O Subchefe Da Mafia - Os Guerrie - Jaqueline Motta

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Revisão de texto

PatSue Revisão

Capa e Diagramação
Ddsigner2007

Leitura Critica
Alan Marcos
Copyright © 2022 de Jaqueline Motta
Todos os direitos reservados. Este ebook ou qualquer parte dele não pode ser reproduzido ou usado de
forma alguma sem autorização expressa, por escrito, do autor ou editor, exceto pelo uso de citações
breves em uma resenha do ebook.

https://www.instagram.com/autorajaquelinemotta/
Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real
terá sido mera coincidência.
O autor não apoia nenhum tipo de violência.
Sinopse
Prologo
Capitulo 1
Alessandra
Capitulo 2
Capitulo 3
Capitulo 4
Alessandra
Capitulo 5
Capitulo 6
Fabrizio
Capitulo 7
Capitulo 8
Capitulo 9
Capitulo 10
Capitulo 11
Capitulo 12
Capitulo 13
Capitulo 14
Capitulo 15
Capitulo 16
Capitulo 17
Capitulo 18
Capitulo 19
Capitulo 20
Capitulo 21
Capitulo 22
Capitulo 23
Capitulo 24
Capitulo 25
Capitulo 26
Capitulo 27
Capitulo 28
Capitulo 29
Capitulo 30
Capitulo 31
Capitulo 32
Capitulo 33
Capitulo 34
Capitulo 35
Capitulo 36
Capitulo 37
Capitulo 38
Capitulo 39
Capitulo 40
Capitulo 41
Capitulo 42
Capitulo 43
Capitulo 44
Capitulo 45
Capitulo 46
Capitulo 47
Capitulo 48
Capitulo 49
Epilogo
Era um casamento perfeito em meio ao caos da máfia. Assim como uma
planta que não recebe água, o casamento de Alessandra com o subchefe da
máfia, murchou por conta de mentiras e traições.
Em meio ao colapso, ela resolveu forjar a própria morte, cujo motivos a
máfia desconhecia. Principalmente, Fabrizio que fica transtornado ao
descobrir que sua amada está viva, para piorar descobre que ainda a ama
muito. O subchefe fica completamente dividido entre salvar o seu casamento
ou dar uma segunda chance ao amor.
Mas alguns erros são irreparáveis, como eles conseguirão superar tais
diferenças mesmo vivendo em um mundo cheio de regras?
Virei mais uma garrafa de uísque na boca, já tinha bebido além da conta e
não tinha intenção de parar.
O que eu podia esperar da vida além de criar meus filhos e servir a máfia
como sempre fiz? Todo dia era a mesma rotina e já estava cansado de ir
empurrando como dava.
Abri a gaveta para pegar minha arma. Peguei mais uma garrafa de uísque e
fui para o banheiro me trancar lá. Enquanto eu me olhava no espelho
observando parte do homem que eu fui um dia, aproveitava para jogar roleta-
russa, porque não tinha coragem de tirar minha vida assim tão de repente, na
verdade, não tinha coragem. Sendo assim, eu não saberia quando um tiro iria
me acertar de fato.
A imagem foi ficando desfocada de repente e só conseguia ouvir o som do
tambor da arma que estava pressionada na minha garganta. Por frações de
segundos a garrafa escorregou da minha mão e caiu sobre meu pé, por eu
estar descalço os cacos entraram no meu pé. Abaixei-me com dificuldades
para tentar tirá-los, mas a dor aguda no meu calcanhar misturado com a
embriaguez fez com que eu perdesse o equilíbrio e caísse no chão, em
decorrência minha cabeça bateu contra o vaso sanitário e um som agudo
zumbiu meus ouvidos.
Tudo foi ficando distorcido quando a luz branca se aproximou de mim.
Naquele momento, eu só via gotas de chuva caindo sobre o guarda-chuvas e
também no caixão, respingando no meu terno negro que já estava molhado...
Elas caíam com força parecendo alertar o momento fúnebre que se infiltrou
na máfia e no meu coração.
O corpo de Alessandra parecia tão frio ali. Um lugar tão pequeno para
alguém como ela, alguém grandioso no meu coração e de suma importância
estava tão frágil. Ela tomava muito espaço na minha vida, mas naquele
momento estava reprimida naquele caixão frio. Sem poder se mexer, sem se
comunicar.
Era mesmo o fim da linha?
Imagens da nossa lua de mel invadiram meus pensamentos como
relâmpago cortando o céu acinzentado, carregado de ódio pela natureza. O
ódio também tomou meu coração nesse momento. Pela primeira vez, vi-me
incapacitado de fazer algo quer pudesse mudar o seu destino, mudar nossa
realidade, mudar meus atos ao longo do nosso casamento. Eu só queria voltar
no tempo a fim de eliminar as pedras que dificultaram nossa caminhada.
Derrubar os muros que construímos ao nosso redor.
Só queria voltar no tempo, segurá-la pelo braço enquanto proferia:
Não vamos fazer isso.
Deixe sua irmã longe de nós.
Não esconda seus remédios de mim, se não quiser ter filhos, eu vou
respeitar sua decisão.
Ao olhar o corpo dela naquele caixão prestes a ser esquecido no jazigo,
podia entender que a máfia não era a potência maior. Deus era
Ninguém podia contra Deus, tinha certeza de que ele estava me castigando
nesse momento, tirando algo precioso da minha vida para mostrar que as
coisas iriam piorar dali em diante. Talvez ele estivesse apenas mostrando que
ele era quem decidia tudo. Minha vida era dele e somente ele poderia tirá-la
de mim.
Por que Deus não me levou no lugar dela?, repetia como um mantra.
Alessandra só estava ali devido a minha arrogância, pois insisti para que
tivéssemos um filho. Achei que as coisas entre nós poderiam melhorar
através dessa criança. Mas estava apenas olhando para o meu próprio umbigo
esquecendo de focar na saúde dela. O parto se complicou e minha esposa
morreu minutos depois de trazer meu filho ao mundo. Ali nasceu uma vida,
nasceu meu filho, porém, paguei um preço muito alto quando perdi minha
esposa.
Perdi-a para sempre.
Apesar de os meus erros, eu amava mais do que tudo nesse mundo e não
estava preparado para deixá-la ir assim, de uma hora para outra.
Alessandra... Você pode me ouvir? Será que teria um lugar para nós aí?
Será que se eu me deitasse junto com você, teria oportunidade de dizer pela
última vez que te amo muito e que sinto muito?, insista em pensamentos.
Alessandra?
Minha cabeça parecia que iria explodir de dor e culpa. As emoções
estavam caindo sobre mim em forma de fogos de artifício. Não conseguia me
mexer, minha garganta secou e meus olhos, mesmo ardidos, estavam
vidrados no caixão que embalava o corpo da única mulher que se esforçou
para que eu me tornasse um homem melhor.
Única mulher que me amou.
O peso da culpa tinha o poder de nos enlouquecer. Sentia meus olhos
ardendo de dor e ódio, que desciam queimando pela minha garganta e se
infiltrando em todo meu sistema.
Eu tive tudo nas mãos, tive tudo para fazer dar certo e falhei. Falhei com
ela e o pior, falhei comigo mesmo.
Queria gritar, ao mesmo tempo quero acordar desse pesadelo, para assim
encontrar minha mulher nua nos meus braços depois de termos feito amor.
Eu não iria acordar, sim? Não. Eu não queria.
Meu corpo estava paralisado sobre algo macio, só conseguia ouvir alguns
zumbidos no fundo. O barulho era semelhante ao de máquinas emitindo um
som irritante. Por mais que eu tentasse não conseguia abrir os olhos, eles
estavam pesados e cansados. Ou talvez estivesse apenas fugindo da minha
realidade, enquanto me escondia em um mundo completamente
desconhecido. Embora minha mente fosse escuridão total, podia criar cenas
na minha mente. Cenas felizes de uma vida diferente daquela que vivia. Eu
podia sentir o cheiro da chuva enquanto meus filhos corriam atrás do
cachorro. Minha casa era estilo rústica e eu cortava lenha para preparar o
almoço e acender a lareira mais tarde.
— Fabrizio.
Mas era só a mesma voz me chamar... meus pensamentos ficaram confusos
e nebulosos.
Ignorando mais uma vez a voz que insistia em me tirar a paz, mentalizei
novamente minha família e a vida feliz que compartilhava ao lado dos meus
filhos, por isso não queria sair dali.
— Vamos, Fabrizio. Você tem que reagir. Por favor, irmão.
"Por favor, irmão..."
Ouvir essas palavras fez com que meu corpo despencasse e caísse em um
poço sem fundo. Foi como se eu tivesse despencado das nuvens para cair na
escuridão, uma claridade quase cegou meus olhos, de repente.
O pior foi me dar conta de que havia algo na minha garganta que não
estava me deixando respirar. Tentei mexer uma das mãos para tentar arrancar
aquilo de mim, porém, não consegui. O desespero tomou meu corpo quando
comecei a engasgar.
Vozes alteradas iam ficando cada vez mais perto de mim, tive a impressão
que o objeto foi tirado e assim pude respirar melhor. Minha garganta e meus
olhos ardiam com a sensação estranha. Meu corpo estava dormente e minha
cabeça doía muito.

Minha garganta estava seca, meu corpo tremia no chão frio do alojamento
subterrâneo. Eu não tinha noção de quanto tempo estava ali, não sabia o dia e
nem o mês em que estávamos. Sentia que, cruelmente, o inverno estava se
aproximando.
O inverno!
Eu amava essa estação, amava poder sentir o frio, poder me perder no
cheirinho da chuva através da minha janela, enquanto eu descansava no sofá
conforme me perdia em algum livro de romance. No entanto, naquele
momento, o frio não era aliado da minha situação, visto que tinha apenas um
colchão estreito que não me protegia do chão gelado e um cobertor gasto que
tentava me aquecer de noite.
Meu Deus... onde fui parar?
Uma Guerrieri jogada num alojamento sujo? Isso não era certo, tal atitude
ia contra todas as leis.
Fechei os olhos enquanto me perguntava quando foi que tudo começou a
dar errado. Sempre fui prestigiada na máfia. Meu pai me adorava e fazia
todas as minhas vontades, com o Fabrizio não foi diferente. Ele me amava,
idolatrava-me e num piscar de olhos, todo seu amor sumiu do dia para noite.
Eu gostava de tê-lo comendo na minha mão e fazendo minhas vontades, por
isso me tornei alvo de inveja de outras mulheres. Enquanto os maridos delas
faziam o que tinham vontade, o meu fazia minhas vontades.
A porta de ferro foi aberta de repente, escolhi-me na parede e fiquei
esperando algum soldado aparecer para trazer minha comida. Embora
estivesse em uma situação deplorável, eu ainda exigia e tinha respeito da
parte deles. Perante toda a situação, eu carregava uma faca comigo para caso
algo saísse do controle. No entanto, nenhum soldado apareceu, e sim Matteo
quem entrou carregando uma cadeira.
— Boa noite, cunhada. — Ele fechou a porta e caminhou na minha direção
enquanto ajeitava o terno. Sentou-se na cadeira e cruzou os braços.
Essa foi a primeira vez que ele veio me ver, na verdade, eu nem fazia ideia
do que ele tinha vindo fazer aqui. Matteo nunca levou nada a sério e,
certamente, estava ali para fazer alguma piada fora de hora.
— O que você quer aqui?
— Vim conversar com você. É... Tão estranho ver você depois de tudo.
Ri sem vontade enquanto fazia um coque no cabelo. Ele costumava me ver
deslumbrante em um vestido de gala.
— Esse lugar não é apropriado para mim.
— Você não está em condições de escolher, Alessandra. Será que você
ainda não entendeu a gravidade da situação? O que deu na sua cabeça?
— Aff. E meu sobrenome?
Ele se levantou de repente e se aproximou de mim. Quase dei um grito de
susto quando a mão fria dele segurou meu rosto.
— Matteo! — Abri a boca, assustada.
— As coisas por aqui mudaram e eu não estou com paciência. Certamente,
Fabrizio irá tirar o nosso sobrenome de você.
Olhei-o firme. Engraçado como eles me viam como a bruxa má que partiu
o coração do irmão amado.
— Você o destruiu.
— Ele quem me destruiu, não o contrário.
— Ah, é? — Ele apertou os lábios com força como se estivesse
controlando a raiva. — Ele só queria um filho seu.
— E eu não queria um filho... — engasguei o soluço. — Não naquele
momento.
Matteo se afastou de mim.
— Você é contraditória. — Olhou-me com raiva. — Disse a todos que não
podia ter filhos, depois Fabrizio descobriu que você tomava remédio
escondido. E como se não bastasse, envolveu Laura nessa sua merda. Qual
foi o propósito disso tudo?
— Eu só não sabia como dizer a Fabrizio. Eu sempre o amei, mas nunca
quis que ele dissesse o que fazer com o meu corpo. Um filho deve ser decisão
do casal, e eu não estava pronta.
— Por que você forjou sua morte?
Abaixei a cabeça, envergonhada. Os motivos reais na época pareciam fazer
sentido, mas naquele momento não mais. Vejo como destruí minha vida por
tão pouco, minhas razões foram fúteis, no entanto, não tinha mais como
voltar atrás.
— Queria que ele se sentisse culpado. — Minha voz ficou embargada pelo
choro. — Queria que ele sentisse o gosto amargo da perda e que ficasse
sozinho remoendo as merdas que fez.
Matteo arregalou os olhos, depois soltou um sorriso desajeitado.
— Em nenhum momento você se arrependeu? Digo... Você deixou seu
filho para trás.
— Sim. Sacrifiquei criar meu filho em nome dessa vingança. Embora no
meio do caminho eu tenha me arrependido, mas não tinha mais como voltar
atrás. Estava cega de ódio.
Lembrar-me das coisas que me fez deixar tudo para trás, faz minha
garganta arder de dor.
Matteo se sentou novamente na cadeira e ajeitou os ombros.
— Você sabe o que é mais engraçado? Fabrizio em nenhum momento
parece culpar você. Ele culpa Laura por ter ajudado.
— Laura não tem culpa de nada. Ela é mãe como eu, por isso atendeu meu
pedido.
— Ele não pensa assim. Tentou persuadir Riccardo para que terminasse
com Laura. Meu irmão ficou insuportável, culpando quem não tinha culpa ao
invés de culpar você.
— Eu sinto muito.
— Talvez seja o efeito que você ainda provoca nele.
Eu tinha que fazer algo para tirar essa má impressão que Fabrizio estava de
Laura. Livrá-la de qualquer mal que pudesse cair sobre os ombros dela por
minha causa.
— Será que eu poderia conversar também com o Riccardo? Ele mais do
que ninguém deve saber que a esposa dele é inocente.
Matteo respirou fundo enquanto me olhava com desprezo.
— Você quase conseguiu. Fabrizio deu um tiro na cabeça, mas ele saiu do
coma e logo estará aqui para saber mais sobre sua jornada longe da máfia. —
Meu cunhado ajeitou o terno e caminhou até a porta. — Vou mandar servir
seu jantar.
A notícia me pegou desprevenida, porque apesar de tudo ele tinha dois
filhos para criar. Fabrizio era pai do meu filho.
Matteo saiu e mais uma vez fiquei sozinha no alojamento, esperando o dia
do meu julgamento. O dia que finalmente minha vida iria acabar. Mas a
verdade era que nem eu mesma sabia se estava pronta para isso. Quando
finalmente Fabrizio viesse me procurar para cobrar explicações, as coisas
iriam ficar ruins para mim, não tinha mais como ele me evitar, nosso acerto
de contas estava ficando próximo. Mesmo que tivesse minhas razões, o que
eu fiz, dentro da máfia, era imperdoável.
Quando minha comida chegou, eu já estava com o estômago enjoado de
tantas preocupações. Tentei achar uma posição que amenizasse não somente
o frio, mas os meus medos e mandasse embora fantasmas que aterrorizavam
minha mente.
Meus dias eram longos e as noites frias e solitárias.
Estava de costas olhando a paisagem da Sicília através do vidro fumê do
prédio quando ouvi a porta se abrir atrás de mim e passos firmes ecoar o piso.
Eu que sempre tive um vazio inexplicável no meu coração, como se algo
tivesse sido tirado de mim, continuava perdido na paisagem tentando
encontrar o sentido para minha existência. Mal sorria, mal tinha ânimo para
exercer minhas tarefas dentro da máfia.
Espiando pelo canto do olho, pude ver que foi meu irmão quem entrou na
sala e se sentou na cadeira. Ele ficou lá olhando para mim, ainda perdido na
paisagem. Eu queria perguntar muitas coisas a ele, saber como fazia para
seguir em frente mesmo depois de tudo que passamos, pois eu simplesmente
não conseguia. Havia um bloqueio no meu cérebro.
Um silêncio confortável se fez presente na sala, mas eu sabia que a
calmaria não iria durar para sempre. Dito e feito.
— Você vai se casar com a Alessandra.
Fechei os olhos e apertei os punhos enquanto me perdia nas pessoas
atravessando a rua.
— Por quê?
Ele tragou o cigarro e se aproximou de mim.
— Achei que gostasse dela.
Dei de ombros.
— O que te faz pensar isso?
Alessandra havia voltado recentemente de uma viagem que fez com o pai.
Sempre a achei patricinha demais para um homem simples como eu. Por
causa do meu pai, meus irmãos e eu tivemos uma vida humilde, quase não
tínhamos o que comer. Foi através de muito esforço que conseguimos chegar
ao topo. Não foi fácil.
Depois de completar certa idade, comecei a trabalhar na nossa fazenda
carregando sacos de laranja nas costas, sob um sol escaldante. Fazendo de
tudo para não pensar no meu passado.
— Vejo o jeito que você olha para ela.
Era verdade. A pele morena de Alessandra parecia brilhar, seus lábios
eram perfeitos e convidativos, era atraído por eles como o inferno. Minha
imaginação ia longe quando eu a olhava, imaginava nossos filhos idênticos a
ela.
Virei-me para encarar meu irmão.
— Ela está de acordo?
Embora vivesse em uma sociedade da máfia onde nós ditamos as regras,
não queria que ela estivesse ao meu lado apenas por obrigação. Eu era um
homem inseguro que não conseguia lidar com a rejeição de uma garota criada
em berço de ouro. Meu pai sempre me disse que eu era sensível e fraco,
naquele momento entendia o motivo.
— Alessandra está na idade de se casar, aliás, você sabe que o pai dela está
doente. E, além de tudo... é irmã de Catarina. É uma boa oportunidade para
você.
— Eu não a amo. Me sinto atraído, mas não a amo.
Na verdade, estava inseguro de ter que me casar com uma garota igual a
ela. Minha ficha de que era um dos chefes da Cosa Nostra, ainda não tinha
caído.
Riccardo tocou meu ombro.
— Isso já é um começo. A convivência não será tão ruim. Você precisa
amadurecer.
Assenti para ele, concordando. Ainda assim, senti-me como se tivesse
acabado de tomar um banho de água fria. Lógico que eu tinha ido para cama
com algumas mulheres, mas ainda me sentia inseguro para dividir um teto,
dividir assuntos referente a casamento, segredos e uma vida juntos. Nunca
tive exemplos, meu pai espancava minha mãe todos os dias, além de bater em
nós. Como eu deveria tratar minha esposa?
Riccardo segurou meu rosto.
— Você gosta de mulheres, Fabrizio?
— É claro que gosto. Por que me perguntou isso?
— Sou seu irmão mais velho e gostaria de saber se há algum elemento
surpresa. Você raramente vai aos prostíbulos. Posso contar às vezes que te
encontrei lá.
— Não gosto das mulheres de lá. Prefiro me masturbar do que ficar com
uma mulher que finge orgasmo.
Ele me olhou confuso.
— Somos chefes... É normal querer nos impressionar.
— E você acha isso prazeroso? — Arregalei os olhos.
— Por mim tanto faz. — Ele colocou a mão no meu ombro. — Talvez
você encontre seu lugar ao lado de Alessandra. Talvez ela não finja, sei lá,
Fabrizio. Apenas ache um jeito de viver essa merda que a gente chama de
vida.
Éramos apenas moleques. Eu tinha que começar a agir como homem,
principalmente porque iria me casar. Não queria que meus filhos tivessem
uma péssima impressão de mim.
Respirei fundo enquanto enfiava as mãos no bolso da calça.
— Quando vai ser?
— No próximo sábado — ele respondeu antes de caminhar para a porta.
— Terei que ir pessoalmente pedir a mão dela em casamento?
— Você é quem sabe.
— Como é estar casado?
— Não vejo diferença. — Saiu batendo à porta, deixando-me ainda mais
tenso.
O dia estava bonito, o sol resplandecia no céu naquela tarde de sábado. Eu
estava de pé no altar esperando Alessandra pisar no tapete vermelho. Apesar
de não amá-la, tinha desejo por ela. O desejo era tão grande que meu coração
parecia querer saltar pela boca toda vez que a olhava.
Minha boca estava seca e o suor escorria pelo meu rosto.
Todos ficaram de pé, quando Alessandra pisou no tapete acompanhada de
seu pai. Conforme ela vinha caminhando em minha direção, meu coração
dava pulos de ansiedade, ainda não estava acreditando que ela seria minha,
minha esposa.
Ela se movia graciosamente pelo tapete, vestida de branco e carregando um
lindo buquê de flores. O véu cobria seu rosto, já estava louco para arrancá-lo.
Nossas mãos se tocaram pela primeira vez e o arrepio quase quebrou
minha espinha. Alessandra estava mais linda do que nunca.
Sequer conseguia prestar atenção nas palavras do celebrante, porque eu só
conseguia enxergar Alessandra, completamente embriagado com o cheiro de
seu perfume.
Porra, isso que era amor? Não, meu pai dizia que um homem nunca
deveria se apaixonar.
Minha atenção se voltou para a cerimônia, quando a mão quente dela tocou
a minha para colocar a aliança.
— Fabrizio Guerrieri, você aceita ser meu marido? — Ela piscou enquanto
me olhava através dos enormes cílios.
Meu Deus... Como era linda!
— Sim.
A aliança de ouro foi colocada delicadamente no meu dedo. Com o mesmo
carinho, peguei a mão dela e trouxe para os meus lábios. Olhando-me
confusa, Alessandra ficou sem reação já que eu estava pouco me importando
para o protocolo que tínhamos que seguir.
— Você quer ser minha esposa? — sussurrei próximo ao seu ouvido.
Talvez assim, ela não se sentisse coagida por ter que aceitar algo que não
fosse de seu agrado.
— Aceito — gaguejou.
Coloquei com cuidado a aliança no dedo dela e, novamente, levei aos
lábios para selar nosso compromisso.
— Gostaria que se sentisse segura comigo.
Ela permaneceu com os olhos em mim.
— Vou me lembrar disso.
Sem soltar a mão um do outro, nós nos voltamos para o celebrante que
falou mais algumas frases antes de, finalmente, nos declarar marido e mulher.
Puxei Alessandra pela cintura e procurei pela boca dela. Se antes eu tinha
desejo, naquele momento depois de beijá-la, só aumentou mais a necessidade
de tê-la para mim.
A suíte estava decorada com pétalas de rosas vermelhas. Resolvemos
encerrar a festa cedo por conta da chuva forte que caiu no final da noite.
Alessandra esbanjava sorriso e alegria durante a festa de casamento, mas
foi só entrar no avião que ela mudou o comportamento. Estava inquieta.
Coloquei nossas malas no chão do quarto do hotel e tirei meu smoking
molhado.
— O que significa quando chove no dia do casamento? — Alessandra
perguntou, enquanto se perdia na chuva através da janela.
— Eu não sei. — Dei de ombros.
Ela se virou para me olhar, estava sentado na cama, sem saber como faria
para dar o primeiro passo sem assustá-la.
Levantei-me decidido e caminhei até ela. Alessandra se encolheu um
pouco quando a prendi entre meu corpo e a janela. Toquei seus cabelos
cuidadosamente enquanto olhava no fundo de seus olhos.
— Não tenha medo de mim — sussurrei.
— Você é um Guerrieri. — Engoliu seco. — Como não vou ter medo?
Abaixei para beijá-la. Minha língua entrou na boca dela e juntos, iniciamos
um beijo ardente. Peguei-a no colo e a deitei sobre a cama. Pude ver como a
respiração dela estava acelerada.
Será que me queria tanto quanto eu a queria?
Minhas mãos viajaram para dentro do vestido dela, encontrando uma
calcinha e cinta-liga que me fez rosnar de desejo. Rapidamente me desfiz do
restante da minha roupa e voltei a ficar por cima dela.
Alessandra desfez nosso beijo para tocar meu rosto, quase quebrando o
clima quente que se infiltrou no meio de nós. Eu a olhava confuso, porém,
paciente esperando que ela tomasse a inciativa, já que era virgem e,
certamente, estaria com medo de sua primeira noite de sexo.
— Precisamos conversar, Fabrizio.
Quando lágrimas deslizaram pelo seu lindo rosto, afastei-me ciente sobre
ter ido rápido demais. Era a única explicação para ela estar tremendo feito
vara verde.
— Me desculpe. — Toquei seu rosto e senti a maciez de sua pele sob meus
dedos ásperos.
Ela me olhou confusa.
— Pelo quê? — riu sem jeito, mas as lágrimas ainda abandonavam seus
lindos olhos.
— Por ter ido rápido demais.
Ela balançou a cabeça, negando.
— Ai, Fabrizio. — Engasgou com o soluço, por isso comecei de fato a
ficar preocupado. Ela pulou no meu colo e escondeu o rosto no meu pescoço
enquanto se afogava em lágrimas.
Meu coração afundou no peito. Acariciei suas costas tentando passar
conforto.
— Você não queria se casar, é isso?
Ela negou.
— Não é isso.
— Então? — Afastei-a de mim para olhar em seus olhos.
Alessandra abaixou a cabeça enquanto brincava com a pulseira de
diamante que eu havia mandado de presente para ela.
— Não sou mais virgem.
Pisquei absorto tentando processar o peso daquelas palavras. Antes que eu
pudesse dizer algo ou até mesmo sair daquele quarto, ela segurou meu rosto
entre as mãos trêmulas.
— Não me abandone.
— Como aconteceu? — perguntei enquanto segurava seu rosto.
— Foi com o soldado do meu pai. Amor de adolescência, aconteceu
apenas uma vez. Ele ficou encarregado de cuidar da minha segurança e
então... aconteceu. Meu pai o matou quando descobriu.
Alessandra mal conseguia falar. Seu rosto estava tomado pela dor e
lágrimas.
— Ele te forçou?
— Não. — Ela desviou o olhar envergonhada.
— Por que não me contou antes?
— Não queria que você deixasse de se casar comigo. Com o casamento
realizado ainda tinha esperanças de que você me ouvisse e entendesse que foi
há muito tempo. — Ela tocou meu rosto. — Eu gosto de você, Fabrizio. Por
favor, não me devolva, não me deixe e não me humilhe por conta de um erro
do passado.
Alessandra me abraçou forte. Parecia uma menina perdida sem saber o que
fazer da vida. E eu tinha que tomar uma decisão, podia anular o casamento ou
então, podia viver como se nada tivesse acontecido. Seria uma vergonha eu
anular o casamento e ainda informar os motivos.
Afastei-me novamente para olhar em seus olhos tristes, resultado de um
erro passado que poderia refletir no futuro.
— Fabrizio, diga algo... por favor!
Fiquei em silêncio tentando pensar sobre aquilo. A chuva parecia cair cada
vez mais forte. De repente vi a cena em que minha mãe apanhava do meu pai
e os gritos dela perturbando minha mente.
— Para todos os efeitos, fui o primeiro homem da sua vida. Ninguém além
de mim tocou em você, não houve outro. Estamos proibidos de voltar a falar
nesse assunto. Estamos entendidos?
Ela assentiu enquanto arregalava os olhos. Limpei suas lágrimas e a
abracei forte, mostrando que nada iria mudar entre a gente.
— Obrigada, Fabrizio. — Enterrou o rosto no meu pescoço.
Nós nos abraçamos enquanto a chuva caía forte lá fora. Na minha mente,
eu seria o primeiro e ninguém ia me fazer pensar o contrário. Não me
importava se ela era virgem ou não, queria ser dono dos sentimentos dela. O
passado não me importava, porque todos nós éramos quebrados.
E então eu tirei a virgindade dela naquela noite, na nossa noite de núpcias.

Meu corpo ficou completamente paralisado depois de ouvir aquelas


palavras. Palavras que destruíram meu coração e que enterrou de vez minhas
expectativas.
— Como é? — perguntei ainda com a voz trêmula, tentando me acostumar
com o bolo na garganta.
Alessandra estava deitada com a cabeça no meu peito. Tínhamos acabado
de fazer amor pela terceira vez naquela noite. Apesar de estar enfrentando
inúmeros problemas dentro da máfia, conseguia manter meu coração em paz
quando estava perto dela. Mas depois de ouvi-la falar aquilo, foi como se um
buraco negro tivesse se formado debaixo do meu corpo.
— Eu disse que não vou poder te dar filhos, Fabrizio.
Caralho... como eu poderia simplesmente aceitar o fato de não poder ter
filhos iguais a ela correndo pela nossa casa e enchendo nossa vida de alegria?
— Desde quando você está sabendo disso e eu não?
Fechei os olhos. A primeira coisa que fiz foi manter a calma e tentar
desfazer todos os planos de ser pai de um filho dela. A segunda, foi abraçá-la
forte.
— Faz algum tempo.
— Por que não me contou, Alessandra? — Passei a mão pelo cabelo.
— Você teria se casado comigo se eu tivesse te contado toda minha
história? — Ela soluçou. — É claro que não. Mesmo você sendo um dos
homens mais preciosos que conheci em toda minha vida, você não seria
capaz de passar por cima disso.
Meu Deus do céu.
— Tem algo mais que queria me contar? — Segurei o rosto dela. —
Alessandra, seja sincera comigo assim como estou sendo com você. Estou
nessa relação de coração aberto, tendo que ouvir reclamações do Riccardo
pelo fato de sempre dar prioridade a você.
— Eu sinto muito — concluiu, aconchegando-se nos meus braços. —
Estamos bem sozinhos.
— A questão não é essa. Descobri no dia do nosso casamento que você não
era mais virgem...
— Você disse que nunca mais iria tocar nesse assunto — interrompeu-me.
— Então pare de esconder coisas de mim. Agora você diz que não pode ter
filhos sabendo do quanto venho trabalhando para te engravidar. Qual é o seu
problema? Do que você tem medo?
— Não queria estragar seus planos.
— Meus planos só valem se forem os mesmos dos seus, do contrário nada
vale a pena.
— Sem filhos, Fabrizio. Vamos esquecer isso, esqueça essa coisa de
herdeiro e vamos focar no nosso casamento.
— Não é tão simples, Alessandra.
Ela ficou em silêncio e abaixou a cabeça. Sentia que Alessandra queria me
falar algo, mas por motivos que eu desconhecia, ela não falava.
A verdade era que eu precisava sim de um herdeiro, ou não teria ninguém
para dar continuidade na máfia. Como Riccardo não queria filhos, eu disse a
ele que os meus filhos com Alessandra iriam assumir nossos cargos.
— Acho que precisamos consultar outros médicos, e eu quero estar
presente dessa vez.
Eu já começava a tramar na minha mente as mentiras que eu deveria
inventar. Porque os Guerrieri simplesmente não iriam ter herdeiros, a menos
que Riccardo reconsiderasse ou que Matteo se casasse.
Ela se levantou abruptamente.
— Precisamos? Então é isso que importa?
— Sei de casais na máfia que fizeram inseminação. O filho é do casal, tem
o sangue deles. Talvez, devêssemos pesquisar mais sobre isso.
Alessandra riu enquanto se levantava. Vestiu o roupão e antes de caminhar
para o banheiro, olhou no fundo dos meus olhos.
— Você está pensando em herdeiros somente para ocupar o seu cargo e o
de seus irmãos. Eu não vejo amor, mas sim conveniência. Você está apenas
garantindo que o legado deles não termine através do meu útero.
— Alessandra — tentei me justificar, mas ela já tinha trancado a porta.
Os dias passavam e Alessandra continuava me evitando. Além de lidar
com a distância dela, ainda tinha que aceitar o fato de não poder ter filhos. Eu
estava começando a sentir que faltava diálogo no nosso casamento, mas a
Alessandra se afastava toda vez que eu me aproximava para tentar resolver a
situação.
Nosso casamento sempre foi bom, no entanto, as coisas meio que esfriaram
quando comecei a insistir para que tivéssemos filhos. Eu queria explicar que
não estava fazendo pouco do problema dela, apenas tentando mostrar que
havia outro meio de sermos pais. Minha mulher estava irredutível e sequer
me olhava nos olhos ou me deixava conversar. Ela não deixava mais eu me
aproximar, com isso comecei a ficar arrasado, sem ânimo e só conseguia
relaxar bebendo.
Com muita paciência, cheguei em casa e fui procurá-la pela casa.
Sentindo-me culpado por talvez estar visando apenas meu lado, em vez de
tentar esperar o seu tempo de se abrir comigo.
Alessandra estava na varanda, linda como sempre tomando vinho enquanto
olhava a paisagem. Cheguei de mansinho e a abracei por trás. No início, senti
que ela ficou rígida pela surpresa, mas logo aquele sorriso que eu tanto
amava estava lá.
— Me desculpe — sussurrei no ouvido dela.
Ela me olhou, surpresa. Eu não me importava de dar o primeiro passo
desde que estivéssemos bem, não me importava de ser diferente de outros
caras da máfia que enxergavam suas mulheres como objetos. Eu não era
assim e Alessandra era linda demais para fazer pouco caso.
— Eu que peço desculpas, Fabrizio. — Acariciou meu rosto. — Você é
muito valioso. Em meio a esse mundo ridículo, você é o único homem que
vale a pena. Talvez eu nem mereça...
Coloquei um dedo sobre a boca dela, impedindo-a de continuar. Por aquela
noite eu queria esquecer os problemas.
— Não vou deixar nada atrapalhar o respeito que conquistamos ao longo
desses anos. — Coloquei uma mecha do cabelo dela atrás da orelha dela,
deixando seu rosto livre, então pude me perder no fundo de seus olhos. — Eu
quero você, e nada mais importa.
— Me desculpe por não ter dito a verdade.
Aquilo ainda doía em mim. E pelo fato de confiar cegamente nela, nunca
questionei suas consultas ao ginecologista. Achei que ela estava se cuidando
para a chegada do bebê.
— Só não me esconda mais nada. — Abracei-a. — Não posso mais
continuar fazendo isso. Não posso mais passar a mão na sua cabeça em
resposta às suas mentiras. Não posso mais, Alessandra.
O corpo de Alessandra enrijeceu antes de relaxar nos meus braços.
Rapidamente ela desfez o contato e se recompôs. Do fundo do meu coração,
esperava que ela não estivesse escondendo mais nada de mim, mas tinha
quase certeza de que ela não estava me contando tudo.
Acordei perdido. Meus olhos ardiam muito e minha garganta estava seca.
Tentei firmar os olhos para observar o local ao meu redor. Mas só em tentar
focar nas imagens desconhecidas, ficava cansado e com sono.
— Fabrizio?
Pude ouvir a voz sofrida de Matteo. E foi somente por ele que me esforcei
para me manter acordado. Ergui a cabeça e me esforcei para abrir os olhos
novamente e foi quando comecei a engasgar. Imagens de tudo que vivi anos
atrás, vieram feito tsunami invadindo minha mente e me enchendo de culpa.
— Fique aqui comigo, irmão.
O passado insistia em me atormentar. Eu daria tudo que tinha para tentar
seguir em frente, mas parece que esquecer meu relacionamento com
Alessandra e tudo que nos levou para longe um do outro, puxava-me para
reviver cada uma daquelas cenas. Cenas terríveis.
Será que ela se sentia da mesma forma? Será que a culpa a consumia tanto
ao ponto de não querer mais viver?
Porque eu estava completamente destroçado e não havia sequer uma célula
viva do homem que ela conhecera um dia.
Eu não tinha resiliência para lidar com sentimentos negativos.
O sono venceu e eu caí na escuridão.
A máfia fazia parte da nossa vida. Respiramos máfia e a servimos com
nossa vida. Não tinha meio-termo. Eu cresci no meio da violência e aprendi
desde cedo que a vida não se baseava em filmes, onde o pai protegia seus
filhos e lhes dava carinho. Meu pai sempre foi um tremendo filho da puta
com a gente e nos fez comer o pão que o diabo amassou. Embora eu vivesse
no inferno, sempre tentei ver algo bom, para quem sabe assim me tornar um
pouco melhor. Mas era difícil e sempre que eu colocava a cabeça no
travesseiro para tentar dormir, os pesadelos vinham me atormentar.
Esforçava-me muito para tentar ser alguém melhor, dava duro para manter
meu casamento e meu lar em paz.
Mesmo assim, eu tinha que correr atrás para manter a organização da
máfia. Tinha de lutar em nome dela. Sair dos braços da minha esposa de
madrugada e ir a mais uma missão.
Eram exatamente duas e meia da madrugada quando estávamos em frente a
um cassino clandestino. A Cosa Nostra tomava cada canto de Sicília e nós,
praticamente, éramos as autoridades ali, então aquilo não podia passar
despercebido. Não íamos permitir. Eles nos devem obediência, assumir a
responsabilidade sobre os lucros dos nossos negócios terem caído por causa
deles. Sem contar que sofremos dez denúncias em menos de duas semanas,
porque o bastardo tinha um acordo com a polícia.
Aquilo não era somente mais uma disputa de poder, era uma forma de
mostrar que não importa quantos tentaram acabar com os nossos esquemas, a
Cosa Nostra nunca iria acabar.
Apaguei o cigarro e segui para dentro do estabelecimento, fiquei lá
observando a quantidade de gente que saíram do nosso cassino, para
frequentar o concorrente atual, que gozava bravura e nos desafiava. Achando
que a polícia iria livrar a cara dele. Mal sabia que muitos lá eram corruptos e
recebiam propinas para fechar os olhos diante dos nossos esquemas.
Endireitei a gravata e fui para o bar pedir uma bebida. Observei as
dançarinas seminuas e vi ao fundo o proprietário do lugar.
Quando vamos a uma missão, vamos cientes sobre o que ou com quem
estamos lidando. Eu tinha uma foto, vídeos e conversas gravadas do dono do
cassino. Estudei o dossiê, a fim de pegar pesado... mexer onde mais doía.
A família.
Segui o bastardo por meses para saber mais sobre a rotina dele. O cara
tinha duas famílias. Uma de suas filhas com a amante, cursava direito e era a
menina de seus olhos. Infelizmente, por culpa dele, ela se tornou uma vítima
e a sequestramos depois da faculdade.
Não tinha outro jeito.
Aproximei-me com sutileza e toquei o ombro dele.
— Boa noite. — Estendi a mão para cumprimentá-lo. No entanto, ele não
moveu um dedo para retribuir.
Ele sabia que eu não estaria ali para negociar.
— Filho da puta — gritou.
— Amarrem ele — ordenei.
— O que fizeram com minha filha? — Quando ele deu um passo em
minha direção, um dos meus soldados entrou no meio para encostar o cano da
arma na testa dele.
— Fique paradinho aí — rosnou o soldado enquanto o jogava na cadeira.
Depois enrolou uma fita nos pulsos e nos pés dele.
Estudei calmamente o ambiente. Meus soldados tinham tomado boa parte
do espaço, fazendo as pessoas de refém e as levando para uma sala reservada.
Outros soldados derramaram gasolina no chão e estavam preparados para
ouvir meu comando. O lugar tinha que ser queimado.
— Estamos aqui para resolver a pequena dor de cabeça que você tem nos
causado.
— Como posso colaborar? — Engoliu em seco. — Quero ver minha filha.
— Não tem como. Você sabe para que viemos.
— Por favor — ele insistiu. — Ligue para o chefe de vocês, posso
negociar com ele. Tenho algo que possa interessá-lo.
— Duvido muito. Meu irmão não quer nem ouvir falar no seu nome, muito
menos negociar com você.
O homem tentou argumentar e eu já tinha perdido tempo demais.
O cheiro de gasolina estava forte. Acendi o isqueiro e o joguei no chão
molhado. O fogo rapidamente foi tomando proporção e as chamas se
espalharam rapidamente pelo local. Saímos do cassino rapidamente e
fechamos as portas para abafar os gritos, para que não chamasse muita
atenção.
A explosão rompeu a noite e clareou o céu nublado. Naquele momento,
todo o cassino estava tomado pelas chamas. Não havia provas e nem
testemunhas de que tudo aquilo não passou de um terrível acidente.
— E quanto a garota, chefe?
Fechei os olhos e respirei fundo. A moça era muito jovem e tinha um
futuro inteiro pela frente. Ela tinha sonhos, namorado e uma família que
esperava por ela todas as noites. Esse tipo de missão mexia muito comigo
porque eu sempre pensava nas famílias. Pensava em uma forma de poupar a
vida dessas pessoas, embora não houvesse alternativas. Deixar essas pessoas
vivas era um preço muito alto do qual eu não podia pagar.
— Faça o que tem que ser feito. — engoli seco e caminhei até o carro.
Meu coração doeu quando a imagem da menina tomou meu pensamento.
A primeira coisa que fiz quando coloquei os pés dentro do meu quarto, foi
correr para o vaso e vomitar tudo que eu tinha comido durante o almoço.
Depois, tirei meu terno e entrei no chuveiro, deixando a água gelada levar
embora toda tensão do meu corpo e os pensamentos de culpa. Encostei a
cabeça na parede e fui tentando me acalmar, tentando conter as lágrimas de
angústia que assolavam meu coração.
— Fabrizio.
A voz de Alessandra fez com que eu tomasse o controle das minhas
emoções. Não queria que ela me enxergasse como um fraco, que mal
conseguia concluir uma missão sem sair destroçado. Eu sempre fazia o que
tinha que fazer em nome da máfia, no entanto, a culpa me consumia depois.
Era um segredo que eu iria levar para o túmulo.
Minha mulher entrou no chuveiro. Pegou o sabonete da minha mão e foi
deslizando suavemente em minhas costas. Meu corpo ficava rígido toda vez
que ela contornava as cicatrizes. O gesto dela me fazia lembrar que não era
somente meu corpo que estava marcado, minha vida e a alma também.
— Não me conformo com essas marcas. — Fechei os olhos quando ela
começou com o assunto.
— Não comece.
Ela me fez ficar de frente para ela. Alessandra era uma mulher pequena e
eu podia levantá-la com apenas uma mão sem usar muito esforço. No
entanto, ela tinha um significado gigantesco na minha vida e adoçava meu
coração.
— Ele era seu irmão e deveria te proteger. Não consigo engolir essa
história.
— Ele é meu irmão. Não ouse falar como se fosse no passado. Riccardo
está vivo e você sabe disso.
— Tudo bem. — Respirou fundo. — Sendo seu irmão, ele deveria te
proteger e não foder com seu psicológico.
Saí do banheiro e me enrolei na toalha. Eu amava minha esposa, mas as
coisas sempre saíam do controle quando ela falava da minha iniciação. No
momento da iniciação não importava laço sanguíneo, o ritual sempre era feito
da mesma forma para todo mundo. Riccardo apenas colocou em prática
comigo o que aprendeu com o nosso pai. Ponto.
— Eu faria qualquer coisa pela minha irmã.
Voltei-me para ela enquanto enxugava o cabelo.
— Que bom. Eu também faria qualquer coisa pelos meus irmãos. É assim
que tem que ser. Somos uma família.
Alessandra arregalou os olhos.
— Você acha que essas marcas que o Riccardo deixou nas suas costas
prova mesmo o quanto ele ama você?
— Acho.
— Vocês são doentes. — Ela riu sem vontade. — Usam a máfia para
justificar tal crueldade.
Olhei-a confuso. Sem saber onde ela queria chegar dessa vez. O que eu
fazia de errado? Sempre tentei ser bom para ela, sempre dei o meu melhor
para arrancar um sorriso do rosto dela. Mas Alessandra parecia ser amarga de
natureza. E eu me odiava e me sentia culpado em pensar assim dela.
— Está te faltando algo, Alessandra? — falei de forma rude e ela deu um
passo para trás. — O meu passado e as coisas que eu faço dentro da
organização não deveriam te afetar. Por que se importa tanto?
Estava começando a concordar com Riccardo, sobre estar dando muita
liberdade a Alessandra.
Ela riu sem jeito e deu um passo em minha direção. Entranhou a mão no
meu cabelo e deu um beijo suave nos meus lábios.
— Eu amo você, Fabrizio. — Olhou-me profundamente. — Amo tanto que
chega a doer. Me preocupo com você.
Segurei o rosto dela entre minhas mãos.
— Não precisa se preocupar comigo. — Toquei os cabelos macios dela,
eram cheirosos e tinham o dom de me acalmar.
Alessandra me abraçou com firmeza.
— Promete que vai continuar me amando e me protegendo?
Toquei o rosto dela para olhar no fundo de seus lindos olhos.
— Eu prometo, meu amor.
— Promete que vai continuar me amando e me protegendo?
— Eu prometo... Meu amor.
Meu amor...
Suas palavras eram tão doces... E não se enquadrava no homem cruel que
todos temiam.
Segurei o rosto do meu marido entre as mãos enquanto o sentia ir mais
fundo dentro de mim. O pau dele batia bem lá no fundo, tocando em algo
sensível que eu nem sabia que existia.
— Promete que vai continuar me amando independentemente de qualquer
coisa? — murmurei entre os gemidos. Os olhos verde-azulados do meu
marido estavam fixos em mim, ciente de cada som que saía da minha boca.
Fabrizio me conhecia como a palma de sua mão. Ele sabia que eu estava
prestes a alcançar o orgasmo pela segunda vez naquela noite, meu marido me
saciava, idolatrava-me e me amava como ninguém jamais fez. Nossa, como
eu o amava. Como eu me arrependia de ter escondido dele o pior dos meus
segredos. Nesse momento, só me restava rezar para que ele nunca
descobrisse...
— Ah, eu prometo. Prometo ser sempre seu, Alessandra.
Fechei os olhos e deixei que as lágrimas saíssem enquanto meu corpo
tremia de tesão. O prazer corria entre minhas pernas enquanto meu marido
continuava trabalhando firme e impetuoso em mim. Fabrizio empurrou mais
fundo e eu gritei, desmanchando-me e apertando o pau dele dentro de mim.
Ele me completava e me preenchia de uma forma louca. Eu não tinha dúvidas
de que Fabrizio era minha alma gêmea e eu o amava mais que minha própria
vida.
— Acorda!
Um chute na barriga fez com que eu abrisse os olhos e me desse conta da
atual realidade que vivo. Havia um soldado olhando para mim, enquanto me
entregava o jantar. A comida era horrível, cheirava feijão e arroz queimado.
O alface tinha lesmas e terra.
Virei o rosto e descartei a comida em um canto. O soldado virou as costas
e saiu murmurando algo que fez a dor dentro de mim ficar quase
insuportável.
— Essa mulher deve estar achando que ainda faz parte da família
Guerrieri. Vai comer as sobras, como qualquer outro soldado.
— Essa daí já deveria estar morta há muito. Traiu a máfia. — Outro
soldado riu enquanto respondia. — Estão esperando o subchefe acordar do
coma para dar cabo dela.
Um frio percorreu minha espinha e um cheiro metálico ficou no ar, parecia
o cheiro da morte se aproximando.
A porta bateu forte e a escuridão voltou a dominar o ambiente frio e
solitário. Eu já não estava mais aguentando essa vida.
Fabrizio.
Peguei a faca que estava escondida comigo e fui cortando mechas grossas
do meu cabelo. Fabrizio amava meu cabelo, e eu queria exorcizar essas
lembranças. Queria exorcizá-lo do meu sistema, arrancar as lembranças que
insistiam em fazer morada no meu coração, enchendo-o de esperanças vazias.
Fabrizio nunca iria me perdoar, assim como eu jamais o perdoaria por ter
transando com a minha própria irmã.
Quando a última mecha caiu no chão, eu gritei o mais alto que pude.
Lágrimas rolavam pelo meu rosto enquanto lembranças minhas e de Fabrizio
fazendo amor, tomava minha mente.
Eu não aguentava mais, não aguentava carregar a culpa de ter estragado
minha vida por tão pouco. Naquele momento nada parecia fazer sentido e a
realidade caiu cruelmente sobre mim.
— Abram o portão — ordenei.
Estávamos em mais uma missão em nome da máfia. Nossos soldados
estavam infiltrados fazendo parte da segurança da mansão do presidente. O
crime teria que acontecer para que pudéssemos colocar outro presidente no
lugar. Alguém que compactuasse com o crime organizado e agisse em nosso
nome, outros políticos estavam envolvidos, ansiosos para ocuparem o novo
cargo. Iríamos fraudar a eleição para favorecer um candidato específico.
Na liderança de Riccardo Guerrieri, a Cosa Nostra se expandiu.
Infiltrando-se até na política e, cada vez mais, na busca pelo poder. Muitos
diziam que ele era louco, o que não era mentira, porque eu nunca na vida
conheci alguém como ele, que fazia planejamentos já sabendo que daria
certo.
O portão foi aberto e adentramos a propriedade. Matteo vinha logo atrás
exercendo sua função de prestar atenção em cada movimentação estranha. Se
percebesse que havia um traidor no meio de nós, Matteo se encarregaria de
mandá-lo para o outro lado.
Avancei quando recebi informação sobre as câmeras de segurança
desligadas. Eu estava ali para cometer um dos maiores crimes que,
certamente, entraria para a história da Itália.
A morte do presidente.
Ainda não sabia sobre o motivo de ter que eliminá-lo, apenas que uma
ordem específica foi dada: tínhamos que meter bala nele e na esposa.
— O enteado do presidente está na casa. — A voz de Riccardo saiu baixa.
Aumentei o som do ponto eletrônico para poder ouvir melhor as instruções.
— Certo.
Depois de verificar o jardim, estávamos de frente para a porta principal.
Enquanto um homem com habilidades em arrombar fechaduras trabalhava,
eu olhava em volta buscando qualquer coisa que pudesse dar errado. Os
cachorros foram sedados antes de chegarmos ao local e assim permaneceriam
até a missão acabar. Eu gostava mais dos animais do que dos seres humanos,
por isso me certifiquei de que eles ficariam bem.
Respirei profundamente quando o clique alto fez a porta abrir. Em passos
lentos e cuidadosos caminhamos para dentro da mansão. Sabendo que o
presidente estaria na biblioteca ouvindo música e bebendo uísque na
companhia de uma concubina, caminhamos até onde ele estava.
A porta da biblioteca estava entreaberta dando claramente para ver o que se
passava lá dentro. Com o cano da arma apontado para frente, empurrei a
porta e entrei. O presidente se assustou e mal teve tempo de saber o que
estava acontecendo quando acertei o primeiro tiro. Ele bateu com os joelhos
no chão caindo de barriga para baixo. Atravessei a biblioteca e disparei mais
dez tiros. Observei o corpo dele sofrendo os últimos espasmos e se
contorcendo no chão.
A prostituta começou a gritar e tentou passar pela porta. Matteo pegou-a
pelo cabelo e jogou sobre o sofá.
— Sem escândalo, piranha.
Enquanto Matteo e os outros soldados ficaram responsáveis por fazer a
limpeza. Eu liguei para o meu irmão para dizer que a missão estava
concluída.
A esposa do presidente quem passava todas as informações sobre a rotina
do marido. Para a máfia quando uma pessoa não tem mais serventia, ela tinha
que ser morta, porque os mortos não falavam e tampouco causavam
problemas.
Olhei no relógio quando o motorista estacionou em frente ao bordel.
Passava das três da manhã e havia mais de dez ligações perdidas da minha
esposa.
Eu estava louco por um banho e do conforto da minha cama. Ao invés
disso, estava entrando em um bordel, meus ouvidos estavam sensíveis e a
música alta me irritando profundamente.
Atravessei o amplo salão e entre dançarinas seminuas dançando no palco
para chegar à área VIP, onde Riccardo estava sentado bebendo uísque.
Matteo já estava sentado no sofá e rodeado de mulheres tentando agradá-
lo. Eu permaneci de pé querendo mostrar que não pretendia demorar.
— Não vou demorar, Riccardo. Vim apenas dizer que as coisas seguiram
do jeito que você disse que queria.
— Certo.
Ele passou a mão pela extensão da coxa da prostituta e puxou-a para sentar
no colo dele.
— O que mais você quer?
— Amanhã você tem outra missão.
— Não faz isso, Riccardo. Preciso descansar, mande Matteo no meu lugar.
Há outros homens preparados.
Ele avaliou minha expressão azeda, sabendo como eu odiava o lugar. Eu
tinha tudo em casa, não precisava pisar em um puteiro para me satisfazer.
Odiava o fato de ter alguém transando comigo por obrigação, fingindo
sentimento que não existia. Sempre fui um homem intenso e acreditava que o
sexo era melhor quando feito com amor.
— Você sabe que odeio esse lugar, Riccardo. Temos escritórios próprios
para esses tipos de assuntos.
— Coloque sua bunda nesse sofá, Fabrizio. — Matteo sorriu enquanto
levantava o copo de Uísque. — Relaxe!
— Não. Estou bem assim. — Suspirei exausto. Riccardo estava
aparentemente alterado sob efeito de álcool. Eu não gostava de ficar perto
quando ele bebia muito.
Próximo da parede o soldado, Mumú, olhava para mim, avaliando a
situação. Claramente me reprovando.
Riccardo levantou de onde estava e se aproximou de mim.
— O dinheiro da missão de hoje está na sua conta bancária. Amanhã você
vai procurar saber o que estão falando sobre a morte do presidente. Escolha
sua melhor roupa e vá ao velório. É uma ordem, Fabrizio.
— Certo. Você também vai estar lá?
— Não.
Voltei-me para Matteo.
— Você vai ao velório, Matteo?
— Só se for para colocar fogo no caixão e dançar em cima — respondeu,
sorrindo.
Eu concordei.
— O que o presidente te fez, Riccardo?
— Apenas negócios, Fabrizio. A morte dele não foi pessoal. — Ele bateu
no meu ombro. — Vá para casa.
Alessandra estava deitada na cama dormindo abraçada com minha foto.
Fui com cuidado até ela e abracei antes de ir para o banho. O cheiro do
perfume dela conseguia me acalmar mesmo depois de um dia difícil. Mesmo
depois de tirar a vida de algumas pessoas, o cheiro de Alessandra conseguia
me relaxar. Era algo estranho e que ninguém entenderia, caso eu contasse.
Alessandra se mexeu nos meus braços. Abriu os olhos e sorriu manhosa.
— Fiquei preocupada com você.
— Eu sei. Desculpe. — Beijei sua testa.
Ajeitou-se entre as almofadas.
— Tirou a vida de alguém?
— Você sabe que sim. — Fiquei desconfortável. — É o que eu faço.
Alessandra saiu da cama. Visivelmente aborrecida.
— Quem você matou?
— O presidente, enteado, esposa e alguns empregados.
Alessandra arregalou os olhos e se escorou na cômoda.
— Pelo amor de Deus, Fabrizio.
— Alessandra... — Apertei os olhos. — Não faça com que eu me sinta
pior, você sabe que eu não tenho escolha.
— Você tem escolha sim. Se todos vocês se recusassem a fazer algo tão
monstruoso, a máfia ia acabar.
Ergui as sobrancelhas.
— É isso que você pensa da organização?
Ela não se intimidou, pelo contrário.
— É terrível ver inocentes morrendo.
Peguei-a pelo braço e puxei-a para mim. Segurei o rosto dela e suspendi
para que eu pudesse olhar dentro de seus olhos.
— É muito perigoso a forma que você expressa sua opinião. Preste
atenção, Alessandra. Não poderia te proteger caso mais alguém ouvisse tais
palavras saindo de sua boca.
— Eu disfarço bem. — Riu com desgosto e se afastou.
Eu amava minha esposa, mas sabia que o comportamento dela teria que
mudar, porque, certamente, era algo que eu não podia tolerar.
— Então continue disfarçando, porque amanhã vamos ao velório.
— Como? — Ela avançou para cima de mim e socou meu peito. — Até
quando você vai matar pessoas inocentes e agir como se nada tivesse
acontecido? Você não sabe o que é perder alguém amado.
Fiquei em choque com a reação dela. Nunca, nunca tínhamos brigado
dessa maneira. Desde o início do casamento tinha ficado específico que na
nossa relação não poderia haver agressão. Alessandra simplesmente tinha
perdido a cabeça em algo que ela sabia que fazia parte da minha vida, assim
como fazia da dela também.
O pior de tudo foi ter me dado conta sobre minha mão estar próximo do
rosto dela. Faltou pouco para eu bater na minha esposa. Por pouco não bati na
pele macia do rosto dela.
Depois de perceber a merda que tinha feito, ela afastou-se de mim em
estado de choque. Incrédula de ter perdido a cabeça.
— Perdão, Fabrizio. Eu preciso te contar...
— Não fala nada — gritei. — Cala essa sua boca.

Abri os olhos vagarosamente. A luz do sol entrava pela janela. Novamente


senti que minha garganta estava seca e meu corpo parecia estar pesado.
Minha cabeça doía muito. Diferente das outras vezes, dessa vez, esforcei-me
para ficar acordado. Presenciei o momento que os médicos entraram no
quarto para me examinar.
Pude também reparar em meu irmão mais novo olhando para mim. O olhar
cansado demonstrava que não dormia direito, talvez estivesse
sobrecarregado. O que fiz com minha família?
Eu estava completamente perdido, não sabia quanto tempo estava no
hospital.
— Descanse, senhor Guerrieri. Quanto mais o senhor descansar, melhor
será sua recuperação.
Na verdade, eu estava cansado de não reagir e de ficar pensando na miséria
do meu casamento, afogando-me na profundidade dos meus pensamentos
obscuros. Da culpa que me assombrava.
— Estou com sede — pronunciei com dificuldades. Era como se minha
boca estivesse dormente. Eu mal consegui ouvir minha voz e fiquei em
dúvida se alguém no quarto tinha escutado.
Uma mulher se aproximou e cuidadosamente colocou o canudo na minha
boca.
— Puxe devagar. O senhor estava entubado, é normal sentir um leve
desconforto.
Era assim que eu me sentia: completamente desconfortável. Inútil. Deixei
as coisas irem longe demais quando tive a oportunidade de cortar pela raiz.
Enquanto os médicos deixavam o quarto, esforçava-me para continuar
acordado. Percebi que havia um curativo desproporcional na minha cabeça.
— Descanse, Fabrizio — murmurou Matteo.
E mais uma vez me deixei levar.
Acordei assustada com o barulho forte da trovoada. Ao que parecia, a
tempestade caía forte, o chão úmido devido às infiltrações fazia com que o
frio implacável congelasse meu corpo. Não consegui me mexer, meu corpo
tremia muito.
O lugar estava ficando cada vez mais frio e a água entrando pelo pequeno
ralo que havia no chão.
Eu não estava mais aguentando. Dobrei os joelhos a os abracei, enquanto
chorava baixinho, lembrando-me da vida boa que tive um dia. Das pessoas ao
redor elogiando minha casa e até meus vestidos. Naquele momento, eu não
tinha nada, sequer tinha onde dormir. Não tinha saneamento básico e nem
comida fresca.
Encolhi-me quando o barulho do trovão rompeu o silêncio da noite. À
medida que a chuva parecia ficar mais forte, a goteira caía sobre minha
cabeça. Como se não bastasse, o lugar de repente ficou infestado de pequenas
baratas procurando um refúgio. Eu não estava mais aguentando. Apesar de o
ambiente estar pouco iluminado, eu podia ver claramente a água subindo
cada vez mais e os bichinhos saindo do ralo.
Meu corpo começava a dar sinal de exaustão. Para onde eu olhava via
parede suja com marcas de torturas e infiltrações. Apesar de ter errado, eu
não merecia estar em um lugar como este. Não merecia ser tratada como um
traidor.
O frio ficou ainda mais insuportável. Os tremores estavam ficando mais
fortes e me causando falta de ar. As paredes foram ficando distante e meu
ouvido começou a emitir som esquisito. Mal conseguia manter os olhos
abertos e pelo que parecia, pela primeira vez, eu iria ter uma boa noite de
sono apesar de as condições estarem ainda piores.
O barulho alto ecoou o quarto e uma luz forte quase cegou minha visão.
Prendi a respiração e me encolhi em cima de um bloco de cimento, que de tão
velho, mal aguentava o meu peso. O bloco partiu e eu caí no chão, mas não
senti nada além de dormência. Meu queixo batia forte, enquanto lutava para
ficar acordada. Lutando para saber quem estava ali. Havia chegado a hora da
minha morte?
Tudo parecia ser fantasia da minha cabeça. O resumo da minha vida
passou em frações de segundos na minha cabeça.
Então a pessoa moveu-se em minha direção apontando a lanterna no meu
rosto. Quando fechei os olhos, não consegui mais abri-los. Tudo ficou
completamente escuro e silencioso.

Quando recobrei a consciência, notei que estava deitada em algo macio e


cheiroso. Cortinas esvoaçantes conforme o vento entrava pelas lindas janelas
de madeira branca. Pisquei incrédula sem saber onde eu estava. Notei que
meus dedos estavam sujos sobre o lençol branco. Minhas unhas encardidas e
quebradiças diziam que eu não fazia parte daquele lugar limpo.
Desviei minha atenção para a porta abrindo devagar. Uma pontada forte
atrás dos olhos fez com que eu fechasse os olhos e gemesse de dor. Agarrei o
lençol com força na tentativa de amenizar.
— Fique calma. — A voz e o toque suave chamou minha atenção.
Anna estava diante de mim, trazendo uma bandeja de café da manhã. O
cheirinho delicioso chamou minha atenção. O bolo sobre a bandeja, os pães e
o suco eram completamente tudo que eu estava precisando. Meu estômago
roncou em desespero, fazendo com que eu esquecesse minha educação.
Toquei o pedaço do bolo macio e o cheiro espalhou pelo ar. Além de estar
cheiroso, também parecia delicioso. Minha boca salivou e antes de levá-lo à
boca, dei-me conta do erro.
— Perdão. — Coloquei o pedaço do bolo de volta na bandeja.
Havia ficado tanto tempo trancada que acabei esquecendo minha educação.
Meus costumes e as boas maneiras. Tudo bem, afinal eu havia me tornado
uma esfarrapada.
— Tudo bem. — Ela sorriu. — Eu trouxe para você. Coma primeiro e
depois conversamos.
Ela nem precisou dizer pela segunda vez, em questão de segundos o bolo
já estava esfarelando na minha boca e o gosto delicioso da baunilha
preenchendo-a. Nunca na vida eu havia comido algo tão delicioso. Parecia
bolo dos deuses, impossível comer apenas um pedaço.
— Está gostoso?
Confirmei. Estava mais do que gostoso.
— Que bom. Foi minha mãe quem fez.
— Está delicioso. — Sorri.
Anna sentou-se na cama e me avaliou até que eu terminasse de comer.
Apesar de nunca sermos próximas, ela estava fazendo um grande favor para
mim e isso eu nunca iria me esquecer.
Coloquei a bandeja de lado quando acabei de comer, esperando que ela
dissesse algo. Anna sorriu e pegou a bandeja e a deixou em um canto do
quarto.
— Por que estou aqui? — minha voz saiu baixa e rouca.
— Você vai ficar aqui até que Fabrizio se recupere. Ele já saiu do coma e
está voltando aos poucos.
Olhei-a confusa.
— Por quê?
— Porque é ele quem deve decidir o que vai fazer com você. Enquanto
isso você fica aqui com a gente.
Olhei para minhas mãos maltratadas. Anna as tocou cuidadosamente.
— Sei que está confusa sobre o motivo de estar te ajudando. Mas,
Alessandra, enquanto Fabrizio não disser o que vai fazer a seu respeito, é
melhor que você fiquei em um lugar confortável. Aquele lugar não é para
mulheres e mesmo que você tenha errado, não acho que você mereça estar lá.
— Não quero causar mais problemas. Não sou tão inocente quanto
pensam. Envolvi Laura nas minhas loucuras e não pretendo te envolver
também.
Ela riu enquanto caminhava pelo quarto.
— Não estou aqui para julgar suas atitudes. Estou apenas me assegurando
que você fique bem pelo tempo que precisar.
— Anna...
— Olhe, estou apenas dizendo que você merece estar em um lugar
confortável, quando receber sua sentença.
Meu coração afundou no peito.
— Entendi.
Anna respirou fundo enquanto tocava meu braço e ajoelhou no chão.
— Sei como deve ser duro para você ouvir tudo isso.
Balancei a cabeça encontrando as mãos dela. Apertei carinhosamente sua
mão e dei-lhe um sorriso compreensivo. Anna estava apenas certificando que
os últimos momentos da minha vida fossem bons. Se Fabrizio estava se
recuperando rápido, então significa que meu tempo de vida estava se
esgotando.
— Agradeço, Anna.
Ela sorriu.
— Se quiser tomar banho, o banheiro fica logo ali atrás daquela porta.
Você também pode sair para tomar sol no jardim.
— Obrigada.
Ela tocou meu cabelo antes de caminhar para sair do quarto. Mas antes de
abrir a porta ela se voltou para mim.
— Se precisar de alguma coisa, pode me chamar.
— Muito obrigada, Anna. Mas não acho que seja seguro eu estar aqui.
Riccardo, Fabrizio e Matteo irão surtar quando descobrirem que eu estou
aqui.
Anna respirou fundo.
— A ideia foi da minha irmã. E eu concordei. Se está preocupada com o
Matteo, pode ficar tranquila, meu marido anda muito ocupado para reparar
que você está aqui.
— Não é o Matteo quem me preocupa. Eu tenho um alvo nas costas, Anna.
— Fique tranquila, Alessandra. Está tudo sob controle.
Caí na cama depois que Anna saiu do quarto. Eu não me importava sobre o
que iria me acontecer quando descobrissem que saí da sala de torturas, meu
medo era que elas pagassem por terem me ajudado a sair de lá.
Depois que mandei espalhar câmeras de seguranças pela casa e mandar o
detetive vasculhar o passado de Alessandra, havia finalmente me dado conta
do erro que cometi ao ter me casado com ela.
Olhei incrédulo e enojado para as cartelas de anticoncepcional na minha
mão. Eu nunca fui de mexer nas coisas dela, mas naquele momento percebi o
quão fui burro e ingênuo.
Peguei as caixas escondidas sob o fundo falso que ela tinha feito no closet
e joguei sobre a cama. Tinha até anticoncepcional injetável. Exames
informando que ela estava perfeitamente saudável para gerar mais filhos.
Joguei sobre a cama todas as provas que havia contra ela e, talvez, para
anular meu casamento. Minha respiração estava irregular e o ódio cegando
minha visão.
Tudo ficou completamente escuro quando a porta do meu quarto se abriu e
Alessandra entrou sorrindo. Ela estava feliz ao descobrir que sua única irmã
estava viva. Naquele momento, ela vivia somente para cuidar de Catarina,
tanto que havia se esquecido de mim, do nosso casamento e do quanto
significava para mim a importância de ter um filho.
Não. Alessandra nunca havia se esquecido de como era importante para
mim ser pai. A prova disso estava ali diante dos meus olhos, claro que nunca
iria acontecer se ela estivesse se cuidando.
No momento que em viu as coisas jogadas sobre a cama, Alessandra parou
de sorrir e arrisco a dizer que até parou de respirar. O rosto ficou
completamente pálido, parecendo que o sangue havia sumido do corpo.
— Fabrizio. — Alessandra correu em minha direção e ajoelhou-se diante
de mim. — Perdoe-me.
Vê-la implorando para se explicar e implorando por perdão, fez com que o
filme do nosso casamento passasse em câmera lenta. Onde eu errei? Por que
demorei tanto tempo para desconfiar que havia algo de errado no
comportamento dela?
Engoli seco e olhei para ela, ali com os joelhos dobrados falando coisas
que eu não consegui entender, porque meus pensamentos e meu corpo
estavam entorpecidos de raiva.
— Levante-se — rosnei.
Alessandra arregalou os olhos e, rapidamente, ficou de pé. Eu queria
perguntar muitas coisas, mas também não queria ouvir as respostas.
— Por quê? — foi tudo que consegui dizer sem que minha voz vacilasse.
Ela me olhou com os olhos marejados e tentou tocar meu rosto, mas a
impedi, entortando o pulso dela para trás e fazendo-a gemer de dor.
— Eu já sei tudo, sua puta. Mesmo assim, quero ouvir o que você tem a
dizer — exigi mantendo meu olhar firme nela. Olhando no fundo de seus
olhos. — Me dê uma razão para não jogar você pela janela.
Assustada, Alessandra começou a soluçar e gaguejar. Atropelando as
palavras.
— Eu ia te contar, Fabrizio.
— Ia? — gritei próximo do rosto dela. — Você é uma piranha. Sua puta,
vagabunda!
— Não sou — ela gritou de volta, chorando. — Só não estava pronta para
te dar esse filho ainda.
— Por que diabos não conversou comigo? — Minha voz estava tão
alterada que eu podia sentir minha garganta arranhar.
— Você não ia entender. — Ela desabou no chão. — Nenhum homem iria
entender minha situação.
— Eu certamente iria. — Olhei-a com desgosto. — Apesar de suas
safadezas.
— Não. — Ela riu balançando a cabeça. — Não ia, meu amor.
— Confiei em você, Alessandra. Fui seu amigo antes de ser o seu marido.
Te dei amor, meu sobrenome e um lar. E o que você me deu em troca?
Mentiras.
— Eu amo você...
— Mentira — gritei, enquanto a tirava do chão pelos cabelos. — Você é
uma mentirosa.
Alessandra começou a gritar enquanto chorava. Tinha vontade de arrancar
cada fio de cabelo dela com minhas próprias mãos, até que nenhum único fio
restasse em sua cabeça.
Segurei-a pelo pescoço e respirei fundo para me acalmar. No estado em
que estava, eu podia matá-la.
— Eu não tive escolha, Fabrizio.
Virei o rosto quando ela tentou me tocar. E agindo fora da razão joguei-a
no sofá. Meu corpo estava queimando de ódio. Meus punhos estavam tão
cerrados que a unha mesmo estando pequena, machucava a palma da mão.
— Você me traiu da pior forma — vomitei as palavras com desprezo.
— O que você teria feito se estivesse no meu lugar? Uma parte de mim
morreu, Fabrizio.
— Não foi culpa minha. — Mordi os lábios com ódio. — Não tenho culpa
se você já estava estragada quando te conheci.
Alessandra abaixou a cabeça. O silêncio reinou por um tempo antes de ela
abrir novamente a boca.
— Você é igual a todos. Teria me julgado se soubessem da minha história.
— Você não tinha como saber.
— E você pode me culpar? Cresci ouvindo que as mulheres não devem se
entregar antes do casamento. Cresci ouvindo que nós mulheres devemos
dar...
— E mesmo assim você se entregou.
— Eu estava apaixonada, caramba! Era criança e achava que eu podia
viver o amor dos contos de fadas. No entanto, minha história não passou de
uma tragédia horrível. Engravidei e fui cruelmente obrigada a abortar meu
filho.
Alessandra se encolheu no canto e chorou tanto quanto podia. Eu tentava
ter um pouco de compaixão, sendo que meu orgulho não me permitia.
— Você não entende, Fabrizio. Eu fui amarrada em uma mesa de tortura
com as pernas abertas e um médico arrancou o bebê de dentro de mim.
Respirei fundo e caminhei até a janela. A brisa fresca passou pelo meu
rosto enquanto observava a cidade adormecida. Por que minha vida era tão
desgraçada?
— Eu tive febre, Fabrizio. Perdi muito sangue, dias depois, tive que ser
internada às pressas porque ainda existiam pequenos pedaços do meu bebê
dentro de mim. Você sabe o que é isso?
— Não me venha com essa. — Voltei-me para ela. — Todo mundo tem
seus próprios demônios. Ou você pensa que minha vida foi sempre fácil? Eu
cresci ouvindo meu pai rir de mim, fazer piadas, porque eu gaguejava toda
vez que ele vinha falar comigo. Fazia por maldade, sabendo que eu tinha
pavor dele. Ele espancava minha mãe quando ela tentava me defender.
— Não tem comparação.
— Não? — Ergui a sobrancelha completamente enfurecido. — Você é
como a maioria das pessoas. Sua cruz não é mais pesada do que a minha. É
fácil você dizer que tudo que passei não tem comparação com o que você
passou, quando você não tem ideia do meu sofrimento. Você teve escolhas e
escolheu ir pelo caminho contrário à máfia, acabou pagando um preço alto.
O silêncio tomou o ambiente. Fiquei perdido nos pensamentos, refletindo
sobre minhas atitudes. Talvez eu tivesse forçado a situação pedindo que ela
tivesse um filho meu. Por outro lado, não entendia o porquê de não ter
confiado em mim, a ponto de confessar os seus segredos.
Fechei a janela e as cortinas. Quando estava me preparando para sair do
quarto, Alessandra tentou alcançar minha mão.
— Eu sinto muito, Fabrizio. Me perdoe, por favor. Vamos conversar.
Vamos resolver essa situação. Eu te amo.
Puxei a mão, como se o toque dela estivesse me queimando. Eu ainda a
amava muito, porém, a mágoa era grande demais. A decepção era grande
demais. A vergonha era grande demais.
Saí do quarto o mais rápido que consegui, tropeçando nas minhas próprias
pernas.
Estávamos molhando as plantas quando a chuva começou a cair forte.
Marta, mãe de Anna, saiu de trás dos girassóis sorrindo. Quando eu estava
triste, ela me fazia ir até o jardim molhar as plantas e assim, conversava
comigo por horas fazendo com que eu ficasse um pouco mais tranquila.
Marta tinha os próprios problemas, mesmo assim conseguia ser capaz de
sorrir para me tranquilizar, e suas filhas eram idênticas a ela. Nenhuma delas
me julgava pelo tempo que passei sumida alimentando uma morte que nunca
existiu. No fundo, elas sabiam que eu tinha morrido de fato, mesmo estando
viva suficiente.
Eu nunca consegui me reerguer depois do aborto e acabei descontando no
meu marido. Fabrizio não teve culpa por eu estar cegamente vivendo minha
amargura. Ele queria uma família comigo, mesmo que fosse para satisfazer o
desejo da máfia, ele queria que eu fosse mãe de um filho dele. No entanto, eu
não pude cuidar desse bebê, não tinha estrutura emocional. Meu filho estava
crescendo, e para ele eu não existia.
Tudo que eu sabia sobre ele era o que Laura informava através de fotos e
vídeos, porém, nunca foi permitido que eu conversasse com ele.
— Acho melhor a gente entrar. Parece que a natureza se encarregou de
fazer nosso trabalho.
Ela segurou minha mão e juntas, corremos para dentro. Pegamos nossas
toalhas e nos enxugamos. Enquanto Marta secava os cabelos, ela olhava
sorridente para mim.
— Parece que você tem uma pergunta. — Tocou minha bochecha. —
Estou aqui para respondê-la.
Olhei para o chão, envergonhada, sem saber se deveria falar sobre a
depressão dela. Um assunto delicado como este não é para ser abordado de
forma banal.
— Como você consegue?
— Meus filhos — ela falou séria. — Eles me ajudaram, sem eles eu não
sou nada, Alessandra.
Ouvir isso foi humilhante. Independentemente dos problemas, uma mãe
nunca deve abandonar o filho. Eu nunca estive pronta para ser mãe
novamente, sabendo que não seria capaz de cuidar. Alessandro esteve
melhor longe de mim, era uma criança alegre e inteligente apesar de ter pouca
idade. Ter conhecimento que o Fabrizio havia dado o nome ao nosso filho em
minha homenagem, encheu-me de alegria e esperança.
Marta tocou meu rosto.
— Você e o Fabrizio precisam conversar. Seja sincera com ele desta vez.
— É o que eu mais quero. — Sorri triste. — Já sabem quando ele sairá do
hospital?
— Em uma semana. Agora tome um banho e fique linda para o jantar mais
tarde.
Concordei.
— Tem notícias de Laura? Sabe quando virá nos visitar?
Marta forçou um sorriso.
— Faz tempo que não nos falamos. Da última vez, ela disse que não tinha
pretensão de vir.
Segurei a mão da mulher que em tão pouco tempo, tornou-se uma das
pessoas mais especiais da minha vida.
— Você sente muita falta dela, não é?
— Muita, mas entendo que ela tem uma nova família agora.
— Você apoia o casamento de Laura e Riccardo?
Marta arregalou os olhos e se afastou como se eu estivesse pegando fogo.
— Virgem santíssima... Que pergunta! — Ela se engasgou. — E quem sou
eu para apoiar alguma coisa? Ele é o chefe, marido da minha filha e pai dos
meus netos. O que mais você quer que eu diga?
Eu ri. Ela piscou e seguiu para pegar os ingredientes para fazer bolo.
Não sei o que teria acontecido com minha vida sem Marta e Anna, ao meu
lado. Era difícil ser inserida no mundo depois de passar anos reclusa,
cuidando da saúde mental. Ao contrário do que Fabrizio pensava, nunca tive
outro homem depois dele. Eu tinha plena consciência de que não haveria
justificativa para minhas atitudes, tampouco me adiantaria ficar remoendo
minha culpa. O que eu queria e precisava fazer, era mostrar para Fabrizio
como mudei e estava disposta a lutar por nós.

