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UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO

VICTORIA DE LIMA REGIS

DA IDENTIDADE DO CANAL AO ESTILO DO PRODUTO


Carinha de Anjo e o modelo SBTista de produzir ficção

NITERÓI
2023

0
VICTORIA DE LIMA REGIS

DA IDENTIDADE DO CANAL AO ESTILO DO PRODUTO


Carinha de Anjo e o modelo SBTista de produzir ficção

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-graduação


em Comunicação da Universidade Federal
Fluminense, como requisito parcial da obtenção do
grau de Mestre.

Área de concentração: Estética e Tecnologia da


Comunicação.

Orientador: Prof. Dr. Benjamim Picado

NITERÓI
2023
AGRADECIMENTOS

Obrigada, Benjamim, por ter acreditado nesta pesquisa e por ter sido o melhor orientador que
eu poderia desejar.
Obrigada, Daniela Zanetti, Mayka Castellano e João Paulo Hergesel, por terem integrado a
banca de qualificação e feito apontamentos cruciais para o prosseguimento deste trabalho.
Obrigada, Lucas, por ter interagido comigo no trote da faculdade e nunca mais ter largado
minha mão.
Obrigada, Victor, por ser meu primeiro companheiro de sofá e por ter compartilhado comigo
um gosto televisivo “duvidoso”.
Obrigada, Ana, Andreza, Beatriz, Gabriella e Thalita, por serem como irmãs e vibrarem com
cada conquista minha.
Obrigada, Heráclito e Ione, por absolutamente tudo nesses 27 anos.
"O SBT não vai deixar de exibir desenhos animados, não.
Não me interessa se estou perdendo dinheiro porque
exibir desenhos é uma obrigação para com as crianças. O
SBT não está aqui só para fazer dinheiro, tem outras
coisas (...) Se quiserem tirar os desenhos da grade depois
que eu morrer, fiquem à vontade, mas enquanto eu estiver
vivo eles vão continuar. O telespectador do SBT Brasil de
hoje era o telespectador do Chaves 20 anos atrás. A
criança é a mais fiel dos telespectadores”
Silvio Santos
RESUMO

Utilizando como objeto de análise a telenovela infantil do SBT Carinha de Anjo


(2016 - 2018) a presente pesquisa tem o propósito de investigar a relação entre o estilo
audiovisual das produções televisivas e a identidade empresarial da emissora. O estudo
objetiva compreender como a repetição de uma fórmula narrativa específica resulta em uma
notável homogeneidade entre as obras do SBT, associando-as às marcas autorais do próprio
canal, em detrimento dos criadores das telenovelas. A análise minuciosa dos recursos
estilísticos utilizados busca desvendar como essa estratégia cria uma conexão afetiva com o
público, tornando-o colaborador indireto da emissora e fortalecendo o imaginário afetivo
ocupado pelo SBT na cultura televisiva nacional. Por meio da abordagem poética,
pretende-se evidenciar como as características identitárias da instituição televisiva se
manifestam nas produções ficcionais, destacando o papel central do canal na gestão
intencional das atrações e sua busca pela fidelização da audiência.

Palavras-chave: SBT; Estilo televisivo; Carinha de Anjo; Telenovelas infantis.


ABSTRACT

Using the children's telenovela Carinha de Anjo (2016-2018) from SBT as the object
of analysis, this research aims to investigate the relationship between the audiovisual style of
television productions and the network's corporate identity. The study seeks to understand
how the repetition of a specific narrative formula results in a remarkable homogeneity among
SBT's works, associating them with the channel's own authorial trademarks rather than the
telenovela creators. Through a meticulous analysis of stylistic resources, the research aims to
unveil how this strategy creates an emotional connection with the audience, turning them into
indirect collaborators with the network and reinforcing the affective imagery occupied by
SBT in the national television culture. Employing a poetic approach, the study aims to
highlight how the network's identity manifests in fictional productions, emphasizing its
central role in the intentional management of content and its quest for audience loyalty.

Keywords: SBT; TV style; Carinha de Anjo; Children's telenovela.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Dulce Maria vê a sua bexiga se transformar em um grande balão azul .................. 59
Figura 2 Cecília retira o hábito e vê seu reflexo no espelho ................................................. 63
Figura 3 Dulce Maria atravessa a rua correndo e é atropelada por um carro ........................ 67
Figura 4 Priscila é atropelada ................................................................................................ 69
Figura 5 Os paramédicos realizam os primeiros socorros em Dulce Maria…....................... 70
Figura 6 Dulce Maria passa por uma tomografia e sonha com sua mãe ............................... 71
Figura 7 Gustavo visita Dulce Maria na UTI ........................................................................ 72
Figura 8 Rebeca visita Otávio no hospital ............................................................................ 73
Figura 9 Dulce Maria passa por teste neurológico e não apresenta reflexos ….................... 74
Figura 10 Cecília recebe a notícia do atropelamento de Dulce Maria .................................. 75
Figura 11 Cecília chega ao hospital e Gustavo a vê sem o hábito pela primeira vez ............ 76
Figura 12 Helena e Renê se encontram pela primeira vez .................................................... 77
Figura 13 Gustavo consola Cecília e segura suas mãos ........................................................ 78
Figura 14 Gustavo toca o rosto de Cecília ............................................................................ 80
Figura 15 Dulce Maria imagina Cecília com as roupas e perucas de sua tia Estefânia ........ 82
Figura 16 Cecília vê Verônica e Gustavo de mãos dadas ...................................................... 83
Figura 17 Dulce Maria sonha com Cecília vestida de noviça ............................................... 85
Figura 18 Dulce Maria pede para que Cecília vá embora ..................................................... 87
Figura 19 Irmã Luzia conta a Adriana, Valentina e Lúcia que Dulce Maria não pode mais
andar e Madre Superiora entra no dormitório......................................................................... 88
Figura 20 Dulce Maria sonha com sua mãe vestida de noviça e recebe conselhos .............. 90
Figura 21 Cirilo recebe conselhos de professora Helena ….................................................. 92
Figura 22 Cecília se despede de Dulce Maria ....................................................................... 94
Figura 23 Cecília cai da escada e Dulce Maria escuta o acidente de seu quarto .................. 95
Figura 24 Dulce Maria caminha até a sala de estar ............................................................... 96
Figura 25 Estefânia, Cecília, Dulce Maria e Gustavo se abraçam ........................................ 96
Figura 26 Cecília e Gustavo sorriem e trocam olhares ......................................................... 97
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO …………………………………………………………………………… 10
CAPÍTULO 1 - UMA QUESTÃO DE ESTILO
1.1 O estilo no audiovisual ………………………………………………………………… 20
1.2 Estilo televisivo e marcas de autoria …………………………………………………… 22
1.3 Identidade de emissoras televisivas ……………………………………………………. 27
1.4 A identidade SBTista …………………………………………………………………… 31
CAPÍTULO 2 - A FÁBRICA DE SONHOS
2.1 A história do canal ……………………………………………………………………… 37
2.2 Estratégias de fidelização da audiência ………………………………………………… 43
2.3 Melodrama, telenovelas e repetição …………………………………………………… 47
CAPÍTULO 3 - CARINHA DE ANJO É A CARA DO SBT
3.1 O enredo ……………………………………………………………………………….. 59
3.2 Exibição e audiência ……………………………………………………………………. 61
3.3 O arco narrativo ………………………………………………………………………… 62
CONSIDERAÇÕES FINAIS …………………………………………………………… 100
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ………………………………………………… 102
ANEXO …………………………………………………………………………………. 105
INTRODUÇÃO

Desde de sua fundação em 19 de agosto de 1981, o Sistema Brasileiro de Televisão


(SBT) tem como proposta ser uma emissora que se apropria das heranças da cultura popular e
segue a “filosofia” de ser a “TV povão”, que transforma uma massa desprezada em seu target
principal (MIRA, 1994, p. 167).
Por meio de uma programação predominantemente leve e descontraída, com
linguagem simples e uma forte interação com o público, o canal soube lidar com as
limitações técnicas e financeiras presentes em seus anos iniciais (FRANÇA, 2009 apud
MARTINS, 2016, p.81), aproveitando-as a seu favor. Esse posicionamento permitiu que o
SBT estabelecesse uma conexão próxima com seus telespectadores e criasse uma identidade
singular dentro da grade televisiva nacional. Em contraste com a forma de produzir conteúdo
da principal emissora do país, a TV Globo, o SBT deu continuidade a criação de conteúdo
popularesco - que foi “varrido” da programação televisiva brasileira no projeto de
“higienização” da TV durante a Ditadura Militar - e desenvolveu um estilo televisivo
distintivo, prontamente reconhecido pelo público. Embora essas limitações já não sejam mais
uma questão nos dias atuais, uma vez que o SBT se consolidou como a segunda maior
emissora do país1 ao longo dos anos, essas características peculiares tornaram-se traços
fundamentais da identidade do canal.
Essa construção de identidade do SBT se deve, além de estratégias de comunicação
muito específicas adotadas pelo canal, à figura carismática de seu dono, o empresário Senor
Abravanel. Popularmente conhecido como Silvio Santos, o comunicador é a personificação
dos valores da empresa e sua história de vida de self made man (MARTINS, 2016, p.79), que
de camelô das ruas do centro da cidade do Rio de Janeiro passou a ser dono de um império
multimilionário, além de sustentar uma “idealização positiva do SBT” (MARTINS, 2016,
p.3) entre seus espectadores - que parece inabalável mesmo após inúmeras polêmicas
protagonizadas pelo apresentador nos últimos anos2 -, contribui “para a fortíssima
fidelização” (MARTINS, 2016, p.13) de seu público, pois muito mais que audiência, a
emissora tem fãs.
1
Apesar do SBT ocupar a posição de vice-líder de audiência já há alguns anos, isso nem sempre foi assim. Entre
os anos de 2005 e 2009 a emissora perdeu parte significativa de seu público devido às mudanças constantes em
sua programação, dando origem ao apelido “grade voadora”. Nesse mesmo momento, a Record avançou na
audiência com o projeto “‘A Caminho da Liderança”. Somente em 2012, com o sucesso de Carrossel, o SBT
voltou a recuperar o público perdido até que, em 2015, se consolidou novamente como vice-líder de audiência
(HERGESEL, 2019, p. 34).
2
Disponível em <https://rollingstone.uol.com.br/noticia/7-polemicas-que-silvio-santos-ja-se-envolveu-lista/>.
Acesso em: 22 de mar. de 2022.

10
Os autointitulados "SBTistas", em contraste com outros telespectadores, não apenas
assistem ao canal, mas também se engajam e o apoiam de maneira análoga aos fervorosos
"torcedores de clubes de futebol" (MARTINS, TORRES, 2014, p.1). Eles se distinguem pelo
expressivo número e pela atuação ativa nas mídias sociais (NANTES, GUEDES, 2017, p.2),
manifestando comentários impregnados de uma dimensão afetiva e passional em relação à
emissora (MARTINS, 2016, p.69). Esses espectadores estabelecem um discurso que associa a
programação do SBT às suas próprias histórias de vida, apontando a admiração pelo canal
como um hábito cultivado desde a infância (MARTINS, 2013, p.3).
Tamanha afeição se deve pelo fato do SBT ser um canal que “investe em
programação infantil desde sua criação” (MARTINS, TORRES, 2014, p.8), já que diferente
de outras emissoras abertas que abandonaram o segmento assim que as leis de publicidade
infantil se tornaram mais restritas em 2014, manteve até 20223 seis horas de sua programação
matinal, de segunda a sábado, para a exibição de desenhos. Isso fez com que o Brasil
ocupasse, em alguns momentos na última década, o posto de país que mais apresenta
conteúdo infantil no mundo (HOLZBACH, NANTES e FERREIRINHO, 2020, p. 260). Em
entrevista, Silvio Santos afirmou que enquanto estiver vivo deseja manter a tradição e
disponibilizar tempo na grade para o conteúdo específico para crianças pois, para ele, “o
telespectador do ‘SBT Brasil’ de hoje era o telespectador do ‘Chaves’ 20 anos atrás. A
criança é a mais fiel dos telespectadores”4.
Em 2012, além do matutino Bom dia e Cia (1993 - 2022), o canal decidiu apostar na
exibição de produções infantojuvenil5 também em seu horário nobre, com a adaptação
brasileira da telenovela mexicana Carrossel. Devido ao grande sucesso de público, atingindo
uma média de 12 pontos de audiência só na cidade de São Paulo (RIBEIRO, RANGEL e
REGIS, 2019, p.4), a emissora consolidou o seu investimento nessa lacuna do mercado

3
Em meio a polêmicas, no dia 1 de abril de 2022 foi ao ar a última exibição do Bom dia e Cia. Ainda não se
sabe se o matutino retornará à grade do canal. Disponível em
<https://vejasp.abril.com.br/coluna/pop/bom-dia-cia-fim-sbt-eliana-maisa-yudi-priscilla/>. Acesso em: 21 de
jun. de 2022.
4
Disponível em
<https://tvefamosos.uol.com.br/noticias/ooops/2016/03/05/silvio-santos-diz-que-sbt-tera-desenhos-enquanto-ele
-estiver-vivo.htm>. Acesso em: 23 de fev. de 2022.
5
Como destaca Renata Tomaz (2011), de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, a infância é
entendida como a fase de vida entre os zero e doze anos de idade. Já a adolescência/juventude faz referência a
fase entre os doze e dezoito anos de idade. Por esse motivo, entendendo a diversidade de temas abordados e a
variação da faixa etária dos elencos de todas as sete telenovelas produzidas pelo SBT até hoje e não destinadas
especificamente ao público adulto, optou-se por utilizar o termo “infantojuvenil” ao longo desta pesquisa

11
televisivo voltada para o público infantojuvenil e atualmente está exibindo sua sétima6 obra
adaptada7.
Considerando os pontos destacados, a presente pesquisa tem como objetivo principal
investigar as relações existentes entre as marcas identitárias do SBT e a projeção desse
aspecto em seus produtos de ficção seriada televisiva destinados ao público infantojuvenil a
partir da telenovela Carinha de Anjo (2016 - 2018).
Com a autoria de Leonor Corrêa, direção de Ricardo Mantoanelli e supervisão de
texto de Íris Abravanel, Carinha de Anjo é uma adaptação brasileira de uma telenovela
homônima mexicana produzida pelo conglomerado de mídia Televisa entre os anos de 2000 e
2001. Seu enredo gira em torno da vida de Dulce Maria, menina de cinco anos de idade, órfã
de mãe e abandonada pelo pai, e suas aventuras em um colégio interno católico só para
meninas.
A obra em questão foi a primeira telenovela infantojuvenil do SBT a não ter autoria
de Íris Abravanel. Esse fato se mostrou de grande relevância durante os momentos iniciais
dessa pesquisa pois reflete que a dinâmica de colaboração entre criadores diretos dessas obras
foi tão intensa que mesmo com as mudanças nos bastidores, a essência e o estilo
característicos das produções ficcionais do SBT permaneceram inalteradas. Isso destaca a
capacidade da emissora em manter uma identidade consistente, transcendo as variações na
equipe criativa, consolidando a coesão estilística que se tornou uma marca registrada das
telenovelas do canal.
Assim, através de uma análise estilística da obra e do comparativo da mesma com
outras duas telenovelas anteriores do mesmo canal - Carrossel e Cúmplices de um Resgate -,
criou-se como proposta investigar como a repetição de determinados aspectos narrativos em
diferentes obras contribui para estabelecer um sentimento de coesão entre as produções do
SBT e ressalta o controle criativo exercido pela instituição sobre suas atrações.
Para alcançar tal objetivo, serão examinadas as interações entre o comportamento
regular dessas telenovelas infantojuvenis e os processos de identificação que as vinculam
como produções do SBT, fundamentando-se em pilares teóricos como a teoria do melodrama,
a poética do "familiar" e a concepção de repetição. Essa abordagem buscou compreender
tanto os elementos que se repetem quanto as inovações presentes nessas obras do canal.
6
Se contarmos apenas as telenovelas voltadas ao público infantojuvenil feitas completamente pelo SBT, já que
na década de 80 o canal produziu diversas adaptações nacionais de sucessos mexicanos para o público adulto.
7
Até o momento da elaboração desta pesquisa, todas as telenovelas infantojuvenis do SBT foram adaptadas de
outras telenovelas infantojuvenis de países latinoamericanos (como Carrossel, Chiquititas, Cúmplices de um
Resgate e Carinha de Anjo) ou de clássicos da literatura mundial (como As Aventuras de Pollyanna, Pollyanna
Moça e A Infância de Romeu e Julieta).

12
A hipótese postulada nesta pesquisa sugere que, no contexto das telenovelas
infantojuvenis do SBT, a responsabilidade pelo agenciamento das marcas de estilo recai sobre
o próprio canal, e não sobre os criadores diretos das obras, como autores e diretores. A
teledramaturgia do SBT reflete, de fato, um projeto delineado por Silvio Santos para a
emissora, visando criar uma identidade empresarial tão marcante que parece personificar-se
perante seu público, com "carne, osso e, principalmente, coração" (MARTINS, 2016, p.81).
Em virtude dessa abordagem, é possível notar uma notável homogeneidade de estilo nas
atrações do canal, refletindo diretamente as características identitárias da instituição, pautadas
na busca pelo entretenimento popular e familiar.
Focando apenas nas obras de ficção seriada originais do SBT, todas as telenovelas
produzidas e exibidas no horário nobre do canal desde 2012 possuem traços estilísticos
bastante similares entre si. Na maioria das vezes com textos adaptados de grandes sucessos
latinos8 infantojuvenil, essas obras apresentam de forma constante influências herdadas do
melodrama latino-americano em sua forma mais clássica, tanto através de seus enredos
marcados pelo forte apelo dramático e suas narrativas de reconhecimento, como também pelo
uso frequente de certos recursos audiovisuais como os close-ups e as trilhas sonoras capazes
de despertar emoção.
Tais estratégias técnicas utilizadas de forma recorrente por essas atrações são
responsáveis por promover o que Daniela Zanetti (2009) chama de “inovação na repetição”:
quando, ​a partir de mudanças superficiais em uma narrativa, novos produtos são criados,
sendo eles uma combinação entre variantes e invariantes estruturais. Dessa forma, essas
produções buscam fidelizar seu público não pela novidade e sim pela capacidade do mesmo
conseguir prever o que está por vir na história.
A partir de simples mudanças estruturais em suas narrativas, o SBT conseguiu se
afastar em relação às outras emissoras televisivas abertas brasileiras no seu modo de produzir
telenovelas e foi capaz de consolidar um padrão em suas obras, se apropriando de
características muitas vezes consideradas “cafonas” por suas concorrentes para fortalecer sua
identidade empresarial e se aproximar de seu público.

Para o canal de Silvio Santos, ser brega, kitsch, piegas, melodramático ou


sentimentalista não configura um problema. Pelo contrário, a aposta em um
estilo inflamado potencializa os afetos e emoções que caracterizam o brega e

8
O uso do termo latino deve-se ao fato dessas telenovelas infantojuvenil adaptadas pelo SBT terem suas versões
originais em outros países latinoamericanos que não o Brasil. As versões originais de Carrossel (1989-1990) e
Cúmplices de Um Resgate (2002), assim como Carinha de Anjo (2000-2001), foram produzidas pelo
conglomerado de mídia mexicano Televisa. Já Chiquititas (1995) foi importado da emissora argentina Telefé.

13
o kitsch e humaniza, aproxima e diferencia a proposta de interação do SBT.
(p.81)

Apesar da existência de pesquisas relevantes que abordam a identidade do SBT


como uma emissora popular e sua abordagem irreverente na produção de conteúdo, ainda há
uma lacuna em relação aos estudos que exploram os mecanismos que tornam suas atrações
prontamente reconhecíveis pelo público como "um programa do SBT". É válido ressaltar que,
desde 2012, a emissora adota uma abordagem contrária à de muitas outras brasileiras,
consolidando-se como o canal comercial do país com maior disponibilidade de tempo em
programação destinada especificamente para crianças (RIBEIRO, RANGEL e REGIS, 2019,
p.5).
Nesse contexto, o objetivo secundário desta pesquisa é compreender como as
questões de estilo exercem uma influência emocional na audiência de uma obra. O estilo é a
superfície perceptível encontrada pelo público enquanto assiste e ouve algo, ou seja, tudo o
que é relevante para quem consome (Bordwell, 2008, p.32). Portanto, é crucial compreender
como a "utilização sistemática de técnicas expressas em imagem e som" é empregada para
"comunicar significados e obter respostas dos telespectadores" (MARTINS, 2016, p.26).
Segundo dados do PNAD 2016 “a televisão ainda é o meio de comunicação mais
presente nas residências brasileiras, chegando a alcançar 97,4% dos lares” (RIBEIRO,
RANGEL e REGIS, 2019, p.2). Devido a sua forte presença no cotidiano da população em
relação aos demais meios de comunicação, “torna-se necessária uma análise das mensagens
transmitidas a fim de se compreender a influência que ela pode exercer” (NIEMEYER e
PONTE, 2009), principalmente quando se pensa na sua influência em relação a construção de
discursos e produção de significados, identidades e sujeitos (FISCHER, 2009, p. 588).
Diferente de outras pesquisas acadêmicas sobre o SBT que focam na recepção do
canal e de seus programas pelo público e a construção da identidade de seus fãs, busca-se
com este estudo fazer o caminho contrário e analisar como o estilo é agenciado nas produções
ficcionais do canal de forma estratégica a fim de fidelizar uma audiência, criar um noção de
proximidade e suscitar um sentimento afeto, familiaridade, acolhimento e conforto em seus
telespectadores.

14
Por ser considerada uma emissora brega9 e que, por vezes, abusa da informalidade, o
SBT por muito tempo foi negligenciado academicamente em pesquisas sobre estilo
audiovisual. Assim, enquanto a Rede Globo e suas produções legitimadas pela crítica e
reconhecidas internacionalmente se tornaram objetos recorrentes de estudo sobre marcas de
estilo e autoria, as atrações da emissora de Silvio Santos, apesar de apresentarem relevância
popular, ainda hoje carecem de análises técnicas.
Ao longo de seus 40 anos de existência, o SBT apresentou um vasto catálogo de
telenovelas, contudo, foi por meio das tramas direcionadas ao público infantojuvenil que a
emissora alcançou êxito comercial e reconhecimento em suas produções ficcionais.
Atualmente, o canal encontra-se em exibição de sua sétima adaptação voltada para essa
audiência específica. Não obstante, para fins desta pesquisa, optou-se por restringir a análise
exclusivamente à telenovela Carinha de Anjo, em virtude de razões específicas que serão
enumeradas a seguir.
A primeira delas se deve ao fato deste ser um fenômeno ainda pouco explorado por
pesquisadores televisivos, já que, apesar dessas atrações apresentarem altos índices de
audiência e serem responsáveis por grande parte do faturamento anual do SBT, “de R$ 250
milhões em 2017 para a emissora, equivalente a um quarto de seu faturamento total no
mesmo ano” (RIBEIRO, RANGEL e REGIS, 2019, p.5), elas ainda não são objeto de muitos
estudos, principalmente através do viés de estilo de um produto e identidade de um canal10.
Mostra-se necessário avaliar o tipo de conteúdo que vem sendo construído e veiculado
nacionalmente por emissoras abertas, principalmente tratando-se de atrações que dialogam
diretamente com o público infantil, que podem influenciar de forma considerável
telespectadores já na primeira infância.
O segundo, que justifica a escolha de somente uma telenovela dentre as cinco
infantojuvenil produzidas pelo canal até o momento, se relaciona com o fato dessas obras
apresentarem uma certa homogeneidade visual e textual, assim, a identidade SBTista é
manifestada de forma bastante similar em todas as atrações. A ênfase concedida pela

9
Nesta pesquisa, o termo "brega" é empregado em consonância com a argumentação de Carmen Lúcia José,
conforme abordado em sua dissertação intitulada "Isto é brega, isto é brega" (1991). Segundo a autora, o
conceito de "brega" é utilizado como um meio de perpetuar a discriminação por parte daqueles que desfrutam de
prestígio social e cultural em relação a todas as outras esferas sociais, com o propósito de manter uma
perspectiva específica. Em outras palavras, o termo é atribuído conforme o contexto e o público que o consome.
10
No apêndice A da tese A Televisão Brasileira em Ritmo de Festa: A telepoética nas produções do SBT (2019)
João Paulo Hergesel faz um levantamento de todas as produções acadêmicas disponíveis em plataformas online,
em língua portuguesa, sobre SBT. O autor conclui que embora exista um número considerável de pesquisas
sobre o canal que focam em sua recepção, marketing e contexto sociológico, quando o assunto são os
procedimentos narrativos e as marcas estilísticas que caracterizam a telepoética da emissora, ainda há uma
carência de estudos.

15
emissora a um modo de produção que homogeneiza suas obras ficcionais acarreta uma
atividade excessivamente redundante ao analisar diversas obras em um mesmo estudo. A
própria forma como essas atrações são anunciadas, identificadas como "A próxima telenovela
do SBT", em contraponto à associação direta com seus autores ou horário de exibição, como
ocorre na Rede Globo, evidencia claramente essa padronização a partir da identidade
intrínseca ao canal.
Por fim, a decisão de estudar um arco narrativo específico da obra Carinha de Anjo,
que se desenvolve a partir do abandono da vida religiosa da personagem Cecília e as
consequências do ocorrido na vida da protagonista Dulce Maria, se deve ao fato do segmento
de treze capítulos refletir de forma constante as influências herdadas pela obra da matriz
cultural do melodrama e a proximidade que o SBT possui de outros países latino americanos
quanto a forma de produzir ficção, tendo como temática recorrente de suas telenovelas a
religiosidade, o romance e a tragédia.
Além disso, por se tratar de uma obra extensa, com 403 capítulos e mais de 200
horas de material televisionado, um recorte foi necessário a fim de viabilizar uma análise
estilística mais aprofundada do objeto. Sobre o assunto, Renato Luiz Pucci Junior declara:
(...) não é necessário fazer anotações sobre a obra inteira – diz um princípio da
metodologia analítica aplicável em relação ao cinema (Bellour, 1979, p. 10-11) e,
por excelentes razões, aos estudos de televisão. Mesmo que a análise completa fosse
possível no caso de um único filme (o que não é, além de que seria um trabalho
estafante e inútil), em relação à telenovela o empreendimento seria absurdo devido
às gigantescas dimensões do objeto. Para uma análise proveitosa devem bastar os
pontos que possam conter elementos para que se atinja o objetivo da investigação.
Não ter em vista essa possibilidade é um dos motivos por que críticos que se
propõem a analisar telenovelas se limitam, com frequência, a uma sinopse e à
passagem rápida de uma cena marcante para outra, sem chegar propriamente a se
caracterizar uma análise audiovisual. (2014, p.682)

A metodologia adotada para este trabalho foi a pesquisa qualitativa de análise de


imagens em movimento. A pertinência desse método na presente pesquisa se deve ao fato da
mesma abordar aspectos da dimensão interna de obras de ficção seriada, em especial a
questão do estilo. De acordo com Diana Rose “(...) os meios audiovisuais são um amálgama
complexo de sentidos, imagens, técnicas, composição de cenas, sequência de cenas e muito
mais” (2002). Portanto, ao propor uma análise mais aprofundada do conteúdo de produções
televisivas, mostra-se fundamental a escolha de um método de investigação que leve em
consideração a complexidade desse veículo de comunicação ainda tão presente nos lares
brasileiros.
Aliada a essa metodologia buscou-se articular uma discussão acerca das definições
de estilo a fim de entender os seus efeitos na audiência de produtos audiovisuais. Para isso,

16
foram utilizados como base deste trabalho estudos sobre televisão, em particular telenovelas
nacionais, que examinam os métodos de produção e convenções técnicas, sejam elas visuais
ou textuais, mais utilizadas nessas obras. Para Simone Maria Rocha (2014)

Os estudos sobre estilo televisivo chamam nossa atenção para o fato de que a
percepção das características dos programas e das condições de sua criação
ajuda-nos a avançar na compreensão de como eles funcionam. Tal processo
permite-nos entender tanto o programa isoladamente quanto tecer especulações
sobre a cultura na qual ele está inserido. Esse processo leva-nos, assim, a examinar
as atividades e as ferramentas dos realizadores (p.1089)

A autora continua argumentando que a televisão apoia-se no estilo (através do


cenário, iluminação, videografia, edição) para definir o tom/atmosfera de seus produtos assim
como para atrair os telespectadores e construir significados e narrativas, e que examinar este
processo significa “compreender como o estilo significa e qual é o seu significado em
contextos televisivos específicos” (ibidem).
É importante frisar, também, que diferente das formas audiovisuais fílmicas “a
televisão foi historicamente capaz de absorver elementos da complexidade (temática,
narrativa e audiovisual) do espetáculo cinematográfico” e isso foi um fator determinante para
que os produtos seriados da televisão se enquadrassem “como portadores de um ‘estilo’ mais
próprio.” (PICADO, 2019, p.89).
Diante disso, buscando entender como a identidade SBTista é transmitida nas
atrações do próprio canal, optou-se realizar uma análise exploratória de um arco narrativo de
treze capítulos de Carinha de Anjo através de seus conteúdos disponibilizados na íntegra pela
emissora em um de seus canais oficiais no YouTube11. Em seguida, foi realizada uma análise
estilística das cenas mais relevantes do arco, focando principalmente nos diálogos e
enquadramentos dos fragmentos selecionados.
O objetivo deste estudo foi realizar uma comparação entre os trechos de outras
telenovelas infantojuvenis do SBT, buscando identificar a presença de uma "fórmula" visual e
textual que evidencia a homogeneidade dessas obras e reforça a marca de ser uma atração
característica do canal. Através de uma análise minuciosa de elementos sonoros e visuais,
examinou-se de que forma a repetição dos mesmos aspectos narrativos, responsáveis por criar
a "estilística do melodrama infantojuvenil" (HERGESEL, 2016), em diferentes produções,
contribui para gerar uma sensação de unidade entre as obras do SBT. Esse padrão, por sua
vez, proporciona conforto aos telespectadores e evidencia o controle criativo da instituição
sobre suas produções.

11
Disponível em <https://www.youtube.com/c/TVZyn>. Acesso em: 18 de mar. de 2022.

17
Esta dissertação tem como fundamentação teórica estudos de renomados
pesquisadores nacionais e internacionais no campo do estilo audiovisual, como David
Bordwell, Jason Mittell, Simone Maria Rocha e Renato Luiz Pucci Junior. Além disso, para
embasar a presente pesquisa, foram adotadas três das quatro categorias da análise de estilo
proposta por Butler (2018): descritiva, analítica e histórica.
Outras contribuições relevantes foram obtidas a partir de estudos como "Melodrama,
folhetim e teledramaturgia: de Alexandre Dumas a Gilberto Braga, a interseção entre os
gêneros" (2014) de Marcone Edson de Sousa Rocca, "Telenovela como recurso
comunicativo" (2009) de Maria Immacolata Vassallo de Lopes e "Repetição, serialização,
narrativa popular e melodrama" (2009) de Daniela Zanetti. Essas obras permitiram uma
maior compreensão de como o melodrama influencia o funcionamento das produções do SBT
e como essa matriz se reflete diretamente nas obras do canal, aproximando suas telenovelas
mais do modelo de produção de outros países latino-americanos do que do próprio modelo
nacional.
O primeiro capítulo desta dissertação tem como pauta as relações entre o uso
heurístico do estilo na análise da ficção seriada televisiva e o fenômeno da identidade de um
canal de televisão. Para isso, foi realizada uma discussão, em perspectiva sócio-histórica,
sobre como o campo da pesquisa sobre a televisão delineia a questão da identidade de
empresas e de como é possível emergir a questão do estilo de certas programações, enquanto
especificação da “personalidade" de um canal, através de uma análise poética de seus
produtos e seus funcionamentos textuais. No caso do SBT, pode-se concluir que o sujeito
autoral é a própria emissora, e não figuras concretamente ligadas às obras.
O segundo capítulo oferece um resgate histórico que situa a criação e
desenvolvimento do SBT no contexto da televisão brasileira. Destaca-se como a proposta
inicial da emissora, de se posicionar como uma alternativa popular em relação à TV Globo,
se mantém até os dias atuais, conferindo-lhe um espaço singular na grade televisiva nacional
ao longo de mais de 40 anos. Além disso, neste mesmo segmento, investiga-se de forma
breve as principais estratégias adotadas pelo SBT para conquistar e fidelizar uma audiência
de matriz popular, analisando como essas abordagens se manifestam nas produções de ficção
seriada do canal e contribuem para sua singularidade dentro do panorama televisivo nacional.
Por fim, é apresentado um panorama cronológico das produções de ficção voltadas para o
público infantojuvenil realizadas pela emissora, culminando no lançamento da telenovela
Carinha de Anjo, objeto de estudo desta pesquisa.

18
Já o terceiro capítulo corresponde à análise propriamente dita do produto audiovisual
previamente citado. Dessa forma, é realizada uma apresentação técnica da telenovela, com
uma sinopse do enredo e informações sobre o processo de produção da obra. Em seguida, é
efetuada a aplicação das questões de análise estilística, orientadas principalmente pela teoria
do melodrama, pela poética do "familiar" e da repetição, no arco narrativo da atração já
descrito neste trabalho. Objetiva-se, a partir disso, entender como comportamento regular da
obra e a reiteração de alguns elementos em sua narrativa reportam a instituição realizadora,
acionando processos de identificação da mesma, por parte do público, como um produto
pertencente ao SBT.
Esta dissertação, portanto, surge com o propósito de investigar o fenômeno
midiático das telenovelas infantojuvenis do SBT sob o viés do estilo e autoria e visa
contribuir de forma positiva para o avanço dos estudos sobre identidade de empresas.
Espera-se também, com isso, ressaltar a importância cultural dessa emissora, que por muito
tempo foi negligenciada nos estudos televisivos, e compreender como traços estilísticos de
produções audiovisuais podem reforçar características identitárias de um canal e,
consequentemente, fidelizar uma legião de fãs a partir dos valores exaltados pela empresa.

19
CAPÍTULO 1 - UMA QUESTÃO DE ESTILO

1.1 O ESTILO NO AUDIOVISUAL

A presente dissertação concentra-se na análise da telenovela infantil "Carinha de


Anjo" (2016-2018), produzida pelo SBT, com o objetivo de examinar minuciosamente as
interações entre o estilo audiovisual dessas obras de ficção seriada televisiva e o perfil
empresarial da emissora responsável por sua criação. Nesse sentido, o ponto central da
pesquisa reside no uso da noção de estilo como uma ferramenta analítica para identificar e
compreender instâncias institucionais da gestão intencional das produções televisivas. O
estilo, ao moldar a experiência do espectador e transmitir sentimentos íntimos, torna-se um
elo entre as produções do SBT e a construção de sua identidade empresarial, pautada pela
busca do entretenimento popular e familiar. Através da análise poética dos recursos
estilísticos utilizados nas telenovelas infantojuvenis do SBT, é possível desvendar como a
repetição de uma fórmula narrativa específica cria uma notável homogeneidade entre essas
obras, associando-as às marcas autorais do próprio canal e transcendendo os criadores diretos
das produções. Assim, o estudo sobre o estilo revela-se como uma lente perspicaz para
compreender como as características identitárias da instituição televisiva se manifestam nas
produções ficcionais, evidenciando o controle criativo do SBT sobre suas atrações e
fortalecendo o imaginário afetivo ocupado por essa emissora junto ao público em geral.
Ao analisar o estilo de uma obra audiovisual, é essencial compreender a perspectiva
através da qual os estudos dessa temática se originaram, bem como identificar as áreas da
indústria que atuam de forma decisiva na criação do estilo de um produto e os efeitos das
práticas estilísticas específicas na espectatorialidade de uma determinada atração. A
discussão sobre estilo teve início com a análise fílmica, sendo David Bordwell um dos
maiores representantes dessa abordagem. Em sua célebre obra "Figuras Traçadas Na Luz"
(2008), o autor define estilo como a "textura tangível de um filme" (p. 32), ou seja, um
conjunto de técnicas do meio utilizadas de maneira sistemática e presentes na superfície
perceptual da obra, que atuam como ponto de partida na movimentação da trama, do tema e
do sentimento, resumindo tudo o que importa para o público.
O estilo, portanto, transcende a simples estética visual ou auditiva de uma obra,
sendo um elemento fundamental na experiência do espectador e na construção da identidade
das instituições responsáveis por sua produção. No caso do SBT e suas telenovelas
infantojuvenis, a análise estilística revela como a repetição de elementos narrativos

20
específicos cria uma homogeneidade característica das produções do canal, fortalecendo a
associação dessas obras com a identidade empresarial da emissora. Assim, compreender as
instâncias institucionais da gestão intencional das produções televisivas por meio do estilo é
essencial para desvendar a complexa relação entre a forma audiovisual e os propósitos
comerciais e artísticos da emissora, além de evidenciar como o SBT utiliza suas produções
ficcionais como uma poderosa ferramenta para consolidar sua identidade no mercado
televisivo e conquistar o imaginário afetivo do público.
A questão da afetividade despertada nos espectadores através do uso de técnicas
audiovisuais, inclusive, é um ponto central nos estudos de Bordwell. Segundo ele, o estilo
pode ter uma presença tão sutil ao olhar descompromissado de um produto que pode ser
capaz de afetar uma audiência sem ela ao mesmo perceber, já que "em grande parte do
cinema narrativo, a ficção é orquestrada para nosso olhar pela encenação cinematográfica,
que é construída para informar, manifestar ou simplesmente encantar visualmente.” (2008, p.
29).
O autor continua declarando que o afeto do público por uma obra é gerado a partir
de duas instâncias específicas do estilo: a função denotativa, com a “descrição de cenários e
personagens, a narração de suas motivações, a apresentação dos diálogos e do movimento” e
as qualidades expressivas, que “podem ser transmitidas pela iluminação, pela cor, pela
interpretação, pela trilha musical e por certos movimentos de câmera” (BORDWELL, 2008,
p. 59).
Pensando justamente em como os recursos técnicos afetam a espectatorialidade de
produções audiovisuais a análise estilística mostra-se uma atividade de grande relevância
para os estudos da comunicação pois, como Bordwell destaca, “sem interpretação e
enquadramento, iluminação e comprimento de lentes, composição e corte, diálogo e trilha
sonora, não poderíamos apreender o mundo da história” (BORDWELL, 2008, p. 57).
Além disso, um exame mais atento a dimensão poética de obras audiovisuais
permite que o pesquisador entenda como os programas são produzidos a partir do ponto de
vista dos produtores, estes podendo ser tanto profissionais diretamente ligados às obras, como
autores, roteiristas, diretores, como também as próprias instituições realizadoras, caso mais
recorrente em produções de ficção seriada televisiva.
É possível perceber, através da análise produtos originais de grandes emissoras de
televisão, como as organizações são responsáveis por determinar as normas de uma obra de
entretenimento. De acordo com Bordwell, instituições culturais podem incentivar, e até
mesmo exigir, um estilo particular de atração por meio da definição dos fins ou das questões

21
a serem tratadas pelo seu texto (2008, p. 310 apud ROCHA, 2014, p. 1091). Entre os
objetivos dessa prática estão o de adequar o tom da produção às expectativas e gostos do
público do canal, manter uma unidade de estilo entre os programas da emissora e utilizar a
narrativa da atração para reforçar a identidade da instituição.
Após explorar os fundamentos do estilo audiovisual no cinema, com base nas teorias
de David Bordwell, torna-se essencial transpor essa discussão para o contexto televisivo
levando em consideração a influência de algumas especificidades particulares desse meio de
comunicação no âmbito poético de suas obras. Embora Bordwell seja reconhecido como um
teórico do cinema, muitos dos conceitos e princípios abordados em suas obras são aplicáveis
à análise de produtos televisivos, como as telenovelas infantojuvenis. Ao investigar a "textura
tangível" e as técnicas estilísticas presentes nas produções televisivas, incluindo
enquadramento, iluminação, trilha sonora e estilo de atuação, é possível identificar como
esses elementos contribuem para a experiência do espectador e a construção da narrativa e
atmosfera da história. Além disso, é fundamental compreender como o estilo das telenovelas
funciona como ponto de partida para a movimentação da trama e a evocação de sentimentos
específicos no público. Ao explorar a influência das instituições culturais e do perfil
empresarial do SBT na criação e manutenção do estilo das telenovelas, a dissertação revelará
como a identidade da emissora se manifesta nas produções, fortalecendo o imaginário afetivo
ocupado pelo canal junto ao público infantojuvenil. Assim, a análise do impacto do estilo
audiovisual nas telenovelas se configura como uma lente perspicaz para compreender a
interação entre a linguagem televisiva, as estratégias empresariais e a espectatorialidade das
produções, proporcionando uma compreensão abrangente desse fenômeno televisivo.
Nesse sentido, entendendo a relação de interdependência entre a discussão sobre
estilo audiovisual e marcas de autoria, o presente capítulo busca identificar como é possível
emergir a questão do estilo de certas programações, enquanto especificação da identidade de
uma emissora televisiva, através de uma análise poética de seus produtos e seus
funcionamentos textuais.

