Box Casamento Arranjado - Serie - Karen Heifer

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 660

Sinopse

Liv é uma jovem órfã bela e recatada, criada em um tradicional


colégio interno para moças.

Andrews é um jovem CEO bilionário, bonito e arrogante. Ele


possui uma doença grave, por isso está em busca da mulher ideal para
casar e ter um herdeiro legítimo para deixar sua fortuna.

Então, após buscas em colégios internos, Andrews enxerga em Liv a


mulher ideal para seus planos: Jovem, bonita, recatada, sozinha no
mundo, educada, inocente e virgem.

A partir daí dois caminhos tão diferentes se cruzam em um


casamento arranjado, dando início a uma história de ciúmes, intrigas,
amor, lágrimas, drama.

Este livro contém cenas desaconselhada para menores de 16 anos.


Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Epílogo:
Capítulo 1
Irlanda, 1988.

— Entre, senhorita Smith, queira sentar-se! — falou a senhora de


meia-idade de voz estridente e expressão facial pouco amigável.

Uma bela jovem, de aparência delicada, pele tão branca quanto a


neve, meigos olhos azuis, longos cabelos ruivos presos em um coque,
trajando suéter creme e saia vermelha até os joelhos, entrou na sala. A
típica aluna de colégio interno. Parecia ter saído de um romance para
menina moça da década de setenta. Ela aguardava de pé, trazendo no
rosto uma expressão assustada.

— Obrigada, senhora Brown!

A jovem respondeu e em seguida sentou-se na cadeira em frente ao


birô da diretora do tradicional Instituto Católico Irlandês, colégio interno
para moças de famílias abastadas.

Liv Smith estava trêmula diante de senhora Brown, em silêncio


pensava com seus botões:
Ah Meus Deus! Não fiz nada! O que será que ela deseja comigo?

Liv tinha noção de que para aquela mulher antipática e autoritária a


chamar até a sua sala, deveria ser algo muito importante. Porém, ela
estava com a consciência tranquila. Afinal, não tinha feito nada de
errado. Sempre foi uma boa menina.

Então, senhora Brown quebrou o pesado silêncio que reinava no


ambiente:

— Senhorita Smith, como já é de seu conhecimento, a recebemos


aqui neste colégio ainda um bebê. Você foi deixada em nossa porta, de
forma anônima e com uma grande soma em dinheiro que custeou a sua
educação até hoje!
— Sim, Senhora Brown e os agradeço por isso...

— Não, não agradeça, fomos pagos para isso! Aqui você recebeu a
melhor educação de Dublin. Não seria falta de modéstia, a nossa,
afirmar também que a melhor educação da Irlanda. Pois, temos uma
tradição centenária na educação de senhoritas!

A senhora Brown falava séria, com seu tom de general. Era temida
no colégio devido ao seu cargo e sua maneira rígida de lidar com as
alunas.

—Entendo, desculpe...

Liv, com seus meigos e redondos olhos azuis, fitava a diretora e


respondia apenas com frases curtas, de forma automática. Ela estava
perdida em seus pensamentos, somente voltou a realidade quando a
ouviu concluir:

— Entretanto, senhorita Smith, lamento informar que o dinheiro que


custeou a sua educação aqui nesta instituição até hoje, se esgotou com o
fim do seu colegial e você não poderá mais permanecer aqui! — a
mulher concluiu séria.

— Ah meu Deus! Para onde irei? Não achei que teria que deixar este
lugar tão rápido, logo após concluir o colegial! Sabem que não tenho
família! — a jovem perguntou assustada e preocupada.

— Calma! Entretanto, como a conhecemos desde bebê e de certa


forma temos um carinho especial pela senhorita. Conseguimos garantir o
seu futuro, graças a um caso inesperado que chegou até nós nesses
últimos dias.

A jovem sentiu-se aliviada e respirou fundo. Provavelmente


haviam arrumado um emprego para ela dentro do próprio colégio, no
qual pudesse morar e trabalhar ao mesmo tempo. Afinal cresceu ali, não
tinha parentes e ainda não se sentia segura fora dos muros daquele lugar.
Todavia, senhora Brown continuar a tecer a sua teia...
— Há alguns dias um jovem bilionário e CEO da própria empresa,
bonito, solteiro e sozinho no mundo, nos procurou...

—E o que isso me diz respeito? Ele precisa de uma secretária?


Algo assim? — Liv sentiu um alívio no coração, uma ponta de
esperança.

—Ele precisa de uma moça bonita, educada, ingênua, igual a você!


Então, apesar de aqui ser uma instituição de ensino e não uma agência
de casamento. Lembrei da sua condição de órfão e já que você atendia
aos critérios dele, acabei mostrando sua fotografia. Ele gostou muito do
que viu...

—Desculpe, senhora Brown, mas ainda não entendi. A senhora


mostrou minha foto e falou sobre a minha formação no colégio? Para
que ele me dê um emprego? O que tem a ver o casamento dele?

— Garota, você é muito ingênua! Então, vamos poupar tempo! Irei


direto ao ponto: O que estou querendo dizer é que arranjamos o seu
casamento com ele! Posso lhe garantir que será muito vantajoso para
você!

Liv mal podia acreditar no que estava ouvindo. Quase pulou da


cadeira ao falar com os olhos arregalados e voz assustada:

— Casamento? Mas... não estamos no século XVIII! Para que a


senhorita me arranje um casamento dessa forma! Não foi para isso que
estudei, eu não tenho família, mas não sou uma mercadoria para ser
vendida ou trocada! Casamento é um ato de amor e não um negócio!

Mesmo diante da reação de Liv, senhora Brown permaneceu firme em


seus argumentos

— Não seja tola, menina! Você é uma órfã de origem


desconhecida, não tem parentes ou dinheiro! Dificilmente cursará uma
universidade, a menos que consiga um emprego para se manter e
frequentar no máximo um curso noturno!
— Senhora Brown, mas não foi esse tipo de casamento que sonhei,
quero casar por amor...

— Amor? Acho que você andou lendo romances demais na


biblioteca do colégio! Ah! Quero deixar claro que este colégio não é
instituição de caridade! Não iremos contratar alguém sem necessidade
somente por bondade, principalmente alguém que está desperdiçando
uma oportunidade de ouro como a sua! A vida é bem diferente fora dos
muros deste colégio e você conhece muito pouco dela! Então, não seja
ingrata! Arranjei para você um casamento digno de uma princesa! — a
diretora falou brava.

Liv, encolhida na cadeira, mal conseguia continuar a falar e


argumentar. Além do que, era muito difícil para uma jovem de dezoito
anos recém completados, que sempre obedeceu ordens por toda uma
vida, agora lutar contra essas mesmas ordens. Entretanto, a diretora não
teve compaixão de sua aparência assustada.

— Então, senhorita Smith, amanhã ao final da tarde, o seu noivo virá


conhecê-la pessoalmente. Eu aconselho que cuide da sua aparência para
que não pareça uma coelhinha assustada, pois, ele esta acostumado a
mulheres sofisticadas. Quero deixar claro que você pode recusar este
casamento, mas estará condenando a si mesma a uma vida muito dura de
pobreza e solidão! Eu não me responsabilizarei ou ficarei com a
consciência pesada pelas consequências futuras da sua decisão! Agora
saia! Isso é tudo! — Senhora Brown concluiu com firmeza.

Liv obedeceu prontamente, se retirou da sala em silêncio. Logo após,


saiu correndo aos prantos pelos longos corredores vazios do internato
em direção ao seu quarto. Felizmente, a sua colega de quarto estava fora,
pois, precisava ficar sozinha, refletir. Era uma situação muito inusitada
para ela, sentia-se entre a cruz e a espada. Sempre sonhou em encontrar
um grande amor, casamento, filhos, mas não um casamento arranjado de
forma fria como um negócio.

— Eu não quero casar! Não quero um casamento arranjado! Não


foi assim que sempre sonhei... – a jovem repetia para si mesma, deitada
em sua cama beliche, no silêncio do quarto.
Depois de chorar até se esgotarem as lágrimas, Liv tirou as roupas
e vestiu sua camisola. Naquela noite, não desceria para o jantar no
refeitório coletivo como sempre fazia. Comeria algo no quarto. Aquela
situação lhe tirou todo o apetite.

Prefiro ficar aqui quietinha no quarto, do que sair e correr o risco


de encontrar senhora Brown! Afinal, estou sem fome mesmo e tenho
alguns biscoitos para comer aqui no quarto.

De repente, ao vestir sua camisola, ela começou a analisar a si


mesma diante do espelho. Era uma moça bonita, rosto afilado, doces
olhos azuis, longos cabelos ruivos que caiam em forma de cascata pelas
costa até a cintura. Possuía uma pele clara, estilo porcelana, o que a
deixava ruborizada com frequência. Apesar dos sentimentos de menina
moça, já tinha dezoito anos e um corpo atraente de mulher: Seios fartos
e redondos, cintura fina, quadris redondos e pernas delineadas. Uma
altura mediana o que a tornava delicada.

— Sei que já não sou mais uma menina, já tenho corpo de mulher,
mas não me sinto preparada ainda para casar! Muito menos em me
entregar a um estranho, sem amor...— a jovem falava assustada, diante
do espelho.

Todavia, mesmo com vários pontos a seu favor em relação à beleza


física, não conseguia entender o que a fez ser escolhida. Pois, não seria
difícil encontrar uma jovem de boa aparência e educação, precisando de
ajuda e interessada em aceitar um casamento de conveniência com um
jovem CEO milionário. Além do mais, ela ainda não se sentia preparada
para um casamento. O seu corpo de mulher já tinha desabrochado por
baixo de suas roupas discretas de aluna interna de colégio tradicional
católico. Porém, os seus sentimento e atitudes ainda eram de uma
menina ingênua, criada a vida toda dentro de um colégio interno. Tudo
que ela sabia sobre amor e sexo era proveniente de livros da biblioteca
para moças. Além de tímidas conversas entre as poucas amigas internas
iguais a ela.

Ainda se recordava quando aos doze anos, em uma roda de


conversas entre meninas, uma das suas colegas de colégio, mais esperta,
lhe falou:

—Liv, sua bobinha! Ainda não sabe de onde vem os bebês? Pois,
vou lhe contar ao ouvido! – E ao ouvir, Liv ficou com a face corada.

O fato de sempre ter vivido naquele lugar não a permitiu ter


grandes experiências ou contato com o sexo masculino. Ficava até um
pouco corada diante dos rapazes nas raras oportunidades. Quando
comparada a outras alunas internas da sua idade que nas férias escolares
iam para casa e retornavam ao colégio contando sobre bailes e paqueras
com rapazes, ela era a mais ingênua. Pois, mal deixava o colégio, não
tinha para aonde ir. Então, nas férias, ela, no silêncio do colégio,
mergulhava nos livros de romances e assim, ela construiu seu conceito
de amor e um pouco de sexo.

Liv ficou acordada deitada na cama, no escuro até altas horas, já


era madrugada quando conseguiu fechar os olhos. No dia seguinte,
devido a ansiedade, levantou-se cedo, mesmo não havendo aulas. Afinal,
era férias sem falar que o seu colegial tinha acabado de se encerrar.
Então, ela pulou da cama e após sua higiene matinal, saiu para da um
passeio nos jardins do colégio, que devido às férias de final do ano,
estavam vazios. Durante todo o dia, Liv cumpriu sua rotina diária de
sempre, que variava pouco se era período letivo ou férias, fez tudo
fingindo ser um dia normal, mas não conseguia parar de pensar um só
instante sobre aquela situação em que se encontrava e como seria o
homem que a escolheu para esposa. Pois, diante de toda a tensão da
conversa com a senhora Brown, esqueceu de perguntar por fotos e agora
não queria retomar a conversa em busca de mais detalhes sobre ele.

Como será ele? Sei que é rico, inteligente, pois é um CEO! Não é velho,
mas mesmo assim, não o amo.

A jovem pensava com tristeza, enquanto passeava pelos jardins.


Capítulo 2
Naquele momento, passado o choque inicial, ela estava desejando
sim a companhia da sua colega de quarto e melhor amiga, Sarah. Uma
menina esperta e inteligente que certamente teria alguma ideia para algo do
tipo. Contudo, além de ser período de férias escolares, já tinha ocorrido a
formatura do colegial, Sarah já havia retornado para casa. Foi uma despedida
sofrida para Liv, ficou a promessa de trocarem cartas com frequência e, um
dia, uma possível visita. Porém, ela não teria tempo suficiente para enviar
uma carta e receber uma resposta com as ideias de Sarah. Afinal, senhora
Brown e o seu noivo tinham pressa.

Liv estava nervosa em seu quarto. Já eram quatro horas da tarde e


ela ainda não sabia o que vestir para o encontro com o seu noivo ou
como se comportar, tamanho era o seu nervosismo e ansiedade. Por fim,
ela decidiu que se o tal homem escolheu se casar com uma jovem recém
saída do colegial, ele já deveria saber o que iria encontrar, qual seria o
estilo dela. Então, vestida com uma saia preta, estilo colegial, um suéter
vermelho, cabelos presos em um rabo de cavalo, um batom leve, ela
bateu a porta da do gabinete de senhora Brown.

— Entre! — uma voz feminina e firme ordenou.

Ao entrar na sala, Liv ouviu senhora Brown anunciar em tom quase


solene:

— Senhorita Smith, este é o senhor Andrews Lausen: Seu noivo! —


complementou a senhora antipática e de meia idade.

Liv, parada no meio da sala, sentiu como se as suas pernas fossem


feitas de chumbo, não conseguia se mover. Então, ela olhou para um
canto da sala e ao lado do birô de senhora Brown, viu um homem
relativamente jovem, deveria ter em torno de trinta anos. Ele vestia um
elegante terno cinza, tinha a aparência de homem de negócios. Ela ficou
a olhá-lo com ar de espanto e curiosidade. Andrews era um homem
bonito, alto, forte, com uma pele muito clara e cabelos negros que
contrastavam com seus olhos cor de mel. Usava uma leve barba aparada,
bem cuidada.

Andrews já esperava pelo embaraço de Liv. Porém, como era


acostumado a desde cedo, tomar decisões e iniciativa, resolveu conduzir
a situação e quebrar o gelo:

—Boa tarde, Liv, não imaginei que a minha presença a deixaria tão
embaraçada! — Com isso ele foi até ela e a beijou na testa. Ela
permaneceu imóvel no meio da sala fria, decorada no antigo estilo
vitoriano.

Liv nunca havia recebido um carinho assim de um homem. Ainda


mais de um homem que mal conhecia. Ela estava mesmo sentindo-se
uma coelhinha assustada. Ao analisar Andrews discretamente, ela o
achou bonito, mas devidos as circunstâncias do momento, ele, de certa
forma, estava sendo assustador para ela. A primeira coisa que pensou,
passado o susto inicial, foi que um homem daquele nível e beleza,
deveria está acostumado à companhia das mais belas e sofisticadas
mulheres. Então, por que a escolheu? Sem falar que ela não seria capaz
de agradá-lo, satisfazê-lo, mais cedo ou mais tarde, ele perceberia isso e
se enjoaria dela.

Andrews, ao perceber o pesado silêncio que reinava no ambiente, o


clima pesado na sala e a situação pouco confortável para ambos, tentou
quebrar o gelo:

—Senhora Brown, eu gostaria de Levar Liv para um passeio até o


jardim, assim conversaríamos a sós e também nos conheceríamos
melhor. — Ele se dirigiu até Liv.
— Dê-me sua mão, princesinha, vamos até o jardim. — Ela
obedeceu passivamente, entregando-lhe a mão e em seguida, saíram
caminhando lentamente.

Chegando ao jardim, sentaram-se em um banco lado a lado, Liv


tentou dizer algo, estabelecer um diálogo entre os dois.
— Senhor Lausen... —Mas foi bruscamente interrompida.

— Por favor, Liv! Para você, sou Andrews e pare com essas
formalidades ridículas entre nós dois —ele falou visivelmente irritado.

Liv engoliu em seco e com a cabeça baixa, as mãos alisando as


pregas da sua saia colegial para disfarçar o nervosismo, ainda tentou
continuar:

— Perdão, Andrews... mas quero saber por que eu? Devem existir
várias garotas iguais a mim na Irlanda ou mulheres bela e sofisticadas
interessadas em você. Além disso, você é tão mais...

O seu jeito tímido de falar divertia Andrews. Ele a interrompeu:

— Velho? Você me acha velho? — ele falou com ar de riso.

Na realidade o que Liv pensou em dizer, antes de ser interrompida


por ele, era sofisticado e não velho. Mas, acabou deixando as palavras
tomarem um rumo próprio.

— Olhe querida, eu tenho trinta e dois anos, talvez eu seja velho para
você. Pois, você acabou de sair do colegial e eu já conclui a
universidade há muito tempo. Então, somente ai já da para perceber a
nossa diferença de idade!

—Eu não, quis dizer velho...

— Ainda não terminei e não gosto de ser interrompido! Todavia,


leve em consideração que eu lhe darei uma vida de rainha, com tudo que
o dinheiro pode comprar. Eu tenho certeza que caso esse seu coração
ainda não tenha sido entregue a algum rapazinho da sua idade, você irá
dar graças a Deus por ter se casado comigo e não com alguém mais
jovem, ainda começando a vida profissional —ele falou com frieza e
sarcasmo.

Liv ainda tentou argumentar como qualquer jovem ingênua e


romântica usaria, mas que para um homem frio de negócios, talvez não
tivesse tanta importância assim:

— Você até agora, somente falou em dinheiro e coisas materiais,


mas e o amor? Você julga que ele pode nascer entre nós dois com o
passar do tempo? Afinal, somos tão diferentes um do outro, dois mundos
diferentes... — ela perguntou docemente e com olhos baixos, mesmo
estando sentada próxima a ele.

Foi então que ela percebeu os olhos, cor de mel de Andrews


escurecerem e ele a encarou com uma expressão séria no rosto:

— Não seja tola! Isso não será necessário entre nós! Acho que você
andou lendo muitos romances água com açúcar para moças da sua idade
e acabou ficando com essas ideias fantasiosas sobre casamento e amor.

Liv percebeu que Andrews estava aproximando lentamente o rosto


do seu e tentou se afastar, mas foi bruscamente impedida por ele. Então,
ele falou bem próximo, ela podia sentir a sua respiração meio ofegante.

— Está assustada? Não seja boba! Em pouco tempo seremos marido


e mulher! Então, é bom você já ir se acostumado comigo! Pois, quero
um casamento de verdade, com consumação, filhos e não pretendo
passar a nossa noite de núpcias em camas separadas... — ele falou num
tom sério, olhando em seus olhos.

Ao ouvir isso, ela ficou com o rosto ruborizado, mas não teve muito
tempo para lidar com as emoções. Andrews segurou o seu rosto com as
duas mãos e desceu seus lábios sobre os delas, num gesto brusco, como
se fosse uma estratégia para a presa não escapar do predador. Ele
pressionou seus lábios até que ela se viu forçada a abrir os dela também
e receber aquele primeiro beijo entre os dois e o primeiro na vida dela. O
beijo violento a deixou sem fôlego, pois ela esperava que quando esse
momento acontecesse, fosse com delicadeza e amor. Quando ele a
largou a única coisa que ela conseguiu fazer foi levar a mão aos lábios e
encará-lo com expressão de espanto. Ele não resistiu e caiu numa sonora
gargalhada:

— Desculpe-me, nunca foi beijada antes, não é? Nem ao menos um


beijo inocente? Com alguém da sua idade? Eu julguei que já tinha
acontecido...

Liv precisava confessar que a sua vida sempre por trás dos muros
daquele colégio, não deu oportunidade de maiores contatos com rapazes,
principalmente com os da sua idade. Enquanto as suas poucas colegas
voltavam das férias escolares em casa, contado sobre bailes, namoricos,
ela permanecia todo o período de férias no colégio, não tinha para aonde
ir e os seus únicos passeios se resumiam a ir com funcionários até a
cidade fazer compras para abastecer os estoques da instituição.

A forma grosseira como Andrews a beijou, a deixou enojada e


magoada, não foi assim que ela sempre sonhou que seria o seu primeiro
beijo.

—Seu grosso! Insensível! — ela o xingou furiosa.

Aquela foi a única coisa que ela conseguiu pronunciar com a voz
ofegante, antes de sair correndo em direção ao prédio central e deixá-lo
sozinho sentado no banco do jardim.

Caso Andrews desejasse a teria alcançado facilmente, mas ele


julgou que já a tinha assustado demais e que ela não era uma mulher
igual as outras que ele estava acostumado a se relacionar. Afinal, ele
nem esperava que aquele fosse o primeiro beijo dela.

— Senhorita Smith, que modos são esses? —exclamou senhora


Brown ao sentir Liv esbarrar nela no trajeto do jardim para o dormitório.

Liv continuou o trajeto para o seu quarto, não mais correndo, mas a
passos largos, não parou para da explicações a senhora Brown. Porém, a
experiente senhora de meia-idade deduziu o que poderia ter acontecido e
se dirigiu até o jardim. Ao chegar ao jardim, ainda encontrou Andrews
no mesmo local em que Liv o havia abandonado.

— Senhor Lausen, encontrei a senhorita Smith aos prantos correndo


em direção ao quarto dela. Não deveria tê-la assustado com atitudes
rudes ou precipitadas! Não seria cavalheiro de sua parte! —senhora
Brown falou em tom de desaprovação.

— Senhora Brown, eu não fiz nada que pudesse assustar uma garota
da idade de Liv! Somente tentei beijá-la — Andrews se justificou com
cinismo.

— Cuidado, senhor Lausen, o que pode parecer normal para as


moças que o senhor está acostumado a conviver, pode não ser normal
para Liv. Lembre-se que ela passou toda a sua vida dentro desse colégio
interno, tendo muito pouco contato com o sexo masculino.

—Entendo, senhora Brown...

—Então, tente não assustá-la, respeite seu tempo, pense como


deve está sendo difícil para Liv. Apesar de concordar que se casar com o
senhor é o melhor que ela tem a fazer, na verdade, é uma oportunidade
de ouro — falou a diretora num tom mais ameno e, pela primeira vez,
deixou transparecer um pouco de solidariedade e carinho em relação a
Liv.

— Desculpe, senhora Brown, é melhor irmos até o seu gabinete tratar


logo de alguns detalhes importantes para a realização do casamento. Eu
quero me casar dentro de duas semanas! Quero uma cerimônia simples,
mesmo assim os custo e o enxoval da noiva não serão problema. —
Andrews deu de ombros e respondeu impaciente.

Então, foram até o gabinete de senhora Brown, numa conversa a


portas fechadas, somente entre eles dois, que a senhora ficou sabendo
dos verdadeiros motivos para um casamento arranjado em pleno século
XX e entendeu a pressa para a sua realização.
Capítulo 3
— Então, eu os declaro marido e mulher! Pode beijar a noiva! —
Essas foram as palavras finais do Padre Jones, encerrando a cerimônia
de casamento.

Liv timidamente baixou um pouco a cabeça e as pálpebras,


esperou a iniciativa de Andrews. Para sua surpresa, ele colou os lábios
nos dela, de forma delicada e rápida, bem diferente do primeiro beijo
deles. Em seguida, deu um beijo em sua testa. Ela se sentiu aliviada com
essa atitude dele.

Liv estava linda, usava um arranjo de flores naturais na cabeça,


cabelos soltos, maquiagem leve. O seu vestido de noiva, ia até o
tornozelo e fazia o estilo simples e angelical. Branco como a neve,
simbolizando a sua pureza, em suas mãos um buquê de flores do campo.
Durante a cerimônia ela observou discretamente Andrews por algumas
vezes, ele estava muito bonito e elegante, usava um elegante terno cinza,
que realçava seus olhos cor de mel e a luz do dia dava um aspecto um
pouco mais corado naquele tom de pele tão pálido que ele possuía. Ela
pensava consigo mesma: Como alguém pode ser tão belo e assustador ao
mesmo tempo. Ela comportou-se de forma passiva durante toda a
cerimônia, tinha a impressão de estava num sonho nebuloso e
inacreditável.

Não havia mais o que fazer, sua religião e a de Andrews não


aconselhavam o divórcio! Além dela se sentir sozinha e despreparada
para enfrentar o mundo.

Ela pensava em silêncio, enquanto recebia os poucos cumprimentos


de felicitações pelo casamento.

Apesar de Andrews ser bem relacionado, como proprietário e CEO


de uma grande construtora em Londres, ele não quis uma grande festa
com muitos convidados, luxo e badalação, preferiu uma cerimônia
íntima, discreta na capela do colégio, os únicos convidados foram os
funcionários do local e Liv adorou essa escolha dele em relação à
discrição. Depois da cerimônia, após os poucos cumprimentos, Liv foi
até o seu quarto trocar de roupa. As malas já estavam prontas e os
noivos voariam para Londres no final da tarde.

Liv vestiu uma saia plissada verde na altura do joelho, um suéter


azul-marinho e prendeu seus longos cabelos ruivos com uma fita preta.
Ela olhou-se no espelho e não conseguia acreditar que agora era uma
senhora casada. A senhora Liv Lausen...

Da janela do seu quarto ela contemplou pela última vez, o jardim do


colégio. Observou ao longe as árvores do pomar, a paisagem que fez
parte de toda a sua vida ali naquele lugar.

Acho que sentirei saudades daqui, mesmo sendo um colégio, foi o


único lar que conheci até hoje...

Liv pensou com o coração apertado.

Agora, ela era uma mulher casada, rica e deixaria Dublin para
morar em Londres na mansão do seu marido. A casa de várias gerações
da família Lausen, mas que atualmente só era ocupada por Andrews e os
empregados que já estavam a espera da senhora da casa. Só de pensar o
que aquele título significaria mais tarde, ela estremecia por dentro: A
temida noite de núpcias... Foi então, que batidas na porta, interromperam
os seus pensamentos.

— Pode Entrar! — ordenou Liv.

Era a senhora Brown e parecia ter algo importante a dizer:


— Liv, querida, com certeza a sua mãe seria a pessoa ideal para esse
momento, mas... — Ela tentava usar um tom de voz meigo, bem
diferente do habitual.

Liv a interrompeu bruscamente.

— Não diga nada! Pois, nada do que falar vai mudar o que estou
sentindo neste momento! — ela falou com rispidez, algo que não era do
seu feitio, pois sempre foi uma menina meiga e educada.

— Querida... sei que tudo aconteceu muito rápido, que é uma


situação atípica para os padrões sociais atuais, mas responda-me: julga
que conseguirá amar Andrews e ser uma boa esposa para ele? —
senhora Brown não se deixou intimidar e disse num tom delicado.

A jovem falou com rebeldia:

— Não! Ele é frio, arrogante e além do mais, parece sentir prazer em


me deixar assustada ou embaraçada! — ela concluiu quase chorando de
raiva, na mente veio a lembrança do primeiro beijo entre os dois.

—Liv... ele está com os dias contados... tem em torno de um ano ou


dois de vida. Não tem como prever — senhora Brown falou num tom
ameno enquanto a observava.

A jovem a encarou com olhos assustados.

—Isso mesmo Liv! Ele tem uma leucemia agressiva. Ainda não
achou um doador compatível e a medida que o tempo passa a doença
avança — concluiu a diretora.

— Meu Deus! Estou me sentindo mais assustada ainda!

— Apesar de todo o dinheiro que ele possui para tratamentos


avançados, os médicos não estão conseguindo fazer muito para
combater a doença. Por isso alguns médicos já lhe deram em torno de
um ou dois anos de vida. Caso não encontre um doador.

— Eu tinha o direito de saber disso antes de me casar! A situação é


pior do que julguei.

— Calma... Quando ele descobriu a doença, abandonou festas,


badalações, belas mulheres e decidiu casar-se para ter um herdeiro, para
quem deixará o legado dos seus pais, mas não queria se casar com
qualquer mulher fútil e interesseira. Ele procurou muito por alguém
assim com você: jovem, bonita, ingênua, educada e de boa índole.

— Senhora Brown... mas isso é ainda mais terrível! Então, dentro de


no máximo dois anos, provavelmente eu serei viúva? É assustador! É
mórbido— ela falou levando as mãos a boca, assustada.

— Eu sei Liv... então, lembre-se: por mais que ele tenha um gênio
difícil de se lidar, que as diferenças entre vocês sejam muitas, ele é
apenas um pobre diabo convivendo com a sombra da morte. Isso
justifica algumas das atitudes dele, por isso seja paciente. É importante
que você seja uma boa esposa e também que lhe dê o filho que tanto
deseja. Agora dê-me um abraço! Daqui a pouco será a hora da sua
partida —ela concluiu com uma voz um pouco emocionada, algo raro
naquela mulher fria e solitária.

A despedida entre Liv e os funcionários do colégio foi sem grandes


emoções, mesmo ela sendo uma moça sensível e apesar de ter chegado
ali ainda bebê, nunca foi tratada com afeição, mas com o mesmo
respeito e rigidez dispensados as outras alunas. Afinal, ela também era
uma aluna pagante e não dependente da caridade, coisa que o colégio
não praticava. Às vezes, ela ficava a imaginar quem seria ou foi a sua
mãe. Quem foi a mulher ou a família que não a quis, mas que também
não a desamparou.

— Senhorita Smitch! Pare de sonhar acordada e se concentre em sua


lição escolar. — Quando isso acontecia, a voz de alguma professora, a
trazia de volta a realidade.

A única coisa que podia concluir é que era alguém de posses. Pois,
o tradicional Instituto Católico para moças era um colégio caro, somente
as senhoritas de famílias abastadas tinha o privilégio de nele estudar.
Quando criança, às vezes, ela fantasiava que a sua mãe, a tinha deixado
ali para resolver alguns problemas e que retornaria um dia para buscá-la.
Com o passar do tempo, ela foi aos poucos tirando aquela fantasia da
cabeça. Então, passou a ocupar a mente com os estudos e com os livros
de romances femininos para moças.
Capítulo 4
Liv nunca havia andado de avião, mas não se deixou intimidar.
Apenas, seguiu os passos e ordens do marido, que parecia bem familiarizado
com aviões, jatos, aeroportos. Ela permaneceu, o tempo inteiro, calada ao
lado de Andrews no avião. Ao chegarem ao aeroporto de Londres, o
motorista dele os esperava em um imponente carro preto.

— Boa noite, James! Apresento-lhe a senhora Liv Lausen! —


Andrews o cumprimentou com ar cansado.

O senhor careca, jeito bonachão, a olhou com ar de curiosidade e


espanto. Ele sabia que o seu patrão tinha ficado noivo e que voltaria
casado da viagem. Mas decerto não esperava que seria com uma garota,
estilo colegial. E sim com umas daquelas mulheres sofisticadas que ele
estava acostumado a ver ao lado do patrão.

— Boa noite, senhora! Seja bem-vinda a Londres! — ele falou de


maneira respeitosa com um aceno de cabeça;

Liv agradeceu timidamente. Entrou no banco de trás ao lado do


marido e permaneceu em silêncio durante todo o percurso até a sua
futura casa.

A casa de Andrews ficava em um bairro distante do aeroporto. Ao


longo do caminho, ela se manteve em silêncio, sentia-se desconfortável
em estar tão próxima a ele, lado a lado. Ele parecia perceber isso e
divertir-se com o seu jeito de menina assustada. Em certo momento, ela
quase pulou do banco, quando sentiu ele segurar sua mão fria e delicada.
Levando-a aos lábios, enquanto a encarava com um sorriso sedutor.

— Em breve estaremos em casa, querida! —Andrews falou


cinicamente, como se fossem um casal apaixonado.

As mulheres que ele estava acostumado gostavam daquele sorriso


sedutor. Aqueles olhos, cor de mel que escurecia de acordo com suas
emoções. E Liv? será que gostava? Ela ainda não conseguia saber se sim
ou não. Ela recebeu o carinho em silêncio e depois puxou discretamente
a mão, em seguida cruzou os braços. Isso só o atiçou mais ainda.

— Mãos geladas... está assustada?

— Não! Impressão sua— ela falou baixinho, para que o motorista


não ouvisse.

Enfim chegaram:

— Bem-vinda ao seu novo lar, querida! — Andrews falou de forma


artificial diante do motorista.

— Obrigada! — Liv respondeu de forma seca e com coração


acelerado.

Meu Deus! Como será minha vida daqui pra frente?

A jovem pensava consigo mesma.

Era uma mansão estilo vitoriano, ao entrar, ela reparou que o


grande jardim iluminado lembrava um pouco o seu antigo lar. Se era que
se podia chamar aquele internato de lar.

Pelo menos isso.

Ela pensou com coração apertado.

Quando entrou na sala principal, ela ficou deslumbrada com a


beleza da decoração, apesar de ser um pouco séria para um rapaz
solteiro e relativamente jovem. Depois ela ficaria sabendo que aquela
casa tinha sido dos pais de Andrews, mortos em um acidente de carro
quinze anos atrás.

Era uma decoração perfeita, por um instante Liv esqueceu o medo


do que estava por vir e pensou em como deveria ser aconchegante viver
em uma casa de verdade e não em um colégio interno com dormitórios,
pavilhões, refeitório, inspetores e salas de aulas.
Ao pé da escada uma senhora de cabelos grisalho vestindo um
discreto uniforme cinza, os aguardava. Era a governanta da casa.

— Senhora Simpson, esta é minha esposa, a senhora Liv Lausen —


ele anunciou sem maiores detalhes.

— Seja bem-vinda, senhora! — a governanta falou respeitosamente.

— Obrigada... — Liv agradeceu timidamente.

Liv não podia deixar de notar um discreto ar de espanto por parte da


senhora Simpson. Ela com certeza fora informada do casamento
repentino do patrão, mas aparência jovem da moça a surpreendeu,
parecia uma menina recém saída da escola. A governanta logo ela tratou
de disfarçar sua surpresa.
— Senhor Lausen, deseja um jantar rápido? algo mais leve? — a
governanta perguntou.

— Não! A senhora Lausen e eu jantamos no avião. Já são quase nove


horas da noite e tudo que queremos agora é ir para o nosso quarto, um
banho e descansar — ele falou com firmeza e Liv corou. Só de pensar
que talvez o termo descansar não fosse o mais apropriado para aquela
noite.

Liv gelou com essas palavras finais dele. Porém, no fundo a sua
ingenuidade ainda a deixou com esperanças que talvez aquela noite
fosse mesmo de descanso. Afinal, não eram um casal apaixonados,
poderiam esperar pela noite seguinte para consumar o casamento.

— Venha querida! Venha conhecer os nossos aposentos! — Deu um


sorriso cínico e a conduziu pela longa escada, segurando em sua mão.

Ele parou em frente a uma das portas do longo corredor. Ela o seguiu
em silêncio.

— Querida, este é o seu quarto...— ele disse ao abrir a porta, sua voz
tinha um tom meio de zombaria, como se estivesse prevendo os
pensamentos dela sobre o que provavelmente iria acontecer mais tarde.
— O meu quarto? — a jovem perguntou surpresa e ao mesmo tempo
aliviada.

— Sim! Achei que ficaria mais à vontade tendo um quarto apenas


seu. O meu quarto fica ao lado e tem uma porta de comunicação! Posso
dormir nele, posso dormir aqui... — Andrews deixou claro.

— Ah, entendi...

— Decepcionada? Como você é bobinha, querida. Julgar que hoje


dormiríamos separados...

— Eu não falei isso... — Liv engoliu em seco, mas não quis dar o
braço a torcer.

Liv entrou vagarosamente no quarto, observou a beleza e pompa do


ambiente. A decoração requintada nas cores vermelho e dourada. As
cortinas, o enorme armário de roupas. Um quarto três vezes maior que o
seu no internato. Ela olhou a enorme cama de casal e pensou que nunca
havia dormido numa cama tão espaçosa e que agora dormiria
acompanhada. De repente, ela gelou em lembrar que provavelmente já
dividiriam a cama naquela mesma noite e não somente a cama, mas
também todo o seu corpo e intimidade.

Andrews, com seu jeito frio e prático de executivo, abriu uma das
portas do enorme armário.

— Liv, mandei vir das melhores lojas de Londres tudo que uma
mulher precisa para ficar bonita e elegante: roupas, sapatos, lingeries,
cosméticos, joias, perfumes, maquiagem. Portanto, quero que você livre-
se destas suas roupas de colegial! Pois, agora você é a senhora Lausen e
precisa se vestir como tal!

Ela baixou a cabeça, olhou para sua saia plissada até o joelho, seus
sapatos pretos fechados e sem salto. Gostava do seu estilo, tinha orgulho
das suas roupas recatadas de colegial, de moça de colégio interno. Ele
estava tentando moldá-la ao seu gosto, roupas, a maquiagem, seu jeito
de agir, tudo. Porém, ela não era uma marionete para aceitar
passivamente, pois, tudo tinha um limite.

— Quando você foi até aquele internato feminino em busca de uma


noiva, já deveria saber qual estilo de moça você iria encontrar pela
frente e assim mesmo você me escolheu e casou-se comigo. Então, não
espere que eu mude da noite para o dia, da água para o vinho! Além de
ter meu estilo próprio, eu preciso de tempo para habituar-me a esta nova
vida. Portanto, não espere que a partir de hoje eu já passe a comportar-
me como uma mulher sofisticada e seguidora da alta costura! — Liv
falou num tom insolente que não era do seu feitio.

Os argumentos de Liv não deixaram Andrews nem um pouco


intimidado. Pelo contrário, só despertaram, ainda mais, o seu jeito
autoritário e o seu sentimento de posse sobre ela. Pois, agora ela era a
sua esposa. Ele a segurou pelos pulsos e a obrigou a encará-lo.

— Você falou as palavras certas, minha cara! só que sob outra ótica
que não é a minha! Quando fui buscá-la naquele lugar, eu já sabia sim o
que eu iria encontrar e não me enganei! Naquele colégio, você aprendeu
boas maneiras, regras morais, mas quase nada sobre alta sociedade,
moda e principalmente homens. Então, posso torná-la uma mulher que
se veste e se comporte da forma que eu ache adequada e posso ensinar-
lhe tudo o que gosto em uma mulher. Assim, a torno uma esposa e
mulher totalmente ao meu gosto!

Ele falou tão próximo ao rosto dela e impedindo a sua passagem com
o seu corpo viril, que por um momento, Liv pensou que ele iria beijá-la
grosseiramente mais uma vez. As suas mãos fortes estavam machucando
os seus pulsos delicados.

— Você está me machucando... — ela disse chorosa com um fio de


voz, quando não resistiu mais.

Andrews a largou, mas não se afastou, ficou a olhá-la em silêncio,


como se a estivesse analisando. Enquanto ela esfregava os pulsos e o
observava com uma expressão magoada no rosto.

— Sabe Liv, nem sempre eu me comporto como um cavalheiro!


Então, é bom você se lembrar disso cada vez em que pensar em me
desafiar ou ser insolente comigo — ele falou num tom que era uma
mistura de sarcasmo e ameaça.

Ao dizer isso, ele a tomou fortemente nos braços, pressionou seu


corpo forte contra o dela e a encostou contra a parede. Pela primeira vez,
Liv sentiu a masculinidade de um homem, apesar de um pouco
assustador, era uma sensação diferente que ela não sabia descrever. De
repente, ela sentiu as mãos dele acariciando seus seios redondos e fartos,
tentando desabotoar seu suéter enquanto beijava seu pescoço macio. Ela
estava presa entre a parede e o corpo dele, mas tentou se desvencilhar.
Liv o empurrava.

— Não Andrews, por favor... os empregados ainda estão acordados,


sinto vergonha... e ainda não estou pronta... — ela argumentou com voz
meio assustada.

— Não seja boba! Somos recém casados, todos os empregados da casa


tem certeza do que está acontecendo ou irá acontecer nesse quarto hoje
—Andrews falava com voz ofegante, enquanto beijava seu pescoço com
uma certa impaciência.

Esse argumento de Andrews somente a deixou mais envergonhada.


Agora ela tinha a certeza do que todos os empregados da casa estavam
pensando: A noite de núpcias do patrão já havia começado!

— Estou tão cansada da viagem, preciso de um banho, por favor...—


ela suplicou quando finalmente conseguiu se soltar.

Então Andrews parou, a encarou firme e a surpreendeu com uma


pergunta:

— Liv... você não está pensando em negar-me meus direitos de


marido, está? Julgo que eu lhe avisei desde o início que desejava um
casamento real! Uma mulher de verdade na mesa e na minha cama!

— Eu não disse isso... — a jovem falou tímida. Afinal, ela sabia sim
e concordou. Apesar de pressionada pelas circunstâncias.
— Então, pare de se comportar como se não tivesse sido avisada.
Porém, não sou um monstro insensível. Tome um banho demorado,
escolha uma bela camisola no armário, apague as luzes e me espere em
baixo das cobertas.

— Obrigada.

— Afinal, toda mulher tem direito a uma primeira vez delicada, um


despertar suave e as lembranças inesquecíveis da noite no dia seguinte.
Eu vou tomar um banho e retorno daqui a duas horas.

Ao falar isso Andrews foi para o seu quarto, usando a porta de


comunicação e a deixou a sós para se preparar para a noite de núpcias
entre os dois.

Liv sentiu-se aliviada quando ouviu o barulho da porta de


comunicação se fechando. Ela ficou a observar a cama com lençóis de
cetim creme, a sua cabeceira de contornos dourados, nas janelas pesadas
cortinas vermelhas por onde soprava a brisa da noite.

Ah meu Deus! Ele disse que não vai ser grosseiro, mas o que é ser
grosseiro para ele? As mulheres que ele está acostumado devem ser
muito diferentes do meu jeito de agir.

Liv pensava preocupada. Apesar do alívio inicial por ele ter lhe dado
um tempo extra para se preparar.

O quarto era todo forrado por um carpete vermelho macio. Havia


poltronas vermelhas com almofadas douradas, era o aposento digno de
uma princesa das mil e uma noite. Iguais aos romances que ela
costumava ler na biblioteca do colégio, mas agora a realidade era outra.
Existia sim um belo príncipe, mas também um casamento arranjado,
sem amor e uma princesa assustada, que não sabia como agir em sua
primeira noite e nem em um casamento com uma marido praticamente
estranho.

Liv entrou no que agora era o seu banheiro privativo e ficou


admirada com o luxo do ambiente. Uma banheira enorme, torneiras
douradas em forma de cisne, armários com sais de banhos, perfumes,
toalhas felpudas e macias, todo um luxo ao qual ela não estava
acostumada. Então, ela decidiu aceitar seu destino e começar a sua
preparação. Tirou vagarosamente as roupas, prendeu os cabelos com
uma fivela e entrou na banheira cheia de espumas que alguma
empregada já tinha deixado preparada. A senhora Simpson deveria ter
imaginado que a patroa gostaria de um banho especial ao chegar em sua
nova casa. A sua primeira noite como senhora daquela casa enorme e
requintada, a sua primeira noite na cama do senhor da casa.

O contato com a água morna a deixou mais relaxada, ela nunca havia
entrado numa banheira cheia de espumas antes. Foi gostoso sentir aquela
água morna acariciando o seu corpo nunca tocado e relaxando toda a sua
musculatura. Ela pretendia tomar um longo banho, mas de repente ficou
com receio de que Andrews perdesse a paciência e entrasse no ambiente
de forma inesperada. Afinal, ele já a havia prevenido que nem sempre se
comportava como um cavalheiro. Então, ela logo se enrolou numa
toalha e saiu do banho para o seu quarto. Andrews ainda não havia
voltado.

Nossa... estou com frio, será o clima ou calafrios pelo medo da noite
de núpcias? Vou vestir rápido uma camisola qualquer do armário e
acabar logo com isso.

Liv pensou nervosa.

Ela abriu seu belo armário a procura de uma camisola branca e


simples. Pois, não queria nenhuma peça ousada e sim algo básico para
vestir, cumprir rapidamente o seu papel de esposa e pronto. Desejava
que aquela noite acabasse logo, mas, no fundo, ela estava assustada e
tentando disfarçar.
A primeira vez a deixava cheia de dúvidas, não conseguia imaginar
como seria o momento da entrega ao marido. Se ele seria grosseiro, se
haveria dor. Ao abrir o armário, ela percebeu que Andrews não deixou
muita escolha para ela no quesito simples e básico. Todas as camisolas
eram lindas, de bom gosto e sexy o suficiente para despertar o desejo de
um homem. Ele parecia ter escolhido uma a uma de propósito.
Capítulo 5
A porta de comunicação foi aberta com cautela. Andrews entrou no
quarto e o encontrou todo escuro. Somente a luz do luar que entrava
pelas cortinas abertas banhava o ambiente.

— Credo Liv! Confesso que não pensei que o seu pudor chegasse a
tanto! Não estamos mais no século dezenove, sabia? Os anos oitenta
chegaram. — Ele não perdeu a oportunidade de fazer um comentário
irônico.

Então, ao fazer esse comentário, ele foi até a janela próxima à


cama e de forma brusca abriu toda a cortina. A enorme cama de casal foi
iluminada pela luz da lua clara no céu. A luz do luar revelou a aparência
meiga e, ao mesmo tempo sedutora de Liv, pois, não deu tempo cobrir-
se com as cobertas. Ela com os longos cabelos ruivos caindo sobre o seu
colo macio, revelado pelo provocante decote da camisola de renda. Os
redondos olhos azuis brilhavam, ela estava mais para uma encantadora
sereia do que para colegial recatada.

Liv soltou um grito de protesto em resposta a atitude ele:

— Não! Deixe as cortinas fechadas! Por favor...você não está sendo


delicado...— ela concluiu falando baixinho e mordendo os lábios.

Andrews aproximou-se e chegou até a borda da cama. Ela observou


que ele usava um robe de seda preta. Então, de pé ao lado da cama e
com um movimento rápido, ele arrancou o robe diante dos olhos
assustados dela.

— Você está sem roupa! — ela falou escandalizada e


instintivamente cobriu o rosto com as mãos.

— Vamos Liv, retire suas mãos do rosto! Você já tem idade


suficiente para saber que me veria sem roupa em nossa noite de núpcias!
— ele falou em um tom debochado e impaciente e deitou-se ao lado dela
na cama.

Liv rapidamente cobriu-se toda, puxando seus lençóis até o pescoço.


Ele a descobriu devagar, ela imobilizada pelo medo que sentia não
chegou a protestar. Andrews com os olhos semicerrados, ficou a admirar
seu corpo, enquanto o luar realçava ainda mais o seu tom de pele,
deixando-a mais bonita. Ela usava uma longa camisola branca de seda
com detalhes de renda, o tecido colado ao seu corpo realçava suas
formas, seus quadris redondos. O decote revelava o seus seios fartos e
isso a deixava sem graça. Não era a sua intenção parecer sexy naquela
noite, mas não teve alternativa ao escolher uma das camisolas do seu
enxoval.

Andrews a fez virar de lado e ficar deitada frente a frente com ele,
com a ponta dos dedos contornou seu colo, desceu para os seios, o que a
deixou com a respiração acelerada.

— O branco simboliza a pureza, Liv... você tem esse direito. Minha


linda sereia dos cabelos ruivos, em instantes você será completamente
minha de verdade... — ele falou sussurrando e ela ouviu calada, mas
visivelmente alterada. Numa mistura de medo, curiosidade e algo mais
que ela não sabia descrever ainda.

— Não confia em mim, não é Liv? Quero que saiba que para mim, é
gratificante ganhar a sua virgindade. Não tenha medo, não tenho a
intenção de machucá-la— ele continuou a falar baixinho com
delicadeza.

—Eu...eu não sei! Sinto medo... — Liv sussurrou com receio

— Então, não sinta medo... Eu te quero como esposa, como a mãe


do meu herdeiro, como mulher. Então, a troco do que eu iria fazer algo
que a traumatizasse na cama? Ainda quero muitas noites iguais a esta ao
seu lado...

Andrews a envolveu em seus braços fortes, lhe deu um longo beijo e


carinhoso. Bem diferente daquele primeiro beijo de quando se
conheceram.

Os lábios dele, eram quentes, macios, a língua de forma delicada, mas


atrevida explorava a sua boca. Ela correspondia devagarinho ao beijo
que lhe causava uma moleza gostosa, a qual não sabia descrever.
Aquelas palavras de Andrews a fizeram relaxar e amenizaram o medo
que estava sentindo dele e daquela primeira noite.

Quando Andrews começou a beijar seu pescoço e puxar as alças de


sua camisola, revelando parte dos seus seios, Liv ainda estava um pouco
apreensiva. Porém, sentiu seu corpo relaxar quando ele a olhou bem no
fundo dos seus olhos e deixou transparecer que ele realmente tinha a
intenção de cumprir a sua promessa: Não machucá-la, não assustá-la.

—Liv, Liv... tão linda e doce... gosta assim? — ele falava


carinhosamente a cada toque.

— Aham... — a jovem respondia baixinho, cheia de pudor, mas


aprovando cada carícia dele.

Andrews revelou-se para Liv, como um amante carinhoso, quente,


sedento, apesar de ela não ter parâmetros. Contudo, delicado, que sabia
dar prazer sem assustar ou constranger uma mulher em sua primeira vez.
A hora da entrega foi sublime, mesmo com receio que toda senhorita
tem em relação à dor da primeira vez, ela quase não sentiu.

—Andrews... – Liv falou com medo.

—Calma, princesinha... não a machucarei. Tudo será em seu tempo


e com calma...

Ele foi tão carinhoso, tão habilidoso que entre beijos, abraços e
carinhos, posicionado estrategicamente por cima dela e pressionando o
corpo contra o seu. Então, assim ela relaxou e abriu-se completamente
para receber aquele membro duro, quente e viril, de início assustador.
Porém, que entrou aos poucos devagar, proporcionando a ela uma
sensação gostosa de plenitude, a transformando numa mulher e esposa
de verdade.
Foi com satisfação, com o ego masculino satisfeito, que Andrews a
ouviu, no ápice do prazer, aninhar-se ainda mais aos seus braços, romper
as barreiras do pudor e gemer baixinho.

— Andrews.... — E depois o silêncio, permaneceram abraçados,


corpos exaustos e satisfeitos. Ela com o rosto colado ao ombro dele,
envergonhada e sem querer encará-lo.

— Liv.... — ele sussurrou ao seu ouvido —, machuquei você? Fui


muito grosseiro para a primeira noite de uma mulher?

— Não Andrews, você foi um verdadeiro cavalheiro — Ela


respondeu timidamente sem olhá-lo.

—Descanse e durma, minha sereia ruiva, você agora é uma mulher


de verdade. Porém, seu corpinho ainda não está habituado, deve está
exausta. Ainda teremos muitas noites iguais a esta. — Ele aconchegou
ela em seus braços. Assim, os dois permaneceram em silêncio e aos
poucos adormeceram juntos.

Liv acordou com os raios do sol batendo em seu rosto, ela abriu os
olhos atordoada, ainda sem entender onde estava. Então, ela percebeu
que estava nua, havia um robe e uma camisola jogados ao lado da cama.
Os lençóis estavam desarrumados, em um deles uma pequena mancha de
sangue. Foi então que as cenas da noite anterior voltaram a sua mente e
ela ficou ruborizada. Após isso, ela caiu em si, estava em seu novo
quarto, em sua cama de casal e agora era uma mulher de verdade, agora
sim era a senhora Liv Lausen.

—Então, aconteceu! Tornei-me mulher nos braços de Andrews...


— Liv falou baixinho para si mesma, enquanto apertava o lençol contra
o corpo.

Ela achou indelicado da parte do marido, tê-la deixado sozinha em


seu primeiro café da manhã após a noite de núpcias. Ela esperava que
depois daquela noite, que foi tão diferente do que ela temia, do pavor
que sentia, ele acordasse ao lado dela. Todavia, ela resolveu relevar,
pois, ele deveria ter saído para algum compromisso, já que como CEO e
proprietário de uma grande construtora, ele era muito ocupado e não
tirou férias para uma lua-de-mel.
Pela janela ela percebeu que o sol já estava alto. Ao ouvir batidas na
porta, ela vestiu rapidamente a camisola, sentou-se na cama.

—Pode entrar! — Liv ordenou sem graça.

Uma empregada bem jovem entrou carregando uma bandeja com um


reforçado café da manhã. A moça colocou a bandeja no criado mudo ao
lado da cama e deu uma olhada discreta nos lençóis revirados. O robe de
seda preta de Andrews ainda estava caído ao lado da cama. Liv ficou
envergonhada, sentiu o rosto corar com o fato da moça, saber que
naquela cama tinha acontecido uma noite de recém-casados.

Ela pegou uma maçã da bandeja e mordeu, de repente percebeu que


estava faminta. Não sabia que uma noite de amor lhe causaria tanta
fome, antes da simpática jovem sair ela perguntou-lhe:

— Como se chama? — Liv perguntou de forma simpática. Apesar


ser de patroa e empregada, ela queria muito ter uma amiga com idade
próxima à sua naquela casa.

— Evelyn, senhora! — a moça simpática respondeu respeitosamente.

— Evelyn, onde está o senhor Lausen? — Liv percebeu que a moça


hesitava um pouco ao responder.

— Bem... senhora, hoje é o dia da visita quinzenal ao consultório do


Dr. Parker... — Em seguida, como se quisesse fugir do assunto, pediu-
lhe licença e saiu. Parecia que a doença de Andrews não era um assunto
comentado à vontade naquela casa.

Então, foi com tristeza que ela se recordou da revelação que senhora
Brown lhe fez sobre a doença de Andrews e os motivos que o levaram
aquele casamento fora dos padrões normais atuais. O Dr. Parker deveria
ser o médico especialista que cuidava do tratamento contra a leucemia
do seu marido. De repente, Liv ficou surpresa ao perceber que alguma
coisa tinha mudado dentro dela. O quanto agora doía na alma a doença
de Andrews, não era mais somente piedade cristã. Foi nesse momento
que algo despertou dentro dela e agarrada ao travesseiro, falou baixinho
para si mesma.

— Não é possível, será que estou apaixonada, amando o Andrews...


— ela falou surpresa.

A princípio ela achou aquilo tudo estranho, se apaixonar por


alguém que até tão pouco tempo ela sentia medo e antipatia. Então,
depois veio outro sentimento que a fez corar e sentir-se uma devassa.
Será que uma única noite entre os dois tinha mexido tanto assim com os
sentimentos dela? Que conhecer o sexo a tinha levado se apaixonar...

Afinal, o que tem de errado em apaixonar-se, amar o seu próprio


marido?

Ela pensou com os seus botões e sentiu-se aliviada do sentimento


de culpa em relação ao sexo, devido a sua educação recatada de colégio
interno. Porém, ao mesmo tempo os seus olhos azuis entristeceram ao se
lembrar que provavelmente perderia ele para a morte.

Mas e a revelação de senhora Brown? Ele teria mesmo leucemia e


estaria com os dias contados?

Ela pensou triste e surpresa o quanto agora aquilo doía ainda mais no
coração.

Depois do café, Liv resolveu tomar um banho, se vestir e sair


daquele quarto, pois, já estava cansada daquela cama. Após o banho, ao
procurar algo para vestir, foi que percebeu o quanto era rico o seu
enxoval, presenteado por Andrews. Ela optou por um leve vestido
branco de algodão, soltinho e até o joelho. Ela se olhou no espelho e
gostou do que viu, o vestido branco, as sandálias rasteiras, os longos
cabelos soltos e uma tiara na cabeça formavam uma combinação
perfeita. Agora restava reunir coragem para sair daquele quarto, encarar
os empregados e explorar aquela casa enorme, na qual ela ainda se
considerava uma estranha.
Liv desceu as escadas vagarosamente, olhando para o luxo em sua
volta. Cruzou a sala vazia e dirigiu-se ao jardim, no caminho alguns
empregados que cuidava das flores a cumprimentavam com respeito.
Ainda assim sentia-se envergonhada, pois, aquilo era tudo muito novo
para ela. Se não fosso por um motivo tão justo, ela julgaria que era
muita grosseria do seu marido deixá-la sozinha naquela casa em seu
primeiro dia de casada.

Então do banquinho no jardim, onde ela estava sentada, avistou o


carro de Andrews chegando. Viu quando o motorista estacionou, seu
marido desceu e caminhou até a porta principal da casa. Ela, pela
primeira vez, olhou para ele encantada, o achou mais lindo do que
nunca. Ele vestia uma calças de linho bege e camisa azul-marinho. Liv
sentiu o coração acelerar, um friozinho na barriga, não resistiu ao
impulso e correu ao encontro dele feito uma criança inocente.

— Andrews, Andrews!! — gritou ela.

Ele parou e ficou a esperá-la de pé ao lado da porta principal.


Contudo, foi com um enorme desapontamento que ela percebeu que ele
estava longe de ser o homem da noite passada.

— Olá, Liv — Andrews respondeu ao tirar os óculos de sol.

O sorriso dela morreu nos lábios e ficou parada sem reação em frente
a ele.

— Algum problema? — ele perguntou com uma leve impaciência.

— Não...nenhum...— ela respondeu desapontada com a forma fria que


ele a recebeu e envergonhada.

— Ouça, Liv, ficarei no escritório trabalhando, vendo alguns


contratos e documentos importantes. Então, ache algo para entreter-se,
pois, não quero ser incomodado — ele avisou secamente e saiu em
seguida, deixando-a sozinha sem ação, ali de pé na entrada da casa.

Andrews entrou na casa e Liv ficou parada ali na porta, com os


olhos cheios de lágrimas. Ela se perguntava como ele podia comportar-
se daquela maneira com ela, depois da noite tão íntima que haviam
passados juntos? Toda aquele sentimento de paixão e desejo que ele
havia demonstrado por ela era mentira? Ele tinha fingido tudo aquilo ou
todos os homens eram assim? Ela ainda precisava aprender muito sobre
os homens, pensou com os seus botões. Com os olhos marejados de
lágrimas e sensação de rejeição, ela entrou na casa e foi direto para o seu
quarto.

Graças a Deus que Andrews está trancado em seu escritório! Assim ela
não precisaria justificar o porquê de suas lágrimas.

Liv pensou com alívio.


Capítulo 6
Ao chegar eu seu quarto, trancou todas as portas e caiu de bruços na cama
aos prantos, estava se sentindo magoada, rejeitada. Logo em um dia que
estava tão sensível, afinal as emoções da noite de núpcias ainda eram bem
vivas em sua mente.

Como pude ser tão ingênua? Entregar-me daquela forma, sem


nenhuma resistência, o que ele deveria estar pensando dela? Seria por
isso o seu comportamento tão frio?

Liv pensou por não ter nenhuma experiência com os homens, estava
confusa.

Ela julgava ter sido muito tola! Entregar-se daquela forma que ele
conduziu, sem resistência nenhuma a ele e ainda acordar no dia seguinte
apaixonada. Pensando que ele tinha se transformado em um príncipe dos
contos de fadas tão lidos por ela na biblioteca do colégio. Somente em
pensar o quanto Andrews deveria está rindo dela com o seu jeito cínico e
debochado. Da entrega dela total, acreditando que ele era um homem
deslumbrado por ela na noite de núpcias, com intenção de aprender a
amá-la. Isso tudo feriu mortalmente os sentimentos de Liv o que fez com
ela tomasse a decisão de nunca mais entregar-se com tanto fervor. Não
demonstrar mais o que estava sentindo e que estava apaixonada por ele.
Pois, daqui para frente cumpriria na cama apenas o seu papel frio de
esposa arranjada. Até gerar o herdeiro dele e nada mais.

Liv não quis almoçar e não saiu mais do quarto o resto do dia, ao
final da tarde Andrews bateu a sua porta. Ela enxugou o rosto, tentou
disfarçar as lágrimas e foi até a porta central do quarto, destrancando-a.
Andrews estava vestindo uma roupa esporte, como se estivesse
praticado tênis na quadra. Ele a encarou e percebeu que ela havia
chorado.

— Andou chorando? — perguntou segurando o seu rosto com as


duas mãos.

— É somente um pouco de melancolia — ela respondeu


timidamente, tentando não encará-lo, mas ele não se convenceu com a
explicação.

— Melancolia? Estranho para uma recém-casada — ele falou em tom


de reprovação.
— Não sei o porquê de você pensar assim, já que o nosso
casamento não é igual aos outros — ela respondeu com um tom
malcriado.

Andrews, a segurou pelo queixo, a obrigando encará-lo.


— Ah o nosso casamento não é igual aos outros? Ontem a noite em
nossa cama, não foi isso que eu senti — ele disse num tom debochado.

O comentário dele a fez corar dos pés a cabeça, seu rosto ficou em
brasas, sentiu uma mistura de vergonha e ódio dele e também dela
mesma, pela entrega total na noite passada e pelo sentimento de paixão
que estava sentindo. Ela baixou a cabeça e ele deu uma profunda e
sonora gargalhada.

— O que houve Liv? Se você é capaz de provocar-me como homem,


deveria ser capaz de ouvir a resposta também — ele disse cinicamente.

Os olhos azuis de Liv escureceram-se e sua expressão facial ficou


bem diferente daquela menina doce e inocente.

— Saia do meu quarto! — ela falou brava, mas ele não se intimidou.

— Escute aqui, senhora! Sou o proprietário desta casa e seu marido!


Então, nesse quarto não haverá portas trancadas para mim em todos os
sentidos, se é que me entende! — Andrews falou em um tom
ameaçador.

Antes de retirar-se do quarto e deixá-la a sós ele complementou:

— Ah! Vim avisar que nesta casa o jantar sai às oito horas da noite e
eu detesto fazer as refeições sozinho! Quero a companhia da minha
esposa agora! É uma ordem!
Capítulo 7
Liv desceu pontualmente às oito horas para o jantar. No fundo, ela
estava um pouco arrependida de ter tratado Andrews com um pouco de
grosseria. Já que apesar de tudo ele tinha uma doença grave e que não
deveria ser fácil ter o tempo de vida marcado. Então, algumas atitudes
dele deveriam ser desculpadas às vezes. Mas o seu orgulho de executivo
frio, homem de negócios não o deixava abrir-se com ninguém e nem
admitia piedade. Talvez por isso não fosse bem-visto falar sobre a sua
doença na casa.

Ela sentia doer em seu coração quando o real estado de saúde de


Andrews lhe vinha a mente. Porém, já não tinha dúvidas que os
sentimentos dela em relação a ele haviam mudados. Após todo o
encanto da noite de núpcias, o que estava sentido por ele era amor,
paixão e não mais piedade.

Liv vestia um vestido curto de cetim na cor violeta. Os cabelos


presos em seu antigo coque, um batom claro nos lábios, pó compacto.
Ela não entendia muito de maquiagem e no colégio não era incentivada
a usá-la. Ainda assim estava bela, a simplicidade realçou ainda mais sua
beleza.

Quando ela chegou até a sala de jantar, Andrews já estava sentado


à mesa. Vestia calças esporte preta e camisa clara. Ela percebeu que
naquela casa o jantar tinha um certo ar de requinte no traje. Não se
jantava com qualquer roupa usada durante a tarde.

— Boa noite, Liv, tome o seu lugar à mesa — ele lhe disse com
frieza, aparentando estar mal humorado.

Liv agradeceu timidamente, tomou seu lugar à direita de Andrews


naquela mesa relativamente grande para apenas os dois. Eles tinham
muito poucos assuntos em comum. Ela ali, cara a cara com ele, sala bem
iluminada, sentia-se pouco a vontade. Não sabia se era a falta de
afinidade ou ainda um pouco de timidez em relação à noite anterior.

Entre um assunto banal, uma resposta lacônica ou outra, ela tentou


quebrar o gelo e demonstrar mais interesse e intimidade.

— Andrews... você foi hoje ao consultório do Dr. Parker? Ele é o


médico especialista que cuida da sua doença? Eu gostaria de saber como
você está reagindo... — ela falou com cautela e receio na voz.

Ele preparava-se para levar até a boca uma taça de vinho, quando
parou e a encarou com uma expressão de fúria no rosto.

— Escute Liv, eu não quero falar com você sobre esse assunto! Eu
não preciso da sua compaixão! Eu não preciso que você ou as outras
pessoas tenham compaixão de mim! — ele falou bravo com o tom de
voz alterado.

Ela inocentemente tentou continuar. A sua intenção era esclarecer


que não era piedade que fazia com que ela se preocupasse com ele.

— Não fale assim, tenho o direito.... — Mas ela parou assustada com
a reação inesperada dele.

O barulho da taça de cristal sendo arremessada com fúria contra a


parede a assustou. Ao mesmo tempo, ele levantou-se bravo da mesa.

— É problema meu! Você me disse que o nosso casamento não é


igual aos outros e não é mesmo! Pois, eu não lhe dou o direito de invadir
minha intimidade quando se trata da minha doença! Detesto piedade e
interrogatórios quando se trata desse assunto! — ele falou aos berros.

Liv sentiu medo que Andrews, descontrolado emocionalmente como


estava, chegasse mais perto e a machucasse. Pois ele já estava de pé ao
lado da mesa e próximo dela. Então, ela com um gesto brusco levantou-
se, correu em direção ao seu quarto, deixando Andrews sozinho na sala
de jantar. Chegando ao seu quarto, ela trancou à chave todas as portas,
inclusive a de comunicação, pois, temia que ele viesse enfurecido ao seu
alcance. Depois jogou-se na cama, estava assustada, não esperava pela
aquela reação dele.

Já passava das onze horas da noite quando ela ouviu:

— Liv, Liv... — Ele aparentava estar mais calmo, mesmo assim, ela
ainda sentia medo e permaneceu calada.

— Abra Liv! Sei que ainda está acordada. — Ele começou a ficar
bravo novamente.

— Deixe-me em paz! Não vou abrir! — Liv falou, tentando disfarçar


o medo que estava sentindo.

Então, ele forçou a porta e de repente um barulho tomou conta do


ambiente. A porta de comunicação foi aberta com violência, a ponta pés,
e Andrews entrou furioso no quarto. Ele vestia um pijama de cetim
vermelho, seus cabelos úmidos denunciavam que ele tinha acabado de
sair do banho.
Ele cruzou o quarto e foi em direção a cama em que Liv estava
deitada e assustada, abraçada ao travesseiro. Ele a sacudiu pelos braços e
a fez sentar na cama, não era mais o cavalheiro da noite anterior.

— Creio que eu lhe avisei sobre portas trancadas para mim, nesta
casa mocinha! — ele falou bravo, a encarando firme.

— Após ter sido tão grosseiro comigo durante o jantar, como ousa vir
visitar o meu quarto hoje? —ela argumentou chorosa.

— Eu vim visitar a sua cama! Ou você é ingênua o suficiente para


pensar que eu iria dispensar meus direitos de marido em nossa segunda
noite de casados? — ele perguntou com ironia.

— E além do mais, quero um filho, um herdeiro e você não irá


engravidar ficando sozinha nesta cama e eu no quarto ao lado!

Andrews parou de falar e a beijou de formar grosseira, tentando, ao


mesmo tempo, fazer com que ela se deita-se na cama.

Liv esperneou para se livrar dele e num gesto audacioso lhe mordeu o
pulso, o que o deixou furioso, mas conseguiu soltar-se. Ela tentou fugir
correndo em direção a porta de comunicação, pois, era a única que não
estava trancada a chaves. Tinha a esperança que de lá conseguiria
escapar pela porta principal do quarto dele. Todavia, Andrews com sua
agilidade a alcançou ainda no quarto dele, a segurou pelos pulsos e a
arrastou para a cama. Antes de forçá-la a se deitar, ele a encarou com
uma expressão cruel no rosto.

— Detesto ser contrariado! Não imaginava que você viesse conhecer


meu quarto em circunstâncias tão inesperadas!

Ele falou com um certo tom de crueldade na voz, estava furioso pelo
o que achava que tinha sido petulância da parte dela.

— Largue-me, Andrews! Você está me assustando! — a jovem falou


enquanto tentava se soltar dele.

— Sempre imaginei que de início você se sentiria mais à vontade


comigo a visitando em seu quarto. Mas devo confessar-lhe que, nesse
momento, pouco me importa o que a deixa mais a vontade!

Ao dizer isso, ele a jogou na cama sem nenhum cuidado.

Andrews atirou-se sobre Liv como se fosse um tigre atacando a sua


presa. Ela esperneava, arranhava, entre lágrimas protestava, mas isso
não o fazia parar. Ele a beijava com uma fúria, a essa altura a camisola
estava despedaçada, de um jeito bem diferente do homem carinhoso da
noite anterior.

— Sou seu marido! Eu avisei que seriamos marido e mulher de


verdade! Pare de drama e pare de lutar, sou mais forte!

— Você está diferente! Está me assustando! Por favor...

Ele sugava seus seios de forma faminta, apalpava todo seu corpo de
uma forma possessiva. Ela sentia suas mãos fortes tocando suas
nádegas, coxas, a obrigando a se abrir para ele. Até que ela esgotada,
exausta de protestar e lutar contra ele, sentiu seu membro ereto tentando
penetrá-la. Aquilo a deixou ainda mais assustada e também mais
sensível. Foi quando ela desabou em lágrimas, pois, mexeu de forma
profunda com os sentimentos dela.

— Por favor, pare! Não me machuque! Ontem você foi tão


cavalheiro a ponto de dizer que meu corpo ainda não estava preparado
para algo mais intenso! Pois, era a minha primeira vez! Então, por que
agora está me tratando assim? Como se quisesse punir-me, apenas
porque se sentiu desafiado. Sou sua esposa! Você tem obrigação de
proteger-me e não de machucar-me ou assustar-me. — Ela chorando o
olhou nos olhos.

As palavras de Liv, tocaram fundo em Andrews. Como num passe


de mágica, fizeram ele cair em si e perceber o quanto estava sendo cruel
com ela, nada justificava aquela atitude. Ela sentiu os braços dele
lentamente se afrouxarem em torno dela. Ele a largou aos poucos, saiu
de cima dela e ficou em silêncio, deitado ao seu lado como se estivesse
refletindo, mas também não lhe pediu desculpas.
Ela correu quase nua de volta para o seu quarto, pois, a camisola
estava em farrapos. Com o corpo inteiro tremendo, jogou-se em sua
cama e inundou seu travesseiro com lágrimas.

Apesar de ser meu marido, ele não tinha esse direito! Já li em algum
lugar isso...

Ela pensava assustada em sua cama.


Capítulo 8
Apesar de o ato não ter sido consumado, ela estava muito assustada e
magoada com aquela atitude. Afinal, ele apenas parou porque ela conseguiu
dizer as palavras certas que tocaram fundo em sua consciência. Ainda assim,
ele devia a ela um pedido de desculpas por um comportamento tão grave. Liv
não ouviu isso dele, que ficou imóvel deitado na cama, como se estivesse ali
apenas de corpo presente.

A partir daquela noite desastrosa, Liv criou um mundo imaginário


somente dela, onde Andrews não podia penetrar e onde ela se refugiava
em seus pensamentos, daquele homem que ela descobriu que amava,
mas que, provavelmente, não sentia o mesmo por ela. Já que somente
sabia magoá-la com atitudes inesperadas e insensíveis.

Após aquela noite horrível, Andrews não visitou mais o quarto de Liv
e ela sentia-se de certa forma aliviada. Apesar do amor que descobriu
estar sentindo por ele, algo mudou dentro dela após o que aconteceu.
Sentia como se um cristal tivesse quebrado dentro dela. Ainda amava
Andrews, mas esse amor vinha junto com sentimentos confusos de
medo. Eles viviam sob o mesmo teto, vizinhos de quartos, mas como
dois estranhos. Na presença das pessoas, trocavam gentilezas, mas a sós
mal se falavam.

Ele passava os dias absorvido pelo trabalho na construtora e pelo


tratamento médico, isso fazia com que ele ficasse fora o dia inteiro. Na
verdade, ela nunca soube ao certo se era também uma estratégia para
evitá-la.

Será que ele sentia remorso pela aquela noite? Mas se sentia porque
nunca sequer fez um pedido de desculpas? Era bem provável que não.

Liv pensava calada, sempre que ele se dirigia a ela.

Liv morria de vontade em perguntar como estava o tratamento, como


estava a sua saúde, mas o seu orgulho ferido era mais forte, fazendo com
que o tratasse com um fingido desdém, cada vez que se cruzavam ou
que estavam próximos um do outro nos horários das refeições. Além do
mais, somente em pensar naquela noite, dava-lhe um frio na espinha,
uma sensação de medo percorria seu corpo inteiro, isso impedia
qualquer aproximação mais íntima com ele. Andrews parecia perceber e
não insistia em intimidades com ela.

Ele era um marido generoso em relação a gastos, apesar dela ser


alguém contida. Liv podia sair as compras sempre que desejasse.
Contudo, a única exigência dele, era que sempre fosse acompanhada do
seu motorista, pois, Liv ainda não tinha amigas na cidade e ele a julgava
muito ingênua para sair sozinha pelas ruas de Londres. Ela relutava em
aceitar seguranças.

Liv estava amando o seu marido, mas não conseguia esquecer


aquela noite. Sentia-se magoada por nunca ter ouvido dele sequer um
pedido de desculpas, o que faria toda a diferença. Ela estava tornando-se
uma pessoa triste, abatida, não tinha amigos com quem se abrir, as
vezes, passavam horas no jardim sentada ao lado da fonte. Por
coincidência, daquele local, ela, na maioria das vezes, avistava Andrews
chegando do trabalho ao final da tarde. Certa vez, teve a impressão de
que ele, discretamente, a observava com ternura, enquanto ela distraída
brincava com a água da fonte.
Capítulo 9
— Pode entrar! — ordenou Liv.

A senhora Simpson entrou no quarto com seu rosto simpático, mas,


ao mesmo tempo com ar sério.
— Tem visita para a senhora! — anunciou solenemente.

Liv ficou admirada, pois não conhecia ninguém em Londres que


pudesse vir visitá-la.

— De quem se trata? — perguntou curiosa.

— Bem, senhora... trata-se da senhorita Stela West. Velha amiga de


seu marido e também filha do seu sócio — a governanta explicou com
cautela.

Andrews nunca havia falado muito sobre o seu trabalho, na existência


de um sócio e muito menos sobre amigas. Ela não sabia nada sobre a
amizade do seu marido com essa moça.

— Senhora Simpson, avise a senhorita West que já irei descer —


Liv, falou tentando demonstrar maturidade e disfarçar que estava
nervosa.

— Perfeitamente senhora. — E assim a senhora Simpson retirou-se


do quarto.

Liv consultou o relógio, já eram quase cinco horas da tarde.

Será que devo mandar servir um chá das cinco? Com toda a
etiqueta, como reina a tradição aqui em Londres?

Ela pensou consigo mesma.

Liv vestiu-se de forma simples, mas elegante e desceu as escadas,


seguindo até a sala principal para encontrar a tal visita. Ela sentia-se
confusa sobre como deveria se comportar diante dela.

— Boa tarde, sou a senhora Liv Lausen, Andrews não se encontra


em casa, mas será um prazer fazer-lhe companhia enquanto o aguarda
— ela falou com delicadeza.

A moça veio cumprimentá-la com fingida simpatia. Liv percebeu


isso, observou também que era uma moça bonita e sofisticada, daquelas
que enfeitiçavam os homens. Stela West vestia calças pantalonas
vermelhas e blusa de seda bege. Tinha os cabelos tingidos de loiro cinza
e longas unhas vermelhas, fazia o gênero mulher fatal.

Deve ser o tipo de mulher que os homens gostam e principalmente


que o Andrews gosta.

Ela pensou com uma pontada de inveja.

Stela sentou-se no sofá em frente a Liv, esboçando um sorriso falso.

— Querida, na verdade, eu já deveria ter vindo conhecê-la! Mas eu


estava viajando pela Europa e por mais que Andrews insistisse pelo meu
retorno, não deu para retornar antes do previsto! — ela falava
calmamente e fazia questão de demonstrar intimidade com Andrews.

Desde o primeiro instante que Liv pôs os olhos naquela mulher a


detestou. As suas maneiras fingidas, a forma íntima e proposital que ela
se referia ao seu marido. Porém, por educação tentaria estabelecer uma
conversa amigável até a chegada de Andrews do trabalho.

— Realmente, senhorita West. — ela iniciou com delicadeza, mas foi


interrompida.

— Stela! Por favor, trate-me por Stela! Não há motivos para


formalidades entre nós duas.

— Bem, Stela! O nosso casamento foi bem rápido e íntimo.


Acabamos não convidando todas as pessoas que gostaríamos.
Apesar de sentir-se pouco confortável, Liv, falou isso de propósito.
Na verdade, ela não tinha nenhuma intenção de revelar os detalhes
inusitados do seu casamento para aquela mulher antipática.

Então, foi nesse instante que Stela destilou todo o veneno que havia
guardado. Na verdade, aquele era o principal motivo da visita.

— Querida, não precisa me dar detalhes a respeito do seu casamento.


Pois, eu sei de todos eles — ela falava com ar de vitória, de
superioridade.

— Sabe? — Liv a encarou surpresa.

— Claro! Andrews e eu planejamos todos os detalhes do casamento!


Desde a noiva, até a cerimônia discreta, pois, não queríamos chamar a
atenção da sociedade londrina. Afinal, ele é um homem bilionário, de
família tradicional e muito conhecido.

Algo dentro de Liv alertava que ela estava para descobrir algo muito
grave e cruel. Ela percebeu também que não teria paz, enquanto não
soubesse os detalhes daquela trama suja e calculista na qual havia sido
envolvida. Parecia existir mais do que Andrews contou a senhora Brown
para justificar o seu casamento arranjado e as pressas.

— Eu não sei exatamente o que é, mas tenho a impressão que a


senhorita tem algo a me dizer e está fazendo rodeios — Liv falou
timidamente.

Stela a encarou com ares de rival e de repente seu jeito fingido


mudou. Ela deixou cair a máscara de falsa simpatia e grosseiramente deu
o seu aviso, o motivo principal daquela visita.

—Olhe! Não se impressione com Andrews! Pois, pertencemos um


ao outro desde adolescentes, crescemos juntos! A sua única utilidade é
gerar um herdeiro legítimo! E ambos, seu filho e você serem
compatíveis como doadores para Andrews e salvá-lo da morte! Pois, eu
além de não possuir o mesmo sangue que ele nas veias, não posso ter
filhos! Então, a probabilidade de compatibilidade entre nós dois é quase
nula! Porém, é a mim que ele ama! — Stela falou em tom venenoso.

Liv com olhos arregalados e sem voz ouvia tudo perplexa.

Então, Stela sem nenhuma piedade deu o golpe de misericórdia final:

—Eu e Andrews nos amamos! Mas ele está doente! Precisa


urgentemente de um doador compatível e também um herdeiro legitimo,
mas eu não posso ter filho e nem tenho o mesmo sangue dele para
aumentar as chances de compatibilidade. Então, foi quando tivemos a
ideia de um casamento arranjado e temporário. E ele teve uma ideia
mais brilhante ainda, tomar como noiva sua prima bastarda que vivia em
um colégio interno na Irlanda. Vocês são primos em primeiro grau!
Você é filha bastarda da irmã da mãe de Andrews, ambas já falecidas,
não existem muitos detalhes para contar, mas uma coisa é certa: Você ou
seu filho possivelmente serão ótimos doadores! Após o nascimento do
filho de vocês e após o transplante, Andrews pedirá o divórcio e a
guarda! Nós dois criaremos o bebê como nosso!

Ao dar todo esse ultimato, Stela levantou-se do sofá, pegou sua


bolsa de grife e seguiu até a porta principal sem precisar que ninguém a
acompanhasse. Liv também levantou-se do sofá, mas com um olhar fixo,
pernas pesadas como chumbo, ainda tentou falar alguma coisa, mas a
voz não saiu.

— Então garota! O aviso está dado: Você pode ser temporariamente


a esposa legitima de Andrews, mas é só um plano conveniente para nós
dois! Depois será descartada, pois, é a mim que ele ama e é em meus
braços que ele suspirará de amor até os seus últimos dias de vida. —
Stela virou-se para trás e disse isso, antes de sair pela porta, batendo-a
com força.
Capítulo 10
Liv sentiu um mal-estar, a sala girou em sua volta e depois a
escuridão. Quando ela recobrou os sentidos já era noite, as luzes acessas do
seu quarto a fizeram piscar os olhos desorientada. Então, percebeu que estava
deitada em sua cama, procurou lembrar o que tinha acontecido.

— O que aconteceu? — ela piscou os olhos e perguntou a moça


que estava sentada ao lado da cama, era Evelyn.

— Senhora! Que bom que acordou! Irei avisar ao médico! Pois, ele
está lá embaixo aguardando a senhora acordar para examiná-la melhor
— a moça falou com uma alegria sincera.

— Liv ainda se sentia desorientada: Espere! Antes conte-me o que


aconteceu.

— A senhora recebeu a visita da senhorita West, conversaram


relativamente rápido. Após isso ela saiu batendo a porta e nós a
encontramos caída na sala...

Evelyn fez uma pausa:

— Então, avisamos ao senhor Andrews que veio correndo para casa


trazendo um médico. Ele a examinou inicialmente, mas está na sala
esperando a senhora acordar para examinar mais detalhadamente e saber
mais.

De repente, as lembranças terríveis daquela visita e aquela mulher


venenosa voltaram a sua mente. Todo o veneno que ela destilou a afetou
profundamente. Sua cabeça girava diante de tantas revelações de uma só
vez: O romance dos dois, os planos sujos deles e o fato dela ser prima
legítima de Andrews. Ele ter a coragem de esconder a verdade sobre a
sua mãe. Além do interesse nela e no filho como doadores compatíveis e
que os dois tomariam seu o filho após o divórcio. Eram tantas dúvidas
que ela não sabia se tomava satisfação imediatamente com Andrews ou
se esperava recuperar-se um pouco. Afinal, sentia-se doente e exausta.
Evelyn saiu para avisar ao médico que já poderia subir ao quarto,
que a senhora havia acordado.

O Dr. Stuart, era um homem baixinho, de meia- idade e com jeito


simpático.

— Como estar se sentido, filha? — perguntou de forma meiga.

— Bem... — ela sussurrou timidamente.

— Sua cabeça dói? — ele perguntou-lhe.

— Um pouco —Liv respondeu sem muita convicção.

— Você deve ter batido com a cabeça, agora diga-me você tem
sentido tonturas e mal-estar com frequência? — perguntou o Dr. Stuart.

— Você tem se alimentado direito? — ele perguntou.

— Não... ultimamente a comida não me atrai muito — ela falou


desanimada.

— Sabe eu achei seu ventre um pouco inchado, como estão suas


regras? O seu marido confidencio-me que vocês estão tentando ter um
bebê — ele falou num tom mais delicado.

Essa pergunta pegou Liv de surpresa. Foi então que ela se deu
conta que apesar ter dormido com Andrews apenas na noite de núpcias,
as suas regras estavam atrasadas há quinze dias e ela era sempre
certinha.

— Estão atrasadas a 15 dias — ela respondeu baixinho, corada,


envergonhada.

O Dr. Stuart fez algumas anotações em um bloco e concluiu:

— Provavelmente filha, você deve ter se enojado de alguma coisa,


comida, cheiro, situação. Então veio a repulsa, as tonturas e logo depois
o desmaio. Não se preocupe não é nada grave, preciso apenas de um
exame simples para confirmar as minhas suspeitas.

— Então, o que tenho? Quais são as suas suspeitas? — Liv falava


como uma criança curiosa, mas ainda estava fraca para interagir muito.

— Não fique nervosa, em todo os meus anos de profissão, já vi vários


casos assim iguais ao seu.

— E qual é o meu caso? — ela perguntou assustada.

— Filha, é apenas mais um caso de gravidez, pós lua de mel — o


médico falou com voz animadora.

Liv piscou os olhos, sem acreditar no que ouvia e instintivamente


levou as mãos ao ventre.

O Dr. Stuart, pegou-lhe as mãos e disse-lhe:

— Sim, você está esperando um bebê. Agora irei deixá-la sozinha


para que descanse e avisarei ao seu marido que ele poderá vir vê-la
assim que quiser. Ele está muito preocupado e você deve está ansiosa
para dar-lhe essa maravilhosa notícia.

Após isso, Liv repousou o corpo, mas não a mente. Tudo que Stela
lhe falou não conseguia sair da sua mente. O plano sujo e calculista dos
dois, a revelação sobre ela ser prima de Andrews, o porquê a
escolheram. Agora ela entendia o motivo pelo qual entre tantas moças
ela foi a escolhida. Sentia-se enganada. Afinal, tinha o direito de saber
de tudo desde o início e ficaria a critério dela aceitar ou não. Ele foi
cruel ao esconder de uma órfã informações sobre sua mãe e foi mais
cruel ainda ao planejar tomar seu filho após nascer para ele e Stela o
criarem como filhos e serem felizes para sempre. Enquanto ela seria
descartada com um divórcio.

Eu não comentarei nada com Andrews sobre as revelações de Stela!


Fingirei que não sei de nada a respeito do plano dos dois. Verei quando
ele vai ter ao menos a decência de me contar que somos primos
legítimos e o porquê dele ter me escolhido.
Ela pensou, tentando agir friamente, igual a eles, apesar da mágoa e
ciúmes que sentia e da curiosidade a respeito da sua falecida mãe.

Liv acariciou seu ventre com as mãos, era difícil acreditar que ali
agora havia um bebê. Afinal, ela ainda era tão jovem, imatura e tudo
estava acontecendo tão rápido em sua vida.

— Pós lua de mel... — ela comentou baixinho para si mesma com


tristeza, enquanto alisava a barriga e pensava: Não tivera sequer uma lua
de mel de verdade. A noite seguinte a noite de núpcias foi desastrosa e a
partir daí acabou com qualquer contato íntimo entre os dois recém-
casados.

Andrews entrou no quarto devagar, pisando macio.

— Liv... — disse com suavidade, tentando observar se ela estava


acordada.

Liv, deitada, mas ainda acordada, abriu os olhos e o viu


atravessando o quarto em direção a sua cama. Ele estava elegante,
devido aos fatos não teve tempo de trocar de roupa, após o trabalho,
vestia calças cinza e camisa social preta. Todavia, quando ele se
aproximou da borda da cama, ela notou sua aparência abatida e pele
mais pálida.

Meu Deus... deve ser a doença avançando.

Ela pensou com tristeza. Afinal, apesar de toda a mágoa que sentia,
continuava a amá-lo.

Andrews sentou-se na borda da cama e tomou as mãos de Liv entre


as dele.

— Você está bem, garotinha? Fale alguma coisa... gosto de ouvir


sua voz — ele pediu delicadamente enquanto levou as mãos dela até os
lábios e as beijou.
Quando Liv o ouviu falar de forma tão meiga, algo que não era do
seu feitio e sentiu seus lábios quentes beijando as mãos dela, seu coração
disparou no peito. Ela por um instante esqueceu o ciúme que sentia de
Stela e a mágoa que sentia por esconder toda a verdade sobre os planos
sujos dos dois amantes. Pois, o amor que ela, já a algum tempo,
descobriu sentir por ele era maior que tudo.

— Ultimamente — ela falou com receio —, não temos ouvido muito


a voz um do outro, não é?

Andrews engoliu em seco ao ouvir isso, como se sentisse remorso ou


culpa pelo o que causou o distanciamento entre os dois.

— Creio que sim, Liv. Agora diga-me, os empregados me


informaram que uma velha amiga da família veio hoje até aqui conhecê-
la. Ela contribuiu de alguma forma para esse seu mal-estar? — ele
concluiu sério, como estivesse suspeitando de algo.

— Não... a senhorita West veio apenas me conhecer. Eu desmaiei


logo após a saída dela. Não sei o que pode ter acontecido. — Liv
preferiu mentir, pois, achava que a situação entre os dois, naquele
momento, já era tão delicada. Não era o momento ideal para pedir
explicações sobre Stela, sobre sua mãe, sobre o plano dos dois usando
ela.

— Então... o que o médico falou para você? Pois, ele não quis me
adiantar. Apenas avisou que você tinha algo a me dizer — Andrews
falou com delicadeza.

— É que estou grávida... — Liv falou baixinho com uma certa


timidez.

A primeira reação de Andrews foi de espanto, ele também não


esperava. Em seguida, um sorriso iluminou o seu rosto abatido e os seus
lindos olhos cor de mel brilharam de alegria. Ele beijou novamente as
mãos dela, que ainda estavam entre as suas, e logo em seguida a encarou
cheio de ternura.
— Liv, você está me dando um presente dos deuses... — falou com a
voz embargada pela emoção, algo que ele não gostava demonstrar.

Liv olhava, calada, para Andrews com amor e devoção. Mas, de


repente, seus olhos se encheram de lágrimas, doia o coração só de
pensar o quanto eles poderiam ser felizes juntos: Eles dois e agora o
bebê. Porém, existia Stela, o plano cruel deles e a sombra da morte entre
os dois.

Andrews não entendia ao certo o motivo das lágrimas dela.


Julgava que ela podia estar um pouco abalada com a notícia sobre o
bebê. Afinal, ela ainda era muito jovem, tinha apenas dezoito anos e já
seria mãe. Com o dedo ele enxugou, delicadamente, uma lágrima que
descia pela face de Liv.

— O que houve, garotinha? Não quer o nosso bebê? — ele


perguntou com carinho.
— Sim, quero, é que você não entende... — Ao dizer isso ela caiu
num choro convulsivo, sem explicar os motivos reais que a estavam
deixando assim.

Andrews, em silêncio, tirou os sapatos e deitou-se ao seu lado na


cama e a abraçou. Liv correspondeu ao abraço, ficando quietinha com a
cabeça encosta ao seu peito. Precisava daquele abraço, pois, estava
sentindo-se sozinha, desprotegida. Então, assim igual a uma criança,
adormeceu entre os seus braços fortes.

Quando ele percebeu que Liv dormia, tentou soltar-se dela e sair do
quarto para deixá-la mais à vontade. Pois, tinha prometido para ele
mesmo não invadir mais a intimidade dela, a menos que ela pedisse.
Contudo, ao tentar sair da cama, Liv o abraçou ainda mais.

— Andrews... não me deixe... — ela falou sonolenta.

Ele comovido com o que ouviu e também enfeitiçado pelo amor


que já sentia por ela. Apesar de que ainda não tinha se dado conta disso,
resolveu dormir ali mesmo, vestido ao lado dela. Pois, não queria a
acordar e muito menos forçar uma intimidade, assustá-la ou magoá-la.
Capítulo 11
Liv sentiu o seu braço dormente, algo estava o pressionando,
fazendo com que ela dormisse de mau jeito na cama. Então, foi um susto
para ela ao abrir os olhos e ver Andrews dormindo vestido ao seu lado.

Será que ele se sentiu na obrigação de ficar aqui comigo? Ou ficou


por dedicação ao bebê?

Ela pensou.

A única coisa que ela se lembrava com clareza, após a breve


conversa que tiveram, foi de ter retribuído ao seu abraço com fervor. Ela
estava sentindo-se tão carente, sozinha, desprotegida que não deu para
fingir indiferença quando ele a abraçou.

Andrews se mexeu na cama e abriu os olhos, encontrando Liv a


observá-lo enquanto ele dormia.

— Liv, perdeu o sono? — perguntou lhe, acariciando o seu rosto.

— Sim... desculpe-me se o acordei — ela respondeu timidamente.

Depois de semanas dormindo separados, sem intimidade, parecia


estranho para ela o fato de Andrews e ela, apesar de serem casados,
encontrarem-se numa situação tão íntima, deitados na mesma cama,
altas horas da noite. A luz do abajur dava um clima de sedução e
romantismo ao ambiente. O calor do corpo dele tão próximo mexia com
as emoções dela e isso a envergonhava. Liv observou timidamente a
camisa dele semiaberta o que revelava a visão parcial do seu peito
musculoso e liso. De repente, subiu uma onda de calor gostosa pelo
corpo dela, sua respiração ficou um pouco mais ofegante. Ela tentava
disfarçar para que ele, como um homem experiente que era, não
percebesse. Um clima de romantismo, intimidade e desejo tomou conta
do quarto.
Andrews foi se aproximando lentamente dela e a beijou. Foi um
beijo doce, lento, macio, quebrando o gelo entre os dois, fazendo com
que Liv saísse da defensiva e se entregasse totalmente ao amor e desejo
que sentia inconscientemente por ele.
Ela correspondeu ao beijo com fervor, sentia ele beijar-lhe a boca
com ardor, descia os lábios pelo seu pescoço macio e delicado. Ela não
protestava, sentia uma necessidade de mulher, uma sensação estranha,
uma urgência em se entregar a ele mais uma vez. De repente, sentiu os
lábios de Andrews percorrendo o contorno dos seus seios fartos, a boca
dele em busca dos seus delicados mamilos. Neste instante, como se
acordasse de um transe, ela se assustou, as lembranças daquela última
noite íntima desastrosa vieram a sua mente e um arrepio de medo
percorreu o seu corpo todo.

— Não, Andrews... — Ela parou de corresponder e tentou se


afastar.

— Por favor, Liv — ele implorou com delicadeza —, quero ter


você está noite! Por favor não me rejeite... — ele suplicou, enquanto, ao
mesmo tempo a puxava de volta para si e continuava a beijar seu
pescoço e ombros com muita delicadeza.

Liv lutava consigo mesma, de um lado a voz da razão dizia para


não ceder a ele. Pois, além da mágoa que ainda sentia pela aquela noite
horrível, sem ao menos um pedido de desculpas, ainda lembrava que ele
tinha um caso com Stela e juntos os dois a enganaram, a fizeram vítima
de plano sujo e premeditado.
Por outro lado, o amor e desejo que sentia por ele já era algo bem
vivo dentro dela. Seu coração apaixonado batia loucamente e o seu
corpo de mulher que descobriu o sexo a tão pouco tempo sentia
necessidade do corpo dele, queria ser dele novamente.

Andrews não queria a magoar ou forçar uma situação. Então, ele


parou de beijá-la e ficou a enlaçá-la pela cintura, os olhos fixos nos dela.
Ele esperava um sinal, se poderia continuar, se ela iria ceder ou se ele
mesmo louco de desejo deveria voltar para o seu quarto e ter paciência.
Esperar o tempo dela, até que um dia ela se sentisse pronta novamente,
quem sabe talvez somente depois que bebê nascesse.
Liv, rompeu a timidez, colocou a mão na cabeça do marido e o guio
até onde tinha parado, em direção aos seus seios macios meio que já
expostos pela camisola de alcinhas finas e decotada. Esse gesto dela o
deixou fascinado, acendeu novamente a chama do desejo entre dois,
antes do clima ser quebrado, devido aos fantasmas do passado
lembrados por Liv.

— Andrews, também quero e desejo você, mas por favor não me


magoe, não em nossa cama... — ela sussurrava enquanto ele beijava
delicadamente seus seios macios e redondos ainda por cima da fina
camisola.

— Liv, não tenha medo, se entregue para mim sem receio. Eu sou
seu marido e prometo fazer dessa noite, uma noite especial para
compensar as lembranças ruins que você possui causadas por mim —
ele falou com a voz rouca de desejo, ela já estava começando a saber
identificar essas sensações do universo masculino.

Eles permaneceram deitados na cama, ambos abraçavam-se e


beijavam-se intensamente, o fogo do desejo e paixão consumia os seus
corpos colados. Ela não protestou mais quando ele lhe tirou a camisola,
beijou-lhe os seios, sugou-lhe os mamilos até ela suspirar e morder os
lábios para sufocar, com timidez, um gemido de prazer.
Pela primeira vez, ela sentiu o amor ainda delicado, mais de um jeito
mais intenso. Afinal, já não era mais a sua primeira vez, não protestou
quando Andrews percorreu com os lábios todo o seu corpo nu. Beijou
várias vezes a sua barriga, desceu a boca e para a sua surpresa sentiu ele
afastar delicadamente as suas pernas, beijar e sugar o que ele chamou de
minha delicada e intocada flor, guardada especialmente só para ele.
Nessa hora, ela teve que mais uma vez morder os lábios para sufocar
os gemidos. A sua respiração ofegante fazia Andrews perceber que ela
estava aprovando tudo que ele fazia para mostrar a ela o mundo real do
prazer entre um homem e uma mulher.

Liv permanecia de olhos fechados e, às vezes, com um certo


recato, correspondia com fervor as atitudes de Andrews na cama. Ela
estava inebriada de paixão, ternura e prazer, entregou-se sem reservas e
Andrews era um amante habilidoso, acostumado a ter várias mulheres.
Ele sabia a dose certa em relação a ela, sabia como, aos pouco, dar
prazer, mas sem assustá-la. Ele agia como um professor que ensina a sua
aluna para que ela seja a melhor no que faz. Eles se amaram
intensamente durante toda a madrugada, depois ficaram exausto,
abraçadinhos, sem roupas e envoltos por lençóis macios na enorme cama
de casal.

— Liv — ele iniciou com cautela e uma voz carregada de emoção


—, quando eu me for, você ainda será bem jovem e se casará
novamente! Então, escolha com cuidado um pai para nosso filho!
Prometa que ele será bem cuidado, pois, o que posso fazer é deixar
dinheiro o suficiente para uma vida confortável, mas não sei se Deus
permitirá que eu o eduque — ele concluiu com a voz embargada.

— Não! Eu não quero que você se vá! Eu não irei casar-me


novamente! — ela disse chorosa, por um instante ela esqueceu todos os
planos dele com Stela. Era como se no mundo somente existisse ela,
Andrews e o bebê.

— Não chore, Liv! Por favor! Já é muito difícil para mim viver a
controlar minhas emoções! Por não desejar despertar o sentimento de
piedade nas pessoas, mas as vezes cansa ser forte — ele concluiu
emocionado e ficou em silêncio.

Após esse desabafo, provocado pelos acontecimentos do dia e o


clima de intimidade entre os dois, Liv teve a ligeira impressão que
Andrews não era tão frio e seco como aparentava. Parecia mais uma
máscara usada pelos homens de negócios e também para não despertar
nas pessoas o sentimento de piedade que ele tanto detestava em relação
a sua doença.

Eles dormiram abraçadinhos, antes dela pegar no sono suplicou a


Deus em silêncio para que aquele clima gostoso de amor, harmonia,
intimidade reinasse entre os dois até seu último dia de vida e que ele
tivesse vida longa. Todavia, não quis pedir nada a Deus, em oração,
sobre Stela e os planos que Stela dizia existir para os dois, preferiu
fingir, naquela noite, que Stela não existia.
— Acorde preguiçosa... — Andrews falou com carinho, enquanto
ainda deitado ao lado de Liv, mexia nos cabelos dela.

Andrews a virou de leve e falou-lhe:

—Liv, já são quase dez horas da manhã, eu preciso sair para


trabalhar, já extrapolei meu horário, você deve tomar um café reforçado,
pois, agora está grávida, além do que deve tá sentindo-se exausta depois
de ontem à noite. — Ele deu um sorriso malicioso.

Ela ainda sonolenta o abraçou e como uma gatinha manhosa


aninhada em seus braços.

— Você tem mesmo que ir? — ela perguntou com uma voz
dengosa, ainda estava em êxtase da maravilhosa noite de amor entre os
dois.

— Bem, eu preciso passar rápido na empresa para assinar alguns


papéis e em seguida irei ao consultório do Dr. Parker — ele falou com
um certo incômodo, não gostava de falar sobre sua leucemia, o pouco
que Liv sabia eram informações soltas passadas a princípio pela senhora
Brown e depois para Stela.

— Andrews, leve-me com você — ela implorou ao ouvir o nome Dr.


Parker. A doença dele interessava muito a ela, não porque estava
preocupada com o fato dela ou o filho ser um possível doador no futuro,
apesar dele ainda não ter tocado nesse assunto, mas sim porque agora o
amava e tudo dele interessava a ela.

Ele a olhou com impaciência, diante do pedido.

— Liv, nós já falamos sobre isso! — ele falou como um pai corrige
uma garotinha teimosa e ela não gostava mais de ser tratada assim.
Afinal, já era uma mulher, a sua mulher!

— Andrew! — ela o encarou e falou seriamente. — Da última vez


o cobrei sobre o seu estado de saúde porque realmente julguei que tinha
direito e também porque aprendi a preocupar-me com você, mas você
me magoou profundamente e prometi para mim mesma não tocar mais
nesse assunto. Todavia, a situação mudou! Agora eu quero saber como
anda a saúde do pai do meu filho! Aliás, nosso filho!

Andrews entendeu a que Liv estava se referindo, o que a magoou


profundamente num passado ainda bem recente e sentiu uma pontada de
remorso.

— Tudo bem, Liv, você pode vir comigo, apenas tente não se atrasar
ainda mais, pois, já estamos atrasados.

Enquanto ele foi para o seu quarto vestir-se, Liv pulou da cama,
ligou para a copa, pediu o tal café reforçado que ele tanto insistia para
que ela tomasse, imagine agora que havia o bebê. Provavelmente, ele
não a levaria consigo caso ela não se alimentasse direito. Liv tomou um
banho rápido. Após o banho, abriu o armário e escolheu um vestido
tubinho de cetim branco e sandálias vermelhas de salto baixo, prendeu o
cabelo com uma tiara e deixou seus cachos ondulados naturalmente
soltos.

Tenho que vestir-me a altura, pois, não quero parecer uma menina
boba diante dos empregados de Andrews ou de Stela. Sem falar que
quero impressionar o meu marido.

Ela pensou consigo mesma, enquanto analisava a sua imagem no


espelho.

— Liv! Liv! — Era Andrews batendo a sua porta, às vezes, ainda


havia essas formalidades entre os dois.

— Entre! — ela respondeu com voz musical e sorriso nos lábios.

Andrews entrou no quarto com seu jeito frio de sempre, vestia um


terno aberto azul-marinho e camisa branca, era típica figura do
executivo frio e de sucesso. Ele não esboçou muita emoção ao ver o
sorriso de Liv no rosto, tentando demonstrar que ela tinha se arrumado
para ele.
O homem carinhoso da noite passada havia sumido, dando lugar ao
Andrews de sempre.

Liv pensou com tristeza.

— Espero que esteja pronta, Liv, pois, não quero atrasar-me ainda
mais — ele disse com frieza e nem sequer reparou na aparência dela, o
que também a deixou desapontada.

— Eu já estou pronta, Andrews, não serei o motivo do seu atraso —


ela disse, tentando fingir frieza também.

No consultório do Dr. Parker, ela foi muito bem recebida. Pela


primeira vez, Liv teve orgulho e sentiu o que realmente significava ser a
esposa do bem-sucedido empresário Andrews Lausen. Ela ficou mais
feliz ainda em ouvir do próprio médico que seu marido estava
respondendo bem ao tratamento para a leucemia.

No fundo, ela tinha esperanças de que ele fosse curado,


independente de transplante ou não. Para ele poder ver o filho nascer,
crescer e com mais um pouco de sorte, apaixonar-se por ela, não pedir
mais o divórcio após o nascimento do filho e abandonar Stela.

Embora, ao mesmo tempo, ela pensasse que era querer demais, seria
muita felicidade para uma garota que agora era uma mulher apaixonada.
Às vezes, ela ficava pensando sozinha se Andrews e Stela se
encontravam a sós como homem e mulher, quando ele avisaria que eram
primos, quando ele iria propor que ela e o filho dos dois fizessem testes
de compatibilidade para o transplante e pior: quando ele avisaria sobre o
divórcio e a guarda do filho.

Apesar de toda a curiosidade, ela preferia aguardar pelas revelações por


parte dele ou quem sabe no futuro, em uma hora mais oportuna ela
mesmo perguntaria. Todavia, agora ela não se sentia pronta, estava
sensível pela gravidez e também tinha medo de perdê-lo de vez, de
precipitar o pedido de divórcio por parte dele, caso soubesse que ela já
havia descoberto toda a verdade. Então, por mais que ela quisesse saber
também sobre sua mãe, preferia aguardar, afinal já tinha esperado tanto
tempo.

— Para a construtora, James — ordenou Andrews.

Essa ordem interrompeu os pensamentos de Liv e a trouxe de volta a


realidade.

Meu Deus! Será que terei o desprazer de encontrar Stela na empresa?

Ela pensou assustada e tentou disfarçar.


Capítulo 12
A Lausen & West Companhia ficava em um prédio luxuoso no centro
da cidade. Por fora a fachada lembrava um prédio antigo, bem conservado da
era vitoriana, mas por dentro os móveis e instalações modernas davam um
toque atual ao ambiente. Depois, Liv ficou sabendo que os pais dele tinham
um carinho especial pelo prédio, por isso a sede da companhia nunca foi
mudada.

Liv preferiu ficar na sala de espera enquanto Andrews assinava


papéis e resolvia assuntos rápidos em sua sala. Ela estava sentindo-se
um peixe fora da água diante de todo aquele luxo e daqueles
funcionários a olhar com olhos curiosos para a bela jovem, desconhecida
e tímida esposa do patrão. Realmente, ela não tinha o perfil da mulher
sofisticada que todos pensavam que o empresário bem-sucedido se
casaria um dia. Pelo pouco que ela conseguia captar, o seu marido já
tinha sido alguém com fama de dom Juan, querido pelas mulheres,
várias para escolher e com vida social intensa. A doença foi que fez com
ele mudasse o estilo de vida, passando a ser mais recluso e a da valor a
outras coisas.

Então, a porta da sala de espera abriu-se e para o azar de Liv, Stela


entrou com ar de rainha. Pelo visto, estava passando próximo e entrou
para cumprimentar Andrews. Devia ser costume e ela bobinha não sabia.
Stela cumprimentou a todos de forma geral, com fingida simpatia e
fingiu ignorar Liv ali sentada no sofá. Ela dirigiu-se até a sala de
Andrews, sem ao menos dar uma satisfação a secretária dele.

— Senhorita West, o senhor Lausen não deseja ser interrompido! A


senhora Lausen também está aguardando aqui fora! — a secretária
avisou, tentando detê-la.

Stela olhou para Liv com desdém:

— Olá, Liv! — cumprimentou com ar de superioridade.


Em seguida, antes que Liv respondesse, entrou na sala de Andrews,
mas antes ainda intimidou a secretária:

— Querida, Andrews sempre tem tempo para mim — ela falou com
presunção sem se importar com a presença de Liv.

Stela entrou na sala de Andrews sem deixar alternativa para a


secretária, que ficou boquiaberta olhando para Liv e sem graça pelo
atrevimento daquela mulher. Liv sentiu os olhos cheios de lágrimas, mas
não podia chorar ali diante de todos, estava sentindo-se humilhada pelos
dois. Sem falar no ciúme que estava sentindo do marido, trancado ali,
bem debaixo do seu nariz, com a amante. Depois de um certo tempo, a
porta se abriu, Stela e Andrews saíram da sala. Os dois conversavam
alegremente, pareciam ter muita coisa em comum.

— Ah, Liv! Desculpe a demora — ele falou como se estivesse


esquecido a presença dela ali a espera-lo. Você deve estar cansada,
vamos para a casa.

Enquanto Liv levantava-se do sofá para irem embora, Stela


propositalmente segurou o braço de Andrews de forma possessiva.

— Andrews, querido, precisamos marcar algo para pôr o resto dos


nossos assuntos em dia — ela disse, encarando ele e falando com voz
sedutora.

Andrews deu um sorriso galanteador para Stela e Liv, ao observar


a cena, teve vontade de sair dali correndo. Mas não podia demonstrar
ciúmes ou ter uma atitude tão infantil diante dos funcionários do marido,
afinal o que iriam pensar dela. Além do mais, foi desde o início
prevenida que o seu casamento não era uma garantia de amor e sim de
compromisso oficial.

Somente meu amor não basta. Não faço parte desse mundo, mesmo
sendo primos, sirvo apenas para lhe dar um filho para que ele ou eu
sejamos compatíveis como doadores. Ele provavelmente deve amar
Stela desde adolescente, como ela me avisou.
Liv pensou com tristeza.

Durante o percurso para casa, Liv permaneceu em silêncio. Fingia


que observava as ruas lotadas de Londres, mas, na verdade era um
pretexto para não falar com o marido, que estava sentado ao seu lado,
ambos no banco traseiro do carro. Andrews, experiente como era,
desconfiava que tinha algo errado, que algo a aborrecia.

Chegando a mansão, ela subiu para o quarto, era três horas da tarde,
mas devido ter tomado café da manhã muito tarde não quis almoçar, na
verdade, estava louca por um banho demorado.

— Ah que delícia! — Liv sussurrou ao entrar na banheira morna de


espumas, durante sua vida no colégio interno não tinha banho de
banheira, mas devia confessar que era maravilhoso. Adorava sentir a
sensação da espuma morna acariciando a sua pele, se infiltrando de
forma macia nos lugares mais íntimos do seu corpo. Isso lhe causava
uma moleza gostosa que a fazia sentir vontade de entregar-se para
Andrews. De início, ela sentia vergonha em se sentir assim, mas com o
passar do tempo, deduziu que era normal. Afinal, ela era uma mulher e
desejava o seu marido.

Liv tomou um banho demorado, depois vestiu um roupão felpudo e


foi até o quarto, sentou-se na cama e com uma toalha secava o cabelo.
De repente, Andrews entrou sem bater.

— Bater na porta ainda é um ato apreciável de educação — ela disse


com ironia e um pouco de raiva, pois, ainda estava chateada com ele.

Andrews passou as mãos pelos cabelos num gesto de impaciência.

— Não se comporte como uma garotinha mimada, pois, sei que não
é! Você pode ser bem jovem, mas mimada não! Eu não preciso bater na
porta, pois, sou seu marido — ele concluiu com firmeza.

O jeito autoritário dele sempre intimidava Liv. A raiva em guardar


o que estava sentindo e ouvir ele autoritário, a deixou mais pálida,
realçando seus olhos azuis e cabelos ruivos.
— Deixe-me ajudar a secar seu cabelo, não quero que se resfrie. —
Ele tomou a toalha das mãos e começou a secar seus longos cabelos.
Mas, na verdade, era um pretexto para criar um clima de intimidade
entre os dois e investigar o que a deixou chateada no passeio.

— Liv, o que a deixou tão aborrecida no escritório hoje pela manhã?


Ciúmes? — ele falou com delicadeza.

Essa pergunta a pegou de surpresa, precisava pensar em algo, pois,


jamais iria admitir para ele que o estava amando e que morria de ciúmes
de Stela, pior ainda deixar escapar, sem querer, que sabia dos planos dos
dois amantes.
— Não Andrews... nada me aborreceu, foi impressão sua — ela falou
passivamente, tentando disfarçar.
Na verdade, Liv estava se sentindo muito magoada e triste. Estava
magoada porque se sentia vítima do plano frio e premeditado pelo casal
de amantes, pelo fato dele não contar que eram primos em primeiro
grau, dele ser amante de Stela, dele pretender pedir o divórcio após o
nascimento do bebê e lhe tomar a guarda do filho.
Triste porque ela já tinha descoberta há tempos que tinha se
apaixonado por ele, a paixão evoluiu, agora o amava e que ele não a
amava e sim, a Stela, que com o tempo os dois se livrariam dela e juntos
criariam o seu filho. No fundo, o que Liv mais desejava era um
casamento normal, ser amada, ser desejada na cama mas, com amor e
não somente pelos instintos masculinos dele.
Liv sentada na cama usando somente um roupão branco, largo
confortável, Andrews sentado por trás dela secava o seu cabelo, o
silêncio do quarto, ele tão próximo que ela sentia a sua respiração em
seu pescoço, começou a deixá-la corada, com a respiração ofegante, isso
a deixava envergonhada, pois, o marido percebia que era um sinal que
seu corpo denunciava, mesmo quando ela tentava disfarçar por
vergonha, que ela o desejava. Aquele banho de banheira, aquela água
morna, tinha mexido com os seus sentidos, com o seu corpo.
Andrews parou de secar seu cabelo e devagarinho começou a beijar
seu pescoço por trás, depois os ombros que o roupão revelava
parcialmente, mas ela tentou se esquivar quando sentiu as mãos dele por
trás segurar seus seios redondos um em cada mão e com os dedos
estimularem levemente a pontinha dos seus mamilos. Às vezes, tinha
impressão que Andrews tinha um desejo especial pelos seus seios
redondos e fartos, mas ela ainda não tinha experiência o suficiente para
entender a fundo todos os desejos masculinos, estava aprendendo aos
poucos com seu marido.
— Não Andrews... ainda é dia, todos estão acordados... e agora tem
o bebê — ela falou com a voz carregada de desejo e sem muita certeza
de que queria se negar a ele.
— Querida, o amor não acontece somente à noite, depois que todos
dormem. Somos casados, esse é nosso quarto e a porta está trancada —
ele falou baixinho atrás do seu ouvido, enquanto as duas mãos
estimulavam o seus mamilos por baixo do roupão.
— Mas e o bebê.... — ela argumentou com a voz ofegante e o corpo
arqueado para trás, inconscientemente cheia de desejo, mas seu pudor a
fazia se conter.
— Gravidez não é doença querida... os casais se amam durante a
gravidez também, só preciso certos cuidados, mas não se preocupe, sei
me conter — ele sussurrou ao seu ouvido e a essa altura, uma de suas
mãos já tinha saído do seio e estava entre as pernas abertas de Liv,
acariciando com o polegar o que ele chamava ao seu ouvido de minha
rosinha, meu botãozinho de flor...

Sempre que ouvia isso, Liv amolecia e deixava cair todas as defesas
em relação a ele e ao sexo, pensava consigo mesma: O que tem demais?
Afinal é meu marido, eu o amo, ele me deseja e eu o desejo!

Foi com esse pensamento que ela deixou Andrews deitá-la na cama
e posicionado por trás, tirar-lhe o seu roupão. Ele se desfez rapidamente
da camisa que usava e com ela deitada de lado na cama a abraçou por
trás, usava apenas um short leve. Pela primeira vez, ela sentiu seu
membro grande e duro de forma diferente, pressionando as suas
nádegas, não para penetrar, mas como uma preliminar e o suspiro
profundo dela denunciou que estava aprovando aquele novo carinho.

Andrews movimentava-se colado ao seu bumbum, com uma mão


segurava forte, num gesto possessivo, o seu seio redondo e com a outra
mão acariciava a seu “botãozinho de flor” e foi assim que ela amoleceu
todo o corpo e quando percebeu, aquele membro duro, quente já a tinha
penetrado, mesmo por trás o seu corpo como sempre fez das outras
vezes, mas dessa vez numa posição diferente.

—Não tenha medo, querida, não vou machucá-la ou assustá-la, é só


mais uma forma de lhe mostrar o amor, relaxe, abra-se para o seu
marido e aproveitemos esse momento maravilhoso, só nosso —
Andrews abraçado colado por trás dela, falou baixinho ao seu ouvido e
foi isso que aconteceu. Liv entregou-se mais uma vez a ele, só que dessa
vez de uma forma mais mulher, com menos pudor e reserva, sem culpas
pois afinal era o seu marido.

Depois desse momento entre eles, o clima de paz reinou por vários
dias entre os dois, durante o dia Andrews saia para trabalhar e para o seu
tratamento médico, ela preferiu não se meter mais, preferia esperar que
ele quisesse contar como tinha sido seu dia, às vezes, sentia ciúmes de
Stela, ficava a imaginar se ela aparecia no trabalho dele, pois na mansão
ela não surgiu mais.

Liv e Andrews não eram exatamente o modelo de casal


convencional, pois não sabia se por orgulho de ambos os lados, se
existia carinho entre os dois não demonstravam na frente dos
empregados ou dos poucos amigos. Todavia, era a noite, quando
chegava a hora de se recolher, que Andrews surgia pela porta de
comunicação do quarto às escuras, pareciam que eles mentalmente se
combinavam, ele simplesmente a caçava na cama e ela no início sempre
fazia um joguinho devido à educação recatada, mas ele sabia que era
cena, que iria ceder e no fundo ela estava adorando aquela lua de mel
atrasada.
Apesar da barriga ainda discreta, seus seios já estavam maiores, seu
bumbum, seus quadris redondos e pernas mais grossas, isso atiçava
ainda mais o desejo dele e a cada dia, ele com muita habilidade e
delicadeza ensinava-lhe mais e mais os segredos dos amantes na cama.

Alguns dias se passaram nessa calmaria gostosa, então Liv ficou


sabendo que como de costume haveria a grande festa anual da
construtora, mas devido à reclusão do marido, esse ano a festa seria
realizada na mansão, afinal, era enorme e a festa já foi ali no tempo dos
pais de Andrews.
Ela ficou preocupada, pois nunca organizou uma festa, nunca teve
uma casa grande para receber convidados, então seu marido comunicou
que ela não precisava incomodar-se, pois, Stela se encarregaria de tudo,
empregados, contratações, já que além de Liv não ter experiência, ele
não queria que ela se cansasse, pois, estava grávida. Isso deixou Liv um
pouco triste e desapontada com ele, afinal depois de noites e noites de
amor, ele ainda mantinha aquela ligação íntima com Stela? Mas preferiu
não fazer reclamações agora, ao menos ficou aliviada em saber que Stela
não ficaria frequentando a casa sob o pretexto de organização da festa,
seu marido já havia percebido a antipatia entre às duas e não queria a
aborrecer a mulher grávida.
Capítulo 13
A festa estava cheia de pessoas bonitas, elegantes, comida e bebida
farta. Os empregados da casa e mais vários outros contratados para o
evento se esforçavam para que tudo estivesse ao gosto do patrão, afinal
de certa forma, era uma festa corporativa e a imagem da construtora
estava ligada ao evento.

Andrews, após a descoberta da leucemia, passou a evitar festas e


badalações, assumindo um comportamento bem diferente do executivo
mulherengo e festeiro de antes. Contudo, o aniversário da construtora
não poderia deixar de ser comemorado, pois era tradição uma grande
festa desde os tempos dos seus pais. Então caso não a realizasse naquele
ano, poderia até levantar rumores de falência e isso não seria bom para
os negócios que estavam indo muito bem.

A festa foi organizada por Stela, pois, seu pai era sócio da
construtora, foi sócio do pai de Andrews e após a morte dele, ficou
sendo o sócio de Andrews que, como filho único, herdou o que era dos
pais. Stela fazia questão de demonstrar para todos a intimidade com
Andrews e dizer que cuidou pessoalmente de todos os detalhes da festa.
Ela estava tomando o lugar de Liv na casa, era a anfitriã, o que
incomodava Liv e também a deixava com ciúmes. O seu marido tinha
muita gente para dar atenção, logo não dava para saber ao certo se ele
estava percebendo o jogo de Stela ou se fingia não perceber.

Andrews a apresentava a todos como a senhora Liv Lausen, sua


esposa e pela expressão de surpresa que os convidados faziam e que
segundos depois tentavam disfarçar, dava para perceber que ficavam
intrigados com o fato do executivo relativamente jovem, bem-sucedido,
milionário ter escolhido uma garota bonita, mas muito jovem e sem
sofisticação para ser a sua esposa, mesmo com a educação refinada do
colégio interno.

Apesar de, teoricamente, como senhora da casa, ser a principal


anfitriã da festa, ela não se sentia à vontade com toda aquelas pessoas,
refinadas, mais velhas e estranhas que a olhavam com olhos curiosos de
espanto. Então como não ficava bem recolher-se ainda tão cedo em seu
quarto, ela foi inocentemente afastando-se do tumulto da festa, pensando
que ninguém sentiria a sua falta e quando se deu conta já estava num dos
seus lugares preferidos da casa: a fonte no jardim. Aquele era o seu
lugar preferido para meditar quando queria refletir sobre a vida ou se
afastar de tudo e de todos.

A noite estava agradável, uma brisa refrescante soprava ao lado da


fonte e a lua estava linda no céu. Liv sentada em um banquinho,
brincava distraída com os dedos na água da fonte, quando enxergou uma
sombra ao seu lado, assustada virou-se rapidamente. Então ela viu ao
seu lado um jovem rapaz bonito, alto e com uma expressão
galanteadora.

— Olá! assustei você? Desculpe-me essa não era a minha intenção


— ele falou alegremente e com um sorriso sedutor. — Eu estava
observando você ao longe, a achei tão linda e aparentemente tão
sozinha, deslocada na festa que me vi tentado a vir-lhe fazer companhia.

— Já que você disse que a tempos observa-me de longe, deveria


saber que eu sou casada, sou a senhora Liv Lausen — ela falou sem
graça.

— Prazer! Eu me chamo Mark West! Sou o irmão mais novo de


Stela! Você deve conhecê-la, não? Afinal seu marido e ela possuem uma
forte ligação, desde criança — ele falou com uma certo tom venenoso na
voz e ao estirar a mão para cumprimentar Liv, ele a surpreendeu aos
tomar-lhe as duas mãos entre as suas, num gesto galanteador, mas ao
mesmo tempo desrespeitoso, afinal ele sabia que ela era casada com o
dono da casa.

Aquele gesto dele pegou Liv de surpresa, a deixou sem reação, mas
ao mesmo tempo ainda deu tempo de pensar chateada que até aquele
playboyzinho provavelmente sabia do caso entre Stela e seu marido e
que o seu casamento era só parte de um plano.
Contudo, ela nem percebeu que as suas mãos estava entre as dele e
que qualquer pessoa desavisada que os avistasse de longe, julgaria que
era um jovem casal de namorados tentando fugir do tumulto da festa.
Afinal, eles eram quase da mesma idade e a gravidez dela ainda não
estava tão evidente devido ao vestido elegante, mas soltinho e
confortável que estava usando para a ocasião.

Então foi esta a cena que Andrews avistou, quando olhou da janela
do segundo andar da casa, ele havia subido para pegar algo no em seu
quarto. E para deixar a situação ainda pior, o tal Mark tentou roubar um
beijo dela, encostando seus lábios nos dela de surpresa. Ela o empurrou
rapidamente.

— Nunca mais ouse fazer isso! Sou uma mulher casada e estou
esperando um bebê! — Liv falou zangada.

O tal Mark não falou nada, somente afastou-se e deu um sorriso


cínico, enquanto de pé a poucos metros dela observava a sua reação,
parecia algo combinado.

Contudo, Andrews não chegou a ver a parte que Liv empurrou o


rapaz e ficou brava, somente viu o início e não gostou nada do que viu.
Saiu do quarto furioso a sua busca, sem esperar pelo final daquela cena.
De repente, ela sentiu que alguém chegou por trás, tocou seu braço e
tentando disfarçar a raiva que sentia para evitar escândalos, falou com
voz séria.

— Liv! Você deveria estar participando da festa ao meu lado,


recebendo os convidados, lembre-se que você também é anfitriã, e não
estar aqui flertando com o irmãozinho inconsequente da Stela! Um
playboyzinho mimado que não sabe respeitar regras e nem sabe os seus
limites! Agora venha comigo!

Andrews saiu, arrastando-a disfarçadamente pelo braço, mas antes


virou-se para Mark que ainda estava parado no mesmo lugar. O rapaz
era um covarde ou tudo tinha sido combinado com alguém, pois, ele não
teve a decência de explicar que foi ele que tentou beijar Liv de surpresa.
Assim, deixando-a numa situação difícil com o marido.
— Quanto a você, meu rapaz, nunca mais toque em minha esposa!
Eu o proíbo de sequer chegar perto dela — Andrews falou enfurecido,
após dar esse último aviso ao rapaz e sair.

Qualquer pessoa que visse a cena, pensaria que era um marido


enfurecido pelo ciúme, mas Liv julgava que não era exatamente isso e
sim o sentimento de posse e o fato de ter sido desrespeitado dentro de
sua própria casa. Ela até ficaria feliz se fosse ciúme, apesar da situação
desagradável, mas ela achava que ele a tinha como um patrimônio, ainda
mais agora esperando um herdeiro e talvez um possível doador para
salvar a vida dele.

Andrews cruzou o grande salão onde acontecia a festa, levando Liv


pelo braço e tentando disfarçar, para evitar escândalos na frente dos
convidados, o ódio que estava sentindo. Então ao chegar no quarto dela,
trancou a porta e a jogou na cama, ele estava bravo e ela, calada, olhava
para ele assustada.

— Escute aqui, mocinha! Eu te busquei em um colégio interno,


porque não confiava nas mulheres ao meu redor, eu queria alguém
bonita, educada, mas com caráter, então achei que naquele lugar seria o
lugar ideal para achar uma moça assim, alguém que fosse digna de
carregar o meu nome, o meu herdeiro e que quando eu me for, herdará a
minha fortuna como mãe dele. Todavia, não esperava isso de você,
fingir-se de bobinha e tímida e pelas minhas costas flertar com o irmão
da Stela, ficar aos beijos! O que teria acontecido se eu não tivesse
chegado Liv? — ele falou com ódio, deixando uma insinuação
maliciosa.

Andrews, de pé ao lado da cama, gritava com o dedo indicador


apontado para Liv, ela assustada deitava de mau jeito na cama, ouvia e
encarava assustada.

— A sua sorte, Liv, é que você está grávida, está carregando o meu
filho, do contrário, eu não me responsabilizaria pelos meus atos!

Liv sentiu-se ofendida com as insinuações finais dele, dando a


entender que aconteceria ainda mais que um beijo caso ele não tivesse
chegado, afinal o que ele estava pensando que ela era? Então, o fato dela
agora corresponder mais ele na cama, estava passando a impressão de
leviana? Seria isso? Mesmo assustada ela tentou se defender, após ouvir
as insinuações.

— Você não pode ofender-me assim, insinuando coisas maldosas ao


meu respeito! Essa tal Mark me surpreendeu com um beijo, tentei evitar,
o empurrei logo em seguida, mas você não viu essa parte e depois você
chegou! Além do que, você não apenas está me ofendendo como
também me ameaçando! O que iria fazer se não fosse o bebê? Iria me
bater? Pior, iria aproveitar-se da minha fragilidade como mulher para me
punir? Como fez em nossa segunda noite de casados? — ela concluiu
chorosa.

Isso fez com que Andrews diminuísse o tom de voz, ela percebeu a
expressão de remorso mais uma vez em seu rosto. Ele entendeu bem ao
que ela estava se referindo, àquela noite desastrosa entre os dois após
uma briga, a segunda noite de casados. A lembrança daquela ainda
magoava muito Liv, ela percebeu que ele sentia remorso e até vergonha
da sua atitude, mas orgulhoso como ele era, jamais fez um pedido de
desculpas formal.

Era verdade que dois meses depois veio a notícia do bebê, que
graças a Deus não foi concebido naquela noite, pois, ele não chegou a
consumar o ato devido aos apelos dela. Então, após a notícia do bebê ele
mudou o seu comportamento com ela no cotidiano para melhor,
passaram a entender-se na cama, mas um pedido de desculpas iria fazer
um bem enorme para Liv.

— Agora fique em seu quarto, meditando sobre o seu


comportamento inapropriado para uma senhora casada, direi aos
convidados que você se recolheu, pois, não estava sentindo-se bem. Não
pense que esqueci o que você fez e amanhã pela manhã comunicarei a
minha decisão final a respeito desse incidente lamentável! — Andrews
falou em um tom sério e saiu do quarto, fechando a porta com força,
enquanto Liv ficou encolhida na cama.
Capítulo 14
Liv estava encolhida em sua cama, com o quarto a meia luz, o barulho
da festa mal chegava até ela. A sua cabeça girava, ainda atordoada pela
confusão, agora ela estava preocupada e pensando qual decisão seria essa que
o marido iria tomar ao seu respeito. Seria algum castigo? Por um momento,
mesmo tão assustada, ela teve vontade de finalmente tomar satisfação com
ele, dizer que sabia de tudo, que ele e Stela eram amantes, que sabia que ele
era seu primo legitimo e que por isso foi buscá-la naquele colégio interno,
não era só pelo fato de um herdeiro, mas sim de ter dois possíveis doadores
compatíveis e pior: Sabia dos planos dele em pedir o divórcio e ficar com a
guarda do filho.

O que ela achava errado não era o fato dele buscar doadores
compatível para salvar-se de uma doença, mas sim o jogo sujo, a falta de
transparência, possuir uma amante, esconder que sabia quem foi a sua mãe,
planejar tomar a guarda do seu bebê ao nascer, tudo isso não se fazia com
uma órfã que pensava que era sozinha no mundo. Porém, ela julgou que não
era um bom momento para tomar satisfações tão sérias como essas, com uma
festa lá em baixo, a casa cheia de convidados. Era melhor esperar, ao menos,
pelo dia seguinte quando o ambiente estivesse mais calmo.

Durante a discussão dos dois, mesmo ela sentindo-se ofendida


pelas insinuações maldosas dele, em relação a ela e o irmão de Stela, ela
teve vontade gritar que o amava, que desejava somente a ele e a mais
ninguém, que nunca deixou, nem deixaria jamais outro homem que não
fosse ele tocá-la, que ela deseja um casamento normal e viverem felizes
os três até que a morte os separar. Contudo, ela se conteve a tempo, por
orgulho, pois se lembrou das revelações de Stela, dos planos dos dois
amantes, do divórcio após o nascimento do bebê, do quanto o casal de
amantes a estava usando para depois descartá-la e os dois viverem
felizes para sempre.
Liv sentia ciúmes dos dois, de início não queria admitir isso, mas
depois não tinha como negar, pois, era o amor tomando conta dela.
Andrews, como empresário ocupado, cheio de compromissos de
negócios, passava o dia na empresa e Liv, às vezes, se perguntava se ele
realmente estava sempre na empresa ou usava parte desse tempo para
encontrar Stela secretamente, mas logo ela tentava tirar isso da cabeça,
pois, não queria que esses pensamentos fizessem mal ao seu bebê, sem
falar na sensação de dor e humilhação que esses pensamentos lhe
causavam. Liv amava Andrews, queria ser feliz com ele e o filho dos
dois, mas acreditava piamente nas revelações de Stela e sentia-se
impotente para virar o jogo e conquistar Andrews, fazendo com que ele
a amasse também, ao invés de Stela.

O sol entrava pelas cortinas, que Liv esqueceu de fechá-las durante


a noite, já deveria ser umas dez horas da manhã. Ela demorou a
adormecer na noite passada, pensando em tudo que aconteceu e acabou
acordando mais tarde do que de costume, mas a casa também devia ter
despertado mais tarde, devido à festa na noite anterior.

De repente ela ouviu batidas na porta:

— Pode entrar —Liv respondeu delicadamente.

Andrews entrou no quarto, estava com o rosto abatido, parecia que


além da festa, tinha passado a noite em claro, acordado após os
convidados irem embora. Ela sentou tensa na cama, encostou na
cabeceira, quando o viu entrar sério, pois se lembrou da decisão que ele
prometeu tomar sobre o fato passado e parecia que ele havia tomado a
tal decisão.

— Liv, vista-se, tome o café reforçado, pois, você está grávida, assim
que você deixar o quarto, Evelyn virá fazer as suas malas, pois, não
quero que você se canse — ele falou num tom sério, era uma ordem.

— Malas? — Liv perguntou baixinho, assustada e com os olhos


azuis arregalados.

— Sim, malas! Tenho uma casa de campo a cem km daqui e você


irá para ela até que o nosso filho esteja próximo a nascer. Eu irei visitá-
la aos finais de semana e seu médico irá sempre até lá para as consultas
de rotina — ele falou sério e sem deixar alternativas, como sempre, ele
já tinha decidido tudo.

Liv ainda tentou protestar:

— Não! Eu não quero viver em uma casa de campo, já estou


acostumada aqui nesta casa. Você não pode fazer isso comigo! — ela
falou brava e, ao mesmo tempo espantada.

— Posso sim! Eu sou o seu marido! O que não posso permitir é que
você e aquele playboyzinho mimado, se aproveitem da minha ausência,
do meu excesso de trabalho, cuidando dos negócios para ficarem
flertando e provavelmente encontrando-se pelas minhas costas! Aposto
que ele irá continuar correndo atrás de você, pois, adora competir do seu
jeito irresponsável e atrevido! Estou cortando o mal pela raiz! Então está
decidido, você parte amanhã, aproveitarei que é um domingo para eu
mesmo levá-la até Netville — ele estava bravo e concluiu sério.
Ela ainda teve vontade de protestar mais uma vez, de falar que ele
estava usando isso como pretexto para livrar-se da presença dela naquela
casa e ficar à vontade com Stela, a sua amante, afinal, ela já tinha
engravidado como ele queria. O seu papel principal que era gerar um
herdeiro, talvez compatível, já tinha sido cumprido, o bebê já estava a
caminho.

Liv ficou tão magoada com a decisão de Andrews que no sábado à


noite não desceu para o jantar, preferiu pedir a sua refeição no quarto. Já
próximo ao horário de dormir, fechou a porta de comunicação, dando a
entender que não queria visitas. No passado essa atitude irritaria
Andrews e ele se sentiria desafiado, podendo até tentar algo. Porém,
dificilmente uma noite como aquela do passado se repetiria, pois ele se
mostrou arrependido e agora ela estava esperando um filho seu.

O domingo iniciou ensolarado e Andrews realmente cumpriu a


promessa de obrigá-la ir para a casa de campo, ele mesmo foi dirigindo,
como se quisesse ter a certeza de que ela não fugiria no caminho.
Capítulo 15
Já havia passado quatro meses desde que Liv chegou a Netville, a
casa de campo de Andrews. Era uma casa antiga, não tão grande quanto
a mansão em Londres, mas também confortável com uma decoração
conservadora, mas muito bem cuidada. O seu marido tinha um carinho
especial por aquela casa, por isso nunca se desfez dela. Todavia, não a
visitava com frequência, somente passou a fazer isso com a chegada de
Liv ao local. Ele realmente passou a vir todos os finais de semana após o
trabalho, cumprindo a promessa que fez quando a deixou ali sozinha e
isolada, usando o pretexto do ciúme, sob o cuidado dos empregados do
lugar que já trabalhavam há anos naquela casa.

Netville era uma propriedade bonita, cheia de árvores e com um belo


jardim em volta da casa, o que lhe lembrava o colégio interno onde
cresceu. Esse jardim era muito bem cuidado a pedido do seu marido, ela
nunca julgou que ele fosse o tipo de pessoa que se interessasse por
jardinagem, depois ela ficou sabendo que no passado o jardim fora
plantado pela mãe de Andrews e que ela cuidava dele pessoalmente
quando vinham aos finais de semana descansar no local.
Após o acidente de carro que matou os seus pais, ainda quando ele
ainda era pouco mais que um adolescente, Andrews por muito tempo
evitou aquela casa. No entanto, fazia questão de conservá-la da forma
que sua mãe a havia deixado e também que os empregados cuidassem
muito bem do jardim, da mesma maneira que ela cuidava no passado.
Todavia, não passava um final de semana naquela casa desde a morte
dos pais, isso somente mudou com a chegada de Liv a Netville.
Além de visitá-la todos os finais de semana, ele sempre ligava para
saber como ela estava, como estava o bebê, se estava sendo bem
cuidada, se o médico estava comparecendo a Netville para as consultas
de rotinas. Andrews parecia saudável, bem-disposto, como se a doença
tivesse dado uma trégua. Aas as vezes, Liv pensava com uma pontada de
ciúmes se o motivo desse bem-estar dele não seria Stela, será que os
amantes estavam se vendo com frequência? Pois, agora não tinha mais
Liv para eles necessitarem fingir.
Quando chegou a Netville, Liv estava triste e magoada com
Andrews, veio o caminho inteiro chorando em silêncio, mas ele foi
inflexível e esse comportamento dela não o fez desistir de seus planos.
Nos primeiros finais de semana, em que ele veio passar com ela, como
prometido, ainda existia muito rancor por ele a estar mantendo ali meio
que contra a sua vontade e ela o tratou com frieza. Então, Liv não
desejou intimidades ou dormir com ele, sendo assim, o próprio Andrews
percebeu, respeitando-a, afinal agora havia o bebê, ela estava mais
sensível, até sua barriga já dava para ser notava, pois já eram quase seis
meses de gravidez e seu corpo tinha se desenvolvido.
Esse clima frio entre os dois somente mudou com uns dois meses
após a sua chegada ali. Era uma noite agradável de primavera, depois do
jantar, Liv sentou-se em um banquinho no jardim, estava ali sozinha ao
sentir a brisa noturna e contemplando as estrelas, perdida em seus
pensamentos, quando sentiu alguém tocar-lhe levemente o seu ombro,
era o seu marido que a viu passar e a seguiu até ali.

— Liv, está triste? Quer ficar sozinha? — ele perguntou gentilmente


e sentou-se ao seu lado, antes que ela pudesse responder.

— Não, não estou triste, eu vim apenas tomar um pouco de ar


noturno — ela respondeu com uma voz cansada. — Ela não queria mais
brigar, estava farta dos joguinhos, daquela guerra sem fim entre os dois,
na qual escondia por orgulho e medo o que sentia por ele, que apesar de
tudo que sabia, ela o amava, queria ser feliz com ele, nesse tempo
imprevisível que restava de vida para ele, mas sem Stela. Seria somente
os três: ela, ele e o filho.

Andrews, experiente em várias coisas entre elas a arte do amor e


desejo, percebeu que ela estava carente, mais receptiva a ele e sem
ânimo para briguinhas de casais. Então, ele sentou no banquinho bem
próximo e ao lado dela, eles se olharam em silêncio, ele afastou uma
mecha de cabelo caída na testa dela.

— Linda, parece uma sereia de cabelos ruivos. — E assim


começou a beijar-lhe a boca, era um beijo macio, carinhoso, mas foi
transformando-se em um beijo de um homem com os instintos a flor da
pele, o beijo de um amante sedento.
Liv de início começou a corresponder-lhe o beijo, mas
bruscamente o interrompeu. Ele sentiu-se ofendido.

— Não quer mais? O que houve? Somos marido e mulher! Há


semanas eu não toco em você, tentando respeitar a sua individualidade,
esperando a sua raiva passar e entender que tomei a melhor decisão —
ele falou ofendido.
— Mexeu! — Liv falou espantada, levando as mãos a barriga,
pois já estava dando para notar há tempos que ali havia um bebê.

Andrews ficou surpreso e alegre ao mesmo tempo, não se conteve


de felicidade, apesar do seu jeito frio não permitir expressar tanto como
outro pai de primeira viagem o faria. Ele ficou ali próximo a ela no
banquinho, abraçados, ele fazendo carinho na barriga dela que já estava
entre média e grandinha, sentindo a brisa noturna e apreciando a lua no
céu.

— Liv, vamos subir para o nosso quarto — ele pediu baixinho ao


ouvido dela, enquanto mordiscava sua orelha e com a outra mão lhe
acariciava os seios.

Ela apesar de tímida e recatada, após passada a raiva que sentiu por
ele tê-la deixado ali na casa de campo, já o estava desejando. Queria
sentir seu corpo forte contra ao dela, sentir aquela moleza gostosa de
quando ele a penetrava e calava seu gemido com um beijo longo, quente
e molhado. Coisas de mulher e ela era uma mulher, que queria voltar a
viver isso com o seu marido.
— Andrews... o bebê, a minha barriga, tenho medo e vergonha —
ela falou baixinho timidamente, mas com o corpo já aquecido pelo
prazer.

— Não seja bobinha, mulheres grávidas também fazem sexo, é


normal entre o casal, se você tem pudor apagaremos todas as luzes, mas
saiba que esse seu barrigão lindo só me deixa ainda mais excitado.

— Então você deseja, você quer intimidades com uma mulher


grávida? — ela perguntou timidamente, sem o encarar.
— Não eu não quero uma mulher grávida, quero e desejo a mulher
grávida do meu filho, é bem diferente — ele falou firme, sem perder o
tom delicado.

Ao ouvir isso, ela corou e quando ele perguntou se ela consentia,


ela somente acenou afirmativamente com a cabeça e os dois subiram
abraçados para o quarto.

Andrews deitou Liv na cama com cuidado, apesar dele parecer com
ainda mais desejo que antes, ela não sabia se era devido ao tempo sem
intimidades. Onde ficaria Stela nisso tudo, ou se ele se sentia atraído
pela sua gravidez. Ele a virou de lado e deitou-se por trás dela, ela sentia
a respiração dele em seu pescoço, sentia ele respirar meio ofegante, suas
mãos seguravam firmes seus seios enormes pela gravidez, acariciava a
sua barriga já grande, enquanto delicadamente esfregava seu membro
forte, duro, quente. Fazendo com que ela afastasse uma das pernas e foi
quando ele a penetrou. Então, ela sentiu o membro ereto penetrar sua
vagina inchada pela gravidez, sentiu ele com a mão manusear
habilidosamente o que ele chamava ao seu ouvido de meu botãozinho de
flor.
Ela mesmo tímida, estava adorando tudo aquilo e com a luz apagada
para disfarçar seu pudor em relação à barriga, barriga essa que ele estava
adorando, que a deixava mais sexy aos olhos dele.
Então, ele delicadamente saiu de dentro dela, sentou na cama,
encostado a cabeceira e pediu para ela sentar devagarinho em seu colo e
de frente para ele, que não tivesse medo, era somente ir devagar, ela
controlaria a penetração. Apesar de apreensiva Liv obedeceu, inebriada
pelo desejo e confiava na habilidade dele na cama.

