AnaBeatrizFreireDeAlmeida Dissert

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA

Ana Beatriz Freire de Almeida

A SINTAXE NA NOVA GRAMMATICA ANALYTICA DA LINGUA


PORTUGUEZA (1881), DE CHARLES ADRIEN OLIVIER GRIVET (1816-1876):
UMA ANÁLISE HISTORIOGRÁFICA

João Pessoa
2022
ANA BEATRIZ FREIRE DE ALMEIDA

A SINTAXE NA NOVA GRAMMATICA ANALYTICA DA LINGUA


PORTUGUEZA (1881), DE CHARLES ADRIEN OLIVIER GRIVET (1816-1876):
UMA ANÁLISE HISTORIOGRÁFICA

Dissertação apresentada à Coordenação do Programa


de Pós-graduação em Linguística, da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB), para a obtenção do grau
de Mestra em Linguística, sob orientação do Prof. Dr.
Francisco Eduardo Vieira.

João Pessoa
2022
Catalogação na publicação
Seção de Catalogação e Classificação

A447s Almeida, Ana Beatriz Freire de.


A sintaxe na Nova Grammatica Analytica da Lingua
Portugueza (1881), de Charles Adrien Olivier Grivet
(1816-1876) : uma análise historiográfica / Ana Beatriz
Freire de Almeida. - João Pessoa, 2022.
928 f. : il.

Orientação: Francisco Eduardo Vieira.


Dissertação (Mestrado) - UFPB/CCHLA.

1. Gramática. 2. Nova Grammatica Analytica da Lingua


Portugueza. 3. Grivet, Charles. 4. Historiografia da
linguística. 5. Século XIX. I. Vieira, Francisco
Eduardo. II. Título.

UFPB/BC CDU 81'36(043)

Elaborado por WALQUELINE DA SILVA ARAUJO - CRB-15/514


UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS, LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA

ATA DE DEFESA DE DISSERTAÇÃO DE


ANA BEATRIZ FREIRE DE ALMEIDA

Aos oito dias do mês de junho de dois mil e vinte e dois (08/06/2022), às nove horas e
trinta minutos, realizou-se, via Plataforma Google Meet, a sessão pública de defesa de
dissertação intitulada “A sintaxe na Nova Grammatica Analytica Da Lingua Portugueza
(1881), de Charles Adrien Olivier Grivet (1816-1876): uma análise historiográfica”,
apresentada pela mestranda ANA BEATRIZ FREIRE DE ALMEIDA, licenciada em Letras pela
Universidade Federal da Pernambuco – UFPE, tendo concluído os créditos para obtenção do
título de MESTRA EM LINGUÍSTICA, área de concentração Linguística e Práticas Sociais,
segundo encaminhamento do Prof. Dr. Jan Edson Rodrigues Leite, Coordenador do Programa
de Pós-Graduação em Linguística da UFPB e segundo registros constantes nos arquivos da
Secretaria da Coordenação do Programa. O Prof. Dr. Francisco Eduardo Vieira (PROLING –
UFPB), na qualidade de orientador, presidiu a Banca Examinadora, da qual fizeram parte os
Professores Doutores Carlos Alberto Faraco (Examinador/UFPR) e Mônica Mano Trindade
Ferraz (Examinadora/PROLING – UFPB). Dando início aos trabalhos, o senhor Presidente
Prof. Dr. Francisco Eduardo Vieira convidou os membros da Banca Examinadora para compor
a mesa. Em seguida, foi concedida a palavra à mestranda para apresentar uma síntese de sua
Dissertação. Após isso, a mestranda foi arguida pelos membros da Banca Examinadora.
Encerrando os trabalhos de arguição, os examinadores deram o parecer final sobre a
dissertação, à qual foi atribuído o conceito APROVADA. Proclamados os resultados pelo Prof.
Dr. Francisco Eduardo Vieira, Presidente da Banca Examinadora, foram encerrados os
trabalhos, e, para constar, a presente ata foi lavrada e assinada por todos os membros da
Banca Examinadora. João Pessoa, 08 de junho de 2022.

Observações:

Nada a declarar.

Prof. Dr. Francisco Eduardo Vieira


(Presidente da Banca Examinadora)

Prof. Dr. Carlos Alberto Faraco


(Examinador) Profa. Dra. Mônica Mano Trindade Ferraz
(Examinadora)
Cidade Universitária – Campus I 58051-970 João Pessoa – PB
Caixa Postal: 5070 Fone/fax: (83) 3216-7745
E-mail: proling@cchla.ufpb.br www.cchla.ufpb.br/proling
A preciosa grammatica Grivet teria sido devorada pelos vermes de
algum dos archivos publicos, se M.me Grivet, confiante na protecção
da população brazileira e em homenagem á memoria de seu esposo,
não emprehendesse a sua publicação. (ALGUMAS..., 1881, p. VIII)
A Ana Maria Freire (in memoriam) ✝
RESUMO

Esta dissertação analisa a abordagem sintática realizada pela Nova Grammatica


Analytica da Lingua Portugueza (NGALP) (1881), de Charles Adrien Olivier Grivet
(1816-1876). O objetivo geral desta pesquisa é investigar os principais conhecimentos
sintáticos elaborados pelo autor na NGALP. Para que isso fosse possível, buscamos
compreender os acontecimentos e ideias políticas e socioculturais que englobam a
produção da gramática. Além disso, descrevemos e interpretamos os conhecimentos
sintáticos sistematizados nela, identificamos movimentos de continuidade e de ruptura
com a tradição gramatical estabelecidos pelo autor e contrastamos a metalinguagem e as
definições presentes na obra com outros modelos teóricos dos estudos da linguagem. O
trabalho está situado na área da Historiografia da Linguística, que se propõe a
interpretar, por meio de narrativas descritivas e explicativas, como o conhecimento
sobre a linguagem foi produzido em determinado contexto social e cultural através do
tempo (SWIGGERS, 2009). As principais categorias teóricas e analíticas que norteiam
o trabalho são a do tratamento da metalinguagem (KOERNER, 2014a, 2014c), a da
influência (KOERNER, 2014b; BATISTA, 2020a; ALTMAN, 2018), a da retórica
(BATISTA, 2018, 2019, 2020a, 2020b; MURRAY, 1998; SWIGGERS, 2014, 2019) e,
em especial, a das camadas do conhecimento linguístico (SWIGGERS, 2004, 2019,
2020a, 2020b). Após a familiarização com a obra e sua leitura prévia, destacamos os
principais pontos a serem abordados na análise sintática realizada por Grivet e, com o
auxílio das camadas do conhecimento linguístico, estruturamos a análise em quatro
partes, cada uma correspondente a uma determinada camada: contextual, teórica,
técnica e documental. Na contextual, mostramos que o autor não se propõe a romper
com a tradição dos estudos linguísticos, mas a mostrar novas possibilidades de análise.
Na teórica, discorremos sobre a concepção linguística do autor, especialmente em
relação à sintaxe. Nesta parte, dissertamos de forma substancial sobre i) a teoria das
funções; ii) a centralidade do fato (verbo); iii) a compreensão da sintaxe como funções
exercidas por palavras; e iv) a crítica à teoria do verbo substantivo. Na terceira camada
do conhecimento, a técnica, abordamos técnicas de análise e métodos de apresentação
dos dados do material investigado, expondo a rede taxonômica operada por Grivet. Por
último, na quarta camada, a documental, exploramos a constituição da documentação
usada para a descrição linguística da gramática. Além da análise da obra, também
realizamos um levantamento, na Hemeroteca Brasileira e na Swiss National Library, de
outras fontes que nos fornecessem mais informações sobre Grivet e sua obra.

Palavras-chave: Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza. Charles Grivet.


Gramática. Historiografia da Linguística. Século XIX.
ABSTRACT

This dissertation aims to analyze the syntactic approach performed by Nova


Grammatica Analytica da Lingua Portugueza (NGALP) (1881) by Charles Adrien
Olivier Grivet (1816-1876). The general objective of this research is to investigate the
main syntactic knowledge elaborated by the referred author in NGALP. To make this
possible, we sought to understand the political and sociocultural events and ideas that
encompassed the production of the grammar. In addition, we describe and interpret the
syntactic knowledge systematized in it, we identified movements of continuity and
rupture with the grammatical tradition established by the author and contrasted the
metalanguage and definitions present in the work with other theoretical models of
language studies. The work is situated in the area of Historiography of Linguistics,
which proposes to interpret, through descriptive and explanatory narratives, how
knowledge about language was produced in a certain social and cultural context through
time (SWIGGERS, 2009). The main theoretical and analytical categories that guided the
work were the treatment of metalanguage (KOERNER, 2014a, 2014c), the influence
(KOERNER, 2014b; BATISTA, 2020a; ALTMAN, 2018), the rhetoric (BATISTA,
2018, 2019, 2020a, 2020b; MURRAY, 1998; SWIGGERS, 2014, 2019) and in
particular the layers of linguistic knowledge (SWIGGERS, 2004, 2019, 2020a, 2020b).
After familiarization with the work and its previous reading, we highlight the main
points to be addressed in the syntactic analysis performed by Grivet and, with the help
of the layers of linguistic knowledge, we structured the analysis in four parts, each
corresponding to a given layer: contextual, theoretical, technical and documentary. In
the contextual layer, we show that the author does not propose to break with the
tradition of linguistic studies, but to show new possibilities for analysis. In theoretical
layer, we discuss the author’s linguistic conception, especially regarding syntax. In this
part, we have substantially discussed i) the theory of functions; ii) the centrality of fact
(verb); iii) the understanding of syntax as functions exercised by words; and iv) the
critique of noun verb theory. In the third layer of knowledge, the technical, we approach
techniques of analysis and methods of data presentation of the material investigated,
exposing the taxonomic network operated by Grivet. Finally, in the fourth layer, the
documentary, we explore the constitution of the documentation used for the linguistic
description of the grammar. In addition to the analysis of the work, we also conducted a
survey, in the Brazilian Hemeroteca and in the Swiss National Library, of other sources
that would provide us with more information about Grivet and his work.

Keywords: Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza. Charles Grivet.


Gramática. Historiography of Linguistics. 19th century.
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Levantamento de trabalhos sobre Grivet e sua obra .............................................. 19


Quadro 2 – Quadro para mapeamento da organização geral da obra e da parte “Syntaxe” ..... 64
Quadro 3 – Quadro para mapeamento das definições gerais de sintaxe em Grivet (1881) ...... 65
Quadro 4 – Quadro para mapeamento da teoria das funções em Grivet (1881) ...................... 65
Quadro 5 – Quadro do mapeamento da crítica de Grivet (1881) à teoria do verbo
substantivo ................................................................................................................................ 66
Quadro 6 – Quadro do mapeamento de exceções ou notas em Grivet (1881) ......................... 66
Quadro 7 – Quadro do mapeamento de outras observações sintáticas em Grivet (1881) ........ 66
Quadro 8 – Quadro do mapeamento de trechos inusitados ou relevantes ................................ 67
Quadro 9 – Quadro do mapeamento de referências racionalistas ............................................ 67
Quadro 10 – Quadro do mapeamento de referências à língua francesa ................................... 67
Quadro 11 – Quadro do mapeamento de referências a outras línguas ..................................... 68
Quadro 12 – Quadro do mapeamento de referências aos clássicos .......................................... 68
Quadro 13 – Quadro do mapeamento de referências a outras/os gramáticas/gramáticos ........ 68
Quadro 14 – Quadro preenchido do mapeamento de referências à língua francesa ................. 69
Quadro 15 – Divisão e definição das espécies de palavras de acordo com Grivet (1881) ....... 81
Quadro 16 – Título das gramáticas de língua portuguesa publicadas nos anos de 1870 .......... 87
Quadro 17 – Definição dos elementos da teoria das funções de Grivet (1881) ....................... 94
Quadro 18 – Tempos do modo indicativo ................................................................................ 97
Quadro 19 – Tempos do modo condicional.............................................................................. 98
Quadro 20 – Tempos do modo subjuntivo ............................................................................. 101
Quadro 21 – Divisões da parte "Syntaxe" em Grivet (1881) ................................................. 127
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Registro da chegada de Charles Grivet ao Brasil ............................................... 24


Figura 2 – Registro da chegada da família de Grivet ao Brasil ........................................... 24
Figura 3 – Notícia da tentativa de Grivet de abrir uma escola no Pará ............................... 25
Figura 4 – Concessão das licenças de Grivet e da sua esposa ............................................. 26
Figura 5 – Divulgação do colégio de meninas da Madame Grivet ..................................... 27
Figura 6 – Notícia do fechamento temporário do Colégio da Madame Grivet ................... 28
Figura 7 – Notícia da reabertura do Colégio da Madame Grivet ........................................ 28
Figura 8 – Oferta de aulas particulares de Grivet ................................................................ 29
Figura 9 – Catálogo de uma livraria que ofertava a primeira gramática de Grivet ............. 30
Figura 10 – Anúncio de venda da primeira gramática de Grivet......................................... 30
Figura 11 – Registro da morte de Carolina, filha de Grivet ................................................ 31
Figura 12 – Registro da morte de Charles Grivet em jornal brasileiro................................ 32
Figura 13 – Notícia da morte de Grivet em jornal suíço ..................................................... 32
Figura 14 – Anúncio de venda da Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza .... 33
Figura 15 – Notícia da morte da Madame Grivet ................................................................ 35
Figura 16 – Texto “Conheça a gramática”, de Napoleão Mendes de Almeida ................... 36
Figura 17 – Texto “Erros de linguagem no uso cotidiano”, de Cécil Meira ....................... 37
Figura 18 – Organograma da Historiografia da Linguística ................................................ 45
Figura 19 – Modelo de camadas do conhecimento ............................................................. 55
Figura 20 – Capa da Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza, de C. A. O.
Grivet (1881) ....................................................................................................................... 62
Figura 21 – Divisão quinquepartida de Grivet citada no século XIX ................................. 80
Figura 22 – Primeira crítica a Grivet em um periódico ....................................................... 89
Figura 23 – Grivet citado em periódico, ao lado de Julio Ribeiro, como argumento de
autoridade ............................................................................................................................ 92
Figura 24 – Citação a Grivet em jornal do século XIX sobre discussão acerca do
pronome “lhe” como complemento direto......................................................................... 107
Figura 25 – Referência a Grivet em jornal de 1964 .......................................................... 117
Figura 26 – Crítica de Grivet ao verbo substantivo em publicação do século XX............ 122
Figura 27 – Exemplo de análise sintática de Grivet .......................................................... 130
Figura 28 – Rede taxonômica de Grivet (1881) ................................................................ 130
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Documentação utilizada na abordagem sintática de Grivet ........................ 131


Tabela 2 – Documentação não literária utilizada na abordagem sintática de Grivet ... 138
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Autores mais citados por Grivet (1881) .................................................... 135


Gráfico 2 – Nacionalidade dos autores citados por C. A. O. Grivet (1881) ................. 136
Gráfico 3 – Século dos autores citados por C. A. O. Grivet (1881) ............................. 137
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

GPR Gramática de Port-Royal


GT Gramática Tradicional
HGEL Historiografia, Gramática e Ensino de Línguas
HL Historiografia da Linguística
LP Língua portuguesa
NGB Nomenclatura Gramatical Brasileira
NGALP Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza
UFPB Universidade Federal da Paraíba
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................... 14
1.1 Tema e objeto ...................................................................................................................... 14
1.2 Outras histórias, outras historiografias ................................................................................ 19
1.3 Charles Grivet: vida e obra .................................................................................................. 23
1.3.1 A Grammatica Analytica da Lingua Portugueza (1865), primeira gramática de C. A.
O. Grivet ..................................................................................................................................... 29
1.3.2 A Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza (1881), de C. A. O. Grivet ...... 31
1.4 Perguntas ............................................................................................................................. 38
1.5 Objetivos ............................................................................................................................. 39
1.6 Justificativa .......................................................................................................................... 39
1.7 Organização da dissertação ................................................................................................. 40
2 HISTORIOGRAFIA DA LINGUÍSTICA E SUAS CATEGORIAS TEÓRICAS E
ANALÍTICAS ............................................................................................................................ 42
2.1 Historiografia da Linguística: a disciplina e o papel do historiógrafo ................................ 42
2.2 Tratamento da metalinguagem: adaptando o passado ......................................................... 46
2.3 Influência: motivações e inspirações para produção ........................................................... 48
2.4 Retórica: posicionamento e persuasão ................................................................................ 52
2.5 Camadas do conhecimento linguístico: explicação da dinâmica linguística ....................... 55
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA ... 58
3.1 As fases da pesquisa historiográfica: heurística, hermenêutica e executiva ....................... 59
3.2 Fonte da pesquisa: a Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza ......................... 61
3.3 Método de análise da fonte da pesquisa .............................................................................. 64
3.4 Levantamento da fonte secundária ...................................................................................... 70
4 O BRASIL DO SÉCULO XIX: EDUCAÇÃO E GRAMÁTICA ...................................... 72
4.1 Educação e ensino de língua portuguesa ............................................................................. 72
4.2 Periodização linguística: linhagem latinizada, racionalista e empirista .............................. 75
5 A NOVA GRAMMATICA ANALYTICA DA LINGUA PORTUGUEZA E SUA
ABORDAGEM SINTÁTICA .................................................................................................... 79
5.1 Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza: visão geral ....................................... 79
5.2 Camada contextual: retórica e influência ............................................................................ 83
5.3 Camada teórica: Grivet e sua visão de linguagem............................................................... 93
5.3.1 A teoria das funções ....................................................................................................... 94
5.3.1.1 Facto ............................................................................................................................. 95
5.3.1.1.1 Modo indicativo ......................................................................................................... 97
5.3.1.1.2 Modo condicional ...................................................................................................... 98
5.3.1.1.3 Modo imperativo ........................................................................................................ 99
5.3.1.1.4 Modo subjuntivo ...................................................................................................... 100
5.3.1.2 Sujeito......................................................................................................................... 102
5.3.1.3 Complemento direto ................................................................................................... 104
5.3.1.4 Complemento indireto ................................................................................................ 108
5.3.1.5 Predicado .................................................................................................................... 110
5.3.1.6 Aposição ..................................................................................................................... 113
5.3.1.7 Ligação ....................................................................................................................... 114
5.3.2 A teoria do verbo substantivo ....................................................................................... 117
5.3.3 As figuras de linguagem ............................................................................................... 123
5.3.3.1 Elipse .......................................................................................................................... 123
5.3.3.2 Pleonasmo .................................................................................................................. 124
5.3.3.3 Silepse ........................................................................................................................ 125
5.3.3.4 Inversão ...................................................................................................................... 126
5.3.3.5 Exclamação ................................................................................................................ 127
5.4 Camada técnica: técnicas e métodos de análise de Grivet ................................................ 127
5.5 Camada documental: o exemplar linguístico da gramática ............................................... 131
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 140
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 144
APÊNDICES ............................................................................................................................ 149
APÊNDICE A – LEVANTAMENTO DAS FONTES SECUNDÁRIAS – VIDA PESSOAL
DE GRIVET ............................................................................................................................. 149
APÊNDICE B – LEVANTAMENTO DAS FONTES SECUNDÁRIAS – VIDA
PROFISSIONAL DE GRIVET ................................................................................................ 171
APÊNDICE C – LEVANTAMENTO DAS FONTES SECUNDÁRIAS – GRAMÁTICAS
DE GRIVET ............................................................................................................................. 279
APÊNDICE D – LEVANTAMENTO DAS FONTES SECUNDÁRIAS – TEMAS
GRAMATICAIS DE GRIVET ................................................................................................ 654
14

1 INTRODUÇÃO

1.1 Tema e objeto

Esta pesquisa tem como tema a abordagem da sintaxe na obra Nova Grammatica
Analytica da Lingua Portugueza 1 (1881), de Charles Adrien Olivier Grivet (1816-1876).
Entendemos o conhecimento sintático como uma dimensão do conhecimento linguístico, ou
seja, a parte dos estudos linguísticos que, em resumo, investiga a relação entre os constituintes
da oração.
A ideia para realização deste trabalho surgiu a partir de um contato despretensioso
com gramáticas brasileiras antigas disponibilizadas na internet. Observando algumas dessas
obras por mera curiosidade, a gramática citada chamou nossa atenção. Isso aconteceu devido
à proximidade dessa obra com a língua francesa, que nos é estimada. Essa percepção foi
decorrente do fato de que, em várias partes da gramática, o francês é usado como exemplo,
seja para mostrar algum fenômeno que ocorre em língua francesa e não ocorre em língua
portuguesa (LP), seja para mostrar a ocorrência do mesmo fenômeno em ambas as línguas.
Por exemplo, podemos ver uma amostra do francês na gramática quando Grivet trata de
“haver”, verbo “unipessoal”, empregado com o sujeito oculto, pois o autor estabelece uma
ligação com o francês:

Que haverá, logo, de extraordinario que esta constante assistencia dos


referidos pronomes [J’aime, tu aimes, il aime, ils aiment, j’aimais, tu aimais
etc.] junto aos verbos pessoaes, de muito os mais numerosos e os mais
frequentes, viesse a constituir, no francez, uma especie de predicamento
indispensavel a toda a mesma ordem de palavras, alastrando-se, embora sem
necessidade, mas por uma analogia do que as linguas offerecem outros
exemplos, até aos verbos impessoaes? Que, outrossim, os mesmos verbos,
sob a pressão da logica, dispensassem o excrescente IL em uma
epoca ainda não mui remota, para logo depois o tomarem sob o impulso de
uma conveniencia que hoje nos escapa, é o que attestão as seguintes notas,
do proprio punho do famoso cardeal de Richelieu, fundador da Academia
Franceza, a quem o desgraçado Carlos I de Inglaterra pedira soccorros.
« Faut réfléchir long-temps et attendre: - : — les communes sont fortes ; le
roi Charles compte sur les Ecossais ; ils le vendront. »
« Faut prendre garde. IL Y A là un homme de guerre qui est venu voir
Vincennes, et a dit qu’on ne devait jamais frapper les princes qu’à la téte. »
La Fontaine tambem disse, na fabula das Adevinhas (Les Devineresses):
Point de raisons, fallut deviner et prédire.

1
Como o título da gramática será recorrente ao longo do texto, por vezes, vamos nos referir a ela como NGALP.
15

Portanto, como termo syntaxico, o tal IL não é nada. Não é nada porque,
ainda que pronome por natureza, ahi não substitue a nenhum substantivo, e
conseguintemento não representa idéa alguma; faz apenas o officio de
indicador: « Ahi vai verbo »; é palavra expletiva e mais nada. (GRIVET,
1881, p. 234-235)2

O pronome “il”, na língua francesa, significa “ele” ou é utilizado antes de verbos


impessoais, como em “il pleut” (em português, “chove”). No trecho mencionado, Grivet
explica que, no francês, é necessário utilizar esse pronome antes do verbo, ainda que ele não
seja substituído por nenhum verbo e sirva para anunciar que um verbo aparecerá em seguida.
Como sabemos, esse fenômeno não ocorre em português. Assim, esse tipo de relação com o
francês nos marcou durante a primeira leitura que fizemos da obra, já que, a princípio,
comentários como esse da citação acima não teriam nenhuma motivação explícita. Depois,
quando fizemos uma busca rápida sobre o autor, descobrimos que ele era suíço, e sua língua
materna era o francês. A nossa observação, então, fazia sentido, pois nossa primeira língua
tende a ser um parâmetro para o estudo de outras. Então, entendemos as possíveis razões das
menções ao francês em sua obra.
Motivados pela curiosidade em relação ao pensamento sintático de Grivet e pelo
desejo de contribuir para a reflexão sobre a história das ideias linguísticas a respeito da
sintaxe, nosso propósito, com esta pesquisa, é analisar os principais conhecimentos sintáticos
na NGALP (1881). Para a realização do trabalho, utilizaremos, como base, pressupostos
teórico-metodológicos da Historiografia da Linguística, disciplina que estuda o conjunto de
produtos que modelaram tradições do pensamento linguístico (SWIGGERS, 2009).
Antes de nos aprofundarmos na gramática de Grivet (1881), é importante discorrermos
brevemente sobre o “horizonte de retrospecção” (AUROUX, 2014) dos saberes sintáticos no
Brasil. O horizonte de retrospecção é o conjunto de saberes que antecederam a discussão
sobre um tema, indicando que o conhecimento não se dá de forma instantânea. Desse modo,
em seguida, discorremos brevemente sobre os conhecimentos gramaticais produzidos até o
momento da publicação da Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza.
A gramaticografia da língua portuguesa está inserida numa tradição cuja origem reside
na cultura greco-latina (VIEIRA, 2018). A Grammatica da lingoagem portuguesa (1536), do
lusitano Fernão de Oliveira (1507-1581), é reconhecida como a primeira gramática do

2
Os grifos em itálico são do autor. É recorrente o uso desse recurso na gramática de Grivet. Como, neste
trabalho, citaremos muitas passagens grifadas da gramática, evitaremos o uso da expressão “grifos do autor”
para evitar a repetição. Quando o grifo for nosso, usaremos apenas o negrito e informaremos que foram feitos
por nós.
16

português. A maior parte dessa gramática é dedicada à análise fonética da língua portuguesa,
com alguns capítulos dedicados ao léxico, mas quase nenhuma material sobre sintaxe.
Segundo Borges Neto (2020), essa e outras gramáticas do período renascentista – como a
Gramatica da lingua portuguesa (1540), de João de Barros (1496-1570), em geral, se
afastavam do pensamento especulativo e retomavam o espírito descritivo-normativo das
gramáticas clássicas, particularmente a de Donato e a de Prisciano.
Os séculos XVI, XVII e XVIII são muito parecidos 3 em relação aos estudos
gramaticais (BORGES NETO, 2020), não havendo mudanças significativas. Nos séculos XVI
e XVII, surgiram as obras dos missionários católicos, que escreveram gramáticas e
dicionários de línguas não-europeias a partir do modelo das artes grammaticae latinas,
procurando encontrar equivalências entre a língua descrita na gramática e a língua já
conhecida por eles, como o português, o espanhol e o latim.
No século XVII, a Europa ainda teve contato com a Grammaire générale et raisonnée
contenant les fondemens de l'art de parler, expliqués d'une manière claire et naturelle
(1660)4, também conhecida como Gramática de Port-Royal (doravante GPR). Essa obra foi
escrita por Antoine Arnauld (1612-1694) e por Claude Lancelot (1615-1695). O pensamento
central da obra é o de que a gramática é resultado de processos mentais universais. Então, a
linguagem seria geral e racional. O pensamento, que está ligado à linguagem, na perspectiva
da GPR, é constituído pela concepção (isolamento de algo no mundo), pelo juízo (afirmação
de que algo é ou não é) e pelo raciocínio (uso de dois juízos para chegar a outro). Dessa
forma, toda oração expressaria uma proposição, por exemplo, a frase “eu amo” seria
concebida como “eu sou amante”, seguindo o uso da fórmula “sujeito + verbo ‘ser’ +
atributo”.
O pensamento da GPR foi difundido pelo mundo, chegando também às gramáticas
portuguesas, como é o caso, já no século XVIII, da Regras da lingua portugueza, espelho da
lingua latina (1721), de Jeronymo Contador de Argote (1676-1749). António José dos Reis
Lobato (1721? – 1804?), autor da Arte da grammatica da lingua portuguesa (1770), é um
outro gramático influenciado pela GPR, chegando a citá-la em seu texto, apesar de não usar
seus conceitos adequadamente (BORGES NETO, 2020).

3
Isso não significa que a produção desses séculos não seja importante. No entanto, para a discussão realizada
neste trabalho, a observação de Borges Neto (2018) é suficiente. Para mais informações sobre os estudos
gramaticais nesse período, conferir Borges Neto (2018) e Vieira (2018).
4
Em português: Gramática geral e razoada contendo os fundamentos da arte de falar, explicados de modo claro
e natural.
17

Em território brasileiro, foi apenas no século XIX que começou a produção de


gramáticas de língua portuguesa. De acordo com Polachini (2018), num levantamento de
pretensão exaustiva de gramáticas brasileiras do século XIX, 204 obras foram publicadas no
Brasil durante esse período, sendo 127 edições específicas e 77 reedições.
Todos esses instrumentos linguísticos citados são exemplares da Gramática
Tradicional (GT), uma “maxiteoria” (cf. LAUDAN, 2011) que engloba outras teorias
menores. Para Laudan (2011), a história das disciplinas intelectuais é marcada pela presença
de tradições de pesquisa. Com a Gramática Tradicional – que, segundo Vieira (2020b), com
base nas definições de Laudan (2011), pode ser considerada como uma maxiteoria – não é
diferente. A tradição de pesquisa GT está permeada de teorias menores que a constituem.
Essas teorias estão presentes, por exemplo, nas diversas obras gramaticais publicadas ao
longo dos séculos.
Conforme Vieira (2020b), a GT, como maxiteoria, é atravessada por cinco diretrizes
epistemológicas. Assim, as teorias que historicamente as constituem: i) buscam construir e
ensinar um padrão linguístico idealizado; ii) promovem uma visão de língua invariável e
homogênea; iii) privilegiam a escrita literária do passado; iv) tomam a oração como unidade
máxima de análise; e v) utilizam a terminologia da gramática greco-latina.
A primeira diretriz indicada por Vieira (2020b) é a da construção e do ensino de um
padrão linguístico idealizado. Isso está ligado ao caráter pedagógico da gramática, já que as
primeiras gramáticas gregas serviam como instrumento de reconstrução e de preservação do
grego clássico e como manual pedagógico para comparação de textos literários. Por esse
motivo, a padronização linguística foi necessária, bem como seu ensino.
A segunda diretriz é a da promoção de língua invariável e homogênea. O olhar para o
passado, desde as primeiras gramáticas, é uma forte característica da construção da GT. Tanto
a língua grega quanto a latina foram padronizadas a partir de registros de regiões e de épocas
distintas das que viviam seus agentes padronizadores (VIEIRA, 2020b). As gramáticas
serviam como instrumentos de combate ao uso “inadequado” da língua. Para isso, promoviam
uma língua uniformizada e idealizada, o que é justificado devido ao fato de a gramática
trabalhar numa perspectiva lógico-semântica, ou seja, com a possibilidade de uma oração ser
verdadeira ou falsa, não interessando se ela, de fato, é verdadeira ou não.
A terceira diretriz é a do uso da escrita literária do passado. Ao reconstruir o padrão da
língua grega e latina, como já dito, os agentes buscavam registros escritos de tempos
18

anteriores. Essa literatura pregressa perdurou como exemplar linguístico de gramáticas muito
utilizadas no ensino de língua portuguesa no Brasil publicadas até pouco tempo atrás.
A quarta diretriz é a da oração como unidade máxima de análise. Segundo Vieira
(2020b), desde as primeiras gramáticas greco-latinas, a análise da GT é centrada na oração,
que manifesta um sentido completo, sendo a perfeita expressão de um juízo. Categorias
gramaticais – como a noção de complemento, transitividade e concordância – foram
elaboradas e discutidas por gramáticos ao longo da história para a análise da oração, não para
unidades maiores, como o texto. A gramática tradicional, desde o seu princípio, com os
escritos greco-latinos, não se propôs a analisar objetos maiores, que explicassem aspectos
textuais-discursivos. No entanto, isso não significa que ela não sirva para as análises para as
quais ela majoritariamente se volta: morfológica e sintática. As categorias analíticas
elaboradas para a GT ao longo do tempo foram elaboradas para o tratamento da oração.
Utilizá-las para a análise de dimensões linguísticas maiores seria fugir da teoria da GT.
A quinta diretriz é a da terminologia da gramática greco-latina. Os termos gramaticais
estão ancorados àqueles utilizados nas gramáticas greco-latinas. Eles foram transliterados da
língua grega, provenientes da tradução latina ou formados posteriormente a partir dos radicais
gregos. Essa terminologia atravessa a história e chega até os dias de hoje (VIEIRA, 2020b).
A NGALP (1881) abarca teorias que são englobadas pela GT. É inegável que na obra
há uma continuidade das diretrizes citadas acima, mas, apesar disso, Charles Grivet traz
algumas ideias sintáticas no Brasil que diferem das dos seus autores contemporâneos. Isso
acontece porque, apesar de serem guiadas pelas cinco diretrizes epistemológicas citadas, as
gramáticas do português não são todas iguais.
Diante disso, descrevemos alguns saberes sintáticos presentes na Nova Grammatica
Analytica da Lingua Portuguesa (1881) para que possamos organizar as concepções de Grivet
sobre essa dimensão do conhecimento linguístico. Além disso, realizamos um levantamento
em jornais e revistas brasileiras publicadas entre a metade do século XIX e o início do século
XXI, a fim de que tivéssemos conhecimento de aspectos contextuais da vida de Grivet, da
produção de suas publicações e do momento social, político e cultural no qual o autor estava
inserido, que pode ter influenciado a produção de sua obra e as ideias nela contidas. Com o
mapeamento desse material, também podemos observar a repercussão da gramática na
sociedade da época e vindoura.
A realização deste trabalho está vinculada ao projeto “Historiografia da Sintaxe no
Brasil (HSB): teoria, norma e ensino”, do grupo de pesquisa Historiografia, Gramática e
19

Ensino de Línguas (HGEL), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), coliderado pelo


Prof. Dr. Francisco Eduardo Vieira, orientador desta pesquisa. Outros trabalhos cujo foco é a
historiografia da gramática brasileira já foram e estão sendo desenvolvidos nesse grupo, e essa
dissertação pretende contribuir com essa grande narrativa historiográfica.
Em seguida, apresentamos trabalhos realizados por pesquisadores brasileiros e
estrangeiros sobre a NGALP (1881).

1.2 Outras histórias, outras historiografias

Com o intuito de investigar os trabalhos que já trataram da Nova Grammatica


Analytica da Lingua Portugueza (1881) e/ou do seu autor, Charles Adrien Olivier Grivet,
realizamos uma busca na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, no Google
Acadêmico e no repositório digital de três instituições brasileiras com grupos de pesquisa
consolidados em Historiografia da Linguística, a saber: Universidade de São Paulo (USP),
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e Universidade Estadual Paulista
(UNESP). Para a busca, foram utilizados os seguintes descritores: “Nova Grammatica
Analytica da Lingua Portugueza”, “Nova Grammatica Analytica”, “Charles Adrien Olivier
Grivet”, “Adrien Grivet”, “Charles Grivet” e “Grivet”, com o filtro “Linguística” para área
e/ou nome do Programa de Pós-Graduação de Linguística de cada instituição, no caso dos
repositórios.
Encontramos alguns trabalhos que apenas mencionavam a Nova Grammatica
Analytica e/ou Grivet, com o propósito de contextualizar as produções gramaticais do século
XIX. Esses trabalhos não foram considerados para esse levantamento, de modo que
apresentaremos apenas aqueles que analisam, ainda que em partes, a gramática que é nossa
principal fonte de estudo. Expomos, abaixo, as seis pesquisas encontradas. No Quadro 1,
mostramos as referências completas desses trabalhos, ordenados dos mais descritivos (aqueles
que enfatizam o modo como a gramática está organizada) para os mais interpretativos
(aqueles que, além de apresentarem como a gramática está organizada, elaboram explicações
para as ideias contidas na obra).

Quadro 1 – Levantamento de trabalhos sobre Grivet e sua obra

ASSEN, Wagner. O percurso histórico da gramática no Brasil, observações sobre o advérbio.


Revista Philologus. Rio de Janeiro, v. 24, n. 72, p. 1507-1520, 2018.
20

JESUITA, Cristiano Silva. As Gramáticas Gerais e Filosóficas Tardias do Século XIX. 2014. 114 f.
Dissertação (Mestrado em Língua Portuguesa) – Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, São Paulo, 2014.

FÁVERO, Leonor Lopes; MOLINA, Márcia Antônia Guedes. Nova Grammatica Analytica da
Língua Portuguesa (by Charles Adrien Olivier Grivet). Revista da Anpoll. Florianópolis, v. 1, n.
20, p. 85-101, 2006a.

FÁVERO, Leonor Lopes; MOLINA, Márcia Antônia Guedes. Nova Grammatica Analytica da
Lingua Portugueza – Charles Adrien Olivier Grivet. In: FÁVERO, Leonor Lopes; MOLINA, Márcia
Antônia Guedes. As concepções linguísticas no século XIX: a gramática no Brasil. Rio de
Janeiro: Lucerna, 2006b. p. 111-120.

ROCHA, Fernando Martins. A norma de uso nas construções com a partícula SE e o verbo
haver na gramaticografia de língua portuguesa. 2018. 220 f. Tese (Doutorado em Filologia e
Língua Portuguesa) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São
Paulo, 2018.

PARREIRA, Andressa Dorásio. Contribución de la historia de la gramática brasileña del siglo


XIX. 2011. 417 f. Tese (Doutorado em Análise do Discurso e suas aplicações) – Facultad de
Filología, Universidad de Salamanca, Salamanca, 2011.

Fonte: elaborado pela autora (2022)

O objetivo do artigo de Assen (2018) é analisar as características gramaticais do


século XIX. Para isso, o autor tece uma comparação sobre a noção de advérbio e sobre noções
gerais de gramática na NGALP (1881) e em outras obras – na Grammatica Portugueza
(1866), de Francisco Sotero dos Reis (1800-1871); no Breve Compendio de Grammatica
Portugueza (1817), de Frei Caneca (1779-1825); e na Grammatica Analytica (1887) e na
Grammatica Descriptiva (1894), ambas de Maximino Maciel (1865-1923). Em relação à
Nova Grammatica Analytica, o autor só apresenta a descrição de algumas partes da obra,
como sua divisão e as principais noções de sintaxe, como a teoria das funções, e, num quadro
comparativo com outros autores, tece algumas considerações sobre Grivet, como na
observação feita em “princípios teóricos de base”:

1. Purista conservador se insere no período de transição do período filosófico


e científico.
2. Distancia-se das postulações da gramática filosófica demarcando seu
âmbito teórico na corrente científica.
3. Seus estudos primam pelas marcas de incorreções do uso da língua, tendo
como principal destino professores e acadêmicos. (ASSEN, 2018, p. 1515)

Para esse comentário, o autor se baseia em outros linguistas, como Leonor Lopes
Fávero, Márcia Molina e Ricardo Cavaliere. Vemos, assim, que Grivet, até o momento, é
21

avaliado como um autor de transição entre o “período filosófico” e o “período científico”,


considerando a proposta de periodização linguística de Cavaliere (2001).
A dissertação de Jesuita (2014) busca mostrar que a gramaticografia brasileira não
depende de bruscas rupturas. Para o autor, as gramáticas brasileiras sustentam um
desenvolvimento contínuo e com sobreposição de diferentes correntes teóricas. Para isso,
Jesuita (2014) tem como objeto de estudo a NGALP (1881), de Grivet, e a Grammatica
Portugueza Philosophica (1881), de Ernesto Carneiro Ribeiro (1839-1920). O foco do
trabalho é a descrição das obras, apresentando como conclusão que Grivet se afasta das
orientações da gramática geral e filosófica, se valendo, muitas vezes, das inovações da
corrente científica 5 , tais como as críticas ao verbo substantivo e as teorias da elipse,
afastando-se, segundo o autor, das orientações da gramática geral e filosófica.
Fávero e Molina (2006a, 2006b) têm como objetivo analisar a Nova Grammatica
Analytica. Ambos os textos são predominantemente descritivos: as autoras apresentam alguns
dados biográficos do autor e realizam uma descrição geral da obra. A conclusão das autoras é
a de que a obra reflete as transformações da sociedade do século XIX causadas pelo
desenvolvimento científico, o que repercutiu em diversas áreas da ciência, incluindo os
estudos da linguagem. Isso significa que, para as linguistas, as obras gramaticais desse
período, ainda que valorizassem preceitos da gramática geral e filosófica, inseriam elementos
das novas correntes de estudos linguísticos. Segundo as autoras, Grivet incorporou, por
exemplo, elementos naturais – aqueles tomados das ciências físicas –, como o da substituição.
O autor defende que:

Não é sem estranheza que se nota como o principio da substituição, um dos


mais valiosos promotores hodiernos do progresso nas sciencias physicas,
adapta-se com o mesmo acerto e proficiência aos estudos philologicos,
verificando-se assim novamente a superioridade do METHODO
EXPERIMENTAL sobre o DOGMATICO. Apenas empregado, nos casos
alludidos, a desfazer duvidas de importancia secundaria, elle se torna dahi
em diante um auxiliar indispensável em todas as questões intrincadas, não
deixando difficuldade alguma sem solução satisfactoria. (GRIVET, 1881, p.
60)

A tese de Rocha (2018) tem como objetivo descrever e analisar a partícula “se” em 32
gramáticas brasileiras publicadas entre 1540 e 2010. Uma dessas obras é a Nova Grammatica
Analytica. O autor do trabalho destaca uma inovação de Grivet em relação às vozes verbais. O

5
O termo “corrente científica” (CAVALIERE, 2001) faz parte de propostas de periodização dos estudos
linguísticos (cf. 1.4).
22

gramático, ao comparar as três vozes verbais (ativa, passiva e pronominal), observa que o
significado da voz ativa é incompatível com a das outras duas vozes. Rocha (2018) informa
que,

[s]egundo Grivet (1881), no exemplo ‘Daquella porta para dentro ouvem a


palavra de Deos’, apenas esta voz ativa consegue transmitir a ideia de
pluralidade de ouvintes da palavra de Deus, sendo que as outras duas vozes
(passiva e pronominal) apenas remetem a ideia da singularidade de um
ouvinte da palavra. (ROCHA, 2018, p. 92-93)

Com esse exemplo, Grivet defende que, se o período estivesse na voz passiva –
“Daquela porta para dentro, a voz de Deus é ouvida” – ou na voz pronominal – “Daquela
porta para dentro, ouve-se a voz de Deus” –, não saberíamos se era apenas um ou mais
ouvintes da voz de Deus, como sabemos pela voz ativa. Assim, as noções dessas três vozes
não seriam equivalentes, pois as vozes passiva e pronominal poderiam alterar o sentido da voz
ativa.
Em relação ao verbo, o autor ressalta a análise de Grivet sobre a “substantividade
verbal”, afirmando que a ideia de que todo verbo tem sujeito é falsa. Além disso, outras
observações são feitas ao longo do trabalho, como o fato de o gramático afastar-se da
definição tradicional de “sujeito”, que se torna dependente do verbo – definição abandonada
pelas gramáticas publicadas após a Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), mas adotadas
posteriormente por algumas correntes gerativistas (cf. ROCHA, 2018).
Por fim, a tese de Parreira (2011), a única internacional presente no Quadro 1,
realizada na Universidade de Salamanca, na Espanha, aborda a evolução da gramaticografia
brasileira no século XIX para mostrar que as gramáticas publicadas entre 1817 e 1872 não
representam uma mudança teórica na tradição de estudos linguísticos. O foco da pesquisa não
é a obra de Grivet; o trabalho do autor, no entanto, é analisado em partes por Parreira (2011),
que nos apresenta algumas das concepções do gramático, como i) a ideia de o particípio
formar uma classe de palavra independente; e ii) a proposta de trocar o termo “etimologia”
por “lexicologia”.
Com o levantamento desses artigos, capítulos de livros, dissertações e teses, é possível
perceber que são poucos os trabalhos acadêmicos que abordam a obra que analisamos, e a
maioria não tem como principal objeto de pesquisa – apenas Jesuita (2014) – as ideias
linguísticas de Grivet. Por esse motivo, tomamos as concepções desse gramático,
sistematizadas na NGALP (1881), como foco desta pesquisa.
23

1.3 Charles Grivet: vida e obra

Partes da biografia de Grivet e suas publicações estão documentadas em fontes


diversas, como as citadas na subseção anterior. Somando essas informações ao levantamento
que realizamos na Hemeroteca Brasileira 6 e na Swiss National Library 7 , dois portais que
possibilitam a busca de periódicos, respectivamente, brasileiros e suíços, de várias épocas,
expomos a trajetória pessoal e profissional do autor. A sistematização desses dados contribui
para inferir possíveis influências no pensamento do autor, proporcionando que, com essas
referências, atribuamos sentidos à leitura da NGALP.
Nas primeiras páginas da obra, podemos ler um texto intitulado “Algumas palavras
sobre o professor Grivet”, de autoria desconhecida. Nele, vemos que Charles Adrien Olivier
Grivet nasceu em 1816, em Villars-le-Terroir, Cantão de Vaud, na Suíça. O autor
(desconhecido) do texto inicial da gramática de Grivet afirma que o gramático, durante a
juventude, foi criado nos costumes da religião católica romana. Além disso, em casa, era “[...]
um filho irreprehensivel” (ALGUMAS..., 1881, p. V) e, nas aulas, “[...] um estudante de não
vulgar merecimento” (ALGUMAS..., 1881, p. V).
Apesar do nascimento em Villars-le-Terroir, Grivet era originário de Attalons, cidade
suíça, e cidadão do Cantão de Friburgo, comuna suíça, ambas localizadas a, respectivamente,
64km e 28km, de Berna, capital do país. Em Friburgo, de 1827 a 1836, o autor estudou
francês, latim, grego, história, geografia, retórica, filosofia, matemática, física, química e
direito. Com todo esse conhecimento, o gramático escolheu ser professor e logo recebeu
propostas de trabalho, sendo uma delas a de um general russo. Em 1837, então, na Rússia,
Grivet teve seu primeiro emprego como professor, cumprindo, com respeito e simpatia, o que
lhe era exigido (ALGUMAS..., 1881). Depois disso, voltou para a Suíça e, posteriormente,
em 1843, ocupou o posto de professor na Escola-Média de Friburgo. Foi nessa época que
conheceu sua esposa, Maria Barbosa Franco Grivet (1816-1906) – fundamental para gravar o
sobrenome “Grivet” no Brasil e para publicar a gramática que analisamos.
Enquanto ainda estava na Suíça, Grivet foi membro e secretário da Société d’Histoire
du Canton de Fribourg, inaugurada em 1840 e existente até hoje. Esse grupo se reúne com o

6
Disponível em: http://bndigital.bn.gov.br/acervodigital/. Acesso em 27 jul. 2021.
7
Disponível em: https://www.nb.admin.ch/snl/en/home/collections/digital-collections.html. Acesso em 27 jul.
2021.
24

objetivo de cultivar a história de Friburgo em suas dimensões política, social, econômica,


técnica, religiosa, esportiva, cultural e militar.
Até 1848, a Suíça era uma confederação formada por vários cantões – como o de
Friburgo. Depois desse ano, no qual a constituição foi consolidada, o país se tornou um estado
federal. Um ano antes, em 1847, Friburgo participou da Guerra de Sounderbund, um conflito
civil entre liberais protestantes e democratas católicos. Os protestantes venceram essa guerra,
fundamentando o novo estado nos direitos humanos franceses, na filosofia alemã do estado de
direito e no utilitarismo inglês (PETROV, 2020). É provável que, devido a esses
acontecimentos, Grivet, para se manter fiel a seus princípios católicos, tenha decidido deixar o
país.
Assim, no dia 1º de abril de 1856, Grivet desembarcou no Brasil com um objetivo:
fundar uma escola para meninos. Tanto seu desembarque no Brasil quanto o de sua mulher e
de sua filha, que chegaram no ano seguinte, foram registrados publicamente, como podemos
ver nas Figuras 1 e 2:

Figura 1 – Registro da chegada de Charles Grivet ao Brasil

Fonte: Diário do Rio de Janeiro (RJ) – Ano 1856/Edição 00092

Figura 2 – Registro da chegada da família de Grivet ao Brasil


25

Fonte: Diário do Rio de Janeiro (RJ) – Ano 1857/Edição 00272

Em um dos periódicos suíços, encontramos a informação de que Grivet tentou fundar


a escola para meninos no Pará, estado localizado no Norte do Brasil. Podemos visualizar essa
notícia abaixo, num trecho do jornal suíço Le Chroniqueur, na Figura 3:

Figura 3 – Notícia da tentativa de Grivet de abrir uma escola no Pará8

Fonte: Le Chroniqueur – Ano 1857, p. 3

Não encontramos nenhum registro desse acontecimento nos jornais brasileiros.