1.2 ESTILO TELEVISIVO E MARCAS DE AUTORIA

Segundo Simone Maria Rocha quando se buscou legitimar a programação televisiva,


isso foi feito antes por seu interesse sociológico do que por seu interesse estético (2014, p.
1093). Por esse motivo, enquanto na investigação sobre cinema o destaque tem sido, há anos,
o discurso crítico, nos estudos sobre televisão, até hoje, o foco costuma recair sobre o valor e

22
a importância cultural do meio nas sociedades contemporâneas (ibidem, p. 1083), com
extensas discussões teóricas e metodológicas acerca das audiências.
É evidente que se tratando do meio de comunicação massivo mais poderoso e
predominante no mundo (MITTELL, 2010, p.2) mostra-se pertinente entendê-lo também
como prática cultural. No entanto, a televisão é muito mais multifacetada do que tendemos a
vê-la (ROCHA, 2014, p.1083) e quando estudos audiovisuais negligenciam aspectos técnicos
de sua composição para focar apenas na sua importância cultural a análise não é capaz de
contemplar sua complexidade. Por isso, para realizar uma abordagem que não exclua ou
supervalorize uma parte do circuito é necessário ir além do repertório consolidado e buscar
entender como os padrões tecnológicos da TV moldam as normas de produção e as formas
textuais de suas atrações, ou seja, o seus estilos (ROCHA, 2014, p.1085).
Dessa forma, baseado nas ideias de David Bordwell, Jeremy Butler (2010) expande
essa discussão para além das produções cinematográficas e define estilo televisivo como
“qualquer padrão técnico de som-imagem que sirva uma função dentro do texto” (p.15) e
envolve tanto a estrutura quanto a superfície das obras, atuando como “a rede que mantém
juntos seus significantes e através do qual os seus significados são comunicados.” (ibidem).
Como pontua Simone Maria Rocha, a princípio, “a TV não apenas adota diretamente
as técnicas estilísticas do cinema, como seus críticos usam conceitos desenvolvidos nos
estudos fílmicos para analisar os elementos do estilo televisivo” (ROCHA, 2014, p.1094).
Porém, com o passar dos anos, são destacados os modos particulares através dos quais a
televisão usa o estilo de uma maneira distinta da sétima arte e uma adaptação na análise
estilística desse meio se faz necessária, principalmente, quando se considera pesquisas que
revelam que as pessoas ficam em média de 5 horas por dia assistindo TV, ou seja, a relação
com a espectatorialidade se dá em outros termos e condições (ibidem).
É evidente que quando se observa veículos de comunicação diferentes deve-se
entender que alguns aspectos são inerentes de cada meio analisado. No entanto, quando se
fala de televisão, foram justamente as suas características particulares que a tornaram alvo de
críticas, por décadas, acerca de uma suposta falta de qualidade técnicas de suas produções.
Como destacado por Renato Luiz Pucci Junior, "as telenovelas não foram os únicos
programas a sofrer pesados ataques, mas sempre estiveram entre os mais criticados'' (2014,
p.676). Isso ocorreu devido ao modelo acelerado de produção televisiva. Enquanto “no
cinema dispõe-se geralmente de três a oito semanas para filmagens que resultarão em cerca
de 90 a 120 minutos de filme, num ritmo diário de poucos minutos efetivamente filmados”, a
telenovela “é gravada ao ritmo de 45 a 60 minutos de material a ser exibido, cerca de metade

23
de um longa-metragem por dia” (JUNIOR, 2014, p.678). Dessa forma, críticos alegavam que
sua composição audiovisual estaria atada ao ritmo intenso de gravação e pós-produção.
(JUNIOR, 2014, p.677)
É por esse motivo que atribuiu-se à telenovela “uma irremediável pobreza no uso da
linguagem audiovisual, com danos irreparáveis à sua estética” já que, devido às rotinas
corridas de gravação esse tipo de obra estaria eternamente “conectado ao baixo nível do
trabalho com a imagem e à ênfase em um único aspecto sonoro: os diálogos” (JUNIOR,
2014, p.677).
Felizmente, com o passar dos anos, essas características técnicas da televisão, antes
vistas como defeitos, passaram a ser enxergadas como especificidades do meio. Além disso,
algumas análises recentes sobre o tema enfraquecem argumentos de que programas
televisivos carecem de estilo. Elas buscam entender como o estilo televisivo pode ser
excessivo e exibicionista – conceito chamado de televisuality por Caldwell (1995) – e como
ele influencia na produção de sentido e no posicionamento do telespectador, investigando a
relação entre o produto midiático e o contexto cultural que o circunvolve. Deste modo,
estudar o estilo televisivo é, também, “estar atento aos impactos que elementos estilísticos de
outros meios exercem sobre a televisão; é analisar como as formas não ficcionais, fazem uso
de convenções estilísticas determinadas e socialmente compartilhadas”. (JUNIOR, 2014,
p.1089).
É necessário entender o que ainda faz tantas pessoas ao redor do mundo dedicarem
horas de lazer diariamente a um veículo de comunicação. E para isso, cada faceta da televisão
é vital a um entendimento mais amplo desse meio, e nenhuma função sozinha deve ter a
prioridade sobre as demais na explicação do seu complexo funcionamento (ROCHA, 2014,
p.1085). Assim, ainda que se tenha como objetivo entender a TV como prática cultural é
pertinente também falar em estilo e compreender como alguns fatores, tais quais as condições
de criação e as decisões dos idealizadores de uma obra tem papel importante no
funcionamento da mesma e interferem, até mesmo, na espectatorialidade do produto.
É através do estilo – cenário, iluminação, videografia, edição etc. – que o tom da
atração é definido, narrativas são construídas e os públicos são atraídos. Sobre isso, Simone
Maria Rocha (2014) adiciona:
Examinar as práticas formais da televisão permite que o estudioso pense como um
criador, entendendo como os programas são produzidos da perspectiva dos
produtores. Da perspectiva dos telespectadores esse conhecimento também é útil,
pois estar consciente dos elementos formais permite um entendimento mais
sofisticado da programação, além de uma apreciação mais nuançada de textos que
são mais ambiciosos do ponto de vista estético. Consciência formal também permite

24
uma visão crítica sobre a produção de sentidos. Entender as estruturas formais que
os textos usam para comunicar com os telespectadores nos ajuda a desvendar os
modos pelos quais um anúncio nos persuade, um noticiário molda nossas
perspectivas ou um drama retrata o mundo. Análise formal é uma ferramenta crucial
para um telespectador alfabetizado em TV. (p.1087)

Como mencionado pela autora, o exame de práticas formais do meio televisivo


permite que o pesquisador “pense como um criador” pois as noções de estilo e autoria de uma
obra estão diretamente relacionadas. São as escolhas criativas dos escritores/roteiristas
(obviamente alinhadas a estratégias empresariais e visando atingir determinados públicos)
que ditam o emprego de certos recursos narrativos, visuais, sonoros e tecnológicos, assim
como suas equipes de produção, seus gêneros discursivos e suas pretensões de efeitos na
audiência (PICADO, SOUZA, 2018, p.55). Em outras palavras, o estilo vai além dos
elementos perceptíveis de um produto e revela escolhas do agente consagrado como autor,
promovendo um reconhecimento da obra por parte do público quando contrastada com outras
de diferentes autorias.
Na obra Complex TV: The poetics of contemporary television storytelling (2015),
Jason Mittell dedica um capítulo inteiro para discorrer sobre questões de autoria na literatura,
no cinema e na televisão. O autor destaca que enquanto no universo literário imaginamos a
autoria por originação, “na qual um único criador concebe cada palavra e, assim, é
responsável por criar tudo o que se encontra no texto” (p. 87) no cinema essa autoria é
comumente atribuída ao diretor da obra, mesmo sendo de conhecimento geral que esse único
indivíduo não tem responsabilidade direta por todos os aspectos do texto final, já que o
processo criação de um filme envolve diversos artistas, como equipes técnicas, designers,
executivos e roteiristas (p. 88).
O motivo dessa atribuição autoral é menos focado no que o diretor cria pessoalmente
e mais relacionado à autoridade singular desse profissional como tomador de decisão final
sobre cada escolha. Segundo Mittell “um momento específico em um filme pode não ter sido
planejado ou executado pelo diretor, mas ele ou ela é o responsável final por optar por
incluí-lo na obra finalizada, modo de atribuição que poderíamos chamar de autoria por
responsabilidade” (ibidem).
De forma semelhante as obras cinematográficas, as narrativas televisivas também
são altamente colaborativas, com dezenas de indivíduos participando de suas produções. No
entanto, a forma serial do meio muda a natureza do processo de produção e,
consequentemente, a atribuição de autoria. Como aponta Mittell
A necessidade criar uma série contínua que dura anos é um processo muito diferente
do sistema limitado de produção cinematográfica, que normalmente tem fases

25
segmentadas de pré-produção (escrita, ensaio e planejamento), produção (filmagem)
e pós-produção (edição, efeitos especiais e mixagem de som). Em uma série de
televisão em andamento, diferentes episódios abrangem esses vários estágios
simultaneamente - um ou mais episódios podem estar sendo escritos, outro episódio
em fase de planejamento para a próxima produção, um sendo filmado e alguns
outros em processo de edição de imagem e som e tendo efeitos visuais adicionados
(ibidem).

Esse sistema de produção televisiva requer uma supervisão que normalmente é


concedida aos chamados "produtores". Neste modelo, os produtores são os responsáveis
finais pelas escolhas que moldam o trabalho finalizado em um modelo intitulado de “autoria
pela gestão” (ibidem). No entanto, Mittell continua declarando que destacar as funções
gerenciais dos produtores não é negar papel criativo dos mesmos em uma obra mas enfatizar
o papel adicional que eles assumem ao dirigir uma série em andamento, além de destacar a
importância da equipe que muitas vezes fica responsável por uma única série por anos.
Com o crescente valor atribuído à televisão, o papel do produtor passou por
transformações significativas, ganhando maior destaque como figura autoral e contribuindo
para a legitimação cultural desse meio de comunicação. Nesse processo de reconhecimento, a
autoria deixou de ser percebida apenas como uma faceta da produção televisiva, passando a
ser compreendida como um processo que também se desdobra no ato de recepção pelo
espectador. É nesse momento que a retórica da função do autor ganha vida, influenciando os
processos de interpretação, avaliação e envolvimento do público com a obra audiovisual (p.
105). Contudo, surge a questão: e quando as marcas de autoria presentes em uma obra
revelam mais sobre uma instituição do que sobre uma pessoa física por trás de sua produção?
Essa indagação é justamente o cerne desta pesquisa, que busca explorar a natureza das
marcas autorais presentes nas telenovelas infantojuvenis do SBT. Mais do que uma simples
identificação de um autor individual, o estudo procura compreender como a identidade da
emissora se manifesta nessas produções, estabelecendo uma relação intrínseca entre o estilo
audiovisual das obras e o perfil empresarial do canal. Ao analisar o elo entre estilo e
identidade empresarial, a pesquisa desvendará como as características identitárias do SBT
transcendem os criadores diretos das telenovelas, conferindo à instituição uma aura autoral
que permeia suas atrações e fortalece o vínculo afetivo com o público. Assim, o próximo
subcapítulo explorará o conceito de identidade de emissoras televisivas, elucidando como a
construção de uma marca autoral coletiva se revela no âmbito poético das produções
televisivas, especialmente nas telenovelas do SBT.

26
1.3 IDENTIDADE DE EMISSORAS TELEVISIVAS

Como já adiantado neste capítulo, a dimensão social dos aspectos de estilo e autoria
nas obras de ficção seriada é um recurso eficaz para gerar o reconhecimento na audiência, já
que a mesma “contribui na seleção das obras pelas produtoras/distribuidoras e pelos
consumidores, na escolha daquelas que serão acompanhadas, cultivadas e adoradas, objeto da
crítica de fãs, jornalistas e estudiosos” (Esquenazi, 2011; Silva, 2014; Tous-Rovirosa, 2009
apud PICADO, SOUZA, 2018, p. 54). São essas mesmas concepções de estilo, inclusive, que
orientam as estratégias de divulgação, distribuição e formulação de produtos e, ao mesmo
tempo, colaboram na formação da identidade empresarial das emissoras que veiculam essas
obras (Buonanno, 2008; Caldwell, 2008; Mittell, 2015 apud PICADO, SOUZA, 2018, p.54).
Pensando nisso, tem-se como proposta deste segmento buscar entender como o estilo
audiovisual pode ultrapassar os limites de uma obra e criar um sentimento de homogeneidade
em toda uma programação, exprimindo a “personalidade" de uma emissora televisiva.
Segundo Philip Kotler, a marca é “um sinal, símbolo ou design ou uma combinação
destes, que se destina a identificar os produtos ou serviços de um vendedor ou de um grupo e
diferenciá-los dos restantes concorrentes" (Kotler, 2011 apud SALGADO, 2013, p. 18). A
criação de uma marca, indissociavelmente, vem atrelada a um conjunto de ações chamado
Branding, que tem como meta descobrir o que o consumidor espera da empresa e, através das
características da marca, conseguir corresponder a essas expectativas (Aaker 1998 apud
SALGADO, 2013, p. 19). Dessa forma, é através do Branding que ocorre o processo de
criação da identidade da marca, a sua expressão exterior, incluindo as definições de nome,
marca registada, comunicação e aparência visual (Neumeier 2004 apud SALGADO, 2013, p.
19).
De acordo com Lucy Carlinda da Rocha Niemeyer e Raquel Ferreira Ponte (2009) a
identidade televisiva surgiu com o objetivo de diferenciar o canal, organizar o fluxo da
programação e transmitir de maneira prática os conceitos e os valores da emissora para os
telespectadores. Fazem parte da identidade televisiva os signos visuais (como cores, formas,
linhas, tipografias, grafismos etc.), os sonoros (ritmos, timbres, intensidade etc.) e os verbais
(texto, narrativa etc.) (PONTE, 2009, p. 25).
Apesar do estudo das autoras citadas focar nas chamadas “vinhetas on air”,
compostas por peças de design audiovisual transmitidas nos intervalos comerciais das
emissoras, é interessante pensar em como estratégias de comunicação como essa, originadas
no anos iniciais da televisão, representam os primeiros passos rumo a construção de algo que,

27
anos mais tarde, se tornaria essencial para essas instituições: uma sólida imagem
organizacional.
A identidade de uma marca deve então ter características e personalidade, que criem uma
relação com o consumidor mais pessoal e emocional que o próprio produto em si. A marca
passa a ter uma personificação que envolve formas, cores, tamanhos, movimentos e
também uma voz própria (SALGADO, 2013, p. 19).

Por oferecerem um tipo de serviço intangível, as emissoras televisivas são


caracterizadas por uma invariável perecibilidade (DA ROCHA NIEMEYER e PONTE,
2009). Assim, para atrair a atenção dos telespectadores, fidelizar a sua audiência e,
consequentemente, garantir um número favorável de anunciantes, os canais usam indícios
que legitimam a vantagem que o indivíduo terá ao escolhê-lo.
Desenvolver lealdade da marca faz com que clientes, que se sentem seguros, não busquem
experimentar outros canais de televisão. A satisfação do cliente mantém sua fidelidade à
emissora e fidelidade gera hábito de consumo. Ao assistir habitualmente a um canal, o
público passa a conhecer a grade de programação, aprendendo a lógica de sua emissora.
Isso faz com que seja mais difícil para ele mudar de canal, pois toda mudança envolve um
novo custo de aprendizado. A familiaridade contribui para que o consumidor já saiba o que
esperar daquela emissora. A falta de conhecimento de um determinado canal torna o
espectador perdido, pois ele desconhece os produtos que podem ser oferecidos, o que
aumenta a percepção de risco (DA ROCHA NIEMEYER e PONTE, 2009, p. 4).

Ao ligar a televisão ao final do dia, o telespectador busca sentir um determinado tipo


de emoção. Para evitar que esse desejo se torne frustração, é comum que ele escolha
sintonizar na opção mais segura para si, ou seja, um canal que já tenha fidelizado a sua
audiência e que tenha uma forte identidade corporativa. Como destaca David Aaker enquanto
“o produto é algo feito na fábrica; a marca é algo que é comprado pelo consumidor: O
produto pode ser copiado pelo concorrente; a marca é única. O produto pode ficar
ultrapassado rapidamente; a marca bem sucedida é eterna” (1998 apud SALGADO, 2013, p.
19). Desse modo, as estratégias de distinção utilizadas pelos canais de televisão acabam
transformando instituições em enunciadoras, dotadas de um ponto de vista e responsáveis por
aquilo que dizem (SAMPAIO, 2007, p. 94) e ao mesmo tempo fortalece o laço com o seu
público, aumentando os seus índices de audiência (ibidem, p. 95).
Cada emissora de TV constrói uma identidade com base na programação que
escolhe para atrair a determinados públicos (Souza, 2004:52-53 apud DE BARROS e
BERNARDES, 2012, p. 4). Em contrapartida, é o público que oferece os parâmetros para que
os produtores das emissoras tomem suas decisões acerca dos arranjos simbólicos e suas
formas de exploração nos enredos, tramas e sequências a serem incorporadas ou até mesmo
abolidas da programação. Sendo assim, as instâncias da produção e da recepção, ou
codificação e decodificação, são necessariamente interdependentes já que a tipologia dos

28
programas e os formatos, portanto, funcionam como ponte entre as esferas da produção e da
recepção, com interferências múltiplas sobre ambas (DE BARROS e BERNARDES, 2012, p.
184).
Sendo a cultura um processo de mediação (BARBERO, 1995) não há como separar
o estudo da recepção dos processos de produção, uma vez que o discurso do emissor pode
servir a diferentes objetivos e interesses. Operando como estratégia de comunicação, fato
cultural e modelo articulado às dimensões históricas do seu espaço de produção e
apropriação, “os conteúdos congregam, na mesma matriz cultural, referenciais comuns tanto
a emissores e produtores como ao público receptor” (DE BARROS e BERNARDES, 2012, p.
184).
Ao longo de quase cem anos de história12 da televisão, diversos pesquisadores da
comunicação como Umberto Eco (1983), Francesco Caseti e Roger Odin (1990) e François
Jost (1998) chegaram a conclusão de que esse meio pode ser compreendido, em síntese, a
partir de três estruturas: 1. Informação (mundo real), 2. Ficção (mundo fictício) e 3. Fantasia
(mundo lúdico). Baseado nesse pensamento Adriano Sampaio aponta que modo de
funcionamento dos canais de televisão no Brasil, até hoje, segue uma lógica bastante similar,
podendo ser dividido três grandes departamentos, sendo eles: Jornalismo (discurso da
informação/ mundo real), Entretenimento (mundo lúdico) e Teledramaturgia (mundo fictício)
(SAMPAIO, 2007, p. 96).
A partir dessa analogia, Adriano Sampaio vai além e propõe a hipótese de que a
identidade da marca de um canal de televisão está subdividida nestes três mundos
mencionados.
Assim, existe uma identidade da marca (IC) do canal presente no mundo real (IR);
uma identidade da marca no mundo lúdico (IL); e no mundo da ficção (IF). Deste
modo, a identidade da marca do canal de televisão é igual ao somatório das
identidades de marca presentes nos outros mundos (IC = IR + IL + IF) (2007, p.
97).

Em seguida, o pesquisador propõe uma segunda hipótese: a de que os "gêneros mais


puros" de cada um dos três mundos expressam as estratégias que cada canal de televisão
utiliza para se distinguir da sua concorrência. Segundo ele, o "gênero puro" do discurso da
informação é o telejornal, o gênero do discurso da ficção são as séries, ou no caso do Brasil,

12
“Philo Farnsworth, em 1927, criou a forma de televisão que conhecemos hoje.”. Acesso em: 27 de dez. de
2022. Disponível em
<https://www.ufmg.br/espacodoconhecimento/historia-da-televisao/#:~:text=Philo%20Farnsworth%2C%20em
%201927%2C%20criou,de%20televis%C3%A3o%20que%20conhecemos%20hoje.>.

29
as telenovelas, e gênero do mundo lúdico são os programas de jogos ou de auditório (JOST,
1999 apud SAMPAIO, 2007, p. 98).
Sobre isso, é interessante notar que os gêneros denominados puros, por apresentarem
menos hibridizações, são também os programas de maior audiência: os telejornais, as
telenovelas e os programas de auditório. Consequentemente, nestes programas são investidos
os maiores recursos tanto simbólicos como materiais pelos canais de televisão (SAMPAIO,
2007, p. 98).
Por fim, a última hipótese do trabalho de Sampaio está em supor que o
direcionamento das estratégias de distinção de cada um dos mundos televisivos é orientado
pelos três conceitos criados por Semprini (1992): Credibilidade, Sedução e Legitimação,
“pois eles estão presentes em todos os processos de distinção da identidade da marca”
(SAMPAIO, 2007, p. 98).
Sendo assim, o autor declara que a análise da identidade da marca de um canal de
televisão pode ser feita a partir da comparação entre duas instâncias: 1. Promessa e II.
Reconhecimento. Pois “se o canal faz uma promessa ao seu público - através da sua
identidade de marca presente em cada um dos três mundos (real, lúdico e fictício) - existe
também a desconfiança (Quérré, 2005) por parte do seu público se haverá a efetivação desta
promessa” (SAMPAIO, 2007, p. 99). E é através dessa dinâmica de promessa,
reconhecimento e, consequentemente, fidelização as instituições televisivas que o
telespectador torna evidente sua identidade perante a sociedade (DA ROCHA NIEMEYER e
PONTE, 2009, p. 4).
Segundo Stuart Hall, a identidade na pós-modernidade não é algo estável e fixo, mas
sim “uma ‘celebração móvel’: formada e transformada continuamente em relação às formas
pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam”.
(HALL, 2006, p. 12-13). Assim, os sujeitos pós-modernos não têm apenas uma identidade,
mas sim múltiplas, ainda que temporárias, assumindo para si personas diferentes de acordo
com a situação de interação com seus pares.
Refletindo sobre essa perspectiva e sustentados pela hipótese de que, no contexto do
SBT, a responsabilidade pelo agenciamento das marcas de estilo recai sobre a própria
emissora, tem-se como proposta final deste capítulo uma análise do papel desempenhado pelo
canal nesse processo de interação espontânea e afetiva com seu público. Em outras palavras,
busca-se compreender quais estratégias de comunicação são empregadas pelo SBT para
fidelizar sua audiência e, consequentemente, destacar-se de maneira singular dentro da grade
televisiva nacional.

30
1.4 A IDENTIDADE SBTISTA

Diante de um cenário de instabilidades e mutações características da


pós-modernidade, é natural que as pessoas busquem suas identidades individuais através de
experiências coletivas. As comunidades, que anos atrás eram formadas por pessoas que
dividiam o mesmo território ou parentesco, agora são formadas por pessoas que dividem os
mesmos interesses.
Levando em consideração a forte influência que os meios de comunicação exercem
na construção da identidade dos indivíduos atuais, “já que eles fazem a mediação do
sentimento de pertencimento” (MARTINS e DE BRITO TORRES, 2013, p.4) é comum que
esses agrupamentos, ou comunidades de afeto, muitas vezes, girem em torno da exaltação de
produtos audiovisuais. E em um país como o Brasil, em que televisões estão presentes em
95,5% dos lares13, é possível deduzir a importância desse meio como mediador de
“experiências constituidoras de identidade a partir do momento em que veicula e/ou produz
significações e representações da realidade” (ibidem).
Nesse sentido, a televisão tem o poder de atuar como
uma forma de laço social, que une uma “comunidade nacional”, ou seja, pessoas
que, assistindo a uma mesma programação, consideram-se um grupo, por saber que
essa experiência é comum a outros indivíduos, até mesmo quando separados
geograficamente. Segundo essa concepção, os receptores ficam coesos também por
se verem na tela, já que a televisão pode ser considerada, em certa medida, como
um “espelho da sociedade”, cujas imagens contribuem para forjar um laço entre os
que assistem a ela e reconhecem-se nas imagens emitidas (WOLTON, 1996 apud
MARTINS e DE BRITO TORRES, 2013, p. 5).

Esse “laço social” formado a partir do sentimento de reconhecimento do público


torna-se ainda mais intenso quando o mesmo pode, de fato, se ver no conteúdo veiculado na
mídia. E é possível perceber que esse pensamento sempre esteve na base das estratégias de
comunicação do Sistema Brasileiro de Televisão.
Como aponta Rafael Barbosa Fialho Martins e Hideide Aparecida Gomes de Brito
Torres, o SBT, “além de ser conhecido como ‘o canal de Silvio Santos’, pode ser identificado
como a emissora mais querida e com mais defensores do Brasil, por guardar uma singular
relação de fidelidade com seus telespectadores, ainda não vista em outras emissoras abertas”
(2013, p. 1). Os fãs do canal, os autointitulados SBTistas, não apenas veem seus programas
como torcem pelo sucesso da emissora, como uma torcida de um time de futebol, vibrando

13
Disponível em
<https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2022/09/celular-e-internet-avancam-em-lares-brasileiros-tv-e-computa
dor-caem.shtml#:~:text=TV%2C%20computador%20e%20tablet%20t%C3%AAm%20baixa&text=O%20n%C
3%BAmero%20total%20de%20lares,era%20de%2030%2C3%25.>. Acesso em: 16 de jan. de 2023.

31
com cada liderança de audiência conquistada ou se chateando com as derrotas. Além disso,
estão nas “normas de conduta” de um SBTista as atitudes de interagir com os artistas da casa,
compartilhar informações verdadeiras sobre a emissora, ter conhecimento aprofundado sobre
ela, criticá-la quando preciso (principalmente a respeito de sua “grade voadora”) e respeitar a
opinião dos outros fãs. Dessa maneira, eles acreditam estar contribuindo para o sucesso da
empresa, “como se fossem funcionários ou voluntários para uma “causa” maior que os une –
‘o bem do SBT’” (MARTINS e DE BRITO TORRES, 2013, p.7).
Esse fenômeno peculiar, já que se trata de fãs não de artistas em específico, mas de
uma emissora como um todo (MARTINS e DE BRITO TORRES, 2013, p.2), mostra-se entre
os indivíduos desse grupo um hábito adquirido ainda na infância. O motivo é o forte
investimento do canal, desde a sua criação, em programação infantil. Isso, somado ao fato do
SBT ser uma instituição que reconhece a importância do sentimento de nostalgia no seu
público mais cativo e reforça ela constantemente em sua programação, com inúmeras reprises
de suas atrações de maior sucesso, faz com que o fã tenha a marca no seu imaginário quando
se recorda da infância e associe a história da emissora à sua própria história de vida.
A partir disso, pode-se notar uma tentativa dos SBTistas de “volta ao passado”
(WOODWARD, 2000 apud MARTINS e DE BRITO TORRES, 2013, p.8) e de autenticar
uma identidade através de um suposto passado em comum entre os membros do grupo
(HALL, 1990 apud MARTINS e DE BRITO TORRES, 2013, p. 8), uma vez que está sempre
presente na fala dos indivíduos desse grupo os tempos áureos do SBT, caracterizados por uma
grade de programação consolidada e produções de qualidade, que parecem não voltar mais
(ibidem).
Outro ponto recorrente na fala dos SBTistas é a idealização extremamente positiva
do canal. Além de não esconderem a vontade de visitarem seus estúdios, “numa espécie de
realização material da identidade que assumem” (MARTINS e DE BRITO TORRES, 2013,
p. 11) muitos admitem ter o sonho de trabalhar na emissora por enxergarem ela como uma
"fábrica de sonhos” em que “todos trabalham felizes” (ibidem).
Naturalmente, essa idealização positiva do canal se estende a sua figura mais
importante: Silvio Santos. Considerado o “pai dos SBTistas”, o empresário carioca Senor
Abravanel consegue sintetizar em sua imagem todas as características mais marcantes da
empresa que criou, como a alegria, o sentimento família e a descontração, atuando como a
própria personificação da emissora. Não à toa, é uma unanimidade entre os fãs do canal a
admiração ao apresentador, pois, além dessa associação positiva, o comunicador possui uma

32
trajetória de vida considerada um exemplo de superação e vitória para seu público que
sempre foi composto, majoritariamente, pelas classes C, D e E.
Sendo assim, “há uma relação de identificação e projeção pessoal em relação a
Silvio Santos, a qual leva os SBTistas a compartilharem afetivamente a situação
psicológica/moral desse outro por quem eles se sentem identificados” (MARTINS e DE
BRITO TORRES, 2013, p.13). A partir da linguagem de seus produtos, de suas escolhas de
programação e de sua estratégia de comunicação com vinhetas14 que reforçam a sua imagem
organizacional, a emissora se projeta como parceria do telespectador através de um discurso
quase evangelizatório (FREITAS, 2011 apud MARTINS e DE BRITO TORRES, 2013, p.
13). Por isso, a identidade SBTista não é estabelecida somente pelo conteúdo dos programas
mas sim por uma ideia que se faz do SBT como um todo e do que ele representa para o
telespectador (MARTINS e DE BRITO TORRES, 2013, p.14).
Em vista disso, o grande diferencial do SBT está em estimular e reconhecer a
participação de seus “devotos”. Desde a sua inauguração, o canal tem a tradição de incentivar
a colaboração do público por meio de cartas, telefonemas, presença nos auditórios e, com a
criação e popularização da internet e das redes sociais, a presença online. Ao mesmo tempo, o
SBT também mostra estar ciente do fenômeno de participação ativa de seus telespectadores, e
retribui o carinho organizando diversas ações junto ao grupo como reportagens e programas
especiais, produtos inéditos em sua loja virtual e, até mesmo, levando-os para conhecerem a
sede da emissora, com o Encontro Nacional dos SBTistas, no qual fãs escolhidos através de
um concurso visitam os estúdios do Centro de Televisão da Anhanguera (CDT).
Da mesma forma em que os SBTistas têm a consciência de que a identidade do
grupo é formada a partir dos valores emitidos pelo SBT, eles conseguem também visualizar
uma identidade própria da emissora, que a distingue das demais. Os aspectos do canal que
mais chamam a atenção para os fãs são o seu forte “apelo popular, a ‘vocação’ para
programas de auditório, a ‘leveza’ da programação, a independência editorial de seu
jornalismo, a exibição de novelas mexicanas etc.” (MARTINS e DE BRITO TORRES, 2013,
p.10).
Com essa declaração pode-se destacar um elemento essencial a ser levado em
consideração quando o assunto é a formação de identidades: a diferença. Isso porque a
identidade é estabelecida a partir das relações com o outro, não apenas pelo que o indivíduo
afirma que é, mas também por aquilo que ele afirma que não é (WOODWARD, 2000 apud

14
Na dissertação “A TV mais feliz do Brasil” A proposta de interação do SBT com a audiência, Rafael Barbosa
Fialho Martins utiliza como objeto empírico de seu estudo as vinhetas institucionais do canal.

33
MARTINS e DE BRITO TORRES, 2013, p.12). Sendo assim, “o estabelecimento de posição
em relação aos outros canais reforça o discurso tanto da identidade SBTista quanto do próprio
SBT” (ibidem).
De acordo com essa comunidade de admiradores do canal de Silvio Santos existe
uma diferença notável entre a recepção do SBT e dos outros canais, principalmente quando a
comparação é feita com a maior emissora do país, a Rede Globo. Apesar de haver quase um
consenso de que, tecnicamente, a emissora líder em audiência é melhor do que o SBT,
segundo os SBTistas, ela não tem o mesmo apelo de identificação. Uma prova disso é o
próprio reconhecimento do SBT da “superioridade” de sua concorrente, se vendendo desde o
seu surgimento como alternativa diferenciada à programação da emissora líder (MARTINS e
DE BRITO TORRES, 2013, p.12). Enquanto a Rede Globo aposta em inovação, o SBT
cativa por manter o conservadorismo.
Dessa forma, é inegável que o SBT conquistou um lugar privilegiado no imaginário
afetivo do público em geral, graças a suas estratégias excepcionalmente bem-sucedidas de
aproximação com a audiência. Ao adotar práticas que transcendem a simples oferta de
entretenimento, a emissora conseguiu elevar seus telespectadores mais fervorosos ao patamar
de colaboradores indiretos, que, por meio da propagação dos valores e ideais cultuados pela
"TV mais feliz do Brasil", se tornam verdadeiros embaixadores da marca. Esse senso de
pertencimento instigado pelo canal cria uma comunidade de fãs cujo envolvimento é tão
intenso que, em certos aspectos, pode ser comparado a uma verdadeira "religião"
(MARTINS, 2016, p. 3). Nessa "fé" televisiva, uma figura se destaca como objeto de
adoração máxima: Silvio Santos.
Para compreender a construção e manutenção desse culto televisivo, é fundamental
voltar o olhar para a história do SBT e suas estratégias de fidelização de audiência. Ao longo
dos anos, a emissora protagonizou uma trajetória única, moldando sua identidade empresarial
em busca de uma identificação profunda com seu público. A partir da investigação de suas
táticas de interação e engajamento com a audiência, será possível vislumbrar como o SBT
conquistou a devoção de seus telespectadores e, ao mesmo tempo, estabeleceu uma relação
afetiva que ultrapassa os limites do entretenimento televisivo.
No âmbito específico das telenovelas, torna-se relevante analisar como o SBT utiliza
o melodrama como recurso estilístico, conquistando o público infantojuvenil e suas famílias.
O melodrama, como um gênero televisivo, possui a capacidade de tocar os sentimentos mais
íntimos da audiência, construindo narrativas emocionalmente envolventes que geram
identificação e empatia. Dessa forma, as telenovelas do SBT se tornam instrumentos eficazes

34
para reforçar a identidade empresarial do canal, transmitindo não apenas uma história, mas
também valores, mensagens e emoções que contribuem para consolidar o vínculo afetivo com
a audiência.
Outro aspecto intrigante é a presença marcante da repetição nas produções
televisivas. A análise desse fenômeno será essencial para desvendar como o SBT utiliza a
repetição de uma fórmula narrativa específica nas telenovelas infantis, como em "Carinha de
Anjo" (2016-2018), para criar uma notável homogeneidade entre suas obras. Essa repetição,
cuidadosamente planejada, pode ser interpretada como um elo que associa todas as produções
do canal às suas marcas autorais, transcendendo os criadores diretos das obras. Nesse
contexto, a repetição pode ser entendida como uma ferramenta poderosa para fortalecer a
identidade empresarial do SBT, ao mesmo tempo em que reforça o imaginário afetivo
ocupado pela emissora em meio ao público.
Neste capítulo inicial da pesquisa o foco foi analisar as relações entre estilo
audiovisual e perfil empresarial de emissoras televisivas. No primeiro subcapítulo, intitulado
"O Estilo no Audiovisual", a dissertação concentrou-se em explorar como o estilo transcende
a estética visual e auditiva, impactando a experiência do espectador e a construção da
identidade da instituição televisiva. Esse subcapítulo também destacou a influência do estilo
na afetividade do público, demonstrando a importância de compreender esse aspecto como
uma ferramenta analítica fundamental para desvendar a relação entre a forma audiovisual e os
propósitos comerciais e artísticos da uma emissora.
No segundo subcapítulo, intitulado "Estilo Televisivo e Marcas de Autoria," a
dissertação prosseguiu explorando o estilo como uma ferramenta essencial para compreender
a televisão como uma prática cultural. Nesse contexto, o foco tradicional dos estudos
televisivos, frequentemente orientados para a análise sociológica, cedeu espaço à valorização
do estilo como um elemento fundamental na composição das produções televisivas.
Além disso, este subcapítulo abordou a evolução do estudo de estilo televisivo,
destacando as características técnicas da televisão que influenciam até hoje suas normas de
produção, assim como discorrer sobre a questão da autoria, ressaltando a diferença da
atribuição de autoria em relação ao cinema devido à natureza serial da televisão. Diante desse
cenário, os produtores desempenham um papel central na tomada de decisões que moldam a
produção, resultando no conceito de "autoria pela gestão". Assim, em alguns casos, as marcas
de autoria em uma obra podem revelar mais sobre a instituição do que sobre um autor
individual.

35
No terceiro subcapítulo, "Identidade de Emissoras Televisivas," a dissertação
adentrou na exploração de como a identidade de uma emissora de televisão se manifesta em
três dimensões principais: informação (o mundo real), ficção (o mundo fictício) e fantasia (o
mundo lúdico). Cada uma dessas esferas possui sua própria identidade, e a soma dessas
identidades compõe a identidade geral da emissora.
Este segmento também abordou a forma com que as estratégias de distinção de uma
emissora são usadas como ferramentas-chave para atrair e fidelizar o público, uma vez que os
espectadores procuram canais que satisfaçam suas expectativas e ofereçam experiências
específicas. Diante disso, o branding é destacado como uma parte integral desse processo,
definindo características visuais, sonoras e verbais que criam uma conexão emocional com o
público.
Por fim, o quarto subcapítulo, "A Identidade SBTista", investigou o vínculo
excepcionalmente forte entre o SBT e sua audiência. O fenômeno dos SBTistas é uma
combinação de diversos fatores, incluindo a programação infantil marcante do canal que
evoca uma sensação de nostalgia entre o público e o conecta à sua própria história de vida.
Além disso, o SBT é idealizado de maneira positiva, especialmente devido à figura de Silvio
Santos, e ao reconhecimento e à participação ativa dos SBTistas.
Em busca de uma identificação profunda com seu público, o SBT projeta uma
imagem de parceria com os telespectadores, destacando a interação e o engajamento da
audiência como elementos fundamentais de suas estratégias de comunicação. Essa relação
especial entre o SBT e seus fãs se baseia em uma combinação única de estratégias de
interação, identificação e engajamento, consolidando uma identidade coletiva em torno da
marca e dos programas do canal.
No capítulo a seguir, a pesquisa irá abordar a história do SBT, com destaque para as
estratégias de fidelização de audiência, a presença do melodrama nas telenovelas e a
utilização da repetição como um dispositivo para a construção da identidade "SBTista".
Através desse mergulho, vislumbra-se uma compreensão mais profunda das interações entre
o estilo audiovisual dessas produções televisivas e o perfil empresarial da emissora,
elucidando como o SBT consegue manter-se como uma alternativa popular frente à
concorrência televisiva, deixando uma marca afetiva duradoura em seu público fiel.

36
CAPÍTULO 2 - A FÁBRICA DE SONHOS

2.1 A HISTÓRIA DO CANAL

A forma com que o SBT se comunica com a sua audiência há mais de 40 anos é
resultado da união de dois fatores: o cenário político e cultural em que o Brasil se encontrava
na época de sua fundação e a mente criativa de seu fundador, que até hoje dita as regras no
canal. Por isso, para entender de forma plena a poética dos produtos originais da emissora é
necessário antes entender o contexto histórico que possibilitou o surgimento da empresa e as
transformações sofridas pela instituição nessas quatro décadas que influenciaram a sua
configuração atual.
Durante o período de Ditadura Militar no Brasil foi desenvolvido um projeto de
integração nacional através dos sistemas de telecomunicações. Dessa forma, tudo aquilo que
não contemplava os “bons costumes” e valores conservadores difundidos pelo regime para a
formação do “novo homem brasileiro” era imediatamente censurado (MARTINS, 2016, p. 7).
Em consequência disso, a televisão se viu obrigada a passar por um processo de
“higienização”, tirando do ar atrações consideradas popularescas e dando lugar a medidas de
racionalização da produção, como o uso de tecnologias avançadas para pós-produção, apuro
estético, aperfeiçoamento técnico de som, imagem e transmissão, entre outros15 (MIRA,
1994, 2010 apud ibidem).
Nessa época, Silvio Santos - ex-comerciante e comunicador de rádio que vinha
alcançando êxito na televisão - foi diretamente impactado pelas medidas adotadas pelo
governo. Seus programas na TV Paulista (emissora posteriormente incorporada à Rede
Globo) passaram a ser considerados de “baixo nível", então, para não perder espaço na
programação, o empresário teve que tentar se adaptar.
A tentativa, contudo, não foi bem sucedida. Para ter mais liberdade no seu “modo de
fazer” televisivo Silvio Santos montou uma produtora para realizar seus programas, que
passaram a ser transmitidos pela TV Tupi. Em seguida, em 1975, o empresário comprou

15
Como destaca MARTINS (2016, p.7), o processo de modernização da TV começou em 1966, quando Roberto
Marinho trouxe os profissionais Walter Clark e José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, para cuidarem da
programação e da produção da Globo. Juntos, ficaram conhecidos pelo sucesso que obtiveram, com a liderança
de audiência da emissora e a consolidação do “padrão Globo de qualidade”.

37
metade das ações da TV Record e conseguiu a concessão do Canal 11 do Rio de Janeiro,
fundando assim a TV Studios (TVS)16.
No início da década de 80, com o fim da TV Tupi, novas concessões foram abertas
pelo governo federal e Silvio Santos viu pela primeira vez a possibilidade de ampliar os seus
canais para uma rede nacional. Devido às boas relações que o empresário tinha com o general
João Baptista Figueiredo, então presidente da República, ele conseguiu uma concessão e, no
dia 19 de agosto de 1981, foi fundado o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT).
A primeira transmissão oficial do SBT foi a exibição, ao vivo, da assinatura do
contrato de concessão com o Ministério das Comunicações, direto de Brasília. Na ocasião,
Silvio Santos declarou que a criação de um canal próprio vinha de uma necessidade pessoal e
de toda uma camada social de telespectadores que se via abandonada com a instauração de
um “padrão de qualidade” nacional da televisão. Com isso, o SBT surgiu com o objetivo de
fazer uma oposição direta à maior emissora do país: a Rede Globo.
Durante os seus anos iniciais, a programação do SBT apresentava praticamente as
mesmas atrações da TVS e mais algumas atrações herdadas da extinta TV Tupi, preenchendo
as 12 horas de programação obrigatória com filmes, desenhos animados17, noticiários
(representava os 5% exigidos pela lei) e, é claro, programas de auditório18. De forma geral,
programas rejeitados pelo projeto de modernização da TV, seja por serem considerados
bregas, seja por serem considerados demasiadamente apelativos. Nem mesmo os telejornais
da emissora escapavam desse “mau gosto” já que seguiam um modelo de produção
fortemente sensacionalista19.
Com um conjunto de atrações popularescas que tinham como principal diferencial
uma “gramaticalidade do espontâneo” (HERGESEL E FERRARAZ, 2017. p.29), o SBT
alcançou rapidamente uma posição de destaque no cenário televisivo nacional, se tornando
vice-líder do mercado graças à participação em audiência das classes sociais definidas como
B2, C e D1, que representavam na época 61% da população brasileira na época.

16
Essa nomenclatura coexistiu com a sigla SBT até 1989. Nesse momento, as emissoras regionais eram
chamadas de TVS e faziam parte de algo maior, o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) (MARTINS, 2016,
p.125).
17
Todos os desenhos animados eram transmitidos no Show do Bozo (1980 - 1991), um dos primeiros programas
interativos da televisão brasileira.
18
Nessa época, apenas o Programa Silvio Santos (1963 - ) ocupava 10 horas da grade do canal aos domingos.
Em 1993, a atração entrou para o Guinness Book como o programa mais duradouro da televisão brasileira, com
31 anos ininterruptos no ar. Ele permanece na grade até os dias atuais.
19
Na década de 1990, a emissora ganhou destaque com o jornalismo intitulado “mundo-cão”. Programas como
Documento Especial (1992 - 1995), e o Aqui Agora (1991 - 1997) foram precursores cobrindo assassinatos,
tiroteios e perseguições policiais ao vivo. Essas atrações também lançaram as tendências das imagens de
cinegrafistas amadores e os resumos de notícias no rodapé da tela.

