Você sabe o que é mais engraçado? Fabrizio em nenhum momento
parece culpar você. Ele culpa Laura por ter ajudado.
— Laura não tem culpa de nada. Ela é mãe como eu, por isso atendeu meu
pedido.
— Ele não pensa assim. Tentou persuadir Riccardo para que terminasse
com Laura. Meu irmão ficou insuportável, culpando quem não tinha culpa ao
invés de culpar você.
— Eu sinto muito.
— Talvez seja o efeito que você ainda provoca nele.
Eu tinha que fazer algo para tirar essa má impressão que Fabrizio estava de
Laura. Livrá-la de qualquer mal que pudesse cair sobre os ombros dela por
minha causa.
— Será que eu poderia conversar também com o Riccardo? Ele mais do
que ninguém deve saber que a esposa dele é inocente.
Matteo respirou fundo enquanto me olhava com desprezo.
— Você quase conseguiu. Fabrizio deu um tiro na cabeça, mas ele saiu do
coma e logo estará aqui para saber mais sobre sua jornada longe da máfia. —
Meu cunhado ajeitou o terno e caminhou até a porta. — Vou mandar servir
seu jantar.
A notícia me pegou desprevenida, porque apesar de tudo ele tinha dois
filhos para criar. Fabrizio era pai do meu filho.
Matteo saiu e mais uma vez fiquei sozinha no alojamento, esperando o dia
do meu julgamento. O dia que finalmente minha vida iria acabar. Mas a
verdade era que nem eu mesma sabia se estava pronta para isso. Quando
finalmente Fabrizio viesse me procurar para cobrar explicações, as coisas
iriam ficar ruins para mim, não tinha mais como ele me evitar, nosso acerto
de contas estava ficando próximo. Mesmo que tivesse minhas razões, o que
eu fiz, dentro da máfia, era imperdoável.
Quando minha comida chegou, eu já estava com o estômago enjoado de
tantas preocupações. Tentei achar uma posição que amenizasse não somente
o frio, mas os meus medos e mandasse embora fantasmas que aterrorizavam
minha mente.
Meus dias eram longos e as noites frias e solitárias.
Estava de costas olhando a paisagem da Sicília através do vidro fumê do
prédio quando ouvi a porta se abrir atrás de mim e passos firmes ecoar o piso.
Eu que sempre tive um vazio inexplicável no meu coração, como se algo
tivesse sido tirado de mim, continuava perdido na paisagem tentando
encontrar o sentido para minha existência. Mal sorria, mal tinha ânimo para
exercer minhas tarefas dentro da máfia.
Espiando pelo canto do olho, pude ver que foi meu irmão quem entrou na
sala e se sentou na cadeira. Ele ficou lá olhando para mim, ainda perdido na
paisagem. Eu queria perguntar muitas coisas a ele, saber como fazia para
seguir em frente mesmo depois de tudo que passamos, pois eu simplesmente
não conseguia. Havia um bloqueio no meu cérebro.
Um silêncio confortável se fez presente na sala, mas eu sabia que a
calmaria não iria durar para sempre. Dito e feito.
— Você vai se casar com a Alessandra.
Fechei os olhos e apertei os punhos enquanto me perdia nas pessoas
atravessando a rua.
— Por quê?
Ele tragou o cigarro e se aproximou de mim.
— Achei que gostasse dela.
Dei de ombros.
— O que te faz pensar isso?
Alessandra havia voltado recentemente de uma viagem que fez com o pai.
Sempre a achei patricinha demais para um homem simples como eu. Por
causa do meu pai, meus irmãos e eu tivemos uma vida humilde, quase não
tínhamos o que comer. Foi através de muito esforço que conseguimos chegar
ao topo. Não foi fácil.
Depois de completar certa idade, comecei a trabalhar na nossa fazenda
carregando sacos de laranja nas costas, sob um sol escaldante. Fazendo de
tudo para não pensar no meu passado.
— Vejo o jeito que você olha para ela.
Era verdade. A pele morena de Alessandra parecia brilhar, seus lábios
eram perfeitos e convidativos, era atraído por eles como o inferno. Minha
imaginação ia longe quando eu a olhava, imaginava nossos filhos idênticos a
ela.
Virei-me para encarar meu irmão.
— Ela está de acordo?
Embora vivesse em uma sociedade da máfia onde nós ditamos as regras,
não queria que ela estivesse ao meu lado apenas por obrigação. Eu era um
homem inseguro que não conseguia lidar com a rejeição de uma garota criada
em berço de ouro. Meu pai sempre me disse que eu era sensível e fraco,
naquele momento entendia o motivo.
— Alessandra está na idade de se casar, aliás, você sabe que o pai dela está
doente. E, além de tudo... é irmã de Catarina. É uma boa oportunidade para
você.
— Eu não a amo. Me sinto atraído, mas não a amo.
Na verdade, estava inseguro de ter que me casar com uma garota igual a
ela. Minha ficha de que era um dos chefes da Cosa Nostra, ainda não tinha
caído.
Riccardo tocou meu ombro.
— Isso já é um começo. A convivência não será tão ruim. Você precisa
amadurecer.
Assenti para ele, concordando. Ainda assim, senti-me como se tivesse
acabado de tomar um banho de água fria. Lógico que eu tinha ido para cama
com algumas mulheres, mas ainda me sentia inseguro para dividir um teto,
dividir assuntos referente a casamento, segredos e uma vida juntos. Nunca
tive exemplos, meu pai espancava minha mãe todos os dias, além de bater em
nós. Como eu deveria tratar minha esposa?
Riccardo segurou meu rosto.
— Você gosta de mulheres, Fabrizio?
— É claro que gosto. Por que me perguntou isso?
— Sou seu irmão mais velho e gostaria de saber se há algum elemento
surpresa. Você raramente vai aos prostíbulos. Posso contar às vezes que te
encontrei lá.
— Não gosto das mulheres de lá. Prefiro me masturbar do que ficar com
uma mulher que finge orgasmo.
Ele me olhou confuso.
— Somos chefes... É normal querer nos impressionar.
— E você acha isso prazeroso? — Arregalei os olhos.
— Por mim tanto faz. — Ele colocou a mão no meu ombro. — Talvez
você encontre seu lugar ao lado de Alessandra. Talvez ela não finja, sei lá,
Fabrizio. Apenas ache um jeito de viver essa merda que a gente chama de
vida.
Éramos apenas moleques. Eu tinha que começar a agir como homem,
principalmente porque iria me casar. Não queria que meus filhos tivessem
uma péssima impressão de mim.
Respirei fundo enquanto enfiava as mãos no bolso da calça.
— Quando vai ser?
— No próximo sábado — ele respondeu antes de caminhar para a porta.
— Terei que ir pessoalmente pedir a mão dela em casamento?
— Você é quem sabe.
— Como é estar casado?
— Não vejo diferença. — Saiu batendo à porta, deixando-me ainda mais
tenso.
O dia estava bonito, o sol resplandecia no céu naquela tarde de sábado. Eu
estava de pé no altar esperando Alessandra pisar no tapete vermelho. Apesar
de não amá-la, tinha desejo por ela. O desejo era tão grande que meu coração
parecia querer saltar pela boca toda vez que a olhava.
Minha boca estava seca e o suor escorria pelo meu rosto.
Todos ficaram de pé, quando Alessandra pisou no tapete acompanhada de
seu pai. Conforme ela vinha caminhando em minha direção, meu coração
dava pulos de ansiedade, ainda não estava acreditando que ela seria minha,
minha esposa.
Ela se movia graciosamente pelo tapete, vestida de branco e carregando um
lindo buquê de flores. O véu cobria seu rosto, já estava louco para arrancá-lo.
Nossas mãos se tocaram pela primeira vez e o arrepio quase quebrou
minha espinha. Alessandra estava mais linda do que nunca.
Sequer conseguia prestar atenção nas palavras do celebrante, porque eu só
conseguia enxergar Alessandra, completamente embriagado com o cheiro de
seu perfume.
Porra, isso que era amor? Não, meu pai dizia que um homem nunca
deveria se apaixonar.
Minha atenção se voltou para a cerimônia, quando a mão quente dela tocou
a minha para colocar a aliança.
— Fabrizio Guerrieri, você aceita ser meu marido? — Ela piscou enquanto
me olhava através dos enormes cílios.
Meu Deus... Como era linda!
— Sim.
A aliança de ouro foi colocada delicadamente no meu dedo. Com o mesmo
carinho, peguei a mão dela e trouxe para os meus lábios. Olhando-me
confusa, Alessandra ficou sem reação já que eu estava pouco me importando
para o protocolo que tínhamos que seguir.
— Você quer ser minha esposa? — sussurrei próximo ao seu ouvido.
Talvez assim, ela não se sentisse coagida por ter que aceitar algo que não
fosse de seu agrado.
— Aceito — gaguejou.
Coloquei com cuidado a aliança no dedo dela e, novamente, levei aos
lábios para selar nosso compromisso.
— Gostaria que se sentisse segura comigo.
Ela permaneceu com os olhos em mim.
— Vou me lembrar disso.
Sem soltar a mão um do outro, nós nos voltamos para o celebrante que
falou mais algumas frases antes de, finalmente, nos declarar marido e mulher.
Puxei Alessandra pela cintura e procurei pela boca dela. Se antes eu tinha
desejo, naquele momento depois de beijá-la, só aumentou mais a necessidade
de tê-la para mim.
A suíte estava decorada com pétalas de rosas vermelhas. Resolvemos
encerrar a festa cedo por conta da chuva forte que caiu no final da noite.
Alessandra esbanjava sorriso e alegria durante a festa de casamento, mas
foi só entrar no avião que ela mudou o comportamento. Estava inquieta.
Coloquei nossas malas no chão do quarto do hotel e tirei meu smoking
molhado.
— O que significa quando chove no dia do casamento? — Alessandra
perguntou, enquanto se perdia na chuva através da janela.
— Eu não sei. — Dei de ombros.
Ela se virou para me olhar, estava sentado na cama, sem saber como faria
para dar o primeiro passo sem assustá-la.
Levantei-me decidido e caminhei até ela. Alessandra se encolheu um
pouco quando a prendi entre meu corpo e a janela. Toquei seus cabelos
cuidadosamente enquanto olhava no fundo de seus olhos.
— Não tenha medo de mim — sussurrei.
— Você é um Guerrieri. — Engoliu seco. — Como não vou ter medo?
Abaixei para beijá-la. Minha língua entrou na boca dela e juntos, iniciamos
um beijo ardente. Peguei-a no colo e a deitei sobre a cama. Pude ver como a
respiração dela estava acelerada.
Será que me queria tanto quanto eu a queria?
Minhas mãos viajaram para dentro do vestido dela, encontrando uma
calcinha e cinta-liga que me fez rosnar de desejo. Rapidamente me desfiz do
restante da minha roupa e voltei a ficar por cima dela.
Alessandra desfez nosso beijo para tocar meu rosto, quase quebrando o
clima quente que se infiltrou no meio de nós. Eu a olhava confuso, porém,
paciente esperando que ela tomasse a inciativa, já que era virgem e,
certamente, estaria com medo de sua primeira noite de sexo.
— Precisamos conversar, Fabrizio.
Quando lágrimas deslizaram pelo seu lindo rosto, afastei-me ciente sobre
ter ido rápido demais. Era a única explicação para ela estar tremendo feito
vara verde.
— Me desculpe. — Toquei seu rosto e senti a maciez de sua pele sob meus
dedos ásperos.
Ela me olhou confusa.
— Pelo quê? — riu sem jeito, mas as lágrimas ainda abandonavam seus
lindos olhos.
— Por ter ido rápido demais.
Ela balançou a cabeça, negando.
— Ai, Fabrizio. — Engasgou com o soluço, por isso comecei de fato a
ficar preocupado. Ela pulou no meu colo e escondeu o rosto no meu pescoço
enquanto se afogava em lágrimas.
Meu coração afundou no peito. Acariciei suas costas tentando passar
conforto.
— Você não queria se casar, é isso?
Ela negou.
— Não é isso.
— Então? — Afastei-a de mim para olhar em seus olhos.
Alessandra abaixou a cabeça enquanto brincava com a pulseira de
diamante que eu havia mandado de presente para ela.
— Não sou mais virgem.
Pisquei absorto tentando processar o peso daquelas palavras. Antes que eu
pudesse dizer algo ou até mesmo sair daquele quarto, ela segurou meu rosto
entre as mãos trêmulas.
— Não me abandone.
— Como aconteceu? — perguntei enquanto segurava seu rosto.
— Foi com o soldado do meu pai. Amor de adolescência, aconteceu
apenas uma vez. Ele ficou encarregado de cuidar da minha segurança e
então... aconteceu. Meu pai o matou quando descobriu.
Alessandra mal conseguia falar. Seu rosto estava tomado pela dor e
lágrimas.
— Ele te forçou?
— Não. — Ela desviou o olhar envergonhada.
— Por que não me contou antes?
— Não queria que você deixasse de se casar comigo. Com o casamento
realizado ainda tinha esperanças de que você me ouvisse e entendesse que foi
há muito tempo. — Ela tocou meu rosto. — Eu gosto de você, Fabrizio. Por
favor, não me devolva, não me deixe e não me humilhe por conta de um erro
do passado.
Alessandra me abraçou forte. Parecia uma menina perdida sem saber o que
fazer da vida. E eu tinha que tomar uma decisão, podia anular o casamento ou
então, podia viver como se nada tivesse acontecido. Seria uma vergonha eu
anular o casamento e ainda informar os motivos.
Afastei-me novamente para olhar em seus olhos tristes, resultado de um
erro passado que poderia refletir no futuro.
— Fabrizio, diga algo... por favor!
Fiquei em silêncio tentando pensar sobre aquilo. A chuva parecia cair cada
vez mais forte. De repente vi a cena em que minha mãe apanhava do meu pai
e os gritos dela perturbando minha mente.
— Para todos os efeitos, fui o primeiro homem da sua vida. Ninguém além
de mim tocou em você, não houve outro. Estamos proibidos de voltar a falar
nesse assunto. Estamos entendidos?
Ela assentiu enquanto arregalava os olhos. Limpei suas lágrimas e a
abracei forte, mostrando que nada iria mudar entre a gente.
— Obrigada, Fabrizio. — Enterrou o rosto no meu pescoço.