Também não encontramos dados que registrem sua estadia no Pará. Por esse motivo, não
temos um conhecimento mais detalhado dessa história. Além disso, não sabemos se Grivet foi
pessoalmente ao Pará e se morou lá. No Brasil, só encontramos registros da passagem e
permanência do autor no Rio de Janeiro, que, na época, era a capital do país.
Em terras cariocas, o gramático suíço tratou de aprender a língua portuguesa para
conseguir seu diploma de capacidade profissional. Depois disso, ele começou a ofertar aulas
particulares de francês e a ensinar a língua em escolas, como na de sua esposa, que, ao
contrário do marido, conseguiu abrir um instituto de ensino. Segundo o texto inicial de sua
gramática, Grivet, na visão da sociedade, era um bom profissional:

[...] a sua [de Grivet] reputação achava-se solidamente firmada na opinião da


sociedade fluminense, em cujo seio elle era recebido com todas as provas de
sincera estima e alto apreço. Ainda hoje, nesta côrte, encontrão-se senhoras,
illustres mãis de familia, que recebêrão as suas lições e que fallão a seu
respeito com verdadeiro enthusiasmo. (ALGUMAS..., 1881, p. VII)

8
“Recebemos cartas da América que dão notícias do nosso concidadão, o honrado professor Grivet, que, nós
sabemos, se demitiu do seu posto no colégio cantonal de Friburgo como resultado da memorável reunião de
Posieux.
M. Grivet está prestes a negociar com o governo do Pará para fundar e organizar um vasto instituto nesse grande
estado do Brasil.” (tradução nossa).
26

Grivet veio para o Brasil, como já dito, com o objetivo de fundar uma escola para
meninos. Embora ele não tenha conseguido abrir essa instituição, sua esposa, Maria Barbosa
Franco Grivet, conseguiu uma autorização para abrir um colégio de instrução primária e
secundária para meninas em Vassouras, cidade localizada a 111km da capital fluminense. Já
Grivet conseguiu uma licença para lecionar francês nesse colégio, conforme a Figura 4:

Figura 4 – Concessão das licenças de Grivet e da sua esposa

Fonte: Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) – Ano 1858/Edição 00135

O colégio foi inaugurado, e, com base no levantamento dos periódicos, podemos


afirmar que a instituição foi amplamente divulgada na época. Na Figura 5, a seguir,
ilustramos uma de suas chamadas de divulgação:
27

Figura 5 – Divulgação do colégio de meninas da Madame Grivet

Fonte: Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) – Ano 1858/Edição 00303

O colégio era bem visto pela sociedade, sendo apreciado, especialmente, pela
educação cristã e por formar as meninas para serem donas de casa, conforme algumas críticas
públicas da época. Além da criação cristã de Grivet, a educação da escola também teve
influência da própria Madame Grivet, que, na Suíça, foi educada com as irmãs Ursulinas,
congregação cristã, e com as senhoras do Coração de Jesus, outra congregação cristã. Não
28

apenas o sistema de ensino e o corpo docente eram elogiados, mas também a estrutura física
do colégio. No entanto, em 1862, ocorreu um problema decorrente de chuvas, de maneira que
a escola ficou sem aulas por um tempo. Na Figura 6, vemos a publicação desse evento:

Figura 6 – Notícia do fechamento temporário do Colégio da Madame Grivet

Fonte: Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1862/Edição 00002

Somente após quatro anos, em 1866, o colégio foi reaberto:

Figura 7 – Notícia da reabertura do Colégio da Madame Grivet

Fonte: Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1866/Edição 00085

Entre o fechamento, por causa dos danos físicos, e a reabertura do colégio, Charles
Grivet publicou sua primeira gramática. Antes de apresentá-la, é importante considerarmos,
dados os problemas com o colégio, a possibilidade de a publicação da gramática ter sido
29

motivada pela necessidade do casal de conseguir dinheiro para se manter e para reabrir a
escola. O anúncio abaixo corrobora essa ideia:

Figura 8 – Oferta de aulas particulares de Grivet9

Fonte: Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1866/Edição 00049

Na Figura 8, podemos ver que, em 1866, mesmo com a reabertura do colégio da


esposa e com a publicação de sua primeira gramática, o gramático procurava outros trabalhos
em escolas particulares ou com aulas privadas em casa. Feita essa observação, passemos,
então, para a apresentação da sua primeira gramática.

1.3.1 A Grammatica Analytica da Lingua Portugueza (1865), primeira gramática de C. A.


O. Grivet10

A obra publicada por Grivet em 1865 foi a Grammatica Analytica da Lingua


Portugueza, precursora da Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza. Podemos ver
algumas menções a essa primeira gramática em catálogos das livrarias da época, como
mostram as Figuras 9 e 10:

9
“Adriano Grivet offerece-se para leccionar em collegios e casas particulares, sendo as materias de que se
incumbe as seguintes : língua e litteratura franceza, geographia, physica experimental, e bem assim grammatica
portugueza pelo systema de que é autor. Os recados recebem-se na rua de S. Pedro n. 68, armazém”.
10
Em e-mail trocado por nós com Ricardo Cavaliere, o linguista informou que já teve contato com a edição de
1865, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, mas, na ocasião, não era permitido tirar fotografias ou fazer
cópias do material. Dessa forma, todas as informações sobre a primeira gramática do autor foram coletadas a
partir de outros trabalhos de pesquisa, da NGALP e, principalmente, do levantamento realizado nos periódicos.
30

Figura 9 – Catálogo de uma livraria que ofertava a primeira gramática de Grivet

Fonte: Correio Paulistano (SP) – Ano 1865/Edição 02702

Figura 10 – Anúncio de venda da primeira gramática de Grivet

Fonte: Jornal do Commercio (RJ) – Ano 1866/Edição 00156

A sua primeira gramática, nos anos próximos do seu lançamento, era vendida por
2$000 (dois mil réis). O historiador Laurentino Gomes (2007) faz uma conversão do valor dos
réis utilizados na época da vinda da corte portuguesa para o Brasil (início do século XIX) para
o valor do real (R$) brasileiro na época da publicação do seu livro. De forma resumida, uma
mercadoria vendida no Rio de Janeiro daquela época por 4$000 (quatro mil réis) equivaleria,
em 2007, a uma compra de $100 (cem dólares americanos). No Brasil de 2007, esses dólares
equivaleriam a um valor próximo de R$220. Hoje, esse valor seria de aproximadamente
R$505.
O site Diniz Numismática 11 , administrado por Bruno Diniz, historiador e cientista
político, também nos fornece algumas informações que podem ajudar na conversão. No

11
Disponível em: https://www.diniznumismatica.com/2015/11/conversao-hipotetica-dos-reis-para-o.html.
Acesso em 03 jul. 2021.
31

portal, encontramos que 1$000 (mil réis) equivaleria, hoje, ao poder de compra de R$123. Isto
é, o poder de compra dessa primeira gramática de Grivet, que chegou a ser vendida por 2$000
(dois mil réis), nos dias atuais, considerando a inflação, seria equivalente à compra de um
livro de aproximadamente R$250. Dessa forma, vemos que a aquisição da obra era cara,
inacessível à parte da população.
Em 1869, quatro anos após a publicação de sua primeira gramática e treze anos após
sua chegada no Brasil, Grivet recebeu uma proposta de retorno à Suíça. Pensando em ajudar
sua filha, Carolina Grivet, que estava com tuberculose, ele decidiu voltar para seu país de
origem. No entanto, enquanto ainda estava no Brasil, a doença da filha se agravou, e ela
faleceu antes de sua partida. A ocasião também foi registrada na imprensa da época, como
vemos na Figura 11:

Figura 11 – Registro da morte de Carolina, filha de Grivet

Fonte: Jornal do Commercio (RJ) – Ano 1869/Edição 00173

Por não querer se separar da terra em que estava o corpo da filha, Grivet recusou a
proposta da Suíça e decidiu continuar no Brasil.

1.3.2 A Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza (1881), de C. A. O. Grivet

No decorrer desses acontecimentos, Grivet já dedicava-se ao ajuste da sua primeira


gramática e à ampliação de suas ideias. Em 1874, esse trabalho já estava finalizado, e o autor
apenas aguardava recursos para que a nova gramática fosse publicada. Contudo, a vontade do
suíço não seria realizada em vida, pois, em 14 de janeiro de 1876, “[...] o illustre mestre
deixou de existir!” (ALGUMAS..., 1881, p. VIII). Na Figura 12, visualizamos a notícia de sua
morte:
32

Figura 12 – Registro da morte de Charles Grivet em jornal brasileiro

Fonte: Jornal do Commercio (RJ) – Ano 1876/Edição 00015

Apesar de ter deixado a Suíça há 20 anos, Grivet ainda era lembrado pelas pessoas que
lá viviam, conforme a Figura 13:

Figura 13 – Notícia da morte de Grivet em jornal suíço12

Fonte: Le Chroniqueur – 10 February 1876 (p. 3)

Em 1881, enfim, a Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza foi publicada.


A obra tem 626 páginas, 341 a mais do que a antecessora, o que demonstra o esforço do autor
para aperfeiçoar seu trabalho. Abaixo, na Figura 14, vemos um dos primeiros anúncios de
venda publicados na época:

12
“Agradecemos por inserir o aviso que segue:
Os antigos alunos da Escola Média, habitantes de Friburgo ou de seus arredores, estão convidados a gentilmente
irem ao funeral que será feito a St-Nicolas, na segunda-feira, dia 14 de fevereiro do ano corrente, às 8h30, a
favor de M. Adrien Grivet, antigo professor da Escola Média.
Todos os alunos da Escola Média tentarão se empenhar nesse último dever a seu amado e saudoso professor”
(Tradução nossa)
33

Figura 14 – Anúncio de venda da Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza

Fonte: Gazeta de Noticias (RJ) – Ano 1881/Edição 00161


34

A obra foi publicada pela tipografia Leuzinger, fundada por George Leuzinger (1813-
1892), originário do Cantão de Glarus, na Suíça, localizado a 123km da capital. O tipógrafo
chegou ao Brasil em 1832 e, aos poucos, foi construindo uma das tipografias mais bem
equipadas do país, publicando também edições de obras como A Moreninha, de Joaquim
Manuel de Macedo (1820-1882). Segundo Hallewell (2017), na opinião de Melo Morais
Filho, Leuzinger conheceu quase todos os imigrantes falantes de francês e de alemão que
chegaram ao Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX. Isso explica sua ligação com a
obra de Grivet, havendo a possibilidade de eles terem se conhecido ou não.
Na primeira publicação que encontramos sobre sua venda, em 1883, a segunda
gramática de Grivet custava 8$000 (oito mil réis) – o equivalente, hoje, a aproximadamente
R$1000. Já na última, em 1947, ela era vendida por 200 cruzeiros13. Em todos os anúncios
encontrados, a obra aparecia na categoria “filologia”.
Sobre a Madame Grivet, a última notícia registrada sobre ela é a de sua morte, em
1906, aos 90 anos, como pode ser visto na Figura 15:

13
Em 1947, o salário mínimo mensal era de Cr$380 (trezentos e oitenta cruzeiros), de acordo com o site Diário
das Leis. Nota-se, então, que a gramática custava mais da metade de um salário. Para mais informações sobre o
histórico do salário mínimo no Brasil, conferir:
https://www.diariodasleis.com.br/monetaria/exibe_indice.php?id_indice=15. Acesso em 28 out. 2021.
35

Figura 15 – Notícia da morte da Madame Grivet

Fonte: Gazeta de Noticias (RJ) – Ano 1906/Edição 00248 (1)

Assim, em 1906, foi encerrada a existência física da família Grivet no Brasil. As


ideias de Charles Grivet, no entanto, repercutiram até o fim do século XX, como mostrado
abaixo:
36

Figura 16 – Texto “Conheça a gramática”, de Napoleão Mendes de Almeida

Fonte: O Poti (RN) – Ano 1984/Edição 00043

Na Figura 16, lemos um texto escrito por Napoleão Mendes de Almeida (1911-1998),
um dos mais importantes gramáticos e filólogos do século XX (BORGES, 2008). Uma das
publicações mais famosas do autor é a Gramática Metódica da Língua Portuguesa, cuja
primeira edição foi publicada em 1943, e a última, a 46ª edição, em 2009 (VIEIRA, 2018). É
interessante observar que, mesmo 103 anos após a publicação da Nova Grammatica
Analytica, e 108 após a morte de Grivet, o autor continuou como referência no estudo da
37

língua portuguesa e de outros gramáticos, como é o caso de Napoleão Mendes de Almeida,


cujas ideias também influenciaram outros estudiosos da linguagem.
A última aparição de Grivet em um jornal brasileiro pode ser vista abaixo, na Figura
17:

Figura 17 – Texto “Erros de linguagem no uso cotidiano”, de Cécil Meira

Fonte: Diário do Pará (PA) – Ano 1989/Edição 02229 (1)

O texto foi escrito por Cécil Meira (1914-?), escritor e jornalista que contribuiu com
algumas publicações para a língua e a literatura portuguesa, como Introdução ao estudo da
literatura (1965). No trecho em destaque na figura acima, Meira cita dois estrangeiros como
exemplo para estudo da língua portuguesa: Grivet e Frederico Diez. Podemos ler que “[...]
uma das melhores gramáticas da língua portuguesa é da autoria de um professor suíço, sr.
Grivet [que] publicou e sistematizou os fenômenos da lingüística portuguesa sob o nome
‘Nova Gramática Analítica da Língua portuguesa’”. Outro comentário do autor é o de que:
38

“[c]itamos esses dois grandes mestres estrangeiros [Grivet e Frederico Diez] [...] como
exemplo para juventude brasileira, que deve, com seus estudos, e com sua inteligência,
enobrecer cada vez mais o rico idioma português”.
Com esse percurso de Grivet, podemos ver que o autor, apesar de não ter sido falante
nativo da língua portuguesa, ganhou prestígio como professor de português e como autor de
uma gramática de língua portuguesa. Parte desse mérito também se deve à Madame Grivet,
que, como dona de uma instituição de ensino, também contribuiu para a imagem dos Grivet
na sociedade brasileira do século XIX.
A gramática póstuma do autor, como consequência, prolongou seu legado e chegou a
ser utilizada pelas escolas públicas brasileiras. Também é possível vermos a influência que ela
exerceu em gramáticos dos séculos posteriores, chegando, por exemplo, a Napoleão Mendes
de Almeida.

1.4 Perguntas

Motivados pela investigação do pensamento do gramático suíço sobre a sintaxe, nossa


principal questão de pesquisa é: quais são os principais conhecimentos sintáticos elaborados
por Charles Adrien Olivier Grivet na Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza
(1881)?
A partir desta pergunta central, elaboramos outros questionamentos, que estão
elencados abaixo:

i. como acontecimentos e ideias políticas, científicas e socioculturais do período que a


Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza (1881) foi produzida refletem as
orientações epistemológicas da obra?
ii. quais e como conhecimentos sintáticos são sistematizados na gramática?
iii. quais são os movimentos de continuidade e de ruptura estabelecidos pelo autor entre a
abordagem sintática da obra e o contexto intelectual da época?
iv. de que modo a metalinguagem e as definições presentes na obra dialogam com o
arcabouço categorial e conceitual da gramaticografia greco-latina ou com algum outro
modelo teórico dos estudos da linguagem?
39

Essas perguntas guiam o percurso da nossa narrativa historiográfica e orientam nossas


descrições, análises e interpretações sobre o objeto analisado e sobre o material secundário
levantado.

1.5 Objetivos

O objetivo geral desta pesquisa é investigar os principais conhecimentos sintáticos


elaborados por Charles Adrien Olivier Grivet na Nova Grammatica Analytica da Lingua
Portugueza (1881). Para que isso se torne possível, determinamos os seguintes objetivos
específicos:

i. compreender como acontecimentos e ideias políticas, científicas e socioculturais do


período que a Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza (1881) foi produzida
refletem as orientações epistemológicas da obra;
ii. descrever e interpretar quais e como conhecimentos sintáticos são sistematizados na
gramática;
iii. identificar movimentos de continuidade e de ruptura estabelecidos pelo autor entre a
abordagem sintática da obra e o contexto intelectual da época;
iv. contrastar a metalinguagem e as definições presentes na obra com o arcabouço
categorial e conceitual da gramaticografia greco-latina ou com algum outro modelo
teórico dos estudos da linguagem.

1.6 Justificativa

A gramaticografia da língua portuguesa, em seu princípio, privilegiou o estudo dos


fenômenos que hoje conhecemos como fonético/fonológicos e morfológicos. A sintaxe,
quando comparada a essas outras dimensões linguísticas, possui pouco espaço nos estudos
gramaticais até o século XVIII. Nos séculos seguintes, as reflexões sintáticas ganharam um
espaço maior no pensamento gramatical. A gramaticografia brasileira, que teve início no
século XIX, acompanhou esse movimento e deu atenção especial à sintaxe nas suas
investigações (cf. BORGES NETO, 2020). Os produtos elaborados durante a história da
sintaxe – tanto da sintaxe geral quanto da sintaxe de língua portuguesa, sobretudo a do
português do Brasil – são refletidos até hoje em nosso jeito de pensar as questões gramaticais,
40

o que tem consequências para o ensino de português, sobretudo na educação básica. Vários
capítulos da trajetória dos estudos sintáticos ainda precisam ser (re)narrados, para que, no
atual estado da Linguística, possamos ter consciência da história das ideias sobre nossa
língua.
Tendo em vista a importância de construirmos, enquanto grupo de pesquisa, uma
historiografia da sintaxe no Brasil, um projeto extenso e que demanda muitos recursos, este
trabalho é significativo porque faz parte dessa grande narrativa, pois foca uma gramática
brasileira da língua portuguesa, que, mesmo escrita por um estrangeiro, teve repercussão até o
final do século XX, segundo as fontes levantadas por nós (Apêndice D).
Compreender os motivos que levam uma obra publicada em 1881 a ser citada como
argumento de autoridade linguística durante todo o século XX, poucos anos distantes de nós,
é interessante para refletirmos sobre nossa relação atual com a gramática, sobretudo com a
sintaxe. A Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza, como produto linguístico e
historiográfico, é uma das heranças deixadas por aqueles que nos antecederam para hoje, nós,
estudiosos da linguagem, entendermos o desenvolvimento de alguns processos linguísticos.
Além dos motivos citados, poucas são as pesquisas sobre as obras de Charles Grivet.
A análise de suas ideias, nesta pesquisa, considera fatores externos (históricos, sociais etc.) e
fatores internos (o texto da gramática) para a interpretação do conjunto da obra. O resgate do
trabalho de Grivet, portanto, pode nos ajudar a entender e a repensar alguns aspectos das
concepções atuais de sintaxe.

1.7 Organização da dissertação

Nesse capítulo, apresentamos o tema e o objeto da pesquisa, o estado da arte, as


perguntas, os objetivos e as justificativas para realização deste trabalho. A seguir, expomos,
de modo resumido, o que se encontra nos próximos capítulos.
No capítulo 2, “Historiografia da Linguística e suas categorias de análise”, a fim de
contextualizar o leitor sobre o aparato teórico-metodológico que orienta este trabalho,
discorremos sobre o que é a HL, segundo seus principais pesquisadores, e as principais
categorias de análise utilizadas nesta pesquisa.
No capítulo 3, “Procedimentos para realização da pesquisa”, apresentamos a
metodologia utilizada para a execução de nosso trabalho. Nessa parte, apresentamos as três
41

fases gerais de uma pesquisa historiográfica, a fonte historiográfica, o método de análise


dessa fonte e o levantamento das fontes secundárias.
No capítulo 4, “O Brasil do século XIX: história, gramática, sociedade e educação”,
estabelecemos o clima de opinião que permeou a obra. Para tanto, é apresentado o contexto
no qual a obra foi publicada, englobando os aspectos históricos e sociais gerais, o ensino de
língua portuguesa no período e as ideias linguísticas que permeavam a época.
No capítulo 5, “A Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza e sua
abordagem sintática”, analisamos o modo como Charles Grivet trata a sintaxe. Para tanto, nos
guiamos pela camada contextual, teórica, técnica e documental da obra.
No capítulo 6, “Considerações finais”, sintetizamos os principais resultados obtidos
com a pesquisa e tecemos alguns últimos comentários sobre todo o trabalho, indicando,
também, novos caminhos de pesquisa.
Em “Apêndices”, encontramos o levantamento das fontes secundárias, que está
separado em i) vida pessoal de Grivet (Apêndice A), ii) vida profissional de Grivet (Apêndice
B), iii) gramáticas de Grivet (Apêndice C) e iv) temas gramaticais de Grivet (Apêndice D).
42

2 HISTORIOGRAFIA DA LINGUÍSTICA E SUAS CATEGORIAS TEÓRICAS E


ANALÍTICAS

Neste capítulo, expomos a base teórico-metodológica na qual a nossa pesquisa está


ancorada. Primeiramente, apresentamos a disciplina Historiografia da Linguística (HL).
Depois, explicamos os princípios de uma análise historiográfica, abarcando o tratamento dado
à metalinguagem. Em seguida, discorremos sobre as principais categorias utilizadas para a
realização do trabalho. Nossos principais guias teóricos são Altman (2003, 2012), Batista
(2019), Koerner (1996, 2014a, 2014b), Murray (1998) e Swiggers (2004, 2009, 2010, 2013,
2019).

2.1 Historiografia da Linguística: a disciplina e o papel do historiógrafo

Antes de comentarmos sobre o que é e o que faz a HL, é necessário explicar o que é a
Linguística para essa disciplina. Altman (2012) afirma que:

[o] conhecimento sobre a linguagem, formalizado ou não, institucionalizado


ou não, fez parte da vida intelectual de muitos povos antes do século XIX,
sob outras formas e sob diferentes designações. Não há razão alguma por
que devam ser excluídos das historiografias linguísticas contemporâneas que
se propõem abrangentes, ou mesmo daquelas mais especializadas, que se
erigem a partir de problemas específicos e das respostas dadas a esses
problemas. De uma perspectiva ampla, o termo linguística pode se referir a
qualquer estudo sobre a linguagem que tenha sido feito pelo homem, onde
quer que se encontrem dele vestígios de documentação. (ALTMAN, 2012, p.
20)

A autora defende que o conhecimento sobre a linguagem é anterior aos eventos do


século XIX – como é o caso da publicação da gramática que analisamos. Nesse sentido,
estudos que antecedem esse século devem ser incluídos no escopo dos saberes da linguagem.
Então, para Altman (2012), a Linguística abarca as ideias sobre a linguagem através do
tempo, desde que seus vestígios sejam encontrados. Essa disciplina une os conhecimentos e as
reflexões atreladas aos fenômenos da linguagem e à história da língua, independentemente de
sua periodização.
Tendo em vista essa concepção de Linguística, podemos afirmar que a HL é uma
disciplina que procura interpretar, por meio de narrativas descritivas e explicativas, como o
conhecimento sobre a linguagem foi produzido em determinado contexto social e cultural
43

através do tempo (SWIGGERS, 2009). O objeto da Historiografia da Linguística não é a


língua, mas as ideias construídas sobre a língua e sobre a linguagem no decorrer da história.
É importante frisar que cabe à HL não apenas expor uma história, mas, por meio do
diálogo com outras ciências e com base em fontes de pesquisa, interpretar narrativas, já
existentes ou não, e (re)construí-las. A disciplina pode se apresentar de várias formas, a
depender do objeto e do objetivo do historiógrafo. A seguir, mostramos algumas
possibilidades historiográficas. Como nosso intuito não é produzir um manual introdutório
sobre a HL, focaremos os aspectos que interessam ao desenvolvimento da nossa pesquisa.
Swiggers (2019) apresenta possíveis caminhos a serem seguidos numa pesquisa de
cunho historiográfico. O que o autor chama de “cobertura da pesquisa” diz respeito às
questões que podem ser levantadas pela HL. Esses tópicos são complexos, já que podem
envolver uma gama de agentes, contextos, produtos, entre outros. Dessa forma, o pesquisador
propõe a realização de quatro perguntas para organizar a cobertura da Historiografia da
Linguística:

i) que tipos de (partes de) conhecimento linguístico foram elaborados no passado?


ii) por quais processos o conhecimento linguístico foi produzido, difundido e
“recebido”?
iii) como esse conhecimento linguístico foi enquadrado?
iv) em que (tipos de) contextos o conhecimento linguístico foi produzido,
transmitido, “recebido”?

Em nosso estudo, o tipo de interesse linguístico abordado é o gramatical, que consiste


num conhecimento (sub)sistêmico da linguagem. Esse saber foi produzido por um autor,
Grivet, e divulgado numa obra impressa, difundida por livrarias que a comercializavam para
cidadãos em geral, apesar de professores de português serem seu público-alvo. Em relação ao
enquadramento do conhecimento linguístico que estudamos, ou seja, o formato e a forma de
expressão do conteúdo, temos uma mistura de dois tipos listados por Swiggers (2019):
proposicional e modular. Proposicional porque Grivet faz afirmações e negações sobre a
língua, e modular porque o gramático estabelece um modelo teórico de análise. Sobre o
contexto em que a obra circulou, este foi, predominantemente, científico, visto que a maior
parte da circulação da gramática foi em escolas, na época, já responsáveis pelo processo de
educação formal.
44

A periodização da pesquisa historiográfica pode ser externa (em virtude de eventos


definidos por fatores políticos, econômicos e científicos), interna (por causa de propriedades
caracterizadoras de determinado período) ou mista. A área problemática pode abarcar tópicos
relevantes, fatos ou agentes atuantes. Nesta pesquisa, temos a periodização de uma história
interna de um agente atuante, uma vez que nos concentramos na obra de um autor específico.
Os requisitos quantitativos e qualitativos definidos por Swiggers (2019) para uma
pesquisa historiográfica dizem respeito à quantidade de textos-fontes pertinentes à pesquisa, à
cobertura exaustiva de dados biográficos e bibliográficos, ao diálogo com a literatura
secundária e à exposição da pesquisa. Destacamos, aqui, a importância da pretensão de
exaustividade numa pesquisa historiográfica. Quando procuramos documentos ou trabalhos
que já trataram sobre nosso objeto, é interessante que busquemos o máximo de informações
possíveis em variadas fontes.
É imprescindível que o historiógrafo, devido a seu papel de descrever e de interpretar
o conhecimento linguístico, tenha formação em Linguística, já que “[...] a falta de uma
formação completa e abrangente em Linguística é prejudicial a qualquer tentativa de uma
prática séria da Historiografia Linguística” (SWIGGERS, 2019, p. 55). Para analisar os
estudos da linguagem, o pesquisador deve conhecer os interesses e os métodos dessa
disciplina. Além disso, deve ter a capacidade de projetar os problemas no passado,
considerando o contexto cultural, social e político da época e evitando os anacronismos. Com
a finalidade de possibilitar esse processo, é preciso que o estudioso, a depender de seu objeto
de estudo, se dedique ao conhecimento dos fundamentos de outras ciências que sejam
pertinentes a seu objeto e a seu objetivo de pesquisa.
A fim de sintetizar a Historiografia da Linguística, consideramos pertinente
reproduzir, na Figura 18, um esquema adaptado de Swiggers (2010):
45

Figura 18 – Organograma da Historiografia da Linguística

Fonte: adaptada de Swiggers (2010, p. 4)

O primeiro item do organograma, “estruturas e fatos linguísticos”, é o objeto da


Linguística. Essas estruturas e esses fatos linguísticos são situações e padrões da língua e da
linguagem. Já o segundo elemento, “reflexão e descrição linguística”, é a própria Linguística,
isto é, as ideias sobre língua e linguagem. Por esse motivo, existe uma seta partindo desse
elemento (a disciplina) para o primeiro (seu objeto). A “epi-historiografia”, que se apresenta à
esquerda da figura, se ocupa da documentação sobre agentes e produtos históricos, ou seja, do
levantamento de dados para que se chegue à HL. O símbolo “╔”, entre “reflexão e descrição
linguística” e “epi-historiografia”, indica a relação factual entre esses dois elementos. Já a seta
de duas pontas entre “Epi-historiografia” e “Historiografia da Linguística” sinaliza a
necessidade de uma documentação para que se possa constituir uma pesquisa historiográfica.
O último elemento, “meta-historiografia”, é o quadro teórico-metodológico da
Historiografia da Linguística. Ele é necessário para que nos localizemos num ponto de vista
cientificamente fundamentado. A meta-historiografia, para Swiggers (2010), é dividida em i)
construtiva, porque apresenta o arcabouço geral da disciplina; ii) crítica, porque critica os
produtos provenientes do trabalho historiográfico; e iii) especulativa ou contemplativa,
porque busca refletir filosoficamente sobre os produtos historiográficos. A meta-historiografia
serve para melhorar a compreensão das dimensões da pesquisa historiográfica, o que pode ser
feito através de vários meios: documentação, contextualização e elaboração do aparelho
hermenêutico.
46

Resumidamente, o organograma pode ser lido da seguinte forma: a língua (primeiro


elemento) é analisada pela Linguística (segundo elemento), que é objeto da Historiografia da
Linguística (quarto elemento). A epi-historiografia (terceiro elemento) media a relação entre a
HL e a Linguística, pois lida com informações sobre os agentes e sobre os produtos materiais
envolvidos com informações de outras áreas. Já a meta-historiografia (quinto elemento) é a
reflexão sobre a relação de todos esses elementos.
Apesar de ser relativamente nova, a HL é bastante complexa. Ainda vale a pena
expormos um trecho de Swiggers (2013) sobre a importância dessa disciplina para a formação
do pesquisador de Linguística:

[d]iante do menosprezo que se nota, ao menos em certos países, a respeito da


historiografia da linguística, há de ressaltar sua importância cognitiva e
educativa. A história das reflexões e dos esforços envidados em prol do
fenômeno da linguagem é uma parcela essencial de nossa história como
seres humanos, e seu estudo não só nos ensina muito sobre a história da
linguística (e sua proto-história), como também sobre o papel central que
exerceu e ainda exerce a linguagem na história das culturas, das sociedades,
das atividades intelectuais da humanidade. (SWIGGERS, 2013, p. 49)

Olhar para o passado é ter ferramentas para lidar com os problemas do presente. A
história nos permite entender nosso atual contexto. As teorias linguísticas que conhecemos
hoje não surgiram do nada. Ideias que pensamos serem novas e “revolucionárias” já existem
desde a Antiguidade. Ter consciência dos conhecimentos linguísticos ao longo do tempo e
interpretá-los é construir novos horizontes de pesquisa e de ensino para o presente.

2.2 Tratamento da metalinguagem: adaptando o passado

Outro ponto que tem sido debatido na HL – de grande importância para nosso trabalho
– é a questão da metalinguagem. O conceito de um termo científico muda ao longo do tempo.
A própria palavra “metalinguagem” teve seu sentido alterado no decurso das épocas. Segundo
Rosa (2020), para Roman Jakobson, a metalinguagem era a comunicação voltada para a
comunicação, ou seja, a utilização da língua para falar dela mesma. Esse sentido acompanhou
a formação de muitos linguistas brasileiros, mas não era o único nem o original. O termo
“metalinguagem” não era da área da Linguística, era da Lógica (KOERNER, 2014a), então,
quando foi adaptado para os estudos da linguagem, sofreu alterações.
Para John Lyons, de acordo com Rosa (2020), metalinguagem seria o uso de uma
língua para descrever uma outra, em vez de usar uma língua para se descrever. Assim, surgiu
47

a distinção entre linguagem-objeto, que pode ser uma língua natural, e a metalinguagem, que
é um instrumento científico que fala da linguagem. Esse primeiro sentido, também utilizado
por Koerner (2014a), é o que utilizamos aqui, o da metalinguagem que engloba termos que se
referem a elementos da língua e à relação entre eles.
Ao analisar um texto escrito em outra época, o historiógrafo, no momento presente, se
depara com termos não mais utilizados naquele momento da ciência. Embora o estudioso não
possa fugir do vocabulário moderno, ele deve ter cuidado ao usá-lo. É importante discutir esse
tema porque “[...] pelo menos uma parte do sucesso ou fracasso do historiógrafo da linguística
depende de como lida com o problema da ‘metalinguagem’” (KOERNER, 2014a, p. 78).
A questão da metalinguagem, então, é observar “[...] a linguagem empregue para
descrever ideias do passado sobre a linguagem e a linguística [...]” (KOERNER, 2014c, p.
57). Um exemplo de como a metalinguagem pode ser um problema é o conceito de
arbitrariedade em Saussure. Koerner (2014c) afirma que essa noção saussuriana tem sido
usada para discutir a semiótica dos estoicos (séc. III a.C.), como se eles tivessem lido o Curso
de Linguística Geral (1916) e os artigos de Charles S. Pierce (1839-1914).
Trabalhar apenas com os metatermos da obra analisada afastaria a compreensão de
outros estudiosos da linguagem sobre o texto do historiógrafo, segundo Koerner (2014a). Por
outro lado, ao usar uma terminologia atual para se referir ao texto analisado, o pesquisador
corre o risco de distorcer as teorias linguísticas do passado. Para resolver esse impasse, a
adaptação ao vocabulário moderno deve ser feita, mas com o devido cuidado para não falsear
ideias linguísticas do material analisado, causando distorções historiográficas. Para que
equívocos sejam evitados, Koerner (2014c) sugere a aplicação de três princípios na análise
historiográfica: o da contextualização, o da imanência e o da adequação.
O princípio da contextualização é caracterizado por uma análise histórica e intelectual,
isto é, pela busca de fontes históricas, com o intuito de tomar conhecimento do que acontecia
no período de publicação do material analisado. Isso não significa que o historiógrafo deva
resenhar fontes e contextualizar tudo o que acontecia, mas realizar recortes das partes da
história que dialoguem com seu objeto. Já a análise intelectual se refere aos aspectos
específicos que se relacionam com o produto historiografado, isto é, quais eram as
concepções epistemológicas das outras disciplinas que dialogam com o objeto.
O segundo princípio trata da análise do texto em sua imanência, ou seja, em seu
próprio quadro teórico, visto que o texto é considerado como um sistema de ideias sobre a
linguagem. Para isso, o pesquisador deve analisar seu objeto dentro de organização
48

sistemática desse objeto e conhecê-lo a partir da relação que ele estabelece com outras teorias,
com outros elementos dentro do sistema investigado, que estão documentados em uma fonte
historiográfica. É importante destacar que o quadro geral da teoria e a terminologia utilizada
devem ser definidos internamente, não em relação a alguma teoria da Linguística moderna.
Por último, no princípio da adequação, o historiógrafo, depois de ter contextualizado e
analisado seu objeto, pode estabelecer comparações com as ideias linguísticas de seu tempo e
de outros tempos. Assim, o pesquisador precisa indicar para seu leitor o fato de as
aproximações terem sido feitas por ele, o que significa ser explícito nas adaptações que está
propondo.
Acerca desses três princípios, Koerner (2014c, p. 59) ainda pontua:

[...] [se], e somente se, estes três princípios, isto é, a contextualização


histórica e intelectual, a análise do texto no seu próprio quadro teórico [...] e
uma descrição clara das ferramentas empregues na tentativa de tornar o texto
mais facilmente acessível ao linguista moderno, estão a ser adequadamente
tidos em conta, é que se pode esperar que distorções sérias das ideias e
intenções dos linguistas, dos filósofos da linguagem, ou dos gramáticos do
passado possam ser evitadas.

Para o autor, então, esses três princípios podem auxiliar o historiógrafo da linguística a
trabalhar com a metalinguagem de fontes historiográficas e a não cometer anacronismos,
adaptando o arcabouço teórico à linguagem moderna em seu contexto intelectual e a seu
quadro teórico. Dessa forma, o pesquisador evita a distorção histórica e o distanciamento
entre sua pesquisa e os atuais leitores.