38
Contudo, foi justamente o teor desses programas que fizeram o SBT ser
estigmatizado como um arauto do mau gosto na televisão, fazendo reacender a discussão
sobre o nível dos programas que estava adormecida desde as décadas passadas (FREIRE
FILHO, 2008 apud MARTINS, 2016, p. 10). Para a emissora, o que importava era mostrar o
que o povo queria, e não os comentários da crítica.
Com isso, ao mesmo tempo em que se consolidou um preconceito em relação ao
SBT, ficou claro que o maior diferencial da emissora em relação às outras redes de televisão
comerciais abertas do país seria a sua proposta de colocar o povo no palco, como o
protagonista de seus produtos. Para João Paulo Hergesel e Rogério Ferraraz (2017) no SBT a
plateia é o “telespectador por procuração”
(...) é esse coletivo que se torna responsável por elevar o ânimo, preenchendo
possíveis lacunas do audiovisual e despertando, nas pessoas em casa, a vontade de
dialogar com o enredo. Isso propõe ao telespectador uma sensação falsa de
cooperatividade, como se as encenações acontecessem apenas mediante o apoio e as
reações de quem está na frente da tela. (p.29)
Assim, seguindo uma dinâmica similar a de um circo (MIRA, 2010) a presença de
um auditório se consagrou como um aspecto quase obrigatório na maioria dos programas da
casa. Além disso, a interação com a audiência nunca se restringiu somente ao contato físico
nos estúdios da emissora, já que se estendeu e se estende até hoje a integração dos
telespectadores com cartas, telefonemas, e-mails e, nos últimos anos, comentários em redes
sociais. Dessa forma, essa “vivacidade na narrativa” se tornou uma característica constante do
canal, notada não apenas pela crítica especializada e por estudiosos mas, principalmente, pelo
público comum.
a sonoridade festiva, a movimentação de câmeras, os enquadramentos, dentre tantas
artimanhas da parte técnica são apenas uma parcela do estilo que se consolida com
o suporte de diversos elementos da narração. O fato é recheado pela animação
oriunda do auditório, pelos diálogos aparentemente improvisados do apresentador,
pela energia dispensada pelos participantes e pela possibilidade de participação de
quem está em casa, ainda que de forma tímida. (HERGESEL e FERRARAZ, 2017,
p. 31).
Porém, o que era um trunfo tornou-se um impasse para a emissora. Isso porque,
apesar dessa estratégia popular do SBT gerar audiência, ela afastava os anunciantes, já que
muitas empresas não queriam ter os seus nomes associados a uma instituição tida como de
“baixo nível”. Além disso, como resposta a atitude disruptiva de diversos canais em busca de
audiência, com atrações cada vez mais apelativas, foi criada pela Comissão de Direitos
Humanos da Câmara Federal a campanha “Quem financia a baixaria é contra a cidadania”.

39
Assim, de maneira similar às décadas de 50 e 60, o veículo televisivo passou a ser
questionado quanto ao seu valor cultural, “sob uma acepção errônea de qualidade televisiva
como a presença da alta cultura em programas feitos para as massas” (MARTINS, 2016, p.
11). Dessa forma, logo em seus primeiros anos, o SBT teve que enfrentar o desafio de
melhorar a qualidade de suas atrações para conseguir atrair retorno comercial, mas sem
esquecer de sua afinidade com o povo.
Nessa nova fase, que se deu entre os anos de 1983 e 1987, o canal continuou
investindo em atrações populares, mas buscando uma qualidade mínima que fosse capaz de
atrair anunciantes. Foi nesse momento também que a disputa de audiência contra a Rede
Globo se tornou mais direta.
O primeiro movimento nesse sentido ocorreu em 1985, quando Silvio Santos avisou
aos telespectadores de seu programa que logo após a exibição da novela das oito da Rede
Globo seria transmitido no SBT o filme Pássaros Feridos. Na ocasião, Silvio frisava que o
público não precisava deixar de assistir a novela pois o filme só seria transmitido depois que
ela acabasse. Em resposta, a Globo prolongou a exibição do Jornal Nacional e da novela
Roque Santeiro. Enquanto isso, o SBT não desistiu da estratégia e seguiu exibindo desenhos
animados até o encerramento da novela global. Por fim, a empreitada teve um resultado
satisfatório com o SBT conquistando a audiência de 47% dos lares de São Paulo, contra os
27% da Globo20.
Em 1987, o SBT realizou mais um ataque contra a emissora carioca, porém, dessa
vez, com uma nova tática: a de tentar contratar os artistas de maior prestígio da casa.
Diferente da estratégia anterior, contudo, essa não rendeu bons resultados. De artistas como
Xuxa, Renato Aragão, João Kléber e Chico Anysio, apenas o comediante e apresentador Jô
Soares de fato assinou contrato com a emissora de Silvio Santos.
Outra tentativa frustrada da emissora nesse período foi a criação de um
departamento de teledramaturgia. Mesmo com a contratação de diretores experientes do
mercado como Walter Avancini e Roberto Farias, e até mesmo alguns ex-atores globais,
como Lucélia Santos, Edson Celulari e Ney Latorraca, as obras produzidas foram um

20
Uma situação parecida ocorreu novamente em 1988. O SBT havia anunciado a exibição de Rambo -
Programado Para Matar (1982) às 21h20, mas a TV Globo anunciou a exibição do filme Rambo II - A Missão
(1985) no mesmo horário. Ao saber disso, a emissora de Silvio Santos cancelou a apresentação do longa e
inseriu um aviso na programação, dizendo "Assista hoje o filme do Rambo na Globo. Mas no dia 26 assista
Rambo aqui no SBT". No dia prometido, o SBT inseriu um novo aviso na programação, com o recado "Não se
preocupe, quando terminar a novela da Globo você vai ver Rambo". Enfim, após 50 minutos com o aviso na
tela, Rambo entrou no ar, conquistando a média de 44 pontos de audiência para o SBT.

40
fracasso de público e crítica. Como consequência, pouco tempo depois, o SBT demitiu cerca
de 300 funcionários e encerrou o seu núcleo de novelas.

Entre erros e acertos, o SBT terminou a década de 80 como a segunda maior rede de
televisão na maioria dos estados do Brasil. Diante desse resultado a emissora contratou a
agência de comunicação W/Brasil, do publicitário Washington Olivetto, e emplacou os
slogans "Liderança absoluta do segundo lugar", "Líder absoluto da vice-liderança" e "Quem
procura, acha aqui". O objetivo era se apresentar ao mercado como um “vice vencedor” e
não derrotado.

No início da década de 90, o SBT tinha um faturamento anual de quase 140 milhões
de dólares, mas ainda assim, operava no prejuízo. Para reverter a crise, a emissora apostou na
venda de espaço publicitário aos anunciantes, na contração profissionais de marketing e na
criação da Liderança Capitalização, tendo como principal produto o título de capitalização
Tele Sena.

Em 1991, ainda em meio a uma crise financeira e diante do fracasso do núcleo de


teledramaturgia, o SBT decidiu controlar os gastos com novas atrações e cobrir espaços na
sua grade de programação com telenovelas importadas produzidas pelo conglomerado
mexicano Televisa. Em pouco tempo essas telenovelas se tornaram tão populares entre o
público que passaram a ser quase tão importantes para o canal quanto os seus programas de
auditório. Porém, embora tivessem audiência, elas não eram bem vistas pela crítica e o SBT
se viu envolvido em mais uma controvérsia: a acusação de mexicanização da TV brasileira.

De acordo com críticos, o investimento do SBT em telenovelas mexicanas era


responsável por promover uma queda na qualidade estética da teledramaturgia e do
telejornalismo nacional por meio da “exacerbação do sentimental, do lacrimejante,
espalhafatoso, canastrão ou kitsch – como se tais traços revelassem uma alma
latino-americana impermeável à modernização do gosto e da sensibilidade” (MARTINS,
2016, p. 10).

Apesar da crise citada, os bons resultados em audiência do SBT associados ao


desenvolvimento do poder de consumo das classes populares em decorrência do Plano Real,
fizeram muitas emissoras na década de 90 reavaliassem o posicionamento “moralista”
adotado após a campanha “Quem financia a baixaria é contra a cidadania”. Assim, em uma
espécie de “vale tudo pela audiência” houve uma “segunda onda” do popularesco na
televisão, com o retorno de atrações anteriormente dispensadas. Até mesmo a Globo teve que

41
se apropriar dos modos de produção mais populares, relativizando o seu famoso “padrão
global de qualidade” (ibidem).

Depois de mais de 10 anos de existência, uma recuperação financeira do SBT em


1992 possibilitou que o sonho de Silvio Santos fosse ampliado. Assim, em 1994, foi iniciada
a construção do Centro de Televisão da Anhanguera, complexo televisivo localizado em
Osasco, São Paulo. Inaugurado em 1996, no aniversário de 15 anos do SBT, o CDT
atualmente ocupa uma área de 290 mil metros quadrados e é resultado de um investimento de
120 milhões de reais. Este é o terceiro maior complexo televisivo da América Latina, sendo
apenas menor que os estúdios da TV Azteca, no México, e os Estúdios Globo, no Rio de
Janeiro.

A inauguração do CDT possibilitou que o SBT centralizasse suas instalações, que


antes eram espalhadas por cinco bairros diferentes da cidade de São Paulo e,
consequentemente, proporcionou um maior conforto para o processo de produção das
atrações do canal. Foi graças à essa estrutura completa que o canal pôde reabrir o seu
departamento de teledramaturgia e, anos mais tarde, depois de muitas tentativas, encontrar
seu nicho de sucesso21 nas ficções seriadas: as telenovelas infantojuvenis.

Apesar de possuir uma história repleta de polêmicas e controvérsias22, a imagem do


SBT permanece imaculada diante dos seus seguidores mais ferrenhos, os SBTistas.
Atualmente, a emissora se mantém como a terceira maior do país ficando atrás apenas da TV
Globo e da RecordTV. Além do SBT, o Grupo Silvio Santos também é composto pela SBT
Filmes, SBT Music, SBT Vídeos, SBT Licensing, Liderança Capitalização, Jequiti
Cosméticos, Hotel Jequitimar e outras 38 empresas.

21
Em 2013, a emissora anunciou que seu faturamento no ano anterior havia ultrapassado pela primeira vez a
marca de R$ 1 bilhão de reais, devido ao sucesso da novela infantil Carrossel. Disponível em
<http://www.sbtpedia.com.br/2015/03/sbt-cresce-em-2014-e-tem-faturamento.html>. Acesso em: 29 de mar. de
2023.
22
Como exemplos podem ser citados a falsa entrevista de Gugu Liberato com integrantes do PCC em 2003 no
Domingo Legal (1993 - ), o comentário de Rachel Sheherazade no SBT Brasil (2005 - ) em 2014 defendendo um
grupo de pessoas que espancou e prendeu um adolescente a um poste com uma tranca de bicicleta após um
assalto e, mais recentemente, o apoio da emissora ao Governo Bolsonaro, em troca do aumento da entrada de
dinheiro público na empresa, resultando no afastando jornalistas que expressassem uma opinião contrária ao
presidente.

42
2.2 ESTRATÉGIAS DE FIDELIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA

Com um ethos influenciado pela cultura popular, o SBT construiu sua autenticidade
através da representação sociocultural das classes subalternas na tela (MARTINS, 2016, p.
12). Em um movimento contra cultura hegemônica, o canal não só abraçou o suposto “mal
gosto estético” e a “pobreza de conteúdo” como foi em busca de incorporar cada vez mais
mecanismos de identificação com o povo através do resgate de estratégias de comunicação do
ambiente mais clássico da cultura popular: o circo.
Para Maria Celeste Mira (1994), ao contrário do que acredita o senso comum, a
cultura popular não é algo cristalizado no passado que faz oposição ao conceito de cultura de
massa. Basta uma análise um pouco mais atenta de produtos contemporâneos como
programas de auditório para perceber ligações profundas da cultura de massa com as
chamadas "festas populares”. Deste modo, quando se tem o objetivo de entender as
estratégias de mobilização de audiências utilizadas por grandes corporações, torna-se
necessário romper com a ideia de que as manifestações populares são tradições puras
descaracterizadas por veículos mais contemporâneos. Utilizando como exemplo o caso da
televisão, a incorporação de elementos circenses nesse meio é justamente o que evidencia a
via de mão dupla entre o popular e o massivo. Por esse motivo, deve-se deixar de lado a ideia
elitista de que cultura de massa é o sinônimo de opressão e passar a ver esses dois
movimentos coexistindo a partir de uma relação de interdependência: um como um espaço de
circulação que pode promover o reconhecimento social das classes populares e outro como
algo que enriquece a cultura de massa a partir da combinação de saberes acumulados pelos
povos.
No caso do SBT, essa a união entre os elementos da cultura popular a os modos de
produção massiva sempre esteve presente de forma explícita em toda a comunicação do
canal. Seguindo a filosofia de ser uma “TV para o povo” o canal enxergou a potencialidade
de consumo das classes mais baixas e transformou elas no seu target. Para atrair esse nicho, o
canal, mais do que qualquer outro da grade televisiva brasileira, se apropriou das principais
matrizes culturais da América Latina tais como o melodrama, a oralidade e o realismo
maravilhoso. E agora, mais de 40 anos após o seu surgimento, pode-se notar que esses
aspectos não predominam no canal sem motivos. No SBT “alguns programas não têm
semelhanças com o circo porque o canal é menos sofisticado que a Globo, e a insistência em

43
manter Silvio Santos como a figura maior do elenco não é por mero acaso” (MARTINS,
2016, p.18).
Apesar de utilizar bastante a espontaneidade a seu favor, o SBT sempre se dedicou a
construir um discurso minucioso sobre si mesmo e a posição que ocupa no mercado. Na
pesquisa A TV mais feliz do Brasil: a proposta de interação do SBT com a audiência (2016)
Rafael Barbosa Fialho Martins analisa diversas vinhetas institucionais do canal, desde o seu
surgimento até o ano de 2016, e em todas elas é possível perceber que a emissora dirige a sua
fala a um público bem específico: a família brasileira.
Por ser um meio de comunicação ligado ao âmbito doméstico, a televisão ocupa um
espaço privilegiado na produção de sentido das interações familiares. Isso ocorre porque
mesmo com todas mudanças tecnológicas que possibilitaram o surgimento das novas formas
de se ver TV, o modelo antigo de espectatorialidade ainda tem influência na dinâmica do lar,
o que faz com que aparelho televisivo se destaque dos demais eletrodomésticos de uma casa e
exerça um papel mais próximo ao de um membro da família.
Levando em consideração essa especificidade do meio, o SBT adotou como modus
operandi um discurso familiar ainda mais inflamado que o de suas concorrentes. A partir de
um “diálogo indispensável” entre quem está na tela e quem está em casa (HERGESEL e
FERRARAZ, 2017, p. 30) a emissora se colocou em um posição de sinceridade e
vulnerabilidade diante do público, conquistando a empatia dos telespectadores com o seu
discurso de ser uma empresa de família e para famílias que não esconde suas limitações
recursos.
Sobre questões financeiras já citadas, o canal de Silvio Santos conseguiu prever de
maneira antecipada que não conseguiria alcançar o padrão técnico de produção da Rede
Globo com os recursos disponíveis. Assim, a emissora optou por seguir um caminho
completamente oposto ao de sua maior concorrente, se posicionado como uma alternativa que
“se leva menos a sério” e se destaca pela sua proximidade com o público.
A partir de uma estética brega e supostamente improvisada mas meticulosamente
elaborada, o SBT marca o seu lugar no mercado, cria sua marca identitária e atrai a audiência
se colocando como igual a ela. Isso ocorre graças ao senso de sinceridade promovido pela
estética kitsch, capaz de transformar as falhas em graciosidade. Nela, “o aparente fracasso em
ser original converte-se em um gesto encantador de sinceridade e de um esforço consciente
de afetar o apelo sincero da ingenuidade. Com isso, o kitsch supera o mau gosto e redime
suas limitações ao humanizar-se” (MARTINS, 2016, p.150).

44
São esses sentimentos suscitados na audiência, inclusive, que explicam a escolha da
empresa de manter fielmente esse estilo de comunicação e estética “simples” mesmo após
tantos anos e diante de um cenário financeiro tão diferente. Foi esse estilo próprio que
promoveu uma relação com o público permeada de valores normalmente atribuídos a sujeitos
e fez o SBT permanecer marcado no imaginário coletivo como uma “emissora-pessoa”
(MARTINS, 2016, p. 154).
Muito desse sentimento se deve, é claro, à figura central e praticamente onipotente
do canal. Como já declarou Guilherme Stoliar, sobrinho de Silvio Santos e ex-presidente do
Grupo Silvio Santos, “O SBT é o xodó do Silvio. E a maior estrela do canal é o próprio dono.
Eu vejo uma dependência muito grande. Os dois se confundem, você não sabe o que é um e
outro.”23. Existe uma ligação intrínseca entre “criador e criatura” no caso do SBT. É de se
esperar que ao fundar uma emissora de televisão própria após ter alcançado fama nacional
como apresentador (de uma atração que levava seu nome no título, o Programa Silvio Santos)
o empresário carioca aproveitasse elementos de sua persona para criar a identidade da
instituição. Da gargalhada, aos gestos e até ao vestuário, com o icônico microfone preso a sua
gravata, Silvio Santos é a personificação da marca SBT. Sendo assim, o papel do empresário
é ser aquele que valida a relação de amizade do público com a instituição, sempre recebendo
todos com um sorriso largo, de braços abertos e apresentando a emissora como um lugar
confortável, do qual cada telespectador faz parte, como uma grande família que vive em
harmonia.
Em contraponto, é interessante destacar que apesar de ser uma figura quase
paternalista para sua audiência, a persona de Silvio Santos é cercada de misticismo. O
empresário evita dar entrevistas, não vai a programas de televisão e não participa das
gravações de vinhetas do seu próprio canal. Com esse comportamento contraditório que
transita entre acessibilidade ao seu público e inacessibilidade a todas as demais pessoas,
Silvio Santos assume uma postura similar a de uma “divindade”: evangelizando a audiência
com um discurso carismático, jogando dinheiro para os mais pobres e sendo onipotente e
onipresente no SBT.
A faceta “divina” de Silvio acena positivamente para a interação com o SBT,
contribuindo para a fortíssima fidelização que existe no canal. Assistir ao SBT é
quase uma religião, cujos seguidores seriam os SBTistas, que com sua competência
cultural para falar da emissora, defendem facilmente os milagres obtidos por não

23
Disponível em
<https://www.uol.com.br/splash/reportagens-especiais/sbt-faz-40-anos-qual-sera-futuro-da-emissora-apos-a-era-
silvio-santos/>. Acesso em: 25 de mai. de 2023.

45
mudarem de canal. Para esses “fiéis”, o “dízimo” corresponderia ao pagamento em
dia dos carnês do Baú da Felicidade ou a compra da Telesena e dos produtos Jequiti,
reunindo as facetas divinas e mercadológicas do empresário e líder. (MARTINS,
2016, p.109)
Na religião SBT, a meritocracia é sem dúvida um dos 10 mandamentos. Isso porque
o canal resgata a todo momento a história de superação de Silvio Santos que foi de camelô a
bilionário apenas com sua força de vontade e trabalho duro - mesmo ela não sendo
exatamente verdade24. Dessa forma, a empresa reforça a ideia de que por meio de seus
produtos, programas e sorteios os seus “espectadores-clientes” (SOUSA, 2009 apud
MARTINS, 2016, p. 101) também são capazes de obter o mesmo sucesso do apresentador,
perpetuando assim um sistema de injustiças.
Como em qualquer religião monoteísta, todo o poder do SBT se concentra nas mãos
de sua autoridade máxima. E devido a sua autoridade máxima ter sua origem no comércio
popular, o SBT ficou caracterizado por um modelo de gestão um tanto quanto peculiar. De
forma semelhante a uma banca de produtos (MARTINS, 2016, p. 114) Silvio administra a
grade de programação do canal com base naquilo que mais vende. Se um produto vai bem, é
reprisado à exaustão e dá origem a outros similares, dando origem a uma espécie de
“extensão narrativa” (HERGESEL e FERRARAZ, 2017, p. 29). Agora se ele vai mal, é
rapidamente retirado de circulação, sem mais explicações.
É claro que tamanha instabilidade na programação é responsável por gerar uma certa
revolta e insatisfação entre os telespectadores. Contudo, Silvio coloca ele e o SBT tão
próximos do público, que sempre acaba sendo perdoado por tomar algumas decisões
empresariais seguindo sua intuição, afinal, todos estão suscetíveis a erros. A sinceridade
nessa relação é tamanha que Silvio - e consequentemente o SBT - reconhece o sucesso de
outros canais, “e reitera a posição de alternativa que sempre ocupou em relação a eles”
(MARTINS, 2016, p.114).
Dessa forma, o SBT foi capaz de construir um discurso institucional que sustenta
uma relação de intimidade com o telespectador baseada em valores como amor, felicidade e
alegria. E como em qualquer amizade verdadeira, a emissora faz questão de ressaltar a

24
Ao contrário do que muitos acreditam, Silvio Santos vem de uma família com um certo conforto financeiro:
seus pais, imigrantes judeus, tinham uma pequena loja de artigos para turistas no centro da cidade do Rio
Janeiro. Portanto, Silvio não se tornou camelô por necessidade, mas por escolha. E sua história de vida é só mais
um exemplo do que o jornalista Tom C. Avendaño chama de “O mito da garagem”, em que grandes empresas do
Vale do Silício romantizam o fato de terem surgido em garagens e excluem da narrativa o fato de seus
fundadores serem jovens de famílias ricas. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=VS3jaWC8HOc&ab_channel=oalgoritmodaimagem>. Acesso em: 30 de
mai. de 2023.

46
intenção de ser mais do que uma simples distração e sim uma presença constante na vida de
sua audiência (MARTINS, 2016, p. 61). Essa intenção se reflete diretamente na grade de
programação do canal, já que, desde seu surgimento, o SBT investe em conteúdos que
abarcam todas as faixas etárias possíveis e, atualmente, é o único canal aberto comercial do
Brasil que mantém espaço na grade para a veiculação de programas infantis. De acordo com a
diretora artística da emissora, Daniela Beyruti, Silvio Santos estabeleceu que "desde uma
criança de três anos até um senhor idoso, todos têm de compreender o que é falado na
emissora” (MARTINS, 2016, p.63).
Foi com esse pensamento que, em 2011, o SBT decidiu apostar na adaptação
brasileira da telenovela mexicana Carrossel e, devido ao seu sucesso, lançar-se de vez na
produção de ficções seriadas infantojuvenis. Com o slogan “Novela pra família é aqui”, a
emissora, mais uma vez, se posicionou como uma alternativa à concorrência e investiu em
produções com temáticas amenas para atingir um público amplo de crianças até idosos. Isso
porque, quando a palavra “família” é usada na comunicação do SBT, ela faz referência
somente à "família tradicional brasileira”, aquela de ideais conservadores e patriarcais, em
que homens e mulheres ocupam posições bem distintas.
Refletindo a mentalidade antiquada de seu dono e ignorando qualquer tipo de
mudança social, o SBT conseguiu capturar uma fatia de mercado conservadora que se via
insatisfeita com a forma com que os outros canais, principalmente a Rede Globo, vinha
retratando novas configurações de famílias brasileiras. Dessa forma, a emissora se tornou um
“oásis” televisivo para o público mais acostumado ao melodrama explícito, ao popular, ao
tradicional, ao arcaico, aos valores e à simplicidade (MARTINS, 2016, p. 84).
Depois de tudo que foi citado, não é de se surpreender que o canal e inflama os
ânimos ao se comunicar com o público (MARTINS, 2016, p.138) encontraria ainda mais
sucesso com a “apropriação da estrutura melodramática” (HERGESEL e FERRARAZ, 2017,
p. 31) em suas narrativas seriadas originais. Isso porque é impossível negar que a matriz
cultural do melodrama está presente não apenas nas produções ficcionais, mas, em maior ou
menor grau, na programação do canal como um todo (MARTINS, 2016, p. 142).

2.3 MELODRAMA, TELENOVELAS E REPETIÇÃO

Segundo Hergesel e Ferraraz “uma narrativa, por mais contemporânea que seja,
pode encontrar, em fórmulas já consagradas, uma matriz referencial para sua construção.”
(2017, p. 202). Por conta da sua facilidade de entendimento e ampla aceitação do público

47
desde sua origem, em muitos casos até os dias de hoje, essa fonte inspiracional narrativa é a
do melodrama.
Seu surgimento remonta a meados do século XVIII, na França, em um momento em
que “se buscava a disseminação da arte em meio a um público menos erudito” e com “pouca
capacidade de compreender uma arte rebuscada e complexa que exigisse grande abstração do
pensamento” (ROCCA, 2014, p. 12). Por esse motivo, os textos melodramáticos foram
criados seguindo princípios contrários daqueles utilizados por gêneros antecessores como a
Tragédia ou a Comédia clássica, e investiram na simplificação narrativa de temas complexos
para facilitar compreensão por parte de seu público. Sobre o melodrama, Hergesel completa:

Essas histórias são comumente conduzidas de maneira simples, favorecendo


identificações, ressaltando sentimentos, definindo claramente o propósito de cada
personagem, estabelecendo certo maniqueísmo entre o bem e o mal, propondo
constantes recapitulações e destinando sempre a um desfecho aprazível quase
sempre moralista. (HERGESEL, 2017, p.2)

Com uma dramaticidade construída “a partir de gestos, expressões corporais, efeitos


visuais e sonoros, sem deixar espaço para sutilezas, lirismos, experimentalismos e/ou
ambiguidades” (ALMEIDA e LAGE, 2021, p.93), o melodrama consolidou-se como “um
gênero encenado para fazer rir e chorar, assim como para reforçar valores morais a partir de
códigos, linguagens e apelos afetivos assentados em matrizes culturais comuns.” (ALMEIDA
e LAGE, 2021, p.94).
Devido à capacidade de fidelização de um público massivo e a facilidade de se
adaptar aos objetos modernos, com o tempo o melodrama ultrapassou as barreiras do teatro e
passou a ser disseminado em outras mídias como impressa, com os folhetins, a radiofônica,
com as radionovelas e, mais tarde, a audiovisual, com as telenovelas (HERGESEL e
FERRARAZ, 2017, p.204).
No Brasil, o melodrama ganhou ainda mais destaque com a teledramaturgia, que
teve seu início logo após a chegada da televisão no país, nos anos 50. Como nesse tempo
ainda não havia profissionais especializados na área, a equipe das produções televisivas era
formada por técnicos oriundos do rádio e as tramas seguiam a mesma estrutura já conhecida
das radionovelas. (ROCCA, 2014, p.41).
Foi na década seguinte, em 1960, que ocorreu a primeira grande transformação no
modo de produzir telenovelas com a popularização do videoteipe. O aparelho possibilitou não
apenas a gravação de cenas com antecedência como também a produção de tramas com maior

48
número de capítulos (ROCCA, 2014, p.42). Dessa forma, a telenovela brasileira se distanciou
de vez de suas heranças radiofônicas e adquiriu o formato que se mantém até os dias atuais,
com uma duração média de oito meses, por volta de 200 capítulos, e levada ao ar seis dias por
semana (LOPES, 2009, p.22)25.
Com um movimento similar em diversos países da América Latina, que encontraram
no gênero uma forma de dar continuidade à sua cultura oralizada em uma sociedade desigual
e manifestar tensões sociais que marcam a realidade do povo (ALMEIDA e LAGE, 2021,
p.94), consolidou-se, assim, o melodrama latino-americano.
De acordo com Jesús Martín-Barbero (2009, p. 171), o melodrama latino-americano
aborda a complexidade das relações sociais através do relacionamento familiar e insiste no
exagero, com atuações apelativas e o uso excessivo de elementos sonoros, com o objetivo de
despertar, a todo instante, uma resposta emocional do seu espectador. Nele, “as palavras,
portanto, importam menos que os jogos mecânicos e óticos.” (ALMEIDA e LAGE, 2021,
p.93).
O sucesso dessas produções televisivas tornou-se tão grande nessa região do globo
que elas passaram a ser responsáveis por propagar um sentimento de integração dos países
latino-americanos. Sobre isso, Maria Immacolata Vassallo de Lopes declara:
Dentro da América Latina, a telenovela conta com a vantagem de um longo
processo de identificação massiva e popular, colocada em movimento desde os anos
40 e 50, resultando no que se poderia chamar de um processo de integração
sentimental dos países latino-americanos - uma estandardização de modos de sentir
e de expressar, de gestos e sons, ritmos de dança e de cadências narrativas - tomada
possível pelas indústrias culturais do rádio e do cinema. (2003, p.33)
Contudo, é evidente que ao se propagar em diversos países esse fenômeno
comunicativo teve que se adaptar a diferentes públicos. No Brasil, essa adaptação resultou em
duas vertentes do gênero: as “novelas ‘realistas’, críticas da realidade social, cultural e
política do país” (LOPES, 2009, p. 24), que mais tarde passaram a se chamar “naturalistas” e
ganharam destaque na Rede Globo, e as “novelas ‘sentimentais’, ou dramalhões feitos para

25
Apesar do formato descrito por Lopes ser o mais recorrente até os dias atuais, ele é passível de
problematização. As próprias telenovelas que serão apresentadas ao longo deste trabalho rompem com esse
padrão como, por exemplo, Chiquititas que teve a duração de 545 capítulos e foi exibida por 25 meses.

49
fazer chorar” (ibidem), que, devido uma crise vivida pelo SBT em 198026 que impossibilitou
a contratação de novos roteiristas, tornaram-se carro-chefe no canal de Silvio Santos.
Tudo começou 1982, com a estreia de duas telenovelas na grade do canal: Destino,
produção brasileira adaptada de uma trama mexicana e Os ricos também choram (Los ricos
también lloran, México: Televisa, 1979-1980) obra mexicana produzida pela Televisa.
Lançadas no mesmo dia, 5 de abril daquele mesmo ano, as produções não poderiam ter
resultados mais diferentes. Enquanto a primeira não cativou o público e caiu no
esquecimento, a segunda obteve um sucesso tão grande que levou a emissora a continuar
apostando na importação de telenovelas latinas.
Sendo assim, foram exibidas pelo SBT nos anos subsequentes diversas telenovelas
mexicanas que acabaram se tornando clássicas no Brasil como Carrossel (Carrusel, México:
Televisa, 1989-1990), Maria Mercedes (María Mercedes, México: Televisa, 1992-1993),
Marimar (Marimar, México: Televisa, 1994), Maria do Bairro (María la del Barrio,
México: Televisa, 1995-1996) e A Usurpadora (La Usurpadora, México: Televisa, 1998).
Ao mesmo tempo, o SBT também continuava investindo em suas telenovelas
originais. Nessa primeira fase da dramaturgia do canal, foram produzidas onze obras
adaptadas da dramaturga Marissa Garrido, mesma autora de Destino, porém todas sem uma
audiência expressiva. Até que em 1990, em uma tentativa ousada de produzir uma trama mais
realista abordando a realidade vivida pelas camadas mais pobres da sociedade, o canal exibiu
Brasileiras e Brasileiros. Contudo, mais uma vez o resultado não impressionou e o núcleo de
teledramaturgia do canal foi fechado, deixando espaço na programação apenas para os
“dramalhões mexicanos”.
Em 1994, com a contratação do diretor Nilton Travesso, o SBT restaurou o núcleo
de teledramaturgia. Nesse período, foram produzidas as telenovelas de época As Pupilas do
Senhor Reitor (1994-1995), Sangue do Meu Sangue (1995-1996), Os Ossos do Barão (1997),
Fascinação (1998) e as contemporâneas Colégio Brasil (1996), Dona Anja (1996-1997) e
Razão de Viver (1996), todas sem índices de audiência relevantes.
Foi somente no final da década de 90 que o canal conseguiu produzir sua primeira
obra de sucesso: Chiquititas. Adaptada da telenovela argentina de mesmo nome, Chiquititas
foi uma co-produção do SBT e com a emissora argentina Telefe exibida entre 28 de julho de
26
Apesar de atingir índices consideráveis de audiência, no início da década de 1980 o SBT não faturava. O
motivo, segundo o diretor televisivo da Rede Globo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, era a sua programação
voltada “às camadas mais inferiores” e com “baixíssimo poder aquisitivo” que causava o afastamento de
anunciantes da emissora. Disponível em
<https://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/televisao/um-ano-apos-estreia-sbt-ameacava-globo-com-programas-pop
ularescos-5543>. Acesso em: 22 de dez. de 2021.

50
1997 e 19 de janeiro de 2001. A trama, ambientada em um orfanato, acompanhava a trajetória
de um grupo de crianças e adolescentes enquanto viviam suas primeiras experiências de
decepção, amor e amizade. Com 787 capítulos divididos em cinco temporadas, a telenovela
obteve médias de 18 pontos de audiência e sua trilha sonora virou um fenômeno fonográfico
no país, vendendo 1 milhão de cópias de sua trilha sonora em apenas três meses de
lançamento.
Depois desse sucesso, o SBT decidiu adquirir mais textos argentinos, cubanos e
mexicanos e promoveu a adaptação de inúmeras tramas, entre elas Antônio Alves Taxista
(1996), Pérola Negra (1998-1999), O Direito de Nascer (2001), Pícara Sonhadora (2001),
Amor e Ódio (2001-2002), Marisol (2002), Pequena Travessa (2002-2003), Jamais Te
Esquecerei (2003), Canavial de Paixões (2003-2004), Seus Olhos (2004) e Esmeralda
(2004-2005). Contudo, nenhuma dessas obras alcançou índices de audiência equivalentes a
Chiquititas ou as telenovelas mexicanas exibidas pelo canal.
Diante disso, no início dos anos 2000 o SBT assinou um contrato de exclusividade
com o conglomerado de mídia mexicano Televisa, no qual ficaria proibida a criação de
telenovelas e outras obras dramatúrgicas de textos nacionais por parte do canal brasileiro. A
parceria perdurou anos e diversas telenovelas latinas exibidas (e exaustivamente reexibidas)
pelo canal tornaram-se clássicas na televisão brasileira. Entre os maiores sucessos exibidos na
década de 2000 vale citar Carinha de Anjo (Carita de Ángel, México: Televisa, 2000-2001),
Cúmplices de um Resgate (Cómplices al rescate, México: Televisa, 1994), Alegrifes e
Rabujos (Alegrijes y rebujos, México: Televisa, 1994), Rubi (Rubí, México: Televisa, 1994),
Rebelde (Rebelde, México: Televisa, 1994) e A Feia Mais Bela (La fea más bella, México:
Televisa, 1994). Contudo, em 2007, ao ver o crescimento da teledramaturgia da RecordTV no
segmento de telenovelas bíblicas, o SBT decidiu rescindir o contrato com o conglomerado
mexicano para voltar a produzir suas narrativas ficcionais originais.
Logo após a rescisão do contrato, o SBT escolheu seguir um caminho semelhante ao
de suas concorrentes e deixou de lado o melodrama sentimental para investir em tramas
naturalistas. Dessa forma, Íris Abravanel assumiu o núcleo de teledramaturgia do canal e
escreveu as telenovelas Revelação (2008-2009) e Vende-se um véu de noiva (2009), esta
última adaptada de uma obra radiofônica escrita por Janete Clair na década de 1960.

51
Apesar das altas expectativas do público e da crítica pelo retorno das produções
ficcionais originais do SBT, ambas as telenovelas apresentaram baixos índices de audiência,
encerrando suas exibições com uma média de 427 e 528 pontos, respectivamente, no Ibope.
Com o objetivo de trazer mais prestígio a suas telenovelas e, consequentemente,
aumentar a audiência dessas produções, em 2011 a emissora apostou na produção do drama
Amor e Revolução (2011 - 2012), de autoria de Tiago Santiago. A obra apresentou um
desempenho satisfatório em sua estreia, porém, ao trazer uma temática mais séria e diferente
de tudo que o SBT já havia produzido até então, recriando momentos da Ditadura Militar,
com cenas de violência, tortura e até mesmo o primeiro beijo gay na teledramaturgia
brasileira29, “o público demonstrou abandono à obra, por sentir falta da principal
característica das produções ‘sbtistas’: o sentimentalismo melodramático.” (HERGESEL e
FERRARAZ, 2017, p.206).

Após a forte rejeição do público às obras naturalistas produzidas, o SBT decidiu dar
a sua cartada final em 2012 retomando as suas origens melodramáticas com um remake
nacional de um dos maiores sucessos já exibidos pelo canal: a telenovela infantil Carrossel.

A obra original mexicana foi ao ar pela primeira vez na programação do SBT em


maio de 1991, sendo reprisada mais três vezes nos anos de 1993, 1995 e 1996. Por se tratar
de uma história já conhecida por grande parte do público que cresceu assistindo o canal, com
a versão brasileira da telenovela o SBT buscou acionar o fator nostalgia nos telespectadores
além de atrair a audiência de um público conservador que não concordava “com as questões
sociais atuais retratadas pelas produções da Globo” ou não assimilava “a complexidade
narrativa da emissora líder, preferindo uma linha de produtos mais afeitos ao melodrama
explícito, ao popular, ao tradicional, ao arcaico, aos valores e à simplicidade” (MARTINS,
2016, p. 84).
A aposta, apesar de arriscada, já que nesse momento diversas emissoras abertas do
país já haviam abandonado a produção de obras voltadas ao segmento infantojuvenil devido
às restrições de publicidade infantil da legislação atual, foi muito bem sucedida. Com uma
nova roupagem mas trazendo alguns personagens marcantes da versão original como a doce
Professora Helena, a esnobe Maria Joaquina e o ingênuo Cirilo, a telenovela cativou o
27
Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Revela%C3%A7%C3%A3o_(telenovela)>. Acesso em: 28 de
dez. de 2021.
28
Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Vende-se_um_V%C3%A9u_de_Noiva>. Acesso em: 28 de dez
de 2021.
29
Disponível em
<https://oglobo.globo.com/cultura/revista-da-tv/amor-revolucao-do-sbt-responsavel-pelo-primeiro-beijo-gay-em
-novelas-2772110>. Acesso em: 28 de dez de 2021.

52
público, alcançou uma média de 12 pontos de audiência durante o seu período de exibição30
(repetindo o bom desempenho em suas reprises) e rendeu um faturamento de mais de 100
milhões de reais para o SBT entre 2012 e 201331.
Segundo Mauricio Stycer, do portal UOL, o SBT é a emissora “mais mexicana de
todas” e o sucesso da nova versão de Carrossel apenas confirma “o acerto de insistir nesta
fórmula”. Para o jornalista, "Parece claro que há não apenas público, mas mercado
interessados num tipo de programação mais simples, sem o mesmo acabamento oferecido
pela concorrência e que produz o efeito de deslocar o espectador no tempo”.32
Com a repercussão positiva de Carrossel, que atraiu a atenção tanto de crianças que
não conheciam a história como adultos que acompanharam a exibição da versão original no
SBT nos anos 1990, a emissora não hesitou em planejar um novo remake para manter a
audiência das famílias brasileiras em seu horário nobre. Assim, seguindo a mesma fórmula de
sucesso, o canal produziu a sua segunda telenovela voltada ao público infantil, o remake
nacional de Chiquititas (2013-2015), tornando oficial o seu investimento nesse segmento até
então abandonado pelo mercado televisivo aberto brasileiro. Dessa forma foi instituído na
programação nacional na década de 2010 o que João Paulo Hergesel chama de “Melodrama
infantojuvenil” (2016).
De acordo com o pesquisador, a partir de uma análise voltada às qualidades
expressivas desses produtos é possível perceber na forma com que são utilizados alguns
recursos do discurso audiovisual como enquadramento, iluminação, composição, diálogo,
sonoridade e temáticas pedagógicas, a criação de uma “estilística do melodrama
infantojuvenil” na narrativa ficcional seriada do SBT (HERGESEL, 2016, p.5) e,
consequentemente, de um padrão nas produções da emissora.
Os bons índices de audiência alcançados por Chiquititas só fizeram o SBT ter mais
certeza de que havia encontrado uma “fórmula do sucesso”. Assim, logo em seguida, foram
produzidas as versões brasileiras de outras duas telenovelas da Televisa previamente exibidas
pela emissora de Silvio Santos: Cúmplices de um Resgate (2015-2016) e Carinha de Anjo
(2016-2018).

30
Disponível em <https://www.otvfoco.com.br/audiencias-detalhadas/audiencia-carrossel-detalhada-ibope/>.
Acesso em: 29 de dez. de 2021.
31
Disponível em
<http://celebridades.uol.com.br/ooops/ultimas-noticias/2013/08/06/carrossel-faturou-mais-de-r-100-milhoes-par
a-o-sbt.htm>. Acesso em: 29 de dez. de 2021.
32
Disponível em
<https://mauriciostycer.blogosfera.uol.com.br/2012/05/24/dna-mexicano-do-sbt-explica-o-sucesso-de-carrossel/
>. Acesso em: 29 de dez. de 2021.

53
Foi somente em 2018 que o SBT sentiu mais segurança para apostar em algo novo
ainda dentro do universo infantojuvenil, quando em 16 de maio foi ao ar a adaptação
televisiva do clássico da literatura de Eleanor H. Porter: As Aventuras de Poliana
(2018-2022). Com uma audiência consistente a telenovela ganhou uma continuação baseada
no livro Pollyanna Grows Up, também de Porter, intitulada Poliana Moça (2022-2023).
Seguindo a nova tendência de produzir adaptações literárias, atualmente o canal
exibe em seu horário nobre a telenovela A Infância de Romeu e Julieta (2023-), baseada em
uma das obras literárias mais famosas do mundo, escrita por William Shakespeare. Esta é a
sétima telenovela infantojuvenil produzida pelo SBT e a terceira não adaptada de um título
estrangeiro desde 2012.
Essa repetição de fórmulas, temáticas e até mesmo enredos promoveram, além de
um distanciamento do SBT perante suas concorrentes quanto a forma de produzir conteúdo,
um sentimento de familiaridade e conforto nos espectadores dessas atrações, juntamente com
um fácil reconhecimento dessas obras por parte do público como uma “produção do SBT”.
Nesse contexto, é oportuno destacar que o conforto suscitado pela repetição, e que
pode ser relacionado com o prazer da criança de sempre ouvir ou ler a mesma história
(BERTON, 2016, p.176), até hoje é crucial no universo das telenovelas, ainda que algumas
novidades apareçam em meio a estas obras. A essa estratégia melodramática, a pesquisadora
Daniela Zanetti deu o nome de “inovação na repetição”: quando a partir de mudanças
superficiais em uma narrativa, novos produtos são criados, sendo eles uma combinação entre
variantes e invariantes estruturais (2009).
Devido a grande demanda por capítulos, as narrativas melodramáticas televisivas
tornaram-se conhecidas por frequentemente invocarem certos recursos narrativos e assim
fidelizarem seu público não pela novidade e sim pela capacidade do mesmo conseguir prever
o que está por vir na história. Segundo Eco (1989 apud ZANETTI, 2009) o ​retorno ao
idêntico proporciona ao espectador um sentimento de conforto ao se deparar com situações já
conhecidas e ter uma noção de como os conflitos serão resolvidos. Por esse motivo, é comum
fãs de telenovelas não se surpreenderem, por exemplo, com a queda de um personagem de
uma escada, mas ficarem chocados ao descobrir quem foi o responsável por empurrá-lo.
Ao acompanhar a telenovela Carinha de Anjo, objeto de análise da presente
pesquisa, é possível imaginar desde a sua primeira exibição como será o seu desfecho 402
capítulos à frente. Tal previsibilidade narrativa se deve tanto ao fato da produção apresentar
heranças do melodrama latino-americano em sua versão mais clássica, que tem como

54
proposta insistir em reviravoltas no enredo já esperadas pela audiência33 e focar mais em
questões moralistas e uma guerra do bem contra o mal, quanto também por se tratar de um
produto audiovisual voltado ao público infantil, no qual é esperado por parte de seus
telespectadores um “final feliz”. Contudo, é necessário destacar como a emissora de exibição
da obra atua de forma similar na construção de um horizonte de possibilidades narrativo, já
que é esperado que uma atração do SBT incorpore algumas marcas de estilo típicas do canal.
Tendo como pilares de estudo a teoria do melodrama, a poética do "familiar" e a
repetição, busca-se analisar no próximo capítulo da presente pesquisa de que forma ocorrem
as articulações entre o comportamento regular da obra Carinha de Anjo e os processos de
identificação da mesma como uma produção pertencente ao SBT.
Através de uma análise de som e imagem, foi realizado um exame a fim de entender
de que forma a repetição dos mesmos aspectos narrativos responsáveis por criar a “estilística
do melodrama infantojuvenil” (HERGESEL, 2016) em diferentes obras colabora para criar
um sentimento de unidade entre as produções SBTistas, suscitando um conforto nos
telespectadores e evidenciando um controle criativo da instituição.
Para embasar este estudo, foram utilizadas três das quatro categorias da análise de
estilo proposta por Butler (2018): a descritiva, a analítica e a histórica. A análise avaliativa
não foi utilizada pois o próprio autor entende-a como problemática devido a carência de
parâmetros para se julgar a estética televisiva.
A estilística descritiva, de acordo com Butler, “inclui métodos pelos quais o estilo é
descrito” e é a base das outras categorias estilísticas, “pois cada uma delas deve descrever o
estilo antes de poder expor seu significado'' (2018, p.424). Essa categoria é empregada no
presente trabalho no momento de desconstrução do texto televisivo, com a descrição
detalhada da composição de algumas cenas escolhidas.
Já a estilística analítica inclui “quaisquer tentativas de interpretar descrições
estilísticas”. Sendo assim, deve-se primeiro “estudar como o estilo funciona no texto
televisivo” para, em seguida, “dissecar como ele serve a essa função” (BUTLER, 2018,
p.425). Essa categoria é usada na pesquisa juntamente com a descrição das cenas, a fim de
entender a função de escolhas técnicas da produção da telenovela.
Dentre as funções que o estilo televisivo pode ter, inclusive, Butler destaca cinco,
sendo elas: denotar, expressar, simbolizar, decorar, persuadir, chamar ou interpelar,

33
Clichês como a protagonista pobre que descobre ser herdeira de uma fortuna (Maria do Bairro, 1995) e irmãs
gêmeas separadas no nascimento (A Usurpadora, 1998) são apenas alguns exemplos de reviravoltas esperadas
no melodrama latino-americano.

