(Livro 1 e 2) A Procura Do Ômega - Jessica Edwards

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Sinopse

A vida para Alice é muito chata: ela vai para o ensino médio, assiste
Gossip Girl com seu melhor amigo Sam e tem um emprego de meio
período em uma lanchonete. Nada de extraordinário acontece com ela —
até a fatídica noite em que ela é mordida por um lobo enquanto leva o
lixo para fora do trabalho. Estranhamente, quando ela acorda na manhã
seguinte, a mordida já está curada e ela está se sentindo melhor do que
nunca. O problema é que ela não é a única que notou suas melhorias... o
bad boy Ryder e sua turma de repente estão muito interessados nela, mas
por quê?
Classificação etária: 16 +
Autor Original: Jessica Edwards
Titulo Original: Chasing The Omega
Livro sem Revisão
E-book Produzido por: Galatea Livros e SBD
https://t.me/GalateaLivros

Livro Disponibilizado Gratuitamente! Proibida a Venda!


Sumário dos Livros
Livro 1
Livro 2
Livro 3 – Não Lançado
Livro 1 – A Procura do Ômega
Capítulo Um
Alice

Esta noite não foi tão ruim. Quer dizer, você tem dias bons e dias
ruins, certo? Os domingos costumam ser calmos por aqui, mas não é tão
ruim assim.
Os clientes regulares são gentis e generosos com suas gorjetas, e até
meu chefe. Robbie, não é tão mau.
Claro que ele é um pouco preguiçoso e me encara por muito tempo,
mas ele sempre paga na hora certa e me deixa levar qualquer sobra de
comida para casa comigo.
Eu olho para o velho relógio redondo pendurado na parede e suspiro
de descaso.
Falta apenas meia hora.
Eu fico olhando para o último cliente da noite, rezando
silenciosamente para que ele esteja perto de terminar. Pego a cafeteira e
caminho com um sorriso forçado para me aproximar do cliente.
— Mais café, senhor? — Eu imploro com meus olhos na esperança de
que ele diga ‘não’.
— Não, obrigado, minha querida, — diz ele enquanto se levanta da
mesa.
Eu o ajudo a vestir o casaco e a pegar seu guarda-chuva. Ele me
entrega uma nota de dez libras e sai pela porta sem dizer uma palavra.
Ponho o dinheiro no caixa e apago as luzes da lanchonete.
Depois, vou para os fundos da lanchonete, onde fica a cozinha, e
percebo que só o Terry está aqui, e eu saio.
Ele está olhando para a programação pendurada na parede do
escritório com uma expressão de pavor no rosto.
Terry suspira alto enquanto olha as datas em que trabalha. Ele
trabalha na lanchonete há mais de trinta anos, e nunca teve um dia de
folga.
Seu cabelo está começando a ficar grisalho, mas ele pode cozinhar a
comida mais deliciosa que já tive o prazer de provar.
— Ei, Terry, o último cliente acabou de sair. Você quer que eu tranque
a lanchonete para você?
Terry acena para mim, mas não desvia o olhar do cronograma. —
Deixa que fecho na frente, mas você poderia me fazer um favor antes de
sair, querida?
Antes que eu possa responder, Terry reúne seis sacos plásticos cheios
de lixo e os joga aos meus pés.
— Você quer que eu leve isso para a lixeira? — Eu pergunto. Pego
todas as seis sacolas, três em cada mão, e olho para Terry.
— Por favor? Eu realmente agradeceria.
Ele pega sua jaqueta, acena para mim e sai.
Eu fico olhando para a porta de vaivém, pasma, e balanço minha
cabeça.
Com as sacolas ainda em minhas mãos, saio pelos fundos e caminho
em direção à lixeira. Eu rio quando vejo que está chovendo muito.
Ótimo. Obrigada, Terry. Muito obrigada.
Abro a tampa da lixeira e pego as duas primeiras sacolas para jogá-las
quando, da escuridão atrás de mim, ouço o som fraco e inconfundível de
um rosnado.
Eu congelo, me perguntando se era apenas minha imaginação
pregando peças em mim.
Aterrorizada, agarro os sacos e me viro, segurando os sacos de lixo
como se fosse uma espada, pronta para atacar.
Quando abro os olhos, vejo a origem do rosnado. Parado a menos de
dois metros de distância está o maior lobo que já vi.
Eu choramingo de medo e lentamente começo a recuar, largando
minha arma improvisada no caminho. Sinto minhas costas tocarem na
lixeira e percebo que não há para onde ir.
Tremendo de medo, fecho meus olhos, rezando para que o lobo não
me veja como uma ameaça.
Ou pior, uma refeição.
— Por favor, não me machuque, — sussurro repetidamente para mim
mesma.
Então abro os olhos e desejo não ter feito isso.
Seus olhos me perseguirão enquanto eu viver. Eles são vermelho-
sangue e cheios de puro ódio de mim.
Um tom opaco de cinza cobre todo o seu corpo, com grandes pedaços
de seu pelo faltando, como se tivesse sido arrancado.
O lobo parecia ter cicatrizes por todo o corpo. Como ele conseguiu
sobreviver por tanto tempo?
Eu faço a única coisa que posso pensar. Ajoelho-me no chão molhado
com a cabeça baixa, na esperança de que seja um sinal de submissão.
O lobo uiva noite adentro e se lança sobre mim.
Eu grito quando ele me ataca, mas então ele corre para os arbustos e
fica fora de vista. Eu olho na direção em que o lobo correu e começo a rir
histericamente.
Que porra é essa... ?
Eu balanço minha cabeça e me levanto do chão, meu uniforme
completamente arruinado.
Eu me examino e é quando noto que minha roupa foi rasgada em meu
ombro direito.
Por que meu ombro dói tanto?
Parecia que algo havia tirado um pedaço da minha camisa.
— Ai! — Eu estremeço quando toco meu ombro, vendo um líquido
vermelho pintando a pele da minha mão.
Sangue! Ele me mordeu!?
Eu olho em volta, tentando descobrir se isso realmente aconteceu.
Abalada, jogo as últimas sacolas na lixeira, pego minha bolsa, tranco a
porta e vou para casa.
Enquanto caminho para casa no escuro, a chuva não está mais caindo,
eu olho para o céu noturno e vejo a lua cheia.
Capítulo Dois
Alice

Quando chego à escola na manhã seguinte, só consigo pensar na noite


anterior. Acordei cedo para verificar se realmente havia acontecido, e
soube que de fato tinha quando vi as marcas de mordida.
Como resultado, não consegui dormir. Nada. Dormir do meu lado
direito doía muito.
A escola era de longe o último lugar que eu queria estar.
Eu ando até meu armário para pegar meu livro de inglês, e é quando
ouço minha melhor amiga chamando meu nome do outro lado do
corredor.
— Alice! Você assistiu Game of Thrones ontem à noite?
Uma coisa sobre Sam é que ela não dá a mínima para o que as pessoas
pensam dela.
Eu? Eu me preocupo muito com o que as pessoas pensam.
Quando Sam chega ao meu armário, ela coloca as mãos nos quadris e
inclina a cabeça para uma resposta que ainda não dei.
— Então, você assistiu?
Eu balanço minha cabeça, — Não... eu perdi.
— Você o quê? Como você perdeu isso? Você sabe que foi o final,
certo? — Ela grita histericamente para mim.
— Sam. — Eu uso minha mão para sinalizar para ela abaixar a voz. —
Todo mundo está olhando.
— Você acha que me importo com o que as pessoas pensam?
Ela não me dá chance de responder. Em vez disso, ela se vira e encara
todos os espectadores.
— Ninguém nunca disse a vocês que não é educado encarar? Minha
mãe sempre me diz para nunca olhar para ninguém, porque se você fizer
isso, algumas pessoas podem não ser tão legais quanto eu vou ser.
Ela se vira e encolhe os ombros para mim quando vê o puro choque
no meu rosto. — Eu te disse, não dou a mínima para o que as pessoas
pensam.
Eu olho dentro da minha bolsa para ver se estou com tudo, apenas
para perceber que havia esquecido meu estojo. Eu abro meu armário
quando ouço Sam suspirar.
— As pessoas ainda estão olhando? — Eu pergunto.
— O quê? Oh, não, apenas Ryder e sua turma. Eles andam por aqui
como se fossem donos do lugar, mas sério, como um cara pode ser tão
bonito?
Depois de pegar meu estojo, fecho meu armário e olho para minha
melhor amiga, que está de boca aberta.
— Sam! Você está olhando, querida, e babando. — Eu fecho sua boca,
coloco o estojo de lápis na minha bolsa e fico olhando para eles.
Cada pessoa se move para o lado para dar passagem.
Veja, essa gangue é praticamente dona da escola, e se você machucar
um deles, você vai ter que encarar todos.
Todos sabem quem são e ninguém se atreve a tentar falar com eles, ou
mesmo abordá-los.
Eles caminham lado a lado em uma linha perfeita: Bane e Silver do
lado de fora, com Kellan e Ryder no meio.
Bane parece ser o mais assustador de todos. Ele tem um rosto oval
com pequenos olhos azuis penetrantes. Sua boca é carnuda e firme,
formando um sorriso de escárnio constante.
Ele tem a pele bronzeada com uma tonalidade marrom-dourada que
acentua seu corpo grande e musculoso. Seu cabelo é espesso, preto e
penteado para baixo com os dois lados da cabeça raspados.
Ele também tem uma barba preta espessa decorando seu rosto. É
difícil, às vezes, levá-lo a sério com a barba, porque meio que o faz
parecer um grande e velho ursinho de pelúcia.
Contudo, se os rumores forem verdadeiros, você definitivamente não
deveria dizer isso na cara dele — a menos que você quisesse acabar no
hospital.
Ele usa uma regata branca simples, que é baixa o suficiente para
mostrar os pelos em seu peito, e um longo colar preto repousa em seu
peito.
O pingente é feito de três espirais entrelaçadas, que eu acho que era
chamado de tríscele. Ele usa jeans pretos justos com botas de cano curto.
Em seguida, eu olho para Silver, que caminha no canto direito, e
apenas a encaro descaradamente.
Cada garota quer ser ela, e cada cara nesta escola quer namorá-la, mas
todos sabem que ela está apaixonada por Ryder.
O jeito que ela olha e sorri para ele, com seus dentes perfeitos e seu
corpo perfeito. Ela tem um rosto em formato de coração com uma pele
lisa e pálida, e olhos azuis brilhantes.
Sua boca tem um formato perfeito, o que ajuda a acentuar seus lábios
carnudos. Seus longos cabelos negros selvagens e indomados repousam
em seu ombro esquerdo e caem pela cintura.
Sua constituição é pequena, mas musculosa. Os rumores dizem que
ela deu uma surra em um atleta uma vez, depois que ele deu um tapa na
bunda dela.
Ele saiu em uma ambulância e só voltou para a escola no mês
seguinte. Ninguém nunca a tocou novamente. Não depois disso.
Ela está vestindo uma jaqueta de couro preta que vai até a cintura,
shorts pretos simples e botas pretas de cano alto.
O mais gentil de todos eles é Kellan. Parece meio estranho vê-lo com
essas pessoas.
Ele tem um rosto oval com pele clara e cremosa, e olhos castanhos
escuros que parecem assombrados, mas gentis ao mesmo tempo.
Seu rosto não tem expressão, o que torna difícil determinar se ele está
feliz ou triste. Ele tem o cabelo castanho cacheado que emoldura seu
rosto perfeitamente formado.
Ele usa um alargador preto na orelha esquerda e ambos os braços
estão cobertos por obras de arte coloridas. Seu corpo é esguio, sem um
grama de gordura corporal, apenas músculo puro.
Ele usa uma camiseta preta lisa, jeans pretos justos e tênis pretos.
Kellan pode ser o único acessível de todos eles. Ele tem essa aura de
bondade que atrai as pessoas e torna impossível não gostar dele.
Lembro-me de quando ele e a namorada estavam juntos.
Anna era uma das garotas mais doces da escola. Cada pessoa aqui a
respeitava e a tratava com a maior gentileza.
Mas Kellan perdeu o amor de sua vida há mais de um ano, depois que
seu corpo foi encontrado perto do rio nas primeiras horas da manhã.
As pessoas dizem que a cena do crime parecia algo de um filme de
terror.
No entanto, Kellan perdeu uma parte de si mesmo depois de Anna
morrer, e eu não o culpei.
— O que a torna tão especial? Aposto que ela tem uma vagina mágica
ou algo assim. Além disso, ela provavelmente dormiu com os três, —
minha amiga murmura, olhando para Silver.
Eu olho para longe de Kellan assim que ele passa por nós e suspiro
para a minha melhor amiga. — Sam, pare de olhar antes que ela bata em
você também, e você acabe no hospital!
— O quê? Não é como se ela pudesse me ouvir.
Pego a mão de Sam e a arrasto pelo corredor em direção à nossa aula
de inglês. Nós nos sentamos perto da primeira fila, eu pego o livro de
leitura e espero pelo Sr. Daniels.
— Eu garanto que ela está dormindo com um deles. — Sam aponta
com a ponta da caneta para o fundo da classe sem olhar.
Eu olho por cima do ombro para trás e vejo os quatro sentados juntos,
mas nenhum deles troca uma palavra um com o outro.
Silver se senta ao lado de Ryder como sempre. Ela sempre permanece
ao seu lado.
Eu olho para Ryder, sua expressão permanece impassível, enquanto
Silver acaricia seu braço com compaixão.
Qualquer um poderia dizer, apenas de olhar para ela, que ela o
admirava.
Kellan, por outro lado, permanece em silêncio, sentado com os
cotovelos sobre a mesa e a cabeça apoiada entre eles.
Bane está sentado com as pernas cruzadas em cima da mesa, as mãos
apoiadas atrás da cabeça. Ele olha ao redor da sala como se estivesse
observando tudo ao seu redor. Só então me dei conta.
— Sam! — Eu bato em sua mão quando me viro, derrubando
acidentalmente a caneta de sua mão.
— Essa é minha caneta favorita. — Ela aponta para o chão. — Nunca
fez mal a ninguém.
— Eles deveriam estar nesta aula? Por que só estou percebendo isso
agora? — Eu me movo, inclinando minha cabeça em direção ao fundo da
sala.
— Estamos no meio do último ano, então... não. A escola não permite
que as pessoas mudem de curso no meio do ano, mas não sei. Talvez eles
tenham acertado alguma coisa com o Sr. Daniels? — Sam sugere.
Ela pega sua caneta e inspeciona o dano — Você me deve uma caneta
nova, a propósito. Esta caneta-tinteiro foi um presente de aniversário.
— Sim, claro. — Eu olho para o fundo da classe novamente, apenas
para perceber que eles estão olhando para mim.
Eles realmente são intimidantes.
Silver inclina a cabeça para o lado e me encara com um olhar de ódio,
enquanto Bane cerra os dentes.
Eu junto minhas sobrancelhas e olho para Kellan. Ele dá um pequeno
sorriso, e seus olhos se enrugam em resposta.
Ele apenas sorri por um segundo, então olha para sua mesa
novamente. Viro minha cabeça completamente para encarar Ryder e,
pela primeira vez em anos, realmente dou uma boa olhada nele.
Ele tem um rosto esculpido com pele bronzeada imaculada e olhos
verde-esmeralda que me mantêm olhando, mas eles não representam
ameaça, nem ódio, apenas um olhar puro e curioso.
Eu olho para ele e ele me encara com um sorriso malicioso. Seus
lábios são carnudos, mas firmes.
Aposto que ele beijou muitas garotas com aqueles lábios...
Depois de ajustar o gorro, ele alisa o cabelo preto brilhante para um
lado e mostra a língua para mim. Eu franzi minhas sobrancelhas em
confusão novamente e me virei.
— Idiota, — murmuro baixinho.
Quando estou de frente para a aula, tudo que ouço é Ryder rindo
atrás.
Merda! Ele pode ler lábios ou algo assim?
— Quem é o idiota? — Sam olha ao redor da sala para encontrar o
culpado, mas apenas me encontra olhando para ela.
Ela aponta para si mesma em pânico. — Se for sobre a caneta, não se
preocupe.
— Não é nada. Só não quero trabalhar hoje à noite.
Pego o livro e folheio a sinopse.
— Atrasada com a lição de casa? Posso te ajudar na lanchonete esta
noite, se você quiser?
— Obrigada, mas tenho certeza que poderei adiantar o que não fiz.
Pego uma caneta do estojo no momento em que a porta da sala de
aula se abre.
O Sr Daniels está doente hoje?
— Bom dia, alunos, meu nome é Sr. Edmund, e eu serei seu professor
de inglês pelo resto do semestre letivo. Eu acredito que vocês estão lendo
o romance O Morro dos Ventos Uivantes. Alguém pode se voluntariar para
começar?
Ele escreve seu nome no quadro branco como Oliver Edmund.
— Onde está o Sr. Daniels? — Sam pergunta.
— Não sou obrigado a compartilhar essas informações com você, Srta.
Frey.
Ele se vira e encara Sam com uma atitude fria.
— Senhor? Nos foi prometido ter nossos resultados de teste de volta
hoje, — eu digo educadamente.
Este teste prático era tudo que eu precisava para passar no exame da
próxima semana.
Se eu reprovar em outra matéria, não tenho certeza de como
sobreviver pelo resto do meu último ano.
— Alice, não é?
Ele caminha pelo corredor, segurando a prancheta com o nome de
todos, e inclina a cabeça para o lado.
— Isso mesmo, sim, — eu respondo com uma voz calma e controlada.
— Sempre levante a mão se tiver uma pergunta.
Ele dá uma olhada em mim, então caminha até a frente da classe e
aponta para o quadro.
— Eu sou seu professor agora. Seja o que for que o Sr. Daniels lhe
ensinou antes, esqueça porque ele não vai voltar.
Ele bate palmas e olha para mim. — Agora, Alice, por que você não
começa a ler para nós. Capítulo oito, por favor?
Ele se senta na cadeira e faz um gesto com a mão para que eu comece
a ler.
Onde você está, Sr. Daniels?
Capítulo Três
Alice

Às seis horas, eu caminho em direção aos fundos da lanchonete para o


escritório, onde Robbie, meu chefe, está sentado atrás de sua mesa ao
telefone.
— Sim, amor. Claro, vou me certificar de comprar o certo desta vez.
Bem. Amo você também. Tchau.
Ele me olha com seu sorriso desdentado. — Alice, como você vai?
— Estou bem, obrigada, mas eu só queria perguntar se há um
uniforme extra aqui em algum lugar?
— O que aconteceu com o uniforme que você tem?
Ele se levanta da velha cadeira de madeira e olha as caixas de papelão
que estão colocadas no fundo do escritório.
— Derramei um pouco de café na camisa e a mancha não sai.
Eu sou uma péssima mentirosa, mas ele parece estar acreditando.
Ele se senta novamente depois de me entregar um novo uniforme.
— Tenha cuidado desta vez, certo? Quer dizer, eu sei que você gosta
do seu café, mas se acontecer de novo, terei que pedir que você pague por
ele.
Eu pego o uniforme dele. — Obrigada, Robbie, e desta vez prometo
ser mais cuidadosa.
Ando rapidamente em direção ao banheiro, tranco a porta e me olho
no espelho.
Tenho um rosto em formato de coração com bochechas rosadas. Meu
interminável cabelo loiro-branco está sempre preso em uma trança nas
minhas costas.
Tenho pele de marfim com olhos azul-claros brilhantes, como o céu
sem nuvens.
Minha mãe me disse que meus olhos são da cor dos diamantes, tão
pálidos que podem parecer brancos.
Meus dentes estão perfeitamente retos e brancos depois de anos de
minha mãe me ensinando sobre como cuidar deles.
Meu nariz é um pouco proeminente, mas você pode culpar meu pai
por isso.
Felizmente, é a única coisa que tenho dele. Nunca conheci meu pai,
nem nunca vou querer conhecê-lo.
Depois de alguns momentos, suspiro, fecho os olhos e coloco as mãos
em cada lado da pia.
Está na hora de acabar com isso!
Abro os olhos e tiro a camisa rapidamente, em seguida, olho por cima
do ombro para ver a mordida.
— O quê...?
Não está lá.
Eu me olho no espelho e não vejo nada além de pele pura e macia, —
Cadê...?
Não se vê uma única marca de mordida. Não entendo.
Como isso desapareceu, se aconteceu há apenas algumas horas?
Depois de colocar meu uniforme, saio do banheiro e me coloco atrás
do balcão, mas não consigo me concentrar em fazer nada.
As perguntas continuam interrompendo meus pensamentos, mas não
consigo responder a nenhuma delas.
Talvez tenha curado durante a noite?
Isso não pode ser possível. Olhe de novo!
Tiro minha camisa por cima do ombro direito e verifico novamente.
Nada.
— Meu Deus, Alice, você está tentando fazer um strip-tease para essas
pessoas ou algo assim?
Reviro os olhos quando ouço sua voz, e olho para a frente da
lanchonete para ver Sam caminhando em minha direção com sua
mochila escolar pendurada no ombro.
Ela pega seu laptop e a lição de casa de hoje, então se senta bem na
minha frente em um dos novos banquinhos vermelhos.
— Vou querer um milkshake de morango e algumas batatas fritas, por
favor.
Ela digita em seu laptop enquanto preparo o milkshake e vou até a
cozinha para ver Terry preparando comida para os clientes que esperam.
— Outro pedido de batatas fritas, mas é para a Sam, então vá com
calma, ok? — Dou a ele um sinal de positivo, mas ele não vê ou está me
ignorando.
Quando volto para a lanchonete, percebo que não está tão ocupado
quanto pensei que estaria.
— Alice, o milkshake está meio que transbordando, — Sam diz
indiferente.
— Merda!
Corro para a máquina de milkshake, limpo a bagunça e passo o vidro
fosco sobre o balcão.
— Muito obrigada. — Sam toma um gole do milkshake, suspira de
alegria e guarda o laptop.
— Então, o que você acha do nosso novo professor de inglês? Gostoso,
não é? — Ela pisca para mim. — Quero dizer, eu daria uma chance a ele.
— Sam! Ele tem uns quarenta anos! — Bato nela com o pano de prato
que mantenho no ombro.
— Idade é apenas um número!
Todos os clientes na lanchonete param de falar. Virando-se em suas
cadeiras e olhando para nós duas enquanto rimos da paixão de Sam por
nosso novo professor.
Peço desculpas imediatamente a eles por nosso comportamento
adolescente.
— Sam, sério. Ele tem idade para ser seu pai. — Estou limpando o
balcão em um esforço para parecer ocupada, quando a porta da
lanchonete se abre.
Quase imediatamente, percebo que tudo fica em silêncio.
Eu olho para ver por que o lugar ficou silencioso, apenas para ver
quatro silhuetas altas na entrada da lanchonete.
Por que eles estão aqui? Eles não têm nada a ver com esse lugar.
Bane caminha com confiança em direção ao patrono mais próximo,
deixando os outros três de guarda na porta.
Ele se inclina para um dos clientes regulares e fala com ele em voz
baixa. Não sei como, mas posso ouvir cada palavra.
— Você pode querer parar de olhar para nós, antes que eu te dê uma
surra, grandalhão.
— Ei! — Eu corro de trás do balcão, parando diretamente na frente
dele, apenas para encontrar um peito largo.
— Eu não me importo com quem você é, mas não vou deixar você
falar com os clientes regulares assim.
Ryder fica ao lado de Bane, nunca tirando os olhos de mim.
— Você está dizendo que não somos bem-vindos aqui porque não
somos regulares? — Bane me olha com puro desgosto estampado em seu
rosto.
— Claro que você é bem-vindo aqui, mas se você desrespeitar os
clientes regulares, então terei que pedir que você saia.
Digo isso com tanta confiança quanto posso ter, mas com os olhos de
Ryder em mim o tempo todo, estou realmente muito surpresa por não
ter me cagado de medo.
— Não estamos aqui para causar problemas. Viemos comer neste
restaurante altamente recomendado que vocês têm aqui. — A voz de
Ryder enche toda a lanchonete. Enquanto ele fala, não posso deixar de
ficar ali, olhando em seus olhos verdes brilhantes.
— Bem, contanto que você não crie problemas, sente-se e eu irei pegar
alguns cardápios, — eu digo.
Nenhum de nós tira os olhos do outro, mas a conexão é quebrada
muito rapidamente quando ouço a voz de Sam me chamando.
— Alice! Onde diabos estão as minhas malditas batatas fritas?
Eu me viro para ver Sam me dando o olhar mais mal-humorado já
conhecido pela humanidade.
Sem olhar para Ryder, peço licença e vou para trás do balcão: minhas
mãos tremem enquanto pego quatro cardápios e quatro pares de
talheres.
Eu olho para cima novamente para ver Ryder sentado em uma das
cabines com seus amigos, mas seus olhos permanecem em mim.
— Sou conhecida por ser uma pessoa paciente, mas, por favor, me dê
minhas batatas fritas! — Sam lamenta.
— Eu disse a Terry para não ter pressa, então assim que Terry estiver
pronto para fazer suas batatas fritas, ele as fará.
Eu passo pelo balcão, rindo quando ouço Sam confrontando Terry na
cozinha.
Enquanto isso acontece, vou até a mesa e entrego a Ryder todos os
cardápios.
— Estarei de volta em alguns minutos para anotar seus pedidos. A
cozinha fecha às sete e meia. — Corro de volta para o caixa, então
percebo Sam recostada em seu assento com algumas batatas fritas em
um prato.
— Essas não são suas, são? — Aponto para as batatas fritas no prato
no momento em que ouço Terry gritando da cozinha.
— Não, mas elas são minhas agora. — Ela pega outra batata frita no
momento em que seu cotovelo derruba o milkshake.
É quando tudo começa a acontecer em câmera lenta.
O tempo desacelera quando vejo o milkshake cair no chão. Sinto uma
necessidade incontrolável de pegá-lo antes que caia.
Com o tempo diminuindo, lenho tempo suficiente para pegá-lo,
centímetros antes que ele se espalhe por toda parte.
Eu olho para o milkshake descansando em minha mão, então verifico
ao meu redor para ver se alguém percebeu. Mas encontro apenas quatro
pares de olhos curiosos.
— Você tem bons reflexos, Alice.
Sam não parece tão assustada quanto eu. Em vez disso, ela pega outra
batata frita enquanto eu bato o copo de milkshake no balcão, onde ele
tomba.
Minha respiração acelera, — Você não viu aquilo?
— Ver o quê? Que você resgatou meu delicioso milkshake que agora
está derramando por toda parte neste balcão?
— Sam, sinceramente, estou pirando agora!
— Você está bem? Quer que eu ligue para sua mãe?
— Não, eu só... preciso contar a você algo sobre o que aconteceu aqui
ontem à noite, — sussurro para ela por cima do balcão, na esperança de
que ninguém me escute.
— O que está acontecendo com você, hoje? E por que você está
sussurrando? Ninguém está olhando para nós.
— Eles estão olhando, — eu respondo.
Sam olha para eles, depois se vira e me diz que eles estão indo embora.
— Qual é o problema? O que aconteceu ontem à noite? — Ela
pergunta.
Respiro fundo e repasso os eventos da noite anterior.
— Trabalhei aqui ontem à noite até fechar. Terry e eu éramos os
únicos que restaram na lanchonete. Ele me pediu para levar o lixo para a
lixeira e ouvi um rosnado atrás de mim.
Eu estremeci. — Estava tão quieto que pensei não ter ouvido nada,
mas me virei e vi o maior lobo que já vi. Nunca vi um lobo tão grande
nesta cidade pequena.
Sam revira os olhos.
— Quero dizer, vemos lobos o tempo todo. Vivemos em uma cidade
pequena, pelo amor de Deus! Veremos lobos correndo por aí. Se um
estava por aqui, provavelmente foi atraído pelo cheiro de comida podre
ou algo assim.
Sam pega sua mochila escolar do chão e começa a arrumar suas coisas.
— Sam, estou te dizendo, era enorme! Ele me mordeu bem no ombro
e fugiu!
Sam para de guardar suas coisas e me olha com pura preocupação em
seu rosto.
— Mordeu você? Você disse à sua mãe para dar uma olhada na ferida?
Eu balanço minha cabeça, sabendo que ela está prestes a ter uma
explosão. — Não.
— Por que diabos não? Ela é enfermeira! Deus sabe quais doenças
aquela coisa carrega.
— Não adiantava contar para mamãe. No momento em que fui para a
cama, os cortes estavam todos fechados e as marcas tinham sumido
completamente quando me troquei para o trabalho.
Eu mostro a ela meu ombro para descobrir que ainda está o mesmo.
Sem marcas de mordida.
— Por que você não disse nada na escola? — Sam pergunta.
— Não achei que realmente importasse quando acordei esta manhã e
só vi alguns cortes lá.
Uma pausa.
— Eu gostaria de saber o que te dizer, ou pelo menos te dar um
conselho, mas...
Sam permanece calma e controlada, mas sei que por dentro ela
também está preocupada.
— Seu milkshake estaria no chão se eu não tivesse me movido para
pegá-lo a tempo. Estou te dizendo, tudo nesta sala se moveu em câmera
lenta, como se o tempo estivesse diminuindo para que eu pudesse pegá-
lo antes que se espalhasse no chão.
Eu sei que pareço uma louca ao dizer isso, mas eu tinha que contar a
ela.
— E então, eu posso ouvir Bane sussurrando para Paul parar de olhar
fixamente, ou ele começaria uma briga. Corrija-me se eu estiver errada,
mas ele está sentado bem perto da porta, e eu estou de volta aqui. Algo
está errado comigo!
Eu me viro para enfrentar a máquina de café e me sirvo de uma xícara
grande.
Sam fala em um tom calmo e reconfortante. Ela provavelmente sabe
que estou perto de perder a cabeça.
— Isso tudo aconteceu depois que você foi mordida?
— Sim, e me assusta até mesmo pensar sobre o que poderia acontecer
comigo. E se eu realmente me transformar em um? — Eu me viro com
minha caneca de café e me sento ao lado dela.
Sam zomba. — Você é minha melhor amiga. Aconteça o que
acontecer, saiba que estarei ao seu lado. Mesmo se você não quiser minha
ajuda, você não deve passar por isso sozinha.
Ela sorri. — Então, se você se transformar em um lobo grande e
assustador — o que é impossível por sinal — eu prometo não contar a
ninguém. A última coisa que quero é você me perseguindo na lua cheia.
Sam fica comigo até o final do turno, mas vai embora logo depois,
quando sua mãe chega para levá-la para casa.
Sally se oferece para me levar para casa, mas recuso educadamente
porque ainda tenho que fechar a lanchonete.
Eu tiro o lixo, varro e esfrego o chão, em seguida, tiro meu uniforme.
Então eu tranco a porta dos fundos e saio pela frente.
Estou apenas verificando se a porta está trancada quando ouço um
farfalhar vindo de trás de mim.
Eu encolho os ombros, culpando o vento, mas quando ouço de novo
não posso deixar de pensar que é o lobo da noite passada.
Estou presa ao chão de medo quando ouço uma risada vindo de atrás
de mim.
Eu me viro rápido demais e caio no chão.
— Não sabia bem, mas precisava verificar se estava certo. Agora eu sei.
Eu estava certo sobre você.
Eu olho para os frios e desconfiados olhos verdes de Ryder.
Fico com as pernas trêmulas e estremeço quando minhas costas
batem na porta fria e úmida da lanchonete. — Do que você está falando?
Ryder, Bane e Silver formam um semicírculo ao meu redor, com Ryder
parado na minha frente e os outros dois de cada lado.
Kellan permanece um pouco mais atrás de Ryder, não mostrando
sinais de se juntar a este pequeno confronto.
Silver dá um passo à frente, agarra minha trança e puxa minha cabeça
para trás com força.
Ela se inclina para frente, direto na minha jugular, e inala.
— Ela é nova, mas está mudando rápido. Eu não ficaria surpresa se ela
se transformasse esta noite. Se ela sobreviver, é claro.
Ela empurra minha cabeça para frente e se afasta.
Então é a vez de Bane dar um passo à frente. Ele está na minha frente,
protegendo Ryder de ser visto.
Bane estende uma mão gigante e envolve minha garganta delicada.
— Vamos deixar uma coisa bem clara aqui. Não gosto de você, nem
gostarei de você. Não confio facilmente quando se trata de pessoas como
você. O cheiro dele está em você toda, e está tomando cada grama de
controle que eu tenho para não te matar.
— Me matar? — Eu gaguejo.
— Eu prometo a você, se você entrar no meu caminho e me humilhar
novamente como fez lá, eu mesmo matarei você.
Eu uso minhas duas mãos para impedir que Bane me estrangule. Sua
figura fica toda embaçada, antes de sua mão desaparecer de repente da
minha garganta.
Eu caio no chão como uma boneca de pano de quatro, ofegando por
ar.
Eu os ouço discutindo acima de mim, mas não consigo entender uma
única palavra.
Eu olho para cima com os olhos embaçados para ver Kellan parado na
minha frente em uma postura protetora.
— Ele estava matando ela, e você não ia fazer nada pra impedir! Ela
não tem nada a ver com os assassinatos aqui!
A cabeça de Ryder se inclina para o lado enquanto ele ouve Kellan. —
Você não sabe disso. De qualquer forma, deixe-nos. Eu preciso ter uma
conversinha com Alice. Sozinho.
Silver e Bane riem como hienas enquanto correm para o meio da
estrada.
— Kellan, pode ir. Eu não vou machucá-la.
Ryder se ajoelha na minha frente e segura minha bochecha
suavemente.
Enquanto Kellan se afasta, ele se vira e olha para Ryder com olhos
calorosos e tristes. — Ela não é uma ameaça para nós.
— Vá para casa. Kellan!
No momento em que consigo ficar em meus próprios pés, Kellan já
está fora de vista.
Capítulo Quatro
Alice

A última coisa que quero fazer agora é conversar com Ryder. Prefiro
enfiar alfinetes nos olhos e cortar minha língua do que falar com ele.
Mas aqui estamos nós, no meio da noite.
— Olha, estou muito cansada e um pouco chateada com você e seus
amigos. Então diga o que você tem a dizer e me deixe em paz.
Com sorte, ele nunca mais terá que falar comigo.
— O que aconteceu com você ontem à noite? — Ele perguntou.
Eu deveria ter me mexido quando tive a chance, porque agora meus
seios estão conhecendo seu peito muito bem.
— Absolutamente nada. E de qualquer forma, não é como se eu
devesse uma explicação.
Ryder me prende e coloca as duas mãos em cada lado da minha
cabeça. — Você acha que eu não te vi dentro daquela lanchonete? Todos
nós vimos! Então, eu preciso saber o que aconteceu com você na noite
passada.
— Por que é tão importante para você saber? — Eu me abaixo sob seu
braço e começo a me afastar.
— Alice! Você precisa me ouvir.
Antes que eu percebesse, Ryder agarra meu pulso e me vira para
encará-lo. — Você pode não acreditar em mim, mas estou tentando
ajudar.
— Me ajudar?
— Estou tentando ajudá-la a entender o que você está prestes a passar.
— E o que seria isso? — Eu tiro minha mão da dele e coloco minhas
mãos em meus quadris na expectativa de sua resposta.
— Você pode pensar que estou brincando, mas acredite em mim, não
estou. — Ryder me vira as costas, coloca as mãos nos bolsos e suspira em
derrota. — Em alguns dias, você passará por uma mudança.
Eu franzo a testa. — Mudança?
— Muito em breve, você experimentará uma transformação. A
transformação de se tornar um lobo.
Um o quê?
Eu olho para ele confusa, então começo a rir.
Ele se vira e olha para mim, suas narinas dilatadas. — Pare de rir. Isso
não é uma piada. Eu não brinco com coisas assim. Pelo que parece, isso
vai acontecer em breve.
Certamente ele não quer dizer que vou realmente me transformar em
um lobo, porque isso é loucura.
Eu viro meus olhos, — Ok, eu vou entrar no jogo. O que acontece
durante essa mudança?
— Dor. Muita dor.
Eu suspiro. — Eu já senti dor antes, você sabe.
— Não este tipo de dor. Você vai começar a suar muito e vai se sentir
muito quente. Você também começará a sentir náuseas e, se bem me
lembro, também sentirá dor de cabeça. Pense nisso como uma febre alta,
porque essa não é a pior parte.
Eu zombo. — O que poderia ser pior do que se transformar em um
monstro?
Ele ignora minha pergunta e continua. — Seu corpo vai parecer que
vai explodir, e a última coisa que você quer fazer é lutar contra isso.
Ele suspira. — Seu corpo está dizendo a você que o lobo dentro de
você está pronto para assumir o controle, e se você lutar contra isso da
primeira vez, provavelmente não sobreviverá à próxima mudança.
Portanto, faça o que fizer, não lute contra isso.
— Como você sabe de tudo isso? Você é um lobo?
Ryder apenas encolhe os ombros. — Todos nós somos.
— Quem somos 'nós'?
Ryder não me responde. Ele apenas me lança um olhar de
cumplicidade, e percebo que preciso saber o que ele quer dizer com sua
expressão.
— Você está dizendo que Bane, Silver e Kellan são lobos? Fala sério.
— Você acha que eu estaria te ajudando se você não se tornasse uma
de nós? Seu cheiro estava em toda aquela lanchonete, para qualquer lobo
perceber.
As mãos de Ryder estão fechadas em punhos. Ele me encara com um
brilho maligno nos olhos.
Não me importo se ele está com raiva ou frustrado comigo. Só quero
ir para casa e esquecer que essa conversa aconteceu.
Eu zombo em descrença. — Eu não estou me tornando uma de vocês!
Esse tipo de coisa simplesmente não acontece.
— Você quer saber o que aconteceu com o Sr. Daniels? Como seu
corpo foi encontrado em pedaços em sua própria casa? — Ryder rosna.
Eu não aguento mais; Eu faço a única coisa que posso pensar para
bloquear a voz de Ryder. Eu cubro meus ouvidos e rezo para que ele pare.
— Pare com isso!
Eu imploro e imploro para ele parar, mas ele apenas segue em frente.
— O que está acontecendo aqui? — Uma voz diz.
Não só Ryder para de gritar, mas todo o seu corpo enrijece quando ele
percebe Terry de pé com uma lanterna apontada diretamente para ele.
— Ele está te dando problemas, Alice?
Afasto as mãos dos ouvidos e balanço a cabeça. — Não, ele já vai
embora.
Ryder olha para mim com desespero nos olhos, mas não consigo ouvir
outra palavra que ele tem a dizer.
— Boa noite, Terry. — Eu me afasto, deixando os dois homens
sozinhos no escuro.
A caminhada até minha casa é surpreendentemente tranquila. Não há
desentendimentos com Ryder ou um encontro com um lobo. Só eu e os
sons da natureza.
Eu ouço os gritos de uma raposa selvagem e o arroto alto de um cervo
vermelho no meio da noite.
Pego um atalho para casa e encontro o vão da floresta que fica entre
mim e minha casa.
Acredito que muitos segredos estão nesta floresta, mas não sinto
nenhuma ameaça, nem tenho medo de saber o que se esconde dentro
dela.
Enquanto estou neste pequeno terreno aberto, não sinto nada além de
poder. Já experimentei a sensação de estar perto da morte e não poderia
me sentir mais viva.
Eu corro pela floresta, saltando sobre os riachos finos e sinuosos e as
rochas escorregadias. Eu me esquivo e passo por carvalhos podres e sob
os galhos baixos.
Insetos zunem pelos meus ouvidos, zumbindo suas pequenas canções.
Folhas verdes, amarelas e vermelhas estão espalhadas pelo solo como
um arco-íris de cores outonais ricas. À frente, as árvores da floresta ficam
mais ralas.
Estou perto de casa.
À medida que me aproximo, vejo a ponte velha e gasta que leva à
estrada em frente à minha casa.
Lar doce lar.
Eu moro com minha mãe em uma área residencial tranquila, em uma
bela casa independente.
É a única casa em que já morei, e não há nenhum lugar no mundo que
eu preferisse estar, por causa do silêncio e da paz que a casa oferece.
A casa possui um grande jardim com lindas árvores, plantas e até
piscina.
É muito espaçoso apenas para nós duas, com dois andares e um
terceiro andar menor com grandes janelas.
O portão da frente fica no térreo, onde o grande hall se encontra com
duas salas de estar confortáveis e arejadas, um banheiro e uma grande
cozinha moderna no coração da casa.
Uma das salas tem uma porta que dá para um terraço com vista para o
jardim.
No primeiro andar encontram-se quatro quartos, que consistem em
dois quartos duplos e dois individuais, juntamente com dois banheiros.
Minha mãe dorme no quarto principal, que tem seu próprio banheiro
e sua própria varanda.
Atravesso a rua e chego à varanda que circunda a frente da casa,
depois giro a maçaneta para ver se está trancada.
Mamãe já deve estar em casa.
Bato os nós dos dedos na porta de vidro intacto e espero por qualquer
sinal de movimento.
Então bato novamente e espero mais alguns minutos.
Nada.
Eu me movo para verificar debaixo do capacho e vejo a única chave de
prata.
Acho que ela não está em casa.
Pego a chave e entro. — Mãe? Você está em casa?
Sem resposta.
Talvez ela tenha um encontro esta noite?
Desço as escadas até a cozinha e noto um pedaço de papel preso na
geladeira.
— Alice, fui chamada ao hospital. Provavelmente só chegarei em casa de
manhã, o jantar está no microondas. Te amo. Sua mamãe. Beijos.
Acho que isso me diz onde ela está.
Abro o microondas e gemo de satisfação ao sentir o aroma adocicado
da pizza de pepperoni.
Minha mãe me conhece muito bem.
Antes de trocar minhas roupas e colocar minha camisola, eu aqueço a
pizza e pego uma lata de Coca.
No momento em que desço as escadas, levo a pizza com refrigerante
para o sofá em frente à TV e faço o download do final da temporada de
Game of Thrones.
Mais uma vez, as perguntas correm dentro da minha cabeça.
E se o que Ryder diz for verdade? Será que eu me transformaria em
um dos predadores mais perigosos conhecidos pelos humanos?
Aconteça o que acontecer comigo, a última coisa que quero fazer é
machucar alguém.
Eu nunca me perdoaria se o fizesse.
Eu saio do meu transe para o tema de abertura da série quando de
repente tudo na sala começa a se confundir. Não consigo ver nada.
Limpo os olhos com as palmas das mãos e sinto que meu rosto está
queimando.
Posso ouvir meu coração batendo rapidamente dentro do peito e
começo a notar que estou lutando para respirar direito.
Eu me levanto e caminho em direção ao banheiro quando de repente
sinto uma dor aguda no estômago. É como se minhas entranhas
estivessem sendo torcidas e puxadas.
Abro a porta do banheiro e me equilibro na pia.
Eu me olho no espelho e me vejo completamente encharcada de suor.
Oh, não...
Está acontecendo!
O que eu faço?
Minha cabeça começa a latejar enquanto a dor no meu estômago se
torna insuportável.
Quanto mais tento parar a dor agonizante, mais sinto a agonia intensa
queimando minhas costas, e tudo que posso fazer é gritar.
A dor piora quando tento lutar contra ela, e imediatamente sinto a
náusea subindo pela minha garganta.
Eu me dobro e vomito violentamente, vendo um líquido preto
cobrindo as bordas do vaso sanitário.
Perco a conta de por quanto tempo eu vomito, mas me recuso a parar
de lutar.
Eu me recuso a transformar.
Não importa quanto tempo a dor dure.
Não vou ceder a essa transformação.
Depois do que parecem mil horas intensas, suspiro de alívio enquanto
descanso minha bochecha na superfície fria do vaso sanitário.
Minha visão está começando a clarear, muito lentamente. A dor no
estômago e na parte inferior das costas diminuiu e posso finalmente
respirar.
Meu coração bate no ritmo normal e minha cabeça para de latejar.
Com as pernas instáveis, eu me levanto da minha posição ao lado do
vaso sanitário e limpo o banheiro de cima a baixo.
Depois de terminar a limpeza, sento-me no chão e prometo a mim
mesma que descansarei meus olhos apenas por alguns minutos.
Não ouço a porta se abrir, nem ouço minha mãe chamar meu nome
várias vezes.
Ela me encontra exatamente como estou, sentada no chão com a
cabeça apoiada no vaso sanitário. Abro meus olhos e olho para ela.
— Alice, querida, o que você está fazendo no chão? — Ela me olha
com preocupação em seus olhos enquanto está de pé na porta do
banheiro em seu uniforme rosa, segurando seu cardigã preto de tricô em
seus braços.
— Fiquei doente, — digo simplesmente.
Minha mãe se ajoelha no chão na minha frente e coloca a mão na
minha testa.
— Você pegou febre ou algo assim?
— Sim, talvez.
— Certo, acho que você deveria descansar e beber bastante água. Vou
ligar para o médico amanhã se quiser, antes de ir para o trabalho, ok,
querida? Não há escola para você amanhã.
Ela me beija na testa e me ajuda lentamente a levantar do chão.
— Como foi o trabalho? — Sigo minha mãe até a cozinha e sento na
banqueta do bar enquanto ela desliga a TV.
Eu perdi Game of Thrones. De novo.
— O trabalho estava um pouco agitado, mas estou feliz por estar em
casa. Tudo bem na escola?
Ela traz a pizza intacta e a lata de coca fechada para a cozinha e as
coloca no balcão.
— A escola foi boa, eu acho. Temos um novo professor de inglês.
— Um novo professor? O que aconteceu com o Sr. Daniels?
— Não sei. Talvez ele desistiu?
Não sei por que não contei a minha mãe sobre o Sr. Daniels, mas não
acho que contar a ela que ele foi encontrado em pedaços em sua casa
seria uma boa ideia.
Além disso, quem sabe? Talvez Ryder só me disse isso para me
assustar.
— Bem, isso é uma pena. Ele era um professor tão bom e adorava
você.
— Eu sei, mas... — Dou de ombros e me levanto para dar um abraço
em minha mãe. — Boa noite, mãe.
Ela me aperta com força e beija minha testa. — Boa noite, querida. Eu
te amo — Amo você também.
Subo as escadas para o meu quarto e encosto a cabeça na porta.
Eu realmente fiz isso, mas eu não me transformei em um lobo.
Eu rio histericamente para mim mesma, sentindo uma grande
quantidade de triunfo.
Meu corpo parece incrivelmente fraco e esgotado após os eventos da
noite passada e desta noite, mas pelo menos o vômito parou.
Uma parte de mim se sente aliviada por não ter que enfrentar Ryder
amanhã, mas a outra parte quer contar a ele o que aconteceu aqui esta
noite.
Ele me disse, porém, que se eu lutasse contra a transformação na
primeira vez, seria menos provável que sobrevivesse à próxima vez.
Capítulo Cinco
Alice

Cedo na manhã seguinte, acordo com minha mãe perguntando se ela


precisa ligar para o médico para mim.
Decido voltar a dormir depois de dizer a ela que estou me sentindo
melhor, e ela me dá um beijo de despedida e sai para trabalhar logo em
seguida.
Eu não acordo até o final da tarde e quando abro os olhos, vejo cinco
chamadas perdidas de Sam.
Ótimo.
Eu me sento e disco o número dela. Ela atende imediatamente.
— Porra, finalmente! Ela está viva! — Eu a ouço rir do outro lado da
linha.
— Muito engraçado, Sam. — Eu me levanto da cama e desço as
escadas até a cozinha para preparar o café da manhã.
— Sinto muito, só queria saber onde estava minha parceira no crime.
— Estou em casa. Não me senti bem na noite passada.
Abro o armário, pego o pão e coloco uma fatia na torradeira.
— Você ficou doente ou algo assim?
— Sim, e adivinha? Mamãe me encontrou na beira do vaso sanitário.
Ela me disse para ficar em casa e dormir.
— Ok, sua mãe é péssima por dizer isso, mas acho que se você não
está se sentindo bem, então o melhor lugar para você estar é em casa.
— Eu acho, mas estou me sentindo totalmente bem agora. Como está
a escola?
Não ouço nada além de silêncio do outro lado da linha. — Sam?
Eu aqueço a chaleira, tiro a torrada da torradeira e começo a espalhar
a manteiga.
Eu olho para ver se ela acidentalmente pressionou o botão — desligar,
— mas digo o nome dela novamente quando vejo que ela não o fez. —
Sam?
— Ryder continua olhando para mim e é realmente assustador, — ela
sussurra ao telefone.
— O que você quer dizer?
Pego uma caneca do armário, preparo uma xícara de chá e me sento
no sofá de couro marrom.
— Bem, estou sentada ao lado de Alex, que está sentado no fundo da
classe porque sabe todas as respostas. E eu não sei por que, mas Ryder
continua olhando para mim.
— Bem, talvez ele goste de você? — Eu digo, mas eu só quero dizer
isso como uma piada.
— Corta esse papo, Alice. Nós dois sabemos que isso não é verdade, —
Sam cospe em desgosto.
— Como você saberia?
— Porque ele não conseguia tirar os olhos de você na lanchonete.
Sim, por todos os motivos errados!
— Olha, apenas pergunte a ele por que ele está olhando para você.
Não é como se ele fosse morder. — Eu sufoco uma risadinha.
Se ela soubesse.
Sam geme. — Olha, eu prefiro não fazer isso. Olha, tenho que ir. O Sr.
Jackson acabou de entrar.
— Tudo bem, divirta-se com a matemática.
— Vá se foder. Te vejo depois da escola.
— Okay, vejo você em breve.
Quando termino a ligação, olho ao redor da casa e me pergunto o que
fazer no tempo livre que tenho antes da Sam chegar.
Eu olho para o relógio para ver que é 12:30. A escola termina às 15:30.
Decidi deixar Sam orgulhosa e finalmente assistir ao final da
temporada de Game of Thrones.
Quando os créditos de abertura começam, não posso deixar de me
sentir triste por mais uma temporada ter chegado ao fim.
Isso me faz lembrar de quando Sam e eu nos conhecemos, quando
começamos como calouras.
Estávamos sentadas uma ao lado da outra na aula de inglês quando o
Sr. Daniels nos disse para nos apresentar e compartilhar um com o outro
qual personagem fictício em todo o mundo queríamos ser.
Quando Sam me disse quem ela queria ser, ela imediatamente se
tornou minha melhor amiga, porque ela queria ser Arya Stark.
Foi um dos momentos mais felizes da minha vida, porque eu queria
ser Daenerys Targaryen — a própria Mãe dos Dragões.
Passamos nosso primeiro dia como calouras falando sobre Game of
Thrones, e somos melhores amigas desde então.
Enquanto assisto ao show e vejo Arya Stark treinando com os Waif na
Casa do Preto e Branco, tudo que posso ver é Sam.
Um rosto longo e severo, olhos cinzentos e cabelos castanhos curtos.
Magra, mas atlética.
Onde Arya foi confundida com a aparência de um menino, Sam
ignora a atenção dos meninos da nossa escola. Ela não consegue pensar
em nada pior do que namorar um cara do colégio.
Quando os créditos finais da série passam pela tela preta, tudo que
consigo pensar é em como vou sobreviver sem ter isso para assistir todos
os domingos.
Talvez eu devesse começar a assistir algo como Prison Break ou True
Blood?
True Blood tem lobos nele, então eu não vou assistir isso.
E Prison Break. Talvez eu considere.
Eu olho novamente para o relógio para ver que são 14:30.
Uma hora até Sam chegar.
Decido colocar uma camisa de flanela azul e um short jeans, deixando
meus pés descalços.
Com apenas alguns minutos de sobra, eu lavo e seco os pratos, limpo e
passo aspirador no chão, além de espanar todas as superfícies da casa.
Quando coloco o aspirador e o esfregão de volta no armário, ouço
uma batida à porta.
Eu ando casualmente até ela, e abro para encontrar Sam olhando
miseravelmente para mim.
— Por que a cara triste? — Eu pergunto.
Ela passa correndo por mim e se ajoelha no sofá. — Eu apenas tive que
suportar o dia inteiro com olhares assustadores vindos de Ryder e sua
gangue estúpida!
Eu rio suavemente e me movo para sentar na frente dela na mesa de
café. — Você perguntou a ele por que ele estava olhando para você?
Ela se vira para olhar para mim e balança a cabeça. — Não. Ele me
assusta. E não era apenas ele olhando, eram todos eles.
Eu só posso encolher os ombros. — Eu não sei o que dizer.
Sam franze a testa. — Você acha que talvez eles estivessem tentando
ler meus lábios?
— O que te faz pensar isso?
— Bem, quando eu estava sentada no refeitório, eles estavam olhando
para mim como se estivessem esperando por algo. E então, novamente,
na aula de matemática, eu estava falando com você ao telefone e Ryder
não parava de olhar para mim. E ele nem mesmo faz matemática!
Talvez eu devesse contar a Sam sobre o que aconteceu ontem à noite
no restaurante. Afinal, quero envolvê-la no que está acontecendo na
minha vida.
— Talvez eles estivessem olhando porque meio que... me emboscaram
na noite passada depois do trabalho.
Ela grita: — O quê!?
— Fui emboscada pelos quatro depois do trabalho — exceto por
Kellan, ele ficou fora da parte do confronto. Mas o resto deles me
interrogou sobre a noite em que fui mordida.
Sam se move para se deitar de lado com uma expressão confusa no
rosto. — Por que eles querem saber sobre o que aconteceu com você
naquela noite?
Antes que eu possa responder a sua pergunta, ouço uma batida à porta
e vejo Sam franzindo a testa para mim.
— Você está esperando alguém?
— Não, apenas você.
Nós duas olhamos para a porta e esperamos.
— Devo atender? — Eu pergunto. — Talvez seja alguém para minha
mãe?
— Deixa pra lá. — Sam pega o controle remoto da mesinha de centro
e liga a TV.
— Sam, eu não posso simplesmente deixar quem está lá fora
esperando. Eu volto já.
Eu ouço Sam murmurar algo baixinho, mas não consigo ouvir o que
ela diz.
Eu ando rapidamente para a porta da frente e não posso acreditar no
que vejo do outro lado. Eu fico olhando para ele de boca aberta.
— Não achei que fosse te encontrar? — Ryder se inclina contra o
batente da porta.
Eu saio e fecho a porta atrás de mim.
— O que diabos você está fazendo aqui? — Eu grito. — Como você me
achou?
— Eu vim me desculpar sobre a noite passada.
— Como você me encontrou? — Repito.
— Você sabe a resposta para essa pergunta. Além disso, eu tinha que
verificar como você estava. — Ele franze a testa e balança a cabeça, —
Algo está errado com o seu cheiro.
— O que você quer dizer?
— É diferente. Como se estivesse retrocedendo.
Ele me olha confuso. — Aconteceu alguma coisa com você ontem à
noite, Alice?
Eu não digo uma palavra.
Ele me põe contra a parede ao lado da porta e coloca a palma da mão
perto do meu rosto. — Não vou perguntar de novo. Se algo aconteceu
com você, então eu preciso saber.
Eu mordo meu lábio e olho para longe dele. — Acho melhor você sair.
— Eu não vou a lugar nenhum até que você me diga o que aconteceu.
— Você quer saber o que aconteceu? Tudo bem. Eu lutei contra a
transformação.
Alguns segundos se passam quando, de repente, Ryder dá um soco na
parede bem ao meu lado. Eu me encolho contra a parede.
— Por que você faria algo quando eu disse para você fazer a porra do
oposto! Você não ouviu uma palavra que eu disse a você ontem à noite?
— Lutei contra a transformação porque não queria me tornar um
monstro. — Eu movo seu braço para passar. — Como você e os outros.
Eu ando de volta para dentro de casa assim que ouço o rugido alto e
penetrante de Ryder vindo de fora.
Um arrepio desce pela minha espinha.
Quando chego à sala, vejo que Sam não se moveu de sua posição no
sofá.
Ela logo ouve meus passos quando me sento na poltrona.
— Quem era? — Ela pergunta.
— Ninguém menos que aquele que não tirou os olhos de você hoje.
Os olhos de Sam mudam para mim em um piscar de olhos. — Ryder
está aqui?
— Sim, eu o deixei do lado de fora.
Um minuto, Sam está deitada no sofá. No próximo, ela está lá fora.
No momento em que me levanto da cadeira e corro para a varanda,
noto cinco figuras no total.
Eu vejo Sam e Ryder um do outro, cuspindo insultos um ao outro.
Então eu noto três lindos lobos parados atrás de Ryder em uma postura
protetora.
São Bane, Silver e Kellan?
Não... Isso é impossível.
Eu ignoro Sam e Ryder discutindo e me viro para olhar para cada lobo
individualmente.
O menor dos três tem olhos azuis gelados e dentes afiados como
navalhas, com pelo da cor de cinza que parece macio e bem cuidado.
Os cabelos da nuca estão eretos, indicando claramente sua raiva. Ele
rosna ao olhar para Sam, mas não ataca.
Ao lado do lobo cinza está um lobo muito maior. A pele marrom
escura cobre todo o seu corpo como um cobertor áspero, porém sedoso,
com uma mancha branca escorrendo pelo peito estreito.
Seus olhos são da cor do céu bem iluminado e também tem dentes
afiados.
O último lobo não se junta aos outros. Ele me encara diretamente
enquanto estou parada na porta.
Não sei por quê, mas algo me diz que esse lobo não representa
ameaça. Eu tenho uma intuição me dizendo exatamente quem é. Kellan.
Seu pelo é tão claro que poderia parecer ouro puro, mas seus olhos são
amarelos.
Isso é estranho.
Por que seus olhos são diferentes?
Estendo minha mão em direção a Kellan. Ele se aproxima lentamente
de mim, então inala e cutuca minha mão com a cabeça.
Sua pelagem dourada é incrivelmente lisa, como seda. Enquanto o
acaricio, sinto-me completamente hipnotizada ao pensar que uma parte
de Kellan está em algum lugar dentro deste magnífico predador.
Eu fico olhando para a cena na minha frente, Ryder e Sam estão a
centímetros de distância um do outro, e parece-me que Sam está dando
trabalho a ele, depois do que aconteceu na noite passada.
Eu faço a única coisa que posso pensar e agarro Sam pelo pulso, em
seguida, puxo-a de volta para onde estou perto da porta.
— Tudo bem, já basta, vocês dois!
Os dois outros lobos se movem para ficar de cada lado de Ryder,
enquanto Kellan fica ao meu lado.
Ryder dá aos dois lobos ao lado dele um sinal para que parem de
rosnar, e eles fazem isso instantaneamente.
— Quem diabos você pensa que é? Você não tinha o direito de
interrogá-la assim! — Sam grita.
Ryder olha para Sam com desgosto. — Tudo o que ela faz diz respeito
a mim.
Ele aponta para mim. — Ela te contou o que aconteceu com ela na
noite passada?
— O que você está falando? — Sam franze a testa e olha para mim. —
Alice?
— Diga a ela como você lutou contra a transformação e que
provavelmente vai morrer na próxima vez.
Sam engasga. — Alice, isso é verdade?
— Só porque eu não queria me tomar um monstro! — Estou fervendo
de raiva de Ryder enquanto estou na frente dele. Ambos os lobos
começam a rosnar novamente.
— Eu já pedi para você sair uma vez. Não vou pedir de novo, — eu
digo com firmeza.
Ryder sorri. — Você está me ameaçando, Alice?
— Sim.
Eu olho em seus olhos, mas congelo quando vejo que seus olhos
ficaram vermelhos.
Ele segura minha bochecha e sussurra em meu ouvido. — Você não
deveria ameaçar um alfa.
Capítulo Seis
Alice

Eu fico lá, pregada no chão, incapaz de desviar o olhar de seus olhos.


Os olhos de um alfa.
Tudo ao meu redor parece que não existe enquanto eu olho nos olhos
de um predador. E agora, Ryder me olha como se estivesse observando
sua presa.
Eu puxo sua mão da minha bochecha, ando timidamente para agarrar
a mão de Sam e puxá-la para trás de mim.
— Nos deixe em paz.
Ryder balança a cabeça. — Eu não posso fazer isso. Preciso que você
me diga o que aconteceu ontem à noite, porque algo definitivamente
mudou. Depois que você me disser o que preciso saber, irei embora.
Eu cerro meus dentes. — Eu não vou falar nada.
Antes que eu tenha a chance de terminar a frase, os dois lobos ao lado
de Ryder mudam para formas humanas.
Tanto Bane quanto Silver estão ali. completamente nus.
— Que diabos? — Eu ouço Sam suspirar atrás de mim.
Eu me viro para ver que Kellan se transformou também.
Uau.
Eu observo toda a sua aparência, mas coro quando meus olhos
finalmente encontram os dele.
Merda!
Ele totalmente me pegou olhando para ele. Eu limpo minha garganta
e viro o rosto para Ryder.
— Por que simplesmente não batemos nela? — Bane rosna.
Silver enrola o braço em volta da cintura de Ryder, pressionando seu
peito sedutoramente contra o braço dele. — Eu farei isso, Ryder. Eu vou
te dar o que você quer.
Ela olha para mim e sorri.
Ryder puxa a mão de Silver e caminha em minha direção em sua
camiseta preta e jeans rasgado, parando na minha frente. — Conte-me
tudo e eu irei embora.
Seus olhos estão de volta ao verde esmeralda. — Por favor.
Eu gentilmente aceno e viro para abrir a porta, apenas para encontrar
o olhar de Sam de olhos arregalados e de queixo caído.
Eu olho para trás para ver o que ela está olhando, e vejo que ela está
olhando para Bane.
Eu rio silenciosamente para mim mesma e cutuco Sam nas costelas
antes que ela seja pega.
Ela imediatamente fecha a boca e limpa a garganta, murmurando um
agradecimento silencioso quando ela passa por mim para entrar em casa.
Silver logo segue Ryder, mas não antes de me cutucar com o ombro
para passar. Bane não diz nada enquanto segue com um sorriso de
escárnio no rosto.
Eu me viro para ver que Kellan parou na minha frente, um sorriso
caloroso pintado em seu rosto.
— Foi aí que ele mordeu você? — Ele aponta para o meu ombro.
Por instinto, eu toco. — Sim.
— Eu prometo que quem fez isso com você não viverá para ver outro
dia.
— Obrigada. — Eu suspiro. — Eu realmente não pensei sobre aquela
noite.
— É muito para absorver, eu sei. Mas logo você vai perceber, com suas
novas habilidades, que coisas incríveis você pode fazer.
Eu sorrio. — Sabe, eu nunca te agradeci por ontem à noite. Você
interveio e impediu Bane de me machucar.
Ele encolhe os ombros. — Não se preocupe. Eu só fiz o que achei
certo.
— Eu sei, mas obrigada. Significou muito para mim.
Quando nós dois nos viramos para entrar na casa. Ryder está no
corredor com as mãos nos bolsos, olhando para nós dois com
curiosidade. Ele indica com a cabeça para a sala.
Quando entro na sala, vejo que Bane e Silver ocupam seus lugares no
sofá. Ambos estão cobertos por mantas, graças a Sam, que está sentada
na poltrona.
Ela ainda está olhando para Bane com um sorriso enorme no rosto.
Ryder vai ficar perto da janela, enquanto Kellan permanece ao meu lado.
Saio da sala para pegar um cobertor sobressalente para Kellan e,
quando volto, noto que ninguém disse uma palavra.
Depois do que pareceram horas de silêncio intenso, Sam decide
quebrar o gelo.
— Tudo bem, o que diabos está acontecendo?
Quando ninguém responde, ela me olha interrogativamente. — Alice?
Lá vamos nós.
Eu olho ao redor da sala para ver que todos estão olhando para mim
com expectativa.
— Ontem à noite no restaurante... — Eu engulo e olho para longe de
todos.
— ... Eu ouvi Bane ameaçar nosso cliente, Paul, por olhar para todos
vocês, e eu soube que algo estava errado quando fui capaz de ouvir tudo.
Eu observo Bane olhar para mim com o mesmo sorriso de escárnio em
seu rosto.
— Então, houve o incidente do milkshake que todos vocês viram.
Tenho certeza de que o tempo diminuiu para que eu pudesse pegá-lo.
Caso contrário, aquele milkshake estaria espalhado pelo chão.
Ryder suspira alto o suficiente para que todos na sala possam ouvir. —
Todos nós sabemos o que aconteceu na lanchonete. Pare de enrolar. Eu
quero saber por que você lutou contra a transformação.
Sam se vira para Ryder com uma expressão irritada no rosto. — Dá
um tempo e pare de apressá-la.
Silver rosna de sua cadeira no sofá e Sam imediatamente se vira para
ela. — E você? Pare de agir como uma cadela no cio e cale a boca.
Kellan segura minha mão e chama meu nome silenciosamente. Eu
olho para ele para ver a preocupação gravada em seu rosto. — Você não
precisa nos dizer nada, se não quiser.
— Sim, ela precisa, — Ryder zomba. — Se tivermos alguma chance de
saber como pegar quem quer que esteja matando pessoas nesta cidade,
então sim, ela tem que nos contar tudo!
— Quem quer que a tenha mordido pode nem mesmo ser responsável
pelos assassinatos! — Kellan grita de volta.
— Que assassinatos? — Sam exige saber.
Todos na sala a ignoram.
— Pelo amor de Deus! Alguém me responda! — Ela diz, mais alto.
Ryder pigarreia. — Houve alguns assassinatos nesta cidade que temos
mantido sob sigilo. Os principais sinais são de ataques de animais.
Ele balança a cabeça.
— Não sabemos quem é o responsável pelos assassinatos, ou por que
eles estão matando essas pessoas, mas o número de corpos está se
acumulando e o assassino sabe como cobrir seus rastros.
— Nós quatro tentamos encontrar um cheiro em cada cena de crime,
mas não conseguimos detectar o cheiro.
— Você tem certeza de que os ataques foram causados por um lobo?
— Sam pergunta.
— Claro que temos, sua idiota! — A Silver grita. — O pai de Kellan é
policial e conta tudo para o filho. Todos os assassinatos são iguais —
corpos feitos em pedaços.
Ela estreita os olhos. — Que tipo de animal pode fazer isso? Um lobo.
E até agora, foram cinco corpos. O Sr. Daniels foi a quinta vítima.
Estamos reconhecendo um padrão, então não é apenas uma matança
aleatória.
— Qual é o padrão? — Eu pergunto baixinho.
— Um corpo por mês, — murmura Bane. — Não há nenhuma
maneira de pegarmos esse filho da pula.
Um homem de poucas palavras.
— Olha, se isso ajuda algum de vocês, eu poderia descrever como era o
lobo, — eu digo.
— Não importa, — Ryder suspira. — Veja, quando você muda pela
primeira vez, você é apresentado a novas habilidades. Força, som e
cheiro.
Ele se vira para encarar toda a sala. — Lobos podem esconder seu
cheiro depois de um longo período de tempo, mas apenas lobos
altamente experientes podem fazer isso.
— Quem quer que tenha mordido você pode fazer exatamente isso.
Quando passei por você no corredor, pude sentir o cheiro do veneno em
seu corpo, mas nenhum cheiro do lobo que mordeu você.
— O cheiro desaparece se você lutar contra a mudança, e seu
desapareceu, — ele continua.
— Então você vê, se você tivesse deixado seu corpo mudar, você teria
sido capaz de identificar esse vínculo — como um alfa faz com seu beta.
Mas as chances de você encontrar esse vínculo agora são exatamente
zero.
— Ryder, eu só estava tentando ajudar, — digo com firmeza.
Estou começando a ficar cansada de ser tratada como uma criança.
Eu sabia das consequências do que lutar contra a transformação
significaria para mim. Mas se é verdade que quem me mordeu é quem
está matando as pessoas, então por que, de repente, me sinto tão
culpada?
Não é como se eu devesse nada a esses caras.
— Sua ajuda não significa nada para nós. — Silver zomba de mim. —
Eu acabei por aqui.
Ela se levanta do sofá, deixa cair o cobertor e se agacha no chão. Então
ela vira a cabeça para olhar para Ryder. — Vejo você de volta em casa.
Silver não espera por sua resposta. Em vez disso, todo o seu corpo
começa a se transformar em sua forma de lobo.
Posso ouvir e ver os ossos de seu corpo mudando, e todo o processo
parece me fascinar.
Assim que ela muda, ela caminha em direção às portas duplas que
levam ao jardim. Silver espera na porta até que Ryder a abra. Ele segura o
rosto dela, acaricia-a suavemente antes de abrir a porta.
Ryder caminha em minha direção e fica na minha frente.
— Você pode não ter sido mordida por nenhum de nós, mas o lobo
que te mordeu não parece ter reivindicado você como parte de sua
matilha. Talvez se você se juntar a uma matilha, seu novo alfa possa te
encontrar e reivindicar você de volta.
Ele cruza os braços. — Agora, eu consideraria ter você como parte da
minha matilha, mas acho que isso será um problema, visto que dois dos
meus betas não suportam você.
— Espere, quem disse alguma coisa sobre estar em sua matilha? Ou
qualquer matilha? — Eu pergunto.
— Alice, você vai precisar de uma matilha. Um ômega raramente
sobrevive sozinho. Você pode ser morta.
— Por que eu iria querer estar em um bando que nem mesmo me
quer? Prefiro ficar sozinha e viver minha vida como uma pessoa normal,
— respondo.
Por que as coisas não podem simplesmente voltar a ser como eram?
— O que é um ômega? — Pergunta Sam.
Kellan limpa a garganta e puxa o cobertor mais apertado em torno de
si.
— Existem três classificações de lobos. Alfa, beta e ômega. Alfas são
considerados os mais poderosos, mais fortes e letais.
Ele aponta para Ryder. — Ryder é o alfa, como todos sabemos.
Então Kellan aponta para Bane. — Bane e Silver são os betas da
matilha. Betas são os segundos em comando. Quando o alfa morre, um
dos betas assume o controle.
Ele respira fundo. — Então você tem o ômega. O lobo solitário.
Ômegas são considerados mais fracos que betas. Os lobos podem se
tornar Ômegas por escolha, ou às vezes podem ser forçados a deixar a
matilha.
Kellan coloca as mãos suavemente em meus ombros. — Alice,
aconselho você a pensar sobre a oferta de Ryder. Você não vai sobreviver
por conta própria.
Eu tiro suas mãos de mim. — Eu posso cuidar de mim mesma.
Eu ando em direção à minha porta da frente esperando que eles
pensem que eu quero que eles saiam.
Kellan sai primeiro, sem dizer uma palavra. Bane segue com um olhar
inexpressivo em seu rosto, enquanto Ryder me encontra na porta com
uma carranca.
— Por que você nunca escuta? — Ele cruza os braços sobre o peito.
— Como é?
— Você nunca ouve nada que alguém lhe diga. Estou tentando te
ajudar! Você não tem ideia do que você tem atrás de você.
Sua voz se eleva. — Você já pensou no que essa mudança pode fazer
com você? E a sua mãe? Como ela vai lidar com isso?
— Já chega! — Eu grito. — Estou farta de você agir como se já fosse
meu alfa. Eu não quero estar na sua matilha. Então, aceite sua oferta e
enfie na sua bunda!
— Alice!
Eu me viro para olhar para fora e vejo minha mãe parada na garagem.
Ótimo.
— Desculpe, mãe.
Eu não posso acreditar que isso esteja acontecendo. Com sorte, Ryder
desaparecerá no ar antes que minha mãe o veja.
— Eu criei você melhor do que isso, Alice. — Ela olha para Ryder com
um grande sorriso no rosto. — E quem é este jovem notável?
Ela está admirando ele?
Meu Deus!
— Ele já estava saindo.
— Alice! — Ela me repreende.
Eu suspiro. — Mãe, este é Ryder. Ryder, esta é minha mãe
— Prazer em conhecê-la.
Ele pode fingir ser humilde o quanto quiser, mas eu me pergunto se
ele pode realmente falar uma frase inteira sem soar como um filho da
puta temperamental.
— Um prazer te conhecer também, — diz mamãe.
Eu olho para Ryder e faço um gesto para ele sair.
— Certo, está ficando meio tarde. Vejo você amanhã na escola, Alice.
— Não, você não vai, porra, — eu murmuro.
Minha mãe se vira com o meu xingamento. — Quem é você e o que
fez com minha filha?
Não acompanho Ryder para fora, mas, em vez disso, volto para a sala,
onde vejo que Sam não se moveu de sua posição no sofá.
— Eu sinto como se tivesse enlouquecido, — Sam engasga. — Eu não
posso acreditar que olhei para as partes de Bane. E eu nem me sinto mal
por isso!
— Sam, acho que você está exagerando.
— Como? Você ao menos olhou, Alice?
— Eu me recuso a participar desta conversa. — Desligo a TV e entro
na cozinha, onde encontro minha mãe fazendo café.
— Oi, Tina. — Sam diz para minha mãe, juntando-se a mim na
cozinha e sentando no balcão.
— Sam, como você está?
— Quer saber? Eu estou muito bem. Fiquei completamente pasma de
ver o tamanho do pênis de um homem hoje.
Eu gemo de vergonha quando minha mãe começa a rir.
— Sam, por favor, pare, — eu imploro.
— Tudo bem, é melhor eu ir antes que Alice comece a entrar em
combustão e me odeie para sempre. — Ela acena e sai pela porta da
frente.
Minha mãe ri. — Ela é engraçada, não é?
— Ou delirante.
— Bem, vou me dormir mais cedo, querida, estou completamente
exausta.
Minha mãe despeja o resto do café na pia e me beija na bochecha. —
Eu te amo.
— Também te amo, mãe.
Olho para o relógio e vejo que são apenas 20:30, mas decido dormir
também.
Foi um dia longo e infernal.
Capítulo Sete
Alice

Na manhã seguinte, vou para a escola pensando na noite passada.