Foi um momento novo e mágico para ela, na verdade, para os dois,


pois Andrews nunca tinha tido intimidades com uma mulher grávida, e
ter com Liv era especial para ele, pois, era a sua esposa grávida. Ela
sentiu o membro dele devagarinho penetrar a vagina intumescida, que
parecia maior agora grávida, sentada de frente para ele, os dois se
beijavam vagarosamente, enquanto ele esperava pacientemente ela
descer até o fim.
Ao final, eles já de frente um para o outro, ela sentada em seu colo,
mas tão colados, tão encaixados que parecia já terem nascidos assim e o
seu marido, igual a um bebê, se deliciava com pequenas gotas que
pingavam dos seus mamilos, dos seios grandes e inchados, que já
estavam preparados pela natureza para ser mãe daqui a mais uns poucos
meses. Depois de terem o desejo saciado, eles dormiram abraçados,
como há muito tempo não faziam.

Para Liv, parecia um lindo sonho romântico com pitadas de desejo,


mas ela tentava se convencer que o sexo era normal entre um casal,
depois de tudo Andrews adormeceu exausto, abraçadinho a ela, já ela
apesar de também cansada, ficou quietinha na penumbra, pensando no
momento a dois e na felicidade que estava sentindo, ele estava mudado,
mais carinhoso, com o desejo por ela mais aflorado também. Por um
momento ela pensou:

Será que ele me levaria de volta para Londres? Se ele atenderia a


esse pedido agora que ele parecia mudado? Pois, era o que eu mais
queria, voltar a viver com ele em Londres, juntos termos o bebê e
sermos felizes até onde Deus permitir, afinal Ele era quem mandava no
tempo de vida de cada filho aqui na terra. Foi com esses pensamentos
que adormeci quietinha nos braços de Andrews que, aquela, altura já
dormia profundamente.

No dia seguinte, no almoço do domingo, Andrews estava muito


bem-humorado, então Liv aproveitando o bom humor dele e
considerando a noite maravilhosa que haviam passados juntos, acabou
fazendo-lhe um pedido que o pegou de surpresa.

— Andrews, eu já estou aqui há três meses, por favor me leve de


volta a Londres com você, pois, eu quero muito nos últimos meses, já
próximo ao nosso filho nascer, estar em Londres com você ao meu lado
— ela falou com um fiozinho de voz, com receio da reação dele.

Então o Andrews bem-humorado sumiu e deu lugar ao velho


Andrews de sempre, seus olhos, cor de mel escureceram-se.

— Não! Você somente voltará comigo a Londres, quando estiver


bem próximo do nosso filho nascer! Não quero mais ter aborrecimentos
com aquele playboyzinho rondando você. Inclusive, ele andou tentando
saber sobre você, o coloquei em seu devido lugar, mas prefiro que você
não retorne agora — ele falou no tom firme de sempre.

Liv ficou magoada e decepcionada, pois, ela julgava que a noite


maravilhosa que passaram juntos tinha mudado as coisas entre eles para
melhor. Então, ela não se conteve mais, pois, há muito tempo vinha
carregando sozinha, verdades e dúvidas muito pesadas, ainda mais uma
mulher jovem, inexperiente e sensível pela gravidez.

Ela se levantou e de pé ao lado da mesa, ela gritava entre lágrimas,


enquanto o encarava:

— Por que não admite logo a verdade? Pois, uma hora acabarei
sabendo! Que me mandou para cá, sob um pretexto, mas, na verdade, é
para ficar à vontade em Londres com Stela, a sua amante! Vocês
planejaram juntos: o nosso casamento! Você não foi totalmente sincero
com senhora Brown quando foi me buscar naquele colégio, você não me
escolheu por acaso! Por que nunca me contou que somos primos? Que
as nossas mães eram irmãs e que por isso você me escolheu. Você soube
de tudo e foi atrás de mim naquele colégio, pois, não era somente um
herdeiro legitimo que você desejava e sim dois possíveis doadores
compatíveis e que após nosso filho nascer o tomará de mim e pedirá o
divórcio, para viver feliz para sempre com a sua amante! Você foi cruel
em me envolver num plano desses, cruel em esconder de uma órfã a
verdade sobre quem foi a sua mãe, a verdade sobre você já ter alguém
em sua vida! Os planos para ficar com o meu filho após um divórcio.
Então, não preciso mais esconder de você que sei toda a verdade!
Ao dizer isso ela correu da mesa em direção a piscina e Andrews
com medo da reação dela, pois estava descontrolada correu atrás e a
alcançou antes de chegar até lá.

— Você está louca? Calma, de onde tirou toda essa história


maluca? — ele falou calmo, a segurava, tentando contê-la, mas com
cuidado, talvez pelo bebê.

— Eu não suporto mais fingir que não sei de nada! Stela me


contou tudo! Contou-me naquela visita que ela fez em nossa primeira
semana de casados, foi até a nossa casa somente para me deixar a par da
real situação de vocês. Eu me senti humilhada e enganada por vocês dois
durante todo esse tempo! Além de vocês terem me usado num plano
sujo e cruel, você não teve piedade ao menos para revelar que éramos
primos legítimos e que você sabia o nome da minha mãe. Vocês dois
ainda são amantes apaixonado e com certeza, me mantem aqui com o
pretexto de ciúmes daquele tal Mark, um rapaz que eu mal conheço e
que eu o repeli quando tentou me tocar, vocês usam isso como desculpa
para me manter aqui e ficar apenas os dois sozinhos à vontade em
Londres — Liv gritou histérica, com o dedo apontado na cara dele.

Andrews a largou espantado, ele não sabia de nada daquilo e de


como Liv pode ter guardado calada toda essa dúvida dentro de si, era
algo muito pesado para carregar em segredo, fazia mal tanto a ela como
ao bebê. Sobre serem primos ele também não sabia, apenas sabia que
sua mãe tinha uma irmã já falecida, casada com um embaixador e que
moraram muitos anos no exterior e lá mesmo ela faleceu sem nunca ter
tido filhos, existia um rumor que ela perdeu um bebê na adolescência de
um jovem namorado, mas ele não sabia de nada ao certo, nunca foi um
assunto comentando abertamente na família, pois seu avô era um
homem à moda antiga e conservador, nunca a perdoo totalmente por
isso.
Será que esse bebê não tinha nascido morto? Era Liv? Liv era sua
prima legítima? Mas como Stela sabia disso? Então, ele se lembrou que
sua mãe tinha um diário e que esse diário sumiu em um fim de semana
que a mãe de Stela veio passar na casa, costumava fingir uma falsa
amizade com a sua mãe, mas sempre a invejou.

Então, talvez, a mãe de Stela tivesse roubado o diário de proposito, o


motivo seria curiosidade e inveja, e depois contou para Stela que como
sempre foi apaixonada por ele, usou isso para envenenar Liv, pois Stela
nunca se conformou por eles terem tido apenas um namorico de
adolescente. Todos pensavam que eles, um dia, já adultos se casariam e
juntos continuariam o patrimônio dos pais, mas Andrews perdeu logo
cedo o interesse por Stela, ao perceber que ela era uma mulher fútil e
artificial.
— Liv ouça-me... a respeito da sua mãe, do fato de sermos primos
legítimos, eu estou tão admirado quanto você, eu não sabia disso quando
fui buscá-la naquele colégio para ser minha esposa e mãe do meu
herdeiro. A única explicação que eu vejo para isso é que eu tive uma tia
já falecida, a tia Beth, que era casada com um embaixador, morava fora
do país e que nunca teve filhos, comentava-se em segredo que ela
perdeu um bebê na adolescência, se esse bebê era você eu não sei, pode
ser que sim. Eu apenas sei que o diário da minha mãe, que talvez tivesse
detalhes dessa história, foi roubado num dos finais de semana que Stela
e a mãe dela estiveram aqui. Pode ser daí que ela descobriu essa história
e usou contra mim, para me envenenar para você. Sobre ter um caso
com Stela, é outra loucura dela, tivemos apenas um namorico de
adolescentes, logo perdi o interesse nela, pois se revelou com o tempo
uma mulher fútil, artificial e agora estou vendo que mau-caráter
também, algo que eu não posso aceitar em ninguém do meu convívio —
ele falou docemente, tentando acalmar Liv, pois a essa altura estava
muito preocupado com o estado dela e todas as emoções pesadas que ela
estava passando, mas ele estava sim, sendo sincero e esperava que ela
acreditasse nele.

Andrews fez uma pausa e tornou seu tom de voz ainda mais sério:

— Sobre eu estar planejando me divorciar de você, casar com


Stela e requerer a guarda do nosso filho. Eu jamais faria isso com uma
mãe, principalmente com você que já é tão frágil e sozinha no mundo —
ele concluiu sério.

Por um momento várias coisas começaram a se encaixaram na


cabeça de Andrews, aquele beijo que tinha visto entre Liv e o
irmãozinho da Stela, não teria sido um plano dos dois para separar o
casal? Pois, se lembrava dela sempre tentando levá-lo até a janela, até o
jardim, até que ele mesmo precisou ir até o quarto e através da janela viu
o início do beijo e nem esperou pelo resto da cena, já desceu furioso.
Agora tinha certeza disso, agora que conhecia esse lado mau-caráter de
Stela, mas não podia levar Liv com ele de volta para Londres agora,
pois, ainda tinha alguns assuntos para resolver antes da volta definitiva
dela.
— Então Andrews, prove-me que tudo isso é mentira, levando-me
de volta com você! — Liv pediu chorosa.

— Não! você tem que acreditar em mim! quando chegar o momento


certo de você retornar saberei — ele disse com firmeza.

— Pois, em relação à Stela, eu não acredito! Caso fosse realmente


mentira, você me levaria de volta com você! A partir de hoje não quero
mais que você me toque e quando o nosso filho nascer quero o divórcio,
mas ele ficará comigo! Agora irei para o meu quarto, não quero ser
incomodada e também não precisa mais vir me visitar aos finais de
semana — ela falou brava e saiu com passos firmes e rápidos, em
seguida se trancou em seu quarto. Ele não tentou detê-la, tinha muito
cuidado com o estado de gravidez dela.

Andrews ficou tão boquiaberto com tudo que ouviu de Liv, o fato de
serem primos, a história suja de Stela, o pedido de divórcio, a coragem
de Liv de o enfrentar assim transtornada e a sua decisão de não querer
mais viver como marido e mulher desde aquele instante. Ele ficou tão
surpresa com tudo isso que não a seguiu até o quarto, não teve mais
clima para avisar que agora acreditava em sua inocência em relação ao
tal Mark, mas achou melhor não forçar tanto a barra devido ao estado
dela, deixar a poeira baixar um pouco. Ao mesmo tempo, ele
surpreendeu-se consigo mesmo, pois estava sentindo-se triste com o fato
de Liv pedir o divórcio. Ele não imaginava que tinha se apegado tanto a
ela, que o casamento que começou arranjado, quase um negócio e que
passou por tantas situações fora do comum para um casal, tinha se
tornado para ele um casamento de verdade, que ele a estava amando e
que sentiria a falta dela. Tudo que queria agora era muita saúde, sua
esposa e seu filho, todos juntos felizes para sempre.

Ele não quis fraquejar, não quis ceder, atender ao seu pedido e levá-la
de volta com ele à cidade ou talvez explicar ao menos os reais motivos
que faziam que ele não a levasse agora de volta, também não quis dizer
que agora acreditava em sua inocência em relação ao irmão de Stela,
pois, isso faria com que ela insistisse mais ainda em voltar de imediato e
ele tinha assuntos importantes a resolver. Então, Liv teria que ser
paciente e esperar mais uns dois meses para retornar à mansão.
E assim Andrews retornou a Londres na manhã seguinte, era
segunda-feira, ele retornou como de costume logo cedo e Liv
permaneceu em seu quarto para evitar despedidas, não tinham dormindo
juntos e ela nem sabia se isso voltaria um dia a acontecer, pois, tudo
levava a crer que era o começo do fim.
Capítulo 16
Após aquela briga e revelações, passaram-se um mês e meio,
Andrews não retornou mais a Netville, como ela pediu. Ele não foi mais
visitá-la, apenas telefonava para saber como estava ela e o bebê, ela
sempre respondia de forma fria, tentando fingir indiferença. Ele nunca
tocava no assunto do divórcio e Liv por amar demais, já não sabia se era
isso mesmo que ela realmente desejava, pois falou em um momento de
muita raiva. O fato é que ele estava fazendo muita falta em seus finais de
semana em Netville, imagine após o divórcio? Além do mais, e se fosse
verdade que ele planejava tomar-lhe a guarda do filho após o divórcio,
como iria viver para sempre sem ele e sem o filho? Não queria perdê-lo
para a morte e nem para outra mulher.
Quando Andrews falava com ela ao telefone, ele não tocava no
assunto da briga e das revelações, ele atribuía a sua ausência ao excesso
de trabalho, mesmo sem ela perguntar, e que estava fazendo uma viagem
internacional, que a construtora estava com um empreendimento de luxo
no Caribe.

Caribe....

Ela pensava com tristeza. Aquele era o mundo de Andrews: luxo,


mulheres bonitas e sofisticadas, alta sociedade, negócios internacionais.
Um mundo do qual ela, sendo prima dele ou não, Liv não fazia parte,
pois não foi criada assim, apenas entrou na vida dele por ironia do
destino.

Foi uma enorme surpresa para Liv, quando certa tarde o telefone
tocou, era Andrews avisando que tinha retornando da longa viagem e
que já era hora dela retornar a Londres. Ele não poderia ir buscá-la,
James chegaria para buscá-la na manhã seguinte e que ela pedisse a uma
das empregadas para ajudar-lhe a arrumar as suas malas, pois, não
queria que ela se cansasse, com a gravidez já tão adiantada, o bebê
deveria nascer dentro de um mês.
Liv mal podia acreditar no que ouvia, mal pode conter-se de alegria,
ao desligar o telefone, esqueceu o barrigão e saiu a correr pela casa em
busca de um empregada para ajudar-lhe com as suas malas. Por um
momento, ela esqueceu que a última vez em que os dois se viram, foi a
noite da discussão, na qual ela pediu o divórcio.

James veio na manhã seguinte, era um motorista discreto e fiel a


Andrews, já estava com ele há vários anos, então não falaria nada que
pudesse ter acontecido na mansão, durante as suas férias em Netville.
Quando Liv chegou à mansão, foi muito bem recebida pelos
empregados, todos deram boas-vindas a jovem patroa e fizeram
comentários simpáticos a respeito do seu adiantado estado de gravidez.
Era uma segunda-feira, início da tarde e ela imaginava que seu marido
sempre muito ocupado, deveria estar na construtora àquela hora. Então,
foi uma surpresa para ela quando a senhora Simpson desceu as escadas e
avisou-lhe:

— O senhor Andrews deseja vê-la, pediu para que a senhora suba


devagar até o quarto dele— a velha governanta falou em tom sério.

Andrews em casa? Àquela hora? Foi o que Liv pensou a subir


devagar as escadas que davam acesso aos quartos no andar superior da
casa, com as mãos protegendo a sua barriga. Ela bateu na porta devagar.

— Pode entrar — Andrews respondeu com uma voz abafada.

Quando ela entrou devagarinho, para a sua surpresa, ele estava


sentado em sua cama, com um notebook no colo, apesar de não está com
o aspecto de doente grave, estava usando uma máscara cirúrgica típica
de transplantados. Ao vê-lo com a máscara, assustou-se pois, ninguém
tinha comentado nada com ela, então julgou que o seu estado de saúde
tinha se agravado.

— Andrews....— ela falou baixinho e surpresa, enquanto se


aproximou devagar até a cama.

— Liv... — ele falou com ternura e seus olhos brilharam de alegria


ao revê-la, depois de um tempo afastados.
— Você está ainda mais bela com esse barrigão, aproxime-se, deixe-
me tocar em meu filho — ele falou com ternura.

Ela sentou-se na borda da cama e bem próxima a ele, então ele pôs
o notebook de lado e mesmo com a máscara, passou a beijar e acariciar
com ternura a sua barriga de quase nove meses.

— O que houve com você? — ela perguntou com medo, pensando


que a doença tinha avançado.

Afinal sempre avisaram que leucemia era uma doença traiçoeira,


mas, ao mesmo tempo, ele não tinha o aspecto de doente, mas havia
aquela máscara, então o que teria acontecido? Seria por isso que ele
não tinha mais ido visitá-la em Netville? A viagem internacional, o
empreendimento de luxo no Caribe seria mentira?

Ela pensava preocupada.

Andrews a olhou nos olhos.

—Liv, gostaria de pedir-lhe desculpas por todo o sofrimento que


causei a você e indiretamente até ao nosso filho. Eu sei que fiz você
sofrer com meu jeito frio, autoritário e você, quase uma menina, teve
que aprender a lidar comigo. Eu peço desculpas também, pelo o quanto
você deve ter sofrido calada com as mentiras e intrigas de Stela em
relação a nós dois termos um caso, sermos amantes, eu pretender tomar
o nosso filho, foi tudo uma grande mentira. Desculpe-me também por eu
não a tê-la trazido de volta a Londres naquela noite quando você me
implorou, eu não podia e agora você consegue imaginar o porquê eu não
a trouxe.

Andrews fez uma pausa, era evidente que ele não podia se cansar e
que recuperava-se de algo sério.

— Naquela mesma noite, comecei a ver e compreender coisas que


estavam bem na minha frente, mas eu com o meu temperamento difícil,
excesso de trabalho e ainda tendo que lidar com uma doença grave, não
conseguia enxergar. Você era inocente em relação ao Mark,
provavelmente foi um plano da Stela, inconformada com o nosso
casamento, para nos separar. — Ao falar isso, ele começou a aparentar
sinais de cansaço na voz.

— Por favor, Andrews! não fale mais, eu acredito em você! — ela


suplicou, já preocupada com o estado de saúde dele, não queria que ele
piorasse ou algo do tipo.

— Espere.... quero só concluir que realmente somos primos... a


senhora Simpson que é muito antiga na casa, após eu contar tudo sobre a
afirmação de Stela e sobre o roubo do diário da minha mãe, me
confirmou o segredo que a minha tia carregava e que a fez viver tão
infeliz, morrendo relativamente jovem. Ela foi obrigada a deixá-la na
porta daquele colégio interno, pois engravidou de você solteira e o pai
da criança a abandonou, mas isso é tudo que sabemos.

Com os olhos cheios de lágrimas Liv, agora tinha certeza de um


pouco da sua existência, do nome da sua mãe, Elizabeth, que ela já era
falecida e o porquê ela a deixou ali, não fora por maldade, então para
Liv isso já bastava.

— Andrews esquece um pouco essa parte, já sei o suficiente para


ficar feliz, mas diga-me o que aconteceu com você! Essa máscara? Você
piorou? ou você está se recuperando de alguma cirurgia, ou algo do
tipo? — ela o interrompeu e perguntou preocupada.

— Liv, uma semana antes de eu ir visitá-la pela última vez em


Netville, recebi a notícia do meu médico que tinham encontrado um
doador compatível. Então fiquei muito feliz, mas, ao mesmo tempo com
receio, pois, eu não queria ter falsas esperanças, também não queria que
você, esperando o nosso filho, ficasse com falsas esperanças ou ficasse
preocupada com os transtornos de uma cirurgia de transplante, por isso
eu quis fazer tudo em segredo. Esse foi o motivo para que, mesmo eu
acreditando em você e na sua inocência em relação ao Mark, mesmo eu
não tendo nenhum caso com Stela, eu não ter aceitado trazer você de
volta, foi para poupar a você e ao nosso filho —Andrews explicava-lhe,
olhando em seus olhos e segurando as suas mãos entre as dele, seus
olhos brilhavam de emoção, enquanto ela, sentada ao seu lado na cama,
mal podia acreditar em tudo que ouvia, na sequência de mal intendidos.

— Andrews, não se atormente mais com isso, eu também tive a


minha parcela de culpa! Pois, eu, por orgulho e insegurança, não falei
com você desde o início, sobre o real motivo da visita que Stela fez a
mim aqui nessa casa e sobre tudo que ela me falou. Eu me sentia
magoada, humilhada, insegura, então resolvi esconder tudo de você e
isso somente piorou a situação. A partir daquele dia em que Stela me
envenenou contra você, evitei te amar, mas eu já estava te amando e esse
amor só crescia, ele era mais forte que tudo e era impossível controlar
meus sentimentos e assim sofri calada. Todavia, o amor venceu, ele
sempre vence, pois, é mais forte que tudo! Hoje, eu te amo com todas as
minhas forças, não tenho mais vergonha ou medo de falar, não quero
mais lutar contra esse sentimento e sim viver cada instante desse amor!
— ela concluiu emocionada.

— Liv... você não sabe como fico feliz em ouvir isso de você.
Naquela noite em que você me pediu o divórcio, fiquei muito triste e foi
ali que percebi que te amava, mas não sabia se ainda tinha chances com
você, como faria para te reconquistar, já que você estava muito ferida,
pois, desde o início do nosso casamento você acumulava calada,
problemas e mágoas, por minha culpa. Também não sabia se era certo
tentar reconquistar você, afinal eu tinha pouco tempo de vida, seria
muito egoísmo da minha parte — ele falou meigo.

— Sim, Andrews eu te amo! Aprendi que o amor não tem controle,


nós não escolhemos, acontece e pronto! — ela falou com uma sabedoria
que o surpreendeu.

A sua linda sereia dos cabelos ruivos tinha amadurecido em meio a


tanta intriga e sofrimento.

Ele pensou.

— Liv, quando fui buscá-la naquele colégio interno eu somente


queria um filho, um herdeiro e morrer realizado, nunca imaginei que
você seria minha prima e que um filho nosso seria um doador mais
compatível ainda. Hoje após ter encontrado esse doador anônimo, posso
lhe garantir que tenho tudo para viver realizado e não mais morrer triste:
um transplante bem-sucedido, a mulher que amo ao meu lado e um filho
a caminho.

— Agora venha minha sereia ruiva que transformei em mulher, estou


em repouso, infelizmente não posso beijá-la ou me esforçar, são ordens
médicas por algum tempo, mas quero abraçá-la e sentir o seu calor e do
nosso filho.

O dois abraçaram-se emocionado, era o início de uma nova vida que


prometia muita felicidade. Andrews renascia para a vida e os dois
renasciam para um casamento que, agora, seria de verdade.
Epílogo:
O clima na mansão estava agitado, já se passaram algumas
semanas que Liv retornou a casa, ela e Andrews agora vivem um
casamento normal. Andrews sempre tão seguro de si, sempre dando
ordens, parecia uma criança sem saber como agir, sendo orientado pelos
empregados mais velhos da casa, pois, já passaram por uma experiência
semelhante a dele.
O motivo era simples e já esperado, Liv entrou em trabalho de parto
e foi levada para o hospital. Andrews fora avisado na construtora que o
seu filho estava a caminho, correu para casa, mas no caminho teve um
pequeno incidente e ela não pode mais esperar. James a levou e agora
Andrews se preparava para ir ao encontro deles, pois, queria ser o
primeiro a ver o filho após nascer. Agora eles viviam felizes, os tempos
de brigas e intrigas se acabaram e Stela foi colocada em seu devido
lugar.

As dezessete horas da tarde, nasceu Andrews Lausen Segundo, um


bebê gordo, rosado, com os cabelos negros do pai e os doces olhos azuis
da mãe. O bebê que no passado viria ao mundo para consolar a morte e
continuar o legado do jovem pai morto, agora vinha ao mundo para
celebrar o amor e a vida.
Série casamento Arranjado e a autora
Karen Heifer é uma autora brasileira, pedagoga, pós graduada, que cresceu lendo
romances de banca, literatura feminina e ama um clichê. Costuma escrever romances de época e
romances ambientados no século vinte.
Escreveu seu primeiro romance a mão, O Bilionário e a Órfã, aos dezesseis anos durante as
férias escolares. Contudo, foi apenas aos quarenta anos, com a revolução da tecnologia que ela o
publicou em forma de e-book na Amazon.

A série Casamento Arranjado é composta por quatro livros, a cada livro um novo casal e
uma nova história. Todos publicados na Amazon.

Veja os livros que compõem a série e não esqueça de acompanhar a autora no Instagram
(@autorakarenheifer):

1°-O Bilionário e a Órfã;


2°-Esposa do Ceo;
3°-A Prometida do Conde;
4°- O Destino da Cigana;
5°- A Princesa da Máfia.
Sumário
Sophia Williams:
Inglaterra, Londres, 1998.
Capítulo 1
Nova Iorque, 1988, seis e meia da manhã.
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Londres, dez anos depois...
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Epílogo
“Algumas mulheres escolhem seguir os homens,
e outras escolhem seguir seus sonhos.
Se você está se perguntando em qual direção seguir, lembre-se de
que a sua carreira jamais acordará de
manhã e dirá que não te ama mais”.
Lady Gaga
Nova Iorque, 31 de março de 1988

Caro Victor,

Eu pensei melhor e cheguei à conclusão de que o nosso casamento


foi um erro. Além de ter começado de forma errada, nós dois somos de
mundos muito diferentes. Analisando melhor as coisas, aquela paixão
que eu pensava sentir, era apenas ilusão de menina, após casar com
você vi que tudo era bem diferente na realidade.

Então, resolvi aceitar a generosa oferta financeira do seu pai, para


que eu lhe dê o divórcio e deixe essa casa junto com a minha mãe. Em
troca, poderei cursar uma universidade e minha mãe deixará de ser
empregada doméstica, nós duas teremos uma vida sossegada e
confortável financeiramente. Estou deixando uma procuração para que
toda a burocracia do divórcio seja resolvida sem precisar da minha
presença. Agora irei para fora dos EUA, apesar de não está deixando
meu endereço, nem telefone, quero reforçar que, por favor, não me
procure. Eu estou satisfeita com a minha decisão!

Sophia Willians
Victor Scott:
Alemanha, Berlim, 1998

—Victor... aonde vai? Já está indo tomar uma chuveirada? Ah...fique


um pouco juntinho a mim, foi maravilhoso!

Uma super loira, siliconada e gostosa, enroscada em macios lençóis


de seda, falou dengosa. Enquanto um homem, sem roupa, se levantou da
enorme cama do luxuoso hotel.

— Já chega, Jéssika! Foi maravilhoso, mas agora vista-se e tome este


dinheiro para o táxi, ou qualquer outra coisa!

— O meu nome é Bárbara! E não sou uma prostituta! Aceitei subir


ao seu quarto, após conhecê-lo no restaurante do hotel porque fiquei
interessada!

— E quem não ficaria, não é mesmo querida? Ah! e todas as


mulheres têm um preço! Até mesmo aquelas que parecem te amar!

Então, por um breve momento ele fitou aleatoriamente o olhar num


ponto do quarto e pensou:

Até mesmo aquelas que um dia você julgou que lhe amava! Ah, Sophia...Por
que se vendeu assim...

— Quanto frieza, nem parece o homem caliente de


agora há pouco na cama! Achei que iriamos dormir
juntinhos depois...
— Não, querida! Eu nunca durmo com mulher alguma! Prefiro
assim, não gosto de compartilhar minha intimidade dessa forma! Sempre
durmo sozinho!

— Ah! Por que tanta frieza?

— Não vejo como frieza, sou prático! Então, por favor, vou tomar
uma chuveirada longa e quando retornar, quero que você já tenha indo
embora! Preciso dormir, amanha terei uma reunião cansativa de
negócios, é por isso que estou aqui em Berlim.

A loira resolveu não argumentar mais e obedeceu, enquanto ele se


dirigia até o banheiro para tomar um banho. Ela ficou decepcionada,
achou que o tinha fisgado, ao menos por alguns dias, durante a sua
estadia em Berlim. O magnata da indústria farmacêutica norte
americana, Victor Scott. Porém, o truque de jogar charme para ele,
fingindo inicialmente não saber de quem se tratava, não dera certo.
Ela nem imaginava que ele já estava acostumado com aquela
estratégia que algumas mulheres usavam para tentar sair com ele e
conquistá-lo. Enquanto isso, ele ia trocando de companhia igual a quem
troca de roupa.

Após o banho, Victor enrolou uma toalha na cintura e saiu do


banheiro.

— Ainda bem que já foi embora, o que eu desejava já tive! Agora


tudo que eu quero é dormir, e sozinho! Não gosto de dividir a minha
cama, enquanto durmo! Acho que as pessoas dormindo aparentam
frágeis e detesto que me vejam assim, detesto expôr qualquer tipo de
fragilidade!

Assim era o bilionário Victor Scott, único herdeiro de um império


farmacêutico, a Scott Produtos Farmacêuticos, na qual era CEO. Um
homem de negócios frio, arrogante, mas também um Dom Juan,
cobiçado pelas mulheres. Um colecionador de conquistas, que logo
perdiam a graça após passarem pela sua cama.

Aos trinta e dois anos, jovem, bonito, bem sucedido, 1,90m de altura,
corpo musculoso, moreno, grandes olhos negros, rosto comprido,
cabelos lisos e bem cortados. Costumava estar sempre elegante, vestido
em seu terno italiano, consultando a hora em seu rolex e guiando seu
carro esporte pelas ruas de Nova Iorque, onde mora.
Sophia Williams:

Inglaterra, Londres, 1998.

— Droga! Eu não posso chegar atrasada na reunião! Apesar que a reunião


da Botanics não começará sem a sua diretora-executiva, ainda assim, não fica
bem! Também, esse trânsito não ajuda!

Sophia falava consigo mesma, enquanto guiava a sua mercedes


vermelha no trânsito estressante de Londres, até o seu trabalho no
Centro da cidade. Sophia era consciente da sua origem humilde e tinha
muito orgulho disso, mas às vezes, nem ela se reconhecia, quem diria
que a filha da empregada um dia chegaria até ali.

— Ufa! Consegui chegar a tempo! Agora é correr para o elevador!


Espero que não atrase!

Sophia passou apressada pela recepção, cumprimentou todos


rapidamente, apesar do seu alto cargo na empresa, era simpática. Ela era
conhecida como uma mulher bonita, inteligente, competente, que levava
uma vida discreta, dividida entre o trabalho e o seu filho.

Ao entrar no elevador, aproveitando que estava sozinha, ficou a olhar


a sua imagem refletida no grande espelho. Aquela mulher bonita, de
cabelos loiros escovados até o meio das costas, olhos verdes, não mais
com o pesado óculos de grau, 1,70 de altura, corpo curvilíneo, em nada
lembrava o patinho feio de dez anos atrás.
Ela era consciente que, do alto do seu salto alto número 15, arrancava
olhares dos homens por onde passava. Porém, não confiava neles, seu
coração foi fechado para o amor dez anos atrás. Apesar da sua posição
no mercado, a frente de uma grande empresa multinacional do ramo de
cosméticos, exigir aparência impecável, o tempo também foi generoso
com ela, por isso atraía os olhares masculinos.

Assim era Sophia Williams, administradora, diretora-executiva da


Multinacional Botanics Cosméticos S/A, vinte oito anos, solteira, bonita,
inteligente, admirada pelos homens, invejada pelas mulheres. Uma
jovem e uma brilhante executiva com o coração fechado para o amor
devido à traumas e humilhações do passado.
Capítulo 1

Nova Iorque, 1988, seis e meia da manhã.

Já vestida em seu uniforme colegial, Sophia tomava seu café da manhã


na copa junto com sua mãe e os outros empregados da mansão. Logo
seguiria para pegar o metrô até o colégio no centro da cidade.

— Filha, cuidado para não se atrasar! — uma senhora simpática,


vestida em um uniforme preto de empregada doméstica falou
carinhosamente.

— Sim, mamãe. Já estou pronta, só preciso terminar o meu café da


manhã — a jovem respondeu de forma meiga.

Aquela era sua rotina todas as manhãs, de segunda a sexta, e assim já


estava quase concluindo o último ano do colegial, final do mês
completaria dezoito anos de idade. Ela sonhava em entrar para a
universidade, cursar administração e um dia se tornar uma grande
executiva. Porém, sabia que como filha da empregada, seria quase
impossível arcar com os custos de uma universidade e realizar esse
sonho.

De repente, se ouviram gritos lá fora, os empregados continuaram a


comer em silêncio, fingindo não ouvir, mas, no fundo todos já sabiam do
que se tratava. Apenas Sophia virou rapidamente o pescoço, assustada,
mas sob o olhar de repreensão de sua mãe, também disfarçou e continuo
a comer em silêncio.

— Seu moleque irresponsável! Hoje seria o dia em que eu iria


apresentá-lo oficialmente aos funcionários da empresa! Empresa esta,
que um dia será sua! Um dia você assumirá meu lugar e será o novo
CEO! Passou a noite na farra, chega agora em casa e bêbado? — o
Senhor Scott falou bravo, o rosto deformado pela fúria, com o dedo
apontado para o rapaz.

— Me deixe em paz! Apenas saí para me distrair após a faculdade e


acabei estendendo a noite com umas amigas em uma boate! — o jovem
ainda bêbado se justificou, enquanto descia da sua moto potente e
retirava o capacete.

— Você precisa ter responsabilidade! Já tem vinte e dois anos, está


prestes a concluir a faculdade! Eu deveria lhe dar uns tapas para você
aprender! A culpa foi da sua mãe que o mimou demais! — o homem de meia-
idade concluiu bravo, enquanto encarava frente a frente o jovem, que mal
conseguia se manter de pé.

Ao ouvir isso, o jovem se transformou, criou forças, se equilibrou e


partiu para cima do homem, o segurando pelo colarinho da camisa.

— Lave a boca para falar mal da minha mãe! Por sua culpa ela está
morta, ela e o meu irmão! Você os matou guiando bêbado aquele
automóvel! Então você não tem moral para falar dela ou de mim! — o
jovem falou bastante alterado, era sempre assim quando o pai tocava em
algo que o desgostasse a respeito da sua falecida mãe.

Então, neste momento, o senhor Jones, o fiel motorista que já estava


há anos na casa, criou coragem e interveio, separando os dois.

— Calma, patrão! Calma, patrãozinho! Vocês são pai e filho, não


podem brigar tanto assim e dessa forma — o velho empregado falou de
forma sábia e cautelosa, enquanto separava os dois, que com uma
expressão zangada no rosto, se encaravam em silêncio após ouvirem
aquilo.

— Vamos, patrão, já estamos atrasados! Senhor, Victor, vá comer


algo, tomar um banho e dormir, mais tarde vocês conversam! — o
senhor Jones, falou em tom de súplica e assim conseguiu apaziguar os
ânimos, só não sabia por quanto tempo, pois, essas brigas eram
constantes.

Assim era, na maioria das vezes, o clima na mansão da família Scott,


ricos magnatas do ramo da indústria farmacêutica. Porém, nem sempre
foi assim, sete anos atrás existiu um belo e elegante casal, membros da
nata da sociedade nova-iorquina e seus lindos filhos gêmeos: Victor e
Vagner. Dois adolescentes bonitos, talentosos, bons alunos, os filhos que
todo pai gostaria de ter.

— Mamãe eu já vou indo, estou em época das provas finais para


concluir o colegial e não quero me atrasar. — Sophia se levantou rápido
da mesa, se dirigindo até a porta da copa.

—Vá com Deus, filha e juízo! — sua mãe falou docemente, em breve
daria início aos serviços domésticos junto com os outros empregados.

No corredor, a jovem cruzou, por acidente, com Victor, que se dirigia


até a copa para comer algo rápido e depois dormir. Ela já previa como
deveria estar o estado dele pela briga que ouviu lá fora, tentou evitá-lo,
mas não teve jeito, ambos acabaram se cruzando sozinhos, ali, no meio
do corredor em direção à copa.

— Garota, você é uma gracinha, se não fosse por estas suas roupas
cafonas e esse horrível óculos de grau... alguém já lhe disse isso? — ele
falou, com um sorriso cínico nos lábios, um olhar de cafajeste, enquanto
a segurava levemente pelo braço.

— Pare com isso, senhor Victor! Deixe-me em paz o senhor está


bêbado e estou atrasada! — Apesar do coração acelerado de emoção,
pois, ela sempre se sentia assim cada vez que se cruzavam, a jovem foi
firme e se desvencilhou dele.

Ele a olhou com aquele jeito de cafajeste e a largou, mas continuou a


segui-la com um olhar malicioso. Ele era o filho do patrão, ela a filha da
empregada, não a queria para casar, nem ela e, nem mulher nenhuma no
momento. Todavia, se divertia em deixá-la sem graça, com aquele seu
jeito de moça boazinha, tímida, estudiosa, estilo patinho feio.
Depois que ela chegou à adolescência, ele sempre a provocava, quase
que debochando, apesar ter chegado na mansão aos dez anos e ele na
época ter quinze, nunca foram amigos. Então, agora ela com quase
dezoito anos e ele já com vinte e dois, a relação era da menina tímida,
filha da empregada e o patrãozinho mimado, mulherengo, problemático,
provocador.

Sophia sempre fora prevenida, por sua mãe, a não dar atenção
nenhuma ao jovem patrão, saber se colocar em seu lugar, juntos com os
outros empregados e apenas o tratar com respeito, tratá-lo como o filho
do patrão. Além do mais, sua mãe também lhe prevenia que ele era
mulherengo, problemático e cafajeste, que qualquer investida dele, seria
por pura diversão ou deboche. Pois, assim era o mundo dos filhos dos
patrões e das filhas das empregadas.

Então, a jovem Sophia muitas vezes observava de longe o estado em


que ele chegava em casa das noitadas, as marcas de batom nas roupas
postas para lavar, uma namorada riquinha ou outra que ele trazia em
alguma festa em casa. Isso a deixava triste, com ciúmes, mas ela tentava
disfarçar, sabia que ele não era para ela.
O coração de Sophia, parecia não saber disso, pois sempre disparava
com um simples olhar dele, o que ela tentava disfarçar de todos,
esconder sua paixão platônica. Ela sabia que eram de mundos diferentes.

Era por volta de meio-dia e meia, quando Sophia ao chegar da escola,


entrou na mansão pelo portão dos empregados, olhou para a entrada
principal e viu a Mercedes preta do senhor Scott acabando de estacionar
na porta principal de entrada.

O senhor Scott veio almoçar em casa, deve ser por causa do Victor!
Droga! A presença dele no almoço costuma deixar os empregados tensos com
as suas exigências, ainda mais hoje que ele está de mau humor.

Ela pensou chateada, enquanto se dirigia até a entrada dos empregados


onde ficava o seu quartinho junto com sua mãe.

Sophia chegou à mansão aos dez anos de idade junto com a sua mãe,
uma mãe solteira que havia sido despejada da sua moradia na periferia
de Nova Iorque e precisava de emprego. A senhora Victoria, tinha muito
bom coração, de imediato se compadeceu com a situação daquela pobre
mulher arrastando uma criança e uma grande mala com tudo que possuía
dentro. Deu emprego e moradia para as duas. O senhor Scott, não tinha
o mesmo bom coração da esposa, ele preferia empregados domésticos
com referências e as aceitou a contra gosto. Porém, deixou claro que a
criança deveria ser mantida na ala dos empregados junto com a mãe e
não ter contato com os filhos do casal, na época os gêmeos Vagner e
Victor tinham quinze anos.

Contudo, poucos meses depois, houve o terrível acidente


automobilístico, a senhora Victoria e Vagner faleceram na hora, apenas
Victor e o senhor Scott sobreviveram. Sophia se recordava do Vagner,
como o menino bondoso, que as escondidas e de forma tímida ao se
aproximar da filha da empregada, lhe dava chocolates como uma forma
de tentar estabelecer laços de amizade e também por pena. Ele era
idêntico ao Victor. Ela também lembrava da Senhora Victoria como uma
linda, elegante e bondosa mulher.

Então, foi assim que aquela bela família foi desfeita por uma tragédia,
a partir daí surgiu um novo Victor. O ressentimento e o trauma deram
início a uma constante guerra entre pai e filho, acabando com a paz que
existia naquela mansão. O senhor Scott se tornou um viúvo amargo e
exigente com todos a sua volta, enquanto Victor se tornou um rapaz
irresponsável e problemático. Ele nunca perdoou o pai por ter assumido
o volante alcoolizado e ter causado o acidente que matou a sua mãe e o
seu irmão gêmeo.

Sophia não tinha obrigação imposta pelo patrão de trabalhar nos


serviços domésticos da mansão, porém, ela gostava e se sentia na
obrigação de ajudar. Afinal, sua mãe era uma das empregadas
domésticas da casa e ela já não era mais uma criança, morava ali com
comida e aluguel sem pagar. Então, em dias mais atarefados, ela mesmo
sem pôr uniforme oficial de empregada, ajudava em algumas tarefas na
copa e quando o senhor Scott vinha almoçar em casa, esse excesso de
tarefas surgia.

— Filha, vá deixar essa jarra de água na mesa, pois o senhor Scott já


esta sentado e esquecemos, não posso sair daqui para não perder o ponto
desse prato especial preferido dele — sua mãe falou preocupada, com
tanta tarefa para fazer, além da tensão do patrão exigente e de mau
humor em casa.
— Claro mamãe! — Sophia obedeceu prontamente e pegou a jarra.

— Aqui está, senhor Scott! — ela, com os olhos baixos, falou


timidamente, ao depositar a jarra na mesa já toda posta do jeito que o
patrão gostava. Ele nunca simpatizou com ela, nem com a atitude da
falecida esposa, Sophia sentia isso, além de se sentir desconfortável na
presença dele.

— Ah! É você, menina? Aproveite e suba até o quarto do meu filho


Victor, avise que eu vim almoçar em casa e estou ordenando que ele
desça, preciso falar algo sério com ele! — o homem falou de forma
autoritária e arrogante como sempre.

— Eu, senhor? — a jovem com seu jeito tímido, perguntou meio


assustada, enquanto ajeitava o seu pesado óculos de grau no rosto.
— Sim, menina! Você está vendo mais alguém aqui? e vá logo! Pois
não tenho tempo a perder!

Sophia, subiu apressada as escadas que davam acesso aos quartos no


andar superior, ela nunca ia até o quarto de Victor com ele presente.
Contudo, o senhor Scott estava de mau humor, ela não teve tempo de
pedir a sua mãe para ir em seu lugar.

— Senhor Victor! Senhor Victor! — A jovem, com um certo receio,


bateu na porta chamando alto, mas ninguém respondeu, lá de dentro veio
somente o silêncio...

Ainda deve estar dormindo, bêbado da noitada.

Sophia pensou triste e com uma pontada de ciúmes, pois essas farras
costumavam envolver mulheres.

Então, a jovem desistiu de bater na porta e fez menção em sair,


precisava avisar ao seu patrão impaciente que não estava conseguindo
acordar o seu filho rebelde. Contudo, a porta se abriu rapidamente, um
braço musculoso a puxou para dentro do quarto sem que ela esperasse
por aquilo.

Ela teve um tremendo susto, mas não teve muito tempo para
raciocinar. Bem na sua frente, usando apenas um toalha branca, estava
Victor! O playboy filho do patrão, a sua paixão platônica desde menina,
algo que ela escondia de todos. Escondia por timidez e por saber que ele
não era para ela, que apenas gostava de debochar dela.
Victor, tinha acabado de sair do banho, seus cabelos escuros, lisos e
molhados, que ele usava curtinho com um leve topete, denunciavam
isso. Ele vestia apenas uma toalha branca em volta da cintura, o peito
liso e musculoso à mostra e provavelmente não usava nada por baixo.
Era realmente um deus grego, moreno claro, alto, musculoso, rosto
comprido afilado, grandes olhos negros, sorriso sexy de cafajeste.

Então, ele após puxá-la de forma inesperada para dentro do quarto, a


encostou contra a parede. Victor, de forma ágil, suspendeu a saia do seu
uniforme colegial e se encaixou entre as pernas de Sophia. Ela assustada
e tímida tentava se desvencilhar dele. Sophia detestava aquela mania
dele debochar dela por meio de investidas e a cada dia, ele estava mais
ousado. Ela até sentia medo de que desconfiasse da sua paixão platônica
por ele e que por isso, fazia de propósito essas brincadeiras de mau
gosto.

— Senhor Victor! Largue-me! Eu vou gritar! O seu pai mandou


chamá-lo e está aguardando na mesa para almoçar! — Sophia falou
assustada.
— Ah! Pare com isso! Me dá um beijo! Aposto que nunca foi beijada!
Ah! Deve até ser virgem! — ele disse em tom de deboche enquanto
segurava seus pulsos, a prendia contra parede e tentava beijá-la de forma
sensual.

— Para com isso, senhor Victor! E não é da sua conta o que eu sou!
— ela respondeu, tentando fingir braveza.

— Ah! Não é da minha conta? Sente isso e vê se gosta... o que acha?


— Victor pressionou seu membro endurecido por baixo da toalha, bem
no meio das pernas dela, enquanto perguntava de forma cínica.

Sophia mesmo virgem, ainda assustada, começou a sentir uma moleza


gostosa nas pernas e a ficar ofegante, mas criou forças e relutou:

— Senhor Victor, eu vou gritar!!

Ao ouvir o deboche dele sobre sua possível virgindade e a sentir a sua


ereção sob a toalha, Sophia ficou vermelha, mas continuou a tentar se
desvencilhar dele, apesar de no fundo se sentia tentada a não resistir.
Porém, bem a tempo, o senhor Scott gritou da sala, quebrando o clima e
fazendo Victor afrouxar os braços que a prendiam contra a parede.

— Victor! Desça agora! estou ordenando! — Era a voz do senhor


Scott, que pressentiu que tinha algo errado acontecendo e gritou
diretamente da sala chamando pelo filho. Afinal, ele conhecia o filho
que tinha.

Victor a largou ao ouvir a voz do seu pai, ela saiu correndo do quarto
em direção a cozinha, onde se sentia mais segura. Ele sorriu em
deboche, pois queria apenas brincar, uma brincadeira de mal gosto.

É até bonitinha, mas esses óculos de grau, essas roupas sem graça
e esse jeito de estudiosa, mania de viver com a cara enfiada nos livro,
tira a vontade de qualquer homem.

Ele pensou, com um sorrisinho cafajeste nos lábios.


Sophia não era linda, mas era bonitinha, belos olhos verdes que se
escondiam por trás de um pesado óculos de grau, longos cabelos lisos e
loiros, que ela costumava usar presos por um elástico, corpo bonito e
proporcional. Porém, era tímida, estudiosa, sempre vestida com roupas
básicas, discretas.

Talvez, no fundo, tudo que ela precisasse era perder a timidez,


desabrochar, ganhar um banho de loja, assim teria a sua beleza oculta
revelada.

— Já estou descendo, papai ! — o jovem gritou, em poucos minutos


se vestiu e desceu para almoçar com o pai que já o aguardava há tempos,
sentado à mesa.

Capítulo 2

O clima estava pesado na sala onde se fazia as refeições, pai e filho


almoçavam em silêncio, mas era fácil prever que a qualquer momento
poderia surgir uma discussão. Afinal, o Senhor Scott não tinha vindo
almoçar em casa a troco de nada, ainda mais depois do desentendimento
dos dois pela manhã.

— Agora chega, Victor! Sou um homem muito ocupado e não vou


ficar aqui fingindo política de boa vizinhança! Vim almoçar em casa
para resolver de vez assuntos importantes com você! — o senhor Scott
explodiu, enquanto jogava o guardanapo em cima da mesa.
— Quais assuntos? — o rapaz perguntou de forma
cínica, como se não tivesse feito nada demais no início da
manhã, encarando o seu pai.
— Não se faça de desentendido! Você já é um homem feito, está
quase concluindo o seu curso de administração, chegou a hora de você
trabalhar comigo na empresa que um dia será sua! A Scott Produtos
Farmacêuticos precisa que o seu único herdeiro comece a se preparar
para, no futuro, assumir os negócios! — o senhor Scott falou bravo,
ambos estavam sentados frente a frente na grande mesa de refeições.

— Esses são os seus planos, não me inclua neles, eu decido a minha


vida! Quando eu achar que chegou a hora, eu irei! — O jovem responde,
desafiando o pai de propósito com o seu jeito rebelde de sempre.

— Ah é? E quais são seus planos, posso saber? Saiba que trabalhei


duro para fazer crescer a pequena empresa que herdei do seu avô,
consegui construir esse império farmacêutico, mas não é fácil
administrá-lo, precisa estar preparado! Por isso sempre sonhei que você
cursaria administração e o Vagner farmácia, para juntos continuarem a
empresa da nossa família! Um dia você seria o CEO e Vagner...— o
senhor Scott respondeu bravo, mas, ao mesmo tempo, com uma pontada
de tristeza na voz.

— Sei... o meu irmão Vagner poderia sim estar cursado farmácia e nós
dois hoje estaríamos nos preparando para administrar a empresa da
família, se você não o tivesse matado! —o rapaz falou de forma rebelde
e com a voz carregada de mágoa.

Ao ouvir isso, o homem se descontrolou e aumentou ainda mais o tom


de voz, aquela altura, os empregados já deviam estar ouvindo tudo da
copa.

— Victor, pelo amor de Deus! Seu irmão e sua mãe estão mortos há
sete anos! Eu não posso ser responsabilizado para sempre por você, por
aquele acidente! — O homem, esmurrando a mesa.

— E eu não posso atender seu pedido para começar a assumir os


negócios na empresa, da mesma forma que você não atendeu a mamãe
para não se embriagar e assumir o volante! Destruindo assim a nossa
família! — o jovem explodiu e levantou da mesa, provavelmente, iria
para o seu quarto dormir
a tarde toda, curar a ressacae talvez, a noite ir à faculdade.

— Espere! Você não vai levantar da mesa e me deixar falando


sozinho! Lembre-se que é graças ao meu dinheiro que você tem essa boa
vida.

— Não é bem assim, acho que você esqueceu que a minha mãe tinha
fortuna própria e eu a herdei! — Victor respondeu de forma fria, o
encarando já de pé ao lado da mesa.

— Certo, Victor, considerando que você tem esse direito, quero


também preveni-lo que a concorrência em nosso ramo está cada dia mais
acirrada, então, já vi você, algumas vezes, saindo com a Pâmela, filha do
meu melhor amigo e também industrial do ramo farmacêutico, você se
agrada dela, não é? — o senhor Scott aquela altura tinha maneirado o
tom de voz, pois sabia que não valia a pena enfrentar o filho de frente,
devido ao seu comportamento cínico, problemático, debochado e
explosivo, fruto do trauma vivido no passado.
— Sim, é uma loirinha siliconada gostosa e daí? — o jovem
perguntou, dando um sorriso cafajeste com ar desinteressado.

— Ah, Victor! Não fale assim da filha do meu melhor amigo e que
daria a esposa perfeita para você! — o senhor Scott falou de forma
impaciente, na verdade era muito difícil conversar com o filho quando
ele não estava afim de levar algo a sério. Victor sabia como roubar a
paciência de alguém.

—Então? O que tem a filha do seu melhor amigo ?

— o jovem perguntou com sarcasmo.

— Eu e o Richard conversamos muito hoje pela manhã, ele ficou


muito entusiasmado em saber que você está namorando a Pâmela!
Então, nada mais interessante para os negócios, se nós dois uníssemos
nossas empresas com o casamento de vocês dois, ai sim, teríamos um
dos maiores impérios farmacêutico dos Estados Unidos — o senhor
Scott falou com a voz cheia de planos, na verdade esse era o principal
motivo dele ter vindo almoçar em casa.
— O quê? Casar? Apenas porque eu tive alguns encontros com ela?
Ora me deixe em paz! Eu não quero casar com ela nem com mulher
alguma por um bom tempo! E eu não estou namorando ninguém! — O
rapaz ao ouvir isso, saiu da mesa, foi em direção a sala e subiu
apressado as escadas para o seu quarto, deixando seu pai esbravejando lá
em baixo.

— Você vai casar sim! A Pâmela é bonita, educada, rica, filha do meu
melhor amigo, apaixonada por você ! Eu e Richard sempre sonhamos
em casar nossos filhos para unir os negócios! Agora chegou a hora, já
que vocês estão saindo juntos! —o senhor Scott falou bravo em tom de
ordem.

— Me deixe em paz! Eu não vou casar com a Pâmela! Inclusive vou


parar de sair com ela! Ah! Se insistir nesse assunto, eu me caso com a
primeira louca que aparecer na minha frente, ouviu? — Victor gritou do
alto da escada para o pai ouvir lá de baixo, depois bateu a porta do seu
quarto com força.

— Não se atreva, Victor! Eu coloco você em uma camisa de força e o


interno em um manicômio! — o senhor Scott estava bravo, mas no
fundo ficou temeroso, pois seu filho era imprevisível e após o acidente,
sete anos atrás, fazia de tudo para desafiá- lo.

Trancado em seu quarto, Victor começou a pensar em


sua vida como único herdeiro das Industriais Scott
Produtos Farmacêuticos. A pressão para assumir os
negócios, aos vinte e dois anos, ainda não se sentisse
com vontade. A chateação de ter que andar com
seguranças, não podia se divertir à vontade sem que
saísse alguma nota em revistas de fofoca.
Às vezes, ele ficava pensando como teria sido sua vida se o Vagner
não tivesse morrido, a pressão seria dividida, ele não seria sempre o
foco. Agora, se já não bastasse, iam começar a fazer pressão para que ele
e a chata da Pâmela se casassem em nome da união dos negócios da
família.

Victor já tinha saído algumas vezes com a Pâmela, era bonita, boa
para levar para a cama, mas chata e cansativa. Não a queria como
esposa, na verdade, ainda não estava em seus planos casar com
ninguém. Ele não via o porquê fazer a vontade do seu pai em nada, pelo
contrário, adorava desafiá-lo como uma espécie de vingança pela morte
da mãe e irmão.

Então, perdido em seus pensamentos e lembranças do passado, ele


passou a tarde inteira trancado em seu quarto, ainda, nem ao menos,
tinha decidido se iria para faculdade ou não aquela noite.

Sophia, da janela da dependência de empregada, observou a lua no céu


e sentiu um arrepio gostoso na pele, era a agradável brisa da noite.

Como a lua está bela e que brisa noturna agradável.

A jovem pensou consigo mesma, abandonou o livro que estava lendo


e se preparou para deixar o quarto.

— Aonde vai, filha? — perguntou sua mãe ao cruzar com ela. Eram
umas oito horas da noite e o serviço doméstico para sua mãe havia
encerrado.

— Eu vou até a beira da piscina, mamãe, queria sentar um pouco lá


fora, olhar a lua, sentir a brisa da noite. — a jovem falou docemente com
a mãe, sempre foi uma boa filha e muito grata por tudo.

— Sophia, apesar do senhor Scott ainda não ter proibido, você sabe
que ele não gosta dessas liberdades dos empregados nas áreas de
diversão da casa— a sua mãe avisou com receio, com seu jeito humilde
e em tom de alerta, pois não queria problemas e nem ver a filha ser
destratada.

Apesar do alerta da mãe, Sophia foi assim mesmo. Então, agora ela se
encontrava ali, vestindo um short curto jeans e uma larga camiseta
branca de algodão, sentada na beira da piscina, com os pés na água a
balançar, às vezes ela gostava destes momentos de solidão.

De repente, Sophia sentiu uma sombra se aproximar e alguém sentar


rapidamente ao seu lado.

— Ah, senhor Victor! Achei que essa hora estaria na faculdade. — Ela
ficou surpresa, falou com voz assustada e fez menção de levantar para se
retirar do local, assim que ele se sentou ao seu lado.

— Espere, garota! Não precisa sair porque eu cheguei, não sou tão
duro quanto o meu pai em relação aos empregados! Sim, não tava afim
de assistir aulas e resolvi ficar em casa — ele falou num tom sério,
enquanto a segurava pelo braço, impedindo-a de se levantar e ir embora.

— Entendo! Mesmo assim é melhor que eu vá embora, minha mãe


deve tá precisando de mim! - ela falou embaraçada com receio de que
percebesse a paixão que sentia por ele. Além do mais, ele provavelmente
viria com alguma gracinha ou deboche.

— Humm... garota, você é esquisita, mas tem umas pernas que são
uma delícia, ainda não tinha te visto usando short curto — ele falou em
tom maldoso, enquanto devorava as pernas da jovem com os olhos e
esboçava o seu sorriso conquistador que costumava desarmar as
mulheres.

— O senhor vai começar! É melhor que eu vá embora... — a jovem


respondeu meio embaraçada, fazendo gesto para se levantar da borda da
piscina.

Porém, Victor a impediu novamente de se levantar e por alguns


segundos, ficaram ali na beira da piscina, um ao lado do outro em
silêncio, foi quando ele olhou rápido para ela e disparou:

— Espere! Eu vim aqui porque tenho uma proposta a lhe fazer: Quer
casar comigo? — o jovem perguntou sério, olhando para ela.
—O quê? Não entendi! — Sophia perguntou espantada, enquanto
levava uma das mãos ao rosto e ajeitava os óculos, tinha essa mania
quando ficava nervosa.

— Você é surda, garota? Eu perguntei: Quer casar comigo? — Victor


perguntou novamente sem paciência, enquanto a encarava.

— O senhor só pode está brincando! O senhor não deseja casar com


ninguém! Muito menos comigo... — a jovem respondeu com a voz
alterada e o coração acelerado. Ah, se fosse verdade...

— Estou falando sério! — o rapaz falou bravo.

— Ah! claro! Agora entendi! Ouvi sua discussão hoje durante o


almoço com o seu pai, lembro que você disse que casaria com a primeira
louca que aparecesse pela frente! Então o senhor está querendo me usar
para provocar o seu pai... — Sophia falou embaraçada, mas, no fundo,
gostaria tanto que aquilo fosse um pedido de casamento normal, mas
lógico que não era.

— E aí? Aceita ou não? Ah!!! Pare de fazer charminho! Aposto que


você é quem tem vontade de me usar! Já percebi há tempos que você é
apaixonada por mim, então que grande sacrifício seria o seu, não é
mesmo? — ele falou com sarcasmo.

Ao ouvir aquela piada de Victor, que ela era quem queria usá-lo. A
jovem ficou vermelha de vergonha, pois era muito tímida e tinha
entendido a indireta. Porém, preferiu não comentar.

— E o seu pai? Ele vai ficar bravo comigo, com a minha mãe... a
jovem respondeu de forma tímida, mas claramente tentada a aceitar.

— Não se preocupe com meu pai ou com represálias a sua mãe,


também sou dono dessa casa, herdei a parte da minha mãe. — Victor
estava sério.

— E vai ser um casamento de verdade? — a jovem perguntou tímida.


— Sexo? Ah! Depois vemos isso — o jovem respondeu de forma
impaciente, com um sorriso cafajeste nos lábios.

Sophia baixou a cabeça e os olhos, com vergonha de encará- lo ao


responder aquela proposta maluca.

— Eu aceito... — a jovem falou timidamente.

— Ótimo! Não fale nada a respeito com ninguém! Depois de amanhã


casaremos no civil em um cartório no centro de Nova Iorque — Victor
concluiu com um sorriso cafajeste nos lábios.

— Depois de amanhã? Já? Como vai conseguir assim tão rápido? —


A jovem estava surpresa e assustada.

— Ora, deixe isso comigo! Afinal ser o único herdeiro da Scott


Produtos Farmacêuticos tinha que servir para mais alguma coisa, além
da pressão do meu pai, a chateação em andar com seguranças e ser
caçado por paparazzis. Eu tenho meus contatos — o jovem falou todo
presunçoso.

De repente, o clima foi quebrado por uma voz que gritava, chamando
ao longe:

—Sophia! Sophia! — Era sua mãe chamando-a.

— Preciso ir, senhor Victor! É a minha mãe, ela não quer que eu me
misture com os patrões, pois sabe que o seu pai não gosta. — A jovem
falou assustada, se levantou rapidamente e saiu correndo.
Antes ainda ouviu do rapaz, que continuo sentado na beira da piscina,
sem manifestar intenção de ir embora, uma gracinha:

— Vai lá, futura esposa e boca fechada!


Capítulo 3

—Vai sair agora a tarde, filha? — perguntou a mãe de Sophia, com


seu jeito carinhoso de sempre ao ver a filha se vestindo e passando um
pouco de maquiagem, o que era raro ela usar.

— Sim, mamãe. Vou encontrar algumas amigas no shopping, é final do


colegial, estamos meio que nos despedindo umas das outras. — Sophia
não sabia mentir e falou meio embaraçada.

A mãe de Sophia a achou um pouco estranha, parecia nervosa,


evitando olhar nos olhos enquanto falava. Todavia, estava tão atarefada
preparando o jantar para o senhor Scott, ele traria como convidados para
o jantar seu amigo e a filha dele, que nem teve tempo de pensar em
nada. A senhora, vestida em seu uniforme doméstico para ocasiões
especiais, deixou a filha a sós se preparando para sair e foi cuidar das
suas obrigações dentro da mansão.

Então, era por volta das seis e meia da tarde, quando o senhor Scott, o
seu melhor amigo, acompanhado de sua filha Pâmela, conversavam
animados na sala de estar. A mãe de Sophia, com uma bandeja nas mãos
servia bebidas e aperitivos enquanto se preparavam para o jantar.
Devido a presença da jovem Pâmela, eles estrategicamente tentavam
esperar Victor. O complô para unir os dois herdeiros, havia começado.

O grupo conversava animadamente, conversas de homens de negócios


e membros da alta sociedade nova-iorquina. Então, foi quando se ouviu
um pequeno barulho na portal principal, alguém vinha chegando da rua.
A porta da casa foi aberta e caminhando até a sala principal, chegaram
Victor e Sophia de mãos dadas. Sophia visivelmente desconfortável com
aquela exibição.

Ao observarem aquela cena fora do comum, o filho do patrão de mãos


dadas com a filha da empregada da casa, todos ficaram surpresos, em
silêncio, sem saber o que pensar. Até a mãe de Sophia ficou imóvel,
olhando para os dois com a bandeja na mão, olhos arregalados e sem
palavras.
—Boa noite a todos. — Victor, de propósito, cumprimentou a todos de
uma forma geral.
Victor mirou o pai com um olhar desafiador, Sophia de forma
tímida, permaneceu calada de mãos dadas com ele. Ela estava se
sentindo muito desconfortável com tudo aquilo, não esperava encontrar
logo de cara o senhor Scott, o amigo e a filha que era a pretendente do
Victor.

— O que significa isso, Victor? Vocês estavam juntos? Por que estão
de mãos dadas? Se ela nem ao menos sua amiga é! — O senhor Scott
estava indignado, mas no fundo ele estava mesmo é com receio da
resposta.

— Tem razão, papai, nunca fomos amigos! Porém, agora somos


marido e mulher! Senhores, quero lhes apresentar a senhora Sophia
Williams Scott: minha esposa! acabamos de nos casar! — o jovem falou
de forma cínica, encarando o pai, que estava chocado com a notícia e, ao
mesmo tempo desafiando a todos com o olhar. Algo que ele sabia fazer
muito bem.

— Você só pode estar louco! Isso é uma mentira ou fez isso apenas
para me afrontar! — o senhor Scott se levantou rapidamente do sofá e
gritou bravo em direção ao filho.
— É verdade, sim! Aqui está a certidão de casamento! — Victor
estava calmo e exibiu o documento em uma das mãos.

— E quanto a você, menina petulante? Não fala nada? Concordou


com esse absurdo? Amanhã quero você e sua mãe fora desta casa!
Quanto a você, Victor, nem pense em consumar este casamento! Agora
mesmo vou consultar o advogado da família! Casar com a filha da nossa
empregada, francamente! — O senhor Scott não cabia em si de tanto
ódio.

Sophia não sabia o que falar, além da timidez natural e do sentimento


de desprezo que estava sentindo por parte das pessoas ali presentes,
exceto sua mãe. Ela sabia que não tinha como se explicar, seria muito
constrangedor assumir que aceitou aquele casamento absurdo por nutrir
uma paixão platônica pelo senhor Victor, desde a pré-adolescência.

Todavia, antes que Sophia pudesse falar qualquer coisa, ela foi
interrompida, por um barulho de bandeja caindo e xícaras de porcelanas
quebradas. Era a sua mãe, que na sala servindo o patrão e os convidados,
ficou imóvel com sua chegada junto com o filho do patrão. Agora
desmaiava ao ver a certidão de casamento civil ser exibida na mão de
Victor.
— Mãezinha! Fale comigo, por favor! — Sophia pedia desesperada, enquanto, tentava
arrastar a mãe ainda desmaiada para um lugar mais confortável, ao menos no carpete da sala.

Os outros na sala mal deram atenção a situação, afinal quem ia se importar com o desmaio
era algo invisível. Agora todas
da empregada? Isso para o senhor Scott

as atenções dos dois senhores mais velhos estavam


voltadas para Pâmela, que estava tendo uma crise de
chilique.
Apesar de não existir nada sério entre ela e Victor, apenas saíram
algumas vezes. A família deles sempre alimentou essa ilusão e agora
que finalmente achavam que iria da certo, Victor surpreendeu a todos
com o casamento surpresa e às avessas.
Papai vamos embora! Eu não quero mais ficar um minuto aqui! Fui
trocada pela filha da empregada? Eu nunca fui tão humilhada! — a loira,
bonita, siliconada e com jeito de dondoca falou entre lágrimas.
— Sim, querida, vamos embora, mas não leve a sério, tenho certeza
que isso não passa de uma brincadeira de mal gosto. — O amigo do
senhor Scott tentava consolar a filha. Então se despediram rapidamente e
deixaram a mansão. O homem amparava a filha que estava em prantos e
chocada.

Na grande sala de estar, ficaram apenas a família: Victor, seu pai,


Sophia e sua mãe, que a essa altura tinha acordado ainda atordoada e se
encontrava sentada, timidamente, no sofá dos patrões, permanecendo
muda. Totalmente deslocada e constrangida.

— Agora, Victor é apenas entre nós dois. Você passou dos limites!
Quanto a você, mocinha, quero que você e sua mãe arrumem as suas
coisas e amanhã estejam fora desta casa, meu advogado tratará com sua
mãe sobre a rescisão e pagamento — O senhor Scott falou bravo em
direção a Sophia e sua mãe, elas permaneceram caladas, assustadas.

— Elas não vão a lugar nenhum! Esta casa também é minha, tenho
direito a herança da minha mãe. Então, a minha esposa e a mãe dela
ficam! — Victor respondeu sério, desafiando o seu pai de propósito, não
considerava Sophia como esposa, mas era uma boa oportunidade
afrontar seu pai.

—Victor, você nem ouse consumar esse casamento! Hoje mesmo irei
consultar meu advogado para da início a anulação, ouviu? — o senhor
de cabelos já grisalhos falou bravo, o seu único herdeiro, o seu filho
problemático, tinha se casado de propósito com a filha da empregada.

— O senhor não vai fazer nada! E se quiser me deserdar, já tenho a


fortuna da minha mãe, pois ela tinha fortuna própria antes de se casar —
Victor falou em tom insolente e altiva.

— Sophia, leve a sua mãe até o quarto dela, na ala dos empregados,
pois, ela não está mais em condições de trabalhar hoje! Depois disso,
pegue alguns pertênces seus e venha ocupar o meu quarto! Aliás, o
nosso quarto! — Victor ordenou, enquanto desafiava o seu pai com o
olhar.
—Senhor Victor... pensando bem, não seria melhor a gente deixar isso
para lá? Ouvir o seu pai... — a jovem falou tímida e assustada na
presença do senhor Scott, que nunca foi simpático com ela e que sempre
temeu.
— Ah! Finalmente uma atitude sensata aqui! — o senhor Scott
respondeu aliviado, mas Victor interrompeu bruscamente.

— Não! Faça o que eu ordenei! — o Rapaz, autoritário, acostumado a


mandar e ter todas as suas vontades realizadas, a repreendeu bravo.

Ela, assustada, obedeceu ao seu agora marido. Então já no quartinho


de empregada, que Sophia e a mãe dividiram por quase toda vida, ela
deitou carinhosamente a sua mãe na cama e sentou-se ao seu lado.

— Filha, por que fez isso? Esse casamento não é um


conto de fadas no qual o filho do patrão se casa com a
filha da empregada... você foi usada pelo senhor Victor
para desafiar o seu pai! O senhor Scott está odiando-a
por isso, pode até tentar prejudicá-la, pois ele é muito
influente! — a sua mãe falou com o jeito humilde de
sempre, além de está assustada com tudo aquilo.
— Mamãe, perdão! Eu desde muito tempo amo o senhor Victor e
quando ele fez a proposta, não resisti! — A jovem chorava com as mãos
cobrindo o rosto, estava envergonhada diante da mãe e assustada com a
proporção que as coisas acabaram tomando.

—Filha... por que foi deixar esse amor entrar em seu coração? Todos
na casa sabem o quanto o senhor Victor é problemático e irresponsável,
o quanto ele mudou após a tragédia, as brigas dele com o pai por culpá-
lo. Ele não merece confiança, uns até dizem que ele precisa de ajuda
psiquiátrica — a mãe de Sophia falou preocupada.

— Desculpe, mamãe! A senhora não merecia está passando por isso,


por minha causa. — a jovem pediu chorosa.
— Não, filha. Não me peça desculpas, peça desculpas a você mesma!
Você poderá sair muito machucada dessa história, mas se é isso que
você quer, então agora vá, faça o que o senhor Victor pediu! Você agora
sairá da ala dos empregados e irá para a dos patrões! Eu te abençoo e
que Deus te proteja! — a mulher falou conformada, mas pressentia que
aquilo tudo não iria terminar bem.

Sophia pegou algumas poucas coisas pessoais, camisola, escova de


dentes, alguns cosméticos baratos, colocou numa mochila, pois não
sabia o que esperar daquele casamento, então iria fazer sua mudança aos
poucos. Porém, no fundo, ela torcia para que com o tempo aquilo se
transformasse num casamento de verdade.

— Então, mãezinha, fique em paz e lembra-se, eu estou apenas


mudando para alguns metros de distância, não estou deixando você,
estarei sempre contigo! Te amo! — a jovem falou de forma carinhosa,
deu um abraço e um beijo na mãe, pegou a mochila e saiu da ala dos
empregados em direção ao quarto do seu agora esposo.

Ao chegar no quarto, Sophia nervosa e por força do hábito, bateu na


porta.

— Pode entrar! — Victor gritou do banho, ela ainda ouviu o chuveiro


ligado.

Sophia entrou meio sem graça, colocou sua mochila em cima da cama
e ficou observando o quarto. Com exceção da grande cama de casal, era
a decoração do quarto de um rapaz solteiro, nem parecia que ali agora
era o quarto de um casal. Na verdade, era tudo ainda muito inacreditável
e ela não estava se sentindo acolhida ou confortável ali.
Então Victor saiu do banho, enrolado numa toalha, ela ficou sem
graça e evitou olhar, porém, percebeu que agora como esposa, ele não
tentou nada com ela, igual fazia antes. Contudo, de repente viu que ele
estava pegando roupas no armário, se vestindo como se fosse sair.

— Você vai sair? — a jovem perguntou surpresa pela cara de pau


dele.

— Sim, vou! Uns amigos me ligaram e a turma da faculdade vai se


reunir— Victor respondeu despreocupado.

— Logo hoje? É nossa primeira noite de casados! — Sophia


argumentou admirada, sabia que o casamento ia ser complicado, mas
não esperava que o desrespeito e descaso começassem logo na primeira
noite de casados.

— Ah! Por favor, né? Você sabe muito bem porque me casei com
você! Eu queria desafiar meu pai, me livrar da pressão para casar com a
Pâmela e você queria casar comigo que sempre fui a sua paixão! Então
nós dois saímos ganhando, estou mentindo? Então curta a minha cama,
aposto que o colchão é mais macio do que o da ala dos empregados,
onde você dormia e não fique pegando no meu pé! — Victor, não era
alguém carinhoso, mas falou de forma extremamente grosseira para um
dia tão “especial” e continuou a se vestir para sair para mais uma balada.

Sophia ficou calada observando ele se vestir, o que deixou a jovem


magoada e de certa forma, decepcionada. Ela sempre ouviu que
nenhum homem normal rejeita a esposa na noite de núpcias, ela era tão
desinteressante assim? Quando ele deixou o quarto, ela tomou um banho
pôs uma camisola cor de rosa, comum, levinha, de alcinha, apagou a luz
e deitou. Então, abraçada ao travesseiro, caiu num choro convulsivo sem
fim, pois, tinha sido rejeitada, trocada por mais uma noitada.

Provavelmente até por outras mulheres, em sua primeira noite de


casada. Então, aquele Victor que tentava gracinhas antes de casar, era
realmente só deboche como ela sempre suspeitou?

Ela não conseguiu pegar no sono de imediato, era uma hora da


madrugada, quando acordou com Victor chegando de mansinho. Ele
chegou mais cedo do que ela previa, mas ela preferiu fingir que
estavadormindo. Contudo, para a surpresa dela, ele foi educado, não fez
barulho, não ligou a luz, deitou e dormiu profundamente ao seu lado.
Vitor parecia não ter nenhuma consciência pesada, nem por ter
desafiado o seu pai ao se casar com ela, e nem por a ter abandonado
sozinha em sua noite de núpcias.
Capítulo 4

Eram por volta das três horas da madrugada, quando Sophia acordou
assustada, a cama enorme sacolejava, no meio da penumbra ela não se
recordava onde estava. Ao seu lado, alguém se debatia fortemente e
falava frases desconexas enquanto dormia.

— Mamãe... Vagner... não quero deixar vocês ! Falem comigo!


Não!!!! — O jovem Victor se debatia e suava frio, estava tendo um
pesadelo. Algo relativamente comum, mas que Sophia e os outros da
casa não sabiam que fazia parte da rotina noturna dele.

Então rapidamente Sophia se recordou do casamento às avessas e de


onde estava. Aquela era a cama do senhor Victor e ela agora era
legalmente esposa dele. A jovem ficou sensibilizada ao ver seu grande
amor, a quem ela conhecia como cafajeste, irresponsável, ali daquela
forma tão frágil, assustado, atormentado por lembranças do passado.
Então, sem pensar duas vezes, agiu por um impulso e o abraçou forte,
tentado fazer com que aquele pesadelo acabasse.

— Calma, Victor... é só um pesadelo... tudo já passou, você está


dormindo, estou aqui com você — Sophia falou baixinho enquanto
abraçava e acalentava Victor em seus braços.

Aos poucos, ele foi acalmando, acordou, ficou numa espécie de transe
com olhos abertos, em silêncio, abraçado fortemente a ela e assim
permaneceram por cerca de meia hora. A medida que a situação foi
normalizando, Sophia começou a ficar constrangida pelo o que fez.
Afinal, não tinha intimidade para abraçá-lo, acalentá-lo daquela forma,
ainda mais deitados na cama, num quarto na penumbra. Porém, ele
parecia tão frágil, tão diferente do Victor de sempre.

De repente, a jovem percebeu que o abraço fraternal estava se tornando


algo sexual, o Victor já havia saído do transe e permanecia abraçado a
ela só que de outra forma. Sophia sentia que Victor a abraçava de forma
sexual, sentia o seu membro duropulsar contra ela, algo que ela nunca
havia sentido antes, revelando que estava excitado.

Então, mãos possessivas acariciaram por cima da camisola seus


seios redondos e lábios molhados beijaram seu pescoço. Uma moleza
gostosa foi tomando conta dela, um fogo que vinha de dentro, ela se
arrepiava toda cada vez que no abraço apertado, o membro pulsava e a
pressionava bem no meio de suas pernas.

A jovem ficou paralisada de medo, atordoada, sem saber ao certo como


reagir, lembrou que estava casada e aquela era para ter sido uma noite
de núpcias. Então, Victor estava agora acariciando-a, como se quisesse,
aquela hora da madrugada, ser um marido de verdade.

— Pare, senhor Victor... — Sophia falou meio assustada e tentou se


desvencilhar dele.

— Senhor não, sou Victor, seu marido, esqueceu? — ele falou de


forma sedutora, baixinho ao seu ouvido, entre beijos em seu ombro e
pescoço.

—Desculpa, ainda não me acostumei, afinal você também não tem


me tratado como esposa... — a jovem falou tímida no escurinho do
quarto. Estava sentindo uma mistura de algo que não conseguia
identificar, provavelmente medo e desejo.

— É? E o que estou fazendo agora? — Ele perguntou de forma


maliciosa.

— Você está apenas tentando consumar o casamento para ter


argumentos com o seu pai, se não fosse esse o motivo, não teria me
largado aqui sozinha mais cedo... — ela falou tímida com uma certa
mágoa no tom de voz.

— Ah... tira isso da cabeça! Tô com vontade de você e estamos


legalmente casados — ele falou de forma possessiva.
— O senhor deve ter bebido...— Sophia replicou sem muita firmeza,
aquela altura seu coração já estava disparado, vontade de se entregar e
com receio .

— Não sou mais senhor e tomei apenas um drinque! — Ele negou de


forma firme, parecia ta falando a verdade.

— Aposto que é virgem, não é? Não tenha medo, não sou um mostro,
sei tratar bem uma mulher, então para de joguinho, se entregue para
mim e deixe o resto comigo... vamos curtir nossa noite de núpcias?
heim? — O jovem falou baixinho no ouvido dela, enquanto com os
polegares acariciavam devagarinho os seus mamilos já intumescidos por
cima da camisola.

Ao ouvir a voz grave do Victor sussurrando ao seu ouvido, ele


coladinho a ela no escuro e em meio as carícias, seu coração disparou.
Sophia, apesar da timidez e do medo da primeira vez, se derreteu toda e
baixou a guarda, se entregando por inteiro para o homem que era a sua
paixão platônica desde menina: o senhor Victor, agora seu marido.

— Ah, não sei... — Foi a primeira resposta da jovem.

— Ah... claro que sabe, toda mulher sabe... se entregue e deixe o resto
comigo — Victor sussurrou ao seu ouvido delicadamente, um de frente
para o outro.

— Ah... Victor.... — ela falou tímida e indecisa.

— Seus seios são lindos, gosto assim, redondos, posso beijá-los? —


ele perguntou de forma delicada e sexy, ao seu ouvido, enquanto os
acariciava.
— Sim.... — Sophia, coração acelerado de emoção, respondeu
tímida, na penumbra do quarto.

Então, Victor aproveitou a confirmação e não exatamente os beijou,


mas abriu os lábios carnudos e delicadamente os sugou. Ao sentir aquele
carinho atrevido em seus seios, algo novo para Sophia, ela não resistiu
mais, baixou a guarda e se entregou, deixando o seu marido conduzir o
momento.

Victor, apesar de jovem, sabia ser sedutor quando queria, sabia levar
até a mulher mais inexperiente ao ápice do prazer e assim ele fez com
Sophia. Então, nos braços dele, toda a dor da primeira vez, que ela tanto
temia, sumiu. A dor deu espaço à sensação sublime de ser penetrada
devagarinho pela primeira vez, sentir aquele membro duro e quente
abrindo caminho dentro dela e a fazendo se sentir uma mulher completa.
Então, no ápice do prazer, trêmula e ofegante, ela sussurrou:

— Victor! Victor! Meu amor... — Sophia o abraçou forte e gemeu


baixinho. Confusa com o que tava sentindo, corpo todo trêmulo, coração
acelerado e nenhuma dor, como ela tanto temia na primeira vez.
— Calma... agora descanse quietinha, o dia ta quase amanhecendo —
ele sussurrou ao seu ouvido de forma delicada, a abraçou forte,
aninhando-a em seus braços e ficaram ali, quietinhos em silêncio até que
ambos adormeceram ainda colados um no outro. Por um momento, nem
parecia aquele Victor cafajeste, problemático e irresponsável.

Então, assim Sophia conheceu os prazeres do sexo e a magia de sua


primeira noite de amor nos braços daquele que ela era apaixonada desde
menina e que nunca imaginou que um dia seria o seu marido.

Ela acordou bem mais tarde do que de costume, ainda bem que era um
sábado, estava feliz com a noite passada, mas, ao mesmo tempo,
exausta. Victor estava tomado banho, vestido de forma esportiva e
colocava algumas coisas numa mochila, ela ficou sem entender.

— Victor... o que está fazendo? — ela perguntou timidamente, ainda


estava com vergonha pela noite anterior e também não se sentia
confortável em cobrar nada dele, afinal foi avisada de como seria aquele
casamento.
— Ah você acordou? Estou indo com amigos passar o final de semana
na praia, combinamos ontem a noite, esqueci de avisá-la. Aproveite para
conversar à vontade com sua mãe, segunda feira eu estarei de volta.
Tchau! — o jovem falou de forma cínica, despreocupada, nem parecia
que era recém casado, que tiveram uma noite de amor na noite anterior,
nada.

Ele se foi, deixando Sophia sem palavras, sentada na cama, sem


roupas, coberta apenas pelo lençol, ainda manchado por uma pequena
gota de sangue. Ela estava decepcionada.

Poxa... foi muita ingenuidade minha achar que aquele Victor da


noite anterior duraria para sempre, ele apenas tinha acordado na
madrugada, fragilizado pelas lembranças do passado. Depois se
aproveitou do clima de intimidade para consumar o casamento e se
livrar de tentativas de anulação por parte do seu pai.

A jovem pensou com tristeza e os olhos cheios de lágrimas.

Todavia, Sophia não teve muito tempo para se lamentar, alguém bateu
rápido na porta, era um dos empregados avisando que sua mãe havia
sido encontrada desmaiada no banheiro e que tinha sido levada para o
quarto. A jovem se vestiu rápido e correu em direção a ala dos
empregados, onde era o seu antigo quarto, que até ontem dividia com
sua mãe.

— Mamãe! mamãe! o que houve? — a jovem perguntou aflita,


enquanto sua mãe ainda zonza, permanecia deitada e ao seu lado tinha
uma das meninas da copa.

— Sophia! Sua mãe não quer que eu diga! Mas não é a primeira vez
que ela tem esses desmaios e mal-estar! As outras vezes você estava na
escola! — a copeira avisou, mesmo contra a vontade da sua mãe.

— Mamãe! por que não me avisou? Vamos ao hospital agora!


Consultar um médico e fazer exames! — a jovem falou brava e
preocupada, mas no fundo carinhosa como sempre.
— Filha... é que eu não queria mexer na poupança que eu tenho feito
durante anos para você cursar a faculdade de Administração que você
tanto deseja! Logo agora que você praticamente já concluiu o seu
colegial.— a mãe se justificou triste.

— A senhora estava poupando para isso? Ah mamãe... eu agradeço!


Mas a sua vida é mais importante que qualquer faculdade! Na verdade, a
sua vida é mais importante para mim do que qualquer coisa! Agora
vamos ao hospital! — Sophia disse com firmeza.

Ao chegar no hospital, após uma bateria de exames, a sua mãe até já


estava aparentemente ótima, mas o médico pediu para falar a sós com
Sophia e foi quando o mundo da jovem caiu.

— Senhora Scott. — Por um momento ela achou que o médico não se


referia a ela. — A sua mãe, apesar da boa aparência, está com um tumor
maligno no cérebro. Então esse é o motivo dos desmaios, a tendência é
que piore dia após dia. — O médico foi curto e grosso.

— Não me diga uma coisa dessas, doutor! O que podemos fazer? —


Sophia perguntou assustada.

— Esse não é um câncer fácil, precisamos tentar frear o crescimento


do tumor iniciando o mais rápido possível um tratamento a base de
várias doses de imunoterapia ao longo de todo o ano.
— o médico falou sério, enquanto Sophia muda,sentou sem
perceber na cadeira, pois estava com as pernas bambas.
— Entendo, doutor... — a jovem falou com a voz fraca.

— Devo preveni-la que não é um tratamento barato, cada dose do


tratamento custa muito caro! Porém, acredito que para a senhora Scott,
casada com o único herdeiro da Scott Produtos farmacêuticos, isso não
será problema — o médico afirmou sério, sem nem imaginar como ela
se tornou a senhora Scott.

Após aquela notícia, Sophia ficou tão abalada, que a partir daí agiu
meio que no piloto automático. Ela não conseguia se recordar com
detalhes do momento que avisou a sua mãe, com cautela, sobre seu
estado de saúde, da volta para casa de táxi, de após ter colocado sua mãe
na cama, ter desabado e desabafado nos braços do senhor Jones, o velho
motorista da família. O fato é que no final da tarde de sábado, a notícia
já tinha chegado até o senhor Scott que a mandou chamar para uma
conversa particular no escritório da casa.

Sophia bateu na porta do escritório do senhor Scott na mansão, ela


raramente entrava ali, nem mesmo para ajudar a limpar.

— Entre! — uma voz masculina com tom de superioridade ordenou.

— O senhor mandou me chamar, deve ter algo a falar comigo.— A


jovem tremia e tentava ajeitar seu óculos de grau no rosto, era sempre
assim quando estava nervosa.

— Sim! Sente-se por favor, pois irei direto ao ponto, sem rodeios!
Ainda assim não será uma conversa tão rápida — o senhor Scott falou
firme.

O aviso só fez com que Sophia se sentisse ainda mais insegura e


desconfortável na presença dele. Não era segredo que ele não
simpatizava com ela e agora menos ainda, após o casamento com Victor.
Porém, uma coisa era certa, ele não se ocupou em chamá-la ali a troco
de nada, algo muito sério estava por vir.

— Onde está o meu filho Victor? Ah! Não me responda, já sei que ele
a largou sozinha no segundo dia de casado e foi viajar durante o fim de
semana
com amigos e mulheres! — ele falou em tom de deboche.

— Não sei exatamente, senhor — Sophia respondeu tímida, com olhos


baixos e voz trêmula.

— Francamente, menina, você vai continuar com esse casamento? Está


bem claro que ele nem ao menos se sente casado, ele a usou, casando
com você apenas para me provocar! Eu nem quero saber se esse
casamento foi consumado ontem a noite ou não! — Ele falou num tom
arrogante, pouco amigável, deixando a jovem muito constrangida e
intimidada.

— Eu não gostaria de falar sobre a minha intimidade, senhor —


Sophia com olhos baixos respondeu constrangida.

— Esse casamento é uma palhaçada e a qualquer momento ele mesmo


vai pedir a anulação ou o divórcio, você vai ver! Porém, antes que ele
mesmo faça isso, quando se cansar de me provocar, tenho uma proposta
a fazer! — o senhor Scott falou muito sério.

— Eu já fiquei sabendo que a sua mãe está com um câncer agressivo e


que precisa de um tratamento caro a base de doses de imunoterapia, por
um bom período. A Scott Produtos Farmacêuticos S/A poderá custear
todo esse tratamento! Porém, tem uma condição que tem que ser
cumprida à risca, pois do contrário, pararei de pagar as doses e
suspenderei o tratamento. — O homem parecia não ter coração.

— Eu fico muito feliz em ouvir isso, pois para mim a saúde da minha
mãe é tudo, mas qual seria a condição? — A jovem perguntou meio que
aliviada, mas com receio da condição.

Então foi aí que Sophia sofreu o golpe mortal, aquilo que acabaria de
vez com o seu sonho de gata borralheira promovida a Cinderela, o conto
de fadas que mal havia começado, naquela casa.

— Em troca, quero que você e sua mãe, amanhã mesmo, antes do meu
filho voltar de viagem, deixem essa casa! E para bem longe! Eu
instalarei vocês na Inglaterra, mandarei uma quantia mensal em dinheiro
e pagarei o tratamento mês a mês da sua mãe! Em troca quero você fora
da vida do meu filho! Não deixe endereço, nem jamais o procure, caso
contrário cancelarei o pagamento do tratamento, sua mãe ficará sem
assistência e provavelmente morrerá! — o homem disse sério,
encarando-a nos olhos. O típico homem de negócios sem sentimentos.

Sophia sentiu um duro golpe no peito, ela apesar de tudo, amava o


Victor, não queria ficar sem ele. Porém, também não podia perder essa
chance de cuidar da saúde de sua mãe, que sempre fez tudo por ela.
Quanto ao Victor, apesar de o amar, de perceber que o senhor Scott
estava se aproveitando da situação para separá-los, ela tinha que admitir
que corria sim o risco de uma hora qualquer Victor se cansar, pedir o
divórcio ou a anulação daquele casamento estranho!

Então, ela ficaria sem o Victor e sem o tratamento da sua querida mãe.
O Victor, baseada em tudo que ela já presenciou e das atitudes dele com
ela, não merecia confiança nenhuma.

Foi com muita tristeza que Sophia tomou aquela decisão, não por ela,
mas sim em nome da saúde da sua mãe.

— Eu aceito! O que tenho que fazer? — a jovem respondeu com o


coração sangrando por dentro.
— Vejo que você, ao menos, não é burra! Olhe para mostrar que eu
não sou uma pessoa de má coração, junto com o tratamento incluirei na
ajuda de custo mensal que enviarei, um valor para você cursar a
faculdade de Administração que dizem que você tanto sonha! — O
velho incluiu esse prêmio de consolação.

— Agora quero que você assine esta procuração dando poderes para
meu advogado providenciar o divórcio, quero também que deixe uma
carta escrita do seu próprio punho para o meu filho, nela diga que se
arrepende, que deixou uma procuração para o divórcio, que aceitou a
minha oferta para em troca realizar o seu sonho de cursar um
universidade e que não a procure nunca mais. — O senhor Scott deu as
explicações finais.
— Sempre amei, em silêncio, o seu filho, então, será muito difícil para
mim, mas em nome da saúde da minha mãe, eu aceito o acordo! — a
jovem falou triste, com os olhos cheios de lágrimas e as mãos trêmulas.

— Esqueça essa bobagem! Coloque em sua cabeça que o único


herdeiro da Scott Produtos Farmacêuticos não nasceu para casar com a
filha da emprega e vice-versa! — o homem conclui de forma impiedosa,
humilhando a jovem, que não respondeu. Ela, de cabeça baixa e olhos
cheios de lágrimas, assinou a tal procuração.

— Ótimo! Aproveite esta noite de sábado para arrumar as poucas


malas pessoais de vocês duas. A minha secretária cuidará de tudo para
que vocês embarquem amanha, quando meu filho retornar na segunda,
não quero que ele as encontre mais aqui.
Capítulo 5

Londres, dez anos depois...

— Mamãe, a senhora vai sair? Arrumou um namorado? — um


garotinho de nove anos, simpático e bonito perguntou a linda mulher
que nervosa se maquiava em frente ao espelho do quarto.

— Sim querido, a mamãe vai sair, mas é para um jantar de negócios


muito importante, a mamãe não tem namorado — Sophia respondeu
carinhosamente, enquanto, afagava a cabeça do seu filho com uma das
mãos e tentava disfarçar o quanto estava tensa.

— A senhora é tão linda, por que não tem namorado? As mães de todo
os meus coleguinhas são casadas ou tem um namorado... — o menino
falou curioso, ultimamente ele estava com essa mania, devia está
sentindo falta de uma referência masculina.
— A mamãe trabalha muito, querido, não tem muito tempo. Agora me
deixe terminar de me arrumar, pois não posso chegar atrasada. Ah! A
Beth cuidará de você, prometo estar de volta a meia noite — Sophia
explicou ao garotinho para que ele soubesse que sua babá ficaria com
ele enquanto ela estivesse fora e que ela não iria demorar tanto.

Enquanto Vagner saía do quarto e fechava a porta, Sophia ficou a


observar o quanto seu filho havia crescido, dez longos anos se passaram
desde que ela chegou em Londres e pouco tempo depois se descobriu
grávida, fruto daquela única noite com Victor.

Sophia, inicialmente pensou em procurar Victor e contar sobre a


gravidez, mas lembrou-se das ameaças feitas pelo senhor Scott no dia
que fecharam o acordo: Suspenderia o dinheiro para o tratamento da sua
mãe, caso ela o procurasse. Então, quem garantia que aquele Victor
irresponsável gostaria da ideia de ser pai? Que em nome do filho, se
responsabilizaria pelo rompimento do acordo e arcaria com o tratamento
da sua mãe? Depois pensou em avisar ao menos ao senhor Scott, porém
o medo que, ele poderoso e sem coração como era, quisesse requerer a
guarda da criança, também a fez desistir.

Meu querido, filho, meu eterno bebezinho! Apesar de toda a história


dolorosa que antecedeu a sua chegada, você é o meu maior presente!

Sophia pensou triste, mas ao mesmo tempo muito


feliz por ter o Vagner e por tudo que ela conquistou
profissionalmente ao longo desses dez anos na
Inglaterra, onde chegou praticamente exilada.
Apesar de toda mágoa causada por aquela família, Sophia achou
interessante que seu filho se chamasse Vagner. Ela sempre gostou do
nome, seria também uma forma dela homenagear a senhora Victoria por
sua atitude de bondade no passado. Também seria justa uma
homenagem ao tio, que provavelmente teria sido um grande CEO, se a
morte não o tivesse levado tão jovem.
Com o passar do tempo, percebeu que seu garotinho estava se
tornando cada dia mais parecido com o Vagner. Então, por um momento
ela sentiu um frio na espinha e lembrou: Parecer com o Vagner era o
mesmo que parecer com o Victor. Porém, as chances de um dia pai e
filho se encontrarem eram quase nulas. Ela não precisava temer esse
encontro, o Victor e o senhor Scott jamais saberiam, não queria correr o
risco de perder a guarda do seu filho para aquela família bilionária.

Após a morte da sua mãe, três anos depois de chegarem a Inglaterra,


Sophia até pensou em escrever para o Victor, contar o porquê teve que
abrir mão de tudo e também contar sobre o nascimento do filho.

Todavia, será que valia a pena mexer em feridas tão dolorosas do


passado? Já que nas poucas notícias que por acaso leu sobre Victor, ele
parecia ter seguido a vida normalmente. Afinal, como o pai dele disse e
todos também sabiam, Victor nunca foi apaixonado por ela, apenas
casou de repente para provocá-lo, cumprindo assim a ameaça que fez.

Até hoje ela lembrava da frase dita por aquele


homem orgulhoso e sem coração: “O único herdeiro
da Scott Produtos Farmacêuticos, não nasceu para se
casar com a filha da empregada e vice-versa”.
Enquanto ela chorando escrevia uma carta de
despedida ditada por ele para Victor, na qual foi
proibida de mencionar o tratamento da sua mãe e
escrevendo apenas sobre a oferta para um bom
dinheiro para cursar universidade e ter uma vida
confortável para elas, coisa que o Victor
provavelmente não proporcionaria a longo prazo.
O senhor Scott a convenceu argumentando que Victor logo se cansaria
daquele casamento as avessas e ela ficaria sem nada, faculdade ou o dinheiro
para o tratamento da mãe, já que casaram com separação total de bens.

Sophia chegou a ver fotos do Victor, uns três anos depois em uma
coluna social internacional, coisa que ela até evitava ler. A julgar pelo
título, ele continuava o mesmo mulherengo de sempre. Pela nota, deu
para perceber que estava sempre posando ao lado de alguma beldade,
alguma modelo famosa, alguma garota da nata da sociedade nova-
iorquina. A partir dai, ela preferiu nunca mais olhar esse tipo de jornal,
seguir a vida sozinha com seu filho e a babá. Concluir sua graduação em
Administração como ela sempre sonhou, focar em sua vida profissional
e se fechar para o amor. Assim ela fez...

— Meu amor, a mamãe vai indo, seja um bom menino, prometo que
estarei em casa a meia noite e dormirei com você! — Sophia falou
carinhosamente com o filho e lhe deu um beijo na testa.
— Beth, eu estou indo, prometo estar em casa antes da meia noite para
que você possa dormir em sua casa com o seu pai doente! Muito
obrigada por mais uma vez me salvar em um compromisso de trabalho!
— Sophia explicou para a babá, enquanto pegava a bolsa e as chaves do
carro.

Beth era uma benção na vida de Sophia, estava com ela desde que o
Vagner nasceu. A sua mãe doente não podia ajudar a cuidar dele e
Sophia optou em iniciar a faculdade ainda grávida. Ela tinha pressa em
superar e vencer as barreiras da vida.

Sophia tinha total confiança na Beth, era uma mulher muito


responsável e carinhosa com o seu filho, mas naquela noite ela estava
com o pai hospitalizado, então iria quebrar o galho para a patroa, mas a
meia noite iria ficar com o seu pai. Então, Sophia estava consciente de
que não podia abusar da boa vontade da moça, de ficar com o David em
seu dia de folga e ainda mais com o pai hospitalizado. Tudo isso por
causa daquele jantar de negócios tão importante.

Enquanto dirigia, a tensão dela só aumentava, pensava, o quanto tentou


evitar aquele compromisso, alegando ser desnecessária a

presença dela junto ao CEO da sua empresa no jantar.


Porém, ele, como presidente, a lembrou da importância da sua
presença no jantar. Afinal, ela era diretora-executiva da multinacional, a
gigante dos cosméticos que estava sendo vendida a um grande
conglomerado norte americano.

Contudo, como explicar ao seu chefe que ela já


conhecia o senhor Scott, a quem eles chamavam de o
CEO de ferro? Sophia não queria falar sobre detalhes
tão íntimos da sua vida pessoal. Ainda deduziu que a
alcunha, devia ser devido ao jeito implacável dele no
mundo dos negócios e até mesmo na vida pessoal, pelo
pouco que se recordava.
Ao entregar a chaves da sua mercedes vermelha ao manobrista na
frente do luxuoso hotel, seu chefe a aguardava na recepção, o jantar
seria no restaurante do hotel. Sophia tremia por dentro só de pensar em o
que o senhor Scott diria ao revê-la? Será que fingiria não conhecê-la?
Ou apenas a cumprimentaria friamente e o jantar de negócios
prosseguiria normalmente?

Há anos não tinha notícias dele, na verdade queria distância daquela


família maldita! O último contato, que teve com ele, foi uma carta que
ela escreveu após concluir Administração e arranjar um emprego.
Então, ela avisou sobre o término e que estava dispensando a ajuda
financeira mensal dele como fora combinado no passado. A partir dai,
evitou ler qualquer coisa a respeito daquela familia maldita e apenas se
preocupou em criar seu filho longe deles.
—Nossa! Você está belíssima! Esteja pronta para
conhecer aquele que é conhecido no mundo dos negócios
do nosso ramo como o CEO de ferro. — O seu chefe a
elogiou, mas aproveitou para lhe dar essa informação de
última hora.
— CEO de ferro? Deve ser alguém bem difícil de lidar, não? Sophia
perguntou, tentando se fazer de desentendida, mas a cada segundo ficava
mais nervosa, não queria ter que encarar e sentar-se à mesa com o
senhor Scott, a quem ela odiava, por no passado ter se aproveitado da
situação e ter lhe proposto um acordo tão cruel.

— De certa forma sim, mas convenhamos que executivos como eu e


você já somos habituados a lidar com esses tipos. — Seu chefe a
tranquilizou e foram caminhando lentamente até o restaurante do hotel.

Ao passar pelo hall espelhado, Sophia viu sua figura elegante refletida
no espelho, vestida num elegante vestido tubinho preto, sandálias de
salto alto número quinze, bolsa de mão estilo carteira, um colar dourado
realçava o seu discreto decote. A loira de cabelos escovados até o meio
das costas, 1,70m de altura bem distribuídos, em nada lembrava aquela
garota tímida, insegura, usando pesados óculos de grau, roupas largadas,
filha da empregada.

Sophia tinha que admitir que no quesito beleza e elegância, cursar


farmácia e mergulhar no mundo da beleza e dos cosméticos causaram
uma verdadeira transformação em sua aparência física. Ela ficou mais
feminina, vaidosa, a sua beleza escondida, desabrochou.

A partir dai surgiu uma nova Sophia, a lagarta virou borboleta. Quanto
ao quesito profissional também não tinha o que reclamar, trabalhava no
que gostava e tinha conseguido o sucesso profissional. Ela aos vinte e
oito anos era diretora-executiva de uma multinacional do setor de
cosméticos. Ela realmente tinha se tornado, ao longo desses dez anos,
uma linda mulher e uma profissional bem sucedida.
Uma profissional jovem, bem sucedida, bonita, elegante, admirada
pelos homens pela beleza e competência, mas fechada para o amor,
devido aos traumas e humilhações do passado. Algumas pessoas não
entendiam o porquê dela agir assim, mas ela preferia não abrir sua vida
íntima, seu passado para as pessoas a sua volta. A vida para ela se
resumia a trabalho, cuidados com a aparência devido ao cargo e o ramo
em que trabalhava e o tempo livre dedicado ao seu filho.

Ela não acreditava em promessas masculinas, os homens eram falsos,


na maioria das vezes estavam em busca de uma mulher para levar para
cama e ela detestava promiscuidade. Preferia ter o coração fechado para
o amor do que sofrer tudo que sofrera com Victor novamente, pois foi
muito difícil juntar todos os pedaços e se recuperar de tudo.

— Então, esta é a nossa mesa e como eu previa, o nosso Ceo de ferro


ainda não chegou! Será que alguma bela mulher o atrasou? Dizem que
ele além de pulso de ferro é um perfeito Dom Juan! — seu chefe
comentou em tom de brincadeira, enquanto puxava a cadeira para ela se
sentar, em seguida sentou-se também e restou uma cadeira vazia a
espera do Ceo de ferro.

Dom Juan? Não sabia dessa fama do senhor Scott, mas ele é viúvo,
rico, talvez tenha resolvido aproveitar a vida! Enfim, tal pai, tal filho.–

Sophiapensou consigo mesma, relembrando fantasmas do passado


com tristeza.

— Ah! Então ele é um Dom Juan? Nossa... detesto homens que


fazem esse perfil — Sophia falou calmamente, enquanto tentava se
mostrar calma.

— Sim, dizem que está sempre ao lado de alguma modelo, alguma


mulher bonita do jet set internacional! Embora isso não nós interesse,
temos que focar no homem de negócios — Seu chefe a alertou, como
pressentisse que estava surgindo uma leve antipatia entre o homem que
estava para chegar e ela.
— Ah, claro! Não se preocupe — Sophia avisou.

Apesar de seu coração ter se fechado para o amor, Sophia tinha


consciência de que todos na empresa a achava uma mulher bonita,
elegante, nem parecia a Sophia do passado, que eles não chegaram a
conhecer.

Ela só esperava que o presidente da empresa, seu chefe, já


conhecendo a fama de mulherengo do tal CEO de Ferro não tentasse
jogá-la para cima dele. Afinal seu chefe não sabia que ela já conhecia o
senhor Scott e
Ele, às vezes, não media as atitudes na hora de
fechar um negócio, ainda mais um negócio tão
importante.
— Dizem que ele é sempre assim, não tolera atrasos, mas sempre é o
último a chegar! Antes os seus seguranças inspecionam o local e o
avisam se ta tudo ok para que ele se apresente — o seu chefe falou em
tom amigável, justificando o pequeno atraso.

Sophia e seu chefe tomaram seus lugares à mesa, ela ficou sentada de
costas para a entrada principal do restaurante do hotel. Enquanto ele
falava sobre negócios, ela tentava disfarçar a tensão que estava sentindo
em saber que a qualquer momento o senhor Scott chegaria para ocupar
aquela cadeira vazia, bem ali à sua frente.

— Boa noite, senhores! Perdão pelo atraso, mas algumas regras de


segurança precisam ser seguidas! — Era uma voz grave, masculina, com
o típico sotaque do inglês norte-americano, então o CEO de ferro havia
finalmente chegado.

Sophia sentiu um frio na espinha ao ouvir aquela voz, grave e


masculina, que chegou pelas costas, aos
ouvidos dela e soou como uma chicotada! Nem que se passassem
mil anos, ela esqueceria aquela voz...

O seu chefe ficou de pé, em sinal de educação, Sophia levantou-se


petrificada, estava muda de surpresa. Ela se controlou ao máximo para
não se voltar rapidamente, já que estava de costas para a entrada, e olhar
surpresa para o tão esperado CEO de ferro.

— Senhor Scott, não precisa se desculpar, compreendemos


perfeitamente as suas regras de segurança — seu chefe falou
educadamente, enquanto, o convidado especial assumia o seu lugar na
mesa redonda do restaurante, bem em frente à Sophia.

Sophia mal podia acreditar no que estava vendo em sua frente: o CEO
de ferro, o senhor Scott que ela tanto odiava e temia naquele encontro,
havia finalmente chegado. Contudo, não era o senhor Fernando Scott
como ela esperava, em sua frente estava Victor.

Então, a ficha caiu para ela: O CEO de Ferro, temido no mundo dos
negócios farmacêuticos e cosméticos, era o senhor Victor Scott, que no
passado fora Victor, o filho do patrão e seu marido por quarenta oito
horas.
Apesar de toda situação embaraçosa, Sophia ainda conseguiu analisar
ele fisicamente. Victor continuava bonito, um verdadeiro Deus grego, a
diferença é que havia perdido o jeito de playboy juvenil. Agora era um
belo executivo de trinta e dois anos. Porém, os cabelos negros, cortados
curtinhos e com um leve topete, os grandes olhos negros, a boca sensual
que costumava esboçar um sorriso cafajeste, tudo continuava do mesmo
jeito.

Na verdade, ele estava ainda mais belo, pois agora ele tinha o charme
do homem executivo, bonito, elegante, bem sucedido, vestido em seu
terno italiano, usando seu relógio rolex. Ele não era mais o playboy
juvenil, vestido de jeans e camiseta, montado em sua motocicleta
potente. Os anos haviam se passado e ele se transformado no CEO da
Scott Produtos Famacêuticos S/A.
Capítulo 6

— Esta é a srta. Sophia Williams, farmacêutica, diretora executiva da


Botanic Cosméticos — O seu chefe a apresentou de forma cerimoniosa,
para que o CEO tivesse consciência da importância dela dentro da
empresa.

— Senhorita? — Victor perguntou de forma cínica, provavelmente


tentando intimidá-la, enquanto a encarava arqueando as sobrancelhas e
lhe estendendo a mão para cumprimentar.

Ele tentou disfarçar, mas era nítido em seus olhos, a surpresa ao


reencontrá-la e com a aparência tão mudada.

—Sim, senhorita! Esta bela mulher é solteira, os ingleses devem estar


cegos! — O seu chefe tentava ser simpático e criar um clima de
descontração ao encontro. Porém, ele mal sabia do clima embaraçoso
que estava no ar.

— Ah! Entendo... creio que o senhor tem razão em relação aos


ingleses... — Victor concluiu de forma cínica e esboçando o velho
sorriso cafajeste em direção a ela. O tempo passou mais os trejeitos
continuavam os mesmos.

— É um prazer conhecê-lo, senhor Scott! Bem vindo a Londres! —


Sophia respondeu de forma fria, apertando a mão que Victor lhe
estendeu em sinal de educação.

— O prazer é todo meu senhorita!- A forma que ele frisou o


tratamento senhorita, era uma indireta para Sophia, apenas o seu chefe
que não sabia do passado, não entendeu.

Então todos se sentaram a mesa para jantar e começar a discutir


particularidades da venda da multinacional de cosméticos para a gigante
norte americana do ramo farmacêutico que tinha começado a investir
também em cosméticos.

Apesar da tensão, do estado de alerta, o medo de que a qualquer


momento Victor colocasse tudo em pratos limpos ali mesmo diante do
seu chefe, Sophia estava conseguindo disfarçar e ao menos interagir na
conversa. Afinal, seria muito estranho, se ela, ocupando tal cargo,
ficasse muda como uma profissional inexperiente em um encontro de
negócios tão importante. O que seu chefe iria pensar? Ela que sempre foi
o seu braço direito dentro da Botanics Cosméticos.

De repente, um garçom interrompeu educadamente a conversa.

— Licença! Perdão por incomodá-los! Peço, por gentileza, que o


senhor Albert Smitch se dirija até a recepção do restaurante, um
telefonema urgente o aguarda. — O garçom deu o recado e saiu.

— Um telefonema urgente? Apenas minha esposa sabe que estou


aqui! Meu Deus, deve ser algo muito sério! licença, senhores, irei ver do
que se trata! — ele falou nervoso, enquanto se retirava da mesa e se
dirigia até a recepção.

Ao ouvir aquilo, Sophia gelou, ela iria ficar sozinha com o Victor por
alguns minutos, e Victor percebeu, pois lhe dirigiu um olhar firme, estilo
predador olhando para a sua presa. Então, no primeiro momento em que
o senhor Albert Smitch se ausentou da mesa, ele disse:

— Ora, ora... mas que mundo pequeno! Vim de Nova Iorque para
Londres para um jantar de negócios e acabei encontrando a minha
esposa fujona e mercenária! Então? Surpresa me ver? — Victor falou
em tom de deboche, mas com um certo ressentimento em seu tom de
voz também.

— Confesso, que esperava o senhor Fernando Scott, seu pai! Até


porque jamais imaginei que o playboy, irresponsável e problemático se
transformaria um dia em um grande CEO! — Sophia falou mal criada.

— Meu pai faleceu há alguns anos! Porém, confesso que também não
esperava reencontrá-la aqui! E mais surpreso ainda estou em ver que
aquele patinho feio se transformou em uma bela mulher! — Ele iniciou
sério e concluiu em tom debochado.

—Ah! Ex-esposa e não sou uma mercenária! E por


favor, tenha, ao menos uma vez na vida, respeito pelas
pessoas! Não detalhando para o meu chefe o nosso
passado! Preciso e amo esse emprego! — ela pediu
séria e o encarou com um olhar magoado.
— Ah, não é? Qual nome se dá para uma mulher que demonstrava ser
apaixonada por mim, porém, se vendeu por um bom dinheiro para a mãe
deixar de ser doméstica e ela cursar uma universidade? Bastou meu pai
oferecer em troca de uma procuração para anulação do casamento? O
amor que você fingia sentir por mim não foi forte o suficiente diante da
proposta do meu pai ! É sim uma mercenária! As mulheres que se
vendem por dinheiro tem uma tendência à prostituição!

— Ah! Você me respeite! Eu não vou ficar aqui discutindo com você,
pois você não tem moral para julgar ninguém! Fui sua esposa por
quarenta e oito horas e nesse curto espaço de tempo, você ainda
conseguiu me magoar, me humilhar com seu descaso e falta de
compromisso comigo! — Sophia falou com a voz cheia de mágoa,
apesar de ambos falarem baixo e disfarçarem para as mesas vizinhas não
ouvirem.

— Você não foi minha esposa: Você é minha esposa! Eu não assinei
divórcio nenhum, até rasguei, no calor do ódio, aquela maldita
procuração deixado por você! — Victor falou sério enquanto a encarava
e espetava com força um pedaço de carne em seu prato.

— Mentira! Seu pai teria entrado em contato comigo e me pedido


outra procuração! — Sophia falou séria, estava surpresa, mas não iria
entrar no jogo dele.
— É a mais pura verdade! Eu o avisei que quantas procurações
chegassem, quantas eu rasgaria! Victor respondeu sério.
— A troco de quê? Você nunca me amou, não foi nem sequer capaz
de me respeitar como esposa durante as quarenta e oito horas que
passamos casados! Fez um descaso total comigo! — Sophia estava cheia
de mágoa e tentando disfarçar a vontade de chorar pelas lembranças tão
dolorosas do passado.

— Porque convenhamos que era conveniente para mim, que para a


família, meu estado civil fosse casado, assim eu não seria tão
pressionado a me casar com a chata da Pâmela! Há três anos meu pai
faleceu, eu assumi os negócios e simplesmente esqueci de me divorciar
de você! — Ele falou com uma expressão cínica no rosto.

— Entendi, então você continuou, de certa forma, me usando, após a


minha partida!

Sophia estava magoada, isso era uma das coisas que mais feriu ela
naquele casamento às avessas do passado, o fato de ser usada, sem um
mínimo de amor ou consideração. Ela sempre soube que ele não a
amava e quais os motivos que o levaram ao casamento, maspensou que
haveria ao menos cumplicidade entre os dois.

— Se eu não queria casar, não vi o porquê me divorciar, isso servia


para afastar a Pâmela, que sonhava em ser esposa! Quanto as outras
mulheres, sempre me diverti com as mais belas por uma noite, essas
nunca cobraram de mim o estado civil ou casamento. — Victor a
encarou com o mesmo sorriso cafajeste do passado.

— Você continua o mesmo Dom Juan inconsequente! Brinca com os


sentimentos das mulheres sem remorso! Pelo menos assumiu a empresa
como seu pai desejava! — Sophia falou séria.

— Quando meu pai faleceu, eu não tive escolha, não podia deixar o
patrimônio da família entregue a estranhos! Apesar que no futuro, será
entregue, pois não tenho herdeiros e nem os terei! — Ele falou sério.

Ao ouvir aquilo, Sophia gelou. De repente lembrou-se do Vagner, o


seu filho e do Victor também. Ele seria o herdeiro, mas Victor poderia
ter outros, era jovem, saudável. Ela preferia assim e que o seu filho fosse
criado afastado daquela família.

— Não ter herdeiros é uma decisão séria e complicada, não? Ainda


mais para quem tem um império farmacêutico para deixar. — ela
perguntou séria, queria que ele dissesse que iria procurar, no futuro, ter
filhos com alguma mulher, algo que a deixasse tranquila em relação ao
seu filho Vagner.

— Não, não foi uma decisão minha, eu fiquei estéril após uma
caxumba grave! — Victor falou sério.

Sophia ficou preocupada, ouvindo aquilo. Não sabia se sentia pena,


ódio ou medo. Ela ficou também com um pouco de remorso, seria justo
esconder o seu filho do pai? Um homem que apesar de tudo,
demonstrou um certa tristeza na voz ao afirmar que não tinha filhos e
que tinha ficado estéril.

Contudo, ela não podia confiar em Victor, não queria correr o risco de
perder seu filho, pois moravam em continentes diferentes para guarda
compartilhada. Ela já tinha uma vida estabilizada na Inglaterra e ele
como o homem bilionário que era, poderia requerer a guarda do menino
e assim tirá-lo dela facilmente.
— A propósito, você era uma garota bem sem graça quando nos
casamos, mas se tornou uma bela mulher! Não seria nenhuma sacrifício
hoje brincarmos de marido e mulher mais tarde em minha suíte! —
Victor falou de forma cínica, enquanto seu olhar percorria o seu leve
decote.

— Você me respeite! Eu não sou uma prostituta de luxo! — Sophia


falou brava.

Contudo, o discreto acerto de contas dos dois foi interrompido pelo


retorno do seu chefe.

— Senhor Scott, eu peço mil desculpas, mas o meu filho sofreu um


acidente doméstico grave e não poderei continuar, mas deixarei a
senhorita Williams me representando! Não se preocupe, ela é meu braço
direito, pode fornecer detalhes e negociar com o senhor a possível venda
da Botanics Cosméticos. — O seu chefe, o senhor Albert Smitch, estava
visivelmente abalado.

— Não se preocupe, senhor Smitch, entendo


perfeitamente, acidentes acontecem! Eu continuarei a
reunião apenas com a senhorita Williams com maior
prazer — Victor respondeu em tom compreensivo mas
no fundo estava feliz porque agora era só Sophia e ele:
O Confronto!
Ao ouvir aquilo, Sophia ficou sem palavras, mas não poderia dizer um
não, a menos que ali mesmo contasse ao seu chefe o que realmente
estava acontecendo. Contudo, ela não queria expor tanta assim a sua
vida íntima no trabalho, seria motivo de escândalo e fofocas na certa.

Então, Sophia recapitulou em sua mente a cilada que o destino tinha


armado: Ela deixou seu filho com a babá e prometeu voltar antes da
meia noite, o Ceo de ferro era na verdade seu ex marido, Victor;
descobriu que ainda era casada oficialmente com ele; agora o seu chefe
surgia avisando que teria que se ausentar e que os dois continuariam o
jantar sozinhos, ali no restaurante do hotel.

Ainda por cima, esse anúncio do seu chefe foi feito cinco minuto
depois do Victor lhe dar uma cantada para subir ao quarto com ele e
brincarem naquela noite de marido e mulher, já que ele se agradou
fisicamente da mulher que ela havia se tornado.

Sophia ficou meio incomodada com a situação, mas como não poderia
dizer um não, resolveu ficar, pois já tinha sobrevivido a surpresa inicial
do encontro.

— Tudo bem, senhor Smitch, apenas irei até a recepção, preciso fazer
um telefonema rápido.

Sophia lembrou do Vagner, do que tinha prometido a Beth sobre


chegar em casa no máximo até meia noite, coisa que ela pretendia
cumprir, mas seu sexto sentido a levou a ligar para casa, saber se tava
tudo bem.

— Quanto a mim, senhor Smitch, não se preocupe, vá ao socorro da


sua família, não precisa nem ao menos esperar a senhorita Williams
retornar do telefonema, eu posso aguardá-la sozinho aqui.

Victor falou educado, tentando se mostrar compreensivo, mas no


fundo estava disfarçando que estava adorando ter a oportunidade de
ficar a sós com Sophia para confrontá-la ainda mais pela fuga do
passado.

— Obrigada, senhor Smitch, quero que saiba que está em boas mãos,
ela é a nossa melhor executiva e sabe tudo da parte empresarial e técnica
da empresa.
O senhor Alberto Smitch ainda se explicou antes de deixar de vez a
mesa, mal sabia ele que naquele momento Victor não queria mais falar
apenas de negócios com Sophia.
Capítulo 7

Quando Sophia chegou até a recepção e pediu para da um telefonema,


percebeu que diante de tantas emoções, havia esquecido sua bolsa em
cima da mesa.

Ah! que droga! Hoje a noite está complicada! Eu tinha que esquecer a
minha bolsa em cima da mesa? Ainda bem que tenho o número de casa na
memória!—Ela pensou chateada .

Ela ligou para casa, o Vagner já havia dormido, afinal já eram quase
dez horas da noite. Então, ela avisou a Beth que os planos de retornar
para casa a meia noite continuavam, mas aconteceu um imprevisto. Ela
assumiu sozinha o jantar de negócios, então poderia acontecer de
somente retornar a uma da madrugada. A sua babá Beth era um anjo e já
estava acostumada a cuidar de filhos de uma executivas e isso era
normal no mundo das mães que trabalhavam fora, principalmente mães
que criavam sozinhas os filhos.
Ao retornar para o restaurante, de longe avistou Victor sozinho a
mesa, aguardando-a. O canalha tinha vencido, ficaria sozinho com ela e
provavelmente falaria mais do passado do que de negócios, diferente de
como seu chefe pensava.

— A minha bolsa! Eu jurava que tinha esquecido aqui! Senti falta


dela na hora que fui até a recepção telefonar! — Sophia falou assustada
ainda de pé ao lado da mesa, tentando achar sua bolsa.

— Queira sentar-se e você terá notícias da sua bolsa! — Victor a


encarou e falou friamente.

— Como assim? Você pegou minha bolsa? Onde ela está? — Sophia
perguntou nervosa, já sentada à mesa.

— Está comigo! Na verdade, mandei deixá-la em um local seguro!


— ele falou de forma cínica, enquanto a encarava.

De repente Sophia lembrou de que tudo que havia na bolsa era muito
importante: cartões, documentos, chaves do carro, chaves do
apartamento. Porém, nela tinha algo muito especial e que Victor não
poderia jamais ver: Uma foto de Vagner tirada no colégio com uniforme
escolar e uma dedicatória chamando-a de mamãe. Então nessa hora, ela
ficou ainda mais aflita.

— Escute aqui, seu playboy, CEO de ferro ou sei mais lá o quê! Me


devolva minha bolsa agora! Pois eu irei agora mesmo acusá-lo de roubo
aos seguranças do hotel! - Sophia falou brava, numa atitude desesperada
de ter de volta sua bolsa.

— Ah! fala sério! Você acha que acreditariam que o dono e CEO de
um grande império farmacêutico, anda roubando bolsas por aí? E o que
tem de tão especial naquela bolsa? Agora fiquei curioso! Não vejo a
hora de poder abri-la — Victor falou de forma cínica enquanto a
encarava.

— Nada demais! Mas por favor, devolva a minha bolsa! Ela foi cara,
gosto muito dela! — Sophia suplicou e usou essa desculpa de que era
uma bolsa cara.

— Ah! Não exagera! Conheço artigos de luxo, não é uma bolsa tão
cara assim! — ele falou impaciente, toda essa situação o estava
deixando desconfiado.
— Sim, eu gosto dela! Não só pelo conteúdo, mas foi um presente da
minha falecida mãezinha! Eu faço qualquer coisa para que você me
devolva e não seja indelicado em abri-la antes de me devolve-la! -
Sophia suplicou, ainda sentada à mesa com Victor.

— Eu ouvi direito? Faria qualquer coisa? Lembre-se que essa frase


pode significar muito... mas para alguém que se vendeu, isso não seria
problema — Victor retrucou de forma maliciosa, enquanto olhava para
ela e seu olhar percorria o colo e todo o resto do seu corpo.

De repente Sophia lembrou da gravidade do que havia dito. O Victor


continuava um sedutor, mulherengo e pela forma que ele a olhava desde
o início do jantar, ele tinha se agradado da nova Sophia.

Sophia pensou em voltar atrás na promessa, em dar um tapa na cara do


Victor, chamar os seguranças do hotel e deixar o escândalo rolar solto.
Porém, se lembrou da foto do seu filho dentro da pequena bolsa de mão,
facilmente Victor acharia a foto caso revistassem a bolsa. Então, após
ele achar a foto, leria a dedicatória, chamando-a de mamãe e quando
visse a semelhança entre eles, facilmente ele ligaria os fatos e
descobriria que o Vagner era também seu filho. A partir dai, Sophia
tinha medo do que poderia acontecer em relação a guarda do filho, pois
ele era um magnata poderoso e Vagner era seu único herdeiro.

— Sim qualquer coisa... — Sophia respondeu baixinho com um frio


na barriga e evitando olhá-lo nos olhos.

— Então hoje à noite seremos marido e mulher de verdade! Quero que


você suba agora comigo até a minha suíte, ou melhor: até a minha cama!
— Victor falou de forma impiedosa, encarando-a como uma presa.

Apesar de no fundo ela já ter suspeitado qual seria a condição para


devolver de imediato a sua bolsa, sem abrir e com todos os pertences
dentro, ainda assim ficou chocada.

— Não... não peça isso... mas por que eu? Você pode ter a mulher
que quiser para lhe fazer companhia esta noite! Você é jovem, bonito,
saudável, um magnata poderoso e desejado pelas mulheres! — Sophia
argumentou em tom de súplica.

— Sim, eu posso ter a mulher que eu quiser, mas hoje, eu quero em


minha cama a mulher que fugiu de mim há dez anos! Algo que nunca
tinha me acontecido! Você foi a única! — Victor respondeu de forma
impiedosa, dava para sentir o orgulho ferido, o sabor de vingança.

— Ah! E sempre foi conveniente para mim, ser casado legalmente,


mesmo sem saber onde a minha esposa se encontrava, pois assim eu
afastava pretendentes importunas! Mas confesso que eu não sabia que
era casado com uma mulher tão linda e sexy! —ele falou cínico e com o
sorriso cafajeste de sempre.

— Você não me ama, nunca me amou, isso é um apenas um capricho


seu! Orgulho ferido! Uma espécie de vingança!—- A bela mulher
continuou argumentando.

— Chame do que quiser! É pegar ou largar! Então? O que me diz?


Podemos subir? — Victor perguntou friamente.

— Sim podemos... mas eu tenho uma condição! — ela falou


assustada.

— Qual condição? Você não está numa posição favorável para impor
condições! — Respondeu de forma grosseira.

— Eu preciso voltar para casa no máximo até uma hora da


madrugada! — ela falou em tom de súplica.

— Humm... alguém a espera? Algum namorado? — Ele quis saber


curioso.

— Não! Eu tenho muito trabalho para fazer amanha, por isso não
quero chegar tão tarde em casa, muito menos dormir aqui! — Sophia se
justificou, mas com medo de que ele descobrisse o real motivo.

— Dormir? Ah! não se preocupe! Você nunca ouviu falar que o CEO
de ferro não dorme com ninguém? A regra é vestir a roupa, tomar um
táxi e ir embora! — Victor falou de forma cínica e maldosa.

Sophia deu de ombros ao ouvir aquilo, não tinha mais o que


argumentar, aquela situação a feria profundamente. Contudo, não podia
correr o risco dele ficar com a sua bolsa e acabar descobrindo o Vagner.
— Agora me dê o braço e vamos até a minha suíte, esposa! — Victor
falou de forma debochada e cínica, Sophia somente obedeceu de forma
robótica.

Sophia levantou da mesa, deu o braço a Victor, como ele exigiu e foi
conduzida em silêncio por ele do restaurante do hotel até a sua suíte. Ela
esperava ao menos não chamar atenção, pois Victor era um magnata
famoso, ela não queria aparecer na coluna social como a sua nova
conquista e ser motivo de fofocas no trabalho.

Afinal, ninguém, além das pessoas que moraram na mansão Scott,


sabia do passado dos dois, para as pessoas de Londres, ela seria só mais
uma conquista do CEO de ferro.

—Queira entrar, querida! — Victor falou a última palavra com


sarcasmo, enquanto abria a porta da suíte e convidava Sophia a entrar
primeiro.

Não mudou nada! Apenas envelheceu e assumiu responsabilidades,


mas continua o mesmo Victor: Bonito, mulherengo, arrogante e
debochado!

Sophia pensou com tristeza, enquanto o obedeceu em silêncio e


entrou na suíte de luxo.

Sophia estava tensa, ficou imóvel no meio da enorme suíte cinco


estrelas, sem saber como agir a
partir dali. Então quando ela pôs os olhos na enorme cama de casal,
seu coração disparou, o frio da barriga, o medo em lembrar que sua a
última vez fora há dez anos, justamente em sua noite de núpcias com
Victor.
Apesar dela ter se transformado em uma bela mulher, se fechou para
o amor e nunca teve outro homem, alguém que não fosse Victor e por
apenas uma noite.

Aquela história a magoou tanto que ela preferiu cuidar da sua mãe até
o final, depois nasceu o Vagner, junto com ele a faculdade e vida
profissional. Então, apesar dela cuidar muito bem da aparência física por
questões profissionais, tinha esquecido de viver como mulher.

— Primeiro a minha bolsa, Victor! Pois, não confio em você! — ela


falou séria de pé no meio do quarto.

— Calma! Eu lhe entregarei sua bolsa, mas lembre-se do nosso trato!


— Ele falou cínico, enquanto tirava algo de uma gaveta.

— Sim, infelizmente eu lembro bem da condição desagradável que


você me impôs! — Sophia respondeu séria.
— Aqui está sua bolsa, mas so para garantir, as chaves da porta estão
comigo... — Victor deu a entender que ela não tinha como fugir, sem
cumprir o trato.

Sophia recebeu sua bolsa e continuou com uma expressão pouco


amigável.

— Que cara é essa? Que drama para quem no passado já foi


apaixonada por mim, até se casou comigo de surpresa! Lembra? Foi o
dinheiro que meu pai lhe pagou que acabou com aquela paixão? - Ele
perguntou de forma cínica, encarando-a.

— O fim da minha paixão por você não teve nada a ver com
dinheiro, mas sim com a sua falta de respeito comigo e com o nosso
casamento! Quanto ao fato de eu ter aceitado dinheiro para ir embora, os
motivos foram outros!

— Quais outros motivos, posso saber? Pois foi o que você havia
explicado claramente em uma carta do próprio punho! ele perguntou
com as sobrancelhas arqueadas, enquanto a encarava.

— A minha mãe descobriu um cancêr agressivo de repente e precisou


de um tratamento caro, seu pai forneceu esse tratamento, mas em troca
tive que sair da sua vida! Eu fui praticamente obrigada a escrever aquela
carta! Ele ditou conteúdo, disse o que eu poderia mencionar ou não! —
ela falou com a voz nervosa!

— Ah que desculpa mais esfarrapada! Era só ter falado comigo, eu já


tinha fortuna própria, poderia ajudar! Você se vendeu por dinheiro ao
meu pai, para ter boa vida para você e sua mãe e junto com isso cursar
Administração despreocupada, pois esse sempre foi o seu sonho! —
Victor falou irritado.

— Se você acredita ou não, não posso fazer nada!


Mas talvez você ache vestígios na contabilidade do seu
falecido pai, a ajuda mensal em dinheiro que mandava
para mim todo mês, os custos com o tratamento da
minha mãe! Até que minha mãe faleceu, eu conclui a
faculdade, arrumei emprego e escrevi dispensando a
ajuda financeira mensal — Sophia falou com uma voz
exaltada.
Era dolorido para ela mexer em feridas do passado. Sem falar que ela
não tinha fechado totalmente o coração para o amor como julgava. O
reencontro com Victor a estava deixando-a estranha. Ela sempre nutriu
antipatia e ódio por
ele, por ter lhe tratado com tanta falta de consideração após o casamento.
Porém, o reencontro com ele, dez anos depois, parece que de alguma forma,
mexeu com sentimentos dentro dela que pareciam não terem sumidos e sim
apenas adormecido.

Agora de uma coisa ela tinha certeza: não ia cair novamente no charme, no
feitiço de Dom Juan dele, não ia deixar o seu coração se abrir novamente, ser
novamente magoada e humilhada como no passado.

Na época, a falta de respeito, o descaso dele com ela, desde a


primeira noite de casados a feriu profundamente. Pois, ficou claro para
todos, que tudo tinha sido apenas uma atitude rebelde de sua parte para
desafiar seu pai. Ele poderia ao menos, ter disfarçado um pouco diante
das pessoas,agindo com mais cumplicidade, assim, ela não teria saído
tão decepcionada e humilhada daquela história.

Victor se aproximou por trás, enquanto ela estava de pé, ainda


vestida no meio do quarto. Ele tentou fazer uma massagem em seus
ombros para quebrar aquele gelo e o clima de acerto de contas.
— Relaxe... você está tensa! Aceita uma bebida? — ele perguntou,
bancando o Dom Juan e cavalheiro.

— Eu não bebo, obrigada! Vamos acabar logo com isso! — Sophia


falou nervosa, estava com medo, mas quanto mais cedo começasse, mais
cedo terminaria.

— Calma... para que essa tensão? Estou louco por você, saiba que se
tornou uma bela e irresistível mulher, eu não tenho pressa! Quero
saborear cada pedacinho da minha esposa. — Ele a tomou pela mão e a
conduziu até a cama, ela obedeceu feito um robô.

Ainda de pé na beirada da cama, ele puxou o longo zíper do seu


vestido modelo tubinho que caiu no chão por inteiro, deixando-a apenas
de calcinha e sutiã em sua frente. Ela ficou muito constrangida, pois a
última vez que tinha se despido para um homem fora há dez anos atrás e
num quarto na penumbra. Ela permaneceu imóvel em silêncio.

— Você se tornou uma mulher linda e deliciosa... — ele falou com a


voz cheia de desejo, enquanto com os olhos semi serrados a
contemplava apenas de lingerie preta no meio do quarto.
Victor tirou o casaco, a camisa, exibindo seu peito forte e liso, igual
no passado. Ele a abraçou, beijou seu pescoço, tentou beija-la na boca.
Ela se esquivou do beijo.

— Sem beijo? Prefere que eu a tome nos braços e faça sexo sem
beijar? Igual a uma prostituta? — Ele falou surpreso.

— Eu prefiro que seja rápido! Isso sim! — Sophia respondeu com a


voz trêmula.

Victor, a fez deitar na cama, deitou-se por cima dela e abriu o zíper
da calça, fazendo-a sentir todo o seu desejo por meio da ereção do seu
membro e sua respiração ofegante. Enquanto ele a abraçava cheio de
desejo, lambia seu pescoço, pressionava seu membro ereto entre suas as
pernas, ela meio imóvel, não resistia, mas também não correspondia.
Então, ele percebeu que ela estava tremendo.

— Ah por favor, Sophia! Pare de bancar a santinha! Sei que era


virgem em nossa primeira vez! mas agora você é uma mulher de vinte e
oito anos e não acredito que não tenha tido um único homem nesses dez
longos anos! Eu vi a forma como você chamouatenção dos homens no
restaurante! — Victor falou irritado.

De repente, ele a encarou e viu uma lágrima cair dos seus olhos, isso
o deixou pertubado. Ela estava com medo, nervosa e sentia vergonha em
admitir que o primeiro e último homem foi ele há dez anos. Além do
que, havia o medo de feridas do passado se abrirem novamente.

— Agora chega, Sophia! Vista-se e eu vou mandar chamar um táxi


para você! Eu sou Victor Scott, desejado pelas mulheres aonde vou, não
preciso ir para a cama com uma mulher que está prestes a chorar! —
Victor falou irritado, mas parecia que um pouco de sensibilidade tinha
tomado conta dele. Então o CEO de ferro, não era tão sem coração
assim.

Ao ouvir aquilo, Sophia não teve reação nem para agradecer, se


vestiu rapidamente, enquanto tremia. Ela pegou a bolsa, saiu do quarto
as pressas, segurando-a contra o peito.
— Não precisa! Eu mesma chamo o táxi da recepção do hotel! — ela
falou nervosa e saiu do quarto as pressa, batendo a porta.

Sophia deixou Victor seminu na cama, olhando-a de forma irritada,


mas ao mesmo tempo desconfiado, porque tanto nervosismo e apego por
aquela simples bolsa feminina.

Que bela, sexy e elegante mulher o meu patinho feio se tornou.

Victor pensou enquanto deitado, já planejando o que faria a seguir.

Contudo, assim que ela deixou o quarto, Victor deu um telefonema


rápido para os seus seguranças.

— Alô! Aqui é o senhor Scott, rápido, siga o táxi da senhorita


Sophia Wiliams, a mulher que estava comigo! Quero saber onde ela
mora — ele ordenou.

Deitado na cama, olhando para o teto, Victor levou algum tempo para
dormir. A imagem da nova Sophia não saia de sua cabeça! Ele mal
podia acreditar na linda, elegante e sexy mulher, aquele patinho feio
havia se tornado.

A adolescente desengonçada, vestida com roupas cafonas, usando


pesados óculos de grau, filha da empregada havia sumido, dando lugar a
uma nova e linda mulher.
O patinho feio virou cisne, a lagarta virou borboleta e quanto a ele?
Será que ela ainda sentia alguma coisa por ele? Durante anos ele a
julgou uma fingida, por fingir tal paixão e uma mercenária por aceitar a
oferta do seu pai.
Porém, será que o desenrolar dos fatos, da forma como ela lhe falou
eram verdade? E se fosse verdade? Então, da mesma forma que ele
passou anos duvidando do caráter dela, ela também teria motivos para
cobrar dele as atitudes erradas do passado. Além disso, ela estava
estranha, parecia que estava escondendo algo, o que seria?

O fato era que Sophia williams, a única mulher que fugiu dele um
dia, se transformou numa linda mulher e que mexeu com o seu desejo e
os seus pensamentos...
Capítulo 8

Sophia deixou o quarto tão nervosa que esqueceu de avisar que não
precisava de táxi, tinha vindo em seu próprio carro. Então, ela pegou o
carro na garagem do hotel e saiu dirigindo pelas ruas de Londres na
madrugada, eram meia noite e meia, pelo menos conseguiria cumprir a
sua palavra com a sua babá. Contudo, não percebeu que estava sendo
seguida pelos seguranças do seu ex marido, que, na verdade não era ex,
como ela julgou durante todos esses dez anos.

—Meu Deus! Eu não acredito que isso tudo aconteceu comigo! Não
acredito em que o tal jantar de negócios acabou se tornando!
Reencontrar o Victor e ainda por cima, me descobrir ainda legalmente
casada com ele nos Estados unidos! — ela falava consigo mesmo
enquanto guiava o carro.

Ela finalmente chegou ao seu prédio, estacionou o carro, pegou o


elevador, girou as chaves do apartamento, finalmente estava em casa no
conforto do seu lar e que alivio ela estava sentindo por isso.
A Beth estava vendo televisão.

— Beth, querida, finalmente cheguei, agora pegue esse dinheiro,


tome um táxi e vá até o encontro do seu pai! Obrigada por tudo! —
Sophia falou grata, mas com uma voz demonstrando nervosismo.

— Obrigada, senhora, farei isso sim, mas aconteceu alguma coisa? A


senhora está pálida, tome um copo de água com açúcar, se o motivo for
preocupação com o Vagner, ele está bem, dormiu cedo.

— Sim é o Vagner! Eu estava preocupada com seu compromisso com


o seu pai e também detesto sair de casa a noite, o trabalho já toma tanto
do meu tempo, prefiro ficar a noite com o ele. — Ela inventou essa
desculpa, na verdade ela preferia sim ficar sempre em casa com o seu
filho, mas o motivo do nervosismo exagerado não era exatamente esse.

— Então estou indo, Senhora, amanha, estarei aqui novamente — a


babá do seu filho se despediu.

Antes de ir para o seu quarto, ela foi até o quarto do seu filho, que
dormia feito um anjo, ela o olhou com carinho, acariciou sua cabeça e
deu um beijo leve em seu rosto, com cuidado para não acordá-lo.

— Meu anjinho, meu filhinho tão lindo!

Ela pensou com carinho, mas ao mesmo tempo sentiu uma pontada de
remorso, se era justo esconder do Victor, que agora era estéril, que ele
tinha um filho. Porém, o medo de perder a guarda era maior.

Sophia se dirigiu para o seu quarto, tinha conquistado um apartamento


confortável graças ao seu trabalho como executiva, melhor do que
aquele que era alugado com a ajuda financeira do senhor Fernando
Scott. Ela entrou no quarto, despiu suas roupas, admirou seu corpo no
espelho e gostou do que viu. Ela em nada lembrava a Sophia do passado,
o patinho feio, a filha da empregada e Victor demonstrou claramente,
através do olhar, que percebeu a mudança.

Ela entrou na banheira, estava precisando de um banho relaxante


antes de dormir, pois com certeza seria difícil pegar no sono, ainda bem
que no dia seguinte só trabalharia na parte da tarde. Sophia ficou
admirada consigo mesma, o quanto o Victor ainda mexia com ela, o que
ela pensava que tinha ficado no passado, mas uma coisa era certa na
cabeça dela: ele continuava o mesmo mulherengo, Ela mexeu com os
instintos dele de homem, de orgulho ferido, por isso tentou saciar o seu
desejo e, ao mesmo tempo se vingar, levando-a para a cama.

Ela sentiu também nitidamente o desejo dele por ela, no olhar dele e
no toque das mãos. Porém, não adiantava se iludir, ele provavelmente
ainda era o mesmo Dom Juan de sempre. Caso ela cedesse, poderia sair
dessa história mais ferida ainda do que da primeira vez. Dessa vez
poderia custar até a guarda do seu filho. Ela não confiava no Victor,
esperava qualquer coisa dele.

Então, atormentada pelo passado, ela vestiu uma


camisola confortável, apagou a luz, se aninhou em seus
lençóis e tentou dormir. Ainda bem que o sono não
demorou tanto a chegar como ela pensava que
aconteceria e ainda bem que so trabalharia na tarde do
dia seguinte.
Quando Sophia chegou ao trabalho na tarde do dia seguinte, a sua
secretária avisou que o presidente da empresa o senhor Albert Smitch,
gostaria que fosse até sua sala assim que ela chegasse.
Ah meu Deus! Como fui me esquecer? Ele quer detalhes do que
conversamos ontem, sendo que não conversamos nada de negócios, após a
saída dele do jantar!

Sophia pensou preocupada, mesmo assim foi até a sala do seu chefe,
pensando como podia sair dessa.

Quando ela chegou na a sala do senhor Smitch, ele a recebeu muito


entusiasmado, nem parecia que tinha precisado sair as pressas na noite
anterior devido a um acidente doméstico com o filho.

— Senhorita Williams, não é a toa que confio tanto em você! Eu


mesmo não poderia ter fechado melhor negócio! — o seu chefe falou
entusiasmado e Sophia não conseguia falar nada, pois não estava a par
do que estava acontecendo. O que será que o Victor tinha aprontado?

— Imagine, senhor Smitch, eu apenas fiz o meu trabalho como


executiva de anos nessa empresa, sou muito agradecida pela confiança
que vocês sempre depositaram em mim — ela falou séria, tentando
disfarçar que estava curiosa, pois não sabia o que foi passado a ele a
respeito do jantar de ontem.
— Fez apenas o seu trabalho? Não seja modesta! Não é fácil
convencer o CEO de ferro a comprar a Botanics Cosmétics, por quase
cinquenta por cento a mais do que ela vale. Tudo isso porque ele não
quis esperar mais as negociações, decidiu que queria resolver tudo hoje!
Então ele esteve aqui pela manhã, fez o cheque e a empresa está
vendida!

O seu chefe falava entusiasmado! Tinha vendido a empresa por um


preço maior do que esperava e achava que a negociação tinha sido
graças a ela. Porém, ela não entendia a troco de que Victor fez aquilo.

O Victor não parecia ser alguém caridoso, bondoso. Então, seria uma
forma de se apropriar mais rápido da empresa para tê-la como
subordinada? Seria para humilhá-la? Persegui-la como funcionária? Já
que ela lhe disse que precisava e amava aquele emprego?

— Eu não fiz muita coisa, senhor Smitch, apenas falei detalhadamente


sobre os produtos e a produção dos cosméticos na empresa. Acho que
esses magnatas, CEOS, são, às vezes, imprevisíveis— Sophia falou,
tentando disfarçar e se manter calma como se Victor fosse umhomem
de negócios qualquer, sem nenhuma ligação com ela.

— Inclusive, o CEO de ferro, o Senhor Scott, avisou que a sua esposa


que também é executiva e está passando um tempo em Londres, é quem
cuidará de todo o processo de transição, para, depois, se mudarem de
vez para Nova Iorque, onde fica a sede das empresas dele. Você sabia
que ele era casado? Estranho... ele não usa aliança e sempre aparece
publicamente com mulheres em festas e nas colunas sociais.

A partir daí Sophia não entendeu mais nada!Então, ela pensou:

Quem seria essa esposa a quem ele se referiu? Ou será que seria ela?
Se era ela, a troco de quê? Ele não precisava mais dela para desafiar o
pai e além disso, poderia ter a mulher que desejasse.