55
diferenciar e significar “ao vivo”. O autor reconhece, contudo, que a intenção de despertar e
manter a atenção do telespectador é a mais importante em qualquer situação.
Por fim, a estilística histórica tenta destrinchar “histórias dos avanços tecnológicos
da televisão, desenvolvimento econômico e convenções estéticas para explicar o estilo do
meio em qualquer momento específico” (BUTLER, 2018, p. 427) e investiga como esses
fatores têm influência sobre padrões estilísticos. Neste trabalho, essa categoria foi utilizada
nos momentos em que são realizadas comparações de cenas de Carinha de Anjo com cenas
visualmente semelhantes de telenovelas infantojuvenis antecessoras do canal.
A escolha por utilizar essa atração como objeto de análise deve-se a alguns fatores.
O primeiro deles relaciona-se ao fato da obra em questão ser a quarta telenovela infantil
adaptada pelo canal, o que levanta a hipótese de que no momento de sua produção o SBT já
tenha sido capaz de estabelecer um estilo próprio ficcional e tenha saído do estágio de
experimentação com essas obras. O segundo, devido ao enredo dessa atração apresentar,
através de seu núcleo principal de personagens, o universo religioso católico comumente
representado em tramas melodramáticas latinoamericanas e tratar de forma explícita de
questões morais ligadas ao cristanismo. E, por fim, por conta dessa obra apresentar o elenco
infantil mais jovem dentre todas as telenovelas infantis exibidas pelo canal e isso possibilitar
uma observação acerca de como o seu estilo ficcional dialoga com um público tão jovem,
transmitindo a identidade da emissora e um sentimento sbtista para crianças que ainda estão
em sua primeira infância34.
Por tratar-se de uma obra muito extensa, com mais de 200 horas de material
televisionado, optou-se por realizar um recorte com o intuito de viabilizar uma análise
estilística mais aprofundada do objeto. Para isso, primeiramente foi feita uma leitura do
enredo da telenovela no Wikipedia. Em seguida, já sabendo dos principais pontos de virada
da obra, foi escolhido um arco narrativo específico (no caso, um em que a temática religiosa,
o romance e a tragédia estivessem presentes de forma explícita). Na sequência, foi feita uma
busca no Google por portais de entretenimento que publicam resumos de telenovelas. Através
desses resumos, foi obtida a informação acerca do início e do final do arco narrativo
escolhido. Depois, com todas essas informações reunidas, procurou-se uma plataforma online
em que os capítulos escolhidos estivessem disponibilizados na íntegra (nesse caso, a

34
Primeira Infância é o período da vida que vai da gestação até os seis anos de idade. Esse conceito está
registrado no Marco Legal da Primeira Infância, lei de 2016 que garante os direitos relacionados a essa etapa da
vida. Disponível em
<https://todospelaeducacao.org.br/noticias/perguntas-respostas-o-que-voce-precisa-saber-sobre-primeira-infanci
a/>. Acesso em: 14 de jan. de 2022.

56
plataforma escolhida foi o YouTube). Por fim, foi feita uma descrição detalhada de cada um
dos capítulos35 do arco narrativo escolhido.
Já a comparação entre momentos específicos de Carinha de Anjo e outras
telenovelas infantojuvenis do SBT foi realizado da seguinte forma: primeiro, foram
escolhidos alguns momentos mais dramáticos do arco narrativo da obra em questão; em
seguida, foram efetuadas buscas no Google por palavras-chave relacionadas a esses
momentos mais dramáticos e o nome de outras obras infantojuvenis do canal (ex:
atropelamento Chiquititas); por fim, caso a busca rendesse resultados, era feita uma
visualização da cena no YouTube e uma descrição detalhada da mesma.
O segmento selecionado para análise da telenovela Carinha de Anjo possui a
duração completa de treze capítulos - com início no episódio 175 e conclusão no episódio
187 - e desenvolve-se a partir do abandono da vida religiosa pela personagem Cecília, com
sua saída do colégio interno católico de Doce Horizonte no capítulo 171, e as consequências
do ocorrido na vida da protagonista Dulce Maria. O motivo da mudança de vida da noviça foi
resultado dos conflitos internos enfrentados pela personagem desde o primeiro capítulo da
telenovela, por conta de seus sentimentos românticos desenvolvidos por Gustavo Lários, pai
de Dulce.
O segundo capítulo desta pesquisa teve como foco realizar um resgate histórico da
criação e desenvolvimento do SBT, analisar as estratégias de comunicação utilizadas pelo
canal para se aproximar de seu público e traçar um panorama cronológico de suas produções
ficcionais.
No subcapítulo intitulado "A história do canal", como o próprio nome sugere, foi
apresentada uma retrospectiva da história do SBT, revelando que a sua forma única de se
comunicar com a audiência resulta de uma interseção entre o contexto político e cultural do
Brasil na época de sua fundação e a visão criativa de seu fundador, Silvio Santos. Além disso,
esse segmento também detalhou como a produção de conteúdos popularescos foi responsável
por, ao mesmo tempo, consolidar o SBT como uma das principais emissoras do país e fazer o
canal passar por uma crise de anunciantes logo em seus ano iniciais, já que, nesse momento,
poucas empresas estavam dispostas a vincular sua imagem com uma emissora tão popular.
No segundo subcapítulo da pesquisa, intitulado "Estratégias de fidelização da
audiência”, foi abordado como o SBT adota elementos do circo e outras manifestações
populares para se aproximar das classes mais baixas da sociedade. A emissora enfatiza sua

35
Material disponibilizado na íntegra como anexo ao final desta dissertação.

57
relação com o público como uma grande família e coloca Silvio Santos como uma figura
central dessa relação, desempenhando um papel que combina acessibilidade e misticismo, de
forma similar a uma divindade. A fidelização da audiência é comparada a uma religião, com
seguidores devotados, os SBTistas. A ênfase dada na comunicação do canal à "família
tradicional brasileira" atrai um público conservador insatisfeito com as pautas sociais atuais
apresentadas nas narrativas ficcionais de outras emissoras - em particular a Rede Globo.
Por fim, no terceiro subcapítulo da pesquisa, intitulado “Melodrama, telenovelas e
repetição” foi apresentada a influência do melodrama como uma matriz referencial para a
construção de narrativas na contemporaneidade. Caracterizado pela simplificação de temas
complexos, enredos emocionantes e um maniqueísmo entre bem e mal, o melodrama
conseguiu se adaptar a diferentes mídias e se manter relevante mesmo séculos após seu
surgimento. No Brasil, o melodrama se manifestou de forma mais relevante na
teledramaturgia e chegou a dar origem a duas vertentes: as tramas realistas, “críticas da
realidade social, cultural e política do país” (LOPES, 2009, p. 24), e as tramas naturalistas,
“dramalhões feitos para fazer chorar” (ibidem).
Assim, enquanto a maior emissora do país, a Rede Globo, se destacou na produção
de telenovelas com narrativas que abordam pautas sociais atuais, o SBT, conhecido por
investir na exibição de telenovelas latinoamericanas desde o seu surgimento, viu como uma
oportunidade de atrair a atenção de um público mais conservador produzir versões brasileiras
de clássicos latinos infantojuvenis já exibidos no canal.
No capítulo a seguir, será realizada a análise propriamente dita da obra “Carinha de
Anjo” a partir do segmento de treze capítulos previamente mencionado. O objetivo será
investigar de que forma a repetição de fórmulas visuais e narrativas entre as telenovelas do
canal cria um estilo característico e um sentimento de familiaridade em suas produções.

58
CAPÍTULO 3 - CARINHA DE ANJO É A CARA DO SBT

3.1 O ENREDO

Logo na sequência de abertura do capítulo de estreia da novela Carinha de Anjo36 o


telespectador é apresentado à cidade fictícia de Doce Horizonte. A ambientação é um parque
arborizado no qual diversas famílias, compostas de pais, mães e filhos, se divertem. Em
seguida, uma menininha é apresentada sentada em um banco sozinha, observando tudo,
segurando uma bexiga azul. A criança solta o bexiga e, ao admirá-la subir ao céu, vê o objeto
se transformar em um grande balão azul animado (Figura 1). Nesse momento, a trilha sonora
que embala a cena é uma versão original da canção de Guilherme Arantes “Lindo Balão
Azul”.
Eu vivo sempre no mundo da lua
Porque sou um cientista
O meu papo é futurista,
É lunático
Eu vivo sempre no mundo da lua
Tenho alma de artista
Sou um gênio sonhador
E romântico
Eu vivo sempre no mundo da lua
Porque sou aventureiro
Desde o meu primeiro passo

Figura 1 Dulce Maria vê a sua bexiga se transformar em um grande balão azul

O trecho descrito, minuto inicial da exposição, já é capaz de transmitir o tom


imaginativo e lúdico que seguirá sendo destaque ao longo dos 403 capítulos da novela.
Escrita por Leonor Corrêa, com supervisão de Íris Abravanel e direção geral de Ricardo
Mantoanelli, Carinha de Anjo é uma adaptação da telenovela mexicana Carita de ángel
(Televisa, 2000), exibida pelo SBT entre 2001 e 2002, que, por sua vez, é um remake de

36
Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=KSV859JHwFM&ab_channel=CarinhadeAnjo>. Acesso
em 27 de nov. de 2021.

59
Mundo de juguete (Televisa, 1974), sendo esta última obra inspirada na original argentina
Papá corazón (Canal 13, 1973)37.
O enredo da produção brasileira, assim como a homônima mexicana, gira em torno
da vida da curiosa e divertida Dulce Maria (Lorena Queiroz), de apenas cinco anos de idade.
A menina é filha única do casal Gustavo Lários (Carlo Porto), empresário do ramo da
cafeicultura, e de Teresa Rezende Lários (Lucero), mulher de espírito livre e aventureiro que
devido a um acidente durante um salto de asa delta faleceu quando Dulce tinha apenas 3 anos
de idade. Logo após o ocorrido, desolado com a perda de sua esposa, Gustavo decide
abandonar a vida no Brasil e muda-se da cidade fictícia de Doce Horizonte para Espanha, a
fim de viver seu luto isolado da família. Assim, Dulce passar a frequentar um colégio interno
católico e contar com os cuidados da prima de seu pai, Estefânia (Priscila Sol) - apelidada de
“Tia Perucas” por conta de seu visual monocromático, que combina sapato, vestido e peruca
de uma mesma cor -, seu tio paterno, Padre Gabriel (Alcemar Vieira), e dos funcionários que
trabalham em sua casa Silvestre (Blota Filho), o mordomo da família, e Franciely (Carol
Loback), a cozinheira extrovertida e atrapalhada.
No prédio onde vive, Dulce Maria é próxima de Rosana (Ângela Dip), síndica do
condomínio que anda pela cidade com seu triciclo motorizado, e de seus filhos Juliana (Maisa
Silva), adolescente que grava vídeos para internet e possui um grande número de seguidores,
e seu irmão adotado, Emílio (Gabriel Miller).
No internato, onde passa a maior parte de seu tempo, Dulce Maria também é tratada
com muito afeto. Além de ter suas grandes amigas Adriana (Marianna Santos), Duda (Maria
Eduarda Silva), Valentina (Valenthina Rodarte) e Lúcia (Helena Luz), Dulce também conta
com a carinho da brincalhona Irmã Fabiana (Karin Hils), noviça que comanda o coral do
colégio, Madre Superiora (Eliana Guttman), diretora do internato que apesar de rígida não
esconde seu amor pela menina, e Irmã Cecília (Bia Arantes), sua conexão emocional mais
forte e quem criança considera sua segunda mãe.
Nas dependências do colégio, a menina também encontra carinho em Inácio (Eddie
Coelho), caseiro da propriedade, sua esposa Diana (Camilla Camargo), professora de artes do
internato, seus dois filhos, Zeca (Jean Paulo Campos), adolescente que sonha em fazer
sucesso como cantor de música sertaneja, e Zé Felipe (Leonardo Oliveira), o caçula
bagunceiro de 6 anos de idade, e Pascoal (Camilo Bevilacqua), o jardineiro.

37
O remake de Carinha de Anjo produzido pelo SBT foi a segunda adaptação brasileira da história original
argentina. A primeira adaptação foi feita em 1976 pela Rede Tupi, chamada de Papai Coração. Disponível em
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Papai_Cora%C3%A7%C3%A3o#cite_note-1>. Acesso em: 29 de out. de 2021.

60
Apesar de possuir uma grande rede de apoio, todo esse amor recebido por Dulce
Maria de sua comunidade não a deixa livre de conflitos e, inclusive, acaba gerando inveja de
pessoas ao seu redor. As colegas de classe Bárbara (Renata Randel) e Frida (Sienna Belle),
inconformadas com toda a atenção dada pelas noviças do convento a Dulce, transformam a
menina em seu alvo principal de bullying e criam diversas situações que possam gerar
punições para ela.
A trama tem início no primeiro capítulo da telenovela com o retorno de Gustavo ao
Brasil, após dois anos vivendo no exterior, decidido a recomeçar a sua vida ao lado de Dulce
Maria e compensar o tempo perdido. No entanto, para surpresa de muitos, ele não volta
sozinho. Acompanhado da modelo Nicole Escobar (Dani Gondim), sua nova namorada, que
embora ele não saiba está interessada somente em seu dinheiro, Gustavo mostra-se
recuperado do luto da perda de sua esposa e pronto para um novo casamento com a moça.
Porém, a situação muda quando o homem conhece Irmã Cecília e a atração instantânea entre
os dois faz Gustavo duvidar de seus sentimentos por Nicole, e a noviça questionar sua
vocação religiosa.

3.2 EXIBIÇÃO E AUDIÊNCIA

Substituindo Cúmplices de um Resgate (2015 - 2016) na programação do horário


nobre do SBT, Carinha de Anjo foi a quarta adaptação brasileira38 de uma telenovela latina
produzida pela emissora e destinada ao público infantojuvenil.
Com sua estreia no dia 21 de novembro de 2016 e exibição diária, de segunda a
sexta no horário das 20h30, Carinha de Anjo teve ao todo 403 capítulos, com duração média
de 45 minutos com intervalos comerciais, e foi ao ar pela última vez no dia 6 de junho de
2018, sendo substituída por As Aventuras de Poliana (2018 - 2020).
Apesar de não ter alcançado as marcas de audiência de suas antecessoras, tendo
como média geral 10,5 pontos na medição do Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística
(Ibope) - menor média das tramas infantis exibidas na faixa das 20h3039 pelo SBT até então -,
a telenovela teve um desempenho consistente durante todo o seu período de exibição.
Mantendo uma disputa acirrada contra a RecordTV pelo segundo lugar de audiência, Carinha

38
Não levando em consideração a primeira versão com elenco nacional de Chiquititas, exibida entre 1997 e
2001, por se tratar de uma produção da argentina Telefé apenas com a parceria do SBT.
39
Disponível em
<https://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/audiencias/carinha-de-anjo-termina-como-a-novela-infantojuvenil-meno
s-vista-do-sbt--20826>. Acesso em: 01 de nov. de 2021.

61
de Anjo chegou a vencer a emissora em diversos momentos, com larga vantagem,
principalmente em sua reta final. Em seu último capítulo, a telenovela registrou 14,5 pontos
no Ibope e se tornou a segunda melhor média de um último capítulo de uma trama infantil
desde Carrossel (2012 - 2013)40.
Além disso, outra conquista notável da obra foi a sua repercussão online graças a
ação de marketing transmidiático da personagem Juju, com a criação de um canal real no
YouTube com conteúdos inéditos gravados em formato de vlog41. A estratégia rendeu não
apenas um alto número de acessos nas redes sociais do SBT como também no próprio site da
emissora.
Em 1 de outubro de 2021, uma versão reduzida da telenovela, com 290 episódios,
foi disponibilizada no streaming Netflix e, no dia 4 do mesmo mês, a obra teve a sua primeira
reapresentação pelo SBT, novamente no horário das 20h3042. A reprise no horário nobre, que
geralmente é destinado a produções inéditas, ocorreu devido ao atraso nas gravações da
segunda fase da telenovela As Aventuras de Poliana, intitulada como Poliana Moça, por
conta da pandemia de COVID-1943. A nova produção, que deveria ter ido ao ar em 2021,
estreou somente em 21 de março de 2022.

3.3 O ARCO NARRATIVO

O capítulo 17544 é iniciado com um enquadramento em plano médio abaixo dos


ombros da personagem Cecília que mostra a mesma sentada em uma cama, arrumando roupas
em uma mala e escrevendo um bilhete. Um movimento de câmera tilt up revela o rosto da
jovem, que apesar de já ter saído oficialmente do convento, ainda veste o hábito. Uma música
instrumental triste toca ao fundo de forma extradiegética.

40
Disponível em
<https://www.otvfoco.com.br/carinha-de-anjo-supera-ibope-final-de-duas-antecessoras-confira-os-consolidados-
de-quarta-feira-06-06-18/>. Acesso em: 01 de nov. de 2021.
41
Disponível em
<https://www.youtube.com/watch?v=5Ig2K4GnNQI&list=PLmV1LF20F48pwunQm8tv04feFqm2JbYB9&ab_c
hannel=TVZYN>. Acesso em: 01 de nov. de 2021
42
Disponível em
<https://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/novelas/em-busca-de-audiencia-netflix-fura-sbt-e-estreia-carinha-de-anj
o-antes-de-reprise-na-tv-66646>. Acesso em: 01 de nov de 2021.
43
Disponível em
<https://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/televisao/mais-reprise-sbt-bate-o-martelo-e-coloca-carinha-de-anjo-no-l
ugar-de-chiquititas-65028>. Acesso em: 01 de nov de 2021.
44
Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=u_BDppJMs1M&ab_channel=TVZYN>. Acesso em: 27
de nov. de 2021.

62
Um primeiro plano no rosto de Cecília somado a locução de frases de outros
personagens da narrativa duvidando que ela seria capaz de tomar a decisão de abandonar a
vida religiosa indicam ao telespectador que ele ouve os pensamentos da jovem. Cecília,
então, levanta da cama, abre o guarda-roupas e olha-se no espelho. Um enquadramento em
plano detalhe nos seus olhos transmite que apesar da tristeza a moça deseja seguir em frente
com a sua mudança de vida. Em seguida, um plano médio mostra as costas da personagem e
seu reflexo frontal no espelho. Cecília passa a ouvir frases motivacionais de sua irmã, falando
que existe um mundo de possibilidades a ser explorado fora do convento e que ela precisa
apenas seguir o tempo do seu coração para se acostumar com a sua nova vida. As frases
param, a música instrumental extradiegética torna-se mais intensa e nesse momento, ainda
olhando-se no espelho, Cecília retira pela primeira vez o seu hábito. Em primeireiríssimo
primeiro plano - estratégia usada para incentivar uma aproximação visual do espectador -,
com olhos marejados, a jovem solta o cabelo e observa a sua nova versão (Figura 2).
Com um plano médio que enquadra seu corpo abaixo da cintura, é possível observar
a mesma fechar o guarda-roupas, pegar sua mala e o bilhete escrito e deixar o seu hábito em
cima da cama. Através de um plano detalhe com um leve zoom in na vestimenta religiosa,
Cecília sai do ambiente fora de foco. Posteriormente no mesmo capítulo, a personagem
aparece andando por uma rodoviária e, em seguida, embarcando em um ônibus.

Figura 2 Cecília retira o hábito e vê seu reflexo no espelho

De acordo com o estudo “Melodrama infantojuvenil na televisão brasileira: análise


estilística de Carrossel”, de Hergesel e Ferraraz (2017), a partir de 2011 o SBT iniciou nova
fase em sua teledramaturgia e esta pode ser notada em, pelo menos, oito aspectos narrativos,

63
sendo eles: maniqueísmo, felizes para sempre, casos de família, merchandising social
camuflado, momentos trágicos, dogmas religiosos, ações pedagógicas e estética kitsch.
Comprovando a proposta dos autores, ao longo de toda a análise do arco narrativo
apresentado neste trabalho será possível observar a reiteração desses aspectos narrativos.
Como primeiro exemplo, tem-se a sequência de abertura previamente descrita, na qual os
dogmas religiosos têm destaque através da culpa cristã sentida pela personagem Cecília
devido ao abandono de sua vida de noviça. Apesar de toda a dor, a jovem segue em frente
rumo a sua nova versão motivada pela ideia de “viver a sua verdade”.
Os mesmos pesquisadores argumentam que enquanto as narrativas naturalistas
sustentam a máxima do Estado laico, trazendo discussões sobre intolerância religiosa em suas
tramas, o melodrama sentimentalista segue a cultura judaico-cristã, que além de ter influência
direta do melodrama em sua raiz pode ser relacionado com as doutrinas seguidas pelo dono
da emissora, o judaísmo, e por sua esposa e responsável pelo núcleo de teledramaturgia do
SBT, o protestantismo (HERGESEL e FERRARAZ, 2017, p.219). Esta última doutrina,
inclusive, teve destaque em um dos núcleos da novela Cúmplices de um Resgate (2015 -
2016), que tinha como ambientação principal uma igreja evangélica.
Outro elemento importante nessas produções melodramáticas é a composição
estética. Através da combinação de recursos como efeitos de luz, cor, som, enquadramentos e
movimentos de câmera essas obras são capazes de suscitar determinadas respostas
emocionais no espectador e levarem o mesmo a “se envolver emocionalmente, a criar algum
tipo de identificação com os personagens.” (ZANETTI, 2009, p.193). A pesquisadora Daniela
Zanetti exemplifica:
(...) tomando como exemplo uma cena (de novela ou de filme) na qual dois
personagens fazem declarações reveladoras e íntimas (e, portanto, decisivas), é bem
provável que, pelos moldes melodramáticos, será usado um enquadramento de
câmera mais fechado (muitas vezes com alternância de planos e contra-planos)
focando nas expressões e na proximidade dos personagens, tendo ao fundo uma luz
artificial, tudo acompanhado por uma música «de clima» que aguçará o tom
sentimental e emotivo do momento. Os olhos lacrimejantes serão quase uma
exigência. (2009, p.192)

A redundância entre imagem e som é uma característica inerente à TV como um


todo, mas no caso do SBT, ela se torna um traço determinante. Nessa emissora, a
comunicação é direta e objetiva, deixando pouco espaço para subentendidos ou abstrações. O
que é falado é sempre acompanhado pela imagem correspondente, reforçando a mensagem e
tornando-a didática. No SBT, “é preciso falar, mostrar, apresentar, representar, apontar,
cantar, dizer – e nem tanto sugerir ou esperar por inferências do telespectador” (MARTINS,

64
2016, p.128). Dessa forma, a combinação de palavras e imagens se torna uma ferramenta
poderosa para transmitir informações de forma clara e direta.
Além disso, é importante ressaltar que a comunicação sonora desempenha um papel
fundamental na contextualização das situações apresentadas na narrativa, do mesmo modo
que a iluminação desempenha um papel significativo na personalização do sentimento da
mesma. Isso ocorre porque a "sensibilidade no audiovisual" vai além das palavras, se
manifestando também por meio das luzes e do som, traduzindo“a animação, a euforia, o
ritmo acelerado e alto-astral” (HERGESEL e FERRARAZ, 2017, p. 29).
Já os marcadores que distanciam o SBT dos ideais de modernidade, qualidade e
desenvolvimento tecnológico de outras emissoras são evidentes. Essa oposição estilística se
manifesta, por exemplo, no uso de cores quentes e vibrantes pelo SBT, em contraste com as
cores frias utilizadas pela Globo. É assim que o canal adota uma abordagem que eleva as
temperaturas e inflama os ânimos ao se comunicar com o público, despertando assim
emoções intensas no mesmo, esteja ele assistindo seus dramas mexicanos, seus programas de
auditório efusivos ou até seus telejornais sensacionalistas (MARTINS, 2016, p.138).
Isso tudo ocorre porque a cor, como uma realidade sensorial, exerce um poderoso
impacto emocional nas pessoas, gerando sensações de movimento em uma dinâmica
envolvente e compulsiva. As cores podem ser quentes ou frias, transmitindo sensações de
proximidade ou distância, respectivamente. Elas sugerem diferentes modos de relação com o
mundo exterior, dependendo de sua intensidade. Nesse sentido, ao utilizar uma paleta de tons
mais fortes e quentes, o SBT estabelece uma relação de intimidade com a realidade
percebida, respondendo a ela com receptividade e acolhimento (MARTINS, 2016, p.140).
Essa escolha estilística reforça a ênfase emocional presente na comunicação do canal,
buscando envolver o público de forma intensa e calorosa.
De volta ao arco narrativo da telenovela, algumas cenas após a sequência de abertura
descrita, Irmã Fabiana e Dulce Maria pegam a chave do carro do colégio das mãos do
jardineiro Pascoal e partem, sem informar a Madre Superiora, rumo a casa de Fátima, irmã de
Cecília.
Chegando no local de destino, as duas são recebidas com muita alegria por Fátima
na calçada em frente a sua casa. Ela diz que diz que a sua irmã irá adorar a visita surpresa.
Dentro da residência, Fátima fala para Dulce ir ao quarto falar com Cecília. A
menina sai animada em direção ao cômodo mas volta à sala pouco tempo depois falando que
não a encontrou e que achou apenas o seu hábito em cima da cama. Fátima acha estranho e
vai ao quarto também.

65
Irmã Fabiana oferece biscoitos a Dulce e a menina rejeita, angustiada. Fátima volta à
sala preocupada pois notou que a mala de Cecília também não está em seu quarto. Irmã
Fabiana encontra um bilhete em cima de um móvel, próximo a um porta retrato. Uma trilha
sonora extradiegética tensa toca ao fundo. Fátima vai até o móvel indicado e, em um plano
médio, segura o bilhete em suas mãos e lê o seu conteúdo. Com uma expressão de
preocupação em seu rosto e uma fala trêmula, ela fala que na carta Cecília diz que foi
embora.
Dulce Maria chora no colo de Irmã Fabiana e diz que todos em sua vida a
abandonam. Subitamente, a menina se levanta e decide sair correndo da casa à procura de
Cecília. Fátima e Irmã Fabiana vão atrás. Em um plano geral, Dulce fecha o portão da casa e
sai em disparada. Um grande plano geral mostra a menina correndo pelas calçadas do bairro.
Fátima e Irmã Fabiana seguem Dulce poucos metros atrás da garota.
Um corte seco na perseguição entre as personagens mostra um carro de passeio
cinza movendo-se em velocidade moderada pelas ruas do bairro. Um take na sequência
mostra a visão subjetiva do motorista na direção do veículo, transmitindo uma sensação de
urgência ao telespectador.
A perseguição de Fátima e Irmã Fabiana a Dulce Maria continua, com planos
abertos, e sendo intercalada com takes do veículo cinza em movimento na estrada, criando
uma sensação crescente de tensão. Para desviar de uma moça com um carrinho de bebê,
Dulce decide abandonar a calçada e cruzar a rua em alta velocidade, sem perceber a
aproximação do carro. Um take da visão subjetiva do motorista mostra Dulce atravessando a
rua. Em seguida, é possível ouvir o som intradiegético de pneus freiando no asfalto
acompanhado de um plano detalhe das rodas do veículo parando bruscamente e liberando
uma fumaça. Por fim, um rápido plano americano mostra a frente do carro atingindo a
menina e derrubando-a no chão.
Um plano médio curto destaca as expressões de choque e desespero de Irmã Fabiana
e Fátima. Em seguida, em um plano inteiro, Dulce Maria encontra-se estática em primeiro
plano no asfalto enquanto Irmã Fabiana, Fátima e o motorista do veículo aproximam-se da
menina, desesperados (Figura 3). O motorista retorna ao seu carro para pegar seu celular e
chamar socorro. Um primeiro plano do rosto de Irmã Fabiana chorando é intercalado com um
primeiro plano do rosto da menina desacordada, reforçando ao telespectador a gravidade da
situação.
Mais um contraponto observado por Hergesel e Ferraraz entre narrativas naturalistas
e o melodrama sentimental se relaciona com os momentos trágicos dessas tramas. Segundo os

66
autores, enquanto as primeiras “procuram levar à morte os personagens que se envolvem em
confusões fatais” (2017, p.219) as últimas mostram a “superação dos vitimados, ainda que
imersos em grandes explosões ou catástrofes – exceto se o foco for a eliminação do vilão, no
último capítulo” (ibidem).
Em Carinha de Anjo, além do fato da narrativa da telenovela ser um melodrama
sentimental, que é uma vertente mais conservadora do gênero, existe também a questão dessa
atração ter como foco de audiência o público infantojuvenil e ser produzida por uma emissora
que preza pelo conteúdo familiar, divertido e que promove conforto em seu telespectadores.
Por esses motivos, embora existam diversos momentos trágicos ao longo de toda a trama de
403 de capítulos, é possível prever através do horizonte de possibilidades do universo
retratado e do recorte de audiência dessa produção que o arco narrativo terá um desfecho
positivo para a personagem principal. Sobre conforto suscitado por narrativas, Raphael
Baroni e Françoise Revaz (2016) declaram
Enquanto as crianças vivem em um mundo novo e em constante mudança, cujas
rotinas ainda precisam ser aprendidas, elas tendem a buscar nas ficções uma
alternativa reconfortante ao constante desafio da experiência cotidiana, como se
uma história fosse a atualização de um roteiro. Os adultos, pelo contrário,
encontram maior prazer no suspense ou nas histórias trágicas, porque as ficções
representam uma forma de escapar às rotinas diárias e/ou uma simulação destinada
a lidar com eventos dramáticos que possam encontrar na vida real. (p.94)

Deste modo, é possível dizer que ao insistir em clichês, estereótipos, fórmulas já


conhecidas e até mesmo em uma estética kitsch, o SBT abre mão de grandes inovações
audiovisuais e cativa seus consumidores através da oferta de uma “segurança ontológica” em
seus produtos (MARTINS, 2016, p. 154).

67
Figura 3 Dulce Maria atravessa a rua correndo e é atropelada por um carro

De volta a sequência descrita, é possível perceber também um certo padrão estético


recorrente nas cenas de atropelamento presentes nas obras do SBT destinadas ao público
infantojuvenil. Um exemplo semelhante ocorre no atropelamento da personagem Priscila, da
telenovela Cúmplices de um Resgate.
No capítulo 18045 da produção, Priscila, inimiga da protagonista Manuela, vive um
namoro falso com Joaquim. Apesar do relacionamento não ser verdadeiro, ela desenvolve
sentimentos pelo garoto. Durante uma conversa, Joaquim confessa não gostar de Priscila, e
sim de Manuela. Ao ouvir isso a adolescente sai enfurecida do apartamento em que eles
estavam e, ao cruzar a rua rapidamente e sem atenção, é atropelada por um carro. Fortunato
vê pedestres se reunidos no local e encontra a neta desacordada na rua. O senhor chora e pede
para que alguém chame uma ambulância (Figura 4).
Seguindo a mesma técnica de enquadramentos e montagem, a perseguição
apresentada em Cúmplices de um Resgate também alterna takes de grandes planos gerais,
mostrando os veículos em alta velocidade nas ruas, takes mais fechados na parte dianteira
desses carros, e takes da futura vítima momentos antes do acidente.
É interessante notar que apesar de ambos os carros envolvidos no acidente estarem
consideravelmente amassados, assim como em Carinha de Anjo, nenhum dos personagens
apresenta visualmente ferimentos ou hematomas. Isso ocorre porque, além de se tratar de
uma obra de classificação livre, o melodrama sentimental tende a suavizar momentos mais
gráficos e explícitos.

45
Disponível em
<https://www.youtube.com/watch?v=vOwamiXQ_yQ&ab_channel=C%C3%BAmplicesdeumResgate>. Acesso
em: 17 de out. de 2023.

68
Figura 4 Priscila é atropelada

De volta a Carinha de Anjo, o capítulo 17646 começa no mesmo momento da


narrativa em que o capítulo anterior foi encerrado, com Irmã Fabiana, Fátima e o motorista
do carro que atingiu Dulce Maria aguardando a chegada da ambulância para socorrer a
menina. Algumas pessoas se reúnem no local do acidente enquanto Irmã Fabiana chora e diz
a Fátima que Cecília confiou nela para cuidar de Dulce.
O som intradiegético da ambulância anuncia a chegada de socorros. Os pedestres se
afastam, deixando apenas Irmã Fabiana e Fátima próximas a menina, e a equipe médica inicia
o atendimento. Plano inteiro dos paramédicos colocando Dulce Maria em uma maca são
intercalados com planos médios do rosto da menina, de Irmã Fabiana e Fátima chorando e de
pedestres que se reúnem no local para observar a cena (Figura 5). Os paramédicos levam
Dulce na maca para dentro da ambulância e Irmã Fabiana e Fátima também entram no
veículo para seguir rumo ao hospital.

46
Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=Xv0Yy3-TuWk&ab_channel=TVZYN>. Acesso em: 30
de nov. de 2021.

69
Figura 5 Os paramédicos realizam os primeiros socorros em Dulce Maria

Chegando no hospital, Dulce segue com a equipe médica para os atendimentos


enquanto Irmã Fabiana e Fátima aguardam na recepção. Irmã Fabiana liga para Gustavo e
conta o ocorrido. Gustavo parte imediatamente para o hospital para ver a filha.
No colégio Doce Horizonte, Pascoal conta à Madre Superiora que Irmã Fabiana e
Dulce saíram de carro para visitar Cecília na casa de Fátima. Madre Superiora, então, pede ao
jardineiro que vá à cidade buscar as duas pois ela diz não ter um bom pressentimento. No
mesmo instante, Irmã Ana interrompe a conversa dos dois com olhos marejados para falar
que recebeu uma ligação de Irmã Fabiana. Ela conta que Dulce Maria foi atropelada e que
elas estão no hospital. Madre Superiora é amparada por Irmã Ana e Pascoal e clama por ajuda
divina.
No hospital, Dulce Maria é levada desacordada a uma sala para realizar uma
tomografia. Seu rosto, em primeiro plano, é coberto por uma transição animada com a
ilustração de uma pequena casa amarela, cercada por corações, estrelas e nuvens, indicando
ao telespectador que a sequência que será apresentada faz parte de um espaço onírico da
trama. A animação enche a tela até dar espaço a um ambiente interno da casa representada,
com iluminação sobreexposta. Dulce abre a porta, entra na casa e vai até um móvel onde
encontra um porta retrato com uma foto de Cecília, ainda vestida de freira. Em um plano
médio, segurando o porta retrato, a menina diz que Cecília manchou seu coração. Teresa
surge no ambiente, também em um plano médio, falando que elas devem, então, lavar o seu
coração para fazer sair a dor. Dulce fala que a mancha da saudade não sai na máquina de
lavar. Teresa diz que sai sim, que elas precisam apenas lavar, secar, e o coração ficará pronto

70
para amar, assim como uma roupa limpa e cheirosa. Dulce pergunta para Teresa por que se
Cecília está mais feliz agora, ela está sofrendo. A mãe explica que isso aconteceu porque a
mudança na vida de Cecília mexeu com a vida dela também. A menina fala que não só mexeu
como bagunçou tudo. Teresa diz que quando vemos uma bagunça devemos arrumar tudo no
seu devido lugar que a vida volta a ficar boa. Dulce revela que gostaria que Cecília deixasse
de ser freira para se tornar sua segunda mãe. Teresa fala que essa não é uma decisão de Dulce
e sim de Gustavo e Cecília. Dulce confessa para a mãe que adora formar casais e fala que se
isso não for deixar ela magoada os dois formam um lindo casal. Teresa diz que também acha
mas hesita em continuar no assunto. Dulce fala que já sabe o que a mãe vai falar, que a culpa
toda é do nariz dela, que se mete em assuntos de adultos. Teresa concorda. As duas sorriem e
encostam os seus narizes. A música tema “Joia Rara”, na voz da atriz Lucero, toca de forma
extradiegética (Figura 6).
De acordo com Maria Immacolata Vassallo de Lopes “o melodrama nasce com uma
missão educadora” (2009, p.33). A partir da dimensão pedagógica presente na matriz cultural
do gênero, as telenovelas em geral mas, principalmente, aquelas que pertencem a vertente do
melodrama sentimentalista, possuem uma “ação pedagógica explícita” (ibidem) através de
suas tramas que insistem em “educar, moralizar, civilizar” (HERGESEL e FERRARAZ,
2017, p.219) e de seus discursos que formam opiniões acerca dos temas sociais abordados
(LOPES, 2009, p.33).

Figura 6 Dulce Maria passa por uma tomografia e sonha com sua mãe

Já no hospital, Gustavo é informado pelo Doutor Vila Rica, médico que acompanha
o caso, que o resultado da tomografia de Dulce revelou que a menina não sofreu danos

71
cerebrais ou em sua coluna, porém segue desacordada. Gustavo é autorizado a visitar a filha
na UTI. Em um plano médio longo, o homem abre a cortina que envolve o leito da menina.
Diferente de outros ambientes frequentemente apresentados na telenovela, o espaço possui
uma iluminação baixa e cores sóbrias, em tons de azul, o que acaba promovendo ainda mais
dramaticidade para a sequência. O homem aproxima-se da cama da menina e senta-se em
uma cadeira ao seu lado. Uma trilha instrumental melancólica toca de forma extradiegética.
Um plano detalhe mostra Gustavo pegando a mão de Dulce. Em seguida, em primeiro plano,
Gustavo diz que ama Dulce e que o destino já levou sua mãe. Ele pede para que a menina não
vá embora também e que seja forte. Chorando, Gustavo pede a Deus para que salve a sua
filha. Um primeiro plano focado no rosto de Dulce encerra o capítulo (Figura 7).

Figura 7 Gustavo visita Dulce Maria na UTI

Uma composição de cena semelhante pode ser observada no capítulo 242 da


telenovela Cúmplices de um Resgate47, quando Rebeca visita Otávio no hospital após ele ter
sofrido um acidente de carro provocado por Regina.
Rebeca entra no quarto de hospital e encontra Otávio em seu leito, desacordado, e
respirando com ajuda de aparelhos. Rebeca fica em pé ao lado da cama e, em um plano mais
aberto é possível ver a decoração do espaço em tons claros de azul assim como em Carinha
de Anjo, mas um ambiente mais bem iluminado. Em primeiro plano a mulher observa Otávio
com semblante preocupado e diz “Meu amor, como é triste te ver assim”. Um take, também
em primeiro plano, do homem mostra sua cabeça enfaixada e sua têmpora avermelhada.

47
Disponível em
<https://www.youtube.com/watch?v=UpmF13Suh3M&ab_channel=C%C3%BAmplicesdeumResgate>. Acesso
em: 22 de ago de 2021.

72
Rebeca pega a mão de Otávio e dá um beijo (Figura 8). A cena é embalada por um cântico
melancólico extradiegético e entrecortada por sons intradiegéticos dos equipamentos
eletrônicos do hospital.

Figura 8 Rebeca visita Otávio no hospital

No início do capítulo 17748, Gustavo ainda não aceita a situação pela qual sua filha
está passando. Ele chega à sala de espera do hospital abalado e chora se pergunta o porquê
disso estar acontecendo. Padre Miguel diz que na vida todos passam por provas e que ele
precisa ser corajoso e ter fé. Vitor fala que tudo vai melhorar e Estefânia diz que o
pensamento tem força. Gustavo repete em voz alta “Ela vai ficar bem”. Todos se abraçam.
Uma música instrumental dramática toca ao fundo de forma extradiegética.
De volta ao colégio, Irmã Fabiana se ajoelha na frente da Madre Superiora na sala da
diretoria e pede perdão por tudo que aconteceu. Madre Superiora pede para que Irmã Fabiana
se acalme e diz que ela não tem culpa do acidente. Ela ajuda Irmã Fabiana a se levantar e
abraça-a. Irmã Fabiana diz que só vai voltar a comer depois que Dulce melhorar. Madre
Superiora sugere que as duas rezem.
De manhã no hospital, Doutor André, médico conhecido da família Lários, chega na
sala de espera e diz a Gustavo, Estefânia, Vitor e Padre Miguel que tem boas notícias. Ele
informa que Dulce recuperou a consciência e saiu da UTI. Imediatamente o grupo segue em
direção ao quarto em que Dulce está para visitá-la. O grupo entra no quarto e a menina
acorda. Ela pergunta onde está e o que aconteceu. Vitor pergunta se ela não se lembra de ter

48
Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=NkDpZC3idh8&ab_channel=TVZYN>. Acesso em: 30
de nov. de 2021.