O que está acontecendo comigo?
Nos últimos três dias, não consegui parar de pensar no que está
acontecendo na minha vida.
Os assassinatos e toda essa coisa do lobo.
Quem teria pensado que as pessoas realmente pudessem se
transformar em algo não humano? Achei que isso só acontecesse em
filmes e romances.
A ideia de que eu seria capaz de me transformar em lobo pode ter
parecido impossível alguns dias atrás, mas depois de ontem à noite, estou
começando a pensar que tudo é possível.
Mas ainda é difícil acreditar que o Sr. Daniels está entre as vítimas
assassinadas.
Por que ele foi morto?
O Sr. Daniels era gentil e generoso, e era respeitado por muitos alunos
e professores aqui. O que ele poderia ter feito para ser morto?
Um pensamento me ocorre — e se isso for obra da mesma pessoa que
assassinou Anna, o amor perdido de Kellan?
Exceto que não faz sentido, porque ela morreu há mais de um ano, e
foi um assassinato único.
Mas e se o assassino estivesse fazendo isso desde a morte de Anna?
Qual é o significado?
Quando chego à escola às 8:45, chego ao meu armário e pego meu
livro de biologia. Eu olho para cima e para baixo no corredor, observando
os rostos alheios dos alunos que chegam para a aula.
Não posso deixar de pensar comigo mesma que eles não têm ideia do
que está acontecendo ao seu redor. Mas com certeza agora eles devem
saber sobre o Sr. Daniels.
Quando soa o sinal de que são nove horas, vou para a minha aula de
biologia e me sento em uma mesa vazia.
Coloco meu livro, estojo de lápis e bloco de notas na mesa, e espero o
início da aula.
Sam provavelmente está jogando futebol lá fora agora. Ela sempre foi
a mais atlética de nós duas.
Ela é alta e magra, com pernas e músculos longos, enquanto eu sou a
baixinha com seios fartos.
Sam é quem atrai todos os meninos da escola. Eu não.
Eu olho para o relógio e vejo que já passa das nove.
Os professores geralmente não chegam atrasados às aulas, então é
meio incomum que isso aconteça, especialmente para o Sr. Thompson,
porque ele nunca se atrasa.
Às 9:15, a porta da sala de aula se abre e o Sr. Thompson entra com
outro aluno.
Pula mer...
Ele tem um rosto esculpido com olhos cinzentos calorosos e
encapuzados. Seus lábios são carnudos e firmes, com pele de porcelana
imaculada.
Seu cabelo indomado é espesso e dourado, seu corpo alto e esguio. Ele
está vestindo uma jaqueta jeans sobre uma camiseta branca, com jeans
skinny e botas de trabalho marrom claro.
— Bom dia, turma, — diz o professor. — Peço desculpas pelo atraso.
Eu gostaria de apresentar o nosso novo colega de classe a todos.
Ele acena para o cara gostoso. — Este é Max Fields, e ele se juntará à
nossa classe, então, por favor, façam com que ele se sinta bem-vindo.
Eu ouço pessoas falando baixinho enquanto o Sr. Thompson também
fala baixinho com Max.
Eu posso ouvir as garotas girando atrás de mim, e posso imaginar que
cada cara nesta sala de aula agora pensa que tem competição.
— Se você não se importa, vou sentar você ao lado de Alice aqui,
porque sinto que ela vai colocá-lo no caminho certo com o trabalho, —
diz o Sr. Thompson com um sorriso.
— De agora em diante, vocês dois serão parceiros, então cabe a você,
Max, pôr em dia o trabalho. Acho que Alice será uma ótima parceira para
você.
Eu sorrio timidamente enquanto Max se senta ao meu lado. Não
consigo pensar em nada para dizer a ele, então apenas sorrio.
— Eu sou Max, a propósito. — Ele sorri o sorriso mais perfeito.
Eu sorrio de volta. — Sim, eu deduzi isso.
— Desculpe, eu fui colocado ao seu lado. Não quero restringir o seu
estilo nem nada.
Ele é gostoso e tem senso de humor!
— Está tudo bem, de verdade. Eu trabalho melhor por conta própria,
mas não sou contra ajudar as pessoas a correr atrás do atraso.
— Eu prometo não te irritar muito então. — Ele sorri para mim. —
Mas, falando sério, por favor, me diga se eu tenho, porque eu meio que...
não tenho nenhum amigo.
— Sou uma pessoa bastante paciente, então posso aguentar qualquer
coisa. — Limpo minha garganta e pego uma caneta, então percebo que
Max não tem nada na frente dele.
Pego outra caneta e alguns pedaços de papel para ele.
— Valeu. — Ele tira a caneta da minha mão e escreve a data no topo
do papel.
— Então, o que o traz a essa cidade pequena? — Eu pergunto.
Ele não me responde de imediato, mas termina de escrever primeiro.
Então ele abaixa a caneta e olha para mim.
— Minha mãe e eu nos mudamos para cá dos Estados Unidos. O
emprego da minha mãe a transferiu, então aqui estamos.
— Qual é o trabalho da sua mãe, se você não se importa que eu
pergunte? — Eu pergunto.
Me chame de curiosa, mas qual o problema em conhecer o cara?
— Ela é enfermeira. — Ele olha de volta para o papel e pigarreia.
— Tá de brincadeira! Minha mãe também é enfermeira.
Ele olha para o jornal e sorri. — Que legal.
Assim que Max termina de falar, o Sr. Thompson bate palmas para a
sala de aula.
— Certo, hoje eu pensei que poderíamos fazer algo um pouco
diferente. Como temos Max aqui, que acabou de começar, não acho justo
ele pular direto para o assunto de hoje em seu primeiro dia.
Ele sorri calorosamente. — Portanto, gostaria que todos lessem as
seções de 'A' a 'C' e escrevessem notas sobre as variações da genética, para
que todos estejam preparados para o teste da próxima semana.
O Sr. Thompson caminha até nossa mesa e olha para nós dois
individualmente.
— Agora, Alice, eu sei que você já fez anotações sobre genética e assim
por diante, então se você puder imprimir suas anotações e entregá-las a
Max em algum momento hoje, e ele estará ajustado para a próxima
semana.
Ele olha para Max.
— Fora isso, espero que você tenha um bom primeiro dia. Alice aqui
pode levá-lo ao redor do campus para ver onde está tudo, e se bem me
lembro, você tem ginástica e basquete no final do dia.
Ele olha para mim. — Alice pode mostrar onde fica, se estiver tudo
bem para ela, ok? — Então ele bale palmas novamente, volta para sua
mesa e começa a digitar em seu computador.
— Ele com certeza gosta de falar, não é? — Max ri.
— Sim, ele é um ótimo professor.
— Você gosta dele? — Max levanta uma sobrancelha e eu começo a rir.
Eu faço uma careta.
— Oh. Deus, não desse jeito! É mais como... a maneira como ele
ensina que o torna uma pessoa tão agradável. Ele mostra muita paixão
em seu trabalho, e você pode ver claramente que ele adora ensinar. É
assim que os professores devem ser.
Desvio o olhar do Sr. Thompson para Max e vejo que ele está sorrindo
para mim.
— O quê? — Limpo lentamente o nariz e remexo o cabelo.
— Você acha que vai ficar tudo bem se eu me juntar a você no almoço?
— Huh? Oh, sim, claro. Minha amiga adoraria conhecê-lo.
Sam vai amá-lo!
— Obrigado. Fico feliz com isso.
Max e eu conversamos por duas horas inteiras. Ele me conta sobre sua
vida nos Estados Unidos e sua mãe.
Sua mãe e seu pai se divorciaram quando ele era um bebê, e eu
descobri que ele é filho único e que morava em uma casa perto do mar.
Falar com Max sobre sua infância soa exatamente como minha
educação — também sou filha única e nunca conheci meu pai.
Quando o sinal avisa o fim da aula, arrumo minhas coisas e saio da
sala com Max.
Eu vejo Sam sentada no chão com seus fones de ouvido, e quando ela
me vê com Max, ela se levanta com os olhos arregalados.
— Bem, olá, sou Sam, a melhor amiga de Alice. — Ela lambe os lábios
e não tão sutilmente o examina.
— Max Fields, é um prazer conhecê-la. — Ele põe as mãos nos bolsos e
balança os pés.
Eu olho para Sam para ver que ela ainda está olhando.
Sabia!
— Como foi o futebol, Sam?
Sam toca seu cabelo e lentamente desvia os olhos de Max para olhar
para mim. — Teria sido bom se nosso treinador realmente tivesse
aparecido.
— Ela não apareceu?
E melhor não ser uma repetição do Sr Daniels.
— Não, aparentemente a Sra. Lewis está em licença maternidade.
Portanto, não teremos futebol nos próximos meses.
— Isso é péssimo.
— Sim, bem, estou morrendo de fome. E estou morrendo de vontade
de saber tudo sobre você, Max.
Eu rio baixinho enquanto Sam puxa Max em direção ao refeitório,
mas assim que começo a alcançá-los, vejo Ryder encostado na parede, me
olhando fixamente.
Depois da noite passada, não tenho nada a dizer a ele, mas quando
passo por ele sem dizer uma palavra, posso senti-lo andando atrás de
mim.
— Qual é o seu problema? — Eu me viro e coloco minhas mãos
firmemente em meus quadris.
Ele levanta ambas as mãos. — Eu só queria me desculpar pela noite
passada.
— Por qual parte você quer se desculpar? E parece que você está se
desculpando muito comigo ultimamente.
— Eu só quero me dar bem com você, Alice. É tão difícil de acreditar?
Eu viro meus olhos.
— Olha, eu tentei explicar para você sobre o que aconteceu naquela
noite, mas você decidiu me interromper. Corrija-me se eu estiver errada,
mas é sua culpa não ter conseguido o que queria. Então, por isso, você
pode dar o fora.
— Quem é o cara novo? — Ele pergunta.
Eu olho em seus olhos, mas não consigo distinguir sua expressão.
— Ele é novo na escola, — eu respondo.
Ryder põe as mãos nos bolsos. — Eu o vi saindo com você.
— O que isso tem a ver com você?
Ele cerra os dentes. — Eu não vou te deixar sozinha. Você vai precisar
de mim para a próxima transformação, seja quando for.
Ele suspira. — Vou me certificar de que estou aqui para ajudá-la. Não
me importo com o que você diga, mas estarei lá para garantir que você
sobreviva.
Não tenho chance de responder, porque sinto outra presença se
juntando à nossa pequena conversa. A cabeça de Ryder surge e ele olha
severamente para Max.
— Alice, pensei que tínhamos perdido você. — Max puxa sua mão e se
apresenta a Ryder. — Ei, cara, sou Max Fields.
Ryder o ignora e vai embora.
— Qual é o problema dele? — Max observa Ryder ir embora com um
olhar de confusão em seu rosto.
— Sim, esse é Ryder, — eu respondo.
Eu vejo Ryder caminhando em direção a seus amigos, que estão todos
sentados em um banco perto do campo de futebol.
— Vocês dois são um...?
— Você está brincando comigo? — Eu começo a rir. — Não, nós nunca
fomos nada.
E nunca seremos.
Max e eu caminhamos em direção ao refeitório, mas enquanto
atravesso as portas, não posso deixar de sentir que estou sendo
observada.
Eu olho em direção aos bancos de piquenique do lado de fora e vejo os
olhos de Ryder, Bane, Kellan e Silver focados em mim.
Eles estão preocupados que eu conte a Max sobre eles? Sobre o que
eles são?
Não é nem meu segredo para contar.
Entro no refeitório lotado e a primeira coisa que sinto é o cheiro de
todos os alimentos diferentes que foram preparados para nós.
Eu posso ouvir todos os tipos de tagarelice acontecendo ao meu redor,
e posso ver as pessoas rindo, fofocando, brigando e socializando umas
com as outras.
Vejo Sam sentada sozinha em uma mesa circular, enviando mensagens
de texto em seu telefone, falando com Deus sabe quem.
Sento-me ao lado dela enquanto Max se senta à minha frente.
— Está meio lotado aqui, você não acha?
Max olha ao redor do refeitório, e posso ver em seu rosto que ele está
percebendo os diferentes tipos de panelinhas da escola.
— É fascinante, não é? Como você chega à escola e tem que descobrir
onde você se encaixa.
— Você descobriu onde você se encaixa? — Max sorri para mim.
Eu encolho os ombros. — Sam e eu realmente não nos encaixamos
com esse tipo de gente. Descobrimos isso logo no início, quando
começamos a escola. Somos um par tão estranho quanto você pode ver.
— Sério? — Max inclina a cabeça. — Quero dizer, que tipo de pessoa
você tem aqui?
Eu aponto para os fundos do refeitório. — Nos fundos ficam os atletas
e as líderes de torcida. Eles pensam que estão no topo da cadeia
alimentar.
— Eles acham que são melhores do que todo mundo? — Max franze a
testa.
Sam pousa o telefone e cruza os braços sobre a mesa. — Para eles,
estamos abaixo deles. Nada mais do que merda de cachorro.
Max olha para trás para olhar para os atletas, e olha fixamente por um
momento. — Ninguém deve se sentir como merda de cachorro.
Sam dá uma risadinha. — Sim, tente dizer isso a eles.
Sam se levanta e pega sua bolsa. — Vou almoçar. Mas se bem me
lembro, hoje é dia de curry, o que significa salada para mim. Ótimo. —
Enquanto Sam caminha para o bufê de saladas, alguns dos atletas dos
fundos dão um assobio. Não posso deixar de rir quando vejo Sam se virar
e mostrar o dedo do meio para eles.
— O que é isso? — Max se move ao redor da mesa para se sentar ao
meu lado.
— Sam costumava ser líder de torcida, acredite ou não. Ela costumava
ser capitã também, mas aquelas garotas lá não queriam que ela fosse
capitã, porque ela recebia toda a atenção masculina dos rapazes.
— Eu pensei que as meninas gostavam de atenção? — Max me cutuca.
— Não, Sam. Ela prefere escolher alguém de quem deseja atenção
masculina. Ela prefere perseguir do que ser perseguida.
— O que aconteceu depois disso?
— Todas as meninas do time reclamaram com o treinador que não
queriam alguém de quem não gostavam como capitã.
— Quero dizer, se você fosse um treinador, o que faria? Manter a
maior parte do time feliz e se livrar de uma líder de torcida, ou manter
uma líder de torcida e o resto do time desistir?
Eu encolho os ombros. — Então Sam saiu para manter o time feliz. Ela
ficou chateada por um tempo, mas depois foi apresentada ao futebol e
gosta ainda mais.
— Eles saíram perdendo, — Max ri. — E você?
— O que tem eu? — Eu inclino minha cabeça e sorrio.
— Você joga futebol?
— Meu Deus, não! Você nunca vai me ver jogando futebol. Ou
qualquer coisa envolvendo corrida.
Nós dois estamos rindo quando Sam volta. Ela olha para nós dois
como se fôssemos loucos, depois põe a bandeja na mesa e se senta ao
meu lado.
— O que é tão engraçado? — Sam pergunta, pegando seu garfo e
comendo seu almoço.
— Max estava me perguntando se eu jogava futebol.
Sam começa a engasgar com a comida. — Alice, jogando futebol? Você
deve estar brincando comigo. Você poderia pagar a ela muito dinheiro,
mas ela ainda não aceitaria.
— Sim, bem, eu não gostaria de jogar depois de ver fotos suas com o
rosto vermelho e as narinas dilatadas.
Sam dá de ombros. — O futebol é um jogo intenso. Ou você joga
corretamente ou fica longe do campo. — Ela se vira para Max. — Você
joga?
Ele limpa a garganta. — Não mais, mas eu costumava jogar.
— Você pratica algum tipo de esporte? — Ela pergunta, voltando a
comer sua comida.
— Você joga basquete, certo? — Eu olho para Max e o vejo sorrindo
para mim.
— Sim.
— Viu? Eu escuto. — Pego minha bolsa e me levanto da mesa. — Quer
almoçar comigo?
— Certo. — Max se levanta da mesa e me segue até a fila da comida
quente.
Enquanto esperamos na fila juntos, sinto um arrepio percorrer
minhas costas. Eu me viro para olhar para a porta do refeitório e vejo
Ryder, Bane e Silver caminhando em direção a uma mesa vazia ao lado da
nossa.
Eles se sentam, Silver sentada ao lado de Ryder com Bane do outro
lado. Kellan não está em lugar nenhum.
— Então, onde eles se encaixam? — Max gesticula com a cabeça para
os recém-chegados.
— Eles meio que ficam entre eles mesmo. — Eu me viro para olhar
para Max. — Mas honestamente? Não sei. Quer dizer, não é difícil ver os
góticos, os nerds, os skatistas e os garotos ricos... mas eles?
Eu balancei minha cabeça. — Eles realmente não têm um nome
próprio, mas todos se mantêm longe deles. Eles meio que têm uma
reputação.
Duvido que chamá-los de gangue de lobos fosse uma boa ideia.
Nós dois pegamos pratos de curry, pagamos e vamos sentar.
Sam pega sua bolsa e se levanta da mesa, segurando sua bandeja. —
Certo, eu tenho que pôr o dever de casa em dia antes da aula de
matemática. Você está trabalhando esta noite, não é?
— Sim, mas só até às seis. — Eu tomo um gole da minha bebida.
— Oh, sim, você termina a escola mais cedo nas quartas-feiras, — Sam
faz uma careta. — Sua filha da mãe sortuda. Tudo bem, vejo você
amanhã.
Eu aceno um adeus e pego meu garfo.
— Eu não sabia que você trabalhava, — Max diz. Percebo seu prato
meio vazio.
— Uh, sim, eu trabalho em uma lanchonete perto da floresta.
— A floresta? É um lugar meio estranho para jantar.
— É realmente um lugar muito bom para trabalhar. Está fora do
caminho e na maioria dos dias é muito silencioso.
Eu começo a comer minha comida de novo quando sinto as pessoas
me olhando.
— Eu irei visitar você algum dia, então.
Enquanto Max pega seu telefone, eu me viro e fico cara a cara com
Silver.
— Por que vocês estão todos olhando para mim? — Eu me certifico de
manter minha voz baixa o suficiente para que Max não me ouça.
— O que te faz pensar que estamos olhando para sua bunda feia? Você
não é nada especial para olhar, — Silver zomba.
— Silver, — Ryder avisa ao lado dela.
Ela bufa, se vira e pega o telefone.
— Ryder... — murmuro.
— Lembre-se do que eu disse, — ele rosna. Ele se levanta da mesa e sai
com seus betas a reboque. Eu suspiro e me viro.
— Tudo certo? — Max olha para mim com preocupação em seu rosto.
— Sim, está tudo bem. — Eu me levanto da mesa e pego minha bolsa
do chão. — Se você quiser, posso mostrar onde a quadra de basquete e a
academia ficam?
Ele olha para o meu prato meio comido. — Você mal comeu.
— Eu perdi meu apetite.
Deixamos nossas bandejas sobre a mesa e saímos do refeitório.
O campus da nossa escola é enorme, e não há nenhuma maneira de
Max encontrar a academia por conta própria.
Eu o levo para a parte detrás do campus, onde ficam o campo de
futebol e as quadras de basquete, e vejo que as pessoas lá já mudaram
para a prática, incluindo Ryder, Bane e Kellan.
Eu os ignoro e vou até a porta que leva aos vestiários.
— Aqui estamos. Os vestiários estão lá, e há outra porta no final que
leva ao escritório do treinador.
— Muito obrigado por isso. Eu sei que você tem outras coisas para
fazer, — Max diz.
Eu prefiro estar aqui do que em qualquer outro lugar, na verdade.
— Está tudo bem, sério. — Eu suspiro. — Estou indo para o trabalho
agora, de qualquer maneira.
Eu puxo a alça da minha bolsa com mais força para mim.
O que devo fazer agora? Abraçá-lo? Um high five? Um joia?
— Tudo bem, então. Vejo você amanhã? — Ele pergunta.
Eu sorrio. — Com certeza.
Assim que me viro para sair, ouço Max rindo atrás de mim.
— Eu teria dado um high five com você, se você quisesse.
Com um sorriso, eu rolo meus olhos e continuo andando.
Capítulo Oito
Alice

Naquela noite, quando chego ao restaurante, parece a mesma de


sempre. Praticamente vazio.
Estou surpresa ao ver que Robbie está realmente trabalhando pela
primeira vez. Ele está sentado atrás do caixa e está falando ao telefone.
Ele acena para mim quando passo por ele para entrar no vestiário.
Eu rapidamente coloco meu short preto e camiseta vermelha, amarro
meu avental branco e arrumo minha trança antes de sair para a
lanchonete.
Pego um bloco de pedidos e vou para a mesa de um casal de idosos.
— Boa tarde, posso anotar seu pedido? — Eu sorrio para o velho, que
está semicerrando os olhos para os especiais.
Eu rio e leio os especiais. — Os pratos especiais de hoje são a sopa de
legumes, curry, chili com carne, lula e bolonhesa.
— Qual é o curry, querida? — a velha pergunta.
— Temos Korma. Rogan Josh ou o Pasanda.
— Acho que o Rogan Josh? — Ele murmura assim que a mulher
responde: — Teremos o Rogan Josh, por favor, querida.
— Sem problemas. A espera não deve ser muito longa, ok? — Pego
seus cardápios e entro na cozinha, onde vejo Terry cantando junto com o
rádio.
— Ei, Terry. — Eu coloco o pedido no estande. — Você está bem?
— Estou bem, obrigado, Alice. — Ele vira uma panqueca e a pega na
frigideira.
Eu respiro fundo. — Terry, sinto muito por você ter testemunhado
aquilo na outra noite. — Eu me estremeço só de lembrar.
— Eu não vou permitir que um merdinha grite com você desse jeito,
Alice. — Terry bate a frigideira de volta no fogão com força demais. —
Você tem que se defender.
— O que você sugere que eu faça? — Eu cruzo meus braços sobre meu
peito e sorrio calorosamente.
— Chute onde dói mais. — Ele assobia. — Bem na porra das bolas.
Eu rio. — Anotado.
Estou sorrindo quando saio da cozinha, mas meu sorriso desaparece
quando vejo quem está ocupando os bancos do bar.
Ryder já está tirando uma com a minha cara, enquanto Kellan finge ler
o cardápio.
— Nem finja que está lendo isso. — Eu pego o cardápio dele.
Kellan franze a testa para mim. — Tudo certo?
— O que você acha? Estou sendo perseguida e isso está me deixando
louca! Se você acha que vou contar a Max sobre você, então não me
conhece de jeito nenhum. Não vou contar nada a ele.
Do nada. Ryder bate a mão no balcão. — Eu não dou a mínima se você
contar a ele ou não!
Tudo fica em silêncio na lanchonete.
— Por que você tem esse problema com ele? — Eu pergunto.
— Pessoal, acalmem-se. — Kellan olha com cautela entre nós.
— Você mal conhece o cara e já está defendendo ele? — Ryder cospe.
— Ele não tem sido nada além de educado com você. Como você
ousa! — Eu sibilo.
Ryder sai de sua cadeira e fica cara a cara comigo.
— Fique longe dele. — Ele aponta para mim. — Eu não dou a mínima
se ele é educado ou não. Não confio nele e não vou falar de novo. Fique
longe dele, se você sabe o que é bom para você.
— Quem diabos você pensa que é, me dizendo para ficar longe de
Max?
Eu baixo minha voz. — Eu não sou parte da sua matilha, e nunca farei.
Nunca me diga o que posso e não posso fazer, nunca mais.
Assim que termino de falar. Robbie aparece atrás de Ryder.
— Vou ter que pedir para você sair, filho. — Robbie coloca a mão no
ombro de Ryder, que ele cutuca enquanto sai furiosamente da
lanchonete.
— Tudo bem, não há nada para ver aqui, pessoal. — Robbie volta para
seu escritório.
Eu olho para Kellan para ver que ele não se moveu. — Não está
seguindo seu alfa como deveria? — Pego um pano e começo a limpar o
balcão.
— Nah, estou com muita fome, na verdade.
— Qual é o problema dele, Kellan? Se alguém vai me dizer o que está
acontecendo com ele, então é você.
— Por que eu?
Eu encolho os ombros. — Você é o lobo legal.
Kellan suspira e limpa a garganta. — Ryder está apenas protegendo
você. Você pode achar que não, mas ele está apenas cuidando de você. É
realmente triste, porque tudo o que ele quer fazer é proteger a todos.
— O que você quer dizer com isso?
Ele suspira novamente.
— A noite em que fui mordido foi a noite em que Ryder salvou minha
vida. Eu estava em uma mercearia, comprando todos os tipos de besteiras
— como todos os adolescentes fazem. Eu vi Ryder lá, e obviamente não
sabia o que ele era.
Suas mãos se torcem.
— Eu estava esperando na fila para ser servido, quando esse homem
entrou — vestido de preto, usando uma máscara de esqui. Eu sabia que
esse cara ia roubar o lugar, e eu não podia permitir isso — sendo filho de
um policial.
— Ryder estava bem longe de onde eu estava, — ele continua, — e
comecei a falar com o cara da máscara, tentando acalmá-lo, para
dissuadi-lo.
Ele balança a cabeça. — Normalmente, os ladrões são calmos; eles
sabem exatamente o que estão fazendo, mas esse cara não sabia. Ele
estava assustado. Ele não sabia o que diabos estava fazendo.
Sua voz estava tensa.
— De qualquer forma, ele entrou em pânico e atirou em mim bem no
peito. Ryder me arrastou para fora da loja, para o beco mais próximo.
— Ele me disse que eu morreria se não aceitasse o que ele estava
oferecendo. Tudo o que eu conseguia pensar era no meu pai, e eu tinha
minha resposta.
— Ele mordeu você. — Eu suspiro. — Seu pai sabe o que você é?
Kellan balança a cabeça. — Não, e eu gostaria de manter assim.
— E o homem da máscara, ele escapou?
— Sim.
Eu paro por um segundo. — Kellan, você se importa se eu fizer uma
pergunta?
— Pode fazer, — ele responde sem olhar para mim.
— Na outra noite na minha casa, por que seus olhos eram diferentes
dos de Bane e Silver?
Kellan abaixa o cardápio. — Fui transformado há menos de um ano,
alguns meses depois da morte de Anna. Quando Ryder me transformou,
ele me queria em sua matilha, mas depois de perder Anna eu só queria
ficar sozinho.
Ele lambe os lábios.
— Ryder iria à escola, para ver se eu estava bem. Ele sempre me disse
que estaria lá, sempre que eu precisasse. Algumas semanas depois, decidi
ir vê-lo. Foi quando conheci Bane e Silver.
Ele abaixa a voz. — Ryder não estava lá, e era óbvio que eles não me
queriam em qualquer lugar perto dele, ou da matilha. Então, eles fizeram
o que os betas fazem. Eles me forçaram a sair da matilha.
Eu franzo a testa. — Eles podem fazer isso?
— Como segundos em comando, eles podem. Ryder não sabia nada
sobre isso até que ele perguntou por que meu cheiro estava lá, e eles
disseram a ele. Fiquei sozinho por um tempo, mantendo-me isolado e
afastado de todos.
Ele sorri tristemente. — Isso não durou, porque Ryder me contou
sobre como Ômegas não sobrevivem por conta própria. Ele me trouxe de
volta para sua matilha.
Ele suspira novamente.
— E meus olhos? Eles são amarelos porque eu sou o mais fraco de
todos eles. Por exemplo, se estivermos lutando com outra matilha, eles
podem ver quem é o alvo mais fácil. E esse sou eu. Mas meus olhos
mudarão eventualmente.
— Espere, vocês são os únicos lobos nesta cidadezinha? — Eu
pergunto.
— Não, Alice. Somos milhares. — Kellan sorri, — E logo, você será
uma também.
Eu balancei minha cabeça. — Se eu sobreviver, o que provavelmente
não vou fazer.
Kellan se levanta de seu assento.
— Ryder vai fazer tudo o que puder para ajudá-la a sobreviver. Lutar
contra a primeira transformação foi um grande erro. Na próxima vez que
você mudar, vai sentir muita dor ou até morrer.
Obrigado, Kellan. Isso não me faz sentir nem um pouco melhor.
— Por que Ryder sente que precisa me apoiar o tempo todo? Ele não
me deve nada.
Kellan cerra os dentes e abaixa a cabeça. — Porque a mesma coisa
aconteceu com a irmã dele.
Espere. O quê?
Ryder tinha uma irmã?
Kellan limpa a garganta.
— Um tempo atrás, Ryder e sua família estavam acampando na
floresta. Ryder e seus pais frequentemente se transformavam em lobos,
mas sua irmã lutou contra cada mudança, porque temia perder o
controle.
Ele respira fundo.
— Fazer isso a enfraqueceu. Naquela noite era lua cheia e Ryder e seus
pais sabiam como controlar a transformação, mas sua irmã estava
vagando pela floresta, provavelmente juntando mais lenha para o fogo.
Ele faz uma pausa. — Quando ela não voltou por um tempo, Ryder
não conseguia entender para onde ela tinha ido. Acontece que ela se
transformou, mas ela mal conseguiu sozinha. — Kellan limpa a garganta
novamente. — Ela correu por quilômetros e acabou perto do riacho. Ela
— Anna foi encontrada em pedaços perto do rio. Eles chegaram tarde
demais.
Ryder e Anna eram irmãos!?
— Anna...? — Eu suspiro. — Sua Anna?
— A Anna pensava que ela era adotada, porque ela não se parecia em
nada com Ryder. Mas ela era tudo para nós dois.
— Kellan, eu sinto muito.
— Você nunca imaginaria que eles eram parentes, então ninguém
perguntou sobre isso. É por isso que Ryder está tentando fazer as pessoas
entenderem que se transformar não é uma coisa tão ruim.
Kellan encolhe os ombros. — Quero dizer, com certeza parecemos
assustadores e perdemos o controle na lua cheia, mas isso não é toda
noite. Ele só não quer que aconteça com você a mesma coisa que
aconteceu com Anna.
— Lutei contra a mudança porque não queria machucar ninguém, —
digo baixinho.
— Você não vai machucar ninguém, Alice, porque você tem eu e Ryder
cuidando de você.
Ele agarra minha mão suavemente e acaricia minha pele com o
polegar. — Não vamos deixar você machucar ninguém. Eu prometo.
Ele solta minha mão e recolhe sua bolsa do chão.
— Como foi o basquete? — Eu pergunto, mudando de assunto.
Kellan não me responde imediatamente. — Eu e Ryder saímos antes
de começar, assim conseguimos vir aqui para falar com você.
Eu bufo. — Pra me dar um aviso.
Kellan balança a cabeça e suspira. — Eu não posso fazer você me
ouvir, mas, por favor, ouça Ryder. Fique longe do garoto novo.
— Você também não, Kellan. — Eu digo. — O que há sobre Max que
você não gosta?
— Por favor, Alice. Apenas ouça. — Kellan fica parado por um
momento, mas quando vê que não tenho resposta, ele se vira e sai da
lanchonete.
Depois de ouvir Kellan falar sobre sua vida como um lobo, e aprender
a verdade sobre Anna, eu percebo que não tenho ideia do que esses caras
passaram.
E se tudo o que Kellan disse for verdade? Que Ryder está apenas
tentando me proteger?
Mas me protegendo do quê?
Max? Ele não tem sido nada além de gentil comigo e parece
inofensivo.
Estou caminhando para a cozinha quando ouço Robbie chamando
meu nome de seu escritório.
— Alice, você pode entrar aqui por um segundo?
— Tudo certo? — Eu inclino meu quadril contra a porta.
Robbie se vira na cadeira e alisa o cabelo oleoso para trás. — O que foi
isso agora?
Eu olho para o chão. — Apenas um mal-entendido. Sinto muito, isso
não vai acontecer de novo.
— Eu sei, Alice. Mas eu simplesmente não posso ter isso na
lanchonete, ok?
Ele me dispensa virando sua cadeira e voltando para o computador.
Entrando na cozinha, vejo Terry terminando de fazer o curry do casal
de idosos. Eu cuidadosamente carrego os pratos quentes para eles.
Depois de servir os clientes restantes, me despeço de Terry e Robbie,
tiro meu uniforme e saio da lanchonete.
Trabalhar cinco dias por semana não é tão ruim, e tenho a sorte de ter
folga às sextas e sábados.
Alguns dias, adoro trabalhar lá, porque me dá a liberdade de não ter
que me preocupar com nada.
Ou seja, quando eu não precisava me preocupar em me tornar uma
loba.
Agora, estou vivendo com medo de me transformar no pior momento
possível.
Quando chego em casa, a casa está silenciosa e todas as luzes estão
apagadas. Minha mãe provavelmente ainda está no trabalho.
Eu subo as escadas, tomo um banho e coloco meu pijama, em seguida,
desço as escadas para esquentar um pouco de sopa no microondas.
Depois de hoje, acho que não vou conseguir comer muito. No
momento em que a sopa esquenta, eu a levo para o meu quarto.
Capítulo Nove
Alice

Quando chego à escola na manhã seguinte, me pergunto que tipo de


dia está reservado para mim. Tomara que seja um dia simples.
Eu ando pelo corredor para minha aula de inglês e já vejo Sam lá, em
seu telefone. Novamente.
— Você está sempre nessa coisa. — Eu franzo a testa.
Com quem ela poderia estar falando?
Ela coloca o telefone no bolso e sorri. — Estou perseguindo
casualmente um conhecido nosso.
— E quem seria? Temos alguns desses nos últimos dias. — Eu ajusto as
alças do meu macacão e coloco as mãos nos bolsos.
— Bane, obviamente. — Sam me olha como se estivesse dizendo: —
Quem mais poderia ter sido?
— Ok, aqui vai uma boa pergunta. Por quê?
— Eu acho que você sabe o porquê. — Sam balança as sobrancelhas.
Eu viro meus olhos; ela não pode estar falando sério. — Sam, você
acha que só porque viu ele pelado, você pode persegui-lo?
Os olhos de Sam se arregalam. — Alice, ele está amarrado. E eu quero
dizer, realmente amarrado. Neste ponto, eu nem me importo com o fato
de que ele se transforme em um lobo.
Eu balanço minha cabeça, então olho para a outra extremidade do
corredor para ver Ryder encostado nos armários, olhando em nossa
direção.
— Eu vou abalar tanto o mundo dele um dia. — Sam pega seu telefone
novamente com um grande sorriso no rosto.
— Do que exatamente você está atrás? — Eu olho para ela.
Seus olhos estão grudados no telefone. — Tudo.
Estou rindo quando ela termina de falar. — Você tem um problema
sério.
Sam dá de ombros. — Só é errado se ele descobrir.
— E quando ele descobrir? Então o quê? — Eu arqueio minha
sobrancelha, esperando por sua resposta.
Sam dá de ombros. — Não vou me desculpar, se é isso que você quer
ouvir.
Eu balanço minha cabeça e viro meus olhos, então vejo o Sr. Edmund
avançando em nossa direção. Ele destranca a porta e se coloca na frente
do quadro branco.
Ele olha para cada pessoa individualmente conforme elas entram na
sala de aula, mas encara friamente os quatro que são os últimos a entrar
na sala.
— Não tomem seus lugares ainda, pessoal. Vamos ter uma pequena
mudança na sala de aula hoje, porque sinto que as pessoas do fundo não
estão se concentrando como deveriam.
Ele cruza os braços e olha para trás.
— Certo, posso pedir a Kellan que venha se sentar ao lado de Alice,
aqui na frente? E Sam, vá para a próxima mesa, por favor.
Kellan vem se sentar ao meu lado na frente. Nossa mesa está no meio,
com uma mesa de cada lado.
Ele me cutuca em saudação. Eu sorrio em resposta.
— Bane? Tire os pés da mesa agora, não vou dizer de novo. E venha se
sentar ao lado de Sam, por favor.
O Sr. Edmund está de pé na frente da mesa de Sam, esperando que
Bane se sente e então se inclina em direção ao seu rosto.
— Não vou tolerar esse tipo de comportamento em minha sala de
aula, Bane. Posso facilmente reprovar você no final do ano, visto que em
todos os testes que você fez, você conseguiu reprovar.
— Parabéns, seus pais devem estar muito orgulhosos. — O Sr.
Edmund se inclina para mais perto dele.
— Não me dê um motivo para expulsá-lo da minha classe, porque
guarde minhas palavras, Bane, eu quero você fora. Falhas não são bem-
vindas em minha sala de aula.
O Sr. Edmund pode pensar que ninguém pode ouvi-lo, mas há quatro
lobos aqui que podem ouvi-lo claramente. Também posso ouvir
claramente, mas estou sentada bem perto.
O resto da classe vai pensar que o Sr. Edmund está apenas avisando
Bane, mas eles não sabem o significado real do que está sendo dito. O
que deu nele?
Quando olho para Bane, vejo que está cerrando com força seus dentes
e seus olhos parecem querer destruir algo. Seu punho está também
cerrado com força sob a mesa, fora de vista.
Eu olho mais de perto para ver o sangue pingando de dentro de sua
palma, causado por suas garras afiadas.
Eu olho para cima em pânico, esperando que o Sr. Edmund não tenha
notado, mas sua atenção voltou para a sala de aula.
Ele aponta para o fundão. — Ryder e Silver, para a frente. Agora. Liam
e Luna, vão para trás. A linha do meio está bem, no que me diz respeito.
O Sr. Edmund espera até que todos estejam sentados, então pigarreia.
— Agora não vou poder ficar para o resto da aula, porque um novo aluno
sofreu um acidente aqui ontem.
Ele nos examina. — Eu tenho que sair para falar com ele. Não sei o
que aconteceu, mas foi gravemente ferido. Estarei de volta o mais rápido
possível.
Ele recolhe suas coisas e se dirige para a porta. — Não quero que
ninguém saia desta sala de aula, em hipótese alguma.
— Se eu ouvir que algum aluno deixou esta sala de aula, terei o prazer
de marcar todos os testes deles com um 'F'. — Ele se vira e sai pela porta
sem dizer mais nada.
Assim que a porta da sala se fecha, todos começam a conversar entre
si. Eu ouço o nome do Sr. Edmund ser mencionado várias vezes.
Eles provavelmente estão se perguntando a mesma coisa que todos os
outros. O que aconteceu que de repente o fez querer mudar a sala e se
comportar dessa maneira?
Eu olho de volta para Bane para ver que seus olhos estão bem
fechados; o suor se acumula em sua testa e ele está respirando fundo.
Sam está falando com alguém atrás dela, e posso ouvir Kellan falando
com Silver e Ryder.
Eu lentamente estendo a mão e cuidadosamente coloco minha mão
no ombro de Bane. No segundo em que faz contato, seus olhos
imediatamente se voltam para mim e ele me encara, imóvel.
— Bane? — Eu sussurro.
Ele me encara, mas permanece em silêncio.
Eu me inclino mais perto. — Bane?
— Eu estou... tentando... tentando... controlar... meu... me controlar,
— ele grunhe.
— Você precisa que eu faça alguma coisa? Você precisa de um pouco
de ar?
— Mais uma palavra e eu vou me transformar. Deixe-me em paz, —
ele rosna e sai correndo da sala de aula tão rápido que quase ninguém
percebe sua ausência.
Inclinando-se para trás em seu assento, Kellan se afasta de Ryder e
Silver. Os três franzem a testa quando percebem que Bane não está à
vista.
— Onde está o Bane?
Ryder dá a volta na minha mesa, se inclina para mim e responde: — O
que diabos você disse a ele para fazê-lo fugir daquele jeito?
Eu não esperava esse tipo de resposta de Ryder.
— Como é? Você acha que sou a razão pela qual ele foi embora? — Eu
pergunto.
— Foi você quem falou com ele por último. Eu estava observando
você, — ele rosna para mim.
Kellan vê o olhar confuso no meu rosto. — Não é culpa dela. Foi o
professor.
Ryder dá mais uma olhada para mim e sai furioso da sala de aula.
Kellan coloca a mão nas minhas costas confortavelmente. Que pena
que não quero uma massagem nas costas.
— Não leve isso a sério, — ele diz.
— Ele está tentando me proteger? — Coloco minha bolsa no ombro.
— Que monte de merda.
— Alice, você está bem? — Sam olha para mim, a preocupação gravada
em seu rosto.
— Sim, falo com você mais tarde.
Corro para fora da sala de aula e em direção ao fundo da escola, para o
campo de futebol vazio.
Quando chego ao campo, lentamente respiro fundo, prendo e solto.
Não há como explicar minha fuga para o Sr. Edmund, se ele descobrir.
Quem estou enganando? Ele nunca vai saber.
Sento-me no seco, corto a grama e olho para o céu.
Ficar sozinha com meus pensamentos é bastante pacífico, mas não
posso deixar de me perguntar quem foi ferido na noite passada.
Pode ser alguém que eu conheço? Espero que, seja quem for, não
esteja sofrendo muito.
E Bane? Espero que ele se transforme e nunca mude de volta. Nunca
vou entender o motivo pelo qual ele é do jeito que é. O mesmo vale para
todos eles, exceto para Kellan.
Desde a noite passada, sinto que entendo Kellan muito melhor.
Ainda é difícil acreditar que Anna era irmã de Ryder. Eles não se
pareciam em nada e, ainda assim, não tive o prazer de conhecê-la.
Pelo que me lembro, Anna não era nada como Ryder: na verdade, ela
era o oposto. Tenho medo de pensar no que aconteceu quando eles
encontraram o corpo dela.
Quem faria uma coisa tão animalesca?
Devo ter pensado muito, porque não ouço uma pessoa gritando meu
nome atrás de mim. Eu me viro e, de longe, vejo uma figura solitária de
pé com muletas.
Eu aperto meus olhos para ver quem é, mas está muito borrado para
distinguir a pessoa. Olho em volta para ver se é o meu nome que está
sendo chamado, mas percebo que só tem eu aqui fora.
Eu me levanto e caminho em direção à figura.
Quando chego mais perto, não esperava que essa pessoa fosse Max.
Que diabos?
Quando estou na frente dele, fico completamente sem palavras.
Todo o seu rosto está preto e azul.
Sombras negras circundam seus olhos, sua bochecha direita está
gravemente machucada e seus lábios têm o dobro do tamanho de ontem,
com cortes horríveis em ambos os lados dos lábios.
Sem falar que ele está de muletas, com Deus sabe quantos hematomas
escondidos debaixo das roupas.
— Ei, você. — Ele sorri para mim.
Como ele pode sorrir com seu rosto tão abatido?
— Max... o quê?
Ele olha para o chão. — Você notou o rosto, hein?
— É meio difícil não notar, e não é apenas o rosto.
Eu suspiro quando olho para baixo para ver que seu pé está engessado.
— O que aconteceu com você?
Ele encolhe os ombros. — O basquete é um esporte duro. Pessoas se
machucam nele.
Eu franzo a testa. — Não é duro o suficiente para ficar assim!
Ele está falando sério?
Max não diz nada.
— Será que... alguém fez isso com você?
Mas quem faria isso com um aluno novo? Simplesmente não faz
sentido.
Ele ri nervosamente. — Claro que não, Alice. Eu disse a você o que
aconteceu.
Por que uma parte de mim não está acreditando nele?
— Certo. Basquete. — Eu coloco minhas mãos nos bolsos e olho para
ele de forma pouco convincente.
— Você não acredita em mim? — Max franze a testa. — Eu não sei o
que dizer.
— Max, olhe para você! Você claramente foi espancado! — Eu grito. —
Quem faria uma coisa dessas com você?
Mais uma vez, ele não diz nada.
— Max?
Ele faz uma pausa por um segundo. — Eu não queria dizer nada.
— Sobre o quê?
Ele limpa a garganta e desvia o olhar de mim. — Algo aconteceu
ontem.
— Na escola?
Ele concorda.
— Quando você saiu ontem, entrei no vestiário para me trocar e ouvi
a porta fechando alguns minutos depois de entrar.
Ele franze a testa. — Antes que eu percebesse, fui atacado por trás. Eu
não conseguia me defender, visto que estava em menor número.
— Você viu quem era?
— Sim. — Ele olha para mim. — Era Ryder e os dois caras que
andavam com ele.
— O quê!?
Max dá de ombros. — Olha, não se preocupe com isso. É problema
meu, não seu, ok? Não sei por que isso aconteceu.
Nada disso faz sentido para mim. Por que Ryder teria como alvo
alguém como Max?
— Só não entendo por que ele faria isso com você.
Max deu uma risadinha. — É óbvio, não é? Ele quer que eu fique longe
de você.
Eu não posso evitar revirar os olhos.
Ryder não tinha o direito de fazer isso.
— Max... não sei o que dizer, a não ser que sinto muito. Ryder e eu não
somos nada um para o outro. Espero que isso não interfira em nossa
amizade.
— Claro que não, Alice. Eu só queria ver você, embora eu pareça uma
merda.
— Sim. você parece.
Antes que eu perceba, nós dois estamos rindo.
Então me lembro das anotações que tenho para ele na minha bolsa.
Abro e pego minha pasta rosa florida.
— Me desculpe por não ter dado isso a você ontem. Foi um dia meio
agitado.
Max olha para a pasta e franze o cenho. — O que é isso?
— Minhas anotações de biologia que o Sr. Thompson me pediu para
imprimir para você.
— Oh, certo. Obrigado.
Ele pega a pasta e a segura.
— Você tem certeza que você vai dar conta de tudo? — Eu me
pergunto como ele vai lidar com tudo com suas muletas.
— Na verdade, não vou ficar. Minha mãe está vindo me buscar.
Ele coloca a pasta debaixo do braço e coloca as mãos nas muletas.
— OK. Bem, eu espero que você melhore. E eu realmente sinto muito
sobre Ryder.
— Alice, você não precisa se desculpar em nome dele. Além disso, ele
obviamente me vê como uma ameaça. — Max sorri.
— Sim, acho que sim. — Eu rio — Vejo você em breve, Max.
— Até mais.
Ele se vira e sai mancando lentamente da escola.
Observá-lo andar assim desperta algo dentro de mim. Irrita-me que
Ryder faça tal coisa, especialmente quando Max estava em menor
número.
Kellan participou disso? Três lobos enfrentando um menino inocente
e inofensivo?
Que bando de monstros!
Eu deixei minha raiva assumir e correr para onde os lobos poderiam
estar. Conhecendo Ryder, ele provavelmente está na quadra de basquete.
Eu sei que estou certa quando vejo três homens passando a bola um
para o outro, todos eles sem camisa.
Ryder enrijece quando me vê se aproximando.
Ele caminha em minha direção com o mesmo olhar de antes, mas é
hora de ele se recompor, porque estou furiosa.
Quando eu o alcanço, eu não penso. Apenas ajo.
Eu bato com força em seu rosto, instantaneamente fazendo minha
palma doer.
O rosto de Ryder está além da fúria. — Que porra foi essa?
— Você sabe muito bem por que fiz isso! — Eu aponto meu dedo
direto em seu rosto.
— Que diabos você está falando? — Ele cospe.
— Não minta. Ryder! Não para mim!
Meu corpo está tremendo de tanta fúria que mal consigo olhar para
ele. Eu mal noto que ele não está usando uma camisa.
Ryder se aproxima de mim e posso ouvi-lo rosnar. — Você acha que eu
mentiria para você?
— Explique os ferimentos de Max então! Por que você fez aquilo?
Ele parece surpreso. — Não sei do que você está falando.
Eu empurro seu peito, que é tão incrivelmente sólido que ele não se
move.
— Pare de mentir para mim! Você sabe exatamente o que fez com
Max.
Ryder pega minhas duas mãos e as prende nas minhas costas. — Eu
não fiz nada com ele.
Bane e Kellan correm em nossa direção, provavelmente se
perguntando o que está atrasando seu alfa. Ambos usam expressões
confusas.
— Vocês dois viram o estado dele? — Eu grito.
— O que está acontecendo aqui? — Bane franze a testa.
Tento me livrar do aperto de Ryder, mas paro quando percebo que ele
é muito forte.
— Solte-me!
Ele me libera instantaneamente.
Eu olho para cada um deles individualmente. — Por que vocês fizeram
isso?
Kellan franze a testa, enquanto Bane ainda parece confuso. — Alice,
do que você está falando?
— Você fez parte disso também. Kellan? — Eu exijo.
Eu não posso deixar de me sentir magoada que Kellan possa ter
participado disso. — Max? O novo cara? Não se lembram? Vocês sabem, o
cara que vocês três bateram ontem.
Nenhum deles diz uma palavra.
— Vocês três são inacreditáveis, sabiam disso? Eu não esperava isso de
você, Kellan. Talvez deles, mas não de você!
Eu sinto minha raiva aumentar, então ouço Bane e Ryder rosnarem.
— Vocês me enojam. — Eu me viro para sair, mas alguém agarra meu
braço. Eu viro meus olhos quando vejo que é Ryder.
— Você já teve a chance de falar, agora é a minha vez de falar, — diz
ele.
Ele se inclina para mim e toca os lábios na minha orelha. Meu corpo
inteiro estremece quando ele sussurra para mim.
— Nunca mais me dê um tapa, senão terei que fazer algo a respeito.
Agora, sobre bater em seu precioso amigo. Se bem me lembro. Kellan e
eu estávamos na lanchonete logo depois que você saiu ontem. E Bane?
Ryder encolhe os ombros. — Ele não dá a mínima para ninguém, mas
como ele não sabe do que diabos você está falando, acho que você está
perdida aqui.
Ele se afasta de mim, com Bane em seus calcanhares.
Kellan permanece olhando para o chão. — Você realmente acha que
faríamos algo assim?
— Kellan, eu não sei em que acreditar agora, e se você visse o estado
em que Max está, você também não saberia o que pensar.
— Alice, nós não saímos por aí batendo nas pessoas.
— Então como você explica os ferimentos de Max? Você sabia que ele
está de muletas?
A voz de Kellan começa a aumentar. — Então você acha que nós
fizemos isso? Se achar, obviamente não sabe quem somos.
— Então por que ele acusaria vocês três e mentiria para mim?
Kellan encolhe os ombros. — Você está perguntando para a pessoa
errada.
Eu permaneço em silêncio.
Kellan me olha com simpatia, então se vira e se junta aos outros na
quadra.
Mesmo que uma parte de mim ainda pense que Ryder leve algo a ver
com Max, Kellan tem razão.
Talvez eles não tivessem nada a ver com os ferimentos de Max. Então,
novamente, por que ele mentiria para mim?
Estou balançando a cabeça no momento em que entro no refeitório.
Vejo Sam imediatamente no bufê de saladas enchendo seu prato com
alface e pepino.
Ela vê a fúria em meu rosto e caminha direto para mim. — Por que
você parece que está prestes a matar alguém?
— Eu te conto mais tarde, depois que eu me acalmar um pouco.
— Tão ruim assim?
Eu concordo. — Sim. Estaria tudo bem se eu fosse até sua casa esta
noite? Vou ligar dizendo que estou doente no trabalho.
— Você sabe que é sempre bem-vinda, — diz ela.
Depois de almoçar com Sam, nos separamos para nossas últimas aulas
do dia — Sam para matemática e eu para francês.
Quando o sinal toca para o fim das aulas, os alunos enchem os
corredores enquanto saem pelas portas gigantescas da escola.
Decido esperar por Sam ao lado de seu Porsche preto, e quando ouço
assobios vindo dos atletas, sei que ela está por perto.
Ela revira os olhos e balança a cabeça ao se aproximar. — Todo dia,
porra.
Ela destranca o carro e nós duas entramos.
— Você realmente ama isso. — Eu pisquei.
Sam me mostra o dedo do meio e liga o carro.
Capítulo Dez
Alice

— Você deu um tapa nele!?


Sam e eu sentamos em sua cama, comendo chocolates e assistindo
Gossip Girl. Antes de chegarmos à casa dela, eu disse a ela tudo sobre
Max, e o que ele me disse.
— Sim, e eu também não me arrependo. Isso é ruim?
Sam bufa. — Você está brincando comigo? Ele teve o que mereceu.
— Só não sei em quem acreditar. — Pego um pedaço de chocolate e
coloco na boca.
Ela encolhe os ombros. — Quero dizer, entendo suas razões. Você tem
Ryder, que é um alfa com sua própria matilha.
— Mas não sabemos que tipo de matilha eles são, ou o que fazem, ou
do que são capazes. Mas eles realmente não parecem tão ruins.
Ela faz, uma careta. — Sim, eles podem ter problemas de raiva, mas eu
nunca os ouvi ou os vi espancando uma pessoa aleatória antes. Quanto a
Max, não temos ideia de quem ele é, ou de seu passado.
Ela morde o lábio. — Quero dizer, acabamos de conhecê-lo ontem e
ele parece um cara genuinamente legal, mas não o conhecemos de
verdade.
Ela abaixa o volume da TV. — Estamos em um impasse, Alice.
Eu deito de lado e suspiro. — Simplesmente não faz sentido! Por que
Max diria que aqueles caras bateram nele? A menos que Ryder seja um
bom mentiroso, ou ele tenha feito uma lavagem cerebral em sua matilha
para acreditar que eles não o fizeram.
— Olha, eu acho que foi um longo dia. Precisamos relaxar, não
mencionar nenhum garoto, e apenas assistir Chuck Bass sendo sexy.
— Parece ótimo, mas sou mais ã de Nate Archibald, — brinco.
Depois de horas assistindo TV e comendo pilhas de chocolate,
decidimos dormir cedo.
Saio do quarto dela e desço até a cozinha para tomar um copo de leite,
quando sinto minha cabeça começar a latejar. Provavelmente é causada
pela gritaria e pelo estresse de hoje.
Eu pego um copo, abro a geladeira e pego o leite.
Enquanto eu despejo o leite no copo, meu corpo inteiro parece que
está passando por uma onda de calor, e tudo ao meu redor começa a se
confundir.
Oh, não! Por favor, não!
Minhas pernas cedem debaixo de mim, e o vidro em minha mão se
estilhaça no chão em um milhão de pedaços. Há um sabor metálico na
minha boca que tem muito gosto de sangue.
Eu sinto uma dor agonizante na minha cavidade oral que é
insuportável, e eu cuidadosamente corro minha língua ao longo da
minha boca, congelando ao sentir dentes caninos afiados se formando
em cima dos meus dentes humanos.
Minha audição fica mais clara, o que me permite ouvir meu coração
disparado dentro do peito. Tremendo de medo, minhas pernas ficam
dormentes e eu dobro no chão de quatro.
Posso ouvir Sam descendo as escadas correndo, gritando meu nome
repetidamente, mas não tenho forças para responder.
A dor no estômago torna-se tão insuportável que fica difícil respirar
direito. Meus braços começam a doer por tentar manter a postura ereta
ainda.
O que não espero é que minhas mãos comecem a doer. Eu aperto os
olhos com força, tentando me concentrar na minha mão esquerda para
ver o que está causando a dor.
Minhas unhas se alongam em garras afiadas. A dor é insuportável.
Está realmente acontecendo! Estou me transformando.
Minha visão embaçada me permite ver uma forma entrando na
cozinha. No momento em que Sam me vê no chão, tremendo
incontrolavelmente, ela grita tão alto que machuca meus tímpanos.
Ela se agacha na minha frente. — Alice?
Ela coloca a mão suavemente no meu ombro.
— Por favor, me ajude. — Eu coloco minha cabeça no chão de
ladrilhos para me refrescar.
— O que você quer que eu faça? Diga-me como posso ajudar! — Ela
chora.
— Avise o... Ry-Ryder. Ele pode ajudar.
Sam já está pegando o telefone dela.
Não sei por que pedi a Sam para ligar para ele, mas que outra escolha
eu tenho?
Talvez com sua orientação, ele me ajude a sobreviver a essa
transformação. Uma coisa é certa, não aguento mais essa dor.
Se isso acontecer toda vez que eu me transformar, acho que não terei
forças para fazer isso.
— Está acontecendo! Então, traga sua bunda de lobo para minha casa
agora mesmo! — Sam grita. Ela bate o telefone no receptor e corre de
volta para mim.
— Ele está vindo, Alice. Tudo ficará bem.
Depois do que pareceu horas, nós duas ouvimos a porta da frente
bater. — Alice!
— Ela está aqui. Depressa! — Sam grita do chão ao meu lado.
Ryder aparece na porta da cozinha, vestindo nada além de jeans preto.
— Você não poderia pelo menos colocar uma camisa antes de vir aqui?
— Sam arqueia uma sobrancelha, mas Ryder a ignora e se agacha ao meu
lado.
Ele coloca a mão suavemente na minha testa e sibila.
— Ela está muito quente. — Ele balança a cabeça em consternação.
— O que você sugere que façamos? Movemos ela?
— Sim. — Ele cuidadosamente me pega e me carrega para fora da
cozinha. — Onde é o banheiro?
— Você deveria movê-la? Ela não parece nada bem. Ela está muito
pálida.
— Sam! Onde fica o seu banheiro? — Ryder grita.
— Lá em cima, primeira porta à direita.
Sam o segue a cada passo do caminho. — O que você vai fazer?
Ele sobe as escadas correndo para o banheiro e me senta no vaso
sanitário. Eu mal consigo me manter em pé, mas Sam pega minha mão
para me firmar.
— Vamos colocá-la na banheira e enchê-la com água fria. — Ele abre a
torneira fria e se vira para mim enquanto a água sai.
— Você vai ficar bem. — Ele segura minhas bochechas. — Eu não vou
deixar nada acontecer com você.
Não posso fazer nada além de olhar para ele. Tento muito dizer algo,
qualquer coisa, mas paro quando percebo que não posso. É como se eu
estivesse lutando para formar palavras.
Ryder percebe e franze a testa para mim. Com sua mão, ele abre
minha boca e suspira.
— Os dentes dela estão começando a aparecer.
Ele se volta para a banheira e fecha a torneira.
— Isso é uma coisa boa? — Sam pede.
— E uma coisa boa, porque significa que a mudança não será tão
complicada.
Ryder me coloca em pé e agarra a bainha do meu macacão.
— O que você pensa que está fazendo? — Sam fica nervosa enquanto
ela empurra as mãos dele para longe de mim.
— O que parece que estou fazendo? Estou tirando a roupa dela.
Ryder desabotoa as alças e remove a roupa, deixando-me apenas com
uma camisa de mangas compridas e minha calcinha.
Meu corpo está incrivelmente fraco para discutir com ele sobre isso.
— Eu não acho que ela aprovaria que você a visse de calcinha.
— Não acho que ela esteja no seu perfeito juízo para decidir se aprova
ou não. — Ele agarra a bainha da camisa e a levanta até o meu abdômen.
Sam levanta ambos os braços acima da minha cabeça. Ela fica sem ar.
— Veja! Seus dedos.
Garras. Garras afiadas como navalhas.
— Eu sei. — Ryder me pega com cuidado e me coloca na água fria.
Suspiro de alegria quando meu corpo toca a superfície fria. Eu agarro
seu braço.
— Quanto tempo mais? — Eu me esforço para dizer.
Ryder afasta meu cabelo. — Não muito, agora.
Ele sai correndo do banheiro.
Sam se senta na banheira e sorri para mim. — Você está bem? Você me
assustou muito.
Eu fecho meus olhos com força quando a dor em meu abdômen
começa a queimar. — Eu só quero que isso acabe.
Sam tira minha mão da água e a segura com força. — Eu também.
Ryder volta para a sala com um cobertor.
— O que acontece agora? — Sam sai do caminho para Ryder me pegar
na água.
— Eu preciso deitá-la. de preferência em algum lugar que seja
confortável. — Ele me envolve no cobertor e me pega novamente.
— Ela pode deitar na minha cama. — Sam mostra o caminho para o
quarto dela com Ryder me levando logo atrás.
Quando chegamos ao quarto, Ryder me coloca no chão suavemente e
me olha.
— Ela vai ficar bem?
— Seus dentes e garras se formaram perfeitamente, mas... — Ryder
coloca a mão no meu abdômen.
— Mas o quê? — Sam se senta ao meu lado na cama.
— Os ossos dela precisam quebrar, e não vai ser nada bonito.
Ryder segura minha mão de forma tranquilizadora.
Sam cruza os braços sobre o peito. — Será a última coisa que
acontecerá com ela? Porque eu não aguento vê-la assim.
— Sam, isso precisa acontecer, quer ela goste ou não. Ela foi estúpida
o suficiente para resistir na primeira vez. Ela poderia ter evitado tudo
isso, se ela tivesse me ouvido.
Sam pula da cama para confrontar Ryder. — Como você ousa falar
sobre ela assim. Não é culpa dela!
Estou deitada na cama, encharcada de suor, todo o meu corpo em
uma dor indescritível, quando os percebo discutindo.
Eu luto para abrir minha boca, para fazê-los parar, mas não posso
fazer nada além de ouvi-los.
Quanto tempo mais?
De repente, minhas costas arqueiam para fora da cama, e ouço o
estalo de meus ossos quebrando e se reformando por todo o meu corpo.
Estou gritando com a dor dilacerante que está causando dentro de
mim. Sam e Ryder param de discutir quando ouvem o grito ensurdecedor
que sai da minha boca.
— É isso. — Ryder me ajuda a sair da cama e gentilmente me coloca
no chão.
— Oh, meu Deus, está acontecendo, — Sam grita.
— Sam, fique quieta. — Ele segura minhas bochechas. — Você está
indo muito bem.
— Eu vou morrer? — Estou tentando me concentrar no rosto de
Ryder através de uma névoa embaçada.
— Com certeza, não. Você sabe por quê, Alice?
— Por quê?
Os ossos das minhas pernas começam a quebrar, fazendo-me gemer
de dor.
— Porque eu não vou deixar você morrer. Eu sei que dói, mas esta é a
pior parte, e então está tudo acabado. Você nunca terá que passar por isso
novamente.
Eu aceno enquanto ele se afasta de mim. — Precisamos dar espaço a
ela.
Ele agarra o braço de Sam e a puxa em direção à porta.
Eles me deixam no chão em completa agonia. Eu sinto tudo dentro de
mim esquentando.
O silêncio da sala é interrompido por sons mais intensos de meus
ossos quebrando, fazendo-me sentir vontade de me soltar.
Os ossos do meu rosto doem tanto que não consigo evitar que
lágrimas caiam.
Sam luta contra os braços de Ryder. — Deixe-me ir até ela! Ela está
tendo problemas! — Ela grita.
Ryder grunhe quando ela dá uma cotovelada em seu peito. — Ela está
fazendo o que precisa ser feito!
Quando sinto que os ossos começam a mudar o formato do meu
rosto, tento gritar. Mas não é um grilo que sai da minha boca.
Em vez disso, é um uivo alto e penetrante que é alto o suficiente para
assustar qualquer criatura viva nas proximidades.
A vontade de explodir vem, quase inesperadamente. Sinto que uma
bomba está prestes a explodir dentro de mim. E então acontece.
Estou de quatro, meu corpo perfeitamente formado em uma loba.
Meu instinto de loba assumiu o controle de todo o meu corpo e estou
sem palavras. Estou me olhando à distância no espelho de Sam que vai
até o chão.
Tudo o que posso fazer é olhar. Não há palavras.
Meu corpo parece tão forte e musculoso.
A pele branca como a neve cobre todo o meu corpo. Tenho dentes
brancos e afiados, e orelhas compridas e pontudas.
Eu viro minha cabeça para olhar para Sam e Ryder, e vejo seus olhos
arregalados em choque. Nenhum deles diz uma palavra.
Eu ando com as pernas instáveis e me aproximo deles. Ryder me olha
direto nos olhos e congela. Por alguma razão, isso me faz começar a
rosnar diretamente para ele.
— Por que ela está rosnando para você? — Sam pergunta a ele da
porta.
— Alice me conhece, mas sua loba não. Ela acha que eu sou uma
ameaça para ela.
— E você é?
— Veremos o que ela tem a dizer. — Eu inclino minha cabeça quando
Ryder começa a se transformar sem esforço em um lobo.
E por lobo, quero dizer um alfa.
O que vejo é uma grande massa negra de pelo com olhos vermelhos
brilhantes. Eu posso me sentir encolhendo quando o ouço soltar um uivo
alto e longo.
Suas orelhas estão levantadas e apontadas para a frente; suas presas e
dentes estão cerrados.
Ele está me mostrando claramente quem é o alfa.
Eu abaixo minha cabeça em submissão, esperando que ele perceba que
eu não o estou desafiando, mas a próxima coisa que eu sei é que estou
levantando minha cabeça e rosnando de volta para ele.
Sam olha para nós dois com perplexidade. — Não se atreva!
Ryder se vira e rosna para Sam, fazendo-a pular de medo.
Vê-la assustada desperta algo dentro de mim, e então estou me
lançando direto em Ryder, indo direto para seu rosto.
Ele percebe e me ataca.
— Pare! Vocês dois vão se machucar! — Sam começa a gritar quando
nos vê lutando vigorosamente no chão.
Eu tiro Ryder de cima de mim e avanço contra ele novamente, apenas
para ser empurrada fortemente em direção ao espelho. Assim que meu
corpo entra em contato com ele, os cacos de vidro se quebram com o
impacto.
Deito no chão por um segundo, depois me levanto, com a adrenalina
aumentando, e ataco novamente as costas de Ryder.
Quando Sam se junta a nós, Ryder mudou de volta para sua forma
humana. Vestindo apenas as calças, ele olha para mim com uma carranca
no rosto.
— Transforme ela de volta ao normal! — Sam grita.
Ele se vira para ela com um rosnado. — Não me diga o que fazer.
— Transforme-a, agora!
Ryder a ignora e se agacha ao meu lado.
Estou fraca demais para sair da minha posição no chão e acho que ele
também sabe disso.
Ele envolve seus dentes em volta do meu pescoço e me puxa de cima
dele, e ele não me solta.
Ele me puxa do pescoço, passa por Sam, sai do quarto e desce as
escadas. Ele me segura com tanta força que é impossível escapar.
No momento em que chegamos ao jardim de Sam, Ryder me solta e se
afasta.
Eu me deito e fecho os olhos. Não sei como, mas sinto meu corpo
mudar de repente, e sem nenhum esforço.
Estou ciente de que não estou vestida e que Ryder está sentado ao
meu lado, mas não me importo mais em parecer decente para ninguém.
— Saia daqui! — Sam cutuca Ryder para fora do caminho e coloca um
cobertor fofo sobre mim.
Eu reúno forças para me sentar no chão e me enrolar.
Eu olho para Sam e vejo seus olhos se enchendo de lágrimas. — Alice?
Eu paro por um minuto, e dou uma risada. — Eu estou viva!
Sam começa a rir também. — Eu sei! — Ela se estica e me abraça com
força.
— Você me viu!? — Eu suspiro.
— Eu vi tudo e não poderia estar mais orgulhosa de você!
Então eu me lembro da luta. — Sam, sinto muito pelo seu espelho!
Ela encolhe os ombros. — Não se preocupe com isso. Nem foi sua
culpa. — Ela olha para trás e dá uma risadinha.
Eu me viro e encontro o rosto inexpressivo de Ryder.
— Você me deve um espelho novo! — Sam marcha para dentro de casa
e bate à porta atrás dela.
Envolvida no cobertor, eu me levanto do chão e fico de pé. Nenhum
de nós se move.
Depois de alguns minutos, Ryder decide quebrar o silêncio.
— Você não viu seus olhos, não é? — Ele franze a testa.
— Não, — eu respondo sem rodeios. O espelho estava muito longe
para que eu pudesse ver de perto.
Ryder não diz nada. O que ele viu?
— Havia algo de errado com eles?
Ele não diz nada e desvia o olhar.
Estou começando a ficar impaciente com ele. — Ryder!
Sua cabeça vira para olhar para mim. — A cor dos seus olhos foi...
inesperada.
— Por quê? De que cor eles eram?
Ele faz uma longa pausa. — Vermelho.
Uma pausa.
— O quê? — Eu sussurro.
— Vermelho. Seus olhos estavam vermelhos.
O quê? Certamente ele está mentindo...
Ryder limpa a garganta e franze a testa. — Você é uma alfa.
Capítulo Onze
Alice

— O quê? — Eu gaguejo. — Isso é impossível!


