Audiovisual e Cinema Brasileiro - Aula 3

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*slides de Patrícia Colmenero, professora do curso de cinema

do IESB

03

AUDIOVISUAL
E CINEMA
BRASILEIRO
A Era dos Estúdios
Cinédia a Atlântida
Primeiro Grande Estúdio
Cinédia – Adhemar Gonzaga
Busca por estrutura semelhante ao dos estúdios hollywoodianos
Campanha de criação de uma indústria cinematográfica local
1930 – constrói o estúdio na própria propriedade
Filmes com qualidade técnica
Lança os três primeiros filmes – reflete sobre condição feminina, erotismo e vida da
classe média no início do Estado Novo (Getúlio Vargas)
"Lábios sem beijos" (1930, Humberto Mauro) – protagonizado por Carmen Santos
"Mulher" (1931, Otávio Gabus Mendes)
"Ganga Bruta" (1933, Humberto Mauro)
Mudos
A Cinédia faz uma das apresentações públicas de "Limite", do Mario Peixoto
(conexões com Adhemar)
Cinédia torna-se popular
Adhemar Gonzaga e Humberto Mauro lançam "A voz do carnaval" (1933)
Lança um novo produto - musicarnavalesco (ancestral das chanchadas da
Atlântida)
Ótimo para os experimentos sonoros desse momento (cinema se descobrindo
enquanto sonoro)
Carmen Miranda – "Alô, alô, Brasil" (1933) e "Alô, alô, Carnaval" (1935)
Aproxima a Cinédia do grande público
Versão brasileira dos musicais de Hollywood
O Ébrio, de Gilda de Abreu
Empatia da classe média relacionada ao
medo de perder e das classes baixas que
vivem essa realidade
Igreja como moralidade e bondade,
pessoas pobres (Salomé, a empregada
doméstica) – igreja e povo
Melodrama – se distancia das chanchadas
– nem só de riso vive o público
Poder do rádio no Brasil da década de 40
Estrutura de uma novela radiofônica
(narrador, audiência)
Vicente Celestino é marido de Gilda (a
música dele é de 1937) – audiência de
interessou em ‘conhecer’ a história da
música.
Relançamento, em 1998 - nova cópia em
35mm
Versão de 1998 – 120 minutos
Versão de 1946 - corte pressionado pelos
exibidores - 87 minutos.
Reavaliação de Gilda Abreu para a
historiografia
Coisas que se entendiam como erros de
direção foram revistas no corte novo
Cenas adicionais: sequência final, no bar,
cantando o ébrio; pedido de casamento é
feito por meio de uma caixa de presente.
Narração em off e mão protagonizando
cena - expressiva e inovadora para época.
Número recorde de 8 milhões de
espectadores (juntando os relançamentos
Processo do Fim da Cinédia
1940 – fazem Pureza, inspirado na obra de José Lins do Rego
Cenário caros, recriação de uma estação de trem
Fracasso de crítica e público
Grave crise financeira – 1941, os estúdios são fechados
Adhemar escreve ao presidente Vargas em busca de ajuda: “A Cinédia nascerá com a
revolução de 30 e logo depois a indústria sofria radicais modificações [..] com o advento do
cinema sonoro, mas a Cinédia se equipou e permitiu a sobrevivência do cinema brasileiro.
Apesar da Guerra e da luta contra os exibidores estrangeiro, foi o único estúdio brasileiro a
funcionar sem interrupção. Não somente inaugurou no Brasil o filme sonoro de grande
metragem, como ainda criou o primeiro jornal cinematográfico editado regularmente, o
Cinédia Jornal. A Cinédia também formou equipes técnicas de brasileiros. Deu trabalho a
centenas de artistas e elementos das mais diversas atividades artísticas [...] realizou trinta
filmes de longa metragem. Sustentei uma luta sem tréguas [...] empreguei o meu patrimônio
pessoal, herança recebida e por receber [...] sem ambição pessoal, no mais puro e sincero
patriotismo.”
Orson Welles no Brasil
1942 – estúdios da Cinédia são reabertos e alugados para as gravações do
filme de Welles
Autorizado por Vargas que achou que seria boa propaganda brasileira – na
verdade a história era contrária ao seu governo
É tudo verdade – filme em três partes com duas no Brasil e uma no México
Uma das partes “quatro homens em uma jangada” era inspirada num fato
real: pescadores do Ceará embarcam numa jangada frágil até o Rio de
Janeiro (61 dias) para exigir direitos humanos e sociais ao presidente Vargas
Grande Otelo é escalado para a outra parte
“Carnaval”
Mas o filme nunca é finalizado
Maldição?
No primeiro dia de filmagem, Jacaré, ator
líder dos pescadores, morre afogado na
baía da Guanabara
Nem Tudo É Verdade, de 1986, e o
segundo foi Linguagem de Orson Welles,
de 1991 e Tudo É Brasil (Rogério
Sganzerla, 1997) – trilogia documental
sobre esse período
Fim da Cinédia
Estúdios ainda são alugados para filmes B
norte-americanos (alguns Tarzãns)
2001 – inundação faz com que perca a
maioria dos arquivos
Maldição?
Alice Gonzaga (filha do criador) advoga pela
criação de um Museu do Cinema
Carmen Santos