73
atravessado a rua sem olhar para os dois lados. A menina, então, lembra-se do ocorrido. Ela
pede a Gustavo para que chame Cecília para visitá-la também. O grupo troca olhares, em
silêncio. Dulce pede que Gustavo prometa que irá trazer Cecília para visitá-la. Gustavo
promete.
No hospital, Doutor André entra no quarto em que Dulce está e pede licença a
Gustavo para que Doutor Vila Rica realize um teste neurológico na menina. Dulce se assusta
com o nome do teste e pergunta se vai doer. Doutor André ri e nega. Gustavo fala que vai
esperar do lado de fora do quarto e deixa o ambiente. Uma trilha tensa toca ao fundo de
forma extradiegética. Doutor André diz que Dulce é sua paciente favorita e pergunta se ela
está se sentindo bem. A menina responde que está com fome de coisa gostosa. O médico
pergunta se essa coisa gostosa seria um brigadeiro e Dulce, sorridente, diz que sim. Doutor
Vila Rica e uma enfermeira levantam a menina da cama e posicionam ela sentada. Um plano
americano seguido por um plano médio mostram o Doutor realizando o teste neurológico em
Dulce. Ele toca nas pernas da menina e pergunta se ela sente algo (Figura 9). A menina nega.
Um primeiro plano do Doutor Vila Rica intercalado com o mesmo plano do Doutor André
somado a uma leve trilha tensa evidencia a troca de olhares apreensivos entre os médicos.

Figura 9 Dulce Maria passa por teste neurológico e não apresenta reflexos

Na sala de espera do hospital, Doutor André e Doutor Vila Rica conversam com
Gustavo. Os médicos informam que apesar de não existir qualquer lesão grave no corpo de
Dulce, ela ainda não recuperou todos os reflexos e precisa ficar em observação até que suas
funções se normalizem. Gustavo fica preocupado.
Em algum local não identificado na narrativa, Cecília entra em uma pousada e pede
o telefone da recepção emprestado a uma atendente. Ela liga para Fátima, que atende em sua
casa e demonstra alívio ao ouvir a voz de sua irmã. A sequência segue com planos médios
intercalados das duas em seus respectivos ambientes. Fátima diz que estava preocupada e
Cecília diz que imaginava, por isso resolveu ligar. Cecília pede desculpas e fala que sua
cabeça está uma bagunça. Fátima diz que sabe mas que ela é sua irmã e que ela pode contar
com sua ajuda. Cecília continua falando que sua angústia era tão grande que ela não

74
conseguia pensar em mais nada a não ser fugir, mas que ela não queria fazer ninguém sofrer.
Fátima diz que a irmã precisa ser paciente, que mudar de vida não é fácil, mas que aos poucos
essa fase difícil vai ficando para trás. Cecília fala que duvida mas Fátima rebate falando que
tem certeza. Fátima fala que sua irmã precisa voltar para casa. Cecília diz que acha que um
tempo sozinha vai fazer bem a ela. Fátima então revela que algumas pessoas estão precisando
dela em Doce Horizonte e que ela vai ter que ser forte pois aconteceu uma tragédia. Cecília
pergunta sobre o que a irmã está falando. Fátima diz que Dulce foi na sua casa fazer uma
visita e sofreu um acidente. Ela conta que a menina foi atropelada e está no hospital. Nesse
momento, em um plano médio curto, Cecília larga o telefone no chão, em choque. Uma trilha
sonora tensa cresce de volume e o capítulo se encerra com o rosto de Cecília estático, com
uma expressão de desespero (Figura 10).

Figura 10 Cecília recebe a notícia do atropelamento de Dulce Maria

No capítulo 17849, Gustavo continua inconformado e pergunta aos médicos o porquê


de Dulce não conseguir mover as pernas se fisicamente ela está bem. Doutor Vila Rica e
Doutor André revelam que trata-se de um problema emocional e que Dulce precisa de ajuda
psicológica em sua recuperação.
Nos minutos finais da mesma exibição, Gustavo encontra-se sozinho, em pé, com
semblante apreensivo na sala de espera do hospital. Um movimento de câmera travelling
lateral da esquerda para a direita percorre o ambiente e para na entrada da sala. Em um plano
americano, Cecília chega no local e chama o nome de Gustavo. Também em um plano

49
Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=utzQAWsPFgc&ab_channel=TVZYN>. Acesso em: 30
de nov. de 2021.

75
americano, Gustavo, que encontra-se de costas, vira-se lentamente e vê Cecília pela primeira
vez sem o hábito. O plano americano intercalado dos dois personagens vai aos poucos se
transformando em um primeiro plano devido a um zoom in prolongado. Os dois trocam
olhares enquanto uma música extradiegética emocionante toca, destacando que esse é um
momento chave na relação desses personagens que até então vivam um amor impossível
(Figura 11).

Figura 11 Cecília chega ao hospital e Gustavo a vê sem o hábito pela primeira vez

De forma visualmente semelhante ocorre a cena do primeiro encontro entre Helena e


Renê, durante o baile de máscaras promovido pela família da Maria Joaquina, no capítulo 138
da telenovela Carrossel50.
Helena entra na sala principal da casa quando, de repente, Renê cruza uma das
portas do lado oposto do cômodo. Registros em plano médio em cada um dos personagens
mascarados evidenciam a troca de olhares entre os dois. A música “Quem quiser sonhar”
interpretada por Maria Diniz toca ao fundo de forma extradiegética.

50
A telenovela Carrossel não está disponível na íntegra no YouTube, somente na Netflix. Sendo assim, as
imagens apresentadas aqui possuem uma qualidade diferente das demais ao longo deste capítulo por serem
fotografias feitas com o celular da tela de um computador, já que a plataforma de streaming possui um
dispositivo que impede a captura de tela.

76
Conforme os personagens vão se aproximando, os planos vão se tornando cada vez
mais fechados em seus rostos, passando de um primeiro plano para um primeiríssimo
primeiro plano até finalizar em um plano detalhe nos olhos de cada um (Figura 12). Dessa
forma, a partir da composição visual e da trilha sonora fica estabelecido, sem a necessidade
de diálogos, a constituição de um novo par romântico na narrativa.

Figura 12 Helena e Renê se encontram pela primeira vez

Logo no início do capítulo 17951, dando continuidade a sequência final do capítulo


anterior, Gustavo surpreende-se com a chegada de Cecília no hospital e chama-a de “Irmã”.
Ela aproxima-se dele e pede para que ele não use mais esse termo e chame-a apenas de
Cecília. Gustavo pede desculpas e diz que ela está muito diferente. Cecília concorda e muda o

51
Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=bZa-CUM7gYA&ab_channel=TVZYN>. Acesso em: 30
de nov. de 2021

77
foco da conversa perguntando sobre o estado de saúde de Dulce. Ela diz que voltou a Doce
Horizonte assim que soube do acidente. Gustavo informa que ela não corre perigo. Cecília
fica aliviada e agradece a Deus. No entanto, Gustavo informa que as pernas da menina ainda
não respondem. Cecília, em estado de choque, relembra que Dulce foi procurá-la na casa de
sua irmã, ela não estava lá e a menina foi atropelada. Em primeiro plano, Cecília chora e diz
que nunca vai se perdoar. Em um plano médio, Gustavo aproxima-se da moça, coloca as suas
mãos em seus ombros e pede para ela se acalmar pois ela não tem culpa de nada. Em
primeiríssimo primeiro plano, Cecília fala que Dulce é a coisa mais importante do mundo
para ela. Gustavo diz que vai explicar para ela tudo o que os médicos disseram. Um plano
detalhe de Gustavo segurando as mãos de Cecília encerra a cena e evidencia a conexão física
e emocional entre os personagens (Figura 13).

Figura 13 Gustavo consola Cecília e segura suas mãos

Gustavo explica a Cecília que Dulce irá precisar de acompanhamento com uma
psicóloga para se recuperar. Cecília explica que não tinha a intenção de sumir para sempre e
que só precisava de um tempo para si depois de ter decidido abandonar a vida religiosa.
Gustavo, que também precisou de um tempo distante após a morte da mãe de Dulce, diz que
entende o que ela sente. Ele fala que tem certeza que a presença de Cecília vai fazer muito
bem a Dulce e sugere que eles bebam uma água, fiquem bem e em seguida visitem-a em seu
quarto.
Estefânia encontra Cecília e Gustavo no corredor do hospital e, ao ver a mudança na
aparência de Cecília, decide conversar com Dulce antes para prepará-la para o reencontro
com a ex-noviça.
Estefânia entra no quarto do hospital em que Dulce está e fala para a menina que
Cecília chegou para visitá-la. Dulce fica radiante. Estefânia pede para que Padre Miguel e
Vitor encontrem Cecília do lado de fora do quarto. Estefânia aproveita o tempo a sós com
Dulce para explicar que Cecília não é mais a “Irmãzinha Cecília”, que agora ela não usa mais
o hábito e veste-se como uma mulher comum. Dulce mostra-se receosa com o fato de Cecília
não ser mais a mesma pessoa e diz a Estefânia que quer a sua “Irmãzinha Cecília” e não essa

78
Cecília que a abandona e não é mais Irmã. A menina completa falando que não quer ver
Cecília nunca mais. Estefânia fala que Cecília continua sendo a mesma por dentro e continua
amando Dulce como se fosse sua filha. Dulce continua irredutível.
Gustavo entra no quarto e encontra Estefânia conversando com Dulce. Estefânia
explica que a menina não quer ver Cecília. Gustavo explica a sua filha que Cecília continua
sendo a sua melhor amiga. Gustavo tenta convencer Dulce a mudar de ideia, mas ela fala que
Cecília agora é só uma mulher como todas as outras.
Na sala de espera do hospital, Estefânia explica a Cecília que Dulce não reagiu
muito bem à conversa que tiveram. Cecília sente-se culpada por tudo que aconteceu.
Estefânia, Vitor e Padre Miguel consolam-a. Estefânia diz que Gustavo ficou conversando
com Dulce no quarto e que ainda é possível que a menina mude de ideia.
No capítulo 18052, na sala de espera do hospital, Gustavo fala que insistiu para que
Dulce aceitasse ver Cecília mas que não deu certo. Cecília diz que então não tem motivos
para ficar no hospital e dirige-se para a saída. Gustavo chama Cecília de “Irmã” e logo em
seguida pede desculpas. Ele oferece carona a Cecília.
À noite, pelas ruas da cidade, um plano geral mostra o carro de Gustavo em
movimento. A música “Completo”, de Ivete Sangalo, toca ao fundo de forma extradiegética.
Gustavo estaciona o veículo, sai, dá a volta e abre a porta para Cecília. Ela sai e, na calçada
em frente a casa de sua irmã, em um plano médio, agradece a carona e ajuda de Gustavo.
Gustavo, também em plano médio, por sua vez, agradece Cecília por ter voltado para a cidade
por Dulce. Ele diz que tem certeza que Dulce ainda gosta muito dela. Cecília rebate falando
que Dulce não quer vê-la. Gustavo diz que isso vai passar. Cecília fala que se não tivesse
viajado nada disso teria acontecido. Gustavo tenta tranquilizar Cecília falando que Dulce já
está fora de perigo. Cecília fala que Dulce não consegue mais andar e a culpa é dela. Ela
chora, pede perdão e repete que ama a menina mais que tudo em sua vida. Gustavo pede
calma e diz que eles precisam confiar nos médicos. O homem continua falando que o
tratamento com a psicóloga começa no dia seguinte e os médicos garantiram que ela vai
ajudar. A jovem diz que tudo o que mais quer é ver Dulce andando novamente e feliz.
Gustavo fala que ela é feliz e que vai ficar ainda mais se Cecília for na casa deles no dia
seguinte. Cecília diz que vai adorar se a menina aceitar. Ele diz que eles precisam ver como a
garota vai reagir a terapia. Cecília confirma a visita e promete não fugir mais. Ela diz que
precisa se acostumar com a sua nova realidade e procurar um emprego, como toda mulher.

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Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=xSrd34NT0Fc&ab_channel=TVZYN>. Acesso em: 30
de nov. de 2021.

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Gustavo aproxima-se da jovem, toca seu rosto e diz que ela não é como toda mulher, ela é
especial (Figura 14). Os planos fechados destacando o toque físico entre os dois evidencia a
aproximação também emocional dos personagens. Em primeiríssimo primeiro plano, Cecília
diz que não se sente especial. Gustavo diz que ela deveria, pois ela é doce e linda.
Primeiríssimos primeiros planos dos dois personagens são intercalados. A música “A flor e o
beija-flor” de Henrique e Juliano toca ao fundo.
O melodrama possui como um de seus principais componentes a trama amorosa,
podendo estas serem legítimas e saudáveis ou ilegítimas e doentias, dependendo do tipo de
conjunções que se estabeleçam (ZANETTI, 2009, p.191). Obstáculos a serem enfrentados
pelo casal principal também são recorrentes, sejam eles barreiras sociais no âmbito
econômico, com pessoas de classes sociais distintas, ou no âmbito moral (ibidem), como em
Carinha de Anjo, com a paixão de Gustavo por Cecília, quando a moça ainda era noviça.
Independente do cenário, o ideal de felicidade é o motor narrativo que faz o casal superar
todas as adversidades (ibidem).

Figura 14 Gustavo toca o rosto de Cecília

No capítulo 18153, Dulce Maria recebe alta do hospital e volta para sua casa. Assim
que retorna a sua residência, a menina é apresentada por Gustavo a Alessandra, psicóloga que
vai auxiliar em sua recuperação.
No quarto de Dulce as duas conversam sobre a vida da menina, seus amigos e sobre
abandono. Dulce fala que todos em sua vida a deixam só, como sua falecida mãe Teresa e
agora, Cecília. Alessandra fala que quando uma pessoa gosta muito de outra ela nunca vai
embora de vez. Dulce concorda mas fala que Cecília não gosta mais dela. Alessandra explica
à menina que quando o sentimento é verdadeiro não importa a distância da pessoa. Dulce fala
que sua mãe está no céu mas que o amor entre elas continua o mesmo. Alessandra fala que
Cecília também só mudou de casa e de roupas, mas ela continua a mesma por dentro. Dulce
explica que está cansada de mudanças.

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Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=7KAn9uoRDag&ab_channel=TVZYN>. Acesso em: 30
de nov. de 2021.

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No capítulo 18254, na sala da diretoria do colégio Doce Horizonte, Irmã Fabiana
conta a Madre Superiora que Dulce não consegue aceitar a nova vida de Cecília. Irmã
Fabiana diz que se ela souber que Madre Superiora, que é autoridade máxima do colégio,
respeita e entende a nova vida de Cecília, talvez seja capaz de aceitar também. Madre
Superiora concorda e aceita ir a casa de Dulce conversar com a menina.
Mais adiante, no mesmo capítulo, Irmã Fabiana e Madre Superiora visitam Dulce
Maria em sua casa. Elas conversam com a menina e entregam os desenhos feitos por suas
amigas a ela. Irmã Fabiana fala que elas queriam visitá-la também. Dulce responde que não
quer ser vista sem andar. Madre Superiora aproveita para perguntar sobre Cecília. Dulce diz
que ela não está mais com o uniforme de “Irmã”. Madre Superiora diz que a mãe de Dulce
também não usava o hábito. Dulce completa que Estefânia também usa roupas comuns,
exceto suas perucas coloridas. Irmã Fabiana ri e fala que não consegue imaginar Cecília com
as perucas coloridas de Estefânia. Em primeiro plano, Dulce olha para cima com semblante
imaginativo. Uma transição animada com formas abstratas em tons de rosa preenche a tela.
Uma sequência de takes com fotografia mais saturada e ambientados no quarto de Cecília
mostram a moça fazendo selfies com diferentes perucas e roupas monocromáticas (Figura
15). A trilha sonora é a música “Ska”, interpretada pela banda Pato Fu.
Depois da sequência de 1 minuto, a mesma transição animada descrita anteriormente
preenche a tela novamente e a narrativa volta ao seu “mundo real”. Dulce fala para Irmã
Fabiana que acha que consegue imaginar Cecília de peruca mas preferia quando ela era freira.
Madre Superiora fala que Cecília está buscando a sua felicidade e, por fim, consegue fazer
com que Dulce aceite receber Cecília.
Segundo Hergesel e Ferraraz, enquanto as narrativas naturalistas “procuram imitar o
cotidiano da forma mais natural possível” o melodrama sentimental "sustenta as encenações
exageradas, as maquiagens fortes, os figurinos estereotipados, a linguagem culta.” (2017,
p.219). Em Carinha de Anjo, além da presença da personagem “Tia Perucas”, que de forma
caricata combina roupas, sapatos e cabelos de uma mesma cor sem explicação alguma dentro
da trama, pode-se notar a presença de figurinos estereotipados em diversos outros
personagens. Geralmente, essas vestimentas são ligadas às suas profissões como no caso do
mordomo Silvestre, da doméstica Franciely e do jardineiro Pascoal.

54
Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=EcfFwEVn6Go&ab_channel=TVZYN>. Acesso em: 30
de nov. de 2021.

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Figura 15 Dulce Maria imagina Cecília com as roupas e perucas de sua tia Estefânia

Depois da visita de Irmã Fabiana e Madre Superiora, Gustavo prepara Dulce para
dormir. A menina conta que recebeu muitas visitas no dia e que ficou muito feliz. Ela diz que
sabe que seus amigos nunca vão te abandonar e que sua mãe foi embora apenas porque Deus
chamou, e não porque quis. Gustavo fica feliz em ouvir isso e cobre Dulce com o cobertor. A
menina dorme e a transição animada com a ilustração de uma pequena casa amarela preenche
a tela. No sonho, Dulce, que aparece sentada em uma cadeira de rodas, reclama com sua mãe
que não gosta de ficar doente. Teresa explica que para tudo existe remédio e que em breve ela
estará boa. Dulce fala que sua psicóloga só conversa com ela, e não passou remédios para ela
tomar. Teresa explica que em alguns casos o remédio está dentro de nós e que o melhor
remédio para a tristeza é o amor e a compreensão. As duas se abraçam.
No dia seguinte, em sua casa, Fátima ajuda Cecília a se arrumar para o encontro com
Dulce. A campainha toca e Verônica, prima de Irmã Fabiana que mora com as duas moças e é
secretária na empresa de Gustavo, fala que o homem chegou para dar carona a Cecília.
Verônica diz para Cecília se arrumar sem pressa pois ela não se importa em fazer companhia
a Gustavo. Fátima e Cecília mostram-se incomodadas com a frase.
Verônica recebe Gustavo enquanto Cecília termina de se arrumar. Os dois conversam
sentados na mesa da cozinha. Gustavo pede para que ela tome conta do escritório durante sua
ausência. Verônica fala qualquer emergência que ocorrer ela informá-lo. Gustavo fala que
sabe que precisa retomar com sua vida, mas que não está sendo fácil com Dulce nessa
situação. Verônica fala que ele não deve se cobrar tanto e que Dulce é a sua prioridade. Ela
completa dizendo que o homem pode contar com ela. Gustavo agradece por todo apoio que

82
ela e Cristóvão dão a ele no escritório. Verônica diz que seu apoio é fora do escritório
também, pois eles são amigos. A moça continua falando que admira muito todo o carinho e
cuidado que ele tem com sua família. Uma música instrumental de piano toca ao fundo de
forma extradiegética. Verônica fala que o comportamento de Gustavo é maravilhoso. O plano
americano mostra os dois sentados à mesa e Verônica estendendo o seu braço e segurando a
mão de Gustavo. Na sequência, um plano médio de Gustavo e, em seguida, de Verônica,
mostra o rosto de cada um dos personagens. O plano americano dos dois personagens
sentados à mesa é reprisado até que Cecília chega ao ambiente e vê a cena, em um plano
médio. A música instrumental continua. Um plano detalhe mostra as mãos de Verônica e
Gustavo entrelaçadas. Um primeiro plano de Cecília evidencia a reação de desconforto da
moça com a cena (Figura 16). Gustavo vira-se, também em primeiro plano, e olha para
Cecília. O capítulo acaba com o rosto de Cecília em primeiríssimo primeiro plano, estático.

Figura 16 Cecília vê Verônica e Gustavo de mãos dadas

Nos minutos iniciais do capítulo 18355 Gustavo percebe a chegada de Cecília no


cômodo e levanta-se da cadeira. Ele diz que a moça está muito bonita. Cecília agradece e
pede desculpas pela demora. Gustavo fala que aproveitou para conversar com Verônica sobre
a empresa. Fátima também chega na cozinha e fala para Cecília comer algo antes de sair.
Cecília fala que não quer comer, que quer ver Dulce Maria logo. Gustavo fala para Fátima
que fica de olho nela e que passando a ansiedade para ver a menina ele obrigará a moça a se
alimentar direito. Cecília chama Gustavo para sair. Os dois dirigem-se a porta da casa e o

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Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=sUYTFzoc4fo&ab_channel=TVZYN>. Acesso em: 30
de nov. de 2021.

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homem diz que não vê a hora desse encontro acontecer. Fátima deseja boa sorte e Verônica
diz que vai dar tudo certo. Cecília agradece e os dois saem.
Mais adiante no capítulo, Alessandra e Dulce conversam no quarto da menina.
Alessandra vê uma foto de Teresa e fala para Dulce que sua mãe era muito bonita. A menina
fala que ela cantava muito bem também. Alessandra volta a perguntar sobre Cecília, mas
Dulce diz que não quer mais falar sobre ela pois está nervosa com o reencontro. Dulce acaba
admitindo que gostaria muito que Cecília fosse sua segunda mãe, mas ela e seu pai não se
entendem. Alessandra explica que essa é uma decisão deles e que mesmo que eles não
formem uma família juntos ela pode cuidar de Dulce. Alessandra usa como exemplo o
carinho e amor que Estefânia tem por Dulce. Dulce agradece a Alessandra pela ajuda.
Alessandra cobre Dulce como cobertor para que ela possa descansar um pouco mais antes da
vista de Cecília.
Na residência dos Lários, Irmã Fabiana e Madre Superiora, que foram acompanhar
de perto o reencontro de Dulce com a ex-noviça, aguardam a chegada de Gustavo e Cecília.
Os dois chegam na casa e Madre Superiora fica emocionada ao ver Cecília sem o hábito pela
primeira vez. As duas se abraçam e Cecília aproveita a presença de todos para agradecer o
apoio da Madre Superiora em sua nova vida fora do convento. Ela agradece Irmã Fabiana
também, por todo o carinho.
No seu quarto, Dulce Maria acorda, senta-se em sua cama e vê uma foto de Cecília
vestida de noviça em sua mesa de cabeceira. Em um plano médio, com semblante pensativo,
a menina lembra-se do sonho que acabou de ter. Uma transição preenche a tela com nuvens e
os ponteiros de um relógio, indicando novamente que o telespectador adentra em um espaço
onírico da trama. As imagens acinzentadas e sem saturação, diferentes do habitual colorido
da telenovela, mostram Dulce no pátio do colégio Doce Horizonte, de cadeira de rodas. A
trilha sonora é a música “Amor”, interpretada por Lorena Queiroz. A menina vê Cecília, de
pé, sorrindo para ela e vestida de noviça. Cecília estende seus braços e chama Dulce para um
abraço. Dulce chama Cecília de “Irmãzinha” e fica feliz com o seu retorno. Cecília fala que
está de volta e vai ficar ali para sempre. Lentamente, a menina levanta-se da cadeira e,
cambaleando, vai sorrindo na direção de Cecília. Feliz, Dulce fala que está andando. Cecília
reconhece o feito da menina e, já mais próximas, preparam-se para o abraço. Um plano médio
mostra Dulce sozinha fechando os braços como se estivesse envolvendo alguém com eles e
caindo (Figura 17). A transição com nuvens e os ponteiros de um relógio preenche a tela mais
uma vez. Dulce volta à realidade, sentada em sua cama. Estefânia entra em seu quarto e fala
que Cecília já está na casa. Percebendo o semblante da menina, a tia senta-se na cama e

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pergunta o que houve. Dulce conta a Estefânia que teve um sonho ruim. Estefânia fala que
isso acontece às vezes. Dulce fala que gosta de sonhar com sua mãe pois ela nunca vai
embora dos seus sonhos. Estefânia pergunta o que aconteceu. A menina explica que sonhou
que Cecília havia sumido. Estefânia fala que existem sonhos bons e ruins e que quando
acordamos devemos guardar apenas as lembranças boas. A tia completa falando que dessa
forma treinamos o nosso cérebro a reservar o maior espaço para o que faz bem. Dulce fala
que vai tentar fazer isso. Estefânia fala que vai chamar Cecília porque ela não sumiu e está no
andar de baixo esperando para encontrar Dulce. Ela fala que já volta e sai do quarto. Dulce
pega o porta retrato com a foto de sua mãe e pede ajuda pois seu coração ainda dói muito.

Figura 17 Dulce Maria sonha com Cecília vestida de noviça

Estefânia abre a porta do quarto de Dulce e Cecília entra. Dulce cobre os seus olhos
com suas mãos. Cecília aproxima-se da cama de Dulce e a menina diz que sabe que ela está
ali. Cecília confirma que é ela mas fala que a menina não vai conseguir vê-la com as mãos no
rosto. Dulce fala que só vai descobrir os olhos caso Cecília volte a ser a sua “Irmãzinha”.
Cecília senta-se na cama da menina e explica que o hábito é uma roupa sagrada e não uma
fantasia, por isso não pode tirar e colocar quando quiser. Em um plano médio, Dulce
vagarosamente descobre os olhos e olha Cecília. Nesse momento, de forma extradiegética,
um efeito sonoro com um tom “mágico” toca ao fundo. Dulce fala que Cecília está muito
diferente e cobre os olhos novamente. Em um plano médio, emocionada, Cecília fala que se a
menina olhar para o seu interior, ela permanece a mesma e que a ama como se fosse uma
filha. Dulce descobre os olhos e pergunta se será sempre assim, se Cecília usará para sempre
essas roupas e esse cabelo. A moça fala que não, que ela está pensando em mudar um pouco,

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cortar o cabelo. Ela pergunta para a menina se ela acha que ela está muito feia. Dulce fala que
gostava mais de como ela era antes. Cecília pergunta o porquê e se Dulce não gosta mais
dela. Em primeiro plano Dulce fica em silêncio. Também em primeiro plano, Cecília aguarda
apreensiva a resposta.
Alguns minutos adiante no capítulo, retornando à mesma sequência, Cecília
pergunta novamente se a menina não gosta mais dela. Dulce diz que gosta. Cecília pergunta
se a menina perdoa ela. Dulce fala que antes tem que contar a ela sobre o sonho que teve. A
menina conta que estava em uma cadeira de rodas e que se levantou para abraçar Cecília só
que a moça sumiu e ela acabou caindo no chão. Cecília então levanta-se da cama e pergunta
se ela consegue ir andando até ela.
No fim do capítulo, após algumas cenas de tramas secundárias, o diálogo entre
Cecília e Dulce continua. Os contraplanos secos das duas personagens ao longo de toda a
cena marcam a divergência de ideias entre elas. Cecília continua de pé no quarto de Dulce,
enquadrada em um plano americano, chamando a menina para que tente andar em sua
direção. Dulce diz que não. Cecília pede para que ela tente e fala que está chamando a
menina como em seu sonho. Dulce fala que no sonho ela era a “Irmãzinha Cecília” e que só
voltará a andar se Cecília for a mesma de antes. Chorando, Cecília diz que é a mesma. Dulce
fala que se a moça quer que ela fique boa ela tem que voltar a ser sua “Irmãzinha”, sua
professora do colégio que está sempre com ela. Cecília diz que promete estar sempre por
perto. Dulce interrompe a moça e pergunta se ela vai ficar brava com um pedido. Cecília fala
que não e que ela pode pedir. Em um plano médio, séria, Dulce pede para que ela vá embora.
Uma trilha sonora tensa toca ao fundo. Em um plano médio, Cecília chora, dá as costas e sai
do quarto (Figura 18).
Cecília desce as escadas do apartamento e chega à sala chorando. Gustavo fala que
não aguentava mais esperar. Ao ver o rosto de Cecília, Estefânia pergunta o que houve.
Gustavo abraça Cecília enquanto ela chora ainda mais. Cecília explica que tentou falar com a
menina mas que ela disse que só voltaria a andar se ela voltasse a usar o hábito. Uma trilha
sonora tensa toca ao fundo. Madre Superiora fala que quem renuncia a vida religiosa não
pode voltar a usar o hábito. Cecília chora abraçada a Gustavo e diz que fracassou. Estefânia
vai ao quarto da menina ver como ela está. Madre Superiora diz que ela e Irmã Fabiana vão
embora pois não resta mais nada a ser feito. Cecília pede desculpas a Gustavo.
De acordo com Lopes (2003, p.19) “a narrativa televisiva já foi definida como uma
narrativa por excelência sobre a família.”. Com casos de família que envolvem conflitos
“cheios de dramalhões e extravagâncias” (HERGESEL e FERRARAZ, 2017, p.219) que se

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prolongam por vários capítulos, o melodrama sentimentalista extrapola as emoções dos
personagens e potencializa conflitos que em narrativas naturalistas seriam meros bate-bocas.
Outro aspecto de destaque no melodrama sentimentalista é a presença do
merchandising social camuflado. Enquanto as narrativas naturalistas “visam ao reflexo da
realidade e investem em gerar discussões racionais externas ao produto”, o melodrama
sentimentalista opta por retratar “conflitos universalizados e registrados pela ótica da
emoção.” (HERGESEL e FERRARAZ, 2017, p.219). Nessas obras é rara a discussão sobre
pautas sociais atuais já que os acontecimentos na trama giram em torno, quase que
exclusivamente, de desavenças entre os personagens principais.

Figura 18 Dulce Maria pede para que Cecília vá embora

No capítulo 18456, as melhores amigas de Dulce Maria, Adriana, Lúcia, Valentina e


Duda estão no colégio em busca de mais informações sobre a recuperação da menina. No
refeitório, as garotas perguntam como foi o reencontro de Dulce e Cecília a Irmã Fabiana e a
noviça mente falando que deu tudo certo. No mesmo cômodo, Irmã Luzia ouve de longe o
que foi dito por Irmã Fabiana e pergunta a Irmã Ana o que Madre Superiora disse sobre o
encontro. Irmã Ana revela que não foi nada bom. Irmã Luzia fala que todos mimam muito
Dulce Maria e que se ela fosse diretora do colégio tudo seria diferente.
Mais adiante no capítulo, no pátio do colégio, Adriana, Lúcia, Valentina e Duda
chamam Irmã Fabiana para uma conversa séria. As meninas suspeitam que a noviça esteja

56
Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=633dwMHGqTk&ab_channel=TVZYN>. Acesso em: 30
de nov de 2021.

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escondendo algo sobre o estado de saúde de Dulce. Irmã Fabiana tenta desconversar mas as
meninas ficam bravas e vão embora.
No fim da mesma exibição, no dormitório do colégio, Valentina, Adriana e Lúcia
arrumam suas mochilas para irem para suas casas passar o fim de semana. Irmã Luzia se
aproxima do grupo e fala que Irmã Fabiana está mentindo para elas. Segundo a freira, as
meninas devem saber da verdade, mesmo que isso traga sofrimento. Uma música tensa toca
ao fundo de forma extradiegética e Valentina, Adriana e Lúcia mostram-se apreensivas. Um
leve plongée e contra plongée entre Irmã Luzia e as meninas transmite a sensação de
hierarquia e intimidação das crianças ao longo da cena. Em um plano médio, Irmã Luzia
então faz as meninas prometerem não contar para ninguém que foi ela que passou a
informação e revela que Dulce Maria não pode mais andar. A trilha sonora aumenta e um
primeiro plano mostra a expressão de surpresa no rosto de cada uma das meninas. Adriana
chora e é consolada por Valentina e Lúcia. Nesse momento, Madre Superiora entra no
dormitório e, ao se deparar com a cena, pergunta o que está acontecendo (Figura 19).

Figura 19 Irmã Luzia conta a Adriana, Valentina e Lúcia que Dulce Maria não pode mais andar e Madre
Superiora entra no dormitório

Após uma reprise da cena final da exibição anterior, o capítulo 18557 é iniciado no
mesmo momento da narrativa, com Madre Superiora chegando no dormitório e perguntando
o motivo do choro de Adriana. A menina imediatamente disfarça dizendo que não está
chorando e que algo entrou em seu olho. Madre Superiora diz para as meninas que seus pais
já estão esperando na entrada do colégio. As meninas saem e Madre Superiora questiona Irmã

57
Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=ETtePQNb7ko&ab_channel=TVZYN>. Acesso em: 30
de nov de 2021.

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Luzia se está tudo bem mesmo. A Irmã diz que sim e também deixa o dormitório. Madre
Superiora fica desconfiada diante da situação que presenciou.
Desde a origem do melodrama, o gênero combina “elementos dentro de uma
fórmula que simplifica o mundo e reduz as contradições do homem a uma polaridade moral,
na qual ocorre o embate entre os tiranos e os injustiçados, sendo estes últimos os que
triunfam no final.” (HERGESEL e FERRARAZ, 2017, p.218). Esse aspecto maniqueísta,
muito presente até hoje na vertente do melodrama sentimentalista “sustenta o caráter
benévolo e malévolo de cada personagem do início ao fim da trama.” (HERGESEL e
FERRARAZ, 2017, p.219) e advém da necessidade moralizante de apresentar conflitos sem
nuances como forma de oferecer matrizes sólidas diante de uma sociedade instável
(ALMEIDA e LAGE, 2021, p.94).
Em Carinha de Anjo, embora sem motivo aparente algum, Irmã Luzia sustenta uma
grande antipatia por Dulce Maria, Irmã Fabiana e Cecília desde o início da trama, e possui
uma boa relação apenas com as alunas Bárbara e Frida, inimigas da protagonista. Associada a
dupla, a freira arquiteta diversos planos para incriminar Dulce e fazer a menina levar
punições no colégio sem ser descoberta. Contudo, no fim da trama todas as maldades
realizadas pela personagem acabam sendo reveladas e ela é expulsa do convento pela Madre
Superiora.
Na residência dos Lários, no quarto de Dulce Maria, Estefânia pergunta à menina se
ela não quer receber suas amigas em casa no fim de semana. A menina nega e fala que tudo
que mais quer é voltar a andar. Estefânia fala que ela deve contar tudo que sente a Alessandra
para se recuperar o mais rápido possível. Dulce pergunta se vai ficar o resto da vida sem
andar e Estefânia relembra que os médicos disseram que ela vai se recuperar. Estefânia ainda
diz que mesmo com limitações físicas ela pode ser feliz. Dulce lembra das crianças que vê na
televisão no Teleton. Gustavo chega em casa e Dulce fica radiante. Ela diz que quer ter seu
pai e sua tia ao seu lado para sempre.
Mais adiante, no mesmo capítulo, Gustavo coloca Dulce para dormir. Deitada em
sua cama, Dulce pergunta se Gustavo vai dormir com ela. Ele diz que não, mas que vai estar
por perto. O pai comenta com a filha sobre o dia ter sido agitado. A menina fala que foi legal,
que gostou de falar com a Alessandra e brincar com o Emílio. Gustavo fala que fica feliz em
ouvir isso mas lembra que a menina recebeu mais visitas. Dulce fala que achou estranho ver
“Irmã Cecília” só de Cecília, como qualquer outra mulher. Gustavo fala que achou Cecília
muito bonita e completa dizendo que ela continua doce, carinhosa e amando muito Dulce. A
menina fala que pode até ser mas que não quer mais conversar pois precisa dormir. Ela

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continua falando que, além de estar cansada, nos seus sonhos é mais feliz que acordada.
Gustavo fala para a filha não dizer isso. A menina fala que é verdade pois nada de ruim
acontece com ela quando ela está sonhando. Gustavo diz que é pra isso que servem os
sonhos, para vivermos coisas lindas que não são possíveis na vida real. Dulce pergunta por
que não pode morar dentro dos seus sonhos. Gustavo explica que a menina precisa conhecer
pessoas, brincar, conversar com suas amigas. Ele completa falando que se ela não ficasse
acordada descobrindo como é o mundo, ela não conseguiria sonhar. Dulce fala que entendeu,
que ela passa o dia carregando a cabeça de coisas para poder sonhar. Gustavo fala que quanto
mais coisa boa ela vive, mais sonhos bons terá. Dulce agradece o pai e fala que ele poderia
dar aula no seu colégio porque falou como se fosse um professor. A menina dá boa noite a
seu pai. Gustavo dá um beijo na testa da filha, apaga a luz e fecha a porta do quarto. Dulce
beija o porta retrato com a foto de sua mãe e cai no sono abraçada com ele. Seu rosto, em
primeiro plano, é coberto pela transição animada com a ilustração de uma pequena casa
amarela, indicando o já reconhecido espaço onírico da trama. A animação enche a tela até dar
espaço ao ambiente interno da casa representada, com iluminação sobreexposta.
Dentro da pequena casa, em um plano inteiro, Dulce aparece em uma cadeira de
rodas e chama por sua mãe. Teresa cruza a porta da casa vestida de noviça e Dulce leva um
susto. Teresa explica a Dulce que a roupa não faz a pessoa, pois ela continua a mesma apesar
de estar vestida de noviça. Dulce fala que todos falam isso mas que o coração dela não
concorda. Teresa fala que sua cabeça precisa ajudar o seu coração a entender. Dulce diz que
sua cabeça está longe de seu coração. Teresa fala que elas precisam fazer uma ponte entre os
dois. A mãe diz que o sentimento conversa com a ação e mostra que ele é mais forte. Dulce
pergunta a mãe se ela acha que amar de longe é mais importante do que ter Cecília sempre
por perto. Teresa fala que quem ama está sempre por perto. Dulce fala que a mãe é a prova
disso. Em um plano americano as duas se abraçam e sorriem (Figura 20).

Figura 20 Dulce Maria sonha com sua mãe vestida de noviça e recebe conselhos

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O caráter pedagógico da personagem Teresa em Carinha de Anjo assemelha-se ao
tom professoral e carinhoso de Helena, em Carrossel. A fins de comparação, pode-se utilizar
como exemplo uma das cenas finais do primeiro capítulo da novela58, em que Cirilo e Helena
conversam após o garoto ter sido expulso da aula de música por pisar, acidentalmente, no pé
de Maria Joaquina.
De forma compreensiva, a professora se aproxima do garoto para entender o que
aconteceu. Cirilo, por sua vez, assume o erro dizendo que é “um menino muito mau”. Daniel
entra na sala em que ambos estão e conta o que de fato ocorreu. Assim que ele sai do
cômodo, Cirilo confessa para Helena, em primeiríssimo plano, que queria ser amigo de Maria
Joaquina, mas que ela mal o conhece e já não gosta dele. O menino declara que acha que é
porque ele é negro. De forma didática, ainda em primeiríssimo plano, a professora explica
que não existem cores mais bonitas e que todas são lindas. Cirilo adiciona que acha que sua
colega o trata mal, também, por seu pai ser apenas um carpinteiro, enquanto o dela é um
médico. Novamente utilizando um discurso didático, Helena diz que o pai do menino tem
uma profissão maravilhosa e faz uma analogia com o pai do Menino Jesus. A professora
completa perguntando ao aluno quem é a melhor mãe do mundo, a mais bonita de todo o
universo. Cirilo respondeu sorrindo que é a dele. Helena então pergunta qual a cor dela. O
aluno responde que é a mesma cor que a dele. Por fim, a professora pergunta se ele gostaria
de trocar a sua mãe por outra, de outra cor. Ele nega. Helena diz que não há motivos para
ficar triste e que ele é muito querido por seus colegas. A cena se encerra em um plano de
conjunto, com um abraço dos dois personagens (Figura 21).

58
A telenovela Carrossel não está disponível na íntegra no YouTube, somente na Netflix. Sendo assim, as
imagens apresentadas aqui possuem uma qualidade diferente das demais ao longo deste capítulo por serem
fotografias feitas com o celular da tela de um computador, já que a plataforma de streaming possui um
dispositivo que impede a captura de tela.

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Figura 21 Cirilo recebe conselhos de professora Helena

Cecília decide buscar ajuda para se aproximar de Dulce com a psicóloga da menina.
Ela encontra Alessandra no consultório do Doutor André e juntas elas têm uma ideia que
pode ajudar na aproximação da ex-noviça. Alessandra explica que sente que Dulce não quer
tentar voltar a andar e, consequentemente, voltar ao colégio, porque Cecília não estará lá para
fazer companhia todos os dias. Cecília fala que faz sentido. Alessandra fala que está indo
visitar a menina e dependendo de como ela estiver já coloca parte do plano em prática.
Cecília agradece, feliz.
Alessandra chega para visitar Dulce em sua casa. Dulce conta sobre o encontro com
Cecília. Ela diz que Cecília está muito bonita mas que ela não quer mais ser sua amiga e nem
voltar ao colégio. Alessandra fala que os amigos Dulce pode escolher, mas o colégio é uma
obrigação. Ela relembra a menina que ela pode ver Cecília sempre que quiser fora da escola.
Dulce reflete sobre isso.
Em sua casa, Cecília recebe Irmã Fabiana e Madre Superiora. Madre Superiora
pergunta para Cecília se ela aceita voltar para o colégio como professora.

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O capítulo 18659 é iniciado no mesmo ponto da narrativa e Cecília reage com muita
felicidade à proposta de Madre Superiora. Ela diz que aceita voltar ao colégio como
professora. Irmã Fabiana e Madre Superiora ficam animadas. Cecília fala que o convite vem
em boa hora e pode ajudar em uma ideia que ela teve com Alessandra para ajudar na
recuperação de Dulce. Irmã Fabiana pergunta sobre a ideia, mas Cecília fala que não quer
falar muito sobre para não comemorar antes da hora. Irmã Fabiana e Madre Superiora se
despedem para retornar ao colégio e se Cecília fica radiante em casa.
Cecília chega à residência dos Lários e é recebida por Estefânia e Gustavo. Cecília
conta que Madre Superiora propôs que ela voltasse a ser professora no colégio. Ela também
conta aos dois que teve um encontro com Alessandra e juntas tiveram uma ideia para fazer
com que Dulce a perdoe. Gustavo e Estefânia ficam empolgados.
Em seu quarto, Dulce brinca de boneca. Estefânia chega e fala que Cecília veio
visitá-la. Estefânia insiste que é um assunto importante. Dulce aceita receber Cecília e
Estefânia sai do quarto para chamá-la.
Logo no início do capítulo 18760, Cecília bate na porta do quarto de Dulce e pergunta
se pode entrar. Dulce autoriza. Cecília fala que veio pedir um conselho para a menina. Ela
explica que recebeu duas propostas de emprego: uma como professora em um colégio em
outra cidade e outra para continuar como professora no colégio Doce Horizonte. Cecília quer
saber qual a menina acha que ela deve aceitar. Ela diz que caso aceite a primeira proposta vai
ter que morar bem longe, mas isso pode ser bom já que Dulce não quer mais a ver. Dulce
pergunta se caso ela volte a ser professora no colégio Doce Horizonte elas vão se ver todo
dia. Cecília diz que sim, mas ela não vai voltar a usar o hábito e não vai poder colocar Dulce
para dormir todas as noites, já que vai precisar voltar para a casa. Dulce fica pensativa.
Na diretoria do colégio Doce Horizonte, Madre Superiora e Irmã Fabiana aguardam
ansiosas notícias de Cecília falando se o plano com Dulce deu certo. O telefone toca e Irmã
Fabiana atende. Quem liga é a mãe de Adriana. Irmã Fabiana fala à Madre Superiora que a
mãe está dizendo que a menina não para de chorar desde que descobriu que Dulce não
consegue mais andar. Madre Superiora pergunta a Irmã Fabiana como Adriana descobriu essa
informação. Irmã Fabiana diz que não sabe e passa o telefone a Madre Superiora. Ela
conversa com a mãe da menina.