Eu não posso acreditar no que estou ouvindo; simplesmente não faz
sentido.
Eu? Uma alfa? Isso não parece certo.
— Eu sei, mas é o que você é, — diz Ryder.
— Sim, mas como? Você deve saber sobre essas coisas! — Eu exijo.
Como alguém que sempre foi um lobo a vida inteira, ele deveria saber
por que isso aconteceu.
Mas ele balança a cabeça. — Não sei! Estou tão confuso quanto você.
Nenhum de nós diz, nada por um tempo; Acho que ambos estamos
em choque.
— E a propósito, estou bem. Obrigada por perguntar.
Ryder me olha confuso. — O quê?
Eu coloco minhas mãos em meus quadris. — Você esqueceu a parte
sobre você me atacar?
— Você está falando sério? Porque, se bem me lembro, foi você quem
começou.
Eu viro meus olhos. — Muito maduro.
Eu me afasto dele, volto para a casa e vejo Sam limpando o leite e o
copo do chão.
— Sam. deixe-me fazer isso.
Ela coloca o vidro quebrado na lata de lixo e sorri para mim. — Está
feito. Não se preocupe com isso. — Ela aponta para fora. — Ele foi
embora?
— Infelizmente, não. — Eu enrolo o cobertor mais apertado em volta
de mim.
Ryder entra na cozinha. — Eu posso ouvir você, você sabe. — Ele fecha
a porta e se encosta nela.
Sam vai até ele e aponta o dedo para o meio de seu peito. — Você pode
sair agora.
Ele a ignora e se aproxima de mim. Seus olhos me acariciam.
Homens...
— Você está bem, pelo menos? — Ele pergunta.
— Como se você se importasse? — Eu me viro e subo as escadas: Eu o
ouço me seguindo.
— Acredite ou não, eu realmente me importo com você. Eu não
estaria aqui se não me importasse.
Quando chego ao banheiro, ignoro Ryder, pego minhas roupas do
chão e vou para o quarto de Sam para me trocar.
Vejo os cacos de vidro quebrados por todo o carpete e sinto uma
grande culpa. Vou ter que comprar um novo para ela.
— Minha transformação foi um sucesso. Você não é mais necessário,
— eu digo brevemente.
De costas para Ryder, deixo cair o cobertor, ouço-o respirar fundo
atrás de mim.
— Alice, você não quis dizer isso.
— Na verdade, quis. E, por falar nisso, ainda não esqueci o que você
fez.
Pego a camisa e coloco sobre a cabeça.
Eu sinto a presença de Ryder, chegando cada vez mais perto. Ele para
bem atrás de mim e ouço sua respiração no meu pescoço.
— Espero que você não esteja falando sobre quem eu penso que está.
Quando ele coloca as mãos em meus quadris, minha respiração
aumenta.
— O que você fez foi imperdoável.
Imaginar o rosto espancado de Max, e ele de pé de muletas, traz de
volta a raiva que senti hoje cedo.
Ryder se inclina perto do meu ouvido, sua boca tocando levemente o
topo da minha orelha. — E eu disse que não fui eu.
Todo o seu corpo enquadra o meu tão perfeitamente que me inclino
ligeiramente para trás em seu corpo alto.
Ele se inclina para frente, envolve seu braço em volta da minha
cintura e me puxa para mais perto dele. Sinto seu peito quente e sólido
nas minhas costas.
— Como posso saber se você está dizendo a verdade? — Eu pergunto.
— Você apenas terá que confiar em mim. — Ele esfrega o nariz atrás
da minha orelha, causando um arrepio nas minhas costas.
Eu escapei de seu aperto. — Já basta.
Eu me viro para encará-lo. Ele está mordendo o lábio, com os olhos
fixos em mim. Eu puxo minha camisa para baixo e me cubro.
— Qual é o problema? — Ele diminui a distância entre nós
novamente. — Você não me quer?
Não há nenhuma maneira de eu chegar perto dele assim de novo.
Estou andando para trás, sem ideia do que está atrás de mim. —
Nunca mais me toque assim de novo.
Quando minhas costas encontram a cômoda de Sam, eu rapidamente
coloco meu braço na minha frente para impedir que Ryder se aproxime.
Ele agarra meu pulso e o puxa em direção ao seu peito.
Eu sinto minha mão descendo, e antes que eu perceba. Ryder está bem
na minha frente.
— O que você pensa que está fazendo? — Eu olho para o chão.
Ele coloca a ponta do dedo sob meu queixo e o levanta. — Fazendo o
que eu deveria ter feito há muito tempo.
Ele se abaixa e coloca as mãos atrás das minhas pernas.
— O que isso significa? — Eu pergunto.
Ryder se inclina para mais perto. — Você sabe exatamente o que isso
significa.
Ele me levanta pelas pernas e me senta em cima da cômoda, com
minhas pernas enroladas em sua cintura. Minhas mãos ficam grudadas
na borda da cômoda.
— Você vai me impedir? — Ryder acaricia minhas coxas, olhando nos
meus olhos.
Eu me encontro balançando a cabeça.
No momento em que o faço, a boca de Ryder toca a minha, seus lábios
macios e suaves. Sua língua invade minha boca e começa a lutar
agressivamente com a minha.
Uma das mãos de Ryder segura minha nuca com força enquanto ele
controla o beijo, enquanto a outra mão se move sob minha coxa.
A maquiagem e o perfume de Sam caem da cômoda na nossa pressa
de nos aproximar. Ele puxa meu cabelo e desce pelo meu pescoço,
beijando cada parte de mim que ele toca.
Eu só posso fechar meus olhos e aproveitar o momento.
Eu passo minhas mãos pelo seu cabelo. Ele beija o vale entre meus
seios.
Eu não posso deixar de estremecer com o contato. Nenhum homem
jamais beijou essa parte de mim.
Justamente quando sinto suas mãos em meus seios, sinto outra
presença entrando na sala.
— Vocês só podem estar brincando comigo.
Ambas as nossas cabeças balançam para a porta, mas nenhum de nós
se move da posição em que estamos.
— Com licença? — Ryder rosna para Sam, o que me acorda do meu
transe.
O que diabos estou fazendo? Não deveria beijar Ryder.
— Na verdade, não dou licença. Essa é a minha melhor amiga que
você estava atacando agora. — Sam está com as mãos na cintura.
Ryder caminha até ela com os punhos cerrados. — Eu não estava
maltratando ela. Ela parecia angustiada ou desconfortável para você?
— Ryder, você não estava aqui esta noite? Ela está em um estado que a
torna vulnerável a qualquer coisa.
Eu saio da cômoda e continuo me vestindo.
— Você não sabe do que diabos está falando, Sam, — diz Ryder.
Ela zomba. — Apenas saia, ok? Ela teve uma noite difícil e precisa
descansar.
Meus olhos estão voltados para baixo quando ouço Ryder se
aproximando de mim. — Alice?
Ele segura minhas bochechas suavemente. — Você quer que eu saia?
Eu me movo para fora de seu domínio e olho para longe. — Sim.
Eu ando até a janela, mostrando minhas costas a Ryder. Ele não se
move imediatamente, como pensei que faria.
Alguns segundos se passam antes que ele saia da sala e desça as
escadas. Eu ouço a porta da frente se fechando.
Sam geme. — Se ele quebrou a porra da porta, não há como explicar
isso aos meus pais.
Da minha posição na janela, vejo Ryder, vestindo apenas calças,
correndo no meio da estrada.
Em um segundo ele é humano, no próximo ele está transformado.
— Alice?
Meus olhos ainda estão grudados em Ryder fugindo, — Sim?
— Você está bem? Você não falou muito desde que se transformou de
volta. — Sam para atrás de mim.
Eu me viro e sorrio para minha melhor amiga. — Estou bem. Graças a
você.
— Se algo tivesse acontecido com você... — Lágrimas começam a
brotar em seus olhos.
— Sam, não fique assim. — Eu coloco minhas mãos em seus ombros.
— Esta noite, qualquer coisa poderia ter acontecido, mas ainda estou de
pé e estou bem.
Sam esfrega os olhos e sorri. — Você se sente diferente?
Eu deixo cair minhas mãos e encolho os ombros. — Não me sinto
diferente de antes, mas acho que algumas partes de mim irão mudar
eventualmente. Como minha audição e minha capacidade de cheirar as
coisas com mais clareza.
Ela vai até a cômoda e dá uma risadinha. — E sua libido.
— Como é?
Ela parece surpresa. — Você não sabia disso?
Ela ri para si mesma. — Se você assistir Vampire Diaries, saberá que seu
desejo sexual se torna mais intenso.
— O que isso quer dizer?
Ela bufa. — Significa que você vai querer sexo o tempo todo.
— Não tem como isso ser verdade, Sam, e além disso, isso é um
programa de TV. Isso não significa que seja verdade.
Sam me olha com uma expressão de nojo. — Oh, sério? Então não foi
você agora, tentando comer a cara de Ryder? — Ela arqueia uma
sobrancelha.
Beijar Ryder foi um grande erro. Tento apresentar uma explicação
razoável para o porquê de ter feito o que fiz, mas não encontro nada além
de que foi um erro.
— E não tente me dizer que não significava nada, porque, acredite,
não parecia ser nada.
— Simplesmente aconteceu. Eu não posso acreditar que deixei isso
acontecer.
Sam me olha com um sorriso enorme. — Viu? Chama-se libido.
Eu aperto a ponta do meu nariz, e fecho os olhos. — Ok, já chega de
conversa sobre sexo.
— Só estou dizendo que toda a sua vida está prestes a mudar, virgem.
— Ela sorri para mim.
Ser virgem não é realmente grande coisa — eu já tive namorados
antes, mas prefiro perder isso com alguém que realmente me importo.
Além disso, não há pressa em perdê-lo.
Tenho apenas dezoito anos e não tenho pressa. Ao contrário de Sam,
que perdeu a virgindade aos dezesseis anos.
— Tenho certeza que vou ficar bem, Sam.
Ela pega a maquiagem e o perfume e os coloca de volta na cômoda. —
Se você diz, mas acredite em mim, você e Ryder estavam bem de ver
juntos.
— Sam!
— Imagine fazer isso com um lobo. Com Bane. Você acha que com ele
é de sexo violento com muito suor envolvido, ou de sexo lento e
apaixonado? — Ela arqueia uma sobrancelha para mim.
Encontro-me saindo de seu quarto para, de alguma forma, escapar. —
Não estou falando sobre isso com você.
Ela continua. — Sim, mas você não está um pouco curiosa sobre como
é o sexo?
Eu me viro para olhar para ela. — Honestamente, eu não pensei sobre
isso. Nem passou pela minha cabeça.
Ela mostra a língua de brincadeira. — Até agora.
— Olha, acabamos de nos beijar, só isso. Nada demais.
Fim de discussão.
Eu me viro e entro na cozinha para colocar a chaleira no fogo. — Chá?
— Por favor.
Sam se senta à mesa e tira o telefone do bolso.
— Posso te fazer uma pergunta?
Ela coloca o telefone na mesa e franze a testa. — Claro.
— Como você conseguiu o número de Ryder?
Ela muda seu peso no assento e brinca com seu telefone.
— Eu peguei outro dia na escola, quando você e Max estavam
pegando comida juntos. Ryder se sentou na mesa ao lado. Ele queria
trocar números, caso algo acontecesse com você, então eu dei a ele.
— Oh. Então que bom que você tinha.
Coloco duas colheres de chá de açúcar em cada caneca, pego dois
saquinhos de chá, despejo a água quente e o leite nas canecas, jogo fora o
saquinho de chá e mexo o chá.
Então pego as duas canecas e as levo para a mesa.
— Olha, ele veio aqui esta noite para te salvar, o que obviamente
significa que ele se importa. A primeira coisa que ele perguntou ao
atender o telefone foi se você estava bem, — diz ela.
Ela toma um gole de chá. — Ele não precisava vir aqui esta noite, mas
ele veio. Por você.
Não tenho nada a dizer sobre isso, então pego minha caneca e tomo
um gole.
— Você pode ficar aqui esta noite se quiser, — diz Sam.
Coloco minha caneca de volta na mesa e suspiro. — Você não vai se
importar? Não fui a melhor companhia até agora.
Ela me olha em estado de choque. — Alice, você passou pelo inferno
esta noite, e não é sua culpa. Culpe o lobo que mordeu você.
— Eu não quero ser assim para sempre. E se houver uma cura em
algum lugar?
Sam balança a cabeça. — Alice, eu não acho que haverá. Esta nova
parte de você estará com você para o resto da sua vida. De alguma forma,
você apenas terá que aceitar isso. Mesmo se você não quiser.
Eu reprimo um bocejo e aceno. — Sim, acho que você está certa, mas
ainda não consigo acreditar que isso está acontecendo comigo.
Simplesmente não está certo.
Ela sorri de forma tranquilizadora para mim. — Não há nada de
errado em ser o que você é, embora isso vá mudar sua vida. Você deve
aceitar a mudança.
Não digo nada de imediato, mas uma parte de mim acredita no que
ela diz.
— Você tem razão. Não posso mudar o que aconteceu, então tenho
que viver com isso.
Sam se levanta da cadeira, leva sua caneca para o lava-louças e boceja.
— Você já deveria saber que estou sempre certa.
— Isso não é discutível. — Eu sorrio enquanto me levanto da mesa.
— Você pode dormir no quarto de hóspedes se quiser, para ter mais
privacidade.
Ela acena enquanto sobe as escadas. — Boa noite.
— Boa noite, — eu sussurro.
Enquanto coloco minha caneca na máquina de lavar louça e vou até o
quarto de hóspedes, penso sobre os eventos desta noite.
Consegui me transformar sem machucar ninguém além de Ryder e, de
qualquer forma, não foi ele quem se machucou.
De certa maneira, fiquei feliz por ele estar ali comigo, mas não posso
deixar de pensar no beijo que compartilhamos.
Encará-lo amanhã não é algo que me entusiasma. Evitá-lo parece uma
ótima ideia agora.
Quando chego ao quarto de hóspedes, vejo que Sam me deu algo para
vestir para dormir.
Eu tiro minhas roupas, visto o moletom e vou para a cama.
No momento em que minha cabeça bate no travesseiro, sinto meus
olhos ficarem pesados e logo descubro que não consigo manter os olhos
abertos.
Capítulo Doze
Alice

É o último dia da semana e eu não poderia estar mais feliz porque


finalmente é sexta-feira. Esta semana foi mais do que louca e estou
pronta para deixar isso para trás.
Quando Sam vem me acordar às oito, eu me levanto, tomo um banho
e visto as roupas que Sam me deu — jeans skinny preto e uma camiseta
de uma banda que não conheço.
Quando desço, vejo que a mãe de Sam, Sally, preparou o café da
manhã para nós duas.
— Bom dia, Alice, você dormiu bem? — Sally pergunta. Ela pega a
chaleira fumegante e põe a água quente em três canecas.
Eu sorrio enquanto me encaminho para a mesa. — Bom dia, Sally. Na
verdade, dormi melhor do que pensava.
Eu cruzo meus braços sobre a mesa e olho para a janela.
— Sam deve descer em um minuto. Ela provavelmente está tentando
decidir o que vestir para a escola. — Sally traz uma caneca de chá e a
coloca na minha frente.
Agradeço a ela e coloco minhas mãos em torno da caneca quente para
mantê-las aquecidas.
Ela traz um prato de torradas com manteiga para a mesa e se senta ao
meu lado.
— Como vão as coisas em casa? Sua mãe está bem? — Ela pega um
pratinho do meio da mesa e pega um pedaço de torrada.
As coisas em minha casa estão meio estranhas, com os
acontecimentos recentes.
Antes de ser mordida, eu nunca tive um menino em minha casa,
muito menos quatro lobisomens em minha sala de estar.
Eu tomo um gole da caneca e olho para a mãe da minha melhor
amiga. — Está tudo bem. Mamãe está sempre trabalhando no hospital,
então eu mal consigo vê-la.
Sally sorri calorosamente.
— Sua mãe sempre foi uma workaholic. Lembro-me de quando ela e
eu íamos para a escola. Ela sempre carregava uma caixa de lenços com ela
o tempo todo, apenas no caso de alguém ter um sangramento nasal.
Eu rio. — Parece minha mãe. — Pego uma torrada e dou uma
mordida.
— Tudo bem na escola? Sam mencionou que você tem um novo
professor de inglês? — Sally olha para trás no relógio e balança a cabeça.
Eu concordo. Eu mencionei o que aconteceu com o Sr. Daniels com
ela, ou não?
— Sim, o Sr. Edmund assumiu a matéria. — Eu limpo minha garganta.
— E a escola? O mesmo de sempre, eu acho.
Sally levanta uma sobrancelha. — O que isso quer dizer?
— Quer dizer... — Antes que eu tivesse a chance de responder, sou
interrompida.
— O que significa que é um ritual absolutamente sem sentido, cheio
de adolescentes hormonais que babam mesmo com um ligeiro decote, —
Sam interrompe.
Eu olho para minha melhor amiga com minha boca escancarada:
atordoada em silêncio.
Bem quando eu acho que sua mãe vai gritar com ela por ser grosseira,
Sally me surpreende explodindo em uma gargalhada. — As palavras que
saem da sua boca, Sam.
Ela se levanta da mesa e esvazia o conteúdo na pia. — Você é
definitivamente minha filha.
Sam zomba. — E eu pensava que era adotada. — Ela pega uma maçã
da fruteira que fica na ponta da mesa.
— Desculpe desapontá-la, querida. — Sally beija o topo da cabeça de
Sam e pisca para mim. — Vocês, meninas, tenham um bom dia na escola.
Ela acena e sai da sala.
Quando a porta da frente fecha, eu sorrio para Sam. — Você gostaria
de ser adotada?
— Você também gostaria, se ouvisse o que está acontecendo nesta
casa. — Sam olha no microondas e se olha no reflexo. — Eles são
insaciáveis.
Posso ter vomitado um pouco na boca ao ouvir sobre a vida amorosa
dos pais de Sam.
Como melhores amigas, é bom saber que ela se sente confortável em
compartilhar coisas comigo, mas compartilhar coisas sobre seus pais
pode ser um pouco pessoal demais.
— Isso é um pouco de informação demais, Sam.
Ela se vira. — Aposto que sexo com Ryder estava em sua mente na
noite passada.
Eu gemo. — Você pode, por favor, não falar mais sobre a noite
passada. Eu me sinto estranha que você tenha testemunhado isso.
— Por favor. — Sam zomba. — A noite passada não foi nada
comparado com o que eu fiz. Meus pais me pegaram fazendo coisas
muito piores.
Eu me levanto da mesa e pego meus sapatos e bolsa de onde os deixei
ontem, debaixo da escada.
— Certa vez, meu pai perseguiu um cara com um taco de beisebol nas
mãos. Ele nunca mais voltou. — Sam pega suas chaves e abre a porta da
frente.
— Eu não culpo o pobre coitado. Ninguém iria querer mexer com o
seu pai.
— É para isso que servem os pais. Para perseguir todos os caras do
planeta que querem namorar sua filha. Quero dizer, o que seu pai...
Eu me viro para vê-la cerrando os olhos com força. — Merda. Eu não
deveria ter tocado no assunto. Sinto muito. Alice.
No passado, quando as pessoas faziam uma pergunta simples como:
— O que seus pais fazem?, — eu sempre respondia com uma mentira.
Mas depois de dezoito anos, aprendi a aceitar o fato de que ele não vai
voltar para mim e minha mãe. Além disso, depois de todos esses anos,
acho que ela não gostaria de ter algo com ele.
Lembro-me dos dias em que ela se trancava no quarto e nunca mais
saía. Eu ficava sentada do lado de fora da porta do quarto dela por horas,
apenas para ter certeza de que ela ainda estava respirando.
Sendo tão jovem, eu não sabia o que estava acontecendo, apenas que
não havia nada que eu pudesse fazer para deixá-la feliz.
Ainda vejo isso às vezes, em seu rosto quando ela não está olhando —
o olhar distante em seus olhos — e me faz pensar se ela ainda sente falta
dele.
Foi difícil ver minha mãe perdida daquele jeito. Nunca mais quero vê-
la nesse estado novamente.
Eu encolho os ombros. — Não há nada para se desculpar. Não é sua
culpa que meu pai simplesmente se levantou e foi embora.
Ela suspira. — Eu sei que não falamos sobre isso. É só que, por quê? —
Ela balança a cabeça. — Você já se perguntou por que ele foi embora?
— Sim, mas depois de todos esses anos parei de perguntar, porque
nunca vou encontrar a resposta. Ele se foi e eu prefiro que ele não volte.
— E se ele voltasse?
Eu cerro meus dentes. — Eu o faria saber que ele cometeu um grande
erro ao voltar aqui.
Quando chegamos à escola, ambos nos separamos para as aulas; Sam
indo para a matemática enquanto eu caminho para a biologia.
Eu silenciosamente ando até minha mesa na frente, então percebo
que Max ainda não chegou.
Talvez ele esteja atrasado?
Ele provavelmente perdeu o ônibus ou algo assim. Eu entenderia se
ele não viesse, depois do que aconteceu com ele ontem.
Não posso deixar de imaginar seu rosto espancado e quero dar uma
olhada nele, para ver se ele está bem.
Quando o Sr. Thompson entra na sala de aula, ele coloca sua pasta de
couro marrom em sua mesa e bate palmas para chamar a atenção de seus
alunos.
— Bom dia a todos. Para a aula de hoje, gostaria que todos fizessem
uma revisão individual para o teste da próxima semana. Qualquer
dúvida, é só me perguntar.
O Sr. Thompson olha ao redor da sala de aula, acena para si mesmo,
depois se vira para se sentar atrás de sua mesa e liga seu laptop.
Durante a hora da aula de biologia, não consigo me concentrar em
olhar as notas que fiz sobre as variações da genética.
Eu desisto no meio da aula e observo o relógio tiquetaqueando em vez
disso.
Suspiro de desprezo quando ouço o sinal do fim da aula. Não
aguentava mais ficar sentada.
Eu recolho minhas anotações e saio da sala de aula para ir para a
minha próxima aula. Inglês.
Quando viro a esquina, vejo Sam encolhida sobre o telefone com um
sorriso enorme no rosto.
— Bane finalmente enviou a você um pedido de amizade no
Facebook? — Eu a cutuco enquanto esperamos o Sr. Edmund chegar.
Ela faz um beicinho. — Ainda estou esperando por isso, mas encontrei
algo melhor.
Eu levanto minhas sobrancelhas. — O que você achou?
Sam abaixa o telefone e olha para mim. — Você quer ir a uma festa
hoje à noite?
Essas não eram as palavras que eu esperava que ela dissesse.
— E alguém que conhecemos dando uma festa? — Eu pergunto.
Eu realmente não conheço muitas pessoas na escola, então
provavelmente é um dos amigos de Sam.
— Meio que sim. — Ela morde o lábio.
— Oh, Deus, de quem é a festa?
Sam limpa a garganta e murmura enquanto ela desvia o olhar de mim.
— Sam?
— Não fique chateada comigo!
— De quem é a festa?
— Bem! E na casa do Ryder. Mas eu realmente quero ir. Por favor,
venha comigo, Alice!
Ela está praticamente me implorando e causando uma cena na frente
de nossa classe.
Quando estou prestes a responder, o Sr. Edmund vira a esquina em
seu casaco azul marinho e calça preta. Para um professor, ele se veste
muito bem.
Ele destranca a porta da sala de aula e conduz todos para dentro, em
seguida, espera na frente da sala de aula, de pé em frente à minha mesa
com um sorriso malicioso no rosto.
Sento-me quando de repente toda a sala fica em silêncio. Eu entendo
tudo quando vejo Ryder e sua equipe entrarem na sala.
O Sr. Edmund os observa atentamente enquanto eles se sentam.
— Não estava claro ontem? — A voz do Sr. Edmund atrai a atenção de
todos.
A classe permanece em silêncio.
Tento pensar sobre o que o Sr. Edmund está falando, lembrando-me
do que aconteceu na aula de ontem.
Mas os únicos eventos de que me lembro ontem são a transformação,
a luta com Ryder e os ferimentos de Max.
O Sr. Edmund me olha desapontado. — Alguém pode me lembrar o
que eu disse ontem, antes de ter que sair para tratar de um assunto
importante?
Dou uma olhada em Ryder para vê-lo recostado em sua cadeira,
observando cada movimento do Sr. Edmund.
Ele parece exausto, mas minha atenção é atraída de volta para a frente
quando ouço meu nome sendo chamado.
— Sim, senhor? — Eu pergunto.
Ele cruza os braços sobre o peito e se move para ficar bem na frente da
minha mesa. — O que eu disse a todos para não fazerem antes de eu
deixar esta sala de aula?
Eu limpo minha garganta e balanço minha cabeça. — Não sei.
Ele inclina a cabeça e franze a testa. — Você não sabe?
— Não, senhor.
Minutos passam e ninguém diz uma palavra.
Então, do nada, o Sr. Edmund bate o punho na minha mesa com um
som alto e ensurdecedor que ecoa por toda a classe.
Ele me encara um pouco mais, balança a cabeça e fica em frente à
mesa de Ryder.
— Sr. King, você se lembra do que eu disse ontem? — O Sr. Edmund
coloca as mãos nos quadris, sem dar sinais de que doeu.
Ryder permanece em silêncio.
— Certamente você pode se lembrar? Não?
Eu observo um Ryder carrancudo para o professor.
— Não gosto do tratamento silencioso. Ryder.
O Sr. Edmund se inclina direto para o rosto de Ryder. — Quero dizer,
é realmente tão difícil lembrar o que eu disse? Vou tomar isso como um
sim. Você é surdo? Incompetente? Ou apenas preguiçoso?
Novamente, Ryder não diz nada.
— Você me decepcionou, Ryder, assim como a Alice aqui.
O Sr. Edmund espera um pouco mais na mesa de Ryder, em seguida,
caminha em direção à mesa de Bane.
— E quanto a você, Bane? Você será o único a me dizer o que eu disse
ontem?
Bane olha para ele com desgosto. — Não.
O Sr. Edmund ri e caminha até a porta da sala de aula. — Visto que
esta lição não saiu como planejado, a aula está encerrada.
Os alunos começam a recolher suas coisas e correm para sair da sala
de aula. Ainda confusa, eu olho para Sam ao vê-la sorrindo enquanto se
levanta de sua cadeira e sai da sala.
Ela provavelmente está esperando por mim do lado de fora da sala
para que ela possa me implorar para ir à festa com ela hoje à noite.
Assim que me levanto da cadeira, o Sr. Edmund fecha a porta para que
todos os únicos na sala de aula sejamos eu e os quatro lobos.
O professor olha para Bane, Ryder e eu. — Vocês três podem me fazer
companhia na detenção, começando às duas e meia.
Ele então olha para Kellan e Silver. — Vocês dois sabem ouvir
claramente melhor do que esses três.
Ele sorri enquanto abre a porta. — Com sorte, desta vez vocês não
esquecerão, ou haverá sérias consequências.
Não posso comer durante o intervalo do almoço. A ideia de comer
qualquer coisa me dá náuseas.
Sam continua implorando e implorando para que eu vá esta noite, e
depois de dizer não continuamente para ela, ela simplesmente não
desiste.
Depois da centésima vez, finalmente digo a ela que irei, mas apenas
por um tempinho.
Dizer que ela está feliz é um eufemismo. Ela grita tão alto que todos
no refeitório a encaram.
Depois do almoço, Sam me diz que ela vai sair mais cedo e se preparar
para esta noite, porque ela quer ficar perfeita para Bane, mesmo que ela
fique bem em absolutamente qualquer coisa.
Às duas e meia, chego em nossa aula de inglês, onde a detenção está
sendo mantida. Abro a porta para ver o Sr. Edmund já em sua cadeira.
Ele indica para eu entrar e sentar. Sento-me no lugar de sempre na
frente e espero por mais instruções.
Depois de ontem à noite, pensei que uma parte de mim se sentiria
diferente, como se eu fosse capaz de ouvir e cheirar coisas que nenhuma
pessoa comum poderia, mas até agora, não houve nada.
A porta se abre e Ryder entra, seguido por Bane.
Ryder puxa a cadeira ao lado da minha, enquanto Bane se senta
sozinho em outra mesa.
O Sr. Edmund se levanta de sua cadeira e encara cada um de nós
individualmente.
— Ontem vocês três decidiram desobedecer às minhas ordens saindo
desta sala de aula. Portanto, vocês vão ficar aqui até o final do dia.
— Vou permitir que vocês falem, mas vocês não vão, repito, não vão
poder sair desta sala. Eu fui claro? — Ele continua.
Nem Bane nem Ryder disseram uma palavra.
Murmuro baixinho: — Sim, senhor.
Enquanto o Sr. Edmund se senta, pego minhas anotações de biologia e
finjo olhar para elas, tentando parecer ocupada.
Ryder se recosta em sua cadeira com uma perna apoiada na outra,
enquanto Bane coloca a cabeça na mesa.
— Você está bem? — Eu ouço uma voz perguntar.
Eu viro minha cabeça em direção a Ryder. — Estou bem.
Um momento de silêncio. Eu volto para minhas anotações.
— Tem certeza?
— Sim.
Outro momento de silêncio.
— Você vai apenas sentar aí e me ignorar?
— Eu não estou te ignorando. Estou apenas revisando para o meu
teste.
Ele zomba. — Certo. Eu sei o que você está fazendo.
— E o que exatamente é isso? — Meu foco continua no papel.
— Não finja que a noite passada nunca aconteceu, porque aconteceu.
Eu o encaro, minha voz aumentando um pouco. — Nada aconteceu,
então esqueça!
A cabeça do Sr. Edmund levanta-se dos papéis à sua frente. — Psiu!
— Continue dizendo isso a si mesma, Alice, porque nós dois sabemos
que você me queria.
— Isso foi um erro! — Eu assobio.
Ryder olha para mim com raiva, então se empurra para fora da mesa e
joga sua cadeira no fundo da classe.
O Sr. Edmund permanece sentado em sua cadeira com uma expressão
de tédio no rosto.
— Pegue a cadeira e sente-se, Sr. King.
— Nah, dane-se isso.
Ele chama Bane e os dois saem da sala de aula.
Fico em estado de choque no momento em que o Sr. Edmund
caminha casualmente para a frente da minha mesa.
— Que hoje seja o primeiro aviso, Alice. A desobediência não é
tolerada em minha sala de aula. Nunca. Esses dois não voltarão para esta
aula depois do comportamento desta tarde.
Ele estreita os olhos. — Uma coisa que direi é que a aconselharia a
pensar cuidadosamente sobre com quem você anda.
Ele se volta para sua mesa. — Você está dispensada, Alice.
Eu rapidamente pego minhas coisas e saio correndo da sala de aula.
No final do dia, decido surpreender minha mãe no hospital com um
jantar mais cedo.
— Oh... ei, Alice.
Ele permanece sentado na cadeira.
— Você parece muito melhor do que ontem, — eu digo.
Não há palavras que eu consiga formular. Max foi espancado até não
sobrar quase nada ontem, mas hoje parece bem ileso.
— Sim, minha mãe tem poderes de cura. — Ele ri nervosamente.
Eu olho para sua perna e não vejo nenhum gesso também. — E sua
perna?
Ele encolhe os ombros. — Minha mãe pode consertar qualquer coisa.
Eu disse ontem que não era nada para se preocupar. Olhe para mim,
estou bem.
Eu franzo a testa, tentando encontrar uma explicação razoável para
como ele passou de uma aparência de boneca de pano surrada a
completamente bem, mas volto de mãos vazias.
— Então, o que te traz aqui? — Ele pergunta.
Mostro a ele a sacola de comida chinesa. — Trouxe o jantar para
minha mãe. O que te traz aqui?
— Vou levar minha mãe pra casa.
Eu aceno em compreensão quando ouço minha mãe gritando meu
nome. — Alice! Que surpresa!
Eu a abraço com força. — Sim, trouxe sua comida favorita, chinesa, já
que você nunca tem a chance de comer nos fins de semana.
Ela sorri. — Muito obrigado. Gostei da surpresa.
— Quando você sai do trabalho?
— Tarde, querida.
Como sempre.
Ela pega a bolsa de mim e beija minha testa. — Você tem planos com
Sam hoje à noite?
— Há uma festa esta noite e eu disse a ela que iria, mas...
— Sem desculpas! Você está indo. É fim de semana e você merece se
divertir. — Ela me abraça de novo e vai embora.
— Há uma festa hoje à noite? — Max pergunta atrás de mim.
— Sim, mas é na casa do Ryder. — Encaro Max enquanto ele se
levanta de sua cadeira.
— Você acha que eu poderia ir com você?
— Para alguém que foi espancado por eles, você não parece tão
incomodado.
Ele encolhe os ombros. — Qual é o mal em ir à festa deles, certo?
— Tem certeza que quer ir?
— Sim, por que não? Não é como se nada fosse acontecer.
E assim partimos, juntos.
Capítulo Treze
Alice

A primeira coisa que faço quando saio do hospital é enviar uma


mensagem de texto para Sam com o endereço da festa.
O meu lado sensato me diz para não mandar uma mensagem de texto
para ela e, em vez disso, ir para casa, onde posso me sentar com um bom
livro ou fazer o dever de casa.
Mas depois desta semana, sinto que ir esta noite para a festa e tomar
alguns drinks não faria mal a ninguém. Porque, pela primeira vez na
minha vida, posso deixar meu cabelo solto e me divertir.
Não terei que me preocupar em me transformar inesperadamente; Eu
provei tudo o que preciso provar. Não vou deixar que nada me impeça de
me divertir um pouco.
— Então, onde é essa festa? — Max pergunta enquanto tira as chaves
do carro e as gira em torno de seus dedos.
— Eu não sei, mas eu mandei uma mensagem para Sam. Ela
provavelmente está lá agora, dançando nas mesas ou algo assim.
Ele ri. — Isso é algo que ela faz em todas as festas?
Eu estremeço com uma rajada de vento que passa, esfregando minhas
mãos.
— Ela gosta de se divertir, o que é o oposto de mim. — Eu suspiro e
balanço minha cabeça em desespero. — Eu nem sei por que estou indo
para essa festa. Quero dizer, eu odeio atividades sociais.
Max tira sua jaqueta de couro e a coloca em volta dos meus ombros.
— Aqui, isso vai te aquecer.
Ele aperta o botão para destravar seu Range Rover preto, então fica do
lado do passageiro, coloca a mão na porta e olha para mim.
— Você vai hoje à noite porque quer cuidar da sua amiga, e isso faz de
você uma boa pessoa. Talvez você saiba, no fundo, que ela precisa de
alguém para cuidar dela.
Eu considero suas palavras e aceno lentamente.
Ele abre a porta do carro e espera que eu me sente antes de fechá-la.
Naquele momento, recebo uma mensagem de Sam com o endereço.
Eu mostro para Max assim que ele fecha a porta.
A primeira coisa que noto quando chegamos mais perto de nosso
destino são os carros alinhados ao longo da calçada e as pessoas
espalhadas por toda a propriedade.
Eu vejo pessoas dançando e bebendo. Alguns já estão desmaiados.
Saio do carro e caminho ao lado de Max em direção à casa, a música
tocando tão alta que posso reconhecê-la de fora.
A casa está escondida, como se as árvores estivessem bloqueando
propositalmente outros de vê-la. Não consigo imaginar como deve ser a
casa de Ryder.
Eu olho ao redor, mas não vejo nada além de árvores. Imediatamente
me pergunto o que se esconde além dessa floresta.
Max e eu seguimos um caminho que leva mais para dentro da floresta,
coloco minhas mãos em sua jaqueta para me aquecer.
De repente, cheiro o aroma inebriante de almíscar e agulhas de
pinheiro invadindo o ar fresco.
Ando um pouco mais longe e chego a um vão na floresta, onde vejo as
chamas bruxuleantes de uma fogueira. Eu olho para cada pessoa
individualmente, mas não vejo nenhum rosto reconhecível.
Passamos pela fogueira sem olhar para trás e chegamos lentamente à
casa.
Uau...
É a única palavra que me vem à mente quando olho para a casa de
tirar o fôlego.
E cercado por vidro e, do ponto exato até onde estou, posso ver tudo.
As pessoas estão dançando juntas, jogando beer pong, e algumas até
mesmo dando shots no corpo.
Felizmente, Sam não está se envergonhando lá.
Decido entrar antes que possa mudar de ideia e subo as escadas de
dois em dois degraus. Max pode escolher se vai seguir ou ficar do lado de
fora, mas preciso encontrar alguém.
Eu empurro os corpos no meu caminho, recebendo olhares feios e
murmúrios que são muito baixos para eu entender.
Finalmente chego à sala de estar, onde vejo muitas pessoas se beijando
e fazendo coisas que gostaria que levassem para fora.
As pessoas dançam no meio da sala, mas Sam não está em lugar
nenhum. Eu olho para trás para ver Max abrindo caminho com o olhar
de aborrecimento em seu rosto.
Eu chamo seu nome, mas ele é abafado pelo som da música.
Decido procurar Sam na cozinha, onde a primeira coisa que vejo é
uma garota deslumbrante apoiada no balcão de aço, usando um vestido
prateado justo coberto de brilhos.
No minuto em que os olhos de Silver encontram os meus, ela revira os
olhos.
— Se você está tentando chamar a atenção de Ryder, ele não vai nem
te olhar vestida assim. — Ela olha meu jeans skinny preto, a camiseta da
banda e a jaqueta de couro.
Eu a ignoro e vou direto ao ponto. — Você viu Sam em algum lugar?
— Por que eu me importaria com onde sua amiguinha irritante está?
— Ela pega o copo ao lado dela e esvazia tudo.
— Porque estou tentando procurá-la, e eu realmente agradeceria se
você pudesse me indicar a direção certa.
Silver desce do balcão e balança sedutoramente para ficar na minha
frente.
— Claro, vou apontar a direção certa. Vá encontrar Sam você mesmo,
saia desta casa e fique longe do que é meu. Caso contrário, vou te dar
uma surra.
Eu olho para ela em confusão. — O que você está falando?
— Fique longe de Ryder.
— Eu não poderia me importar menos com ele. Tudo que eu quero
fazer é encontrar Sam, porque ela veio sozinha, e eu só quero ver se ela
está bem.
— Olha, pequena loba. Você não tem o que fazer aqui, então pegue
sua bunda loira inútil e dê o fora da minha propriedade.
— Eu não vou a lugar nenhum até encontrar Sam.
Ela suspira. — Você nunca escuta, não é?
De repente, Max vem se juntar a nós na cozinha, o alívio escrito em
seu rosto. — Eu não sabia como passar sem irritar alguém.
Silver zomba de Max. — O que diabos você pensa que está fazendo?
— O quê? — Max parece surpreso.
— Quem disse que você poderia vir a esta festa? — Ela coloca as mãos
nos quadris.
— Bem, eu pensei que se alguém está dando uma festa, então todos
são obrigados a vir.
Silver responde. — Você pensou errado, novato. É melhor você tomar
cuidado, antes que alguém lhe mostre como as coisas são realmente
feitas por aqui.
Max endireita os ombros e se aproxima dela. — Silver, não é?
Ela arqueia a sobrancelha em confirmação.
— Veja, de onde eu venho, as pessoas geralmente não falam assim e se
safam. Posso não ser bom o suficiente para passar por um cara legal ou
durão, mas pelo menos tenho a decência de tratar os outros com respeito
Ele zomba dela.
— É justo se você não gosta de mim, porque verdade seja dita,
também não gosto muito de você. Mas da próxima vez que você me
ameaçar, ou a qualquer pessoa de quem gosto, Silver, você não gostará do
resultado. Eu garanto a você.
Silver balança a cabeça e murmura: — Você está morto. — Então ela
vai embora.
Ele se vira para mim com um olhar inexpressivo no rosto. — Você já
encontrou a Sam?
Eu balancei minha cabeça.
— Vamos revistar a casa. Tenho certeza que ela está bem.
Conhecendo Sam, ela provavelmente está em algum lugar realmente
óbvio. Ela se mistura tão bem com essas pessoas.
Talvez ela tenha encontrado um cara com quem passar a noite e não
queira ser incomodada. Contudo, como uma amiga preocupada, só quero
ver por mim mesma se ela está bem.
À minha esquerda, posso ver três portas, uma das quais está aberta,
outra entreaberta e a última totalmente fechada.
Eu olho para a direita e vejo outras três portas, duas das quais estão
abertas e uma fechada.
Com minha nova habilidade, tento o máximo que posso ouvir a voz de
Sam, mas não consigo. Não tenho ideia de como usar a audição de lobo.
Com um suspiro de desapontamento, caminho para o lado esquerdo
da casa e fico cara a cara com a porta que está entreaberta.
O quarto está totalmente escuro, e a primeira coisa que noto é o
cheiro característico de cerveja e o som de vozes masculinas profundas.
Abro a porta lentamente, apenas para ver Bane e Kellan jogando o que
parece ser um jogo de tiro em primeira pessoa.
No momento em que ponho o pé dentro, ambas as cabeças se viram
em uníssono em minha direção. Eles demoram um pouco para perceber
quem eu sou.
Bane me olha por um segundo, mas perde o interesse e continua
jogando. Kellan, no entanto, sorri e se levanta de sua posição no sofá.
— Alice! Eu não sabia que você viria à nossa festa incrível! — Ele me
pega do chão e me aperta com força contra o peito.
Eu faço uma careta. É muito difícil respirar, considerando sua força e
o cheiro inconfundível de cerveja. — Por favor, me solte. Você está
fedendo a álcool.
Kellan apenas ri. — Posso estar bêbado agora, mas ainda estou feliz
em ver você.
Ele me solta, vai se sentar no sofá e pega o controle. Aproveito esta
oportunidade para perguntar se algum deles viu Sam.
— Ei, pessoal, vocês viram Sam em algum lugar? Ela disse que estaria
nesta festa, mas não consigo encontrá-la.
Kellan pensa por um momento, então acena com a cabeça. — Eu a vi
algumas horas atrás, mas ela estava mais interessada em nossa grande
besta sexy aqui.
Kellan cutuca Bane sugestivamente, mas recebe o que soa como um
rosnado ameaçador em retorno.
— Onde ela está agora? — Eu pergunto.
Kellan encolhe os ombros. — Não faço ideia. Em um minuto ela
estava em cima de Bane, e no próximo ela saiu correndo chorando.
O que ele poderia ter feito para fazê-la fugir?
— Bane?
Ele não me responde.
— Bane. O que você fez?
Espero alguns segundos para ver se ele vai dizer alguma coisa. Quando
percebo que ele não vai me responder, vou até a TV e a desligo.
— Qual é o seu problema? — Ele ruge em agitação.
— Agora mesmo, você é meu problema, idiota. O que você fez com
Sam?
— Quem diabos é Sam?
Eu não posso acreditar que esse é o cara que ela está atrás.
Minha paciência está começando a se esgotar. — Sam? A garota com
quem você estava fugiu chorando.
— Eu faço muitas meninas chorarem. Isso é o que torna mais fácil
esquecer seus rostos.
Bane me dispensa enquanto se levanta do sofá e olha pela janela, onde
vê pessoas lá fora curtindo a festa.
— Isso não é uma piada, Bane. Apenas me diga aonde ela foi, por
favor. Estou começando a pensar que algo ruim aconteceu com ela, e
com os assassinatos acontecendo...
Ele suspira e se vira para olhar para mim e Kellan.
— Relaxa. Ela me seguiu até aqui, mas eu disse a ela para me deixar
em paz porque ela estava tentando muito chamar minha atenção. Ela
optou por ignorar isso e começou a me apalpar. Então, posso tê-la
insultado.
— Eu pensei que você gostava quando as mulheres ficavam um pouco
brincalhonas com você? — Kellan pisca brincando para Bane.
— Cale a boca, Kellan!
Kellan pode se divertir, mas eu certamente não. — Então, depois que
você a insultou, ela fugiu? Você sabe para onde?
— Não estou nem aí, mas ela correu para o banheiro do outro lado do
corredor.
— Viu? Foi realmente difícil me dizer?
Eu saio e vou para o outro lado do corredor. Não tenho ideia de qual
dos três quartos é o banheiro, então decido bater na porta fechada e
esperar pacientemente.
— Sam? — Escuto atentamente qualquer coisa do outro lado, mas não
ouço nada.
Eu chamo seu nome novamente, então ouço passos do outro lado do
corredor e vejo Kellan.
— Ela está aí, — ele diz.
— Como você sabe com certeza? — Tento a porta apenas para
descobrir que está trancada.
— Eu a ouço chorar ali há mais de uma hora.
— Você poderia ter me dito isso antes!
— Eu estava jogando. Eu queria vencer Bane porque ele continuou me
massacrando!
— Eu realmente não poderia me importar menos! Apenas me ajude a
tirá-la de lá!
Para nossa surpresa, a porta se abre. A primeira coisa que vejo é o
rosto manchado de lágrimas de Sam. Rímel escorre por ambas as
bochechas.
— Vocês são tão barulhentos que eu não conseguia nem me
concentrar em chorar mais.
Eu a puxo para meus braços. — Você me assustou pra caralho quando
eu não pude te encontrar. Comecei a pensar o pior.
Ela se afasta e enxuga os olhos. — Esta noite não foi como eu
esperava, mas eu só quero ir para casa e dar o fora daqui.
Kellan agarra suas mãos e sorri de forma tranquilizadora. — Ignore
Bane e o que ele disse a você. Ele é assim com todo mundo. Ele
provavelmente se intimidou com a sua beleza.
Sam sorri de volta para ele, mas não diz nada em resposta.
Isso é um blush?
— Eu acho que alguém precisa parar com o álcool... — eu digo.
A porta do outro lado do corredor de repente se abre. Bane desce
correndo as escadas, gritando para Kellan segui-lo.
Nós três seguimos Bane para fora, onde toneladas de pessoas pararam
e criaram um círculo ao redor da fogueira.
É difícil ver o que está acontecendo dentro do círculo, mas com Bane
abrindo caminho para a frente, logo se revela quem está lá dentro.
A primeira coisa que vejo são dois corpos masculinos dando socos um
no outro. De repente, os dois caem no chão, mas seus rostos ainda estão
olhando para longe de mim.
O maior tem cabelos pretos e músculos, enquanto o menor tem
cabelos dourados.
O garoto maior dá uma cabeçada no outro, então ganha a vantagem
sentando-se em cima do abdômen do outro e soca-o repetidamente no
rosto.
O homem menor fica imóvel no chão até que o homem de cabelos
escuros se levante do chão e ruja em triunfo.
Mas quando seus olhos verdes encontram os meus, eu congelo e corro
para o corpo ensanguentado deitado no chão.
Eu corro passando por Silver, que está aplaudindo para Ryder com um
sorriso no rosto.
Deitado de costas, encharcado em seu próprio sangue, com seu rosto
irreconhecível, está Max.
Ele está tão coberto de hematomas e cortes que, sem saber a cor de
seu cabelo, eu não saberia dizer que era ele.
Ajoelho-me ao lado dele, sentindo-me aliviada ao ver seu peito
subindo e descendo lentamente.
Eu acaricio suavemente sua bochecha ensanguentada, mas quando ele
tenta falar, o sangue escorre de sua boca.
— Shhh, — eu imploro. — Tente não falar, ok?
Eu olho em volta e vejo pessoas saindo para voltar para dentro de casa
— provavelmente para continuar com a festa.
Eu não posso acreditar que nenhuma pessoa parou a luta.
Por que uma luta é vista como entretenimento? As pessoas ficam
gravemente feridas e por quê?
Para mostrar quem é maior ou mais forte? Quem Ryder pensa que é?
— Sam! — Eu chamo o nome dela da minha posição ao lado de Max.
No momento em que ela se aproxima, ela suspira de horror com a
visão de Max. — Alice!
— Você pode me ajudar a carregar Max para o carro, por favor?
Eu me levanto e me preparo para pegar o corpo espancado de Max do
chão quando ouço Kellan chamar meu nome atrás de mim. — Aqui,
deixa que eu faço.
Eu vejo quando Kellan pega Max sem esforço no chão, e o carrega para
a floresta e para onde seu carro está.
Sam para no meio do caminho quando percebe que não a estou
seguindo. — Você está vindo?
— Vá em frente com o Kellan. Já encontro vocês.
Eu viro minhas costas para ela e corro de volta para a casa em busca de
Ryder.
Capítulo Quatorze
Alice

Eu ignoro o fato de que tenho o sangue de Max em minhas mãos, mas


isso não impede meu próprio sangue de bombear em meus ouvidos, ou a
sensação de adrenalina correndo por todo o meu corpo.
Sem ver Ryder na sala de estar ou na cozinha, eu subo as escadas e
atravesso para o lado direito.
Uma das portas que estava fechada agora está aberta, então eu me viro
para a outra porta que está fechada.
Esse sentimento dentro de mim sugere que Ryder está lá.
Contudo, estou parcialmente certa quando abro a porta para ver que
ele não está sozinho.
Não há ciúme ou raiva quando noto o corpo de Ryder e um par de
pernas em volta de sua cintura. Sinto apenas pena.
É difícil ver quem é a garota, mas não há como negar quem pode estar
beijando Ryder agora.
— Sabe, eu realmente sinto pena de você.
Ambas as cabeças giram em direção à porta. Ryder parece que viu um
fantasma, enquanto Silver parece que quer me matar por interrompê-los.
— Pensei que tinha ido embora. — Ryder se levanta da cama.
Eles podem não ter dormido juntos, mas vê-los se beijando me
incomoda de alguma forma. Não suporto olhar para nenhum deles.
— Oh, não, por favor, não pare por minha causa, visto que vocês dois
não dão a mínima que alguém quase morreu esta noite.
Silver ri. — Ele mereceu. Ele acusou Ryder, Bane e Kellan de algo que
eles não fizeram. Ele veio aqui sem avisar. Quero dizer, sério, ele merecia.
— Silver, saia, — Ryder diz categoricamente.
Silver para de rir instantaneamente. — O quê?
— Dê o fora! — Ryder grila, causando um arrepio nas minhas costas.
Silver corre para pegar os sapatos do chão e sai correndo da sala.
— Feche a porta, — Ryder comanda enquanto ele relaxa em seu sofá
de couro prelo.
— Não, estou bem aqui.
Posso sentir que ele está ficando impaciente comigo, mas depois desta
noite ele se tornou uma pessoa completamente diferente de quem eu
pensava que ele era antes.
— Feche a maldita porta e sente-se, Alice.
— Não me diga o que fazer! O que você fez esta noite foi brutal e
horrível. Por que você faria algo assim? Você percebe que Max poderia ter
morrido, ou você não se importa nem um pouco?
Minha voz se eleva. — Ele não é um alfa como você, então pare com
qualquer rancor que você tenha contra ele, e deixe pra lá!
Ryder não diz nada por alguns minutos, então ele balança a cabeça. —
Há algo de errado com ele, Alice, e você se recusa a ver além da bela
atuação que ele está fazendo.
— O quê? Max não tem sido nada além de bom para mim.
Ryder olha para mim com uma carranca desagradável no rosto. —
Explique os ferimentos, então. Diga-me que você não está curiosa para
saber como ele não teve um arranhão esta noite.
— Você quer dizer antes de decidir espancá-lo de novo?
— Eu não bati nele da primeira vez, mas gostaria de ter batido, porque
estou te dizendo agora, ele é um mentiroso que está mexendo com as
pessoas erradas.
Ainda estou curiosa sobre os ferimentos de Max, mas não vou admitir
isso para Ryder.
Ainda não dei uma explicação de como isso era possível, mas me
recuso a dar a ele a satisfação de concordar com ele.
— A mãe de Max é enfermeira, provavelmente...
— Não me diga que você realmente acredita nisso! — Ele me
interrompe. — Por que você se recusa a ver o que está realmente na sua
frente?
— E o que, exatamente, é isso?
Ele se empurra para fora do sofá e corre em direção à onde estou na
porta. — Eu não sei ainda, mas eu vou descobrir. Dê-me alguns dias e eu
descobrirei.
— Parece-me que você realmente quer que algo esteja errado com ele.
Ryder se inclina para perto de mim. — Eu quero, porque eu quero que
ele fique o mais longe possível de você.
Empurro seu peito, mas sempre me esqueço de que seu corpo é duro
como aço. — Como você pode dizer isso? Você não tem o direito de falar
assim comigo depois do que eu vi você fazendo.
Ele acena para mim. — Silver não significa nada, e eu tenho
necessidades como qualquer outro lobo. Além disso, não é como se eu
precisasse dar uma explicação sobre com quem estou sendo íntimo.
— Haveria muitos para contar se eu te perguntasse, de qualquer
maneira, — provoco.
Fico em silêncio por alguns segundos. Eu respiro fundo.
— Eu não me importo que você tenha dormido com Silver no
passado, porque isso é entre você e ela. Não sei por que vim aqui, mas sei
de uma coisa — não gostei do que vi lá fora.
— Por um segundo, pensei com certeza que Max estava morto.
Eu balancei minha cabeça. — Agora, há algo maior acontecendo nesta
cidade, e você está descontando em um cara que não tem ideia disso.
— Essa merda com Max acaba agora, porque quando o próximo mês
chegar teremos outro cadáver.
— E é nisso que devemos nos concentrar, — concluo. Meu coração
bate forte quando termino de falar, mas também me sinto aliviada por
ter falado abertamente sobre como me sentia.
Não posso acreditar que uma parte de mim estava com medo de falar
o que penso com alguém como Ryder, mas de alguma forma eu sinto que
estou conseguindo alcançá-lo, embora lentamente.
— Não estou prometendo nada, Alice, porque se ele ficar no meu
caminho mais uma vez, farei mais do que apenas dar alguns socos. Ele
está tramando algo e eu vou descobrir o que é.
Ele me encara. — Você precisa abrir os olhos e ver que tipo de pessoa
ele realmente é, antes que seja tarde demais.
É a minha vez de balançar a cabeça. — Você está errado sobre ele, mas
não vai mudar a maneira como se sente sobre ele, então parece que
terminei aqui.
Eu me viro para ir embora, mas paro quando ouço meu nome vindo
de Ryder.
— O quê? — Eu pergunto.
— Pela primeira vez, por favor, me escute.
Eu não respondo a ele. Em vez, disso, desço as escadas, ignorando as
pessoas que ainda estão dançando, e saio da casa.
Passo pela fogueira vazia e continuo caminhando para a floresta, até
chegar ao vão.
Eu localizo o Range Rover preto de Max imediatamente, então vejo
Kellan andando na frente dos faróis brilhantes.
Dou alguns passos em direção ao carro. Kellan para de andar e corre
em minha direção.
— Como ele está? — Eu pergunto.
Tudo o que Kellan faz é passar a mão pelo cabelo. — Ele está muito
mal. Ele está perdendo muito sangue. Se não o tratarmos logo, vai piorar.
— Vou levá-lo para minha casa, é muito mais perto que o hospital.
Minha mãe não estará lá, mas eu usarei seu kit médico reserva.
Eu faço vou até o lado do motorista, onde vejo Max deitado no banco
detrás com a cabeça apoiada no colo de Sam.
Assim que alcanço a maçaneta, ela é puxada pela mão de Kellan. — Eu
vou dirigir.
— Você já bebeu um pouco.
— Sim, mas agora estou sóbrio. O efeito do álcool passa muito mais
rápido quando você é um lobo.
Bem, isso é uma merda.
A viagem no carro é um tanto pacífica. Ninguém fala o tempo todo.
De certa forma, o silêncio é confortável.
Acho que todos nós sentimos que o silêncio é o que precisamos
naquele momento. Quando chegamos, a casa foi lançada na escuridão
total. Sinto uma sensação de boas-vindas pela qual ansiava o dia todo.
— Vocês, meninas, vão para dentro, e eu levo o Max. — diz Kellan.
Eu coloco minha mão em seu ombro de forma tranquilizadora. —
Kellan, você não precisa fazer isso. Você já fez o suficiente.
— Posso não gostar do cara, mas ele não merecia isso.
Corro para dentro de casa, acendo todas as luzes e procuro um lugar
onde Max possa se deitar. Sam logo me segue, um olhar distante em seu
rosto.
— Sam? Você está bem?
Ela não diz nada por um momento, depois enxuga os olhos: — Não
era assim que a noite deveria ter terminado.
Pego o kit de primeiros socorros embaixo da pia e coloco na mesa de
jantar. — Sabe, não é sua culpa.
— O que não é minha culpa? — Sam cruza os braços sobre o peito.
— A situação com Bane. Ele é assim com todo mundo e não vai
mudar.
Ela me olha com desdém. — Não se trata apenas de Bane. É sobre
como nosso amigo quase foi morto por um metamorfo esta noite, e para
piorar as coisas, ele nem sabe disso!
Ela suspira. — Por que estamos nos associando a pessoas como Ryder?
Antes de você ser mordida, eles nem sabiam que nós existíamos e agora
parecem não conseguir parar de nos seguir.
Ela balança a cabeça.
— Vou ser honesta com você. Eu odeio o fato de sabermos sobre o Sr.
Daniels. Sobre o que está acontecendo nesta cidade, porque estou com
medo do que poderia existir aí fora, se poderia ser algo... sobrenatural.
Ela engole em seco. — Estou constantemente alerta com medo de que
algo esteja vindo atrás de mim.
— Sam...
Mas antes que eu possa responder. Kellan escolhe aquele momento
para trazer um Max ensanguentado para dentro de casa. Eu
imediatamente o levo em direção à mesa de jantar, onde ele coloca Max
suavemente.
Eu rapidamente lavo minhas mãos para evitar pegar qualquer tipo de
infecção das feridas que Ryder infligiu em Max, então corro de volta para
a mesa.
— Você precisa da minha ajuda? — Kellan pergunta enquanto eu
coloco pressão suavemente sobre as feridas com um pano estéril para
parar o sangramento.
— Obrigado, mas tenho certeza que posso fazer isso sozinha, sendo
filha de uma enfermeira e tudo.
Corro para um dos armários suspensos e pego uma tigela para encher
de água.
— Se você precisar de alguma coisa, é só me ligar, certo? — Kellan
desaparece na sala de estar, seguido por uma Sam silenciosa.
Levo a tigela para a mesa, onde Max está deitado silenciosamente, e
uso a água limpa para enxaguar as feridas em seu rosto.
Sem ter ideia se há feridas abertas em seu corpo, pego uma tesoura do
kit de primeiros socorros e corto o meio de sua camisa.
Fecho os olhos, esperando que seu corpo esteja ileso, mas quando os
abro, as lágrimas começam a cair quando vejo os hematomas roxos em
ambos os lados de suas costelas.
Com meus dedos, eu o examino suavemente para descobrir se há
alguma costela quebrada, então suspiro de alívio quando não sinto nada
fora do lugar.
Chamo minha atenção de volta para seu rosto gravemente ferido e
aplico um pouco de creme antibiótico para ajudar a manter os cortes
úmidos e para ajudar no processo natural de cura do corpo.
Por tudo isso, Max não vacila ou mostra qualquer tipo de desconforto.
Puxo uma das cadeiras e me sento ao lado dele quando ele começa a
se mexer. Ele olha em volta confuso, mas logo relaxa quando me vê
sentada ao lado dele.
Ele se senta sem esforço e pendura as pernas sobre a mesa. Mas
quando ele é dominado por uma tontura, corro para ele rapidamente e
seguro seus ombros para ajudá-lo a não cair para frente.
— Você deveria estar deitado.
Max apenas ri. — Estou bem, sério.
— Não, você não deveria fazer isso. Seu corpo precisa descansar.
Max puxa minhas mãos de seus ombros e as embala em suas palmas.
— Já descansei o suficiente esta noite.
— Você não viu o que eu vi na festa. Nada vai me fazer esquecer o que
vi.
Ele acaricia o polegar suavemente ao longo dos meus dedos. —
Lamento que você tenha que me ver naquele estado. Novamente.
— É a segunda vez, que te vejo coberto de hematomas e cortes, e
ainda não sei o motivo por trás disso. Você não deve mexer com alguém
como Ryder, porque ele vai ganhar todas as vezes.
Max não diz nada.
— Sinto muito, eu não queria insultá-la.
— Não, eu gosto do fato de que você se preocupa comigo. É bom saber
que alguém se preocupa, pelo menos.
Como uma forma de desculpa, eu me inclino para frente e o agarro
com força contra o peito em um abraço amigável. Mas quando me afasto,
seu rosto está a centímetros do meu.
Eu fico pregada no lugar, sem saber o que fazer. Antes que eu tenha a
chance de processar o que está acontecendo, os lábios de Max encontram
os meus.
Eu empurro minha cabeça para trás rapidamente e me movo para
colocar alguma distância entre nós.
Max fecha os olhos e balança a cabeça. — Me desculpa. Não sei o que
estava pensando.
— Não, está bem. Você não precisa se desculpar.
Max evita contato visual e olha para o chão ao perceber que sua
camisa está rasgada.
— Tive que cortar sua camisa para ver se havia algo por baixo que
precisasse de tratamento, — explico.
— Obrigado.
Ele desce da mesa e fica de pé com as mãos nos bolsos. — Eu devo ir
embora. Não deveria ter sido sua responsabilidade cuidar de mim, então
eu realmente agradeço. Obrigado.
Eu encolho os ombros. — Não é grande coisa. Você é meu amigo, e
amigos se ajudam.
Ficamos parados na cozinha em um silêncio constrangedor, quando
ouço passos se aproximando. Kellan entra na cozinha e se inclina contra
a porta, acenando em saudação para Max e eu.
— Certo. Acho que essa é a minha deixa para sair. — Max vai até a
porta da frente. Lembro que ainda estou usando sua jaqueta de couro.
— Max, espere. Sua jaqueta.
Mas a porta se fecha e eu fico sozinha na entrada.
— Então ele beijou você, hein? — Kellan diz atrás de mim.
— Você ouviu isso? — Eu me viro para ele com um olhar fascinado.
Kellan zomba. — Eu ouvi tudo. É difícil não ouvir tudo quando você
tem sentidos aguçados. Como uma loba, você deve ser capaz de
experimentar por si mesma.
— Na verdade, estou começando a pensar que não sou uma loba.
Ele franze a testa. — Por que você diz isso?
— Eu não sinto nada diferente. É como se a transformação nunca
tivesse acontecido e eu estivesse de volta ao meu estado normal. Esta
noite, tentei encontrar Sam pelo som ou encontrar seu cheiro, mas não
pude fazer nada.
Kellan pensa por um momento. — Isso não é anormal. Para alguns
lobos, leva tempo para se acostumar com suas novas habilidades.
— Talvez seja esta a razão. Acredite em mim, não é nada para se
preocupar, mas não é algo que eu possa te ensinar.
— Então quem pode me ensinar?
— Para poder aprender suas novas habilidades, você terá que ir para
alguém com muita experiência. Obviamente, esse alguém só pode ser um
alfa. Então, Ryder vai ter que te ensinar sozinho.
Ótimo...
Capítulo Quinze
Alice

A casa está silenciosa e ligeiramente fria, mas isso não impede que
meus pensamentos estejam correndo dentro da minha cabeça.
Estou longe de estar feliz com o fato de que terei que aprender o
caminho do lobo com alguém que mal posso suportar, quanto mais falar.
Deve ter outra maneira, com certeza.
Eu teria aulas com Bane antes de aprender qualquer coisa com Ryder,
especialmente depois do que vi esta noite.
O rosto de Max ficará em minha mente por um tempo, e até que eu
descubra todas as respostas que não foram resolvidas, fico me sentindo
incompleta.
Não consigo pensar em nenhuma razão pela qual Ryder faria o que
fez.
Estou deitada bem acordada na minha cama quando ouço a porta da
minha casa fechando no andar debaixo.
Eu fico acordada quase todas as noites para ouvir minha mãe voltando
para casa em horas ridículas, e mesmo assim ela retorna ao hospital.
Ela adora fazer o que faz de melhor. As coisas que ela pode fazer me
surpreendem.
Viro-me de lado, para longe da porta, e fecho os olhos, pronta para o
sono me dominar.
Quando ouço a porta do meu quarto se abrir, sorrio feliz para mim
mesma. Minha mãe nunca se esquecia de me verificar quando chegava
em casa.
De certa forma, acho que ela faz isso para se certificar de que ainda
estou aqui com ela.
Ela nunca me diz nada, apenas dá uma rápida olhada para ver se estou
dormindo e sai em silêncio. E ela nunca fecha a porta.
Então, quando ouço a porta começar a se fechar, seguida de passos se
aproximando da minha cama, sei que algo não está certo.
Eu rapidamente acendo a lâmpada na minha mesa de cabeceira e viro
o rosto para quem entrou no meu quarto.
Não importa quantas vezes eu o veja, ele sempre vai me deixar
nervosa. Mas, por alguma razão, vê-lo aqui agora me faz esquecer a
discussão que tivemos antes.
Ryder está parado imóvel no meio do meu quarto, suas roupas
encharcadas do tempo úmido lá fora.
Ele usa jeans skinny preto com uma camisa branca colada que mostra
o peito musculoso por baixo.
Seu cabelo está penteado para trás e gotas de chuva caem de seu rosto.
Ele está respirando pesadamente, como se estivesse correndo para chegar
aqui.
Estou congelada na minha cama, me perguntando o que o trouxe aqui
no meio da noite.
— Ryder, o que você está fazendo?
— É verdade? — Ryder pergunta em uma voz grave que faz meu
coração pular uma batida.
Demoro alguns segundos para responder. — O que é verdade?
Ryder cruza os braços sobre o peito, fazendo com que os músculos de
seus bíceps fiquem salientes nas mangas. — O que Kellan disse para mim.
Eu balancei minha cabeça. — Não foi grande coisa. Max me beijou e...
— Não foi isso o que eu quis dizer.
— Oh.
— Disseram-me que você não se sente como se fosse uma loba.
Eu não hesito. — Sim, é verdade. Não me sinto diferente. Nada.
Ryder pensa por um momento, então se move para se apoiar na
parede ao lado da minha janela. — Você virá à minha casa amanhã.
— Como é?
Nunca na minha vida eu tive alguém mandando em mim assim, além
da minha mãe.
Não sei se gosto ou não...
— Você precisa aprender rápido. A lua cheia é em duas semanas e não
podemos perder mais um dia.
— Agora, isso pode ser porque você lutou contra a primeira
transformação, ou é apenas porque você está evitando sua loba sem
perceber.
Ele suspira.
— Acredite em mim, fazer isso é a pior coisa que você poderia fazer.
Se você a evitar, ela simplesmente irá desobedecê-la em cada decisão que
você tomar.
— Eventualmente, ela se tornará selvagem. O que pode resultar em
você nunca mais voltar a ser humana.
— Não é minha culpa não poder invocá-la. Eu sou nova nisso. Não
tenho ideia do que estou fazendo de errado.
Ryder se aproxima lentamente da cama e fica ao meu lado, olhando
para mim. — Não vou dizer que não é sua culpa, porque é, e no fundo,
você também sabe disso.
Ele suspira novamente. — Mas você precisa deixá-la correr livre,
porque é o que ela precisa e quer. Ela provavelmente está andando de um
lado para o outro agora com irritação, e eu aposto que ela é uma loba
irritada.
Não digo uma palavra enquanto ele me diz que é minha culpa não me
sentir conectada à minha loba como deveria estar.
Sei que é por minha causa e me sinto culpada por isso, mas com ele
me lembrando o tempo todo por ter tomado aquela decisão errada, está
apenas me fazendo sentir pior do que já me sinto.
Eu quero que minha loba corra livre, para dar a ela a liberdade que ela
precisa, mas estou inconscientemente preocupada que alguém ou algo
nos machuque.
Eu sou nova nisso tudo. Talvez aparecer na casa de Ryder amanhã não
fosse uma coisa tão ruim.
Quero dizer, estarei aprendendo a ser uma loba. E verei que coisas
incríveis posso fazer, assim como Kellan me disse.
— Eu não quero que ela fique chateada comigo. Nunca, — eu digo.
Essa é a última coisa que eu quero...
Ryder coloca a mão firmemente na minha coxa. — Venha amanhã, e
eu vou te ensinar tudo que você precisa saber. Iremos devagar e com
firmeza.
Ele sorri.
— Provavelmente, vai ser um trabalho árduo. Ela vai pensar que está
no controle e, considerando que você também é uma alfa, terá uma loba
filha da puta de teimosa nas mãos. Então, vamos precisar de números.
— Você está fazendo parecer que ela já é selvagem.
Ryder se afasta para olhar pela janela. — Eu posso sentir suas emoções
neste segundo, e estou dizendo que ela não está feliz. Não sei como não
percebi antes.
— Isso é para me fazer sentir melhor?
Um segundo se passa. Ryder suspira. — Sua mãe está em casa. É
melhor eu ir embora, antes que ela pense que sua filha está tramando
algo ruim.
As luzes brilhantes do carro brilham na forma de Ryder enquanto
minha mãe entra na garagem.
Eu saio da cama, me aproximo dele e coloco minha mão em seu braço.
— Eu estarei lá.
Ele olha para minha mão enrolada em seu braço, se move para olhar
para mim e acena com a cabeça. — Ótimo.
Eu largo minha mão de seu braço enquanto ele se move para abrir
minha janela. Então me lembro da conversa que tivemos antes. Eu
chamo seu nome, mas ele não se vira.
— Sobre esta noite. Eu só quero que você saiba que eu não o julgo
pelo que você fez.
Ele se vira para me encarar com seus olhos verdes penetrantes. —
Qual parte? Aquele em que eu bati no seu amigo ou o fato de você me
pegar beijando a Silver?
Estou surpresa e olho para Ryder com a testa franzida. — Eu não te
julgo por beijá-la.
Ryder se inclina bem na minha cara. — Então me responda isso. Por
que me sinto tão culpado por ter sido você quem entrou por aquela
porta?
Antes que eu tenha a chance de responder, a porta do andar debaixo
se fecha e nosso pequeno momento é quebrado muito rapidamente. Ele
me olha uma última vez, depois se vira e pula pela janela.
Corro para vê-lo tirar a camisa e sair correndo de minha casa na chuva
torrencial.
Não ouço a porta do meu quarto abrir; Eu apenas fico olhando para a
noite no local onde o vi pela última vez, antes que ele desaparecesse na
floresta.
— Alice? Você está acordada.
— Sim, eu não conseguia dormir.
Quando encontro os olhos de minha mãe, ela sorri calorosamente. —
Você está bem? — Ela olha para mim, com uma preocupação estampada
em seu rosto.
Eu me afasto da janela. — Sim, vou ficar bem.
— Bem, eu, pelo menos, mal posso esperar para deitar.
Eu ri. — Aposto que sim. Foi um longo dia para você.
Minha mãe dá de ombros. — E o bônus e o ônus de salvar vidas, certo?
— Sim, eu acho.
— Como foi a festa? Você se divertiu?
Eu penso nos eventos desta noite, tentando pensar em qualquer coisa
que a qualifique como uma boa noite, mas não encontro absolutamente
nada.
— Estava tudo bem. Eu realmente não fiquei lá muito tempo.
— E Sam? Ela está aqui ou foi para casa?
— Ela foi para casa.
— Oh, eu pensei que ela teria ficado aqui. Quero dizer, ela é sempre
bem-vinda para ficar aqui. Temos muito espaço.
Eu apenas aceno. — Eu sei.
— Ok, bem, boa noite.
Assim que minha mãe se vira para sair do meu quarto, sinto a
necessidade de fazer uma pergunta a ela.
— Mãe?
— Sim, querida? — Ela me encara com uma expressão cansada nos
olhos, mas ainda sorri.
— Você conhece uma mulher que trabalha no hospital e que tem o
sobrenome Fields?
Ela pensa por alguns momentos, murmurando o sobrenome para si
mesma sem parar, então ela balança a cabeça. — Não.
— Tem certeza?
Ela pensa novamente, então acena com a cabeça. — Estou certa de
que não. Não temos ninguém trabalhando no hospital com esse
sobrenome. Sou a pessoa encarregada de organizar os turnos e nunca me
deparei com esse nome.
Meu coração já parou de bater quando minha mãe me disse com
segurança que a mãe de Max não trabalha no lugar que ele disse que ela
trabalhava.
Eu soube que algo estava errado no minuto em que o vi naquela
cadeira de hospital e chamei seu nome. Ele tinha uma expressão de que
parecia não querer ser pego.
E agora que sei a verdade, não posso deixar de me perguntar por que
ele estava lá.
— Por que pergunta, Alice?
Eu sorrio para ela de forma tranquilizadora. — Não, eu só precisava
saber de uma coisa, só isso.
— Bem. espero que tenha sido uma informação útil.
Minha mãe se vira e vai para o seu quarto, onde vai ficar o resto da
noite.
— Foi muito útil, — eu digo para mim mesma.
Então vou para a cama, na esperança de descansar um pouco, na
esperança de que isso me ajude a superar o grande dia de amanhã.
Eu estava errada.
Capítulo Dezesseis
Alice