2.3 Influência: motivações e inspirações para produção

Quando Auroux (2014) trata de “horizonte de retrospecção”, ele se refere aos


acontecimentos passados, muitas vezes esquecidos, que interferem nas práticas do tempo
presente. O passado, que atua por meio da memória, ajuda a planejar e a organizar o futuro,
visto que ideias e pensamentos não surgem do nada. A história de cada indivíduo molda seus
interesses, seu jeito de agir, seu modo de pensar e de se comportar. A questão da influência na
Historiografia da Linguística ainda é de difícil definição. Koerner (2014b) chama a atenção
para o fato de que esse termo costuma ser utilizado por pesquisadores sem o definirem em
seus trabalhos, como se seu sentido fosse dado pelo senso comum.
49

No entanto, existem diferentes tipos de influência. É por isso que consideramos


pertinente expor o que entendemos por essa categoria de análise. Antes, é preciso atentar para
a importância do estudo da influência em qualquer trabalho historiográfico. Sobre isso,
Cavaliere (2020) afirma:

[...] a investigação sobre o fenômeno da influência no corpo da sociedade


contribui decisivamente para que entendamos por que certas crenças –
religiosas, políticas, artísticas e científicas – ganham prestígio e perduram no
decurso do tempo, ao passo que outras caem no esquecimento das coisas
irrelevantes. (CAVALIERE, 2020, p. 133)

Nem sempre o trabalho mais elaborado ganha destaque na história da Linguística, e


nem sempre o que ganha destaque é o mais elaborado. Algumas ideias são prestigiadas, e
outras não o são devido a fatores externos a elas, como posicionamentos políticos. Em razão
disso, é importante estudarmos o contexto social e histórico que permeia nosso objeto de
estudo.
O historiógrafo da Linguística pode observar os pensamentos que perpassaram a
produção do seu objeto em análise por meio de referências textuais. Entretanto, essas
referências não estão presentes em todos os materiais analisados. Cavaliere (2020) comenta
que o hábito de oferecer referências explícitas de obras e de autores consultados, no Brasil, só
se estabeleceu na segunda década do século XX. Dessa forma, uma alternativa sugerida pelo
autor é a de que, nesses casos,

[a] ausência de referência explícita das obras e autores consultados pode ser
suprida pela análise contextualizada do texto linguístico, seja no interior de
um dado paradigma, seja pela via da metalinguagem utilizada.
(CAVALIERE, 2020, p. 137)

Em outras palavras, mesmo que as referências não estejam explícitas no documento, é


possível sabermos quais autores e obras influenciaram a produção daquela ideia linguística.
Cavaliere (2020) cita como exemplo a obra Estrutura da língua portuguesa (1970), de
Joaquim Mattoso Camara Jr. (1904-1970). Esse texto foi publicado postumamente, sem que
os devidos ajustes fossem realizados pelo autor, como a inserção de referências. No entanto,
pela leitura sistemática da obra, é possível sabermos os textos que exerceram influência sobre
Mattoso Camara Jr.: os do estruturalismo norte-americano. O estabelecimento dessa relação
de influência também se dá pela história do linguista, já que ele foi aluno, nos EUA, de
50

pesquisadores que se dedicaram aos estudos estruturais, como Roman Jakobson (1896-1962),
que foi um dos pioneiros desse tipo de análise.
Por esse motivo, é necessária uma investigação sobre a formação intelectual do autor
do objeto analisado, Charles Adrien Olivier Grivet. Para Koerner (2014b), a categoria de
análise da influência, em resumo, diz respeito aos elementos que, direta ou indiretamente,
tiveram impacto sobre a elaboração de uma ideia sobre a linguagem. O pesquisador aponta
que:

[o]s antecedentes de um autor em particular, a sua tradição familiar,


escolaridade, primeiros estudos e os interesses pessoais e as ocupações
durante os seus anos de formação podem ser importantes para estabelecer
conexões que podem conduzir a provas (frequentemente inconscientes) de
empréstimo, integração e assimilação de particulares ideias, conceitos ou
teorias. Papéis de família, correspondência, currículos escolares, cursos
universitários frequentados por um dado autor podem servir como fontes
para o historiógrafo. (KOERNER, 2014b, p. 101)

A formação intelectual do autor e a presença de relações intertextuais nos materiais em


análise são alguns dos elementos que interessam à análise do historiógrafo. Além dessas
formas de influência, também podemos observar o impacto social, político e cultural na
produção e na difusão dos conhecimentos linguísticos. Escrever uma gramática no Brasil do
século XIX, quando a imprensa estava sendo iniciada, não é a mesma coisa de escrever uma
gramática nos anos de 1960, quando o país estava passando por um regime ditatorial; nem é o
mesmo processo de escrever uma gramática no Brasil dos anos 2000, pois as demandas
sociais desses três momentos são diferentes.
No âmbito da HL, a influência também é vista como um problema, no sentido de que
ela pode ser apresentada como argumento conveniente, como se todas as coisas se dessem
numa relação de causa e consequência, como se não houvesse descontinuação das ideias.
Koerner (2014b) exemplifica o problema da influência com três nomes de destaque na
Linguística: Wilhelm von Humboldt (1767-1835), August Schleicher (1882-1934) e
Ferdinand de Saussure (1853-1913). Para o autor, não podemos dizer que Humboldt,
Schleicher e Saussure, cada um a seu tempo, elaboraram suas ideias a partir da leitura de,
respectivamente, Johann Gottfried von Herder (1774-1803), Charles Darwin (1809-1882) e
Émile Durkheim (1858-1917). Todos os pares citados estavam vivendo um mesmo clima de
opinião, estavam inseridos num mesmo ambiente intelectual que influenciou seus
pensamentos. Dessa forma, não é possível afirmar que houve uma influência de um sobre o
outro.
51

Para que esse problema seja repensado, Koerner (2014b) sugere que sejam
considerados os seguintes pontos ao explorar a categoria influência numa pesquisa
historiográfica: i) o histórico do autor, ii) a prova textual; e iii) o reconhecimento público. O
primeiro aspecto trata dos antecedentes do autor e das informações sobre sua formação. Em
nossa pesquisa, depois da realização do levantamento de fontes com informações sobre o
autor, como jornais e revistas nacionais e internacionais, pudemos compilar dados que
orientam a análise e a interpretação da obra, como os lugares onde o autor trabalhou, quais
eram seus ciclos sociais, a quais causas se dedicava, entre outros. O segundo ponto é a prova
textual, ou seja, o estabelecimento de um paralelo entre uma teoria ou um conceito e suas
supostas fontes. O histórico do autor pode ajudar a estabelecer essas fontes, como os
ambientes acadêmicos nos quais circulava, qual foi sua formação, de qual grupos de pesquisa
participava etc. No terceiro ponto, o reconhecimento público ocorre quando existem
referências diretas a outras obras. Nesse caso, é necessário o estudo das obras citadas pelo
autor para estabelecer a relação de influência.
No caso da citação, podemos refletir, ainda, que “[c]itar é, na busca por evidências do
argumento de influência, expor aquilo que um pesquisador considera seu domínio de atuação
e também fixar uma imagem que se quer reconhecida entre seus pares” (BATISTA, 2020a, p.
65). Quando um autor se utiliza desse artifício, ele busca parceiros de profissão para traçar
uma rede discursiva e se inserir nesse meio, procurando o reconhecimento dos seus pares.
Batista (2020a), ao tratar da influência, afirma que ela pode ser captada por meio de
dois aspectos: i) posicionamentos intelectuais e científicos de um agente no seu processo de
formação intelectual (como obras lidas) e/ou pessoal (comunicações institucionalizadas ou
privadas); e ii) contexto histórico, social, político, ideológico e cultural, isto é, a ausência de
um contato necessariamente efetivo entre as pessoas.
Altman (2018) alerta sobre um cuidado que devemos ter ao considerarmos a
influência: o da perda da dimensão coletiva do conhecimento. Para a autora, se pensarmos na
influência em termos de Zeitgeist, ou seja, que o espírito da época de um autor o levou a um
pensamento, essa seria uma concepção muito ampla e insatisfatória. No entanto, se apenas
investigamos os vestígios, a extensão do conceito de influência seria reduzida e, dessa forma,
correríamos o risco da perda das contribuições vindas do coletivo.
Assim, Altman (2018) sugere que, por questões metodológicas, seria mais proveitoso
pensarmos em gerações ou grupos que dialogam tendo como centro uma ideia ou um
pensamento, pois “[...] mais do que concluir pela influência de um ‘pioneiro-herói’ de quem
52

emana todo o conhecimento, cabe ao historiógrafo reconstruir o percurso, sempre coletivo,


que o conhecimento percorre” (ALTMAN, 2018, p. 178).
Dessa forma, construir uma rede de influências permite que o historiógrafo analise a
produção do conhecimento linguístico de forma contextualizada, pois esse conhecimento é
consequência de uma formação intelectual e histórica individual e coletiva. Essa categoria é
fundamental para compreendermos as possíveis origens e as ligações de ideias linguísticas.

2.4 Retórica: posicionamento e persuasão

Não obstante os esforços do historiógrafo para estabelecer critérios metodológicos que


confiram à pesquisa o caráter de cientificidade, toda produção historiográfica é fruto de uma
seleção feita pelo pesquisador, que realizou recortes e definiu parâmetros de análise. Para
Batista (2018), esse produto historiográfico precisa ser entendido a partir de um contexto
social, histórico e intelectual, uma vez que a construção de um fato histórico é considerada
um produto discursivo, elaborado mediante os propósitos do historiador.
Um trabalho sobre a linguagem é uma elaboração retórica que, segundo Batista (2018,
p. 148), se configura como “[...] uma escrita cujo objetivo é ressaltar um fato e agentes em
meio a tantos outros, e, portanto, convencer e persuadir em torno das escolhas feitas [...]”.
Quando nos comunicamos, o fazemos com alguma intenção. Com a produção linguística, não
é diferente. Um autor produz seu discurso em busca de sentidos que são do seu interesse
produzir ou reproduzir.
Na Historiografia da Linguística, essa “[...] manifestação linguístico-discursiva, em
busca de persuasão, de um agente da produção ou recepção de estudos sobre línguas e
linguagem, circunscrito a um programa de investigação (Swiggers 2004) e a um grupo de
especialidade (Murray 1994)”14 (BATISTA, 2018, p. 149) recebe o nome de retórica. Essa
categoria de análise, resumidamente, é utilizada para se referir ao posicionamento de um
agente diante dos trabalhos de seus predecessores e/ou contemporâneos e à persuasão
estabelecida por ele em seu texto.
A retórica diz respeito a escolhas linguísticas e intenções dos atos comunicativos,
explícitas ou implícitas, e também à persuasão, que é base de toda interação verbal. Ela tem

14
Neste trabalho, não trabalhamos diretamente com as noções de “programa de investigação” e de “grupo de
especialidade”, mas, para melhor compreensão, as resumiremos aqui. A expressão “programa de investigação”,
utilizada por Swiggers (2004), se refere a conjuntos de práticas, concepções e procedimentos metodológicos
compartilhados por autores e escolas. Já “grupo de especialidade”, segundo Murray (1998), trata de grupos
organizados institucionalmente que têm como objetivo legitimar o modelo teórico que defendem.
53

como objetivo convencer sobre a legitimidade de algum saber ou técnica. Para isso, são
utilizadas configurações textuais e discursivas e argumentos que sustentam ideias linguísticas
da natureza de uma teoria a ser difundida. É dessa forma que os agentes de conhecimento
atuam com o intuito de convencer o número máximo de pessoas sobre o seu empenho nos
estudos sobre a linguagem, tendo em vista o caráter coletivo da produção intelectual
(BATISTA, 2020a).
Segundo Murray (1998), a retórica pode ser de continuidade ou revolucionária. A
retórica de continuidade é filiada a uma determinada tradição de pesquisa, devendo seus feitos
a essa tradição. Por sua vez, a retórica revolucionária é aquela com reivindicações, que clama
por descontinuidade e que rejeita o trabalho de cientistas predecessores ou procura se afastar
deles. É fundamental destacar que, conforme Batista (2020b), o que os autores afirmam fazer
pode ficar apenas no nível retórico, isto é, um pesquisador pode alegar romper com estudos
linguísticos praticados até o momento, mas, na prática, não se afastar muito deles.
A escolha retórica, para Murray (1998), depende de três fatores relacionados ao
pesquisador: i) do seu potencial de elite (relative eliteness) – se o cientista trabalha ou estuda
numa instituição prestigiada, se ela está geograficamente localizada numa área mais
prestigiada; ii) da sua idade profissional – se é um estudante de pós-graduação, se é um
recém-doutor ou se é um professor universitário que já atua há bastante tempo; e iii) do
reconhecimento de seus pares – se mantém diálogo com outros grupos de estudo e se esses
grupos conhecem e aprovam suas pesquisas. A aceitação de uma ideia linguística depende de
vários fatores, e esses são alguns deles.
A partir disso, nos baseando também em Batista (2019), temos como premissas as
ideias de que i) o conhecimento resulta da articulação entre fatores intelectuais, sociais e
históricos; ii) o posicionamento linguístico-discursivo evidencia a inserção social e
institucional; iii) as manifestações discursivas que advogam por descontinuidade podem ser
vazias; e iv) os grupos de especialidade legitimam ou não as ideias linguísticas. Dessa forma,
o conhecimento, gerado em certo contexto social, é posicionado contra ou a favor de alguma
tradição já existente. A ruptura declarada pelo autor pode ser falseada, isto é, pode clamar por
uma mudança, mas, na prática, dar continuidade às ideias daquela tradição a qual ele se opõe.
Mesmo que suas ideias descontinuem a tradição, grupos de especialidade – constituídos por
outros pesquisadores da mesma área – precisam reconhecer suas concepções linguísticas.
Para que a retórica seja evidenciada pelo historiógrafo, Batista (2019) traça um quadro
sociorretórico com o intuito de propor procedimentos metodológicos que guiem essa análise.
54

Para isso, é necessário que o pesquisador i) compreenda como é construída a legitimidade de


um saber por meio do discurso produzido; ii) analise recursos linguísticos e argumentativos
utilizados nas retóricas de ruptura ou de continuidade; e iii) interprete os saberes e o discurso
em sua circunstância histórica, social e ideológica. Objetivando realizar esses movimentos, o
autor sugere que sejam observados o contexto histórico do objeto, o público consumidor e os
modos como o objeto foi divulgado, a natureza das controvérsias científicas/intelectuais que o
cercam, as vozes discursivas presentes no trabalho, as estratégias de argumentação e a
estrutura textual presente no objeto.
Os passos para que esse procedimento seja realizado seguem as etapas de
contextualização social e histórica, análise da retórica e estabelecimento da relação da retórica
com seu ambiente de circulação e recepção (BATISTA, 2019). A primeira fase dialoga com o
princípio da contextualização de Koerner (2014c), sobre o qual já tratamos. A análise da
retórica envolve outras subetapas, como a análise das provas e de argumentos que corroboram
os posicionamentos adotados pelo autor e a análise da configuração lexical e gramatical da
retórica, ou seja, a observação da estrutura textual. Essa segunda etapa está relacionada à
camadas contextual de conhecimento linguístico (SWIGGERS, 2014, 2019), acerca da qual
discutiremos na próxima subseção. Na terceira etapa, o historiógrafo busca compreender os
resultados da retórica empregada pelo autor do objeto: se ela foi de continuação ou de
descontinuação e como ela se colocou na construção histórica e social de um campo de saber.
Ainda, é interessante observar que a análise retórica está mais associada a alguns
gêneros do discurso, como prefácios e posfácios, resenhas e quarta capa, pois, por meio deles,
os autores querem atrair possíveis leitores para suas obras. Apesar da predominância de
material para ser analisado nesses gêneros, isso não significa que a retórica também não possa
ser manifestada em outros. Devemos, contudo, estar atentos à natureza do objeto analisado,
que determina o que precisa receber mais destaque na observação e na interpretação
historiográfica.
Em nosso trabalho, a retórica de Grivet pode ser observada pelos traços linguísticos no
texto. O movimento retórico de um autor começa pelo título dado à gramática – se ela é
apresentada como “nova”, “novíssima”, se é da “língua portuguesa” ou do “português
brasileiro”. Os elementos pré-textuais também são importantes para observar esses
movimentos retóricos. Em nosso objeto de pesquisa, sendo uma publicação póstuma, esses
elementos não foram escritos por Grivet. Retomaremos essa discussão posteriormente.
55

2.5 Camadas do conhecimento linguístico: explicação da dinâmica linguística

A dinâmica da história da Linguística é heterogênea. No decorrer dos estudos da


linguagem, podemos observar conflitos de pensamentos. Algumas ideias divergem de outras,
mas também podem apresentar aspectos em comum. O físico Peter Galison (1955-), para
descrever o desenvolvimento da Microfísica, explicou a história da disciplina dividindo-a em
três camadas: uma experimental (experimentos de laboratório), uma instrumental (elaboração
de equipamentos técnicos) e uma teórica (SWIGGERS, 2020a, 2020b).
Galison explica essa divisão em camadas com a analogia da parede de tijolos. Numa
construção desse tipo, os tijolos não são postos um acima da outro. Pelo contrário, as fileiras
precisam ficar numa posição alternada para sustentar a outra. Então, a ciência, no caso, a
Microfísica, seria formada por mais de um revestimento, mais de uma camada, uma
amparando a outra.
Pensando na Linguística, podemos afirmar que ela é menos dependente de
experimentos do que as ciências da natureza, pois, nela, a teoria e a prática se misturam. Além
disso, é comum que as atividades científicas dos estudos da linguagem sejam acumuladas por
uma única pessoa, ao contrário do que ocorre nas ciências exatas e da natureza. Apesar dessas
diferenças em relação a outras áreas do conhecimento, ou seja, o acúmulo de tarefas do
pesquisador e a menor recorrência do método experimental, não se pode concluir que a
prática linguística é constituída por uma monocamada (SWIGGERS, 2020a, 2020b).
A fim de descrever e de analisar a dinâmica linguística, Swiggers (2004, 2019), com
base no pensamento de Peter Galison, propõe o modelo das “camadas do conhecimento
linguístico”. Essas camadas se dividem em quatro: teórica, técnica, documental e contextual-
institucional. Para lidar com essa categoria de análise de forma mais fácil, o autor, de forma
imagética, também utiliza o esquema da parede de tijolos, que pode ser visto na Figura 19:

Figura 19 – Modelo de camadas do conhecimento

Fonte: Swiggers (2019, p. 68)


56

A dinâmica na história das ciências se explica por uma “superposição” de camadas.


Cada “tijolo” corresponde a uma estrutura dessas camadas. A quebra de um tijolo pode
significar uma mudança, mas não uma ruptura completa com um paradigma. Para isso, seria
necessário quebrar todos os “tijolos” ao mesmo tempo. Essa parede pode sofrer rachaduras e
ter partes profundamente modificadas, mas ainda ficar de pé, sustentando-se.
Devemos nos atentar para o fato de que essa analogia não é absoluta, pois nossos
dados são fatos que devem ser analisados com atributos históricos, ideológicos, psicológicos e
até mesmo com a “sorte e acaso” (SWIGGERS, 2020a, p. 5) para explicar suas ocorrências.
A camada teórica corresponde à visão global de linguagem, à concepção de tarefas,
aos insights e às afirmações teóricas sobre a linguagem que podemos encontrar no material
em análise. No nosso estudo, trabalhamos essa camada com a exploração dos conceitos
elaborados por Grivet sobre gramática, enfatizando sempre a sintaxe e, por conseguinte, as
funções exercidas pelo verbo, pelo substantivo, pelos complementos etc.
A camada técnica diz respeito às técnicas de análise e aos métodos de apresentação
dos dados. Quando fazemos uso dessa camada em nossa pesquisa, queremos mostrar como o
autor estudado divide sua obra, especialmente a explanação sintática, e quais termos utiliza
para lidar com os dados, isto é, a rede taxonômica empregada por Grivet. Para Swiggers
(2020a), o grau de tecnicidade, até certo ponto, está ligado à teoria, visto que essa rede
taxonômica está atrelada a uma teoria.
A camada documental trata da documentação sobre a qual o estudo linguístico se
apoia, considerando as línguas usadas e os tipos de fontes. Em nosso estudo, analisamos o
exemplar linguístico usado pelo suíço para constituir as amostras linguísticas que o auxiliam a
demonstrar as descrições linguísticas elaboradas por ele.
Já a camada contextual-institucional diz respeito ao contexto cultural e institucional
que cerca as práticas linguísticas do material analisado. Em nossa pesquisa, essa camada pode
ser observada nas explicações sobre a retórica do autor e suas influências explícitas – através
de citações diretas – ou não – através da sua biografia, o que inclui seu histórico pessoal,
profissional e o próprio período histórico em que o autor viveu.
Essas camadas podem ser utilizadas de diversas maneiras. Um exemplo é a tradição
gramatical, que teve mudanças na sua camada documental e técnica – com a modificação da
abordagem da língua latina para as línguas europeias modernas – e na sua camada teórica –
com a passagem da linhagem latinizada para racionalista e empirista, por exemplo. Apesar
57

dessas modificações, a noção de tradição gramatical continua e, ainda hoje, no século XXI,
temos exemplares da GT publicados.
Como vantagens da utilização das camadas para descrever e explicar a história dos
estudos da linguagem, Swiggers (2019, 2020a, 2020b) aponta que:

i) o uso dessas categorias se faz necessário porque permite explicar que mudanças e
inovações numa camada não correspondem, necessariamente, a uma quebra de
toda a tradição de pesquisa – com isso, auxilia também na explicação sobre a
inovação ou a estagnação de um pensamento linguístico;
ii) o modelo permite entender a dinâmica da disciplina de diferentes formas, como as
mudanças intracamadas, as mudanças na relação entre duas camadas ou a
sobreposição de todas as camadas;
iii) a utilização desse modelo pode servir de padrão de referência para projetos em
Historiografia da Linguística, já que pode ser tomado como ponto de partida para
o estudo de um objeto.

As camadas do conhecimento podem ser utilizadas para estudar teorias e modelos


linguísticos ou a própria história da Linguística. Dessa forma, ela permite detectar mudanças
em cada tijolo da parede do que entendemos por estudos da linguagem. Na realização de
nossa pesquisa, a utilização do modelo de camadas é pertinente por permitir a análise dos
movimentos de continuidade e de descontinuidade da gramática investigada. Além disso, ele
auxilia a estabelecer os pontos teóricos, técnicos, documentais e contextuais a serem tratados,
como um recurso instrumental e organizacional.
58

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA A REALIZAÇÃO DA


PESQUISA

A elaboração da metodologia é fundamental para a execução de qualquer pesquisa. É


por meio de técnicas de análise que as fontes de informação, de forma sistemática, são
organizadas e interpretadas. No caso da Historiografia da Linguística, segundo Koerner
(2014c), as técnicas adotadas pelo pesquisador devem ser adaptadas ao seu objeto e aos seus
objetivos. Pela diversidade de fontes com as quais a HL lida, não existe uma trajetória
apriorística para a realização de uma pesquisa. Sobre essa questão, Koerner (2014c) afirma:

[...] é legítimo que o historiógrafo procure diretrizes e modelos a imitar para


além do seu próprio campo. É importante compreender, entretanto, que
devido à natureza particular do objeto de investigação, nomeadamente, as
teorias da linguagem (bem como as teorias da linguística), a sua aplicação e
a sua evolução através do tempo, os historiadores da linguística devem
insistir em procurar o seu próprio quadro, a sua própria metodologia e
epistemologia, e não podem ficar à espera e aplicar os métodos e os
ensinamentos de outros campos diretamente ao seu objeto de investigação
[...] (KOERNER, 2014c, p. 46)

As contribuições de outras áreas do conhecimento – e da própria Linguística – são


bem-vindas. Entretanto, o historiógrafo não pode aplicar diretamente à sua pesquisa a mesma
metodologia de outras áreas e de outros trabalhos, mesmo os da HL, visto que cada trabalho
tem uma finalidade e um objeto diferente. Dessa forma, nesta pesquisa, nos inspiramos em
metodologias de outros trabalhos, mas as adaptamos conforme nossas especificidades
científicas.
Nosso principal objeto de estudo é a Nova Grammatica Analytica da Lingua
Portugueza (1881), de Charles Grivet. Além dessa fonte, também nos apoiamos em
publicações de jornais, o que confere um caráter documental ao trabalho, que, segundo
Marconi e Lakatos (2019, p. 190), tem como característica “[...] tomar como fonte de coleta
de dados apenas documentos, escritos ou não, que constituem o que se denomina de fontes
primárias”. Isso acontece porque tanto a gramática quanto os jornais são os objetos dos quais
extraímos dados diretamente.
Ainda, nosso trabalho é de natureza descritivo-interpretativa, pois, além de descrever o
objeto analisado, elaboramos interpretações e reflexões acerca do material, dialogando com as
noções, de Swiggers (2013), de historiografia nocional-estrutural (análise estrutural do
conjunto de ideias), correlativa (correlação de pontos de vista e o contexto), arquitetônico-
59

axiomática (descrição e análise da estrutura de teorias como sistemas de axiomas) e, de certa


forma, atomística (busca da análise de acontecimentos e fatos). Para tornar isso possível,
nossos movimentos analíticos estão ancorados principalmente nas categorias teórico-
analíticas citadas no capítulo anterior: i) influência; ii) retórica; e iii) camadas do
conhecimento linguístico. Todas elas são utilizadas no âmbito da Historiografia da
Linguística, disciplina à qual essa pesquisa está vinculada.
Neste capítulo, expomos o percurso metodológico realizado nesse estudo. Por motivos
organizacionais, o dividimos em quatro partes: i) as fases da pesquisa historiográfica:
heurística, hermenêutica e executiva; ii) fonte da pesquisa; iii) método de análise da fonte da
pesquisa; e iv) levantamento da literatura secundária.
Na primeira parte, “As fases da pesquisa historiográfica: heurística, hermenêutica e
executiva”, tratamos de uma orientação geral das pesquisa em HL. Na segunda, “Fonte da
pesquisa”, exploramos aspectos gerais da Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza.
Na terceira, “Método de análise da fonte da pesquisa”, expomos como foi realizada a extração
de dados da gramática. Na quarta e última, “Levantamento das fontes secundárias”,
explicamos de que modo foi realizado o levantamento das publicações, em jornais dos séculos
XIX, XX e XXI, relativas à gramática e a Grivet e sua família.

3.1 As fases da pesquisa historiográfica: heurística, hermenêutica e executiva

Como já explicamos, a metodologia específica de cada pesquisa em HL deve ser


adaptada de acordo com o objeto, os interesses e os objetivos de cada historiógrafo
(SWIGGERS, 2013). No entanto, algumas fases mais amplas são comuns às pesquisas
historiográficas: a heurística, a hermenêutica e a executiva.
Na primeira fase, a heurística, o historiógrafo deve realizar a contextualização
histórica e intelectual do seu objeto. Nessa etapa, são executadas atividades como “[...]
informar-se sobre as fontes e sua disponibilidade; ler os textos-fontes; ‘catalogar’ ideias, os
pontos de vista e a terminologia; contextualizar as ideias, os termos” (SWIGGERS, 2013, p.
44). Isso significa que o pesquisador precisa relatar informações históricas e sociais sobre a
época associadas ao seu objeto e interpretar esses dados, que devem ser pertinentes à análise.
Em nossa pesquisa, na fase heurística, as seguintes tarefas foram executadas: i) a leitura e o
mapeamento do texto-fonte, Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza (1881), de
Charles Grivet; ii) o levantamento e a organização de documentações do acervo digital da
60

Hemeroteca Brasileira e da Swiss National Library; e iii) o estabelecimento apriorístico das


categorias de análise utilizadas. A leitura e o mapeamento foram feitos para ter um contato
prévio com o material antes da análise dos dados (cf. 3.2 e 3.3). Já o levantamento da
documentação dos acervos digitais foi realizada para termos mais informações contextuais
sobre a obra e seu autor (cf. 3.4).
A partir da fase heurística, a pesquisa deve avançar em direção a uma etapa
fundamentada na interpretação contextualizada do conhecimento linguístico (SWIGGERS,
2010). A segunda fase é a hermenêutica, que, para Swiggers (2013), compreende a
interpretação do objeto com uso de categorias interpretativas. A partir delas, além de
descrever e interpretar o texto de Grivet (1881), com base, também, na documentação
levantada na fase anterior, poderemos proceder à análise dos saberes sintáticos do autor. Na
fase hermenêutica desta pesquisa, realizamos uma análise interpretativa e crítica dos dados
coletados na fase heurística.
Na última fase, a executiva, conforme Swiggers (2013), o pesquisador deve considerar
três parâmetros: i) o formato da exposição; ii) a dimensão da intencionalidade do
historiógrafo; e iii) a dimensão do programa cognitivo. O primeiro se refere à forma do texto,
que pode ser sequencial, remetendo a uma narrativa; tópica, focalizando a análise de um tema
ou um tipo de problema; ou combinatória, mesclando o contexto e o ponto de vista em
alguma época da história da Linguística. No nosso trabalho, predominam duas formas, a
tópica e a combinatória, uma vez que, apesar de focarmos um tema, em alguns trechos,
realizamos uma relação entre o pensamento de Grivet e o contexto e os pontos da vista da
época.
O segundo parâmetro, o da dimensão da intencionalidade do historiógrafo, trata da
escolha do pesquisador pelo tipo de historiografia a ser executada, ou seja, suas escolhas
intencionais. Ela pode ser taxonômica (ou classificadora), isto é, quando ela sistematiza e
classifica os objetos de estudo; polêmica (ou apologética), quando o estudioso defende ou
critica algum pensamento linguístico; teleológica, quando o objetivo do pesquisador é
compreender as causas de um pensamento linguístico; ou exegético-crítica, que diz respeito
ao estudo explicativo e interpretativo de uma ideia linguística. Aqui, optamos por uma
historiografia predominantemente exegético-crítica, porque interpretamos ideias linguísticas.
O último parâmetro, o da dimensão do programa cognitivo, se refere ao perfil
intelectual do produto historiográfico, e sua determinação está atrelada ao objeto de estudo e à
documentação disponível. Swiggers (2013) afirma que a Historiografia da Linguística pode
61

ser atomística, por buscar uma análise de acontecimentos e fatos; narrativa, por relatar
cronologicamente os eventos; nocional-estrutural, por buscar uma análise estrutural do
conjunto de ideias e tipos de abordagem; arquitetônico-axiomática, por descrever e analisar a
estrutura lógica de teorias e modelos como sistemas de axiomas; e correlativa, por procurar
correlacionar pontos de vista e o contexto sociocultural e político.
Dessa forma, como explanado anteriormente, nossa pesquisa é predominantemente
nocional-estrutural, correlativa e arquitetônico-axiomática, pois buscamos compreender as
ideias de Charles Grivet, descrevê-las e interpretá-las, considerando sua imanência e seu
contexto sócio-histórico. Entretanto, a característica atomística também está presente, pois,
em alguns momentos, buscamos uma análise de acontecimentos e fatos.

3.2 Fonte da pesquisa: a Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza

O tratamento da fonte da pesquisa historiográfica é de suma importância para o


andamento do trabalho. Os tipos de materiais que podem servir de fonte, segundo Altman
(2012), ultrapassam as formas tradicionais de estudos da linguagem, como as gramáticas e os
textos teóricos. Entre essas fontes, também podem ser incluídas autobiografias, prefácios,
resenhas, textos orais e até mesmo fotográficos, especialmente quando lidamos com os
séculos XIX e XX. Neste trabalho, tomamos uma gramática como fonte principal da pesquisa
e publicações de jornais como fontes secundárias.
A obra aqui analisada, como já mencionado, é a Nova Grammatica Analytica da
Lingua Portugueza, de autoria de Charles Adrien Olivier Grivet. O documento foi publicado
em 1881, cinco anos após a morte do seu autor. Apesar da data de publicação, a gramática foi
totalmente escrita por Grivet – com exceção de alguns elementos pré-textuais – e baseada
numa obra anterior do autor, Grammatica Analytica da Lingua Portuguesa, publicada em
1865. Como não encontramos a obra de 1865 disponível em sebos e em formato digital
online, decidimos direcionar a análise exclusivamente para a Nova Grammatica Analytica, de
1881. A obra teve apenas uma edição, cuja capa podemos ver na Figura 20:
62

Figura 20 – Capa da Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza, de C. A. O. Grivet (1881)

Fonte: Grivet (1881)

De início, a Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza parece apenas mais


uma produção gramatical brasileira, do fim do século XIX, sobre a língua portuguesa. No
entanto, algumas peculiaridades nos chamam atenção. A primeira é o fato de ser uma obra
póstuma. A segunda é a nacionalidade do autor, visto que Grivet, de origem suíça, é um dos
poucos autores estrangeiros de gramáticas brasileiras do século XIX (POLACHINI, 2018).
Sua nacionalidade pode justificar algumas especificidades internas da obra, como a sua
isenção à polêmica nacionalista da época15.
Expostos esses fatos, podemos discorrer sobre o escasso estudo da obra de Grivet.
Como vimos no primeiro capítulo (cf. 1.2), esse autor é pouco estudado. Seus
contemporâneos, como Júlio Ribeiro (1881) e João Ribeiro (1887), foram e estão sendo
protagonistas de pesquisas historiográficas e não historiográficas. Todavia, o pensamento de
Grivet parece não ser objeto de análises mais detalhadas. Podemos nos perguntar, então, os
motivos para isso: suas ideias linguísticas não são relevantes para a gramaticografia
brasileira? Se são, elas tiveram impacto na história dos estudos linguísticos brasileiros? Se

15
Aqui, nos referimos à defesa de José de Alencar (1829-1877) pelo distanciamento do português falado no
Brasil e em Portugal.
63

tiveram, como e por quê? Sua nacionalidade teria alguma influência nisso? O autor é
representativo da sua época? Não obstante essas não sejam exatamente as perguntas de
pesquisa (cf. 1.4), elas também nos motivam a analisar essa gramática.
O que justificaria, portanto, a quase total ausência de Grivet nas pesquisas
linguísticas? Gurgel (2007), ao tratar da representatividade como critério para seleção de
fontes, delineia os traços encontrados nos trabalhos de algumas linguistas – como Cristina
Altman, Olga Coelho, Rosa Virgínia Mattos e Silva, Leonor Lopes Fávero, Márcia Molina
etc. – para estabelecimento do que seria representatividade no corpus da pesquisa de cada
uma. Os critérios utilizados por essas linguistas, segundo Gurgel (2007), são eventualidade,
função da autoria, gênero textual, geração da autoria, institucionalidade, marco linguístico,
motivação, nacionalidade da autoria, nomenclatura da obra, pioneirismo, repercussividade,
temática e tempo.
Esses critérios são válidos para constituição de um corpus, visto que eles devem estar
relacionados aos recortes da problemática de uma pesquisa. No entanto, podemos repensá-los,
já que replicá-los seria marginalizar uma série de pensamentos linguísticos que foram
descontinuados por motivos externos, não-linguísticos, os quais não têm relação direta com a
consistência desses pensamentos.
Se esses critérios de seleção fossem utilizados em relação à obra de Grivet (1881), o
autor não seria selecionado por diversos motivos, como o fato de não ter se envolvido no
debate de língua nacional (eventualidade), de não ter nascido no Brasil (nacionalidade), de
sua gramática ter tido apenas uma edição (repercussividade) etc. Dessa forma, a partir
daqueles critérios, o autor não seria representativo.
Entretanto, esse é um motivo válido para um autor ou uma obra não ser estudada?
Acreditamos que não, pois obras que fogem dos modelos dominantes têm mais chances de
ficar à margem dos estudos. Sobre o critério da repercussividade, que mais apareceu nos
trabalhos analisados por Gurgel (2007, p. 272), a autora levanta algumas questões: “[...] 1)
Quando uma fonte repercutiu? – No passado ou no presente? Quando no passado?; 2) Em
quem uma fonte repercutiu?; 3) Por que ela repercutiu?; 4) Como ela repercutiu; 5) Onde ela
repercutiu?”. Pensando sobre esses questionamentos, podemos perceber que, às vezes, não
basta uma ideia ser boa para que ela seja aceita. Fatores externos ao estudo da linguagem
auxiliam ou dificultam a propagação de certas ideias linguísticas.
É por esse motivo que, nesta pesquisa, utilizamos uma fonte “pouco representativa”,
se usarmos os critérios citados como referência. Com a escolha dessa gramática póstuma, de
64

edição única, pouco estudada e de autor estrangeiro, queremos demonstrar que obras que não
tiveram grande destaque em alguns meios e não ficaram marcadas na história – pelo menos na
história contada pela maioria – podem contribuir para os estudos linguísticos e serem, pelo
menos, (re)conhecidas.

3.3 Método de análise da fonte da pesquisa

Como já abordado anteriormente, a Historiografia da Linguística, apesar de ter um


direcionamento metodológico geral para a pesquisa – as fases heurística, hermenêutica e
executiva –, não possui uma metodologia única para realizar a extração e intepretação de
dados das fontes. Cabe ao historiógrafo, pois, adequar seus instrumentos de pesquisa ao seu
objeto e aos seus objetivos.
Neste trabalho, para coletar os dados sintáticos da Nova Grammatica Analytica, nosso
primeiro passo foi realizar a leitura do capítulo “Syntaxe”, para que a obra, a escrita do autor
e seus pensamentos se tornassem, para nós, familiares. Em seguida, elaboramos quadros,
inspirados em Silva (2021), para organização das informações contidas no texto. No total,
foram 12 quadros. Apresentamos, a seguir, esses instrumentos, tecendo comentários
explicativos sobre seus critérios de criação.
Como a Nova Grammatica Analytica não tem sumário, nossa primeira necessidade foi
mapear como ela está organizada, em geral e, especificamente, no capítulo “Syntaxe”. Por
isso, elaboramos o Quadro 2 para localizar os capítulos e suas subdivisões. Na primeira
coluna, “divisões da obra”, inserimos o título do capítulo ou da subdivisão. Na segunda
coluna, “página (numeração da gramática)”, inserimos em qual página, pela numeração da
gramática, estava aquele título. Na última coluna, “página (numeração do PDF)”, inserimos
em qual página do arquivo no formato .pdf estava aquele título, pois a numeração da
gramática e do arquivo digital são diferentes.

Quadro 2 – Quadro para mapeamento da organização geral da obra e da parte “Syntaxe”

Organização geral da Nova Grammatica Analytica e da parte “Syntaxe”

Página (numeração do
Divisões da obra Página (numeração da gramática)
PDF)

Fonte: elaborado pela autora (2022)


65

Todo o capítulo destinado à sintaxe em Grivet (1881) nos interessa neste trabalho;
elaboramos, todavia, um quadro geral para organizar de forma sintética o que o autor entende
pelo tema. Assim, o Quadro 3 foi desenvolvido para traçarmos questões gerais da abordagem
sintática no trabalho do suíço. Na primeira coluna, “definição”, inserimos o conceito do autor
sobre sintaxe; em “metatermos”, os principais metatermos utilizados pelo autor; em
“definição de oração”, o modo como o autor conceitua oração; e, em “organização da
oração”, a forma como a oração é organizada na obra.

Quadro 3 – Quadro para mapeamento das definições gerais de sintaxe em Grivet (1881)

Definições gerais de sintaxe

Definição Metatermos Definição de oração Organização da oração

Fonte: elaborado pela autora (2022)

O Quadro 4 foi pensado para organizarmos o pensamento do autor sobre uma das
principais teorias da obra: a das funções. Grivet aborda a teoria das funções logo no início do
capítulo sobre sintaxe, mas também a retoma no decorrer das 275 páginas dedicadas ao estudo
sintático. Em razão disso, esse quadro foi necessário para sistematizar as informações e
facilitar a análise dessa ideia na obra.

Quadro 4 – Quadro para mapeamento da teoria das funções em Grivet (1881)

Fato

Sujeito

Complemento direto

Funções Complemento indireto

Predicado

Aposição

Ligação

Verbo
Distribuição
dos termos Substantivo
de acordo
Artigo
com as
“espécies de Adjetivo
palavras”
Pronome
66

Particípio

Preposição

Advérbio

Conjunção

Fonte: elaborado pela autora (2022)

Na exposição de Grivet sobre sintaxe, um dos trechos relevantes – e que ocupa 18


páginas – é a crítica à teoria do verbo substantivo, um conceito que passou por várias
mudanças ao longo da história da gramática, mas que, em suma, é relacionado à cópula que
une os termos de uma proposição: o sujeito e o atributo (POLACHINI, 2018). Por essa razão,
dedicamos um quadro apenas para essa objeção de Grivet, como podemos ver no Quadro 5.

Quadro 5 – Quadro do mapeamento da crítica de Grivet (1881) à teoria do verbo substantivo

Crítica à teoria do verbo substantivo

Fonte: elaborado pela autora (2022)

Para organizar as exceções ou notas pontuadas por Grivet, elaboramos o Quadro 6. No


Quadro 7, inserimos observações sintáticas mais gerais realizadas ao longo do capítulo.

Quadro 6 – Quadro do mapeamento de exceções ou notas em Grivet (1881)

Exceções ou notas

Fonte: elaborado pela autora (2022)

Quadro 7 – Quadro do mapeamento de outras observações sintáticas em Grivet (1881)

Outras observações sintáticas

Fonte: elaborado pela autora (2022)

Algumas passagens inusitadas e/ou relevantes foram identificadas. Um exemplo é o


seguinte:
67

Advertência. Na nossa primeira grammatica, dentre os não poucos erros em


que nos fez incorrer uma exagerada deferencia a opinioes tradicionaes, e
dentre outros erros que só a nós devemos imputar, assignalamos agora o de
termos incluido os gerúndios na classe dos particípios (GRIVET, 1881, p.
342).

Por esse trecho, podemos dimensionar a evolução da primeira gramática de Grivet, a


Grammatica Analytica da Lingua Portugueza (1865), a qual não temos acesso, para a obra
analisada neste trabalho, a Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza (1881). Esse e
outros trechos relevantes para contextualizar alguns aspectos da obra estão no Quadro 8.

Quadro 8 – Quadro do mapeamento de trechos inusitados ou relevantes

Trechos relevantes para contextualização da obra

Fonte: elaborado pela autora (2022)

Por percebermos, ao longo da leitura da obra, menções à “mente” e a palavras do mesmo


campo lexical, achamos importante organizar essas citações, como no Quadro 9. Essas
citações de Grivet ao aparato mental humano nos chamou atenção devido ao fato de ser uma
evidência da influência racionalista (cf. 4.2) na obra.

Quadro 9 – Quadro do mapeamento de referências racionalistas

Menções a ideias racionalistas

Fonte: elaborado pela autora (2022)

No início do trabalho, expomos nossa curiosidade pela gramática de Grivet por causa
das menções à língua francesa. Essas referências não poderiam estar ausentes do mapeamento
da gramática. Por isso, o Quadro 10 foi elaborado para a organização desses trechos em que o
autor utiliza o francês para exemplificar temas gramaticais.

Quadro 10 – Quadro do mapeamento de referências à língua francesa

Referências à língua francesa

Fonte: elaborado pela autora (2022)


68

Além do francês, outras línguas são, por vezes, apesar de poucas, citadas pelo
gramático suíço, como o alemão. Em razão disso, o Quadro 11 foi elaborado para sistematizar
as referências a essas línguas, sejam elas voltadas para a sintaxe ou não, desde que
comentadas pelo autor.

Quadro 11 – Quadro do mapeamento de referências a outras línguas

Referências a outras línguas

Fonte: elaborado pela autora (2022)

A maior parte do exemplar linguístico utilizado pelo autor é composta por autores
clássicos, isto é, autores mais antigos do que Grivet e que ganharam destaque na literatura.
Dessa forma, o Quadro 12 foi desenvolvido por nós.

Quadro 12 – Quadro do mapeamento de referências aos clássicos

Referências aos clássicos

Fonte: elaborado pela autora (2022)

Por último, o Quadro 13 foi elaborado para que listássemos outras gramáticas ou
outros gramáticos aos quais Grivet faz referência explícita.

Quadro 13 – Quadro do mapeamento de referências a outras/os gramáticas/gramáticos

Referências a outras gramáticas/gramáticos

Fonte: elaborado pela autora (2022)

Nesses quadros apresentados, inserimos trechos copiados diretamente da fonte, ou


seja, citações diretas. Para exemplificarmos, abaixo, no Quadro 14, inserimos o quadro das
referências à língua francesa preenchido:
69

Quadro 14 – Quadro preenchido do mapeamento de referências à língua francesa

Referências à língua francesa


“A verdade é que, tanto em relação ao francez, como ás mais linguas, nunca se imaginou tamanho
absurdo, tão qualificada parvoiçada” (p. 227) [sobre teoria do verbo substantivo]

“Quem compara, ainda que mui perfunctoriamente, a conjugação dos verbos francezes com a dos
verbos portuguezes, não tarda em ficar advertido da razão que impõe aos primeiros, no discurso,
uma constante adjuncção dos pronomes sujeitos, ao passo que dispensa geralmente os segundos de
tão importuna formalidade, com grande proveito para a linguagem, que dahi cobra alacridade e
vigor” (p. 234) Obs.: é numa resposta a outros gramáticos que compararam com o francês. A
pronúncia de várias formas verbais do francês é igual. Por isso, precisa do sujeito marcado.