Olhei incerta meu reflexo no espelho considerando usar o vestido que


Anna escolheu para mim. Era lindo, mas também atraía a atenção que eu não
queria para mim.
Respirei fundo e tirei a foto do meu filho recém-nascido, de dentro da
bolsa. No dia do seu nascimento eu "morri" para o mundo. Embora naquele
tempo eu achasse certo me afastar por ser a melhor opção, isso não se aplica
nos dias de hoje.
Tinha vontade de lutar para conquistar a confiança do meu filho e restaurar
meu casamento, mesmo sabendo que seria impossível ganhar o perdão de
ambos um dia.
Guardei a foto e me olhei pela última vez no espelho antes de ir para a
recepção. Conforme eu ia caminhando, sentia meu estômago doer de
nervosismo e de medo dos julgamentos.
Parei por alguns instantes tentando recuperar o fôlego. Afinal, eu podia
ouvir claramente as vozes dos convidados... causando-me medo.
Fazia cinco anos que eu não participava de nenhum evento, estava
completamente perdida.
— Você ainda está aí? — Marta veio ao meu socorro e me amparou. — O
jantar vai ser servido. O que aconteceu?
— Não sei se consigo lidar com isso.
— Você consegue. Se continuar reclusa com medo de julgamentos, então
Fabrizio irá destruir você quando sair do hospital.
Marta tinha toda razão. Por mais que estivesse completamente
envergonhada, não podia simplesmente me esconder para sempre. Muito
menos aguardar julgamentos em silêncio. Ninguém sabia da minha história,
portanto, eu não podia permitir que me apedrejasse.
Ajeitei o vestido e desci as escadas. Atravessei o corredor na companhia de
Marta, que também estava linda usando um vestido vermelho.
A sala de jantar estava repleta de pessoas.
— Boa noite. — Anna sorriu e se levantou vindo ao meu encontro. Pegou-
me pela mão e me guiou para em direção à cadeira vazia que estava do seu
lado, parecia ter sido mesmo reservada para mim. — Essa é Alessandra
Guerrieri. Ela é minha cunhada.
— Sua cunhada? — um homem de meia-idade enrugou a testa.
Anna abriu mais um sorriso.
— Na verdade... ela é cunhada do meu marido. Ela é...
— Anna. — Matteo chamou sua atenção.
A mandíbula de Matteo estava rígida, nada satisfeito com a minha
aparição. Ele olhou para Anna como se estivesse pedindo para que ela não
continuasse com a conversa. Eu o entendia, pois se tratava de um assunto
perigoso e muito delicado.
Anna imediatamente levantou uma taça de vinho e sorriu.
— Vamos fazer um brinde — mudou o foco.
Todos levantaram suas taças. Depois do brinde veio o jantar, depois do
jantar mais conversas e brindes. Acompanhei de longe as conversas e quando
finalmente surgiu uma deixa, saí de fininho para o banheiro.
Mal tive tempo de fechar a porta quando ela se abriu novamente,
assustando-me. Matteo tinha me seguido.
Ele se aproximou e olhou bem dentro dos meus olhos através do espelho.
— Qual é a porra do seu problema, Alessandra?
— Nenhum problema. Fui convidada para estar no jantar.
Ele riu de forma debochada.
— Não me lembro de tê-la convidado. Julgando que sou autoridade
máxima, minha decisão é a que conta aqui. Se deixei você ficar na minha
casa, foi em respeito a minha mulher.
— Você está certo. Eu deveria ter recusado o convite, mas decidi que não
vou mais ficar me escondendo. Errei sim, e estou aqui humildemente
assumindo meus erros e disposta assumir as consequências.
Ele tirou um cigarro do bolso.
— Guarde essas palavras bonitas para o Fabrizio, ele quem deve ouvir.
Enquanto isso, vá para o seu quarto e fique trancada, até Fabrizio vir
pessoalmente conversar com você. Não quero problemas, Alessandra.
— Certo. — Ajeitei meu cabelo e me preparei para sair do banheiro,
embargando o choro.
— Obrigada por me deixar ficar, Matteo. Você acha que eu posso
conseguir reconquistar o seu irmão, algum dia?
Ele respirou profundamente.
— Eu acho. Se ele ainda te amar, acho que sim. De nós três, Fabrizio é o
menos complicado.
Meu coração acelerou e mais um fio de esperança brotou no meu coração.
— Meu irmão sempre foi determinado.
— Eu nunca estive com outro homem depois que fui embora daqui.
— Não é para mim que você deve dizer essas coisas.
— Você não está mais com raiva de mim?
— Não quero me meter na relação de vocês. Fabrizio é crescido e vai saber
como agir sozinho. E não, não tenho mais raiva.
Fiquei ali pensativa. O tempo e as adversidades contribuíam para o
amadurecimento, e Matteo é a prova disso. Eu sempre soube que apesar de
tudo que passou, tinha um coração de ouro.
— Obrigada.
Ele sorriu de lado e saiu, fechando a porta atrás dele.
Minha cabeça continuava doendo muito. Eu sabia que a recuperação ia ser
lenta, e já estava preparado para me levantar e seguir em frente. Matteo
estava lidando com tudo sozinho e isso não era justo com ele. Ao contrário de
mim, ele tinha um casamento de verdade apesar de ninguém ter dado nada
por eles no início. Achamos que o casamento de Matteo e Anna seria apenas
de fachada como muitos, mas meu irmão conseguiu reverter a situação,
conseguiu mudar. Mesmo que não amasse profundamente a esposa, ele
estava no caminho certo para alcançar o êxito.
Ninguém gostava de se casar por obrigação, porém, os casamentos dentro
da máfia eram uma forma de garantir laços e benefícios entre as famílias.
Olhei no relógio e continuei sentado na cadeira de rodas. Demorei para
aceitar que, por enquanto, precisaria usar uma. Embora o tiro que tentei
acertar na própria cabeça não tenha sido letal, eu sofri uma concussão
cerebral quando bati com a cabeça no chão, o que afetou minha coordenação
motora.
Girei a cadeira em direção à porta, quando Matteo entrou acompanhado
dos médicos. Finalmente eu ia sair do hospital depois de ficar três meses
internado. Nunca estive tão ansioso em toda minha vida.
— Pronto para ir? — Matteo sorriu animado.
— Estou.
Meu irmão foi empurrando, desajeitado, a cadeira de rodas e trombando
em tudo que entrava na nossa frente. Naquele momento só pensei em chegar
vivo no estacionamento.
Um soldado abriu a porta do carro e veio me ajudar.
— A gente tem que pegar ele no colo. — Matteo entrou na frente — Eu
pego de um lado e você pega do outro.
Uh!
— Não. — Fiz gestos com a mão. — Eu assumo daqui.
Levantei-me com cuidado, com medo de sentir dormência nas pernas e não
conseguir sustentar o peso do meu corpo. O médico garantiu que com muita
dedicação na fisioterapia, eu iria conseguir ter minha vida de volta, e eu
estava disposto.
Respirei fundo quando finalmente entrei em casa, meus filhos vieram
correndo e se jogaram no meu colo. Por estar morto por dentro em todos
esses anos, nunca parei para refletir sobre minha ausência na vida deles. Eles
sentiam amor incondicional por Laura, foi ela quem esteve ao lado deles em
todos esses anos. Ambos sofreram muito quando decidi afastá-la da vida
deles.
— Senti sua falta, papai. — Fabrícia minha filha mais velha, colocou a
cabecinha no meu ombro.
— Eu também senti sua falta, querida.
Marco Alessandro não falou nada, apenas continuou abraçado a mim.
Sabia que um dia ele teria que se abrir comigo e talvez, perguntar muitas
coisas. No entanto, naquele momento, ele estava apenas observando todas as
informações ao redor. Era muito pequeno ainda.
Sempre quis que meus filhos tivessem uma vida diferente da que eu tive.
Sei que Alessandra teve razão ao dizer que não estava preparada para ser
mãe, talvez porque soubesse que, no fundo, eu também não estava preparado
para ser pai. Fiquei sem chão e completamente atordoado quando Catarina
disse que estava grávida. Meses depois, descobri que Alessandra também ia
ser mãe... fruto de um descontrole.
Eu não tive tempo de assimilar as informações, porque assim que minha
filha nasceu e Catarina foi brutalmente assassinada, Alessandra jogou a
bomba dizendo que também estava grávida.
Dois filhos em tão pouco tempo.
Fechei os olhos quando senti a mãozinha quente do meu filho enxugar
minhas lágrimas, lágrimas que eu nem sabia que existiam.
Matteo entrou na sala e deixou minhas malas no chão, quebrando o
momento entre meus filhos e eu.
— Não quer ficar na minha casa? — Ele insistiu. — Podemos cuidar
melhor de você. Anna vai cuidar das crianças.
Chamei a babá para ficar com as crianças enquanto eu conversava com
meu irmão. Ele havia dito que estava abrigando Alessandra em sua casa
enquanto eu não decido o destino dela. Esse é o motivo pelo qual não posso
ficar na casa dele, não quero que ela me veja assim.
— Vou ficar em casa com os meus filhos.
Matteo respirou fundo.
— Fabrizio, você sabe que vai ter que decidir a vida de Alessandra, em
algum momento. Pense no seu filho. Não carregue nos ombros o peso da
morte da mãe dele.
Eu ri sem vontade. Uma piada a essa hora do dia?
— Que mãe? — Ergui a sobrancelha — Ela morreu no dia do nascimento
dele. Quatro anos atrás.
— Ela tem direito de ver o filho.
— Não tem! — gritei — E está fora de cogitação.
— Fabrizio...
— Alessandra forjou a própria morte.
Matteo segurou meu rosto.
— Talvez se você não tivesse se comportado como um filho da puta e ter
feito a vida dela um inferno, ela não teria precisado chegar ao extremo.
Eu ri.
— E você? — Franzi a testa. — Ficou quatro anos sem consumar o
casamento. E agora acha que pode me dar lição de moral?
Tinha consciência que parte de tudo que aconteceu foi por minha culpa. Eu
havia forçado a barra enquanto ela dizia não estar pronta para engravidar.
Alessandra me deu todas as pistas de que não estava bem psicologicamente,
eu apenas não quis enxergar a veracidade dos fatos. Tudo isso explicava as
constantes oscilações de humor e as contradições. Dizer que não podia ter
filhos foi uma saída inteligente para que eu a deixasse em paz.
Por minha culpa meus filhos viveram na merda todos esses anos. Depois
de a morte de Alessandra eu não consegui me concentrar em nada, que não
fosse chorar sua morte pelos cantos. Eu sempre me culpei. Mas ela estava
bem viva enquanto eu afundava no meu egoísmo.
— Certo — Matteo levantou a mão. — Amanhã começa sua fisioterapia.
— Com quem? — relaxei o corpo.
— Susanna Coppolla. Ela faz parte da Camorra.
— Mulher? — Ergui os olhos para encarar meu irmão. — Camorra?
Matteo deu de ombros.
— Eles vieram pessoalmente oferecer. Disseram que ela é muito boa no
que faz. Foi responsável pela recuperação de muitos homens que entraram no
combate em nome da Camorra.
— Em troca de quê?
— Armas. Mas eu disse que nesse momento, sua recuperação é o que
importa para nós. O acordo será válido após sua recuperação. Fora isso, não
temos nada.
Assenti. Amanhã será um longo dia.
Minha mala estava sobre a cama, tudo estava pronto para minha ida à
Sicília, prestar serviços a máfia de lá. Com a missão de auxiliar na
recuperação de um dos chefes.
Fui pega de surpresa quando soube que ficaria responsável por essa
missão. Na verdade, nunca pensei que faria algo assim, não tinha certeza se
vou ser capaz de lidar com uma grande responsabilidade sobre os ombros.
Peguei meu terço, meu urso e a mala. Fechei a porta atrás de mim e segui
em frente.
Na sala, estavam todos esperando para se despedir de mim. Papai deu um
sorriso orgulhoso e triste ao mesmo tempo, enquanto me abraçava forte. Do
lado dele estava meu noivo Mattia, o capo da Camorra.
Mattia era um homem problemático. Foi mandado para o reformatório aos
dez anos de idade, por sequestros e mortes. Ele gostava que as coisas fossem
do seu jeito..
Foi Mattia quem teve a ideia de oferecer meus serviços aos Sicilianos. A
verdade era que eu estava indo à Sicília fechar negócios entre eles: eu
ajudava na recuperação do chefe e, em troca, eles ficaram devendo favores.
Mattia certamente exigiria armas e união para invadir o cartel do Golfo. Meu
noivo queria mais e nunca ficava satisfeito quando se tratava de dinheiro e
poder.
Amaldiçoo o dia que ele pôs os olhos em cima de mim. Eu não tinha nada
em comum com ele, pelo contrário.
Enterrei o rosto no peito do meu pai e fechei os olhos.
— Chega de drama. — Mattia me puxou e entrelaçou a mão na minha
cintura.
Ele era meu noivo e o certo seria que me apaixonasse, mas não o amo e
nem sinto nada por além de desprezo. Sou uma mulher sonhadora e que
almeja mais do que ficar casada com o capo da Camorra.
— Está ficando tarde.
Ele riu. Os dentes brancos e bem alinhados. A boca dele bateu contra a
minha, iniciando um beijo feroz, como se estivesse marcando território, de
fato estava mesmo.
— Um dos meus soldados vai te levar. — Tocou minha bochecha. —
Assim que você retornar, iremos marcar a data do casamento.
O casamento!
Respirei fundo, mandando embora a curiosidade de saber como era estar,
por vontade própria, nos braços de um homem. Se eu pudesse escolher, com
toda certeza do mundo, Mattia não seria esse homem. Se eu pudesse escolher,
jamais, entregaria minha virgindade a ele.
Talvez, se fizesse um bom trabalho na Cosa Nostra, quem sabe assim eles
permitiriam que ficasse para sempre com eles.

Enquanto o carro se movia pela estrada, aproveitei para pensar na vida que
eu estava disposta a deixar para trás. Deixei para trás um noivo rude que só
levava em consideração as vontades dele, e que me tratava feito lixo, como se
eu fosse propriedade dele e que estivesse ali apenas para servi-lo e nada mais.
— Chegamos, senhorita Coppolla.
Um dos soldados me alertou.
Olhei aflita em volta. Soldados da Cosa Nostra vieram nos receber e
revistar nossos pertences. Estávamos em frente à mansão de um dos chefes.
Eu poderia dizer com propriedade que era a casa mais bonita e majestosa de
Sicília.
— O chefe virá recebê-la — falou um soldado enquanto me entregava o
urso.
Por mais que fôssemos aliados, eles reviraram tudo dentro do carro e da
minha mala. Fiquei envergonhada de ver minhas calcinhas e sutiãs sendo
expostos.
— Obrigada.
Saí do carro para esticar as pernas e sentir o ar fresco de Sicília. Ventava
um pouco e a brisa fresquinha batia contra meu rosto e cabelo.
A porta da mansão foi aberta e um homem alto e elegante esgueirou-se.
Mesmo sem conhecê-lo, pude ver que estava de frente com um dos chefes da
Cosa Nostra.
O homem passou pelo grande portão de ferro e parou diante de mim.
— Boa tarde, senhorita Coppolla. — Ele estendeu a mão. — Sou Matteo
Guerrieri.
Peguei a mão dele e sorri.
— Boa tarde.
— Gostaria de entrar para comer e beber alguma coisa? Sei que a viagem
foi longa.
Eu sorri animada, eu sei que tinha que cumprir minha obrigação, mas
minha barriga roncava de fome e minha boca estava seca de sede.
— Sim, obrigada.
Ele me levou em direção à casa. Fiquei ainda mais deslumbrada com a
decoração da casa. A mesa da sala estava arrumada com o lanche da tarde.
Matteo Guerrieri me conduziu à mesa.
— Gostaria que conhecesse minha esposa, só que ela não está em casa no
momento. Mas não faltará oportunidade.
— Sim.
Enchi o copo com suco de laranja e dei uma mordida na torrada. Não
pretendia abusar da hospitalidade, por isso enquanto lanchava aproveitei para
saber mais sobre meu paciente.
— Fale um pouquinho sobre o seu irmão. Como se acidentou?
O semblante do senhor Guerrieri passou de descontraído para tenso.
— Ele tentou tirar a própria vida.
Pisquei absorta colocando o copo sobre a mesa. Se eu estivesse lidando
com alguém com distúrbio mental, eu teria que ter um psicólogo me
acompanhando.
— Como?
— Não se assuste. Ele passou por muita coisa, bebeu demais e acabou
tentando tirar a própria vida. Você só tem que se procurar com a recuperação
dele. Vou te passar o relatório médico.
— Tudo bem.
— Deseja descansar antes de irmos visitá-lo?
— Não, não. Obrigada. Preciso conhecer meu paciente. Quanto mais
rápido começar o tratamento, mais rápido será a recuperação.
Ele concordou e caminhamos para o carro. Pelo visto, teria uma missão
pesada sobre os ombros, e eu ia me empenhar ao máximo para fazer com que
ele se recuperasse por completo.
O senhor Guerrieri ficou em silêncio na viagem, já eu aproveitava para
desfrutar da paisagem. Logo entramos na propriedade do outro Guerrieri. A
casa também era grande e diferente da outra, essa parecia estar abandonada,
julgando pelas folhas secas caídas na grama e o lindo chafariz desligado.
— Chegamos. — Matteo saiu do carro e abriu a porta para que eu fizesse o
mesmo. Uma senhora muito simpática saiu para nos receber.
Começava a anoitecer. Entramos na propriedade e atravessamos um longo
corredor que dava acesso à biblioteca, onde o outro Guerrieri estava.
Quando finalmente chegamos até a porta da biblioteca, a senhora se virou
na nossa direção.
— O senhor Fabrizio está aí dentro. Hoje ele não está de bom humor.
Matteo Guerrieri assentiu.
— Deixe com a gente.
A mulher robusta pediu licença e saiu. Respirei fundo, quando Matteo
bateu na porta e a abriu, entrando em seguida sem esperar resposta.
O ambiente estava pouco iluminado pela luz do abajur sobre a mesa. O
outro Guerrieri estava de costas e sentado na cadeira de rodas. Ele estava na
janela esse tempo todo observando quem entrava em sua casa.
— Fabrizio — Matteo o chamou. — Trouxe a pessoa que te falei.
Ele não respondeu. Não parecia estar satisfeito de saber que eu estava ali
para cuidar dele.
Pude reparar nos ombros largos e nos cabelos que pareciam ser macios e
cheirosos. Estava mais do que ansiosa para conhecê-lo pessoalmente.
— Susanna Coppolla. — Dei um passo em sua direção para me apresentar,
esperando que minha voz fosse suficiente para fazê-lo olhar para trás.
Estava quase desistindo quando ele se virou. Seu olhar duro me observou
atentamente, tirando-me o ar e a possibilidade de raciocinar. Meu coração
acelerou violentamente e nada fez com que eu me distraísse dele.
Fiquei hipnotizada pela beleza bruta dele.
Meus pés pareciam estar congelados no chão. O olhar firme de Fabrizio
Guerrieri continuava firme em mim, avaliando-me como se eu estivesse ali
para zombar dele.
Matteo Guerrieri limpou a garganta, fazendo com que eu retomasse a
consciência e, bruscamente, dei um passo para trás.
— Susanna. — A voz rouca de Fabrizio enviou arrepios através do meu
corpo. Meu nome era bonito e sexy saindo dos lábios dele.
— Sim, senhor.
— Então você ficará responsável por me fazer levantar dessa cadeira?
Acha mesmo que pode lidar com isso?
Pude notar ironia na voz dele. Parecia estar totalmente desmotivado com a
vida, em especial com a possibilidade de voltar a andar como antes.
Matteo Guerrieri ergueu as sobrancelhas esperando que minha resposta
fosse convincente. O primeiro passo era elevar a autoestima de seu irmão e
fazê-lo entender que sua vida não estava perdida. Além de tudo, era um
homem muito bonito. De início seria uma tarefa difícil fazê-lo entender meu
ponto de vista.
— Vou me esforçar ao máximo, senhor. — Podemos começar hoje mesmo
se assim quiser. Podemos começar com exercícios leves.
Ele me avaliou antes de olhar para o irmão em total desaprovação.
— Faz um esforço, Fabrizio. Ela está aqui para cuidar de você.
Ele deu as costas e, novamente, voltou a olhar pela enorme janela como se
não houvesse ninguém com ele.
— Saia daqui, Matteo. Não quero olhar para sua cara.
Matteo Guerrieri assentiu endireitando os ombros.
— Vou deixá-los sozinhos. — Antes de sair pela porta, Matteo tocou meu
ombro e sussurrou: — Um soldado estará à sua disposição. Não force muito a
barra com ele.
— Fique tranquilo.
Quando o outro Guerrieri saiu da biblioteca, senti o ar pesado. Minha única
saída foi ir até um das estantes e escolher um dos tantos livros que
enfeitavam o lugar. No livro estava justamente ensinando como levantar a
autoestima. Um dos primeiros passos era tentar trazer um pouco de luz para o
ambiente escuro. As cortinas eram escuras também e Fabrizio ficava sombrio
através da sombra delas.
— Quer que eu lhe traga algo?
— Tipo o quê? — Ele olhou por cima do ombro, irônico. — O que eu
quero ninguém pode me dar.
— Se estiver com fome...
Fabrizio Guerrieri virou-se bruscamente para me observar. Ele parecia
estar muito aborrecido.
— Escute aqui... eu não preciso de uma babá.
— Me desculpe. Não estou aqui para ser uma.
— Faça o seu trabalho. Não vou dificultar sua vida. Jamais iria permitir
que você ficasse presa a um homem como eu.
— Não tenho pressa. Vou demorar o tempo que precisar até que você
esteja totalmente recuperado.
— Se você diz...
Assenti e fui até minha bolsa pegar o massageador muscular para ativar os
músculos e estimular o fluxo sanguíneo dele.
Fabrizio fechou os olhos, enquanto eu deslizava o aparelho por toda
extensão de suas pernas torneadas. Depois fiz o mesmo nas costas e ombros,
tentando aliviar a tensão do corpo dele. Por ser um homem ativo,
naturalmente Fabrizio estava muito inquieto.
— Vou dar trabalho.
— Eu certamente já tive paciente em situações piores.
— Tipo como?
— Não tinha movimento nenhum. Seu caso é diferente, o senhor precisa
ser confiante em dar um passo de cada vez.
Ele olhou ligeiramente para o lado, dando atenção para o que eu estava
falando.
— Não precisa me iludir para tentar fazer o seu trabalho. Já disse que vou
cooperar.
— Prometo que só saio daqui depois que o senhor estiver recuperado por
completo.
— Não faça promessas que você talvez não possa cumprir.
Um silêncio incômodo tomou conta do ambiente. Aproveitei o momento
para massagear todo o seu corpo para aliviar a tensão.
— Então... você tem um noivo?
A pergunta fora do contexto me pegou desprevenida. Logicamente, ele
saberia tudo sobre mim, decerto mandou que me investigassem. E apesar de
não ter nada para esconder, senti-me exposta.
— Sim.
— Tem família? Não tive tempo de vasculhar sua vida.
Eu ri enquanto o respondia.
— Sim. Tenho família.
— Estranho ninguém ter vindo junto com você.
Porque ninguém se importava. Diante do que a Cosa Nostra poderia
oferecer à Camorra, nada mais importava para eles. Meu pai já tinha lá seus
sessenta anos, cardíaco e não podia se esforçar tanto. Meus irmãos abriram
mão de mim quando Mattia me tomou como noiva, para eles eu estava
praticamente encaminhada, já que era meu noivo quem tinha obrigações
comigo.
Senti a mão gelada de Fabrizio Guerrieri tocar meu queixo, erguendo-o
para que eu o olhasse nos olhos.
— O que está escondendo?
— É meu noivo quem responde por mim. E ele me mandou vir nessa
missão.
Fabrizio ergueu os olhos enquanto me avaliava com cautela, olhando cada
detalhe do meu rosto.
— Chegar ao ponto de mandar uma mulher como você sozinha para cá, ele
provavelmente deve estar muito desesperado. Me pergunto o que ele vai
querer em troca.
O sotaque de Fabrizio é lento, a voz é bruta, mas cheia de confiança. Meu
corpo inteiro se arrepiou só de ouvir.
— Então... — limpei a garganta, e a atenção dele novamente se voltou para
mim. — Vai me deixar ajudar você?
Eu tinha que ajudá-lo, nem que fosse a última coisa que eu fizesse nessa
vida.
— Eu já te respondi isso.
— Obrigada.
Ele afastou os ombros.
— Chega por hoje. A massagem foi suficiente.
— Foi suficiente para desestressar?
Ele ergueu os lindos olhos, uma mistura de verde e azul pareciam brigar
para ver qual se destacava mais.
— É tão óbvio que estou estressado assim?
Assenti, muito cautelosa. Fabrizio se afasta o suficiente para olhar dentro
dos meus olhos. Sua expressão é mortalmente séria. Os olhos dele me
queimam enquanto me observa.
— Escolha um dos quartos de hóspedes para dormir.
— Se o senhor me permitir, prefiro ficar na casa de seu irmão.
— É? Por quê?
— O senhor é viúvo. Não pega bem eu ficar sozinha aqui com você.
O silêncio desconfortável pesou no ar. O olhar de Fabrizio Guerrieri ainda
estava em mim. Meu coração dava cambalhotas dentro do peito. Não sabia se
meu nervosismo se dava ao fato de estar diante de um dos chefes da Cosa
Nostra, ou por me sentir atraída pela beleza dele.
Fabrizio quebrou o contato visual olhando para o chão.
— Entendi. Vou chamar um soldado para te levar à casa do meu irmão. Me
avise se precisar de alguma coisa.
— Obrigada. — Antes de sair pela porta, olhei novamente para ele.
Ele deu um aceno sutil de cabeça.
Acima da atração por ele estava a vontade e a missão de fazê-lo andar
normalmente. Por isso, tinha que afastar qualquer pensamento que não
envolvesse meu trabalho. Eu não podia colocar tudo a perder e, além de tudo,
eu tinha um noivo que ficaria furioso caso eu colocasse meus olhos em outro
homem.

Eu tinha acabado de tomar banho quente e estava terminando de pentear os


cabelos quando alguém bateu à porta. Deixei tudo de lado e fui atender.
Ainda me sentia um peixe fora d'água tentando me adaptar.
Uma mulher muito bonita e sorridente estava do outro lado da porta.
— Boa noite.
— Boa noite — cumprimentei de volta.
— Sou Anna... Esposa do capo Matteo Guerrieri. Vim ver se você precisa
de alguma coisa. Me disseram que você não quis jantar.
— Está tudo bem. — Sorri agradecida. — Eu fiz um lanche de tarde com o
seu marido, estou bem.
— Fico mais tranquila. Tive que sair com minha mãe, por isso não pude
estar aqui quando você chegou.
— Não tem problema. Já fui até a casa de seu cunhado e amanhã vou
entrar com os exercícios.
Ela mordeu os lábios. Certamente estava preocupada com a situação do
cunhado. Só não entendia o fato de ele morar sozinho em uma casa tão
grande, quando poderia estar com a família, isso poderia até ajudar em sua
recuperação.
— Ele reagiu bem? Fabrizio está fechado depois que... — Ela se calou e
engoliu seco.
Eu queria saber mais sobre meu paciente, mas também tinha que ser
cautelosa.
— Bem. — Ela ergueu os ombros e voltou a sorrir. — Vou deixar você
descansar. Prepare-se, porque meu cunhado vai tirar sua paciência amanhã.
Nós duas rimos e ela deu as costas, sumindo pelo corredor. Havia muita
coisa sobre Fabrizio Guerrieri que eu queria descobrir. Porém, nada me tirava
da cabeça que por trás daquele olhar duro como pedra, Fabrizio carregava
consigo um coração despedaçado.
Todos os dias eu me perguntava qual era o sentido da vida.
Todos os dias eu sonhava com o momento em que Fabrizio iria me
procurar para voltar para mim, para me ouvir e talvez entender as minhas
razões. A esperança morreu aos poucos em meu peito, o que foi tão frágil que
me causou uma dor insuportável.
Completava um mês desde que ele iniciou o tratamento e, pelo que eu
soube através de Anna, Fabrizio estava reagindo bem.
Também faz um mês que ele decretou minha morte, sem ao menos me
ouvir.
Embora não soubesse o dia exato da minha morte, carregava comigo essa
certeza. Certeza essa que me assombrava todas as noites quando eu olhava
pela janela e imaginava vê-lo entrando com uma arma na mão.
Nos meus sonhos eu o via ajoelhado diante de mim, pedindo-me para
recomeçar. Pedindo uma chance para me fazer feliz.
A esperança frágil se foi. Fabrizio certamente se casaria de novo, e isso
não aconteceria enquanto eu estiver viva. Meu marido era um homem
inalcançável para mim. Sua honra e moral ia além de qualquer sentimento
que já teve por mim um dia.
Eu me perguntava se ele já estaria interessado em alguém. Nunca imaginei
Fabrizio nos braços de outra mulher, até ver minha irmã montada em cima
dele, ambos alcoolizados. Aquilo foi como um tiro no meu coração, porque
ali, tive certeza de que havia o perdido para sempre.
Além do mais, tinha Sussana, que parecia ser ótima no que fazia. Meu
marido passava muito tempo com ela, enquanto eu nem me atrevia a sair do
quarto por medo do que as pessoas iriam dizer.
Fabrizio nunca iria me procurar. Eu fui a traidora na cabeça dele, a mulher
sem escrúpulos que deixou para trás o filho e um marido generoso.
Como eu poderia convencê-lo que, naquele momento, minha atitude
parecia correta?
Eu não conseguia sentir amor pelo meu próprio filho. E se eu não tivesse
fugido, eu não estaria aqui tentando uma segunda chance.
O fato era que eu não podia mais continuar me escondendo e teria que ir
pessoalmente até Fabrizio, caso quisesse ser ouvida e, talvez, compreendida.
Meu tempo de vida não me permitia ficar deitada num quarto escuro
remoendo meus erros.
Eu tinha escolhido a melhor roupa para esse encontro. Estava determinada
em ir até ele, mas foi só olhar no espelho... que toda confiança fugiu pela
janela. Eu não chegava aos pés de Sussana, que nem de perto teve sua honra
manchada na máfia.
Sussana provavelmente era virgem e não teve que passar pela dor de sentir
um filho ser arrancado de seu ventre. Ela não teve o psicológico fodido pela
vida e ainda ser obrigada a sorrir.
Fabrizio podia se casar com ela livremente, ou com qualquer outra mulher.
Meu filho teria outra mãe e nunca saberia nada sobre mim.
"Fabrizio decretou sua morte".
Ainda podia ouvir o som da voz de Matteo me informando sobre a decisão
de seu irmão. Ele não estava contente com aquilo devido a sua esposa ter um
apreço por mim, mas ele não podia ir contra a vontade do irmão,
considerando que eu era a esposa de Fabrizio, não dele.
Fiquei tonta e enjoada, minha garganta se fechou completamente me
fazendo perder o ar e o equilíbrio, tropeçando nos próprios pés. Agarrei a
penteadeira para não cair enquanto o quarto parecia sumir diante dos meus
olhos, minha vida toda sumia diante de mim enquanto eu caía no buraco
profundo do esquecimento. No buraco que eu mesma causei.
Meu filho foi arrancado de dentro de mim. Por que somente eu tenho que
ser culpada?
A cena do meu bebê sendo arrancado de dentro de mim e choros de
criança, atingiam minha mente como bomba nuclear.
Estava sozinha de novo e sofrendo um ataque de pânico. Precisava superar
essa dor, arrancar esse sofrimento de dentro de mim.
Mas como?
Como seguir em frente depois de tudo?
Vozes alteradas preencheram o quarto. Meu corpo parecia estar paralisado,
sentindo apenas lágrimas quentes molhando minha bochecha.
Fiquei em transe revivendo os últimos quatro anos da minha vida, presa em
um convento. Tentando me recuperar por completo, tentando tirar da minha
cabeça o pensamento de cometer suicídio, porque eu simplesmente não
conseguia amar meu filho. Não conseguia entender o fato de ele ter tido o
direito de nascer apenas por ser fruto de um casamento. Enquanto o outro
bebê não teve a mesma oportunidade, nem mesmo a de ser mandado para
adoção.
Quando recuperei a consciência, notei que estava deitada no chão sentindo
o desconforto dos botões do vestido machucando minhas costas. Olhares
piedosos de Marta, Matteo e Anna, estavam em mim prestando solidariedade
em silêncio. Eles estavam cientes sobre minha vida. Por estarem me
acolhendo, achei que deveria ser sincera com eles, então confessei tudo.
Se fosse em outra época, eu iria odiar esses olhares de pena em mim.
Porque sempre gostei de mostrar que estava bem, de deixar as pessoas
enxergarem um lado que não existia em mim. Agindo muitas vezes, de forma
arrogante para que não enxergassem o quanto minha vida foi desgraçada e
destruída. Vivendo uma vida que não era minha, sendo alguém que nunca fui.
Mostrando sorrisos falsos e uma alegria que não vinha de mim.
Sempre chorei por dentro e ninguém desconfiou. Por muito tempo vesti
uma máscara e agi de forma insensível, mas essa máscara caiu e todos sabem
a verdade sobre mim.
Marta, Anna e Matteo ainda estavam olhando para mim, tentando não
demonstrar que também estavam abalados.
No olhar de Matteo tinha pena e também conhecimento sobre meu
sofrimento, embora não pudesse fazer muita coisa para ajudar. Sozinho ele
não tinha voz, a menos que Fabrizio ficasse do seu lado.
— Você precisa ir com urgência conversar com meu irmão, Alessandra. Se
você não der o primeiro passo...
— Por quê? — Anna cruzou os braços. — Fabrizio também não é nenhum
santo.
Matteo estreitou os olhos na direção dela. Levantei as mãos impedindo que
eles continuassem. Eu não estava ali para criar confusão, pelo contrário.
Matteo por ser mais novo, devia obediência aos irmãos mais velhos, que
vinham antes dele em qualquer decisão.
— Tá de brincadeira, Anna? — Matteo rosnou. — Estou tentando ajudar.
— Eu vou falar com Fabrizio. Tudo bem, Anna. Matteo está entre a cruz e
a espada. Ele já fez o bastante. — Quebrei a tensão entre eles.
Ela concordou e se desculpou com o marido, estavam todos tensos. E a
única pessoa que desejei ver nada vida depois do meu filho, não estava ali
para me apoiar. E eu nem tinha o direto de envolvê-la nisso.
Riccardo estava empenhado em sua carreira política e Laura tinha que
manter a postura de primeira-dama. Nada poderia dar errado para ele.
— Acho impossível ele não ver o sofrimento em você. — Anna me
encorajou.
— Não posso mais ficar mantendo você aqui sem a ordem dele. Sinto
muito, eu fiz o que pude.
A voz de Matteo ecoou forte na minha cabeça, fazendo-a girar. O pavor
ainda estava lá corroendo meu coração, destruindo-me pouco a pouco. Mas
era hora de eu tentar reverter minha situação.
— Vamos levar você para o chuveiro. — Anna acariciou meu rosto. — Vai
ficar tudo bem.
Só então me dei conta que estava molhada de suor. Anna esticou o braço
em volta da minha cintura na intenção de me ajudar, mas foi contida
cuidadosamente por Matteo.
— Eu ajudo. Você não pode fazer esforço.
— Sim, filha. Seu marido e eu vamos ajudá-la. Fique tranquila. — Marta
acariciou a barriga de Anna.
Mas foi preciso reunir forças para levantar. Entrei no banheiro e deixei que
a água fria levasse embora aquele suor do meu sofrimento, levasse também o
medo de enfrentar o desafio.
Depois que saí do banho, Anna e sua mãe me ajudaram com um novo
vestido. Marta penteou meus cabelos enquanto Anna fazia a maquiagem.
— Me desculpem por isso. Não quis causar confusão, sou uma pessoa
complicada.
Elas olharam sorridentes para mim.
— Todos nós somos. Na máfia não existe ninguém que seja
completamente feliz. — Marta tocou meu queixo. — Você está melhor?
— Sim. — Engoli em seco. — A máfia destrói as pessoas.
Marta abaixou a cabeça compartilhando minha dor. Afinal, ela acabou de
descobrir que teve outra filha. Seu filho Giovanni ficou sabendo e,
rapidamente, informou à mãe.
Pelo menos ela teria oportunidade de abraçar sua filha e explicar como as
coisas aconteceram. Marta não teve culpa de nada.
Ela deu um passo para trás quando terminou de pentear meus cabelos.
Depois que lhe contei toda minha história, ela ficou ainda mais apegada a
mim.
— Você está linda. Se vocês não vão mais ficar juntos, tudo bem, mas que
Fabrizio lhe conceda o direito de ficar viva.
Assenti firme.
Eu estava determinada em ir ver Fabrizio. Precisava esclarecer essa
situação terrível, brigar pela minha vida. Eu tinha que ser inocentada por
ele... pela máfia.
Parei em frente ao portão. Observei a mansão maltratada pelo tempo.
Lágrimas escorriam em minha face enquanto eu me lembrava do dia do meu
casamento, do sorriso alegre de Fabrizio e de como deixei esse sorriso morrer
aos poucos.
Ele se casou comigo cheio de sonhos e eu também destruí tudo. Talvez,
pelo fato de sempre foderem comigo e com minha vida, dessa vez, eu mesma
fodi com meu casamento e com o único homem que podia me ajudar.
Praticamente o entreguei de bandeja para que minha irmã arquitetasse seus
planos de se mantivesse viva na máfia.
Tonta pela emoção, caminhei trôpega até a entrada principal. A porta abriu
antes que eu tocasse a campainha. Com o coração batendo forte no peito dei
um passo à frente e fui atingida por lembranças tristes.
Lembranças que eu queria pagar. Tudo ali me trazia recordações tristes e
alegres ao mesmo tempo.
A governanta acenou para mim antes de sumir pela porta da cozinha.
Lembrei-me das inúmeras festas luxuosas que fazíamos para receber nossos
amigos.
Fechei os olhos e respirei fundo, várias vezes, para acalmar meu coração.
Porque se eu não me acalmasse, ele com certeza ia explodir no meu peito.
Estar diante do lugar onde vivi tantos momentos bons e ruins, ativou uma
bomba-relógio dentro do meu peito.
Mas nada me preparou para ver Fabrizio de costas, olhando pela enorme
janela. Como se estivesse arquitetando ideias de como acabar comigo.
O ar estava pesado e minhas mãos tremiam muito. Eu tinha medo de dar
um passo em falso e cair ali no meio da sala. Medo de falar palavras erradas e
acabar no fundo do mar servindo de comida para peixes.
— Fabrizio — chamei-o.
Minha voz saiu baixa e rouca, como eu previa. Apenas mostrando o quanto
estava nervosa e completamente assustada. Fabrizio parecia estar em outra
dimensão e parecia nem se importar com minha presença. Havia um enorme
obstáculo entre nós.
Nessas alturas, já me arrependia amargamente de ter vindo sem ser
convidada.
Numa fração de segundos Fabrizio virou-se para mim, com isso fiquei
hipnotizada. Congelada, sem palavras e completamente nervosa. Nossos
olhares ficaram presos um no outro revivendo momentos especiais,
momentos de dor e sofrimento. Mas tinha certeza de que ainda havia um
resquício de ciúme entre nós, uma pequena chama fria prestes a se apagar.
Senti um arrepio subir pela minha espinha.
— Pai. — um garotinho entrou quebrando a tensão entre nós.
O menino entrou correndo e agarrou as pernas de Fabrizio. Foi então que
perdi todo ar enquanto reunia forças para ficar de pé.
O garotinho era meu filho.
A forma violenta que essa criança inocente foi concebida, me tirava a
sanidade e eu ficava revivendo o momento do seu nascimento. E de como
Fabrizio impôs que ele viesse ao mundo.
Nesse momento não consegui segurar o soluço que ardia a garganta.
Apesar de tudo era meu filho, nosso filho. Como eu pude? Como eu pude?
Olhar de Fabrizio desviou de mim para o menino.
— Agora não, filho.
— Você prometeu. — O olhar do meu filho pesou sobre mim, parecia estar
me acusando. — Quem é ela?
— Me espere na quadra. — Fabrizio bagunçou o cabelo dele, me tirando
do foco. — Te encontro em meia hora.
O menino então saiu correndo e sumiu pela porta. Só então percebi que
havia uma bola de futebol com ele. Provavelmente estava chamando o pai
para jogar ou para vê-lo jogar.
Meu coração já sangrava no peito.
Fabrizio estreitou os olhos para mim enquanto se equilibrava na bengala de
madeira. Continuava lindo, esbanjando charme. Dos três irmãos, Fabrizio era
o mais bonito, carinhoso e atencioso. E eu achando que tinha tirado a sorte
grande, acabei estragando tudo no final das contas.
— Boa noite, Alessandra. Quem é viva sempre aparece.
A ironia foi como um golpe no meu peito. Fabrizio caminhou com
dificuldades até a adega e pegou uma bebida.
— Boa noite. — Engoli seco. — Como você está?
Fabrizio virou a bebida de uma só vez e depois se voltou para mim,
sorrindo sem vontade. Na verdade, aquele sorriso mostrava a face sombria
dele. Sempre soube que, caso quisesse, ele poderia ser tão ruim quanto a
maioria dos homens da famiglia. E ele foi comigo, por uma noite conheci
esse lado sombrio.
— O que está fazendo aqui? — rosnou. — Não me lembro de ter solicitado
sua presença.
O Fabrizio que estava diante dos meus olhos em nada se parecia com o
Fabrizio gentil que conheci, ele não estava mais ali, esse era completamente
frio. Eu o desconhecia completamente.
Olhando para ele eu me lembrava de Catarina.

Meu corpo tremia de raiva. Eu não estava acreditando que meu marido
tinha transando com minha própria irmã. E pior: tinha a engravidado.
Fabrizio ia ser pai de um filho que não era meu. Isso estava me corroendo
por dentro, matando-me de ciúmes. Com certeza estava me punindo por eu
ter mentido. E o que mais me doía, era o fato da minha irmã entrar nesse
jogo.
Catarina sabia dos nossos problemas e, mesmo assim, deitou-se com ele se
aproveitando de sua embriaguez devido às constantes brigas que estávamos
tendo.
Meu corpo tremia de raiva enquanto ouvia as desculpas esfarrapadas dela.
Minha raiva foi tanta que acabei acertando um tapa no rosto de Catarina.
Minha irmã caiu na cama, olhando-me incrédula.
— Me perdoa. — Ela chorou. — Eu pensei que fosse Riccardo. Eu
também estava bêbada. Você tinha saído e nós ficamos bebendo na sala.
Fabrizio lamentando o casamento de vocês, e eu sofrendo pelo meu.
Eu ri e parti para cima dela, enquanto me lembrava da cena. Da minha irmã
transando com o meu marido, dos gemidos dele, das súplicas. Nossa, como
eu queria apagar aquela cena da minha mente.
— Você me apunhalou pelas costas. — Puxei os cabelos dela.
— Pelo amor de Deus, Alessandra. Eu não amo Fabrizio. Estou
desesperada para me reconciliar com meu marido. Você acha justo tudo que
passei?
— Riccardo e você nunca foram felizes, Catarina. Você era apenas um
enfeite que ele mostrava a famiglia. Já o vi com muitas mulheres e nenhuma
delas era você. Deixe de ser sonsa.
— Como? — Catarina soluçou. — Você sabia das amantes dele e nunca
me contou? Por que, Alessandra?
— Porque você também sabia.
O silêncio entre a gente ficou insuportável. A irmã que sempre amei e
cuidei, tornou-se uma estranha para mim. Nada do que ela dissesse iria
apagar a mancha que deixou no nosso relacionamento.
— Já vi muitas. Nunca te contei, porque não queria te ferir. Se Riccardo
não te queria antes, não vai querer agora sabendo que você transou com o
irmão dele. E ele sendo do jeito que é, jamais iria aceitar uma mulher que
passou pela mão de outro homem. E convenhamos... ele tem tantas, que você
nunca fez falta.
— Não acredito que está me dizendo essas coisas! Riccardo e eu tínhamos
sim um acordo. Ele podia ter quantas amantes quisesse, desde que não se
separasse de mim e nem saísse com elas em público.
— E você acreditou?
— Eu não tinha escolha.
Catarina me olhou com ódio. Mas ela sabia que era verdade, por isso
destruiu o que sobrou do meu casamento. Ela queria uma âncora para se
apoiar e viu em Fabrizio essa oportunidade.
— Você não só transou com o marido para fazer ciúmes em Riccardo,
também para garantir seu futuro na máfia. Por isso engravidou.
— Talvez se você tivesse dado o filho que seu marido pediu, ele não teria
recorrido a outros meios.
Acertei mais um tapa no rosto dela. Minha mão estava vermelha e doendo
muito. Mas nada fazia com que a dor da traição passasse. Eu estava
completamente destruída por dentro.
— Você me dá nojo, Catarina. Em pensar que um dia lamentei
desesperadamente sua morte, hoje, vejo que o melhor era você ter morrido.
— Você vai se arrepender, Alessandra. Fabrizio vai ter que se casar
comigo. E você, vai pagar caro por ter mentido sobre seu passado. É melhor
você estar bem longe quando descobrirem que você não era mais virgem
quando se casou com o Fabrizio. E, pior, mentiu sobre o filho que concebeu
antes de seu casamento. Um filho de um soldado morto de fome, que sequer
teve voz para te defender.
Enxuguei as lágrimas e dei meia-volta.
— Vá em frente. Vocês dois se merecem. Quero você fora da minha casa e
da minha vida.
Ouvi o choro dela antes de eu sair pela porta. Meu coração estava
completamente despedaçado.
Voltei à realidade com o olhar curioso do meu marido em mim. Julgando a
forma que nosso casamento entrou em crise, no fundo, Fabrizio sabia que não
deveria estar tão surpreso por eu ter fugido. Minha vida, nossa vida estava um
caos. Mal conseguíamos trocar algumas palavras.
— Vamos conversar. — Praticamente supliquei. E eu não me importava
de ter que implorar.
Fabrizio e eu nunca tivemos oportunidade de conversar. Sempre fui
fechada em relação ao meu passado, mas naquele momento estava disposta a
me abrir. Contar a ele sobre meu inferno, contanto que ele estivesse disposto
a me ouvir.
Minhas mãos ficaram trêmulas quando li o positivo. Lágrimas quentes
caíam sobre minhas bochechas. Meu coração estava tão acelerado que eu
podia sentir que ia sair pela boca.
A empregada saiu correndo do quarto e foi chamar meu pai.
Levei a mão sobre a barriga por instinto, na intenção de proteger o
pequeno ser que estava crescendo dentro de mim. Apesar de ter dezessete
anos, eu tinha certeza de que poderia cuidar dessa criança. Eu seria capaz de
amá-la como nunca amei na vida. Mas papai não pensava assim. Ninguém na
máfia pensava assim. Ter filhos antes do casamento era algo completamente
imoral, malvisto aos olhos da famiglia.
— Alessandra.
A voz do meu pai fez com que eu saísse do transe e guardasse o papel
dentro da gaveta. Corri para o quarto e encontrei meu pai e meu tio. Eles
olharam para mim de uma forma que me deixou completamente
desconfortável. Naquele momento senti um arrepio subir pelo meu corpo.
Eles já sabiam do meu relacionamento com Giordano e, também, sobre a
gravidez.
— Papai...
Ele levantou a mão impedindo que eu falasse. Papai estava triste e com os
olhos banhados de lágrimas.
— Não diga nada.
Papai sempre foi um bom homem, que mesmo tendo ficado viúvo duas
vezes cuidou de mim e da minha irmã com muito carinho e dedicação.
Embora não pudesse dizer o mesmo do homem que estava ao seu lado.
Como papai estava doente, era seu irmão quem ficava responsável pela
maior parte dos negócios e assuntos da família. Nosso tio era muito rígido e
sempre dava um jeito de fazer com que as coisas saíssem do seu jeito, mesmo
que para isso tivesse que sacrificar a filha do próprio irmão. Nosso nome não
podia ir parar na lama por conta de um deslize meu.
Foi meu tio quem descobriu meu relacionamento com Giordano. Ele
colocou outro soldado na cola de Giordano e descobriu as cartas que eu
enviava.
Titio torturou Giordano friamente até que o rapaz confessasse. E tudo veio
à tona.
— Você vem comigo. — Meu tio olhou-me sério. Tomando à frente da
situação. — Já que seu pai não está bem de saúde, eu vou cuidar de tudo.
Meu coração sangrou quando ele revelou aquilo, porque eu sabia que, no
fundo, papai estava tão destruído quanto eu. Mas por ter um nome a zelar,
não podia fazer nada para me proteger.
Eu me apaixonei por alguém que não se encaixava nos planos do meu tio,
mas Giordano se encaixava perfeitamente na minha vida. Ele, apesar de ser
um simples soldado, sempre foi alegre e via a vida de forma que ninguém
via. Mesmo fazendo parte de uma organização criminosa, Giordano
conseguia ver o lado bom disso.
— Esse filho não pode nascer, Alessandra. Não foi essa vida que
escolhemos para você.
Abaixei a cabeça e me engasguei com o choro. Não tinha emoção nenhuma
na voz do meu tio, enquanto papai apenas observava com os olhos cheios de
lágrimas não derramadas. Se pudesse, papai com certeza me tiraria dessa
situação. No entanto, não tinha lugar na máfia para mulheres que
desobedeciam às leis.
Segundo eles, eu tinha todos os requisitos para ser uma esposa perfeita,
obviamente se eu não estivesse apaixonada por um soldado e grávida dele.
Papai poderia simplesmente permitir meu casamento com Giordano, se ele
não fosse de classe inferior à nossa. Eu não me importava.
— Onde está Giordano? — perguntei, sentindo uma dor no peito.
Meu tio me olhou profundamente enquanto fumava o cigarro.
— Está na sala de torturas se arrependendo por ter colocado os olhos em
alguém que estava acima dele. Muita ousadia daquele moleque colocar os
olhos em cima da minha sobrinha.
— Preciso vê-lo.
— Não — falou meu tio firme. — Você já aprontou demais. Seu pai lhe
deu muita corda, por pouco nosso sobrenome não está na lama.
Eu tinha sido obrigada a sair do colégio interno quando descobriram que
eu estava grávida. Papai ficou com medo que mais alguém soubesse do
escândalo.
— Por favor... — tentei suplicar.
Ninguém na máfia suspeitava sobre minha gravidez e nem do romance
com o soldado do meu pai, por esse motivo meu tio estava agindo o mais
rápido possível para se livrar de Giordano.
No fundo do meu coração, eu tinha esperança de convencer papai.
Por sermos submissas, teríamos que casar com quem desse mais dinheiro
por nós e oferecesse algum benefício à nossa família. Mas eu tinha desviado
do caminho e havia escolhido o homem da minha vida, apaixonando-me pelo
soldado que fazia minha segurança no colégio.
— Como você pôde, Alessandra? — papai engasgou com o choro.
— Eu não planejei me apaixonar. A gente não manda no coração. Por
favor, papai. Deixe-me falar sozinha com o senhor.
Papai estava muito emocionado. E, talvez, para não mudar de ideia, saiu
rapidamente do quarto.
Naquele momento, estava sozinha com o meu tio.
— Você é mal-agradecida. Seu pai te deu o mundo, em troca você partiu o
coração dele.
Titio segurou meu braço e me arrastou para fora da mansão. Abriu a porta
do carro e me jogou lá. Minha cabeça bateu contra o vidro no processo e
acabei ficando tonta. O sangue começou a escorrer pela minha face. A partir
dali, eu já não sabia mais o que iria acontecer comigo, com meu filho e
Giordano.
Dirigiu concentrado pelas ruas desertas da Sicília, minutos depois
estacionou em frente a um galpão abandonado. Depois saiu do carro e deu a
volta para abrir minha porta. Titio praticamente me arrancou de dentro do
carro.
— O que você está fazendo? — gritei — Me solte!
Ele me pegou pelos cabelos e me arrastou para dentro. Eu gritava,
arranhava-o e me debatia. Eu estava quase conseguindo fugir quando uma
mulher vestida de branco apareceu e, com a ajuda do meu tio, colocou um
pano umedecido no meu nariz.
Meu corpo ficou dormente. Minha visão foi ficando turva e escurecendo,
as imagens de repente viraram um borrão, até tudo desaparecer por completo.

Abri os olhos devagar, tentando me acostumar com a claridade. Minha


cabeça estava latejando muito. Minhas costas em contato com algo frio e
minhas pernas estavam abertas. Tentei me levantar, mas estava amarrada,
presa a uma cadeira que mantinha minhas pernas para o alto.
A mesma mulher que colocou o pano sobre meu nariz, estava de costas
manuseando uma agulha grande. Mesmo com a visão turva, pude vê-la se
virar e caminhar na minha direção com um objeto na mão, como se fosse uma
pinça grande.
Entrei em pânico.
— O que vai fazer? — tentei me soltar.
— O meu trabalho.
A mulher se aproximou e eu tentei fechar as pernas por instinto, mas,
infelizmente, estava amarrada, indefesa e inútil. À mercê do que ela estivesse
planejando.
— O que é isso?
— Vou cortar o feto para facilitar a extração.
— O quê? Não faça isso, por favor. O bebê é inocente.
— Sinto muito. Se eu não fizer meu trabalho...
Eu fiquei apavorada, meu mundo desmoronou completamente. Comecei a
gritar desesperada, até minha voz falhar e a garganta secar.
Ninguém viria ao meu socorro e tudo que fiz foi fechar os olhos e implorar
a Deus enquanto a mulher colocava o objeto frio dentro de mim, causando-
me dor e um incômodo terrível. Algo que eu jamais iria esquecer.
Aos poucos o bem mais precioso foi retirado violentamente de dentro de
mim. Fechei os olhos soluçando tanto, que achei que ia morrer ali mesmo. E
como eu queria que Deus me levasse, para não ter que enfrentar tamanho
sofrimento.
Ninguém merecia passar por isso.
A máfia tinha me destruindo, tirado qualquer sentimento bom que eu já
tive um dia.
Os olhos de Fabrizio estavam vidrados em mim. Eu havia lhe contado
tudo, sem esconder nada. Mas ele ainda tinha que saber sobre minha jornada,
quando forjei minha morte.
O silêncio ficou insuportável. Fabrizio se sentou na cadeira, pensativo.
Pela primeira vez na vida, eu estava me sentindo bem. Parecia que um peso
morto havia saído dos meus ombros.
— Por que diabos você não me contou? Podia ter confiado em mim — ele
gritou, furioso.
— Você não ia entender. — balancei a cabeça.
Fabrizio se aproximou de mim em passos largos e me prendeu contra a
parede. O hálito quente dele cheirando a uísque caro, bateu contra meu rosto
como um assopro.
— Não? Ou você não tinha argumentos?
— Havia muita coisa em risco. E não estou falando de manchar apenas
meu sobrenome, mas também o nome do meu tio. O mesmo homem que
cometeu tal atrocidade. Ele seria capaz de qualquer coisa para me punir. Se
eu te contasse na época, ele ia ficar furioso comigo. Você sabe, nós,
mulheres, não temos muita escolha.
— Eu ia te proteger, porra! — gritou no meu rosto, fazendo-me encolher.
— Eu poderia destruir qualquer um que dissesse uma palavra contra você,
que colocasse as mãos em você. Eu destruiria qualquer um que entrasse na
porra do meu caminho.
Lágrimas de dor rolavam pelas minhas bochechas. Meu coração estava
acelerado. Sentir o cheiro de Fabrizio, depois de tantos anos, fez meu corpo
estremecer.
— Me perdoe. Hoje enxergo que não deveria ter fugido, mas naquela
época minhas condições emocionais não eram as mesmas de hoje.
O olhar dele ficou surpreso.
— É uma maravilha ver como você se faz de vítima. — Riu e se afastou.
Foi até o bar e virou mais uma dose de uísque.
Eu não sei bem explicar como vivi esses anos todos longe de Fabrizio,
porque no instante em que ele se afastou, a falta do calor do corpo dele me
deixou com frio. Meu Deus, eu não era nada sem ele. Minha vida estava
completamente perdida sem ele.
— Eu te amo, Fabrizio. Vou dizer isso até o meu último suspiro.
— Ah, que fofa — debochou.
Fechei os olhos e abri novamente, sentindo as lágrimas picarem meus
olhos.
— Escute o que tenho a dizer.
Ele fez sinal para eu me calar. E nesse momento, percebi que ele também
usava a aliança de casamento, assim como eu.
— Eu construí meu mundo ao seu redor, Alessandra. Nunca fui um homem
bom, mas fiz um grande esforço para ser melhor por você.
Eu não tinha palavras para argumentar. E mesmo que eu tivesse, meu
marido não estava disposto a ouvir. Havia muita mágoa, dor e sofrimento.
— Eu sei que errei — Engasguei com o choro. — Mas tive meus motivos,
fui ao inferno tentando superar minha dor. Sei que posso não ter sido boa
esposa, no entanto, sempre te amei. Nunca fingi meus sentimentos. Aliás, eu
não sou tão experiente quanto as prostitutas que você costumava... ficar. Não
consigo fingir... emoções. Acho que você sabe bem disso.
Ele me olha de cima a baixo, parando um pouco nas minhas pernas.
Fabrizio continuava sério e me olhando de um jeito profundo. Fazendo-me
sentir um calor por dentro, dando-me arrepios até os dedos dos pés. Esse
efeito ele sempre teve sobre mim.
E só de fechar os olhos, eu podia claramente me lembrava do quão ruim
ele podia ser.