Sophia estava preocupada, mas preferiu ficar calada e esperar o


desenrolar dos acontecimentos.
Sophia trabalhou normalmente, devido a venda da empresa, ela estava
ainda mais cheia de coisa para fazer. Eram três horas da tarde, quando
de repente, o telefone tocou.
— Senhorita Williams, chegou uma encomenda aqui para a senhora
— a sua secretária avisou.

— Encomenda? Não estou esperando nada, pode receber e vir aqui me


entregar? — Sophia falou curiosa.

Então a porta se abriu, sua secretária entrou carregando um enorme


buquê de rosas vermelhas e uma caixa de bombons. Ela nunca tinha
sentido a sensação de receber flores, seja lá de quem quer que fosse.
Aquilo a deixou admirada e também emotiva, pois no passado aquele
patinho feio jamais receberia flores de alguém.

— Pode deixar aqui na mesa, senhora Rosy — ela falou


educadamente, tentando disfarçar a surpresa e a emoção.

— Sim, senhorita Williams. — A secretária tentava parecer discreta,


mas flores sempre chamam atenção em um ambiente de trabalho, ainda
mais no caso dela, que nunca tinha recebido algo do tipo.

Quando a secretária saiu, Sophia abriu ansiosa o envelope com um


pequeno cartão e nele dizia:
“Eu a espero hoje, às nove horas, o patinho feio que se transformou
em uma linda mulher, para um jantar íntimo no restaurante do hotel.”

Ao ler aquele cartão, ela sentiu uma mistura de sentimentos. A


primeira reação foi de surpresa, com tantas mulheres lindas que Victor
podia ter, ele cismou logo com ela! Depois veio a raiva, ele
provavelmente estava querendo bancar o Dom Juan, gostou da nova
Sophia e estava tentando se divertir com ela durante a sua curta estadia
em Londres ou talvez visse nela uma espécie de troféu, por ter sido a
única mulher que fugiu dele. Então, para finalizar, sentiu seu coração
bater forte, como a Sophia colegial de dez anos atrás, mas se Victor
estava pensando que ia desenterrar o passado, brincar com os
sentimentos dela e a fazer sofrer novamente, estava enganado.

Sophia pegou, ela mesma, o telefone, pois não queria dar margem a
fofocas na empresa sobre a ligação dos dois. Fez uma ligação para o
luxuoso hotel que Victor estava hospedado, ele não estava, ela deixou
educadamente um recado, no qual avisava que não compareceria a jantar
nenhum com ele.
Eram seis horas da tarde, final do expediente oficial, mas para uma
executiva nem sempre funciona assim. De repente, o telefone da mesa
de Sophia tocou.

— Srta Williams, tem uma ligação importante — a sua secretária


avisou, para justificar ter transferido a ligação no final do expediente.

— Tudo bem, pode passar! — Sophia sempre tentava ser atenciosa e


simpática com os seus subordinados, afinal um dia ela já foi um deles.

— Olá! Esposa! — uma masculina grave falou de forma cínica do


outro lado da linha! Sophia sentiu um arrepio na espinha, um frio na
barriga, conhecia aquela voz.

— Você? O que quer? Ah! e não sou sua esposa! Não importa papel
nenhum! Inclusive consultarei um advogado sobre isso! — Sophia falou
brava.

Se Victor estava pensando que ia surgir para tirar a paz dela e reabrir
feridas do passado que tanto a fizeram sofrer, estava enganado! Não ia cair na
conversadele!

Elapensouenquantoouvia o que ele tinha a dizer e segurava o


telefone ao ouvido.

— Eu a convidei para jantar hoje comigo no hotel e você não aceitou!


Então... é como diz o ditado: Se Maomé não vai a montanha, a
montanha vai a Maomé! — Victor falou cínico.

— Como assim? Do que você está falando? Não mudou nada! O


mesmo mulherengo, debochado de sempre! — ela falou irritada!

— Quando você retornar hoje do trabalho, estarei em frente ao seu


prédio lhe esperando! E não seja indelicada com as visitas! — Victor
falou cínico.

— Em frente ao meu prédio? Você tá louco? Não lhe dei meu


endereço.
— E você acha que isso seria necessário para Victor Scott? Os meus
seguranças seguiram você aquela noite, depois do jantar. — Ele parecia
sério.

Ao ouvir aquilo, Sophia gelou, o primeiro pensamento foi o seu filho,


seu bebezinho! A única coisa que ela tinha no mundo e o que mais tinha
medo de perder.
Meu Deus! Ele já sabe meu endereço! Ele descobriu ou vai descobrir
o Vagner!
Ela pensou assustada.

— Onde pretende chegar com isso tudo, Victor! O que quer de mim?

— Por hora, apenas que você venha jantar comigo no hotel às nove
horas da noite! Estou te aguardando! Não ouse faltar, do contrário irei
buscá-la em casa! Victor falou no tom arrogante de quem não era
habituado a ser contrariado.

Sophia, ouviu o silêncio do outro lado da linha, ele desligou sem ao


menos ouvir a resposta. Ela estava confusa e assustada. Ela não queria
que Victor fosse até a sua casa, pois não queria que descobrisse o seu
filho e sabia que ele tinha coragem de cumprir a ameaça.

Em compensação não queria ir aquele encontro, tinha medo dessa


proximidade reabrir feridas do passado, sentimentos adormecidos. Ela
precisava pensar no que faria, se tinha mesmo que ir aquele encontro ou
o que poderia fazer para evitá-lo. Porém, era perigoso, ele cumpriria a
ameaça e acabaria descobrindo a existência do filho.
Capítulo 9
Sophia fez um verdadeiro malabarismo para sair do trabalho, buscar o
Vagner na escola, combinar com a Beth para ficar com ele a noite, se
arrumar e ir ao encontro do Victor no restaurante do hotel.

Ela chegou ao restaurante do hotel esbanjando charme e elegância,


caminhou seguida por olhares masculinos até chegar a mesa onde Victor
a aguardava. Ela vestia um tubinho vermelho colado ao corpo, mas sem
decote e com mangas longas justas, não queria provocá-lo, mas andar
bem vestida fazia parte da sua rotina. Usava sandálias de salto alto
douradas, combinando com a bolsa dourada, o cabelo preso em um
coque e grandes brincos dourados.

— Então, Victor! Aqui estou! O que deseja de mim? Acho que já é


hora de parar com esse joguinho, não acha?

— Boa noite para você também Sophia! Queira sentar-se! Porém,


antes me permita dizer que você está ainda mais bela e sexy do que na
noite anterior!
— Ah! Estou? Pois saiba que essa não foi a minha intenção ao me
vestir!

— Sério? A senhorita nunca ouviu falar que: As vezes, uma mulher


se torna ainda mais sexy ao esconder partes do corpo do que ao mostrá-
lo totalmente?

— Não, nunca ouvi! Na verdade, não estou interessada em suas teorias


sobre sensualidade feminina! — Sophia falou de forma ríspida, puxou a
cadeira e se sentou a mesa.

Então, ela ficou frente a frente com Victor e não pode deixar de notar o
quanto ele estava bonito, sexy e bem vestido aquela noite. Victor usava
uma leve e bem cuidada barba, vestia terno preto, gravata italiana, rolex
dourado no pulso e a encarava com seus grandes olhos negros.

Afinal o hotel era cinco estrelas, consequentemente o restaurante


também, então era comum os frequentadores do lugar estarem vestidos
assim. Ainda mais se tratando de Victor Scott, o conhecido magnata
norte americano da indústria farmacêutica.
— Difícil você, heim? Será que o tempo a
transformou em uma bela mulher por fora, mas por
dentro uma mulher seca e rancorosa?
— Eu tive meus motivos!

Ele tentou lentamente se aproximar dela sobre a mesa, entre pratos e


talheres, tocando a sua mão.

— Por que não nos damos uma trégua essa noite, esquecemos a parte
ruim do passado e falamos um pouco sobre nós dois?

— Não seja cínico! Não existe nós dois! E se acha que vou cair em
sua lábia de Dom Juan, você está muito enganado! — Sophia falou
brava, enquanto evitava o contato da mão dele em sua mão.

Diante dessa atitude dela, Victor a olhou sério, tirou lentamente algo
do bolso do terno e depositou em cima da mesa.

— Claro que existe! Se não existisse nós dois, não existiria isto!

Sophia gelou ao ver em cima da mesa a foto do seu filho Vagner, na


verdade do filho dela e do Victor. Era uma foto daquele final de tarde,
quando Sophia o buscou na escola.

A sua primeira ideia, foi levantar rápido da mesa e sair dali a passos
largos, sem lhe dar explicações. Porém, ela sabia que isso só pioraria a
situação, pois o Victor não iria desistir, se ele tivesse desconfiado de
algo.

Ele a caçaria até o fim do mundo, só para ter a certeza. Então, ela
pensou que seria melhor disfarçar e tentar ser uma boa atriz, apesar de
que ele era muito inteligente e esperto.

— Como ousa me seguir? Você não tem esse direito!

— Eu tenho muitos direitos! Sou legalmente o seu marido! Eu


desconfiei ontem a noite a respeito da sua bolsa, que você escondia
alguém, se não era um namorado, o que seria? Mandei meus seguranças
a seguir nessas ultimas 24h.

— Victor, Victor! Você está passando dos limites! Amanhã mesmo,


eu consultarei um advogado para providenciar o divórcio! Coisa que
pensei já ter sido feita há dez anos!
— Jura? Faça isso e amanhã mesmo eu entro com um pedido de
exame de DNA para requerer a paternidade dessa criança!

— Você não faria isso...

— Claro que faria! Experimente me enfrentar! Agora, apesar desse


garoto ser a minha cara quando criança, quero ouvir de você: Ele é meu
filho?

— Não! Eu tive um namorado, logo que cheguei a Londres!

— Ah! Você teve um namorado... presumo que ele era muito


semelhante a mim, a julgar pela aparência do garoto!

— Pura coincidência!

— Sei... então, nesse caso, quero conhecer o pai do seu filho, me dê


um contato dele, assim eu desistirei de pedir qualquer exame de
comprovação

— Ah, Victor! Por favor, né! Você não tem esse direito! — Sophia
gaguejou ao falar.
— Sophia... você pode ter se tornado uma importante e competente
executiva, mas mentir não é o seu forte! Dá para ver em seu olhar, o
quanto você está desconfortável e assustada!

— Impressão sua!

— Lembro bem da nossa primeira noite! Você era virgem e não


usamos nada para prevenir uma gravidez! Agora você me aparece com
um filho que é a minha cara, de um pai misterioso e que tem quase dez
anos! Eu não nasci ontem...

— Ah você lembra daquela noite? Achei que os drinques tomados


com suas amigas, horas antes, o tinham deixado bêbado a ponto de
esquecer — Sophia falou com a voz cheia de mágoa.

— Não fale assim! Eu não estava bêbado naquela noite! Você pode
me acusar de qualquer coisa, mas jamais de ter sido indelicado com você
em sua primeira vez ou que, influenciado pelo álcool, fui insensível com
você durante...

Sophia ficou calada, era doloroso relembrar coisas do passado. Ainda


mais relembrar a sua primeira vez, além de ser doloroso, era
constrangedor para ela.

— Victor, é impressão minha ou você me atraiu para esse jantar,


apenas para me confrontar a respeito do meu filho?

— Não, a intenção inicial não era essa! Até que a foto de hoje a tarde
chegou até mim! Então resolvi unir o útil ao agradável.

— Você, sempre cheio de surpresas e armações...

— Agora chega de rodeios! Esse garoto é meu filho?

— Ele é meu filho! Afinal, o criei sozinha!

— Com essa resposta você acabou de responder a minha pergunta e


comprovar a minha suspeita! Saiba que você o criou sozinha, porque
não me deixou saber da existência dele!
Sophia sabia que não tinha mais como negar, a semelhança, fora
isso, o Victor poderia fazer facilmente um teste de DNA e comprovar.
Ela não queria que o seu filho passasse por isso.
—Sim! Ele é nosso filho. — Sophia admitiu aquilo, encarando o
Victor, com os olhos marejados, mas não queria demonstrar fraqueza
diante dele e nem borrar a maquiagem.

— Meu único filho e herdeiro... — Victor falou lentamente.

Então, por um instante, o homem conhecido como o CEO de ferro,


frio, arrogante no mundo dos negócios e ao mesmo tempo o Dom Juan
caliente com as mulheres, demonstrou um gesto de emoção ao
pronunciar essas palavras...

Porém, o olhar frio e a voz de cobrança voltou ao interrogar Sophia.

— Como teve coragem de fazer isso? Não me avisar! Praticamente


roubando meu filho de mim! Você iria esconder para sempre, não iria?

— Não me julgue assim! Eu não sabia que estava grávida quando


deixei a mansão e convenhamos que você não era um exemplo de
conduta familiar! Achei que não tinha interesse em ser pai!
— Eu tinha o direito de ao menos ser avisado! Por que não o fez?

— As coisas não eram tão fáceis, como parecerem agora! Eu tive


medo de descumprir o acordo feito com o seu pai! Tive também medo
que vocês usassem o dinheiro e poder para tomar a guarda do meu filho!

— Você acha que eu faria isso? Esqueceu que eu perdi minha mãe?
Eu sei o quanto uma mãe faz falta! Eu não faria isso com meu filho!
Empregados, governantas, babás, psicólogos, nenhum desses
profissionais substituem uma mãe!

— Eu sei que não! Porém, seu pai era sem sentimentos, sem
compaixão e você era irresponsável, não parecia querer assumir as
responsabilidades de pai.

Victor pegou a foto em cima da mesa, olhou novamente, deu um


sorriso de satisfação e perguntou:

— Como ele se chama?

— Vagner... — Ela hesitou um pouco em responder.


— Vagner... o nome do meu irmão... não sabia que você tinha essa
simpatia por ele.

— Apesar das crianças dos empregados não poderem se aproximar dos


filhos dos patrões, ele me dava chocolates em segredo, o ultimo foi
poucos dias antes do acidente. Ali percebi o quanto tinha bom coração.

— O nosso filho sabe de mim?

— Não... ele sabe o porquê se chama Vagner, mas não sabe de você,
acha que Vagner era o pai dele e que faleceu... — Sophia hesitou em
falar.

— Eu não acredito que você fez isso! Me excluiu da vida do meu


filho e criou toda uma mentira na cabeça dele.

— É muito fácil julgar, quando se está do outro lado da história.

— Sophia! Agora chega! Eu vou adiar meu retorno a Nova York por
uma semana, quero conhecê-lo pessoalmente e consertar essa história!
— Victor, pelo amor de Deus! Sei que você tem direitos sobre ele, sei
que você é ocupado, não pode passar muito tempo em Londres! Porém
imploro, vamos com calma com o meu filho!

— Nosso filho! — ele a corrigiu.

— Que seja! Nosso filho! Mas vamos fazer as coisas com cautela, eu
não quero causar traumas no Vagner, vi no passado o que os traumas
podem causar à uma criança, a um adolescente!

Victor entendeu o temor de Sophia, percebeu também, que ela estava


se referindo ao passado problemático dele, quando ela se referiu a sentir
medo do que traumas podem causar.

— Tudo bem! Eu entendo até certo ponto! Mas veja bem, essa semana
quero conhecer o Vagner pessoalmente, como seu amigo! Em seguida
você contará para ele que eu sou o seu pai! Após isso, quero que ele
conviva perto de mim, então consequentemente você terá que voltar a
morar em Nova Iorque! — ele falou autoritário como sempre.

— Tudo bem, Victor! Não estava em meus planos, mas se você é o pai
e está disposto a ser pai, não posso negar isso ao meu filho e nem a
você! Farei tudo essa semana! Agora sobre a mudança, eu e o Vagner
chegaremos a Nova Iorque, um pouco depois de você, pois não posso,
de última hora, alugar apartamento, emprego, babá! Enfim...

— Eu acho que você não entendeu, Sophia! Você não precisará se


preocupar com tudo isso: o Vagner retornará como nosso filho e você
como minha legítima esposa! Todos juntos viveremos como uma família
na mansão Scott!

— Ah! Essa não! Você não tem o direito de fazer essas exigências!
Além do mais, te conheço! Você está se aproveitando da situação, para
se divertir um tempo comigo em sua cama, até um dia se cansar e me
trocar por outra, como você sempre fez!

— Tudo bem! Você não tem que aceitar! Mas eu tenho o direito de
querer que o meu filho more bem, tenha conforto e a mansão Scott, onde
moro sozinho com os empregados, seria o lugar ideal. Então, eu acho
que você ao menos deveria tentar pelo bem dele!

Sophia ficou em silêncio por alguns minutos, não queria reviver o que
ela viveu no passado novamente, descaso, traição, humilhação, falta de
respeito. Porém tinha que admitir que o Vagner sairia ganhando com
tudo aquilo. Ser reconhecido o único herdeiro da Scott Produtos
Farmacêuticos, morar no conforto da mansão, sem falar que a partir do
reconhecimento precisaria de seguranças.

Então, ela acho que ao menos deveria tentar, assim, não corria o risco
de no futuro ser acusada pelo filho de tê-lo privado dessas coisas e
também evitaria um briga com Victor pela guarda compartilhada do
garoto.

— Ok, Victor! Eu aceito! Mas tem uma condição muito importante:


quartos separados!

— Ah, não! Quero que o nosso filho tenha uma família normal: pai e
mãe juntos!

— Então tudo bem, dormiremos no mesmo quarto, porém sem sexo!


Disso eu não abro mão! Nosso filho é uma criança, não precisará saber
desses detalhes!

— Tudo bem! Eu aceito! Mas por que tanta repulsa por mim?

— Não é repulsa! É falta de confiança e medo de sofrer novamente!


Sem mais detalhes! Se quiser assim, eu aceito!

— Tudo bem, acordo fechado!

Ao fechar o acordo, Sophia deu a mão para ele apertar, algo normal
entre executivos ao fecharem um negócio. Porém, ele a surpreendeu, ao
invés de apertá-la em sinal de aceitação, a levou aos lábios e beijou sua
mão delicadamente e com um olhar galanteador.
Isso fez Sophia, tremer, sentiu o coração descompassado, um
friozinho na barriga, mas disfarçou.

— Agora preciso ir! Combinei com a babá que retornaria para casa à
meia noite, o Vagner não pode ficar sozinho, é apenas uma criança.

E assim, linda, sexy, empoderada, Sophia deixou o lugar, sob o olhar


de admiração e desejo de Victor.

Que bela, sexy e inteligente mulher ela se tornou...

Ele pensou consigo mesmo e não conseguiu evitar uma ereção.


Capítulo 10

Uma das preocupações de Sophia era como reagir diante dessa


proximidade com o Victor, pois não queria reabrir feridas do passado.
Porém, a sua maior preocupação era como contar ao seu filho sobre a
existência de um pai. Como promover o encontro dos dois, avisar que se
mudariam para os EUA e tudo mais? Tudo isso da forma mais natural
possível, pois não queria ver a estória do passado se repetir: um novo
Victor adolescente traumatizado com perdas, desafiando o mundo para
punir as pessoas em sua volta.

Então, se passaram dois dias daquela jantar, que foi também um


confronto com Victor, no qual acertaram detalhes, que segundo ele,
eram para o bem do filho.

— Mamãe, onde está a Beth?

— Eu a dispensei hoje, filho.

—Mas a senhora não vai trabalhar hoje?


— Não, querido, hoje eu pedi folga do trabalho e você não irá à
escola.

— Sério, mamãe? Mas a senhora nunca faz isso!

O garotinho ficou todo feliz em saber que não iria à escola e passaria o
dia com a mãe.

—Filho, é um dia especial, gostaria que você conhecesse um amigo da


mamãe, ele virá almoçar conosco hoje, aqui em casa. Seremos só nós
três.

— Um namorado, mamãe? — Vagner perguntou curioso com uma


expressão de felicidade no olhar.

— Não, meu bem! É um amigo da mamãe dos Estado Unidos, quando


eu disse, durante uma reunião de negócios, que tinha um filho, ele ficou
curioso em conhecê-lo.

—Ah! Estados Unidos? Esse país é muito legal!

— Hum... você acha, filho? Gostaria de um dia morar lá?


— Ah, mamãe, não sei, mas acho que sim! Na verdade, eu gosto de
morar onde a senhora estiver juntinho a mim!

— Ah, meu amor! Meu bebezinho.... agora vamos nos vestir que o
meu amigo chegará as onze e meia! — Ela o abraçou, ambos eram
muitos carinhosos um com o outro.

— Está bem, mamãe! Foi a senhora que fez o almoço?

— Hum... digamos que algumas coisas eu fiz e outras comprei pré


pronta para ganhar tempo! Mas a mamãe sabe cozinhar, lavar, passar,
não é só a Beth que sabe não, viu?

— Ah sério, mamãe? É que eu nunca vejo a senhora fazendo isso!


Sempre vejo a senhora se vestindo, pegando a bolsa, saindo para
trabalhar ou trabalhando em casa no notebook.

— Sei sim, mocinho! Aprendi com sua avó! Mas agora vá tomar
banho e se vestir, a mamãe aqui fará o mesmo.

Enquanto o seu filho deixava a sala, Sophia ficou o observando e


pensando:

Ah meu filho... quanta coisa eu ainda terei que lhe contar, lhe explicar,
mas aos poucos...

Sophia nunca escondeu a sua origem humilde de ninguém,a


faculdade, no trabalho, porém talvez tivesse falhado em não contar com
mais detalhes ao seu filho.

Na verdade, de inicio achava ele muito criança e foi adiando.


Depois que ele fez nove anos, ela já queria começar a contar aos
poucos. Porém, seu receio era como contar de uma forma que omitisse
seu passado na mansão, pois não queria entrar em conflito com o pouco
que ela lhe contou sobre seu nascimento, quem era seu pai.

Contudo, agora o Victor surgiu e com isso muita coisa não


precisaria mais ser omitida, so precisava ser contada no tempo e da
maneira certa.

Sophia, apesar de nervosa, queria mostrar boa aparência, mas nada


formal demais. Então, escolheu sandálias rasteiras, vestido soltinho de
malha azul, um leve batom claro, seus cabelos loiros tamanho médio,
soltos. Às onze e vinte, o porteiro interfonou, a visita havia chegado,
pouco depois Victor tocou a campainha do apartamento.

— Olá, Sophia! Como você está linda! Até com o visual assim
descontraído, você encanta.

— Obrigada, Victor! Mas sem gracinhas! Queira entrar por favor!

O Victor, tentou beijar seu rosto ao passar por ela na porta, mas
Sophia se esquivou, então ele apenas apertou sua mão e permaneceu de
pé no meio da sala. Ele também estava bonito, por um segundo ao vê-lo
usando calça jeans clara e camiseta básica preta, ela relembrou o Victor
do passado.

Ele, apesar de aparentar um pouco ansioso, parecia ter deixando a


máscara do CEO de ferro no hotel, estava leve, simpático ou seria essa
a máscara?

— Só um minuto, irei chamar o Vagner! Por favor cuidado com o que


vai falar! — Ela olhou para ele com um olhar de cumplicidade.

— Fique calma! Eu não sou louco!

— Ah não? mas já foi!

— Quando é que você irá entender, que boa parte daquele Victor que
você conheceu ficou no passado? Hoje eu sei medir bem os meus atos.

— Ok, Victor! Confiarei em você e darei uma trégua, por hoje...

— Filho, venha conhecer o amigo da mamãe! — ela gritou para o


garotinho ouvir do quarto.

A criança veio correndo do quarto até a sala de visitas, era um


garotinho simpático, alegre e sociável. Por um momento, Sophia ficou
tensa, apesar de tudo já combinado com Victor, o tão temido encontro
de pai e filho finalmente tinha chegado.

—Filho, esse é um amigo da mamãe!

— Oi! Eu me chamo Vagner! — O garotinho estendeu a mãozinha


para Victor apertar.

Sophia via os olhos de Victor brilharem em sinal de emoção e ao


mesmo tempo, ele tentava disfarçar, pois tinha prometido a ela que tudo
seria com calma. Victor esboçou um largo sorriso e lhe retribuiu o
aperto de mão.

— Olá, rapazinho! Bonito o seu nome! Eu me chamo Victor e quero


ser seu amigo!

— Obrigada ! O meu nome é sim bonito, era o nome do meu pai, mas
ele morreu em um acidente!

Então, rapidamente se fez um leve silêncio na sala de visitas, Sophia


gelou e pensou:
Pronto! Agora o mundo vai desabar!

Porém, Victor conseguiu disfarçar a emoção e Sophia interveio.

— Filho... isso não é assunto para agora...

— Deixe o menino! Então, rapazinho quer ser meu amigo? Me de


um abraço!

— Quero sim! Espere! Você gosta de basquete?

— Claro! Quando adolescente, jogava no time do colégio!

— Jura? Sabe, eu gostei de você! Sabia que a mamãe não tem


namorado?

Sophia, interveio brava e surpresa:


— Vagner! Não seja indiscreto!

Victor piscou o olho para o garoto em sinal de cumplicidade e falou:

— Humm... quem sabe com a sua ajuda não podemos mudar isso?
Agora dê-me um abraço em sinal de amizade!

Então, sob o olhar vigilante e emocionado de Sophia, pai e filho se


abraçaram. O Victor tentou disfarçar, mas para quem conhecia o
contexto da situação, era visível que também estava emocionado e
tentando se conter. Victor Scott, filho único por uma tragédia do destino,
estéril por acaso, descobriu que possuía um filho, o seu único herdeiro e
naquele momento, o tinha nos braços.

O clima do encontro correu melhor do que Sophia previa, quando ela


viu que não tinha nada a temer naquele primeiro encontro dos dois,
relaxou. O dia foi tão agradável, pai e filho se davam tão bem,
conversando e brincando, desde a mesa de refeições até o sofá. O que
era para ser apenas um almoço, acabou se estendendo até o jantar, sem
incomodo nenhum para ambos.
Estavam todos na sala de visitas, conversando e vendo televisão,
quando notaram o silêncio do Vagner. Então ao olhar para o sofá,
perceberam que o garotinho havia adormecido, o dia de certa forma,
tinha sido cansativo para ele.

— Nossa! O meu garotinho adormeceu...

— O nosso garotinho! — Victor a corrigiu.

— Sim, Victor. Mas agora preciso acordá-lo, para levá-lo para cama,
ele tem quase dez anos, já está bem pesadinho.

— Não, não precisa! Pois, o pai dele consegue perfeitamente, colocá-


lo no braço e levá-lo até a cama, sem precisar que você o acorde.

— Desculpa, não havia pensando nisso! É que como sempre me virei


sozinha com a mamãe e a babá...

O Victor foi até o sofá, delicadamente colocou o Vagner nos braços e


o levou até o seu quarto, colocando-o lentamente na cama. Então, por
um momento ele ficou, com Sophia ao seu lado, a contemplar o filho
dormindo. Até que ambos saíram do quarto, apagaram a luz, fecharam a
porta e foram para a sala.

—Então Victor, o dia foi muito agradável, agradeço por ter cooperado
e feito as coisas de forma calma, como eu pedi.

— Sophia, não é uma questão de cooperar! Posso ter a fama de


arrogante, mandão, mas estou tentando fazer as coisas de um jeito que
seja melhor para o nosso filho nesse processo de transição.

— Eu entendo... mesmo assim, obrigada.

— Agora, lembre-se que não mudei de ideia em relação a nada do


que foi combinado em nosso último jantar a sós! Eu quero meu filho
morando comigo na mansão, quero que ele tenha o pais e a mãe juntos e
só estendi a minha estadia aqui por uma semana por causa dele! Porém,
vocês dois voltarão comigo para Nova Iorque na próxima semana! Não
posso ficar mais tempo aqui.

— Tudo bem, Victor! Eu já sei e já lhe avisei que aceito em nome do


nosso filho! Eu vou avisar no trabalho e conversar com o Vagner!
— Sobre o trabalho, não tem muito o que conversar! A Scott
Produtos Farmacêuticos já comprou a Botanics Cosméticos, deixe
alguém em seu lugar e diga que como esposa de Victor Scott, você
retornará aos Estados Unidos com ele.

— Simples assim? Como se eu fosse a recepcionista avisando que vai


ali ao banheiro?

— Sim! Deixe a parte jurídica, burocrática com os meus advogados!


Pois não posso ficar muito tempo aqui e não abro mão de retornar com
meu filho!

—Ok, Victor! Agora lembre-se que apesar termos acordado dividir o


mesmo quarto, o acordo é sem sexo! Não esqueça disso! Agora eu o
acompanho até a porta, pois amanha acordarei cedo para trabalhar, não
quero deixar pendências!

Sophia acompanhou Victor até a porta, ao abri-la para ele, bem ali no
meio do corredor, se despediu

—Boa noite, Victor!

Victor a puxou para si, a envolveu em seus braços num abraço


apertado e a beijou na boca de forma sensual. Sophia foi tomada de
surpresa, começou a retribuir o beijo, meio que inconsciente, aquela
boca macia e possessiva, uma moleza gostosa nas pernas, porém, caiu
em si e o afastou bruscamente.

— Victor! Eu falei sem sexo! — Sophia falou brava e com a


respiração ainda ofegante.

— Beijo não é sexo! — Victor respondeu de forma cínica e esboçou


o velho sorriso cafajeste do passado.

Então Victor deu as costas, tomou o elevador e saiu. Sophia ficou ali,
sem ação, vendo-o entrar no elevador, depois, fechou a porta do
apartamento.
— Meu Deus! Quantas emoções para um dia só! Espero que eu
consiga dormir após um banho relaxante.
Capítulo 11

Apesar do temor que Sophia sentia em contar ao Vagner que o Victor


era o seu pai, que voltariam a viverem todos juntos em outro país e iriam
morar em Nova Iorque em uma grande mansão, a conversa foi mais
tranquila do que ela pensava. A princípio, ele ficou muito feliz, afinal
tinha adorado o Victor desde o inicio. Porém, logo em seguida vieram as
perguntas, o que já era esperado por Victor e Sophia.

— Então, por que o meu nome é Vagner? A senhora sempre me disse


que era o nome do meu pai...

— Filho... era o seu tio, irmão gêmeo do seu pai, morreu adolescente
em um acidente de carro.

— Hum... e por que o papai só apareceu agora? por que fomos morar
tão longe dele? Em outro continente.
— Seu pai e eu não estavamos muito bem no casamento, até que sua
avó, a minha mãe, adoeceu e viemos para cá em busca de um tratamento
inovador na época. O seu pai sempre foi muito ocupado, então foi
ficando cada vez mais complicado vir sempre, até que acabamos nos
separando devido a distância. Você não lembra porque era muito
criança...

Aos poucos Sophia foi contornando a situação, respondendo as


perguntas do Vagner. Ele era apenas uma criança, não era conveniente
que soubesse de todo o passado e também não precisava saber dos
acordos do passado e do presente...

O grande dia chegou. Dez anos depois, Sophia Willians retornava aos
Estados Unidos, a Nova Iorque, sua cidade natal. Porém, não mais
aquela adolescente de dezoito anos, que um dia deixou a cidade às
pressas, com o coração partido, assustada, humilhada, praticamente
exilada, junto com sua mãe doente.

Agora era uma bela mulher de vinte e oito anos, uma executiva
competente, respeitada em sua área, mãe de um lindo garoto e esposa de
Victor Scott. Contudo, não mais a esposa de um playboy rebelde, que
arranjou um casamento para desafiar o pai, mas esposa de um Victor
Scott adulto, o CEO de ferro nos negócios e cobiçado pelas mulheres.
Porém, ela estava com um pé atrás, pois em nome do filho, estava se
submetendo novamente a aquele casamento de conveniência. Todavia,
se Victor estava pensando em bancar o Dom Juan e acordar o amor que
ela sentiu por ele no passado, para depois a fazê-la sofrer novamente,
estava enganado. Ela faria tudo para evitar isso, pois ele parecia estar
disposto a ser um ótimo pai, mas ela não confiava nele como homem.

Eles desembarcaram em Nova Iorque, no início da noite, eram quase


oito horas. O motorista particular de Victor os esperava em uma
imponente mercedes preta, os seguranças estavam em um carro
separado. Aquilo seria mais um ponto que ela e seu filho teriam que se
adaptar, a usar seguranças. Afinal agora ela era esposa de Victor Scott e
seu filho futuro e único herdeiro da Scott Produtos Farmacêuticos.

Quanto ao Victor, isso tudo era natural para ele, já que ele cresceu
nesse mundo. Enquanto no passado, Sophia era a filha da empregada e
espectadora, ele era o protagonista.

Ao lado do carro, um homem usando uniforme, na faixa dos trinta


anos, o cumprimentou respeitosamente.

— Boa noite, senhor Scott! Seja bem vindo a Nova Iorque!

Para Sophia, ainda era estranho ouvir o Victor sendo chamado assim,
esse tratamento sempre a fazia se recordar do pai dele, o velho senhor
Fernando Scott. Quem diria que aquele playboy problemático,
substituiria o pai no futuro e ocuparia o lugar dele nos negócios?

— Obrigado, Jack! Esta é a minha esposa, a senhora Sophia Scott e o


meu filho Vagner Scott!

— Boa noite! Sejam bem vindos!

— Obrigada!

Sophia agradeceu timidamente, mas achou algo familiar naquele


homem. Então por um minuto, Victor saiu do papel de patrão e falou em
tom informal.

— Lembra do senhor Jones? O antigo motorista do meu pai? Ele se


aposentou, este é Jack, o filho dele, já está comigo há alguns anos.

— Ah Claro! Lembro, sim! Mande lembranças ao seu pai, em meu


nome! — ela falou simpática, não tinha ar superior, não se sentia patroa.

O homem, apesar de discreto, ficou um pouco surpreso e tentou


disfarçar. Ele não esperava que o patrão, conhecido com um solitário
Dom Juan, retornaria da viagem de negócios em Londres com uma
esposa e um filho já grandinho.

— Mamãe... ainda demora muito para chegarmos à nossa nova


casa? — o Vagner perguntou, abraçando a Sophia e com aspecto
cansado, sonolento.
— Não, meu amor. Agora é só mais alguns minutos de carro, no
máximo em trinta minutos estaremos lá.

Victor, Sophia e o filho entraram no banco de trás do luxuoso


veículo, enquanto o motorista assumia o volante. Sophia observou que
ao desembarcarem em Nova Iorque, dava para notar claramente, através
do olhar, maneiras, forma de falar que Victor se sentia mais em casa,
estava em seu território e isso dava espaço ao Victor Scott arrogante,
seguro de si e autoritário de sempre.

Durante o trajeto até a mansão Scott, Sophia permaneceu calada, com


o filho adormecido em seu colo. As emoções estavam a flor da pele, ela
só conseguia se lembrar que dez anos atrás, ela fez aquele mesmo
trajeto, só que no sentido inverso. Era um sábado a noite, quando o
senhor Scott pôs fim ao seu breve sonho de cinderela e depois mandou o
seu motorista, levá-las até o aeroporto. Ela chorando, a sua mãe doente e
duas grandes malas. Agora ela retornava em uma situação
completamente diferente da anterior, coisa que ela nunca pensou que um
dia pudesse acontecer.

Enfim chegaram a mansão Scott, apesar de toda emoção que Sophia


estava sentindo, devido à lembranças do passado, até mesmo lembranças
da infância e da sua falecida mãe, tentava disfarçar, afinal seu filho não
precisava saber de todo o passado.

Victor, à frente, abriu a portal principal de entrada da mansão, então


por um instante Sophia hesitou um pouco em entrar. Porém, Victor
segurou firme a sua mão e na outra mão segurou a mão do
seu filho. Então dez anos depois Sophia e Victor entravam
novamente de mãos dadas na sala da mansão, só que dessa vez havia o
filho dos dois e sem plateia.

Todavia, dessa vez a situação era outra, existia o filho dos dois e um
falso casamento de conveniência para evitar a guarda compartilhada do
menino, dar um lar de verdade à criança e evitar traumas como o pai
teve no passado.

Apesar da disfarçada emoção, Sophia observou que a decoração havia


sido mudada.

É melhor assim...

Ela pensou.

Os empregados também haviam sido mudados, pois os da sua época e


de sua mãe haviam se aposentado. Ao pé da escada, uma senhora de uns
cinquenta anos, os aguardava vestindo um tradicional uniforme
doméstico.

— Seja bem vindo, senhor Scott! Espero que tenha feito boa viagem!

— Obrigado, senhora Evans! Esta é a minha esposa, a senhora


Sophia Scott e o meu filho Vagner Scott!
— Querida,esta é a senhora Evans, a nossa governanta!

Victor os apresentou cheio de formalidades, deu para perceber que


como não havia mais empregados da época do Victor rebelde e
problemático, pois todos o tratavam com formalidade e respeito, ele
agora era o senhor Scott.

—Seja bem vinda, senhora Scott! Parabéns pelo lindo garoto!

— Obrigada!— Sophiarespondeudeforma simpática, mas ainda um


pouco tímida.

Sophia percebeu que a mulher não apresentou surpresa, como se de


certa forma já tivesse sido preparada, apenas a olhou com olhos
curiosos.

— Quanto ao quarto do meu filho? A decoradora e o arquiteto já


concluíram tudo?

— Sim, senhor Scott! Inclusive já está arrumado e pronto para ser


ocupado por seu filho! O quarto de casal dos senhores também está
pronto! Querem jantar algo leve?
— Jantamos no avião, leve apenas um lanche para o Vagner no
quarto, pois ele está com sono e dormirá daqui a pouco. Quanto a mim e
a senhora Scott, decidiremos após nos acomodarmos em nosso quarto.

Ao ouvir a expressão “nosso quarto” Sophia gelou, a partir de agora


dividiria o mesmo quarto que Victor, agora sim o acordo de casamento
em nome do filho iria realmente começar.

— Venha, querida, vamos conhecer o nosso quarto e o do nosso filho.

Eles subiram a grande escada que dava acesso ao andar superior da


mansão, onde ficavam os quartos. A escada era a mesma do passado e
trazia velhas lembranças das investidas e deboches de Victor contra ela,
apesar da nova decoração da casa.

Victor subiu à frente e Sophia seguia atrás, abraçada ao Vagner que


demonstrava está com sono, afinal ele só tinha quase dez anos, eram
quase nove horas da noite e o dia tinha sido cansativo.

— Este é o quarto do nosso filho, mandei decorar com antecedência,


de acordo com uma criança da idade dele —Victor falou ao abrir a porta
e apresentar o quarto.

— Ah papai, adorei! Tem muita coisa legal aqui! Mas estou com
tanto sono... amanhã eu aproveito tudo, agora quero dormir...

— Ah, meu amor... você está cansado! A mamãe vai ficar aqui até
você adormecer! Você ainda não está habituado!

— Nada disso, mamãe! Papai disse que já sou um rapaz! Então após o
beijo de boa noite, eu dormirei sozinho!

— Vagner! Você está me dispensando?

— Sophia... o nosso filho tá grandinho, se ele deseja assim... mas


não se preocupe mandei instalar uma babá eletrônica, ele poderá chamar
em nosso quarto, sempre que tiver com medo ou se sentir sozinho.

— Está bem... — Sophia não ficou muito convencida, mas concordou!


Coisa de mãe preocupada com o seu garotinho.

Após os dois colocaram o Vagner na cama e deram um beijo de boa


noite, percebendo ele já sonolento, Victor falou:

— Agora venha, é hora de conhecer o nosso quarto!

Apesar dela saber como tinha sido o arranjo, o acordo do casamento,


ela sabia que essa hora chegaria, ainda assim, aquilo lhe dava um frio na
barriga. Ela ainda não se sentia confortável, segura em dividir o mesmo
quarto com Victor e não sabia quanto tempo demoraria a começar a
encarar aquilo com naturalidade.

— Está bem Victor, podemos ir!


Capítulo 12

Sophia seguiu Victor em direção ao local que ela já conhecia tão bem
do passado, o quarto de solteiro de Victor.

— Seja bem vinda ao nosso quarto, querida! — ele falou em tom de


sarcasmo ao abrir a porta e convidá-la para entrar.

Sophia hesitou um pouco, sentiu as pernas pesadas como chumbo,


lembranças do passado em relação aquele quarto e de tudo que viveu
brevemente nele vieram à sua mente. Porém, ao entrar, vagarosamente,
percebeu que Victor tinha mudado a decoração, até um armário extra
havia sido posto ali, provavelmente para ela.

Então, entre outros detalhes, agora sim parecia um quarto de um casal


e não mais o quarto do playboy Victor que um dia casou com a filha da
empregada e que tinha sido o local da “noite de núpcias” improvisada.
Aquele foi, no passado, o quarto da sua primeira e única vez...

— Obrigada! Onde posso colocar as minhas coisas?


— As suas malas já foram colocadas ali no canto, este armário extra
mandei fazer especialmente para você! Se precisar de ajuda, amanhã
você pode pedir para alguma empregada arrumar suas coisas nele.

— Hum... obrigada! Bela mudança na decoração do seu quarto, não


lembra em nada o seu antigo quarto de solteiro!

— Do nosso quarto, você quer dizer!

— Desculpe! Ainda não acostumei... Ah! Obrigada pelo armário


extra! Bem que poderia ter também uma cama extra...

— Cama extra? Não seja ridícula! O nosso filho e os empregados


não acreditariam num casal que dorme em cama separadas! Em pouco
tempo o Vagner saberia de tudo, ele é esperto, inteligente.

— Tudo bem, Victor, em nome do nosso filho, a cama é grande, eu


me acomodo! Apenas me diga qual o seu lado da cama, pois estou
cansada, queria tomar um banho, deitar e relaxar o corpo!

— Humm e que corpo! Bem... o meu lado da cama é toda ela, né... —
ele falou de forma maliciosa, lançando o olhar cafajeste do Victor de
sempre.

— Não se faça de engraçadinho! Isso era antes de você ter com


quem dividir a cama!

— Hummm... essa frase soou bem! Adorei, Sophia...

— Ora como se eu já não conhecesse o jeito arrogante, cínico e


debochado! Estou cansada! Não ficarei discutindo com você! O
banheiro? Vou tomar o banho!

— O meu banheiro fica no mesmo lugar de sempre, querida! Porém,


mandei fazer um banheiro exclusivo para você e seu arsenal de cremes!
Fica logo ali! — Ele apontou.

Sophia entrou tensa no banheiro, tinha prometido a ela mesmo que já


que aceitou aquela situação em nome do filho, não iria deixar o Victor
roubar a paciência dela, coisa que ele sabia fazer muito bem com as
pessoas.

Ela observou que o banheiro luxuoso que tinha sido feito


especialmente para receber a presença feminina. Entre outras coisas,
tinha uma bancada de granito para os seus cremes e cuidados pessoais.
O Victor deve ter percebido que o fato dela ter se tornado uma
executiva da área de cosmetologia e estética, fez com que ela se torna-se
uma mulher vaidosa e extremamente bem cuidada.

A água morna da banheira estava gostosa, Sophia relaxou o corpo por


uns vinte minutos, após isso, pegou uma grande toalha branca felpuda,
enrolou no corpo e saiu do banheiro.

— Droga! Esqueci de trazer logo uma camisola para trocar no


banheiro, assim evitaria gracinhas do Victor! Vou lá rapidinho pegar...

Ao sair do banho, o Victor estava deitado de costas na cama, já


havia tomado seu banho. Ele usava apenas a parte de baixo do pijama de
seda preta, cabelos úmidos e o belo peitoral exposto.

— Humm... apenas de toalha? acho que vou adorar essa ideia de


dividir o quarto...

— Não me venha com gracinhas, esqueci a minha camisola, vim


buscar e voltarei ao banheiro para me trocar e deitar!

Sophia voltou ao banheiro e vestiu a camisola, apesar de não ser uma


peça super sexy, ela preferia que fosse algo mais fechado para
compartilhar a cama com Victor. Porém, acabou esquecendo de comprar
camisolas novas para essa nova fase da vida. Por isso, naquela noite
tinha que ser aquela camisola de seda cor de vinho, com alcinhas e até o
joelho.

Então, ela voltou ao quarto e deitou-se lentamente na cama, do lado


que Victor tinha deixado vago.

— Posso apagar a luz, querida? — ele falou sarcástico.

—Sim, pode! Mas não precisa me tratar assim quando o nosso filho
não estiver perto! Eu não vejo necessidade de fingir na ausência dele.

— E se eu não estiver fingindo? Não é um sacrifício chamá-la de


querida, uma mulher bonita e atraente!

— Ah! É? Até se essa mulher for uma mercenária que aceitou uma
oferta do seu pai e foi embora em busca de uma carreira profissional e
status ?

— Droga, Sophia! Esse meu julgamento a respeito de você foi antes


de te encontrar e você contar os seus motivos! E nem tente voltar atrás
nos motivos, pois você não é uma boa mentirosa!

— Ora, Victor! Pare de conversa e apague essa luz, como você já


disse que faria! Eu também quero descansar!

Ele prontamente obedeceu, apertando um interruptor bem ao lado da


cama, deixando assim o quarto no escuro, apenas banhado por uma leve
luz do luar que entrava pela janela aberta naquela noite de verão.

Assim que a luz foi apagada, Sophia conseguiu relaxar quase que
automaticamente, os músculos e a tensão que estava sentindo por ser a
primeira noite que dividiria novamente a cama com Victor, após dez
anos. Ela virou de lado, de costas para ele, relaxou o corpo e fechou os
olhos.

Então, devagarinho sentiu o Victor se mover na cama, se aproximando


dela por trás, suas mãos enroscarem a sua cintura delicada e a respiração
dele próxima ao seu pescoço.

— E quer saber mais? Eu não acredito que aquela Sophia apaixonada


por mim morreu e que você se tornou essa bela mulher, porém, fria e
seca para o amor...
Sophia sentiu um arrepio na pele ao perceber o toque de Victor por
trás, colando o corpo ao dela e falando aquilo ao seu ouvido com uma
voz grave. Porém, lembrou-se que tinha que ser forte, era apenas a
investida de um Dom Juan que não se conformava em receber um não
de quem já correu atrás dele no passado.

— Victor! Seja homem e cumpra o nosso pacto! Eu falei sem sexo!

— Você falou sem sexo e eu concordei! Mas não falamos nada sobre
sem intimidade, uma coisa pode ser separada da outra! E quanto a ser
homem, eu estou sendo homem demais ou você não consegue sentir?

Aquilo de inicio deixou Sophia sem argumentos e ao mesmo tempo


corada com a pergunta de Victor. Lógico que ela estava sentindo a
ereção dele pressionando o seu bumbum naturalmente empinado, pois
Victor a estava abraçando por trás e cheio de desejo, era inevitável não
sentir.

— Eu achei que isso já estaria subentendido, não sabia que teria que
fazer um contrato minucioso com você!
Ela falava enquanto tentava, aos poucos, se desvencilhar dos braços
dele enroscados em sua cintura, ambos vestido apenas com leves roupas
de dormir.

— Minha, querida! Você deu a entender que o nosso casamento, na


verdade, a volta do nosso casamento, é apenas um negócio para o
benefício do Vagner para que não precisemos da guarda compartilhada.
Então, querida? No mundo dos negócios, somente vale o que está
escrito!

— Não seja cínico! Eu não vou ser sua esposa de cama e mesa!

— Não, querida, eu não lhe forçaria a isso! Não teria como, não
seria correto e não faz parte da minha índole! Porém... o que custa um
pouco de intimidade no aconchego dessa cama, né? Somos marido e
mulher...

Ao ouvir aquilo, por um instante, Sophia cansou de fingir ser a


mulher forte, a executiva independente que criava um filho sozinha.
Então, cheia de receio, ela em silêncio, parou de tentar tirar as mãos de
Victor da sua cintura e de afastá-lo.
O Victor era um homem experiente com as mulheres e percebeu que
ela havia abaixado a guarda. Então, ele, na escuridão do quarto a virou
lentamente de frente para ele, a abraçou, procurando com a boca sedenta
o seu pescoço macio. Porém, ela apesar de carente e confusa, se sentiu
trêmula, com medo.

— Ah... o que houve, Sophia? Você já é mãe, sou seu marido, pare de
se comportar como uma virgem assustada...

Ela não respondeu, apenas continuou meio paralisada nos braços dele,
não resistia, mas também não correspondia. Então, ele percebeu algo
estranho e perguntou delicadamente:

— Espere... você está trêmula, gelada! Quando foi a última vez que
você teve um namorado, Sophia? A ultima vez que você fez amor com
um homem?

Sophia gaguejou um pouco, mesmo sem precisar o encará-lo no


escuro do quarto e ainda meio que semi abraçada a ele, ela falou de
forma tímida:
— Se é tão importante pra você saber... foi dez anos atrás! Antes do
nascimento do Vagner...

Ao ouvir aquilo, Victor inteligente e experiente, entendeu


perfeitamente que a primeira e única vez tinha sido com ele há dez anos,
na noite do casamento, quando o Vagner foi concebido. Então ele
entendeu, o porquê de ela estar tensa, trêmula e encabulada em
confessar.

De repente, aquele Victor cafajeste, arrogante, autoritário também se


comoveu, baixou a guarda e falou de modo compreensivo e delicado:

—Ah meu Deus, querida, a viagem foi cansativa, nós dois precisamos
descansar. Então, descanse, durma bem! Eu prometo que não irei lhe
importunar esta noite.

Ao dizer aquilo, ele deu um beijo na testa de Sophia. Ela se sentiu


confusa, sentiu desejo por ele, mas na hora não conseguiu corresponder,
agora estava aliviada, mas um pouco confusa. Afinal o que ele queria?
Ela deveria ter sido mais caliente e se entregue ao Victor ou não?

Assim, lado a lado, virados de costas um para o outro, ambos


adormeceram cansados da viagem e dos acontecimentos do dia. Ela
ainda teve tempo de refletir, antes de pegar no sono, que muita coisa
precisaria ser superada, muita coisa precisaria ser colocada em pratos
limpos, para viverem civilizadamente aquele acordo de casamento que
se propuseram a viver.
Capítulo 13

Sophia dormiu a noite inteira profundamente, pois estava muito


cansada da viagem e das emoções vividas. Quando ela acordou, por
volta das nove horas da manhã, o Victor já não estava no quarto. Então,
ela se lembrou que ele já não era mais o jovem playboy, provavelmente
ele tinha saído para o seu trabalho como CEO em seu império
farmacêutico.

Nossa... como eu dormi profundo, eu também deveria ter ido


trabalhar! Inclusive, irei perguntar ao Victor detalhes sobre quando
começo, afinal compraram a Botanics Cosmetics e sou acostumada a
uma vida intensa de trabalho.

Ela pensou consigo mesma, enquanto se espreguiçava na enorme


cama de casal.

De repente, Sophia ficou a pensar, ainda sentada na cama, encostada


a cabeceira, o que teria acontecido se ela tivesse cedido as investidas do
marido na noite passada?
Como ficaríamos? Como nos olharíamos no dia seguinte? Como
ficaria o nosso acordo a partir disso? E como ficariam meus
sentimentos?? Não devo ceder a ele, enquanto não tiver certeza se ele
vai continuar sendo ou não o mesmo Victor mulherengo...

Ela pensou.

Contudo, ela não teve muito tempo para refletir a sós, de repente
alguém bateu na porta e pelas pancadas ela já sabia de quem era aquelas
mãozinhas.

— Pode entrar, filho! — Sophia falou alegre, já estava com saudades


dele.

O Vagner entrou correndo, alegre, pulou na cama da mãe e a encheu


de beijos, ambos eram muito carinhosos um com o outro.

— Filho! Você acordou faz tempo?

— Sim, mamãe! Mas, eu não me senti sozinho! Uma moça disse que
era minha babá, já tomei café e já brincamos! Essa casa é muito legal!
Eu vim só dar um beijo na senhora e voltarei para o jardim! — o garoto
falou alegre.
— Está bem filho! Eu vou me vestir, tomar café e irei encontrar
com você no jardim, pois quero conhecer a sua babá! Agora veja bem:
Amanhã você começará a frequentar a sua nova escola.

— Está bem, mamãe! Onde está o papai? ele não dormiu aqui com a
senhora? — ele perguntou curioso, dando provas de que era inteligente e
observador.

— Dormiu sim, querido! Ele já foi trabalhar, o papai trabalha muito,


administrando a empresa que era do seu avô! A mamãe também voltará
a trabalhar em breve — ela explicou calmamente ao garotinho, enquanto
lhe afagava os cabelos.

— Está bem, mamãe! Eu vou indo brincar na piscina!

O garotinho deixou o quarto correndo, ele parecia mais feliz do que


antes e era impressionante como os olhos dele brilhavam ao falar a
palavra pai. O seu filho não sabia de todo o passado e para ele os pais
tinha se reencontrado e decidido voltar o casamento porque se amavam.

Sophia ficou a pensar, até que ponto ia a mentira e iniciava a


verdade? Pois, apesar das negativas diante das investidas de Victor, ela
estava começando a não ter mais tanta certeza se antipatizava ele tanto
assim e que estava ali apenas pelo o filho. Porém, será que valia a pena
ceder as investidas dele e tentar viver um casamento de verdade? Afinal
eram casados legalmente, tinham um filho e o amor que ela sentia por
ele parecia não está tão enterrado, como ela achava.

Ah meu Deus! Eu devo estar louca em ao menos cogitar isso! Apesar de


aparentar ter mudado. Assim que me tiver nas mãos, Victor voltará a ser o
mesmo cafajeste, mulherengo de sempre! Afinal já vi notas sobre ele nas
colunas sociais, sempre bem acompanhado!

Ela pensou consigo mesma.

Sophia, apesar de ter sido praticamente criada naquela mansão,


estava se sentindo um pouco deslocada, mas ela decidiu lutar contra essa
sensação de peixe fora d’agua. Então, ela tomou um banho, vestiu
roupas leves e foi ao encontro do filho e da babá na piscina. Lá mesmo
comeria alguma fruta como café da manhã, pois já eram quase dez
horas.

Ao passar pela grande sala de visitas, o telefone tocou, ela não sabia
se deveria atender ou não, ainda não estava acostumada aos hábitos da
casa e a ter tantos empregados. Porém, antes dela agir, uma jovem
empregada de uniforme surgiu apressada, atendeu o telefone, anotou
algo num bloquinho e saiu da sala.

Após sua saída, Sophia olhou discretamente o que foi anotado, não
por ser intrometida, mas porque queria entender a rotina da casa, antes
de falar com a governanta.

Então, Sophia ficou revoltada e surpresa ao ler:

A senhorita Pâmela ligou, deseja notícias sobre seu retorno a cidade.

O ódio tomou conta de Sophia, ela sabia que o marido era um Dom
Juan, mas não imaginava que a ligação com a Pâmela ainda continuava.
Afinal, no passado, ela não fora usada numa armação de casamento para
afastar justamente a Pâmela? A quem ele dizia que não suportar?

Eu não acredito no que estou lendo! Ainda existe a Pâmela?


Justamente ela que no passado Victor me usou num casamento às
avessas que tanto me magoou, com a desculpa de principalmente
afastar essa mulher? Então mais uma vez ele não foi sincero comigo!
Deveria ter avisado antes da minha volta que ainda mantinham ligação!

Sophia pensou furiosa, ainda bem que estava sozinha na sala.

De inicio ela pensou em rasgar o papel com o recado ou esfregar o


papel na cara de Victor mais tarde, mas achou melhor deixar o bilhete
no lugar e esperar a hora certa para confrontar Victor. Afinal, ela tinha o
direito de saber qual era atualmente o tipo de relacionamento que os
dois ainda mantinham.
Sophia ainda não tinha se dado conta, que estava começando a surgir
uma pontada de ciúmes, provavelmente era um sinal de que o
sentimento do passado não tinha sido completamente
enterrado.

Ah meu Deus! Como eu estava sendo ingênua em há pouco tempo ter


pensado na possibilidade de tentar viver um casamento normal com Victor!
Essa mulher do passado ainda existe e sabe-se lá o que mais vai existir assim
que eu ceder as investidas dele!

Sophia pensava enquanto se dirigia até a piscina para encontrar seu filho
e a babá.

Sophia gostou muito da babá do Vagner, inclusive os três almoçaram


juntos na beira da piscina. Porém, volta e meia aquela descoberta voltava a
sua mente, mas ela não deixou transparecer para seu filho ou a babá que algo
a incomodava.

—Meu amor, a mamãe vai ficar um pouco no quarto, organizando umas


coisas minhas, fique com a Alice, mas seja um bom menino, ouviu? —
Sophia falou carinhosamente.

— Sim, mamãe! A que horas chega o papai? — o menino perguntou


curioso, era uma criança boazinha, mas esperta, curiosa.

— O papai é muito ocupado, administra uma grande empresa, mas


imagino que ele deve chegar no inicio da noite — ela falou calmamente.
Após o almoço, Sophia decidiu ficar um pouco em seu quarto,
descansando, colocando as ideias em ordem, aproveitando aquela vida sem
horário e descansada a qual ela não era acostumada, mas logo falaria com
Victor sobre começar a trabalhar.

Sophia se dirigiu até o quarto de Victor que agora era dela também,
trancou a porta, desarrumou as malas, guardou tudo, pois ela estava
querendo ficar sozinha para raciocinar sobre como iria agir. Pois, estava
se sentindo traída, feita de trouxa! Poderia até ser com outra mulher,
mas com a Pâmela não! Aquilo era uma afronta a tudo que ela sofreu no
passado!

Sophia passou em frente ao espelho e gostou do que viu: Jovem, uma


loira bonita, sexy e inteligente. Ela já tinha consciência disso, além de
ser vaidosa, bem vestida, era acostumada a arrancar olhares do homens
por onde passava, mas evitava todos eles, pois não estava focada em
relacionamento. Às vezes, ela até lia algumas revistas femininas, sobre
profissão, relacionamento, sexo, então teoricamente ela era
bem informada, apesar de sem prática. Porém, era inteligente, então na
hora que julgasse necessário, saberia colocar em prática tudo que leu
sobre relacionamentos. Será que essa hora havia chegado?

No passado Victor me provocou e debochou de mim várias vezes


nos corredores desta casa! Hoje a noite irei provocá-lo até ele perder a
cabeça e jogarei na cara dele a sua ligação com a Pâmela!
Capítulo 14
Sophia cochilou um pouco na enorme cama, acordou era umas cinco
horas da tarde e resolveu ligar para a copa, queria saber da Senhora
Evans, a governanta da casa, que horas costumava ser servido o jantar.

— O jantar costuma ser servido as oito horas, senhora! — a


governanta respondeu formal.

— Obrigada, senhora Evans. Meu filho e eu estaremos prontos para


descer e jantar às oito.

Sophia era um executiva, criou um filho sozinha com a ajuda da


babá. Eles moravam confortável em Londres, mas não chegava a ser
igual ao conforto e as regras de cerimonia da mansão. Então, ainda
precisava se acostumar a alguns hábitos da casa, pois mesmo ela sendo
agora a senhora da casa, ainda não se sentia à vontade para mudar nada.

Era por volta das sete horas da noite, e Sophia já estava sentada na
sala de visitas com Vagner brincando próximo a ela em seu videogame
portátil. Os dois já estavam vestidos para jantar, ela calmamente
esperava por Victor, mas o menino a enchia de perguntas, pois estava
um pouco impaciente.

—Mamãe! O papai está demorando! — ele falou ansioso.

— Calma, filho! Você não lembra que as vezes a mamãe chegava


tarde do trabalho? Quando morávamos em Londres? Então... o papai é
ocupado igual a mamãe era em Londres.

—Ah mamãe... havia esquecido...

— Ele deve estar chegando, já são sete horas — ela explicou para a
criança.

De repente, a grande porta principal se abriu e Victor entrou na sala,


havia finalmente chegado do seu dia cansativo como Ceo da Scott
Produtos farmacêutico. Ao vê-lo entrando sério, usando terno cinza
italiano, uma pasta preta na mão, Sophia por um instante recordou da
sua adolescência naquela casa, pois no passado aquela cena era
protagonizada pelo senhor Fernando Scott.

O semblante sério de Victor se desfez ao ver o Vagner gritar feliz e


correr para abraçá-lo.

— Papai!!! Que bom que chegou! Estavamos te esperando para


jantar!

Victor suspendeu o filho nos braços, abraçou e girou no meio da


sala, após colocá-lo no chão falou:

—Ah! Estavam? — Ele olhou de forma maliciosa, encarando Sophia


bem vestida e sexy sentada no sofá, sem que o filho percebesse esse
olhar.

— Sim, papai!

— E quanto ao nosso trato, rapazinho? Cuidou bem da mamãe?

— Claro, papai!

— Muito bem! Toque aqui. — Ambos bateram as mãos.

— Ah vocês estão de complô, é? Já sou bem grandinha, eu que tomo


conta de você, meu bebêzinho— Sophia brincou com o Vagner.
Sophia estava bem vestida com um vestido leve azul-escuro,
maquiagem também leve, como sempre: apresentável. Victor como parte
do teatro se dirigiu até ela e encostou os lábios nos dela para fingir
serem um casal normal para o filho.

— Finalmente cheguei, querida! — Ele falou gentilmente e ela recebeu


o carinho de forma automática, era só um teatro para o filho.

— Os pais dos meus colegas não se beijam assim! Por que vocês não
beijam igual? — o menino perguntou curioso.

— Vagner! — Sophia o repreendeu constrangida.

— É mesmo, filho! Mas também beijamos assim! — Victor se virou,


respondeu o garotinho e logo em seguida se voltou novamente para
Sophia, e sem ela esperar a tomou nos braços e deu um beijo de verdade.

Aquilo mexeu com Sophia, ela não queria corresponder, não queria
aos poucos, correr o risco do sentimento por ele está reascendendo, mas
também não podia repeli-lo na frente do Vagner, que olhava a cena com
curiosidade e felicidade.
Quando o beijo terminou, ele encarou Sophia com o sorriso cafajeste
do passado, ela baixou os olhos e o olhou tímida, pois mesmo sem
fervor tinha correspondido o beijo. Victor mudou a expressão e se virou
para o filho, com ela ainda entre os braços e falou:

— Era assim, filho?

— Sim! Era assim que os pais dos meus amigos se beijavam! Gosto
de ver vocês dois juntos! — o menino falou alegre e se aproximou,
abraçando os dois de uma só vez.

Aquilo deixou Sophia emocionada, quanto ao Victor era meio difícil


dizer, pois ele não era um homem de expressar emoções, não era a toa
que era conhecido como o Ceo de ferro, porém, Vagner tinha o poder de
amolecer o coração dele.

Sophia discretamente, se desvencilhou aos pouco dele, não se sentia


ainda confortável em seus braços , mas sem que o filho percebesse e
também lembrou-se do que estava planejando para mais tarde.

—Então, querido, o Vagner e eu já estamos pronto para o jantar,


apenas estávamos te esperando! — ela falou gentil, principalmente pelo
filho.

— Tudo bem, querida, vou subir tomar um banho, depois desse dia
cansativo de trabalho, volto daqui a pouco — Victor falou.

Então, pouco tempo depois, todos ocupavam a grande mesa de jantar,


a mesa que no passado a sua mãe e às vezes a própria Sophia servia o
exigente senhor Fernando Scott. O Victor bonito e másculo como
sempre, ocupava a cabeceira da mesa no lugar que antes era o seu pai.
Ele vestia camisa esporte azul-marinho e calças bege. O Vagner parecia
um rapazinho com quase dez anos, Sophia ficou até impressionada como
ele já sabia se comportar à mesa de forma mais refinada.

Os dois conversavam sobre assuntos banais, tentando fingir na frente


do filho que se entendiam perfeitamente bem. Enquanto que Vagner,
sempre curioso, enchia os dois de perguntas.
— Um pouco de vinho, querida? Este é uma safra especial, comprei
justamente para o nosso primeiro jantar em família.

Sophia ficou um pouco indecisa, afinal não era habituada a consumir


bebidas alcoólicas, mas ele falou de uma forma tão gentil, o Vagner
observando, que ela não quis fazer desfeita.

— Sim, por favor, mas apenas um pouco! — Levantou a taça para


Victor servi-la.

Ela achou o vinho doce, uma delícia, em pouco tempo pediu mais
uma taça, como já estava no final do jantar, Victor achou melhor
disfarçar e sugerir ao filho que fosse brincar do quarto, pois não achou
conveniente que ele visse os pais consumindo um pouco mais de álcool.
O jantar havia se tornado um programa para adultos.

— Então, querida, agora que estamos só nós dois, gostou do vinho?

— Sim! Não gosto de bebidas alcoólicas, mas ele tem um gosto tão
agradável, doce!

— É... da para perceber que você não é habituada a vinho, pois essa
é sua segunda taça e já está ficando mais alegre, riso solto...

— Ah! Impressão sua! Gostaria de só mais uma taça! Pode me


servir?

— Sim! Mas apenas esta! Amanhã não quero ser acusado de tentarte
embebedar!

— Bobagem! Eu não estou alterada e muito menos bêbada!

— Bem... você está em casa, está comigo que sou seu marido,
mesmo assim, não quero acusações da sua parte!

Sophia não estava bêbada, apenas estava um pouco mais solta, menos
tímida diante dele, após a terceira taça de vinho. De repente, ela se
lembrou do plano de provocá-lo para depois questionar a ligação com
Pâmela e resolveu ousar um pouco.

— Acusá-lo de usar o vinho para me seduzir?

— Não sei...mas devo confessar que você está especialmente linda e


sexy esta noite, esse seu sorriso mais leve, me excita... — Victor falou e
a encarou com o sorriso conquistador que ela conhecia tão bem do
passado.

— Ah sei... na verdade, várias mulheres têm esse dom de provocar


essa reação em você, não é?

— Eu diria que algumas, mas apenas uma é minha esposa e mãe do


meu único filho, eu diria que só isso já seria motivo para ela me dar um
voto de confiança, não acha?

Sophia sentiu seu coração disparar ao ouvir aquilo, mas não queria
ceder tão fácil e a Pâmela? Ele precisava se explicar sobre ela .

— Eu acho que você ainda não perdeu seu hábito de Dom Juan!

Sophia continuo bebendo o vinho e como o filho não estava mais


presente e ela estava em casa, Victor resolveu deixá-la à vontade. Até
que na metade da garrafa, ele resolveu intervir.

— Agora chega, Sophia! Você não é habituada a beber e já está com


os sentidos alterados! Venha, vamos levantar da mesa, eu te ajudo a
subir as escadas e deitar na cama.

Ela se levantou meio cambaleando, o Victor a amparou, o seu plano


de beber um pouco para ficar menos tímida e provocá-lo naquela noite
tinha sido atrapalhado pela sua inexperiência com o álcool.

Ao subir as escadas amparada por Victor, ela desequilibrou um pouco,


mas chegaram até o quarto e ele a deitou na cama.

— Eu não devia ter deixado você beber demais, já que não é


acostumada!
— Ah... foram apenas algumas taças...

— É, mas veja o seu estado! Você consegue trocar de roupa sozinha?


Não vai dormir assim com esse vestido incomodando, isso não é
camisola!

— Ah, Victor! Quantas vezes você chegou bêbado da balada e


dormiu de camiseta e jeans?

— Isso é passado, Sophia! O Victor de hoje evitaria agir igual ao do


passado!

— É? E o que mais o Victor de hoje evitaria fazer? — ela perguntou


de modo desafiador.

— Ah, Sophia! Isso não é hora e nem você tem lucidez para
discutirmos isso! Aqui está sua camisola! Consegue trocá-la sozinha?
Não precisa se levantar da cama...

Sophia recebeu a camisola branca de seda, ensaiou abrir os botões da


parte de cima do vestido, mas estava um pouco sem tato. Então Victor
interveio.

— Espera! Sou seu marido, eu vou ajudar, a tirar seu vestido e por a
camisola!

Ele decidiu de forma enérgica, ela ficou meio que sem saber se
negava ou não, o álcool a tinha deixado um pouco desinibida e com os
sentimentos confusos. Ao abrir lentamente os botões do vestido e após
ver os seus grandes seios brancos e redondos expostos, Victor ficou
hipnotizado com a visão e não conseguiu conter uma ereção. Já Sophia
apenas o olhou nos olhos com a respiração ofegante. Ambos se
abraçaram e se beijaram automaticamente de forma desesperada, um
beijo com o atraso de dez anos. Ele deitou o corpo por cima dela
seminua e abraçados deram um longo beijo que ambos corresponderam
fervorosamente. Porém, Victor que estava perfeitamente lúcido, mal
tinha bebido vinho, interrompeu o momento, a sua consciência falou
mais alto.
— Espere, Sophia! Você está bêbada! Amanhã não quero ser acusado
de que me aproveitei do seu estado, afinal como você mesma diz que
não somos um casal normal. Existe uma tênue linha entre nossa
intimidade, desejo e vida pública como casal!
— ele falou ainda com a voz rouca de desejo.

— Então você está me rejeitando? — ela perguntou surpresa.

— Não, eu não estou te rejeitando, estou agindo de acordo com a


minha consciência, acho melhor esperar pelo seu momento de plena
lucidez, sendo a minha esposa ou não! Agora durma! Vou apagar a luz.

Então assim, Sophia virou de lado na cama e de costas para Victor e


caiu num sono pesado fruto do vinho em excesso.
Capítulo 15

Sophia se mexeu na cama, abriu os olhos, olhou para o relógio da


mesinha de cabeceira e viu que já eram quase dez horas da manhã,
lógico que Victor já tinha saído para trabalhar. Ela sentiu uma pontada
de dor de cabeça, a memória meio confusa, mas lembrava de alguns
flashes de ontem a noite e do seu porre de vinho.

Que papelão, heim, dona Sophia? Querendo perder a timidez para


aprontar com o Victor e acabou ficando bêbada! Você realmente não
serve para armações e joguinhos!

Ela pensou consigo mesma, enquanto sentava bem no meio da cama


e se encolhia abraçando as próprias pernas.

De repente, um flash na memória a assustou, lembrou-se da cena na


qual o Victor começou a desabotoar seu vestido na parte do busto e após
isso, os dois se beijando loucamente. Ela se encolheu mais ainda e
pensou:
Meu Deus! Eu não consigo lembrar de tudo com clareza! Será que eu
e o Victor ontem a noite... mas eu estou vestida! Será que paramos a
tempo?

Ela ficou em dúvida, com vergonha e sem saber como perguntar ou


encarar o Victor mais tarde. De repente, Sophia percebeu que ela já não
era mais a mulher dura, com o coração fechado para o amor. Pois,
ultimamente o que Victor pensava, fazia ou agia, tinha muita
importância para ela, na maioria das vezes, o seu pensamento estava
dividido entre o filho ou o Victor e isso era sinal de um antigo
sentimento renascendo...

Ah meu Deus! Tanto que eu evitei que esse sentimento do passado


renascesse! Porém, não importa o que tenha acontecido ontem a noite, não
me entregarei fácil a ele! Aposto que deve está esperando isso para voltar a
ser um Dom Juan! Sem falar na ligação com a Pâmela que me magoou
duplamente!

Sophia pensava em silêncio.

O dia passou relativamente rápido, o Vagner foi ao colégio à tarde,


agora ela não tinha mais obrigação de ir buscá-lo na escola, pois essa
tarefa era feita pelo motorista e segurança que Victor contratou
especialmente para o filho. Quanto a isso, ela estava começando a sentir
falta da vida de executiva, da liberdade de guiar seu próprio carro, ir
para qualquer lugar. Ela iria falar com Victor sobre essa mudança em
sua vida, queria voltar logo a trabalhar, afinal não cursou universidade
para ser uma dondoca em casa, porém, ela sabia que algumas mudanças
teriam que ser feitas, como os seguranças para ela e o Vagner por
exemplo.

Sophia estava em seu quarto se vestindo, pois queria estar


apresentável no horário que o seu filho chegaria da escola e
posteriormente, o Victor do trabalho. Ela passou o dia um pouco tensa,
pensando como iria encarar o Victor mais tarde, pois não lembrava de
tudo da noite anterior e apesar do constrangimento, pretendia perguntar
ao marido o que aconteceu entre os dois.
Eu só espero que ele seja um cavalheiro, seja sincero e não me venha
com gracinhas.

Ela pensava tensa e envergonhada.

De repente, leves batidas em sua porta, aquelas batidas ela já


conhecia.

— Pode entrar, meu amor!

O Vagner entrou correndo, ainda com o uniforme da escola e a


abraçou.

— Mamãe! Já estava com saudades! — Vagner falou alegre.

— Eu também, meu amor! Como foi em sua nova escola? — ela


perguntou carinhosa.

— Fui bem, mamãe! E a senhora o que está fazendo? Se arrumando


para o papai? — o menino perguntou curioso.

—Meu amor... a mamãe se arruma para você, para o papai e para eu


mesma...

— Eu vou para o meu quarto jogar videogame, a senhora me chama


para o jantar?

—Claro, meu amor!

O menino deixou o quarto, mas Sophia apesar de já vestida, preferiu


ficar e esperar o marido ali a sós. Ela achou que era menos
constrangedor encarar o Victor pela primeira vez, após a noite que ela
não sabia ao certo tudo que tinha acontecido entre os dois, ali sozinha, já
que pretendia esclarecer os fatos.

Eram seis horas da noite quando Victor entrou no quarto vestindo seu
terno italiano, carregando sua pasta preta e como sempre, com o
semblante sério de um dia de trabalho. O quarto era dele, aliás dos dois.
Era comum ele entrar sem bater na porta. Porém, como não estavam na
presença do filho, ou dos empregados não precisavam fingir que eram
um casal normal.

— Boa noite, querida!

— Boa noite, Victor! Mas, não precisa fingir que somos um casal
normal, estamos a sós... — ela falou timidamente para ver se ele dava
alguma pista sobre ontem a noite.

Victor não respondeu de imediato, entrou no quarto, colocou a sua


pasta de executivo Ceo numa poltrona, tirou o paletó, desfez o nó da
gravata. Então,ele se aproximou de Sophia, que estava imóvel, de pé
próxima a cama, segurou seu queixo com uma das mãos, a encarou e
falou:

— É mesmo? Pois ontem a noite por pouco não fomos um casal


normal, ou você não lembra? — Ele a encarou com uma expressão
maliciosa.

— Não seja grosseiro! — ela falou envergonhada com a voz irritada.

— Pela sua cara, pela sua falta de experiência com álcool, aposto
que não lembra e está com receio do que houve na noite passada. Porém,
fique tranquila! Eu não sou o tipo de homem que se aproveita de uma
mulher bêbada, nem mesmo ela sendo a minha esposa! — ele falou
sério.

Sophia sentiu um alivio ao ouvir aquilo, ao menos ela não tinha se


deixado levar pelo álcool e o impulso da paixão do passado e se
entregado a ele na noite anterior. Ela ainda tentou se justificar e
disfarçar.

— Eu não estava com receio nenhum, foram apenas algumas taças de


vinho e sei dos meus atos e das minhas vontade!

— Ah! Sabe? Pois, se eu não tivesse freado nosso arroubo de desejo,


você teria sido completamente minha aqui nesta cama ontem a noite! —
ele falou, provocando.

— Isso não acontecerá mais, pois não quero ser mais um troféu para
sua coleção de conquistas! — ela falou brava, estava se sentindo acuada
e constrangida.

— Não sei de que conquistas você fala! Pois, desde que retornamos a
Nova Iorque, estou em casa todas as noites, levando uma vida de
casado! Aliás, casado não, uma vida de monge, já que é sem sexo!

— É mesmo? E o recadinho que a Pâmela deixou ao ligar no telefone


da casa que mora seu filho e eu? Você deu notícias como ela pediu?

— Ah! Esses dias que você está estranha é uma crise de ciúmes por
causa daquele recado?

— Não seja ridículo! Só acho que você tinha que ter me avisado,
desde Londres que a sua ligação com aquela dondoca chata ainda
continuava! Afinal não foi para afastar ela que você se casou comigo no
passado? Um casamento, no qual fui tão magoada e humilhada?
Aquela altura, a discussão estava se tornando mais acalorada, pois não
estava nos planos de Sophia tocar no assunto Pâmela ainda, mas ela não
resistiu. Inclusive o Victor já havia trancado a porta do quarto para que o
Vagner não batesse na porta e entrasse logo em seguida.

— Eu nunca quis e nem quero a Pâmela como esposa, mas não sou
um monge e ela me atrai! Então em um casamento sem sexo como o
nosso, alguma mulher vai existir, ela ou outra!

— Não seja cínico! Em respeito a mim, você deveria ser discreto, não
deixá-la ligar aqui nesta casa, além do mais, escolhesse outra! A Pâmela,
não!

— Eu não vou ficar aqui discutindo com você! Quer a Pâmela longe?
Pois seja a minha esposa de cama e mesa! Agora vou tomar um banho e
descer para o jantar! Ah! e não quero clima chato na frente no nosso
filho!

— Você não mudou tanto assim como eu pensava! Ainda é o mesmo


Dom Juan, mulherengo, isso que você me disse, só comprova! Aposto
que assim que me tiver em seus braços como um troféu, voltará a ser
descaradamente conquistador mulherengo!

Victor não respondeu mais nada, após dar a sua última palavra, foi
até o banheiro, ligou o chuveiro. Sophia disse essas palavras como se ele
não estivesse nem as ouvindo, mas no fundo sabia que ele estava sim
ouvindo, estava apenas em silêncio para tirá-la do sério. O velho Victor
provocador, debochado e mulherengo do passado...

O jantar aconteceu não tão animado como o da noite anterior, o clima


estava um pouco pesado, mas eles tentavam disfarçar, trocando
gentilezas para o Vagner não perceber.

Em um dos momentos do jantar:

— Victor, precisamos tratar sobre qual vai ser o meu cargo na


empresa, de acordo com minha formação como executiva, pois já estou
a quatro dias em casa e desejo trabalhar como sempre fiz.
— Querida, eu não acho conveniente agora!

— Como assim não é conveniente? Quero e gosto de trabalhar no que


me formei!

— Entendo, mas eu achei melhor e tenho certeza que você vai


concordar em nome do nosso filho, que nesses primeiros seis meses,
você não trabalhe!

—Por que não? — ela perguntou espantada, aos poucos ele estava
podando ela.

— O nosso filho está em fase de adaptação nessa casa, na cidade, no


colégio e como você é uma mulher privilegiada em não precisar
trabalhar para sem manter, prefiro que seja assim nesses seis primeiros
meses! Dedique-se ao nosso filho e adaptação dele à essa nova vida.

Sophia ouviu aquilo a contra gosto, isso não foi acordado antes dela
deixar Londres, existia uma certa lógica no que Victor ordenava, mas
não era exatamente o tipo de vida que pretendia levar. Porém, como
estavam na frente do filho não quis brigar.

Além de que, em nome do filho, achou melhor concordar por esses


seis meses, só esperava que Victor não viesse com mais ideias para
manipular seus estilo de vida ao seu gosto.

— Inclusive, querida, como minha esposa é imprescindível que você


saiba receber, participar de reuniões sociais ao meu lado. Então, daqui a
quinze dias precisaremos dar uma festa para recepcionar alguns
parceiros importantes da empresa, futuros investidores e será aqui na
mansão.

Sophia ficou um pouco assustada, já organizou jantares na empresa


onde trabalhou por tanto tempo, mas nunca, ela mesma numa grande
mansão que agora era sua casa. Ele percebeu os olhos assustados dela ao
ouvir aquilo.

— Não se preocupe, contratei uma empresa de eventos, mais


funcionários temporários, a senhora Evans também está habituada. Eu só
preciso que você esteja ao meu lado bem vestida, elegante, educada,
como minha esposa e senhora da casa.

— Ok, Victor! Se é algo relacionado ao mundo dos negócios, eu


entendo perfeitamente que, às vezes, esse tipo de coisa é preciso, farei o
que você pede! Daqui a quinze dias estarei pronta ao seu lado,
recebendo os seus convidados!
Capítulo 16

Então, quinze dias se passaram, a partir daí Sophia e Victor


começaram a fingir política de boa vizinhança, trocando farpas a sós e
gentilezas na presença do filho e empregados.

Finalmente chegou o dia da tal festa que Victor tinha avisado que seria
dada na mansão. Na verdade, uma semana antes, Sophia já começou a
perceber uma leve movimentação da empresa de eventos contratada, o
buffet, os detalhes. Eles, às vezes, vendo-a como senhora da casa,
vinham tratar algo com ela e ela disfarçava, tentava dar sua opinião de
forma bem neutra.

A mansão estava ainda mais linda, era uma recepção para


aproximadamente cinquenta pessoas, o ambiente estava bem decorado,
salão principal iluminado, comida e bebida farta, as pessoas vestidas
com roupas da alta costura da sociedade Nova Iorquina.
Sophia vestia um lindo vestido longo vermelho que realçava sua pele
branca, seus cabelos loiros dourados presos em um coque e com
algumas madeixas soltas, um par de brincos de brilhante, a deixava com
cara de rainha. Ao lado de Victor, que vestia um elegante terno preto, ela
era apresentada como esposa e recebia educadamente os convidados
junto ao marido. A sua beleza, juventude, elegância, estava roubando o
olhar dos homens e despertando a inveja das mulheres. Nas vezes que
Sophia se afastava de Victor, ele percebia os olhares masculinos em
cima dela e a observava de longe com ciúmes.

Sophia se afastou, foi até o banheiro retocar a maquiagem, preferiu ir


até o banheiro social, ao sair do banheiro deu de cara com alguém que
ela não esqueceria o rosto nunca: Pâmela. A loira platinada, estilo perua,
ostentava um enorme decote, no qual os seios de silicone, quase
saltavam para fora, vestia um vestido longo preto com uma grande fenda
lateral, mesmo rica, tinha um gosto vulgar ao se vestir. Apesar dos anos
e da transformação de Sophia, ela também a reconheceu logo de cara.

— Ora! Ora... eu não acreditei quando me disseram que a filha da


empregada havia voltado! Então vim ver com meus próprios olhos... —
Pâmela falou com olhar superior e a voz cheia de veneno, odiava Sophia
por ter casado com Victor de quem ela se considerava prometida desde
adolescente.

— Pâmela, eu não tenho vergonha da minha origem humilde, pelo


contrário, me orgulho disso! Porém, saiba que a filha da empregada se
transformou na executiva, esposa de Victor Scott, mãe do único herdeiro
da Scott Produtos Farmacêuticos e senhora desta casa!

— Ah você conseguiu me reconhecer? No passado você estava


sempre na cozinha, quando eu vinha em visita...

— Claro que reconheci! Essa cara de loira perua, com estilo de atriz
pornô, não é difícil de lembrar! Você é a prova de que dinheiro e bom
gosto nem sempre andam juntos! — Sophia falou atrevida.

Ao ouvir aquela resposta, pela qual não esperava, Pâmela inchou de


ódio.
— Sua atrevida! Coloque-se em seu lugar! — a loira falou furiosa.
— Eu estou em meu lugar: Estou em minha casa, ao lado do meu
esposo e do meu filho!

Ao ouvir aquela resposta tão bem formulada e com classe, dada por
Sophia, a loira platinada enfurecida, rapidamente deu as costas e se
afastou com ódio. Sophia, apesar do tempo todo ter tentando agir com
classe, sem ao menos levantar a voz, não gostou da presença dela ali na
festa, achou que devido ao passado, o Victor deveria tê-la avisado que
Pâmela fora convidade para festa.

A presença de Pâmela na festa, deixou Sophia enciumada, apesar de


Victor não ter tido tempo de dar atenção a Pâmela, ainda assim, Sophia
achou um desaforo. Então, ao perceber que estava discretamente
roubando os olhares masculinos, Sophia resolveu de propósito, ser mais
receptiva a esses olhares, como forma de provocar o Victor e se vingar
da presença daquela mulher na festa.

Agora que todos os convidados haviam chegado e Victor bebia


whisky com homens de negócio, ela começou a andar livremente pelo
salão despertando olhares e correspondendo de proposito para se vingar
de Victor. Ele apesar de doses e mais doses de whisky com os
investidores e amigos, conversando sobre negócios, não tirava os olhos
de Sophia, observando de longe o seu comportamento. Ele sabia que não
era um comportamento próprio dela, flertar mesmo que discretamente,
com certeza era para provocá-lo.

Já passava da metade da festa, quando Sophia sentiu alguém tocar


gentilmente em seu braço e falar baixo, tentando disfarçar a raiva e não
chamar a atenção dos convidados:

— Agora já chega! Pare de flertar com esses admiradores repentinos,


pois você não é assim e sei que está fazendo para me provocar! Suba
para o nosso quarto agora! — Victor falou quase ao seu ouvido.

— Não sei do que está falando! Não irei subir, pois estou gostando da
festa! Ah! você está com hálito de whisky!
— Você sabe sim do que eu estou falando, e a festa acabou para você!
Cansei de observar você me provocando! Suba agora e não me desafie!
— Victor falou irritado.
Sophia ficou na dúvida se havia exagerado, pois fazer joguinhos não
era o seu forte, mas como Victor dava sinais de ter consumido um
pouco de álcool a mais, ela achou melhor obedecer. Então, ela se retirou
discretamente da festa e subiu para o seu quarto, mas um pouco
chateada, pois tinha suas dúvidas se agora com sua ausência, Victor e
Pâmela ficariam próximos.

Ao chegar no quarto, Sophia tirou o vestido, tomou banho, pôs sua


camisola e se deitou na cama, estava chateada com os acontecimentos da
festa, dificilmente iria conseguir dormir rápido. Além do mais, ela
pretendia questionar Victor sobre a presença descarada da Pâmela na
festa sem que ela fosse avisada e também que ele não era o seu dono
para mandá-la subir para o quarto como se fosse uma criança.

Eram por volta das duas horas da madrugada, quando a festa


terminou, ela ainda estava acordada quando o Victor entrou no quarto, a
luz estava apagada, mas o abajur iluminava o ambiente.

— A festa sem minha presença ficou mais divertida? Já que você pode
ficar à vontade com a Pâmela? Sua amante! — Sophia deitada na cama
perguntou irritada.
— Até onde eu percebi, quem estava agindo como se estivesse
flertando era você, Sophia!

— Eu só estava tentando fazer você sentir o gosto do seu próprio


remédio! Francamente! Agora que você se assumiu publicamente
casado, trazer a sua amante para a nossa casa é uma falta de respeito
comigo e com nosso filho!

O Victor, em silêncio, despiu seu terno e jogou as peças no sofá do


quarto, ficando apenas de cuecas de seda preta, bem diante dos olhos de
Sophia que fingiu não ligar. Então, ele se sentou na cama ao lado dela, a
pegou pelos pulsos e a sacudiu!

— Ah! Então você admite que estava flertando na festa? E ainda sou
eu quem faltei com o respeito?

— Sim faltou! Pois você começou primeiro, ao convidar aquela


mulher sem me avisar! Fazendo pouco caso de mim, igual você fez no
passado!

— Sabe o que isso está me cheirando? A ciúmes! Mas isso é fácil de


se resolver: seja uma esposa de verdade de cama e mesa que a Pâmela
não terá mais papel nenhum em minha vida!
Enquanto Victor falava, tentou, além de imobilizar Sophia na cama,
beijá-la, como ela resistiu, ele tornou o beijo mais agressivo.

— Eu não estou com ciúmes! E me largue! Você está bêbado! Pare


de tentar forçar uma situação! Estou mais uma vez pedindo respeito
comigo!

— Você é minha esposa e até pouco tempo atrás você queria fazer
amor comigo, eu fui quem não quis porque você estava bêbada!

— Pois agora o bêbado é você e está me assustando! Pare com isso!


Eu não quero gritar para não acordar os empregados da casa e assustar
nosso filho!

Sophia sentiu as mãos de Victor tentarem acariciar suas pernas e


puxar sua calcinha por baixo da camisola, isso a deixou mais assustada.
Então, ela criou forças, afinal ele estava bêbado, ela lhe deu um ponta-
pé, conseguiu se desvencilhar dele e correu para o banheiro, trancando a
porta. Dentro do banheiro espaçoso, ao lado da banheira, ela não
conseguia parar de chorar e tremer, pegou no armário um roupão para
usar por cima da camisola fina, algumas toalhas e ali mesmo, se deitou
no chão. Então, meia hora depois ela ouviu suaves batidas na porta, era
Victor e estava com a voz calma.

— Sophia! Sophia! Abre a porta, por favor! Não irei lhe fazer mal...

— Não vou abrir! Não confio em você! Você não está cumprindo a
sua parte no acordo que fizemos ainda em Londres!

— Por favor! Abre essa porta e venha dormir em nossa cama! Você
não pode dormir ai no chão do banheiro, prometo que não tocarei em
você!

— Não abrirei, você está bêbado! Amanhã com você sóbrio


conversaremos e em seguida procurarei um advogado! — ela falou entre
lágrimas, Victor conseguiu perfeitamente perceber que ela estava
chorando.
Assim Sophia adormeceu em seu banheiro privativo, ao lado da
banheira, no chão forrado por toalhas felpudas. Estava com medo do
marido e seu comportamento estranho após várias doses de whisky e
depois de se sentir desafiado, enciumado durante a festa. O dia já estava
amanhecendo, quando ela, mesmo cansada, conseguiu dormir.
Capítulo 17

Sophia se mexeu e sentiu o corpo todo dolorido, abriu os olhos e viu


que tinha passado a noite no chão do banheiro numa cama improvisada,
por isso o corpo estava assim. Então ela lembrou magoada e indignada o
que tinha acontecido na noite anterior.

Como o Victor teve coragem de me assustar e me magoar daquela


forma? Sei que ele tinha tomado umas doses a mais de whisky e estava
com ciúmes de mim, mas isso não justifica...

Ela pensava ainda sentada no chão do banheiro.

Sophia escovou os dentes, tomou um longo banho, tentou ouvir o que


se passava no quarto, estava assustada com medo de sair do banheiro,
mas não podia ficar ali para sempre. Além do mais, o porre de Victor já
tinha acabado. Ela ouviu o silêncio vindo do quarto, já eram umas dez
horas da manhã, não era fim de semana, talvez o Victor tivesse ido
trabalhar, apesar da festa da noite anterior.
Vestida em um roupão e com cautela, ela abriu lentamente a porta do
banheiro, o quarto estava vazio, Victor não estava.

Ah meu Deus! Queria tanto que o Victor tivesse ido trabalhar, não
quero encontrá-lo durante todo o dia! Preciso decidir o que fazer após a
atitude dele ontem a noite! Talvez o nosso acordo tenha sido um erro e
tenha chegado a hora de um divórcio oficial.

Ela pensou triste consigo mesma, sua cabeça estava uma confusão de
sentimentos.

Antes de ir até o armário pegar uma roupa, ela olhou para a cama,
ficou triste em recordar das lembranças desagradáveis da noite passada.

Então ao se aproximar da cama, entre os lençóis desfeitos, viu uma


linda rosa vermelha e junto a ela um bilhete. Sophia pegou o bilhete e
curiosa leu mentalmente:

“Perdoe esse estúpido, que mais uma vez agiu como o moleque
inconsequente do passado, mas que tudo que deseja agora é consertar
todos os erros e ser feliz ao seu lado e ao lado do nosso filho! Aceita se
casar comigo mais uma vez?”
Ao ler aquilo o coração de Sophia disparou, apesar da mágoa em
relação a noite passada, pelo fato dele ter tentado forçar um situação de
intimidade entre os dois. De repente, ela percebeu que apesar de tudo, o
amor que sentiu por ele no passado não tinha acabado, ele apenas havia
adormecido e o retorno da convivência com Victor fez com esse amor
acordasse.
Apesar dela sentir medo de confiar nele, pois não pretendia cair nas
garras de um Dom Juan e sofrer novamente, ela tinha que considerar que
agora a situação era outra, até ela mesma havia mudado, não era mais a
mesma garota boba do passado. Então, por que não se render a esse
amor e dar uma segunda chance ao Victor?

Com a rosa e o bilhete, contra o seu peito, os olhos emocionados


Sophia pensou consigo mesma:

Irei sim dá uma nova chance a mim, ao Victor e ao nosso amor! Agora
que ele também se diz interessado em um casamento de verdade! Se eu o
amo, temos um filho e ele diz que me ama também, por que não tentar? E é
isso que farei!

Sophia se vestiu, deu um beijo no Vagner antes dele ir para a escola e


ficou o dia inteiro pensativa, emocionada com a possibilidade de uma
nova tentativa. Agora começando desde uma nova cerimônia de
casamento, porém, dessa vez, de verdade e não um papel assinado às
pressas, os noivos vestidos de jeans, uma noite de núpcias às avessas
como fora há dez anos.

Quando Victor chegou do trabalho, Sophia e o Vagner estava na sala


de estar, como sempre o menino recebeu o pai calorosamente com um
grande abraço. Já Sophia um pouco sem graça e também ainda um
pouco com receio pela noite anterior permaneceu no sofá, fingindo ler
uma revista. O Victor se aproximou dela como sempre fazia naquele
horário, principalmente quando o filho estava presente.

— Boa noite, querida, como foi seu dia? — ele falou e beijou Sophia
levemente na boca, disfarçando para o filho não perceber o clima,
porém, o próprio Victor parecia também estar um pouco desconfiado e
sem graça diante dela.
— Foi bem, obrigada, querido... — ela respondeu timidamente, pois
apesar da empolgação da decisão que ela tomou, também ainda estava
tímida e apreensiva com ele.
— Hum... após o jantar eu gostaria de falar com você a sós em nosso
quarto, precisamos conversar
— Victor falou.
—Sim, eutambémachoqueprecisamos conversar...

Eles falaram isso baixinho para que o Vagner, que estava um pouco
afastado, não ouvisse, pois era uma criança muito esperta e curiosa.

— Então. querida, irei subir, tomar um banho e logo descerei para


jantarmos em família, tudo bem?
— Victor aumentou o tom de voz nessa parte, pois já não era
problema o filho ouvir.

— Claro! o Vagner e eu já estamos pronto, assim que você descer,


peço para a senhora Evans servir o jantar — Sophia falou educada.

O jantar foi servido num clima de silêncio, parecia que ambos estavam
tímidos diante um do outro, só que nenhum assunto poderia ser iniciado
na presença do Vagner. Sophia, tímida por ter reconhecido que ainda
amava o Victor e tinha decidido aceitar a proposta dele, já Victor, tímido
pelo comportamento da noite anterior, arrependido e tambémansioso
para ouvir a resposta de Sophia a respeito do pedido oficial de
casamento.

Quando jantar terminou, Victor falou:

— Filho, a mamãe e eu precisamos conversar em nosso quarto, você


pode ficar brincando em seu quarto? Pois não gostamos de você sozinho
à noite no jardim ou próximo a piscina.

— Claro, papai! Mas vocês estão bravos? Irão brigar um com o outro?

— Não, filho! Vamos apenas conversar, falar sobre organização da


casa, coisas desse tipo.
Quando Sophia entrou no quarto, sentou-se na cama e ficou um
pouco trêmula, nervosa, não sabia quem deveria iniciar, pois não era
apenas dizer um sim ao pedido de casamento, algumas coisas
precisavam ser esclarecidas. O Victor, apesar de também tímido e
envergonhado pela noite anterior, era dono de uma personalidade mais
forte, acostumado a tomar todas as iniciativas, então resolveu iniciar.

Ele se sentou ao lado de Sophia na cama, tomou uma de suas mãos


delicadas e a levou aos lábios, beijando-a. Ela que estava de cabeça
baixa, sentiu o coração disparar e em silêncio o olhou nos olhos, como
há muito tempo não fazia.

— Antes de ouvir a sua resposta, queria pedir perdão por tudo que
lhe fiz até hoje com esse meu temperamento difícil, mas principalmente
por ontem a noite... — Ele falou baixinho, enquanto segurava as mãos
dela entre as suas.

— Eu te desculpo, apesar de tudo, não vejo mais necessidade de


falarmos sobre isso, já que você não chegou realmente a concretizar
nada... só prometa que não fará mais, nunca mais...

— Sim, claro! Eu fiquei cego de ciúmes e foi ali que


eu percebi que estava te amando, que não era mais
apenas uma atração física por você ter mudado sua
aparência! Mas, juro pela minha mãe que não
acontecerá mais!
Ao ouvir aquilo, Sophia relembrou o passado, a tragédia que
envolveu aquela família e o quanto a mãe de Victor era sagrada para ele,
o seu nome só era usado em juramentos muito especiais.

— Eu também fiquei com ciúmes, a Pâmela estava na festa...


— Esqueça a Pâmela, ela não significa nada para mim! Apenas sexo,
uma atração física! Mas, você tem o poder de riscar ela da minha vida a
hora que desejar! Basta só dizer um sim e aceitar ser minha mulher de
verdade.

— Apenas isso? E a cerimônia de casamento que você deu a


entender que propôs naquele bilhete hoje pela manhã?

— Ah! Aquilo eu faço questão, pois você era uma menina boba,
romântica, eu roubei seus sonhos e fases da sua vida, transformando-a
em uma mulher aparentemente fria, mas aposto que a Sophia do passado
ainda mora ai dentro, só criou essa couraça para se proteger. Então
quero lhe dar esse retorno ao passado e dessa vez, um casamento de
verdade, iniciando com uma linda cerimônia!

Sophia ouvia tudo aquilo emocionada, com a voz embargada pela


emoção, não conseguia falar muita coisa.

— Sim, eu quero... uma festa íntima com poucos convidados, mas


uma cerimônia tradicional, como eu sempre sonhei em ter com você.
— Então isso é um sim? Espere: Sophia Willians Scott, aceita se
casar comigo e ser a minha legítima esposa para sempre?

— Sim, eu aceito!

Ao ouvir aquilo, Victor soltou as mãos dela, sentados lado a lado na


cama ele a abraçou forte e lhe deu um longo beijo na boca, dessa vez
ambos lúcidos e felizes, satisfeitos com a decisão que haviam tomado.

Apesar da magia do momento, após o beijo, Sophia olhou para o


relógio da mesinha de cabeceira e falou:

—Victor... são quase nove horas, além de esposa eu sou mãe..

— Eu sei, querida, mas o que quer dizer com isso?

— Gostaria de ver o Vagner, dar um beijo nele, antes de nos


recolhermos.

— Claro, querida, iremos juntos!


O Vagner ficou feliz em ver os dois chegarem juntos para seu beijo
de boa noite, pois geralmente costumavam vir separados.
— Filho... viemos lhe desejar boa noite e lhe dar um beijo!

— Claro, mamãe! Amo vocês dois, ainda mais juntos!

— Hum... estou vendo que está jogando videogame, não quero que
durma tarde, ouviu? Não faz bem para crianças dormir tarde.

— Esta bem, mamãe! Então... papai, joga essa última partida comigo?
Você me disse que já jogou basquete na escola!

Victor não sabia ao certo se aceitava, pois não queria contrariar


Sophia em suas ordens como mãe. Porém, ela o olhou e fez sinal de que
sim.

— Jogue sim, querido, em no máximo quarenta minutos termina e


você desliga tudo, colocando-o para dormir. Eu vou indo para o nosso
quarto, tomar um banho e te espero em seguida.

Quando Victor retornou, uns quarenta minutos depois, encontrou o


quarto às escuras, banhado apenas pela luz do luar que entrava pelas
cortinas semiabertas. Vestida em uma linda camisola de seda e renda
branca, Sophia o esperava deitada na cama. Ela o desejava muito aquela
noite, assim como ele também, ela apelas estava um pouco nervosa,
afinal tinha se passado dez longos anos desde sua primeira e última vez.

Victor não comentou nada ao abrir a porta do quarto e sentir o clima,


dessa vez seria sem gracinhas, deboches ou autoritarismo. Ele passou
para o banheiro, tomou um banho rápido, colocou um pijama de seda
azul e se juntou a ela na cama. Porém, antes de tomá-la nos braços, lhe
falou baixinho:

— Tem certeza que agora você também quer? Pois a nossa cerimônia
de casamento religioso será daqui a um mês e aprendi que quem ama,
sabe esperar! Então, você não é obrigada a nada... pois, agora sei
esperar...
— E agora que você está me provando que me ama com essa proposta
para esperar, quero lhe dizer que sonho com isso desde adolescente,
então não vejo porque esperar mais! Sim eu quero hoje a noite ser sua de
corpo e alma! Só perdoe a minha inexperiência apesar de já ser mãe...

— Não peça perdão, querida, isso só lhe torna mais atraente aos meus
olhos e só aumenta ainda mais o meu amor por você!

Ao ouvir aquilo, Sophia se abandonou nos braços de Victor e deixou


ele conduzir a sua entrega total para ele. De inicio, começou tímida e ele
respeitou o momento dela: beijou lentamente a sua boca com beijos
molhados e profundos, fazendo com que ela sentisse a sua essência,
depois desceu lentamente as alças finas da sua camisola de seda branca e
começou a beijar seus lindos seios redondos, a medida que a respiração
dela se tornava ofegante, ele passou a ficar mais ousado, agora sugava
os mamilos ao invés de beijá-los.

— Victor.... Victor... eu te amo! Sempre amei! — Sophia inebriada de


prazer murmurava frases desconexas.

Aquela altura, Victor já tinha se livrado do pijama dele e da camisola


dela, juntos os corpos nus e colados desfrutavam um do outro. Entre
beijos calientes na boca, Sophia o abraçava com braços e pernas e ele
retribuía com toda a sua masculinidade, fazendo-a se sentir finalmente
uma mulher completa de verdade, ao ser penetrada por aquele membro
ereto, quente, viril...

—Victor... quero ser sua para sempre...

— Você já é toda minha, querida, sinta só, estou dentro de você


tomando posse de todo o seu corpo! Te amo!

Até que chegaram ao ápice do prazer, aconteceu a explosão de prazer,


Sophia já tinha esquecido como era sentir tamanha emoção, só
conseguiu cravar as unhas nas costas dele e gemer baixinho o seu nome.
Pois, ainda era um pouco dominada pela timidez e o pudor...

Após isso, já quase no meio da madrugada, os dois adormeceram


exaustos, abraçadinhos e felizes. Era tanta carência, tanto amor atrasado
que pareciam mais dois gêmeos siameses, dois corpos em um só. Agora
era organizar os preparativos para a cerimônia de casamento que tinha
sido combinada entre os dois.
Epílogo
Mansão Scott, quase dois meses depois...

Conduzida por Vagner, Sophia caminhava lentamente sobre o tapete


vermelho em direção ao altar, sob os olhares curiosos de uns quarenta
convidados. Estava uma noiva linda, usava um belo vestido branco de
noiva, com decote, sem mangas, busto bordado, bem apropriado para o
horário das cinco horas da tarde. Em sua cabeça uma tiara prateada,
estilo princesa, prendia seus cabelos loiro mel, em uma das mãos um
lindo buquê de rosas naturais, no outro braço o Vagner a conduzia,
parecendo um rapazinho vestindo um terno claro.

No altar, vestindo também um terno claro, Victor aguardava


emocionado ao lado do padre, nunca imaginou sentir tamanha emoção
ao ver seu único filho, um garotinho de quase onze anos, conduzindo a
mãe para entregá-la no altar. Aquela que era não somente a mãe do seu
único filho, mas também a mulher da sua vida.

Os jardins da mansão foram decorados para uma cerimonia religiosa


intima para umas cinquenta
pessoas, um pequeno altar foi montado, tapete vermelho, muitas
flores, um padre, algumas mesinhas para os comes e bebes depois.

Sophia mal pode conter a emoção ao pisar no tapete vermelho que a


conduzia ao altar, ver ali o homem da sua vida satisfeito lhe esperando e
sendo conduzida pelo filho deles dois.

Ao pisar no tapete, ela ainda teve um rápido flash de memória e se


lembrou da frase do senhor Fernando Scott no passado:

“O único herdeiro da Scott Produtos Farmacêuticos, não nasceu para


casar com a filha da empregada!”

Porém, rapidamente ela pensou consigo mesma:

— Este é o meu momento e do Victor! A partir de hoje, serão


esquecidos todos os fantasmas do passado e hoje nada vai roubar de
mim esse momento especial que eu tanto sonhei!

Então ao som da pequena orquestra de violinos tocando Halleluja,


ela caminhou divinamente para o altar e foi com muita emoção que
finalmente ouviu:
-Sophia Williams Scott, aceita Victor Scott como seu legítimo
esposo?

—Sim!

— Victor Scott, aceita Sophia Williams Scott como a sua legítima


esposa?

—Sim!

—Então, eu os declaro marido e mulher! Pode beijar a noiva!

Então um beijo apaixonado selou a união dos dois, marcando o


início de uma nova vida.

KAREN HEIFER
Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Epílogo
Capítulo 1
Inglaterra, Londres, 1850.

— Eliza! Elizabeth! Onde você se meteu menina?

A velha criada, que a viu nascer, gritava, enquanto procurava a jovem


senhorita entre as flores, árvores e arbustos no jardim ao redor da casa.
Berkshire era uma linda propriedade nos arredores de Londres. Era
composta por uma bela casa de campo, de tamanho médio e confortável, em
sua volta um magnífico jardim com flores, árvores e arbustos. Este era, a
pouco mais de três anos, o lar da jovem senhorita Elizabeth Eglington, seu
cãozinho Teddy, sua mãe Lady Matilda Eglington, a velha criada-governanta
Mary e mais alguns poucos criados que restaram.

— Au! Au! Au!

Latiu Teddy, o simpático, travesso, as vezes, medroso, cãozinho


yorkshire, que parecia mais uma bola de pelos brancos na relva. A sua
presença, denunciava que sua dona, estava por perto.
— Então, aí está você Teddy! Onde está a sua dona?— a criada
perguntou, de forma ranzinza.

De repente ouviu-se um barulho, como se alguém tivesse pulado do


galho de alguma árvore próxima. Então, instantaneamente uma simpática e
bela senhorita, surgiu correndo pela relva verde em direção a velha criada e
ao cãozinho. Em uma das mãos carregava um livro e com a outra mão erguia
as saias longas do seu pesado vestido de musseline azul-claro, para não
tropeçar. Ela se vestia como a típica jovem senhorita inglesa no período
vitoriano, longos e pesados vestidos, meias finas, sapatos fechados, parecia
uma boneca de porcelana entre as árvores. O ano em questão é 1850, época
vitoriana, mais precisamente inicio da primavera de 1850.

— Que barulho foi esse Teddy? — a criada perguntou desconfiada.


A jovem Elizabeth Eglington, era uma bela moça de dezesseis anos
incompletos, estatura mediana, corpo de mulher, apesar de escondido sob
seus longos vestidos e anáguas. Ela possuía um lindo rosto afilado, pele de
porcelana, longos cabelos castanhos encaracolados e lindos olhos cor de mel.
Uma linda jovem que despertaria facilmente a admiração e desejo nos
homens. Porém, a muito tempo já estava comprometida e propositalmente
isolada da vida social, por ordem do seu futuro esposo.

— Estou aqui Molly! Já estou indo!

A bela jovem, alegre, espontânea e com um certo ar travesso, veio


correndo atender ao chamado da sua antiga babá.

A criada Mary, era uma algo como governanta e ex-babá da jovem


Elizabeth, estava na família a muitos anos e a viu nascer. Era uma solteirona,
de cabelos grisalhos, gorducha, às vezes um pouco rabugenta, mas era
carinhosa com a jovem, ao seu modo, a quem chamava de Eliza. Na verdade,
a maioria das pessoas a chamava assim, com exceção da sua mãe Lady
Matilda, sempre séria e sem carinho materno com a sua única filha. A
“Molly”, como Eliza costumava chama-la carinhosamente, sempre escondia
algumas das suas travessuras, às vezes inadequadas para a rígida moral e
etiqueta da época vitoriana. As escondia principalmente da sua mãe, Lady
Matilda, uma mulher moralista, amarga e autoritária com a filha e com todos
a sua volta.

— Eliza! Onde você se meteu? Não me diga que estava outra vez lendo
escondida em algum galho de árvore? Você sabe que isso não fica bem para
uma senhorita, além do mais você pode se machucar! — vestida em seu
uniforme cinza, a criada Mary, falava com o dedo apontado para Eliza, em
sinal de reprovação.

— Molly... É só mais um romance, a prima Mag me trouxe escondido, da


última vez que esteve aqui, não conte nada para a mamãe, por favor...

Eliza falava com o jeitinho especial, doce e travesso, usado quando ela
queria ganha a cumplicidade da sua ex-babá. A criada Mary era na maioria
das vezes mais carinhosa com ela do que a sua própria mãe.

— Está bem! Vou fingir que não vi este livro escondido atrás de você!
Você sabe que a sua mãe não a quer lendo esses livros! Ela os acham,
indecentes e fala que apenas servem para causar nas moças ilusões bobas a
respeito dos rapazes!

— Ah! Molly... É apenas um livro... — a jovem abraçou o livro contra o


peito.
— Lembre-se que você está prometida! O seu enxoval já está quase
pronto e você deverá se casar em no máximo quatro meses! — a criada,
falava em tom de reprovação.

— Molly... não me recorde dessa minha triste condição, me deixe ao


menos sonhar com os rapazes, viajar juntos com os personagens dos
romances...

A jovem falava em tom de tristeza, pois, a criada havia acabado com a


sua alegria espontânea ao relembrar algo que ela tanto detestava: A sua
condição de prometida ao velho Conde de Ashwell.
— Agora vamos para dentro! A sua mãe mandou lhe chamar! Apesar de
já estarmos no início da primavera, ainda restam alguns ventos frios do final
do inverno e você pode adoecer! Sem falar que não fica bem uma senhorita
sozinha pelos arredores da casa, já quase a escurecer! — a criada ordenou e a
jovem obedeceu, ela era travessa, impulsiva, mas às vezes obediente.

— Tudo bem Molly, estou indo! Vem Teddy!

Eliza respondeu obediente, chamou o seu fiel companheiro e juntos


saíram correndo em direção a casa, deixando a criada vir mais atrás a passos
largos.
— Au ! Au! — Teddy, como sempre, corria junto as saias da sua dona, em direção a casa.

A casa de Berkshire, era uma residência, tamanho médio se comparada as grandes mansões de
Londres e casas de campo de outras famílias aristocratas. Era uma casa confortável de dois andares,
possuía dois quartos principais que eram usados por Lady Matilda e Eliza, três quartos de hóspedes e
uma pequena ala separada para os poucos criados que restaram. Era uma construção preparada para
o frio inverno europeu, com paredes grossas de pedra e uma grande lareira na sala principal. Ela
também possuía grandes janelas que podiam serem abertas durante as outras estações do ano. A sua
decoração e mobília era em tons escuros, uma decoração típica do período vitoriano inglês e bem ao
gosto de Lady Matilda Eglington. Uma viúva moralista, amarga e sempre vestida de preto, em sinal de
luto pelo marido, falecido a quase três anos, pai da jovem Elizabeth, a quem os mais íntimos
chamavam carinhosamente de Eliza.
— Eliza! Não corra tanto, você pode cair e se machucar! Espere por mim! — a criada,
reclamava, enquanto a jovem corria ao lado do cãozinho.

— Ai Molly! Não sou uma boneca de louça, para cair e quebrar! — assim, elas chegaram na
casa principal da propriedade.

No passado Berkshire foi apenas uma das várias propriedades da família Eglington, além da bela
mansão em Londres, que era a residência oficial da família. Os Eglingtons já foram uma rica família
aristocrática, porém, Lorde Thomas Eglington, antes de falecer, gastou toda a fortuna da família, em
dívidas de jogo. Apesar de toda a sociedade londrina saber disso, Lady Matilda, tentava manter as
aparências de viúva aristocrata rica, enquanto ainda residia na mansão em Londres e mesmo após ser
obrigada a se mudar com Eliza para Berkshire. Quando, na verdade, nem mesmo Berkshire lhe
pertencia mais, porém, graças a um acordo de cavalheiros, feito no leito de morte do marido, ela
conseguiu o direito vitalício de residir na mansão. Favor este concedido pelo credor das dívidas de
jogo do seu falecido esposo, o velho conde de Ashwell. Contudo, esse acordo teve um preço alto, pois,
custou a promessa da mão de Eliza em casamento assim que ela completasse dezesseis anos. Então, foi
com o coração partido que Lorde Thomas fechou esse acordo, pois, apesar de viciado em álcool e
jogo, era um pai amoroso. Todavia, foi a única saída imediata para não deixar mãe e filha na rua da
amargura, após a sua morte.

Então, foi assim que a bela, jovem e espevitada, Eliza se tornou, no leito de morte do seu pai e
com apenas treze anos, prometida do velho conde de Ashwell, um senhor viúvo, sem filhos,
sexagenário, antissocial, rico e avarento. A jovem detestava e com razão, essa condição que ela
carregava a quase três anos. Contudo, a sua mãe Lady Matilda, aprovava e tinha gosto nesse
casamento arranjado, pois, era uma forma delas não ficarem sem teto e na miséria. Além de poder
continuar mantendo as aparências de viúva aristocrata rica, ostentando o sobre nome falido dos
Eglingtons e uma filha condessa. Para ela o casamento por amor não era uma prioridade e sim o
status, a segurança financeira.

Ao entrar na sala principal da casa, Eliza encontrou a sua mãe, Lady Matilda, tomando o seu
tradicional chá de final da tarde, mesmo falidos, sua mãe ainda fazia questão de conservar os hábitos
aristocráticos, além da pompa e etiqueta. Tudo isso, graças a ajuda financeira do seu futuro genro que
apesar de avarento, tentava agradar mãe e filha com mimos financeiros. Então, para Lady Matilda,
diante de toda ajuda financeira que recebia, pouco lhe importava se a sua única filha, tão jovem e
bela, estava condenada a se casar sem amor com um senhor sexagenário, e sim que o futuro das duas
estava garantido.

A mãe da jovem Eliza exercia o papel de futura sogra exemplar: Fazia questão de vigiar Eliza, a
mando do Conde, para que ela não saísse da linha com o seu jeito espontâneo, inocente e um pouco
espevitado para a época. Além de também para não se engraçar de nenhum rapaz e se comportar
como uma senhorita comprometida. Lady Matilda até fazia questão de fazer visitas mensais ao futuro
genro em Ashwell, onde além da cortesia, ela levava noticias de Eliza. Quanto a jovem, ela se recusava
a conhecer pessoalmente o Conde, até chegar o dia da festa oficial de noivado, onde ela não teria mais
escapatória. Todavia, Eliza já conhecia por fotografia a aparência do seu futuro esposo e ele a
enojava.

— Elizabeth! Onde você estava? Já está quase anoitecendo, não fica bem uma senhorita andar
sozinha pelos arredores da casa! Você já pensou o que o seu futuro esposo pode pensar? Quer acabar
com a sua reputação e nos deixar na miséria, caso ele rompa o compromisso?

— Ah... que exagero, mamãe!

— Exagero? Talvez outro cavalheiro não proponha casamento a uma senhorita que já foi
comprometida durante tantos anos! — Lady Matilda, falava brava em tom de reprovação e alerta,
condenando as atitudes da filha.

— Eu estava apenas no jardim, escureceu rápido e não percebi, quando me dei conta, já ouvi o
chamado da Molly... Por favor, mamãe, não me lembre desse meu compromisso com aquele velho
Conde, dessa minha triste sina!

A moça que entrou na sala alegre e espevitada, com Teddy correndo atrás dela, logo entristeceu
com as broncas da sua mãe e a lembrança do seu compromisso.
— Não tem porque se entristecer! Não seja boba! Você é uma senhorita privilegiada! Mesmo sem
pai, apesar da nossa situação financeira arruinada, está comprometida com um ótimo partido e em
breve será uma rica condessa! — Lady Matilda, falava em tom de reprovação, voz amarga e com olhar
esnobe de sempre.
— Ah mamãe!

Eliza bateu o pé, fez beicinho, cara de birra e se virou rapidamente para deixar a sala. Porém, com
isso, revelou sem querer o livro que trazia consigo escondido atrás si mesma.

— O que é isto Elizabeth? Outro livro? Quem o trouxe? Dê-me este livro agora! — sua mãe falou
brava.

A jovem não teve outra alternativa, a não ser lhe entregar o livro, mesmo contrariada. Ao mesmo
tempo, ficou com medo do que a sua mãe poderia fazer, já que não era a primeira vez que ficava de
castigo por causa de um livro. Lady Matilda olhou rapidamente a capa do livro, somente pelo título, já
percebeu que se tratava de mais um romance e em seguida deu a sua sentença.
— Outro romance! Eu já lhe avisei que não quero você lendo este tipo de livro! A maioria deles são
indecentes e só servem para colocar ideias bobas na cabeça das moças!

— Mas, mamãe, é apenas um simples livro...

— Chega Elizabeth! Aposto que foi a sua prima Margareth que o trouxe em sua última visita!
Você está prometida! Irá se casar daqui a quatro meses, ao completar dezesseis anos!

— Mas eu não quero me casar sem amor! Ainda mais com um senhor que tem idade para ser meu
avô! Eu odeio Este compromisso!

— Você não tem querer! O enxoval já está quase pronto! Falta apenas um jantar para oficializar
o noivado no dia do seu aniverário e em seguida marcar o casamento!
— Maldito seja o dia deste meu aniversário!

—Não seja malcriada, menina! Além disso, tanto eu, como o seu futuro esposo, não queremos que
você leia esse tipo de livro! Ouviu?

— Sim, mamãe, ouvi...

— Agora, como castigo vá para o seu quarto! A criada Mary levará o seu jantar lá mesmo! —
Lady Matilda ordenou brava e Eliza não teve outra alternativa, a não ser obedecer.

— Está bem mamãe, vou indo! Vem Teddy...

A jovem baixou a cabeça e falou baixinho, segurou as saias do seu longo vestido e caminhou
resignada em direção as escadas que dava acesso ao andar superior, onde ficava os seus aposentos.

— Au! Au! Au! — Teddy latiu bravo, no meio da sala, em direção a Lady Matilda.

— O que foi? Seu yorkshire alcoviteiro? Siga a sua dona e me deixe em paz!

Lady Matilda, falou brava e bateu o pé em direção a ele. Assim a coragem do cãozinho sumiu e
ele saiu correndo em direção a sua dona, para também compartilhar do castigo.

Eliza entrou chateada em seu quarto, seguida por Teddy, o seu fiel companheiro. Ela se jogou em
sua enorme cama, era uma cama luxuosa, com cortinas estilo dossel e como ela ainda não iria dormir,
as deixou abertas.

— Vem Teddy! Vem!

A jovem chamou seu cãozinho para ficar ao seu lado quietinho na cama, compartilhando da
tristeza da sua dona.
O quarto de Eliza, assim como o de sua mãe e os quartos de hóspedes, era luxuoso, alguns móveis
vieram, com o consentimento do Conde, da antiga mansão que elas ocupavam em Londres, antes da
morte do seu pai e do Conde a ter confiscado pelas dívidas. Ela possuía também uma pequena
escrivaninha ao canto do quarto, onde Eliza guardava os pouco livros que sua mãe lhe permitia ler e
alguns cadernos nos quais ela escrevia. Lady Matilda não aprovava esse gosto da filha pelos livros e
pela escrita. A sua mãe achava que moças em idade de ser casar, apenas necessitava cuidar da
reputação e aparência para assim conseguir arranjar um bom casamento.

Alguém bateu de mansinho na porta, era a Molly com o seu jantar em uma bandeja:

— Eliza...
— Pode entrar Molly, estou acordada!

Eliza respondeu com carinho e Teddy, o cãozinho enxerido, também latiu.

— Minha querida, trouxe o seu jantar. — a criada Mary, falou docemente, enquanto depositou a
bandeja no criado-mudo ao lado da cama.

— Au! Au! — Teddy latia como se estivesse também autorizando a entrada da velha criada no
quarto.

A criada, com seu jeito característico, uma mistura de rabugenta e carinhosa, quando se tratava de
sua menina Eliza, tratou logo de repreender o cãozinho.

— Seu cãozinho enxerido, não pedi a sua permissão para entrar no quarto da minha menina!
Porém, também trouxe comida para você! Agora coma e me deixe em paz!

— Obrigada Molly... não estou com fome! Mas, irei comer um pouco! Você sabe o quanto essas
atitudes da mamãe me deixam triste e também irritada!

— Eu sei minha menina, mas você precisa comer para não adoecer...

— Já não basta eu ter que viver aqui isolada nesta casa de campo? Sem poder conversar com as
moças da minha idade? Participar das temporadas, ir aos bailes, confeitarias! Então, não posso
sequer ler um romance? Sonhar com as histórias de amor, as quais nunca viverei? Me deixe ao menos
tentar esquecer dessa minha triste condição de prometida em troca de dívidas! Um casamento sem
amor com um conde velhote!

Eliza fez um desabafo, chateada por mais um castigo imposto por sua mãe e também pela revolta de
ter que casar sem amor, com um senhor de idade avançada, contra a sua vontade.

A criada Mary, já estava a muitos anos na casa, foi babá de Eliza, tinha sim compaixão dessa triste
sina dela, porém, não tinha nada que pudesse fazer, a não ser tentar consolar com argumentos. Afinal,
por mais antigo que um criado fosse, não tinha liberdade para questionar os seus patrões, Lady
Matilda, apesar de falida, ainda era autoritária, esnobe e levava sério todo esse protocolo. Sem falar
que a criada Mary, uma solteirona gordinha, cabelos grisalhos sempre presos em um coque, vestida
em seu uniforme cinza, sempre fora habituada a obedecer e a se resignar, a vontade ou era a de Deus,
ou a dos patrões, nunca a dela. Então, assim também eram os seus conselhos para consolar a sua
menina Eliza e apesar de ser um pouco rabugenta com os outros, com Eliza ela era carinhosa ao seu
modo.

— Eliza... os filhos obedecem aos pais, desde que o mundo é mundo, você deve obedecer a sua mãe
e quando se casar ao seu marido, tudo isso é determinado por Deus...

A criada falava com voz meiga tentando consolar a sua menina que ela criou desde que nasceu.
Enquanto isso, Eliza sentada na cama, com uma bandeja no colo, comia devagar o seu jantar, a
mesma coisa fazia Teddy no cantinho do quarto em seu pratinho.

— Pois, eu não me conformo com esse destino, Molly! Eu queria conhecer um belo cavalheiro
igual aos dos romances, que me propusesse uma fuga e juntos sermos felizes para sempre em algum
lugar bem longe daqui !

Eliza falava em um tom de revolta, que dificilmente teria coragem de usar com a sua mãe,
porém, era um tom, ao mesmo tempo, de uma jovem sonhadora. A típica moça sonhadora, enfeitiçada
por romances e também a procura de fugir do seu triste destino.

Ao ouvir esse desabafo, a criada Mary arregalou os olhos e falou brava em tom de reprovação.

— Você está louca menina? Quer matar a sua mãe de desgosto e vergonha? Além de fazer com
que seu futuro esposo, como proprietário desta casa, a despeje? Além disso, você ainda causaria uma
desonra ao nome dos Eglingtons, a memória do seu pai e um escândalo na sociedade de Londres!

Ao ouvir isso, o espirito de rebeldia que por um instante havia tomado conta de Eliza sumiu.

— Desculpa Molly, eu não teria coragem de fazer isso com a minha mãe, manchar a memória do
meu pai, o nome da minha família e muito menos me entregar a um homem antes do casamento... — a
jovem baixou a cabeça envergonhada.

— Hum! É cada ideia! Agora coma o seu jantar e fique na cama refletindo! lembre-se que você
está de castigo por mais um livro escondido! — a criada resmungou e saiu, deixando apenas Eliza e
seu cãozinho Teddy no quarto.

Elizabeth Eglington, Eliza para os mais íntimos, exceto sua mãe, não era uma moça má. Porém,
para os padrões da época, anos 1850, às vezes, era espontânea, travessa e espevitada demais para
uma senhorita. Contudo, também tinha o seu lado meigo, romântico e sonhador, principalmente
quando se distraia e esquecia a sua condição de prometida ao velho conde de Ashwell. Além do mais
era uma bela moça de quase dezesseis anos, estatura mediana, corpo de mulher, longos cabelos
castanhos encaracolados e lindos olhos cor de mel. O velho conde fora esperto, até impiedoso, ao se
aproveitar das dívidas do seu falecido pai e comprometer sua mão em casamento.

Eliza, conseguiria facilmente conquistar o coração de um cavalheiro jovem e bom partido.


Contudo, segundo a sua mãe, ela não podia desfazer o acordo que o seu pai assinou em seu leito de
morte. Segundo Lady Matilda, isso sujaria a memória de Lorde Thomas Eglington e elas ainda
perderiam a ajuda financeira e o teto em que moravam. O velho Conde também fora bastante esperto,
pois, para que Eliza não tivesse a chance de conhecer nenhum cavalheiro que também lhe propusesse
casamento e segurança financeira, encantado pela sua beleza e juventude. Ele, exigiu, logo após a
morte de Lorde Thomas, que mãe e filha se mudasse de Londres para Berkshire, uma propriedade
rural a cinco quilômetros da cidade. Exigindo que elas ficassem em Berkshire quase reclusas e que
Eliza somente voltasse a frequentar a sociedade londrina, após casada com ele. Então, assim vivia
Eliza, reclusa em uma casa de campo próxima a Londres, por ordem do seu futuro esposo, que era
apoiado por sua mãe, Lady Matilda Eglington, que fazia muito gosto naquele casamento.
A noite passou, Eliza olhou pela enorme janela do seu quarto, contemplou como a manhã estava
bonita, como as flores do jardim envolta da casa estavam belas, era a chegada da primavera. Apesar
de ainda restarem alguns ventos frios, que aos poucos estavam cessando, a primavera, a sua estação
favorita, finalmente havia chegado. De repente ela viu surgir ao longe, um homem a cavalo, vinha a
galope, quando ele se aproximou, ela o reconheceu como o criado mensageiro do conde de Ashwell,
ele sempre vinha trazer mensagens para a sua mãe.

— O que será que o criado do conde, deseja em Berkshire, logo no início da manhã? — a jovem
falou consigo mesma.

Ela olhou com tristeza, pois, detestava tudo aquilo, mas nada podia fazer a não ser aceitar,
provavelmente deveria ser as mensagens de rotina. O Conde costumava tratar com sua mãe a respeito
de dinheiro para manter elas duas e a propriedade, costumava também pedir notícias dela, como sua
prometida e quase noiva.

Pouco tempo depois, bateram na porta do seu quarto e mal deu tempo dela autorizar a entrada, a
sua mãe Lady Matilda, entrou no quarto toda vestida de preto, como sempre e com uma expressão
séria no rosto.

— O criado de Ashwell veio até aqui nos trazer uma péssima notícia!

— Péssima noticia? A Senhora está me assustando!

— Sim! O Conde, seu futuro esposo, está gravemente enfermo! Ele já era tísica, os médicos
disseram que devido à idade avançada, é grave!

— Grave? Achei que tinha uma saude de ferro...

— Sim! O final do inverno o deixou de cama e desde ontem a noite iniciou uma febre constante que
não quer cessar! Devemos nos preparar para o pior, Elizabeth! — Lady Matilda falou séria e num tom
de pesar.

Eliza foi pega de surpresa com essa notícia, não sabia nem o que pensar, o que dizer, pois, não era
uma jovem má, a ponto de desejar a morte de alguém. Porém, não compartilhava do mesmo sentimento
de pesar de sua mãe.

— Mamãe... Ter que casar com aquele Conde velhote, avarento e esquisito é uma verdadeira
penitência! Além do mais, por culpa dele, perdemos tudo e por ordem dele sou mantida aqui quase
uma prisioneira! A espera de um casamento sem amor e sem o direito de conhecer o verdadeiro amor
um dia!- Eliza falou séria, em um tom mais maduro do que o seu habitual.

— Você está louca Elizabeth? Já imaginou o que vai ser de nós duas, caso o Conde venha a falecer
dessa febre, sem o casamento se realizar?
— Eu estarei livre deste compromisso!

— Não será apenas isso, sua louca! Provavelmente na mesma semana, após o falecimento, surgirá
algum parente distante para tomar posse do título e de todos os bens, inclusive desta casa que não nos
pertence mais! Lembre-se que moramos aqui de favor!

— A senhora, sempre me lembra, desta minha triste sina!

— Porque você é a prometida dele! Lembre-se que foi um acordo de cavalheiros celebrado entre
ele e seu pai, antes de falecer afundado em dívidas de jogo!

Lady Matilda falou em um tom amargo, cheio de rancor pelo falecido marido. Contudo, ao mesmo
tempo brava com Eliza, que expressava sua revolta, apesar dos argumentos de sua mãe.

— Tudo bem mamãe, mas apesar de não desejar a morte dele, não compartilho do seu pesar e que
Jesus tenha piedade de nós duas! Caso isso venha a acontecer da forma que a senhora esta prevendo!
Até porque creio que a esposa do meu tio, mãe da prima Mag, não nos receberia de bom grado em sua
residência! — a jovem falou com uma expressão triste no rosto e voz resignada.

Ao fazer o comunicado, Lady Matilda deixou o quarto e Eliza, que sempre gostava de passear pelo
jardim e pomar durante a manhã, ficou tão confusa que preferiu permanecer no quarto. Ela às vezes
levava livros para ler escondida em alguma árvore ou arbusto.

Lady Matilda, era uma mulher autoritária, arrogante, sempre foi fria com o seu falecido esposo e
com a sua única filha. Após ter ficado uma viúva falida, dependendo do teto e da caridade do seu
futuro genro, esse seu jeito amargo aumentou mais ainda. Contudo, mesmo com toda a dependência
financeira ela fazia questão de manter a pose de viúva aristocrata rica. Apesar de toda a sociedade
londrina, saber que os Eglingtons eram falidos e deles apenas restou a viúva amarga e sua única filha,
prometida a um conde sexagenário em troca de dívidas de jogo. Era uma senhora alta, magra, rosto
afilado, cabelos castanhos já com alguns fios prateados, sempre vestida de preto. Ela fazia questão de
manter luto permanente, por um marido que não amava, mas para da satisfação a rígida sociedade
inglesa durante a era vitoriana.
Capítulo 2
S
ebastian Roberts de Hereford, Conde de Ashwell, faleceu da febre, dois dias após aquela
mensagem que foi levada para Lady Matilda, pelo seu fiel criado, era um senhor sexagenário e não
resistiu.

O fato do Conde ser viúvo, não possuir filhos, não ter parentes próximos conhecidos e era o seu
futuro genro, fez com que Lady Matilda, junto com os criados das duas propriedades, Berkshire e
Ashwell, cuidassem de todos os ritos fúnebres. Ela na posição de quase sogra e Eliza na condição de
quase noiva, obrigada pela mãe, participaram de tudo. Então, foi em um caixão que Eliza conheceu
pessoalmente, aquele que um dia quase foi o seu esposo, se a morte não o tivesse levado.

Na leitura do testamento do velho Conde, dois dias após o sepultamento, Lady Matilda na posição
de quase sogra também estava presente. Ele não possuía parentes conhecidos e no fundo ela tinha
esperanças de ficar com Berkshire, devido ao ótimo relacionamento que mantinha com o Conde.
Porém, foi com surpresa que ela ouviu o advogado e procurador do Conde, ler em tom solene:

— Eu, Sebastian Roberts de Hereford, Conde de Ashwell, deixo meu título, todos as minhas
propriedades e bens financeiros, para a minha única irmã, que foi deserdada pelo meu pai a tempos
atrás. A muitos anos não tenho notícias dela, mas reside em Paris, em local desconhecido, caso a
mesma tenha falecido, deixo para o descendentes em primeiro grau. Peço que o meu advogado e
procurador, a localize, providencie o aviso do falecimento e toda a burocracia para a tomada de posse
do meu título e bens, por parte dela. — o advogado e procurador do Conde leu em tom solene.

— Irmã? Isso é um absurdo! Ao menos Berkshire deveria ter ficado para a minha filha! A senhorita
Elizabeth, prometida do falecido! Eles iriam se casar daqui a quatro meses, o enxoval já estava quase
pronto!

Com a surpresa Lady Matilda levantou automaticamente da cadeira e protestou, pois, no fundo ela
tinha esperanças que ao menos Berkshire, onde elas residiam e no passado já pertenceu aos
Eglingtons, ficassem para Eliza.

— Perdão senhora, mas o Conde deixou tudo muito claro! Em umas das cláusulas do testamento
consta que a senhorita Elizabeth Eglington, somente herdaria algo, caso o casamento fosse realizado!
— o advogado explicou calmamente.

— Então, aquele velho avarento nos apunhalou pelas costas! O que acontecerá conosco agora? —
Lady Matilda, perguntou em tom pouco amigável.

— Não sei senhora, a minha obrigação como advogado e procurador do meu falecido cliente é
acionar os meus contatos em Paris, localizar a herdeira, o que deve levar algo em torno de um mês.
Então, como sabemos que a residência em que a senhora reside, já a algum tempo também pertencia
ao Conde, aconselho que fique preparada para tratar com a nova herdeira e proprietária, quando ela
surgir. — o advogado falou calmamente, cumprindo o seu papel e tentando ignorar o ódio de Lady
Matilda.

—Pois, diante de toda essa situação, retornarei agora mesmo a minha residência, Berkshire! Onde
permanecerei com minha filha, que deveria ser uma das herdeiras e não sairei de lá facilmente!

A autoritária senhora falou em tom malcriado, se retirando brava da sala, deixando a casa de
Ashwell. Assim ela pegou a estrada a cavalo, junto com um criado, em direção a sua casa Berkshire,
que era relativamente próxima.

Ao chegar em casa Lady Matilda chamou Eliza e contou a atual situação, sobre o surgimento de
uma nova e única herdeira oficial, uma irmã desconhecida do Conde. A tal mulher em breve chegaria
para tomar posse de tudo que era dele, inclusive a casa onde elas duas moravam. Apesar de Eliza não
ter chegado a se casar com o conde, Lady Matilda, tinha esperanças de ficarem ao menos com
Berkshire e isso foi o que a revoltou tanto. Eliza deu de ombros, pois, estava tão aliviada pelo o fim
da obrigação de se casar sem amor com aquele velho Conde. Contudo, não sabia o que sugerir a sua
mãe como solução, apenas aconselhou :

— Ouça, mamãe, acho que devemos rezar, economizar o dinheiro das despesas mensais deixado
pelo Conde e aguarda a nova proprietária chegar, antes de tomar qualquer decisão...

Então, assim se passaram algumas semanas, a aquela altura, a morte do velho Conde, futuro
esposo de Eliza, a situação financeira agravada da viúva Eglington que tinha perdido a proteção do
futuro genro, já era assunto entre as senhoras fofoqueiras da sociedade londrina. Todos sabiam que
Eliza e a mãe viviam reclusas por exigência do conde e que recebia ajuda financeira dele, enquanto

Eliza não completasse dezesseis anos, para o casamento se realizar, como ele prometeu esperar a
Lorde Thomas.

Apesar de mãe e filha morarem em Berkshire, uma casa de campo, que ficava apenas cinco
quilômetros de Londres, por exigência do velho Conde para isolar Eliza de possíveis jovens
pretendentes, os Eglingtons e o conde de Ashwell, eram conhecidos da sociedade aristocrata londrina.
Antes da morte de Lorde Thomas, ambos residiam em Londres, elas na mansão Eglington e o Conde
em sua grande mansão, porém, a residência dos Eglingtons fora tomada por dívidas de jogo pelo velho
Conde. Após isso, ele a alugou e exigiu que Eliza na qualidade de prometida, fossem morar em
Berkshire junto com a mãe e ele já idoso e anti- social, passou a residir em uma das suas propriedades
mais próximas, Ashwell.

Então, após o acontecimento da leitura do testamento do Conde, as semanas foram se passando e


para Eliza e sua mãe, só restava aguardar.

— Pode entrar!!
Eliza respondeu com voz alegre, nem parecia que tinha perdido um quase noivo a pouco mais de
um mês e que estava com o futuro incerto. Era inicio da manhã e ela estava inexplicavelmente alegre.

A criada Mary com seu jeito característico, uma mistura de carinho e rabugice, entrou no quarto e
anunciou.

— A sua prima, senhorita Margareth Callow, chegou agora a pouco, veio passar o dia com você,
amanhã retornará a Londres.

A criada falou séria, deixando transparecer que não gostava da moça e daquela amizade entre
primas.

— Ah Molly! não precisa anunciar a prima Mag! Ela é minha única prima, quase uma irmã, ela
deveria já ter subido direto ao meu quarto... — Eliza falou com o jeitinho doce que sempre tratava a
sua Molly.

— Escute aqui menina! Acho a senhorita Margareth, muito esperta, sonsa e invejosa, você ainda
não conseguiu perceber isso nela, mas cuidado!

— Ah, Molly... que exagero!

— Não vá se deixar influenciar por ela e aprontar pelos campos de Berkshire ou fazer nada que
comprometa a sua reputação! Lembre-se que senhoritas casadoiras devem ter bom comportamento e
fofocas chegam a galope até Londres!

Na qualidade de ex-babá, a criada Mary, tinha essa liberdade de advertir e vigiar Eliza. Porém,
ela fazia isso de modo carinhoso e cúmplice, ao jeito dela.

Ao dizer isso a criada se retirou do quarto, alguém bateu suavemente a porta e logo entrou, era a
prima Mag.

— Eliza, prima querida! Me de um abraço! Desde o falecimento do Conde, eu ainda tinha não
vindo lhe visitar! Eu vim para passar o dia e a noite com você, somente retornarei a Londres amanhã,
papai enviará uma carruagem para me buscar, após o café da manhã!

A moça falava numa alegria, num tom que demonstrava falsidade, algumas pessoas mais
experientes perceberiam facilmente. Todavia, Eliza apesar de não ser tão ingênua, não percebia isso e
foi logo a abraçando e lhe dando as boas-vindas.

A senhorita Margareth Callow, a prima Mag, como Eliza costumava chama-la, era sua única prima
do sexo feminino e próxima, filha do seu tio, irmão da sua mãe, Lady Matilda. Ela era mais velha que
Eliza, possuía dezoito anos, já tinha participado de vários saraus e temporadas, mas ainda assim não
tinha achado um pretendente. A falta de pretendentes já estava preocupando ela e sua mãe, a invejosa
Lady Constância.
A senhorita Margareth, não era feia, mas também não tinha a beleza e a graça de Eliza, talvez
isso fosse um dos motivos da inveja disfarçada e até incentivada pela mãe dela, esposa do tio de Eliza.
Ela era alta, o que não a tornava uma moça das mais delicadas, magra, rosto comum, longos cabelos
negros e finos , pele clara, com algumas marcas de espinhas que ela costumava disfarçar com bastante
pó-de-arroz. A prima Mag costumava andar sempre bem vestida, pois como vivia a procura de um bom
partido para se casar, achava que em qualquer lugar poderia surgir uma oportunidade. Além disso,
ela gostava de exibir seus lindos vestidos a Eliza, julgava que poderia lhe causar inveja, mas Eliza não
a tinha esse sentimento.. Ela não precisava disso, pois, lindos vestidos Eliza também possuía,
foram presenteados pelo velho conde e ela fazia questão de nem usa-los.

A rivalidade, a inveja disfarçada que a prima Mag sentia por Eliza, derivava da sua beleza e
também do fato de que no passado Eliza foi a prima rica aristocrata, antes de Lorde Thomas Eglington
falecer atolado em dívidas de jogo. Apesar disso, Eliza não possuía inveja dos vestidos e nem da
situação financeira da prima Mag e apesar de ser relativamente esperta, nem ao menos percebia o
sentimento de inveja que sua prima Mag nutria em relação a ela. A prima Mag tinha inveja da sua
beleza natural que despertava o interesse nos homens, da sua graça, do seu jeito espontâneo e do seu
carisma que conquistava a todos que se aproximavam dela.

O fato de trazer livros de romances escondidos para Eliza ler e com isso animar a sua vida de
reclusão em Berkshire, fez com que Mag conquistasse a confiança e estima dela ainda mais. Eliza
julgava que a prima fazia aquilo como um ato de amizade, cumplicidade e afeição que mantinha por
ela. Porém, na verdade Margareth fazia aquilo influenciada por sua mãe, Lady Constância, que
incentivava a competição entre as duas primas. Lady Constância também julgava que esse tipo de livro
causava sonhos bobos na cabeça das moças, eram indecentes e podiam até ajudar a acabar com a
reputação de uma senhorita casadoira. Então assim, além dela fazer de proposito contra a filha da
esnobe Lady Matilda, ainda era uma oportunidade de ter uma concorrente a menos na sociedade a
procura de casamento com bons partidos, principalmente agora que não existia mais o compromisso
com o velho conde de Ashwell.

— Prima Mag, vamos da uma volta no jardim? O dia está tão bonito! Podemos também se estender
até o pomar, sentar embaixo das árvores, comer umas frutas da estação, enquanto conversamos. —
Eliza falava alegremente, enquanto se preparava para pegar o chapéu e sombrinha.

— Vamos sim prima! Antes deixei eu lhe entregar mais este livro que eu trouxe para você escondido
da tia Matilda!

A prima Margareth falava com um brilho matreiro, no olhar e voz fingida, coisa que Eliza não
percebia, pois, nunca esperaria um sentimento
assim por parte da sua única e querida prima.

Os olhos de Eliza, brilharam ao ver o livro nas mãos da prima. Ao ler o título já percebeu que era
mais um daqueles romances que ela tanto adorava e que sua mãe proibia, mais uma história de amor
com mocinhos e mocinhas.