“Portanto, como termo syntaxico, o tal IL não é nada. Não é nada porque, ainda que pronome por
natureza, ahi não substitue a nenhum substantivo, e conseguintemento não representa idéa alguma;
faz apenas o officio de indicador: « Ahi vai verbo»; é palavra expletiva e mais nada” (p. 235) Obs.: ele
diz que “il” não é substituto direto de nome porque, se fosse feminino, teria que substituir “il” por “elle”.

“Nas mesmas condições, emfim, forma ella a terceira classe dos combinados, isto é, o verbo
gerundial, que o francez possuia também em tempos ainda não mui remotos, mas deixou cahir em
desuso por falta de assenso sobre se devia o seu gerúndio ser variavel ou invariavel” (p. 268)

“O 1.º tempo do condicional (presente-passado-futuro proprio) deve, com mais alguns tempos, tão
estirada denominação á conveniência de reagir, a bem da verdade, contra a mania que faz
transferir, sem critério, das grammaticas francezas, tudo quanto parece ter applicação á grammatica
portuguesa” (p. 298)

“Sendo o sujeito composto, a regencia por elle exercida não é tão absolutamente a que, importada
da lingua franceza, onde tem o seu cabimento, vai desmoronando por ahi, nas escolas, a
vernaculidade portugueza, que repugna ao afrancezamento syntaxico por indole e isensão” (p. 351)

“O francez, sequioso de supprir a falta tão sensivel de terminações caracteristicas pela ligação
possivel das palavras, mórmente na elocução emphatica do pulpito, da tribuna e do theatro, não
achou, todavia, neste recurso senão um meio muito insuficiente de emendar o seu vicio originario.
Para compensar o que ainda assim lhe fallecia, não admittiu senão parcamente o jogo das inversões,
e pautou mais as relações de sua syntaxe por uma especie de systema algebrico, procedendo por
equações. Deste modo firmava elle a integridade do pensamento. O portuguez, pelo contrario, rico
de sonoridades caracteristicas, e, por isso, mais musical, acabou por offender-se de qualquer
dissonancia ; e, no seu melindre excessivo, antes quiz constranger o espirito ao esforço de uma
interpretação do que sujeitar o ouvido a uma cacofonia” (p. 356-357)

“Se, todavia, os novadores desentoados notarem que tal argumentação desmerece por nimiamente
fraca, não será fora de proposito recordar lhes que o proprio francez, apezar de sua pouca exigencia
em semelhante assumpto, não duvida de em mais de um caso sacrificar o rigor mathematico á
euphonia, sem que o motivo tenha mais de valioso do que o que acaba de ser allegado. Pois,
reconhecendo,
por exemplo, no vocabulo « tout », um mero adverbio, isto é, uma palavra invariavel, quando por
anteposição
a um adjectivo ou participio, modificar-lhes o alcance de significação, todos os grammaticos
francezes lhe attribuem, não obstante, a variabilidade adjectival em certas e determinadas
circumstancias. (« Ces personnes sont TOUT ETONNEES, TOUTES STUPEFAITES de ce qui arrive. » — … TOUT …
TOUTES !!)” (p. 357)

Fonte: elaborado pela autora (2022)

Quando necessário, após algumas citações, também inserimos comentários para


contextualizar o que foi dito.
70

3.4 Levantamento da fonte secundária

A fim de contextualizar a produção da Nova Grammatica Analytica, além de utilizar


uma literatura secundária – informações em livros de História e de Sociologia –, procuramos
dados sobre a obra e sobre seu autor em dois portais de documentação na internet:
Hemeroteca Brasileira e Swiss National Library. Ambos reúnem publicações de jornais e
revistas antigas dos seus países, respectivamente, Brasil e Suíça. O primeiro foi escolhido em
razão de a obra ter sido publicada no Brasil, e a escolha do segundo se deveu à nacionalidade
do autor, que cresceu e trabalhou em seu país de origem antes de vir para o Brasil. Nos dois
sites, realizamos uma busca com os descritores “Charles Adrien Olivier Grivet”, “Adrien
Grivet” e “Charles Grivet”, do período de 1850, década em que o gramático nasceu, até
201916, para que pudéssemos ver sua repercussão até os dias atuais. Com o levantamento,
pudemos obter as seguintes informações:

i. acessibilidade da Nova Grammatica Analytica, ou seja, a disponibilidade e o preço


da obra;
ii. aceitabilidade da obra, com as notícias de seu lançamento e as referências a Grivet
em consultórios gramaticais;
iii. repercussão da obra ao longo do tempo, isto é, durante quanto tempo foi citada e
quais pessoas a citavam;
iv. dados pessoais de Grivet e de sua família, que podem ter influenciado as ideias e as
decisões profissionais do gramático;
v. informações sobre o colégio da Madame Grivet (1816-1906), sua esposa, como as
bases de ensino da escola, que podem ter influência de Charles Grivet ou o terem
influenciado;
vi. outros dados relevantes para a análise da obra.

Para organizar esses dados, capturávamos a tela do site e a inseríamos num editor de
textos com as seguintes informações: nome do jornal, cidade e edição do periódico e ano de
publicação. Enquanto salvávamos esses dados, já os colocávamos em ordem cronológica.

16
O levantamento foi realizado em 2020, primeiro ano do nosso mestrado. O ano de 2019 foi escolhido como
último porque gostaríamos de trabalhar com anos que já tivessem terminado.
71

Esse procedimento foi realizado separadamente na Hemeroteca Brasileira e na Swiss National


Library.
Quando todas as publicações já estavam salvas, foram separadas em quatro categorias:
i) vida pessoal; ii) vida profissional, iii) gramáticas; e iv) temas gramaticais. Na primeira,
concentramos notícias sobre a vida pessoal do autor, como sua chegada ao Brasil e a morte de
sua filha. Na segunda, reunimos publicações sobre sua carreira profissional, como o dia em
que Grivet ganhou autorização para trabalhar no Brasil, e sobre o colégio de sua esposa, no
qual ele atuava como professor. Na terceira categoria, “gramáticas”, juntamos as informações
contextuais relativas às suas duas gramáticas, como propagandas de lançamento e anúncios de
livrarias, ou seja, dados externos às obras. Na última categoria, “temas gramaticais”, reunimos
publicações que discutiam alguns temas do pensamento gramatical de Grivet e publicações
que o utilizavam como argumento de autoridade.
Consideramos esse levantamento importante para pesquisas futuras. Por isso, também
o disponibilizamos neste trabalho, nos apêndices. Mantivemos as categorias de organização
para facilitar a leitura: vida pessoal (Apêndice A), vida profissional (Apêndice B), gramáticas
(Apêndice C) e temas gramaticais (Apêndice D).
No próximo capítulo, teceremos considerações sobre o Brasil do século XIX,
discorrendo sobre a sociedade, o pensamento gramatical predominante e a educação daquela
época. Essa contextualização servirá para melhor compreendermos a esfera social em que a
Nova Grammatica Analytica foi pensada, produzida, publicada e consumida.
72

4 O BRASIL DO SÉCULO XIX: EDUCAÇÃO E GRAMÁTICA

Contextualizar um objeto e estabelecer o clima de opinião de determinada época


envolve a reunião de aspectos históricos, sociais e intelectuais do período. Uma obra não é
produzida no vácuo. É por compreender isso que tentamos buscar aspectos do meio social em
que a gramática aqui analisada foi concebida. Entender a sociedade em que a Nova
Grammatica Analytica foi produzida é importante para refletirmos sobre particularidades da
obra. Assim, neste capítulo, discutimos alguns elementos sócio-históricos que situam a
produção da gramática.
A fim de organizar a apresentação dos conteúdos, dividimos o capítulo em duas
subseções. Na primeira, “Educação e ensino de língua portuguesa”, expomos um quadro geral
da educação do Brasil na época, principalmente no que concerne ao ensino de língua
portuguesa. Depois, em “Periodização linguística: linhagem latinizada, racionalista e
empirista”, apresentamos esses três linhagens que percorrem o pensamento gramatical.

4.1 Educação e ensino de língua portuguesa

Após a proclamação da Independência, em 1822, o país necessitava de uma estrutura


jurídico-administrativa. Assim, de acordo com Saviani (2013), Dom Pedro I convocou a
Assembleia Geral Constituinte e Legislativa. Na inauguração dessa Assembleia, o imperador
destacou a importância de uma legislação voltada para a instrução pública. A Comissão de
Instrução Pública da Assembleia Geral Constituinte e Legislativa promoveu um concurso no
qual premiaria a melhor proposta para o tratado da educação dos brasileiros.
Depois disso, ocorreram muitas discussões sobre as propostas. A Câmara dos
Deputados, por meio da Lei de 15 de outubro de 1827, autorizou a criação das “Escolas de
Primeiras Letras”. Os 17 artigos dessa lei, em suma, determinavam a construção de escolas
em cidades e vilas e forneciam orientações quanto aos conteúdos a serem ensinados. Os
assuntos relativos à língua portuguesa eram leitura, escritura e noções de gramática da língua
nacional (SAVIANI, 2013).
A partir desse momento, foi iniciado o processo de educação formal no Brasil. Muitas
críticas foram feitas ao sistema, que carecia de cuidados com as instalações físicas. Esse
sistema também precisava valorizar mais os professores, financeira e profissionalmente. Além
disso, o primeiro grau do sistema educacional era obrigatório a todos os cidadãos, o que não
73

se estendia aos escravos, que não eram considerados cidadãos, logo, não podiam se matricular
nem frequentar as escolas. Notamos que a implantação do processo educativo formal no nosso
país, há quase 300 anos, deixou resquícios que se estendem até hoje, como a exclusão de
alguns grupos sociais dos espaços educativos e a desvalorização econômica na área da
Educação.
Na segunda metade do século XIX, houve um intenso debate sobre conteúdos e
métodos de ensino e sobre os meios de efetivar uma educação popular. Foi difundida a crença
do poder da escola como fator de mudança social. Nesse contexto, um modelo de ensino que
direcionava para a escolarização em massa foi gerado (SOUZA, 2000). Classes
socioeconomicamente mais desfavorecidas foram contempladas pela educação formal, mas
problemas de inclusão surgiram – os grupos que, por muitos anos, foram excluídos não
conseguiam acompanhar aqueles que tinham mais condições e já estavam inseridos no
contexto educacional.
No que tange ao ensino de língua portuguesa, no século XIX, segundo Bunzen (2011),
este era organizado nas disciplinas “Gramática Geral” e/ou “Gramática Filosófica”, que
priorizavam a comparação da língua vernácula e com a língua latina. No final da primeira
metade do século XIX, a “língua nacional” começou a aparecer como principal objeto de
ensino das aulas de “Gramática Nacional”. Os conhecimentos gramaticais, assim,
contribuíram para a emergência e para a institucionalização da língua portuguesa como
disciplina escolar.
Posteriormente, ocorreram reformas políticas que modificaram o ensino de língua. Os
textos em latim ou em línguas estrangeiras trabalhados em sala de aula deram espaço a textos
em língua portuguesa, elaborados por autores portugueses ou brasileiros. Até o fim do período
histórico conhecido como “Brasil Império”17, alguns fatores sobre o ensino de LP merecem
atenção.
O primeiro é a inclusão obrigatória, em 1871, da língua portuguesa nos exames para
ingresso nos cursos superiores do Império. Para que uma pessoa ingressasse no ensino
superior, era preciso fazer um exame avaliatório de português, ao contrário do que ocorria no
início do século, quando eram solicitados exames de gramática latina e de uma língua
estrangeira. Outro fato para o qual chamamos atenção é a criação do cargo de professor de

17
Para ser organizada de forma didática, a história do Brasil é dividida em fases. A do “Brasil Império” tem
início em 1822, com o processo de independência do país, e termina em 1889, com a Proclamação da República
(DOLHNIKOFF, 2019).
74

português, também em 1871, o que impactou na produção linguística, já que obras voltadas
para concursos começaram a ser produzidas.
Cabe um destaque para a formação do professor de língua portuguesa. Segundo Salino
(2012), a cultura brasileira foi alimentada pelo tronco humanístico das disciplinas de
gramática, retórica e poética aplicadas ao latim e ao português. Essa cultura, que não
apresentava um objetivo imediatista, no Brasil, servia para distinguir os letrados e os
ignorantes, voltando-se para a formação da aristocracia e para preparar a elite que não abria
mão do poder. Pensando nesse público consumidor da NGALP, podemos presumir as
motivações de Grivet para discussões tão complexas na sua obra. Salino (2012, p. 16),
inclusive, afirma que “[a] gramática [...] de Grivet – um tratado muito desenvolvido e sério –
estava mais próximo do uso dos professores do que dos alunos”, até mesmo porque Grivet
endereçou a obra aos primeiros.
Apesar de não ser o foco do nosso trabalho adentrarmos o assunto, mas apenas darmos
um panorama que auxilie na análise da NGALP, essas divisões do ensino de português,
nomenclaturas e direcionamentos oficiais sobre os conteúdos a serem ministrados pelos
professores não necessariamente correspondiam à realidade da sala de aula e aos
materiais/recursos didáticos utilizados. Como estava no início da profissão de professor de
português, da língua portuguesa como disciplina escolar e com uma intensa produção de
materiais didáticos, era comum que determinados conteúdos fossem confundidos – como
Retórica e Gramática – ou que os professores pudessem continuar suas aulas da maneira como
faziam antes de leis e decretos do governo. Além disso, essas mudanças e adaptações não
ocorreram de um dia para o outro, mas com certo tempo, e ainda podemos ver transformações
sendo feitas.
A primeira gramática de Grivet, que veio a originar a que analisamos, foi publicada
em 1865. Apesar de não termos acesso a ela, sabemos que essa obra é mais sintética do que a
de 1881. O autor, na época, passava por problemas financeiros. Aliando essa dificuldade de
Grivet às demandas por materiais preparatórios para exames e para aulas de português,
podemos inferir que a produção da Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza foi, de
certa forma, motivada por esses fatores.
Para Clare (2003), só no final do século XIX é que os ensinos de Gramática, Retórica
e Poética deram lugar à disciplina “Língua Portuguesa”, baseada na leitura da gramática da
língua e na leitura de antologias de autores lusitanos e de alguns brasileiros que imitavam os
clássicos, para que o “bem escrever” fosse aprendido e imitado pelos alunos. Para a autora,
75

isso ocorria porque as teorias histórico-evolutivas chegaram ao Brasil nessa época e, de


acordo com essas teorias, o estado presente da língua seria uma corrupção da fase passada.
Dessa forma, o exemplar linguístico seria majoritariamente autores portugueses dos séculos
XVI e XVII.
Com todas essas alterações legais, a dinâmica de ensino também foi alterada,
possibilitando a antecipação de atividades de escrita nas escolas. Além disso, o ensino de LP
passou a focar a gramática histórica, e o processo de formação da língua portuguesa, as
práticas de leitura e de recitação dos clássicos continuaram. Pensando no ensino de gramática,
na subseção a seguir, aprofundaremos esse assunto, pois o modo de pensar gramatical do
século XIX afetava a formação dos professores e dos alunos. A gramática que analisamos,
cujo público-alvo eram professores do que hoje chamamos de “educação básica”, é exemplo
disso.

4.2 Periodização linguística: linhagem latinizada, racionalista e empirista

Periodizar os estudos da linguagem significa destacar os marcos linguísticos através


do tempo. Segundo Polachini (2018), desde os primeiros anos do século XX, foram feitas sete
revisões históricas da produção gramatical brasileira. Em ordem cronológica, temos a de
Maximino Maciel (1910), a de Antenor Nascentes (1939), a de Silvio Elia (1975), a de
Ricardo Cavaliere (2001), a de Leodegário A. de Azevedo Filho (2002), a de Andressa
Parreira (2011) e a da própria Bruna Polachini (2018).
Todas essas propostas de periodização elegem diferentes critérios para dividir os
marcos linguísticos. Tendo em vista que os diferentes autores usam critérios distintos e que
mudanças não ocorrem de um dia para o outro, uma obra não pode ser definida apenas com
características daquela fase da Linguística apenas porque foi publicada nesse período. Um
trabalho pode ser influenciado por pensamentos anteriores àquele século e servir de suporte
para ideias reaproveitadas tempos depois de sua publicação.
No entanto, o delineamento de uma periodização linguística serve para nos situar
temporalmente com base em características da maioria das obras publicadas em determinada
época. No século XVIII, anterior à publicação da NGALP (século XIX), o empirismo
predominou o âmbito dos estudos científicos, logo, afetou também a forma de se pensar a
linguagem. Tendo em vista a importância do empirismo para o pensamento linguístico, nos
alinhamos à classificação de Faraco e Vieira (2021), que, questionando o engessamento de
76

uma periodização linguística, consideram o empirismo para discorrer sobre a historiografia da


gramaticografia de língua portuguesa, juntamente com as linhagens latinizada e racionalista.
No Renascimento europeu, buscava-se legitimar as línguas modernas através do latim
e lhes designar uma gramática com base nessa língua. A padronização das línguas europeias
em grande escala foi nomeada por Auroux (2014) como “revolução tecnológica da
gramatização”. Nesse contexto, um autor que se destaca é Elio Antonio de Nebrija (1441-
1522), que, influenciado por Prisciano, escreveu a primeira gramática de uma língua românica
(BORGES NETO, 2020). Nebrija, em geral, compara o castelhano ao latim, utilizando as
categorias de declinação e de caso da língua latina para descrever o castelhano. Esse modelo,
para Faraco e Vieira (2021), foi bastante usado na gramaticografia de língua portuguesa do
século XVI, XVII e XVIII, como podemos ver, por exemplo, nas tábuas de declinação da
Grammatica da língua portuguesa (1540), de João de Barros (1496-1570), e da Regras da
língua portuguesa, espelho da língua latina (1725), de Pe. Dom Jeronymo Contador de
Argote (1675-1749).
De forma geral, as gramáticas de linhagem latinizada adotavam a concepção de que a
substância sintática é a mesma na língua portuguesa e na latina, o que permitiria a
comparação e a repetição dos moldes para a construção das gramáticas do português. Para
Faraco e Vieira (2021), as gramáticas latinizadas explicitam sua vinculação à gramática latina
tanto retórica quanto analiticamente. Essas gramáticas estiveram presentes na gramaticografia
de língua portuguesa até o final do século XVIII, tendo a Arte da grammatica da lingua
portuguesa (1770), de Antônio José dos Reis Lobato (1721-1804?), como última grande
sistematização desse modelo.
Já a linhagem racionalista é proveniente da perspectiva logicista e universalizante de
autores europeus de gramáticas latinas do século XVI. Para essa concepção, devia-se estudar
os princípios racionais que determinam as estruturas linguísticas. Nesse contexto, podemos
evidenciar a Gramática de Port-Royal (1660), que ficou consolidada como modelo gramatical
racionalista/filosófico, pois tinha como objeto tanto o uso linguístico quanto o conhecimento
das suas razões. Faraco e Vieira (2021) acrescentam que a linhagem racionalista só teve
impacto na gramaticografia de língua portuguesa com Jeronymo Soares Barbosa (1737-1816),
que se opõe de forma explícita às gramáticas latinizadas.
A linhagem empirista, em geral, não é adotada na historiografia da gramaticografia
das línguas modernas. No entanto, Faraco e Vieira (2021) a integram para compreender
ocorrências da gramaticografia que não estavam alinhadas nem à abordagem latinizada nem à
77

racionalista. Os autores apontam o aparecimento da linhagem empirista na gramaticografia


francesa no século XVIII, com Claude Buffier (1661-1737) e sua Grammaire Françoise sur
un plan nouveau pour rendre les principes plus clairs & la pratique plus aisée (1709). O
autor reconhece que muitas palavras do francês vêm do latim, mas defende que a prática
gramatical da língua latina não pode ser aplicada ao francês. Para ele, a gramática deve ser
ajustada às línguas, não o contrário. Podemos ver, assim, uma posição descritivista que
enfatiza o uso linguístico e que se opõe às gramáticas latinizadas. Anos após, Cesar Du
Marsais (1676-1756), na sua obra Logique et Principes de Grammaire (1769), corrobora os
estudos de Buffier, defendendo que a gramática de uma língua não deveria ser tomada para
outra.
Na gramaticografia da língua espanhola, a história da Gramática de la Lengua
Castellana, elaborada pela Real Academia Espanhola (RAE), mostra o embate entre dois
modelos que se apresentaram como opções à linhagem latinizada: o racionalista e o empirista.
Os acadêmicos da RAE discutiram se a gramática devia ser razoada ou descritiva. No
primeiro caso, ela seguiria um modelo semelhante à Gramática de Port-Royal, apresentando
regras e seus fundamentos. Já no segundo caso, o foco seria o uso linguístico, com
apresentação das regras desse uso.
Dessa forma, é possível perceber que em:

[...] meados para o fim do século 17, estavam em cena duas grandes
tendências interpretativas do processo do conhecimento: uma racionalista,
que postulava uma dinâmica hipotético-dedutiva, considerando que assim
tinha sido, no fundo, o raciocínio de Copérnico; e outra empirista, que
postulava uma dinâmica indutivo-generalizante, que dava grande ênfase ao
papel das observações sistemáticas. (FARACO; VIEIRA, 2021, p. 485)

Na gramaticografia portuguesa, vemos o impacto do empirismo a partir de


Rudimentos da Grammatica Portugueza, cómmodos á instrucção da Mocidade, e
confirmados com selectos exemplos de bons Autores, obra de Pedro José da Fonseca (1737-
1816), que não era nem latinizada nem filosófica. É importante destacar que:

[...] Pedro José da Fonseca foi o único gramático a merecer elogios de


Soares Barbosa na introdução de sua Grammatica philosophica, em
contraste com as críticas fortes que este fez aos demais gramáticos citados
[...] [e] o destacou positivamente dentre os demais gramáticos como alguém
que emendou grande parte dos defeitos das gramáticas anteriores.
(FARACO; VIEIRA, 2021, p. 487, grifo dos autores)
78

Esse gramático abandonou as tábuas de declinação, e sua concepção de sintaxe da


oração, apesar de subordinada às relações de concordância e regência, não era mais
sistematizada com a terminologia de casos da língua latina.
Considerar a linhagem empirista, além da latinizada e da racionalista, é proveitoso
porque veremos que Grivet, apesar de, algumas vezes, se aproximar de pensamentos
racionalistas, envereda pelo descritivismo, sobressaindo mais a tendência empirista em seu
texto. No nosso trabalho, são reconhecidos os momentos em que o autor assume pensamentos
que se assemelham mais aos de outras linhagens, mostrando, assim, a ausência de
engessamento ao analisar esses dados.
79

5 A NOVA GRAMMATICA ANALYTICA DA LINGUA PORTUGUEZA E SUA


ABORDAGEM SINTÁTICA

Neste capítulo, analisamos o tratamento dado por Charles Grivet à sintaxe na Nova
Grammatica Analytica da Lingua Portugueza (1881). Para tanto, utilizamos as camadas do
conhecimento linguístico (SWIGGERS, 2004, 2019) como principal categoria de análise,
sobretudo por estabelecer parâmetros para análise da fonte e por motivos organizacionais.
Além disso, no interior das camadas do conhecimento linguístico, também mobilizamos
outras categorias, como a influência (KOERNER, 2014b) e a retórica (BATISTA, 2019).
Como vimos no segundo capítulo, as camadas do conhecimento linguístico são
divididas em quatro: contextual, documental, técnica e teórica. Para melhor estruturar o
trabalho, organizamos este capítulo em cinco partes.
Na primeira, expomos um panorama da obra, destacando alguns tópicos de outras
partes da gramática que serão importantes para a análise da abordagem sintática.
Na segunda parte, dedicada à análise da camada contextual, analisamos o contexto
cultural e institucional da NGALP e de Grivet. Assim, abordamos estratégias discursivas na
retórica mobilizada pelo autor, suas influências intelectuais e um pouco da recepção de suas
ideias na sociedade.
Em seguida, na análise da camada teórica, investigamos a visão de linguagem presente
na obra analisada. Para isso, analisamos os principais pensamentos sintáticos do autor, como a
teoria das funções, a crítica ao verbo substantivo e as figuras de linguagem.
Na camada técnica, exploramos as técnicas de análise e os métodos de apresentação
utilizado por Grivet na Nova Grammatica Analytica.
Por fim, na camada documental, tratamos da documentação linguística utilizada na
obra para auxiliar na elaboração dessa fonte. Nessa parte, analisamos quem foram os autores e
quais foram os textos citados por Grivet e de quais países eles eram, quais domínios
discursivos eram utilizados como exemplar linguístico, entre outros aspectos.

5.1 Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza: visão geral

A NGALP é iniciada com o texto “Algumas palavras sobre o professor Grivet”, de


autoria desconhecida, que fornece ao leitor algumas informações biográficas sobre o autor da
gramática. Em seguida, podemos ler o “Relatorio do Conselheiro...”, um documento que,
80

como já abordado, foi fundamental para a publicação da obra. Depois, o “Prefacio”, escrito
por Grivet, revela suas expectativas com a obra, como a de a obra servir como método de
ensino sistemático da linguagem.
As “Noções preliminares” já indicam alguns pensamentos do autor, como sua noção
de gramática, que é a da “[...] arte de fallar e escrever corretamente” (GRIVET, 1881, p. 1), já
abordada anteriormente. Nessa parte, o gramático também afirma que, para falar e escrever
corretamente, é preciso seguir as numerosas regras da “boa razão” (dos clássicos). Para torná-
las mais compreensíveis, a gramática é dividida em cinco partes, sendo elas: “lexicologia”,
“syntaxe”, “orthographia”, “prosódia” e “pontuação”. Essa forma de partição parece ser
singular, já que, como vemos na Figura 21, ela é citada em trecho do artigo “A reforma
gramatical portuguêsa (II)”, de Délcio Muniz, publicado em 1967:

Figura 21 – Divisão quinquepartida de Grivet citada no século XIX

Fonte: Jornal do Commercio (RJ) – Ano 1967/Edição 00153 (1)

A partir dessa divisão, já notamos particularidades do autor. A seção “Etimologia”,


comum em gramáticas gerais e filosóficas, como na Grammatica portugueza, accommodada
aos princípios geraes da palavra, seguidos de immediata applicação pratica (1866), de
Francisco Sotero dos Reis (1800-1871), não aparece na Nova Grammatica Analytica. Para
Cavaliere (2000), a etimologia, que tratava da origem e da formação dos vocábulos, passou a
integrar uma subseção da morfologia e, posteriormente, só apareceu em gramáticas históricas.
Dessa forma, podemos observar que Grivet já se afastava da abordagem
filosófica/racionalista.
81

Outra observação a ser feita é a adição de uma quinta parte, a “pontuação”, que, até o
momento, fazia parte da ortografia. A quinta divisão da gramática representa uma inovação
em relação à tradicional divisão em quatro partes, que vem desde o período medieval
(FÁVERO, 1996 apud JESUITA, 2014), com Prisciano (séc. V-VI d.C.), e ainda era
encontrada no século XIX, com Ernesto Carneiro Ribeiro (1839-1920), na Grammatica
Portugueza Philosophica (1881), por exemplo. Isso demonstra que, apesar de seguir uma
tradição gramatical, também alinhada aos seus autores contemporâneos, pelo fato de
apresentar divisões já conhecidas da gramática, o autor é crítico e, além de eliminar a
“etimologia” dos seus tópicos, adiciona uma outra parte em sua obra, a da pontuação.
A seguir, expomos um pouco sobre quatro partes da gramática NGALP, deixando as
próximas subseções para tratar predominantemente da sintaxe, que é tema do nosso trabalho e
foco da nossa investigação.
A lexicologia está exposta em 219 páginas, o que corresponde a 34,9% da obra. Para
Grivet (1881, p. 1), ela “[...] é a parte da Grammatica que ensina a natureza e as fórmas das
palavras”. Na lexicologia, o autor divide as palavras em dez espécies, numa divisão conhecida
hoje como “classes de palavras”. As dez espécies são: verbo, substantivo, artigo, adjectivo,
pronome, participio, preposição, adverbio, conjuncção e interjeição. Dessas dez classes
apresentadas por Grivet, só o “particípio” não é mais considerado como uma classe para a
Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB)18, que adicionou a categoria “numeral” e manteve
o quantitativo de dez classes.
É pertinente reproduzir a definição de cada espécie de palavra, pois elas estão
diretamente ligadas à teoria da funções, sobre a qual discutiremos adiante. No Quadro 15,
podemos ler, então, a noção de cada uma das dez espécies de palavras. Numa coluna ao lado
das definições, inserimos o critério utilizado pelo autor para elaborá-las.

Quadro 15 – Divisão e definição das espécies de palavras de acordo com Grivet (1881)

Critério(s) utilizado(s) para


Nome da espécie Definição
elaborar a definição
“[...] é uma palavra que enuncia um
Verbo Semântico
facto” (p. 3)
Substantivo (ou “[...] é uma palavra que designa entes ou
Semântico
nome) abstracções” (p. 3)

18
A NGB é uma uniformização da nomenclatura gramatical instituída em 1959 pela Portaria Ministerial nº 36 de
28 de janeiro do mesmo ano. Essa política linguística repercutiu – e ainda repercute – nas práticas pedagógicas e
na elaboração de materiais didáticos de língua portuguesa. Para mais informações, consultar Henriques (2009).
82

“[...] é uma palavra que, antepondo-se


essencialmente aos substantivos, e
Artigo accidentalmente a pronomes ou mesmo Sintático e semântico
a verbos no infinitivo, confere-lhes um
sentido preciso” (p. 3)
“[...] é uma palavra que se accrescenta
mediata ou immediatamente aos
Adjectivo substantivos, pronomes ou mesmo a Sintático e semântico
verbos no infinitivo para os qualificar ou
determinar” (p. 4)
“[...] é uma palavra que, dispensando a
frequente reproducção dos substantivos,
Pronome Semântico
suppre-os em todas as suas funções” (p.
4)
“[...] é uma palavra que, procedendo do
verbo, coadjuva-o na conjugação, ou
Participio Morfossintático
porta-se como mero adjectivo junto a
substantivos ou pronomes” (p. 4)
“[...] é uma palavra que se antepõe
essencialmente a substantivos, pronomes
Preposição ou verbos no infinitivo, e accidentalmente Sintático e semântico
a adverbios, para marcar uma relação”
(p. 4)
“[...] é uma palavra que se ajunta a um
verbo, participio, adjectivo, ou até a
Adverbio Sintático e semântico
outro adverbio, para modificar-lhes o
alcance de significação” (p. 4)
“[...] é uma palavra que liga partes de
uma oração, ou orações completas,
Conjuncção Sintático e semântico
para denunciá-las como conexas ou
opostas” (p. 4)
“[...] é uma palavra que implicitamente
Interjeição abrange todos os elementos de uma Sintático e semântico
proposição ou pensamento” (p. 4)

Fonte: elaborado pela autora (2022)

É perceptível, nessas definições das classes de palavras segundo Grivet (1881), a


utilização do critério sintático para elaboração dos conceitos. Cabe ressaltar que, na tradição
gramatical, a análise sintática está fundamentada num componente lógico-semântico, que
prescinde de contextos (VIEIRA; FARACO, 2020). Ou seja, os aspectos textual-discursivos e
contextuais – os quais nem a Gramática Tradicional nem Grivet se propõem a abarcar – não
são contemplados nessa perspectiva de análise, pois não são o foco de análise.
O próximo capítulo da obra é o da Syntaxe, que, apesar de tratarmos melhor nas
próximas subseções, adiantamos que está explicitada em 275 páginas, significando 43,9%, ou
seja, quase metade da NGALP.
83

Em seguida, a ortografia é discorrida em 25 páginas, o que corresponde a 3,9% da


obra. Para Grivet (1881, p. 498), a ortografia “[...] é a parte da Grammatica que trata do modo
mais adequado de escrever as palavras”. Nos estudos ortográficos, estão inclusos os sinais
ortográficos e as letras.
Em seguida, a prosódia ocupa 8 páginas, o que significa dizer que ela preenche 1,2%
da obra. A prosódia “[...] é a parte da grammatica que versa sobre a pronunciação metrica das
palavras” (GRIVET, 1881, p. 525). Nesse capítulo, podemos ler sobre a tonicidade das
palavras, sempre exemplificadas com autores literários.
A última parte, que trata da pontuação, está estruturada em 93 páginas,
correspondendo a 14,8% da gramática. A pontuação “[...] é a parte da grammatica que versa
sobre os casos em que convem separar por signaes os pensamentos escriptos, e suas partes”
(GRIVET, 1881, p. 534). O estudo da pontuação, dessa forma, explora, em uma divisão
realizada pelo autor, os principais sinais de pontuação (vírgula, ponto e vírgula, dois pontos e
ponto final) e os sinais de pontuação acessórios (interrogação, exclamação, pontos
suspensivos e parênteses).

5.2 Camada contextual: retórica e influência

Na camada contextual, é analisado o contexto cultural e institucional que engloba as


práticas linguísticas. Dessa forma, nesta subseção, vemos as estratégias discursivas
mobilizadas por Grivet em sua retórica, suas influências intelectuais e um pouco da recepção
dos trabalhos do autor na sociedade.
O único exemplar da NGALP era um manuscrito, que foi deixado para Madame
Grivet. O Conselheiro Octaviano solicitou ao Ministro do Império que, caso achasse a
gramática relevante, a obra fosse impressa pela Typographia Nacional e adotada pelas escolas
públicas brasileiras. Esse fato nos leva a pensar que a morte de Charles Grivet foi essencial
para o reconhecimento dessa obra. O último registro de escrita da gramática foi o prefácio,
assinalado em 4 de maio de 1874.
Pelas palavras do autor no prefácio, a gramática já estava pronta, mas, por algum
motivo, ela não foi publicada logo. É por isso que acreditamos que a morte do suíço tenha
sido fundamental tanto para a publicação da obra quanto para a relevância que ela ganhou.
Madame Grivet também teve um papel fundamental na publicação da obra, pois a gramática
“[...] teria sido devorada pelos vermes de algum dos archivos públicos, se M.me Grivet,
84

confiante na protecção da população brazileira e em homenagem á memória de seu esposo,


não emprehendesse a sua publicação” (ALGUMAS..., 1881, p. VIII).
A carta do Conselheiro para o Ministro foi enviada, e achamos válido reproduzir um
trecho do documento:

Nunca conheci quem reunisse tanta illustração a tanta aptidão no magistério.


Sua morte foi uma perda irreparável. Observava eu, quando minhas filhas, á
noute, repetião suas lições em casa, que o Snr. Grivet lhes facilitava o ensino
das linguas portugueza e franceza, por meio de um systema grammatical de
rara precisão nas definições e de feliz gradação na marcha das idéas.
(ALGUMAS..., 1881, p. VIII)

Diante do pedido, o ministro do Império reuniu uma comissão para o estudo da


gramática. Após esse estudo, ele emitiu um parecer positivo para a obra. Esse parecer é
reproduzido integralmente nas primeiras páginas da Nova Grammatica Analytica. Aqui, nos
limitamos a destacar dois trechos do documento:

Esta obra, pela robusteza da lógica e pela vasta erudição que a rege desde o
principio até o fim, destaca-se completamente de todas as outras de igual
natureza até hoje conhecidas. Classificadas as matérias segundo as mais
vigorosas exigências da linguagem, cada parte é tratada com magistral
proficiência. As regras, ampla e claramente expostas, são sempre
acompanhadas de valiosissimas reflexões sobre a sua applicação, sendo estas
corroboradas, a cada passo, pelo exemplo e autoridade dos escriptores
clássicos de melhor nota; e assim firmadas, tanto as regras como a sua
genuina applicação, poem naturalmente em relevo as incorrecções que o uso
tem pouco a pouco introduzido na pratica (RELATORIO..., 1881, p. XIX).

Nem se diga que por ter tão profundamente penetrado nos mysteriös da bella
lingua de Antonio Vieira, a obra do Snr. Grivet é inaccessivel aos espiritos
menos reflectidos ; visto que, por meio de uma analyse perfeitamente
desenvolvida, tornam-se de facil comprehensão os assumptos mais
abstractos e os mais complicados. (RELATORIO..., 1881, p. XIX)

Expressões como “robusteza da lógica” e “vasta erudição” nos permitem supor que
não era de todo fácil a compreensão da gramática pelos professores de português em geral, já
que tanto a disciplina Língua Portuguesa quanto o cargo de professor de português tinham
sido criados há pouco tempo, ou seja, a formação desses professores ainda estava entrando em
estabilidade. Além disso, podemos ler que “[...] a obra do Snr. Grivet é inaccessivel aos
espiritos menos reflectidos”, o que corrobora nosso pensamento, uma vez que, “[...] para
formar um juizo seguro ácerca desta obra, seria preciso lêl-a toda, não havendo nella palavra
alguma supérflua” (RELATORIO..., 1881, p. XIX), também contribuindo para a nossa ideia
85

de que a leitura da gramática de Grivet foi, provavelmente, complexa até mesmo para os
professores da época.
No prefácio, escrito pelo autor e datado em 1874, lemos:

[o]fferecendo á consideração dos mestres esta nova grammatica, comprazo-


me na esperança de que lhe achem os requisitos que faltavão á que publiquei
em 1865, para que fosse um bom livro escolar, e nella encontrem mórmente,
além de um tratado completo sobre a materia, o methodo mais apropriado
para a introducção, nas aulas, do estudo systematico dos classicos, sem o
qual, por mais que se faça, a regeneração da linguagem não passará de uma
aspiração chimerica. (GRIVET, 1881, s/p, grifo nosso)

Nesse trecho, destacamos a referência à Grammatica Analytica da Lingua Portugueza


(“[...] á que publiquei em 1865 [...]”), a primeira obra do autor, que antecipou gramática que
analisamos, e a intenção do autor com a produção da Nova Grammatica Analytica. Essa obra
foi escrita para professores de língua portuguesa para que, nas suas aulas, constasse o “estudo
systematico dos classicos”. Sem esse estudo dos clássicos nas aulas de língua, para Grivet, o
processo de aprendizagem seria uma ilusão. O autor já explicita, então, a importância dos
autores clássicos para o seu trabalho, dialogando, assim, com a terceira diretriz
epistemológica da Gramática Tradicional, estabelecida por Vieira (2020b), a da escrita
literária pregressa, isto é, o gramático já anuncia a notoriedade de textos anteriores à sua
época para sua exposição gramatical.
Na continuação do prefácio, temos:

[n]ão quer isso dizer que a linguagem deva ficar estacionaria no meio deste
constante e irresistivel andar de todas as cousas humanas; não, muito pelo
contrario: a cada seculo, a cada geração mesmo compete uma
phraseologia propria, que, reflexo historico, registre as suas conquistas
no dominio da civilisação, e formule as suas aspirações para o ideal em
que tem fitos os olhos; porém o valor litterario desta phraseologia não
póde estar em romper ella com as tradições das éras anteriores, e sim em
vasar os pensamentos novos no molde largamente accommodatécio donde,
pela vez primeira, sahiu a lingua no esplendor da mocidade, do vigor e da
louçania, firmando para sempre a sua autonomia entre as suas irmãas da
estirpe greco-latina. (GRIVET, 1881, s/p, grifos nossos)

Salientamos, primeiro, o reconhecimento, por parte do autor, da transformação da


língua através do tempo, que é adequada, pela sociedade, de acordo com sua história, suas
conquistas e suas aspirações. Outro destaque que fazemos, nesse trecho, é o de que o autor
admite que a “fraseologia”, com o significado de gramática, não pode romper com as
86

tradições anteriores, mas pode apresentar seu pensamento em novos moldes, mais adequados
para seu contexto.
É exatamente isso que Grivet faz. Sua retórica corresponde ao que ele realiza na
gramática. O autor, no prefácio da Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza, não se
propõe a romper com a tradição gramatical. Pelo contrário, até então, ele já afirmou a
importância do trabalho com os clássicos e, no último trecho citado, ele admitiu que muitas
das suas ideias não rompem com gramáticas anteriores: o que muda é a forma de apresentá-
las – disso surge, possivelmente, a “teoria das funções”, sobre a qual discorremos na próxima
subseção.
No fim do prefácio, lemos:

[n]este intuito não só extractei, dos mesmos clássicos, a generalidade dos


exemplos destinados a illustrar e confirmar a minha doutrina grammatical,
senão também procurei tornar intuitiva a utilidade de soccorrer-se
assiduamente a estes mananciaes da boa dicção pela pratica
de processsos analyticos pouco intrincados, e por isso mesmo mais expeditos
e intelligiveis. Pois pareceu-me que o meio, senão unico, ao menos mais
adequado para reagir com efficacia contra a decadencia crescente da
linguagem, era o de pôr em frequente confrontação as loquellas espurias do
tempo presente com as lições dos benemeritos das lettras, que
accommodando genialmente a arte da palavra aos dictames do bom senso,
isto é, da logica, buxilárão o padrão perenne das feições caracteristicas da
lingua portuguesa. (GRIVET, 1881, s/p, grifos nossos)

O autor retoma os clássicos e, em seguida, afirma que o modo como idealizou a


gramática foi, para ele, a mais eficaz contra a “decadencia crescente da linguagem”,
confrontando as “loquellas espurias” (falas falsificadas, adulteradas) do seu tempo com as
lições dos mestres da linguagem, dos clássicos. Nessa passagem, o gramático trata a mudança
linguística de forma negativa, apesar de reconhecer, anteriormente, que ela existe.
Depois, Grivet chama a gramática de “arte da palavra”. O chamamento de gramática
como “arte” advém do sentido de ser um processo de experiências anteriores que foram
acumuladas e aprimoradas com o tempo (VIEIRA, 2018). A gramática, ainda, segue as regras
de bom senso, que, para ele, é a lógica, dialogando brevemente, assim, com a influência
racionalista comum nas gramáticas daquela época. No entanto, também vemos uma referência
aos clássicos (“[...] estes mananciais da boa dicção [...]”), se aproximando também de uma
perspectiva empirista.
Os elementos pré-textuais são importantes para observar movimentos retóricos. Em
nosso objeto de pesquisa, sendo uma publicação póstuma, a maior parte desses elementos não
87

foram escritos por Grivet, o que dificulta a análise. No entanto, podemos observar alguns
outros gestos, como o título dado à gramática: Nova Grammatica Analytica da Lingua
Portugueza.
O adjetivo “nova” já supõe uma “velha” gramática, não necessariamente a sua
publicada anteriormente, em 1865, mas até mesmo em relação a gramáticas de outros autores.
Vejamos no Quadro 16 o título das gramáticas de língua portuguesa publicadas na década de
70 do século XIX:

Quadro 16 – Título das gramáticas de língua portuguesa publicadas nos anos de 1870

Ano de
Nome da gramática Autor(es)
publicação
Joaquim Caetano
Grammatica theorica e pratica da lingua Fernandes Pinheiro
1870
portugueza
(1823-1876)
Compendio da grammatica portugueza Frederico Ernesto Estrella
adoptado para uso das escolas da publicas do Rio Villeroy
1870
Grande do Sul pelo respectivo Conselho Director
da Instrucção Publica (1835-1897)

Noções de prosódia e orthographia para uso da


infância que frequenta as aulas do primeiro grau
do instituto santista, intercaladas de um resumo da Augusto Freire da Silva
1871
etymologia e syntaxe, extrahido da Grammatica (1836-?)
portugueza de Francisco Sotero dos Reis pelo
doutor Pedro Nunes Leal
Grammatica da lingua nacional. Compendio H. C. Taylor
1871 adaptado ao ensino nas aulas de instrucção
primaria. (?)