Fabrizio me arrastou pela casa e me jogou sobre a cama. O cheiro forte de


uísque e perfume barato, estava impregnado no terno dele. Eu sabia que ele
tinha ido, mais uma vez, ao bordel transar com as prostitutas. E o peso de
saber que ele e Catarina tinham um caso e que em breve nasceria uma
criança, fez meu estômago embrulhar.
Essa traição, ao meu ver, não podia ser perdoada.
Poderia entender e fazer vista grossa em relação às prostitutas, mas saber
que ele tinha transado com minha irmã, era demais para minha cabeça. Foi
uma dupla e dolorosa traição.
Já não conseguia reconhecer meu marido.
Tentei afastá-lo, mas ele era bem mais forte e ergueu meus braços,
prendendo-os na altura da minha cabeça.
— O que você está fazendo, Fabrizio?
Lágrimas de desespero escorriam pelo meu rosto. O soluço involuntário
rompeu queimando minha garganta.
— Exigindo meus direitos.
Fabrizio me pressionava contra a cama, jogando o peso do corpo dele
sobre o meu.
— Vou te ensinar a ser uma boa esposa, submissa. E querendo ou não,
você vai me dar um filho.
Sem esforço algum, Fabrizio rasgava minha roupa, beijava meu pescoço e
depois trilhava uma pilha de beijos sobre meus seios, chupando-os. Não havia
carinho como das outras vezes, dessa vez, ele estava sendo selvagem.
Ele deslizou uma mão entre minhas pernas e rasgou minha calcinha.
— Você acha mesmo que tem experiência para enganar um homem como
eu?
Eu não tinha. E sabia que tinha algo grande vindo. Ele me olhava
diabolicamente.
Um frio percorreu minha espinha quando ele abriu o cinto da calça e
desceu o zíper, em seguida o pau grosso dele saltou livre.
Na hora que tentei correr, Fabrizio me agarrou pelos cabelos e me jogou de
volta na cama. Caí completamente aberta, do jeito que ele queria.
Os lábios de Fabrizio se chocaram contra minha boca, a língua dele entrava
com vigor na minha boca à procura da minha língua. Ele aproveitava para
lamber meu pescoço e meus seios.
— Eu poderia enfiar meu pau na sua boca e poderia fazer você me chupar
até engasgar.
— Por favor, Fabrizio. Vamos conversar.
Senti a mão pesada dele vindo contra o lado direito do meu rosto e um
gosto metálico preencheu minha boca.
— Não fale comigo, porra! Abra mais as pernas para mim.
Meu marido entrou impiedosamente em mim. Um grito de surpresa saiu de
mim, enquanto minha vagina tentava se acostumar com o tomando do pau
dele. Os dedos de Fabrizio se enrolavam no meu cabelo, puxando-o para trás
para que os dentes dele se afundavam no meu pescoço.
— Ai — gritei.
Fabrizio começou a meter forte, erguendo meu corpo da cama. A
respiração dele estava pesada. Ele colocou a mão no meu queixo e virou
minha cabeça em direção ao espelho, para que eu pudesse ver o que ele
estava fazendo comigo. Quando vi minhas pernas totalmente abertas,
enquanto ele metia fundo em mim e o barulho do seu quadril se chocando
contra mim, um sorriso terrível se espalhou pelo rosto de Fabrizio. Um
sorriso macabro.
— Eu não vou te perdoar, Alessandra. Apesar de gostar de sentir essa
bocetinha apertada sofrendo para engolir meu pau, eu não vou te perdoar.
— Meu Deus, Fabrizio.
Ele tirou o pau da minha intimidade e o enterrou com força, arrancando um
grito de mim. Suas bolas batiam contra meu clitóris, conforme ele erguia meu
quadril e metia cada vez mais forte, arrancando o único fio de dignidade que
havia em mim.
As estocadas eram tão fortes, que quase chegava a doer.
Os olhos perversos dele furaram o meu, fazendo-me sentir um ser pequeno
e frágil, à sua mercê.
Naquele momento, era ele quem estava ditando as regras. Punindo-me
feito um animal.
Na intenção de aliviar a tensão, enfiei minhas unhas nas costas dele e
arrastei, mas ele pareceu gostar.
Fabrizio continuou metendo mais forte em mim. Depois me virou de costas
e me fodeu com mais força do que nunca, o abdômen duro batendo contra
mim enquanto ele se curvava para segurar meus seios e morder meu pescoço.
— Por favor...
— Por favor? Pode ir se acostumando com a sua nova vida. Abra mais essa
boceta, porque vou te foder com mais força.
E assim ele fez. Cumpriu cada promessa e, no final, estava completamente
esgotada e destruída.
Ele gemeu alto, fodendo-me com mais força. Deslizou a mão para
pressionar meu clitóris, circulando-o, provocando-o com o polegar. Fazendo
o meu orgasmo vir como fogos de artifício, explodindo meu ventre, fazendo-
me contorcer sobre a cama.
— Isso — continuou gemendo, transando mais rápido, de repente xingou
no meu ouvido e gozou como um louco dentro de mim.
Nossas respirações estavam aceleradas e o meu corpo exausto, ainda
sentindo o peso dele sobre mim. Meu marido só se levantou quando sua
respiração voltou ao normal.
A cama estava uma bagunça, assim como eu... como a minha vida.
— Por que você fez isso? — perguntei num fio de voz.
Ele me lançou um olhar completamente frio enquanto se ajeitava, gemendo
quando colocou o pênis sensível dentro da calça.
— Vou continuar fazendo até que um filho meu esteja na sua barriga.
— Você vai ter um filho...
Ele praticamente voou para cima de mim, segurou meu rosto com
brutalidade.
— Eu quero um filho seu, fruto desse lixo de casamento. Um filho é
suficiente para que essa merda de matrimônio não tenha sido em vão. É um
preço que você vai ter que pagar, para que eu não arraste você pelos cabelos e
jogue nos pés do seu tio.
Ele sorriu satisfeito, quando viu o horror estampado na minha face.
— Posso devolver você ou mandá-la a uma casa de prostituição, para ser
minha prostituta particular. Me venderam uma mercadoria usada, isso não
tem perdão.
Engoli o choro, abaixando a cabeça. Meu marido então saiu em passos
largos, batendo a porta sem dizer mais nada.
Exausta, encolhi-me na cama e fechei os olhos.
Eu estava em frente ao espelho, enquanto minha irmã e outras mulheres da
máfia ajeitavam meu cabelo e meu vestido. Meus cílios longos, minhas
bochechas coradas não permitiam transparecer a tristeza e o buraco negro que
eu carregava na alma.
Enquanto tentava me recuperar, meu tio estava empenhado em arrumar um
casamento para mim, até que ele conseguiu.
No fundo, eu sabia que nunca ia me recuperar totalmente. Sentia-me oca,
violada e completamente vazia por dentro. Eu até tentei acabar com meu
sofrimento tirando minha própria vida e tomando vários remédios
controlados, porém, sempre tinha alguém para me salvar.
Meu pai, coitado, presenciando meu estado deplorável, ficou
completamente doente. Depois daquele aborto, minha vida foi só ladeira
abaixo. Eu não conseguia dormir, muito menos comer.
Eu estava completamente traumatizada.
— Coloque um sorriso nesse rosto, Alessandra. Hoje é o dia do seu
casamento. — Catarina sorriu para mim através do espelho.
Meu casamento. Eu não sabia o que esperar desse casamento, mas se fosse
igual ao da minha irmã... eu preferia morrer.
Depois que o meu filho foi arrancado de mim, simplesmente não conseguia
lidar com maldades. Toda vez que eu parava para pensar sobre isso, sentia-
me suja, violada e destroçada.
Mas como havia prometido ao meu falecido pai, ninguém mais ia saber
sobre isso, esse segredo eu ia levar para o túmulo. Porque se alguém mais
soubesse, o único lugar que me encaixaria seria no prostíbulo da famiglia.
E papai jamais queria isso para mim. Ele morreu agonizando, não
conseguia parar de me culpar. Depois disso, meu tio ficou completamente
responsável por todos os negócios da nossa família.
A porta do quarto de repente se abriu e meu tio entrou. Só de olhá-lo
através do espelho, sentia um frio na espinha, fazendo meu corpo tremer.
Ele ficou ali de pé com as mãos no bolso, observando as meninas
terminarem seus trabalhos. Assim que elas finalizaram e saíram apressadas
para retornar aos seus lugares na igreja ao lado de seus maridos, titio se
aproximou de mim.
Ele pegou uma flor branca que estava no vaso e começou a arrancar as
pétalas frágeis, jogando-as sobre o tapete. Eu fiquei imóvel enquanto
mantinha contato visual com ele através do enorme espelho.
— Sabe... — Ele começou a caminhar na minha direção. — Eu sempre tive
orgulho de sua irmã e como uma verdadeira mulher exemplar, ela se casou
com o chefe.
Fiquei confusa, sem saber onde ele queria chegar com aquilo. Mas eu
esperei, pois decerto iria novamente usar seus discursos para me humilhar,
jogando na minha cara que eu não era digna de estar onde estou.
E eu não era mesmo. Eu estava fazendo aquilo apenas pelo meu pai,
porque prometi.
— Já você, Alessandra, é uma decepção. É uma vagabunda que se iludiu
com o primeiro que apareceu e abriu as pernas para ele. Esse filho jamais
poderia nascer, mas, agora, você está tendo oportunidade de refazer sua vida.
Fechei os olhos sentindo lágrimas quentes deslizando pelas minhas
bochechas. Engoli seco enquanto tentava limpar a maquiagem borrada.
Nossa, as meninas tiveram tanto trabalho para tentar me deixar apresentável,
porém, meu tio estava estragando tudo.
Meu tio se aproximou mais e debruçou na cadeira para sussurrar meu
ouvido:
— Eu negociei esse casamento, Alessandra. Minha cabeça está em risco,
então tome cuidado e preste muita atenção no que você vai falar com Fabrizio
Guerrieri. Para ele, você é virgem e viveu anos reclusa no colégio. Por ser
irmã da mulher do chefe, ninguém ousaria revirar o seu passado.
Balancei a cabeça negativamente, incrédula. Ele não podia ter feito uma
coisa dessas comigo. Eu não podia carregar esse peso comigo, mas pensei no
meu pai.
— O senhor está me dizendo que não contou ao Guerrieri, que não sou
mais virgem?
Ele ajeitou o terno. Tudo bem que dizer sobre a gravidez era algo
completamente delicado, mas ele poderia dizer que era mais pura.
— Não. Você acha que haveria casamento se eu contasse?
Balancei a cabeça, incrédula. Mas havia esse preconceito na máfia. E se
algo desse errado, meu tio iria fazer um inferno na minha vida. Só que eu
também não podia ir para cama com homem fingindo ser pura e inocente,
isso não fazia parte de mim.
Tudo bem que eu não era experiente. Foi apenas uma vez e, mesmo assim,
engravidei.
— Como vou me deitar com alguém fingindo ser algo que eu não sou?
Gemi de dor quando as mãos firmes do meu tio agarrou o meu cabelo por
baixo do véu e puxou para trás. De repente, minha cabeça foi ao encontro da
cômoda que estava na minha frente. A dor foi horrível e quando levantei a
cabeça, havia um caroço na minha testa.
— Eu não sei como vai fazer, Alessandra, porque a regra era procurar
mulheres virgens para o Fabrizio Guerrieri. Mas você se destacou pela beleza
e por ser irmã de Catarina.
Um soluço rompeu a garganta e eu segurei o choro, para não desfazer o
restante da maquiagem.
Meu tio ainda estava próximo de mim e eu mal conseguia respirar.
— Alguma dúvida?
Neguei com a cabeça.
— Muito bem, minha querida. — Ele beijou minha bochecha. — Use
maquiagem para disfarçar essa marca na sua testa. Não demore.
Abracei meu próprio corpo e chorei.
Olhei para o meu marido com o copo de uísque quase vazio na mão,
apertando-o com força. Conforme eu contava minha história, ele aproveitava
para esvaziar o bar.
Ele se levantou de repente, parecendo atordoado.
— Em todos esses anos de casamento, eu estou realmente te conhecendo
agora?
Concordei. Estava tentando, pela primeira vez, ser transparente. Mesmo
que fosse tarde demais, mesmo que minha morte fosse um fato, eu tinha que
dizer tudo que estava no meu peito.
— Sim.
Ele se inclinou para colocar o copo meio acabado de uísque sobre a
mesinha, depois ajeitou o terno sobre o corpo.
Nossos olhares estavam fixos um no outro. Ele queria saber mais e eu
estava disposta a me abrir, mesmo que não me levasse à lugar algum.
Nesse momento, fomos interrompidos pelo som do celular dele. Fabrizio
tirou o celular do bolso e fez uma careta, indicando que o problema era sério.
Éramos como dois estranhos.
— Preciso resolver um problema.
Concordei e quando me preparei para sair da mansão, ele me chamou
enquanto vinha na minha direção. Fiquei em dúvida se ficava parada ou se
corria, porque Fabrizio era completamente traiçoeiro.
— Onde você vai?
Virei-me por completo em direção a ele. Não havia gentileza na voz, muito
menos na expressão dele.
— Vou ficar na casa do...
Fiquei paralisada quando ele se aproximou mais. Fabrizio estava tão perto,
que eu tinha que olhar para cima se quisesse ver o rosto dele.
— Você não vai a lugar nenhum, Alessandra.
Pisquei confusa. Perecendo ler minha mente confusa, Fabrizio endireitou
os ombros largos e estreitou os olhos.
— Tem quarto aqui, você pode ficar nele.
O tom sombrio fez com que um arrepio atravessasse minha espinha.
Em outras circunstâncias, poderia até ficar feliz com essas palavras saindo
da boca dele. Mas algo dentro de mim dizia que aquilo não era nada bom.
— Você vai me deixar ficar?
— É claro. O quarto está completamente adaptado para te receber.
Antes que eu pudesse dizer algo, ele pagou um punhado do meu cabelo
entre a mão e me arrastou pelo corredor. Eu tropeçava nas minhas próprias
pernas, tentando ficar de pé.
E quando finalmente chegamos onde queria, ele abriu a porta e sussurrou
no meu ouvido:
— Você só sai daqui com a minha permissão. E nunca na sua vida, ouse se
aproximar dos meus filhos. — Fabrizio apertou meu cabelo puxando minha
cabeça para trás. — Você está entendendo?
Um soluço escapou da minha garganta.
— Estou.
Tentei tirar a mão dele, porém, o aperto ficou ainda mais forte.
— Não vou mais permitir que você fique por aí manchando meu
sobrenome e me ridicularizando. Você vai ficar na minha casa, sob o meu
teto. Vou vigiar você, de perto e olhos bem abertos.
Ele me empurrou para dentro e fechou a porta com força.
Meu Deus do céu. Nunca passou pela minha cabeça sujar o sobrenome
dele. Eu não era louca de fazer uma coisa dessas.
Olhei para o alto tentando conter as lágrimas, depois olhei em volta.
Dirigi em alta velocidade, enquanto as palavras de Alessandra ecoavam na
minha cabeça. Sabia que, no fundo, eu tive certa culpa por não ter dado o
meu melhor para que ela confiasse em mim.
Talvez se eu tivesse insistido mais, conversado mais...
Mas eu também era um fodido com o psicológico abalado, com traumas
para superar. Talvez, a melhor solução foi ela ter fugido de mim, porque eu
mal conseguia viver no mesmo ambiente que ela.
Superar o fato de que Alessandra engravidou de outro homem, deixou-me
sem chão. E se ela não estava em condições de amar meu filho, foi melhor ter
sumido. Foi melhor ter saído de nossas vidas, pois jamais iria permitir que
meu filho sofresse a consequência dos meus atos.
Respirei fundo afastando os pensamentos e entrei na casa de Matteo. Ele
havia ligado para informar que tínhamos uma reunião com o presidente.
Estava de saco cheio de tanta merda, e só queria poder ter um pouco de paz,
ou tempo para resolver meus próprios problemas.
Anna assim que abriu a porta, parou de sorrir. Todas as mulheres da máfia
estavam do lado de Alessandra. E eu pouco me importava com suas opiniões.
— Matteo está no escritório.
Ela abriu mais a porta e me deu passagem. Logo pude ouvir vozes de
crianças e quando me aproximei mais, vi correria na sala, um cachorro peludo
pulando de um lado para o outro. Um ambiente familiar, cheio de amor e
felicidade.
Parei no meio da sala e observei tudo com atenção. Os filhos do Riccardo
estavam ali, no meio da sala discutindo que iria assistir televisão enquanto o
cachorro latia, talvez querendo chamar atenção deles. Eles estavam grandes e
temperamentais também.
O filho Matteo estava sentado no tapete tentando colorir algo no papel.
Anna parou ao meu lado.
— Você podia trazer seus filhos para brincar com os meninos, Fabrizio.
Eles são primos. Tem que aproximá-los.
— Cale sua boca, Anna.
Ela assentiu.
Ignorei-a completamente e segui em direção ao escritório, onde encontrei
Matteo sentado atrás da mesa e o presidente sentado no sofá.
Eles se levantaram assim que passei pela porta. Fiz sinal com a bengala
para que eles se sentassem enquanto eu me aproximava.
— Você demorou. — Matteo bufou.
Olhei feio para ele e apontei para minha perna. Ninguém precisava saber
que eu estava no meio de uma discussão com a Alessandra. Para todos, isso
parecia um assunto encerrado, mas para mim estava sendo apenas um
começo.
Eu sempre soube que havia algo muito errado com Alessandra, que ela não
se sentia totalmente segura para desabafar comigo. Então, eu iria extrair tudo
que ela tinha para dizer, depois decidir se a deixaria viva, ou se acabaria de
vez com sua existência.
Sentei-me na cadeira e esperei que alguém dissesse alguma coisa. Matteo
limpou a garganta e ajeitou o terno.
— O presidente quer se casar com Marta.
Olhei-o por cima do ombro.
— E? — Ergui a sobrancelha.
— Ela não quer. — Matteo respirou fundo.
Tirei um cigarro do bolso e o acendi. Enquanto tragava o cigarro, tentei
entender o motivo de Matteo estar tão preocupado sobre Marta não ter aceito
o pedido de casamento. Era muito simples.
— Marta é sua sogra. Enquanto ela morar debaixo do seu teto, é você
quem decidi o futuro dela.
Matteo desviou o olhar para o presidente, cabisbaixo no fundo do
escritório. E eu fiz o mesmo.
— Eu não queria que Marta ficasse comigo por obrigação. Ainda tem as
nossas filhas que não se suportam. É tudo muito complicado. — Passou a
mão pelo rosto. — Mas eu realmente estou interessado nessa mulher, faz
tempo que venho lutando contra esse sentimento.
O presidente estava claramente desconfortável para ter essa conversa
conosco. Talvez porque ele sempre costumava tratar assuntos com o
Riccardo, que era mais velho.
Mas ele precisava entender que estávamos no comando. Riccardo quis
assim. Esses assuntos não são relevantes para um chefe conceituado.
— Na famiglia as coisas funcionam assim — falei, firme. — Você tem o
meu consentimento para fazer dela sua esposa. E quanto a diferença entre as
filhas, é só um detalhe.
O presidente concordou antes de se levantar do sofá e caminhar até a porta.
— Eu agradeço. — O presidente abriu a porta. E antes de sair, ele se
voltou para nós. — Bem, meu vice-presidente está vindo para cá tratar alguns
assuntos com vocês. Ele precisa de um favor.
— O que ele quer? — Matteo perguntou.
— Não sei. — Deu de ombros. — Ele anda esquisito ultimamente.
Matteo ficou em silêncio e eu assenti.
Quando o homem deixou a sala, Matteo suspirou alto e jogou o corpo para
trás.
— O que será que o vice-presidente vai querer?
— Eu não sei.
Ficamos em silêncio enquanto esperava pelo homem. Eu tentava a todo
instante não pensar na conversa que tive com Alessandra. Tentava esquecê-la,
mas era só fechar os olhos que eu a via, tão linda, tão cheia de vida mesmo
que o seu olhar estivesse triste.
— Tem notícias do Riccardo? — perguntei, espantando meus
pensamentos. — Por que os filhos dele estão aqui e ele não?
— Os meninos estão de férias. Então, pedi que deixasse as crianças
comigo.
Olhei-o com a testa franzida.
— Laura concordou?
Matteo fez sinal para eu fazer silêncio.
— Fabrizio. Riccardo pode ouvir tudo que acontece aqui no escritório nas
reuniões. Quando é algo importante, eu o aviso e ele participa.
— E?
Ele riu de lado. Matteo se inclinou para frente.
— O problema é que um dia desses eu me esqueci completamente que
tinha escutas aqui. E quase comi Anna aqui no escritório.
Ri de forma sarcástica.
— No máximo, ele ia ficar contando no relógio quantos segundos você
demora para gozar.
— Ele ia ficar cansado de ouvir — gabou-se. — Está ouvindo, Riccardo?
Seu irmão é um garanhão. Tem mais um Guerrieri a caminho. Anna está
grávida de novo.
Nós dois rimos. Depois ficamos em silêncio por um tempo.
— Sobre os gêmeos. É uma responsabilidade muito grande, Matteo. Se
algo acontecer a esses meninos... Riccardo te mata.
— Isso não vai acontecer. — Olhou-me sério. — Posso proteger meus
sobrinhos e mantê-los seguros na minha casa. Quero ficar mais próximo
deles, é um direito meu.
Assenti. A verdade era que os meninos estavam crescendo longe da gente,
sem nenhum laço afetivo. E, futuramente, isso poderia ser perigoso, afinal
não sabíamos muita coisa sobre a personalidade deles.
A porta do escritório foi aberta. Anna informou que o vice-presidente
estava do lado de fora.
O homem gordinho entrou olhando tudo com atenção. Ele nunca havia
pedido nenhum favor à máfia.
Ele se sentou na cadeira que Matteo indicou. Pegou uma pasta prateada,
abriu-a e colocou sobre a mesa, havia uma quantidade generosa de dinheiro
ali. Um gesto completamente ofensivo, estava claramente tentando nos
manipular com dinheiro.
Troquei um olhar suspeito com Matteo, enquanto o homem se enrolava
entre ajeitar a mala sobre a mesa e tirar um lenço do bolso para secar o suor
do rosto.
Depois de se recompor, o homem ajeitou os óculos e olhou em volta.
Matteo já estava impaciente.
— Esse dinheiro é apenas uma pequena porcentagem. É um adiantamento
do serviço que vou pedir a vocês.
— Vá direto ao ponto — falei, sério.
Ele me olhou sério enquanto engolia seco.
— Quero a morte do presidente.
O silêncio se infiltrou na sala. Matteo tirou o celular do bolso,
provavelmente verificando se tinha algum sinal do Riccardo, mas pelo visto
não havia nada. Na verdade, nem sabíamos se de fato ele estava escutando.
O presidente era um associado e protegido pela máfia. Tínhamos
benefícios através dele, assim como ele tinha através de nossos serviços. Era
uma troca justa.
Levantei-me bruscamente da cadeira.
— Pegue o seu dinheiro e saia — ordenei.
O homem não pareceu ficar constrangido ou algo do tipo. Pelo contrário,
parecia estar ainda mais confiante.
— Eu vou assumir o lugar dele, assim vocês continuarão trabalhando para
mim.
Matteo deu um soco na mesa e se levantou.
— Não trabalhamos para ninguém, caralho! Você ouviu o que meu irmão
disse? Pegue o seu dinheiro e saia daqui.
O homem fechou a mala e se levantou, irritado.
— Vocês dois não se parecem em nada com o irmão de vocês. Riccardo
Guerrieri é um homem inteligente, viaja constantemente e conhece muitos
costumes. Fala vários idiomas e faz negócios pelo mundo afora. E vocês
dois? — Apontou para mim e Matteo. — São uma vergonha. Avise ao irmão
de vocês que preciso falar diretamente com ele.
Eu tive que respirar fundo para não dar um tiro na cabeça dele, porque para
lidar no mundo do crime, era preciso ter paciência e calma. Matteo sabia qual
era o lugar dele na máfia, assim como eu sabia qual era o meu. Embora
estivéssemos no poder, nada poderia ser executado sem a permissão final de
Riccardo, em especial um assassinato que envolvia o presidente e muitos
negócios.
— Ninguém vai diretamente a ele — rosnei.
Obviamente, Riccardo jamais concordaria com isso. A morte do presidente
não traria benefício nenhum.
Éramos evoluídos o suficiente para qualquer comentário desnecessário de
quem não sabe como funciona nossa organização.
Riccardo, Matteo e eu, apesar das diferenças, éramos unidos. Ninguém de
fato sabia como funcionava nossa relação.
Indiquei a porta para ele sair. Mas antes, segurei-o pela gola da camisa.
Nesse momento, ele viu a arma na minha cintura.
O homem arregalou os olhos.
— Nunca mais apareça sem ser convidado.
Matteo deu um chute na bunda do vice-presidente.
Joguei-o para longe, ele bateu contra a parede e caiu no chão. Matteo pisou
na mão dele quando o homem tentou pegar a mala.
— Da próxima vez não vai ter tanta sorte. Seu bunda-mole.
O homem levantou-se com dificuldade, abriu a porta e saiu
cambaleando.Capitulo 17
Sentei-me no sofá. Enquanto aguardava Matteo pegar o uísque, ouvi um
soluço. Olhei para trás e vi um dos filhos de Riccardo encolhido no canto do
sofá. Vincenzo parecia triste e desanimado.
Na verdade, os dois pareciam assim.
Mais atrás estava Lorenzo, de cabeça baixa enquanto brincava com uma
arma de brinquedo. Diferente de Vincenzo, ele demonstrava menos tristeza,
mas ainda estava lá.
Apoiei-me na bengala e olhei para eles, que me olharam curiosos.
— Certo. — Suspirei. — Por que vocês estão chorando?
Vincenzo piscou os olhos confuso, enquanto me olhava surpreso.
— Não estou chorando — falou, firme.
Eu quis rir, mas me segurei, porque isso poderia chateá-lo ainda mais.
Os olhos dele estavam completamente vermelhos e as bochechas
molhadas. Passei a mão pelo rosto dele para enxugar as lágrimas. Era nítido
que eles não estavam se adaptando sem os pais por perto.
— Acho que me enganei. — Sorri. — Pensei ter visto uma lágrima aqui.
Ele me olhou envergonhado e abaixou a cabeça.
— Estou com saudades da minha mãe.
Depois que ele terminou de falar, um soluço alto saiu da garganta dele e
ele começou a chorar. Lorenzo se aproximou e abraçou o irmão.
O choro de Vincenzo estava cada vez mais alto. Nesse momento, Matteo
veio correndo com os olhos arregalados sem saber o que estava acontecendo.
Ao ver que Vincenzo estava em prantos, ele rapidamente se aproximou do
menino e se abaixou para ficar na altura dele.
Meu irmão lançou um olhar questionador para mim. Como se eu tivesse
culpa daquilo.
— O que você fez, Fabrizio?
— Nada — respondi de pronto. — Ele está com saudades da mãe dele.
Nesse momento, Anna, Marta e até mesmo Giovanni entrou na sala. O
ambiente virou uma bagunça. Todos queriam saber o que tinha acontecido
com o menino, aquilo só piorou a situação. Então, pedi encarecidamente que
todos deixassem o menino quieto.
Matteo assentiu para mim de jeito preocupado e tocou o rosto de Vincenzo.
Sabia que Matteo queria se aproximar dos sobrinhos, mas de forma alguma
poderia forçar as crianças a ficarem na casa dele como estava fazendo. Então,
tudo me levava a crer, que tinha uma merda muito grande acontecendo.
Matteo ficou sem graça quando notou meu olhar questionador sobre ele.
Pegou o celular e discou o número de Laura. Chamou várias vezes antes de
cair na caixa postal.
Laura sempre foi superprotetora com as crianças, o que era admirável,
diferente de muitas mulheres na máfia que tinham filhos apenas por ter,
muitas até abandonavam. O fato de Laura não atender as ligações, sabendo
que seus filhos estavam longe, era muito estranho.
Saí dos pensamentos e me voltei para cena à minha frente. Matteo
desesperado tentando ligar para a mãe dos meninos e ela simplesmente não
atendia.
— Vamos brincar de esconde-esconde? — Matteo colocou o celular no
bolso.
Lorenzo rapidamente pulou do sofá e estendeu a mão para o irmão. Ele
estava muito animado, mas havia algo por trás dessa animação que eu não
conseguia captar.
— Vamos, Vincenzo. Deixa eu te esconder. Garanto que ninguém aqui vai
te achar.
Vincenzo assentiu um pouco mais animado. Matteo colocou o rosto na
parede e contou até cinquenta. Os meninos correram para o jardim e sumiram
entre as plantações.
Quando Matteo parou de contar e virou-se, eu já estava atrás dele de
braços cruzados esperando que ele me desse alguma explicação. Eu não era
bobo, sabia perfeitamente quando tinha algo errado.
Meu irmão respirou fundo e se jogou no sofá, pegou o copo de uísque e
virou de uma vez só.
— Riccardo está em coma.
Ele encheu o copo novamente e virou tudo de uma só vez. Ficamos em
silêncio, ele reprimindo o choro enquanto eu esperava impaciente dando
tempo a ele.
— Parece que o acidente que ele sofreu anos atrás, resolveu causar
problemas agora. Riccardo precisou ser internado e Laura está com ele no
hospital. Ela me ligou perguntando se os meninos poderiam ficar aqui
comigo, porque Lorenzo e Vincenzo não podem nem sonhar que o pai deles
está nessas condições.
— E por que não estou sabendo de nada disso?
— Você está completamente desequilibrado, Fabrizio. Tentando resolver
seus próprios problemas, não podia simplesmente jogar essa bomba em você.
Quando Laura me ligou, eu tentei achar uma solução rapidamente. Montei
um esquema de segurança e fiz tudo para que os meninos chegassem aqui em
segurança.
Respirei fundo e me joguei no sofá, do lado de Matteo.
— Você sabe que nós também temos direito de decidir alguma coisa. É
certo ele vir para Itália.
Matteo discordou.
— Ele não vai aguentar uma viagem. Mesmo tendo conforto, são ordens
médicas que Riccardo fique e seja operado lá.
Ele deu um tapa nas minhas costas. Pela primeira vez, a gente não podia
fazer nada. Não dava para simplesmente pegar um avião e ir para outro país,
sendo que tínhamos obrigações na Itália e pessoas que dependiam da gente.
Mas embora existisse risco, ele teria que vir para Itália.
— Temos que tentar trazê-lo para cá — murmurei.
Quando Matteo ia abrir a boca para em responder, o telefone dele tocou.
Ergui-me e vi o número de Laura na tela.
Tirei o telefone da mão dele e tomei a frente da situação. Para mim, ela e
Matteo estavam sendo irracionais.
Deslizei o dedo na tela e atendi. Laura ficou muda por alguns segundos
antes de responder.
— Oi, Fabrizio.
— Como você ousa me deixar de fora disso?
Ela voltou a ficar em silêncio e aquilo, realmente, estava começando a me
irritar. Laura não tinha ideia do tamanho da bomba que estava carregando nas
mãos que, aliás, podia explodir a qualquer momento.
Laura respirou fundo. E como eu vi que ela não iria responder, eu
continuei falando:
— Vou reunir todos os membros da famiglia e, juntos, vamos decidir o
que fazer. Riccardo não pode ficar aí.
— Mas ele tem que ficar, eu assinei um termo de responsabilidade —
falou, irritada. — Ele não pode ser transferido agora.
Matteo passou a mão pelo cabelo. Se dando conta do erro que cometeu em
não ter falado nada comigo. Todos os membros da máfia precisavam saber e
ser convocados para decidir.
Ajeitei meu terno e tentei me controlar, porque apesar de tudo, Laura
estava tentando fazer algo bom.
— Você não deveria ter assinado termo nenhum sem consultar a gente,
Laura. Você ao menos leu o que você assinou?
Ela voltou a ficar em silêncio e logo pude ouvir um soluço. Matteo
resmungou do meu lado, mandando-me ser mais complacente.
— Foi o que pensei. Você não leu nada do que assinou. E se ele morrer aí,
você vai ter uma baita dor de cabeça — gritei.
— Sou esposa dele. Se vocês querem se arriscar, tudo bem, mas não tirem
minha autoridade. Eu fiz o que tinha que ser feito. A operação é de risco e...
Riccardo... pode não sair da sala de cirurgia vivo.
— Você é esposa, admito. Mas não é somente você quem decide onde o
chefe da Cosa Nostra deve ser operado. Você está passando por cima de todo
mundo. Para você, Riccardo é apenas o marido, mas para nós, ele é irmão e
líder. Você está sendo egoísta, ele deve voltar para Itália.
— Fabrizio...
Interrompi-a
— Os filhos dele merecem saber o que está acontecendo com o pai. Se
algo pior acontecer, você terá o ódio de seus filhos para o resto de sua vida, é
isso mesmo que você quer?
Ela chorou mais, Laura estava completamente desnorteada. Só que ela não
podia simplesmente agir sozinha. Se Riccardo morresse na Colômbia, Laura
nunca iria ter paz. Mesmo sendo esposa, ela não podia ficar sozinha com
Riccardo enquanto estivesse desacordado. Alguém da famiglia ou um
soldado teria que estar presente.
Matteo e eu sabíamos que ela jamais faria mal a ele. Porém, não podíamos
controlar o que outras pessoas pensavam.
— Eu sei que você teve boa intenção. Mas não é assim que devemos agir.
A famiglia tem que estar ciente sobre o que está acontecendo com o chefe.
Do contrário, você terá que assumir as consequências, um homem da máfia
não deve ficar isolado da família.
Ela concordou, caindo em si. Laura ficou em silêncio por algum tempo.
— Preciso arrumar nossas coisas. Por favor, tenham muito cuidado com
ele. A situação é delicada.
— Pode deixar. Mas infelizmente temos que arriscar. Aqui ele estará
seguro.
— Entendi.
Ela desligou.
Fiquei em silêncio por um tempo tentando digerir as informações.
Primeiro, teríamos que reunir a famiglia e informar o que estava acontecendo.
Depois iríamos selecionar uma equipe médica para fazer a transferência.
Matteo deu um pulo do sofá.
— Porra, esqueci das crianças.
— Vou com você.
Entreguei o telefone de Matteo e quando viramos em direção ao jardim
para procurar os meninos, congelamos quando vimos Lorenzo de pé na porta
olhando na nossa direção. Notei que a blusa branca dele estava suja de terra.
Ficamos um tempo parados, pensando no que fazer. Pensando no que
dizer, tentando descobrir se ele tinha ouvido a conversa.
Matteo forçou um sorriso e se aproximou do garoto.
— Estávamos indo te procurar. Onde está Vincenzo?
Ele estreitou os olhos para Matteo.
— Primeiro, você me diz onde está meu pai e o que aconteceu com ele,
então eu te digo onde está Vincenzo.
Matteo engoliu seco, arregalou os olhos e colocou a mão no peito.
Tomei à frente da situação.
— O seu pai está doente. Ele está no hospital e logo estará em casa. Onde
está Vincenzo?
Ele ergueu os ombros.
— Eu o enterrei.
Matteo se apoiou na parede. Ignorei meu irmão passando mal e me
aproximei mais do menino.
— Ele está vivo? Onde você o enterrou?
— Em qual hospital meu pai está?
Passei a mão pelo cabelo. Minha vontade era de dar umas porradas, mas
sabia que esse não era o caminho.
— Eu ainda não sei. — Travei o maxilar.
— Eu também não sei onde está Vincenzo.
— Não somos os inimigos aqui, Lorenzo. Ele é seu irmão, se você não me
mostrar onde está... ele pode morrer sufocado.
Ele olhou para mim e depois para Matteo. Depois virou as costas e saiu
caminhando. Nós o seguimos por um longo caminho entre as plantações.
Chegamos em um ponto que estávamos completamente afastados da casa.
O sol escaldante. Eu segurava a bengala com força tentando ficar de pé.
— Cuidado onde pisam. Vocês podem pisar na mão dele. — Lorenzo
olhou para o lado enquanto dava instruções.
Que brincadeira mais sem graça.
Matteo gemeu frustrado, incapaz de lidar com os meninos.
Nós percorremos um longo caminho até chegar perto do lago. Havia uma
árvore grande e Lorenzo abaixou-se e começou a cavar. Assim que notamos o
solo irregular, Matteo e eu corremos e começamos a fazer o mesmo. Logo
sentimos algo no meio da terra e puxamos.
Vincenzo.
— Meu Deus do céu — gritou Matteo. — Puxa ele, Fabrizio.
Nós puxamos Vincenzo já desacordado do buraco. Pegamos água do rio e
limpamos o rosto dele, para tirar a terra. Matteo fez massagem cardíaca e
respiração boca a boca, oferecendo oxigênio para o menino.
Aos poucos, Vincenzo foi voltando ao normal. Matteo começou a chorar
enquanto eu soltava o ar com força, nem sabia que tinha parado de respirar.
Depois de todo o sufoco, caí sentado na grama. Matteo fez o mesmo
enquanto abraçava Vincenzo. Depois de alguns segundos, nós fomos com ele
para o hospital, para ver se estava tudo bem.
Desde que Fabrizio me trancou no quarto, ninguém veio saber como eu
estava. Minha garganta estava seca de sede, por isso tive que beber água da
torneira da pia do banheiro.
O quarto era minúsculo, havia uma cama apenas. Não tinha janelas, apenas
acessórios estranhos, como algemas e correntes. Eu não fazia ideia qual seria
a finalidade daquilo ali e pedi aos céus que me desse sabedoria, para me
comportar bem e não ter que descobrir.
Talvez Fabrizio soubesse das minhas crises de pânico, por isso iria me
prender caso acontecesse novamente ou se eu tentasse contra minha vida.
Talvez as correntes estivessem ali para essa finalidade.
Eu não sabia se era dia ou noite. Meu estômago doía de fome, tive que
beber água várias vezes para tentar amenizar a dor da fome. Água eu tinha à
vontade, também podia tomar banho quando quisesse. Aos poucos, eu estava
aprendendo a sobreviver com pouco e dar valor a isso.
Toda vez que eu sentia ódio, eu tentava pensar em algo bom. Respirava
fundo e pensava nos meus filhos. E em tudo que tive que sacrificar para
tentar melhorar, para me adaptar à máfia, já que eu não saberia lidar com um
mundo diferente e também não tinha como viver longe dela. Ninguém saía
vivo da máfia.
Eu havia ido embora, com raiva e cheia de rancor. Na minha cabeça, tinha
que me vingar do meu marido. Eu tinha que fazê-lo pagar de alguma forma,
mas naquele momento tinha consciência de que eu estava doente, porque
ninguém em sã consciência iria se prejudicar apenas para ferir outra pessoa. E
nessa história eu fui a mais prejudicada, pois perdi o amor do meu filho.
Depois de um longo banho, sentei-me na cama e fiquei encarando a porta.
Esperançosa de que ela se abrisse em algum momento. Desde que fui me
tratar no convento, aprendi a confiar e acreditar em Deus, então se fosse da
vontade dele que eu tivesse comida, então ele iria tocar o coração de Fabrizio.
Os minutos se passaram e finalmente a porta se abriu. Fabrizio entrou no
quarto carregando um prato de comida na mão. Esfreguei os olhos pensando
ser miragem, mas não era.
Logo o cheiro do perfume dele tomou o ambiente.
Ele se moveu devagar e me entregou um prato fumegante cheio de comida.
O cheiro era tão delicioso, que me fez salivar. Mas logo percebi que algo
estava errado, tirei os olhos do prato e encarei Fabrizio, que estava com um
olhar distante e perdido.
— Você está bem? — perguntei, receosa.
Então ele olhou para mim e para o prato de comida na minha mão e ergueu
a sobrancelha.
— Quer bancar a esposa dedicada agora?
— Você fala como se eu nunca tivesse me importado com você antes.
Assim que falei, eu quis pegar as palavras de volta, no entanto, apenas quis
mostrar a ele que eu estava de volta para tentar consertar as coisas. Embora
não tivesse concluído totalmente meu tratamento.
Meu tio disse que era mais fácil eu ser dada como morta e ser descoberta
anos depois, do que deixar as pessoas acharem que a esposa de um dos chefes
da máfia era louca. Isso seria mais vergonhoso, porque eu já tinha uma irmã
louca.
Fabrizio ficaria completamente furioso caso soubesse disso.
Fui tirada dos devaneios quando meu marido puxou o prato da minha mão.
— Pensando bem, vou dar essa comida aos meus cachorros, eles merecem
mais do que você.
Eu pisquei incrédula. Sabia que ele estava tentando se vingar de mim,
entretanto, não tinha como evitar que cada palavra proferida me ferisse, como
tiro no meu coração.
E assim ele saiu, batendo a porta sem olhar para trás. Sem olhar para mim
desesperada, querendo que ele me escutasse ou me entendesse.
Deitei-me na cama e fechei os olhos, tentando pegar no sono e ignorar a
dor no estômago pela falta de comida. Eu já estava me acostumando a viver
dessa forma.
Eu estava quase adormecendo quando escutei o barulho da porta
novamente. Não fazia ideia de que horas era, ou há quanto tempo Fabrizio
havia saído do quarto. Mas fiquei em alerta quando ouvi passos no escuro e
senti a cama ao meu lado afundar.
Prendi a respiração e me encolhi, logo senti uma mão fria subindo pelas
minhas coxas. O cheiro do perfume de Fabrizio tomou o ambiente
novamente, então a presença dele se tornou clara para mim.
Fiquei sem silêncio. Senti quando ele se afastou e ficou de pé. Eu não
consegui enxergar nada, mas podia ouvir claramente o som da respiração
dele.
— Fabrizio — chamei-o, porém, não obtive respostas.
O barulho do cinto caindo no chão, em seguida o zíper da calça sendo
aberto, fez meu coração saltar de nervoso, lembrando-me da última
experiência traumática.
Antes que eu pudesse dizer algo, Fabrizio estava em cima de mim,
beijando meu pescoço e apertando meus seios por cima da camisola fina. O
corpo forte dele estava me pressionando contra a cama e me mantendo presa.
Fiquei completamente congelada, mas isso não impediu que ele continuasse
me beijando, enquanto sua mão viajava para o meio das minhas pernas, para
tocar minha vagina por cima da calcinha.
— Que saudades de comer você — gemeu no meu ouvido, logo pude
sentir o cheiro forte de uísque.
Claro, ele não teria vindo no meu quarto se não estivesse bêbado, mas hoje
eu iria aproveitar o momento, aceitar qualquer coisa que ele estivesse
disposto a dar.
Abracei-o forte e enterrei meu rosto no pescoço dele, com medo que ele
fugisse de mim. A boca de Fabrizio bateu contra a minha, sua língua abriu
meus lábios e afundou na minha boca em busca da minha. Os dedos dele
acariciando meu clitóris, entrando e saindo da minha boceta, enquanto a outra
mão apertava minha cintura, fazendo-me choramingar. Eu precisava dele,
precisava tanto que chegava a doer.
Nossas línguas estavam entrelaçadas em um beijo de tirar o fôlego. Eu
gemia e ele também, enquanto suas mãos estavam em toda parte do meu
corpo, dando-me prazer onde eu mais precisava.
Ele conhecia meu corpo, sabia como me enlouquecer. A boca dele na
minha, nossas línguas se movendo uma na outra, fazia minha mente viajar e o
desejo incendiar meu corpo.
Meu coração estava acelerado.
— Não tenho muito tempo.
Fabrizio ergueu meus braços e os prendeu em algo frio e pesado. Meu
corpo todo se arrepiou quando ele passou de uma maneira delicada os dedos
nos meus seios, provocando os biquinhos sensíveis. Não havia gentileza
quando ele tirou minha calcinha e voltou a se acomodar entre minhas pernas.
Pressionou o pau na minha entrada e o empurrou com força para dentro, a dor
me fez gritar, no entanto, ele foi fundo enquanto beijava minha boca,
enroscando a língua na minha. Os dedos dele se movendo para facilitar a
entrada do seu pau duro e grosso na minha abertura, esticando-me
deliciosamente, de um jeito quase doloroso.
Então ele torceu meu cabelo com a mão. Quando puxou para trás, ele
meteu com mais força, preenchendo-me até o fundo. Fabrizio estava me
comendo como se não houvesse um amanhã, entrando e saindo até sentir que
não aguentava mais. Quase instintivamente, meu corpo tentou se afastar, o
prazer era grande demais para suportar, porém, as mãos dele prendiam meu
quadril enquanto ele me fodia quase dolorosa, louca e deliciosamente. Estava
tão molhada, que conseguia ouvir a fricção de cada impulso quando nossos
quadris se uniam, junto com os nossos gemidos.
Gritei alto quando senti algo explodir no meu ventre, em seguida meu
corpo inteiro se contorceu em um gozo alucinante. Fabrizio segurou meu
pescoço e me enforcou enquanto montava em mim, indo mais fundo, mais
rápido e gemendo como um louco no meu ouvido.
O suor escorria na minha testa. O tesão me partia em milhares de
pedacinhos.
O mundo girou para mim, foi como se fogos de artifícios explodissem
através dos meus olhos. Meu marido continuou metendo muito enquanto
dava tapas na minha cara e puxava meu cabelo, ao mesmo tempo em que me
chamava de vagabunda, dizendo que era minha obrigação satisfazê-lo
enquanto estivesse ali.
Fabrizio, minutos depois, gozou forte dentro de mim enquanto mantinha a
mão no meu pescoço, sufocando-me, como se estivesse descontando suas
frustrações.
Quando nossas respirações voltaram ao normal, ele soltou minhas mãos e
saiu da cama. Senti-me vazia, sozinha e desesperada.
Ouvi quando ele vestiu a roupa e saiu do quarto. Novamente fiquei sozinha
no escuro e com frio. Minha vagina estava dolorida, até porque estava há
muito tempo sem fazer sexo.

Estava quase dormindo quando um clarão tomou o quarto. As luzes foram


acessas e Fabrizio entrou no cômodo mais uma vez, minutos depois de ter
saído ou horas, não sei. Ele colocou na minha frente uma bandeja com
lanche, suco e um comprimido.
Olhei para o comprimido sem entender, eu não estava com dor. Ele estava
apenas sendo gentil, achando que tinha me machucado?
— Eu não estou com dor. — Sorri e peguei o lanche.
Nesse momento, Fabrizio segurou meu pulso tão forte, que eu achei que
iria quebrá-lo. Os olhos raivosos dele estavam em mim, como se quisesse me
matar.
— Não seja burra. Tome-o sem questionar.
Ele continuou me olhando enquanto eu devolvia o lanche para a bandeja
para pegar o comprimido. Coloquei na língua e tomei o suco, empurrando o
remédio para a garganta.
— Abre a boca — ordenou segurando meu rosto com brutalidade.
Abri a boca e ele verificou tudo. Após ver que tinha engolido, ele se
afastou satisfeito. Mas algo sombrio e perverso ainda estavam presentes no
olhar dele, como se estivesse esperando um momento para se revelar.
Ele não me amava mais.
Depois que acabei de comer, Fabrizio pegou a bandeja vazia e segurou
meu queixo. Os olhos dele me mantiveram presa, por um momento me
esqueci de respirar.
— Voltarei amanhã de manhã. Quero encontrá-la ajoelhada na porta, como
uma cadela, esperando por mim.
Pisquei confusa. Como assim? Eu sabia que ele estava com raiva de mim e
ele tinha todo direito de me punir, mas estava passando dos limites. Eu não
conhecia o homem implacável que estava na minha frente.
Satisfeito, caminhou até a porta. Antes de sair, olhou por cima do ombro.
— Não se esqueça, ajoelhada na porta.
— E se eu não conseguir? — Enxuguei as lágrimas tentando manter minha
dignidade. — Eu nem sei que horas são.
Fabrizio saiu pela porta, ignorando minhas perguntas e me deixando
sozinha novamente. Sem saber o que fazer comigo mesma.

Havia uma grande movimentação no nosso aeroporto particular. Equipes


médicas estavam prontos para agir assim que Riccardo saísse do avião.
Também tinha uma boa equipe médica com ele, para acompanhá-lo até a
ambulância, que estava próxima aguardando apenas sua chegada.
Por ser uma viagem arriscada, estávamos muito nervosos. Matteo havia
gritado com um dos seguranças, que estava distraído mexendo no celular, e
eu precisei acalmá-lo. Todos os homens da famiglia estavam presentes, para
garantir que nada saísse errado.
Tínhamos medo de sermos pegos desprevenidos pelos nossos inimigos.
Também não estávamos descartando a possibilidade de haver um traidor no
meio de nós, esperando o momento exato para agir.
Respirei fundo e olhei para o céu. O tempo estava nublado, algumas gotas
de chuva caíam sobre nossas cabeças, mas continuei firme, segurando minha
arma e esperando a chegada do meu irmão.
Quando o avião pousou, a equipe médica correu para dar suporte. Matteo e
eu tomamos à frente e ajudamos em tudo que foi necessário. Riccardo estava
na maca desacordado, mas com todos os equipamentos necessários que o
mantinham estável. Rapidamente o colocamos na ambulância e fechamos a
porta. Corremos para os nossos carros e fomos atrás.
Enquanto seguíamos atrás da ambulância, aproveitava para verificar se não
tinha ninguém suspeito. O caminho até o hospital parecia mais longo que o
normal, mas pelo menos estava tudo saindo bem como havíamos planejado.
Pelo menos eu pensava assim, antes de identificar um carro suspeito
dobrando a esquina e tentando se infiltrar no meio.
Rapidamente fiz o alerta. Eles aceleraram, enquanto eu diminuía a
velocidade.
Os inimigos, percebendo que foram descobertos, começaram a atirar. Um
dos tiros acertou o pneu do meu carro, fazendo com que perdesse a direção e
batesse contra a mureta de proteção. Eu e mais três soldados tivemos que sair
do carro, ficando para cuidar do contratempo, conforme Riccardo viajava em
segurança até o hospital.
Um outro carro com mais dois dos nossos soldados parou para dar suporte.
Um deles era Giovanni, irmão de Laura. Ele me puxou para trás do carro e
começou a atirar nos homens. Deslizei para frente, para ter a visão de quem
estava atirando. Comecei a atirar também, mirei nos pneus do carro deles e
também quebrei os vidros, minha intenção era acertar o tanque de
combustível, mas mesmo depois de muitos tiros, não obtive sucesso algum.
— Dificilmente um tiro no tanque de combustível o fará explodir. —
Giovanni riu. — Já tentei muitas vezes. Isso acontece facilmente em filmes.
Meu pai sempre me falou isso.
— Certo.
A realidade é sempre outra. Abaixei-me e respirei um pouco, buscando
fôlego. Depois me arrastei pelo chão e entrei debaixo do carro, nessa posição
eu conseguia ver os inimigos. Toda vez em que os tiros paravam, eles
olhavam para atirar, dessa maneira consegui acertar a cabeça de um deles
com dois tiros.
Giovanni avançou lentamente na direção deles enquanto disparava rajadas
de tiros. O soldado, Mumú, aproveitou a oportunidade para jogar uma
granada e acabar de vez com a brincadeira. Giovanni recuou rapidamente e se
escondeu atrás do nosso carro, enquanto ouvíamos um barulho alto de
explosão.
O carro deles estava em chamas.
Depois que o efeito da adrenalina passou, Giovanni tirou o colete a prova
de balas e agarrou Mumú pelo pescoço.
— Você viu que eu estava indo em direção a eles e, mesmo assim, jogou
aquela bomba... isso podia ter me matado.
Mumú deu um empurrão em Giovanni.
— Mas você não morreu. E caso acontecesse, seria em nome da máfia,
pelo menos — debochou Mumú.
Aquilo também de certa forma acabou servindo para mim. Em um
momento de loucura, tentei acabar com minha própria vida.
Mumú era o braço direito de Riccardo. Eles eram amigos e juntos,
entraram em muitas guerras em busca de poder. Riccardo confiava missões
pesadas a ele, missões que não dava para mim e nem para o Matteo. Por isso,
resolvi manter o respeito, porque Mumú não era qualquer soldado.
Entrei no meio e acabei com a briga, até porque o foco era outro, a
distração nos deixava na mira dos inimigos.
— Vamos nos acalmar.
Mumú concordou, voltando a si e tomando sua pose de soldado, mostrando
respeito. Giovanni tentou fazer o mesmo. Em poucos minutos, foi enviado
outro carro para que pudéssemos seguir caminho. Nesse momento, mais tiros
foram disparados, mas Mumú com rapidez me deu cobertura para que eu
entrasse no carro.
Assim que me acomodei, encostei a cabeça no banco e fechei os olhos.
Tudo na máfia era mais difícil, a gente não podia dar bobeira se não quisesse
virar comida de peixes. Era muito arriscado viver assim, às vezes só
queríamos nos dar ao luxo de deitar a cabeça no travesseiro e dormir
tranquilamente por várias horas, mas não dava para ser assim. Ser um
criminoso e ter uma vida luxuosa, mesmo que não tivéssemos tempo de
aproveitar, tínhamos que pagar o preço. Se eu pudesse escolher um futuro
para os meus filhos, eu diria para eles ir por um caminho que não fosse o
mundo do crime.

A chuva estava caindo mais forte em Sicília. Estava sentado na poltrona


tomando um uísque enquanto olhava o fogo queimar na lareira ecológica,
escutando uma música triste através do rádio. Estava perdido quando senti o
cheiro de perfume suave e uma respiração leve roçar meu pescoço, quando
olhei discretamente para o lado, notei Susanna parada do meu lado.
— Há quanto tempo está aqui? — perguntei, surpreso.
Ela apareceu sair do transe, deu um pulo e se afastou rapidamente. Ela
tinha ido embora, mas não entendi por qual razão tinha voltado.
— Desculpe.
— O que você quer?
Estava tão ocupado nos últimos dias, que não estava mais fazendo meus
exercícios regularmente. E para não fazer Susanna perder mais tempo, eu
disse que ela poderia voltar para sua casa.
Eu tinha que entender que minha vida seria para sempre com limitações,
mas que não me incomodava, até conseguia andar bem na maioria das vezes
sem medo de cair. Susanna fez um grande trabalho em muito pouco tempo.
Então, achei que se a liberasse mais cedo, ela ficaria contente.
Susanna abaixou a cabeça e ficou em silêncio. Ela era muito tímida.
Suspendi o queixo dela, para que olhasse nos meus olhos. Ela havia me
ajudado muito. Contei a ela sobre o meu casamento e o motivo pelo qual
tentei tirar minha própria vida. Susanna chegou à brilhante conclusão de que,
meu quase suicídio, não teve nada a ver com Alessandra, mas sim com a
minha infância deturpada, com as constantes cenas do meu pai batendo na
minha mãe. Do Riccardo ainda menino, tendo que trabalhar para nos dar de
comer. Não tive infância e nem uma família exemplar. Cada um reage de
uma forma, e eu não conseguia lidar com problemas emocionais.
Voltei meu olhar para Susanna.
— Agora é minha vez de te ajudar. O que está acontecendo?
— Eu quero ficar em Sicília. Não quero me casar.
Fiquei completamente estático. Assumir essa responsabilidade seria muito
perigoso, mas resolvi aceitar o desafio.
— Vou resolver isso.
Ela sorriu abertamente e num impulso, abraçou-me. Eu estava quase
retribuindo o abraço quando meu celular tocou. Quando vi o número de
Matteo na tela, eu corri para atender. Riccardo havia chegado bem ao
hospital, mas essa transferência foi muito arriscada e eu estava muito
preocupado.
— Matteo. O que houve?
— Estou aqui com Laura no hospital, Riccardo acabou de entrar na sala de
cirurgia. Só preciso que você me faça um favor.
Andei até a janela e observei o céu carregado.
— Pode falar.
— Vincenzo não está lidando muito bem com a notícia. Anna está sozinha
tentando lidar com os meninos. Você pode ir na minha casa dar suporte a ela?
— É claro. Estou indo para lá.
— Obrigado, irmão.
— Não precisa me agradecer. Qualquer coisa me ligue.

Antes de ir até a casa de Matteo, fui à cozinha pegar comida para


Alessandra comer. Eu ainda não sabia o que fazer com ela, mas, por
enquanto, estava disposto fazer com que ela se arrependesse de ter me tirado
de sua vida, de ter me feito sofrer por uma morte que nunca existiu.
No quarto dela tinha câmeras de segurança, assim podia ver os passos dela
através do meu celular. Se ela tentasse alguma loucura, eu iria conseguir
impedir. Havia mandado um detetive ir até o lugar onde Alessandra ficou,
queria saber de todos os passos dela depois que forjou sua morte.
Quando abri a porta, ela pulou assustada e me olhou. Fui até a mesinha e
coloquei a bandeja de comida, mas ela não iria comer dessa vez.
— Vejo que não esperou do jeito que mandei.
Alessandra arregalou os olhos e se encolheu. Nesse momento, pude ver os
joelhos dela completamente vermelhos e machucados. Ela tinha até tentado,
mas não aguentou ficar muito tempo de joelhos. Eu havia passado o dia todo
fora, por isso ela cansou de esperar.
— Fiquei cansada. — Fungou e quando esticou a mão para pegar a
comida, eu a segurei firme. Ela me olhou triste, enquanto recolhia a bandeja
novamente.
— Se quiser comer, tem que merecer. Quando eu chegar aqui, quero vê-la
de joelhos esperando por mim na porta.
Ela assentiu triste.
— E se você tentar alguma gracinha, penduro você nessas correntes.
Com isso, saí do quarto.
Segui com a Anna até onde os meninos estavam. Ela abriu a porta do
quarto de Vincenzo e deu passagem para que eu entrasse.
O menino estava sentado na cama e de cabeça baixa. Eu sabia que seria
difícil explicar o motivo que fez seu pai estar no hospital, mas ele tinha que
entender que essas coisas faziam parte da vida.
— Ele está assim há algum tempo — sussurrou Anna.
— Onde está Lorenzo?
— Trancado no outro quarto.
Assenti e me aproximei de Vincenzo. Abaixei-me, ficando da altura dele.
Anna saiu do quarto e fechou a porta, dando privacidade.
— Sinto muito pelo seu pai. — Toquei o rosto dele. Vincenzo me olhou
com os olhos cheios de lágrimas. — Se você quiser conversar, estou aqui. Sei
que é difícil aceitar certas coisas, mas infelizmente tudo isso faz parte da
vida.
Ele concordou, mas continuou em silêncio. Aquilo de certa forma me
deixou triste, porque ele era meu sobrinho e estava sofrendo, enquanto eu não
podia fazer nada. Na verdade, nem sabia o que fazer com minha própria vida,
quanto mais dar conselhos para alguém tão jovem.
Puxei o menino para os meus braços. Fiquei ali em silêncio ao lado dele,
dando espaço para que ele se sentisse confortável em algum momento para
conversar. Agi como um pai para ele, mostrando que eu estava ali
independentemente de qualquer coisa. Vincenzo podia até não ser meu filho
biológico, mas o amava como se fosse.
Minutos e horas se passaram, mas ainda não tivemos nenhuma notícia.
Olhei no celular ansioso, esperando alguma ligação de Matteo.
— Você quer sair para comer alguma coisa na rua? — sugeri. — Vamos
passear um pouco.
Fiquei animado com a sugestão. Quando meus filhos ficavam tristes, eu
sempre sugeria um passeio em família.
— Não estou muito a fim, tio Fabrizio. Obrigado.
— Ficar aqui sozinho não vai resolver.
Vincenzo ainda estava de pijama. Levantei-me com cuidado, fui até o
guarda-roupas e peguei uma roupa para ele e joguei sobre a cama.
— Vamos, vista isso. Vai ser divertido.
— Podemos ir ao hospital?
— Podemos ir ao hospital depois.
Ele pulou da cama e foi se vestir. Enquanto Vincenzo estava se arrumando,
aproveitei para ir até o quarto de Lorenzo. Assim que abri a porta, Anna deu
um pulo e acariciou a barriga. Ela meio que tentou disfarçar, mas eu sabia
que estava ouvindo minha conversa com Vincenzo.
— Onde está Lorenzo?
Anna forçou um sorriso.
— Ele está neste quarto. — Apontou para a porta ao lado.
Bati à porta e chamei pelo Lorenzo, porém, não obtive resposta. Quando
coloquei a mão na maçaneta e girei, percebi que a porta estava trancada. Com
tanta merda acontecendo, quem diabos deixaria um menino se trancar
sozinho no quarto?
Ordenei que Anna pegasse a chave extra para abrir a porta. Minutos
depois, ela apareceu e eu destranquei a porta. Pedi para ela ficar longe,
enquanto eu conversava com Lorenzo.
Assim que entrei no quarto, vi Lorenzo sentado na escrivaninha
desenhando. Ele estava muito destruído rabiscando algo.
— Lorenzo — chamei-o e ele parou de desenhar e me olhou.
— Tio. Pode entrar — debochou. Ele queria me deixar mal por ter
invadido o espaço dele, mas comigo não iria funcionar.
— Eu bati várias vezes. Já que você não atendeu, resolvi entrar.
— Tudo bem. — Ele riu.
Aproximei-me da escrivaninha e vi um papel rabiscado, parecia um
redemoinho e tinha um boneco sentado.
— Vamos sair para comer alguma coisa? Vincenzo está se arrumando.
— Vamos ao hospital?
— Talvez.
Lorenzo continuou concentrado rabiscando a folha. Para mim, aquele
desenho parecia de uma criança de cinco anos de idade, mas ele continuou
desenhando, deixando o redemoinho cada vez mais forte. Parecia muito
concentrado e determinado.
— É um redemoinho?
Ele me olhou sério, antes de responder:
— Não.
Fiquei praticamente horas ali esperando ele terminar o desenho, depois
iríamos decidir o que fazer, enquanto isso, aproveitava para me informar
sobre a saúde de Riccardo. Ele ainda estava na sala de cirurgia, os médicos
estavam fazendo de tudo para salvá-lo.
Respirei fundo e olhei no relógio, já estava anoitecendo. E eu não poderia
arriscar a segurança dos meninos.
— Não vamos mais? — Ele me olhou.
— Você preferiu ficar desenhando essas coisas em vez de sair.
— Não são coisas. Isso é... eu queria ver meu pai.
Ergui a sobrancelha, observando a forma repentina que ele muda de
assunto.
— É...?
Quando ele ia responder, Vincenzo entrou no quarto. O menino parecia
completamente desanimado.
— Está chovendo muito, tio. Vovó acha melhor a gente deixar o passeio
para amanhã.
Quando caminhei até a janela, vi o mundo desabando em chuva.
— Vamos ficar aqui, tio. Vamos comer o bolo da vovó? — Vincenzo se
animou. — Depois a gente pode assistir o filme?
Não estava nos meus planos ficar muito tempo longe de casa. Primeiro,
porque meus filhos iriam sentir minha falta. Segundo, porque Alessandra
ainda deveria estar ajoelhada no chão, esperando por comida. Eu não podia
deixá-la muito tempo sem comida.
— Não posso ficar.
Vincenzo concordou, triste. Aproximei-me e o abracei, ele retribuiu o
gesto.
— Sinto muito.
— Tudo bem. — Sorriu fraco. — Só estou sentindo muita falta do meu pai.
Ele assistia filme comigo, depois minha mãe me colocava na cama.
Meu coração doeu ao ouvir aquilo. Lembrei-me de quando eu era criança,
do quanto me sentia sozinho às vezes.
— Então, eu vou ficar para assistir um filme com você, depois sua tia
Anna vai te colocar na cama. Tudo bem?
Ele concordou triste. Porque sabia que ninguém nesse mundo seria capaz
de substituir a mãe e o pai dele. Tirei o celular do bolso e mandei mensagem
para a governanta, eu havia deixado uma cópia da chave do quarto de
Alessandra. Caso algo acontecesse comigo, os empregados teriam como tirá-
la de lá. Então, ordenei que deixasse ela sair, enquanto eu estivesse fora.
Alessandra estaria livre para fazer as refeições, mas sempre mantendo
distância dos meus filhos.
Fui com os meninos para a cozinha. A mesa estava repleta de bolos, sucos
e doces. Anna, Giovanni e sua mãe estavam sentados esperando por nós.
Vincenzo correu para se sentar ao lado da avó, que logo lhe serviu um pedaço
generoso de bolo. Já Lorenzo sentou distante e continuou rabiscando o papel.
Observei que o desenho ia cada vez mais, tomando uma forma estranha.
— O que você está desenhando, querido? — Marta perguntou-lhe.
Ele continuava rabiscando. Redemoinho ou o rabisco – sei lá – estava
quase tomando conta de toda a folha.
— Eu vejo rabisco. — Giovanni comentou animado — Posso te ensinar a
desenhar. Sou bom nisso. E esse boneco... está estranho.
Lorenzo então tirou os olhos do papel e olhou para Giovanni. Depois olhou
para Anna, Marta, e por último olhou para mim.
— Eu não deveria contar. — Lorenzo levantou o papel. — Esse rabisco é
um portal negro para outra dimensão. Esse boneco estranho é o meu pai. O
portal negro está tentando puxá-lo para dentro, mas minha mãe fica chorando
e chamando por ele. Papai está indeciso.
Ficamos em silêncio. De repente, a luz começou a piscar e Anna deu um
pulo da mesa assustada.
— De onde tirou isso? — Giovanni perguntou preocupado.
Lorenzo voltou a ficar em silêncio e continuou desenhando. Em poucos
minutos ele desenhou a mulher, que entendi ser a Laura.
Passei a mão pelo rosto e me levantei. Aquilo era coisa de criança e
ninguém tinha o direito de ficar questionando.
— Lorenzo, estou indo assistir um filme com o seu irmão. Se quiser pode
vir junto.
Fui com Vincenzo até a sala e colocamos um filme, depois de alguns
minutos, Lorenzo se juntou.
Lorenzo podia ser levado e até falar coisas loucas, mesmo assim era uma
criança que merecia amor e atenção. Riccardo o adorava, portanto, iria cuidar
dos meninos o tempo que fosse preciso.
Logo pude ouvir a respiração pesada dos meninos. Eles haviam dormido
na metade do filme. Puxei-os para perto de mim e os abracei forte. No
processo, Lorenzo se agitou um pouco.
— Eu te amo, pai — murmurou.
Eu ri, achando que ele estava dormindo e tinha se confundido. Mas para
minha surpresa, o menino estava apenas sonolento, olhando para o canto da
parede, onde a escuridão batia. Ele fechou completamente os olhos e voltou a
dormir.
Coitado, o menino estava delirando de sono. Riccardo claramente era um
bom pai, muito diferente do nosso pai.
Encostei a cabeça no sofá e fiquei em silêncio. Logo meu telefone tocou e
o número do Matteo apareceu na tela.
Minha infância foi boa, embora eu soubesse que não dava para esperar
muito do futuro. Sempre quis ser independente, trabalhar para ter meu
próprio dinheiro, mesmo sabendo que realidade poderia ser completamente
diferente. Papai sempre me dizia para não me preocupar com o futuro, mas se
pudesse voltar no tempo eu diria que ele estava errado.
Fechei os olhos, quando o barulho ensurdecedor do trovão tomou o quarto
silencioso. Eu amava chuva, amava correr enquanto as gotas geladas caíam
sobre meu rosto. Nesse momento essas imagens e essa sensação de liberdade
pareciam ficar cada vez mais distante, inalcançável para mim. Dormia e não
sabia se iria acordar, comia sem saber quando viria a próxima refeição.
Não dava para saber ao certo quando foi que tudo passou a dar errado, nem
de quando me tornei uma pessoa amarga. Mas tinha consciência de que parte
de mim havia morrido, não sabia mais quem eu era ou o que deveria fazer
com a minha vida.
Eu havia deixado meu orgulho de lado, estava há horas ajoelhada
esperando ser notada, esperando apenas um prato de comida, enquanto me
perdia nas lembranças da minha infância e de como fui feliz.
Em algum momento meus joelhos sucumbiram ao cansaço e eu caí, meu
rosto bateu contra o chão. A dor que senti não se comparava à dor da
humilhação de estar em uma situação tão decadente. Nenhum ser humano
merecia isso, morrer seria muito mais viável do que apodrecer em vida. Não
tinha forças para nada, nem mesmo para tomar um simples banho.
Não sei quanto tempo fiquei caída no chão ouvindo o som da minha
respiração ser cortada pelo som da chuva. Estava lutando para me manter
acordada, foi então que pude ouvir vozes baixas. Por um instante, achei que
fosse coisa da minha cabeça, mas quando a porta foi aberta e o clarão quase
me cegou, fiquei em alerta.
— Meu Deus. — Anna veio correndo para me tirar do chão.
Fiquei confusa. Marta também veio me socorrer. Meus olhos queimaram e
lágrimas quentes de emoção não demoraram a surgir. O soluço rompeu
minha garganta quando Marta me abraçou tão forte, ali senti-me acolhida e o
gesto doce fez com que eu me questionasse se merecia tal amor.
— Trouxemos comida. — Marta beijou minha testa.
O cheiro do perfume doce dela, fez com que me sentisse mal por não ter
tomado banho. Não estava apresentável para recebê-las, mas logo me lembrei
de que eu era uma prisioneira e não uma anfitriã.
Marta desembrulhou a comida. Quando pensei que já havia recebido
muito, ela aproximou um garfo cheio de macarrão na minha boca. O gosto
saboroso invadiu minha boca e meu estômago pediu por mais. Eu comi como
se não houvesse um amanhã, estava muito agradecida por elas nunca terem
esquecido de mim.
Eu estava tão feliz, que fiquei com medo de tudo aquilo desaparecer em
um momento fugaz. Fiquei com medo de ser fruto da minha imaginação.
Depois de comer, Anna me ajudou a ir para o banheiro tomar banho.
Quando saí, Marta estava terminando de passar um vestido que há muito
tempo eu não via. Foi um presente de Fabrizio, ele adorava quando eu usava
preto, dizia que o vestido destacava as curvas que ele mais gostava no meu
corpo. Fabrizio gostava de me exibir para os membros da máfia, gostava de
mostrar que tinha o controle sobre mim, por isso ficou tão decepcionado
quando forjei minha morte.
Marta e Anna me arrumaram, o que deixei. Pentearam meu cabelo e depois
colocaram um pouco de cor no meu rosto. Depois de todo o procedimento,
elas se afastaram para me olhar e pareciam estarem satisfeitas e felizes. Se
elas estavam felizes, então eu também ficaria feliz.
— Está melhor assim. — Marta sorriu. — Você é uma Guerrieri.
Ela falou com tanta convicção, que por pouco eu acreditei.
— Sim, você é uma Guerrieri. — Anna afirmou.
Marta tirou um espelho da bolsa e o colocou na minha frente. Há muito
tempo eu não me via daquele jeito, isso fez com que memórias antigas
viessem como bomba explodindo minha cabeça. Por mais que eu adorasse
estar deslumbrante, aquela imagem refletida no espelho em nada se parecia
com o meu interior.
— Obrigada. — Sorri emocionada.
— Vamos passear um pouco no jardim? — Marta sugeriu.
Fiquei imensamente feliz com a possibilidade, mas não sabia como
Fabrizio iria reagir.
— Eu não posso.
Marta segurou meu rosto.
— Você pode. Fabrizio não vai voltar tão cedo. Ele deu a chave do quarto,
para cuidarmos de você.
Elas me puxaram para fora e quando senti o ar fresco bater contra meu
rosto, quase gritei de emoção. A chuva caía forte e o vento batia contra as
árvores. Olhei para o céu nublado onde pequenos raios pareciam se dissipar
em meio às nuvens cinzas. Percebi que na vida não precisávamos ter muito
para ser feliz.
Tirei a atenção do céu, quando senti alguém pegar minha mão. Anna me
olhava com tristeza, completamente compadecida da minha situação. Porém,
eu não entendi o motivo de ela estar triste, sendo que eu estava feliz por estar
compartilhando esse momento com elas. Era como se eu estivesse tendo o
privilégio de saber como é ser livre pela última vez.
— Eu queria ter o poder de mudar a sua situação — murmurou Anna.
Olhei de volta para o céu e contemplei mais uma vez o céu acinzentado.
— Vocês já fizeram muito. — Sorri fraco — Certas coisas acontecem
para que possamos perceber o que temos do nosso lado. Quando forjei minha
morte, perdi o amor do meu filho, minha identidade, meu casamento e outra
parte de mim morreu. — Olhei para Marta e depois para Anna, depois pensei
em Laura. — No entanto, ganhei uma mãe e duas irmãs.
Elas me abraçaram e eu retribuí de bom grado, como se minha vida
dependesse daquele carinho. Eu havia perdido muita coisa nesse processo,
mas também havia ganhado o carinho de mãe que nunca tive.
— Você tem um filho, Alessandra. — Marta segurou meu rosto. — Não
desista da vida, não desista de viver. Nunca é tarde para consertar um erro,
nunca é tarde para recomeçar.
No fundo, ela tinha razão, mas eu não podia mais ter esperanças. Se
Fabrizio quisesse me matar, que o fizesse, contanto que me deixasse realizar
meu último desejo.
Anna, Marta e eu passamos horas conversando sobre vários assuntos.
Assim que elas contaram que Fabrizio estava no hospital e sabia que elas
cuidariam de mim, fiquei mais aliviada. Tive medo que elas sofressem
consequências por terem vindo me ver.
Não queria arrastar mais ninguém comigo.
Marta havia me contado que estava noiva. No início, ela parecia estar com
medo, mas pelo que Anna dizia o presidente não se parecia em nada com
outros homens da máfia.
O presidente era apenas um associado e tinha costume diferente dos
nossos. Então, se permitiram o casamento deles, provavelmente, Marta fez
um bom negócio. Ela teria chance de sair desse meio. Marta poderia viajar
com ele para outros países já que o presidente tinha muitos negócios.
— Então... você está me dizendo que o presidente não é um homem
totalmente ruim? — Marta ergueu os olhos.
— Parece que não — respondeu Anna. — Matteo me garantiu.
Eu não sabia muita coisa sobre o presidente, mas tinha ideia que a máfia
sempre forjava os votos para que ele ou algum outro associado vencesse as
eleições.
— Bem... — Marta suspirou. — De qualquer forma, não estou interessada
em noivado. No momento, estou preocupada com a sua irmã. Ficar tanto
tempo naquele hospital não está fazendo bem para ela. E outra, não podemos
fazer festa de noivado enquanto o chefe estiver numa cama de hospital. Seria
completamente desrespeitoso.
Ao que parecia, Marta estava inventando uma desculpa para não ter que
assumir um compromisso. Mas pelas histórias que eu sabia sobre o Riccardo,
era que ele sempre se superava. Não era a primeira vez que ele foi parar em
um hospital. Antes de tudo, eu precisava muito conversar com ele.