— Ai prima Mag! Obrigada! irei esconder aqui embaixo do colchão para mamãe não perceber!
Porém, ultimamente ela anda tão preocupada com a nossa situação financeira, que tem esquecido de
inspecionar meu quarto a procura de livros indecentes, como ela os chamam! — Eliza falou confiante
enquanto escondia o livro embaixo do seu colchão.

— Agora vamos passear no jardim e pomar! Vem conosco Teddy! — Ela falou alegre ao cãozinho .

— Au! Au! Au!

O Teddy respondeu animado, abanando o rabinho, porém, nem sempre ele era cordial com a prima
Magareth, que por sua vez também não simpatizava com ele.

— Ai prima Eliza! Você tem sempre que levar esse yorshire, cheio de pelos para aonde vai? — ela
perguntou de forma antipática.

— Claro prima Mag! O Teddy é meu fiel companheiro, meu amiguinho inseparável! Ele e os livros
que você me traz, animam a minha vida aqui nesse mundo de reclusão, onde fui obrigada pelo Conde a
viver e que ainda continuo mesmo após a morte dele! Eu ainda não sei o que mamãe está planejando
para nós duas, por isso continuamos aqui. Agora vamos!

Eliza chamou e saiu a frente, segurando as pesadas saias do seu vestido de musselina cor de rosa e
Teddy, como sempre correndo ao redor dela.

O passeio foi divertido e agradável, passearam pelos jardins com as sombrinhas abertas para não
tomarem o sol forte da manhã. Eliza nem lembrava desse detalhe, ideia da prima Margareth que era
muito vaidosa e fútil. Ela logo lembrou que deveriam abrir as sombrinhas para não bronzearem a pele,
pois senhoritas aristocratas da sociedade não tinham a pele queimada do sol igual a uma criada ou
uma camponesa e que os rapazes observavam isso. Por fim encerraram o passeio no pomar e embaixo
da sombra de uma grande árvore, se deliciando com gostosos morangos que tinham colhido de um
morangueiro próximo e ficaram a trocar confidências sobre planos, sonhos, rapazes.

Eliza sempre era sincera em suas confidências ao conversar com a prima Margareth, pois, a
achava confiável. Porém, a prima Margareth nem sempre era tão sincera e confiável como Eliza
julgava e muitas das vezes usava da esperteza para conseguir arrancar alguma informação para a sua
mãe, que Lady Matilda não daria. A senhorita Margareth Callow, além de falsa e invejosa, era deveras
esperta para época, até já sabia mais sobre sexo e homens do que era permitido a uma jovem senhorita
casadoira da Inglaterra vitoriana de 1850, graças ao seu hábito de ouvir a conversa das criadas atrás
das portas. Detalhes esses, que ela já tinha feito questão de contar para Eliza, apenas para a assustar
e criar ainda mais asco pelo seu casamento com o velho Conde de Aswhell, que agora não existia
mais.

A jovem Eliza, de início ficava corada e enojada ao ouvir os detalhes relatados pela prima
Margareth, sobre como era a vida conjugal entre marido e mulher, como seria a noite de núpcias dela
com o velho conde. Após a morte do conde e cessada essa obrigação, ainda ficava corada ao lembrar
tudo que a prima Margareth contou, mas aliviada por não precisar mais ser esposa do velho conde. A
sua mãe Lady Matilda, moralista e cheia de pudores como era, nem imaginava que Eliza já sabia
desses detalhes sobre sexo e vida conjugal, fornecidos pela senhorita Margareth, como Lady Matilda a
chamada.
— Sabe prima Eliza, ouvi o meu pai falando com a mamãe, que existem rumores de que a irmã do
conde de Ashwell, herdeira oficial e proprietária de Berkshire, deve chegar na próxima semana para
tomar posse de tudo que o conde deixou para ela...O que a tia Matilda acha disso? Ah! o papai
também disse que caso vocês fossem despejadas daqui, levaria vocês duas para ocuparem um quarto
em nossa residência em Londres, até as coisas se organizarem ou algum cavalheiro lhe propor
casamento!

A senhorita Margareth tentava demonstrar solidariedade, mas, no fundo estava sendo falsa e
achando bom a ruína financeira de Eliza. Já que a algumas anos ela passou a ser a prima mais rica,
antes essa era a posição de Eliza em relação a ela.

Eliza sentada junto com ela e Teddy, brincando próximo a elas, deu de ombros:

— Tudo bem prima, não há muito o que fazer, todos sabem que apesar da nossa aparência, roupas,
casa, criados, estamos falidos! A mamãe tenta manter a pose, porém, tudo era sustentado pelo velho
conde de Ashwell, devido ao acordo e que agora que ele faleceu ,estamos com o futuro incerto. Eu fico
muito feliz do meu tio ser tão caridoso conosco e estar disposto a nos receber em sua residência em
caso de necessidade. Acho até que tem um lado bom, nos duas ficaremos mais próximas uma da outra
e no final das contas não precisei mais casa com o Conde. Eu seria uma condessa jovem e rica, porém,
muito infeliz, casada sem amor com um velho sexagenário, anti-social e avarento, uma verdadeira
penitência.

Eliza falava com uma maturidade que nem parecia ser aquela moça travessa que vivia a ler
escondido ou brincar com Teddy nos campos e jardim, também nem parecia ser uma jovem de apenas
quinze anos e nove meses de idade. Aos poucos as situações que tinha sido obrigada a passar, desde a
morte do seu pai Lorde Thomas, estava lhe transformando.

No dia seguinte a senhorita Margareth retornou a Londres, seu pai, tio de Eliza e irmão de Lady
Matilda, mandou uma carruagem com um criado vir busca-la como de costume. Para Eliza foi uma
visita agradável, que a deixou feliz, não apenas pelo novo livro que ela lhe trouxe escondido, gostava
de conversa com ela, pois, além de ser uma moça quase da sua idade, a estimava muito como prima.
Para a prima Margareth a visita foi útil, trouxe mais um livro para encher a cabeça de Eliza de
sonhos, de ideias de um dia fugir com um cavalheiro e viverem juntos, um grande amor, o que seria
um sério desvio de conduta para a época. Além disso, ainda fez fofoca sobre a chegada da nova
proprietária de Berkshire, tudo isso incentivada por sua mãe Lady Constância, que no passado possuía
muita inveja da situação financeira de Lady Matilda. Além de desde cedo incentivou a competição e
falsidade entre as primas, pois, também tinha inveja da beleza, elegância de Eliza, o que faltava em
sua filha Margareth.
Capítulo 3
— Elizabeth, a onde a senhorita pensa que vai? — Lady Matilda
perguntou com seu jeito arrogante e autoritário.

Eliza não esperava encontrar a sua mãe sentada no sofá da sala principal, que dava acesso a porta
de saída da casa, logo no meio da manhã. Ela achou que poderia escapulir de mansinho sem ninguém
perceber, nem mesmo a Molly. A jovem hesitou um pouco ao responder.

— Mamãe...é que está uma manhã tão linda, eu pretendia ir até a beira do riacho brincar com o
Teddy e tomar um pouco de sol... — a jovem falava com um fio de voz, com medo da resposta da mãe.

— Elizabeth, não fica bem você passear sozinha por aí, longe dos arredores da casa! Apesar de não
ter rapazes aqui próximo, o que pensarão de você, caso saibam? Agora que o Conde faleceu e você
não está mais comprometida, precisa zelar ainda mais por sua reputação, para encontrar um
cavalheiro que lhe proponha casamento!

Lady Matilda falava em tom de reprovação, mas a preocupação financeira estava fazendo com
que ela não fosse mais tão enérgica como antes.

— Só um pouco mamãe! Ainda estamos na metade da manhã, prometo que brincarei um pouco
com o Teddy na beira do riacho e retornarei para casa antes do almoço! Afinal quem iria me ver?
Atualmente apenas quem nos visita é a prima Mag e eu não sou mais comprometida com o Conde para
ter que obedecer a ele! — Eliza insistia fazendo beicinho e batendo o pé.

— Falando em sua prima Margareth, ela deve ter lhe contado também que a irmã do Conde,
segundo o que meu irmão ouviu no mercado em Londres, está pra chegar a qualquer momento e
provavelmente ela virá aqui tratar conosco!

— Au! Au! Au!

— Calado! Cão intrometido! Então, esse é mais um motivo porque não quero que você ande
sozinha por aí. Afinal o que ela poderá pensar de você? Até mesmo espalhar que a ex-prometida do
conde anda por aí sozinha, pelos campos e riachos de Berkshire! Isso seria péssimo para a sua
reputação como senhorita!

Lady Matilda falava num tom moderado, mas como sempre, focada em casamento, sociedade,
aparência e reputação.

— Sim mamãe, eu sei, mas irei passear só um pouquinho junto com Teddy, prometo que se eu
avistar ao longe qualquer pessoa estranha, me esconderei e correrei para casa! Vem Teddy! — a
jovem, que as vezes era bem teimosa, concluiu.

— Au! Au! Au! — o cãozinho yorkshire, como de costume, saiu correndo ao redor das saias de sua
dona.

Em tempos normais, Lady Matilda jamais permitiria que Eliza desse a última palavra e que fosse
ao riacho, sozinha, levando consigo apenas Teddy. Ela teria que no mínimo levar consigo a criada
Mary, a sua querida Molly, mas a sua mãe andava preocupada demais com a situação financeira das
duas. Além da possível chegada da herdeira do velho Conde de Ashwell, proprietária oficial também
de Berkshire.

O riacho, apesar de não puder ser visto da janela do andar superior da casa, não ficava tão longe,
era uma sequência, casa, jardim, pomar, riacho e mais um pouco era a divisa com Ashwell. Então, às
vezes, Eliza se aventurava por ali escondida, levando consigo apenas Teddy e um bom livro para ler
sossegada. A criada Mary sabia dessa sua travessura, mas guardava segredo, já Lady Matilda nem
sequer suspeitava disso.

— Teddy, seu cãozinho teimoso, irei sentar aqui embaixo desta árvore para ler meu livro
sossegada! Você vá brincar, mas não se afaste de mim e tenha cuidado para não cair no riacho! —
Eliza ordenou séria.

— Au! au! Au!

Teddy latiu, abanando o rabinho em sinal de confirmação e ficou pelos arredores brincando com a
sua bola de lã. Enquanto, isso a sua dona ficou a ler embaixo da árvore, mais um romance.

O clima estava agradável, a leitura estava maravilhosa, Eliza gostava de ler, ouvindo aquele
barulhinho de água corrente vindo do riacho. Porém, de repente ela ouviu Teddy latir bravo e olhar
em direção contrária. Então, ela começou também a ouvir barulho de cascos de cavalo que se
aproximavam devagar.

Antes que Eliza tivesse a ideia de colocar Teddy nos braços e correr, foi surpreendida pela figura
de um belo cavalheiro, montado em um garboso cavalo castanho, a poucos metros dela e a observa-la.

— Vem Teddy! Vamos embora!

Eliza segurou rapidamente, o cãozinho contra o peito com uma das mãos, com a outra suspendeu
as saias do seu longo vestido e saiu correndo assustada, fugindo do belo cavalheiro.

— Espere mademoiselle! Espere! Eu não irei lhe fazer mal! — gritou o homem, enquanto descia do
cavalo e corria ao alcance da jovem assustada.

A jovem corria desesperadamente, segurando as saias do seu longo vestido de musselina verde-
água e com a outra mão carregava Teddy quietinho junto ao seu peito, mas ela acabou
desequilibrando e caindo. Ela estava tão assustada, com a estranha presença masculina, coisa que não
era comum por ali, além do mais um francês, que levantou rápido e
tentou correr novamente, mas acabou tropeçando, voltando a cair .

— Ai!!!!! Meu tornozelo! — a jovem gritou.

Então, foi quando o belo cavalheiro a alcançou, ele se aproximou e se inclinou sobre ela, que
estava deitada de mau-jeito, ainda caída na relva. Ele segurou firme as suas canelas e tentou
suspender as saias do seu longo vestido, até a altura do joelho. Contudo, essa atitude dele, a assustou
ainda mais, que deitada de frente para ele, começou a se debater, o chutando com as pernas e tentando
arranhar seu rosto com as unhas. Teddy a essa altura também tinha caído rolando pela relva e latia
tentando defender a sua dona, mas ele era apenas um cãozinho de madame, não causava medo em um
homem.

— Largue-me! Seu francês insolente! — Eliza xingava brava, enquanto esperneava e tentava
arranhar o rosto dele com as unhas.

— Calma sua louca, parece uma selvagem! Eu não vou lhe fazer mal, não precisa fugir! — Lorde
Phillip falava bravo, enquanto tentava contê-la.

— Largue-me! Agora!

A jovem, falava brava, enquanto esperneava, o calor do momento, lhe deu uma coragem maior que
a habitual.

— Ah! sou um médico! Estava apenas tentando ver se não havia machucado o tornozelo com a
queda, já que gritou! Porém, não era a minha intenção ver tanto das suas roupas íntimas, a
mademoiselle esperneou tanto que acabou mostrando mais do que deveria...

Ele falava de forma enérgica e debochada, com um forte sotaque francês, enquanto segurava os
pulsos dela e se defendia das suas unhas.

Ao ouvir aquilo Eliza parou um pouco de espernear. Após o comentário, percebeu que o seu vestido
e anáguas, devido a queda e a forma que ela estava esperneando, se encontravam levantados até a
altura de sua cintura. O que revelou parte de sua intimidade e suas peças mais íntimas, o que a deixou
bastante envergonhada e ainda mais brava.

— Eu tenho vontade de lhe arrancar os olhos, pelo o que viu, seu francês insolente! — Eliza falou
brava, mas parou de espernear, ao perceber o estado das suas roupas.
Eliza além de ter ficado muito constrangida e corada, ficou na dúvida se aquele cavalheiro atrevido
do sotaque francês era mesmo um médico ou não, se poderia acreditar e confiar nele. Com isso ela
parou de lutar por alguns segundos e assim o homem largou os seus braços, ela tentou se levantar e se
recompor. Contudo, Eliza ainda estava assustada, brava e em dúvida se podia confiar no que ele dizia
ou não. Por isso, ela aproveitou esse momento em que ele a largou um pouco, segurou rapidamente,
Teddy nos braços e correu desesperadamente em direção ao caminho da casa. Deixando para trás o
belo cavalheiro e caído na relva o livro que ela estava lendo antes dele surgir inesperadamente.

Lorde Phillip ficou a observa-la correr e desaparecer da sua vista, poderia a ter alcançado
facilmente. Porém, preferiu não assusta-la ainda mais, percebeu que aquele encontro inesperado
acabou causando um incidente um tanto constrangedor. Então, ele foi em direção ao seu cavalo,
pensando quem seria aquela bela e jovem senhorita, o que faria ali sozinha por aquelas bandas. No
pequeno trajeto em direção ao cavalo, achou caído o livro que Eliza estava lendo antes dele aparecer,
examinou o título, sorriu ao perceber que era um romance para moças e o guardou consigo.

— Quem sabe não tenho a oportunidade de devolve-lo pessoalmente — ele pensou, com um sorriso
debochado nos lábios.

Então, ele montou seu elegante cavalo castanho e saiu dos limites de Berkshire, galopando veloz,
pensando na bela jovem da beira do riacho, até que sumiu de vista.

Quando Eliza percebeu que já estava próxima aos jardins de Berkshire, parou um pouco para
respirar e se recompor, antes de entrar em casa. Ela não queria contar a ninguém o susto que havia
passado e sobre aquela presença estranha, principalmente a sua mãe. Lady Matilda provavelmente
iria brigar com ela e a proibiria para sempre de ir ao riacho sem levar algum criado consigo ou até
mesmo de ir ao jardim.

— Eliza! O que aconteceu? Por que você vem assim tão ofegante e assustada? E o seu vestido?
Parece até que estava rolando na relva, o que você aprontou
menina?

A criada Mary, que a conhecia como a palma da mão, percebeu que tinha acontecido algo de
errado, porém, a jovem não confessou a verdade:

— Não foi nada Molly! Eu me assustei com um animal silvestre na beira do riacho, peguei o Teddy
no colo e vim correndo para casa! Por favor não conte nada a mamãe! — a jovem, implorou ainda
ofegante.

— Tudo bem, não irei contar, mas descanse um pouco antes de entrar em casa, do contrário sua
mãe irá perceber! Esta bola de pelos, não fez nada para lhe defender? Esse Teddy é um enxerido,
alcoviteiro e covarde!

A criada falou olhando para o cãozinho que estava quieto, aninhado nos braços da dona, falava
num tom rabugento, mas carinhoso ao modo dela, quando se tratava de Eliza.

Ao entrar em casa tentando disfarçar o susto, encontrou Lady Matilda, sentada na sala principal,
como se estivesse lhe aguardando.

— Elizabeth, ainda bem que você já retornou! Um criado de Ashwell, veio nos trazer uma
mensagem: A herdeira do Conde chegou, na verdade, me parece que mãe e filho, e vem tratar comigo
hoje, ao final da tarde!
— A herdeira do Conde? Já se encontra em Ashwell? — a jovem perguntou com olhos
arregalados.

— Sim! Você e eu devemos nos apresentar elegantes, para que tenham uma boa impressão nossa!
Pois, não consigo imaginar qual a proposta que eles podem nos fazer! Além de não termos dinheiro
para lhe pagar um aluguel! — Lady Matilda falava com uma expressão de preocupação no rosto.

— Esta bem mamãe, estou sem fome e comerei algo no quarto. Contudo, não se preocupe, no final
da tarde, estarei vestida de acordo para os receber, como a senhora deseja! Por favor, não se
preocupe tanto antes de ouvir o que eles têm a lhe propor! — Eliza tentou disfarçar a aflição e fingir
maturidade para tentar acalmar a sua mãe.

Ao chegar em seu quarto, Eliza trancou a porta, deitou na cama e a sua mente foi tomada por um
turbilhão de emoções. Ela sentia uma mistura de raiva pelo atrevimento, susto e antipatia por aquele
cavalheiro atrevido que surgiu de forma tão inesperada e acabou lhe vendo de forma tão íntima.

— Ai Teddy! Que vergonha e que raiva daquele francês insolente! Ele me viu quase sem roupa! — a
jovem reclamava, enquanto sentada na cama, alisava a saia do seu vestido.

Após algum tempo, já passado o susto, ela pensava com os seus botões quem seria aquele
cavalheiro petulante, com sotaque francês. Ela sabia que não era comum, com exceção dos criados,
homens em Berkshire ou em seus limites, ainda mais ele parecia ser um francês. Até o velho Conde de
Ashwell já estava morto e mesmo quando ainda era vivo, não tinha o hábito de receber visitas, já que
era avarento e pouco sociável. Apesar de ter sido tudo muito rápido, assustador e constrangedor, deu
para perceber que era um belo cavalheiro, atrevido e debochado, o que lhe causou raiva e antipatia.
Todavia, ainda assim era belo...

— Então, quem seria ele? Ele me disse que era um médico, pelo menos essa foi a justificativa dada,
ao tentar levantar as saias do meu vestido: Estava tentando verificar se eu havia torcido o tornozelo
ao cair... — a jovem refletia em silêncio, deitada em seu quarto.

Contudo, o incidente acabou gerando um constrangimento, pois, ela ficou tão assustada, se
debatendo, que acabou lhe revelando boa parte da roupa íntima que usava por baixo do vestido, algo
constrangedor e grave, imagina se a sua mãe soubesse disso. Esse foi para ela o momento mais
assustador, pois a muito tempo já sabia, contado pela prima Mag, o que acontecia entre um homem e
uma mulher e que os bebês não eram trazidos pela cegonha. Entretanto, se ele não era um mau-caráter
que inventou isso apenas para se aproveitar dela, olhar embaixo das suas saias ou até mesmo violenta-
la, talvez ele fosse mesmo algum médico que estivesse de passagem e parou para da água ao seu
cavalo no riacho. Contudo, mesmo que fosse um médico, isso não diminuía a forma grosseira que ele
usou ao tentar examina-la, a antipatia e raiva que estava sentindo por a ter assustado tanto e pelo
constrangimento que a fez passar, por tudo que ele viu.

Assim perdida em seus pensamentos, após almoçar no quarto Eliza deitou um pouco e acabou
cochilando, pois, ainda era inicio da tarde. Ela acordou uma hora depois com Teddy travesso
lambendo o seu rosto.
— Teddy! Ainda bem que você me acordou! Iremos receber visitas ao final da tarde e mamãe
deseja que eu me apresente impecável! Não deseja que passemos a impressão de pobres coitadas
falidas, segundo ela. — Eliza falava preocupada e começando a providenciar sua arrumação.

Eliza possuía vários belos vestidos, apesar de falidas, presentes do velho Conde, como forma de a
agradar. Ela por sua vez, quase não os usava, pois, além de não se agradar de quem os presenteava.
Além de ver necessidade de usar tantos vestidos de rendas, babados, enormes saias rodadas, naquela
reclusão que ela vivia na casa de campo em Berkshire. Todavia, como teriam visitas ilustres ela
resolveu se vestir impecável, mas de acordo com a ocasião, para agradar a sua mãe e também para
não levar uma bronca quando as visitas fossem embora.

— Teddy! O que você acha deste vestido?

— Au! Au! Au!

— Ah! Teddy! Afinal isso é um sim ou não? Sinto que precisava ter tido uma irmã! Você não entende
nada de roupas não é mesmo amiguinho? — a jovem conversava com o cãozinho, como se ele fosse
gente.

Eliza se olhou no espelho do quarto e gostou do que viu. Ela fez um penteado prendendo parte da
frente do cabelo com uma tiara de flores silvestres, que um criado havia colhido. Ela soltou o cabelo
para trás e os longos cachos castanhos caíram até a cintura. A sua pele de porcelana, não precisava
de maquiagem e segundo a sua mãe, maquiagem demais não ficava bem para uma senhorita. Ela optou
por usar apenas pó-de-arroz, blush para ficar com as bochechas ainda mais rosadas e um leve batom
cor-de-rosa nos lábios. A jovem escolheu um lindo vestido de cetim salmão, com um pequeno decote,
pois, Lady Matilda não aprovava grandes decotes, mangas bufantes até os cotovelos e detalhes em
renda. Na ocasião ela resolveu usar mais anáguas por baixo da saia do que de costume e apertar o
espartilho para afinar ainda mais a cintura. Tudo isso para deixa-la ainda mais bela e elegante.

De repente alguém bateu na porta do seu quarto.

— Pode entrar!

A jovem gritou com a voz um pouco alterada, pois, ainda não tinha se recuperado totalmente das
emoções da manhã. Além do mais o futuro e a permanência dela e da mãe naquela casa, estavam em
jogo.

Era a criada Mary:

— A sua mãe mandou você descer, as visitas acabaram de chegar! Ah! Minha menina... Como você
cresceu e está bela! Tão bonita assim, daqui a pouco encontrará um novo pretendente para se casar e
deixará sua Molly...

A criada falava com os olhos cheios de lágrimas, coisa rara, pois, não era do feitio dela expressar
esse tipo de emoção. Eliza a abraçou e a encheu de beijinhos pelo rosto, com seu jeito espontâneo de
sempre.

— Que bobagem Molly! Eu ainda não tenho nenhum pretendente! Ainda se tivesse, se um dia eu me
casar, não me separarei definitivamente de você! — ela falou com um jeitinho doce e a criada conteve
as lágrimas, pois, não gostava de demonstrar emoção.

— Agora, avise a mamãe que estou descendo em um minuto! Quanto a você Teddy, ficará aqui
trancado no quarto! Pois, temos visitas e você às vezes é um cãozinho muito travesso! Ah e em minha
ausência, nada de morder os meus sapatos, ouviu?

Eliza falou tentando parecer brava e apontando o dedo indicador para o Teddy, para assim ele lhe
obedecer.

— Au! Au!n — Teddy latiu cabisbaixo e abanou o rabinho em sinal de obediência.

Eliza desceu vagarosamente a grande escada estilo colonial que levava para o térreo da casa e
terminava na sala principal, porém, no breve percurso, já conseguiu ouviu uma voz masculina e
pensou:

— Estranho! Este sotaque? Ah... a irmã do Conde de Ashwell é inglesa, mas o filho ou esposo
devem ser franceses. — a jovem pensou enquanto descia as escadas.

De inicio achou que somente viria a irmã do Conde, mas como sua mãe lhe disse que
provavelmente ela tinha um filho, deve ter vindo com ele ou o esposo, afinal mulheres não andavam
sozinhas pelas estradas com facilidade.

Sentada em uma das poltronas da sala principal e de frente para a escada, Lady Matilda, viu a filha
descendo graciosamente as escadas e chegando até a sala. Antes mesmo das visitas que estavam
sentadas de costas, ela tentou encenar o papel de mãe carinhosa, dedicada, anunciando Eliza
solenemente.

— Senhora e senhores, quero lhes apresentar a minha única filha, a senhorita Elizabeth Eglington,
a prometida do falecido Conde de Ashwell, como vocês já devem saber!

Lady Matilda, apesar da apresentação solene, falou com uma simpatia forçada, que não era do seu
feitio.

Todos os presentes se levantaram dos assentos, em sinal de educação e respeito, virando-se em


direção a escada, para receber e contemplar a bela jovem que vinha descendo as escadas devagar,
anunciada pela mãe.

Uma senhora sexagenária, vestida com um elegante vestido azul-marinho, cabelos grisalhos,
gorducha e com uma expressão simpática no rosto, sorriu timidamente para Eliza, que prontamente
retribuiu. Porém, Eliza desequilibrou e quase tropeçou já bem próximo ao final da escada, ao perceber
que entre as visitas havia dois homens e reconhecer um deles como o petulante cavalheiro que ela
havia tido o desprazer de encontra-lo mais cedo na beira do riacho.

Eliza ficou muda ao olhar para ele, era um misto de surpresa, vergonha e raiva. Graças a
petulância e falta de jeito, ele tinha visto suas roupas íntimas por baixo das saias do seu vestido, as
suas faces ficaram coradas diante de todos. A sua mãe até estranhou, pois, apesar de quase não
aparecer rapazes pelas redondezas, ela era um moça espontânea, não era o tipo de moça que corava
apenas ao olhar para um homem estranho. Então, com a surpresa ela desequilibrou e quase tropeçou
da escada. O cavalheiro, foi ágil e gentil, bem diferente do primeiro encontro dos dois no riacho,
correu para ampara-la. Porém, falou baixinho ao seu ouvido, sem que os outros conseguisse ouvir.

— Mademoiselle sempre tropeçando... —Lorde Phillip, falou baixinho ao seu ouvido, com um
jeito galanteador e também debochado.

Eliza corou mais ainda de vergonha e raiva, mas não respondeu ao gracejo, tentou disfarçar e
apenas agradeceu com um gesto de cabeça. Ela caminhou em direção ao sofá, antes de sentar ao lado
de sua mãe, Lady Matilda que se encarregou de fazer as devidas apresentações.

— Eliza, este é Lorde Phillip Coulbert de Hereford, o novo Conde de Ashwell, ele é sobrinho do
falecido Conde. Esta é a sua mãe Lady Berta e este é o seu fiel amigo Lorde James Beauford Edgell,
que pertencente a uma das melhores famílias aristocratas inglesa!

Lady Matilda anunciou todos com toda pompa e educação. Apesar de falida, prezava muito pelas
aparências, sobrenomes e estava tentando manter a pose diante dos novos proprietários da região e
daquela casa.

Eliza pela primeira vez, olhou para Lorde Phillip, agora o novo Conde de Ashwell, com calma.
Apesar de o seu comportamento pela manhã lhe causar raiva e antipatia. Ela tinha que admitir que
apesar de insolente era um belo cavalheiro. Agora ao olhar com calma, ela ficou admirada com a sua
beleza.

O Conde Phillip era um homem alto, bonito, pele morena clara, rosto com uma leve barba bem
aparada, cabelos negros bem cortados, olhos verdes penetrantes. Além de um corpo musculoso, o que
lhe dava mais ainda uma aparência máscula, viril.

Apesar da antipatia e vergonha que sentia do cavalheiro do riacho. Ela sentiu algo estranho ao
seus olhares se cruzarem pela primeira vez ali naquela sala, uma mistura de frio na barriga, antipatia,
constrangimento e admiração pela sua beleza tão viril, algo que ela não estava acostumada a ver.
Contudo, sentiu uma certa raiva ao sentir ele tomar a sua mão, durante a apresentação formal, leva-la
até os lábios e beija-la, olhando fixo em seus olhos. Ele se comportou mais uma vez de forma atrevida,
típico modo francês, de certo ele estava tentando constrange-la ao agir assim, devido ao incidente da
manhã. A sua vontade era puxar bruscamente a mão, mas como explicaria a sua mãe e as visitas uma
atitude tão grosseira? Como explicaria o porquê de tanta antipatia e raiva? O porquê do seu
comportamento?
— Encantado, bela mademoiselle!

O Conde Phillip falou, ao se inclinar, num gesto de cavalheirismo e educação, bem diferente
daquele homem do riacho.

— Obrigada, senhor Conde!

Eliza respondeu tentando disfarçar a raiva que sentia dele. Além de está sem graça por todo o
constrangimento vivido e com receio que ele deixasse escapar que já se conheciam e como haviam se
conhecido.

Em seguida, Lorde James, o amigo do Conde Phillip, que estava um pouco mais afastado, a
cumprimentou também da mesma forma. Pelo jeito que ele a olhou e pegou também em sua mão, dava
para perceber que ele também havia se agradado de Eliza.

Então, todos voltaram a sentar novamente, igual antes de Eliza chegar a sala. Durante a conversa
formal, ela permaneceu calada, respondendo apenas com um tímido sorriso, pois, estava muito
desconcertada. Apesar de ser um moça espontânea para a época, ela não tinha o hábito de conversar
por muito tempo com visitas masculinas. Ainda mais aquele sendo o cavalheiro do riacho, que a
assustou tanto com aquela atitude que soo tão grosseira e mal intencionada. A sua mãe, Lady Matilda,
que era muito esperta, estava até estranhando o comportamento dela, mas não sabia do que suspeitar.

Então, a conversa, que estava praticamente no início, quando Eliza surgiu nas escadas, continuo
em tom formal e cheio de bajulação, por parte de Lady Matilda.

— Conde Phillip, sua mãe está de parabéns pela sua excelente educação! Vê-se logo que é um
cavalheiro, a forma como correu ao socorro de minha filha Elizabeth na escada!

— Obrigada, madame! Apenas gostaria de fazer um pequeno esclarecimento, Lady Berta, não é
minha mãe de sangue e sim de coração. Apesar dela já ter sido criada da minha mãe no passado, ela
me criou sozinha após a morte dela!

— Ah! Não me diga... — a mulher falou surpresa.

— Sim, madame! Então, eu dedico ela e também exijo das pessoas, todo o respeito como se fosse
minha mãe e não mais uma criada, como fora a muito tempos atrás.

O Conde Phillip, apesar de tentar ser simpático, falava de um jeito seguro e autoritário, além do
carregado sotaque francês.

Lady Matilda, preconceituosa e esnobe como era, arregalou os olhos por está recebendo com toda
pompa, elegância e usando a sua louça de porcelana chinesa para chá, uma criada fantasiada de Lady
e promovida por ironia do destino, ao posto de mãe de um rico Conde. O Conde Phillip, esperto,
forjado por anos de estudos em internato, faculdade de medicina em Paris, logo percebeu o
preconceito no olhar da viúva falida e esnobe. Então, ele reforçou mais ainda o respeito e a gratidão
que tinha por Lady Berta, que ele exigia que fosse chamada assim por todos, principalmente agora que
além de médico, era um Conde riquíssimo.

— A minha mãe, irmã do falecido Conde de Ashwell, com o qual eu não tive contato, foi deserdada
ao fugir de casa e se mudar para Paris com um homem que o meu avô não aprovava o casamento, pois
era um Lorde falido, jogador e alcoólatra!

— Lamento muito, Conde Phillip! — Lady Matilda falou de forma fingida, tentando bajular o
Conde.

— Contudo, ela pagou caro o preço de sua escolha, pois, meu pai não era
um homem responsável com a família. Por causa disso, apesar do preconceito
com o trabalho feminino, ela teve que trabalhar duro com um pequeno
comércio para me criar e economizou muito para que no futuro eu fosse
enviado para a faculdade de medicina e me formasse médico.

— Ah! O senhor Conde é médico? Uma profissão muito nobre e admirável! — falou Lady Matilda e
Eliza calada, ficou corada ao lembrar do incidente mais cedo no riacho.

—Sim madame, sou médico! Porém, meu pai faleceu quando eu tinha treze aos e minha mãe um
ano depois. Antes de falecer ela me deixou aos cuidados da nossa fiel criada Lady Berta, que me criou
como filho. Ela foi responsável, honesta, empregou de forma certa as economias que a minha mãe
deixou e cumpriu o desejo de minha mãe, me enviando para a faculdade de medicina. Então, a essas
duas mulheres, uma já falecida e outra aqui nesta sala eu devo tudo o que sou hoje e por isso tenho e
exijo tanto respeito com elas!

Lady Matilda era esperta e entendeu o recado, apesar de não gostar da ideia de receber com toda
pompa uma ex-criada. Lady Berta, apesar de bem vestida, ainda carregava o jeito humilde de criada.
Ela apenas sorriu para Lady Matilda, tentando ser amigável, essa por sua vez retribuiu com um
sorriso falso, tentando disfarçar o preconceito e a contrariedade.

Enfim a visita cessou, todos se despediram, após tomarem o chá das cinco e retornaram para
Ashwell. O Conde Phillip, ainda não tinha se decidido se estabeleceria residência no campo em
Ashwell ou se ocuparia a mansão do velho Conde em Londres. Afinal, agora ele era o herdeiro de tudo
que o conde deixou.

Durante a visita, a conversa girou em tom cortês e amigável, com exceção de Eliza que tentava
disfarçar a raiva e vergonha que sentia pelo novo Conde e ser simpática. Todavia, ela apenas falava
quando alguém lhe perguntava algo, o que não combinava com o seu jeito espontâneo no dia a dia. Ao
final da visita, não ficou claro, se o Conde cobraria um aluguel por Berkshire, se ele as deixariam
morando ali por caridade. Talvez por Eliza ter sido quase esposa do velho Conde e no passado a casa
ter pertencido ao pai dela Lorde Thomas Eglington. O Conde Phillip que também teve um pai viciado
em jogo e álcool, talvez tivesse ficado sensibilizado com a situação das duas mulheres.
Então a visita, que era para ser uma visita também de negócios, tomou outro rumo que não ficou
muito claro para Lady Matilda. Contudo, uma coisa ficou bem clara para a esperta e experiente
senhora, que pela forma que olhavam, os dois cavalheiros tinham se agradado de sua filha Elizabeth.
Aquilo, era algo que lhe animava, já que os dois eram solteiros, ricos. O Conde mais rico ainda, pois,
era o único herdeiro, além do título de nobreza.

Quanto a Eliza, sua mãe estranhou o seu comportamento. Apesar de ter pouco contato com
cavalheiros, exceto alguns criados homens que tinham na casa e na região, ela não costumava
demonstrar tanta timidez e embaraço diante de um homem. Ela achou o comportamento da filha
estranho, hora parecia esta incomodada, chateada, hora envergonhada, tímida. Além disso eram dois
homens jovens, solteiros, de boa família principalmente Lorde James, já o Conde era um partido ainda
melhor e por isso Eliza não poderia ter perdido a oportunidade de fazer um certo charme. Apesar do
passado dos pais dele em Paris, mas que ninguém recordava mais em Londres, ele tinha herdado um
titulo de nobreza e toda fortuna do velho Conde. Então, agora era não apenas médico, mais também
um Conde e um homem riquíssimo. Apesar de Lorde James também ser filho de uma rica família
aristocrata, os pais ainda eram vivos, tinha outros irmãos homens com quem dividir a fortuna, ao
contrário do Conde que tudo pertencia somente a ele.

Lady Matilda nem imaginava o porquê de Eliza está tão sem graça. O quanto ela estava tentando
disfarçar a antipatia e constrangimento que o novo Conde lhe causava, durante todo o tempo que
durou a visita. A jovem achou sim os dois cavalheiros bonitos, em especial o Conde Phillip. Porém, a
atitude atrevida dele e grosseira ao tentar levantar suas saias na beira do riacho, tendo exposto toda a
sua roupa íntima a deixou assustada, gerando antipatia e raiva em relação a ele. Contudo, devido a
rígida moral, ela não podia confidenciar a sua mãe o que havia acontecido, mesmo ele alegando que
era um médico. Segundo ele o motivo foi por uma boa causa e ainda acusou ela como culpada por se
exceder e mostrar demais ao espernear. Afinal, ela era uma senhorita e ele era antes de médico era um
homem e não estavam em seu consultório ou na presença de mais alguém.

— Mamãe, agora que todos já se foram, vou para o meu quarto. Peça a Molly para me levar um
copo de leite quente, pois, não desejo jantar. — Eliza falou tentando disfarçar o que estava sentindo e
que queria ficar sozinha.

— Elizabeth, você está doente? Está se sentido mal? Não vá adoecer, não podemos gastar com
médicos agora, se estiver doente a culpa é sua! Você e essa sua mania de passear ao ar livre a toda
hora!

Lady Matilda falou irritada, mas, ao mesmo tempo desconfiada do comportamento da filha, na
maioria das vezes era espontânea, espevitada, alegre.

— Não mamãe, estou apenas indisposta. Hoje foi um dia cansativo para mim. Fui ao riacho,
recebemos estranhos em casa, enfim...

A jovem falava tentando disfarçar, enquanto isso a criada Mary, que recolhia a louça do chá, a
olhava desconfiada. Ela tinha uma leve noção do que realmente estava se passando com Eliza.

Quando Eliza chegou ao seu quarto, Teddy estava jantando em seu pratinho no canto do quarto.
Ela retirou seus trajes refinados, colocados especialmente para receber as ilustres visitas e pôs a sua
camisola. Ela não pretendia mais sair do quarto, apesar de que ainda estava cedo para dormir, ainda
era dezenove horas da noite. Agora que já era primavera, podia usar uma camisola mais leve, pois, o
inverno havia acabado. Ao vestir a sua longa camisola de cetim, se olhou no espelho e contemplou seu
corpo de mulher. Apesar de as vezes ainda ter algumas atitudes de menina, a natureza já havia
preparado seu corpo para o amor. Afinal, daqui a dois meses ela faria dezesseis anos, a idade em que
ela se casaria com o velho Conde, se ele não tivesse falecido.

Caso o velho Conde não tivesse falecido, a aquela altura, já teria sido realizado um jantar oficial
de noivado apenas para os mais íntimos, levando em conta a avareza do conde e a falta de entusiasmo
dela. Então, eles já estaria com o casamento marcado para o dia em que completasse dezesseis anos,
como o Conde prometeu esperar, ao seu falecido pai, Lorde Thomas Eglington. Após a prima Mag ter
lhe contado detalhes, aprendidos sorrateiramente com as criadas, sobre sexo e o que acontecia entre
um homem e uma mulher. Eliza sentia náuseas só em pensar em ter que se entregar ao velho Conde de
Ashwell em sua noite de núpcias e em várias outras noites que seguiriam durante a sua vida de casada.
Ela rezou muito para que o seu aniversário nunca chegasse, procurava aproveitar ao máximo o tempo,
evitando pensar naquela data que um dia chegaria.

Todavia, a situação mudou, de prometida ao velho Conde e sofrendo com pesadelos ao pensar em
sua noite de núpcias com ele, ela passou a ser livre, se livrou daquele horrendo compromisso. Porém,
com um futuro incerto, conhecida como a ex prometida do velho Conde, filha única do falecido
aristocrata falido pelo jogo e morto pelo vício em álcool, vendida em troca de dívidas. Então, para
aumentar o festival de surpresas, hoje ela reconheceu o novo Conde de Ashwell, como o homem
atrevido que a assustou ao correr atrás dela e levantar as suas saias no meio do mato, com ela caída
na relva. Ela o achou um homem bonito, elegante, quando teve a oportunidade de olhar para ele com
calma, em sua sala de estar, na visita de cortesia. Porém, a má-impressão, antipatia e raiva em
relação a ele, ficou em sua mente. Foi assim que Eliza adormeceu em sua cama, com Teddy dormindo
em um cestinho no canto do quarto. Ela mergulhou em um sono agitado, com mil coisas perturbando a
sua mente.

A jovem Eliza, adormeceu, sem imaginar que também mexeu com as emoções de Lorde Phillip.
Agora Conde de Ashwell, só que de forma bem diferente das dela. Todavia, com seus vinte e sete anos,
ele já era um homem experiente, médico formado, sempre morou em Paris, acostumado com a vida e
as mulheres da cidade luz. Ele tinha experiência o suficiente para perceber que Eliza estava se
sentindo incomodada com a presença dele. Ela parecia nutrir uma certa antipatia por ele e também
que estava tímida, assustada, provavelmente com receio que ele contasse para Lady Matilda que já a
conhecia do riacho.

O Conde Phillip sempre foi um homem seguro de si, se antes como médico formada, agora ainda
mais como o rico Conde de Ashwell. Então, se ele tinha se agradado de Eliza, não seria tolices de
moça que iria

Limpedi-lo de lhe fazer a corte, assim pensava ele com os seus botões. No caminho de volta, ela
ainda foi citada, enquanto o Conde Phillip, seu amigo Lorde James e Lady Berta, seguiam de
carruagem em direção a Ashwell.

— A mademoiselle Elizabeth é belíssima, o meu tio foi muito esperto, porém, sem coração! Ora!
Obrigar uma jovem tão linda, ainda desabrochando a se casar com ele já sexagenário, em troca de
dívidas de jogo feitas pelo falecido pai dela!

O Conde Phillip, já sabia de toda a história, pois chegou fácil até ele, já que sempre foi algo
comentada em tom de fofoca na sociedade londrina. Os criados de Ashwell confirmaram, mesmo antes
dele conhecer Eliza, pois, não precisavam mais temer o velho Conde. Então, ele fez aquele comentário
de forma descontraída, por julgar esta somente entre pessoas leais e amigas.

Lorde James, tentava disfarçar que também havia se agradado de Eliza, apesar de não passar pela
sua cabeça propor casamento a ela ou a ninguém naquele momento. Ele adorava a vida de farras e
mulheres fáceis, porém não deixava de colher uma bela flor, quando a achava em seu caminho e
surgia uma oportunidade. Apesar de aparentemente fingir concordar com o que seu amigo, agora
Conde Phillip de Aswhell, comentou.

Lady Berta que ainda conservava muito da sua humildade de criada, mesmo já tendo se passado
tantos anos da morte dos pais do Conde Phillip, ouvia a conversa em silêncio. Porém, como se
agradou de Eliza e ao ouvir os comentários resolveu fazer um alerta.

— Ouça Phillip! A mademoiselle Elizabeth é uma moça para casar! Apesar de saber o quanto você
foi um bom aluno na faculdade, também sei das suas farras com mulheres durante o curso e após
formado! Então, não desvie essa jovem do bom caminho! — advertiu séria, usando a autoridade e o
respeito que ele tinha por ela.

— Eu sei minha tia, era assim que ela a chamava, eu sei reconhecer quando uma mulher é para
casar ou é para se divertir!

Ele falou para tranquilizar Lady Berta em relação a surgirem futuros problemas de honra e ela
ficou corada com a resposta, sobre mulheres para se divertir.

— Além disso, lembre-se: A mademoiselle Elizabeth, foi a prometida do seu tio! Porém, ela não faz
parte da sua herança, portanto você não tem direitos sobre ela! Então, se ela despertou seu interesse,
você terá que lhe fazer a corte com respeito, dentro das regras e aprovação da mãe dela! — Lady
Berta falou séria.

Assim era o período vitoriano, a moral, o pudor, a reputação, das mulheres e das senhoritas
casadoiras, reinavam. Além do mais Lady Berta sabia que apesar de ter sido um excelente aluno na
faculdade de medicina, o Conde Phillip, era sedutor e mulherengo desde os tempos da faculdade. O
fato, da sua beleza e diploma, dificilmente uma mulher lhe dizia um não, isso o deixou mal
acostumado.

Ao chegarem em Ashwell, Lady Berta jantou com todos, conversou com alguns criados sobre o
funcionamento da casa, coisa que ela era bastante humilde e bondosa em lidar, após isso se recolheu
em seu quarto. Os criados do velho Conde transferiram rapidamente para eles, na qualidade de novo
herdeiro e sua mãe adotiva, todo respeito que antes era dispensado ao velho conde. Além da simpatia
que o Conde anterior não possuía. Agora tudo pertencia ao Conde Phillip, Conde de Ashwell, e ele
exigia respeito com a sua mãe adotiva, como se fosse sua verdadeira mãe. Apesar de ser uma ex-
criada da sua mãe e que o criou, a quem ele chamava carinhosamente de tia Berta.

O seu estimado amigo Lorde James também pernoitaria em Ashwell naquela noite. Apesar dos pais
serem ricos aristocratas e possuir uma bela mansão em Londres, ele estava fazendo as vezes de
anfitriã da cidade e das redondezas ao amigo que não conhecia Londres e a região. O novo Conde
ainda não estava habituado a capital inglesa, mas em pouco tempo se habituaria, pois era esperto,
experiente, médico formado e agora um nobre rico. Inclusive, já estava até sendo tema das conversas
dos homens de negócios e das mães das senhoritas em idade de ser casar na sociedade londrina.

Apesar da diferença inicial de classe social, eles eram amigos de longa data e se conheceram
durante a faculdade em Paris. Lorde James filho de uma rica família londrina, cursava direito e o
Conde Phillip cursando medicina. Lorde James não era um bom aluno, dava preferencia as farras,
tavernas e mulheres. Enquanto que o Conde o acompanhava com moderação, pois, sabia dividir as
responsabilidades e não possuía uma rica mesada igual ao amigo aristocrata rico.

Então, foi assim que o Conde Phillip se formou médico com esmero e após algum tempo se mudou
para Londres para assumir a herança deixada por um tio Conde, que nem sequer sabia que existia.
Paralelo a isso Lorde Thomas retornou a Londres, de onde havia saído com a desculpa de cursar
direito em Paris. Porém, diferente do Conde Phillip, sem concluir a faculdade e com a desculpa de que
preferia ajudar o pai nos negócios. Segundo o próprio, não nasceu para estudar e sim para os
negócios, afinal ele já era um herdeiro de família rica. Quando na verdade a sua vocação, era para a
boemia, mulheres, falsidade, mau-caratismo e inveja, algo que ele sabia disfarçar muito bem. Contudo,
se antes Lorde James sentia uma leve inveja de Lorde Phillip, devido a sua inteligência, ao seu sucesso
com as mulheres. Agora esse inveja aumentaria ainda mais ao ver ele se tornar um Conde rico, bem
mais rico que ele, porém, Lorde James sabia disfarçar.

O Conde Phillip e Lorde James, ainda habituados com os hábitos noturnos de Paris, a cidade luz,
pediu a uma criada para levar aos dois doses de wisky escocês. Enquanto conversavam um pouco na
rica sala de estar, Ashwell era maior, mais luxuosa do que Berkshire.

— Sabe, amigo James, confesso que a mademoiselle Elizabeth me deixou encantado, é uma bela
moça, estou pensando seriamente encerrar essa minha vida de solteiro, boemia, mulheres fáceis e
pedir a mãe dela em casamento...

Ele falava sério, em tom de confidencia ao amigo que tanto confiava. O seu olhar estava sonhador,
parecia que o cupido havia flechado o seu coração que era difícil de se apaixonar.Ele não era
exatamente um homem meigo, sensível e romântico.

Os olhos de Lorde James brilharam numa mistura de ciúmes e inveja, pois ele também tinha se
agradado da jovem Eliza. Porém, não tinha as mesmas sérias intenções com ela, mas isso para ele não
era um problema. Afinal, não seria a primeira vez que ele seduziria e manchava a honra de donzelas
inocentes e órfãs, apenas para satisfazer o seu ego e paixões passageiras. Ele sabia que os Eglingtons
tiveram nome e dinheiro no passado. Porém, agora, apesar da pose de Lady Matilda, não passava de
uma viúva falida e uma filha órfã que quase fora vendida em troca de dívidas de jogo do falecido pai.

— Casamento? O amigo, mal assumiu sua herança, seu título de conde, agora que irá desfrutar
ainda mais de belas mulheres , já quer se casar?— ele falava em tom de surpresa, mas também
persuasivo, venenoso.

Contudo, o Conde Phillip estava tão encantado com Eliza que nem deu ouvidos ao que o seu amigo,
estava falando em falso tom de conselho.

— Amigo James, você sempre me acompanhou na vida noturna e sabe que já tive todas as belas
mulheres que eu desejei!

O Conde falava em tom nostálgico, relembrando sua farras do tempo de faculdade e também até
bem pouco tempo atrás em Paris.

Então, o Conde Phillip mudou o tom, para falar sobre algo que para ele era mais sério.

— Amigo James, preciso lhe fazer uma confidência, mas por favor, de-me a sua palavra de honra
que não contará a ninguém. — o Conde falava sério.

— Claro amigo! Não precisa nem pedir!

Lorde James, falou falsamente e muito interessado no que estava por vir. Afinal, um segredo de
alguém, sempre poderia ser um trunfo no futuro.

— Hoje pela manhã peguei meu cavalo e sai sozinho para conhecer a região. Acabei parando na
beira de um riacho que é a divisa entre Ashwell e Berkshire, e assim eu conheci a mademoiselle
Elizabeth antes de vocês. Ela estava bem a vontade sozinha, lendo um livro na beira do riacho, com o
seu cãozinho a brincar perto. Quando ela me viu se assustou e correu. Eu ainda tentei me aproximar,
argumentar, mas ela se assustou ainda mais e correu até fugir dos meus olhos.

— Não me diga, amigo?

— Sim! Eu não comentei nada durante a visita em Berkshire que estava surpreso em ela ser a
senhorita da beira do riacho, pois achei que ela estava um tanto assustada e desconcertada com a
minha presença na casa. Acho que esse era o motivo, então achei melhor não tocar no assunto. —o
Conde Phillip falou sério em tom de confidencia.

Lorde James, sempre muito esperto, percebeu que aquela era a hora de injetar veneno para
desencorajar as boas intenções do amigo, pela bela jovem.

— Amigo... É esta moça que você pretende propor casamento? Uma senhorita que passeia sozinha
pelos campos e riacho, fora das vistas da mãe ou de uma criada de confiança? Quem lhe garante que
ela não estava esperando alguém e você foi quem surgiu de surpresa? Algum namoradinho escondido,
que os dois já rolem na relva e que a flor da pureza, já tenha sido colhida? Amigo o cupido lhe
enfeitiçou... Onde está a sua experiência com as mulheres? Adquirida em Paris?
— Amigo James... não seja injusto... Acho que você está exagerando...

— Não, amigo, não estou! Que provas você pode ter da pureza e reputação dessa senhorita? Já
foi anos prometida e sustentada financeiramento pelo seu tio. Agora você descobre que ela passeia por
aí sozinha...

Lorde James falou em tom debochado e venenoso, tentando plantar de propósito a dúvida e a
desconfiança na cabeça do amigo, que nada falou sobre, apenas ouviu em silêncio.

Então, assim, o Conde Phillip de Ashwell foi dormir, pensando na jovem Eliza, que mexeu com a
sua cabeça e fisgou seu coração, mas com um sentimento da dúvida plantada por aquele que ele
julgava ser o seu fiel amigo.
Capítulo 4
O Conde Phillip sempre foi um homem muito seguro de si, ao tomar as suas decisões. A
opinião do amigo Lorde James e também da sua querida Lady Berta era sim importante para ele, mas
não era algo decisivo. Apesar de todo o carinho que Lady Berta lhe dedicou durante a sua formação
como homem, muitas vezes ele teve que se virar sozinho e isso construiu a sua personalidade forte, sua
determinação quando desejava algo. Então, agora que ele não era mais apenas o médico órfão, filho
de um Lorde desconhecido e de uma mulher deserdada, criado por uma ex-criada e sim o rico Conde
de Ashwell, ele tinha ainda mais certeza das suas decisões. Além do mais, além de Conde já era um
homem feito, tinha vinte e sete anos, médico formado e já sabia o que queria da vida.

O Conde Phillip já havia conhecido muitas mulheres durante a sua vida de estudante e depois
médico em Paris, mas a bela Eliza mexeu com os seus sentimentos de uma forma especial. Então, ele
decidiu que queria aquela bela senhorita para si, mas não apenas para diversão e sim para torna-la
sua esposa e Condessa de Aswhell. Apesar daquela conversa com seu amigo Lorde James, ele não
ficou com dúvidas sobre a pureza de Eliza. Após, sozinho em seu quarto analisar com calma a situação
e assim pegou no sono pensando nela.

No dia seguinte, ao acordar, o Conde Phillip já tinha tomado a sua decisão e que apesar da opinião
do amigo, ele já tinha certeza das suas intenções a respeito da bela jovem e quanto a Lady Berta, ela
claramente tinha simpatizado com Eliza a primeira vista. Então, no meio da manhã, após o amigo
Lorde James retornar a Londres, enviou um criado a Berkshire para avisar que faria uma nova visita
ao final da tarde.

Eliza estava no jardim tomando sol e brincando com Teddy, quando viu surgir ao longe um homem
a cavalo.

— Vem Teddy, não se afaste de mim! Tem alguém chegando a cavalo. — ela falou receosa, mas
como estava no jardim se sentia segura.

—Au! Au! Au!

Teddy, deu um latido amigável e ela reconheceu que era um dos criados de Ashwell. O criado
mensageiro que sempre vinha a Berkshire, quando o velho Conde ainda era vivo.

Eliza ficou a observar de longe, sentada em um banco do jardim, viu a criada Mary o receber e
ele entregar-lhe uma carta.

— Uma carta? Provavelmente uma mensagem do Conde! Será que ele decidiu nos cobrar um
aluguel ou nos despejar daqui? Espero que não seja nada que preocupe minha mãe. — a jovem pensou
preocupada, enquanto observava do jardim, a cena.
Após isso, o mensageiro foi levado até a ala dos criados. A Molly deveria estar indo lhe
servir um café com bolo. Apesar das finanças estarem contidas, a mesa em Berkshire ainda era farta,
graças a ajuda financeira que havia restado do velho Conde. Porém, não sabia até quando isso iria
durar, pois, agora quem mandava era o Conde Phillip e ele não possuía nenhuma obrigação com sua
mãe e ela.

Eliza achou o Conde Phillip um belo cavalheiro, parecia que tinha saído de um daqueles
romances que ela tanto lia escondido de sua mãe. Ele era alto, bonito, elegante, médico e agora um
rico Conde.Porém, sentia antipatia e raiva por todo o constrangimento e susto que lhe causou, no
primeiro encontro dos dois na beira do riacho. Além disso ele também lhe parecia um francês
debochado, a prova disso foi o gracejo ao seu ouvido, após ela quase ter caído da escada e ele saber
do porquê ela estava desconcertada.

Ao entrar em casa, a sua mãe lhe disse que o Conde Phillip, mandou avisar que faria uma
nova visita a Berkshire no final da tarde e que não tinha ficado claro o motivo, mas provavelmente
agora sim seria para tratar de negócios.

— Então mamãe, já que a senhora acha que é para tratar de negócios, dessa vez eu não
precisarei participar, esta bem?

A jovem falou desconcertada, pois, não queria voltar a encontrar com ele, ainda passado tão
pouco tempo do constrangimento do riacho.

— Não sei exatamente, talvez se for negócios ele prefira tratar comigo a sós! Porém, quero que
você se mantenha em seu quarto, vestida de forma que possa descer para o chá caso seja necessário!
E nada de ficar pelos campos igual a uma criada ou uma camponesa, quando estiver próximo a sua
chegada! Eu não quero que o Conde veja nada que comprometa a sua reputação de senhorita! — Lady
Matilda falava séria, em tom de ordem.

— Está bem mamãe...

A jovem baixou a cabeça e falou baixinho, ultimamente ela andava menos travessa, mais
obediente. No fundo ela estava com medo que o Conde acabasse falando que já a tinha conhecido no
riacho e todo o resto.

— Ah, meu Deus! Será que a minha reputação, já não está comprometida por esse francês
insolente? Que me viu de forma tão íntima? Afinal, ali no riacho, era o cavalheiro ou o médico? —
Eliza pensou preocupada e corada.

Era por volta das quatro horas da tarde quando o Conde Phillip chegou até Berkshire montado
em seu garboso cavalo castanho. A criada Mary o atendeu a porta e o levou até a sala principal, onde
Lady Matilda o aguardava ansiosa. O Conde Phillip era vaidoso, tinha bom gosto e costumava andar
bem vestido, ainda mais agora que tinha se tornado um Conde. Ele usava traje elegante, mas
apropriado para o horário e ocasião. O traje composto por um casaco e calças cinzas bem cortadas,
camisa branca, botas pretas bem lustradas.
— Boa tarde, senhor Conde! É um prazer lhe receber novamente aqui nessa casa! Queira
sentar, a criada virá nos trazer um chá. — Lady Matilda falava cheia de pompa e bajulação.

— O prazer é todo meu madame ! A mademoiselle Elizabeth está passeando pelos campos
ou nos acompanhará no chá?

O Conde Phillip, perguntou disfarçando, analisando o terreno e pensando em como iniciar o


assunto. Apesar de ser um homem experiente, precavido nos negócios, era um tanto impulsivo no
amor.

— A minha filha Elizabeth não costuma passear sozinha pelos campos de Berkshire, sai
sozinha apenas para colher flores no jardim. Ela esta em seu quarto. — Lady Matilda o
corrigiu imediatamente, mas por se tratar do Conde, tentou ser simpática.

— Hum... Então a jovem deve passear as escondida de sua mãe, que travessa...Será que se
encontra mesmo com algum namoradinho as escondidas...— pensou o Conde Phillip.

— Claro, entendo, eu não quis ser indelicado. — o Conde Phillip sentou no sofá e Lady
Matilda lhe serviu uma xícara de chá.

— Então, a que devemos a honra da sua visita aqui? Imagino que chegou a hora de
tratarmos de assuntos financeiros. O advogado do falecido Conde, já deve ter lhe informado
sobre Berkshire, sobre o acordo de cavalheiros entre o meu falecido esposo e o Conde
Sebastian, noivo de minha filha. — Lady Matilda falava de forma precavida, tentando não
perder a pose.

— Na verdade senhora, os assuntos financeiros poderão esperar para um outro dia, por
enquanto tudo ficará como está! O que me trás aqui é algo mais urgente e a meu ver mais
importante. — o Conde Phillip falava sério e de forma decidida

— Então, me fale, senhor Conde, já estou ficando preocupada!

Lady Matilda perguntou curiosa, se por um lado sentiu um certo alivio, por outro, queria saber
qual assunto era ainda mais sério.

Então, foi quando o Conde Phillip lhe surpreendeu, de um forma que ela fazia muito gosto, mas não
esperava por tal proposta de forma. Ainda mais de forma tão rápida.

— Madame, com todo respeito, quero confessar que fiquei encantado com mademoiselle Elizabeth,
sua beleza, sua graça, sua educação. Eu sei que ela foi prometida ao meu falecido tio e provavelmente
ainda não tem novos pretendentes.

— Sim, como o senhor Conde já deve saber, a minha filha Elizabeth, foi prometida ao seu tio Conde
Sebastian, desde os treze anos e aguardava completar dezesseis anos para se realizar o casamento.
Inclusive, já estava bem próximo, até o enxoval já estava pronto! Porém, ela não tem pretendentes, é
uma senhorita recatada, vive sob os meus olhos!

Ao ouvir a última frase de Lady Matilda, o Conde relembrou a cena do riacho, de como ele
conheceu Eliza e também do comentário maldoso do amigo Lorde James a respeito dela. Porém, seu
coração falou mais alto e não se deixou levar por suposições e desconfianças.

— Entendo, madame! Então, baseado no quanto me agradei da sua filha e em tudo que me disse
agora, gostaria de pedir a mão da mademoiselle Elizabeth em casamento! — ele falou sério, com o
rigor que exigia um pedido daqueles.

Lady Matilda mal podia acreditar no que acabava de ouvir, os problemas financeiros dela e da
filha estavam resolvidos. Agora bastava somente Eliza aceitar o pedido e qualquer senhorita aceitaria
tão bom partido. Além do Conde Phillip ser um homem bonito, elegante, jovem, era um bom partido de
causar inveja. Ela como sempre, de imediato pensou primeiro no status social e dinheiro.

— Senhor Conde, fico lisonjeada com o seu interesse por minha filha Elizabeth! O senhor tem a
minha aprovação, faço muito gosto nesse casamento!

Lady Matilda, era esperta, falava mantendo a pose, tentando disfarçar o quanto estava radiante.
Assim o Conde não acharia que ela estava desesperada em casar a filha e resolver os problemas
financeiros.

— Senhora Mary, venha aqui! Vá até o quarto de Elizabeth, avise que temos a visita do senhor
Conde e que ela deve descer. — Lady Matilda chamou a fiel criada e ordenou.

Eliza estava em seu quarto escrevendo em seu diário, quando ouviu alguém bater a porta, correu e
escondeu o diário. Ela sabia que se caso fosse sua mãe, talvez insistisse para o ler também.

— Pode entrar! — respondeu com voz simpática.

— O Conde veio visitar a sua mãe, chegou já a algum tempo e agora Lady Matilda mandou você
descer. — a criada falou em tom de aviso.

— Ahhh Molly! Por que tenho que descer? Prefiro ficar aqui com o Teddy e meus livros!

— Ah, então a senhorita tem outro livro? Eliza! Eliza! Agora, deixe esta bola de pelos brancos e
desça, pois são ordens da sua mãe!

Lady Matilda já a havia prevenido para se manter vestida de forma apresentável, caso precisasse
descer. Porém, apesar de está vestida de acordo, Eliza não esperava ter que descer, não via
necessidade da presença dela na sala. Além do mais, não queria encontrar o Conde Phillip, pois, além
de não simpatizar com aquele francês insolente aos olhos dela, ainda ficava constrangida em sua
presença. Contudo, tinha que obedecer a sua mãe, então se olhou no espelho, apesar de não estar
vestida de forma especial, como na primeira visita, estava apresentável e assim ela desceu para
atender a ordem de sua mãe.

Ao descer devagar as escadas, Eliza estranhou a forma que sua mãe estava conversando animada,
mas sempre mantendo a classe e a etiqueta de sempre. Ela achou estranho para uma visita que
provavelmente seria para tratar sobre dinheiro.

— Elizabeth querida! Como você está bela, não é mesmo senhor Conde ?

Lady Matilda a recebeu de uma forma carinhosa e entusiasmada a qual Eliza não estava habituada,
em se tratando de sua mãe.

— Sim madame, belíssima! — o Conde Phillip, respondeu em tom galante, encarando a jovem.

— Obrigada, senhor Conde!

Eliza falou de forma seca e tentando disfarçar sua raiva por ter que ficar mais uma vez cara a cara
com ele e sentou-se no sofá ao lado de sua mãe.

Sentados um de frente para o outro, o Conde olhava para Eliza com os olhos de cobiça de quando
um homem deseja e quer aquela mulher para si o mais rápido possível. Ele tentava disfarçar para não
parecer indiscreto frente a Lady Matilda, mas já tinha decidido que a queria para esposa, mulher e
amante. Eliza por sua vez não tinha como evitar olhar para ele, pois, estavam sentados frente a frente.
A jovem tentava disfarçar que mesmo o achando bonito, sentia antipatia por ele e que ainda ficava
constrangida em sua presença.

O Conde Phillip esperou que Lady Matilda, como mãe, fizesse o anúncio.

— Elizabeth, querida, o Conde Phillip, veio nos fazer essa visita de cortesia com um proposito
muito especial!

— É mesmo mamãe? Qual? — a jovem não parecia muito interessada.

— Sim, querida! Ele acabou de me revelar que a achou uma bela senhorita e pediu sua mão em
casamento. Isso não é maravilhoso, querida? Basta agora você cumprir a formalidade e dizer um sim!

Lady Matilda, falou entusiasmada e cheia de bajulação, num tom que não combinava com seu jeito
habitual de ser.

Eliza foi pega de surpresa, não imaginava despertar o interesse daquele Conde francês insolente e
debochado, apesar de ter consciência da sua própria beleza. Ela o achava bonito, além de ser um
Conde jovem, rico e sabia que qualquer senhorita ficaria encantada de imediato com a proposta, mas
ela não estava se sentindo assim, tão lisonjeada e interessada. A única coisa que ela lembrava, era das
maneiras dele na beira do riacho, do constrangimento causado ao erguer suas saias e ver suas roupas
íntimas. Ela ficou feliz por se livrar do casamento com o velho Conde de Ashwell, porém a forma como
o novo Conde chegou a sua vida não lhe causou boa impressão, apesar de ser um homem bonito e rico.
Então, a jovem reuniu forças e colocou a Eliza espevitada e espontânea para fora.

— Eu, de certa forma, fico lisonjeada com o seu interesse, senhor Conde, mas a minha resposta é
não! Apesar de já ter sido a prometida do seu tio!

Eliza respondeu de forma decidida ,deixando a todos na sala boquiabertos: o Conde e Lady
Matilda.

— Você está louca Elizabeth? Senhor Conde a minha filha deve esta indisposta, não se importe com
essas tolices de menina moça, é claro que ela aceita!

Lady Matilda, mal podia acreditar no que ouvia e repreendeu brava a filha. Enquanto tentava
consertar a situação com o Conde, que também ficou surpreso, mas tentou disfarçar.

— Desculpe, mamãe, mas eu nunca estive tão lúcida. - Eliza respondeu com um fio de voz, com
medo da reação da mãe.

— A Mademoiselle não me acha a sua altura? Ou por acaso, acha que a estou enxergando como
um bem da herança do meu tio? Qual o motivo da recusa?

O Conde Phillip, também surpreso, tentava controlar a raiva por ser rejeitado, algo que nunca
aconteceu com ele e nem esperava acontecer. Porém, em silêncio ele pensava:

— Será que o incidente do riacho a deixou com tão má impressão a respeito de mim? Ou será que
ela já deve ter algum namoradinho escondido por esses campos, como insinuou o amigo James?

Eliza não teve coragem de responder as indagações do Conde e também não enfrentou mais sua
mãe. Diante da situação pesada, do clima constrangedor, ela ensaiou, deixar a sala correndo, porém
ficou com receio que isso apenas piorasse as coisas. A sua mãe poderia a castigar severamente após o
Conde ir embora. Então, ela permaneceu sentada diante dos dois e agora em silêncio.

O Conde Phillip tinha certeza de que a jovem aceitaria o pedido sem pestanejar, afinal ela ia se
casar obrigada com o seu falecido tio sexagenário, em troca de dívidas, pois os Eglington estava em
situação financeira difícil. Então, ele era jovem, bonito, sempre fez sucesso com as mulheres e nunca
uma mulher lhe disse um não, ainda mais agora que era um rico Conde.

A resposta e rejeição de Eliza deixou o Conde Phillip surpreso e enfurecido, se tinha haver com o
encontro inicial dos dois no riacho ou não, não lhe importava. O que importava era que ele nunca foi
rejeitado nem ao menos como estudante de medicina e não seria agora como Conde. Todavia, não
planejava desistir e sim lhe mostrar que a proposta dele era irrecusável, que era um ótimo partido.
Além de lhe provar também que ele era um cavalheiro, que aquela abordagem grosseira foi o calor do
momento, sendo que aceitar sua corte e se casar com ele era uma proposta irrecusável. A não ser que
a rejeição dela fosse algo bem mais sério e profundo.

— Será que ela mesmo comprometida com o meu tio, teria algum namoradinho escondido da
mesma idade que ela... — pensou o Conde.

Lady Matilda também esperava um sim por parte da filha, pois qual moça rejeitaria um pretendente
bonito, jovem e rico. Apesar dela não saber do incidente dos dois na beira do riacho, da rejeição e
antipatia que Eliza, sentia por ele. Porém, conhecendo Lady Matilda, se ela soubesse, ai sim que
pressionaria a filha a se casar com ele. Contudo, Lady Matilda fora esperta e diplomática, tentou
contornou a situação, ao invés de castigar Eliza logo de cara pelo atrevimento e recusa ao Conde.

— Elizabeth querida, isso é jeito de responder uma proposta tão especial e irrecusável? Não ligue
para essa recusa dela, senhor Conde, ela também está encantada, apenas foi pega de surpresa. —
Lady Matilda falava fingindo meiguice e tentando contornando a situação.

— Não se preocupe madame, a mademoiselle Elizabeth, apesar de já ter sido a prometida do meu
falecido tio, ainda é muito jovem! É natural esse comportamento dela ao responder algo tão sério!

— Claro senhor Conde, o senhor tem razão, vê-se logo que é um cavalheiro pelas maneiras e
compreensão diante da situação.

— Cavalheiro... este francês, chato, arrogante e atrevido! — pensou Eliza, mas não podia expressar
em voz alta.

— Contudo, eu gostaria de pedir permissão para leva-la para um passeio no jardim, com todo
respeito, assim conversaríamos um pouco...

O Conde Phillip, falou de forma séria e diplomática, pois queria ter a oportunidade de ficar com a
jovem a sós.

Ao ouvir aquilo Eliza ficou visivelmente contrariada, seu rosto enrubesceu de raiva. Ela não queria
ficar a sós com aquele francês que ela antipatizava e ainda se sentia constrangida na presença dele,
imagine a sós com ele. Porém, ela não teve coragem, por medo da sua mãe, de falar mais nada,
apenas ouviu o convite em silêncio.

— Bem, um passeio a sós no jardim... vocês ainda não estão noivos, não ficaria bem, mas eu
permitirei e a criada Mary, observará das janelas do andar superior. Apesar de não duvidar das suas
boas intenções senhor Conde, apenas quero me precaver em relação a falatórios!

Lady Matilda falou séria, mas no fundo estava sendo um pouco alcoviteira. Pois, se não fosse o
pedido de um tão bom partido igual ao Conde, ela jamais permitiria que Eliza fosse sozinha até o
jardim, já ao cair da tarde, com um homem.

— Entendo sua preocupação madame! Porém, não se preocupe, sou um cavalheiro e farei tudo
dentro das boas maneiras e costumes. Apesar de irmos até o jardim, sua filha não será motivo de
falatórios. — ele argumentou sério.

Então, sem se tocarem e cientes de que a criada Mary, estava vigiando ao longe das janelas do
andar superior da casa. Eliza e o Conde Phillip deixaram a sala de estar para um passeio a sós no
jardim de Berkshire. Na verdade a intenção dele era sentarem em um banquinho no jardim a sós e
conversarem melhor. Até mesmo sobre o riacho, algo que ele não podia falar diante de Lady Matilda.

Era final de tarde, do jardim dava para contemplar um maravilhoso pôr-do-sol, além de sentir o
agradável perfume das rosas na primavera tomando conta do ambiente. O Conde Phillip e Eliza,
caminharam para o jardim em frente a casa, em silêncio, lado a lado sem se tocarem, até encontrarem
o banquinho mais próximo e ele indicar para sentarem ali. A jovem meio contrariada obedeceu, então
eles sentaram lado a lado e como era esperado por Eliza, o Conde iniciou a conversa.

— Esta rosa vermelha é para você, a mais bela mademoiselle em que já pus os olhos...

O Conde Phillip falou, ao colher uma rosa na roseira ao lado e oferecer a Eliza, num típico gesto
galanteador francês.

Apesar de não ser considerada tímida, Eliza corou ao ouvir aquilo, já tinha lido muitas coisas do
tipo em romances. Porém, nunca tinha ouvido pessoalmente e de um cavalheiro tão belo, apesar da
antipatia que nutria por ele.

— Obrigada, senhor conde! — ela respondeu tímida.

Ela recebeu a rosa, cheirou e a depositou em seu colo, continuando sentados lado a lado sem se
tocarem.

— Para você, eu sou Phillip, não precisa me tratar pelo meu título de nobreza e que num futuro
próximo quero que esse título também seja seu. — ele a corrigiu educadamente e, ao mesmo tempo
galante.

— Desculpe-me é que o seu pedido me pegou de surpresa, eu não entendi porque se agradou tão
rápido de minha pessoa! O senhor se agradou de mim ou me viu como parte da herança do seu tio? Já
que todos sabem que fui praticamente vendida a ele em troca de dívidas de jogo?

Apesar de manter um tom educado, a Eliza espevitada e espontânea de sempre estava aos poucos
ressurgindo.

— De forma alguma Eliza, se me permite chama-la assim! Eu não preciso que uma mulher aceite a
minha corte e a se casar comigo forçada em troca de dívidas. Estou estou aqui, porque você roubou o
meu coração quando a vi descendo aquela escada e a reconheci como a senhorita do riacho. — ele a
corrigiu de maneira gentil, enquanto sentado ao seu lado, falava lhe olhando nos olhos.
— Sobre o riacho me permita lhe dizer que o senhor foi grosseiro e abusado! — ela falou brava
como dedo apontado para ele.

O assunto deixou ela meio brava e constrangida ao se recordar do incidente e dela caída com suas
saias erguidas e roupas íntimas a mostra.

— Perdão querida, sei que fui desajeitado, grosseiro, mas apesar de ser um homem impulsivo nem
sempre eu ajo daquela maneira. Porém, saiba que minha intenção não foi lhe assustar nem, causar
nenhum incidente... — ele falou de uma forma cavalheira ao ver que ela estava brava e, ao mesmo
tempo constrangida.

— Eu aceito as suas desculpas, mas saiba que você assustou a mim e ao Teddy, sem falar que viu
mais do que deveria!

Ela falou de forma espontânea e espevitada, mas depois se encabulou novamente ao ouvir a
resposta do Conde.

— Então querida, considerando que você conquistou o meu coração e até embaixo das suas saias
eu já vi, nada mais adequado para aceitar o meu pedido de casamento você não acha? A não ser que
você já tenha algum namoradinho escondido e estivesse ali no riacho a espera dele... — ele falou em
tom de deboche, mas depois finalizou em tom de desconfiança.

Ao ouvir a forma debochada que o Conde Phillip ousou em falar que já havia olhado em baixo das
suas saias. Além de insinuar que ela talvez se encontrasse com algum namorado da sua idade na beira
do riacho, Eliza, apesar de ter corado de vergonha, também ficou furiosa.

— Seu francês atrevido! Eu não lhe dou um tapa porque a Molly esta nos olhando da janela, talvez
a mamãe também! Elas irão querer saber o motivo do tapa! Ah! Eu não tenho nenhum namoradinho
escondido e a mamãe não sabe que eu costumo ir sozinha ao riacho para ler em paz! — Eliza falou
brava e corou de raiva.

O Conde Phillip, que era uma mistura de cavalheiro, homem impulsivo, possessivo e com uns
toques de deboche francês, apenas respondeu com uma sonora gargalhada.

Eliza, ao ouvir a gargalhada, corou de raiva e constrangimento. Ela não gostava do jeito
debochado que o Conde Phillip conduzia a conversa, quando se tratava do tal incidente.

— Então, é assim que pretende me convencer a aceitar seu pedido de casamento? Com atitudes
grosseiras e debochadas? Me deixando constrangida? Além de me ofender com desconfianças? Ou vai
simplesmente tratar sobre o casamento com a minha mãe, sem se importar com minha vontade? — a
jovem falou brava e ensaiou se levantar do banquinho do jardim e deixa-lo sozinho.

O Conde era um homem experiente, acostumado a lidar com os mais variados tipos de mulheres.
Ele percebeu que Eliza, após lhe fazer essas indagações, pretendia fugir e deixa-lo sozinho, ali.
Contudo, ela não teve tempo nem de levantar do banco em que estava sentada ao lado dele. Ele mesmo
sentado, se aproximou ainda mais dela, a enlaçou pela cintura, colando seu rosto ao dela e olhando
em seus olhos. Ele estava tão próximo que Eliza podia sentir a sua respiração quente e ofegante.

— Não minha querida, não é assim que pretendo conquista-la e sim desta forma!

Ao falar isso, o Conde Phillip, desceu seu lábios macios e experientes sob os de Eliza. Ela se viu
quase forçada a abrir os seus também.

A jovem relutou um pouco, era seu primeiro beijo e aquele francês insolente não tinha esse direito,
se para as mulheres Francesas era comum, para as inglesas não era. Porém, ele foi firme enlaçando-a
pela cintura, segurando e a beijando de forma um pouco caliente. Quando ele a largou, ambos
estavam ofegantes, a jovem estava ofegante pela emoção do primeiro beijo, mas também brava pelo o
atrevimento do Conde.

— Seu insolente! francês atrevido! Eu vou contar tudo para a minha mãe e a Molly que deve ter
visto tudo da janela, vai confirmar tudo! — Eliza falava brava após recuperar o fôlego.

O Conde mais uma vez sorriu debochado e falou algo que a deixou sem argumentos:

— E o que a senhora sua mãe diria após saber do incidente do riacho ou desse beijo? Que devo me
casar com você!

— Seu francês cínico! Atrevido! Grosseiro!

— Minha querida, grosseiros são os homens que não propõem casamento antes ou após um
incidente! O que não seria o meu caso!

— Você está ameaçando contar tudo para a minha mãe para que após saber do incidente, me
obrigue a aceitar sua proposta? É isso que está insinuando?

— Não, mademoiselle, não estou insinuando nada! Porém, já fiz a minha proposta e se você for
inteligente aceitará! Do contrário, terá que contar a sua mãe porque não quer aceitar, porque não
simpatizou comigo... — o Conde falou sério a encarando, ainda ambos sentados.

Eliza sentiu tanta raiva de tanto atrevimento, do seu jeito presunçoso e dos seus argumentos, que
não disse mais nada. Apenas levantou rápido, sem ele esperar, segurou as saias do vestido, caminhou
a passos largos, em direção a porta da casa, o deixando sozinho no jardim. Mesmo sabendo que
provavelmente a Molly estava vendo tudo da janela no andar superior.

O Conde, apesar de as vezes inconsequente e prepotente, achou melhor não correr atrás dela e não
entrar novamente na casa para se despedir de Lady Matilda. Ele esperaria mais alguns dias e voltaria
a visitar a sua futura sogra para ver qual rumo havia tomado a situação. Assim ele deixou Berkshire a
tardinha, galopando veloz em seu garboso cavalo castanho.
— O que houve Elizabeth? O Conde não se comportou como um cavalheiro? Senhora Mary, venha
aqui! Eu mandei vigiar os dois no jardim, o que você viu?

Foi a pergunta de Lady Matilda, ao ver Eliza passar pela sala, ligeira igual um furacão, com as
saias do seu pesado vestido, esbarrando nas cadeiras e objetos de decoração.

Eliza não respondeu nada, desafiou com o silêncio a sua mãe autoritária e moralista, se trancando
em seu quarto. Teddy vendo o alvoroço da sua dona a seguiu fielmente, trancando-se no quarto junto
com ela.

Eliza se jogou em sua cama enorme, fechou as cortinas, como se fosse dormir, pois estava com
uma sensação estranha, como se quisesse se esconder do mundo e o que o mundo a esquecesse. Era
difícil para ela explicar a sua mãe e até entender a si mesmo, a rejeição que sentia pelo Conde Phillip,
pois qualquer moça se sentiria lisonjeada com um pedido de casamento dele. Ainda mais ela que
estava praticamente condenada a ruina financeira junto com sua mãe e que até pouco tempo atrás, era
a prometida de um Conde sexagenário que ela abominava.

De repente Eliza ouviu batidas na porta, queria ficar sozinha, mas era a sua mãe, não tinha
escolha, teria que abrir. Ela levantou-se a destrancou a porta. Lady Matilda entrou com seu jeito
altivo e arrogante, tornando o ambiente pesado.

— Elizabeth! A criada Mary já me confessou tudo, o Conde a beijou! É por isso que você está
chorando? Ele foi sim muito insolente, mas não tem motivos para lágrimas! Afinal, ele lhe propôs
casamento! Então, diante dos fatos, você precisa mais ainda aceitar o pedido! Não quero você com a
reputação manchada e além disso o conde é um magnifico partido! — Lady Matilda falava séria de
uma forma moralista e calculista.

— Mas mamãe... eu não quero, não simpatizo com esse francês insolente! Prefiro esperar por outra
proposta de outro cavalheiro que venha a surgir... — a jovem Eliza falava baixinho, com lágrimas
caindo discretamente.

— Outra proposta? Você deve está louca menina! O Conde, atualmente, é o melhor partido de
Londres e de toda a região, além do mais daqui a pouco sua reputação ficará manchada! Já foi
praticamente noiva! Já esteve aos beijos no jardim quase ao anoitecer! Está decidido! Hoje mesmo
você escreverá uma carta, aceitando o pedido de casamento do Conde e amanhã eu mandarei entregar
em Ashwell!

Eliza, não teve mais o que argumentar, quando sua mãe se retirou do quarto, ela meio a contra
gosto escreveu a tal carta. Ela se lamentava, enquanto sozinha escrevia, a tal carta.

— Ah, Teddy! Por quê a vida não pode ser igual aos romances?

— Au...Au... — o cãozinho yorkshire, latiu baixinho, parecia está sentindo a tristeza da sua dona.
Então, pela manhã a carta já estava pronta e Lady Matilda a mandou entregar ao senhor Conde de
Ashwell. A senhorita Elizabeth Eglington, pressionada pela mãe, dizia sim ao pedido de casamento
dele.

Em pouco tempo a notícia de que Eliza agora era a prometida do novo Conde de Ashwel, se
espalhou por toda a sociedade londrina. Porém, agora ao invés do velho sexagenário, era o sobrinho
que herdou o título, um homem jovem, médico, bonito, rico. A notícia, de que uma grande festa oficial
de noivado estava sendo preparada para daqui a um mês, quando ela completaria dezesseis anos
chegou a sociedade londrina e isso despertou a inveja de muitas senhoras e senhoritas. Lady
Constância, sua filha a senhorita Margareth Callow, a quem Eliza chamava de prima Mag, mal
podiam acreditar naquela revira volta do destino. Até o próprio Lorde James, a quem o Conde Phillip
considerava seu melhor amigo e que fez questão de lhe contar pessoalmente o sim de Eliza, sentia uma
pontada de má vontade naquela união.

Então, foi assim que a jovem Elizabeth Eglington, antes vista como uma pobre senhorita aristocrata
falida, vendida em troca das dívidas de jogo do falecido pai e condenada a se casar com um conde
sexagenário, passou a ser invejada pelas mães e senhoritas casadoiras e a ser motivo de conversas nas
rodas da sociedade feminina londrina. A sua mãe Lady Matilda não precisava mais fingir pose, apesar
de não ter voltado a ficar rica, a filha dela em breve faria um bom casamento, seria uma rica
condessa e ela como mãe, estava com o futuro e posição social garantido.
Capítulo 5
Com o passar do tempo, o Conde Phillip, que apesar de sangue inglês, era francês, usou todo
o seu charme e galanteios para tentar reverter um pouco a antipatia que Eliza sentia convence-la
que o melhor a fazer era mesmo se casar com ele.

Todavia, ele começou também a ter amostras do comportamento espontâneo e espevitado da jovem,
o que não o agradava, pois era um homem possessivo e ciumento quando apaixonado. Após o sim de
Eliza, Berkshire passou a ser palco de conversas, encontros do casal e preparativos para a grande
festa de noivado. Contudo, aos poucos a jovem Eliza foi também conhecendo mais detalhes do Conde
Phillip, pois apesar de cavalheiro, ás vezes se revelava um homem impulsivo, possessivo, ciumento,
desconfiado em relação a ela. Ainda mais com o veneno que Lorde James, a quem o Conde
considerava seu melhor amigo, tentava discretamente destilar, isso tornava o Conde desconfiado,
mesmo apaixonado e querendo Eliza a qualquer preço.

— Eliza, diga-me algo, com sinceridade: A quem você esperava na beira daquele riacho? Pois,
não é comum uma moça, andar sozinhas pelos campos, chega a ser perigoso e mal visto... — o Conde
chegou a indagar, algumas vezes a jovem.

— Eu não esperava ninguém! Gosto de ler livros no sossego do riacho, ouvindo o barulho da
cachoeira! Porém, minha mãe não me deixa ir e eu costumava ir escondida!

— Então, não esperava nenhum namoradinha da sua idade? De alguma propriedade próxima a
Berkshire? — o Conde perguntava desconfiado e enciumado.

— Eu já falei que não esperava ninguém e que não tenho nenhum namoradinho! Porém, se duvida
tanto da minha palavra e reputação, basta romper o compromisso!

— Ah! Então a mademoiselle ficaria feliz com isso não é? Enfrentaria até a fúria da sua mãe? Ao
saber sobre o fato de que além de já ter lhe beijado, já vi até suas roupas mais íntimas a sós no meio
do mato?

— Enfrentaria, sim! Para não ter que me casar com alguém, prepotente, arrogante, desconfiado e
ciumento igual a você! Se antes eu não gostava do modo que me assustou na beira do riacho e do
incidente que causou! Agora não gosto das suas insinuações e da forma como desconfia da minha
reputação! — a jovem falou brava.

— Pois, saiba minha cara, que eu gostei de você de verdade! Além do mais um mulher nunca me
disse não quando eu era um estudante de medicina, imagine agora que sou um rico conde e que estou
oferecendo a ela um lugar no meu coração, título de condessa e esposa! Quanto a sua reputação, em
nossa noite de núpcias, eu comprovarei e espero que para o seu bem, você esteja falando a verdade!
Aquele comentário do Conde Phillip, grosseiro e com a voz alterada, deixou Eliza furiosa, ela até
levantou a mão para lhe da um tapa na cara. Porém, ele foi rápido, seguro sua mão ainda no ar e
falou:

— Sou um cavalheiro, portanto não bato em mulheres! Porém, a cada tapa seu, isso lhe custará um
beijo! Tem certeza que é isso que você quer? Já que parece não simpatizar tanto comigo por causa de
um capricho de moça que mal saiu das fraldas?

— Não! Não é isso que quero! Porém, se é um cavalheiro, pare de falar comigo assim! Usando um
tom que beira deboche, grosseria e até chantagem ao se referir ao que minha mãe saberia! Já não
basta, eu ter lhe dito um sim? Pressionada ou não, é um sim e não fugirei do compromisso! — assim a
conversa entre os futuros noivos foi encerrada, com a jovem Eliza brava e o Conde seguro do que
queria, custasse o que custasse.

Aos poucos, com o anúncio do compromisso com o jovem Conde, as pessoas da sociedade que
tinham se afastado de Eliza e de sua mãe, começaram a se reaproximar, devido a volta do status
social. Elas recebiam convites para chás em Londres, algumas senhoras praticamente se convidavam
para ir até Berkshire tomar um chá, a vida ficou bem diferente do que era antes. A própria prima
Margareth passou a frequentar mais a casa. Eliza suspeitava que ela estava interessada em Lorde
James, o fiel amigo do Conde Phillip e que já esteve algumas vezes em Berkshire. Ele até acompanhou
ela e o Conde a um passeio no campo, junto com a prima Margareth. Na verdade era do gosto de Lady
Constância, mãe de Margareth que ela recebesse uma proposta de casamento de Lorde James, já que
o Conde já estava comprometido e Lorde James também era de uma rica família aristocrata.

Lorde James, era um mulherengo, farrista, não tinha planos de compromisso sério com ninguém e
sim vontade de ter Eliza em seus braços como um troféu. Porém, não para casar, tudo isso movido pela
inveja que sentia ainda mais do seu amigo Phillip, agora Conde de Ashwell. Por outro lado, Mag, não
descartaria caso recebesse uma proposta de casamento de Lorde James. Contudo, preferia o Conde
Phillip e não se conformava em ele já está comprometido com sua prima. A senhorita Margareth, o
achava um magnífico cavalheiro, além de um título de nobreza que a encantava. Afinal porque tinha
que ser de Eliza? Ela é que era mais velha, precisava casar primeiro, era mais bem vestida, não era
uma aristocrata falida como sua prima Eliza. Então, assim a teia da inveja, do ódio, da cobiça, da
traição foi sendo tecida fio a fio...

Os preparativos para comemorar com um grande baile o aniversário de dezesseis anos de Eliza e
oficializar seu noivado com o Conde corria contra o tempo. Comentava-se na sociedade londrina que
aquele seria o acontecimento do ano. Então, de pobre coitada, aristocrata falida, Eliza passou a ser
invejada por senhoras e senhoritas da sociedade que gostaria de ter sido a escolhida do Conde de
Ashwell.

O Conde Phillip e Lady Matilda, estavam bastante empolgados com os preparativos da festa, Lad
Matilda estava a frente cuidando de tudo e o Conde dando seu apoio financeiro e prestígio. O Conde
Phillip para tentar agradar sua futura noiva, mandou que fosse desocupada a grande mansão dele em
Londres que já pertenceu ao Eglingtons. Nela Eliza passou a sua infância, até ter que desocupa-la
contra a sua vontade, agora nela se realizaria o grande baile de noivado e seria onde eles iriam morar
depois de casados.
A primavera deixava as tardes com o clima agradável e um cheiro de rosas pelos campos e jardim.
Eliza em seu quarto se arrumava para receber o Conde Phillip, segundo sua mãe, era sua obrigação
como noiva o receber bem. O mesmo viria junto com Lorde James, já que a prima Margareth, veio lhe
visitar, assim um fazia companhia ao outro conversando durante o passeio.

De repente bateram na porta do seu quarto.

— Pode entrar!

Eliza respondeu sem tristeza na voz, ultimamente ela andava conformada, pelo menos não ia mais
se casar com o velho Conde de Ashwell.

Uma coisa ela tinha que admitir, agora ela era comprometida com um bom partido jovem, bonito,
rico de causar inveja a todos.

— Ah Molly é você! Onde está o Teddy? Quero pedir para você cuidar dele para mim, pois irei
passear com meu noivo, Lorde James e a prima Mag! Então, não acho conveniente levar o Teddy, pois,
ele não gosta da prima Mag e do Lorde James, sempre fica latindo sem parar. — Eliza explicou para
sua ex- baba.

— Hum! Eu vim dizer que o seu noivo junto com o amigo, já lhe aguarda na sala de visitas e sua
prima Mag também!

A criada falou rabugenta, era o seu jeito quando se referia a prima Mag e parecia que Lorde James
estava entrando também na conta dela.

— Esta bem Molly! Eu vou já descer e não faça essa cara emburrada se não eu lhe abraço e encho
de beijinhos! — Eliza falou com jeito travesso, pois, sabia que a criada ficava sem graça quando ela
já uma moça fazia aquilo.

Eliza desceu as escadas, bem vestida, mas apropriado para o horário e ocasião. Ela vestia um
longo vestido de musseline amarelo, prendeu os longos cabelos castanhos em uma trança e colocou em
sua cabeça, uma pequena tiara de flores que ela tinha colhido mais cedo no jardim. Ela encontrou lá
em baixo todos conversando alegre, mas o Conde Phillip parou a conversa para contemplar radiante a
sua amada descendo as escadas tão linda e graciosa. Contudo, caso houvesse uma pessoa mais
experiente na sala e destinada a observar minuciosamente a cena, teria visto o olhar de cobiça de
Lorde James e o olhar de inveja da prima Margareth Callow.

— Agora que a flor mais bonita do jardim chegou, estamos prontos para sairmos em passeio, dê-me
sua mão, minha bela futura condessa. — o Conde Phillip falou galanteador o que deixou a prima
Margareth com ainda mais inveja.

— Onde está aquela bola de pelos Eliza? Não vem com a gente? — a prima Margareth falou de
proposito, só para irritar, pois sabia que ela não gostava que se referisse assim ao Teddy.
— Não, como tem várias pessoas, preferi deixar ele com a Molly. — Eliza falou calmamente, devido
as visitas, tentando ser educada e não cair na provocação dela.

— Senhorita Margareth, dê-me o seu braço, será uma honra ser a sua companhia no passeio. —
Lorde James falou galanteador e com seu jeito falso de sempre.

Ao saírem pela porta principal encontraram Lady Matilda que vinha chegando com um criado,
tinha saído para comprar mantimentos para Berkshire. Apesar dela já ter autorizado o passeio fora
dos jardins antes de sair para as compras, ainda preveniu as jovens.

— Senhor Conde, Lorde James, é uma honra ter os senhores aqui, Elizabeth já havia me pedido
autorização, mas mesmo assim quero preveni-las. — Lady Matilda falava educadamente, pois com o
Conde e Lorde James, ela era uma bajulação infinita.

— Quanto a vocês, Elizabeth e Margareth, lembrem-se que apesar de estarem com dois nobres
cavalheiros, de que Elizabeth é quase noiva, vocês ainda são senhoritas solteiras! Então, se
comportem como tal, para não serem motivo de falatórios! Pois, árvores e arbustos tem olhos e
ouvidos! — Lady Matilda, falou séria com o dedo apontado para as duas jovem.

Assim os casais saíram para um agradável passeio, com permissão para ir um pouco mais além do
jardim, sem um criado vigiando. Afinal, não estavam somente os dois noivos sozinhos e faltava apenas
quinze dias para a grande festa oficial de noivado, após ela, com pouco tempo seria o casamento.
Apesar de Lady Matilda sentir medo de falatórios do povo, de que Eliza poderia esta grávida, para se
casar com tanta pressa, o Conde Phillip não queria esperar. Ele não ligava para o que a sociedade
londrina fofocava, passou toda a sua vida em Paris e ele era quem agora dava as cartas. Então, Lady
Matilda não quis se opor sobre isso..

O campo ao redor do pomar estavam cheio de pequenas flores silvestres devido a primavera. O
passeio estava agradável, Eliza e Phillip seguiam a frente de mãos dadas e falando baixinho,
conversas de casal. Então, mais atrás caminhando lado a lado, sem mãos dadas, vinha a prima
Margareth e o amigo Lorde James que também falavam baixinho, mas não exatamente conversa de
enamorados.

— Eu vejo a forma que você olha disfarçadamente para meu amigo, o Conde Phillip. — Lorde
James falou baixinho para Mag, em tom venenoso.

— Eu? Impressão sua Lorde James, gosto de Eliza como uma irmã e faço gosto no casamento dos
dois! Quero que ela seja feliz!

A prima Margareth foi pega de surpresa, mas era esperta e tentou disfarçar, pois alguém mais
esperto do que ela tinha percebido algo.

— Não seja fingida, sei que você é bem esperta, mas não mais do que eu! Além do mais não precisa
fingir comigo... — Lorde James, falou em tom de cumplicidade, pois sentia que tinha achado a aliada
ideal para os seus planos.
— E se isso que o senhor esta dizendo fosse verdade? O que eu poderia fazer? Além de negar
diante de todos, até de você, caso revele algo a alguém sobre o que estou falando...

— Você sozinha não poderia fazer nada, mas nós dois juntos poderíamos fazer muita coisa! Eu
tenho influência sobre Phillip e você sobre Eliza. — Lorde James falou em tom venenoso.

— Sim, mas eu não tenho a influência necessária! Afinal, o Conde se apaixonou por ela a primeira
vista! Ela foi convencida pela mãe a aceitar o pedido de casamento e o Conde não desistiria de casar
por nada! — A senhorita Margareth, questionava ansiosa, pois estava começando a tomar gosto pela
ideia.

— Phillip ama Eliza, mas lembre -se que Phillip é ciumento, possessivo, quando apaixonado! Sei
disso porque sou amigo dele a anos! Sem falar que ele é homem e os homens não suportam certas
coisas que fira o seu orgulho e honra!

— Se és amigo do Conde a anos, como diz, está também apaixonado por Eliza? Também deseja se
casar com ela? Por isso quer separa-los? — a senhorita Margareth, perguntou curiosa.

— Casar? Ora não seja ridícula! Desejo Eliza, porque ela mexeu com meus instintos de homem! Além
de não ter engolido essa transformação do Philip de Lorde pobre e médico a um rico Conde!

— Entendi tudo: Cobiça e inveja...

— A senhorita não é nenhuma santa! E voltemos ao plano: Então, conhecendo, com eu o conheço,
esse compromisso não resistiria a algo que manchasse sua honra gravemente e o fizesse perder a
confiança em Eliza!

Lorde James, falava em voz baixa e em tom venenoso. Ele sabia que tinha achado a pessoa certa
para aliada e que tempos atrás, já tinha plantado a dúvida na cabeça do amigo. Então, de certa forma,
o plano já havia se iniciado.

— Sim, nenhum homem resiste a honra ferida, desconfiança, traição, mas como conseguiria isso?
— a prima Margareth perguntou curiosa.

— Deixe que eu cuido de arquitetar tudo, pensarei em algo rápido e lhe avisarei! Esteja pronta
para agir, quando chegar a hora certa! Por enquanto apenas quero a certeza do seu silêncio e da sua
cumplicidade! Quanto a mim, tem a minha palavra de cavalheiro de que nada do que foi dito entre nós
sairá daqui!

Lorde James, conclui sério, pois estava selando com a senhorita Margareth um pacto que caso
fosse vazado traria sérios problemas para os dois. Porém, caso fosse concluído provavelmente seria o
fim do compromisso do Conde Phillip e Eliza.

— Tem minha palavra Lorde James, do meu silêncio e da minha lealdade! Irei apenas esperar seus
planos e seu sinal para agir de acordo com as suas instruções!

Margareth Callow, a prima Mag, falou baixinho e olhou para o casal de futuros noivos, que
caminhava bem a frente dos dois. O casal, nem sequer imaginava, que mais atrás, por inveja e cobiça,
lobos em pele de cordeiro, tramavam contra aquela união.

Já era mais de cinco horas da tarde, daqui a pouco começaria a escurecer, então o Conde Phillip,
como responsável pelas duas senhoritas decidiu que era hora de encerrar o passeio. Afinal, não ficava
bem duas moças, mesmo uma comprometida, ficar passeando ao escurecer com dois homens pelos
campos. Não queria desgostar Lady Matilda, mãe de sua noiva. Assim todos voltaram para a casa de
Berkshire, após entregarem as duas senhoritas em casa, seguiram para Ashwell a cavalo. Lorde James
pernoitaria em Ashwell e a prima Margareth em Berkshire. Ambos, espertos como eram,
provavelmente, aproveitariam mais essa oportunidade para colher detalhes que pudesse ajudar a
arquitetar um plano de separação.

Então, na manhã seguinte, após o café da manhã, o pai da senhorita margareth, como sempre,
mandou um criado vir busca-la para leva-la de volta a Londres. Por sua vez, Lorde James também
voltou a Londres, com a missão de arquitetar algo e mandar avisar discretamente a senhorita
Margareth em Londres, cidade em que ambos moravam.

Após alguns dias, a senhorita Margareth Callow estava em uma refinada confeitaria em Londres,
com a sua mãe Lady Constância. Quando ao levantar para ir ao banheiro, uma garçonete lhe entregou
discretamente uma carta e fez um gesto em uma direção contraria, saindo de fininho. Então,
Margareth, sempre esperta, olhou para uma mesa mais afastada e avistou Lorde James sentado, o
mesmo acenou discretamente com a cabeça. Ela guardou a carta em sua bolsinha de mão para ler
mais tarde em segredo. Contudo, entendeu que finalmente tinha chegado a hora de agir e que naquela
carta continha o tão esperado plano.
Capítulo 6
— Aonde vai menina? — a criada Mary, perguntou a Eliza, enquanto varria a entrada da porta
principal.

— Molly... eu vou até o riacho passear com o Teddy, está uma manhã tão linda e estou com
saudades daquele barulho de água corrente... — Eliza explicou toda meiga para tentar dobrar a Molly
e com olhar travesso.

— Hum! Se sua mãe souber que você anda sozinha longe de casa, não vai gostar! A senhorita é
muito travessa! Está se aproveitando que sua mãe saiu para comprar mantimentos para a despensa de
Berkshire!

A criada Mary falou meio ranzinza, não tinha autoridade máxima sobre Eliza, mas se
preocupava com ela.

— Ah Molly, eu não irei fazer nada de mais, vou apenas passear, eu nem estou indo passear
sozinha com o Phillip para você ficar com essa cara zangada! — Eliza argumentou, batendo o pé e
fazendo beicinho.

— Esse é outro que também pode não gostar: O seu noivo! Além de ser ciumento, não são bem
vistas moças que andam sozinhas por aí! Até mesmo quando se trata de campos próximos de casa e
onde quase não surge ninguém! — a criada argumentou.

— O Phillip não iria se importar, caso soubesse, lembre-se que ele é francês, a sua mãe é que era
inglesa, ele foi criado na modernidade de Paris! — Eliza falou confiante e saiu, levando Teddy
consigo.

— Modernidade! Hum! Os homens somente gostam de modernidade na hora de se divertirem


menina! Nunca esqueça disso!

A criada a preveniu e continuou seu serviço, deixando Eliza ir para onde desejasse. O que ela
faria era apenas guardar segredo a Lady Matilda, por mais uma das suas travessuras.

Desde aquele primeiro encontro desastroso com o Conde Phillip no riacho, Eliza não tinha
retornado mais ao local. Apesar de gostar muito daquela paz, daquele barulhinho de água corrente.
Os motivos para ela não retornar foram muitos. O primeiro que poderia mesmo aparecer algum
estranho, como um dia apareceu o Conde Phillip. Além do mais a vida dela havia tomada outros
rumos. Ela não precisava mais ler romances às escondidas, na verdade estranhamente não sentia mais
tanta vontade de ler um romance atrás do outro.
— Teddy! Não vá aprontar nada, seu cãozinho travesso! Ah! pegue a sua bola e vai brincar ali
embaixo daquela árvore, enquanto olho a margem do riacho! Não quero que se aproxime dela, tenho
medo que você cai dentro da água! — Eliza falou séria com o cãozinho.

— Au! Au! Au!

Teddy latiu abanando o rabinho e correu atrás da sua bola de lã que Eliza jogou em direção a
árvore por ela indicada.

Eliza observava encantada a água corrente do riacho, até que de repente ao olhar para a divisa
com Ashwell, ela viu o Conde Phillip. Igual da primeira vez, ele estava sozinho montando o seu
garboso cavalo castanho, porém dessa vez ela não precisava sentir medo dele. Inclusive, ela achou
melhor avisa-lo da sua presença ali, para que ele não recomeçasse com as desconfianças de que ela
estaria esperando alguém, como ele já tinha chegado a insinuar.

— Phillip! Phillip! Aqui! — Eliza gritou e acenou em direção a ele, para que a avistasse da outra
margem do riacho.

O Conde Phillip, ouviu ao longe a voz da jovem. Olhou para o local de onde vinha os gritos e
avistou Eliza sozinha ali no riacho, igual como a primeira vez que se viram, coisa que ele não esperava
encontrar. O Conde era um homem bonito, elegante, vaidoso, apesar de está apenas em um passeio
matinal para arejar as ideias, estava bem-vestido como sempre. Eliza tinha que admitir que o seu
futuro esposo era um belo cavalheiro. Ele também contemplou a beleza e graça natural da jovem, em
seu longo vestido de musseline lilás, os longos cabelos castanhos soltos ao vento e um xale para
disfarçar o decote que raramente Lady Matilda lhe permitia usar.

O Conde Phillip, ficou supreso ao ve-la ali sozinha, atravessou a divisa dentre as duas
propriedades para chegar até a jovem. Então, amarrou seu cavalo numa árvore próxima e chegou até
a sua amada que lhe esperava do outro lado. A está altura o cãozinho Teddy, já tinha se familiarizado
com o Conde e não latiu ao ve-lo chegar. Continuou a brincar com a sua bola de lã embaixo da
árvore.

— Eliza! o que faz aqui sozinha no riacho? Algum estranho pode aparecer, lembra do nosso
primeiro encontro? Ou estava a espera de alguém? Vamos para casa, eu lhe acompanharei até lá! —
Phillip lhe perguntou mal humorado, em tom de ciúmes, enquanto lhe segurava pelo braço.

— Phillip, não me trate assim! Não sou sua propriedade! E não gosto quando você desconfia de
mim! — a jovem respondeu brava, com seu jeito espevitado e atrevido.

— Porém falta muito pouco para ser, minha cara! Em breve estaremos casados e você terá que me
obedecer! Então é melhor já ir se acostumando! Não acho correto, uma moça andar sozinha pelos
campos! Ainda mais sendo a minha futura esposa! — ele falou sério, olhando em seus olhos, enquanto
lhe segurava o braço.

— Eu estava com saudade da paz desse local! Então, aproveitei que mamãe saiu para as compras
mensais e vim até aqui, somente a Molly sabe...

Eliza se justificou, apesar de incomodada com jeito possessivo, ciumento do seu futuro esposo.
Além da forma como ele ainda continuava a desconfiar que ela poderia está esperando alguém no
riacho. O Conde largou o seu braço lentamente, mas continua a lhe encarar.

— Então sua mãe, mais uma vez, não sabe? Como eu imaginava, não falarei nada! Porém, acho
que ela não iria gostar também se souber que nós dois estamos sozinhos aqui! Apesar de faltar apenas
uma semana para a nossa festa de noivado, em seguida nosso casamento... — o Conde Phillip, que de
inicio reprovou a atitude de Eliza, agora a encarava com olhar de desejo e cumplicidade.

— Sim Phillip... mamãe também não gostaria disso. Ela acha que até mesmo noivos não devem
ficar sozinhos antes do casamento. Por isso nunca nos deixou ficar a sós... — Eliza falava meio tímida,
pois já estava ficando incomodada como rumo da conversa.

— Hum... Sei... E por isso, somente senti seus doces lábios uma única vez, em um beijo roubado...
— o Conde, de pé, se aproximou devagar de Eliza, o casal se encontrava embaixo de um grande
árvore.

— Roubado e forçado! Onde você foi muito atrevido e grosseiro naquele dia no banco do jardim!

Eliza falou brava e confusa, sentia algo diferente no ar com o Conde se aproximando de mansinho.

Porém, não sabia se devia ou não permitir mais intimidade com o seu quase noivo. Apesar que
dentro de uma semana estariam oficialmente noivos e em breve casados.

— Perdão minha querida... É que é muito difícil para um homem, se controlar diante de tão bela
mademoiselle, a quem desejo como esposa e mulher! — o Conde Phillip, falou de forma galanteadora
e Eliza corou ao ouvir isso.

Phillip, experiente percebeu isso e não se conteve, era um homem acostumado a ter uma vida ativa
com mulheres, somente mudou após conhecer e se apaixonar por Eliza. Então, ele se aproximou
lentamente da jovem, para não assusta-la, fez um carinho em seu rosto de porcelana, em seguida a
enlaçou rapidamente pela cintura, colando seu corpo ao dela. Ela se assustou um pouco, mas ela a
tranquilizou.

— Calma minha querida, não lhe farei mal e em breve serei seu esposo... — ele falou baixinho ao
seu ouvido, com voz ofegante.

Os dois se olharam em silêncio, com o rosto quase colado, Eliza com coração acelerado, os olhos
curiosos bem abertos. O Conde Phillip com a respiração ofegante de desejo e paixão pela sua amada,
pois, era a primeira vez que eles tinham a oportunidade de um momento mais íntimo, sem serem
vigiados.
— Minha Eliza, feita para mim...

Então, ao dizer isso Phillip, com o olhar semicerrado, colou lentamente os lábios nos dela.
Apertando ainda mais ela em seus braços e contra o seu corpo másculo.

Eliza nunca tinha sido beijada daquela forma e apesar de início um pouco tímida, devido a
inexperiência, acabou correspondendo calorosamente ao beijo. Ela com o seu jeito espevitado, não
concordava com algumas conversas discretas que ouvia sua mãe sussurar entre senhoras, de que uma
mulher honrada, séria, não podia demonstrar euforia, empolgação ao corresponder ao marido.
Segundo elas, o que um homem poderia pensar? Até mesmo se fosse um homem quase noivo, com
intenções sérias. Apesar de já ter ouvido toda essa conversa, ouvia calada, mas achava estranho, não
concordava com essa regra do pudor que reinava entre senhoras e senhoritas.

— Phillip... Controle-se... Você já sentiu meus lábios... Agora é melhor que eu vá embora... — a
jovem falava, com a respiração ofegante, entre os beijos calientes do Conde.

— Calma Eliza... Não lhe farei mal... Quero apenas sentir mais um pouco de você...

Aos pouco o Conde Phillip venceu a resistência dela, durante o beijo, foi fazendo-a ir sentando
devagar na relva macia, embaixo na árvore que já estavam. Ele era um homem experiente, com os
instintos de masculinos bem acessos, mesmo amando e respeitando muito a jovem. De repente Eliza se
surpreendeu ao sentir, entre os beijos molhados, as mãos do conde, apalpar delicadamente, por cima
do vestido, seus seios firmes, redondos e nunca tocados, ela se assustou e tentou se esquivar. Apesar
dela já saber o que acontecia entre um homem e uma mulher a sós, a parte prática era algo novo para
ela.

— Eliza... eu te amo, a nossa festa de noivado é daqui a uma semana. Após isso, com mais um mês
estaremos casados... — ele falava galante, ao seu ouvido, entre um beijo e um carinho mais atrevido
ou outro.

A jovem estava gostando daquela sensação nova, daquela moleza gostosa que percorria todo o seu
corpo, um fogo embaixo das saias. Porém, se sentia confusa, se devia aceitar os arroubos do quase
noivo, se entregar com um certo limite ou após começar não existia limites? Ah! E se alguém os visse?
Tudo isso passava pela cabeça confusa de Eliza.

— Phillip... Tenho medo, se alguém nos vir ou se minha mãe souber...

A jovem falava com a voz da razão, mas os gestos e atos estavam obedecendo a voz da emoção,
pois, protestava sem repelir seriamente o noivo.

— Ninguém irá ver... Estamos apenas nós dois aqui e dou a minha palavra de cavalheiro que
casarei com você! Sou responsável por o que acontecer entre nós dois aqui, meu amor!

Ele falava de forma sincera, mas com a voz entre cortada e ofegante de um homem apaixonado,
impulsivo e louco de desejo.

— Ficarei apenas, mais um pouco, está bem? Preciso retornar a casa, antes que minha mãe retorne
da cidade... — Eliza falava com a voz ofegante e sem ter mais certeza se ainda sentia aquela antipatia
inicial, de quando o conheceu.

Eliza continuo, quase deitada na relva, com a parte de cima do corpo apoiado no tronco da enorme
árvore. O Conde Phillip, a essa altura, continuava a lhe beijar, apaixonadamente, levantando um
pouco do seu pesado vestido e anáguas e se encaixando entre as suas coxas. Não tinha intenção de
penetra-la, mas queria a sentir bem próxima. A jovem, que ainda virgem, como se era esperado,
comum entre as senhoritas casadoiras, nunca tinha sentindo o forte membro masculino entre as suas
coxas, pressionando a sua flor da pureza, como chamava a sua Molly. Então, de inicio ela parou um
pouco de corresponder aos beijos e carinhos, ficando um pouco assustada.

— Não Phillip! Afaste-se...

— Calma meu amor... Não vou roubar sua pureza, isso acontecerá na hora certa, em nossa noite de
nupcias! Não tenha medo... Confie em mim, sou um cavalheiro e te amo muito!

Eliza ofegante, continuo a corresponder o beijo quente e apaixonado do Conde. Enquanto sentia o
membro duro, entre as suas pernas, por baixo das calças dele, a roçar a suas roupas de baixo e a
pressionar o seu maior tesouro.

— Não está gostando minha querida?

Ele perguntava gentilmente ao seu ouvido, enquanto aproveitando o decote, beijava a parte que
sobressaia dos seios fartos de Eliza.

— Não sei... Não sei se devo. — ela respondia a sem muita firmeza na voz e correspondia
intensamente seus beijos e carinhos. Talvez no fundo a jovem já estivesse apaixonada pelo noivo e
ainda não havia percebido.

A água corrente do riacho fazia um barulho agradável, a respiração ofegante dos dois, estava um
clima diferente no ar, pois nunca tiveram a oportunidade de trocar beijos, abraços apertados, outros
carinhos ainda mais íntimos. Contudo, esse clima foi quebrado pelo latido de Teddy, que
alcoviteiramente observava o casal, como se entendesse tudo e vigiasse para caso surgisse alguém.

— Au! Au! — Teddy latiu alto e feroz!

O casal, rapidamente acordou daquele transe, pois parecia que estavam enfeitiçados pelo desejo.
O Conde se recompôs rapidamente, precisou apenas sair de cima de Eliza, ficando sentado ao seu lado
embaixo da árvore e disfarçando a respiração. Já Eliza, baixou rapidamente as saias do seu longo
vestido, ajeitou o seu decote, tentou controlar a respiração ofegante e o rosto ruborizado. Era um dos
criados homens de Berkshire, não sabia ao certo se ele tinha visto algo, provavelmente não, devido ao
grosso tronco da árvore.
— Senhorita Elizabeth, a sua mãe já retornou de Londres. Como lhe procurou por toda a casa e
não a achou, mandou eu vir procurar a senhorita aqui no riacho! — o criado falava sério, ele não era
dos mais antigos da casa e não era próximo a Eliza.

— Está bem, estou indo... — a jovem falou baixinho

— Vamos Teddy! — em seguida deu a ordem ao seu cãozinho.

O Conde Phillip, tentou manter a calma na situação. Contudo, sabia que apesar de talvez o criado
não ter visto nada, so o fato da presença dele ali sozinho com a sua jovem noiva, já era algo não muito
bem aceito na sociedade inglesa.

— Eliza, apesar de não termos combinado esse encontro aqui a sós e tudo não passou de uma
coincidência, como seu noivo eu me sinto responsável por você. Então quero acompanha-la até em
casa. — o Conde Phillip falou seriamente, como um cavalheiro.

— Claro Phillip, obrigada!

O Conde Phillip acompanhou a jovem Eliza até a sua casa, foram o trajeto todo em silêncio: Eliza
com Teddy em seu colo, Phillip e o criado. Ao chegarem em casa, Lady Matilda a aguardava na sala
principal. Ela se surpreendeu ao ver Eliza chegar acompanhada do Conde, pois não esperava ve-lo em
Berkshire naquele período da manhã, quase hora do almoço.

— Elizabeth, por onde andava? — sua mãe perguntou séria.

— Eu fui apenas passear um pouco com o Teddy e quando me dei conta já estava quase no riacho.
— a jovem respondeu amuada.

— Conde Phillip? A que devo a honra? Ou vocês estavam juntos? — Lady Matilda perguntou
desconfiada e apesar de educada por ser tratar do Conde, estava visivelmente contrariada.

— Perdão madame! Tudo não passou de uma coincidência, dou minha palavra de honra que não
foi um encontro combinado! Por acaso enquanto eu passeava na divisa de Ashwell e Berkshire avistei
Eliza e fui ter rapidamente com ela, logo em seguida chegou o criado enviado pela senhora. Porém,
não se preocupe, não aconteceu nada que colocasse em risco a honra de Eliza. Além do mais vamos
ficar noivos daqui a menos de uma semana. — o Conde Phillip, falava sério para que Lady Matilda
não duvidasse deles dois ou que acabasse castigando Eliza.

— Tudo bem senhor Conde, confio no senhor! Então, almoça conosco?

Lady Matilda falou ainda meio a contra-gosto. Mas, como se tratava do Conde e futuro genro, que
inclusive mantinha os gastos de Berkshire, tinha que ser cautelosa.
— Não posso! Fico horando com o convite, mas prometi almoçar com a minha tia Lady Berta e não
gostaria de fazer essa desfeita com ela. — o Conde respondeu educado, se despediu e foi embora.

Ao ficar somente mãe e filha na grande sala, decorada estilo vitoriano, Lady Matilda que zelava
muito pela honra, aparências e era muito esperta, não gostou do acontecido.

— Elizabeh, Elizabeth! Quero so lhe avisar que noivado não é casamento! Ouviu? Nem parece que
até pouco tempo atrás, sentia antipatia pelo Conde! — a senhora antipática, falou brava, encarando a
filha cabisbaixa.

— Ah mamãe... Foi tudo como o Phillip explicou, não aconteceu nada demais! Agora vamos
almoçar, pois estou com fome... — Eliza falou baixinho, meio cabisbaixa.

Mãe e filha almoçaram em silêncio na grande mesa. Uma criada mais jovem servindo a refeição,
pois a criada Mary, era quase uma governanta que
coordenava as outras poucas criadas e criados da casa.

Após o almoço Lady Matilda foi dormir o seu sono de inicio da tarde e Eliza se trancou em seu
quarto, levando Teddy consigo. Ele adorava dormir num cantinho do quarto e ela queria muito ficar
sozinha.

Agora sozinha em seu quarto, Eliza pode deitada em sua cama, relembrar tudo que tinha vivido
com Phillip, a poucas horas atrás. Agora, sem se preocupar, se alguém notaria o rubor em sua face,
branca de porcelana que ao recordar ficava vermelha. Ela ainda estava confusa se fez errada, após
passar o susto inicial da experiência e pudor, ter correspondido ao noivo com tanto fervor. Ela sempre
ouviu que moças de família, não correspondem assim ao seu noivo ou esposo. Além disso algo mais lhe
deixava confusa:

— Porquê eu o correspondi daquela forma? Será que aos poucos estou me apaixonando pelo
Conde Phillip sem me dar conta? — Eliza pensava consigo mesma, deitada em sua cama.

Porém, era inevitável para ela não recordar e, ao mesmo tempo não ficar corada, a boca macia do
Conde Phillip se colando a dela num beijo molhado. A sensação estranha, mas ao mesmo tempo
gostosa que tomou conta dela, ao sentir seu amado, deitado entre as suas pernas. O contato do
membro masculino duro roçando as suas roupas de baixo com as saias do seu longo vestido
levantado. A sensação das mãos deles acariciando seus seios grandes e os mamilos endurecendo ao
toque. Tudo isso deixou Eliza em êxtase na hora e não sabia o que poderia ter acontecido se o criado
não tivesse chegado, apesar de Phillip ter dito que preferia esperar para pela noite de núpcias.

Então, foi assim, inebriada em sensações novas para ela, que Eliza pegou no sono, após o almoço,
a sonhar com o homem que em poucos dias seria seu noivo oficial e muito em breve o seu esposo.
Capítulo 7
Afesta estava belíssima, após quase três anos que Eliza e sua mãe tiveram que deixar a sua
residência em Londres. A mansão dos Eglingtons que fora confiscada pelo velho conde de Ashwell por
dívidas de jogo, depois da morte de Lorde Thomas. Elas terem sido obrigadas, por ordem do velho
Conde, a irem morar no campo em Berkshire, as duas retornaram a moralista sociedade londrina em
grande estilo.

O Conde Phillip que não era acostumado a vida no campo, logo decidiu morar em Londres após o
casamento. Então, para agradar ainda mais a sua amada Eliza, mandou que os inquilinos
desocupassem a grande mansão que Eliza passou sua infância, para realizar o baile oficial de noivado
e após o casamento passaria a residirem nela.

A mando de Lady Matilda, que cuidou de toda a organização da festa, comida, decoração, lista de
convidados, foram convidados além de uns poucos parentes que restaram dos Eglingtons, os principais
nomes da sociedade inglesa. Ela queria mostrar a todas senhoras e senhores que ela e sua filha tinham
dado a volta por cima. Ela não era mais a viúva falida, tentando manter as aparências e alcoviteira em
relação a filha e o velho Conde, com o qual a filha iria se casar obrigada. Todos sabiam que, num
passado recente, Eliza tinha sido negociada em troca de dívidas de jogo, a sociedade londrina sabia
disso e as menosprezavam. Contudo, tudo havia mudado, várias damas da sociedade estava nas festas
com seus maridos e filhas. Todavia, todas eram só inveja ao olharem para ela e principalmente ao
olharem para Eliza, que em breve seria uma rica Condessa, casada com um tão belo Conde.

— Você está linda meu amor, é a moça mais bela da festa!

O Conde Phillip falou ao ouvido de Eliza, enquanto a abraçava escondido no corredor que dava
acesso aos quartos.

— Obrigada Phillip, mas vamos voltar para a festa e ajudar mamãe a receber os convidados! Além
do mais ela vai ficar uma fera se nos pegar aqui sozinhos, afinal o que os convidados irão pensar?

0Eliza recebeu o elogio toda faceira e espevitada, mas depois lembrou da sua mãe e ficou
preocupada, com medo da bronca.

— Então vamos, retornarei primeiro e você vai em seguida para que não levantar suspeitas, mas
confesso que está cada dia mais difícil esperar o momento para você ser minha de verdade! Eu lembro
todo os dias daquela nossa manhã na beira do riacho, as vezes acho que se aquele criado não tivesse
chegado a tempo... — o Conde Phillip respondeu galante, enquanto segurava a mão da sua amada e a
olhava nos olhos.

— Phillip !!! Comporte-se!


Eliza respondeu ruborizada e bateu levemente o seu leque fechado contra ele, que sorriu em
seguida ao observar o seu rosto ruborizado.

Eliza realmente estava a moça mais bela da festa, essa era a opinião não só do seu noivo, mas
também de Lorde James que a olhava com olhos de cobiça e de todos os outros convidados. O clima de
inveja e cobiça que emanava dos convidados, em relação a Eliza e o conde Phillip, reinava no ar.

A jovem Eliza, vestia um magnífico vestido longo de seda com detalhes em renda, na cor cereja. Em
seu colo um belo colar de diamantes, em sua cabeça uma linda tiara prateada, que realçava ainda
mais os seus belos cabelos castanhos.

Lady Matilda, que também estava vestida a altura, olhava com satisfação para Eliza coberta de
joias, as joias de família dos Eglingtons finalmente tinha sido recuperadas. O Conde Phillip retirou
todas do cofre do velho Conde e as devolveu a Eliza, para que as usasse no baile e também por achar
que eram dela por direito. O Conde Phillip não concordava com a forma que o seu falecido e
ganancioso tio, se aproveitou do vício do falecido Lorde Thomas Eglington para aos poucos se
apoderar de tudo que os Eglingtos possuía, até que por fim exigiu a jovem e bela Eliza.

— Prima Eliza, como você está bela! Me de um abraço e parabéns por tão linda festa! Devo dizer
que para quem incialmente não queria se casar com o Conde, você está muito animada!

Falou a senhorita Margareth Callow, a prima Mag, ao chegar na festa acompanhada de sua mãe
Lady Constância e do seu pai, tio de Eliza.

— Obrigada prima! Eu fico muito feliz com a sua presença e a dos meus estimados tios!

Eliza falou gentilmente, ignorou o comentário maldoso e as duas se abraçaram. A prima Margareth
era uma boa atriz. Eliza não conseguia perceber o quanto de inveja tinha naquele cumprimento e
naquele abraço .

A prima Margareth, apesar de não chegar aos pés de Eliza, não era feia, era comum, mas era muito
vaidosa e sempre bem vestida. Então, para o baile ela caprichou ainda mais em seu traje de gala, um
maravilhoso vestido azul-turquesa. Ao chegar no salão ela e Lorde James trocaram discretamente
olhares maliciosos de cumplicidade.

Durante o baile Lorde James prevendo que faltava pouco mais de uma hora para que o Conde
Phillip realizasse o anúncio oficial de noivado, se aproximou discretamente da senhorita Margareth.

— Daqui a pouco mais de uma hora, será o anúncio do noivado oficial, você está pronta para agir?
Já tenho tudo preparado, mas preciso da sua ajuda como combinamos anteriormente! — Lorde James
falou baixinho, disfarçando para que ninguém ouvisse, mas de qualquer forma o som da música
camuflava a conversa.

— Agir? Sim, mas tenho medo que aconteça uma tragédia. — a prima Margareth falou com um
pouco de receio, apesar de ser má, invejosa e falsa, tinha medo de ser descoberta ou até causar uma
tragédia em família.

Lorde James, mais esperto e vivido do que ela, percebeu a sua hesitação e argumentou:

— Não seja boba! Não desista agora, lembre-se que você poderá depois tentar conquistar o Conde
e virar uma Condessa! Quanto a tragédia, não se preocupe, eu convenci Phillip a deixar sua arma
guardada na carruagem! Argumentei que não havia necessidade dela em seu baile de noivado. —
Lorde James falou de modo venenoso.

Os olhos da senhorita Margareth brilharam quando ouviu de Lorde James que ela tinha
possibilidade de conquistar o Conde Phillip e além disso ainda se tornar uma condessa.

— O que tenho que fazer? — a senhorita Margareth Callow, perguntou baixinho.

— Atrair Eliza para o quarto dela!

— E como irei fazer isso? E depois o que pretende fazer? — ela perguntou tentando disfarçar o
espanto.

— Ah! Não sei como! Use a desculpa de que precisa de ajuda para arrumar algo em seu vestido!
Preciso que lá mesmo proponha um brinde com um copo de ponche! Um brinde entre vocês duas,
coloque esse liquido no copo dela! Porém, apenas duas gotas, lembre-se que o Conde é um médico!
Ele perceberá se Eliza demonstrar que foi dopada exageradamente!

Lorde James falava venenoso, o típico plano de alguém sem caráter e que já estava acostumado a
atitudes tão vis. Quanto a senhorita Margareth, ela invejava a prima Eliza, desejava o Conde Phillip,
mas não era tão expert em fazer maldades quanto Lorde James.

— E após isso?

A senhorita Margareth já estava ficando assustada e com um frio na barriga, mas a sua ambição
falava mais alto.

— Após isso, saia do quarto o mais rápido possível, e deixe Eliza sozinha! Ela começará a ficar
sonolenta e sem noção das coisas. Então, me avise em seguida, o resto é comigo! Já tenho um homem
de minha confiança, infiltrado no baile e que participará do desfecho final! — Lorde James conclui.

— Um homem? E o que irá fazer? Vai mata-la? — a jovem perguntou assustada.

— Não, eu não sou um assassino! A senhorita, por acaso é? — Lorde James respondeu
cinicamente.
— Claro que não! Lembre-se: Quero o Conde Phillip, mas a prima Eliza deve permanecer viva!

— Não se preocupe! Depois de hoje a noite sua prima permanecerá viva na memória de todos e
morta do coração do meu amigo Phillip para sempre!

Então, assim a prima Margareth, com um certo receio, mas movida pela ambição e inveja executou
passo a passo o que Lorde James ordenou. Então, após ter feito a sua parte, retornou para o salão do
baile e avisou ao seu cúmplice. Após isso ficou a se divertir dançando uma valsa ou outra para
disfarçar, na expectativa do que viria em seguida, pois, nem tudo lhe fora revelado.

Já era quase meia-noite, a hora do anúncio oficial, o Conde Phillip, Lady Matilda, os
convidados, esperavam ansiosos por aquele momento do baile. Porém, já fazia algum tempo que eles
avistaram

Eliza pela última vez, desde que o baile começou. A última vez que a avistaram, ela recebia
convidados. Depois ficou a conversar animada, com seu jeito espevitado, com as moças da sua idade.
Enquanto a distância trocava olhares com o seu futuro esposo, o Conde Phillip.

— Lady Matilda, amigo Phillip, já são quase meia- noite, a hora tradicional do anuncio! Eu quero
ser o primeiro a lhe parabenizar por ter conseguido o coração de tão bela e pura jovem. — Lorde
James falou falso, na verdade uma estratégia para tocar fogo no estopim.

— Obrigada amigo! Sei que deseja a minha felicidade e essa felicidade só é possível ao lado da
minha amada Eliza! — o Conde Phillip falou entusiasmado, a voz de um homem apaixonado, além de
ter consumido já um pouco de álcool.

— Lorde James tem razão! Irei procurar Elizabeth, a tempos não a vejo no salão, ela tem que esta
aqui rápido para o anúncio a meia-noite!

Lady Matilda, com o seu jeito arrogante, falou preocupada em cumprir a pompa, etiqueta e
tradição.

Após dar umas voltas pelo grande salão Lady Matilda não achou a filha. Ao achar o Conde
acompanhado estrategicamente por Lorde James, fez um comentário que não a estava achando.

— Senhora, diante da urgência, para não estragar a tradição em um baile tão bonito e especial,
permita que eu e o Conde também busquemos! Buscaremos pelos vários cômodos da casa, já que a
senhora não a achou em seu quarto. — Lorde James, falou fingindo ser prestativo.

— Não fica bem o noivo ser visto sozinho com a noiva pelos quartos da casa, mas vou permitir e
irei com vocês devido a urgência! — Lady Matilda falou séria.

Eles subiram todos juntos a enorme escadas em madeira escura colonial, que dava acesso aos
vários quartos da enorme mansão. Aquela altura já tinha se espalhado discretamente pela festa, um
burburinho de que já estava quase hora do anúncio e a noiva havia sumido. Então, isso era um prato
cheio para algumas fofoqueiras da nata da sociedade londrina, ficarem de orelhas e olhos bem abertos
a espreita de fofocas, inclusive algumas seguiram discretamente os dois homens e Lady Matilda na
busca por Eliza.

O trio abriram porta a porta os vários quartos da mansão e nada de contrar a jovem. Lady Matilda
já estava preocupada e também incomodada por algumas pessoas que aquela altura participavam da
busca tão intima, sem serem convidadas a subirem.

— Onde estará Eliza? — o Conde Phillip, perguntava preocupado, enquanto abria a porta do
penúltimo quarto.

— Eu não sei onde essa menina se meteu! Quando acha-la vou lhe dar uma bronca por estragar a
tradição do anúncio oficial a meia-noite! Onde já se viu estragar um baile tão especial. — Lady
Matilda falava brava, mais preocupada com a etiqueta do que como bem estar da filha.

— Eliza saiu da mansão ainda muito criança milady? — perguntou Lorde James dissimuladamente.

— Ela já tinha idade suficiente para conhecer todos os quartos da casa. Sabia que alguns não era
tão usados quanto outros e as vezes se escondia neles em alguma travessura. — Lady Matilda conclui
séria.

O Conde Phillip já estava nervoso, preocupado no que poderia ter acontecido a sua amada. Ele se
antecipou a frente querendo ser o primeiro a abrir a porta do décimo segundo e ultimo quarto, Lorde
James propositalmente o deixou ir a frente.

— Que absurdo é este? O que significa isto?

Essa foi a primeira palavra a sair da boca do Conde Phillip, com a voz exaltada, uma mistura de
surpresa, ódio e dor.

A sua frente, deitada na enorme cama de casal, no quarto antes escuro, antes do Conde Phillip
acender a luz, ao perceber que tinha alguém deitado na cama. A sua bela e jovem noiva,
aparentemente dormia abraçada a um jovem desconhecido por eles, ela usava apenas suas roupas de
baixo. Tudo levava a crê que naquele quarto tinha acontecido um ato de amor, uma relação entre dois
amantes as escondidas, que agora descansavam e foram surpreendidos.

— Prostituta! falsa! Dissimulada! Quanto a você seu canalha, você vai pagar caro por participar
dessa desonra!

O Phillip gritou alto, com o rosto deformado de ódio e decepção, enquanto procurava na cintura a
sua arma, por baixo do casaco. Porém, seu amigo Lorde James o tinha convencido a deixa-la na
carruagem. Afinal, era uma noite de festa, pra que uma arma?
— Elizabeth! o que significa isso? Quer me matar de desgosto e sujar a memória do seu falecido
pai? — Lady Matilda perguntou brava, boquiaberta, mal podia acreditar no que seus os olhos
enxergavam.

O Conde Phillip partiu para cima do rapaz desconhecido aos berros, pretendia literalmente fazer
justiça com as próprias mãos, ao perceber que estava sem sua arma.

— Eu vou lhe matar, desgraçado! Seu patife!

Foram as palavras do Conde, antes de partir para cima do rapaz desconhecido e ser contido por
Lorde James.

— Calma, amigo Phillip! Não cause uma tragédia em sua festa de noivado!

Lorde James conteve Phillip, com a desculpa que não deveria causar uma tragédia em sua festa de
noivado. Contudo, com isso o rapaz desconhecido teve tempo de agilmente, pular a enorme janela do
quarto, descer pela varanda e fugir rapidamente da cena do crime, parecia ser um profissional. Então,
a jovem Eliza ficou sozinha na cena da desonra e vergonha, vestida apenas com suas roupas de baixo
mais íntimas, se perguntando atordoada, o que estava acontecendo, diante de uma pequena plateia que
aos poucos fora se formando. Era seu tio, sua mãe, seu noivo, seu melhor amigo e mais alguns
convidados intrometidos que aos poucos foram tomando parte na busca.

— Phillip? Mamãe? não me olhem assim, eu não conheço esse rapaz eu não fiz nada! Lembro que
senti muito sono em determinado momento, então alguém me amparou e já acordei com vocês aqui! —
a jovem se explicava em lágrimas.

— Sua prostituta! Dissimulada! Desavergonhada! Por acaso quis fazer uma despedida de solteiro
igual os cavalheiros a fazem? Por acaso esse rapaz era algum namoradinho? Foi por isso que de
início relutou tanto em aceitar meu pedido de casamento?

— Eu... eu não sei do que está falando! Nunca existiu nenhum namoradinho ! Não conheço aquele
rapaz!

— Era isso que escondia com o seu comportamento espevitado? E aqueles passeios no riacho eram
para isso também? Você já se encontrava com esse rapaz? Era por ele que esperava naquele dia em
que te conheci no riacho! — o Conde Phillip falava bravo enquanto sacolejava Eliza pelos braços.

— Calma Phillip! calma! Eliza vista o meu casaco!

Lorde James no meio de todo o tumulto, bancava o amigo apaziguador e cavalheiro ao tirar seu
casaco para Eliza se cobrir. Pois, ela ainda estava de roupas íntimas diante da pequena plateia.

— Phillip, acredite em mim! Não sei quem é aquele rapaz! Acho que colocaram algo no meu
ponche! — a jovem pedia em lágrimas, quase ajoelhada, em cima da cama, com o Conde a lhe
sacolejar pelos pulsos.

— Antes de ser um conde eu sou um médico! Você não tem aparência de uma pessoa realmente
dopada, a ponto de não saber o que estava fazendo! Como fui tolo! Confiei e me encantei com a sua
beleza e pureza! Entreguei meu coração a você e agora você me desonra diante de toda uma plateia!
Aposto que a essa altura, todos no salão já estão comentando!

Então, Lady Matilda se aproximou da jovem, que ainda estava sentada no meio da cama. Até agora
a sua mãe apenas assistia em choque a cena e a reação do Conde Phillip.

— Elizabeth, você nos envergonhou e nos desonrou diante de toda uma sociedade! Provavelmente a
essa altura todo o salão deve esta comentando discretamente o que alguns presenciaram aqui, esse
tipo de coisa é igual a rastro de pólvora! O Conde Phillip provavelmente não deseja mais o noivado
ou casamento com você e eu como sua mãe a repudio!

— Mamãe... Por favor.... Não...

— Sim! Isso mesmo que você ouviu: Eu a repudio! Você não mais morará aqui comigo ou onde
quer que eu vá morar, não quero a sua desonra debaixo do meu teto! — Lady Matilda falou séria.

— Mamãe! Por favor acredite em mim... eu nem sequer conheço aquele homem! — a jovem
implorava entre lágrimas.

O Conde Phillip, com o coração despedaçado, numa mistura de decepção, ódio e vergonha, olhava
pela janela do quarto, com as mãos na cabeça desesperado, enquanto Lady Matilda concluiu o que ela
tinha a dizer para a jovem Eliza. Porém, o Conde virou-se da janela e interrompeu Lady Matilda,
com o rosto deformado pelo ódio. Ele falou de uma forma fria, parecia outro homem, era como se o
Conde Phillip, cavalheiro, apaixonado tivesse morrido e dado lugar a um outro Phillip.

— Espere madame! Eu dei todo o meu amor a sua filha Elizabeth, acreditei em sua pureza e ela me
apunhalou pelas costas! Envergonhando-me diante de toda a sociedade em nosso baile de noivado!

— Sim, senhor Conde e eu estou profundamente envergonhada! Após isso, pretendo passar uma
longa temporada no campo!

— Porém, quero dizer que haverá sim o noivado! Haverá sim o casamento! Pois, Elizabeth irá
pagar ao meu lado a dor, a desonra e a decepção que ela me fez passar hoje neste quarto! — o Conde
Phillip, falava pausadamente, com a voz carregada de ódio e emoção.

— Senhor Conde, não entendo! O senhor tem certeza? — Lady Matilda perguntou, mais surpresa
ainda.

— Espere, mamãe! Eu não quero casar para ser humilhada e maltratada! Como uma espécie de
vingança! — Eliza falou chorosa, mas decidida.
— Cale a boca, Elizabeth! E se você não deseja mais se casar, você deseja o que? Após todo esse
escândalo? Uma vaga em um bordel em Londres ou em Paris? Cale a boca! Você não tem mais querer
nessa história! — Lady Matilda falou brava.

— E ainda assim, desonrada, você ainda me rejeita Elizabeth? Sua ingrata! Eu salvei sua família
da ruina! Você era apenas uma jovem aristocrata falida, vendida ao meu tio em troca de dívidas de
jogo!

— Eu não sou ingrata! Também não sou mentirosa! Porém, não quero mais me casar com alguém
que além de duvidar de mim, agora deseja se casar apenas para me fazer sofrer e me humilhar!
Phillip, se me obrigar a casar com você, nessas condições, irei te odiar!

— Não tem problema, minha cara! Eu me contento com o seu ódio! Agora, mais do que nunca, haverá
sim noivado e casamento!

As palavras duras de sua mãe e depois as do Conde Phillip, calou a jovem Eliza, mas ela estava
sendo sincera em dizer que diante do juramento do Conde, ela não desejava mais casar. Porém, ela
não estava em condições de opinar em nada .

— Amigo Phillip, você está de cabeça quente não é hora para decisões precipitadas!

Lorde James tentou intervir, pois, o plano não havia logrado exatamente o êxito esperado, já
que ainda haveria o compromisso, mas ele ainda não tinha se dado por vencido.

— Sim! Eu tenho certeza e daqui pra frente eu decido tudo!

— Tudo bem, senhor Conde! — Lady Matilda falou com olhos baixos.

— Agora vista-se Elizabeth! Quero daqui a meia hora, você sorridente ao meu lado no salão, para
o anúncio do nosso noivado! Vai sim, ter noivado e casamento! Pois, você não tem o direito de ser feliz
ao lado de outro homem e sim infeliz ao meu lado! — o Conde Phillip falou, sério, Eliza o ouviu
assustada e obedeceu.

Então, foram nessas circunstâncias que aconteceu o noivado oficial de Elizabeth Eglington e o
Conde Phillip de Ashwell. A partir dai iniciaram-se os preparativos para o casamento que o Conde
ordenou para o mais rápido possível. Foi também a partir daí que a jovem Eliza começou a conhecer
um outro Phillip: Não mais o belo Conde francês, cavalheiro, galante apaixonado e sim um homem
magoado, rancoroso, possessivo e com a honra ferida.
Capítulo 8
— Então, eu os declaro marido e mulher! O que Deus uniu, o homem não separa! Pode beijar a
noiva! — foram as palavras finais do padre, finalizando a cerimônia de casamento.

Eliza de forma passiva, esperou o tradicional beijo de casamento. Então, sentiu os lábios do Conde
Phillip, agora seu esposo, descer de forma fria sobre os dela, em um beijo frio, rápido. Ela também
correspondeu da mesma forma.

— Como ele havia mudado! Porém, agora o odeio por está me forçando a casar, apenas por
vingança!

Pensou a jovem em silêncio, numa mistura de tristeza e receio de tudo que estava por vir. Desde o
dia do incidente, ela passou a tentar cultivar dentro de si o ódio por ele. Já que além de não ter
acreditado nela, ele insistiu em se casar como uma espécie de vingança para lhe fazer sofrer como
esposa.

Eliza até cogitou em desistir de se casar, devido aquela mudança brusca de comportamento do
Conde Phillip em relação a ela e a forma como ele revelou que pretendia faze-la infeliz ao lado dele.
Contudo, não teve escolha, pois sua mãe e familiares ameaçaram lhe voltar as costas caso não
aceitasse. Afinal, agora ela era uma mulher com a honra manchada, devido ao escândalo na noite do
noivado.

O Conde Phillip fez questão de uma cerimônia luxuosa e um grande baile para muitos convidados.
Ele parecia querer de proposito expor Eliza as fofocas, faze-la passar vergonha, em um momento
delicado, pois o escândalo ainda era recente e tudo que ela desejava era discrição, fugir da vista das
pessoas. Ele parecia querer mostrar a toda sociedade londrina que aquela era Elizabeth Eglington, a
mulher da honra manchada e que tanto o envergonhou. Enquanto que por Eliza e sua mãe, após todo
aquele escândalo, preferiam uma cerimônia simples, discreta e passarem um tempo afastada de
Londres, pois sabia que uma cerimonia extravagante relembraria o escândalo do noivado.
Apesar da inocência da jovem, não foi conseguido provar a fundo nada que a favorecesse, devido a
rígida moral da época. O que dificultou as investigações, até mesmo o seu diário sumiu
misteriosamente, após o fato. Diante de tudo isso e pelo fato de ainda ser tudo muito recente na
sociedade de Londres, a jovem e a cerimonia de casamento eram motivo de comentários maldosos. O
Conde já previa isso, por isso fez tanta questão da grande festa para deixar Eliza sem graça e pouco a
vontade em seu grande dia.