59
Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=JeWJr40c13c&ab_channel=TVZYN>. Acesso em: 30 de
nov. de 2021.
60
Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=8e7iS44p2DA&ab_channel=TVZYN>. Acesso em: 30
de nov. de 2021.

93
Após algumas cenas, ainda no quarto de Dulce Maria, Cecília pergunta para a
menina o que deve fazer. Depois de um tempo refletindo, Dulce pergunta se a moça quer
mesmo saber. Cecília diz que sim e completa falando que é por isso que ela foi até lá. Dulce,
então, deseja uma boa viagem a Cecília. Uma versão instrumental e lenta da música tema da
telenovela toca ao fundo. Em primeiro plano, Cecília muda seu semblante e pergunta se a
menina quer que ela vá embora. Sem hesitar, Dulce responde que sim. Cecília pergunta se
pode ao menos ligar de vez em quando para saber como a menina está. Dulce responde que
sim. Chorando, Cecília pergunta se Dulce tem certeza de que é isso que quer. Dulce diz que já
falou. Cecília pergunta se pode dar um beijo de despedida na menina. Ela permite. Cecília
pede para que caso a menina mude de ideia, fale alguma coisa. Dulce fala que precisa
conversar com suas bonecas e diz tchau a Cecília. A moça diz “Deus te abençoe” e sai do
quarto aos prantos. Também em plano médio, Dulce chora sozinha em sua cama (Figura 22).

Figura 22 Cecília se despede de Dulce Maria

Na diretoria do colégio, Madre Superiora desliga o telefone e diz a Irmã Fabiana que
a mãe de Adriana contou que Valentina e Lúcia também já sabem que Dulce não consegue
andar e estão abaladas. Madre Superiora diz que nenhuma das meninas quer revelar quem
contou a notícia para elas. Madre Superiora pede para a Irmã Fabiana que chame todas as
freiras, Inácio, Diana e Pascoal para sua sala imediatamente. Ela quer descobrir quem foi o
responsável por espalhar a notícia.
Cecília desce as escadas da residência dos Lários em direção a sala de estar aos
prantos. Gustavo pergunta o que houve. Em um plano americano, Cecília diz que o plano não
deu certo. Estefânia pergunta o que Dulce disse. Cecília revela que a menina disse para ela ir

94
embora. Gustavo fala que não é possível. Cecília diz que Dulce não gosta mais dela e que ela
precisa ir embora. Nesse momento, Cecília tropeça e cai dos últimos degraus da escada. Em
um plano inteiro, Gustavo e Estefânia vão até a moça para ajudá-la a levantar do chão. Um
corte seco mostra simultaneamente Dulce, em seu quarto, ouvindo o acidente e chamando o
seu pai para saber o que aconteceu. Gustavo pega Cecília no colo e coloca a moça sentada no
sofá. Mais um corte seco mostra Dulce, sozinha, falando que é tudo sua culpa e que ela
precisa ver Cecília. Gustavo e Estefânia continuam ajudando a moça no sofá da sala de estar.
Ainda em plano médio Dulce chora em seu quarto (Figura 23).

Figura 23 Cecília cai da escada e Dulce Maria escuta o acidente de seu quarto

Silvestre chega à sala de estar e traz uma bolsa de gelo para o tornozelo de Cecília.
A moça, mais calma, diz que foi só um susto. Estefânia pergunta se ela ainda sente dor.
Cecília diz que apenas no seu tornozelo. Gustavo pergunta se Cecília não se sente tonta ou
bateu a cabeça na queda. A moça fala que está bem. Estefânia fala que eles deveriam ir ao
hospital solicitar uma radiografia. Cecília fala que não é necessário e que assim que conseguir
colocar o pé no chão vai embora. Dulce aparece de pé, descendo as escadas com dificuldade
apoiando-se no corrimão e pedindo para que Cecília não vá embora. Imediatamente Gustavo,
Cecília e Estefânia viram-se no sofá para ver a cena (Figura 24). A versão instrumental da
música tema da telenovela volta a tocar. Um plongée e contra plongée entre os personagens
representa, além da diferença de altura dos locais em que ocupam, o perdão que Dulce
concede a Cecília após tantas tentativas da moça. Um primeiro plano do rosto de Dulce é
seguido pelo mesmo plano do rosto de Gustavo, Cecília e Estefânia, todos emocionados.

95
Figura 24 Dulce Maria caminha até a sala de estar

Cecília vibra com o fato de Dulce estar andando. Gustavo, apreensivo, pede para que
a menina não se mexa e diz que vai pegá-la. Dulce nega a ajuda e diz que vai sozinha,
simbolizando o restabelecimento emocional entre as duas personagens. Lentamente ela
continua descendo as escadas. Estefânia pede cuidado. Dulce pergunta se Cecília caiu. A
moça confirma e chama Dulce para um abraço. Feliz, a menina diz que pode andar. Cecília e
Dulce se abraçam. Dulce diz que a moça não precisa mais ir embora. As duas choram. Dulce
pede perdão. Cecília diz que não tem o que perdoar. A menina diz que ama Cecília. Estefânia
chora vendo a cena. Cecília diz que nunca mais vai abandonar a menina. Gustavo e Estefânia
abraçam as duas e um plano médio com os quatro personagens abraçados encerra a cena
(Figura 25).

Figura 25 Estefânia, Cecília, Dulce Maria e Gustavo se abraçam

Na residência dos Lários, Dulce diz a Cecília que foi malvada, que estava sofrendo e
queria que ela sofresse também. Cecília fala que agora está tudo bem. Silvestre chega a sala e
vê Dulce andando. Silvestre chora de felicidade.
Dulce e Cecília vão para o quarto da menina. Dulce fala que a moça precisa se
recuperar para dar aula. Cecília fala que a menina também precisa ficar super forte para elas
recomeçarem a vida. Gustavo chega no cômodo e pergunta como estão as duas amigas. Dulce
fala que estão bem e que ela está curando a Cecília. Dulce fala para o pai que vai ver Cecília
todos os dias no colégio e pergunta se aos finais de semana ela pode ficar na casa deles.
Cecília fala que desse jeito Dulce vai enjoar dela. A menina responde que amor não enjoa, só

96
cresce. Em primeiro plano, Cecília e Gustavo trocam olhares, simbolizando que a frase dita
pela menina representa o que aconteceu entre os dois em decorrência dos acontecimentos
desse arco narrativo (Figura 26).
Com uma curva narrativa semelhante a do romance popular, o enredo
melodramático apresenta crises e contradições que, “com a aparição de um deus ex-machina
(um «salvador» vindo do além),” (ZANETTI, 2009, p.189) se resolvam e façam a ordem ser
restaurada. Dessa forma, a estrutura narrativa do gênero “exige que o universo apresente
falhas, mas que essas falhas possam ser sanadas por uma ação reformadora.” (ibidem),
tornando possível assim um “felizes para sempre” do casal principal, mesmo após vários
dissabores (HERGESEL e FERRARAZ, 2017, p.218).

Figura 26 Cecília e Gustavo sorriem e trocam olhares

A repetição de uma fórmula de sucesso em produções audiovisuais está diretamente


ligada ao mainstream. Daniela Zanetti explica que a partir da necessidade das grandes
corporações midiáticas lançarem com uma velocidade cada vez maior de produtos inovadores
e, ao mesmo tempo, manterem e criarem novos públicos, agentes desse campo de produção
artístico-industrial utilizam estratégias que afetam diretamente a dimensão interna dos
produtos criados, promovendo uma combinação entre variantes e invariantes estruturais a
partir de um “modelo-base” já consolidado (2009). A essa estratégia, a autora dá o nome de
“inovação na repetição”.
Embasada nas teorias de Calabrese, Zanetti argumenta que uma “estética da
repetição” (1987) não deveria ser considerada “pobre”, pois apesar de trazer algo já
conhecido pelo público seu valor está justamente em proporcionar uma vasta combinação de

97
arranjos possíveis (2009, p.185). A autora continua declarando que essa combinação
repetição/inovação, já estudada anos antes por Umberto Eco, fez o romance popular e,
consequentemente, o melodrama, nascerem como instrumentos de entretenimento de massa,
já que o sentimento de “retorno ao idêntico” promove uma “espécie de consolo, pois o
espectador se sente confortável ao encontrar o já conhecido, ao saber como a trama será mais
ou menos conduzida e como os conflitos serão resolvidos.”, além de ser “uma forma de
manter o engajamento e a fidelidade do telespectador ao produto.” (2009, p.186).
Também falando sobre repetição, Raphael Baroni e Françoise Revaz (2016)
argumentam
(...) Embora a tensão narrativa pareça fundamentalmente ligada à incerteza, muitos
críticos reconhecem um fenômeno aparentemente paradoxal: os leitores podem
experimentar suspense mesmo após várias leituras de uma narrativa. Esse fenômeno
pode ser observado não apenas em crianças que se emocionam repetidamente com o
destino do Valente Alfaiate, mesmo depois de ouvir suas aventuras pela centésima
vez, mas também em adultos que compulsivamente releem (ou revêem) suas
histórias favoritas com paixão inabalável. (p.91)

Dessa forma, é interessante notar que mesmo que o melodrama recaia sobre algumas
convenções técnicas a respeito de sua temática e de seus personagens, o fator determinante
para que o suspense perdure entre a audiência, independente da previsibilidade narrativa, é a
imersão emocional, associada a sentimentos de empatia ou simpatia pelo destino dos
personagens (BARONI e REVAZ, 2016, p.92). Assim, o suspense pode ser mantido até
mesmo no consumo repetido de uma obra, pois “mesmo que as virtualidades sejam reduzidas
em número e transformadas em natureza, nosso engajamento emocional no destino do
personagem ainda nos impele a articular alternativas desejadas que entram em contradição
com a resolução conhecida da história.” (BARONI e REVAZ, 2016, p. 93).
Além de uma estratégia de engajamento da audiência, a repetição narrativa em uma
obra audiovisual pode ser ocasionada, também, por configurações externas ao produto. No
caso do SBT, é notável como o perfil empresarial do canal influencia as temáticas abordadas
em suas produções ficcionais, criando um conjunto de certa forma limitado de tópicos a
serem tratados em suas telenovelas e assim, ocasionando repetições. Por esse motivo, Zanetti
ressalta
Para cada produto analisado, portanto, é essencial que se investigue quais as
produtoras ou canais responsáveis por sua criação, desenvolvimento e exibição; o
posicionamento da emissora (ou da corporação midiática) no mercado local ou
mundial, e sua relação com as concorrentes; o posicionamento do produto na grade
de programação e em comparação com outros programas semelhantes em outros
canais; os realizadores envolvidos na criação e na «manutenção» do produto no ar
(roteiristas, diretores, produtores, atores de destaque etc.). (2009, p.183)

98
O capítulo final da presente dissertação foi dedicado à investigação de aspectos
referente à dimensão interna da obra televisiva Carinha de Anjo. No primeiro subcapítulo, a
pesquisa apresentou o enredo da telenovela e destacou o tom imaginativo e lúdico da
narrativa.
No segundo subcapítulo, foram abordadas questões referentes a exibição e a
audiência da telenovela. A telenovela, que foi a quarta adaptação brasileira de um clássico
latino para o público infantojuvenil feita pelo SBT, não alcançou índices de audiência de suas
antecessoras, porém conseguiu manter um desempenho consistente ao longo de seus 403
capítulos e se destacou por inovações como o marketing transmidiático da personagem Juju,
que foi responsável por impulsionar uma certa popularidade da obra nas redes sociais.
Por fim, no terceiro subcapítulo, foi realizada a análise propriamente dita do arco
narrativo de treze capítulos da telenovela Carinha de Anjo. A partir de um embasamento
teórico pautado nos estudos da teoria do melodrama, da poética do familiar e da repetição foi
realizada uma pesquisa qualitativa, com a análise de som e imagem, baseada em três das
quatro categorias de análise de estilo de Jeremy Butler (2010), sendo elas: a estilística
descritiva, a estilística analítica e a estilística histórica.
O resultado encontrado foi a presença de uma fórmula visual, criada a partir de
ângulos, enquadramentos e cores, e uma fórmula narrativa, criada a partir da repetição do que
os pesquisadores João Paulo Hergesel e Rogério Ferraraz classificam como aspectos do
melodrama infantojuvenil (2017), sendo eles: o maniqueísmo, o felizes para sempre, os casos
de família, o merchandising social camuflado, os momentos trágicos, os dogmas religiosos,
as ações pedagógicas e a estética kitsch.

99
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao analisar a telenovela infantojuvenil do SBT Carinha de Anjo (2016-2018), a


presente dissertação examinou as interconexões entre o estilo audiovisual de obras de ficção
seriada televisivas e o perfil empresarial das emissoras responsáveis por suas produções.
O objetivo primordial desta pesquisa foi compreender de que maneira o uso de
certas fórmulas visuais e narrativas é responsável por promover uma espécie de
homogeneidade entre as produções ficcionais do SBT, vinculando seus produtos diretamente
às marcas de autoria do próprio canal ao invés das marcas de autoria dos seus criadores
diretos, como ocorre na Rede Globo. Sendo assim, a hipótese ratificada nesta pesquisa foi a
de que, no caso do SBT, a responsabilidade pela configuração das marcas de estilo vem do
próprio canal, logo, os aspectos de estilo acabam sendo, consequentemente, um reflexo dos
aspectos da identidade da empresa.
Além disso, a partir de uma análise de som e imagem fundamentada na teoria do
melodrama, na poética do "familiar" e na repetição, a dissertação identificou que a estrutura
melodramática é algo que permeia toda a programação do SBT, não se restringindo apenas às
suas telenovelas. Ao fazer uso de estratégias de comunicação específicas em suas não ficções
- como linguagem simples e discursos emocionalmente carregados - e recursos estilísticos em
suas ficções - como cores saturadas, trilhas sonoras marcantes e uma redundância entre
imagem e som - o SBT foi capaz de criar uma sólida diante do público brasileiro. Dessa
forma, a identidade do canal é reforçada no estilo de suas telenovelas, assim como o estilo de
suas telenovelas reforçam a identidade do canal. Em suma, pode-se concluir que esses dois
aspectos se retroalimentam.
A singularização do SBT dentro da grade televisiva nacional também foi um aspecto
abordado nesta dissertação, com um destaque para a posição que a emissora ocupa como uma
alternativa popular em relação à Rede Globo. O fato do SBT ser uma empresa familiar e
explorar isso com frequência em sua comunicação colabora na venda da ideia de que seus
produtos são feitos por famílias e para famílias. Assim, com um conteúdo popular, acessível
e, por vezes, conservador, o SBT conseguiu atrair ao longo dos anos mas, principalmente
com as telenovelas infantojuvenis, uma parcela de audiência brasileira que se via insatisfeita
com as pautas sociais atuais apresentadas nas narrativas ficcionais de outras emissoras. Fora
isso, a aposta bem sucedida na produção de conteúdo infantojuvenil conseguiu, mais uma
vez, reforçar a identidade empresarial do SBT como uma opção de entretenimento para todas

100
as faixas etárias, além de fazer o canal continuar ocupando um imaginário afetivo do público
em geral, mesmo diante do afastamento gradual de Silvio Santos da frente da instituição.
Apesar desses resultados, a pesquisa também teve suas limitações devido à restrição
de tempo, fato que dificultou a realização de mais comparações da telenovela analisada com
outras obras de ficção do canal ou até mesmo às mudanças de espectatorialidade ocasionadas
pela disponibilização dessas obras ao público em plataformas diferentes da televisão.
Pensando nisso, sugere-se como continuidade do presente estudo analisar como as
telenovelas infantojuvenis produzidas para a televisão se adequam ao universo do streaming.
A justificativa, nesse caso, seria explorar de que forma essas produções se mantêm como
grandes sucessos (frequentemente ocupando o Top 10 de produções mais vistas no país na
Netflix), mesmo quando disponibilizadas em plataformas onde a dinâmica de consumo e as
expectativas do público podem ser diferentes.
Outra sugestão de continuidade de pesquisa seria analisar de que maneira a
coprodução de obras do SBT com outras empresas, como a parceria com o Prime Video da
Amazon para a produção da telenovela A Infância de Romeu e Julieta, impacta o estilo
SBTista de fazer ficção. Essa seria uma proposta interessante já que exercitaria o olhar sobre
as obras a fim de entender quais aspectos de estilo pertencem ao SBT, quais não pertencem e
quais tiveram que ser adaptados para chegar em um “denominador comum” criativo entre as
instituições responsáveis pela sua produção.
Em conclusão, esta dissertação proporcionou uma análise das estratégias utilizadas
pela linguagem audiovisual do SBT para cativar públicos e construir sua identidade como
emissora. A repetição de uma fórmula narrativa específica e a adoção do melodrama como
matriz estilística foram elementos-chave para a construção da homogeneidade de estilo nas
telenovelas infantojuvenis do canal. O perfil empresarial do SBT, enraizado na busca pelo
entretenimento popular e familiar, permeou suas produções ficcionais, resultando em uma
notável identidade SBTista, que faz a instituição personificar-se diante de seu público. As
sugestões de continuidade da pesquisa proporcionam novos caminhos para aprofundar a
compreensão dessas relações e identificar como o SBT se mantém relevante em diferentes
cenários midiáticos, mantendo-se fiel ao seu estilo característico, mesmo diante das
transformações nas formas de consumo televisivo. Com isso, espera-se que este trabalho
represente uma contribuição valiosa para o campo acadêmico e o entendimento das
estratégias audiovisuais na televisão brasileira.

101
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104
ANEXO - Análise do arco narrativo completo

Capítulo 175

O capítulo é iniciado com Cecília sentada em uma cama, arrumando sua mala e
escrevendo um bilhete. Apesar de já ter saído oficialmente do convento, ainda veste o hábito.
Uma música triste extradiégetica toca ao fundo. Cecília começa a ouvir frases em sua cabeça
de pessoas que duvidaram que ela seria capaz de tomar a decisão de abandonar a vida
religiosa. Cecília levanta da cama, abre o guarda-roupas e olha-se no espelho. Dessa vez, ela
ouve frases motivacionais também, de que existe um mundo de possibilidades a ser explorado
fora do convento. Ela ouve a frase de sua irmã, Fátima, falando para seguir o tempo do seu
coração para se acostumar com sua nova vida. As frases param, a música torna-se mais
intensa e, nesse momento, ainda olhando-se no espelho, Cecília retira pela primeira vez seu
hábito. Com olhos marejados, ela solta o cabelo e observa sua nova versão. Ela fecha o
guarda-roupas, pega sua mala, deixa o hábito em cima da cama e sai do quarto que ocupava.
Franciely fotografa com o celular Rosana desfilando e experimentando roupas na
sala de sua casa enquanto uma música extradiégetica animada toca ao fundo. Franciely julga
as roupas escolhidas por Rosana até que encontram um visual que ambas aprovam. Depois de
aprovarem o visual, Franciely pergunta a Rosana se ela é capaz de dirigir um triciclo com o
vestido escolhido, já que os preparativos são para o concurso de beleza no motoclube da
cidade. Rosana diz que não e Franciely sugere algo mais básico. Rosana volta à sala com um
visual despojado, usando uma camiseta com transparências, shorts, meia-calça e um par de
botas. Franciely diz que ela vai fazer sucesso com a roupa, e as duas dançam animadas,
comemorando a escolha da roupa. Em seguida, Franciely se despede, dizendo que precisa ir
embora antes que seu chefe perceba sua ausência.
No jardim do Colégio Doce Horizonte, Dulce Maria e Irmã Fabiana caminham
felizes e encontram Pascoal cuidando do jardim. Irmã Fabiana pede a ele a chave do carro da
escola emprestada. Pascoal diz a Irmã Fabiana que, se ela estiver indo atrás de algum pedido
da Madre Superiora, ela não precisa se preocupar, pois ele está indo para o centro da cidade
naquele mesmo dia; basta informar a ele o que ela precisa. Irmã Fabiana diz que não é o caso,
mas que ele pode ajudar de outro jeito. Pascoal já se mostra hesitante. Irmã Fabiana fala que
ele só precisa dar um recado para a Madre Superiora. Dulce revela a Pascoal que ele só vai
precisar mentir um pouco. Pascoal nega e fala que, então, a conversa entre eles acaba ali.

105
Cecília anda com sua mala pela rodoviária. Ela embarca em um ônibus, e o ônibus
parte. Uma música triste extradiegética toca.
A doméstica Franciely entra na residência dos Lários já pedindo desculpas pelo
atraso ao seu superior, o mordomo Silvestre, até perceber que ela está falando sozinha.
Franciely anda pela casa achando que está só, até que chega na cozinha e vê Silvestre e o
Policial Ribeiro em pé, frente a frente, trocando olhares. Franciely pergunta há quanto tempo
os dois estão ali, e Silvestre responde que há muito tempo. Franciely pergunta se o tema da
conversa era o Policial Ribeiro pedir a mão de Franciely em namoro a Silvestre. Silvestre diz
que sim, mas revela que isso ocorreu apenas porque ele encontrou o Policial Ribeiro na rua e
perguntou-lhe sobre isso. O Policial Ribeiro faz declarações apaixonadas à Franciely, e ela se
anima achando que Silvestre aceitou o namoro entre os dois. Franciely abraça o Policial
Ribeiro, mas Silvestre interrompe o abraço falando que não é bem assim, que ele ainda está
pensando sobre o assunto. O Policial Ribeiro diz que Franciely acabou de tomar a sua decisão
e é isso que importa, mas Silvestre, irredutível, diz que ainda não deu sua permissão, portanto
o assunto ainda está em aberto. Franciely fica sendo puxada pelo braço, de um lado por
Policial Ribeiro, de outro por Silvestre.
De volta ao colégio, Dulce implora pela ajuda de Pascoal. Irmã Fabiana fala que não
será uma mentira, que ele apenas tem que dizer à Madre Superiora que viu as duas circularem
pelos jardins da propriedade juntas. Pascoal pergunta o porquê. Irmã Fabiana desconversa
sobre o motivo e pede para que Pascoal diga à Madre Superiora que pediu para Irmã Fabiana
levar o carro para a oficina. Pascoal não concorda com a mentira, mas Dulce passa correndo
por ele e pega a chave do carro que estava em sua mão. Dulce e Irmã Fabiana vão em direção
ao carro.
No quarto de casa, Zé Felipe e Miguel arquitetam um plano para se vingar de seus
inimigos da escola com uma caixa surpresa que lança esterco quando aberta. Eles explicam
tudo para Zeca.
Franciely cansa de ser puxada de um lado para o outro por Policial Ribeiro e
Silvestre e grita, questionando o que está acontecendo. Silvestre diz que fez uma lista com
exigências a serem cumpridas para autorizar o namoro entre os dois e fala que o Policial
Ribeiro não quis assinar a lista. Franciely questiona o porquê. Policial Ribeiro fala que a lista
de exigências é muito grande. Franciely lê a lista e nela estão escritas restrições que incluem
dias e horários permitidos para encontros, tempo gasto com ligações e tamanho de mensagens
de texto a serem trocadas. Policial Ribeiro fala que é um absurdo e pede para Franciely
escolher entre ele e Silvestre. Silvestre diz o mesmo. Franciely olha de um ao outro e manda

106
Policial Ribeiro ir embora. Policial Ribeiro sai chorando. Silvestre fala que foi uma excelente
escolha e Franciely sai do cômodo chorando. Silvestre debocha de Policial Ribeiro sozinho e
ao fundo, de forma extradiegética, a música “Eu não sou cachorro não” de Waldick Soriano
começa a tocar.
Pascoal conversa com a Madre Superiora e diz que viu Irmã Fabiana e Dulce
andando pelo jardim. Diz que foi um encontro rápido, mas que Dulce parecia um pouco triste.
Madre Superiora diz que pediu à Irmã Fabiana para que ficasse de olho na menina, já que a
saída de Cecília do colégio poderia afetar o aprendizado dela. Madre Superiora pergunta a
Pascoal se ele sabe para onde elas saíram e ele gagueja e fala que não se lembra. Pascoal diz
que ainda tem muito serviço a fazer e sai andando. Madre Superiora acha estranho.
Gustavo almoça com Verônica em um restaurante. Gustavo pergunta como uma
mulher bonita, inteligente e divertida como Verônica está sem namorado. Ela responde que
está fugindo de confusão. Gustavo pergunta se alguém a fez sofrer. Uma música instrumental
romântica começa a tocar, e Verônica fica pensativa. Gustavo pede desculpa e ela fala que
não tem problema, que algumas coisas são difíceis de lembrar. Gustavo concorda e fala sobre
como sofreu quando ficou viúvo da mãe de Dulce Maria. Ele pede desculpas por tocar no
assunto, e Verônica fala que ele pode conversar sobre o que quiser com ela. Ele diz o mesmo.
A música romântica se intensifica, e eles trocam olhares.
Em sua casa, Juju vê as fotos que sua mãe, Rosana, tirou com Franciely. Ela elogia
algumas roupas enquanto critica outras, como o visual escolhido. Rosana diz que precisa
parecer mais ousada e que essa será a roupa usada no evento. Juju questiona se Rosana confia
mais no estilo dela ou de Franciely. Rosana diz que Franciely entende mais de coisas
exageradas, como essa ocasião. Emílio pede à mãe para também ver as fotos. Juju e Rosana
saem da sala e, sozinho, Emílio diz que seu amigo, Delegado Peixoto, precisa dessas fotos.
Irmã Fabiana e Dulce estacionam o carro e chegam ao seu destino, a casa de Fátima,
irmã de Cecília. Na calçada, Fátima as recebe com alegria, e Dulce diz que está com muita
saudade de Cecília. Fátima diz que Cecília vai adorar a visita das duas, e elas entram na casa.
Gustavo leva Verônica de volta ao escritório em que trabalham juntos, o Rey Café.
Eles se despedem e já mencionam um próximo encontro. Silvana, que também trabalha como
secretária no escritório, vê a cena e tenta comemorar com ela a aproximação dos dois.
Verônica corta a conversa falando que elas não têm esse tipo de intimidade e traz de volta
desavenças que tiveram no passado, falando que não é inocente como Cecília e Fátima.

107
Dentro de sua casa, Fátima fala para Dulce ir ao quarto falar com Cecília. A menina
sai animada, mas volta à sala pouco tempo depois, falando que não a encontrou e que achou
apenas o seu hábito em cima da cama. Fátima acha estranho e vai ao quarto também.
O Delegado Peixoto e o Policial Ribeiro entram na delegacia, e o Policial Ribeiro
fala que nunca foi tão humilhado em toda sua vida quanto agora, por Franciely. Policial
Ribeiro diz que nunca mais vai olhar na cara da mulher. Enquanto isso, Delegado Peixoto
recebe em seu celular as fotos de Rosana tiradas por Franciely e as admira apaixonado.
Na casa de Fátima, Irmã Fabiana oferece biscoitos a Dulce, e a menina rejeita,
angustiada. Fátima volta à sala preocupada, pois notou que a mala de Cecília também não
está em seu quarto. Irmã Fabiana anda pela sala e encontra o bilhete deixado por Cecília.
Fátima lê o bilhete e fala que nele Cecília diz que foi embora.
Em sua casa, Juju continua argumentando que a roupa escolhida por sua mãe para o
evento não é adequada. Rosana mantém firme a sua decisão. Emílio diz a sua mãe que ela é
linda, mas que não precisa se exibir. Rosana diz a Emílio que não quer se exibir e sim mostrar
que uma mulher da idade dela pode se sentir bem. Ele diz que isso na linguagem dele é passar
vergonha.
Na residência dos Lários, Franciely resmunga sozinha, e Estefânia pergunta se está
tudo bem. Franciely conta a ela tudo que aconteceu mais cedo com o Policial e Silvestre.
Zeca, Miguel e Zé Felipe vão à casa de ferramentas do seu pai montar a armadilha
contra seus inimigos.
Na casa de Fátima, Dulce chora no colo de Irmã Fabiana e diz que todos a
abandonam. Fátima diz que perguntou aos vizinhos, mas ninguém sabe do sumiço de Cecília.
Dulce sai correndo da casa em busca de Cecília. Fátima e Irmã Fabiana vão atrás. Dulce
atravessa a rua e um carro freia bruscamente, mas ainda assim a atinge. Irmã Fabiana, Fátima
e o motorista se desesperam e chamam a ambulância enquanto Dulce está imóvel no asfalto.

Capítulo 176

O capítulo começa com uma reprise da sequência final da exibição anterior, com o
atropelamento de Dulce Maria e o motorista do carro chamando a ambulância, enquanto Irmã
Fabiana e Fátima observam, aos prantos, a menina ainda caída na rua.
Na residência dos Lários, Estefânia diz a Franciely que ficou surpresa com o que ela
contou. Ela diz que se lembra de Franciely dizer que não queria entrar em um relacionamento
e acha curioso agora ela estar sendo disputada por dois homens. Franciely fala que não está

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sendo disputada por dois homens, que Silvestre quer apenas impor limites e fazer com que ela
trabalhe ainda mais. Estefânia discorda. Silvestre entra na sala e entrega um quadro
embalado, feito por ele a Estefânia. Ele pede para que o presente seja aberto por ela apenas na
presença de seu noivo, Vitor, já que se trata de um presente ao casal.
Na rua, Irmã Fabiana, Fátima e o motorista aguardam a ambulância. Algumas
pessoas se reúnem no local. Irmã Fabiana chora e diz que Cecília confiou nela para cuidar de
Dulce.
No colégio, Madre Superiora fica apreensiva com a demora de Irmã Fabiana e Dulce
para voltar à escola, e Pascoal revela que elas saíram de carro. Madre Superiora diz a Pascoal
que acha que elas saíram para visitar Cecília na casa de Fátima.
O som intradiegético da ambulância anuncia a chegada de socorros na cena do
atropelamento. Os paramédicos colocam Dulce na maca e, em seguida, na ambulância,
enquanto mais pedestres param para observar a cena. Irmã Fabiana e Fátima entram na
ambulância e vão ao hospital. Chegando no hospital, Dulce segue com a equipe médica para
os atendimentos enquanto as duas aguardam na recepção. Irmã Fabiana liga para Gustavo e
conta o ocorrido. Gustavo parte imediatamente para o hospital para ver a filha.
No colégio, Madre Superiora, agora ainda mais nervosa, pede a Pascoal que vá
buscar Irmã Fabiana e Dulce na casa de Fátima. Ela diz não ter um bom pressentimento.
Enquanto conversam, Irmã Ana interrompe falando que recebeu uma ligação de Irmã
Fabiana. Ela contou que Dulce foi atropelada e que elas estão no hospital. Madre Superiora é
amparada por Irmã Ana e Pascoal, sentando-se em uma cadeira e clamando por ajuda divina.
No hospital, Dulce é levada de maca a uma sala para realizar uma tomografia.
Enquanto Irmã Fabiana e Fátima aguardam na recepção, chegam ao hospital Gustavo,
Estefânia, Vitor e Padre Miguel. As duas informam que estão no aguardo de novas
informações e contam tudo o que aconteceu com detalhes.
Em uma sala do hospital, Dulce Maria faz o exame de tomografia ainda desacordada
e sonha com sua mãe. A transição com desenhos na tela e uma fotografia sobreexposta
indicam que trata-se de um espaço onírico na narrativa. Dulce conversa com sua mãe sobre
como está se sentindo magoada por ter sido abandonada por Cecília e como queria que ela
saísse do convento para ser sua segunda mãe, casando-se com seu pai. Teresa conforta Dulce
e diz que isso é um assunto de adultos.
Na recepção do hospital, Irmã Fabiana diz a Gustavo que tentou ao máximo alcançar
Dulce e impedir que essa tragédia acontecesse. Os médicos vão até o grupo para dar
atualizações sobre o estado de saúde da menina. O Doutor Vila Rica informa que Dulce

109
realizou uma tomografia e que ainda está desacordada. Ele também fala que o acidente foi
grave e que ainda é cedo para dizer quais serão as sequelas. Ele informa que assim que tiver
os resultados dos exames irá voltar com novas informações. O grupo chora.
Em casa, Zé Felipe, Zeca e Miguel continuam na elaboração da armadilha que será
usada contra seus rivais da escola.
Na sala da diretoria do colégio, Irmã Ana dá um copo de água a Madre Superiora
enquanto Pascoal faz uma ligação. Pascoal desliga o telefone e diz que o Doutor André irá
passar no colégio para ver Madre Superiora. Madre Superiora pede a Irmã Ana e a Pascoal
que sejam discretos sobre o ocorrido e sobre seu mal-estar. Madre Superiora pede mais
detalhes sobre o que Irmã Fabiana disse no telefone, e Irmã Ana diz que Dulce se desesperou
ao perceber que Cecília tinha ido embora da cidade.
No dormitório do colégio, Adriana e Valentina se preocupam com o sumiço de
Dulce Maria. Elas perguntam para Irmã Luzia se ela sabe de algo e a Irmã nega. Frida e
Bárbara, rivais de Dulce, debocham das meninas e fazem pouco caso do sumiço da menina.
Na residência dos Lários, Silvestre chora ao saber do acidente de Dulce Maria.
Franciely o conforta.
Na sala da diretoria do colégio, o Doutor André verifica a pressão de Madre
Superiora e indica um remédio para ajudar com o seu mal-estar. Em seguida, diz que está
indo para o hospital saber de atualizações sobre o estado de Dulce. Por curiosidade, o Doutor
aproveita para perguntar o motivo do sumiço de Cecília, e a Madre Superiora diz que ela
deve ter ficado triste em ter que se distanciar de Dulce com a sua saída do convento. Irmã
Ana imagina a reação de Cecília ao saber da notícia do acidente.
De noite, o ônibus em que Cecília embarcou estaciona em uma nova rodoviária. Ela
desembarca, senta-se em um banco e começa a chorar.
No hospital, Dulce segue desacordada e sob acompanhamento médico. Enquanto
isso, na sala de espera, Cristóvão e Verônica chegam e juntam-se ao grupo no aguardo de
notícias. Gustavo permanece nervoso e lembra-se de quando perdeu sua esposa também em
um acidente.
Zeca e Juju conversam por videochamada para combinar detalhes sobre a gravação
do videoclipe de Zeca no dia seguinte. Ele sugere convidar Emilio, Miguel e Zé Felipe para
irem junto como forma de distração para a turma do Luciano, seu inimigo. Juju concorda, e
eles se despedem. Miguel e Zé Felipe trocam olhares satisfeitos ao ouvir o que foi dito na
videochamada, segurando a armadilha feita.

110
O Doutor André chega ao hospital. O Doutor Vila Rica, neurologista que acompanha
o caso de Dulce Maria, vai à sala de espera e diz aos familiares que o resultado da tomografia
revelou que não houve danos cerebrais ou na coluna da menina, porém ela segue
desacordada. Eles ficam um pouco mais aliviados e continuam no aguardo de novas
informações.
Na capela do colégio, Madre Superiora e algumas Irmãs rezam por Dulce Maria.
Pascoal conta a Inácio sobre o acidente.
Gustavo visita Dulce Maria no quarto da UTI. Ele chora enquanto segura sua mão e
pede para ela não o deixar como sua mãe.

Capítulo 177

O capítulo começa com uma reprise da cena final da exibição anterior, com Gustavo
visitando Dulce em seu quarto na UTI do hospital, chorando e pedindo para que a menina
resista.
Na sala de espera do hospital, Vitor pergunta a Doutor André se eles conseguem
prever quando Dulce irá acordar. O Doutor André diz que ainda é muito cedo para dizer. Irmã
Fabiana diz que vai voltar para o colégio para se explicar à Madre Superiora. Verônica diz
que ela e Fátima vão embora assim que Gustavo sair da UTI.
Delegado Peixoto vai à casa de Rosana após receber as fotos tiradas por Franciely.
Rosana fica sem entender e diz que não enviou as fotos, já que as mesmas não são para ele.
Cristóvão, Fátima e Verônica vão embora do hospital. Gustavo, Estefânia, Vitor e
Padre Miguel permanecem juntos na sala de espera aguardando atualizações sobre o estado
de saúde de Dulce.
Em sua casa, Rosana explica ao Delegado Peixoto sobre o concurso de beleza no
moto clube que irá participar. Delegado Peixoto fica surpreso e parece não gostar muito da
notícia. Rosana questiona seu machismo e ciúmes. Delegado Peixoto diz que está tudo bem e
vai embora. Rosana suspeita que Emílio tenha enviado as fotos.
No dormitório do colégio, Irmã Luzia e Irmã Rita colocam as meninas para dormir
de forma autoritária. As meninas dizem que sentem falta do boa noite de Cecília e perguntam
onde está Dulce Maria e Irmã Fabiana. Irmã Rita e Irmã Luzia desconversam e mandam elas
dormirem.

111
Na sala da diretoria, Irmã Fabiana se ajoelha na frente da Madre Superiora e pede
perdão por tudo que aconteceu. A Madre Superiora dá um abraço na Irmã Fabiana e diz que
não foi sua culpa. As duas rezam.
Em sua casa, Inácio conversa preocupado com Diana. Ele diz que caso Dulce Maria
não se recupere eles vão se mudar de Doce Horizonte, pois seus filhos sofreriam demais com
essa perda. Diana abraça Inácio e diz que tudo vai ficar bem.
De manhã, no hospital, Doutor André dá boas notícias a Gustavo, Estefânia, Vitor e
Padre Miguel: Dulce recuperou a consciência e saiu da UTI. Felizes, todos vão visitar Dulce
em seu quarto. Dulce conversa com seus familiares e se lembra do acidente. Ela pede a
Gustavo para que chame Cecília para visitá-la também.
Em sua casa, Rosana confronta Emílio sobre o envio das fotos ao Delegado Peixoto.
O menino admite e pede desculpas, mas rebate dizendo que não queria que a mãe escondesse
o concurso de beleza de Delegado Peixoto. Rosana diz que já iria contar a ele sobre o
concurso de qualquer forma. Rosana, Juju e Emílio saem da casa juntos para a gravação do
clipe de Zeca.
Na sala do hospital, Dulce pede que Gustavo prometa que irá trazer Cecília para
visitá-la. Gustavo promete. Padre Miguel e Estefânia vão embora enquanto Vitor e Gustavo
continuam com a menina no hospital.
Na residência dos Lários, Silvestre liga para o colégio e informa a Madre Superiora
que Dulce acordou. Ela, Irmã Fabiana e Irmã Ana comemoram. Franciely escuta a ligação e
comemora com Silvestre. Silvestre informa a Franciely que apesar disso, Dulce segue
internada em observação e ainda não recebeu alta.
Na sala da diretoria do colégio, Madre Superiora diz a Irmã Fabiana e Irmã Ana que
elas precisam contar às alunas do colégio o que aconteceu com Dulce Maria.
No hospital, Doutor André entra no quarto em que Dulce está e pede licença a
Gustavo para que Doutor Vila Rica realize um teste neurológico na menina. Gustavo sai do
quarto e o Doutor Vila Rica realiza o teste. Ele pega nas pernas de Dulce, e ela relata não
estar sentindo nada.
Na residência dos Lários, Estefânia pega alguns objetos de Dulce para levar ao
hospital. Silvestre pergunta a Estefânia se ela sabe do paradeiro de Cecília, mas ela nega.
Estefânia segue a caminho do hospital novamente.
No colégio Doce Horizonte, Madre Superiora e Irmã Fabiana interrompem a aula de
espanhol de Irmã Rita para conversar com as alunas. Elas contam sobre o acidente de Dulce.

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Todas as alunas, exceto Bárbara e Frida, ficam chocadas. Irmã Fabiana fala que vai ficar em
jejum até Dulce sair do hospital.
Em casa, Inácio e Diana comemoram a notícia de Dulce ter acordado. Zé Felipe,
Zeca e Miguel perguntam o motivo da comemoração e eles desconversam. Os meninos saem
para a gravação do videoclipe levando a caixa com a armadilha feita no dia anterior. Inácio e
Diana desconfiam de algo.
Estefânia chega ao hospital. Ela e Vitor vão para o quarto ficar com Dulce enquanto
Doutor André e Doutor Vila Rica conversam com Gustavo. Eles falam para Gustavo que,
apesar de não existir qualquer lesão grave em Dulce, ela precisa ficar em observação até que
suas funções se normalizem, e isso pode levar algum tempo. Uma música extradiegética tensa
toca ao fundo.
Rosana, Juju, Zeca, Zé Felipe, Miguel e Emílio chegam ao condomínio residencial
que será o local da gravação do videoclipe de Zeca. Zé Felipe, Miguel e Emílio se distanciam
para preparar a armadilha contra Luciano e seus amigos. Babi junta-se a Rosana, Zeca e Juju.
Cecília entra em uma pousada e pede o telefone da recepção emprestado. Ela liga
para Fátima para explicar o seu sumiço. Fátima é compreensiva. Cecília diz que acha melhor
ficar um tempo sozinha, mas Fátima conta sobre o acidente de Dulce Maria. Cecília larga o
telefone no chão, em choque.

Capítulo 178

O capítulo começa com uma sequência de cenas da exibição anterior: Silvestre


informando a Franciely que Dulce acordou, mas segue internada em observação; Dulce
realizando o teste neurológico; Doutor André falando a Gustavo que a menina ainda não
recuperou seus reflexos; Madre Superiora contando às alunas da escola sobre o acidente de
Dulce; Inácio e Diana suspeitando da caixa de armadilha que Zeca, Zé Felipe e Miguel
saíram levando para a gravação do videoclipe; e Fátima informando a Cecília sobre o
acidente por telefone.
Em sua casa, Fátima desliga a ligação com Cecília, nervosa, e é amparada por
Verônica.
Doutor André chega ao colégio para visitar a Madre Superiora e trazer atualizações
sobre o estado de Dulce. Ele é abordado por algumas amigas da menina que querem saber
como ela está. Irmã Fabiana fala para elas curtirem o recreio e leva Doutor André à sala da
diretoria.