Depois que Marta e Anna foram embora, fui caminhando lentamente de


volta para o quarto. Aproveitando o curto tempo para aproveitar mais a
sensação de liberdade, sentir o vento bater contra meu rosto e o cheiro do
umedecimento do solo. Estava quase alcançando o corredor que ligava os
quartos quando escutei a voz de uma mulher. Ela estava chorando e falando
sem pausa.
Fiquei quieta onde estava. Logo percebi que ela estava falando no telefone.
— Eu não vou voltar. Agora eu faço parte dessa máfia e não da sua,
portanto, não tenho que acatar suas ordens. — Ela ficou em silêncio. — Não
sou mais sua noiva — gritou.
A mulher ficou em silêncio novamente. Talvez escutando o que a pessoa
do outro lado da linha estava dizendo.
— Faça o que você quiser, estou protegida. Se quiser destruí-los, não conte
comigo. Sou fisioterapeuta e não um boneco que você manipula para seus
esquemas sujos. Cansei.
Fisioterapeuta de Fabrizio.
Fiquei em alerta. A mulher de repente abriu a porta do quarto e ficou
pálida quando me viu.
— Oi... — Ela forçou um sorriso nervoso enquanto tentava ajeitar os
cabelos ruivos. — Alessandra, não é?
— Alessandra Guerrieri — corrigi.
Ela abriu mais o sorriso.
— A ex-defunta!
Provavelmente ela sabia tudo sobre mim. E eu iria descobrir em que merda
ela estava envolvida. Eu tinha que descobrir antes que a bomba explodisse,
porque havia crianças morando na casa e correndo risco.
Continuei olhando para a mulher, esperando que ela explicasse sobre a
ligação. Ela estava aparentemente nervosa e assustada.
— Me desculpe pela piada fora de hora — lamentou. — Sou Susanna,
fisioterapeuta do Fabrizio.
— Sei quem é você. — Apertei a mão dela. — As fofocas andam rápido.
Ela sorriu fraco.
— Você ouviu o que eu estava falando? — Abaixou a cabeça.
Naquele momento, percebi que ela podia ser apenas mais uma vítima da
maldade humana, por isso tentei não fazer suposições. Eu não tinha motivos
para julgá-la, mesmo sabendo que Fabrizio poderia facilmente ficar
interessado nela. Susanna era uma rival e tanto, e eu aceitaria perder numa
boa desde que ela jogasse limpo.
— O que está acontecendo?
— Meu noivo... Ex-noivo, está me ameaçando. Mattia quer que eu leve
informações daqui para ele. Achei que estava sendo caridoso, fazendo com
que Fabrizio Guerrieri se recuperasse. Mas ele me obrigou a vir novamente
para cá, para benefício próprio. Ele me enviou para ser uma espiã, mas não é
da minha natureza trair quem me estendeu a mão. Fabrizio tem sido muito
bom para mim, ele me deu abrigo.
Coloquei a mão sobre a boca, completamente horrorizada.
— Você está me dizendo que Fabrizio vai te manter aqui?
— Eu disse que não queria mais me casar, aí Fabrizio disse que iria
resolver.
Mas ele não podia fazer isso. Haveria uma guerra se Fabrizio ficasse em
definitivo com um membro de outra máfia sem autorização. Por outro lado,
ele poderia provar que Susanna era uma espiã e poderia tirar informações
dela. Ainda assim, seria uma situação complicada, porque os membros da
Cosa Nostra iriam querer a cabeça dela.
Olhei para ela. Não havia sinal de mentira em suas feições, pelo contrário.
Notei que se tratava de uma mulher sendo usada por um homem cruel, que
passava por cima de qualquer um para alcançar seus objetivos. Ela estava
sendo uma isca. Embora eu não fosse ninguém para julgá-la, teria que ficar
de olhos bem abertos para que nada de ruim acontecesse ao meu filho.
Mesmo que eu nunca tenha sido uma mãe modelo, jamais iria querer que
algo ruim acontecesse ao menino.
— Por que não contou ao Fabrizio que sua missão aqui foi ser uma espiã?
— Porque eu não queria que ele tirasse conclusões precipitadas. Da
primeira vez, fiz somente o meu trabalho, ignorei as mensagens e as ligações
de Mattia e me concentrei na recuperação de Fabrizio. Mas quando Fabrizio
disse que não me queria mais aqui, meu ex-noivo ordenou que eu voltasse e
tentasse seduzir Fabrizio em busca de informação. De início, eu não sabia
que a estratégia de Mattia seria essa.
— Por que está me contando isso?
Ela me olhou séria.
— Não estou mentindo. Você me perguntou, por isso estou respondendo
com toda sinceridade.
— Será? — Aproximei-me. — Acho que há algo mais nessa história.
Susanna abaixou a cabeça e ficou em um silêncio desconfortável por um
tempo. Depois levantou o rosto e olhou fixamente para mim, como se
estivesse se desculpando.
— Estou apaixonada por Fabrizio. Quando fui embora, achei que poderia
esquecê-lo. Mas quando Mattia me obrigou a voltar, percebi que ficar aqui
seria meu destino.
— Não estou querendo ser grosseira, porém, ele ainda é meu marido.
Ela concordou.
— Sei disso. Sei também que ele não te esqueceu completamente.
Eu ri com tristeza. Quem me dera se fosse verdade.
— Fabrizio me odeia. E se você está realmente apaixonada, deve contar a
ele.
Doeu-me dizer isso, doeu no fundo da minha alma, mas não podia mais
continuar sendo egoísta.
— Fabrizio está passando por um momento delicado agora, não quero
adicionar mais problemas. Estou muito feliz em poder ficar aqui na Sicília,
não quero que esse sonho termine.
Tentei não ficar chateada com a revelação dela, tinha que levar em
consideração o fato de Susanna estar sendo sincera comigo. E, além de tudo,
eu não tinha motivos para ter raiva.
— Você o colocou em uma situação de risco — alertei. — Deveria ter dito
a ele os planos do seu ex-noivo assim que retornou. Não espere mais.
— Não foi minha intenção. Ele está distante. Eu sei que tem algo grave
acontecendo na máfia, por isso todos estão tensos. Você sabe o que está
acontecendo?
A tensão que ela se referia era sobre o fato de Riccardo estar entre a vida e
a morte, mas essa informação eu jamais iria compartilhar com ela, ou com
qualquer outra pessoa.
Susanna estava claramente se esquivando da conversa. Se ela não estava
compactuando com o ex-noivo, então deveria ter alertado Fabrizio sobre os
riscos desde o início.
— Você precisa contar tudo ao Fabrizio se quiser continuar aqui. Seja
sincera e nunca esconda coisas dele. Fabrizio tem um ótimo coração, mas
também é muito rancoroso com aqueles que traem sua confiança. Tem muita
coisa em risco, Susanna.
Ela assentiu.
— Vou me lembrar disso...
Susanna arregalou os olhos de repente e se encolheu enquanto olhava
através de mim, por cima da minha cabeça. Quando me virei para trás, pude
notar o motivo do medo dela. Fabrizio estava olhando para nós duas com a
testa franzida. Ele estava abatido, triste e desanimado. Certamente, não havia
escutado nada do que dissemos. No entanto, deveria mantê-lo em alerta caso
algo saísse do eixo.
— Está tudo bem? — perguntei com sinceridade.
— O que você ainda está fazendo fora do quarto? — rosnou. — Eu não
quero olhar para você hoje.
— Me desculpe...
Ele segurou no meu braço e me arrastou de volta para o quarto. Eu
tropeçava e tentava ficar de pé enquanto ele me arrastava, de um jeito bruto e
sem paciência. Quando chegamos ao quarto, puxei o braço com raiva. Eu já
estava cansada de ser tratada como lixo.
— Eu estava conversando com Susanna. Acho melhor você colocá-la
contra a parede...
Ele me interrompeu.
— Se eu colocá-la contra a parede, será unicamente para fodê-la. Isso não
é assunto seu.
— Nossa, como você é ridículo. — Afastei-me. — O ex noivo dela está
querendo informações. Ele me parece ser perigoso, Fabrizio. Tem que tomar
cuidado.
Ele me olhou e depois soltou uma risada debochada enquanto se
aproximava de mim.
— É impressão minha ou você está com ciúme?
Meu coração acelerou. Engoli seco e abaixei a cabeça, afinal estava com
medo de revelar meus sentimentos e ser humilhada novamente.
— Não é ciúme...
— Então está insinuando que eu não sei lidar com ameaças? Susanna vai
ficar aqui, estou pouco me fodendo para a opinião dele e para a sua.
— Você enlouqueceu. Nosso filho mora aqui.
Fabrizio segurou meu rosto com força. Eu tentei me afastar, mas ele
segurou meu cabelo.
— Ah, agora é nosso filho? — debochou.
— Sim, ele é nosso filho. Eu o amo.
Fabrizio soltou uma gargalhada.
— Não vem com essa conversa. Você sumiu sem olhar para trás. Deixou a
criança comigo e agora vem dizer que está arrependida?
— Foi melhor eu ter saído de cena, do que ter ficado e me tornado uma
péssima mãe. Você não acha?
Ele estreitou os olhos e cerrou os punhos.
— Se depender de mim, ele nunca vai saber que você é a mãe dele.
— Mas não depende de você. Mesmo longe, acompanhei todos os passos
dele. Foi por ele que tive forças.
Assim que terminei de falar, ganhei um olhar assassino.
Cenas do nosso casamento e dos momentos felizes que compartilhamos
juntos passou como um filme na minha mente.
— Se vai me matar, então mata logo. Estou cansada de ser tratada assim.
Fabrizio ficou surpreso, depois trincou o maxilar com raiva e estendeu a
mão para me bater, mas não fiz nada para impedir.
— Não me dê ideias, Alessandra. Não aja como se você fosse uma vítima
aqui.
A raiva aumentou dentro de mim. Eu estava farta de ficar calada.
— É claro, a única vítima aqui é você que engravidou minha própria irmã
— gritei. — Se você tivesse ficado ao meu lado quando engravidei de um
filho seu, talvez não tivesse forjado minha própria morte. Mas além de me
estuprar e fazer um filho em mim contra minha vontade, ainda me
abandonou.
O corpo de Fabrizio enrijeceu. Estava na hora de colocar tudo em pratos
limpos. De repente, ele socou a parede acima da minha cabeça.
— Está colocando a culpa em mim por seus fracassos?
O ar pesou completamente. Havia uma tensão grande entre a gente.
— Quando eu mais precisei, você me virou as costas. Você me engravidou
sem eu estar preparada. Tudo isso foi um gatilho para mim.
Ele ficou em silêncio, ouvindo meus desabafos. Mesmo que eu dissesse
tudo que estava engasgado, Fabrizio nunca seria capaz de entender como eu
estava me sentindo. Ninguém ia entender. Ter um filho contra minha vontade
acionou um gatilho em mim, como se algo fosse dar errado novamente. Ser
mulher é muito complicado, ainda mais quando se tem o corpo violado.
— Você não pode jogar a culpa somente em mim — gritei enquanto
tentava me afastar, mas ele me segurou pela cintura.
— Não? — Fabrizio ergueu os olhos cheios de mágoas. — Eu te ofereci o
mundo. Te ofereci minha compreensão, e o que você me deu em troca além
de mentiras?
— Esconder coisas de você não fez com que eu te amasse menos. Minha
mente sempre foi fodida, ser mulher na máfia nunca foi tarefa fácil. Mas meu
coração sempre foi seu, nunca menti sobre isso. Meu Deus, Fabrizio, será que
você não percebe que tudo isso é pequeno diante do amor que prometemos
um ao outro?
Ele me olhou profundamente, por breves segundos eu vi naqueles lindos
olhos resquícios do homem que amei um dia.
Aproximei-me mais de Fabrizio e olhei no fundo de seus olhos.
— Vamos jogar limpo agora. — Toquei o rosto dele. — Se eu tivesse te
contado tudo, você teria se casado comigo?
O olhar de Fabrizio estava pesado sobre mim, avaliando cada expressão
minha.
— Não — respondeu sinceramente, afastando-se de mim.
Um balde de água fria em dias frios. O golpe final no meu frágil coração.
— Foi exatamente isso que meu tio falou. Se você não tivesse se casado
comigo, eu teria assumido as consequências da fúria dele. No final das
contas, ninguém iria se importar. Mas, hoje, sabendo a situação que me
encontro, era melhor eu ter te contado mesmo. Estou cansada de sofrer, você
venceu, Fabrizio. Eu não mereço nada. Faça o que quiser.
— Agora, me deixe sozinha. Por favor.
Fabrizio caminhou até a porta, em silêncio. Antes de sair, ele olhou-me
pela última vez. Os olhos dele diziam mais do que sua boca podia dizer. E
quando, finalmente, saiu sem olhar para trás, eu desabei no chão. Lágrimas
de dor queimavam meus olhos. Eu não sabia o que fazer para reparar o meu
erro, fazer com que ele acreditasse em mim e que estava arrependida.
Sim, por mais que eu tivesse os meus motivos, estava completamente
arrependida de ter fugido. Não estava em sã consciência para ter noção do
que era certo ou errado. Qual era a dificuldade de ele entender isso?
Meu Deus do céu, quem nunca errou na vida?
Fabrizio era um homem experiente, sabia perfeitamente que eu nunca fingi
quando estava com ele.
Quando ouvi o barulho da porta sendo fechada, fui atingida por uma dor
horrível no peito. Essa angústia forte, fez-me entender que, talvez, essa tenha
sido nossa última conversa, talvez uma despedida definitiva.
O amor que eu sentia por ele nunca ia sair de mim.
Eu estava com mil pensamentos na cabeça enquanto dirigia em alta
velocidade pelas ruas da Sicília. Eram muitas preocupações para suportar e
muitas decisões para tomar. Ou eu matava Alessandra e me casava com outra
mulher, ou poderia simplesmente perdoá-la e seguir minha vida ao lado dela.
Embora parecesse uma decisão fácil, não conseguia chegar a uma conclusão.
Não conseguia tomar uma decisão quando se tratava dela, por mais que fosse
difícil e doloroso admitir, ainda a amava.
Se eu escolhesse matá-la, essa decisão iria acabar comigo e, ainda, teria a
possibilidade de o filho me odiar quando crescer. Porém, se escolhesse seguir
ao lado dela, continuaria remoendo suas mentiras.
Não havia outras alternativas. Ou matava Alessandra, ou ficava com ela.
Continuei dirigindo sem rumo e pensando, já não podia mais adiar minha
decisão. Mas, por ora, eu iria me dedicar a outra coisa ou do contrário iria
enlouquecer.
Paguei o celular e disquei o número de Matteo. Demorou apenas alguns
segundos para ele atender, como se já estivesse esperando minha ligação.
— Está tudo bem aí? — perguntei. Matteo passava a maior parte do tempo
no hospital ao lado de Laura enquanto Riccardo lutava para sobreviver.
Matteo respirou fundo antes de responder.
— Instável. Ele teve duas paradas cardíacas.
Eu até queria ficar juntos com eles, mas sentia que não era muito bem-
vindo, não por Matteo, mas por Laura. Sei que eu havia pisado feio na bola
com ela, no entanto, as coisas precisavam mudar. Tinha que parar de olhar
para os meus próprios problemas e ver além deles. Ver que ainda havia muito
para se viver e filhos que precisavam de mim, havia também assuntos da
máfia para resolver.
— Estou indo ao hospital.
— Ótimo. — Matteo bufou. — Você sempre foi tão racional, não deixe os
seus problemas conjugais com Alessandra tornar esse momento pior. Laura
está precisando muito do nosso apoio.
Ele tinha razão. Por que diabos eu estava me descontrolando tanto
ultimamente? Ninguém podia mais olhar para mim, que eu já achava que era
algum tipo de complô. Não podia mais deixar que minha vida pessoal
interferisse na minha vida social.
Laura sempre foi como uma irmã para mim, embora tivéssemos nossas
diferenças como qualquer outra pessoa, eu gostava muito dela.
— Eu não faria de outra forma. — Passei a mão no rosto, tomando um
choque de realidade.
— Graças a Deus você está começando a colocar a cabeça no lugar.
As horas passavam devagar. Matteo andava de um lado para o outro. Laura
estava cochilando em um dos muitos bancos do hospital, enquanto soldados
fortemente armados faziam a segurança do local.
Mumú, um dos soldados de confiança do Riccardo, também estava aflito
parado na porta barrando a passagem de qualquer um. Alguém podia
facilmente estar infiltrado e disfarçado de médico para poder matar Riccardo.
Não podíamos nos dar o luxo de descartar nada.
O silêncio era insuportável. Se Riccardo ficasse bem nas últimas vinte e
quatro horas, então ele estaria definitivamente fora de perigo. Mas cada
minuto era agonizante, poderíamos até dizer que aquele relógio grande na
parede estava parado, se o ponteiro maior não estivesse se movendo entre os
números.
Laura de repente despertou agitada e Matteo correu para abraçá-la.
Aproximei-me deles e me sentei ao lado dela. Pela primeira vez, desde que eu
soube que Alessandra estava viva e que ela sabia o tempo todo, eu a abracei
forte. Deixei tudo para trás.
Pela primeira vez na vida, a gente tinha uma missão de cuidar de pessoas
que eram importantes para o Riccardo. Laura e os filhos.
— Obrigada, Fabrizio. — Ela deu um sorriso fraco.
— Não precisa me agradecer. — Olhei para o braço engessado dela e tentei
mentalizar a cena na minha mente. Não deve ter sido nada fácil para ela.
— O que aconteceu aí? — Apontei para o braço machucado.
Laura respirou fundo. Eu ouvi alguns soldados comentando que ela havia
se machucado para salvar a vida do chefe, mas, na época, eu não estava muito
interessado no ato de bravura dela.
— Bem, Riccardo e eu estávamos discutindo sobre eu ter mais um filho.
Eu sempre sonhei em ser mãe de uma menina.
Matteo tossiu.
— Coitado, por isso ele passou mal — meu irmão mais novo interrompeu,
para fazer mais uma de suas piadas fora de hora.
Olhei feio para ele e pedi que Laura continuasse.
— Riccardo se sentiu mal de repente e quando ia cair, segurei-o para que a
cabeça dele não batesse no chão, então ele caiu por cima de mim. Eu gritei
por ajuda e os soldados rapidamente entraram no quarto. Quando viram
Riccardo desacordado e por cima de mim, acharam que eu havia atentado
contra a vida do meu marido. Mas quando se deram conta da situação e viram
o estado do meu braço entortado para trás, enquanto eu gritava de dor, eles
entenderam a situação.
Riccardo era um homem grande e Laura muito pequena, ela teve sorte de
ter quebrado apenas o braço, não que isso fosse algo bom, mas poderia ter
sido muito pior.
— Sinto muito. — Respirei fundo. — Você está bem agora e Riccardo vai
sair dessa.
Ela assentiu.
— Os médicos disseram que se eu não o tivesse segurado, ele estaria
morto. Graças a Deus, consegui evitar uma queda maior. Mas ainda me sinto
culpada por não perceber que ele estava mal há dias.
— Você praticamente salvou a vida dele. Não tem que se sentir culpada —
garanti.
Minha cunhada respirou fundo novamente e colocou a mão sobre o rosto.
Matteo a envolveu nos braços e puxou-a para si.
— Riccardo sempre foi muito teimoso, Laura. Todos nós o alertamos. Os
soldados achavam que os sintomas que ele estava sentindo eram semelhantes
ao de infarto. Ninguém imaginava que ele estava sofrendo uma hemorragia
cerebral. Não tínhamos como prever, infelizmente.
Olhei através da janela. O céu estava nublado. Era de madrugada e a gente
continuava de prontidão no hospital, contando as horas e os minutos. As
horas ali eram agonizantes e toda vez que o médico entrava no quarto, onde
Riccardo estava internado, ficávamos aflitos e apavorados de receber a pior
notícia.
Laura havia ido à cantina pegar café. Matteo e eu estávamos sentados
conversando sobre o estado de saúde do nosso irmão, quando o presidente
apareceu para dar apoio. Sabíamos que ele estava ali por solidariedade, mas
isso também mostrava que o assunto havia se espalhado mais do que
gostaríamos, em especial porque o presidente não estava sozinho.
Nós nos levantamos para cumprimentá-lo.
— Desculpe vir sem avisar. — Ele apertou nossa mão. Olhei para o rapaz
que estava ao seu lado, mostrando minha insatisfação. — Desculpe por isso,
este é meu filho Giuliano.
Matteo tomou à frente e apertou a mão do rapaz.
— Eu sou Matteo Guerrieri. Este é meu irmão Fabrizio Guerrieri.
Nesse momento, Laura entrou pelo corredor tentando equilibrar nossos
cafés.
— Nossa... — Giuliano piscou absorto. E quando eu ia ajudá-la, Giuliano
correu na minha frente, como se já a conhecesse há anos.
Que porra era essa? Matteo olhou para mim confuso.
Laura o olhava confusa e, completamente, estática enquanto o filho do
presidente tirava os cafés da mão dela. Matteo e eu olhamos para o
presidente, que estava muito sem graça com a situação.
— De onde ele a conhece? — perguntei. — Nunca o vimos antes por aqui.
O presidente ficou sem jeito antes de começar a se explicar.
— Ele acabou de sair da faculdade. Laura apesar de fazer parte da máfia, é
uma artista talentosa. Giuliano a viu por fotos. Riccardo fez questão de posar
com ela em um jornal da cidade.
Laura era artista da máfia e tocava piano em eventos da máfia, por isso a
foto dela não deveria ser mostrada para terceiros. Não entendi o que Riccardo
pretendia quando fez isso. Talvez, fosse para exibir Laura como um troféu.
Eu tomei a frente da situação e segurei no braço de Laura. Foi a hora
perfeita para apresentá-la para ele.
— Essa é Laura Guerrieri, esposa do nosso irmão, Riccardo. Ela é mãe dos
gêmeos... herdeiros da Cosa Nostra. Fique longe.
Giuliano ficou pálido e deu um passo para trás.
— Eu sei.
— Giuliano. — O presidente chamou sua atenção. — Comporte-se,
Riccardo está logo atrás daquela porta. Vamos ter mais respeito.
O soldado, Mumú, estava de longe desconfortável com a situação. Ele era
braço direito de Riccardo, também não estava gostando da maneira que o
filho do presidente estava se comportando. Parecia ser um rapaz mimado e
acostumado a ter tudo que quer, o que não seria muito diferente de sua irmã.
Ela e Laura se odiavam.
— Meu irmão costuma ser muito ciumento. Se Laura tornou-se uma
pianista de sucesso no mundo da máfia, foi porque meu irmão permitiu —
rosnou Matteo impaciente. — Mantenha seu filho na linha.
O presidente assentiu.
— Ele está. Até porque em todas as fotos, Laura estava ao lado do marido.
— Ele virou-se para olhar em direção ao Giuliano. — Você está indo por um
caminho perigoso.
— Sim, pai, mas você disse que ele estava morrendo, por isso eu quis te
acompanhar.
O presidente tossiu de forma agressiva.
— Não me coloque em maus lençóis aqui, garoto.
Riccardo estava morrendo sim, mas não significava que estava morto.
O clima ficou pesado. Depois que Laura entregou nossos cafés, ela saiu do
local sendo escoltada por Mumú, completamente incomodado com os olhos
de Giuliano pesando sobre ela.
O presidente passou a maior parte do tempo tentando se desculpar. No
entanto, meu olhar estava em Giuliano impaciente tentando dizer algo, que
era bruscamente interrompido pelo pai.
— Você tem algo a nos dizer, Giuliano? — perguntei.
Ele de pronto concordou, ajeitou o paletó e deu um passo à frente.
Naturalmente, ele desconhecia o quão perigosos éramos, não sabia onde
estava se metendo. E, por outro lado, o presidente não sabia que tinha um
filho imprudente quando decidiu trazê-lo para o hospital.
— Sei que o seu irmão está morrendo. Tenho uma proposta para fazer.
O corpo do presidente ficou rígido.
— Giuliano — rosnou.
Eu fiz sinal para que o presidente o deixasse falar. Qualquer merda que ele
estivesse disposto a falar, eu iria ouvir com atenção mesmo sabendo que não
viria coisa boa.
— Darei a vocês metade das terras que irei herdar do meu pai. Em troca,
quero ficar com a Laura.
O silêncio se infiltrou na sala. Primeiro, um dos soldados que estava no
fundo começou a rir, depois foi a vez de Matteo. Enquanto eu, não estava
achando graça nenhuma.
— Como é? — perguntei, fazendo-me de desentendido. Talvez, dando a
oportunidade para que ele se desculpasse.
Tínhamos um apreço pelo presidente que era nosso associado. Mas se nem
mesmo ele conseguia segurar as rédeas do filho, nós faríamos esse trabalho
para ele.
— Estou aqui a negócios. Já que meu pai não o fez, eu faço. Quero
negociar com vocês, afinal, vocês trabalham para o meu pai. Estou errado?
— Nós não trabalhamos para o seu pai — falei, sério.
O presidente se desfez da gravata e murmurou:
— Isso é um absurdo, Giuliano.
— É melhor o senhor sair com o seu filho deste hospital, antes que eu
mande um dos meus soldados fuzilá-lo na sua frente.
— Moleque sem-noção. — Matteo deu um passo à frente. — Meu irmão
lutando para sobreviver, e você de olho na mulher dele.
Um dos soldados se aproximou. Giuliano arregalou os olhos e olhou para o
pai.
— Você não é o presidente?
O velho rapidamente tentou amenizar a situação.
— Desculpem. Eu não sabia que o meu filho iria dar esse vexame.
O presidente, percebendo a situação, agarrou o filho pela camisa e o
arrastou para fora do hospital. Mas a afronta estava feita, não tinha jeito.
Olhei para o soldado que estava próximo de mim, esperando apenas um
comando para agir.
— Mostre a esse garoto como se deve respeitar as esposas dos amigos.
Ele assentiu enquanto tirava o soco-inglês do bolso.
Depois de algumas horas, meu celular tocou. Um dos soldados me passou
informações.
Estava feito.
O filho do presidente teve o que mereceu.
Os soldados também pareciam estar com raiva quando bateram nele. Eles,
por pouco, não mataram o rapaz.
Giuliano estava internado no hospital, com as costas quebradas, pernas e
braços quebrados.
Ele havia aprendido a lição... quer dizer, se ele sobrevivesse, esperamos
que ele tenha aprendido a lição. Do contrário, ele não teria uma nova chance.
— Está feito. — Olhei para Matteo e desliguei o celular.
Matteo assentiu.
— Não que o moleque não seja culpado, ele deveria ter mais respeito pelas
mulheres casadas. Mas acho que o presidente deveria ter alertado o rapaz, em
especial sobre nós. Ele não pode ter a mulher que quiser, principalmente as
da máfia.
— Acha que deveríamos dar um corretivo no presidente? — perguntei.
— Acho que não vai ser preciso. No entanto, iremos esperar Riccardo
acordar, então ele vai decidir.
— Primeiro, ele tem que se recuperar, para depois a gente dar essa notícia
a ele.
Ele certamente vai surtar quando souber que mexeram com Laura, por isso
deveríamos manter a descrição até que ele se recuperasse. Pelo menos
estávamos contando com isso, que ele se recuperasse logo.
O presidente era um associado e responsabilidade de Riccardo. Então não
podíamos fazer nada sem que Riccardo mandasse. Eles tinham negócios
juntos, que Matteo e eu desconhecemos.
Algumas horas se passaram, ainda não tivemos mais notícias do nosso
irmão. Matteo e eu estávamos tão aflitos, que ficamos andando de um lado
para o outro. Laura voltou horas depois para o hospital, dessa vez, trouxe as
crianças. Ela havia ido até à casa de Matteo tomar banho e trocar de roupa.
Os meninos estavam emburrados. Laura sentou eles na cadeira e se
aproximou da gente. Os seguranças do Riccardo estavam em volta dela e das
crianças, impedindo que pessoas estranhas se aproximassem.
Mesmo estando em uma cama de hospital, Riccardo ainda cuidava dela.
Ele havia deixado ordens especificando que, se caso algo acontecesse com
ele, deveríamos cuidar de Laura e das crianças.
— Por que você trouxe os meninos? — Matteo perguntou a ela, que deu de
ombros.
— Não tive mais como segurá-los. Eles quiseram vir, estavam emburrados
e querendo ver o pai deles. Não podia negar esse direito aos meus filhos.
— Você fez certo. — Coloquei a mão no ombro dela.
Matteo jogou a mão para o alto e bufou.
— Essas crianças! Vou procurar o médico, para conseguir uma autorização
para eles entrarem.
Enquanto Matteo resolvia a questão da autorização para entrar no quarto
em que Riccardo, aproveitei para ligar para casa, e saber como as crianças
estavam.
A governanta disse que Alessandra tinha alimentado as crianças e estava
dando banho nelas. Fiquei completamente furioso, por pouco não larguei
tudo, para ir para casa tirar satisfação com Alessandra. Fui claro, quando
disse que não queria que ela se aproximasse dos meus filhos.
Desliguei o celular e encostei a cabeça na parede, tentando me acalmar.
— Fabrizio — Laura chamou.
Virei-me em direção a ela, já sabendo que ela iria se intrometer. Mas fiquei
em silêncio, para ouvir o que ela tinha a dizer.
— Você tem que deixar a Alessandra se aproximar das crianças. Isso vai
fazer bem para ela.
Ergui a sobrancelha. Como assim? Ela tinha largado meu filho, sem se
preocupar com nada.
— Isso não faz sentido, Laura. Se Alessandra quisesse mesmo ser mãe,
não teria fugido. Você nunca largou seus filhos e sua dor não foi menor do
que a dela.
— Você tem que entender, que as pessoas não são iguais. Os sentimentos
também não. Alessandra não soube lidar com os problemas dela, além do
mais, você não pode julgar. Você é o marido e tem que estar do lado dela. Se
você não fizer isso, quem mais fará?
Eu não conseguia ser tão evoluído, a ponto de passar por cima de tudo que
ela fez e perdoar. Tudo bem, também não fui santo, mas nunca pensei em
abandonar meus filhos. Por mais que a situação fosse difícil.
— Eu não consigo. — Fechei os olhos.
— Você consegue. Todos nós temos problemas. Todo casamento é difícil,
porém, desistir não é a opção. E sua melhor opção, é perdoar Alessandra.
— Por que você diz assim, com tanta segurança?
Eu queria ter a determinação dela.
— Você é quebrado, Fabrizio, desde criança. Tudo que você passou lá
atrás, está interferindo na sua vida adulta. Você realmente acha que é capaz
de suportar uma outra mulher na sua vida, dar a ela amor, cachorros e filhos?
Começar do zero como um casal feliz, daqueles que vemos em comercial de
margarina?
Aquilo embaralhou minha mente. Eu nunca tinha parado para pensar desse
jeito. Se eu escolhesse outra mulher e me casasse com ela, eu teria que ter
filhos. Não estava pronto para isso, muito menos tinha mais idade para
esperar o momento certo.
— É claro que não.
— Alessandra te conhece bem.
Abri a boca, perplexo.
— Ela forjou a própria morte, Laura. Você está se ouvindo?
— Estou. E isso foi ideia do tio dela, porque, na verdade, Alessandra
queria se matar de verdade.
Fiquei em choque.
— Isso não muda os fatos. E se eu perdoá-la, todas as mulheres farão a
mesma coisa. Irão forjar mortes, é um péssimo exemplo. Riccardo jamais
concordaria com isso. Ela é sua amiga, mas isso não ameniza as coisas.
Laura respirou fundo e balançou a cabeça, reprovando-me.
— Alessandra me recebeu de braços abertos. Me ajudou com os
preparativos do meu casamento e me defendeu quando foi preciso. Um fato
que nunca vou esquecer. E quanto ao Riccardo, ele com certeza vai abafar
essa história, se você estiver feliz ao lado de Alessandra. Seu irmão só quer o
melhor para vocês, embora não goste de demonstrar.
— Não é bem assim, Laura. Eu sei que Alessandra é sua amiga, sei que
você está apenas retribuindo a gentileza, por isso nunca contou que ela estava
viva. Mas ela era minha esposa, deveria ter confiado em mim.
— Temos que ter fé, Fabrizio. Eu sempre gostei da Alessandra. E não
consigo enxergar esse monstro que você pinta para a sociedade.
Nunca íamos chegar a lugar algum conversando sobre esse assunto. Não
sei se era eu o antiquado, ou se as pessoas eram liberais demais.
— Eu não sei, Laura. — Respirei fundo. — Fui ao inferno achando que ela
estava morta, por minha causa.
— Ela está viva, faça diferente agora. Faça do seu casamento um
recomeço. Se você não se permitir ter uma segunda chance, nunca vai saber
se vai dar certo.
Talvez ela tivesse mesmo razão, mas eu ainda precisava pensar muito
nisso.
Laura segurou minha mão.
— Vocês sempre formaram um lindo casal. Eu sempre gostei muito de
Alessandra.
— Eu sei disso. Ela sempre gostou de você, também. Embora Catarina
tivesse feito a cabeça dela para te odiar, Alessandra nunca fez isso.
Alessandra preferiu se afastar para cuidar da irmã. Claro que no início, ela
ficou completamente feliz em saber que sua única irmã estava viva. Só que
mais tarde, descobriu que Catarina não era mais a mesma, para piorar, eu
também havia caído no seu jogo.
— Catarina era a irmã dela. Eu faria qualquer coisa pelos meus irmãos.
Saber que Riccardo odeia Giovanni, me mata. Queria muito que eles fossem
amigos.
Eu não pude deixar de gargalhar da inocência dela. Pelo menos, eu já não
tinha mais raiva dela. Nossa amizade voltou ao normal. Bobeira minha,
ninguém tinha culpa dos meus problemas.
— Isso nunca vai acontecer, Laura. Eu sinto muito.
Ela assentiu triste. Pouco tempo depois, Matteo voltou trazendo o médico.
As crianças pularam da cadeira e se aproximaram da porta. Havia uma tensão
no ar, porque os meninos iam ver o pai, pela primeira vez, naquela situação.
Antes de entrar, Lorenzo puxou meu braço e murmurou baixinho:
— É só cremar.
Olhei para ele confuso, Laura parou de caminhar e fez o mesmo. Ele estava
tentando me dizer algo.
— Como? — Franzi a testa. Tentando entender o que ele estava querendo
dizer nas entrelinhas.
— É só cremar todas as pessoas que morrem na máfia, assim ninguém
mais vai forjar mortes.
Nossa. Fiquei completamente surpreso ao ouvir aquilo.
Laura entrou na frente e o puxou pela camisa.
— Deixa ele, Laura. — Matteo tentou interferir.
— Não vou deixar, não. É meu filho. — Ela se voltou para Lorenzo. —
Eu já te avisei, para parar de ouvir a conversa dos outros. Como se não
bastasse ouvir, ainda tem que dar opinião?
Lorenzo fechou a cara e cruzou os braços.
— Calma, Laura. Ele é só uma criança — falou Matteo, novamente. —
Acho que ele não falou por mal.
Ela arregalou os para Matteo.
— Lorenzo acabou de dizer que o certo é cremar as pessoas, você acha isso
normal?
Matteo ergueu os ombros.
— Também não é uma ideia ruim.
Fiquei quieto, segurando o riso. Mas o garoto era totalmente maldoso.
Quando entramos no quarto, Vincenzo e Lorenzo correram em direção à
cama, onde Riccardo estava desacordado e entubado.
— Vão com calma — pedi. Eles pareciam dois furacões.
Enquanto eles conversam com o pai, aproveitei para consolar Laura. Ela
estava tremendo e chorando muito. A ideia de Riccardo nunca mais voltar, a
assustava muito. Principalmente porque os meninos estavam crescendo e
tendo opiniões próprias. Eu conseguia entender.
Matteo se aproximou também e beijou a testa dela.
— Estamos com você, Laura. E só para constar, aquele merda que pediu
sua mão em casamento, está no hospital, com os ossos quebrados.
Ela arregalou os olhos.
— O filho do presidente?
— Ele mesmo, sim. Muita ousadia dele, colocar os olhos em você —
concluí.
Nesse momento, Lorenzo olhou na nossa direção, mostrando que, mais
uma vez, estava prestando atenção na conversa. Dei a ele um olhar de
advertência, logo o vi desviar.

Os meninos continuavam conversando com o Riccardo, como se ele


pudesse ouvir tudo que os meninos diziam. Laura se sentou em uma poltrona,
para observar as crianças interagindo com o pai.
Matteo estava conversando com um soldado no telefone, buscando
informações importantes. E eu verificando os esquemas da máfia no
computador.
— Vou pegar outro café. — Laura se levantou e caminhou até a porta. —
Alguém vai querer?
— Eu vou com você. — Matteo levantou a mão. — Preciso de um café
com bastante açúcar.
— Estou bem — agradeci.
Então ela saiu.
Matteo olhou para mim, enquanto falava no telefone.
— Você deixou segurança reforçada na sua casa, para poder passar a noite
aqui?
— Sim. Não se preocupe.
— Não é melhor levar Alessandra e as crianças para minha casa? Estamos
muito distraídos para lidar com uma invasão agora. Talvez, já tenha se
espalhado a notícia de Riccardo estar hospitalizado.
Ele tinha razão. Nunca sabíamos quando seríamos atacados, ou por onde
eles iriam atacar. Bastava um pouco de distração, para a coisa desandar.
Tínhamos soldados suficientes para enfrentar uma guerra, mas também
tínhamos que manter a segurança de Riccardo. Não tinha como a gente se
envolver em uma briga nesse momento, essa não era nossa prioridade.
— Amanhã eu resolvo isso.
Matteo assentiu antes de sair.
De repente, percebi uma inquietação das crianças no quarto e fui até eles,
para saber o motivo do falatório. Até porque, eles já estavam há muito tempo
ali.
Não era bom para eles e nem para o paciente, segundo a orientação do
médico.
— O que aconteceu?
Vincenzo me olhou, seus olhos estavam arregalados, parecia estar muito
ansioso.
— Meu pai apertou minha mão.
— A minha também — falou Lorenzo.
Olhei para o Riccardo, vi que ele estava do mesmo jeito; com as mãos
próximas do corpo. Não havia nenhum sinal indicando que ele se mexeu.
Então, apenas presumi que as crianças estavam vendo coisas, fantasiando
momentos que não aconteceram.
— Vocês precisam ir para casa. Vou levar vocês.
— Eu não vou — rebateu Lorenzo. — Meu pai apertou minha mão sim.
Respirei fundo, para manter a calma. A situação era muito estressante, para
todos nós.
Abaixei-me para ficar na altura deles.
— Ele não apertou a mão de vocês. Vocês estão cansados e precisam
descansar.
Vincenzo abaixou a cabeça, considerando minhas palavras. No fundo,
fiquei com pena de desfazer a fantasia que ele tinha criado, mas foi preciso.
Lorenzo não aceitou.
— Meu pai está acordado. — Lorenzo me olhou sério. — Segura na mão
dele, que ele vai apertar. Vai ser fraco, mas vai.
Ele estava me mandando segurar a mão de Riccardo e verificar que eles
não estavam mentindo?
Aceitei o desafio. Impaciente, mas aceitei.
Coloquei minha mão na de Riccardo e esperei que algo acontecesse, no
entanto, nada aconteceu. Olhei para os meninos, mostrando que nada tinha
acontecido.
Eles murcharam na hora. Os ombros de Vincenzo caíram, em seguida
soltou um gemido de frustração. Era triste, mas, infelizmente, tive que falar.
— Vamos para casa.
Eles concordaram, completamente desanimados. Assim que fui tirar minha
mão, senti o mesmo aperto que eles sentiram. Riccardo também havia
apertado minha mão, bem leve, mas aconteceu. Os meninos não estavam
mentindo, muito menos imaginando coisas.
Tentei manter a compostura. Com certeza aquilo fez com que eu ficasse
completamente chocado. Riccardo estava voltando, mas isso ainda precisava
ser mantido em segredo.
— O que foi, tio? — Vincenzo se aproximou. — Ele apertou sua mão?
Meu pai está aqui com a gente, não está?
Embora tenha acontecido, não podia enchê-los de esperança. Não quando
não sabíamos em que condições Riccardo iria acordar, ou se realmente ia
acordar. Sigilo e cuidado são essenciais em um momento delicado.
— Não — respondi.
Eles murcharam de novo. Nesse momento, Laura e Matteo entraram pela
porta.
Laura rapidamente captou algo no olhar dos filhos e se aproximou,
preocupada.
— Aconteceu algo?
— Eles precisam ir para casa descansar — falei.
Vincenzo se aproximou dela, chorando.
— É, mãe. A gente precisa ir para casa, descansar. A gente achou que o
nosso pai tinha apertado a mão da gente.
— Ele apertou, Vincenzo — falou Lorenzo, firme.
Laura respirou fundo. E quando ela olhou para mim, eu assenti,
confirmando a história, mas somente para ela e Matteo saber. Tomando
cuidado para os meninos não descobrirem que eu estava mentindo.
Eu queria preservá-los. Se Riccardo piorasse, eles iam ficar muito
decepcionados, principalmente depois de ter criado esperança.
Matteo passou a mão pelos cabelos.
— Eu vou levar vocês para casa. — Laura forçou um sorriso.
Assim que ela saiu, levando as crianças. Matteo chamou o médico.
Fiquei olhando o meu filho dormindo e me lembrei do meu parto, de como
foi difícil trazê-lo a esse mundo tão cheio de maldade.
Eu havia acabado de brincar com ele, contar histórias, depois dei comida e
banho. Ele já não era um bebê, mas sentia falta de uma presença feminina que
mimasse ele.
Para mim foi muito emocionante conversar com o meu filho e minha
sobrinha. Ela gostava muito de escutar histórias de princesas e assistir
desenhos. Eu não tinha palavras para descrever essa emoção tão surreal que
se apossou do meu coração. Apesar de sempre ter acompanhado o
desenvolvimento do meu filho através de vídeos, não era a mesma coisa que
estar perto dele. Sentir o seu cheirinho e acariciar o seu cabelo, foi uma
experiência única.
O mesmo aconteceu quando olhei para Fabrícia, ela era o retrato vivo de
Catarina. Em outros tempos, eu jamais conseguiria conviver com o fruto da
traição do meu marido e minha irmã. Mas isso já não me importava mais, em
especial depois que a menina me abraçou forte e me deixou sentir as emoções
dela. Naquele momento, percebi o quanto tinha evoluído como ser humano.
Fabrícia estava crescendo, com o tempo se tornaria uma adolescente e
precisaria de uma mulher para ensinar coisas de mulheres.
Eu queria muito poder voltar no tempo e modificar as coisas, no entanto,
não havia como, as escolhas foram feitas e as consequências disso ainda
marcam minha vida.
Enxuguei uma lágrima teimosa e cobri meu filho com um cobertor macio.
Antes de sair do quarto dele, beijei sua testa e apaguei as luzes. Fechei a porta
do quarto, com o coração a mil batendo furiosamente dentro do peito.
— O que você está fazendo aqui?
Virei-me assustada em direção a voz. Foi necessário colocar a mão sobre a
boca para abafar o grito.
Fabrizio parado ao lado da porta. Ele parecia estar muito cansado, as
olheiras ao redor de seus belos olhos demonstravam o quanto estava sendo
difícil para ele ficar no hospital cuidando de seu irmão.
— Quem te deu ordens para se aproximar dos meus filhos.
Logo as palavras de Marta tomaram meus pensamentos. Ela disse que se
eu quisesse recuperar parte do tempo que perdi longe das crianças, deveria
me aproximar.
E eu queria muito, mas não sabia como deveria agir. Então, comecei me
aproximando devagar para não assustá-los.
— Eles estavam se sentindo muito sozinhos. — Dei de ombros. — Passei o
dia com eles. Você tem feito muita falta por aqui.
Fabrizio ficou em silêncio, verificando cada traço do meu rosto que
indicasse que eu estava mentindo, mas não mentindo. Eu nunca entraria na
vida do meu filho se não quisesse consertar as coisas. E isso não tinha nada a
ver com Fabrizio.
Respirei fundo e passei por Fabrizio, seguindo em direção ao meu quarto
isolado. Mas assim que entrei no cômodo, Fabrizio entrou logo atrás de mim
e fechou a porta.
Preparei-me psicologicamente para ouvir os insultos dele, ele nunca
cansava de me humilhar.
— O que você pretende, Alessandra? — Segurou meu braço. — Eu avisei
que você deveria manter distância dos meus filhos.
Eu mantive a calma. Fabrizio não estava mais lidando com a mesma
Alessandra de antes.
— Estou tentando me aproximar. Como eu disse: eles estavam se sentindo
sozinhos.
— Não é sua obrigação fazer isso. Eles têm babás.
— Babá não é a mesma coisa, eles precisam do pai.
Ele travou o maxilar e continuou me olhando sério, estudando-me. Eu não
estava recriminando a forma que ele lidava com as crianças, mas os meninos
chamavam por ele na maior parte do tempo. Foi por isso que decidi entretê-
los.
— Eu não...
Ele me cortou.
— É muito fácil para você falar, Alessandra, já que abandonou nosso filho
sem olhar para trás.
Fabrizio tinha razão, entretanto, ele tinha que entender que eu não estava
por aí me divertindo. Não existiu outro homem antes dele. Com Fabrizio eu
soube realmente o que era sexo.
— Você é uma prostituta. Não quero você perto dos meus filhos.
Novamente palavras pesadas saíam de sua boca sem o menor cuidado,
palavras que magoavam e me envergonhavam profundamente.
— Parece que é das prostitutas que você gosta — falei, lembrando-me das
prostitutas que passaram pela cama dele, depois fazia questão que eu
soubesse.
Fabrizio avançou para cima de mim, encurralando-me entre a cômoda e o
seu corpo forte. Eu tinha que levantar a cabeça para olhar em seus olhos. Ele
estava bravo.
— O que você disse?
— Você ouviu bem. Pena que eu não sou uma prostituta. Eu não quero
mais ser humilhada, Fabrizio. — Lágrimas de dor deslizavam pelas minhas
bochechas.
No fundo, ele sabia o quanto eu estava sofrendo. Fabrizio também estava
sofrendo, mas não confiava em mim o suficiente para me perdoar, nem sabia
se algum dia essa possibilidade passou pela cabeça dele.
— Eu te amo, Fabrizio. Isso está acabando comigo. Me mate ou me deixe
ir embora, mas, por favor, tome uma atitude e acabe com esse sofrimento. Eu
não aguento mais.
Ele continuou em silêncio, olhando cada lágrima que deslizava pelo meu
rosto. Como eu queria que ele me abraçasse e dissesse que tudo ia ficar bem.
Mas isso não ocorreu.
Derrotada, tentei passar por Fabrizio para ir ao banheiro molhar o rosto,
mas ele envolveu a mão enorme em volta do meu pulso, com isso todas as
minhas terminações nervosas ganharam vida.
Parei de respirar quando as pontas dos dedos dele roçaram minha nuca e os
lábios dele tocaram minha orelha. Fabrizio se inclinou para mim, a barba por
você roçando minha bochecha enquanto ele murmurou:
— Você me atrai como o inferno. Se não fosse por isso, eu já teria te
matado. Estou tão perdido quanto você.
Fabrizio me virou lentamente de costas para ele e me obrigou a debruçar
sobre a cômoda. A respiração dele era áspera na minha orelha. O bico dos
meus seios roçando na madeira fria enviava arrepios pelo meu corpo. Quando
ele começou a tirar minha roupa, estremeci. Nessa posição ele teria a visão
privilegiada das minhas costas.
Fabrizio girou meu pescoço, o suficiente para beijar minha boca. A língua
macia e quente dele deslizou entre meus lábios, pedindo passagem. Nós nos
beijamos com força, com fome e desejo. Fiquei completamente dominada
pela sensação da língua gostosa de Fabrizio enlaçada com a minha. Ele torcia
meu cabelo entre os dedos, enquanto deslizava a língua na minha boca em
um beijo faminto.
As mãos dele deslizaram entre minhas pernas, separando minhas coxas e
tocando meu clitóris inchado. Meu gemido preencheu o quarto, quando
Fabrizio afundou um dedo na minha vagina, minhas pernas perderam o
equilíbrio.
Ele continuou me masturbando, enquanto chupava minha língua. Os dedos
dele molhados com meu líquido deslizavam com facilidade na minha vagina,
mas também no meu ânus.
— Você está tão molhada — ele gemeu no meu ouvido antes de ser
afastar.
Minha respiração estava completamente ofegante e a visão turva de desejo,
observando Fabrizio tirar o paletó rapidamente. O corpo dele era divino, o
pau grosso e duro feito pedra.
Depois de ficar completamente pelado, Fabrizio se sentou na borda da
cama. Meu olhar varreu cada pedacinho dele, desde as coxas grossas, o pau
completamente duro, a barriga sarada e os ombros largos. Em seguida,
cheguei ao rosto lindo mascarado pelo desejo ímpeto.
Não podíamos negar, estávamos queimando como o fogo do inferno. Meu
corpo tremia e minha respiração estava desregulada por completo. O desejo
escorria entre as minhas pernas.
Fabrizio cobriu o pau com a mão bruta e começou a se masturbar, sem tirar
os olhos do meu corpo. Ver a forma como o rosto dele se contorcia, enquanto
descia e subia a mão sobre o membro rígido, fez-me salivar.
— Engatinhe para mim — ordenou ofegante. — Agora!
Fiquei de joelhos no chão e fui engatinhando sensualmente, ignorando o
piso áspero arranhando meus joelhos e as palmas.
Assim que cheguei nele, Fabrizio parou de se masturbar e começou a
acariciar meus seios.
— É isso. Agora me chupe e depois, me cavalgue como uma prostituta.
Cobri o pau dele com a minha boca e comecei a chupar. O gosto dele
enviou calor pelo meu corpo. O membro grosso inchava na minha boca,
conforme o levava até a garganta. O pau quente babava na minha língua e eu
tentava não engasgar muito.
Nós nos beijamos novamente, antes de eu colocar uma perna em cada lado
do quadril dele. Fabrizio gemeu mais alto quando toquei o pau rígido dele e
deslizei para dentro de mim. As mãos dele apertaram minha cintura e sua
mandíbula ficou completamente rígida.
Sentei no pau dele, arrepiando-me com a sensação de preenchimento. Eu
me sentia quente, apertada e sensível, dominada pela sensação.
Comecei a mover o quadril, e o atrito da pele dele roçando meu clitóris, fez
com que meu corpo inteiro se arrepiasse de tesão. O orgasmo estava muito
perto, por isso comecei a quicar no pau dele, sentindo ir mais fundo.
— Isso. — Fabrizio jogou a cabeça para trás, à medida que apertava mais a
minha cintura.
Nossos gemidos se misturavam no quarto silencioso. Fabrizio tomou o
controle, segurando minha bunda e me erguendo para meter mais fundo. E
ele me comeu cada vez mais forte e mais rápido, a sensação do dedo dele no
meu ânus e no clitóris, saciavam meu desejo.
Quando ele deu mais uma estocada forte, os dedos dele continuaram
esfregando meu clitóris, o chão pareceu abrir e eu mergulhei na escuridão.
Minha boceta começou a latejar forte, prendendo o pau de Fabrizio dentro.
— Caralho — gemeu. — Isso, goza.
Meu corpo começou a se contorcer, conforme Fabrizio sugava o bico do
meu seio. O orgasmo me deixou nocauteada e esgotada. Ele se levantou junto
comigo e me jogou sobre a cama, logo o seu corpo estava cobrindo o meu,
nosso suor molhando o lençol impecável.
Colocando minhas pernas sobre os ombros, Fabrizio desliza o pau para
dentro da minha boceta, metendo fundo. Um grito escapou da minha garganta
conforme ele ia me fodendo mais forte, parecendo que ia me quebrar no
meio.
O impacto do pau dele batendo em algo sensível dentro de mim, o ranger
da cama, o som dos nossos corpos se chocando e misturando-se com os
nossos gemidos, empurrou-me para outro orgasmo. Esse era completamente
diferente do primeiro, foi preciso Fabrizio me prender na cama para continuar
metendo mais forte, fazendo com que eu saísse do meu mundo e me perdesse
no frenesi.
Continuou me fodendo, com voracidade. Empurrando cada vez mais fundo
e me esmagando contra o colchão macio. O pau dele entrava e saía com
facilidade, às vezes tirava tudo para esfregar meu clitóris. Mas cada toque a
sensação era completamente inebriante.
— Quer mais, Alessandra? Quer que eu acabe com você?
— Ah, sim — gemi.
Então o pau duro dele mergulhou na minha boceta, mais uma vez, indo
mais fundo do que antes, com isso meu corpo foi erguido da cama. Gritei de
prazer, o suor tomava completamente o meu corpo, assim como a exaustão. O
prazer descontrolado passava por mim a cada pressão. Comecei a rebolar no
pau dele, convidando-o ir mais fundo e me abrindo cada vez mais.
Acima de mim, a sobrancelha de Fabrizio estava franzida, cravada no meu
rosto suado. Então, sentindo que estava perto de gozar, Fabrizio me virou de
costas e começou a foder meu ânus. Não precisava de lubrificante, porque eu
estava completamente molhada e receptiva.
Urrei de prazer, sendo dominada por uma sensação diferente de desejo.
Enquanto me comia por trás, ele estimulava meu clitóris com os dedos, que
escorregavam facilmente, proporcionando-me um prazer absurdo. Eu estava
sendo fodida de todas as maneiras possíveis.
Fabrizio empurrou mais fundo em meu buraco apertado, enquanto fodia
minha vagina com os dedos. E eu via estrelas, estremecia e gritava, rebolava
e gozava nele.
— Fabrizio — gemi alto enquanto cravava a unha na coxa dele. — Meu
Deus!
Fabrizio meteu mais forte, dominando-me por completo. Gemeu alto e
caiu por cima de mim, ofegante. O rosto dele estava na curva do meu pescoço
enquanto se recuperava do orgasmo.
Fiquei sem me mexer, para não quebrar o momento.
— Que marca é essa nas suas costas? — perguntou baixo. — Nunca tinha
visto isso em você.
Tentei fechar os olhos para não pensar nisso. O momento estava sendo
maravilhoso e eu não queria estragar trazendo lembranças dolorosas.
— Alessandra?
— Não quero falar por agora. Posso dormir um pouco? — implorei. —
Assim que acordar, vou te contar.
— Tudo bem. Vou te dar uma hora de sono.
Concordei.
Aos poucos fui caindo no sono.
Levei um susto quando meu celular tocou sobre a cômoda. Logo me dei
conta de que estava deitado com Alessandra, na verdade, agarrado nela. Ela
se mexeu inquieta e jogou a perna para cima de mim, como sempre gostou de
fazer.
Tirei com cuidado o braço dela que estava envolvido no meu pescoço,
depois fiz o mesmo com a perna.
Rolei para o lado e rapidamente fui atender o celular.
Matteo disse que me ligaria assim que tivesse notícias de Riccardo,
naquele momento parecia que ele tinha mesmo.
— Matteo? — atendi, enquanto vestia meu terno e olhava para Alessandra
se mexendo inquieta sobre a cama.
Parecia que o sono tranquilo estava chegando ao final. Ela rolava nos
lençóis e falava coisas que eu não conseguia entender.
— Você precisa vir para o hospital.
— O que aconteceu?
— Não posso falar por telefone.
Passei a mão pelo cabelo enquanto tentava achar minha gravata em algum
lugar do quarto. Até que a vi debaixo da cama.
— Você não pode me deixar nervoso, Matteo. Você sabe que ainda não
estou cem por cento recuperado. Dirigir até aí vai ser um tormento, ainda
mais estando preocupado.
— Você não pode dirigir, Fabrizio — ele gritou. — O médico não te
liberou. Ainda não sei por que diabos você deixou de lado as sessões de
fisioterapia.
Matteo tinha razão. Eu não deveria dirigir nas condições que me
encontrava, no entanto, eu não queria ter que depender de alguém para fazer
algo que sempre gostei.
Porém, sabia que haveria riscos de meus movimentos falharem no
momento que eu estivesse dirigindo, podendo sofrer um acidente.
— Tudo bem. — Bufei. — Pelo menos me diz se está tudo bem.
— Olha, Fabrizio. Não é tão ruim quanto parece. Eu realmente não quero
falar por telefone.
Alessandra começou a chorar de repente. Ela murmurava coisas e chorava
baixinho, mas eu não conseguia ouvir, principalmente porque Matteo falava
mais alto do que ela.
— Você está aí, Fabrizio?
— Te vejo em breve, irmão — desliguei, depois me aproximei da cama.
Alessandra parecia frágil e perdida. A maneira que ela se revirava na cama
mostrava que seus sonhos não eram tranquilos. Fiquei ali olhando para ela,
tentando ouvir o que ela dizia, mas para mim soava como palavras
desconexas.
Talvez fosse apenas consciência pesada pelas coisas que ela fez, que em
breve teria que assumir as consequências.
Convicto de que ficar ali seria uma perda de tempo, virei as costas e
ameacei sair pela porta. Mas o som alto que saiu da boca dela fez com que eu
retrocedesse.
Alessandra estava com os olhos arregalados e chorando muito, parecia que
tinha acabado de ver uma assombração na sua frente.
— Fabrizio. — Ela correu e se jogou no meu colo, enquanto fiquei sem
saber como agir.
A respiração dela estava completamente agitada, seu corpo tremia muito.
Minhas mãos estavam congeladas e ao lado do meu corpo, enquanto
Alessandra continuava agarrada a mim e pedindo ajuda.
Ajudar como? Eu não sabia o que dizer.
— O que aconteceu? — perguntei com calma.
Ela já estava assustada o bastante, portanto, não iria causar mais
transtornos.
— Me abraça, Fabrizio. Faz isso passar.
Revirei os olhos e a abracei. Se ela estivesse tentando se fazer de vítima,
comigo não iria funcionar. Eu já conhecia o histórico dela.
Segurei-a pelo braço e fiz com que se sentasse na cama. Chamei a
governanta e pedi que ela trouxesse água gelada com açúcar para Alessandra.
Depois de beber três copos de água gelada, ela olhou para mim com os
olhos marejados de dor e tristeza. Eu entendia que ela queria me dizer muitas
coisas, mas não estava dando abertura necessária para isso acontecer.
— Eu paguei um preço muito alto por ter fugido.
Meu celular começou a tocar dentro do bolso, mais uma vez era Matteo
ligando. Por mais que eu quisesse ouvir tudo que Alessandra tinha para me
revelar, precisava priorizar o estado de saúde de Riccardo.
Talvez, ele pudesse até me aconselhar nesse momento.
— Eu tenho que ir ao hospital, Alessandra. Te vejo quando eu voltar.
Ela segurou firme minha mão, nunca a tinha visto tão dependente de mim e
tão vulnerável.
Sempre achei Alessandra uma mulher forte, independente e destemida,
dentro do que era permitido viver na máfia. Mas fazendo uma retrospectiva
do nosso relacionamento, percebi que ela usava uma máscara para esconder
sua verdadeira face. Ela era uma mulher problemática, que não superou os
traumas do passado.
— Tudo bem. — Assentiu com a cabeça e, aos poucos, foi soltando minha
mão.

Assim que cheguei ao hospital, Matteo veio correndo para me encontrar.


Horas antes de eu ir para casa trocar de roupa, havia dito a ele para ir
descansar que eu cuidava dos assuntos. Porém, Matteo não quis se afastar do
hospital um minuto sequer.
Eu tinha medo que essa pressão afetasse o psicológico dele.
— O que aconteceu? — perguntei, enquanto observava a quantidade de
médicos reunidos na porta do quarto onde Riccardo estava.
— Riccardo acordou...
Ele estava feliz por isso, e eu também fiquei. Porém, notei que tinha algo a
mais.
Ainda parecia cedo para relaxar.
— Ele acordou, e....? — incentivei.
— Ele não fala comigo, com ninguém, na verdade. Fica apenas me
olhando com cara de paisagem. Os médicos fizeram um monte de exames e
os resultados foram bons.
— Matteo. — Segurei-o pelo ombro. — Riccardo acabou de acordar, isso
deve ser normal. O que os médicos disseram?
— Que é normal, que ele acabou de sair do coma. — Deu de ombros,
impaciente.
— Não surta. — Bati no ombro dele, tentando passar conforto.
— Estou tentando, Fabrizio.
— Estou aqui com você — falei, firme. — Todos nós temos momentos
difíceis, e o meu está chegando ao fim.
Nesse momento um dos médicos se aproximou. Matteo e eu nos
recompomos para ouvir o que ele tinha a dizer.
— Vocês precisam deixá-lo descansar um pouquinho. — Ajeitou os
óculos. — A operação foi difícil, a recuperação tende a ser lenta. Por isso,
sugiro que avise ao restante da família somente depois de alguns dias. Até lá,
acredito que ele estará falando.
Virei-me para o médico.
— Riccardo corre algum risco de vida?
— Não vejo razão, mas estamos de olho. Não podemos descuidar.
Aquiesci.
Depois que o médico saiu, Matteo suspirou fundo e relaxou os ombros.
Foram longos dias nessa agonia.
Ele quem segurou a onda praticamente sozinho, precisava admitir.
— Riccardo vai ficar orgulhoso de você.
Ele me olhou.
— Não foi por isso que fiquei aqui, fiquei porque somos família.
Neguei. Não era somente por isso. Matteo havia evoluído muito.
— Eu também sou da família, no entanto.
Matteo entendeu o meu recado. Se não fosse por ele, não sei o que seria de
mim e da máfia.
— Somos criminosos, Fabrizio, não perfeitos. Todos nós erramos e vamos
continuar errando. A vida é assim. Você já conversou com a Alessandra?
Nossa atenção foi desviada para a porta, por onde Marta, mãe de Laura,
entrou com Lorenzo e Vincenzo.
Como meus filhos estavam se sentindo sozinhos, pedi a Laura que deixasse
os meninos comigo.
Matteo me olhou confuso.
Os meninos correram para nos abraçar, em seguida Marta se aproximou
sem jeito.
— Onde está Laura? — perguntei enquanto colocava Vincenzo no chão.
— Ela está se sentindo mal. E como as crianças estavam elétricas para
visitar o pai, resolvi trazê-los. Fiz mal?
— Não.
Ela abriu um sorriso aliviado.
— Graças a Deus. Eles estavam quase derrubando a casa. Laura disse que
você perguntou se eles podiam passar o final de semana na sua casa?
— Sim — respondi. — Meus filhos vão adorar brincar com os primos.
Mandei limpar a área de lazer, a piscina está completamente limpa.
Marta abriu uma das mochilas e tirou alguns potes de comidas e garrafas
d'água. Matteo me olhou confuso, novamente.
— Laura mandou essas comidas para as crianças. Ela pediu para quando
eles forem ao banheiro fazer xixi, para você lavar bem as mãos deles. Nessas
mochilas tem tudo que eles precisam. Ela pediu encarecidamente para não dar
doces a eles. E também tem protetor solar e...
— Vamos com calma! — Peguei a mochila e olhei dentro. — Tem barraca
de acampar aqui dentro também?
Marta riu.
— Tem sim. Eles gostam de brincar de acampar.
Matteo começou a rir. Rir da minha cara.
— Mais alguma recomendação? — Ergui a sobrancelha.
Marta assentiu, à medida que meu semblante ficava desanimado.
Matteo começou a gargalhar de novo. Ele sabia de todo o protocolo,
enquanto eu estava por fora de tudo.
— Eles dormem cedo e acordam cedo.
— Preciso contar histórias de princesas? — perguntei rindo. Matteo se
engasgou com o riso, sussurrando para eu tomar cuidado.
Certamente, teria muito trabalho pela frente.
— Não — respondeu Lorenzo sério. — Conte para os meus animais de
estimação. Eles estão lá no carro. Trate eles bem, e eu sempre volto à sua
casa. Mas se tratar eles mal...
Marta parou de sorrir e olhou sério para Lorenzo.
— Bem, eu já vou indo. Qualquer coisa é só ligar.
Ela beijou os meninos e saiu apressada pelo corredor.
Fechei as mochilas deles e coloquei sobre o banco. Vincenzo estava muito
animado, com ele sabia que daria tudo certo. Com Lorenzo, não tinha tanta
certeza, em especial porque ele ficou chateado com a brincadeira.
Coloquei a mão no ombro dele e sorri.
— Ficou chateado pela brincadeira? Espero que não.
Ele ainda ia ouvir muitas coisas.
— Tudo bem, tio. — Ele riu.
— Me fale sobre os animais de estimação. Como devemos alimentá-los?
Ele sorriu abertamente e seus olhinhos brilharam de emoção.
— Francesca e Tulan. Francesca é uma taipan. E Tulan é uma tarântula.
Ergui a sobrancelha, preocupado como minha filha iria reagir.
— Você tem uma cobra venenosa como animal de estimação?
— Meu pai tirou o veneno de Francesca. Ela é amigável, a menos que se
sinta ameaçada. Tulan também é, é só distrai-la antes de alimentá-la, assim
ela não te ataca. Elas são da família.
— Certo. Nós vamos achar um lugar seguro para elas.
Ele concordou.
— Elas estão um pouco estressadas por causa da viagem, porém, logo elas
vão se adaptar.
— Sua mãe não diz nada a respeito dos seus animais de estimação? —
perguntei.
— O que ela poderia dizer? Ela mesma disse que eu deveria amar os
animais. Então, adotei Francesca e Tulan.
Concordei.
Assim que cheguei em casa, mostrei a casa para os meninos e os deixei à
vontade para brincar. Separei um quarto na área de lazer para colocar
Francesca e Tulan.
Francesca era uma cobra rara, que se ainda tivesse com o seu veneno, seria
capaz de matar um ser humano em alguns minutos. Tulan era uma aranha
bisonha, muito bonita por sinal.
Ambas eram muito bonitas.
Eu tinha terminado de tomar banho, quando a governanta entrou no meu
quarto, desesperada.
— Senhor Guerrieri. A senhora Alessandra está trancada no quarto, ela não
me responde.
Terminei de colocar a roupa e corri até o quarto dela.
— Alessandra — gritei, enquanto dava soco na porta.
Mas ela não respondeu, foi então que resolvi arrombar a porta, que se abriu
no segundo chute.
Entrei rapidamente no quarto e a vi desfalecida sobre a cama, com uma
cartela de remédio vazia do lado.
Essa não. Como isso pôde acontecer?
— Quem deu esse remédio a ela? — gritei.
A governanta entrou no quarto e começou a chorar.
— Fui eu, senhor. Ela me disse que estava com dor de cabeça.
— Ligue para o médico vir — gritei para a governanta, que saiu apressada
do quarto.
Fiquei apreensivo, sem saber o que fazer. Em que momento eu iria ter um
pouco de paz?
Acordei desnorteada. A claridade que vinha da janela incomodou meus
olhos.
Olhei ao redor, percebendo que estava no quarto que um dia dividi com
Fabrizio, quando ainda éramos um casal.
Olhei para a agulha espetada no meu braço, ligando-me a uma bolsa
grande de soro.
E não foi só isso que me chamou a atenção. Fabrizio estava sentado
desconfortável em uma cadeira, dormindo, enquanto segurava minha mão.
Ter a mão dele junto da minha, foi um acalento para minha angústia. Tê-lo
ali ao meu lado significou muito para mim. Parecia que, dessa vez, Fabrizio
se importava de verdade.
Ele despertou de repente, passando a mão pelo rosto, depois acariciou
minha mão.
— Como você está?
Eu não estava totalmente curada. Ter uma cartela de remédio só para mim,
ativou meu vício.
Depois que Fabrizio teve um caso com Catarina, fiquei viciada em
calmantes. Aquela era a única forma que eu tinha de poder dormir sossegada.
Então, todas as vezes que algo saía errado, enchia-me de remédios. E dessa
vez não foi diferente.
— Péssima. — Minha voz saiu baixa e rouca. Minha garganta doía muito.
O olhar firme e sombrio de Fabrizio estava cravado em mim. Ele ajeitou
meu travesseiro e puxou sua cadeira para mais próximo da cama.
Podia sentir a raiva, dor, tristeza e insegurança emanando dele.
— Vamos conversar. — O polegar dele se moveu lentamente pelo meu
pulso, em movimentos circulares. — Me diga o que está acontecendo,
Alessandra.
— O que você quer saber?
— De tudo. Como você fez para forjar uma morte sem que a gente
desconfiasse.
Engoli seco.
Minha respiração ficou desregulada, quando me lembrei daquela noite e
dos planos do meu tio.
O pânico tomou meu peito e não conseguia mais respirar. Eu puxava o ar
com força, mas parecia não ser suficiente. Lágrimas de desespero começaram
a queimar meus olhos.
— Alessandra. — Fabrizio me suspendeu pelos ombros e me pôs sentada
na cama. — Respira fundo. Estou aqui com você.
Estou aqui com você.
Sempre quis ouvir essas palavras vindo dele. Eu queria que Fabrizio
estivesse comigo quando nosso filho veio ao mundo. Queria que ele
segurasse minha mão, enquanto dizia que tudo ia ficar bem. Queria poder ter
confiança nele o suficiente para poder contar todas as minhas angústias, sem
ser julgada ou apedrejada. Mas ele era um homem da máfia, além do mais, a
famiglia sempre viria em primeiro lugar. Mesmo Fabrizio dizendo que eu era
sua prioridade, ele nunca passaria por cima de nada para ficar comigo.
Por isso, sempre tentei fazer com que ele esquecesse um pouco dos
ensinamentos da máfia. Tentei fazer com que ele enxergasse a vida de um
ângulo diferente, daquele que era imposto pela sociedade machista da máfia.
Mas logo percebi que eu iria morrer tentando.
Respirei fundo e fechei os olhos, para me lembrar exatamente de tudo que
aconteceu. Então, as lembranças vieram como um sopro no meu ouvido,
causando-me arrepios. Minha mente perturbada escavou memórias antigas,
memórias que me causavam angústia e pânico.

Meu tio estava na minha frente, segurando um frasco de medicamento.


A máfia lidava com todos os tipos de drogas. E meu tio estava com uma
droga eficiente em mãos. Extremamente perigosa, a ponto de me deixar
desacordada por horas.
Ele não me deu detalhes do que iria acontecer, estava aceitando qualquer
ideia que tivesse em mente.
Eu não estava mais aguentando enfrentar a situação, embora soubesse que
forjar morte fosse algo complicado.
— Entenda as consequências de se forjar a própria morte. Você vai perder
o contato de amigos e parentes. Se você revelar o plano a alguém, estará tudo
acabado. Prometo que quando as coisas estiverem melhor, eu busco você.
Eu parecia um robô, agindo conforme os comandos dele. Fabrizio não
queria mais olhar na minha cara e enfrentar a gravidez sozinha estava
acabando comigo.
— Por que o senhor está me ajudando?
— Você já me causou muitos transtornos, Alessandra. Apesar de tudo,
você é minha sobrinha, tem o meu sangue e não desejo sua morte. Mas não
posso permitir que você continue sujando o meu sobrenome. Se Fabrizio
devolver você, eu vou ser alvo de piadas.
Olhei para as cicatrizes dos meus pulsos cortados. Não foi fundo o
suficiente para me matar, no entanto, foi o suficiente para causar pânico no
meu tio.
Ele também não queria ser conhecido por ter tido uma sobrinha que tirou a
própria vida.
Alguns dias antes de descobrir a gravidez, Fabrizio conversou com o meu
tio e disse que iria me devolver. Fiquei completamente em pânico quando
titio veio me contar, ordenando que eu salvasse meu casamento.
Meu mundo desmoronou por completo, quando ele me revelou que havia
induzido Catarina a seduzir Fabrizio. Como eu não era mulher para dar
herdeiros ao meu marido, então que minha irmã tomasse à frente da situação.
Podia não parecer, mas ter parentesco com os Guerrieri mexia com a
cabeça de qualquer um. E meu tio sempre foi beneficiado por ter duas
sobrinhas casadas com homens importantes.
Quando chegou o dia do nascimento do meu filho, o médico responsável
por aplicar a droga entrou no quarto. Meu tio entrou logo depois dele,
aproximando-se de mim.
Eu continuava leiga no plano do meu tio, pois ele alegava que não podia
revelar muito, para não levantar suspeitas. Quanto menos eu soubesse, mais
chance teria de dar certo.
As contratações estavam cada vez mais fortes. Eu mal conseguia falar.
Meu tio tirou um aparelho celular do bolso e colocou na minha frente.
— Quando você acordar, vai encontrar esse aparelho. Me ligue, que eu
mando um soldado de confiança ir resgatar você.
Outra contração veio forte, arrancando um grito de mim. Eu queria
perguntar muitas coisas, mas a dor era insuportável.
Quando o médico se aproximou para aplicar a injeção no meu braço,
afastei-me por instinto. Apesar de não querer ser mãe nas condições que eu
me encontrava, não queria que algo ruim acontecesse com o bebê.
Todas as noites, pedia a Deus que fizesse com que eu amasse o meu filho.
Porém, as mudanças no meu corpo, os hormônios me causando transtornos, a
distância do meu marido e sua traição, não tornou esse sonho possível.
Não amar meu filho acabou comigo. Sentia-me um monstro por não gostar
do serzinho inocente que crescia dentro de mim.
Eu realmente não merecia viver.
— Fique tranquila. O bebê vai ficar bem. Ele está quase nascendo. E você
precisa estar com essa droga no corpo, ela tem que fazer efeito no momento
em que o bebê vier ao mundo — disse o médico, olhando mais para o meu tio
do que para mim.
— Faça o seu trabalho — ordenou titio.
E ele fez. O médico aplicou a tal droga em mim e olhou para o relógio de
pulso. Nesse mesmo momento, um trovão cortou o céu e iluminou a sala.
Se aquilo era um sinal para me alertar da besteira que eu estava fazendo...
não consegui captar. Não porque eu não acreditava em sinais, mas sim por
estar muito machucada para pensar com sabedoria.
Novamente fui atingida por mais contrações.
Cada força que eu fazia, era como se meu corpo estivesse se desgastando
rapidamente. Minha boca estava seca, minhas mãos começaram a latejar e
meu coração bater forte. Estava sem forças, com ânsia de vômito e quase
desmaiando.
Durante horas, fiz força de toda forma possível. Usei tudo que eu tinha.
Olhei para baixo e vi muito sangue no lençol e em todas as partes da cama,
parecia que alguém havia sido torturado ali.
A dor era muito grande, não conseguia ficar quieta, os intervalos das
contrações estavam muito curtos. Até que senti alguém segurar minha mão e
dizer:
— Vai ficar tudo bem. Aguente firme.
Alguém estava me rasgando, causando uma dor absurdamente terrível.
Em alguns minutos, estava enxergando tudo embaçado. E não conseguia
mais identificar as vozes alteradas dentro da sala de parto. Mas longe, bem
longe, pude ouvir um chorinho fraco que foi diminuindo lentamente.
A falta de ar terrível me deixou tonta e sonolenta, assim pulei na escuridão
e me afoguei no desconhecido.

O cheiro forte de flores me acordou do sono profundo.


Abri os olhos e não consegui enxergar nada à minha frente, nem consegui
me mexer. Tentei levantar, mas minha cabeça bateu em um teto, foi então que
desconfiei que estava dentro de uma caixa.
Havia algo estranho na minha boca e outro cobrindo meu nariz. Com muita
dificuldade de me mexer, consegui enfim tirar aquilo de mim.
Tateei o chão. Minhas mãos ágeis se moviam entre as pétalas em busca do
celular, tentando a todo instante não me desesperar, para não perder o fôlego.
Não tinha espaço suficiente para me mover. Estava muito escuro e o ar
ficava escasso novamente.
A possibilidade de estar dentro de um caixão, deixava-me aterrorizada.
Movendo as mãos para cima e para baixo, finalmente toquei em algo duro,
batendo nos meus dedos.
Era o celular. Comecei a chorar de emoção.
Liguei a tela, e o que vi me deixou completamente enjoada. Eu estava
mesmo dentro de um caixão, e pétalas de flores cobriam meu corpo. Elas
cobriam toda extensão.
Porém, o celular deixado ali não tinha sinal, isso sim me deixou
completamente frustrada e desesperada.
Comecei a gritar e a me debater. Implorando para que alguém me tirasse
dali.
Meu corpo estava dolorido devido ao parto difícil. E, naquele momento,
tinha que gastar o pouco de energia que me restou para tentar sair.
O calor era insuportável. Assim como o cheiro horrível do cravo,
deixando-me nauseada.
Eu estava em pânico, chorando muito e implorando para que alguém
conseguisse me ouvir. Morrer seria mil vezes melhor do que acordar nessa
situação.
O celular começou a tocar de repente e o atendi desesperada. O soluço
rompeu minha garganta e comecei a gritar de desespero.
— Me tira daqui.
A ligação permaneceu muda, então foi rapidamente interrompida.
Eu não sei quanto tempo se passou. O suor escorria pelo meu rosto, estava
quase apagando quando o caixão foi aberto. O vento entrou em contato com a
minha pele, fazendo com que eu respirasse profundamente.
Fui rapidamente retirada, mas ainda estava em pânico.
Um senhor me enrolou em um cobertor grosso e me levou até um carro.
Ele me afundou no feno onde havia estercos de cavalos.
Não questionei, só pude ficar quieta.
Chorei a viagem toda, sem imaginar para onde ele estava me levando. O
leite jorrava do meu peito, enquanto estava completamente perdida.
Só sentia um vazio muito grande dentro de mim, como se estivesse oca por
dentro. E eu estava mesmo.
Quando o carro parou. O homem me puxou de dentro do feno e me ajudou
a ficar de pé. Notei que minha roupa ainda estava completamente suja de
sangue. O sangue escorria pelas minhas pernas.
E eu não me importava. Nada me importava.
Andar era um sacrifício. E quando olhei para os grandes portões de ferro
que suportavam duas estátuas enormes de anjo, fiquei completamente
paralisada.
Um hospício de freiras. Um convento. Eu não sabia, porém, era muito
assustador, mesmo assim entrei sem olhar para trás, já que seria para o meu
próprio bem.
Já no portão, uma freira se aproximou. Seu maxilar era bem desenhado, ela
me olhou dos pés à cabeça. Suas roupas escuras e o crucifixo pendurado no
pescoço, deixava a senhora ainda mais assustadora.
— Sou a madre Carlota.
Eu nem sabia mais quem eu era, portanto, não tinha ideia de como me
apresentar. Todas as minhas lembranças eram um borrão, todos os meus
sonhos foram desfeitos do dia para noite.
Notei que mais duas freiras se aproximaram, ficando do lado dela.
Todas elas estavam olhando para o meu corpo. Quando acompanhei seus
olhares, assustei-me com a quantidade de sangue que se formava abaixo dos
meus pés.
Madre Carlota olhou para as duas freiras que estavam do seu lado.
— Cuidem dela.
Elas me levaram para dentro.
O convento era muito grande. Atravessamos um enorme jardim, onde tinha
um lindo chafariz. Algumas mulheres de branco brincavam na grama, como
se fossem crianças.
Depois cruzamos um enorme corredor. As duas freiras me levaram para
um quarto branco e me sentaram sobre a cama. Elas tiraram minha roupa e
me examinaram.
Fizeram vários exames, depois me levaram para o banheiro, onde eu tomei
banho e troquei de roupa.
Depois veio a notícia. Os traumas físicos em mim envolvem sangramento e
inchaço vaginal. Minha vagina e a minha vulva ficaram dilaceradas, rasgadas,
recebi aproximadamente doze pontos, a musculatura do meu períneo ficou
machucada. Um dos pontos havia se rompido, por isso eu estava sangrando.
E o pior, por pouco não morri de verdade. Obra do destino? Castigo?
Eu não sei.
O parto foi um estrago total. Eu me questionei se realmente não estava
morta física, porque mentalmente estava no pó.
Após ser limpa por completo, fui encaminhada para a sala da madre
Carlota. Eu ainda estava fora do ar, tentando assimilar o que estava
acontecendo.
A dor foi insuportável quando me colocaram sentada na cadeira que ficava
de frente para a madre. Parecia que eu estava sendo cortada de dentro para
fora.
Madre Carlota tirou os olhos do computador, para olhar para mim. Ela
estava segurando uma régua grande.
Apoiei a mão sobre a mesa e esperei que ela começasse.
— Me disseram que você anda causando transtornos, tentando tirar a
própria vida.
— Não tenho motivos para viver.
Ela bateu com a régua na minha mão. Eu tirei a mão de cima da mesa,
gemendo de dor.
— Não é você quem decide isso. A vida não é sua.
Encolhi-me na cadeira e fiquei em silêncio.
Meu Deus.
Havia completado uma semana que havia chegado ao convento. Ainda não
sabia que lugar era esse de fato, ou qual era sua finalidade. Mas havia
mulheres em situações lamentáveis, muitas delas sofrendo e chorando por
algo que eu não conseguia entender.
Uma das freiras disse que eu estava com depressão. Elas me colocaram em
um quarto isolado. E todos os dias uma psicóloga vinha conversar comigo.
Eu fazia tudo no modo automático. Não encontrava razão para continuar
vivendo. Às vezes, tinha crises de pânico, muitas vezes isso me deixava sem
ar e sem forças para continuar vivendo.
Pelo menos, eu carregava comigo o celular que meu tio me deu. Todas as
noites, Laura me ligava e mandava vídeos do meu filho. Somente por isso, eu
conseguia suportar a dor de estar em lugar tão melancólico.
Toda vez que Laura perguntava se eu estava melhorando, mentia dizendo
que sim. Não queria envolvê-la em mais situações complicadas. Pois, tinha
certeza de que se eu dissesse o quanto estava sofrendo, Laura com certeza
moveria o mundo para me ajudar e não queria isso.
Quando ela me mostrou meu filho pela primeira vez, algo dentro de mim
mudou. Eu ainda não tinha certeza o que eu estava sentindo, justamente por
não saber organizar os conflitos de sentimentos dentro de mim.
Às vezes, pegava-me sorrindo enquanto olhava a foto dele, às vezes, ficava
com raiva por ele ter nascido. E todas as vezes que ficava com raiva, tinha
consequências gravíssimas. A madre insistia que eu deveria carregar comigo
apenas sentimentos bons, mas ela usava violência para me fazer entender
isso.
Em uma dessas violências... eu caí da escada e rolei pelos degraus. Fiquei
dias desacordada.
Meu tio também ligou algumas vezes para saber da minha situação, saber
se tinha melhorado.
Ele disse que Fabrizio estava desesperado com minha morte e era ele quem
cuidava dos negócios em seu lugar.
Então eu entendi que "me matar", seria mais um benefício para o meu tio.
Ele se aproximou de Fabrizio para poder comandar a máfia, já que Fabrizio
não estava em condições de lidar com nada sozinho. Principalmente com dois
filhos pequenos.
Fabrizio sempre quis ter suas próprias responsabilidades, e pedir ajuda aos
seus irmãos era um ato de fraqueza. Por isso, com certeza, titio estava se
aproveitando da situação.
Até que meu tio parou de ligar de repente, e eu nunca mais soube nada
sobre ele. Logo entendi que alguém poderia estar o vigiando.
Logo cheguei à conclusão de que já não queria mais ficar ali, ainda mais
depois de sofrer agressões por parte da madre.
Queria sair desse lugar e voltar para minha casa, mas tinha que esperar
meu tio fazer contato.
Passei dias ensaiando falas que poderiam aquecer o coração frio dele.
Contaria sobre as agressões físicas que eu estava sofrendo, mas ele nunca
mais ligou.
Estava completamente sozinha naquele lugar. À mercê das loucuras da
madre, que parecia ser mais louca que a gente.
Eu ajudava como podia, fazendo trabalhos de caridade. Também comecei a
bordar e pintar telas, isso foi uma terapia para mim.
Embora, estivesse cercada de pessoas que pareciam estar sofrendo muito,
encontrei apoio na irmã Clarita, que na maior parte do tempo me dava
conselhos dizendo que meu filho foi uma bênção no meio de tanta maldade.
Foi difícil admitir para mim mesma que estava completamente fora de
órbita, embora não pensasse dessa forma no início. Minha única intenção era
me vingar do meu tio e fazer com que ele sofresse na pele o que eu sofri.
Ele conseguiu me destruir. Conseguiu fazer com que eu me sentisse a pior
das mulheres. Eles mataram minha vontade de viver, tiraram meu sorriso e
minha paz. Tiraram um filho inocente de mim, sem se importar com as
consequências.
As humilhações que Fabrizio me fez passar, as agressões psicológicas e as
constantes traições – uma dessas traições com minha própria irmã – fizeram
com que eu perdesse completamente a sanidade.
O sentimento de raiva se apossou do meu coração, por isso só pensava em
vingança. Não conseguia aceitar o fato de que os homens da máfia pudessem
fazer de tudo, enquanto nós, mulheres, sofremos por pequenos erros.
Respirei fundo e encostei a cabeça na parede. Há dias eu não conseguia
dormir, os meus calmantes foram embargados pela madre. Os meses
passavam rápidos, com isso via minha vida perder completamente o sentido
em um lugar como esse.
Quando o dia finalmente amanheceu – como de costume – eu tomei banho
e fui para o refeitório onde todos os dias havia uma fila gigantesca para pegar
o café da manhã. Depois iríamos ajudar nas tarefas de limpeza.
Não tinha fome, mas comer fazia parte das regras. E eu queria sair dali o
mais rápido possível.
Peguei minha bandeja e me sentei em uma mesa afastada, porém, a solidão
não durou muito tempo. Uma mulher franzina se sentou do meu lado. Eu
sempre a via, mas nunca nos falamos.
— Bom dia. — Ela sorriu triste. — Quanto tempo você vai ficar aqui
em tratamento?
Olhei para ela e uma lâmpada se acendeu dentro de mim. Ela com certeza
poderia me dar respostas, poderia conhecer a história dela e, quem sabe,
quando eu melhorasse, poderia arrumar um jeito de ajudá-la.
— Meu marido acha que estou morta. Meu tio me enfiou aqui, então ele
deve decidir quando vai me tirar daqui.
Ela arregalou os olhos e abaixou a cabeça.
— Por que ele fez isso?
— Eu não queria aceitar minha gravidez e tentei muitos suicídios. Meu
marido meio que não se importava mais comigo, então meu tio resolveu
tomar à frente da situação, livrando-se de mim.
Se eu continuasse casada com Fabrizio e vivendo nas condições que eu
vivia, provavelmente, ele já teria me devolvido para o meu tio.
— Entendi. — Ela bebeu um gole de café. — Eu estou aqui, porque meu
marido quis se casar com outra, uma mulher bem mais jovem. Eles foram
amantes por longos meses. Então ele alegou para máfia que eu estava louca e
se casou com ela.
— Dio. — Coloquei a mão sobre a boca.
Ela riu sem vontade.
— Aqui também pertence à máfia. É o lugar onde as mulheres são
descartadas pelas famílias. Quando as mulheres não são mortas, elas são
trazidas para cá. Para o "convento".
Senti a bile subindo pela garganta e eu tive que me esforçar para não
vomitar ali.
— Mas ele te deixou viva — murmurei, triste.
— Sempre fui uma esposa impecável. Hoje se uma mulher morrer na
máfia, há uma investigação rigorosa em cima. Caso fosse confirmado que a
morte não foi natural, o marido teria que assumir as consequências. Então,
eles, simplesmente, arrumaram outra forma para se livrarem das esposas. E
aqui estou eu.
— Sinto muito. — Apertei a mão dela. — Você vai ficar bem.
Ela apertou minha mão de volta.
— Você também vai ficar bem.
— Tomara. — Olhei-a triste. — Não estou legal da cabeça. Não consigo
amar meu próprio filho.
— Jesus. — Ela me deu um abraço forte. — Eu sinto muito. Esse é um dos
piores sentimentos que uma mulher pode ter.
Apesar de tudo, tinha que respeitar o tempo de tratamento. Tinha que ficar
bem para voltar em paz. Aceitar meu filho e tentar reconstruir meu
casamento. Embora tivesse comigo a incerteza sobre a forma que Fabrizio
reagiria quando soubesse que estava viva.
Ela assentiu, depois passou a mão no meu cabelo.
— Você tem que pensar em coisas positivas.
Assenti.
— Eu quero arrancar de mim esse sentimento de me vingar do meu
marido. Parar de querer que ele sofra a dor da minha morte e que se sinta tão
culpado, a ponto de não desejar mais viver.
Eu não podia me dar o luxo de sair desse casamento linda e rica, as coisas
não funcionavam dessa forma na máfia.
Pelo pouco que eu sabia, em outros casamentos, quando a relação não dava
certo eles simplesmente se separavam. Mas no mundo de onde fazíamos parte
não era assim que funcionava.
Ela me olhou triste.
— Sim. Ficar aqui vai ser bom para você. Só não irrite a madre.
A madre.