Chegar à casa de Ryder na manhã seguinte não é algo que estou


ansiosa para fazer.
Percebi que estou dedicando muito do meu tempo a Ryder
ultimamente e estou começando a pensar que sua presença não me
incomoda tanto quanto deveria.
Embora estar perto dele me faça sentir um pouco segura, eu acredito
que ele também pode ser uma das pessoas mais perigosas quando é
ameaçado, o que me leva de volta para a questão do Max.
Enquanto saio do carro de minha mãe e caminho lentamente em
direção à casa, não posso deixar de ficar ansiosa sobre como será o dia de
hoje.
A revelação da noite passada foi inesperada, mas as palavras de minha
mãe ainda estão me assombrando. Por isso, acredito que as coisas vão ser
muito diferentes daqui para frente.
Quando a casa fica à vista, parece estranho que eu só estive aqui
ontem à noite. O local não dá sinais de que uma festa foi realizada aqui.
Mas então eu vejo o vidro em torno da casa. Eu verifico ao redor para
ver se alguém está por perto, então percebo que ninguém está perto da
propriedade.
Não sou o tipo de pessoa que simplesmente entra em uma casa como
se fosse a minha, então, quando minha atenção é atraída para o som de
uma porta se fechando, suspiro de alívio.
Eu vejo Kellan parado na porta, vestindo nada além de jeans preto. Ele
sorri para mim, mas não com seus olhos, o que imediatamente me faz
pensar que algo o está incomodando.
Quando o encontro onde ele está, ele me dá as boas-vindas com um
abraço que eu aceito imediatamente. Nós nos separamos e eu noto que
ele está olhando para mim com preocupação.
— Você está bem? — Sua pergunta me leva de volta à noite passada.
Mais uma vez, vejo o corpo ensanguentado de Max na minha mesa e me
lembro da verdade sobre sua mãe.
— Sim, eu estou bem. E você?
— A noite passada foi bem difícil, com Max e tudo.
— Foi, mas o que deveríamos fazer? — Eu encolho os ombros. — Eu
não poderia simplesmente deixá-lo lá. Além disso, ninguém o teria
ajudado, se eu não o fizesse.
Kellan permanece em silêncio enquanto observa toda a minha
aparência. — Você parece exausta.
Estou dormindo muito pouco, mas me recuso a deixar que o cansaço
me atrapalhe hoje. Estou determinada a aprender como ser uma loba e o
que significa ser uma.
Além disso, decido não contar a ele o que aprendi, então apenas o
cutuco de brincadeira. — Só estou nervosa com o dia de hoje, só isso.
Ele ri em resposta. — Você vai ficar absolutamente bem. Você tem
Ryder, Bane e eu para cuidar de você.
— Espere, não seremos apenas eu e Ryder?
Kellan se vira para abrir a porta da frente e indica para eu segui-lo.
— Todos nós meio que temos que estar lá, caso você tente atacar um
de nós. Mas porque você é uma fêmea alfa, você provavelmente tentará
atacar Ryder.
— Então, você está basicamente dizendo que eu poderia dar uma
surra no Ryder?
Kellan me olha surpreso. — Ela brinca! Não esperava que isso saísse da
sua boca.
— É verdade, certo? Quero dizer, eu não sei o que minha loba vai fazer
quando eu me transformar.
Ele para de andar e me encara.
— Pelo que ouvi de Ryder sobre o que ela fez quando você mudou, ela
provavelmente ainda tem um rancor contra ele. Cabe a você se
comunicar com ela e tentar suavizar as coisas com o macho alfa.
Ele encolhe os ombros. — Naturalmente, ela vai querer dominar
aqueles ao seu redor porque ela é uma alfa, mas é aí que entra o Ryder.
— E o que ele vai fazer?
Kellan sorri e começa a se afastar. — Ele vai dominar você e fazer você
se submeter a ele.
— Ele vai fazer o quê?
Eu marcho para acompanhar seus passos largos enquanto ele ri de
mim. — Como ele vai fazer isso se ela não o suporta? — Eu pergunto.
Do nada, sinto alguém andando atrás de mim. Eu me viro e bato no
peito nu de Ryder. Ele não está vestindo nada além de jeans.
Por que, de repente, todos estão seminus?
— Se ela se submeter a mim, então não terei que lutar ou machucá-la
pelo domínio. O que eu não deveria ter que fazer de qualquer maneira,
— diz ele.
Ele sai com Kellan por uma porta nos fundos da casa, que leva para o
jardim.
Eu rapidamente dou uma olhada na casa e noto as paredes brancas,
completamente desprovidas de quaisquer imagens ou memórias. Isso me
faz sentir muito infeliz.
Felizes ou tristes, todos deveriam ter fotos penduradas na parede.
Agora que penso sobre isso, talvez eu não conheça essas pessoas tão bem
quanto pensei que conhecia.
Eu estou em um grande arco que dá uma vista da sala de estar que eu
não vi na noite passada. Eu estava tão perturbada ontem à noite que não
vi a beleza deste quarto.
Sinto-me desanimada por não ter visto o que estou vendo agora. A
sala de estar é enorme, e por enorme, quero dizer que eu poderia
encaixar minha cozinha e minha sala de estar no espaço.
Uma grande televisão ocupa toda a parede de um lado da sala, com
todos os tipos de consoles colocados ordenadamente no chão.
Plantas em vasos são colocadas em cada lado de uma mesa de vidro,
com um laptop de aparência cara deixado intocado em cima.
Dois sofás pretos estão colocados um em cada lado, com uma mesa de
centro preta entre eles.
Contudo, o que me chama a atenção é a lareira de mármore branco
colocada no fundo da sala com as chamas já acesas.
Um tapete de pele de carneiro está em frente à lareira, tornando-se
tentador para descansar neste momento.
Eu pulo de surpresa quando ouço meu nome sendo chamado do lado
de fora, e corro para alcançar todos.
No momento em que saio, vejo que todos os lobos estão reunidos do
lado de fora, provavelmente esperando por mim.
Bane está de pé com os braços cruzados sobre o peito e uma expressão
entediada no rosto.
Contanto que ele não esteja zombando de mim, acho que estamos
fazendo progressos.
Kellan está de costas para mim, olhando para a floresta, enquanto
Silver está ao lado de Ryder, olhando sedutoramente para ele.
Ryder me olha com uma expressão que não consigo entender. Eu olho
de volta para ele, mas olho para baixo quando percebo Silver colocando
sua mão bem cuidada em seu peito nu.
Por que, de repente, me sinto tão territorial?
Depois do que aconteceu entre nós ontem à noite, pensei que
tínhamos um certo entendimento sobre como estávamos um com o
outro.
Mas pelo que parece, ele não está totalmente pronto para deixar Silver
saber como ele realmente se sente.
O silêncio é quebrado inesperadamente com o som de um suspiro
feminino. Eu quebro o olhar que tenho no peito de Ryder para ver que
ele está segurando firmemente a garganta de Silver.
Silver olha para ele em desespero para se libertar, mas Ryder não dá
sinais de soltá-la ainda.
Os dois alfas parecem felizes na companhia um do outro, quando de
repente um uivo angustiante vem da casa dos lobos.
Eu olho Bane com um olhar desinteressado para eles, enquanto Kellan
coloca as mãos nos quadris, esperando que o momento acabe.
— Essa é a última vez que você faz algo assim, entendeu? — Ryder diz
a ela em um tom sério.
Silver parece surpresa. Ela o encara com uma expressão confusa. Com
o que aconteceu ontem à noite, eu provavelmente teria a mesma reação,
então eu realmente não a culpo por isso.
Mas não me faz sentir pena dela.
Ele solta sua garganta, fazendo-a tropeçar para trás, então caminha
para ficar na minha frente.
— Hoje é tudo sobre você. É uma chance para você deixar sua loba ir e
explorar as áreas ao redor da propriedade. Com sorte, ela ganhará uma
sensação de liberdade enquanto faz isso.
— O que vocês vão fazer enquanto ela está explorando?
Ryder aponta para si mesmo. — Eu estarei te seguindo à distância.
Longe o suficiente para eu saber aonde você vai.
— Kellan não disse que se ela te ver, ela pode... te atacar de novo?
Ryder percebe minha aparência. — Ela pode tentar.
— Ok, tanto faz. — Eu balanço minha cabeça em negação, embora eu
saiba que Ryder é muito mais forte do que eu. — Nossa força não deveria
ser a mesma, considerando que nós dois somos alfas?
No momento em que a palavra sai da minha boca, Silver e Bane olham
para mim com a testa franzida em seus rostos, enquanto Kellan olha para
suas reações com um sorriso.
Ryder cruza os braços sobre o peito. — Só porque você é uma alfa, não
significa que pode facilmente dominar outro.
Bane entra em nossa conversa. — Como isso é possível?
Silver cuspiu no chão. — Ela nem mesmo tem uma matilha para ser
uma alfa.
Kellan bufa. — Olha só quem fala. Você não conseguia nem controlar
dois lobos em sua matilha anterior, até você cair na hierarquia, é claro.
— Você realmente quer falar sobre hierarquia, seu fracote? — Silver
sibila.
Ryder grunhe. — Já basta! Discutiremos isso mais tarde, mas, por
enquanto, preciso da atenção de todos.
Ele olha para sua matilha. — Não sabemos o que vai acontecer quando
Alice se transformar. Vou ter certeza de que estou na linha de visão dela
quando ela fizer isso.
Ele concorda. — Eu quero que vocês três fiquem atrás dela, à
distância. Não quero que ela ataque nenhum de vocês, então, se ela está
procurando por mim, quero que deixem isso acontecer e não interfiram.
Silver bufa. — Você quer que a gente apenas sente em nossa bunda e
veja você ser atacado por aquela coisa selvagem! — Ela rosna para mim.
— Silver, não diga coisas assim. — Kellan me olha com pena.
— Por quê? Todos nós sabemos que é verdade, então de que adianta
negar? — Ela enfrenta Kellan, mostrando claramente que ela é uma loba
de classificação muito mais alta do que ele.
— Quero dizer, ela provavelmente será muito mais forte do que você,
e ela é uma loba há menos de uma semana. Isso realmente machucaria
seu orgulho, não é? — Ela diz sarcasticamente.
Kellan vai falar, mas não antes de eu dizer: — Eu posso me defender,
você sabe. Mas obrigada pelo voto de confiança.
Seus olhos se fixam nos meus. — Como se eu fosse defender você.
Você é uma desculpa patética para uma loba!
— Eu disse o suficiente, Silver! Se você não quiser cooperar, então eu
prefiro que você saia, — Ryder rosna.
Silver franze a testa para ele. — Você gostaria que eu fosse embora?
Ryder não hesita. — Sim.
Ela zomba de mim antes de fugir para o vão da floresta. Eu ouço o
som de suas roupas rasgando antes de ela desaparecer.
Bane observa cada passo dela, em seguida, acena com a cabeça para
Ryder. — Ela se foi.
Ryder coloca as mãos nos bolsos, me encara e suspira. — Tire suas
roupas.
Como é?
— Me desculpe, o quê? — Eu olho para os três em confusão.
— Você me ouviu. Tire tudo. — Ryder morde o lábio em antecipação.
— Por que eu faria isso?
Ryder sorri. — Pra se transformar.
— Você está louco se pensa que eu realmente ficaria pelada na frente
de vocês três.
Kellan ri. — Já vimos tudo antes, Alice.
Eu cruzo meus braços contra meu peito. — Não, eu não vou fazer isso.
Ryder revira os olhos. — Você quer deixar sua loba sair hoje ou não?
— Bem, sim. Mas...
Naquele momento, Ryder começa a abrir o botão da calça. Kellan e
Bane fazem o mesmo.
Uau... ok.
Eu coloquei minhas duas mãos para cima para interromper seus
movimentos. — Esperem! Como eu vou me transformar se todos vocês
se transformarem antes de mim?
— Meu único conselho é não pensar muito sobre isso. Apenas relaxe,
acalme sua respiração, estabilize seus batimentos cardíacos e deixe-a vir
até você. Ela saberá o que fazer, — diz Ryder.
Sem pressão.
— Sabe, acho que seria melhor se eu me transformasse sozinha, sem
ter ninguém por perto. Quero ser capaz de mudar por conta própria, sem
ter público.
Eu torço minhas mãos. — Eu acho que ela vai atacar vocês se vocês a
cercarem. Ela pode pensar que é uma ameaça, e eu não quero que
ninguém se machuque por minha causa.
— Tudo bem. Faremos do seu jeito, mas como parte do ensino de suas
novas habilidades, quero que venha me encontrar. — Ryder pisca para
mim antes de tirar sua calça jeans, junto com sua cueca.
Talvez eu devesse ter me afastado quando tive a chance, porque a
imagem resultante ficará para sempre dentro da minha cabeça.
Enquanto tento organizar meus pensamentos depois de ver o corpo
nu de Ryder, me viro para ver que Kellan e Bane já se transformaram e
estão correndo para a floresta.
Eu olho para trás para Ryder quando descubro que não consigo conter
minha respiração. A vista bem na minha frente de repente parece irreal.
Ele tem o dobro do tamanho que tinha há pouco; Eu precisaria esticar
todo o meu braço para cima para poder tocar seu focinho.
Ele abaixa a cabeça, como se estivesse me estudando com muito
cuidado. Ele provavelmente reconhece meu cheiro de antes, quando eu o
ataquei na casa de Sam.
Eu não movo um único músculo, no caso de qualquer tipo de
movimento agravar o alfa parado sem medo na minha frente.
Alguns minutos se passam com ele apenas olhando intensamente para
mim. Uma parte de mim está com medo do que esta besta pode fazer
comigo, mas eu sei que Ryder não vai me machucar de propósito.
Ele dá mais uma olhada para mim, então se vira e segue as mesmas
pegadas de Bane e Kellan.
Solto um suspiro de alívio quando sua forma desaparece, mas fico me
sentindo perdida quanto ao que fazer a seguir.
Disseram-me para manter a calma, mas como posso fazer isso quando
meu coração está acelerado?
Eu rapidamente tiro minhas sandálias e blusa branca, e as jogo no
chão, depois tiro meu jeans rasgado.
Eu olho em volta, esperando que ninguém possa me ver, mas relaxo
quando percebo que ninguém estaria aqui, a não ser os ocupantes que
vivem aqui.
Eu desfaço as alças do meu sutiã, depois tiro minha calcinha, e fico
sozinha no quintal dos lobos. Eu fecho meus olhos para me concentrar
em diminuir minha frequência cardíaca, respirando fundo.
Repito isso até que minha respiração e batimento cardíaco estejam
lentos e constantes.
Então eu respiro pela última vez e abaixo minha postura para ficar de
joelhos. De repente, sinto como se estivesse encolhendo por dentro.
Não sei como chega esse sentimento para mim, mas saber que estou
prestes a me transformar em uma linda loba me anima.
Afasto a sensação de parar tudo e tento relaxar, quando de repente a
necessidade de me arrepiar surge inesperadamente.
Sem perceber o que poderia acontecer a seguir, o arrepio toma conta
de todo o meu corpo.
E então a transformação acontece, sem esforço.
Não me sinto diferente, a não ser sentir que estou em uma bolha.
Minha loba está de pé em toda sua altura, e depois de um tempo para
me acostumar com a nova altura, tento fazê-la se mover, mas ela parece
relutante.
Mova-se!
Tento me comunicar com ela de dentro da minha mente, mas ela está
me ignorando ou não entende.
Avance!
Novamente, ela não me escuta.
Em vez disso, ela se move em direção às roupas descartadas e fica na
frente da pilha de Ryder. Ela abaixa a cabeça e começa a inalar o perfume.
Espero que ela comece a rosnar depois do que aconteceu quando ela
esteve em sua presença da última vez, mas o que eu não espero que ela
faça é se deitar em cima de suas roupas e começar a esfregar seu cheiro
sobre elas.
O que você está fazendo?
Ela faz isso por um tempo, mas de repente para e encara a floresta
como se estivesse tentando descobrir algo.
Ela ouviu algo ou sentiu o perigo por perto?
Ela começa a andar lentamente em direção à área aberta por onde
todos os lobos desapareceram e para do lado de fora. A vista diante de
mim é de tirar o fôlego.
Árvores fortemente entrelaçadas me olham fixamente, como se
pedissem permissão para entrar na floresta.
O cheiro de folhagem misturado com podridão e umidade desperta
meus sentidos; o sol forte brinca de esconde-esconde entre as folhas das
árvores.
Eu não percebi que entrei mais fundo na floresta até ouvir um uivo de
arrepiar vindo do outro lado da floresta.
Eu acho que ela vai se virar, com medo do que ela possa encontrar,
mas ela decide correr em direção à fonte.
Continuamos correndo até chegar ao fim do caminho. Ela olha ao
redor, provavelmente se perguntando de onde veio o uivo.
Ela inala o chão, então ouve o barulho de um galho quebrando nas
proximidades. Sua cabeça dispara em estado de alerta, esperando por um
sinal claro de que ela está segura.
Calma.
Não sei por que estou dizendo a ela para ficar calma, mas com o pelo
branco como a neve e esta altura, não há como explicar a ninguém o que
eles verão.
Alguns segundos se passam, então um rosnado feroz vem de trás de
nós. Em um segundo, ela se vira e encara quem ousa se aproximar dela.
A primeira coisa que vejo são os olhos vermelho-sangue de um alfa e
uma massa negra de pelos. Ryder caminha em nossa direção com
integridade, mostrando claramente quem é o alfa mais forte.
Ele circula ao meu redor, aproximando-se cada vez mais até que
nossos dois corpos se tocam.
Durante tudo isso, ela não rosnou nenhuma vez. Em vez disso, ela
deixa o alfa fazer o que precisa ser feito.
Após uma inspeção minuciosa, Ryder começa a cheirar seu perfume
por um longo tempo.
Ele vai atacar quando perceber que foi ela quem lutou contra ele, ou
tudo isso foi esquecido?
Ele levanta a cabeça, se move para ficar frente a frente com ela e
gentilmente encosta seu rosto no dela.
Estou interpretando isso como um sinal de trégua.
Ryder olha para a fonte e começa a correr em disparada.
Eu interpreto isso como um sinal para segui-lo, mas por algum
motivo, ver Ryder fugir assim desperta um sentimento indesejável dentro
de mim.
Ele pode sentir algo que eu não posso?
Chego à área aberta logo depois de Ryder e noto os três lobos parados
em um semicírculo, olhando para algo no meio deles.
Os lobos se viram, como se sentissem que seu alfa está em sua
companhia, mas quando Kellan me vê, ele rosna para mim como se me
avisasse.
Eu o ignoro e sigo atrás de Ryder.
Ele para e encara a cena à sua frente. Meu coração para quando vejo
um corpo deitado imóvel no chão. É o corpo ensanguentado de um
homem deitado de bruços.
Com o rosto escondido, não tenho ideia de a quem o cadáver
pertence.
Kellan corre para ficar ao meu lado, me incentivando a sair, mas não
tenho ideia do porquê.
Deve haver um motivo, caso contrário, ele não estaria fazendo isso.
Todos os lobos ficaram quietos, e quando eu viro o corpo sem vida,
posso entender completamente o porquê.
Terry?
Capítulo Dezessete
Alice

Estou parada debaixo de um jato de água quente no banheiro dos


lobos, sentindo como se uma faca tivesse sido enfiada em meu peito.
Na hora em que vimos o corpo de Terry, nós nos transformamos e
colocamos nossas roupas, então percebemos a bagunça na nossa frente.
Não havia palavras para expressar como me senti no momento em
que olhei para o cadáver de Terry.
Sua garganta foi cortada e seu corpo foi mutilado, com sangue
respingado por toda parte no chão.
Entorpecida seria uma resposta razoável, mas a percepção de que eu
conhecia esse homem, que foi uma espécie de figura paterna para mim
por todos esses anos, torna a dor dentro do meu peito muito pior.
A pergunta que continuo me fazendo é por que eles iriam atrás de
alguém como Terry?
Ele era um homem reservado, que trabalhava arduamente na
lanchonete para sobreviver na vida.
Claro, havia dias em que ele gritava com os clientes que insultavam
sua comida, mas nada que resultasse em sua morte.
Outro cadáver encontrado, mas é o mesmo mês da morte do Sr.
Daniels. Pode ser um assassino diferente ou o motivo mudou?
Mas o que poderia ter mudado para fazer o assassino ter como alvo
dois homens inocentes que eram amáveis?
Ainda é difícil processar o fato de que Terry se foi e que não haverá
ninguém na lanchonete que seja como um pai para mim.
Quando o encontramos, eu estava absorta pela cena na minha frente,
mas percebi que Kellan havia se movido de sua posição para pegar algo
na mão de Terry.
Isso tirou minha atenção do corpo sem vida.
Kellan pegou o que parecia ser um pedaço de papel amassado e
entregou a Ryder.
Ele o pegou de Kellan e o abriu em silêncio. Eu assisti o rosto de Ryder
mudar em uma fração de segundo, de nenhuma emoção para raiva.
— Ryder. você está bem? — Kellan olhou preocupantemente para
Ryder.
Ryder desviou o olhar; Eu podia vê-lo cerrar os dentes.
— O que há de errado? — Eu olhei para o pedaço de papel.
Ele colocou o papel amassado no bolso detrás da calça jeans. — Nada
está errado. Vamos apenas fazer algo quanto ao corpo.
Eu fiz uma careta. — O que está escrito?
— Eu disse que não é nada.
— Ryder, é obviamente algo a ver comigo, caso contrário, você
mostraria. — Eu disse.
Ryder deu de ombros. — Alice, deixe para lá, ok?
Eu zombei. — O que você quer dizer com simplesmente deixar pra lá?
Outro corpo foi encontrado, desta vez está em sua propriedade e você
está aí como se não fosse grande coisa!
Ele se virou para mim. — Nada demais? Você acha que eu não me
importo que haja um cadáver aqui? Você está errada em pensar que eu
não dou a mínima para isso!
Ryder tirou o papel amassado do bolso, agarrou minha mão e bateu
com o papel na palma da minha mão.
— Não só temos um assassino para cuidar, mas alguém que quer
definitivamente perseguir você.
Eu virei o papel e senti a náusea aparecer.
Em letras pretas estavam as palavras: — Com roupa, você é
definitivamente um oito, mas pelada, você é uma dez. Espero que não se
importe que eu tenha tirado algumas fotos.
Terminou com um rosto sorridente.
As lágrimas começaram a cair enquanto eu olhava repetidamente para
a mensagem escrita pessoalmente para mim poucos minutos depois de
ter me transformado.
Outro pensamento me atingiu — não apenas alguém me pegou me
transformando, mas essa pessoa, sem dúvida, me observou fazer isso em
plena luz do dia, colocando a mim e aos outros lobos em perigo.
Eu olhei em volta, tentando entender onde aquela pessoa poderia
estar se escondendo.
— Eu pensei que estava sozinha. — Eu limpei meus olhos. —
Obviamente, não estava.
Bane tinha falado pela primeira vez. — A propriedade se estende por
quilômetros, e o filho da puta poderia estar escondido em qualquer lugar.
— E se eles estiverem nos observando agora, fazendo parecer que
fizemos isso com Terry? — Eu apontei para o corpo.
— Eles não têm nenhuma evidência para provar que tivemos algo a
ver com isso. — Ryder franziu a testa para o corpo. — Mas por que aqui?
De todos os lugares, por que colocar o corpo aqui?
Alguns minutos se passaram sem ninguém falar.
Kellan falou com uma voz gentil. — Acho que preciso ligar para o meu
pai. Um cadáver colocado em sua propriedade é algo que não podemos
dar conta sozinhos, Ryder.
Ele olhou para o corpo. — Essa pessoa realmente quer que sejamos
pegos por esse assassinato. Meu pai diria que um assassinato como este é
definitivamente pessoal.
Cada um de nós olhou para o corpo em silêncio.
Silver rosnou. — Por que estamos apenas parados aqui olhando para
um cadáver como se ele fosse voltar à vida? Devíamos estar lá fora
procurando por esse psicopata agora. Pelo que sabemos, ele ainda pode
estar lá.
Ela apontou para a floresta.
Mais silêncio.
Ryder não disse nada por um tempo. — Kellan, ligue para seu pai, mas
certifique-se de que ele não traga nenhum repórter aqui. A última coisa
que preciso é de pessoas apontando o dedo para mim, me fazendo
parecer o assassino.
Ele dispensou Kellan e olhou para seus dois betas.
— Eu quero que vocês dois fiquem longe quando o pai de Kellan
chegar aqui. Façam o que acharem necessário. Investiguem a área,
procurem por pegadas, mas, pelo amor de Deus, não se transformem.
Não queremos adicionar mais combustível ao fogo.
Silver e Bane foram embora sem dizer uma palavra.
Ryder se aproximou de mim e pousou as mãos suavemente em meus
ombros.
— Os policiais estarão aqui em breve, vasculhando a área por algumas
horas. Você pode ficar e se limpar, ou posso te levar para casa.
Minha mãe demoraria algumas horas para chegar em casa, e a ideia de
ficar sozinha — especialmente com alguém lá fora me olhando — me
enojou.
— Eu vou ficar, se estiver tudo bem para você. Eu não quero ficar
sozinha depois que... — Eu olhei para Terry e senti meus olhos se
enchendo de lágrimas novamente.
Ryder imediatamente me puxou para seus braços e me segurou por
alguns minutos. — Você pode ficar comigo o tempo que quiser. É mais
fácil para mim protegê-la se você estiver comigo.
Eu passei meus braços em volta do seu pescoço e o puxei para perto de
mim. Foi o primeiro contato que tive com outra pessoa desde que
encontrei Terry, e tudo se tornou muito opressor.
Pouco depois do momento com Ryder, eu saí para entrar em casa e ir
ao banheiro do quarto de Ryder.
Agora, de volta ao presente, passei um bom tempo no chuveiro,
tentando organizar meus pensamentos e pensar sobre o que acontecerá
quando se espalhar a notícia de que Terry se tornou uma vítima do
assassino.
Algo me diz que depois dessa morte, os cidadãos vão começar a
perceber que há gente desaparecida.
Mas será que as pessoas desta cidade pequena perceberão o perigo que
correm ou irão ignorar completamente o fato de que há um assassino em
série à solta?
Estou tão perdida em pensamentos que não noto a porta do banheiro
se abrindo. O vapor da água cobre a porta do chuveiro, escondendo
quem entrou sem avisar.
Meu coração começa a bater e acho que o pior vai acontecer.
— Quem está aí? — Tento parecer confiante, mas minha voz treme.
— Relaxe, sou só eu.
Eu relaxo no momento em que ouço a voz calmante de Ryder.
— Eu bati, mas não ouvi sua resposta. Então, pensei em ver como você
está, se você está bem.
Eu suspiro e tento me cobrir, embora ele não possa me ver.
— Sinto muito, estava pensando em Terry e em como as pessoas vão
reagir quando começarem a perceber que ele e o Sr. Daniels se foram.
Ryder está na frente da porta do chuveiro, onde posso ver sua silhueta.
— Nós vamos encontrar quem está matando essas pessoas. Eles
cometerão um erro; eles serão pegos e nós estaremos lá quando eles o
fizerem.
Por que não me sinto segura?
Desligo a água e me sento no chão de ladrilhos.
— Eu simplesmente não posso acreditar que ele se foi. Quero dizer, o
que devo fazer quando aparecer no restaurante amanhã? Eu ajo como se
nada tivesse acontecido?
— Se isso vazar, ir ao restaurante amanhã pode não ser uma boa ideia.
O assassino pode estar lá, procurando sua próxima vítima. Por alguma
razão, eles foram atrás de Terry. Tudo o que posso pensar é se você se
machucar.
— Por que eu iria me machucar? Não fiz nada de errado. Eles já me
machucaram matando duas pessoas que eu considerava amigas.
Ryder suspira. — Só fique longe do restaurante. Pelo menos até que as
pessoas parem de fazer perguntas.
— E quanto tempo isso vai demorar?
Ryder encolhe os ombros. — Não sei, mas de agora em diante vamos
nos vigiar. Pelo que sabemos, a pessoa que tirou essas fotos de você pode
ser a mesma pessoa que matou essas pessoas.
Eu suspiro. — Ryder, eles têm fotos minhas me transformando. Sinto
muito por colocá-lo nesta posição.
Ryder não diz nada, apenas abre a porta do chuveiro.
Eu trago meus joelhos mais perto do meu peito. Ele me viu neste
estado mais de uma vez. Eu não consigo pedir a ele para ir embora depois
de tudo que ele fez por mim.
Ryder vem se sentar ao meu lado com as pernas esticadas na frente
dele. — Nunca se desculpe quando não for sua culpa.
Eu olho para ele. — Mas é minha culpa. Eu deveria ter sido mais
cuidadosa, ou pelo menos me esconder em algum lugar na floresta e fora
de vista.
Ryder balança a cabeça. — É culpa deles por invadirem uma
propriedade privada. Pare de se culpar, Alice. Eles nem deveriam estar lá
pra começo de conversa.
Um momento de silêncio passa.
— Ryder, eu tenho que te dizer uma coisa.
— O que é?
— É sobre Max.
Ryder cerra os dentes e acena com a cabeça.
Eu limpo minha garganta. — Quando Max veio para a escola no
primeiro dia, conversamos sobre algumas coisas. Ele me contou algo
sobre sua mãe que descobri que era mentira.
Ele indica para eu continuar.
— Ele me disse que a mãe dele trabalha no hospital, mas ontem à
noite perguntei à minha mãe se ela trabalha com alguém com o
sobrenome Fields. E a questão é que ela me disse que nunca tinha visto
esse nome antes.
Eu franzo a testa. — Minha mãe trabalhou lá por mais de vinte anos.
Por que ele mentiria sobre algo assim?
Ryder não mostra nenhuma expressão além de uma ligeira carranca
no rosto. — Não sei.
— Olha, acho que você está certo sobre ficar longe dele, porque desde
que ele veio para a Cidade Pequena é como se tudo tivesse desmoronado
ou algo tivesse dado errado.
Eu balancei minha cabeça. — Primeiro as mentiras, e aquela
recuperação misteriosa que ele teve depois de uma luta. Tenho certeza de
que ele provavelmente já se recuperou da briga da noite passada.
— Eu juro, Alice, a luta que você viu ontem à noite foi a única pela
qual fui responsável.
Eu olho de perto para Ryder e, por algum motivo, sinto que ele está
dizendo a verdade. — Ok, eu acredito em você.
Ryder balança a cabeça e levanta-se do chão, preparando-se para sair.
— Fui procurar algumas roupas para você, mas só consegui encontrar
essas.
— Obrigada.
Ryder olha para minha posição no chão e limpa a garganta. — Se toda
essa situação do Max incomoda você, podemos sempre perguntar a ele,
você sabe.
Eu zombo. — Espero que você não queira bater nele de novo.
— Alice, eu só fiz isso porque ele mentiu sobre a primeira surra. Eu
não brinco quando se trata de ser culpado por algo que não fiz.
Não digo nada.
— Se você quiser, nós iremos e você pode perguntar a ele o que você
quiser saber. É melhor saber do que não saber. É tudo o que estou
dizendo.
Eu penso por um momento se confrontar Max é uma boa ideia, mas
depois de hoje eu preciso de respostas mais do que qualquer coisa.
— Eu vou amanhã. Você pode vir comigo, se quiser.
Ryder sorri. — Eu adoraria.
Capítulo Dezoito
Alice

Ryder me deixou em paz logo depois de concordar que iria comigo


para a casa de Max amanhã.
Pelo que sabemos. Max pode ser inocente de tudo isso.
Mas a noite de ontem ainda está passando pela minha cabeça depois
do que minha mãe me disse, e a única maneira de me sentir mais
tranquila é perguntar a Max sobre isso pessoalmente.
Eu me levanto do chão e decido me vestir. Pego a toalha mais próxima
para me secar rapidamente.
As roupas que Ryder trouxe para mim estão em uma pilha em cima do
balcão do banheiro. Eu vasculho uma por uma, notando um monte de
roupas indecentes que eu nunca usaria.
Acho que são coisas da Silver.
Por baixo de todas as roupas minúsculas, encontro uma camiseta
branca lisa, coloco-a rapidamente e noto algumas calças de moletom
cinza perto do chuveiro que obviamente são de Ryder.
Uma parte de mim acha que seria um pouco inapropriado usá-lo, mas
não tenho outra escolha a não ser usar o moletom.
Eu sorrio para mim mesma com o conforto que eles fornecem, em
seguida, saio do banheiro e vou para a cozinha. Eu paro quando ouço
duas vozes familiares, e uma irreconhecível.
Eu calmamente e cuidadosamente me inclino para ver de quem é a
voz, apenas para ver um homem ao lado de Kellan em um uniforme de
policial.
Ele tem cabelo grisalho e olhos muito cansados. Ele olha para Ryder
sobriamente, que está na frente dele.
Ele está vestindo uma camiseta agora, e seus braços estão cruzados
sobre o peito em uma postura relaxada.
— Ryder, você sabe que penso em você como um filho, mas tenho que
lhe fazer essas perguntas porque é minha obrigação.
Ryder balança a cabeça. — Eu não o matei, Tom. Você realmente acha
que eu faria algo assim?
— Claro que não, mas no momento você é um suspeito, considerando
onde o corpo foi encontrado.
Kellan olha para o oficial. — Nenhum de nós fez isso, pai, mas estou
dizendo a você que alguém o colocou lá intencionalmente para fazer
parecer que Ryder fez isso.
Tom acena com a cabeça. — Não estou apontando o dedo para
ninguém, mas terei que fazer essas perguntas. Estou apenas fazendo meu
trabalho, então coopere comigo, ok?
Ryder zomba. — Tudo bem.
O policial pega um bloco e uma caneta, e pigarreia. — Onde você
estava entre 10h e 12h de hoje?
Ryder não hesita. — Eu sai para correr.
— Seja mais específico. Para onde você correu?
Ryder suspira e aponta para trás de Tom, em direção ao vão na floresta
pela qual todos nós passamos. — Através daquele vão lá, e então na
floresta.
Tom anota a declaração de Ryder. — Você estava com alguém ou
estava sozinho?
— Seguimos caminhos separados para a corrida hoje, mas nenhum de
nós estava na área quando o assassinato ocorreu.
Tom acena com a cabeça novamente. — Alguém pode garantir isso?
— O quê? Por que você está me perguntando isso, Tom? Você está
realmente tentando me culpar? — Ryder pergunta bruscamente.
Tom abaixa o bloco e olha diretamente para Ryder. — É o protocolo.
Se alguém pode atestar por você, então posso riscá-lo como um suspeito.
— Por que é importante se eu estava com alguém ou não?
— Bem, havia alguém? — Tom pergunta impaciente.
— Sim, ela estava lá.
Minha atenção é atraída para Kellan, que olha em minha direção com
o dedo apontando para mim.
Cabeças balançam em minha direção, incluindo a do oficial. Ryder
observa minha aparência, como se aprovasse o fato de que estou usando
suas roupas.
O oficial, por outro lado, me olha com curiosidade.
— Quem é você? — Tom inclina a cabeça, como se estivesse tentando
entender por que estou nesta casa, com essas pessoas.
Por que, de repente, me sinto tão mal recebida?
Kellan acena para mim. — Esta é Alice. Ela é...
— Minha namorada, — Ryder termina para Kellan. Ambos trocam
olhares.
Eu fico lá em silêncio, sem saber o que dizer ou fazer com a declaração
de Ryder, mas decido acompanhar os eventos.
Tom franze a testa e indica para eu avançar. — E qual é o seu nome?
Eu me aproximo do oficial, fico ao lado de Ryder e sorrio suavemente.
— Eu sou Alice Smith.
Tom observa toda a minha aparência, olha para Ryder, depois para seu
próprio filho. — Você está ciente do que aconteceu aqui hoje, Alice?
Eu concordo. — Eu estou ciente, sim. Terry era um cara legal.
Tom me olha como se eu tivesse despertado sua curiosidade. — Você
conhecia a vítima? — Ele escreve em seu bloco de notas.
— Sim, trabalhamos juntos na lanchonete. — Posso sentir que estou
ficando emocionada só de falar sobre ele.
— E você e a vítima eram... próximos?
— O que você está sugerindo? — Ryder rosna. — Que ela estava
envolvida romanticamente com um cara que é velho o suficiente para ser
seu pai?
As palavras de Ryder me fazem estremecer, o que ele percebe
imediatamente. Ele me olha se desculpando.
Eu balancei minha cabeça. — Terry era alguém que considerava um
amigo muito próximo. Ele sempre era reservado e adorava trabalhar na
lanchonete. Era como sua segunda casa.
Eu enxugo uma lágrima.
Tom me olha com tristeza. — Rapazes, gostaria de ter uma palavrinha
com a Alice aqui, sozinha.
Por que o Tom quer falar comigo? Ele não acha que eu sou uma
suspeita, acha?
Ryder parece que vai discutir com o policial, mas se recompõe quando
Tom o assegura que é apenas para falar comigo.
— Ryder, eu só quero falar com ela. Não estou acusando ninguém de
nada. — Tom olha para Kellan. — Vejo você de volta em casa, filho.
Kellan sai da sala, levando Ryder com ele.
Assim que a porta da casa se fecha. Tom indica para eu me sentar à
mesa. — Você gostaria de algo para beber, Alice?
Eu sorrio suavemente e aceno com a cabeça. — Um copo de água, por
favor.
Silenciosamente, Tom pega um copo, enche-o com água e o dá para
mim.
— Obrigada.
Tom se move para se sentar na cadeira à minha frente e pigarreia. —
Alice, eu sei que isso deve ser difícil para você, e sinto muito por sua
perda.
Sento-me em silêncio, ouvindo o que o pai de Kellan tem a dizer, mas
não há nada que alguém possa dizer agora para me fazer sentir melhor.
Ouvir que o Sr. Daniels havia morrido foi uma surpresa completa, e eu
ainda mal acreditava que isso realmente aconteceu.
Mas depois de encontrar o cadáver de Terry, posso finalmente
acreditar que o Sr. Daniels também está morto.
— Eu realmente não sei para onde vou a partir daqui, — eu digo.
Tom suspira. — Perder alguém que era próximo a você vai doer, e
levará uma quantidade de tempo suficiente para o coração se curar. Mas
posso dizer que você é uma jovem forte e independente.
Eu balancei minha cabeça. — Isso não é verdade, oficial. Se eu fosse
uma mulher forte, estaria lá tentando procurar o assassino, mas em vez
disso, estou tentando decidir o que fazer a seguir.
Tom franze a testa. — Você perdeu alguém de quem gostava
profundamente, e esse sentimento não desaparece depois de algumas
horas. Pode levar dias, meses ou mesmo alguns anos para superar algo
que você perdeu.
Eu enxugo outra lágrima. — Ainda posso ver o cadáver de Terry
dentro da minha cabeça. Quanto tempo vai demorar para tirar essas
imagens da minha mente?
Tom balança a cabeça. — Isso vai levar algum tempo e não vai ficar
mais fácil, Alice. Só o tempo o dirá de verdade.
Alguns minutos se passam em um silêncio desconfortável.
— Você estava lá quando o corpo do Sr. Daniels foi encontrado? — Eu
pergunto eventualmente.
Tom acena com a cabeça. — Eu estava lá no local quando seu corpo foi
encontrado em sua casa.
— Você acha que o que quer que o tenha matado fez o mesmo com
Terry?
Ele encolhe os ombros. — Não posso dizer com certeza, mas a causa
da morte de ambas as vítimas é muito semelhante.
Não tenho certeza do que estou tentando realizar aqui, mas por algum
motivo, não consigo parar de perguntar a Tom sobre o que aconteceu
com o Sr. Daniels naquela noite.
— Sr. Daniels foi encontrado em pedaços, não foi? — Eu pergunto,
embora já saiba a resposta.
Tom desvia o olhar. — Este não é o momento certo para falar sobre
essas coisas.
— Mas é verdade, não é? — Eu espero pacientemente.
Agora seria uma boa hora para perguntar sobre a morte de Anna.
considerando que ela foi encontrada em pedaços também?
Ele lentamente olha para mim e acena com a cabeça. — A suspeita é
que essas vítimas provavelmente foram mortas por um animal, mas não
há evidências suficientes para mostrar o que realmente as matou.
Pego o copo e tomo um gole da água. — Talvez não seja um ataque de
animal, mas não consigo pensar em por que alguém iria querer matá-los,
a menos que ele tivesse um bom motivo. O que eu sinceramente duvido.
Tom apenas encolhe os ombros. — Talvez haja um motivo, mas ainda
não o encontramos.
Eu bato o copo na mesa. — Bem, então você precisa encontrá-lo antes
que outra pessoa morra.
Seus olhos se arregalam com a minha resposta.
Eu respiro fundo. — A próxima vítima pode ser qualquer um, ou você
não percebe isso, policial? Por que você não foi à imprensa? Por que
manter os assassinatos em segredo da cidade?
Estou bombardeando-o com perguntas que quero respondidas, mas
algo me diz que não vou arrancar nada do pai de Kellan.
Ele olha para o chão.
— Eu e os outros oficiais estamos fazendo tudo o que podemos. A
polícia não foi aos repórteres porque queremos ter certeza de que
sabemos exatamente quem é o responsável se é um animal ou um
humano.
Ele suspira. — Não queremos assustar a cidade.
Por alguma razão, posso entender por que a polícia não procurou os
repórteres. Quem sabe o que poderia acontecer se toda a cidade
descobrisse que existe um assassino por aí.
Eu me levanto da cadeira, me preparando para sair, quando Tom de
repente também se levanta. — Antes de sair, gostaria de lhe perguntar
uma coisa.
Ele me olha perplexo. — Você e o Sr. Daniels se davam bem?
Ele está falando sério?
— Primeiro você me pergunta se eu era próxima de Terry, e agora você
está me perguntando se eu me dava bem com meu professor de inglês. O
que você realmente quer saber? — Eu pergunto.
Ele fica sério. — Eu tenho meus motivos para te fazer esta pergunta,
Alice. Depois de ouvir você falar sobre Terry, não posso deixar de
suspeitar de que talvez você esteja de alguma forma envolvida neste caso.
O quê!?
— Como eu poderia estar envolvida neste caso?
Tom alisa o cabelo para trás em frustração. — Eu sei como isso deve
soar para você, mas apenas me ajude aqui.
Eu só posso olhar para ele e me perguntar onde me encaixo em tudo
isso.
— Se você quer saber oficial, o Sr. Daniels era um grande professor
que amava seu trabalho e se importava com muitas pessoas. Ele sempre
se certificou de que, se algum aluno seu precisasse de ajuda ou apoio
extra, ele estaria lá para ajudá-lo.
Eu estreito meus olhos. — Então, para responder à sua pergunta sobre
se eu me dava bem com ele, então a resposta é claro que sim. Ele estava
sempre lá sempre que eu precisava de alguém para conversar sobre meu
pai, que foi embora.
Está ficando difícil falar.
— E não importa o que aconteça, ele sempre ouvia. Ele me dizia que
eu não precisava de um pai, porque era forte o suficiente para cuidar de
mim e de minha mãe. Espero que isso responda à sua pergunta.
Deixo Tom sozinho na cozinha e corro para a frente da casa, em
seguida, caminho em direção ao meu carro.
Estou abrindo a porta quando ouço meu nome sendo chamado várias
vezes.
Eu ignoro a voz e começo a entrar no carro, quando uma mão agarra
meu braço e me puxa. Eu me viro e olho diretamente nos olhos de Ryder.
— Onde você pensa que está indo?
Eu removo a mão de Ryder do meu braço e volto para o carro. —
Longe daqui, onde não serei interrogada como uma criminosa.
A voz de Ryder se aprofunda. — Tom disse algo para você?
Eu zombo. — Sobre o que você acha que estivemos conversando na
última meia hora? O clima?
Ryder apenas olha para mim. — Ele te deu trabalho lá dentro?
— Trabalho? Ele pensa... — Eu balanço minha cabeça, estupefata. —
Ele acha que estou de alguma forma envolvida no caso, porque conhecia
as vítimas.
— O quê? — Ryder me olha confuso. — Por que ele pensaria que você
está envolvida?
Eu aponto para mim mesma. — Você está me perguntando? Eu nem
sei onde me encaixo nisso.
Ryder está na minha frente e segura minha bochecha suavemente. —
Tom está sob muito estresse e provavelmente não estava pensando
direito quando disse isso para você.
Eu fico olhando para ele por um momento e considero suas palavras.
— Não estamos todos sob muito estresse depois do que aconteceu hoje?
Ryder desvia o olhar de mim. — Vamos encontrar quem tirou essas
fotos de você. Estou lhe dizendo agora, não vou parar até encontrar essa
pessoa e fazê-la sofrer pelo que fez.
Ele olha para mim. — Mas até então, você não sai do meu lado até que
eu saiba que você está segura novamente.
Se isso não é uma coisa legal de se dizer a alguém, então não sei o que
é. Eu limpo minha garganta. — Mas e se nunca pegarmos quem fez isso?
Ryder sorri. — Então, sugiro que você faça as malas e se prepare para
ficar comigo para sempre. — Ele ri enquanto se afasta.
Isso não parece divertido. Em absoluto.
— Você não está falando sério, está? — Eu pergunto.
Ryder me encara com as mãos nos bolsos. — Eu não brinco quando se
trata de sua segurança, Alice.
— Mas minha mãe...?
— Ligue para sua mãe e diga a ela que você vai ficar com Sam por
alguns dias. Tenho certeza de que ela não vai se importar. — Ryder
caminha de volta para a casa sem olhar para trás.
Ficar aqui com Ryder, Silver, Bane e Kellan seria urna boa ideia? Por
alguma razão, sinto-me um tanto protegida sempre que estou com eles.
Mas também me sinto muito mal por deixar minha mãe sozinha
naquele casarão. Ela quase nunca está em casa, e sei que ela passa a maior
parte do tempo no hospital.
Não quero que eia sinta que a estou deixando, como meu pai fez.
Mas alguém aí sabe a verdade sobre mim. Sei que o que estou prestes a
fazer pode ser a decisão errada a tomar, mas algo me diz que está certo.
Entro na casa dos lobos, disco o número da minha mãe e espero
pacientemente que ela atenda.
Capítulo Dezenove
Alice

O resto da noite passa como um borrão. Fico sozinha, passando a


maior parte da noite em um dos quartos de hóspedes, pensando em
como será o amanhã.
Lembro-me da última vez que falei com Max e como deixamos as
coisas sem resolver naquela noite quando ele me beijou. Foi apenas por
um segundo, mas pareceu muito mais tempo.
Saber que vou ter que encará-lo amanhã me deixa inquieta. Eu
gostaria de saber o que acontecerá quando finalmente confrontarmos
Max sobre suas mentiras.
No momento em que a ligação terminou com minha mãe, eu fui em
busca de Ryder e perguntei se havia um lugar onde eu pudesse descansar
durante a noite.
Ele me mostrou o quarto grande em que eu ficaria nas próximas
noites e me garantiu que, se eu precisasse de alguma coisa, eu só teria
que pedir a ele.
Ele também me disse que o jantar seria às seis horas, ao que eu o
informei que ficaria no quarto o resto da noite.
No momento em que ele saiu da sala, eu olhei ao redor para o quarto,
observando a bela decoração.
As paredes pintadas de roxo são decoradas com vários tamanhos de
flores. Uma cama com dossel fica em frente à grande janela com vista
para a floresta.
Duas mesas de cabeceira são colocadas ordenadamente em cada lado
da cama, e uma espreguiçadeira repousa no final da cama. Há uma pilha
de roupas cuidadosamente empilhadas em cima dela.
Ando para o lado esquerdo do quarto e noto uma estante de livros
com vários romances que são obviamente adequados para uma jovem
adolescente.
Quem possui este quarto gosta de ler sobre vampiros e romance.
A quem isso poderia pertencer?
Eu rio para mim mesma e olho para o relógio pendurado do outro
lado da sala para ver que são cinco e meia.
Eu me pergunto se os lobos estão preparando o jantar, ou se já estão
comendo. Na verdade, estou surpresa que, depois de hoje, eles tenham
apetite.
Hoje definitivamente não é como eu imaginei que as coisas seriam, e
está tudo muito desgastante. O mundo perdeu uma pessoa boa hoje e
será difícil aceitar que ele se foi.
O trabalho será diferente de agora em diante, e o que torna as coisas
piores é que Robbie provavelmente nem saberá para onde foi seu
funcionário mais confiável.
O fato de apenas eu e algumas outras pessoas saberem exatamente o
que aconteceu com Terry me faz sentir culpada. Eu gostaria de poder
contar às pessoas a verdade sobre o que está acontecendo nesta cidade.
Ando até a pilha de roupas na espreguiçadeira, onde encontro uma
boxer masculina preta e uma camisa branca lisa.
Eu visto o que presumo serem as roupas de Ryder, subo na cama e me
envolvo na colcha preta e prata.
Decido ir para a cama, preparando-me para o temido dia que me
espera amanhã.
Capítulo Vinte
Alice

Eu estava de pé e pronta para ir às oito horas.


Por volta das oito e meia, eu tomei banho, escovei os dentes e vesti
uma calça jeans e um moletom enorme que foi deixado para mim na
espreguiçadeira.
No momento em que abro a porta do quarto, o cheiro de bacon enche
meus sentidos.
Meu estômago ronca de desejo, lembrando-me que eu não tinha
comido nada no dia anterior.
Entro na cozinha, onde vejo diferentes sabores de suco, uma salada de
frutas frescas, torradas frescas e vários sabores de cereais colocados
ordenadamente na mesa da cozinha.
Meu estômago ronca novamente enquanto eu como a comida
intocada que foi preparada para mim.
— Bom dia. — Eu me estremeço quando a voz rouca de Bane chama
minha atenção. Eu o vejo servindo um copo de suco de laranja.
Eu olho para trás para ver se ele está realmente falando comigo, então
aponto para mim mesma. — Você está falando comigo?
— Com quem mais eu estaria falando? A parede? — Bane me vira as
costas, de olho no bacon.
Eu não sei por que, mas Bane falando tão bem meio que me assusta,
considerando que ele sempre age como um idiota.
— Não sei. É que você sempre me olha como se eu fosse lixo, então é
muito estranho que você esteja falando como um ser humano normal. —
Puxo uma cadeira e sento à mesa.
Ele bufa. — Eu olho para todo mundo assim. Por que eu deveria tratá-
la de forma diferente?
Esse é o idiota que eu conheço tão hem.
Eu fico olhando para suas costas com lasers imaginários, desejando ter
um real. — Que seja.
Eu me sirvo um pouco de suco de maçã e manteiga em uma torrada
quando ouço alguém descendo as escadas.
Os passos são muito pesados para serem de Silver e Kellan
provavelmente está em sua casa com seu pai. Quando Ryder aparece, é
muito difícil tirar meus olhos dele.
Oh, Senhor.
Ele entra na cozinha, passando a mão pelo cabelo que acabou de lavar.
Ele está vestindo uma camisa branca justa que mostra seu corpo
perfeitamente esculpido e jeans preto com os pés descalços.
Ele sorri, senta-se bem na minha frente e serve um pouco de suco de
cranberry para si mesmo. Nenhum de nós quebra o concurso de encarar
do qual parecemos participar.
Então Silver entra na cozinha e marcha até onde Bane está.
— Vou querer um pouco desse bacon, Bane. — Silver inala o cheiro
antes de se sentar ao lado de Ryder.
Bane franze a testa atrás dela. — Você pensou que isso era para você?
— Ele zomba enquanto segura um sanduíche de bacon que
imediatamente faz minha boca encher de água.
— Eu não sou a vadia de ninguém, Silver, especialmente a sua. — Ele
dá uma mordida no sanduíche e sai da cozinha, seguido por Silver, agora
irritado.
Ryder balança a cabeça. — Eu juro, aqueles dois ainda vão ser a causa
da minha morte.
— Eles são tão ruins assim? — Tomo outro gole de suco de maçã.
Ryder pega a tigela de salada e serve uma tigela para si mesmo.
— Quando eles entraram na minha matilha, eles se odiavam. Não
poderia nem estar na mesma sala sem um ou outro começando uma
briga.
— Por que eles se odiavam tanto?
Ele encolhe os ombros.
— Não posso dizer com certeza, mas acho que tem algo a ver com os
dois serem meus belas. Veja, Silver pensou que, porque estávamos
dormindo juntos, ela tinha o direito de ser minha segunda no comando.
Ele faz uma pausa.
— Mas Bane salvou minha vida mais de uma vez. Ele ganhou esse
direito para si mesmo e nunca vai desistir dele. Eu sei que ele parece rude
e teimoso, mas ele é leal e é bom no que faz.
Isso eu posso acreditar.
— Como você os fez parar de lutar? — Eu pergunto.
— Foi simples. Eu disse a Silver para superar isso, ou ela seria chutada
para fora da matilha.
— Uau, aposto que ela aceitou bem, — digo sarcasticamente.
Terminamos de tomar nosso café da manhã em um silêncio
confortável.
Não falamos sobre o que pode acontecer hoje, ou se algo pode dar
errado, mas só posso imaginar o pior quando envolve Max e Ryder.
Depois de limpar a louça suja, subo as escadas para o quarto e coloco o
moletom e a camiseta que usei ontem.
Não penso duas vezes sobre como estou quando saio de casa e
encontro Ryder em um carro esporte preto esperando por mim.
No momento em que fecho a porta e coloco o cinto de segurança,
estamos a caminho da casa de Max.
Chegamos à porta de sua casa quarenta minutos depois. Ao longo de
toda a jornada, fico me perguntando como Ryder já sabia onde Max
morava.
Eu sei que ele é um lobo e tudo, mas um lobo pode realmente levar
você para a casa de alguém?
Do que estou falando, claro que sim.
Observo o pequeno bangalô na minha frente. Para ser sincera, não
esperava que Max morasse em um lugar tão pequeno e desleixado.
Que bagunça.
Não tenho certeza do que esperava, mas definitivamente não é o que
imaginei.
Eu saio do carro, com Ryder logo atrás, e vou em direção à porta. Eu
olho para trás, para Ryder, sem nenhum motivo real.
Talvez eu esteja olhando para ele em busca de uma resposta sobre se
devemos fazer isso ou não. Quando ele acena para que eu continue, eu
sei que tenho minha resposta.
Depois de bater algumas vezes, não há nenhum sinal de Max.
Eu até ligo e mando mensagens para ele algumas vezes perguntando
onde ele está, mas não recebo resposta.
Estou pensando em desistir quando Ryder me surpreende me tirando
do caminho e chutando a porta da frente.
— O que diabos você pensa que está fazendo? Você não pode
simplesmente derrubar a porta de alguém! — Eu olho em volta para ver
se alguém viu.
Ele chuta a porta novamente, fazendo-a bater contra a parede e
quebrar suas dobradiças com sua força. — De que outra forma vamos
entrar?
Eu fico na porta, debatendo se devo entrar em casa ou não. —
Poderíamos ter apenas esperado que Max chegasse aqui!
— Nah, isso não funciona para mim.
Eu reviro meus olhos. — Nada funciona para você, não é?
Sua cabeça se vira em minha direção. — O que diabos isso significa?
— Nada. Esqueça. — Eu entro em casa e olho ao redor. Ficamos um
em frente ao outro na sala de estar em completo silêncio.
— E daí? Nós apenas esperamos ele chegar aqui? — Sento-me no sofá
de couro marrom enquanto Ryder fica de pé no meio da sala.
— Esse é o plano, — ele responde.
— E nós vamos apenas falar com ele.
Ele não diz nada.
— Certo? Você tem que lembrar que ele não é um alfa como você,
então sem brigas, ok?
— Tudo o que você disser, — ele range para fora.
Esperamos uma hora inteira. Quando pensamos que ele não
apareceria, ficamos ambos assustados com o som da porta dos fundos
batendo.
Permanecemos quietos em nossas posições, esperando que Max
apareça. Não há surpresa quando ele aparece menos de um minuto
depois, sem nenhum sinal de lesão da luta com Ryder.
Ele encara a porta quebrada em confusão. — Que porra é essa, cara?
— Max olha para Ryder com uma carranca de desaprovação.
Algo me diz que não foi uma boa ideia vir aqui, afinal.
Ryder suspira e olha para ele com uma expressão entediada, — Sente-
se. Nós precisamos conversar.
— Sobre o quê? Qual poderia ser um motivo tão grande para arrombar
minha porta?
Eu me levanto do sofá. — Eu tentei ligar e mandar mensagem, mas
você não atendeu.
Max zomba. — Você fez isso porque eu não atendi o telefone? — Ele
indica a bagunça da porta.
— Por favor, Max. Só queremos conversar.
Ele acena para a porta. — Feche a porta ao sair. Oh, espere, eu nem
tenho a porra da porta depois do que seu namorado fez com ela.
Ele se afasta, me deixando sozinha na sala.
Eu fico lá por algum tempo, pensando sobre o que acabou de
acontecer.
Uma parte de mim se sente aliviada por ter que fazer a Max as
perguntas que estavam me incomodando, mas a outra parte parece que
realmente não conseguiu nada.
Eu sei que Max realmente não cooperou muito, mas seu rosto disse o
suficiente para me fazer perceber que ele é um mentiroso e que não é
alguém com quem posso me associar mais.
Essa foi sua última chance de provar que você poderia ser alguém em
quem eu podia confiar, mas você continuou a mentir. Pensei com tristeza.
Eu não vou ouvir mais suas mentiras.
Limpo a garganta e continuo: — Você foi espancado gravemente.
Feridas como essa normalmente demorariam dias para se fechar, mas por
algum motivo, depois de um dia, não há nem um arranhão para ser
encontrado em você.
Eu olho para ele. — Como você explica isso?
Eu o vejo assimilar minhas palavras. Eu me pergunto o que está
passando por sua mente.
E possível que ele esteja pensando em maneiras de mentir para mim?
Ele simplesmente dá de ombros. — Talvez eu apenas me cure mais
rápido do que os outros. Talvez eu saiba como cuidar de mim depois de
uma briga.
— Chega de mentiras, Max.
Max se inclina para frente.
— Não estou mentindo para você, Alice. Você estava lá comigo
naquela noite quando Ryder e eu brigamos. Você me ajudou quando todo
mundo apenas olhou e riu do novato levando uma surra dele. Mas não
você.
— Você está tentando evitar responder à pergunta?
— E daí se eu estiver? Você vai ligar para Ryder e pedir a ele para
arrancar as respostas de mim? — Ele zomba.
— Claro que não. A violência não resolve nada. No mínimo, torna as
coisas piores.
— Eu não poderia concordar mais. — Max fica em silêncio por um
tempo, depois suspira. — Então, qual é a sua próxima pergunta?
— Você não respondeu nem a primeira.
Ele franze a testa. — Eu respondi. Não te contei como me recuperei
tão rápido? Mas visto que você optou por ignorar isso, então acho que
terminamos aqui.
— Por que você está sendo tão rude?
Ele suspira aborrecido. — Alice, só estou aqui há uma semana e as
pessoas já estão me chamando de mentiroso. Já fui espancado duas vezes
por dizer a verdade, e as pessoas ainda me acusam de ser um mentiroso.
Ele franze a testa. — Então, peço desculpas se pareço um pouco
chateado com isso.
Pego minha trança e a coloco sobre meu ombro. — Então, você está
me dizendo que tudo o que você disse é a verdade absoluta?
Max sorri. — Eu sempre digo a verdade e definitivamente não
mentiria para você. Principalmente você, Alice. Nós somos amigos.
Aqui vai.
— Então me responda isso. Por que você mentiu sobre onde sua mãe
trabalha?
Seu sorriso desaparece imediatamente. — O quê?
Eu realmente o peguei mentindo?
— Nem tente sair dessa. Desde que te vi naquela cadeira de hospital,
parecendo que te peguei fazendo algo que não deveria ter visto, isso me
incomodou muito.
Eu me movo para ficar em frente a ele e cruzo os braços sobre o peito.
— Naquela noite, depois da festa, perguntei à minha mãe se ela
conhecia uma mulher que trabalhava no hospital com o seu sobrenome.
Você consegue adivinhar qual foi a resposta?
Max não diz nada. Ele apenas me olha com uma expressão ansiosa.
— Ela disse que ninguém com o sobrenome Fields trabalha no
hospital. — Eu balancei minha cabeça. — Na verdade, me enoja que você
tenha se sentado aí e mentido descaradamente.
— Já basta! Saia da minha casa! — Ele grita.
— O que você está tentando fazer? Você está tentando cavar sua
própria cova?
Ele rosna. — Eu não preciso me explicar para você.
— Não, porque você estaria mentindo para mim de qualquer maneira.
Max se levanta do sofá e fica bem na minha frente, sua respiração
curta e rápida. — Pare de dizer isso.
— Mas é verdade, não é? Você é um mentiroso, Max, e precisa se
recompor!
Ele apenas balança a cabeça e murmura. — Você não sabe nada.
Max balança a cabeça. — Eu não preciso fazer nada. Alice. Eu
apreciaria se vocês dois saíssem.
— Isso levará apenas alguns minutos. — Dou um passo em sua
direção.
Ele cerra os dentes. — Eu disse não. Não vou pedir de novo.
Ryder se move para ficar na minha frente, com os braços cruzados
sobre o peito.
— Você vai conversar, porque viemos aqui por um motivo e não
vamos sair até que você nos dê o que precisamos.
Max revira os olhos. — E o que vocês precisam de mim?
— Respostas. — Dou mais um passo em direção a ele.
— Que respostas vocês poderiam querer de mim? — Ele olha
intensamente para nós dois.
— Bem, primeiro que tal nos contar, idiota...
Eu interrompo Ryder. — Ryder, por favor. — Dou uma olhada para
indicar que vou falar. Não posso arriscar que ele irrite Max antes de
obtermos qualquer resposta.
Limpo minha garganta e começo meu interrogatório. — Você se
lembra daquele dia, no campo de futebol, quando te vi de muletas?
— É claro que eu me lembro. É meio difícil esquecer uma briga que
aconteceu no meu primeiro dia de aula. — Ele olha para Ryder.
A postura de Ryder fica rígida enquanto ele encara Max diretamente.
— Que porra você está olhando?
Sim, talvez trazê-lo tenha sido uma má ideia.
Max zomba. — Para quem você pensa que estou olhando? Estou
olhando para você, idiota, considerando que foi você quem já me deu
uma surra duas vezes!
Ryder se levanta do sofá, agarra Max pela gola da camisa e o joga
contra a parede.
— Ryder, pare com isso! — Eu grito, esperando que ele não seja
estúpido o suficiente para tornar esta situação pior do que já está.
— Diga isso de novo. Fields. Eu te desafio, porra!
Max ignora Ryder e olha para mim. — Por que as garotas sempre se
apaixonam pelo cara que pensa que é um herói, quando na verdade ele
parece um completo idiota?
— Cale a boca. — Ryder o joga contra a parede novamente.
Max ri. — Essa vai ser a terceira rodada? Tenho que te dizer. Ryder. Eu
não estava preparado para uma luta hoje.
Ryder rosna. — Quando você vai parar com as mentiras, Max? O que
você está tentando conseguir aqui?
Max sorri. — Você não gostaria de saber?
Antes que Ryder tenha outra chance de jogar Max contra a parede, eu
me aproximo dos dois homens e os separo.
— Antes que isso saia do controle, acho melhor falar com Max
sozinha. — Eu olho brevemente para Ryder.
Sua cabeça se vira para mim. — Só por cima da porra do meu cadáver.
Eu fico na frente dele. — Eu sei o que estou fazendo. Vá e espere por
mim no carro.
Ryder encara Max com os punhos cerrados. — Responda a todas as
perguntas que ela tem para você, caso contrário, irei atrás de você. E
acredite em mim quando digo que você não vai gostar da maneira como
eu faço as coisas.
Com isso, ele sai furioso de casa, deixando Max e eu sozinhos.
Posso sentir no fundo que minha loba odeia estar aqui ainda mais do
que eu. Rezo aos céus para que ela não faça nada imprudente.
Fique calma.
— Lembra quando você me disse que nada estava acontecendo entre
vocês dois? Acho isso muito difícil de acreditar, — diz Max.
Eu suspiro. — Podemos só acabar com tudo isso?
Max olha para o chão. — Tudo bem.
Eu respiro fundo. — Eu quero saber como você se recuperou tão
rápido das lutas que você travou.
— Porque, me corrija se eu estiver errada, mas você foi espancado em
duas ocasiões diferentes — quando eu te vi no campo de futebol e na
festa de Ryder.
Capítulo Vinte e Um
Alice

Não há razão para ficar mais tempo naquela casa.