A noiva estava belíssima, usava um lindo e luxuoso vestido branco de renda francesa, com um
enorme véu que ia até o meio da igreja, estava coberta de joias de família, na mão um buquê de
flores naturais. A cor branca do vestido e o véu foram motivo de muitos comentários maldoso e
baixinhos, enquanto a jovem envergonhada pelo o que julgava estarem comentando, caminhava
timidamente para o altar ao som da marcha nupcial. Contudo, o Conde exigiu que fosse assim, parecia
que ele já previa o quanto o povo iria comentar, o quanto a jovem ficaria envergonhada ao ouvir os
cochichos e se sentir mal com tudo aquilo, parecia fazer parte de uma espécie de vingança. Era como
se o Conde Phillip quisesse obrigar a Eliza, passar pela mesma vergonha que ele passou na noite do
noivado.

O noivo, também chamava atenção no altar, bonito, alto, com uma expressão séria no rosto, em seu
elegante traje de gala preto, a espera da jovem. As senhoritas casadoiras, o olhava com cobiça, inveja
e uma certa revolta, afinal como podia um tão bom partido, que poderia escolher qualquer outra
moça, ainda manter o compromisso depois de tudo e se casar com aquela moça desonrada e mal vista
perante a sociedade. A prima Margareth e Lorde James, também compartilhavam do mesmo
sentimento de revolta, mas pelo fato do plano não
ter dado certo a armação. Porém, pretendiam levar esse segredo para o túmulo e ambos discretos
assistiam em silêncio a cerimônia de casamento.

Durante o baile, promovido em um luxuoso clube londrino, nem mesmo a valsa dos noivos fora
dispensada pelo Conde Philip. Então, sob olhares curiosos e discretos comentários maldosos, Eliza
valsava no grande salão, meio que amedrontada e constrangida nos braços de seu agora esposo.

— É impressão minha ou a senhora minha esposa, está trêmula? — o Conde Phillip perguntou
propositalmente e de forma sarcástica.

— Impressão sua!

Eliza respondeu de forma rápida, evitando o encarar e tentando disfarçar que estava
incomodada com toda aquela situação e começando sentir um pouco de medo por tudo que ainda lhe
aguardava.

— Ah! De fato, deve ser mesmo impressão minha! Até cogitei que fosse a noite de núpcias que se
aproxima! Porém, lembrei que a senhora não tem o mais o que temer, pois já não é mais tão
inexperiente... — ele falou em tom debochado e maldoso.

— Não seja grosseiro! — ela respondeu ríspida.

Eliza sabia que ele estava tentando provoca-la e a ferir como sempre fazia desde o incidente mal
explicado da noite do noivado. Então, apenas baixou um pouco a cabeça e continuo valsando até a
música acabar. Após isso ambos voltaram para o lugar reservado aos noivos no baile.

— Prima Eliza, Conde Phillip, Parabéns pelo seu casamento, lhe desejo felicidades!

A senhorita Margareth Callow cumprimentou Eliza de forma fingida, na verdade se sentiu na


obrigação de cumprimentar para não levantar suspeitas.

— Obrigada prima Mag! — Eliza respondeu de forma educada, mas sem muito entusiasmo. A festa de
casamento não estava sendo agradável para ela.
— Obrigada mademoiselle! Chegou bem a tempo de se despedir da sua prima, pois, como noivos,
já estamos nos retirando da festa! — o Conde Phillip respondeu de forma seca.

Ao ouvir aquilo Eliza, não falou nada, apenas sentiu um frio na barriga, pois ainda não esperava,
ficando um pouco apreensiva. Ela sabia o que isso significava, após a saída a francesa dos noivos,
viria a tão comentada noite de núpcias.

— Vocês irão viajar em lua-de-mel? — a senhorita Margareth, perguntou curiosa e fingindo uma
falsa alegria.

Eliza, hesitou um pouco em responder, mas o Conde Phillip, se antecipou e responde de forma seca.
Dava para perceber que ele não estava interessado em dar muitos detalhes dos atos do casal, daqui
para frente.

— Não! Decidimos, que iremos permanecer à antiga mansão dos Eglingtons aqui em Londres, onde
fixaremos residência. Por enquanto seremos apenas Elizabeth, minha tia Lady Berta, eu e alguns
criados.

— Ah e o Teddy? Por favor, deixe ele ficar conosco, eu nunca me separei dele... — Eliza
interrompeu, o agora esposo, com voz chorosa.

— Está bem! Amanhã mandarei um criado até Berkshire pegar o seu cão. — o Conde respondeu
sério.

— Ah... e a tia Matilda e a Molly? Não irão morar com vocês? Afinal a mansão dos Eglingtons é
enorme. — a senhorita Margareth perguntou curiosa.

— Não! Por hora não! Lady Matilda preferiu passar um tempo em Berkshire e a criada Mary, ficou
com ela para servi-la como governanta.

— Hum... e você aceitou isso, prima Eliza? Se separar da sua Molly?

— Ah... eu não queria! Por mim a Molly vinha comigo! — a jovem noiva, respondeu contrariada.

— Chega Elizabeth! A sua mãe decidiu que a criada Mary ficaria com ela, pois sua mãe não
pretende mais morar em Londres por um bom tempo! E não seja fingida, você não é mais uma
garotinha inocente, precisando da companhia da sua ex babá!

Eliza ficou calada, diante desse comentário do Conde, já a senhorita Margareth, percebeu o clima
pesado entre os noivos e resolveu se afastar. Porém, antes falou :

— Você não se sentirá sozinha prima Eliza. Eu irei sempre a mansão visita-la e como o Conde
mencionou, terá também a companhia de Lady Berta.
— Será muito bem vinda mademoiselle! Agora, Elizabeth e eu, como noivos, iremos nos retirarmos
da festa a francesa.

— Claro, senhor Conde, desejo felicidades aos dois! — a prima Margareth, disse antes de se
retirar da presença dos noivos.

— Venha Elizabeth! Preciso encontrar tia Berta! Quero que ela saiba da nossa saída a francesa e
que cuide dos detalhes finais, antes de se juntar mais tarde a nós dois na mansão.

O Conde Phillip e Eliza, encontraram Lady Berta, próximo aos criados que serviam os convidados,
como se estivesse supervisionando. Apesar do Conde fazer tudo para que ela esquecesse a sua posição
de antiga criada e entendesse de que ela era como se fosse uma mãe para ele. O coração de Lady
Berta, era bondoso, simples, seu espirito de governanta, sempre aflorava.

— Tia Berta, Elizabeth e eu, estamos nos retirando da festa! A senhora vem em seguida, assim que
de as ordens finais e não estiver mais interessada em ficar!

— Sim, meu filho, eu já estou velha e cansada. Então, após as ordens finais aqui, pegarei uma
carruagem e irei ao encontro de vocês na mansão!

Lady Berta olhou para a expressão pouco amigável do noivo, o rosto com um leve olhar de receio e
raiva da parte de Eliza e pensou que aquele não era para ser o clima de recém –casados. Porém, Lady
Berta, sabia de tudo que aconteceu, todo a confusão que antecedeu o noivado e casamento.

— Estou muito feliz por vocês dois, em seguida chegarei a mansão! Eliza, agora você, igual ao
Phillip, é como uma filha para mim! Quanto a você Phillip... Juízo e seja um cavalheiro.... — a
solteirona, falou discretamente, um pouco tímida, mas o Conde entendeu a indireta em relação a noite
de núpcias.

— Muito obrigada, Lady Berta! — apesar de chateada com o Conde, achando que o odiava, Eliza
gostava de Lady Berta.

— Tia Berta! A partir de hoje, minha querida, quero que me chame assim!

— Obrigada, tia Berta! — Eliza se sentiu feliz com a acolhida por parte daquela senhora simpática
e humilde.

— Eu sou o mesmo Phillip que a senhora criou tia Berta, não sei porque essa recomendação!
Agora venha Elizabeth, a carruagem nos espera na porta lateral, como noivos, não precisamos nos
despedir!

— Não filho, não é! A dor de uma possível traição, o ódio, o rancor parece que o transformou e
você não percebe! — Lady Berta, pensou.
Eliza, meio a contra gosto, deu sua mão para o Conde Phillip, agora seu esposo, pois as pessoas
podiam perceber o clima pesado. Apesar das luvas, suas mãos estava um pouco geladas e ela sentia
um certo nervosismo por tudo que ainda estava para acontecer aquela noite, quando ficassem a sós e
também por tudo que estava por vir na vida a dois. Ela lembrou bem que ele deixou claro que estava
casando para se vingar da humilhação que ela o fez passar e que ela seria infeliz ao lado dele para
não ser feliz ao lado de outro homem.
Capítulo 9
— Creio que não precisarei lhe apresentar a casa onde você passou toda a sua infância e que foi
palco da minha vergonha! Agora nossa residência!

Essas foram as palavras iniciais do Conde Phillip ao entrar junto com Eliza, agora a Condessa de
Ashwell, sua esposa, na grande sala principal da antiga mansão dos Eglingtons.

— Não, não precisa! Apenas quero corrigir que esta casa foi palco de momentos felizes da minha
infância ao lado do meu falecido pai e palco de uma grande injustiça contra mim!

— Injustiça? Ora, faça-me o favor! Contra fatos não há argumentos!

— Porém, não adianta eu ficar jurando inocência pela milésima vez! Estou cansada de ser tão
injustiçada e agora quem não quer mais o seu perdão sou eu! Julgue-me como desejar!

Durante o trajeto do clube, onde estava acontecendo o grande baile de casamento, até a mansão,
onde eles iriam residir como casados, o Conde se manteve em silêncio na carruagem. A jovem Eliza,
agora Condessa de Ashwell, não sabia se aquele silêncio era bom ou ruim, pois os comentários
maldosos dele, após o acontecido, sempre a magoava, mas o seu silêncio a deixava apreensiva. Agora
mal entraram na casa, as brigas, desconfianças e magoas de um passado ainda recente, começaram a
explodir por parte do Conde Phillip. Tudo isso era indícios de que aquela convivência não seria nada
pacífica.

— Ah! Então, a senhora Condessa, não se importa mais com o que penso a seu respeito? — ele
falou segurando o seu braço e com a voz carregada de sarcasmo.

— Largue o meu braço! A proposito, estou cansada de toda aquela cerimônia de casamento e baile
extravagante que você fez questão! Como pode ver ainda estou vestida de noiva! Quero me trocar,
tomar banho, descansar!

Eliza falou com a voz firme, tentando se impor e com a esperança de que não haveria noite de
núpcias, pelo menos não naquela noite. Já que o Conde e ela continuavam sem se entenderem bem.

— A senhora Condessa deseja descansar? Não esqueça de que esta é a nossa noite de núpcias! — o
Conde falou de modo sarcástico.

— Não seja debochado! Onde estão os criados? Quero pedir para preparar meu banho, antes de
me recolher!
— A tia Berta foi quem contratou a criadagem, conheço apenas alguns! As nossas malas já foram
colocadas com antecedência no quarto principal da casa!

— Ah! Nossas malas? No quarto principal! Isto quer dizer que serei obrigada a dormir no mesmo
quarto que você e lhe suportar! Um quarto especial que pertenceu aos meus pais!

— Sim minha cara! Você terá que dormir comigo em todos os aspectos e me suportar! Lembre-se
do que te disse no dia da sua traição: Casará comigo e será infeliz ao meu lado, para não será feliz ao
lado de outro! Quanto ao quarto dos seus pais, é o principal da casa, é natural que seja ocupado
agora por nós.

— De qualquer forma chame uma criada e pare de me amolar! Imagino que tia Berta também deve
retornar do baile em breve. Não acho prudente que ela nos flagrar discutindo mais uma vez hoje!

O Conde Phillip, tocou uma sineta de prata em cima de um móvel, estilo colonial, a mansão ainda
conservava a decoração fria e escura ao gosto de Lady Matilda. Uma jovem criada, bonita, de cabelos
ruivos, pele clara e olhar lascivo em direção ao Conde surgiu na sala. Eliza percebeu o olhar e sentiu
algo estranho no peito, seria ciúmes?

— Em que posso servi-lo ,senhor Conde?

— Como se chama?

— Camille, senhor!

— A Condessa Elizabeth, minha esposa, deseja que prepare o banho dela em nosso quarto.

— Claro, senhor!

Antes de deixar a sala, a criada olhou para Eliza e falou:

— Meus respeitos senhora, estou aqui para servi- los! Felicidades pelo casamento!

Eliza analisou a jovem, a beleza tentadora dela, a forma como ela olhava para o Conde e após a
criada se retirar da sala, falou:

— Servir? Será que ao senhor meu marido em especial? Pela forma como ela o olhou? Quem a
contratou?

— Ciúmes, minha cara? Tia Berta contratou os criados, mas devo admitir que é uma bela jovem...
— o Conde Phillip falou de proposito, um sorriso maldoso nos lábios, como se quisesse provocar
Eliza.
— Bem, não me interessa as suas preferências! Vou para o meu quarto, o banho já deve está sendo
preparado!

— Nosso quarto! Não esqueça disso! Ficarei aqui, tomarei uma dose de whisky, em seguida ao seu
banho chegarei! Afinal hoje é uma noite especial não é mesmo? — o Conde falou debochado.

Eliza, se retirou calada da sala, achou melhor não responder a mais uma provocação. Quanto
ao caminho do quarto que agora eles iriam ocupar, ela já o conhecia bem.

A recém casada, estava muito incomodada e apreensiva, pois o Conde já tinha dado indiretas de
que pretendia consumar o casamento ainda aquela noite e que haveria noite de núpcias sim. Enquanto
noivos e antes do maldito incidente, ela sentia o medo da noite de núpcias que qualquer donzela, ainda
mais no período vitoriano, sentia. Porém, o Conde havia mudado, isso a deixava com receio, além do
medo natural da primeira vez. Contudo, sabia que como casada em algum momento teria que ceder a
ele, que as tentativas de evitar passar por aquilo seria apenas adiar o momento.

Enquanto subia a imponente escada em madeira escura, a jovem pensou e uma leve esperança
surgiu em meu coração:

— Espere... o Phillip é um médico, ele saberá reconhecer minha virgindade melhor do que
qualquer outro homem... Assim ele comprovará de que eu estava falando a verdade, durante todo esse
tempo e me pedirá desculpas... Apesar que não sei se quero perdoa-lo, por não ter acreditado em
mim... — Eliza pensou consigo mesma.

Ao entrar no quarto que um dia fora dos seus pais, Eliza se sentia aliviada em ver que o quarto
ainda era luxuoso, mas a decoração havia sido mudada para tons mais claros, os moveis havia sido
trocados. Ela não sabia se fora o Conde ou o inquilino que residia antes na mansão, na época em que
ela era reclusa em Berkshire. O fato foi que ela aprovou, pois assim não teria tantas lembranças de
que aquele quarto fora dos seus pais.

Eliza sentou na enorme cama, rodeada de cortinas, alisou as saias do seu pesado e luxuoso vestido
de noiva, como se desejasse ganhar tempo. Ela estava ouvindo barulho vindo do banheiro anexo ao
quarto, provavelmente era a criada Camille preparando o seu banho.

— Senhora Condessa, o seu banho já esta pronto! — a criada falou em tom quase solene.

— Obrigada! Pode ir, eu mesma despirei sozinha o meu vestido de noiva.

— Como desejar Condessa!

Ao dizer isso a bela criada, dos olhos insolentes em relação ao Conde, se retirou do quarto. Eliza
não era uma jovem orgulhosa e não se via como uma Condessa arrogante, cheia de cerimonia e
distante dos criados. Porém, não tinha simpatizado com a jovem e por enquanto preferia manter um
relacionamento frio com ela.
— Nossa! A Molly faz falta em tudo! Ela estaria aqui me ajudando a tirar este maldito espartilho!
Além da presença dela me deixar mais tranquila! Ufa! Consegui!

Eliza vibrou ao conseguir retirar todas as peças e agora envolta em suas roupas íntimas e um robe
se dirigiu para um banho de banheira. Quem sabe assim, ela não relaxasse e diminuísse a tensão que
estava sentindo.

— Ah que delícia! Que água morna!

A jovem ficou aproveitando a água morna relaxante. Afinal, para ela tinha sido um dia difícil,
enfrentar todo aqueles olhares de censura, quando por ela tinha sido uma pequena cerimônia discreta,
justamente para evitar passar por aquilo.

— Nossa! Não posso demorar muito! Imagine se o Phillip se cansar de ficar lá embaixo e resolver
subir? Sem que eu já esteja na cama e com as luzes apagadas!

A jovem que já estava tensa, ao lembrar disso piorou e se apressou em sair do banho, pegou seu
robe e voltou para o quarto. Ela estava preocupada em como seria o retorno do Conde ao quarto, pois
ele já tinha dado indícios de que haveria noite de núpcias sim. Quanto a ela, preferia que não
houvesse, mas por outro lado, isso faria com que o Conde pudesse comprovar que ela nunca se
entregou a outro homem. Então, era melhor que isso acontecesse logo de uma vez. Apesar de que isso
não fazia com que o receio dela em relação a noite de núpcias e a primeira vez diminuísse, o que era
normal em toda donzela.

— Sempre ouvi falar que um cavalheiro na noite de núpcias, espera um pouco, fazendo
discretamente hora na sala. Para que a noiva ganhe tempo, vista a camisola, apague a luz e o espere
embaixo das cobertas... Se o Phillip, está tendo essa conduta em esperar na sala, talvez ele haja em
especial comigo, esta noite como um cavalheiro....

Eliza pensou em voz alta, antes de vestir sua linda camisola branca, simbolizando a pureza,
apagar as velas, deitar na cama, embaixo das cobertas e ficar a espera do Conde Phillip. Ela estava
sim nervosa, apreensiva, mas pelo menos ele teria a prova de que ela nunca mentiu. Porém, ela não
pretendia perdoa-lo fácil após isso, pois ele se comportou muito mal. Falou palavras duras e foi
extremamente grosseiro com ela, no dia do acontecido do grande baile de noivado que terminou em
desastre.

— Só espero que o Phillip não demore, quanto mais o tempo passa, mais o receio aumenta! Tomara
também que ele não exagere no álcool, vi que estava tomando whisky! — a jovem pensou embaixo das
cobertas.

Após isso, com pouco tempo, a porta do quarto se abriu devagar, o Conde havia chegado. Não
dava para perceber se havia exagerado no álcool, mas provavelmente estava um pouco alterado em
relação ao normal. Afinal, ele já havia bebido no baile e ainda pediu a criada uma dose de whisky
assim que chegaram a mansão. Eliza, sentiu medo só de o ver entrar no quarto. Apesar de dizerem que
esse medo era natural, mas ela tinha certeza de que se fosse o Phillip de antes, esse medo seria bem
menor.

O Conde, entrou no quarto, banhado apenas pela luz do luar, observou Eliza na cama, tirou seu
casaco, jogou em cima de uma móvel, sentou numa poltrona do quarto. Eliza não esperava por aquilo,
achou que ele entraria no banho, vestiria seu pijama e deitaria na cama ao lado dela, mesmo que em
silêncio.

— Nem sequer uma única vela! Apenas a luz da lua! Quanto pudor senhora Condessa, parece até
uma donzela inexperiente! — o Conde falou em tom de deboche.

Eliza ouviu calada, permaneceu imóvel na cama, aquele comentário debochado, dava a entender
que provavelmente não haveria trégua aquela noite. Então, talvez ele não estivesse disposto a ser um
cavalheiro, isso a deixou com mais receio.

— Venha até mim Elizabeth! — o Conde Phillip, sentado em uma poltrona do quarto, ordenou.

— Ir até você... eu já estou aqui na cama... — a jovem receosa, falou gaguejando, tentando fazer ele
entender que já estava pronta a espera dele na cama.

— Estou vendo que você já está na cama! Porém, agora sou seu marido e ordeno que você levante-
se e venha até mim!

— Eu já estou de camisola, a camisola da noite de núpcias... — a jovem, estava tímida em se


mostrar para ele de pé, usando apenas camisola e sem nada por baixo.

— Eu sei que você está apenas de camisola! Afinal não é a nossa noite de núpcias?

Eliza, apesar do medo, por ser a sua primeira vez e pelo comportamento do Conde, levantou
devagar da cama, caminhou até a poltrona no canto do quarto, onde ele estava sentado. Então ao ficar
de pé diante dele, ela ouviu:

— Agora retire a camisola!

— Retirar a camisola? Assim de pé? Não estou usando nada por baixo! — a jovem se assustou e
abraçou o próprio corpo.

Eu sei que não está usando nada por baixo e quero vê-la totalmente nua! Agora sou seu marido!
Retire a camisola agora!

Ao ouvir aquilo, Eliza começou a tremer, ele não estava sendo gentil, aquilo não era o
comportamento apropriado de um marido na noite de núpcias com uma donzela.

— Você não está sendo um cavalheiro... Não é assim que se trata uma donzela na noite de
núpcias... Eu já li sobre isso em romances...

— Ah! Não estou sendo um cavalheiro? E você foi o que em nossa noite de noivado? Uma dama
honrada? De certo que não!

— O seu plano para me punir por algo que eu nem sequer fiz, vai ser colocado em prática
justamente em nossa noite de núpcias Phillip? Eu nunca tirei a roupa diante de um homem! Ficar
totalmente nua aqui de pé diante de você é vergonhoso e humilhante para mim... — ela perguntou
assustada e magoada.

— Somente as prostitutas se mostram assim, totalmente nuas, sabia? Você não acha que a sua
traição lhe rebaixou ao mesmo nível que elas? Agora deixe de falso pudor e se não vai retirar a
camisola, eu te ajudo!

O Conde levantou rápido da poltrona, partiu para cima de Eliza, para rasgar sua camisola, como
forma de humilhação a deixar totalmente sem roupa ali de pé diante dele, em sua primeira noite.

— Ai! Pare! Não se aproxime de mim! Socorro! Molly! Tia Berta! — a jovem gritou assustada,
antes de ter apenas uma das mangas da camisola rasgada e correr em direção a porta de saída do
quarto.

— Elizabeth! Não ouse deixar este quarto! Sou seu marido! Tenho direitos sobre você e essa é
nossa noite de núpcias! Ah e esqueça sua Molly, seu cãozinho Teddy! Sua vida agora mudou!

Apesar da ordem, Eliza desobedeceu e deixou o quarto correndo desesperada, soluçando, pelo
longo corredor que dava acesso aos quartos da mansão. Então, encontrou Lady Berta que estava
acabando de retornar do baile de casamento.

— Tia Berta! Que bom que a senhora está aqui! Por favor me salve! — Eliza pediu aos prantos ao
se abraçar com Lady Berta.

— O que houve minha filha? É sua noite de núpcias, é natural que vocês tenham intimidades,
durmam juntos... — a velha senhora falou tímida, apesar de experiente, era um solteirona.

— Eu sei que é minha noite de núpcias tia! Porém, o Phillip está estranho! Não está se portando de
acordo, não está sendo um cavalheiro! Estou com medo! — a jovem chorava abraçada a Lady Berta
no meio do longo corredor dos quartos, a mulher percebeu discretamente a manga da camisola
rasgada de Eliza.

O Conde Phillip, vinha logo atrás, furioso ao encontro de Eliza, estava alterado pelo álcool e
furioso por ela o ter desobedecido ao deixar o quarto. Porém, a um olhar firme de Lady Berta, por
quem ele tinha muito respeito e não esperava encontra-la, ele parou.

— Phillip! Não se aproxime de Eliza! Sabe, eu achei que tinha criado um menino e tornado ele um
cavalheiro! Será que me enganei Phillip?

— Não, tia Berta....

—Então, porte-se como todo cavalheiro deve se comportar em relação a uma donzela em sua noite
de núpcias!

— Ah tia Berta! Que donzela?

— Phillip! Eu não quero detalhes, você escolheu casar com Eliza, então respeite a sua esposa!

Eliza ouvia tudo, mas nem sequer encarava o Conde, chorando ali de pé abraçada a Lady Berta no
meio do corredor, de costas contra ele.

— Tia... Eu não quero voltar ao quarto...

— Não querida, você não retornará! Hoje o seu esposo deve ter ficado alterado pela bebida, mas
tenho certeza que ele vai ficar sozinho e refletir melhor sobre qualquer grosseria que tenha cometido.
Hoje você dorme comigo, querida!

Lady Berta, falou com instinto maternal, enquanto abraçada a jovem, acariciava os seus cabelos e
Eliza, se sentiu segura e aliviada, pelo menos naquela noite. Quanto ao Conde, o respeito que ele
sentia pela mulher que o criou como filho, fez com que ele, mesmo se tratando da noite de núpcias,
deixasse o corredor, sem tentar forçar Eliza a retornar para o quarto dos dois.

— Está bem! Tia Berta, diga a criada Camille, que desejo mais uma dose de whisky no quarto!

Eliza achou aquilo um atrevimento e mais uma falta de respeito com ela em sua primeira noite de
casados, mas achou melhor não falar nada. Afinal, estava aliviada por Lady Berta, ter chegado para
protege-la da falta de respeito que ele estava usando com ela na qualidade de esposa e donzela.
Capítulo 10
Quando Eliza acordou Lady Berta já havia levantado. A jovem ficou a pensar o quanto ela havia
sido bondosa: Enfrentou o Conde, a acalentou, dividiu a cama com ela e a protegeu. Ela lembrou que
na noite passada, chegou no quarto tão assustada que nem percebeu em qual dos quartos da mansão
estava. Agora ela estava reconhecendo como um dos antigos quartos de hóspedes, agora o quarto de
Lady Berta.

— Tia Berta, tão bondosa e com o instinto protetor tão aflorado! Apesar da cama tão grande,
dormiu no sofá do quarto, para que eu me sentisse protegida e ao mesmo tempo confortável na cama...
— pensou a jovem.

De repente ela ouviu batidas na porta e ficou com medo. Seria o Conde Phillip? Pois
provavelmente, ele ainda deveria está bravo ou ao menos chateado por ela ter fugido dele na noite
anterior.

— Quem é?

— Sou eu, querida! Posso entrar?


— Sim, tia Berta!

A bondosa mulher, que no passado foi criada, ainda conservava muito da sua humildade, aliada ao
seu caráter e bom coração. Ela entrou no quarto carregando uma bandeja de frutas da estação.

— Como já é quase hora do almoço trouxe essa bandeja com frutas, pois daqui a mais uma hora
será servido o almoço.

— Obrigada, tia Berta! Porém, não estou com fome...

— Filha... sei que a noite passada foi difícil, que o Phillip, não se comportou como um cavalheiro na
noite de núpcias, mas você precisa comer, não quero que adoeça....

— O que ele fez? A machucou?

— Não tia, mas me humilhou, foi grosseiro e me assustou, assim que entrou no quarto. Porém, não
quero contar detalhes, tenho vergonha...

— Está bem, querida! Não precisa sentir vergonha de mim, mas lhe entendo! Agora coma esta linda
maçã, se vista bem bonita, como a Condessa, senhora desta casa e desça para o almoço.
Eliza engoliu em seco e perguntou:

— O Phillip, vai está presente ?

— Claro, minha querida! Ele é o senhor da casa e seu esposo, mas eu também estarei presente...

— Eu tenho medo dele, ela está cumprindo a promessa que me fez no dia do incidente do noivado:
Que casaria comigo, para me maltratar, me humilhar e me tornar infeliz para se vingar...

— Filha, sei que ontem ele não teve um comportamento adequado, mas não leve tão a sério
palavras ditas em momentos de ódio! Principalmente, vindas de um homem que teve, supostamente a
honra ferida...

— Sabe, tia Berta, apesar de eu sempre falar que o odeio por ter praticamente me forçado a casar,
após o acontecido. Porém, no fundo, tinha esperanças de que a noite de núpcias, provasse para ele de
que sou uma donzela e que aos poucos as coisas melhorassem entre nós dois...

— Filha, vamos com calma, não faltará oportunidade para essa comprovação, pois vocês estão
casados e haverá várias noites...

— Ai! Será que terei que dormir hoje a noite com ele? O Phillip de ontem me deixou com medo! Não
posso dormir em outro quarto? Pelo menos por um tempo?

— Filha, isso não é o esperado... O lugar da mulher em um casamento é ao lado do marido, ele espera
de você certas obrigações, além de filhos também...

— Eu sei, a mamãe sempre insinuo isso discretamente, mas o Phillip também tinha obrigação de ter
sido um cavalheiro comigo ontem a noite e não foi...

— Façamos assim, filha, você vai se vestir e descer bem bonita, para o almoço, eu estarei presente!
Então, ao longo do dia, observaremos o comportamento dele.

— Está certo, tia Berta! Sabe, sinto saudades da Molly e do meu cãozinho Teddy, será que ao menos
ele não poderia vir ficar comigo? O Phillip, disse que mandaria um criado até Berkshire busca-lo, mas
agora já não sei se ele fará isso...

— Eu vou tentar ver o que posso fazer em relação ao seu cãozinho, junto ao Phillip. Agora me de um
abraço e vá se vestir. Eu irei até a cozinha ver como anda o almoço!

Eliza ainda sentada na cama, ao lado de Lady Berta, lhe deu um abraço apertado de gratidão. Após
isso a velha senhora deixou o quarto, Eliza ficou a sós para se vestir e descer para o almoço.

Após comer uma fruta e fazer a sua higiene pessoal, Eliza abriu seu enorme armário, eram tantos
vestidos luxuosos presenteados pelo falecido Conde. Vestidos que ela não tinha o ânimo de usa- los na
reclusão de Berkshire e em sua antiga situação. Porém, Eliza, além de bonita, era vaidosa e apesar do
drama que estava vivendo em sua nova vida de casada, estava sentindo necessidade de exibir essa
vaidade, não pelo Conde Phillip, mas sim por ela mesma e sua autoestima.

— Hum... vou escolher este aqui!

Assim ela escolheu um lindo vestido de cetim amarelo, com armação e pesadas anáguas, com um
leve decote, onde mostrava a sua pele branca, realçada por um medalhão de família. A jovem se olhou
no espelho e gostou do que viu, aproveitou e fez um penteado, realçando os seus lindos cachos
castanhos.

Então, bateram na porta do quarto, era a criada Camille. A jovem criada, deu uma leve olhada
para a aparência de Eliza, parecia uma linda boneca de porcelana e um brilho de inveja saiu dos seus
olhos insolentes.

— Senhora Condessa, a senhora Lady Berta mandou avisar que o almoço já está servido! Ela e o
Conde já estão a mesa, apenas aguardam a senhora!

— Obrigada! Já irei descer!

Eliza percebeu o brilho de inveja nos olhos da criada e não fez questão de ser simpática com ela
como sempre fazia com todos os criados desde criança, bem o contrário de sua mãe Lady Matilda.
Além do mais se recordou, das últimas palavras de Phillip na noite passada, após se da por vencido e
que ela não retornaria ao quarto dos dois. Ele pediu que a tal criada Camille, que já havia sido
comentado que ela o olhava diferente, o levasse mais whisky no quarto.

— Esta criada insolente me olha estranho! Será que ontem a noite ela levou mesmo o whisky no
quarto do Phillip? Será que se atreveram debaixo do mesmo teto que eu? —a jovem pensou e não
sabia se o que estava sentindo era raiva pela falta de respeito ou ciúmes.

Apesar de receosa em encontrar o Conde Phillip, após a noite passada, Eliza saiu do quarto e se
dirigiu a grande e luxuosa sala de refeições. Eles já estava a mesa, apenas aguardavam por ela para
servir o almoço. O Conde ocupava a cabeceira da grande mesa, a sua esquerda Lady Berta e várias
cadeiras vazias, pois a mesa fora planejada para grandes recepções.

— Bom dia a todos!

— Bom dia, filha, você está belíssima! Ocupe o seu lugar a mesa, ao lado do seu esposo!

— Obrigada, tia Berta! — a jovem agradeceu, sem graça e percebeu que o Conde apenas a olhou
em silêncio, enquanto levava uma taça de vinho a boca.

Eliza, agradeceu e sentou a direita do Conde Phillip, mas ele estava com uma semblante sério e um
clima pesado reinava no ar, como já era esperado.

— Vou pedir para servir o almoço, estavamos apenas esperando por você, querida! — a velha senhora
falou.

Lady Berta tocou uma sineta e duas criadas, vestidas em uniformes cinzas, surgiram para servi- los,
entre elas a criada Camille. Eliza notou a troca de olhares entre ela e o Conde, e isso a incomodava. O
almoço aconteceu em um clima pesado, Lady Berta tentava criar assunto com o Conde Phillip que
parecia mau humorado e respondia somente o necessário, além de não dirigir a palavra a Eliza.
Quanto a Eliza, estava se sentindo incomodada com tudo aquilo, o clima pesado no ar, ter que ficar
tão próxima do Conde logo após a desastrosa noite passada, os olhares de flerte entre ele e a criada.

Após servido a sobremesa, o Conde Phillip falou:

— Agora tia Berta, imagino que a senhora irá dormir um pouco após o almoço, eu preciso conversar a
sós com minha esposa!

Ao ouvir aquilo Eliza, gelou, ficou a pensar o que ele teria a dizer e o que significava esse “ a sós”,
porém , ela ficou em silêncio.

— Phillip, lembre-se do que conversamos, antes da sua esposa chegar!

— Não se preocupe tia! Cumprirei o que me pediu!

Assim Lady Berta deixou a sala de refeições e apenas o Conde e Eliza permaneceram a mesa, por
Eliza ela teria saído correndo dali. Porém, não podia fazer isso, não ficava bem, já que ele parecia
querer falar algo de forma civilizada.

— Antes de mais nada, gostaria de dizer que muita das coisas que decidi foram graças a tia Berta!
Então, se de alguma forma se sente feliz ou beneficiado com alguma delas, agradeça a ela!

A jovem apreensiva e pouco confortável, apenas respondeu :

— Compreendo! Porém, o que tem a me falar?

— Então, Elizabeth, não estou me desculpando por ontem a noite, mas percebi que não devo manchar
meu caráter, minha honra como cavalheiro para se vingar de forma tão explicita de uma mulher
desonrada e sem escrúpulos como você! Não vale a pena!

— Eu? Então, o senhor como sempre a me ferir com palavras!

— Espere! Não terminei! Então, a partir de hoje você terá a opção de dormir em nosso quarto ou
em seu quarto de solteira aqui na casa! Tem a minha palavra de que incidentes iguais ao de ontem não
voltarão a acontecer. Então, o que me diz? O que prefere?

— Eu... Eu prefiro o meu quarto de solteira, não estou me sentindo confortável nessa nova vida de
casada desde ontem...

— Então, como preferir! Quanto ao seu cãozinho Teddy, já mandei um criado busca-lo em Berkshire,
ele deve chegar no final da tarde!

Um sorriso iluminou o rosto de Eliza, como se fosse uma criança que tivesse recebido um
brinquedo de presente.

— Obrigada! Nunca me separei do Teddy e da Molly, se a mamãe não permite que a Molly venha,
pelo menos o Teddy!

— Então, por hora é só! Eu já terminei a minha refeição e me recolherei ao escritório para
examinar alguns papeis de negócios.

— Irei para o meu quarto e mais uma vez obrigada pelo Teddy!

A jovem se retirou da mesa, aliviada e de certa forma feliz. Porém, antes de ir para o seu quarto de
solteira, precisava agradecer a Lady Berta por ter intercedido por ela junto ao Conde.

Era por volta das quatro horas da tarde, quando o Teddy chegou trazido por um criado da casa.
Eliza estava na janela do seu quarto que tinha vista para o jardim, quando viu a carruagem entrar e
dela descer um criado, segurando uma grande cesta de vime, com o Teddy dentro. Ela, igual uma
criança feliz, nem parecia a senhora casada, Condessa de Ashwell, segurou as pesadas saias do
vestido e saiu do quarto correndo até o jardim para receber seu querido cãozinho Teddy.

— Teddy, meu amiguinho! — ela falou alegre.

Eliza abaixou um pouco e abriu os braços, o cãozinho pulou animado em seu colo, abanando o
rabo.

— Au! Au! Au! –O yorkshire branco, latiu feliz.


Capítulo 11
A noite chegou e Eliza preferiu se recolher mais cedo, apesar de está na mansão que passou toda a
infância, não se sentia a vontade com o Conde, os novos criados, seu consolo era Lady Berta e agora o
seu cãozinho Teddy.

De repente ela ouviu batidas na porta do quarto, ela achou que deveria ser a criada com o seu
jantar no quarto como ela pediu.

— Imagino o quanto as criadas devem estar achando estranho, o fato de que o meu quarto de
solteira foi preparado e que não dormirei com o Conde... — a jovem pensou.

— Pode entrar!

Então, a porta se abriu devagar e Eliza gelou com o que viu, não era uma das criadas ou Lady
Berta que estava entrando em seu quarto e sim o próprio Conde Phillip.

— O que deseja? — a jovem perguntou assustada, com os olhos arregalados e coração disparado.

— Calma! Não precisa se preocupar! Pois, não vim até a aqui arrasta-la para o nosso quarto, se o que
pensa!

— Eu não falei isso, apenas achei estranho sua presença aqui de repente! Apesar que se eu julgar
pelo seu comportamento na noite passada, posso esperar tudo de você!

— Ora, não me venha com chiliques de donzela, pois sei que já não és!

— Eu tenho consciência do que sou! Se não agiu como um cavalheiro e perdeu a chance de comprovar
em nossa noite de núpcias, não ficarei aqui a discutir!

— Ah! Chance de comprovar? Não sabia que estava tão disposta assim! Porém, como seu marido,
isso é fácil e rápido de comprovar! Tranquemos a porta, dispa-se e deite na cama!

Eliza, não sentiu medo, pois percebeu que ele não falava em tom de ordem ou de ameaça e sim de
deboche. Então, ao invés disso, ela sentiu raiva.

— Ora! Faça-me o favor! Não seja grosseiro! Então, você surge de forma inesperada em meu
quarto e a intenção é me insultar, me amolar! Me deixe em paz!
— Espere! Quando eu soube que você não desceria para o jantar e se recolheria mais cedo, resolvi lhe
trazer isto!

O Conde Phillip, colocou a mão no bolso do seu casaco, retirou algo e estendeu o braço até Eliza.
Ela percebeu que era um livro, mas ficou sem entender aquela gentileza dele, pois não condizia com o
Phillip atual. Desde o escândalo da noite do noivado, ele deixou de ser aquele homem apaixonado que
fazia de tudo para agradar a sua amada e sim um homem vingativo, rancoroso e desagradável em
relação a ela.

— O que é isso? — a jovem, apaixonada por livros, olhou sem acreditar.

— Não reconhece? É o livro que você estava lendo quando nos conhecemos na beira do riacho,
quando você correu assustada, deixou cair e eu o guardei, esperando a oportunidade para devolve-lo.
Após isso, ele ficou esquecido em minhas coisas e somente o achei agora.

— Sim, reconheço, obrigada! Gosto de ler antes de dormir...

A jovem esboçou um sorriso espontâneo e recebeu o livro, colocando no colo, pois estava sentada
na cama e o Conde de pé diante dela.

— Eu gosto de várias coisas, antes de dormir...

Aquele comentário, era uma insinuação e apesar de Eliza não desejar dormir com ele, tinha a
palavra dele como cavalheiro que não a constrangeria mais em certas situações, ficou enciumada
Porém, ela não conseguiu segurar a língua e soltou a Eliza espevitada do passado.

— A companhia das criadas é uma delas?

— Ah! Está com ciúmes minha cara? Caso fosse verdade, ela estaria ocupando um lugar que você
escolheu deixar vazia, quando escolheu não cumprir suas obrigações de esposa! Então, não me cobre
nada! Apesar que não estou confirmando nada!

Eliza corou, de raiva pela petulância e descaramento dele em relação a insinuação com criadas e
de pudor, ao ouvir o Conde se referir as suas obrigações não cumpridas de esposa. Porém, ela tentou
não da o braço a torcer.

— Não! Não estou com ciúmes! Porém, meu pai jamais desrespeitou minha mãe com criadas em baixo
do mesmo teto que ela!

— Em compensação, presumo que sua mãe, jamais deixou a cama vazia e faltou com as obrigações de
esposa!

— Ora! Para de ser indiscreto e debochado! Obrigada pelo livro! Porém, agora você pode me
deixar a sós? — Eliza respondeu irritada.

— Seja feita sua vontade, senhora Condessa! Tenha uma ótima noite com o seu livro, eu também
providenciarei uma ótima noite para mim!

O Conde Phillip, deixou o quarto, ao encerrar a conversa em tom de deboche e insinuações.


Quanto a Eliza, apesar do leve ciúme, estava feliz com o livro e satisfeita por poder dormir sozinha
aquela noite. Agradecia a por não precisar se entregar ao Conde naquela noite, consumar o
casamento, pois ainda estava com receio causado pela noite passada. Ela ficou na cama com um
sentimento estranho, que ela sentia medo de ser ciúmes, pois sempre lera nos romances que o amor,
ódio e ciúmes, as vezes andavam juntos...

Então, assim Eliza adormeceu, mergulhou em um sono profundo, em seu quarto de solteira, na
cama que dormiu toda a sua infância.

No dia seguinte, em seu terceiro dia de casados, Eliza foi surpreendida pela visita da senhorita
Margareth Callow, a prima Mag. A prima invejosa, até parecia ter adivinhado que eles não estavam se
comportando como recém-casados normais e que visitas não atrapalhava a intimidade que não existia
entre os dois.

— Prima Mag! Que bom revê-la! É uma honra recebe-la em minha casa!

— Prima Eliza! Como você está bela! O Casamento lhe fez bem ouviu? Agora dê-me um abraço! —
a prima Margareth, falava com a mesma falsidade de sempre e ambas se abraçaram na grande sala de
visitas da mansão.

A prima Margareth, logicamente, veio colher notícias, ela e provavelmente a mãe Lady Constância,
estavam curiosas em como andaria o casamento. Ainda mais ela, que tinha um interesse guardado no
Conde Phillip, mas que apesar de toda a armação dela e Lorde James, o Conde ainda preferiu se casar
com Eliza.

— Prima Eliza, estou tão curiosa, sabe que sou uma senhorita e agora você é uma senhora casada!
Podemos ir conversar em seu quarto? Longe dos ouvidos das criadas? — a moça fingia um falso
interesse em segredos de alcova.

Eliza, ficou com receio e envergonhada ao ouvir aquilo, provavelmente a prima Margareth queria
detalhes de como havia sido a noite de núpcias. Eliza, apesar da intimidade com a prima, se sentia
envergonhada em confessar tudo que houve, de ter fugido do Conde e se a prima ia julga-la culpada,
uma má esposa. Porém, Eliza viu que não teria escapatória, afinal sempre foram intimas.

—Claro, prima Mag! Venha, vamos até o meu quarto!

As duas subiram devagar a grande escada que dava acesso ao andar superior onde ficavam os
quartos. As saias dos longos e pesados vestidos, faziam um pequeno barulho ao tocar os degraus de
madeira de lei. Então, ao chegar no longo corredor que a prima Margareth conhecia tão bem e
tomarem a direção contrária do quarto principal, ela indagou.

— Prima, você e o Conde Phillip, não escolheram o quarto principal da casa? — a jovem esperta,
estranhou, pois estava atenta na visita de inspeção.

— Bem... prima... estou instalada em meu quarto de solteira, pelo menos por enquanto! Agora
entremos. — ao dizer isso Eliza abrir a porta do quarto, entrou e a prima entrou logo em seguida.

Aquilo deixou a prima Margareth muito curiosa e até feliz, pois era sinal de que havia algo errado.
Então, assim que as duas entraram no quarto, a prima Margareth, fingiu mais uma vez e fez o papel de
confidente. Ambas sentaram na cama uma ao lado da outra e ela em seguida perguntou, fingindo está
escandalizada e solidaria com Eliza.

— Prima, Eliza, me conte como foi a noite de núpcias? Estou curiosa! — a jovem, falsa, falava
entre risinhos, fingindo cumplicidade e timidez.

— Ah, prima... não foi... — Eliza respondeu tímida e de olhos baixos.

—Como assim não foi? O Conde se negou? O que houve? – A jovem mais esperta, mais velha,
perguntou escandalizada.

— Prima, como você pode ver estou temporariamente ocupando meu quarto de solteira, pois após
alguns acontecimentos preferi assim e o Conde, graças a intercedência de tia Berta, concordou...

—Prima que escândalo! E os criados? Devem aos poucos comentarem por ai e se espalhar nas
rodas de fofocas da sociedade londrina! Mas o que houve?

— Ai prima Mag, eu pretendia me entregar ao Conde e deixar ele comprovar que ainda sou donzela,
assim ele veria que sou inocente, que tudo aquilo foi uma armação de alguém...

— Claro prima! Acredito em você! Aquilo de certo, foi alguma armação de alguma solteirona
invejosa ou de alguma mãe que desejava o Conde para a filha!

— Então, prima, mas na noite de núpcias, o Phillip, se comportou estranho, fiz todo meu papel inicial
de esposa a espera dele no quarto e ele chegou alterado pelo álcool, me humilhou, não foi um
cavalheiro. Então, chegou ao ponto de eu ter que fugir dele e deixa-lo dormir sozinho na noite de
núpcias!

— Prima! Que horror! Tadinha de você! Mas o Conde? Concordou?

— Ele ficou irritado, veio atrás de mim, tentando me forçar a voltar para o quarto! Porém, tia Berta
interviu e ele respeita muito ela! Foi um alivio para mim, quando ela surgiu no meio do corredor!
— Imagino prima...

— Então, naquela noite dormi com ela, pois estava muito assustada, não queria ficar sozinha.
Então, no dia seguida, não sei exatamente o que tia Berta falou para o Phillip, mas ele me deixou ficar
aqui em meu quarto de solteira por um tempo...

— Entendo, prima! Então, quer dizer que ainda é uma donzela e que o casamento não foi consumado?

— Sim prima... E não sei nem o que pensar ou sentir em relação a isso!

— Como assim, prima ?

— Porque, meus sentimentos estão muito confusos em relação ao Phillip e esta situação! Consegue
imaginar?

— Sim, imagino...

— Uma hora odeio o Phillip, por ele não ter acreditado em mim naquela noite, depois por ter me
obrigada a se casar com ele, já deixando claro que a intenção era me maltratar para se vingar da
vergonha e humilhação que supostamente o fiz passar!

— Sim, lembro que você não queria mais se casar ao saber disso, mas foi pressionada por tia
Matilda e toda a família a mesmo assim aceitar, pois estava desonrada...

— Então, já na noite de núpcias eu queria a consumação para provar a minha inocência, depois
fiquei assustada e decepcionada com comportamento desrespeitoso dele comigo como esposa e
donzela. Agora, sinto medo dele, estou aqui aliviada por está em meu quarto de solteira e não precisar
dormir com ele, ainda, mas ao mesmo tempo sinto um desapontamento por não está vivendo um
casamento normal...

Ao ouvir todo aquele desabafo de Eliza, a prima Margareth, teve que disfarçar o brilho nos olhos,
pois o casamento ainda não havia sido consumado. Por sua vez, o Conde ainda não tinha tido provas
da inocência de Eliza e ela agora estava frágil, confusa, o que a tornava uma presa fácil.

— Preciso, da um jeito de entrar em contato, discretamente com Lorde James, nem tudo está
perdido como nós pensávamos, talvez se agirmos rápido... — foi o pensamento maldoso da Senhorita
Margareth Callow.

Então, após um tempo a visita da prima Margareth, chegou ao fim. A jovem e maldosa senhorita,
não via a hora de deixar Eliza, poder chegar em casa e pensar em uma forma de enviar um recado a
Lorde James. Ela ficou tão empolgada, que nem se importou com o fato de não ter avistado o Conde
Phillip, durante a visita e por quem ela tinha profundo interesse, pois o mesmo estava trancado,
trabalhando no escritório.
Capítulo 12
Era por volta das quatro horas da tarde, quando Eliza olhou pela janela do seu quarto, achou a
tarde bonita e resolveu descer junto como Teddy para brincar um pouco no jardim. Afinal, ela andava
triste, abatida com aquele casamento atípico que estava vivendo, apesar de todo apoio de Lady Berta e
da chegada do seu cãozinho Teddy.

— Vem Teddy, vamos da um passeio no jardim!

— Au! Au! Au! — o Teddy, feliz abanou o rabo e seguiu sua dona.

Eliza, pegou seu chapéu, saiu do quarto, desceu as escadas, seguida por Teddy, porém, ao passar
pela sala de visitas, cruzou com a criada Camille, com uma bandeja na mão. A criada a olhou com
olhos insolentes e um discreto sorriso debochado, aquilo incomodou Eliza.

— Boa tarde, senhora Condessa!

— Boa tarde Camille!

Aquela expressão da criada, a incomodou profundamente e apesar de sempre ter tratado bem os
criados desde criança, ela resolveu confronta-la.

— Posso saber porque me olhas com esses olhos insolentes e esse sorriso debochado nos lábios?
Como se quisesse me provocar?

— Impressão sua, senhora Condessa!

— Não, não é impressão minha! Desde a primeira noite que cheguei casada a esta casa, você olha com
olhos de cobiça para o Conde e olhos insolentes e cínicos para mim! Saiba que sou a senhora desta
casa!

— Impressão sua, senhora Condessa! Sim, sei, que é a senhora desta casa! Nós criadas, somos quem
cuidamos de cama a mesa em uma casa, portanto sabemos de tudo...

— De tudo o que? Sua insolente? Está insinuando, o fato de eu não dormir com o Conde? E por
acaso você dorme? Isso lhe diz respeito?

— Não, senhora Condessa, não durmo! Porém, a cama de um Conde jovem e bonito, não fica vazia
por muito tempo...
Aquilo soou para Eliza, como uma indireta, uma ameaça e isso a deixou com muita raiva.

— Sua insolente! Isto é uma ameaça? Onde está meu marido?

— Está no escritório, senhora Condessa!

— Devo presumir, pela bandeja que carrega, que você veio de lá e estava servindo ele!

— Sim! O senhor Conde fez questão de que eu fosse levar o seu chá! — a criada falou de forma
petulante, ela tinha consciência da própria beleza e da forma como o Conde a olhava.

Ao saber daquilo, o sangue subiu a cabeça, a face de porcelana de Eliza, ficou corada de raiva.
Ela, virou rapidamente as costas para a criada, suspendeu as saias do vestido para poder caminhar
mais rápido, sem tropeçar e marchou enérgica para o escritório, onde estava o Conde Phillip. Ela até
esqueceu o Teddy na sala, onde ele ficou a brincar com sua bola de lã.

Eliza, abriu a pesada porta de madeira e entrou no escritório do Conde Phillip, sem bater na porta.
Geralmente além de supervisionar os negócios e terras deixada pelo velho Conde, seu tio, ele usava
algumas horas do dia para trabalhar, examinar papeis, em seu gabinete na própria mansão.

— Escute aqui, Phillip! Eu cansei daquela criada insolente me olhando com uma expressão cínica,
como se debochasse de mim e tivesse algo com você!

O Conde, estava sentado em sua grande escrivaninha de mogno escuro, porém, apesar de ter sido
pego de surpresa, pois ela não bateu na porta. Ele levantou a cabeça, tirou os olhos dos papeis que
estava examinando, encarou Eliza que estava brava, ali de pé do outro lado da mesa e diante dele.

— Estou ocupado, não tenho tempo para intrigas de criadas e chiliques de menina mimada! – O
Conde falou calmamente, sem levantar a voz ou se levantar da cadeira.

— Eu não sou uma menina mimada! Sou sua esposa e senhora desta casa! Portanto, exijo que esta
criada deixe esta casa hoje mesmo! Pois, vocês estão agindo como se estivessem tendo algo, debaixo
do mesmo teto que eu e isto é uma falta de respeito!

— Ah! Então, você deseja que a criada Camille deixe esta casa, porque você a senhora Condessa
está com ciúmes! — ele falou em tom de deboche.

— Eu exijo que a criada deixe esta casa, porque como sua esposa a partir de hoje quero mais
respeito comigo, quero assumir meu papel como senhora desta casa! E não gosto de como ela me olha
e acho que ela tem ou deseja ter algo com você!

Então ao ouvir aquilo e ver Eliza furiosa ali a sua frente, o Conde levantou da cadeira, contornou a
mesa, chegou perto de Eliza, que já começava a perder a coragem ao ver ele se aproximando.
— Eu ainda não tenho algo com a criada Camille, apesar de achar ela uma bela jovem, mas saiba que
um homem como eu não fica sozinho por muito tempo, então lógico que se não for ela, será outra.

Eliza, aumentou a raiva, mas tentou disfarçar o ciúmes, que para sua surpresa ela agora sentiu
ciúmes do Conde, apesar de ainda não ter esquecido a humilhação da noite de núpcias.

— Se pretendes arrumar uma amante, que não seja debaixo do mesmo teto que eu! Pois, a partir
de hoje quero ser respeitada como senhora desta casa e esposa! Sua esposa!

De repente aquele Conde Phillip que fez questão de casar, praticamente obrigou Eliza e jurou que
o motivo seria se vingar dela sendo grosseiro e a tornando infeliz, tinha mudado a tática a forma de
agir. Agora parecia mais um jogo de gato e rato, com magoas e dúvidas do passado atormentando os
dois.

O Conde já estava bem próximo a Eliza e ao ouvir as exigências finais dela. Ele a enlaçou pela
cintura e falou olhando em seus olhos de uma forma que ela podia sentir sua respiração.

— Saiba, minha cara, que para que os criados desta casa, passem a lhe respeitar como esposa e
senhora desta casa, você tem que ao menos fazer algo óbvio: Dormir, com o seu esposo e proprietário
da casa!

Ao ouvir aquilo, acompanhado do toque das mãos e braços fortes do Conde Phillip em volta da sua
cintura, Eliza ficou sem saber o que responder, pois estava começando a ficar muito confusa. Eles
estavam com os rostos tão próximos que pareciam, prestes a se beijarem.

— Pois, não vejo o que uma coisa tem haver com a outra! Quero respeito, não quero mais
insinuações suas com a criada e que ela me respeite se não desejar ser mandada embora!

— Então, a senhora Condessa não quer voltar a dormir em nosso quarto hoje a noite? Assumir o
seu papel de senhora desta casa em todos os sentidos?

— Não, não quero! E largue a minha cintura! Você deseja que eu volte a dormir no quarto que você
chama de nosso, para me humilhar, me deixar embaraçada igual fez na noite de núpcias!

Ao ouvir aquilo, o Conde não confirmou, nem ao menos negou, apenas soltou tirou os braços em
volta da cintura dela e a largou, mas antes de um sorriso cínico ao ouvir as acusações e suspeitas dela
a respeito dos planos dele. Eliza deixou o gabinete do Conde furiosa e confusa, ao passar pela sala
Teddy, percebeu o humor da sua dona e simplesmente a acompanhou em silêncio até o seu quarto,
onde Eliza entrou, trancou a porta e se jogou na luxuosa cama.

Aquela situação estava deixando Eliza confusa e ao mesmo tempo surpresa com os sentimentos dela
em relação ao Conde. Ela casou dizendo o odiar, pelo juramento que ele fez, se sentia aliviada em
poder dormir em quartos separados após o comportamento dele na noite de núpcias. Contudo, estava
com ciúmes dele, além de ter se sentindo tentada a aceitar a proposta dele para que ela retornasse
para o quarto dos dois aquela noite.

— Ai Teddy! Estou não confusa... Acredita que quase cedi ao convite de Phillip para que eu a
partir de hoje a noite eu ocupasse o quarto de casal ao lado dele? Acho que apenas não fiz isso,
porque quando falei que ele pretendia me humilhar novamente e ser descortês comigo, caso eu
voltasse, ele não negou e nem pediu desculpas....

— Au...Au...

— Ah, meu amiguinho... você não entende não é? Porém, acho que o amor no mundo dos animais é
mais fácil e um dia você vai se apaixonar por uma bela cachorrinha e viverem felizes para sempre....

A jovem falou em tom de tristeza, pois sempre quis viver feliz para sempre igual aos romances e ela
sempre achou que o único empecilho para isso era o velho Conde e o seu compromisso com ele, mas
agora ele estava morto e mesmo assim as coisas ainda não eram iguais aos romances.

Eliza cochilou um pouco e acordou com o quarto as escuras e alguém batendo na porta. Ela
percebe, que acabou pegando no sono e o final da tarde deu inicio a noite, acordou sem as velas
estarem já acessas.

— Quem é? — agora, após o Conde ter lhe surpreendido em seu quarto, ela sempre perguntava
antes.

— Sou eu minha filha, sua tia Berta!

— Ah! Pode entrar tia!

Lady Berta, se surpreendeu com ela deitada na cama, pois apesar dela ter andado triste, era uma
moça esperta, ativa, inquieta e agora com a chegado do Teddy.

— Estava deitada? Está doente filha? Estranhei não ter lhe visto no final da tarde brincando no jardim
com o Teddy e vim ver se estava tudo bem! O Phillip lhe fez algo? Vi que ele passou toda tarde em
casa...

— Não, tia Berta, não estou doente! Na verdade estou confusa e triste...

— Por que, minha filha? O Phillip? Ele tem lhe pressionado a cumprir seus deveres de esposa? Ele
não está cumprindo a palavra dele comigo, de que seria um cavalheiro em relação a isso?

Eliza, fez uma pausa e falou um pouco envergonhada:

— Apenas hoje, após eu exigir que aquela criada insolente, que olha para mim com um sorriso
cínico de deboche e para ele com olhos de cobiça, fosse mandada embora e de que agora em diante eu
queria respeito como esposa e senhora desta casa!

— E o que ele falou, filha?

— Ele debochou, perguntou se era ciúmes, depois disse de forma insinuante de que se eu queria
meu lugar de esposa e senhora desta casa o normal seria ocupar o quarto junto com ele...

— De certa forma, neste aspecto ele tem razão filha! Na hora que você requisita seu lugar de
esposa, ele também, pode exigir os seus deveres... E quanto a criada, não se preocupe, terei um
conversa com ela e ela não servirá mais as refeições e dentro dos cômodos principais.

— Ah tia... na hora eu falei com raiva, por impulso, sem pensar direito, parecia que eu tinha sido
tomada pelo ciúme, ao me chatear com a criada Camille e ir me queixar e exigir uma posição dele...

— Filha... será que não seria ciúmes mesmo? Será que não está começando a gostar do Phillip? Sei
que quando ele casou, jurou lhe maltratar e lhe fazer infeliz para se vingar, mas eu tenho falado tanto
com ele sobre isso, tentando tirar essa ideia da cabeça dele e acho que ele está começando a ceder.
Então, quem sabe se você como mulher, como esposa, se aproximasse mais dele, as coisas não
mudassem de vez?

— Não sei, tia Berta, estou confusa! Durante a nossa discussão hoje a tarde, quase nos beijamos e ele
num tom autoritário como se fosse uma condição, me chamou para dormir apartir de hoje a noite com
ele!

— E você, filha? Aceitou?

A velha solteirona, as vezes ficava com olhos arregalados de pudor, mas torcia demais pela
reconciliação dos dois. Pois, lembrava do quanto o Phillip, foi apaixonado por Eliza no passado e
tinha certeza que aquele sentimento não havia morrido, já estava soterrado embaixo de magoas e mal
entendidos.

— Tia... eu quase aceitei! Apesar de que seria nossa noite de núpcias e a primeira vez de uma donzela,
sempre causa um pouco de medo! Porém, não aceitei, porque ao dizer que ele queria era me humilhar
e me maltratar como na nossa primeira noite aqui, ele não negou... O certo seria ele ter negado e me
passado segurança para aceitar algo assim, pois ainda sinto receio pela aquela noite...

— Ah! Eliza... o Phillip é teimoso e orgulhoso, já você muito jovem inexperiente com os homens,
parece que sua mãe lhe criou sem orientar nada a respeito deles...

— Como a senhora já sabe tia Berta, fui prometida ao velho Conde, em troca de dívidas, aos treze
anos! Então, para minha mãe, não precisava conversar mais nada comigo, era apenas obedecer e
pronto! Tudo que sei é baseado em nos romances que eu lia escondidos...

— Filha... se você ainda não se sente segura, não volte para o quarto do seu marido hoje a noite, já
que ele não lhe deu nenhuma ordem! Porém, como praticamente mãe do Phillip, vou começar a
interceder mais ainda junto a ele pelo casamento e bom convívio de vocês. Então, peço que também,
faça um esforço e tente se aproximar mais dele aos poucos, quem sabe ele não mude tudo que
planejou? Na verdade acho, as vezes que ele já ta mudando! Afinal, ele não está tão terrível assim,
como jurou ser, não é mesmo?

— Sim, tia Berta, não sei se consigo, dependerá muito também do comportamento dele...

— Faça um esforço, querida, já pensou quando o casamento for consumado, ele descobrir que
tudo foi uma armação e que você era inocente? Tudo mudará da água para o vinho!

— Sim tia Berta! Eu pretendia isso em nossa noite de núpcias, se ele não tivesse sido tão grosseiro
a ponto de eu fugir do quarto! Na verdade, eu queria mais como uma revanche, so para provar que eu
era inocente e quando ele viesse me pedir perdão eu não o perdoar! Eu também, sentia muita raiva
dele e magoa, coisa que hoje já não sinto tanto! Porém, ainda sinto um pouco de receio de dormir, com
ele, ele me tocar..

— Querida... Receio, toda donzela tem... Você apenas foi um pouco infeliz em sua primeira noite, mas
ainda há tempo para uma nova noite de núpcias... Pense nisso e agora vou mandar servir seu jantar no
quarto, pois não pode ficar sem comer, pode adoecer!

— Obrigada, tia Berta, realmente, hoje prefiro comer no quarto, quero evitar encontrar o Phillip
hoje antes dele se recolher...

Assim, aquela bondosa mulher, na qualidade de mãe adotiva do Conde, mas também de protetora
de Eliza, lhe deu informações e conselhos valiosos, que Eliza ficou a pensar após durante todo o jantar
que foi servido para ela em seu quarto.
Capítulo 13
O Phillip, estava em seu gabinete na mansão, examinando alguns papeis, já era quase cinco
horas da tarde. Então, ele ouviu baterem na porta.

— Pode entrar!

Lady Berta, entrou no gabinete luxuoso, carregando uma bandeja de prata com uma xícara de chá.
Apesar de franceses, o Conde tinha adquirido o hábito inglês do chá das cinco.

— Ah! É você tinha Berta? Obrigada, mas já não precisa carregar bandejas igual a uma criada!
Poderia ter pedido a alguma delas para sevir-me. — o Conde falou amável com a tia.

— Meu filho, o meu passado distante como criada não me envergonha, além disso, gosto de cuidar
de você! Ultimamente você vive trancado aqui nesse gabinete, quando não está visitando as terras e
outros negócios herdados do seu falecido tio...

— Não se preocupe com isso, tia, é apenas muito trabalho!

— Como pedir para não me preocupar com você, meu filho? Eu te criei desde menino e vejo que não é
apenas excesso de trabalho, você mudou muito! Onde está aquele Phillip, alegre, simpático, com
brilho nos olhos, apaixonado pela vida? — a mulher perguntou carinhosa.

— Impressão sua, tia, não mudei nada!

— Mudou sim filho, você é quem não percebe! Sabe o que mais? O ódio, o rancor, a vingança não
faz bem a ninguém! Na maioria das vezes, faz mal a própria pessoa também...

— Ah! Tia... não me venha com essa história, a senhora sabe muito bem de tudo e do porquê decidi
assim! — o Conde alterou a voz e se irritou.

— Phillip... aquele rapaz que foi pego com Eliza saiu correndo pelo jardim, sumiu na noite, nunca
foi achado, mal se conseguiu ver o rosto dele! Algo muito mal explicado, sua noiva chorando, jurando
inocência e se alguém armou para separar vocês dois? O noivado de vocês despertou muita inveja!
Você já parou para pensar nisso?

O Conde Phillip, demonstrou uma leve indecisão no olhar, mas voltou a ter a sua postura firme,
segura de si.
— Ah tia! Por favor! Só faltava a senhora me dizer que Eliza é inocente, eu sou o vilão e que devo
me ajoelhar e pedir desculpas!

— Não, filho! Eu quero dizer que quem ama perdoa, confia e que você deveria da um voto de
confiança a sua esposa, acreditar que ela esteve falando a verdade durante todo esse tempo...

— Acreditar em Eliza e não em meus olhos tia? Eu vi!

— Filho... tudo pode ter sido uma armação e Eliza jura inocência até hoje! Então, você como marido e
médico pode muito bem comprovar a verdade! Porque não tenta voltar a ser um cavalheiro, se
aproxime novamente da sua esposa e tenha uma noite de núpcias normal? Somente após isso é que
você poderá acusa-la novamente ou não...

— Ah não, sei, tia! Eu tentei em nossa noite de núpcias, não deu certo! Além do mais a própria
Elizabeth, já disse que me odeia!

— Phillip, você não tentou em sua noite de núpcias o que estou sugerindo agora! Você tentou usar
a sua noite de núpcias mais uma vez para se vingar! Eu vi bem como ficou a pobre Eliza!

— Exagero e fingimento da Elizabeth, tia!

— Está bem, Phillip, então fique se consumindo em um rancor e vingança que não lhe levará a
nada! Quando você tem ao seu lado a oportunidade de comprovar a verdade, basta apenas ser gentil e
se aproximar com cavalheirismo...

Ao dizer isso, Lady Berta, fez menção de deixar o gabinete e o Conde a interrompeu, antes dela fechar
a porta.

— Espere tia Berta! A senhora acha isso? Que Elizabeth pode está falando a verdade sobre aquele
fato? E também que não me odeia, como já disse? Por eu ter forçado ela casar comigo depois do
escândalo, com o pretexto de me vingar e por mais o resto?

— Sim acho! E meu filho...Eliza é muito jovem, quase uma menina!


Então, não leve a sério as palavras dela quando tenta fingir que lhe odeia, ela
está magoada sim, mas sinto que nunca lhe odiou... Agora, preciso ver como
anda o jantar!

Lady Berta se retirou do gabinete e deixou o Conde Phillip confuso, perdido em seus pensamentos,
pois apesar da mágoa, rancor pela suposta traição, ainda a amava. Porém, pela primeira vez, ele não
estava mais tão cego de raiva, ciúmes e ouviu a hipótese levantada por Lady Berta de que Eliza
poderia sim ser inocente. Contudo, isso poderia sim ser comprovado em uma noite de núpcias ainda
aquela noite se ele agisse como um marido autoritário e exigisse seus direito. Todavia se após isso ele
comprovasse de que ela era sim inocente, ficaria mais envergonhado ainda por a força-la a uma
situação desconfortável e agir com autoritarismo. Então talvez fosse melhor, se aproximar aos poucos,
analisar como ela se comportava diante de alguma insinuação ou proposta dele para a consumação do
casamento.

O Conde era um homem vaidoso, tinha convicção da sua beleza, era alto, porte atlético, cabelos
negros bem cortados, pele morena clara, rosto afilado e penetrantes olhos verdes. Nunca um mulher
lhe disse um não. Então, agora ele pensava:

— Será que caso eu tente cortejar Eliza por alguns dias, para conseguir consumar o casamento sem
autoritarismo e comprovar sua inocência, ela ainda aceitaria? Ou me rejeitaria?

Ainda perdido em seus pensamentos em seu gabinete, o Conde ouviu baterem na porta. Era criada
Camille, ela o olhou com olhos de cobiça e sorriso encorajador, antes de avisar:

— Senhor, Conde, o senhor tem visita, Lorde James, o aguarda na sala.

— Obrigada, sirva algo para ele e avise que já estou indo! — ele falou de um jeito frio, de repente
a beleza da criada e o seu jeito insinuante, já não significava mais nada para ele.

O Conde, consultou seu o relógio de bolso e viu que em no máximo uma hora, seria o jantar. Então,
que alegria o seu amigo Lorde James tinha finalmente vindo lhe visitar, a primeira visita após seu
casamento, o convidaria para jantar com muito prazer.

— Amigo James, quanto honra o receber em minha casa, após casado!

— Amigo Phillip, eu que fico honrado! Confesso que desejava vir antes, porém, não quis atrapalhar
a sua lua de mel... — Lorde James, aproveitou que não tinha criados na sala e falou fingindo
cumplicidade.

Os cavalheiros se abraçaram, sentaram nas poltronas da grande sala de visitas da mansão, ficaram
a tomar chá e colocar a conversa em dia. Porém, a real intenção de Lorde James ali, era comprovar
ou conseguir do Conde, a quem ele chamava de amigo, alguma confidencia sobre como andava a vida
de casado. Aquela altura a prima Margareth, que já tinha ouvido confidencias de Eliza do que
aconteceu na noite de núpcias. Então, os detalhes de que o casal não dormiam juntos, que o casamento
não havia sido consumado, já havia sido avisado a Lorde James.

Lady Berta, veio até a sala cumprimentar o amigo de do Conde e já conhecido deles de longa data,
apesar disso ela tinha uma leve desconfiança do caráter daquele rapaz e também da prima Margareth.

— Tia Berta, o amigo James jantará conosco, por favor avise a Elizabeth que temos visita, para que
ela se arrume e desça para o jantar!

— Sim, irei avisar! — Lady Berta, também, achava, que como senhora da casa, Eliza deveria
descer para o jantar, assim evitaria falatórios.
Após Lady Berta deixar a sala e os homens ficarem a sós novamente, Lorde James perguntou
discretamente:

— A sua esposa, não desce sempre para o jantar? Como recém-casada, não aprecia jantar em sua
companhia?

— Amigo James, estou sem paciência para detalhes, mas o fato é que desde que nos casamos, Eliza
e eu vivemos um momento delicado, ainda fruto daquele incidente na noite do noivado! Até em quarto
separados dormimos...

— Nossa, amigo, que situação inconveniente...

Ao ouvir isso do próprio Conde, Lorde James não insistiu por mais detalhes, afinal o que a
senhorita Margareth mandou lhe avisar, acabava de se comprovar. Então, para disfarçar, Lorde
James achou melhor mudar os rumos da conversa.

— Eliza, querida! Posso entrar?

— Claro, tia Berta!

— Olhe, o Lorde James, amigo de Phillip de longas datas, o qual você já conhece, veio visitar
Phillip e jantará conosco! Então, seu marido, pediu para que você se arrume e como senhora da casa,
participe do jantar! Está bem querida?

— Esta bem, tia Berta, mas será que o Phillip vai me destratar diante das visitas? Afinal, ele e
Lorde James são íntimos, mas não de mim.

— Não, querida! Acredito que não... hoje final da tarde andei tendo uma conversa com Phillip, o
aconselhando a trata-la com mais cavalheirismo e esquecer aquele juramento de vingança que ele fez!

— Verdade? Tia Berta? — a jovem perguntou surpresa, com olhos arregalados.

— Sim, querida! Ele não prometeu, mas vi nos olhos dele que ficou tentado a realizar meu pedido! Ah!
Aproveitei e disse que achava que esse ódio, que as vezes você já disse sentir por ele, era da boca para
fora... Fiz mal?

— Ah tia Berta! Não... Na verdade não sei mais! Ultimamente não sei mais o que sinto por Phillip!
Sei que não me agrada quando o vejo olhar para aquela criada! Mas também, não me agradaria se ele
exigisse seus direitos de marido de uma hora para outra, antes de voltar a me tratar melhor, com mais
delicadeza e cavalheirismo!

— Minha querida, vocês são jovens e se deixarem o orgulho, rancor, magoas de lado, ainda podem
ser muito felizes! Agora se arrume, fique bem bonita e desça para o jantar!
Aquelas palavras deixou Eliza, pensativa. Ela talvez não tivesse coragem de voltar a dormir com o
Conde já naquela noite, mas será que ele iria mesmo voltar a ser um pouco do cavalheiro que fora no
passado em relação a ela?

Eliza, escolheu um lindo vestido de cetim vermelho, não eram simples e nem luxuoso ao extremo,
muito apropriado para ficar bela para a ocasião. O cetim vermelho realçou a sua pele branca, seu
pescoço e rosto afilado ficaram em evidencia, assim como seus olhos cor de mel e seus cachos
castanhos que foram cuidadosamente arrumados.

— Estou pronta! Agora já posso descer e fazer bonito para qualquer convidado! — foi o que Eliza
murmurou, ao se olhar no espelho do seu quarto.

Quando Eliza, chegou até a grande sala de jantar todos estavam a mesa, ela se atrasou um pouco
ao se vestir, apenas esperavam por ela. Ela estava belíssima, os olhos do Conde e os olhos de Lorde
James brilharam, mas o segundo lhe via apenas como um troféu, um capricho que ele queria
satisfazer. Estavam presentes o Conde a cabeceira da mesa, Lady Berta, Lorde James, o seu lugar
como senhora da casa ,ao lado do Conde, ainda estava vazia. Ela se surpreendeu ao ouvir a forma
com que o Conde respondeu o seu cumprimento a todos.

— Boa noite a todos!

— Boa noite, querida!- Falou Lady Berta.

— Boa noite, Lady Elizabeth, devo lhe dizer que o casamento lhe fez bem, pois a senhora está
belíssima!

— Obrigada, Lorde James.

— Boa noite, Eliza, tomo o seu lugar a mesa, aqui ao meu lado!

O Conde falou de forma gentil e Eliza estranhou a forma como ele a chamou, pois desde o incidente
ele deixou de trata-la carinhosamente por Eliza e sim pela forma fria : Elizabeth.

— Obrigada! — ela respondeu tímida e tomou o lugar reservado para ela.

O jantar foi calmo, agradável, a presença de Lorde James, deixava o Conde entusiasmado, mais
gentil, afinal eram amigos de longa data. Após o jantar, passado algum tempinho, Eliza pediu licença
para se recolher e Lady Berta também, assim, os homens podiam conversar a vontade e relembrar a
vida de solteiro.

— Amigo Phillip, sei que ainda era para estar em lua de mel, mas o que acha de como antigamente,
você, Elizabeth, sua prima Margareth e eu organizamos um passeio no campo? Estilo um piquenique?
Numa dessas suas propriedades aqui perto? Isso talvez agradasse sua esposa e vocês se entendesse
melhor...
— Amigo, James... um pique nique? Não seria uma má ideia! Apesar que ainda não sei se quero
ficar a fazer de tudo para agradar Eliza e me reaproximar como quando a conheci...

— É a sua esposa, vocês estão casados, faça um esforço! Quanto a mim, adoraria passar a tarde ao
lado da senhorita Margareth... — Lorde James, gostava de fingir um leve interesse na prima de Eliza,
para disfarçar a cumplicidade dos dois.

— Tenho uma pequena propriedade, com campos muito bonito, aqui perto de Londres, a casa está
fechada, sem criados, mas seria apenas uma tarde, não vejo necessidade deles!

— Claro, assim ficaríamos mais a vontade, já que a casa é pequena, mas o foco será piquenique, não
precisaremos de criados para nos servir!

— Está bem, amigo James, eu acho difícil Eliza, não aceitar, já que terá a companhia da prima
Margareth, a quem ela tanto adora! Então, marquemos para depois de amanha, assim elas terão
tempo de se organizarem, sabe como são as mulheres e seus caprichos.

— Claro! Então combinado! Agora, amigo, o jantar foi muito agradável, mas irei deixa-lo, pois
uma bela dama me aguarda!

— Ah! Você e suas aventuras de solteiros! Divirta-se amigo!

Assim o Conde e Lorde James, se despediram, ficando acertado o piquenique, na pequena


propriedade com lindos campos pastoril, onde tinha uma casinha pequena e sem criados, mas seria
apenas uma tarde, não haveria necessidade deles. Agora, era so avisar a Elizabeth, que avisaria a sua
prima Margareth para estarem prontas, para depois de amanha.

Ainda não era tarde, quando o Conde se recolheu, ao passar pela porta do quarto de Eliza, ele
tinha quase certeza de que ela ainda não estava dormindo. Ele pensou em bater na porta do quarto,
mas não tinha o que falar para ela e não queria que ela achasse que estava tentando pressiona-la a
cumprir seus deveres de esposa. Então, o Conde teve uma ideia, voltou, foi até a biblioteca, que ele
tinha proibido o acesso de Eliza a ela, escolheu um livro do gênero romance, pegou uma rosa
vermelha que estava em um dos vasos da casa e voltou novamente a subir as escadas em direção aos
quartos.

Eliza ouviu alguém bater na porta do quarto, apesar de ainda não ser hora de dormir, ficou com
receio de quem seria aquele horário, pois Lady Berta, já havia estado no quarto.

— Seria o Conde? E se fosse? O que desejava? Ela sentiu um leve arrepio de medo.

— Quem é? Quem é? — ela perguntou com a voz trêmula.

Ninguém respondeu e apesar dela ter esquecido de trancar a porta, ninguém, ousou a entrar sem
ser convidado. Ela ouviu passos se afastarem...
— Quem seria? Agora fiquei com medo! Seria uma assombração? A porta estava destrancada,
acho que o Phillip, do jeito que é atrevido, teria entrado, já na segunda batida! Eu vou olhar, se não,
não conseguirei dormir! — a jovem falou sozinha consigo mesma.

Ela já estava de camisola, apesar de não ser tão tarde.

— Au! Au! Au!

— Silêncio, Teddy! Não faça barulho!

A jovem caminhou devagar até a porta do quarto e a abriu lentamente, olhou para os lados não viu
ninguém, ao olhar para baixo ficou surpresa: Depositado no chão, bem na soleira da porta, tinha um
livro, uma rosa vermelha e um pedaço de papel.

Eliza, pegou rapidamente, tudo aquilo, retornou para o quarto e trancou a porta. Estava curiosa
para saber quem tinha posto aquilo ali, feito aquela gentileza, uma rosa e ainda mais um livro, era
alguém que sabia o quanto ela amava livros. Ela depositou o livro e a rosa em cima da cama e ao ler o
pedaço de papel se surpreendeu. Nele estava escrito:

“Este livro é para tornar sua noite mais agradável, esta rosa é para que
sinta um perfume tão delicado quanto o seu”
Phillip

Ao ler aquilo, a jovem ficou surpresa, pois não esperava aquela aproximação dele e
tamanha delicadeza. Aquilo a deixou confusa, mas esboçou um sorriso de felicidade, folheou o livro e
deitada em sua cama, iniciou a leitura.
Capítulo 14
Eram nove horas da manhã, quando alguém bateu na porta do quarto de Eliza. Apesar das
batidas delicadas, ela acordou rápido, mas se assustou, ao consultar o relógio no criado mudo e se
surpreender com o horário.

— Nossa! Em Berkshire, sempre acordei cedo! Ah, mas também fui dormir tão tarde ontem, lendo o
livro deixado por Philip! Estava com tanta saudades de ler! — ela pensou.

As batidas insistentes na porta, interromperam seus pensamentos.

— Pode entrar!

Porém, para sua surpresa, entrou o Conde Phillip e não Lady Berta ou uma das criadas. Aquilo a
deixou sem reação, pois não esperava e fez com que ela ainda deitada, encostada na cabeceira da
cama, puxasse rapidamente as cobertas até o pescoço, já que ainda estava de camisola.

— Você? O que deseja?

— Sim, sou eu! Porém, não precisa de tanto pudor, puxar as cobertas assim, para se cobrir de
imediato, sou seu marido...

— Desculpe, é que eu não esperava! O que deseja? – ela perguntou apreensiva.

— Não precisa sentir medo, vim apenas sugerir, algo que combinei com meu amigo Lorde James
ontem a noite..

— O que? — ela perguntou desconfiada.

— Um piquenique, um passeio no campo, amanha ! Poderíamos sair daqui no meio da manhã e


retornarmos a tardinha.

— Passeio? Campo? Iremos a Berkshire? Eu verei a mamãe e a Molly? Posso levar o Teddy?

— Quantas perguntas, senhora Condessa!

— Claro! Senhor Conde, um passeio assim de última hora, é natural que eu fique curiosa! Ah! Achei
que suas doses de sarcasmo comigo haviam se acabado!
— Perdão, força do hábito! Então, meu amigo Lorde James preferiu algo mais sossegado, ele quer
relembrar aqueles raros passeios no campo que davamos em Berkshire: Você, eu, sua prima senhorita
Margareth e Lorde James! As vezes acho que ele é interessado em sua prima...

— Hum... se é interessado na prima Mag, porque simplesmente não pede permissão aos pais dela
para corteja-la? Ambos são solteiros!

— Ah, não sei! Acho que não quer da o braço a torcer e abandonar a vida de farras e mulheres!
De qualquer forma, mande um criado entregar o recado com o convite a sua prima, sobre o passeio!
Sairemos nós quatro aqui da mansão, vocês irão na carruagem e Lorde James e eu acompanharemos
em nossos cavalos, pois queremos exercita-los!

— Então, ainda não verei a mamãe e a Molly? E quanto a levar o Teddy?

— Não Eliza, não verá, mas apenas porque achamos mais conveniente e privativo, usar uma pequena
propriedade aqui bem próxima a Londres e com lindos jardins e árvores, que herdei do Conde
Sebastian! Ah! E não leve o Teddy, ele rouba muito a sua atenção e será um passeio de casais!

Eliza não gostou muito dessa parte de não levar o Teddy e pensou em se negar a ir junto, mas
como estava evitando não questionar o Conde, pois estava tentando ouvir Lady Berta. Além de
também
retribuir a gentileza de ontem a noite sobre a rosa e o livro depositados na porta do seu quarto...
— Tudo bem, eu irei, mandarei agora mesmo um criado até a casa da prima Mag, avisar do
convite! Apesar de prima Mag, ser extremamente vaidosa, ela terá tempo, pois ainda são quase dez
horas da manhã e sairemos daqui amanhã antes do almoço.

O Conde Phillip, entendeu bem que Eliza concordou com o passeio, que iria mandar avisar a sua
prima, então, o assunto que o trouxe até ali no quarto dela havia se encerrado. Porém, ele ainda ficou
por um curto espaço de tempo, ali mudo diante dela, como se quisesse ficar mais um pouco, mas não
tinha assunto, nenhum dos dois queriam da o braço a torcer e iniciar uma reaproximação.

— Então... isso é tudo! Agora vou sair para tratar de negócios!

— Sim, já entendi, a prima Mag e eu estaremos prontas amanhã! — Eliza sabia que a senhorita
Margareth, não perderia aquela oportunidade de está ao lado de um rapaz de boa família e solteiro.

O Conde hesitou um pouco, mas deu as costas para Eliza e seguiu em direção a porta de saída do
quarto.

— Phillip, espere!

— Sim, deseja alguma coisa?


— Eu quero agradecer pela gentileza de ontem, adorei a rosa e estou adorando ler o livro!

— Fico, feliz que eu tenha acertado na escolha do livro e quanto a rosa, toda mulher gosta de rosas
vermelhas... Agora preciso ir!

— Entendo, antes que se vá, apenas me responda mais uma coisa: Por que essa mudança de
comportamento comigo, desde ontem a noite ?

— Não gostas? Prefere ser maltratada e que eu continue com o plano de maltrata-la por vingança?

— Não, não é isso! Apenas, por um instante tive a ilusão que você estivesse começando a acreditar
em minha inocência...

— Eu não disse isto! Apenas, estou tentando ouvir os conselhos da minha mãe, tia Berta, para não
condenar, antes da prova final...

Eliza, ouviu aquilo e engoliu em seco, pois sabia que a prova final seria finalmente acontecer a
noite de núpcias. Ele parece que leu os pensamentos dela:

— Não, precisa me olhar com esses olhos assustados! Decidi que “ a prova final” irá acontecer
quando você se sentir preparada! Pois, não quero forçar nada que manche a minha honra de
cavalheiro! Eu não posso ainda afirmar se você da valor a honra e reputação ou não, mas eu ainda
dou e principalmente, não quero desgostar tia Berta!

Ao ouvir aquilo Eliza, ficou sem argumentos e apenas conseguiu pronunciar:

—Obrigada...

— Agradeça também, a tia Berta, agora preciso ir!

O Conde deixou o quarto, bateu devagar a porta, isso demonstrava que ele não estava com raiva,
irritado, estava apenas sendo sincero com as palavras. Eliza, ficou ainda por uns minutos deitada,
pensando me tudo que tinha ouvido e no passeio do dia seguinte.

— Será que ele está mesmo mudado? O plano de vingança contra mim, está aos poucos se
desfazendo? Estaria tia Berta, aos poucos, conseguindo dobrar ele?

Em sua enorme cama de lençóis de linho, a jovem pensava isso, enquanto olhava para o teto,
depois levantou e foi fazer a sua higiene intima para se vestir e sair do quarto.

Eliza, estava empolgada com o passeio, com a aparente mudança do Conde em relação a ela.
Então, após se vestir, sentou em sua escrivaninha no canto do quarto, pegou tinta e papel e começou a
redigir um bilhete para a prima Margareth. Após isso, desceu as escadas, alegre, seguida por Teddy,
segurando as saias do seu longo vestido de seda lilás e com uma carta em sua mão.

— Josefine! Josefine!

— Estou aqui senhora Condessa! Em que posso servi- la?

— Quero que mande o cocheiro, entregar esta carta, até a casa da minha prima, a senhorita
Margareth Callow. É urgente!

A simpática criada, diferente de Camille que agora mal era vista dentro da casa, recebeu a carta
cor de rosa, com o brasão do Conde e Condessa De Ashwell.

— Claro, senhora Condessa, irei agora mesma, entregar ao cocheiro! Em instantes ele estará lá.

— Obrigada Josefine! Agora vem Teddy! Vamos para o jardim, brincar um pouco!

— Au! Au! Au!

O cocheiro particular da mansão do Conde de Ashwell, entregou a carta com o convite da condessa
e os detalhes do passeio para o dia seguinte. Porém, o que Eliza não imaginava, é que a prima
Margareth, já tinha sido avisada, também em carta por Lorde James, mas não uma carta oficial e sim
um sorrateiro bilhete, entregue na surdina.

A senhorita será convidada para um passeio que se realizará amanhã,


esteja pronta! Serão apenas nós dois, Phillip e Eliza! Então, se conseguirmos
sugerir algo a Phillip que me permita ficar um tempo a sós com Eliza,
finalmente lograremos êxito! Arrancarei a pureza que ela está guardando
como prova da sua inocência e Phillip jamais acreditará nela! Assim o que
iniciamos na noite do noivado estará concluído: Eu serei o primeiro homem
de Eliza, Phillip a repudiará e você terá a oportunidade de conquista-lo!
Lorde James

Já era noite na mansão, todos já estavam recolhidos em seus quartos, Eliza não conseguia dormir,
revirava na cama. Ela dizia para si mesma, que era a empolgação pelo passeio na manhã seguinte,
mas no fundo ela estava inquieta, algo a incomodava: Não tinha coragem de ir até a porta do quarto
do Conde e se entregar para ele, mas também, não desejava mais ser uma esposa virgem. Então,
assim, cheia de dúvidas e receios, ela adormeceu, se ela pudesse ter ido de forma invisível até os
aposentos do Conde, também teria visto ele se revirar na cama várias vezes, queimando de desejo e
paixão, mas esperando a decisão dela.
Capítulo 15
No interior da carruagem que seguia na estrada para Netville, uma pequena propriedade rural
próxima a Londres, as duas jovens conversavam. O Conde Phillip e Lorde James, acompanhavam a
carruagem montados em seus garbosos cavalos, pois desejavam exercita-los.

— Prima Eliza, não sei que milagre você não ter trazido o Teddy: A sua bola de pelos! — a
Senhorita Margareth, perguntou em tom de deboche.

— Prima Mag! Não gosto que se refira assim ao meu cãozinho! O Teddy, sempre foi meu
companheiro, desde meu período de reclusão em Berkshire! Porém, o Phillip achou conveniente não
traze-lo e não quis contraria-lo! — Eliza a corrigiu.

— Ah! Então, o Conde e você estão finalmente se entendendo? — a moça perguntou curiosa.

— Não exatamente como você está pensando prima, mas tia Berta tem intercedido e o Conde tem
estado mais amável comigo...
— Hum... e a noite de núpcias? Já aconteceu? Já és uma mulher de verdade? — a prima
Margareth, perguntou com uma expressão maliciosa.

— Ainda não... mas sinto que em breve! Pois, também, estou tentando vencer meus medos, minhas
mágoas e da uma chance a nós dois, como pediu tia Berta... — Eliza respondeu corada.

— Hum... Entendo prima! Faz muito bem!

A carruagem seguia pela estrada de terra, em seu interior as belas senhora e senhorita, enquanto
conversavam, olhavam pela janela, pois estavam ansiosas para chegarem. Lady Berta, pediu aos
criados da mansão, para preparar algo para almoço e guloseimas, então, junto com elas ia cesta,
toalha, comida, frutas, doces, pães, geleias. Os utensílios necessários para um almoço ao ar livre,
estilo piquenique. Além de também para usar na pequena casa, pois sabiam que nela, não havia louças
e nem criados, estava fechada a algum tempo. Porém, a beleza do lugar, uma pequena casa que mais
parecia de boneca, uma linda paisagem ao seu redor, isso fora usada como pretexto e como isca.
— Acho que chegamos, prima Mag! — Eliza exclamou ao olhar pela janela da carruagem e ver o
portão principal da simpática propriedade.

— Ainda bem! Já estava ficando cansada de sacolejar nessa estrada de terra! — a prima
Margareth, desceu reclamando.

Netville, era sim uma linda e pequena propriedade, como fora avisado. Eliza e Margareth, nunca
estiveram ali, o velho Conde de Ashwell, nunca havia citado a existência dela. Era um lugar lindo,
tinha uma pequena casa de pedras, escuras, com uma pequena varanda na frente. A linda casinha era
cercada por um belo jardim de flores silvestres, as mesma flores que também, enchiam os campos
verdes, além de árvores frondosas a beira de um lago. Alguns criados da mansão avisaram que ao
longe havia uma linda cachoeira e indicaram o caminho ao Conde.

O Conde Phillip e Lorde James, foram os primeiros a abrirem a porteira da propriedade e


entrarem com seus cavalos, em seguida a carruagem, parou bem diante da casa da chácara. O Conde
de forma cavalheira, deu a mão e ajudou Eliza a descer e em seguida a prima Margareth.

— Obrigada, senhor Conde!

— É uma honra senhorita Margareth!

— Obrigada, Phillip!

— Também é uma honra, senhora Condessa...

O Conde falou com uma expressão galanteadora, ao tocar a mão de Eliza para ajuda-la e a olha-la
nos olhos, isso a deixou satisfeita, mas um pouco desconcertada. Afinal, existia outras pessoas
presentes e ela não queria que eles percebessem que ela se comportava como uma donzela ao simples
toque do próprio marido.

— Então, senhora e senhorita! Esta é Netville, como já expliquei antes! O amigo James? Já a
conhecia? Meu tio recebeu a propriedade de alguém por dívidas.

— Não, amigo Phillip, não me recordo dela, em minha época de menino na Inglaterra e como você
sabe passei muito tempo estudando na França!

— Claro amigo! Como eu poderia me esquecer? Afinal foi na França onde surgiu nossa amizade e
lealdade!

As duas jovens ouviam a conversa dos dois homens, enquanto, se recompunham da viagem, já
começavam a colocar os utensílios do piquenique na varanda, enquanto o Conde abria a fechadura da
casa.
— Senhora e senhorita, a casa, já está aberta, podem entrarem usar a casa, se lavarem se
desejar! Fiquem a vontade! Enquanto isso, o James e eu iremos escolher uma árvore frondosa próxima
ali na beira do lago, para colocarmos a toalha e tudo que trouxemos! Estou faminto e acredito que
vocês também!

— Claro amigo Phillip! Vamos! Daqui as nossas damas conseguem enxergar o lago, basta irem
logo em seguida ao nosso encontro!

Eliza parecia uma boneca de louça, vestida em um vestido de musseline cor de rosa, chapéu
branco e sombrinha também cor de rosa. A prima Margareth, apesar de não ter interesse em Lorde
James e sim no Conde, também estava bem vestida com um lindo vestido amarelo e Eliza achava que
era para impressionar Lorde James.

— Claro! Preciso apenas, ir ao toalete, logo nos juntaremos aos senhores! Venha, prima Eliza, me
faça companhia! — a senhorita Margareth, pegou Eliza pelo braços e ambas entraram na casa.

— Sim, prima Mag!

As duas entraram na casa, como ainda não estava no inverno, Eliza abriu as janelas da pequena
sala para arejar o ambiente. A casa, apesar de fechada, sem criados, não parecia uma casa
abandonada, porém tinha poucos móveis, apenas o necessário. Ela era muito charmosa por dentro,
combinava com o cenário romântico rural que a cercava.

— Pronto! Eliza, não vai também usar o toalete? Apesar de após o piquenique retornaremos aqui para
descansar um pouco até pegarmos a estrada de volta, acho que deveria aproveitar para usa-lo.

— Sim, prima Mag, boa ideia!

Eliza usou o banheiro, lavou o rosto e saiu já pronta para se juntar ao Conde e Lorde James, que a
aquela altura já tinha escolhido uma árvore e levado a toalha e cesta com comidas. Então, as duas
jovens ao saírem para na varanda da casa, já os enxergou ao longe embaixo de uma grande árvore a
beira do lago.

— Olha, prima Mag, eles estão bem ali, já escolheram a árvore e estenderam a toalha! Vamos!
Chegaremos a tempo de organizar a louça e a comida! — ao dizer isso, Eliza ,suspendeu as saias do
pesado vestido, abriu sua sombrinha e caminhou para o local a passos largos, seguido pela senhorita
Margareth.

— Devagar Eliza! Como você está apressada para estar ao lado do seu marido, parece até que não
o viu a menos de meia hora!

— Ah prima! Apenas quero ajudar a organizar a comida e também aproveitar o passeio! Além de já
ser quase hora do almoço e estou faminta!
— Está bem, Eliza!

A distância da casa para a árvore escolhida, era relativamente próxima e da casa já se conseguia
enxergar. Então, bastava apenas suspender as pesadas saias dos vestidos e caminharem por uma relva
verde e macia.

— Então, cavalheiros, chegamos! — a senhorita Margareth, anunciou toda faceira.

— Então, agora sim, tudo está perfeito não é amigo Phillip? Pois iremos almoçar na companhia de
duas belas damas.

— Concordo amigo James! Venha Eliza, sente-se aqui ao meu lado! Acho que James e eu
conseguimos arrumar a louça direitinho, nós poupamos vocês dessa tarefa!

— Obrigada Phillip, sim está mesmo com cara de piquenique!

Ao dizer isso, Eliza, aceitou a mão de Phillip, como ajuda para sentar no chão ao lado dele,
enquanto a prima Margareth, sentou do lado contrário, ao lado de Lorde James.

O piquenique, que na realidade transformou-se em um almoço ao ar livre, na beira do lago,


embaixo de uma grande árvore, com uma toalha cheia de comida gostosa e guloseimas, ocorreu de
forma bem agradável. O Conde e Lorde James, por serem amigos de longas datas ,tinham muito
assunto para falarem, muitas aventuras para contar, bastava apenas escolher aquelas que fossem
apropriadas para uma dama ouvir.

— Foi uma almoço muito agradável, a comida estava maravilhosa! Tia Berta como sempre cuidou
de tudo! Foi ela que teve a ideia de mandar fazer também algo que servisse como almoço. — Eliza
comentou.

— Sim, a comida estava maravilhosa e junto a companhia de vocês duas, fora tudo divino! — falou
Lorde James, em tom galanteador e mirando de forma fingida a prima Margareth, que aquela altura
estava alerta.

— Concordo com você amigo James. — o Conde falou e encarou Eliza com olhos galanteador, ao
seu lado.

— Senhor Conde, a que horas o cocheiro retornará com a carruagem para nos buscar? Pois,
imagino que a volta será idêntica a nossa vinda.

— Sim, senhorita Margareth, apenas dei ordens de que podia retornar a cidade e vir nos buscar no
meio da tarde! Assim teríamos mais privacidade.

— Claro, fez bem! Sabe, minha mãe me falou que tem uma belíssima cachoeira nesta propriedade,
gostaria de ir conhece-la! — a prima Margareth, falou fingindo entusiasmo.

— Sim, podemos ir todos juntos ,conhece-la! Afinal, ainda está cedo para o cocheiro chegar!

— Sim, mas ela é um pouco longe para irmos caminhando, o ideal seria ir a cavalo! Eu adoraria,
pois, além de conhece-la eu andaria um pouco a cavalo! Já faz algum tempo que eu não monto e estou
com saudades! — a prima Margareth, falou fingindo certo entusiasmo.

— Prima Mag... Eu estou cansada, além do mais não gosto de montar! Aliás monto muito mal...

— Eu também, estou cansado! Mas, meu cavalo é manso! Você poderia montar ele e ir junto com
Phillip até a cachoeira! Eu ficarei aqui fazendoo companhia a Eliza! Afinal, são dois cansados...

— Ah! Prima Eliza, eu tinha esquecido esse detalhe... Ah! Mas o Conde Phillip, poderia me
acompanhar! Assim como o Lorde James sugeriu! Você se incomodaria prima?

— Não, prima Mag, claro que não! Você é como uma irmã para mim!

— Então, diante desses planos, eu também lhe pergunto: Você se incomodaria, amigo Phillip, de
deixar Eliza aqui comigo? Apenas nós dois? Não haverá falatórios, pois não tem ninguém nesse lugar!

— Claro que confiaria sim amigo James! Você também é como um irmão para mim e como você
mesmo disse, não haverá falatórios, pois não a ninguém nesse lugar!

Então, discretamente Lorde James e a senhorita Margareth, se entre olharam: Ela desfrutaria da
companhia exclusiva do Conde Phillip e Lorde James tinha conseguido um pretexto para ficar ali
sozinho, embaixo daquela grande árvore com Eliza. A cachoeira não era não próxima, não dava para
ser visto de la.

— Então, vamos ,senhor Conde! Estou ansiosa par montar e ver também ver a cachoeira! Lorde
James, obrigada por me permitir montar o seu cavalo que é manso!

— Deixe, eu lhe ajudar senhorita Margareth! Já o meu cavalo é bravo! Nem o amigo James
consegue montar ele!

— Obrigada, senhor Conde!

Então, assim, a prima Margareth e o Conde Phillip, saíram a cavalo em direção a cachoeira, o
Conde em seu cavalo arisco e a prima Margareth no cavalo de Lorde James. A jovem saiu eufórica,
feliz, tagarelando, por um instante ela esqueceu de disfarçar seu interesse no Conde Phillip.

Quanto a Eliza, ficou observando os dois se afastarem, até sumir das suas vistas. Ela não sentia
ciúmes da prima Margareth, mas so achou de mal gosto ficar ali sozinha no meio do mato com um
homem, porque era alguém de confiança do marido, quase irmão.

Lorde James, observou calmamente os dois se afastarem a cavalo, Margareth, montando o seu
cavalo puro sangue e que na verdade não era tão dócil assim, apenas não se comparava ao do Conde
que apenas permitia o Conde e mais ninguém, monta-lo. Enquanto ele via os dois se afastarem e
sumirem de vista, ele observava calado, ainda em seu lugar, sentado na relva, diante de Eliza que
estava sentada a sua frente, apenas uma toalha de mesa, com restos de comida separava os dois.
Capítulo 16
— Espero que a Condessa, não tenha ficado chateada por ficar sozinha em minha companhia... —
Lorde James, falou encarando Eliza com olhos insolente, mas a jovem, achou que fosse apenas
impressão.

— Não, claro que não! És o fiel amigo do meu esposo! Apenas espero que a minha companhia não
seja entediante para o senhor!

Eliza, estava se sentindo um pouco sem graça com a forma que ele a olhava, mas tentou disfarçar e
para passar o tempo, estendeu a mão, pegou uma maçã numa travessa em cima da toalha ainda
estendida. Lorde James, fingindo coincidência, fez o mesmo e as mãos de ambos se tocaram, Eliza,
timidamente, puxou devagar a mão e tentou encarar como um incidente.

— A sua companhia jamais será entediante, Condessa! Qual homem não se sente honrado em fazer
companhia e cuidar de uma linda dama, igual a senhora?

— Obrigada, Lorde James! — Eliza falou sem graça, enquanto levava a maçã a boca.

— Porém, vejo que ficas corada igual uma donzela, a um simples elogio! Porém, imagino o porquê!
Sou o melhor amigo do Conde e sei o que se passa em seu casamento....

— Não sei a que está se referindo Lorde James! — aquilo deixou Eliza, sem graça.

— Será que o Phillip, teve coragem de me expor de forma tão intima? Eu apenas contei a minha
prima Mag, como confidencia feminina, mas ele não tinha o direito. A jovem pensou chateada.

Então, sentados na relva, embaixo da árvore, separados apenas pela toalha usada no piquenique
ainda estendida no chão, com restos de comida e louça por guardar, Lordee James se mostrava cada
vez mais ousado e aquilo estava incomodando Eliza.

— Claro que sabe, linda dama e me permita dizer-lhe que meu amigo não está sendo homem
bastante, pois comigo já não serias mais uma donzela...

— Lorde James, o senhora está sendo muito indelicado! Peço que mantenha o respeito e apenas me
faça companhia até o meu esposo regressar junto com minha prima Mag! — Eliza falou visivelmente
chateada e continuou a se defender das investidas e insinuações dele.

A caminho da cachoeira, o Conde Phillip e a senhorita Margareth Callow, cavalgavam lado a lado,
ele montado em seu cavalo e a jovem montada no cavalo emprestado por Lorde James. A senhorita
Margareth, tentava cavalgar devagar para aproveitar melhor o tempo a sós ao lado do Conde. Porém,
o Conde, acompanhava o ritmo dela por cavalheirismo, mas estava impaciente, gostaria de ir mais
rápido, pois não desejava demorar.

— Senhor Conde, foi muita gentileza de sua parte, deixar a prima Eliza, para vir me acompanhar
neste passeio!

— É uma honra agradar a prima da minha esposa, além do mais Eliza ficou na companhia do meu
amigo Lorde James, a quem confio como um irmão!

— Sim, senhor Conde, tem razão e qualquer pessoa consegue perceber que Lorde James também
tem a mesma consideração por ti.

— A mademoiselle, é acostumada a montar?

— Um pouco, não tanto como o senhor e Lorde James, mas bem mais que a prima Eliza! Por que a
pergunta?

— É que, se é acostumada a montar, gostaria que apressassemos um pouco nossos cavalos, pois,
gostaria de não demorar muito a regressar para Eliza e Lorde James.

— Que chato! Eu aqui toda feliz por está a sós com o Conde e ele já pensando em regressar para
Eliza! Será que ao menos, a essa altura, Lorde James já conseguiu seu intuito? Tirar a pureza de Eliza
e depois ameaça-la exigindo segredo? Após isso ela perderá a prova de que é inocente em relação
aquele incidente na noite do noivado... — a jovem pensou chateada com a pressa do Conde, mas tentou
disfarçar.

Aquilo chateou a senhorita Margareth, apesar de tentar disfarçar, ela incentivou o cavalo a andar
rápido.

— Pelo menos chegaremos logo a cachoeira e ficarei a sós com ele em um lugar ainda mais
romântico! — a jovem pensou.

Ao perceber que a jovem tinha aumentando bastante a velocidade do trote, o Conde tentou intervir,
pois ficou preocupado se tinha incentivado algo irresponsável.

— Espere mademoiselle Margareth! Não precisa exagerar, apenas apressar um pouco o trote! A
senhorita não é acostumada com este cavalo! — o Conde gritou para a jovem, que já estava se
distanciando um pouco dele.

— Não se preocupe! Apenas me acompanhe! Quero ver a cachoeira e também retornar breve!

O Conde fez menção para apressar seu cavalo e acompanha-la, porém tudo foi muito rápido, em
questão de segundos ele viu o cavalo montado por Margareth relinchar e inclinar. O animal
provavelmente tinha se assustado com algo.

— Ahhhhhhhh!!!!! Socorro!!! — foi o grito da senhorita Margareth ao ser arremessada para o alto
e jogada para longe, caída na relva.

— Meu Deus! Margareth! Margareth! — o Conde, desmontou rapidamente do seu cavalo e correu
ao socorro da jovem, naquele instante não era mais o Conde e sim o médico.

Porém, antes disso, ele viu próximo ao cavalo, a perversa cobra que o assustou, isso fez o Conde
tirar rapidamente a arma da cintura e atirar contra o réptil, antes que ela picasse o cavalo ou até
mesmo a jovem caída na grama. Contudo, quando o Conde se aproximou da senhorita Margareth,
percebeu que o acidente fora mais grave ainda do que ele julgava: caída na relva, com filetes de
sangue a escorrer pelos cantos da boca e nariz, a jovem prima de Eliza arquejava e lutava contra o fim
que parecia próximo...

— Margareth! Não se mexa! Precisamos da um jeito adequado para levar você daqui até a casa!
Vou buscar ajuda! Irei a galope!

— Conde... Phillip... Espere... Não me deixe! Sinto que meu fim se aproxima e antes disso preciso
lhe confessar algo... Não quero morrer com essa culpa...

— Não fale em fim agora! Precisamos agir rápido!

O Conde fez menção de se afastar da jovem para ir rápido a cavalo em busca de Lorde James para
ajudar a transporta-la de forma adequada e tentar lhe salvar a vida.

— Espere Phillip! A noite do seu noivado... Eliza... Sempre foi inocente...tudo não passou de uma
armação planejada por Lorde James e ajudada por mim.... Além disso, fui eu que sumi com o diário de
Eliza... Assim seria uma prova a menos da inocência dela...

Aquilo deixou o Conde parado, sem ação, pois queria correr em busca de ajuda, mas também
estava surpreso e curioso com o que ela tinha a revelar.

— Meu amigo James e você? Um plano? Como assim? Você deve está delirando! Vi que bateu com
a cabeça!

— Não! Ouça... Não sei se terei tempo o suficiente...

O Conde com os olhos arregalados, se ajoelhou ao lado da jovem caída na relva, enquanto ela com
esforço, arquejando lhe revelou...

— Eu queria você para mim... Queria casar com você, mas Eliza já tinha sido escolhida! Lorde
James desejava Eliza, como um troféu mas não para casar... Ele é um falso amigo, o inveja por tudo
que herdou! E deseja tudo que é seu! A começar por Eliza...

— Meu Deus... O que está me confessando...

— Então, ouça... Na noite do noivado, seu amigo contratou aquele homem e me deu algo para
colocar na bebida de Eliza! O plano era para que você desistisse do casamento ao vê-la na cama com
outro...

— Como puderam fazer isso? Você a prima e melhor amiga dela? Lorde James, meu quase
irmão?

— Perdão Phillip, não quero morrer carregando esta culpa... Mas não é hora para julgamentos...
Neste momento... Sua esposa corre grande perigo sozinha com seu amigo... Que planeja abusar dela!
Então... Então... Corra para salva-la enquanto é tempo! Depois... Volte para buscar o que restar de
mim... pois... Sinto que minha hora chegou....

— Perdão, Phillip! Perdão, Eliza....

Ao dizer isso, a jovem, deu o suspiro final, seu pescoço tombou sem vida para o lado.

— Margareth! James! Como puderam? Não!!!!!!!!

Estas foram as palavras do Conde Phillip ao saber de toda a verdade e presenciar a morte da
senhorita Margareth Callow. Contudo, ele precisava ser rápido, pois o aviso de perigo lhe fora dado
por a própria. O Conde fechou rapidamente os olhos da jovem, montou seu cavalo e seguiu galopando
veloz como um furacão ao saber quem realmente era Lorde James e que Eliza estava correndo perigo
sozinha com ele.

— Eliza! Não tenho tempo a perder! Depois retorno com o cocheiro para pegar o seu corpo
Margareth! — foram as palavras finais do Conde ao se afastar do corpo da jovem e monta
rapidamente em seu cavalo.

O Conde Phillip, cavalgava em seu cavalo rápido como um furacão, precisava chegar o mais
rápido possível, onde estava a sua amada Eliza sozinha com seu falso amigo Lorde James.

Enquanto isso, a beira do lago, Eliza já estava em apuros...

— Largue-me Lorde James! –Eliza, lutava com o homem que agora descaradamente insistia em
agarra-la!

—Não resista! Você está sozinha aqui comigo!


Estas foram as palavras de Lorde James ao derrubar Eliza na relva, próximo a toalha e subir em
cima dela, enquanto ela lhe arranhava o rosto com as unhas e lhe chutava com as pernas.

— Como pode ser tão vil e desleal? Sou a Condessa! Esposa do seu melhor amigo!

— Ora senhora! Não faça charme! Vi como era espevitada antes de casar com Phillip! Ele não deu
conta de você, mas eu darei! Serás minhas antes dele e sua prima regressar da cachoeira!

— Eu vou contar tudo ao Conde, meu marido e também vou gritar!

— O Conde não deixará de acreditar em mim para acreditar em você! Ele já perdeu a confiança em
você desde a noite do noivado! E quanto a gritar, não tem ninguém aqui para lhe ajudar! Eles vão
demorar a retornar! — ao ouvir aquilo Eliza se desesperou, pois o homem falava com muita certeza na
voz.
Capítulo 17
Ao longe, o Conde Phillip, ainda montado galopando em seu cavalo, viu aquela cena que lhe
causou ao mesmo tempo ódio e embrulho no estomago. A sua amada Eliza rolava na relva, lutando
para se defender do abuso daquele que um dia ele julgou seu o seu leal amigo, quase irmão, Lorde
James. Então, o Conde sacou sua arma e já se aproximou galopando com ela em punho.

— Largue a minha esposa agora ou mato você! Seu patife!

O Conde os surpreendeu, parando seu cavalo bem próximo, descendo já com a arma apontada
para Lorde James. O de imediato largou Eliza, ficou de pé e deu alguns passos para trás.

— Phillip! Socorro! Me Salve! — foi o grito de Eliza ao ver o Conde e conseguir se libertar de
Lorde James.

A jovem correu e se abraçou desesperada ao marido, que a acolheu em seus braço de forma
protetora, ficando com um braço a protegendo e com o outro segurando a arma mirando Lorde James.

— Amigo Phillip! Ainda bem que chegou, sua esposa estava tendo uma crise de esteria, planejava
se jogar no lago e eu estava tentando, contê-la!

O dois homens de pé, um diante do outro a poucos metros, se olhavam, o Conde observava as
desculpas cínicas de Lorde James. Provavelmente no passado, o Conde Phillip teria acreditado
piamente em Lorde James, mas após as revelações da senhorita Margareth, tudo agora havia mudado.

— É mentira Phillip! É mentira! Por favor acredite em mim!!

— Eu sei meu amor! Sei que é mentira, sei o quanto existe de mentiras nesta história! A sua prima
Margareth me confessou tudo! — o Conde tentava tranquilizar Eliza, sem se descuidar e parar de
apontar a arma para o falso amigo, ali de pé a poucos metros deles.

Ao ouvir aquilo, sobre a confissão da senhorita Margareth, dito em voz alta para que ele ouvisse e
entendesse que a farsa havia se acabado. Lorde James rapidamente sacou também sua arma e mirou
para o Conde Phillip. Agora ambos estavam sob a mira das respectivas armas, sendo que abraçada ao
lado do Conde havia Eliza.

— Quanto a você seu patife! Já sei de tudo! A farsa acabou! Como pode ser tão covarde, desleal,
traidor? Comigo que sempre o considerei como um irmão? E largue está arma, se não eu atiro!
— Eu não sou irmão do filho da nobre deserdada, do pai alcoólatra e muito menos irmão do filho
da criada! — foram as palavras de Lorde James ao o encarar a poucos metros, cheio de ódio no olhar
e na voz.

— Seu patife, imundo! Filho e homem fracassado! A viver unicamente de boemia as custas da família!

Ao ouvir aquilo, Lorde James, se enfureceu, pois tocou na ferida dele, o filho de família rica,
aristocrata, mas que não tinha construído um nome, uma profissão ou um título de nobreza igual ao
Conde.

— Phillip! Ele vai atirar! Não!!! — foi o grito de Eliza, que abraçada ao lado do Conde o puxou
institivamente para um lado.

Então, Lorde James apertou o gatilho e disparou duas vezes em direção a Phillip, que revidou com
um tiro certeiro, antes de cair, atingido com uma bala de raspão no braço. Os dois homens tombaram
caídos na relva: Lorde James morto e o Conde Phillip, graças ao fato de Eliza o ter puxado, apenas
atingido no braço.

— Não!!!! Phillip, meu amor! — foi o grito de Eliza ao ver o Conde caído e cheio de sangue.

A jovem Condessa, nunca tinha presenciado uma cena de violência assim, nem tão pouco a morte
de ninguém por arma de fogo. Então, ela desesperada gritava entre os dos homens caídos, mas ela
achava que o Conde também era grave e que teria o mesmo fim de Lorde James que visivelmente
estava morto.

— Alguém me ajude! Socorro! Prima Mag! Onde você está? — a jovem gritava desesperada,
aquela altura, já tinha sentado na relva e abraçava o Conde Phillip, sem se importar com o sangue que
saia do seu braço.

— Calma Eliza! Calma, meu amor! O meu tiro, foi no braço! Graças a você, meu amor, que me
puxou e fez este patife errar o alvo!

— Ah meu Deus, Phillip! Agi por instinto, eu morreria se você tivesse morrido também! Porém,
veja, você esta perdendo muito sangue, não pode ficar assim!

— Realmente, não posso ficar assim, mas sou médico, sei que não estou grave! Porém, Lorde
James, está morto e apesar de todo mal que ele nós fez, não era assim que eu desejava que terminasse
as coisas! Não queria mata-lo, mas não tive escolha! Era ele ou eu!

— Ah Meu Deus! Precisamos de ajuda! Ainda bem que o cocheiro já deve está de volta para nos
buscar! Onde está a prima Mag? No meio de toda esta confusão?

Ao ouvir aquilo, Eliza perguntar pela sua querida prima, o Conde fez uma pausa e falou com
dificuldade, pois seu braço, ainda com a bala doía muito.
— Eliza... Ouça... Assim que o cocheiro chegar iremos embora com ele, pois preciso cuidar do
ferimento em lugar mais apropriado! Porém, preciso lhe falar algo agora e em Londres darei mais
detalhes, mas não quero que sofra...

— Phillip! Você está me assustando!

— Sei que gosta da sua prima como uma irmã, mas aconteceu um acidente, o cavalo dela se
assustou e a derrubou, foi por isso que eu voltei as pressas....

— Ah meu Deus! Ela também está precisando de ajuda? Ficou sozinha caída no meio do mato?

Apesar da dor que estava sentindo causada pelo ferimento no braço, o Conde fez uma pausa, sem
saber como daria a noticia a Eliza e continuo:

— Não minha querida! Ela morreu... Avisou que retornasse rápido, pois quem estava precisando de
ajuda era você!

— Não Phillip! Não! A prima Mag era como uma irmã para mim! — a jovem falou em lágrimas,
enquanto se abraçava a ele que estava deitando na relva sangrando e com a cabeça no colo dela.

— Sinto muito querida! Foi um acidente, mas saiba que isso revelou muita coisa!

— Como assim? Revelou o que? E Como ela sabia que eu corria perigo? Quero minha prima de
volta! — a jovem falava entre lágrimas.

— Antes de morrer sua prima Mag revelou que aquilo que vi em nossa noite de noivado fora uma
armação deste crápula ai estendido e dela! Assim, como esse passeio, cuja a intenção era da a
oportunidade de deixa-lo a sós com você e continuar o plano para nos separar!

— Mas por que eles fizeram isso? Eram como se fossem nossos irmãos.

— A sua prima Margareth me revelou e nos pediu perdão, pois não queria morrer com essa culpa:
Ela e Lorde James ,sempre estiveram unidos para nos separar! Ela por me desejar se casar comigo e
Lorde James porque tinha inveja de mim e de tudo que era meu, inclusive você!

— Ah Meu Deus! Não pode ser! Que decepção... Meu amor, não fale mais, sinto que está ficando
febril! O cocheiro deve chegar a qualquer momento!

— Ah! Me ajude aqui, rasgue um pedaço de tecido da manga da minha camisa e amarre em meu
braço para estancar o sangue! O cocheiro deve está já a caminho!

Após um tempo se ouvi barulho de alguém chegando e pela felicidade deles, viram a carruagem
cruzar a porteira de Netville. Eliza eufórica, acenava para o cocheiro que estava parando a
carruagem em frente a pequena casa, onde os tinham deixado no meio da manhã.

— Aqui! Aqui! Estamos aqui! — gritou Eliza.

O cocheiro ao presenciar aquela cena se assustou, mas devido ao estado do Conde, ele ouviu
apenas a história de forma resumida, colocou o Conde rapidamente dentro da carruagem e todos
partiram de forma veloz para Londres. Uma carruagem apropriada, o chefe de policia e o advogado
do Conde viria depois, assim que fossem informado, para buscar os corpos da Senhorita Margareth e
Lorde James.

Durante o trajeto entre Netville e Londres, a carruagem voava na estrada de terra, transportando
em seu interior, Eliza e o Conde.

Eliza, sentada no banco, o Conde deitado com a cabeça em seu colo, começando a arder em febre
e já fraco pela perca de sangue.

— Eliza... Quero lhe pedir perdão, por tudo que lhe fiz passar e por não ter acreditado em você... —
o Conde com dificuldade, falou olhando nos olhos de Eliza, com a cabeça deitada em seu colo.

— Eu lhe perdoo, meu amor! Porém, não fale mais, não quero que piore! Estou com muito medo!
Está com febre! Não quero que morra...

— Antes de ser um Conde, sou um médico, não acho que vou morrer desse ferimento...

— Pois estou com medo, você já perdeu muito sangue, Phillip A jovem falou chorosa.
—Não chore, minha linda Condessa você verá que vou sobreviver, ainda teremos filhos, netos e
envelhecerei ao seu lado...

— Que assim seja, meu amor! Veja! Estamos chegando a Londres!

A chegada na mansão, foi acompanhada de muito tumulto e desespero, Lady Berta, ficou
apavorada ao ver o Conde Phillip sangrando no interior da carruagem. Ele foi carregada para o
quarto, colocado em sua a sua cama, com a ajuda dos criados e fora dada ordens para chamar o
melhor médico de Londres para tratar de um ferimento no Conde de Ashwell.

Eliza, explicou a Lady Berta o pouco que soube através do Conde Phillip e que culminou no
acontecido. Então, mandou chamar o advogado particular do marido e pediu para que ele cuidasse da
busca dos corpos na propriedade rural Netville, dos trâmites legais, da noticias as famílias e todo o
resto. Após isso Eliza ocupou a cabeceira da cama do seu marido e de lá não saiu até ele ficar
realmente fora de perigo. Então, foram quarenta e oito horas de febre e delírios, devido a demora no
socorro o ferimento se agravou mais do que seria esperado.

Então, após dois dias, a febre passou e o Conde abriu os olhos:


— Eliza... Como é bom despertar ao seu lado...

— Phillip, meu amor! Como se sente?

— Estou bem melhor, apenas me sinto fraco...

— Você vai se recuperar, meu amor! Preciso avisar a tia Berta: Tia Berta! O Phillip acordou!

— Eliza... Faz tempo que você está aqui na cabeceira da cama?

— Claro meu amor! Eu não sai daqui um so minuto e sua tia também, ela entrava no quarto várias
vezes, mas eu insisti que como esposa, queria cuidar pessoalmente de você!

— E por que fez isso? Receio de ficar viúva? — o Conde ainda com a voz fraca lhe fazia perguntas.

— Não, meu amor! Fiz isso por que ao ver o seu estado, descobri que te amo intensamente! Quero
ter filhos, netos e envelhecer ao seu lado! Não importa que mentira inventaram para nos separar, mas
já passou! Vamos viver daqui para frente!

— Eu também te amo muito meu amor! Apesar de já ter lhe pedido perdão ainda ferido dentro da
carruagem, quero lhe pedir novamente!

— Eu aceitei naquele dia e reafirmo novamente! Phillip, a partir de hoje deixemos o passado para
trás e vivamos o presente!

Então, Eliza, deu um beijo na testa do Conde, que ainda estava doente, mas fora de perigo. Foi com
muita alegria que Lady Berta entrou no quarto, abraçou o seu filho de coração, ainda no leito e
começou a providenciar comida apropriada para sua recuperação.

Após isso, os dias foram se passando, o Conde sob os cuidado de Eliza e de Lady Berta, fora se
recuperando. Ele com alguns dias estava de pé caminhando devagar, depois de mais um tempo acabou
a fraqueza, restou o braço numa tipoia e com mais dois meses se recuperou totalmente, até o
ferimento cicatrizou.

O Conde e Eliza, aproveitaram aquele tempo de recuperação dele, para se reaproximarem, ela
sempre vinha do seu quarto, lia algo para ele na cabeceira da sua cama, as vezes passeavam no
jardim. Eles parecia mais um casal de namorados, nem parecia que era um marido cortejando sua
esposa virgem, por ironia do destino.

Uma noite, após Eliza, no quarto do Conde, ler um trecho de um livro que ambos gostavam muito...

— Phillip, por hoje chega, já é tarde e você já não precisa de meus cuidados como enfermeira faz
tempo. Agora irei para o meu quarto, amanha continuaremos...
— Espere, Eliza... Você não acha que já é hora de você se mudar definitivamente para este quarto? O
nosso quarto?

A jovem corou ao ouvir aquilo, ela já queria, sabia que uma hora iria acontecer , era algo
inevitável e normal em um casamento. Ainda assim foi pega de surpresa com o convite.

— Ah... Phillip... Você ainda está se recuperando...

— Não estou não... Até o curativo em meu braço já foi retirado! Gostaria muito de amanha a noite
receber a noticia de que você estava se mudando de vez para o nosso quarto e que finalmente seriamos
marido e mulher de verdade. O que me diz?

— Eu aceito... Mas quero que me prometa algo...

— Claro meu amor! Pode falar!

— Que apesar de já estarmos convivendo juntos a alguns meses sob o mesmo teto, me cortejará e
me tratará como uma donzela que sou e finalmente teremos uma noite de núpcias de verdade...

— Sim, minha linda Condessa, tens a minha palavra!


Epílogo
Eliza, acordou entusiasmada, feliz e decidida. Após se vestir, saiu do quarto a procura de Lady
Berta, a encontrou na cozinha, coordenado as criadas.

— Tia Berta! Que bom encontra-la! Quero pedir algo urgente!

— Claro, minha filha! Mas o que deseja, tão rápido e assim tão eufórica?

— Quero que peça a uma criada que me ajude com minhas coisas, pois hoje mesmo deixarei meu
quarto para me juntar ao Phillip no quarto principal da casa!

— Ah, minha filha! Dê-me uma abraço! Não sabe, como fico feliz em ouvir isso! Então, vocês
finalmente se entenderam?

— Sim, tia! E hoje a noite já quero dormir ao lado do meu esposo!

— Claro, minha filha! Claro! Anete! Juliete! Ajudem a senhora Condessa com suas coisas! —Lady
Berta, também, eufórica e feliz deu ordens a suas criadas favoritas, ambas acompanharam Eliza até
seu quarto.

Enfim o dia passou e a noite chegou... Vestida em uma linda camisola de renda branca, deitada na
cama, embaixo dos lençóis, com o quarto as escuras, Eliza esperava o Conde vir se deitar...

Então, a porta do quarto se abriu lentamente e o Conde entrou no quarto as escuras, as velas
haviam sido apagadas, apenas a luz da lua entrava pela janela.

— Phillip.... — a jovem perguntou baixinho de forma tímida.

— Estou aqui meu amor!

O Conde respondeu carinhoso, enquanto colocava seu casaco em cima de uma cadeira no quarto.
Apesar do quarto um pouco escuro, ele não reclamou, sabia que era sua noite de núpcias e aquilo era
necessário para o pudor de sua esposa. Então, já próximo a cama, ele despiu a camisa, tirou as botas,
sob o olhar curioso e coração acelerado de Eliza.

Após isso o Conde deitou lentamente na cama, ao lado de Eliza e a virou delicadamente de frente
para ele. Enquanto ele segurou sua mão delicada e levou até os lábios a beijando.
— Você está trêmula, está com medo?

— Não é exatamente medo de você, mas é que nunca fiz... — Eliza gaguejou.

— Eu sei, meu amor, que nunca fez, mas prometo ser o mais gentil dos cavalheiros... Então, basta se
abandonar e se entregar para mim.... – o Conde acariciava delicadamente seus seios por cima da
camisola e a respiração de Eliza começava a ficar um pouco ofegante.

Após ouvir aquilo do seu marido, Eliza literalmente entregou seu corpo ao Conde e ao amor. Foi
com emoção que ela sentiu o momento único, a hora que o Conde lhe tornou uma mulher de verdade.

Após toda a emoção, paixão e euforia do momento, com ambos abraçados e molhados de suor ela
ouviu:

— Agora sim Eliza.... você é uma mulher e uma Condessa de verdade : A minha Condessa! Eu te
amor Eliza!

— Eu também te amo Phillip! Neste momento eu sou a mulher mais feliz do mundo!

A noite fora pequena para tanto amor e tantas descobertas por parte de Eliza. Então como dia já
quase amanhecendo, abraçados e exaustos de paixão os dois adormeceram. Agora sim, Elizabeth
Eglington de Hereford, esposa, mulher e Condessa do Conde de Ashwell.
Sumário
O Compromisso
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Epílogo:
A primeira vez que vi a Sarah, ela estava dançando e ali mesmo pensei: Quero esta mulher para
mim!
Aaron Perez
(chefe do clã cigano)
O Compromisso
São Paulo, 1982

O homem de aproximadamente quarenta anos, está deitado em seu


quarto arejado, com as janelas aberta. De repente ele tosse forte, cospe
sangue em um lenço, mas o esconde embaixo do travesseiro. Ele não quer
preocupar ainda mais, sua esposa e sua filhinha. Porém, a sua intuição de
cigano, o alerta que o fim está próximo...

—Querida! Querida! — Gritou.

—Estou aqui meu bem! O que houve? Sente-se pior?— A sua esposa
entrou no quarto às pressas e perguntou assustada.

—Não querida, apenas mais um excesso de tosse, estou bem! Chame a


Sarah aqui, quero falar com a nossa ciganinha...

—Eu vou chama-la! Mas não vamos assusta-la com doenças! Afinal, Ela
ainda é uma criança! Apesar de esperta, tem apenas dez anos... Não podemos
esquecer disso!

—Eu não vou assusta-la... Quero apenas lhe entregar algo que guardo
comigo desde que ela nasceu e você sabe o que é ...— Ele falou com a voz
cansada e em tom quase solene. Estendeu o braço, tirou algo do criado mudo,
colocou na palma da mão e a fechou a espera da filha.

—Ramon... você ainda leva isso a sério? Estamos no Brasil e não mais
na Espanha, entre o seu povo cigano. Fora do clã cigano os costumes são
outros, ainda mais no século vinte...

Porém, sua esposa não quis contraria-lo. Carregando uma expressão


preocupada no rosto, com a saúde do marido, saiu do quarto e em instantes
entrou saltitante uma linda garota de dez anos. Alegre, esperta, mas no fundo
também estava preocupada, pois sentia que tinha algo errado com seu pai.
—Papai! Papai! Estou aqui!— Correu para o lado da cama, tentando
beija-lo. Mas ele lembrou do sangue cuspido minutos antes e evitou o beijo.

—Filhinha! Minha ciganinha linda, que bom te ver! O papai tem algo
pra lhe da! Algo que já guardo a muito tempo...

—Um presente para mim? Ah! papai...o meu maior presente seria lhe
ver novamente alegre, cantando, bebendo e me contando histórias para
dormir dos nossos parentes ciganos na Espanha.

—Então, filha... que bom que gosta do meu povo, do nosso povo! E que
tem consciência de que és uma mistura do sangue cigano e brasileiro.

—Sim papai! Gosto das histórias, da música, da dança. Mas quero uma
vida normal no Brasil: Estudar, fazer faculdade, trabalhar...

O homem, fez uma pausa ao ouvir aquilo, mas já estava se sentindo sem
forças, achou melhor não se prolongar muito.

—Filha, a partir de hoje quero que você use esta bela corrente de ouro,
jamais a tire do pescoço! Gosta dela?—Ele exibiu, diante dos olhos curiosos
da filha, uma bela corrente de ouro com um medalhão.

—Sim papai! Adoro ouro!— Ela olhou meio que hipnotizada para a
joia, enquanto seu pai aproximou os braços dela e a colocou no pescoço da
filha.

—Vejo que também herdou isso do povo cigano: O gosto pelo ouro!
Observe que dentro tem uma foto, é do seu primo Aaron! Um jovem seguidor
das tradições, rico nos negócios do garimpo de ouro e pedras preciosas.
Além de importante posição social, pois um dia ele será um barô, o chefe do
clã, que descende a nossa linhagem! Abra o medalhão e veja a foto do seu
primo, gosta dele?

A jovem, apesar de já ser quase uma menina moça, devido ser crescida
para a idade, já tinha despertado para a vaidade feminina, mas não para o
amor, por mais puro que fosse.
—É um garoto bonito, mas porque o senhor está me perguntando? — A
menina falou tímida, enquanto segurava o medalhão com os dedos e fitava a
foto.

—Na verdade filha, essa foto foi tirada a dez anos, no dia do
compromisso selado entre o pai dele e eu. Ele já não é mais um menino, é um
rapaz. Possui dezoito anos.

—Qual compromisso?— A menina perguntou com olhos arregalados e


curiosa.

—Filha, eu lhe prometi em casamento ao seu primo, assim que você


nasceu. É um costume entre nós ciganos, seu primo sempre foi um ótimo
partido! Então, pensando no melhor para você, não pude recusar a proposta
do meu irmão! Vocês são noivos!

—Ãh? Mas eu não quero casar! Só tenho dez anos!—A garota


respondeu assustada.

—Calma filha! Não é agora! Você irá crescer, quando chegar a hora ele
virá lhe procurar para honrar o compromisso! Por isso é tão importante, que
você tenha uma conduta de acordo com as moças do nosso povo cigano! A
sua mãe sabe quais são as regras e mais tarde lhe guiará, quando você ficar
uma mocinha...

—Ah papai! Eu não quero! — A menina bateu o pé, cruzou os braços e


falou emburrada.

—Calma filha! Eu fiz isso pensando no melhor para o seu futuro! Você
ainda é muito criança para entender! Contudo, apenas prometa ao seu pai
doente: Sempre usará este medalhão no pescoço como símbolo do seu
noivado, obedecerá os ensinamentos de sua mãe de como uma moça cigana
deve se comportar e que ao completar dezoito anos ou se estiver em
dificuldades escreverá para o meu irmão mais velho na Espanha! O nome
dele é Vladimir, o endereço está naquela velha agenda na gaveta do criado
mudo.

Ao dizer isso o homem começou a tossir. A sua esposa entrou no quarto


as pressas, como se já estivesse em alerta, ouvindo a conversa atrás da porta.

—Calma querido! Você não pode se cansar! A nossa filha vai sim fazer o
que você pediu! Não é mesmo Sarinha?

—Sim papai... — A criança falou assustada pelo momento, vendo o pai


ter mais um ataque de tosse.

Aquela foi a última vez em que Sarah viu o seu querido pai com vida,
no dia seguinte a cirrose, junto com a tuberculose o levou. Então, mesmo sem
ter entendido tudo nos mínimos detalhes, mesmo sem concordar com aquele
casamento arranjado, Sarah passou a usar, aos dez anos, aquela bela corrente
de ouro no pescoço com um medalhão. Onde dentro dele havia a foto do seu
noivo ainda um menino, em respeito ao pedido do seu falecido pai.

Quanto a sua mãe, que também era muito carinhosa com Sarah, fingia que
o compromisso não era tão sério, que aquela altura o noivo espanhol já havia
esquecido. Afinal, era um compromisso firmado a dez anos atrás e o tal noivo
nunca entrou em contato. Porém, queria criar Sarah, dentro dos princípios de
conduta cigana quando ficasse uma mocinha, agora ainda era uma criança
não tinha com que se preocupar. Contudo, pretendia atender esse o último
pedido do marido, em relação a educação da filha.
Capítulo 1
São Paulo, 1990, oito anos depois...

Sarah, estava na sala de embarque do aeroporto internacional de São


Paulo. Seu tio já havia despachado a bagagem de ambos. Ela carregava
apenas sua bolsa de mão. Estava um pouco assustada. Afinal, aquele era um
passo muito importante em sua vida. Porém, ela tentava disfarçar o que
estava sentindo.

—Não se afaste de mim! — O velho senhor falou autoritário.

—Não se preocupe! Já tenho dezoito anos! Não sou mais criança e nem
irresponsável!— A jovem respondeu tentando fingir uma falsa maturidade.

Quem observava, aquela linda jovem, de uma beleza exótica que chamava
atenção: Longos cabelos negros, rosto afilado, pele morena clara, olhos verde
esmeralda. A mistura do sangue cigano com o brasileiro, sem falar da bisavó
materna que diziam ser alemã. Não conseguiria imaginar o nervosismo que
ela escondia dentro de si. Ali de pé, no salão de embarque, vestindo calça
jeans, blusinha, casaco e ao lado de um senhor de aparência exótica.
Ninguém imaginaria que era uma cigana que por ironia do destino, em pleno
século vinte, estava sendo conduzida para um casamento arranjado. Algo
comum entre o povo cigano.

—Vejo que carrega em seu pescoço o medalhão de ouro, com a foto do seu
noivo ainda criança. Símbolo do seu compromisso! O meu sobrinho Aaron
também faz o mesmo! — O senhor de idade falou sério ao olhar para o
pescoço da jovem. Enquanto ambos aguardavam o voo para Madri na
Espanha.

—Apenas porque o meu pai me entregou isto antes de morrer! Revelou o


motivo e pediu para que eu a usasse sempre! Apenas por isso ! — Ela olhou
para baixo, segurou o medalhão que pendia do pescoço delicado com uma
das mãos e respondeu o tio de forma insolente.
A jovem de dezoito anos respondeu malcriada. Apesar de sensível, ela
tinha os seus momentos de gênio forte, fruto da criação mimada da mãe.
Porém, ela ficou um pouco surpresa em saber que o tal noivo, mesmo após
tantos anos, também carregava a mesma corrente no pescoço, junto com o
medalhão. Onde continha a foto dela criança, pois da Sarah mulher, ele nunca
procurou saber.

—Não fale comigo nesse tom malcriado! Eu sou o seu tio mais velho! O
seu pai me respeitava como um pai! O seu tio, pai do seu noivo também fazia
o mesmo! Portanto você me deve obediência! — O homem a repreendeu.

—Desculpe, não foi a minha intenção!— A jovem respondeu a contra


gosto.

Sarah, ainda se recordava quando aos dez anos seu pai lhe entregou
aquele medalhão numa corrente de ouro e revelou que ela era noiva de um
primo cigano na Espanha. Pediu para ela sempre a usar e que um dia seu
primo viria busca-la para se casar. Na verdade, ela não sabia que seu pai
estava tão doente a ponto de morrer e que aquilo era praticamente uma
despedida. Então, no dia seguinte ele faleceu. Contudo, apesar de nunca ter
acreditado naquele compromisso surreal, em pleno século vinte. Ainda usava
aquela corrente no pescoço, porque foi um pedido do seu pai, antes de
falecer. Era como se fosse uma lembrança dele.

—Sarinha, tão jovem já está de casamento arranjado!— Já adolescente,


a sua mãe, brasileira não cigana, costumava brincar a respeito. Mesmo já
passado tantos anos, apesar de também não ser a favor daquele compromisso.

—Ah mamãe! Não fale isso para minhas amigas do colégio! Elas sabem
da minha origem cigana, mas essa história de casamento arranjado, irá me
fazer passar vergonha! — A jovem reclamava.

—Calma filha! Eu não vou falar sua bobinha! Acho até que a essa altura o
seu primo já esqueceu.

—Tomara que sim!

—Afinal nunca sequer nos procurou. Isso foi coisa do seu pai, com as
tradições ciganas dele! Já se passaram quase oito anos da morte dele, você já
tá uma moça de quase dezoito anos e ninguém nunca nos procurou...

—Sinto falta do papai, mas não desse compromisso! Não quero casar tão
jovem, ainda mais num casamento arranjado! Quero estudar, fazer faculdade,
trabalhar!— A jovem falou segura de si.

—Porém... as sua aulas de dança cigana, não vou dispensar! Seu pai
sempre quis que você soubesse dançar igual as ciganas espanholas! Vamos
continuar cumprindo esse desejo dele né filhinha?— Sua mamãe falava de
forma carinhosa, enquanto mexia nos longos cabelos negros e sedosos de
Sarah.

—Sim, mamãe! Gosto de dançar! Adoro as músicas e danças ciganas!


Porém, não quero seguir todos os costumes ciganos. Afinal não sou puro
sangue cigano! Sou metade cigana e metade gadgés! Não era assim que o
papai se referia aos não ciganos?

— Sim filha! Era assim! Ah! e você dança divinamente! Isso é muito
valorizado entre os homens ciganos! Porém, não se preocupe : Você sempre
será a minha ciganinha brasileira! Porém,, irá se casar com o homem que
você um dia se apaixonar!— Sua mãe falou carinhosamente e tranquilizou a
jovem.

Desde bem criança, Sarah sempre ouviu dos seus pais que ela era um
ciganinha. O seu pai era um cigano espanhol, que se apaixonou por sua mãe
brasileira, largou tudo para casar e viver no Brasil. Por isso, a sua educação,
até seu pai ainda vivo, era uma mistura de costumes ciganos e brasileiros não
ciganos. Contudo, quando seu pai faleceu, sua mãe, a pedido dele, continuo
um pouco com essa prática, principalmente quando ela ficou uma mocinha.
Ela sempre falava como uma moça cigana deveria se comportar e a ter uma
certa prudência com os rapazes.

As vezes sua mãe costumava investigar de forma sutil:

—Sarinha... você já tem algum namoradinho na escola? E as suas


amigas tem?
—Ah, mãe! Não tenho namoradinho ainda. Já algumas das minhas
amigas, sim!— De repente ela lembrou do Gustavo, o garoto mais bonito e
rico do colégio, vivia correndo atrás dela, mas ela não o queria.

—Hum... não esqueça filha: Pelo gosto do seu pai e seguindo os costumes
ciganos, você se teria que se casar virgem. Já pensou nisso?

—Mãeee! Não tenho nem namorado, imagine pensar nisso! Mas, vou logo
avisando que não quero me casar com nenhum primo cigano!

—Não filha... isso era coisa do seu pai! Mas se esse compromisso fosse
também do seu gosto. O seu noivo cigano e futuro marido, esperaria isso de
você...

—Ah mãe! Não gosto quando a senhora fala assim: Futuro marido! Tanto
a senhora, quanto eu, não queremos e nem levamos a sério esse compromisso
ultrapassado.

— Está bem filha, não falarei mais e você tem razão sobre a minha opinião
a respeito desse compromisso! Mas, lhe peço: Tenha prudência com os
rapazes. Sei que já estamos nos anos noventa, mas evite certas coisas, não se
precipite...

—“Certas coisas!” A senhora poderia ser mais clara? A jovem falou em


tom de zombaria.

—Sarinha! As vezes você consegue ser terrível!— Sua mãe respondia sem
graça.

Essa prudência ela seguia mais por obediência a mãe do que por
acreditar naqueles costumes ultrapassados e fora dos padrões brasileiros.
Achava até que seu primo, já deveria até ter esquecido o compromisso com
aquele casamento arranjado e ela dava graças a Deus por isso.

—Chegou a hora do nosso voo para Madrid! Vamos, já despachei nossas


bagagens. — A voz do tio interrompeu as recordações de Sarah. Ele falava
como se estivesse sendo responsável por uma criança e aquilo a incomodava.
Ao entrar no avião, Sarah sentou no assento próximo a janela e seu tio
sentou ao lado. Ela não tinha muito o que falar com ele, pois não tinham
intimidade. A primeira vez que o viu foi na noite anterior, quando ele chegou
de surpresa em sua casa em São Paulo para busca-la. Na verdade, casa em
que sua mãe era inquilina e que por pouco ela ainda não havia sido despejada.

—Ah meu Deus! Será que fiz a coisa certa? — A jovem pensava
consigo mesma, enquanto olhava admirada as nuvens pela janela. Já que
nunca tinha saído do Brasil e nem viajado de avião.

Sarah relutou muito em escrever aos seus parentes espanhóis. Dirigiu-se


em especial a aquele tio. Pois, foi o endereço que seu pai recomendou e tinha
guardado em um velho caderno de anotações. Ele disse para procura-lo em
caso de necessidade extrema ou avisar quando ela completasse dezoito anos
para se realizar o casamento. Apesar das ciganas casarem bem jovens, o seu
pai, não achava prudente casa-la antes dos dezoito anos.

Ela não queria nenhum casamento arranjado, muito menos com um


primo cigano e nem conviver com um povo diferente dos seus costumes.
Afinal, conhecer os costumes era bem diferente de ter que segui-los em todos
os detalhes. Contudo, ela se viu sem saída, quando sua mãe faleceu de um
infarto fulminante a seis meses atrás. A deixando sozinha, sem parentes
próximos e os poucos parentes brasileiros não quiseram ajudar. Assim, a
jovem se viu sozinha, com um colegial recém concluído, mas sem emprego e
sem experiência.