Eu estava deitada olhando para o teto enquanto me lembrava da minha


vida e do momento em que tudo começou a dar errado. Eu carregava comigo
uma angústia, um vazio inexplicável e uma sensação de que não pertencia a
esse mundo.
Foi quando me bateu um desespero repentino e comecei a chorar. As crises
de pânico e a ansiedade me deixavam completamente vulnerável.
De repente, lembrei-me do caixão e perdi completamente o ar.
Minha visão foi ficando embaçada, com isso caí no chão no momento em
que tentei levantar da cama. A porta do meu quarto se abriu, estiquei a mão
para a madre pedindo ajuda.
Vê-la ali fez com que o desespero diminuísse. Eu só queria alguém para
me abraçar e dizer que tudo iria ficar bem.
Mas ninguém parecia enxergar isso.
— Levante-se — ordenou, já sem paciência.
Por mais que eu quisesse me levantar, meu corpo parecia estar pesado, em
choque. E a madre não tinha paciência para as "minhas birras de menina
mimada"– como ela mesma costumava dizer.
Então, ela usou a régua que estava em sua mão para bater nas minhas
costas e pernas, pedindo que eu levantasse do chão e enfrentasse a situação
de frente como ela realmente era.
As palavras dela não faziam sentido algum para mim.
— Isso que você está sentindo é abstinência dos calmantes, mas eu vou te
curar.
Ela podia ter razão. Entretanto, isso não fazia com que as dores das surras
fossem amenizadas.
Por outro lado, a madre parecia ter certeza do que estava fazendo. Ela
estava convicta que meu caso era apenas um capricho e que as surras
poderiam resolver.
Será que ela tinha razão?
Ela continuou me batendo até o momento que a irmã Clarita apareceu e
tomou a rédea da situação, levando-me para o banheiro e me colocando
debaixo do chuveiro.
Enquanto a água caía, a irmã limpava os ferimentos das minhas costas e
pernas, mas naquele momento eu não sentia nada, além do vazio dentro de
mim.
O que seria da minha vida?
O que seria de mim?
Até quando esse tormento ia continuar?
Por que eu não conseguia ser como as mulheres submissas da máfia?
Por que eu?
Qual era o meu lugar nesse mundo?
Eu não sabia se algum dia encontraria respostas para essas perguntas, à
medida que meu mundo continuava desmoronando.
Fiquei quieto ouvindo Alessandra desabafar e, porra, me senti péssimo
com aquilo.
Eu tive a proeza de sabotar meu casamento.
Por mais que eu dissesse que ela deveria confiar em mim, Alessandra não
confiava. Não porque era uma pessoa difícil, mas sim por saber que as
minhas palavras eram vazias.
Eu era um homem vazio.
Ela continuou ali, falando, e eu quieto ouvindo. Cada palavra que saía da
boca dela, fazia com que eu me sentisse pior. Um verdadeiro covarde, do
jeitinho que meu pai queria que eu fosse.
Cada palavra era como um tiro atravessando meu coração frio. De repente,
todo sentimento de raiva que eu sentia, sumiu em um piscar de olhos.
Não conseguia mais olhar nos olhos de Alessandra. Não sabia mais
identificar o sentimento que apertava meu peito.
Respirei fundo e coloquei minha mão sobre a dela. Eu queria dizer tantas
coisas, mas não conseguia. Faltava-me coragem. Sim, me faltava coragem.
Não conseguia passar por cima do orgulho.
Nós, homens, fomos criados para sermos duros na queda, lembrava-me das
palavras dele: que nunca deveríamos demonstrar sentimentos.
Embora, sempre tivesse demonstrado parte dos meus sentimentos para
Alessandra, a parte mais profunda eu guardava apenas para mim.
Mas ela sabia o quanto a adorava. Então, o que faltou? Acho que faltou
mais comprometimento da minha parte.
Deixei de olhar para os detalhes, faltou dar mais atenção para nossa
relação.
O silêncio tomou o quarto. Alessandra estava quieta, perdida no mundo
dela.
— Eu sinto muito pelo filho que você perdeu — falei por fim, ignorando o
bolo na garganta. — Nunca tive oportunidade de dizer isso, mas estou
dizendo agora. Eu sinto muito.
— Não foi culpa sua. — Ela sorriu triste. — Foi minha culpa, por me
aventurar em um sonho sabendo que não condizia com minha realidade.
— Você amava o pai da criança?
— Não. O que sinto por você é mil vezes mais forte. Talvez, eu não tenha
dado o devido valor que você merecia, Fabrizio. Mas posso dizer que depois
de tudo que passei, eu aprendi a lição. Quem não sabe o que quer, perde o
que tem.
Alessandra havia desvendado o X da questão.
— Eu tentei fazer com que você ficasse contra a máfia, para poder vingar o
filho que eles tiraram de mim. Eu odiava esse mundo, odiava a forma que as
pessoas lidavam com a dor dos outros, porém, nunca parei para analisar que
você é tão vítima quanto a maioria de nós.
— Não sou vítima.
— É sim. — Ela segurou minha mão. — Vocês foram criados para serem
desse jeito. Não tem como ser diferente. E, talvez, se eu tivesse entendido
desde o início, não teria nos puxado para esse emaranhado de problemas. E
eu não teria perdido você para minha irmã.
Catarina.
Catarina foi um caso louco, que depois virou pesadelo. Na época em que
tudo aconteceu, ela estava sem chão e completamente perdida, então
resolvemos acolhê-la na nossa casa.
Catarina amava Riccardo. Eu amava Alessandra. Ambos não ligavam para
os nossos sentimentos.
Eu estava enfrentando uma crise no meu casamento. Nunca entendi por
que diabos Alessandra era tão melancólica e chata às vezes. E Cataria estava
lá por mim, triste e vulnerável, sofrendo pelo amor do meu irmão.
Ela se parecia um pouco com Alessandra, foi isso facilitou para que eu
caísse na tentação. Bebi além da conta e acabei levando Catarina para a cama.
No início, fiquei com receio de contar a Riccardo, com medo do que ele
pudesse dizer. Porém, eles passaram longos anos afastados. Riccardo achava
que Catarina estava morta, enquanto ela sonhava com o momento de
reencontrá-lo.
Óbvio que todos os membros da máfia caíram de pau em mim, julgando-
me pelo fato de eu ter me envolvido com a ex-mulher do meu irmão. Embora
Riccardo nunca tivesse se importado com isso. Primeiro as mulheres
deveriam passar pela cama dele antes de rolar pela cama de outros homens da
máfia. Era uma regra.
Mas isso nunca aconteceu com Irina e outras amantes que ele teve, já que
Riccardo gostava de ter exclusividade quando gostava de alguma mulher.
Sendo assim, nunca ousei olhar para elas com segundas intenções. Não foi
minha intenção me envolver com Catarina, não foi algo planejado.
Ambos sabíamos que nosso envolvimento era puro despeito. Catarina
chamava o nome de Riccardo quando gozava, já eu o de Alessandra. Até que
eu coloquei um ponto final.
No entanto, veio a gravidez inesperada. E Alessandra foi praticamente
obrigada a forjar sua morte.
— Não há justificativa para minha traição — falei. — Mas preciso falar
disso em algum momento. Não planejei me envolver com ela. Não quero que
você pense que eu olhava para ela com segundas intenções, quando
estávamos casados. Você sempre foi única para mim.
Alessandra me olhou com cautela, depois começou a chorar. Aquele olhar
que me partia o coração. Um olhar perdido e triste.
— Eu sei. Meu tio manipulou Catarina. Ela sempre amou o seu irmão, não
teria se envolvido com você se não tivesse com o psicológico bom. Ela foi
facilmente manipulada, é nisso que prefiro acreditar.
— Me sinto péssimo sabendo disso agora.
— Ver vocês dois juntos acabou comigo — falou, ressentida. — Mas
agora é hora de colocar uma pedra nesse assunto. Você tem uma filha com
Catarina, será sua lembrança para o resto da vida. Assim como nosso filho
será minha lembrança.
— Você viu? — Ergui a sobrancelha, confuso. — Você viu a gente?
Ela assentiu, e abaixou a cabeça.
— Vi vocês dois, juntos.
Ela ficou em silêncio por um tempo, parecendo lembrar da cena.
— Alessandra... — Levantei o queixo dela. — Eu sinto muito. As coisas
saíram do controle.
Como assim Alessandra sempre soube do meu envolvimento com sua
irmã, mas nunca falou nada a respeito?
— É passado, Fabrizio. Não quero mais guardar rancor.
— Como você consegue? Você ficou em silêncio todo esse tempo.
— Fiquei. De nada ia adiantar fazer escândalo. As coisas são assim agora.
Catarina está morta.
Realmente não devia ter sido fácil para ela. Novamente o silêncio pesou
entre nós.
Eu estava completamente envergonhado. Na época, aquilo me pareceu ser
o certo. Sou homem e meus desejos não eram correspondidos pela minha
esposa.
Naquele momento, percebi que faltou diálogo e, principalmente,
maturidade de ambos os lados.
O amor que eu sentia pela Alessandra não foi suficiente para ela
confidenciar seus segredos a mim. Ela não se sentia segura, e, no fundo, eu
já sabia que ela estava escondendo algo.
Só faltou interesse da minha parte.
— Eu sinto muito, Alessandra. Se eu pudesse voltar atrás...
— Não tem como voltar atrás — ela respirou fundo. — Estamos cada vez
mais distantes um do outro. Você teria que enfrentar a máfia para ficar
comigo, não quero isso. Não quero mais ser um problema.
Parecia que a gente se afastava cada vez mais, à medida que os segredos
vinham à tona.
Mas tê-la ali perto e sentir o calor do seu corpo, era uma sensação boa.
— Vem aqui. — Puxei-a para um abraço. Era tudo que eu podia dar, no
momento. Um abraço.
O futuro ainda era incerto. Teria que enfrentar o mundo caso quisesse ficar
com Alessandra, não sabia se estava disposto a isso. Mas por ora, eu apenas a
abracei forte.
— Deite-se aqui comigo — ela pediu. — Por hoje, vamos esquecer os
problemas. Vamos esquecer o amanhã e viver o presente.
Tirei os sapatos e me deitei na cama junto com ela. Alessandra deitou no
meu peito e ficou pensativa, e eu também.
Tê-la perto de mim depois de todos esses anos longe era um bálsamo,
finalmente podia sentir o cheiro delicado que vinha dela. Fazendo com que
me lembrasse dos motivos pelos quais eu havia me apaixonado.
Alessandra sempre foi uma mulher destemida, ciente do que queria.
Sempre teve personalidade forte, que aos poucos foi arruinada pelo nosso
casamento.
— Por que você não foi me buscar quando descobriu que eu estava viva?
— Eu fui. Só não quis te ver.
Fiquei em choque quando descobri que Alessandra estava viva.
— Enquanto você estava perto e presa em um convento associado à máfia,
eu morria por dentro.
— Entendo.
— Que bom que você entende. Havia outras maneiras de me punir sem ser
forjando sua morte. Sei que o seu tio teve essa ideia absurda, mas você podia
ter me contado.
— Não foi por falta de vontade. Você sabe em que condições o nosso
casamento estava. Nossa comunicação era zero, não tinha como me arriscar.
Ela tinha razão.
— Tem notícias do meu tio? Ele estranhamente parou de ligar.
Laura foi a chave para que encontrássemos Alessandra. Uma vez que o tio
de Alessandra tinha sumido depois de uma missão que Riccardo,
estranhamente, pediu para ele fazer. Nesse momento, entendo que por trás
dessa missão havia assuntos que eu desconhecia.
Riccardo sabia de tudo. E mandou o velho para uma missão desconhecida.
— Presumo que deve estar morto.
Alessandra levantou a cabeça para me olhar. Era muito provável que isso
tivesse acontecido. Uma pessoa da máfia nunca fica tanto tempo
desaparecida. Se não estivesse preso, provavelmente, estava morto.
— Ele não ia fazer falta para ninguém mesmo — ela murmurou. — Você
pode administrar todos os nossos bens agora. Tudo que papai deixou para
mim e Catarina.
— Eu não quero seu dinheiro, Alessandra.
— Tudo bem se você não tem interesse especial, mas não deixe que a
máfia tome posse das terras que eu corria descalça quando criança.
Por que ela estava falando disso agora?
— Alessandra...
— Me abrace forte, Fabrizio.
Ficamos ali abraçados, curtindo a respiração pacífica um do outro. Eu
queria dizer muito mais coisas para ela, dizer que sentia muito pelo nosso
casamento e pelo rumo que ele tomou.
Deveria ser eu o homem que mudaria sua vida, ser sua válvula de escape,
no entanto, fui o homem que fodeu com tudo.
Eu fodi com tudo, literalmente. E não sabia que porra de atitude tomar em
relação a isso.
Acordei assustado no meio da madrugada, com alguém batendo
desesperadamente à porta.
— Chefe!
Podia ouvir gritos do lado de fora e choros de criança.
Nem me preocupei de colocar os sapatos e rapidamente voltei até a porta.
— O que houve? — Alessandra perguntou, assustada, enquanto acendia a
luz do abajur.
— Fica no quarto. Qualquer coisa puxa a porta do closet e vai para dentro
dele com as crianças.
— Fique tranquilo.
A porta do meu quarto tinha uma passagem secreta que ligava o quarto dos
meus filhos. E dentro do closet havia outra passagem para um esconderijo
subterrâneo, onde ninguém podia acessar facilmente.
Ao abrir a porta, dei de cara com um dos meus soldados de confiança todo
ensanguentado. Meu olhar correu por de trás dele, onde avistei um outro
soldado segurando um dos meus sobrinhos no colo, desacordado.
Vincenzo era que estava desacordado e dono de todo o sangue que se
espalhava pela sala. O soldado estava desesperado, segurando um pano
branco na testa do menino.
Lorenzo também estava desesperado, falando coisas que eu não consegui
entender, enquanto seu irmão estava desacordado.
Corri e tirei Vincenzo do colo do soldado e fui para o estacionamento.
Quando entrei no carro, tirei cuidadosamente o pano e cabelo de Vincenzo da
testa para avaliar a gravidade da situação.
A testa do menino tinha um buraco pequeno e muito sangue escorria. Sim,
aquilo realmente me preocupou muito. Principalmente porque o menino
estava na minha responsabilidade.
— O que aconteceu? — Alessandra apareceu na janela do carro e ficou
estarrecida com a cena. — Meu Deus, Fabrizio.
— Pegue meu celular e liga para o Matteo, informe a situação.
Ela assentiu.
— Vamos — gritei para o motorista.
O carro saiu em alta velocidade. Minhas mãos tremiam e meus olhos
queimavam. A respiração de Vincenzo estava fraca, pressionava o pano na
testa dele, enquanto pedia para ele aguentar firme.
A chuva forte apenas atrapalhava nosso caminho até o hospital mais
próximo. Porém, meu motorista não estava para brincadeira e quando a
situação apertou, ele foi pela contramão mesmo, desviando dos carros.
Quando chegamos ao hospital, eu corri mantendo Vincenzo nos meus
braços, gritando por ajuda. Não demorou muito para os médicos que estavam
de plantão nos socorrer, pegando Vincenzo e levando com eles para a
emergência.
Joguei-me no banco e coloquei o rosto entre as mãos. Só então me dei
conta de estar descalço, sem documento e sem celular.
— Tio.
Levantei o rosto e me deparei com Lorenzo, olhando para mim.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei, sério. Não estava com
humor e nem paciência.
— Eu vim junto, no banco da frente.
Passei a mão no rosto e tentei me acalmar um pouco. Eu odiava hospitais,
odiava ficar esperando por notícias.
Olhei novamente para Lorenzo, tentando decifrar se ele tinha culpa do que
aconteceu.
— O que aconteceu com o seu irmão? Foi você que fez aquilo com ele? —
fui duro.
E se Lorenzo realmente tivesse culpa, eu mesmo faria questão de castigá-
lo. Um pouco de disciplina não faria mal algum.
— Não fui eu. Vincenzo escorregou da escada quando foi pular na piscina.
— O que vocês têm na cabeça para brincar de madrugada na piscina?
— Foi ideia dele. — deu de ombros.
— Eu duvido muito que ele tenha feito isso sozinho — falei, sério. — Isso
não tem graça, Lorenzo. Agir dessa forma fará com que as pessoas se afastem
de você.
— Não me importo. — Deu de ombros novamente.
— É? Então escute, você está de castigo.
— Você não é meu pai.
— Enquanto você estiver na minha responsabilidade, sim. Eu sou seu
responsável, é melhor você se comportar.
— Cazzo. Eu não fiz nada. — Encolheu os ombros. — Ele caiu sozinho.

O dia estava quase amanhecendo quando Matteo chegou ao hospital.


Eu já havia perdido as contas de quantos cafés tinha tomado. Andando de
um lado para o outro, enquanto aguardava informações.
Vincenzo estava fazendo alguns exames, verificando se a queda não o
prejudicou seriamente. Naquele momento, estávamos aguardando essas
informações.
Laura havia chegado minutos depois e conseguido permissão para ir ficar
com o filho.
Matteo se aproximou com um copo de café na mão e colocou a outra mão
sobre meu ombro.
— Você está bem?
— É claro que não. Uma criança se machucou hoje na minha casa.
Embora essas coisas fossem normais de acontecer, eu não conseguiria
relaxar enquanto não tivesse certeza de que Vincenzo ficaria bem.
— Essas coisas acontecem, Fabrizio. Meu filho esses dias pulou de cima
da casinha do cachorro, e fez um belo inchaço na testa. Anna ficou
desesperada. E as coisas vão piorar com a chegada de outro bebê.
— Eu sei que é normal. Porém, mesmo assim não deixa de ser
preocupante. Ele podia ter morrido nessa queda. Estou me colocando no lugar
da Laura e do Riccardo, que são pais assim como eu sou.
Matteo assentiu.
— Riccardo não pode nem sonhar em saber disso. Não está em condições
de absorver problemas.
— Eu sei. Vou manter isso apenas entre nós.
Nesse momento, Lorenzo olhou para mim, mostrando que tinha ouvido
tudo.
Ele realmente me preocupava muito.
Laura saiu da emergência quase morrendo com Vincenzo no colo,
enquanto lutava contra a dor no braço machucado. Eu corri para ajudar.
— Me coloca no chão, mãe — pediu Vincenzo.
— Não. Você vem comigo. — Peguei-o.
— Obrigada, Fabrizio. — Laura sorriu triste.
Podia entender o desespero dela.
— Como ele está?
— Está bem agora, foi um susto. Um médico vai avaliar ele em casa. Eu
quase morri do coração quando Matteo me ligou, mas não foi nada grave. —
Laura beijou o filho. — Graças a Deus meu filho está bem.
Apertei a bochecha dele, e ele começou a rir.
— Ricardinho 2. — Matteo se aproximou e acariciou com cuidado o
cabelo de Vincenzo. — Como você caiu?
— Escorreguei. Lorenzo tentou me segurar, mas não conseguiu. Agora eu
não me lembro de muita coisa.
Matteo olhou orgulhoso para Lorenzo.
— Muito bem, Ricardinho número 1. É assim que se faz.
Lorenzo olhou para mim.
— Viu só? Pode me tirar do castigo.
Abaixei-me para ficar na altura dele.
— Sim. Me desculpe por dizer aquelas coisas. Seu tio estava nervoso.
Ele concordou.
Aquilo sim foi um grande susto, que por pouco não terminou em tragédia.
Eu tinha que me acostumar com crianças nessa idade.
Eu estava sentada segurando o telefone, ouvindo Mattia gritar do outro
lado da linha.
Lágrimas de dor deslizavam em minhas bochechas. Por que, meu Deus?
Eu não estava ali para fazer algo ruim.
Eu não era uma pessoa ruim, só havia nascido no lugar errado. E forçada a
me casar com a pessoa errada.
— Estou com a arma apontada para a cabeça do seu pai — rosnou meu
noivo, bravo.
Fechei os olhos e mais lágrimas deslizaram. Eu queria desligar o telefone e
contar ao mundo que Mattia estava pretendendo tomar os negócios da Cosa
Nostra. Mas também tinha a vida do meu pai, dependendo de mim, e crianças
sendo ameaçadas.
Ele estava me usando como espiã. Querendo saber informações através de
mim, por mais que eu tentasse ocultar alguns fatos, Mattia sabia que eu
estava mentindo. Ele sempre foi muito esperto.
O foco de todos da Cosa Nostra estava na recuperação do chefe deles,
então Mattia enxergou que essa era a oportunidade perfeita para atacar.
Pior, ele sabia que eu tinha sentimentos por Fabrizio.
Eu queria morrer. Morrer para não enxergar o banho de sangue que estava
prestes a acontecer.
Mattia notou minha mudança, percebeu que havia algo diferente em mim.
Diferente de Mattia, Fabrizio era gentil e sempre agradecia por algo. Mais
do que isso, ele me ofereceu um teto confortável, comida, emprego e sem
exigir nada em troca.
Então eu não tinha motivos para trai-lo.
No mundo em que vivíamos não era muito comum um homem ser educado
e gentil.
Mattia não aceitou ser rejeitado. E pelo que parecia, Fabrizio não estava
dando a mínima para as propostas de Mattia, em fazer parceria nos
contrabandos.
Isso o deixou completamente nervoso.
— Filha. — A voz do meu pai me tirou dos devaneios. Apertei os lábios
para reprimir o choro. — Eu não quero morrer.
— Onde está o Guerrieri? — Mattia perguntou novamente. — Está fácil de
invadir?
A voz do meu pai implorando novamente tomou meus pensamentos.
— Fala logo... sua puta! Eu juro que vou enviar para você mais fotos de
crianças mortas, por sua desobediência.
Mattia havia matado duas crianças da minha turma. Crianças carentes que
eu ensinei a ler e a escrever. Ele havia destruído o sonho dessas crianças por
ambição.
— Eu digo... se você me prometer que não vai fazer mal aos filhos dele.
— Não negocio com traidores. — Ele riu. — Você não tem escolha.
Mattia queria fazer as crianças de refém, assim Fabrizio faria o que ele
pedisse.
E eu não podia permitir.
— Não vou deixar você machucar as crianças. Elas não têm culpa.
Escutei quando Mattia deu um soco em algo. Logo pude ouvir o grito de
dor do meu pai. Bem de longe, a voz de Mattia ordenou aos seus homens que
matassem mais crianças.
— Ele está no hospital com o sobrinho. — Chorei. — Os soldados ainda
estão distraídos com tudo que aconteceu. Você pode entrar pelo portão
principal, a esposa dele vai estar lá com as crianças.
A verdade era que Fabrizio precisou sair tão apressado e atordoado, que
levou consigo metade dos soldados que faziam a segurança da casa.
Mattia ficou em silêncio, pensando em tudo que eu lhe disse.
— Certo. Dê um jeito de deixar o portão aberto. Vou entrar atirando.
— Por favor...
— Você vai levar as crianças para dentro do carro e vai entrar junto com
elas. Nosso casamento ainda está pé.
— Mattia...
Ele me interrompeu.
— Pense bem, nada pode dar errado. Estou contando com a sua ajuda. Essa
é sua chance de se redimir.
Mattia desligou.
Eu coloquei o rosto entre as mãos e chorei tanto quanto podia. Eu tinha que
arrumar um jeito de evitar essa tragédia.
Eu podia até morrer, mas não podia permitir que mais crianças inocentes se
machucassem por minha culpa.
Estava sentada no jardim. O Alê estava do meu lado desenhando, enquanto
eu fazia um belo penteado no cabelo liso e negro de Fabrícia.
Pela primeira, estava me sentindo feliz e completa. Meu filho e minha
sobrinha estavam cada vez mais próximos de mim, e só tinha a agradecer por
isso.
Fui chegando de mansinho na vida deles, sem querer forçar a situação.
Quando eles não queriam conversar, simplesmente me afastava e deixava que
eles tomassem a iniciativa. O importante era respeitar o espaço e o tempo
deles.
— Como está ficando? — ela perguntou. Fabrícia era uma menina doce,
gentil e muito curiosa também. Eu via nela traços fortes da minha irmã. E,
estranhamente, aquilo não me incomodava.
— Está ficando lindo.
Naquele momento, consegui enxergar que Catarina também foi vítima do
meu tio.
Ela não teve culpa de ter sido sequestrada por Antônio, minha irmã
infelizmente foi alvo da obsessão doentia dele. Depois disso, a vida dela se
perdeu completamente.
Meu filho se levantou do chão e, sem dizer nada, mostrou o que ele
desenhou. Na folha havia um desenho que entendi ser o Fabrizio segurando a
mão de uma mulher, juntos a duas crianças com um sorriso gigantesco.
Todo mundo parecia feliz.
— Muito lindo. — Sorri. — Quem são eles?
— Nós. — Ele sorriu.
Ele arrancou a folha desenhada do caderno e me entregou.
— Para mim? — perguntei, emocionada. Para mim aquilo era um grande
gesto de carinho.
Quando ele concordou, peguei o desenho e o coloquei contra o peito.
Lágrimas de felicidade e gratidão queimavam meus olhos.
— Obrigada, filho. — Puxei-o para abraço. Não demorou muito para
Fabrícia entrar no meio em um abraço triplo.
Ali, eu entendi o verdadeiro sentido da minha vida. Nunca foi Fabrizio, o
problema sempre foi comigo mesma, eu precisava me encontrar e dar valor a
pequenas coisas.
Eu realmente precisei de espaço para poder entender minha vida,
compreender que as coisas nunca seriam como a gente quer. Mesmo que eu
nunca mais tivesse comigo aquele bebezinho que tiraram do meu ventre, pelo
menos não fisicamente. Ainda tinha Alessandro e Fabrícia, para acalentar
meu coração frio, por isso tinha que dar valor.
Assim que me afastei das crianças, percebi que havia uma movimentação
estranha no portão principal, então fiquei preocupada com a saúde do filho de
Laura. Porém, uma voz dentro de mim dizia que havia algo errado, como
vivíamos cercados de perigo, nunca deveríamos abaixar a guarda.
Meu sexto sentido nunca falhou.
Chamei a governanta e pedi que ela levasse as crianças para o quarto delas.
Informei sobre o esconderijo que ela deveria levá-los caso algo realmente
estivesse errado.
A governanta assentiu. Pouco minutos depois de ela sair com as crianças,
Sussana apareceu sem fôlego no meu campo de visão. Ela começou a falar
coisas sem sentido e me puxando para dentro de casa.
Tentei acalmar a situação e pedi que ela explicasse o que estava
acontecendo. Mas quando ouvimos barulho de tiros se aproximando, Sussana
começou a chorar com desespero. Ela me pedia para correr e me puxava pela
mão, tentando fazer com que eu corresse.
Então decidi fazer o que ela estava pedindo, porém, quando estávamos
chegando à porta que dava acesso ao hall, Sussana caiu no chão gritando e
colocando a mão sobre a perna esquerda.
— Corre, Alessandra — gritou enquanto grunhia de dor e se contorcia no
chão.
Mais tiros foram ouvidos, eles eram fortes ao ponto de doer os ouvidos.
Eu não pude fazer muita coisa quando senti algo duro e frio sendo
colocado contra minha nuca.
— Se correr... eu te mato. — A voz grossa e masculina fez com que eu
ficasse estática.
Ao girar a cabeça, percebi que os soldados de Fabrizio haviam encurralado
os invasores.
O homem me agarrou pela cintura e me arrastou pelo corredor.
— Se alguém se aproximar, eu mato ela.
Eu ainda estava de costas para o homem que me mantinha refém. Ele foi
cuidadosamente me arrastando para fora, enquanto os soldados de Fabrizio
estavam inquietos por não saberem como agir, presumo.
No caminho, percebi que alguns soldados de Fabrizio estavam feridos e
agonizando de dor, além de alguns que estavam mortos.
— Isso. Continue andando — o homem continuou falando.
Continuei quieta e colaborando, assim eu tiraria o foco das crianças.
Depois de caminhar, nós chegamos em uma rua deserta onde um carro
escuro estava estacionado. Um outro homem prendeu minhas mãos com
algemas e me jogou dentro do carro.
Fui jogada do lado de um homem mascarado, com isso meu rosto bateu
contra o vidro fumê.
A batida não foi forte o suficiente para me apagar, mas me deixou um
pouco tonta.
Eles ligaram o carro rapidamente e dirigiram em alta velocidade. Pelo que
parecia eles tinham tudo arquitetado.
Será que Sussana tinha algo a ver com isso?
Pelo pouco que a conhecia, Sussana não era uma pessoa ruim, na verdade,
ruins eram as adversidades da vida que faziam com que as pessoas tomassem
as piores decisões.
Eu era a prova viva disso.
— Está na hora de dormir, boneca.
O homem mascarado colocou um pano úmido no meu nariz. O cheiro forte
fez com que minha visão ficasse embaçada. Tentei lutar para permanecer
acordada, porém, o cansaço foi ficando cada vez mais forte.
Fui despertando devagar. Minha cabeça doía muito.
Estava confusa sobre o que tinha acontecido. Sem saber se foi um sonho
ou realidade.
Mas quando as luzes se acenderam de repente para iluminar o local, todas
as minhas dúvidas foram esclarecidas.
Estava amarrada em uma cadeira de torturas, para variar.
A luz forte estava causando incômodo nos meus olhos sensíveis. Olhei ao
redor e engoli seco, dando-me conta que o momento que eu mais temia havia
chegado.
Crescemos sabendo que em algum momento, os inimigos dos nossos
maridos ou pais, irmãos, tios ou primos vão querer nos usar, ou nossos filhos
para tirarem informações sobre a organização.
Eles acham que pegando alguém mais fraco poderiam obter informações
mais rápido. Porém, mal sabia eles que nós também éramos treinados para
quando esse tipo de coisa acontecesse.
Claro que têm pessoas que não aguentavam torturas, eu mesma nunca
passei por algo assim e nunca imaginei passar tão cedo, mas iria aguentar
enquanto tivesse forças para não delatar ninguém. Acredito que devido às
dores emocionais que passei e tive que suportar, podia aguentar dores físicas
também.
Uma porta de madeira foi aberta e um homem barbudo entrou. O lugar era
sujo e fétido, mas não ia permitir que isso mexesse com minha cabeça.
O homem pegou um bisturi, puxou uma cadeira e se sentou à minha frente.
— Então... temos aqui a esposa de um dos chefes da Cosa Nostra. Que
interessante.
— E você? Quem é? — perguntei. O homem começou a rir.
Enquanto ria, o homem passava o bisturi no meu ombro, deixando um
rastro de sangue.
Sim, aquilo doía para caralho, mas conseguia suportar, na verdade, tinha
que suportar.
— Você sabe por que está aqui? — ele perguntou, sério. — Porque o
infeliz do seu marido tomou minha noiva sem me consultar. E ignorou nosso
acordo.
Que infeliz mimado.
— O erro é seu. — Ergui a sobrancelha. — Se você não consegue segurar
uma mulher, então o erro é seu. Não tenho nada a ver com isso.
Ele deu uma bofetada no meu rosto. Minha bochecha ficou completamente
dolorida, porém, ainda assim eu suportaria.
— O que você sabe sobre a Cosa Nostra e o contrabando de drogas?
— Não sei de nada.
Ele me tirou da cadeira e enfiou minha cabeça em um tanque com água
gelada. As pedras de gelo queimavam meu rosto.
— Em que hospital Riccardo Guerrieri está internado?
— Eu nem sabia que ele estava internado — fiz-me de sonsa.
Ele novamente mergulhou minha cabeça no tanque, tive que suportar
quando o ar começou a faltar.
Ao ver que não iria conseguir nada, ele me colocou de volta na cadeira e
amarrou meus pulsos com arame farpado.
— Eu posso te matar, mas também posso te deixar viver. Eu já sei tudo
sobre você. Que fingiu estar morta e agora tenta adentrar novamente na
sociedade. Na minha organização as coisas não são tão difíceis quanto a
organização que você fez parte. Sou o chefe e garanto que aqui você terá tudo
que precisar, inclusive meu apoio.
— Se aqui fosse tão bom... sua noiva não teria fugido. Concorda?
O homem puxou meu cabelo para trás.
— E se a organização que você fazia parte fosse tão boa, não teria forjado
sua morte. Vejamos aqui, o sujo falando do mal-lavado. — Puxou meu
cabelo de novo. — Olha só... Te deixei sem fala, não é mesmo?
Fiquei em silêncio. Se eu falasse muito, ele poderia usar isso contra mim.
O que mais me apavorava era o fato de estar de frente para o chefe de uma
organização que mal ouvi falar.
Ele parecia um pouco descontrolado para o meu gosto.
— Você vai colaborar?
— Sim — menti.
Mas não sabia se tinha mentido direito, porque o homem arrastou a lâmina
na minha coxa, com isso gemi de dor.
— Não prometa coisas de forma leviana. Eu tenho controle de tudo agora.
O seu filho está na minha mira, se eu quiser posso mandar alguém trazer ele
para cá.
Meu sangue gelou. O homem me entregou um celular.
— Vamos ligar para o Fabrizio Guerrieri. Diga a ele que quero armas e
muitas munições, drogas, dinheiros e minha noiva Sussana de volta, em troca
de sua liberdade.
Havia algo errado. Ele também podia estar atraindo Fabrizio para uma
emboscada.
Meu coração ficou completamente despedaçado. Fiquei com medo, muito
medo.
Ele pediu que eu dissesse o número de Fabrizio para ele mesmo discar,
como estava muito nervosa não conseguia lembrar. O homem perdeu a
paciência e me bateu.
— Eu preciso de tempo para pensar — falei, já sem paciência. Apesar de
ser um chefe, ele parecia estar descontrolado agindo pela emoção.
Fato que ele amava muito a Sussana, pois dizia a todo momento que a
queria de volta.
Quando finalmente consegui lembrar o número de Fabrizio, eu já estava
mais calma e o homem também. Também não queria que Fabrizio ouvisse o
quão nervosa e desesperada eu estava, ele precisava agir com calma.
No segundo toque Fabrizio já atendeu. A voz rouca e grossa dele tomou
meus ouvidos, e eu fiquei aliviada.
— Fabrizio...
— Alessandra — falou, desesperado. — Como você está?
— Estou bem, fique tranquilo. O noivo da Sussana quer que você dê
dinheiro, armas, munição, drogas e ele também quer a noiva de volta.
A ligação estava no viva-voz, então o noivo de Sussana ouvia tudo que
Fabrizio falava. Isso me deixou apreensiva.
— Está certo. Ele terá o que quiser, desde que não te machuque.
— Olá, Guerrieri? — O homem tomou à frente da situação. — Vou
escolher um lugar e você deve ir sozinho. Se eu desconfiar que você está me
passando a perna, eu mato sua esposa e seus filhos.
Fabrizio ficou em silêncio por um tempo.
— Temos um acordo, Guerrieri?
— Sim — respondeu meu marido. — Coloque minha mulher na ligação.
Sua voz é horrível.
Quando ele passou a ligação para mim, tive que me controlar muito para
não chorar. Em um momento como esse não era bom fazer com que Fabrizio
fique nervoso. Ele podia acabar agindo por impulso para tentar me salvar.
— Oi, Fabrizio — murmurei. — Faça as coisas com calma. Estou bem.
— Não está não — gritou o homem do meu lado. — Diga a ele quantas
porradas você já levou e vai continuar levando enquanto ele não apressar as
coisas.
— Desgraçado — xingou Fabrizio, exaltado.
De repente a ligação foi encerrada, deixando um suspense no ar.
O noivo de Susanna correu para fora da sala de torturas, e de longe pude
ouvi-lo gritar para os seguranças ficarem de guarda a noite toda.
Eu respirei fundo e confiei que tudo ficaria bem.
Minha perna doía e sangrava muito, porém, pior do que isso, foi ver Mattia
carregando Alessandra para fora da mansão. Tentei correr atrás, mas caí de
cara no chão.
Mattia tinha duas opções: ou saía da mansão comigo, ou saía sozinho e
tudo ficaria bem. Mas ele preferiu levar a esposa de um dos chefes da máfia.
Com isso, causou uma tremenda discórdia.
De repente, o local foi completamente invadido pelos soldados de Fabrizio
Guerrieri, e Mattia só conseguiu sair, porque tinha Alessandra como refém.
Eu tinha tentado inúmeras vezes ligar para Fabrizio e contar sobre os
planos de Mattia, mas meu celular era clonado, por isso meu ex-noivo quem
tinha o controle das minhas ligações.
Fui covarde, deixei o terror psicológico de Mattia me afetar. Ele me
ameaçava dizendo que iria matar meu pai, caso eu não colaborasse. E como
seu sempre fui uma marionete nas mãos dele, acabei me acovardando.
Nesse momento, a casa estava uma completa loucura. Os soldados de
Fabrizio Guerrieri estavam loucos pelo fato de não saberem a respeito do
paradeiro de Alessandra e por não terem conseguido impedir que a levassem.
Os soldados também levaram em consideração o fato de ter crianças na
casa.
Continuei deitada no chão, agonizando de dor e sem poder fazer
movimentos bruscos. Naturalmente, eles queriam saber mais sobre mim, pois
eu era a única intrusa ali.
Um estrondo ensurdecedor tomou o ambiente. Todos os soldados pararam
de falar e se viraram para cumprimentar Fabrizio Guerrieri. Ao seu lado
estava um homem alto, olhos terrivelmente expressivos e ardilosos.
Quando o olhar desse homem caiu sobre mim, quis que o chão abrisse
abaixo de mim e me engolisse. Ele me olhava com tanto ódio, que podia ver
meu reflexo através de seus olhos.
Tudo nele denotava perigo.
Fabrizio Guerrieri se juntou a ele e os dois ficaram olhando para mim,
como se eu fosse um ser de outro mundo.
— Tire ela daqui — ordenou Fabrizio para o homem cruel que estava do
seu lado, esperando apenas um aval.
Algo nesse homem me incomodava muito. Não somente por ele ser
misterioso, mas também por ter uma aura negra. Mesmo sem conhecê-lo,
podia julgar que ele podia ser mil vezes pior que Mattia.
O homem caminhou sem esperar uma segunda ordem e me arrancou do
chão usando apenas uma mão. Os dedos grossos dele apertavam minha pele
sensível. Meu braço era tão fino sob sua mão grande, que tive medo que ele
pudesse quebrá-lo facilmente.
— Dê o seu melhor, Mumú. Tire todas as informações dela. — Fabrizio
Guerrieri olhou para mim, enquanto pedia esse favor ao homem.
Eu sabia como as coisas funcionavam nas máfias, por isso estava
completamente apavorada.
— Pode deixar. Ela vai ver o sol nascer quadrado da janela do inferno.
Eu quase tive um infarto depois de ouvir aquilo. Como assim?
O tal Mumú apertou mais o meu braço, mostrando que podia quebrá-lo
facilmente caso eu não colaborasse. E então, ele me arrastou pelo corredor.
Quando chegamos ao lado de fora, assustei-me com a quantidade de homens
vigiando o local.
O tal do Mumú segurou minhas duas mãos com força e juntou meus pulsos
com fita isolante, deixando-os imóveis e prendendo minha circulação. Feito
isso, ele me conduziu para dentro de um carro e se sentou do meu lado.
Continuei quieta e com a cabeça abaixada enquanto o carro ganhava
velocidade, cortando os carros na pista e pegando uma rua completamente
deserta. Estava com muito medo, tentando olhar com o canto do olho para
onde eles estavam me levando. Porém, eu não conhecia nada ali, fiquei
apavorada quando eles pegaram uma estrada de barro seco e adentraram no
meio de um floresta.
Haviam dois carros na nossa frente, porém, parecia haver mais carros atrás
de nós. Ninguém em sã consciência ousaria interferir nesse trajeto, muito
menos os homens de Mattia que gostavam de agir pelas costas.
Quando o carro foi estacionado em frente a uma casa horrenda antiga, eu
quis correr, mas o tal do Mumú segurou-me pelos cabelos e me arrastou em
direção à casa.
Meu coração palpitava, golpeando meu peito. Lágrimas de desespero
ardiam meus olhos e escorriam em minhas bochechas. Estava desesperada e
apavorada.
A dor no pé me fazia gemer de dor. Enquanto eu tentava me equilibrar, o
tal Mumú me arrastava como se eu fosse uma boneca de pano. Eu deixava
rastros de sangue por onde passava e ninguém se importava caso sangrasse
até a morte.
— Eu não sou uma traidora — tentei argumentar, fazer com que eles
parassem para ouvir o que eu tinha a dizer. No entanto, ninguém parecia estar
interessado nos meus argumentos, pareciam surdos e com muita raiva.
O tal Mumú abriu uma porta pesada de madeira e me empurrou para
dentro, como não conseguia ficar de pé por causa da perna machucada, caí
como um saco de bosta no chão. Meu rosto foi ao encontro do chão, a terra
entrou nos meus olhos e minha boca.
Antes mesmo que eu pudesse me recuperar daquele baque, o tal do Mumú
me levantou do chão e me pôs sentada sobre uma cadeira desconfortável. O
lugar tinha um odor fétido que ardeu meu nariz.
Não precisava ser inteligente para deduzir que esse lugar foi palco de
muitas torturas violentas, que faziam com que as pessoas fizessem suas
necessidades nas roupas.
Ele me amarrou na cadeira. Foi até um armário antigo e pegou um frasco
transparente.
O sol estava se pondo, podia vê-lo brilhar através da fresta das janelas de
madeira. O lugar parecia um estábulo abandonado, pois havia feno no chão.
No canto esquerdo havia uma mesa grande com vários objetos estranhos,
que pareciam machucar muito. Também tinham correntes penduradas no teto,
que pareciam estar pronta para enforcar alguém.
Engoli seco quando o tal do Mumú se aproximou. Ele se abaixou e segurou
minha perna machucada, prendi a respiração e fechei os olhos temendo o que
vinha a seguir. Ele abriu a tampa do frasco e o despejou no meu machucado,
o líquido gelado me pegou desprevenida. Embora estivesse esperando por
aquilo, nada me preparou para a ardência que o líquido causou quando entrou
em contato com a ferida.
O machucado ardia, queimava e latejava, enquanto urrava de dor enquanto
pedia para ele parar.
— Por favor, eu não fiz nada.
Eu nunca concordei com as coisas que Mattia fazia, a prova disso foi eu ter
preferido ficar sob a proteção da Cosa Nostra. Ninguém iria entender os
motivos pelos quais me silenciei.
O tal do Mumú não me respondeu, tampouco parou o que estava fazendo.
O suor escorria pelo meu rosto, com certeza eu estava ficando febril devido
àquela ferida feia. Quando achei que as coisas não poderiam piorar, eis que
ele pegou uma lâmina bem afiada e abriu mais o machucado, fazendo com
que a ferida ficasse mais exposta e o sangue escorresse mais, em seguida
enfiou o dedo bem no fundo da minha carne e puxou algo.
Aquilo me deixou tonta e nauseada. Podia sentir meu coração batendo na
cabeça, causando uma pressão, e os meus sentidos indo embora.
O homem pegou uma agulha e costurou o machucado. A mão dele estava
toda suja de sangue, isso estava me deixando pior.
Assim que terminou, ele foi até uma pia e lavou a mão.
A minha garganta estava seca, eu queria pedir água e um remédio para que
aliviasse essa dor, mas tudo que fiz foi fechar os olhos e descansar.

Quando acordei, percebi que já havia escurecido completamente. Havia


uma luz fraca vindo de um canto do estábulo. Forcei minha vista para
enxergar através da escuridão. O tal do Mumú estava concentrado em frente
ao notebook, digitando e falando coisas que eu não conseguia entender.
Gemi de dor, tentando sair daquela posição desconfortável que ele me
colocou. Porém, quando tentei me mover a perna começou a latejar mais
forte. A sede tinha aumentado, com apenas um gole de água e um pouquinho
de comida eu ficaria feliz.
Mas não disse nada, não queria testar a paciência daquele homem.
Fiquei dormindo e acordando, completamente desconfortável na cadeira.
Através da janela de madeira, foi possível ver a claridade do dia estava
amanhecendo devagar.
Minha garganta estava muito seca e meu estômago roncando de fome. O
tal do Mumú não estava mais no notebook, estava sozinha no estábulo.
Desviei meu olhar para o feno no chão e quase morri, quando vi uma aranha
enorme se escondendo.
Tentei ficar calma, não podia perder a cabeça. Eles tinham que entender
que eu não compactuava com as coisas que Mattia faz. Eu tinha que provar
que era forte e que eles podiam confiar em mim.
Primeiro, tinha que começar ganhando a confiança dele, mostrando que eu
queria colaborar.
Respirei fundo quando escutei o barulho da porta atrás de mim e passos
pesados pelo chão. O tal soldado estava de volta, dessa vez ele trazia consigo
uma câmera.
Ele tirou várias fotos minhas e ficou olhando para elas, depois foi
novamente para frente do notebook. Certamente iria usá-las para chatear
alguém da máfia que eu fazia parte.
Mas quem iria se importar com aquilo?
— Ninguém vai se importar com essas fotos. Ninguém se importa comigo
— falei. — Eu posso ajudar de outra forma, não sou uma traidora.
O homem continuou em silêncio, como se eu não tivesse dito nada.
— Estou com fome e sede.
Ele continuou quieto.
— Por favor, me dê um pouco de água. Não vou contar a ninguém.
Ele continuou concentrado digitando algo que eu não conseguia ver.
— Seu nome é Mumú, não é? — perguntei, então ele parou de digitar para
olhar lentamente para mim.
Senti o sangue gelar no meu corpo. O homem se levantou da cadeira,
ajeitou o paletó e andou perigosamente até mim.
Prendi a respiração.
Ele tirou uma maçã grande do bolso e forçou ela a entrar toda na minha
boca. Como a maçã era grande e minha boca pequena, ele deu um soco para
ela entrar.
As lágrimas escorriam sem minha permissão molhando minhas bochechas.
Ignorando meu desespero para respirar, ele se abaixou para olhar bem
dentro dos meus olhos.
Eu estremeci de pavor.
— Mumú é para os amigos, não conheço você. Nunca mais ouse chamar
meu apelido, não te dou essa liberdade.
Ele deu meia-volta. Eu tinha certeza de que ele havia quebrado todos os
meus dentes, porque a dor e o gosto de sangue na minha boca estava
insuportável.
Antes de se acomodar novamente na frente do Notebook, ele me olhou
pela última vez.
— Você vai continuar com fome se não conseguir comer essa maçã que
está na sua boca. Você não está em um restaurante e não sou seu garçom.
Lembre-se disso toda vez que for pedir alguma coisa.
Eu comecei a chorar enquanto engasgava com a maçã.
Com toda certeza do mundo... esse homem era muito pior do que Mattia.
Ah, Deus. Eu preferia morrer.
Eu estava andando de um lado para o outro, completamente nervoso.
Todos os soldados da famiglia estavam trabalhando para saber o paradeiro de
Alessandra, mas para mim não estava sendo suficiente.
Tive que encerrar a ligação de Mattia, do contrário, eu mesmo colocaria
tudo a perder. Fiquei nervoso quando ele ameaçou Alessandra.
Minha esposa estava no meio disso, não podia perder o controle da
situação, não podia colocar a vida dela em risco, não quando a tinha
novamente para mim.
Mattia iria ficar fodido quando eu colocasse as minhas mãos nele.
Alguns soldados estavam aflitos olhando para mim, esperando ordens.
— Eu quero que encontrem a família de Susanna — ordenei.
Alguns membros da famiglia também se ofereceram para ajudar.
Eu já havia mandado separar tudo que Mattia pediu. Embora soubesse que
ele, sendo amador do jeito que era, não teria tempo de usufruir nada daquilo.
Porque antes disso, eu o mandaria para as profundezas do inferno, para que o
diabo fodesse o traseiro imundo dele.
Mumú apareceu logo depois trazendo fotos de Susanna completamente
machucada. Aquilo me deixou um pouco mais animado.
Ter visto Alessandra naquelas condições me deixou completamente
despedaçado. Porém, a raiva inflamou dentro de mim, só queria a cabeça de
Mattia em uma bandeja.
Reuni todas as fotos e enviei para Mattia, aguardando o contato. Eu sabia
que ele era apaixonado por Susanna, do contrário não teria se importado com
o fato de ela ter escolhido fazer parte da nossa máfia.
Meu celular vibrou segundos depois. O número de Mattia apareceu na tela
em uma videochamada. O rosto daquele verme maldito me embrulhou o
estômago, porém, mais do que isso, senti o ódio aquecer minhas veias.
— Guerrieri. Onde está Susanna?
Mattia começou a rir, mas logo ficou sério.
— Guerrieri, Guerrieri. Eu a quero inteira, para eu mesmo poder
desmembrar aquele corpo traidor. Se você tocar nela novamente, nosso
acordo está acabado, eu meto um tiro na cabeça da sua puta.
— Onde está Alessandra?
— Primeiro nosso acordo. Amanhã vou enviar uma mensagem para o seu
celular com a localização de onde você deve deixar tudo que pedi.
Fechei os olhos e respirei fundo, controlando-me para não explodir de vez.
Eu tinha que manter a calma e o sangue-frio de um assassino.
Nesse momento, Matteo fez sinal indicando que já tinha a localização do
lugar de onde Mattia estava ligando.
— Certo.
Mattia riu.
— Sua esposa não está comigo. Ela está em outro lugar, na companhia dos
meus homens. E eles estão esperando meu sinal para dar um tiro nela. Não
tente me achar, se eu morrer, eles têm autorização para matar ela.
— Filho da puta — gritei.
Ele desligou.
Matteo se aproximou e bateu no meu ombro.
— Ele estava usando um bloqueador de sinal, mas nós conseguimos
invadir e descobrir de onde ele está falando. Você tem que se acalmar,
Fabrizio. Tem que ter paciência.
Passei a mão no rosto e me apoiei na mesa.
— Alessandra não está com ele. Ele seria muito burro se cometesse esse
erro. — Fechei os olhos.
— Mumú vai colocar um rastreador nas armas, nós vamos precisar
recuperar tudo depois. Então, vamos seguir os homens de Mattia e descobrir
onde está Alessandra.
— Você acha que isso vai funcionar?
Matteo me olhou com cautela.
— É claro que vai dar certo.
Assenti.
Amanhã eu iria elaborar um meio de chegar até Alessandra.

As horas passavam e o silêncio me deixava aflito.


Não podíamos invadir no escuro, sem saber em que situação Alessandra se
encontrava.
Respirei fundo, enquanto observava o anoitecer através da janela do meu
escritório, pensando em como eu faria para trazer Alessandra de volta, sem
que ela se machucasse no processo.
Meu coração doía com a possibilidade de não vê-la nunca mais. Tive
receio de estar sendo punido pela vida.
Muitas pessoas dariam tudo para reencontrar um ente querido que se foi,
enquanto eu tive a oportunidade e não soube aproveitar. Não aproveitei a
chance de ter visto Alessandra pela segunda vez.
A raiva e o orgulho me deixou cego. Alessandra sempre esteve perto de
mim e não soube enxergar. Ela sempre esteve ali pedindo ajuda em silêncio,
porém, não soube interpretar.
Não soube ler os sinais de sua depressão. Alessandra só precisava da
minha mão para sair do fundo do poço, e eu só tinha que puxá-la.
Naquele momento, nosso casamento estava completamente fracassado,
precisando de restauração. Eu daria meu sangue para contemplar a beleza de
seus olhos negros brilhando para mim outra vez.
Sabia que muitos casais na máfia passavam pela mesma coisa que estava
passando, como divórcio não era válido, eu iria restaurar o meu casamento.
Assim como a maioria fazia.
Eu ia me apaixonar de novo e me entregar sem restrições. Ficar de olhos
abertos para os detalhes. Para isso acontecer, eu teria que derrubar os blocos
de gelo que estavam à minha volta. Tinha que deixar o passado de lado e
viver o presente.
Se Alessandra errou, foi porque eu permiti que ela errasse. Se ela forjou
uma morte debaixo do meu nariz, foi porque eu estava preso no meu mundo
obscuro e não dei a devida atenção que minha esposa merecia.
Merda de vida.
Fui arrancando das divagações quando ouvi um barulho na porta. Fiquei
ansioso pensando ser alguém com notícias sobre Alessandra, mas não. Era o
presidente.
— Posso entrar?
Concordei. Ele entrou e fechou a porta.
— Vim aqui para saber se posso ajudar em algo.
Toda ajuda era necessária naquele momento, embora não pudesse arriscar
chamar muita atenção. Não sabíamos se havia algum infiltrado na minha
segurança passando informações para Mattia.
E o presidente poderia estar fingindo boa-fé para vingar a surra de seu
filho.
— Agradeço sua oferta. Estamos fazendo o possível. — Gesticulei para a
cadeira vazia na minha frente.
Ele se sentou e me avaliou cautelosamente, enquanto ajeitava o terno.
— Guerrieri, antes de tudo, gostaria de deixar claro que em nenhum
momento concordei com o comportamento do meu filho. Eu jamais traria ele
aqui se soubesse de suas verdadeiras intenções. Laura é esposa do seu irmão,
eu respeito isso. Mas meu filho foi criado em uma bolha e acha que pode ter a
mulher que quiser.
Continuei em silêncio ouvindo o que ele tinha a dizer, apesar de não estar
com paciência para esse tipo de assunto.
— Se vocês acham que o meu filho deve ser punido mais severamente, vou
concordar. Vai doer muito, mas sei quais são as regras e não estou aqui
tentando negociar. Eu só gostaria que vocês pensassem com mais calma,
levando em consideração se vale a pena perder tempo com um garoto
mimado.
— Mimado ou não, seu filho foi desrespeitoso.
Ele concordou em silêncio.
— E quanto a questão do meu casamento com Marta? — Ele me olhou
sem jeito. — Gostaria que esse assunto não interferisse na minha relação com
ela.
Mexi-me inquieto na cadeira.
— Você está me dizendo que, mesmo que seu filho morra pelas mãos da
Cosa Nostra, você ainda quer se casar?
Ele assentiu.
— Mesmo que eu desistisse desse casamento... Não vou ter meu filho de
volta. Vou?
— Faz sentido. No entanto, lembre-se de que você se tornará padrasto da
mulher do meu irmão, a mesma mulher que seu filho estava cortejando. Não
se esqueça disso. Não sei se Riccardo irá concordar.
O presidente me olhou sério, como se eu tivesse jogado álcool na sua
ferida.
— Eu sei. — Abaixou a cabeça. Pela primeira vez eu via um homem
querendo se casar por amor. — Mas se você não se importar, gostaria de
fazer um jantar especial.
— Qual seria o motivo do jantar?
— Vou pedir a mão de Marta em casamento.
— Não estamos em clima de festa. Minha mulher foi sequestrada e meu
irmão está em uma cama de hospital.
Ele se levantou da cadeira.
— Seria bom uma festa para acalmar os ânimos. E isso não seria motivo de
distração, ainda assim vão continuar buscando por sua esposa. E seu irmão
está nas mãos dos médicos... que são ótimos profissionais.
Nossa atenção foi desviada para Matteo entrando no escritório sem bater.
— O que está acontecendo? — Matteo parou de repente, olhando para mim
e depois para o presidente.
— Ele quer fazer uma festa para anunciar o noivado com Marta — falei.
Matteo estreitou os olhos.
— O que você acha? — perguntei, incerto. Eu não estava em clima de
festa.
— Por mim tudo bem. — Matteo deu de ombros. — Podemos fazer uma
pequena recepção para anunciar o casamento do presidente com a minha
sogra. Podemos fazer na minha casa mesmo.
Passei a mão pelo rosto, eu definitivamente não estava em clima de festa.

Estava deitado olhando para o teto, enquanto ouvia as respirações calmas


dos meus filhos dormindo do meu lado. Embora eu estivesse completamente
nervoso com os problemas assombrando meus pensamentos, não podia
transferir esses sentimentos para os meus filhos.
Por isso, tentei sorrir sempre que eles diziam coisas sem graça, ou quando
faziam piadas de criança. Eu queria que eles tivessem uma infância tranquila,
diferente da infância que meus irmãos e eu tivemos.
Meu pai conseguiu destruir tudo. E se Riccardo não tivesse matado ele,
com certeza, o velho ainda estaria vivo nos atormentando.
Levantei-me devagar para não acordá-los e caminhei em direção à porta.
— Papai.
Fiquei paralisado, com a mão na maçaneta da porta, e fui me virando
lentamente em direção à cama. Fabrícia estava sentada, com os olhos
arregalados.
— Filha. O que aconteceu?
— Não estou conseguindo dormir. Você pode preparar um chocolate
quente para mim?
— Eu. — Alessandro levantou da cama, imitando sua irmã.
Ótimo.
— Tudo bem.
Nós fomos para a cozinha. Fabrícia segurou a mão de Alessandro, tomando
cuidado para ele não cair. Meus filhos apesar das circunstâncias, eram muito
unidos. E isso sempre foi muito importante para mim.
Eu esperava muito que, no futuro, Fabrícia não sofresse preconceito por ser
filha bastarda. E que ela se casasse com alguém bom o suficiente para não
levar em consideração esse pequeno detalhe.
Peguei tudo que precisava dentro da geladeira e do armário para fazer o
lanche deles.
Esquentei o leite, peguei o chocolate e misturei. Depois dividi em
quantidades iguais e coloquei na frente deles.
— Obrigada, pai. — Fabrícia riu. — Você tem torradas?
Olhei em volta, buscando as torradas, encontrei-as em um pote em cima do
balcão.
Abri o pote e coloquei na frente deles. Eles continuaram olhando para
mim.
— Alessandro gosta de comer torrada com geleia de morango, papai —
disse Fabrícia, triste.
— A... a Tia Alessandra paz — falou meu filho, ansioso.
Tia Alessandra, na verdade, ela é mãe dele. No entanto, isso não era
discussão para o momento.
Peguei a geleia na geladeira e passei na torrada dele. Meu filho comeu de
um jeito que nunca vi, ele comeu com gosto enquanto batia com os pés na
cadeira, sempre com gestos repetidos.
Sentei e fiquei olhando para eles admirado.
— Papai — Fabrícia me chamou. — Onde está tia Alessandra?
Olhei para o meu relógio de pulso, marcando meia-noite em ponto.
— Ela vai estar de volta em breve.
Minha filha abaixou a cabeça e continuou comendo. Ela nunca teve uma
figura feminina que não fosse sua babá ou a governanta da casa. Então,
Alessandra era quem fazia companhia.
No início, tentei impedir que elas se aproximassem deles. Mas conforme os
dias foram passando, vi meus filhos mais felizes com a chegada da
Alessandra.
— Você sente falta dela? — perguntei-lhe.
— Sinto.
Toquei o cabelo dela e beijei sua testa. Em tão pouco tempo, Alessandra já
tinha conquistado meus filhos.
Minha atenção foi desviada para o meu celular que estava em cima da
mesa. Era Mumú, informando que estavam trazendo o pai de Susanna.
A ansiedade corroeu minhas veias, eu não via a hora de colocar minhas
mãos nele.
O velho estava na minha frente, pelado, sentado sobre vários cactos
repletos de espinhos. Ele gritava de dor e tentava se levantar, e o meu soldado
tinha a função de jogá-lo novamente sobre os cactos.
Ele urrou de dor quando o corpo novamente entrou em contato com os
espinhos parecidos com pelos, muito doloroso.
— Eu não sei de nada. Juro — resmungou o velho pela milésima vez. —
Por favor, me tire daqui.
Sabendo que essa conversinha dele não iria me convencer facilmente, um
dos soldados me trouxe um esmagador de dedos.
— Por favor...
O velho continuou suplicando. Coloquei o dedo dele entre as varas de
madeira e o olhei firme, caso continuasse se negando passar informações, eu
iria puxar a corda para esmagar os dedos da mão dele. Faria com a outra mão
e depois com os pés.
Eu não vou desistir.
— Você sabe onde está Mattia. E eu quero saber. — Sentei-me na cadeira,
enquanto segurava umas das cordas que conectava a vara que prendia os
dedos dele.
No momento em que ameacei puxar a corda, o velho começou a implorar
para que eu não continuasse com aquilo. Como eu não estava ali para cumprir
ordens dele, puxei com mais força e dei ordens aos meus soldados que
fizessem o mesmo, com as outras cordas conectadas.
Fomos puxando a corda lentamente e os dedos dele foram ficando presos
entre as varas, sendo esmagados lentamente.
O velho gritava muito, gemendo de dor após ter os dedos esmagados e por
ter espinhos entrando em sua pele... Isso causaria uma bela infecção.
— Eu juro que eu não sei. — Ele olhou para mim com os olhos cheios de
lágrimas. — Juro que não sei.
Nesse momento meu celular tocou, e quando vi o número de Mumú na
tela, atendi imediatamente.
— Senhor.
— Estou ouvindo, Mumú. Alguma notícia?
— Já conectei rastreadores nas armas. Mattia entrou em contato com você?
— Não. Arrume dois carros discretos. Você vem comigo.
— Certo.
Coloquei o celular no bolso, olhando para Copolla. Eu não tinha
conseguido acabar com ele ainda, mas faria isso quando Susanna estivesse
presente.
Logo ela vai se dar conta do problema que se envolveu.

Todos os soldados e membros da organização estavam reunidos no prédio,


em uma sala subterrânea onde fazíamos as reuniões da máfia. Estávamos
estudando um meio para Mattia não descobrir nosso plano.
Enviamos soldados experientes para ficarem espreitando algumas ruas da
Sicília. E qualquer irregularidade, eles tinham autorização para atirar.
A polícia local também estava sabendo do esquema e prometeu ficar fora
do nosso caminho.
Nosso objetivo era prezar pelos nossos amigos e garantir que ninguém
saísse machucado dessa missão. Em vista de outras missões das quais
estamos acostumados a enfrentar, essa de longe era a mais simples, porém,
minha esposa era refém deles e eu precisava pensar nisso.
— Estou louco para colocar as mãos nesse desgraçado. — Dei um soco na
mesma, derrubando algumas canetas que estavam ali.
Desviei atenção para a parede, onde haviam antigos quadros com fotos de
membros importantes da Cosa Nostra. A árvore genealógica da minha
família.
Olhei para as fotos dos meus avós, depois olhei o quadro do meu pai. A
foto do Riccardo estava começando a ficar desgastada. Do Matteo era um
pouco mais recente, a minha também estava ali. Todos os homens da minha
família haviam pisado naquela sala para alguma reunião importante.
Mumú parou do meu lado e também ficou olhando para as fotos. Aquela
exposição chamava muita atenção e dizia um pouco sobre nossa família.
Olhei novamente para a foto de Riccardo. Ele sempre mantinha aquele
olhar de mistério, que te fazia questionar qual seria o seu próximo passo.
— O que eu devo fazer, Riccardo? — murmurei. — Me dê um sinal.
Fechei os olhos e fiquei em silêncio, buscando um meio de sair dessa
confusão sem que ninguém se machucasse.
Então, senti como se algo ou alguém tivesse soprado no meu ouvido,
deixando-me completamente arrepiado. Em uma fração de segundos, todos os
meus pensamentos mudaram.
Virei-me para Mumú, que me olhou surpreso.
— Susanna disse alguma coisa?
Ele negou.
— Nenhuma informação importante. Essas mulheres não sabem de muita
coisa.
— Ótimo. Vamos usá-la de isca, coloque um rastreador nela. Vamos ver
Susanna e as armas vão para o mesmo lugar.
Ele concordou surpreso e saiu apressado.

O sol estava se pondo quando cheguei à localização que Mattia havia


mandado através de mensagem. Dirigi um caminhão repleto de armas,
dinheiro, drogas e munições. Tudo que Mattia tinha pedido.
Do meu lado, estava Susanna de boca fechada com fita isolante. Ela foi
orientada a colaborar, caso contrário o pai dela ia morrer, estávamos usando a
mesma chantagem que Mattia usou.
O pai de Susanna estava na própria casa sendo refém de Mattia. Quando
Mumú chegou lá dizendo que iria levar o velho até sua filha, ele ficou
completamente feliz e colaborou conosco.
Mattia não se importou com o fato do pai de Susanna estar conosco,
porque o velho não sabia nada a respeito do sequestro de Alessandra. O velho
não tinha utilidade para Mattia, já que ele havia conseguido o que queria;
sequestrar Alessandra e extorquir a Cosa Nostra.
Porém, usando Coppolla a nosso favor, havia uma grande possibilidade de
Susanna colaborar.
Olhei em volta buscando algum tipo de movimentação.
Eu estava usando colete a prova de balas e um ponto de escuta, onde
soldados armados conseguiam ouvir perfeitamente tudo.
Mumú tinha tudo sob controle, como sempre. Não me admirava que ele
fosse braço direito e amigo de Riccardo.
Matteo estava monitorando os rastreadores, passando informações para
Mumú e também para mim.
Então de repente, vi o farol de uma caminhonete se aproximando devagar.
Sete homens com os rostos cobertos saíram do carro gritando, pedindo para
eu colocar as mãos para cima.
Assim o fiz.
Dois homens me revistaram e me colocaram de joelhos no chão, apontando
armas para minha cabeça. Eles ficaram ali me vigiando enquanto sua equipe
trabalhava.
Três homens entraram no caminhão e saíram rapidamente, outros dois
pegaram Susanna e entraram na caminhonete, saindo em alta velocidade
também.
Touché. Eles morderam a isca, mas não podíamos comemorar ainda.
Eu estava de joelhos observando um deles digitando algo no celular, talvez
esperando algum comando de Mattia ou passando informações dizendo que o
plano foi bem-sucedido.
Os minutos se passaram, eu tinha que aguentar firme, nada poderia dar
errado.
Nesse momento pude escutar barulhos de motos se aproximando,
provavelmente para buscar os dois homens que tinham ficado ali se
certificando que ninguém ia agir pelas costas deles. Então, de repente, um dos
homens me deu uma coronhada na cabeça que me fez cair no chão. O outro
homem destravou a arma para me matar.
Mesmo assim não fiz nenhum gesto brusco, mantive a calma, conforme
sussurrava o código secreto que deveria usar para os meus homens invadir.
Os homens que levaram Susanna estavam a uma distância considerável de
nós, então não tinha risco de eles escutarem barulhos. Eu ia segui-los sem
correr risco de ser descoberto.
— Vamos conversar — pedi.
Os nossos soldados apareceram atirando. A troca de tiros foi intensa, mas
estávamos em nosso território e em maior número. Membros da famiglia
também apareceram com armas pesadas, atirando nos inimigos, deixando um
deles vivo para torturar e tirar informações.
Eles começaram a revistar os corpos no chão, em busca de algum objeto
suspeito. O homem ferido chorava de dor, mas garantia que nunca iria
cooperar conosco. Depois de levar três chutes no saco, ele mudou de ideia.
Mumú saiu dirigindo em alta velocidade indo atrás dos caras que foram no
caminhão, enquanto esperava meu carro chegar.
O sangue escorria no meu rosto, contudo, isso não me importava.
Um carro rapidamente foi deixado para que eu pudesse ir atrás de Susanna.
Coloquei munições nos bolsos, uma pistola na cintura e o fuzil no banco da
frente do carro. Olhei pelo retrovisor e vi um carro cheio de soldados de
Riccardo aparecer para nos dar suporte.
— Você está bem, Fabrizio? — perguntou um membro da famiglia.
— Os soldados de Riccardo estão aqui, por quê? — perguntei, preocupado
com a segurança no hospital.
Ele bateu no meu ombro.
— Está tudo sob controle. Vá buscar sua esposa.
Entrei no carro e saí em alta velocidade, seguindo os comandos de Matteo
que me garantiu que ainda havia soldados e membros importantes da famiglia
no hospital cuidando da segurança de Riccardo.

Enquanto dirigia pelas ruas, tentava parar o sangramento na minha cabeça.