José Ortiz e Candido


Grammatica analytica e explicativa da lingua Matheus de Faria Pardal
1871
portuguesa
(?) e (?-1888)
Grammatica portugueza para as escolas primarias, Julio Cesar Ribeiro Souza
1872 adoptada e premiada pelo conselho da
instrucção publica da provincia do Pará (1843-1887)

Salvador Henrique
1873 Rudimentos da grammatica portugueza Albuquerque
(1813-1880)
Manuel José Pereira
1874 Postillas de grammatica portugueza Frazão
(1836-?)

Explicador de portuguez de conformidade com o Francisco da Silveira da


1875 programma do 1° anno do imperial collegio de Ávila Pimentel
Pedro II (1837-1907)

1875 Grammatica elementar da língua portugueza Filipe Pinto Marques


extrahida dos melhores auctores e coordenada
88

por... (?)
Compendio da grammatica portugueza: para uso Augusto Freire da Silva
1875 de alunos de humanidades, que frequentam a
aula de portugues (1836-?)

Manuel Olimpio
Grammatica portugueza destinada ao curso do 1.° Rodrigues da Costa
1876
anno do Imperial Collegio Pedro Segundo
(?-1891)

Breve compêndio de grammatica portugueza, Frei Joaquim do Amor


1876 organisado em fôrma systematica, com Divino Caneca
adaptação á capacidade dos alumnos (1779-1825)

Grammatica portugueza elementar fundada sob o Theóphilo Braga


1876
methodo histórico-comparativo (1843-1924)
Augusto Freire da Silva
1875 Grammatica Portugueza
(1836-?)
Augusto Epiphanio da
1876 Grammatica Portugueza Elementar Silva Dias
(1841-1916)
Ernesto Carneiro Ribeiro
1879 Elementos de Grammatica Portugueza
(1839-1920)

Fonte: HGEL (2022)19

Nenhuma das gramáticas de língua portuguesa publicadas perto da morte de Grivet,


em 1876, recebeu o adjetivo “nova” e derivados no título, o que já diferencia a NGALP das
contemporâneas. Na Figura 10 (cf. 1.3.1), num anúncio de venda da primeira gramática de
Grivet, a de 1865, podemos ver que suas ideias já eram difundidas como “[...] um plano
inteiramente novo [...]”.
Não podemos dizer se essas palavras são do gramático ou do autor do anúncio do
jornal, mas o título da obra analisada neste trabalho estabelece um posicionamento no campo
dos saberes linguísticos. Diante disso, podemos nos perguntar: nova em relação a quê? Na
camada teórica e na técnica (cf. 5.3 e 5.4), a seguir, nos aprofundaremos nas ideias do autor,
mas adiantamos que i) a teoria das funções; ii) a centralidade dada ao fato (o verbo); iii) a
compreensão da sintaxe como funções exercidas por palavras; e iv) uma crítica fundamentada
à teoria do verbo substantivo são elementos e aspectos que marcam a obra de Grivet.
Uma outra expressão que pode ser observada é o “lingua portugueza” no nome da
obra, que parece seguir a convenção contemporânea, visto que, da lista do Quadro 16, apenas
duas obras não usam “portugueza”: Grammatica da lingua nacional (1871), de H. C. Taylor,

19
A lista de gramáticas foi extraída do catálogo de gramáticas da língua portuguesa (de 1536 a 2018), um
documento elaborado pelo HGEL e, até o momento, de uso interno do grupo.
89

e Explicador de portuguez de conformidade com o programma do 1° anno do imperial


collegio de Pedro II (1875), de Francisco da Silveira da Ávila Pimentel.
É importante destacarmos o espaço que Charles Grivet ocupou nos periódicos. A
primeira crítica à sua obra (à primeira edição) foi publicada em 1866, na Revista Mensal da
Sociedade do Rio de Janeiro. Vale a pena a sua reprodução completa, na Figura 22, porque
nos orienta em relação a algumas questões da época:

Figura 22 – Primeira crítica a Grivet em um periódico


90
91

Fonte: Revista Mensal da Sociedade (RJ) – Ano 1866/Edição 00009 (1)

No começo, o crítico informa sobre as condições da institucionalização da língua


portuguesa naquela época: o português passou a ser cobrado nos exames para concursos. No
entanto, não havia um material que guiasse os estudos, de forma que classificações e
definições diferiam devido à falta de sistematização. Depois, problematiza a classificação do
“que” dos gramáticos lidos por ele até o momento e termina com a indicação da primeira obra
de Grivet. Aparece, novamente, o sentido de “novo”, dessa vez atrelado à nacionalidade do
autor. Acreditamos que a “novidade” é relativa a alguma de suas concepções linguísticas, mas
não descartamos a possibilidade de o “novo” ser também por causa de um estrangeiro que, em
pouco tempo, aprendeu português e escreveu uma gramática robusta dessa língua.
O gramático suíço, nos anos seguintes, continuou com aparições nos periódicos como
argumento de autoridade – as citações completas podem ser vistas no Apêndice D. Abaixo, na
Figura 23, vemos que Grivet aparece em igualdade com Julio Ribeiro, por exemplo, quando o
assunto é concordância:
92

Figura 23 – Grivet citado em periódico, ao lado de Julio Ribeiro, como argumento de autoridade

Fonte: Diario de Belém: Folha Politica, Noticiosa e Commercial (PA) - Ano 1889\Edição 00027 (1)

Em 1984, o autor foi citado pela penúltima vez (Figura 16, cf. 1.3.2) como argumento
de autoridade por Napoleão Mendes de Almeida, o que indica uma possível influência de
Grivet sob este outro gramático, que nos é tão recente. Já a última ocorrência (Figura 17, cf.
1.3.2) do suíço nos jornais foi em 1989, pelo escritor Cécil Meira.
Em relação à rede de influências de Grivet, o autor cita vários trechos de outros textos
em sua obra, mas todas sem referências. Identificamos que algumas são da Grammatica
portugueza, accommodada aos princípios geraes da palavra, seguidos de immediata
applicação pratica (1866), de Francisco Sotero dos Reis (1800-1871). Então, essa é a única
influência explícita, ainda que seja para criticar o gramático maranhense.
93

5.3 Camada teórica: Grivet e sua visão de linguagem

A análise da camada teórica, como abordado anteriormente, ocorre pela investigação


da visão de linguagem do objeto estudado. Assim, nesta subseção, discorremos sobre a
concepção linguística, especialmente na dimensão sintática, presente na Nova Grammatica
Analytica da Lingua Portugueza. Como dito na subseção anterior, apesar de focalizarmos o
capítulo “Syntaxe” da obra, precisamos recorrer a outras partes para compreender o
pensamento teórico global do autor.
Nas “Noções preliminares”, o gramático explica que:

1. GRAMMATICA é a arte de fallar e escrever correctamente : o seu objecto é,


portanto, a palavra.
2. Falla e escreve correctamente quem se conforma com as regras
sanccionadas pelos dictames da boa razão, e segundo os usos respeitáveis
pelo assenso que grangeárão dos doutos. (GRIVET, 1881, p. 1)

Dando continuidade à afirmação de que a gramática é a “arte da palavra”, Grivet,


agora, declara que ela é a “arte de fallar e escrever correctamente” e que seu objeto é a
palavra, o que parece coerente, já que dedica a maior parte da sua obra para a sintaxe – que,
segundo o autor, é a “[...] theoria das funcções que as palavras exercem na enunciação dos
pensamentos” (GRIVET, 1881, p. 222).
A primeira declaração de Grivet (1881, p. 222) sobre sintaxe é a de que ela “[...] é a
theoria das funcções que as palavras exercem na enunciação dos pensamentos, e das relações
que dahi entre ellas occorrem”. Dessa forma, o autor se afasta das definições de sintaxe dos
seus contemporâneos, como:

[a] syntaxe considera as palavras como relacionadas umas com outras na


construcção de sentenças, e considera as sentenças no que diz respeito á sua
estructura, quer sejam simples, quer se componham de membros ou de
clausulas. (RIBEIRO, 1885, p. 209)

[s]yntaxe é a quarta parte da grammatica, que ensina a compor a oração.


(CANECA, 1875, p. 54)

Tanto a definição de Júlio Ribeiro (1885) quanto a de Frei Caneca (1875) são voltadas
para a relação das palavras e composição das sentenças. Grivet não nega essa relação entre
palavras, mas acrescenta a noção de “teoria das funções”.
94

5.3.1 A teoria das funções

As funções exercidas pelos termos são um resumo feito, na parte dedicada à sintaxe, a
partir das dez espécies de palavras distribuídas na lexicologia. Os termos que compõem a
teoria das funções são sete: fato, sujeito, complemento directo, complemento indirecto,
predicado, apposição e ligação.
Antes de nos aprofundarmos em cada função, é preciso compreendermos melhor a
organização delas. Para Grivet (1881, p. 222), é necessário que:

[...] não se entenda que todos estes termos encontrem-se necessariamente


juntos em toda e qualquer enunciação de pensamento, e sim tão somente
que, seja qual fôr o pensamento, todas as palavras que o constituem,
cabem forçosamente em uma ou outra destas sete categorias,
com excepção, todavia, das interjeições, que, por pertencerem á linguagem
figurada, se avalião de um modo todo especial.

As palavras que constituem qualquer enunciação do pensamento farão parte,


obrigatoriamente, de algum dos sete termos das funções. No entanto, nem todas as sete
categorias aparecerão sempre. A exceção é a interjeição, que, por ser utilizada num sentido
figurado, é preciso que seja analisada de outra forma.
Ainda sobre o trecho citado, observarmos que, para se referir aos termos do
pensamento, Grivet (1881, p. 222) utiliza “todas as palavras que o constituem”, isto é, a noção
de constituinte ou de sintagma não estava presente nas ideias gramaticais do autor. Dessa
forma, vemos que esses itens (as palavras) são significativos para a enunciação do
pensamento. A análise sintática instaurada por Grivet não é feita por constituintes/sintagmas,
mas pela função que as palavras exercem.
Vejamos as funções que podem ser exercidas pelas palavras. Abaixo, no Quadro 17,
expomos esses termos juntamente às definições elaboradas por Grivet.

Quadro 17 – Definição dos elementos da teoria das funções de Grivet (1881)

Função Definição
“O FACTO fica enunciado por um verbo, e só por um verbo em um dos
Facto
quatro modos outros que o infinitivo” (p. 222)
“O SUJEITO [fica enunciado] essencialmente por um substantivo ou um
Sujeito
pronome, accidentalmente por um infinitivo” (p. 222)
Complemento “O COMPLEMENTO DIRECTO [fica enunciado] promiscuamente por um
directo substantivo ou um pronome, e separadamente por um infinitivo” (p. 223)
95

“O COMPLEMENTO INDIRECTO [fica enunciado] explicitamente por um


Complemento
substantivo, um pronome, um infinitivo ou uma locução adverbial,
indirecto
implicitamente por um adverbio” (p. 223)
“O PREDICADO [fica enunciado] essencialmente por um adjectivo ou um
Predicado participio variavel, accidentalmente por um substantivo, um pronome ou
um infinitivo” (p. 223)
“A APPOSIÇÃO [fica enunciada] essencialmente por um artigo, um
Apposição adjectivo ou um participio variavel, accidentalmente por um substantivo,
um pronome ou um infinitivo” (p. 223)
“A LIGAÇÃO [fica enunciada] isoladamente por uma conjuncção ou
Ligação locução conjunctiva, contractamente por todo o pronome adjectivo ou
adverbio implicando ostensiva ou disfarçadamente QUE ou SE” (p. 223)

Fonte: elaborado pela autora (2022)

Na abordagem da sintaxe realizada com a teoria das funções, um papel é atribuído a


cada palavra. A análise, então, não é pelos sintagmas, mas pela função exercida por cada
elemento. Para estudar melhor cada uma das sete funções, dividimos, a seguir, esse subtópico
para tratar de cada uma delas.

5.3.1.1 Facto

A primeira função descrita por Grivet é o fato, que é enunciado por um verbo. O fato é
a palavra que, segundo o autor, dá vida ao discurso. Sem o verbo, que tem essa função, não há
comunicação, independentemente de quais outras forem as espécies de palavras utilizadas na
enunciação. O fato pode aparecer com ou sem sujeito, com ou sem complementos e com ou
sem predicado, como nos exemplos:

(Com ou sem sujeito). A NOITE CHEGÁRA. — RELAMPEJAVA.


(Com ou sem complemento). Tudo se muda por instantes. — Tudo passa. (P.
Man. Bernardes).
(Com ou sem predicado). Se os olhos vêm com odio, — O ANJO É FEIO ; —
se com amor, o — QUE NÃO É, — tem ser. (P. Ant. Vieira). (GRIVET, 1881,
p. 291-292)

O gramático alerta sobre o infinitivo. Segundo ele, outros autores atribuíram a essa
forma propriedades idênticas às dos quatro modos: indicativo, condicional, imperativo e
subjuntivo. Entretanto, ele não exprime um pensamento, apenas uma ideia ou um conjunto de
ideias, como em “PREGAR [não ha de ser] PRAGUEJAR. (Gil Vicente)” (GRIVET, 1881, p.
292). Sem o que está entre colchetes no exemplo do autor, ou seja, se fosse apenas “PREGAR
96

PRAGUEJAR”, pensaríamos sobre as ações de pregar e de praguejar, mas nada seria


afirmado e não teríamos maiores informações, como quem prega ou pragueja. Isto é, com “eu
prego” ou “eu praguejo”, temos dados sobre o sujeito e o número (primeira pessoa do
singular) e o tempo e o modo verbal (presente do modo indicativo, de acordo com Grivet). Já
se fosse possível uma proposição com apenas “pregar” ou “praguejar”, não saberíamos o
sujeito, o número, o tempo e o modo. De forma resumida, o sentido (em termos lógico-
semanticos) não é completo, pois não podemos dizer se a oração é verdadeira ou falsa.
Outros fatores que também diferenciam o infinitivo dos demais, é que i) ele pode ser
regido por uma preposição, já o fato, não, e ii) com exceção do imperativo, todo fato pode ser
relacionado com um fato anterior através de uma ligação subordinativa (que ou se), o que não
ocorre com o infinitivo.
Como os termos sintáticos são considerados a partir das espécies de palavras que os
produzem, o autor ainda acrescenta que o verbo “[...] fornece, nos quatro primeiros modos, o
facto, e só o facto ; no infinitivo fornece um sujeito, um complemento directo ou indirecto,
um predicado ou uma apposição” (GRIVET, 1881, p. 223). A função do fato só se faz
presente quando o verbo aparece nos modos indicativo, condicional, imperativo ou
subjuntivo. Caso o verbo esteja no modo infinitivo, a função do fato não ocorrerá.
Mais explicações sobre o fato podem ser vistas no trecho abaixo:

O pensamento consta de UMA ou MAIS IDÉAS. Quando consta de uma, o


termo que lhe corresponde, só póde ser um facto, isto é, um verbo em um
modo outro que o infinitivo ; e só um facto de necessidade, isto é, ao qual
fallece absolutamente todo e qualquer sujeito, como lhe póde fallecer todo e
qualquer predicado, todo e qualquer complemento. Ex. ANOITECE. —
TROVEJOU. — CHOVERÁ. (GRIVET, 1881, p. 224)

Antes, o autor explica que pensamento é um ato intelectual que implica a formação de
um juízo. Com essa ideia, podemos perceber uma influência racionalista que remete à
Gramática de Port-Royal. O que caracteriza um pensamento é o fato de ele poder ser aceito ou
não, independentemente do seu valor de verdade. Ideias soltas não formam um pensamento.
Por isso, ele é constituído por uma ou mais ideias. Quando é de apenas uma, esse termo, se
não estiver no infinitivo, é o fato.
Na citação anterior, temos três frases com exemplos de fatos: “anoitece”, “trovejou” e
“choverá”. Todas elas, apesar de só terem uma palavra, remetem a uma ideia e podem ser
impugnadas: anoitece? Sim/não! Trovejou? Sim/não! Choverá? Sim/não! Se esses verbos
estivessem no infinitivo, as perguntas não poderiam ser feitas.
97

Depois da introdução sobre o que é o fato, Grivet se aprofunda nos quatro modos
verbais: o indicativo, o condicional, o imperativo e o subjuntivo. Por motivos organizacionais,
também dividimos esses modos nos subtópicos em seguida.

5.3.1.1.1 Modo indicativo

O modo indicativo apresenta oito tempos, sendo cinco simples e três compostos. Para
sistematizar essa classificação, elaboramos o quadro abaixo, com o número ordinal do tempo,
seu nome e um ou mais exemplos dados pelo autor.

Quadro 18 – Tempos do modo indicativo

Tempo Nome Exemplos de Grivet (1881)


“Os olhos VÊM pelo coração ; e, assim como quem VÊ por vidros de diversas
côres, todas as cousas lhe PARECEM daquela côr, assim as vistas se TINGEM dos
1º presente
mesmos humores de que ESTÃO bem ou mal AFFECTOS os corações. (P. Ant.
Vieira)” (p. 294)
“Partimos para a cidade de Trento, onde então se CELEBRAVA o sagrado
concilio...” (p. 295)
2º pretérito imperfeito
“O que a turca FAZIA por mostrar religião e santidade. (Pantaleão de Aveiro)”
(p. 295)
“Emfim (el rei D. Sebastião) TORNOU para Lisboa, mais acceso em desejos, e
pretérito perfeito
3º com muita pressa : ORDENOU coronéis ; LEVANTOU terços : NOMEOU capitães ;
simples
CHAMOU hispanhoes, tudescos e italianos…” (p. 296)

pretérito prefeito “Estes são os aduladores,… attentos somente a não desgostar ou entristecer o

composto agrado em que TÊM FUNDADO seus interesses. (P. Ant. Vieira)” (p. 296)
pretérito mais que “Fabricou Salomão um palacio real em Jerusalem, que, depois do templo que

perfeito simples elle EDIFICARA, foi o segundo milagre. (P. Ant. Vieira)” (p. 296)
“E logo, pedindo um missal fez (D. João de Castro) juramento sobre os
Evangelhos que, até a hora presente, não era devedor à fazenda real de um só
cruzado, nem HAVIA RECEBIDO cousa de christão, judeo, mouro ou gentio ;
pretérito mais que
6º nem, para a autoridade do cargo ou da pessoa, tinha outras alfaias que as que
perfeito composto
de Portugal TROUXERA ; e que ainda a prata que no reino FIZERA, HAVIA já
GASTADO ; nem TIVERA jámais possibilidade para comprar outra colcha que a
que na cama vião. (Jacintho Freiro de Andrade)” (p. 297)
“Como se ANIMARÁ o soldado a buscar a honra por meio das bombardas e dos
7º futuro simples mosquetes, se vê em um peito o sangue das balas, e noutro a purpura das
cruzes ? [...] (P. Ant. Vieira)” (p. 297)
“Perdeu V. Ex. um tão grande, tão fiel e tão honrado amigo e parente... … Só
nos fica o allivio e consolação da fé, esperando que, assim como Deos o livrou
8º futuro composto
das perseguições tão mal merecidas deste mundo, lhe HAVERÁ DADO no céo o
descanso. (P. Ant. Vieira)” (p. 298)

Fonte: elaborado pela autora.


98

O primeiro tempo, presente, sem muitos mistérios, indica ações que ainda ocorrem no
tempo atual. Já o segundo, pretérito imperfeito, implica uma lembrança, podendo substituir o
presente quando o fato é subordinado a um verbo que antes anunciou um passado. Dessa
forma, o verbo, por atração, seria “constrangido” a declarar no passado o que, na verdade, é
do presente: “Bem DISSE S. Ambrosio que mais VALIA um dinheiro tirado do pouco, do que
um thesouro tirado do máximo. (P. Man. Bernardes) […]” (GRIVET, 1881, p. 295). Nesse
caso, o “valia” significa um “vale”, mas, devido ao passado em “disse”, o verbo “valer” é
forçado a ficar também no passado.
O pretérito perfeito simples, terceiro tempo, aponta fatos que já sucederam. Grivet
comenta que esse tempo já recebeu, pelos filólogos, o nome de “passado histórico” ou
“nativo”. O quarto tempo, pretérito perfeito composto, substitui o terceiro quando se refere a
um fato sucedido de forma repetitiva ou completamente concluído.
Já o quinto tempo, pretérito mais que perfeito simples, indica o fato como anterior a
uma época já terminada, caracterizando um “duplo passado”. O alcance do sexto tempo,
pretérito mais que perfeito composto, é o mesmo que do quinto, diferenciado apenas por
causa da mistura nas orações, sem distinção na determinação do tempo. O penúltimo tempo,
futuro simples, remete a um fato que ainda ocorrerá. O último, futuro composto, a um que já
terá ocorrido quando outro acontecer.

5.3.1.1.2 Modo condicional

Esse modo apresenta quatro tempos, sendo dois condicionais genuínos e dois
condicionais suplementares. Genuínos são os que não podem ser confundidos com outras
inflexões do verbo devido a suas formas, podendo exprimir o condicional com a perfeita
propriedade de sentido. Os suplementares não modificam a propriedade dos genuínos, mas
podem substituí-los para melhorar a elocução pela variedade e pela eufonia, como em
“PUDERA-SE fazer problema onde ha mais pescadores, e mais modos e traças de pescar, se no
mar, ou na terra. (P. Ant. Vieira)” (GRIVET, 1881, p. 298), em que “pudera-se” podia ser
trocado por “poder-se-hia”, sem alterar o sentido, favorecendo, assim, a dicção.
No quadro abaixo, encontramos os tempos do modo condicional:

Quadro 19 – Tempos do modo condicional

Tempo Nome Exemplo de Grivet (1881)


1º Presente-passado-futuro “Eu faria isso AGORA MESMO, — eu faria isso já HONTEM, — eu
99

proprio faria isso de boa vontade AMANHÃA, — se me sobrasse tempo” (p.


299)
“Que TERIA SIDO da Europa christãa, se Carlos Magno não
repellisse os Sarracenos ? — A expressão : Que SERIA da Europa
2º Pretérito próprio
christãa… poderia alludir, contra a vontade, á epoca presente” (p.
299)
“Estes são os aduladores, que louvão o que não DEVERÃO [deverião]
Presente-passado-futuro ] louvar, e applaudem o que não DEVÊRÃO [deverião] ] applaudir, e

próprio ajudão o que DEVÊRÃO [deverião] ] estorvar. (P. Ant. Vieira)” (p.
299)
“Faça-se Vossa Alteza amar, e nesta só palavra digo a Vossa Alteza
4º Pretérito próprio mais do que PUDERA [poderia] ] em largos discursos. (P. Ant.
Vieira)” (p. 299)

Fonte: elaborado pela autora.

O primeiro tempo, presente-passado-futuro próprio, é assim chamado por causa da sua


capacidade de poder se referir a qualquer um desses tempos, como no exemplo mostrado no
quadro. Já o segundo, pretérito próprio, ocupa o lugar do primeiro quando este, na expressão
do passado, devido a alguma circunstância, ficaria ambíguo. O terceiro, presente-passado-
futuro próprio, e o quarto tempo, pretérito próprio, correspondem ao primeiro e ao segundo,
substituindo-os apenas por questões de dicção.
O autor ainda critica a língua portuguesa por permitir o uso do segundo tempo do
indicativo, pretérito imperfeito, no lugar do condicional, como no caso de “[s]e os homens se
comerão somente depois de mortos, parece que era [seria, fôra] ] menos horror, e menos
materia de sentimento. (P. Ant. Vieira)” (GRIVET, 1881, p. 300).

5.3.1.1.3 Modo imperativo

Como, no modo imperativo, o fato é mandado ou pedido, ele só pode se referir ao


futuro, não podendo indicar o tempo presente, já que, se algo já é, não precisa ser mandado.
Além disso, podemos pressupor que, perto de quem manda ou dá a ordem, está alguém que
ouça e possa cumprir. Dessa forma, o mesmo modo não pode abranger mais de uma pessoa,
ou é a segunda do singular ou a segunda do plural, como em “[a]s arvores que ao espinheiro
offerecêrão o governo, disserão-lhe : « vem ». Elle disse-lhes : « vinde ». (P. Ant. Vieira)”
(GRIVET, 1881, p. 301).
Na segunda pessoa, também fica restrito a ela exprimir o mandado ou o pedido sob o
teor negativo, devendo a flexão verbal ser substituída pela do 1º tempo do subjuntivo: “[o]’
voadores, contentai-vos com o mar e o nadar, e não queirais voar, pois sois peixes. (P. Ant.
100

Vieira)” (GRIVET, 1881, p. 301). Isso também ocorre quando, “[...] por uma ficção que
recorda o MODO OPTATIVO da lingua grega [...]” (GRIVET, 1881, p. 301), a ordem ou pedido
é direcionado à primeira ou à terceira pessoa do singular ou do plural. É interessante notar a
menção feita pelo autor à língua grega para fins de explicação de um detalhe do português,
que pode ser visto abaixo:

(3.ª P.) — FAÇA O PRINCIPE seu corpo da guarda o amor dos subditos. —
ADMITTA homens aos cargos pelo ser, não pelo parecer. — SEJA clemente,
mas não DEIXE de ser severo. (P. Ant. Vieira).

A exceção ocorre se um sujeito se dirigir a si mesmo, como se fosse um estranho.


Nesse caso, o verbo volta para o imperativo: “[e]spirito meu, eu ando em uma região
desconhecida, onde não sei bem o nome das cousas… DÁ-me, te rogo, alguma luz nessa
materia. (P. Man. Bernardes)” (GRIVET, 1881, p. 302).

5.3.1.1.4 Modo subjuntivo

O subjuntivo é o modo da eventualidade, ou seja, o que pode acontecer ou não:

Autores ha que se persuadem não estar o céo privado de semelhantes


recreações ; mas, QUANDO o ESTEJA destas, bem sabemos que tem outras
muitas e maiores. (P. Man. Consciencia). (GRIVET, 1881, p. 304)

Convém observar que o fato, por ser subordinado, no subjuntivo, não é


obrigatoriamente anteposto por uma ligação subordinativa, como “quando”, “ainda que” e
“se”. Quando a ligação aparece, é devido ao bem da eufonia: “PEDIU Sansão a seus pais QUE

lhe DESSEM por mulher uma philistéa. (P. Ant. Vieira)” (GRIVET, 1881, p. 305).
O uso dessas ligações não indica necessariamente o modo subjuntivo, mas, sem
alguma delas, o subjuntivo não é produzido. É isso que ocorre nos seguintes exemplos que,
carecendo de eventualidade, são classificados, respectivamente, no indicativo e no
condicional:

Antigamente houve entre gentes barbaras o impiissimo costume QUE os


filhos ENTERRAVÃO vivos seus pais quando estes, por velhos e enfermos,
não podião ganhar de comer. (P. Man. Bernardes).
Aquelles que tudo erão delicias, mimos, trajos, damas, banquetes, festas,
cheiros, musicas, passatempos, mettidos em masmorras, sem allivio nem
consolação alguma,… QUE SENTIRIÃO ? QUE IMAGINARIÃO ? QUE FARIÃO ?
101

QUE DIRIÃO ? EM QUE CUIDARIÃO ? (Luiz Torres de Lima). (GRIVET, 1881,


p. 305-306)

O autor afirma que o emprego do subjuntivo é resumido a três causas que o


promovem: i) o sentido de um verbo anterior; ii) a especialidade da ligação; e iii) uma
circunstância acidental. Os verbos anteriores que impõem o subjuntivo ao fato são aqueles
que enunciam uma vontade, um sentimento, uma dúvida, uma negativa, uma interrogação ou
exclamação direta. Temos um exemplo em: “[n]ecessario É QUE HAJA premios para que haja
soldados, e QUE, aos premios, se ENTRE pela porta do merecimento. (P. Ant. Vieira)”
(GRIVET, 1881, p. 306).
Já a especialidade da ligação se refere ao fato de que ela, por si só, não evoca nenhum
modo, mas uma proposição subordinada. É por isso que deve-se considerar o modo do fato da
proposição.
Quando o subjuntivo não é por causa do verbo nem por causa da ligação, a
eventualidade pode estar subordinada a um verbo de forma oculta, requerendo, assim, uma
inversão de proposições.
Grivet apresenta ainda os tempos do subjuntivo, que podemos ver no quadro abaixo:

Quadro 20 – Tempos do modo subjuntivo

Tempo Nome Exemplo de Grivet (1881)


“Não digo que o seu pai ESTEJA AGORA aqui, nem tão pouco que
1º presente-futuro
aqui ESTEJA AMANHÃA.” (GRIVET, 1881, p. 321)
“Eu desejára que o seu pai aqui ESTIVESSE AGORA, — aqui
presente-passado-
2º ESTIVESSE HONTEM, — aqui ESTIVESSE AMANHÃA, para com elle
futuro-próprio
tratar deste assumpto” (GRIVET, 1881, p. 321)
Quem haverá que se não admire de uma tal volta, da fortuna em
dous sujeitos tão notáveis : um tão valente, outro tão altivo ! E’
presente-passado- possivel que nisto PARÁRÃO as façanhas e victorias de Sansão ? E’

futuro-suplementar possivel que nisto PARÁRÃO as riquezas e bizarrias do Prodigo ?
Nisto pararão ; ou, para melhor dizer, não parárão só nisto. (P.
Ant. Vieira) (p. 323-324)
“Admira-nos o ver quão depressa HAJA a terra GERADO e
PRODUZIDO ; mas, quanto maior motivo temos para admiração, se
4º pretérito perfeito
considerarmos como as sementes lançadas nella não fructificão, se
primeiro não morrem ! (Fr. Luiz de Granada)” (p. 326)
“Quando, para este ministério, mandavão de Ceilão um elephante,
o levavão para a ribeira, onde todos os outros, quando este
préterito mais que
5º entrava, lhe fazião uma reverencia com muita submissão, sem que
perfeito próprio
alguma hora o TIVESSEM VISTO. (João Ribeiro). — (Não : o
VISSEM)” (p. 326)

pretérito mais que


6º Ø
perfeito supplementar
102

« Quando FORDES CONVIDADO á casa e á mesa alheia, não deveis


tomar os primeiros lugares, senão o ultimo, porque (para que) não
succeda vir o senhor da casa,. e vos mande levantar do lugar que
tomastes, e o dê a outro melhor do que vós, e então vos acheis com
affronta no ultimo lugar. Porém, se ESCOLHERDES o ultimo, virá o
7º futuro simples
dono da casa e senhor do convite, e, vendo-vos alli, vos dirá :
Amigo, subí para cima ! E então ficareis com gloria entre os mais
convidados ; porque todo aquelle que se EXALTAR, será
humilhado, e o que se humilha, será exaltado. » (PARAB. EVANG. P.
J. B. de Castro)” (p. 326)
8º futuro composto Ø

Fonte: elaborado pela autora.

O primeiro tempo, presente-futuro, enuncia tanto o presente quanto o futuro. O


segundo, presente-passado-futuro próprio, tem formas peculiares e se presta a enunciar as três
épocas de duração que o nomeiam. Grivet comenta que, devido à correlação com o modo
condicional, o segundo tempo do subjuntivo pode ser, por vezes, suprido por ele, como em
“[e], que vos parece – que faria o Cesar neste caso? (P. Ant. Vieira)” (GRIVET, 1881, p.
321). Nesse exemplo, a segunda proposição está subordinada a uma interrogação direta, dessa
forma, o fato passa para o subjuntivo.
O presente-passado-futuro suplementar, terceiro tempo, serve para suprir o segundo
por causa da eufonia e da variedade. O quarto, pretérito perfeito, indica um passado. O quinto,
pretérito mais que perfeito próprio, e o sexto tempo, pretérito mais que perfeito suplementar,
substituem, respectivamente, o segundo e o terceiro, quando estão em circunstâncias que
causem a obscuridade da proposição. O sétimo e o oitavo tempo do subjuntivo,
respectivamente futuro simples e futuro composto, correspondem ao sétimo e oitavo do
indicativo, mas tendo a eventualidade como condição.

5.3.1.2 Sujeito

Para Grivet, a função do “sujeito”, que pode ter uma ou mais palavras, é impor ao
verbo o número e a pessoa. Caso não haja sujeito, falta ao verbo “personalidade”. Por esse
motivo, o verbo só apresenta uma forma em cada tempo. Estão aptos a serem sujeitos apenas
o substantivo, o pronome e o verbo na sua forma infinitiva. Se o verbo estiver no gerúndio,
ele não pode ser um sujeito. Vejamos um exemplo do autor:

Não se soffre que gente que tem um mesmo Pai celestial, e caminha
juntamente para uma mesma cidade celestial, não se ame no
103

caminho, HAVENDO DE TER no cabo da jornada tão perfeita amizade e paz


eternamente. (D. Fr. Bartholomeo dos Martyres). (GRIVET, 1881, p. 346)

Na citação acima, “havendo”, em versalete, não poderia ser considerado o sujeito do


anunciado, visto que o gerúndio, por só ter uma forma, não daria a “personalidade” a “ter”, ou
seja, não lhe daria os atributos necessários, que são o número, a pessoa, o modo e o tempo.
O autor também abre a possibilidade de palavras substantivadas exercerem a função
de sujeito, desde que acompanhadas por um artigo ou adjetivo determinativo. Para o autor,
adjetivo determinativo é aquele que traz uma ideia de numeração, de pertença etc., como
“dois”, “este”, “algum”, entre outros, o que, hoje, chamamos, de numeral e pronome.
Ao considerarmos uma palavra substantivada, devemos nos atentar à função exercida
pelo termo. Leiamos este exemplo dado pelo autor:

Oh ! quem pudera examinar ESTE PORQUE !… OS PORQUES desta desunião


nenhuma cousa valem, nenhuma cousa montão, nenhuma cousa pesão ; e as
consequencias della montão tudo, pesão tudo, e levão tudo ! (P. Ant.Vieira).
(GRIVET, 1881, p. 347)

No primeiro destaque em versalete, o “porque” está acompanhado por “este”, um


adjetivo determinativo (hoje, pronome demonstrativo). Já o segundo está pelo artigo “os”,
sendo sujeito dos fatos (verbos) que seguem no enunciado (valem, montão e pesão). Não
podemos, entretanto, afirmar que o primeiro “porque” é sujeito, pois, apesar de aparecer
substantivado, ele exerce a função de complemento direto de “examinar”.
O que também não pode ocorrer, para Grivet, é uma proposição ou uma oração formar
o sujeito de um verbo, ideia defendida pela maior parte dos gramáticos, de acordo com o
suíço. Isso se deve à impossibilidade de uma oração ser um todo e apenas uma parte. Ela teria
que abdicar sua exclusividade da expressão de um pensamento, sua autonomia. Se uma
proposição pudesse ser o sujeito de outra, a primeira, dessa forma, seria parte integrante da
segunda. Então, haveria duas proposições ou apenas uma, pois uma proposição não poderia
representar um todo e uma só parte simultaneamente.
Um exemplo dado é “[q]uem quer vai, — quem não quer manda. (P. Man.
Bernardes)” (GRIVET, 1881, p. 348). Se considerássemos que uma oração pode fazer parte
da outra, “quem quer” seria o sujeito de “vai”, e “quem não quer”, de “manda”. Para proceder
à análise, Grivet troca o vocábulo “quem” por “aquele que”, resultando em “aquele que quer
vai, aquele que não quer manda”. Cada fato é regido pelo seu próprio sujeito, que não é uma
proposição, mas um pronome. O autor termina sua análise destacando a pontuação
104

inadequada do trecho extraído de Padre Manuel Bernardes, tendo como grafia correta: “quem
quer, vai; quem não quer, manda”.
O sujeito pode ser simples ou composto. Caso seja simples, o verbo concorda com ele
em número, pessoa e gênero, no caso de um verbo na voz passiva. Em relação a essa
concordância do verbo com o sujeito quanto ao gênero, acreditamos que seja, na verdade, a
concordância do particípio com o sujeito, como num exemplo apresentado pelo gramático:
“[q]uantos VIERÃO a servir porque QUIZERÃO [ELLES quizerão] SER mais SERVIDOS, ou
SERVIDOS de mais do que PODIÃO [ELLES podião] ] manter ! (P. Ant. Vieira)” (GRIVET, 1881,
p. 350). Nota-se que “servidos” concorda com “elles”, não com “quizerão”.
Caso seja composto:

[...] a regencia por elle [sujeito composto] exercida não é tão absolutamente
a que, importada da lingua franceza, onde tem o seu cabimento, vai
desmoronando por ahi, nas escolas, a vernaculidade portugueza, que repugna
ao afrancesamento syntaxico por indole e isenção. (GRIVET, 1881, p. 351)

Nesse trecho, o autor declara que o sujeito composto, no português, foi tomado da
língua francesa, mas que, nas escolas, onde há a “vernaculidade portugueza”, ele foi
modificado. Com o composto – formado por substantivos, pronomes ou os dois –, o verbo
passa para o plural, concordando também em gênero, caso seja passivo. A concordância de
gênero se dá com a palavra mais próxima do verbo, por anteposição ou posposição.
Se os substantivos representarem ideias abstratas, como em “[a] vida e o tempo nunca
pára. (P. Ant. Vieira)” (GRIVET, 1881, p. 352), o verbo, por silepse, continua no singular,
mostrando mais uma vez o critério semântico utilizado pelo autor nas suas concepções
sintáticas.
Em seguida, o autor comenta casos de particularidades de concordância e faz um
comentário que merece ser reproduzido: “[...] o que assenta ao francez, não tem
necessariamente igual cabimento no portuguez ; porquanto, obedecendo a necessidades
diversas, cada um dos idiomas deve caminhar por sua propria vereda” (GRIVET, 1881, p.
356). O autor, nesse trecho, reconhece a particularidade de cada língua, não sendo possível,
portanto, transferir a gramática de uma língua para outra. Dessa forma, ele se mostra contrário
ao que vinha fazendo a linhagem gramatical latinizada.

5.3.1.3 Complemento direto


105

O complemento direto é o “[...] termo que abrange a palavra ou conjuncto de palavras


inteirando o sentido de um verbo sem intervenção de preposição, quer expressa, quer occulta”
(GRIVET, 1881, p. 360-361). As classes que podem exercer essa função são substantivos,
pronome e verbos no infinitivo. Esse complemento pode ser simples, quando constituído por
uma única palavra, ou composto, quando é formado por mais de uma.
Grivet faz uma observação importante sobre o complemento: ele não pode modificar o
verbo. Só quem pode fazê-lo é o sujeito. Essa regra parece dispensável, mas, para o autor, ela
se faz necessária, pois ele alerta para erros de confusão de complemento direto com sujeitos e
vice-versa. Um exemplo é o discurso da tribuna “[e]rão estas as observações que me
OCORRÊRÃO fazer sobre a materia...” (GRIVET, 1881, p. 361). Não podemos atribuir ao
verbo “ocorrerão” o “que”, pronome relativo que o antecede, como sujeito, pois o “que” é
complemento direto de “fazer”, e o sujeito de “ocorreu” é o verbo “fazer”.
Uma outra lei descrita pelo gramático é a de que um verbo pode ter apenas um
complemento direto simples ou composto, formado por substantivos ou pronomes. O seguinte
caso seria inaceitável: “ENSINO GRAMMATICA os FILHOS de meu tio” (GRIVET, 1881, p. 362).
Para orações desse tipo, com mais de um complemento, um deles deveria ter uma preposição,
tornando-se indireto, como em “ENSINO em grammatica os FILHOS de meu tio” (GRIVET,
1881, p. 362).
O caso não é aplicado a verbos que tenham dois complementos cujo primeiro seja
substantivo ou pronome e o segundo seja um infinitivo. O autor exemplifica com “Frei
Thomaz da Costa FAZIA DERRETER em lagrimas até OS MAIS DESCOMPOSTOS na vida. (Fr.
Luiz de Souza)” (GRIVET, 1881, p. 362). Nessa citação, “derreter” e “os mais decompostos”
são os complementos do verbo “fazia”.
Um comentário é feito em relação ao francês. Grivet afirma que os gramáticos
franceses não distinguem complementos diretos de infinitivos e de substantivos e pronomes,
afirmando que nenhum verbo pode ter dois complementos diretos. Para o autor, isso
repercutiu na gramática portuguesa na forma de subversão de bons princípios, gerando as
terminações “arem”, “erem”, “irem” e “orem” nos infinitivos pessoais. Um exemplo é:

« A historia póde-se comparar com um velho que, tendo vivido milhares de


annos, tendo visto EDIFICAREM-SE AS CIDADES, E CAHIREM em decadencia,
NASCEREM, FLORESCEREM E MORREREM AS NAÇÕES da terra, se senta para
nos contar quanto se tem passado…» (GRIVET, 1881, p. 363)
106

Segundo o suíço, essa tendência também é fruto da teoria filosófica do verbo


substantivo, a qual veremos adiante (cf. 5.3.2). A desaprovação ao infinitivo pessoal fica
evidente no trecho abaixo, em que o autor condiciona a existência do verbo a um sujeito:

OBSERVAÇÃO. Não tendo os grammaticos francezes cogitado desta


distincção entre complementos directos de infinitivo, e complementos
directos de substantivos e pronomes, embora o caso se dê em francez com a
mesma frequencia como em portuguez (Je vous entends PARLER Je LES vois
VENIR), aconteceu que se limitarão a declarar succintamonte e sem mais
indagações que : « Nenhum verbo póde ter dous complementos directos ».
Resvalou naturalmente tão conciso e commodo aphorismo para a
grammatica portuguesa ; mas, encontrando ahi tempos pessoaes no
infinitivo, dou isto azo a uma subversão dos bons principios, pelo abandono
das normas que legarão os classicos. Porquanto, sob a preoccupação
incessante, entranhada, indestructivel do que nenhum verbo existe sem
sujeito. (GRIVET, 1881, p. 363)

A fim de verificar se um elemento é complemento direto ou sujeito, um método


proposto pelo gramático é a substituição da palavra por um pronome pessoal (o, a, os, as) para
indicar que é um complemento direto, ou pelos pronomes “elle”, “ella”, “elles” e “ellas”, o
que indicaria que é um sujeito.
A segregação dos substantivos e pronomes e do infinitivo como complemento direto
também é justificada pelos chamados verbos neutros. Estes são os verbos que não têm
complemento, como “ir” e “vir”. Os substantivos e os pronomes podem ser utilizados com
verbos ativos, pronominais e alguns impessoais, nunca com os verbos neutros. Já o infinitivo
pode ser usado com todas essas formas, como em “[a]s arvores FORÃO OFFERECER o governo
á oliveira… O espinheiro respondeu : « VINDE todas DEITAR-VOS a meus pés. » (P. Ant.
Vieira)..” (GRIVET, 1881, p. 365).
Os conhecimentos de Griver sobre complemento direto também podiam ser vistos nas
discussões dos jornais do século XIX, como na Figura 24, abaixo:
107

Figura 24 – Citação a Grivet em jornal do século XIX sobre discussão acerca do pronome “lhe” como
complemento direto

Fonte: A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1891/Edição 00372 (1)

O artigo, escrito por Vilhena Alves, discorre acerca do pronome “lhe”. De acordo com
o texto, esse pronome, quando acompanhado de verbos transitivos diretos, equivalendo a “o”,
pode ser transformado em “ele”, atuando como sujeito da passiva. Essa afirmação é amparada
por uma citação a Grivet, que afirma ser possível os complementos diretos, quando
constituídos por substantivos e pronomes, formarem o sujeito dos mesmos verbos quando na
108

forma passiva. No entanto, a ideia de Vilhena Alves entra em conflito com Grivet, quando o
gramático chama “lhe” e “lhes” de complementos indiretos pleonásticos e afirma que eles só
podem servir como indiretos, conforme veremos na próxima subseção.