Max tinha desaparecido e nem se despediu, mas agora sei onde
estamos um com o outro.
Nossa amizade tinha sido breve, mas nenhuma amizade jamais havia
me afetado da maneira que fizera com Max, apesar do pouco tempo.
Serei educada e cortês quando o vir novamente, mas espero que ele
entenda que não podemos continuar a ser amigos.
Eu esperava me sentir mal por perder um amigo como Max, mas
enquanto caminho para o carro estacionado em frente à casa, sinto alívio
mais do que qualquer coisa.
Era bom ter alguém novo como parte do pequeno grupo que era eu e
Sam, alguém que não nos julgava por ser quem éramos.
Espero que Sam entenda que o que decidi é a coisa certa para nós
duas.
Chego ao carro e entro: Ryder observa cada movimento meu.
— Ele falou? — Ryder olha de volta para a casa.
Eu encolho os ombros. — Ele não falou muito, mas consegui dele
tudo o que precisava.
Ele concorda. — Tem certeza que não quer fazer mais perguntas a ele?
Eu balancei minha cabeça. — Por favor, me leve para casa.
Ele se inclina para o meu lado e puxa o cinto de segurança por cima de
mim. — Quando você diz casa, você quer dizer minha casa, certo?
— Sim, Ryder.
Ele me olha preocupado. — Tem certeza que está bem?
Eu respondo com um aceno de cabeça e ele liga o carro.
Toda a viagem passa em silêncio e quando chegamos de volta ao seu
lugar, o céu já escureceu, preparando-se para o cair da noite.
Assim que Ryder desliga o motor, saio do carro e faço o meu caminho
de volta para a casa, onde Silver, Bane e Kellan estão sentados na sala de
estar, assistindo o que parece ser um filme de terror.
Sua atenção vai para Ryder e eu enquanto entramos pela porta da
frente.
Kellan é o primeiro a se aproximar. — Onde diabos vocês estavam?
Estávamos começando a ficar preocupados.
Silver zomba do sofá. — Você estava ficando preocupado.
A atenção de Bane é atraída de volta para o filme. — Achei que ele
fosse ligar para o pai e relatar o desaparecimento de vocês dois.
Kellan o manda embora. — Vá se foder. Bane.
Ryder se senta no sofá. — Tínhamos um problema a resolver, só isso.
Silver olha alternadamente para Ryder e eu. — E precisava de vocês
dois?
Ciúmes?
Ryder apenas a encara. — Isso é da sua conta? Supere.
Ela zomba. — Meu Deus, eu só estava perguntando. Você costumava
me contar tudo, antes de ela aparecer. — Ela olha para mim.
Ryder suspira de aborrecimento. — Silver, não é da sua conta o que eu
faço.
Ela olha para Ryder em confusão. — Por que você está agindo assim?
— Como o quê?
— Como se eu não significasse mais nada para você. Ela está na sua
vida há apenas uma semana, e você está agindo como se ela fosse mais
importante para você do que sua própria matilha.
Suas mãos se apertam. — Fico com raiva de saber que ela é uma
prioridade maior para você do que eu já fui, e estou na sua vida há muito
tempo!
— Talvez seja porque eu me importo com ela mais do que nunca me
importei com você.
Silver parece ter levado um tapa. — O que você acabou de dizer?
Pelo canto do olho, vejo Kellan balançar a cabeça em frustração, ao
contrário de Bane, que não desviou o olhar da TV.
— Você nunca se importou? Depois de todos aqueles momentos que
passamos juntos? — Ela pergunta.
Eu não deveria estar ouvindo isso.
— Eu pensei que sim, mas você era apenas uma distração. — Ryder
pigarreia.
Silver acena com a cabeça. — Essa é a razão pela qual você continuou
me afastando? Porque você se preocupa com ela? — Ela aponta para
mim.
Ryder me olha com um sorriso suave. — Sim, sim.
— Então é isso? Acabou entre nós? — Os olhos de Silver começam a se
encher de lágrimas.
— Já acabou há muito tempo, Silver. — Ryder olha para ela com pena
quando ela sai correndo da sala de estar até a porta dos fundos.
— Vamos segui-la, apenas no caso de ela fazer algo estúpido. — Bane
lentamente sai do sofá e sai da sala, arrastando Kellan junto com ele.
Eu permaneço de pé no meio da sala, imaginando o que exatamente
devo fazer neste momento.
Devo seguir Bane e Kellan ou me juntar a Ryder no sofá?
Não sou um grande ã de filmes de terror e, pelo que posso ver, está
apenas começando.
É fascinante como as cenas de um filme de terror podem fazer o
coração bater de ansiedade, mas só há uma coisa que está fazendo meu
coração disparar no momento.
E ele está sentado a apenas alguns centímetros de mim.
— Este filme me deixa perplexo cada vez que o assisto. — Ryder diz,
olhando desinteressadamente para a tela.
Eu ando até o sofá e me sento ao lado de Ryder. — Que filme é?
— O Grito
Eu rio. — O título diz tudo. Por que isso te deixa perplexo?
— Por que eles iriam morar em uma casa que supostamente é mal-
assombrada? Se as pessoas tivessem cérebro, evitariam uma casa como
essa, — murmura.
Um arrepio percorre minhas costas. Eu corro minhas mãos sobre
meus braços. — Talvez eles estejam desesperados?
Ele me observa tremer. — Está com frio?
— Um pouco.
Ele olha para mim e me puxa contra o peito sem permissão.
O que devo fazer agora? — Ryder...?
Ele me cala. — Basta assistir ao filme.
Tento muito me concentrar no filme, mas só consigo pensar em suas
palavras.
Assistimos o filme todo na mesma posição, sem dizer nada um ao
outro.
Uma coisa é certa, nunca mais vou assistir a esse filme. Não me
importo se serei paga para fazer isso, porque essa merda foi fodida.
Os créditos rolam na tela. Esta é uma chance tão boa quanto qualquer
outra de perguntar a ele sobre o que ele disse antes.
— Você realmente quis dizer o que disse a Silver, que se preocupa
comigo?
Há uma longa pausa antes que ele finalmente fale. — Eu quis dizer
isso. Cada palavra.
Eu o encaro e olho em seus olhos. — Você não está mentindo para
mim, está? Já cansei de pessoas mentindo para mim.
Ele sorri suavemente. — Eu disse antes que nunca mentiria para você.
Tudo o que vou te dar é a verdade.
— Besteira, — eu digo enquanto tento sair do sofá. Eu paro quando
Ryder coloca a mão na minha perna.
Ele me puxa para sentar em cima dele, com minhas pernas em cada
lado de suas coxas. Meu coração está batendo forte dentro do meu peito
enquanto ele coloca as mãos em meus quadris.
Por que ainda estou sentada sobre ele, esperando ansiosamente pelo
que ele vai fazer a seguir?
Ele se inclina para mais perto de mim. Acho que ele vai me beijar, mas
então sinto o toque de seus lábios em minha orelha. — Você acabou de
me acusar de mentir?
— E daí se eu fiz? O que você vai fazer sobre isso? — Eu pergunto.
Ele gentilmente segura minha bochecha. — Isso.
Meu coração bate bem quando ele se inclina e toca meu pescoço com
os lábios, cobrindo-me com beijos suaves.
Ele olha para mim e suspira de alívio quando vê que não vou parar o
que quer que esteja acontecendo.
Ele se inclina, pressionando suavemente seus lábios contra os meus.
Sinto o calor de seus lábios percorrendo meu corpo.
Parece muito improvável que as coisas parem por aí.
Eu quebro o beijo e coloco minhas mãos contra seu peito sólido. —
Podemos ir para o seu quarto?
Ele parece inseguro. — Alice, não há pressa. Com tudo o que
aconteceu, tem certeza de que deseja fazer isso?
Depois de tudo com Terry, só quero estar nos braços de Ryder. Eu me
inclino para ele e envolvo meus braços em volta do seu pescoço.
— Eu só quero esquecer por um tempo. Eu quero isso, Ryder. Por
favor. — Eu encontro seu pescoço e beijo levemente sua pele. Ele não me
impede.
Posso dizer apenas olhando para ele que seu autocontrole não vai
durar muito e que minhas palavras lhe dão o sinal verde de que ele
precisa.
Ele se levanta do sofá e envolve minhas pernas em volta da cintura,
então me carrega sem esforço escada acima e para dentro de seu quarto,
fechando a porta com um chute ao entrar.
Ele me coloca suavemente em sua cama, fica entre minhas pernas e
sorri para mim. — Alguém já te disse que você é linda?
Eu rio. — Já ouvi isso várias vezes, na verdade. De minha mãe, — eu
provoco.
Ele se inclina e passa seus lábios contra os meus. — Não me provoque.
— Ele me beija com força, mas não é o suficiente.
Eu puxo seu corpo para baixo em direção ao meu; deslizando meus
dedos ao longo de suas costas.
Eu agarro a ponta de sua camisa branca, tornando óbvio o que eu
quero que ele faça.
Ele se inclina para trás, puxa a camisa pela cabeça e ajuda a tirar
minha camisa também. Seus lábios abaixam para tocar os meus.
Posso sentir que ele está ficando impaciente. Seus dedos vagam para
baixo, onde nenhum garoto jamais me tocou antes.
Eu suspiro. O som dele rosnando me dá uma sensação de poder.
Eu corro minhas mãos para cima e para baixo em seu peito, desejando
a sensação de ter sua pele sob meus dedos.
Quando minhas mãos tocam seu jeans, é como se elas tivessem
vontade própria enquanto corriam para desabotoar seu cinto.
Ryder segura minhas mãos. — Não temos que fazer isso esta noite. Eu
sei que você está sofrendo.
Eu olho em seus olhos confiantes. — Por favor, eu preciso disso.
Ele beija minha testa, mas ainda parece relutante.
— Ryder, o que há de errado?
— É só que... eu não quero que você se arrependa disso.
— Já esperei o suficiente. Não há como voltar agora.
Ele espera alguns segundos, então acena com a cabeça e se levanta
para tirar a calça jeans.
Eu chego até a mesa de cabeceira, abrindo-a. Eu encontro o círculo de
plástico entre meus dedos e o passo para Ryder.
Ele o tira dos meus dedos, rasga o pacote com os dentes, puxa a cueca
para baixo e a chuta para o lado.
Com mãos firmes, eu removo minha calça de moletom, em seguida,
fecho meus olhos enquanto o sinto subir na cama e se colocar entre
minhas coxas.
— Alice, — ele sussurra.
Meus olhos se abrem lentamente para vê-lo olhando para mim com
paixão. Ele se inclina, me beija suavemente, então se empurra para
dentro de mim com movimentos lentos e suaves.
Eu me estremeço com a intrusão repentina e a sensação de
desconforto. Quando ele empurra para dentro de mim novamente, meus
olhos se fecham com força de dor.
Sei que não é culpa dele, mas nada me preparou para isso.
Ele balança dentro de mim de novo, mas não sinto dor desta vez. Em
vez disso, sinto a dor diminuindo completamente.
Em seu lugar está a sensação de prazer percorrendo todo o meu corpo.
— Você quer que eu pare? — Ele sussurra.
Eu balanço minha cabeça repetidamente, não querendo parar esse
sentimento estranho. — Não.
Depois de alguns minutos, sinto seus movimentos começando a ficar
mais rígidos.
Ele entra em mim uma última vez, gemendo e respirando
pesadamente.
Não há sentimento de arrependimento depois que terminamos.
Uma vez que nossa respiração desacelera.
Ryder sai para o banheiro, depois volta e rasteja ao meu lado em sua
cama, onde passamos a noite inteira abraçados.
Essa sensação de se conectar com alguém é indescritível. E se conectar
com Ryder torna toda a experiência melhor do que eu jamais poderia ter
imaginado.
Em um futuro distante, quando alguém me perguntar quando eu fui
mais feliz, não hesitarei em dizer que esta noite foi de longe a mais feliz
que já tive.
E tudo graças a Ryder King.
Capítulo Vinte e Dois
Alice

Na manhã seguinte, Ryder leva todos nós para a escola, mas passa na
minha casa no caminho para que eu possa pegar alguns itens essenciais
da escola e roupas extras que usarei nos próximos dias.
Também verifico se minha mãe chegou em casa em segurança do
trabalho e me sinto aliviada ao vê-la dormindo pacificamente em sua
cama.
No caminho para a escola, ninguém diz uma palavra. Isso torna a
atmosfera no carro quase insuportável, mas acho que pode ter sido por
vários motivos.
A primeira opção que me passa pela cabeça é a morte de Terry no
sábado.
Eu era a única pessoa próxima a ele, mas talvez o fato de seu corpo ter
sido encontrado na propriedade deles os faça se sentirem de alguma
forma responsáveis.
A segunda opção óbvia são as palavras duras trocadas entre Silver e
Ryder na noite passada.
Situações como essa poderiam realmente causar uma situação
embaraçosa entre eles?
Ou será que ninguém está falando porque, de alguma forma, eles
sabem que passei a noite com Ryder?
Eles não poderiam saber, não é?
Ryder não parece o tipo de pessoa que se vangloria de com quem
dorme. Mas então qual poderia ser o motivo do silêncio?
Chegamos ao estacionamento e, assim que o carro para, Silver sai,
bate à porta e sai marchando.
Vou ficar com a opção dois.
— Ela está brava com você, cara, — Bane assobia do banco de trás.
Ryder suspira. — Diga-me algo que eu não sei.
— Tentamos acalmá-la ontem à noite, mas toda vez que tentávamos
dizer uma palavra, ela nos batia. Para uma menina, ela pode bater muito
forte, — diz Kellan.
— Você é um maricas. — Bane ri.
Kellan parece surpreso. — Diz aquele que simplesmente ficou lá e não
fez merda nenhuma.
Bane balança a cabeça. — Você não entende garotas, não é, Kellan?
Você as deixa falar pelo tempo que precisarem. Então, quando o discurso
delas acaba, é quando você fala.
Ele sai do carro, seguido por Kellan.
Ryder me encara e sorri, colocando a mão no meu joelho. — Você está
bem?
Algo me diz que ele está me perguntando se estou bem depois do que
aconteceu ontem à noite.
Eu sorrio de volta para ele. — Nunca estive melhor.
— Eu não te machuquei, certo?
Eu me inclino para frente no banco do passageiro e pressiono meus
lábios contra os dele. — Doeu, mas só por um tempo.
— Nenhum arrependimento?
Eu o beijo novamente. — Não.
Ele me beija de volta e nós dois saímos para a aula.
Enquanto ando em direção à aula de inglês e viro a esquina, vejo
minha melhor amiga esperando casualmente do lado de fora da sala de
aula.
Eu chamo seu nome para vê-la não parecendo tão impressionada
comigo.
— Sabe, os melhores amigos geralmente ligam ou mandam
mensagens nos finais de semana, mas não você. Posso ter que encontrar
outra melhor amiga.
Eu passo minha mão pelo meu cabelo. — Eu sei. Eu sou uma pessoa
terrível. Foi um fim de semana e tanto.
Talvez agora não seja a hora de contar a ela o que aconteceu com
Terry.
Ela me olha, me inspecionando da cabeça aos pés. — Você com certeza
parece diferente.
Estava escrito na minha testa que eu dormi com Ryder ou algo assim?
A última vez que Sam e eu conversamos foi na minha casa, depois de
trazer Max da festa.
Ela não parecia nada feliz comigo, mas nunca discutimos. Sam perdoa
e esquece muito mais rápido do que a maioria das adolescentes.
— Eu pareço diferente?
Ela sorri enquanto sussurra para mim. — Você por acaso estava com
um menino neste fim de semana, Alice?
Eu estava com vários, na verdade, mas com um garoto em particular.
Eu encolho os ombros. — Poderia dizer que sim.
Ela engasga. — Você estava com um menino, não estava? E estou
supondo que seja Max ou Ryder, porque eles são os únicos dois caras com
quem você fala.
Seus olhos se estreitam. — Mas estou lhe dizendo agora que é melhor
você não ter tocado em um único fio de cabelo da cabeça de Bane,
porque ele é meu!
— Eu não estava com Bane. — Eu faço uma careta.
Ela respira fundo. — Oh! Graças a Deus. Eu genuinamente pensei por
um momento que eu teria que dar uma bofetada em você.
— Você não faria isso. — Eu viro meus olhos.
— Claro que não, mas você poderia pelo menos me dizer com quem
estava?
— Eu te conto mais tarde, ok? — Eu verifico a hora no meu telefone
para ver se temos um minuto para chegar à aula.
— Mas eu realmente quero saber! Isso é empolgante!
— Conto tudo mais tarde, mas temos uma aula para ir.
— Foda-se a aula. Eu quero saber todos os detalhes sujos.
Eu rio, agarro-a pelo braço e a puxo para a aula. — Prometo te contar
tudo depois do inglês.
— Tudo bem!
Entramos na sala de aula assim que o sinal toca para o início da aula.
O Sr. Edmund olha do relógio para nós e aponta para nossos assentos.
Eu olho para a primeira fila e vejo quatro cadeiras vazias.
Onde eles estão?
— Antes de começarmos, alguém viu Kellan ou Silver? — Sr. Edmund
pergunta em um tom desinteressado.
Os alunos começam a murmurar entre si.
— Alice?
Minha cabeça vira para o meu professor, que me olha como se eu
soubesse exatamente onde eles estão. — Sim, senhor?
Ele cruza os braços sobre o peito. — Você sabe onde estão seus novos
amigos?
— Eu não vi nenhum deles desde esta manhã, — eu digo a verdade.
Ele espera alguns minutos e então acena com a cabeça. — Eles
provavelmente desistiram, considerando que Bane e o Sr. King foram
excluídos desta aula.
Mais murmúrios.
Ele se move para o fundo da sala de aula e começa a distribuir um
livro de leitura para todos.
Depois de distribuir todos os livros, ele fica na frente e chama a
atenção dos alunos.
— Ao final desta lição, gostaria que todos tivessem lido do capítulo
um ao cinco.
— Certifique-se de ler esses capítulos com muito cuidado, porque
amanhã estarei fazendo uma pergunta a cada um de vocês. São capítulos
curtos, então vocês não devem ter problemas.
O Sr. Edmund caminha até sua mesa, onde abre seu laptop. Toda a
sala de aula lê em completo e absoluto silêncio.
Na hora do almoço, Sam e eu nos sentamos no fundo do refeitório
para que nossa conversa não seja ouvida. A última coisa de que preciso é
de pessoas que se intrometem na minha vida.
No momento em que nos sentamos, Sam imediatamente começa a me
fazer perguntas.
— Então, quem era? — Ela mexe as sobrancelhas. — E é melhor você
me dizer, porque aquela hora toda foi uma tortura! — Eu viro meus
olhos.
— Eu vou te dizer. É que ainda não consigo acreditar. — Sinto meu
rosto ficar vermelho.
— Mas você transou, não foi? Seu rosto está me dizendo tudo que eu
preciso saber! — Ela grita.
Como ela sabe dessas coisas?
Cubro meu rosto com as mãos e gemo. Eu juro que ela é vidente às
vezes.
— Nós transamos, sim.
Ela grita novamente. — Oh. meu Deus! Eu o conheço? Ele foi gentil?
Ele era bom?
Mordi meu lábio e suspirei de desprezo. — Sim, sim e sim.
Sam me olha com um grande sorriso. — Estou tão feliz por você, mas
essa espera por um nome está me matando. Alice.
Ambos começamos a rir. Mas, de repente, sinto uma ligeira mudança
no meu humor, fazendo-me sentir mais agressiva do que nunca.
Nunca experimentei nada parecido em minha vida.
Desde a noite em que fui mordida até o dia em que o corpo de Terry
foi encontrado, nunca tive a sensação de querer tanto machucar alguém.
Talvez ela possa sentir algo que não esteja certo, eu sei que essa raiva
não é dirigida a Sam, mas quem mais poderia ter uma resposta como essa
de mim?
Uma sombra se aproxima de nossa mesa, me sinto queimando de
raiva ao ver quem é a pessoa caminhando em nossa direção.
Quando Sam percebe que estou olhando para quem está chegando,
ela se vira e dá as boas-vindas a Max em nossa mesa.
Depois do que aconteceu ontem, ele ainda pensa que somos amigos?
— Ei. — Ele sorri como se nada tivesse acontecido. Eu não retribuo
seu sorriso ou seu cumprimento.
— Oi. — Sam sorri de volta para ele. — Você com certeza está melhor
do que na noite de sexta-feira.
— Estou, não é? E tudo graças a Alice aqui. — Max sorri.
Sam ri. — Seja grato. Você ainda não teria um rosto bonito se não
fosse por ela. — Ela me cutuca, mas eu a ignoro.
— Estou grato por ela ter me ajudado quando ninguém mais o fez.
Eu não digo uma palavra, e Sam finalmente percebe. — Alice? Você
está bem?
Eu olho para longe de ambos. — Estou bem.
— Qual é o problema? Você ficou toda quieta. — Sam me olha com o
cenho franzido.
Eu me levanto da mesa. — Podemos apenas ir embora, por favor? —
Eu digo apenas para Sam.
Max parece surpreso. — Você tem um problema comigo, Alice?
Sam olha para nós dois.
— Só não quero estar na companhia de um mentiroso. E depois de
ontem, não quero ser vista associando-me a alguém como você.
Os olhos de Sam se arregalam. — Ok, o que aconteceu entre vocês
dois?
Max e eu apenas olhamos um para o outro.
— Devo dizer a ela, ou você quer dizer como você e Ryder invadiram
minha casa e me interrogaram como se eu tivesse feito algo errado?
— Vá em frente e conte a ela tudo sobre o que aconteceu, mas não
estarei aqui para ouvir você, — respondo.
Sam olha para nós dois, confusa. — O que diabos está acontecendo?
Alguém pode me explicar o que aconteceu neste fim de semana?
Eu aponto para Max. — Ele é um mentiroso, Sam. E levamos tanto
tempo para descobrir isso.
— Ok, sobre o que ele mentiu? — ela pergunta.
Max zomba. — Eu menti sobre várias coisas, aparentemente.
— Não aja como se você fosse inocente em tudo isso, — eu solto. —
Você me disse que sua mãe trabalhava no hospital no primeiro dia em
que você veio para a escola.
Eu olho para Sam.
— Sexta à noite, eu o vi no hospital, e ele me olhou como se eu fosse a
única pessoa que não deveria estar lá. Naquela mesma noite, perguntei à
minha mãe se ela conhecia alguém com o sobrenome dele, e ela disse que
não.
— Talvez eu tivesse um motivo para ir ao hospital naquela noite. Você
nunca pensou nisso? — Max retruca.
Eu zombo. — E você não poderia ter dito isso para mim ontem?
Ele balança a cabeça. — Não consegui nem pensar direito ontem.
Minha voz treme. — Que seja. Continue mentindo, Max, porque
cansei de tentar entendê-lo. Você teve tantas chances de falar comigo
sobre a verdade, mas você nem tentou.
Eu franzo a testa. — Há algo que você não está nos contando e, por
qualquer motivo, você já me perdeu como amiga.
Pego minhas coisas e vou embora. Sam também se levanta. — Por que
você diria que sua mãe trabalha lá quando ela não trabalha? Basta nos
dizer isso, — diz ela.
— Você também não, Sam. — Ele parece magoado. — Mas o que eu
esperava? Você obviamente vai defender sua amiga.
— Então prove que estamos erradas! Esta é sua chance de se corrigir.
Max apenas a encara sem dizer nada.
— E então?
Ele apenas a ignora. Sam balança a cabeça com pesar.
— Sinceramente, pensei que você fosse melhor do que isso, mas é
óbvio que você não é a pessoa que pensei que era. — Ela pega sua bolsa e
caminha comigo pelas portas do refeitório.
Caminhamos em silêncio até o carro dela. Em seguida, ela entende
algo. — Por que você estava na casa de Ryder neste fim de semana, afinal?
— Agora ainda não é o momento certo para mencionar o que aconteceu
com Terry, ou as fotos que tiraram de mim. Isso só vai fazer com que ela
se preocupe com o que está lá fora.
Vou manter o que aconteceu com Terry, e as fotos, em segredo. Por
enquanto.
— Nós estávamos apenas saindo, isso é tudo, — eu digo
desajeitadamente.
— Então você não estava com Max neste fim de semana.
— Não, eu não estava.
Ela acena para si mesma. — Então, só pode ser uma outra pessoa.
Eu me pergunto como ela vai reagir quando descobrir.
— Sua loba safada. Você desistiu de sua carta V para Ryder King, não
é? — Ela não parece nem um pouco surpresa.
— Não diga assim. — Eu espero ela destrancar o carro.
Sam sorri. — Mas você conseguiu! E você quer saber de uma coisa?
Naquela noite eu peguei você beijando Ryder no meu quarto, eu me
perguntei quanto tempo levaria até que vocês dois ficassem juntos.
Eu viro meus olhos. — Sam, abra a porta.
Ela destranca o carro e murmura: — Eu gostaria que um lobo me
achasse atraente o suficiente para dormir comigo.
Ela suspira em decepção. — O que está acontecendo com o mundo?
Quando chego em casa, ligo para o trabalho dizendo que estou doente
e pego a lição de casa de hoje.
Pego o livro que o Sr. Edmund nos deu hoje e começo a ler. A história
é centrada em um pai e seu relacionamento complicado com seu filho
adolescente problemático.
Desde a primeira página, fico tão absorta com a história que não ouço
o telefone tocar a princípio. Deixo o livro na mesinha de centro e
caminho apressadamente para o telefone.
Eu atendo, mas apenas o silêncio me encontra do outro lado da linha.
— Olá? — Eu pergunto.
Ainda apenas silêncio. — Olá? — Eu repito.
Então a voz de minha mãe fala. — Você precisa vir ao hospital,
querida.
Eu franzo a testa, embora ela não possa me ver. — Está tudo bem?
— Eu preciso que você venha aqui agora!
Por que ela soa como se ela estivesse prestes a chorar?
— Mãe? O que há de errado? — Minha voz começa a tremer de
preocupação.
Ela assoa o nariz novamente. — E Sam, querida.
Ouço meu coração batendo na garganta e sinto que vou vomitar.
— Ela esta bem?
— Ela foi atacada e não parece bem.
E quando as lágrimas começam a cair.
Capítulo Vinte e Três
Alice

Eu empurro as portas do hospital com apenas uma coisa em minha


mente, encontrar Sam. Quando chego à recepção, não consigo
pronunciar uma única palavra a não ser o nome dela.
A recepcionista me olha preocupada. — Mocinha? Você está bem?
— Sam... Sam... — eu repito várias vezes.
Todo mundo me olha com pena, provavelmente se perguntando o que
diabos há de errado comigo. Ninguém entenderia a merda que passei
esta semana.
Minha mãe logo me encontra e me puxa para o peito. É quando as
lágrimas começam a cair novamente. Nos abraçamos por alguns
minutos.
Eu me afasto dela com um olhar de desespero em meus olhos. Preciso
ver Sam com meus próprios olhos e talvez então consiga falar.
Ela me leva pelo hospital para onde a estão mantendo.
Inesperadamente, vejo Ryder, Kellan, Bane e Silver parados do lado de
fora de sua porta, com olhares inexpressivos em seus rostos.
— O que vocês estão fazendo aqui?
— Nós a encontramos deitada no chão, ao lado de seu carro, — Ryder
me responde.
— E isso é razão suficiente para todos vocês estarem aqui? — Eu olho
para cada um deles individualmente.
Minha mãe segura minha mão. — Querida, eles trouxeram Sam. Sem
a ajuda deles. Deus sabe o que teria acontecido com ela.
Não há nada que alguém possa dizer para me fazer sentir melhor
neste momento.
Depois de perder Terry, uma pessoa de quem me importava, percebi
que tudo pode acontecer quando você menos espera. Não quero perder
mais ninguém.
— Nenhum de vocês se preocupa com ela, então, por favor, saiam. —
Eu passo pelos quatro e entro na sala onde Sam está sendo mantida,
querendo nada mais do que apenas vê-la e ouvi-la respirar.
Ela está deitada imóvel no cubículo com cortinas, apenas com o som
das máquinas circulando ao redor da sala.
Minha mãe me disse ao telefone que havia sofrido um golpe forte na
cabeça, resultando em uma fratura no crânio, hematomas e sangramento
no cérebro.
Ela também me disse que Sam teve algumas costelas quebradas por
causa do ataque.
Eu vou ficar ao lado dela, e alcanço com minha mão para segurar a
dela. Com os olhos fechados e o peito subindo e descendo muito
lentamente, posso finalmente ter certeza de que ela está viva.
A porta se abre e minha mãe entra. Ela vem para ficar ao meu lado.
— Se não fosse por eles, Alice, ela poderia ter morrido, — ela sussurra
para mim.
Eu só posso olhar para Sam. — Mãe, não diga isso.
Ela se vira para mim. — Sinto muito, querida, mas aquelas pessoas lá
fora têm o direito de estar aqui.
— Eles não se importam com Sam.
Minha mãe segura minha mão. — Eles a trouxeram aqui, e isso me
mostra que eles se importam.
Eu considero suas palavras. — Então, eles estavam no lugar certo na
hora certa.
— Ela é sortuda. Isso eu posso dizer. — Ela suspira e balança a cabeça.
— Mas por que alguém iria querer machucá-la assim?
Eu encolho os ombros. — Não sei.
— Bem, seja qual for o motivo, ela não merecia.
Nós duas olhamos para Sam em silêncio. Provavelmente estamos nos
perguntando a mesma coisa. Quem poderia ter feito algo assim e por
quê?
— Você ligou para os pais dela? — Eu pergunto.
Minha mãe acena com a cabeça. — Eles saíram um pouco antes de
você chegar. Eles disseram algo sobre voltar com algumas coisas que Sam
poderia precisar. Ela vai ficar aqui por um tempo.
— Quanto tempo?
— Eu gostaria de poder te dizer, querida, mas eu honestamente não
tenho ideia. Veremos quanto tempo quando ela acordar.
Ela começa a sair da sala, mas para. — Oh, isso me lembra. Quando os
pais dela vieram aqui, eles perguntaram se você poderia dirigir o carro
dela da escola até a casa deles.
Eu franzo a testa. — Da escola? Mas ela me trouxe para casa em seu
carro, por que ela voltaria para a escola?
Minha mãe dá de ombros. — Talvez ela tenha esquecido algo. Vou
pegar meu casaco, então por que você não se despede de Sam por
enquanto, e vamos pegar o carro dela juntos?
Eu me inclino sobre Sam, afasto o cabelo de sua testa e a beijo. — Eu
gostaria de não ter que ir, mas eu irei te ver amanhã. Estarei aqui quando
você acordar.
Quando me afasto dela, vejo Ryder parado dentro da sala, com as
mãos nos bolsos.
— O que você ainda está fazendo aqui? Pensei ter dito para você ir
embora. — Eu cruzo meus braços sobre meu peito.
— Eu não ia sair sem perguntar se você estava bem primeiro.
— Eu obviamente não estou bem. Ryder! Eu poderia ter perdido Sam
esta noite, não posso perder mais ninguém.
Ele se move para ficar na minha frente. — Eu sei. Sinto muito. Essa foi
uma pergunta estúpida de se fazer.
Ele pega minha mão e a segura. — Há algo que eu possa fazer?
Há algo que eu queria perguntar a ele, mas com tudo o que aconteceu,
nunca encontrei o momento certo.
— Eu quero saber por que você nunca se importou comigo antes de eu
ser mordida. Porque no momento em que você começou a se envolver na
minha vida foi quando tudo mudou.
— Alice, só porque eu não estava envolvido na sua vida, não significa
que não me importava com você.
— Sim, mas se eu não tivesse sido mordida, você provavelmente nem
estaria aqui, certo?
Ele desvia o olhar de mim. — Provavelmente não.
Ele solta minha mão.
Eu aceno em consternação. — Você é inacreditável, sabia disso?
Ele olha para mim e franze a testa. — O que você quer que eu diga,
Alice?
— Quero que diga que não se importava comigo quando eu era
humana!
— Alice...
— Você não se importava, não é? Você começou a cuidar de mim
quando descobri que eu também era uma alfa.
Ele segura minha bochecha. — Isso não é verdade. Sempre mantive
distância de você. Naquela segunda-feira na escola, quando pude sentir
outro lobo, finalmente me deu uma desculpa para interagir com você.
Ele suspira. — Me deu a chance de mostrar a você este novo poder que
você recebeu. A mordida é um presente, dá a você a capacidade de ouvir e
cheirar coisas que nenhuma pessoa comum consegue. Quem não
gostaria disso?
Eu removo suas mãos de meu rosto. — Eu não quero isso e nunca vou
querer isso.
— Você pode se juntar à nossa matilha. Todos nós vamos te ensinar
como abraçar este novo lado de si mesma.
— Eu não quero estar na sua matilha, ou de qualquer outra pessoa!
Você não entende isso? Eu só quero viver minha vida como uma pessoa
normal. Se isso me torna minha loba selvagem, então que seja.
Ele balança a cabeça. — Você não sabe o que está dizendo. Sei que
você está sofrendo por causa de Sam e Terry, mas não deveria dizer coisas
assim. Você não está pensando com clareza.
Eu balancei minha cabeça. — Você não sabe o que estou pensando
agora.
— Esclareça-me, então. Talvez então eu possa entender o que você
está tentando me dizer.
— Ok, então por que demorou tanto para encontrar um assassino?
Você teve todo esse tempo para encontrar quem matou o Sr. Daniels e
Terry, mas ainda não descobriu quem é o responsável.
— Você está tentando dizer que é minha culpa que Terry foi morto e
Sam foi atacada?
— Estou dizendo que é parcialmente sua culpa.
Ele me olha com raiva. — Como?
Eu viro meus olhos.
— A mesma pessoa poderia ter feito isso com Sam! Você é um lobo,
pelo amor de Deus! Você mesmo disse que já esteve em todas as cenas de
crime onde ocorreram os assassinatos e, no entanto, não consegue
encontrar nenhum vestígio.
Eu olho para ele. — Se eu soubesse como usar minhas habilidades,
não dormiria até que o assassino fosse encontrado.
Ele fica em silêncio por alguns segundos. — Vou supor que você só
está dizendo isso porque está chateada.
— Não, Ryder. Estou dizendo isso porque você é um alfa. Talvez você
devesse começar a agir como um.
Passo por ele, saio do quarto e desço o corredor, depois saio pelas
portas do hospital, onde minha mãe espera por mim no carro.
Capítulo Vinte e Quatro
Alice

O trajeto até a escola leva cerca de vinte minutos. O silêncio no carro


me dá tempo para pensar comigo mesma sobre tudo o que aconteceu nos
últimos dias.
Penso no dia em que o corpo de Terry foi encontrado e em quase
perder Sam esta noite. Naquele momento, eu honestamente acredito que
este dia não poderia ficar pior.
Quando chegamos à escola, minha mãe para o carro do lado de fora
da entrada.
— Não vou demorar. — Eu solto o cinto de segurança e abro a porta.
— A mãe de Sam me disse que as chaves dela podem estar no armário,
considerando que não foram encontradas perto do carro.
Eu aceno em compreensão. — Ok.
— Você quer que eu espere por você aqui?
Ela provavelmente está muito cansada do trabalho, então eu balanço
minha cabeça. — Não, está tudo bem. Vá para casa e descanse.
— Te vejo em casa. — Ela acena e vai embora.
Eu aceno de volta, então subo os degraus e entro na escola.
Surpreendentemente, as portas ainda estão abertas a esta hora. Talvez
alguns professores ainda estejam aqui, fazendo os preparativos de última
hora para amanhã.
Eu ando rapidamente pelos corredores e, eventualmente, chego ao
armário de Sam. Eu agarro a fechadura e digito o código de combinação
de Sam nela. A trava abre facilmente.
O dia em que nos tornamos melhores amigas também foi o dia em
que Sam e eu demos nossos códigos de combinação uma à outra.
Dessa forma, se precisássemos de alguma coisa do armário da outra,
poderíamos sempre nos ajudar.
Eu olho dentro do armário de Sam em busca de suas chaves, mas volto
de mãos vazias. Eu verifico novamente para ter certeza, mas não
encontro nada.
Fecho o armário e me viro para sair quando vejo o que parece ser uma
única luz acesa em uma sala de aula.
Com passos leves, chego mais perto da sala de aula e abro a porta. Esta
sala de aula é familiar.
Quem poderia estar aqui a esta hora?
Eu pulo de surpresa quando uma voz me chama a atenção.
— Procurando por isso?
Sentado em sua cadeira, segurando uma corrente de chaves na ponta
do dedo, está o Sr. Edmund.
Eu olho para as chaves que ele segura. — Essas são... as chaves da Sam?
— De falo. — Ele suspira. — As crianças hoje em dia são tão
irresponsáveis.
Eu franzo a testa. — Por que você está com as chaves dela?
— Elas simplesmente estavam em minha posse. — Ele gira as chaves
em torno dos dedos e se levanta. — Presumo que você esteja aqui para
pegá-las?
— Isso mesmo...
Ele fica na minha frente e me dá as chaves. — Como está Sam?
Mesmo que ele esteja perguntando sobre ela, ele parece não se
importar nem um pouco.
Eu respondi. — Ela está inconsciente, senhor. Quem quer que tenha
balido nela, bateu bem forte.
Ele me vira as costas. — Que horrível. Você deve estar preocupada
com a sua amiga.
— Você não tem ideia. Esta semana não foi a melhor das semanas.
Ele olha para mim com um sorriso malicioso. — Isso eu posso
entender.
Com as chaves na mão, me viro para sair. Então ele chama meu nome.
— Sim?
— Diga-me, Alice. Como você consegue viver a vida sem seu pai nela?
O quê... ?
— Como é?
— Eu li seus registros escolares e fiquei bastante surpreso com isso.
Temos algo em comum, você e eu.
— Nós temos?
Ele aponta para si mesmo. — Eu também não conheci alguém que
deveria ter feito parte da minha vida, mas nunca foi.
Por que ele está falando comigo sobre isso?
— Você também nunca conheceu seu pai? — Eu pergunto.
— Não, meu filho, na verdade. Não o vejo há dezenove anos. — Ele se
senta à escrivaninha e tira um livro de uma gaveta. Percebo que é o livro
que recebemos hoje na aula.
Ele tem um filho?
— Você teve a chance de ler este livro, Alice?
Eu balancei minha cabeça, com um choque ainda registrado em meu
cérebro. — Eu li os primeiros capítulos e parece uma história muito
interessante.
Ele olha para a capa, fascinado. — Este livro é um dos meus favoritos.
Ele vira o livro nas mãos. — Veja, a história é sobre um homem que se
apaixonou por uma mulher do exterior. O homem passou meses naquele
país e acabou se apaixonando por ele.
Sua voz é suave. — Um dia, em uma cafeteria próxima, ele notou uma
linda mulher sentada sozinha, lendo um livro, e ficou se perguntando se
tinha coragem de se aproximar e falar com ela.
Ele sorri. — Enquanto ele fazia isso, a mulher inesperadamente se
virou e sorriu para ele, e ele sentiu que era razão suficiente para ir até ela.
Ele abaixa o livro e me encara.
— Eles foram inseparáveis depois disso, passaram dias e noites juntos,
até falaram sobre um futuro juntos. Mas ela sabia que um dia ele teria
que partir e voltar para seu próprio país.
Ele suspira. — Quando esse dia chegou, ela o surpreendeu, dizendo
que iria embora com ele, e eles foram embora juntos. E os anos se
passaram.
— Eles se casaram e até falaram em ter filhos. Eles tentaram e
tentaram, até que foram presenteados com um lindo menino.
Ele limpa a garganta. — Mas as coisas começaram a desmoronar
depois disso para o homem e a mulher; eles começaram a se distanciar.
— Para encurtar a história, ela se apaixonou por outro homem, que já
tinha mulher e um filho. Uma linda menina.
Seus lábios se curvam. — O pai da menina fugiu com a mulher do
homem, levando o filho com eles. O homem nunca mais viu seu filho, e o
pai nunca mais viu sua filha.
Eu engulo em seco. — Você sabe o que acontece a seguir no livro?
Ele suspira. — Honestamente, eu não sei. Nunca li este livro antes. —
Ele pega o livro e o joga na lixeira ao lado da mesa.
— Então, do que você estava falando? — Eu não tenho ideia do que
está acontecendo.
— Eu estava contando a história da minha vida. Triste, não é? — Ele
me encara intensamente.
Eu olho em volta, evitando contato visual com ele. — Não sei o que
você quer que eu faça com essa informação.
Ele encolhe os ombros. — Faça o que quiser com ela.
No entanto, estou curiosa com uma coisa. Se o Sr. Edmund era o
homem com o filho, quem era o homem com a filha?
— Faça a pergunta que você quer que seja respondida, Alice.
Eu olho para ele e ele sorri para mim.
— Quem era o homem com a filha? — Eu murmuro.
Ele ri. — Você realmente não consegue adivinhar? Certamente você
sabe a resposta para isso.
Por que sinto que tem a ver comigo?
Ele concorda. — Seu pai se apaixonou por minha esposa e deixou você
e sua mãe para criar meu filho. — Ele enfatiza a palavra meu.
Posso ouvir meu coração batendo na garganta. — Não...
— Sim. Sim. Sim! — Ele bate a mesa com cada sim.
— Você já se perguntou onde ele estava todos esses anos? Ele esteve
no exterior, criando meu filho como se fosse seu.
— Então você pode imaginar como fiquei feliz quando soube que o
homem que tirou a mulher que eu amava de mim tinha uma filha. Nesta
mesma escola.
Meus olhos começam a lacrimejar. — Não tenho nada a ver com isso.
Eu odeio meu pai por me deixar e minha mãe.
Ele me olha com pena. — Ele tirou algo de mim, Alice. E agora estou
tirando algo dele. — Ele se levanta da cadeira.
Eu tremo da minha posição perto da porta, observando enquanto o Sr.
Edmund começa a respirar pesadamente.
O som de ossos se esticando quebra o silêncio na sala de aula.
Sua mandíbula de repente se desloca, transformando-se em uma boca
feroz com presas. Logo todo o seu rosto se transforma no de um lobo.
Pelos começam a aparecer por todo seu corpo. Eu suspiro de horror
quando vejo que seus olhos ficaram vermelhos como sangue.
Eu choramingo de medo absoluto quando de repente me ocorre que a
cor do pelo deste lobo parece estranhamente familiar.
E um tom de cinza opaco, com grandes pedaços de pele faltando e
cicatrizes cobrindo todo o corpo.
Tenho vontade de gritar ao perceber que foi esse lobo que me mordeu
na noite de lua cheia.
Isso tudo aconteceu por causa dele.
Quando o lobo começa a se aproximar de mim, sei exatamente qual é
sua intenção.
Eu corro para fora da porta da sala de aula e pelo corredor, assim que
o lobo solta um uivo atrás de mim, fazendo meu coração bater
rapidamente dentro do meu peito.
Eu corro para fora da escola com as chaves de Sam em minhas mãos e
corro para o único carro que resta no estacionamento.
Consigo pegar a chave certa e destrancar o carro em velocidade
recorde. Eu vejo o lobo correr para fora da escola assim que fecho a porta.
Ligo a ignição, afasto-me da escola e começo a ir para casa, quebrando
todos os limites de velocidade ao longo do caminho.
Demoro meia hora para dirigir para casa e, quando aparece, deixo
escapar um suspiro de alívio.
Eu paro o carro e descanso minha cabeça contra o volante. Eu fico
nessa posição por alguns minutos para firmar meu coração e respiração.
Viro minha cabeça para olhar a casa e percebo que a porta da frente
foi deixada aberta.
Por que minha mãe deixaria a porta aberta?
Saio do carro e corro para a porta, mas paro quando vejo a casa em
completa desordem.
— Mãe?
Espero sua resposta, mas não ouço nenhum som de dentro de casa. Eu
verifico do lado de fora para ver se o carro dela está lá e franzo a testa
quando o vejo estacionado na garagem.
Aonde ela foi?
Preocupada, entro em casa e vou até a sala, quando de repente
escorrego em algo no chão.
Eu abaixo minha cabeça e imediatamente começo a sentir náuseas
quando vejo uma trilha de pegadas, cobertas de sangue, levando para o
jardim.
Começo a pensar o pior.
— Mãe!? — Eu grito.
Com o coração batendo forte nos ouvidos, corro para a porta que dá
para o jardim com as pernas trêmulas.
Então eu soltei um grito horripilante.
— Não. — Repito para mim mesma, balançando a cabeça.
Meus olhos brilham com lágrimas enquanto olho para o corpo
flutuando de bruços na piscina.
A cor da água não é mais azul, mas vermelha.
Rezo para que não seja quem eu penso, mas algo me diz que sei
exatamente quem está boiando na piscina.
Com os pés instáveis, eu me arrasto para mais perto da piscina, meu
coração se partindo a cada passo que dou.
Agachando-me na beira da piscina onde o corpo flutua, estendo a mão
para puxá-lo para fora da água.
Posso dizer pela cor de seu cabelo e as roupas que ela usou para
trabalhar esta manhã que esta é a pessoa que me trouxe a este mundo.
Com toda a força que tenho, eu a puxo para fora da água e a descanso
suavemente em minhas coxas.
Enquanto eu olho para ela, deitada imóvel em meus braços, há apenas
uma sensação de entorpecimento dentro de mim.
Por que alguém faria isso com minha mãe?
Minha mãe, que era uma pessoa boa e gentil com todos ao seu redor.
Ela não teve a melhor vida, me criando sozinha, sem pai, eu não teria
sido a pessoa que sou agora, se não fosse por ela.
Eu me inclino com lábios trêmulos e a beijo suavemente em sua
bochecha, em seguida, balanço-a levemente em meus braços enquanto as
lágrimas continuam a cair.
A compreensão se infiltra em minha mente, que a pessoa que eu mais
amo neste mundo foi tirada de mim para sempre.
E tudo o que posso fazer é gritar.
Fim do livro um
Livro 2 Perseguindo o Beta
Três mortes. Um ataque. E todas as vítimas eram próximas de Alice. A
cada morte, Alice fica mais isolada, mas ela está presa entre dois machos,
cada um exigindo algo novo dela. No entanto, apesar de tudo, Alice
continua determinada a encontrar o assassino.
Livro sem Revisão
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Capítulo Um
Alice

Ela se foi.
Isso era definitivo.
Minha mãe, que me criou por dezoito anos, agora estava morta diante
de mim.
Não importava quantas vezes eu rezasse e implorasse para ela respirar.
Ela se foi.
Por dezoito anos ela me criou, e esses dezoito anos foram cheios de
amor, angústia, alegria e até perda, mas eu não teria feito de outra
maneira.
Olhando para todas as memórias que minha mãe e eu
compartilhamos, percebo que não há uma única pessoa com quem eu
preferiria ter compartilhado todos esses eventos. É agora que ela se foi,
me sinto completamente perdida.
Para onde eu vou daqui?
Ela nunca machucou ninguém ou teve inimigos. Ela não era esse tipo
de pessoa.
Quero dizer, ela salvou vidas, pelo amor de Deus! Eu devia estar
deitada no chão por horas, mas o único lugar que eu queria ficar agora
era com minha mãe. Eu queria embalá-la no meu peito até meus braços
cederem, mas me recusei a deixá-la ir.
De todo o sangue, suor e lágrimas que tive que passar esta semana,
não achei que pudesse suportar mais desgosto e perda.
Quanto mais eu poderia aguentar, até que meu próprio coração
desistisse?
A pergunta que ficava circulando na minha cabeça era quem poderia
fazer algo assim, e que razão tinham para isso? Mas no fundo, eu sabia
quem fez isso. Havia apenas uma pessoa que eu conhecia que poderia ser
responsável por isso.
Sr. Edmundo.
Sua intenção era me matar, mas em vez disso ele assassinou minha
mãe, a sangue frio. Se ele matasse minha mãe para me pegar, eu faria o
mesmo com ele.
Ele não vai se safar com isso.
Não vai mesmo.
Não depois disso.
Marque minhas palavras, eu vou te pegar.
Seja daqui a uma semana, um mês ou um ano, eu vou pegar
você.
Mais uma hora se passa e fico com o cadáver sem vida de minha mãe.
Enquanto o céu escurece, sinto mais frio, mas nada, nem mesmo o frio,
pode me afastar da mulher deitada em meus braços.
Eu nunca vou sair do lado dela.
— Alice!
Uma voz ao longe grita urgentemente meu nome. Profunda e gutural,
a voz soa em pânico e pertence a um homem.
Dou de ombros, pensando que provavelmente estou ouvindo coisas,
mas quando ouço o som fraco e familiar da porta dos fundos sendo
aberta às pressas, sei que alguém está aqui.
Poderia ser o Sr. Edmund?
Ele voltou para me matar também?
Eu pressiono minha mãe com força contra meu peito quando vejo a
figura se aproximando.
Nem uma vez encontro os olhos de quem está correndo em nossa
direção.
Eu mantenho meu foco inteiramente em minha mãe.
— Alice!
Ele grita meu nome novamente e para bem na minha frente. Ele
respira pesadamente como se estivesse correndo há algum tempo, mas
quem é essa pessoa e por que ele está aqui?
— Alice.
Mais uma vez, ele chama meu nome, mas não consigo pensar em nada
para dizer em resposta.
Ele permanece parado, mas quando percebe que não vou responder,
ele se agacha lentamente na minha frente, com seu rosto tão perto, que
posso sentir seu hálito quente na minha bochecha.
Eu ainda não consigo olhar para a pessoa na minha frente.
Como posso quando ainda estou tentando entender o fato de que
minha mãe acabou de ser assassinada?
— Alice, olhe para mim. — Sua voz é gentil, como se ele não quisesse
me assustar. Enquanto ele fala, o reconhecimento surge, e eu me lembro
de onde já ouvi essa voz antes.
Eu ignoro suas palavras e continuo a olhar para minha mãe, mas
quando sua mão se aproxima dela, minha cabeça balança com o
movimento, e eu começo a rosnar.
— Não toque nela! — Eu solto.
Sua mão para no ar, mas ele não abaixa o braço. Em vez disso, traz o
outro braço para a frente e coloca as palmas das mãos voltadas para a
frente, como se estivesse em rendição. — Eu não ia tocá-la.
Eu balancei minha cabeça repetidamente, não acreditando em uma
única palavra. — Você está aqui para tirá-la de mim! Eu não vou deixar
você levar minha mãe embora!
Ele abaixa os braços e os descansa ao lado do corpo. — Alice, eu
prometo que não estou aqui para levá-la embora. Estou aqui para te
ajudar. — Sua voz fica desesperada. — Por favor, olhe para mim. — Eu
absorvo suas palavras, e depois de um longo olhar final para minha mãe,
respiro fundo e lentamente encontro seus olhos. Solto minha respiração
e começo a chorar quando olho nos olhos mais verdes que já vi.
O que ele está fazendo aqui?
Lembro-me das palavras que trocamos apenas algumas horas atrás e
estremeço com as palavras duras que eu disse, mas ainda não conseguia
entender por que ele estava aqui.
Eu olho para ele com os olhos cheios de lágrimas e balanço a cabeça
em descrença. — Ryder...?
Ele sorri calorosamente para mim e assente. — Está certo. Estou aqui
e não vou a lugar nenhum.
Olho para minha mãe e mais lágrimas começam a cair. — Por que
você está aqui?
Ele fica em silêncio por alguns segundos, depois limpa a garganta. —
Eu ouvi você gritar e segui sua voz. — Ele balança a cabeça em aflição. —
Eu nunca estive tão assustado antes na minha vida. Eu não sabia o que
esperar depois de encontrar você.
— O que você esperava encontrar? — Ele também olha para minha
mãe. — Nada disso.
Nunca na minha vida eu esperava ver isso.
Também permaneço em silêncio, porque não posso deixar de pensar o
mesmo.
Nunca poderei esquecer o que vi.
Ryder se aproxima e traz o braço para frente novamente. — Alice.
Eu o paro, empurrando minha mão na minha frente. — Fique para
trás e não se aproxime. — Ele para novamente. — Alice, eu não estou
aqui para te machucar. Eu só quero ajudar. — Ele aponta para minhas
roupas. — Você está coberta de sangue. Eu só quero te limpar, ok?
Olhei para mim mesma e vi o sangue por toda a minha roupa. Viro
minhas mãos trêmulas e novamente vejo sangue cobrindo meus dedos e
sob minhas unhas. Quanto mais eu olhava para o sangue, mais enjoada
eu me sentia.
De repente, uma mão gentilmente cobre minha bochecha e tira
minha atenção do sangue em minhas mãos. — Deixe-me te ajudar.
Eu balanço minha cabeça. — O que há para ajudar? Minha mãe está
morta e não há nada que eu possa fazer para recuperá-la! — Eu lamento.
Ryder me olha com compaixão enquanto acaricia minha bochecha
suavemente. — Sei que não há nada que eu possa fazer ou dizer para
melhorar as coisas. Eu me sinto completamente impotente agora.
Ele olha para o chão. — Sinto muito por não estar aqui para proteger
você ou sua mãe.
Repito suas palavras na minha cabeça e suspiro quando penso em algo
que pode realmente funcionar. — Então, transforme-a.
Ele me olha interrogativamente. — O quê?
— Transforme-a, — repito.
— Não funciona assim, Alice.
Posso sentir a esperança de trazer de volta minha mãe se desintegrar.
— Eu não posso viver sem ela, Ryder. Ela é tudo que me resta. — Eu
imploro enquanto olho profundamente em seus olhos.
Ele balança a cabeça novamente. — Eu não posso transformá-la.
— Por favor! — Eu imploro.
— E tarde demais. Sinto muito, querida.
E é aí que tudo fica preto.
*
Será possível que tenha sido apenas um sonho e vou acordar para
perceber que nada realmente mudou? Se fosse esse o caso, eu não queria
acordar.
Eu estava com muito medo de saber se os eventos desta noite
realmente aconteceram, porque se fosse verdade, então eu preferiria
manter meus olhos fechados.
Eu sabia que estava deitada no sofá da sala, podia sentir o cheiro forte
e familiar da vela de canela que minha mãe adora.
Em todo Natal, eu sempre fazia questão de comprar aquela vela para
ela, e ela duraria o ano inteiro. De todos os presentes que eu daria a ela, a
vela de canela sempre foi a favorita dela.
Sorrio para mim mesma enquanto me lembro dela desembrulhando o
papel de embrulho e segurando uma vela na palma de suas mãos, com
seus olhos se enchendo de alegria, mas o sorriso logo desaparece quando
começo a lembrar o que aconteceu aqui esta noite.
Logo descubro que até as memórias do passado são muito dolorosas.
Abro os olhos lentamente, e a primeira coisa que ouço são duas vozes
masculinas falando em voz baixa do outro lado da sala.
— Eu vou ter que entrevistá-la, Ryder. — A voz é reconhecível. Não
demoro muito para descobrir a quem essa voz pertence.
— Tom, por favor, entenda. Esta é a mãe dela, certo? Não é um colega
de trabalho. — Mesmo que Ryder esteja falando em voz baixa com o
policial, sua voz tem total autoridade.
Tom suspira. — Eu entendo que é a mãe dela, mas é uma investigação
de assassinato. Vou ter que falar com ela.
— Eu não te chamei aqui para pegar o depoimento dela. Ela mal
consegue pensar, muito menos falar agora. O tom de Ryder aumenta.
— Ryder, deixe-me fazer meu trabalho. Vou precisar de respostas, e a
única maneira de obtê-las é dela.
Eu posso sentir a impaciência vindo do oficial, mas uma coisa que eu
tenho certeza é que ele não vai obter nenhuma resposta de mim.
Estou tão confusa quanto todo mundo.
— Pelo amor de Deus, Tom! Apenas pare com toda a inquisição! —
Ryder grita. — Este não é o momento ou o lugar para fazer perguntas!
— De que outra forma eu deveria fazer meu trabalho? Sim, a mãe dela
está morta, mas o assassino ainda está por aí. Eu preciso pegar essa
pessoa antes que outra seja morta.
— Você pode, por favor, ser um pouco mais solidário? Eu me importo
tanto com aquela garota que chega a doer, e não consigo imaginar o que
ela está pensando agora. Ela vai precisar de muito tempo para processar
isso.
— Eu sei.
Ryder continua. — Perder um membro da família é algo que você não
pode entender. Então, por favor, deixe o interrogatório para outra hora.
Tom exala. — Eu continuo esquecendo que você já passou por algo
assim antes. Com a Anna.
Silêncio.
— Não traga Anna para isso. — Ryder estala.
— O assassinato dela não está ligado a esses assassinatos. Não faça
suposições.
Não ouço a resposta de Tom porque tudo o que ouço é um som
ensurdecedor vindo de fora.
Eu rapidamente me sentei para ver toda a casa envolta em luzes azuis.
Não! Eles vieram para levá-la embora!
Eu me empurro para fora do sofá, corro para a porta da frente e corro
para o outro lado da estrada até a ambulância. Começo a chorar quando
vejo minha mãe sendo colocada na parte detrás do veículo. Em um saco
preto. — Parem!
Antes que eu possa dar outro passo, braços fortes envolvem minha
cintura e começam a me puxar para mais longe do veículo. Eu agarro
com toda a força que me resta nas mãos, impedindo-me de alcançar
minha mãe.
Me solte!
Quando vejo as portas duplas da ambulância começarem a se fechar
bem diante dos meus olhos, sinto como se fosse vomitar.
— Não... — Eu balancei minha cabeça em horror.
Isso não pode estar acontecendo!
Eu agarro as mãos novamente, mas começo a entrar em pânico
quando ouço o motor da ambulância dando partida.
Grito de frustração, mas desisto da luta quando o veículo sai
lentamente na direção do hospital, levando minha mãe embora. —
Voltem!, — grito para a noite.
Inesperadamente, a pessoa que me segura aproxima seu rosto do meu,
e a primeira coisa que sinto é sua barba mal feita esfregando na minha
bochecha.
— Alice, pare. — Reconheço imediatamente sua voz e sinto uma
grande quantidade de ressentimento em relação a ele.
— Ryder, você prometeu! — Eu lamento. — Você disse que não ia
levá-la embora! Como você pode fazer isso comigo!?
Ele me vira para encará-lo e gentilmente segura minhas bochechas. —
Eu sei o que disse, e me odeio por mentir para você, mas só fiz o que
achei certo. Por favor, não leve a mal.
— Você mentiu para mim!
Ryder só olha para mim em desespero.
— Eu nem consegui me despedir. — Eu sussurro enquanto abaixo
minha cabeça em derrota. Eu deixo as lágrimas caírem no chão, mas
suspiro de surpresa quando Ryder me puxa em seu peito e envolve seus
braços protetoramente em volta de mim.
Esqueci o quão confortável e protegida me sinto quando estou nos
braços de Ryder.
Neste momento, estar em seus braços é exatamente onde eu preciso
estar.
— Alice?
Ryder geme. — Agora não, Tom, por favor. — Eu sinto todo o seu
corpo ficar completamente rígido.
Ele olha severamente para Ryder, então olha para mim. — Eu sei que
falar comigo agora é provavelmente a última coisa que você quer fazer.
Sinto muito pela sua perda. Perder um membro da família é uma
tragédia. Minhas sinceras condolências.
Ainda entorpecida, encaro-o.
Alguns minutos se passam com um silêncio constrangedor, então
finalmente Tom limpa a garganta. — Você acha que poderia responder a
algumas perguntas?
— Eu disse, não esta noite, — Ryder ferve.
— Ryder. — Tom avisa.
Sinto o corpo de Ryder tenso. — Não. Esta noite. — Eu me solto do
aperto de Ryder e fico bem na frente do oficial. — Eu não acho que posso
responder suas perguntas. Eu sei que você quer respostas, mas, acredite
em mim, não há nada que não tenha acontecido antes.
Mais silêncio.
Tom limpa a garganta novamente. — Talvez esta noite não seja o
momento certo para tomar sua declaração.
Eu me viro para entrar na casa, mas paro quando Tom chama meu
nome.
— Mais uma coisa, Alice. Lamento ter que dizer isso, mas você não
pode ficar aqui esta noite.
Primeiro, eles levam minha mãe embora e agora estão dizendo que
não posso ficar na minha própria casa.
Eu o encaro, imóvel.
Tom pega seu telefone e o estende para mim. — Existe alguém para
quem você possa ligar para ficar esta noite ou...
Ryder interrompe. — Ela vai ficar comigo.
Tom olha brevemente para mim. — Você perguntou a ela primeiro?
Ryder cruza os braços sobre o peito. — Por que eu precisaria
perguntar a ela? Ela está comigo.
— Eu tinha de perguntar. Mas já que ela está com você, acho que ficar
na sua casa é provavelmente a melhor opção.
Eu continuo olhando para ele.
Ele olha para cada um de nós individualmente e então assente. —
Tudo bem, então. Vou deixar você com isso. — Ele me olha com
simpatia.
— Nós vamos pegar esse assassino. Eu te prometo isso. Ela era uma
boa mulher, sua mãe, a mulher mais forte que eu conhecia. — Ele
balança a cabeça em descrença. — Ela não merecia isso.
E com isso, ele se afasta, entra em seu carro e dirige pela noite.
Ryder e eu olhamos para o carro de Tom enquanto ele se afasta.
— Ele pode ser um pé no saco quando quer ser. — Ryder coloca as
mãos nos quadris enquanto balança a cabeça.
— Você está pronta para ir?
Eu me viro para olhar para Ryder para vê-lo olhando para mim.
Sem uma palavra, eu me viro para olhar para minha casa. — Para onde
mais devo ir?
Ryder chama meu nome baixinho e coloca uma mão em cada lado do
meu pescoço. — Aonde quer que você vá, eu vou.
Eu olho profundamente em seus olhos enquanto penso com quem eu
poderia ficar.
Uma das minhas opções seria ficar com Sam, mas considerando que
ela está no hospital depois de ser atacada, ficar com ela não é uma opção.
Então, não hesito em dizer a Ryder onde quero ir. — Eu quero ir para
casa.
Ele franze a testa. — Alice, você não pode ficar aqui.
— Casa. Sua casa. Com você.
Eu quero estar com ele. só com ele.
Ele não me responde com palavras.
Em vez disso, ele dá um beijo suave na minha testa, pega minha mão e
me acomoda no carro estacionado na entrada.
Capítulo Dois
Alice

A viagem para a casa de Ryder me deu a chance de pensar sobre os


eventos desta manhã até esta noite. O dia tinha começado bem.
Eu tive uma noite maravilhosa com Ryder, passei a noite inteira ao
lado dele, acordei com um delicioso café da manhã e até compartilhei um
beijo com ele antes da aula começar.
Era apenas um dia normal na escola. Eu e Sam tivemos nossa pequena
conversa incomum, o que nos levou a confrontar Max na hora do
almoço, mas não havia sinais que indicassem que o dia terminaria com
algo tão horrível.
Começou com Sam sendo atacada depois da escola. Ela me levou para
casa, mas voltou para a escola, quando inesperadamente foi atingida na
parte detrás da cabeça.
A intenção do atacante obviamente não era matá-la, porque se eles
quisessem matar Sam, eles o teriam feito. Mas quem iria querer
machucá-la?
Então, na sala de aula do Sr. Edmund encontrei a maior revelação de
todas. Foi ele quem me mordeu na noite de lua cheia há poucos dias.
O que realmente me deixa com raiva é que eu não tinha
absolutamente nenhuma ideia de sua identidade.
Como ele poderia ficar naquela sala de aula e zombar de mim
escondendo quem ele realmente era bem na minha frente?
Posso vê-lo rindo de mim depois de cada aula, mas quando pensei que
hoje não poderia ficar pior, cheguei em casa com uma visão que nunca
serei capaz de esquecer.
Foi apenas algo que eu nunca esperava que acontecesse na minha
vida.
Que tipo de monstro poderia matar a mãe de alguém?
Por que eles miraram na única pessoa que eu tinha?
Eu preciso parar de me perguntar quem iria querer machucar alguém,
porque não há uma resposta plausível por aí.
É provavelmente a maneira ideal de alguém se divertir, mas alguém
realmente cruzou a linha desta vez, e eu não vou parar de lutar até que
essa pessoa seja rasgada em pedaços pelas minhas próprias mãos.
— Você está bem?
O carro havia parado. Olho em volta para ver que estamos
estacionados do lado de fora da propriedade, com as luzes ainda acesas lá
dentro.
Eu olho para Ryder para vê-lo esperando pacientemente que eu
responda.
— O que você acha? — Eu pergunto ironicamente.
Ryder não me responde imediatamente. Ele apenas me encara. — Eu
sei exatamente como você se sente. Eu passei pela mesma coisa. Eu não
perdi minha mãe. Merda, eu nem sei onde diabos minha mãe está, mas
eu perdi uma irmã.
Ele desvia o olhar e cerra os dentes. — Anna significava absolutamente
tudo para mim. Ela era a única pessoa que poderia me fazer sorrir e rir, e
quando ela morreu, eu me senti completamente vazio. Eu odiava a ideia
de viver sem ela.
— Eu comecei a beber, entrei em brigas, dormi por aí, mas nada
conseguia tirar minha mente dela. — Ele olha de volta para mim, com
seus olhos enevoados. — Então, não pense que eu não tenho ideia do que
você está passando, porque confie em mim, eu tenho. Eu sei exatamente
como é ter um coração partido.
Acho difícil pensar em algo para dizer sobre isso, então quando Ryder
abre a porta e sai do carro, me sinto um pouco aliviada por não ter que
dizer nada a ele.
Ele vem para o meu lado do carro, abre a porta e estende a mão para
pegar minha mão.
Com nossas mãos entrelaçadas, ele me leva até a casa sem dizer uma
palavra.
Assim que chegamos à porta da frente, ele para e me encara. — Todo
mundo está aqui esta noite, então não seremos apenas nós dois.
— Eles não sabem o que aconteceu com sua mãe, então não sinta que
você precisa dar uma explicação a eles agora, mas de manhã, se eles me
perguntarem por que você está aqui, então eu tenho que dizer a eles. Está
tudo bem pra você?
Eu respondo apenas com um aceno de cabeça.
Assim que dou minha resposta, ele abre a porta, ignora os
cumprimentos dos lobos na cozinha e me leva direto para cima.
Ele abre a porta de um dos quartos e eu observo as paredes pintadas
de roxo, a cama com dossel, as duas mesas de cabeceira e a
espreguiçadeira, mas sou principalmente atraída pela estante do lado
esquerdo do quarto.
Ryder entra no quarto, deixando-me de pé na porta. — Tenho certeza
de que você se lembra deste quarto. Eu o mantive exatamente do jeito
que você o deixou antes.
— Ryder, de quem é este quarto?
Ele para no meio da sala, de costas para mim. — Este quarto é, quero
dizer, era de Anna. Ninguém é permitido neste quarto, exceto eu, é claro.
— Este quarto nunca foi usado. Você é a primeira pessoa a dormir
neste quarto além de Anna, então considere o seu quarto. Você pode
fazer o que quiser com ele, decorá-lo como quiser. Depende
completamente de você.
Olho ao redor da sala e de repente tudo faz sentido. — Ela tinha
muito bom gosto. Não acredito que nunca tive a chance de conhecê-la.
Ryder se vira com um sorriso caloroso no rosto. — Vocês duas teriam
sido realmente boas amigas. Ela teria gostado muito de você, Alice.
Eu teria gostado dela também.
Entro no quarto e me sento na cama, completamente exausta. Ryder
logo segue meus passos e se agacha na minha frente.
— Vou sair agora para que você possa ter um pouco de privacidade,
mas se precisar de mim, tudo o que precisa fazer é dizer meu nome. Não
importa se for um sussurro, sempre poderei te ouvir.
Ele se levanta e caminha em direção à porta, mas pouco antes de sair,
ele se vira para olhar para mim. — Lamento não poder fazer nada por ela.
Nunca me senti tão inútil.
Ele se vira e sai, fechando a porta atrás de si.
Embora Ryder tenha saído do quarto, suas palavras ainda
permanecem no ar.
Acho que nós dois nos sentimos inúteis neste momento. Somos
ambos Alfas, mas nenhum de nós pôde fazer nada para salvar minha
mãe.
Mas por que Ryder disse que não poderia transformá-la? Com certeza,
ele já transformou mais de uma pessoa, então não pode ficar sem prática.
Quero dizer, ele salvou Kellan depois que ele foi baleado, mas Kellan
ainda estava vivo quando Ryder o mordeu. Então, isso significa que
alguém tem que estar morrendo de vontade de se tomar um lobo?
Ser um lobo não parece tão bom quanto parece agora, e não é algo de
que eu sinta orgulho. Eu pensei que ser uma Alfa significava que você
poderia fazer qualquer coisa.
Se eu soubesse como usar minhas habilidades, eu poderia salvá-la,
então por que me dar esses poderes se no final não faz sentido para
alguém que nem sabe como usá-los?
Qual é o sentido de ser uma Alfa se eu nem sei como ser uma?
Enquanto me sento na cama, contemplando, percebo que ainda estou
com as roupas sujas cobertas de sangue.
Talvez agora seja um bom momento para me limpar, mas essas roupas
manchadas de sangue são o único lembrete que tenho do que aconteceu
esta noite.
Livrar-se dessas roupas seria como jogar fora e esquecer o que minha
mãe passou esta noite.
Eu não vou jogá-las fora. Vou manter as roupas seguras, porque de vez
em quando, vou dar uma olhada nessas roupas, e isso me lembrará que
tenho alguém para encontrar.
Quando chego ao banheiro, vejo roupas já dispostas para mim em
cima do balcão e, olhando mais de perto, elas se parecem com as roupas
que Ryder me deu antes.
O que há com ele me dando suas roupas?
Não perco tempo tirando minhas roupas. Estou tão desesperada para
entrar na água quente e lavar o sangue das minhas mãos.
Acho que nunca mais serei capaz de me sentir verdadeiramente limpa.
Depois de passar alguns minutos sob o jato de água quente, eu
rapidamente me seco e coloco as roupas de Ryder. Suspiro com o
conforto que suas roupas proporcionam e logo saio do banheiro. Não
vejo ninguém na minha saída e isso me deixa aliviada. Eu não acho que
gostaria de ser vista e explicar minha razão de estar aqui para os lobos.
Chego ao quarto, fecho a porta com força e vou até o guarda-roupa
colocado ao lado da estante. Lá, dobro as roupas manchadas de sangue e
as coloco dentro de uma das gavetas.
Depois de alguns minutos olhando as roupas, fecho a gaveta e vou até
a cama.
Depois de desligar todas as luzes do quarto, deitei-me na cama, mas
me senti muito inquieta. Não sei se é porque estou sozinha, paranoica ou
talvez seja a razão de estar dormindo em um quarto que já pertenceu a
alguém vivo.
Viro-me para o lado, fecho os olhos e tento dormir um pouco. Eu sei
que dormir é provavelmente a última coisa em minha mente depois do
que aconteceu hoje, mas se eu vou derrubar o assassino, então vou
precisar de muita energia.
Depois de minutos tentando adormecer e falhando, sento-me em
frustração.
Por que não consigo dormir?
É como se meu próprio corpo estivesse lutando contra mim.
Eu não sabia por que, mas parecia que algo estava faltando.
No momento em que encontrei minha mãe, Ryder foi a primeira
pessoa a ficar ao meu lado. Com ele, eu me sentia protegida e intocável.
Imediatamente depois que Ryder saiu do quarto, comecei a sentir
medo, e esse não é um sentimento com o qual estou acostumada.
Será que eu sinto falta dele?
Eu penso calmamente comigo mesma se ir vê-lo é a escolha certa a
fazer.
Devo ficar ou devo ir?
Não demoro muito, porque estou fora antes mesmo de saber que
decidi.
Quando chego ao quarto dele, percebo que a porta está entreaberta.
Eu gentilmente abro a porta e, sob as luzes do corredor, vejo Ryder
deitado de bruços e com os lençóis descansando na parte inferior de suas
costas.
Entro, fecho a porta atrás de mim e caminho até o lado vazio da cama,
mas no momento em que coloco a palma da mão na cama, uma mão me
agarra pelo pulso e me pega de surpresa.
Ryder se vira para mim, sem me soltar.
— Alice? — Ele pergunta com a voz rouca.
Não consigo falar.
Ele solta meu pulso e me olha preocupado. — Tudo certo?
Em vez de responder, subo na cama e puxo as cobertas sobre mim. —
Só me abrace.
Eu me viro, de costas para ele, e imediatamente ele envolve seus
braços em volta de mim.
Mesmo que eu chore silenciosamente em seus braços naquela noite,
logo adormeço, e nem uma vez acordo.
Capítulo Três
Alice