Matteo me mantinha informado sobre a localização exata do carro em que
Susanna estava. Em outro ponto estava Mumú, nos passando informações
sobre o caminhão com o armamento.
No painel do meu carro mostrava que os homens estavam parados, mas
não podia confiar no sinal do GPS que falhava toda hora, conforme passava
pelas ruas de terra.
Eu já estava dirigindo por uma hora.
— Você chegou. Pare o carro em um lugar seguro e vá andando. Entre na
próxima rua à sua esquerda. Eles estão bem próximos de você — disse
Matteo. — Estou enviando reforços.
— Cheguei ao local. — Mumú também se pronunciou.
Parei o carro em local escuro e fui andando. Assim que virei à esquerda,
deparei-me com o carro deles parado em um galpão abandonado perto de um
lago. O lugar ficava no meio do nada, escondido com plantações.
Abaixei-me para ficar entre os matos. Haviam alguns homens do lado de
fora fazendo a segurança do local.
Destravei a arma devagar. Eu sabia que no momento que atirasse, não
podia mais parar. Também não podia mais perder tempo.
Voltei devagar para o carro. Peguei o fuzil no banco da frente, depois
disparei o alarme do carro e saí correndo para o meio das plantações.
O fato de estar escuro ajudou bastante, o que facilitou para que eu pudesse
ficar entre as plantações sem que eles conseguissem me ver de imediato.
Claro que se eles me procurassem, certamente iriam me encontrar ali.
Então eu precisava agir rápido.
Os homens passaram correndo para ver o que estava acontecendo. Nesse
ângulo, eu podia vê-los indo em direção ao carro. Eles ficaram distraídos por
uma fração de segundos, então saí com cautela do meio das plantações e fui
por trás deles.
Usei o fuzil pesado para acertar a cabeça de um deles. O outro conseguiu
me enquadrar e acertou um soco no meu rosto e tomou minha arma. Acertei
uma cabeçada no nariz dele, quando ele titubeou para trás, puxei a pistola da
cintura e atirei sem mirar, acertando o peito do homem.
Minha cabeça doía muito.
Peguei o fuzil do chão e disparei vários tiros à queima-roupa contra ele. O
outro que havia levado a coronhada, estava tonto e tentando se manter de pé.
Dali em diante, tinha que agir no modo automático, não tinha mais volta.
Chutei sua barriga, quando ele se esticou para pegar a arma do chão. Vi-o
rolando para o lado, abaixei-me para segurar a cabeça dele e bater contra o
chão. Bati várias vezes.
— Onde está minha esposa? — Pairei sobre seu corpo, na intenção de
enforcá-lo. — Tem quantos homens lá dentro?
— Dois homens. Sua esposa está com eles. Os outros estão no outro
galpão esperando pelo carregamento das armas e drogas.
Apertei mais o pescoço do homem, ele foi ficando sem ar e pálido. Nesse
momento, mais carros se aproximaram de nós, que pude reconhecer sendo
soldados da Cosa Nostra.
— Minha esposa está lá dentro — gritei.
Eles concordaram e montaram uma estratégia de inteligência para adentrar
o local. Porém, não deu certo. Os homens de Mattia se trancaram dentro do
galpão e provavelmente iam pedir reforços.
Caralho.
Entramos pelos fundos arrombando a porta. Um dos homens de Mattia já
estava segurando Alessandra pelo pescoço, enquanto o outro estava tentando
fugir com Susanna.
Os homens estavam desesperados e pedindo para ficarmos longe deles, do
contrário eles iriam matá-las.
O lugar foi tomado pela Cosa Nostra, eles sendo minoria não puderam
fazer nada, além de se esconderem atrás das mulheres.
Um pegou Alessandra e o outro pegou Susanna, os outros se jogaram no
chão se rendendo.
Apesar de estar em desvantagens, eles não eram apenas dois como o outro
desgraçado havia me dito lá fora.
Ele havia preparado uma emboscada.
— Fabrizio. — Alessandra começou a chorar emocionada.
— Estou aqui por você. — Sorri para ela. — Fique calma.
Ela chorou ainda mais. Jesus, como eu queria abraçá-la.
— Deixe ela ir — rosnei para o homem que a segurava pelos cabelos.
— Vamos negociar. — Ele me olhou sério. — Posso soltar sua esposa se
você me garantir que vai me deixar vivo. A ordem que eu tenho é de matá-la
caso vocês viessem atrás.
— Vamos negociar. — Entrei no jogo.
— Coloque sua arma no chão. Peça ao seu pessoal para fazer o mesmo.
Todos abaixaram as armas. Só queria que Alessandra ficasse bem, ela já
havia sofrido muito e não merecia passar por isso.
Meu olhar desviou para Susanna, que se virava para dar um chute entre as
pernas do homem que a segurava. Antes que eu pudesse dizer algo, ela
desarmou o homem e atirou na cabeça dele.
O homem que segurava Alessandra se assustou. Meu mundo ficou em
câmera lenta quando a arma dele disparou e Alessandra caiu no chão.
A trégua havia acabado, não tinha mais acordo.
O vagabundo que atirou em Alessandra tentou correr em direção à saída,
mas o alcancei antes e bati com a cabeça dele na parede.
Fiquei cego. Entorpecido de ódio e o fiz engolir o cano da minha arma. E
quando ficou bem acomodada dentro de sua garganta, apertei o gatilho.
O sangue vivo manchou a parede.
O corpo do verme desgraçado caiu bem na minha frente.
— Chefe — um soldado me chamou.
Virei-me em sua direção e perdi o ar quando vi Alessandra em seus braços.
Ela estava agonizando e perdendo muito sangue.
Peguei Alessandra no colo e corri para fora do galpão pedindo ajuda aos
soldados. Entrei com ela no carro e rapidamente fomos para o hospital.
No caminho, pedia para ela aguentar firme, dizendo que meus filhos iriam
sentir sua falta caso ela fosse embora. Eu também ia sentir muito. Mesmo
Alessandra estando desacordada, sem poder ouvir nada do que eu falava,
continuava dizendo para ela aguentar. Dizendo o quanto era guerreira, uma
mulher forte, que não poderia ser derrotada por uma coisa tão pequena.
Ela precisava sobreviver. Eu e meus filhos precisamos dela em nossas
vidas.
Quando chegamos ao hospital, médicos da famiglia estavam do lado de
fora esperando para prestar os primeiros socorros.
Senti-me completamente vazio quando deitei Alessandra naquela maca e
os médicos a levaram para longe de mim. Isso fez com que memórias antigas
surgissem em minha mente. Recordações de Alessandra deitada no caixão,
que poderiam se repetir.
Os médicos a levaram rapidamente para dentro, enquanto fiquei ali de pé,
observando tudo.
A boa notícia era que o estado de saúde dela não era tão grave assim, mas
não me deixava menos nervoso.
— Fabrizio.
Respirei fundo e voltei a realidade quando escutei a voz me chamar. Sabia
perfeitamente de quem era aquela voz.
Havia chegado a hora de eliminar Susanna e acabar com os meus
problemas. Se eu tinha inserido ela na máfia, então era minha obrigação
removê-la.
Virei-me de frente para ela. Vê-la ali depois de tudo... fez com que o ódio
queimasse meu peito.
Fui o mais culpado por permitir que pessoas desconhecidas entrassem na
minha vida, embora isso não livrasse a cara de Susanna.
Se ela queria fazer parte da nossa máfia, então que lutasse com unhas e
dentes para mostrar sua lealdade.
— O que está fazendo aqui? — perguntei em um tom áspero.
— Vim saber notícias de Alessandra.
Não sei dizer em que momento saí do ar quando a raiva fugiu do meu
controle. E quando dei por mim, havia acertado um tapa no rosto de Susanna
e, naquele momento, estava pressionando o corpo dela contra o carro
enquanto a sufocava com as mãos.
— Eu sinto muito. — A voz dela estava fraca.
Alguns soldados vieram me alertar que não seria bom matar Susanna, pelo
menos não ali. Então, soltei o seu pescoço e o corpo dela caiu no chão.
— Eu sinto muito — disse novamente, pressionando o pescoço marcado.
Na verdade, era eu quem deveria sentir muito. Havia permitido que
Susanna entrasse na minha casa, comesse na minha mesa e ficasse perto dos
meus filhos. Talvez por querer uma figura feminina perto dos meus filhos,
permiti que ela entrasse em nossas vidas sem me importar com as
consequências.
Um erro meu, que nunca mais iria se repetir. Não podíamos esperar que as
pessoas retribuíssem nossa gentileza.
Olhei para Susanna caída no chão.
A gente nunca sabia de tudo completamente. A vida sempre estava nos
ensinando. Com isso, fomos ficando cada vez mais experientes e aprendendo
a nunca confiar nas pessoas.
Agarrei Susanna pelos cabelos.
— Você não queria fazer parte da Cosa Nostra? Pois bem, prepare-se para
lidar com as consequências depois de trair a organização. Mumú vai cuidar
de você.
Ela arregalou os olhos e começou a chorar.
— Não sou uma pessoa má, Fabrizio. Por favor, me deixe explicar. Aquele
homem é horrendo...
Meu celular começou tocou de repente. Fiquei aliviado quando apareceu o
número de Mumú na tela. Estava ansioso para saber se ele finalmente tinha
conseguido colocar as mãos em Mattia.
Afastei-me para atendê-lo.
— Mumú. Alguma notícia boa?
— Recuperamos o caminhão e pagamos Mattia. O vagabundo tentou
reagir. Ele deu um pouco de trabalho, no entanto, o colocamos em seu devido
lugar.
— Ótimo. Ninguém toca nele por enquanto. Você sabe como deve
proceder.
— Sei, sim. Ele vai ficar sob nossa vigilância enquanto o chefe não
acorda.
— Correto. A noiva dele também vai ficar sob sua responsabilidade.
Ele ficou em silêncio, com certeza desaprovando essa missão.
— Não tenho vocação para ser babá, senhor. Com todo respeito.
— Você pode usá-la para torturar Mattia. O cara é apaixonado por
Susanna, talvez você possa se divertir com ela na frente dele.
— Não acho que isso seja...
— Conto com você — desliguei, encerrando o assunto.

Eu estava todo sujo de sangue. Sentado em um dos muitos bancos vazios


do hospital aguardando
notícias de Alessandra.
Vê-la nos meus braços coberta de sangue, e que em uma fração de
segundos havia possibilidade de Alessandra deixar de existir para sempre,
deixou-me desesperado.
Ela estava indo embora e, dessa vez, para nunca mais voltar.
Ainda me lembrava do último suspiro, do desespero enquanto tentávamos
reanimar minha esposa. Fiquei sem chão.
Eu não podia ficar sem ela. Não estou preparado para isso.
Não estava preparado para a possibilidade de nunca mais ver seu sorriso.
Em meio a dor, percebi que nossas dificuldades eram muito pequenas em
comparação ao que sentíamos um pelo outro.
Nosso casamento tinha sim salvação, bastava que fizéssemos dar certo. E
eu estava mais do que disposto a tentar, quebrar o gelo e acordar os
sentimentos adormecidos.
As horas passaram se arrastando, com isso meu coração ficava cada vez
mais angustiado sem saber notícias de Alessandra.
Eu estava de cabeça baixa quando senti uma mão leve passeando pelos
meus cabelos. Ao levantar a cabeça, fiquei surpreso com Marta de pé,
olhando para mim com um sorriso amigável.
E então sem tirar o sorriso do rosto, ela me entregou um copo cheio de
café.
— O café vai te acalmar um pouco. — Sentou-se do meu lado.
Não disse nada. Quando levei o copo fumegante nos lábios e senti o gosto
forte do café, pude entender perfeitamente que Marta tinha razão.
— Obrigado.
— De nada.
Levando em consideração a generosidade de Marta, eu ainda tinha que
perguntar o motivo de ela estar no hospital, mas precisava fazer isso sem ser
rude.
Limpei a garganta.
— Por que você está aqui?
— Há muitas pessoas nesse hospital. — Ela riu sem jeito. — Parece que
aqui é nossa segunda casa.
— Ninguém vive sem hospital, Marta. É normal as pessoas frequentarem
constantemente esse local. Você foi evasiva em sua resposta.
Ela olhou para os lados.
— Estou aqui acompanhando Laura. Ela veio fazer uma consulta de rotina
e aproveitou para ficar com o marido, então te vi aqui.
Todos estão comentando sobre a tragédia que envolveu Alessandra. Eu
sinto muito por isso, queria poder fazer algo.
— Você ter me trazido café foi suficiente. — Ri — Você viu o Riccardo?
Marta balançou a cabeça, negando.
— Somente pessoas autorizadas podem entrar para vê-lo. Eu gostaria
muito de estar com minha filha nesses momentos. Toda vez que ela entra
naquele quarto para vê-lo, ela sai destruída. Laura não entende que o
processo de recuperação é lento. Ele estar vivo é um milagre, mas ela parece
estar muito ansiosa.
Abaixei a cabeça, entristecido.
— Não aguento ver meu irmão nessas condições. — Passei a mão pelo
rosto.
— Tenha fé, ele vai se recuperar completamente. — Marta segurou minha
mão. — Sua esposa também.
Minha atenção foi desviada para um dos médicos que levou Alessandra
para dentro da emergência. Deixei o café de lado e me levantei, indo ao
encontro dele. Meu coração estava completamente acelerado. Meus
pensamentos estavam em Alessandra e também no meu irmão. Porém, o caso
de Riccardo era uma questão de paciência.
— Como está minha esposa?
— Está fora de perigo. E se ela continuar reagindo bem, o senhor poderá
visitá-la em breve.
Respirei de alívio. Marta se juntou a mim para compartilhar a pequena
vitória.
O médico continuou falando sobre a saúde de Alessandra e os cuidados
que deveríamos ter nesse processo de recuperação. Não via a hora de levá-la
para casa.
Depois de duas semanas esperando, finalmente tive autorização para visitar
Alessandra. A felicidade explodiu meu peito.
Escolhi as rosas vermelhas mais bonitas e mandei fazer um buquê. Escrevi
em um cartão palavras bonitas que há muito tempo não dizia. Pedi que o
buquê junto ao cartão fosse entregue no hospital nas mãos de Alessandra.
Eu queria que o buquê chegasse primeiro, para que Alessandra tivesse
oportunidade de desfrutar da beleza das rosas, depois lesse o cartão sem
ninguém por perto.
Queria que minhas palavras tocassem o seu coração, para que assim
Alessandra pudesse refletir sobre elas, pois eram verdadeiras e do fundo do
meu coração.
Vesti um terno bonito e segui para o estacionamento, onde Matteo estava
me esperando. Eu havia ligado pela manhã, informando que minha esposa já
podia receber visitas.
Assim que cheguei, ele me olhou da cabeça aos pés e abriu a boca
insinuando fazer mais uma de suas piadinhas fora de hora, mas ele fechou a
boca, desistindo. Agradeci o silêncio, pois eu ainda não estava no clima.
— Como está Anna e o bebê?
Matteo ligou o carro e acelerou. O tempo estava muito agradável em
Sicília. Nem calor, nem frio.
— Vou ser pai de outro menino. Anna está radiante. — Ele sorriu
abertamente.
— Que maravilha. Parabéns.
Ele riu abertamente.
— As coisas estão começando a funcionar para mim. Sabe o que eu acho?
Olhei com curiosidade para ele.
— O quê?
— Em algum momento da vida iremos achar a pessoa que foi destinada
para nós. Tipo... nossa cara metade, sabe? Em algum momento essa pessoa
vai aparecer. No início ficamos perdidos, sem saber o motivo de aquilo
acontecer. Mas com o tempo a gente entende o porquê de as coisas
acontecerem.
— Está inspirado hoje. Parabéns pelo menino.
Matteo tirou a atenção da estrada para me olhar.
— Você pretende ter mais filhos com Alessandra?
Olhei as águas cristalinas através da janela do carro, considerando as
palavras de Matteo.
— Primeiro, a gente tem que se acertar, para depois pensar em aumentar a
família. Eu tenho que conversar com os meus filhos, explicar a situação.
— Eu entendo. — Matteo bateu no meu ombro. — Vou estar do seu lado
para o que você precisar. Pode contar comigo.
— Obrigado.
Ele sorriu, mostrando que estava ali por mim e para mim.
Matteo que havia amadurecido muito nesses últimos anos. Ainda mais
depois que Anna entrou em sua vida, que o fez enxergar as coisas de outro
ângulo.
Eu tinha muito orgulho dele, eu o amava muito.

À medida que eu me aproximava do quarto de Alessandra, sentia meu


coração ficando cada vez mais acelerado, golpeando severamente meu peito e
enviando calafrios pelo corpo.
No momento em que abri a porta, ela estava com a cabeça baixa lendo o
cartão que eu havia mandando, assim que ouviu o barulho a vi levantar a
cabeça para me olhar.
Os olhos dela estavam molhados e brilhantes, como há muito tempo eu não
via.
Ficamos trocando olhares, podia sentir a respiração dela tão irregular
quanto a minha. Os seios se movendo conforme ela buscava o ar com força.
Assim como eu, ela também queria fazer amor comigo.
Mas não podíamos. Ela tinha passado por uma cirurgia complicada para
retirar o projétil que se alojou em suas costas.
Andei calmamente até Alessandra, em seguida me sentei em uma cadeira
próxima. Ela segurou minha mão com força e sorriu.
— Obrigada pelas flores e pelo cartão. Elas são lindas, Fabrizio. Fiquei
muito emocionada com suas palavras.
— Eu não esqueci que rosas vermelhas são as suas favoritas.
Ela sorriu ainda mais.
Alessandra estava visivelmente abatida, ainda se recuperando do acidente,
que por pouco não levou sua vida. No entanto, ela ia se recuperar bem e eu
estaria ali para isso.
— Eu te amo, Fabrizio.
Toquei o rosto dela, sentindo a maciez de sua pele e me lembrando dos
motivos pelos quais eu havia me apaixonado por ela.
— Você acha que ainda há possibilidade para nós? — perguntei, enquanto
desenhava círculos invisíveis em sua mão frágil, tão pequena comparada com
a minha.
Alessandra gemeu de dor quando se moveu na cama, tomando meu rosto
em sua mão quente.
— A gente vai descobrir se tentar, Fabrizio. Estou disposta a colocar uma
pedra no passado. — Ela acariciou meu rosto. — E você?
Olhei no fundo de seus olhos de ébano. Seus cabelos da mesma cor caíam
como castas, cobrindo partes da maçã de seu rosto angelical. Sua beleza era
rara, pura perfeição. Muito diferente das mulheres que costumávamos ver por
aqui.
O corpo de Alessandra era um violão com acordes perfeitos, um que eu
gostava de tocar com maestria na calada da noite e no amanhecer.
— Estou disposto, sim. — Nós nos abraçamos forte e emocionados. Sentia
lágrimas dela molhando meu pescoço. — Estou disposto a recomeçar. Dessa
vez, sem segredos.
— Sem segredos. — Ela me apertou fraco e gemeu de dor.
Ainda faltava o ponto mais crítico da situação: dizer à máfia que
continuarei casado com minha esposa fujona.
Ficamos em silêncio. Ela chorava muito enquanto eu tentava acalmá-la.
Essa emoção poderia lhe fazer mal.
— Fica tranquila. Estou aqui com você. — Segurei a mão dela. — Tente
descansar um pouco.
Aos poucos, Alessandra foi se acalmando, relaxando, sua respiração
ficando lenta e a sonolência tomando conta dela.
Pelo menos naquele momento, ela estava chorando de felicidade.
Fiquei ali do lado de Alessandra, lembrando de algumas coisas engraçadas
que aconteceram no dia do nosso casamento. Embora soubesse que ela não
estava mais ouvindo, porque tinha adormecido, mesmo assim fiquei ali me
lembrando enquanto fazia carinho em sua cabeça, do jeito que ela gostava.
Eu a amava. Amava muito, mais do que gostava de admitir.
Depois de quase perder Alessandra pela segunda vez, realmente tive
certeza de que queria e precisava dela na minha vida. Não me importava com
a opinião de quem fosse contra, porque a vida era minha.
E só se vive uma vez.
O dia estava bonito. O sol resplandecendo através da janela batia contra
meu rosto, enchendo-me de esperança. Parecia estar me mostrando que as
coisas iriam melhorar a partir daquele momento. Dias chuvosos haviam ido
embora dando lugar ao sol.
Apesar de estar sentindo um pouco de dor, estava feliz. Minha relação com
Fabrizio evoluía muito. Ele estava mais carinhoso, paciente e me ouvindo
com atenção. Mesmo dando esse passo enorme, sabia que ainda faltava uma
longa caminhada pela frente.
Eu jamais pularia essa fase de descobertas. Se antes a gente tinha um
casamento baseado em mentiras, ali estamos construindo um relacionamento
sólido e verdadeiro.
Não havia mentiras, as cartas estavam sobre a mesa.
Fechei minha mala e me sentei na cama. Depois de duas semanas trancada
em um quarto de hospital, finalmente, eu iria voltar para casa.
A felicidade não cabia no meu peito, parecia que em algum momento ele
iria explodir de emoção.
Às vezes, sentia um pouquinho de medo dessa fase boa ser só um sonho e
que eu acordaria a qualquer momento.
Quando a porta se abriu, meu coração acelerou como se eu fosse uma
adolescente. Fabrizio estava lindo como sempre, o cheiro do seu perfume
tomou o ambiente e meu coração se agitou ainda mais.
Eu ainda não sabia bem como agir na frente dele, então fiquei ali feito
boba o olhando fechar a porta e se virar em minha direção. E quando o olhar
dele sustentou o meu, achei que ia morrer incendiada por aquele olhar
encantador.
Minhas mãos começaram a transpirar sem explicação. Minhas pernas
tremiam como se fossem duas gelatinas. Não conseguia me controlar, então
só me restou abaixar a cabeça para esconder a vergonha.
Como assim eu estava excitada com apenas um olhar dele?
De fato isso nunca foi novidade, meu marido sempre mexeu comigo.
Afinal de contas, Fabrizio sempre foi muito lindo, elegante e tinha um olhar
capaz de arrancar a calcinha de um anjo. Além de tudo, era meu marido.
Mas eu precisava ir devagar com esses sentimentos intensos. Respeitar os
limites e dar mais atenção aos detalhes.
Nem os anos em que fiquei longe e as circunstâncias foram capazes de me
tornar imune a esse sentimento louco, que venho tentando controlar.
Fabrizio foi se aproximando, cada passo lento fazia com que eu parasse de
respirar. Quando a mão quente dele tocou meu queixo com firmeza e
delicadeza ao mesmo tempo, respirei fundo e o olhei.
Dessa vez, olhos dele estavam azuis brilhantes e cheios de promessas.
— Está tudo bem? — Sua voz me pegou desprevenida. Fabrizio não
estava entendendo nada. — Está com muita dor?
A dor que eu estava sentindo era na vagina, mas não podia simplesmente
falar isso para ele, assim do nada.
Mal sabia ele que eu estava pegando fogo por dentro, somente por tê-lo
visto entrar tão confiante por aquela porta.
Ajeitei-me sem graça e sorri.
— Estou bem. Ansiosa para ir embora.
Ele sorriu e beijou minha testa. Eu queria que o beijo tivesse sido na boca,
mas não disse nada. Jamais iria questionar a vontade dele.
— Vamos. — Segurou-me pela mão e me ajudou descer da cama.
Fabrizio pegou a mala e abriu a porta, dando-me espaço para ir na frente.
Agradeci ao céus por ter escolhido um vestido justo ao corpo e que destacava
minhas curvas, sendo assim, ele podia me admirar por trás.
E eu sentia o olhar dele me queimando. Quando me virei para olhá-lo eu
não me decepcionei. Os olhos de Fabrizio estavam fixos na minha bunda.
Ele não ficou envergonhado por ter sido pego no flagra, pelo contrário.
Eu estava me sentindo mais viva do que nunca.

A viagem foi tranquila. Fabrizio ficou no telefone resolvendo alguns


assuntos da máfia e, diferente das outras vezes, eu não tentei saber do que se
tratava. A primeira coisa que aprendi em todos esses anos era que assuntos da
máfia não eram para amadores.
Não era assunto meu, por isso continuei na minha sem questionar e me
senti bem com isso.
Apenas fiquei curiosa quando seguimos por um caminho completamente
diferente do qual costumávamos ir.
Ao ver meu desconforto pelo canto do olho, Fabrizio ainda sem tirar os
olhos do celular moderno, segurou firme na minha mão.
— Fique calma.
Assenti.
Respirei fundo e tentei fazer o que ele disse, embora estivesse morrendo
por dentro. O ruim de ser uma pessoa ansiosa era que você ficava pensando
em mil possibilidades, com isso acabava sofrendo com antecedência.
E se ele tivesse voltado atrás e desistido de tentar fazer dar certo?
Meus pensamentos estavam borbulhando, deixando-me inquieta.
O fato era que Fabrizio não precisava de mim para refazer sua vida. Com
isso, ele poderia facilmente me levar para o meio do mato e me matar sem dar
explicação para as pessoas.
Touché.
Comecei a suar frio e minhas mãos começaram a tremer, dessa vez, estava
suando de medo e nervoso.
Embora estivesse em conflitos por dentro, resolvi continuar em silêncio
esperando pelo destino que me foi designado. Aliás, não havia outra forma.
Pelo canto do olho pude observar o momento em que Fabrizio guardou o
celular dentro do bolso, depois tirou um pano, escuro também de dentro do
bolso, e se virou para mim.
É agora! Pensei.
— Feche os olhos.
No momento em que o fiz, ele se aproximou. O cheiro do perfume dele fez
com que eu me acalmasse naquele momento. Caso esse fosse o último dia da
minha vida, então que eu levasse esse cheiro comigo.
Fabrizio amarrou algo sobre meus olhos, deixando-me na escuridão total e
ainda mais ansiosa.
O carro continuou em movimento, trepidando muito conforme parecia
avançar em estrada de difícil acesso. Mil cenários surgiam em minha mente.
O carro parou de repente, atiçando minha curiosidade quando senti o vento
soprando forte. Também senti o cheiro de mar. Logo pude ouvir o barulho da
porta do carro e Fabrizio agradecendo a alguém. Depois senti a mão quente
dele segurar meu braço, para me guiar para fora do carro.
Eu não consegui definir o misto de sensações borbulhando dentro de mim.
— Cuidado.
Tateei o escuro e encontrei os braços musculosos de Fabrizio, que não
soltei mais. A mão de Fabrizio envolveu minha cintura, passando-me
segurança e, cuidadosamente, foi me guiando para fora do carro.
— Só mais um pouquinho.
Continuei sendo guiada por Fabrizio, que não me deixava cair quando
tropeçava em algo, e depois de andar por alguns segundos, nós paramos de
repente.
Nesse momento, eu já tinha ideia do que estava acontecendo, só tinha
medo de sonhar demais e me decepcionar no final. Então, ignorei as
expectativas.
No momento em que o Fabrizio tirou a venda dos meus olhos, quase caí
para trás de susto. Não tinha palavras para descrever o cenário que eu estava
vendo na minha frente. Nem de longe se parecia com o que imaginei.
Como era possível?
Lágrimas queimavam meus olhos, minha garganta ficou seca de emoção,
depois que me deparei com esse paraíso na terra.
— Gostou? — Fabrizio sussurrou no meu ouvido.
Se eu gostei?
Eu não tinha palavras para expressar o quão perfeito era aquele cenário.
Estávamos de frente para uma linda casa com vista privilegiada para o mar,
que nem de longe se parecia com o que imaginei.
— É lindo. Muito lindo.
Fabrizio me abraçou por trás.
— Vamos recomeçar do zero nessa casa. Está de acordo?
— Estou.
Óbvio.
Eu não aguentei a emoção. Nem nos meus sonhos eu imaginei viver em
uma casa deslumbrante assim, de frente para o amar e abraçada pela natureza.
A mansão transmitia paz e sossego.
E o melhor de tudo: meu marido e meu filho estavam juntos comigo.
Sim, um ótimo lugar para se recomeçar.
Chorei muito. Chorei de emoção, gratidão.
— Vamos. — Fabrizio segurou minha mão e me puxou para dentro.
E eu achando que não podia ficar mais admirada, minha boca se abriu em
"O" quando alcancei o hall e me deparei com a decoração moderna e luxuosa
da casa.
Assim que pisamos no tapete felpudo, as crianças vieram me recepcionar,
elas traziam consigo balões escritos Bem-vinda, depois os deixaram voar.
Eles me abraçaram forte. Meu coração parou nesse momento, por um
momento fugaz achei que não fosse suportar tamanha emoção, tamanha
recepção. Então, enxuguei as lágrimas e abracei as crianças.
Abracei forte enquanto me lamentava por tê-los abandonado.
Como eu pude?
— Obrigada. — Minha voz falhou.
Marta e Anna também saíram de algum lugar para me receber. Eu que já
estava completamente emocionada, fiquei ainda mais quando Marta me
abraçou. Apesar de tudo que passei, no final, havia ganhado uma mãe e duas
irmãs que se importavam comigo.
Fabrizio me abraçou.
— Elas me ajudaram a preparar tudo para sua chegada.
— Obrigada. — Abracei-o forte. — Eu te amo, Fabrizio.
— Mais tarde, quando as crianças estiverem dormindo, vou te levar para
conhecer cada cômodo dessa casa. — A voz dele saiu rouca e cheia de
promessas promíscuas.
Fiquei arrepiada, pois sabia que ele ia cumprir.
— Como você está se sentindo? — Anna perguntou.
— Muito bem. Obrigada pela surpresa. — Segurei a mão dela. — Você
está linda grávida.
Ela sorriu abertamente e com a outra mão acariciou a barriga volumosa.
Ela estava linda mesmo.
— Imagina. Sua nova casa é linda. — O olhar dela desviou para Fabrizio.
— Desejo um bom recomeço para vocês.
Fabrizio e eu agradecemos. Nós nos sentamos no sofá para conversar sobre
o meu sequestro e de como Fabrizio foi até o fim para me resgatar.
— Meu marido é muito corajoso e inteligente — admiti, enquanto
colocava o copo de suco sobre a mesa de vidro. Sem poupar elogios ao meu
marido, que por sinal, era muito tímido. Um fato que eu havia esquecido
completamente.
Anna olhou sugestiva para sua mãe.
Fabrizio ficou completamente envergonhado. O seu rosto ficou rubro, ele
limpou a garganta para disfarçar.
— Os Guerrieri são corajosos e não fogem de uma luta. Então pense bem
antes de arrumar uma briga com eles.
Anna pulou quando o seu celular tocou dentro da bolsa. Ela rapidamente se
afastou para atender. Enquanto Marta estava entretida brincando com as
crianças, o olhar intenso de Fabrizio estava em mim, devorando-me. Eu não
sabia bem o que aquilo significava, mas estava gostando de flertar com o meu
marido.
Anna voltou minutos depois dizendo que tinha que ir embora. Fabrizio
soltou um suspiro de alívio, bem baixinho. Eu o conhecia bem, então sabia
que ele estava entediado e cansado. Porém, ele não deixou transparecer para
não constranger as visitas, o que agradeci mentalmente por isso.
— Está tudo bem com o Matteo? — Fabrizio perguntou.
Anna sorriu. Ela sempre foi muito simpática, esse foi um dos motivos que
fez com que me sentisse acolhida quando o mundo me virou as costas.
— Sim. Ele não gosta quando fico muito tempo fora.
— Fala para ele relaxar um pouco. — Meu marido ergueu a sobrancelha.
— Você está na casa do irmão dele. O que há de errado?
Anna concordou triste.
— Matteo acha que gravidez é doença. Ele vive trocando minhas batatas
fritas por maçã, ele não entende que o bebê quer batatas e não maçãs. No
final, eu acabo vomitando as maçãs.
Marta sorriu.
— Paciência, querida. Seu marido quer cuidar de você.
— Eu sei — concordou triste.
Marta e Anna se despediram, deixando-me com Fabrizio e as crianças.
Minutos depois, a babá apareceu para dar banho neles, oferecendo
privacidade para meu marido e eu. Mas Fabrícia bateu o pé insistindo que
me queria com ela na hora do banho. Então decidi fazer isso, já que eu queria
ficar mais próximo deles.
Abaixei-me e toquei o nariz de Fabrícia.
— Me mostre onde fica o seu banheiro. Vou te contar histórias de princesa.
Fabrícia me abraçou animada, sem sombra de dúvidas era uma menina
muito encantadora. E no momento de alegria, no impulso, me chamou de
mamãe e correu para longe.
Somente eu ouvi, mas resolvi não pensar sobre aquilo ainda.
Fabrizio decidiu ir junto comigo. Ele ficou observando, enquanto eu dava
banho em Fabrícia e contava histórias de princesas. Fabrícia lembrava muito
Catarina, mas também lembrava Fabrizio.
— Ei — sussurrou Fabrizio no meu ouvido enquanto segurava minha
cintura por trás. — Não pense mais no passado.
Virei-me para ele, respirando fundo e tomando cuidado para a menina não
ouvir nossa conversa.
— Fabrícia está cada dia mais parecida com Catarina.
Fabrizio me avaliou cautelosamente, enquanto colocava a mecha do meu
cabelo atrás da minha orelha.
— Isso não significa nada para mim, Alessandra. É você que eu amo.
Catarina foi um erro, mas minha filha é tudo na minha vida.
— Eu sei. — Fiquei na ponta dos pés e o beijei. Ele agarrou firme minha
cintura e aprofundou o beijo. A língua dele se movendo em sincronia com a
minha, deslizando pelos meus lábios tomando meus gemidos para si.
E então... nos lembramos de que havia criança na banheira e nos afastamos
sem jeito.
Toquei o rosto dele, mostrando que não estava incomodada com o fato de
Fabrícia ser parecida com minha irmã mais nova, mas sim com o futuro dela.
A menina estava crescendo e não dava mais para esconder a verdade.
Ele pegou gentilmente a toalha da minha mão.
— Não se esforce tanto agora. Tenho uma surpresa para você mais tarde.
Eu ri animada.
Fiquei ali, divagando na cena de Fabrizio enxugando os cabelos longos da
filha. Ele teria que lutar muito para protegê-la dos preconceitos da máfia.
Mas, por ora, iria pensar no meu casamento e na surpresa que Fabrizio
estava preparando para mim.
Que surpresa seria essa?
Eu não sabia, mas estava completamente ansiosa para descobrir.
Eu estava aflito enquanto esperava o médico aparecer para conversar
comigo.
O hospital havia ligado para mim, informando que Riccardo tinha
acordado bem hoje. Apesar de as circunstâncias, tentava continuar otimista,
isso fazia com que eu suportasse a pressão de conseguir resolver praticamente
tudo sozinho.
Decidi que não iria contar a Fabrizio por enquanto. Meu irmão estava
cuidando de assuntos pessoais, portanto, não iria incomodar. Não que ele
fosse ficar feliz com isso, mas foi minha decisão deixar assim por enquanto.
Diferente de Fabrizio, Laura e os gêmeos não podiam deixar de ser
incluídos na visita. Isso ajudaria na recuperação.
E nesse exato momento, eles estavam prostrados no hospital esperando
autorização para ver meu irmão.
Os meninos estavam animados e esperançosos. Foi difícil contê-los, pois
eles estavam agitados para ver o pai deles.
O médico da famiglia se aproximou de nós.
— Boa tarde. Como vocês estão?
— Boa tarde. Estamos bem. — Apertei a mão dele. — Viemos ver meu
irmão.
— É importante se lembrar de que ele ainda está se recuperando. Não
esperem muita coisa. Tentem não forçar a situação. Mantenham as crianças
em silêncio.
— Estamos cientes da situação. Sabemos como agir.
Laura tomou à frente, colocando-se entre mim e o médico.
— Doutor, meu marido voltará a ser o mesmo de antes?
— Estamos fazendo o possível para isso acontecer. Mas, por ora, vocês
precisam lidar com o fato de que a recuperação é lenta. Hoje ele conseguiu
comer pela primeira vez.
— Oh, meu Deus! — Laura sorriu emocionada. — Meu marido está se
recuperando bem.
O médico balançou a cabeça e nos conduziu para o quarto. Antes de abrir a
porta, ele se voltou para nós, cautelosamente.
— Meia hora de visita. E se ele estiver muito cansado, saiam do quarto.
Quando o médico nos autorizou, permiti que os meninos fossem na frente.
Assim que entramos no quarto, nos deparamos com Riccardo deitado na
cama. Embora estivesse abatido e magro, ainda assim ficamos felizes por
este avanço.
— Pai. — Lorenzo e Vincenzo correram até à cama.
Ele abriu os olhos. Estava muito fraco, esforçou-se muito para olhar os
filhos.
Os meninos estavam muito animados.
— Pai. — Lorenzo pegou a mão dele. — Talvez você não se lembre de
mim. Então deixa eu te lembrar, sim?
Todos nós ficamos em silêncio permitindo que os meninos conversassem
com o pai. E como Riccardo estava completamente vidrado em Lorenzo e
Vincenzo, nós continuamos distantes dando espaço.
Lorenzo passou a mãozinha no rosto de seu pai.
— Eu sou Lorenzo... seu filho mais velho. Tenho sete anos de idade e
gosto muito de estudar. Também cuido da mamãe enquanto você não volta
para casa. Ainda mais agora que...
Laura tossiu alto, fazendo com que o menino mudasse de assunto.
— Lembra-se de quando você me ajudou a adotar Francesca? Ela está
bonita e atrevida, agora ela é sua neta.
Vincenzo também se animou.
Esperei que todos da família de Riccardo interagissem para que depois eu
pudesse me aproximar. Vê-los com certeza faria muito bem para ele.
Queria que Riccardo soubesse que eu estava ali, principalmente porque a
família dele estava sob minha proteção.
— Sim, pai. Eu também sou seu filho. Estamos com saudades de você. —
Vincenzo tocou o rosto dele. — Quando você vai voltar para casa com a
gente?
Riccardo esticou a mão trêmula para consolar os filhos. Ele se agitou,
tentando falar algo.
— O que... o que... aconteceu? — A voz dele saiu fraca, muito fraca.
Naturalmente estava se esforçando muito.
Laura também se aproximou. Ele tirou a atenção das crianças para olhar
para ela.
— Oi, querido. — Ela acariciou o cabelo dele próximo do curativo da
operação. — Você desmaiou em casa, então nós te trouxemos para o hospital.
Você está na Sicília agora.
Ele gemeu de dor, fechando os olhos com força.
— Por quê?
— Acalme-se — Laura beijou a bochecha dele. — Eu te amo, amor.
Riccardo estava quase perdendo a consciência. Então tínhamos que sair
para deixar ele descansar.
Então chegou minha vez de me aproximar, ele olhou para mim, ainda com
a sobrancelha franzida de dor.
— Você vai sair dessa.
Lorenzo balançou a cabeça, concordando.
— Pai, acho que você sofreu uma hemorragia cerebral, no entanto, os
médicos conseguiram resolver. Não é uma maldita doença que vai tirar você
da gente.
Riccardo piscou muitas vezes, como se estivesse tentando se manter
acordado.
Laura puxou Lorenzo para trás, longe dos olhos de Riccardo e pôs as mãos
sobre a boca do garoto.
— Alguém tinha que calar ele — ela sussurrou para mim.
— Descanse um pouco. Estaremos aqui quando você acordar — falei.
Então ele fechou os olhos e descansou.
Os meninos ficaram entristecidos e Laura tentou confortá-los.
Fabrizio pôs as mãos sobre meus olhos e foi me guiando para um lugar
desconhecido.
Enquanto caminhávamos, sentia que meus pés tocavam algo macio. Podia
sentir um aroma delicioso vindo de algum lugar.
No momento em que ele tirou as mãos dos meus olhos, fiquei
completamente emocionada ao me deparar com um quarto todo decorado.
Havia pétalas de rosas por toda parte, incluindo a cama.
As pétalas vermelhas sobre a cama formavam a seguinte frase: quer se
casar comigo de novo?
Pisquei absorta.
— Você aceita? — Fabrizio me abraçou por trás e sussurrou no meu
ouvido, enviando arrepios pelo meu corpo.
Eu não sabia se ria ou chorava de emoção. Nunca imaginei que ele fosse
capaz de preparar algo desse nível.
— Sim — respondi, ainda mais emocionada e o abracei também. — Sim,
eu aceito.
No quarto tinha de tudo, incluindo champanhe para comemorar nossa
união. Parecia que Fabrizio iria se dedicar muito, já que não faria diferente.
Fabrizio me levou para o banheiro, onde tinha uma linda banheira cheia de
espuma com pétalas de rosas flutuando sobre elas.
Com muito cuidado, Fabrizio tirou minha roupa, deixando-me apenas de
calcinha.
Os dedos dele foram traçando linhas imaginárias na minha pele, causando-
me arrepio.
— Você é linda.
Após dizer isso, ele deixou um beijo suave na curva do meu pescoço e
depois me virou de frente para ele.
O toque de seus dedos em minha pele eram suaves, porém, firmes.
Meu coração batia forte de emoção golpeando meu peito.
As pupilas de Fabrizio estavam dilatadas de desejo incandescente.
Contracenando com a minha respiração irregular.
Estávamos sendo consumidos pela luxúria. Minhas mãos tremiam,
conforme desabotoava seu paletó impecável.
Antes mesmo que eu pudesse terminar, a mão de Fabrizio agarrou minha
nuca e me puxou para um beijo de língua.
Nossas línguas se movendo com paixão, enquanto nossas mãos viajavam
para o corpo um do outro, curtindo toques e gemendo conforme alcançava as
partes sensíveis.
Toquei o pênis dele, sentindo toda a sua rigidez, ao passo que sentia minha
calcinha ficando úmida.
Fabrizio aprofundou o beijo, agarrando-me com força pelo pescoço e me
deixando à sua mercê. A mão dele viajou entre minhas pernas e adentrou
minha calcinha.
O toque dele não foi gentil. Os dedos dele golpeavam meu clitóris,
deixando-me completamente fora de órbita.
Não estava acreditando que iria gozar assim, com apenas os dedos dele me
tocando.
E eu não estava errada sobre isso.
Fabrizio continuou masturbando meu clitóris, em determinados momentos
enfiava o dedo na minha boceta.
Agarrei seus ombros largos e o mordi, enquanto tentava me manter de pé
tentando lidar com a sensação.
Fabrizio aumentou a pressão. Eu estava ensopada, o que acabou facilitando
seus movimentos. O barulho dos dedos dele esfregando meu clitóris e
fodendo minha boceta, tornou-se minha trilha sonora favorita.
Mal consegui raciocinar quando o arrepio tomou meu corpo. Sentindo
como se meu corpo inteiro sofresse cócegas, concentrando-se mais forte no
meu ventre junto a um calor quase insuportável.
— Fabrizio — gemi, mal conseguindo formular qualquer frase que fizesse
sentido.
Ele esfregou meu clitóris uma última vez, antes que um orgasmo
esmagador me tomasse.
Eu me desfiz todinha, gozando na mão de Fabrizio. Com a respiração
acelerada e garganta seca, gemi tão alto que até esqueci da decência.
O orgasmo foi tão alucinante que esqueci do meu nome. E estava
incapacitada de me mover.
Fabrizio sorriu satisfeito e se despediu. Tirou minha calcinha e me pegou
no colo, levando-me para dentro da banheira.
— Estou apenas começando. — Ele tocou meus seios. Era erótico a forma
que Fabrizio os segurava, como se fossem joias raras que mal cabiam em
suas mãos.
No banheiro também havia uma garrafa de champanhe mergulhado em um
balde cheio de gelo, junto a duas taças bonitas.
Ele pegou a garrafa e despejou o líquido dentro, entregando-me uma delas.
Nós brindamos ao recomeço. Brindamos também aos nossos erros, para
não cometê-los novamente e sermos pessoas melhores.
Dentro do mesmo balde, Fabrizio tirou um lindo anel.
— Alessandra, ainda sou um homem problemático. Tenho traumas que
nunca irão sair de mim. Mas gostaria de saber se você está pronta para
recomeçar. Sim?
A vida nunca será fácil para ninguém, não importa o lugar.
— Também tenho traumas que ficaram para sempre em mim. Feridas que
nunca irão cicatrizar. Mas hoje eu posso compartilhá-las com você. Então,
sim. Estou pronta.
Ele sorriu e deslizou o anel pelo meu dedo.
Nós nos beijamos intensamente, a mão dele viajou novamente entre
minhas pernas, em contrapartida, montei em seu colo.
Rebolei no colo de Fabrizio, esfregando minha vagina no pau dele, que
pressionava minhas dobras tentando achar a entrada.
Fabrizio gemia enlouquecido no meu ouvido, conforme movia o quadril
para frente e para trás, roçando minha boceta no pênis duro dele.
Eu o provocava e ele também fazia o mesmo, esfregando o pau no meu
ânus ameaçando me tomar por lá.
Nossas línguas se moviam com loucura, completamente ensandecidos de
paixão. As mãos dele agarraram meu quadril, erguendo-me com facilidade e
me encaixando perfeitamente em seu membro.
Eu gemi quando o pau dele entrou me rasgando, embora estivesse
molhada, minha vagina tentava acomodá-lo. A sensação era devastadora e
causava uma sensação maravilhosa de plenitude.
Os beijos de Fabrizio estavam em meu pescoço, enquanto o pau dele
entrava e saía lentamente em mim, proporcionando uma sensação
maravilhosa de preenchimento e alcançando pontos sensíveis, os mesmos que
me faziam delirar.
— Rebola. — Ele deu outro tapa na minha bunda. — Engole meu pau com
essa boceta gulosa.
Dei um show para ele, segurei meus seios entre as mãos e comecei a
rebolar no pau dele, levando-o à loucura. Aproveitei para esfregar meu
clitóris nele, fazendo com que a vontade de gozar me deixasse ainda mais
enlouquecida e desinibida.
— Caralho, é isso! — gemeu.
Eu amava a forma como minha boceta apertava o pau dele, Fabrizio gemia
enlouquecido com a sensação de aperto. O corpo dele era lindo e malhado,
então não resisti e passei a língua pela barriga sarada dele, até chegar em seu
peito musculoso. Fabrizio reagiu segurando meu cabelo em um rabo de
cavalo, puxando-o para trás.
O que me deixou com mais tesão, amava sua brutalidade na hora do sexo.
Sem que eu esperasse, ele se levantou da banheira comigo no colo e me
colocou apoiada sobre os joelhos no chão. Meu coração batia acelerado de
ansiedade, então logo senti a língua úmida dele no meu ânus e depois
começou a lamber minha boceta, que já estava mais do que encharcada e
pronta para sentir mais do pau dele.
— Fabrizio — gemi enquanto apertava a borda da banheira, delirando com
a boca de Fabrizio me dando prazer. E como se não bastasse, meu marido
começou a esfregar meu clitóris novamente com os dedos, causando-me
aquela sensação maravilhosa no ventre e que eu já conhecia bem.
Eu ia gozar de novo.
A língua dele entrou na minha vagina e eu enlouqueci mais. Rebolei para
ele, mostrando minha total devoção, conforme gemia alto. Ele me lambia
como se estivesse devorando a sobremesa mais saborosa do mundo.
Eu estava muito louca para sentir o pau dele na minha boca e dentro de
mim.
A língua de Fabrizio mergulhou novamente na minha boceta, enchendo-se
da minha carne sensível e fazendo minhas pernas tremerem. Enquanto me
chupava, ele aproveitava para massagear meus seios, beliscando os bicos
duros e carentes.
— Me deixe te chupar, Fabrizio — pedi com a voz rouca de prazer.
Ele respondeu dando um tapa na minha bunda e afundando mais a língua
no meu clitóris, fazendo com que eu perdesse completamente a sanidade e
caísse em um orgasmo inebriante. As paredes da minha vagina latejavam
forte, conforme ele me chupava cada vez mais rápido e enfiava o dedo no
meu ânus.
Eu surtei.
Minha boceta gotejava de tesão, expelindo líquido na língua do meu
marido, gozei tão gostoso que achei que nunca mais iria me recuperar depois
disso.
Minhas pernas perderam o equilíbrio e antes que eu caísse de cara na água,
Fabrizio me pegou no colo.
— Vamos para a cama, querida — sussurrou no meu ouvido enquanto me
levava para o quarto.
Eu estava muito excitada, Fabrizio sabia perfeitamente disso.
Chegando ao quarto, ele se sentou na ponta da cama e ordenou que eu
chupasse o pau dele.
Olhando o seu membro grosso e completamente excitado, fez-me cair de
joelhos no chão salivando com essa visão maravilhosa.
Comecei passando a língua pela ponta do pênis dele. Fabrizio respirou
fundo, agarrou meu cabelo entre os dedos e começou a descer minha cabeça
no seu pau inchado, pulsante de tesão.
Ele estava impaciente, mas queria torturá-lo um pouquinho mais. Eu já
podia sentir o gosto salgado do líquido que saía do pênis dele, o que me
deixou ainda mais excitada.
Então comecei a chupá-lo com vontade, lambendo a ponta e depois
descendo até a base, depois chupando as bolas. Depois subi pela cabeça
robusta e suguei com vontade, passando a língua pela pequena abertura que
havia ali.
— Caralho, Alessandra. Puta que pariu!
Ele agarrou meu cabelo com uma só mão e com a outra, acariciou meus
seios que estavam sensíveis.
Continuei chupando o pau dele, enfiando todo dentro da boca e
engasgando com o tamanho, em seguida descendo para as bolas e subindo de
volta à cabeça. Isso me fazia salivar.
Continuei chupando, salivando nele e o levando no fundo da minha
garganta, engasgando com a invasão.
Fabrizio gemia demais, contorcia-se de tesão, murmurando meu nome e, às
vezes, xingando palavras desconexas.
Vê-lo perder o controle assim, fazia com que eu me sentisse a mulher mais
poderosa do mundo, sexy e atrevida.
— Olha como você está me deixando...
Meu marido estava perdendo o controle, gritei de surpresa quando ele me
pegou pelos cabelos e me jogou na cama, depois sorriu satisfeito quando,
ironicamente, caí de pernas abertas. Seus olhos ficaram mais escuros com o
desejo refletindo neles.
Minha garganta estava seca de ansiedade. Fabrizio segurou o pau com a
mão e se aproximou da minha boceta para esfregá-lo no meu clitóris inchado.
Depois disso, ele meteu com tudo sem aviso prévio.
Eu perdi o ar e a noção do mundo à minha volta.
O pau dele deslizou com facilidade devido à lubrificação, conforme
molhava seu membro com o líquido do meu prazer. Eu gritava e arranhava os
braços dele, dizendo o quanto ele era gostoso.
— Eu vou te foder muito, Alessandra — alertou, sério.
Ergui o quadril para recebê-lo por completo. Fabrizio respondeu e
começou a meter forte na minha boceta, levantando minhas pernas e
acariciando meu clitóris com a ponta dos dedos.
O pau macio e quente dele entrando e saindo da minha vagina estava me
levando à loucura, empurrando-me para um caminho sem volta.
Jesus, eu ia enlouquecer nas mãos desse homem.
A tensão sexual palpável entre nós, deixava minhas pernas bambas e
minha mente em branco. Fabrizio sabia como me enlouquecer, ele tinha o
dom de me fazer delirar.
A cama rangendo, o suor escorrendo e o cheiro de sexo impregnado no ar,
estava me levando ao ápice. Minha boceta molhada e a pressão do pau de
Fabrizio nela, enlouquecia-me.
Fabrizio quase perdeu o controle quando meteu mais fundo na minha
boceta, foi tão forte que foi possível ouvir barulhos da minha vagina tomar o
ambiente.
Ele me beijava com tanta loucura, que parecia que íamos morrer a qualquer
momento. O fogo da paixão estava nos consumindo vivos, a cada nova
arremetida de Fabrizio.
Chupava meu pescoço e meus seios, ao passo que me contorcia de prazer.
Até que, por fim, ele segurou meu rosto com as duas mãos. Seus olhos
pareciam duas brasas vivas emanando luxúria, enquanto olhava no fundo dos
meus olhos como se pudesse enxergar minha alma.
Ele não parou de me comer um minuto sequer.
— Diz para mim o que você quer.
— Eu quero você — respondi, emocionada.
Fabrizio sorriu e me virou de quatro, deixando-me completamente exposta
para ele. Minha vagina estava completamente vulnerável para ele fazer o que
quisesse.
Arranhei a cama em busca de apoio, quando ele segurou meu cabelo e
meteu o pau na minha boceta nessa posição. Naquele momento, ele estava me
fodendo por trás, de forma impetuosa, fazendo com que eu afundasse o rosto
no travesseiro para abafar um pouco os gemidos.
Nessa posição eu conseguia senti-lo ir mais fundo em mim, batendo
naquele ponto sensível, que deixava minhas pernas bambas e que me fazia
enlouquecer. Não demorou muito para sentir a sensação maravilhosa de
formigamento subindo pelas minhas pernas, alcançando meu quadril e se
concentrando no meu ventre.
— Fabrizio... — gritei em transe e me contorcendo.
Meu marido reagiu puxando com mais força meu cabelo, conforme
acelerava os movimentos, socando tudo dentro de mim e me fazendo gozar.
Fiquei tonta de repente, perdi o fôlego com a força do orgasmo. Parecia
que fogos de artifício explodiam em meus olhos.
Fabrizio continuou metendo muito antes de cair por cima de mim,
gemendo no meu ouvido com a respiração ofegante.
Ficamos assim nessa posição, sorrindo enquanto nossas respirações
voltavam ao normal. Nossos corações batiam violentamente, não queria que
esse momento terminasse.
Aconcheguei-me no peito dele sem me importar com a dor nas costas, sem
ligar para o fato de estar completamente suja e melada. Eu só queria poder
curtir o som do coração dele batendo contra meu ouvido.
— O machucado... — Ele tocou meu cabelo. — Está doendo? Te
machuquei?
— Não. — Tracei a linha do peito dele com os dedos. — E mesmo que
doesse, eu faria tudo de novo.
Fabrizio pulou da cama de repente. Olhei para ele, assustada, sentindo uma
sonolência me atingindo.
— Porra, Alessandra. Você está sangrando. Como não te machuquei?
Fiquei confusa, só então me dei conta de que havia algo quente escorrendo
pelas minhas costas.
Fabrizio pegou o telefone que estava em cima da mesinha e ligou para o
médico. Mesmo assim não me importei, não deveria ser nada grave e ele não
deveria se preocupar tanto.
Ele me levou para o banheiro e me ajudou a tomar banho. Lavou a ferida e
secou tudo com muito cuidado. Tê-lo assim pertinho de mim tão carinhoso,
fez meu coração se encher de amor e carinho.
Eu me sentia cuidada e protegida. Há muito tempo não me sentia assim.
Minutos depois, após me ajudar a me vestir e secar meu cabelo, o médico
chegou para avaliar o machucado nas minhas costas. Fabrizio estava muito
mais aflito do que eu.
— Dois pontos se romperam. — O médico respirou fundo e fazendo
careta, como quem estivesse cuidando de uma criança que fez arte.
Quando o médico ameaçou abrir a maleta para pegar o material, Fabrizio
segurou a mão dele com força.
— Preciso lembrá-lo para quem o senhor trabalha, doutor?
O homem arregalou os olhos.
— Não, senhor. Em nenhum momento quis ofendê-los.
— Então, enfie seus julgamentos na bunda e faça o seu trabalho.
Apertei os lábios amedrontada, pois Fabrizio tinha o temperamento
explosivo de vez em quando. Isso o tornava uma bomba-relógio que poderia
facilmente explodir por qualquer motivo.
O homem assentiu e começou a fazer o curativo no meu ferimento. Mesmo
desconfortável, fiquei em silêncio, eu sabia que os olhos de Fabrizio estavam
atentos a qualquer movimento errado do médico. Não queria que o coitado
dos médicos sofresse as consequências.
— Prontinho. — Tirou as luvas e descartou no lixo. — Só aconselho um
pouco de repouso. Movimentos bruscos podem piorar a situação, qualquer
coisa é só me chamar.
Fabrizio se levantou da cama.
— Não tenha dúvidas disso. — Dito isso, Fabrizio o acompanhou até lá
fora.
Diferente de minutos atrás, o machucado estava doendo muito, então
resolvi tomar um analgésico e deitar na cama.
Fabrizio se juntou a mim segundos depois, abraçando-me por trás e me
proporcionando uma segurança fora do comum.
Eu só rezava para que essa paz não acabasse, afinal de contas, o irmão
mais velho dele era quem iria decidir nossas vidas. Esperava muito que
Riccardo não destruísse nosso conto de fadas, principalmente porque as
coisas eram diferentes.
Virei-me de frente para Fabrizio e ficamos nos olhando. Eu queria montar
nele de novo, mas sabia que haveria consequências caso não respeitasse a
recomendação do médico.
— Desculpa. — Ele tocou minha bochecha.
Aconcheguei-me mais nele, sentindo o cheiro delicioso do perfume que
tanto amo, e sorri cúmplice da algazarra que fizemos.
— Foi maravilhoso. Mal posso esperar para repetir a dose.
Ele riu e colocou a mecha do meu cabelo atrás da minha orelha, depois
beijou minha testa.
— O que vai acontecer com a gente depois que o seu irmão acordar?
O olhar de Fabrizio se perdeu, por alguns segundos, antes de voltar para
mim. Eu não podia deixar de fazer essa pergunta, pois esse assunto vivia me
assombrando.
— Descanse um pouco, não vamos falar disso agora. Você não tem que se
preocupar com isso.
Assenti feliz e fechei os olhos.
Meu coração estava transbordando de alegria.
— Eu te amo, Fabrizio. Amo muito!
— Também te amo, Alessandra. Sempre te amei e sempre te amarei.
Eu sorri toda boba antes de fechar os olhos.
Os dias iam passando e meu casamento com Fabrizio melhorava cada vez
mais. Naquele momento, sentia que estávamos conquistando a confiança um
do outro, construindo uma relação saudável.
— Você está linda.
Virei-me em direção a Fabrícia, ela havia me ajudado a escolher um
vestido bonito para o noivado de Marta com o presidente.
Apesar de a pouca idade, Fabrícia era uma menina inteligente e prestativa.
Ela amava ver revistas de moda, então quando soube que eu iria em um
noivado importante, sugeriu-me um vestido.
Não vou mentir, no início fiquei receosa sobre dar ouvidos a uma criança
que estava prestes a completar seis anos, mas, por outro lado, vi uma
oportunidade de me aproximar mais dela caso deixasse que ela escolhesse
minha roupa.
E eu não me decepcionei com a escolha. O vestido dourado se ajustou
perfeitamente no meu corpo, afinando minha cintura e realçando minhas
curvas.
Como o vestido já chamava muita atenção, resolvi pegar leve com a
maquiagem.
E lá estava eu completamente linda.
— Obrigada. — Segurei a mão dela. — Você fez um belo trabalho.
Fabrícia sorriu tímida e saiu do quarto. O sorriso igualzinho ao de
Fabrizio.
Eu já estava conquistando o coraçãozinho dela. Fabrícia era muito ansiosa
para conversar e sempre me dizia o que estava sentindo. Já com o meu filho
as coisas eram mais difíceis, não era fácil interagir com ele e muito menos
agradá-lo.
Meu filho parecia estar perdido em um mundo só dele, estava sempre
sozinho e muitas vezes concentrado em seus brinquedos.
Por mais que eu tentasse conversar, ele sempre ficava quieto e isolado do
mundo. Muitas vezes, Alessandro se irritava e acabava jogando os
brinquedos em mim, depois corria para se trancar no quarto.
Fabrizio me pedia para ter paciência, desconfio que, no fundo, ele sabia o
que estava acontecendo com o nosso filho.
Fabrizio entrou no quarto e ficou parado na porta com as duas mãos no
bolso, olhando para mim, provavelmente admirando o belo trabalho de sua
filha.
— Gostou? — perguntei, olhando para ele através do espelho.
Meu marido se aproximou por trás e segurou minha cintura. Só o calor das
mãos dele em mim, fazia meu corpo incendiar.
— Está maravilhosa — sussurrou no meu ouvido.
O calor dos lábios dele tocando minha orelha, causou um formigamento no
meio das minhas pernas, fazendo com que eu esfregasse as coxas uma na
outra a fim de buscar alívio para o desconforto.
— Agradeça à sua filha.
Fabrizio riu orgulhoso. Então, começou a traçar linhas no meu pescoço,
espalhando beijos leves pelo local sensível.
— Não vou negar que a modelo ajudou bastante. — Olhou-me sério
através do espelho. Nesse momento pude sentir o volume crescer dentro das
calças dele.
Empinei a bunda em resposta e ele gemeu rouco, segurou meus braços para
trás e me obrigou a debruçar sobre a penteadeira-camarim, levantou meu
vestido e esfregou o pau duro por cima da minha calcinha.
— Quer meu pau dentro de você? — Mordeu minha orelha e ombro.
— Sim — gemi enquanto rebolava em resposta. Eu já podia sentir minha
boceta gotejar de tesão.
Fabrizio deu um tapa na minha bunda e afastou minha calcinha para o
lado. Quase desfaleci de tesão quando ele enfiou o pau na minha boceta, de
uma só vez, sem cerimônia. Depois, agarrou meu cabelo entre os dedos e
puxou para trás. Ele começou a me foder sem piedade, com muita força.
As estocas faziam com que eu enxergasse estrelas em dias nublados.
Conforme metia fundo, segurava-me no camarim para não bater com a
cabeça no espelho.
O móvel balançava, ao passo que Fabrizio investia o pau em mim,
recuando para meter fundo de novo. A pressão dentro de mim ficou
insustentável, então me liberei no pau dele. O gozo fez com que eu perdesse
todas as minhas forças.
— Já gozou? — Fabrizio gemeu e continuou metendo.
Continuei gemendo e me segurando na madeira fria, enquanto olhava meu
reflexo no espelho. Minha maquiagem e meu cabelo estavam completamente
acabados, mas minhas bochechas ainda estavam rosadas.
— Fique de joelhos no chão — ordenou.
Assim o fiz. Fiquei de joelhos no chão para receber o pau dele inteiro na
minha boca. Comecei a chupar com vontade enquanto acariciava suas bolas.
O pau dele ficava ainda mais inchado, conforme o chupava.
Fabrizio gemeu alto e gozou no fundo da minha garganta, evitei o
desperdício engolindo tudo dele. Então logo pude sentir o gosto conhecido do
meu marido.

Estávamos mais do que atrasados para a pequena recepção. Como a festa


seria na casa de Matteo e não teria ninguém desconhecido, Fabrizio achou
seguro me levar com ele.
Ainda não era seguro aparecer juntos em público. Antes de anunciar nossa
reconciliação, Fabrizio deveria fazer uma reunião com membros importantes
da Cosa Nostra para informar sua decisão.
Não que Fabrizio se importasse com a opinião daqueles homens, mas ele
precisava se explicar, afinal de contas, todos pensavam que eu estava morta.
Embora ainda houvesse um problema maior e que poderia facilmente
abalar nossa relação.
Respirei fundo tentando afastar esse pensamento. Não podia mais sofrer
por antecipação, era melhor deixar para pensar quando Riccardo estivesse
bem para conversar conosco.
Eu esperava muito que ele entendesse nossa situação. Fabrizio e eu
estávamos perdidos.
Paramos na entrada principal da casa, que estava muito bem decorada.
Fabrizio apertou minha mão e sorriu desanimado. Meu marido estava tenso
pelo fato de estarem ocultando notícias de seu irmão. Sua entrada no hospital
fora proibida recentemente, então Fabrizio não tinha como saber sobre o
estado de saúde de Riccardo – o que nos preocupava bastante.
Sendo assim, não tinha como prever se ele estaria na festa de noivado
pronto para nos surpreender. Jogar na minha cara que fui uma péssima mãe e
esposa.
— Tudo bem? — Fabrizio tocou meu rosto. — Relaxa.
— E se ele estiver aqui? — gaguejei.
— Já disse que você não tem que se preocupar. Qual é o problema?
Assenti enquanto ajeitava meu vestido.
— Vou tentar ficar bem. Só não brigue por minha causa e não suje sua
imagem por mim.
Fabrizio ergueu meu queixo, fazendo com que eu olhasse no fundo de seus
lindos olhos, que estavam completamente verdes nessa noite.
— Você é minha esposa, Alessandra. Se eu escolhi perdoar, ninguém pode
ir contra. Não irei me acovardar. Se minha palavra não valer de nada, então
por que diabos Riccardo me quer como subchefe?
— Tem razão. — Toquei a bochecha dele. — Não vamos pensar nisso
agora.
Fabrizio segurou minha mão e me levou para dentro.
Como previsto e para meu alívio, haviam poucas pessoas na festa.
Marta estava muito linda em um vestido bege, que também destacava suas
curvas. O presidente não tirava os olhos dela, ele a olhava com paixão e
admiração. Fiquei feliz por isso, Marta merecia ser feliz depois de passar por
tanto sofrimento.
Todos nós merecemos.
Nós nos acomodamos na mesa de jantar. Era hora de o presidente
oficializar o noivado. Ele estava nervoso, pegou uma taça de champanhe e foi
para o meio da sala fazer o discurso.
— Boa noite. Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a presença de todos
vocês. — Ele respirou fundo.
— O senhor não está em uma campanha política, papai. Seja breve —
retrucou a filha dele.
Ele a olhou sério.
— Vou falar o que tiver quer falar, e você vai ficar quieta.
A moça fez cara feia e cruzou os braços. Típica filhinha de papai, o que
não me agradou. Mas como ela não estava ali para me agradar, continuei em
silêncio.
O presidente continuou:
— Eu sempre tive sonhos, e ser presidente desse país foi um deles. Mas
como nem tudo é perfeito, acabei perdendo muita coisa nesse mundo em que
vivo. Sou rodeado por pessoas mesquinhas, invejosas e que dariam tudo para
estar no meu lugar. Quando venci as eleições ganhei muitos inimigos, até
hoje não consegui colocar as mãos no desgraçado que invadiu minha casa no
meio da madrugada e matou minha esposa. Vivi anos amargurado, querendo
vingança. Então me tornei um associado da Cosa Nostra, a fim de ter minha
tão sonhada vingança, no entanto, o futuro sempre nos prega uma peça, não é
mesmo? Quando eu achei que jamais poderia amar novamente e que só
viveria em nome dessa vingança, encontrei Marta. Quando a vi pela primeira
vez tive a sensação de que já a conhecia. Era como se fôssemos a metade de
uma laranja, minha alma gêmea que estava perdida. Então eu não consegui
mais ficar longe dela, cada vez que Marta me desprezava eu sentia que meu
coração parava de bater. — Ele tirou o anel de noivado de dentro da caixinha
e se aproximou de Marta. — Querida, você aceita ser minha esposa?
Marta sorriu tímida enquanto esticava a mão delicadamente.
— Aceito.
Assim que o presidente deslizou o anel no dedo de Marta, nós brindamos
felizes.

Abracei minha esposa, e dei um beijo gostoso em sua boca. Nunca


imaginei que encontraria a felicidade ao lado de Anna. Cada vez me sinto
mais realizado e completo.

Assim que chegamos em casa, Fabrizio se trancou no escritório para


resolver assuntos importantes.
Depois de verificar se as crianças estavam bem acomodadas em seus
quartos, fui tomar banho para me refrescar. Depois de uma noite cansativa, eu
só queria tomar um banho demorado.
Apaguei as luzes do quarto, deixando apenas o abajur ligado.
Eu estava distraída me deleitando da água refrescante caindo sobre meu
corpo, quando senti uma presença no banheiro. Sorri tímida, logo ouvi o
barulho do blindex ser aberto e senti as mãos do meu marido passando pelo
meu corpo.
Fabrizio tirou o sabonete líquido das minhas mãos e ele mesmo me
ensaboou. A mão dele deslizou sem pressa pelos meus seios, barriga e coxa.
Fiquei ali parada e admirando como ele sabia perfeitamente como me deixar
enlouquecida.
Perco o raciocínio quando estou com Fabrizio, ele tem o dom de me fazer
perder o controle por completo.
Fabrizio virou-me de frente para ele e me beijou. A língua dele entrou na
minha boca devastando meus sentidos. Nossas línguas se moviam com
paixão, tomando tudo um do outro. Ele me agarrou firme pela cintura,
enquanto a água caía sobre nossos corpos, as mãos grandes dele estavam em
todos os lugares em mim e me tocando onde eu mais precisava.
Peguei o sabonete líquido das mãos dele e pedi que ele virasse de costas
para mim. Quando o fez, eu comecei a massagear os ombros largos dele.
Abracei-o ainda de costas para mim e esfreguei meus peitos nas costas dele.
Desci a mão até o seu pau firme e comecei a acariciá-lo.
Ele gemeu, jogando a cabeça para trás.
Comecei masturbando-o bem devagarinho, sentindo o sabonete espumar na
minha mão.
— Alessandra... — ele continuou gemendo.
Fabrizio virou-se de repente e me encostou na parede, ergueu-me pela
bunda e me encaixou em seu pau. Eu estava tão molhada que ele me
penetrou de vez e com facilidade. Contorci-me toda, sentindo o pau dele me
preenchendo.
Meu marido segurou meu quadril e meteu com vontade em mim, fazendo-
me arfar de tesão. Conforme ele metia, minhas costas batiam contra a parede
e gemia alto enquanto arranhava seus ombros.
— Goza comigo — ele pediu, metendo cada vez mais rápido e mais forte.
Minhas pernas tremiam, estávamos enlouquecidos de tesão. O gozo foi
inevitável para nós dois. Gozamos juntos, forte e rápido.
Ficamos abraçados por um tempo recuperando nossas forças.
A língua de Fabrizio mergulhou novamente na minha boca, enquanto a
água caía em nossas cabeças nos ajudando a relaxar.

Acordei de madrugada com o celular de Fabrizio tocando. Como


estávamos abraçados, ele rolou preguiçoso de lado para verificar o telefone.
— Caralho — Fabrizio xingou e pulou da cama, foi rapidamente até o
closet e saiu de lá vestido. Ele estava usando calça jeans e camisa azul.
Fiquei estática sem entender que merda estava acontecendo.
— O que aconteceu?
Ele estava todo atrapalhado, tanto que deixou a carteira e as chaves do
carro caírem no chão. Depois, foi até a mesinha de cabeceira pegar o
telefone. Fabrizio parecia estar no mundo da lua, nem sequer se deu conta da
pergunta que fiz.
Levantei rapidamente e segurei a mão dele. Então, ele se deu conta que eu
estava ali com ele.
— Fala comigo. Aconteceu algo?
Ele forçou um sorriso e tocou minha bochecha com o polegar.
— Volte a dormir, querida. Eu te amo, não se esqueça disso.
Assenti. Ele não queria falar, então não deveria insistir.
Antes de ir, abracei-o forte e dei um beijo apaixonado nele, mostrando que
eu estaria ali para quando ele precisasse.
— Eu te amo, Fabrizio.
E então ele saiu pela porta, apressado.
No meu celular mostrava vinte ligações perdidas de Matteo, sem contar as
mensagens de texto dizendo que eu deveria encontrá-lo na sede da máfia.
Na hora que li as mensagens, eu não pensei muito. Vesti qualquer roupa e
voei para o estacionamento. Meus pensamentos estavam desordenados,
tentando entender o que tinha acontecido para que Matteo me solicitasse
àquela hora.
Tinha algo errado, provavelmente.
No meio do caminho, retornei as inúmeras ligações de Matteo, mas não
obtive sucesso. Então, só me restou continuar dirigindo em alta velocidade
até chegar ao edifício. Como a rua estava deserta, não levou mais do que
trinta minutos para eu estacionar em frente.
Faltavam poucas horas para o dia amanhecer, mas os soldados já estavam
de prontidão na sede da máfia fazendo a segurança do local.
Aproximei-me da entrada e me identifiquei. Eles me deram espaço para
que eu entrasse. Percebi que o clima estava tenso, isso fez com que eu ficasse
ainda mais nervoso, afinal de contas, Riccardo estava no hospital lutando
para sobreviver e eu não tive mais notícias.
O que tinha acontecido para todos estarem tão aflitos?
Será que Riccardo não suportou e acabou falecendo?
Balancei a cabeça espantando os pensamentos negativos. Meu irmão
sempre foi forte, passou por muita coisa para estar no poder e não vai ser um
pequeno problema que iria levá-lo desse mundo.
Assim que passei pelo hall, encontrei Matteo e Mumú no corredor, aflitos
fumando charuto. Assim que meu viu, Matteo se aproximou.
— Porra, Fabrizio. Até que enfim, né. Estava com o celular enfiado dentro
do rabo?
Revirei os olhos ignorando o péssimo humor dele. Respirei fundo tentando
me acalmar, independentemente da informação que Matteo fosse jogar contra
mim, tinha que manter a cabeça em ordem para poder lidar com a situação.
Embora não soubesse por quanto tempo minha paciência ia durar.
— O que está acontecendo? Aconteceu algo com o Riccardo?
Matteo e Mumú trocaram olhares. E eu me senti péssimo por estar fora
disso, por não saber o que estava acontecendo. Riccardo era meu irmão
assim como Matteo, então eu deveria estar na frente dessa situação.
— Que porra está acontecendo? — esbravejei. — Vocês me ligaram de
madrugada para ficarem me olhando com essas caras de bundas?
Estava me sentindo completamente humilhado. Eu sabia que escolher
continuar com a Alessandra traria problemas gravíssimos para mim, porém,
ainda assim eu merecia respeito.
— Ainda não aconteceu nada, Fabrizio. — Matteo me olhou sério, depois
desviou o olhar para a sala de reuniões — Riccardo está aí dentro querendo
falar com você.
Eu pisquei incrédulo. Não tinha como isso ser possível, já que Riccardo
estava se recuperando em uma cama de hospital. Então, não tinha como ele
estar na sede da máfia.
Não era possível.
— Que brincadeira é essa? — perguntei.
Matteo passou a mão pelo rosto e respirou fundo.
— Não é brincadeira.
— Ele não está se recuperando? Então que diabos ele está fazendo aqui?
— continuei sem entender.
— Está se recuperando — Mumú começou a falar. — Ele está com o
médico responsável. O chefe está muito bem, está voltando à forma.
Matteo estava inquieto.
— Ou seja, alguém deu com a língua nos dentes sobre os últimos
acontecimentos dentro da organização. Por isso ele quis vir pessoalmente.
— Entendi. Mal se recuperou e já quer comer nosso rabo?
Mumú me olhou sério.
— Dessa vez foi sem camisinha e sem lubrificante. Prepare-se.
— Tudo bem.
Ajeitei o cabelo e abri a porta da sala de reunião. E antes de entrar, Matteo
puxou meu braço e sussurrou no meu ouvido.
— Ele te chamou aqui, Fabrizio. Então não desperdice a oportunidade.
Estou muito sobrecarregado, por isso não estou conseguindo acompanhar a
gravidez da minha esposa. Então, faça com que Riccardo te deixe à frente das
missões.
Concordei antes de entrar na sala.
Eu podia arriscar dizer que o local estava completamente vazio, mas não.
Riccardo estava sentado no fundo da sala com o médico da famiglia do seu
lado segurando uma bolsa de soro.
Ele realmente parecia estar muito melhor, mais do que imaginei. Isso de
fato me surpreendeu muito.
Aproximei-me. Puxei uma cadeira e me sentei na frente dele. Continuei em
silêncio, ele também, avaliando-me com atenção. Era certo que Riccardo
ainda estava puto por causa da nossa última briga, quando tive a infelicidade
de lhe sugerir outra esposa.
Mas ele tinha que perceber que eu mudei. Neste momento, entendia que
ninguém além de mim tinha culpa pelo que aconteceu no meu casamento.
Muito desconfortável, decidi dar o primeiro passo para falar com Riccardo,
afinal de contas ele era meu irmão e estimava sua melhora.
Limpei a garganta.
— Não precisava vir até aqui — falei. — A gente poderia ter ido até
hospital te visitar, como sempre fizemos.
O médico ficou inquieto e tomou à frente da conversa.
— O senhor Guerrieri não está inválido. Ele está apenas se recuperando de
uma cirurgia e muito bem por sinal. Não sofreu nenhuma sequela e está indo
muito bem com a fonoaudióloga. Então o senhor pode conversar
normalmente com ele por alguns minutos. Somente pessoas próximas estão
sabendo de sua melhora, portanto, peço que o senhor não espalhe.
— Fico feliz que esteja bem. Nós ficamos muito preocupados com você.
Seu segredo está seguro comigo.
Riccardo continuou sério me encarando. Eu conhecia aquele olhar: ele
estava dizendo que eu deveria parar de enrolação e falar dos problemas que
me envolvi.
Embora, para mim, não fosse o momento certo para conversar sobre
problemas, pois Riccardo ainda estava se recuperando. E também porque eu
não sabia por onde começar.
O pior de tudo era que ele sempre foi um homem de poucas palavras, então
não tinha como saber se ele não estava conversando comigo por falta de
vontade ou por não conseguir.
No entanto, estava explícito no olhar dele os julgamentos que ele tinha
sobre mim e isso, de certa forma, desagradava-me muito.
— Eu não queria ter que expor meus problemas para você...
— Seus problemas? — Riccardo interrompeu.
— Não foi minha intenção te envolver nisso. Não é assunto para
conversarmos agora.
— Quando você aceitou um cavalo de Tróia da máfia rival, você envolveu
todos nós.
Respirei fundo. Ele estava falando de Mattia e Susanna.
— Eu estava precisando de fisioterapia, então disseram que Susanna era
muito boa nisso. Por isso aceitei sem pensar nas consequências. Está tudo
resolvido agora, você não tem com que se preocupar.
Riccardo balançou a cabeça, discordando e resmungando de dor. O médico
deu batidinhas leves no braço dele, pedindo para ele se acalmar.
— Não estava no meu juízo total, Riccardo. Por isso não levei em
consideração os riscos que essa mulher poderia causar, aliás, já resolvi esse
problema. Mattia e a noiva estão presos.
— Não perca tempo justificando seus erros.
— Eu consegui resolver o problema. Mattia é nosso prisioneiro.
Riccardo continuou discordando, balançando a cabeça negativamente,
enquanto apertava a cadeira com força e fazendo com que o nó dos dedos
dele ficassem brancos.
— Riccardo... Preocupe-se com sua recuperação.
Ele se irritou mais.
— Pare com a mania de desdenhar dos inimigos. O problema será
resolvido depois que você arrancar a cabeça de Mattia, cortar os braços,
pernas, nariz, orelhas e distribuir para as máfias vizinhas como um recado
nosso. Fazer dessa experiência uma lição e nunca confiar em mais ninguém.
É isso que você deve fazer. Preciso desenhar?
O médico rapidamente levantou da cadeira e foi aferir a pressão de
Riccardo, enquanto ele continuava me olhando sério e completamente
nervoso.
A forma como Riccardo conseguia lidar com certas situações... era coisa de
outro mundo.
— Só que antes de matá-lo, vou fazer com que Mattia sofra. Que ele veja
outro homem se divertindo com o amor da vida dele.
— Você quer brincar de novela mexicana com o homem que invadiu a sua
casa e quase colocou a vida dos seus filhos em risco?
— Vou matá-lo ainda hoje.
Meu irmão concordou brevemente. O médico alertou que Riccardo tinha se
esforçado bastante, então havia chegado a hora de voltar para o hospital.
Só que antes, eu tinha que conversar com ele sobre Alessandra e meu
cargo de subchefe.
— Só mais uma coisa — chamei a atenção dele. Riccardo me olhou um
pouco cansado.
Mas o médico estava irredutível.
— Vamos aos poucos, senhor Fabrizio. Logo o chefe estará em casa.
Essa era a oportunidade perfeita para conversar com ele sobre meu
casamento, dizer que escolhi dar uma segunda chance à mulher que amo.
— Eu perdoei Alessandra. Resolvemos continuar com o casamento.
Assim que falei, Riccardo girou a cabeça lentamente em minha direção. Eu
resolvi relevar, porque percebi que Riccardo estava bem para ouvir tudo que
eu tinha a dizer.
— Eu amo Alessandra — falei, convicto, olhando no fundo dos olhos dele.
— Foi mais fácil perdoar, Riccardo. Eu amo a Alessandra. A pedi em
casamento pela segunda vez e quero que você seja nosso padrinho de novo.
— É mesmo? Pelo que eu sei, a Alessandra está morta e o túmulo dela
ainda está no cemitério.
Fechei os olhos de dor, lembrando-me do dia em que ela "morreu" e como
meu mundo desmoronou depois. Ainda tive que lidar com duas crianças
pequenas, ainda mais uma delas sendo especial.
— Não tenho vontade de recomeçar tudo de novo com outra mulher. Para
você foi fácil, mas para mim não é. Não tenho paciência para selecionar
mulheres virgens, organizar noivado, casamento...
Ele levantou a mão.
— Não vim aqui falar sobre isso.
— Converse com os nossos amigos, e diga a eles sobre minha decisão.
Você é o chefe, a autoridade maior. Então cabe a você fazer isso.
— Não — discordou — Converse você, honre sua decisão.
— Pelo visto você não me apoia — perguntei, sentindo um nó na
garganta. — Estou errado?
Ele se retirou da sala com o médico, sem dizer nada.
Honre sua decisão.
Mas ele não me apoia.