Então, em uma atitude de desespero, pegou aquele velho caderninho do


seu pai, procurou o tal endereço e escreveu ao seu tio paterno Vladimir
pedindo ajuda. Na esperança de começar uma nova vida na Espanha, arranjar
um bom emprego, fazer faculdade. De inicio ela achou que aquele endereço
já estaria até desatualizado e que ninguém iria responder. Mas, foi uma
enorme surpresa quando quinze dias depois o seu tio mais velho, irmão do
seu falecido pai, chegou diretamente da Espanha para busca-la. Segundo ele,
agora era o responsável por ela, tinha chegado a hora dela se juntar ao seu
povo e também do compromisso de noivado se transformar em casamento. O
seu noivo agora era chefe do clã e a aguardava, pois agora mais do que
nunca precisava de uma esposa e mandou buscar sua noiva para torna-la sua
mulher.
Diante de toda a situação difícil e sem ter como se sustentar
financeiramente no Brasil, Sarah, mesmo apreensiva, devido ao tal
compromisso, resolveu ir com seu tio, para ver no que dava. Ela tinha planos
de ir ganhando tempo, não se casar, arrumar um emprego, fazer faculdade,
morar sozinha na capital espanhola.

O voo chegou ao aeroporto de Madrid era umas cinco horas da tarde.


Seu tio se encarregou de receber a bagagem de ambos, ajudar a passar pela
burocracia da imigração e tudo mais. Aquela atitude de líder, de resolver
tudo, sem que ela precisasse agir. Fez com Sarah percebesse que atualmente,
entre o povo cigano, os homens ainda lideravam. Quanto as suas mulheres
apenas esperavam e obedeciam, em uma posição de submissão. Mas ela
ficou a pensar até que ponto aquilo seria aceitável ou não...Pois, submissão
não combinava com ela.

—Pegaremos um táxi, tio Vladimir? — Sarah perguntou, chama-lo


assim ainda era estranho para ela, mas ele fazia questão.

—Não! O seu noivo Aaron virá nos buscar! — Ele falou sério e olhou em
direção ao estacionamento. Como se buscasse por um sinal dele.

—Ah... sim! — A jovem respondeu sem entusiasmo, pois aquilo não a


agradava e a forma como o tio fazia questão de lembrar o seu compromisso a
chateava.

Porém, de repente caiu a ficha, se o seu primo viria busca-los no


aeroporto, ela estava prestes a conhecer o seu noivo. A quem ela nunca viu,
pois ele nunca procurou seu pai em São Paulo. Apenas viu a foto dele ainda
um menino, a foto que carregava no medalhão em seu pescoço. Aquilo lhe
deu um frio na barriga. Uma mistura de medo, curiosidade e raiva por ter que
passar por aquela situação ultrapassada.

—O meu noivo? O primo Aaron vem nos buscar? Já vou ter que
conhece-lo hoje? Agora? — A jovem perguntou espantada e chateada.

—Sim, menina! E por que o espanto? Ele em breve será seu marido! É
melhor já ir se acostumando!
—Eu sei!—ela tentou disfarçar—Mas achei que não precisava conhece-lo
ainda hoje! Afinal, não precisa de tanta pressa...— ela falou meio chateada.

—Acho que você ainda não entendeu a nossa tradição! Apesar do seu pai
ter me dito, em raras cartas, que sempre falava sobre o nosso povo, nossos
costumes e que você era criada dentro das tradições... — O velho senhor
concluiu com uma expressão desconfiada.

—Ele não mentiu! Falava sim do povo cigano e após ele falecer, minha
mãe tentou me criar, sem esquecer totalmente os costumes. Mas, pelo o que
estou percebendo, talvez eu não saiba tanto assim...

—Fui busca-la no Brasil porque você me escreveu em dificuldade!


Ficou órfã e sem parentes próximos! Agora eu sou o responsável por você e
em breve o responsável será o seu marido! Você já tem dezoito anos, está
prometida desde que nasceu! Aaron agora é o chefe do clã, precisa de uma
esposa! Então, diante de tudo isso seu noivo decidiu que já era a hora do
casamento se realizar!

Aquela rajada de informações, a forma como o tio Vladimir, jogou tudo na


cara de Sarah, a deixou zonza. Ela tentou disfarçar que estava começando a
ficar atordoada, confusa e até mesmo surpresa.

—Sim e eu estou aqui!—, a jovem pensava em ir enrolando e ganhando


tempo até conseguir emprego. Após conseguir, fugiria para morar sozinha,
trabalhar, estudar, ter uma vida fora daqueles costumes ultrapassados.

—Pois, saiba que o seu noivo tem pressa! Ainda mais agora que o pai
faleceu e ele se tornou o chefe da clã. Ao me mandar busca-la no Brasil, já
deixou tudo pronto a sua espera aqui na Espanha!

—Tudo pronto o que? Achei que estavam me esperando normal! Como


uma hóspede ou parente distante que chegou para morar com a nova família...

—Não menina! A casa já foi arrumada para lhe receber como futura
senhora! Os preparativos para a festa de casamento já começaram. O seu
vestido de noiva já está quase pronto. As suas joias já foram compradas pelo
meu sobrinho Aaron.
—Heim? Como assim? — A jovem parou no meio do saguão do
aeroporto, apertou sua bolsa tiracolo contra o peito e perguntou boquiaberta.

—O seu casamento já está marcado para daqui a uma semana! Como


chefe do clã, seu noivo tem pressa! Até lá já irá morar na mesma casa em que
seu noivo, mas eu ficarei nela até o casamento se realizar! Pois, enquanto não
forem marido e mulher, não poderão viverem sozinhos sob o mesmo teto!

—Então...posso ficar em sua casa, até o casamento, o que acha?— A


jovem pensava numa forma de ganhar tempo ou até mesmo fugir, se fosse
preciso...

—Não! Você vai ficar na casa do seu noivo para ir se acostumando! Já


que não foi totalmente criada nos costumes! Mas eu lhe acompanharei para
que não quebrem as tradições, assim evitará falatórios! Pois, atualmente
Aaron mora apenas com os empregados. A minha cunhada morreu a alguns
anos, meu irmão, seu tio, faleceu a alguns meses!

Ao ouvir tudo aquilo, Sarah, sentiu o chão fugir dos pés, parecia que
tinha recebido um balde de água gelada. Os planos dela ir enrolando com o
casamento até arrumar um emprego, aos poucos fugir do primo e da família
cigana, parecia que não iria dá certo. Pelo menos não de imediato. Pelo visto,
ela teria mesmo que se casar, mesmo a contra gosto e depois fugir já
casada...

O seu tio percebeu que havia algo errado, que a jovem estava assustada
e visivelmente contrariada.

—Ah menina! Não faça essa cara! O que deseja mais da vida? Voltou
para o seu povo, vai casar com o chefe do clã! Seu noivo é jovem, bonito,
poderoso! Além de rico em minas de ouro e pedras preciosas! Saiba que
todas as moças do clã estão com inveja de você!

—Inveja de um casamento arranjado? Casar com um primo que nunca


vi? Em pleno século vinte?–Ela falou irritada.

—Isso não será um problema! Meu sobrinho Aaron é um ótimo partido!


E se meu irmão Ramon, criou mesmo você dentro dos princípios do nosso
povo, como ele dizia por cartas, você não terá problemas e logo se
acostumará! Agora vamos! Estou vendo ali estacionado o carro do Aaron e os
homens dele!

A jovem ficou sem argumentos, apenas seguiu o tio, com uma sensação
estranha de que talvez tivesse feito uma grande besteira em escrever para a
sua família cigana na Espanha. Parecia que ela estava perdendo o controle da
situação. Se é que uma garota de dezoito anos, acostumada a ser protegida
pela mãe, teve algum dia o controle da situação nessa história...

Uma bela caminhonete vermelha, esperava por eles no estacionamento.


Ao olhar o carro novo, bonito, Sarah pensou que parecia mesmo bem ao
estilo cigano de classe mais abastada: Caro, imponente e nada discreto.

—Onde está o Aaron? Não veio esperar sua noiva? — O velho cigano,
perguntou irritado, mas no fundo estava também cansado da longa viagem do
Brasil a Espanha.

—Senhor Vladimir, o senhor Aaron teve um pequeno problema em uma


das minas e teve que viajar! Retornará somente amanhã a noite. Ele pede
desculpa a sua noiva, mas não teve como evitar isso! — Um homem alto,
relativamente bonito, vestido com roupas caras, mas um pouco chamativas,
se justificou.

—Sim entendo! Está é minha sobrinha Sarah, noiva do Aaron! Sarah,


este é Ramirez, administrador das minas e braço direito do seu noivo !

—É um prazer senhorita! Saiba que amanhã a noite, terá uma grande


festa entre nosso povo só para comemorar a sua chegada! — O homem,
apesar de tentar ser respeitador, tinha um certo ar de cafajeste.

Ele ainda olhou para as roupas comuns da jovem e observou que ela não
parecia uma cigana. Ali, diante dele, vestindo calça jeans, blusa e casaco.

—Igualmente! Mas não precisavam se incomodar em fazer uma festa


apenas pela minha chegada! — A jovem falou tímida e chateada com a
situação em que havia se metido sem perceber.
—Não é um incomodo, senhorita! É uma honra para nós, receber a noiva
do chefe do nosso clã! Além do mais, nós ciganos somos um povo alegre e
hospitaleiro!

O tio Vladimir, interrompeu impaciente a conversa e Sarah sentiu-se


aliviada.

—Agora vamos todos! Pois já sou um velho, estou cansado da longa


viagem! Imagino que minha sobrinha também está! Sem falar que ainda
temos quase cem quilômetros de estrada pela frente!— O homem falou
cansado, abriu a porta traseira do veículo para Sarah entrar. Mas antes ela
perguntou admirada.

—Cem quilômetros? Então, não irei morar em Madrid? Vocês não


moram em Madrid? — a jovem perguntou espantada, mais uma coisa tinha
fugido dos seus planos.

—Não minha filha! Temos casas aqui em Madrid. Mas devido a


proximidade com as minas e desejarmos preservar as nossas tradições,
moramos numa cidade, relativamente próxima! Porém, seu noivo vem
sempre aqui a negócios. Depois de casada, você poderá vir também passear,
desde que acompanhada dele! Pois nossas mulheres não andam sozinhas por
ai!

Ao ouvir aquilo Sarah entrou no carro calada e se acomodou, ao lado do


tio, no banco traseiro da bela caminhonete vermelha de luxo. Durante todo
percurso até a cidade que iria morar junto com seu povo cigano, ficou em
silêncio. A pensar no que havia feito. As coisas saíram mesmo do seu
controle. Ela sabia que com dezoito anos, poderia muito bem colocar ali
mesmo um ponto final naquela história surreal. Mas, sozinha, sem dinheiro,
sem um suporte familiar para lhe amparar naquela decisão, tudo era muito
complicado.

Quando chegaram a cidade onde morava seu futuro marido e o seu povo
do clã cigano ao qual seu pai pertencia, o carro continuo e parou numa
região mais afastada, como se fosse uma espécie bairro cigano dentro da
cidade. Ela estava muito cansada e já era quase oito horas da noite.
—Meu Deus! O que foi que eu fiz? Acho que sai do fogo para pular na
frigideira... — A jovem pensou assustada.

Enquanto os homens de Aaron ajudava com a bagagem, ela de pé em


frente ao portão de um grande casarão imponente, pintado com cores alegres.
Contemplava o lugar que provavelmente iria viver dali para frente ou até
achar uma saída para fugir daquilo tudo. Será que ela conseguiria adiar o
casamento e fugir? Ou teria que fugir já casada?

—As coisas saíram diferentes do que planejei! Não terei como ganhar
tempo até arrumar um emprego e me livrar desse maldito casamento
arranjado! Porém, não posso fugir agora! Não tenho a passagem de volta e
não conheço ninguém na Espanha... – Sarah, pensou preocupada.
Capítulo 2
Barô: É o nome dado ao líder de um clã cigano. Ele é respeitado e toma as decisões
pensando no bem comum do seu povo.

—Carmem! Carmem! Onde está você mulher? — O velho cigano


Vladimir, gritou e bateu palmas, enquanto abria a porta principal da casa.
Seguido por Sarah e colocou as bagagens bem no meio da sala, com a ajuda
dos homens de Aaron.

Sarah, observou que eram um povo alegre, barulhento, aquilo lhe lembrou
um pouco seu falecido pai. Uma mulher cigana de uns cinquenta e cinco
anos, surgiu correndo na sala, ao ouvir o chamado do seu tio Vladimir. Era
uma mulher bonita, parecia ser uma espécie de governanta que cuidava da
casa. Estava bem vestida, usava um vestido verde vivo, um lenço de seda na
cabeça. Possuía a típica vaidade cigana no modo de se vestir, de se pentear,
até mesmo durante as tarefas domésticas.

—Estou aqui, senhor Vladimir! Então finalmente chegaram! Como


foram de viagem?

—Fizemos boa viagem sim! Mas já estou velho e cansado! Quero comer
alguma coisa e me recolher aqui mesmo! Esta semana ocuparei um dos
quartos de hóspedes da casa!

O senhor falou de modo ranzinza, mas pela cara da mulher, dava para
perceber que ela já estava acostumada com aquele jeito dele. Além, de
também já saber o porquê do tio ficar na casa durante aquela semana que
antecedia o casamento.

—Claro! Claro! Seu sobrinho já mandou deixar seu quarto pronto!


Então, assim que eu servir algo para comerem, já poderá se recolher!
Sarah, ouvia calada, ali parada no meio da sala, apertando contra o
corpo sua bolsa tiracolo. A conversa dos dois, que pareciam tão
familiarizados, enquanto que ela se sentia um peixe fora dàgua. A jovem
olhava discretamente o ambiente, móveis, paredes. Na esperança de achar
alguma foto do seu primo Aaron já adulto. Contudo, ela não achou uma única
foto, nenhum porta retrato em algum lugar da sala. Até achou estranho e
calada pensou consigo mesma:

—Casamento arranjado! Que absurdo! No mínimo é um homem


horroroso! Já que é rico, jovem e ainda assim ficou a minha espera ...

A jovem, em silêncio pensava isso e se sentia quase invisível no meio


daquela sala. Porém, foi então que as atenções se voltaram para ela e
interromperam seus pensamentos.

—Então, esta jovem tão bonita é a noiva do senhor Aaron? Menina de


sorte viu?

A cigana perguntou simpática, mas deu uma leve observada nas roupas
fora dos costumes ciganos, que Sarah estava usando, típicas de uma jovem
não cigana. Uma moça bonita, vaidosa, mas não lembrava uma moça cigana e
sim uma típica jovem brasileira.

—Sim! Esta é a minha sobrinha brasileira que foi prometida a Aaron desde
criança! Enfim, você já sabe de toda a história, o porquê fui busca-la no
Brasil e que chegaríamos hoje!—O homem, gesticulando, respondeu
impaciente.

—Seja Bem vinda senhorita! O seu quarto de solteira já está pronto!


Rapazes! Coloquem as malas da senhorita no quarto que eu indiquei mais
cedo! — A mulher gritou para os homens que ainda estavam no meio da sala
e eles obedeceram.

—Obrigada! — Sarah agradeceu timidamente, estava se sentindo um


peixe fora d’agua, apesar de sempre ter ouvindo falar em seu povo. Mas
pessoalmente tudo era muito novo para ela.

—Ah! Mas eu devo dizer que o senhor Aaron também é um homem de


sorte! Veja que bela senhorita! E estes lindos olhos verdes? Parecem duas
esmeraldas!— A cigana elogiou animada.

—Obrigada! Herdei-os da minha mãe...

—Além de ter a honra de carregar o nome da padroeira do nosso povo


cigano: Santa Sara de Kali!
Optchá! – A cigana fez um gesto de devoção e exclamou uma saudação
cigana, ao pronunciar o nome da padroeira.

—Quanto ao meu nome, foi um pedido do meu pai, que era irmão do tio
Vladimir, como a senhora já deve saber.

Ela respondeu tímida e ao mesmo tempo triste ao se recordar da mãe.


Pois, se ela estivesse viva, dificilmente Sarah estaria ali, naquela situação
inusitada. Sendo empurrada para aquele compromisso ultrapassado, selado
anos atrás.

Sarah, era sim uma moça muito bonita, a mistura do sangue cigano com
o brasileiro foi generosa com ela. A jovem possuía uma pele morena clara,
tinha longos cabelos negros, sedosos que iam até a cintura. Um belo rosto
afilado, onde os seus belos olhos verdes esmeralda, se destacavam. Ela
sempre chamou atenção dos garotos do colégio, porém em obediência aos
pais, sempre manteve um certo recato. Contudo, era fato que aquela garota
morena clara, olhos verdes, longos cabelos negros, corpo provocante,
chamava sim atenção. Ela possuía uma beleza exótica, que se destacava
ainda mais quando ela experimentava trajes ciganos em alguma festa à
fantasia ou em sua aula de dança.

—Não vi nenhuma foto do meu primo Aaron pela casa, um quadro ou


alguma porta retrato, algo do tipo...

Carmem e o senhor Vladimir se entreolharam, um leve silêncio tomou


conta do ambiente.

—O meu sobrinho Aaron não gosta de fotos! — O homem respondeu


ríspido.
—Ah... entendo...— deve ser um demônio de feio!— Sarah pensou em
seguida.

Então, Carmem, em tom animado, como se quisesse por fim a conversa,


falou:

—Venha querida, agora vamos todos comer! Você precisa ficar mais
cheinha! Você não é magra, mas homens ciganos gostam de mulheres um
pouco mais encorpadas! O Seu futuro marido vai gostar de ter mais onde
pegar! — A mulher falou de forma simpática, em tom de brincadeira, mas
aquele comentário deixou Sarah sem graça.

—Realmente não sou magrinha, por isso mesmo não quero engordar.
Estou satisfeita com o meu corpo.— Sarah respondeu tímida.

O jantar foi servido em uma grande mesa, com toalha colorida, uma
mesa bem posta, com vária opções. Sarah, achou que seria apenas um
pequeno lanche, pois já eram quase nove horas da noite e eles já haviam
jantado no avião. Contudo, ficou surpresa com a quantidade de comida
exposta, deu para ver que tudo na casa era farto e que gostavam de comer
bem. De certa forma ela já desconfiava disso, pelos hábitos alimentares do
seu falecido pai. Além da fartura, pelo fato de seu primo e noivo ser um
homem rico.

Após o jantar o tio Vladimir ordenou:

—Carmem! Eu sou um velho cansado, vou me recolher! Você toma conta


da minha sobrinha Sarah! Mostre o seu quarto, o andamento da casa, enfim:
Coisas de mulheres!

Ao ouvir aquilo, Sarah, mais um vez pensou chateada:

—Como assim tomar conta ? Não sou criança! —Além dela não ter
aprovado o comentário machista.

—Não se preocupe, senhor Vladimir! Pode se recolher e deixe a garota


comigo!
—Eu não quero incomodar! Basta apenas mostrar o meu quarto. Sei que
minhas mala já foram colocadas nele. O resto eu me viro sozinha.— A
jovem respondeu, tentando ser educada.

—Ah menina! Não tem isso de incomodar! Daqui a uma semana, você
será a senhora desta casa! Quero deixar você a par de tudo como o senhor
Aaron gosta, para depois o nosso barô não reclamar! Ele chegará de viagem
amanhã!

—Tudo bem, então! — A jovem estava cansada, achou melhor não


contestar mais nada. Queria apenas ficar sozinha no quarto que lhe foi
reservado. Nem questionou o titulo dado ao seu futuro esposo.

—Então, venha querida! Vou lhe levar até seu quarto provisório de
solteira! Entre o nosso povo, a tradição, manda que nada de intimidades
antes do casamento! — A mulher falou simpática.

Ao ouvir aquilo Sarah, corou. Pois, imagina se ela iria querer


intimidade com um homem que nunca viu. Que ainda estava prestes a
conhecer e que infelizmente já seria obrigada a ter intimidade após o
casamento.

—Eu sei... meu pai era cigano, minha mãe brasileira. Então, fui criada
sabendo e seguindo um pouco dos costumes... — Sarah, respondeu tímida.

Aquela altura seu tio Vladimir já não estava mais a mesa com elas,
ouvindo a conversa e Sarah se sentiu aliviada por isso.

—Ah! mas isso é ótimo! Então, se foi criada conhecendo os costumes,


deve saber que a mulher cigana se casa virgem! É isso que seu noivo espera
de você! Caso seja decepcionado, pode até lhe devolver! Imagina não ter o
lençol sujo de sangue para exibir no dia seguinte? Desmoralizante!

—Não me diga que ainda existe esse ritual ultrapassado entre os ciganos?
Após a noite de núpcias? – A jovem perguntou admirada e espantada.

—Claro! O casamento dura três dias, como a senhorita já deve saber! O


lençol é um dos pontos altos da festa! Ah! E seu noivo é muito apegado as
tradições viu? Como chefe do clã, nosso barô, ele precisa ser assim...

—A minha mãe sempre aconselhou a ter prudência com os rapazes


brasileiros. Ela justificava que era para o meu bem, mas talvez fosse para
indiretamente preservar isso. Mas, confesso que achei que esse ritual antigo e
constrangedor já não existisse mais...— A jovem respondeu tímida e triste.

—Menina, parece que você não é muito apegada aos costumes do nosso
povo... Mas, vamos subir para que eu lhe mostre seu quarto de solteira? — A
mulher perguntou animada. Tentando animar a jovem, ao perceber que Sarah
demonstrou uma pouco de tristeza ao lembrar da mãe.

A cigana Carmem, levou Sarah, ao andar superior da casa. Dava para


ver que era a casa de um chefe de clã cigano, abastado. A decoração era um
pouco chamativa, mas dava para ver que era de um rico senhor.

—Veja querida, este é seu quarto! Apenas até você se casar. Daqui a uma
semana, você estará dividindo o quarto principal da casa, junto com seu
marido! — Carmem, parecia ser uma mulher solteira, viva, animada. Não
parecia fazer o estilo solteirona, amargurada com o amor.

—Obrigada, é um quarto confortável! Agora, vou tomar um banho e


deitar. Amanhã desfaço todas a malas.

—Isso querida, descanse! E amanhã a noite, teremos uma festa aqui


entre nós do clã, que compõem praticamente todo o bairro, para comemorar a
sua chegada!

—Não precisavam se incomodar... — Sarah, respondeu desanimada, não


vinha necessidade daquela festa. Tudo que ela queria era ficar em seu canto
quieta, pensando na vida e no que fazer.

—Não! o seu noivo, o senhor Aaron, fez questão de recebe-la com festa!
Nós ciganos somos um povo hospitaleiro e festivo! Ainda mais o chefe do clã
ao receber a sua noiva! — A mulher falou animada.

—Entendo...
—Ah! Agora não sei se o senhor Aaron chegará das minas a tempo de
ainda se encontrarem aqui na casa ou já se encontrarão diretamente na festa.
—Entendo! Como a festa será aqui mesmo no bairro, imagino que
próximo a casa, me visto e vou da uma olhada sozinha. Posso perfeitamente,
encontrar com ele na festa...

—Jamais! Imagine se uma mulher noiva, convidada principal da festa,


chegará assim sozinha na festa! Sem dono? O seu noivo ficaria furioso! Você
irá se vestir, ficar bem linda para ele. Então, daqui de dentro desta casa, sairá
acompanhada do senhor Vladimir, que é o responsável por você, enquanto
ainda é solteira!

A cigana falou em tom de repreensão, mas dava para perceber que era
a forma carinhosa dela e que ela apenas queria ajudar a adapta-la aos
costumes. Pois, parecia que Sarah, não sabia deles tanto assim, como todos
pensavam.

A jovem, estava tão cansada da viagem, que apesar de não concordar


com aquilo, não quis protestar.

—Entendo... então obrigada pelo carinho e hospitalidade. Agora vou


tomar um banho e dormir, pois estou muito cansada.

—Isso menina! Descanse! Pois amanhã será um dia cheio, mas muito
festivo e alegre.

A mulher, ao dizer isso, saiu do quarto, deixando Sarah sozinha e a


jovem pode finalmente relaxar. Estava precisando muito ficar sozinha.

Sarah observou que apesar de não ser o principal quarto da casa e sim
um quarto de hóspede adaptado provisoriamente para ela. Ele era muito bem
mobiliado e confortável, o que deixava mais uma vez transparecer que o seu
noivo realmente era rico.

—Como estou cansada! A viagem do Brasil até Madri e depois até essa
cidade vizinha me deixou exausta! Vou tomar um banho, apagar a luz e tentar
dormir. Amanhã desfaço as malas. – A jovem pensou consigo mesma, já
sozinha no quarto.
De repente, Sarah, ficou a observar aquelas duas malas no chão do
quarto. Afinal, ela não possuía muita coisa, pois com morte do pai, as
condição financeira da família foi aos poucos se agravando. Então, ela
pensou:

—Será que devo mesmo desfazer estas malas? Pois nem ao menos quero
me casar! Não sabia que o meu casamento já estava com data marcada! Vim
com a intenção de ganhar tempo, arrumar um emprego, ir morar sozinha,
trabalhar e estudar...— A jovem pensava no silêncio do quarto.

—Será que eu não deveria, apenas esconder elas ainda prontas neste
grande armário? Já que as coisas saíram diferente do que planejei e eles
querem me casar as pressas? Talvez eu pudesse fugir... mas para onde?
Afinal, não conheço ninguém na Espanha e não tenho dinheiro ou passagem
de volta ao Brasil? – A jovem pensava cheia de dúvidas.

Sarah, abriu uma das malas, pegou sua camisola, pegou mais algumas
peças principais e as colocou no armário. Quanto a outra mala, guardou sem
abrir, também no armário.

—Só espero que ninguém mexa aqui e ache estranho as malas ainda sem
desfazer. Mas posso alegar que achei melhor desfaze-las quando mudar para
o quarto principal. – A jovem refletia sozinha no quarto. Tentando armar um
plano de última hora.

Então, Sarah tomou banho, vestiu a camisola, apagou a luz e deitou


naquela cama grande e confortável. Esperava dormir logo, já que a viagem
foi cansativa, mas o sono não veio tão rápido como ela esperava.
Capítulo 3
Santa Sara Kali: Lendária padroeira do povo cigano.
Optchá: Saudação do povo cigano. Ela é uma palavra da língua romani e quer dizer: Salve!

O sol já estava alto quando Sarah acordou. Ela até se surpreendeu ao se


espreguiçar na cama e consultar o relógio:

—Nossa! Já são dez horas da manhã! Apesar da viagem cansativa, não


planejava acordar tão tarde!

De repente ouviu leves batidas na porta:

—Pode entrar! – Ela respondeu.

Carmem, entrou com uma expressão simpática, sorriso no rosto,


carregando uma bandeja com frutas da estação, geleia, torradas e suco.

—Desculpa incomodar senhora, mas achei que já estaria acordada e com


fome. Por isso trouxe esta bandeja com o seu café da manhã. – Carmem falou
bem humorada, a simpatia e alto astral, parecia ser uma característica dela.

Sarah, sentou na cama, encostou na cabeceira, se espreguiçou e colocou


a bandeja no colo. Sim, estava faminta!

—Obrigada, a senhora adivinhou que acabei de acordar e faminta! Ah!


Mas não precisa me chamar de senhora...

—Claro que precisa! E não me chame de senhora! A senhora da casa


será você!— A mulher a corrigiu de forma amigável.

—Ah... Desculpa! Então, está bem! Carmem!

—Muito bem! Em poucos dias você vai se casar com o senhor Aaron,
chefe do nosso clã e dono desta casa! Portanto, você será muito em breve a
senhora desta casa e ocupará também uma posição de respeito no clã, como
esposa do nosso barô!

Ao ouvir aquilo, a lembrança do casamento voltou a sua mente. Por um


instante ela havia esquecido, como se o cérebro tivesse ligado o módulo
autodefesa. Os belos olhos verdes de Sarah entristeceram, pois ela estava
muito confusa. Não sabia o que teria mais coragem em arriscar: Aceitar o
casamento arranjado e casar, ou armar um plano audacioso de fuga e fugir o
mais rápido possível, sem dinheiro, sem conhecer ninguém na Espanha.

A intuição da experiente cigana, percebeu que tinha algo errado, que algo a
afligia e falou com precaução :

—Senhora... desculpe me intrometer, mas a senhora não parece uma noiva


cigana, entusiasmada para se casar... – A mulher falou delicada.

—É que, apesar de saber disso desde criança, achei que não chegaria ao
ponto de se realizar. Então, planejei estudar, fazer faculdade, trabalhar. Igual
a qualquer moça não cigana...

—Até... que sua mãe faleceu e você se viu sem saída, não foi senhora?
— A mulher perguntou de forma delicada e uma expressão bondosa no olhar.

— De certa forma sim... e estou muito confusa . Com receio...

—Olhe, sei que seu pai era um dos nossos e sua mãe era brasileira. Mas,
saiba que se você tivesse sido criada conosco, o dia do seu casamento seria o
dia mais importante e feliz da sua vida! Tem muita moça cigana, aqui com
inveja da senhora! Sabia disso?— Carmem tentava anima-la.

—Inveja de mim? Sério?

—Claro! Imagina casar com o chefe do clã, rico, jovem e bonito? –


Carmem finalizou com uma gargalhada. O povo cigano era barulhento e isso
lhe lembrava um pouco o seu pai.

—Carmem... como é o meu noivo? É bonito? Agradável? Você tem uma


foto dele já adulto?

A pergunta deixou a mulher desconsertada, mas após uma pequena pausa,


ela desconversou sobre a foto e respondeu com firmeza:

—O seu noivo é bonito e como chefe do clã é também respeitador das


tradições! Tem um gênio um pouco difícil quando contrariado, ás vezes é
teimoso feito uma mula! Mas, é o sonho de toda moça aqui do clã, ser esposa
dele! Mas todas sabiam que ele já era comprometido! Sinta-se privilegiada!

—Novamente essa pausa, esse leve silêncio constrangedor, quando toco


nesse assunto em relação a fotos.— Sarah pensou.

—Agora, vou deixar você comer a sós, com calma! Mas não fique trancada
o dia todo neste quarto, se vista, venha conhecer a sua casa! O senhor Aaron
deve telefonar avisando de que horas ele chegará das minas. A festa de hoje a
noite é para lhe receber e apresenta-la ao clã, é sagrada para ele!

Ao dizer isso a cigana deixou Sarah tomando o café da manhã no quarto


e saiu para cuidar dos preparativos do almoço e também ajudar na grande
festa de logo mais a noite.

Após o café, Sarah, tomou um banho rápido, penteou seus longos


cabelos negros que chegavam até a cintura, vestiu uma mini saia jeans, uma
leve blusa de malha branca. Afinal, não estava frio na Espanha, era verão,
naquela época do ano. Assim, ela meio que receosa, saiu para explorar a casa
e dar uma volta pelos arredores do bairro.

A jovem desceu as escadas até a sala principal, não encontrou ninguém,


nem o tio Vladimir, nem a Carmem, que devia está atarefada na cozinha.

—Não tenho vontade de aprender o funcionamento desta casa, para


agradar marido algum! Acho que vou até a rua da uma volta pelo bairro e
conhecer a região! – Sarah pensou.

Ao passar pelo lindo jardim, Sarah, esbarrou sem querer, em uma bela
moça que parecia cigana, pelos traços físicos e jeito de se vestir. Era bonita e
tinha a idade próxima a dela.
—Ah! Desculpe! Não foi minha intenção! – Sarah falou de forma gentil,
tentando se desculpar.

—Ah! Olha por onde anda! Quem é você? Ah! Não me diga que é a noiva
do Aaron? Pela forma de se vestir já da para ver!– A jovem cigana perguntou
de modo antipático e debochou da sua forma, não cigana, de se vestir.

—Sou Sarah, prima do Aaron! Sim, também, noiva dele... E você?


Quem é?— A jovem perguntou confusa, aquilo tudo ainda era estranho para
ela.

—Sou Constância! Costumo visitar a casa! Vim junto com minha mãe! E
seria a noiva do Aaron, se você não tivesse aparecido! Sua gadgé maldita!

—Ei garota! Segure a sua língua! Eu não sou exatamente uma gadgé! Meu
pai, tio do Aaron, era cigano! Portanto...

—Ainda assim! Vê-se de longe que você não pertence ao nosso povo! O
Aaron irá se arrepender!—A jovem cigana Constância, respondeu de forma
malcriada. Deu as costas para Sarah e caminhou rápido em direção a porta
principal da casa.

—Eu heim! Que fique com ele! Se quiser deixo você casar em meu lugar!
Garota mais louca e malcriada!— Sarah pensou sozinha. Em seguida se
dirigiu ao portão principal do muro que cercava a casa e dava saída para a
rua.

Ela observou que havia dois homens guardando o portão como se fossem
seguranças da casa. O que ela achou natural, devido o ramo comercial do
noivo e questões de segurança. Porém, ao tentar passar pelo portão:

—Desculpe, senhora, mas o que deseja?

—Ah, nada! Apenas vou até a rua, quero da uma volta no bairro!

O homem, após observar suas roupas, a olhou como se aquilo não fosse
comum: A sua forma de se vestir e o fato dela querer sair sozinha. Ele
respondeu um pouco constrangido:
—Senhora, não pode sair! Temos ordens para somente deixa-la sair com o
senhor Aaron ou senhor Vladimir! Talvez com a Carmem!

—Ah?? Quer dizer que estou prisioneira aqui? Sou livre! Quero sair! Isto
no Brasil se chama cárcere privado e é crime! Saia da minha frente agora!

—Desculpe senhora, mas estas são as ordens que nós temos e a senhora
não está mais no Brasil! Está entre o povo cigano, aqui temos tradições e
regras próprias!

—O que? Vou me queixar a policia! Ligarei agora mesmo! Não fazia parte
do acordo que eu seria uma prisioneira!

—Desculpe, temos ordens, também, para não discutir com a senhora! Mas
aconselho que antes de procurar a lei, fale primeiro com o seu noivo, senhor
Aaron! Entre nós costumamos resolver as coisas sem a policia! A senhora
como futura esposa do nosso barô deveria já saber disso e obedecer!

Ao ouvir aquilo Sarah, deu as costas para os homens e se dirigiu furiosa de


volta para dentro da casa. Porém, ficou também preocupada, pois pela forma
como o homem falou era como se a policia fizesse vista grossa para alguns
comportamentos do povo cigano, como forma de respeitar as suas tradições.
Eles formavam noventa porcento da população daquele bairro e pelo visto
faziam mesmo questão de manter preservada as suas tradições.

—“Futura Esposa do Barô”! Era só o que me faltava! Ainda existir esse


costume ultrapassado de um líder cigano que decide por todos! Achei que,
atualmente, o título fosse apenas simbólico! — A jovem resmungava
enquanto pisava firme e voltava furiosa para dentro da casa.

Ao entrar em casa, encontrou o seu tio Vladimir sentado na sala,


preparando o seu cachimbo para fumar. Ela sabia que isso era algo comum
entre os ciganos mais velhos. Então, ela aproveitou para tirar satisfações com
ele, sobre o acontecido. Contudo, ele parecia já está esperando por aquilo.

—Perdão, tio Vladimir! Mas, isso é um absurdo!

—O que é um absurdo? Minha sobrinha? — o homem falava de forma


calma e proposital.

—A pouco tempo, tentei sair para da um passeio na rua e os seguranças


que guardam o portão não me deixaram sair!

O homem olhou calmamente para a jovem, como se estivesse


analisando as suas roupas, enquanto manuseava o seu cachimbo.

—E você pretendia sair assim?

—Assim como tio? Acho que neste momento o meu modo de me vestir é o
de menos! O que estou questionando é o meu direito de ir e vir! Não sou uma
criança!

—Ah meu irmão Ramon... parece que você me faltou com a verdade, em
suas raras cartas... – O senhor de idade, se lamentou, como se quisesse dizer
algo para alguém que já não estava mais entre os vivos.

—O que quer dizer com isso, tio? Meu pai não era um mentiroso!

—E eu não disse isso! Porém, me parece que você não sabe tanto assim
dos nossos costumes e isso mostra que ele não criou você totalmente dentro
das tradições! Como ele afirmava...

—Tio! Meu pai faleceu quando eu tinha dez anos! Inclusive foi em seu
leito de morte que ele me revelou esse estranho compromisso com meu
primo Aaron!

—Eu sei que seu pai faleceu quando você tinha dez anos! Mas, a sua mãe,
apesar de ser uma gadjé, deveria ter cumprido a vontade do seu pai e
continuado a sua criação dentro dos costumes! Ainda mais sabendo que você
era noiva do seu primo! Que um dia seria o barô, chefe do clã! A esposa do
barô, tem que da exemplo!

—Ah! Tio Vladimir! Sei sim alguns costumes! Inclusive acho a maioria,
muito ultrapassados, se quer saber! Contudo, o que importa agora é que não
quero ficar aqui presa! Quero sair sozinha, passear, conhecer o lugar! – Ela
falou irritada.
—Olhe mocinha! Se seus pais não lhe ensinaram os costumes de forma
clara! Eu como seu único responsável, até o dia do seu casamento, vou lhe
esclarecer!

—Ah! Não me diga? —Ela pós a mão na cintura e perguntou em tom de


deboche.

—Sim digo! Em primeiro lugar me respeite! Você me deve obediência,


assim como deverá ao seu marido! Agora saiba que ciganas solteiras não
saem sozinhas por aí, sem um acompanhante!

—Mas isso é um absurdo!

—Eu não acho! É por meninas, assim como você, com essas ideias
modernas, que nossas tradições se veem cada dia mais ameaçadas! Ah!
Aproveito e aviso que o tamanho da sua saia está uma afronta aos nossos
costumes! Saiba que assim que casar, não será permitido usar outra coisa, a
não ser vestidos, saias compridas e descentes! Pois, é assim que se veste uma
cigana casada!

—Isso é um absurdo! Vou entrar em contato com a embaixada


brasileira! Isso é cárcere privado!

—Em consideração ao seu pai, sou o responsável por você aqui! Tem
minha proteção, meu teto, comida e tudo mais que for necessário! Mas se
quer sua vida de desamparo e solidão no Brasil, não a impedirei de ligar!
Porém, saiba que não lhe darei um moeda sequer para comprar passagem de
voltar ou ajudar você a viver novamente no Brasil!

—Nem em nome da memória do meu pai?

—Não! É justamente em nome da memória do seu pai que estou agindo


assim! Pois sei que era assim que ele gostaria que fosse!

—Mas a minha mãe não gostaria! —A jovem bateu o pé.

—A sua mãe era uma gadjé! Não pertencia ao nosso povo! Então, não
tenho que honrar a memória dela, seguindo os costumes do povo dela!
Agora, vá para o seu quarto! Daqui a pouco é hora do almoço e após
almoçar, sugiro que descanse para a festa de logo mais a noite!— O velho
senhor, perdeu a calma e falou autoritário.

—Sabe o que estou com vontade de fazer? Não ir a esta festa de hoje a
noite! Pronto! Está decidido! Não irei!

—Ah! Vai sim! Nem eu, nem o seu noivo aceitariamos essa desfeita!
Então, você irá nem que o Aaron ou eu, tenhamos que arrastá-la até lá! A
proposito, até o inicio da noite ele deverá está chegando das minas e vocês
finalmente irão se conhecerem pessoalmente!

Ao ouvir aquilo, Sarah, nem respondeu. Apenas deu as costas e subiu


rápido as escadas que levavam ao seu quarto cuspindo fogo pelo nariz. Ela,
nem sempre tinha um temperamento fácil, costumava ser decidida, teimosa,
temperamental e as vezes mimada. Além, daqueles costumes ciganos, não
serem fácil de serem seguidos por uma jovem brasileira que sempre planejou
ter uma vida normal no Brasil.

Sarah, entrou as pressas e contrariada no quarto. Abriu rapidamente o


armário e olhou para as duas malas ainda sem estarem desfeitas.

—Vou fugir daqui! Não quero me casar e muito menos viver em cárcere
privado em nome dos costumes! — A jovem falava sozinha enquanto pegava
a alça de uma das malas e tentava puxa-la de dentro do grande armário.

Então, Sarah, caiu na real: Voltar para onde e para quem? Uma casa
alugada, prestes a ser expulsa, por aluguéis atrasados, após a morte da mãe.
Algumas parentes distantes, que apesar de morarem também em São Paulo,
não queria ajudar. Eles seguiam a própria vida, trabalhavam duro, possuíam
orçamento financeiro apertado. Não queriam e nem podiam ajuda-la enquanto
ela não arrumasse um emprego no Brasil. Ainda mais sabendo que ela
rejeitou um casamento com um rico primo cigano e uma vida de luxo e
fartura, apesar das imposições impostas pelas tradições ciganas. Os parentes
no mínimo ia considerar ela uma ingrata com a sorte que a vida lhe deu, pois
ela não precisaria como eles pegar o metrô de madrugada para trabalhar o dia
inteiro e ao final do mês receber um mísero salário mínimo.
—Não, Sarah! Calma! Lembre-se que você não tem dinheiro, não conhece
ninguém na Espanha e seus parentes brasileiros não podem lhe ajudar, nem
aqui e nem no Brasil! – Ela pensou consigo mesma, desistiu das malas e
deitou na cama, virou de lado e com os dois braços, abraçou o próprio corpo.

—Hoje não quero almoçar! Está decidido! Desse quarto apenas saio para a
tal festa! A não, ser que o primo Aaron chegue de viagem e exija a minha
presença a mesa!—Sarah resmungou emburrada na cama.
Capítulo 4

Gadjé: Palavra usada pelo povo cigano para definir os não ciganos. Quem não é um
deles.
Romani: Tradicional língua cigana. Atualmente nem todos os ciganos fazem uso dela. É
uma língua falada, mas não escrita.
Chei Chovorriho: Conhecida música cigana. Muito tocada em novelas que possui
ciganos na trama. Ela pertence ao grupo Encanto Cigano e é cantada em romani.

—Estou pronta!

Sarah avisou a contra gosto, ao descer as escadas e parar ali diante do seu
tio, que sentado no sofá da sala luxuosa, lhe esperava. De inicio ela pensou
em desafia-lo e somente comparecer a tal festa se ele literalmente a arrastasse
até lá. Porém, depois achou melhor não confronta-lo e se vestir para o
evento, mesmo que contra a sua vontade. Ainda pensou em se vestir de
forma não cigana, somente para contraria-lo, mas depois percebeu que
somente iria causar mais aborrecimentos para ela mesma. Pois, com certeza
ele iria manda-la trocar de roupa. Afinal, além das ciganas não usarem
vestidinhos, shorts, minissaia, era uma festa tradicional e se esperava que
todos comparecessem de acordo.

—Vejo que se vestiu de acordo! Devo dizer-lhe que está muito bonita!

A jovem estava usando um longo e rodado, vestido vermelho, com


mangas compridas e soltas nos punhos, além de um grande decote. Os seus
longos cabelos negros e finos caiam pelas costas. Usava um lenço dourado
em volta da cabeça, estilo uma tiara. Então, junto com sua maquiagem
caprichada e seus adornos dourados de colares e brincos, os seus belos olhos
verdes esmeralda se destacavam naquele rosto jovem, bonito e de pele
morena clara.

—Obrigada! É apenas um vestido que usei numa apresentação de dança,


na academia, onde eu fazia aulas! — A jovem agradeceu mal humorada—Na
verdade a única roupa estilo cigana que possuo!

—Preciso avisar ao Aaron para providenciar roupas novas para você, após
casada! Ah! Não sabia que fazia aulas de dança cigana! Meu sobrinho vai
gostar de saber disso! A dança é algo muito valorizada, por nós ciganos, em
nossas mulheres.

—Fazia pelo meu pai e por mim! Pois gosto de dançar! Não para agradar
ninguém!

—Não seja malcriada! É uma pena seu noivo não ter chegado a tempo para
irmos todos juntos! Porém, quando chegar, ele irá ao nosso encontro já na
festa! Agora dê-me o braço e vamos!

Ao chegar na festa acompanhada do seu tio Vladimir, Sarah, pela


primeira vez sentiu aquela real sensação de magia cigana, um clima exótico
reinava no ar. A sensação era bem diferente de festas características
improvisadas na escola ou na academia de dança, pois aquela era uma
legítima festa cigana. Era um noite quente de verão na Espanha, o céu
estrelado, uma enorme lua cheia abrilhantava a festa ao ar livre. Uma grande
área campal de um clube localizado no bairro, foi o lugar escolhido. Parecia
já ser comum o seu uso em festas do povo cigano.

A decoração, ao ar livre estava linda, uma enorme mesa com comida e


bebida farta, uma grande fogueira acessa. Uma banda composta por músicos,
vestindo trajes típicos, tocavam e cantavam, animadas músicas ciganas. O
som da guitarra espanhola, ecoava no ar. Enquanto que mulheres, casadas e
senhoritas, vestidas em seus trajes bonitos e extravagantes, ornamentadas por
acessórios de ouro, dançavam, próximas a fogueira.
Apesar de não desejar seguir os costumes do seu povo a risca, mesmo
nunca tendo renegado a sua origem cigana, Sarah, sentiu-se tocada por aquele
clima místico e alegre. Além da lembrança do seu falecido pai.

As outras pessoas da festa, todos ciganos, observaram a sua chegada,


conduzida pelo braço do tio Vladimir, com curiosidade e respeito. Afinal, o
seu tio era um homem respeitado no clã e quanto a ela, todos sabiam que a
festa tinha sido para receber a noiva do chefe do Clã. Então, homens e
mulheres olhavam com curiosidade e respeito, para aquela linda jovem de
beleza exótica e com parte de sangue cigano nas veias. Já corria nas
redondezas o boato que a noiva do Aaron havia chegado. Comentavam que
era linda, possuía lindos olhos verdes esmeraldas, mas que não possuía puro
sangue cigano. Era metade gadjé.

—Seja bem vinda de volta ao seu povo, minha filha! Aqui é o seu lugar! –
O seu tio falou em voz alta e de forma solene, bem no meio de todos, para
que todos ouvissem.

—Obrigada, meu tio! Realmente a festa está linda! A música, o clima, a


noite. Enfim, tudo! — Sarah, respondeu empolgada, aquele clima mágico, a
lembrança do pai, fez que ela resolvesse da uma trégua ao tio naquela noite.

—Venha! Vamos da uma volta pelo local! Vou também lhe apresentar as
mulheres do nosso povo! O meu sobrinho Aaron, deve está quase chegando!
Em breve você finalmente irá conhece-lo.

Conhecer as outras mulheres ciganas, não pareceu uma má ideia para


Sarah, queria ter amigas no local, caso desistisse de fugir e resolvesse ficar
mais algum tempo. Além de também, na própria festa, desejava se enturmar.
Aquelas músicas, aquela fogueira, mulheres já dançando próxima a chama,
ela também queria participar das danças. Ela amava dança cigana, fazia aulas
desde criança e até bem pouco tempo atrás, antes da morte da sua mãe.
Quanto ao fato de que a qualquer momento seu noivo Aaron, chegaria a festa
e ela finalmente iria conhece-lo já adulto, não lhe agradou muito. Porém, ela
resolveu tentar não desgostar o seu tio naquela noite que parecia tão especial,
aquele clima mágico no ar.

—Claro, tio! Quero sim conhecer as mulheres e se possível dançar junto


com elas ao redor desta linda fogueira e contemplando esta linda lua.

—Claro, filha! Vou apresenta-las e você poderá dançar junto com elas na
fogueira hoje a noite a hora que desejar.

O seu tio Vladimir, apresentou Sarah, como sua sobrinha e futura esposa
de Aaron a várias mulheres, solteiras e casadas. Ambas a receberam muito
bem, porém, entre as solteiras se notava um leve olhar de inveja. Ela até
notou ao longe o olhar de Constância, a cigana que ela esbarrou no jardim,
mas ela se manteve afastada.

Então, a banda começou a tocar a tradicional música cigana Chei


Chovorriho. Aquilo mexeu com os sentimentos de Sarah. Era a música
preferida do seu pai e a sua preferida nas aulas de dança. Empolgada e
encorajada pelas outras mulheres, ela entrou na roda, junto com mais outras
jovens. Contudo, ela era a mais linda, a que mais se destacava.

Sarah, ao som de Chei Chovorriho, dançava de maneira fascinante. A


jovem de forma graciosa, segurava e agitava as saias do seu vestido longo,
executando passos de dança de forma sedutora. Os seus braços
acompanhavam seu corpo numa perfeita sintonia e assim ela girava e girava
em volta da grande fogueira. A jovem, enquanto dançava, arrancava olhares
de cobiça dos homens, respeito de muitos e inveja de algumas jovens. Foi
então que alguém arremessou para ela, um lindo pandeiro cigano, todo
adornado com longas fitas coloridas. Sarah, olhou rapidamente e viu que foi a
cigana Constância.

—Constância! De certo julga que não sei usar o instrumento como parte
da coreografia da dança e que me deixará intimidada! Mas mostro para ela!
—Foi o que Sarah pensou ao receber nas mãos o pandeiro que vinha girando
no ar.

Então, com o pandeiro nas mãos, Sarah dançou mais graciosa e sedutora
ainda, atrapalhando os planos de Constância. Ela podia não saber tocar tão
bem o instrumento, mas sabia usa-lo perfeitamente em coreografias. Assim
ela continuo sua dança envolvente e sensual, enquanto jogava de um lado
para o outro seus longos cabelos negros e agitava o pandeiro no ar.

Um homem se aproximou lentamente do local onde ela dançava, ela


sequer percebeu, entretida com a música. Porém, os outros ciganos
perceberam a presença do homem e o saudou respeitosamente a medida que
ele abria caminho entre as pessoas. Até que ele parou e ficou, a alguns
metros, contemplando Sarah, sem falar nada ou interromper a dança. Apesar
da chama da enorme fogueira, encandear um pouco a visão de Sarah e o
homem está um pouco de perfil. Ela conseguiu ter uma boa noção da
fisionomia dele: Ele era um homem alto, devia ter em torno de um metro e
noventa, forte, musculoso. Era bonito, dono de uma beleza selvagem, o que
lhe dava um charme especial e um certo ar de mistério. Possuía rosto
comprido, que era a moldura dos seus penetrantes olhos negros e boca
sensual. Além de cabelos negros, cortado formando um leve topete e um
sorriso torto nos lábios. Contudo, quando pode ter a real noção do rosto dele,
observou algo inusitado que a deixou surpresa: Ele usava um tapa-olho em
um dos olhos...

—Meu Deus! Um homem tão bonito, o que será que houve com o olho
dele? Agora entendo o silêncio constrangedor quando eu perguntava por
fotos dele adulto e a justificativa de que ele não gostava de fotos...— Aquilo
a deixou surpresa a ponto de se desconcentrar e errar o ritmo da dança.

Aquilo, aos olhos de Sarah e das outras moças do clã não o tornava menos
homem ou menos belo, mas sem dúvida era algo inusitado e que
provavelmente influenciava em sua personalidade e talvez limitasse o seu
dia a dia. Mas as outras pessoas no local pareciam ser tão acostumadas com
aquilo que nem sequer parecia perceber. Era como se aquilo não estivesse em
seu rosto.

—Aaron, meu sobrinho! Você finalmente chegou! Estavamos todos


ansiosos pela sua chegada! Fez boa viagem?

O seu tio Vladimir, veio recebe-lo de forma calorosa com um forte


abraço e tapinhas nas costas. O que o tirou do transe, que parecia uma
hipnose ao ver aquela linda jovem dançar.

—Sim, tio, fiz! Mas quem é esta tão jovem tão linda? Nunca a vi aqui! Não
me diga que é a...

—Sim, meu sobrinho! É Sarah! Filha do meu falecido irmão, sua noiva! O
que me diz?—O homem perguntou de forma alegre.

—Ela é linda...Eu quero esta mulher para mim!— O homem respondeu de


forma automática, impulsiva, mas com muita certeza em suas palavras.

—O nosso barô chegou! O nosso barô chegou! – O grito de um homem


próximo, fez com que a conversa fosse interrompida e as atenções se
voltassem para Aaron.
Os músicos pararam de tocar ao ouvir o grito de saudação, que ao
poucos foi se tornando algo coletivo. O chefe do clã havia finalmente
chegado, para participar da festa que ele mandou preparar para a sua noiva
estrangeira. Noiva possuía parte do sangue cigano. Aaron levantou os dois
braços, como forma de saudar a todos de forma coletiva e corresponder a
recepção calorosa. Acompanhado a isso, deu um sorriso meio torno, o sorriso
que encantava as mulheres.

Ao ouvir a música parar, além de alguns gritos animados, que denunciava


que o tal homem, era alguém importante, Sarah, parou de dançar e olhou
rapidamente em direção a ele. Porém, ela foi surpreendida por ele vindo em
sua direção: Um homem bonito, moreno, alto, vestindo calças pretas e camisa
vermelha de seda aberta na parte de cima, o que revelava um belo medalhão
de ouro, que ela reconheceu como sendo semelhante ao seu. Ele caminhou
em direção a ela e já bem próximo lhe estendeu a mão. Ela percebeu ao
longe, seu tio Vladimir, atento observando a cena, o encontro dos dois.

—Buenas noche señorita! Bienvenido a tu gente!

Sarah, não conseguiu responder de imediato, infelizmente fixou o olhar,


sem querer, naquele tapa olho, que não chegava a ser igual ao de um pirata,
na verdade um adesivo no mesmo tom da pele. Mas, que para quem não
estava habituada, chamava atenção sem querer.

—O que houve? Não esperava por isto, não era? A minha aparência lhe
causa repulsa?— Ele perguntou de modo desafiador. Enquanto com o dedo
indicador, apontava para onde deveria haver um olho.

Aquela pergunta trouxe Sarah, de volta a órbita, ela respondeu sem graça,
pois não foi sua intenção causar aquele desconforto.

— Não! Claro que não me causa repulsa!— Ela inicio desconcertada—


Obrigada! Apesar de não falar espanhol, compreendi o que quis dizer! Você
me compreende? Desde que cheguei so tive contato com pessoas que falam
portanhol, igual ao meu pai falava.

Aquele homem a olhou com uma expressão enigmática. Sarah não sabia se
ele estava tentando falar algo mais com ela e procurando as palavras ao saber
que ela não falava espanhol ou se apenas a analisando fisicamente. Era um
homem bonito, de uma beleza selvagem, aquele tapa olho não o diminuía em
nada a sua beleza, o que a deixou sem fôlego. As roupas que ele usava,
apesar de caras, pareceriam bregas em qualquer outro homem, mas nele dava
um ar senhorio, de líder, além de um ar sexy.

—Sim e posso falar um pouco de português, portanhol ou romani se


preferir!

Aquela altura, Sarah, já desconfiava de quem se tratava pela forma como


as pessoas ao redor os olhavam discretamente. Além do fato dos músicos
terem parado quando ele entrou na roda próxima a fogueira e as mulheres que
tinha acabado de parar de dançar, terem dado passagem a ele. As casadas o
olhavam com respeito, quanto as solteiras o olhavam com cobiça e tentavam
discretamente chamar sua atenção.

—Não falou romani... Mas entendo perfeitamente o portanhol, por causa


do meu pai! Quanto a você, sabe falar português? Possui amigos brasileiros?

O homem a encarou de uma forma enigmática e falou:

—Não possuo, mas o meu pai me orientou, desde criança, que deveria
saber um pouco da língua para um dia recepcionar a minha noiva brasileira.

Ao ouvir aquilo, Sarah, gelou, sentiu um frio na barriga e pensou:

—É ele! É bonito! Tem um certo ar de superioridade! As pessoas o olham


com respeito! Agora tenho certeza de que é ele.

—Permita-me que me apresente: Aaron Perez! Barô do clã! Seu primo,


noivo e futuro esposo!

Ao ouvir aquilo, a jovem ficou sem ação. Não sabia se por finalmente está
cara a cara com o tal noivo, se pela surpresa em relação a deficiência visual
dele ou se pelo fato de saber que ele desde criança foi encorajado a levar a
sério o tal compromisso. Até um pouco de português aprendeu para um dia
recepciona-la. Porém, nunca a procurou ou mandou fotos já adulto.
— Teria sido o acidente? Que fez ele agir assim? Que evitou procura-la
ou mandar fotos já adulto.— Ela pensou.

Aaron, puxou delicadamente, o braço de Sarah e lhe beijou a mão, de


forma galanteadora e respeitosa. Pois não era comum intimidades entre
noivos ciganos, antes do casamento. Mesmo estando já no século vinte, em
plena década de noventa.

Sarah, apesar de não ser tímida, se sentiu intimidada, encabulada e


apenas conseguiu falar um :

—Obrigada pela acolhida! E pela bela festa!

—Era o mínimo que eu podia fazer! Afinal, não é todo dia que o clã recebe
a noiva e futura esposa do seu barô! Que foi prometida criança e veio de
outro país para se casar !

Ao ouvir aquilo, Sarah fico confusa, pois ele parecia ter gostado dela,
estava sendo educado, gentil, apesar de parecer um pouco selvagem e
dominador. Mas ele parecia nem imaginar que ela estava se casando contra a
vontade, que tinha chegado até ali pressionada pelas circunstâncias. Além
de que ela estava pensando seriamente em fugir dele e do seu povo, pois
casar jovem, casar com seu primo líder cigano, nunca esteve em seus planos.

Então, seu tio Vladimir, que ao longe observava os dois, de forma


brusca interrompeu a conversa e fez algo que parecia comum entre eles, mas
deixou Sarah, sem graça. O velho cigano, se colocou no meio entre os dois,
levantou os braços e junto ergueu um braço de Sarah e outro de Aaron. Assim
anuncio:
—Está é minha sobrinha Sarah! Noiva e futura esposa do nosso líder! Ela
finalmente chegou do Brasil para se juntar ao nosso povo! Então vida longa
ao futuro casal! Que santa Sara Kali, abençoe esta união!

Os ciganos, participantes da festa, gritavam animados, em resposta ao


pronunciamento do respeitado senhor de idade.

—Salve! Optchá!
—Vida longa! Santa Sara de Kali, os abençoe!
Ali no meio da roda, junto com os outros dois homens, seu tio e seu noivo,
Sarah ouviu constrangida os gritos entusiasmados. Por estar sendo o centro
das atenções.
Capítulo 5

Tchayo Cigano: Tradicional bebida cigana. Reza a lenda que trás paz, saúde e
prosperidade para quem bebe. Consiste numa espécie de chá que leva gengibre, canela e
várias frutas na composição da receita.

A festa cigana seguia animada. Sarah, não estava mais a dançar com as
outras mulheres em volta da fogueira. Ela agora circulava pela festa ao lado
do seu tio e do seu noivo. Contudo, aquilo de certa forma a estava
incomodando, pois eles agiam como dois guarda-costas.

—Hum... que aroma delicioso....—Sarah pensou e uma lembrança familiar


veio a sua mente —Tchayo! É o Tchayo que meu pai fazia e todos juntos
tomávamos a conversar no terraço! Vou pegar um pouco! Adoro!—Assim ela
se afastou dos dois, sem avisar.

A alguns metros, numa barraca decorada de forma típica, uma mulher com
trajes ciganos, algo comum na festa, servia a bebidas em copos para quem
desejasse. Quando Sarah se afastou do tio e do primo e chegou até a barraca,
a mulher parecia já saber de quem se tratava. De certo deveria ter visto a sua
apresentação publica feita pelo seu tio Vladimir e ao lado do Aaron.

—Optchá, linda senhora! Deseja um copo de tchayo?— A mulher


perguntou alegre.

—Sou senhorita! Sim! Por favor!—Ela respondeu sorridente.

—Mas está muito próxima de se tornar uma senhora...Onde está o seu


noivo ou seu tio? — A mulher perguntou de forma gentil, enquanto enchia
um grande copo e entregava a Sarah.

—Ah, não sei! Me afastei um pouco deles para vir até a sua barraca! Mas
devem está por perto.— Sarah respondeu simpática e a mulher fez uma
expressão compreensiva, como se não quisesse contraria-la.
—Obrigada! —Sarah, recebeu o copo da bebida e levou aos lábios, ainda
de frente para a mulher ali de pé na barraca. Foi quando sentiu uma mão forte
chegar por trás e segurar o seu braço direito.

—Estava a sua procura! Não deve se afastar de nós! Em especial de mim,


agora que cheguei a festa! Deve permanecer ao meu lado!

Era Aaron, que um pouco irritado, mas tentando disfarçar para as pessoas
ao redor. Tinha vindo em busca dela, na barraca de tchayo. O que Sarah
considerou um absurdo, pois fazia uns vinte minutos que havia deixado eles
e caminhado até a barraca que ficava a poucos metros.

—Estou apenas pegando um tchayo!— Ela respondeu irritada— Sendo que


não vou me perder ao me separar um pouco de você ou do meu tio!

—Sei que não irá se perder, pois já vi que é muito esperta! Porém, não fica
bem! Não faz parte dos costumes! Portanto, na festa você é ao meu lado! Se
desejar algo, avise e providenciarei, indo junto com você!

—Ouça! Vocês tem que parar de me tratar como se eu fosse uma criança
ou como se fossem dois guarda-costas, em relação a mim, nesta festa!

—Não se trata de ser guarda-costas ou de você ser uma criança! Se trata


dos nossos costumes ciganos e que você se propôs a viver sob eles, quando
escreveu para o nosso tio Vladimir! Pois, que eu saiba, seu pai sempre
avisou sobre nosso modo de viver!

—Avisou! Mas vocês vivem de forma muito exagerada! Seguido tradições


de forma exagerada, em pleno século vinte, sem necessidade!—Ela falava
irritada. A música alta disfarçava a discussão dos dois, aquela altura, eles já
tinham se afastado um pouco da barraca, mas ainda estavam a vista das
pessoas.

—Pois, saiba que você agora está entre o nosso povo! O seu povo! E terá
que seguir essas tradições e regras que você considera ultrapassadas! E como
esposa de um barô, terá que dar exemplo!

—Eu não estou gostando desse tom autoritário! Se continuar nesse tom,
não haverá casamento!

—O que disse? Você não está achando que mandei busca-la no brasil, para
me desmoralizar diante do nosso clã! Está?

—Eu não sei o que é desmoralização para você! Mas no Brasil, noivados
ou seja lá o que somos são perfeitamente desfeito!

—Pois, saiba que aqui! Longe do Brasil, onde agora somos os seus únicos
parentes, e entre o nosso povo, você não tem essa opção!

—Que absurdo é esse? Vou ligar para a embaixada!

—Você ligue para quem quiser! Dificilmente as pessoas aqui se metem em


nossas tradições! Ainda mais que não estou lhe maltratando, não a estou
machucando e você, maior de idade, veio por livre e espontânea vontade! Ou
melhor: Escreveu, pedindo para vir!

Ao ouvir aquilo, Sarah, lançou para Aaron um olhar fulminante de ódio,


pois estava furiosa com aquela situação e seu jeito autoritário de falar.

—Isso é um absurdo! Pra mim já deu!

Foram as ultimas palavras de Sarah, antes de voltar rapidamente as


costas para o noivo e ensaiar uma retirada. As pontas dos longos cabelos
negros e finos da jovem, chegaram a tocar o rosto do homem, com o
movimento brusco dela.

—Ei garota! Como assim já deu? Onde pensa que vai?— O seu noivo
perguntou irritado, mas com a voz contida para não chamar atenção.

A forma como ele segurou o braço de Sarah e fez com que isso a
impedisse de deixa-lo falando sozinho, já chamava atenção de algumas
pessoas. Porém, em sinal de respeito, os outros ciganos que se encontravam
mais próximos, fingiam não veem a discussão do seu barô e sua futura
esposa.

—Eu vou para casa! arrumar as minhas malas! Pois, amanhã vou pedir
ajuda a alguém, quem quer que seja, para voltar ao Brasil!
—Sarah, não me desafie! Acho que já foi avisada ou já percebeu que não
gosto de ser desafiado! Porém, se quer ir para casa, por estar cansada, eu
entendo. Contudo, iremos agora, todos juntos: Você, eu e o tio Vladimir!

—Quero sim ir para casa! O motivo é problema meu!

De repente o tio Vladimir, entrou em cena ao perceber que eles mal havia
se conhecido a já estavam discutindo.

—Mas o que está havendo aqui? Sarah? Aaron? O chefe do clã e sua futura
esposa não podem ficar dando esse exemplo de desunião assim na frente dos
outros membros!

—A culpa é desta sua sobrinha, meu tio! Ela não quer obedecer aos
mínimos costumes da nossa tradição!

—Costumes idiotas e machistas, você quer dizer não é?

—Sarah! Cale-se!— Seu tio ordenou bravo.

—Mas, tio Vladimir! Estamos no século vinte!

—Estamos em um acampamento cigano! A única modernidade aqui são as


casas de alvenaria e a infraestrutura do lugar! Então exijo que obedeça a mim
e ao seu noivo! Quanto a você, Aaron, que belo exemplo está dando aos
homens do clã! Não consegue ao menos liderar a sua futura esposa!

—Tio Vladimir, eu administro minas, administro os negócios, as questões


de justiça e brigas familiares entre o nosso povo! A sua sobrinha é que tem
um gênio difícil! Ela não parece ter nada de uma mulher cigana ! Não era
este comportamento que eu esperava dela!

—Se está se sentindo enganado, meu sobrinho, posso aceitar que o


compromisso seja desfeito por você! Já por ela não... pois preciso guiar os
passos dela e sei que você é o melhor para ela! O que me diz?

—O que ele diz? E quanto a mim? Ninguém, vai perguntar nada?—Sarah,


interrompeu chateada.
—Cale-se!— Os dois homens praticamente falaram iguais ao se voltarem
para a jovem.

—Eu não vou desmanchar compromisso algum e ta decidido! O seu gênio


difícil, domarei, igual se faz com um cavalo arisco!

—Eu não sou cavalo! E agora realmente quero ir para casa! Depois dessa
discussão, a festa perdeu a graça! Veem comigo ou terei que ir sozinha? Você
pode ao menos mandar aqueles seus capangas me acompanhar? Se acha ruim
que ande sozinha e já é tarde da noite!

—Você, sozinha, com meus homens, na madrugada? Ora faça-me o favor!

Sarah, não falou nada, apenas cruzou os braços, bateu o pé e o fuzilou


com um olhar.

—Vamos todos juntos! Você, eu e o tio Vladimir! Cansei também dessa


festa e do seu jeito petulante!—Aaron falou se referindo a Sarah e fez um
gesto com a mão para que ela e o tio o acompanhassem até a caminhonete no
estacionamento.

Então, assim, todos de cara amarrada, voltaram para casa. No banco


traseiro, Sarah, calada e furiosa, pensava que talvez devesse mesmo fugir
antes mesmo do dia amanhecer.

—Mas para onde irei? Não sei se voltar as pressas para o Brasil é uma boa
alternativa e para ficar aqui em busca de emprego, as minhas economias
apenas duraria no máximo uma semana em uma pensão vagabunda.

A festa era relativamente próxima da casa do seu noivo, que acabou


dispensando os seus homens que geralmente dirigiam seus carros e faziam a
segurança dele e da casa. Contudo, devido ao clima pensado, Aaron, achou
melhor ele mesmo dirigir sua caminhonete de volta para casa. No banco do
carona vinha o tio Vladimir e no banco de trás Sarah, com cara de poucos
amigo e pensando em fugir.

—Chegamos! — Foi o comentário de satisfação do tio Vladimir ao entrar


na grande sala da casa. Ele já tinha um certa idade, festas o deixava cansado.
—Eu vou para o meu quarto! Boa noite!

—Faça isso sim, sobrinha! Pois, estou cansado, vou me recolher e deixar
vocês dois aqui a sós de madrugada, antes do casamento, não faz parte dos
costumes!

—Ah! Tio! Faça-me o favor! Não tenho menor vontade de ficar a sós com
este cavalo!— Ela falou olhando em direção a Aaron, que ainda estava
parado no meu da sala.

—Menina... pare com isso! Ele vai ser seu esposo, muito em breve! Mas é
bom que vá logo para o seu quarto! Noivado não é casamento, para que eu
deixe vocês dois aqui sozinhos, sem a minha presença ou da Carmem!

—Ah! Eu sou grosseiro? E você é uma insolente! Mas o cavalo aqui é


quem vai doma-la e lhe deixar mansa!

—Tio, boa noite! Vou para o meu quarto!—Sarah, falou fingindo ignorar
seu noivo de proposito e subiu as escadas. Enquanto Aaron e seu tio ficou a
observar calados a saída dela.

—Bem, tio! Eu também irei para o meu quarto, vou dormir, pois o dia foi
cheio e estou muito cansado!— Aaron falou em seguida e seguiu Sarah com
um olhar.

—Faça isso filho! E não ligue para sua prima! É muito jovem, não foi
totalmente criada dentro dos costumes como meu irmão falava! Mas ela vai
um dia nos agradecer, pois so queremos o bem dela e fazer a vontade do meu
falecido irmão: Cuidar da sua filha, caso ele não estivesse mais entre nós.

—Tentarei entender ,meu tio! Até porque devo admitir, que estou louco
por ela! A lembrança dela dançando não sai da minha mente e não vou abrir
mão de tê-la como esposa! Afinal, ela é minha desde que nasceu!

Aaron e seu tio, subiram a enorme escada de madeira escura, que levava
para o andar superior, onde ficava os quartos. No final da escada, se
despediram com um tapinha nas costas, pois os quartos de ambos ficavam em
lado opostos dos corredor. Contudo, antes de seguir para o seu quarto, Aaron
parou diante da porta do quarto de Sarah. Ele sentiu-se tentado a bater na
porta, se apaixonou por ela desde a primeira vez que a vi dançando ali na
festa, próxima a fogueira. Contudo, achou que não ficava bem falar com ela
a sós aquela hora da madrugada. Porém, ainda se aproximou da porta e
ensaiou bater, foi quando ouviu barulho de objetos caindo dentro do quarto.
Capítulo 6

A minha casa, não tem porta e nem janelas, o que é bom o vento trás, o que é ruim o
vento leva!
Optchá!

—Vou agora mesmo colocar as poucas coisas que tirei das malas, de volta!
— Sarah, falou furiosa enquanto abria a porta do grande armário do quarto de
hospede em que estava provisoriamente alojada.

—O meu primo, meu noivo ou sei lá o que, é um homem bonito e


interessante! Porém, não estou disposta a viver seguindo a risca esses
costumes machistas e ultrapassados que ele tanto preza! É bem diferente
ouvir sobre eles e ter que obedece-los! Amanhã mesmo tentarei ligar para a
embaixada, pedindo ajuda!

Ela puxou com força uma das malas, o peso do objeto o fez cair no chão
e fazer barulho. Então, Aaron abriu a porta do quarto de surpresa e entrou
sem avisar.

—Ei mocinha! Posso saber o que a senhorita está fazendo? — Ele


perguntou surpreso e irritado ao olhar para mala caída no chão e para Sarah
colocando roupas dentro dela— Ele era esperto, já previa o que ela poderia
está planejando...

— Eu que pergunto! Posso saber o que você, tão respeitador dos costumes,
faz aqui em meu quarto a esta hora? Sou uma senhorita e estamos a sós! Vou
gritar pelo tio Vladimir!

—Faça isso! Ele viria correndo! Mas o que ele diria? Que apressemos um
casamento que já está marcado para daqui a poucos dias?

Sarah, o encarou furiosa! Ele era um homem bonito e parecia saber disso.
O acidente que vitimou seu olho, parecia não ter comprometido sua auto
estima, nem tão pouco afetado a sua beleza. Talvez pelo fato de além da
beleza, ser o chefe do clã, cobiçado pelas ciganas solteiras.

—Estou colocando, as poucas coisas que eu tirei de volta para as malas!


Amanhã pela manhã darei um jeito de sair daqui! Eu não vou ficar aqui para
casar com um...

—Com um? Com um o que? Posso saber? Termine o que iria falar!

Aaron a interrompeu de maneira brusca. Então, se aproximou dela, a


enlaçou forte pela cintura e fez ela o encarar, aproximando o seu rosto ao
dela. Estavam tão próximos que ela conseguia sentir a sua respiração
ofegante, enquanto a encarava.

Aquela gesto dele, alguém que ela mal conhecia e que se dizia tão
respeitador das tradições, entrar ali em seu quarto de madrugada de forma
inesperada. Além de a tomar pela cintura e agir como se estivesse prestes a
beija-la, a deixou surpresa e confusa, sem palavras para responder. Algo que
não foi bem interpretado por ele.

—Casar com um inválido? Era isso que iria falar? Responda!

Sarah, ao olhar no olho dele, percebeu que sim, aquilo o incomodava, que
o homem aparentemente seguro de sim, cobiçado pelas ciganas solteiras,
tinha seus momentos de insegurança e pontos fracos em sua autoestima.
Aquilo a deixou comovida e até sem jeito, pois foi mal interpretada em suas
palavras, não era aquilo que pretendia falar e sim machista, autoritário. Por
mais que ela estivesse incomodada com a situação em que se meteu ao
escrever para o seu tio Vladimir, não era sua intenção ferir alguém, tocando
em algo que parecia ser uma ferida tão delicada.

—Não! Não! No fundo você sabe que não...que eu não quis dizer isso e
que você não possui a fragilidade de um inválido! Na verdade acho que você
é até bem forte! Administra seus negócios, lidera o clã...

—Acha? Que bom que pensa assim! Pois, saiba que sou sim bem forte!
Um homem muito ativo, vivo, com um fogo dentro de mim e agora que
minha futura esposa chegou, não vejo a hora de aplacar esse fogo...
Sarah, sentiu a pressão em volta da cintura dela aumentar, a respiração
dele ficar ainda mais ofegante e para a sua surpresa, a dela também. Ela ainda
sentiu o roçar dos seus lábios quentes e sensuais nos dela, mas foi quando a
porta do quarto se abriu de forma inesperada.

— Sarah! Aaron! O que fazem aqui sozinhos?— O tio Vladimir invadiu o


quarto transtornado, como se tivesse presenciando um crime. Aquilo quebrou
o clima e os dois se afastaram bruscamente.

—Tio Vladimir? A culpa foi deste seu sobrinho que invadiu meu quarto
sem que eu o chamasse aqui!— Sarah apontava o dedo acusando Aaron.

—Isso procede, meu sobrinho? Um barô, deve honrar e respeitar as


tradições! Eu não esperava isso de você!

—Eu, estava passando em frente a porta quando ouvi um barulho forte e


resolvi entrar! Era esta louca da sua sobrinha arrumando as malas para fugir e
tentei impedir!— Aaron se explicava, enquanto impaciente, passava a mão na
cabeça.

—Ah! E você iria impedi-la a tomando nos braços e quase a beijando?


Pois, foi isso que presenciei ao entrar aqui e sabe-se la o que aconteceria se
eu não tivesse chegado a tempo! Francamente Aaron! E quanto a você Sarah?
Iria mesmo fugir do seu povo? De nós que so queremos o seu bem? Ou iria se
entregar ao seu noivo antes do casamento? Não sei o que seria pior!

—Eu? Me entregar a este cavalo? Eu vou embora daqui amanha! Estava


fazendo as minhas malas! — Sarah, respondeu, indignada olhando em
direção a Aaron.

— Em primeiro lugar: Não fale assim do seu primo e futuro esposo,


menina! E você não vai a lugar algum! É minha obrigação, zelar por você!—
seu tio falou bravo.

—Irei sim! Não quero mais ser cigana!— A jovem falou de maneira
petulante.

— Você nasceu cigana e morrerá cigana! E eu como responsável por você


e você como uma moça cigana, exijo que este casamento se realize ainda
mais do que nunca! Você o recebeu sozinha em seu quarto no meio da noite!
Uma vergonha e desonra! Você quebrou uma tradição e poderá trazer má
sorte , a desgraça para este lar e para nossa família!

Sarah, ficou pasma ao ouvir aquilo, que situação havia se metido e que
costumes mais ultrapassados. Aquilo lhe causou raiva, mas fúria mesmo ela
sentiu ao olhar para Aaron que num canto do quarto a olhou e esboçou um
sorriso cínico de satisfação, se sentindo vencedor. Já que agora, seria mais
difícil ainda fugir ou escapar de se casar com ele.

—Tio, mas isso é um absurdo! Aaron, você não vai falar nada? Acha
mesmo que se meu tio não tivesse chegado, teria acontecido algo entre nós
dois?

— São as tradições minha querida...— Ele deu um sorriso cínico.

—Agora chega! Já estou velho e casado, voltarei a me recolher! Aaron


você vem comigo! Quanto a você minha sobrinha nem pense em fugir!
Deixarei um dos homens da casa vigiando a porta!

—O que você chama dos homens do Aaron, no Brasil chamamos de


capangas!

— Chame do que quiser, apenas lembre-se que eles me obedecem


cegamente! Apenas a Carmem ou eu entrará neste quarto, até o dia do seu
casamento! Graças a Santa Kali, faltam apenas três dias.—O senhor de idade
ergueu as mãos e os olhos para cima ao falar isso.

Então, ao falar aquilo, o tio de Sarah e seu noivo deixou o quarto.


Saíram batendo a porta e Sarah se jogou chorando na cama, numa confusão
de sentimentos: Medo, raiva, angústia. Aquela altura não sabia mais se
tentaria escapar, ligar para a embaixada, voltar ao Brasil. Até que algo a
deixou tão triste que a fez, deitar de bruços e chorar com a cabeça no
travesseiro:

— Voltar ao Brasil... mas voltar para quem?— A jovem pensou triste,


enquanto soluçava.
Capítulo 7

A mais bela fogueira começa com pequenos ramos...


( Provérbio cigano)

—Finalmente chegou o grande dia!

Sarah, falou com seus botões em tom de ironia, enquanto sozinha no


quarto, contemplava o seu luxuoso vestido de noiva vermelho, espalhado na
cama. Atualmente as noivas ciganas já possuíam a opção de usarem vestidos
de noiva branco. Mas, como seu vestido já estava quase pronto quando ela
chegou a Espanha e seu noiva era muito tradicional, seu vestido acabou
seguindo a risca, a antiga tradição.

No primeiro dia em que ela ficou no quarto impedida de sair, ficou


furiosa, so pensava em escapar. Após o segundo dia, ainda muito chateada, já
não tinha mais tanta certeza, apesar daquela situação de ficar de castigo no
quarto não lhe agradar. Ela já não era mais uma menininha e mesmo sabendo
que policia local evitada interferir nos costumes dos ciganos, aquilo era
contra lei, numa oportunidade ela poderia denunciar. Contudo, o pensamento
na primeira noite do castigo lhe veio a mente:

—Voltar para o Brasil...mas voltar para quem?—A jovem pensou


resignada.

Então, foi com esse pensamento, mesmo chateada, que no segundo dia
ela recebeu no quarto a costureira que veio para ela provar o vestido. A
Carmem, que todos os dias lhe trouxe comida e água, chegou animada
trazendo uma senhora com um enorme embrulho. Então, por sorte ou azar, o
vestido, muito bonito por sinal, ficou perfeito, não precisou de ajustes. Agora,
o grande dia chegou, ela teria que começar a se vestir de noiva, para o
casamento que se realizaria no final da tarde.

Sarah, ouviu baterem na porta. Ela pensou que com certeza era Carmem
ou o tio Vladimir, os únicos autorizados a entrarem no quarto, desde aquela
noite. Desde o incidente, já haviam se passado quatro dias e única vantagem
foi que ela não ficou obrigada a da de cara com Aaron, até o dia do
casamento. Porém, o dia chegou...

—Pode entrar!!!

A Carmem, entrou ,alegre, já estava vestida para a festa de casamento.


Usava um lindo vestido de seda azul, muitos adornos de ouro, a cabeça
descoberta, sem lenço, pois não era casada, era uma solteirona.

—Menina... você ainda não começou a se vestir? Achei que já havia


começado ao menos a por o vestido ou se maquiar!

—Não...— Sarah, respondeu triste, enquanto alisava o tecido do seu


vestido de noiva, espalhado na cama.

—Precisa de ajuda? O senhor Aaron mandou lhe oferecer ontem e você


não quis, acho que deveria ter aceitado. Qual mulher não desejaria
cabelereira, manicure, maquiadora a disposição? Afinal, hoje é o seu grande
dia...

— Meu grande dia—Sarah repetiu alto em tom de ironia.

—Oh senhora, vejo que ainda não se acostumou... tente entender que ficou
praticamente sozinha no mundo. O seu tio Vladimir só quer o seu bem!
Portanto, casa-se com o senhor Aaron é o melhor para você!

—O Meu bem é casar com aquele cavalo, cabeça dura, com costumes
machista?

— Ah senhora... ele é assim porque foi criado dentro dos costumes, todo
homem cigano é assim! Mas ele tem algo a mais: É o barô! O melhor partido
do clã, além de jovem, rico, bonito!— por alguns segundo a mulher fez uma
pausa— A senhora não acha ele bonito não é? É... por causa da perca do
olho?

—Não Carmem! Isso para mim, não tem a menor importância! Em relação
a isso, apenas acho que deveria ter sido avisada, para não demonstrar
surpresa quando fomos apresentados, mas já passou. A propósito: Como foi
que ele perdeu o olho?

— Ah senhora... este é um assunto tão delicado, aconselho que nunca


toque nesse assunto com ele, a menos que ele inicie. Porém, se um dia ele
fizer isso é porque gosta e confia muito em você, pois pode não aparentar,
mas esse é o seu ponto fraco. Mas para adiantar foi um acidente com o
ventania, o seu cavalo preferido.

—Ah! Ele cria cavalos? Tenho razão em considerar os modos dele,


parecido com os seus irmãos equinos, então.

—Sim, cria, depois ele poderá leva-la para conhecer o lugar, não fica longe
daqui e lá próximo tem umas ruinas de onde se pode ver um lindo por do sol.
Mas não fale assim, do seu futuro esposo... hoje a noite vocês estarão casados
e no terceiro dia compartilharão a mesma cama.

—Nem me lembre disso, Carmem! Sabe, nessa hora eu gostaria de ser uma
legítima moça cigana, criada totalmente dentro das tradições. Igual as moças
daqui do clã...

—Ah minha filha! Não me diga! Fico tão feliz em ouvir isso? Então, quer
dizer que finalmente está começando a aceitar seu destino? — A mulher,
falou animada, segurando as duas mãos de Sarah e olhando em seus olhos.

—Não é isso Carmem... é que as moças totalmente ciganas, criadas aqui


no clã, são preparadas desde cedo para isso. Então, imagino que para eles não
é um grande problema, dividir a cama, ter intimidades, com alguém, que mal
conheceu. Sem antes precedido de um namoro, beijos, abraços!

— Ah... entendo, senhora...Mas ciganos não namoram...

—Além de não simpatizar com o meu primo, isso está me deixando


preocupada, receosa. Não sei como vou reagir a essa maldita noite de núpcias
que acontecerá ao final do terceiro dia da festa. — A jovem tinha uma
expressão preocupada no rosto, enquanto fitava Carmem.

—Olhe, querida, se me permite chama-la assim, quer um conselho?


Aproveite a festa de casamento, seja obediente em relação as orientações
sobre as regras tradicionais que você terá que cumprir durante a cerimonia e
quanto a noite de núpcias não se preocupe! Deixe tudo sob a responsabilidade
do seu marido, pois ele tem aquele jeito difícil de lidar, mas aposto que será
um homem gentil e carinhoso. Afinal, ele sabe que é a sua primeira vez.

— Ai Carmem, obrigada por tentar me acalmar! Nossa ainda tem essas


regras de tradição na festa? Como não tive família para organizar a festa, nem
sei como agir.

—Não se preocupe! Em nossa cultura quem organiza e oferece a festa é a


família do noivo! O seu papel é ser a noiva mais linda, com um belo vestido,
adornos caprichados e obediente.

Quando Sarah, desceu vagarosamente a longa escada de mogno que


levava até o térreo da casa, segurando com as mãos as saias do seu pesado e
luxuoso vestido de noiva, já encontrou o tio Vladimir bem vestido a sua
espera.

—Por santa Sarah Kali! Como você está bela, minha sobrinha!— Ele
levantou do sofá e falou enquanto lhe oferecia o braço, pois ele seria quem a
levaria para a festa e a conduziria ao altar.

—Obrigada, meu tio! Eu diria que exótica! Pois, não é todo dia que se ver
um casamento onde o vestido da noiva é vermelho.

—Pois, saiba que entre os ciganos, principalmente em nosso clã é tradição!


O seu pai ficaria muito orgulhoso em lhe ver assim.

—Tio não quero ficar falando sobre isso, se tenho que casar, vamos logo
para a igreja, que finalmente a cerimonia aconteça e que passe rápido esses
três dias de maldita festa!
—Calada, menina! Não amaldiçoe o seu casamento! Isso trás azar para
você e para esta casa!

—Ah! Onde está meu noivo?— Sarah perguntou em tom de deboche.

— Ele já se vestiu e saiu para a cerimonia. O normal é que vocês se


encontrem lá.

—Feliz em saber! A única coisa boa desse castigo no quarto, foi não ter
tido o desprazer de ficar cruzando com ele pela casa.

—Não seja mal criada e mal agradecida! Fizemos isso para o seu bem! E
não fale assim do Aaron, é melhor ir se acostumando, pois a partir de hoje
você deve obediência a ele!

—Ah tio! Por favor! Não repita essa ladainha de novo e vamos para a
igreja!

—Se você tivesse sido criada entre o nosso povo, teria total respeito
pelos mais velhos! A nossa palavra é lei para os mais jovens do clã.

Sarah ouviu aquilo calada, deu o braço para o seu tio, com a cara
amuada e juntos saíram em direção da porta principal para entrar no belo
carro modelo sedan que a conduziria até a igreja. Sabia que depois da igreja,
passaria direto para a grande festa no clube onde era organizada as festas
ciganas. O mesmo local onde aconteceu a sua festa de boas vindas.

Quando Sarah, entrou na igreja, conduzida pelo tio Vladimir, respirou


aliviada em ver que apesar de bem decorada, havia poucas pessoas na igreja.
Depois ela viria a saber que da cerimônia na igreja apenas participa os
familiares e amigos mais íntimos. É na grande festa após a cerimônia que
estão todos membros do clã, onde tem muita comida, vinho, música e danças
que iriam durar três dias.

—Não faça essa cara menina! Parece que caminha para a morte! Daqui a
poucos os convidados estarão percebendo.— Seu tio falou discretamente,
com a voz abafada pela marcha nupcial, que não foi escolhida por ela.
Então, mesmo ao olhar para o altar e ver Aaron, alto, bonito, elegante,
vestido com os trajes típicos ciganos apropriados para o noivo. Apesar da
expressão séria, o olhar brilhava por está se casando com a mulher que ele se
apaixonou a primeira vista ao vê-la dançar e que por coincidência já era a sua
noiva. Sarah, não se comoveu, não se emocionou, como uma noiva cigana
faria, acostumadas com casamentos arranjados.

—Eu só desejo que tudo isso acabe rápido!—Ela respondeu chateada.

A cerimônia foi sim rápida, o tradicional ritual das facas, vinho e sal, se
realizaria no clube onde seria a festa. Então, foi de cara amarrada que ela foi
entregue a Aaron e ele a olhou não so com o olho brilhando, mas também
com um expressão como se lhe falasse em silêncio:

—Viu só? Eu venci! Agora você é minha!

Em seguida, após a cerimônia na igreja, se dirigiram de carro até o local


onde haveria a grande festa. Afinal, não era todo dia que o jovem barô de um
clã se casava.

Quando chegou ao clube, apesar de não está nem um pouco entusiasmada e


dava para ver em sua cara, Sarah ficou impressionada com a grandiosidade e
estilo exótico da festa. Todo o clã estava presente, ali deveria ter no mínimo
cem pessoas. As mulheres todas bem vestidas com trajes típicos, muita seda,
xales , muitas joias douradas. Após passada a surpresa, ela sentou no local
reservado a noiva e ficou a rezar para aqueles três dias de festa acabassem
logo. Enquanto isso, ela tentava ser educada com um convidado ou outro que
vinha lhe parabenizar, mas evitava falar, olhar para Aaron. Ainda não tinha
digerido toda aquela situação.

Enfim, chegou o terceiro dia de festa e logo mais final da noite seria a
sua incomoda lua de mel e com um detalhe mais incomoda ainda: Exibir o
lençol manchado de sangue como prova da sua virgindade no dia seguinte...
Capítulo 8

É pelo casamento que os ciganos entram no mundo dos adultos. Os noivos não podem ter
nenhum tipo de intimidade antes do casamento. Quando o casamento acontece, durante três
dias e três noites, os noivos ficam separados dando atenção aos convidados. Somente na
terceira noite é que podem ficar pela primeira vez a sós.
Fonte: Blog Sabedoria Mística.

Já era por volta da meia noite quando Sarah e Aaron, como noivos,
oficialmente se preparavam para deixar a festa. Havia chegado o final do
terceiro dia de festa, finalmente os noivos podiam oficialmente dormirem
juntos e consumarem o casamento. Então, no dia seguinte exibiriam o lençol
manchado de sangue como prova da virgindade da noiva e a parti dai Sarah,
passaria a usar um lenço na cabeça em sinal de que era uma mulher casada.

Percebendo que já era hora da saída dos noivos, o tio Vladimir, veio
falar com eles a sós, mas em tom quase solene.

—Sarah, como único responsável por você, direi o que meu irmão, seu
pai, diria: Você agora é uma mulher casada! Deve obediência ao seu marido!
Seja uma boa esposa e que dessa união nasça muitos frutos!

—Eu não prometi obediência a ninguém! Vocês me pressionaram a


casar!

—Sarah! Não seja mal criada! Eu fiz o que era melhor para você e cumpri
a vontade do meu falecido irmão! Aaron, por favor, entrego a você uma joia
preciosa e agora é sua obrigação cuidar dela.

—Claro, meu tio! Não se preocupe! E esse gênio forte e ardiloso dela eu
domarei!

Ao ouvir aquilo Sarah, olhou para o lado e o encarou de cara feia, mas
achou melhor não começar uma discussão, pois ainda estavam dentro da
festa.

—Bem, já mandei os empregados levarem minhas coisas para a minha


casa. Agora vocês estão casados e já poderão viverem sozinhos sob o mesmo
teto, sem falatórios ou risco de má sorte. Aaron, não esqueça: Amanhã ao
acordarem a tradição da exibição do lençol manchado.

Aquilo deixou Sarah chateado e ao mesmo tempo corada. Para ela aquilo
era algo desagradável que invadia a intimidade dela e algo totalmente
ultrapassado em pleno século vinte.

Quando Sarah chegou em casa, acompanhada de Aaron, foi recebida por


Carmem, que estava muito alegre no meio da sala. Ela parecia ter saído mais
cedo da festa, para ver se estava tudo em ordem na casa e recepciona-los.

—Seja bem vinda! Agora como oficialmente senhora desta casa! —


Carmem falou animada.

—Obrigada, Carmen!— Sarah respondeu sem entusiasmo, mas também


não queria ser grosseira com quem sempre lhe tratou tão bem, até lhe mimou
em algumas momentos.

— A senhora deve querer tomar um banho, precisa de ajuda para tirar o


vestido? Afinal, ele é muito pesado e cheio de adereços.

—Não Carmem, obrigada! Eu posso fazer tudo sozinha.

Aaron ao seu lado, apenas ouvia, era como se conversas entre mulheres
não importasse aos homens ciganos. Mesmo sabendo que aquela conversa de
certa forma, era a preparação para a noite de núpcias: Tirar o vestido de
noiva, tomar banho e vestir camisola. Esse ultimo Carmem não citou,
acredito que por pudor na presença de Aaron.

Quando Sarah foi subindo as escadas, enquanto Aaron, foi até la fora da
umas ordens finais aos homens dele. Carmem no pé da escada ainda avisou,
quando ela estava no final das escadas.

—Ah! senhora! Todas as suas coisas já foram colocadas no quarto


principal da casa, arrumadas no armário, junto com as do senhor Aaron.
Achamos que você gostaria ter todas as suas coisas já ao seu lado.

Aquilo pegou a jovem de surpresa, mas não havia o que fazer, pois era o
esperado.

—Droga! Se eu quisesse tentar fugir ainda esta semana, teria que fazer
escondido ao menos uma mala com peças básicas!— ela disfarçou e
respondeu— Obrigada Carmem!

Quando Sarah entrou no quarto de Aaron, que agora seria dela também,
apesar de muito nervosa com tudo que provavelmente iria acontecer, ainda
reparou que era um quarto grande, confortável e luxuoso. A decoração era
um pouco chamativa, mas era o estilo extravagante cigano. De repente a porta
do quarto abriu de surpresa, era Aaron ainda com os trajes típicos do
casamento. Ela ainda estava vestida de noiva e se assustou.

—Você? Não poderia nem ao menos ter batido na porta antes de entrar?—
Ela falou irritada.

—Desculpe! Foi a força do hábito! Mas, este é o meu quarto e agora é o


nosso quarto! É bom você já ir se acostumando...

Aaron falou isso de forma impaciente e caminhou em direção a ela que


estava de pé no meio do quarto e próxima a enorme cama de casal. Enquanto
ele se aproximava lentamente com cara de lobo faminto, ela mais uma vez
observou, o quanto ele era bonito, viril, elegante e exótico. Talvez fosse isso
que fizesse com que ele fosse tão cobiçado pelas moças solteiras ciganas,
além da riqueza e do fato de ser o barô do clã.

Até que ele chegou bem próximo e sem que ela esperasse, a puxou para si,
passando os braços em volta da sua cintura, a obrigando a encara-lo. Sarah,
percebeu o quanto ele era alto, 1m e 90 em relação aos 1,70 dela, o quanto ela
se tornava frágil e pequena perto dele.

—Por gentileza, poderia não chegar tão próximo?—Sarah, falou irritada,


enquanto o empurrava com as suas duas mãos contra o peito musculoso dele.
—Por que? Você poderia me da uma boa razão?

—A boa razão é que eu não lhe suporto! Satisfeito?

—Pois, tenho uma razão melhor ainda: Você se casou comigo! Agora é
minha! Minha mulher! — Aaron falou de forma possessiva e apertou ainda
mais o corpo contra o dela. Essa atitude dele desencadeou algo inesperado
para os dois: Uma crise emocional em Sarah.

—Me solte! Me largue! Odeio você e estes malditos costumes!— Sarah,


gritava brava, entre lágrimas, enquanto o empurrava, afastando-o do seu
corpo.

A atitude de Sarah, aquela crise de lágrimas, os gritos de ódio, pegou


Aaron de surpresa, pois ele achava que ela já havia se conformado com tudo
e que gostando ou não de ter se casado, também estava conformada que
aquela era a noite de núpcias dos dois. Ele se afastou e ficou mais surpreso
ainda ao ver que entre os gritos de ódio contra ele, ela estava rasgando o
próprio vestido de noiva ou invés de tira-lo de forma delicada e guarda-lo
como uma moça cigana faria. Ele assistia admirado, diante dela, aquela cena
ali no meio do quarto, enquanto ela gritava. Até que ele resolveu intervir.

—Para com isso! Esta louca? Está rasgando todo o seu vestido de noiva!
Isso trás má sorte!— Aaron a agarrou e tentou contê-la, mas isso só a deixou
mais assustada e descontrolada.

— Me largue! Eu tenho nojo, repulsa, ódio de você! Não me toque! E se


me tocar a força, eu juro que eu me mato! Amanha você será um cigano
recém casado, mas viúvo! E a desgraça cairá sob esta casa!

Ele a largou automaticamente. Enquanto ela, ao dizer isso, correu para o


banheiro do quarto, com o vestido em pedaços e trancou a porta. Aaron, ficou
ali a observar sem ação. Até que ele ouviu a porta do banheiro ser fechada
com violência. Ele sentou na cama, ainda vestido com os trajes típicos,
passou as mãos pelos seus cabelos negros num gesto de impaciência.
Pensando o que iria fazer, afinal o casamento precisava ser consumado, o
barô do clã não poderia ser desmoralizado assim por sua jovem esposa
metade gadjé. Mas, que ao se casar com ele se tornou completamente cigana.
—Optchá, minha santa Sara Kali! Por que fui me apaixonar por esta
mulher a primeira vista? E agora o que faço? Não quero magoa-la, mas
também não quero ser desmoralizado diante do meu povo...— Ele falava
confuso para si mesmo.

Aaron olhou para a cama enorme, que fora especialmente preparada para a
noite de núpcias: Macios lençóis de seda, brancos como a neve que deveriam
mais tarde serem manchados como prova da pureza de Sarah. Com uma das
mãos ele acaricio o travesseiro bordado com o S inicial da esposa e ficou a
pensar como queria uma noite de núpcias normal e como queria aquela
mulher para si. Apesar do seu jeito rude, tinha seus momentos de
sensibilidade, mesmo não aparentando.

—Ah Sarah... porque não me aceita... como foi arranjado desde criança.
Agora que finalmente te vi mulher, te desejo e te amo tanto — Ele falava
baixinho enquanto alisava o travesseiro vazio.

Contudo, a personalidade do Aaron de sempre voltou rapidamente:

—Mas vai ter que ser minha!— Ele falou sério ao esmurrar o travesseiro
que antes ele acariciava.

Aaron tirou seu traje típico de noivo, jogou no chão do quarto. Foi até o
armário vestiu apenas a calça do seu pijama de seda preto, deixando seu
peito musculoso e lisinho a mostra, a noite estava quente. Depois olhou em
direção da porta do banheiro, onde Sarah, estava trancada e caminhou até lá.
O Aaron do dia a dia, derrubaria aquela porta a ponta pés. Contudo, ele não
queria agir assim, não naquela noite especial e não era por medo da ameaça
dela. De repente, ele lembrou da ameaça e ficou preocupado, resolveu bater
logo naquela porta.

— Sarah? Sarah? Fale algo... não aja como uma garota mimada! Agora
você é uma mulher casada!

—Vá embora! Me deixe em paz! Não quero saber de noite de núpcias


nenhuma!

— Abra esta porta! Por favor...


—Vá embora! Não fui clara? Não deixarei você consumar casamento
nenhum!

Aaron, passou mais uma vez a mão pela cabeça num gesto de
preocupação e confusão.

—Ouça Sarah... apesar de não ser comum entre o nosso povo, eu posso
esperar... Não precisa ser hoje a noite. Mas, por favor abra esta porta e venha
dormir ao meu lado na cama! Dou minha palavra que não tocarei em você.—
Ele falou de forma delicada e ouviu o silêncio do outro lado da porta como se
ela estivesse tentada a aceitar a proposta.

Aquilo pegou Sarah de surpresa, de repente aquele gigante, de atitudes


nada delicada, que sempre se desentenderam desde que ela chegou a vila
cigana, deu provas de sensibilidade.

—Posso... posso mesmo confiar em você? — lá de dentro do banheiro,


Sarah, ainda indecisa perguntou confusa.

— Claro! Dou minha palavra como homem e barô do nosso clã.

—Então... vou tirar o vestido de noiva, tomar um banho rápido e saio daqui
a pouco.

Ao ouvir isso Aaron ainda pensou:

— O que restou do vestido né? Você quer dizer.


Sarah tirou o que restou do pesado vestido de noiva e jogou numa bancada
de mármore no banheiro.

— Depois penso onde guardarei você, para evitar fofoca dos empregados
— Ela pensou ao olhar o seu luxuoso vestido de noiva todo rasgado.

Após isso ela lembrou que as camisolas estavam no armário do quarto. Ela
teria que sair de toalha ou roupão para vesti-la. Quando ela enrolada numa
toalha felpuda branca saiu do banheiro para o quarto, viu Aaron acordado
deitado de lado na cama.

— Estou aqui e espero que cumpra a sua palavra! Agora vira para lá
queria vestir rapidinho a minha camisola.

— Palavra dada, palavra cumprida! Pode dormir ao meu lado sem medo!

Sarah, abriu o armário e viu que o seu enxoval dado pelo seu marido era
luxuoso e contava com várias camisolas sexys de seda, a maioria branca e
vermelhas. Ela institivamente escolheu uma linda camisola de seda, não tinha
muita escolha, todas eram lindas e sexy, mas sem beirar o vulgar.

Ao chegar perto da cama enorme, observou discretamente o peito


musculoso e liso, observou também que ele ainda usando o tapa olho.
Provavelmente não iria tira-lo na presença dela, pelo menos ainda não
naquela noite.

— Pronto! Pode apagar a luz! Estou muito cansada... — Ela falou.

—Ainda não, querida...

Então, da gaveta do criado mudo, Aaron puxou uma adaga cigana. Aquilo
deixou Sarah apavorada e ela fez gesto para gritar por ajuda, mas ele tapou
rapidamente a sua boca.

—Calma! Não grite! Não vou lhe fazer mal! Confie em mim...

Então, ele destapou a boca dela.

— Para que isto? Isso é uma faca cigana! O que vai fazer?

—Nada contra você! Espere e verá...

Aaron, pegou a adaga, fez um pequeno corte em seu dedo indicador, sob
os olhos curiosos de Sarah. Após fazer isso, ele pegou o seu dedo indicador,
espremeu até sair umas duas gotinhas de sangue, assim ele as esfregou no
lençol da cama, até mancha-los. E de forma mal humorada, chateado, pois
por ele desejava uma noite de núpcias de verdade, ele falou:

—Pronto! O Casamento está consumado e sua pureza foi provada!

—Por que fez isso? — Sarah, perguntou surpresa e um pouco comovida


com o gesto dele.

—O que você queria que eu fizesse? Apesar de não parecer, também


possuo sentimentos! Não queria ver você magoada em consumar um
casamento pressionada, mas também não posso ser desmoralizado diante do
meu povo.

Ao ouvir aquilo, pela primeira vez, Sarah se sentiu mexida em relação a


ele, pois não esperava aquela atitude compreensiva da parte dele.

—Entendi... agora apaga a luz, quero dormir...

—Claro, senhora Sarah Perez!

—Aaron...

—O que deseja agora?

—Obrigada...

Sarah virou para o lado e fingiu dormir logo, mas ainda demorou um
pouco a pegar no sono, pensativa com tantos acontecimentos nos últimos
dias. Culminando neste ultimo pelo o qual ela não esperava.

Quando Sarah, acordou, percebeu que Aaron não estava mais no quarto e
que um dos lençóis havia sido levado. De certo, ele já havia exibido o lençol
manchado de sangue aos mais velhos do clã, cumprindo assim a tradição.

Então, uma das empregas mais jovem ,entrou no quarto trazendo um


grande bandeja de café da manha.

—Ah, obrigada, querida mais estou sem fome! Não quero...

— Tem certeza que não tem fome senhora? — A jovem perguntou ,após
da uma leve olhada ao redor do quarto e achar que ali houve uma noite de
amor, uma noite núpcias e que ela deveria está com fome.

Sarah, passou o dia no quarto e deu graças a Deus por Aaron não ter
entrado nenhuma vez, no que era agora o quarto dos dois. Era como se ele
tivesse saído para trabalha, talvez tivesse ido passar o dia nas minas.

Enfim anoiteceu e Aaron chegou.

—Senhor Aaron, que bom que chegou.

—O que houve Carmem? Aconteceu algo?

—Algo mesmo ainda não, mas a Sarah passou o dia no quarto e se recusa a
comer! Se ela ficar assim vai acabar ficando doente!

—Ah! Não ligue ! Isso é coisa de menina mimada! Quando der fome de
verdade ela come!

Quando Aaron entrou no quarto, encontrou Sarah, com olhos


melancólicos olhando pela grande janela com visão para o jardim da mansão.

—A Carmem me falou que você não comeu o dia todo...

—Não tenho fome! E você não vai me obrigar a comer! A única coisa que
tenho vontade é ir embora daqui!

—Você precisa comer, se não vai ficar doente! E esqueça esta história
de ir embora! O seu lugar é aqui ao lado do seu povo! Afinal, não há ninguém
no Brasil lhe esperando.

Ouvir aquilo doeu em Sarah, mas ela resolveu não se da por vencida e
provocar:

—Quem disse isso a você? Eu estudava em colégio normal! Não fui


educada com uma professora particular em casa como algumas moças
ciganas! Como você sabe se eu não tenho algum namoradinho me esperando
ou algo do tipo? Já passou pela sua cabeça que posso já ter tido namorados?

Ao ouvir aquilo o brilho da raiva e ciúmes, acederam os olhos castanhos


escuros de Aaron que se aproximou dela, segurou seu pulso e falou:

—Nunca mais repita isso! E acho bom não ser verdade! Pois, eu matéria
quem ousou roubar a pureza da mulher que foi prometida a mim, desde
criança! A minha cigana dos olhos de esmeraldas.

—Largue o meu braço! Está machucando!

Assim, ele largou totalmente, quando percebeu que havia exagerado na


pegada, não era intenção dele machuca-la.

—Desculpe! Não foi a minha intenção! Mas o aviso está dado!


Capítulo 9

Comprovada a virgindade da noite, na manhã seguinte a noite de núpcias, ela se veste


com uma roupa tradicional colorida e um lenço na cabeça. Simbolizando que agora é uma
mulher casada.
Fonte: Blog Sabedoria Mística.

Já se passaram três dias que Sarah e Aaron estavam casados, ela era
praticamente obrigada a fingir que eram um casal normal e que o
casamento havia sido consumado. Contudo, para ela não era nada
agradável, ter que dividir o mesmo quarto que ele, a mesma cama todas
as noites. Apesar dele, mesmo com seu jeito grosseiro e possessivo, tentar
não invadir a sua intimidade, ela se sentia invadida.

—Detesto tudo nesta história! Ter me casado com o Aaron, ter que
seguir esses malditos costumes ciganos! Mas, se eu pedir ajuda a embaixada
brasileira, eu voltaria para quem no Brasil? É como o Aaron jogou na minha
cara: Não tenho para quem voltar...— Ela pensou chateada, enquanto com
olhar melancólico olhava pela janela do quarto.

Sarah vivia no quarto e isso já estava criando uma situação difícil para os
empregados, pois ela não queria assumir o comando da mansão, como a
senhora da casa e irritando Aaron, que esperava dela obrigações de esposa e
mulher cigana. Por Sarah ela sairia para da um passeio pelas ruas do bairro,
mas como era proibida de sair, a não ser com a Carmem, preferia ficar no
quarto de proposito. Então, foi quando ela teve uma ideia, da qual ela talvez
fosse se arrepender muito no futuro.

—Como não pensei nisso antes? Vou escrever uma carta para o Gustavo!
Os pais dele são ricos e influentes, ele era apaixonado por mim até bem
pouco tempo, antes do final do colegial. Quem sabe ele não possa me ajudar
com minha volta para o Brasil, um emprego e ainda me deseje como
namorada? Acho que tenho o endereço dele na minha agenda!—Ela pensou
eufórica, achando que tinha descoberto a solução dos seus problemas.

Então, ela vasculhou o criado mudo e por sorte achou papel e caneta,
sem precisar ir até o cômodo da casa onde ficava o escritório do Aaron.
Assim ela inicio o seu plano...

Querida Gustavo,

Sou eu a Sarah, lembra de mim? Aquela que você chamava de Sarinha e


que vivia a pedir em namoro. Sabe Guga hoje me arrependo muito de não
ter indo contra várias barreiras e não ter aceito seu pedido de namoro. Ah
se o tempo pudesse voltar... Você também pensa assim?
Atualmente, devido a minha origem cigana e ter ficado completamente
órfã no Brasil, estou morando a pouco tempo na Espanha, próximo a Madri,
casada com um primo cigano que abomino! Graças a Deus o casamento
ainda não foi consumado, pois ele me da nojo! Apesar de ser bonito, rico e
cobiçado pelas moças solteiras daqui onde moro. Eu fui pressionada a me
casar, devido a circunstancias, mas quero fugir disso tudo. Porém, não com
uma simples denuncia a embaixada brasileira e sim que além disso, você
esteja me esperando no Brasil, como sua namorada. O que acha? Ainda
sente algo por mim?

Sarah Perez
— Meu Deus! Como colocarei esta carta no Correio se mal posso sair de
casa e a Carmem não seria cumplice de algo assim! Ela não trairia a
confiança de Aaron, além dela achar que isso seria o meu mal.

De repente ouviu passos, podia ser Aaron, afinal estava próximo a hora do
almoço, talvez ele tivesse vindo almoçar em casa. Ela correu abriu sua parte
no grande armário e escondeu a carta na primeira coisa que viu pela frente:
O porta joias, pois não deu tempo, achar sua tiracolo no armário.

Aaron entrou no quarto:

—Você? Aqui esta hora?

—Sim, eu! Esperava outro homem entrar aqui neste quarto?


—Lógico que não!

—Vim almoçar em casa! A proposito, já faz dias que você faz birra para
comer. Então, se vista-se de acordo, pois você descerá para o almoço e
ocupará seu lugar ao meu lado, como senhora desta casa! Além do mais não
quero que fique doente sem comer...
—Obrigada, mais não quero! E não precisa se preocupar comigo! Se
queriam fazer algo de bom por mim, deveriam não terem me pressionado a
me casar e sim me dado apoio para trabalhar fora e fazer faculdade!

—Em primeiro lugar, como seu marido, não estou pedindo, estou
ordenando! Em segundo lugar mulheres ciganas não precisam exagerar nos
estudos, ainda mais você, esposa do barô do clã! Sarah, posso lhe da as
melhores joias, as melhores sedas, vestidos, adornos! O que deseja mais?

—Desejo a minha independência! A minha liberdade! E não ficar aqui


casada contra a vontade com um...— De repente, ela que falava com a voz
alterada parou.

Ela parecia que esteva prestes a tocar em seu ponto franco e isso o
deixou enfurecido, mas na verdade era a sua armadura de proteção, quando
ele se sentia magoado. Ele se aproximou dela e a enlaçou pela cintura, bem
no meio do quarto.

—Com um o que Sarah? Repete! Admita que este tapa olho lhe incomoda!
É isso que faz com que você sinta tanta rejeição por mim? Ele falava bravo,
enquanto a segurava pela cintura.

—Não... não é Aaron! Na verdade eu nem sei o que eu iria dizer... — Ela
falou assustada com a proximidade dele e também com remorso por não
controlar as palavras que saiu de forma inesperada.

—Sabe de uma coisa? Não precisa descer mais para o almoço! Prefiro
almoçar sozinho, apenas com a presença dos empregados do que com
alguém que parece sentir repulsa por mim da forma mais mesquinha e
insensível!

Ele a largou e saiu batendo a porta. Ela ficou confusa no meio do quarto
e sentou na cama. Ser dispensada de ter que descer para almoçar com ele,
aquele seria a primeira vez que almoçariam como casados, lhe agradava.
Porém, não queria que tivesse sido dessa forma, aquilo a deixou com a
consciência pesada. Além do mais, se ela pensava em desfazer aquele
casamento de alguma forma, fugir dali se o Gustavo a quisesse de volta ao
Brasil, não queria que o Aaron achasse que o motivo foi porque ela não
conseguiu gostar dele, pela sua limitação visual, pois, não se tratava disso.
Aliás, ela nunca havia visto alguém, ser bonito, sexy, mesmo com a falta de
um dos olhos, o que era disfarçada com um adesivo tapa olho especial,
trocado todos os dias e que ele fazia questão de não ser visto, nem um minuto
sem o mesmo.

—Aqui é Sarah, por favor, traga meu almoço no quarto, pois hoje estou
com fome.— Ela ligou para a copa e em instantes uma jovem cigana chegou
com uma bandeja e colocou na mesinha do quarto.

Apesar do incidente com Aaron, que a deixou um pouco arrependida e


com remorso, ela se alimentou bem. Depois deu graças a Deus pelo marido
não ter voltado ao quarto logo após o almoço.

—O Aaron não voltou ao quarto... deve ter ficado tão magoado que
preferiu volta direto para o trabalho no escritório do garimpo sem olhar nem
para a minha cara...— Ela pensou com um olhar pensativo, enquanto
observava pela janela do seu quarto, de onde dava para ver os portões de
saída dos carros e o das pessoas.

Então, Sarah, deitou um pouco na cama, para refletir sobre todas as


mudanças em sua vida e como deveria agir, daqui para frente, como forma
de tentar escapar disso tudo e voltar ao Brasil de forma segura e com o apoio
garantido quando chegasse lá. Até que ela viu que já era meio da tarde, queria
tomar um banho vestir algo, não podia sair de casa, mas era vaidosa, gostava
de vestir bem, se maquiar, estar sempre apresentável.

Sarah, prendeu seus longos cabelos finas e negros, com uma fivela,
enquanto tomava um gostoso banho de banheira. Após isso, vestiu um
vestido leve e cor de rosa, na altura do joelho, calçou sandálias de salto baixo,
escovou os longos cabelos e ficou a contemplar o fim da tarde pela janela do
seu quarto. Foi então que ela percebeu que o portão principal,
milagrosamente estava sem seguranças, como eram cinco horas da tarde,
devia ter acontecido algum imprevisto na troca de turno. Então, ela pensou
que não era um chance para fugir de vez, mas uma boa chance para da um
passeio da região, poderia até ir conhecer a ruinas próximas ali. Já que tinha
curiosidade em conhece-las, mas não achava agradável ter que ir sendo
levada por Aaron, já a Carmem era sempre muito ocupada com os afazeres
domésticos como uma espécie de governanta.

—Humm... por que não? Sarah pensou com um olhar travesso, ao perceber
o descuido da segurança.

Então, ela pegou uma bolsinha com documentos, se apressou em sair logo
do quarto, pois não queria perder aquela oportunidade de sair um pouco,
respirar o ar fora daquela casa e sozinha.

—Ah meu Deus! Só espero não achar ninguém na sala de estar e que me
veja saindo! Posso dizer que irei até o jardim, mas se me oferecerem
companhia?

Quando Sarah passou pela sala não havia ninguém, nenhum empregado
comum e nem a Carmem. Ela seguiu praticamente voando até a porta de
saída, o mesmo fez ao cruzar o portão principal, ainda sem seguranças, que
dava acesso a rua.

—Finalmente!!! Agora é só achar alguém que me ensino onde ficar as


ruinas próximas daqui! Quero respirar um pouco sozinha, ver o lindo por do
sol que dizer se visto do local e pensar na vida.

Não foi difícil achar o caminho das ruinas, bastou perguntar a um senhor
que ela viu na rua. Inclusive pela forma que ele a olhou deve e ter
reconhecido como a esposa do barô. Além do mais, deve ter estranhado o fato
dela não está vestida de saia longa, lenço na cabeça, afinal tinha que
simbolizar que agora era uma mulher casada. Em 15 minutos caminhando
ela chegou ao local, sem nenhum esforço. Foi bem fácil de achar e chegar.

As ruínas tinha um ar exótico, um clima de mistério, segundo Carmem


ninguém sabia exatamente as origens delas. Muros de pedras escuras em
forma de arcos, cercava algo parecido como o que um dia parecia ter sido
uma fortaleza. O chão do lugar era coberto por uma relva verde, delicada e
algumas flores silvestres brancas. Existia também algumas rochas irregulares
e como o lugar ficava próximo num alto, próximo a um pequeno penhasco,
realmente era o lugar ideal para contemplar um lindo por do sol ou até a lua.
Apesar do local ser deserto para ir até ali a noite.

Contudo, mal Sarah começou a explorar o lugar, encantada com o


misticismo e a bela vista, ouviu um barulho. Havia alguém no lugar...

—Tem alguém ai? Quem está ai?— o silêncio... ela já estava ficando
assustada, mas fingindo coragem.
Até que ela resolveu usar sua posição no clã, ao menos numa hora assim,
servia para alguma coisa, foi o que ela pensou.

—Eu sou a esposa de Aaron, o barô do clã! Peço que se apresente!

Então, vagarosamente, por trás de uma das largas colunas de pedras, surgiu
Ramirez, o braço direito do seu marido nos negócios de ouro e pedras
preciosas.

—Eu sei que é a esposa do barô, senhora...

—Você? Ramirez? O que faz aqui?

Ela perguntou assustada e surpresa, achou estranho também o fato dele


está com as mãos sujas de terra e tentou disfarçar limpando rapidamente na
calça.

—Eu? Vim desparecer, observar o por do sol. Não precisa me olhar com
essa cara assustada, pode confiar em mim. Aposto que o senhor Aaron não
sabe que a senhora veio até aqui sozinha...

— Isso não é da sua conta!


—Senhora... pode confiar em mim! Sei que não está feliz aqui! Apesar de
ser leal ao meu patrão, na hora que a senhora precisar de uma ajudinha para
voltar ao Brasil, pode contar comigo em segredo... — Ele a olhou com olhos
de cobiça, mas a Sarah não percebeu.
Ela olhou para ele confusa, não sabia se podia confiar nele, mas gostou de
ouvir alguém lhe oferecendo ajuda, o que era claramente uma indireta para
caso ela quisesse fugir.

—Eu não sei do que o senhor está falando! Mas fico grata por oferecer
ajuda...

De repente a conversa foi interrompida por gritos, uma voz masculina que
soava brava.

—Sarah! Sarah!

Quando Sarah, olhou na direção da voz, viu Aaron, montando em um belo


cavalo, corcel negro, ela nunca tinha visto cavalgando, mas sempre andando
de caminhonete.

—Senhora, é o patrão... e ele está furioso...

Aaron se aproximou dos dois, desceu do cavalo e foi em direção a


Sarah.

—O que faz aqui? Quem mandou sair desacompanhada? Não faz parte dos
costumes e você ainda poderia se perder neste local deserto! Nunca mais faça
isso!

—Eu não sou nenhuma criança! Detesto esses costumes ultrapassados! E


tire este dedo da minha cara! Aproveite e fale baixo, pois não sou surda!

Aaron que já estava bravo, ficou furioso com esta ousadia dela, pois não
era comum entre o povo cigano, a mulher desafiar o marido. Ainda mais
assim na presença de outro homem, do seu empregado.

—E você Ramirez? O que faz aqui? Cumplice dela? Traindo a minha


confiança?

—Não patrão! Vi a senhora na rua sozinha e resolvi segui-la para vigia-la


para o senhor! Até que ela veio parar aqui e me apresentei. — O homem
falou de forma cínica.
Sarah, ouviu aquilo cismada, ela sabia que não tinha sido assim. Porém,
achou melhor não desmenti-lo já que ele indiretamente lhe ofereceu ajuda
em caso de uma possível fuga.

—Então, tudo bem! Obrigada! Agora que já a encontrei, poderia nos


deixar a sós aqui?

—Prefiro ir embora.—Sarah interrompeu.

—Não! Segundo a Carmem, você tinha curiosidade em conhecer as


ruinas e ver o pôr do sol! Então, agora que está aqui irá assistir comigo.

—Patrão, vou indo, vou deixa-lo a sós.

Quando Sarah e Aaron ficaram sozinhos, ela cruzou os braços e o encarou


com cara de poucos amigos.

—Ah Sarah... não me olhe assim! A minha companhia é tão desagradável


assim pra você? Se queria conhecer esse lugar, seria mais simples pedir e eu
lhe traria aqui! Agora vem...

Aaron, delicadamente puxou o braço de Sarah e a guiou para o local mais


próximo do penhasco, onde a visão do por do sol era mais linda. Ali tinha um
grande rocha, onde ele sentou e a convidou sentar ao lado. A beleza do
lugar, a visão do sol se pondo, dando ao céu uma aparência alaranjada,
amansou temporariamente o gênio de Sarah e a fúria de Aaron. Quando ela
percebeu, estavam juntos sentados lado a lado, naquele rochedo, a contemplar
o fim da tarde.

—É lindo...

—Sim... aqui é um do meus lugares favoritos, sempre que posso,


costumo andar a cavalo por aqui e as vezes venho ver o sol se pôr.

Ao dizer isso, o cavalo relinchou, a alguns metros e Sarah olhou para


trás, em seguida, falou:

—lindo cavalo! Este é o Ventania?


—Ventania? Como sabe dele?— ele fez uma pausa— Ah... a Carmem...
tudo bem.

—Sim...

—Não, este não é o Ventania! Ele foi sacrificado por meu pai quase dez
anos atrás... O motivo você já deve imaginar o porquê...— Ao dizer isso ele a
encarou com uma expressão amarga e o olhar triste no único olho que lhe
restou.

—Sim... imagino...— Ela o encarou e por um impulso passou a mão em


seu rosto. Ele ficou meio cabisbaixo e tirou sua mão.

—Não quero sua pena! E nem a da ninguém!

—Não é pena... é que pela primeira vez senti sensibilidade em você...

Ao dizer isso, ele levantou o rosto, que já estava relativamente próximo


ao dela. A sua expressão facial mudou, não transmitia mais amargura, seu
olho agora brilhava diferente e sua respiração estava levemente ofegante. Até
que Sarah, sentiu ele se aproximar ainda mais e lentamente os lábios quentes
dele tocarem os lábios macios dela. Um beijo delicado, mais cheio de desejo
da parte dele. Ela correspondeu automaticamente, depois o afastou no meio
do beijo e ficou sem graça por o ter correspondido sem nenhuma resistência
inicial.

—O que houve? Sou seu marido... quando vai parar com isso?— Ele
perguntou gentilmente.
—Aaron... por favor... quero voltar para casa!—Ela respondeu confusa e
encabulado pelo beijo.

Ele a olhou impaciente, levantou da pedra que estavam sentados, estendeu


a mão para ajuda-la também a levantar.

— Tudo bem! Então, vamos para casa! Daqui a pouco vai escurecer. Vem
levo você a cavalo, não vim de carro como você pode ver.

—Não... prefiro ir caminhando... Além do mais tenho medo, não sei


montar.

—Não precisa ter medo! Ele é manso e você está comigo! Confie em mim!

— Está bem... — Sarah respondeu apreensiva.

Então, Aaron a ajudou a montar primeiro e em seguida montou. Assim,


ela foi na frente e ele atrás do controle das rédeas do corcel negro. Aquela
proximidade com ele a estava deixando sem graça e de certa forma a
incomodando. Era estranho sentir os seus braços fortes ao redor dela,
enquanto ele segurava as rédeas do cavalo e sentir a sua respiração forte
masculina relativamente próxima ao seu pescoço.

Então, mais tarde, foi uma noite muito difícil para ambos pegarem no
sono. Sarah deitada ao lado de Aaron, na grande cama de casa, estava se
sentindo incomodada, pois o sono não vinha, ela sentia um calor, uma
inquietação, que a fazia virar de um lado pra outro. Achava que talvez fosse
o calor daquela noite de verão, além do fato do seu marido também está
inquieto, virando na cama sem parar. Ela percebeu que ele demorou a pegar
no sono e mesmo dormindo, continuo a rolar de um lado para outro. Então,
discretamente ela observou, com a ajuda da luz do luar que banhava o quarto,
que o membro dele estava rijo a ponto de levantar a o tecido da calça do
pijama de seda vermelha. Sim, era desejo por ela, isso fez com ela se sentisse
um pouco confusa, mas ainda bem que ele não a importunou. Afinal, na noite
de núpcias, ele havia prometido esperar...
Capítulo 10

Na culinária cigana são indispensáveis: O cravo, a canela, o manjericão, o louro, o


gengibre, os frutos do mar, as frutas cítricas, as frutas secas, o vinho, o mel, peras e maças,
uma cozinha deveras afrodisíaca.
Fonte: Blog Sabedoria Mística

Então, com o passar dos dias após o casamento Aaron e Sarah, tentava
pelo menos não entrar em atrito na presença de pessoas que não morasse na
mansão. Além disso, os empregados não sabia que apesar deles dividirem a
mesma cama, não eram um casal no sentido exato da palavra. Sarah
continuava virgem como veio ao mundo e odiando ser casada, ter que
suportar Aaron. Ela so conseguia pensar na melhor maneira de fugir dali de
forma que um apoio, um emprego garantido a esperasse no Brasil. Contudo,
ela ainda não havia tido a oportunidade de colocar a carta para seu ex colega
de colegial nos Correios e nem sabia quando conseguiria fazer isso.

No dia seguinte aquela noite de muito calor e desejo reprimido no ar.


Aaron entrou no quarto, era final da manhã. Ela já havia se acostumado a ele
entrar sem bater. Afinal, eram o “quarto dele” e eles estavam casados. Ele
vinha do escritório, estava como sempre bem vestido, apesar da aparência
exótica e o gosto um pouco extravagante, a começar pelas correntes de ouro
puro no pescoço e pulseira grossa no pulso. Usava uma camisa azul escura, a
sua cor favorita, meio aberta no peito e calças pretas.

—Sarah! Quero que pegue este dinheiro!

—Dinheiro? Por quê?

—Quero que hoje a tarde você vá junto com a Carmem no centro


comercial do bairro, comprar roupas apropriadas para uma mulher cigana
casada!
—Por que isso agora? Gosto das minhas roupas! Além do mais, mal
posso sair de casa, ninguém me ver mesmo!

—Eu te vejo! E sou seu marido, você deve se arrumar para mim! Além do
mais já ouvi boatos de que comentam que a esposa do barô não se veste como
uma mulher cigana.

Além da forma autoritária dele irritar Sarah, ela não queria ter que se vestir
exatamente como uma cigana, até no dia a dia. Então, ela resolveu provoca-
lo, irrita-lo de proposito.

—Mas eu não sou uma “mulher cigana”, sou uma moça cigana!— Ela
sentada na cama, o encarou ao provoca-lo com esse comentário em tom de
deboche. Ele ali de pé diante dela não gostou do que ouviu.

Aquilo deixou Aaron furioso, sentindo-se desafiado e desmoralizado em


não ter cumprido o seu papel de homem cigano na noite de núpcias. Ele
rapidamente veio até ela, a fez deitar na cama de forma brusca, deitando seu
corpo sobre o dela e segurando seus pulso acima da cabeça.

—Escute aqui mocinha! Eu estou sendo paciente com você, com seus
caprichos de menina mimada e que cresceu fora dos nossos costumes! Estou
tentando me conter e agir bem diferente do que qualquer marido cigano faria!
Pois você é minha mulher!

—Largue-me! Solte meus braços e saia de cima de mim! Suas atitudes e


esse seu jeito me dão nojo! Não suporto que você me toque!

—Calada! Ainda não terminei!— Ele falava com o rosto próximo ao dela
— Então, se o fato de você ainda ser uma senhorita e não uma mulher, lhe
incomoda, podemos resolver isso agora!

Aquilo deixou Sarah assustada e arrependida de tê-lo provocado com o tal


comentário. Ela começou a espernear, sob o peso do corpo dele.

—Largue-me! Eu vou gritar!

—Gritar? Você acha que os empregados entrariam no quarto para


atrapalhar? Não me faça rir! Então, a minha palavra de que poderia esperar
continua de pé, desde que você não me provoque com coisas do tipo.

O rosto dos dois estavam tão próximos que Sarah, sentia a respiração
forte dele e notou que pela primeira vez ele não se sentiu inibido em olhar
fixo no rosto dela, algo que ele evitava, talvez por não se sentir confortável
devido a falta de um dos olhos. Aquela tom de ameaça deu um certo medo
nela, mas ao mesmo tempo aquela proximidade toda a fez relembrar o beijo
nas ruinas trocado a pouco dias atrás. Essa recordação, de alguma forma,
mexeu com ela.

Aaron, lentamente saiu de cima dela, mas ainda ficou diante dela, a
observa-la por alguns instantes, enquanto ela ainda deitada esfregava os
pulso e também o encarava.

—Tudo bem! Já entendi o seu recado e confesso que o meu comentário


não tinha a intenção de lhe provocar ou lhe diminuir como homem. Agora
por favor saia de cima de mim! — Ela falou séria o olhando no olho e ele
lentamente obedeceu.

—Então, faça o que eu disse: Hoje a tarde você vai com a Carmem fazer
comprar de roupa mais adequadas! Nem eu quero você andando sozinha por
ai e ela sabe o que é adequado a uma cigana casada, de acordo com nossos
costumes.

—Tudo bem! As três horas da tarde, sairei com a Carmem para as


compras!— ela ainda pensou—Pelo menos posso respirar ares fora dessa
mansão/prisão.

—Agora vou almoçar rápido e voltar ao escritório, pois estou muito


ocupado. Hoje é dia de levar uma carga valiosa de ouro para Madrid e nesses
casos gosto de acompanhar até o destino final.

Sarah, nem respondeu, não tinha interesse pelos negócios dele. Apesar
de saber que todo luxo e conforto da casa provinha deles. Inclusive o dinheiro
que lhe foi dado para comprar roupas novas e adequadas a sua cultura e
posição no clã.
A tarde passou rápido, a companhia de Carmem era agradável, apesar de
ela agir como uma espécie de baba e guardiã. Mas qual mulher não gosta de
compra? Apesar de ter que seguir a orientação de Carmem sobre o que
comprar, pois aquela não era uma compra comum, mas sim as novas roupas
e acessórios da esposa do barô. Era por volta das seis horas da tarde quando
elas retornaram cheias de sacolas.

—Rapazes coloque as compras da senhora do quarto, por favor! —


Carmem ordenou ao motorista e ajudante que acompanhou elas nas compras.
Sarah ainda não se sentia confortável em dar ordens, na verdade se sentia
uma estranha no ninho, esperando a hora de puder voar dali.
—Obrigada pela companhia, Carmem, apesar de quase uma prisioneira
nesta casa, foi uma tarde muito agradável.

—Não fale assim, senhora... o seu tio e o seu marido so querem o seu
bem. A senhora ficou órfã, voltou para o seu povo, está é a vida de uma
mulher cigana e a maioria são muito felizes assim sabia?

—Mas eu não sou Carmem! Nunca levei a série esta história de prometida
e casamento arranjado. Jamais pensei em um dia me encontrar nesta situação.
Agora vou subir para tomar um banho para o jantar.

—A senhora vai descer para o jantar? Jantará com o senhor Aaron como
senhora desta casa? Não sabe como me deixa feliz! Optchá! Minha Santa
Sara Kali!

—Bem, Carmem... eu descerei para jantar e apenas isso. Agora licença,


vou para o meu quarto, preciso de um banho, depois dessa tarde agradável,
mas cansativa.

Sarah subiu as escadas que levava ao andar superior da casa, entrou no


seu quarto e pensou:
—Como é bom quando não tenho que dividir o mesmo espaço como
Aaron, ainda bem que ele passa o dia inteiro ocupado com os negócios.— Ela
pensou aliviada.

Ela jogou a sua bolsa tiracolo na cadeira, olhou para as sacolas de


compras em cima da outra poltrona e pensou em guarda-las assim que saísse
do banho. Porém, ela não teve tempo de fazer nada disso. Um barulho de
pessoas gritando, invadiu o quarto, ela percebeu que vinha da sala, mal teve
tempo de raciocinar e a porta do seu quarto se abriu de forma brusca.
Carmem vinha na frente dando ordens e muito nervosa, preocupada, os
seguranças de Aaron o trazia nos braços, com a camisa manchada de sangue
e ele quase desmaiado.

—Meu Deus! O que foi isso?— Sarah gritou e pôs as duas mãos na cabeça,
nem ela mesmo esperava agir daquela forma diante de tal situação em relação
ao marido.

—Coloquem ele na cama!—Carmem ordenava eufórico e assim os homens


fizeram.

—Calma, senhora... foi uma tentativa de assalto ao carregamento de ouro.


Ele foi baleado, desmaiou e está fraco, já mandei chamar um médico!

—Médico? Mas porque não foram direto para o hospital?— Ela


perguntou assustada e admirada.

—Por enquanto não. Eu tenho certeza que o senhor Aaron vai preferir
assim, quando recobrar a consciência.

Aaron foi colocado na cama e Sarah que nunca havia passado por algo
semelhante, assustada observava a cena bem próxima a cama, sem saber
como ajudar. Ao vê-lo Ali deitado de olhos fechados, a camisa semiaberta,
manchada de sangue pela bala de raspão, o homem forte, gigante, de repente
se tornou um homem frágil. Olhar para ele daquela forma, de certa forma,
mexeu com os sentimentos de Sarah, pois era bem diferente do Aaron que ela
estava acostumada.

Carmem saiu do quarto e voltou rapidamente trazendo o médico que havia


acabado de chegar. Sarah, sem saber como agir, estava sentada ao lado da
cama sozinha com o marido desacordado, quando o médico chegou. Ela não
sabia ao certo se estava ali por obrigação em fingir seu papel de esposa ou se
seu coração estava começando a se render aos encantos exóticos de Aaron e a
deixando confusa.
—Senhora! Este é o doutor Contreiras, médico de confiança da
comunidade cigana aqui. Doutor, está é a senhora Perez, esposa do senhor
Aaron.

Sarah, levantou rápido da cama, estendeu a mão para ele apertar. Ela não
sabia como agir, pois na verdade não se sentia esposa de Aaron, ainda soava
estranho aos seus ouvidos ser chamada assim.

—Muito prazer senhora! O peço que saia do quarto, quero ficar a sós com
seu marido, vou precisar examina-lo, fazer curativos, talvez não seja
agradável para a senhora ver mais sangue.

—Heim? Claro, doutor... ficarei lá embaixo aguardando! — Ela se retirou


confusa do quarto, ainda deu uma ultima olhada para trás e olhou com
piedade para Aaron ali na cama que estava começando a se agitar, mesmo de
olhos semiabertos.
—Não, se preocupe senhora! Eu ajudo ao doutor! A senhora não é
acostumada com esse tipo de coisa. Espere lá fora e irei chama-la assim que
tiver tudo terminado.—Carmem falou com uma expressão preocupada com o
patrão, mas também com uma atitude maternal com ela.

—Tudo bem, Carmen! Espero lá fora...

Sarah, deixou o quarto e seguiu em direção a sala, iria pedir um chá para se
acalmar, mas no meio do corredor foi surpreendida por Ramirez , o braço
direito do marido e que estava com ele na tentativa de assalto.

—Ai! O que faz aqui no meio do corredor?

—Calma, senhora! Estou aqui aguardando noticias do seu marido, meu


patrão...— ele falou de forma calma a olhando nos olhos.

—Entendo...—Sarah, cruzou os braços e concordou com ele, algo dizia


dentro dela que ele tinha algo que não a agradava.

—Escute, senhora, a minha ajuda ainda está de pe! Se eu fosse a senhora,


aproveitaria esse incidente, pois seu marido deve ficar de molho uns dias e
relaxar a vigilância...
Ouvir aquilo acendeu novamente ideias de fuga na cabeça da jovem, mas
de uma forma que ela não tinha mais tanta certeza, sem falar que ainda não
tinha dado sequer tempo de pôr a carta do Gustavo nos Correios.

—Ah... eu não sei Ramirez, irei pensar! Escuta, porque quer me ajudar já
que se diz tão fiel ao seu patrão?

—Ah senhora... e eu sou fiel sim! Só não acho justo uma tão pela gadjé,
com todo respeito, casada aqui sem vontade de ter uma vida cigana.

—Eu não sou totalmente gadjé! Meu pai era cigano! Mas, tudo bem, irei
pensar no que disse...

—Estarei a disposição, mas aconselho que a senhora se apresse, porque a


medida que o patrão for melhorando, as suas chances de fuga irão
diminuindo...— O homem falou com um olhar de cobiça que qualquer outra
pessoa mais experiente, teria percebido.

— Eu... eu vou pensar! Aguarde meu sinal...— Sarah respondeu confusa.

Quando Sarah, voltou ao quarto já era umas oito horas da noite. O médico
avisou que havia sido feito curativos, seu marido havia sido medicado, iria se
recuperar bem, mas agora o que precisava era de cuidados e carinho da
esposa. Sarah ficou sem graça ao ouvir estas duas ultimas palavras de
recomendação. Após o médico sair, Carmem ao lado da cama falou.

—Senhora, eu posso passar a noite aqui ao lado dele e a senhora dormir no


quarto de hospedes, sei que não está acostumada com essas coisas e que você
e o senhor Aaron não se entendem muito bem.

Sarah ficou confusa diante da proposta de Carmem, com os braços


cruzados, de pé ao lado da cama, observou seu marido deitado, sem camisa,
parte do tórax e peito musculoso coberto por um curativo. Ele já começava a
acordar, apesar de fraco e parecia já ouvir as conversas ao redor. Foi com
surpresa que ele ouviu:

—Não... quero a minha esposa cuidando de mim...


—Mas senhor Aaron...

—Sarah... Sarah... fique aqui comigo! Não se vá...


Sarah ficou sem graça ao ouvir aquilo, sentiu até um pouco de remorso,
pela fuga que ela quase combinou com Ramirez a poucas momentos atrás.
Não gostava de Aaron, detestava o jeito dele mandão, machista e sempre
defendendo os costumes da tradição cigana. Detestava ainda mais a forma
como ele e seu tio Vladimir a pressionaram a se casar contra a vontade.
Porém, ao vê-lo ali, deitado, ferido, tão frágil, apesar de toda aquela
aparência forte, fez com ela se sentisse comovida e ela detestou se sentir
assim.

—Será que estou começando a me acostumar com essa situação? Com o


meu destino? Ou até começando a me apaixonar por esse grosseirão? É um
belo homem, rico, meu marido, mas isso é o que menos desejo que aconteça!
— Ela pensou confusa.

—Claro... Aaron... eu ficarei sim...—Ela respondeu enquanto sentava na


cama próximo a ele— Carmem, pode deixar! Passarei a noite cuidando dele e
caso precise de ajuda a chamarei.

—Sabe, senhora, de certa forma isso me deixa até feliz em ver um


momento de união de vocês! Por santa Sara Kali que permaneça assim!
Agora vou deixar vocês a sós já são quase nove horas da noite.
—Obrigada, Carmem e chamarei sim, caso precise!— a jovem
respondeu sem graça.

Carmem deixou o quarto, com uma expressão preocupada, como se não


confiasse em deixar o seu patrão ferido aos cuidados da sua jovem esposa de
apenas dezoito anos. Sarah, percebeu que sob o efeito da medicação, Aaron
falava arrastado, coisas aleatório, coisas que talvez ele não falasse em sã
consciência.

—Sarah... Sarah... — Ele chamava e com uma das mãos tateava, em


direção a ela.

— Estou aqui Aaron! — Ela sentada na cama, bem ao lado dele respondeu
e segurou sua mão forte e grande, entre suas mãos delicadas.
—Fique aqui comigo! Sabe... nunca lhe disse isto, mas a primeira vez que
te vi de verdade, você estava dançando... e ali mesmo eu pensei... quero está
mulher para mim...— Ele falava cansado.

No passado, ouvir aquilo teria deixado Sarah com mais raiva ainda, pois
enxergaria apenas a atitude possessiva dele. Mas, agora o vendo tão frágil
deitado na cama, com a voz grave e viril de sempre, mas falando de forma
mansa. Ela ficou confusa.

— Estou aqui, não sairei daqui! Agora pare de falar, não quero que se
canse mais, você precisa descansar. Eu vou apagar a luz, trocar a camisola e
deitarei ao seu lado, como todas as noites.

—Deita ao meu lado todas as noites... mas não é minha de verdade...

—Por favor, Aaron, não é hora de falarmos sobre isso...

—Está bem... mas quero que saiba que é muito difícil para um homem
saudável se controlar, tendo ao lado, na cama, uma esposa tão bela e sexy
como você...

— Por favor Aaron, depois falamos sobre isso...

—E preciso que você saiba, que se me controlo é por amor e respeito aos
seus sentimentos...

Ouvir aquilo, deixou Sarah, confusa e comovida, mas tinha certeza que se
ele tivesse sã, seria o mesmo durão de sempre e não falaria aquelas coisas.

—Agora vamos dormir? Já irei deitar também! Deseja que eu retire seu
tapa olho adesivo para ficar mais confortável? Afinal, hoje você ta doente.

—Não!— ele falou de forma brusca, quando ela fez um gesto para tirar—
Não gosto de ser visto sem ele...

— Tudo bem, então! Agora durma, está bem? Estou aqui deitada ao seu
lado, é so chamar.
Capítulo 11

Pequeno Dicionário Romanês:


Acans: Olhos;
Aruvinhar: Chorar;
Bales: Cabelos;
Bato: Pai;
Dai ou Bata: Mãe;
Calin; Cigana;
Calon: Cigano.

No terceiro dia de cama, Aaron já estava bem melhor, já não precisava


mais de tantos remédios para dor, mas permanecia deitado por ordens
médicas e fazia suas refeições na cama. O médico recomendou uma semana
de repouso total. Quanto a Sarah, ela estava surpreendendo os empregados
da casa, em especial a Carmem que a conhecia de forma mais intima, pela
dedicação e cuidado que ela estava tendo com o marido. Algo que ninguém
esperava, fosse por sua idade jovem ou pela guerra pessoal que os dois
travavam no dia a dia.

—Carmem! Vim buscar o jantar do Aaron!

—Ah, senhora, não precisava vir até a copa! Bastava ligar que eu iria
deixar no quarto para vocês dois.— A mulher falou toda alegre, ela estava
muito satisfeita de ver o casal naquela união, mal sabia ela que eles ainda não
eram um casal de fato e que Sarah, não tinha certeza se queria permanecer
naquela casa.

Carmem lhe entregou uma bandeja de prata com o jantar de Aaron,


Sarah, segurou com as duas mãos, pois não estava habituada a carregar
bandeja. Ainda mais uma tão fina e cara. Antes dela se retirar da copa,
Carmem chamou e ela se voltou para ouvi-la.

—Senhora...
—Sim, Carmem, pode falar.
—Eu fico tão feliz em ver como a senhora está ajudando a cuidar do
senhor Aaron e que não estão brigando...

