Toxoplasmose Na Gestação - MedQ 3

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Obstetrícia

TEMA: TOXOPLASMOSE NA GESTAÇÃO O rastreamento é realizado durante o pré-natal,


através de testes sorológicos; como os
INTRODUÇÃO imunoenzimáticos (ELISA), para detecção de
anticorpos IgG/IgM contra o Toxoplasma gondii.
A toxoplasmose é uma doença infecciosa causada
pelo protozoário Toxoplasma gondii, encontrado O IgM aparece em 2 semanas após infecção e
nas fezes de felinos (ex. gatos) e que pode se permanece positivo por anos. O IgG tem pico após
hospedar em humanos e outros animais (por 6-8 semanas da infecção e reduz nos 2 próximos
exemplo, em gatos, ovelhas e porcos). anos, mantendo-se positivo.
A toxoplasmose é uma das TORCHS, doenças que
Obs: a gestação é causa comum de testes falso-
são teratogênicas e causam aumento da
positivos.
morbimortalidade fetal.

Há diversos genótipos do parasita, sendo que a Soroconversão


América do Sul tem os mais virulentos. Ocorre quando as sorologias estão negativas na
primeira consulta, mas ao longo das consultas
ETIOLOGIA subsequentes tornam-se positivas (infecção
aguda).
O T. gondii é um parasita intracelular obrigatório e
tem 3 formas: esporozoíto, encontrado nas fezes Outra opção é quando temos IgM e IgG positivos;
do hospedeiro definitivo; taquizoítas, encontrado neste caso há possibilidade do IgM ser um falso
na fase aguda de infecção; e bradizoíto, forma positivo ou estar positiva sem infecção ativa
encontrada nos cistos teciduais. (lembrar que o IgM se mantém positivo por até 6
meses!). Nesses casos pode-se realizar IgG
A gestante desenvolve a toxoplasmose ao ingerir
seriado, IFI IgM (eliminar falso-positivo) e em até
carne e ovos mal cozidos ou frutas e verduras 16º semanas de gestação realizar o teste de
contaminadas, contato com felinos e manipulação avidez de IgG (se está estiver ALTA, há baixa
de alimentos crus. probabilidade de infecção aguda - indica infecção
crônica, >4 meses).
A transmissão para o feto ocorre via
transplacentária e é mais grave, porém mais difícil IMPORTANTE: A chance de infecção no começo da
no início da gestação. Com o aumento da idade gestação é baixa, mas quando infecta o dano é
gestacional, o risco de transmissão aumenta mas alto. Da mesma forma, as infecções no final da
sua gravidade diminui. gestação possuem pouco prejuízo.
QUADRO CLÍNICO INTERPRETAÇÃO DOS EXAMES
O quadro clínico é inespecífico, podendo se
manifestar com febre, linfadenopatia (+ comum) e No pré-natal são solicitados os anticorpos IgG e
outros sintomas gerais ou até mesmo ser IgM contra toxoplasmose.
assintomático. A coriorretinite é mais comum na
reativação #DICA: a toxoplasmose na gestação costuma ser
cobrada como interpretação dos testes e a conduta
O grande problema é a infecção durante a a ser realizada (orientação quanto à prevenção,
gestação, pois o protozoário pode contaminar o exames adicionais, tratamento).
feto via transplacentária e causar a Toxoplasmose
Congênita, quadro preocupante que pode levar a
abortamentos e diversas outras alterações ao
neonato que serão melhor exploradas a seguir. IgG - e IgM -
Indica gestante suscetível. Devemos
RASTREAMENTO orientar cuidados de prevenção, como evitar