5.3.1.4 Complemento indireto

O complemento indireto pode ser expresso por um substantivo, um pronome, um


verbo no infinitivo ou uma locução adverbial. Ele caracteriza-se por ser “[...] o termo que
abrange a palavra ou conjuncto de palavras regidas, quer expressa, quer occulta, quer
implicitamente de uma preposição” (GRIVET, 1881, p. 372). Com apenas um enunciado,
Grivet exemplifica o que seria uma regência expressa, oculta e implícita:

[v]eiu UMA VEZ a luz A SER JULGADA NO JUIZO DOS HOMENS, e vinha ella
MUITO confiada, porque JÁ ANTIGAMENTE tinha apparecido DIANTE DO
JUIZO DE DEOS, e sahíra DELLE COM GRANDES APPROVAÇÕES. (P. Ant.
Vieira). (GRIVET, 1881, p. 372, grifos nossos)

No trecho acima, as preposições explícitas estão destacadas em negrito. Já a oculta,


para o autor, está em “[de] uma vez”, e a implícita, em “porque [muito] já antigamente”.
As palavras que podem exercer a função de complemento indireto são substantivos,
pronomes, verbos no infinitivo e advérbios. Assim como o direto, o complemento indireto
pode ser simples ou composto. Quando composto, das palavras devem ser regidas pela mesma
preposição, repetida ou não, contanto que estabeleçam uma relação, fator determinado pela
possibilidade de intercalação de uma conjunção copulativa entre elas.
Em “[e]’ a guerra aquelle monstro que se sustenta DAS FAZENDAS, DO SANGUE, DAS
VIDAS ; e, quanto mais come e consome, tanto menos se farta. (P. Ant. Vieira)” (GRIVET,
1881, p. 373), por exemplo, “das fazendas”, “do sangue” e “das vidas” constituem essa
relação de complemento indireto composto. No entanto, em “[u]m só livro que se achou,
era DAS VIDAS DOS SANTOS. (P. Ant. Vieira)” (GRIVET, 1881, p. 373), não temos essa relação
em “das vidas dos Santos”, apesar da forma “de”, já que não poderia haver uma ligação
copulativa entre as palavras, nem mesmo o auxílio da vírgula para se interpor entre esses
membros.
Em seguida, o gramático comenta sobre a repetição das preposições dos
complementos indiretos. Ele começa por falar de uma anomalia, a da necessidade da
preposição expressa para os pronomes de terceira ordem (mim, ti, si, nós, vós, si), como em
109

“[q]uanto ás cousas da India, elas fallarão por si e por mim. (Affonso de Albuquerque)”
(GRIVET, 1881, p. 374), não podendo ser “[...] elas fallarão por si e mim”, ou seja, o “por”
não pode ser oculto.
O autor também discorre sobre a preposição “entre”, cujo sentido é tão particular que
sua repetição se torna inadmissível, como em “[q]uero metter tempo ENTRE A MORTE E A

VIDA” (P. Ant. Vieira), enunciado no qual a repetição da preposição é desnecessária.


A criação dos, segundo palavras do autor, complementos indiretos pleonásticos,
também é discorrida na gramática. Essa classificação é direcionada aos pronomes “lhe” e
“lhes”, que correspondem às locuções “a elle”, “a ella”, “a elles” e “a ellas”, e foram criados
apenas com a propriedade de representação de complemento indireto, como em “A UM
PRINCIPE virtuoso, tudo se LHE rende ; A UM PRINCIPE vicioso, parece que a terra
se LHE levanta, (P. Ant. Vieira)” (GRIVET, 1881, p. 376).
Caso um complemento indireto sirva para dois verbos, ele pode ser usado apenas uma
vez, como em “[a]ssim o poderá fazer quem tanto CONFIA ou PRESUMIR de sua constancia.
(P. Ant. Vieira)” (GRIVET, 1881, p. 377), que “de sua constancia” complementa tanto
“confiar” quanto “presumir”. No entanto, o autor estabelece uma exceção:

[n]ão seria, porém, correcto dizer : No mesmo dia ENTRÁMOS e SAHÍMOS


DAQUELLA CIDADE. Pois se se póde sahir de uma cidade, não se póde entrar
DE uma cidade. Carece em tal caso dar a cada verbo o complemento que
pede : ENTRÁMOS NAQUELLA CIDADE, e DELLA SAHÍMOS no mesmo dia.
(GRIVET, 1881, p. 377)

A ressalva de Grivet parece ter um critério semântico. Já a observação que faz em


seguida apoia-se em critérios sintáticos: a dos substantivos, adjetivos, pronomes, particípio e
advérbios inteirados por um só complemento. É o caso de “O AMOR e A FÉ EM DEOS”
(GRIVET, 1881, p. 377), que, para o autor, não seria correto, já que a preposição “em” não
poderia ser utilizada com o substantivo “amor”, ou seja, não existe “amor em Deos”.
Sobre os gerúndios, o gramático afirma que eles “merecem mais ser attendidos por
interesse pela grammatica geral, do que pelo da grammatica portugueza, porquanto a
invariabilidade constante desta forma verbal” (GRIVET, 1881, p. 378), o que nos parece uma
retomada da ideia de que existiria uma gramática geral e uma específica para cada língua.
Para isso, ele conta com a ajuda do latim, ao dizer que os gerúndios do português
vieram de duas formas do verbo latino: do particípio presente e do chamado em “DO”. No
particípio presente, a terminação do verbo latino é -ns, -ntis, variando de acordo com o
110

gênero, o número e o caso. Já o gerúndio em “DO”, chamado assim por Grivet devido à sua
terminação, é invariável em gênero e número.
O autor continua:

Em these geral, póde-se dizer que os gerundios portugueses representão


habitualmente o participio presente do latim quando, mais presos pelo seu
sentido a um substantivo ou pronome ao qual vão mediata ou imediatamente
antepostos, ou mediatamente pospostos, servem-lhe de apposição. E, quando
não é um gerundio que substitue ao mesmo participio presente latino, então é
um adjectivo verbal que delle se formou, com as terminações ANTE, ENTE,
INTE, commemorativas das tres conjugações regulares do portuguez.
(GRIVET, 1881, p. 379)

Essa citação, acrescida de outros comentários, como “[o]s gerundios portuguezes


representão o gerundio em DO do latim quando [...]” (GRIVET, 1881, p. 379), nos mostram
que o autor ainda resgata características das gramáticas latinizadas, comparando o português
com o latim e elaborando regras para a primeira língua com base na segunda.

5.3.1.5 Predicado

A função do predicado é exercida, essencialmente, por um adjetivo ou um particípio,


aproximando-se do que atualmente chamamos pelo mesmo nome. O predicado é definido
como:

palavra ou conjuncto de palavras que, mediante um verbo de estado, declara


uma qualificação ou situação do sujeito, a não ser que, sendo o mesmo verbo
accidentalmente impessoal, o predicado fique sem referencia nenhuma, mas
existindo por amor do verbo de estado (GRIVET, 1881, p. 388-389)

Um exemplo dado pelo autor é “se os HOMENS vos são INGRATOS, não SEJAIS VÓS

INGRATOS a Deos. (P. Ant. Vieira)” (GRIVET, 1881, p. 389). Nesse caso, “ingratos”, nas duas
ocorrências, é apontado como predicado. Num outro exemplo, “E’ CERTO que todos desejais o
descanso ; É CERTO que todos o buscais com grande trabalho. (P. Ant. Vieira)” (GRIVET,
1881, p. 389), tanto “que todos desejais [...]” quanto “que todos o buscais [...]” são
classificados como predicados de “é certo”.
As principais características do predicado são i) ter um verbo de estado perto dele; e
ii) referir-se ao sujeito ou, quando não existe sujeito, a outro termo. Os verbos de estado são
“ser” e “estar”. Os verbos neutros também podem, por imitação, emitir um predicado,
111

substituindo “ser” e “estar”. Um exemplo é visto na análise seguir: “Até AS AGUAS que por
entre as veias descem, SAHEM CRUAS. (Franc. Rodrigues Lobo). — (Até as aguas sahem
[SÃO] cruas)” (GRIVET, 1881, p. 390). Para o autor, o verbo de estado “ser” está na
construção do período, de forma que “sahem” substitui “ser”, logo, “cruas” é um predicado.
Essa relação de verbos neutros e verbos de estado só ocorre quando podemos
substituir os primeiros pelos segundos. Caso contrário, o verbo se restringe às relações
comuns, a de verbos de ação, como em “VEIU uma vez a luz a ser julgada no juizo dos
homens, — e VINHA ella muito CONFIADA” (GRIVET, 1881, p. 391). O verbo “vir” aparece
duas vezes (“veiu” e “vinha”), mas apenas na sua segunda ocorrência é que podemos dizer
que ele é acompanhado de um predicado, já que pode ser substituído por “estava”, de “estar”.
Na primeira ocorrência, “vir” é apenas um verbo de ação.
Para Grivet, até mesmo os verbos “ser” e “estar” podem deixar de ser verbos de
estado. Isso acontece quando o predicado não está presente, como em “[s]e os olhos vêm com
amor, o que não É, — tem SER ; — se com odio, o que tem SER, — e é bem que SEJA, —
não É, — nem SERÁ — jamais. (P. Ant. Vieira)” (GRIVET, 1881, p. 391). Pela ausência do
predicado, todos os verbos “ser”, nesse caso, não são de estado.
Sobre as palavras mais comuns que constituem o predicado, o gramático afirma que
são os adjetivos e os particípios, porque, por serem variáveis em gênero e número, expõem,
pela concordância, a referência ao sujeito. Em caso de substantivo composto, quanto à
concordância de gênero, o predicado assume a do mais próximo: “[n]a China, AS CIDADES,

VILLAS e LUGARES são FREQUENTES e VISINHOS uns dos outros. (P. João do Lucona)”
(GRIVET, 1881, p. 392).
Já a concordância de número depende do verbo, mostrando a centralidade do fato para
as análises de Grivet. Se o verbo concordar apenas com o elemento mais próximo, o
predicado deve seguir a mesma regra: “POIS esta mesma IGNORANCIA e LOUCURA É a de todos
ou quasi todos os que se chamão christãos. (P. Ant. Vieira). — (Não : …AS de todos…)”
(GRIVET, 1881, p. 392). Caso o verbo passe para o plural, assim o predicado também o fará.
Ainda sobre as classes de palavras mais recorrentes como predicados, o autor comenta
que:

Se os adjectivos e participios são os predicados por excellencia, quasi com a


mesma propriedade o são tambem os substantivos, pronomes e infinitivos :
os substantivos, porque lhes é frequentemente licito supprir aos adjectivos ;
os pronomes, porque compete-lhes fazer tudo quanto fazem os substantivos ;
os infinitivos, emfim, porque em tudo manobrão como os substantivos e
112

pronomes, embora geralmente em separado e por conta propria. (GRIVET,


1881, p. 392)

Isto é, tanto o substantivo quanto o pronome e o infinitivo, por poderem exercer a


mesma função que os adjetivos, podem constituir o predicado. Apesar dessa ampliação de
classes feita pelo gramático, vemos que ele atribui prototipicamente o adjetivo ao predicado.
Grivet também alerta para a possibilidade de coadunação do sujeito ao predicado, como em
“A HISTORIA é MESTRA da vida. (P. Ant. Vieira)” (GRIVET, 1881, p. 393).
Quando o sujeito é singular, o predicado é constituído por um ou mais substantivos e a
oração fica no plural, temos um caso de silepse, por ser o predicado que rege o verbo, não o
sujeito. Um exemplo disso é “[a] dilação SÃO DOUS MALES. (P. Ant. Vieira)” (GRIVET, 1881,
p. 396).
Numa retomada da crítica à teoria do verbo substantivo, Grivet afirma:

Junto a um verbo de estado, só póde haver um predicado, o qual é simples ou


composto ; mas não póde haver dous, como o deixa suppôr a theoria do
verbo substantivo, sendo um em officio, e outro de sobressalente. (GRIVET,
1881, p. 398)

A explicação dada pelo autor é baseada no exemplo “[d]izem que o infante D.


Henrique FOI ELEITO REI de Chypre” (GRIVET, 1881, p. 398). Pela teoria do verbo
substantivo, o particípio ligado a “ser” é necessariamente um predicado. Para essa teoria,
então, “eleito” seria o termo mais qualificado para ser o predicado. Já que também concorda
em número e gênero com o sujeito, D. Henrique, o que seria, então, “rei”? Para os
substantivistas, segundo Grivet, “rei”, por completar “eleito”, com ele, seria um atributo
composto.
Se é um complemento, cabe classificar se é direto ou indireto. No caso, direto, já que
não há preposição. No entanto, ainda assim se conferiria a um verbo passivo (foi eleito) a
classificação de complemento. A conclusão a qual Grivet chega é a de que nenhum particípio
de verbo passivo pode constituir um predicado, pois o particípio, com o auxiliar, forma o
termo indivisível de um fato. Isso pode ser visto com a inversão do verbo passivo no ativo:
“[d]izem que ELEGÊRÃO ao infante D. Henrique rei de Chypre” (GRIVET, 1881, p. 399). O
particípio “eleito”, então, concorda com o sujeito, sendo parte integrante do fato. Já “rei”
concorda com o mesmo sujeito, mas como predicado simples.
113

5.3.1.6 Aposição

Para Grivet (1881, p. 403), aposição é “[...] toda a palavra variavel que, não sendo
facto syntaxico, prende-se directamente, pela concordância possivel, a um substantivo,
pronome ou infinitivo, para tornar-lhe o sentido mais preciso” (GRIVET, 1881, p. 403). Isto
é, são aqueles elementos que aparecem junto a outros para explicar ou complementar seu
sentido, o que hoje chamamos de “aposto”.
A aposição pode ser formada essencialmente por artigos, adjetivos ou particípios
variáveis ou acidentalmente por substantivos, pronomes e infinitivos. Podemos ver abaixo
exemplos dados pelo autor de aposições essenciais, respectivamente substantivos, pronomes e
infinitivo:

[e]sta vida dos pastores, como mais quieta, tem em seu trabalho todas as
cousas com que póde sustentar-se : a LÃA, o LEITE, as PELLES, a CARNE dos
animaes ; as HERVAS, os LEGUMES, e o FRUCTO das plantas. (Franc. Rodr.
Lobo). [...] (GRIVET, 1881, p. 404)

[s]endo propostos a Gatão dous cidadãos romanos para o provimento de


duas praças, respondeu que ambos lhe descontentavão : UM, porque nada
tinha ; OUTRO, porque nada lhe bastava. (P. Ant. Vieira) [...] (GRIVET,
1881, p. 404)

[a]ssim disse Bersabé a Salomão : « Trago-vos, senhor, uma petição : não


me envergonheis a face ! » e, porque se chama ENVERGONHAR a face negar
o que se pede ? (P. Ant Vieira). — (… porque negar [o que se pede] chama-
SE ENVERGONHAR… ?). (GRIVET, 1881, p. 404)

No primeiro exemplo, “lãa, leite, pelles [...]” são substantivos que explicam as
“cousas” com as quais os pastores podem se sustentar, constituindo a aposição. No segundo,
os pronomes “um” e “outro”, referentes a “ambos”, é que constituem a aposição. No último,
“envergonhar” constitui a aposição porque, se alterarmos a ordem da frase, fica explícito que
esse verbo no infinitivo é o complemento do que se pede: “[...] porque negar [o que se pede]
chama-se envergonhar”.
O gramático continua sua explanação afirmando que a aposição é um termo
meramente anexo, pois nunca se relaciona diretamente com o fato, termo que é dominante. O
autor também admite sua semelhança com o predicado, mas afirma que eles se diferenciam
por duas características essenciais.
114

A primeira é que o predicado só pode se referir a um sujeito, isso quando há verbo. Já


a aposição pode aparecer junto de um sujeito, de um complemento, de um predicado ou até
mesmo de uma outra aposição. O segundo é que os predicados podem existir mesmo sem
referência a algum sujeito, como em “é certo que...”. As aposições, no entanto, dependem de
uma palavra amparada, podendo, nesse caso, ser submetida a ambiguidades, como em
“HAVENDO antes ARPOADO um filho, recebeu a baleia mãi junto delle os golpes da morte.
(Franc. de Brito Freire)” (GRIVET, 1881, p. 405). A pergunta que deve ser feita é: quem
arpoou (fisgou) o filho da baleia? A aposição “havendo arpoado” só pode ser anexada ao
sujeito “baleia”, mas a mãe teria arpoado seu próprio filho? A solução dada por Grivet (1881,
p. 406) é a reelaboração da frase para “[h]avendo-se-lhe antes arpoado um filho...” ou
“[h]avendo-lhe sido antes arpoado um filho...”.
Uma outra característica das aposições é que elas podem se referir ao mesmo termo
sem serem necessariamente compostas, como em “AQUELLA idade DOURADA tão CELEBRE nos
PRIMEIROS tempos, quem a fez? (P. Ant. Vieira)” (GRIVET, 1881, p. 406). O que caracteriza
uma aposição composta é a interposição de uma ligação copulativa entre as partes que a
constituem, por exemplo, “[o] que Christo ensinava, não era filosofia HUMANA, TERRENA e
HUMILDE, senão sabedoria do céo. (João Franco Barreto)” (GRIVET, 1881, p. 406).

5.3.1.7 Ligação

Para o gramático, a última função listada, a ligação, “[...] é a palavra ou conjuncto de


palavras que, por interposição, torna os termos compostos, as preposições connexas, ou as
orações correlativas” (GRIVET, 1881, p. 409). Isto é, são os elementos que permitem a
conexão de outros termos, que hoje chamamos de “conectivos”. Os três casos citados pelo
autor – termos compostos, preposições conexas e orações correlativas – podem ser
encontrados num único exemplo:

O jugo E as cadeias de ferro E de bronze têm estas quatro cousas :


QUE carregão, ferem, soão E durão.
E as mesmas quatro tem o jugo E cadeias da infamia. (P. Man. Bernardes).
(GRIVET, 1881, p. 410).

Na primeira linha, os substantivos “jugo” e “cadeias” são conectados pela ligação


copulativa “e”, tornando os dois elementos num só sujeito. Na segunda, os quatro fatos
sintáticos – carregão, ferem, soão e durão – são unidos pela ligação subordinativa “que”. Já
115

na última, para Grivet, a primeira ligação copulativa “e” tem por finalidade considerar ambas
as ordens do pensamento para uma mesma finalidade, e a segunda ligação “e” reúne
novamente o sujeito dos substantivos “jugo” e “cadeias”.
Antecipando possíveis críticas, Grivet (1881, p. 410-411) afirma que:

Ora, se desta exemplificação resalta que, além de sua imprescindivel


assistencia na linguagem, as ligações exercem nella uma funcção toda
especial, que nenhuma outra póde supprir, claro é que sua constituição em
termo syntaxico é tão justificada como a do sujeito, dos complementos ou de
outro qualquer orgão dos pensamentos.
Sob esta consideração abrigamos a esperança que nos seja aceita esta
innovação em Grammatica, visto formar ella uma das bases da analyse
logica.

O autor justifica a existência da ligação como função sintática pelo fato de que outras
não podem exercer esse papel, sendo ela única. Além disso, aponta esse gesto analítico como
uma inovação.
As ligações copulativas, seja intervindo entre partes do mesmo termo, entre
preposições ou entre orações, sempre estabelecem, para Grivet, a solidariedade. A diferença é
que, no caso de afirmação, ela aparece em forma de “e”, de negação, com “nem”, e, de
alternância, com “ou”. A prova da relação entre esses termos é a de que eles podem se
substituir, mas não sem alteração do pensamento, como em “[t]udo o que nasce na terra, o sol
ou a chuva o cria. (P. Ant. Vieira)” (GRIVET, 1881, p. 411). O trecho “[...] o sol e a
chuva[...]” poderia ser substituído por “[...] o sol nem a chuva [...]”, o que mudaria o sentido,
mas não a relação entre os termos.
Um outro tipo de relação, que desmancha a solidariedade, é a estabelecida por “mas”
e “porém”. Por definirem um significado de contraste, devem ser precedidas de sinais de
pontuação, como em “[f]ez um fulano Topete, homem nobre, mas de pouca renda, umas rijas
festas. (P. Man. Bernardes)” e “[o] entendimento é parte que discorre, porem póde discorrer
mal. (Mathias Ayres da Silva de Eça)” (GRIVET, 1881, p. 411).
As ligações subordinativas, como “que” e “se”, só aparecem relacionadas a
proposições, pois, com palavras, a função conciliativa não funciona. Em “[m]aior gloria é
emendar que castigar. (P. Ant. Vieira)” (GRIVET, 1881, p. 413), por exemplo, o “que”
estabelece uma relação entre “emendar” e “castigar”. Aparentemente, é uma relação entre
palavras, mas, nesse caso, ambos os infinitivos sujeitos exercem uma proposição própria.
Quando uma ligação subordinativa aparece no início de uma oração, duas são as
hipóteses que explicam essa ocorrência: i) a proposição está invertida; ou ii) a proposição
116

dependente da subordinada está omissa, como no caso das orações interrogativas ou


exclamativas. O primeiro caso pode ser visto em “QUE Jonathas se resolvesse a amar a David
quando não conhecia as paixões deste tyranno affecto, não foi muita
fineza. (P. Ant. Vieira)” (GRIVET, 1881, p. 413), visto que “não foi muita fineza que
Jonathas se resolvesse a amar David [...]”, isto é, a ordem da proposição foi invertida. Já o
segundo caso pode ser observado com “QUANDO fazem os ministros o que fazem ? e, QUANDO
fazem o que devem fazer ? QUANDO respondem? QUANDO deferem? QUANDO despachão ?
QUANDO ouvem ? (P. Ant. Vieira)” (GRIVET, 1881, p. 414). Podemos inferir que alguém
pergunta todas esses proposições, como “eu pergunto quando fazem os ministros o que fazem,
pergunto quando fazem o que devem fazer [...]”.
O autor ainda acrescenta uma terceira categoria de ligação, a preventiva. Grivet não a
define com um conceito, mas explica a finalidade de alguns termos que chama de ligação
preventiva, como “pois”, que tem como finalidade indicar uma conclusão:

[p]arece-vos que tenho dito muito ? Pois ainda não está discorrido tudo… A
maior pensão, o maior cuidado e o maior trabalho dos homens é buscar pão
para a bôcca. POIS isto por que todos trabalhão, hei de ensinar hoje o modo
com que se possa alcançar sem trabalho. (P. Ant. Vieira). (GRIVET, 1881,
p. 417)

Sobre o uso do “pois”, o autor alerta para o fato de que, naquela época, essa acepção
já estava em desuso e que os clássicos a utilizavam como equivalente de “porque”, “já que”,
“visto que” e “visto como”. Um outro exemplo é “[s]ejão ouvidos nesta causa todos, pois toca
a todos. (P. Ant. Vieira)” (GRIVET, 1881, p. 417), que pode ser lido como “sejam ouvidos
nesta causa todos, visto como toca a todos”.
As lições de Grivet sobre ligação em proposições perduraram mais tempo do que sua
presença física na terra, e a prova está na figura abaixo.
117

Figura 25 – Referência a Grivet em jornal de 1964

Fonte: Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1964\Edição 00118 (1)

Na figura, é possível lermos, num jornal de 1964, a menção à NGALP para tratar da
conjunção “embora”, mostrando o valor de Grivet para os estudos da língua portuguesa quase
100 anos após sua morte.

5.3.2 A teoria do verbo substantivo

Na NGALP, 19 são as páginas dedicadas à discussão da teoria do verbo substantivo.


Para essa teoria, num pensamento, não poderia haver menos de três termos, que são sujeito,
verbo e atributo (predicado), como em “Deus é onipotente”. Mesmo que ocultos, os três
elementos existiriam para que fosse estabelecida uma relação, e o pensamento fosse
expressado.
Grivet se opõe a essa teoria que, para ele, se contradiz. Numa citação direta do
gramático a um texto de autoria desconhecida, podemos ler que, para o autor desse texto,
apenas o verbo substantivo merece ser chamado de “verbo”, e os outros são apenas “verbo
substantivo” ou “verbo atributivo”, pois “[...] nada mais exprimem do que a idéa do mesmo
verbo substantivo, em combinação intima com o seu indefectível attributo ; pois VIVER, por
exemplo, nada mais é senão o equivalente de SER VIVENTE” (GRIVET, 1881, p. 227).
Segundo o gramático suíço, aceitar a existência do verbo substantivo seria complicar
os estudos da língua portuguesa, porque trocaria o entendimento de “ando procurando”, por
118

exemplo, para “sou andante sendo procurante”, pensamento que atenderia às explicações da
teoria.
Grivet ainda comenta que o verbo substantivo é assunto das gramáticas filosóficas,
criticando, inclusive, seus contemporâneos que tratam do assunto: “[...] e hoje não ha, neste
assumpto, autor que deixe de lhe fazer a devida continencia, embora nem todos pareção
igualmente convencidos de sua desmarcada eficácia” (GRIVET, 1881, p. 227). É possível que
um desses autores que o gramático esconde o nome seja Francisco Sotero dos Reis (1800-
1871), que afirma, na sua Grammatica portugueza accommodada aos principios geraes da
palavra seguidos de immediata applicação prática (1871, 2ª ed.), que

[a] fórma primitiva do verbo é uma e unica em todas as linguas : na


portugueza, Ser, que quer dizer, ser ente, indeterminadamente ; nas outras, o
equivalente de, Ser. Divide-se porem o verbo em substantivo e attributivo ou
adjectivo, segundo se acha em sua fórma primitiva, ou unido ao attributo,
como, Viver, que quer dizer, ser vivente. (REIS, 1871, p. 39)

Grivet resume em quatro os pontos exigidos pela teoria do verbo substantivo: i) a


necessidade de ter três termos na proposição; ii) a exigência de haver sujeito para um fato; iii)
a impossibilidade de existir um verbo atributivo que não seja transformado em verbo
substantivo; e iv) a necessidade de que, para além do verbo substantivo, não haja verbo sem
atributo. O gramático refuta todas essas exigências com a proposição “chove”, que i) só tem
um termo; ii) não tem sujeito; iii) não é resolvida com o verbo substantivo; e iv) não tem
predicado.
“Chove” também é usada para o autor negar a ideia de que o verbo afirmaria a
existência da qualidade na substância, na pessoa ou na coisa, unindo o sujeito ao atributo.
Caso “chove” fosse decomposta pelo modelo ensinado, geraria os termos de “é chovente”,
que mostram a existência da qualidade, mas não a substância, pessoa ou coisa qualificada.
Então, “parece legitima a conclusão de que pode haver e ha proposição em que o verbo existe
sem sujeito, em que o nexo só está amarrado do (sic) um lado… !!” (GRIVET, 1889, p. 229).
É afirmado, pelas citações desconhecidas que o suíço faz, que os verbos unipessoais já
unem sujeito e atributo, ficando, na voz ativa, uma só proposição, ou duas na passiva. Assim,
“chove” seria “há/cai chuva”; “venta”, “há/sibila vento”; “viver-se”, “existe/dá-se o viver/a
vida”; e “fala-se”, “existe/ouve-se o falar/a fala”. O gramático rebate que, entre as versões na
voz ativa e passiva, não há nada em comum nas relações sintáticas. Para ele, em “cai chuva”,
vemos um verbo neutro acompanhado do seu sujeito, podendo dizer, também, “caem chuvas”.
119

Já em “há chuva”, vemos um verbo impessoal e seu complemento direto, já que não podemos
dizer “hão chuvas”.
O autor continua afirmando que, mesmo com sua demonstração dos problemas da
teoria do verbo substantivo, devido a preconceitos enraizados por quem defende a teoria do
verbo substantivo 20 , o que ele está defendendo não será aceito. Então, continua com sua
exposição com citações diretas sem identificação e a crítica a elas, como em:

«A forma primitiva do verbo é uma e unica em todas as línguas : na


portuguesa SER, que quer dizer, ser ENTE indeterminadamente : nas outras o
equivalente de, SER. »
Eis-ahi até onde pode levar, philosophicamente fallando, a paixão por um
systema que, como o da analyse, sendo bom em si, víra-se todavia contra si
mesmo logo que deixa do gyrar nos seus estrictos limites. Pois, nem o
PRIMITIVO ser escapa ahi ao sestro da decomposição analytica ! E, que
decomposição é esta, em que reapparece, como um do seus proprios
elementos, o mesmo todo considerado já como composto ; SER, isto
é, SER ente ! e’ o caso do perguntar se afinal ENTE não poderia, por ventura,
vir a ser também subdividido ; é o caso do perguntar seriamente se a analyse
assim entendida não é, em vez do um methodo eminentemente pratico, o
jogo de uma imaginação desvairada, que, do atomo, pretende fazer dous e
até tres atomos. (GRIVET, 1881, p. 229)

Opondo-se à afirmação de que a forma primitiva do verbo “ser” seria “ente”, Grivet
pergunta se “ente” também poderia ser subdividido. Fica evidente também o tom irônico que
o autor utiliza, não apenas nesse trecho, para se referir à teoria do verbo substantivo.
Polachini (2018), em análise de gramáticas brasileiras oitocentistas de língua
portuguesa, discorre sobre o fato de que vários gramáticos, sendo a favor ou contra, debatiam
a respeito do verbo “estar” como exemplo de verbo substantivo. A linguista destaca que essa
discussão não podia ocorrer em qualquer língua, a exemplo do francês, que era a primeira
língua dos estudiosos que teorizavam a gramática geral. O debate não podia abranger o
francês porque “être” pode significar tanto “ser” quanto “estar”. Dessa forma, se teria mais de
um exemplo de verbo substantivo, o que geraria consequências para a teoria.
Os gramáticos do início do século XIX apresentam apenas o verbo “ser” como
exemplo de verbo substantivo. Em meados de 1850, duas possibilidades surgem quanto ao
verbo “estar”: uma nega a chance de ele ser verbo substantivo, outra procura justificar sua

20
“Mas tão enraizados preconceitos não se deixão arrancar nem pela mais categorica demonstração.
Cumpre, portanto, discutí-los, tanto mais que o exemplo citado, e outros analogos, desafiarão mui
particularmente o estro dos substantivistas a todo o transe, e inspirárão-lhes as mais excêntricas
transsubstanciações" (GRIVET, 1881, p. 228).
120

classificação quanto verbo substantivo. Exemplos de autores que negam o verbo “estar” como
substantivo são: Raymundo Antonio Camara Bithencourt (?-?), em sua Epitome da
grammatica philosophica da lingua portugueza (1862); Francisco Sotero dos Reis (1800-
1871), em Grammatica Portugueza: accommodada aos principios geraes da palavra
seguidos de immediata applicação pratica (1877); Julio Cezar Ribeiro Vaughan (1845-1890),
na Grammatica Portugueza (1881); Ernesto Carneiro Ribeiro (1839-1920), na Grammatica
Portugueza Philosophica (1881) e na Nova Grammatica Portugueza (1890), e Maximino de
Araujo Maciel (1865-1923), na Grammatica Analytica (1887).
Em Polachini (2016), vemos uma análise focada em dois desses autores: Bithencourt e
Costa Duarte. Para Bithencourt, o verbo “ser” seria substantivo, “estar” e “haver” seriam
auxiliares, e os demais seriam adjetivos. O verbo substantivo toma diversas formas e, por
vezes, precisaria do auxiliares para significar. O verbo adjetivo seria a união entre verbo
substantivo e atributo numa palavra.
Já Costa Duarte, em sua gramática editada em 1829, apresenta as noções de verbo
substantivo e de verbo adjetivo. O verbo substantivo une o atribuito e o sujeito, enunciando a
coexistência dos dois. O verbo que representa essa teoria, para ele, é o “ser”. Já o verbo
adjetivo representa a redução e a concentração do sujeito, verbo substantivo e atributo numa
só palavra, como “amo” no lugar de “sou amante”. Em edição posterior, de 1853, Costa
Duarte afirma que o verbo substantivo não tem em si atributo algum e que serve para unir
atributo e sujeito, acrescentando “estar”, não mais apenas “ser”, como exemplo dessa teoria.
Outro autor a acrescentar “estar” como exemplo de verbo substantivo é Fillippe
Benicio de Oliveira Condurú (1818-1879), na sua Grammatica elementar da língua
portugueza (1888). Condurú também não considerava o modelo descritivo do verbo
substantivo. Assim, Polachini (2018) conclui que a adição de “estar” como exemplo aparece
com uma crítica a esse modelo de descrição.
Grivet também participa dessa discussão sobre o verbo substantivo ter outros
exemplos além de “ser”. O suíço menciona um texto de autoria desconhecida cujo escritor
afirma que:

« Alguns grammaticos pretendem fazer tambem, ESTAR, verbo substantivo,


o qual, si assim fosse, deixaria de ser o unico verbo ( ??) : — (Que desgraça
!) mas esta doutrina é insustentavel e erronea, por que, ESTAR, que se resolve
por, SER ESTANTE, e » do simples latino STARE, estar FIRME, ou ainda do
composto EXSTARE, estar EMINENTE, já envolve em sua significação a idéa
de ESTADA, ESTADO, ATTITUDE em certa maneira ( !!), ou a idéa de
121

EXISTENCIA MODAL ( ???), e já é por conseguinte o verbo substantivo


combinado com um attributo. » (GRIVET, 1881, p. 239)

Grivet responde que o verbo “estar” é um verbo de estado, assim como “existir”,
“permanecer” e “ficar”. Esses verbos são assim chamados porque servem como mediadores
entre um predicado e um sujeito, quando existe sujeito. Ele exemplifica essa situação com
“Pedro É velho. — Pedro ESTÁ doente. — Pedro EXISTE occulto. — Pedro PERMANECE

absorto, — Pedro FICA aborrecido” (GRIVET, 1881, p. 240). A pergunta feita pelo autor é: se
o adjetivo “velho”, encostado no verbo “ser”, é considerado predicado, por que também não o
são os adjetivos “doente” e “occulto" e os particípios “absorto” e “aborrecido”? Grivet chama
de antiquado considerar, nesses casos, os particípios “estante”, “nascente”, “vivente”,
“ficante” e “morrente”, o que seria a base da teoria do verbo substantivo.
É com essa crítica que Grivet instaura um diferente tipo de análise sintática. No lugar
de uma espécie de decomposição na análise sintática (substantivo + atributo), Grivet coloca o
verbo, isto é, a função do fato, como núcleo da oração, da sintaxe e, de certa forma, da
gramática. Como vimos na subseção anterior, a da teoria das funções, os outros elementos da
proposição estão subordinados ao verbo.
Apesar de algumas ideias de Grivet remeterem à lógica, seu argumento constante é
contra a teoria do verbo substantivo, que dá base à sintaxe racionalista. Ele enfatiza o uso
linguístico. Num trecho do prefácio, já citado anteriormente, mas repetido em seguida para
facilitar a leitura, vemos uma outra referência à lógica:

[n]este intuito não só extractei, dos mesmos clássicos, a generalidade dos


exemplos destinados a illustrar e confirmar a minha doutrina grammatical,
senão também procurei tornar intuitiva a utilidade de soccorrer-se
assiduamente a estes mananciaes da boa dicção pela pratica
de processsos analyticos pouco intrincados, e por isso mesmo mais expeditos
e intelligiveis. Pois pareceu-me que o meio, senão unico, ao menos mais
adequado para reagir com efficacia contra a decadencia crescente da
linguagem, era o de pôr em frequente confrontação as loquellas espurias do
tempo presente com as lições dos benemeritos das lettras, que
accommodando genialmente a arte da palavra aos dictames do bom senso,
isto é, da logica, buxilárão o padrão perenne das feições caracteristicas da
lingua portuguesa. (GRIVET, 1881, s/p, grifos nossos)

O trecho “[...] dictames do bom senso, isto é, da logica” sugere uma aproximação com
a linhagem racionalista. No entanto, também vemos uma aproximação com a linhagem
empirista devido à menção aos clássicos em “[...] estes mananciais da boa dicção [...]”.
Apesar de trechos que o ligam ao racionalismo, a obra de Grivet é predominantemente
122

descritiva e crítica à teoria do verbo substantivo, alinhando-se mais a uma abordagem


empirista.
Ainda é proveitoso dizer que, mesmo após anos de sua morte e da publicação da
NGALP, a crítica de Grivet ao verbo substantivo continuou a ser citada em documentos
brasileiros, como visto a seguir, na Figura 26:

Figura 26 – Crítica de Grivet ao verbo substantivo em publicação do século XX

Fonte: Revista de Lingua Portuguesa (RJ) - Ano 1929/Edição 00060 (2)

Nesse trecho de um biografia de Sotero dos Reis, o autor do texto publicado na


Revista de Lingua Portuguesa afirma que Grivet construiu sua crítica ao verbo substantivo ao
redor dos escritos do gramático brasileiro. Ainda cita uma declaração de Grivet sobre Sotero
123

dos Reis, ainda que não cite sua fonte – não é da NGALP – em que o suíço admite que o
brasileiro foi o único substantivista que levou suas convicções até as últimas consequências,
isto é, o que mais foi longe nas reflexões sobre o verbo substantivo.

5.3.3 As figuras de linguagem

Na NGALP, vemos que uma proposição pode ser chamada de plena quando i) não há
o que suprir; ii) não há o que subtrair; iii) não há o que comentar; iv) não há o que transferir; e
v) não há o que substituir. Caso falhe em algum desses cinco itens, a proposição será chamada
de “figurada”, sendo as figuras os “[...] desvios de enunciação dos pensamentos” (GRIVET,
1881, p. 277). Esses figuras podem ser cinco: elipse, pleonasmo, silepse, inversão e
exclamação.

5.3.3.1 Elipse

A elipse ocorre quando um ou mais termos de uma proposição fica subtendido,


podendo até mesmo a proposição inteira ficar subentendida. Temos ambas as ocorrências
exemplificadas em:

Ha mais — para onde subir ? — Isto ó : Ha mais [LUGAR] — para onde [SE
POSSA] subir ? — Isto é : [PERGUNTO EU — SE] ha mais lugar — para onde
SE PODE subir ? (GRIVET, 1881, p. 278)

No exemplo acima – trecho de P. Antônio Vieira, apesar de não citado explicitamente


–, a elipse ocorre tanto pela ocultação de alguns termos, como “lugar” (“Há mais [lugar] para
onde subir?”), quanto pela ocultação da proposição “pergunto eu se” (“[eu pergunto se:] há
mais lugar para onde subir?”). São legítimas aquelas elipses que, na supressão de termos ou
proposições, não direcionam a equívocos. Já as ilegítimas são aquelas que provocam
dubiedade dos termos.
Grivet ainda comenta sobre um tipo de elipse, a anacoluta, que consiste numa quebra
brusca das partes da oração e, dessa forma, “[...] desconcerta o espirito, e o deixa perplexo
sobre qual seja o termo ou os termos elididos” (GRIVET, 1881, p. 280). Como exemplar,
temos:
124

Fallando el rei Antigono com o principe seu filho sobre a administração e


governo do reino de que o havia de deixar por herdeiro, ADMIRADO O
GENEROSO MOÇO DE TAMANHAS OBRIGAÇÕES E ENCARGOS, REFERE ELIANO
que lhe disse o pai : « Ainda não sabias, filho meu, que o nosso reinar não é
outra cousa senão uma servidão honrada. » (P. Ant. Vieira). (GRIVET,
1881, p. 280)

Nesse trecho, para o autor, é obscuro o conhecimento de qual verbo o substantivo


“moço” vai reger. Esse recurso, entretanto, é legítimo para o campo literário, já que “[...]
reproduz com naturalidade as hesitações de um espirito perturbado, ou os desvarios de uma
paixão desenfreada” (GRIVET, 1881, p. 280).

5.3.3.2 Pleonasmo

O pleonasmo é caracterizado por repetir na mesma proposição ou oração uma ideia já


posta, como em “[t]udo isto que vemos com nossos olhos, é aquelle espirito sublime, ardente,
grande, imenso: a alma, (P. Ant. Vieira)” (GRIVET, 1881, p. 280). No trecho, “com os olhos”
é dispensável, já que só podemos ver com os olhos.
Legítimos são os pleonasmos que evitam os equívocos, como é o caso de:

Por isso nos encommendou tanto o Senhor amor e paz no Evangelho,


dizendo : « Minha paz vos dou, minha paz vos deixo. Amai-VOS UNS AOS
OUTROS ; porque nisto quero que vos conheção em todo o mundo por meus
discipulos, se vos amardes UNS AOS OUTROS. » (D. Fr. Bartholomeu dos
Martyres). (GRIVET, 1881, p. 280-281)

A expressão “uns aos outros” é um pleonasmo, mas, sem ela, o sentido seria alterado.
“Amai-vos” poderia ser interpretado como reflexivo, ou seja, “amem a vocês mesmos”, não o
sentido original, que é de sentimento recíproco, amar ao próximo. Já os pleonasmos ilegítimos
são aqueles redundantes sem necessidade, como as locuções “mais melhor”, “menos pior”,
“muito ótimo” e “muito péssimo”.
Uma espécie de pleonasmo é a perissologia, ou tautologia, que consiste em, numa
proposição, usar palavras de mesma origem: “apoderar-se do poder”. Nesses casos, Grivet
recomenda que sejam utilizados sinônimos, como: “apoderar-se da autoridade”. Caso não seja
possível a utilização de sinônimos, a tautologia é justificada. Também são aceitas e dignas de
imitação aquelas tautologias que tornam a dicção mais incisiva. Para o autor, “[n]inguém usou
com maior tino e pericia de tão delicado artificio de estylo como o P. Ant. Vieira”: “Estas são
125

as contas que se fazem sem se fazer conta da que se ha de dar a Deos quando a pedir do preço
do seu sangue. (P. Ant. Vieira)” (GRIVET, 1881, p. 282).
No entanto, P. Antônio Vieira também é criticado pelo gramático. Dentre os exemplos
de tautologias não imitáveis e que podem ser consideradas descuido de redação, estão:

Os aduladores reaes SERVEM lisonjeiramente aos príncipes para os ganhar,


ou lhes ganhar a graça, e para se SERVIREM da mesma graça, para os fins que
só pretendem de seus próprios interesses. (P. Ant. Vieira).
E, quando, FINALMENTE, chegar seu FIM, a falta ou rotura desta união será o
ultimo paroxismo de que ha de morrer o mundo. (P. Ant. Vieira). (GRIVET,
1881, p. 283)

É possível ver assim que, apesar de P. Antônio Vieira ser destaque do exemplar
linguístico usado na gramática – aprofundaremos na camada documental (cf. 3.5) – Grivet
também direciona um olhar questionador sobre seus textos.