Na manhã seguinte, acordo em uma cama vazia. Olho para o seu lado
da cama e me sinto um pouco decepcionada.
Uma parte de mim estava esperando ver Ryder deitado ao meu lado,
mas a outra parte de mim se sente aliviada por ele não estar aqui. Não há
como explicar ontem à noite para ele, mas eu só queria ser abraçada pela
única pessoa com quem realmente me importo.
Quando me mexo para me levantar da cama, começo a ouvir vozes do
nada.
Que diabos?
Sento-me na cama e olho ao redor do quarto para ver se há uma TV
ou rádio ligado, mas não vejo nenhum objeto no quarto.
De onde vêm as vozes?
Quando tento sair da cama pela segunda vez, paro novamente quando
ouço as vozes.
Devem ser os lobos falando lá embaixo, mas a cozinha fica do outro
lado da casa. É possível que eu possa ouvir o que eles estão dizendo
daqui?
Por que isso está acontecendo de repente?
Fecho os olhos, tento clarear a cabeça e me concentro o máximo que
posso nas vozes que vêm de baixo, mas não consigo entender o que
alguém está dizendo.
Talvez eu precisasse tentar um pouco mais.
Quando me concentro mais, é a voz de Kellan que ouço primeiro.
— Ryder, o que aconteceu?
Ele suspira. — A mãe dela foi assassinada ontem à noite. E por isso
que ela está aqui.
— Porra, — murmura Bane.
— Ela está bem? — Kellan pergunta.
— Ela não está bem, — responde Ryder.
Silêncio.
— Quanto tempo ela vai ficar? — Silver pergunta friamente.
Eu sabia que Silver me odiaria por estar aqui, e isso só provava que eu
estava certo, mas fiquei um pouco magoada ao ouvir o tom de sua voz.
Kellan zomba da pergunta de Silver. — Importa quanto tempo?
— A mãe dela acabou de ser assassinada e essa é a primeira coisa que
você tem a dizer? — Pergunta Ryder.
— O que mais eu deveria perguntar?
— Que tal perguntar se ela está bem? — A voz de Kellan aumenta.
— Quem diabos se importa?
Ryder rosna. — Cuidado com o que fala!
— Por quê? Ela é um incômodo.
O quê?
Silver! — Ryder avisa.
— O quê? É verdade!
— Silver, a mãe dela está morta. — diz Kellan.
— Por que eu deveria me importar se a mãe dela foi morta? Ela não é
nada para mim.
— Por que você tem que ser uma cuzona o tempo todo? Alice não foi
nada além de educada com você.
— Eu pedi a ela para ser educada comigo, Kellan? Não!
Por que ela me odeia tanto?
— Quero dizer, você sente um pouco de simpatia por ela? — Kellan
pergunta.
Não houve hesitação. — Não, eu não.
Silêncio.
A voz de Kellan aumenta. — Você ainda tem sentimentos?
— Porra, Kellan. Pare de tentar me fazer ter pena dela, porque não vai
funcionar. Eu não me importo com ela, eu não me importo que a mãe
dela esteja morta, e eu não me importo que toda a sua vida seja uma
grande merda.
É
— É culpa dela que tudo isso esteja acontecendo.
Por que todos vocês não podem ver isso?
Do nada, um som vem do andar de baixo, como se alguém tivesse
socado a parede.
— Tome cuidado. Tenha muito cuidado com o que você diz em
seguida, Silver, — Ryder berra.
— Apenas se livre dela! — Ela grita.
— Ela não tem para onde ir! — Ryder ruge. — E ela pode ficar o tempo
que ela quiser. Cabe a mim quem trago para esta casa! Você não!
— Como você pode ser tão estúpido em deixar essa coisa vir aqui!? —
Silver grita.
Só então, uma voz inesperada se junta à discussão, e suas palavras me
fazem tremer, mesmo que eu não esteja na sala.
— Silver, cale essa porra da sua boca antes que eu a feche para você, —
Bane rosna.
Uma longa pausa.
Ela suspira. — Bane... — Ela parecia genuinamente traída.
— Você me ouviu. Nem mais uma palavra.
Ela choraminga em resposta.
Kellan fala, seu tom mais suave. — Você nunca foi assim antes. Tente
se colocar no lugar de outra pessoa, ok? Tente e veja da perspectiva de
Alice. — Seu pai foi embora quando ela era jovem, sua melhor amiga está
no hospital e agora sua mãe foi assassinada. Você pode imaginar o que ela
está passando agora?
Ele suspira. — Mas o que estou dizendo? Sinto que não te conheço
mais. Mas o que eu sei é que desde que Alice entrou em nossas vidas,
você se transformou em uma pessoa horrível, você sabe disso?
— Abra seus olhos, Kellan. Sempre fui uma pessoa horrível, e sempre
serei. Você não me conhece. Então, pare de fingir que você conhece,
porque você nunca foi o caso.
— Você ainda não deveria estar agindo assim, especialmente se for
alguém que conhecemos que foi morto! — Kellan cospe.
— A mãe de Alice não significava nada para nenhum de nós. Eu nem a
conhecia, então por que eu deveria dar a mínima?
Todos os três machos rosnam em resposta.
— Não, ela está certa. Por que ela deveria se importar?
Todos os olhos se voltam para mim. Agora estou do lado de fora da
cozinha, e todos parecem ter visto um fantasma.
Huh. Acho que eles não esperavam me ver.
— Você está acordada! Você dormiu bem? — Kellan olha para mim se
desculpando.
Ryder se move do balcão para ficar na minha frente. — Você deveria
estar na cama, descansando.
Eu apenas olho para ele. — Como posso quando tudo o que ouço são
vocês quatro discutindo?
Ninguém diz uma palavra em resposta.
— Sinto que estou interrompendo. Por favor, continuem com o que
quer que esteja falando. Não parem por minha conta. — Digo isso
enquanto olho para Silver, mas ela apenas desvia o olhar de mim.
— Nós terminamos de qualquer maneira. Então, você pode ir, — ela
diz em um tom entediado.
Essa garota estava realmente começando a me irritar.
Passo por Ryder e me aproximo de Silver para onde ela está sentada à
mesa, e enquanto ando em direção a ela, noto um enorme amassado na
parede. Eu realmente preciso adivinhar quem fez isso?
Quando me aproximo dela, ela me encara.
— Bem, eu não terminei. Sabe, quando eu estava lá em cima, não pude
deixar de ouvir você cuspindo insultos sobre minha mãe. Minha mãe
morta. — Eu seguro as lágrimas que ameaçam cair. Silver parece que quer
me bater ou fugir.
— Ninguém fala assim da minha mãe. Quem diabos você pensa que é?
— Eu me inclino para mais perto dela, colocando minhas mãos nos
braços da cadeira em que ela se sentou.
— Você realmente precisa prestar atenção no que você diz, porque
você nunca sabe quem pode estar ouvindo. Nunca mais cometa esse erro,
senão eu e você teremos um problema.
Os olhos de Silver se arregalaram. — Você está me ameaçando?
Eu me inclino para longe dela. — É um aviso, Silver. E se eu fosse você,
ouviria na primeira vez.
Enquanto me afasto dela, ouço-a sair da cadeira. — Você acha que
pode falar assim comigo e ir embora? Quem você pensa que é?
Eu suspiro quando me viro para encará-la. — Você esqueceu que eu
sou uma loba também? Oh, espere, eu sou uma Alfa, o que significa que
uma loba como você está abaixo de mim. Fale comigo novamente
quando sua posição melhorar.
— Você não merece ser uma Alfa! Você não fez nada para merecer esse
direito! — Silver diz.
— Isso é verdade. Eu não fiz nada para ser uma Alfa, mas é assim que
é. Agora, se ouvi bem, uma Alfa precisa de uma matilha. Você quer se
juntar à minha? — Eu digo a ela de forma pouco convincente.
Ela zomba. — Prefiro cortar meus olhos.
— Boa resposta. — Eu a interrompi.
— Você tem sorte que eu não sou sua Alfa, ou você não estaria
respirando agora. Você me enoja. — Eu a dispenso indo embora para ver
três rostos sem emoção olhando para mim.
No meu caminho para fora da cozinha, faço uma pausa e digo a Ryder:
— Você realmente não deveria socar paredes.
Quando chego à porta dos fundos, solto um grande suspiro e fecho os
olhos. Uma lufada de ar fresco é exatamente o que eu precisava. Não sei
o que deu em mim lá, mas não quero que ninguém fale assim da minha
mãe.
Ainda era difícil acreditar que ela tinha ido embora. O dia parecia
vazio sem ela, mas eu não queria pensar nela porque isso só me traz dor,
e eu não posso me permitir ficar nesse estado agora.
Só havia uma coisa em minha mente, que era encontrar o assassino de
minha mãe antes que outra pessoa se tomasse vítima.
Isso tudo precisava acabar.
— Você quer me dizer o que aconteceu lá dentro? — Uma voz atrás de
mim me surpreende, mas reconheço sua voz imediatamente.
— Ela estava me irritando. Deus sabe o que eu teria feito se ela
continuasse falando merda sobre minha mãe.
Ryder vem para ficar ao meu lado com as mãos nos bolsos e olha para
a frente. — Silver sabe como irritar as pessoas, e ela também é boa nisso.
Eu suspiro. — Podemos não falar sobre ela, por favor? Eu vim aqui
para me acalmar, não para me irritar novamente.
Silêncio.
— Eu queria me desculpar por você ter que nos ouvir falando sobre
sua mãe. Você acabou de perdê-la e essa era provavelmente a última coisa
que você queria ouvir. E minha culpa Silver estar agindo assim. Ela está
fazendo isso para me irritar.
Eu o encaro, horrorizada. — Sua mãe acabou de ser assassinada? Não.
Então, por que ela agiria assim só para irritar você?
— Ela sabe que eu me importo com você.
Aponto de volta para a casa. — Aquilo ali não era sobre mim e você.
Isso foi algo completamente diferente.
Ele se vira e me encara. — Metade das coisas que ela diz, ela não pensa
antes de falar.
Eu zombo. — Você está realmente defendendo ela!?
— Claro que não estou. Eu só acho que ela está se comportando assim
por causa do jeito que eu tenho tratado ela nos últimos dias. Uma parte
de mim sente que é minha culpa que ela tenha falado sobre sua mãe
assim.
Eu balanço minha cabeça em negação. — Não. Ela sabia exatamente o
que estava dizendo. Eu podia ouvir isso em sua voz. Ela quis dizer cada
palavra. Eu não acho que seja uma boa ideia para nós dois estarmos sob o
mesmo teto.
Ele apenas suspira. — Eu ainda sinto muito, Alice.
— Não é você que precisa pedir desculpas, é ela. — Ryder olha para
mim se desculpando. — Ela nunca vai se desculpar porque ela nunca
pede. Mesmo quando ela está errada.
— Então, é melhor ela ficar longe de mim.
— Ouça, eu quero vocês duas debaixo do meu teto para que eu possa
ficar de olho em vocês.
— Ótimo, — murmuro sarcasticamente.
Ele me olha com curiosidade. — Eu tenho que perguntar, como você
conseguiu nos ouvir falando sobre sua mãe? Eu pensei que você não sabia
como usar suas habilidades?
Eu apenas dou de ombros. — Eu posso agora, mas foi muito estranho.
Acordei e comecei a ouvir vozes ao redor do quarto, e parecia que todos
vocês estavam no quarto comigo.
— A certa altura, pensei que fosse a TV ou o rádio, mas você não tem
nenhuma dessas coisas no seu quarto.
Ele sorri para mim. — Parece que suas habilidades estão surgindo.
— Por que elas não funcionaram ontem à noite? Eu poderia ter sido
capaz de salvá-la do Sr. Edmund.
Uma pausa.
— O que o Sr. Edmund tem a ver com isso? — Ele pergunta, confuso.
— Ele é um Alfa, como nós.
— O quê? — pergunta Ryder.
— Foi ele que me mordeu.
Ryder não diz nada por um momento. — Aquele desgraçado, — ele
rosna.
— Por que não deixei a transformação acontecer da primeira vez?
Tudo isso provavelmente não teria acontecido.
Ryder segura minha bochecha suavemente. — Você não pode pensar
assim, Alice. Nenhum de nós sabia que a noite passada aconteceria.
Agora que você é uma loba, você precisa entender que não pode salvar a
todos.
— Eu posso tentar pelo menos. — Eu sinto meus olhos lacrimejando.
Ele fica em silêncio por um momento. — Se há uma pessoa que você
precisa proteger, é Sam. Ela pode ter sido apenas atacada, mas nunca
saberemos se ela é o próximo alvo.
— Além de sua mãe, ela era a única outra pessoa de quem você era
próxima, e a última coisa que queremos é que Sam se machuque. Ou
pior.
E é aí que as lágrimas caem livremente.
*
Depois de uma manhã desastrosa, passei o dia praticamente sozinha.
Eu queria ficar sozinha sem ter que falar com ninguém, mas não
importava, porque onde quer que eu fosse, sempre sentia uma presença.
A manhã inteira foi passada andando pela propriedade dos lobos. Até
dei um passeio dentro da floresta e passei horas observando a vida
selvagem ao meu redor.
Eu queria aproveitar a paisagem, mas com Ryder me seguindo à
distância, eu realmente não podia fazer nada que eu quisesse sem ser
observada.
O que ele achava que eu ia fazer?
Quando eram seis horas, mandaram-me entrar para jantar, mas
depois desta manhã, quero ficar o mais longe possível de Silver. Além
disso, acho que não conseguiria comer nada.
Quando entro na cozinha, só vejo Kellan e Bane no fogão e assisto a
cena na minha frente. Eu me pergunto que tipo de amizade esses lobos
têm um com o outro.
— Coloque de volta antes que eu quebre seu pulso, — Bane diz em um
tom sério.
Kellan parece magoado. — É só uma batatinha, Bane. Ninguém vai
saber que eu peguei.
— Você está cego? Acabei de ver você pegar com meus próprios olhos.
Coloque-o de volta agora antes que eu enfie esta faca na sua garganta.
Com a faca e o garfo que segura nas mãos, ele vira o bife que está
cozinhando na panela.
— Você pode me cortar um pedaço desse bife? Parece tão bom, —
Kellan geme.
Bane se vira para Kellan com um olhar irritado, então lhe dá um tapa
na parte detrás da cabeça. — Você nunca se cala? Você está realmente me
irritando. Sente-se antes que eu te dê uma surra.
Kellan sai desapontado do lado de Bane para se sentar à mesa. Não sei
se ouvi direito, mas parecia que Bane suspirou de alívio.
Entro na cozinha e sento em frente a Kellan, que agora está ocupado
mandando mensagens em seu telefone, mas assim que me sento, Ryder
entra na cozinha e fica ao lado de Bane.
Eu não ouço o que eles estão falando porque Kellan guardou o
telefone e está me fazendo uma pergunta.
— Como foi sua tarde?
Eu sorrio, mas não com meus olhos. — Foi agradável. Depois desta
manhã, era exatamente o que eu precisava.
— Silver nunca costuma ser assim.
— Você nunca soube que Silver tinha uma tendência a ser
desagradável? — Eu pergunto.
— Oh, eu sabia, mas as palavras que ela disse sobre sua mãe foram
dolorosas.
Não digo nada sobre isso porque concordei com ele.
Ryder se vira para nós dois. — Onde ela está afinal?
Kellan dá de ombros. — Não sei. Tudo o que ela disse foi que voltaria
amanhã de manhã.
Ryder coloca as mãos nos quadris enquanto balança a cabeça. — Estou
começando a ficar realmente impaciente com ela. — Ele suspira e sai da
cozinha.
Ele logo volta para a cozinha, vestindo jeans pretos rasgados, um
colete preto e uma jaqueta de couro preta. Ele parecia tão perigoso
vestido assim, e eu gostei.
— Onde você está indo? — Eu pergunto.
— Vou procurar Silver.
— Por quê? — Eu franzo a testa, incapaz de entender por que ele iria
querer procurá-la, especialmente depois desta manhã.
— Como seu Alfa, preciso saber exatamente para onde ela vai.
E assim, ele vai embora.
A cozinha está em completo silêncio. O único som que enche a sala é
o da comida cozinhando, mas não faz sentido. Por que Ryder precisa sair
de casa para procurar Silver? Eu, pelo menos, estou feliz por ela não estar
aqui, então isso significa que Ryder está triste por ela não estar aqui?
Achei que ele estava do meu lado.
Eu precisava de respostas, então quebro o silêncio.
— Por que Ryder precisa procurar Silver? Quero dizer, ela é uma
adulta e com certeza pode se defender.
Kellan responde. — É uma das regras de Ryder. Se você se tomar parte
da matilha dele, sempre terá que dizer aonde vai blá, blá, blá. Por motivos
de proteção.
Bane traz um prato de bife e batatas fritas e o coloca na minha frente.
— Coloque isso em você. Eu quero tudo nesse prato comido. —
Murmuro um agradecimento baixinho, mas ele não se afasta da mesa, eu
olho para ele, confusa.
— Ele só quer saber onde estamos para o caso de estarmos com
problemas, então, se precisarmos dele, ele saberá exatamente onde
estamos, — diz Bane e volta ao fogão para continuar cozinhando.
— Você vai comer isso? — Eu olho para Kellan para vê-lo olhando
apaixonadamente para a comida colocada na minha frente.
— Kellan, espere a porra da sua vez! — Bane grita.
Olhei para o bife e as batatas fritas, pensando que não teria como
aguentar.
Eu pego o prato para dar a Kellan, mas paro quando penso em precisar
de energia para encontrar o assassino, então com esse pensamento na
minha cabeça, coloco o prato de volta na mesa e pego a faca e o garfo.
Eu só posso imaginar a frustração de Kellan agora.
— Aqui está sua comida, seu merda impaciente. — Bane bate o prato
na frente de Kellan e se afasta, carregando seu próprio prato em direção à
sala de estar.
— Idiota, — Kellan murmura enquanto devora seu bife.
Kellan e eu comemos em completo silêncio. É estranho que eu me
sinta confortável perto dele quando estamos sozinhos.
O mesmo vale para Ryder, mas com Kellan, posso relaxar e não há
pressão para conversar, ao contrário de Ryder, que me mantém
antecipando tudo.
De todos os lobos, Kellan e Ryder são os únicos dois com os quais me
sinto confortável, mas estou começando a gostar de Bane ultimamente.
Mas ele ainda é um idiota, e ainda me assusta.
— Você acha que eu estar aqui é uma má ideia?
Kellan franze a testa para mim. — Porque você pensaria isso?
Eu suspiro. — Depois desta manhã, sinto que tomei as coisas intensas
entre vocês.
— De jeito nenhum. Todos nós notamos uma mudança no
comportamento de Silver, mas ainda não pensamos nisso. Não sabemos
se é por causa de você e Ryder ou outra coisa, mas algo realmente mudou
nela.
— Eu só não quero ser um fardo para Ryder. Prefiro ir embora.
— E ir para onde? Você não pode ir para casa.
Nunca?
— O que você quer dizer?
— A única maneira de você ficar e morar na casa da sua mãe é se você
tiver um adulto morando com você lá.
— Mas eu sou uma adulta.
Ele balança a cabeça. — Não faz diferença. Você só pode morar em
uma casa com um dos pais.
— Por quê?
Ele dá de ombros. — Por causa de todos os assassinatos que estão
acontecendo agora. A polícia é inflexível em não deixar os adolescentes
viverem sozinhos sem os pais. Isso é o que meu pai diz de qualquer
maneira.
— Então, a única maneira que eu posso viver em casa é...
— Se seu pai vier morar lá com você, — Kellan interrompe.
Eu não sabia por que, mas me senti desconfortável.
— Com quem você estava falando ao telefone agora?
— Meu pai. Ele queria que eu lhe desse seu sobrenome.
— Por quê? — Eu exijo.
Eu ouço meu coração batendo em meus ouvidos.
Eu estava com medo de ouvir o que Kellan tinha a dizer.
— Para encontrar seu pai e trazê-lo de volta para a Small Town.
Capítulo Quatro
Alice

Se havia uma pessoa que eu queria evitar em minha vida, era meu pai.
Ele não merecia ser chamado de meu pai depois do que ele fez.
Eu queria passar a vida inteira sem ver o rosto dele, um rosto que nem
consigo me lembrar. Não há sequer uma foto dele em casa, e eu nem sei o
nome dele.
Estou feliz por não saber como ele é, porque quando chegar a hora de
conhecê-lo, não poderei tirar seu rosto da minha mente.
Vou odiá-lo ainda mais depois de ver seu rosto.
Nos últimos dezoito anos, eu o odiei todos os dias por deixar a mim e
minha mãe, e esse ódio ainda cresce dentro de mim hoje.
Espero que ele seja sábio o suficiente para tomar a decisão de não vir
para Small Town, porque eu não vou cumprimentá-lo de braços abertos.
Tudo o que ele vai conseguir de mim é um silêncio completo e
absoluto, mas estou preocupado que, se meu ódio por ele me vencer, eu
vou acabar me transformando e soltando minha agressão nele por fazer
uma bagunça na nossa família.
Ele pode ser meu pai, mas para mim, ele é apenas uma pessoa que
estava envolvida em me fazer parte deste mundo, e eu preferiria que
continuasse assim, então estou rezando para que ele não volte.
Por uma vez, deixe as coisas seguirem meu caminho.
Naquela noite, deitada na cama, pensando em meu pai, sobressaltei-
me de surpresa quando ouvi uma porta se fechar no andar de baixo. Com
minha nova habilidade de ouvir coisas, sigo os sons de dois conjuntos de
passos, um mais leve que o outro.
Será que Ryder está de volta? Mas quem está com ele?
Quando é óbvio que dormir é a última coisa em minha mente, decido
que não tenho nada melhor para fazer além de ouvir o que está
acontecendo lá embaixo, e não era o que eu esperava ouvir.
— Por que você veio me encontrar? Eu disse a Kellan que estaria de
volta amanhã de manhã. — Silver soa como se ela estivesse um pouco
desgastada.
Onde ela esteve todo esse tempo?
— Silver, eu tenho que saber aonde você vai. Você sabe disso, mas esta
é a terceira vez que você vagueia por conta própria. Qual é o sentido de
eu fazer essas regras se você acabar me desobedecendo?
— Acho que depois desta manhã, eu merecia um pouco de espaço de
todos, Ryder.
— Esta manhã você passou da linha, e espero que você saiba disso.
Ela não responde.
— Só quero saber onde você está caso precise de mim, caso tenha
problemas. É tão difícil para você me dizer para onde está indo?
— Por que você se importa com onde eu vou?
Nós dois sabemos que você não se importa mais comigo. Não como
você costumava fazer. Então, apenas me deixe em paz. Eu tenho uma
vida fora desta matilha.
— Isso vale para Bane e Kellan. Não quero que nada aconteça com
nenhum de vocês. Vocês são minha matilha, e eu preciso de vocês.
Pausa.
— E Alice? — Ela pergunta.
— Eu não vou deixá-la fora da minha vista também.
Perdê-la seria como perder tudo.
— Você está dizendo isso só para me machucar?
— Eu só quero que você entenda que acabou entre nós. — Ele suspira.
— O que eu senti por você não se compara ao que eu sinto por ela.
Silver zomba. — Você continua enfiando essa faca mais fundo no meu
coração. Você é um especialista em parti-lo. Por que demorei tanto para
descobrir isso?
Ele não responde.
— Você realmente dormiu com ela? — Eu não ouço sua resposta, mas
o que eu ouço é Silver caindo em lágrimas. — Você não fez nada, não é?
— Quaisquer sentimentos que você tenha por mim terminam agora.
Não quero ter que te dizer de novo, Silver.
Outra pausa.
Essas próximas palavras me deixam completamente imóvel.
— Eu te amei tanto. Fiz tudo o que você queria que eu fizesse. No
entanto, você ainda me tratou como uma vadia! Isso foi tudo que eu
sempre fui para você? Apenas alguém para foder de vez em quando?
Eu sei que ouvir a conversa deles é errado, mas não posso deixar de
me sentir ansiosa sobre o que Ryder tem a dizer nessa situação e,
portanto, continuo ouvindo.
— Você sabia desde o início que eu não estava procurando por nada
sério, e mesmo assim você veio até mim. Não fique aí pensando que eu
tinha sentimentos por você porque eu não tinha.
— Não sou eu que tenho sentimentos. Era você, e só você.
Ela suspira.
— Boa noite, Silver.
Quando acho que a conversa acabou, ela grita o nome dele. — Você já
pensou sobre meus sentimentos uma vez!?
— Silver, pare.
— Eu quero saber! — Ela grita. — Diga-me o que eu quero saber.
— Eu não vou dar uma resposta que você já conhece.
Ela choraminga. — Eu sempre vou te amar. Não há nada que você
possa dizer ou fazer que me impeça de te amar.
— Tudo bem, mas não venha até mim quando você começar a me
odiar, porque eu avisei.
E é aí que a conversa termina, com Ryder indo embora, deixando
Silver sozinha no andar de baixo.
Eu não tinha ideia de que tipo de relacionamento Ryder e Silver
tinham, mas parece que o que eles tinham agora acabou, e não posso
deixar de sentir que é tudo culpa minha.
Não era minha intenção causar tal ruptura, mas o que está feito está
feito, e não há nada que eu possa fazer para mudar o que aconteceu.
Talvez conhecer Ryder tenha sido uma coincidência, ou pode ter sido o
destino.
Eu nunca saberei a resposta, mas o que eu acho é que, se for para ser,
sempre encontrará um caminho para você. Conhecer Ryder naquela
época era algo que deveria acontecer.
Na manhã seguinte, acordo por volta do meio-dia. Se fosse um dia
normal, eu estaria na escola almoçando, mas com tudo o que aconteceu,
a escola não é realmente uma prioridade para mim. Além disso, eu não
gostaria que todos na escola olhassem para mim como se eu fosse perder
o controle de vez em quando. Prefiro ficar aqui até chegar a um acordo
com a perda que tive.
Assim que saio da cama, percebo que há silêncio em toda a casa, o que
me preocupa.
Eu não quero ficar sozinha. Concentro-me muito, procurando
qualquer tipo de som nos quartos, suspiro de alívio quando ouço
batimentos cardíacos.
Três no total.
Onde está o quarto? Silver saiu de novo?
Prendo meu longo cabelo louro-branco em um rabo de cavalo e saio
do quarto. Vou direto para a cozinha e, quando chego à sala, franzi a testa
para a pessoa sentada à mesa.
O que ele está fazendo aqui?
Eu esperava ver Kellan e Ryder, mas não esperava ver Tom. Ele está
olhando para seu bloco de notas enquanto gira uma caneta na mão.
Kellan se senta em frente a ele com um olhar distante no rosto. Ryder
se inclina contra o balcão da cozinha com um olhar irritado em seus
olhos.
Aconteça o que acontecer hoje, não haverá um bom resultado. Disso
tenho certeza.
— Policial?
A cabeça de Tom balança para mim e, levantando-se para me
cumprimentar, ele sorri calorosamente. Eu não retribuo. — Você parece
bem, Alice.
O quê?
— Melhor do que antes, quero dizer. — Eu apenas olho para ele.
Ryder se move para ficar ao meu lado, coloca a mão no meu quadril e
me puxa para ele. — Faça suas perguntas e vá. Ela não precisa ser
lembrada do que aconteceu.
Eu olho, de olhos arregalados, para Tom. — Você está aqui para pegar
meu depoimento?
— Sim, pensei que um dia seria suficiente.
— Tom, — adverte Ryder.
— Bem, você pensou errado, — eu fervo.
— Alice, estou aqui apenas para respostas.
Respostas que nós dois queremos saber.
Wu zombo. — E não podia esperar? Tem que ser agora?
Tom volta a se sentar com a culpa escrita em seu rosto. — Significaria
muito se você pudesse cooperar comigo.
Ryder aperta seu aperto no meu quadril. Ele provavelmente pode
sentir a raiva saindo de mim.
— Faz dois dias! — Eu grito.
Tom evita contato visual. — Só estou fazendo meu trabalho.
Eu estava cansada de ouvir isso, e ele precisava saber a dor que estava
me causando por apenas estar aqui.
— Você já conhece os detalhes. Ela foi assassinada assim como Terry e
o Sr. Daniels. Não há nada de novo para aprender, então por que você
está perdendo seu tempo querendo saber o que tenho a dizer?
— É o mesmo assassino, mas você já sabe disso, não é?
Tom assentiu lentamente. — Sim, mas ainda não temos um suspeito.
Respiro fundo e suspiro. — Eu tenho.
— O quê?
Olho diretamente para Tom. — Eu sei quem é o assassino.
Tom franze a testa para mim, mas sei que estou certa.
Eu posso sentir isso.
— O que você acabou de dizer? — Tom me pergunta.
— Eu sei quem matou Terry, Sr. Daniels e minha mãe, — eu digo.
Ele me olha com curiosidade. — Você sabe?
— Sim!
— Então, quem é? — Tom pergunta.
Eu não hesito. — Sr. Edmund.
— Sr. Edmund?
— Oliver Edmund. Você o conhece? — Pergunta Ryder.
Tom balança a cabeça. — Não. Nunca ouvi esse nome antes.
— Ele é novo na área, — Kellan diz suavemente.
Tom pega a caneta na mão e começa a escrever em seu bloco de notas.
— Como você sabe que Oliver Edmund assassinou sua mãe, Terry, e o Sr.
Daniels?
— Você me perguntou quem eu achava que era o assassino e eu disse a
você!
— Então, você não tem provas sólidas?
— Minhas palavras não são suficientes?
Tom para de escrever. — Como um homem é capaz de rasgar um
corpo em pedaços, afinal?
Era como se minha boca tivesse uma mente própria. — Porque ele é...
— Professor. — Kellan interrompe. — Ele é nosso professor de inglês.
Merda! Quase revelei o que era o Sr Edmund!
Tom olha para cada um de nós confuso. — Ele é um professor que
mata pessoas e pode rasgar corpos em pedaços?
Ele não parece convencido.
— Você ficaria surpreso com o que as pessoas são capazes de fazer
hoje em dia. — Eu olho diretamente para ele.
Tom suspira e guarda o bloco de notas e a caneta. — Você realmente
espera que eu acredite nisso?
— Acabei de lhe dar o nome da pessoa que está assassinando pessoas
inocentes e você acha que estou mentindo?
— Alice, um humano não é capaz de causar tanto dano, — Tom
responde.
Cruzo os braços sobre o peito. — Então, o que você acha que fez isso?
— Eu acho que é algum tipo de animal. Eu não sei, mas
definitivamente não é humano.
Tom se levanta de seu assento, preparando-se para sair, mas preciso
que ele entenda o que estou tentando dizer. — Se você ignorar isso, você
está cometendo um grande erro. Eu sei que estou certa.
Ele franze os lábios. — O que você sugere que eu faça? Pelo que
sabemos, o Sr. Edmund pode ser inocente em tudo isso. Vou acabar
interrogando alguém que não é culpado, e o tempo será desperdiçado.
— O que o coloca nas cenas de crime? Não há nenhuma evidência que
aponte para ele.
Eu suspiro de frustração. — Ele é o cara!
— Pai, talvez você devesse ouvi-la. Quero dizer, você provavelmente
acha que não há como nosso professor ter algo a ver com os assassinatos
aqui.
— Mas suponho que você não tenha outras pistas, então vá com esta.
Tom considera as palavras de Kellan por alguns segundos, então olha
para mim. — Tudo bem, eu vou vê-lo.
Tom olha para mim e Ryder, acena com a cabeça e se dirige para a
porta, mas para e se vira quando chamo seu nome. Eu realmente quero
falar com ele sobre uma outra coisa.
— Policial? Posso falar com você em particular? — Não sei por que
pedi para falar com ele em particular. Kellan e Ryder vão me ouvir de
qualquer maneira.
Ele assente com indiferença. — Claro.
Esperamos Ryder e Kellan saírem da cozinha e, quando o fazem, eu e
Tom nos sentamos à mesa, um de frente para o outro.
— Sobre o que você quer falar comigo?
Respiro fundo e solto. — Ouvi dizer que você vai encontrar meu pai, e
eu estava me perguntando por quê?
— Queremos informá-lo da morte de sua mãe e falar sobre ele ficar
com você por enquanto.
Eu podia sentir que estava ficando com mais raiva, e eu realmente não
queria perder o controle na frente de Tom.
O que eu diria se eu me transformasse bem diante de seus olhos?
— Eu não tenho um relacionamento com meu pai. Eu não o vejo há
anos, e eu nunca quero vê-lo. Ele olha para mim se desculpando. —
Estou ciente de sua situação com seu pai, mas ele precisa saber o que
aconteceu, e pode até ser uma chance para vocês se reconciliarem.
Ele simplesmente não entende.
— Ele me deixou e minha mãe por outra pessoa.
Por que eu iria querer vê-lo depois de todos esses anos?
Ele me olha com pena. — Ele é seu pai.
— Estou sem pai há todos esses anos e estou muito bem sem ele. —
Eu digo.
Tom dá um meio sorriso. — Você quer morar na sua casa?
Eu penso por um momento e começo a me sentir infeliz quando
penso no quanto eu realmente sinto falta de estar em casa. Quero dizer,
não há lugar como o lar.
— Sinto falta de minha casa, mas prefiro morar aqui do que estar com
meu pai.
Ele concorda. — Ok, tudo bem por enquanto, mas quando seu pai
chegar em Small Town, teremos que ter outra reunião. — Tom se levanta
para sair, mas eu também.
— Eu me sinto segura aqui, especialmente estando com Ryder.
Ele olha para mim e então sorri calorosamente. — Você sabia que esta
casa pertencia aos pais de Ryder?
— Eles adoraram este lugar, mas depois da morte de Arma eles se
mudaram e deixaram Ryder para trás. Eu ficava de olho nele, visitava
sempre que podia, mas via que ele não queria continuar vivendo.
— Ele é como um filho para mim, e desde que salvou a vida de Kellan,
serei eternamente grato a ele. Então, eu acho que você está segura aqui.
Ele cuidará bem de você, disso tenho certeza.
— Ele cuida bem de mim, mas é hora de alguém cuidar dele.
— Eu não poderia concordar mais.
Depois que Tom saiu de casa, Ryder e Kellan não estavam em lugar
nenhum.
Comecei a tarde sozinha, preparei sopa e comi sozinho na mesa de
jantar. Não me incomodou que ninguém estivesse por perto, porque me
deu a chance de sentar e respirar.
As coisas parecem estar piorando para mim e, desde que perdi minha
mãe, pensei que as coisas melhorariam porque havia perdido muito.
Ainda me sinto sem saber o que fazer em seguida com minha vida,
mas se Sam estivesse aqui, ela saberia exatamente o que fazer, mas com
ela no hospital, ela não pode me dizer qual direção eu preciso seguir
daqui.
Espero que ela esteja bem. Ela ainda não acordou, mas no momento
em que acordar, estarei lá como um relâmpago.
No momento em que termino de comer, vou para fora. O sol ainda
brilha no céu azul, e isso me faz pensar que já faz um tempo desde que eu
a deixei correr livre.
Sem ninguém por perto, talvez agora seja uma boa hora para deixá-la
sair. A última vez que me transformei, Terry foi encontrado morto na
propriedade dos lobos, e também foi o dia em que alguém me viu me
transformar em lobo.
Alguém lá fora conhece minha verdadeira identidade, e ainda está em
minha mente, mas as palavras de Ryder permanecem na minha cabeça.
Ele me disse que se eu não deixá-la livre de vez em quando, ela se tomará
selvagem, e eu não serei capaz de controlá-la.
Com esse pensamento na cabeça, tiro minhas roupas rapidamente,
dobro-as cuidadosamente, coloco-as no chão e me abaixo de quatro.
Repito o processo como da última vez. Fecho os olhos e me concentro
no meu batimento cardíaco e me lembro de respirar fundo.
Mais uma vez, repito isso até estar no controle do meu corpo.
Abro os olhos e foco em minhas mãos. Pela primeira vez, quero ver
como é me transformar e não ter medo do que me tomarei.
Minhas unhas começam a se alongar em garras afiadas, garras afiadas
o suficiente para fazer um humano sofrer muito.
O que se segue é o pelo branco, que começa na parte inferior das
minhas unhas e sobe.
É como um cobertor de neve que cobre todo o meu corpo, mas em vez
de ser frio, ele fornece calor.
Eu ronrono de alegria quando o pelo cobre meu estômago e pescoço, e
é aí que sinto meu rosto começar a mudar para se adaptar à sua nova
identidade.
Eu estremeço de desconforto quando os dentes afiados começam a
empurrar e quando minha mandíbula cresce para um tamanho maior.
Eu rolo minha cabeça sobre meus ombros, fazendo-me estremecer
quando sinto algo se formando no topo da minha cabeça, que eu
presumo que sejam minhas orelhas.
Quando minha cabeça volta ao meio, percebo que toda a
transformação aconteceu.
Eu estou na minha altura máxima a dois metros e meio, e olho para a
frente onde a floresta está. A floresta se estende por quilômetros e me faz
pensar no que acontece nela quando não é perturbada.
Estou prestes a descobrir porque ela também se pergunta.
Ela corre direto para a mesma clareira em que entramos antes, e ela
não olha para trás nem uma vez para a casa.
Estamos finalmente sozinhas, e nunca houve uma sensação melhor.
Ela obviamente entende o que eu quero porque corremos por
quilômetros, e mesmo assim a floresta nunca acaba. Acabamos parando
por um minuto, tempo suficiente para eu observar o ambiente.
A grama cobre a terra, lisa como cabelo. Cada fio pinga fortemente
com água.
As flores se erguem como uma incrível chama de cores para
deslumbrar os sentidos e os olhos, belas matrizes de cores de verdes,
amarelos, roxos e vermelhos.
As árvores estão cheias de pássaros e esquilos, e não demora muito
para que ela parta novamente, e inesperadamente chegamos a uma parte
que eu nunca explorei antes, onde as árvores são grossas e velhas.
Provavelmente foi um lugar que já foi preenchido com o canto dos
pássaros e onde os animais vagavam, mas é óbvio que já passou de sua
antiga glória.
A folhagem é tão densa que você pode ver o menor brilho da luz do
sol, mas isso não impede a sensação de que a escuridão ainda perdura
aqui.
Não há nem uma flor à vista, e é quando ela de repente para que me
deixa em pânico.
O que é?
Ela olha da esquerda para a direita, mas ela ainda não se move. O que
está fazendo ela se comportar dessa maneira?
Ela abaixa a cabeça para o chão, e inala, ela poderia cheirar alguma
coisa?
Uma vez que ela parece satisfeita em reconhecer o cheiro do que quer que
ela cheirou, ela joga a cabeça para trás e uiva.
Ela então corre a uma velocidade mortal mais fundo na floresta, eu
não sei o que é que ela pode cheirar, mas tenho a sensação de que estou
prestes a descobrir.
Ela diminui a velocidade quando chegamos a outra clareira da
floresta, e lá, eu paro de repente, porque parado a poucos centímetros de
mim, está um lobo. Um lobo negro.
Ryder?
Por que ele estava aqui tão longe?
O lobo está de costas para mim, mas parece estar olhando para a casa
dos lobos.
O que ele estava fazendo?
Quando dou um passo mais perto, chamo a atenção do lobo, e ele
balança a cabeça em minha direção.
Oh, meu Deus.
Seu corpo inteiro está coberto de pelo preto, mas não é isso que está
me fazendo parar meus movimentos e olhar em choque. É a cor de seus
olhos que está fazendo meu coração começar a bater rapidamente.
Seus olhos são azuis. Não vermelho, como o de Ryder.
Quem diabos é esse?
E por que ele está parado aí?
Poderia ser outro metamorfo como eu, ou é apenas um lobo vagando
pela floresta, mas por que estava olhando na direção da casa de Ryder?
Ela inclina a cabeça, e apenas encara o lobo. Ela obviamente não vê
esse lobo como uma ameaça, porque ela não está rosnando para ele.
O lobo se vira para mim completamente e parece que está me
analisando, mas o que ele faz em seguida me faz querer parar de respirar.
O lobo abaixa a cabeça e a deixa pendurado por alguns segundos,
depois foge.
Ela corre para o local onde o lobo parou e olha na direção em que ele
fugiu, mas o lobo não está em lugar algum. Como um fantasma, o lobo
desapareceu.
Eu imaginei isso?
Ela fica lá pelo que parecem horas, mas quando ela percebe que o lobo
não vai voltar, ela abaixa cabeça em derrota e se vira para a casa.
E um longo caminho de volta para casa.
Leva horas para chegar lá, e quando chegamos, ela para ao lado das
roupas dobradas no chão, e espera pacientemente.
Até a próxima vez.
— Onde você estava? — Uma voz pergunta lá de cima.
Eu tremo de surpresa e olho para mim mesma. Estou ali
completamente nua.
Hesito porque ainda não consigo superar o que vi na floresta. — Eu...
eu fui correr.
— Sozinha?
Eu aceno, mas olho para longe dele.
— Você sabe o quão preocupado eu tenho estado?
Eu fico em silêncio.
Alguns minutos se passam sem que nenhum de nós diga nada.
Era Ryder?
Não, aquele lobo não poderia ser Ryder porque seus olhos são
vermelhos.
— Alice, você está bem? — Sua voz suavizou.
Não era ele lá fora! Era outro lobo!
Sim, eu estou bem. — Eu murmuro.
Coloquei as roupas e caminhei até Ryder. Evito o contato visual com
ele, entro na casa, no quarto, e fico lá a noite inteira com apenas uma
pergunta na cabeça.
Quem diabos era aquele lobo?
Capítulo Cinco
Alice

Na manhã seguinte, decidi ir ver Sam. Ela pode não estar acordada
ainda, mas ela ainda é minha melhor amiga, e em momentos como esse,
eu realmente quero vê-la.
Eu odeio não poder vê-la ou falar com ela. Sinto falta de como ela sabe
como me sinto e no que estou pensando. Sam sempre sabe como me
fazer sentir melhor.
Ela é a mais forte de nós duas, e quando algo dá errado, ela sempre me
diz que tudo vai ficar bem.
Eu só queria que ela nunca tivesse sido atacada. Sam sabe como se
defender, e eu sei que no minuto em que ela acordar, ela ficará com raiva
quando perceber que o ataque foi feito por trás.
Sam teria espancado seu agressor se ela não tivesse sido pega de
surpresa, mas acho que as coisas não saem do jeito que queremos às
vezes.
Saio de casa de manhã cedo, vestindo apenas uma calça jeans e uma
camiseta simples com um par de tênis pretos Converse. Pego meu carro
na entrada e vou em direção ao hospital.
Enquanto dirijo, fico pensando comigo mesma se ontem realmente
aconteceu.
Eu vi outro lobo?
O lobo parecia conhecer bem a área, então isso significa que o lobo
vem à floresta com frequência? Em caso afirmativo, como é possível
evitar Ryder e os lobos?
Lembro-me de Ryder dizendo algo sobre como os lobos podem
esconder seu cheiro, mas apenas lobos altamente experientes podem
fazê-lo.
Ela conseguiu sentir seu cheiro e encontrou o lobo, e eu não sou uma
loba experiente. O lobo não mostrou nenhum sinal de agressão em
relação a mim, mas como eu encontrei aquele lobo quando Ryder e os
lobos não conseguiram?
Por que o lobo de olhos azuis só está aparecendo agora?
Chego ao hospital às nove e atravesso as portas duplas que levam à
recepção. Eu dou meu nome para uma recepcionista diferente desta vez e
espero por mais instruções.
O ódio que sinto pelos hospitais nunca passará. O ar tem um cheiro
de alvejante, e isso me faz querer cobrir meu rosto do cheiro
característico.
Fecho os olhos e rezo para que meu nome seja chamado em breve.
— Alice Smith?
Meus olhos imediatamente se abrem e encontram os olhos de uma
enfermeira segurando uma prancheta.
Eu me levanto. — Sou eu.
— Aqui para ver? — Ela olha da prancheta para mim.
— Sam Frey.
Ela assente e dá um meio sorriso. — Siga-me por favor.
Sigo a enfermeira pelo corredor abafado, onde as paredes de magnólia
são raspadas das centenas de carrinhos que foram empurrados para
dentro.
As fotos nas paredes parecem gravuras baratas de cenas edificantes, o
que é um pouco clichê, considerando que elas são colocadas em um
hospital.
É de se imaginar.
Logo acabamos dentro do quarto de Sam, onde ela está imóvel na
cama do hospital. Fico triste só de pensar que ela esteve aqui sozinha,
enquanto eu moro em uma casa cheia de gente.
Eu sei que os pais de Sam provavelmente visitaram, mas eles são o tipo
de pessoa que vem a lugares quando é conveniente para eles.
— Ela acordou? — Perguntei à enfermeira.
A enfermeira vai para o lado de Sam e verifica as máquinas. — Ainda
não, mas ela vai quando estiver pronta.
Sam está deitada na cama com um curativo na cabeça com arranhões
no rosto.
Eu balanço minha cabeça em descrença. — Você acha que ela vai
acordar em breve?
Eu não tiro os olhos de Sam.
A enfermeira se move para ficar na minha frente e dá um meio sorriso.
— Eu não sei. Ela foi atingida com tanta força que um golpe na cabeça
como esse é muito perigoso. Ela tem sorte de estar viva.
— Com o que ela foi atingida? Minha... mãe nunca me contou. Ela era
enfermeira. — Eu seguro as lágrimas quando menciono minha mãe.
A enfermeira dá de ombros. — Qualquer coisa pode ser usada como
arma se a intenção dessa pessoa for ferir alguém com ela, mas se eu
tivesse que adivinhar, diria que a arma escolhida pelo agressor foi um
taco de beisebol.
Eu franzi a testa. — Um taco de madeira?
Quanto dano um taco de madeira faria?
A enfermeira balança a cabeça. — Não, não um taco de madeira. Mais
como um bastão de metal.
Um bastão de metal!?
Como ela ainda estava viva?
Eu me esforço para encontrar as palavras, e a enfermeira percebe
também. Ela coloca a mão no meu ombro. — Isso é o que eu penso, e
estou errada na maioria das vezes.
Eu não respondo a ela.
Em vez disso, ando em direção a Sam, sento na cadeira ao lado da
cama e pego a mão dela na minha.
— Leve o tempo que precisar.
Murmuro um agradecimento baixinho e a enfermeira sai.
Com nós duas sozinhas, posso finalmente falar com Sam sobre as
coisas que venho querendo contar há um tempo, mas vê-la assim é difícil
de compreender.
— Quem fez isso com você? — Eu sussurro. Ela obviamente não pôde
ouvir o que estou dizendo, mas gostaria que ela soubesse que eu estava
aqui, falando com ela agora.
— Por que alguém iria querer te machucar?
Sam é o tipo de pessoa que se dá bem com todo mundo. Ela é popular,
bonita e gentil com as pessoas. Bem, às vezes.
Ela simplesmente não merecia isso, ninguém merece ser atacada sem
motivo, muito menos ser assassinada por nada. Como Terry e mamãe.
O que eu teria feito se Sam tivesse morrido também?
Tudo me atinge naquele momento, e eu começo a chorar.
— Por que estou perdendo tanto, Sam? O que eu fiz para merecer isso?
— Eu enxugo uma lágrima do meu rosto e rio com tristeza.
— Vim aqui porque preciso te contar algumas coisas. Você nunca vai
adivinhar o que aconteceu comigo nos últimos dias. Você vai achar muito
difícil de acreditar, mas é tudo verdade.
Eu faço uma pausa profunda e expiro. — Terry está morto. Sim, ele
morreu no sábado à tarde. Encontrei-o, caído no chão, morto. Sua
garganta cortada, corpo em completa confusão, sangue por toda parte.
— Espero que tenha sido uma morte rápida, porque deixar um
humano sofrendo assim seria cruel. — Eu enxugo outra lágrima.
— Eu não te contei na escola porque não achei que era o momento
certo para dizer nada a ninguém, mas eu deveria ter contado a alguém.
Eu deveria ter te contado, Sam. Eu franzi a testa.
— O que ele fez? Nada, e você conhece Terry. Ele é o tipo de pessoa
que não machucaria uma mosca e muito menos machucaria um ser
humano, mas acho que é para isso que a sociedade chegou. — eu zombo.
Por que não posso voltar ao tempo em que Sam roubava o prato de
batatas fritas da cozinha? A vida era boa então.
— Você acreditaria em mim se eu lhe dissesse que o Sr. Edmund é um
lobo também? Todo esse tempo, ele escondeu o fato de que foi ele quem
me mordeu, e eu não fazia ideia.
— Você pode imaginar ir para a escola todos os dias e pensar que ele é
apenas um professor regular, mas na verdade, ele é um metamorfo? Um
metamorfo que gosta de matar pessoas inocentes, como minha mãe.
Minha voz falha enquanto mais lágrimas caem. — Ela está morta,
Sam. Morta e nunca mais vai voltar. — Eu soluço.
— Eu a segurei em meus braços por horas, mas ela não acordou uma
vez, e o que mais me machucou foi que eu não consegui me despedir
dela. Você pode acreditar nisso?
— Não ser capaz de dizer adeus à sua própria mãe. Ela foi tirada de
mim. Tirada dos meus braços cedo demais, e não havia nada que eu
pudesse fazer para mantê-la ali. Por que não pudemos ficar sozinhas?
Por favor, acorde!
— O que eu devo fazer agora, Sam? — Minha voz treme. — Não posso
perguntar a mais ninguém porque eles não me conhecem tão bem
quanto você.
Sento-me na cadeira por alguns minutos em silêncio, o único som na
sala são as máquinas ligadas a Sam, e isso me faz pensar há quanto tempo
estou sentada nesta cadeira, segurando a mão dela.
— Espero que você acorde logo. Tenho muito mais para lhe contar,
coisas que não posso dizer a Ryder e aos lobos.
— Vou ficar com eles até que as coisas melhorem um pouco, mas não
sei por quanto tempo isso vai durar. Então, certifique-se de acordar,
porque no momento em que acordar, eu estarei aqui.
Eu me levanto e me inclino sobre ela. — Eu sinto tanto sua falta, Sam.
Eu só queria que você soubesse disso antes de eu ir. Eu a beijo na testa e
silenciosamente saio do quarto.
Capítulo Seis
Alice

Ver Sam era exatamente o que eu precisava hoje. Nós não tínhamos
trocado palavras uma com a outra, mas pelo menos eu tive a chance de
vê-la, embora ela ainda não tenha acordado.
Sinto-me um pouco mais tranquila agora por saber que ela ainda está
viva e respirando, mas tudo pode acontecer quando você menos espera, e
isso é algo que eu sei muito bem.
Tudo o que tenho a fazer agora é esperar até que ela recupere a
consciência.
Quando será isso? Eu não sei.
Quando chego de volta à casa dos lobos ao meio-dia, sou recebida por
um lobo muito irritado. De pé descalço na varanda, com o cabelo
bagunçado e vestido apenas com um par de moletom cinza, está Ryder.
Conforme me aproximo da casa, ele coloca as mãos nos bolsos e
inclina a cabeça com perguntas.
Ele não estava feliz. Longe disso.
Quando paro o carro e alcanço a maçaneta da porta, Ryder já está lá
abrindo a porta para mim. Eu olho para ele para tentar ler sua expressão,
mas com Ryder, você nunca sabe o que ele está pensando.
Sem dizer uma palavra, ele agarra meu pulso, me puxa para fora do
meu assento e me coloca contra o carro. Ele continua a me encarar.
— Ryder?
Mais uma vez, ele apenas olha.
— O que está errado? — Eu levanto minha sobrancelha, mas ele
permanece em silêncio.
Se ele não vai dizer nada, então ele está apenas desperdiçando meu
tempo.
Eu me viro para me afastar da porta, mas assim que vou passar por ele,
sua mão bate em cima do batente da porta, me impedindo de me afastar
mais dele.
Eu me viro para encará-lo com um olhar irritado. — Ryder, qual é o
seu problema?
— Onde você estava? — Ele pergunta.
Eu franzi a testa. — O quê?
— Eu disse, onde diabos você estava?
É por isso que ele está agindo assim.
— Importa onde eu estive?
Ele zomba. — Claro que importa! Estou perdendo a cabeça!
Por quê? Eu posso cuidar de mim mesma.
— Eu estive esperando por você a manhã toda! Você não pode
simplesmente vagar assim!
— Você não precisava esperar por mim.
— Por que você não me disse para onde estava indo!? — 'Por que eu
deveria!? ’ Parece que eu dei um tapa na cara dele. — Alice?
— Eu disse a você, eu posso cuidar de mim mesma.
Ele balança a cabeça para mim. — Não, esse é o meu trabalho, cuidar
de você, mas como posso quando não sei onde você está?
Ele bate o batente da porta repetidamente com as mãos nuas. —
Ryder, pare com isso!
Ele me ignora e continua.
Ele vai se machucar se não parar. — Por favor! — Eu imploro.
Eu não aguento mais isso.
— Ryder, pare. Você está me assustando. — Eu choramingo.
Com essas palavras, ele para imediatamente. Sua cabeça está baixa
enquanto ele me prende com os dois braços enquanto respira
pesadamente.
— Desculpe por não ter lhe contado.
Depois de minutos de silêncio intenso, ele me puxa em seu peito
sólido e envolve seus braços protetoramente em volta de mim. — Eu não
posso perder você, Alice.
Com meus braços, eu os envolvo em tomo de suas costas, segurando-o
firmemente contra mim. — Você não vai me perder.
— Depois de Anna, não posso perder mais ninguém. Não serei capaz
de lidar se perder outra pessoa. — Eu me solto dele e seguro suas
bochechas em minhas mãos. — Eu não estou indo a lugar nenhum. — Eu
me sinto rasgando. — Você é tudo que me resta também. Então, você
está preso a mim.
Ele olha de volta nos meus olhos e me encara ansiosamente, então me
beija na testa, desembrulhando seus braços ao meu redor no processo, e
pega minha mão.
Quando acho que Ryder vai me levar para dentro da casa, ele caminha
até os fundos da casa e para a clareira da floresta.
Por que estamos aqui?
— Aonde estamos indo? — Eu pergunto maravilhado.
— Vamos passear um pouco.
Caminhamos de mãos dadas, em completo silêncio pela floresta.
Esta floresta é definitivamente um dos meus lugares favoritos. Posso
entender por que os pais de Ryder escolheram morar em um lugar tão
bonito.
Eu invejo muito a infância de Ryder e Anna.
Você pode se imaginar como uma criança, explorando antigos e novos
locais da floresta e brincando até não poder mais brincar? Você poderia
explorar esta floresta por horas e nunca ficaria entediado.
— Aonde você foi? — Ryder quebra o silêncio.
Eu não respondo imediatamente. — Fui ao hospital.
— Para ver sua mãe?
— Não, eu fui ver a Sam.
Ele para e se vira para me encarar completamente.
— Ela já acordou?
Eu balanço minha cabeça.
— Sam vai acordar em breve. Ela é uma garota durona que não desiste
facilmente.
Eu levanto uma sobrancelha. — Parece que você a conhece bem.
— Eu realmente não sei, mas vou admitir isso.
Quando ela me enfrentou do lado de fora de sua casa naquele dia,
pensei que ela ia me dar uma surra.
— Ela teria feito isso. Ela já fez isso antes com vários caras que a
foderam, e ela é muito boa nisso.
Ryder ri. — Azar deles, mas eu não acho que ela pode me machucar
mais do que o que você fez comigo.
O quê?
— Do que você está falando? — Eu franzi a testa.
Ele levanta a sobrancelha em questão. — Você não se lembra daquela
vez que você me deu um tapa?
Eu zombo. — Bem, isso foi merecido.
Ryder solta minha mão e cruza as mãos sobre seu peito musculoso. —
O que é que foi isso?
— Você merecia um tapa na cara. Você pode ser uma pessoa muito
desagradável às vezes.
— Vou deixar isso passar. — Ryder se afasta de mim com um sorriso
no rosto.
Eu corro para alcançar Ryder, mas com suas pernas longas, eu luto
tentando acompanhá-lo.
Caminhamos pelo que parecem horas, e não parece que vamos parar
tão cedo, mas já chega.
— Ryder, para onde estamos indo? — Eu ofego.
— Quase lá, — diz Ryder casualmente, ele continua andando em
passos largos na minha frente.
Caminhamos por mais alguns minutos. Eu olho para os meus próprios
pés, observando cada passo que dou, seguindo cada passo de Ryder.
De longe, posso ouvir o que parece ser um riacho à frente, caindo em
cascata sobre os afloramentos rochosos, e à medida que nos
aproximamos, o barulho aumenta constantemente até que estamos a
apenas alguns metros de distância.
Quando chegamos ao riacho, Ryder finalmente para comigo
lentamente atrás.
— Este lugar estava tão vivo uma vez, mas agora me arrepia, — diz ele
em uma voz sem emoção.
Sua voz me faz parar no meu caminho, e eu me viro para seguir o
olhar de Ryder. Eu suspiro de espanto.
O rio desce perto da encosta e corre fundo e azul. A água é
provavelmente fresca e refrescante a esta hora do dia. O córrego é
ladeado de árvores: pinheiros, bétulas e sequoias.
Eu inalo o ar, rico com a fragrância de folhas e umidade.
Quando me movo para ficar ao lado de Ryder, onde ele está à beira do
rio, os poderosos raios do sol me atingem, mas apesar da brisa, tem um
frescor agradável.
O som da água corrente no riacho tem uma sensação relaxante e
hipnótica, e me faz querer ficar parada e ouvir a água por horas.
— Este era o lugar favorito de Anna. Ela adorava vir aqui sozinha.
Eu posso entender por que seria seu lugar favorito. É absolutamente
de tirar o fôlego.
— É lindo. Ela escolheu um lugar muito legal.
Pela primeira vez desde o assassinato da minha mãe, dou um pequeno
sorriso com a vista.
— Ela escolheu, não foi?
Eu olho para Ryder para vê-lo com um olhar distante em seus olhos.
— Você realmente sente falta dela, não é?
Ele não me responde de imediato, mas depois diz: — Sinto falta dela
todos os dias.
— Como ela era? Sua irmã?
Ryder sorri para si mesmo. — Ela sempre se importou com as pessoas
e, desde pequena, sempre colocava as outras pessoas em primeiro lugar,
em vez de si mesma.
— Anna era gentil e calorosa com as pessoas, mesmo que tivesse
acabado de conhecê-las. Ela sempre os trataria com respeito, e ela
sempre perdoou, sempre. Onde quer que ela fosse, ela sempre fazia
amigos.
— Mesmo quando éramos pequenos, íamos juntos ao parque, e ela ia
até outras crianças e começava a conversar com elas, — Ryder ri.
— Esse é o tipo de garota que ela era, e isso me faz parecer um irmão
de merda porque eu não era nada como ela. Eu posso entender por que
meus pais foram embora e me deixaram para trás. Eu merecia.
Eu coloco minha mão suavemente em seu braço. — Não diga coisas
assim, Ryder.
— E verdade. Eu fui um idiota. — Ele cerrou os dentes.
— Eu era um filho horrível, e era só porque eles adoravam Anna e me
odiavam. Eu descontei neles, e isso destruiu nossa família.
— Acho que a razão pela qual meus pais saíram foi porque eles
pensaram que não éramos mais uma família e decidiram sair sem mim
porque não havia razão para eles ficarem.
— Ryder, você tem tantas pessoas ao seu redor que se preocupam com
você. Quando seus pais foram embora, alguém estava lá fora, cuidando
de você. Você simplesmente não sabia.
Ele balança a cabeça. — É só que eu estava sofrendo também, sabe?
Por que ninguém estava lá para mim quando eu estava de luto?
Eu gostaria de ter apoiado ele, mas eu não era uma parte de sua vida
então.
Eu me movo para ficar na frente de Ryder e envolvo meus braços ao
redor de seu pescoço. Ele ainda tem aquele olhar distante em seus olhos.
Estou aqui agora.
Fico na ponta dos pés e o beijo suavemente na bochecha, e seus olhos
imediatamente encontram os meus. Quando eu me afasto, ele olha para
mim com desejo, e eu me vejo olhando para longe com timidez, mas
Ryder não tem nada disso.
Ele coloca a mão sob meu queixo e o empurra para cima, e
imediatamente me deparo com seu olhar sedutor. Eu levanto minha
sobrancelha.
— Você esqueceu um lugar, — diz ele enquanto olha para os meus
lábios.
Eu franzi a testa. — O que você quer dizer com eu esqueci... — Antes
que eu possa responder, seus lábios batem nos meus e imediatamente
meu estômago se enche de borboletas.
Suas duas mãos seguram minhas bochechas enquanto ele controla o
beijo. Eu não tenho um momento para reagir antes que ele pressione a
língua na costura dos meus lábios como se pedisse permissão para
mergulhar dentro.
Meus braços alcançam e emaranham em seu cabelo. Minhas costas
arqueiam em seu peito largo, e eu não posso deixar de gemer com o
contato do calor de seu corpo contra o meu.
Inesperadamente, a mão de Ryder desce para o meu quadril e se
acomoda confortavelmente lá e me puxa para mais perto de seu peito
musculoso, e é aí que um telefone começa a tocar.
Ryder geme de frustração enquanto enfia a mão no bolso e pega seu
telefone.
— Puta merda. — Ele murmura enquanto caminha para o lado do
riacho, me deixando completamente sem fôlego.
Eu me viro para olhar para Ryder, onde ele fala em um tom abafado
com uma carranca no rosto.
Eu me pergunto quem está no telefone.
Enquanto eu assisto, em uma fração de segundo, o rosto de Ryder
muda de confusão para raiva absoluta.
— Você está falando sério!? — Ambos os punhos estavam cerrados
com força.
O que quer que tenha ouvido, ele não ficou nada feliz com isso.
O que está acontecendo agora?
— Sim, eu vou dizer a ela, — diz Ryder.
Ele termina a ligação e olha com raiva para o chão. — Ryder?
Silêncio.
Ele continua olhando. — Quem estava no telefone?
E uma longa pausa antes que ele me responda. — Tom.
— O que ele queria? — Eu pergunto.
Outra pausa.
— Ele queria que eu avisasse que ele foi ver o Sr.
Edmund.
Meus olhos se arregalaram de surpresa. — Eu não esperava que Tom
fosse vê-lo tão cedo.
Os olhos de Ryder encontram os meus lentamente. — Ele queria que
eu lhe dissesse que o Sr. Edmund não é um suspeito.
E assim, estou cheio de raiva. — O quê!?
— Aparentemente, na noite em que sua mãe foi assassinada, o Sr.
Edmund tinha um álibi. — Ryder suspira. — Ele não é o assassino.
Capítulo Sete
Alice

Depois dessa revelação, eu não sabia mais o que pensar.


Meu corpo inteiro estava cheio de raiva, e é tudo porque nada está
acontecendo do meu jeito.
Por que é que eu não estou chegando a lugar nenhum? Quer dizer,
ainda não tenho ideia de quem atacou Sam ou quem é o assassino. Eu
estava tão convencida de que o Sr. Edmund era responsável por ambos.
Se não foi ele, então quem mais poderia ser?
Não consigo pensar em ninguém que possa ser responsável pelo que
aconteceu além do Sr. Edmund, mas como ele conseguiu escapar de
ambos os crimes tão facilmente?
Não sei quem mais pode ser.
Tinha que ser ele!
Eu queria ficar sozinha depois de ouvir as palavras de Ryder, e ficar no
quarto que ele me deu é a única maneira de ficar sozinha.
Espero que Ryder entenda que não desejo falar com ninguém agora,
porque novamente estou de volta à estaca zero. Eu não tenho ideia do
que fazer em seguida.
Na manhã seguinte, tenho uma coisa em mente; ir à escola e
confrontar o Sr. Edmund.
Tom pode pensar que o Sr. Edmund não tem nada a ver com o que
está acontecendo em Small Town, mas eu sei que ele tem algo a ver com
os assassinatos.
Eu posso sentir em meus ossos que ele está por trás de tudo, e eu não
vou parar até que ele responda a todas as minhas perguntas.
Acordo cedo, no mesmo horário que normalmente acordaria para ir à
escola, mas hoje não estarei assistindo às minhas aulas. Em vez disso, vou
ver meu professor, também conhecido como o lobo que começou toda
essa confusão.
Eu me visto com jeans pretos rasgados, um moletom preto e botas de
motoqueiro pretas, e desço as escadas, onde vejo Kellan com moletom
preto e uma camiseta branca, fazendo uma xícara de chá.
— Dia. — Ele diz sem olhar para mim.
Por que continuo esquecendo que os lobos podem ouvir
absolutamente tudo?
Estou surpresa com sua saudação. — Bom dia.
— Você acordou cedo.
— Sim, eu sei. — murmuro.
— Você quer que eu faça chá, café, chocolate quente?
— Não, obrigada, eu realmente não vou ficar, — eu gaguejo.
Com isso, ele se vira e observa toda a minha aparência.
Ele franze a testa. — Por quê? Aonde você está indo?
Eu meio que dou de ombros e olho para qualquer lugar, menos para
ele. — Eu vou para a escola hoje. Não quero perder mais trabalho. Então,
pensei que talvez devesse começar a voltar.
— Vestida assim?
Eu olho para mim mesma e aceno. — Sim.
— Alice, sua mãe acabou de falecer. Qualquer um entenderia que você
precisa de um tempo de folga.
Eu balanço minha cabeça. — Estar aqui e não fazer nada me faz
pensar nela mais do que gostaria. Eu preciso de uma distração e ir para a
escola vai me dar isso.
Kellan zomba. — Você é uma péssima mentirosa. — Eu olho para ele,
enquanto ele segura uma xícara fumegante de chá em suas mãos.
Como ele sabe que estou mentindo? — O que é?
Ele meio que sorri. — Você não vai à escola porque sente falta de ir à
aula. Eu sei exatamente o que você está fazendo.
— E isso é?
Ele suspira. — Você vai confrontar o Sr. Edmund sobre onde ele estava
na noite do assassinato. Estou errado?
Como diabos ele sabe disso!?
— Ryder nos contou tudo. Ele não é de guardar segredos.
— Não diga a ele para onde estou indo.
Kellan não diz nada por um momento. — Eu também não sou de
guardar segredos.
— Kellan, por favor!
— Eu não gosto de esconder as coisas das pessoas, especialmente
Ryder, porque ele é como um irmão para mim.
Eu suspiro de frustração. — Eu preciso de respostas. Respostas que só
ele tem para mim, que podem me ajudar a descobrir a verdade sobre a
morte de minha mãe.
— Ontem, você pensou que ele era o único que assassinou sua mãe.
— Ainda acho isso.
Ele fica na minha frente. — Então o que você está fazendo? Por que ir
até ele se você sabe que ele é o responsável? E se ele te machucar?
Fico em silêncio por um momento. — Então você saberá onde estou
se eu me machucar.
Ele contorce o rosto como se estivesse com dor. — Não diga coisas
assim. Eu não quero ouvir.
Eu coloco minha mão em seu braço. — Por favor, Kellan, eu tenho que
ir.
Ele me encara por um longo tempo, então ele fecha os olhos. — Então
o que você ainda está fazendo aqui? Confronte o Sr. Edmund antes que
Ryder descubra para onde você foi, mas se você não voltar ao meio-dia,
eu irei te encontrar pessoalmente.
Ele se afasta, deixando-me a pensar se ir à escola é uma boa ideia.
*
A viagem para a escola foi longa e tranquila. Normalmente, eu levaria
Sam para a escola, ou ela me levaria de carro, e a ida para a escola seria
completamente o oposto do que é agora.
A música estaria alta e nós duas conversaríamos sem parar sobre
coisas aleatórias, mas esse não é o caso hoje.
É estranho não ter Sam por perto porque estou tão acostumada com a
companhia dela o tempo todo, mas estou aqui hoje por uma razão, e
apenas por uma razão. Não vou sair da escola até entender o que está
acontecendo nesta cidade.
Posso sentir no meu íntimo que o Sr. Edmund tem que estar
envolvido nisso de alguma forma, e é por isso que vou descobrir sozinho,
sem a ajuda de Tom e Ryder.
Quando chego ao estacionamento da escola, vejo os alunos já
chegando e correndo para a primeira aula do dia.
A notícia da morte de minha mãe certamente já foi revelada, mas a
última coisa que preciso é de pessoas oferecendo suas condolências,
porque isso não vai trazer minha mãe de volta.
Eu preferiria que as pessoas não soubessem que estou na escola hoje,
então faço a única coisa que consigo pensar. Coloquei meu cabelo em um
rabo de cavalo baixo e puxei o capuz do moletom sobre minha cabeça.
Pode não me ajudar em nada, mas é a única coisa que consigo pensar
para não ser reconhecível.
Eu mantenho minha cabeça baixa quando entro na entrada da escola,
onde centenas de alunos estão reunidos.
Alguns estão conversando com seus amigos em seus armários, casais
estão se pegando, atletas estão sendo atletas e até professores estão
reclamando de outros professores.
Quando o sinal toca para sinalizar que a primeira aula começará em
breve, todos os alunos reunidos no corredor começam a sair, inclusive
eu.
Sigo meus colegas para o inglês de cabeça baixa, mas quando começo
a pensar que não serei reconhecida por ninguém, ouço meu nome sendo
chamado. — Alice?
Eu paro no meu caminho, reconhecendo uma voz que eu não
esperava ouvir novamente. — É você?
Ugh... por que estou vendo todo mundo hoje?
Não quero me virar para encará-lo porque não tenho nada a dizer,
mas se eu fugir, ele vai ficar ainda mais desconfiado, então, com um
suspiro, me viro, tiro o capuz e olho para Max.
Bem, lá se vai o plano para não ser vista.
Ele zomba e abre um meio sorriso. — É você.
Eu apenas olho para ele sem uma palavra.
— Como você tem estado? — Ele pergunta.
Huh.
Eu não respondo.
— Eu espero que você esteja bem.
Ele está falando sobre o que aconteceu com minha mãe?
— As aulas têm sido muito chatas, especialmente biologia. — Ele ri
nervosamente.
Ele não sabe? Parece que não.
— Tivemos um teste ontem, que foi surpreendentemente fácil. Tenho
certeza que você vai se sair bem.
É muito improvável que eu volte para a escola.
Ficamos de frente um para o outro em silêncio, mas não dura muito.
— É muito bom ver você, apesar de termos tido aquele
desentendimento...
Eu o interrompi. — Achei que nos odiávamos.
Ele franze a testa. — O quê? Não, eu não te odeio, Alice.
A última vez que nos falamos foi no dia em que minha amizade com
Max terminou. Foi no mesmo dia em que Sam foi inesperadamente
atacada.
— Ainda não acho que deveríamos conversar um com o outro depois
do que aconteceu entre nós. — Eu vou sair, mas Max me para, colocando
a mão no meu braço. Eu olho para a mão que me segura, então olho para
ele. — O que você está fazendo?
— E só que não posso continuar assim, não sendo amigos.
Sinto falta de ser amigo de Max, mas não posso ser amigo de alguém
que mente.
— Então, por que você mentiu?
— Eu não sei. Acabei fazendo e sinto muito.
Eu removo seu aperto sobre mim e balanço minha cabeça. — Isso não
é bom o suficiente.
— Alice, me desculpe!
— E tarde demais, Max, — eu solto.
Uma pausa.
Ele suspira. — Existe alguma coisa que eu possa fazer para não tomar
isso tão estranho entre nós? — Eu zombo. — Sim, há algo que você pode
fazer, mas não será porque eu quero ser sua amiga. Será porque eu quero
uma explicação sobre por que você mentiu na minha cara.
Max olha para o chão. — Então, eu vou te dizer. — Ele lentamente
olha para mim. — Vou te contar tudo.
Eu o encaro, imóvel.
— Encontre-me amanhã no restaurante ao meio-dia, e eu te direi
tudo o que você precisa saber.
Por favor, Alice. Eu te imploro. — Ele me olha suplicante.
É melhor ele não desperdiçar meu tempo.
— Tudo bem, mas eu quero a verdade desta vez porque, se você
mentir para mim, eu nunca vou falar com você novamente, Max.
Não o deixo responder porque já estou indo embora.
Caminhar para a aula de inglês não me levou muito tempo, mas o que
demorou foi esperar a aula do Sr. Edmund terminar. Eu me pergunto o
que ele está pensando agora.
Há pelo menos seis de seus alunos faltando em sua classe, e cinco
deles são lobos. Talvez ele não dê a mínima para que nenhum de nós
esteja lá. Ele provavelmente está feliz por não ter que nos aturar mais.
Eu me pergunto se ele sabe que estou do lado de fora esperando que
ele termine, e se ele também sabe que tem uma tempestade de merda
vindo em sua direção.
Quero que todas as perguntas que tenho para ele sejam respondidas,
mas se ele não responder, não serei responsável pelo que farei com ele.
Quando o sinal toca o fim da aula, dou as costas para a porta da sala
de aula para não ser vista pelos meus colegas. A última coisa que preciso
é ser mantida por mais tempo do que o necessário.
— Eu sabia que você viria.
Meu sangue imediatamente ferve quando ouço sua voz, e quando me
viro para encará-lo, não posso deixar de soltar um rosnado quando o vejo
casualmente parado na porta de sua sala de aula.
— Como? — Eu rosno.
Sr. Edmund levanta a sobrancelha em questão. — Como o quê? Como
eu sabia que você viria hoje, ou como eu consegui evitar ir para a cadeia
depois que eu supostamente cometi um crime que eu nem sabia?
— O segundo.
Ele sorri. — A resposta para isso é simples. Eu não fiz isso.
Eu balanço minha cabeça. — Você está mentindo.
Ele cruza os braços sobre o peito. — Eu estou? Como?
Eu aponto para ele. — Quem mais teria feito isso, se não você?
Ele apenas dá de ombros. ' — Você está perguntando para a pessoa
errada.
— Besteira! — Eu te enxergo.
Ele pode ser meu professor, mas eu não poderia me importar menos.
Já passei do estágio de me importar com o que digo.
Eu preciso de respostas.
A cabeça do Sr. Edmund se inclina para o lado. — Você realmente acha
que eu fiz isso, não é?
— Eu sei que você fez isso! Você odeia minha família mais do que
ninguém!
— E isso é uma razão para matar sua mãe? — Ele me olha com pena,
mas não é sincero.
— Sim! — Eu grito.
Ele coloca as mãos nos bolsos e olha para os dois lados do corredor,
depois olha para mim com um sorriso no rosto. — Você não poderia estar
mais errada.
Por que ele está sorrindo!? Este não é o momento!
Eu cerro os dois punhos.
Estou ficando mais irritada a cada segundo, e a última coisa que
preciso agora é perder o controle, especialmente na escola.
— Eu não matei sua mãe, Alice.
— Então, onde você estava!?
Ele me corta. — Isso não é da sua conta. Não é como se eu devesse
uma explicação a ninguém sobre meu paradeiro.
— Você estava obviamente com alguém considerando que eles lhe
deram um álibi. Então quem era? — Eu exijo.
Ele sorri maldosamente. — Você não gostaria de saber?
— Porra, me diga!
— Não. Dizer a você levantaria mais perguntas. — Ele fica sério. —
Agora, terminamos aqui porque tenho coisas muito mais importantes a
fazer do que perder meu tempo me explicando a uma aluna reprovada.
— Você não tem ideia de com quem está falando.
Ele dá alguns passos em minha direção até ficar bem na minha frente.
— Sei que estou falando com a filha do homem que me fez perder minha
família, e sei que posso me livrar de você facilmente, considerando que
criei você.
— Você arruinou minha vida inteira.
— Agora você sabe como me senti quando seu pai arruinou minha
vida. — Ele se vira para voltar para sua sala de aula.
Eu ainda não tinha terminado.
— Por que você fez isso? — Minha voz treme.
— Fiz o quê? — Ele pergunta sem se virar.
— Por que você me mordeu naquela noite?
Ele me encara e dá de ombros. — Por que não?
— Você não tinha o direito de fazer isso comigo!
Por que eu, quando poderia ter sido outra pessoa?
Ele franze a testa. — Por que ir atrás de outra pessoa, quando meu
alvo daquela noite era você? — Eu estive observando você por semanas e
você não tinha ideia. Eu sabia onde você morava e onde trabalhava, e
quando a lua cheia finalmente chegou, eu sabia exatamente onde
procurar por você.
Ele suspira. — Falando na lua cheia, é em alguns dias. Siga meu
conselho e fique longe de problemas.
— Por quê? Por que eu deveria ouvir você?
Ele sorri. — Se você não me ouvir, coisas vão acontecer
inesperadamente e ninguém quer isso.
Com isso, ele entra em sua sala de aula, onde a porta se fecha,
deixando-me sozinha no corredor.
Capítulo Oito
Alice

Mais tarde naquela noite, fiquei sozinha novamente.