Matteo estava impaciente no corredor, e assim que me viu, correu para


saber sobre minha conversa com Riccardo.
— E então?
— Ele me deu ordens para matar Mattia e enviar partes do corpo dele
como recado para as máfias vizinhas.
Matteo assentiu.
— O que ele queria com você? — perguntei.
Meu irmão coçou a cabeça e mordeu os lábios.
— Riccardo veio saber por qual motivo deixei Giovanni vivo, uma vez que
ele tinha me dado ordens para matá-lo. Não sei como vou fazer isso sem que
Anna me odeie depois. E Laura vai odiar Riccardo quando souber que essa
ordem veio dele.
— O chefe não pensou na senhora Laura. Não tem nada a ver com ela —
respondeu Mumú enquanto tragava o charuto. — Se ele deu ordens, então é
melhor que façam logo.
Matteo assentiu preocupado e depois me olhou.
— Você acha melhor eu esperar ele se recuperar completamente antes de
meter tiro em Giovanni?
O que eu podia dizer?
— Eu duvido muito que Riccardo vá mudar de opinião, já que ele odiava
Giovanni muito antes de ficar doente.
Para mim, Riccardo tinha ciúmes de Laura com Giovanni, mesmo eles
sendo irmãos. Embora não tivesse como provar.
— Tente conversar com ele pela segunda vez, explique os problemas —
tentei tranquilizar Matteo.
Ele assentiu cansado. Riccardo acordou atirando para todos os lados e
trazendo o caos para as nossas vidas.
Eu não queria estar na situação de Matteo dessa vez. Anna estava grávida,
e essa notícia ruim poderia fazer mal ao bebê.
Meu coração estava aflito desde que Fabrizio saiu daquele jeito. Até o
momento não tive mais notícias dele e nem podia ligar, para não atrapalhar o
que ele estivesse fazendo. Então, só me restou esperar em casa.
Arrumei as crianças e as levei para o jardim. Ainda era cedo, então pedi
que colocassem a mesa do café da manhã no jardim, para admirar a vista do
sol nascendo e a do mar.
Eu estava em paz ao lado dos meus filhos. Olhei para Fabrícia e ela sorriu
para mim alegremente, mostrando que estava feliz por eu estar com ela.
Nunca imaginei que a traição de Fabrizio com Catarina me traria uma filha de
presente.
Embora fosse fruto da traição do meu marido com minha irmã, Fabrícia
tinha o dom de me proporcionar alegria e fazer com que as lembranças ruins
não me atormentassem. Fabrícia me aceitou em casa sem questionar.
Passei a considerá-la como filha no momento em que ela me chamou de
mãe. Ela havia me escolhido, e eu não encontrava palavras certas para
agradecê-la.
Muitos diriam que era loucura perdoar a traição e ainda considerar a
menina como minha filha, mas para mim, Fabrícia era muito mais do que o
retrato de uma traição. A vida trouxe essa menina em nossas vidas para
proporcionar coisas maravilhosas.
Ela amava o Alessandro. Ele se sentia mais confortável ao lado de sua
irmã. Fabrícia fazia de tudo para que ele não se sentisse sozinho.
Sempre observei o carinho que Fabrícia tinha por ele. Ela cuidava, dava
comida e sabia acalmá-lo quando ele tinha surtos. A menina sabia como lidar
com o meu pequeno, enquanto eu não sabia como agir pelo fato de ainda
desconhecer suas condições. Presumia que nem mesmo Fabrizio tinha o
mesmo dom que Fabrícia para cuidar do nosso filho. Mesmo sendo tão
pequena, ela se mostrava responsável.
Apesar de não ter criado o Alessandro, meu coração de mãe alertava que
havia algo errado com o meu menino, mãe conseguia sentir. E eu sentia que
ele era diferente de todas as crianças da família, embora ninguém tivesse
coragem de admitir.

O dia passou lentamente, sem qualquer notícia de Fabrizio. Estava quase


anoitecendo e aquele silêncio estava me matando. Então, a governanta bateu
na porta do quarto para informar que Laura estava na sala me esperando.
Pulei do sofá e ajeitei meu cabelo. Corri até a sala para encontrar minha
amiga. Fazia tempo que eu não a via, estava morrendo de ansiedade para
colocar os assuntos em dia.
Assim que cheguei à sala, Laura me envolveu em um abraço caloroso,
terno e que me proporcionou uma calmaria fora do comum. Éramos irmãs de
coração e filhas da vida. A vida nos uniu.
Laura se afastou para me olhar.
— Você está ótima, Alessandra.
— Olha quem fala. — Ri. — Você nem parece que é mãe de gêmeos.
— Quanta gentileza. — Gargalhou.
Ela se sentou na ponta do sofá. Os empregados ficaram agitados enquanto
traziam sucos, água e petiscos para ela. Laura era dona de uma simplicidade
absurda, agradeceu a gentileza deles e se serviu sozinha.
— E as crianças? — perguntou, interessada.
— Eles estão no jardim. Gostaria de vê-los?
Ela concordou. Fui com minha amiga até o jardim onde as crianças
estavam brincando. No momento em que viu Laura, Fabrícia correu para
abraçá-la. Alessandro se aproximou envergonhado, mas Laura também
puxou-o para um abraço caloroso. Ela também trouxe presentes para as
crianças.
Eles ficaram muito felizes com a visita dela e com os mimos.
Peguei-me sorrindo diante dessa imagem, porque o meu conforto era saber
que eles não ficaram sozinhos nesse tempo em que estive fora.
Depois de muitos beijos e abraços, Laura pediu que os meninos voltassem
a brincar e se levantou do chão.
Fabrícia segurou na mão de Alessandro e foi correndo com ele para a
piscina de bolinhas. Foi então que me dei conta da minha covardia.
Meu filho sempre precisou muito de mim e eu fui egoísta em abandoná-lo.
De fato, eu deveria ter passado por cima de tudo para ficar com o meu filho.
Laura tocou meu rosto.
— Ei.
— Você acha que foi egoísmo da minha parte ter me afastado de tudo? —
perguntei, segurando o choro.
Ela balançou a cabeça.
— Nós já conversamos sobre isso. Ficar remoendo o passado não vai fazer
com que ele volte, mas vai te impedir de viver o presente.
Laura apertou firme minha mão.
— Você está aqui agora, Alessandra. E está tendo uma segunda chance de
fazer diferente. Você está completa agora.
Eu a abracei. Tê-la do meu lado no momento em que mais precisei, foi
essencial para que eu não tirasse minha própria vida.
— Me consola saber que eles foram educados por você.
— Fiz por amor.
Segurei a mão dela e a conduzi novamente para o sofá. Era mais
confortável e podíamos conversar abertamente.
— Obrigada por tudo.
Ela sorriu abertamente.
— Não foi nada.
Tínhamos uma conexão muito boa. Eu sempre soube da inteligência
impecável de Riccardo, por isso não me surpreendi quando ele escolheu
Laura em vez de Catarina. Na época, tive que me isolar do mundo para dar
assistência a minha irmã que estava emocionalmente abalada, mas nunca
deixei de admirar Laura.
— Riccardo está bem?
Ela sorriu mais e bebeu um pouquinho de suco.
— Sim. Ele está se recuperando muito bem. Daqui a alguns dias poderá ir
para casa.
— Estão pretendendo voltar a morar na Colômbia?
Ela negou.
— Pedi a Riccardo para ficarmos aqui na Sicília. A vida na Colômbia não
me favoreceu.
— Soube que ele se candidatou a presidente na Colômbia. Acha que ele
vai deixar tudo para trás?
— Acho que sim.
Laura ficou pálida de repente, fechou os olhos e abaixou cabeça. Deixei
meu copo de lado e me aproximei dela.
— Está se sentindo mal?
— Sim. Estou com muita tontura e enjoo. — Ela colocou a mão sobre a
boca.
Foi então que minha ficha caiu. Olhei para a barriguinha saliente dela e
cheguei à conclusão de que, provavelmente, chegaria outro bebezinho para a
família Guerrieri.
— Você... — Coloquei a mão na boca para não gritar. — Ah, meu Deus!
— Fui pega de surpresa. Achei que não pudesse mais engravidar. O bebê
estava quietinho dentro de mim, quando fui fazer exames de rotina, porque
minha barriga não parava de doer, os médicos achavam que eu estava com
infecção urinária, fiquei em choque quando recebi a notícia de que estava
grávida. Agora não paro mais de vomitar. O bebê sabe que foi descoberto.
— Foi um milagre. — Fiquei emocionada.
Laura tocou meu rosto.
— Como está sua vida de casada?
Eu ri me lembrando dos amassos com Fabrizio e do sexo delicioso.
— Está melhor do que nunca. Fabrizio me perdoou, eu o perdoei e
decidimos recomeçar. Só tenho medo que tudo termine quando...
Fiquei quieta quando me dei conta que iria falar de Riccardo, além do
mais, que a mulher dele estava bem na minha frente.
— Me desculpe.
— Tudo bem. Acho que o Riccardo não tem motivos para estragar seu
relacionamento com Fabrizio.
— Você acha?
— Acho. Talvez, ele esteja apenas querendo que Fabrizio amadureça e
tome decisões próprias. Você não acha?
— Deus te ouça. Não quero causar transtorno.
Ela riu.
— Não vai. Você e Fabrizio se amam, e o tempo longe acendeu a chama
que estava se apagando.
— E como está o seu casamento? Pelo visto está bem, já que vem outro
bebê. — Ri animada.
— Adoro ser mulher dele.
— Nossa! — Gargalhei. — Os meninos estão sabendo da gravidez? O que
eles acham?
— Lorenzo não gostou nem um pouco. — Laura respirou fundo. — Disse
que na primeira oportunidade... vai afogar o bebê na banheira.
— Jesus. — Deixei escapar um grito.
Nós nos abraçamos para comemorar a notícia. Parecia eu a grávida, pois
lágrimas de felicidade queimavam meus olhos.
— Em breve será você também. — Laura piscou.
Eu?
Fiquei pensativa em relação a essa possibilidade. Como seria caso eu
engravidasse novamente?
Como Alessandro e Fabrícia reagiriam?
Passamos a tarde toda conversando, quando percebemos já era noite e ela
teve que ir embora.

Eu estava no quarto penteando o cabelo quando escutei o barulho da porta.


Fabrizio entrou no quarto, completamente abatido e desanimado, indicando
que teve um dia de merda.
Corri até o meu marido e o abracei forte. Eu não disse nada, deixei que ele
decidisse se iria me contar os problemas, ou não.
Levei-o até o banheiro e tirei suas roupas. Tentei muito não erotizar a cena
do meu marido todo gostoso e desnudo na minha frente, pois não sabia se
Fabrizio estava no clima para brincadeiras.
Meu marido entrou na banheira que eu havia preparado e gemeu com o
calor da água, relaxando seus músculos. Peguei uma esponja macia e fui
ensaboando seus ombros, massageando-os suavemente. Era nítido a tensão
de Fabrizio, por isso estava ali para ele.
— Está com fome?
Assim que perguntei, Fabrizio olhou-me da cabeça aos pés e mordendo os
lábios. Sorri tímida.
— Entre aqui — ordenou sem gentileza alguma.
Tirei minha camisola e entrei na banheira. Fabrizio segurou na minha
cintura e fez com que eu sentasse em cima do pau dele.
— Fabrizio — gemi.
— Estou com vontade de comer você, Alessandra. Eu quero te devorar.
A boca dele bateu contra minha em um beijo selvagem, capaz de arrancar
minha alma. A língua dele se misturou com a minha em uma dança sensual.
Fabrizio ergueu meu quadril e me penetrou sem aviso prévio. Perdi o ar
quando o pau dele me invadiu impetuoso, arrancando gritinhos de prazer dos
meus lábios.
— Cavalgue-me — exigiu, enquanto plantava palmadas no meu bumbum.
Com as duas mãos apoiadas em seu peito, comecei a cavalgar nele.
Descendo e subindo, sentindo a plenitude do pau dele me fodendo até o meu
limite. A água da banheira se derramando, conforme eu sentava mais rápido e
mais forte, sentindo aquela vontade louca de gozar. Meu clitóris e minha
boceta latejando de tesão, enquanto Fabrizio tomava o controle dos nossos
corpos.
Ele me colocou de quatro e me comeu nessa posição, enquanto segurava
em meus ombros, seu quadril espancava minha bunda e eu delirava com a
sensação de ter o pau dele todo dentro de mim. Entrando e saindo, causando
uma dormência gostosa dentro de mim e batendo em um ponto sensível, que
fazia minhas pernas tremerem e meu corpo inteiro incendiar.
Eu estava cada vez mais perto de alcançar o céu. Minha visão ficou
embaçada e meu corpo tremeu com a força do desejo incandescente.
Nossos corpos trêmulos chegaram ao limite, assim gozamos como dois
adolescentes apaixonados.
Tomamos banho e fomos para a cama. Ficamos deitados e abraçados,
trocando beijos depois de termos feito amor na banheira.
— Amanhã irei fazer uma reunião com a famiglia para anunciar nossa
reconciliação.
Fiquei boquiaberta com a informação.
— Está certo disso?
Fabrizio colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha, depois
beijou carinhosamente minha testa.
— Estou completamente certo. Irei enfrentar qualquer um que entrar no
meu caminho.
Beijei a bochecha dele. Por mais que eu amasse Fabrizio, não poderia
permitir que ele desafiasse as leis da máfia para ficar comigo. Mesmo sem
intenção, eu quebrei um código e isso não vai ser perdoado tão facilmente. Eu
não podia colocá-lo na fogueira para me safar, sendo que eu concordei com a
ideia estúpida de forjar minha morte.
— Fabrizio...
Fabrizio me calou, pondo o dedo sobre meus lábios.
— Ninguém vai te tirar de mim novamente, Alessandra.
— Mas eu errei. É a sua imagem que vai ser arruinada diante da famiglia
quando você confessar que me perdoou.
— Eu também errei. Além de tudo, ninguém precisa saber a verdade.
— Como assim?
Ele olhou no fundo dos meus olhos.
— Para todos os efeitos, eu sabia que você estava forjando sua morte. Vou
dizer que eu quis dar um tempo e por isso, te mandei para o convento.
Eu ri.
— Isso é ridículo. Ninguém vai acreditar nisso.
Ele deu de ombros.
— Vai ser minha palavra contra a deles.
Balancei a cabeça. No fundo, ainda estava insegura se esse plano de
Fabrizio daria certo. No entanto, meu coração se encheu de esperança. Poder
voltar a andar normalmente nas ruas, frequentar os melhores restaurantes e
ser devidamente respeitada como mulher do subchefe, não tinha preço.
Deitei a cabeça no peito do meu marido e fiquei quieta, ouvindo o seu
coração bater.
— Eu te amo, Fabrizio — falei para mim mesma, pois meu marido já
estava dormindo. Amanhã com certeza, seria um dia cheio de problemas.
Estacionei o carro no matagal e fui a pé até a casa onde costumávamos
torturar os prisioneiros. Tínhamos muitos lugares que serviam de abatedouro,
no entanto, esse cativeiro era onde mantínhamos traidores de nossa
organização ou até mesmo inimigos de alta periculosidade.
Eu tinha uma missão a cumprir. Então assim que o dia amanheceu, tomei
um banho gelado, coloquei meu melhor terno e fui cumprir às exigências de
Riccardo.
Nesse momento, eu daria um fim à vida de Mattia. E mais tarde iria me
reunir com outros membros da famiglia para comunicar minha decisão.
Todos eles esperavam que eu me casasse novamente, já que a minha
esposa havia falecido. De fato, era uma tradição muito comum na máfia.
Sendo assim, deveria explicar que eu não tinha intenção de me separar dela.
Eu estava muito determinado em defender minha decisão. Perdoar minha
esposa não me tornava fraco, pelo contrário, tornou-se um grande desafio
superar os erros do passado e começar uma nova vida.
Eu aprendi com os meus erros, assim como Alessandra com os dela. Então,
não havia motivos válidos para que eu pedisse a separação, até mesmo
porque Alessandra não poderia permanecer viva caso eu resolvesse não
continuar com esse casamento.
Não foi fácil perdoar e muito menos esquecer tudo que aconteceu.
Caso eu não tivesse dado outra chance, jamais estaria desfrutando dos
benefícios dessa mulher maravilhosa que ela se tornou. Se eu não tivesse
dado uma segunda chance, não estaria tendo a oportunidade de fazer diferente
dessa vez, ainda teria que carregar nos ombros o peso de ter fracassado no
meu casamento. Porque um homem fracassado sempre seria fracassado,
independentemente das circunstâncias que o tornava.
O passado dela foi traumático. Tinha certeza que não foi fácil para
Alessandra colocar um sorriso no rosto, fingir que estava tudo bem e ainda
aceitar casar com alguém que ela não amava.
No início foi difícil para mim digerir que outro homem havia tocado nela,
e que desse relacionamento surgiu um fruto que não sobreviveu. Porém,
quem eu era para julgar?
Fizemos tudo errado. Eu era errado. Vivemos em um mundo
completamente errado onde matávamos por luxúria e bel-prazer. Não
tínhamos o direito de julgar ninguém.
Ninguém nascia sabendo. Alessandra era inexperiente quando se casou
comigo. Nesse momento, depois de tudo que passamos, podia dizer que ela
amadureceu muito.
Eu também amadureci.
Aproximei-me da entrada que dava acesso ao corredor onde os presos
ficavam. Mumú veio me receber completamente sujo de sangue,
provavelmente havia torturado alguém até a morte.
— Fez o que pedi? — perguntei, enquanto me lembrava de ter pedido a
Mumú que transasse com Susanna na frente de Mattia.
Eu queria que aquele estrume sofresse antes de ir para o outro lado.
Mumú me olhou desconfortável e desviou o olhar. Ele não trabalhava para
mim, não era meu soldado, mas não havia ninguém melhor do que ele entre
os soldados que pudesse exercer essa função.
— Sim, senhor.
— Ótimo. Vamos acabar com Mattia.
Fomos para o corredor. Mattia já estava em uma das salas de torturas,
sendo preparado para o abate. No momento em que entrei na sala, vi-o
amarrado em uma maca de hospital e todo ensanguentado.
O olhar dele estava perdido, pelo visto a última cena que ele viu não foi
agradável.
— Você não tem do que reclamar, afinal, quem mandou sua noiva como
moeda de troca para nós foi você. — Sorri.
Ele continuou pensativo. Mumú pegou uma serra elétrica para cortar as
pernas de Mattia, enquanto peguei outra serra para cortar os braços.
Queríamos que ele estivesse vivo para sentir na pele o que acontece com
quem subestima a Cosa Nostra.
Mattia rugiu enquanto a gente arrancava partes do corpo dele. Do outro
lado, um dos membros da Cosa Nostra ficou responsável de colocar as partes
do corpo de Mattia dentro das caixas e enviar para outras organizações, como
nos fora dito.
Através disso, iríamos mostrar para todos eles o que acontecia com que
tentava nos passar para trás.
Algumas horas depois, diante dos nos olhos, havia apenas pedaços do que
sobrou de Mattia sobre a maca. No canto da sala estavam as caixas
organizadas com os pedaços do corpo dele e com nomes de quem iria recebê-
las.

Eu estava
sentado na sala de reuniões esperando os membros importantes da famiglia.
Não demorou muito para que eles chegassem um atrás do outro e tomando
seus assentos nos lugares indicados.
Porém, havia somente quatro membros da famiglia. O quinto seria meu
irmão Riccardo.
Cada família tinha um chefe importante para os negócios da Cosa Nostra.
Riccardo estava no topo, chefe dos chefes. Além de ser o filho mais velho,
ele era a cópia dos homens da família Guerrieri que criou a organização.
Ninguém se sentava no lugar dele, nem mesmo tomavam decisões sem
consultá-lo antes.
Ninguém podia ir diretamente a Riccardo, exceto quem carregava o mesmo
sobrenome que ele.
Olhei para a cadeira dele vazia e depois para o relógio, faltava pouco para
começar a reunião.
Faltavam dois minutos para a reunião começar, quando Riccardo entrou no
local para tomar o lugar que o pertencia.
Não podia negar que me senti aliviado por ele estar ali. Riccardo era uma
figura paterna para mim, alguém que me fez enxergar que o mundo não era
para os fracos.
Ele estava com uma enfermeira do lado.
— Boa noite — iniciei a reunião. — Como vocês sabem, minha esposa
faleceu há quase cinco anos. No início me perguntavam por qual motivo eu
não me casava novamente com outra mulher, ou por que não construía outra
família.
— Sabemos que sua esposa não está morta. — Uma voz soou no fundo.
Quando levantei a cabeça, observei que Giulio estava debochando de mim
enquanto tragava um charuto.
Giulio era pai da segunda esposa de Riccardo.
— O que ela foi fazer mesmo? — ele continuou. — Você deveria matá-la
de vez.
— O senhor quer que minha esposa termine como a sua filha?
Os olhos de Giulio ficaram vermelhos de ódio.
— Não compare sua esposa com a minha querida filha. Minha adorada
Giulia morreu servindo o seu propósito. Diferente da sua mulher.
Cerrei a mandíbula e dei um soco na mesa, fazendo com que eles parassem
de rir.
— O que minha esposa foi fazer no convento não é da conta de vocês. Eu a
mandei para lá, porque estava com problemas. Eu não queria ver ninguém,
portanto, não queria ela do meu lado naquele momento. Estou aqui
comunicando e não pedindo permissão para continuar meu casamento.
Ricardo ficou inquieto na cadeira, demonstrando que estava desconfortável
com o assunto.
— O senhor está dizendo que sabia que sua esposa estava viva? —
Luciano perguntou, intrigado. — Então por que vai voltar agora depois de
tanto tempo separado? Eu tenho uma sobrinha que se encaixa perfeitamente
na sua vida. Ela adora crianças.
— Estou apenas explicando o motivo de não ter me casado novamente. E
senhor está me oferecendo sua sobrinha?
Riccardo estava impaciente, por isso resolveu assumir a liderança da
reunião.
— Sua vida pessoal não interessa a ninguém aqui. — Ele ajeitou o paletó.
— Sua mulher é propriedade sua, você faz com ela o que achar melhor.
Riccardo olhou em volta esperando que alguém dissesse algo, porém, o
silêncio permaneceu.
Então ele continuou:
— Não quero ouvir mais o nome da Giulia aqui. — Tomou um pouco de
água. — Próximo assunto.
Assenti.
Fui até o telão e coloquei as fotos de Mattia esquartejado.
— Uou. — Luciano sorriu. — Belo trabalho.
Também fui mostrando as caixas que iriam enviar para as máfias vizinhas.
Não tinha como negar, Mumú e eu fizemos um ótimo trabalho.
— E quanto a noiva dele? — Giulio me olhou sério. — Suponho que o
corpo dela também esteja nessas caixas.
— Não — falei, firme. — Temos um soldado eficiente cuidando dela.
— Cuidando? — Giulio riu. — A máfia virou hotel de cinco estrelas?
Apoiei as mãos sobre a mesa e olhei-o sério, mostrando que tinha o
controle da situação. Quem era ele para questionar minhas decisões?
— O que o senhor sugere?
— Você deve matá-la. Óbvio. — Ele riu.
— Sou o subchefe, e sei bem o que estou fazendo.
Ele riu.
— O senhor não será capaz de tal coisa, já que é um fraco. Não merece o
sobrenome que tem, por isso que o seu filho mais velho é estranho... você não
serve de exemplo para ninguém.
Cego de raiva, avancei e acertei um soco no rosto de Giulio. A sala de
reunião ficou embaçada e eu só conseguia enxergar o rosto dele debochando
do meu filho.
Continuei dando socos na cara dele e pegando a cabeça dele para bater
contra o chão, até que o sangue escorresse e sujasse minhas mãos.
Quanto mais sangue saía, mais prazer eu sentia em bater.
Alguém me tirou de cima dele e me arrastou para uma outra sala reservada.
Eu não estava mais conseguindo raciocinar e só agia pelo ódio.
Então a figura de Riccardo começou a aparecer através da névoa, que
estava embaçando minha visão. Ele acertou dois tapas no meu rosto, fazendo
com que eu voltasse à realidade.
O ódio ainda corria em minhas veias, trazendo adrenalina para o meu
sangue.
— Acalme-se, Fabrizio. — Matteo estava atrás de Riccardo, olhando para
mim com preocupação. — Ninguém deve saber que o comportamento do seu
filho é sua franqueza.
Coloquei a mão sobre o rosto e fiquei sufocado, lembrando-me do meu
filho e das vezes que o ignorei pelo fato de não aceitar que ele se comportava
diferente. Laura nunca se importou, deu todo amor e carinho que ele
precisava, enquanto eu ficava me afogando em mágoa e culpando Alessandra
pelas minhas desgraças.
Matteo me entregou um copo de água com açúcar. Fiquei ali de cabeça
baixa sentindo as lágrimas molharem meu rosto. O fato de sermos homens e
criminosos, não significava que éramos perfeitos. Todos nós podemos
cometer erros e nos tornamos fracos diante de certas situações.
— Não vou permitir que ninguém humilhe meu filho.
Levantei a cabeça e olhei para meu irmão mais velho, que tinha o olhar
sério cravado em mim.
— Eu...
Ele me interrompeu.
— Vá para casa, depois conversamos. Isso é tudo por hoje.
Concordei.
Naquele momento, eu descobri que meu filho era meu ponto fraco. Muitos
poderiam usar o comportamento dele para me atingir, por isso precisava
aprender a lidar com essa situação.
A máfia estava finalmente voltando ao que era. Riccardo estava cada dia
melhor e se esforçando de forma demasiada para voltar à vida normal. Ele
mesmo havia se dado alta, ignorando as restrições médicas.
Enquanto eu, enfim, estou conseguindo dar mais atenção a minha família.
Anna estava linda em uma barriga volumosa de seis meses, quase
completando sete.
Poder presenciar a felicidade do meu filho mais velho na companhia do
seu amigo peludo esperando a chegada do irmãozinho, não tinha preço.
Todos os dias ele me perguntava quando o Dario iria chegar em nossas
vidas. Então eu dizia que o nosso bebê tinha tempo certo de ficar na barriga
de sua mãe, como um pãozinho no forno, que ficava assando lentamente. Mas
que, em breve, ele estaria conosco.
Minha casa era meu templo sagrado, cheia de harmonia, amor e paz. Cada
dia eu me apaixonava mais por minha esposa. Eu não tinha palavras para
descrever Anna.
Se eu soubesse que iria ser tão bom estar casado com ela, teria me casado
há muito tempo. Teria tirado ela dos braços de Antônio e feito dela minha
mulher.
Continuei divagando entre os pensamentos, até que a porta se abriu e
Riccardo entrou. A saúde dele ainda era um motivo de preocupação, já que
não estava cumprindo as exigências dos médicos. O fato era que ele se
recusava a ficar de repouso, e isso estava preocupando a todos nós, inclusive
os médicos que tratavam da saúde dele.
Riccardo mostrava de maneira clara que já estava cansado desse mundo,
mas ainda não podia ir embora totalmente, uma vez que tinha gente
dependendo muito dele. Os gêmeos adoravam o pai, isso fazia com que
Riccardo reconsiderasse o fato de colocar sua vida em risco.
Assim que eu soube que meu irmão estava bem para poder conversar, pedi
uma reunião com ele para discutir o destino de Giovanni. Eu achava que o
rapaz merecia mais uma chance, justamente porque ele era um ótimo soldado
e tinha boa pontaria. Também porque a Anna estava grávida e eu não queria
levar esse transtorno para ela.
Mas, por enquanto, eu iria pedir que Riccardo adiasse a morte de Giovanni.
Ricardo parou na minha frente, sentado em uma cadeira de rodas e com
soldados à sua disposição, prontos para começar uma guerra caso ele
exigisse. Um desses soldados era Mumú, o chefe dos soldados e braço direito
de Riccardo nas guerras.
Para os nossos inimigos ou até mesmo outros membros da máfia, essa
imagem era completamente intimidadora. Porém, eu já estava acostumado e
entendia que nada daquilo era para me causar desconforto, mas sim para a
segurança de meu irmão. Ele era quem tinha um alvo nas costas, a cabeça
dele valia milhões para nossos inimigos.
— Está tudo bem? — ele perguntou de forma amigável.
Eu sabia que esse jeito "amigável" iria por água abaixo quando ele
descobrisse o motivo da minha reunião.
Limpei a garganta.
— Você me disse para matar Giovanni.
Ele estreitou os olhos.
— Ele é irmão das nossas esposas.
— E? — Riccardo continuou sério, olhando para mim.
— Eu acho que deveríamos esperar um pouco mais. Pense bem, Riccardo.
Anna e Laura estão grávidas. Isso pode prejudicar os nossos bebês.
Giovanni estava na sala ao lado, esperando o veredito. Não que eu fosse
defensor de Giovanni e aceitasse as merdas que ele fez, só estava preocupado
com meu filho no ventre de Anna. Não seria legal a criança absorver o
desespero da minha mulher. Também achava que Giovanni deveria ser
aproveitado em outra área da máfia.
— Acho que você deveria reconsiderar. Querendo ou não, Giovanni é
nosso cunhado, irmão das nossas esposas e que, por sinal, estão grávidas.
Elas estão esperando um filho nosso.
Riccardo balançou a cabeça.
— Riccardo...
Ele deu um soco na cadeira.
— Porra, Matteo! Tem noção do que você está me pedindo?
— Então me deixa matá-lo depois do nascimento dos nossos filhos, é mais
seguro. Até lá, eu vou preparando o psicológico de Anna, e você o de Laura.
Mumú limpou a garganta para fazer um pronunciamento.
— É uma boa ideia, chefe. A senhora Guerrieri está com outro herdeiro seu
no ventre. A máfia está em festa.
Riccardo ficou em silêncio por um tempo antes de finalmente concordar.
Aquilo foi um alívio para mim, pois Anna andava muito sensível por causa
da gravidez. Principalmente porque ela havia me dito que estava sonhando
muito com Giovanni morto. Ela ficava perturbada quando tinha pesadelo e
chegou a ter sangramentos por causa disso.
— Certo. — Riccardo respirou fundo.
Quando achei que finalmente poderia respirar aliviado, escutamos um
barulho na porta que nos fez virar para olhar. E para piorar a situação,
Giovanni entrou na sala sem ser convidado.
Aquilo foi uma afronta, pois ninguém tinha permissão de ir até o chefe sem
ser convidado.
O ar pesou quando ele pisou na sala de reunião. O olhar de Riccardo
mudou por completo quando viu nosso cunhado.
Era nítido que se odiavam.
Giovanni parou no meio da sala e estufou o peito.
— Antes de morrer, vou dizer coisas que nunca tive coragem de dizer,
chefe.
Riccardo ergueu a sobrancelha, desafiando-o.
— Agora não, Giovanni. — rosnei. Quando ameacei tirá-lo da sala,
Riccardo segurou meu braço e me impediu de fazê-lo.
— Quero ouvir o que ele tem a dizer. Talvez essa seja a última
oportunidade dele.
Isso pareceu intimidar Giovanni, mas meu irmão o encorajou a continuar.
Eu esperava muito que Giovanni usasse as palavras certas para se redimir.
Embora eu soubesse que Riccardo não voltaria atrás.
— Eu não roubei você, Riccardo — Giovanni começou. — Nunca traí a
máfia. Meu erro foi ter tentado defender minha mulher, mas era meu dever
como homem.
Riccardo riu.
— Defender uma pessoa que cometeu erros te torna conivente. Nunca te
disseram isso?
— Eu amava minha esposa. Eu fiquei cego de ódio quando você a matou,
mesmo assim continuei servindo a máfia e dando meu sangue por essa
organização. Mas o que eu recebi em troca?
Riccardo se levantou da cadeira e ficou de frente com Giovanni.
— O que você recebeu em troca? Se você ainda está vivo, agradeça à sua
irmã.
Quando eu vi que a situação estava esquentando, tentei apaziguar. No
entanto, Mumú me aconselhou a ficar de fora alegando que o chefe iria
resolver e tomar decisões cabíveis.
Mas eu não me conformava com a discussão, principalmente por conhecer
o temperamento de Riccardo. Eu o conhecia, então podia afirmar que se essa
discussão não terminasse, Giovanni iria parar em caixão.
— Meu pai lambia o chão que você pisava, Riccardo. E mais do que isso,
ele deu minha irmã mais nova para você. Uma menina ingênua que não sabia
nada da vida. Laura apanhou muito para se tornar essa mulher adulta que é
hoje. Você a humilhou muito para que ela se encaixasse na sua vida.
Lembro-me das prostitutas...
Riccardo balançou a cabeça, discordando e apontando o dedo na cara de
Giovanni.
— Sua irmã amadureceu por ela mesma. Por ser um homem mais velho e
mais experiente, nunca esperei comportamentos que não condiziam com a
idade dela. Então, não venha falar essas merdas para mim. Minha vida
pessoal não é da sua conta.
Giovanni ficou nervoso.
— Eu nunca fui a favor da relação de vocês. Laura merecia alguém
melhor.
Riccardo riu.
— Você conhece alguém melhor do que eu? Nenhum outro homem seria
capaz de aturar a péssima educação de sua irmã. E não estou dizendo que a
culpa era dela, mas sim da péssima educação que o seu pai deu a vocês. Os
Bassi sempre foram escórias da famiglia. Sendo chefe e autoridade maior, eu
sou o único que pode facilmente defender Laura de comentários maldosos e
ainda dei permissão para que ela realizasse o sonho de ser pianista. Então,
você acha mesmo que algum outro homem teria culhão para isso?
Giovanni engoliu seco.
— Hoje você é casado com uma Bassi. Não se esqueça de que ela carrega
nosso sangue, assim como os seus filhos. Não menospreze nosso sobrenome.
— Laura carrega o meu sobrenome, isso é mais do que suficiente para que
ela seja respeitada e temida. Na época, esse casamento foi mais benéfico
para a sua família do que para mim.
— Está dizendo que Laura não é suficiente para você?
— Não ponha palavras na minha boca — gritou Riccardo.
— Eu nunca fui a favor desse casamento, embora você seja nosso chefe.
Nunca vou me conformar.
— Não é você quem decide, sua opinião não tem relevância. Você é um
merda igual a seu pai.
Entrei no meio.
— Cala a boca, Giovanni — gritei. — Laura está muito bem casada e
protegida. Não fale merda.
— Eu quero ele morto. — Riccardo virou as costas para se sentar na
cadeira, quando Giovanni se desesperou e avançou pra cima dele, tentando
começar uma briga.
— Giovanni — chamei-o com raiva e os soldados entraram na frente.
Bloqueando a chegada dele até Riccardo.
Riccardo retribuiu a afronta, passando pelos soldados e partindo para cima
de Giovanni.
Eu e os soldados seguramos Giovanni, porque se esse cara conseguisse
tocar em um só botão do terno de Riccardo, os soldados iriam quebrar todos
os ossos do corpo dele.
Quando achei que a discussão não podia piorar, Riccardo puxou a arma da
cintura e atirou várias vezes à queima-roupa contra o rosto de Giovanni.
Por um momento fugaz, o rosto de Giovanni ficou pálido, pois
provavelmente ele nem teve tempo de raciocinar.
O rosto do meu cunhado ficou irreconhecível. E mesmo caído morto no
chão, meu irmão fez questão de descarregar a arma nele, depois usou as
armas dos soldados para continuar atirando como se o corpo do rapaz fosse
um treino de tiros. Mas não era um treino e sim um crime de ódio.
Giovanni parecia uma peneira com o rosto todo furado, ele não tinha mais
boca, olhos, nem nada que pudesse identificá-lo. A cabeça estava
completamente danificada pelos tiros à queima-roupa.
A sala ficou no mais puro silêncio, acho que ninguém ali tinha a
capacidade de respirar diante da situação.
Riccardo apontou para o corpo do rapaz no chão, envolto por uma poça de
sangue talhado.
— Ainda sou o chefe dessa máfia. E vou continuar passando por cima de
quem me incomodar.
Na minha cabeça, eu só pensava no velório e no caixão que teria que ser
devidamente lacrado, porque ninguém podia ver aquilo. Ninguém teria
estômago, principalmente as meninas grávidas.
Como eu ia chegar em casa e contar isso para minha esposa?
Como eu ia dizer a Anna que a culpa foi minha, pois fui eu que levei
Giovanni até Riccardo?
— A culpa não foi sua. — Mumú apertou meu ombro. — Em algum
momento isso iria acontecer. Eles não se suportavam. Giovanni procurou a
morte e acabou encontrando.
— Estou preocupado com Anna. Como irei dar essa notícia a ela?
— Ela vai superar. Não tem outro jeito.
Riccardo sem esboçar reação e como se nada tivesse acontecido, ordenou
que os soldados levassem o corpo de Giovanni para algum lugar, que eu não
consegui ouvir.
Eu não estava triste pela morte de Giovanni, porque eu até acho que ele
mereceu, só estava muito preocupado com a situação de Anna.
Antes de Riccardo sair da sala, ele chamou a atenção de Mumú que estava
ali trabalhando para levar o corpo de Giovanni embora.
— Se isso aqui chegar ao ouvido da minha esposa, eu vou foder com a
vida de todo mundo. Ficou entendido?
— Sim, senhor — respondeu Mumú.
Ele saiu da sala e fui junto para saber qual seria o nosso próximo passo.
Fabrícia estava ensaiando balé na sala, uma dança bonita que ela estava
aprendendo com a professora da escola para poder se apresentar em uma peça
teatral. E eu estava sentando no sofá, observando-a com admiração.
Vê-la assim tão segura de si, fazia com que meu peito se enchesse de
orgulho. Por um momento esqueci que vivíamos em mundo perigoso, onde
somente os mais fortes sobrevivem, e que minha filha iria crescer e algum
desgraçado partiria o seu coraçãozinho.
Não me agradava a ideia de Fabrícia se casar, justamente porque meu
sobrenome era suficiente para mantê-la segura. Eu não precisava vender
minha filha para formar alianças. Não tinha motivos para entregá-la a alguém
que não fosse digno dela.
Respirei fundo, tentando eliminar esses pensamentos, mas foi o som da
campainha que fez com que eu me distraísse dos pensamentos.
Levantei com cuidado e depositei o copo de uísque quase vazio sobre a
mesa de centro. Dirigi-me até as câmeras de segurança para observar quem
estava do lado de fora da minha casa, já que os meus seguranças não ligaram
para informar sobre a visita inesperada.
Assim que observei as câmeras de segurança, fiquei completamente
preocupado ao ver a imagem de três homens parados na minha porta. Logo
entendi o motivo de não ter sido avisado.
Dois homens eu pude identificar facilmente. Um deles era meu irmão
Matteo, o outro Mumú, já o terceiro homem estava atrás deles, em um ponto
cego que me impediu de identificá-lo.
Alessandra veio correndo da cozinha para informar sobre a visita deles.
Minha esposa estava apavorada, jogou-se nos meus braços e chorou muito,
achando que havia chegado a hora de acertar as contas com a máfia.
Era provável que Riccardo tenha vindo até aqui para definir o destino da
minha esposa?
Eu não tinha resposta para essa pergunta, principalmente porque Riccardo
sempre foi uma caixinha de surpresa. Porém, eu sabia que Alessandra não era
o real problema.
— Vá para o quarto — ordenei, assim Alessandra sumiu da minha frente
sem questionar.
Fiquei paralisado observando minha esposa sumir pelo corredor, deixando
apenas o rastro do perfume.
As batidas na porta ficaram impacientes, então não me restou outra
alternativa. No caminho até a porta eu pude ouvir a voz de Matteo xingando,
chamando-me de filho da puta e dizendo que iria enfiar uma bala no meu
rabo.
Matteo parecia estar muito agitado.
No momento que abri a porta, Matteo saltou para frente abrindo os braços.
— Porra, até que enfim! Da próxima vez, irei trazer uma barraca de
acampar.
Não havia sinal de Riccardo. O terceiro homem que não consegui
identificar na câmera, era apenas um soldado de Matteo.
— O que aconteceu? — Matteo respirou fundo.
— Riccardo matou Giovanni.
Não fiquei surpreso. Mas eu não podia deixar de me comover com a
situação de Matteo, que tinha uma esposa grávida em casa. Ele temia que
esse momento chegasse e Anna sofresse.
— Por quê? — perguntei, mesmo sabendo a verdade.
Giovanni roubou a máfia. No fundo, ele sabia que as verbas estavam sendo
desviadas e mesmo assim não abriu o bico, fazendo dele um cúmplice.
— Ele desrespeitou Riccardo dentro da sede da máfia. Como se não
bastasse, ainda tentou agredi-lo — disse Mumú, sem mostrar emoção.
— Preciso que você resolva a situação, enquanto vou em casa conversar
com Anna. — Matteo me olhou sério.
— Resolver o quê? — perguntei, confuso, e sem saber onde ele queria me
meter.
Matteo tocou meu ombro.
— Riccardo permitiu que Giovanni tivesse um velório. Pelo menos a
família vai ter um corpo para enterrar. Então, preciso que você vá cuidar
disso. Veja se o caixão vai estar bem lacrado. Essas coisas.
Passei a mão pelo cabelo, incrédulo, com essa responsabilidade que ele
jogou sobre minhas costas. Eu não estava me negando a fazer, mas não era
minha função.
Giovanni não era nada meu.
— Esse cara nem deveria ter um enterro digno — rosnei. — Não jogue
essa responsabilidade para cima de mim.
Matteo tocou meu ombro.
— Se isso não fosse importante, eu não estaria aqui. Conheço Anna, sei
que ela vai surtar quando descobrir que o irmão morreu. Não é por Giovanni,
é pelo meu filho. Anna não vai suportar quando descobrir que o irmão foi
morto e não teve um enterro decente. Por favor...
Levantei a mão.
— Tudo bem.
Se era tão importante para ele, então também era para mim. No entanto,
ainda estava achando que Matteo estava preocupado com situações que não
vinham ao caso.
Mumú apertou o ombro de Matteo.
— Eu vou ajudar. Só não caia na besteira de deixar sua esposa insultar as
atitudes de Riccardo. A máfia em peso vai estar nesse velório. O seu irmão
fez o que tinha que ser feito.
De fato, alguns membros da famiglia não estavam satisfeitos com o
Giovanni vivo. Ninguém tinha coragem de ir contra, pois Giovanni tinha
regalias que ninguém tinha, justamente por ser cunhado do chefe.
— Jamais. — Matteo endireitou os ombros. — Ela sabe das
consequências. Anna tem um cargo importante na máfia e não pode fazer
besteira. Giovanni escolheu o caminho dele.
Eu realmente esperava que Matteo conseguisse segurar Anna e suas
emoções.

Estávamos de frente para o caixão onde Giovanni estava apagado. Ele teria
que ser enterrado em três horas, do contrário teríamos que presenciar o
sangue dele vazando pelas dobradiças do caixão, já que o corpo estava
completamente danificado.
Olhei no relógio e fechei a tampa do caixão. Dentro de alguns segundos os
soldados iriam permitir a entrada da família de Giovanni e amigos.
Marta foi uma das primeiras a chegar ao velório, sendo amparada pelo
presidente. A segunda foi Anna, amparada por Matteo e Alessandra.
Laura foi a última a chegar, porém, estava sozinha. Não demorou muito
para os comentários maldosos surgirem sobre ela. Todos estavam julgando-a
por ter ficado do lado do irmão, mesmo ele sendo um traidor.
Embora Riccardo tivesse mandado Giovanni para aquele caixão, ele tinha
que estar ali apoiando a esposa. Mas isso não aconteceu, esse episódio estava
dando o que falar entre a famiglia.
Era triste o desespero das meninas. Alessandra estava no meio delas
prestando condolências.
Como meu irmão não estava presente, resolvi ficar do lado de Laura
apoiando e dando suporte caso ela se sentisse mal. E também porque muitos
estavam questionando a ausência de Riccardo e olhando feio para Laura.
— Onde está meu irmão? — perguntei baixinho, tomando cuidado para
ninguém ouvir.
Laura balançou a cabeça de forma negativa e chorou ainda mais. Ela se
esquivou dos meus braços e tombou para o lado, vomitando em uma lixeira
próxima.
— Me tire daqui. Por favor... — ela pediu. — O cheiro das flores está me
deixando enjoada.
Com ajuda de Alessandra, caminhamos com Laura em direção à sala
reservada no fundo da capela, com uma janela de frente para o jardim florido.
Com o ambiente arejado ela iria se sentir melhor.
Assim que cruzamos o corredor para entrar na sala, Giulio um dos
membros importantes da famiglia, entrou na nossa frente e olhou para Laura
da cabeça aos pés.
— Onde está o chefe? — ele olhou para ela de forma intimidadora. Giulio
tinha olhos de águia, estava sempre procurando erros de alguém.
Além de tudo, ele era pai de Giulia.
— Ele.... Ele... Está.. em casa com as crianças. — Laura engoliu seco.
Giulio tragou o cigarro e assoprou a fumaça próximo do rosto dela. Essa
atitude estúpida fez com que eu tomasse à frente da situação e me colocasse
no meio dos dois.
— Cuidado — alertei-o. — Não encoste nela.
Ele olhou de mim para Alessandra, depois se voltou para Laura de novo.
— Estão dizendo que a senhora tomou partido do seu irmão. E por esse
motivo o chefe não veio. Isso procede?
— Não é da sua conta. — Laura rangeu os dentes. — Mesmo sendo um
traidor, Giovanni era meu irmão, nós crescemos juntos. Não posso mais ficar
triste?
— A senhora não deveria ficar triste com um homem que desonrou a máfia
e ainda se achou no direito de desrespeitar o seu marido — Giulio gritou. —
Mesmo esse homem sendo seu irmão, a senhora não deveria chorar por ele.
Laura colocou as duas mãos sobre o rosto e começou a soluçar.
— Já chega! — Entrei na frente. — Você é um filho da puta que não sabe
respeitar uma mulher grávida. Onde você quer chegar com essa conversinha
idiota?
— Onde está o seu irmão? — Giulio ajeitou o terno e olhou no fundo dos
meus olhos.
— Não é da sua conta. Minha cunhada está sob minha proteção. — Puxei-
o pela gravata. — Não vou tolerar seus insultos.
Ele levantou as mãos.
— Está certo. Avise seu irmão que a filha do governador chegará à Sicília.
Ela quer uma reunião exclusiva com ele. — Giulio olhou para Laura de forma
sugestiva.
Giulio olhou para mim, sorrindo. Eu sabia onde esse filho da puta queria
chegar, queria revelar casos antigos de Riccardo para atingir Laura.
O desgraçado deu às costas e saiu caminhando desajeitado pelo salão.
Levamos Laura para a sala reservada e ficamos no local até ela se acalmar.
Um médico que estava presente para prestar socorro informou que a pressão
dela estava alta. O que nos preocupou.
A situação da minha cunhada estava me preocupando. E mesmo depois de
ligar inúmeras vezes para Riccardo, enviar mensagens informando o estado
de saúde de sua esposa, ele não entrou em contato comigo.
Respirei fundo, e Alessandra me olhou preocupada.
— Pegue água para ela — pedi.
— Sim.
Alessandra saiu. No momento que a porta bateu, Laura olhou para mim de
forma questionadora.
— A filha do governador é outra amante do seu irmão?
Como eu poderia explicar?
Eu não tinha autorização para falar sobre o passado do meu irmão,
principalmente com a esposa dele.
— Essa mulher é casada. É um caso passado. Giulio acha que Riccardo é o
mesmo homem de antes... Do tipo que não se controlava quando via um rabo
de saia. Riccardo não é mais assim, Laura.
— Como ela se chama?
Limpei a garganta.
— Francesca Giordano.
Laura arregalou os olhos e colocou a mão sobre a boca para segurar o riso.
— A mulher tem o mesmo nome da cobra que meu filho tem de
estimação?
— Exatamente. — Ri. — Esse caso deles é passado. Quando chegar aqui e
se deparar com um Riccardo totalmente apaixonado pela família que ele
construiu, ela pega o primeiro avião de volta para casa.
— De qualquer forma. — Ela limpou as lágrimas. — É bom eu ficar de
olhos bem abertos, seu irmão dá trabalho.
Eu ri.
— A morte de Giovanni foi inevitável, Laura. Tente superar, não deixe
essa situação causar uma guerra no seu casamento, você será a mais
prejudicada.
Ela concordou.
Laura foi se acalmando aos poucos e quando chegou o entardecer,
aconteceu o enterro de Giovanni.
Ventava muito nessa tarde e gotas de chuva começaram a cair das nuvens.
Então de longe pude observar uma mulher de vestido preto usando um
chapéu e óculos da mesma cor, que escondiam o seu rosto. Ela se aproximou
do jazigo e jogou uma flor, acariciou a barriga volumosa, depois foi em
direção à Laura, que estava conversando com sua mãe e irmã.
Quem era aquela mulher?
Aquilo me deixou com uma pulga atrás da orelha, então mandei um dos
meus soldados fosse investigar a tal mulher.

Tomei um banho e me joguei na cama, estava exausto e com a cabeça


cheia de problemas. Não demorou muito e o meu celular tocou informando
que havia chegado uma mensagem do soldado que ficou responsável por
investigar a mulher grávida que estava no enterro de Giovanni.
A mulher se chamava Martina. Trabalhava como dançarina em um dos
clubes da máfia. Ela e Giovanni tinham um caso, o bebê era o fruto desse
relacionamento.
— Muito ocupado?
Tirei a atenção do celular para observar minha esposa apenas de lingerie
vermelha, subindo na cama para me provocar. Fiquei admirado com a visão
maravilhosa do corpo curvilíneo e que tanto me enlouquecia.
Troquei o celular pela cintura dela, agarrando-a com firmeza e colocando-a
sobre mim. Meu pau estava enfurecido dentro das calças, contorcendo-se e
querendo se libertar.
Minhas mãos tremiam de ansiedade, enquanto abaixava minhas calças.
Alessandra me beijou apaixonadamente e eu retribuí, nossas línguas se
moviam com ansiedade, agarrei o cós da calcinha e puxei com violência
rasgando o pano delicado.
Ergui o corpo dela e a fiz sentar no meu pau, ergui o quadril e fui
empurrando meu pau para dentro de suas dobras. Estava delirando com a
maciez de sua boceta molhada.
Conforme ela se movia para frente e para trás, minha respiração ardia e
minha garganta se fechou, meu corpo foi incendiado de forma torturante.
A boceta dela pulsava em volta do meu pau, levando-me cada vez mais
fundo. Alessandra era macia, receptiva e muito gostosa. Ela tinha o dom de
me enlouquecer, de me fazer pirar, de me fazer perder a compostura e a
decência.
Coloquei-a de quatro na cama e salivei com a visão do seu traseiro
empinado para mim. Sem delongas, entrei nela de uma só vez e meti como se
não houvesse um amanhã. Meti várias vezes até ela gozar em mim, plantei
palmadas na bunda redonda e puxei o seu cabelo, enquanto cavalgava em seu
corpo suado.
O meu gozo veio logo depois do dela, como se minha alma estivesse sendo
arrancada do corpo.
Estremeci sobre ela enquanto liberava a última gota do meu alívio.
Alessandra se enroscou em mim, repousou a cabeça no peito e adormeceu
feito um bebê depois de tomar mamadeira. Fiquei quieto ouvindo o som de
sua respiração até o sono vir me visitar.
O cheiro das flores estava me enjoando. O cheiro de madeira que exalava
do caixão estava me deixando tonta. Eu achei que ia cair quando senti minhas
pernas fraquejando por causa de uma dor insuportável que tomou o pé da
minha barriga. Pensei no meu bebê e no quanto rezei para Deus me abençoar
com mais esse filho, pensei nos tratamentos que fiz e nas decepções de cada
mês quando descobria que não estava grávida e que, talvez, jamais pudesse
engravidar novamente.
Todas as noites, eu sonhava com uma menina linda, risonha e sapeca. Seus
olhos eram verdes intensos, iguais aos de seu pai. A menina sorria para mim
e me chamava de mamãe.
Eu já tinha perdido as esperanças, quando veio meu tão sonhado positivo.
Fiquei tão feliz.
Nesse momento para mim nada disso fazia sentido, não quando tinha um
marido que matava pessoas sem remorso algum e sem pensar nas
consequências.
Riccardo fazia qualquer coisa para defender seus interesses, coitado de
quem ficasse no caminho.
Lembrava-me de seu olhar frio ao me dizer que tinha tirado a vida do meu
irmão e que não estava arrependido por isso. Nós brigamos, disse a ele que
não o queria no velório, desde então estava sofrendo sozinha com olhares de
acusação sobre mim.
Estou sofrendo com a dor de nunca mais ver o sorriso do irmão, também
com a possibilidade de não ter mais o amor do marido.
O que eu fiz?
O que eu fiz foi escolher um lado sem me dar conta que estava escolhendo.
Eu não podia simplesmente chorar pela morte do meu irmão sem parecer
cúmplice dele.
No meio da briga, acabei dizendo coisas que não deveria dizer ao meu
marido, coisas que o magoaram profundamente. Riccardo não disse nada,
apenas virou as costas e me deu espaço como eu pedi.
Depois que minha raiva passou, rezei para que ele voltasse para mim, mas
isso não aconteceu.
Riccardo se afastou.
Estou magoada. Muito magoada comigo mesma. Magoada por não ter tido
inteligência de lidar com a situação.
Olhei para o caixão e senti um enorme vazio dentro de mim, o desespero
tomou meu peito e me dei conta de que nunca mais verei meu irmão.
Fiquei sem chão.
Essa situação toda estava me deixando péssima, senti um bolo na garganta
que me impediu de respirar.
Fechei os olhos, quando senti os braços de mamma me envolvendo de
forma calorosa, puxando-me para um abraço terno.
— Pense no bebê, querida. — Mesmo caindo aos pedaços, mamãe foi
capaz de me confortar.
— Onde está o seu marido? — o presidente perguntou baixinho.
Como assim onde estava o meu marido? Como eu iria responder se nem
mesmo eu sabia?
Mamãe me olhou entristecida.
Nessas alturas, a famiglia estava comentando que estava sozinha, e minha
mãe estava ficando preocupada com a situação.
— Eu não sei. — Olhei para o meu celular, não havia sinal de chamada e
nem mensagem dele.
Depois daquela discussão, não nos falamos mais, isso estava aumentando
minha tristeza.
Riccardo mesmo com o seu jeito frio e reservado, conseguia fazer com que
eu me sentisse segura em seus braços. Somente a presença dele era capaz de
me deixar aquecida em dias frios, acolhida em dias sombrios e abrigada em
dias chuvosos.
— Liga para ele — mamãe pediu.
— Eu disse para ele não vir. — Limpei as lágrimas teimosas e segurei o
soluço na garganta.
— Acho que você não se deu conta da gravidade da situação. — O
presidente respirou fundo. — Meu filho também foi jurado de morte, nem sei
se ele terá um velório como Giovanni teve. É triste, mas foi ele quem
procurou isso.
Ainda com as mãos trêmulas, digitei uma mensagem para o meu marido
perguntando onde ele estava naquele momento. Sim, eu realmente estava
começando a ficar com medo.
Riccardo visualizou minha mensagem segundos depois, porém, não
respondeu.
Dio! Ele não respondeu.
Respirei fundo, lembrando-me dos motivos dele. Porque mesmo eu
gritando e dizendo que ele era um homem sem alma, Riccardo não disse
nada.
Mas o olhar de decepção dele ainda está gravado na minha memória.
Eu disse ao meu marido coisas terríveis, coisas que ele não aceitaria ouvir
de outra pessoa. Outro no meu lugar certamente não teria sobrevivido para
contar histórias.
Giovanni era a maior prova disso. Meu irmão resolveu enfrentar o meu
marido sem pensar nas consequências, sem pensar na nossa mãe.
Ela era a que mais sofria.
— Você quer conversar? — Mamãe me abraçou mais forte.
— Riccardo e eu brigamos, eu disse que não o queria aqui. — Olhei triste
para ela. — Ele matou Giovanni, mãe. Agi pela emoção.
Mamãe tocou meu cabelo de uma maneira carinhosa.
— Ninguém está sofrendo mais do que eu. Infelizmente os assuntos da
máfia estão fora do nosso alcance, mas te entendo, você agiu pela emoção.
Mamãe me apertou contra o peito, ali eu chorei muito, pois não terminava
por aí.
— Eu... disse que queria me divorciar dele.
Mamãe estremeceu, ela se afastou um pouco para me olhar nos olhos.
— Filha.
— Fiz besteira, não fiz?
Ela assentiu triste.
— Riccardo Guerrieri pode até deixar se der seu marido, filha, mas ele
nunca deixará de ser nosso chefe. Coloque isso na sua cabecinha.
— A senhora ficou a favor do meu casamento com ele?
— Fico muito mais tranquila sabendo que você o tem do seu lado. É
melhor tê-lo como amigo, do que como inimigo. Ele te mantém protegida.
Ela era minha mãe e tinha medo que eu terminasse igual ao Giovanni.
Riccardo já matou por menos, ele podia facilmente acabar comigo quando
o chamei de assassino e fiz uma série de acusações, até ameacei pedir o
divórcio fora da máfia caso ele se recusasse.
Mas minha mãe não devia saber disso.
O enterro passou em câmera lenta para mim. Fui empurrando com a
barriga as horas que restavam, escondendo-me dos olhares maldosos que
estavam aqui para me criticar. Se não fosse por Fabrizio e Alessandra, não
teria sobrevivido ao enterro do meu irmão.
Eu conseguia sentir de longe o olhar de Giulio queimando sobre mim.
Mesmo depois de ter me dito coisas horríveis, ele ainda estava esperando
uma brecha para se aproximar. Mas os soldados do meu marido invadiram o
local se colocando do meu lado para evitar acidentes.
Não duvidava nada que alguém tivesse dito a Riccardo sobre as fofocas no
velório.
No momento em que o caixão foi colocado dentro do jazigo, mamãe se
desesperou e se não fosse pelo presidente segurando-a, ela teria caído. Aos
poucos, Giovanni foi sumindo das nossas vistas, porém, nunca deixaria de
existir em nossas memórias.
Como verdadeiros irmãos vivemos momentos bons e ruins, sorrimos e
choramos, brigamos em alguns momentos, no entanto, nunca faltou amor.
Mas isso acabou, a luz se apagou e eu nunca mais verei meu irmão.
Fechei os olhos, beijei a rosa branca e a joguei lá dentro. Lágrimas de
tristeza queimavam meus olhos.
Assim que olhei para o lado, notei uma mulher grávida próxima de mim.
— Laura Guerrieri?
Assenti, ainda sem saber quem era ela. A mulher logo se apresentou como
Martina, informando que teve um caso com o meu irmão.
Olhei para os lados, verificando se alguém havia notado a presença dela,
porém, felizmente todos estavam distraídos.
— Também quero falar com Marta Bassi.
Segurei no braço dela e a levei para longe da multidão. Pedi aos soldados
do meu marido um pouco de privacidade.
Não demorou muito para minha mãe vir atrás de nós, para saber o que
estava acontecendo.
— Você tem que ser rápida — falei, enquanto olhava para o céu nublado.
— O que essa mulher quer? — Mamãe cruzou os braços.
A mulher enxugou as lágrimas.
— Estou grávida de Giovanni Bassi.
Quando a mulher jogou essa bomba, minha mãe quase caiu dura no chão.
Segurei-a pelo braço e a mantive de pé.
A mulher olhou para mim.
— Giovanni disse que se algo acontecesse com ele, eu deveria procurar
pelas senhoras... Laura Guerrieri e Marta Bassi.
Mamãe olhou para mim, ela estava completamente pálida. Mamãe olhou
novamente para a mulher.
— Onde vocês se conheceram?
— Conheci seu filho no clube. Eu trabalho lá.
— Jesus! — Mamãe pôs a mão sobre o peito. — Você está dizendo que
meu filho engravidou uma...
— Não foi um caso qualquer, senhora Bassi. Seu filho e eu tínhamos uma
relação. Assim que engravidei, parei de trabalhar, pois descobriram que estou
esperando um filho de um traidor e me ameaçaram de morte. Desde então,
seu filho cuidava dos gastos. Tenho que me internar para que o bebê continue
crescendo saudável dentro de mim, pois estou sofrendo alguns problemas de
saúde por conta da gravidez não planejada.
— Ele nunca falou de você.
— Giovanni não me amava. Ele sempre deixou isso claro quando
começamos a ter um relacionamento. Dizia que sua falecida esposa era a
única mulher que ele amava e que só estava comigo por causa desse bebê.
Minha mãe começou a chorar. A chuva também começou a cair forte sobre
nossas cabeças.
Ninguém ia permitir que essa mulher desse à luz a um bebê de Giovanni.
A mulher se aproximou mais, pediu licença para segurar a mão da minha
mãe. E quando ela permitiu, Martina a segurou firme.
— Eu amava o seu filho. Apesar de tudo eu o amava muito. Esse bebê é
seu neto. Giovanni estava fazendo de tudo para nos manter seguros.
— O que você quer de mim? — perguntei.
— Giovanni não está mais aqui, então terei que voltar a trabalhar se a
senhora não me ajudar. — Martina acariciou a barriga. — É um menino.
— Um menino? — Minha mãe piscou confusa enquanto tocava a barriga
da mulher.
A mulher concordou.
— Um menino.
— Como posso ter certeza de que esse bebê é mesmo do meu filho?
— A senhora pode fazer um DNA, não vou ficar ofendida. Não estou
fazendo isso porque quero, senhora Bassi, mas por não ter outra escolha.
Minha gravidez é complicada e se eu não tiver tratamentos adequados posso
morrer antes de completar nove meses. E sem contar que fui jurada de morte
pela famiglia. Giovanni estava me mantendo escondida todo esse tempo, mas
estou sozinha agora.
Eu me afastei, era muita informação para minha cabeça.
— Por que resolveu sair do esconderijo? — perguntei, e a mulher me
olhou com os olhos cheios de lágrimas.
— Estou sendo caçada feito um animal. Só me restou aparecer aqui e
contar a verdade. Foi a única oportunidade que tive de encontrá-las, se não
fosse hoje, não seria nunca mais.
A mulher tinha razão. Toquei a barriga dela e senti o bebê de Giovanni
mexer.
Mamãe com as mãos trêmulas segurou a mão da mulher.
— Não sei o que fazer. Como posso ajudar?
A moça tirou um cartão rosa da bolsa e entregou para minha mãe, em
seguida mamãe também entregou um cartão com o seu número de telefone. A
mulher se despediu da gente e saiu caminhando com dificuldades pela rua.
Nesse momento, pude perceber que a mulher estava sendo seguida por alguns
homens da famiglia.
Mamãe desmoronou na grama molhada pela chuva, chorando muito
enquanto segurava o cartão da mulher contra o peito.
— Mãe. — Abaixei e tentei levantá-la do chão.
Ela segurou meu rosto com as duas mãos. Seus olhos estavam arregalados
como quem acabara de ver um fantasma.
— Giovanni está querendo voltar para os meus braços. Você entende,
Laura?
— Não. Como assim?
— Seu irmão está voltando como meu neto. Deus está vendo meu
desespero e mandou essa criança para me salvar. É o Giovanni, tenho certeza.
Fiquei completamente estarrecida. Se minha mãe não conseguisse criar
esse bebê, ela novamente iria perder a razão de viver.
— Eu preciso salvar esse bebê, Laura. — Mamãe me olhou.
E eu precisava ter uma conversa delicada com Riccardo, iria pedir que ele
protegesse a mulher grávida e depois que concedesse a guarda da criança para
minha mãe.
O grande problema seria convencê-lo a concordar com isso, pois meu
marido era irredutível quando se tratava da máfia.
Mas eu já tinha o não, portanto, iria correr atrás do sim.