5.3.3.3 Silepse

Na silepse, a concordância entre os termos se dá pelo sentido, não pela morfossintaxe,


como é o caso de “Diogenes viu que uma grande TROPA de varas e ministros de justiça
LEVAVÃO a enforcar uns ladrões. (P. Ant. Vieira)” (GRIVET, 1881, p. 284). Nesse caso, a
tropa que levava, mas, devido ao sentido do coletivo, o verbo passou para o plural. Outros
tipos de concordância também podem ser alterados, como em:

« O’ meu amado Senhor, não me falleis já pelas vossas CREATURAS, que


pouco ou quasi nada me podem dizer de vós; sendo vós infinito, e ELLES
limitados ; vós luz, e ELLES sombras; vós eterno, e ELLES defectíveis ; fallai-
me por vós mesmos. » (P. Man. Bernardes). (GRIVET, 1881, p. 284)

No trecho acima, “criaturas”, substantivo feminino, é retomado três vezes no


masculino, como “elles”, numa atribuição mental de sentido. O contrário também é visto em:

E, se passarmos dos solios aos estrados, tambem acharemos nos toucados


estes malmequeres : nenhuma gentileza ha tão confiada, que a não piquem
os alfinetes de ver a OUTREM mais bem PRENDADA. (GRIVET, 1881, p. 284-
285)

Nesse exemplo, “outrem”, que é um pronome masculino, recebe o adjetivo de


“prendada”, no feminino, aludindo o sentido a mulheres.
126

São legítimas as silepses cuja impressão mental produzida pelas palavras não são
prejudicadas; já as ilegítimas infringem as regras de concordância de forma que não seja
razoável, a exemplo de:

[a]lgum genero de desconfiança alcançou Diogo Alvares do espanto e temor


do gentio ; mas elle, no melhor modo que póde, os deixou satisfeitos, dando-
lhes a entender que aquelle genero de INSTRUMENTO não fazia damno mais
que a inimigos, que, com facilidade e menos perigo, podião ser vencidos
COM AQUELLAS NOVAS, do que com os seus antigos arcos e frechas. (Fr.
Ant. de S. Maria Jaboatão). (GRIVET, 1881, p. 286)

Nesse caso, o “gênero de instrumento”, masculino, é retomado no plural e no


feminino, o que, para Grivet, não é plausível.

5.3.3.4 Inversão

A figura de linguagem chamada de inversão é a mudança de posição dos termos


sintáticos na proposição, diferente da ordem “[...] da que requer o raciocínio analytico”
(GRIVET, 1881, p. 287), que hoje chamamos de ordem direta. Podemos observar em:
“[t]errivel palavra é um non. (P. Ant. Vieira). — (Um non é palavra terrivel)” (GRIVET,
1881, p. 287)”. No texto de P. Antônio Vieira, o sujeito é posto depois do predicado. Já no
exemplo dado por Grivet do que seria uma ordem do raciocínio analítico, a ordem direta, o
sujeito aparece anteposto ao predicado.
Para o gramático, a expressividade dessa figura de linguagem pode concorrer com
uma desordem, como temos em:

Era Affranio Burrho homem de grave e maduro juizo, mestre ou aio que
tinha sido, com Seneca, do mesmo Nero. (P. Ant. Vieira). — (Affranio
Burrho era homem de grave e maduro juizo, que tinha sido, com Seneca,
mestre ou aio do mesmo Nero). (GRIVET, 1881, p. 288)

As inversões são ilegítimas quando embaralham pensamentos e resultam em


proposições inteligíveis. As legítimas, pelo contrário, expressam maior clareza ou harmonia
na dicção, como: “[p]or mais que confeiteis um não, sempre amarga ; por mais que o
enfeiteis, sempre é feio ; por mais que o doureis, sempre é de ferro. (P. Ant. Vieira)”
(GRIVET, 1881, p. 287). Caso o trecho fosse passado para a ordem direta, sua clareza não
mudaria; a harmonia, entretanto, seria alterada.
127

5.3.3.5 Exclamação

Para Grivet, a exclamação é uma proposição implícita, o que configura uma figura de
linguagem. Vejamos: “[c]redes que são estas palavras de Christo? SIM. Agora respondei-me.
(P. Ant. Vieira)” (GRIVET, 1881, p. 289). Segundo o autor, “sim” é uma exclamação porque
representa a proposição implícita “vós o crêdes”.
O gramático continua afirmando que as interjeições devem ser contempladas como
figuras na sintaxe devido ao caráter de “sim”/ “não” e “ah!” / “oh!” como tipos de respostas
definitivas, expressando um sentimento vivo. O “ah!” / “oh!”, na fala, só demonstra um
sentido pela entonação, já, na escrita, por proposições que os acompanham como comentários.
É preciso nos atentarmos também às expressões isoladas que representam uma
proposição, mas que podem, por restauração analítica, ser consideras elípticas:
“[h]ouve alguem que dissesse á oliveira que havia de deixar as suas azeitonas, nem á figueira
os seus figos, nem á vide as suas uvas ? NINGUEM. (P. Ant. Vieira)” (GRIVET, 1881, p. 289).
Nesse caso, “o disse” pode ficar implícito: “ninguém o disse”.

5.4 Camada técnica: técnicas e métodos de análise de Grivet

A camada técnica diz respeito às técnicas de análise e aos métodos de apresentação


dos dados do material investigado. Em seguida, abordaremos como Charles Grivet organiza a
abordagem sintática na NGALP em relação à análise linguística e a metalinguagem utilizada
por ele.
Tanto pelo espaço que ocupa quanto pela importância em outras partes da obra, como
vimos as espécies de palavras definidas pelo autor, a sintaxe é o cerne da Nova Grammatica
Analytica da Lingua Portugueza, ocupando 275 páginas, o que corresponde a 43,9% da obra.
Essa parte é subdividida em 10 capítulos, expostos abaixo, no Quadro 21:

Quadro 21 – Divisões da parte "Syntaxe" em Grivet (1881)

Título Subdivisões
Segunda parte – Syntaxe
Termos syntaxicos – Idéa –
Pensamento. Proposição – oração
Ø
Exercicio sobre o modo de completar
e dispor as proposições nas
indagações analyticas de syntaxe
128

Exposição episodica da theoria do


verbo substantivo
1. Adjectivo possessivo (cujo)
2. Adjectivos indefinitos (que – qual – qualquer –
quanto)
3. Pronomes relativos (que – quem – o qual)
4. Pronomes indefinitos (qual – quanto – que –
Capitulo I | Considerações geraes
quem)
ácerca da collocação das palavras no
5. Adverbios (que – como – porque – quando –
discurso
quanto – quão – onde e congeneres)
6. Conjuncções subordinativas (que – como –
conforme – embora – emquanto – porquanto –
porque – quando – quão – segundo – se –
senão)
1. Da ellypse
2. Do pleonasmo
Capítulo II | Das figuras de syntaxe 3. Da syllepse
4. Da inversão
5. Da exclamação
1. Do modo indicativo
2. Do modo condicional
Capítulo III | Termos syntaxicos – Do 3. Do modo imperativo
facto 4. Do modo subjunctivo
Dos tempos do subjunctivo
Do infinitivo como expressão verbal
Capítulo IV | Do infinitivo Dos gerundios
Capítulo V | Do sujeito
Capítulo VI | Do complemento
directo
Capítulo VII | Do complemento Ø
indirecto
Capítulo VIII | Do predicado
Capítulo IX | Da apposição
Das ligações copulativas
Capítulo X | Da ligação Das ligações subordinativas
Das ligações preventivas
Capítulo XI | Dos idiotismos
Capítulo XII | Observações peculiares Ø
sobre as diversas especies de
palavras
Ter – haver
Ser – estar
Dos verbos pronominaes como reflexivos,
VERBOS reciprocos ou ambiguos
Dos verbos pronominaes em substituição aos
passivos
Dos verbos pronominaes como impessoaes
SUBSTANTIVOS Do genero e numero de alguns substantivos
ARTIGOS Do emprego, omissão e repetição dos artigos
Dos determinativos numeraes
ADJECTIVOS Dos determinativos demonstrativos
129

Dos determinativos possessivos


Dos determinativos indefinitos
Dos pronomes pessoaes
Dos pronomes numeraes
Dos pronomes demonstrativos
PRONOMES Dos pronomes possessivos
Dos pronomes relativos
Dos pronomes indefinitos
PREPOSIÇÕES Ø
Aqui, ahi, ali – cá, lá – acolá
ADVERBIOS Onde, aonde, donde, até onde, para onde, por
onde
Porque – por que
CONJUNCÇÕES Porquanto – por quanto
Nem
Especimen da analyse sintaxica (V. o argumento
DA ANALYSE SYNTAXICA da analyse lexicológica)

Fonte: elaborado pela autora (2022)

Depois de uma introdução sobre a sintaxe, discorrendo sobre os termos que formam
uma proposição e sobre a teoria das funções, Grivet segue para um ponto central em seu
pensamento sobre a linguagem: a crítica ao verbo substantivo. No nosso ponto de vista, essa
ordem já demonstra a atenção dada pelo autor ao empenho contra a teoria substantivista. A
antecipação dessa discussão, entretanto, pode ter um fundamento: os argumentos presentes no
tópico “Exposição episodica da theoria do verbo substantivo” subsidiam a defesa do autor
sobre a centralidade do verbo (fato) na sintaxe, o que é melhor explorado depois.
Em seguida, são feitas algumas considerações gerais sobre as palavras no discurso,
como pronomes, advérbios e conjunções. Dando continuidade à obra, as figuras de
linguagem, sobre as quais já discutimos, aparecem no texto.
Começam, então, os capítulos sobre cada uma das teorias da função. O primeiro é o do
fato e, pelas suas peculiaridades, o infinitivo também ganha um capítulo. Depois, vemos sobre
o sujeito, o complemento direto, o complemento indireto, o predicado, a aposição e a ligação.
Ainda, um capítulo é dedicado aos idiotismos da língua e outro, a observações
peculiares. No final, o autor ainda dedica um espaço às classes de palavras e termina com um
exemplo de análise sintática. Podemos ver um trecho do modelo de análise sintática do autor
na figura abaixo:
130

Figura 27 – Exemplo de análise sintática de Grivet

Fonte: Grivet (1881, p. 491)

Nota-se que, nas classificações feitas na análise sintática do autor, não são postas as
classes de palavra, mas o nome das funções que elas exercem na proposição. Faraco e Vieira
(2019) organizaram a rede taxonômica utilizada no Grivet, apresentada em seguida:

Figura 28 – Rede taxonômica de Grivet (1881)


131

Fonte: Faraco e Vieira (2019, s/p)

No esquema organizado pelos autores, as cores nos ajudam na interpretação. De


início, vemos duas divisões: análise sintática e análise lógica. O principal da análise da
proposição é visto na análise sintática como o sujeito e o fato, que pode ser um verbo ativo ou
um verbo de estado. Essa parte principal pode precisar de uma parte complementária,
representada pelos complementos direto e indireto ou pelo predicado. Há, também, os casos
de incidente, caracterizados pelos advérbios.

5.5 Camada documental: o exemplar linguístico da gramática

Seguimos o trabalho com a análise da camada documental. Nessa camada do


conhecimento linguístico, segundo Swiggers (2004, 2019), encontramos a constituição da
documentação na qual um estudo se baseia. No caso da Nova Grammatica Analytica da
Lingua Portugueza e das gramáticas em geral, essa documentação pode ser observada pelos
exemplos utilizados pelo autor para a descrição linguística.
A maior parte da camada documental utilizada por Grivet, nessa gramática, é
constituída por exemplos literários lusitanos. Para sistematizar esses dados, organizamos, na
Tabela 1, a seguir, o nome do autor ou do texto citado com o ano de nascimento/morte ou de
publicação; a origem da autoria e a quantidade de vezes em que é citado no texto, junto à
porcentagem que representa no total de citações.
Não fizemos adaptações na grafia dos nomes, optando por manter a de Grivet, exceto
quando o autor abrevia partes dele. Quando não conseguimos identificar informações
biográficas referentes à data de nascimento ou de morte, inserimos o século em que o autor
teve alguma publicação, apenas para estabelecer uma localização temporal. Em certos casos,
quando não conseguimos essas informações, inserimos uma interrogação. Além disso,
contamos somente as citações que continham o nome do autor do texto referenciado. Dito
isso, vejamos a Tabela 1:

Tabela 1 – Documentação utilizada na abordagem sintática de Grivet

Quantidade de
Origem da
Nome do autor/da obra citações e
autoria
porcentagem

Padre Antonio Vieira (1608-1697) Portugal 751 (59,36%)


132

Padre Manuel Bernardes (1644-1710) Portugal 182 (14,38%)

Frei Luiz de Souza (1555-1632) Portugal 51 (4,03%)

Frei Manuel Consciencia21 (1669-1739) Portugal 18 (1,42%)

Frei Luiz de Granada (1505-1588) Espanha 16 (1,26%)

D. Frei Bartholomeo dos Martyres (1514-1590) Portugal 15 (1,18%)

Padre João Baptista de Castro (1700-1775) Portugal 14 (1,10%)

Francisco Rodrigues Lobo (1580-1622) Portugal 13 (1,02%)

Fernão Mendes Pinto (1509-1583) Portugal 10 (0,79%)

João de Barros (1496-1570) Portugal 10 (0,79%)

Luiz Torres de Lima (?-?) Portugal 10 (0,79%)

P. D. Raphael Bluteau (1638-1734) Reino Unido 10 (0,79%)

Duarte Nunes de Leão (1530-1608) Portugal 9 (0,71%)

Periodico22 – 9 (0,71%)

João Franco Barreto (1600-1674) Portugal 8 (0,63%)

P. Balthazar Telles (1596-1675) Portugal 8 (0,63%)

Frei Francisco de Santa Maria (1653-1713) Portugal 7 (0,55%)

P. João de Lucena (1549-1600) Portugal 7 (0,55%)

D. Frei Amador Arraes (1530-1600) Portugal 6 (0,47%)

D. Frei Caetano Brandão (1740-1805) Portugal 6 (0,47%)

D. Francisco Manoel de Mello (1608-1666) Portugal 6 (0,47%)

Diogo do Couto (1542-1616) Portugal 6 (0,47%)

André de Rezende (1500-1573) Portugal 5 (0,39%)

Frei Antonio de Santa Maria Jaboatão (1695-1779) Brasil 5 (0,39%)

Fr. João de Ceita (1578-1633) Portugal 5 (0,39%)

Pantaleão de Aveiro (?-?) Portugal 5 (0,39%)

Duarte Ribeiro de Macedo (1618-1680) Portugal 4 (0,31%)

História de D. Manoel / Vida de D. Manoel23 – 4 (0,31%)

21
Apesar de Grivet citá-lo como “Fr. Man. Consciencia”, encontramos apenas a existência de um padre com
esse nome. Acreditamos que se trate da mesma pessoa.
22
Textos extraídos de jornais por Grivet, que não os referencia.
23
Tanto “história de D. Manoel” quando “Vida de D. Manoel” são usados como referência a um texto que,
provavelmente, conta a história de Manuel I de Portugal (1495-1521). Também é provável que a referência seja
133

João Ribeiro24 (?-?) – 4 (0,31%)

Mathias Ayres da Silva do Eça (1705-1763) Brasil25 4 (0,31%)

Antonio de Souza de Macedo (1677-1738) Portugal 3 (0,23%)

Fr. Bernardo da Cruz (1505-1565) Portugal 3 (0,23%)

Franc. de Brito Freire (1625-1692) Portugal 3 (0,23%)

Frei Antonio das Chagas (1631-1682) Portugal 3 (0,23%)

Jacintho Freire de Andrade (1597-1657) Portugal 3 (0,23%)

La Fontaine (1621-1695) França 3 (0,23%)

Manoel Godinho (1563-1623) Malásia26 3 (0,23%)

Pedro Nunes (1502-1578) Portugal 3 (0,23%)

Cardeal de Richelieu (1585-1642) França 2 (0,15%)

Cicero (106 a.C. – 43 a.C.) Itália 2 (0,15%)

Fr. João Pacheco (séc. XVII-XVIII) Portugal 2 (0,15%)

Gabriel Soares de Souza (1540-1591) Portugal 2 (0,15%)

Manuel Severim de Faria27 (1584-1655) Portugal 2 (0,15%)

P. Simão de Vasconcellos (1597-1671) Portugal 2 (0,15%)

Affonso de Albuquerque (1452-1515) Portugal 1 (0,07%)

Camões (1524-1580) Portugal 1 (0,07%)

Chron. do Condestavel28 – 1 (0,07%)

D. Hieronymo Osorio (1506-1580) Portugal 1 (0,07%)

D. João de Castro (1500-1548) Portugal 1 (0,07%)

D. Manoel (carta ao rei da França)29 – 1 (0,07%)

à obra Da vida e feitos d'El Rei D. Manoel: XII. Livros dedicados ao Cardeal D. Henrique seu filho (1804-
1806), escrita por Jerónimo Osório (1506-1580), um bispo português citado em outros trechos da gramática.
24
Encontramos apenas um autor com esse nome, João Batista Ribeiro de Andrade Fernandes (1860-1934),
nascido em Sergipe, no Brasil. Sua primeira publicação oficial, uma coletânea de poesias, foi divulgada em
1881, quando Grivet já tinha morrido. No entanto, João Ribeiro foi para o Rio de Janeiro ainda jovem. Por esse
motivo, não sabemos se esse é o autor a quem Grivet se refere, nem se Ribeiro e Grivet tiveram contato antes da
morte do gramático.
25
Mathias Ayres da Silva do Eça nasceu em São Paulo, no Brasil, e, posteriormente, aos 11 anos de idade,
mudou-se para Lisboa, em Portugal.
26
Esse autor foi educado na Malásia e no Colégio da Companhia de Jesus, em Goa, na Índia. Ele tinha cidadania
portuguesa.
27
Num dos exemplos, Grivet menciona “Man. de Faria Severim”, mas se trata da mesma pessoa.
28
Trata-se de uma obra, mas não encontramos maiores informações sobre ela.
29
Não encontramos outras informações sobre o texto.
134

D. Maria de França (séc. XII) França 1 (0,07%)

Decalogo30 – 1 (0,07%)

Fórmula majestatica – 1 (0,07%)

Fr. Apollinario da Conceição (1692-1760) Portugal 1 (0,07%)

Fr. Domingos Teixeira (séc. XVI) Portugal 1 (0,07%)

Francisco de Andrade (1540-1614) Portugal 1 (0,07%)

Francisco Manuel de Melo (1608-1666)31 Portugal 1 (0,07%)

Frei Bernardo de Brito (1569-1617) Portugal 1 (0,07%)

Gil Vicente (1465-1546) Portugal 1 (0,07%)

José Feliciano de Castilho Barreto e Noronha32 (1810-


Portugal 1 (0,07%)
1879)

Luiz Mendes de Vasconcellos (1542/1543-1623) Portugal 1 (0,07%)

Paralellos – 1 (0,07%)

Ruy Gonçalves(?-?) Desconhecida 1 (0,07%)

S. Carlos (?-?) Desconhecida 1 (0,07%)

Theatro Portuguez – 1 (0,07%)

45 de Portugal
3 da França
2 do Brasil
1 da Espanha
1 da Itália
1 do Reino
TOTAL 1265 (100%)
Unido
1 de Malásia
2 origens
desconhecidas
9 casos em que
não se aplica33

Fonte: elaborada pela autora (2022)

O primeiro dado que nos chama a atenção é a predominância de textos do Padre


Antonio Vieira, que constituem 59,36% dos exemplos citados por Grivet. Os cinco nomes

30
Refere-se ao Antigo Testamento, texto bíblico, do Decálogo: Êxodo 20:12.
31
Na gramática de Grivet, a referência aparece como “Epanaphoras”, texto de Francisco Manuel de Melo.
32
Grivet, na gramática, faz referência a Íris clássico (1868), obra de José Feliciano de Castilho Barreto e
Noronha (1810-1879).
33
Não se aplica, pois é referência a um texto cuja autoria é desconhecida.
135

mais citados são de figuras religiosas, como podemos ver no Gráfico 1, que mostra os autores
mais citados pelo gramático suíço.

Gráfico 1 – Autores mais citados por Grivet (1881)

20%

1%
2%
4%

59%
14%

Padre Antonio Vieira Padre Manuel Bernardes Frei Luiz de Souza


Frei Manuel Consciencia Frei Luiz de Granada Outros

Fonte: elaborado pela autora (2022)

Depois do Pe. Antonio Vieira, os autores mais citados são: Padre Manuel Bernardes
(14,38%), Frei Luiz de Souza (4,03%), Frei Manuel Consciencia (1,42%) e Frei Luiz de
Granada (1,26%). Compreendemos essa preferência do autor por figuras religiosas, já que
Grivet teve uma educação cristã católica. Além disso, deve-se considerar que ele só aprendeu
português quando chegou ao Brasil, ou seja, no final da década de 1850. As gramáticas
brasileiras publicadas nessa época, que corresponde ao período da gramática geral e
filosófica, foram, provavelmente, utilizadas para que Grivet aprendesse o português. Essas
obras, que foram publicadas entre os anos de 1840 e 1860 (intervalo baseado no tempo de
chegada e provável aprendizado da língua portuguesa pelo autor) e que podem ter servido de
instrumentos didáticos para o suíço, utilizavam a literatura pregressa como aparato
documental – o que já foi herdado da tradição gramatical.
Para melhor visualizarmos essas informações, elaboramos o Gráfico 2, que mostra o
percentual da nacionalidade dos autores citados por Grivet na discussão sintática da Nova
Grammatica Analytica. Consideramos, para o seguinte gráfico, a nacionalidade dos 54 autores
citados, excluindo as duas nacionalidades desconhecidas (Ruy Gonçalves e S. Carlos, ambos
136

com apenas uma citação no texto) e os 9 casos em que o fator nacionalidade não se aplica,
pois são textos com caráter mais universal, como a Bíblia, por exemplo.

Gráfico 2 – Nacionalidade dos autores citados por C. A. O. Grivet (1881)

7%
4%
6%

83%

Portuguesa Francesa Brasileira Outras nacionalidades

Fonte: elaborado pela autora (2022)

Podemos observar, no Gráfico 2, a predominância de autores portugueses (83%) no


texto de Grivet. Em seguida, os franceses, com 6% de participação, alguns brasileiros, com
4% e, de outras nacionalidades, 7%. A maior parte do exemplário linguístico mobilizado por
Grivet é lusitana, seguindo o modelo das gramáticas portuguesas da época.
Outra informação observada é o século ao qual pertencem os autores citados pelo
suíço. Por isso, elaboramos o Gráfico 3, que mostra o percentual de citações de acordo com os
séculos. Os textos que o gramático referenciou, novamente, não foram considerados para o
gráfico a seguir. Ademais, alguns autores viveram durante a transição de séculos; então,
usamos o século em que eles mais viveram, como Antonio de Souza de Macedo, que nasceu
em 1677 e morreu em 1738, e que, por ter vivenciado mais o século XVIII do que o XVII, foi
considerado autor do século XVIII. A seguir, podemos observar o Gráfico 3:
137

Gráfico 3 – Século dos autores citados por C. A. O. Grivet (1881)


XIX I a.C. XII XV
XVIII 2% 2% 2%2%
14%

XVI
37%

XVII
41%

Fonte: elaborado pela autora (2022)

Textos antigos predominam no exemplário linguístico da Nova Grammatica


Analytica. A maioria dos autores citados são dos séculos XVII (41%) e XVI (37%). Tanto o
autor mais antigo citado por Grivet (a saber, Cicero) quanto o autor contemporâneo do
gramático também citado em seu texto (a saber, José Feliciano de Castilho Barreto e
Noronha) têm a mesma participação na discussão sintática da Nova Grammatica Analytica, a
de 2%. Podemos afirmar, então, que o exemplar linguístico é constituído majoritariamente por
autores dos séculos XVI e XVII.
Acreditamos que isso se deva à tradição gramatical já introduzida a Grivet pelas
gramáticas que podem ter lhe servido para o aprendizado da língua portuguesa. Essas obras
que o autor, provavelmente, se apropriou para aprender o português também eram produtos da
GT, cujas diretrizes já foram mencionadas nesse trabalho. Destacamos a terceira diretriz
epistemológica delineada por Vieira (2020), a do uso da escrita literária do passado. Tendo
sido leitor desses produtos da Gramática Tradicional, não surpreende que Grivet também
tenha utilizado esse exemplar linguístico literário pregresso para sua gramática, que também é
fruto da GT.
Além disso, a atmosfera intelectual da época contribuía para a utilização de textos
antigos. A Linguística histórico-comparativa já estava chegando ao Brasil, então os
gramáticos – entre eles, Grivet – buscavam incluí-la em seus trabalhos. Podemos ver essa
filiação a uma cientificidade em um trecho em que Grivet, após falar da dificuldade de
classificar os verbos, comenta:
138

Não é sem estranheza que se nota como o principio da substituição, um dos


mais valiosos promotores hodiernos do progresso nas sciencias physicas,
adapta-se com o mesmo acerto e proficiência aos estudos philologicos,
verificando-se assim novamente a superioridade do METHODO
EXPERIMENTAL sobre o DOGMATICO. (GRIVET, 1881, p. 60).

Nesse trecho, podemos observar que o autor já estava ciente da utilização das técnicas
das ciências da natureza nos estudos da linguagem. O método experimental, que,
resumidamente, consiste no teste de hipóteses e de variáveis sobre o objeto de estudo, para
Grivet, seria mais adequado do que o método dogmático, no qual as premissas são
inquestionáveis.
A maioria dos exemplos da gramática são literários, ainda que possamos ver textos
não literários na base documental do autor. Por esse motivo, no quadro abaixo, reunimos
esses textos e autores com suas ocupações, o número de vezes em que são citados por Grivet e
alguns desses exemplos:

Tabela 2 – Documentação não literária utilizada na abordagem sintática de Grivet

Número de
Nome do autor/texto Ocupação
exemplos

Periodico – 9 (0,71%)

Jurista, gramático e
Duarte Nunes de Leão 9 (0,71%)
historiador

História de D. Manoel (Vida de D.


– 4 (0,31%)
Manoel)

Embaixador,
jurisconsulto,
Duarte Ribeiro de Macedo 4 (0,31%)
diplomata,
economista

Manoel Godinho Cartógrafo e escritor 3 (0,23%)

Agricultor, empresário,
Gabriel Soares de Souza botânico, escritor e 2 (0,15%)
historiador

D. Manoel (carta ao rei da França) – 1 (0,07%)

Fonte: elaborada pela autora (2022)

Mais importante do que pensarmos sobre os dados quantitativos resultantes desse


levantamento é vermos as inspirações de Grivet para a constituição do exemplário linguístico
da sua gramática. É notório o valor que o autor dava aos textos literários, sobretudo os
139

escritos por figuras da Igreja. É possível perceber também que o autor cita manifestações
linguísticas não literárias, como periódicos e outros textos não literários, mas os textos
literários predominam nos exemplos da gramática.
O autor se apoia em fenômenos linguísticos que foram utilizados nas obras, não
havendo muitos dados inventados. Não obstante os exemplos inventados também apareçam, a
maioria deles vem depois de explicações do autor para indicar uma exceção. A seguir,
podemos ver como isso funciona:

1.° Dentre os numeraes, só os cardeaes vão necessariamente antepostos ao


substantivo amparado.
Se houvesse DOUS homens de consciencia, e outros que lhes succedessem,
não haveria inconveniente em estar o governo dividido. (P. Ant. Vieira).
VINTE E DOUS pescadores destes se achárão acaso a um sermão de S.
Antonio. (P. Ant. Vieira).
Porém, junto a pronomes pessoaes, o contrario é que se dá.
Ex. Assentemos nós TRES no que se tem de fazer (GRIVET, 1881, p. 258).

Para discorrer sobre a ordem dos números em relação ao substantivo, primeiro, Grivet
utiliza o Pe. Antonio Vieira como exemplo. Depois, para indicar que, com pronomes pessoais,
o contrário ocorre, o autor utiliza um exemplo criado por ele.
Na análise da camada documental da Nova Grammatica Analytica da Lingua
Portugueza, pudemos constatar que Grivet usa a literatura na maior parte do seu exemplário
linguístico para tratar do nível sintático de análise. A maior parte desses autores utilizados por
ele são portugueses e do século XVII, predominando, também, a presença de figuras
religiosas, como padres e freis.
140

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta dessa pesquisa foi investigar os principais conhecimentos sintáticos


elaborados por Charles Adrien Olivier Grivet na Nova Grammatica Analytica da Lingua
Portugueza (1881). Para essa grande proposta, delimitamos também como guia compreender
como acontecimentos e ideias políticas, científicas e socioculturais do período que a obra foi
produzida refletiram nas orientações epistemológicas da obra; descrever e interpretar quais e
como conhecimentos sintáticos são sistematizados na gramática; identificar movimentos de
continuidade e de ruptura estabelecidos pelo autor entre a abordagem sintática da obra e o
contexto intelectual da época; e contrastar a metalinguagem e as definições presentes na obra
com o arcabouço categorial e conceitual da gramaticografia greco-latina ou com algum outro
modelo teórico dos estudos da linguagem.
Para que isso fosse possível, partimos dos pressupostos da Historiografia da
Linguística, que interpreta como o conhecimento sobre a linguagem foi produzido em
determinado contexto social e cultural através do tempo, por meio de narrativas descritivas e
explicativas. As principais categorias teóricas e analíticas utilizadas para a análise das fontes
foram a do tratamento da metalinguagem, a da influência, a da retórica e a da camada dos
conhecimentos linguísticos, que estruturou o trabalho.
Depois de um primeiro contato com a gramática, mapeamos suas principais
informações relativas aos nossos objetivos, como a organização geral da obra, as definições
elaboradas pelo autor e questões específicas da sintaxe. Além disso, também realizamos um
levantamento de fontes, na Hemeroteca Brasileira e na Swiss National Library, que
contextualizassem e nos dessem mais informações sobre Grivet e suas obras.
A dissertação, além desta parte das considerações finais, foi dividida em mais cinco
capítulos. Do primeiro ao terceiro, apresentamos o tema da pesquisa; mostramos um pouco da
contribuição de outros estudos que abordam a NGALP; reconstituímos parte da trajetória de
Grivet; expomos as perguntas, os objetivos e a justificativa da pesquisa; apresentamos
algumas categorias teóricas e analíticas e tratamos da metodologia usada para o
desenvolvimento do estudo. No quarto, contextualizamos a situação do modelo educacional
no século XIX, fundamental à compreensão da obra. Também apresentamos um panorama
das linhagens gramaticais daquela época.
Em seguida, dividimos o quinto capítulo, o da análise, em cinco partes. Na primeira,
abordamos aspectos gerais da obra.
141

Dedicamos a segunda parte do quinto capítulo à análise da camada contextual,


englobando o contexto cultural e institucional da NGALP e de Grivet. Assim, abordamos
estratégias discursivas na retórica mobilizada pelo autor, suas influências intelectuais e um
pouco da recepção de suas ideias na sociedade.
Vimos que a obra foi direcionada a professores de língua portuguesa, cargo que, na
época, ainda estava sendo institucionalizado. É notável também a importância que o autor dá
ao estudo dos clássicos para a aprendizagem do português.
Um outro aspecto que fica evidente logo no prefácio é o de que o autor não se propõe
a romper com a tradição gramatical, porque seu valor não está em romper com estudos
anteriores, mas em apresentar novas formas de sistematização das ideias linguísticas.
O posicionamento de Grivet também fica expresso no nome dado à sua obra: Nova
Grammatica Analytica da Lingua Portugueza. Essa “novidade”, sugerida pelo nome da obra e
pelos textos de sua divulgação, nos fazem questionar sobre o que faz ela ser diferente do que
já tinha sido visto até então. Podemos dizer que, no mínimo, quatro são as inovações do autor:
i) a teoria das funções, ii) a centralidade do fato (verbo), iii) a compreensão da sintaxe como
funções exercidas por palavras; e iv) uma crítica fundamentada à teoria do verbo substantivo.
Ainda pode ser destacado o espaço que Charles Grivet teve nos periódicos. A primeira
crítica às suas ideias apareceu em 1866, um ano após a publicação da sua primeira gramática.
As críticas continuaram – a maioria, positiva – e até mesmo igualavam Grivet a outros
gramáticos mais celebrados, como Julio Ribeiro. Por essas publicações, é possível ver que até
mesmo Napoleão Mendes de Almeida, um gramático que publicou ainda em nosso século
XXI, teve acesso à obra de Grivet.
Em seguida, na terceira parte do quinto capítulo, a análise da camada teórica,
investigamos a visão de linguagem presente na NGALP. Para isso, abordamos os principais
pensamentos sintáticos do autor, como a teoria das funções, a crítica ao verbo substantivo e as
figuras de linguagem.
Para Grivet, a gramática é a arte de falar e escrever corretamente, e seu objeto é a
palavra. A sintaxe, que ocupa quase metade da obra, é o centro das discussões do autor. Para
ele, essa dimensão linguística é representada pela teoria das funções que as palavras exercem
na enunciação dos pensamentos e nas relações decorrentes disso. São sete os termos da teoria
das funções: fato, sujeito, complemento direto, complemento indireto, predicado, aposição e
ligação.
142

O fato é o que dá vida ao discurso, é o verbo. A ele, todos os outros termos estão
subordinados. Os modos em que os verbos podem aparecer são quatro: indicativo,
condicional, imperativo e subjuntivo. A função do sujeito pode ser exercida por uma ou mais
palavras, dando “personalidade” ao verbo. O complemento direto é a palavra ou conjunto de
palavras que complementam o sentido do verbo, sem apresentar preposição. Já o
complemento indireto também faz isso, mas apresentando uma preposição. O predicado é
uma palavra ou conjunto de palavras que, perto de um verbo de estado, designa uma
qualidade ou a situação do sujeito. À aposição, cabe o papel de explicar ou complementar o
sentido dos termos dos quais ela aparece junto. A última função, a da ligação, se trata dos
elementos que possibilitam a conexão com outros termos.
A crítica à teoria do verbo substantivo é um ponto central da gramática. Para isso,
Grivet cita textos que defendem o verbo substantivo e refuta os argumentos dos
substantivistas. Pelo menos alguns desses textos são de autoria de Francisco Sotero dos Reis,
gramático contemporâneo do suíço. Por se colocar fortemente contra essa teoria, Grivet
propõe um tipo diferente de análise sintática, na qual a decomposição analítica (substantivo +
atributo) dá lugar ao verbo (o fato) como núcleo da oração. Lembremos que os outros termos
da oração estão subordinados ao verbo. Assim, a gramática é centrada também no verbo. Suas
considerações contra a teoria do verbo substantivo também nos ajudam a ver que o autor,
apesar de algumas aproximações com o racionalismo, escreve uma obra majoritariamente
descritiva, alinhando-se à linhagem empirista.
Para Grivet, quando, numa proposição, há o que suprir, subtrair, comentar, transferir
ou substituir, ocorrem as figuras de linguagem: elipse, pleonasmo, silepse, inversão e
exclamação. Na elipse, um ou mais termos de uma oração fica subentendido. O pleonasmo é
caracterizado por repetir na proposição uma ideia já mencionada. A silepse é marcada pelo
fato de que a concordância entre os termos da proposição se dá pelo sentido, não pela sua
estrutura morfossintática. Já a inversão é a mera troca da posição dos termos sintáticos. A
última figura de linguagem, a exclamação, é uma proposição implícita.
Em seguida, na camada técnica, a quarta parte do quinto capítulo, exploramos as
técnicas de análise e os métodos de apresentação utilizado por Grivet na Nova Grammatica
Analytica. Numa análise de uma proposição realizada pelo autor, fica claro o funcionamento
da teoria das funções. Além disso, também apresentamos a rede taxonômica dos estudos do
gramático.
143

Por fim, na camada documental, quinta parte do quinto capítulo, tratamos da


documentação linguística utilizada na obra para auxiliar na elaboração dessa fonte.
Analisamos quem foram os autores e quais foram os textos citados por Grivet e de quais
países eles eram, quais domínios discursivos eram utilizados como exemplar linguístico, entre
outros aspectos. A obra é constituída majoritariamente por textos literários lusitanos (83% dos
exemplos), com destaque para o Padre Antônio Vieira, que representa 59,35% dos exemplos
de Grivet. Além disso, o exemplar linguístico se concentra nos séculos XVI e XVII, isto é,
textos escritos de 200 a 300 anos antes da publicação da obra.
O percurso desse trabalho foi guiado pelo compromisso com a HL em investigar tanto
a fonte quanto os elementos que a cercam. No nosso caso, a Nova Grammatica Analytica da
Lingua Portugueza e o contexto social, histórico, político e ideológico do século XIX.
A exposição dessas ideias de Grivet abre caminhos para o mesmo tipo de pesquisa
com outros gramáticos pouco explorados pelas áreas da Linguística e também para a
continuidade da exploração dos pensamentos do gramático suíço. Pela extensão do tema,
alguns aspectos sintáticos do autor não foram aprofundados por nós nesse trabalho, como a
subordinação. Explorar outras partes da gramática, como a lexicologia, também é um
caminho.
Além das páginas anteriores, deixamos um apêndice com publicações do século XIX e
XX que focam na vida e na obra de Charles Grivet, mas que também dão um panorama dos
estudos linguísticos desses séculos. É desse forma que encerramos e esperamos ter
contribuído para os estudos linguísticos brasileiros.
144

REFERÊNCIAS

Primárias

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RELATORIO do Conselheiro Dr. Francisco Octaviano de Almeida Rosa e do Commendador


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149

APÊNDICES

APÊNDICE A – LEVANTAMENTO DAS FONTES SECUNDÁRIAS – VIDA


PESSOAL DE GRIVET

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1856\Edição 00091 (1)
150

Diário do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1856\Edição 00092 (1)

Diário do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1857\Edição 00272 (1)


151

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1866\Edição 00325 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1869\Edição 00173 (1)


152

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1869\Edição 00176 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1869\Edição 00177 (1)

Diário do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1869\Edição 00174 (1)


153
154

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1872\Edição 00021 (1)


155

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1876\Edição 00015 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1876\Edição 00020 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1876\Edição 00043 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1869\Edição 00176 (1)


156

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1869\Edição 00177 (1)

Diário do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1869\Edição 00174 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1869\Edição 00173 (1)


157

O Globo: Orgão da Agencia Americana Telegraphica dedicado aos interesses do Commercio,


Lavoura e Industria (RJ) - Ano 1876\Edição 00021 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1876\Edição 00142 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1881\Edição 00164 (1)


158

O Globo: Orgão da Agencia Americana Telegraphica dedicado aos interesses do Commercio,


Lavoura e Industria (RJ) - Ano 1876\Edição 00045 (1)

Le Jura 18 February 1876 (p. 1)


159
160

La Liberté 24 February 1876 (p. 2)


161

Le Confédéré de Fribourg 19 November 1876 (p. 3)

Le Chroniqueur 16 January 1877 (p. 3)


162

Le Confédéré de Fribourg 17 January 1877 (p. 3)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1886\Edição 00313 (1)


163

Gazeta de Noticias (RJ) - Ano 1906\Edição 00248 (1)


164

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1876\Edição 00015 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1876\Edição 00020 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1876\Edição 00043 (1)


165

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1876\Edição 00142 (1)

O Globo: Orgão da Agencia Americana Telegraphica dedicado aos interesses do Commercio,


Lavoura e Industria (RJ) - Ano 1876\Edição 00021 (1)

O Globo: Orgão da Agencia Americana Telegraphica dedicado aos interesses do Commercio,


Lavoura e Industria (RJ) - Ano 1876\Edição 00045 (1)
166

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1881\Edição 00164 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1886\Edição 00313 (1)


167

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1888\Edição 00173 (1)


168

Gazeta de Noticias (RJ) - Ano 1906\Edição 00248 (1)


169
170

La Liberté 21 February 1976 (p. 11)


171

APÊNDICE B – LEVANTAMENTO DAS FONTES SECUNDÁRIAS – VIDA


PROFISSIONAL DE GRIVET

Le Narrateur fribourgeois 6 June 1845 (p. 2)


172
173

Le Narrateur fribourgeois 18 July 1845 (p. 3-4)

Le Narrateur fribourgeois 15 May 1846 (p. 2)

Le Narrateur fribourgeois 22 December 1846 (p. 4)


174
175

Le Confédéré de Fribourg 28 November 1848 (p. 1)


176

Le Confédéré de Fribourg 27 September 1851 (p. 1)

Courrier du Valais 8 April 1852 (p. 2)


177

Courrier du Valais 2 May 1852 (p. 3)

Le Narrateur fribourgeois 25 May 1852 (p. 4)


178

La Liberté 23 April 1952 (p. 5)

Le Confédéré de Fribourg 25 May 1852 (p. 1)


179

Le Narrateur fribourgeois 22 July 1853 (p. 2)

Le Narrateur fribourgeois 17 March 1854 (p. 1)


180
181
182
183

Le Confédéré de Fribourg 25 September 1855 (p. 2-3)

Le Chroniqueur 1 December 1855 (p. 3)

Le Confédéré de Fribourg 5 February 1856 (p. 5)


184
185
186

Le Confédéré de Fribourg 30 August 1856 (p. 2)


187

Le Confédéré de Fribourg 4 September 1856 (p. 3)

Le Chroniqueur 13 May 1857 (p. 3)


188

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1858\Edição 00135 (1)
189

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1858\Edição 00303 (1)
190

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1858\Edição 00308 (1)


191

A Patria: Folha da Provincia do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1858\Edição 00112 (1)
192

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1859\Edição 00094 (1)

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1859\Edição 00111 (2)
193
194
195

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1859\Edição 00111 (2)
196

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1859\Edição


00016 (3)
197

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1859\Edição


00016 (3)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1859\Edição


00016 (3)
198

Jornal do Commercio - Ano 1859\Edição 00064 (1)

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1860\Edição 00089 (1)
199

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1860\Edição 00336 (1)
200
201
202
203

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1860\Edição 00360 (1)
204

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1860\Edição 00022 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1860\Edição 00333 (1)


205

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1860\Edição 00334 (1)