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Rosana dá algumas sugestões sobre a gravação do videoclipe que não agradam
muito aos mais jovens Zeca, Juju e Babi. Babi decide distrair Rosana perguntando mais sobre
o grande evento no moto clube em que ela irá participar. Juju e Zeca ficam sozinhos e
começam a gravar o videoclipe com mais liberdade criativa.
No quarto do hospital, Gustavo, Estefânia, Vitor e Padre Miguel ajudam Dulce a
almoçar. A menina tenta se mexer na cama e percebe que não sente suas pernas.
Na sala da diretoria do colégio, o Doutor André examina a Madre Superiora e diz
que ela está bem. O telefone toca e a Irmã Fabiana atende. É Fátima, ligando para informar
que conseguiu falar com Cecília e ela está voltando para Doce Horizonte. Irmã Fabiana passa
a notícia a Madre Superiora e Doutor André. Doutor André fala que Dulce vai precisar muito
de Cecília nesse momento e informa que a menina não sente as pernas. Irmã Fabiana e Madre
Superiora se desesperam.
Zé Felipe, Emílio e Miguel avistam a turma do Luciano e preparam-se para colocar a
armadilha em ação. Rosana chega e pergunta o que eles estão aprontando.
No hospital, Gustavo, Estefânia, Vitor e Padre Miguel acalmam Dulce e explicam
que ela ainda está em recuperação. Gustavo mostra-se apreensivo.
No colégio, Diana dá aula de artes para as alunas do colégio. Irmã Fabiana está
cabisbaixa. Diana consola-a e sugere que ela coma alguma coisa. Relutante devido à sua
promessa, Irmã Fabiana aceita comer apenas algo simples, que não comeria normalmente.
Zé Felipe, Emílio e Miguel conseguem despistar Rosana pedindo para que ela vá à
lanchonete comprar água para eles. Luciano e seus amigos se aproximam, e Miguel deixa
Emílio e Zé Felipe sós com a caixa da armadilha para observar a cena de longe.
No hospital, inconformado, Gustavo pergunta aos médicos por que Dulce não
consegue mover as pernas se fisicamente ela está bem. Doutor Vila Rica e Doutor André
revelam que trata-se de um problema emocional e que Dulce precisa de ajuda psicológica.
Em sua casa, Haydee acorda seu filho, Flávio. Flávio percebe que Haydee está
usando uma tipóia e mancando, e ela diz que caiu. Ela reclama que ele não fica em casa, pois
passa a maior parte do seu tempo saindo com Noêmia. Haydee diz que se sente abandonada
pelos filhos. Flávio pergunta o que pode fazer para que Haydee se sinta melhor, e ela diz que
gostaria que ele marcasse um jantar para que ela seja apresentada a Noêmia e sua família.
Flávio mostra-se hesitante, mas acaba aceitando.
A turma do Luciano se aproxima de Zé Felipe e Miguel e faz piadinhas com os dois.
Os dois falam para Luciano e seus amigos não se aproximarem da caixa, pois eles estão
tomando conta do drone que está dentro dela e que será usado na gravação do clipe de Zeca.

114
Com o objetivo de acabar com a gravação do videoclipe, Luciano afasta-se de Zé Felipe e
Miguel e revela aos seus amigos que quer tomar posse do drone.
Irmã Fabiana volta mais animada à sala de aula após ter comido algo. Irmã Fabiana e
Diana elogiam os desenhos feitos pelas alunas na aula. Valentina, Adriana e Lúcia mostram
desenhos que fizeram para Dulce e perguntam se podem ir visitá-la no hospital. Irmã Fabiana
e Diana dizem que não, mas Irmã Fabiana diz que vai dar um jeito de entregar os desenhos
para ela.
No quarto do hospital, Padre Miguel e Estefânia falam que Dulce precisa de
paciência para se recuperar. Dulce pergunta porque Cecília ainda não foi visitá-la. Eles dizem
que assim que ela voltar de viagem vai ao hospital e elas ficarão juntas.
Luciano e seus amigos confrontam Zé Felipe e Emílio e dizem que vão pegar a
caixa. Juju e Zeca chegam para defender Zé Felipe e Emílio.
No corredor do hospital, Gustavo diz a Vitor que vai esperar um pouco para entrar
no quarto, pois não quer que Dulce veja-o abalado desse jeito. Vitor conforta-o e diz que vai
ficar tudo bem e que ele precisa ser forte. Gustavo chora.
Na academia, Flávio ajuda Noêmia com seus exercícios. Flávio diz que vai ser o
personal trainer do corpo e do coração de Noêmia. Ela diz que é para isso que ela está
pagando ele. Flávio dá instruções de alguns exercícios e Noêmia pede um beijo. Flávio
esquiva. Escondida no mesmo ambiente, Haydee observa tudo.
Na sala da diretoria do colégio, Madre Superiora pede a Pascoal para que faça um
buquê de flores bem bonito para Dulce Maria e compre alguns doces também. Ela aproveita e
pede para que ele traga alguns doces para ela também, já que não aguenta ficar tomando
apenas os remédios indicados pelo Doutor André.
Rosana e Babi veem a discussão de Juju, Zeca, Zé Felipe, Emílio e a turma de
Luciano. Luciano chama Zeca de caipira e pobre e diz que ele não pode gravar o videoclipe
no seu condomínio. Babi diz que eles podem sim, que eles têm uma autorização por escrito.
Intimidados, Luciano e seus amigos vão embora. Zé Felipe e Emílio falam que vão ficar no
local fazendo vigia para caso eles voltem. Rosana, Babi, Zeca e Juju voltam à gravação do
videoclipe.
Na residência dos Lários, Silvestre e Franciely limpam a casa. Franciely pergunta o
motivo de eles estarem fazendo isso, se a casa está vazia e todos estão no hospital. Silvestre
diz que é para passarem o tempo. Franciely enche Silvestre de perguntas e ele decide
autorizá-la a dar uma volta pela cidade, mas pede para que ela não comente sobre o caso de
Dulce Maria com as pessoas.

115
Em sua casa, Diana recebe uma ligação de Cecília falando que já está de volta a
Doce Horizonte e está indo para o hospital. Diana comemora o retorno e avisa a Inácio.
Na academia, Haydee vai até Flávio e Noêmia. Ela se apresenta como a mãe de
Flávio e cumprimenta Noêmia como se ela fosse a avó da mulher com quem Flávio está
tendo um romance. Haydee convida ela e sua suposta neta que namora com seu filho para um
jantar em sua casa. Haydee se despede, e Noêmia e Flávio ficam constrangidos.
Doutor André visita Dulce Maria em seu quarto, e ela reclama de não conseguir
andar. Doutor André fala para ela não se preocupar, pois vai ter a ajuda de uma psicóloga
para se recuperar. Dulce fala que mal pode esperar para conhecê-la.
Luciano e seus amigos continuam observando Zé Felipe, Miguel e Emílio de longe.
Eles fingem que vão ao banheiro e deixam a caixa para trás. Luciano e seus amigos pegam a
caixa.
Flávio pede desculpas a Noêmia pelo comportamento da mãe e ela diz que ele não
precisa se desculpar, que ela não se assusta facilmente.
Gustavo está sozinho e apreensivo na sala de espera do hospital. Cecília chega e
chama seu nome. Gustavo vira-se e vê Cecília pela primeira vez sem o hábito. Os dois trocam
olhares enquanto uma música extradiegética emocionante toca.

Capítulo 179

O capítulo começa com uma reprise da cena final da exibição anterior, com Cecília
chegando ao hospital e Gustavo vendo-a pela primeira vez sem o hábito. Os dois trocam
olhares enquanto uma versão instrumental da música “É o amor” da dupla Zezé Di Camargo
e Luciano toca de forma extradiegética.
Fátima e Solange trabalham no food truck no centro da cidade. Pascoal chega para
comprar os doces que a Madre Superiora pediu. Pascoal e Solange flertam.
No hospital, Gustavo chama Cecília de “Irmã” e ela pede para que ele não use mais
esse termo e a chame apenas de Cecília. Gustavo pede desculpas e diz que ela está muito
diferente. Cecília pergunta a Gustavo como Dulce está.
O Policial Ribeiro chega no food truck e diz a Fátima que quer fazer um pedido.
Pensando que o Policial referia-se a alguma comida, Fátima entrega o menu, mas Ribeiro
entrega um buquê de flores à moça e pede seu coração. Fátima fica surpresa.

116
No hospital, Gustavo fala a Cecília que Dulce não corre risco. Cecília fica aliviada.
No entanto, Gustavo informa a ela que as pernas de Dulce ainda não respondem. Cecília
começa a chorar, sentindo-se culpada pelo acidente. Gustavo conforta-a e segura suas mãos.
No colégio, Irmã Fabiana dá aula de música e sugere que as meninas cantem
pensando em Dulce. Bárbara e Frida comentam que só vão cantar porque são obrigadas.
Bárbara fala que vai estudar canto para montar uma banda bem melhor que a do seu irmão
Luciano.
Zeca, Juju, Babi e Rosana veem os vídeos gravados para o videoclipe e ficam
satisfeitos com o resultado. Rosana acha estranho o sumiço de Emílio, Zé Felipe e Miguel e
diz que vai atrás deles. Zeca fala para ela não se preocupar.
Luciano reclama com os amigos que Juju e Zeca não sentiram falta da caixa que eles
pegaram. Emílio, Zé Felipe e Miguel observam o grupo de longe. Um dos amigos de Luciano
questiona se tem mesmo um drone dentro da caixa. Luciano fala que eles vão descobrir isso e
se prepara para abrir a caixa.
No food truck, Policial Ribeiro continua fazendo declarações a Fátima. Assustada,
ela responde que eles mal se conhecem. Franciely, que saiu para passear no centro da cidade,
vê a cena e vai para cima de Policial Ribeiro chamando-o de sem vergonha e cafajeste.
Franciely vai embora, indignada, e o Policial Ribeiro comemora e agradece Fátima, que
continua sem entender a situação.
Luciano enfim abre a caixa, e a armadilha funciona. Ele e seus amigos ficam
cobertos de estrume de vaca, enquanto Emílio, Zeca e Zé Felipe gargalham.
No local da gravação do videoclipe, quando Rosana fala novamente que vai sair em
busca de Emílio, Zeca e Zé Felipe, os três chegam correndo e falam que precisam ir embora.
Rosana e Juju pedem explicações, mas eles são enfáticos que o grupo precisa ir embora.
Segundos depois, Luciano e seus amigos passam correndo e sujos de estrume. Rosana acha
melhor todos irem embora imediatamente.
No colégio, Irmã Fabiana e as alunas cantam e dançam a canção “Amigos da Lua”
na aula de música.
No hospital, Gustavo explica a Cecília que Dulce irá precisar de acompanhamento
com uma psicóloga para se recuperar. Cecília explica que não tinha a intenção de sumir para
sempre e que só precisava de um tempo para si depois de ter decidido abandonar a vida
religiosa. Gustavo, que também precisou de um tempo distante após a morte da mãe de
Dulce, diz que entende o que ela sente. Gustavo fala que tem certeza de que a presença de

117
Cecília vai fazer muito bem a Dulce e sugere que eles bebam uma água, fiquem bem e em
seguida visitem-na em seu quarto.
Franciely retorna à residência dos Lários nervosa com a briga com Policial Ribeiro.
Silvestre ouve ela falando sozinha e batendo panelas na cozinha e vai perguntar o que
aconteceu. Ela diz que Silvestre é seu guru e que ele estava certo sobre o Policial Ribeiro, que
ela o viu dando em cima de Fátima na cidade. Silvestre ri e fala que Franciely está com
ciúmes de Policial Ribeiro. Franciely fica com raiva e ameaça Silvestre com uma colher de
pau. Silvestre sai correndo, e Franciely chora sozinha na cozinha enquanto uma música
romântica e animada toca ao fundo de forma extradiegética.
Zeca, Miguel e Zé Felipe chegam em casa acompanhados de Rosana. Rosana conta a
Diana e Inácio o que aconteceu durante a gravação do videoclipe.
Estefânia encontra Cecília e Gustavo no corredor do hospital. Estefânia fala que
Cecília está linda, e ela agradece, sem jeito. Ela diz que ainda está se acostumando, que tudo
é muito novo. Estefânia acha melhor preparar a cabeça de Dulce antes de Cecília entrar no
quarto com seu novo visual.
Estefânia entra no quarto e fala para Dulce que Cecília chegou para visitá-la. Dulce
fica radiante. Estefânia pede para que Padre Miguel e Vitor encontrem Cecília do lado de fora
do quarto. Estefânia aproveita o tempo a sós com Dulce para explicar que Cecília não é mais
a “Irmãzinha Cecília”, que agora ela não usa mais o hábito e veste-se como uma mulher
comum. Dulce mostra-se receosa com o fato de Cecília não ser mais a mesma pessoa.
Em sua casa, Haydee pede a opinião de Flávio sobre qual vestido deve usar no jantar
com Noêmia e sua família. Ela pergunta para Flávio o que a avó de Noêmia achou dela.
Flávio explica que aquela não era a avó de Noêmia e sim a própria Noêmia. Haydee desmaia.
No quarto do hospital, Dulce diz a Estefânia que quer a sua “Irmãzinha Cecília” e
não essa Cecília que a abandona e não é mais Irmã. Dulce diz que não quer ver Cecília nunca
mais. Estefânia fala que Cecília continua sendo a mesma por dentro e continua amando Dulce
como se fosse sua filha. Dulce continua irredutível.
Em sua casa, Haydee acorda do desmaio e reage com indignação à informação dada
por Flávio. Haydee fala que Noêmia tem idade para ser sua mãe. Flávio tenta explicar falando
que a Noêmia tem mais dinheiro que a família Lários. Haydee continua furiosa.
Gustavo entra no quarto do hospital de Dulce e encontra Estefânia conversando com
a menina. Ela explica que Dulce não quer ver Cecília. Gustavo fala que ela continua sendo a
sua melhor amiga. Gustavo tenta convencer Dulce a mudar de ideia, mas ela fala que Cecília
agora é apenas uma mulher como todas as outras.

118
Na sala de espera do hospital, Cecília, Vitor e Padre Miguel conversam. Estefânia
junta-se ao grupo e Cecília pergunta se já pode ver Dulce. Estefânia explica que Dulce não
reagiu muito bem à conversa que tiveram. Cecília sente-se culpada por tudo que aconteceu.
Estefânia, Vitor e Padre Miguel consolam-na. Estefânia diz que Gustavo ficou conversando
com Dulce no quarto e que ainda é possível que a menina mude de ideia.
Gustavo canta para Dulce no quarto do hospital. Ele diz que sua mãe tinha uma voz
linda que sempre a acalmava. Dulce fala que ela ainda tem, pois sua voz continua gravada em
seu coração. Doutor Vila Rica chega com boas notícias: Dulce receberá alta no dia seguinte e
poderá voltar para casa. Dulce fica feliz.
Em sua casa, Luciano conta a seus pais o que aconteceu mais cedo. Seus pais ficam
indignados e falam que vão tomar medidas contra os meninos "baderneiros".
Em sua casa, Diana conta a Zeca, Zé Felipe e Miguel sobre o acidente de Dulce. Os
meninos ficam preocupados, mas Diana fala que ela está fora de perigo e que foi apenas um
susto. Diana coloca os meninos para dormir.
Na sala de espera do hospital, Estefânia e Cecília continuam aflitas com a reação de
Dulce Maria à "nova Cecília" e são consoladas por Vitor e Padre Miguel.

Capítulo 180

O capítulo começa com uma reprise de algumas cenas da exibição anterior, com
Diana contando a Zeca, Zé Felipe e Miguel sobre o acidente de Dulce e Cecília e Estefânia na
sala de espera do hospital, aflitas com a reação de Dulce Maria à nova 'versão' de Cecília.
Na delegacia, o Policial Ribeiro chega com as roupas amarrotadas e o cabelo
bagunçado, orgulhoso, mostrando o resultado do ataque de ciúmes que sofreu de Franciely ao
Delegado Peixoto. Delegado Peixoto diz que ciúmes não ajudam em nada e conta para o
Policial Ribeiro sobre o concurso de beleza do moto clube que Rosana irá participar. Policial
Ribeiro espia a foto das participantes do concurso na tela do computador de Delegado
Peixoto e desdenha que Rosana seja capaz de vencer.
No quarto do hospital, Gustavo dá almoço para Dulce e insiste para que ela veja
Cecília. Dulce continua falando que não quer vê-la, e Gustavo desiste, falando que vai
respeitar a decisão da menina.
Em sua casa, Juju edita o videoclipe de Zeca, e Rosana, que está ao seu lado
observando, fala que vai ser um sucesso. Zeca chama Juju para uma videochamada. Zeca

119
conta sobre o acidente de Dulce a Juju e Rosana. Rosana parte imediatamente para a
residência dos Lários, que fica no mesmo prédio, para saber mais informações.
Na sala de espera do hospital, Padre Miguel e Estefânia perguntam a Cecília o que
ela pretende fazer agora que saiu do colégio. Cecília diz que vai procurar um emprego, mas
que só tem experiência como professora. Doutor André chega ao recinto e vê Cecília sem
hábito pela primeira vez. Ele fala que ela está muito bonita e parece até mais jovem. Cecília
fala que ainda é a mesma, apenas mudou de roupa. Doutor André pergunta se Cecília está
morando na casa de Fátima, e ela responde que sim. Doutor André começa uma frase, mas é
interrompido por um chamado médico. Ele despede-se do grupo. Estefânia diz que Cecília
pode ajudar Dulce com o conteúdo que ela perdeu na escola durante os dias de internação.
Cecília diz que adoraria, mas relembra que a menina não quer contato com ela. Gustavo
chega no recinto e informa que falou com Dulce.
Na residência dos Lários, Rosana pergunta a Franciely sobre Dulce. Franciely conta
o que sabe sobre o acidente e diz que Cecília, que não é mais noviça, está no hospital para
ajudar na recuperação de Dulce. Rosana fala que é a síndica do prédio, mas é a última a saber
das fofocas. Franciely fala que vai aproveitar e atualizar Rosana sobre a briga que teve com o
Policial Ribeiro.
No dormitório do colégio, Irmã Fabiana e Irmã Luzia colocam as alunas para dormir.
As meninas falam que querem fazer uma excursão para visitar Dulce, mas Irmã Fabiana diz
que esse não é o momento. Irmã Fabiana fala que Cecília já está no hospital e que a presença
dela irá ajudar na recuperação da menina. Irmã Luzia retruca e diz que tudo que a menina
precisa no momento é de acompanhamento médico e não de mimos.
Na sala de espera do hospital, Gustavo fala que insistiu para que Dulce aceitasse ver
Cecília, mas que não deu certo. Cecília diz que então não tem motivos para ficar no hospital e
dirige-se para a saída. Gustavo chama Cecília de "Irmã" e logo em seguida pede desculpas.
Ele oferece carona a Cecília.
No dormitório do colégio, Bárbara e Frida suspeitam que Dulce Maria não está
doente e dizem que ela está fazendo tudo isso porque Cecília saiu do colégio. Irmã Fabiana e
Irmã Luzia terminam de cobrir todas as meninas com cobertores. Irmã Fabiana dirige-se à
porta do quarto e fala que está indo deitar antes de Irmã Luzia para evitar ouvir os seus
roncos. As meninas riem e Irmã Luzia repreende-as. As Irmãs saem do quarto e as meninas
caem na gargalhada novamente.
No quarto do hospital, Vitor e Dulce conversam. A menina pede para que Vitor e
Estefânia casem só depois que ela se recuperar e pede para que ele não tire Estefânia de sua

120
vida, já que agora ela é a única mulher com quem pode contar. Vitor promete que isso não vai
acontecer e que o casamento só será realizado depois da recuperação completa de Dulce. Em
troca, Vitor pede que a menina faça tudo que a psicóloga mandar. Eles apertam as mãos para
oficializar o combinado.
Franciely e Rosana conversam baixo na cozinha da residência dos Lários para não
acordarem Silvestre. Franciely fala para Rosana que flagrou o Policial Ribeiro se declarando
para Fátima no centro da cidade e diz que quem perdeu foi ele. Rosana fica surpresa. Depois
de um tempo de conversa, Rosana fala que vai embora, pois já é tarde e que volta amanhã
para elas fofocarem mais.
Na sala de espera do hospital, Doutor André informa a Gustavo que já falou com a
psicóloga e que a terapia de Dulce irá começar no dia seguinte. Doutor André pergunta se
Cecília está de saída e oferece uma carona. Gustavo fala que Cecília já vai com ele. Gustavo
e Cecília saem do hospital.
Em sua casa, Fátima aguarda notícias de Cecília com Cristóvão e Verônica. Os três
estão preocupados. Verônica fala que o jeito sério de Gustavo é apenas uma defesa, e que na
verdade ele é um homem muito doce. Ela fala que gostaria de estar no hospital com ele para
dar uma força. Fátima e Cristóvão entreolham-se.
Gustavo deixa Cecília em sua casa. Ela agradece a carona. Gustavo agradece Cecília
por ter voltado por Dulce. Cecília fala que se não tivesse viajado nada disso teria acontecido.
Gustavo pede para que Cecília tenha calma e que confie nos médicos. Gustavo convida
Cecília para ir em sua casa visitar Dulce. Cecília diz que vai adorar se a menina concordar.
Ela diz que precisa se acostumar com a sua nova realidade e procurar um emprego, como
toda mulher. Gustavo diz que ela não é como toda mulher, que ela é especial, doce e linda.
Gustavo toca o rosto de Cecília enquanto ela chora.
No quarto do hospital, Vitor, Estefânia e Padre Miguel observam Dulce dormir.
Enquanto dorme, Dulce sonha com sua mãe. No sonho, Dulce está de cadeira de rodas e fala
para a mãe que tudo que ela mais quer é voltar a andar e ter a “Irmãzinha Cecília” de volta.
Teresa diz que essas são duas coisas que ela pode ter. Dulce fala que Cecília não é mais Irmã.
Teresa fala que ainda assim ela ama muito Dulce. Dulce fala que quem ama não abandona.
Teresa fala que quem ama torce para que a pessoa encontre sua própria felicidade.
Na frente de sua casa, Cecília despede-se de Gustavo. Ela entra na casa e abraça
Fátima, chorando. Cecília explica que Dulce não quis vê-la. Fátima, Verônica e Cristóvão a
consolam. Cristóvão se despede delas e Verônica o acompanha. Fátima e Cecília continuam
abraçadas.

121
Um novo dia começa e os pais de Frida vão ao colégio Doce Horizonte. Frida fica
preocupada e pergunta o motivo da visita. Seus pais explicam que estão ali para conversar
com a Madre Superiora sobre o problema que Luciano teve com os filhos do caseiro Inácio.
A Madre Superiora encontra-os no pátio do colégio e convida-os para sua sala.
Irmã Fabiana vai visitar Cecília em sua casa. Ela fica surpresa com a nova aparência
de Cecília. Irmã Fabiana pergunta sobre o reencontro de Cecília e Dulce e ela diz que a
menina não quis vê-la.
Dulce Maria volta para casa e é recebida com alegria por Silvestre e Franciely.
Gustavo leva a menina para o seu quarto. Padre Miguel informa a Silvestre que, se uma
pessoa chamada Alessandra interfonar, deixe-a subir, pois é a psicóloga de Dulce Maria.
A Madre Superiora, acompanhada dos pais de Frida e Luciano, chegam à casa de
Diana. Francisco, pai de Luciano, pergunta a Diana se Inácio está presente, pois ele prefere
falar com um homem. Diana fala que na casa dela os dois têm igual autoridade. Michelle,
mãe do garoto, diz que é por isso que seus filhos não têm limites. Diana fica nervosa.
Michelle diz que sua família não vai arcar com o prejuízo causado pelos filhos de Diana ao
condomínio durante a gravação de um clipe.

Capítulo 181

O capítulo começa com uma reprise da cena final da exibição anterior, com Diana
sendo confrontada pelos pais de Luciano em sua casa.
Em sua casa, Cecília conversa com Fátima e Irmã Fabiana sobre tudo que aconteceu
no dia anterior. Irmã Fabiana fala que está surpresa com o comportamento de Gustavo. Ela
diz que imaginava que com o seu temperamento difícil ele fosse culpá-la pelo acidente de
Dulce, mas ele reagiu de forma muito compreensiva. Ela diz que Verônica já tinha comentado
que após o sumiço de Nicole ele havia se tornado outro homem. Cecília pergunta para Fátima
se Verônica e Gustavo continuam próximos e Fátima diz que ela fala sobre ele como fala de
qualquer outra pessoa do trabalho.
Na casa de Diana, os pais de Luciano explicam à Madre Superiora sobre a armadilha
feita por Zeca, Zé Felipe e Miguel. Diana diz que seus filhos agiram em legítima defesa. Os
pais de Luciano falam que Diana vai ter que pagar os danos causados ao condomínio e que
caso não pague, levarão o caso à justiça. Eles saem da casa e Diana é amparada pela Madre
Superiora.

122
Em sua casa, Rosana fala a Juju que Dulce já está em sua casa. Emílio ouve parte da
conversa e pergunta o assunto. Rosana conta a Emílio sobre o acidente e sobre Dulce não
estar conseguindo mexer as pernas. Emílio fica preocupado com sua amiga.
Na academia, Flávio conta a Noêmia que esclareceu a confusão sobre a sua
identidade com sua mãe. Ele explica que Haydee se tornou muito dependente dele desde que
sua irmã Nicole foi morar na Europa. Noêmia pergunta se Haydee vai ser um problema na
relação deles e ele nega, falando que se tivesse que escolher entre as duas, ficaria com
Noêmia.
Em sua casa, Cecília diz a Irmã Fabiana que vai procurar um emprego em alguma
escola da cidade. Irmã Fabiana conta a Cecília que a Madre Superiora ainda não achou uma
substituta para ela e que agora tem que dividir o quarto com Irmã Luzia. Cecília comenta que
isso é um pesadelo, mas Irmã Fabiana tranquiliza-a, falando que está no controle da situação.
Irmã Fabiana e Fátima despedem-se de Cecília para irem trabalhar.
Em seu quarto, Dulce é apresentada por Gustavo a Alessandra, a psicóloga. As duas
conversam sobre a vida de Dulce e seus amigos.
Em sua casa, Estefânia e Vitor recebem alguns presentes de casamento antecipados.
Juntos, decidem abrir o quadro feito por Silvestre. Solange, a doméstica que trabalha na casa
de Vitor, informa que o nome do quadro é "O Alvorecer da Epifania". Vitor e Estefânia amam
o quadro, mas Solange diz que não entendeu a proposta e não considera esse um presente
digno de um padrinho de casamento.
Inácio chega em casa e fica sabendo sobre a visita dos pais de Luciano. Inácio fica
nervoso com a situação. Diana o acalma e diz que vai falar com Rosana e o Delegado Peixoto
para pensar em alguma solução. Diana e Inácio agradecem o apoio de Madre Superiora diante
da situação.
Em sua casa, Haydee fala sozinha que não se conforma com o namoro de Flávio
com Noêmia, devido à grande diferença de idade entre os dois. Haydee recebe uma ligação
de Flávio. Ele fala que Noêmia está convidando-a para almoçar no dia seguinte. Haydee
aceita o convite. Ao desligar, Haydee fala sozinha que essa é uma ótima oportunidade para
comer fora e acabar com o namoro dos dois.
No quarto de Dulce, Alessandra e a menina conversam sobre abandono. Dulce fala
que em algum momento todos a deixam, como sua falecida mãe Teresa e agora, Cecília.
Alessandra fala que quando uma pessoa gosta muito de outra, ela nunca vai embora de vez.
Dulce concorda, mas fala que Cecília não gosta mais dela.

123
Solange discorda de Vitor e Estefânia sobre o lugar em que o quadro deve ser
exposto na casa. Vitor e Estefânia conversam sobre adiar um pouco a cerimônia de casamento
para esperar Dulce se recuperar.
No quarto de Dulce, Alessandra explica à menina que quando o sentimento é
verdadeiro, não importa a distância da pessoa. Dulce fala que sua mãe está no céu, mas que o
amor entre elas continua o mesmo. Alessandra fala que Cecília também só mudou de casa e
de roupas, mas ela continua a mesma por dentro. Dulce explica que está cansada de
mudanças. Alessandra pergunta se pode voltar outro dia para conversarem mais, e Dulce diz
que sim.
Cecília arruma sua casa e lembra de Gustavo falando na noite anterior que ela é
muito especial. A campainha toca e ela atende a porta. É Doutor André. Cecília fica
preocupada e pergunta se aconteceu algo com Dulce. Doutor André tranquiliza-a e diz que o
motivo da visita é uma oferta de emprego como secretária em sua clínica. Cecília diz que só
tem experiência como professora, mas Doutor André fala que ela vai tirar de letra a função.
Cecília diz que vai pensar a respeito e Doutor André despede-se para voltar ao hospital.
No pátio do colégio, Frida conta a Bárbara e a Irmã Luzia sobre a confusão entre os
filhos de Inácio e Diana e seu irmão Luciano. Ela fala que seus pais exigem que Inácio e
Diana paguem os prejuízos causados ao condomínio. Irmã Luzia fala que se fosse Madre
Superiora jamais teria contratado um caseiro cheio de filhos e fala que torce para que a justiça
seja feita.
No quarto de Dulce, Gustavo pergunta à menina como foi o encontro com a
psicóloga. Dulce fala que gostou de Alessandra. Franciely traz o almoço de Dulce e fala a
Gustavo que Estefânia e Padre Miguel estão no andar debaixo esperando-o. Gustavo desce e
Franciely pergunta a Dulce se quer que ela convide Emílio e Juju para uma visita. A menina
diz que sim e fica animada.
No escritório da empresa Rey Café, Verônica diz a Cristóvão e Silvana que passou
no hospital para visitar Gustavo, mas que todos já haviam ido embora, pois Dulce recebeu
alta. Eles perguntam se ela sabe se ele vai ao escritório hoje, e ela diz que acredita que sim.
Silvana diz que recebeu uma ligação da secretária da empresária Noêmia Medeiros pedindo
para agendar uma reunião com Gustavo. Cristóvão fala que ela é dona de uma rede de hotéis
e que acabou de abrir uma unidade na cidade, e esse pode ser um ótimo negócio. Verônica diz
que vai checar a agenda de Gustavo. Silvana fica chateada com Verônica por não ter
agradecido a informação.

124
Flávio e Noêmia vão almoçar no food truck. Fátima atende à mesa dos dois. Flávio
apresenta Fátima a Noêmia como uma grande amiga que soube perdoá-lo em um momento
difícil. Fátima diz que não se recorda dessa situação, já que existem histórias que é melhor
esquecer. Eles fazem o pedido, e Fátima sai. Noêmia diz que já percebeu que ele abalou
muitos corações na cidade e fala para ele tomar cuidado, pois ela é ciumenta. Flávio ri sem
jeito.
Na sala de aula do Colégio Doce Horizonte, Valentina, Adriana e Lúcia conversam
sobre estarem com saudades de Dulce. Irmã Luzia entra na sala e já começa a dar sua aula.
Adriana pergunta se ela tem notícias de Dulce, e Irmã Luzia pede para que ela concentre-se
na aula. Bárbara e Frida falam para as meninas se acostumarem, pois Dulce vai demorar para
voltar ao colégio. Bárbara fala que, inclusive, elas deveriam pensar em uma nova
representante de turma, apontando para Frida. Irmã Luzia pede para que as meninas se
comportem.
No food truck, Fátima comenta com Vitor que Flávio deve estar planejando aplicar
um golpe em Noêmia. Noêmia recebe uma mensagem no celular e comemora ter conseguido
agendar uma reunião com Gustavo Lários no Rey Café. Flávio fica tenso.

Capítulo 182

O capítulo começa com uma reprise da cena final da exibição anterior, com Noêmia
falando que conseguiu agendar uma reunião com Gustavo, no Rey Café, e Flávio ficando
tenso.
Na sala da diretoria do colégio, Irmã Fabiana conta à Madre Superiora que Dulce
não consegue aceitar a nova vida de Cecília. Irmã Fabiana diz que se ela souber que Madre
Superiora, que é a autoridade máxima do colégio, respeita e entende a nova vida de Cecília,
talvez seja capaz de aceitar também. Madre Superiora concorda e aceita ir à casa de Dulce
conversar com a menina.
Gustavo encontra Estefânia e Padre Miguel na sala de sua casa. Ele diz que gostaria
de poder fazer mais alguma coisa por Dulce. Estefânia fala que esse sentimento de abandono
que Dulce está sentindo vai passar. Gustavo despede-se para ir ao Rey Café, e Estefânia e
Padre Miguel ficam na casa para cuidar da menina.
Na casa de Rosana, Miguel, Emilio, Zé Felipe, Juju, Zeca, Inácio e Diana falam
todos ao mesmo tempo. Rosana tenta colocar ordem no grupo para juntos pensarem em uma
solução para a confusão com os pais de Luciano. Rosana relembra que eles não sujaram o

125
condomínio inteiro, os meninos que fizeram algo errado roubando a caixa com a armadilha e
a gravação do videoclipe tinha autorização do condomínio. Inácio fala que ainda assim tem
medo pois segundo ele "sempre sobra para os mais fracos". Babi chega no apartamento e
junta-se ao grupo.
Noêmia despede-se de Flávio no food truck e fala que está ansiosa para o almoço
com a futura sogra no dia seguinte.
Madre Superiora liga para Estefânia e pergunta se pode fazer uma visita a Dulce
Maria. Ela explica o motivo, e Estefânia fica animada e autoriza.
Na casa de Rosana, Juju e Emílio, Babi conta que explicou tudo o que aconteceu aos
seus pais, e eles falaram com o síndico do condomínio. Babi fala que essa não foi a primeira
vez que Luciano e seus amigos aprontaram algo e colocaram a culpa nos outros. Diana
pergunta se eles vão ter que pagar algo, e Babi fala que só vão ter que limpar o local que
ficou sujo. Miguel, Zé Felipe e Emílio prontificaram-se, mas Babi explica que quem vai ter
que fazer isso é Luciano e seus amigos. Todos ficam aliviados. Juju aproveita o momento
para mostrar a primeira versão do videoclipe de Zeca editado.
Irmã Fabiana e Madre Superiora visitam Dulce Maria em sua casa. Elas conversam
com a menina e entregam os desenhos feitos por suas amigas a ela. Irmã Fabiana fala que elas
queriam visitá-la também, mas Dulce diz que não quer ser vista sem andar. Madre Superiora
aproveita para perguntar sobre Cecília. Dulce diz que ela não está mais com o uniforme de
Irmã. Madre Superiora diz que a mãe de Dulce também não usava o hábito. Dulce fala que
Estefânia também usa roupas comuns, exceto suas perucas coloridas. Irmã Fabiana ri e fala
que não consegue imaginar Cecília com as perucas coloridas de Estefânia. Dulce imagina a
cena. A menina fala que preferia quando Cecília era freira. Madre Superiora fala que Cecília
está buscando a sua felicidade e, por fim, consegue fazer com que Dulce aceite receber
Cecília. Irmã Fabiana e Madre Superiora ficam felizes e Irmã Fabiana atualiza Dulce sobre os
últimos acontecimentos do colégio.
Em casa, Rosana, Juju, Zeca, Miguel, Emilio, Zé Felipe, Inácio e Diana veem o
videoclipe e elogiam o resultado. Franciely chega no apartamento e convida as crianças a
fazerem uma visita a Dulce Maria. Elas ficam animadas e partem para o apartamento da
menina.
Irmã Fabiana e Madre Superiora encontram Estefânia e Padre Miguel na sala da
residência dos Lários e falam que Dulce aceitou ver Cecília. Empolgada, Estefânia liga para
Gustavo. No escritório do Rey Café, Gustavo atende e fica muito feliz com a notícia. Ele
comenta o acontecimento com Verônica, que também reage com felicidade.

126
Zeca, Juju, Emílio, Zé Felipe e Miguel visitam Dulce Maria em sua casa e animam a
menina.
Em sua casa, Cecília recebe uma ligação de Estefânia informando que Dulce aceitou
receber sua visita. Cecília e Fátima comemoram, e Cecília diz que vai fazer de tudo para
ajudar na recuperação de Dulce.
Flávio chega em casa e encontra Haydee com bobes no cabelo, máscara de argila no
rosto e fazendo as unhas. Ele questiona-a sobre o motivo dos tratamentos, e ela diz que se
prepara para parecer 20 anos mais jovem que Noêmia no encontro marcado para o dia
seguinte. Flávio explica que Noêmia é um grande investimento, já que ele a ajuda com
treinos na academia e a leva para passear, e ela paga a ele em troca. Flávio diz que se Haydee
fizer algo para abalar a relação deles no dia seguinte, ele vai se mudar com Noêmia. Haydee
fica tensa.
No quarto de Dulce, Gustavo prepara a menina para dormir. Dulce conta que
recebeu muitas visitas no dia e que ficou muito feliz. Ela diz que sabe que seus amigos nunca
vão abandoná-la e que sua mãe foi embora apenas porque Deus a chamou, e não porque quis.
Gustavo fica feliz em ouvir isso e cobre Dulce com o cobertor. A menina dorme e sonha com
sua mãe. No sonho, Dulce fala a Teresa que não gosta de ficar doente. Teresa explica que
para tudo existe remédio e que em breve ela estará boa. Dulce fala que sua psicóloga só
conversa com ela, e não passou remédios para ela tomar. Teresa explica que em alguns casos
o remédio está dentro de nós e que o melhor remédio para a tristeza é o amor e a
compreensão. As duas se abraçam.
Um novo dia começa e Irmã Fabiana e Irmã Rita acordam as meninas no dormitório
do colégio. Irmã Fabiana conta às meninas que Dulce já está em casa, que ela amou os
desenhos feitos por elas e que Cecília vai visitá-la hoje. As meninas dizem que querem visitar
Dulce também no final de semana, mas Irmã Fabiana diz que ainda não pode prometer nada,
pois tudo depende de um problema que precisa ser resolvido. Valentina, Adriana, Duda e
Lúcia ficam curiosas com o que pode ter acontecido.
Estefânia arruma Dulce em seu quarto para seu encontro com Cecília. Dulce
pergunta se Estefânia algum dia vai se cansar dela também. Estefânia fala que isso jamais
aconteceria.
Em casa, os pais de Luciano falam ao menino que passaram vergonha diante do
síndico defendendo-o, já que as câmeras de segurança mostraram Luciano e seus amigos
roubando a caixa da armadilha e abrindo-a. Luciano fica indignado, diz que não vai limpar a
sujeira e sai do cômodo revoltado. Michelle pergunta a Francisco se deve contratar alguém

127
para limpar o local, mas Francisco nega, falando que o menino deve fazer isso e usar o tempo
para refletir sobre o ocorrido.
Na sala da diretoria do colégio, Inácio agradece ao apoio da Madre Superiora diante
da confusão com os pais de Luciano e Frida. Madre Superiora diz que espera que Michelle e
Francisco tenham percebido que exigiam uma punição exagerada para os filhos de Inácio. Ela
ainda diz que se preocupa com Frida e com os exemplos dados por seus pais. Inácio diz que
não guarda rancor da situação. Madre Superiora fica feliz e aproveita para falar que vai
acompanhar Cecília em sua visita à casa de Dulce Maria. Inácio pede para que a Madre
Superiora fale a Cecília que Diana está com saudades. A Madre Superiora diz que vai passar
o recado e torce para que dê tudo certo no encontro entre Cecília e Dulce.
Dulce recebe Alessandra em sua casa. A menina diz que vai receber a visita de
Cecília e está com frio na barriga. Alessandra fala que é um bom sinal. Alessandra pergunta
se Dulce tem alguma foto de Cecília para ela ver.
Em sua casa, Fátima ajuda Cecília a se arrumar para o encontro com Dulce. A
campainha toca, e Verônica fala que Gustavo chegou para dar carona a Cecília. Ela diz para
Cecília se arrumar sem pressa, pois ela não se importa em fazer companhia a Gustavo. Fátima
e Cecília mostram-se incomodadas com a fala.
No quarto de Dulce, Alessandra vê uma foto de Cecília e diz que ela tem uma
carinha de anjo. Dulce fala que quem tem carinha de anjo é ela, já que é assim que sua mãe a
chama em seus sonhos. Alessandra pergunta a Dulce qual é a carinha de Cecília então. A
menina responde que Cecília tem cara de "um amor que a abandonou".
Gustavo conversa com Verônica enquanto aguarda Cecília terminar de se arrumar.
Ele pede a ela que tome conta do escritório durante sua ausência. Ela fala para ele não se
preocupar, que deve pensar apenas em Dulce no momento. Ele agradece muito o apoio dela e
de Cristóvão durante esse período no escritório. Ela diz que ele pode contar com ela tanto
dentro quanto fora do escritório. Os dois seguram as mãos um do outro. Cecília chega na sala
e mostra incômodo com a cena.

Capítulo 183

O capítulo começa com uma reprise da cena final da exibição anterior, com Cecília
chegando na sala de sua casa e mostrando incômodo ao ver Gustavo e Verônica segurando as
mãos.