Nós nos abraçamos enquanto a chuva caía forte lá fora. Na minha mente,
eu seria o primeiro e ninguém ia me fazer pensar o contrário. Não me
importava se ela era virgem ou não, queria ser dono dos sentimentos dela. O
passado não me importava, porque todos nós éramos quebrados.
E então eu tirei a virgindade dela naquela noite, na nossa noite de núpcias.
Enquanto o carro se movia pela estrada, aproveitei para pensar na vida que
eu estava disposta a deixar para trás. Deixei para trás um noivo rude que só
levava em consideração as vontades dele, e que me tratava feito lixo, como se
eu fosse propriedade dele e que estivesse ali apenas para servi-lo e nada mais.
— Chegamos, senhorita Coppolla.
Um dos soldados me alertou.
Olhei aflita em volta. Soldados da Cosa Nostra vieram nos receber e
revistar nossos pertences. Estávamos em frente à mansão de um dos chefes.
Eu poderia dizer com propriedade que era a casa mais bonita e majestosa de
Sicília.
— O chefe virá recebê-la — falou um soldado enquanto me entregava o
urso.
Por mais que fôssemos aliados, eles reviraram tudo dentro do carro e da
minha mala. Fiquei envergonhada de ver minhas calcinhas e sutiãs sendo
expostos.
— Obrigada.
Saí do carro para esticar as pernas e sentir o ar fresco de Sicília. Ventava
um pouco e a brisa fresquinha batia contra meu rosto e cabelo.
A porta da mansão foi aberta e um homem alto e elegante esgueirou-se.
Mesmo sem conhecê-lo, pude ver que estava de frente com um dos chefes da
Cosa Nostra.
O homem passou pelo grande portão de ferro e parou diante de mim.
— Boa tarde, senhorita Coppolla. — Ele estendeu a mão. — Sou Matteo
Guerrieri.
Peguei a mão dele e sorri.
— Boa tarde.
— Gostaria de entrar para comer e beber alguma coisa? Sei que a viagem
foi longa.
Eu sorri animada, eu sei que tinha que cumprir minha obrigação, mas
minha barriga roncava de fome e minha boca estava seca de sede.
— Sim, obrigada.
Ele me levou em direção à casa. Fiquei ainda mais deslumbrada com a
decoração da casa. A mesa da sala estava arrumada com o lanche da tarde.
Matteo Guerrieri me conduziu à mesa.
— Gostaria que conhecesse minha esposa, só que ela não está em casa no
momento. Mas não faltará oportunidade.
— Sim.
Enchi o copo com suco de laranja e dei uma mordida na torrada. Não
pretendia abusar da hospitalidade, por isso enquanto lanchava aproveitei para
saber mais sobre meu paciente.
— Fale um pouquinho sobre o seu irmão. Como se acidentou?
O semblante do senhor Guerrieri passou de descontraído para tenso.
— Ele tentou tirar a própria vida.
Pisquei absorta colocando o copo sobre a mesa. Se eu estivesse lidando
com alguém com distúrbio mental, eu teria que ter um psicólogo me
acompanhando.
— Como?
— Não se assuste. Ele passou por muita coisa, bebeu demais e acabou
tentando tirar a própria vida. Você só tem que se procurar com a recuperação
dele. Vou te passar o relatório médico.
— Tudo bem.
— Deseja descansar antes de irmos visitá-lo?
— Não, não. Obrigada. Preciso conhecer meu paciente. Quanto mais
rápido começar o tratamento, mais rápido será a recuperação.
Ele concordou e caminhamos para o carro. Pelo visto, teria uma missão
pesada sobre os ombros, e eu ia me empenhar ao máximo para fazer com que
ele se recuperasse por completo.
O senhor Guerrieri ficou em silêncio na viagem, já eu aproveitava para
desfrutar da paisagem. Logo entramos na propriedade do outro Guerrieri. A
casa também era grande e diferente da outra, essa parecia estar abandonada,
julgando pelas folhas secas caídas na grama e o lindo chafariz desligado.
— Chegamos. — Matteo saiu do carro e abriu a porta para que eu fizesse o
mesmo. Uma senhora muito simpática saiu para nos receber.
Começava a anoitecer. Entramos na propriedade e atravessamos um longo
corredor que dava acesso à biblioteca, onde o outro Guerrieri estava.
Quando finalmente chegamos até a porta da biblioteca, a senhora se virou
na nossa direção.
— O senhor Fabrizio está aí dentro. Hoje ele não está de bom humor.
Matteo Guerrieri assentiu.
— Deixe com a gente.
A mulher robusta pediu licença e saiu. Respirei fundo, quando Matteo
bateu na porta e a abriu, entrando em seguida sem esperar resposta.
O ambiente estava pouco iluminado pela luz do abajur sobre a mesa. O
outro Guerrieri estava de costas e sentado na cadeira de rodas. Ele estava na
janela esse tempo todo observando quem entrava em sua casa.
— Fabrizio — Matteo o chamou. — Trouxe a pessoa que te falei.
Ele não respondeu. Não parecia estar satisfeito de saber que eu estava ali
para cuidar dele.
Pude reparar nos ombros largos e nos cabelos que pareciam ser macios e
cheirosos. Estava mais do que ansiosa para conhecê-lo pessoalmente.
— Susanna Coppolla. — Dei um passo em sua direção para me apresentar,
esperando que minha voz fosse suficiente para fazê-lo olhar para trás.
Estava quase desistindo quando ele se virou. Seu olhar duro me observou
atentamente, tirando-me o ar e a possibilidade de raciocinar. Meu coração
acelerou violentamente e nada fez com que eu me distraísse dele.
Fiquei hipnotizada pela beleza bruta dele.
Meus pés pareciam estar congelados no chão. O olhar firme de Fabrizio
Guerrieri continuava firme em mim, avaliando-me como se eu estivesse ali
para zombar dele.
Matteo Guerrieri limpou a garganta, fazendo com que eu retomasse a
consciência e, bruscamente, dei um passo para trás.
— Susanna. — A voz rouca de Fabrizio enviou arrepios através do meu
corpo. Meu nome era bonito e sexy saindo dos lábios dele.
— Sim, senhor.
— Então você ficará responsável por me fazer levantar dessa cadeira?
Acha mesmo que pode lidar com isso?
Pude notar ironia na voz dele. Parecia estar totalmente desmotivado com a
vida, em especial com a possibilidade de voltar a andar como antes.
Matteo Guerrieri ergueu as sobrancelhas esperando que minha resposta
fosse convincente. O primeiro passo era elevar a autoestima de seu irmão e
fazê-lo entender que sua vida não estava perdida. Além de tudo, era um
homem muito bonito. De início seria uma tarefa difícil fazê-lo entender meu
ponto de vista.
— Vou me esforçar ao máximo, senhor. — Podemos começar hoje mesmo
se assim quiser. Podemos começar com exercícios leves.
Ele me avaliou antes de olhar para o irmão em total desaprovação.
— Faz um esforço, Fabrizio. Ela está aqui para cuidar de você.
Ele deu as costas e, novamente, voltou a olhar pela enorme janela como se
não houvesse ninguém com ele.
— Saia daqui, Matteo. Não quero olhar para sua cara.
Matteo Guerrieri assentiu endireitando os ombros.
— Vou deixá-los sozinhos. — Antes de sair pela porta, Matteo tocou meu
ombro e sussurrou: — Um soldado estará à sua disposição. Não force muito a
barra com ele.
— Fique tranquilo.
Quando o outro Guerrieri saiu da biblioteca, senti o ar pesado. Minha única
saída foi ir até um das estantes e escolher um dos tantos livros que
enfeitavam o lugar. No livro estava justamente ensinando como levantar a
autoestima. Um dos primeiros passos era tentar trazer um pouco de luz para o
ambiente escuro. As cortinas eram escuras também e Fabrizio ficava sombrio
através da sombra delas.
— Quer que eu lhe traga algo?
— Tipo o quê? — Ele olhou por cima do ombro, irônico. — O que eu
quero ninguém pode me dar.
— Se estiver com fome...
Fabrizio Guerrieri virou-se bruscamente para me observar. Ele parecia
estar muito aborrecido.
— Escute aqui... eu não preciso de uma babá.
— Me desculpe. Não estou aqui para ser uma.
— Faça o seu trabalho. Não vou dificultar sua vida. Jamais iria permitir
que você ficasse presa a um homem como eu.
— Não tenho pressa. Vou demorar o tempo que precisar até que você
esteja totalmente recuperado.
— Se você diz...
Assenti e fui até minha bolsa pegar o massageador muscular para ativar os
músculos e estimular o fluxo sanguíneo dele.
Fabrizio fechou os olhos, enquanto eu deslizava o aparelho por toda
extensão de suas pernas torneadas. Depois fiz o mesmo nas costas e ombros,
tentando aliviar a tensão do corpo dele. Por ser um homem ativo,
naturalmente Fabrizio estava muito inquieto.
— Vou dar trabalho.
— Eu certamente já tive paciente em situações piores.
— Tipo como?
— Não tinha movimento nenhum. Seu caso é diferente, o senhor precisa
ser confiante em dar um passo de cada vez.
Ele olhou ligeiramente para o lado, dando atenção para o que eu estava
falando.
— Não precisa me iludir para tentar fazer o seu trabalho. Já disse que vou
cooperar.
— Prometo que só saio daqui depois que o senhor estiver recuperado por
completo.
— Não faça promessas que você talvez não possa cumprir.
Um silêncio incômodo tomou conta do ambiente. Aproveitei o momento
para massagear todo o seu corpo para aliviar a tensão.
— Então... você tem um noivo?
A pergunta fora do contexto me pegou desprevenida. Logicamente, ele
saberia tudo sobre mim, decerto mandou que me investigassem. E apesar de
não ter nada para esconder, senti-me exposta.
— Sim.
— Tem família? Não tive tempo de vasculhar sua vida.
Eu ri enquanto o respondia.
— Sim. Tenho família.
— Estranho ninguém ter vindo junto com você.
Porque ninguém se importava. Diante do que a Cosa Nostra poderia
oferecer à Camorra, nada mais importava para eles. Meu pai já tinha lá seus
sessenta anos, cardíaco e não podia se esforçar tanto. Meus irmãos abriram
mão de mim quando Mattia me tomou como noiva, para eles eu estava
praticamente encaminhada, já que era meu noivo quem tinha obrigações
comigo.
Senti a mão gelada de Fabrizio Guerrieri tocar meu queixo, erguendo-o
para que eu o olhasse nos olhos.
— O que está escondendo?
— É meu noivo quem responde por mim. E ele me mandou vir nessa
missão.
Fabrizio ergueu os olhos enquanto me avaliava com cautela, olhando cada
detalhe do meu rosto.
— Chegar ao ponto de mandar uma mulher como você sozinha para cá, ele
provavelmente deve estar muito desesperado. Me pergunto o que ele vai
querer em troca.
O sotaque de Fabrizio é lento, a voz é bruta, mas cheia de confiança. Meu
corpo inteiro se arrepiou só de ouvir.
— Então... — limpei a garganta, e a atenção dele novamente se voltou para
mim. — Vai me deixar ajudar você?
Eu tinha que ajudá-lo, nem que fosse a última coisa que eu fizesse nessa
vida.
— Eu já te respondi isso.
— Obrigada.
Ele afastou os ombros.
— Chega por hoje. A massagem foi suficiente.
— Foi suficiente para desestressar?
Ele ergueu os lindos olhos, uma mistura de verde e azul pareciam brigar
para ver qual se destacava mais.
— É tão óbvio que estou estressado assim?
Assenti, muito cautelosa. Fabrizio se afasta o suficiente para olhar dentro
dos meus olhos. Sua expressão é mortalmente séria. Os olhos dele me
queimam enquanto me observa.
— Escolha um dos quartos de hóspedes para dormir.
— Se o senhor me permitir, prefiro ficar na casa de seu irmão.
— É? Por quê?
— O senhor é viúvo. Não pega bem eu ficar sozinha aqui com você.
O silêncio desconfortável pesou no ar. O olhar de Fabrizio Guerrieri ainda
estava em mim. Meu coração dava cambalhotas dentro do peito. Não sabia se
meu nervosismo se dava ao fato de estar diante de um dos chefes da Cosa
Nostra, ou por me sentir atraída pela beleza dele.
Fabrizio quebrou o contato visual olhando para o chão.
— Entendi. Vou chamar um soldado para te levar à casa do meu irmão. Me
avise se precisar de alguma coisa.
— Obrigada. — Antes de sair pela porta, olhei novamente para ele.
Ele deu um aceno sutil de cabeça.
Acima da atração por ele estava a vontade e a missão de fazê-lo andar
normalmente. Por isso, tinha que afastar qualquer pensamento que não
envolvesse meu trabalho. Eu não podia colocar tudo a perder e, além de tudo,
eu tinha um noivo que ficaria furioso caso eu colocasse meus olhos em outro
homem.
Meu corpo tremia de raiva. Eu não estava acreditando que meu marido
tinha transando com minha própria irmã. E pior: tinha a engravidado.
Fabrizio ia ser pai de um filho que não era meu. Isso estava me corroendo
por dentro, matando-me de ciúmes. Com certeza estava me punindo por eu
ter mentido. E o que mais me doía, era o fato da minha irmã entrar nesse
jogo.
Catarina sabia dos nossos problemas e, mesmo assim, deitou-se com ele se
aproveitando de sua embriaguez devido às constantes brigas que estávamos
tendo.
Meu corpo tremia de raiva enquanto ouvia as desculpas esfarrapadas dela.
Minha raiva foi tanta que acabei acertando um tapa no rosto de Catarina.
Minha irmã caiu na cama, olhando-me incrédula.
— Me perdoa. — Ela chorou. — Eu pensei que fosse Riccardo. Eu
também estava bêbada. Você tinha saído e nós ficamos bebendo na sala.
Fabrizio lamentando o casamento de vocês, e eu sofrendo pelo meu.
Eu ri e parti para cima dela, enquanto me lembrava da cena. Da minha irmã
transando com o meu marido, dos gemidos dele, das súplicas. Nossa, como
eu queria apagar aquela cena da minha mente.
— Você me apunhalou pelas costas. — Puxei os cabelos dela.
— Pelo amor de Deus, Alessandra. Eu não amo Fabrizio. Estou
desesperada para me reconciliar com meu marido. Você acha justo tudo que
passei?
— Riccardo e você nunca foram felizes, Catarina. Você era apenas um
enfeite que ele mostrava a famiglia. Já o vi com muitas mulheres e nenhuma
delas era você. Deixe de ser sonsa.