206

L'Écho du Brésil: Et de L'Amerique du Sud - Ce Journal parait tous dimanches (RJ) - Ano
1860\Edição 00045 (1)
207
208
209

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1861\Edição 00226 (1)
210

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1861\Edição


00018 (2)

Boletim do Expediente do Governo: Ministerio do Imperio (RJ) - Ano 1861\Edição 00028 (1)
211

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1862\Edição 00001 (1)

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1862\Edição 00002 (1)
212

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1862\Edição 00003 (1)

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1862\Edição 00034 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1862\Edição 00003 (1)


213

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1862\Edição 00029 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1862\Edição 00033 (1)


214

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1862\Edição 00144 (1)


215

Brasil. Ministério do Império: Relatorio da Repartição dos Negocios do Imperio (RJ) - Ano
1862\Edição 00001 (4)

Brasil. Ministério do Império: Relatorio da Repartição dos Negocios do Imperio (RJ) - Ano
1862\Edição 00001 (4)
216

Brasil. Ministério do Império: Relatorio da Repartição dos Negocios do Imperio (RJ) - Ano
1862\Edição 00001 (4)

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1863\Edição 00005 (1)

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1863\Edição 00007 (1)
217

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1863\Edição 00011 (1)

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1863\Edição 00042 (1)
218
219
220

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1863\Edição 00293 (1)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1863\Edição


00020 (4)
221

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1863\Edição


00020 (4)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1863\Edição


00020 (4)
222

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1863\Edição


00020 (4)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1863\Edição 00124 (1)


223

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1863\Edição 00294 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1863\Edição 00294 (1)

Indicador Alphabetico: Da Morada dos seus principais habitantes (RJ) - Ano 1863\Edição
00001 (1)

1 1864
224

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1864\Edição 00046 (1)

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1864\Edição 00047 (2)

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1864\Edição 00047 (2)
225

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1864\Edição 00081 (1)

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1864\Edição 00083 (1)
226

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1864\Edição 00356 (1)

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1864\Edição 00357 (1)

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1864\Edição 00358 (1)
227

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1864\Edição 00359 (1)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1864\Edição


00021 (3)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1864\Edição


00021 (3)
228

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1864\Edição


00021 (3)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1864\Edição 00007 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1864\Edição 00083 (1)


229

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1864\Edição 00359 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1864\Edição 00361 (1)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1865\Edição


00022 (4)
230

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1865\Edição


00022 (4)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1865\Edição


00022 (4)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1865\Edição


00022 (4)

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1866\Edição 00085 (1)
231

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1866\Edição


00010 (2)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1866\Edição 00047 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1866\Edição 00049 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1866\Edição 00084 (1)


232

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1866\Edição 00243 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1866\Edição 00275 (2)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1866\Edição 00275 (2)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1867\Edição


00004 (4)
233

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1867\Edição


00004 (4)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1867\Edição


00004 (4)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1867\Edição


00004 (4)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1867\Edição 00002 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1867\Edição 00006 (1)


234

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1867\Edição 00006 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1867\Edição 00281 (1)

Indicador Alphabetico: Da Morada dos seus principais habitantes (RJ) - Ano 1867\Edição
00001 (1)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1868\Edição


00025 (3)
235

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1868\Edição


00025 (3)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1868\Edição


00025 (3)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1868\Edição 00007 (1)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1869\Edição


00026 (3)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1869\Edição


00026 (3)
236

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1869\Edição


00026 (3)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1869\Edição 00198 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1869\Edição 00200 (1)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1870\Edição


00027 (2)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1870\Edição


00027 (2)
237

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1870\Edição 00006 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1870\Edição 00016 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1870\Edição 00018 (1)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1871\Edição


00028 (2)
238

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1871\Edição


00028 (2)

Brasil. Ministério do Império: Relatorio da Repartição dos Negocios do Imperio (RJ) - Ano
1871\Edição 00001 (4)

Brasil. Ministério do Império: Relatorio da Repartição dos Negocios do Imperio (RJ) - Ano
1871\Edição 00001 (4)
239

Brasil. Ministério do Império: Relatorio da Repartição dos Negocios do Imperio (RJ) - Ano
1871\Edição 00001 (4)

Brasil. Ministério do Império: Relatorio da Repartição dos Negocios do Imperio (RJ) - Ano
1871\Edição 00001 (4)

Indicador Alphabetico: Da Morada dos seus principais habitantes (RJ) - Ano 1871\Edição
00001 (1)
240

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1871\Edição 00004 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1871\Edição 00005 (1)


241

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1872\Edição


00029 (1)

Brasil. Ministério do Império: Relatorio da Repartição dos Negocios do Imperio (RJ) - Ano
1872\Edição 00001 (1)
242

A Instrucção Publica: Publicação Hebdomadaria (RJ) - Ano 1872\Edição 00023 (1)

A Reforma: Orgão Democratico (RJ) - Ano 1872\Edição 00267 (1)


243

Le Confédéré de Fribourg 3 July 1872 (p. 2-3)


244
245

Le Chroniqueur 4 July 1872 (p. 3)

Brasil. Ministério do Império: Relatorio da Repartição dos Negocios do Imperio (RJ) - Ano
1873\Edição 00001 (4)

Brasil. Ministério do Império: Relatorio da Repartição dos Negocios do Imperio (RJ) - Ano
1873\Edição 00001 (4)
246

Brasil. Ministério do Império: Relatorio da Repartição dos Negocios do Imperio (RJ) - Ano
1873\Edição 00001 (4)

Brasil. Ministério do Império: Relatorio da Repartição dos Negocios do Imperio (RJ) - Ano
1873\Edição 00003 (1)
247

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1873\Edição


00030 (2)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1873\Edição


00030 (2)

A Republica: Propriedade do Club Republicano (RJ) - Ano 1873\Edição 00747 (1)


248

A Republica: Propriedade do Club Republicano (RJ) - Ano 1873\Edição 00770 (1)

Indicador Alphabetico (RJ) - Ano 1873\Edição 00001 (2)

Indicador Alphabetico (RJ) - Ano 1873\Edição 00001 (2)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1873\Edição 00134 (1)


249

Relatório do Estado da Instrucção Primaria e Secundaria (RJ) - Ano 1873\Edição 0001 (1)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1874\Edição


00031 (2)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1874\Edição


00031 (2)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1874\Edição 00360 (1)


250

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1874\Edição 00363 (1)

Relatório do Estado da Instrucção Primaria e Secundaria (RJ) - Ano 1874\Edição 0001 (1)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1875\Edição


00032 (2)
251

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1875\Edição


00032 (2)

Indicador Alphabetico: Da Morada dos seus principais habitantes (RJ) - Ano 1875\Edição
00001 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1875\Edição 00005 (1)


252

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1876\Edição 00009 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1876\Edição 00010 (1)

Le Chroniqueur 10 February 1876 (p. 3)


253
254
255
256

Le Chroniqueur 15 February 1876 (p. 2-3)

Gazeta de Noticias (RJ) - Ano 1880\Edição 00134 (1)


257

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1866\Edição 00243 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1866\Edição 00275 (2)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1866\Edição 00275 (2)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1867\Edição


00004 (4)
258

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1867\Edição


00004 (4)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1867\Edição


00004 (4)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1867\Edição


00004 (4)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1867\Edição 00002 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1867\Edição 00006 (1)


259

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1867\Edição 00006 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1867\Edição 00281 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1867\Edição 00290 (1)


260

Indicador Alphabetico: Da Morada dos seus principais habitantes (RJ) - Ano 1867\Edição
00001 (1)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1868\Edição


00025 (3)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1868\Edição


00025 (3)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1868\Edição


00025 (3)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1868\Edição 00007 (1)


261

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1869\Edição


00026 (3)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1869\Edição


00026 (3)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1869\Edição


00026 (3)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1869\Edição 00198 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1869\Edição 00200 (1)


262

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1870\Edição


00027 (2)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1870\Edição


00027 (2)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1870\Edição 00006 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1870\Edição 00016 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1870\Edição 00018 (1)


263

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1871\Edição


00028 (2)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1871\Edição


00028 (2)

Brasil. Ministério do Império: Relatorio da Repartição dos Negocios do Imperio (RJ) - Ano
1871\Edição 00001 (4)
264

Brasil. Ministério do Império: Relatorio da Repartição dos Negocios do Imperio (RJ) - Ano
1871\Edição 00001 (4)

Brasil. Ministério do Império: Relatorio da Repartição dos Negocios do Imperio (RJ) - Ano
1871\Edição 00001 (4)

Indicador Alphabetico: Da Morada dos seus principais habitantes (RJ) - Ano 1871\Edição
00001 (1)
265

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1871\Edição 00004 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1871\Edição 00005 (1)


266

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1872\Edição


00029 (1)

Brasil. Ministério do Império: Relatorio da Repartição dos Negocios do Imperio (RJ) - Ano
1872\Edição 00001 (1)
267

A Instrucção Publica: Publicação Hebdomadaria (RJ) - Ano 1872\Edição 00023 (1)


268
269

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1872\Edição 00021 (1)


270

Brasil. Ministério do Império: Relatorio da Repartição dos Negocios do Imperio (RJ) - Ano
1873\Edição 00001 (4)

Brasil. Ministério do Império: Relatorio da Repartição dos Negocios do Imperio (RJ) - Ano
1873\Edição 00001 (4)

Brasil. Ministério do Império: Relatorio da Repartição dos Negocios do Imperio (RJ) - Ano
1873\Edição 00001 (4)
271

Brasil. Ministério do Império: Relatorio da Repartição dos Negocios do Imperio (RJ) - Ano
1873\Edição 00003 (1)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1873\Edição


00030 (2)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1873\Edição


00030 (2)
272

A Republica: Propriedade do Club Republicano (RJ) - Ano 1873\Edição 00747 (1)

A Republica: Propriedade do Club Republicano (RJ) - Ano 1873\Edição 00770 (1)

Indicador Alphabetico (RJ) - Ano 1873\Edição 00001 (2)


273

Indicador Alphabetico (RJ) - Ano 1873\Edição 00001 (2)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1873\Edição 00134 (1)

Relatório do Estado da Instrucção Primaria e Secundaria (RJ) - Ano 1873\Edição 0001 (1)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1874\Edição


00031 (2)
274

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1874\Edição


00031 (2)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1874\Edição 00360 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1874\Edição 00363 (1)


275

Relatório do Estado da Instrucção Primaria e Secundaria (RJ) - Ano 1874\Edição 0001 (1)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1875\Edição


00032 (2)

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) - Ano 1875\Edição


00032 (2)
276

Indicador Alphabetico: Da Morada dos seus principais habitantes (RJ) - Ano 1875\Edição
00001 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1875\Edição 00005 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1876\Edição 00009 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1876\Edição 00010 (1)


277

Le Bien public 8 July 1886 (p. 2)


278

Jornal do Brasil (RJ) - Ano 1911\Edição 00180 (1)

Anais da Biblioteca Nacional (RJ) - Ano 1941\Edição 00063 (1)


279

APÊNDICE C – LEVANTAMENTO DAS FONTES SECUNDÁRIAS –


GRAMÁTICAS DE GRIVET

Correio Paulistano (SP) - Ano 1865\Edição 02702 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1866\Edição 00156 (1)


280
281
282

Revista Mensal da Sociedade (RJ) - Ano 1866\Edição 00009 (1)


283

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1867\Edição 00300 (1)
284

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1867\Edição 00307 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1867\Edição 00290 (1)


285
286
287
288
289
290
291
292
293
294

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1870\Edição 00039 (1)


295

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1870\Edição 00323 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1871\Edição 00230 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1871\Edição 00232 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1871\Edição 00235 (1)


296
297

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1871\Edição 00246 (1)


298
299

A Verdadeira Instrucção Publica: Orgão dos professores publicos de instrucção primaria da


Côrte (RJ) - Ano 1872\Edição 00005 (1)
300
301

A Verdadeira Instrucção Publica: Orgão dos professores publicos de instrucção primaria da


Côrte (RJ) - Ano 1872\Edição 00007 (1)
302
303
304

A Verdadeira Instrucção Publica: Orgão dos professores publicos de instrucção primaria da


Côrte (RJ) - Ano 1872\Edição 00009 (2)
305
306
307
308
309
310

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1872\Edição 00282 (1)


311
312
313
314
315
316
317
318

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1872\Edição 00299 (1)


319
320
321
322
323

A Instrucção Publica: Publicação Hebdomadaria (RJ) - Ano 1875\Edição 00002 (2)


324
325
326
327

A Instrucção Publica: Publicação Hebdomadaria (RJ) - Ano 1875\Edição 00004 (1)


328

Gazeta de Noticias (RJ) - Ano 1881\Edição 00161 (1)


329

Gazeta de Noticias (RJ) - Ano 1881\Edição 00162 (1)


330

Gazeta de Noticias (RJ) - Ano 1881\Edição 00163 (1)


331

Gazeta de Noticias (RJ) - Ano 1881\Edição 00190 (1)


332

Gazeta de Noticias (RJ) - Ano 1881\Edição 00201 (1)

Gazeta de Noticias (RJ) - Ano 1881\Edição 00206 (1)

Gazeta de Noticias (RJ) - Ano 1881\Edição 00285 (1)


333

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1881\Edição 00165 (1)


334

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1881\Edição 00166 (1)


335

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1882\Edição 00144 (1)


336
337
338
339

O Cearense (CE) - Ano 1882\Edição 00043 (1)


340
341
342

O Cearense (CE) - Ano 1882\Edição 00046 (1)


343
344

O Cearense (CE) - Ano 1882\Edição 00050 (1)


345

O Globo : Orgão da Agencia Americana Telegraphica dedicado aos interesses do Commercio,


Lavoura e Industria (RJ) - Ano 1882\Edição 00129 (1)
346
347
348
349
350

O Globo: Orgão da Agencia Americana Telegraphica dedicado aos interesses do Commercio,


Lavoura e Industria (RJ) - Ano 1882\Edição 00129 (1)
351

Gazeta de Noticias (RJ) - Ano 1883\Edição 00155 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1883\Edição 00062 (1)


352
353

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1883\Edição 00083 (1)


354

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1883\Edição 00089 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1883\Edição 00091 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1883\Edição 00263 (1)


355

Diario do Maranhão (MA) - Ano 1884\Edição 03166 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - R\Edição 1884/00003 (1)


356

Jornal do Commercio (RJ) - R\Edição 1884/00024 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - R\Edição 1884/00028 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - R\Edição 1884/00041 (1)


357

Jornal do Commercio (RJ) - R\Edição 1884/00219 (1)

Pacotilha (MA) - Ano 1884\Edição 00064 (1)


358

Pacotilha (MA) - Ano 1884\Edição 00065 (1)

Pacotilha (MA) - Ano 1884\Edição 00066 (1)


359

Pacotilha (MA) - Ano 1884\Edição 00067 (1)

Pacotilha (MA) - Ano 1884\Edição 00068 (1)

Anais da Biblioteca Nacional (RJ) - Ano 1885\Edição 00013 (2)


360

Anais da Biblioteca Nacional (RJ) - Ano 1885\Edição 00013 (2)

Gazeta de Noticias (RJ) - Ano 1885\Edição 00041 (1)


361

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1885\Edição 00270 (1)


362
363
364
365
366

A Federação: Orgam do Partido Republicano (RS) - Ano 1886\Edição 00273 (1)


367
368
369
370

O Arauto de Minas : Hebdomadario Politico, Instructivo e Noticioso (MG) - Ano


1886\Edição 00002 (1)
371

O Domingo (MG) - Ano 1886\Edição 00018 (1)


372
373

O Domingo (MG) - Ano 1886\Edição 00021 (1)


374

O Vassourense (RJ) - Ano 1886\Edição 00005 (1)


375
376
377
378
379
380
381
382
383
384
385
386

Diario de Pernambuco (PE) - Ano 1887\Edição 00156 (1)


387
388
389
390
391
392

Jornal de Recife (PE) - Ano 1887\Edição 00154 (1)


393
394

Jornal de Recife (PE) - Ano 1887\Edição 00218 (1)


395

Diario de Pernambuco (PE) - Ano 1888\Edição 00250 (1)

Gazeta de Noticias (RJ) - Ano 1888\Edição 00008 (1)


396

Jornal de Recife (PE) - Ano 1888\Edição 00125 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1888\Edição 00173 (1)

2 1889
397
398

Diario de Belém: Folha Politica, Noticiosa e Commercial (PA) - Ano 1889\Edição 00027 (1)
399

Diario de Belém: Folha Politica, Noticiosa e Commercial (PA) - Ano 1889\Edição 00043 (1)
400

Diario de Pernambuco (PE) - Ano 1889\Edição 00047 (1)


401
402

Gazeta do Natal : Orgão Conservador (RN) - Ano 1889\Edição 00111 (1)

A Federação: Orgam do Partido Republicano (RS) - Ano 1890\Edição 00066 (1)


403
404

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1890\Edição 00046 (1)


405

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1890\Edição 00064 (1)


406

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1890\Edição 00121 (1)


407
408

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1890\Edição 00139 (1)


409
410

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1890\Edição 00142 (1)


411
412
413

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1890\Edição 00157 (1)


414
415
416

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1890\Edição 00176 (1)


417
418
419

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1890\Edição 00199 (1)


420

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1890\Edição 00201 (1)


421
422

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1890\Edição 00230 (1)


423

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1891\Edição 00372 (1)


424
425

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1891\Edição 00461 (1)


426

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1891\Edição 00484 (1)


427
428

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1891\Edição 00488 (1)


429
430

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1891\Edição 00507 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1891\Edição 00262 (1)


431
432

Correio Paulistano (SP) - Ano 1892\Edição 10636 (1)


433

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1893\Edição 00901 (1)


434
435
436

Commercio do Espirito Santo (ES) - Ano 1893\Edição 00854 (1)

O Paiz (RJ) - Ano 1893\Edição 03966 (1)


437
438

A Republica: Fusão do Libertador e Estado do Ceara (CE) - Ano 1894\Edição 00031 (1)
439
440
441

A Semana: Volume I (RJ) - Ano 1894\Edição 00025 (1)

O Paiz (RJ) - Ano 1895\Edição 03765 (1)


442
443

Folha do Norte (PA) - Ano 1896\Edição 00096 (1)

Folha do Norte (PA) - Ano 1896\Edição 00103 (1)


444

Gazeta de Petropolis (RJ) - Ano 1897\Edição 00068 (1)


445
446

Minas Geraes: Orgam Official dos Poderes do Estado (MG) - Ano 1897\Edição 00061 (1)
447
448
449

Gutenberg: Orgão da Associação Typographica Alagoana de Socorros Mutuos (AL) - Ano


1899\Edição 00203 (1)
450
451

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1899\Edição 00302 (2)


452
453

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1899\Edição 00302 (2)


454

O Fluminense (RJ) - Ano 1900\Edição 04203 (1)


455
456
457

O Pará (PA) - Ano 1900\Edição 00766 (1)


458
459
460
461
462
463
464

Jornal de Recife (PE) - Ano 1901\Edição 00096 (1)

Correio da Manhã (RJ) - Ano 1901\Edição 00011 (1)


465
466
467
468
469
470

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1901\Edição 00134 (1)


471
472

A Fé Christã: Hebdomadario dedicado aos interesses da religião catholica (AL) - Ano


1902\Edição 00038 (1)
473

Jornais de Ouro Preto: Orgão do Partido Conservador (MG) - Ano 1902\Edição 00032 (1)
474

A Cidade (MG) - Ano 1902\Edição 00032 (1)


475
476
477
478
479

A Federação: Orgam do Partido Republicano (RS) - Ano 1903\Edição 00110 (1)

A Provincia: Orgão do Partido Liberal (PE) - Ano 1903\Edição 00229 (1)


480

A Provincia: Orgão do Partido Liberal (PE) - Ano 1903\Edição 00231 (1)


481
482

Correio da Manhã (RJ) - Ano 1903\Edição 00760 (1)


483
484

Correio da Manhã (RJ) - Ano 1903\Edição 00798 (1)


485
486

Quo Vadis? : orgam de interesses populares (AM) - Ano 1903\Edição 00138 (1)
487
488
489
490
491
492
493
494
495
496
497

Jornal de Recife (PE) - Ano 1905\Edição 00194 (1)


498
499
500

A Provincia: Orgão do Partido Liberal (PE) - Ano 1906\Edição 00010 (1)


501

Diario de Pernambuco (PE) - Ano 1906\Edição 00004 (1)


502

Jornal do Brasil (RJ) - Ano 1908\Edição 00345 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1909\Edição 00095 (1)


503

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1909\Edição 00118 (1)


504
505

O Monitor (AL) - Ano 1909\Edição 00026 (1)


506

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1910\Edição 00296 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1911\Edição 00351 (1)


507

Jornal do Brasil (RJ) - Ano 1911\Edição 00180 (1)


508

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1912\Edição 00322 (1)


509

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1912\Edição 00336 (1)

Estado do Pará: Propriedade de uma Associação Anonyma (PA) - Ano 1913\Edição 00918 (1)
510

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1914\Edição 00048 (1)


511

Pacotilha (MA) - Ano 1915\Edição 00254 (1)


512

Diario do Povo: Orgão do Partido Republicano Conservador (AL) - Ano 1916\Edição 00351
(1)
513
514

Gazeta de Noticias (RJ) - Ano 1916\Edição 00311 (1)


515
516

Pacotilha (MA) - Ano 1916\Edição 00043 (1)


517

Pacotilha (MA) - Ano 1916\Edição 00086 (1)

Jornal do Brasil (RJ) - Ano 1916\Edição 00311 (1)


518

Jornal do Brasil (RJ) - Ano 1916\Edição 00312 (1)

Jornal do Brasil (RJ) - Ano 1916\Edição 00317 (1)


519

Gazeta do Commercio (SC) - Ano 1917\Edição 00037 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1917\Edição 00035 (1)


520

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1917\Edição 00148 (1)


521

Pacotilha (MA) - Ano 1917\Edição 00151 (1)


522
523
524
525

O Jornal (MA) - Ano 1917\Edição 00705 (1)

Diario de Pernambuco (PE) - Ano 1919\Edição 00303 (1)


526

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1919\Edição 00236 (1)


527

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1919\Edição 00273 (1)


528
529
530

Revista de Lingua Portuguesa (RJ) - Ano 1920\Edição 00005 (1)


531
532

O Combate: Independencia, Verdade, Justiça (SP) - Ano 1920\Edição 01662 (1)


533

Revista de Lingua Portuguesa (RJ) - Ano 1921\Edição 00012 (3)


534

Revista de Lingua Portuguesa (RJ) - Ano 1921\Edição 00012 (3)


535

Revista de Lingua Portuguesa (RJ) - Ano 1921\Edição 00012 (3)


536
537
538
539

Jornal do Brasil (RJ) - Ano 1922\Edição 00211 (1)


540

O Jornal (RJ) - Ano 1922\Edição 01046 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1923\Edição 00036 (1)


541

O Jornal (RJ) - Ano 1923\Edição 01496 (1)


542
543

Diario de S. Luiz (MA) - Ano 1924\Edição 00227 (1)


544
545

O Estado do Paraná: Jornal da Manhã (PR) - Ano 1925\Edição 00227 (1)


546

Revista de Lingua Portuguesa (RJ) - Ano 1926\Edição 00043 (1)


547

O Imparcial (RJ) - Ano 1926\Edição 05637 (1)


548

Rua Nova (PE) - Ano 1926\Edição 0050 (1)


549
550
551

Revista de Lingua Portuguesa (RJ) - Ano 1927\Edição 00050 (1)


552
553

Jornal do Brasil (RJ) - Ano 1928\Edição 00088 (1)


554

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1928\Edição 00139 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1928\Edição 00229 (1)


555
556

O Dia (PR) - Ano 1928\Edição 02055 (1)


557
558
559

Revista de Lingua Portuguesa (RJ) - Ano 1929\Edição 00060 (2)


560
561

O Liberal: Orgam do Partido Liberal de Veado (ES) - Ano 1929\Edição 00007 (1)

Diario Nacional: A Democracia em Marcha (SP) - Ano 1930\Edição 00846 (1)


562

Revista de Ensino (AL) - Ano 1930\Edição 00022 (1)


563

O Jornal (RJ) - Ano 1931\Edição 03907 (1)

O Jornal (RJ) - Ano 1931\Edição 04009 (1)


564
565

Eu Sei Tudo: Magazine Mensal Illustrado (RJ) - Ano 1932\Edição 00185 (1)
566

O Jornal (RJ) - Ano 1932\Edição 04168 (1)


567

Jornal do Brasil (RJ) - Ano 1934\Edição 00073 (1)


568
569

Jornal do Brasil (RJ) - Ano 1934\Edição 00074 (1)


570

Jornal do Brasil (RJ) - Ano 1934\Edição 00077 (1)


571

Revista do Professor (SP) - Ano 1934\Edição 00005 (1)


572

Revista de Lingua Portuguesa (RJ) - Ano 1935\Edição 00001 (1)


573

Nação Brasileira (RJ) - Ano 1936\Edição 00155 (1)


574

Jornal do Brasil (RJ) - Ano 1937\Edição 00302 (2)

Jornal do Brasil (RJ) - Ano 1938\Edição 00011 (1)


575
576
577
578

Correio da Manhã (RJ) - Ano 1940\Edição 14022 (1)

Anais da Biblioteca Nacional (RJ) - Ano 1941\Edição 00063 (1)


579

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1944\Edição 00226 (1)


580

Correio da Manhã (RJ) - Ano 1945\Edição 15534 (1)

Correio da Manhã (RJ) - Ano 1945\Edição 15564 (1)


581

Correio da Manhã (RJ) - Ano 1946\Edição 15899 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1946\Edição 00240 (1)


582

Careta (RJ) - Ano 1947\Edição 2054 (1)


583

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1947\Edição 00071 (1)


584

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1950\Edição 00077 (1)


585

Jornal do Brasil (RJ) - Ano 1956\Edição 00093 (1)


586
587

A Cruz: Orgão da Parochia de S. João Baptista (RJ) - Ano 1957\Edição 02082 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1958\Edição 00250 (1)


588

Diario de Noticias (RJ) - Ano 1959\Edição 11110 (1)


589

Blumenau em Cadernos (SC) - Ano 1963\Edição 00007 (1)


590

Correio da Manhã (RJ) - Ano 1964\Edição 21976 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1964\Edição 00118 (1)


591
592

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1965\Edição 00061 (1)


593

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1967\Edição 00153 (1)


594
595

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1967\Edição 00211 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1967\Edição 00271 (1)


596

Suplemento Literário (SP) - Ano 1971\Edição 00736 (1)


597

Suplemento Literário (SP) - Ano 1976\Edição 00059 (1)


598

O Poti (RN) - Ano 1984\Edição 00043 (1)


599

Diário do Pará (PA) - Ano 1989\Edição 02229 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1866\Edição 00156 (1)


600

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1867\Edição 00300 (1)
601

Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (RJ) - Ano 1867\Edição 00307 (1)
602

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1870\Edição 00323 (1)

Brasil. Ministério do Império: Relatorio da Repartição dos Negocios do Imperio (RJ) - Ano
1871\Edição 00001 (4)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1871\Edição 00230 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1871\Edição 00232 (1)


603

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1871\Edição 00235 (1)


604

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1871\Edição 00246 (1)


605

A Reforma: Orgão Democratico (RJ) - Ano 1872\Edição 00267 (1)


606

Gazeta de Noticias (RJ) - Ano 1881\Edição 00161 (1)


607

Gazeta de Noticias (RJ) - Ano 1881\Edição 00162 (1)


608

Gazeta de Noticias (RJ) - Ano 1881\Edição 00163 (1)


609

Gazeta de Noticias (RJ) - Ano 1881\Edição 00190 (1)


610

Gazeta de Noticias (RJ) - Ano 1881\Edição 00201 (1)

Gazeta de Noticias (RJ) - Ano 1881\Edição 00206 (1)


611

Gazeta de Noticias (RJ) - Ano 1881\Edição 00285 (1)


612

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1881\Edição 00165 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1881\Edição 00166 (1)


613

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1882\Edição 00144 (1)


614

Gazeta de Noticias (RJ) - Ano 1883\Edição 00155 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1883\Edição 00062 (1)


615
616

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1883\Edição 00083 (1)


617

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1883\Edição 00089 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1883\Edição 00091 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1883\Edição 00263 (1)


618

Diario do Maranhão (MA) - Ano 1884\Edição 03166 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - R\Edição 1884/00003 (1)


619

Jornal do Commercio (RJ) - R\Edição 1884/00024 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - R\Edição 1884/00028 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - R\Edição 1884/00041 (1)


620

Jornal do Commercio (RJ) - R\Edição 1884/00219 (1)

Pacotilha (MA) - Ano 1884\Edição 00064 (1)


621

Pacotilha (MA) - Ano 1884\Edição 00065 (1)

Pacotilha (MA) - Ano 1884\Edição 00066 (1)


622

Pacotilha (MA) - Ano 1884\Edição 00067 (1)

Pacotilha (MA) - Ano 1884\Edição 00068 (1)

Anais da Biblioteca Nacional (RJ) - Ano 1885\Edição 00013 (2)

Gazeta de Noticias (RJ) - Ano 1885\Edição 00041 (1)


623

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1885\Edição 00270 (1)


624
625

Jornal de Recife (PE) - Ano 1887\Edição 00218 (1)


626

Diario de Pernambuco (PE) - Ano 1888\Edição 00250 (1)

Gazeta de Noticias (RJ) - Ano 1888\Edição 00008 (1)


627

Jornal de Recife (PE) - Ano 1888\Edição 00125 (1)

A Federação: Orgam do Partido Republicano (RS) - Ano 1890\Edição 00066 (1)


628

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1891\Edição 00262 (1)

O Paiz (RJ) - Ano 1893\Edição 03966 (1)


629
630

Minas Geraes: Orgam Official dos Poderes do Estado (MG) - Ano 1897\Edição 00061 (1)

Correio da Manhã (RJ) - Ano 1901\Edição 00011 (1)

A Provincia: Orgão do Partido Liberal (PE) - Ano 1903\Edição 00229 (1)


631

A Provincia: Orgão do Partido Liberal (PE) - Ano 1903\Edição 00231 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1909\Edição 00095 (1)


632

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1910\Edição 00296 (1)


633

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1911\Edição 00351 (1)


634

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1912\Edição 00322 (1)


635

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1912\Edição 00336 (1)

Estado do Pará: Propriedade de uma Associação Anonyma (PA) - Ano 1913\Edição 00918 (1)
636

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1914\Edição 00048 (1)

Jornal do Brasil (RJ) - Ano 1916\Edição 00311 (1)


637

Jornal do Brasil (RJ) - Ano 1916\Edição 00312 (1)

Jornal do Brasil (RJ) - Ano 1916\Edição 00317 (1)


638

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1917\Edição 00035 (1)


639

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1917\Edição 00148 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1919\Edição 00236 (1)


640

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1919\Edição 00273 (1)


641

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1923\Edição 00036 (1)


642
643
644

O Estado do Paraná: Jornal da Manhã (PR) - Ano 1925\Edição 00227 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1928\Edição 00139 (1)


645

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1928\Edição 00229 (1)

O Jornal (RJ) - Ano 1931\Edição 03907 (1)


646

O Jornal (RJ) - Ano 1931\Edição 04009 (1)

O Jornal (RJ) - Ano 1932\Edição 04168 (1)


647

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1944\Edição 00226 (1)


648

Correio da Manhã (RJ) - Ano 1945\Edição 15534 (1)


649

Correio da Manhã (RJ) - Ano 1945\Edição 15564 (1)


650

Correio da Manhã (RJ) - Ano 1946\Edição 15899 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1946\Edição 00240 (1)


651

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1947\Edição 00071 (1)

Suplemento Literário (SP) - Ano 1971\Edição 00736 (1)


652
653

Suplemento Literário (SP) - Ano 1976\Edição 00059 (1)


654

APÊNDICE D – LEVANTAMENTO DAS FONTES SECUNDÁRIAS – TEMAS


GRAMATICAIS DE GRIVET
655
656
657
658

A Instrucção Publica: Publicação Hebdomadaria (RJ) - Ano 1872\Edição 00030 (1)


659
660

Revista Mensal da Sociedade (RJ) - Ano 1866\Edição 00009 (1)


661
662
663
664
665
666
667
668
669

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1870\Edição 00039 (1)


670
671
672
673

A Instrucção Publica: Publicação Hebdomadaria (RJ) - Ano 1872\Edição 00030 (1)


674

A Verdadeira Instrucção Publica: Orgão dos professores publicos de instrucção primaria da


Côrte (RJ) - Ano 1872\Edição 00005 (1)
675
676

A Verdadeira Instrucção Publica: Orgão dos professores publicos de instrucção primaria da


Côrte (RJ) - Ano 1872\Edição 00007 (1)
677
678
679

A Verdadeira Instrucção Publica: Orgão dos professores publicos de instrucção primaria da


Côrte (RJ) - Ano 1872\Edição 00009 (2)
680
681
682
683
684
685

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1872\Edição 00282 (1)


686
687
688
689
690
691
692
693

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1872\Edição 00299 (1)


694
695
696
697
698

A Instrucção Publica: Publicação Hebdomadaria (RJ) - Ano 1875\Edição 00002 (2)


699
700
701
702

A Instrucção Publica: Publicação Hebdomadaria (RJ) - Ano 1875\Edição 00004 (1)


703
704
705

O Cearense (CE) - Ano 1882\Edição 00043 (1)


706
707
708

O Cearense (CE) - Ano 1882\Edição 00046 (1)


709
710

O Cearense (CE) - Ano 1882\Edição 00050 (1)


711

O Globo : Orgão da Agencia Americana Telegraphica dedicado aos interesses do Commercio,


Lavoura e Industria (RJ) - Ano 1882\Edição 00129 (1)
712
713
714
715
716

O Globo: Orgão da Agencia Americana Telegraphica dedicado aos interesses do Commercio,


Lavoura e Industria (RJ) - Ano 1882\Edição 00129 (1)
717

Anais da Biblioteca Nacional (RJ) - Ano 1885\Edição 00013 (2)


718
719
720
721
722

A Federação: Orgam do Partido Republicano (RS) - Ano 1886\Edição 00273 (1)


723
724
725
726

O Arauto de Minas : Hebdomadario Politico, Instructivo e Noticioso (MG) - Ano


1886\Edição 00002 (1)
727

O Domingo (MG) - Ano 1886\Edição 00018 (1)


728
729

O Domingo (MG) - Ano 1886\Edição 00021 (1)


730

O Vassourense (RJ) - Ano 1886\Edição 00005 (1)


731
732
733
734
735
736
737
738
739
740
741
742

Diario de Pernambuco (PE) - Ano 1887\Edição 00156 (1)


743
744
745
746
747
748

Jornal de Recife (PE) - Ano 1887\Edição 00154 (1)


749
750

Diario de Belém: Folha Politica, Noticiosa e Commercial (PA) - Ano 1889\Edição 00027 (1)
751

Diario de Belém: Folha Politica, Noticiosa e Commercial (PA) - Ano 1889\Edição 00043 (1)
752

Diario de Pernambuco (PE) - Ano 1889\Edição 00047 (1)


753
754

Gazeta do Natal : Orgão Conservador (RN) - Ano 1889\Edição 00111 (1)


755

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1890\Edição 00046 (1)


756

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1890\Edição 00064 (1)


757

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1890\Edição 00121 (1)


758
759

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1890\Edição 00139 (1)


760
761

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1890\Edição 00142 (1)


762
763
764

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1890\Edição 00157 (1)


765
766
767

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1890\Edição 00176 (1)


768
769
770

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1890\Edição 00199 (1)


771

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1890\Edição 00201 (1)


772
773

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1890\Edição 00230 (1)


774

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1891\Edição 00372 (1)


775
776

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1891\Edição 00461 (1)


777

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1891\Edição 00484 (1)


778
779

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1891\Edição 00488 (1)


780
781

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1891\Edição 00507 (1)


782
783

Correio Paulistano (SP) - Ano 1892\Edição 10636 (1)


784

A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) - Ano 1893\Edição 00901 (1)


785
786
787

Commercio do Espirito Santo (ES) - Ano 1893\Edição 00854 (1)


788

A Republica: Fusão do Libertador e Estado do Ceara (CE) - Ano 1894\Edição 00031 (1)
789
790
791

A Semana: Volume I (RJ) - Ano 1894\Edição 00025 (1)

O Paiz (RJ) - Ano 1895\Edição 03765 (1)


792
793

Folha do Norte (PA) - Ano 1896\Edição 00096 (1)

Folha do Norte (PA) - Ano 1896\Edição 00103 (1)


794

Gazeta de Petropolis (RJ) - Ano 1897\Edição 00068 (1)


795
796
797

Gutenberg: Orgão da Associação Typographica Alagoana de Socorros Mutuos (AL) - Ano


1899\Edição 00203 (1)
798
799

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1899\Edição 00302 (2)


800
801

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1899\Edição 00302 (2)


802

O Fluminense (RJ) - Ano 1900\Edição 04203 (1)


803
804
805

O Pará (PA) - Ano 1900\Edição 00766 (1)


806
807
808
809
810
811
812

Jornal de Recife (PE) - Ano 1901\Edição 00096 (1)


813
814
815
816
817

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1901\Edição 00134 (1)


818
819

A Fé Christã: Hebdomadario dedicado aos interesses da religião catholica (AL) - Ano


1902\Edição 00038 (1)
820

Jornais de Ouro Preto: Orgão do Partido Conservador (MG) - Ano 1902\Edição 00032 (1)
821
822

A Cidade (MG) - Ano 1902\Edição 00032 (1)


823
824
825
826

A Federação: Orgam do Partido Republicano (RS) - Ano 1903\Edição 00110 (1)


827
828

Correio da Manhã (RJ) - Ano 1903\Edição 00760 (1)


829
830

Correio da Manhã (RJ) - Ano 1903\Edição 00798 (1)


831
832

Quo Vadis? : orgam de interesses populares (AM) - Ano 1903\Edição 00138 (1)
833
834
835
836
837
838
839
840
841
842
843

Jornal de Recife (PE) - Ano 1905\Edição 00194 (1)


844
845
846

A Provincia: Orgão do Partido Liberal (PE) - Ano 1906\Edição 00010 (1)


847

Diario de Pernambuco (PE) - Ano 1906\Edição 00004 (1)


848

Jornal do Brasil (RJ) - Ano 1908\Edição 00345 (1)


849

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1909\Edição 00118 (1)


850
851

O Monitor (AL) - Ano 1909\Edição 00026 (1)


852

Pacotilha (MA) - Ano 1915\Edição 00254 (1)

Diario do Povo: Orgão do Partido Republicano Conservador (AL) - Ano 1916\Edição 00351
(1)
853
854
855

Gazeta de Noticias (RJ) - Ano 1916\Edição 00311 (1)


856
857

Pacotilha (MA) - Ano 1916\Edição 00043 (1)


858

Pacotilha (MA) - Ano 1916\Edição 00086 (1)


859

Gazeta do Commercio (SC) - Ano 1917\Edição 00037 (1)


860

Pacotilha (MA) - Ano 1917\Edição 00151 (1)


861
862
863
864

O Jornal (MA) - Ano 1917\Edição 00705 (1)

Diario de Pernambuco (PE) - Ano 1919\Edição 00303 (1)


865
866
867

Revista de Lingua Portuguesa (RJ) - Ano 1920\Edição 00005 (1)


868
869

O Combate: Independencia, Verdade, Justiça (SP) - Ano 1920\Edição 01662 (1)


870
871

Revista de Lingua Portuguesa (RJ) - Ano 1921\Edição 00012 (3)


872

Revista de Lingua Portuguesa (RJ) - Ano 1921\Edição 00012 (3)


873

Revista de Lingua Portuguesa (RJ) - Ano 1921\Edição 00012 (3)


874
875
876
877

Jornal do Brasil (RJ) - Ano 1922\Edição 00211 (1)


878

O Jornal (RJ) - Ano 1922\Edição 01046 (1)

O Jornal (RJ) - Ano 1923\Edição 01496 (1)


879
880

Diario de S. Luiz (MA) - Ano 1924\Edição 00227 (1)


881
882

Revista de Lingua Portuguesa (RJ) - Ano 1926\Edição 00043 (1)

O Imparcial (RJ) - Ano 1926\Edição 05637 (1)


883

Rua Nova (PE) - Ano 1926\Edição 0050 (1)


884
885

Revista de Lingua Portuguesa (RJ) - Ano 1927\Edição 00050 (1)


886
887

Jornal do Brasil (RJ) - Ano 1928\Edição 00088 (1)


888
889

O Dia (PR) - Ano 1928\Edição 02055 (1)


890
891
892
893

Revista de Lingua Portuguesa (RJ) - Ano 1929\Edição 00060 (2)


894
895

O Liberal: Orgam do Partido Liberal de Veado (ES) - Ano 1929\Edição 00007 (1)

Diario Nacional: A Democracia em Marcha (SP) - Ano 1930\Edição 00846 (1)


896
897

Revista de Ensino (AL) - Ano 1930\Edição 00022 (1)


898
899

Eu Sei Tudo: Magazine Mensal Illustrado (RJ) - Ano 1932\Edição 00185 (1)
900

Jornal do Brasil (RJ) - Ano 1934\Edição 00073 (1)


901
902

Jornal do Brasil (RJ) - Ano 1934\Edição 00074 (1)


903

Jornal do Brasil (RJ) - Ano 1934\Edição 00077 (1)


904
905

Revista do Professor (SP) - Ano 1934\Edição 00005 (1)


906
907

Revista de Lingua Portuguesa (RJ) - Ano 1935\Edição 00001 (1)


908

Nação Brasileira (RJ) - Ano 1936\Edição 00155 (1)

Jornal do Brasil (RJ) - Ano 1937\Edição 00302 (2)


909

Jornal do Brasil (RJ) - Ano 1938\Edição 00011 (1)


910
911
912
913

Correio da Manhã (RJ) - Ano 1940\Edição 14022 (1)


914

Careta (RJ) - Ano 1947\Edição 2054 (1)


915

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1950\Edição 00077 (1)


916

Jornal do Brasil (RJ) - Ano 1956\Edição 00093 (1)


917
918

A Cruz: Orgão da Parochia de S. João Baptista (RJ) - Ano 1957\Edição 02082 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1958\Edição 00250 (1)


919

Diario de Noticias (RJ) - Ano 1959\Edição 11110 (1)


920

Blumenau em Cadernos (SC) - Ano 1963\Edição 00007 (1)


921

Correio da Manhã (RJ) - Ano 1964\Edição 21976 (1)


922

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1964\Edição 00118 (1)


923

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1965\Edição 00061 (1)


924
925

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1967\Edição 00153 (1)


926

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1967\Edição 00211 (1)

Jornal do Commercio (RJ) - Ano 1967\Edição 00271 (1)


927

O Poti (RN) - Ano 1984\Edição 00043 (1)


928

Diário do Pará (PA) - Ano 1989\Edição 02229 (1)

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