128
Em seu quarto, Juju responde aos comentários deixados por internautas no
videoclipe de Zeca nas redes sociais. Emílio chama a irmã para irem para a escola, e ela diz
que só tem aula mais tarde. Emílio reclama que ela passa tempo demais no computador e
parte para a aula. Juju fica chocada ao ver o comentário de uma estação de rádio no vídeo de
Zeca, convidando os dois para uma entrevista em São Paulo.
Gustavo fica feliz ao ver Cecília e diz que ela está muito bonita. Ela agradece.
Fátima oferece um café, mas Cecília diz que só quer Dulce o mais rápido possível. Cecília e
Gustavo saem empolgados rumo ao encontro com Dulce.
Em sua casa, Rosana entra no quarto de Juju irritada e questiona por que ela não foi
para a aula. Juju fala que uma rádio de São Paulo comentou no vídeo de Zeca e convidou os
dois para uma entrevista. Rosana briga com Juju e fala que ela precisa equilibrar as coisas e
que não deve esquecer dos estudos. Juju fala que sua aula vai começar mais tarde na escola e
que já havia comentado isso com ela. Rosana pede desculpas. Juju continua empolgada
mexendo no computador.
Em sua casa, Haydee acorda Flávio. Eles falam sobre Noêmia. Haydee ainda se
mostra relutante em aceitar a relação dos dois. Flávio pede para que Haydee não fale sobre
Gustavo no almoço com Noêmia. Ele não quer que Noêmia saiba que sua irmã, Nicole, teve
uma relação que não acabou bem com o rapaz.
Irmã Fabiana e Madre Superiora chegam à residência dos Lários. Estefânia e Padre
Miguel recebem as duas com uma mesa farta de café da manhã. Estefânia diz que Gustavo foi
buscar Cecília, e Irmã Fabiana brinca se sai um casamento da dupla. Madre Superiora
pergunta de que casamento estão falando, e Estefânia despista falando que é sobre o seu.
No quarto de Dulce, Alessandra e a menina conversam. Alessandra vê uma foto de
Teresa e diz para Dulce que sua mãe era muito bonita. Dulce fala que ela cantava muito bem
também. Alessandra volta a perguntar sobre Cecília, mas Dulce diz que não quer mais falar
sobre ela, pois está nervosa com o reencontro. Dulce acaba admitindo que gostaria muito que
Cecília fosse sua segunda mãe, mas ela e seu pai não se entendem. Alessandra explica que
essa é uma decisão deles e que, mesmo que eles não formem uma família juntos, ela pode
cuidar de Dulce. Alessandra usa como exemplo o carinho e amor que Estefânia tem por
Dulce. Dulce agradece a Alessandra pela ajuda. Alessandra cobre Dulce com o cobertor para
que ela possa descansar um pouco mais.
Na sala de aula do Colégio Doce Horizonte, Diana dá uma aula sobre reciclagem e
ensina as meninas a fazerem uma caixa dos desejos. Adriana diz que vai colocar tudo de bom
que deseja para Dulce, e Valentina fala que vai fazer o mesmo. Lúcia pergunta para Diana

129
qual é o problema que Dulce tem que fez Irmã Fabiana ficar preocupada. Diana fala que,
apesar de Dulce estar em casa, ela ainda está em tratamento, e por isso não pode voltar às
aulas. Diana tranquiliza as meninas, falando que muito em breve ela estará completamente
recuperada.
Em sua casa, Juju sai do seu quarto para ir para a aula e vê sua mãe cheia de sacolas
na sala. Rosana explica que são roupas que ela vai devolver às lojas porque já escolheu sua
roupa para o concurso de beleza do moto clube. Rosana pede para que Juju faça um vídeo
dela no concurso, e Juju diz que faz em troca de um favor: levá-la e Zeca para a entrevista na
rádio em São Paulo. Rosana aceita o acordo.
Gustavo e Cecília chegam na casa. Madre Superiora fica emocionada ao ver Cecília
sem o hábito, e as duas se abraçam. Cecília aproveita a presença de todos para agradecer o
apoio da Madre Superiora em sua nova vida fora do convento. Ela agradece Irmã Fabiana
também, por todo o carinho.
No seu quarto, Dulce Maria acorda e se lembra do sonho que acabou de ter. Nele, ela
estava no pátio do colégio, de cadeira de rodas, e via Cecília, ainda vestida de noviça. Cecília
pedia para que Dulce andasse até ela para elas darem um abraço. Dulce conseguia se levantar
da cadeira e ficar em pé, mas quando ela estava se aproximando de Cecília, acabava caindo
no chão. Dulce volta à realidade com Estefânia batendo na porta do quarto. Dulce conta a
Estefânia o sonho ruim que teve e como Cecília desaparecia do nada. Estefânia tranquiliza a
menina e explica que sonhos ruins acontecem, mas que na realidade Cecília não havia sumido
e estava aguardando Dulce acordar para visitá-la. Estefânia sai do quarto para chamar Cecília.
Na sala de estar da residência dos Lários, Franciely vê Cecília sem o hábito e fica
impressionada com a sua beleza. Franciely comenta que se fosse bonita assim teria uma fila
de homens esperando para dançar com ela no samba. Silvestre repreende Franciely. Franciely
pede perdão à Madre Superiora e ao Padre Miguel. Estefânia fala que Dulce já está
aguardando Cecília.
Durante a aula de artes de Diana no colégio, Frida e Bárbara fazem uma caixa
desejando ter mais dinheiro. Frida comenta com Bárbara que está achando Diana muito feliz
para quem não tem dinheiro para pagar o estrago que os filhos fizeram no condomínio em
que ela mora. As duas riem e Diana pergunta se elas estão se divertindo. Frida fala a Diana
que ela e Bárbara estão pensando em dar as caixas delas para a família de Diana, já que elas
já têm dinheiro. Diana fala que elas não precisam se preocupar, pois ela tem desejos bem
diferentes e sua família é rica em amizades.

130
Cecília entra no quarto de Dulce. Dulce fica com os olhos cobertos pelas mãos e
pede para que Cecília volte a ser sua “Irmãzinha”. Cecília explica que o hábito é uma roupa
sagrada e não uma fantasia, por isso não pode tirar e colocar quando quiser. Dulce descobre
os olhos e fala que Cecília está bem diferente. Cecília fala que por dentro continua a mesma.
Dulce fala que gostava mais de como ela era antes.
Flávio liga para Noêmia para desmarcar o almoço alegando que sua mãe está
passando mal. Noêmia fala que é manha e diz que está pronta para se tornar a melhor amiga
de Haydee. Ele fala que ela não tem amigos, apenas inimigos. Ela ignora o que foi dito por
Flávio e fala que já está no aguardo dos dois no restaurante. Ao desligar a ligação, o ajudante
de Noêmia pergunta para ela o que tem na sacola que ele carrega. Ela fala que tem um
cachecol de tricô de presente para sua futura sogra. Ela fala que ela já é muito idosa e isso vai
ajudar ela a não pegar um resfriado.
No quarto de Dulce, Cecília pergunta se a menina ainda gosta dela. Dulce diz que
sim. Cecília pergunta se Dulce é capaz de perdoar ela. Antes de responder, Dulce conta a
Cecília sobre o sonho que acabou de ter. Cecília se levanta da cama e pergunta a Dulce se ela
consegue andar até ela.
Na sala de estar da residência dos Lários, Estefânia, Padre Miguel, Madre Superiora,
Irmã Fabiana e Gustavo aguardam apreensivos. Já na cozinha, Silvestre continua criticando
Franciely pela falta de delicadeza ao falar do novo visual de Cecília. Franciely diz que não
vai falar mais nada.
No Rey Café, Verônica vai à sala de Cristóvão entregar documentos. Ela aproveita
para perguntar ao rapaz se ele tem notícias de Gustavo e ele diz que não. Cristóvão pergunta a
Verônica se ela está apaixonada por Gustavo.
No quarto de Dulce, Cecília fala que está chamando a menina como no sonho que
ela teve em que estava andando. A menina fala que no sonho ela era a “Irmã Cecília” e pede
para que ela volte a ser o que era antes. Cecília diz que vai estar por perto sempre para cuidar
dela, mas Dulce acaba pedindo para Cecília ir embora de sua casa. Cecília chora e deixa o
quarto.
Cecília chega chorando na sala e explica que Dulce disse que só vai se recuperar se
ela voltar a ser noviça. Cecília pede perdão a todos e diz que fracassou.

Capítulo 184

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O capítulo começa com uma reprise de algumas cenas da exibição anterior, com
destaque para a cena final em que Cecília chega na sala chorando e fala a todos que Dulce
disse que só vai se recuperar se ela voltar a ser noviça.
No Rey Café, Verônica admite a Cristóvão ter sentimentos por Gustavo, mas diz que
não vai tentar nada no momento, pois Dulce precisa de toda a atenção de seu pai. Cristóvão
fica feliz e fala que apoia a relação.
No quarto de Dulce, Estefânia pergunta à menina se ela realmente percebeu alguma
diferença em Cecília. Dulce fala que apenas visualmente. Estefânia fala que não se deve
julgar um livro pela capa e fala que muitas pessoas acham ela estranha por usar roupas e
perucas combinando todos os dias.
No pátio do colégio, as meninas brincam de telefone sem fio com a Irmã Ana.
Enquanto isso, Frida e Bárbara conversam com Irmã Luzia sobre a confusão no condomínio
envolvendo Luciano e como a família de Inácio e Diana saiu impune da história.
Emílio e Juju chegam em casa para o almoço. Emílio vê o delivery que Rosana
pediu e fala que vai pra casa de Dulce para brincar e almoçar, já que a comida de Franciely é
bem melhor que aquela. Rosana conversa com Juju sobre sua ansiedade com o concurso de
beleza, e Juju volta a falar que não aprova a roupa que a mãe escolheu com Franciely.
Em sua casa, Diana prepara o almoço. Pascoal chega com uma cesta de vegetais e
Diana desabafa com ele sobre o comportamento de Bárbara e Frida. Cecília chega com Irmã
Fabiana para uma visita. Diana fica radiante em ver a amiga.
Em sua casa, Flávio aguarda na sala sua mãe terminar de se arrumar para o almoço
com Noêmia. Haydee chega na sala vestindo trajes jovens e despojados e usando gírias
adolescentes. Flávio pede para que ela se troque, mas ela diz que vai demorar muito. Os dois
saem de casa.
No quarto de Dulce, ela e Emílio almoçam em cima da cama. Estefânia parabeniza
os dois por terem comido tudo, mas Dulce mostra preocupação em ter que almoçar para o
resto da vida na cama. Emílio fala que precisa falar em particular com Dulce e a menina pede
para que Estefânia leve os pratos para a cozinha. Emílio conta para Dulce sobre a armadilha
com esterco que eles aprontaram para Luciano e seus amigos.
Na casa de Diana, Cecília fala a amiga que se soubesse que sua decisão em
abandonar a vida religiosa causaria tantos estragos, jamais teria feito. Diana fala que estrago
seria se ela tivesse continuado infeliz no convento. Diana conforta Cecília sobre seu
sentimento de culpa por tudo que aconteceu e Irmã Fabiana retorna ao colégio.

132
No Rey Café, Gustavo mostra-se preocupado com a reação negativa de Dulce ao
reencontro com Cecília. Cristóvão e Verônica o confortam. Os dois sugerem um almoço fora
para que Gustavo distraia sua cabeça. Ele concorda.
No refeitório do colégio, as alunas almoçam. Irmã Fabiana senta-se ao lado das
amigas de Dulce. Adriana e Valentina perguntam como foi o reencontro de Dulce e Cecília, e
Irmã Fabiana mente, falando que deu tudo certo. Irmã Luzia ouve de longe e pergunta a Irmã
Ana o que Madre Superiora disse sobre o encontro. Irmã Ana revela que não foi nada bom.
Irmã Luzia fala que todos mimam muito Dulce Maria e que, se ela fosse a diretora do
colégio, tudo seria diferente.
Em sua casa, Diana fala que Cecília tem que pensar um pouco mais em si mesma e
procurar uma ocupação. Cecília fala que o Doutor André ofereceu uma vaga de emprego no
hospital como secretária. Diana fala que ela deve aceitar a oferta. Cecília diz que tem medo
dele interpretar isso de outra forma, já que é perceptível que ele tem sentimentos por ela.
Diana pergunta se ela tem medo de o Doutor André interpretar de outra forma ou tem medo
do que Gustavo iria pensar. Cecília fala que Gustavo, no momento, só tem cabeça para Dulce.
Diana não se mostra convencida com o que a amiga diz.
No restaurante, Noêmia encontra Flávio e Haydee. Noêmia pergunta a Haydee se ela
está fantasiada e entrega o cachecol que comprou de presente. Noêmia justifica o presente
falando que é para Haydee se proteger do frio e não pegar uma pneumonia, doença perigosa
na idade dela. Haydee pergunta se o cachecol era dela. Flávio esconde o rosto de vergonha.
No quarto de Dulce, a menina e Emílio se divertem e dão risadas com a história da
armadilha de esterco.
No restaurante, Noêmia e Haydee continuam trocando provocações relacionadas à
idade. Flávio vê Gustavo, Verônica e Cristóvão chegarem ao local. Flávio diz a Noêmia e
Haydee que vai ao banheiro.
Zeca, Miguel e Zé Felipe chegam em casa e veem Cecília sem o hábito. Todos
elogiam ela. Zé Felipe aproveita para perguntar como Dulce está, e Diana desconversa.
No restaurante, Noêmia tenta uma trégua com Haydee. Haydee fala que não quer ver
seu filho com alguém que tem idade para ser sua avó. As duas voltam a discutir, dessa vez em
pé. De longe, Gustavo, Verônica e Cristóvão veem a cena e Gustavo reconhece a mãe de
Nicole. Flávio sai do banheiro e passa na mesa de Gustavo para cumprimentá-lo. Ele
relembra que eles não se falam desde o incidente de Nicole. Gustavo agradece o que Flávio
fez na ocasião e diz que, se não fosse por ele, teria casado com sua irmã. Flávio diz que nem
ele, nem sua mãe têm contato mais com Nicole. Ele se despede e segue em direção à sua

133
mesa. Uma música tensa extradiegética toca ao fundo e Gustavo, Verônica e Cristóvão
trocam olhares.
Franciely chega ao quarto de Dulce Maria e faz mímicas para que ela e Emílio saiam
do quarto para ela limpar. Ela continua com o voto de silêncio que fez a Silvestre no dia
anterior e só fala quando Silvestre chega no quarto e pergunta o que está acontecendo.
Silvestre leva Dulce no colo para outro cômodo.
No pátio do colégio, Adriana, Lúcia, Valentina e Duda chamam Irmã Fabiana para
uma conversa séria. As meninas suspeitam que Irmã Fabiana esteja escondendo algo delas.
Irmã Fabiana tenta desconversar, mas as meninas ficam bravas e vão embora.
No restaurante, Flávio tenta controlar a discussão entre Haydee e Noêmia, sem
sucesso.
Na casa de Diana, Cecília se despede da amiga e de seus meninos. Diana recomenda
que Cecília busque ajuda com a psicóloga de Dulce. Cecília acha uma boa ideia.
No dormitório do colégio, Irmã Luzia fala que Irmã Fabiana está mentindo para
Valentina, Adriana e Lúcia e diz que elas devem saber da verdade, mesmo que isso traga
sofrimento. Irmã Luzia faz as meninas prometerem não falar para ninguém que foi ela que
passou a informação e diz que Dulce Maria não pode mais andar. As meninas ficam
chocadas.
Juju vai buscar Emílio na casa de Dulce. Ela aproveita para falar com Dulce, Emílio
e Estefânia que o clipe de Zeca está sendo um sucesso na internet e que uma rádio de São
Paulo convidou os dois para uma entrevista. Todos ficam felizes com a notícia. Emílio e Juju
vão embora. Estefânia pergunta se Dulce se divertiu e se ela quer que suas amigas do colégio
a venham visitar. Dulce fala que se divertiu, mas que não quer mais receber visitas, pois é
chato ter que explicar toda vez que ela não consegue mais andar.
Adriana chora com a notícia de Dulce. Valentina e Lúcia tentam acalmá-la. Madre
Superiora entra no dormitório e pergunta o que está acontecendo.

Capítulo 185

O capítulo começa com uma reprise da cena final da exibição anterior, com Madre
Superiora chegando no dormitório e vendo Adriana chorando junto com Valentina, Lúcia e
Irmã Luzia. Madre Superiora pergunta o motivo do choro de Adriana, e a menina diz que não
está chorando e que algo deve ter entrado em seu olho. Madre Superiora diz às meninas que
seus pais já estão esperando por ela. As meninas saem, e Madre Superiora questiona Irmã

134
Luzia se está tudo bem mesmo. A Irmã diz que sim e sai do dormitório também. Madre
Superiora fica desconfiada.
No quarto de Dulce, Estefânia pergunta novamente à menina se ela não quer receber
suas amigas em casa no fim de semana. A menina nega e fala que tudo o que mais quer é
voltar a andar. Estefânia fala que ela deve contar tudo que sente a Alessandra para se
recuperar o mais rápido possível. Dulce pergunta se vai ficar o resto da vida sem andar, e
Estefânia relembra que os médicos disseram que ela vai se recuperar. Estefânia ainda diz que
mesmo com limitações físicas ela pode ser feliz. Dulce lembra das crianças que vê na
televisão no Teleton. Gustavo chega em casa, e Dulce fica feliz. Ela diz que quer ter seu pai e
sua tia ao seu lado para sempre.
Na delegacia, Delegado Peixoto e Policial Ribeiro recebem a visita da comissão do
encontro de moto clubes que vai acontecer na cidade no próximo fim de semana. O grupo de
homens mal encarados pergunta se está tudo certo com a organização do local do evento, e
Delegado Peixoto confirma. Um dos membros vê na parede uma foto de Rosana com seu
triciclo e a reconhece da inscrição no concurso de beleza do evento. O homem pergunta a
Delegado Peixoto de onde eles conhecem ela.
Luciano chega em sua casa após realizar a limpeza no local em que a caixa da
armadilha foi aberta no condomínio. Frida briga com o irmão falando que agora que ele
arranjou confusão com a família do caseiro da escola vai sobrar para ela também. Luciano
fala que ela não precisa se preocupar, pois ele já está planejando vingança contra os meninos.
Na delegacia, o representante da comissão de moto clubes fala que Rosana é sua
favorita no concurso de beleza. Policial Ribeiro fala que ela é a futura esposa de Delegado
Peixoto. O representante diz jamais imaginaria que ela namorasse alguém como Delegado
Peixoto e diz que quer ser convidado para o casamento.
Em sua casa, Gustavo coloca Dulce para dormir. Dulce fala que gostou de receber a
visita de Alessandra e Emílio, mas que achou estranho ver Irmã Cecília apenas como Cecília.
A menina fala que precisa dormir, pois nos seus sonhos é mais feliz do que acordada.
Gustavo diz a Dulce para não falar isso. Ele diz que ela precisa ficar acordada para brincar,
conversar com suas amigas e conhecer pessoas. Gustavo completa falando que quanto mais
ela vive, mais sonhos bons tem. Ele dá um beijo de boa noite na menina e sai do quarto.
Deitada em sua cama, Dulce beija o porta-retrato com a foto de sua mãe e cai no sono. Ela
sonha com Teresa vestida de noviça. No sonho, Teresa diz que as roupas não mudam a
personalidade das pessoas e quem ama de verdade está sempre perto. As duas se abraçam.

135
Em sua casa, Frida fala para sua mãe que aposta que Dulce não foi atropelada e que
está fingindo estar doente para não ir para o colégio. Michelle fala para a menina que acha
que Gustavo não deveria permitir que Dulce seja tão íntima das freiras e noviças do colégio,
já que eles são de uma classe social mais abastada. Michelle também fala que se Frida e
Dulce fossem amigas, seria ótimo para os negócios de seu pai. Frida fala que aceita fazer uma
visita a Dulce só para ver com os próprios olhos se a menina está doente mesmo ou não.
Luciano diz que vai acompanhá-la.
Em casa, Cecília conta a Fátima e Verônica que vai se encontrar com a terapeuta de
Dulce no dia seguinte. Fátima pergunta se ela aceitou a proposta de emprego de Doutor
André, e ela diz que não, que no momento só consegue pensar na recuperação de Dulce.
Juju e Zeca fazem uma videochamada, e ela conta para o menino que ele foi
convidado para dar uma entrevista em uma estação de rádio sertaneja de São Paulo. Juju fala
que já conversou com sua mãe, e ela concordou em levá-los de carro. O menino fica radiante.
Um novo dia começa. No centro da cidade, Vitor e Fátima abrem o food truck e
ficam empolgados com o movimento do fim de semana devido ao evento do moto clube.
Delegado Peixoto e Policial Ribeiro chegam no food truck. Policial Ribeiro pede desculpas a
Fátima por ter usado ela para fazer ciúmes em Franciely. Fátima aceita as desculpas.
Delegado Peixoto informa a Vitor que está tudo certo com a organização do evento do moto
clube, mas pede que ele entre em contato caso veja algo de errado acontecendo. Delegado
Peixoto comenta que está confiante com a participação de Rosana no concurso de beleza do
evento.
No quarto de Dulce, Franciely acorda a menina em silêncio. A menina pergunta se
Franciely perdeu a voz, e ela explica que fez uma promessa a Silvestre depois de deixar
Cecília constrangida no dia anterior, falando sobre sua beleza, mas não consegue mais ficar
quieta. Dulce pergunta a Franciely se ela consegue guardar um segredo, e ela diz que sim.
Dulce fala que achou Cecília muito bonita sem o hábito. Franciely dá o café da manhã de
Dulce e diz que, se ela quiser, pode chamar Cecília para uma nova visita. Dulce fala que acha
que Silvestre está certo em pedir para que Franciely fale menos. Franciely fica quieta
novamente.
Em casa, Rosana apressa Juju e Emílio para que eles se arrumem para sair. Ela
aguarda os dois ficarem prontos para irem ao centro da cidade para ver o local do evento do
moto clube.
Cecília chega ao consultório de Doutor André e conhece Alessandra. O Doutor
André deixa as duas a sós.

136
Em seu quarto, Dulce conversa com Gustavo, Estefânia e Franciely. Gustavo fala
que vai levar Dulce para passear após sua conversa com Alessandra. A menina pergunta se
pode convidar Emílio, e Gustavo autoriza. Estefânia ajuda Dulce a escolher um vestido para o
passeio.
No jardim do colégio, Irmã Fabiana e Madre Superiora conversam sobre a
recuperação lenta de Dulce. Irmã Fabiana sugere que Cecília volte a lecionar no colégio,
mesmo não sendo mais noviça. Ela diz que Cecília se mantendo próxima de Dulce como
professora pode ajudar na recuperação da menina. Madre Superiora pensa sobre a ideia.
De volta ao consultório, Cecília tem uma ideia para ajudar Dulce em sua
recuperação. Alessandra acha a ideia ótima. Alessandra explica que sente que Dulce não quer
tentar voltar a andar e voltar ao colégio, já que Cecília não estará lá para fazer companhia
todos os dias. Cecília fala que faz sentido. Alessandra fala que está indo visitar a menina e,
dependendo de como ela estiver, já coloca o plano de Cecília em prática. Cecília agradece,
feliz.
Solange vai à residência dos Lários tirar satisfações com Silvestre sobre o quadro
que ele deu de presente a Vitor e Estefânia. Solange critica o quadro e fala que ela deveria ter
aprovado a pintura, já que o presente era em nome dos dois. Silvestre fala que Solange está
com pensamentos muito limitados, assim como Franciely. Franciely ouve e chega na sala
indignada. Ela e Silvestre discutem e ela diz que está se dando um dia de folga.
Em sua casa, Michelle chama Frida para ir visitar Dulce Maria. Francisco fala que
Luciano deve ir junto. Frida é contra. Francisco fala que o garoto pode aproveitar a ida ao
prédio para pedir desculpas pela confusão com a família da Rosana. Francisco assume não
gostar deles, mas diz que a atitude pode ser bem vista por Gustavo e isso pode ajudar na
aproximação deles com a família Lários. Michelle concorda.
Rosana, Juju e Emílio andam pelo centro da cidade e encontram alguns membros do
moto clube. O representante do grupo cumprimenta Rosana e fala que conversou com seu
noivo. Rosana fala que ele não é seu noivo, é apenas seu namorado. O homem fala que o
Delegado Peixoto tem cara de durão, mas é simpático. Emílio e Juju deixam sua mãe
conversando com o homem. O homem diz que na conversa com Delegado Peixoto ele
confessou que ela tem grandes chances de ganhar, já que está bem "gata". Rosana ri sem
jeito, e os dois se abraçam. Emílio e Juju voltam para perto da mãe nesse momento com o
Delegado Peixoto. O Delegado Peixoto pergunta o que os dois estão fazendo e fala que não
pega bem para uma mulher comprometida fazer se agarrando com outro homem no meio de
uma praça. Os dois se afastam, e o homem vai embora.

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Alessandra chega para visitar Dulce em sua casa. Dulce conta sobre o encontro com
Cecília. Ela diz que Cecília está muito bonita, mas que ela não quer mais ser sua amiga e nem
voltar ao colégio. Alessandra fala que os amigos Dulce pode escolher, mas o colégio é uma
obrigação. Ela relembra a menina que ela pode ver Cecília sempre que quiser fora da escola.
Dulce reflete sobre isso.
Em sua casa, Cecília recebe Irmã Fabiana e Madre Superiora. Madre Superiora
pergunta para Cecília se ela aceita voltar para o colégio como professora.

Capítulo 186

O capítulo começa com Solange e Silvestre conversando na cozinha da residência


dos Lários. Solange fala que Silvestre foi muito arrogante com Franciely. Ele se defende
falando que disse apenas a verdade. Solange fala que ele implica tanto com Franciely que ela
acha que ele tem sentimentos por ela. Silvestre fica indignado e sai para fazer compras,
deixando Solange encarregada do preparo do almoço.
Em sua casa, Cecília reage com muita felicidade à proposta de Madre Superiora. Ela
diz que aceita voltar ao colégio como professora. Irmã Fabiana e Madre Superiora ficam
animadas. Cecília fala que o convite vem em boa hora e pode ajudar em uma ideia que ela
teve com Alessandra para ajudar na recuperação de Dulce. Irmã Fabiana pergunta sobre a
ideia, mas Cecília fala que não quer falar muito sobre para não comemorar antes da hora.
Irmã Fabiana e Madre Superiora se despedem para retornar ao colégio e Cecília fica radiante
em casa.
No centro da cidade, Rosana e Delegado Peixoto discutem. Rosana fala que nunca
deu liberdade para Delegado Peixoto tratar os amigos dela da forma que tratou e que sua
postura não era digna de um delegado ou de um namorado. Delegado Peixoto fala que a
postura de Rosana também não era de namorada ou síndica de prédio. Rosana fala que dessa
forma é melhor ele não aparecer no concurso. Juju fala que é melhor ela não participar
também para não dar confusão. Emílio fala que Delegado Peixoto precisa ver a roupa que
Rosana vai usar. Rosana fica irritada e fala que os filhos estão de castigo. Eles vão embora
assim como Delegado Peixoto.
Frida e Luciano chegam à residência dos Lários e são recebidos por Solange, que
está cuidando da casa enquanto o Mordomo Silvestre está no centro da cidade. Solange diz
que vai avisar a Dulce sobre a presença deles. Frida fala que não precisa, pois pretende fazer
uma surpresa. Solange entra no quarto de Dulce e interrompe a conversa dela com Alessandra

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para informar que a menina tem uma visita. Dulce pergunta se é Cecília, e Solange nega, mas
diz que é alguém do colégio. Alessandra fala para a menina que não vê motivos para ela não
receber a visita. Dulce fala para Solange que a visita pode vir a seu quarto. Solange e
Alessandra saem do cômodo.
Frida e Luciano chegam ao quarto de Dulce acompanhados de Solange. Dulce fala
que pensou que seria uma surpresa boa e pergunta aos dois se eles vieram rir da cara dela.
Solange pergunta se eles não são seus amigos. Estefânia entra no quarto para ver quem
chegou e cumprimenta os dois, séria. Solange se explica falando que pensou que os meninos
fossem amigos de Dulce. Estefânia fala que Solange pode ir para a cozinha que ela cuida da
situação. Estefânia fala que achou gentil da parte deles irem visitá-la. Dulce fala que se
quisesse visitas chamaria suas amigas de verdade. Estefânia fala a Frida e Luciano que a
menina não está disposta para receber visitas. Dulce fala para a tia colocar uma vassoura atrás
da porta para eles não voltarem mais. Luciano pede para tomar um copo d'água antes deles
irem embora. Estefânia vai buscar e deixa os dois a sós com Dulce. Dulce pergunta se
Luciano ainda está fedendo da armadilha com o esterco feita por seus amigos Emílio e Zé
Felipe contra o menino. Ele fala que saindo dali vai resolver essa história de uma vez por
todas com Juju e Emílio. Frida pergunta por que Dulce não sai da cama. Dulce fala que é por
preguiça. Estefânia volta ao quarto e Frida pergunta quando Dulce volta ao colégio. A menina
responde que em breve. Estefânia pede para que os dois deixem Dulce sozinha. Os dois vão
embora. Dulce fala a sua tia que Frida percebeu que ela não consegue mexer as pernas e ficou
feliz.
Gustavo vai ao quarto de Dulce e pergunta o que aconteceu. A menina diz que Frida
e Luciano foram visitá-la e agora ela está com medo de virar piada no colégio por não
conseguir andar. Gustavo diz que Solange não sabia que os dois não eram seus amigos e fala
que tem certeza que suas amigas de verdade estão torcendo para ela se recuperar o mais
rápido possível e voltar ao colégio. Dulce fala que não pode voltar ao colégio dessa forma.
Em sua casa, Rosana briga com Juju e Emílio e diz que eles estão proibidos de sair
do apartamento. Rosana deixa os dois sozinhos e volta ao centro da cidade. Juju fala que
dessa vez concorda com a mãe que eles passaram dos limites. Os dois têm a ideia de fazer o
almoço como pedido de desculpas e também alguns cartazes motivacionais para ela se sentir
confiante para o concurso de beleza.
Em sua casa, Cecília liga para Alessandra para falar que vai voltar a ser professora
no colégio Doce Horizonte e que o plano das duas tem tudo para dar certo. Ela desliga o
telefone e comenta com Verônica que está tudo dando certo. Verônica pergunta se Gustavo já

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sabe da notícia e Cecília diz que não, que quer pegar todos de surpresa. Cecília se despede de
Verônica e sai de casa.
Frida e Luciano chegam ao quarto de Dulce acompanhados de Solange. Dulce fala
que pensou que seria uma surpresa boa e pergunta aos dois se eles vieram rir da cara dela.
Solange pergunta se eles não são seus amigos. Estefânia entra no quarto para ver quem
chegou e cumprimenta os dois, séria. Solange se explica falando que pensou que os meninos
fossem amigos de Dulce. Estefânia fala que Solange pode ir para a cozinha que ela cuida da
situação. Estefânia fala que achou gentil da parte deles irem visitar Dulce. Dulce fala que se
quisesse visitas chamaria suas amigas de verdade.
No foodtruck, o Policial Ribeiro pede desculpas novamente a Fátima. Ela fala que é
a terceira vez naquele dia que ele pede desculpas a ela e que está tudo bem entre os dois.
Franciely chega para falar com Policial Ribeiro e Fátima diz que não quer confusão.
Franciely pergunta a Policial Ribeiro se ele quer namorar com ela. Policial Ribeiro gagueja,
surpreso.
No quarto de Dulce, Estefânia fala a Frida e Luciano que a menina não está disposta
para receber visitas. A menina fala para a tia colocar uma vassoura atrás da porta para eles
não voltarem. Luciano pede apenas para tomar um copo d'água antes de ir embora. Estefânia
vai buscar e deixa os dois a sós com Dulce. Dulce pergunta se Luciano ainda está fedendo da
armadilha com o esterco. O menino fala que saindo dali vai resolver essa história de uma vez
por todas com Juju e seu irmão. Frida pergunta porque Dulce não sai da cama. Dulce fala que
é por preguiça. Estefânia volta ao quarto e Frida pergunta quando Dulce volta ao colégio. A
menina responde que em breve. Estefânia pede para que os dois deixem Dulce só. Os dois
vão embora. Dulce fala a sua tia que Frida percebeu que ela não consegue mexer as pernas e
ficou feliz.
No foodtruck, o Policial Ribeiro fala que namorar com Franciely é tudo que ele mais
quer. Franciely pergunta se ele vai parar de dar flores para outras mulheres e ele fala que só
fez isso para chamar sua atenção, principalmente depois de ter sido trocado por Silvestre.
Franciely fala que só fez isso para não perceber seu emprego. Franciely fala que eles vão
namorar em segredo por um tempo, antes dela comunicar Silvestre. Policial Ribeiro aceita.
Os dois se beijam.
Em casa, enquanto Juju e Emílio decidem o que preparar para o almoço, a
campainha toca. Emílio atende e recebe Luciano e Frida. Os dois falam que vieram em paz e
Luciano diz que só quer pedir desculpas. Juju e Emílio não acreditam. Luciano pergunta se
eles podem entrar.

140
Gustavo vai ao quarto de Dulce e pergunta o que aconteceu. A menina diz que Frida
e Luciano foram visitá-la e agora ela está com medo de virar piada no colégio por não
conseguir andar. Gustavo diz que Solange não sabia que os dois não eram seus amigos e fala
que tem certeza que suas amigas de verdade estão torcendo para ela se recuperar o mais
rápido possível e voltar ao colégio. Dulce fala que não pode voltar ao colégio dessa forma.
Estefânia distrai a menina com um jogo no tablet e conversa com Gustavo no canto do
quarto.
Na cozinha da residência dos Lários, Silvestre arruma as compras com Solange e ela
se explica sobre o ocorrido. Silvestre fala que ela não tem culpa e que ele não deveria ter
deixado ela sozinha em casa. Franciely chega na cozinha animada falando que sua folga foi
ótima. Solange pergunta o que aconteceu mas Franciely apenas canta e dança. Silvestre fica
irritado.
Luciano e Frida entram na casa de Juju e Emílio. O menino pede desculpas
novamente pela confusão no dia da gravação do videoclipe de Zeca e pergunta se eles podem
encerrar o assunto. Juju pergunta se Luciano vai parar de implicar com Zeca, e Emílio
pergunta o mesmo para Frida em relação a Dulce. Luciano e Frida confirmam. Luciano
pergunta se o videoclipe ficou bom, e Juju diz que sim, inclusive, ela e Zeca foram
convidados para dar uma entrevista em uma rádio. Luciano e Frida falam que precisam ir
embora. Juju acompanha os dois até a porta. Juju e Emílio comentam que acharam tudo
muito estranho e suspeito.
Cecília chega à residência dos Lários e é recebida por Estefânia e Gustavo. Cecília
conta que Madre Superiora propôs que ela voltasse a ser professora no colégio. Ela também
conta aos dois que teve um encontro com Alessandra e juntas tiveram uma ideia para fazer
com que Dulce a perdoe. Gustavo e Estefânia ficam felizes.
No gramado do colégio, Inácio, Zeca, Zé Felipe, Miguel, Pascoal e alguns amigos
jogam uma partida de futebol.
Em sua casa, Flávio conversa com Noêmia no telefone. Ele diz que precisa desligar,
pois está sentindo um forte cheiro de queimado. Flávio sai do seu quarto e, ao chegar na sala
da casa, vê sua mãe colocando fogo no cachecol que ganhou de Noêmia. Haydee fala que até
para escolher mulher para dar golpe Flávio já teve mais bom gosto. Flávio fala que Noêmia é
rica e é isso que importa. Haydee fala que prefere uma nora pobre. Flávio confere a
temperatura da mãe colocando sua mão na testa dela. Ele diz que ela não está bem e que se
ela continuar desse jeito, ele vai interná-la. Haydee fala que ele ainda não viu nada.

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Na cozinha da residência dos Larios, Solange fala para Silvestre que vai comprar
outro presente de casamento para Vitor e Estefânia e que quer o dinheiro que deu para ajudar
na compra das tintas e da tela de volta. Ela vai embora, e Silvestre resmunga sozinho.
Franciely chega na cozinha e Silvestre manda ela começar a fazer comida.
Em seu quarto, Dulce brinca de boneca. Estefânia chega e fala que Cecília veio
visitá-la. Estefânia insiste que é um assunto importante. Dulce aceita receber Cecília, e
Estefânia sai do quarto para chamá-la.

Capítulo 187

O capítulo começa com a partida de futebol no gramado do colégio, jogada por


Inácio, Zeca, Zé Felipe, Miguel, Pascoal e alguns amigos. Inácio pede para que Pascoal, que
está como juiz, dê o cartão vermelho para ele, pois ele está cansado e não tem energia para
acompanhar as crianças. Pascoal se recusa, e Inácio pega seu apito de juiz e seus cartões,
assumindo a função. Pascoal entra em campo no lugar de Inácio.
Cecília bate na porta do quarto de Dulce e pergunta se pode entrar. Dulce autoriza.
Cecília fala que veio pedir um conselho para a menina. Ela explica que recebeu duas
propostas de emprego: uma como professora em um colégio em outra cidade e outra para
continuar como professora no colégio Doce Horizonte. Cecília quer saber qual a menina acha
que ela deve aceitar. Ela diz que, caso aceite a primeira proposta, vai ter que morar bem
longe, mas isso pode ser bom, já que Dulce não quer mais a ver. Dulce pergunta se caso ela
volte a ser professora no colégio Doce Horizonte elas vão se ver todos os dias. Cecília diz que
sim, mas ela não vai voltar a usar o hábito e não vai poder colocar Dulce para dormir todas as
noites, já que vai precisar voltar para a casa. Dulce fica pensativa.
Flávio encontra Noêmia no restaurante da cidade. Flávio conta a Noêmia que sua
mãe queimou o cachecol que ela lhe deu de presente. Ele diz que está preocupado com
Haydee, pois ela nunca teve tanto ciúmes de um namoro quanto agora. Noêmia fala para
Flávio informar a Haydee que ela irá jantar na casa dos dois para elas terem uma conversa
séria.
No gramado do colégio, a partida de futebol continua, agora com Inácio como juiz.
Em casa, Juju e Emílio terminam o almoço e conversam sobre a visita estranha de
Luciano e Frida. Rosana chega em casa e fica surpresa com a mesa posta e o cheiro de
comida. Juju e Emílio falam que o almoço é um pedido de desculpas pelo comportamento dos
dois mais cedo naquele dia. Rosana fica feliz, mas fala que está receosa com o concurso, pois

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viu as outras candidatas e elas são muito fortes. Juju fala que vai ser difícil alguém ganhar de
Rosana e conta que está mobilizando uma torcida nas redes sociais. Rosana fica mais
confiante.
Na diretoria do colégio Doce Horizonte, Madre Superiora e Irmã Fabiana aguardam
ansiosas notícias de Cecília falando se o plano com Dulce deu certo. O telefone toca, e Irmã
Fabiana atende. Quem liga é a mãe de Adriana. Irmã Fabiana fala a Madre Superiora que a
mãe está dizendo que a menina não para de chorar desde que descobriu que Dulce não
consegue mais andar. Madre Superiora pergunta a Irmã Fabiana como Adriana descobriu essa
informação.
Irmã Fabiana diz que não sabe e passa o telefone a Madre Superiora. Ela conversa
com a mãe de Adriana enquanto Irmã Fabiana come biscoitos.
No quarto de Dulce, Cecília pergunta para a menina o que deve fazer, e Dulce deseja
uma boa viagem a ela. Cecília fica triste e pergunta se pode ao menos ligar de vez em quando
para saber como a menina está. Ela diz que pode. Cecília dá um beijo de despedida em Dulce,
chorando, e sai do quarto. Dulce chora sozinha em sua cama.
Na diretoria do colégio, Madre Superiora desliga o telefone e diz a Irmã Fabiana que
a mãe de Adriana contou que Valentina e Lúcia também já sabem que Dulce não consegue
andar e estão abaladas. Madre Superiora diz que nenhuma das meninas quer revelar quem
contou a notícia para elas. Madre Superiora pede para a Irmã Fabiana que chame todas as
freiras, Inácio, Diana e Pascoal para sua sala imediatamente. Ela quer descobrir quem foi o
responsável por espalhar a notícia.
Cecília chega à sala da residência dos Lários aos prantos e explica a Estefânia e
Gustavo que Dulce mandou ela ir embora. Cecília tropeça e cai, torcendo o seu tornozelo.
Gustavo coloca Cecília no sofá e chama por Silvestre. Dulce ouve tudo de seu quarto e se
sente culpada pelo ocorrido.
No gramado do colégio, Irmã Fabiana e Diana interrompem a partida de futebol para
falar a Inácio e Pascoal que Madre Superiora está chamando todos eles em sua sala. Eles
seguem para o local e deixam os meninos jogando com a supervisão de Zeca.
Na residência dos Lários, Silvestre chega à sala de estar e traz uma bolsa de gelo
para o tornozelo de Cecília. Estefânia fala que eles deveriam ir ao hospital solicitar uma
radiografia. Cecília fala que não é necessário e que assim que conseguir colocar o pé no chão
vai embora. Dulce aparece andando com dificuldades no cômodo e pede para que Cecília não
vá embora e fique cuidando dela. Estefânia e Cecília choram com a cena.

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Luciano, Frida e Michelle chegam em casa. Francisco diz que encontrou o pai de
Lúcia na rua, e ele disse que ficou sabendo que Dulce perdeu o movimento das pernas. Frida
finalmente acredita na gravidade da situação e fica com pena de Dulce. Michelle muda de
assunto e pergunta se eles foram na casa de Juju e Emílio. Luciano diz que sim e que eles
fizeram as pazes. Frida questiona os pais estarem mais interessados nisso do que no caso de
Dulce. Michelle fala que Frida tentou se aproximar de Dulce e não deu certo, então agora eles
precisam focar na relação de Luciano e Juju, pois isso pode afetar diretamente a carreira de
cantor do menino.
Na residência dos Lários, Dulce Maria vai andando até Cecília e a abraça. Dulce diz
que Cecília não precisa mais ir embora e pede perdão pela forma como a tratou. Cecília diz
que ela não precisa pedir desculpas. Dulce diz a Cecília que a ama. Cecília diz que nunca
mais vai abandonar a menina. Gustavo e Estefânia abraçam as duas. Todos choram.
Na diretoria do colégio, Madre Superiora reúne as freiras, Diana, Inácio e Pascoal
para uma conversa. Ela pergunta quem contou para Adriana, Lúcia e Valentina que Dulce não
consegue mais andar. Todos ficam tensos e se entreolham.
Frida e Bárbara fazem uma chamada de vídeo e conversam sobre Dulce Maria não
conseguir mais andar. Frida se sente culpada por implicar tanto com a menina. Bárbara ainda
acha que pode ser mentira.
Na residência dos Lários, Dulce diz a Cecília que foi malvada, que estava sofrendo e
queria que ela sofresse também. Cecília fala que agora está tudo bem. Silvestre chega à sala e
vê Dulce andando. Silvestre chora de felicidade.
Na sala da diretoria do colégio, Madre Superiora continua o interrogatório. O
telefone toca, e ela atende. Quem fala é Estefânia. Na ligação, ela informa que Dulce voltou a
andar. Madre Superiora reage com muita felicidade. Ela desliga o telefone e fala a novidade a
todos presentes na sala. Todos comemoram e se abraçam, exceto Irmã Luzia, que dá apenas
um sorriso discreto. Apesar da comemoração, Madre Superiora diz que vai continuar
investigando para descobrir quem falou demais sobre o caso de Dulce às meninas do colégio.
A campainha toca na casa de Rosana, e ela atende a porta. É Franciely para avisar
que Dulce voltou a andar. Rosana, Juju e Emílio comemoram. Emílio fala que quer ver
Dulce, mas Franciely diz que Cecília e ela ainda estão conversando. Franciely aproveita para
dizer também que ela e o Policial Ribeiro fizeram as pazes. Ela diz que vai voltar para o
trabalho, mas que no dia seguinte chega cedo na casa de Rosana para ajudar com os
preparativos para o concurso de beleza. Rosana, Juju e Emílio dançam comemorando as boas
notícias.

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Na cozinha da residência dos Lários, Silvestre, bem humorado, dá as instruções a
Franciely sobre o jantar de comemoração à recuperação de Dulce. Ele diz que os convidados
serão Estefânia, Vitor, Cecília, Fátima, Cristóvão e Verônica e que será algo simples e íntimo.
Franciely começa a preparar tudo.
Em sua casa, Haydee usa roupas hippies e dança ao som de uma música instrumental
calma. Flávio chega em casa e se depara com a cena. Ele fala que tem uma missão para a
mãe, e ela pergunta se é algum golpe para os dois armarem. Flávio nega e diz que é para eles
organizarem um jantar para Noêmia em casa. Ele implora de joelhos para que Haydee aja de
forma civilizada com Noêmia e repete que eles precisam dela, pois ela tem muito dinheiro.
Haydee promete que vai se esforçar.
Dulce, Cecília e Gustavo conversam no quarto da menina. Dulce fala a Gustavo que
vai ver Cecília todos os dias no colégio e ainda nos finais de semana em sua casa. Cecília fala
que, dessa forma, Dulce vai cansar dela, e Dulce diz que amor não enjoa, só cresce. Cecília e
Gustavo trocam olhares.

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