— Como? — Catarina soluçou. — Você sabia das amantes dele e nunca
me contou? Por que, Alessandra?
— Porque você também sabia.
O silêncio entre a gente ficou insuportável. A irmã que sempre amei e
cuidei, tornou-se uma estranha para mim. Nada do que ela dissesse iria
apagar a mancha que deixou no nosso relacionamento.
— Já vi muitas. Nunca te contei, porque não queria te ferir. Se Riccardo
não te queria antes, não vai querer agora sabendo que você transou com o
irmão dele. E ele sendo do jeito que é, jamais iria aceitar uma mulher que
passou pela mão de outro homem. E convenhamos... ele tem tantas, que você
nunca fez falta.
— Não acredito que está me dizendo essas coisas! Riccardo e eu tínhamos
sim um acordo. Ele podia ter quantas amantes quisesse, desde que não se
separasse de mim e nem saísse com elas em público.
— E você acreditou?
— Eu não tinha escolha.
Catarina me olhou com ódio. Mas ela sabia que era verdade, por isso
destruiu o que sobrou do meu casamento. Ela queria uma âncora para se
apoiar e viu em Fabrizio essa oportunidade.
— Você não só transou com o marido para fazer ciúmes em Riccardo,
também para garantir seu futuro na máfia. Por isso engravidou.
— Talvez se você tivesse dado o filho que seu marido pediu, ele não teria
recorrido a outros meios.
Acertei mais um tapa no rosto dela. Minha mão estava vermelha e doendo
muito. Mas nada fazia com que a dor da traição passasse. Eu estava
completamente destruída por dentro.
— Você me dá nojo, Catarina. Em pensar que um dia lamentei
desesperadamente sua morte, hoje, vejo que o melhor era você ter morrido.
— Você vai se arrepender, Alessandra. Fabrizio vai ter que se casar
comigo. E você, vai pagar caro por ter mentido sobre seu passado. É melhor
você estar bem longe quando descobrirem que você não era mais virgem
quando se casou com o Fabrizio. E, pior, mentiu sobre o filho que concebeu
antes de seu casamento. Um filho de um soldado morto de fome, que sequer
teve voz para te defender.
Enxuguei as lágrimas e dei meia-volta.
— Vá em frente. Vocês dois se merecem. Quero você fora da minha casa e
da minha vida.
Ouvi o choro dela antes de eu sair pela porta. Meu coração estava
completamente despedaçado.
Voltei à realidade com o olhar curioso do meu marido em mim. Julgando a
forma que nosso casamento entrou em crise, no fundo, Fabrizio sabia que não
deveria estar tão surpreso por eu ter fugido. Minha vida, nossa vida estava um
caos. Mal conseguíamos trocar algumas palavras.
— Vamos conversar. — Praticamente supliquei. E eu não me importava
de ter que implorar.
Fabrizio e eu nunca tivemos oportunidade de conversar. Sempre fui
fechada em relação ao meu passado, mas naquele momento estava disposta a
me abrir. Contar a ele sobre meu inferno, contanto que ele estivesse disposto
a me ouvir.
Minhas mãos ficaram trêmulas quando li o positivo. Lágrimas quentes
caíam sobre minhas bochechas. Meu coração estava tão acelerado que eu
podia sentir que ia sair pela boca.
A empregada saiu correndo do quarto e foi chamar meu pai.
Levei a mão sobre a barriga por instinto, na intenção de proteger o
pequeno ser que estava crescendo dentro de mim. Apesar de ter dezessete
anos, eu tinha certeza de que poderia cuidar dessa criança. Eu seria capaz de
amá-la como nunca amei na vida. Mas papai não pensava assim. Ninguém na
máfia pensava assim. Ter filhos antes do casamento era algo completamente
imoral, malvisto aos olhos da famiglia.
— Alessandra.
A voz do meu pai fez com que eu saísse do transe e guardasse o papel
dentro da gaveta. Corri para o quarto e encontrei meu pai e meu tio. Eles
olharam para mim de uma forma que me deixou completamente
desconfortável. Naquele momento senti um arrepio subir pelo meu corpo.
Eles já sabiam do meu relacionamento com Giordano e, também, sobre a
gravidez.
— Papai...
Ele levantou a mão impedindo que eu falasse. Papai estava triste e com os
olhos banhados de lágrimas.
— Não diga nada.
Papai sempre foi um bom homem, que mesmo tendo ficado viúvo duas
vezes cuidou de mim e da minha irmã com muito carinho e dedicação.
Embora não pudesse dizer o mesmo do homem que estava ao seu lado.
Como papai estava doente, era seu irmão quem ficava responsável pela
maior parte dos negócios e assuntos da família. Nosso tio era muito rígido e
sempre dava um jeito de fazer com que as coisas saíssem do seu jeito, mesmo
que para isso tivesse que sacrificar a filha do próprio irmão. Nosso nome não
podia ir parar na lama por conta de um deslize meu.
Foi meu tio quem descobriu meu relacionamento com Giordano. Ele
colocou outro soldado na cola de Giordano e descobriu as cartas que eu
enviava.
Titio torturou Giordano friamente até que o rapaz confessasse. E tudo veio
à tona.
— Você vem comigo. — Meu tio olhou-me sério. Tomando à frente da
situação. — Já que seu pai não está bem de saúde, eu vou cuidar de tudo.
Meu coração sangrou quando ele revelou aquilo, porque eu sabia que, no
fundo, papai estava tão destruído quanto eu. Mas por ter um nome a zelar,
não podia fazer nada para me proteger.
Eu me apaixonei por alguém que não se encaixava nos planos do meu tio,
mas Giordano se encaixava perfeitamente na minha vida. Ele, apesar de ser
um simples soldado, sempre foi alegre e via a vida de forma que ninguém
via. Mesmo fazendo parte de uma organização criminosa, Giordano
conseguia ver o lado bom disso.
— Esse filho não pode nascer, Alessandra. Não foi essa vida que
escolhemos para você.
Abaixei a cabeça e me engasguei com o choro. Não tinha emoção nenhuma
na voz do meu tio, enquanto papai apenas observava com os olhos cheios de
lágrimas não derramadas. Se pudesse, papai com certeza me tiraria dessa
situação. No entanto, não tinha lugar na máfia para mulheres que
desobedeciam às leis.
Segundo eles, eu tinha todos os requisitos para ser uma esposa perfeita,
obviamente se eu não estivesse apaixonada por um soldado e grávida dele.
Papai poderia simplesmente permitir meu casamento com Giordano, se ele
não fosse de classe inferior à nossa. Eu não me importava.
— Onde está Giordano? — perguntei, sentindo uma dor no peito.
Meu tio me olhou profundamente enquanto fumava o cigarro.
— Está na sala de torturas se arrependendo por ter colocado os olhos em
alguém que estava acima dele. Muita ousadia daquele moleque colocar os
olhos em cima da minha sobrinha.
— Preciso vê-lo.
— Não — falou meu tio firme. — Você já aprontou demais. Seu pai lhe
deu muita corda, por pouco nosso sobrenome não está na lama.
Eu tinha sido obrigada a sair do colégio interno quando descobriram que
eu estava grávida. Papai ficou com medo que mais alguém soubesse do
escândalo.
— Por favor... — tentei suplicar.
Ninguém na máfia suspeitava sobre minha gravidez e nem do romance
com o soldado do meu pai, por esse motivo meu tio estava agindo o mais
rápido possível para se livrar de Giordano.
No fundo do meu coração, eu tinha esperança de convencer papai.
Por sermos submissas, teríamos que casar com quem desse mais dinheiro
por nós e oferecesse algum benefício à nossa família. Mas eu tinha desviado
do caminho e havia escolhido o homem da minha vida, apaixonando-me pelo
soldado que fazia minha segurança no colégio.
— Como você pôde, Alessandra? — papai engasgou com o choro.
— Eu não planejei me apaixonar. A gente não manda no coração. Por
favor, papai. Deixe-me falar sozinha com o senhor.
Papai estava muito emocionado. E, talvez, para não mudar de ideia, saiu
rapidamente do quarto.
Naquele momento, estava sozinha com o meu tio.
— Você é mal-agradecida. Seu pai te deu o mundo, em troca você partiu o
coração dele.
Titio segurou meu braço e me arrastou para fora da mansão. Abriu a porta
do carro e me jogou lá. Minha cabeça bateu contra o vidro no processo e
acabei ficando tonta. O sangue começou a escorrer pela minha face. A partir
dali, eu já não sabia mais o que iria acontecer comigo, com meu filho e
Giordano.
Dirigiu concentrado pelas ruas desertas da Sicília, minutos depois
estacionou em frente a um galpão abandonado. Depois saiu do carro e deu a
volta para abrir minha porta. Titio praticamente me arrancou de dentro do
carro.
— O que você está fazendo? — gritei — Me solte!
Ele me pegou pelos cabelos e me arrastou para dentro. Eu gritava,
arranhava-o e me debatia. Eu estava quase conseguindo fugir quando uma
mulher vestida de branco apareceu e, com a ajuda do meu tio, colocou um
pano umedecido no meu nariz.
Meu corpo ficou dormente. Minha visão foi ficando turva e escurecendo,
as imagens de repente viraram um borrão, até tudo desaparecer por completo.
Eu estava
sentado na sala de reuniões esperando os membros importantes da famiglia.
Não demorou muito para que eles chegassem um atrás do outro e tomando
seus assentos nos lugares indicados.
Porém, havia somente quatro membros da famiglia. O quinto seria meu
irmão Riccardo.
Cada família tinha um chefe importante para os negócios da Cosa Nostra.
Riccardo estava no topo, chefe dos chefes. Além de ser o filho mais velho,
ele era a cópia dos homens da família Guerrieri que criou a organização.
Ninguém se sentava no lugar dele, nem mesmo tomavam decisões sem
consultá-lo antes.
Ninguém podia ir diretamente a Riccardo, exceto quem carregava o mesmo
sobrenome que ele.
Olhei para a cadeira dele vazia e depois para o relógio, faltava pouco para
começar a reunião.
Faltavam dois minutos para a reunião começar, quando Riccardo entrou no
local para tomar o lugar que o pertencia.
Não podia negar que me senti aliviado por ele estar ali. Riccardo era uma
figura paterna para mim, alguém que me fez enxergar que o mundo não era
para os fracos.
Ele estava com uma enfermeira do lado.
— Boa noite — iniciei a reunião. — Como vocês sabem, minha esposa
faleceu há quase cinco anos. No início me perguntavam por qual motivo eu
não me casava novamente com outra mulher, ou por que não construía outra
família.
— Sabemos que sua esposa não está morta. — Uma voz soou no fundo.
Quando levantei a cabeça, observei que Giulio estava debochando de mim
enquanto tragava um charuto.
Giulio era pai da segunda esposa de Riccardo.
— O que ela foi fazer mesmo? — ele continuou. — Você deveria matá-la
de vez.
— O senhor quer que minha esposa termine como a sua filha?
Os olhos de Giulio ficaram vermelhos de ódio.
— Não compare sua esposa com a minha querida filha. Minha adorada
Giulia morreu servindo o seu propósito. Diferente da sua mulher.
Cerrei a mandíbula e dei um soco na mesa, fazendo com que eles parassem
de rir.
— O que minha esposa foi fazer no convento não é da conta de vocês. Eu a
mandei para lá, porque estava com problemas. Eu não queria ver ninguém,
portanto, não queria ela do meu lado naquele momento. Estou aqui
comunicando e não pedindo permissão para continuar meu casamento.
Ricardo ficou inquieto na cadeira, demonstrando que estava desconfortável
com o assunto.
— O senhor está dizendo que sabia que sua esposa estava viva? —
Luciano perguntou, intrigado. — Então por que vai voltar agora depois de
tanto tempo separado? Eu tenho uma sobrinha que se encaixa perfeitamente
na sua vida. Ela adora crianças.
— Estou apenas explicando o motivo de não ter me casado novamente. E
senhor está me oferecendo sua sobrinha?
Riccardo estava impaciente, por isso resolveu assumir a liderança da
reunião.
— Sua vida pessoal não interessa a ninguém aqui. — Ele ajeitou o paletó.
— Sua mulher é propriedade sua, você faz com ela o que achar melhor.
Riccardo olhou em volta esperando que alguém dissesse algo, porém, o
silêncio permaneceu.
Então ele continuou:
— Não quero ouvir mais o nome da Giulia aqui. — Tomou um pouco de
água. — Próximo assunto.
Assenti.
Fui até o telão e coloquei as fotos de Mattia esquartejado.
— Uou. — Luciano sorriu. — Belo trabalho.
Também fui mostrando as caixas que iriam enviar para as máfias vizinhas.
Não tinha como negar, Mumú e eu fizemos um ótimo trabalho.
— E quanto a noiva dele? — Giulio me olhou sério. — Suponho que o
corpo dela também esteja nessas caixas.
— Não — falei, firme. — Temos um soldado eficiente cuidando dela.
— Cuidando? — Giulio riu. — A máfia virou hotel de cinco estrelas?
Apoiei as mãos sobre a mesa e olhei-o sério, mostrando que tinha o
controle da situação. Quem era ele para questionar minhas decisões?
— O que o senhor sugere?
— Você deve matá-la. Óbvio. — Ele riu.
— Sou o subchefe, e sei bem o que estou fazendo.
Ele riu.
— O senhor não será capaz de tal coisa, já que é um fraco. Não merece o
sobrenome que tem, por isso que o seu filho mais velho é estranho... você não
serve de exemplo para ninguém.
Cego de raiva, avancei e acertei um soco no rosto de Giulio. A sala de
reunião ficou embaçada e eu só conseguia enxergar o rosto dele debochando
do meu filho.
Continuei dando socos na cara dele e pegando a cabeça dele para bater
contra o chão, até que o sangue escorresse e sujasse minhas mãos.
Quanto mais sangue saía, mais prazer eu sentia em bater.
Alguém me tirou de cima dele e me arrastou para uma outra sala reservada.
Eu não estava mais conseguindo raciocinar e só agia pelo ódio.
Então a figura de Riccardo começou a aparecer através da névoa, que
estava embaçando minha visão. Ele acertou dois tapas no meu rosto, fazendo
com que eu voltasse à realidade.
O ódio ainda corria em minhas veias, trazendo adrenalina para o meu
sangue.