—Ah, Carmem... ele está doente e eu faria isso por qualquer pessoa...

—Mas ele não é qualquer pessoa, senhora, ele é o seu marido...

Sarah, ficou sem graça ao ouvir aquilo, até meio com a consciência
pesada, por ainda pensar numa possível fuga.

—Eu vou indo, Carmem, o Aaron, deve já está com fome.—Ela falou
desconcertada.

Quando Sarah entrou no quarto com a bandeja, Aaron estava sentado na


cama, com as costas escoradas na cabeceira. Ela olhou discretamente para seu
peito musculo, lisinho, sem camisa, coberto em parte pelo curativo e ficou
sem graça. Esses dias de proximidade devido ao acidente, a estava deixando
sem graça cada vez que o olhava sem camisa na cama, exibindo a sua bela
forma física, seu magnifico peitoral musculoso. As vezes ela tinha até medo
de que ele já tivesse percebido isso.

—Aaron...Cheguei com seu jantar!

—Humm... está com um cheiro bom! Já estava com fome!

—Isso é bom! Sinal de que já está bem melhor.

—Estou sim!

Sarah, se aproximou da cama, colocou a bandeja no colo dele. Em seguida


fez menção de se levantar, pois pretendia sentar na poltrona do quarto e o
observar comendo. Afinal, estava tentando desempenhar o papel de
enfermeira. Porém, Aaron a interrompeu, segurando delicadamente pelo
braço a impedindo de levantar da cama, enquanto a o mesmo tempo a
encarava.

—Espera! Não pode ficar aqui ao meu lado enquanto faço a refeição? Eu
tenho esse jeito um pouco grosseiro, as vezes, mas não mordo... Continue
sentada aqui na cama, próxima a mim...

Sarah, engoliu no seco, ficou sem graça, mas não queria contraria-lo
doente.

— Eu ia apenas sentar na poltrona aqui do quarto. No final das contas da


no mesmo, pois de lá observo você comendo.

Ele de forma sedutora respondeu:

—Não dá no mesmo! Pois de lá eu não sinto o cheiro da sua pele e o seu


calor...

Ela ficou sem graça com o comentário, baixou a cabeça e tentou da uma
desculpa qualquer. Ele percebeu.

—Sarah.. é tão difícil assim para você me aceitar como marido e me


amar? Ainda sente tanta repulsa assim por mim? Você me disse que eu te
dava nojo... Tem haver com isso?— Ele levou a mão até a face e apontou
para o tapa olho.

Um pesado silêncio tomou conta do quarto, até uma leve brisa noturna
entrou pelas cortinas aberta, como se viesse participar da conversa e observar
a cena.

—Por favor Aaron, você está doente , não é hora de falar sobre isso!

—Eu já estou bem melhor e quero sim falar sobre isso!— ele já dava sinais
de irritação.

—Ouça, quero que você saiba que esse acidente que vitimou seu olho, não
comprometeu em nada a sua beleza, nem o deixou menos homem... e você
sabe disso, pois aqui tem espelho! Além de você ver a forma que as ciganas
solteira olham para você! Pelo menos antes do casamento...

—Sarah... a anos evito olhar no espelho..., no máximo o retrovisor do


veiculo quando estou dirigindo.

Aquilo mais uma vez a pegou de surpresa. Então, o homem bonito, forte,
rico e de boa posição na tribo, ainda carregava na alma traumas do acidente, o
que comprometia a sua autoestima. Por mais que no dia a dia, desempenhasse
o papel de um homem forte, bem resolvido e com a aparência sempre
impecável ao seu estilo próprio cigano.

—Aaron... você é um homem bonito. A mulher que te amar de verdade vai


enxergar além dessa falta que você carrega em seu rosto e em sua alma...—

Ela teve pena dele e acaricio sua face, ele fechou os olhos como se
quisesse aproveitar o momento. Em outra situação, ele teria retirado a mão
dela bruscamente do seu rosto e lhe dito que não queria sua pena ou de
qualquer outra pessoa.

—E... será que você não poderia ser esta mulher?— ele perguntou
gentilmente, enquanto segurava a mão dela, tentando mantê-la acariciando
sua face.

Sarah, estava ficando cada vez mais sem graça. O rumo que a conversa
estava tomando, o fato dele está mudado, creio que devido a está doente, o
clima de intimidade, os dois ali na cama. Ele bem no meio da cama escorado
na cabeceira e ela sentada na borda junto a ele, dava um clima estranho de
intimidade. Apesar deles dividirem a mesma cama já a quase três semanas
hoje era diferente do dia a dia deles trocando farpas e tendo que dormir lado a
lado, na maioria das vezes brigados.

Apesar de não ter mais tanta certeza em suas palavras, ela o encarou e o
olhou nos olhos.

—Não foi o que sonhei para a minha vida, Aaron, um casamento


arranjado, casar tão jovem. Sonhei em trabalhar, fazer faculdade e me casar
por amor.

—O amor pode vir com o tempo, Sarah, abra seu coração para mim e me
permita tentar....— Foi a vez dele lentamente acariciar o rosto dela e a
encarar um olhar sedutor.

—Eu não sei Aaron, deixemos esta conversa para depois! Agora jante e
não é bom você dormir tarde! — Ela falou de forma brusca, tentando cortar a
conversa.

—Dormir... dormir ao seu lado sem lhe tocar é quase uma tortura... posso
lhe pedir algo?

Por alguns instantes Sarah ficou em silêncio, apreensiva. Depois falou:

—O que seria? Não sei se posso cumprir!

—Calma... não irei pedir para consumar o casamento!

—Eu... Eu não disse isso!

Ela respondeu nervosa, enquanto que ela a encarou com uma expressão
enigmática no olhar e pediu:

—Dança esta noite para mim? Igual aquela noite que te vi pela primeira
vez, linda dançando ao redor da fogueira... Mas, desta vez, aqui no quarto,
apenas para mim e como minha esposa.

Sarah olhou para ele confusa e sem graça, não sabia se devia fazer isso e
causar uma confusão de sentimentos, até mesmo nela. Mas, também não
queria contraria-lo doente. Apesar dele já está quase bom naquele dia , o
repouso era mais uma precaução médica.

—São quase nove horas da noite...

—O que tem demais? Somos marido e mulher, é nesse quarto que você
dorme ao meu lado todas as noite. Além do mais a acústica aqui é perfeita,
apesar que nenhum empregado entraria aqui sem bater, mas achariam super
normal a esposa cigana dançando para o seu marido.

Ela ficou pensativa, diante do pedido dele. Até que decidiu:

— Está bem... mas agora coma que nessa conversa você ainda não comeu
quase nada. Enquanto isso, vou tomar um banho, vestir uma roupa de dança,
escolher uma musica...

Sarah respondeu confusa, pois não queria da aquela abertura para ele,
não estava gostando da forma como nos últimos dias, a proximidade com ele
estava mexendo com suas emoções. Porém, ver a cara de satisfação por ela
ter aceitado, a deixou comovida.

Quando Sarah, deu as costas e foi em direção ao banheiro, ainda ouviu


Aaron a chamar, ela se voltou rapidamente.

—Sarah...

—Fale... Aaron...

—Não precisa ficar com receio...apesar de estarmos casados, somente irá


acontecer o que você quiser...

Aquele aviso a deixou sem graça e ao mesmo tempo com o coração


acelerado. Ela não tinha pensando nessa possibilidade de acontecer algo entre
os dois, mas ele sim. Contudo, ela não quis contraria-lo e voltar atrás. Então,
ela não respondeu nada, apenas foi até o armário pegou um lindo traje típico
cigano que por insistência da Carmem havia comprado naquela tarde de
compras. Depois se dirigiu ao luxuoso banheiro, pois não se sentia
confortável em trocar de roupa diante dele.
Capítulo 12

Os ciganos amam dançar. Desde criança, eles ouvem e dançam as seguidillas, a rumba e
o flamenco. Ritmos e sons tradicionais produzidos pelas guitarras, violinos, acordeões,
címbalos, castanholas, pandeiros, palmas das mãos e batidas dos pés, que aprendem desde
cedo com parentes e amigos nas festas no acampamento.
Fonte: Blog Sabedoria Mística.

—Linda! Igual como lhe vi pela primeira vez dançando ao redor da


fogueira...

Sentado no meio da cama enorme cama de casal, com as costas apoiadas


na cabeceira da cama, vestindo apenas as calças do seu pijama de seda, peito
musculoso e liso a mostra, Aaron falou com o olhar e a voz carregada de
desejo. O quarto a meia luz, Sarah não conseguir ver com clareza o brilho do
desejo no olhar do marido, mas percebeu isso em seu tom de voz e sua voz
grave soava mais sexy ainda. Então, foi assim que ele recebeu Sarah, ao vê-
la voltar do banheiro vestida com um lindo traje típico cigano vermelho,
pronta para dançar para ele.

Sarah vestia um longo vestido rodado de seda vermelha, com um decote


que revelava seu colo branco e redondo, como acessório, usava um lindo xale
de seda preta com estampas douradas. Na cabeça um lenço dourado, em
forma de tiara, deixando seus longos e negros cabelos liso que chegavam até
a altura do bumbum soltos. Além de colares e brincos dourados, na verdade,
agora que era uma mulher casada rica, eram de ouro puro, parte do enxoval
ganho do marido e não mais as bijuterias douradas que usava no Brasil.

—Obrigada, Aaron, mas não quero que se canse, lembre-se do seu


repouso...—Ela falou encabulada, pois já estava com receio de onde aquilo
poderia terminar.

—Eu estou me sentindo ótimo, Sarah! Ficarei apenas mais um dia de


cama, por recomendações médicas.
—Sei... gosta da música cigana chei chovorriho ? —Sarah, perguntou
enquanto ligava um pequeno aparelho de som que ficava em cima da
escrivaninha.

—Sim! Era a música que você estava dançando quando a vi pela primeira
vez.... —Ele falou propositalmente de maneira sedutora.

Então, Sarah ligou o som e se posicionou no meio do quarto, bem aos


olhos do marido e assim que o som de Chei Chovorriho invadiu o ambiente,
ela se pôs a dançar de forma envolvente e sensual. Ela como ótima dançarina
e com o sangue cigano nas veias, não sabia dançar de uma forma mais
contida, mesmo sabendo que isso poderia atiçar ainda mais o desejo do
marido por ela. O agitar dos seus braços estendidos acima da cabeça, a sua
coreografia com seu xale sendo agitado no ar, a forma que ela marcava o
passo e com as mãos agitava a saia longa do vestido, deixou Aaron ainda
mais enfeitiçado e louco de desejo.

—Pronto, Aaron! Satisfiz seu o seu desejo! Dancei para você, como me
pediu.—Ela falou de cabeça erguida e olhar petulante.

Deitado na cama e ainda enfeitiçado em ver Sarah dançando, Aaron


estendeu seu braço em direção a ela, que ainda estava no meio do quarto e
falou.

—Minha linda cigana feiticeira... venha até aqui perto de mim, Sarah...

A jovem ficou sem ação, não estava em seus planos mais intimidades
naquela noite. A dias ela vinha percebendo que a proximidade em dormir na
mesma cama com ele, o fato também dele ter ficado mais gentil após o
acidente, estava mexendo com os sentimentos dela e isso era tudo que ela
menos desejava.

—Chega, Aaron! Tentei ser uma boa esposa, durante todos esses dias em
que você esteve doente: Cuidei de você e hoje até satisfiz o seu desejo
dançando para você.

—Não... você não satisfez todos os meus desejos e você sabe disso... Mas,
do que tem medo? De mim ? Ou será de você mesma?
—Não seja ridículo! Está insinuando que estou com medo de não resistir
a você? Muito convencido de sua parte!— Ela falou tentando fingir
segurança na voz.

—Então, já que tem tanta certeza de suas vontades, não precisa ter medo
de mim. Eu continuo cumprindo a minha palavra: Apenas acontecerá o que
você quiser que aconteça...

Aaron falou em tom de desafio e continuo com o braço estendido a espera


dela vir sentar na borda da cama em que ele estava deitado. Sarah, lentamente
caminhou até a cama, não queria se mostrar receosa a não ceder os encantos
dele. Afinal, ele era um homem bonito, sexy e estavam casados. Apesar de
que por várias vezes, ela sentiu nojo e ódio dele, por ter sido pressionada a se
casar. Porém, algo estava mudando dentro dela, o responsável por isso eram
dois fatos marcou o coração dela em relação a o marido: A noite de núpcias
onde ele como prova de amor, cortou o dedo, assim mentindo que o
casamento havia sido consumado e o quanto ele estava mais amável com ela,
após o acidente.

—Estou aqui, Aaron! Satisfeito?— Sarah falou, ao sentar lentamente, na


borda da enorme cama de casal, ainda vestida com os trajes típicos que usou
para dançar para ele. Após isso, segurou a mão que ele estava estendendo
para ela, desde que a convidou a sentar ali.

A mão branca e delicada da jovem, ficou perdida entre a mãos grande


dele, mas ele a segurou com delicadeza, olhou para a mão dela entre a sua,
depois a encarou de forma sedutora e falou.

—Sarah, sei que não sabes a arte de ler a mão igual as outras ciganas,
mas se conseguisse ler o meu coração, saberia o quanto estou apaixonado
por te e o quanto lhe desejo esta noite...— Ele falou lentamente e beijou
delicadamente a sua mão.

Aquele beijo na mão mexeu com os sentimentos de Sarah, ela se arrepiou


toda ao sentir seus lábios quentes dele beijando sua mão. Contudo, ela se
arrepiou ainda mais ,quanto sentiu ele lentamente, continuar subindo e
beijando seu antebraço, braço, aquela altura o xale que ela usava na
apresentação de dança já havia caído no chão do quarto e seu belo colo
branco, exposto pelo grande decote, atiçava ainda mais seu marido. Ela de
olhos fechados, na penumbra do quarto tentava fingir indiferença, mas a sua
respiração ofegante, seu coração disparados, começava a denuncia-la.
Quando a curva do ombro terminou e ele começou a beijar o inicio do seu
colo exposto pelo grande decote, se arrepiou mais ainda e tentou se esquivar
o empurrando levemente.

—Não, Aaron... é melhor pararmos... — Ela disse sem muita firmeza na


voz e com a mão em seu peito musculoso o empurrou levemente.

—Não precisa fingir ou resistir, Sarah... sou seu marido e sei que você
quer....

—Como... pode ter tanta certeza assim? Saiba que está errado...— Ela
falava com a voz ofegante e olhos fechados, enquanto de maneira nada firme
tentava empurrar os lábio dele que aquela altura buscava os seus seios
macios semi revelados pela sua blusa que aos poucos estava sendo puxada
para baixo.

—Acho que não percebi a forma como tem me olhado nos últimos dias na
cama? Sou um homem experiente, meu amor, mas você sei que é pura e
virgem, como as nossas mulheres devem ser...

—Sim, sou virgem, como você esperava...

—Linda... se guardou para mim, como uma legitima noiva cigana...

—Eu não disse isso... apenas ainda sou muito jovem e ouvi os conselhos
da minha mãe...

—Psi! Não vamos estragar o momento discutindo isso... — Aaron colocou


o dedo indicador na boca de Sarah em sinal de silêncio e logo em seguida o
retirou e silenciou a esposa com um beijo quente, caliente. Onde ela sentiu
pela primeira vez o que é um beijo quente de verdade, que antecede uma
noite de amor.

Sarah, envolvida por todo o clima de sedução e charme de Aaron, a


penumbra e o aconchego do quarto casal, além dos sentimentos confusos que
começaram a brotar dentro dela de uns dias para cá, não resistiu mais. Aaron
percebeu, pela forma ardente que ela mesmo inexperiente correspondia o seu
beijo, que as muralhas de defesa dela haviam caído por terra. Então, ele a
puxou para mais perto ainda do seu corpo, a deitou no meio da cama
gentilmente, em seguida deitou seu corpo forte sobre o dela.

—Sarah.... minha linda cigana dos olhos de esmeraldas...

—Aaron...
— Calma... se entregue para mim e deixe que conduzirei a nossa primeira
noite juntos como marido e mulher de verdade....— Ele falava, entre beijos e
movimentos ritmados entre os dois corpos abraços no centro da grande
cama de casal. Aquela altura as peças de roupas que Sarah, havia usado na
apresentação de dança, já estavam todas do chão do quarto e ela nua como
veio ao mundo.

Então, entre beijos, carinhos, sussurros e abraços, Sarah relaxou e se


entregou para Aaron. A hora da entrega total, onde ela realmente seria
transformada em uma mulher de verdade, foi uma mistura de receio, prazer e
descobertas para Sarah. No máximo do êxtase, ela ainda ouviu Aaron, com
gestos firmes, mas gentis, abraça-la forte e falar ao seu ouvido com sua voz
grave e viril.

—Minha.... somente minha...

Enquanto que Sarah, pega de surpresa por aquela sensação gostosa, mas
totalmente nova para ela, ouviu aquilo meio ao ouvido meio inebriada de
prazer. Ela nada respondeu ou protestou, apenas deu um longo sussurro
involuntário e se abraço ainda mais ao corpo dele. Assim ambos suados e
abraçados ficaram em silêncio, até adormecerem ainda abraços.
Capítulo 13
Leitura das mãos, habilidade para o comércio, roupas coloridas e danças são traços que
identificam a cultura cigana.

Sarah piscou os olhos e viu que o dia já havia clareado a muito tempo, o
sol já estava alto no céu. Entre as cortinas que foram esquecidas semiabertas
na noite passada, dava para ver que devia ser algo em torno das seis horas da
manhã. Mas, apesar disso, o sol não havia invadido o quarto e sim entrado
pelas brechas das cortinas leves e dando um efeito em forma de um penumbra
gostosa. O tal efeito dava ao quarto um clima mágico de aconchego e
romance logo no inicio da manhã. Porém, a jovem não tinha o hábito de
acordar antes das nove da manhã, o que havia acontecido? ou será que algo
ou a proximidade com alguém na cama a estava incomodando...

Então, Sarah ainda sonolenta se espreguiçou e sentiu um cansaço físico,


junto com uma moleza gostosa percorrendo todo o seu corpo. Ainda
sonolenta e sem despertar totalmente, ficou sem entender o cansaço. Afinal,
estava na mesma cama que dormia desde que se casou, mesmo sendo um
casamento de mentira em relação a vida intima do dois.

—Nossa... que cansaço....— Ela falou com voz embargada pelo sono e
esticou os braços mais ainda se espreguiçando.

A surpresa de Sarah foi tamanha ao seu braço e seu corpo, baterem em


Aaron, que diferente das manhãs anteriores, estava dormindo bem próximo a
ela, de uma forma muito intima. Ele dormia um sono sereno, com a
respiração ritmada, totalmente sem roupa, apenas o lençol desarrumado
cobria a parte mais intima do seu corpo viril. Contudo, ao ver aquilo ela deu
um estalo na cabeça e as lembranças da noite passada que ela achava que
havia sido um sonho vieram a sua mente. A sua surpresa foi maior ainda, ao
perceber que ela também estava sem roupa, mas diferente dele, estava
totalmente coberta pelo lençol e para completar o cenário, uma pequena
mancha de sangue estava bem ali ao lado dela, manchando o lençol branco da
cama. A mancha de sangue que deveria ter acontecido em sua primeira noite
de casada, mas que Aaron para contornar a situação, cortou o próprio dedo e
manchou o lençol com ele. Antes de exibi-lo ao seu povo cigano que ansiosos
esperavam pela comprovação da virgindade de uma noiva metade gadjé.

—Meu Deus! Não foi um sonho...— Ela tentou falar baixinho, ainda
colocou a mão na boca, mas seus movimentos, acabaram despertando
também Aaron— Agora sim, seu marido de verdade.

—Sa... Sarah... já acordou? Fiquei aqui juntinho a mim...— Ele falou


sonolento e tentou se aconchegar nela, que ainda estava deitada ao seu lado
na cama e olhava para o teto do quarto, ainda tentando se convencer que
aquilo não havia sido um sonho.

Aaron rolou na cama, virou de lado e de frente para ela, tentou abraça-la.
Contudo, Sarah, apesar de também ter virado de frente para ele, de cabeça
meia baixa, sem o olhar nos olhos, fez um movimento com os braços se
esquivando dele.

—Sarah... o que houve? Por que não me olha e porque se esquiva de mim?
Arrependida ou envergonhada?— Ele perguntou delicadamente, enquanto
tentava traze-la de forma gentil para os seus braços.

Na verdade Sarah, estava confusa, não queria dar lugar ao sentimento que
estava brotando em seu coração em relação a Aaron. Afinal, ela tinha outros
planos para sua vida e na concepção dela deixar nascer aquele sentimento iria
atrapalhar seus planos para o futuro.

—Não, Aaron... pare...

—Ah... o que houve? Estamos casados e ontem a noite você finalmente se


entregou para mim... venha cá, minha cigana dos olhos de esmeraldas...—
Aaron, tentava vencer a resistência dela, a abraçando e tentando beijar seu
pescoço, ambos ainda sem roupa e ele queimando de desejo.

—Ah não sei... preciso pensar melhor...— Ela falava sem firmeza na voz,
enquanto se desvencilhava dele, que mais parecia um polvo cheio de
tentáculos a envolve-la.
—Pensar melhor?— por um instante ele parou e a encarou firme— isso
aqui não é um negócio, estamos casados!

—Mas eu preciso pensar melhor!

—Estamos casados! De acordo com nossas tradições, eu poderia exigir


várias coisas de você, pois você me deve obediência!

—Ah! Então, agora você está me pressionando a ter algo com você nesse
instante? Voltou o Aaron autoritário de sempre!

—Não Sarah! Desculpe, jamais!

—Ah! Muito bom ouvir um pedido de desculpas vindo de você!— ela


falou irônica.

—Não quero que pense que eu faria nada contra a sua vontade! Mas, ouça:
Ontem a noite você me fez o homem mais feliz do mundo! Então, faça-me
agora novamente e pode pedir o que desejar!

Sarah foi pega de surpresa com a oferta dele, mas seus olhos brilharam
quando ela entendeu a chance que ela estava tendo e a seriedade na voz dele
ao encara-la. Afinal, a palavra dada era algo muito importante entre o povo
cigano.

—Pedir o que eu quiser? Você me daria algo de presente? Algo que eu


desejasse muito? Assim como você diz que me deseja?

—Sim! Você sabe da nossa próspera situação financeira! O que deseja?


Um par de brincos de ouro e pedras? Um anel com uma esmeralda para
combinar com os seus lindos olhos verdes? Mulheres ciganas adoram joias e
adornos.

Sarah, segurou o lençol até a altura do colo para cobrir a sua nudez, virou
de lado, ficando frente a frente com ele novamente e o encarando ali bem no
meio da cama e falou:

—Eu adoro crianças...— os olhos do marido brilharam ao ouvir o inicio do


pedido...Sarah fez uma pausa e continuo— sempre sonhei em fazer
faculdade. Então, quero cursar Pedagogia!

—Cursar faculdade? Está louca? Uma mulher ciganas não precisa de tanto
instrução e nem de faculdade! Tem que aprender a cuidar da casa e dos
filhos! Além do mais a nossa tradição não permite!— Aaron falou numa
mistura de raiva e surpresa, pois achava que Sarah, queria um filho, já que
revelou que gostava de crianças.

—Esse é o meu desejo! Você disse que me daria o que eu quisesse e esse é
meu pedido! Eu não quero saber de tradições, já estamos no século vinte,
década de noventa, caso você não saiba!— Ela falou brava, enquanto sentou
bruscamente, dando as costas para ele, ao mesmo tempo que segurava o
lençol contra o corpo.

— Eu não posso lhe conceder isso! Achei que você pediria um presente,
algo material! Não posso quebrar as tradições de uma hora para outra apenas
para satisfazer a sua vontade! Seus caprichos!

—Ah! Não pode? Você não é o barô do clã? E não é um capricho! É um


sonho!— Ela falou em tom de deboche.

—Mas acima de mim, existe regras, tradições, o conselho kris romani!


Coisas que você já deve saber já que é metade cigana e metade gadjé!—
Aaron, falou bravo e de forma impaciente, esmurrou o lençol da cama,
assustado Sarah.

Sarah, deu as costas para Aaron e se preparava para deixar a cama, de


maneira brusca, quando ele a segurou pelo braço a impedido.

—Espera! Onde você vai? Depois de tudo que aconteceu ontem a noite, vai
me deixar aqui na cama, assim? Louco de desejo por você? A nossa lua de
mel apenas começou....— Ele rapidamente tentou impedi-la de levantar da
cama. Enquanto a segurava pelo braço, tentou beija-la e ela virou o pescoço.

—Não, Aaron! Não quero lua de mel nenhuma! Estou arrependida sim!—
Na verdade, nem ela sabia ao certo o que estava sentindo, se queria ou não,
mas o fato dele ter prometido algo e depois negado a enfureceu.
Principalmente por ser algo tão importante para ela, o seu pedido.
—Droga, Sarah! Você me deixa em uma situação difícil! Tentar agradar
você e seguir as tradições do nosso povo ao mesmo tempo! O barô tem que
da exemplo!— Ele esmurrou mais uma vez o colchão da cama. Ela ficou
sentada imóvel, sem falar nada, apesar de ter se assustado com o barulho do
murro no colchão da cama.

Então, por alguns instantes um pesado silêncio reinou no ar e após uma


pausa Aaron falou:

— Espere... darei um jeito! Eu permitirei e pagarei sua faculdade! Você vai


sim cursar Pedagogia, mas eu tenho mais duas condições... Além de você
aceitar ser minha novamente agora.— Ele a olhou de forma desafiadora.

Aquilo animou Sarah, mas o fato dele ter imposto mais duas condições, a
deixou receosa. Afinal, qual seriam as outras duas condições.

—Quais são essas outras duas condições?— Ela perguntou com receio.

— Você não irá para a faculdade sozinha! Arrumarei uma cigana mais
velha de confiança e o motorista, levará vocês duas todo dia!

—Ah não! Isso não! Será muito constrangedor!

—Não será! Basta avisar em sua sala de aula que é uma cigana casada e
seu clã possui costumes! É assim ou não permitirei!

Aquilo chateou Sarah, mas ela refletiu um pouco e achou que era melhor
que nada. Talvez com o tempo isso fosse mudando e ela conseguisse driblar
essa exigência dele.

— Tudo bem! Eu aceito! Qual é a outra condição?

Aaron olhou para ela com um olhar astuto e falou, enquanto a encarava e
segurava uma mecha do seu longo cabelo negro.

—Você disse que gosta de crianças e por isso deseja cursar Pedagogia, não
é?

—Sim!
—Então, eu quero um herdeiro! Um filho! Na posição de barô do clã já
está passando da hora! Já basta todo o tempo que esperei você fazer dezoito
anos para se casar dentro das leis dos gadjés.

Aquilo pegou Sarah de surpresa, ela abriu a boca espantada, pois era algo
que não estava nos planos dela tão cedo. Sendo que ela ainda não havia se
decidido se desejava manter aquele casamento.

—Filho? Ah, não!— Ela saiu o meio da cama rapidamente e sentou na


borda da cama. Aaron, veio por trás e começou a beijar seu pescoço e falar ao
seu ouvido.

—Sim, minha ciganinha feiticeira... sempre desejei um filho e agora que


sei que gosta de crianças, quero um o mais rápido possível.— Ele afastou o
longo cabelo negro dela, deu um beijo em seu ombro delicado e sussurrou em
seu ouvido. Já havia alguns dias que a voz grave dele produzia nela um
efeito bem diferente do que produzia no passado.

Apesar de gostar de crianças, aquilo pegou ela de surpresa, não se via


ainda como mãe. Além dos outros motivos em relação a se manter casada.
Contudo, ao perceber a hesitação dela, Aaron complementou sussurrando ao
seu ouvido.

—Isso se você já não estiver grávida, afinal não usamos nada ontem a
noite...

Aquilo deixou Sarah gelada, ela não contava com aquilo.

—Nossa.... é verdade...— Ela falou baixinho, de forma involuntária,


levando uma mão a boca e outra a barriga.

Então, Aaron percebeu que mais uma vez as barreiras de Sarah, estavam
caindo por terra igual a noite anterior. Ele mordiscou o lóbulo da sua orelha e
de costas a abraçou, com as duas mãos firmes envolvendo os seus seios
firmes, brancos e redondos.

—Venha, minha rainha.... se entregue para mim novamente... eu serei o


mais gentil dos homens e você terá seu desejo atendido... hoje inicio da tarde
mandarei o Ramirez a faculdade cuidar de tudo...

Então, Sarah, parou de resistir ao marido, foi conduzindo por ele de volta
para o centro da cama e mais uma vez se entregaram ao amor e desejo. Dessa
vez a luz do dia, antes do café da manhã.
Capítulo 14
Nomes ciganos:
Aaron: Inspirado;
Alba: Clara, branca;
Anabela: Amável;
Aurora: Deusa da manhã;
Carmem: Poesia;
Igor: Príncipe da paz.

Era umas dez horas da manhã quando Sarah, olhou pela janela do quarto
e viu como a manhã estava bonita. Ela mentalmente agradeceu, pois
planejava sair para comprar seu material escolar. Por isso estava arrumada
para sair, apesar de mesmo em casa sempre se manter arrumada, a
convivência com Carmem e mais algumas mulheres ciganas estava
incentivando ainda mais sua vaidade. Mas, para Carmem, mesmo sem invadir
a intimidade da jovem, não era isso que a estava deixando ainda mais bonita e
vaidosa. A experiente cigana já havia percebido que Sarah e Aaron estavam
mudados em relação a forma como se tratavam, não mais brigando pelos
cantos da casa e na mesa das refeições.

Aaron, durante o dia procurava se conter tentando equilibrar tradições e


lidar com as vontades de Sarah. Além de, apesar de suas maneiras as vezes
um pouco rude, se esforçar para tratar bem sua jovem esposa. A noite, ele a
caçava na cama, cheio de desejo, parecia querer saciar e compensar todo o
tempo perdido entes de começar aquela lua de mel tardia. Afinal, além da
paixão e desejo que sentia por ela, ele deseja um herdeiro. Quanto a Sarah,
toda noite se entregava a Aaron, sem querer admitir, que o fogo que
queimava dentro dela, também era paixão e que a repulsa pelo marido a
muito havia ido embora.

—Senhora! Como você está bonita! Onde vai assim logo pela manhã? Vai
passear no jardim? Pois acho que o senhor Aaron, não deixará sair
desacompanhada...—Carmem falou com cautela ao ver Sarah, descendo as
escadas do andar superior que terminava na grande sala de visitas.

Sarah, realmente estava bonita, com os longos cabelos negros feito uma
trança que descia de forma charmosa pelo seu ombro, um lindo vestido verde
agua que realçava os seus olhos, além de brincos e colares. Ela estava
vestida de acordo com o horário, mas dava para perceber que não estava
vestida para ficar em casa ou passear no jardim.

—As minhas aulas começarão daqui a alguns dias. Preciso ir até o


comércio comprar material escolar, pois eu mesma quero escolher.

—Ah entendi... mas perdoe-me falar: Acho que apesar do senhor Aaron,
está mudado, de vocês estarem se entendendo melhor, acho que ele não
permitirá que a senhora ande sozinha por ai...

—Humm... Eu vou tentar! Onde ele está? Sei que não foi as minas hoje.

— Acho que hoje ele resolveu trabalhar aqui mesmo de casa. A pouco
tempo servi chá para ele no escritório .

—Então, vou até lá!— Sarah, saiu empolgada, estava ansiosa para comprar
matérias e também pelo inicio das aulas. Apesar das condições impostas por
Aaron...

Sarah, se dirigiu ao escritório da casa e com o seu jeito impulsivo, entrou


sem bater.

—Aaron!! Ah... desculpe... posso voltar assim que terminarem... — Foi a


reação dela, recuando, ao abrir a porta e ver seu marido dando as ordens para
Ramirez, a quem ela não gostava e se sentia intimidada na presença dele.
Talvez pelos planos de fuga sugerido por ele e não repreendido por ela.

—Espere, Sarah! Não precisa, você é minha esposa! O que deseja?—


Aaron, falou após desviar o olhar de Ramirez, que permaneceu de pé calado,
para ela.

A jovem, cruzou os braços sem graça, por ter que pedir algo a ele na
presença de outras pessoas. Apesar de tradições e regras, ela continuavam
sem concordar com várias coisas e alguma ela achava humilhante, como ter
que pedir permissão para sair.

—Então... Eu gostaria de ir até o comércio local, comprar meu material


escolar, pois eu mesma gostaria de escolher. Como você já saber minhas
aulas na faculdade começam daqui a alguns dias...

—Entendo... Mas sozinha? Não Sarah, alguém tem que lhe acompanhar!

—Aaron... quero ir agora, já me arrumei para isso e a Carmem, está


cuidado do almoço.—Ela cruzou os braços e bateu o pé.

Então, foi quando Ramirez com seu jeito sonso se intrometeu, mas ele
tinha toda a confiança do patrão.

—Senhor, se me permite, posso levar sua esposa para as compras,


acompanha-la e traze-la de volta.

Aaron, pensou por um momento e Sarah, logo se arrependeu do que fez,


não queria ficar sozinha com aquele homem que não simpatizava. Agora via
que nunca deveria ter dado um milímetro de liberdade dele saber dos seus
planos no passado.

—Tudo bem! Confio em você! Pode ir com ele Sarah.

Sarah, não pode se negar, teve que aceitar, so lhe restou tentar fingir e
agradecer.

—Obrigada, Aaron...— Ela falou sem graça e deixou o escritório,


acompanhada do empregado rumo as compras.

O centro comercial estava cheio, tumultuado, além da companhia de


Ramirez colado nela não lhe agradar. Então, como a ida não tinha saído como
ela planejava, tudo que ela queria era comprar logo seus materiais na primeira
papelaria aberta e voltar para casa. Quando Sarah, saiu da papelaria com uma
sacola na mão e caminhou até o carro seguida por Ramirez como uma espécie
de motorista/guarda costas, foi parada por uma velha cigana que ela ainda
não a tinha visto no bairro cigano.
—Linda senhorita! Deixe-me ler sua sorte! Custará apenas algumas
moedas...

—Eu não sou senhorita, sou senhora! Mas, obrigada, não precisa...—
Sarah, respondeu sorridente.

—Ela é a esposa do barô do nosso clã, se não tivesse sido expulsa do


nosso bairro saberia!— Ramirez interrompeu e tentou levar Sarah. Mas,
Sarah estava de bom humor por esta com a sacola cheia de materiais
didáticos e também para contrariar Ramirez que estava se achando dono dela,
resolveu aceitar.

— Espere! Tudo bem, leia minha mão!

A velha mulher, vestida em trajes típicos ciganos, pegou a delicada mão de


Sarah, se concentrou, mas pela expressão não gostou do que viu e apenas
falou, antes de largar novamente a sua mão.

—A pedra que brilha como os seus olhos virá acompanhada de muitas


lágrimas.

—Heim? Não entendi.... pode repetir?

—Nada senhora! Eu devo ter me confundido! Não precisa pagar! — Assim


a velha cigana saiu rapidamente da presença dos dois, deixando Sarah
confusa.

—Eu não entendi nada! Mas, segundo a minha mãe, não se devia da tanta
importância a leitura de mão.— Ela pensou alto, não necessariamente era
uma conversa com Ramirez.

—Hum... aposto que o seu pai cigano, não concordava com essa opinião
da sua mãe gadjé...

Sarah, o fuzilou com um olhar, não queria essas intimidades com ele.
Imagine criticar a sua mãe.

—Vamos para o carro quero ir para casa estou cansada!


Quando Sarah, entrou no banco de trás da linda caminhonete vermelha,
a preferida do Aaron e Ramirez assumiu o volante, ela ainda estava pensativa.
Então, resolveu da uma trégua a Ramirez para tentar matar sua curiosidade.

—Você já conhecia aquela senhora? Vi você falando que ela foi expulsa
do clã, porque?

—Ela vive pelo centro comercial trabalhando lendo a sorte! Os membros


do clã não dão confiança para ela! Ela foi expulsa, tem que seguir sozinha.

—E porque ela foi expulsa? — Sarah, perguntou curiosa.

—Após ficar viúva, se casou com um gadjé!

—Mas, meu pai se casou com uma gadjé e não foi expulso! Ele escolheu
viver no Brasil para satisfazer o desejo da minha mãe.

—Acontece que as regras e tradições dizem que uma mulher cigana que
casa com um gadjé, deve deixar o clã e seguir com ele! Aos homens ciganos
a regra não se aplica dessa forma.

—Um absurdo! As mulheres também tem o direito de se apaixonar fora


desse mundo, de possuir direitos igual, de querer uma vida moderna!

—São as nossas regras! Existe regras, tradições e penalidades para quem


as descumpre! — Ele olhou pelo retrovisor interno do carro para Sarah,
sentada no banco traseiro, enquanto ele guiava o veiculo de voltar para casa e
ousou em complementar.

—A proposito, a senhora muito mudada com o senhor Aaron! Nem parece


aquela que pensava em fugir... imagina o que ele diria se soubesse dos seus
planos do passado...

Aquilo pegou Sarah de surpresa, ela sabia que uma hora ele iria jogar
aquilo na cara dela quando estivessem a sós e esse era um dos motivos
porque ela o evitava. Apesar do medo de se sentir intimidade e confusa, ela
resolveu fingir e disse com firmeza.

—Eu não sei do que está falando! Não planejei e nem planejo fuga
alguma! Agora, faça a sua obrigação como funcionário do meu marido e me
leve para casa e sem me faltar com o respeito!— Ela tentou demonstrar
autoridade, mas Ramirez, não tinha medo de uma quase menina de dezoito
anos e apenas respondeu com deboche.

—Seu desejo é uma ordem, senhora!

Sarah, chegou em casa um pouco atrasada para a hora do almoço. O seu


marido já havia almoçado e os empregado agora comiam na copa, mas
Carmen calorosa como sempre com ela, logo se preocupou ao vê-la retornar.

—Senhora! Que bom que chegou. O senhor Aaron já almoçou e subiu para
descansar no quarto, mas a mesa continua posta é so sentar e já irei servi-la.

A jovem hesitou um pouco, na verdade não estava com muita fome depois
da insinuação desagradável de Ramirez. Porém, queria tomar um banho e
depois comer algo leve, apenas para não ficar sem almoçar.

—Carmem... não estou com muita fome, mas estou louca para tomar um
banho, trocar de roupa e descansar um pouco, ando me sentindo cansada.
Você levaria o almoço para mim no quarto?

—Claro, senhora! Quanto estiver pronta para almoçar é so ligar para copa
e mandarei alguém levar ou eu mesma levarei.

—Muito obrigada, Carmem! Você é muito boazinha comigo...

—Não porque agradecer, senhora. Gosto de servir ao senhor Aaron que é


tão sozinho nessa casa enorme e agora tem a senhora. Ah! E fico muito feliz
quando vejo vocês se entendendo.

—Está bem, Carmem...— Sarah, deu um sorriso tímido e ficou vermelha,


pelo momento as cenas que os dois protagonizavam todas as noites vieram a
sua mente— Agora irei subir para o meu quarto.
Capítulo 15

Para um homem sedento, uma gota d’água é como um lago...


( Provérbio cigano)

Sarah, abriu a porta do quarto com uma mão e na outra segurava sua sacola
de compras. Então, ela viu Aaron deitado na cama, como se estivesse
descansando após o almoço antes de voltar ao trabalho e entrou pisando
macio. Não queria acorda-lo, parecia está em um sono leve. Por uns instantes
ela ficou a admira-lo, ali do canto do quarto, ao lado da poltrona, onde iria
colocar as compras, tinha uma visão privilegiada do seu marido dormindo ali
naquela cama e quarto que já foi palco de tantas brigas.

Aaron ali deitado com seu um metro e noventa de altura ocupando toda
extensão da cama, vestindo apenas calças, o peito musculoso e moreno a
mostra, subia e descia numa respiração ritmada, mas que denunciava um sono
leve mexeu com as emoções de Sarah. Algo que ela as vezes ficava confusa e
não gostava de admitir, até uns três meses atrás sentia repulsa por ele e
odiava aquele casamento arranjado.

—Melhor não incomodar...

Sarah, deixou as sacolas na poltrona, caminhou lentamente até o banheiro,


fechou a porta no trinco, sem passar a chave, pois tinha pavor de ficar
trancada. Então, olhou para o banheiro e pensou o quanto estava louca por
um banho, bastava apenas decidir se usaria chuveiro ou banheira.

—Hum... acho que dessa vez vou de ducha mesmo... não pretendo
demorar no banho e a banheira costuma me faz esquecer as horas...

Sarah, tirou lentamente a roupa e colocou na bancada de granito no


banheiro, entre cremes e perfumes que ela ganhou desde que casou. Quando
passou para o chuveiro, ainda deu uma olhada rápida para o seu corpo nu
refletido no espelho e pensou que não se sentia por dentro, aquele mulherão
que o espelho refletia por fora. Aquele corpo de estatura mediana. Pele
morena clara, seios grandes e redondos, bumbum e pernas torneadas. —
Será que é isso que atiça tanto o Aaron todas as noite...—ela ainda pensou—
Ou é por mim e por todo o conjunto...

Quando Sarah, ligou um chuveiro viu que a água estava um delicia,


afinal estava calor. Então, para se deliciar mais ainda, ela colocou o chuveiro
no máximo, fazendo com que aquele barulhinho gostoso tomasse conta do
ambiente inteiro. Enquanto ela debaixo do chuveiro, via as gotas d’água se
formar sobre todo o seu corpo, molhar todo o seu cabelo. De olhos fechados
ela aproveitava o banho delicioso e o carinho que a água fazia em seu corpo,
foi quando sem que ela esperasse, dois braços fortes lhe abraçaram por trás,
pousando cada uma das mãos enormes em cima dos seus seios redondos e
molhados, enquanto a boca macia procurava o seu pescoço.

—A... Aaron! O que está fazendo aqui?— Ela perguntou assustada,


tentando se esquivar, como se tivesse surpresa e envergonhada pela claridade
do ambiente, já que nunca tinha sido vista assim por ele, naquela claridade.

—Vim tomar banho com você! — Ela falou, enquanto continuo a


abraçando por trás a impedindo de sair do chuveiro ou se cobrir.

—Aaron... não quero! Fico sem graça... nunca tomei banho com ninguém...

—Eu sei! Mas sou seu marido, não precisa ficar sem graça...

—Ah... mas aqui no banho é diferente... todo esse claro, me deixa tão sem
graça que não sei nem onde ficar ou como agir...

—Onde ficar é embaixo do chuveiro! Como agir, deixa comigo, apenas se


deixe levar pela emoção e eu conduzirei...— Ao dizer isso ele a virou de
frente, a abraçou cheio de desejo e beijou-lhe a boca de forma caliente

Sarah, a principio o correspondeu de forma tímida, mas depois se deixou


levar e fizeram amor de forma mais atrevida ali sob a água caindo do
chuveiro. Após juntos chegarem ao ápice do prazer, Aaron, com sua
excelente forma física e corpo musculo, a colocou nos braços e a deitou
delicadamente na cama, em seguida deitou ao seu lado e a abraçou. Assim,
abraçados, Sarah com a cabeça em seu peito músculos e envolvida em seus
braços fortes, ambos descansaram, sendo pegos de surpresa por um sono
vespertino.

Quando Sarah, mexeu na cama, bateu em Aaron ao seu lado e percebeu


que o que deveria ser apenas um leve cochilo tinha se estendido por uma boa
parte da tarde. Ela lembrou que ele era ocupado administrando os negócios e
resolveu acorda-lo, pois sabia que ele também tinha perdido a hora.

—Aaron... Aaron... acorde... Já são quatro da tarde! Adormecemos sem


perceber!

—Hum...Heim? Ah... não importa! Raramente acontece algo do tipo...


deixei tudo sobre controle no escritório.

—Hum... ainda bem! Por um instante fiquei preocupada, achando que você
tinha perdido a hora.

—Deixa pra lá! Não se preocupe! Venha cá....— Ele a abraçou.

—Aaron... você é terrível!— Ela se esquivou dele em tom de brincadeira e


tentou sentar na borda da cama.

—Eu sou um homem apaixonado e cheio de desejo pela minha mulher!

Aaron a puxou para si, mas inexplicavelmente, um enjoo e tontura tomou


conta de Sarah, antes que ela pudesse fazer qualquer coisa. Mesmo ela ainda
sentada, se apoio no braço dele e ele viu que havia algo errado. Então, invés
dele puxa-la para si, para matar o seu desejo mais uma vez, ele puxou ela
delicadamente e a deitou na cama, cobriu seu corpo ainda nu com o lençol e
foi a vez dele sentar na borda da cama ao lado dela.

—Sarah! Você está bem? Por um instante achei você pálida e desorientada.
O que houve?— Ele perguntou preocupado.

—Nada... aliás, eu não sei... De repente senti um enjoo, uma leve tontura e
tudo girou por segundos.— Ela falava com a voz ainda fraca.
Os olhos de Aaron brilharam ao ouvir aquilo:

—Tontura? Enjoo?

—Sim...

—Sarah... minha linda cigana dos olhos de esmeraldas, você não está...

—Eu o que?

— Está grávida! Você pode já está carregando o nosso filho! — Ele


começou a beija-la no pescoço, ombros e barriga, Sarah, ficou meio que sem
reação, pois mesmo já se sentindo apaixonada por ele, achava a possiblidade
de uma gravidez rápida, algo surreal para ela.

—Ah... Aaron, pode ser apenas uma queda de pressão, o sol estava forte
hoje pela manhã quando sai para comprar meu cadernos.

—Lembre-se que a quase dois meses não estamos usando nada e tenho
você em meus braços quase todas as noites...

Aquilo a pegou de surpresa, apesar do que ele falou ser verdade, ela não
tinha feito as contas do tempo que fazia que eles passaram a ser um casal de
verdade e o quanto ele era caliente e frequente na cama. Ela lembrou também
que as suas regras estavam atrasadas em mais ou menos dez dias.

—Ah não sei Aaron... mas realmente, estou um pouco atrasada...— Ela
falou timidamente de cabeça baixa.

—Pois, a minha intuição de cigano me diz que você está grávida! Optchá!
Minha santa Sara de Kali!— Ele falou eufórico enquanto continuava a beija-
la— E faço questão de amanhã mesmo lhe levar para fazer o teste de
gravidez.

—Está bem, Aaron...

—Você fala como se não quisesse o bebê... mas, você sabia que a qualquer
hora iria acontecer... e você me disse que gostava de criança...
—Não é que eu não queira, Aaron, é que a minha ficha ainda não caiu.
Não consigo acreditar que já posso está grávida...Mas....

—Mas o que Sarah... não está feliz com a possibilidade?

—Não! Não é isso... Apenas quero que saiba que estando grávida ou não,
eu estou feliz!

Aaron segurou o rosto de Sarah, com as duas mãos, mirou o olhar nela e
falou com a voz grave e apaixonada.

—Eu também estou muito feliz e aposto que amanhã serei o homem mais
feliz do mundo com a confirmação da vinda do nosso filho.— Ele encerrou
com um longo beijo apaixonado nela.

Enfim, a noite chegou, o jantar foi servido na grande mesa de madeira


de lei, coberta por uma toalha vermelha. Como de costume apenas, Aaron e
Sarah, estavam sentados e os empregados os serviam. O tio Vladimir, as
vezes jantava com eles, mas era raro e naquele dia em especial o casal
desejava jantar a sós enquanto combinavam a ida a clinica no dia seguinte.
Aaron, sentando na cabeceira da mesa vestia camisa de seda preta e Sarah
usava um vestido amarelo. O jantar naquela casa, apesar de não se vestirem
como se fosse para uma festa, tinha um certo ar de requinte.

—Está decidido, Sarah, não irei trabalhar pela manhã e já dispensei o


motorista. Quero eu mesma leva-la para o exame e que esse momento seja so
nosso.

Apesar de já ter visto o marido guiando um veículo, algumas vezes, ela


se sentiu curiosa em perguntar.

—Vamos apenas eu e você? Sem motorista? Você se sente bem dirigindo?


— Ela perguntou de forma delicada, pois estava entrando num campo
delicado, a sua limitação visual.

—Por que fala assim? Por causa disso?— Ele apontou com o próprio
indicador para o tampão em cima do seu olho— não precisa ficar com receio,
dirijo bem, apenas não gosto, mas amanhã quero ficar sozinho, sem
motorista ou Ramirez tirando a nossa privacidade.

—Ah.. claro! Não quis ser indelicada...

—Não foi indelicada. Não precisa mais de tanta cerimônia comigo ou


viver na defensiva, como era quando chegou aqui, querida.

—Não, não! Nem sei porque falei isso! Mas já que não se aborreceu,
porque não uma prótese se tem tanto dinheiro?

—Boa pergunta! Achei que nunca fosse perguntar isso ou que alguma
empregado da casa já tivesse falando, mas é bem simples: Rejeição ao
material.

—Ah! Entendo! Mas....

—Mas?

—Mas, quero que saiba que não lhe imagino de outra forma e que pra mim
isso é indiferente.

—Hummm... vejo que hoje você está mais dócil, mais meiga. Dizem que
mulheres grávidas ficam assim. Por isso continuo acreditando em minha
intuição de cigano.

— Ah Aaron... eu também acredito em intuição, mas nesse caso acreditarei


mais no exame... rs.

—Sim e iremos amanhã de manhã! Agora veja o presente que tenho para
você!

—Um presente para mim?— por um instante Sarah, voltou ao passado e


recordou a cena de quando seu pai lhe disse a mesma coisa oito anos atrás.

Aaron tirou lentamente do bolso uma linda e delicada caixa de veludo


preto. Os olhos verdes de Sarah, brilharam, sabia que ali tinha uma joia, que
o seu marido era acostumado a lidar com elas no dia a dia a trabalho. Porém,
que naquele dia era um presente especial para ela. As mãos grande e fortes de
Aaron, abriu delicadamente a caixinha de veludo bem diante de Sarah e
exibiu um lindo anel com uma linda pedra de Esmeralda .

—Para você, minha linda cigana feiticeira: Esmeralda, a pedra dos seus
olhos.

Ela ficou encantada com aquele presente.

—Nossa, Aaron... é um anel muito lindo... e essa esmeralda tão grande...


não é muito caro?

—É sim! Muito caro! Mas, nada que a esposa do barô da tribo, próspero
nos negócios e carregando o meu herdeiro, não possa ter em suas mãos.

—Obrigada... não imaginava algo assim...

—Não me agradeça, deixe-me colocar em seu dedo para você usar


durante o jantar.

Sarah, estendeu a mão e ele delicadamente introduziu o anel. Ela ficou a


olhar para a joia e o brilho da pedra, mas de repente lembrou-se do que a
cigana que leu sua mão havia falado e um arrepio percorreu seu corpo.
Aquilo a deixou um pouco receosa, mas achou melhor esquecer e tratar como
uma simples coincidência boba.

Mais tarde ao deitar, Aaron chegou juntinho dela, como todas as noites, só
que dessa vez falou baixinho ao seu ouvido já deitados no escurinho da cama.

—Se estiveres grávida, minha cigana dos olhos de esmeralda, se tornarás


sagrada para mim nesses nove meses que carrega o nosso filho e não tocarei
em você. Então, aproveitemos a noite e me faça igual a todas as outras noites
o homem mais feliz do mundo.— Ele a beijou com delicadeza e desejo e
ambos rolaram na cama.
Capítulo 16

Kris Romani: Tribunal cigano, composto por homens, geralmente os mais velhos
do clã.

—Já estou pronta, Aaron!

A jovem, usando um belo vestido vermelho, até o tornozelo, mas


apropriado para o horário da manhã, sandálias rasteiras, brincos de ouro
pendiam da suas orelhas, parte do seu longo cabelo negro enrolado por um
lenço verde, se exibiu para o marido no meio do quarto. Aaron já vestido,
esperava deitado na cama, com as mãos cruzadas por trás da cabeça, sua
esposa ficar pronta para irem até a clinica fazer o exame de gravidez.

—Está linda! Minha ciganinha dos olhos de esmeraldas que me enfeitiçou!


Mas, falta algo...

—Algo? O que? Não me vesti de acordo com os costumes ou com a


ocasião?
—Sim, claro! Não é isso, falta algo para complementar a sua beleza!

—Ah, Aaron... O que? Ultimamente você está muito bajulador e


galanteador, sabia?— Sarah, falou bem humorada.

—Onde está o anel que lhe presenteie ontem a noite? O anel da pedra de
esmeraldas da cor dos seus olhos?

—Está em meu porta-joias, mas não acho necessário. É uma joia cara...

—É sim necessário! Talvez se você não fosse uma cigana, não fosse
apropriado para o horário, mas como uma mulher cigana de posses é normal
que ande coberta de ouro e pedras a qualquer hora!

—Aaron, sou vaidosa, sei que é normal, mas confesso que ainda não me
sinto bem em exagerar muito nas joias e roupas em uma simples ida ao centro
comercial da cidade.

Aaron, a corrigiu imediatamente:

— Não é um simples passeio! Estamos indo saber se o nosso filho já está a


caminho! Além do mais gosto que vejam minha esposa, desfilar bem vestida
e coberta de joias ao meu lado!

—Ah! Você gosta é? E por quê?—Sarah, perguntou com um olhar


provocante.

Aaron, levantou da cama, veio até ela e a abraçou por trás, afastando seus
longos cabelos e beijando seu pescoço macio.

—Porque gosto de exibir a minha linda esposa ao meu lado, mostrar o que
posso proporcionar a ela e que ela é somente minha!— Ele falou baixinho ao
seu ouvido, com as mãos escorregando para acariciar seus colo macio e lhe
beijar

Sarah retribui o beijo, mas interrompeu os carinhos, pois também estava


ansiosa pela ida a clinica.

—Hum... então me de mais um tempo para me acostumar, não me sinto


bem usar algo tão caro a esta hora da manhã.

Aaron, achou melhor encerrar o assunto naquele momento, haveria várias


outras oportunidades para a sua esposa usar aquele anel de esmeraldas e ela
realmente ainda estava se habituando a certos hábitos.

A chegada na clinica foi tranquila, a presença de ciganos na cidade, era


algo já corriqueiro, devido ao grande bairro cigano instalado na cidade a
muito tempo e Aaron devido aos negócios e líder cigano era muito conhecido
na região.

—Pronto, senhora! Agora é só aguardar na recepção e dentro de uma hora


sairá o resultado.—Uma técnica em enfermagem simpática, de uns trinta e
poucos anos avisou simpática.
Sarah, voltou para a recepção, onde seu marido a aguardava.

—A enfermeira me avisou que dentro de uma hora o resultado estará


pronto, é so aguardar aqui na recepção.

A clinica estava vazia. Ela sentou no sofá ao lado de Aaron e ele passou o
braço ao redor do seus ombros a trazendo para mais junto de si. Gostava de
sentir, seu cheiro e o contato com o seu corpo. Contudo, aos poucos ele
mesmo tirou o braço, ficou apenas segurando a sua mão delicada que de
tempos em tempo levava ela a boca, beijava, enquanto a olhava nos olhos.
Um casal cigano não podia se exceder em manifestações publicas de amor
conjugal. Finalmente a recepção chamou novamente.

—Senhora Sarah Perez! Seu exame está pronto.

Sarah, sentiu um misto de emoção, medo, frio na barriga. Aaron aperto


forte sua mão e a beijou antes dela levantar para receber o exame numa
balcão a poucos metros de onde eles estavam sentados.

—Veja, Aaron! Aqui está...— Sarah, com ar sorridente, de pé diante do


marido, ainda sentado, apertava o envelope branco contra o peito. Porém,
quando ela fez um gesto para abri-lo, foi interrompida.

—Não!

—Não?— Ela ficou sem entender.

—Não, minha ciganinha linda! Isto é algo muito importante para se aberto
aqui e compartilharmos a nossa emoção e intimidade com estranhos. Vamos
abrir em casa, no nosso lar, mais especificamente na intimidade do nosso
quarto.— Ele falou enquanto levantava e afagava o seu rosto com a mão.

—Esta bem, Aaron, você tem razão! Mas, as vezes você me surpreende
sabia? Hora parece ser alguém duro e hora alguém sensível e que valoriza
cada detalhe.

—Nos ciganos somos surpreendentes e você com sua origem já devia saber
isso.— Ele falou delicado— Já são quase onze horas, o que acha de
almoçarmos em algum restaurante agradável aqui mesmo e somente depois
retornar para casa?

—Ah! Vou adorar! Quase não saímos juntos ou fora da comunidade


cigana.

—Então, vou escolher algo a sua altura. Algo que tenha um ambiente
agradável, tranquilo, boa comida e bem frequentado. Mas, não se preocupe
que minha intenção, não é ostentar e lhe exibir, mas sim lhe agradar.

—Esta bem, Aaron! Confio na sua escolha.— Ela falou carinhosa e abriu
um sorriso para ele.

Então, eles almoçaram num lugar agradável, no estilo que Aaron prometeu
e ao retornarem para casa, foram recebidos calorosamente pela alegria e
carinho de Carmem. Era por volta das duas horas da tarde quando
retornaram.

—Senhora! Senhora! Desejam almoçar? Deixei a mesa posta a espera de


vocês! Até os empregados já almoçaram.

—Carmem, querida! Você sempre tão atenciosa! —Sarah, abriu os braços


e a abraçou pela primeira vez aquela espécie de governanta que a acolheu tão
bem. A mulher ,de inicio sem jeito, retribuiu o abraço.

—Pois é! A Carmem é assim desde que chegou aqui para cuidar de mim e
da casa.— Aaron falou de forma afetuosa, apesar do seu jeito.

—É um prazer servir a vocês.

—Obrigada, Carmem. Então, nós almoçamos na rua, agora so queremos


descansar um pouco. Iremos subir para o nosso quarto. Vamos Sarah?— Ele
estendeu a mão em direção dela.

—Vamos, sim Aaron.— Ela entregou-lhe a mãos e de mãos dadas os dois


subiram as escadas que levava até o quarto do casal.

Quando entraram no quarto, assim que a porta se fechou, Sarah ouviu


Aaron dizer:
—Enfim sós! Agora sim! Na intimidade do nosso quarto quero saber o
resultado.— Ele falou carinhoso, enquanto de frente para ela, segurava
delicadamente as suas mãos e a olhava com uma certa devoção.

—Esta bem, Aaron, também já estou ansiosa.

Sarah, pegou sua bolsa tiracolo e tirou de dentro o envelope branco que
continha o resultado que poderia mudar tanto a vida dos dois. Afinal, a
chegada de um filho é uma benção e que vem acompanhado de muitas
mudanças, não importa qual seja os costumes do casal.

—Humm... aqui está! Vou abrir ouviu?

—Abra logo que já estou ficando mais que ansioso, Sarah!— Aaron
sentou na cama e Sarah, sentou ao seu lado, quase em seu colo de tão
colados. Ela abriu lentamente o envelope, de uma forma que o marido teria o
resultado igual com ela.

Então, Sarah finalmente abriu o envelope e puxou o papel lentamente para


fora. Bem ali diante dos olhos dos dois estava escrito: Positivo.

—Aaron... positivo...— Sarah, comentou boquiaberta.

Não que ela não desejasse isso, mas apesar de gostar de crianças, nunca se
imaginou mãe tão jovem. Contudo, ela também, nunca imaginou que aquele
casamento arranjado, firmado na infância, um dia fosse acontecer. Agora, ela
estava ali na Espanha, casada com o Aaron e pior: gostando disso.

—Positivo! Optchá, minha Santa Sara Kali! Minha ciganinha... você tem
me feito muito feliz e agora o homem mais feliz do mundo...— Aaron, falou
com os olhos brilhando, enquanto a colocava totalmente em seu colo e
beijava sua boca com paixão.

—Eu também, Aaron! Me sinto segura e feliz ao seu lado.— Sarah


declarou, enquanto mirava seu rosto, após o beijo.

—Isso merece uma grande comemoração! Uma festa no clube cigano!


Igual a que teve no dia em que você chegou aqui! Mas, antes quero uma
comemoração mais intima so nós dois: Hoje a noite um jantar especial.

—Boa ideia! Podemos pedir para a Carmem providenciar um pranto


especial, um vinho para você. Eu estou muito cansada para irmos jantar fora.

—Adorei a ideia! Quero você bem vestida, com todas as melhores joias
que te dei! Principalmente o anel que simboliza os seus olhos.

—Esta bem, meu querido, farei o que me pede.

Ele acariciou o rosto de Sarah, a olhou com carinho e desejo, em seguida


falou:

—Minha linda ciganinha, so de pensar que a partir de hoje a noite não


tocarei mais em você e passaremos a dormir em camas separadas....
—Heim? Teremos que dormir separados?

—Sim... achou que seu pai não contou essa parte a uma criança de dez nos
e nem sua mãe se preocupou em contar depois de você crescida.

—Não, pois eu estaria lembrada e não me recordo. Mas, também, como era
algo mais íntimos dificilmente qualquer um dos dois iriam me falar.

—Nós ciganos, durante a gravidez das nossas mulheres agimos assim.


Durante nove meses você será sagrada para mim, não posso toca-la como
mulher. A partir de hoje a noite dormirei no quarto ao lado!

—Ah... Aaron.... não gostei dessa parte...— Sarah, falou com voz
dengosa, abraçando-se ao marido.

—Ah! Como minha esposinha está mudada... em pensar que a poucos


meses atrás me fazia rolar na cama de desejo, tirava meu sono e ainda me fez
machucar meu dedo na noite de núpcias! Logo eu que nem sangue gosto de
ver....— Ele falou bem humorado.

—Ah! Para Aaron... as vezes de autoritário você passa a debochado.— Ela


deu um tapinha de brincadeira no braço forte dele.

—Hum... está bem! Agora querida, tire a tarde toda para descansar para o
jantar hoje a noite! Quanto a mim, irei somente tomar um banho rápido e irei
ao escritório central, já fiquei muito ausente esses últimos dias.

—Humm... mais um beijinho ainda podemos? —Sarah se abraçou a ele,


como uma gatinha manhosa e ambos se beijaram. Até que ela o largou e
deixou livre para tomar banho e sair. Enquanto ela se acomodou na cama
confortável para descansar até a noite.
Capítulo 17
“ Não se pode ir reto quando a estrada é curva”
( Provérbio Cigano)

—Sarah! Já está pronta?

—Estou quase, Aaron, falta apenas pegar minha joias no porta joias para
coloca-las.

—Ah, mulheres! Como demoram a ficarem prontas.

Sarah, surgiu linda. Como combinado, ela vestiria-se como se fossem


jantar fora. Ela vestida um lindo vestido verde esmeraldas que realçavam os
seus olhos.
—Já estou quase pronta! Meu querido, abra o meu porta joias que está
em cima da cama e me passe as joias que combinam com meu olhos, brinco,
colares, o anel que você me deu de presente.— Ela falava enquanto se olhava
no espelho.

Aaron, se dirigiu até a cama e em cima dela abriu o grande porta joias
que toda mulher cigana rica era de praxe possuir. Ele tinha lhe presenteado
com tantos colares, brincos, anéis, que o objeto já estava quase abarrotado.
Havia joias mais leves que ficavam soterradas pela as outras joias maiores
que Sarah nem se recordava, já tinha até perdido de vista.

Então, Aaron com suas maneiras nem sempre delicadas, começou a retirar
as joias uma por uma, para achar as que possuíssem pedra verde. Achou o
colar, brincos, faltam so o anel. Remexeu um pouco mais e achou, estava
escondido em baixo de outras joias não tão preciosas. Porém, isso fez com
que no fundo do porta retrato, fosse revelado um pequeno pedaço de papel
dobrado em quatro parte, parecia mais uma carta ou algo do tipo. Ele olhou
curioso para o papel e resolveu abrir, enquanto Sarah, se exibia diante do
espelho, de costas para ele e nem percebeu a sua descoberta.
Quando, Aaron, desdobrou o papel, sem que Sarah de costas, percebesse e
leu aquele pequeno texto com olhos curiosos, não sabia reconhecer de quem
era a caligrafia, mas sabia que era de mulher.

Querido Gustavo,

Sou eu a Sarah, lembra de mim? Aquela que você chamava de Sarinha e


que vivia a pedir em namoro. Sabe Guga hoje me arrependo muito de não
ter indo contra várias barreiras e não ter aceito seu pedido de namoro. Ah
se o tempo pudesse voltar... Você também pensa assim?
Atualmente, devido a minha origem cigana e ter ficado completamente
órfã no Brasil, estou morando a pouco tempo na Espanha, próximo a Madri,
casada com um primo cigano que abomino! Graças a Deus o casamento
ainda não foi consumado, pois ele me da nojo! Apesar de ser bonito, rico e
cobiçado pelas moças solteiras daqui onde moro. Eu fui pressionada a me
casar, devido a circunstancias, mas quero fugir disso tudo. Porém, não com
uma simples denuncia a embaixada brasileira e sim que além disso, você
esteja me esperando no Brasil, como sua namorada. O que acha? Ainda
sente algo por mim?

Sarah Perez

Os olhos de Aaron brilharam de ódio! O sentimento de fúria, decepção e


rejeição tomou conta dele ao concluir a leitura. Ao começar a ler a carta, já
estava desconfiado, mas foi preciso ler no final a assinatura de sua esposa
para realmente se convencer por quem ela tinha sido escrita.

—Aaron... me passe o colar! Você diz que mulheres demoram, mas você é
quem está demorando a me ajudar.—Sarah, falou bem humorada, enquanto
dava os retoques finais na maquiagem.— O silêncio foi a resposta.

—Aaron... O que houve? Você não estava pedindo pressa.

Ela se virou impaciente e ao ver a figura do marido sentado meio torto


na cama, o porta joias todo aberto, as joias espalhadas na cama e em suas
mãos um pequeno papel, um frio na barriga tomou conta de Sarah. Ela
reconheceu a carta que a alguns poucos meses atrás havia escrito e deixado
guardada. O tempo passou, o excesso de brincos, colares, pulseiras, acabaram
escondendo a carta no fundo do porta joias, longe dos olhos dela, fazendo
com que a esquecesse ali perdida. A carta que ela já nem desejava mais que
existisse e não tinha mais intenção alguma de enviar.

—O –que- si-gni-fi-ca isto?— A voz grave do marido, de forma bem


explicada, tomou conta do ambiente. Enquanto ele a mirava com o seu único
olho e em uma das mãos a carta, que aos poucos ele amassava, como uma
forma de conter a sua raiva.

—A...Aaron... eu posso explicar!— Sarah, levou as duas mãos a boca,


olhos arregalados e nervosa.

—Não tem explicação mais clara do que uma carta escrita do próprio
punho! Principalmente quando vem de alguém que tem sague gadjé nas
veias, um povo que valoriza mais o que está escrito e documentado do que a
própria palavra!

—Espere Aaron! Eu escrevi sim essa carta! Mas eu mudei, não me


identifico mais em nada que tem nesta carta!— Ela falou prestes a ir as
lágrimas e andou até a direção do marido ainda sentado na cama.

Sarah, tentou abraça-lo e ele se esquivou, assim como tantas vezes ela agiu
com um em um passado recente.

—Então, você chegou a cogitar fugir com outro? Ia me deixar aqui na


desonra e vergonha! Desgraçar o meu teto! O teto que lhe acolheu quando
ninguém se importava com você no Brasil!

—Aaron, por favor! Isso foi coisa do meu jeito inconsequente e mimado de
quando cheguei aqui! Veja que mudei muito desde o assalto que atentaram
contra a sua vida e percebi que não queria perder você! Que eu havia me
apaixonado por você!

—Sei... e mandou e pediu ajuda a um maldito amigo gadjé! Pedindo ajuda


para fugir e se oferecendo para ser sua namorada! Já casada comigo!

—Não leve por esse lado! Lembre-se que ainda não vivíamos como marido
e mulher! Ainda não eramos um casal de verdade!—Ela argumentava entre
lágrimas.

—Aqui você deixa bem claro que chegou a sentir nojo de mim de verdade,
provavelmente repulsa pela minha aparência ! Eu e achando que era da boca
para fora, algumas poucas vezes que você falou com seu jeito de menina
mimada! Já que nenhuma mulher aqui sente isso por mim!

—Aaron... me desculpe! Esqueça esta carta! Vamos jantar... estou grávida


e com fome já...

—Pois eu, perdi a fome! Não quero mais jantar! Jante você se quiser, já
que como você mesma disse: Esta grávida.

—Aaron, eu escrevi isso a tento tempo! Agora eu já não sinto mais nada
disso por você! Pelo contrário! Agora amo você e estou feliz com o nosso
filho a caminho!

Ele jogou o papel no chão, pisou em cima, furioso e a encarou sério,


com o dedo indicador em riste.

—Pois saiba, Sarah, que por mais que eu te ame, não quero uma mulher
que ia me apunhalar pelas costas! Tinha planos de fugir com outro, iria cobrir
a minha casa de vergonha! E que diz claramente a repulsa e nojo que sentiu
por mim!

—Aaron... já pedi, desculpas...O que você quer dizer com isso?— Ela
falou com olhos assustados.

—Que desejo o divórcio!

—Divórcio? Entre o povo cigano não é comum... sempre ouvi meu pai
falar isso...

—Como também não é comum o que você fez! Aliás, nada em nossa
história é comum! Hoje dormirei no quarto de hospedes! Mais não porque
você está grávida! E sim porque amanha mesmo lhe entregarei de volta para
o seu tio e avisarei que lhe desejo que você seja expulsa do nosso clã por
traição!
—Expulsa do clã? Como assim?

—Isso mesmo! Entre o nosso povo você não poderá mais ficar! Entrarei
com o pedido de divórcio nas leis dos gadjés, mas desde já você está livre!
Volte para o seu povo no Brasil! Quando eu lhe entregar ao seu tio ele
providenciara a sua volta ao Brasil.

—Por favor não faz isso... meu povo agora são você.... E você não pode
decidir isso sozinho, apesar de ser o barô da tribo!

—Ah não? Então que se convoque a Kris Romani! É isso que você deseja?
Pois, apesar do seu tio ser um membro, as decisões dos membros podem ser
mais rígidas do que a minha!

—Aaron... por favor! Você está agindo de forma precipitada e no calor da


emoção... E o nosso filho?

Aaron, já havia pego algumas poucas peças de roupa para passar a noite no
outro quarto e se preparava para deixar o quarto, enquanto Sarah chorava
sentada na cama. Ele se virou, olhou para trás e concluiu:

—O nosso filho, terá meu nome, minha herança e irei visita-lo quando
nascer! Agora você eu quero fora da minha vida amanhã mesmo! Agora já é
noite, não vejo necessidade de chamar o seu tio aqui agora.

Sarah, já havia chorado e implorado, resolveu mostrar um pouco da Sarah


de antes, que devido a paixão por ele havia mudado. Ela ajeitou os ombros,
erguei o pescoço e falou:

—Não sou mais uma criança! Sou uma mulher casada e grávida! Não
preciso que “me devolva” ao meu tio! Apenas passagens, passaporte e algum
recurso para viver no Brasil até a criança nascer eu puder me organizar,
trabalhar.

—Você chegou aqui trazida pelo seu tio, foi entregue a mim, agora eu
devolvo para que ele tome conta dessa parte! Mas não se preocupe, não
passará necessidade no Brasil, a ajuda financeira de quem você tem nojo
chegará todo mês!
—Ah que gentil da sua parte! Entre os “gadjés” existem leis, pensões
alimentícias, sabia?— Sarah, enxugou as lágrimas e falou com deboche.

—E entre o povo cigano existe honra e palavra! Não que entre os outros
povos não as tenha, mas não precisamos de leis e papeis para sustentar isso!

—So que alguns são cabeça dura e arrogantes, não sabem o que é perdoar e
julga a mãe do seu próprio filho, por uma carta inscrita num momento de
desespero e ainda em fase de adaptação a nova vida!

—E algumas são falsas e traidora e quero longe do meus olhos ainda


amanha! Ah! acabou a sua “prisão” nesta casa! Avisarei aos seguranças que
você pode sair a vontade! Não pertence mais ao nosso clã e nem possui
compromisso comigo! Agora é livre e sem dono como o vento! Ah!
Mandarei a Carmem vir deixar seu jantar, uma mulher grávida precisa comer.

Sarah, sem palavras, não mais falou. Apenas olhou triste, ele com uma
expressão seria e magoada, deixar o quarto com o seu pijama e alguns objetos
pessoais de higiene.

Quando Aaron sai, ela se jogou de vez na cama, caiu num choro, sem fim.
Parecia que estava vivendo um pesadelo. Como tanta felicidade que mal
havia chegado, pode ir embora tão rápido por causa de uma maldita carta
esquecida e que ela nem se reconhecia mais como a autora dela. Ela pensou
em ligar para a casa do tio, mas depois achou melhor não. Não possuía muita
intimidade com ele, ele era alguém também muito conversador das tradições,
não sabia nem do lado de quem ele tomaria partido. Doia em sua alma as
palavras duras de Aaron, que não a queria mais nem por perto, nem sequer no
mesmo clã, sinal de muita magoa e ódio. De repente as paredes daquele
quarto começou a sufoca-la, como faziam no passado os muros daquela
mansão.
Sarah, estava desorientada, precisava, sair um pouco ao menos para o
jardim, para pensar, mas não queria encontrar com Carmem ou nenhum
conhecido dos poucos conhecidos ciganos que questionasse porque ela
estava chorando, precisava ficar sozinha, mas não ali naquele quarto que
estava lhe sufocando e onde a presença de tudo que viveu com Aaron era tão
forte e recente.
A jovem olhou pela janela e viu que os portões estavam sem seguranças,
deviam está trocando o turno, apesar que Aaron ter lhe avisado que agora ela
era livre pra sair e de preferencia nunca mais voltar aquela casa. Contudo,
provavelmente ainda não havia dado tempo ele avisar aos seguranças a
respeito disso. Ele estava muito alterado, provavelmente havia se trancado no
quarto e so daria a ordem amanhã a eles. Sarah, agiu sem pensar, abriu
rapidamente o armário, pegou um grosso casaco que lhe cobrisse o belo
vestido, pois não queria perder tempo trocando de roupa e deixou o quarto na
esperança de poder da uma volta e talvez parar um pouco em algum refugio
sozinha. Afinal, ainda eram oito horas da noite e no bairro cigano ninguém
se atreveria a importunar ou fazer nada com a esposa do barô. Então, assim
ela fez... e sem muita dificuldade passou rapidamente pelos portões principais
que davam acesso a rua, pelo descuido dos seguranças.
Capítulo 18

Romani: “Thie aves thiatlô lom, manrô tai sunkai!”


Tradução: Que você seja abençoado com o pão, como sal e com o ouro! Optchá!

—Senhora! Senhora! —Carmem bateu na porta do quarto do casal, mas so


ouviu o silêncio. Ela insistiu novamente.

—Senhora... o senhora Aaron, mandou vir deixar o seu jantar! Está me


ouvindo? Vou entrar... —diante do silêncio a mulher, segurando uma bandeja
acabou empurrando a porta e entrando devagarinho no quarto. Ela sentia e
sabia que tinha algo errado, mas não sabia o que havia acontecido. Apenas
que o jantar havia sido cancelado e o senhor Aaron não estava com uma boa
cara. Além de que ele estava no quarto de hóspedes.

Quando Carmem entrou no quarto achou estranho o quarto vazio aquela


hora. Além de não ser comum uma mulher cigana sair sozinha por ai a noite,
sabia que Sarah era uma pessoa de hábitos diurnos. Sentia algo estranho no ar
principalmente após o que parecia um briga do casal. Ela foi até o banheiro e
mexeu devagarinho no trinco da porta, com isso abriu e viu que estava vazio,
pela casa ela não estava. Restava os jardins e a piscina da mansão. A Sarah
não tinha o hábito de passear por eles aquela hora da noite mais era sempre
bom se certificar. Então, a mulher foi até os jardins e não achou nada, mas
falar com os seguranças ,apesar de não terem visto nada, as câmeras filmaram
a sua saída pelos portões da casa. Estava com cabelo preso, um longo casaco,
como se quisesse se esconder do vento noturno e das pessoas conhecidas.

—Senhor Aaron! Senhora Aaron!—Carmem bateu apressada e aflita na


porta do quarto onde Aaron estava.

Aaron com um semblante pesado, abriu a porta do quarto ao invés de


manda-la entrar, pois ele não desejava ver ninguém. Estava magoado,
confuso e triste.
—O que deseja, Carmem?
—Senhor Aaron! É a senhora Sarah!

—O que tem a Sarah?—Ele perguntou impaciente e mal humorado.


Achava que ela havia feito algum capricho de menina mimada ou algo que
desafia-lo.

—Ela sumiu! Não está em parte alguma da casa!

—Como assim sumiu?—A expressão dele mudou para preocupado.


Afinal, a sua intenção não foi expulsa-la de casa grávida. A sua intenção e
obrigação, na cabeça dele, era entrega-la aos cuidados do tio para que ele
organizasse o destino dela fora do clã e de volta ao Brasil.

—Sumiu! E As câmeras de vigilância da casa, registraram ela saindo pelo


portão principal que da acesso a rua por volta das oito horas da noite.—A
mulher respondeu aflita.

— Carregava alguma mala?

—Não, senhor! Vestia um casaco grosso para se proteger do frio e lenço na


cabeça como se não quisesse ser reconhecida!

—Então, ela não deve ter ido longe! Ah! Como se não quisesse ser
reconhecida? Será que ela não entende que grávida, a noite e sem conhecer
tão bem o lugar, é mais seguro ser reconhecida como minha esposa do que
passar por uma estrangeira? Minha santa Sara de Kali!— Aaron passou aos
mãos na cabeça, num gesto de impaciência.

— Grávida? Minha Santa Sara! Desculpe a intromissão, senhor... mas


vocês brigaram sério? O jantar especial foi até cancelado...Agora ela sumiu...

Aaron não queria da muitos detalhes, até mesmo para a sua fiel empregada
de muitos anos. Estava se sentindo confuso e mesmo magoado já estava até
sentindo remorso pelas coisas que falou para ela, ainda mais esperando um
filho seu.

—Sim, Carmem...brigamos feio! Eu disse coisas muito duras a ela e que


iria entrega-la de volta para o nosso tio! Na verdade pedi o divórcio!

Ao ouvir a palavra divórcio, a mulher arregalou os olhos e colocou as


mãos na boca. O divórcio não era algo aceito pela cultura cigana, era preciso
que algo muito grave tivesse acontecido.

—Ah Carmem! Não me olhe com esta cara, como se eu fosse um algoz!
Já basta a minha consciência me acusando! Mas também, eu não imaginava
que ela iria voltar a se comportar como a garota mimada e atrevida de antes e
sair sozinha por ai a noite sozinha. Ainda mais grávida!

A cigana experiente, o olhou e falou com cautela:

—Senhor... não importa o que ela tenha feito, mas perdoe a senhora Sarah
e a traga de volta como sua mulher... como senhora desta casa!

—Perdoar? Não sabe ao menos o que ela fez! Uma coisa é ir atrás dela
pelo bem estar dela e do meu filho e entrega-la ao nosso tio...

—Sim, senhor, perdoar! E perdoe agora, enquanto o assunto está apenas


entre vocês dois e ainda não se espalhou no clã. Não envolva o tio de vocês
nisso e muito menos o conselho Kris Romani...

—Por que diz isso Carmem? Logo você uma mulher cigana tão experiente
e que conhece muito bem as tradições do nosso povo?

—É justamente por ser tão experiente que vejo amor, que antes eu não via,
nos olhos da senhora Sarah quando se refere ou olha para o senhor... Além
disso vocês dois ultimamente estavam tão felizes. Ainda mais agora que vem
um filho a caminho...

Aaron ficou confuso ao ouvir as palavras daquela mulher experiente que o


servia a tantos anos com verdadeira devoção. A sua reação não foi nem um
sim e nem um não e sim pegar urgente as chaves do carro no criado mudo ao
lado da cama e falou apressado.

—Carmem! Vou reunir os homens, os seguranças da casa e irei atrás de


Sarah! Ela não deve está longe!
—Muito bem senhor! Traga a senhora Sarah de volta e que Santa Sara de
Kali guie as buscas!

Aaron dividiu os homens em duas caminhonetes e saiu pelas ruas do


bairro em busca da esposa. Porém, antes teve ideia de ligar para o seu tio
Vladimir com uma desculpa qualquer, mas percebeu pela conversa dele que
ela não estava lá e que ele ainda não sabia de nada a respeito. Então, achou
melhor nem falar nada, pelo menos não ainda.

Eram por volta das dez e meia da noite quando Aaron retornou
desapontado e preocupado. Sentindo também um certo remorso.

—Senhor, não achou nada? Nem sinal dela?—Carmem esperava aflita ao


vê-lo retornar sem Sarah.

—Não Carmem! Infelizmente não... e também não consigo imaginar onde


ela se meteu!

—O senhor procurou nas ruínas?

—Nas ruínas? Esta hora da noite? Já quase onze horas? Apesar da lua está
clara e de ser próximo aqui, precisaria ser uma mulher muito corajosa para ir
até lá!

—Ou uma mulher muito desesperada e triste senhor... o que não seria
aconselhável com aquele penhasco tão grande no local...

A mulher falou com cautela e preocupação e ele entendeu o recado.


Aaron nem chegou a cruzar a porta de casa, ali mesmo na soleira, virou para
os seguranças ainda no jardim e avisou.

—Ninguém entra! Vamos procurar nas ruínas ! Rápido!

Quando Aaron chegou as ruinas viu que não haveria necessidade de usar
lanterna, mas achava um lugar pouco apropriado para uma mulher sozinha
está ali, ainda mais a noite. A lua clara no céu iluminava o lugar, a sombra
dos pilares de pedra se desenhava no chão, o barulho do vento frio batendo
nas pedras escuras, dava ao lugar um clima de mistério.
—Esperem aqui na caminhonete! Daqui pra frente sigo sozinho!

—Tem certeza senhor? Pode ter alguém ai que nõ seja a senhora Sarah.

—Sim! Se a minha esposa estiver mesmo aqui quero encontra-la sozinho!


Mas, vocês fiquem atento ao meu chamado, caso precise.

O carro ficou parado a poucos metros e Aaron entrou nas ruinas, um lugar
misterioso e que as vezes tinha um clima romântico no cair da tarde ou um
clima de mistério a noite. Ponto comum de casais de namorados, bandidos,
pessoas solitárias, amantes.

—Sarah! Sarah! Sarah! —O barulho do vento foi quem respondeu quando


ele realmente adentrou no local.

—Tem alguém ai?

Aaron ouviu um barulho, olhou rapidamente para trás, mas era uma ave
noturna que devia usar o lugar como ninho. Até que ele ouviu um barulho de
alguém pisando em folha seca por trás de uma das colunas negras da ruina.

—Sarah... é você Sarah?— Ele perguntou com cautela, com uma das mãos
na cintura próxima a sua arma, poderia ser um ladrão ou algo do tipo. Diziam
que a noite contrabandistas as vezes enterravam pedras ali.

Então, ao se aproximar da coluna ele viu sentada em uma pedra por trás
dela uma figura frágil feminina que soluçava. A cabeça baixa, tocava os
joelhos inclinados, enquanto os seus braços se cruzavam em torno deles
como uma espécie de abraço.

—Sarah! Então, é mesmo você!

—O que você quer? Já não basta ter expulsado nosso filho e eu da sua
vida, do clã e de tudo mais onde você manda?

A sombra de Aaron ali de pé diante dela sentada soluçando a cobria, já que


ele era alto e a iluminação natural do local causava sombras. Ele Abaixou,
ficou de cócoras ao lado dela, com a sua mão grande e forte, levantou
delicadamente o seu rosto cheio de lágrimas e falou.
—Eu vim buscar a minha esposa, a mulher que eu amo e o meu filho de
volta para casa e para o seu povo! O nosso povo...

Ao ouvir aquilo os olhos dela se iluminaram e o verde esmeralda brilhou


a luz da lua. Ela mal teve tempo de pronunciar algo: Antes que ela falasse
algo, ele segurou o seu rosto com as duas mãos e a calou com um longo beijo
apaixonado. Quando o beijo terminou, ela ainda tentou dizer algo.

—Aaron... você me desculpou?

—Não Sarah, nós nos desculpamos! Pois, eu também cometi os meus


erros...

—Eu te amo, Aaron!

—Eu também te amo, Sarah! Agora vamos para casa, minha ciganinha dos
olhos de esmeraldas, eu morreria só de pensar em ficar sem você!

Ele levantou e ajudou ela a se levantar também e juntos abraçados


deixaram o local, em paz, aliviados e de volta para a casa.
Epílogo:
—Optchá! Nasceu! Salve santa Sara Kali!—Foi o grito de Carmem que
acompanhava o trabalho de parto ao lado da cama de Sarah.

Após isso, ela limpou o bebê, cobriu com uma manta e atravessou o quarto
com ele nos braços.

— Veja senhor, é um menino! Santa Sarah Kali o abençoe! —Carmem


falou animada, enquanto entregava a Aaron no meio do quarto o bebê que
mais parecia um pacotinho coberto por um coberto azul. Um pacotinho de
amor...

—E Sarah?

—Eu... estou bem, meu amor...—Sarah, falou exausta, deitada na cama,


ainda molhada de suor e com uma enfermeira ao seu lado.

—Você se chamará Igor: O Príncipe da paz!

Aaron com um semblante emocionado e olhar brilhante, segurou em seus


braços pela primeira vez o seu herdeiro. Com a voz embargada de emoção
falou:

—Você se chamará Igor, pois significa príncipe da paz! Optchá!

Um lindo nome e que trazia muita coisa por trás daquele significado. Ele
realmente vinha para selar de vez a paz entre o casal.
Sumário
Palermo, Itália, 1982(Clã Orsini)
Palermo, Itália, 1985. Três anos depois...
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Epilogo
“Na paz os filhos enterram os pais, na guerra os pais enterram os filhos.”
Heródoto
Palermo, Itália, 1982 (Clã Orsini)
— Papai! Papai! O senhor chegou! — Uma linda adolescente de quinze
anos, com aparência angelical, entrou correndo na luxuosa sala de estar,
pulou no colo do homem e o encheu de beijos.

— A princesinha do papai! Giovanna, minha doce Gio! — O homem de meia


idade, vestindo um sóbrio terno preto, sentado em sua poltrona preferida da
sala, a abraçou, retribuindo os beijos e afagos.

— Papai! Não vejo a hora de entrar para a faculdade e começar logo a


trabalhar com o senhor nas empresas! Quero ajudar administrar os negócios
da família igual ao Lorenzo! — a adolescente falou entusiasmada.

Don Enrico Orsini a olhou nos olhos retirou lentamente uma mecha de
cabelo loiro caída em sua testa, em seguida beijou o local e falou paciente:

— Não! Os negócios da família, continuarão sendo administrados apenas


por mim e pelo seu irmão Lorenzo! Ele será um dia o meu sucessor e você
será um dia, uma médica! A médica mais bem sucedida de Palermo.

Don Enrico, não tinha como lhe explicar que na máfia mulheres não
faziam parte diretamente da organização. Tão pouco podia revelar em que
realmente consistiam os negócios da família e a sua condição de chefe
mafioso.

— Ah papai! Não quero ser médica! Quero cursar administração e


trabalhar com o senhor, igual ao Lorenzo! — a jovem falou, fazendo
beicinho. —Além disso, tenho medo de sangue e detesto hospitais!

“Medo de sangue” foi o que Don Enrico pensou ao olhar com uma
expressão enigmática para a filha tão inocente. No fundo, ela não sabia
exatamente em que consistiam “os negócios da família.”

— Não, querida! Além do mais ainda faltam três anos para você entrar na
faculdade! Então, daqui até lá, perderá esse medo, é o que todos dizem.
Uma senhora de aparência simpática, cabelos grisalhos, vestindo um
uniforme cinza de governanta, entrou na sala e interrompeu a conversa.

— Don Enrico, o almoço está servido! Gio... não preencha o horário de


almoço do seu pai com os seus caprichos! Ele sabe o que é melhor para
você... — a governanta que estava na família há anos, e que de certa forma
desconfiava de algo, aconselhou. Don Enrico sempre pode contar com
discrição da sua fiel Gemma.

Então, foram para mesa e o almoço seguiu como sempre. Desde que ficou
viúvo, Don Enrico Orsini, fazia questão de almoçar em casa com sua única
filha, sua caçulinha temporã, o seu xodó. O seu único filho homem, Lorenzo
Orsini, nem sempre estava presente e seu pai o compreendia. Afinal, Lorenzo
já era um homem feito, vinte e sete anos, estava sendo preparado há tempos
para um dia ser o seu sucessor. Isso fazia com que sua carga de trabalho e
seus horários não fossem tão regrados como o do seu velho pai.
Além do mais, Lorenzo Orsini, jovem, bonito, solteiro, fazia sucesso
com as mulheres, no melhor estilo playboy mafioso e isso de certa forma
orgulhava Don Enrico. Então, com o tempo dividido entre os negócios da
família e aventuras amorosas com belas mulheres, ele nem sempre estava
com horários disponíveis para compromissos familiares rotineiros.

Entre a doce e mimada Giovanna e o seu irmão Lorenzo havia uma


diferença de idade de doze anos. Isso o tornava um irmão não exatamente
companheiro, mas sim um irmão protetor. Na verdade, todos a mimavam
naquela mansão, era a caçula, a temporã, a princesinha. A Princesa da
máfia...
Palermo, Itália, 1985. Três anos depois...

— Ele entrou ali! Rápido! É uma rua sem saída! Agora ele não escapa!

O carro preto, cheio de capangas do clã Martinelli, perseguia pelas ruas


ensolaradas de Palermo, sem piedade, o imponente e veloz carro esporte
vermelho. Lorenzo Orsini já havia percebido que não foi uma boa ideia
dispensar seus seguranças naquela tarde e trocar seu carro blindado. Tudo
isso, em nome da privacidade com uma bela e conhecida mulher casada, mas
também para impressioná-la ainda mais com o seu novo carro esporte. Ela
teria sido uma isca? Pois, bastou deixá-la e a perseguição deu início...

— Droga! Maldição! Rua sem saída! — Lorenzo gritou e pôs as mãos na


cabeça em sinal de desespero! Sabia que iria morrer, a máfia era impiedosa,
ele também já fora impiedoso por várias vezes. Ainda tentou escapar, mas
antes de tentar engatar marcha ré, foi trancado pelo carro preto que o
perseguia.

Um homem alto, mal-encarado, usando um terno preto, desceu


rapidamente do carro, empunhando uma pistola prateada na mão. Agia como
se fosse o chefe do bando. Os outros que estavam no carro, desceram
rapidamente e ficaram na reta guarda. Tudo isso aconteceu em questão de
segundos.

— Fim da linha, Lorenzo Orsini! Don Alessandro Martinelli lhe manda


lembranças! — ele anunciou em voz alta, como se quisesse ser ouvido pelos
sete cantos. Após o anuncio, disparou inúmeras vezes contra o homem de
trinta anos, ainda sentado no volante do seu belo carro esporte.

Então, foi assim, numa emboscada, com trinta tiros de pistola que a vida
do playboy mafioso Lorenzo Orsini, jovem, bonito, rico, único filho homem
de Don Enrico Orsini e que seria um dia seu sucessor nos negócios, chegava
ao fim. Após os disparados o bando fugiu e o local foi tomado por repórteres
e curiosos.
Don Enrico estava em seu escritório, sentado em sua cadeira presidencial
de couro marrom, fumando o seu charuto cubano de sempre. Os mais
variados problemas da organização criminosa que ele fundou há trinta anos e
chefiava disfarçada de empresa chegavam até sua mesa. Porém, naquela tarde
as coisas estavam incrivelmente monótonas e uma angústia inexplicável
tomava conta do seu peito. Apesar dele não ser um homem sensível, pois já
estava habituado a anos de brigas e mortes entre os clãs rivais que
disputavam o território, ele não estava gostando daquela sensação estranha no
peito. Algo muito semelhante ao dia em que seu irmão, seu braço direito, seu
consigliere, foi assassinado pelo velho Don do clã Martinelli.

— Mas, ele teve o troco! — ao relembrar o fato, Don Enrico falou com
seus botões, enquanto observava a fumaça do seu charuto se desfazer no ar e
relembrava a morte do Don rival. Porém, quando sua esposa faleceu, não teve
como dar troco, pois foi coisa do divino.

De repente, o velho chefe mafioso se viu olhando para os dois porta


retratos de prata que decoravam a sua grande mesa de mogno escuro e
percebeu que ali estava tudo que ele tinha de mais precioso nesta vida. Em
um deles era a foto de Lorenzo, o seu orgulho, tudo o que ele esperava de um
filho homem, o filho de um Don: Jovem, bonito, inteligente, mulherengo,
corajoso, empenhado nos negócios. O filho que todo Don desejaria ter, um
perfeito sucessor. No outro porta retrato: Giovanna, a sua princesinha, caçula
temporã, jovem, meiga, dona de uma beleza angelical. Criada para usufruir
de todo o luxo e dinheiro que um grande mafioso poderia proporcionar à sua
família, ainda mais em se tratando da sua filhinha, seu xodó. Porém, sem
jamais ela saber muitos detalhes ou participar dos negócios. Don Enrico
desejava vê-la em segurança, exercendo uma profissão respeitada, dentro da
lei, casada e com filhos.

O telefone tocou e interrompeu os pensamentos do chefe do clã Orsini.


Aquela era a sua linha particular, nem mesmo a sua secretária tinha acesso.
Apenas pessoas muito influentes, apadrinhados e contatos estratégicos tinham
acesso aquele número. Então, quando aquele telefone tocava, era sinal que
algo muito sério havia acontecido. Geralmente alguma notícia ruim, alguma
informação estratégica ou um pedido de ajuda de algum afilhado.

— Alô! Don Érico Orsini?


— Sim! Em que posso ser útil? — O Don reconheceu a voz do chefe de
polícia, mas não era conveniente cumprimentá-lo de forma amigável,
telefones podiam ser grampeados. Ele também, percebeu que houve uma
pausa do outro lado da linha.

— O seu filho, senhor... o senhor Lorenzo, o futuro Don...

Ao ouvir aquilo, ele sentiu um aperto no peito, um pressentimento, o


rosto do senhor de idade se transformou em uma máscara de dor. Contudo,
possuía a frieza de um chefão experiente, adquirida em anos de guerra contra
a família rival. Após fazer um grande esforço para manter o autocontrole,
Don Enrico falou:

— Quanto tiros?

— Trinta tiros de pistola, senhor!

— A mando do clã Martinelli?

— Ainda não se sabe ao certo, mas provavelmente! Afinal, é o seu


principal inimigo! Haverá alguma retaliação, senhor?

— Não! Por hora, não! No momento, apenas desejo o melhor agente


funerário de Palermo! Não quero que minha filha, tão sensível, veja o irmão
com o rosto desfigurado. Além disso, meu filho era um homem bonito e
vaidoso, ele não gostaria de ser visto assim no caixão! E obrigada por sua
lealdade de tantos anos...

Don Enrico Orsini, desligou o telefone, até ali ele tinha conseguido manter
o autocontrole, mas estava sem reação, mal podia acreditar naquilo. Ele olhou
em volta da sua sala e de repente todo aquele luxo pareceu sem sentido. Toda
aquela guerra por dinheiro, poder, dominação de território, já durava anos e
agora seu único filho homem estava morto. Restava apenas a sua Gio, mas
uma mulher não podia chefiar uma organização mafiosa, não era aceito pelo
código da máfia. Além do mais, mesmo se aceitassem, sua Gio não foi criada,
nem preparada para isso.

— Estou velho e cansado! Agora só restou a Giovanna, minha doce Gio,


minha princesinha. Preciso protegê-la! Só me resta duas opções: Vingar
Lorenzo ou proteger Giovanna! Mas como eu a protegeria? Pois do jeito que
essa guerra está, ela poderá ser a próxima...

De repente uma outra ideia lhe veio à mente, Don Enrico abraçou o porta
retrato de prata em cima da mesa com a foto de Lorenzo, apertou contra o
peito e falou entre lágrimas.

— Meu filho! Meu filho! Seu pai está velho e cansado! Mas, se eu não lhe
vingar, outro alguém com o seu sangue fará isso por mim! A sua morte não
passará impune!

Depois tirou um lenço de seda do bolso do terno italiano, enxugou as


lágrimas e tentou se recompor, pois precisava ser forte. A morte do filho de
um Don mexia com a cidade, especulações, cobertura da imprensa, afilhados
vindo prestar solidariedade, entre outros.

Após se recompor, pegou novamente seu telefone exclusivo e fez a ligação


telefônica que ele jamais pensou em um dia fazer na vida:

—Aqui é Don Enrico Orsini! Desejo marcar uma audiência com Don
Alessandro Martinelli!

Então, assim foi selado o acordo de paz, entre os dois clãs mafiosos rivais
Orsini e Martinelli. Já velho e cansado, sem um sucessor homem e para
acabar com aquela guerra sangrenta, ele que temia pela segurança da sua,
agora, única filha, mas no fundo sentia também vontade de vingar Lorenzo.
Don Enrico propôs um acordo e foi aceito pelo jovem Don Alessandro
Martinelli: A união das duas famílias, por meio do casamento da sua
princesinha Giovanna Orsini e do jovem e bonito chefe do clã rival Don
Alessandro Martinelli.
Capítulo 1
Dois meses depois...

Vestida de noiva, um arranjo de flores na cabeça, a jovem loira de cabelos


cacheados na altura do ombro, estatura mediana, olhos claros, rosto angelical,
mal conseguia acreditar que em poucas horas se tornaria Giovanna Orsini
Martinelli. Uma linda festa estava se iniciando nos jardins da mansão Orsini.
Eram cinco horas da tarde e pelo que ela observou da janela do seu quarto,
alguns convidados já haviam chegado.

— Como você está linda, Gio! Venha aqui, minha menina, me dê um


abraço! — a velha governanta da mansão Orsini falou emocionada.

— Obrigada, Gemma! Mas a sua opinião é suspeita — após retribuir o


abraço apertado, a jovem falou com delicadeza e fez beicinho enquanto
encarava a velha senhora.

— Você é a noiva mais linda que já vi! Está feliz? — a mulher perguntou
entusiasmada, tentando lhe animar.

Aquela era o tipo de pergunta que Giovanna Orsini não sabia responder.
Enquanto observava a sua imagem refletida no espelho e uma das moças do
cerimonial arrumava discretamente a calda do seu luxuoso vestido de noiva
branco e com renda francesa, ela baixou a cabeça olhou para o buquê de
flores naturais que já estava em suas mãos e respondeu após uma breve
pausa:

— Eu... eu... eu não sei!

Realmente ela não sabia. Nos últimos dois meses, ela estava vivendo meio
que no piloto automático, pois foi uma tragédia e revelação atrás da outra.
Não foi nada fácil, para a linda garota de dezoito anos, criada como uma
princesinha, receber a notícia da morte do seu único irmão. O seu irmão mais
velho, provavelmente assassinado por inimigos mafiosos. Então, somou-se a
isso a revelação de que ele e seu pai também eram mafiosos. Na verdade, a
fortuna do seu pai, “os negócios” da família que ela sempre sonhou um dia
ajudar a administrar não passavam de uma grande organização mafiosa, da
qual seu pai era o chefe e seu irmão era o seu sucessor. Contudo, como se já
não bastasse, o seu casamento arranjado de última hora com o chefe do clã
rival e suspeito de assassinar seu irmão: Don Alessandro Martinelli!

— “Selar a paz na família” — a jovem repetiu em tom de deboche diante


do espelho, ao relembrar as palavras usadas pelo seu pai ao convencê-la. A
governanta, sempre discreta fingiu não ouvir a sua menina pensando alto.

De repente, bateram na porta do quarto:

— Senhorita Giovanna? — Era uma das moças do cerimonial. — Tudo


pronto para a cerimônia. A senhorita já pode descer. O seu pai também já a
aguarda lá embaixo.

A jovem deu uma última olhada no espelho, para a sua imagem refletida de
noiva, uma linda noiva com tudo do mais luxuoso. Porém, em sua cabeça
algumas perguntas pairavam: Não conseguia entender por que tinha que se
casar com o provável assassino do seu irmão. Não seria mais coerente e justo,
abandonar os negócio ilegais, entregar o caso do assassinato a polícia e viver
o luto pelo irmão? Não... pois na máfia, onde ela nasceu e cresceu sem saber,
as coisas não funcionavam dessa forma. Além disso, existiam regras, crimes
e acertos de contas de ambos os lados...

— Obrigada, já estou descendo...

— Toda a felicidade do mundo para você, minha menina. —Foram as


palavras finais da governanta que estava na casa desde que Gio ainda era um
bebê, ao lhe deu o último abraço.

— Obrigada, Gemma. — A jovem retribuiu com um abraço apertado.

Antes de largá-la e deixá-la descer, a senhora segurou seu rosto com as


duas mãos, a olhou nos olhos e falou:
— Não fique com essa cara! Você vai ser feliz ao lado do seu marido. Don
Alessandro Martinelli é jovem, bonito, rico, cobiçado pelas mulheres. Aposto
que tem muita moça que desejaria estar em seu lugar.

Gemma, apesar de saber que aquilo era um casamento arranjado, até


desconfiava o motivo, preferia fingir que não sabia de nada. Assim como ela
sempre fingiu durante anos e sempre usou sua discrição e lealdade em relação
ao seu patrão Don Enrico.

— Não sei, Gemma... — Giovanna falou confusa. — Mas, prometo tentar.


Agora deixe-me ir, pois papai me aguarda lá em baixo e já avistei da janela
vários convidados no jardim.

Giovanna deixou seu quarto de solteira e seguiu pelo longo corredor de


paredes brancas e cheio de portas dos quartos. Bem na metade do corredor
havia uma bela escada de mármore italiano que dava acesso ao térreo da casa,
para ser mais preciso, a sala de visitas. Enquanto caminhava lentamente pelo
corredor, vestida de noiva, com moças do cerimonial segurando a longa calda
do vestido, Gio parecia mais uma linda princesa loira, saída dos contos de
fadas.

Finalmente Gio chegou até a escada e lá do topo, ao olhar para baixo, ela
avistou seu pai, ao lado da escada, aguardando para levá-la ao altar e entregá-
la ao Don Alessandro Martinelli.

Don Enrico, vestia um elegante terno preto, feito especialmente para


aquela ocasião. Afinal, apesar de ele possuir vários ternos pretos elegantes,
não era todo dia que um importante chefe mafioso, casava a sua única filha.
Em seu rosto emoldurado por cabelos grisalhos, ele carregava uma expressão
solene. Aquela expressão não lembrava em nada a alegria de um pai casando
uma filha e sim obrigação, seriedade.

— Você está linda, Gio! Minha princesa! — Don Enrico falou, tentando
disfarçar a emoção que sentiu ao ver a filha vestida de noiva descendo
lentamente as escadas.

— Obrigada, papai, mas o senhor é igual à Gemma, também é suspeito em


falar! — a jovem respondeu mimada. — E se gostou tanto do que viu, por
que está com esta expressão séria no rosto? Afinal, foi o senhor que me
convenceu e determinou que eu deveria me casar com o tal Don Alessandro
Martinelli.

— Não vamos recomeçar com isso, Gio. Eu sou assim mesmo, um homem
sério de poucas emoções — ele falou impaciente.

— Sei disso, mas não comigo! — ela respondeu, fazendo beicinho com os
mimos de sempre.

— Porque você é minha princesinha. Agora vamos! Os convidados e seu


futuro marido nos esperam no jardim. — Ele lhe ofereceu o braço e ela
aceitou, na outra mão o buquê, mas ela ainda fez uma pausa e perguntou:

— Não entendo, se o senhor diz que está velho e cansado, e se esse homem é
suspeito de ter assassinado o Lorenzo, por que o senhor simplesmente não
abandona esses negócios e entregamos as investigações à polícia? Então,
recomeçaríamos uma vida nova.

Seu pai olhou sério para ela, não parecia mais aquele que chamava de
minha princesinha e falou:

— Como filha de um mafioso, aprenda que não existe ex-mafioso e dentro


da organização, temos nossas próprias leis. Agora vamos, todos estão nos
aguardando — ele respondeu sério.

A jovem calou-se e atravessou a luxuosa sala de estar com uma aparência


resignada, até a imponente porta principal que dava acesso ao jardim. Afinal,
àquela altura, faltando apenas alguns minutos para a cerimônia, não era mais
hora para discutir aquilo.

— Está bem, papai...

Giovanna não sabia, naquele momento, descrever suas próprias emoções.


Em relação ao casamento, não estava feliz, pois não via necessidade daquele
acordo e não estava em seus planos se casar tão jovem, sem amor. Porém,
também não estava triste, já que não era apaixonada por nenhum garoto da
sua idade, em especial. Apesar de achar esquisito, estar indo rumo ao altar
casar-se com um inimigo, como seu pai o intitulava. Inclusive na noite
anterior, não conseguiu dormir direito, pensando que dentro de vinte e quatro
horas seria Giovanna Orsini Martinelli e como seria seu noivo? Não
fisicamente, mas como seria ele como pessoa.

O Seu futuro marido, para ela era um completo estranho, já que seu pai não
achou seguro nenhuma espécie de aproximação com ele antes de ela estar
oficialmente casada e ser a senhora Martinelli. Quanto ao noivo, parece que
igual ao seu pai, também, estava encarando aquilo como um negócio e parece
que também não tentou conhecê-la pessoalmente. Então, tudo que um sabia a
respeito do outro, era baseado em notas de colunas sociais, onde ele aparecia
sempre acompanhado por belas mulheres. Ela já tinha constatado que era um
homem bonito, fazia o estilo homem de negócios bem sucedido e cobiçado
pelas mulheres. Porém, diferente do seu irmão, tinha um semblante fechado.

Giovana não sabia nem ao menos o que sentir por ele, já que ele era
suspeito do assassinato do seu irmão, em compensação, para a sua decepção,
já sabia que seu irmão e seu pai também eram responsáveis por alguns
assassinatos na família do seu futuro esposo.

O tapete vermelho que conduzia a noiva até o altar armado no jardim,


estrategicamente se iniciava na porta principal da mansão Orsini. Então, as
pesadas portas da mansão se abriram, pai e filha surgiram, caminhando
lentamente rumo ao altar ao som da marcha nupcial. Sob olhares de
admiração de belas mulheres e homens elegantes, pessoas da alta sociedade,
afilhados de Don Enrico, membros da organização. Devido ao luto e as
acontecimentos, seu pai achou melhor não fazer uma festa de proporções
faraônicas, como seria o casamento de Giovanna Orsini em condições
normais. Mas, aquela não era uma situação normal...

O jardim verde e florido, com várias mesinhas brancas espalhadas ao longo


da grama, um tapete vermelho que conduzia a noiva até o altar, uma
orquestra que tocava a marcha nupcial e no altar com uma expressão séria no
rosto, Don Alessandro Martinelli.
Um belo homem de trinta anos, um metro e noventa de altura, moreno,
cabelos castanhos, olhos cor de mel e com uma leve barba sempre bem feita,
aparada. Ele usava um terno italiano preto, camisa branca por dentro e tinha
uma expressão séria no rosto, que aliás era a sua marca: bonito, charmoso,
bem sucedido, cobiçado pelas mulheres, dono de uma expressão séria e olhar
de gelo.

Gio caminhava para o altar, como se estivesse meio que em um sonho


nebuloso, uma espécie de transe. Apenas enxergava ao longe o rosto de Don
Alessandro, sério, aguardando-a no altar. Ela tinha que admitir que era um
belo homem e que em condições normais, existiria grandes possibilidades de
ela se apaixonar por ele, mas aquela não era uma condição normal. Ela
despertou do transe, quando viu já no altar, seu pai apertar a mão do noivo,
como mandava a tradição e a entregou, mas não, sem antes dizer com uma
voz firme e um olhar severo.

— Eu estou lhe entregando o meu maior tesouro! Cuide bem dela! Você
me deu sua palavra.

— E ela será cumprida! Um Martinelli, tem apenas uma palavra — o noivo


falou sério e olhou firme para Don Enrico. Em seguida, Don Alessandro,
gentilmente segurou a mão de Gio e ambos ficaram diante do padre.

A cerimônia rápida prosseguiu sob os olhares dos convidados. Alguns até


curiosos e intrigados. Afinal, Don Enrico, estava casando sua única filha com
seu maior inimigo?
Capítulo 2
— Então, eu vos declaro, marido e mulher! Pode beijar a noiva! — Foram
as palavras finais do padre Pietro, amigo da família há anos. Don Enrico,
apesar do seu histórico como mafioso, era um homem religioso.

Aquelas palavras acordaram Gio da espécie de transe que ela estava


vivendo durante a cerimônia. Então, ao ver Don Alessandro virar-se para ela,
após as palavras do padre, simplesmente não sabia como agir. Porém, o viu
desmanchar a expressão séria no rosto, olhar para ela com um sorriso
enigmático, tomá-la nos braços e colar seus lábios quentes aos dela. Aquele
beijo a pegou de surpresa, pois devido às circunstâncias do casamento e a
forma séria que ele havia se comportado durante toda cerimônia, esperava um
simples beijo, apenas para cumprir a tradição.

Os braços fortes de Don Alessandro envolveram seu corpo delicado,


mas cheio de curvas atraentes. Gio sentiu suas mãos grandes tocarem suas
costas e ao mesmo tempo fazerem um leve carinho com os dedos na parte em
que o vestido não cobria e que ficava por baixo do longo véu de noiva.
Enquanto isso, seus lábios quentes e experientes exploravam sua boca, que
apesar de já ter sido beijada, em nada se comparava aos beijos recebido por
um namoradinho ou outro da sua idade. Aquilo lhe provocou uma arrepio na
coluna e um frio na barriga inesperado.

Quando ele a largou, ela estava sem fôlego e ao mesmo tempo sem graça,
não esperava um beijo tão atrevido ali na cerimônia, diante dos convidados e
do seu pai. Na verdade, não esperava, beijo caliente nenhum vindo daquele
homem bonito, mas de semblante fechado, sério. Ele a olhou e sorriu de
forma cínica, como se tivesse feito de propósito. Mas, ela não teve tempo de
questionar nada, pois a troca de olhares fora interrompida pelo cerimonial.
Eles começaram a orientar onde deveriam se sentar, como noivos, para
começar a receber os cumprimentos dos convidados.

— Meus parabéns, Don Alessandro, senhora Martinelli, foi uma linda


cerimônia — falou um homem alto elegante, de aproximadamente cinquenta
anos. Ela observou que ele fez um gesto respeitoso ao inclinar cabeça em sua
direção e também apertou a mão do seu agora marido.

— Obrigada, Fabrizzio! — Don Alessandro, respondeu com familiaridade,


provavelmente pertencia ao seu lado. Gio não imaginava que aquele era o seu
consigliere, o conselheiro que todo chefe mafioso possuía dentro da
organização.

— Obrigada — Giovanna respondeu tímida.

Ela não era uma garota tão tímida, apesar de estar em casa, não estava se
sentindo à vontade. O casamento tinha poucos convidados e ninguém da sua
idade, o seu pai não achou prudente convidar as poucas amigas, temia que ela
falasse demais, fizesse alguma confidencia no calor da emoção. Então, a
maioria daquelas pessoas, ela nunca viu. Uns eram da organização do seu pai,
outro membros do clã inimigo chefiados por Don Alessandro. Isso ficava
claro, pela forma diferente de olhar em relação ao noivo ou a noiva ao se
aproximarem para cumprimentar. Apesar de Gio estar sentada lado a lado
com seu marido, sozinhos na mesa, recebendo os cumprimentos, as
expressões corporais de ambos demonstravam pouca intimidade.

A recepção seguia normal, convidados circulavam pelo jardim, uma


pequena orquestra tocava músicas clássicas em som ambiente e alguns
convidados ainda estavam a cumprimentá-los. Da mesa, Gio observava seu
pai, sentado em outra mesa próxima, com a aparência séria de sempre, a
conversar com velhos amigos, parceiros de negócios, pelo menos era o que
parecia. De tempo em tempo, Gio via seu pai dar uma discreta olhada para a
lateral, como se quisesse verificar se estava tudo bem com ela, como Don
Alessandro a estava tratando.
Contudo, ali bem diante das pessoas não tinha como seu marido fazer
nada contra ela ou ser grosseiro. Aquele jeito sério e frio, era o seu jeito
normal, talvez a pouca intimidade com a noiva também contribuísse, além do
fato de estar em território inimigo. O que dava para ver pela forma que alguns
homens se posicionavam discretamente como se fossem seus seguranças. A
cada olhada do seu pai, Gio piscava e dava a entender com o olhar que estava
tudo bem, mas foi numa dessas olhadas que ela se surpreendeu.

Gio viu seu velho pai arregalar os olhos, colocar a mão no peito esquerdo e
fazer uma expressão de dor. Ela se assustou, levantou rapidamente e correu
em direção a mesa dele que ficava próxima à lateral da mesa dos noivos.

— Papai! Papai! Está se sentindo bem? — a jovem noiva perguntou aflita,


agarrada ao pai, que estava com uma expressão pálida no rosto e parecia
sentir dor.

— Senhorita Giovanna, perdão, senhora Giovanna! É melhor levarmos ele


para o quarto! Tirá-lo da festa! — falou Luigi, o secretário particular do seu
pai.
— Sim! Por favor, ajudem! Tirem-no daqui! Levem-no para dentro da
casa, para o seu quarto!

A jovem falava aflita, enquanto corria levantando com as mãos a saia do


seu vestida de noiva, o buque, que nem ao menos teve tempo de jogar, deixou
caído no jardim enquanto seguia correndo acompanhando os homens que
carregavam seu pai, consciente, mas com dor. Don Alessandro, ao longe,
ainda sentado na mesa, observava a cena, não se sentia confortável em ajudar
e nem sentia vontade de ajudar a quem provavelmente foi o responsável junto
com o filho pela morte do seu pai há três anos.

A orquestra ainda tocava quando Gio, antes de entrar na mansão, olhou


para trás brava e surpreendeu a todos, bem diferente do seu jeito meigo.

— Parem a música! Parem esta maldita orquestra!

Os músicos, ficaram sem saber o que fazer, pois o dono da casa estava
passando mal, mas e os convidados? Afinal, deveriam obedecer a jovem
noiva, quase uma menina? Eles olharam na direção do noivo, que impunha
respeito só com um olhar. Don Alessandro, com um aceno de cabeça, fez que
sim e a orquestra parou. Era preciso saber o que estava acontecendo com Don
Enrico para dar continuidade a festa.

— Por aqui! Coloquem-no na cama! Devagar! — Gio falou aflita,


enquanto os homens entravam no quarto de Don Enrico e o colocaram na
cama. — Luigi, ligue para o médico particular do papai, rápido!

— Sim, senhora Giovanna, ligarei imediatamente! — Luigi falou antes de


deixar o quarto às pressas.

Don Enrico deitado na cama, sem o paletó, camisa aberta no peito,


respirava com dificuldade. Tudo levava a crer que era um infarto. Sentada ao
lado da sua cama, ainda vestida de noiva, Gio aflita, tentava disfarçar para
tranquilizá-lo.

— Calma, paizinho... o médico chegará rápido... —ela falou com carinho


ao segurar a sua mão pesada.

— Gio, minha princesinha! Agora a única que restou... — ele disse com
dificuldade.

— Não fale assim, o senhor ainda está vivo e ainda vai viver muitos anos —
ela falou chorosa, acariciando a face do seu pai, deitado na cama.

— Gio, não sei se tenho muito tempo, mas preciso lhe falar sério! Vá até a
porta e passe a chave, não quero que nos interrompam e nem ouçam o que
quero falar.

— Papai... por que isso agora? Fique calado, descanse, esperemos juntos o
médico.

— Por favor, Gio, faça o que estou pedindo.

A jovem, meio a contragosto levantou da cama, foi até a porta do quarto e


passou a chave. Qualquer pessoa que desejasse entrar, precisaria bater na
porta e esperar abrir. Ela voltou e se sentou novamente ao lado do pai na
cama. Assim, que ela se sentou, Don Enrico, sentiu a dor aumentar
novamente e temendo que não tivesse mais tanto tempo pela frente para falar,
agarrou o pulso da filha de forma desesperada e falou olhando em seus olhos:

— Mate-o! — Don Enrico falou com dificuldade e olhos saltados.

— O quê? — Gio se assustou com a expressão de seu pai, as palavras e a


pressão em seu pulso.

— Isso mesmo que você ouviu! Mate-o da mesma forma que ele matou o seu
irmão!
Assustada com aquele pedido inesperado para ela, a jovem deu um pulo da
cama, levantou-se e ficou de pé ao lado.

— Papai? O que está me pedindo? Matar o meu marido? Eu não sou uma
assassina! — a jovem falou assustada ao limpar as lágrimas.

— Sim, o seu marido! Como esposa, você será a única que dormirá ao seu
lado sem seguranças! Vingue o seu irmão!

— O senhor me convenceu a este casamento arranjando em pleno anos


oitenta com o pretexto de selar a paz! Achei que iria me pedir um neto para
selar definitivamente e não mais sangue! — a jovem falou horrorizada,
enquanto colocava as duas mãos no próprio rosto e andava em volta da cama.

— A pistola prateada que pertenceu a Lorenzo está no criado mudo. Leva-


a consigo e na primeira oportunidade use-a contra ele!

— Não matarei! Não existe ainda provas concretas e mesmo que existisse,
não sou uma assassina! Se necessário, prefiro entregar o caso à polícia. — A
jovem se sentou novamente ao lado da cama e seu pai voltou a segurá-la pelo
pulso.

— Eu não criei uma Orsini, eu criei uma fraca! Honre o sangue que corre
em suas veias! — Don Enrico falou visivelmente exaltado, aquela discussão,
estava piorando o seu estado de saúde e o médico, demorando a chegar.

— Prefiro ser uma fraca que uma assassina! Se for preciso, honrarei o
sangue que corre em minhas veias fazendo o certo, dentro da lei e não
derramando mais sangue! — Ao dizer isso a jovem puxou bruscamente seu
braço da mãos do pai.

Don Enrico ao ouvir aquilo, ainda apontou para a gaveta do criado mudo,
Gio entendeu o que ele estava mostrando. Porém, antes que ele falasse mais
alguma coisa, o seu rosto foi tomado por uma expressão de dor, levou a mão
ao peito e deu seu suspiro final. Don Enrico Orsini estava morto.

— Papai! Papai! Paizinho! Fale comigo! — Gio o sacudia desesperada.


Até que se levantou correndo, destrancou a porta e como uma louca vestida
de noiva, arrancou o arranjo de flores da cabeça e seu véu que a estava
atrapalhando e desceu as escadas correndo.

— Gemma! Gemma! Luigi! O papai! — Foram as últimas palavras dela ao


desmaiar na porta principal de saída para o jardim, onde foi amparada pelos
braços fortes de Don Alessandro, que naquele momento, ao ouvir gritos dela,
se preparava para entrar na casa.

A festa se desfez, pela cara e desespero da noiva, todos já previram o que


deveria ter acontecido. Agora o que foi uma cerimônia de casamento se
tornaria os preparativos de um velório. Algo que ninguém poderia prever que
aconteceria.
Capítulo 3

— Meus pêsames, senhora Martinelli!

— Obrigada! — a jovem respondeu chorosa, enquanto levava o lenço ao


nariz. — Apesar do momento, ainda percebeu o quanto soava estranho aos
seus ouvidos ser tratada como esposa de Don Alessandro Martinelli.

Vestida com um elegante vestido tubinho preto Channel, óculos escuro


Dior e sentada ao lado do caixão do seu pai, Giovanna Orsini Martinelli
realizava a tarefa mais dura de toda a sua curta vida: velar o seu querido pai!
Apesar de todas as descobertas e do seu último pedido, ela o amava.

A sua fiel Gemma se mantinha firme ao seu lado, com um choro


discreto enxugado por um lencinho branco na mão e abraçada a sua menina,
que a cada cumprimento, se desmanchava em lágrimas. Contudo, do seu lado
esquerdo, estava seu marido, Don Alessandro, que precisava cumprir o seu
papel de marido e estar ao lado da sua esposa naquele momento tão difícil.
Um mafioso honrava e zelava pela família até mesmo quando para isso
precisava velar alguém que até pouco tempo atrás era um perigoso inimigo.
Na verdade, se Don Enrico, não tivesse morrido de morte natural, ele seria o
principal suspeito e jamais se atreveria a estar ali. Porém, não foi o caso.

Don Alessandro, alto, bonito, vestia um terno preto, com camisa cinza.
Carregava uma expressão séria e solene no rosto. Não se sentia à vontade
para acalentar Gio com carinho, a cada pêsames com o qual ela se
desmanchava em lagrimas e se abraçava a sua Gemma. Porém, foi com
surpresa que num desses cumprimentos, Gio sentiu discretamente uma mão
grande, segurar com força a dela, por trás do caixão, em sinal de
solidariedade. Foi a forma que seu marido achou de confortá-la pela primeira
vez ali no velório. Gio se surpreendeu, ficou calada e apenas olhou para ele,
apesar dos óculos escuros e com um certo ar de timidez. Enquanto isso,
afilhados, membros da organização, autoridades não paravam de chegar para
prestar sua última homenagem ao velho Don.
Então, as cinco horas da tarde, finalmente Don Enrico foi sepultado,
exatamente vinte quatro horas após o casamento de Giovanna. No cemitério
havia várias pessoas, mas Gio pediu para que apenas os mais íntimos
tivessem acesso ao sepultamento em si. Antigos amigos, que ela costumava
ver frequentar a mansão Orsini como convidados e que depois se trancavam
no escritório para falarem de negócios, observavam a cena um pouco mais
afastados. Alguns até olhavam com um olhar atravessado para Don
Alessandro, pois nem todos concordavam com a estratégia de Don Enrico em
unir os clã, pelo menos foi a explicação inicial dele. Contudo, ao lado do
mausoléu da família, observando os momentos finais, enquanto o corpo era
sepultado, estavam apenas a fiel governanta Gemma, Gio e seu agora esposo.
Ele como se estivesse ali como forma de cumprir o papel de genro, apesar de
tudo ser muito recente.

— Paizinho... sentirei sua falta! Não me deixe... — Gio começou a chorar


descontroladamente nos momentos finais, até que para uma garota jovem e
mimada, ela tinha sido forte durante todo o velório.

Gio se abraçou ao caixão, que já estava sendo colocado no tumulo, parecia


uma menina desamparada. A sua Gemma, ficou sem saber quem deveria
contê-la, ela ou o seu marido que estava ali do lado. Alessandro, entendeu o
olhar de dúvida e hesitação da velha governanta e delicadamente conteve
Gio, acalentando-a com um forte abraço e fazendo-a encostar a cabeça em
seu peito másculo.

— Obrigada... — Gio falou baixinho, sem graça, enquanto encostava a


cabeça em seu peito e se sentindo acalentada dentro daquela abraço protetor.

— Não precisa agradecer, sou seu marido agora e minha obrigação é


cuidar de você. Prometi isso ao seu pai e apesar de todas as desavenças um
Martinelli tem apenas uma só palavra — ele falou sério, enquanto Gemma,
discretamente observava a cena e se sentia mais aliviada ao ouvir a promessa
dele. Ela nutria uma afeição especial pela jovem.

— Seu marido tem razão, querida. Agora vamos... é hora de retornarmos


para casa. Seu pai agora descansa nos prazos do Pai eterno, assim como sua
mãe e o seu irmão.
Gio não protestou, apenas deu uma última olhada para o jazigo após
Alessandro relaxar um pouco o abraço e leu com um olhar triste as inscrições
no jazigo da família:
Senhora Antonella Orsini, Lorenzo Orsini, Don Enrico Orsini.

Então, ela saiu caminhando lentamente, com seu marido ao seu lado,
segurando firme a sua mão e Gemma os acompanhando.

Após cruzar os muros do lugar e um pouco antes de entrar no carro, Gio


olhou mais uma vez para o imponente portão alto do cemitério de Palermo.
Ali ela estava deixando enterrado tudo de mais importante que já houve em
sua vida e agora precisava seguir em frente. Porém, não fora preparada para
tal situação...

— Vamos, querida... — Foram as palavras da sua governanta, ao tocar em


seu braço, pronunciadas de forma gentil ao vê-la parar e olhar para trás.

A jovem ainda hesitou um pouco, mas sentiu a mão forte de Alessandro


lhe tocar gentilmente as costas e a encorajou a entrar no carro, ocupando o
banco da frente.

— Vamos Giovanna! — ele falou com seu jeito sério, mas seu olha
denunciou um pouco de carinho.

—Por favor, senhora. — Alessandro fez menção para que a governanta


também entrasse e ocupasse o banco traseiro do veículo.

Em seguida, Alessandro assumiu o volante do seu lamborghini preto, em


um momento tão íntimo, achou melhor dispensar o motorista. Então, seus
seguranças entraram no carro que estava atrás deles e os seguiram,
escoltando-os, enquanto se dirigiam à mansão Orsini. Gio se manteve calada
durante todo o caminho, não tinhas mais lágrimas e estava se sentindo meio
que anestesiada pelos acontecimentos. Porém, quando os portões da mansão
se abriram e seu marido estacionou o carro no estacionamento reservado às
visitas, a ficha caiu para ela, especialmente após ouvir suas ordens.

— Giovanna, como minha esposa, quero que arrume toda as suas coisas e a
partir de hoje à noite você já dormirá comigo na mansão Martinelli. Ela agora
é o seu novo lar — ele falou sério, enquanto a encarava ainda dentro do
veículo.

— Heim? Como assim? Já hoje? Preciso de um tempo! — ela protestou.

— Não! Agora sou responsável por você! Não era isso que seu pai queria
ao arranjar o nosso casamento? Não acho prudente você ficar mais alguns
dias sozinha, apenas com os empregados, nesta casa. Você é jovem demais,
está vivendo uma fase difícil e seu pai tinha inimigos!

— Eu não estou sozinha! Estou com a Gemma, somos muito afeiçoadas.


— Gio tirou os óculos escuros que usou durante todo o sepultamento e o
encarou ainda sentada no banco da frente e ele no volante.

A governanta no banco de trás ouvia a conversa aflita, pois não queria


discursões entre o jovem casal, mas não se sentia à vontade para se
intrometer. Ainda mais em se tratando das ordens daquele homem tão sério,
que ela estava acostumada a ouvir falar como um inimigo. Além do mais, ela
também achava que se Gio ia morar com seu marido e dar continuidade ao
casamento, que fosse logo de uma vez. Mas estava triste, pois não queria se
separar dela e também não queria se aposentar como governanta ainda.

— A senhora Gemma virá conosco já que você diz que são muito ligadas e
a mansão Martinelli é grande. Ela pode ser uma espécie de secretaria pessoal
exclusiva sua — ele falou com uma expressão compreensiva e a governanta
ficou muito feliz em ouvir aquilo, mas não sabia como agradecê-lo.

— Obrigada, Don Alessandro.

— Obrigada, ficou feliz em poder levar a Gemma comigo.

— Não precisa agradecer, quanto aos empregados da mansão Orsini,


falarei com o meu advogado para providenciar de forma legal a demissão
deles. Não tem sentindo manter esta casa aberta sem ninguém morando nela.

O casal e a governanta entraram na casa, cada um se sentindo


desconfortável à sua maneira. Gemma por entrar usando a porta principal,
destinada aos familiares e às visitas. Alessandro, por estar na casa daquele
que foi o maior inimigo do clã Martinelli, mas agora era oficialmente seu
sogro, mesmo que estivesse morto. Gio por entrar na casa em que ela nasceu,
brincou, correu, sorriu, foi mimada, tudo isso pelo seu pai, seu irmão Lorenzo
e que agora estava vazia. Apenas os empregados à espera das ordens finais
para fechar a mansão, que nem seria dada por ela e sim pelo advogado do seu
marido.

Alessandro, entrou na casa e parou no meio da luxuosa sala de visitas se


sentindo pouco à vontade. Apesar de já ter estado ali no dia do casamento,
tudo foi muito breve e a morte de Don Enrico durante a festa causou tumulto
que não deu para pensar em muita coisa.

— Espere aqui na casa. Gemma, providencie algo para Don Alessandro


beber enquanto arrumamos as nossas coisas.

— O que deseja beber, senhor?

— Aceito um bom copo de whisky.

— Quanto a você, Giovanna, que pare de me chamar de Don Alessandro, não


sei se você lembra, mais estamos casados há mais de vinte e quatro horas.

— Claro que eu lembro, foi força do hábito!

— Claro, senhor! Providenciarei.

A governanta tocou uma sineta e um mordomo surgiu pouco tempo


depois, Alessandro, estava sentado na luxuosa cadeira que era a preferida de
Don Enrico sem nem ao menos saber disso. Mas Gio e a senhora Gemma
sabiam e se olharam como se comunicassem mentalmente.

Gio subiu a luxuosa escada que dava acesso ao andar superior onde ficava
os quarto. Mas no meio da escada, parou e olhou para trás, se dirigindo ao
marido que estava na sala.

— Espero que você seja um homem paciente, caso queira nos deixar, nos
duas iremos em seguida para a mansão Martinelli, ou terá que esperar um
pouco! Tenho muita coisas pessoais para levar. O meu armário é enorme —
Gio falou de forma atrevida, em revanche pelo jeito que ele a havia corrigido.

— Não, minha querida, não sou um homem paciente, nem com o tempo e
nem com garotas mimadas. Estou fazendo algumas concessões temporárias
para você, devido a toda situação difícil e tão recente que você está vivendo.
Mas quanto as roupas, peguem apenas as peças mais necessárias pessoais e
do seu enxoval de noiva, pois não tenho a tarde toda. Os empregados podem
arrumar todo o resto e enviar amanhã para a sua nova casa.

— Então, você pode ir e a Gemma e eu iremos em seguida! Posso dirigir


ou pegamos um taxi, pronto!

— Não! Eu retornarei hoje para casa, levando comigo a minha esposa! —


ele falou de forma autoritária e isso a deixou se argumentos. Além de estar
cansada emocionalmente para protestar.

Quando Gio chegou até seu quarto de solteira, todo um filme se passou em
sua mente. Desde o beijo de boa noite que seu pai costumava vir lhe dar todas
as noite até olhar pelas janelas, ver a piscina e lembrar do Lorenzo que era
um exímio nadador e quando ele estava disponível, ambos se divertiam
juntos na piscina. Um sentimento ruim de angustia e saudade apertaram-lhe o
peito e ela somente não derramou mais lágrimas, porque os olhos pareciam
estar secos pelas próximas horas, já que havia chorando muito desde o
velório e sepultamento do pai.

Gio pegou duas grandes malas vermelhas abriu seu armário e tentou
observar rapidamente o que deveria levar, o que era básico. Considerando
que ela era uma moça vaidosa, cheia de roupas, sapatos, cremes e joias.
Tentando escolher, ela começou a colocar nas malas as suas peças favoritas.
Até que chegou numa parte do guarda roupa em que estava seu enxoval de
noiva, eram mais peças intimas já que a casa onde iria morar já era toda
montada e pertenceu aos pais do seu noivo que agora morava nela apenas
com os empregados. De repente, caiu a ficha e ela pensou.

Nossa, se tudo tivesse corrido normal, hoje seria a minha noite de


núpcias... Não sei se estou pronta, mas também não sei o que passa pela
cabeça deste homem que para mim ainda é quase um estranho. Posso até
levar inicialmente algumas peças, mas hoje à noite eu não serei dele!
Então, Gio terminou de encher as duas malas, olhou para elas e para o seu
quarto com um ar melancólico.

— Terminei... acho que isso me basta por uns dez dias... Agora vou até o
quarto do papai. Gostaria de me despedir, pois não sei se quero ficar voltando
sempre aqui — ela falou alto para ninguém em especial.
A jovem saiu do quarto, caminho pelos corredores sem ninguém,
Gemma estava fazendo suas próprias malas, os empregados estavam
ocupados e seu marido a aguardava na sala de visitas. Ele não se sentiria
confortável em subir, se via como na casa de um inimigo, um estranho e ele
tinha razão.

Quando Gio entrou no quarto do seu pai, algumas lágrimas lhe rolaram
pela face. Ela se recordou de tudo que viveu ali, quantas vezes menina, correu
e pulou na cama para acordá-lo. Contudo, os seus olhos verdes se
escureceram ao lembrar dos momentos finais que passou ali ao lado da sua
cama e do seu pedido final. Como ela amava o seu pai, apesar de ter sabido
depois que ele era tudo, menos um santo. E como ela ficou magoada com o
pedido final dele, a voz dele chamando-a de covarde por não achar certo ser a
vingadora de Lorenzo ainda lhe ecoava em seus ouvidos e doía o peito. .
Enfim, ela resolveu sair dali, já havia se demorado demais, seu marido já
devia estar impaciente na sala. Porém, ela gostaria de levar um lembrança
significativa do lugar, foi quando ela olhou para o criado mudo e abriu uma
gaveta. O criado mudo indicado pelo seu pai e nele estava a pistola prateada
que pertenceu ao seu irmão Lorenzo...

Gio desceu as escadas, Gemma de pé junto ao seu marido que ainda estava
sentando, agora lia um jornal, mas já os aguardava. Usando uma roupa, já
tendo trocado o vestido tubinho preto que usou durante todo velório e
sepultamento, Gio surgiu nas escadas usando um vestido solto florido e uma
bolsa à tiracolo bege.

— Estou pronta! Gemma, por favor, peça alguma funcionários para pegar
minhas malas no quarto e as ponha no carro.
Capítulo 4
A mansão Martinelli era bem vigiada e cercada por muros altos,
erguidos com pedra calcária branca. O portão principal, por onde entrava os
veículos chamava atenção, com grades acobreadas e as iniciais A M cravadas
bem no centro do enorme portão, de forma que as letras se separavam cada
vez que era aberto. Seguranças de terno preto e armados protegiam a entrada
do lugar.

AM, provavelmente Alessandro Martinelli...

A jovem pensou, enquanto da janela do carro, com o marido ao volante,


olhava em silêncio, com olhos curiosos e um pouco de desanimo por toda a
situação que estava vivendo.

Quando o carro cruzou os portões, Gio pode observar a beleza do lugar,


enquanto seu marido dirigia lentamente rumo à entrada principal da casa que
ficava a uns quinhentos metros do portão. Ela já estava habituada ao luxo e a
viver em uma grande mansão, mas percebeu que a sua nova casa possuía um
estilo diferente da mansão Orsini. A casa lembrava um pouco a imponência
do império romano, o mármore as colunas redondas, as estátuas do jardim,
somado a alguns toques de modernidade.

O carro seguiu devagar por uma estradinha de pedras cinzas que começava
no portão e ia até a porta principal da casa. Gio, por um instante, lembrou da
estrada de pedras amarelas do filme O Mágico de OZ. Porém, aquelas
possuíam pedras cinzas. Nesse trajeto, ela observou o lindo e florido jardim,
repleto de rosas vermelhas que contrastavam com os canteiros brancos e
peças de decoração paisagística também brancas, a cor que prevalecia no
lugar. Era quase sete horas da noite, o jardim era todo iluminado por
pequenos postes decorativos, colocados em locais estratégicos. Um pouco
mais à frente Gio enxergou uma linda fonte redonda jorrando água em forma
de cascata, era branca, feita de mármore italiano e a água jorrando fazia um
barulho gostoso aos ouvidos. Além de uma enorme piscina ao longe. Enfim,
Alessandro estacionou em frente à entrada principal da casa.
A casa, vista de fora, era uma enorme construção branca. Uma escadaria
em formato arredondado com apenas três degraus dava acesso a um hall
ladeado por colunas de mármore. Após subir este degraus e cruzar o hall a
poucos metros estava uma enorme porta de carvalho com fechadura em ouro
velho que dava acesso à entrada da casa.

— Bem vinda ao seu novo lar. — Alessandro a encarou e esboçou um


sorriso meio torto que era uma mistura de charme e sarcasmo.

— Obrigada! Mas creio que demorará um tempo para que eu considere esta
casa o meu novo lar! Ainda mais numa situação tão às avessas...

— Você se acostumará! Afinal, seremos apenas nós dois e os empregados.


Como senhora da casa, deve se sentir à vontade para fazer adaptações no que
lhe desagradar. Móveis, decoração, coisas do tipo.

Gio o fitou em silêncio, não achou prudente lhe comunicar que não tinha a
intenção de assumir o posto de senhora da casa já de forma tão atuante. Pois,
até pouco tempo atrás ela só cuidava de seus livros, roupas, acessórios,
compras e se divertia com amigas. Mas ela não queria que ele a achasse tão
fútil, isso só reforçaria a imagem que ele parecia ter dela de uma garota
jovem e mimada. Afinal, depois ela ficou sabendo que todos já sabiam que
seu pai era um mafioso e ela era vista como a filhinha mimada, a princesinha
da máfia. Contudo, uma curiosidade lhe veio à cabeça. Algo que ela nunca
lembrou de perguntar a alguém ou procurar saber por colunas sociais.

— E a sua mãe? A senhora Martinelli? Não a vi em nosso casamento e


creio que ela não gostaria que eu mexessem em nada na casa.

— A minha mãe faleceu há anos, minha querida — ele falou com deboche
direcionado a sua esposa.

— Sinto muito, eu não sabia...

— Ela faleceu no parto da minha irmã mais nova, Gabrielle, mas ela não
mora conosco. Ela estuda moda em Paris.

— Entendo... e o seu pai? Aposto que ele ainda deve querer conservar
muita coisa do que sua mãe deixou.

O homem fez uma certa pausa, mudou o jeito de olhar para um olhar
mais duro e falou sério olhando em seu rosto:

— Quanto ao meu pai, Don Francesco Martinelli, foi morto há três anos
atrás numa emboscada armada pelo clã rival! Por que acha que fui promovido
a Don? Mas os mandantes estão mortos... Ah! e pelo visto você não
acompanha as notícias dos jornais, exceto colunas sociais — ele falou de
forma fria e com um certo tom de rancor pelo acontecido e satisfação pelas
mortes de quem fez aquilo.
Gio, não sabia de nada, mas desconfio que pelo tom de voz dele, a
família dela poderia sim estar envolvida nas mortes.

— Eu não quero saber de negócios escusos! Assim como não quis saber dos
negócios do meu pai e muito menos dos seus! Agora apenas peço respeito
pela memória do meu pai enquanto eu estiver ao seu lado.

— A memória do seu pai, será respeitada, ninguém se referirá a ele de


maneira desrespeitosa nessa casa.

— Obrigada!

— Porém, lamento informar, minha cara que como esposa de um Don ou


capo, como preferir chamar, você não terá a opção de se manter totalmente
alheia! A começar pela sua segurança e dos filhos que nós iremos ter. Mas,
não é hora de falarmos sobre isso. — Alessandro saiu do carro, deu a volta e
foi até a porta do passageiro, num gesto de cavalheirismo, a abriu para Gio
descer.

Do banco de trás a governanta ouvia em silêncio toda conversa do casal,


ela estava sem graça em presenciar daquela forma a conversa dos patrões e
sentiu alivio quando encerraram. Após Alessandro abrir a porta do veículo,
Gio desceu lentamente do carro, vestia um vestido leve de malha azul escuro
que lhe caia bem na sua pele clara e seus cabelos loiros, usava uma bolsa a
tiracolo bege. Antes de arrumar suas coisas e se despedir da casa onde viveu,
tomou um banho e trocou a roupa do sepultamento.
— Venha, amore mio. — Apesar do gesto cavalheiresco, ele falou em tom
de deboche. Gio percebeu e não agradeceu. Desceu calada.

Em seguida foi a vez da Gemma:

— Seja bem-vinda senhora

— Obrigada — a governanta agradeceu tímida, aquele homem a deixava


sem graça. Ainda mais sabendo que ele e a família fora inimigos de Don
Enrico e Lorenzo por tantos anos.

Diante da casa, um senhor de uns cinquenta anos, vestido com um


uniforme preto dos empregados, o aguardava como se fosse uma espécie de
motorista, carregador, algo do tipo.

— Boa noite, senhor!

— Boa noite, Genaro! Por favor, retire as malas do porta mala, leve-as para
dentro da casa e em seguida leve meu carro até a garagem.

— Claro, senhor.

O homem olhou de forma discreta para Gio e a senhora de cabelos


grisalhos que os acompanhavam. Sabia que o patrão havia se casado há
pouco mais de vinte quatro horas e que durante a festa de casamento o sogro
havia falecido, o que acabou com a discreta comemoração e tornou o início
do casamento um pouco fora do comum. Afinal, os noivos riquíssimos não
viajaram, nem sequer tiveram tempo de uma noite de núpcias.
Don Alessandro tossiu propositalmente e falou:

— Esta é minha esposa, a senhora Giovanna Orsini Martinelli.

Ao ouvir a junção dos sobrenomes, o homem aparentou um certo espanto,


mas disfarçou.

— Muito prazer, senhora. Seja bem-vinda!