Saí da escola depois do meu confronto com o Sr. Edmund e voltei para
a casa de Ryder. Eu não senti que ganhei nada vendo meu professor sobre
o assassinato de minha mãe.
Eu não consigo entender as coisas. Se não foi o Sr. Edmund, quem fez
isso? Mesmo que eu não tenha obtido respostas sobre o assassinato de
minha mãe, agora eu sabia por que ele me mordeu naquela noite no
restaurante.
O pensamento dele me observando em casa e no trabalho me fez mal
ao estômago. Eu não tinha a menor ideia de que estava sendo seguido.
Eu estava alheia ao fato de que me tomaria o alvo do homem que
perdeu sua família por causa da minha própria família.
Naquele momento eu estava tão vulnerável, para que ele pudesse
chegar até mim e me transformar em um monstro como ele?
*
Cheguei em casa por volta do meio-dia para uma casa vazia. Fiquei
aliviada, porque não teria que explicar onde estive para Ryder.
Os lobos se foram por horas, e quando chegaram às seis horas eu sabia
que eles não voltariam tão cedo.
Preparei torradas de feijão com uma xícara de chá quente e a levei
para cima para comer na cama. Não demorou muito para eu adormecer.
Quando amanheceu, uma sensação de pavor percorreu todo o meu
corpo. Hoje é o dia em que eu me encontraria com Max para falar sobre
suas razões para mentir para mim.
É a última coisa que quero fazer agora, mas ainda é algo que está me
incomodando, então espero que Max perceba hoje que estarei ouvindo
cada palavra.
Tomo um banho rápido e visto uma calça jeans, uma camisa branca
lisa e um Converse branco. Desço as escadas e me pergunto se alguém
está acordado.
Não consigo ouvir nada, então isso significa que sou a única pessoa
acordada?
Eu vasculho as gavetas da cozinha em busca de um pedaço de papel e
caneta. É óbvio que não moro aqui, considerando que não sei onde há
nada nesta casa.
Onde eles poderiam estar?
Olho ao redor da cozinha e noto um pequeno quadro branco na
geladeira com um marcador bem colocado ao lado dele.
A-há!
Corro em direção a ele, pego a caneta e escrevo uma mensagem para
os lobos.
Saí. Não venham me procurar, A
Imediatamente depois, pego uma maçã do prato na mesa de jantar,
pego as chaves do carro e vou para a lanchonete, o lugar que perdeu uma
boa pessoa.
O caminho para o restaurante me faz pensar em uma pessoa querida,
que foi tirada de mim alguns dias atrás.
Terry cuidou de mim desde que comecei a trabalhar lá, e ele nunca,
nem mesmo uma vez, levantou a voz para mim. Mesmo quando eu errava
o pedido, ele nunca gritava, porque esse não é o tipo de coisa que ele
faria.
Eu me pergunto como estão as coisas no restaurante desde que ele se
foi, porque o lugar nunca mais será o mesmo sem Terry. E mais provável
que Terry tenha morrido por minha causa.
E como se todos com quem me associo ficassem feridos ou mortos.
Talvez eu devesse parar de trabalhar na lanchonete, porque talvez, apenas
talvez, isso salve algumas vidas.
Quando chego ao restaurante, surpreendentemente não está tão vazio
quanto pensei que estaria. Talvez depois do que aconteceu com Terry, as
pessoas tenham decidido vir e prestar seus respeitos, mas, novamente,
Terry não conhecia muitas pessoas.
Estaciono na vaga vazia mais próxima, desligo o motor e vou até a
lanchonete. Imediatamente vejo Max já sentado em uma mesa ao lado da
janela.
Pego meu telefone do bolso e franzo a testa com o que vejo.
Ele usa jeans preto, Vans preto e branco e uma camiseta branca por
baixo de uma jaqueta jeans. Ele usa um gorro cinza sobre seu cabelo
dourado indomável, usado baixo o suficiente para que seus olhos cinzas
se destaquem.
Observar Max enquanto ele olha pela janela me enche de uma
sensação de solidão. Eu sinto falta de ser amiga de Max, mesmo que não
fôssemos amigos por tanto tempo, mas estar perto dele era como uma
lufada de ar fresco.
Max nunca me questionava o tempo todo como Ryder faz, e Max me
dá espaço enquanto Ryder não, então pensar nisso me faz pensar que
talvez eu não tenha dado a Max tempo suficiente para se explicar.
Fui muito dura com ele?
É como se ele pudesse ouvir meus pensamentos, porque sua cabeça
vira na minha direção, nossos olhos se encontram, e eu não posso deixar
de sorrir quando ele sorri para mim.
Eu ando para sentar em frente a ele e espero que ele fale, mas ele pega
o menu do restaurante. — Oi, Alice.
— Oi.
— Quer alguma coisa para beber?
— Não, obrigada, — murmuro.
— Algo para comer? — Ele passa os olhos pelo menu.
Eu balanço minha cabeça.
Ele balança a cabeça concordando. — Mesmo? Eu comi um sanduíche
de bacon e ovo antes de você vir, e foi muito bom.
Eu suspiro. — Podemos apenas falar sobre por que estamos aqui?
Ele franze a testa e olha atrás dele para o relógio. — Por que você está
aqui tão cedo, afinal?
Cruzo os braços sobre a mesa e olho para ele. — Eu poderia te
perguntar a mesma coisa.
Ele apenas dá de ombros. — Sempre venho aqui comer. O novo chef é
bom, mas não tão bom quanto o antigo chef, mas não o vejo há muito
tempo.
— Falando nisso, eu realmente não vi você trabalhando aqui. — Ele
olha ao redor do restaurante. — É aqui que você trabalha, certo? A
lanchonete na floresta?
Ouvir que um novo chef está trabalhando aqui me entristece, mas
pelo menos sua comida não se compara à de Terry. A culinária de
ninguém jamais vencerá a dele.
— Na verdade, foi por isso que vim aqui hoje, para me demitir.
Os olhos de Max se arregalaram. — O quê? Por quê?
Eu olho para longe dele. — Só não quero mais trabalhar aqui.
Ele zomba. — Não vai adiantar mais eu vir aqui, então.
Eu olho de volta para Max para vê-lo parecendo muito triste.
Não digo nada a isso porque não sei o que dizer.
— Você sabe o que aconteceu com o chef que trabalhou aqui
anteriormente?
Eu queria saber o que eles estavam dizendo sobre Terry.
Ele balança a cabeça. — Eu não sei muito. Tudo o que sei é que ele
desapareceu e que ninguém sabe onde ele está.
Eu sei o que aconteceu com ele.
Eu sinto meus olhos lacrimejando. — Isso é uma vergonha.
— Eu me pergunto para onde ele foi. Onde você acha que ele está?
Ele está morto.
'Eu não sei. — Eu digo com desdém. Falar sobre Terry vai me fazer
chorar porque eu sei exatamente o que aconteceu com ele. Quer dizer,
fui eu que o encontrei.
Eu não podia mais falar sobre Terry. Era hora de eu e Max falarmos
sobre suas razões para mentir para mim.
— Olha, Max, você sabe por que estou aqui. Nós dois sabemos por
quê. Então, vamos parar de evitar a razão e seguir em frente.
Ele não responde imediatamente.
— Max?
Ele concorda. — Ok, eu vou te contar tudo.
— E me diga a verdade se você quer que eu confie em você, e seja sua
amiga novamente. Esta é sua última chance de explicar tudo.
Ele tira o gorro, passa a mão pelo cabelo e coloca o gorro de volta na
cabeça. Ele então lentamente traz seus olhos para encontrar os meus
novamente. — O que você quer saber?
Não hesito na minha pergunta. — Foi Ryder quem bateu em você no
primeiro dia de aula?
Ele limpa a garganta. — Não.
Mantenho minha irritação para mim mesma e faço a próxima
pergunta. — Então, quem era?
— Pedi a um garoto aleatório para me bater.
Isso, eu não estava esperando.
Eu franzo a testa em confusão. — Isso é loucura.
Por que você faria isso?
— Eu queria fazer Ryder parecer o vilão. Eu odiava o fato de que o cara
popular pode fazer o que diabos ele quiser e se safar das coisas.
— Max, Ryder é popular porque ele é o vilão da escola.
Ele me olha confuso. — Por que você se associa com caras assim?
— Ryder é diferente quando está comigo.
Max zomba. — Sim, eu já ouvi isso antes.
— Só porque ele não mentiu para mim como você mentiu, não lhe dá
o direito de fingir que ele é um mentiroso, porque ele não é.
— Isso é um golpe baixo.
— Pare de trazer Ryder para isso. Isso é sobre você, não sobre ele.
Ele apenas acena para isso.
— Então, você pediu a um garoto aleatório para bater em você na
escola porque você queria se vingar de Ryder?
— Sim.
— A próxima coisa que quero que seja respondida é como seus cortes
e hematomas desapareceram no dia seguinte?
Max não me responde, e parece que ele também não pretende
responder. — Max?
Ele vai falar, mas fecha a boca novamente. — Eu tenho essa condição.
Uma o quê?
— Diga isso de novo?
Ele evita o contato visual. — Eu tenho essa condição que me permite
curar mais rápido do que os outros.
Ele olha para mim, mas pode notar pelo meu rosto que não estou
convencida. — É verdade. Eu sei que provavelmente soa como uma
mentira para você, mas é a verdade absoluta. Eu tenho essa condição
desde que nasci.
Eu absorvo suas palavras. — Então, sempre que você tinha um corte
ou hematoma, ele sempre desaparecia no dia seguinte?
Ele concorda. — Sim, às vezes até no mesmo dia, desaparecia.
— Parece algo de história de fantasia.
— Eu sei, não é? — Ele evita o contato visual. — Alguma outra
pergunta?
Aí vem a grande questão. — Sim, apenas esta última.
Max dá um leve sorriso. — Este vai ser sobre minha mãe, certo?
Eu concordo.
Max olha pela janela e depois de volta para mim. — Minha mãe não
trabalha no hospital. Ela nem está neste país agora.
Ele suspira. — Não sei por que menti e disse a você que ela trabalhava
lá, mas acredite em mim, eu tinha uma razão para estar naquele hospital.
— Qual foi a razão?
Max limpa a garganta. — Eu vim para Small Town por uma coisa. Para
encontrar meu pai. Meu pai aparentemente mora em algum lugar de
Small Town, e estou aqui para encontrá-lo.
Eu mexo minhas sobrancelhas. — Isso não explica por que você estava
no hospital.
Max enfia a mão no bolso e segura na mão o que parece ser uma foto
de uma pessoa, mas não consigo distinguir quem é.
— Minha mãe me disse para procurar uma enfermeira que trabalhava
no hospital. Essa mulher aparentemente sabe quem é meu pai e pode de
alguma forma me dizer onde encontrá-lo, mas não consigo encontrar
essa mulher em nenhum lugar do hospital.
Talvez eu a conheça, considerando que eu costumava ir ao hospital o
tempo todo.
— Posso olhar a foto? — Talvez eu possa ajudá-lo a encontrá-la.
— Pode. — Ele me entrega a foto, eu a pego dele, e é aí que meu
coração para de repente.
Por que ele tinha uma foto dela!
Olho para a foto e começo a desmoronar. Vê-la sorrindo nesta foto me
lembra que ela era uma pessoa tão feliz, uma pessoa que adorava ajudar
os outros, mas por minha causa ela não pode mais sorrir ou fazer parte
deste mundo.
— Alice, você está bem? — Max me olha preocupado. Eu enxugo uma
lágrima do meu rosto e coloco a foto na mesa.
— Por que você tem uma foto da minha mãe?
Max parece surpreso. — Essa é sua mãe?
Eu apenas olho para ele, e parece dar-lhe a resposta que ele precisa.
— Onde ela está?
Eu desvio o olhar em aborrecimento. — Ela não está aqui.
— Bem, onde posso encontrá-la?
— Você não será capaz de encontrá-la.
Max me olha confuso. — Por que não?
— Porque ela está morta. — Eu solto.
Max só olha para mim em estado de choque.
— Ela foi assassinada. Assim como o chef que costumava trabalhar
aqui.
— O quê?
— E verdade. Há um assassino em Small Town, caso você não saiba.
Assim que Max vai falar, meu telefone toca. Pego meu celular do bolso
e atendo a ligação.
— Alô?
— Alice, é Sally.
Por que a mãe de Sam está me ligando?
Poderia ser algo sobre Sam? Ela estava bem?
— Está tudo bem?
Sally ri. — Está tudo bem. Eu só queria que você soubesse que Sam
acordou e ela voltou ao seu estado normal.
Eu suspiro de alívio. — Isso é realmente uma ótima notícia, Sally.
— Ela está perguntando por você.
— Está?
— Sim. Ela vai ficar tão feliz em ver você.
— Ficarei feliz em vê-la. Eu vou amanhã.
— Certo, vejo você então.
Ela encerra a ligação.
Eu lanço um olhar para Max e o vejo ainda parecendo completamente
perdido. — Como? Quero dizer por quê?
— Estou me perguntando isso desde segunda-feira.
Max franze a testa. — Simplesmente não faz sentido.
Eu me levanto do meu assento e sorrio. — Eu sei, mas não posso
mudar o que aconteceu. Percebi que as pessoas ao meu redor estão se
machucando ou pior, estão sendo assassinadas.
— Então, depois de hoje, você precisa se perguntar se realmente quer
se associar a alguém como eu.
Com isso saio da mesa, entro no escritório de Robbie, que felizmente
está vazio, e deixo um bilhete dizendo que não voltarei. Saio do
restaurante e não olho para trás.
Capítulo Nove
Alice

Voltei para a casa dos lobos mais tarde naquele dia, pensando na
minha conversa com Max. Vê-lo e resolver o que aconteceu entre nós me
faz sentir um pouco melhor.
Mas não consigo afastar a sensação desconfortável de que algo pode
acontecer com Max. Eu posso ter que manter Max à distância de agora
em diante porque a última coisa que eu quero é que ele se machuque.
Mesmo que ele tenha mentido para mim, posso ver por baixo de tudo
isso, que ele é uma pessoa muito gentil.
Ele disse a verdade hoje, e por isso talvez possamos, talvez, seguir em
frente com todas as mentiras e brigas, mas isso se Max quiser, é claro.
Quando estaciono o carro e entro na casa, sou imediatamente
recebida por Ryder, que me olha com curiosidade.
Ele cruza os braços sobre o peito. — Saí. Não venham me procurar! Que
tipo de mensagem é essa?
Eu franzo a testa para ele em confusão, mas então percebo
exatamente a que ele está se referindo.
Ah, certo...
A mensagem que deixei no quadro branco.
— Oh, aquilo?
Ryder assente. — Sim.
— Eu só fiquei fora por uma hora. Não é como se eu tivesse ido
embora o dia inteiro.
Ele tensiona a mandíbula. — Parecia que você tinha ido embora por
horas.
Eu faço beicinho. — Alguém sentiu minha falta?
Ryder zomba. — Sentiu sua falta? Era mais como eu andando para trás
e para frente esperando você passar por aquela porta.
Eu meio que sorrio com isso.
— Mas para onde você foi se não queria que viéssemos te procurar?
Eu apenas dou de ombros. — Eu só fui ao restaurante.
— Mesmo?
Eu concordo. — Sim, eu fui lá para sair e vi um amigo.
Isso chama a atenção dele. — Por que você largou o emprego?
Eu me movo para sentar à mesa. — Acho que meu trabalho no
restaurante está causando problemas para outras pessoas.
— Como? — Ryder vem se sentar à minha frente.
— Bom, veja dessa forma. O Sr. Daniels e eu nos dávamos bem na
escola porque eu sempre contava a ele sobre a situação do meu pai. Ele
acabou morto.
— Terry trabalhava na lanchonete, onde era como uma figura paterna
para mim, e também acabou morto. Finalmente, Sam, minha melhor
amiga que vinha me ver no restaurante o tempo todo, acaba sendo
atacada. O que você vê aqui?
Ryder assente. — Todo mundo de quem você está perto está se
machucando.
— Exatamente, e foi por isso que tive que me demitir.
— Mas isso não faz sentido porque Sam está viva.
Um pensamento me ocorre. — E se o agressor pensasse que ele
realmente a matou, mas na verdade, ele não a atingiu com força
suficiente para matá-la?
— Ela sobreviveu, o que significa que Sam pode nos ajudar aqui, mas
ela não está acordada, está?
— A mãe dela me ligou enquanto eu estava no restaurante. Ela ligou
para me dizer que Sam acordou. Vou vê-la amanhã.
— As perguntas serão respondidas.
Ryder se levanta da mesa e começa a sair, mas de repente para e se vira
para mim. — Quem era o amigo?
— Huh?
— Quem você foi ver na lanchonete hoje?
Toco as pontas do meu cabelo nervosamente porque sei como Ryder
se sente em relação a Max. Ele absolutamente o odeia. — Apenas um
amigo da escola.
Ryder pensa por um momento, então cerra os punhos. — Não foi
Max, foi?
Eu olho para longe dele e isso dá a Ryder a resposta que ele precisa.
Ele geme de irritação. — Por quê? Por que ele, de todas as pessoas?
— Ele queria explicar suas razões para mentir para mim.
— Sim. Ele é um merda mentiroso, tudo bem.
— Ele provavelmente não vai querer falar comigo nunca mais, de
qualquer maneira.
— Bom, porque você é minha. Se você o vir de novo, diga a ele para
dar o fora.
Ryder sai correndo para os fundos, batendo a porta atrás dele. A única
coisa que vejo são as roupas de Ryder caindo no chão.
Na manhã seguinte, dirigi sozinha para o hospital, preparando-me
ansiosamente para ver Sam.
Estou tão animada para vê-la. Desde que ela foi para o hospital, sinto
que algo está faltando, e é ela.
Eu me pergunto o que ela terá a dizer quando me vir. Ela
provavelmente tem muito a dizer.
Estaciono o carro e corro para o hospital, dou meu nome e espero na
recepção. Parece que foi ontem que estive aqui visitando Sam, mas desta
vez ela estará bem acordada e falando sem parar.
— Alice Smith?
Eu me levanto do meu assento, repito quem vou ver e sigo uma
enfermeira até o quarto de Sam. A primeira coisa que ouço é a voz de
Sam, e não posso deixar de abrir um sorriso.
— Que porra é essa na minha cabeça!?
Entro na sala e rio da cena na minha frente. Sam está puxando o
curativo em volta da cabeça, enquanto Sally tenta tirar as mãos de Sam
do curativo.
Seu pai está sentado ao lado da cama com uma expressão entediada
no rosto, enquanto a enfermeira ao meu lado deixa cair sua prancheta,
chamando a atenção de todos para nós.
No momento em que os olhos de Sam fazem contato com os meus,
ela sorri e solta o curativo, para grande alívio de Sally.
— Alice! — Sam grita.
Eu corro para o lado dela e a aperto bem perto do meu peito; ela me
abraça de volta.
Ficamos assim por alguns minutos.
Eu ouço seus pais irem deixando apenas Sam e eu no quarto.
— Eu senti tanto sua falta, Sam, — minha voz treme.
— Posso estar inconsciente, mas também senti sua falta.
Sinto as lágrimas começando a cair. — Tem sido tão estranho não ter
você por perto.
— Tudo vai ficar bem agora, porque estou acordada. — Ela ri, mas eu
sei que ela está chorando também.
Eu libero meu aperto e coloco minhas mãos em seus ombros. — Você
está bem? O que a enfermeira tem a dizer?
— Ela disse que estou bem. Sem perda de memória ou algo do tipo.
Graças a Deus.
— Isso é um alívio.
Sam segura a cabeça dela. — Eu sei, mas toda vez que penso muito,
fico com uma baita dor de cabeça e isso me irrita.
Deus, eu senti falta dela.
Eu sorrio. — É um milagre você estar viva, Sam. Ela balança a cabeça.
— O que não entendo é por que fui atacada. O que diabos eu fiz para
merecer ser atacada assim?
Eu dou de ombros, mesmo sabendo o motivo.
Não quero dizer a ela que foi atacada por minha causa. Isso levantaria
muitas questões, e não é por isso que vim aqui hoje.
— E por que me atacar por trás? Quem faz isso!? — Sam diz com
irritação.
Eu me sento na cadeira ao lado dela. — Não me pergunte. Eu não
estava lá.
— Quem quer que tenha sido é um covarde, e aposto que foi uma das
líderes de torcida, — Sam cruza os braços sobre o peito.
— Por que alguém do time de líderes de torcida atacaria você? — Eu
pergunto, enquanto tento manter uma cara séria.
Ela joga o cabelo por cima do ombro. — Porque os atletas babam em
mim e não nelas.
Eu balanço minha cabeça. — Certo.
Há um silêncio confortável por um tempo, mas do nada Sam rosna de
frustração, me fazendo pular de surpresa. — Aquele filho da puta
escolheu a pessoa errada! Se eu não fosse atacada por trás, eu teria dado
uma surra nele.
Coloco a mão sobre meu coração. — Um pequeno aviso da próxima
vez antes que você me dê um ataque cardíaco.
Sam faz beicinho. — Desculpe. Só me deixa com raiva que alguém
decidisse me atacar no momento em que eu virasse as costas.
Eu me inclino para frente em meu assento. — Você viu quem era?
Ela balança a cabeça. — Não, mas eu gostaria de ter feito isso. Tudo o
que me lembro é que deixei cair minhas chaves e me ajoelhei para pegá-
las. — Ela estremece e agarra a cabeça novamente.
— E foi aí que tudo ficou preto.
Eu sorrio para ela de forma tranquilizadora. — Não se preocupe. Nós
vamos pegar quem fez isso com você, Sam.
Ela coloca a cabeça nas mãos. — Eu só gostaria de saber quem fez isso.
Gostaria que você soubesse também.
Sam levanta a cabeça e olha ao redor da sala. — Onde está sua mãe, a
propósito? Achei que ela estaria aqui com você, ou pelo menos a teria
visto no hospital, mas não vi Tina em lugar nenhum.
Quando ouço o nome dela, parece que alguém me deu um tiro no
peito.
Eu olho para Sam para vê-la olhando para mim. Meus olhos
imediatamente começam a lacrimejar, e eu viro minha cabeça para evitar
olhar para ela. — Um...
— Você está bem?
Limpo a garganta, limpo os olhos e olho para Sam. — Estou apenas
sobrecarregada, isso é tudo.
Ela não vai acreditar nisso.
Claro, ela vê através de mim. — Alice, o que aconteceu? — A voz de
Sam se enche de preocupação. Eu não respondo porque já estou
chorando.
O que eu digo a ela?
— O que aconteceu desde que cheguei aqui? — Sua voz treme.
Eu tomo um momento para reunir meus pensamentos e limpar
minha garganta. — Eu não sei o que dizer.
— Por quê? Alice, por favor me diga o que aconteceu? Você está me
assustando. — Eu olho imóvel para ela. — Algo aconteceu. — Sam apenas
me encara.
— A quem?
Uma pausa.
— Você sabe que o assassino ainda está à solta, certo?
Sam assente.
Eu enxugo uma lágrima. — Bem, quando você foi atacada, na mesma
noite, minha mãe se tomou a sétima vítima. Ele a pegou.
Sam suspira, coloca a mão na boca e começa a chorar.
Olho para o chão. — Ela estava morta quando eu a alcancei. Ela se foi
há muito tempo.
Sinto muita falta da minha mãe
— Você está falando sério, Alice?
Eu concordo. — Ela foi assassinada.
Nós duas choramos muito pelo que pareciam horas.
— Alice? — Sam pergunta baixinho.
Eu lentamente olho para Sam, para vê-la olhando para mim através
dos olhos manchados de lágrimas. — Se sua mãe foi a sétima vítima,
quem foi a sexta? Porque eu sei que o Sr. Daniels foi o quinto.
Eu balanço minha cabeça, recusando-me a responder sua pergunta. —
Quem foi, Alice? — Ela implora.
Quando penso comigo mesmo que não vou contar a ela, o nome dele
escapa, tornando-se tarde demais para eu levá-lo de volta.
— Terry, — murmuro.
Os olhos de Sam se arregalam e ela balança a cabeça repetidamente.
— Não.
— Fui eu que o encontrei.
— Você encontrou os dois corpos? — Ela choraminga.
Eu concordo.
— Meu Deus.
Eu pego a mão dela na minha. — Lamento que você tenha descoberto
assim. Eu não vim aqui hoje para falar sobre o que aconteceu.
— Mais cedo ou mais tarde, eu teria descoberto.
Eu teria dito a Sam eventualmente; Só não esperava que fosse hoje.
— Ninguém mais morre, Alice. Ninguém. — Ela me olha com um
olhar mortal. — A próxima pessoa a morrer será o assassino. Isso precisa
acabar.
Capítulo Dez
Alice

Depois de visitar Sam no hospital ontem, recebi uma mensagem de


texto de Max, perguntando se eu gostaria de encontrá-lo novamente no
restaurante.
Eu estava um pouco relutante em encontrá-lo depois do que Ryder
disse, mas não podia deixar que suas palavras me impedissem de ter
contato com alguém como Max.
Eu penso no que eu disse a Max antes de sair do restaurante dois dias
atrás e me pergunto se talvez Max tenha sua resposta para saber se ele
quer ou não ser associado a alguém como eu.
E é aí que eu acabo na segunda-feira de manhã, sentado em uma mesa
vazia, esperando Max chegar ao restaurante.
Coloquei-me no fundo da sala para o caso de Robbie me reconhecer e
perguntar por que decidi parar de trabalhar. Eu não saberia o que dizer a
ele se ele o fizesse.
No momento em que me sento, uma garçonete se aproxima de mim e
pergunta se eu gostaria de pedir. Teria parecido estranho se eu não
pedisse algo, então pedi uma xícara de café e, alguns minutos depois, ela
foi colocada na minha frente. Max aparece cerca de cinco minutos
depois, vestindo jeans preto e um suéter azul escuro. Ele me vê, sorri
imediatamente e se senta à minha frente. — Você chegou aqui antes de
mim.
Eu dou de ombros. — O que posso dizer? Eu sou rápida.
— Bem, vá devagar da próxima vez. Isso me deixa mal.
Eu franzir a testa. — Como?
— Todo mundo sabe que o cara tem que chegar uns trinta minutos
antes da garota.
Eu levanto minha sobrancelha. — Espere aí. Haverá uma próxima vez?
Ele sorri.
— Estou curioso sobre uma coisa.
Ele inclina a cabeça. — E o que seria?
— Estou curioso para saber por que você me pediu para te ver
novamente.
Ele franze a testa. — Por quê? Dois amigos não podem se encontrar e
tomar um café juntos?
— Eles podem, mas depois do que aconteceu da última vez, pensei
que você ficaria relutante em entrar em contato comigo.
Ele me olha com uma expressão que não consigo entender. — Você
claramente não me conhece tão bem, Alice.
Eu olho fixamente para ele. — Obviamente, não.
Uma garçonete aparece em nossa mesa. Ela me ignora
completamente, foca em Max e imediatamente cora. — Eu posso anotar
seu pedido?
Ele sorri para a garçonete e aponta para o meu copo na mesa. — Eu
quero o que ela pediu.
Ela escreve o pedido em seu bloco e olha para ele. — Algo mais? Algo
para comer, talvez? — Ela morde o lábio.
Sorrio para mim mesma, sabendo exatamente o que ela está fazendo.
— Não, obrigado. — Ela faz beicinho. — Me ligue se precisar de alguma
coisa. — Ela olha para Max por um longo tempo, então se arrasta para
longe da nossa mesa.
— Alguém tem um ã.
Max sorri. — Eu tenho esse efeito nas mulheres.
— Você tem?
— Sim, mas não parece funcionar em todas. — Ele fica boquiaberto
comigo.
Eu olho para ele, em seguida, limpo minha garganta. — O que isso
significa?
Max balança a cabeça. — Nada. Não significa absolutamente nada.
Tomo um gole do meu café. — Como foi a escola?
— A escola está bem, eu acho, mas é estranho não ver você lá. Você vai
voltar em breve?
Eu penso comigo mesma se há uma chance de continuar indo à
escola, mas parece muito improvável que eu volte.
— Provavelmente, não. — Coloco a xícara de volta na mesa.
— Por quê?
Uma pausa.
— É por causa da sua mãe? — Eu, entorpecida, o encaro.
Obviamente, é por causa da minha mãe.
A garçonete aparece em nossa mesa com o pedido de Max. — Aqui
está o seu café.
Max murmura um obrigado baixinho, e a garçonete sai
imediatamente.
Ele olha para mim.
Eu suspiro. — Educação é a última coisa em minha mente. Depois de
tudo com minha mãe, não tenho vontade de fazer nada além de
descobrir quem fez isso.
Max acena com a cabeça. — Isso é compreensível.
— É? — Eu solto.
— Alice, eu sei como é não ter um pai na minha vida.
— Tente imaginar não ter nenhum pai para falar com você, para
alimentá-lo e cuidar de você. Você não tem ideia de como é.
Ele me estuda por um momento, então balança a cabeça. — Então,
como você está vivendo? Onde você está ficando?
— Com o Ryder.
Seu rosto muda para irritação. — Por que você está com ele?
— Minha casa é uma cena de crime. Não posso morar lá até que
revistam a casa. Onde mais eu deveria ir?
— E a casa da Sam?
Ele não tem ideia do que está acontecendo. — A casa da Sam também
não é uma opção.
Ele franze a testa, mas não questiona. — Isso é péssimo.
— O que é?
— Não ser capaz de viver em sua própria casa.
Eu limpo minha garganta. — Você chegou mais perto de encontrar
seu pai?
Ele balança a cabeça. — Depois de descobrir sobre sua mãe, hesitei em
continuar procurando por ele.
— Por quê?
— É que... Ele suspira. — Se meu pai quisesse fazer parte da minha
vida, ele não teria tentado me procurar agora?
— Talvez ele tenha tentado procurar por você, mas ele simplesmente
não sabia onde procurar.
Max não responde a isso.
Eu dreno os restos do café e pergunto: — Por que você realmente me
pediu para te encontrar?
Ele não responde.
Ele pega o copo colocado na frente dele e toma um gole. — Não é
óbvio?
— Para mim, não é.
Max sorri calorosamente e se inclina para frente. — Isso significa que
eu quero ser seu amigo. Não me importo se me machucar porque já me
decidi e nada mudará minha decisão.
Capítulo Onze
Ryder

Que. Porra. E essa?


Eu não sabia onde diabos eu iria parar quando segui Alice, mas eu
com certeza não esperava encontrá-la sentada em frente àquele
mentiroso. Mas essa garota é cheia de surpresas.
Eu a ouvi acordar cedo esta manhã. Ela tomou um banho e preparou o
café da manhã. Assim que ela terminou de comer, ela foi embora.
Todos esses desaparecimentos repentinos. Eu não aguento mais
porque toda vez que ela faz isso, ela me deixa em uma pilha de nervos.
Mas o que me irrita é que ela está saindo da minha casa para se encontrar
com aquele idiota.
Eu deveria entrar lá e bater nele de novo porque, para mim, parece
que ele não aprendeu a lição: ficar longe do que é meu.
Você espera até eu colocar minhas mãos em você, Fields.
— Podemos, por favor, voltar? Eu me sinto muito desconfortável
agora.
Kellan acordou ao mesmo tempo que Alice, mas ele não parecia nem
um pouco perturbado com seu desaparecimento repentino. Eu, por
outro lado, saí de casa mal-humorada, mas só porque ela nunca me diz
para onde vai.
Kellan me seguiu até a lanchonete, e foi aí que acabamos alguns
minutos depois.
Estamos perto de algumas árvores, escondidos das pessoas lá dentro,
mas com uma visão perfeita do que está acontecendo na lanchonete.
Eu franzo a testa para Kellan. — Você não está ouvindo isso?
Kellan olha para mim com irritação. — Eu não quero ouvir isso, Ryder.
Pare de ouvir a conversa deles. E privado.
— Eu não dou a mínima.
Ele revira os olhos. — Claro que não, mas deixe-os em paz e vamos
para casa.
Eu o ignoro.
— Ninguém me ouve de qualquer maneira. — Kellan se vira para sair,
mas eu o agarro pela gola de sua camisa e o arrasto de volta para o meu
lado.
— Onde você pensa que está indo?
— Eu ia voltar para casa.
Aponto para o local ao meu lado. — Fique aí e não se mexa.
Uma pausa.
Kellan olha ao redor. — Por que estamos aqui, afinal?
Eu aperto meus olhos para dar uma olhada no que está acontecendo.
Eu vejo Alice pegar o copo colocado na frente dela e tomar um gole,
então eu movo meu olhar para o idiota sentado em frente a ela.
Eu rosno. — Por que diabos ele está olhando para ela como se ela fosse
um pedaço de carne? — Kellan suspira. — Porque ela é uma garota
atraente, Ryder. Qualquer cara seria estúpido se não fosse atraído por ela.
Eu olho para ele. — Mas ela é minha.
— Sua? — Ele me olha irritado. — Você não pode simplesmente
reivindicar pessoas assim.
— Por que não?
Kellan apenas ri de mim.
— O que é tão engraçado?
— Acho hilário que você pense que pode reivindicar Alice sem nem
perguntar a ela.
— Não é a mesma coisa quando você chama alguém de sua namorada?
— Eu pergunto.
— Não, não é.
O quê?
Kellan zomba. — Você já teve uma namorada antes?
Eu olho para trás para os relacionamentos passados que tive, mas
todos eles foram apenas encontros de uma noite. — Não, nunca.
— Bem, eu já tive, então siga meu conselho. Peça a ela primeiro para
ser sua namorada, então você pode chamá-la de sua.
— Eu já disse a ela que ela é minha.
— Por que você faria isso?
Eu coloco minhas mãos em meus quadris. — Por quê? O que há de
errado em dizer isso?
Kellan olha para mim com decepção. — Que diabos está errado com
você?
Aponto para a lanchonete. — Culpe aquele desprezível aí! Ele está
tentando tirá-la de mim. — Kellan cruza os braços sobre o peito. — Sabe,
se Anna estivesse aqui agora, ela te daria um tapa na cabeça por falar
assim.
Anna provavelmente teria. Ela odiava que eu falasse sem pensar
primeiro. Toda vez que eu falava o que pensava, ela gritava comigo e me
batia. Doeria muito, mas me ensinou a não fazer isso de novo.
Eu sorrio. — Ela provavelmente teria me chutado nas bolas.
— Sim. Você merece isso.
Um momento de silêncio se passa entre nós.
— Você sente falta dela, Kellan?
Ele não responde imediatamente. — Que tipo de pergunta é essa?
Claro que sinto falta dela.
— Sinto falta dela todos os dias.
— Todos nós sentimos.
Olho para o chão. — Eu fui um idiota com ela e nossa família.
— Você era um irmão de merda, mas ela te amava. Falava de você o
tempo todo. Mesmo quando estávamos juntos...
Eu faço uma careta e ele para de falar imediatamente quando vê meu
rosto.
Kellan revira os olhos. — Tire sua mente da sarjeta. Sério, eu nunca
falaria com você sobre meu relacionamento com sua irmã.
— Bom, porque eu realmente não quero saber o que você fez com a
minha irmã.
Kellan sorri. — Honestamente, ela te amava. Mesmo quando você
estava sendo um merda teimoso, ela te amava mais do que tudo.
Eu sorrio para ele. — Aposto que isso te irritava.
— Não, sua irmã me mostrava diariamente o quanto ela me amava.
Eu gemo de desgosto. — Por que estou falando com você?
— Porque eu sou o único naquela casa que você acha suportável.
— Por favor, prefiro Bane a você.
Isso não é verdade.
— O que você acabou de dizer? — Kellan grita.
Eu dou de ombros. — Você é como um irmãozinho irritante.
Ele suspira e segura o peito. — Estou ofendido por você dizer isso.
Bane é um idiota mal-humorado que adora implicar comigo..
— Eu vou dizer a ele que você disse isso.
Ele me dá um sorriso. — Você sabe que Anna e eu estávamos...
Eu o cortei. — Se você ousar me dizer algo que eu não quero saber, eu
vou dar um soco na sua cara.
Ele se cala.
Outro momento de silêncio.
— Há uma coisa que me incomoda.
Olho de volta para o restaurante e olho ansiosamente para a garota
sentada perto da janela.
Deus, ela é linda.
— Quem você acha que fez isso?
— Fez o quê?
— Matou sua irmã. Eu não consigo até hoje colocar minha cabeça na
coisa toda. Quero dizer, quem iria querer ferir uma alma gentil como
Anna?
Eu tenho me perguntado desde o momento em que descobri que ela
morreu. Lembro-me de encontrá-la à beira do rio nas primeiras horas da
manhã, e a cena era algo saído de um filme de terror.
Anna estava deitada de bruços em uma pedra ensanguentada, sem
roupas. Sua pele estava fria como gelo e azul. Pensar que ela estava
sozinha no frio e molhada me fez mal ao estômago.
Eu me ajoelhei ao lado dela, coloquei meu dedo suavemente em seu
pescoço para encontrar o pulso, mas eu sabia que ela tinha ido embora.
Eu só precisava saber com certeza. Era tarde demais. Eu não conseguia
nem chorar, o choque de perceber que minha irmã havia sido morta não
foi registrado naquele momento, e não caiu até o dia de seu funeral.
Eu tinha tirado meu cardigã de lã que estava usando na época e o
envolvi em tomo de seu corpo frágil. Eu a carreguei de volta para onde
estávamos passando a noite na floresta.
Recusei-me a olhar o dano que ela havia sofrido em seu corpo, porque
sabia que, se olhasse, não conseguiria tirar as imagens da minha cabeça,
mas nunca esquecerei aquele momento em que levei Anna de volta aos
nossos pais.
Eu nunca pensei que aquela noite poderia ficar pior. Minha mãe
gritou quando me viu com Anna em meus braços. Meu pai só conseguia
olhar em choque, mas a primeira coisa que minha mãe me perguntou foi
o que eu tinha feito com Anna.
Eu não conseguia formar nenhuma palavra quando ela pegou Anna
dos meus braços. Ela apertou Anna com força contra o peito,
repetidamente perguntando por quê, e eu sabia que era dirigido a mim.
Minha própria mãe estava convencida de que eu tinha matado minha
irmã, e mesmo que eu tenha tentado explicar a ela mais de uma vez que
encontrei Anna assim, ela não quis ouvir o que eu tinha a dizer.
Afasto a memória e respondo à pergunta de Kellan: — Um desgraçado
doente que adora atacar os fracos e inocentes.
— Mas você não quer saber exatamente quem fez isso? Porque eu
quero.
Eu suspiro. — Sim, mas ao mesmo tempo, não.
— Por que você não quer saber? — Kellan pergunta.
— Porque quando eu descobrir quem fez isso, eu vou matá-los.
— Não é como se você não tivesse matado alguém antes. Você matou
outros Alfas que eram conhecidos por serem imbatíveis.
— Não fica mais fácil, Kellan. Aqueles Alfas estavam matando por
diversão, e esse assassino não é diferente. Eu preciso derrubar esse
assassino antes que ele mate alguém com quem eu realmente me
importo. — Digo isso enquanto olho para Alice.
— Por que o assassino está mirando nas pessoas mais próximas a ela?
Quero dizer, por que matar a mãe dela? Por que atacar sua melhor
amiga?
Eu suspiro. — O assassino provavelmente a quer vulnerável.
Kellan me olha confuso. — Por quê?
— Porque quando uma pessoa está vulnerável, é o momento perfeito
para matar.
— Ryder, e se o assassino realmente chegar até Alice?
Eu zombo. — O assassino tem que passar por mim primeiro.
Kellan balança a cabeça. — Cuidado, Ryder. Não quero que nada
aconteça com você ou Alice. — Ele me olha preocupado.
Eu coloco minha mão em seu ombro. — Nada vai acontecer comigo.
Você sabe por quê, Kellan?
— Por quê? — Kellan murmura.
— Porque eu sou um animal, e nunca perco uma briga.
Nós dois sorrimos, mas então minha atenção é atraída de volta para a
lanchonete, onde vejo uma garota saindo. No momento em que percebo
que é Alice, deixo minha posição na clareira e me aproximo dela. Max
logo a segue.
— Que porra é essa?
Ela me olha confusa. — Ryder? O que você está fazendo aqui?
Eu olho entre ela e Max. — Eu não deveria estar te perguntando isso?
— Como você sabia que eu estava aqui?
Eu não respondo a ela porque ela logo descobre.
Ela franze a testa. — Você me seguiu até aqui!?
— Sim, porque estou cansado de você desaparecer o tempo todo.
Ela revira os olhos. — Por quê? Você não confia em mim?
— Claro que eu confio. É nele que eu não confio. — Aponto meu dedo
para Max.
Alice suspira. — Ryder, você está sendo paranoico por nada.
— Ele não é o idiota que mentiu para você várias vezes?
— Nós resolvemos isso. Estamos bem agora.
Eu não estou bem com isso. Com nada disso.
— De qualquer forma, eu não disse para você dizer a ele para se
afastar!? — Eu o observo.
Ela não recua. — Eu não vou dizer isso a ninguém! Estávamos apenas
conversando e tomando café juntos. O que há de tão errado nisso?
Max fica na frente dela, como um escudo protetor. — Fui eu que pedi
para ela vir me encontrar. Se você quiser descontar sua raiva em alguém,
desconte em mim.
— Oh, eu vou descontar em você, sim, — eu digo.
Eu marcho em direção a ele, mas Kellan aparece naquele momento,
me agarra pelo braço e me puxa de volta para onde ele está. — Ryder,
pare, vamos para casa.
Eu dou de ombros para fora do aperto de Kellan. — Não.
— Ryder, vamos lá. Deixa para lá.
Eu rosno em frustração. — Quero falar com Max a sós. Então, por
favor, leve-a para casa.
Alice suspira. — Eu estava saindo, de qualquer maneira.
Ela pega as chaves do carro e vai para o carro.
— Vá com ela, Kellan. — Eu digo enquanto olho diretamente para
Max.
Kellan olha para mim com preocupação. — Tem certeza?
— Sim.
Kellan se inclina para mais perto de mim. — Ok, mas lembre-se que
ele não é um de nós. Ele é um humano.
Eu espero até que Kellan e Alice saiam da lanchonete juntos e então
continuo tentando mostrar meu ponto de vista para esse idiota.
— Esta é a última vez que você a vê. Está me ouvindo?
Max cruza os braços sobre o peito. — Alice tem o direito de ver quem
ela quiser, e hoje ela escolheu vir me ver. Assim como ela fez no outro
dia.
Esse cara realmente está tentando me irritar. — Ela é minha, então
afaste-se.
— Eu não posso fazer isso.
— Por que diabos não? — Eu pergunto.
Ele revira os olhos. — Porque eu gosto dela também, e suas palavras só
vão me fazer gostar ainda mais dela.
Eu empurro seu peito. — Você quer morrer?
— Quando se trata dela, Ryder, eu não dou a mínima para o que você
tem a dizer.
Eu olho para ele. — Você não tem ideia de com quem está falando,
Fields.
Ele balança a cabeça. — Não. Você não tem ideia de com quem está
falando, King. — Eu sorrio. — Ah, acho que sim. Eu sei que posso vencê-
lo em uma luta, e sei que posso pegar a garota antes de um merda
mentiroso como você.
Ele não responde.
— Se você entrar em contato com ela novamente, eu realmente vou te
machucar, Max, e Alice não estará lá para protegê-lo.
— Você tem tanta certeza de que vai me vencer?
Eu zombo. — Já fiz isso uma vez e posso fazer de novo.
Eu me afasto, deixando Max sozinho no estacionamento, mas no
momento em que chego à clareira, ouço Max dizendo baixinho. — Não.
Vai ser você quem vai se machucar da próxima vez.
Eu gostaria de ver você tentar
Capítulo Doze
Alice

É mais um dia em Small Town e, por algum motivo, acabei indo para a
escola. Posso ter desistido dos meus estudos, mas Sam ainda está ansiosa
para terminar a escola com boas notas. Então, é aí que terminamos hoje.
Na escola.
A enfermeira disse a Sam e sua família que ela poderia deixar o
hospital, considerando que ela voltou ao seu estado normal. Sam saiu do
hospital ontem, mas a última coisa que eu esperava que ela fizesse era vir
para a escola hoje.
A razão pela qual vim com ela é porque, no caminho para a escola,
Sam disse que queria que eu fizesse companhia a ela, porque está
preocupada com a possibilidade de ser atacada novamente.
Eu sei que Sam é uma pessoa forte e gosta de se cuidar, mas acho que
qualquer pessoa nessa situação prefere ter alguém ao seu lado, do que
ficar sozinha.
Eu faria qualquer coisa por Sam, então se eu estar ao lado dela a faz se
sentir protegida, é isso que eu vou fazer, e eu vou ficar com ela enquanto
ela precisar de mim.
Quando chegamos à escola, fiquei sozinha porque Sam tinha que ir
para a aula. Para evitar ser vista e questionada, decido ficar na biblioteca
e esperar até que a aula de Sam termine.
Ninguém mais vem à biblioteca. Hoje não tem nem bibliotecário.
A poeira está por toda parte, teias de aranha penduradas em todos os
cantos da sala, e algumas até circulam os livros. Alguns dos livros devem
ter pelo menos mais de cem anos, e até as prateleiras e estantes estão
sujas.
As luzes embutidas no teto rachado acima não funcionam mais. O
chão está cheio de sujeira, livros e até papel rasgado.
A poeira no quarto flutua preguiçosamente no ar e está me fazendo
tossir de vez em quando.
Sento-me em uma mesa redonda, olho o relógio e espero.
Devo ter cochilado enquanto esperava porque o som de um sino
tocando me acorda. Olho para o relógio e vejo que é hora do almoço.
Isso foi mais rápido do que eu pensava.
Antes de Sam sair para a aula, ela me disse para encontrá-la no
refeitório e me disse para escolher um local isolado, longe de todos.
Eu puxo meu capuz sobre minha cabeça e sigo a multidão até o
refeitório. Eu escolho uma mesa que fica bem no fundo da sala, e
novamente espero Sam vir me encontrar. Não demora muito para que ela
o faça.
— Eu odeio matemática! — Sam bate seus livros na mesa, me fazendo
pular de surpresa.
Ela estava tentando me matar?
Com o capuz ainda levantado, eu me viro para olhar para Sam para vê-
la segurando a cabeça com um olhar de aborrecimento no rosto.
— Você está bem? — Eu pergunto a ela com cautela.
— Não! O Sr. Jackson é um idiota.
— Por quê? O que ele disse agora?
Ela rosna. — Ele sabia que eu tinha sido atacado e ainda me fez fazer o
teste que perdi ontem.
— Talvez ele só queira que você se atualize e tire boas notas?
Sam zombou. — Isso é uma besteira absoluta! Ele é o tipo de professor
que não dá a mínima se você passar ou reprovar.
Parece outro professor que conheço.
— Deus, como eu gostaria de poder enfiar um daqueles livros enormes
de matemática e enfiá-lo em algum lugar que realmente dói! — Ela
agarra a cabeça e choraminga.
É difícil manter uma cara séria quando coisas assim saem de sua boca.
— Como está sua cabeça?
— Minha cabeça está perfeitamente bem, exceto quando eu grito e
penso demais, já o hematoma. — Ela faz uma careta. — Estou usando um
chapéu porque o hematoma é feio pra caralho.
— Por que você não ficou mais tempo em casa? Deixe sua cabeça curar
um pouco.
Ela revira os olhos. — Porque eu quero ter boas notas.
Lá vamos nós.
Se fosse eu, gostaria de ficar em casa, se possível, mas, novamente, eu
e Sam somos completamente opostas quando se trata de trabalhos
escolares.
Sam segura a cabeça dela com as duas mãos e geme. — O que você
está fazendo?
— Pensando.
Eu franzi a testa. — Sobre o quê?
Imediatamente seu humor muda, e ela parece muito infeliz.
— Desde que você me contou o que aconteceu, eu simplesmente não
consigo superar isso. Quero dizer, Terry e sua mãe estão mortos. Como
você vai seguir em frente com isso?
Eu olho para ela de forma tranquilizadora. — Vai ficar tudo bem, Sam.
Não se desgaste com isso porque não é problema seu. É meu.
— Mas como você está lidando sem ter sua mãe por perto?
— O que está me mantendo é descobrir exatamente quem matou
minha mãe e Terry. E tudo pelo que estou vivendo agora.
— Você é tão forte. Eu estaria desmoronando se fosse eu.
— Estou sofrendo por dentro, mas o choro vem depois. Agora, preciso
encontrar o assassino.
— E encontrar meu agressor. — Acrescenta Sam.
— Preciso descobrir quem fez isso.
— Eu realmente tenho uma ideia sobre quem atacou você.
— Você tem uma ideia? — Sam franze a testa.
Eu concordo. — Considerando que ele tinha suas chaves, deve ser o
Sr. Edmund.
— Nosso professor? — Sam pensa um pouco, mas depois balança a
cabeça. — Não, não pode ser.
Logo me dei conta de que Sam não tem ideia do que o Sr. Edmund
realmente é.
— Sam, há algo que você também deveria saber.
Ela suspira. — Deus, e agora?
— Senhor. Edmund é um lobo também. Foi ele quem me mordeu.
Ela absorve tudo e joga os braços para o ar. — Quanta porra eu perdi!?
— Ela grita. — E como se eu estivesse dormindo por anos!
Eu meio que sorri. — Você perdeu muito, mas estou feliz que você não
teve que viver tudo isso porque aquela noite foi a pior noite da minha
vida. — Sam olha para mim com culpa. — Diga-me o que aconteceu.
Quero saber tudo o que aconteceu naquela noite. Você não pode guardar
isso para si mesma, porque isso vai fazer você enlouquecer.
Com isso, sou teletransportado de volta para a noite em que todo esse
pesadelo começou.
— Quando você me deixou em casa depois da escola, por algum
motivo você voltou para a escola e foi aí que você foi atacada. Recebi um
telefonema da minha mãe me dizendo que você estava no hospital.
— Eu dirigi até lá e já vi Ryder e os lobos lá. Foram eles que te levaram
para o hospital. — Sam continua me olhando com atenção. Eu continuei.
— Eu vi você na cama do hospital e fiquei ao seu lado.
— Segurei sua mão e logo saí para pegar seu carro. Quando Cheguei
lá, suas chaves não estavam perto do carro. Então, eu fui ver se elas
estavam no seu armário, mas elas também não estavam lá.
— Eu estava ficando sem opções de onde estariam suas chaves, mas
então vi uma luz acesa em uma sala, aquele onde temos inglês. Entrei e vi
o Sr. Edmund sentado lá com suas chaves penduradas em seus dedos.
Sam suspira. — Por que ele tinha minhas chaves?
Eu dou de ombros. — Eu não sei, mas o que era estranho na coisa toda
era que parecia que ele estava esperando que eu fosse buscá-las, como se
ele soubesse que eu apareceria.
— Ainda não faz sentido que foi ele quem me acertou.
Eu inclino minha cabeça em questão.
Sam segura a cabeça dela. — O Sr. Edmund não estava perto de mim
quando fui atingida. — Ela estremece. — Lembro-me de vê-lo parado na
porta da escola. Ele assistiu.
Eu coloco minha mão em seu braço. — Pare de se machucar, Sam.
Não vale a pena.
— Mas não era ele. — Ela suspira de frustração. — Eu não posso
acreditar que estou descartando-o, mas eu estava olhando diretamente
para ele. Era outra pessoa, e essa pessoa tinha muita força.
Por alguma razão, isso me leva de volta à conversa que tive com a
enfermeira sobre o que Sam poderia ter atingido.
— Você sabe com o que foi atingida?
Ela pensa novamente. — Não, mas era sólido e realmente doeu pra
caralho. Um golpe e eu caí. Sem sentidos.
Sam me olha desconfiada. — Por que você parece saber de alguma
coisa?
— Você acha que talvez tenha sido atingida por um taco de beisebol?
Ela suspira. — Um taco de beisebol? — Eu concordo.
— Não. Eu teria morrido imediatamente com o impacto.
Eu suspiro. — Isso é verdade, mas e se a pessoa que te atacou não
fosse tão forte?
— Alice, o que você está tentando dizer aqui?
— Digamos que não foi o Sr. Edmund que o atingiu. Digamos que era
alguém mais jovem, mas com a força de um adulto.
— Sim, mas com um bastão você não precisa de tanta força.
Estou ficando sem opções, mas então Sam suspira. — Espere um
minuto. Nossa escola não é conhecida por seu time de beisebol?
Eu olho para ela. — E isso? Achei que fosse basquete.
— Não, não é. Lembro-me de ser líder de torcida do time de beisebol.
Vencemos todos os jogos.
Então, um pensamento me ocorre. — Então, você acha que um aluno
poderia ter feito isso?
Ela encolhe os ombros. — Pode ser?
Possivelmente? Eu não sei.
— Se isso for verdade, então isso significa apenas uma coisa.
Sam parece desanimada. — Significa que pode ser um aluno desta
escola que me atacou.
Capítulo Treze
Alice

Assim que acordei na manhã seguinte, eu sabia que algo não estava
certo. Eu podia sentir isso por todo o meu corpo. Algo estava errado, e eu
não sabia o que era.
Parecia o que eu imaginaria que seria um ataque de pânico, mas toda
vez que eu pensava que poderia desmaiar, meu corpo voltava
completamente ao normal. Em seguida, começaria tudo de novo em
alguns minutos.
Começou com uma espécie de névoa mental ou borrão, e os sons ao
meu redor se tomaram estáticos. Então minha audição ficou abafada,
meus dedos ficaram dormentes e meu estômago ficou frio, como se eu
não comesse há dias.
Minha boca fica seca e sinto um gosto de ferro na boca. Então meu
corpo enrijece, e isso me faz sentir como se tivesse perdido o controle
dos meus músculos, e é aí que os tremores começam.
É como se eu tivesse sido jogado em um rio frio, mas ao mesmo
tempo estou suando. Esta é a terceira vez que isso acontece desde esta
manhã, e não consigo parar de pensar, por que isso está acontecendo?
Ryder e os lobos já foram para a escola, deixando-me sozinha em casa.
Ryder entrou no meu quarto esta manhã, mas eu fingi estar dormindo
depois do que aconteceu na lanchonete.
Ele me disse que está seguindo uma pista, mas me perguntou se eu
queria que ele ficasse em casa comigo, ao que não respondi. Acho que ele
entendeu a mensagem de que eu queria ficar sozinha.
De alguma forma, eu podia sentir pela atmosfera na sala que Ryder
também estava se sentindo desconfortável, e de todas as vezes que estive
perto de Ryder, nunca fui capaz de entender quais são seus sentimentos.
Era como se eu pudesse sentir exatamente o que ele estava sentindo, e
isso me deixou com medo. Fiquei no meu quarto a manhã inteira,
deitada em posição fetal enquanto tentava descobrir o que está me
fazendo sentir tão desconfortável e com medo.
Nunca me senti assim antes, e sinto que, se fizer o menor movimento,
pode desencadear a sensação de ter um ataque de pânico.
Eu gostaria que alguém estivesse na casa agora, como Kellan, para que
eu pudesse falar com ele sobre o que há de errado comigo, porque ele
pode saber qual é o problema. Pode ser uma coisa de lobo, mas eu tenho
que descobrir sozinha.
Eu sei que provavelmente não saberei qual é a causa disso, mas
provavelmente desaparecerá depois de algumas horas. Eu esperei.
Deitada na mesma posição por quase uma hora e olhando para a
parede, posso sentir meus olhos ficando pesados, mas assim que
adormeço, meu telefone começa a tocar. Ele preenche o silêncio da sala
com um toque irritante.
Ugh... por que está tão alto?
Eu gemo quando o barulho continua por muito tempo. Pego um
travesseiro e coloco sobre minha cabeça, esperando que o toque pare
logo, mas quem está ligando não parece que vai desistir tão cedo.
Com um rosnado, eu cuidadosamente me sento e atendo o telefone,
sem olhar para o identificador de chamadas. — Alô?
— Alice?
Por que ele está me ligando?
'Max? '
Eu posso ouvir o sorriso em sua voz. — Como você está?
— Estou bem.
— Você não soa bem.
Eu suspiro. — Max, por que você está me ligando?
— Eu não posso ligar para você agora? — Ele soa um pouco triste.
— Você pode, mas eu estou um pouco confusa.
— Sobre o quê?
Eu enxugo minha testa de todo o suor que se acumulou só de me
sentar. — Por que você está me ligando depois do que aconteceu com
Ryder na lanchonete?
Max zomba. — Eu não vou deixar um cara me impedir de falar com
você.
Eu reviro os olhos. — Sim, boa sorte com isso.
Ele provavelmente vai me manter escondida em algum lugar.
Max ri. — Então, de qualquer maneira, você está livre?
Eu franzi a testa. — Agora mesmo?
— Sim.
— Eu penso que sim.
— Boa. Pode me encontrar?
— O quê? Agora mesmo?
— Sim.
— Por quê?
— Tenho algo para lhe devolver.
O que pode ser?
— O que você precisa me dar, Max?
— Venha para a escola, e eu vou dar a você então.
Posso sentir o início do ataque e, como não sei a razão por trás disso,
tenho medo de saber o que acontece depois que o pânico se instala.
— Max? Eu realmente não estou me sentindo bem hoje.
Há silêncio do outro lado. — Nem eu. Devo ter comido alguma coisa,
mas quero ver você, então venha para a escola. Por favor.
Ele desliga o telefone, deixando-me completamente confusa.
Depois do telefonema, dirijo lentamente até a escola, ainda incapaz de
entender por que Max quer me ver e ver o que ele tem para mim. Não me
lembro de ter dado nada ao Max, então será que ele só quer me ver de
novo?
Quando chego à escola, pela terceira vez, puxo o capuz sobre a cabeça
e entro na escola com uma coisa em mente. Encontrar Max.
Enquanto ando pelos corredores, tive que parar e me apoiar nos
armários para recuperar o fôlego mais de uma vez. Alguns alunos
perguntam se estou bem, mas se afastam sem dizer uma palavra.
Assim que dou alguns passos, meu corpo parece que vai cair no chão,
e quando meu corpo perde inesperadamente o controle completo, sinto
que estou caindo.
Ah, não!
Eu me preparo para o impacto, mas ele não vem. Percebo que alguém
está me segurando pelo braço.
Olho para a mão e sigo o braço até o pescoço, e olho com espanto para
um rosto reconhecível, mas ele me olha com preocupação.
Ele me encontrou. — Você está bem?
Eu só posso olhar para Max.
Ele me levanta até a minha altura total e coloca as mãos nos meus
ombros.
— Alice? — Ele olha profundamente em meus olhos.
Ele coloca a mão suavemente na minha testa e franze a testa.
— Você está quente.
E assim, tudo volta ao normal.
Ele me olha confuso e tira a mão. — Mas não mais. Isso foi estranho.
— O que diabos está acontecendo? — Eu coloquei minha palma na
minha cabeça enquanto murmurava para mim mesma.
— Você está bem? — Posso ouvir a preocupação na voz de Max. Não
quero ficar aqui muito tempo, por razões óbvias. Só vim para ver o que
Max quer me devolver. Então, vou direto ao ponto.
— O que você queria me dar, Max?
Ele meio que sorri. — Eu só queria devolver suas anotações.
Eu franzi a testa. — Que anotações?
Ele caminha para o lado oposto do corredor até seu armário; eu o sigo
e fico ao lado dele.
— Aquelas notas de biologia que você me deu.
Não me lembro de ter dado nada a ele.
Ele percebe minha confusão. — Lembra-se daquele dia em que você
me viu no campo de futebol? Você me deu sua pasta florida rosa cheia de
notas de biologia.
A percepção entra em ação. — Ah, essas notas. Elas foram úteis?
Ele abre um grande sorriso. — Eles foram realmente úteis para o teste
que tivemos. Obrigado. — Ele digita sua combinação e abre a porta de
seu armário, mas assim que a porta se abre, algo cai no chão.
— Malditos papéis. — Max murmura. Ele se abaixa para pegá-los, mas
eu insisto em ajudar.
— Não, está tudo bem. Eu vou pegá-los para você. — Eu me ajoelho e
pego o que parecem ser fotos, e quando eu as viro, meu coração para.
O quê. Diabos. E isso?
Na minha frente, vejo as fotos que foram tiradas de mim no dia em
que mudei para a casa de Ryder.
Eu olho para todos eles e suspiro de alívio porque, felizmente, ele não
tem uma foto minha me transformando em um lobo, mas por que ele
tem isso em seu armário?
Max tinha isso o tempo todo.
Eu olho para ele entorpecida, e quando ele percebe minha expressão,
ele franze a testa.
— O que há de errado?
Eu não mostro as fotos nuas porque Deus sabe quantas vezes ele
olhou para elas.
— Por que você tem fotos minhas?
Max parece surpreso. — O quê?
Eu mostro a ele uma das minhas fotos de calcinha e enfio na cara dele.
— O que é isso!? O que elas estão fazendo no seu armário, Max? — Eu
grito.
Ele levanta as mãos em sinal de rendição, parece tão chocado quanto
eu. — Eu juro, Alice, elas não são minhas. Eu não sei como elas foram
parar no meu armário, mas eu prometo a você, eu não fotografei nada.
Ele está mentindo de novo!
Eu me afasto com raiva, mas Max logo me alcança. — Alice, por favor,
me escute.
Eu paro e olho para ele com horror. — Já cansei de ouvir suas
desculpas.
Max implora. — Alice, por favor, acredite em mim. Eu não fiz isso. Eu
não faço coisas assim.
Não havia nada que eu pudesse dizer neste momento.
— Eu pensei que tinha dito para você ficar longe dela!? — Uma voz
grita atrás de mim.
Max olha para Ryder e todos no corredor também, mas minha
atenção ainda é atraída para as fotos que tenho na mão, as fotos minhas
me preparando para a mudança.
Por que Max tinha essas fotos?
Ryder vem para ficar ao meu lado e imediatamente seu corpo entra
em ação. Ele arranca as fotos de mim e olha brevemente para elas antes
de enfiá-las no bolso.
— Seu pervertido de merda. — Ryder pega Max pela gola da camisa e
o joga no chão. Não posso dizer nada por causa do choque.
E eu pensei que as coisas iam ficar bem entre nós. Pelo canto do olho,
vejo Silver se afastando com um sorriso no rosto.
Enquanto os alunos se reúnem, eu me escondo atrás de uma parede.
O que quer que acontecesse agora, estava fora do meu controles.
Os alunos se reúnem rapidamente e formam um círculo em tomo de
Ryder e Max. Eles pegam seus telefones e esperam ansiosamente para ver
o que acontece a seguir.
Eu olho para os dois machos para ver que eles têm os nós dos dedos
brancos de cerrar os punhos e os dentes cerrados do esforço para ficarem
calmos.
Eu vejo seus olhos piscarem para mim e depois um para o outro. Seus
rostos são ilegíveis, sem medo e sem sorrisos de convite.
Ah, não.
Max corre em direção a Ryder, então recua surpreso e se vira para se
proteger, mas é tarde demais. A cabeça de Max entra em contato com a
barriga de Ryder, fazendo com que um som ofegante escape de seus
lábios. Eu estremeço com o golpe e balanço a cabeça.
Eu não posso assistir isso. Ryder vai machucá-lo tanto.
Ambos os homens resmungam enquanto pegam punhados de roupas
um do outro e tentam lutar um com o outro no chão. Ryder libera uma
mão e soca Max nas costelas.
Max solta as duas mãos, agarra o cabelo de Ryder e abaixa o rosto
bruscamente sobre o joelho dobrado.
Os alunos aplaudem empolgados, mas eu não. Vê-los lutar me faz
querer gritar para eles pararem de se machucar, mas eles provavelmente
não ouviriam.
Eu suspiro de horror quando vejo sangue fluindo do nariz quebrado
de Ryder enquanto ele cambaleia para trás. Mas em um instante, Ryder
corre em direção a Max, que se esquiva para o lado em um movimento
fluido.
Ryder gira em sua direção; seus olhos ameaçadores brilhando
vermelhos de raiva, o resto de suas feições indistinguíveis. Ryder
continua em frente, usando seu próprio impulso para empurrar Max
para dentro dos armários. Ele geme com o impacto.
Ryder rapidamente o alcança com as mãos, tentando um
estrangulamento, mas Max salta para longe e bate as pernas de Ryder
debaixo dele.
Ryder cai no chão, mas antes que ele possa se recuperar e se levantar,
Max fica em cima dele, travando os braços sob os joelhos. Ryder olha para
Max, se inclina para trás e dá uma cabeçada nele.
Ele rosna em agonia com o impacto. Ryder sorri e dá um soco na
mandíbula de Max; sua cabeça se move para a esquerda.
Ryder dá outro soco no nariz e o sangue escorre pela lateral do rosto
de Max.
— Que diabos está acontecendo aqui!? — Uma voz profunda impede
Ryder de dar um soco no rosto de Max novamente. Todos os alunos que
estavam assistindo agora estão fugindo, mas alguns alunos ainda
permanecem no local.
Eu permaneço atrás da parede, mantendo-me fora da vista do Sr.
Edmund e das pessoas que costumavam me conhecer.
Do nada, o Sr. Edmund aparece e vai direto para Max e Ryder.
Merda.
Com uma cara de trovão, ele agarra a parte detrás da camisa de Ryder
e o puxa de cima de Max.
— Levante-se! — Ele grita com Max, que parece pronto para atacar
novamente. E golpear quem? Eu não sei, mas eu apostaria em Ryder.
O Sr. Edmund está entre Max e Ryder. — Qual é o motivo disso!? —
Ele olha de um para o outro.
Nenhum dos dois diz nada. Eles apenas se encaram.
O Sr. Edmund coloca as mãos nos quadris. — É melhor que haja uma
boa explicação sobre por que vocês dois estão brigando no corredor da
escola.
Max aponta para Ryder e diz: — Ele começou!
Ryder cospe. — E eu estava apenas começando.
O Sr. Edmund está na frente de Ryder. — E o bastante. Estou farto de
suas travessuras.
Ryder enfrenta nosso professor. — O que você vai fazer sobre isso,
Oliver?
O Sr. Edmund apenas ri. — Não me teste, Ryder. Agora, o que foi isso
tudo? Hum?
Max ofega. — Foi apenas um mal-entendido.
Ryder olha para Max. — Besteira!
O Sr. Edmund olha para Ryder com uma expressão entediada. —
Cuidado, mocinho.
Ryder revira os olhos.
Ficar mais tempo pode resultar em eu ser pega. Então, sem olhar para
trás, eu me viro para sair, mas por causa da minha roupa, e do fato de
haver lobos ao redor, eu me destaco e não passo despercebida.
— E onde você pensa que está indo, senhorita Smith?
Eu paro de me mover e cerro os olhos, mas mantenho minhas costas
viradas para ele.
Certamente, ele não sabe que eu estava escondida lá o tempo todo.
Eu posso sentir meus dedos começando a ficar dormentes e minha
boca ficando seca. Então continuo andando. — Alice! Volte aqui neste
instante!
— Venha aqui agora mesmo.
Com a cabeça baixa, ando um pouco mais perto de Max e Ryder, mas
não levanto a cabeça.
O Sr. Edmund ri. e quando vejo seus pés na minha frente,
imediatamente sinto a raiva fervendo dentro de mim. Como eu gostaria
de poder machucá-lo agora.
Em um puxão, o capuz é removido da minha cabeça e, imediatamente,
posso ouvir as pessoas ofegantes e conversando entre si.
Eu levanto minha cabeça e olho para o Sr. Edmund, mas ele apenas
sorri para mim.
— Faltando aulas agora, não é? Eu lhe disse antes para ter cuidado
com quem você se associa, e foi assim que você acabou. Uma desistência.
— Ele fala. — Que vergonha.
Como. Você. Ousa!
— Eu não vou voltar aqui. — Eu feno, e imediatamente sinto o gosto
do ferro dentro da minha boca. — E você sabe exatamente por que eu
não vou voltar.
Ele apenas sorri para mim e se vira para olhar para nós três. — Vocês
três podem me encontrar na biblioteca depois da escola. — Ele olha para
cada um de nós individualmente e sorri.
— Estarei ansioso para vê-los, e se nenhum de vocês estiver lá, vou
lidar com vocês pessoalmente.
O Sr. Edmund se afasta, deixando nós três parados desajeitadamente
no corredor vazio.
Ótimo.
Todo mundo sabe que se um professor lhe disser para ir à biblioteca
no final do dia, isso significa apenas uma coisa.
Detenção.
Capítulo Quatorze
Alice