— Acalme-se, Fabrizio. — Matteo estava atrás de Riccardo, olhando para
mim com preocupação. — Ninguém deve saber que o comportamento do seu
filho é sua franqueza.
Coloquei a mão sobre o rosto e fiquei sufocado, lembrando-me do meu
filho e das vezes que o ignorei pelo fato de não aceitar que ele se comportava
diferente. Laura nunca se importou, deu todo amor e carinho que ele
precisava, enquanto eu ficava me afogando em mágoa e culpando Alessandra
pelas minhas desgraças.
Matteo me entregou um copo de água com açúcar. Fiquei ali de cabeça
baixa sentindo as lágrimas molharem meu rosto. O fato de sermos homens e
criminosos, não significava que éramos perfeitos. Todos nós podemos
cometer erros e nos tornamos fracos diante de certas situações.
— Não vou permitir que ninguém humilhe meu filho.
Levantei a cabeça e olhei para meu irmão mais velho, que tinha o olhar
sério cravado em mim.
— Eu...
Ele me interrompeu.
— Vá para casa, depois conversamos. Isso é tudo por hoje.
Concordei.
Naquele momento, eu descobri que meu filho era meu ponto fraco. Muitos
poderiam usar o comportamento dele para me atingir, por isso precisava
aprender a lidar com essa situação.
A máfia estava finalmente voltando ao que era. Riccardo estava cada dia
melhor e se esforçando de forma demasiada para voltar à vida normal. Ele
mesmo havia se dado alta, ignorando as restrições médicas.
Enquanto eu, enfim, estou conseguindo dar mais atenção a minha família.
Anna estava linda em uma barriga volumosa de seis meses, quase
completando sete.
Poder presenciar a felicidade do meu filho mais velho na companhia do
seu amigo peludo esperando a chegada do irmãozinho, não tinha preço.
Todos os dias ele me perguntava quando o Dario iria chegar em nossas
vidas. Então eu dizia que o nosso bebê tinha tempo certo de ficar na barriga
de sua mãe, como um pãozinho no forno, que ficava assando lentamente. Mas
que, em breve, ele estaria conosco.
Minha casa era meu templo sagrado, cheia de harmonia, amor e paz. Cada
dia eu me apaixonava mais por minha esposa. Eu não tinha palavras para
descrever Anna.
Se eu soubesse que iria ser tão bom estar casado com ela, teria me casado
há muito tempo. Teria tirado ela dos braços de Antônio e feito dela minha
mulher.
Continuei divagando entre os pensamentos, até que a porta se abriu e
Riccardo entrou. A saúde dele ainda era um motivo de preocupação, já que
não estava cumprindo as exigências dos médicos. O fato era que ele se
recusava a ficar de repouso, e isso estava preocupando a todos nós, inclusive
os médicos que tratavam da saúde dele.
Riccardo mostrava de maneira clara que já estava cansado desse mundo,
mas ainda não podia ir embora totalmente, uma vez que tinha gente
dependendo muito dele. Os gêmeos adoravam o pai, isso fazia com que
Riccardo reconsiderasse o fato de colocar sua vida em risco.
Assim que eu soube que meu irmão estava bem para poder conversar, pedi
uma reunião com ele para discutir o destino de Giovanni. Eu achava que o
rapaz merecia mais uma chance, justamente porque ele era um ótimo soldado
e tinha boa pontaria. Também porque a Anna estava grávida e eu não queria
levar esse transtorno para ela.
Mas, por enquanto, eu iria pedir que Riccardo adiasse a morte de Giovanni.
Ricardo parou na minha frente, sentado em uma cadeira de rodas e com
soldados à sua disposição, prontos para começar uma guerra caso ele
exigisse. Um desses soldados era Mumú, o chefe dos soldados e braço direito
de Riccardo nas guerras.
Para os nossos inimigos ou até mesmo outros membros da máfia, essa
imagem era completamente intimidadora. Porém, eu já estava acostumado e
entendia que nada daquilo era para me causar desconforto, mas sim para a
segurança de meu irmão. Ele era quem tinha um alvo nas costas, a cabeça
dele valia milhões para nossos inimigos.
— Está tudo bem? — ele perguntou de forma amigável.
Eu sabia que esse jeito "amigável" iria por água abaixo quando ele
descobrisse o motivo da minha reunião.
Limpei a garganta.
— Você me disse para matar Giovanni.
Ele estreitou os olhos.
— Ele é irmão das nossas esposas.
— E? — Riccardo continuou sério, olhando para mim.
— Eu acho que deveríamos esperar um pouco mais. Pense bem, Riccardo.
Anna e Laura estão grávidas. Isso pode prejudicar os nossos bebês.
Giovanni estava na sala ao lado, esperando o veredito. Não que eu fosse
defensor de Giovanni e aceitasse as merdas que ele fez, só estava preocupado
com meu filho no ventre de Anna. Não seria legal a criança absorver o
desespero da minha mulher. Também achava que Giovanni deveria ser
aproveitado em outra área da máfia.
— Acho que você deveria reconsiderar. Querendo ou não, Giovanni é
nosso cunhado, irmão das nossas esposas e que, por sinal, estão grávidas.
Elas estão esperando um filho nosso.
Riccardo balançou a cabeça.
— Riccardo...
Ele deu um soco na cadeira.
— Porra, Matteo! Tem noção do que você está me pedindo?
— Então me deixa matá-lo depois do nascimento dos nossos filhos, é mais
seguro. Até lá, eu vou preparando o psicológico de Anna, e você o de Laura.
Mumú limpou a garganta para fazer um pronunciamento.
— É uma boa ideia, chefe. A senhora Guerrieri está com outro herdeiro seu
no ventre. A máfia está em festa.
Riccardo ficou em silêncio por um tempo antes de finalmente concordar.
Aquilo foi um alívio para mim, pois Anna andava muito sensível por causa
da gravidez. Principalmente porque ela havia me dito que estava sonhando
muito com Giovanni morto. Ela ficava perturbada quando tinha pesadelo e
chegou a ter sangramentos por causa disso.
— Certo. — Riccardo respirou fundo.
Quando achei que finalmente poderia respirar aliviado, escutamos um
barulho na porta que nos fez virar para olhar. E para piorar a situação,
Giovanni entrou na sala sem ser convidado.
Aquilo foi uma afronta, pois ninguém tinha permissão de ir até o chefe sem
ser convidado.
O ar pesou quando ele pisou na sala de reunião. O olhar de Riccardo
mudou por completo quando viu nosso cunhado.
Era nítido que se odiavam.
Giovanni parou no meio da sala e estufou o peito.
— Antes de morrer, vou dizer coisas que nunca tive coragem de dizer,
chefe.
Riccardo ergueu a sobrancelha, desafiando-o.
— Agora não, Giovanni. — rosnei. Quando ameacei tirá-lo da sala,
Riccardo segurou meu braço e me impediu de fazê-lo.
— Quero ouvir o que ele tem a dizer. Talvez essa seja a última
oportunidade dele.
Isso pareceu intimidar Giovanni, mas meu irmão o encorajou a continuar.
Eu esperava muito que Giovanni usasse as palavras certas para se redimir.
Embora eu soubesse que Riccardo não voltaria atrás.
— Eu não roubei você, Riccardo — Giovanni começou. — Nunca traí a
máfia. Meu erro foi ter tentado defender minha mulher, mas era meu dever
como homem.
Riccardo riu.
— Defender uma pessoa que cometeu erros te torna conivente. Nunca te
disseram isso?
— Eu amava minha esposa. Eu fiquei cego de ódio quando você a matou,
mesmo assim continuei servindo a máfia e dando meu sangue por essa
organização. Mas o que eu recebi em troca?
Riccardo se levantou da cadeira e ficou de frente com Giovanni.
— O que você recebeu em troca? Se você ainda está vivo, agradeça à sua
irmã.
Quando eu vi que a situação estava esquentando, tentei apaziguar. No
entanto, Mumú me aconselhou a ficar de fora alegando que o chefe iria
resolver e tomar decisões cabíveis.
Mas eu não me conformava com a discussão, principalmente por conhecer
o temperamento de Riccardo. Eu o conhecia, então podia afirmar que se essa
discussão não terminasse, Giovanni iria parar em caixão.
— Meu pai lambia o chão que você pisava, Riccardo. E mais do que isso,
ele deu minha irmã mais nova para você. Uma menina ingênua que não sabia
nada da vida. Laura apanhou muito para se tornar essa mulher adulta que é
hoje. Você a humilhou muito para que ela se encaixasse na sua vida.
Lembro-me das prostitutas...
Riccardo balançou a cabeça, discordando e apontando o dedo na cara de
Giovanni.
— Sua irmã amadureceu por ela mesma. Por ser um homem mais velho e
mais experiente, nunca esperei comportamentos que não condiziam com a
idade dela. Então, não venha falar essas merdas para mim. Minha vida
pessoal não é da sua conta.
Giovanni ficou nervoso.
— Eu nunca fui a favor da relação de vocês. Laura merecia alguém
melhor.
Riccardo riu.
— Você conhece alguém melhor do que eu? Nenhum outro homem seria
capaz de aturar a péssima educação de sua irmã. E não estou dizendo que a
culpa era dela, mas sim da péssima educação que o seu pai deu a vocês. Os
Bassi sempre foram escórias da famiglia. Sendo chefe e autoridade maior, eu
sou o único que pode facilmente defender Laura de comentários maldosos e
ainda dei permissão para que ela realizasse o sonho de ser pianista. Então,
você acha mesmo que algum outro homem teria culhão para isso?
Giovanni engoliu seco.
— Hoje você é casado com uma Bassi. Não se esqueça de que ela carrega
nosso sangue, assim como os seus filhos. Não menospreze nosso sobrenome.
— Laura carrega o meu sobrenome, isso é mais do que suficiente para que
ela seja respeitada e temida. Na época, esse casamento foi mais benéfico
para a sua família do que para mim.
— Está dizendo que Laura não é suficiente para você?
— Não ponha palavras na minha boca — gritou Riccardo.
— Eu nunca fui a favor desse casamento, embora você seja nosso chefe.
Nunca vou me conformar.
— Não é você quem decide, sua opinião não tem relevância. Você é um
merda igual a seu pai.
Entrei no meio.
— Cala a boca, Giovanni — gritei. — Laura está muito bem casada e
protegida. Não fale merda.
— Eu quero ele morto. — Riccardo virou as costas para se sentar na
cadeira, quando Giovanni se desesperou e avançou pra cima dele, tentando
começar uma briga.
— Giovanni — chamei-o com raiva e os soldados entraram na frente.
Bloqueando a chegada dele até Riccardo.
Riccardo retribuiu a afronta, passando pelos soldados e partindo para cima
de Giovanni.
Eu e os soldados seguramos Giovanni, porque se esse cara conseguisse
tocar em um só botão do terno de Riccardo, os soldados iriam quebrar todos
os ossos do corpo dele.
Quando achei que a discussão não podia piorar, Riccardo puxou a arma da
cintura e atirou várias vezes à queima-roupa contra o rosto de Giovanni.
Por um momento fugaz, o rosto de Giovanni ficou pálido, pois
provavelmente ele nem teve tempo de raciocinar.
O rosto do meu cunhado ficou irreconhecível. E mesmo caído morto no
chão, meu irmão fez questão de descarregar a arma nele, depois usou as
armas dos soldados para continuar atirando como se o corpo do rapaz fosse
um treino de tiros. Mas não era um treino e sim um crime de ódio.
Giovanni parecia uma peneira com o rosto todo furado, ele não tinha mais
boca, olhos, nem nada que pudesse identificá-lo. A cabeça estava
completamente danificada pelos tiros à queima-roupa.
A sala ficou no mais puro silêncio, acho que ninguém ali tinha a
capacidade de respirar diante da situação.
Riccardo apontou para o corpo do rapaz no chão, envolto por uma poça de
sangue talhado.
— Ainda sou o chefe dessa máfia. E vou continuar passando por cima de
quem me incomodar.
Na minha cabeça, eu só pensava no velório e no caixão que teria que ser
devidamente lacrado, porque ninguém podia ver aquilo. Ninguém teria
estômago, principalmente as meninas grávidas.
Como eu ia chegar em casa e contar isso para minha esposa?
Como eu ia dizer a Anna que a culpa foi minha, pois fui eu que levei
Giovanni até Riccardo?
— A culpa não foi sua. — Mumú apertou meu ombro. — Em algum
momento isso iria acontecer. Eles não se suportavam. Giovanni procurou a
morte e acabou encontrando.
— Estou preocupado com Anna. Como irei dar essa notícia a ela?
— Ela vai superar. Não tem outro jeito.
Riccardo sem esboçar reação e como se nada tivesse acontecido, ordenou
que os soldados levassem o corpo de Giovanni para algum lugar, que eu não
consegui ouvir.
Eu não estava triste pela morte de Giovanni, porque eu até acho que ele
mereceu, só estava muito preocupado com a situação de Anna.
Antes de Riccardo sair da sala, ele chamou a atenção de Mumú que estava
ali trabalhando para levar o corpo de Giovanni embora.
— Se isso aqui chegar ao ouvido da minha esposa, eu vou foder com a
vida de todo mundo. Ficou entendido?
— Sim, senhor — respondeu Mumú.
Ele saiu da sala e fui junto para saber qual seria o nosso próximo passo.
Fabrícia estava ensaiando balé na sala, uma dança bonita que ela estava
aprendendo com a professora da escola para poder se apresentar em uma peça
teatral. E eu estava sentando no sofá, observando-a com admiração.
Vê-la assim tão segura de si, fazia com que meu peito se enchesse de
orgulho. Por um momento esqueci que vivíamos em mundo perigoso, onde
somente os mais fortes sobrevivem, e que minha filha iria crescer e algum
desgraçado partiria o seu coraçãozinho.
Não me agradava a ideia de Fabrícia se casar, justamente porque meu
sobrenome era suficiente para mantê-la segura. Eu não precisava vender
minha filha para formar alianças. Não tinha motivos para entregá-la a alguém
que não fosse digno dela.
Respirei fundo, tentando eliminar esses pensamentos, mas foi o som da
campainha que fez com que eu me distraísse dos pensamentos.
Levantei com cuidado e depositei o copo de uísque quase vazio sobre a
mesa de centro. Dirigi-me até as câmeras de segurança para observar quem
estava do lado de fora da minha casa, já que os meus seguranças não ligaram
para informar sobre a visita inesperada.