1925 – funda a Companhia Filmes


Artísticos Brasileiros (FAB)
Ela escolhe enredos e diretores do filme -
inédito para mulheres na época
Atriz e produtora
Ganhou fama rápida por causa de fotos
sensuais publicadas em revistas
cinematográficas
Hoje tem edital voltado ao cinema com
equipe feminina
1932 – profere discurso defendendo a produção brasileira na Primeira Convenção
Cinematográfica Nacional - instituição lutava por leis protecionistas
1932 – Lei 21240 (Nacionalizar o serviço de censura dos filmes cinematográficos, cria
a "Taxa Cinematográfica para a educação popular e dá outras providências.)
Ditadura Vargas (1937-1945)
O cinema foi incluído no projeto de integração nacional e desenvolvimento industrial ao
ser incorporado como instrumento pedagógico, devendo auxiliar na ação cultural
educativa e formativa.

Suas cotas de tela:


•1934 - Decreto 21.240: determinava a exibição de um filme educativo a cada
sessão de cinema.
•1939 - Decreto-lei 1.949: os cinemas tinham que exibir (também) um mínimo de
longas-metragens nacionais por ano.
Legislação Existente
“Cota de tela” é a obrigatoriedade legal de exibição de obras cinematográficas brasileiras de longa-
metragem (número mínimo de dias, por sala, por ano) em salas de cinema do País.
Começa em 1934 e vai até hoje
•1934 - Decreto 21.240: determinava a exibição de um filme educativo a cada sessão de cinema.
•1939 - Decreto-lei 1949: os cinemas tinham que exibir (também) um mínimo de longa-metragens nacionais
por ano.
•1950 - A cota chegou a seis filmes por ano.
•1963 – Cota de 56 dias de exibição de longa-metragens brasileiros por ano.
•1964 - 112 dias no ano, por causa do surgimento do Instituto Nacional do Cinema (INC), e, em seguida, do
Conselho Nacional do Cinema (Concine).
•1998 – Cota de 49 dias (Retomada).
Brasil Vox Film – Brasil Vita Filme
1933 – Carmen Santos cria novo estúdio
Sofre processo da 20th Century Fox (confusão sonora do nome)
Maiores estúdios já construídos no Brasil (Tijuca)
Ela relança carreira de Humberto Mauro – "Favela dos meus amores" (1935) -
marco no cinema que inspira as sequências de favela até hoje (Romeu e Julieta da
favela)
Sucesso de público
“primeiro filme de ficção a abordar a vida e a cultura das camadas populares dos
morros cariocas” – Alex Viany
Carmen Santos, diretora
Dirigiu um único filme: "Inconfidência
mineira" (1948)
Superprodução, cenários de Lúcio Costa
Fracasso de público e crítica
Filme perdido
Demorou dez anos para ser feito e
lançado
Afundou a companhia como a "Cleópatra
de Mankiewicz" fez com a Fox
Ela morre aos 48 anos
Os estúdios foram comprados pela Rede
Globo
Sonofilms
Fundada por Alberto Byington Jr. – norte-
americano ligado à Columbia Records
Investe no cinema sonoro – chega a inventar um
aparelho: fonocinex
1931 – Coisas nossas – precursor da chanchada
e primeiro grande sucesso do cinema local
1939 – "Banana-da-terra": sucesso de Carmen
Miranda com “O que é que a baiana tem?”
Era um estúdio com padrões hollywoodianos
1940 – destruído em incêndio misterioso
Maldição?
1940 – os três principais estúdios estavam
gravemente feridos à aí surge a Atlântida!
Independentes na década de 1930
Raul Roulien - ator famoso porque
apareceu em alguns filmes de Hollywood
Nunca construiu seu estúdio, mas queria
fazer filmes de padrão hollywoodiano
1937 – "Grito da mocidade" (jovens
médicos no RJ) - Sucesso
1939 – "Aves sem ninho" - pega fogo no
incêndio da Sonofilms logo antes da
estreia!
Dias antes da estreia do filme seguinte,
"Jangada", ele também pega fogo!
Vai desistindo do cinema.
Maldição?
Assim era a Atlântida
"Assim era a Atlântida"
O que perceberam sobre a estética da produção da época (1941-62)?
O que captaram das estruturas narrativas?
E sobre o gênero dos filmes?
E os temas?
Um cinema brasileiro engajado?
“Adeptos de ideias comunistas, os jovens Moacyr Fenelon e Alinor Azevedo juntaram-se aos
irmãos José Carlos e Paulo Burle e ao amigo Arnaldo Farias para defender um cinema
engajado, com a cara do Brasil... Eles contestavam a ideia de que o povo brasileiro seria