Detenção. Uma punição de ser mantida na escola depois do


expediente, uma punição que eu nunca pensei que receberia.
Sempre fui uma boa aluna que seguia as regras e nunca fui uma
pessoa que se destacava, então sempre que havia problemas na sala de
aula, um professor nunca olhava na minha direção e achava que era eu.
Nunca fui eu mesma.
Max, Ryder e eu estamos sozinhos no corredor vazio. Nenhum de nós
fala, porque todos temos emoções misturadas agora.
Ryder provavelmente quer matar Max, Max provavelmente quer fazer
o mesmo, mas está confuso com toda a situação com as fotos. Depois,
tem eu, magoada e triste que Max era a pessoa que tinha as minhas fotos.
Mas também estou magoada que ambos os meninos tenham se
machucado por causa disso. Ryder continua esquecendo o que ele é e
esquece sua própria força, mas depois de assistir a luta, eu sei que Max
pode se defender, e isso me surpreendeu.
— Podemos, por favor, falar sobre isso? Como adultos? — Eu não
percebo que Max está falando comigo, mas Ryder intervém antes que eu
tenha a chance de pensar em algo para dizer a ele.
— Não diga mais uma palavra porque eu vou bater em você, — Ryder
ameaça.
Max dá um passo em minha direção, mas Ryder se move na minha
frente, deixando-me olhar para o chão. Ryder rosna. — Não se aproxime.
Você não tem o direito de sequer olhar para ela depois do que você fez.
Max não recua. — Eu não fiz isso! Eu nunca vi essas fotos antes na
minha vida!
Ryder zomba. — Nós já sabíamos que você é um mentiroso, e agora
sabemos que você é um pervertido também.
— Eu posso ter sido um mentiroso, mas não sou mais um, e
definitivamente não sou um pervertido.
— Por que você está se explicando para mim? Eu não dou a mínima
para o que sai da sua boca.
— Alice, por favor, fale comigo. — Ele implora, mas não consigo
levantar os olhos para olhar para ele. Continuo olhando para o chão.
— Ela não quer falar com você, e provavelmente nunca vai querer
depois disso.
Silêncio.
Ryder ri. — Vejo você na detenção, Fields, porque olhar para você me
dá vontade de dar um soco na sua cara até você ficar irreconhecível.
Ryder me pega pela mão e me leva para longe de Max e pelo corredor.
Ele não diz uma palavra, mas abre uma porta, me leva para uma sala
vazia e fecha a porta atrás de nós. Ele me coloca em uma cadeira e se
ajoelha na minha frente.
— Alice?
Ele coloca um dedo sob meu queixo e o puxa para cima para olhar
para ele. Foi-se a raiva que ele jogava em Max, porque agora ele olha para
mim preocupado.
— Você está bem?
Tudo o que posso fazer é balançar a cabeça, e imediatamente Ryder
me puxa em seus braços e gentilmente passa a mão pelo meu cabelo.
— Esqueça-o, Alice, porque ele só vai continuar mentindo para você.
Eu me afasto de Ryder, com meus olhos lacrimejando, mas me recuso
a chorar na frente dele.
— Por que tinha que ser ele? Eu não achei que ele mentiria para mim
de novo depois desses últimos dias.
Ryder balança a cabeça. — Alice, há coisas mais importantes para se
preocupar hoje do que aquele menino.
Eu franzir a testa. — O que você quer dizer? — Ele acaricia minha
bochecha. — Eu posso ver de olhar para você que você sente isso
também. — Ryder suspira e coloca a mão na minha testa, em seguida,
desvia o olhar de mim. — Merda. — Ele murmura.
Isso me deixa em pânico. — O quê? O que é isso?
Ele me olha com pesar. — Eu sinto muito.
— Sobre o quê?
Agora eu estava realmente confuso.
Ele não me responde imediatamente. — Sinto muito por ter colocado
você nessa bagunça.
— Ryder, o que diabos está acontecendo?
Ele cerra os dentes. — Você está se sentindo mal hoje, não é?
— Como você sabia disso?
Ele limpa a garganta. — Porque está acontecendo comigo também.
— Mas você parece bem.
— Isso é porque eu estou acostumado com isso agora.
— Acostumado com o quê?
— É o efeito da lua cheia. É hoje à noite.
Eu suspiro de horror porque isso significa que vamos ficar presos na
biblioteca da escola com Max, e ele não tem ideia do que somos.
Ryder e eu ficamos sozinhos pelo resto da tarde, mas de vez em
quando o efeito da lua cheia me afetava. Ryder estava sempre lá para me
ajudar a manter a calma e me impediu de transformar.
Enquanto estávamos juntos naquela sala de aula, perguntei a ele o que
acontece depois da sensação de colapso. Ele me disse que o sentimento é
realmente o gatilho para a transformação, porque o corpo está se
desligando e o lobo quer assumir.
Ryder também me disse que quanto mais você se recusa a mudar na
lua cheia, pior fica durante a noite. Como estou experimentando a lua
cheia pela primeira vez, é muito provável que eu me transforme.
Ele disse que é inevitável.
O que mais me assusta é fazer isso na frente de Max, porque isso
revelará um segredo que eu gostaria que fosse mantido escondido das
pessoas alheias de Small Town.
Se Max não tivesse me salvado de cair no corredor da escola, eu teria
me transformado na frente de toda a escola, e por isso sou grata a ele.
As 3: 30, Ryder e eu saímos da sala de aula e caminhamos de mãos
dadas até a biblioteca, onde Max já está esperando. No momento em que
ele vê nós dois, ele sorri um pequeno sorriso para mim, mas isso muda
quando ele olha para Ryder. Ryder me puxa para o outro lado da sala, o
mais longe possível de Max.
Não demora muito para o Sr. Edmund entrar na biblioteca e olhar ao
redor da sala com um sorriso no rosto.
Ele fica na frente da sala e cruza os braços sobre o peito.
— Vocês todos vieram. — Ele olha para cada um de nós
individualmente. — Uma pequena parte de mim pensou que nenhum de
vocês apareceria.
Ele move sua atenção para mim e Ryder e olha para nossas mãos
entrelaçadas.
— Bem, isso não é bonitinho? Agora eu posso entender a razão pela
qual vocês dois estavam brigando, mas deixem-me dizer a vocês,
meninos, brigas não são toleradas nesta escola.
Ele dá a Ryder um olhar ameaçador. — Você, de todas as pessoas,
deveria saber disso. Só porque você é forte e poderoso, você não tem o
direito de descontar em alguém mais fraco do que você.
Max vira o olhar para o Sr. Edmund. — Senhor?
O Sr. Edmund olha para Max como se tivesse esquecido que ele
também está na sala. — Senhor. King é um encrenqueira e,
aparentemente, ele estava vencendo a luta.
— Seja grato por eu ter aparecido quando o fiz, Sr. Fields, porque mais
um minuto e você acabaria com ferimentos graves. Como antes.
Max parece insultado por isso, mas não diz nada. Ele provavelmente
está mordendo a língua para não dizer algo de que vai se arrepender.
Exatamente como todos nós.
— Vocês três vão limpar esta sala inteira até que esteja impecável.
Quero os livros de volta em seus lugares corretos, e quero toda essa
porcaria fora do chão. Vocês entenderam?
— Você está falando sério? — Ryder diz baixinho, mas o Sr. Edmund
ouve tudo.
— Sim, estou falando sério. Você não vai embora até que este lugar
esteja limpo.
Ele aponta para o chão. — Tudo isso deve durar a noite inteira. — Ele
ri.
Eu olho para ele com nojo porque eu sei exatamente o que ele está
fazendo. Ele fez isso de propósito. Manter nós três juntos vai causar
sérios danos.
Eu não fiz nada, mas ainda estou aqui tomando uma punição por algo
que nem foi minha culpa.
— Tenham uma boa noite. — O Sr. Edmund sorri e sai da biblioteca.
Quando as portas se fecham, solto a mão de Ryder e alcanço o Sr.
Edmund. Assim que vejo suas costas, eu o chamo, e ele se vira com o
mesmo sorriso no rosto.
— O que posso fazer por você, Srta. Smith? Quer me fazer mais
perguntas?
— O que é que você fez? — Eu o observo.
Ele franze a testa.
— Você percebe o que está fazendo? Você vai simplesmente se afastar
e deixar um humano se machucar gravemente?
— Eu não disse para você ficar longe de problemas ou coisas iriam
acontecer?
— Eu não tive nada a ver com a luta, — eu digo.
Ele dá de ombros. — Você ainda estava envolvida, e isso foi motivo
suficiente para te dar detenção. Eu lhe disse que a lua cheia seria em
alguns dias. Então, eu avisei. Boa sorte. — Ele vira as costas para mim.
— Max vai morrer se nos transformarmos! Ou você não se importa
com nada!? — Eu grito.
Ele se vira para olhar para mim e ri. — Você realmente não tem ideia,
não é?
— Sobre o quê?
O Sr. Edmund aponta na direção da biblioteca. — Sobre as pessoas
com quem você se associa. Você deixa as pessoas entrarem sem nem
mesmo descobrir quem elas realmente são primeiro. — Você está alheia a
tudo e isso te toma vulnerável. — Ele suspira. — Esta noite, algo vai
acontecer, e tudo o que você sabia, ou pensava que sabia, vai mudar.
Ele se afasta, deixando-me imaginando o que ele quer dizer.
Quando volto para a biblioteca, Ryder se senta em uma cadeira com as
pernas apoiadas na mesa, enquanto Max empurra um carrinho com
montanhas de livros empilhados.
Pelo menos eles não estão brigando.
Pego meu próprio carrinho de livros e vou até a primeira estante. Faço
caretas para todas as teias de aranha que vejo nas prateleiras, mas
continuo a fazer o que foi pedido de nós três.
Depois de algumas horas, o céu escurece, e isso me faz sentir ainda
mais medo do que eu estava algumas horas atrás. Ryder vem me ajudar a
colocar os livros de volta em seus lugares originais.
Ele fica ao meu lado o tempo todo, porque de vez em quando, meu
corpo age como se tivesse uma mente própria. Tudo o que Ryder faz é
falar comigo em um tom gentil, e de repente tudo volta a ser como era
antes.
Eu sei que Ryder provavelmente está acostumado com a lua cheia
agora, mas às vezes posso vê-lo apertando os olhos e grunhindo, mas não
é tão consistente quanto eu.
Max fica sozinho do outro lado da sala, e de vez em quando eu dava
uma olhada nele para ver o que ele estava fazendo, mas nunca consigo
vê-lo. E como se ele estivesse se escondendo de nós, e por algum motivo
isso me parece estranho.
— Você acha que Max está bem? — Eu pergunto.
— Quem diabos se importa? Temos coisas muito mais importantes
para nos preocupar esta noite do que se preocupar se Max está bem.
Seguro um livro nas mãos e olho na direção em que vi Max pela
última vez, quando voltei para a biblioteca. — Só estou preocupada com
ele.
— Alice, você esqueceu o que aconteceu hoje? Ele tinha as fotos de
você.
Meus olhos se arregalaram. — Ryder, ele vai se machucar se essa
transformação acontecer. Eu não posso machucar alguém inocente,
então ele precisa sair daqui.
— Inacreditável. — Ele diz baixinho.
— Apenas, por favor, só vá checar.
Ryder balança a cabeça e vai checar Max, mas no momento em que ele
sai, sinto uma dor intensa no peito e minha audição fica abafada.
Eu cubro meus dois ouvidos e gemo de agonia, mas ambas as minhas
mãos de repente caem dos meus ouvidos, provavelmente porque eu perdi
o controle do meu corpo.
Ah, não! Onde está Ryder? Eu preciso dele!
Com toda a força que posso juntar, coloco minha mão na prateleira
para me manter firme, mas quando olho para a janela, a lua cheia brilha
no céu, fazendo-me rugir em completo e absoluto tormento.
Onde diabos está Ryder!?
Eu caio no chão de quatro e luto para me segurar, mas posso me sentir
desaparecendo.
Eu posso sentir sua sede de sangue aumentando cada vez que tento
lutar contra a transformação. Eu sei que é uma batalha perdida, e vou
aguentar o máximo que puder. Mas é muito tarde.
A lua cheia toma conta, e não há nada que eu possa fazer para voltar
atrás.
Ela levanta-se até a altura máxima, caminha até o final da prateleira e
olha da esquerda para a direita.
O que você está procurando?
Ela vira a cabeça para a esquerda e rosna.
Ah, não, o que é isso?
Ela vai para o lado esquerdo da sala e de repente para, e não sei se ouvi
direito, mas parece que ela deu um gritinho.
Ela entra em um corredor, mas depois corre em alta velocidade até o
final dele, onde ela vê um corpo imóvel no chão.
Não! Não pode ser! Por favor, não deixe que seja ele.
Deitado no chão com sangue saindo do peito está Ryder.
Sua camisa está completamente rasgada na frente, e porque é lua
cheia, você esperaria que um lobo rasgasse seu corpo em pedaços, mas ela
abaixa a cabeça para olhar para Ryder, inclina a sua cabeça para trás e uiva.
Por favor, deixe-o ficar bem. Por favor
De repente, um grunhido vem atrás de nós, e quando ela se vira para
ver o que é, não posso acreditar no que estou vendo.
Não. Diga-me que isso não está acontecendo.
Estou olhando para um lobo que sei que já conheci antes.
O lobo preto de olhos azuis.
O que eu vi na floresta naquele dia.
E o mesmo lobo! Não poderia ser. Poderia?
O lobo está do outro lado do corredor, mas não vem nos atacar como
eu pensei que faria. Em vez disso, ele olha mais para mim, depois sai
correndo pelas portas e sai da biblioteca.
Estou em choque completo porque havia três de nós nesta sala, e
agora há apenas dois. Eu e Ryder. A única pessoa que o lobo poderia ser é
Max.
Capítulo Quinze
Alice

Pouco depois de Max sair da biblioteca, fiquei sozinha com Ryder.


Ele ainda não acordou das feridas que Max infligiu nele, mas pelo
menos ele ainda está vivo.
Ela fica ao lado dele, como se estivesse protegendo-o de qualquer um
que se aproxime, mas não há ninguém aqui.
O que eu acho completamente estranho é que ela não está correndo
noite adentro, matando tudo em seu caminho. Ela está em vez disso em
uma biblioteca, silenciosamente parada ao lado de um corpo humano.
Eu, por outro lado, não consigo tirar da cabeça a imagem daquele
lobo. Quero dizer, ele não poderia ter sido Max, certo?
Achei estranho quando não pude vê-lo por todas aquelas horas, mas
nunca pensei que isso fosse acontecer. Nunca me ocorreu que Max
pudesse ser um lobo também. Acho que ninguém teria adivinhado o que
ele realmente é.
Então, talvez a razão pela qual ele ficou quieto durante a maior parte
da noite foi porque ele estava lutando silenciosamente para manter o
controle, mas em vez disso perdeu a luta e permitiu que o poder da lua
assumisse?
Provavelmente.
Há quanto tempo ele é um lobo?
Como ele se tomou um?
Quem é o Alfa dele?
As perguntas que quero fazer a Max nunca terminam, mas estou
distraída dos meus pensamentos porque ouço vozes.
Duas vozes masculinas.
— Algo está errado, Kellan. Ajude-me a farejá-lo.
Um suspiro. — Ele provavelmente está bem, Bane.
Você sempre fica paranoico quando Ryder não está por perto.
— Ele é nosso Alfa. — Bane solta. — E nós protegemos nosso Alfa.
— Ryder pode cuidar de si mesmo. Se ele não pudesse fazer isso, ele
não seria um Alfa.
Um grunhido. — Kellan, pare de falar e venha aqui.
— Na biblioteca?
— Sim. Estou sentindo um cheiro.
As portas da biblioteca se abrem e imediatamente ela rosna quando
ouve os passos deles se aproximando de nós.
Calma. Nós conhecemos esses lobos. Eles são pessoas boas. Bem, um
deles pelo menos.
Mas ela me ignora e continua em alerta máximo.
— Você sentiu esse cheiro? — Kellan sussurra.
— Sangue, mas há outra coisa também.
— O que você cheira, Bane?
— Outro lobo, e é uma fêmea.
Eu vejo suas formas andando dentro da sala procurando por Ryder,
mas eles não podem me ver. Ainda não.
— Você acha que é Alice?
— Sim. Esse é o cheiro dela.
Bane e Kellan passam pelo nosso corredor, mas Kellan para e
lentamente vira a cabeça em nossa direção.
Ah, não.
— Puta merda! — Kellan recua e bate em Bane, que se vira com uma
cara de raiva, mas quando ele a vê, seus olhos se arregalam de surpresa.
— Puta merda. — Bane olha de mim para Ryder no chão, e seu rosto
se transforma em raiva novamente. — Que porra você fez!? — Ele ruge e
me ataca, mas é parado por Kellan.
Ryder se mexe no chão, mas não abre os olhos.
Ela abaixa a cabeça, sente o cheiro dele e lambe o rosto.
— Saia de cima dele!
Ela não ouve. Ela para na frente do corpo e rosna para Bane.
Kellan resmunga. — Você só está deixando-a com raiva, então cale a
boca!
Bane luta contra o aperto de Kellan, mas ele levanta as mãos em sinal
de rendição. — Tudo bem, eu vou parar. Apenas me deixe ir.
Kellan libera Bane e os dois me encaram. — E agora? — Kellan
pergunta.
Bane dá um passo à frente, ao qual ela rosna. Kellan coloca a mão no
braço de Bane para impedi-lo de dar mais passos.
— Ela não gosta disso. Você está apenas provocando ela.
— O que você sugere que eu faça então? Eu preciso chegar até o
Ryder.
— Deixe-me tentar. — Kellan dá um passo à frente e para, e desta vez
ela não rosna. Nem uma vez. Quando ele se aproxima mais um passo, ela
novamente permanece em silêncio.
Por que ela não está rosnando para o Kellan? Talvez ela não o ache tão
intimidador quanto Bane?
Isso dá a Kellan uma razão suficiente para se aproximar de mim e
Ryder.
No momento em que ele está na minha frente, ele olha nos olhos dela,
e levanta a mão e toca meu focinho. Ela ronrona de volta.
— Oi, Alice.
Ela solta um pequeno barulho que faz Kellan sorrir. Ele passa por mim
para chegar a Ryder e se ajoelha ao lado de seu corpo. Ele coloca o braço
de Ryder sobre seu ombro e o levanta do chão.
Kellan passa por mim e volta para Bane, que me olha fascinado, mas
logo se esquece de mim e corre para ajudar Kellan a levar Ryder para fora
da biblioteca e de volta para casa.
*
Quando voltamos juntos para a casa dos lobos, eu mudo de volta à
minha forma humana.
Bane e Kellan carregam Ryder para a sala e o colocam no sofá. Eu os
sigo para dentro e corro escada acima para colocar algumas roupas, então
corro de volta para baixo para me sentar com os lobos.
Quando chego à sala de estar, Ryder acordou e parece absolutamente
chateado. Kellan se senta ao lado de Ryder enquanto Bane se senta ao
lado de Silver em outro sofá, de frente para nossa direção.
— O que diabos aconteceu esta noite? — Bane exige. Ryder não
responde porque posso ver em seu rosto que ele está sem palavras sobre
toda a situação com Max.
— Max é um de nós. Ele é um lobo. — Ryder relaxa no sofá ao meu
lado.
A expressão de Bane não muda, já os olhos de Kellan parecem que vão
sair de suas órbitas e Silver? Ela não parece incomodada com essa
afirmação.
— O quê? — Bane pergunta.
— Ele é um lobo, e ele é forte também. — Ryder suspira.
Os olhos de Kellan se arregalaram. — Todo esse tempo, ele era um de
nós?
Ryder assente.
— Aquela porra de barata, — Bane cospe.
— Como alguém pode guardar um segredo desses? — Kellan
pergunta.
Ryder cerra os dentes. — Eu não sei. Mas eu deveria saber.
— O que eu quero saber é o que diabos aconteceu com você? Quero
saber quem fez isso com você. — Bane aponta para o peito de Ryder.
Ryder puxa sua camisa ensanguentada sobre a cabeça e olha para onde
a ferida deveria estar, mas está completamente curada.
— Eu deveria saber que ele era um de nós, mas eu não queria
acreditar, — Ryder murmura.
— Você está dizendo que não foi ela que atacou você? — Ban olha para
mim.
— Claro que não foi Alice. Isso foi tudo Max.
— Mas é a lua cheia, e foi a primeira de Alice. Por que você está
protegendo ela?
Ryder olha para Bane. — Não foi ela que me atacou.
— Bane, você viu a coisa toda. Ela estava de pé ao lado dele, e pelo que
parecia para mim, Alice estava realmente protegendo ele, — Kellan diz
gentilmente.
Bane balança a cabeça. — Mas não faz sentido. Ela deveria estar
caçando sangue esta noite, mas em vez disso...
— Ela ficou ao meu lado? — Ryder pergunta, enquanto me olha com
afeto.
Eu aceno em resposta.
— Ela ficou ao seu lado e não se afastou de você.
Ryder se inclina e me beija na bochecha.
— Obrigado.
— Pelo quê? — Eu pergunto com um sorriso.
— Por me proteger.
Eu acaricio sua bochecha. — Ela não queria sair do seu lado, mas o
que aconteceu quando você foi até Max? E minha culpa você ter se
machucado. — Ainda não sei o que aconteceu quando pedi a Ryder para
ir checar Max.
Ryder se recosta no sofá e olha para frente. — Não, não foi sua culpa.
Quando saí para ver onde ele estava, ele estava no chão de quatro,
grunhindo e gemendo.
— Eu estava assistindo a coisa toda; eu não queria acreditar no que
estava vendo na minha frente. Ele estava lutando para manter o controle,
mas quando ele me olhou diretamente nos olhos, ele parou de lutar e
começou a se transformar.
— Em um segundo, ele estava no chão, e no próximo era eu quem
estava no chão. Eu nem vi o ataque acontecendo. Foi instantâneo. — Ele
faz uma pausa.
— Como eram os olhos dele? — Kellan pergunta.
Ryder limpa a garganta. — Eles eram azuis. Então, ele é o Beta de
alguém.
— Max está sempre sozinho. Eu nunca o vi com outra pessoa, exceto
quando ele está comigo.
Mesmo na escola, ele está sempre sozinho.
Ryder olha para mim, mas ele não diz nada. — Ainda há uma matilha
por aí em algum lugar, e temos que encontrá-la.
— Esta é uma boa notícia! Agora, sabemos quem é o responsável pelos
assassinatos. — Silver diz isso com um sorriso, e de alguma forma isso me
incomoda muito. Silêncio.
— Essa é uma acusação séria, Silver, — Kellan diz suavemente.
Ela encolhe os ombros. — Quem mais poderia ser responsável pelos
assassinatos? Encontramos o assassino, pessoal!
Eu balanço minha cabeça. — Não é Max. Ele não faria isso.
Silver inclina a cabeça. — Como você saberia? Você não sabe nada.
— Eu sei mais do que você. Max não mataria pessoas inocentes e não
mataria minha mãe. A reação dele no restaurante não foi falsa.
Silver ri. — Sabe, Alice, as pessoas podem atuar. Nesse caso, Max é um
bom ator e também um bom mentiroso!
— Pare com isso, Silver. Você não sabe que tipo de pessoa ele é.
Suportes de Silver e biquinhos. — E você sabe? Porque pelo que ouvi,
você não conhece Max. Se você o conhecesse bem, ele teria lhe contado o
que ele era e confiado em você com a informação. Ele provavelmente
nunca confiará em você.
Ela se afasta, deixando-me olhar para ela com desgosto.
Eu balanço meu olhar para Ryder. — Max não é o assassino.
Ryder me olha com pena. — Nós não sabemos disso, Alice.
— Eu sei! Ele não é a pessoa que matou minha mãe. Ele simplesmente
não faria isso.
— E as fotos de vocês? Por que de repente você está defendendo ele?
— Ryder, ele tem sido acusado de muitas coisas recentemente. Suas
expressões para tudo o que aconteceu são exatamente as mesmas que as
nossas. Acho que ele é inocente em tudo isso.
Ryder não parece nada satisfeito.
Eu coloco minha mão em seu joelho. — Deixe-me falar com ele e ver
qual é a sua história. Ele vai me contar tudo desta vez porque não há mais
nada a esconder.
Ryder pensa muito sobre isso, mas cada um de nós nesta sala quer
saber quem realmente é Max Fields.
Quando Ryder acena com a cabeça, eu sei que tenho que obter tantas
respostas de Max quanto possível para provar a Ryder e aos lobos que ele
não é um assassino.
Capítulo Dezesseis
Alice

Max era um lobo.


Um metamorfo.
Como nós.
Isso é algo que eu nunca pensei que diria.
Achei que Max era apenas o cara novo na escola, um cara que tinha
acabado de se mudar para Small Town, mas acabou sendo alguém
completamente diferente.
Ainda acho que estou vivendo em um mundo onde isso é apenas um
sonho, ou um pesadelo no meu caso. Eu vou acordar, minha mãe vai
estar viva, eu vou voltar ao normal, Sam nunca foi atacada e Max nunca
veio para Small Town.
Tudo seria normal. Eu queria que fosse assim tão fácil.
Não perco tempo procurando Max porque sei exatamente como ele
deve estar se sentindo agora. Quero dizer, como você explica algo assim?
Mas não há nada com que Max deva se preocupar porque estamos
ambos na mesma posição.
Ele provavelmente vai querer saber como me tomei um lobo em
primeiro lugar, e se ele me perguntar isso, não hesitarei em dizer a
verdade, mas em troca, espero o mesmo dele.
É justo.
Desta vez serei eu a mandar uma mensagem para ele me encontrar na
lanchonete, porque é justo que eu entre em contato com ele depois da
noite passada. Conhecendo Max, ele provavelmente vai querer evitar as
pessoas por um tempo, especialmente eu e Ryder.
Eu mando uma mensagem para ele me encontrar no restaurante ao
meio-dia, mas depende completamente dele, se ele aparecer. E sua
decisão no final, se ele quer se abrir para mim ou não.
Eu preciso de respostas mais do que tudo agora, mas quanto mais eu
penso em como Max pode ser responsável pelos assassinatos nesta
cidade, não faz sentido que ele faça algo assim.
Eu sei em meu coração que Max nunca poderia fazer uma coisa
dessas. Ele pode ter mentido no passado, mas sempre foi gentil e
amigável. Não há nada nele que me diga que poderia matar alguém. Ele
simplesmente não faria isso.
Espero por Max no restaurante por cerca de trinta minutos e, durante
esse tempo, estou uma pilha de nervos. Estou ansiosa para ver se ele vai
aparecer, mas talvez Max não esteja pronto para falar comigo hoje.
Assim que pego minha bolsa, a porta da lanchonete se abre.
Poderia ser ele?
Olho para a entrada do restaurante e vejo uma figura alta se
aproximando de mim, e pelo jeito que essa pessoa se porta, é um cara.
Ele usa um moletom preto com o capuz levantado, uma jaqueta jeans,
jeans pretos rasgados e botas pretas. Ele anda com as mãos nos bolsos e
com a cabeça voltada para o chão, evitando todo contato visual com
todos.
Ele veio.
Quando ele se senta à minha frente, ele ainda não olha para cima e
também não diz uma palavra.
Há tantas perguntas que quero fazer a ele, mas preciso ter cuidado
com o que pergunto e como faço, porque não quero que pareça que o
estou interrogando.
— Max?
Ele ainda não me reconhece.
— Max? — Digo o nome dele novamente; ele olha brevemente para
mim, mas olha para baixo novamente. Parece que não dormiu nada.
E agora?
Respiro fundo e expiro.
— Você era um lobo todo esse tempo? — Eu pergunto
cautelosamente.
Ele zomba. — Você também era.
Eu limpo minha garganta. — Você sabia que eu era um?
Ele levanta a cabeça e me encara.
— Você sabia? — Eu imploro.
Uma pausa, mas então ele balança a cabeça lentamente.
— Como você sabia?
— Seu cheiro é incrivelmente forte. Eu não sei se é porque você é uma
fêmea ou porque você é um lobo novo.
— Sou nova e ainda estou aprendendo.
Max acena com a cabeça. — Não é fácil aprender suas novas
habilidades. Especialmente escondendo seu cheiro dos outros. Deixe-me
ser o primeiro a dizer isso.
— Quanto tempo você levou para esconder seu cheiro?
— Cinco anos.
Eu suspiro com isso.
— Minha mãe queria que eu aprendesse a me proteger. Então eu
aprendi.
Proteger-se de quem ou o quê exatamente?
— Max, por que você não me confrontou se você sabia?
Max dá de ombros. — Não cabia a mim fazer isso. Se você quisesse me
dizer o que você era, você teria me dito, mas você não disse. Eu posso
entender o porquê.
Acho que ninguém se sentiria confortável em dizer às pessoas que elas
são metamorfas.
— Você teria me dito que você era um lobo? — Ele olha para longe de
mim. — Provavelmente não. Não é algo que você possa dizer facilmente a
uma pessoa.
— Não estou chateada por você não ter me contado, Max, porque
concordo que não é fácil contar às pessoas o que você é.
— Quero dizer, se eu nunca tivesse conhecido Ryder, eu teria levado
esse segredo para o túmulo. Eu não gostaria que as pessoas soubessem
que os metamorfos realmente existiam.
— Mas eles existem e vão continuar existindo.
Isso era verdade.
— Então, alguém sabe que você é um lobo?
Max acena com a cabeça. — Sim, minha mãe.
Agora, você e Ryder também.
Acho melhor não contar a ele que os lobos também sabem sobre ele.
'Você nasceu assim?
Ele acena novamente. — Sim.
Assim como Ryder.
— E quanto ao seu pai?
Max pensa por um momento. — Ele é um lobo também,
aparentemente. Isso é o que minha mãe diz, de qualquer maneira, mas
acho que ele não sabe que eu fiquei assim.
— Você vai encontrá-lo Max. Apenas continue tentando.
Ele zomba. — Eu tentei, mas não parece que ele quer ser encontrado.
Eu franzi a testa. — O que você quer dizer?
— Esta não é a primeira vez que venho procurar meu pai.
Eu franzi a testa. — Você já veio para Small Town antes?
Ele concorda.
— Quando?
Ele pensa. — Cerca de um ano atrás, eu acho.
Procurei por ele em todos os lugares, mas não consegui encontrá-lo.
— Quanto tempo você ficou? Talvez você não tenha ficado tempo
suficiente aqui? — Ele suspira. — Fiquei por cerca de uma semana, mas
tive que sair depois do que fiz. — Ele desvia o olhar, com uma expressão
triste.
O que há de errado com ele?
— Max?
Ele não diz nada, mas olha pela janela.
O que ele fez?
— O que aconteceu com você, Max?
Uma pausa.
— Nada aconteceu comigo. Eu fiz algo para outra pessoa.
Eu não digo nada. Eu só espero que Max continue.
Ele fecha os olhos. — Eu não consigo lembrar o que aconteceu
exatamente. Mas havia lua cheia naquela noite.
— Foi sua primeira lua cheia?
Ele balança a cabeça. — Não, mas foi a primeira lua cheia depois que
eu saí de casa. Minha mãe costumava me manter no porão para me
impedir de perder o controle.
— Então, o que você fez exatamente para deixar Small Town?
Ele olha para mim com arrependimento em seus olhos, e o olhar que
ele me dá me preocupa.
— Ataquei alguém e acho que essa pessoa pode ter morrido.
Small Town era um lugar relativamente pequeno, e era uma cidade
onde todos conheciam todos. Então, enquanto ouço Max falar, a única
pessoa que vem à mente que morreu foi Anna, irmã de Ryder.
Mas certamente Max não foi responsável por seu assassinato. Ele
simplesmente não podia ser.
Eu descartei o pensamento imediatamente. — Você matou alguém?
Ele coloca o rosto nas mãos. — Foi um acidente. Eu não queria que
isso acontecesse.
Meus olhos se arregalaram. — O que você quer dizer?
Ele me olha com lágrimas nos olhos. — Se eu não tivesse me
defendido, eu teria morrido.
Eu franzi a testa. — O quê?
— Fui atacado por um lobo naquela noite, e aquele lobo só tinha uma
coisa em mente. Sangue.
Max continua com sua história.
— Eu estava na floresta e corri por muito tempo. Fiquei tão animado
que não precisei ficar no porão por mais uma lua cheia. Fiquei na forma
humana e também não perdi o controle.
— Nem uma vez eu pensei em sangue. A única coisa que estava em
minha mente naquela noite era a liberdade. Eu finalmente passei dessa
fase de não precisar caçar ou matar, mas depois percebi que era a noite
errada para estar na floresta.
Uma parte de mim não quer ouvir o que ele tem a dizer em seguida,
mas a outra parte de mim quer.
— O que aconteceu? — Eu sussurrei.
— Eu podia ouvir algo me seguindo, e quando parei e me virei, o que
estava me seguindo logo se revelou. — Max limpa a garganta.
— Era um lobo de aparência frágil que não parecia nada saudável, e
pelo jeito que estava agindo comigo, eu sabia que era um lobo selvagem
que estava caçando, atrás de sangue.
— O lobo investiu contra mim, e antes que pudesse chegar até mim,
mudei o mais rápido que pude para me proteger. Lutamos pelo que
pareceram horas, e lutamos até que houvesse apenas um lobo de pé.
E esse lobo era Anna. Uma pausa.
Eu aperto meus olhos fechados. — Apenas me responda isso, Max.
Este pode não ser o momento certo para perguntar isso, mas eu
preciso saber.
Abro os olhos e olho para Max, que parece completamente esgotado.
— Você matou ou não matou minha mãe?
Max me olha direto nos olhos. — Eu não matei sua mãe, e nunca o
faria.
Todo o meu corpo solta um suspiro aliviado.
Outra pausa.
— Isso significa que você me odeia agora?
O que ele fez foi errado, mas foi um acidente. — Eu não odeio você, Max,
mas eu não acho que o que você fez com aquele lobo foi certo.
Ele acena para si mesmo, mas não diz nada.
Eu me inclino para frente na minha cadeira e pego suas duas mãos nas
minhas. — Max, eu quero que você me escute com muito cuidado.
— OK.
— Não conte a ninguém sobre o que você me disse hoje, você está me
ouvindo?
Ele franze a testa. — Por quê?
— Porque se você contar essa história para a pessoa errada, você será
morto.
— O quê? Por quem?
Por Ryder.
Eu suspiro. — Só não conte a ninguém, Max. Guarde para você.
Capítulo Dezessete
Alice

Sabendo o que aconteceu com Anna e quem foi o responsável por isso,
não pude deixar de pensar que o resultado para Max não seria bom.
Se Ryder descobrir que Max foi quem matou sua irmã, ele o matará
instantaneamente. Ryder não vai se importar que tenha sido um
acidente.
Tudo o que ele vai querer é acabar com a vida de Max, e eu sei que
Ryder não hesitará em fazer isso. Espero que Ryder nunca descubra a
verdade porque isso vai arruiná-lo e causar-lhe mais dor.
E melhor que ele não descubra o que Max fez. Segredos são feitos para
serem guardados para nós mesmos, mas de alguma forma os segredos
sempre aparecem no final.
*
Naquela noite eu me encontro na cama de Ryder, onde nós dois
ficamos acordados. Nós dois olhamos ansiosamente nos olhos um do
outro. Nenhuma palavra é dita por nenhum de nós.
Olhar nos olhos verdes brilhantes de Ryder me faz sentir
completamente sem fôlego e perdida. Com autoridade, ele agarra meus
quadris com as mãos e me puxa contra seu corpo musculoso. Estou
enfraquecida por seu toque suave e sedutor.
Enquanto pressiona seu corpo contra o meu e olha nos meus olhos,
ele me puxa e me beija. Meu corpo inteiro se enche de calor. O beijo é
lento e suave, é reconfortante de maneiras que as palavras nunca serão.
A mão de Ryder repousa abaixo da minha orelha, seu polegar
acariciando minha bochecha enquanto nossas respirações se misturam.
Meus dedos percorrem sua espinha e o puxam para mais perto de mim
até que não haja espaço entre nós.
Eu o puxo para mais perto até que eu possa sentir as batidas de seu
coração contra o meu.
Ryder se afasta e olha para mim. — Vou parar por aqui antes que vá
mais longe.
Eu coloco minhas mãos em seus braços. — Boa ideia.
Ryder deita de costas e me puxa para seu peito.
Fecho os olhos para tentar adormecer, mas depois de hoje sei que não
vou conseguir.
Esta nova informação estará em minha mente constantemente, e eu
nunca serei capaz de esquecê-la. Eu odeio o fato de que estou mantendo
o que Max fez com Anna em segredo de Ryder, mas o que mais posso
fazer?
— Ryder? — Eu sussurro.
— Sim? — Ele sussurra de volta.
— Eu só quero que você saiba que eu realmente me importo com
você, — eu gaguejo.
Ele não diz nada.
— Ryder?
Ele permanece quieto. — Ryd...
Ele me corta. — Você está terminando comigo? — Eu zombo e viro
meu corpo completamente para olhar para ele. — O quê?
Ele me encara. — Quando as pessoas dizem coisas assim, geralmente
significa que estão terminando com a pessoa com quem estão.
Eu rio e coloco minha mão em seu braço. — Eles costumam dizer
coisas assim quando estão em um relacionamento. Mas não estamos em
um relacionamento, Ryder.
Ele franze a testa. — Nós não estamos em um relacionamento?
Ele achou que nós estávamos?
Eu não posso deixar de sorrir com isso. — Não, Ryder. Não estamos.
Silêncio.
Eu me deito em seu peito, e ele passa a mão pelo meu cabelo.
— Alice? — Ele sussurra.
— Mm?
Mais silêncio.
— Você quer estar em um?
Sorrio para mim mesma, embora ele não possa me ver. — Estar no
quê?
— Em um relacionamento.
Não digo nada, embora já saiba minha resposta.
— Esqueça! Não disse nada.
Eu suspiro e o encaro novamente. — Você não disse nada?
Ele revira os olhos. — Essa foi a coisa mais embaraçosa que já
perguntei a alguém na minha vida.
Eu me inclino, a apenas alguns centímetros de seus lábios. — Me
pergunte de novo.
Ele olha dos meus olhos para os meus lábios e de volta para os meus
olhos novamente. — Alice?
— Sim, Ryder?
Ele fecha os olhos, respira fundo e depois abre os olhos. — Você quer
ser minha namorada?
Eu sorrio. — Achei que você nunca fosse perguntar.
Ryder bate seus lábios nos meus, e quase tira o ar dos meus pulmões.
Faíscas voam em todas as direções, e o mundo desaparece lentamente
ao meu redor, junto com minhas preocupações, problemas e problemas.
Ryder me faz sentir como se nada importasse. É um beijo pequeno, mas
quente, mas eu nunca soube que um beijo poderia ser tão íntimo e
eletrizante ao mesmo tempo. Seus lábios se movem em perfeita sincronia
com os meus.
Ele me puxa para mais perto, o beijo se aprofunda e se toma mais
apaixonado, mas antes que as coisas prossigam, sou eu quem me afasta.
— Ryder?
Ele me olha com desejo. — Sim, Alice?
— Você é meu primeiro namorado.
Ele me encara, sorri e então me beija na testa. — Bom, porque eu sou
seu primeiro e último namorado.
Ele me puxa de volta para seu peito, e ficamos assim durante toda a
noite, nos braços um do outro.
Capítulo Dezoito
Alice

A noite passada foi perfeita.


Ficamos abraçados até as primeiras horas da manhã. Eu não queria
acordar dos braços de Ryder, ou deixar o conforto de sua cama.
Mas eu tenho que encontrar respostas. Todas as manhãs, a primeira
coisa em minha mente é quem matou minha mãe e as pessoas com quem
me importo.
Isso é tudo o que importa para mim, porque não poderei viver sem
fazer justiça para o Sr. Daniels, Terry e minha mãe.
A manhã na casa dos lobos passou em paz. Cada um fez sua rotina
matinal. A primeira coisa que Bane fez foi mudar e explorar a área ao
redor da propriedade, especialmente a floresta.
Kellan preparou o café da manhã para todos e nos disse para nos
servirmos de qualquer coisa que quiséssemos.
Ryder estava ao telefone conversando com Tom para saber alguma
notícia, mas, como sempre, não havia nada para Tom relatar, além de que
a polícia está fazendo tudo o que pode para encontrar o assassino.
E Silver? Ela não estava por perto durante toda a manhã e não havia
retomado ao meio-dia.
Pelo que parece, Ryder desistiu de rastrear para onde ela vai e, de
qualquer maneira, o dia corre melhor sem ela, então não estou
reclamando de sua ausência. Ninguém mais está.
Depois do almoço com os lobos, menos Silver, passo o dia assistindo
televisão com eles.
É estranho pensar que, quando conheci os lobos, não aguentei ficar na
companhia deles por mais de dois minutos, e agora que estou morando
com eles, me sinto protegida e confortável em sua companhia.
Estar com eles provavelmente foi a decisão certa a fazer porque estou
com minha própria espécie, e sinto que realmente pertenço ao lado deles.
Quando os créditos do filme passam na tela, ouvimos alguém batendo
à porta. Olhamos um para o outro confusos porque ninguém vem ver os
lobos, a não ser Tom, mas ele não bate — ele entra direto.
Kellan vai ver quem está lá e, ao fazê-lo, Bane e Ryder imediatamente
ficam em alerta máximo. Eu, por outro lado, continuo a observar a tela.
— Que porra você está fazendo na minha casa? — Ryder grita.
Um arrepio percorre minha espinha com as palavras de Ryder, e
lentamente me viro para ver quem está lá. Meus olhos se arregalam
quando vejo Max parado na porta da sala.
Max olha brevemente para mim, mas olha diretamente para Ryder. —
Eu só vim aqui para conversar.
— Você quer morrer, Fields? Eu acho que você quer. Depois do que
aconteceu na biblioteca, não tenho nada para dizer a você.
Max inclina a cabeça. — Quem disse que eu queria falar com você?
Também não tenho nada a dizer a você.
Por que ele está aqui? Especialmente depois do que ele me disse
ontem?
Ryder se move para ficar na frente de Max e o encara. — Você vem à
minha casa e ao meu território, sem ser convidado, — diz Ryder. — Você
sabe o quão desrespeitoso isso é para um Alfa? — Max balança a cabeça.
— Eu não sou uma ameaça para você ou sua matilha. Eu vim por conta
própria para falar com Alice. Isso é tudo.
Ryder zomba. — O que faz você pensar que minha namorada quer
falar com você?
Max se vira para olhar para mim, e seu rosto mostra que ele está
magoado com essa declaração. Eu olho para longe dele.
— Namorada ou não, eu ainda preciso perguntar uma coisa a ela.
O que ele precisava me perguntar?
Bane e Kellan sentam-se um ao lado do outro no sofá e assistem à
televisão, evitando o que quer que seja.
— Diga o que você tem a dizer e dê o fora, — diz Ryder.
— Eu meio que esperava falar com ela a sós.
Os olhos de Ryder se arregalam. — Ou você diz isso agora na frente de
todo mundo ou vai embora.
Max dá de ombros, — Tudo bem. Faça do seu jeito. — Prendo a
respiração, ansiosa para ver o que ele vai dizer, mas espero que ele não
diga o que eu acho que ele vai dizer. Se Max contar a Ryder o que ele fez
com sua irmã, essas serão as últimas palavras que Max dirá.
— Eu só queria perguntar a Alice se ela consideraria me ter como seu
Beta.
Ryder faz uma careta. — Como é que é?
Ele olha diretamente para mim. — Eu quero estar na matilha dela. —
Não consigo formar nenhuma palavra porque nunca pensei que
precisaria de uma matilha, e nunca pensei que alguém estaria disposto a
se juntar a mim.
Antes que eu possa dizer qualquer coisa para Max, Ryder interrompe.
— Nunca.
Max franze a testa. — Por que você tem uma palavra a dizer sobre
isso?
— Por que Alice iria querer que alguém como você fosse o Beta dela?
— Alguém como eu?
Ryder faz uma careta. — Sim, alguém como você. Você é um
mentiroso, então não pode ser confiável.
Max apenas balança a cabeça.
Eu queria que Max estivesse na minha matilha?
Eu lentamente saio do sofá e me aproximo dos dois machos. — Max,
para ser honesta com você, nunca pensei em ter uma matilha, — digo a
ele.
— Você é uma Alfa, certo?
Eu concordo. — Sim.
Max dá um passo para perto de mim, e Ryder rosna.
Ele para e aponta para si mesmo. — Sou um Beta que não tem um
Alfa, e pelo que parece, você é uma Alfa que precisa de uma matilha. Sem
uma matilha, Alice, você é um alvo fácil para outros lobos.
— Agora, isso pode parecer triste, mas eu odeio não estar cercado por
lobos. Na verdade, você é a primeira loba que conheci em Small Town,
mas só quero proteger alguém e cumprir meu dever como Beta.
Ele meio que sorri para mim. — Quando vi que seus olhos estavam
vermelhos, eu sabia que havia esperança para mim, afinal.
Mais uma vez, Ryder interrompe. — Não há necessidade de outra
pessoa para protegê-la.
Max olha para Ryder com irritação. — Não depende de você! Você tem
sua matilha, Ryder, então deixe Alice decidir o que ela quer.
Olho para Ryder e Max, e não consigo pensar no que dizer.
Isso tudo aconteceu tão rápido que não consigo acompanhar toda a
conversa.
Ryder coloca as mãos nos bolsos. — Ouça, Max, depois de tudo o que
aconteceu, você realmente acha que ela vai querer você como seu Beta?
— Você mentiu para ela várias vezes, tirou fotos dela e agora espera
que ela apenas aceite você como parte de sua matilha?
— Admito que menti, mas contei a Alice tudo o que ela queria saber, e
quanto a essas fotos? Eu nunca encostei nelas.
Ambos os machos se encaram por um longo tempo, então Ryder
suspira e chama meu nome.
— Sim?
— O que você diz disso?
Eu olho para cima e encaro cada um deles individualmente. — Você
não tem um Alfa? Como sua mãe ou seu pai?
Max balança a cabeça. — Minha mãe quer viver em paz. E quanto ao
meu pai? Eu não sei.
— Então, você ainda tem um Alfa por aí? — Eu pergunto.
Max dá de ombros. — É minha decisão quem eu quero seguir, e eu
quero seguir você.
Ryder olha para mim, intrigado, enquanto Max olha para mim com
um sorriso caloroso.
Eu suspiro. — Eu não estou dizendo sim para ser sua Alfa.
Ryder sorri para isso.
— Mas também não estou dizendo não.
Os olhos de Max se arregalam. — Como você vai decidir? — Ele
pergunta.
De repente, uma voz fala. — A confiança tem que ser conquistada,
Max.
Todas as cabeças se voltam para Bane.
Bane se levanta e olha para nós. — O que você fez no passado, isso não
pode ser perdoado facilmente. Você tem que provar ao Alfa que você tem
o que é preciso para se tomar o Beta de um. — O tipo de Beta que fará
qualquer coisa para proteger seu Alfa, mesmo que isso resulte em morte.
Você está preparado para colocar sua vida em risco para proteger seu
Alfa?
Max não hesita. — Eu faria qualquer coisa por ela.
Bane acena com a cabeça. — Trabalhe em sua honestidade. Talvez
então ela considere ter você.
Ele volta a se sentar, deixando todos atônitos. Ryder olha para mim
com uma carranca no rosto. — Diga-me que você não está realmente
considerando isso?
— Eu não sei, Ryder!
— Inacreditável.
— Você mesmo disse que eu preciso de uma matilha.
Ryder balança a cabeça e aponta para Max. — Não com ele.
— Esta é minha decisão, Ryder. Não é sua.
Ryder não diz nada. Ele apenas me encara.
Olho para Max e suspiro. — Por causa de tudo, Max, vou precisar
pensar sobre isso.
Ele concorda. — Compreendo.
— Vou te dar minha resposta assim que decidir.
— Leve o tempo que precisar.
E com isso, Max sai.
Enquanto tomava banho naquela noite, percebi que as roupas que
Ryder me deu desde o início da minha estadia estavam acabando.
No momento em que saio do banho, com uma toalha enrolada em
volta de mim, procuro em todo o meu quarto qualquer tipo de roupa
para vestir, mas volto de mãos vazias.
Eu usei tudo que Ryder me deu. O que eu poderia vestir agora?
Quando ando até o quarto de Ryder, ainda enrolada em uma toalha,
vejo que ele já está dormindo.
Sério?
Eu penso em pedir a Bane e Kellan suas roupas, mas seria
inapropriado pedir para vestir suas roupas, então a única pessoa que
resta na casa é...
Eu poderia odiar a ideia de entrar no quarto dessa pessoa, mas a única
opção que me restava era olhar no quarto de Silver.
Estava vazio.
Vou até o quarto dela, abro um pouco a porta e enfio a cabeça para
dentro. Olho da esquerda para a direita para verificar se ela não está lá e
entro.
Eu ando para o fundo do quarto dela e fico na frente das portas do
guarda-roupa. Eu pego minhas duas mãos e as coloco nas maçanetas e as
abro.
Como a luz do quarto dela não está acesa, é difícil ver o que ela tem
aqui. Silver usa roupas reveladoras, então espero que o que eu escolher
vestir seja algo confortável. Tudo que eu quero é algo confortável para
usar na cama.
Existem dois níveis no guarda-roupa. No primeiro nível estão as
roupas penduradas em cabides e, no segundo nível, as roupas empilhadas
ordenadamente umas sobre as outras.
Eu fico na ponta dos pés para alcançar a menor pilha, mas minhas
pernas começam a tremer por manter a posição e eu acidentalmente
puxo a pilha de roupas para baixo, junto com outra coisa. Algo pesado,
em um saco plástico.
Eu me ajoelho no chão e olho para a bolsa. Abro lentamente e olho
para dentro, e o que vejo causa um arrepio na minha espinha, porque o
que vejo me faz mal ao estômago.
Uma arma ensanguentada está deitada de lado com sangue espalhado
por toda a bolsa, especialmente no cabo da arma.
Levo a arma até o nariz e inalo o sangue.
O cheiro familiar faz meu coração parar por um momento.
Eu tinha minhas dúvidas sobre um taco de beisebol como a arma
usada para acertar Sam, porque ela teria morrido imediatamente com o
impacto. Eu tinha certeza de que o sangue manchado na arma pertencia
a Sam.
Silver machucou minha melhor amiga.
Meu coração ainda bate, mas meu peito parece vazio. Meus olhos
ainda enxergam, mas o mundo ao meu redor parece distante. Minha
mente começa a desligar, incapaz de funcionar mais.
Estou chocada. Eu nunca teria pensado que Silver era a responsável
pelo que aconteceu com Sam.
Meu rosto fica rígido, minha mandíbula aperta e meus dentes rangem
um contra o outro. Eu nunca senti raiva assim antes.
Será que ela pensou que iria se safar com algo assim?
Quero saber o que mais ela fez, e vou descobrir esta noite.
Capítulo Dezenove
Alice

As roupas que eu tinha puxado para baixo tinham alguns itens


decentes para eu usar, afinal. No momento em que me vesti, peguei o
saco plástico com a arma dentro e entrei no quarto de Ryder.
Eu me aproximo dele em silêncio e coloco uma mão em seu braço. Ele
se mexe e me olha interrogativamente.
— Ryder?
— Sim? — Ele olha para a minha roupa e franze a testa. — Aonde você
está indo?
— Apenas saindo para tomar um ar. Eu já volto.
Ele me encara por um momento, então acena com a cabeça em
compreensão.
Eu me inclino e o beijo nos lábios, sem saber se esta pode ser a última
vez que vou beijá-lo.
No momento em que saio do quarto de Ryder, volto para o quarto de
Silver e pego uma peça de roupa descartada do chão. Saio pela porta da
frente da casa e sigo para a noite.
Olho com desgosto para as roupas de Silver que tenho em minha mão,
mas se eu quiser encontrá-la e questioná-la, só há uma maneira de fazer
isso. Seguindo o cheiro dela.
Coloco a peça de roupa debaixo do nariz e inalo. Não tenho ideia de
como isso funciona ou se estou fazendo certo, mas vou continuar
tentando sentir o cheiro dela enquanto for preciso.
Vou encontrá-la e confrontá-la sobre a arma com sangue.
Estou parada no meio do nada, inalando a camiseta da pessoa que
acertou minha melhor amiga na nuca com uma arma.
O saco plástico ainda está na minha mão, minha raiva ainda intacta.
Tento sentir o cheiro da camiseta, mas quando penso que minha
inexperiência está tornando isso inútil, uma rajada de vento passa e sinto
um cheiro doce e frutado no ar.
O cheiro tem um aroma parecido com o cheiro de perfume, e por ser
o único cheiro incomum que inalei até agora, decidi segui-lo.
Quanto mais caminho em direção a ela, mais forte fica o aroma, e
quando começo a perceber que o caminho que estou andando é familiar,
olho ao redor e franzo a testa para onde acabei.
Na escola.
Suas portas estão escancaradas, e imediatamente penso na noite em
que tudo deu errado.
Silver deve estar aqui, considerando que o cheiro da camisa me levou
a este lugar, então, sem pensar, vou em direção ao prédio.
Entro na escola e atravesso os corredores escuros e vazios, direto para
a sala onde tenho inglês. Não me surpreendo quando vejo uma luz acesa.
Eu simplesmente atravesso a porta e olho ao redor da sala de aula.
— Nós nos encontramos novamente, senhorita Smith.
Eu balanço meu olhar para olhar para a frente da sala. Está escuro,
mas reconheço sua voz. Ainda assim, não posso deixar de rosnar quando
vejo quem é.
Sr. Edmund está sentado atrás de sua mesa com um sorriso no rosto.
— Onde ela está? — Eu exijo.
Ele apenas dá de ombros. — Onde está quem?
Meu corpo inteiro treme de raiva. — Onde está Silver?
Ele franze a testa, mas algo me diz que ele sabe exatamente onde ela
está. — O que faz você pensar que eu sei onde Silver está?
Eu bato a camiseta em sua mesa e olho para ele com os olhos
arregalados. — Diga-me agora, ou vou destruir este lugar.
Ele aponta para a camisa. — Essa peça de roupa é dela?
— Sim! — Eu estalo.
Ele ri. — Então, se a camiseta dela trouxe você aqui, você mesma sabe
que ela está aqui em algum lugar.
Eu me inclino mais perto de seu rosto. — Então traga-a para esta sala
agora!
— Por quê? Ela fez alguma coisa? — Ele me olha zombeteiro.
— Ela bateu na minha melhor amiga com isso! — Eu rugi.
Eu seguro o saco plástico de cabeça para baixo e deixo a arma e o
sangue cair em sua mesa.
Sr. Edmund apenas olha para a arma com uma expressão entediada.
— E o que eu faço com isso?
— O que você quiser, mas eu preciso falar com ela agora! Então, se
você sabe onde ela está, e eu sei que sabe, diga a ela que preciso vê-la
agora mesmo! — Eu grito.
— Sabe, se você quer respostas, eu posso facilmente dar a você.
Isso chama minha atenção. — O que você sabe? — Ele se inclina para
frente em sua cadeira. — Eu sei que Silver não atingiu Sam por acidente.
Eu franzi a testa. — O quê? Como?
— Eu pedi para ela fazer isso. E ela fez isso sem hesitar.
Eu suspiro. — Por quê? Por que você faria isso? — Ele sorri para si
mesmo, sai da cadeira e vai até a janela do lado direito da sala. — Silver
queria informações minhas, e eu disse a ela que o que ela queria saber
não viria de graça.
Eu o encaro, mas ele vira as costas para mim.
— Eu disse a ela que se ela fizesse tudo o que eu pedisse, eu diria a ela
a resposta para a pergunta que ela tinha para mim.
Ele se vira para olhar para mim. — Ela fez tudo por mim, e agora vou
dizer a ela o que ela quer saber. Na sua frente.
A primeira coisa que ouço é o rosnado, então vejo o pelo, a cor cinza e
os olhos azuis gelados olhando diretamente para mim.
Ela está aqui.
Os pelos da nuca ficam eriçados e ela não esconde os dentes afiados.
Ela sabe por que estou aqui, mas eu sei o que ela fez.
Ela entra na sala de aula e fica ao lado do Sr.
Edmund. Ela se inclina para baixo, e ele a acaricia na cabeça com um
sorriso no rosto. Vou para o meio da sala de aula, bem na frente de Silver,
e espero.
Sr. Edmund para de acariciá-la e se move para ficar na frente dela. —
Tão belas criaturas que somos.
Eu cerro os dentes. — Qual foi a pergunta que ela fez para você?
Meus punhos estão fechados com tanta força que posso sentir o suor
preso dentro deles.
— Silver queria saber como ela poderia se tomar uma Alfa. Você vê, ela
quer sua posição Alfa para que ela possa conquistar o coração de Ryder.
Eu apenas espero para ver o que ele tem a dizer em seguida, e suas
palavras me fazem tremer.
Ele olha para Silver. — A única maneira de se tomar um Alfa é se você
matar um, querida.
Ele então ri maldosamente.
— Por que ela não mata você em vez disso? — Eu cuspo.
Ele sorri. — Eu não sou aquele que ela odeia, e definitivamente não
sou aquele que roubou seu amante, mas dizendo isso, nós
compartilhamos alguns momentos íntimos juntos.
— Quando digo que ela fez qualquer coisa que eu pedi, quero dizer
absolutamente qualquer coisa.
Eu desvio o olhar com desgosto. Não suporto olhar para nenhum
deles.
O Sr. Edmund suspira. — A arma nunca deveria ser encontrada, mas
você a encontrou, então as coisas estão indo um pouco mais rápido do
que eu esperava.
Eu balanço meu olhar de volta para ele. — O que mais você poderia
tirar de mim?
Ele não diz nada sobre isso.
— Ainda não sei quem matou minha mãe!? — Eu grito. — Quem a
matou!?
O que ele diz em seguida toma difícil para eu respirar. — Ela está bem
na sua frente, Alice.
Eu a encaro com os olhos arregalados e caio de joelhos. As lágrimas
brotaram como água de uma represa, escorrendo pelo meu rosto.
— Eu disse a ela para matar as pessoas em quem você mais confia.
Foram três pessoas no total.
Eu posso ouvir o sorriso em sua voz. — O Sr. Daniels, seu querido
professor com quem você compartilhou suas preocupações. O chef do
restaurante que era quase como um pai para você, e depois sua mãe
gentil e maravilhosa.
— Bem, agora isso não precisa de explicação.
Eu olho para ele, meus olhos pingando de lágrimas. — Você é um
monstro.
Ele cruza os braços sobre o peito. — Chame-me do que quiser, mas eu
terminei aqui. Vou deixar Silver com isso.
Quando ele dá um passo para sair, ele de repente para e inclina a
cabeça para a porta da sala de aula. Ele zomba. — Parece que você não
está sozinha, Alice. Você trouxe Ryder aqui com você?
Com isso, Silver olha para fora da porta e solta um pequeno gemido.
Não posso dizer nada, porque parece que meu coração está se
partindo novamente.
— Que diabo é isso? — Sr. Edmund abre a porta e rosna.
Em um minuto o Sr. Edmund está parado na porta de sua sala de aula,
e no próximo ele é empurrado de volta, atravessando a sala de aula e indo
para a janela. Ele cai no chão como uma boneca de pano. Desmaiado.
O rosnado de Silver aumenta quando ela olha para a porta, e eu olho
para ver quem está lá.
Olho para a porta e suspiro de alívio quando vejo um lobo negro
entrar na sala. O lobo preto rosna para o lobo cinza.
Ryder! Ele veio!
Ryder e Silver circulam um ao outro, mas é Ryder quem ataca
primeiro. Ele vai direto para o pescoço de Silver, mas ela vê o ataque
vindo e se esquiva. Ryder rosna e avança novamente, mas é empurrado
contra a parede, amassando-a.
Silver pula em Ryder e morde em qualquer lugar que ela possa colocar
os dentes. Com as patas traseiras, Ryder empurra Silver de cima dele. Eles
circulam um ao outro novamente. Ambos os lobos mostram seus dentes
afiados um para o outro, com baba escorrendo deles.
Quando começo a me levantar do chão para detê-los, minha atenção é
atraída para a porta da sala de aula novamente quando ela se abre.
Quando vejo quem entra pela porta, meu coração para. É Ryder, seguido
por Kellan e Bane.
Eu suspiro de horror.
Se é Ryder parado na porta, então esse outro lobo preto deve ser Max.
— Max? — Eu sussurro.
O lobo preto se vira para olhar para mim, com seus olhos azuis
brilhando para mim. Os olhos de um Beta.
Mas no momento em que Max vira a cabeça para mim, eu sei que fiz
algo errado porque dá a Silver muito tempo para ir para o pescoço de
Max. Ela envolve os dentes em tomo de seu pescoço largo e torce.
Quando ouço um osso quebrando, grito tão alto que o Sr. Edmund
acorda do chão.
O lobo preto cai no chão e não se move.
— Max! — eu grito.
Eu corro para ele. Ele se transformou de volta em seu corpo humano.
Eu seguro sua cabeça em minhas mãos e rezo para que ele esteja bem.
Seus olhos estão um pouco abertos, mas há marcas de mordida e sangue
cobrindo a maior parte de seu corpo.
Eu olho para Silver, que também voltou à sua forma humana, mas é
segurada na garganta por Ryder.
Kellan e Bane só podem olhar para ela com desgosto.
— O que você fez? — Ryder exige.
Ela tenta erguer as mãos de Ryder longe dela, mas ele só aperta mais
forte.
— Eu... sinto muito, — ela resmunga.
— O que você fez!? — Ele ruge.
Os olhos de Silver saltam de seu rosto, por causa da força de Ryder.
Eu só posso olhar com horror. — Você atacou Sam? — Pergunta
Ryder.
Ela não responde de imediato.
— Silver! — Ryder grita, fazendo-a choramingar.
— S... sim.
Ryder cerra os olhos. — Você matou a mãe de Alice também?
Seus olhos se movem para olhar para mim e ela rosna, mas ela não
hesita em responder à pergunta de Ryder. — Sim. Eu fiz isso, e faria de
novo— — Antes que ela possa terminar, Ryder corta sua garganta.
Sangue espirra por todas as paredes e sobre Ryder. Ele a deixa cair no
chão e olha para mim, com arrependimento em seus olhos.
Sabendo quem matou minha mãe, eu só conseguia chorar
silenciosamente para mim mesma.
Silver matou minha mãe. E todo esse tempo, compartilhei uma casa
com uma assassina.
O som de palmas chama a atenção de todos. — Eu tenho que dizer,
Oliver, você não mudou nada. — Uma voz profunda quebra o silêncio.
Um homem de quarenta e tantos anos entra na sala de aula com um
sorriso no rosto.
Ele não parece incomodado com a cena horrível em que entrou.
— Mark? — Sr. Edmund diz com os dentes cerrados. Ele se levanta e
encara o recém-chegado. E a primeira vez que vejo o Sr. Edmund
zangado.
O homem olha para ele com um sorriso arrogante. — Sentiu minha
falta?
— O que diabos você está fazendo de volta em Small Town? — O Sr.
Edmund ferve.
De volta?
É quando Max se mexe e olha para essa pessoa, Mark. — Pai?
O homem entra na sala de aula e vê Max deitado no chão com a
cabeça no meu colo. — Max?
O recém-chegado vai direto para Max e se ajoelha ao lado dele,
verificando-o. — Você está bem?
Do nada, alguém começa a rir, e essa pessoa é o Sr. Edmund. — Bem,
esta noite não poderia ter sido melhor.
— Oliver, sobre o que você está tagarelando agora? — Mark franze a
testa e vai confrontá-lo. Ambos começam a discutir e insultar um ao
outro.
— Esse é o seu pai? — Pergunto calmamente a Max enquanto o Sr.
Edmund discute com Mark.
Max balança a cabeça. — Não, ele é meu padrasto. — Max se esforça
para dizer.
O quê!?
Do nada, a voz do Sr. Edmund enche a sala de aula.
— Você tirou meu filho de mim! Onde diabos ele está!?
Silêncio.
— Esse aí é seu filho! Ele esteve debaixo do seu nariz esse tempo todo!
— Mark grita enquanto aponta para mim e Max.
Nós dois olhamos para cada um em choque total e absoluto.
Que porra está acontecendo?
O Sr. Edmund olha para Max com uma expressão que não consigo
distinguir. Max, por outro lado, olha para o Sr. Edmund com pavor.
— Meu filho...?
— Ele veio para Small Town para procurar por você, Oliver.
O Sr. Edmund ainda encara Max por um longo tempo, mas depois
volta a olhar para Mark. — Por que você voltou?
Marco dá de ombros. — Recebi uma ligação da polícia e eles querem
falar comigo sobre algo.
Uma pausa.
O Sr. Edmund sorri para o homem. — Bem-vindo de volta à Small
Town, Mark. Sua filha adoraria conhecê-lo.
Eu e o homem nos encaramos, com expressões diferentes.
Eu olho para ele com horror.
Ele me olha com espanto.
Diga-me que isso não está acontecendo.
— Filha? — Eu sussurro para mim mesma.
Esse é meu pai?
— Alice?
Fim do Livro Dois
Continua no Livro 3…
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