Assim que observei as câmeras de segurança, fiquei completamente
preocupado ao ver a imagem de três homens parados na minha porta. Logo
entendi o motivo de não ter sido avisado.
Dois homens eu pude identificar facilmente. Um deles era meu irmão
Matteo, o outro Mumú, já o terceiro homem estava atrás deles, em um ponto
cego que me impediu de identificá-lo.
Alessandra veio correndo da cozinha para informar sobre a visita deles.
Minha esposa estava apavorada, jogou-se nos meus braços e chorou muito,
achando que havia chegado a hora de acertar as contas com a máfia.
Era provável que Riccardo tenha vindo até aqui para definir o destino da
minha esposa?
Eu não tinha resposta para essa pergunta, principalmente porque Riccardo
sempre foi uma caixinha de surpresa. Porém, eu sabia que Alessandra não era
o real problema.
— Vá para o quarto — ordenei, assim Alessandra sumiu da minha frente
sem questionar.
Fiquei paralisado observando minha esposa sumir pelo corredor, deixando
apenas o rastro do perfume.
As batidas na porta ficaram impacientes, então não me restou outra
alternativa. No caminho até a porta eu pude ouvir a voz de Matteo xingando,
chamando-me de filho da puta e dizendo que iria enfiar uma bala no meu
rabo.
Matteo parecia estar muito agitado.
No momento que abri a porta, Matteo saltou para frente abrindo os braços.
— Porra, até que enfim! Da próxima vez, irei trazer uma barraca de
acampar.
Não havia sinal de Riccardo. O terceiro homem que não consegui
identificar na câmera, era apenas um soldado de Matteo.
— O que aconteceu? — Matteo respirou fundo.
— Riccardo matou Giovanni.
Não fiquei surpreso. Mas eu não podia deixar de me comover com a
situação de Matteo, que tinha uma esposa grávida em casa. Ele temia que
esse momento chegasse e Anna sofresse.
— Por quê? — perguntei, mesmo sabendo a verdade.
Giovanni roubou a máfia. No fundo, ele sabia que as verbas estavam sendo
desviadas e mesmo assim não abriu o bico, fazendo dele um cúmplice.
— Ele desrespeitou Riccardo dentro da sede da máfia. Como se não
bastasse, ainda tentou agredi-lo — disse Mumú, sem mostrar emoção.
— Preciso que você resolva a situação, enquanto vou em casa conversar
com Anna. — Matteo me olhou sério.
— Resolver o quê? — perguntei, confuso, e sem saber onde ele queria me
meter.
Matteo tocou meu ombro.
— Riccardo permitiu que Giovanni tivesse um velório. Pelo menos a
família vai ter um corpo para enterrar. Então, preciso que você vá cuidar
disso. Veja se o caixão vai estar bem lacrado. Essas coisas.
Passei a mão pelo cabelo, incrédulo, com essa responsabilidade que ele
jogou sobre minhas costas. Eu não estava me negando a fazer, mas não era
minha função.
Giovanni não era nada meu.
— Esse cara nem deveria ter um enterro digno — rosnei. — Não jogue
essa responsabilidade para cima de mim.
Matteo tocou meu ombro.
— Se isso não fosse importante, eu não estaria aqui. Conheço Anna, sei
que ela vai surtar quando descobrir que o irmão morreu. Não é por Giovanni,
é pelo meu filho. Anna não vai suportar quando descobrir que o irmão foi
morto e não teve um enterro decente. Por favor...
Levantei a mão.
— Tudo bem.
Se era tão importante para ele, então também era para mim. No entanto,
ainda estava achando que Matteo estava preocupado com situações que não
vinham ao caso.
Mumú apertou o ombro de Matteo.
— Eu vou ajudar. Só não caia na besteira de deixar sua esposa insultar as
atitudes de Riccardo. A máfia em peso vai estar nesse velório. O seu irmão
fez o que tinha que ser feito.
De fato, alguns membros da famiglia não estavam satisfeitos com o
Giovanni vivo. Ninguém tinha coragem de ir contra, pois Giovanni tinha
regalias que ninguém tinha, justamente por ser cunhado do chefe.
— Jamais. — Matteo endireitou os ombros. — Ela sabe das
consequências. Anna tem um cargo importante na máfia e não pode fazer
besteira. Giovanni escolheu o caminho dele.
Eu realmente esperava que Matteo conseguisse segurar Anna e suas
emoções.
Estávamos de frente para o caixão onde Giovanni estava apagado. Ele teria
que ser enterrado em três horas, do contrário teríamos que presenciar o
sangue dele vazando pelas dobradiças do caixão, já que o corpo estava
completamente danificado.
Olhei no relógio e fechei a tampa do caixão. Dentro de alguns segundos os
soldados iriam permitir a entrada da família de Giovanni e amigos.
Marta foi uma das primeiras a chegar ao velório, sendo amparada pelo
presidente. A segunda foi Anna, amparada por Matteo e Alessandra.
Laura foi a última a chegar, porém, estava sozinha. Não demorou muito
para os comentários maldosos surgirem sobre ela. Todos estavam julgando-a
por ter ficado do lado do irmão, mesmo ele sendo um traidor.
Embora Riccardo tivesse mandado Giovanni para aquele caixão, ele tinha
que estar ali apoiando a esposa. Mas isso não aconteceu, esse episódio estava
dando o que falar entre a famiglia.
Era triste o desespero das meninas. Alessandra estava no meio delas
prestando condolências.
Como meu irmão não estava presente, resolvi ficar do lado de Laura
apoiando e dando suporte caso ela se sentisse mal. E também porque muitos
estavam questionando a ausência de Riccardo e olhando feio para Laura.
— Onde está meu irmão? — perguntei baixinho, tomando cuidado para
ninguém ouvir.
Laura balançou a cabeça de forma negativa e chorou ainda mais. Ela se
esquivou dos meus braços e tombou para o lado, vomitando em uma lixeira
próxima.
— Me tire daqui. Por favor... — ela pediu. — O cheiro das flores está me
deixando enjoada.
Com ajuda de Alessandra, caminhamos com Laura em direção à sala
reservada no fundo da capela, com uma janela de frente para o jardim florido.
Com o ambiente arejado ela iria se sentir melhor.
Assim que cruzamos o corredor para entrar na sala, Giulio um dos
membros importantes da famiglia, entrou na nossa frente e olhou para Laura
da cabeça aos pés.
— Onde está o chefe? — ele olhou para ela de forma intimidadora. Giulio
tinha olhos de águia, estava sempre procurando erros de alguém.
Além de tudo, ele era pai de Giulia.
— Ele.... Ele... Está.. em casa com as crianças. — Laura engoliu seco.
Giulio tragou o cigarro e assoprou a fumaça próximo do rosto dela. Essa
atitude estúpida fez com que eu tomasse à frente da situação e me colocasse
no meio dos dois.
— Cuidado — alertei-o. — Não encoste nela.
Ele olhou de mim para Alessandra, depois se voltou para Laura de novo.
— Estão dizendo que a senhora tomou partido do seu irmão. E por esse
motivo o chefe não veio. Isso procede?
— Não é da sua conta. — Laura rangeu os dentes. — Mesmo sendo um
traidor, Giovanni era meu irmão, nós crescemos juntos. Não posso mais ficar
triste?
— A senhora não deveria ficar triste com um homem que desonrou a máfia
e ainda se achou no direito de desrespeitar o seu marido — Giulio gritou. —
Mesmo esse homem sendo seu irmão, a senhora não deveria chorar por ele.
Laura colocou as duas mãos sobre o rosto e começou a soluçar.
— Já chega! — Entrei na frente. — Você é um filho da puta que não sabe
respeitar uma mulher grávida. Onde você quer chegar com essa conversinha
idiota?
— Onde está o seu irmão? — Giulio ajeitou o terno e olhou no fundo dos
meus olhos.
— Não é da sua conta. Minha cunhada está sob minha proteção. — Puxei-
o pela gravata. — Não vou tolerar seus insultos.
Ele levantou as mãos.
— Está certo. Avise seu irmão que a filha do governador chegará à Sicília.
Ela quer uma reunião exclusiva com ele. — Giulio olhou para Laura de forma
sugestiva.
Giulio olhou para mim, sorrindo. Eu sabia onde esse filho da puta queria
chegar, queria revelar casos antigos de Riccardo para atingir Laura.
O desgraçado deu às costas e saiu caminhando desajeitado pelo salão.
Levamos Laura para a sala reservada e ficamos no local até ela se acalmar.
Um médico que estava presente para prestar socorro informou que a pressão
dela estava alta. O que nos preocupou.
A situação da minha cunhada estava me preocupando. E mesmo depois de
ligar inúmeras vezes para Riccardo, enviar mensagens informando o estado
de saúde de sua esposa, ele não entrou em contato comigo.
Respirei fundo, e Alessandra me olhou preocupada.
— Pegue água para ela — pedi.
— Sim.
Alessandra saiu. No momento que a porta bateu, Laura olhou para mim de
forma questionadora.
— A filha do governador é outra amante do seu irmão?
Como eu poderia explicar?
Eu não tinha autorização para falar sobre o passado do meu irmão,
principalmente com a esposa dele.
— Essa mulher é casada. É um caso passado. Giulio acha que Riccardo é o
mesmo homem de antes... Do tipo que não se controlava quando via um rabo
de saia. Riccardo não é mais assim, Laura.
— Como ela se chama?
Limpei a garganta.
— Francesca Giordano.
Laura arregalou os olhos e colocou a mão sobre a boca para segurar o riso.
— A mulher tem o mesmo nome da cobra que meu filho tem de
estimação?
— Exatamente. — Ri. — Esse caso deles é passado. Quando chegar aqui e
se deparar com um Riccardo totalmente apaixonado pela família que ele
construiu, ela pega o primeiro avião de volta para casa.
— De qualquer forma. — Ela limpou as lágrimas. — É bom eu ficar de
olhos bem abertos, seu irmão dá trabalho.
Eu ri.
— A morte de Giovanni foi inevitável, Laura. Tente superar, não deixe
essa situação causar uma guerra no seu casamento, você será a mais
prejudicada.
Ela concordou.
Laura foi se acalmando aos poucos e quando chegou o entardecer,
aconteceu o enterro de Giovanni.
Ventava muito nessa tarde e gotas de chuva começaram a cair das nuvens.
Então de longe pude observar uma mulher de vestido preto usando um
chapéu e óculos da mesma cor, que escondiam o seu rosto. Ela se aproximou
do jazigo e jogou uma flor, acariciou a barriga volumosa, depois foi em
direção à Laura, que estava conversando com sua mãe e irmã.
Quem era aquela mulher?
Aquilo me deixou com uma pulga atrás da orelha, então mandei um dos
meus soldados fosse investigar a tal mulher.
A chuva continuou forte. Estava dentro do carro indo para casa, sendo
acompanhada por cinco SUVs. Eu estava completamente perdida em
pensamentos e me debulhando em lágrimas, enquanto me perdia na paisagem
sombria do caminho da minha casa nova.
A casa era completamente linda, essa não tinha nada de exagerado como as
outras. Continha cômodos suficientes e que iríamos aproveitar com mais
frequência.
Eu também havia pedido ao meu marido que me deixasse cuidar da
decoração, já que eu queria tudo do meu jeito.
A casa continha um jardim amplo, que eu poderia usar para fazer
plantações... deixá-lo florido com rosas de todos os tipos. Ter meus animais
de estimação correndo livremente.
Apesar de estar acostumado com mansões de luxo, meu marido não
interferiu na minha escolha. Ele apenas mandou que construíssem cômodos
seguros e secretos caso ocorresse uma invasão.
De resto, conseguiria cuidar da casa e da organização sozinha. Eu queria
ser útil em alguma coisa além de ficar em casa gastando o dinheiro do meu
marido em coisas supérfluas.
Mas naquele momento, eu carregava comigo a incerteza se minha vida
estava do mesmo jeito que deixei.
Quando cheguei em frente ao portão e vi a casa completamente apagada,
chorei ainda mais. Os soldados que estavam cuidando da segurança abriram
o portão e permitiram nossa entrada.
Respirei fundo e tirei as chaves da bolsa, enquanto um soldado aguardava
do meu lado segurando um guarda-chuva sobre minha cabeça que me
protegia parcialmente.
Mal conseguindo enxergar a fechadura, devido à chuva e lágrimas que
estavam atrapalhando minha visão. Testei a primeira chave e ela não girou. A
segunda nem sequer entrou na fechadura, e as outras também não
funcionaram.
Ele havia trocado as fechaduras de casa? Ele estava me expulsando de sua
vida? Meu Deus!
O vento gelado bateu contra meu corpo e devido a minha roupa estar
molhada, tremi de frio. Não bastava eu ter perdido meu irmão de forma tão
cruel, ali eu estava sendo devidamente abandonada com um bebê no ventre.
Limpei as lágrimas e continuei tentando abrir a porta.
— Senhora Guerrieri... — O soldado segurou meu braço. — A senhora
está nervosa. Não é melhor tocar o interfone?
A chuva estava ficando cada vez mais forte, então entendi que o soldado
estava querendo ir para um abrigo se esquentar.
— Você pode ir — ordenei.
Quando dei um passo à frente para tentar me abrigar debaixo de uma calha,
fiquei tonta e meu salto deslizou no piso, fazendo com que eu escorregasse
pelos degraus.
— Jesus! — O soldado me levantou do chão. — A senhora está bem?
Assenti.
Verificando que foram somente dois arranhões no cotovelo e um no joelho,
o soldado tocou o interfone.
— Estou indo! — A voz grossa que gritou de dentro da casa fez com que o
soldado tomasse a posição séria, endireitando os ombros.
Quando Riccardo abriu a porta, o olhar dele caiu diretamente em mim,
verificando o estado deplorável no qual eu me encontrava.
Diferente de mim, meu marido estava vestindo um roupão macio de cor
preta, seus cabelos estavam molhados e o cheiro de sabonete tomou o
ambiente.
Meu marido desviou o olhar para o soldado e o dispensou. O homem
agradeceu e saiu do local sem olhar para trás.
E antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Riccardo deu meia-volta e
sumiu pelo corredor. Engolindo o choro, entrei em casa, tomando cuidado
para não sujar o tapete caro que eu havia escolhido com tanto carinho.
Esse momento era para ser o mais feliz das nossas vidas, porque meu
marido estava finalmente fora de perigo e eu queria festejar minha gravidez
junto com a mudança para a casa nova.