— Obrigada — Gio respondeu desanimada, mas tentou esboçar um sorriso. O


dia havia sido difícil e estava se sentido desconfortável ali.
Quando Gio entrou no lugar, ao correr os olhos numa visão geral pela
enorme sala de visitas, se surpreendeu com o lugar. A decoração era uma
mistura do clássico ao moderno. Paredes brancas como a neve, sofás de
veludo vermelho, cortinas beges, vários espelhos adornados com ouro velho,
além de algumas peças de decoração colocadas em lugares estratégicos. Era
um estilo bem diferente da mansão Orsini, que possuía uma decoração
pesada, bem ao gosto do seu velho pai. Dizem que era desde época da sua
falecida mãe, mas Gio não tinha recordações.

— A casa passou por uma reforma na decoração. Deixei várias peças da


época do meu pai e acrescentei mais algumas do meu estilo, quis dar o meu
toque pessoal. Contudo, se quiser mudar algum detalhe, fique à vontade,
podemos chamar a decoradora — ele se explicou ao perceber o quanto Gio
parecia surpresa com a decoração da casa.

— Não, obrigada. Tudo está perfeito. Além do mais, não me sinto à


vontade para isso.

— Pois deveria, já que agora é a senhora da casa.

Ela apenas o encarou com olhos verdes escuros e não respondeu. A forma
como Alessandro era tão cheio de si e como a tratava já estava lhe irritando.
Então, ele pegou sua mão e a guiou atravessando a enorme e luxuosa sala de
visitas, até chegar ao início da escada que dava acesso ao andar superior da
casa. Logo atrás vinha a senhora Gemma e o senhor Genaro, este depositou
as malas no chão e se retirou em silêncio.

Então, ao lado da escada, três empregados, uniformizados com roupas


pretas com detalhes branco, os aguardavam como se fosse uma espécie de
solenidade para serem apresentados à nova patroa.

— Carlota, esta é Giovanna Orsini Martinelli, a minha esposa e nova


senhora da casa.

A mulher de aproximadamente sessenta anos era baixinha, gordinha,


morena e usava os cabelos grisalhos presos em um coque no alto da cabeça.
Usava um impecável uniforme preto, dava para perceber que era a governanta
da casa. Ela não tinha a expressão amável, característica de Gemma, mas
parecia ser uma boa mulher. Ela olhou de forma respeitosa para Gio.

— Seja bem-vinda, senhora Martinelli! Estou ao seu inteiro dispor — ela


falou séria.

— Obrigada —Gio respondeu pouco à vontade. Aquele “senhora


Martinelli”, ainda lhe soava muito estranho aos ouvidos.

— A Carlota é nossa governanta e está na casa desde que eu nasci. Não


ligue para esta cara brava dela. Assim que ela tiver um novo bebê Martinelli
para cuidar, se transformará num amor de pessoa.

Aquele comentário pegou Gio de surpresa e a deixou corada. Apesar de


todos saberem que era obvio a chegada de filhos um dia na vida de um casal.
Ela não esperava naquele momento por este tipo de comentário que beirava a
indiscrição e que seu marido pretendia um bebê para logo. A forma
descontraída como ele falou também a pegou de surpresa, já que ele era tão
sério e formal. Contudo, ela lembrou da forma como ele também a
surpreendeu na hora do tradicional beijo de casamento. Parece que o seu
marido era um pouco imprevisível...

Então, chegou a vez de Gemma ser apresentada, a esta altura, Alessandro


já havia percebido o olhar de ciúmes que sua governanta direcionava para ela.

— Esta é a senhora Gemma, ex-governanta da mansão Orsini. Ela viu a


minha esposa nascer e com o fechamento da mansão, ela veio como uma
espécie de secretária pessoal que cuidará das coisas dela.

Ao ouvir, a cara de poucos amigos da senhora Carlota se desfez em


instantes. A mulher abriu um sorriso amigável, a sua maneira, e a
cumprimentou.

— Seja bem-vinda! Tenho certeza que nos daremos muito bem.


— Claro! Obrigada — Gemma respondeu alegre e aliviada.

Enfim, Alessandro já impaciente encerrou as apresentações.

— Creio que estamos todos cansados. Carlota, mostre a senhora Gemma


onde será a suas acomodações na ala dos empregados. Providencie também
que a mala da minha esposa seja colocada em meu quarto. Aliás, nosso
quarto.

Ouvir aquilo fez com que Gio sentisse um frio na barriga, pois achava que
devido aos acontecimentos, ela, naquela noite, ocuparia o quarto de hospedes
e não já o do seu marido. A propósito, se tudo tivesse corrido normalmente
durante a cerimônia e festa, aquela seria a noite de núpcias...

— Claro, senhor, providenciarei. O jantar será servido as oito horas como


de costume?

— Eu não estou com fome. Acabei de enterrar o meu pai. Tudo que eu
quero é deitar e descansar. Inclusive por hoje gostaria de ocupar o quarto de
hospedes.

Aquele pedido, deixou a governanta confusa, sobre onde mandaria pôr


as malas da nova senhora da casa. Ela ficou calada à espera da ordem de
Alessandro, que manteve o tom de voz calmo, mas não gostou da ideia de
Gio de não compartilhar sua cama naquela noite.

— Eu sei, amore mio, que você perdeu seu pai e que precisa descansar.
Você comerá sim algo leve e descansará a noite inteira, mas em nossa cama!
Carlota, mande pôr as malas onde eu disse e nos leve às oito horas um jantar
leve no quarto — ele falou firme.

— Está bem, senhor. Às oito horas mandarei levar o jantar no quarto.


Deseja mais alguma coisa?

— Não, pode se retirar. Agora irei mostrar o quarto a minha esposa. — Ao


falar isso, ele olhou para Gio e deu um sorriso enigmático, os seus olhos cor
de mel brilharam.

Gio, apesar de não ter gostado da ideia de não poder dormir naquela noite
no quarto de hospedes, ficou sem reação ao ouvir o fim das apresentações e
os empregados se retiraram da sala. A governanta, seguida por Gemma, se
retirou da sala de visitas, deixando-os a sós.
— Venha, querida. Enfim sós... — ele falou com um pé no primeiro degrau
da escada e a mão estendida para ela.

— Talvez eu preferisse...

Foi a reação de Gio que estava se sentindo cansada e pouco à vontade.


Parecia que estava num sonho nebuloso e sombrio, devido a tantos
acontecimentos inesperados.

— Você não está em condições de preferir coisa alguma hoje. Abandone-


se e deixe-me cuidar de você. Verá que não mordo...

Ela segurou a mão dele com uma expressão meio indecisa no rosto. Eles
subiram devagar a enorme escada de corrimão acobreado que dava acesso aos
quartos no andar superior. Ele à frente, enquanto ela segurava em sua mão e
seguia um pouco mais atrás.

Em um casamento normal, aquela seria a noite da tradicional noite de


núpcias. Mas aquele não foi desde o início um casamento normal, ainda mais
depois dos últimos acontecimentos. Então, haveria espaço para algo do tipo
aquela noite?
Capítulo 5

— Bem vinda ao nosso ninho de amor, amore mio! — ele falou com um
olhar enigmático e um sorriso meio torto nos lábios.

Alessandro abriu a porta do seu quarto, se posicionou bem ao lado e


estirou o braço em um gesto de apresentação, convidando Gio a entrar.
Enquanto a outra mão segurava maçaneta. A jovem entrou com passos lentos,
segurando a sua bolsa tiracolo junto ao corpo. As suas malas já haviam sidos
colocadas no local por um empregado.

Ela, parada no meio do quarto, passou os olhos por todo o ambiente de


forma rápida. Em seguida se virou para o marido que havia acabado de fechar
a porta e se aproximava dela.

— Apesar do seu tom debochado, você usou palavras que cairiam bem se o
nosso casamento tivesse sido realizado por amor. O que não foi o caso...

— Sei que não foi o caso, minha querida, porém, não vejo por que tenhamos
que tornar isso um suplício. Eu por exemplo, me sinto um afortunado, com
tão bela e jovem esposa.

— Ah, não? Então, o poderoso e frio Don Alessandro Martinelli, cobiçado


pelas mulheres, está disposto a bancar o esposo apaixonado? — ela falou de
forma sarcástica enquanto se virava de frente para ele.

— Quando a vi poucos meses atrás, em uma coluna social, você chamou


minha atenção. Mas, como filha do meu maior inimigo, era impossível para
mim. Contudo, um golpe do destino tornou isso possível. — Ele deu dois
passos e se aproximou ainda mais dela, aquela aproximação já estava a
incomodando.

De repente, lembranças desagradáveis vieram a mente dela, quando ele


tocou na rivalidade que existia entre ele e o seu falecido pai.
— Uma armadilha do destino, não é mesmo? Eu também nunca imaginei
que o meu pai era um mafioso e que eu me casaria com o seu maior inimigo,
assassino do meu irmão!

De repente, o tom amigável e beirando ao galanteador sumiu, Alessandro


se irritou e assumiu um semblante duro, seus olhos cor de mel brilharam de
raiva.

— Giovanna, não sou um santo! Mas, eu não matei o seu irmão! Apesar de
não me faltar motivos para isso... — ele falou enquanto a segurava pelo
pulso.

Ela não esperava esta reação dele, ao provocá-lo. Contudo, ele falou de um
forma tão segura, parecia transmitir tanta verdade no olhar, na voz, que Gio
ficou intrigada e tentada a acreditar. Além do mais, ele era o principal
suspeito e inimigo, mas com o currículo do seu irmão, que ela descobriu
depois, talvez não fosse o único interessado na morte dele.

— Estou cansada, é melhor não falarmos sobre isso hoje — Gio respondeu,
tentando fingir frieza na voz, não queria que aquele crime ficasse impune,
mas também não queria que se tornasse um assunto constante entre os dois.
Caso ele fosse culpado, que pagasse dentro da lei. Quanto a ela, se isso
fosse comprovado, pediria o divórcio, sairia daquele mundo mafioso e
aplicaria sua fortuna em algum negócio dentro da lei. Ingenuamente, ela
acreditava que poderia ser assim... A princesinha da máfia, renegando as suas
origens...

— Está bem, Giovanna. Sei que você está muito cansada hoje, que foi um
dia muito difícil para você. Não é todo dia que se enterra um pai.

Um pai que me deixou com a missão de te matar... Agradeça por eu não


ter nascido com tendência ao crime. Ela pensou.

Don Alessandro continuou olhando-a, enquanto ela pensava em silêncio,


como se ele pudesse ler os seus pensamentos...

— Então, apesar desta ser a nossa noite de núpcias, você está livre para
agir como se sentir confortável. Exijo apenas uma coisa: que durma aqui
comigo em nosso quarto. Não quero falatórios dos empregados amanhã.

Gio achou aquele acordo bem razoável e compreensivo da parte dele.


Ainda mais vindo de um homem com fama de sério, duro em relação a
algumas emoções. Contudo, ela sentiu uma enorme vontade provocá-lo. Uma
espécie de revanche por ele a ter feito passar vergonha com um beijo tão
caliente e inesperado ali diante de todos os convidados da cerimônia. Ficou
sem graça até mesmo diante do seu pai. Imagina ver a sua menininha nos
braços de um homem e sendo beijada daquela forma.

— Entendo... receio de ter sua masculinidade arranhada por fofocas? —


Ela deu um passo mais à frente, se aproximou ainda mais dele e encarou com
uma expressão atrevida.

Aquilo mexeu com os brios e orgulho masculino do seu marido, que


rapidamente a enlaçou com um só braço em torno da sua cintura, trazendo-a
de forma brusca para si, ficando ambos com os corpos colados. Então, ela
sentiu a respiração quente dele em seu pescoço delicado e macio. Assim
como também sentiu o quanto a masculinidade dele estava viva e que,
naquele momento, pulsava, colada ao seu corpo. Apesar dela não ter
experiência, sentiu uma mistura de medo, frio na barriga e uma moleza
gostosa subindo pelas pernas até o ultimo fio de cabelo da sua cabecinha
loira.

— Como pode sentir, não tenho o que temer, a minha masculinidade está
bem viva e pronta para tomar posse da minha esposa! Basta apenas um sinal
seu... — ele falou ofegante ao seu ouvido.

— Eu... eu... estou cansada, quero tomar um banho e dormir — ela falou
desconcertada e se desvencilhou dele, tentando parecer calma.

— Claro, minha cara! Também preciso de um banho, mas como sou um


cavalheiro, as damas primeiro. O banheiro fica logo ali — ele disse e apontou
para um porta no final do quarto enorme.

— Obrigada!

Gio, foi até uma das malas, abriu, pegou uma camisola de seda cor de rosa,
bem ao seu estilo princesinha e atravessou o quarto em direção ao banheiro.
Nesse percurso, ao passar na lateral da enorme cama de casal, estilo hotel
cinco estrelas, ela olhou discretamente e pensou em como seria ter que dividi-
la com seu marido já naquela noite.

Será que ele cumprirá a promessa e me deixará dormir ou devo me


precaver? Ela pensou enquanto girava a maçaneta da porta do banheiro.

A jovem entrou no banheiro luxuoso, mas não se surpreendeu, era muito


parecido com o que possuía em seu antigo quarto de solteira, com exceção da
decoração masculina e séria. Gio prendeu seus cabelos loiros com uma fivela,
se despiu totalmente e entrou devagar na banheira, a água morna estava uma
delícia, mas achou melhor não demorar. Afinal, Alessandro avisou que
também desejava tomar um banho em seguida. Além disso ela estava afim de
deitar logo numa cama macia, fechar os olhos e ficar quietinha até o sono
chegar. Mesmo que isso tivesse que ser feito já em sua nova cama, tendo que
dividi-la com seu marido. Então, sem demorar, ela terminou o banho, se
secou com uma toalha felpuda branca, vestiu sua camisola de seda cor de
rosa que ia até um palmo acima do joelho e vestiu o hobby que fazia parte do
conjunto por cima.

Quando Gio saiu do banho, encontrou seu marido deitado na cama,


descalço, sem camisa, exibindo o peito musculoso e liso, vestindo apenas a
calça esporte que usava ao chegar da rua. Em suas mãos havia um livro
aberto que ele parecia ler enquanto aguardava a sua vez de tomar banho.

Nossa... que homem, mas e agora o que devo fazer? Apesar de ser meu
marido, é muito estranho dividir o quarto com um homem. Ela pensou ao
observar a cena de intimidade.

A cena deixou a jovem surpresa, perceber que seu marido gostava de ler e
pelo título ele não era apenas um mafioso poderoso, mas também um homem
culto. Porém, não foi apenas isso que chamou a sua atenção, observou
também o quanto ele ficava sexy ao exibir seu peitoral musculoso, de uma
pele morena lisinha sem pelos. Aquilo a deixou sem graça, pois ainda havia
pouca ou quase nada de intimidade entre ambos. Então, ela tentou disfarçar e
desviou o olhar.
— Pronto, acabei o banho, o banheiro é todo seu.

Alessandro levantou lentamente os olhos do livro, a viu caminhando sem


graça em direção a cama. A sua camisola de seda cor de rosa curta, exibia um
robe na mesma cor disfarçava o colo exposto, as alcinha, ainda deixava à
mostra as pernas longas e roliças. Ele respirou fundo propositalmente.

— O perfume que acabou de tomar conta de todo o quarto já denunciou


isso. A propósito, adorei o cheiro do seu hidratante — ele falou de forma
sedutora e deu o seu clássico sorriso torto para um lado. Aquele gesto aliado
ao seu rosto comprido bonito, barba rala sexy, mexia com qualquer mulher,
experiente ou não...

— Hum, obrigada. Não sei dormir sem antes passar meu hidratante,
morangos com champanhe — ela respondeu sem graça, mas tentando
disfarçar.

— Ele tem um cheiro gostoso, na verdade você toda parece ter um cheiro
delicioso — ele falou provocante, enquanto a observava atravessar o quarto
em direção a cama parecendo a própria Barbie de camisola cor de rosa e
vendo-a se sentar na borda da cama do lado oposto. Estava tensa, dava para
sentir isso no ar e ver no seu rosto, mas ele parecia fingir não perceber.

— Vejo que gosta de ler.

— Sim, somente troco um bom livro por algo muito interessante. Uma bela e
cheirosa mulher, por exemplo...
— Por favor, dispenso os galanteios, estou cansada. Então, gostaria que
fosse logo tomar o seu banho para que eu possa, após isso, apagar a luz,
deitar e descansar.

— Ah claro! — Ele se sentou rapidamente na cama e pôs o livro no criado


mudo ao lado. — E como sou um cavalheiro, quando a dama merece, pode
apagar a luz e se deitar. Eu me trocarei no banheiro.

— Obrigada! Muito grata pelo seu cavalheirismo — Gio respondeu com


deboche, mas no fundo agradeceu.
— Não tem por que agradecer. Ah! Caso eu precise te salvar de algum
monstro do escuro é só gritar. Estarei no banho.

Então, ele finalmente levantou da cama e se dirigiu até a porta do banheiro.


Gio ainda o observou discretamente, enquanto ele de costas para ela
caminhava exibindo a sua bela altura em torno de 1,90 e excelente forma
física.

Como é bonito, alto e charmoso. Mas, não vou quero me apaixonar pelo
provável assassino do meu irmão! Ele é tão diferente do todos os garotos que
já paquerei. Aliás, ele não é um garoto e sim um homem feito...

Foi o que ela pensou antes de finalmente deitar de vez na cama, apagar a
luz e devido ao cansaço mergulhar em um sono profundo. Nem chegou a ver
quando o seu marido terminou o banho e voltou a cama, banhado, usando
apenas a calça do pijama de seda creme e com cheiro de loção pós barba.
Capítulo 6
O caixão preto e luxuoso descia lentamente na sepultura, o barulho das
correntes que o ajudava a descer ecoava no ar fazendo um ruído sinistro.
Giovanna chorando observava a cena bem ao lado, de repente ela tenta se
jogar dentro da sepultura em busca do caixão. Contudo, diante dos seus
olhos, surgem já mortos, seu pai Don Enrico e Lorenzo. Ambos tentavam lhe
falar algo, mas as vozes saiam incompreensíveis, resultando em uma
confusão de sons.

— Mate-o! — Don Enrico com um olhar impiedoso exigia sério.

— Calma! Ele não! — protestou Lorenzo.

— Ele sim! — seu pai concluiu.

Então, Gio em sonho, gritou alto e acordou assustada, tremendo e


chorando. Havia sido vítima de um pesadelo no meio da noite, natural para
um dia de tantas emoções fortes. Porém, o grito foi real, despertando seu
marido que dormia ao lado.

— Papai! Lorenzo! — a jovem gritou desesperada ao despertar no


escuro chorando.

Após gritar, Gio passou os braços em volta do próprio corpo e deitou de


lado em posição fetal, como se quisesse simular um abraço apertado. Apesar
da pouca intimidade e da cama enorme, Alessandro comovido com a cena, se
aproximou devagar, deslizando sobre os lençóis e no escuro a abraçou forte.

— Calma...calma... foi só um pesadelo. Calma, princesinha, estou aqui... —


ele a acalentou com voz carinhosa, enquanto a abraçava.

Ambos deitados lado a lado na cama, de frente um para o outro, enquanto


ele acariciava sua cabeça apoiada em seu ombro e falava baixinho ao seu
ouvido.
— O papai! O Lorenzo...

— Eles se foram querida... agora descansam em paz, mas eu estou aqui para
cuidar de você. Foi um dos propósitos do nosso casamento lembra? — ele
falou com carinho enquanto fazia carinho em sua nuca. — Acabar a guerra,
unir os clãs, proteger você...
Gio ainda estava tão atordoada que nem lhe veio a lembrança de que
aqueles eram os propósitos que foram dito a ele e de início a ela também.
Porém, iam contra ao pedido final do seu pai antes de falecer.

— Sim... obrigada... — ela sussurrou com a cabeça ainda enterrada em seu


ombro, tentava conter as lágrimas e se conscientizar de que havia sido um
pesadelo.

Aos poucos Gio se acalmou nos braços de Alessandro. Ele se mostrou


meigo e compreensivo de uma forma que ela jamais imaginou que ele
pudesse ser em um momento assim. Não combinava com seu semblante
sério, bonito, mais de cara fechada. Desde que ele a abraçou forte e sussurrou
em seu ouvido palavras para acalentá-la, ela aos poucos foi ficando quietinha
em seus braços fortes. Enquanto isso com uma das mãos dele acariciava suas
costas e dava leves beijinhos em seus ombros nus.

— Linda... abandone-se e me deixe cuidar de você, princesinha... — ele,


com sua voz grave, falou baixinho ao seu ouvido.

Então, quietinha nos braços do seu marido, Gio permaneceu por uns vinte
minutos, recebendo carinhos inocentes como se estivesse sendo acalentada
para dormir. De repente, já passado o susto, sentiu que as mãos e o toque dele
pelo seu corpo aos poucos havia se tornado algo sensual. As mãos que antes
faziam massagens circulares em suas costas expostas pela camisola, agora
desciam lentamente acariciando de leve seus seios fartos e redondos,
enquanto a sua boca mordiscava o lóbulo da sua orelha delicada. Paralelo a
isso, ela sentiu o abraço ficar mais caliente e o membro rijo pressionar entre
suas pernas. Quando ela percebeu se assustou um pouco e tentou se
desvencilhar dele, mas sem muita certeza.

— Calma, amore mio, a palavra final sempre será sua, mas confie em mim,
se entregue e deixe as coisas acontecerem naturalmente... — Alessandro
sussurrou ao seu ouvido. — Virgem como eu imaginei....

— Sim...

— Eu tinha certeza que sim... mas em pouco tempo serás minha de corpo e
alma...
Aquilo derrubou as defesas de Giovanna, que mesmo com receio por ser
sua primeira vez, se entregou sem reservas, encantada com seu jeito sexy e ao
mesmo tempo gentil. O quanto ele havia sido carinhoso lhe acalentando ao
despertar do sonho ruim. Além do clima mágico de penumbra que reinava no
quarto, as cortinas abertas, a brisa da noite entrando pela janela, a luz do luar
iluminando parte da cama do casal.

A jovem ficou encantada e meio que hipnotizada, ao sentir após um


delicado beijo quente e macio na boca, seu marido baixar as alças da sua
camisola, beijar seu pescoço, ombros em seguida os seus mamilos eretos,
enquanto ela, mesmo sendo inexperiente e estando ofegante, mordia os lábios
no aconchego do quarto escuro. Então, ela sentiu Alessandro delicadamente
retirar toda a sua camisola puxando-a para baixo, com a língua brincou com
seus mamilos e foi descendo devagarinho brincando com os seus corpo. Até
que ela sentiu sua boca descer ainda mais e ele delicadamente afastou suas
coxas grossas roliças.

— O meu botãozinho de flor... virgem, feita para mim.... — ele sussurrou


antes de mergulhar em sua intimidade.
A partir daí Gio se abandonou totalmente nos braços do seu marido,
deixando que ele de forma carinhosa lhe mostrasse os encantos do amor. Ela
se surpreendeu com esse lado dele, pois não imaginava nunca o carinho e a
gentileza vindo daquele homem, mesmo em se tratando da primeira noite de
uma mulher. Ele com sua voz grave falava palavras sexys e galanteios ao seu
ouvido, enquanto a conduzia na arte o amor. Ela se surpreendia com as
reações do próprio corpo. Não houve dor, seu marido era um homem
experiente, soube preparar o terreno, de forma que ela se abriu para ele como
uma rosa desabrochando.
Então, num turbilhão de sensações até então não totalmente conhecidas por
ela vieram do fundo da alma. O coração acelerou, voz ofegante, sinos
tocaram e institivamente cravou as unhas nas costas dele, sem conseguir
conter as palavras.
— Ah! A... Alessandro...

Ela gemeu alto, enquanto arqueava o corpo involuntariamente e se


agarrava ainda mais a ele. Enquanto ele ouvia seu sussurro de prazer com o
seu ego masculino satisfeito. Enfim, eles adormeceram abraçados.
Capítulo 7
Gio virou de um lado para o outro, estranhando a cama, que apesar de
também ser macia, não era a sua cama de costume. De repente sentiu um
pequeno raio de sol no rosto e abriu lentamente os olhos. Ela olhou ao redor
do quarto, se lembrou que agora era um mulher casada e que estava em seu
novo quarto, o quarto do casal. Quando ela se apoiou nos dois braços e tentou
se levantar de costas, sentar na cama, encostada a cabeceira, o lençol
escorregou e expos parte da sua nudez.

— Meu Deus... não foi um sonho... — ela falou, levando a mão a boca, ao
mesmo tempo em que levantava o lençol para constatar que estava totalmente
sem nada por baixo do lençol de seda. Além disso viu sua camisola e o
pijama masculino jogados no chão ao lado da cama e nos lençóis brancos,
algo que parecia uma gota de sangue.

— A noite de núpcias! A nossa noite de núpcias aconteceu mesmo.... Agora


sou uma mulher... — ela falou baixinho, enquanto agarrava os lençóis junto
ao corpo e corava as bochechas ao relembrar os momentos íntimos entre ela e
o marido.

Somente em pensar no momento em que ele a possuiu de verdade, a


mistura de delicadeza, carinho e virilidade, fez surgir uma sensação nova em
seu íntimo. Era um rubor que lhe tomava a face e uma moleza gostosa que
subia pelas suas pernas e a fazia latejar por dentro de forma muito intima. Ela
deu graças a Deus por Alessandro ter acordado mais cedo e a deixado ali
sozinha na cama, pois provavelmente sentiria vergonha a primeira vez que o
encarasse a luz do dia, após aquela noite. Fora uma noite de muitas
descobertas, carinhos e desejo, acompanhados de um nervosismo inicial.

Gio, consultou o relógio em cima da mesinha de cabeceira ao lado da cama


e viu que já eram quase dez horas da manhã. Apesar de estar em lua de mel,
seu marido devia ter saído para trabalhar, não era algo comum para o
momento, mas não era um casamento comum também. Ao lembrar da
ocupação do marido, por trás das empresas de fachada, igual seu pai e seu
irmão, um filme se passou em sua mente e ela ficou triste por alguns
instantes.

Como será a rotina dele? Acorda todo dia, sai para trabalhar em um
escritório luxuoso igual era o do papai e de lá dá suas ordens fora das leis?
Será que ele ameaça e mata pessoas? Ela pensou triste, pertencer aquele
mundo, não lhe agradava.

De repente, olhou para a sua bolsa tiracolo que havia deixado no sofá do
quarto desde a noite passada, se lembrou do que havia dentro e que não
queria que ninguém visse: a pistola niquelada de Lorenzo. Ela passou o
lençol em volta do corpo bem-feito para cobrir a sua nudez, levantou rápido,
foi até a bolsa, retirou a pistola e a segurou com as duas mãos.

Meu Deus... o que farei com isto? Não tenho coragem de matar alguém,
nem mesmo se fosse o assassino do meu irmão. Mas, por hora acho melhor
escondê-la comigo. Ela pensou.

Então, Gio olhou para a mesinha de cabeceira do seu lado da cama, havia
uma gaveta com chave. Ela abriu e viu que estava vazia, sinal de que
Alessandro não guardava nada nela, devia ser uma gaveta esquecida. Ela
pegou a pistola e guardou nesta gaveta, passou a chave e a guardou no bolso
da tiracolo.

— Pronto! Se Alessandro perguntar o porquê de estar trancada, direi que


são coisas minhas e que não lembro onde está a chave.

Quando ela olhou para o relógio de pulso, viu que já eram dez horas e
meia. A noite de “amor” a deixara exausta, fazendo com que ela além de
acordar tarde, ainda tenha ficado preguiçosa, lenta. Era tarde para tomar café
e um pouco cedo para o almoço. Então ela olhou para o travesseiro do
marido, ao lado do dela e viu algo que ainda não havia percebido: um
pequeno bilhete.

“Bom dia, amore mio!

Espero que tenhas dormido tão bem quanto eu. A noite foi maravilhosa,
mas o dever me chama e não almoçarei em casa.
Alessandro”

Gio pegou o bilhete que de início nervosa não havia notado, leu e apertou
contra o peito, enquanto, sem perceber, esboçava um sorriso involuntário e
fazia um cara de felicidade.

Se ele não vem almoçar em casa, vou almoçar no shopping, fazer algumas
compras para me distrair. Ainda não me sinto à vontade nesta casa. Ela
pensou.

A jovem tomou um banho de banheira demorado, depois saiu do banho


enrolada num roupão felpudo branco. Após isso, foi até as suas malas que ela
ainda não havia tido tempo de mandar os empregados desfazerem e tirou um
vestido. Ela escolheu um vestido creme com estampas florais vermelhas, ele
possuía uma saia rodada até a altura do joelho, sem manga e um decote em
forma de V, um estilo bem romântico. Depois calçou sandálias vermelhas de
salto médio, pegou sua bolsa também vermelha e saiu do quarto em busca de
alguém que lhe entregasse as chaves de algum carro disponível na casa, pois
o seu ainda estava na mansão Orsini. Depois pediria a Alessandro para
providenciar a vinda dele, gostava de guiar seu próprio veículo desde que
tirou a carta de habilitação. Seu pai sempre insistia que ela usasse motorista,
mais ela preferia assim, se sentia mais livre.

Gio desceu as escadas de mansinho, olhando para os lados, como se


estivesse explorando o terreno da sua nova casa. Contudo, acabou sendo
surpreendida pela senhora Carlota bem no meio da sala. Parecia até que já
estava à espreita a vigiá-la.

— Bom dia, Carlota!

— Bom dia, senhora! O almoço será servido logo mais, ao meio-dia. Don
Alessandro quase não almoça em casa. Acredito que ele deve ter lhe avisado
sobre isso.

— Sim, claro! Eu também não almoçarei em casa hoje. Estou precisando


espairecer, me distrair, irei almoçar no shopping e aproveito para fazer
compras.
— Claro, senhora. Irei pedir ao Genaro para te levar e os seguranças reserva
da casa podem acompanhar — a governanta falou de forma respeitosa e fez
menção de se retirar.

— Não, Carlota! Espere! Gosto de dirigir, não vejo necessidade de um


motorista. Além disso, prefiro ir sozinha — a jovem explicou.

— Entendo, senhora, mas e os seguranças? Don Alessandro ficará furioso ao


saber que saiu sem eles.
— Humm... façamos o seguinte: basta me dar as chaves de um dos carros da
casa e eu me entenderei com meu marido quando ele chegar! Nunca usei
seguranças, não será agora que irei usar.

A velha governanta achou aquela atitude muito imprudente da parte da sua


jovem patroa, ainda mais para o tipo de negócios que a família exercia, mas
achou melhor não argumentar. Deixaria que o patrão resolvesse mais tarde.
Ela foi até uma mesinha no canto da sala enorme, abriu uma gaveta, pegou
umas chaves e lhe entregou.

— Estas são as chaves da Mercedes vermelha. Pedirei ao Genaro para a


trazer da garagem e estacionar na porta da casa para a senhora.

— Obrigada, Carlota. Aguardarei na porta principal.

Era por volta do meio-dia quando Gio chegou a um famoso shopping bem
frequentado pela nata da sociedade de Palermo. Estacionou o carro no local,
em seguida procurou um restaurante dentro do shopping, queria comer algo
gostoso antes das compras. Adorava fazer compras, mas não de estomago
totalmente vazio e a principal finalidade do passeio era almoçar fora. Apesar
dela não ser uma italiana que apreciasse excesso de massas e mesa farta,
gostava de comer com moderação, pois achava que seu corpo já tinha curvas
demais, não era conveniente exagerar a mesa e engordar.

— Deseja uma mesa senhora? Temos uma mesa ali na ala VIP.

— Desejo sim, abrigada!

— Queira me acompanhar!
Ele fala como se já me conhecesse e me respeitasse. Gio pensou. O que era
muito lógico, afinal, quem não reconheceria a filha de Don Enrico Orsini e
esposa de Don Alessandro Martinelli em Palermo.

Olhar as vitrines após a refeição foi demasiadamente agradável, porém, as


cenas da noite passada não saiam da sua mente. Gio já estava até com receio
de devido a sua inexperiência e todo o encanto da noite, ter se apaixonado por
seu marido, algo que não estava em seus planos. Ela aceitou casar,
convencida por seu pai, que usou vários argumentos convincentes de que era
o melhor a se fazer no momento, mas se apaixonar pelo provável assassino
do seu irmão estava fora dos seus planos.

Era por volta das duas e meia da tarde, Gio deixou o shopping e vinha
guiando devagar no transito estressante de Palermo

O céu de Palermo, sempre lindo, claro e brilhante! Bem que o carro


poderia ser um conversível. Ela pensou com seu botões, enquanto guiava
devagar e admirava a vista.

De repente, ela se surpreendeu ao passar ao lado de um charmoso café com


mesinhas na calçada sob a sombra de um toldo, ela avistou algo que quase a
fez bater em um poste. Ainda ouviu o xingamento do motorista ao lado.

— Meu Deus! Eu não acredito! Alessandro? — ela falou sozinha


espantada.

Sentado em uma das mesinhas brancas na calçada ensolarada, seu marido


vestindo um elegante blazer cinza e camisa branca, óculos escuros Ray Ban,
conversava com uma mulher, estilo mulher fatal. Era um mulher bonita,
morena, cabelos negros escovados, bem vestida, sexy, com idade próxima
aos trinta. Apesar de não estarem trocando carinhos em público, pareciam
bem íntimos pela forma de gesticular e expressões nos rostos. Aquilo deixou
Gio muito triste e decepcionada, na hora surgiu uma onda de raiva e ciúmes
que ela nunca imaginou sentir por alguém. Porém, ela resolveu seguir viagem
para casa, não iria fazer um escândalo, dando a ele o gostinho de achar que
ela estava com ciúmes ou poderia já estar apaixonada por ele. Quando fosse
conveniente ela o questionaria e tiraria aquela história a limpo.
Gio chegou em casa chateada e arrasada com o que viu, mas não podia
falar ou demonstrar que havia algo errado. Então, ela achou melhor se trancar
em seu quarto e ficar calada e evitar comentar até mesmo com Gemma que
ultimamente andava muito amiga de Carlota. De qualquer forma, era meio da
tarde, ela era novata na casa, tinha perdido o pai há pouco tempo, ninguém
estranharia se ela se trancasse no quarto até final da tarde ou a hora do jantar.
A casa mesmo estava silenciosa, na verdade, parecia ser uma característica da
mansão Martinelli, poucos empregados circulando, o patrão trabalhando e o
silêncio.

Ainda bem que o Alessandro só chegará início da noite! Não quero


protagonizar uma cena de ciúmes, ainda mais assim com a cabeça quente e
também não quero olhar na cara dele agora. Cínico! No dia seguinte a nossa
noite de núpcias! Ela pensou ao se trancar no quarto e deitar na cama.
Capítulo 8
Era por volta das seis e trinta da tarde quando Alessandro abriu a porta
do quarto furioso.

— A Carlota já me contou que a senhora saiu hoje pela manhã sem


seguranças! — ele falou enquanto jogava com força a pasta executiva no sofá
do quarto e desatava o nó da gravata.

— Ela não precisava ter lhe contado nada! Tenho dezoito anos e sei me
cuidar sozinha. Ah! e sua governanta é muito fofoqueira, se quer saber.

— Não, a Carlota não é fofoqueira e você pelo visto não sabe se cuidar
sozinha! A Carlota é meus olhos dentro desta casa e você é herdeira do clã
Orsini, que possuíam muitos inimigos e não somente a mim!

— Ah não? De qualquer forma meu pai e Lorenzo estão mortos! Se deviam


algo, já pagaram. Nunca usei seguranças e não irei usar agora.

— Eles terem pagado ou não, talvez não seja o suficiente! Você ficou
sendo a única herdeira do clã agora comandado por mim e é esposa do chefe
do clã Martinelli!

— Eu não tenho nada a ver com isso! Por mim tudo seria vendido e
recomeçaria vida nova, de uma forma legal, dentro da lei!

— Belas palavras, mas não é tão simples assim! Aceite seu destino, minha
cara: quem nasce na máfia, morre na máfia!

A jovem se sentou na cama, cruzou os braços e bateu o pé com cara de


uma garota mimada chateada. Mas, o seu marido não se intimidou com
aquilo.

— E não me venha com birra de garota mimada, pois sou um homem


ocupado!
Aham... eu vi bem qual era uma das suas ocupações hoje à tarde. Ela
pensou, mas achou melhor calar.

— Agora irei tomar um banho e às oito horas o jantar será servido! Não gosto
de jantar sozinho, quero a companhia da minha esposa na mesa ao meu lado
— ele concluiu se dirigindo para a porta do banheiro, fingindo não ligar para
a cara de chateação dela.

— Droga! Droga! — ela falou, enquanto socava o colchão, assim que ele
entrou no banheiro e fechou a porta.

Após algum tempo, Alessandro saiu do banho usando apenas uma toalha
branca em volta da cintura, expondo todo o seu físico moreno e bem definido.
Gio, apesar da raiva, ao ver aquela cena, sentiu um calor que lhe subiu pela
corpo inteiro, deixando-a sem graça e ruborizada. Afinal, ainda era sete e
trinta da noite, o quarto ainda estava com as luzes bem acessas. Ela tentou
disfarçar para que ele não percebesse.

— Você deveria ao menos pôr um robe ou se trocar no banheiro!

— Qual o problema, amore mio? Não tem nada que você já não tenha
visto ontem à noite.

Aquele comentário debochado fez com que a sua raiva voltasse.

— Não seja grosseiro!

— Ora Giovanna, não se comporte como uma criança mimada, pois você já é
uma mulher! Minha esposa e senhora desta casa. Espero que esteja pronta,
pois está na hora de descermos para o jantar.

— Sim, já estou pronta. Podemos ir se quiser.

— Ótimo!

Dom Alessandro desceu para o jantar usando calça esporte creme e camisa
polo azul marinho que realçava ainda mais seus olhos cor de mel. O cabelo
ainda úmido lhe dava um charme especial. Gio, que já havia se trocado antes
de ele chegar do trabalho, vestia um vestido tubinho vermelho, o que realçava
ainda mais seu loiro e desenhava as formas do seu corpo bem feito,
acompanhado de sandálias creme de salto médio.

Devido a briga no quarto o clima na sala de jantar não era dos melhores.
Eles apenas trocavam palavras monossílabas e eram educados um com o
outro diante dos empregados que serviam a refeição.

— Não vai comer mais um pouco? Esta massa está uma delícia.

— Não, para mim já basta. Não gosto de exagerar a mesa. Além o mais
estou sem apetite — ela respondeu seca.

— Hum... pois lhe advirto que para gerar o futuro herdeiro dos Orsini e
Martinelli precisa comer bem para ficar forte e saudável.

— Herdeiro? Que papo é esse? Mal nos casamos e isso ainda não está em
meus planos — ela falou surpresa e irritada.

— Por que o espanto? Ninguém lhe avisou que um casamento, quase sempre
resulta em bebês, Giovanna? — ele perguntou de forma cínica, encarando-a
com uma das sobrancelhas arqueada e os talheres parados quase cortando a
massa.

— Detesto quando alguém próximo a mim, me chama por Giovanna,


parece até que vai me dar uma bronca — ela falou ainda irritada.

— Ah! Perdão: Gio! E obrigada por me considerar próximo — ele falou,


debochado.

— De nada! — Ela retribuiu o deboche, enquanto levava vagarosamente


uma azeitona espetada num garfo até a boca.

— Então, quero um herdeiro! Quanto a você não vejo motivos para não
querer: estamos casados, você é saudável, caso queira fazer uma faculdade
terá ajuda de babás. Sem falar na Carlota que vai adorar um bebê para ajudar
a cuidar.

— Mas não estava em meus planos, ainda não pensei sobre isso. Então,
realmente não sei... — ela respondeu confusa e ainda teve vontade de dizer
peça para a sua amante...

— Então, deveria saber, amore mio, pois não sei se você percebeu, não
usei preservativo ontem à noite. A menos que você já esteja se prevenindo e
usado anticoncepcional. Você está usando?

— Não... Não estou... — A ficha caiu para Gio, ela devia ter se prevenido
antes disso, consultando uma ginecologista, visto anticoncepcional, mas todo
o tumulto desde o anuncio do casamento a fez esquecer daquele detalhe tão
importante.

— Então... lamento informar, mas talvez o nosso herdeiro já esteja a


caminho.

Aquilo pegou Gio de surpresa, fazendo-a engolir no seco e fechar a cara


durante todo o final do jantar. Aquilo que seu marido lhe disse a pegou de
surpresa em relação a já querer um herdeiro e também ao lembrá-la que não
usaram nada na noite anterior.

Após o jantar, Alessandro foi para o seu escritório privado ver alguns
papeis e Gio foi direto para o quarto com a cara amarrada. Chegando no
quarto se trocou para dormir e pegou um dos livros do marido para ler, mas
aquela tal mulher e agora a pressão por um herdeiro não lhe saiam da mente.

Se ele acha que hoje a noite vai ser igual a noite passada, está muito
enganado! Mesmo que ele volte ao quarto bem disposto a providenciar nosso
herdeiro, eu não esqueci dele e a tal mulher! Ele diz que é um cavalheiro
mas acho melhor me prevenir caso ele exagere na pressão. Pensou ela.

Olhou para a gaveta do seu criado mudo, aproveitou que estava sozinha,
pegou a chave da gaveta em sua bolsa e a destrancou. A pistola prateada que
pertenceu ao seu irmão, brilhou no fundo da gaveta, ali diante dos seus olhos
verdes escuros. Ela sentiu um arrepio na espinha, não gostava de armas.
Ainda assim ela a pegou com cuidado e pôs a pistola embaixo do seu
travesseiro. Depois deitou a cabeça nele e ficou a ler seu livro ou melhor,
tentando ler.

Era umas dez e meia da noite quando Alessandro entrou no quarto. O


ambiente estava na penumbra e sua esposa fingia dormir. Contudo, a sua
experiência lhe dizia que ela não estava dormindo. No fundo, ele até achou
engraçado a sua ingenuidade em achar que poderia enganá-lo tão facilmente.
Ele não acendeu a luz, passou direto para o banheiro, tomou um banho
rápido, vestiu apenas a calça do pijama de seda, a noite estava quente e se
deitou na cama ao lado dela.

Alessandro se aproximou devagarinho da sua esposa que deitada de lado,


de costas para ele, fingia dormir. Ele acariciou seu cabelos cacheados, os
afastou um pouco e lhe beijou o pescoço macio, enquanto com a outra mão
acariciava suas costas e começou a deslizar a mão em busca dos seus seios
quase expostos pela camisola branca, decotada de alcinhas.
— Me deixe em paz, estou com sono... — Gio falou chateada, fingindo
cansaço, enquanto tirava as mãos dele de cima dela.

— Ainda chateada? Não seja infantil, querida, estamos em lua de mel e sei
que você não está com sono. — Ele apenas se afastou um pouco e falou com
ela ainda de costas, num tom que beirava o divertido.

— Você não tem uma bola de cristal para adivinhar o que estou sentindo
ao não!

— Não tenho, mas tenho experiência o suficiente para saber que se existe
algum motivo para você estar assim de cara amarrada, bem diferente de
ontem, em nossa segunda noite de casados, este motivo não é o sono — ele
falou sério e fechou a cara.

— Pois é isto que estou sentindo: Sono!

— Pois, quanto a mim é isto que estou sentindo: Desejo! — ele falou ao
abraçá-la novamente por trás, colando seu corpo ao dela e fazendo com que
ela sentisse seu membro rijo de encontro as suas nádegas.

Ao sentir aquilo, ela foi tomada por um calor que subia dos pés até o
ultimo fio de cabelo, acompanhado de uma moleza gostosa. Por um momento
ela pensou em ceder e se entregar, afinal também estava começando a querer,
mas lhe veio à mente a cena dele todo intimo conversando com aquela
mulher como se fossem amantes. Aquilo lhe deu novamente uma onda de
raiva, mas não queria jogar isso em sua cara, não daria o braço a torcer que
estava com ciúmes.

— Pare, Alessandro! Me deixe em paz! — Ela ainda deitada de costas o


empurrou com os cotovelos.

— Vem cá, não seja boba! Sei que você também quer... Está apenas com
alguma birra infantil e não quer me falar o motivo — ele falou irritado e a
abraçou por trás novamente.

Então, neste momento a sua veia Orsini falou mais alto. Rapidamente, Gio,
que já estava com uma das mãos embaixo do travesseiro, o empurrou com o
cotovelo do braço livre e com a outra mão puxou a pistola mirado em direção
a ele. O brilho da pistola na escuridão do quarto encandeou a visão do seu
marido que se afastou rapidamente permanecendo ainda em cima da cama
com as mãos rendida. Apesar de toda a sua experiência no submundo da
máfia, aquilo o pegou de surpresa. Pois, não esperava que sua esposa que
fazia o estilo patricinha e princesinha frágil, delicada, fosse capaz de algo
assim. Não sabia sequer que possuía uma arma escondida com ela ali no
quarto.

— Largue esta arma, Giovanna! — Alessandro falou sério com olhar


severo e mãos para cima, enquanto se afastava dela na cama.

— Não se aproxime! Posso ter esta aparência delicada, jeito meigo e cara
de princesinha Disney, mas nunca se esqueça que em minhas veias corre o
sangue Orsini! — ela falou com olhos saltados, enquanto os braços trêmulos
seguravam a pistola com as duas mãos em direção dele.

— Largue esta arma! Não tem necessidade disto! Saiba que todas as
mulheres que tive em meus braços foram por livre vontade e com você,
mesmo sendo minha esposa, não será diferente!

Ao ouvir aquilo, Gio ficou confusa e se descuidou um pouco. Alessandro


vendo isso em seus olhos e ao perceber que a pistola ainda estava travada, se
jogou em cima dela com o intuito de desarmá-la e conseguiu.

— Eu já desarmei homens experientes, imagine uma garota como você, sua


bobinha! Agora isso fica comigo — ele falou com voz compreensiva,
segurando a arma, depois a colocou na gaveta do seu criado mudo e passou a
chave.

Então, ao ser desarmada, Gio virou de costas na cama e caiu num choro
convulsivo com a cabeça enterrada em seu travesseiro.

— Me devolva a arma do meu irmão... era uma lembrança dele...

— Não! Ela agora, ficará comigo, use como lembrança uma fotografia. Você
não tem prática e nem maturidade para portar uma arma — ele falou sério
sentado próximo a ela na cama.

Gio continuo a chorar, aquilo o deixou comovido, não podia esquecer que
ela tinha apenas dezoito anos, estava frágil emocionalmente e que eles mal se
conheciam ainda. Aquilo explicava muito da reação exagerada que ela
acabava de ter ao apontar uma arma contra ele. Então, ele se aproximou mais,
fez um carinho em seus cabelos a virou de frente para ele, ela cobriu o rosto
com as mãos, ele descobriu de forma gentil, beijou sua testa e a abraçou com
carinho.

— Pronto, pronto... não chore mais, minha princesinha. Não sou o monstro
que alguns dizem. Não quero que nunca mais sinta medo de mim, está bem?
— ele perguntou gentil enquanto beijava a ponta do seu nariz afilado.

— Está bem... — ela falou, tímida.

— Sabe, acho que precisamos espairecer, principalmente você. Fomos


convidados para uma festa amanhã à noite, um aniversário de casamento.
Acho que deveríamos ir. O que acha? Deseja ir?

— Sim... gostaria. Já há algum tempo não vou a uma festa...

— Então, amanhã iremos! Quero você bem linda para que todos vejam
que tive o privilégio de me casar com a bela Giovanna Orsini, atualmente
senhora Martinelli. Agora durma....

Assim, abraçadinha ao seu marido, Gio adormeceu....


Capítulo 9
— Don Alessandro, seja bem-vindo à nossa casa! É uma honra
comemorarmos o nosso aniversário de casamento em sua presença.

Uma mulher elegante usando um vestido de festa azul turquesa, pele


branca, cabelos negros, bem maquiada e cheia de joias, os cumprimentou na
entrada da mansão, ao lado do marido.

— Obrigada, senhora! A minha esposa e eu também nos sentimos honrados


pelo convite — ele falou educado, cumprindo um protocolo de etiqueta, mas
não que estivesse ali contra a vontade.

Alessandro, por motivos de segurança não era tão chegado à festas e


badalações, a não ser festas privadas e com segurança como aquela. Afinal,
era uma festa da cúpula da sua organização, de certa forma, estava seguro e
em casa, além dos seus seguranças privados

— Bem-vindo à nossa casa, Don Alessandro! — um homem de terno


escuro o cumprimentou de forma respeitosa com um aperto de mão firme, era
o marido da mulher. Os anfitriões.

— Obrigada, Michael! Esta é minha esposa, Giovanna Orsini Martinelli.

O casal se entreolhou involuntariamente ao ouvir o sobrenome Orsini, o


que causou um certo desconforto no ar, mas cuidaram logo de disfarçar.
Afinal, lembraram que até bem pouco tempo aquele sobrenome era do
principal inimigo da organização chefiada por Alessandro.

— Seja bem-vinda à nossa casa, querida! — A mulher se derreteu em


bajulações. — Venha comigo e lhe colocarei em uma divertida mesa só com
mulheres.

— Ah claro, mas não posso ficar com meu marido?

— Ah meu bem... eles sentarão numa mesa a parte, só com homens,


discutirão assuntos masculinos e de negócios. Você não achará nada
divertido, pode apostar — a mulher falou com jeito, pegando-a pelo braço.

Gio olhou para Alessandro sem saber como agir diante daquela
proposta. Ele, na presença do casal de anfitriões, usou todo o seu charme e
educação. Algo em que ele era muito bom quando desejava ser...

— Querida, a acompanhe, aposto que será mais divertido para você. — Em


seguida, ele se dirigiu a mulher. — Ela é toda sua, só peço que me devolva,
ao final da festa, a mulher da minha vida.

Sem que o casal compreendesse exatamente o que Gio falou, já que neste
exato momento a orquestra começou a tocar. Gio olhou para ele com ar de
deboche e retribuindo o que ela achou que fosse uma piada.

— Obrigada: que-ri-do!

Assim a anfitriã da festa saiu levando Gio praticamente arrastada pelo


braço, tamanha era sua bajulação com a esposa de Don Alessandro, a senhora
Martinelli. Ela queria acomodar a esposa do chefão na melhor mesa feminina
da festa, entre as esposa dos gerentes da alta cúpula e não dos apenas
soldados. Esposas que estivessem à sua altura.

Gio vestia um elegante vestido longo de festa vermelho, que colava ao seu
corpo com um decote sensual, ao final do vestido havia um acabamento
sereia na barra que quase cobria as sandálias prateadas. Usava um conjunto
de brincos e colar de brilhante, presente do seu pai de quando ela fez quinze
anos. Na época em que ela sonhava em ajudar a administrar os negócios da
família.

— Aqui, querida! Meninas, esta é a senhora Giovanna Martinelli, esposa


de Don Alessandro, deixarei ela aqui na mesa a cargo de vocês. Espero que
toda se divirtam.

Ela foi colocada na mesa junto à outras mulheres tão chiques quanto ela e
com esposos importantes dentro da organização. Contudo, eram mulheres
mais velhas e com mais tempo de casadas, todas na faixa dos trinta, quarenta
anos. Então, apesar de muito bem recebida na mesa por ser a esposa do
chefão, nem todos os assuntos interessavam a ela, casa, marido, filhos
pequenos. Ela ficou ali respondendo uma pergunta ou outra, dando um
sorriso sem graça, procurando ser gentil e educada. Isso fez com que ela não
se integrasse totalmente à conversa predominante na mesa e passasse a
observar dali, da sua cadeira, detalhes da festa. Talvez por seu pai nunca ter
dado aquele tipo de festa na mansão Orsini, ela nunca havia observado certas
coisas.

Será que todos aqui sabem que nasci no clã rival e que meu casamento foi
arranjado num ato de desespero do meu pai? Ela pensou enquanto observava
a festa e também discretamente algumas senhoras da sua mesa.

Era uma festa para comemorar as bodas de dez anos de um dos comparsas,
uma espécie de gerente. O evento foi armado nos jardins da mansão que
pertencia ao casal. Era uma casa bem grande, luxuosa, jardim bonito, mas
não chegava a ser tão grande como a mansão Martinelli. Os jardins estavam
bem iluminados e decorado, homens e mulheres exibiam ternos italianos,
vestidos de festa e joias. Parecia que era uma forma de ostentar sem correr
perigo com atentados de inimigos ou chamar atenção de autoridades da lei.

O clima geral da festa era agradável, a orquestra começara a tocar às oito


horas, no momento em que eles chegavam a festa. Agora estava tocando a
canção Roberta de Pepino De Caprio, alguns casais com taças de champanhe
nas mãos já ensaiavam alguns passos agarradinhos no pista estilo carpete
vermelho armada na grama verde.

Um detalhe que chamou sua atenção foi que apesar de ser uma festa, um
momento de diversão e descontração, parecia existir uma certa hierarquia
subentendida. A festa era na verdade composta, noventa por cento por
mafiosos do clã Martinelli. Existia uma enorme mesa comprida coberta por
uma toalha branca, onde estavam sentados praticamente todos os homens da
festa que tinha aproximadamente cinquenta convidados. Na cabeceira, estava
Alessandro, no lugar reservado a ele. Apesar da música, dava para perceber
que todos conversavam alto, barulhentos, comiam bem, bebiam, sorriam
enquanto misturavam assuntos de negócios com diversão local. Por isso as
mulheres estavam em mesas separadas.

Quanto ao público femininos, a maioria era esposas dos que estavam na


grande mesa. Elas ocupavam charmosas mesinhas brancas e redondas
distribuídas em longo do jardim em volta da mesa grande masculina. Nestas
os assuntos que prevaleciam eram maridos, casa, filhos, moda, receitas
culinárias. A festa em si estava até divertida, Gio estava mesmo precisando se
distrair, ver gente nova depois de tantas emoções fortes nos últimos dois
meses. Contudo, ela sentiu um certo alivio quando viu seu marido se
aproximar, chegar até a mesa, cumprimentar toda as senhoras, algumas até o
cobiçaram com o olhar e a chamar para irem embora para casa.

— Gostou da festa, amore mio? — Alessandro perguntou, enquanto guiava


o seu carro de luxo preto no trajeto de volta para a mansão.

— Sim... não era o estilo de festas que eu costumava ir com algumas colegas
quando solteira, mas serviu sim para espairecer.

— Hum, que bom que pelo menos serviu para isso. Não quero você tensa,
nervosa. Quero que seja feliz.

— Acho que estamos sendo seguidos! — ela falou, assustada,


interrompendo o clima da conversa.

— Não, são os nosso seguranças. Ainda não se acostumou? — ele falou


ao olhar pelo retrovisor do veículo e se certificar ao enxergar um carro preto
cheio de homens vindo logo atrás.

— Creio que ainda não... — Gio respondeu sem firmeza na voz e mudou o
rumo da conversa, não queria trazer de volta o assunto que já havia sido
motivo de discussão entre os dois. Não naquela noite em que tudo parecia tão
leve.

— A noite está tão bonita, estrelada — ela comentou ao olhar pelo vidro
do carro.

— A noite está bela e você mais bela ainda. A sua cara está ótima, creio que
aquelas tacinhas de espumante lhe fizeram bem.

— Como sabe que bebi? — ela perguntou, sorrindo.


— Ah... você não achou que eu ia soltá-la numa festa com pessoas que
você não conhece e não observá-la, não é? — Ele deu um sorrisinho torto,
estilo cafajeste.

— Realmente você acertou, estou me sentindo ótima, leve. Foram apenas três
taças, mas não tenho o hábito de beber álcool.

Quando chegaram a casa, Gio subiu devagar as escadas, não estava


bêbada, apenas um pouco mais leve de todos os acontecimentos ruins que
haviam acontecido nos últimos meses desde a morte do seu irmão. Mas ela
achou melhor por precaução, tirar as sandálias de salto alto e pôr na mão,
com a outra mão subiu segurando ao corrimão. Enquanto seu marido vinha
logo atrás com um sorriso sexy, uma expressão divertida no olhar. Estava
achando divertido a ver assim, tão sorridente e feliz, coisa que ele não tinha
visto, desde o dia que se encontraram pessoalmente na cerimônia de
casamento até a sua chegada a mansão Martinelli.

— Precisa de ajuda para continuar? — ele perguntou, divertido, ao vê-la


desequilibrar um pouco.

— Não, eu estou bem! Não estou de pileque.... — ela respondeu, sorridente.

Quando chegou ao quarto, enquanto Alessandro jogou seu terno em cima


do sofá, desmanchava o nó da sua gravata e tirava a camisa, Gio tirou os
brincos de brilhante e colocou no porta joias deixado em cima da mesinha.
Mas, quando ela ergueu novamente os braços em volta do pescoço para abrir
o fecho do colar, sentiu um pouco de dificuldade, nunca foi boa naquilo,
ainda mais com algumas taças de espumante

— Posso? — A voz grave do seu marido, falando por trás dela e junto ao
seu ouvido.

— Sim, claro...

Ele abriu devagar o fecho do colar, ao mesmo tempo que deu uma lambida
sexy em seu pescoço para em seguida assoprar o lugar ainda úmido e lhe
falar ao ouvido.
— Você, era a mulher mais linda e sexy da festa...

Ele falou junto a sua nuca, enquanto com a outra mão retirava o colar e o
depositava no porta joia em cima da mesinha. Ele continuou massageando
levemente os seus ombros expostos pelo vestido vermelho de alças e grande
decote.

— Ah... você é um galanteador... — ela falou sorridente e com voz dengosa.


Já estava sentindo o arrepio de sempre na espinha.

— E se eu fosse? Não posso soltar galanteios para a minha esposa? — ele


perguntou ao seu ouvido, de pé por trás dela, enquanto suas mãos enlaçava a
sua cintura fina.

— Claro que pode...

— Hum... então serei mais ousado. Me permita lhe dizer que este seu vestido
sexy me causou várias ereções hoje durante a festa. Todas iguais a esta...

Ele ainda por trás, a apertou ainda mais forte com o braço em volta da sua
cintura fina e fez com que ela sentisse o seu membro rijo por baixo da calça,
pressionando suas nádegas bem desenhadas pelo vestido. Porém, dessa vez
ela não sentiu medo ou vontade de repeli-lo, sentiu o calor e a moleza nas
pernas de sempre, além de ficar ofegante ao sentir as suas mãos fortes
deslizarem pela parte da frente do seu vestido em busca dos seus seios
redondos. Com os polegares, ele acariciou os mamilos intumescidos pelo
desejo.

— Você deseja fazer amor comigo esta noite, não é? — ela perguntou
ofegante e ainda meio tímida enquanto aquele calor incontrolável e o frio na
barriga que ela sentia quando ele a tocava, tomava conta de todo o seu corpo.

— Sim, amore mio... e você não? — ele lhe perguntou com a boca colada ao
seu ouvido e ainda colado por trás dela.

— Sim... eu quero... Será igual àquela noite? — ela perguntou, tímida e


curiosa, mas cheia de desejo.
— Na primeira noite, eu fiz amor com a jovem e hoje quero fazer amor com a
mulher! A minha mulher... Deixe-me mostra-lhe todos os segredos do amor,
a linha tênue que existe entre a delicadeza e a paixão quando duas pessoas
estão se amando na cama.

— Eu... eu sou toda sua Alessandro...

Então, ele a tirou do chão a carregou nos braços em direção a cama, onde a
depositou bem no centro e com delicadeza. Desta vez fora algo mais quente,
mais ousado. Gio, apesar da pouca experiência, ora era guiada pelo seu
marido, ora pelo extinto de fêmea. Depois dos corpos já totalmente sem
roupa rolarem pela cama e se amarem freneticamente, entre beijos, lambidas,
gritos e sussurros, foi com satisfação que Alessandro sentiu as unhas da sua
esposa cravarem em suas costas ao ouvir ela gritar seu nome alto no
momento do clímax.

— A... A... Alessandro! — Depois desabou exausta.

Após isso, os corpos permaneceram abraçados, relaxando, até que


quando o nível de adrenalina voltou ao normal...

— Você já iniciou a pílula, princesinha?

— Nossa... esqueci que ainda não havia...

— Então, acho que nosso herdeiro pode já estar mesmo a caminho, viu?

— Não tem problema.... — ela respondeu dengosa e se abraçou ainda mais a


ele.

Assim adormeceram, despidos e abraçadinhos....


Capítulo 10
Dois meses depois...

— Por aqui, senhor, temos uma mesa ali em nossa área VIP — um garçom
falou educadamente, indicando o caminho estirando um dos braços em
direção a mesa.

Alessandro vestindo calça esporte preta e camisa azul escuro, a sua cor
favorita por realçar seu olhos cor de mel, entrou no restaurante, caminhando
devagar e com uma das mãos pousada gentilmente sob as costas de Gio.

— Sente-se, querida — ele falou ao puxar delicadamente uma das cadeiras


da mesa.

— Obrigada. — Gio sentou-se devagar e colocou sua bolsa no colo.

— Sente-se melhor?

— Sim, foi só um mal-estar ao sair do carro. O dia está quente e sol forte ao
sair do carro no estacionamento...

— Ah... que ótimo! Então podemos pedir nosso almoço? — seu marido
perguntou enquanto do lado oposto da mesa, puxou uma cadeira, sentou-se
diante da jovem e abriu o cardápio.

— Sim, claro... —ela falou sem muita certeza, estava se sentindo estranha,
mas não queria estragar o passeio. Não era sempre que Alessandro tinha um
tempo livre somente para os dois.

O dia estava lindo, o sol brilhante no céu azul de Palermo, naquele sábado
seu marido havia decidido deixar um pouco os negócios de lado e a convidou
para almoçar fora. Escolheu um restaurante localizado no centro da cidade, a
fama era de que além ser bonito e bem frequentado, tinha uma tradicional
comida italiana que era maravilhosa.
O lugar era bem decorado com mesinhas redondas cobertas por toalhas
vermelhas, flores em todas as mesas. Gio ficou feliz com a ideia, mas ao
descer do carro no estacionamento, sentiu uma leve tontura e precisou ser
amparada. Agora já parecia estar tudo bem.

Os pratos foram pedidos. Enquanto isso, começaram a conversar, ao


mesmo tempo que Alessandro fazia carinho em suas mãos delicadas que
estava pousada em cima da mesa e a olhava nos olhos. Ele tinha esse hábito
de paquerá-la como se a tivesse vendo pela primeira vez e já não fossem
marido e mulher. Aquilo às vezes a deixava sem graça, quando ele a encarava
diante das pessoas com um olhar carinhosos e sexy, ele se divertia ao
perceber isso. Enfim os pratos chegaram.

— Humm... este carpaccio ao molho está com uma cara ótima! — seu
marido falou animado, enquanto colocava o guardanapo no colo e pegava os
talheres.

Gio olhou para os bifes fininhos e vermelhos decorados no prato. Ela,


como uma jovem italiana, já havia comido aquilo várias vezes, mas naquele
momento, não pareceu agradável aos seus olhos. Então, de repente o seu
estomago revirou e em sua boca surgiu um liquido amargo. Não deu tempo
explicar nada, ela arregalou os olhos, colocou a mão na boca e caminhou em
direção ao toalete o mais depressa e discretamente que conseguiu.

— Giovanna! — Ela ainda ouviu a voz do seu marido, mas não pode parar
ou tirar a mão da boca para responder.

Gio vomitou o que ainda restava do café da manhã no vaso do banheiro.


Depois tentou se recompor passando uma água na boca, no rosto, retocando a
maquiagem e o batom. Ainda se sentou por alguns minutos no sofá que havia
no local. Depois retornou a mesa.

— Gio, o que houve? Está tão pálida... Foi ao toalete?

— Sim e vomitei muito, foi este bife...

— Mas você não chegou nem ao menos a tocar nele...


— Não precisou. Bastou olhar para ele e meu estomago embrulhou...

Ao ouvir aquilo, Alessandro fez uma cara de espanto e ao mesmo tempo


seus olhos brilharam. Sentados na mesa, frente a frente, ele pegou
delicadamente a sua mão.

— Amore mio, creio que você está grávida...

— Heim? Eu o quê?

— O nosso herdeiro está a caminho...

Aquilo pegou Gio de surpresa, não que ela não desejasse ou fosse inocente
a ponto de não saber que sexo sem prevenção resultava em bebês. Mas ela
achava que não aconteceria tão rápido com eles e ela sempre teve alguns
atrasos mensais.

— Nossa... eu... estou atrasada há quase dois meses...

— E por que não me avisou? — Ele levantou uma sobrancelha negra e a


encarou com um olhar inquisidor.

— Porque nunca fui certinha igual a um relógio, sempre tiver alguns


atrasos...

— Está bem. Então, façamos o seguinte: Tente comer um pouquinho e


assim que terminarmos aqui, compraremos um teste de gravidez no caminho
para casa.

— Ah... li numa revista feminina, está novidade, dizem que o resultado sai
rapidinho e tem grande probabilidade.

— Sim, ainda mais em seu caso que é só para confirmar algo que já
desconfiamos.

Então, o tal teste de gravidez foi comprado em uma farmácia a caminho de


casa. Assim que chagaram à mansão, os dois foram direto para a suíte do
casal, não só para descansar juntos após o almoço naquele raro dia de folga
dele, mas para fazer logo o teste. Foi com surpresa que enquanto Alessandro
aguardava a responda, deitado de costas na cama, com as mãos cruzadas
acima da cabeça, ela visualizou as duas listinhas no palito que acompanhava
o teste.

— Meu Deus! Quer dizer positivo... — Foi a sua reação ao arregalar os


olhos, segurando o palito com a mão diante do rosto. Em seguida, olhou para
a barriga e pôs uma das mãos em cima.

Quando Gio saiu do banheiro para o quarto, ainda boquiaberta, com uma
das mãos em cima da barriga, Alessandro rapidamente se levantou e se
sentou na cama com o rosto entusiasmado.

— E então?

— Estou... estou grávida — ela falou, tímida e se aproximou dele e se


sentado na cama.

Alessandro segurou a sua mão e a puxou para si, fazendo com que ela se
sentasse em seu colo.

— Graças a você, neste momento, sou o homem mais feliz do mundo —


ele lhe falou enquanto beijava seu ombro, testa e em seguida, terminando
com um beijo apaixonado na boca.

Gio passou os braços em torno do pescoço do marido e retribuiu o beijo. A


brisa de início da tarde entrando pela janelas, batendo nas cortinas e um
passarinho cantando na varanda deixou o quarto com um clima ainda mais
romântico.

— Gio... você já consegue me amar? Porque eu sim...

— Sim... mas, precisava saber quem...

— Xi... não deixemos que nada de ruim estrague este momento tão mágico
e único — ele a interrompeu de forma gentil, colocando o dedo indicador
próximo à sua boca em sinal de silêncio.

Alessandro puxou Gio para o centro da cama e a deitou


delicadamente. Devagarinho ele foi tirando peça por peça: Vestido, sutiã,
calcinha até que ela ficou completamente nua. Em seguida, ele ficou meio
que deitado de lado com a cabeça apoiada em um dos braços a contemplar
sua nudez com olhos semicerrados, enquanto desenhava com a ponta dos
dedos traços invisíveis em seu corpo.

— Eu já desconfiava que estava grávida... na verdade, somente precisava


de uma confirmação...

— Como sabia? — ela perguntou, tentando controlar a respiração


ofegante. Entre eles a linha entre o desejo e carinho era muito tênue.

— Seus seios estão maiores, redondos e ainda mais bonitos. Os seus


quadris estão mais largos, seu ventre mais redondo. Você está mais bonita,
mais mulher. Somente olhar para você já é um convite para o amor...

— Então... quer dizer que estou mais atraente?

— Sim... ainda mais atraente aos meus olhos. Hoje mesmo seu corpo está
me atraindo feito um imã e lhe asseguro que eu poderia passar a tarde inteira
contigo nesta cama, te amando...

Gio, já totalmente despida, deitada na cama de frente, olhou para ele de


forma atrevida, ele que ainda estava deitado de lado com a cabeça apoiada no
cotovelo a contemplá-la, passou os braços em volta do pescoço dele, arqueou
todo o corpo para frente em direção ao dele e falou lhe olhando nos olhos.

— Então, venha... sou toda sua...

A brisa da tarde e o passarinho da varanda foram testemunha de uma tarde


de amor muito caliente e romântico. Onde acompanhados de beijos
molhados, caricias, sussurros e gemidos, corpos suados e apaixonados
rolavam na cama, exalando amor e desejo.
Capítulo 11
Quatro meses depois...

— Genaro, pode guardar as sacolas no porta malas, por favor! — Gio falou
educadamente e lhe entregou algumas sacolas de lojas infantis. Ela adorava
fazer compras maternas, mesmo após o enxoval já pronto.

Após entregar as sacolas ao motorista, ela entrou devagar no banco traseiro


da Mercedes preta e ele assumiu o volante. Adorava guiar o próprio carro,
mas a barriga de seis meses estava enorme e os bebês não paravam de chutar
nas horas mais inesperadas. Sim, os bebês, tamanha foi a sua surpresa em
saber no pré-natal que não esperava um bebê e sim dois! Eram gêmeos, mas
eles preferiram não saber o sexo por enquanto. A felicidade de Alessandro ao
saber que eram dois, triplicou.

— Podemos ir, Genaro!

— Claro, senhora!

Eram umas cinco horas da tarde, os trânsito começava a engarrafar, as


pessoas já estavam começando a sair do trabalho, das escolas, isso significava
mais carros nas ruas o que exigia mais atenção do motorista. O senhor
Genaro guiava lentamente, atento à tantos veículos, também ao estado da
patroa, enquanto Gio olhava a paisagem pelo vidro da janela. Até que, ao
olhar para o mesmo café do passado, sentiu um aperto no peito, seus bebês se
remexeram na barriga.

Ela mal podia acreditar no que estava vendo, só que dessa vez não mais na
calçada e sim na parte de dentro, onde o vidro do lugar revelava em parte:
Seu marido e a tal mulher de antes! Aquela que ela avistou no passado, no dia
seguinte a sua noite de núpcias. Igual como no passado, eles conversavam
sorridentes um para o outro, não trocavam carinhos públicos, mas pareciam
íntimos mesmo. Ela era sim uma bela e elegante mulher morena, só que bem
mais velha que Gio que havia feito dezenove anos.
Aquilo fez com que seu sangue fervesse e subisse a cabeça, teve vontade
de mandar Genaro parar o carro imediatamente, ir até eles e avisar que a farsa
havia acabado. Mas o instinto materno a fez pensar nos seus bebês, teve
receio de emoções ainda mais fortes fazer mal a seus filhos e além de receio
de não se aguentar sob as pernas de tanto que estava trêmula de raiva. Achou
melhor seguir para a mansão, mas assim que seu marido chegasse para o
jantar, colocaria tudo em pratos limpos. Era um cínico, mentiroso, quem
garante que não estava até mentindo quando dizia não ter tido culpa na morte
do seu irmão, apesar de serem inimigos.

— Adultero! Traidor! Assassino... —ela cerrou os dentes e falou baixinho.

— Disse alguma coisa, senhora?

— Não, Genaro. Prossiga em direção de casa, estou muito cansada, desejo


chegar logo. — Na verdade, ela queria era se refugiar em seu quarto, chorar
sozinha e esperar seu marido chegar para um conversa.

Gio chegou em casa e assim que se trancou no quarto, ficando sozinha,


caiu na cama com a cabeça no travesseiro em um choro sem fim. Se ela
pudesse enterraria a cabeça no travesseiro, mas o tamanho da sua barriga não
lhe permitia isso.

— Cínico! Cafajeste! Mentiu para mim todo esse tempo! Continua a me


enganar com aquela mulher e talvez tenha faltado com a verdade em tudo
mais que me disse — ela falou enquanto chorava e esmurrava o travesseiro.

Alessandro chegou do trabalho eram umas sete horas da noite, como de


costume. Estranhou ver sua esposa deitada na cama àquela hora.

— Cheguei, querida — ele falou ao jogar a pasta executiva em cima do sofá


junto com o paletó e foi tirando a gravata.

Ela não respondeu, ele achou que havia algo errado, se aproximou mais um
pouco em direção à cama.

— Tudo bem? Está sentindo algo? Deitada a esta hora... ou está descansado
para o jantar? — Ele se aproximou mais e a olhou no rosto. — Você andou
chorando... o que houve? Aconteceu algo?

Na cama mesmo, Gio partiu para cima dele, tentando lhe esmurrar,
enquanto ele surpreso se defendia, tentando segurar seus pulsos sem a
machucar.

— Aconteceu que você é um traidor! Mentiroso! Adúltero! Assassino! — ela


falou brava, entre lágrimas e o rosto transtornado.

— Calma! Está louca? Se acalme, você está grávida! Não faz bem para
você e nem para os nossos bebês! Por que está agindo assim?

— Eu vi! Igual ao dia seguinte à nossa noite de núpcias! Vi novamente você


e uma mulher conversando de forma íntima num café hoje à tarde. Igualzinho
a primeira vez!

Alessandro olhou para ela e respirou fundo, fez uma expressão de quem foi
pego no flagra. De certo não gostou dela ter visto os dois e tentou se explicar.

— Gio, não deixe que os seus olhos lhe enganem. Aquela mulher não é o que
você está pensando... —ele falou de forma cautelosa.

— Nunca é o que nós esposas estamos pensando, não é mesmo? Eu não


sou idiota! Sou jovem, estou grávida, mas não burra ou cega! Aposto que
durante todo esse tempo vocês mantiveram o caso pelas minhas costas!

— Eu não mantenho caso algum com mulher alguma!

— Você é um cínico, mentiroso! Está me enganando! Aposto que


também foi quem deu a ordem para executar meu irmão e sempre me enrolou
dizendo que não!

Ao ouvir aquilo, Alessandro se afastou da cama, colocou as duas mãos na


cabeça num gesto de impaciência.

— Giovanna, eu não matei o seu irmão e vou lhe provar isso! Se existe
algum sangue em minhas mãos não é o do seu irmão...

— Eu não acredito! E quer saber? Quero o divórcio! Hoje mesmo irei dormir
no quarto ao lado e amanhã arrumarei as malas e voltarei com a Gemma para
a mansão Orsini de onde eu nunca deveria ter saído! Os meus advogados
procurarão você para acertar a papelada.

— Calma ai, mocinha. — Ele se aproximou novamente da cama, onde ela


ainda estava sentada na borda e falou com o dedo indicador apontado: —
Você não sabe o que está falando!

— Sei, sim! Quero o divórcio! — ela falou, atrevida.

— Pois saiba que um mafioso preza a sua família e você faz parte dela. Além
de não ser qualquer uma para decidir isso assim, lembre-se de quem é e da
posição que ocupo.

— Está decidido! Irei dormir no quarto ao lado e amanhã deixarei esta casa.

— Você é Geovanna Orsini Martinelli, herdeira do clã Orsini, esposa do


chefe do clã Martinelli e carregando meus herdeiros na barriga! Preciso dizer
algo mais?

— Ainda assim irei!

— Então já que insiste complementarei: Você não vai a lugar nenhum e não
ouse me desafiar! Agora se você quer dormir no quarto ao lado até se
acalmar, não a impedirei. Quero que você fique calma em consideração a
você e ao seu estado. Ah! E esqueça aquela mulher, ela não é o que você está
pensando.

— Como já disse: todo dizem isso! Apesar da minha pouca idade e


inexperiência por ter sido criada dentro de uma redoma de cristal, não sou
idiota. Irei sim, agora mesmo dormir no quarto ao lado. Ah! e não me espere
para o jantar, pedirei o jantar no quarto.

— Tudo bem... em respeito ao seu estado, não irei discutir com você.
Quero que se acalme.

De forma brusca, Gio abriu a sua parte no armário enorme e colocou


algumas peças básicas numa mala de rodinhas. Alessandro sentando no sofá
do quarto, apenas observava enquanto fingia examinar alguns papeis que ele
trouxe na pasta. Quando ela se preparou para deixar o quarto, ele perguntou...

— Precisa de ajuda? — Apesar da mala parecer leve e ter rodinhas para


arrastar, ela poderia precisar, por causa do peso.

— Não! Amanhã, pedirei a uma empregada para pegar o resto das minhas
coisas.

Ela fez menção de atravessar o quarto puxando a mala em direção a porta


de saída.

— Espere! Não precisa se cansar, fazendo este trajeto, apesar de bem curto.
Acho que nunca percebeu que está parte do armário esconde a porta de
comunicação para o quarto ao lado. Basta abri-la e estará no outro quarto —
ele falou com ar divertido.

— Porta de comunicação? — ela perguntou surpresa e desconfiada.

— Sim! Este aqui era o quarto do papai e o da minha mãe ficava ao lado.
Eles preferiam assim por uma questão de conforto. Na reforma, mandei o
arquiteto não fechar a porta, preferi deixá-la discreta e foi daí que surgiu a
ideia de embuti-la como a última porta do armário.

— Hum! Então, acho que o quarto ao lado não é uma boa ideia! Mas não faz
mal esta mansão tem vários quartos.

— Ah! Pare com isso, Gio... não se preocupe, jamais tentarei usar esta porta e
te surpreender. Mas se isso lhe fizer sentir mais segura, tem uma tranca por
dentro, pode passar, se desejar.

Quando ela desapareceu arrastando a mala pela porta de comunicação


rumo ao quarto vizinho, Alessandro se sentou na cama, pôs uma mão na
cabeça e falou sozinho:

— Ah Gio, Gio! Como é mimada e imatura! Além de explosiva e sem


experiência em relação ao mundo que nasceu e cresceu sem saber que fazia
parte dele. Mas, por enquanto é melhor que você não saiba de nada, me
preocupo com os nossos bebês...

Quando Gio entrou no quarto, viu que era um quarto tão luxuoso quanto o
que ela ocupava com o seu marido, mas com uma decoração mais feminina e
delicada. Apesar de ter sido o quarto da sua sogra falecida há muito tempo,
não tinha nada velho ou empoeirado. Era um quarto mantido em perfeita
ordem, como se estivesse à espera da próxima senhora Martinelli que um dia
chegaria para ocupá-lo e está senhora chegou...

Assim que ela entrou, fechou a porta de comunicação com uma tranca
interna que havia na porta e falou:

— Esta porta só se abrirá novamente por uma boa explicação


acompanhada de um motivo muito forte! — ela falou, decidida.
Capítulo 12
Já se passaram dois meses que o clima entre Gio e Alexandre havia
mudado. Desde daquela discursão eles dormiam em quartos separados,
trocavam apenas algumas gentilezas diante dos empregados. Além disso,
quando ele tentava se aproximar, Gio ainda muito magoada e sem confiar
mais nele respondia apenas com monossílabas. A sua barriga estava enorme,
pois o tempo passou e já estava com quase oito meses de gravidez, ainda
mais que eram gêmeos.

Ela sentia falta dos carinhos do marido na cama. Mas, não era apenas falta
de fazer amor com ele, gostava também da forma que ele acariciava sua
barriga à noite a sós na cama, saudades de dormir abraçadinhos. Porém, não
daria o braço a torcer, pois ele a traiu duplamente, além de ter um caso com
aquela mulher, talvez tivesse até mesmo assassinado o seu irmão e ficado
negado isso para ela todo esse tempo.

Gio estava na sala de visitas folheando uma revista sobre bebês quando seu
marido chegou do trabalho um pouco mais cedo do que de costume. Ela até
estranhou o horário e se previsse aquilo, teria evitado em ficar ali na sala
como se fosse à espera dele igual era num passado recente. Ele vestia um
elegante terno azul escuro, gravata vermelha e segurava sua pasta de couro
preta.

— Boa noite, Gio! Ah! perdão, Giovanna. — Ele se lembrou que ela não
desejava mais ser chamada assim por ele.

Alessandro se aproximou de forma cínica, fingindo ignorar que eles ainda


não haviam feito as pazes, tentou lhe dar um beijo na bochecha, mas ela se
esquivou. Ele parecia bem humorado, entusiasmado, como se algo bom
houvesse acontecido. Então, ele se sentou no sofá ao lado dela e ela
demonstrou claramente desconforto ao se afastar um pouco, evitando-o.

— Ainda com isso... já lhe disse que não tenho nada com ninguém e
também não cometi nada do que está pensando durante esse tempo todo.... —
ele falou de forma carinhosa, tentando mexer em seus cachos loiros, enquanto
ela sentada no sofá com braços cruzados e cara emburrada fingia que ele não
estava ali. Ele olhava também para a barriga redonda dela que o vestido floral
de tecido leve realçava mais ainda.

— Posso tocar? São meus filhos também...

Por um instante, ela o encarou em silêncio com os seus olhos verde escuro
demonstrando mágoa.

— Pode... — ela respondeu sem graça e confusa.

Alessandro passou a mão com carrinho no barrigão da esposa e sentiu seus


bebês chutarem. Ele ficou encantado, há semanas estava com saudades
daquilo. Gio percebeu seus olhos brilharem.

— Um mafioso com sentimentos, que contraditório — ela falou em tom de


deboche.

— Gio, não vamos começar com acusações... hoje foi um dia cansativo, mas
também muito especial para mim. Por isso cheguei mais cedo. Quer saber por
quê?

— As coisas mais importantes que eu precisava saber você me escondeu!


Não vejo por que saber de mais alguma coisa sua agora. Não tenho interesse
por administração de certos negócios — ela falou malcriada.

Alessandro respirou fundo como se fosse perder a paciência.

— Tudo bem! Ok! Não quero que se aborreça, ainda mais numa fase tão
avançada da gravidez. Jantaremos juntos hoje à noite?

— Não! Pedirei meu jantar no quarto.

Alessandro a olhou de forma carinhosa, enquanto ela como uma menina


mimada emburrada permanecia no sofá, fingindo não ver isso. Ele pegou sua
pasta de trabalho que ele havia deixado ao lado dele no sofá, a abriu, tirou um
grande envelope marrom e lhe entregou.
— O que é isto? — a jovem perguntou ao receber o envelope com um olhar
desconfiado.

Gio fez menção de abri-lo, mas o marido a impediu tocando em seu braço.

— Não! Não quero que abra agora no calor da emoção. Quero que após o
jantar abra com calma em seu quarto.

— Por que isso?

— Porque me preocupo muito com sua gravidez, com você e nossos filhos.
Neste envelope tem documentos importantes e respostas para algumas coisas
que lhe interessam. Mas primeiro prometa que somente após o seu jantar no
quarto, como você deseja, é que você com calma o abrirá...

— Se for da sua organização criminosa, não me interessa!

— Da nossa organização, você quer dizer. Mas, não! Não é! Então, prometa
que abrirá sim hoje à noite, mas da forma que eu lhe pedi.

— Sim, prometo... — ela falou, segurando novamente o envelope e o olhando


desconfiada.

— Ok! Agora vou para o escritório examinar alguns papéis até a hora do
jantar. Jantar este, que a senhora não me dará a honra da sua companhia.

A jovem ficou calada, observando ele se levantar do sofá e se retirar da


sala. Em seguida, ela olhou para o envelope com seus grandes olhos verdes
musgo arregalados, curiosa, se sentiu tentada a abri-lo. Porém, se lembrou da
promessa que havia feito ao marido e também ficou com receio de ainda não
está preparada para grandes emoções. Então, ela colocou o envelope marrom
embaixo do braço, levantou do sofá com cuidado, seguiu até o rumo das
escadas que levava aos quartos no andar superior. Ali com o envelope
embaixo do braço, uma mão no corrimão e outra na barriga, Gio subiu
lentamente as escadas.

Eram umas sete horas da noite quando Gio, após um banho relaxante, ligou
para a copa e pediu o seu jantar no quarto. Sempre precisava deixar claro que
era em seu quarto, ao lado do quarto do marido, alguns empregados ainda
faziam confusão.

— Hum... que delícia... — ela falou ao abrir a tampa que cobria o prato em
uma bandeja de prata e ver um generoso pedaço de lasanha de frango. A
gravidez a havia deixado cheia de desejos.

Enquanto comia na mesinha do quarto, ela olhava para o envelope marrom


largado no sofá. Ela estava sim muito ansiosa e curiosa, mas ao mesmo
tempo tinha um certo receio, medo. Afinal o que havia ali dentro de tão
importante? Quais revelações ela estava prestes a saber? Seria algo
relacionado a Lorenzo?

Eram oito horas da noite quando Gio pegou o envelope e se sentou na


cama. Ao abrir e colocar a mão dentro dele, percebeu que havia uma porção
de folhas, parecia uma espécie de relatório. Então, ela puxou devagar todo o
conteúdo e espalhou em cima da cama. Ela ficou surpresa, quando viu que
além de várias folhas de papel, encadernadas numa espécie de dossiê, havia
várias fotos. O seu coração acelerou quando viu a primeira das foto, pegou-a
com a mão e apertou contra o peito com os olhos cheios de lágrimas.

— Lorenzo... meu irmão... Desculpe a minha falta de coragem, não te


vinguei! Sei que sou uma fraca, mas eu não nasci para matar, eu nasci para
amar... — ela falou emocionada.

Após essa emoção forte, ela enxugou as lágrimas, olhou para as outras
fotos que ela havia espalhado na cama. Então, ela ficou surpresa em ver uma
mulher bonita em outra foto, que ela reconheceu como a tal mulher que ela já
havia visto duas vezes com o seu marido. No verso da foto havia escrito:
Allegra Mansini, esposa de Victorio Mansini. Em seguida, ela viu fotos da
mulher com um homem mais velho que o tal Victorio seu marido e outras
fotos dela com Lorenzo como se fossem íntimos, algumas até se beijando.

Gio pegou novamente a foto da mulher, que formava um casal com o


homem mais velho.

— Victorio Mancini... Meus Deus, este é o político influente que faleceu


num acidente de carro um pouco antes do meu casamento. Então esta mulher
era a esposa dele? Realmente eu tinha a impressão de já tê-la visto em alguma
coluna social.

Gio estava surpresa e confusa, relembrar Lorenzo que ela nunca esqueceu,
com sua morte tão recente, ainda mais ver aquela sua rival por quem ela
nutria tanto ciúmes e raiva. Agora ela sabia o seu nome, que também era da
alta sociedade, mas talvez por ser mais velha que ela, nunca se cruzaram em
nenhum evento, loja, coisas do tipo. Dava para ver numa das fotos, tiradas
provavelmente por um detetive no passado, que ela e Lorenzo,
provavelmente também foram amantes.

Parece-me que a tal mulher possui uma queda por mafiosos! Mas, onde
seu marido entra nesta história? Ele mandou matar meu irmão por ciúmes?
A jovem pensou confusa.

Então, chegou a vez de Gio pegar o relatório e ler. Ele possuía cerca de
vinte páginas e na primeira leitura, ela o devorou em minutos. Depois voltou,
leu e releu incrédula.

— Meu Deus... então foi isso... A morte de Lorenzo, a tal mulher, o caso
do meu marido... — ela falou surpresa em voz alta com olhos arregalados,
enquanto com as duas mãos segurava o relatório suspenso na altura do rosto.

Apesar de toda a emoção que aquilo provocou nela, pois mexeu de forma
muito profunda com seus sentimentos e fantasmas do passado, ela sentiu um
alivio enorme no peito ao concluir a leitura do relatório. Leitura que ela
repetiu várias vezes, como se não acreditasse no que estava lendo. Enfim, ela
ainda sentada na cama, jogou o relatório em cima do colchão junto com as
fotos ainda espalhadas.

— Meu marido, o pai dos meus bebês é inocente! Ele sempre esteve
falando a verdade... — ela falou baixinho enquanto acariciava a barriga e
sentia os gêmeos chutarem forte como se comemorassem algo. Junto a isso
veio lágrimas aos olhos, mas dessa vez não de tristeza, mas de felicidade e
emoção.

O relatório feito por um detetive profissional explicava que o seu irmão


Lorenzo foi morto a mando de um político importante italiano, por estar
tendo um caso com a esposa dele, a tal Allegra Mansini. Sendo que este
político por golpe do destino faleceu poucos tempo depois em um acidente de
carro.

Lorenzo foi morto por estar tendo um caso com sua bela e infiel esposa
que nutria uma atração por mafiosos. O senhor Victorio Mansini, para que o
seu nome não fosse ligado ao assassinato, prejudicando a sua reputação como
político, subornou soldados do clã Martinelli para que todos pensassem que o
assassinato tivesse sido a mando do chefe do clã Martinelli, Don Alessandro,
a quem todos sabiam que era o seu principal inimigo.

Seu marido, nunca teve nada de significativo com a tal mulher, apenas
usando seu charme e a fama de que ela nutria fetiche por mafiosos tentou
seduzi-la para conseguir informações estratégicas. Parece que tudo que
Alessandro desejava, por isso a aproximação e contratação do detetive, era
limpar sua imagem perante a ela. Conclusão: o político Victorio Mansini foi
quem mandou assassinar seu irmão Lorenzo e seu marido Alessandro não
tinha caso com mulher alguma.

— Alessandro... preciso falar urgente com ele, agora! — ela falou,


emocionada e recolhendo as coisas do envelope.

Gio, com as mãos trêmulas, recolheu rapidamente o conteúdo que


pertencia ao envelope e tentou colocar novamente dentro dele, mas percebeu
que algo estava bloqueando a entrada do material novamente ao envelope,
algo que ela ainda não tinha visto. Então ela pôs a mão dentro e sentiu que
ainda havia um pequeno papel no interior dele e o puxou para fora. Foi neste
momento que ela viu um papel em forma de bilhete, como se fosse uma carta
escrita à mão.

“Para que a mulher da minha vida, mãe dos meus filhos, não ache que o
seu marido e pai dos seus filhos tem as mãos manchadas do mesmo sangue
que corre em suas veias. Além de também provar que não sou um adultero,
traidor! Fiz tudo isso por você!”

Te amo, amore mio!

Alessandro.
Ao ler aquele bilhete, o coração da jovem acelerou. Ela pegou tudo de uma
só vez e empurrou dentro do envelope de qualquer jeito, deixando-o em cima
da cama. Depois olhou para a porta de comunicação trancada e pensou em
destrancá-la e correr imediatamente para os braços do seu marido, que àquela
hora deveria estar lendo algo na cama.

Quando Gio atravessou o quarto em direção a tal porta, parou no meio do


quarto ao ver sua imagem refletida no espelho. Ela estava com uma camisola
de seda creme, bem solta, confortável para uma grávida, colocou a mão na
barriga enorme, mas não se sentiu feia, gorda, se sentiu sedutora e sexy, viu
que uma grávida também podia exibir um toque de sensualidade em suas
curvas. Ela foi até o armário, que estava com quase todas as suas coisas,
decidiu escolher uma nova camisola para marcar aquela momento especial.
Depois de escolher a dedo e se trocar, caminhou até a porta de comunicação e
a destrancou devagar....
Capítulo 13
— Seja bem-vinda, amore mio...

Alessandro deitado de costas na cama, no quarto a meia luz, usando apenas


a parte de baixo do pijama de seda preto, falou ao ver a porta de comunicação
se abrir e Gio surgir vestida numa linda camisola de seda vermelha. Ela
estava linda: Os cabelos loiros encaracolados brilhantes e soltos lhe dava uma
aura de fada. A camisola de seda ia até a altura do seus pés, mas com uma
fenda enorme à direita que começava no início da sua coxa grossa e roliça. A
barriga de oito meses estava enorme e bem evidente no delicado tecido de
seda que deixava as suas formas bem desenhadas. Porém, isso não a deixa
menos mulher e sexy, pelo contrário, junto a isso se via ainda os seios
inchados quase saltando do decote de renda e das alcinhas.

Transformando todo o conjunto numa cena demasiadamente sexy. Aquilo


mexeu com os hormônios do seu marido de uma forma que ele não conseguiu
conter uma ereção involuntária ao vê-la. No fundo, ele já sabia que ela já
havia aberto o envelope e o porquê dela está de volta, mas não esperava que
ela retornaria assim tão deslumbrante.

— Alessandro... —Gio falou baixinho enquanto atravessou o quarto em


direção a ele na cama.

Alessandro se sentou devagar na borda da cama para recebê-la e quando a


sua esposa chegou mais perto, ela a puxou delicadamente a fez se sentar em
seu colo. Ele estava deslumbrado com sua volta e toda aquela exuberância ali
pertinho dos seus olhos, como ela havia desabrochado como mulher durante a
gravidez.

— Psiu! Silêncio... se está aqui é porque acredita em mim, não é mesmo?

— Sim! Eu te amo Alessandro...

—Eu também te amo, amore mio...


— Então, que não percamos tempo com explicações desnecessárias no
momento — ele falou enquanto a olhava nos olhos e com o dedo indicador,
acariciava a linha entre o decote da camisola e os seios quase expostos. Em
seguida, os dois se beijaram de forma caliente e apaixonada.

Alessandro ainda com Gio no colo deslizou em direção ao centro da cama.


Depois a deitou gentilmente de costa na cama e de frente para ele, com
cuidado, em sua barriga e por alguns minutos ficou a contemplar meio
encantado a sua beleza, deitado meio de lado, com a cabeça apoiada no
cotovelo direito.

— Eu pensei em mesmo acreditando em você, não viria. Quero dizer, não


viria assim... — ela falou baixinho, tímida, se referindo a camisola sexy, mas
caia muito bem numa grávida, e a forma inesperada que ela surgiu na porta.

— Foi? E por quê? — ele perguntou baixinho com os olhos cheios de desejo.

— Ah... estou gordinha, minha barriga, oito meses já né...

Ele olhou para ela, a puxou devagar as alças da sua camisola, expondo seus
seios enormes a luz aconchegante do abajur e falou enquanto acariciava sua
barriga:

— Pois saiba, que aos meus olhos nunca vi uma mulher tão sexy. Você
está linda amore mio e a sua barriga apenas a torna mais bela ainda.

Ao dizer isso, ele a virou de lado, frente a ele e a abraçou de forma


carinhosa. A sua boca sedenta a beijou, enquanto suas mãos acariciava suas
costas, quadris e nádegas redondas.

O encaixe dos corpos era perfeito em vários ângulos e posições, assim eles
fizeram amor a noite inteira, numa mistura de ternura, carinho e desejo. Foi
com imensa satisfação que Alessandro ouviu Gio chegar ao clímax uma,
duas, três vezes... Mas, enfim o dia deu sinal de que estava próximo a
amanhecer e seus corpos já estavam mais do que saciados.

— Minha princesa, que se transformou numa linda mulher.... Está


cansadinha, não é? — ele perguntou carinhoso.
— Sim.... Morta de feliz e satisfeita, mas exausta...

— Claro, amore mio... espero que eu com esse meu desejo excessivo por
você não tenha exagerado...

— Não, amor, estou bem! Apenas cansada, já são quase quatro horas da
manhã, eu acho.

— Claro, querida, então venha, vamos descansar.

Então, delicadamente e ajudada por ele, com muito cuidado devido ao


estado dela já avançado, Gio virou de lado na cama e deu as costas para seu
marido. Alessandro veio por trás e a abraçou, assim ambos ficaram
encaixados numa conchinha perfeita, enquanto ele a beijava de leve no
pescoço e acariciava sua barriga, onde os bebês chutavam de felicidade pela
reconciliação. Assim, ambos adormeceram....

Então, dois dias depois na sala de espera do consultório...

— Ai amor... será que vai demorar? — ela perguntou, ansiosa.

— Calma, é por hora marcada, creio que a atendente está vindo ali te preparar
para o exame — Alessandro respondeu paciente.

— Ainda bem. Estou ansiosa para saber o sexo dos nossos bebês!

— Para quem, no início da gravidez optou por não saber, a senhora está
bem ansiosa, viu? — ele falou bem humorado, brincando com a ponta do
nariz afilado dela.

— Ah amor, mas agora eu quero...

A atendente da clínica se dirigiu até os dois que estavam sentados nas


luxuosas poltronas de couro da recepção. Afinal era uma clínica bem
frequentada, os herdeiros dos clãs Martinelli e Orsini não faziam
acompanhamento pré-natal em uma clínica comum.

— Senhora Martinelli? É a sua vez. Por aqui, querida, quanto ao senhor


poderá nos acompanhar se desejar — a mulher falou de forma educada e
respeitosa.

— Claro! Desejo, sim — ele respondeu, entusiasmado.

Eles entraram no consultório, a médica os recebeu educada e de forma


amistosa. Era jovem, deveria ter no máximo uns trinta anos. Por um
momento, Gio se recordou da cena quando ela no colegial, às vezes, sentava
no colo do seu pai, dizia que queria ser administradora para ajudar a
administrar os negócios da família, e seu pai lhe dizia que não, ela seria uma
médica.

Gio foi orientada a se deitar na maca, estilo uma cama acolchoada,


enquanto seu marido se sentou numa cadeira ao lado bem próximo a ela.
Alessandro, enquanto o exame iniciava e prosseguia, olhava a tela, ao mesmo
tempo que beijava e acariciava a delicada mão da sua esposa. Os dois
olhavam para o monitor, mas não compreendiam muita coisa, dava para ver o
que já sabiam, eu eram dois bebês.

— Parabéns! Vocês serão pais de dois lindos garotos! — a médica anunciou


sorridente.

— Heim? — Gio e Alessandro exclamaram iguais.

— Sim! São dois meninos.

Gio e Alessandro não tinham preferência por sexo dos bebês, mas aquilo
os pegou de surpresa. Ambos se olharam emocionados, ela ainda deitada e
ele sentado ao lado, segurando com carinho a sua mão.

— Por favor! Finjam que eu não estou aqui! — a médica do seu jeito jovial
e simpático brincou. — Ou melhor, irei sair por alguns minutos e vocês
ficarão a sós.

Assim que a médica saiu, Gio ainda deitada, virou o pescoço para o lado e
eles se beijaram apaixonados, enquanto Alessandro segurava a sua mão com
carinho. Em seguida ele se levantou, acariciou a sua barriga e deu vários
beijinhos nela com Gio ainda deitada na maca.
— São dois meninos...— ela falou emocionada

— Eu ouvi, meu amor, está feliz? — ele perguntou de pé ao lado da maca.

— Sim, muito e você está?

— Sim, sou o homem mais feliz do mundo!

— Fico feliz em saber disso. Quais nomes daremos? — ela perguntou.

— Alguma sugestão? — ele falou compreensivo.

— Quero ouvir a sua primeiro...

— Claro... sabe amor, quando me foi feito a proposta de casar com você, foi
para selar a paz entre as famílias...

— Sim, foi...— Ela ainda se recordou do último pedido do seu pai, mas não
achou conveniente falar.

— Então, por que não damos ao nossos filhos os nomes dos nossos pais, os
avós deles?

— O nome do meu pai? Mas... certa vez você insinuou que ele matou o seu...

— Não falemos disso agora, se o meu tivesse tido a oportunidade teria


feito o mesmo com o seu... Assim é a vida entre clãs mafiosos rivais,
querida...

— Entendo....

— Então, por mim eles se chamarão: Enrico Orsini Martinelli e Francesco


Orsini Martinelli.

— Combinado! Está decidido! Alessandro... você é o mafioso de melhor


coração que eu conheço...

— Não, querida! O meu amor por você foi quem transformou meu
coração...,
Os dois se olharam novamente e ensaiaram aproximar o rosto para mais
um beijo, mas foram interrompidos pelo retorno da médica ao consultório.
Afinal, ela já havia dado tempo demais para os dois ali sozinhos.
Epilogo
Quinze dias depois...

— Tem certeza de que quer mesmo fazer isso neste momento? Não
poderia esperar até os nossos bebês nascerem? — No banco traseiro do
veículo Alessandro perguntou, segurando firme a sua mão e a olhando nos
olhos.

— Sim, tenho! Eu quero — Gio sentada ao seu lado no banco traseiro da


Mercedes preta, respondeu.

— Tudo bem! Então, irei com você. — Ela a beijou na testa e saiu do
veículo, em seguida contornou o carro e abriu a porta num gesto
cavalheiresco e a ajudou a descer. O Genaro poderia fazer isso, mas ele
preferiu assim.

Gio saiu do carro devagar, estava pesada, já estava entrando nos nove
meses e os bebês já estavam a caminho.

— Genaro, nos aguarde aqui, por favor! — ele ordenou ao motorista.

Alessandro e Gio subiram devagar a escadaria do cemitério de Palermo.


Cruzaram os portões altos de grades acobreadas e caminharam entre os
antigos jazigos do lugar. Muitas famílias importantes estavam enterradas ali.
Gio caminhava devagar com uma mão na barriga e outra segurando a mão do
seu marido. Até chegar diante do jazigo de mármore italiano branco
pertencente à família Orsini. Ela ficou de pé diante dele a contemplar o
túmulo e Alessandro, meio que de lado a abraçou.

Então, Gio se aproximou bem perto do túmulo, seu marido se afastou um


pouco para lhe dar mais privacidade. Ela acariciou com as mãos as fotos da
sua mãe Antonella que ela não se recordava viva, do seu pai Don Enrico, do
seu irmão Lorenzo e falou baixinho.

— Lorenzo... desculpe eu não ter vingado a sua morte! Mas não nasci para
matar, nasci para amar... Mas entregarei a justiça dos homens — ela falou
enquanto com dedos delicados acariciava sua foto de porcelana no tumulo.

— Pai, desculpa por ser uma fraca, como o senhor me disse antes de morrer.
Mas me orgulho disso, pois se eu fosse forte teria cometido uma injustiça e
hoje não estaria tão feliz e esperando os seus dois netos. A paz finalmente foi
selada, mas não as custas de traição ou vingança, mas sim graças ao amor!

Então, ela se afastou um pouco e voltou para o lado do seu marido e de pé


diante do túmulo falou:

— Eu sou a prova viva, pai, que a vingança não é quem deixa a alma leve e
lavada, mas sim o amor! Graças a este amor carrego na barriga os herdeiros
que realmente uniu os dois clãs, pois carregam seu nome e o do pai do
Alessandro. Mas desta vez, escreverão uma nova história, pois quero que
sejam homens de bem e que não perpetuem a descendência de mafiosos...

Ao pronunciar isso, ela virou de frente para o marido e o abraçou mais


forte.

— Vamos para casa, querida, você já fez o que o seu coração pedia e eu estou
muito orgulhoso de você!

Então, eles saíram caminhando devagar, de mãos dadas em direção ao


portão de saída do cemitério. Agora era repousar e esperar a chegada de
Enrico e Francesco, os herdeiros que escreveriam uma nova história na
família.
O Natal dos Lausens
Liv & Andrews
( O Bilionário e a Órfã)
Karen Heifer
O Natal dos Lausens@2021.Todos os direitos reservados.

Obra protegida pela Lei 9.610 de 1998( Leis de Direitos Autorais).

É proibida a reprodução gratuita ou comercial desta obra sem a autorização da autora. É proibida a
reprodução parcial da obra, mesmo que de forma gratuita, sem os devidos créditos. O Natal dos
Lausens( O Bilionário e a Órfã) conto bônus que faz parte do box Casamento Arranjado, é uma obra
de ficção, qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais é mera coincidência.

Plágio é CRIME
Sumário
Capítulo 17
Capítulo 215
Capítulo 322
Capítulo 431
Epílogo:42
Dedico este conto a todas minhas queridas leitoras. Que o espírito natalino invada o coração de
todos vocês, trazendo amor, paz, fartura, felicidade e saúde. Espero contribuir com isso ao escrever
este conto, onde o objetivo maior é aquecer o coração de todas.
Feliz Natal!
Capítulo 1
Aeroporto Heathrow, Londres. 24 dezembro de 1998. Dez anos depois...

— Atenção torre! Atenção torre! O jato PX-100 pede permissão para


pousar. — Piloto falou pelo rádio.

— Permissão, por enquanto, negada! Uma nevasca de intensidade média


atrapalhando as condições de pouso. — Torre de comando do aeroporto.

— Ok! Sobrevoarei a região e tentarei daqui mais algum tempo.

Então, o copiloto levantou do seu posto, abriu a porta da cabine e avisou.

— Senhor Lausen, devido às condições do tempo, estamos tendo


dificuldades em conseguir autorização para pousar. Isso poderá demorar mais
algum tempo. Lamento muito.

— Tudo bem Willians, faça o seu melhor, assim que for possível. —
Andrews cerrou o maxilar e falou sério, com seus olhos cor de mel
escurecidos pela contrariedade.

O Andrews do passado, apesar de saber que ninguém tinha culpa do mal


tempo, teria esbravejando e talvez tentando até ordenar ao próprio tempo que
mudasse as condições climáticas. Porém, o Andrews de hoje, mais maduro,
mais sereno, graças ao novo sentido que Liv e seu filho deu a sua vida,
aprendeu a agir de forma mais sensata. Apesar que iria ficar muito chateado
se não conseguisse chegar a tempo de cear com Liv e Andy na ceia íntima de
Natal que eles programaram com tanto carinho. Afinal, foi para isso que ele
resolveu ir e voltar em seu jato particular, assim ganharia tempo. Era um
negócio muito importante que não podia perder, mas não contava com as
condições climáticas. Mandava no jato, em seus empregados, mas não no
clima.
— Maldição! — praguejou baixinho, enquanto consultava as horas em seu
relógio rolex de ouro. — 10 horas e 30 minutos da noite! Se eu não
conseguir chegar a tempo de abrir os presentes com Andy, antes que ele
adormeça e cear ao menos com Liv, nunca me perdoarei...

Assim, ele ficou olhando impaciente pela janela do avião de pequeno


porte e consultando ansioso o relógio de minutos em minuto.

Uma coisa é certa: No próximo Natal, jamais voltarei a fazer algo


parecido! Minha esposa e meu filho são sagrados para mim!

Passados dez anos, o tempo somente fez bem para Andrews Lausen, no
quesito beleza e sentimentos. Ele continuavam sendo o mesmo homem
bonito, másculo, alto, de cabelos negros curtos, olhos cor de mel e leve barba
bem feita. Apenas seu tom de pele tinha se tornado um pouco mais corado,
coincidentemente após ser completamente curado da leucemia. Era um Ceo
bonito, chamava atenção das mulheres, mas somente tinha olhos para a
mulher que transformou sua vida: Liv Lausen, a sua esposa.

Faltavam quinze minutos para as onze da noite quando o interfone ao lado


do seu assento tocou. Ele atendeu chateado provavelmente era o piloto
avisando mais uma vez que não conseguia pousar, já estava com receio.
Porém, não deu tempo nem falar nada, já ouviu a voz do seu copiloto do
outro lado.

— Senhor Lausen, estamos nos preparando para finalmente de fato pousar!


Pista liberada!

O coração de Andrews se encheu de alegria, provavelmente seu motorista


já aguardava no estacionamento do aeroporto e logo ele estaria em casa
jantando com Liv e seu pequeno Andrews Segundo. Não havia se tornado um
homem sentimental em excesso, mas era de cortar o coração imaginar a cena
de Liv bem vestida para a data especial, sentada sozinha a mesa decorada,
Andy esperando eufórico pela abertura dos presentes, pela sua presença e ao
final de tudo ele não conseguir chegar a tempo.

Quando o jato pousou, ele viu que realmente, pequenos flocos de neve
ainda caiam, mas a ajuda divina parecia que tinham aliviado a nevasca para
ele conseguir pousar e chegar a tempo. Foi com alegria que após sair da pista
de pouso e caminhar rápido até o estacionamento, viu no local de sempre,
Sam, o seu já idoso motorista, ao volante do carro preto de luxo o
aguardando. Os anos realmente haviam se passado, Sam com todos os
cabelos brancos e corpo um pouco curvado, mas sempre presente e fiel ao
patrão. Por Andrews ele já deveria ter se aposentado, adorava os serviços
dele, mas já era hora de um merecido descanso. Porém, o fiel motorista
insistia em ficar na ativa. Argumentava que trabalhar era sua vida, gostava
do contato diário com os Lausens e se considerava parte da família.

— Boa noite, Sam! — Andrews o cumprimentou simpático.

— Boa noite, senhor! Fez boa viagem? — O senhor retirou levemente


o quepe ao responder e já foi abrindo a porta traseira do veículo.

— Fiz sim. Fiz a melhor viagem de todas: A de volta para casa.

Em seguida Andrews entrou apressado no banco traseiro do veículo. O


motorista assumiu o volante e começou a manobrar para sair do aeroporto.
Uma vez fora dele, seguiu rumo à mansão Lausen.

— Sam! Antes que eu me esqueça na euforia de ter conseguido chegar a


tempo de passar o Natal com meu filho e minha esposa: Feliz Natal! Por
favor, após me deixar na mansão, vá para sua casa urgentemente ficar com
seus filhos e esposa. Eu poderia muito bem ter pego um táxi, pois hoje é
Natal.

— Obrigada, patrão! Mas, eu só me sentiria com o meu papel cumprido,


após buscá-lo e levá-lo em casa de volta para a sua família.

No caminho até a mansão, Andrews se manteve calado, observando os


pequenos flocos de neve que caiam no meio da noite fria de natal.
Chegavam até embaçar o vidro do carro. Estava se sentindo nostálgico, o
clima natalino parecia que estava mexendo com os sentimentos dele
demasiadamente naquela noite. Enquanto olhava pela janela do veículo, as
recordações tomavam conta da sua mente. Por um momento lhe veio à mente
o dia em que desembarcou com Liv, vindo da Irlanda, recém-casados, a
caminho da mansão Lausen. Ele deu um discreto sorriso ao se recordar o
quanto ela parecia assustada, sentada ao seu lado no banco traseiro, com a
sua proximidade e o simples toque da sua mão na dela. Praticamente uma
menina e que hoje se tornou uma encantadora e bela mulher adulta, segura de
si.

Andrews, apesar de não admitir isso a ninguém, no passado sempre se


sentiu muito sozinho. Toda noite de Natal, fazia questão de tirar uma semana
de férias e propositalmente viajar para lugares badalados. Porém, no fundo
tudo o que ele queria era um verdadeiro natal em família, como nos tempos
do seus pais vivos e para evitar as lembranças, preferia viajar. Não que ele
não fosse convidado para outras ceias natalinas, afinal quem da sociedade
londrina não iria querer Andrews Lausen em sua ceia e estreitar os laços de
amizades.

Logo que Andrews se casou com Liv, a mansão Lausen passou a ter
uma maravilhosa ceia natalina, o casal, amigos e funcionários da construtora.
Porém, naquele ano os dois decidiram que queriam algo mais íntimo, com
mais privacidade, curtindo a pequena família que haviam formado: Andrews,
Liv e o pequeno Andy. Assim, ficou decidido que os empregados seriam
dispensados para passarem o natal com suas famílias, não contratariam
empregados reservas . A ceia teve comidas e bebidas encomendadas a um
buffet e ficou combinado que os dois não precisavam de ninguém para servi-
los. Naquele natal, eles preferiam a intimidade em família, a total
privacidade. Porém, ele não contava em ter que viajar rápido para resolver
um incidente e fechar um negócio fora de Londres no dia de Natal. O que
acabou lhe atrasando para a ceia.
Capítulo 2
— Mamãe... o papai está demorando... será que ele não vai chegar para
cear conosco? Posso ir até o jardim ver se já vem chegando algum carro? —
O garotinho falou triste.

Andy com o rosto colado ao vidro da janela fechada, observa os flocos


de neve cair lá fora, ansioso pelo pai. O garotinho de quase dez anos,
gorducho, de cabelos negros e olhos azuis, vestindo calças curtas bege e
suéter vermelho, olhava triste para fora da mansão na espera de ver o pai
retornar.

— Seu pai vai chegar sim, meu amor. Ele só está um pouco atrasado. É o
mau tempo.

— Mamãe, por que o papai teve que ir? — Perguntou com uma vozinha
triste.

— Porque o papai é um homem de negócios , filho. Nós cuidamos da


empresa que um dia será sua.

— Entendi... os pais dos meus coleguinhas na escola também são assim...

— Agora não fique assim, caso o papai não chegue a tempo, prometo
abrir os presentes antes de você adormecer! O que você gostaria de ganhar?
O que você acha que ganhará hoje? — Liv falou fingindo entusiasmo, mas
no fundo ela também estava muito triste, pela falta de Andrews como seu
marido e por ver a carinha triste do filho.

— Ah... eu queria um carrinho de madeira. O papai disse que na infância


tinha um e que era muito legal, mas agora já não sei. Eu queria mesmo era
que meu pai chegasse a tempo de passar o Natal conosco....

Liv ficou de coração partido ao ouvir aquilo, já estava com medo de não
conseguir disfarçar também a sua própria tristeza e não queria demonstrar
isso ao seu eterno bebezinho. Ela levantou do sofá, foi devagarinho até a
janela, abraçou Andy e ficaram quietinhos olhando a neve cair devagarinho
em pequenos flocos que se desmanchavam ao tocar o chão.

Eles estavam na enorme sala de estar da mansão Lausen que havia sido
toda decorada para o natal. O lustre pendurado no teto fora trocado por um
mais lindo ainda, os sofás de couro creme e almofadas vermelhas de veludo.
A guirlanda na porta, as bolas natalinas coloridas, laços, velas vermelhas
faziam parte da decoração de todo o ambiente. Além de uma grande e linda
árvore verde de natal, toda decorada e cheia de presentes embaixo. A mesa
de jantar também já estava toda posta e decorada, bastava apenas servir a
comida toda já no ponto. Uma tarefa que seria de Liv, pois em comum acordo
com o marido, achou melhor dispensar os empregados na noite de Natal.
Afinal era natal e naquele ano eles queriam comemorar de forma bem íntima,
somente eles dois e o filho.

Liv até pensou na possibilidade de já ir servindo a comida, mas achou


que ambos ficariam mais tristes ainda ao sentar à mesa sem a presença de
Andrews. Porém, Liv, consultou o relógio delicado de ouro no pulso e viu
que já estava na hora de ser forte para consolar o filho. Tinha que ser realista,
existia sim uma real possibilidade do seu esposo não chegar a tempo.

— Meu amor, vamos fazer o seguinte? Vamos esperar o papai à mesa?


Beliscando pedaços de panetone, e rabanadas, quando ele chegar cortamos o
prato principal, o peru.

O garotinho, apesar de triste, olhou para ela meio indeciso. Ela sabia que
tinha tocado no ponto fraco dele: Comida!

— Hum... está bem mamãe! Mas só aceito comer peru e abrir meu
presente quando o papai chegar.

— Combinado! — Liv ergueu um pouco os braços e com as mãos


espalmadas, bateu nas mãozinhas do filho sinalizando um gesto de
cumplicidade e acordo selado.

Liv vestia um vestido estilo tubinho, sem mangas, de lã vermelha que ia


até o joelho, um zíper tomava conta de toda a extensão do vestido e
terminava em um decote V revelando parte do seu colo bonito. Os seus
cabelos ruivos, já não eram longos e sim cortados um pouco abaixo do
ombro, lhe dando um ar mais sofisticado e não mais com cara de menininha e
sim de uma bela mulher adulta. Apesar do clima lá fora, o aquecedor da casa
estava ligado, ela podia se dar a aquele luxo de ficar bonita para Andrews
naquele estilo de vestido que ele tanto gostava. Realmente o tempo só havia
lhe feito bem, transformou aquela jovem garota assustada de colégio interno,
numa bela mulher sofisticada, cheia de curvas e elegante.

“Sexy, sem ser vulgar” Era o que ele sempre dizia ao seu ouvido quando a
via vestida daquela forma e ela, mesmo após dez anos de casada, ainda se
arrepiava ao ouvir sua voz grave, falando aquilo quando estavam a sós.

Liv pegou a mãozinha gorducha de Andy e de mãos dadas fez menção de


se retirar da sala de visitas, ruma a sala de jantar. De repente, ouviram
barulho lá fora e o coração de Liv disparou, mas não queria dar falsas
esperanças ao garotinho. Foi então que a grande porta da sala principal se
abriu diante dos olhos deles dois e Andrews ainda vestindo o terno preto da
reunião de negócios, alguns flocos de neve caídos sobre o cabelo preto e
sobre o casaco de frio entrou na sala iluminadíssima para o natal. Já eram
onze horas da noite.

— É aqui que tem uma ceia de natal com a presença da mulher mais linda
do mundo e do garotinho mais inteligente e corajoso da galáxia? — Andrews
falou num tom de voz alto, animado e abriu os braços à espera dos abraços
de sempre. Ainda mais naquela noite. Onde por pouco, o mau tempo não
deixou ele chegar.

— Papai! Papai! Você chegou!! — Andy largou a mão de Liv e correu


para abraçar o pai. Andrews só teve tempo de jogar a sua pasta executiva no
móvel mais próximo, abaixar e receber o abraço apertado do seu garotinho
eufórico pela sua chegada a tempo.

Liv, por um instante ficou ali parada no meio da sala, com olhos
marejados de lágrimas, emocionada com a cena e a alegria de ver seu
príncipe encantado chegar e a felicidade do filho. Era incrível que já
passados dez anos, ele ainda mexesse tanto com ela, ainda lhe causando
batidas no coração, o frio adolescente na barriga. Apesar que agora ambos de
forma mais adulta e serena. Enfim, ela não se conteve e correu também ao
seu encontro já no meio da sala e também o abraçou forte.

— Meu amor! Achei que não daria tempo, já não sabia o que fazer para
disfarçar diante do Andy. — Ela cochichou ao seu ouvido, enquanto o
abraçava forte e aninhou a cabeça em seu ombro. Agora eram os três
abraçados, um de cada lado.

Andrews, acariciou seu cabelos, a fez levantar a cabeça e a olhou nos


olhos, segurou o queixo dela e falou:

— Também tive medo, querida, mas graças a Deus estamos aqui todos
juntos: Eu, você e nosso filho. Estou muito feliz em ter chegado a tempo de
desfrutar a companhia de vocês, antes do Andy adormecer.

— Ei!!! Eu não vou dormir ainda, sou um rapazinho! Esqueceu que


até prometi tomar conta da mamãe, enquanto o senhor estivesse fora?

Liv e Andrews sorriram um para o outro em sinal de cumplicidade e


fingiram acreditar.

— Aham... então, agora vamos para a mesa, comer um pouco e abrir os


presentes depois. Já que o nosso rapazinho diz que não adormecerá fácil. —
Liv falou de forma carinhosa, enquanto acariciava os cabelos sedosos do
filho e caminhavam de mãos dadas para a sala de jantar. Onde uma farta
mesa, bem decorada os esperavam.
Capítulo 3

Agora a pequena e charmosa família iam finalmente cear, já que


finalmente estava completa. Na sala de jantar da mansão Lausen, uma
enorme mesa comprida, toalha vermelha, com louça de porcelana chinesa,
velas natalinas acesas ao longo de toda extensão da mesa e pratos deliciosos
prontos para serem comidos. Andrews até havia perguntado a Liv, se não
gostaria de que para a ceia natalina a enorme e pomposa mesa fosse trocada
temporariamente por uma menor para dar um clima mais íntimo.

Liv achou desnecessário, sugeriu que para dar um clima de intimidade


era só sentarem todos próximos, não importava a extensão da mesa. No fundo
Liv sabia que aquela mesa que estava na mansão desde o tempo dos seus pais
era especial para ele, trazia lembranças boas da sua infância. Andrews puxou
devagar a cadeira a sua direita para Liv sentar e em seguida ocupou a
cabeceira da mesa como sempre.

— Obrigada, querido. — Ela retribuiu com um sorriso e olhar


apaixonado, mesmo já passados dez anos de casados.

Em seguida, Liv olhou para Andy, soltou sua mão e puxou a cadeira ao seu
lado.

— Meu amor, você se sentará aqui ao lado da mamãe. — Falou carinhosa.

O garotinho a olhou com uma carinha emburrada, aquele olhar azul e


aquelas bochechas rosadas que a mamãe tanto conhecia quando algo não o
desagradava.

— Eu não sou mais um garotinho! Sei me comportar à mesa, não preciso


mais ficar sempre perto da senhora. Assim se comportam os bebês.

Aquilo até provocou um pouco de riso no casal, mas acharam melhor fingir
que concordavam com ele, que ele já havia crescido totalmente. Andrews
piscou o olho para Liv e falou.
— Claro filho, você tem razão. Agora você é um rapazinho e me ajuda a
tomar conta da mamãe, não é mesmo? Sente-se aqui à minha esquerda, aqui
do outro lado da mesa, de frente para sua mãe.

O garotinho ficou todo orgulhoso com aquele comentário e apoio do pai,


Liz sorriu e concordou com um aceno de cabeça. Assim Andy sentou do
outro lado da mesa, também próximo ao pai. Bastou isso, para Andy já
sentado, fixar os olhos na mesa com todas aquelas comidas e guloseimas.
Principalmente no Peru e nas rabanadas.

— Mamãe, como era o seu natal quando criança? Havia rabanadas? —


Andy perguntou enquanto sua mãozinha gorducha enchia o prato de
rabanadas.

Aquela pergunta pegou Liv de surpresa, ele nunca havia perguntado sobre
algo do tipo e ela não sabia como responder de forma adequada para a idade
dele. O casal, se entreolharam discretamente.

— Havia sim, meu amor, mas era um pouco diferente. A mamãe morava
em um colégio interno para moças e passava boa parte do tempo lá.

Aquilo de certa forma deixou Liv com um nó na garganta, mas não queria
demonstrar. Ela era uma mulher feliz realizada, não tinha nenhuma mágoa
do seu passado, achou até que deveria ser a magia , a emoção que tomava
conta de todos na noite de natal. Mas, antes que ela precisasse falar mais
alguma coisa, ela sentiu por baixo da mesa, uma mão forte tocar a sua mão
direita, que por um momento tocou em sua perna. Era Andrews, mostrando
que estava ali para lhe ajudar e apoiar no que fosse preciso em relação a
perguntas difíceis sobre o seu passado. Mas, Andy após saborear mais um
rabanada, se dirigiu dessa vez ao pai.

— E o seu natal papai como era? Sei que essa casa era da vovó e do
vovô. — O garotinho falou todo esperto e foi a vez de Liv, esticar seu braço
e tocar firme a mão de Andrews em cima da mesa e mostrar que ela também
estava ali para apoiá-lo.

— Os meus natais foram sim aqui com o vovô e a vovó, exatamente


nesta mesa. A propósito, debaixo da árvore tem um presente para o senhor,
rapazinho, que me lembra muito algo que ganhei no natal quando tinha a sua
idade.

Os olhos de Andy brilharam e ele ficou animado, todo feliz.

— Um carrinho de madeira? Eba! O senhor conseguiu um carrinho de


madeira igual ao que o senhor tinha quando era criança?? — Falou eufórico e
quando já levantando da mesa.

— Consegui sim, foi feito especialmente para você.

— Ah! Acho que já podemos abrir os presentes, não acha? Papai e mamãe.
Afinal, eu durmo cedo....

Liv e Andrews acharam engraçado aquela observação do garotinho que a


pouco havia dito que era um rapazinho, que já estava grande, que sabia sentar
à mesa sozinho e não adormecer durante a ceia. Ambos se entreolharam em
sinal de cumplicidade.

— Humm... então quer dizer que o meu garotinho dorme cedo não é?
Façamos um acordo, coma só um pedacinho do peru, que após isso iremos
para a sala onde está a árvore abrir os presentes.

— Boa ideia querida. Já são mesmo quase meia noite e teve todo o
meu atraso no aeroporto.

— Não se preocupe querido, após os presentes, acho que nosso


rapazinho que já tá dando sinais de sono irá dormir e retornaremos aqui na
mesa para continuarmos a nossa ceia.

A felicidade de Andy, na sala de estar, sentado no chão próximo a árvore


de natal quase da altura do pai e bem decorada, era enorme. Ainda mais
quando desembrulhou seu carrinho de madeira.

— Papai! Adorei! Obrigada! — O menino falou , enquanto erguia o


carrinho, o examinava e em seguida pôs no carpete e ensaia brincar. —
Parece mesmo com o que o senhor tinha quando criança?

— Sim, filho! Igualzinho.


Porém, em no máximo trinta minutos, quando Liv e Andrews se
distraíram conversando sentados no sofá, enquanto saboreavam um
aperitivo, olharam em direção ao local onde ele estava brincando com o
carrinho. Eles avistaram, um carrinho parado e um garotinho adormecido no
carpete felpudo da sala.

— Ai Andrews, nosso pequeno adormeceu.... Foi questão de instantes,


quando nos entretemos conversando dez minutos. Fico até com dó de vê-lo
dormindo assim no carpete, sem vir até nós dar o beijo de boa noite de
sempre.

— Verdade querida, mas não se sinta assim, culpada. Você é uma ótima
mãe, só porque ele adormeceu na noite de natal sem o beijo de sempre, não
quer dizer nada. Ele estava entretido com o presente e nós ficamos
conversando um pouco, sem tirar muito tempo os olhos de cima dele.

Liv olhou para o seu eterno bebezinho e sentiu uma onda de carinho lhe
invadindo o coração, como era feliz em ser uma mãe, mulher e profissional
realizada. Mas, sem dúvida, ser mãe era a sua maior realização.

— Venha Andrews, vamos levá-lo para o quarto e colocá-lo na cama.


Não quero que fique por muito tempo deitado quase no chão.

— Tem razão, vamos fazer isso logo. Ele tem o sono pesado, se não
levarmos ele conseguiria dormir aí a noite toda.

Andrews levantou do sofá onde estava sentado ao lado de Liv,


caminhou até Andy, se agachou no carpete, lhe acariciou os cabelos, em
seguida o colocou delicadamente no colo e subiu devagar as escadas que
levavam aos quartos no andar superior da casa. Liv acompanhou toda a cena
e seguiu junto deles. Ela jamais deixava de dar um beijo de boa noite no seu
filhinho, ainda mais na noite de natal.

Quando Andrews entrou devagar no quarto do garoto e o depositou com


cuidado na cama, ele o beijou na testa, em seguida foi a vez de Liv. Então,
por alguns instantes o casal ficou abraçado ao lado da cama, a observar o
filho com carinho.

— Nosso filho é muito lindo… olho para ele e vejo uma mistura de nós
dois. O nosso tesouro… — Liv, estirou o braço e acaricio os cabelos negros
de Andy, falou sussurrando com receio de acorda-lo.

— Sim... Ele é muito lindo, herdou os seus olhos azuis. Juntos


são o meu maior tesouro. Vocês trouxeram um novo sentido à minha
vida… — Andrews falou tentando disfarçar a emoção. O espírito natalino
estava deixando não somente um clima mágico no ar, mas também deixando
a todos mais sensíveis naquela noite.

Aquilo deixou Liv emocionada, não conseguiu falar mais nada, apenas se
aconchegou ainda mais nos braços dele e pôs a cabeça em seu ombro forte,
enquanto ambos velavam o sono do filho. Em seguida o casal deixou o quarto
e fechou a porta devagar.

Capítulo 4

Andrews e Liv desceram a enorme escada em formato curvo, corrimão


de madeira que levava até à sala principal da mansão de mãos dadas e
devagar. Ele olhava para ela de forma diferente, na verdade a muito tempo
ele havia mudado a forma de lhe olhar, não a olhavam mais de forma
possessiva, como se fosse propriedade dele e sim como se ela fosse uma
deusa venerada por ele. Porém, naquela noite em especial, isso estava mais
evidente ainda. Então, ao final da escada, ele levou sua mão aos lábios, a
beijando como um cavalheiro dos romances de épocas, antes de soltá-la
delicadamente.

— E então, meu amor? Voltamos para a sala de jantar e continuamos a


ceia ou já se deu por satisfeita e prefere apenas alguns petiscos, uma
garrafa de champanhe, no sofá da nossa sala? — Andrews perguntou de
forma sedutora. Esboçando um sorriso charmoso, meio torto e os olhos cor de
mel brilhantes.

Liv sentou e o encarou com um sorriso sexy e confiante, realçado pelo


batom vermelho nos lábios carnudos. A menininha havia ficado para trás
e agora existia uma mulher sexy e confiante do seu poder como mulher,
esposa e mãe.

— Humm... vou de petiscos e uma champanhe aqui em nossa sala. Mas


só um pouco, lembre-se que sou fraca para bebidas e não tenho o hábito de
beber álcool.

Andrews a abraçou pela cintura e a trouxe para bem junto de si, colando o
corpo ao dela. Em seguida a encarou.

— Claro, querida, seu desejo é uma ordem! Mas, posso dizer que você
está especialmente linda esta noite?

— Somente se eu puder dizer o quanto meu marido também está lindo e


especialmente galanteador esta noite. — Respondeu bem humorada, em
seguida deram um leve beijo na boca e ele saiu em direção a sala de jantar
para buscar a bebida e os petiscos.

Liv se sentou no sofá de couro macio da sala, de início ela se sentou bem
elegante, esbelta, perna passada, revelando a coxa grossa e branca pela fenda
do vestido tubinho vermelho. Quando Andrews surgiu de volta na sala, ela
viu que ele já estava mais informal. Havia tirado a gravata e aberto parte dos
botões da camisa azul escura, considerando que ele não tinha tido tempo
de trocar de roupas. Ela adorou a ideia, com a ponta dos dedos dos pés, se
livrou das sandálias prateadas de salto alto, dobrou os joelhos, sentou com as
pernas meio que dobradas para um lado em cima do sofá. Ficando realmente
bem acomodada, a vontade em casa.

Andrews vinha carregando uma garrafa debaixo do braço, duas taças


vazias em umas das mãos e na outra uma bandeja com pequenos pedaços de
peru assado.

— Ah, meu amor, eu poderia ter ido lhe ajudar, porque não pediu ajuda?
— Ela fez menção de levantar do sofá.

— Não, não, querida! Sei me virar sozinho, sem os nossos empregados.


— Ele falou animado, pôs a bandeja e a garrafa numa mesinha baixa e puxou
para próxima ao sofá. Em seguida abriu a champanhe, encheu duas taças,
sentou no sofá bem pertinho da esposa e lhe entregou uma das taças cheias.

— Feliz natal, querida! Um brinde ao nosso pequeno, mas maravilhoso


natal em família! — Ele ergueu a taça em direção a ela e juntos brindaram.

— Feliz natal ,querido! Estou adorando nosso natal, íntimo! Apesar do


nosso filhinho ter adormecido, mas isso já era esperado, é uma criança ainda.

Andrews, deu um generoso gole na taça de champanhe, sem tirar os olhos


de cima de Liv. Voltando a erguer a taça novamente.

— Quero fazer um outro brinde: Um brinde à mulher que transformou


minha vida! Que chegou aqui ainda quase uma menina e se transformou nesta
bela mulher! Amo você, Liv Lausen!

Liv, deu um sorriso apaixonado em direção a ele, ergueu a taça e brindou,


tomou um pequeno gole, pois bebia moderadamente.

— Também quero propor um brinde! Um brinde ao homem que se


transformou e também transformou minha vida! O homem que eu amo:
Andrews Lausen!

O casal ergueu as taças e brindaram novamente. Por alguns instantes, após


isso, ele ficou ali admirando-a naquele vestido vermelho elegante, realçando
sua pele branca, cabelos ruivos e olhos azuis.

— O que foi meu amor? Está me olhando de uma forma tão nostálgica.
— Ela sorriu enquanto bebia mais um gole de champanhe e depositava a taça
na mesinha baixa ao lado.

— É que às vezes fico olhando admirado, não só com sua beleza, que
igual ao vinho com o passar dos anos só fica melhor, você desabrochou e
ficou ainda mais bela, mas com a sua transformação como pessoa,
profissional, forma de se comportar.

— Nossa... eu lhe surpreendi assim?

Sentados no sofá de forma bem à vontade, ali um ao lado do outro, a


sensibilidade aflorada pela magia da noite, estava surgindo espaço para
muitas declarações e confidências. Apesar dela já estar acostumada com o
novo jeito do Andrews, desde o nascimento do Andy, mais sereno, mais
cavalheiro, menos impulsivo.

— Sim, surpreendeu. Eu jurava que com o tempo você se transformaria


naquelas mulheres que fica em casa, coordena os empregados, cuidando dos
filhos, e torrando o dinheiro do marido em compras.

— Ah! Então, era isso que você esperava de mim? Hum... acho que
vou passar a usar mais o seu cartão de crédito e não mais o meu para não
decepcionar-lhe tanto. — Ela sorriu falando com ironia.

— Não me deixaria chateado, mas sei que não faria isso. Essa atitude
não combina com a executiva arquiteta, especialista em decoração de
interiores, responsável pelos projetos da Lausen S/A, a senhora Liv Lausen.

— Realmente não combinaria, mesmo. O que mais lhe surpreendeu, nessa


mudança ao longo desses dez anos?

— Foi quando você decidiu que queria trabalhar na construtora, mas


não num cargo decorativo. Queria colocar a mão na massa e resolveu cursar
arquitetura. Dando conta de tudo na dupla jornada de mãe, esposa, estudante.
Os olhos azuis de Liv brilharam ao ouvir aquilo, os dois se olhando bem
próximos, ele segurou a mão dela e a acariciou em um gesto de carinho, a
olhando e flertando com a própria esposa, mesmo após dez anos de casados.

— Fico muito feliz que tenha orgulho de mim, sei que nesses anos você
sempre deixou transparecer isso, mas ouvir assim, ainda mais neste clima
especial, é mais emocionante ainda. Mas lembro que de início você foi
contra...

— Eu sentia muito ciúmes, mas não queria confessar. Porém, confesso


que por várias vezes senti vontade de lhe exilar novamente em Netville
quando a via cercada por colegas de turma do sexo masculino. — Ele
começou sério e concluiu com bom humor e Liv também entrou no clima.

— Ah! Foi mesmo? Pois saiba que a Liv desta época já lhe denunciaria
por cárcere privado, seu espertinho… — Falou sorrindo e lhe dando um leve
tapinha no braço.

— Ah, minha querida. Aquilo ainda foi resquícios do Andrews de


outrora. Sei que diversas vezes já pedi perdão por várias grosserias minhas
do passado, mas é sempre bom reforçar. Aceita meu pedido de perdão mais
uma vez?

Ela ficou emocionada, ao ouvir aquilo, mesmo não sendo a primeira vez.
Pois sentiu, sim, uma necessidade de ouvir um pedido de perdão da parte dele
em vários momentos do casamento, mas agora um pedido feito naquela
noite de natal, selava e apagava tudo de desagradável que por ventura o
comportamento impulsivo, possessivo dele provocou no passado. Então, ele
foi aproximando lentamente o rosto do dela, quase inclinado o tórax sobre
ela no sofá e ela o acompanhou, parecia dois ímãs se atraindo. Em
seguida, as bocas dos dois se encontraram, em um beijo lento e demorando,
com sabor não só de champanhe, mas de amor, serenidade e cumplicidade.
Quando ambos se se afastaram, ele ainda continuou a olha-la nos olhos,
acariciou a pele macia do seu rosto, ela acariciou seu cabelos negros.

— Já passa da meia - noite, o nosso pequeno já dormiu, brindamos


nosso natal, está tudo perfeito. Sabe o que eu queria agora para selar nossa
noite perfeita?
— O que, meu amor?

— Subir para o quarto e fazer amor a noite inteira com a minha esposa.

— Humm... mas ainda não lhe dei o seu presente de natal, acabamos
esquecendo embaixo da árvore com episódios da noite.

— O meu presente de natal, está embrulhado em seda vermelha e


estou louco para desembrulhar na nossa cama.

Liv sentiu uma onda de ternura e desejo invadir o seu corpo ao mesmo
tempo. Enquanto olhava nos olhos do marido, que aquela altura já havia
apagado a iluminação da sala e deixado somente a luz da árvore, dando um
clima romântico ao local.

— E sabe o que eu mais desejo agora?

— O que? Será o mesmo desejo que o meu ?

— Desejo que o meu marido, viril e forte, me tome em seus braços,


levando-me para o nosso quarto e que faça amor comigo a noite inteira.

Andrews a olhou enfeitiçado, passou os braços em volta do corpo da


esposa, levantou do sofá a suspendendo nos braços.

— Que seja feita a sua vontade, minha deusa. Aliás, que seja feita a nossa
vontade.

— Meu amor. Meu único e eterno amor… — Liv falou baixinho com a
cabeça aconchegada em seu ombro forte.

— Minha rainha, o amor da minha vida toda. Quero fazer amor com
você como se fosse a nossa primeira vez.

Assim, ele caminhou em direção a escada e devagar subiu com ela em


seus braços, em direção ao quarto do casal.
Epílogo:

Andrews era forte, corpo bem definido, braços musculosos, graças a anos
praticando tênis, seu esporte favorito. Então, ele girou a maçaneta da porta
com apenas uma das mãos mesmo segurando-a, sem precisar por Liv no
chão. Assim, pode cruzar o quarto com ela ainda em seus braços e
depositá-la delicadamente em cima da cama de casal deles dois.

Desta maneira, assim que seu marido a pôs na cama, Liv passou os
braços em volta do seu pescoço e o puxou para si. Olhando em seus olhos,
hipnotizada pelo desejo e a paixão.

— Vem, meu amor… — Ela sussurrou na penumbra do quarto,


enquanto abria os botões da sua camisa o deixando semi nu.

— Espere… — Ele falou baixinho, sentando devagar na borda da


cama. — Deixe-me admirar sua beleza e mimá-la por alguns instantes...

Liv, relaxou o corpo e ficou à espera da ação dele, com certeza ele tinha
algo em mente. Andrews, abaixou e pegou o pé alvo e delicado da esposa,
unhas pintadas de vermelho, começou a massageá-lo. Liv, fechou os olhos
gostado do mimo.

— Gosta assim? — perguntou baixinho, enquanto suas mãos grandes,


habilidosamente, massageavam seus pés.

— Aham... adoro quando massageia meus pés...

Depois de uns dez minutos de massagem, Liv sentiu as mãos do


marido subir devagar pelas suas coxas alvas e roliças. Ele tateava,
massageava, e meio que de lado, já não estava totalmente sentado na borda
da cama. Liv de olhos fechados aproveitava tudo, até que seu corpo deu um
pequeno espasmo, ao sentir seus dedos delicadamente tocar por cima da
calcinha o seu sexo. Andrews deu um sorriso de satisfação, ao ver o que
havia provocado nela. Ele com o dedo indicador, subiu devagar traçando
uma linha imaginária que ia do seu ventre até o seu colo. Então, ele chegou
no decote e na abertura do zíper, que tomava todo o comprimento do vestido.
Com movimentos suaves, ele puxou devagar o zíper de cima a baixo, como
se estivesse desembrulhando um presente. O vestido se abriu por completo,
revelando o corpo bem feito de Liv, coberto apenas pela lingerie preta de
renda, suas curvas e seios redondos. Aquela altura ela já se contorcia e
ansiava por ele.

— Ah Andrews...

— Linda... perfeita... Meu presente de natal finalmente está


desembrulhado e não embaixo da árvore, mas em minha cama. Ele falou
com respiração pesada, os olhos semicerrados, a voz rouca de desejo.

Então, Liv, o enlaçou novamente pelo pescoço, só que dessa vez ele não
resistiu, retirou rapidamente as calças que ainda vestia, ficando só de cueca
box branca, usando seu corpo másculo cobriu o dela e colou sua boca a
dela num beijo apaixonado. Em pouco tempo ele puxou o sutiã, depois sua
calcinha, enquanto que ela apressada, puxava a sua cueca box, sem que ele
saísse de cima dela. Ambos abraçados na cama, se beijando, se amando e
sussurrando palavras que hora demonstrava desejo, hora paixão.

— Andrews, já não suporto... quero ser sua agora! Vem! — Ela falou
ofegante, enquanto se enroscava toda no corpo dele, suas pernas cruzadas na
altura das costas o prendia a si.

— Se é isso que deseja, minha rainha, então toma! — Andrews falou ao


seu ouvido e arremeteu para dentro dela, a possuindo com urgência e paixão.

Os dois rolavam na cama, colados um ao outro, conectados pelo corpo e


pela alma, em movimentos rítmicos, até que o clima esquentou a ponto de se
tornar insuportável se conter e Liv cravou as unhas nas costas dele.

— Ah... Andrews... mais forte! Agora!

— Sim, minha rainha! Sou todo seu!

Logo uma onda de prazer sacudiu violentamente os dois, que se abraçaram


fortemente e após três grandes espasmos de prazer, os corpos relaxaram
suados, mas permaneceram ainda alguns minutos abraçados, curtindo um ao
outro. Naqueles minutos mágicos pós clímax.

— Foi maravilhoso.... — Ela falou baixinho...

— Você é sempre maravilhosa, mas esta noite parecia que havia algo
especial.

— Sim, querido, tem sim algo a mais que também poderá ser algo
muito especial: Eu não estou usando nada para me prevenir.

— Como assim? — Ele continuou abraçado-a, mas virou a cabeça e a


olhou nos olhos.

— Havíamos conversado sobre isso e ontem retirei o diafragma, o nosso


método conceptivo...

— Ah Liv... não me diga que você aceitou a possibilidade de termos


outro filho? — Ele perguntou com os olhos brilhando de alegria.

— Sim... e espero que ele tenha sido concebido esta noite, uma noite
maravilhosa de natal.

Andrews nem pensou em se soltar do abraço feliz com a notícia que sua
tão amada esposa estava disposta a lhe dar um segundo filho

— Eu tinha razão quando disse que você é o meu melhor presente de


natal! Liv Lausen, eu amo você!

— Andrews Lausen, eu também amo você!

Então, os dois se abraçaram ainda mais colados e deram um longo e


apaixonado beijo. Ainda ali na cama, nus por baixo do lençol que
provavelmente presenciou uma segunda sessão de muito amor e prazer.

Você também pode gostar