A chuva continuou forte. Estava dentro do carro indo para casa, sendo
acompanhada por cinco SUVs. Eu estava completamente perdida em
pensamentos e me debulhando em lágrimas, enquanto me perdia na paisagem
sombria do caminho da minha casa nova.
A casa era completamente linda, essa não tinha nada de exagerado como as
outras. Continha cômodos suficientes e que iríamos aproveitar com mais
frequência.
Eu também havia pedido ao meu marido que me deixasse cuidar da
decoração, já que eu queria tudo do meu jeito.
A casa continha um jardim amplo, que eu poderia usar para fazer
plantações... deixá-lo florido com rosas de todos os tipos. Ter meus animais
de estimação correndo livremente.
Apesar de estar acostumado com mansões de luxo, meu marido não
interferiu na minha escolha. Ele apenas mandou que construíssem cômodos
seguros e secretos caso ocorresse uma invasão.
De resto, conseguiria cuidar da casa e da organização sozinha. Eu queria
ser útil em alguma coisa além de ficar em casa gastando o dinheiro do meu
marido em coisas supérfluas.
Mas naquele momento, eu carregava comigo a incerteza se minha vida
estava do mesmo jeito que deixei.
Quando cheguei em frente ao portão e vi a casa completamente apagada,
chorei ainda mais. Os soldados que estavam cuidando da segurança abriram
o portão e permitiram nossa entrada.
Respirei fundo e tirei as chaves da bolsa, enquanto um soldado aguardava
do meu lado segurando um guarda-chuva sobre minha cabeça que me
protegia parcialmente.
Mal conseguindo enxergar a fechadura, devido à chuva e lágrimas que
estavam atrapalhando minha visão. Testei a primeira chave e ela não girou. A
segunda nem sequer entrou na fechadura, e as outras também não
funcionaram.
Ele havia trocado as fechaduras de casa? Ele estava me expulsando de sua
vida? Meu Deus!
O vento gelado bateu contra meu corpo e devido a minha roupa estar
molhada, tremi de frio. Não bastava eu ter perdido meu irmão de forma tão
cruel, ali eu estava sendo devidamente abandonada com um bebê no ventre.
Limpei as lágrimas e continuei tentando abrir a porta.
— Senhora Guerrieri... — O soldado segurou meu braço. — A senhora
está nervosa. Não é melhor tocar o interfone?
A chuva estava ficando cada vez mais forte, então entendi que o soldado
estava querendo ir para um abrigo se esquentar.
— Você pode ir — ordenei.
Quando dei um passo à frente para tentar me abrigar debaixo de uma calha,
fiquei tonta e meu salto deslizou no piso, fazendo com que eu escorregasse
pelos degraus.
— Jesus! — O soldado me levantou do chão. — A senhora está bem?
Assenti.
Verificando que foram somente dois arranhões no cotovelo e um no joelho,
o soldado tocou o interfone.
— Estou indo! — A voz grossa que gritou de dentro da casa fez com que o
soldado tomasse a posição séria, endireitando os ombros.
Quando Riccardo abriu a porta, o olhar dele caiu diretamente em mim,
verificando o estado deplorável no qual eu me encontrava.
Diferente de mim, meu marido estava vestindo um roupão macio de cor
preta, seus cabelos estavam molhados e o cheiro de sabonete tomou o
ambiente.
Meu marido desviou o olhar para o soldado e o dispensou. O homem
agradeceu e saiu do local sem olhar para trás.
E antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Riccardo deu meia-volta e
sumiu pelo corredor. Engolindo o choro, entrei em casa, tomando cuidado
para não sujar o tapete caro que eu havia escolhido com tanto carinho.
Esse momento era para ser o mais feliz das nossas vidas, porque meu
marido estava finalmente fora de perigo e eu queria festejar minha gravidez
junto com a mudança para a casa nova.
Mas nada disso aconteceu.
Assim que alcancei o corredor, chorei ainda mais quando notei meu
marido na cozinha, ele estava completamente indiferente ao meu sofrimento.
Eu estava muito triste por isso.
Aproximei-me dele com cautela e parei ao seu lado.
Riccardo estava preparando lanches, ao julgar pelas vozes animadas que
vinham lá de cima, poderia dizer que ele estava mantendo os meninos
entretidos.
Coloquei as chaves sobre o balcão.
— Você trocou a fechadura? — Segurei no seu pulso, com isso reparei que
ele estava usando um lindo relógio de ouro, e também nossa aliança de
casamento.
Pelo menos ele ainda usava aliança.
Riccardo não parou o que estava fazendo, pelo contrário, agiu como se eu
não estivesse prostrada do seu lado e disposta a conversar.
— Trocou? — insisti.
Riccardo olhou para mim, e quase perdi o ar com seu escrutínio.
Nesse momento, ouvimos os passos das crianças descendo as escadas. Eles
riam e gritavam animados, chamando pelo pai. Isso quebrou o encanto,
Riccardo tentou passar por mim, mas continuei segurando-o pelo pulso e
impedindo que ele se afastasse.
Ele olhou impaciente para mim.
— Laura... agora não!
Mas havia outra coisa em seu olhar que me deixou ainda mais triste. Ele
estava decepcionado comigo.
— Quando?
Lorenzo e Vincenzo chegaram à cozinha e acabaram presenciando o drama
entre mim e o pai deles. O que não agradou Lorenzo, meu filho cruzou os
braços e franziu a sobrancelha, enquanto me olhava cheio de acusações.
— Mãe! Será que você pode soltar o braço do meu pai? — Lorenzo
ordenou. — Estava muito bom antes de você chegar e estragar tudo. Não
precisamos de você aqui. Você só arruma confusão.
— Lorenzo... — Riccardo o advertiu muito sério.
Os meninos sentaram à mesa e foram comer o lanche, que o pai deles havia
preparado, enquanto eu fiquei ali de pé olhando para eles sujos de tinta e
tentando entender o que eles estavam fazendo para estarem tão animados
desse jeito.
Limpei a garganta engolindo o choro. Quando voltei meu olhar para
Riccardo, ele já estava olhando para mim de um jeito afetuoso. Então, dei-me
conta que ainda estava segurando o pulso dele.
— Tome um banho. — Ele enxugou minhas lágrimas com o polegar. —
Depois a gente conversa. Estarei aqui quando você estiver pronta.
Assenti e fui para o nosso quarto.
Quando entrei debaixo do chuveiro quente, chorei tudo que tinha para
chorar e deixei que a água levasse embora meu sofrimento, ódio e tudo de
ruim. Então, poderia conversar com o meu marido de coração aberto, talvez
entender os motivos dele.
Após sair do banho, enxuguei-me e fui para o closet vestir algo. Como o
aquecedor estava ligado, resolvi vestir uma blusa do meu marido e uma cueca
boxer dele, que ficava parecendo um short de academia em mim.
Voltei para a cozinha, onde meus filhos e meu marido estavam. Dessa vez,
havia um lugar para mim na mesa, também havia um copo cheio de vitamina
e um sanduíche caprichado. Meu marido me olhou da cabeça aos pés e quase
derrubou o copo de suco.
Sentei-me com eles e fiquei em silêncio. Aquele era um momento em
família e não queria mais estragar. Apesar de tudo, meus filhos adoravam o
pai deles e poderiam facilmente se virar contra mim, caso eu falasse algo na
frente deles.
— Mãe. — Vincenzo me chamou.
Levantei a cabeça para olhar meu filho, todo sujo de tinta e imaginando o
trabalho que teria para tirar aquilo dele.
— O papai deixou a gente pintar o nosso quarto.
Meu Deus.
— É verdade. — Lorenzo respondeu animado enquanto bebia o suco. —
Estamos deixando do nosso jeito. Meu pai é o máximo, ele não fica o tempo
todo enchendo o saco.
— A senhora quer ir ver? — Vincenzo levantou da cadeira e me estendeu a
mão.
Eu não estava acompanhando o ânimo deles. Não estava com vontade de
interagir com eles, justamente para não estragar suas expectativas.
Riccardo chamou a atenção de Vincenzo.
— Hoje não, filho. Amanhã você mostra.
— Mas, pai...
— Hoje não. — Riccardo continuou firme. — Vão para o quarto de
hóspedes tomar banho, depois cama. Amanhã a gente continua.
Lorenzo terminou de tomar o suco e se levantou da cadeira. Ele se juntou a
seu irmão e os dois subiram a escada, no caminho pude ouvir meu filho mais
velho sussurrando para o irmão mais novo:
— Eu te avisei que nossa mãe ia estragar tudo quando chegasse. Eles vão
brigar.
Fiquei sem palavras. Eu poderia chamar a atenção do meu filho mais
velho, mas fiquei com receio de que isso apenas complicasse a situação. Já
que eles estavam ali em um momento feliz com o pai, na cabecinha deles eu
estraguei o momento, o que não era totalmente mentira.
Fechei os olhos e respirei fundo.
No momento em que os abri, fiquei completamente vulnerável com a
forma que o meu marido estava olhando para mim. Eu não disse nada, as
palavras ficaram presas na minha garganta e tudo que fiz foi me jogar nos
braços dele. Sentei-me no seu colo e chorei tanto quanto podia, perdendo a
noção do tempo e de quem eu era.
Riccardo me abraçou mais forte.
— Vamos conversar.
Assenti. Fui deixando ele me guiar pela casa. Achei que íamos conversar
no escritório, mas ao contrário disso, fomos parar no nosso quarto, mais
precisamente na nossa cama confortável.
Riccardo se deitou primeiro e me puxou para ficar em cima dele.
Continuamos em silêncio, eu curtindo os dedos dele sobre os fios do meu
cabelo, proporcionando-me o carinho que me fazia relaxar, enquanto eu
tentava me acalmar um pouco.
— Por que você fez isso com Giovanni? — Chorei ainda mais me
lembrando da imagem de Giovanni adolescente.
— Eu não fiz isso para te magoar.
No fundo, eu sabia disso. Riccardo sempre foi impecável quando se tratava
da máfia.
— Mesmo assim... ele era meu irmão.
— Já fiz muito pior e por menos razão. Giovanni me enfrentou, jamais
poderia permitir que ele saísse vivo. Por sua causa eu permitir que ele tivesse
um enterro digno, em outros tempos teria jogado o corpo dele para os porcos.
— Eu sei. — Olhei dentro dos olhos dele, captando a mensagem que eles
transmitiam. Ele estava sendo sincero. — Desculpe por ter falado aquelas
coisas. Eu não...
Ele me interrompeu:
— Somente dessa vez, devido ao seu valor para mim... Eu vou esquecer as
suas grosserias.
— Obrigada... eu amo...
Ele pôs o dedo sobre os meus lábios, calando-me e depois colocou meu
cabelo delicadamente atrás da minha orelha. Apesar de o carinho, seu olhar
era sombrio e cheio de advertência.
— Contanto que você ponha-se no seu lugar e nunca mais questione
minhas decisões, nós ficaremos bem.
Uma porrada bem-dada com delicadeza, mas com advertência. Com
sabedoria Riccardo me passou o seu recado.
— Você trocou as fechaduras da nossa casa?
Ele negou.
— Você que se confundiu. Levou as chaves da sede da máfia com você,
fiquei sem trabalhar hoje por causa disso.
Arregalei os olhos.
— Uh! Você deveria ter mandado alguém pegar.
— Não tinha necessidade.
Beijei-o, acabando de vez com o clima tenso que havia se infiltrado entre
nós. Giovanni sempre ficaria gravado na minha memória, mas também não
podia mais fazer nada para mudar essa situação. Minha vida continuava, tinha
que vivê-la como se fosse o último dia.
Riccardo retribuiu o beijo. A língua dele entrou na minha boca cheia de
exigências. Fiquei louca. Cada vez que os nossos lábios se tocavam, o tesão
aumentava.
O beijo dele estava me deixando mole e me fazendo perder a noção do
tempo, minha boceta já estava em chamas. A mão dele entrava nos meus
cabelos e descia para o meu pescoço, apertando-o levemente, enquanto
nossas línguas se enroscavam uma na outra.
A mão assanhada dele já estava entre minhas pernas, pressionando meu
ponto inchado, depois subiu para os meus cabelos e os puxou com força para
trás, expondo meu pescoço para ele chupar, morder e fazer o que quisesse.
Ele tirou minha roupa, depois fez o mesmo com a sua.
Eu gemi quando os seus beijos desceram para os meus seios, mordendo e
lambendo, fazendo com que os bicos ficassem rígidos de tesão. Meu marido
tinha o dom de me deixar anestesiada, à mercê dos desejos dele.
Riccardo continuou descendo até chegar nela e ficou completamente
fascinado, quando percebeu que estava toda melada para ele. Abriu bem
minha boceta e deu uma lambida longa, quase tive um infarto com a sensação
da língua macia dele no meu clitóris.
Começou a lamber e chupar ao mesmo tempo, colocando dois dedos
dentro da minha intimidade. Essa sensação fazia com que minha visão
ficasse turva, por conta do tesão surreal que ele causava em mim.
Meu corpo tremia e minha boceta pulsava na boca dele. Meu marido me
chupava muito gostoso.
Continuou fazendo sexo oral em mim, chupando e batendo com a língua
em cima do meu clitóris sensível e carente, às vezes ele também a enfiava
dentro da minha boceta e no meu ânus.
Eu estava quase explodindo. A pressão que essa sensação causava no meu
corpo estava me tirando de órbita.
Meu clitóris estava mais inchado e sensível, à medida que ele lambia,
podia sentir cócegas no meu ventre com a vontade de gozar se aproximando.
Com o dedo médio, Riccardo acertou meu ponto G e foi estimulando-o. O
orgasmo veio feito um vulcão em erupção, tomando meu corpo e fazendo os
músculos da minha boceta latejar forte. Gozei na boca do meu marido, com
isso perdi completamente a sanidade quando ele lambeu tudo.
— Eu vou morrer — gritei, sentindo meu corpo pegar fogo.
Fiquei completamente mole.
Meu marido ficou sobre mim e encaixou o pau na minha boceta melada,
empurrou fundo até o final e depois tirou. Pensei que ele fosse meter forte e
me comer feito um louco no cio, como sempre fez para saciar nossa vontade.
Mas, ao contrário disso, ele meteu devagarinho, sem pressa e me
preenchendo aos poucos.
Ele queria me enlouquecer ou estava me punindo.
— Mais forte — implorei.
— Você está grávida. Não posso perder o controle — debochou.
Ele continuou metendo bem devagar, estava muito empolgada. Minha
boceta encharcada de tesão, então rolei o quadril para frente a fim de levar o
pau dele mais fundo e também para provocá-lo.
Minhas pernas estavam trêmulas de tesão. Estava querendo gozar, lágrimas
de dor e tesão escorriam nas minhas bochechas.
— Eu quero gozar. Mete com força — gritei. — Mostre o demônio que
existe em você. Me faça gozar novamente. Por favor — implorei,
desesperada.
Só podia estar ficando doida mesmo.
Riccardo ergueu minhas pernas, prendeu minhas mãos no colchão e meteu
forte, com tudo. O som das suas bolas batendo na minha bunda e os dedos
dele estimulando meu clitóris, fez-me gritar novamente de tesão quando uma
pressão tomou meu ventre.
Eu ia morrer.
Conforme ele ia me fodendo nessa posição, sentia meu corpo tremer. Pôs
uma mão sobre minha boca, abafando meus gritos enquanto, e a outra puxava
meu cabelo, enquanto continuou me fodendo sem dó. O pau dele estava todo
lambuzado do meu prazer, deslizando com facilidade, indo cada vez mais
forte e me empurrando para outro orgasmo.
— Ah! Isso! — gritei, completamente ensandecida.
O pau dele estava indo bem fundo e causando uma dor gostosa. Minha
cabeça parecia que ia explodir devido à pressão.
Ele bateu fundo e ficou parado por um tempo beijando minha boca e
chupando meus seios, logo em seguida começou a meter com mais força,
arrastando a cama com a pressão das estocadas. Apertei a bunda dele e abri
mais minhas pernas, depois arrastei minhas unhas pelas suas costas largas.
Estava delirando, entrando em transe e quase gozando novamente quando de
repente... escutamos batidas à porta.
— Mãe... Pai!
Congelamos.
Levei a mão sobre a boca a fim de evitar outro gemido alto, principalmente
porque o pau do meu marido ainda estava dentro de mim, fazendo-me
contorcer.
— Puta que pariu! — Riccardo praguejou.
A respiração dele estava acelerada. As batidas continuaram firmes.
— Mãe...
Limpei a garganta. Riccardo continuou se movendo lentamente e chupando
meu pescoço.
— O que foi, filho?
— Você estava gritando. Está tudo bem aí?
Senti meu rosto esquentar de vergonha.
— Está... Está tudo bem.
— Tá bom, mãe — meu filho respondeu.
Quando tivemos certeza de que não havia mais ninguém na porta, Riccardo
ligou a televisão no volume máximo e continuou metendo com força na
minha boceta, batendo nela sem pena alguma, causando uma sensação
maravilhosa de formigamento.
Minha boceta pulsava forte em volta do pau dele, fazendo um líquido
incolor sair de mim, molhando-nos e todo o lençol.
— Grita mais. — Ele mordeu o lábio, puxou meu cabelo e bateu
levemente no meu rosto. — Cachorra!
— Riccardo...
— Era isso que você queria? — rosnou enquanto metia tudo sem dó,
socando as bolas na minha bunda. Rasgando-me ao meio e me levando para
outra dimensão.
Dessa vez, tive que segurar os gritos, então enfiei o rosto no vão do
pescoço do meu marido e deixei um chupão enorme, para quem quisesse ver.
Estava literalmente subindo pelas paredes.
— Isso, Laura — gemeu. — Caralho!
— Goza em mim, amor — pedi.
Ele bateu mais forte, em um ponto sensível que ele conhecia bem e que me
fazia perder a noção. Quando o orgasmo me atingiu novamente, achei que ia
desmaiar. Já não tinha mais forças para continuar acordada e nem transando.
Riccardo gozou minutos depois, trincando o maxilar e sofrendo. Fiquei
completamente fascinada com essa visão do chefe gozando.
Senti-me totalmente realizada por fazer esse homem insaciável gozar.
Não era fácil ter um homem desse naipe como marido.
Rolei para cima dele de novo e novamente nos beijamos, nossas línguas se
conectavam de forma única, a mão dele na minha nuca me puxando para
mais perto, aprofundando o beijo. Eu já sabia onde iríamos terminar se eu não
parasse. Riccardo já estava duro de novo, e dessa vez ele com certeza iria
querer comer meu buraco mais apertado.
Eu estava exausta, precisando descansar.
Meu marido me olhou com os olhos de águia, avaliando cada expressão
minha enquanto seus dedos iam acariciando minhas costas.
— Eu te amo. — Sorri.
Quando deitei minha cabeça no vão do pescoço dele e fechei os olhos, foi
um caminho sem volta para a escuridão.
— Também te amo, Laura.

Quando acordei pela manhã, estava sozinha na cama. Tudo estava girando
à minha volta e meu estômago embrulhado. Corri até o banheiro, abri a tampa
do sanitário e vomitei.
Quando pensei que o enjoo havia passado, ele voltou com tudo fazendo
com que eu vomitasse novamente.
Com as pernas trêmulas, levantei-me com cuidado e fui escovar os dentes,
também aproveitei para molhar o rosto e pentear o cabelo. Também passei
um pouco de maquiagem para cobrir o chupão no meu pescoço, pois os
meninos iriam me questionar.
Minha aparência estava horrível, completamente pálida. Esse bebê estava
acabando comigo.
Assim que saí do banheiro, topei com o meu marido todo elegante saindo
do closet, usando um paletó risca de giz, relógio prata e um perfume
masculino que fazia com que as pessoas virassem a cabeça para olhar. Ele
estava impecável.
Olhei-o da cabeça aos pés e fiquei com raiva. Por que ele tinha que se
arrumar tanto para cuidar dos negócios?
Às vezes, eu achava que Riccardo e seus quase dois metros de altura era
muita areia para o meu caminhãozinho furado.
— Bom dia. — Ele beijou minha testa.
Tentei sorrir, mas falhei.
— Você está indo encontrar Francesca?
Ele levou um susto quando toquei no nome da ex-amante. Foi um susto
sútil, mas que foi possível perceber.
— Quem te disse isso?
— Seu ex-sogro. Ele me atormentou o velório inteiro. E também disse que
eu não deveria chorar por Giovanni. Acho bom você dar um jeito nele...
Ele me olhou sério antes de responder.
— Filho da puta!
— Está irritado por ele ter me revelado sobre a Francesca?
— Ele não tinha autorização pra chegar perto de você.
— Por que você deixou que o seu filho desse o nome da sua amante para a
cobra de estimação dele?
— Ex-amante. Passado. Francesca é um nome comum. Então não vi
motivos para implicar. Lorenzo é só uma criança.
Aproximei-me dele.
— Você está muito elegante para quem vai apenas cuidar de negócios.
Não acha?
— Eu sempre gostei de me vestir assim.
Cruzei os braços e bati o pé no chão, enquanto olhava para ele.
— Você está indo se encontrar com ela.
Ele abriu a boca.
— Laura, essa mulher faz parte do passado.
— Não gosto da ideia de você se encontrar com uma mulher que fez parte
da sua vida.
Ele segurou minha cintura e me puxou para mais perto. Aproveitei para
reparar na gravata dele, e se ela voltaria amassada mais tarde. Também olhei
o belo chupão que deixei em seu pescoço.
— O pai dela tem negócios comigo. E outra, não sou nenhum garoto
imaturo. O dia que eu achar que você não é mais suficiente, será a primeira a
saber.
— Está me ameaçando?
— Não, querida. Só estou dizendo que não tenho motivos para mentir.
Concordei mesmo discordando internamente.
— Eu vou te ligar toda hora, para ter certeza de que você não está com ela.
— E eu vou te atender.
Mordi os lábios.
— Me empresta o seu cartão de crédito?
Ele riu de lado e tirou a carteira do bolso, rapidamente tomei a carteira de
sua mão e vasculhei para ver se tinha algum preservativo ali. Como não tinha
nada, peguei o cartão para disfarçar e entreguei a carteira.
— Mais alguma coisa? — Ele abriu os braços, impacientes, já se irritando
com minha fiscalização.
— Tem outra coisa perturbando minha mente. É sobre Giovanni, ele se
envolveu...
Ele me afastou delicadamente.
— Uma coisa de cada vez, Laura.
— Me escuta. — Segurei o rosto dele entre as mãos.
— Caralho, Laura. — Ele se esquivou. — Eu não posso agora.
Não haveria problema nenhum se ele deixasse a criança viva. Além de
tudo, todos iriam concordar com o que o chefe decidisse.
— É importante.
— Tudo bem, mas não é um assunto para conversarmos agora.
— Depois não venha me acusar de esconder coisas de você.
Ele respirou fundo, olhou para o alto e fechou os olhos.
Quando ele ameaçou ir até a porta, eu o segurei pelo pulso.
— Que diabos! — ele me olhou. — O que está acontecendo com você
hoje?
Não sei por qual razão, mas não queria que ele saísse de casa. Sentia-me
assim desde que ele se sentiu mal e entrou em coma, também me sentia
insegura por causa da gravidez.
Meu corpo estava mudando.
Riccardo já estava soltando faísca pelos olhos. Então, percebi que não iria
adiantar ficar prendendo ele comigo, isso só iria irritá-lo mais.
— Pensei que você iria tomar café comigo e as crianças.
— Você está cansada de saber que não como nada pela manhã. Mas
chegarei antes do jantar.
— Está certo. Só estava tentando te manter em casa. — Abracei-o forte, e
ele retribuiu me segurando pela cintura e me mantendo contra o seu peito
forte. — Essa gravidez está me deixando péssima. Eu quero muito esse bebê,
sonhei muito com ela, mas estou me sentindo muito sozinha.
Eu sempre dizia que era ela, porque queria que Riccardo se acostumasse
com a ideia de ser pai de uma menina.
— Você não está sozinha. Se precisar de qualquer coisa é só me ligar —
ele sussurrou contra meu ouvido. — Confie em mim, Laura, eu não vou te
trair.
Naquela manhã, os olhos dele estavam tão verdes que me fez lembrar dos
meus sonhos. Eu sempre sonhei com Riccardo, muito antes de conhecê-lo,
em alguns sonhos eu conseguia ver apenas os olhos intensos. Ultimamente,
estava sonhando com a nossa filha, sentia que ela queria vir ao mundo, mas
alguma coisa a impedia.
— Adoro quando você me olha assim. — Puxou-me para um beijo de
língua, quase me tirando do ar. A língua dele mergulhou na minha boca e foi
explorando tudo de mim, arrancando-me suspiros. As mãos atrevidas dele
estavam em toda parte do meu corpo, por pouco não terminamos na cama.
Nós nos beijamos apaixonados, depois ele saiu do quarto deixando apenas
o gosto do seu beijo na minha boca e o cheiro do seu perfume, além da minha
calcinha molhada.
Então, fui tomar café com os meus filhos.
Antes, fui ao quarto deles ver a bagunça de ontem, e assim que entrei,
fiquei completamente deslumbrada com a obra de arte dos meninos.
Eu ri acariciando minha barriga.
Fabrizio e eu tínhamos decidido marcar a renovação de votos para esse
final de semana, o que não demoraria muito para acontecer.
Tínhamos que aproveitar a tranquilidade na máfia, e como estava tudo na
"paz", aproveitamos para organizar nossa festinha.
Eu queria algo íntimo, algo somente nosso. Por isso decidimos convidar os
mais chegados, depois iríamos viajar. Uma desculpa para termos uma
segunda lua de mel.
Mesmo que a pequena reunião fosse para poucas pessoas, não poderia
deixar de exigir que tudo estivesse impecável. Então, resolvi contratar uma
boa equipe de decoração e também um buffet para o número de pessoas
selecionadas. Seria uma cerimônia simbólica, para mostrar ao mundo que
vencemos os desafios e decidimos continuar caminhando juntos.
Pensando em tudo que vivi, nesse momento podia dizer que estava mais
madura e segura de mim. Não podia dizer que era uma vencedora, porque
ainda tinha muita coisa pela frente, a estrada era longa, mas poderia dizer que
estava no caminho certo.
Meu estômago estava se revirando de nervoso. Infelizmente, eu não
poderia contar com a ajuda das meninas, já que elas ainda estavam
enfrentando o luto, então só me restou cuidar de tudo sozinha e rezar para que
nenhum detalhe importante fugisse da minha memória.
Olhei-me no grande espelho e fiquei impressionada, fazia tempo que eu
não me achava tão bonita como estava me achando nesse momento. Meus
olhos estavam brilhosos e minhas bochechas coradas, meu corpo também
ganhou mais curvas e meu cabelo estava mais longo e mais brilhoso, com um
volume moderado. Desviei a atenção do espelho para olhar meu celular
tocando, informando que havia chegado uma mensagem de Fabrizio.
Ele estava me esperando no restaurante para acertamos os últimos detalhes
da nossa cerimônia. Era só falar em comida que minha barriga roncava feito
um motor velho, o que me preocupava muito..
Eu estava com uma semana de atraso menstrual, isso estava me deixando
muito ansiosa, pois qualquer sintoma estranho me fazia pensar em gravidez.
Peguei minha bolsa em cima da cama e fui para o estacionamento. Os
soldados me cumprimentaram com respeito e abriram a porta do carro para
que eu pudesse entrar.
O dia estava muito agradável. E assim que pisei dentro do restaurante,
pude observar meu marido bonito distraído, olhando o cardápio. Haviam
soldados por toda parte fazendo sua segurança, assim que me aproximei, eles
se afastaram um pouco para nos dar privacidade.
Fabrizio levantou a cabeça para me olhar, seus lindos olhos curiosos me
avaliaram da cabeça aos pés, causando-me um frio familiar no ventre.
Sorri.
Ele se levantou educadamente e puxou uma cadeira para mim.
— O que vai querer?
Você sem roupa.
— Lasanha.
— Vinho para acompanhar?
Estava tudo bem até ele mencionar o nome do vinho. O cheiro alcoólico de
uva me embrulhou o estômago.
— Água para mim.
Fabrizio ergueu a sobrancelha e chamou o garçom para anotar nossos
pedidos. Quando o homem se foi, meu marido segurou minha mão por cima
da mesa.
— Como você está?
— Muito ansiosa. Espero que a semana acabe logo. — Ri, e ele me
acompanhou.
Aproveitei para tirar de dentro da bolsa os papéis que continham o valor
total da festa e os serviços prestados. Esse seria o momento exato para
discutirmos sobre as coisas.
— O que achou? — perguntei, ansiosa.
— Não entendo muito de festas. Por que você não chamou alguma amiga
da máfia para te ajudar?
Segurei a mão do meu marido.
— Porque eu quero que esse momento seja só nosso. Além do mais, Anna
está com a gravidez muito avançada. Laura também está grávida.
— Laura pode ajudar e jamais vai negar ajuda. Ela gosta de decorar festas
e tem muitas amigas dentro da máfia. Isso fará com que você volte a ser
influente. Você precisa parar de se esconder, Alessandra.
— Você está certo.
Ele assentiu, começamos a conversar sobre a cerimônia que aconteceria no
jardim da nossa casa. Conversamos sobre outras coisas e rimos bastante sobre
amenidades. Qualquer um que olhasse para nós, diria que éramos um casal de
namorados.
E assim que os nossos pedidos chegaram, paramos para comer.
Passamos a tarde toda juntos, passeando pela praia, conversando e dando
boas gargalhadas da vida. E antes de irmos para casa, pedi ao Fabrizio que
me levasse em uma farmácia para comprar um teste de gravidez, sem que ele
soubesse.
Estava anoitecendo quando chegamos em casa. As crianças já haviam
jantado e a babá os levou para o quarto. Fabrizio foi para o escritório resolver
burocracias da máfia, enquanto fui tomar banho.
Já que o meu marido estaria ocupado por pelo menos duas horas, iria
aproveitar para fazer o teste de gravidez. Se o resultado for positivo, teria que
contar para ele.
Tirei a roupa rapidamente e fiz xixi dentro do copinho que vinha dentro da
caixinha, logo em seguida mergulhei no teste e esperei o tempo determinado.
Foram os cinco minutos mais demorados da minha vida. Quando apareceu
a segunda linha, fiquei completamente chocada.

Espreguicei-me na cama, contemplando o alvorecer através da janela do


nosso quarto. Levantei-me com cuidado e fui escovar os dentes.
Fabrizio ainda estava deitado preguiçosamente na cama, em um sono
profundo.
Peguei meu celular em cima da mesinha e fui para o escritório de Fabrizio,
sem fazer muito barulho. A ansiedade estava me corroendo por dentro, tinha
que pedir ajuda a alguém, do contrário eu iria pirar de novo.
O número do celular de Laura foi o primeiro que me veio à mente. Então,
sem pensar muito, disquei o número dela e fiquei aguardando ansiosa. Para o
meu desespero, a voz que soou do outro lado da linha não foi a da minha
amiga, mas sim a voz mal-humorada do meu cunhado.
Fiquei em silêncio, perdida, sem saber se desligava ou se pedia para falar
com ela.
Estava grávida. Meu parto seria tão cruel quanto o primeiro?
— Laura está aí?
— Só um minuto. — A voz dele me puxou de volta para a realidade, e
quando me dei conta, estava tremendo.
— Obrigada.
As palavras saíam da minha boca sem o meu consentimento. Não demorou
muito para minha amiga falar comigo. Eu me debulhei em lágrimas.
— Alessandra, está tudo bem?
Eu comecei a chorar ainda mais.
— Onde você está? — perguntou, preocupada.
— Em casa. Fabrizio ainda está dormindo.
— O que ele fez dessa vez?
Respirei fundo, tentando me acalmar. Ainda não sabia como estava me
sentindo em relação a isso.
— Não fez nada. Ontem eu fiz um teste de gravidez e... deu positivo.
Laura também respirou fundo, parecendo se acalmar.
— Isso é maravilhoso — comemorou. — Você pode comprar um
sapatinho e presenteá-lo no sábado, antes da cerimônia. Dio, Fabrizio vai
ficar muito feliz.
— Você não está entendendo. — Mordi os lábios. — Estou com medo do
parto, do que as pessoas vão dizer.
— Alessandra... As coisas estão diferentes agora, Fabrizio e você estão
recomeçando. E se ele concordou em dar uma segunda chance ao casamento
de vocês, ninguém tem que dizer nada.
— Essa gravidez me deixou insegura.
Ela riu.
— É normal. Olha, tenho que terminar de alimentar as crianças. Mas vou
ver se o Riccardo me deixa na sua casa antes de ir para o trabalho. O que
você acha?
— Perfeito.
— Então, até daqui a pouco.
— Estou te aguardando.
Sim, dessa vez as coisas iriam ser diferentes.
Acordei assustado com o barulho do meu telefone tocando. Olhei para o
lado e dei falta da minha esposa na cama.
Peguei o telefone, enquanto me levantava preocupado com as ligações
perdidas do meu irmão. Ele nunca me ligava nesse horário a menos que
houvesse algum imprevisto. Isso me preocupou muito, pois tinha uma viagem
marcada com Alessandra e as crianças para esse final de semana.
Riccardo sempre foi autossuficiente. Por isso fiquei preocupado com as
chamadas perdidas, pois algo muito sério devia estar acontecendo.
Emiti um alerta para os meus soldados barrarem a entrada de qualquer um
na minha casa. Também exigi que eles ficassem de olho ao redor. Eu não ia
permitir que minha família corresse perigo novamente.
Retornei a ligação e fui escovar os dentes.
— Fala, Fabrizio. — No terceiro toque ele me atendeu.
— Você me ligou. Aconteceu alguma coisa?
— Nada grave. Você vai me acompanhar na reunião com o governador e
sua filha. Você vai ficar à minha disposição hoje, no lugar do Matteo.
— Outra reunião?
Eles solicitaram uma reunião exclusiva com Riccardo e até aquele
momento meu irmão não tinha confidenciado nada a ninguém. E nesse
momento, tudo indicava que eles solicitaram outra.
— São só negócios.
— Certo. Vou vestir um terno e comer alguma coisa. Te encontro na sede
da máfia.
— Ótimo.
Fiz a barba e depois tomei um banho demorado. Escolhi um terno escuro,
ideal para qualquer ocasião. Usei meu perfume favorito e um relógio.
Depois do ritual de todas as manhãs, fui procurar minha esposa pela casa e
a encontrei tomando café da manhã com as crianças no jardim.
Estava curtindo a forma que Alessandra lidava com minha filha, elas
estavam cada dia mais conectadas. Dei um beijo em cada um e depois fui me
sentar para tomar meu café, tinha poucos minutos para ficar com minha
família, então precisava aproveitar bastante.
Alessandra estava muito animada, atrapalhando-se facilmente com os
talheres. Mal tive tempo de segurar a jarra de suco, quando ela bateu com o
cotovelo na hora que foi atender o celular, fazendo o líquido derramar na
toalha branca.
— Me desculpe. — Ela pegou um guardanapo para tentar, inutilmente,
limpar o tecido manchado.
— Está tudo bem. — Segurei a mão dela.
— Estou muito ansiosa para o final de semana. Laura está vindo para cá,
ela vai me ajudar com os preparativos.
— Que bom.
O sorriso dela se desfez quando ela olhou para nosso filho brincando com a
comida no prato.
— Depois vou levar o Alessandro ao médico.
O copo escorregou da minha mão, meu coração acelerou de forma
violenta.
— Nosso filho está perfeitamente bem.
Alessandra segurou minha mão com força.
— Fiquei muito tempo longe, então me deixe fazer algo pelo nosso filho,
confie em mim. Não precisa fingir, está tudo bem.
Era duro para mim admitir que meu filho era um pouco diferente das
outras crianças. Enquanto as outras crianças faziam bagunça e falavam
horrores pelos cotovelos, Alessandro sempre foi na dele e falava muito
pouco. Mas isso nunca interferiu no amor que sinto por ele, pelo contrário.
— Eu confio. — Segurei a mão dela de volta, apertando e mostrando que
estávamos juntos para o que vier. — Você é mãe, então faça o que achar
melhor. Estaremos juntos sempre.
A governanta chegou no jardim quebrando nosso momento para anunciar a
chegada de Laura. Então tive que me despedir da minha família e seguir para
mais um dia de trabalho.
Pelo menos com Laura em sua companhia, Alessandra ficaria bem.

Assim que cheguei à sede da máfia, deparei-me com muitos carros


alinhados na entrada, incluindo o carro de Riccardo e seus soldados.
Ajeitei o terno e fui para o escritório, onde iria acontecer a reunião.
Quando abri a porta, estavam todos sentados em seus lugares. E o que mais
me surpreendeu foi rever Francesca em um vestido vermelho. Eu amava
minha esposa, mas não era cego. A filha do governador era uma mulher
muito bonita e conseguia chamar a atenção por onde passava. Não era à toa
que alguns soldados ficavam distraídos com a presença dela.
Limpei a garganta e os cumprimentei.
O governador sempre saudoso, apertou minha mão mostrando seu sincero
respeito. Francesca apenas acenou com a cabeça, mantendo-se no seu lugar.
Ela tinha uma educação impecável.
Olhei para o meu irmão e esperei que ele desse início ao assunto. Também
vi que ele estava desconfortável com a presença da ex-amante, que não tirava
os olhos dele.
Alguns membros da máfia também estavam na reunião. Logo me dei conta
que se tratava de uma missão importante que envolvia o governador e a filha.
Riccardo ligou o telão e o rosto do cônsul tomou a tela. Ele era o marido de
Francesca, com quem teve dois filhos.
Em seguida, o rosto do filho do presidente apareceu na tela. Riccardo tirou
a imagem rapidamente de circulação e trincou o maxilar. Ele parecia estar
com tanto ódio, que por pouco não quebrou o controle com as mãos.
— Ignorem a segunda imagem. — Ajeitou a gravata.
O rapaz estava quase recebendo alta do hospital e, pelo que sei, Riccardo o
queria inteiro para tortura-lo até a morte.
Mas o foco da reunião não era o filho do presidente, então tratei de chamar
a atenção dele para mim.
— O que o cônsul fez de errado? — perguntei.
Eu entendia que Riccardo queria a cabeça do filho do presidente em uma
bandeja de prata, mas o Cônsul ainda era um mistério para mim.
O governador pôs a mão sobre meu ombro.
— Ele quase matou minha filha. — Apontou para a tela. — Esse
desgraçado manteve minha filha em cárcere privado por anos.
Francesca reprimiu o choro enquanto falava:
— Por isso nunca mais voltei a Sicília. Mas quando finalmente consigo
voltar, as coisas não são mais como antes. — Ela olhou para as fotos das
crianças na mesa e depois voltou a encarar meu irmão. — Seus filhos são
lindos.
Riccardo limpou a garganta.
— Não sei se vou poder ajudar com isso.
Francesca estava com os olhos cheios de lágrimas.
— Não tem espaço para nós dois nessa vida. Se ele continuar vivo, eu
morro.
Riccardo continuou olhando sério para ela.
— É melhor você pensar com calma.
— Estou cansada de pensar, Guerrieri. Esse inferno começou desde que ele
descobriu nosso caso. Mas ao invés de me dar o divórcio, ele preferiu me
torturar.
— O que aconteceu entre nós ficou no passado. Não vejo razão para trazer
esse assunto à tona.
— Mas ele não entende isso. Ele é muito ciumento.
Riccardo se voltou para o governador.
— É melhor você contratar outra pessoa para fazer esse serviço. As
pessoas na máfia vão pensar que mandei matar o cônsul para poder ficar com
a mulher dele.
Governador arregalou os olhos.
— Quem vai pensar isso?
Meu irmão continuava irredutível.
— Guerrieri, eu só confio em você para fazer esse serviço. Estou te dando
a minha palavra de honra que minha filha não vai interferir no seu casamento.
O problema é que aquele desgraçado tocou nela, ele quebrou todos os dentes
da boca dela. Minha menina passou por cirurgias gravíssimas e quase perdeu
a vida. Então, como pai, não posso mais permitir isso. Você entende?
O governador e outros políticos eram associados da máfia. Era troca de
favores entre eles e a máfia. Mas nenhum desses acordos poderiam ser dito a
terceiros ou desfeitos, do contrário eles seriam caçados até a morte.
— Posso colocar todos os meus bens à disposição da máfia: comércios
para lavagem de dinheiro — o governador continuou implorando. — O que
o senhor desejar. Por favor.
Riccardo ficou em silêncio pensando sobre o assunto.
— É um bom negócio — falei.
— Certo.
— Obrigada. — Francesca agradeceu e se levantou da cadeira para
cumprimentá-lo, mas ele manteve distância.
Por mais que Riccardo amasse Laura, Francesca era uma mulher muito
linda e extremamente desejável. O pau da gente muitas vezes cria vida
própria, então era sempre bom ficarmos longe da tentação.
— Agora preciso que saiam da minha sala, a reunião será exclusiva para a
famiglia.
O governador concordou e puxou a filha para fora da sala, ela foi sem
reclamar.
Assim que eles sumiram do nosso campo de visão, a reunião tornou-se
privada para membros da máfia. Então Riccardo apertou o controle do telão e
a cabeça decapitada de Giulio tomou a tela.
Todos ficaram chocados ao ver um membro importante da famiglia
decepado. Porém, mais do que isso, todos estavam curiosos para saber qual
erro ele cometeu para merecer esse destino.
Meu irmão parou em frente ao telão.
— Esse homem não faz mais parte da famiglia. Ele foi abatido como todo
traidor deve ser.
Ele deu continuidade ao discurso.
Riccardo manchou a imagem de Giulio perante a máfia o acusando de
passar informações para a máfia rival, incluindo-o diretamente na invasão de
Mattia à minha casa. Sendo assim, minha imagem permanece intacta na
famiglia.
Todos concordaram, eu inclusive.
Todos saíram animados da sala, dando por encerrada a reunião.
— Obrigado. — Bati no ombro dele. — Você já tinha tudo resolvido.
Ele me olhou.
— Nem tudo. Você vai ficar responsável pelo assassinato do cônsul. Você
vai organizar a missão ainda hoje. — Pegou a chave do carro em cima da
mesa.
— Qualquer um pode fazer esse serviço. Por que justamente eu?
— Preciso te manter ocupado. Pode colaborar?
Estreitei os olhos. Tinha dedo de Laura nessa história.
O que será que Alessandra está planejando?
— Tudo bem — concordei. — Agradeço mais uma vez por ter limpado
minha imagem. Espero que os garotos sejam bons líderes como você. Nossa
máfia está cada vez mais forte e cheia de aliados. Espero que Lorenzo e
Vincenzo mantenham assim.
Fomos juntos para o estacionamento que ficava em frente a sede. Antes de
entrar em seu carro, Riccardo se virou para mim.
— O governador vai passar o relatório da rotina do Cônsul. Me informe
quando estiver tudo pronto.
— Você não quis resolver esse caso por causa da Laura?
Ele assentiu e respirou fundo, completamente estressado.
— Por quê?
— A obstetra de Laura veio conversar comigo, a gravidez é de risco. Por
esse motivo, Laura jamais poderá saber que estou envolvido no assassinato
do marido da minha ex-amante.
— Laura deveria confiar mais em você. Mas, convenhamos, seu histórico
não ajuda em nada. Tadinha.
Ele continuou sério.
— Laura está com a Alessandra. Tenho certeza de que irão se divertir
muito hoje. E quanto a você? Aonde vai?
Ele colocou os óculos escuros e entrou no carro.
— No hospital ter uma conversa com o filho do presidente — respondeu,
cheio de raiva.
Debrucei-me na janela do carro dele.
— Quando toda essa merda acabar, vamos sair os três para comemorar a
gravidez de Laura e o nascimento do filho de Matteo. Matteo vai adorar a
ideia de sair com a gente.
Os irmãos Guerrieri. Ele concordou.
O carro dele saiu em alta velocidade.

Passei a tarde toda observando a rotina do cônsul. Ele tinha muitos amigos
importantes, então teria que simular um assalto para não chamar a atenção
para nós.
Essa era minha missão.
Observei as câmaras de segurança da casa dele, onde pude perfeitamente
planejar uma estratégia de invasão e que não chamasse atenção dos vizinhos.
Quando o relógio de parede marcou meia-noite em ponto, eu já estava com
tudo esquematizado para a invasão à casa, que aconteceria pela manhã
enquanto ele fazia seus exercícios no andar de cima na academia particular.
Momento exato da troca de turno dos seguranças.

Cheguei em casa muito tarde, sem fome alguma, mas muito cansado. Iria
aproveitar esse tempo que eu tinha para descansar um pouco.
Assim que entrei no meu quarto, deparei-me com minha esposa dormindo
preguiçosamente na cama. Ela vestia apenas uma camisola fina sem nada por
baixo.
Tomei um banho rapidinho e me deitei junto com ela, puxei o seu corpo
pequeno para perto de mim. Fechei os olhos exaustos e me preparei para
dormir. Não sei quanto tempo se passou, mas fui acordado por causa de uma
boca macia chupando meu pau.
Caralho. A melhor sensação do mundo era ser acordado desse jeito.
Alessandra engolia meu pau e o levava para o fundo de sua garganta, depois
sugava a cabeça sensível.
Minhas mãos já estavam tremendo de ansiedade, puxei o quadril dela para
ficar sobre meu rosto. Comecei a lamber a boceta dela enquanto ela chupava
meu pau.
Ela gemia gostoso enquanto minha língua deslizava em suas dobras
macias. Aproveitei para introduzir dois dedos na boceta dela e no ânus
apertado, a sensação da boca dela chupando meu pau e a boceta molhando
meus dedos e latejando em volta deles, deixou-me louco.
— Eu vou gozar, Fabrizio.
Eu também ia gozar se ela continuasse me chupando assim. Mergulhei
minha boca em sua vagina e chupei tanto quanto podia, fazendo do seu
líquido a minha melhor refeição. Não demorou muito para ela gozar na minha
língua, estremecendo de prazer.
Ela continuou me chupando de forma contínua, sugando tudo até a ponta e
depois me levando para o fundo da garganta. O orgasmo veio feito uma onda,
por isso gozei feito um louco na boca da minha esposa, que não desperdiçou
nada.
No final estávamos satisfeitos, e ela voltou a dormir preguiçosamente nos
meus braços.
Jesus, o que foi isso?
A missão foi bem-sucedida e o corpo do cônsul estava caído sem vida no
chão sobre a esteira ergométrica. Mais uma missão cumprida em nome da
máfia, estava orgulhoso por fazer parte dessa organização.
Tirei o celular do bolso para ligar para Riccardo. Eu deveria informar sobre
o sucesso da missão e encerrar meus serviços, pois eu iria viajar com
Alessandra nesse final de semana.
Ele atendeu num instante, como se estivesse esperando muito por isso. Eu
o entendia, ele queria resolver esse assunto antes que a situação se
complicasse com Laura.
— Missão cumprida. — Respirei aliviado.
— Agora preciso que você acompanhe o governador e a filha até o
aeroporto particular, certifique-se que eles vão entrar na porra do avião.
— Por quê?
— Fizemos nossa parte, agora quero eles fora de Sicília.
Concordei.
Riccardo estava literalmente os expulsando de Sicília para evitar mais
problemas. Era muito bom vê-lo zelando pelo seu relacionamento.
Ele estava fugindo da tentação.
— Certo. Onde você está? Gostaria de ir até você. Vamos sair para beber
alguma coisa.
— Vou mandar a localização por mensagem.
Ele desligou o telefone.
Logo chegou a mensagem com a localização. Um hospital no sudeste da
Itália.
Por qual motivo ele estaria no hospital?

O tempo estava instável em Sicília, ventando muito.


Assim que pisei no aeroporto acompanhado dos meus soldados, notei que
o governador e sua filha já estavam aguardando perto do jatinho particular
deles, atrás deles havia duas crianças pequenas. O menino aparentava ter
nove anos e a menina cinco.
O governador se aproximou e estendeu a mão para me cumprimentar. Eu
aceitei o cumprimento.
Ele apontou para as crianças.
— Esses são os meus netos.
Francesca estava chorando muito, porém, ainda assim foi possível perceber
o olhar de gratidão.
Ninguém se importava com a vida dela, nós fizemos isso somente pelo
benefício que esse acordo nos trouxe. Ninguém dentro da máfia ficava
sensibilizado com o sofrimento das pessoas, a menos que trouxesse algum
bônus.
Esse sempre foi e sempre será o nosso lema.
— Meus sinceros sentimentos a família — falei, ignorando o fato de eu
mesmo ter tirado a vida daquele homem.
O governador concordou.
— Não tenho palavras para agradecê-los. Mais tarde, entro em contato para
cumprir minha parte do acordo.
— Estaremos aguardando. Faça uma boa viagem.
Ele concordou, segurou a mão de sua filha e ambos entraram no avião.
Respirei fundo quando as gotas de chuva começaram a cair.
Fiquei ali de pé observando o avião do governador ganhar força e subir
lentamente, logo sumiu entre as nuvens.
Ele não seria mais um problema.
Entrei no carro e fui direto para a Calábria me certificar sobre o que estava
acontecendo. Mesmo com a chuva dificultando minha visão, consegui chegar
em menos tempo do que calculei no hospital.
Os soldados de Riccardo estavam a postos em frente ao local, barrando a
entrada de qualquer um.
Mumú estava verificando todos os carros que se aproximavam.
— O que aconteceu? — perguntei enquanto olhava para a entrada do
hospital.
Logo pensei em Laura e na gravidez arriscada, também pensei na saúde de
Riccardo e na teimosia de não querer cumprir as restrições médicas.
— Está tudo bem. — Mumú me tranquilizou. — O filho de Giovanni está
nascendo.
— Entendi.
Passei por ele e quando estava quase passando pelos soldados, a imagem
de Susanna me veio à mente.
O que ele tinha feito com ela?
— Mumú — chamei-o e ele me olhou. — O que aconteceu com Susanna?
O homem ficou desconfortável com a pergunta, ajeitou o paletó e desviou
a atenção. Mas continuei parado esperando que ele me respondesse, mesmo
porque eu havia lhe dado essa missão. Então se algo saísse do controle
novamente, iria me sentir culpado.
— Ela está comigo, senhor — respondeu, sério. — Ainda estou tirando
informações necessárias.
— Meu irmão está sabendo disso?
Ele concordou, balançando a cabeça.
— O chefe está sabendo. Susanna é responsabilidade minha agora. Fique
tranquilo.
Aprovei a atitude respeitosa dele e fui em direção à entrada do hospital.
Riccardo estava sentando e digitando algo no celular, enquanto uma
mulher gritava histericamente na sala de parto ao lado, onde se conseguia ver
tudo através de um vidro.
Era a mesma mulher que estava no enterro de Giovanni.
Laura e Marta apareceram trazendo copos de água. Elas olharam para mim
discretamente e entraram na sala para ficar ao lado da mulher, segurando sua
mão enquanto o bebê vinha ao mundo.
Sentei-me ao lado dele.
— Você vai matar a criança?
Ele negou.
— Não sei ainda. Estou pensando na possibilidade de deixar Marta criar o
menino ao lado do presidente, só que eles precisam estar casados.
Nesse momento, Riccardo parou de falar quando ouviu o choro do bebê.
Aparentemente, ele não estava muito satisfeito.
Olhei através do vidro o momento que os médicos tentavam reanimar a
mãe, felizmente parece que conseguiram. A moça quase havia morrido, para
mim foi impossível não me lembrar de Alessandra no dia do parto do meu
filho.
Naquele momento, estava tendo oportunidade de fazer as coisas diferentes.
Um benefício que poucos conseguiam.
Riccardo se levantou do banco e se afastou para atender o celular, quando
Laura chegou emocionada para mostrar o bebê. Ele a ignorou completamente,
fazendo com quem o sorriso dela morresse ao vê-lo se afastar.
Riccardo nunca foi de compartilhar felicidades. E ele não estava feliz com
a chegada dessa criança.
Laura engoliu o choro e se aproximou de mim.
— Olha, Fabrizio. — Ela tirou a manta para mostrar o rostinho do bebê. —
É lindo, não é?
— Sim. Como vai se chamar?
— Giovanni Bassi filho — ela respondeu. — Minha mãe quer muito ficar
com ele.
Uma mulher se aproximou para pegar o bebê dos braços de Laura. O
neném ainda precisava passar por cuidados médicos.
— Riccardo quer que sua mãe esteja casada para adotar o bebê. Comece
cuidando dessa parte.
— Se você concordar, mamãe e o presidente podem se casar sábado na sua
casa e usando sua decoração. Que tal?
Ela ficou sem jeito quando Riccardo se aproximou. Entretanto, ele não
falou nada.
— Por mim não tem problema. Mas preciso confirmar com Alessandra, é
ela quem está organizando tudo.
— Então faça isso. — Laura se animou. — Porque se não tiver casamento,
não vai ter adoção.
Eu ri.
— Certo. — Tirei o celular do bolso para ligar para Alessandra. E quando
minha esposa ficou sabendo da situação, agitou-se de emoção e se prontificou
em ajudar Marta.
Depois de acertar os detalhes do casamento de Marta com o presidente
para o sábado, Riccardo e eu fomos para a casa de Matteo buscá-lo, para uma
farra entre os homens. Enquanto isso, Laura havia ido buscar Alessandra para
irem juntas fazer companhia a Anna.
Seria minha despedida, por isso queria meus irmãos comigo.
Decidimos ir para uma das nossas boates. Matteo como sempre ficou
muito animado. Dos três ele sempre foi o mais alegre e extrovertido. Sempre
fazendo piada com os problemas da vida, por isso ele sempre se manteve
jovem apesar da idade.
Escolhemos ficar no fundo da boate para não chamar muita atenção. Não
estávamos procurando garotas e nem sexo sem compromisso. Apenas uma
rodada de bebidas entre irmãos.
A noite foi divertida, com muitas conversas e gargalhadas, Matteo e eu
decidimos beber uísque enquanto Riccardo ficou só na água, pelo menos
dessa vez ele estava seguindo o conselho dos médicos.
— Animado? — Matteo perguntou.
— Muito. Ansioso para viajar.
A garçonete se aproximou para deixar as doses de tequila na mesa, a
pedido de Matteo. Ele pegou o copo e virou a dose sem pensar.
Riccardo olhou para ele.
— O que foi? — Matteo perguntou. — Não posso mais me divertir?
— Desde que você consiga chegar em casa sozinho.
Matteo ficou pensando por um tempo antes de responder.
— Nossa, você é muito chato, Riccardo. Parece aquelas velhinhas
ranzinzas que ficam julgando a vida dos outros.
Eu comecei a rir e todos à volta pararam de conversar para olhar. Matteo
riu também e virou mais algumas doses de tequila, depois foi até o balcão
pedir os aperitivos.
Matteo estava muito animado. Riccardo assim que acabou de resolver
alguns assuntos da máfia pelo celular, deixou-o de lado para conversar.
Conversamos muito nessa noite, relembrando bons tempos.
— Soube que Francesca esteve em Sicília. — Matteo olhou para Riccardo.
— Você saiu com ela?
— Não — respondeu.
— Mas você não sentiu tesão quando a viu?
— Não. Meu passado não é assunto para essa noite. — Ele olhou para
mim. — Vai viajar para onde?
— Ilhas Maldivas.
Pedimos mais uma rodada de tequila e bebemos tanto quanto podia.
Passamos horas rindo, até o celular de Riccardo tocar sobre a mesa,
interrompendo a conversa e estragando o momento.
Ele atendeu e colocou o aparelho no ouvido.
O assunto pareceu ser muito sério.
— Estou indo. — Riccardo se levantou da cadeira apressadamente,
enquanto mantinha o celular no ouvido. Nós fomos com ele para o
estacionamento e esperamos terminar a ligação.
Quando a ligação terminou, nosso irmão respirou fundo.
— O que aconteceu? — perguntei.
— Um soldado me ligou para informar que os meus filhos tentaram sair de
casa usando um dos meus carros.
Senti um aperto no meu coração, porque eu não saberia como agir caso
fossem os meus filhos.
Não tinha mais clima para bebedeira diante dessa situação.
Riccardo estava muito puto.
Assim que o soldado trouxe o carro, nós fomos juntos com ele para a sua
casa ver os meninos.
Riccardo dirigiu em alta velocidade. Ele estava com raiva, apertando o
volante com força, enquanto conversava com os soldados pelo telefone.
Em menos de dez minutos adentramos o portão da casa.
Riccardo abriu a porta e gritou pelos meninos. Eles desceram as escadas
chorando muito, sabendo que iriam levar a pior.
Eles estavam de cabeça baixa, porque não tinham coragem de olhar nos
olhos do pai depois terem feito merda.
O soldado que ligou para avisar Riccardo sobre os meninos, entrou na sala
para comunicar que Lorenzo estava dirigindo o carro e Vincenzo estava ao
lado usando o GPS.
Os dois estavam sozinhos no carro e ainda tentaram intimidar os soldados.
Matteo e eu começamos a rir. Certamente os meninos já estavam querendo
tomar posse e resolver questões da máfia.
Riccardo estava bufando de raiva.
— Vocês estão de castigo — Riccardo gritou e deu um soco na mesa, os
meninos entraram em desespero.
Matteo riu do desespero do nosso irmão.

O grande dia havia chegado e meu coração estava completamente


acelerado, golpeando meu peito e me causando ansiedade.
Minhas mãos tremiam muito, conforme tentava não chorar para não borrar
a maquiagem. Também não queria estragar o belo trabalho da moça, que se
prontificou em vir me ajudar.
Mesmo sendo apenas uma troca de votos como muitos diziam, para mim
era mais do que isso. Fabrizio e eu estávamos enterrando o passado para
recomeçar uma nova vida.
Esse dia para mim seria muito especial, mais do que foi o dia do meu
primeiro casamento, dessa vez estou de coração aberto e alma limpa,
jogando-me de cabeça nessa relação.
Não há mais segredos e nem mentiras.
Eu havia escolhido um vestido branco discreto. Ele não simbolizava
somente a pureza da alma, mas também a minha paz interior.
E eu estava completa e em paz comigo mesma.
— Mãe.
Meu olhar emocionado desviou para o meu filho segurando os sapatinhos
do seu irmãozinho. Nesse momento foi impossível segurar o choro.
Alessandro foi a maior vítima nisso tudo. Meu filho ficou longe da pessoa
que mais deveria amá-lo no mundo.
Ele ficou longe de mim.
Meu filho foi diagnosticado com autismo de grau um. No fundo, eu já
desconfiava disso, meu coração de mãe nunca falhou. Mas, às vezes, era
melhor nos fazermos de cegos do que admitir a realidade. Isso não era
maldade, mas sim medo de assumir as responsabilidades que a vida nos
proporciona.
No início fiquei me sentindo culpada, achando que os tantos remédios que
tomei na gestação causaram isso no meu filho. Entretanto, Fabrizio mais uma
vez me tranquilizou.
Nesse momento, entendo que minha missão nessa terra e cuidar e amar
incondicionalmente sem questionar os planos de Deus. Alessandro era um
anjo na minha vida, enviado para me tornar forte e destemida.
Além de ser uma criança especial, Alessandro era o nosso coração e a
chama que nos mantinha aquecidos. Por ele continuaríamos fortes e unidos
como nunca estivemos.
Nós o amávamos muito, do jeitinho que ele era.
Sorri para ele e apertei suas bochechas. Juntos colocamos os sapatinhos
dentro de uma caixinha de presente e fechamos com uma fita.
Ele quem iria entregar os sapatinhos nas mãos de Fabrizio. Então, coloquei
a caixinha vermelha nas mãos do meu filho.
— Quando a mamãe piscar, você vai entregar esse presente ao papai. Tudo
bem?
Ele concordou.
Embora eu tivesse ficado longe por tantos anos, as crianças nunca
questionaram o porquê disso. Por enquanto, achava melhor manter as coisas
assim, já que eles me acolheram muito bem.
O dia que eles quisessem respostas, estaria pronta para responder, mas
saberia respeitar o tempo deles.
Meu filho segurou forte o embrulho e saiu andando do quarto.
Anna bateu à porta e me olhou da cabeça aos pés.
— Você está linda. — Sorriu. — Mas o seu marido está impaciente
querendo a lua de mel. Vamos?
Eu ri.

A tarde estava linda com a imagem do sol se pondo. O jardim da minha


casa estava lindamente decorado do jeito que sonhei.
Respirei fundo e caminhei lentamente pelo caminho decorado com flores
brancas, enquanto Laura mostrava seu maravilhoso talento tocando Sicilian
Heart.
Ela tocava impecavelmente, fazendo com que meus olhos se quebrassem
de emoção. O som do piano clássico me trazia muitas recordações.
Fabrizio estava lindo em um terno cinza, bem ajustado ao corpo. Ele
mantinha seu olhar em mim, compartilhando da mesma emoção.
Enquanto eu caminhava, minha vida inteira passou com um filme na minha
mente.
Eu comecei a chorar.
Alessandro sem entender nada, entrou na minha frente e correu em direção
ao pai dele para entregar a caixinha.
Todos começaram a rir, porque essa situação não foi planejada. E foi
melhor assim.
Fabrizio desfez o laço e abriu a caixinha, tirando os sapatinhos brancos
feitos de lã.
Meu marido ficou emocionado, abraçou nosso filho e depois me abraçou
também.
Fabrizio beijou minha testa e segurou minha mão.
— Esse é o melhor presente que um homem poderia receber. Obrigado,
Alessandra. Muito obrigado por tudo.
Nós nos beijamos muito. Trocamos nossos votos e muitos beijos
apaixonados, ouvimos até reclamações de Matteo dizendo que deveríamos
nos apressar, porque na sequência teria o casamento do presidente.
Meu cunhado ficava de péssimo humor quando estava com fome.
Fabrizio riu muito e me beijou de novo e de novo. Fabrícia entrou no meio
e me abraçou forte. Depois dos cumprimentos, pousamos para as fotos.
Fabrizio pegou Alessandro no colo enquanto eu abraçava Fabrícia.
Essa foto iria enfeitar a parede da minha sala.
Depois, Fabrizio me deu uma nova aliança, onde estava gravado o dia do
nosso segundo casamento.
— Parabéns. — Anna me abraçou, depois abraçou Fabrizio. Depois foi a
vez de Matteo nos cumprimentar.
O casamento de Marta aconteceu minutos depois, mas Fabrizio e eu não
pudemos ficar muito tempo por causa da nossa viagem marcada. Porém,
confortou-me saber que Marta estava feliz com o bebê em seus braços.
Mais uma conquista da Laura, que conseguiu amolecer um pouco o
coração duro de Riccardo. Ele demonstrava que a amava em suas atitudes. E
Marta olhava para eles muito emocionada.
O bebê não iria substituir Giovanni, mas o pequeno veio trazer um pouco
de alegria. Marta estava radiante em um vestido branco estilo sereia, ninando
o bebezinho pelo jardim. Enquanto o presidente ficava babando por ela.
O bebê também veio trazer felicidade ao presidente. Como o seu filho
também foi morto recentemente e sua filha resolveu ir embora da Itália, ele
estava se sentindo sozinho.
Marta nunca iria saber a respeito de sua filha gêmea, Anna e Laura
acharam melhor assim. Algumas vezes, ela ainda menciona sobre uma moça
idêntica à Laura que apareceu para ela, mas as meninas conseguiram
convencê-la de que era uma alucinação de sua cabecinha doente.
Eu também achei melhor assim.
O que os olhos não veem, o coração não sente.

Assim que chegamos ao hotel, a babá foi passear com as crianças para dar
privacidade para mim e Fabrizio. Nós fomos para o quarto, assim que pisei
dentro do local, fiquei deslumbrada com a paisagem e a decoração.
Fabrizio era romântico e tinha um bom gosto. Logo uma música romântica
começou a tocar e ele me entregou uma taça cheia de água.
— Era para ser champanhe, mas você está grávida.
Nós dois rimos.
— O que vamos fazer agora? — perguntei.
Ele riu e me puxou pelo cabelo.
— Vamos foder rápido, depois vamos sair para jantar e aproveitar a noite.
Depois vamos foder de novo e de novo.
Ele se aproximou de mim e tomou meus lábios nos seus. A língua
experiente dele traçou caminhos estratégicos na minha boca, sugando meus
lábios e me puxando para o seu mundo obsceno.
Nossas respirações estavam aceleradas, assim como nosso coração estava.
Fabrizio foi descendo lentamente o zíper do meu vestido, por isso fiquei
apenas de lingerie.
Ele se afastou para me olhar, seus olhos pareciam duas chamas vivas
ardentes de desejo. Voltamos a nos beijar com paixão, minhas mãos trêmulas
procuravam a gravata dele tentando desfazer o nó.
Quando Fabrizio ficou completamente despedido, caí de joelhos e comecei
a chupar o pau dele. Tê-lo por completo na minha boca me preenchendo,
fazia com que um desejo surreal tomasse meu corpo.
— Caralho, Alessandra. Você vai me deixar maluco.
Continuei sugando-o tanto quanto podia, estalando a língua em volta do
comprimento dele. O pau de Fabrizio estava cada vez mais inchado e
latejando muito.
Fabrizio me puxou pelos cabelos e me colocou deitada na cama, depois foi
a vez dele usar sua boca experiente.
Ele começou a me chupar enquanto enfiava os dedos dentro de mim,
fodendo-me de uma maneira enlouquecida. Diante disso, meu corpo começou
a convulsionar quando o orgasmo tomou meus sentidos.
— Fabrizio....
Antes que eu pudesse me recompor, Fabrizio me colocou de quatro na
cama e meteu forte em mim. Eu gritei e mexi o quadril para provocá-lo. Eu
podia sentir o pau dele ir cada vez mais fundo, proporcionando-me uma
sensação maravilhosa de prazer. Minhas pernas tremiam em resposta.
Fabrizio continuou metendo muito, forte e rápido. O pau dele estava
batendo em algo e causando atrito dentro de mim. Enquanto me comia, ele
aproveitava para apertar meus seios e chupar meu pescoço, deixando-me
ainda mais sensível.
Mal tive tempo de raciocinar quando gozei pela segunda vez, como se
minhas forças tivessem sido sugadas.
Fabrizio gozou segundos depois, agarrando meu cabelo entre os dedos.
— Eu te amo, Alessandra.
Quando me virei para olhá-lo, tive a visão mais linda do mundo. Meu
marido com o cabelo bagunçado e a testa suada.
— Eu te amo, Fabrizio.
Nós nos beijamos mais uma vez. Ele tocou minha barriga e depois beijou
carinhosamente.
— Dessa vez as coisas serão diferentes. — Olhou-me intensamente. —
Nunca mais vou te abandonar, Alessandra.
Segurei o rosto dele entre minhas mãos. Lágrimas de emoção queimavam
meus olhos.
— Eu nunca mais vou mentir para você, Fabrizio. Eu te amo e sempre vou
amar.
Levantamo-nos para tomar banho, nos arrumamos e depois fomos pegar as
crianças para jantar. Pela primeira vez na vida, minha vida estava fazendo
sentido. Eu não me sentia mais perdida.
Nesse momento, percebi que meu afastamento foi a melhor coisa, pois
atualmente sentia que estava de fato preparada, envolvida de corpo e alma.
Amava Fabrizio, também amava a família que construí ao seu lado.
Perdoei de coração minha irmã Catarina.
Estávamos celebrando o dia do batizado do Fabio, meu filho mais novo.
A festa à beira da piscina com direito a tobogã para as crianças, tinha sido
ideia de Alessandra.
Minha esposa também escolheu Marta e o presidente como padrinhos.
Eles ficaram imensamente felizes com o convite.
Fabio era muito risonho e já estava começando a engatinhar. Meu filho era
tão esperto, que nem parecia ter apenas seis meses de idade.
Alessandra estava linda em um vestido rosa, ela me abraçou forte e beijou
meus lábios. Olhei para os seus belos seios empinados e fiquei salivando com
a visão.
Alessandra não conseguiu amamentar nosso filho devido à falta de leite,
então os seios dela continuaram sendo de uso exclusivo meu.
— Eu te amo, Fabrizio. — Sorriu.
— Eu também te amo — Abracei-a forte.
— Obrigada por ter ficado do meu lado no momento que mais precisei.
Sorri enquanto me lembrava do dia do parto. Alessandra estava deitada
dando à luz ao nosso filho, fruto do nosso amor. Minha esposa gritava e
chorava muito, mesmo com dores ela se manteve forte e determinada. Fique
lá, encorajando-a e apertando firme sua mão.
Daquela vez, não a deixei sozinha em um momento algum. Era minha
obrigação.
Não demorou muito para um chorinho de bebê tomar o ambiente. Fiquei
completamente emocionado quando vi meu filho pela primeira vez. E mesmo
sujo de sangue, pude afirmar que era a criança mais linda desse mundo.
O choro do meu filho fez com que as lembranças ruins fossem se
dissipando da minha memória. Principalmente, a imagem do caixão de
Alessandra sendo enterrado naquele lugar frio, enquanto eu assistia tudo
carregando um guarda-chuva que mal me protegia da chuva.
Essas imagens simplesmente foram sumindo dos meus pensamentos como
um sonho ruim.
Olhei agradecido para o meu filho e esposa, imensamente feliz por ter dado
essa oportunidade ao meu casamento.
Se eu não tivesse tentado... se eu não tivesse nos dado essa chance, nunca
teríamos descoberto como era a sensação de colher os benefícios do perdão.
Se eu não tivesse perdoado, não estaria aqui comemorando o batizado do
meu filho, nem mesmo estaria na presença da minha família.
Eu perdoei e fui perdoado.
— Ei.
A voz de Matteo me puxou de volta para a festa ao meu redor. Meu irmão
me entregou um copo de uísque e sorriu abertamente.
— Parabéns pelo filhão. Ele é muito lindo e esperto.
— Obrigado. Seu filho também é.
Ele riu e parou do meu lado, juntos ficamos observando os nossos filhos
brincando com outras crianças e na companhia das babás, que contratamos
para a festa.
A esposa de Matteo estava na beira da piscina brincando com o filho mais
novo deles.
— Soube que Anna está grávida de novo — perguntei rindo.
Matteo gargalhou.
— É claro. Como um verdadeiro Guerrieri não posso ficar em
desvantagem.
Eu ri. Ele queria o terceiro filho para se igualar a mim e a Riccardo.
— Por falar em Riccardo... Onde ele está? — perguntei, olhando para os
lados e dando falta dele.
Matteo ficou sério de repente.
— Pelo tempo que nos falamos, ele já deveria estar aqui. — Matteo tirou o
celular do bolso.
Mas não foi preciso ligar, porque logo o portão se abriu e o carro dele
entrou.
Assim que Riccardo estacionou o carro, os gêmeos saíram e vieram nos
cumprimentar.
Laura também saiu do carro, carregando uma bolsa rosa e a pequena
Beatrice toda produzida em um vestidinho amarelo e tiara da mesma cor.
O xodó da família.
Matteo correu para pegar Beatrice, mas a menina abraçou a mãe e
começou a chorar. Ela não era muito acostumada a viver no meio de nós, pois
Riccardo a escondia a sete chaves como um verdadeiro tesouro.
Um pai extremamente ciumento, eu diria.
Alessandra veio correndo abraçar Laura e pegar Beatrice no colo, mas a
menina armava um escândalo para qualquer um que se aproximasse. Os
olhinhos verdes dela estavam assustados e arregalados de curiosidade.
— Oi, Fabrizio. — Laura me cumprimentou.
Sorri. Era bom vê-la depois de tudo.
Laura quase morreu no parto da pequena Beatrice, meu irmão ficou
inconsolável.
— Como você está? — Passei a mão pelos cabelos lisos da pequena
Beatrice e ela me olhou curiosa. — Vem com o tio...
A bebê virou o rosto. Ela era uma gracinha, e eu a vi poucas vezes, por isso
ela estava me estranhando já que não convivia comigo.
— Ela também não gosta de mim. — Matteo bufou.
Riccardo se aproximou para nos cumprimentar também. Ele chamou o
garçom e pegou um copo de uísque.
— Parabéns, Fabrizio. O garoto é bonito — elogiou.
— Sua filha também é muito linda.
Chamei minha esposa, meus irmãos e cunhadas para ficar no lounge,
enquanto nossos filhos se divertiam.
A família Guerrieri estava unida.
Laura e Alessandra decidiram tomar vinho, e nós, homens, uísque. Anna,
como estava grávida, ficou apenas no suco.
Lorenzo se aproximou de Riccardo.
— Pai, posso levar minha irmã para nadar?
— Não — Riccardo respondeu. — Ela não sabe nadar.
— Eu tomo conta dela — insistiu.
Riccardo riu de nervoso.
— Não mesmo. Vai você brincar, sua irmã vai ficar aqui.
Ele assentiu e foi em direção à piscina.
Alessandra e Anna estavam babando em Beatrice. Eu podia ver os olhos
brilhosos da minha esposa olhando de forma amável para a menina.
Será que ela quer ter uma menina?
— Ela é muito linda, Laura. — Anna segurou as mãozinhas da garotinha.
— Você foi abençoada com dois meninos e uma menina.
Laura abraçou a irmã e depois acariciou a barriga dela.
— Tomara que dessa vez venha uma menina.
Matteo engasgou.
— Não sei se estou preparado.
Apertei o ombro dele, chamando sua atenção para mim.
— Eu também não estava preparado para ser pai de menina. E hoje não
vivo sem ela.
Riccardo me olhou, compartilhando do mesmo pensamento.
Marta e o presidente também resolveram se sentar com a gente. Ela estava
muito feliz e elegante, em nada se parecia com a mulher de antigamente,
maltratada por Giacomo.
A tarde foi de muita diversão, conversas e gargalhadas. Enquanto as
crianças se divertiam, aproveitamos para curtir o dia sem eles perturbando.
Eu estava distraído rindo com meus irmãos, quando minha filha veio
correndo com uma boia na cabeça, chamando por Riccardo.
— Tio! Lorenzo e Vincenzo estão brigando na piscina.
Riccardo xingou e se levantou rápido, tropeçando nas cadeiras e voando
até a piscina. Laura colocou Beatrice no colo de Marta e também foi atrás.
— Esses meninos. — Marta riu.
Minutos depois eles voltaram. Riccardo mandou que os gêmeos se
sentassem afastados um do outro.
Laura foi até a cozinha preparar lanches para cada um deles. Depois ela os
enxugou e os envolveu em um roupão quente para protegê-los do vento frio.
Nesse meio-tempo, Alessandra conseguiu conquistar Beatrice e a raptou,
sentou-se no meu colo toda manhosa enquanto segurava amorosamente a
menina nos braços.
A menina estava distraída comendo uva, por isso não estava ligando muito.
Mas quando a uva acabasse...
— Olha que perfeição, Fabrizio — ela sussurrou enquanto cheirava a
menina. — O cheirinho dela é delicioso.
Beatrice tinha o cabelo castanho escuro, pele branquinha e os olhos verdes.
O formato do rosto e a boca dela se parecia com Laura, mas a cor do cabelo
e os olhos eram de Riccardo.
Beijei a boca dela enquanto acariciava sua cintura.
— Vamos tentar uma menina?
Eu ri de nervoso.
— Eu já tenho três filhos. Fabio tem apenas cinco meses.
— Quando vi a filha de Laura, meu instinto maternal gritou dentro de mim.
Eu amo Fabrícia como minha filha, mas quero uma que seja idêntica a mim e
a você.
Toquei delicadamente o cabelo dela e a beijei. Nossas línguas se
enroscando uma na outra me deixou anestesiado por completo.
Mal tive tempo de raciocinar quando Matteo tirou, sorrateiramente,
Beatrice dos braços de Alessandra.
Laura começou a rir. Todos queriam conhecer a menina. Mas ela começou
a chorar de novo se jogando para os braços de Riccardo.

Estava anoitecendo quando Alessandra pegou nosso filho no colo e


começou a dançar com ele. Fiquei de longe contemplando a imagem dos
meus filhos ao redor da mesa, mimando o irmão mais novo. Meu coração
estava cheio de amor e alegria, totalmente agradecido pela família
maravilhosa.
Depois que todos os convidados foram embora, eu, Alessandra Matteo,
Anna, Riccardo, Laura, Marta e o presidente continuamos conversando na
beira da piscina.
Matteo respirou fundo e olhou para o céu, fiz o mesmo e fiquei admirado
com a quantidade de estrelas.
— Quem diria que um dia estaríamos aqui rodeados de crianças. Meus
filhos e filhos dos meus irmãos. — Matteo riu. — Estamos ficando velhos.
Fabrícia, Ottavio, Giovanni e Alessandro estavam brincando na beira da
piscina. O meu filho mais novo e o filho mais novo de Matteo estavam
dormindo. Vincenzo e Lorenzo estavam entediados querendo ir embora, mas,
com muito sacrifício consegui distrai-los com o simulador de tiro.
Alessandra trouxe mais uma garrafa de vinho para ela e a Laura. As duas
estavam rindo muito, estavam completamente animadas.
— Você pretende ter mais filhos? — Laura perguntou para minha esposa.
Alessandra me olhou cúmplice.
— Vamos tentar uma menina. É claro, quando Fabio completar dois anos.
Matteo começou a rir.
Anna beliscou a barriga dele, fazendo com que ele fechasse a boca.
Beatrice começou a cantarolar enrolado e bater palmas, nossos olhares
foram para ela.
Laura e as meninas começaram a rir.
— Filha, a festa do seu primo acabou.
— Mas ela está animada, ué. — Anna riu.
— Minha filha é perfeita. — Laura sorriu abertamente. — Meu milagre.
— Graças a Deus deu tudo certo. — Alessandra segurou a mão dela. —
Quase perdemos você, Laura.
Laura sorriu triste e se sentou no colo de Riccardo, que a acolheu
prontamente.
— Eu morro se engravidar de novo. A complicação no meu útero começou
na gestação dos gêmeos. Como tiveram que tirar Lorenzo às pressas... — Ela
se calou de repente.
— Ficamos muito preocupados. — Anna engoliu seco. — Se alguma coisa
te acontecesse...
Riccardo olhou feio para Anna. Ela limpou a garganta.
Laura tomou mais um pouco de vinho.
— Eu passaria por tudo de novo, somente para trazer meus filhos ao
mundo. Minha Beatrice veio do jeitinho que sonhei.
— Você não vai precisar passar por tudo de novo. — Riccardo bebeu o
uísque.
— Beatrice veio ao mundo como você desejou. Tire esses pensamentos da
sua mente.
Laura assentiu.
— Eu não me lembro de nada daquele dia. — Laura abaixou a cabeça,
depois olhou para Riccardo. — Como foi? Você nunca conversou comigo
sobre isso.
Riccardo ficou em silêncio por um tempo antes de responder.
— Acordei de madrugada com você gritando de dor e me deparei com o
lençol da nossa cama ensanguentado. Depois, tive que tomar a decisão de
salvar a vida da bebê ou a sua. Ameacei o médico comunicando que ele
morreria caso as duas não saíssem vivas. Na hora do parto, você estava muito
fraca, porque perdeu muito sangue, desmaiou e por pouco não sufocou minha
filha. Enquanto isso acontecia, fiquei imaginando como seria minha vida sem
você do meu lado e como faria para criar sozinho a filha que você tanto
desejou. Foi isso.
Nossa.
— Obrigada, amor. — Laura o abraçou e enfiou a língua na boca dele. —
Você é um homem de muita coragem. É forte, é determinado, tem uma
inteligência admirável. Adoro ser sua mulher. Você é meu amor.
— Ai... Que delícia — Matteo zombou.
Riccardo ficou sem jeito e se levantou do sofá.
— Está tarde. Vou buscar os meninos. — Ele entrou em casa para ir
buscar Lorenzo e Vincenzo.
Quando Riccardo sumiu do nosso campo de visão, Marta pôs a mão sobre
a boca e começou a sorrir.
— Por Deus, Laura, você deixou o seu marido constrangido. É a primeira
vez que o vejo assim.
Laura riu.
Logo Riccardo voltou, trazendo os meninos sonolentos. Lorenzo
emburrado foi o primeiro a entrar no carro.
Acompanhamos eles até o carro, os soldados de Riccardo estavam do lado
de fora esperando ordens para fazer escoltas.
Antes de entrar, Laura se despediu de todos.
— A próxima reunião de família vai ser na sua casa ou na casa do Matteo?
— perguntei.
— Pode ser na minha. — Meu irmão ligou o carro.
— Está certo.
Lorenzo e Vincenzo começaram a brigar no carro discutindo quem ia na
frente com Riccardo. E como castigo, Riccardo ordenou que os dois fossem
atrás com a mãe deles.
Eles ficaram revoltados.
— Eu no seu lugar já teria surtado. — Matteo arregalou os olhos.
Riccardo olhou para ele.
— Surtar não é a solução.
Ele olhou o espelho interno quando Beatrice começou a chorar irritada
com alguma coisa que Lorenzo fez. A bebê agarrou no cabelo do irmão,
depois o mordeu no pescoço.
— Jesus, Beatrice. — Laura pôs a menina de volta no colo.
Riccardo acelerou o carro e saiu devagar pelo portão. Em nada se parecia
com o homem solteiro de antes, que andava em alta velocidade.

Alessandra e eu caminhamos de mãos dadas pelo jardim, observando o


mar revolto batendo contra as pedras. A lua cheia no céu iluminava nossos
caminhos.
Alessandra parou de caminhar e ficou de frente para mim. Fiquei fascinado
com a luz da lua iluminando e destacando os belos traços do seu rosto.
— O que você me diz sobre termos uma filha?
Toquei o cabelo dela que dançava em seu rosto conforme o vento batia.
— Quero tudo com você, Alessandra. Adoraria ser pai de uma filha sua.
Ela riu e me abraçou forte. A língua dela entrou na minha boca e eu gemi
com a maciez de sua pele. Tirei o seu vestido e a deitei na grama, beijei cada
pedacinho do seu corpo. Coloquei a calcinha dela para o lado e meti meu pau
de uma só vez em sua boceta.
Ela gemeu.
A maciez dela me deixa louco.
Meu corpo estava moldado ao de Alessandra, nossos gemidos eram
misturados com o som das ondas.
Trocamos de posição e ela começou a cavalgar no meu pau, descendo e
subindo enquanto segurava os seios entre as mãos como uma verdadeira ninfa
em pleno luar. O tesão dela escorria entre suas dobras, molhando meu pau
que deslizava com facilidade para dentro.
— Fabrizio. — Ela gozou chamando meu nome, não aguentei por muito
tempo e gozei, segundos depois dela.
Ficamos abraçados olhando o céu estrelado e curtindo a companhia um do
outro.
Eu não queria estar em nenhum outro lugar. Alessandra me completava de
maneira única.
Um amor assim a gente só encontrava uma vez na vida.
Sim, eu estava feliz.
.
Obriga pela leitura!

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