Mas nada disso aconteceu.
Assim que alcancei o corredor, chorei ainda mais quando notei meu
marido na cozinha, ele estava completamente indiferente ao meu sofrimento.
Eu estava muito triste por isso.
Aproximei-me dele com cautela e parei ao seu lado.
Riccardo estava preparando lanches, ao julgar pelas vozes animadas que
vinham lá de cima, poderia dizer que ele estava mantendo os meninos
entretidos.
Coloquei as chaves sobre o balcão.
— Você trocou a fechadura? — Segurei no seu pulso, com isso reparei que
ele estava usando um lindo relógio de ouro, e também nossa aliança de
casamento.
Pelo menos ele ainda usava aliança.
Riccardo não parou o que estava fazendo, pelo contrário, agiu como se eu
não estivesse prostrada do seu lado e disposta a conversar.
— Trocou? — insisti.
Riccardo olhou para mim, e quase perdi o ar com seu escrutínio.
Nesse momento, ouvimos os passos das crianças descendo as escadas. Eles
riam e gritavam animados, chamando pelo pai. Isso quebrou o encanto,
Riccardo tentou passar por mim, mas continuei segurando-o pelo pulso e
impedindo que ele se afastasse.
Ele olhou impaciente para mim.
— Laura... agora não!
Mas havia outra coisa em seu olhar que me deixou ainda mais triste. Ele
estava decepcionado comigo.
— Quando?
Lorenzo e Vincenzo chegaram à cozinha e acabaram presenciando o drama
entre mim e o pai deles. O que não agradou Lorenzo, meu filho cruzou os
braços e franziu a sobrancelha, enquanto me olhava cheio de acusações.
— Mãe! Será que você pode soltar o braço do meu pai? — Lorenzo
ordenou. — Estava muito bom antes de você chegar e estragar tudo. Não
precisamos de você aqui. Você só arruma confusão.
— Lorenzo... — Riccardo o advertiu muito sério.
Os meninos sentaram à mesa e foram comer o lanche, que o pai deles havia
preparado, enquanto eu fiquei ali de pé olhando para eles sujos de tinta e
tentando entender o que eles estavam fazendo para estarem tão animados
desse jeito.
Limpei a garganta engolindo o choro. Quando voltei meu olhar para
Riccardo, ele já estava olhando para mim de um jeito afetuoso. Então, dei-me
conta que ainda estava segurando o pulso dele.
— Tome um banho. — Ele enxugou minhas lágrimas com o polegar. —
Depois a gente conversa. Estarei aqui quando você estiver pronta.
Assenti e fui para o nosso quarto.
Quando entrei debaixo do chuveiro quente, chorei tudo que tinha para
chorar e deixei que a água levasse embora meu sofrimento, ódio e tudo de
ruim. Então, poderia conversar com o meu marido de coração aberto, talvez
entender os motivos dele.
Após sair do banho, enxuguei-me e fui para o closet vestir algo. Como o
aquecedor estava ligado, resolvi vestir uma blusa do meu marido e uma cueca
boxer dele, que ficava parecendo um short de academia em mim.
Voltei para a cozinha, onde meus filhos e meu marido estavam. Dessa vez,
havia um lugar para mim na mesa, também havia um copo cheio de vitamina
e um sanduíche caprichado. Meu marido me olhou da cabeça aos pés e quase
derrubou o copo de suco.
Sentei-me com eles e fiquei em silêncio. Aquele era um momento em
família e não queria mais estragar. Apesar de tudo, meus filhos adoravam o
pai deles e poderiam facilmente se virar contra mim, caso eu falasse algo na
frente deles.
— Mãe. — Vincenzo me chamou.
Levantei a cabeça para olhar meu filho, todo sujo de tinta e imaginando o
trabalho que teria para tirar aquilo dele.
— O papai deixou a gente pintar o nosso quarto.
Meu Deus.
— É verdade. — Lorenzo respondeu animado enquanto bebia o suco. —
Estamos deixando do nosso jeito. Meu pai é o máximo, ele não fica o tempo
todo enchendo o saco.
— A senhora quer ir ver? — Vincenzo levantou da cadeira e me estendeu a
mão.
Eu não estava acompanhando o ânimo deles. Não estava com vontade de
interagir com eles, justamente para não estragar suas expectativas.
Riccardo chamou a atenção de Vincenzo.
— Hoje não, filho. Amanhã você mostra.
— Mas, pai...
— Hoje não. — Riccardo continuou firme. — Vão para o quarto de
hóspedes tomar banho, depois cama. Amanhã a gente continua.
Lorenzo terminou de tomar o suco e se levantou da cadeira. Ele se juntou a
seu irmão e os dois subiram a escada, no caminho pude ouvir meu filho mais
velho sussurrando para o irmão mais novo:
— Eu te avisei que nossa mãe ia estragar tudo quando chegasse. Eles vão
brigar.
Fiquei sem palavras. Eu poderia chamar a atenção do meu filho mais
velho, mas fiquei com receio de que isso apenas complicasse a situação. Já
que eles estavam ali em um momento feliz com o pai, na cabecinha deles eu
estraguei o momento, o que não era totalmente mentira.
Fechei os olhos e respirei fundo.
No momento em que os abri, fiquei completamente vulnerável com a
forma que o meu marido estava olhando para mim. Eu não disse nada, as
palavras ficaram presas na minha garganta e tudo que fiz foi me jogar nos
braços dele. Sentei-me no seu colo e chorei tanto quanto podia, perdendo a
noção do tempo e de quem eu era.
Riccardo me abraçou mais forte.
— Vamos conversar.
Assenti. Fui deixando ele me guiar pela casa. Achei que íamos conversar
no escritório, mas ao contrário disso, fomos parar no nosso quarto, mais
precisamente na nossa cama confortável.
Riccardo se deitou primeiro e me puxou para ficar em cima dele.
Continuamos em silêncio, eu curtindo os dedos dele sobre os fios do meu
cabelo, proporcionando-me o carinho que me fazia relaxar, enquanto eu
tentava me acalmar um pouco.
— Por que você fez isso com Giovanni? — Chorei ainda mais me
lembrando da imagem de Giovanni adolescente.
— Eu não fiz isso para te magoar.
No fundo, eu sabia disso. Riccardo sempre foi impecável quando se tratava
da máfia.
— Mesmo assim... ele era meu irmão.
— Já fiz muito pior e por menos razão. Giovanni me enfrentou, jamais
poderia permitir que ele saísse vivo. Por sua causa eu permitir que ele tivesse
um enterro digno, em outros tempos teria jogado o corpo dele para os porcos.
— Eu sei. — Olhei dentro dos olhos dele, captando a mensagem que eles
transmitiam. Ele estava sendo sincero. — Desculpe por ter falado aquelas
coisas. Eu não...
Ele me interrompeu:
— Somente dessa vez, devido ao seu valor para mim... Eu vou esquecer as
suas grosserias.
— Obrigada... eu amo...
Ele pôs o dedo sobre os meus lábios, calando-me e depois colocou meu
cabelo delicadamente atrás da minha orelha. Apesar de o carinho, seu olhar
era sombrio e cheio de advertência.
— Contanto que você ponha-se no seu lugar e nunca mais questione
minhas decisões, nós ficaremos bem.
Uma porrada bem-dada com delicadeza, mas com advertência. Com
sabedoria Riccardo me passou o seu recado.
— Você trocou as fechaduras da nossa casa?
Ele negou.
— Você que se confundiu. Levou as chaves da sede da máfia com você,
fiquei sem trabalhar hoje por causa disso.
Arregalei os olhos.
— Uh! Você deveria ter mandado alguém pegar.
— Não tinha necessidade.
Beijei-o, acabando de vez com o clima tenso que havia se infiltrado entre
nós. Giovanni sempre ficaria gravado na minha memória, mas também não
podia mais fazer nada para mudar essa situação. Minha vida continuava, tinha
que vivê-la como se fosse o último dia.
Riccardo retribuiu o beijo. A língua dele entrou na minha boca cheia de
exigências. Fiquei louca. Cada vez que os nossos lábios se tocavam, o tesão
aumentava.
O beijo dele estava me deixando mole e me fazendo perder a noção do
tempo, minha boceta já estava em chamas. A mão dele entrava nos meus
cabelos e descia para o meu pescoço, apertando-o levemente, enquanto
nossas línguas se enroscavam uma na outra.
A mão assanhada dele já estava entre minhas pernas, pressionando meu
ponto inchado, depois subiu para os meus cabelos e os puxou com força para
trás, expondo meu pescoço para ele chupar, morder e fazer o que quisesse.
Ele tirou minha roupa, depois fez o mesmo com a sua.
Eu gemi quando os seus beijos desceram para os meus seios, mordendo e
lambendo, fazendo com que os bicos ficassem rígidos de tesão. Meu marido
tinha o dom de me deixar anestesiada, à mercê dos desejos dele.
Riccardo continuou descendo até chegar nela e ficou completamente
fascinado, quando percebeu que estava toda melada para ele. Abriu bem
minha boceta e deu uma lambida longa, quase tive um infarto com a sensação
da língua macia dele no meu clitóris.
Começou a lamber e chupar ao mesmo tempo, colocando dois dedos
dentro da minha intimidade. Essa sensação fazia com que minha visão
ficasse turva, por conta do tesão surreal que ele causava em mim.
Meu corpo tremia e minha boceta pulsava na boca dele. Meu marido me
chupava muito gostoso.
Continuou fazendo sexo oral em mim, chupando e batendo com a língua
em cima do meu clitóris sensível e carente, às vezes ele também a enfiava
dentro da minha boceta e no meu ânus.
Eu estava quase explodindo. A pressão que essa sensação causava no meu
corpo estava me tirando de órbita.
Meu clitóris estava mais inchado e sensível, à medida que ele lambia,
podia sentir cócegas no meu ventre com a vontade de gozar se aproximando.
Com o dedo médio, Riccardo acertou meu ponto G e foi estimulando-o. O
orgasmo veio feito um vulcão em erupção, tomando meu corpo e fazendo os
músculos da minha boceta latejar forte. Gozei na boca do meu marido, com
isso perdi completamente a sanidade quando ele lambeu tudo.
— Eu vou morrer — gritei, sentindo meu corpo pegar fogo.
Fiquei completamente mole.
Meu marido ficou sobre mim e encaixou o pau na minha boceta melada,
empurrou fundo até o final e depois tirou. Pensei que ele fosse meter forte e
me comer feito um louco no cio, como sempre fez para saciar nossa vontade.
Mas, ao contrário disso, ele meteu devagarinho, sem pressa e me
preenchendo aos poucos.
Ele queria me enlouquecer ou estava me punindo.
— Mais forte — implorei.
— Você está grávida. Não posso perder o controle — debochou.
Ele continuou metendo bem devagar, estava muito empolgada. Minha
boceta encharcada de tesão, então rolei o quadril para frente a fim de levar o
pau dele mais fundo e também para provocá-lo.
Minhas pernas estavam trêmulas de tesão. Estava querendo gozar, lágrimas
de dor e tesão escorriam nas minhas bochechas.
— Eu quero gozar. Mete com força — gritei. — Mostre o demônio que
existe em você. Me faça gozar novamente. Por favor — implorei,
desesperada.
Só podia estar ficando doida mesmo.
Riccardo ergueu minhas pernas, prendeu minhas mãos no colchão e meteu
forte, com tudo. O som das suas bolas batendo na minha bunda e os dedos
dele estimulando meu clitóris, fez-me gritar novamente de tesão quando uma
pressão tomou meu ventre.
Eu ia morrer.
Conforme ele ia me fodendo nessa posição, sentia meu corpo tremer. Pôs
uma mão sobre minha boca, abafando meus gritos enquanto, e a outra puxava
meu cabelo, enquanto continuou me fodendo sem dó. O pau dele estava todo
lambuzado do meu prazer, deslizando com facilidade, indo cada vez mais
forte e me empurrando para outro orgasmo.
— Ah! Isso! — gritei, completamente ensandecida.
O pau dele estava indo bem fundo e causando uma dor gostosa. Minha
cabeça parecia que ia explodir devido à pressão.
Ele bateu fundo e ficou parado por um tempo beijando minha boca e
chupando meus seios, logo em seguida começou a meter com mais força,
arrastando a cama com a pressão das estocadas. Apertei a bunda dele e abri
mais minhas pernas, depois arrastei minhas unhas pelas suas costas largas.
Estava delirando, entrando em transe e quase gozando novamente quando de
repente... escutamos batidas à porta.
— Mãe... Pai!
Congelamos.
Levei a mão sobre a boca a fim de evitar outro gemido alto, principalmente
porque o pau do meu marido ainda estava dentro de mim, fazendo-me
contorcer.
— Puta que pariu! — Riccardo praguejou.
A respiração dele estava acelerada. As batidas continuaram firmes.
— Mãe...
Limpei a garganta. Riccardo continuou se movendo lentamente e chupando
meu pescoço.
— O que foi, filho?
— Você estava gritando. Está tudo bem aí?
Senti meu rosto esquentar de vergonha.
— Está... Está tudo bem.
— Tá bom, mãe — meu filho respondeu.
Quando tivemos certeza de que não havia mais ninguém na porta, Riccardo
ligou a televisão no volume máximo e continuou metendo com força na
minha boceta, batendo nela sem pena alguma, causando uma sensação
maravilhosa de formigamento.
Minha boceta pulsava forte em volta do pau dele, fazendo um líquido
incolor sair de mim, molhando-nos e todo o lençol.
— Grita mais. — Ele mordeu o lábio, puxou meu cabelo e bateu
levemente no meu rosto. — Cachorra!
— Riccardo...
— Era isso que você queria? — rosnou enquanto metia tudo sem dó,
socando as bolas na minha bunda. Rasgando-me ao meio e me levando para
outra dimensão.
Dessa vez, tive que segurar os gritos, então enfiei o rosto no vão do
pescoço do meu marido e deixei um chupão enorme, para quem quisesse ver.
Estava literalmente subindo pelas paredes.
— Isso, Laura — gemeu. — Caralho!
— Goza em mim, amor — pedi.
Ele bateu mais forte, em um ponto sensível que ele conhecia bem e que me
fazia perder a noção. Quando o orgasmo me atingiu novamente, achei que ia
desmaiar. Já não tinha mais forças para continuar acordada e nem transando.