incapaz de assimilar obras de alto valor artístico e se dispunham a produzir, em ritmo
industrial, um cinema popular cultivado” (Silvana Arantes)
Objetivo de unir o cinema artístico ao
popular
Indústria artística brasileira
Primeiro longa sério, fotografia de Edgar
Brasil (Limite): "Moleque Tião", de José
Carlos Burle
Filme desaparecido
Conta praticamente a história do Grande
Otelo (Sebastião Bernardes de Souza Prata)
Menino negro, neto de escravos que busca
a vida artística no teatro
Primeiro protagonista negro (exceção de
Benjamim de Oliveira maquiado de índio
em "Os Guaranis", de 1908) Manifesto de 20 de agosto de 1941
Como não há mais o material fílmico, a história de Moleque Tião só pode ser
reconstituída através de fontes documentais e depoimentos. O filme conta a história de
Tião (Grande Otelo), o menino que, sonhando em ser ator de teatro, parte sozinho numa
viagem cheia de peripécias, do interior do Rio de Janeiro para a capital, a fim de se
apresentar a uma companhia negra de teatro de revistas. Ao chegar, sofre sua primeira
desilusão, ao descobrir que a companhia se dissolvera. No entanto, conhece o maestro do
grupo e pianista Orlando (Custódio Mesquita (1910-1945), a quem exibe seus dotes
artísticos e que, por não poder empregá-lo de imediato, arranja para que fique numa
pensão, provisoriamente como entregador de marmitas. Nas ruas, Tião conhece Zé
Laranja, filho de um português vendedor de laranjas, de quem fica amigo e conta sobre
seu fascínio pelo palco. Um dia, Tião é preso por policiais e enviado a um reformatório.
Quando consegue fugir, procura Zé Laranja, e chega a tempo de ver o pai do amigo ser
atropelado. Para consolá-lo, diz: "Que é que tem ficar sem pai? Pai, às vezes, atrapalha".
Volta ao orfanato com Zé Laranja, até fugir novamente. É quando reencontra o maestro,
que lhe promete uma chance em seu novo espetáculo. Ele se apresenta em um cassino,
onde faz enorme sucesso e é visto pela própria mãe, trazida do interior pelo diretor do
orfanato especialmente para o espetáculo.
(Enciclopédia Itaú)
Blackface
Um dos primeiros registros de uso da blackface no cinema é datado de 1903,
no filme A Cabana do Pai Tomás - 2ª foto - (que seria transformada em
novela brasileira, também com um ator branco no papel de negro) . Neste
filme, todos os atores com papéis mais importantes eram feitos por brancos
representando negros.
O filme O Nascimento de uma Nação, em
1915, usou atores brancos com maquiagem
preta para representar todos os
personagens negros.
O Cantor de Jazz, de 1927, conhecido por
ser o primeiro filme sonoro. Nele, o ator Al
Jolson passa boa parte da história
fantasiado de negro.
“Parece ser a lição famosa de Charlie
Chaplin: não precisa deixar de fazer
comédia, mas os melhores comediantes
souberam (e tiveram coragem de) fazer
humor com o opressor, não com o
oprimido.”
Um último filme sério antes das chanchadas
"Também somos irmãos" (1949), de José Carlos Burle – fracasso de público, mas pérola
sócio-histórica, sucesso de crítica
Sobre racismo no Brasil - um viúvo rico que adota quatro filhos, dois negros
Considerado o melhor filme do Brasil de 1949 pela Associação Brasileira de Críticos de
Cinema
“Os brancos se sentiam inconfortavelmente atingidos com a denúncia e os negros não se
encontravam suficientemente politizados para alcançar a mensagem” – Burle sobre o
fracasso
Atlântida se torna o que está
no Assim era a Atlântida
1947 – Severiano Ribeiro adquire a maior
parte das ações da companhia
1943 – Tristezas não pagam dívidas -
Oscarito e Grande Otelo em seu primeiro
filme – sucesso – comédia
Severiano impõe uma decisão que define
o destino da companhia: tudo será
chanchada – rentável
Azar dos ideias comunistas e idealistas do
grupo fundador!
1962 fecha as portas
Chanchadas vão saindo de moda Fim da Atlântida
Incêndio e inundação
FIM
PRÓXIMA AULA: Chanchadas e vera cruz

@cellalasneaux lasneauxmarcella@gmail.com

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