Riccardo gozou minutos depois, trincando o maxilar e sofrendo. Fiquei
completamente fascinada com essa visão do chefe gozando.
Senti-me totalmente realizada por fazer esse homem insaciável gozar.
Não era fácil ter um homem desse naipe como marido.
Rolei para cima dele de novo e novamente nos beijamos, nossas línguas se
conectavam de forma única, a mão dele na minha nuca me puxando para
mais perto, aprofundando o beijo. Eu já sabia onde iríamos terminar se eu não
parasse. Riccardo já estava duro de novo, e dessa vez ele com certeza iria
querer comer meu buraco mais apertado.
Eu estava exausta, precisando descansar.
Meu marido me olhou com os olhos de águia, avaliando cada expressão
minha enquanto seus dedos iam acariciando minhas costas.
— Eu te amo. — Sorri.
Quando deitei minha cabeça no vão do pescoço dele e fechei os olhos, foi
um caminho sem volta para a escuridão.
— Também te amo, Laura.
Quando acordei pela manhã, estava sozinha na cama. Tudo estava girando
à minha volta e meu estômago embrulhado. Corri até o banheiro, abri a tampa
do sanitário e vomitei.
Quando pensei que o enjoo havia passado, ele voltou com tudo fazendo
com que eu vomitasse novamente.
Com as pernas trêmulas, levantei-me com cuidado e fui escovar os dentes,
também aproveitei para molhar o rosto e pentear o cabelo. Também passei
um pouco de maquiagem para cobrir o chupão no meu pescoço, pois os
meninos iriam me questionar.
Minha aparência estava horrível, completamente pálida. Esse bebê estava
acabando comigo.
Assim que saí do banheiro, topei com o meu marido todo elegante saindo
do closet, usando um paletó risca de giz, relógio prata e um perfume
masculino que fazia com que as pessoas virassem a cabeça para olhar. Ele
estava impecável.
Olhei-o da cabeça aos pés e fiquei com raiva. Por que ele tinha que se
arrumar tanto para cuidar dos negócios?
Às vezes, eu achava que Riccardo e seus quase dois metros de altura era
muita areia para o meu caminhãozinho furado.
— Bom dia. — Ele beijou minha testa.
Tentei sorrir, mas falhei.
— Você está indo encontrar Francesca?
Ele levou um susto quando toquei no nome da ex-amante. Foi um susto
sútil, mas que foi possível perceber.
— Quem te disse isso?
— Seu ex-sogro. Ele me atormentou o velório inteiro. E também disse que
eu não deveria chorar por Giovanni. Acho bom você dar um jeito nele...
Ele me olhou sério antes de responder.
— Filho da puta!
— Está irritado por ele ter me revelado sobre a Francesca?
— Ele não tinha autorização pra chegar perto de você.
— Por que você deixou que o seu filho desse o nome da sua amante para a
cobra de estimação dele?
— Ex-amante. Passado. Francesca é um nome comum. Então não vi
motivos para implicar. Lorenzo é só uma criança.
Aproximei-me dele.
— Você está muito elegante para quem vai apenas cuidar de negócios.
Não acha?
— Eu sempre gostei de me vestir assim.
Cruzei os braços e bati o pé no chão, enquanto olhava para ele.
— Você está indo se encontrar com ela.
Ele abriu a boca.
— Laura, essa mulher faz parte do passado.
— Não gosto da ideia de você se encontrar com uma mulher que fez parte
da sua vida.
Ele segurou minha cintura e me puxou para mais perto. Aproveitei para
reparar na gravata dele, e se ela voltaria amassada mais tarde. Também olhei
o belo chupão que deixei em seu pescoço.
— O pai dela tem negócios comigo. E outra, não sou nenhum garoto
imaturo. O dia que eu achar que você não é mais suficiente, será a primeira a
saber.
— Está me ameaçando?
— Não, querida. Só estou dizendo que não tenho motivos para mentir.
Concordei mesmo discordando internamente.
— Eu vou te ligar toda hora, para ter certeza de que você não está com ela.
— E eu vou te atender.
Mordi os lábios.
— Me empresta o seu cartão de crédito?
Ele riu de lado e tirou a carteira do bolso, rapidamente tomei a carteira de
sua mão e vasculhei para ver se tinha algum preservativo ali. Como não tinha
nada, peguei o cartão para disfarçar e entreguei a carteira.
— Mais alguma coisa? — Ele abriu os braços, impacientes, já se irritando
com minha fiscalização.
— Tem outra coisa perturbando minha mente. É sobre Giovanni, ele se
envolveu...
Ele me afastou delicadamente.
— Uma coisa de cada vez, Laura.
— Me escuta. — Segurei o rosto dele entre as mãos.
— Caralho, Laura. — Ele se esquivou. — Eu não posso agora.
Não haveria problema nenhum se ele deixasse a criança viva. Além de
tudo, todos iriam concordar com o que o chefe decidisse.
— É importante.
— Tudo bem, mas não é um assunto para conversarmos agora.
— Depois não venha me acusar de esconder coisas de você.
Ele respirou fundo, olhou para o alto e fechou os olhos.
Quando ele ameaçou ir até a porta, eu o segurei pelo pulso.
— Que diabos! — ele me olhou. — O que está acontecendo com você
hoje?
Não sei por qual razão, mas não queria que ele saísse de casa. Sentia-me
assim desde que ele se sentiu mal e entrou em coma, também me sentia
insegura por causa da gravidez.
Meu corpo estava mudando.
Riccardo já estava soltando faísca pelos olhos. Então, percebi que não iria
adiantar ficar prendendo ele comigo, isso só iria irritá-lo mais.
— Pensei que você iria tomar café comigo e as crianças.
— Você está cansada de saber que não como nada pela manhã. Mas
chegarei antes do jantar.
— Está certo. Só estava tentando te manter em casa. — Abracei-o forte, e
ele retribuiu me segurando pela cintura e me mantendo contra o seu peito
forte. — Essa gravidez está me deixando péssima. Eu quero muito esse bebê,
sonhei muito com ela, mas estou me sentindo muito sozinha.
Eu sempre dizia que era ela, porque queria que Riccardo se acostumasse
com a ideia de ser pai de uma menina.
— Você não está sozinha. Se precisar de qualquer coisa é só me ligar —
ele sussurrou contra meu ouvido. — Confie em mim, Laura, eu não vou te
trair.
Naquela manhã, os olhos dele estavam tão verdes que me fez lembrar dos
meus sonhos. Eu sempre sonhei com Riccardo, muito antes de conhecê-lo,
em alguns sonhos eu conseguia ver apenas os olhos intensos. Ultimamente,
estava sonhando com a nossa filha, sentia que ela queria vir ao mundo, mas
alguma coisa a impedia.
— Adoro quando você me olha assim. — Puxou-me para um beijo de
língua, quase me tirando do ar. A língua dele mergulhou na minha boca e foi
explorando tudo de mim, arrancando-me suspiros. As mãos atrevidas dele
estavam em toda parte do meu corpo, por pouco não terminamos na cama.
Nós nos beijamos apaixonados, depois ele saiu do quarto deixando apenas
o gosto do seu beijo na minha boca e o cheiro do seu perfume, além da minha
calcinha molhada.
Então, fui tomar café com os meus filhos.
Antes, fui ao quarto deles ver a bagunça de ontem, e assim que entrei,
fiquei completamente deslumbrada com a obra de arte dos meninos.
Eu ri acariciando minha barriga.
Fabrizio e eu tínhamos decidido marcar a renovação de votos para esse
final de semana, o que não demoraria muito para acontecer.
Tínhamos que aproveitar a tranquilidade na máfia, e como estava tudo na
"paz", aproveitamos para organizar nossa festinha.
Eu queria algo íntimo, algo somente nosso. Por isso decidimos convidar os
mais chegados, depois iríamos viajar. Uma desculpa para termos uma
segunda lua de mel.
Mesmo que a pequena reunião fosse para poucas pessoas, não poderia
deixar de exigir que tudo estivesse impecável. Então, resolvi contratar uma
boa equipe de decoração e também um buffet para o número de pessoas
selecionadas. Seria uma cerimônia simbólica, para mostrar ao mundo que
vencemos os desafios e decidimos continuar caminhando juntos.
Pensando em tudo que vivi, nesse momento podia dizer que estava mais
madura e segura de mim. Não podia dizer que era uma vencedora, porque
ainda tinha muita coisa pela frente, a estrada era longa, mas poderia dizer que
estava no caminho certo.
Meu estômago estava se revirando de nervoso. Infelizmente, eu não
poderia contar com a ajuda das meninas, já que elas ainda estavam
enfrentando o luto, então só me restou cuidar de tudo sozinha e rezar para que
nenhum detalhe importante fugisse da minha memória.
Olhei-me no grande espelho e fiquei impressionada, fazia tempo que eu
não me achava tão bonita como estava me achando nesse momento. Meus
olhos estavam brilhosos e minhas bochechas coradas, meu corpo também
ganhou mais curvas e meu cabelo estava mais longo e mais brilhoso, com um
volume moderado. Desviei a atenção do espelho para olhar meu celular
tocando, informando que havia chegado uma mensagem de Fabrizio.
Ele estava me esperando no restaurante para acertamos os últimos detalhes
da nossa cerimônia. Era só falar em comida que minha barriga roncava feito
um motor velho, o que me preocupava muito..
Eu estava com uma semana de atraso menstrual, isso estava me deixando
muito ansiosa, pois qualquer sintoma estranho me fazia pensar em gravidez.
Peguei minha bolsa em cima da cama e fui para o estacionamento. Os
soldados me cumprimentaram com respeito e abriram a porta do carro para
que eu pudesse entrar.
O dia estava muito agradável. E assim que pisei dentro do restaurante,
pude observar meu marido bonito distraído, olhando o cardápio. Haviam
soldados por toda parte fazendo sua segurança, assim que me aproximei, eles
se afastaram um pouco para nos dar privacidade.
Fabrizio levantou a cabeça para me olhar, seus lindos olhos curiosos me
avaliaram da cabeça aos pés, causando-me um frio familiar no ventre.
Sorri.
Ele se levantou educadamente e puxou uma cadeira para mim.
— O que vai querer?
Você sem roupa.
— Lasanha.
— Vinho para acompanhar?
Estava tudo bem até ele mencionar o nome do vinho. O cheiro alcoólico de
uva me embrulhou o estômago.
— Água para mim.
Fabrizio ergueu a sobrancelha e chamou o garçom para anotar nossos
pedidos. Quando o homem se foi, meu marido segurou minha mão por cima
da mesa.
— Como você está?
— Muito ansiosa. Espero que a semana acabe logo. — Ri, e ele me
acompanhou.
Aproveitei para tirar de dentro da bolsa os papéis que continham o valor
total da festa e os serviços prestados. Esse seria o momento exato para
discutirmos sobre as coisas.
— O que achou? — perguntei, ansiosa.
— Não entendo muito de festas. Por que você não chamou alguma amiga
da máfia para te ajudar?
Segurei a mão do meu marido.
— Porque eu quero que esse momento seja só nosso. Além do mais, Anna
está com a gravidez muito avançada. Laura também está grávida.
— Laura pode ajudar e jamais vai negar ajuda. Ela gosta de decorar festas
e tem muitas amigas dentro da máfia. Isso fará com que você volte a ser
influente. Você precisa parar de se esconder, Alessandra.
— Você está certo.
Ele assentiu, começamos a conversar sobre a cerimônia que aconteceria no
jardim da nossa casa. Conversamos sobre outras coisas e rimos bastante sobre
amenidades. Qualquer um que olhasse para nós, diria que éramos um casal de
namorados.
E assim que os nossos pedidos chegaram, paramos para comer.
Passamos a tarde toda juntos, passeando pela praia, conversando e dando
boas gargalhadas da vida. E antes de irmos para casa, pedi ao Fabrizio que
me levasse em uma farmácia para comprar um teste de gravidez, sem que ele
soubesse.
Estava anoitecendo quando chegamos em casa. As crianças já haviam
jantado e a babá os levou para o quarto. Fabrizio foi para o escritório resolver
burocracias da máfia, enquanto fui tomar banho.
Já que o meu marido estaria ocupado por pelo menos duas horas, iria
aproveitar para fazer o teste de gravidez. Se o resultado for positivo, teria que
contar para ele.
Tirei a roupa rapidamente e fiz xixi dentro do copinho que vinha dentro da
caixinha, logo em seguida mergulhei no teste e esperei o tempo determinado.
Foram os cinco minutos mais demorados da minha vida. Quando apareceu
a segunda linha, fiquei completamente chocada.
Passei a tarde toda observando a rotina do cônsul. Ele tinha muitos amigos
importantes, então teria que simular um assalto para não chamar a atenção
para nós.
Essa era minha missão.
Observei as câmaras de segurança da casa dele, onde pude perfeitamente
planejar uma estratégia de invasão e que não chamasse atenção dos vizinhos.
Quando o relógio de parede marcou meia-noite em ponto, eu já estava com
tudo esquematizado para a invasão à casa, que aconteceria pela manhã
enquanto ele fazia seus exercícios no andar de cima na academia particular.
Momento exato da troca de turno dos seguranças.
Cheguei em casa muito tarde, sem fome alguma, mas muito cansado. Iria
aproveitar esse tempo que eu tinha para descansar um pouco.
Assim que entrei no meu quarto, deparei-me com minha esposa dormindo
preguiçosamente na cama. Ela vestia apenas uma camisola fina sem nada por
baixo.
Tomei um banho rapidinho e me deitei junto com ela, puxei o seu corpo
pequeno para perto de mim. Fechei os olhos exaustos e me preparei para
dormir. Não sei quanto tempo se passou, mas fui acordado por causa de uma
boca macia chupando meu pau.
Caralho. A melhor sensação do mundo era ser acordado desse jeito.
Alessandra engolia meu pau e o levava para o fundo de sua garganta, depois
sugava a cabeça sensível.
Minhas mãos já estavam tremendo de ansiedade, puxei o quadril dela para
ficar sobre meu rosto. Comecei a lamber a boceta dela enquanto ela chupava
meu pau.
Ela gemia gostoso enquanto minha língua deslizava em suas dobras
macias. Aproveitei para introduzir dois dedos na boceta dela e no ânus
apertado, a sensação da boca dela chupando meu pau e a boceta molhando
meus dedos e latejando em volta deles, deixou-me louco.
— Eu vou gozar, Fabrizio.
Eu também ia gozar se ela continuasse me chupando assim. Mergulhei
minha boca em sua vagina e chupei tanto quanto podia, fazendo do seu
líquido a minha melhor refeição. Não demorou muito para ela gozar na minha
língua, estremecendo de prazer.
Ela continuou me chupando de forma contínua, sugando tudo até a ponta e
depois me levando para o fundo da garganta. O orgasmo veio feito uma onda,
por isso gozei feito um louco na boca da minha esposa, que não desperdiçou
nada.
No final estávamos satisfeitos, e ela voltou a dormir preguiçosamente nos
meus braços.
Jesus, o que foi isso?
A missão foi bem-sucedida e o corpo do cônsul estava caído sem vida no
chão sobre a esteira ergométrica. Mais uma missão cumprida em nome da
máfia, estava orgulhoso por fazer parte dessa organização.
Tirei o celular do bolso para ligar para Riccardo. Eu deveria informar sobre
o sucesso da missão e encerrar meus serviços, pois eu iria viajar com
Alessandra nesse final de semana.
Ele atendeu num instante, como se estivesse esperando muito por isso. Eu
o entendia, ele queria resolver esse assunto antes que a situação se
complicasse com Laura.
— Missão cumprida. — Respirei aliviado.
— Agora preciso que você acompanhe o governador e a filha até o
aeroporto particular, certifique-se que eles vão entrar na porra do avião.
— Por quê?
— Fizemos nossa parte, agora quero eles fora de Sicília.
Concordei.
Riccardo estava literalmente os expulsando de Sicília para evitar mais
problemas. Era muito bom vê-lo zelando pelo seu relacionamento.
Ele estava fugindo da tentação.
— Certo. Onde você está? Gostaria de ir até você. Vamos sair para beber
alguma coisa.
— Vou mandar a localização por mensagem.
Ele desligou o telefone.
Logo chegou a mensagem com a localização. Um hospital no sudeste da
Itália.
Por qual motivo ele estaria no hospital?
Assim que chegamos ao hotel, a babá foi passear com as crianças para dar
privacidade para mim e Fabrizio. Nós fomos para o quarto, assim que pisei
dentro do local, fiquei deslumbrada com a paisagem e a decoração.
Fabrizio era romântico e tinha um bom gosto. Logo uma música romântica
começou a tocar e ele me entregou uma taça cheia de água.
— Era para ser champanhe, mas você está grávida.
Nós dois rimos.
— O que vamos fazer agora? — perguntei.
Ele riu e me puxou pelo cabelo.
— Vamos foder rápido, depois vamos sair para jantar e aproveitar a noite.
Depois vamos foder de novo e de novo.
Ele se aproximou de mim e tomou meus lábios nos seus. A língua
experiente dele traçou caminhos estratégicos na minha boca, sugando meus
lábios e me puxando para o seu mundo obsceno.
Nossas respirações estavam aceleradas, assim como nosso coração estava.
Fabrizio foi descendo lentamente o zíper do meu vestido, por isso fiquei
apenas de lingerie.
Ele se afastou para me olhar, seus olhos pareciam duas chamas vivas
ardentes de desejo. Voltamos a nos beijar com paixão, minhas mãos trêmulas
procuravam a gravata dele tentando desfazer o nó.
Quando Fabrizio ficou completamente despedido, caí de joelhos e comecei
a chupar o pau dele. Tê-lo por completo na minha boca me preenchendo,
fazia com que um desejo surreal tomasse meu corpo.
— Caralho, Alessandra. Você vai me deixar maluco.
Continuei sugando-o tanto quanto podia, estalando a língua em volta do
comprimento dele. O pau de Fabrizio estava cada vez mais inchado e
latejando muito.
Fabrizio me puxou pelos cabelos e me colocou deitada na cama, depois foi
a vez dele usar sua boca experiente.
Ele começou a me chupar enquanto enfiava os dedos dentro de mim,
fodendo-me de uma maneira enlouquecida. Diante disso, meu corpo começou
a convulsionar quando o orgasmo tomou meus sentidos.
— Fabrizio....
Antes que eu pudesse me recompor, Fabrizio me colocou de quatro na
cama e meteu forte em mim. Eu gritei e mexi o quadril para provocá-lo. Eu
podia sentir o pau dele ir cada vez mais fundo, proporcionando-me uma
sensação maravilhosa de prazer. Minhas pernas tremiam em resposta.
Fabrizio continuou metendo muito, forte e rápido. O pau dele estava
batendo em algo e causando atrito dentro de mim. Enquanto me comia, ele
aproveitava para apertar meus seios e chupar meu pescoço, deixando-me
ainda mais sensível.
Mal tive tempo de raciocinar quando gozei pela segunda vez, como se
minhas forças tivessem sido sugadas.
Fabrizio gozou segundos depois, agarrando meu cabelo entre os dedos.
— Eu te amo, Alessandra.
Quando me virei para olhá-lo, tive a visão mais linda do mundo. Meu
marido com o cabelo bagunçado e a testa suada.
— Eu te amo, Fabrizio.
Nós nos beijamos mais uma vez. Ele tocou minha barriga e depois beijou
carinhosamente.
— Dessa vez as coisas serão diferentes. — Olhou-me intensamente. —
Nunca mais vou te abandonar, Alessandra.
Segurei o rosto dele entre minhas mãos. Lágrimas de emoção queimavam
meus olhos.
— Eu nunca mais vou mentir para você, Fabrizio. Eu te amo e sempre vou
amar.
Levantamo-nos para tomar banho, nos arrumamos e depois fomos pegar as
crianças para jantar. Pela primeira vez na vida, minha vida estava fazendo
sentido. Eu não me sentia mais perdida.
Nesse momento, percebi que meu afastamento foi a melhor coisa, pois
atualmente sentia que estava de fato preparada, envolvida de corpo e alma.
Amava Fabrizio, também amava a família que construí ao seu lado.
Perdoei de coração minha irmã Catarina.
Estávamos celebrando o dia do batizado do Fabio, meu filho mais novo.
A festa à beira da piscina com direito a tobogã para as crianças, tinha sido
ideia de Alessandra.
Minha esposa também escolheu Marta e o presidente como padrinhos.
Eles ficaram imensamente felizes com o convite.
Fabio era muito risonho e já estava começando a engatinhar. Meu filho era
tão esperto, que nem parecia ter apenas seis meses de idade.
Alessandra estava linda em um vestido rosa, ela me abraçou forte e beijou
meus lábios. Olhei para os seus belos seios empinados e fiquei salivando com
a visão.
Alessandra não conseguiu amamentar nosso filho devido à falta de leite,
então os seios dela continuaram sendo de uso exclusivo meu.
— Eu te amo, Fabrizio. — Sorriu.
— Eu também te amo — Abracei-a forte.
— Obrigada por ter ficado do meu lado no momento que mais precisei.
Sorri enquanto me lembrava do dia do parto. Alessandra estava deitada
dando à luz ao nosso filho, fruto do nosso amor. Minha esposa gritava e
chorava muito, mesmo com dores ela se manteve forte e determinada. Fique
lá, encorajando-a e apertando firme sua mão.
Daquela vez, não a deixei sozinha em um momento algum. Era minha
obrigação.
Não demorou muito para um chorinho de bebê tomar o ambiente. Fiquei
completamente emocionado quando vi meu filho pela primeira vez. E mesmo
sujo de sangue, pude afirmar que era a criança mais linda desse mundo.
O choro do meu filho fez com que as lembranças ruins fossem se
dissipando da minha memória. Principalmente, a imagem do caixão de
Alessandra sendo enterrado naquele lugar frio, enquanto eu assistia tudo
carregando um guarda-chuva que mal me protegia da chuva.
Essas imagens simplesmente foram sumindo dos meus pensamentos como
um sonho ruim.
Olhei agradecido para o meu filho e esposa, imensamente feliz por ter dado
essa oportunidade ao meu casamento.
Se eu não tivesse tentado... se eu não tivesse nos dado essa chance, nunca
teríamos descoberto como era a sensação de colher os benefícios do perdão.
Se eu não tivesse perdoado, não estaria aqui comemorando o batizado do
meu filho, nem mesmo estaria na presença da minha família.
Eu perdoei e fui perdoado.
— Ei.
A voz de Matteo me puxou de volta para a festa ao meu redor. Meu irmão
me entregou um copo de uísque e sorriu abertamente.
— Parabéns pelo filhão. Ele é muito lindo e esperto.
— Obrigado. Seu filho também é.
Ele riu e parou do meu lado, juntos ficamos observando os nossos filhos
brincando com outras crianças e na companhia das babás, que contratamos
para a festa.
A esposa de Matteo estava na beira da piscina brincando com o filho mais
novo deles.
— Soube que Anna está grávida de novo — perguntei rindo.
Matteo gargalhou.
— É claro. Como um verdadeiro Guerrieri não posso ficar em
desvantagem.
Eu ri. Ele queria o terceiro filho para se igualar a mim e a Riccardo.
— Por falar em Riccardo... Onde ele está? — perguntei, olhando para os
lados e dando falta dele.
Matteo ficou sério de repente.
— Pelo tempo que nos falamos, ele já deveria estar aqui. — Matteo tirou o
celular do bolso.
Mas não foi preciso ligar, porque logo o portão se abriu e o carro dele
entrou.
Assim que Riccardo estacionou o carro, os gêmeos saíram e vieram nos
cumprimentar.
Laura também saiu do carro, carregando uma bolsa rosa e a pequena
Beatrice toda produzida em um vestidinho amarelo e tiara da mesma cor.
O xodó da família.
Matteo correu para pegar Beatrice, mas a menina abraçou a mãe e
começou a chorar. Ela não era muito acostumada a viver no meio de nós, pois
Riccardo a escondia a sete chaves como um verdadeiro tesouro.
Um pai extremamente ciumento, eu diria.
Alessandra veio correndo abraçar Laura e pegar Beatrice no colo, mas a
menina armava um escândalo para qualquer um que se aproximasse. Os
olhinhos verdes dela estavam assustados e arregalados de curiosidade.
— Oi, Fabrizio. — Laura me cumprimentou.
Sorri. Era bom vê-la depois de tudo.
Laura quase morreu no parto da pequena Beatrice, meu irmão ficou
inconsolável.
— Como você está? — Passei a mão pelos cabelos lisos da pequena
Beatrice e ela me olhou curiosa. — Vem com o tio...
A bebê virou o rosto. Ela era uma gracinha, e eu a vi poucas vezes, por isso
ela estava me estranhando já que não convivia comigo.
— Ela também não gosta de mim. — Matteo bufou.
Riccardo se aproximou para nos cumprimentar também. Ele chamou o
garçom e pegou um copo de uísque.
— Parabéns, Fabrizio. O garoto é bonito — elogiou.
— Sua filha também é muito linda.
Chamei minha esposa, meus irmãos e cunhadas para ficar no lounge,
enquanto nossos filhos se divertiam.
A família Guerrieri estava unida.
Laura e Alessandra decidiram tomar vinho, e nós, homens, uísque. Anna,
como estava grávida, ficou apenas no suco.
Lorenzo se aproximou de Riccardo.
— Pai, posso levar minha irmã para nadar?
— Não — Riccardo respondeu. — Ela não sabe nadar.
— Eu tomo conta dela — insistiu.
Riccardo riu de nervoso.
— Não mesmo. Vai você brincar, sua irmã vai ficar aqui.
Ele assentiu e foi em direção à piscina.
Alessandra e Anna estavam babando em Beatrice. Eu podia ver os olhos
brilhosos da minha esposa olhando de forma amável para a menina.
Será que ela quer ter uma menina?
— Ela é muito linda, Laura. — Anna segurou as mãozinhas da garotinha.
— Você foi abençoada com dois meninos e uma menina.
Laura abraçou a irmã e depois acariciou a barriga dela.
— Tomara que dessa vez venha uma menina.
Matteo engasgou.
— Não sei se estou preparado.
Apertei o ombro dele, chamando sua atenção para mim.
— Eu também não estava preparado para ser pai de menina. E hoje não
vivo sem ela.
Riccardo me olhou, compartilhando do mesmo pensamento.
Marta e o presidente também resolveram se sentar com a gente. Ela estava
muito feliz e elegante, em nada se parecia com a mulher de antigamente,
maltratada por Giacomo.
A tarde foi de muita diversão, conversas e gargalhadas. Enquanto as
crianças se divertiam, aproveitamos para curtir o dia sem eles perturbando.
Eu estava distraído rindo com meus irmãos, quando minha filha veio
correndo com uma boia na cabeça, chamando por Riccardo.
— Tio! Lorenzo e Vincenzo estão brigando na piscina.
Riccardo xingou e se levantou rápido, tropeçando nas cadeiras e voando
até a piscina. Laura colocou Beatrice no colo de Marta e também foi atrás.
— Esses meninos. — Marta riu.
Minutos depois eles voltaram. Riccardo mandou que os gêmeos se
sentassem afastados um do outro.
Laura foi até a cozinha preparar lanches para cada um deles. Depois ela os
enxugou e os envolveu em um roupão quente para protegê-los do vento frio.
Nesse meio-tempo, Alessandra conseguiu conquistar Beatrice e a raptou,
sentou-se no meu colo toda manhosa enquanto segurava amorosamente a
menina nos braços.
A menina estava distraída comendo uva, por isso não estava ligando muito.
Mas quando a uva acabasse...
— Olha que perfeição, Fabrizio — ela sussurrou enquanto cheirava a
menina. — O cheirinho dela é delicioso.
Beatrice tinha o cabelo castanho escuro, pele branquinha e os olhos verdes.
O formato do rosto e a boca dela se parecia com Laura, mas a cor do cabelo
e os olhos eram de Riccardo.
Beijei a boca dela enquanto acariciava sua cintura.
— Vamos tentar uma menina?
Eu ri de nervoso.
— Eu já tenho três filhos. Fabio tem apenas cinco meses.
— Quando vi a filha de Laura, meu instinto maternal gritou dentro de mim.
Eu amo Fabrícia como minha filha, mas quero uma que seja idêntica a mim e
a você.
Toquei delicadamente o cabelo dela e a beijei. Nossas línguas se
enroscando uma na outra me deixou anestesiado por completo.
Mal tive tempo de raciocinar quando Matteo tirou, sorrateiramente,
Beatrice dos braços de Alessandra.
Laura começou a rir. Todos queriam conhecer a menina. Mas ela começou
a chorar de novo se jogando para os braços de Riccardo.