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Este material é elaborado de forma colaborativa, sendo vedadas práticas que caracterizem plágio ou violem direitos autorais e/ou de propriedade intelectual.
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alimentos crus ou mal cozidos, lavar bem frutas e real – sensibilidade e especificidade adequadas).
verduras, evitar contato com felinos e suas fezes. Pode ser realizado a partir da 16-18º semana de
gestação nas gestantes com sorologia confirmada
Os exames são repetidos trimestralmente. (espera-se 2 semanas após a confirmação).
IgG + e IgM -
Ultrassonografia fetal
Gestante imune, já teve infecção prévia.
Não necessita repetir os exames. Usado no diagnóstico das complicações da
toxoplasmose fetal. Mostra:
IgG - e IgM + ● Hidrocefalia, calcificações cerebrais, ascite
fetal e alterações de ecotextura hepática e
Representa infecção aguda e recente, mas esplênica.
pode ser um falso-positivo. ● Realizado mensalmente nos casos de
infecção aguda da gestante.
Inicia-se a espiramicina e repetimos os ● Presença de sinais anormais pode
exames em 3 semanas. Então, se vem IgG + com determinar a mudança do tratamento, da
IgM +, confirma o diagnóstico e seguimos com o espiramicina para o tratamento tríplice.
tratamento e avaliação fetal. Se IgG permanece
negativo, é um falso-positivo e a espiramicina é Quando o diagnóstico é suspeitado pelo
suspendida. ultrassom, sem seguir o protocolo de rastreio,
devemos solicitar a sorologia materna para
IgG + e IgM + toxoplasmose e citomegalovírus.
Representa indício infecção aguda, mas
REPERCUSSÕES CLÍNICAS PARA O RN
devemos fazer o teste de avidez de IgG para
verificar se é recente ou antiga, nas gestantes com
A maioria nasce assintomático. As 3 principais
menos de 16 semanas. Se acima de 16 semanas, já manifestações são corioretinite, calcificação
inicia-se o tratamento. intracraniana e hidrocefalia.
A alta avidez (> 60%) indica infecção
Repercussões fetais: aborto, prematuridade,
antiga. Entre 30 a 60% o teste é indeterminado. A
baixo peso e RCIU, hidrocefalia, calcificações
baixa avidez (< 30%) indica baixa avidez e infecção cerebrais, hepatoesplenomegalia, calcificações
aguda, sendo indicado tratamento e avaliação hepáticas, ascite, derrame pleural ou pericárdico,
fetal. espessamento da placenta e catarata.

Neonatal: coriorretinite, hidrocefalia e


CONFIRMAÇÃO DA INFECÇÃO CONGÊNITA calcificações cerebrais.

Sequelas tardias (1º infância): deficiência visual,


A transmissão para o feto é via transplacentária de
cognitiva e epilepsia. Coriorretinite em 90% dos
taquizoítos e ocorre na fase parasitemia, dias após
casos.
a infecção materna e antes da resposta
imunológica.
Mais informações no resumo “Clínica neonatal >
doenças infecciosas”.

Amniocentese CONDUTA

Para confirmar a infecção no feto, procede-se com A terapia - profilática ou curativa - deve ser
pesquisa de T. gondii no líquido amniótico iniciada o mais precoce, logo após documentação
(amniocentese). O melhor exame a se fazer com o da infecção materna e antes da amniocentese. A
material coletado é o PCR (somente em tempo conduta baseia-se na idade gestacional do
diagnóstico.
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PROFILAXIA DA TRANSMISSÃO FETAL ○ Espiramicina, 1g de 8/8 horas, até o final da


gravidez.
Na profilaxia da transmissão vertical utiliza-se as ○ Não está indicada quando há certeza ou
seguintes drogas: mesmo probabilidade muito grande de
infecção fetal. Nesses casos, está indicado
- ESPIRAMICINA 3g/d. Redução 50% da taxa o tratamento tríplice que atua sobre o feto.
de transmissão vertical. Tem o objetivo de ● Confirmada infecção aguda após a 30º
tratar a gestante, visto que não ultrapassa semana:
a barreira placentária. ○ Tratamento tríplice materno.
○ Pirimetamina, 25 mg de 12/12 horas.
É iniciada no primeiro trimestre (<14 ○ Sulfadiazina, 1.500mg de 12/12 horas.
semanas). ○ Ácido folínico, 10mg/dia (prevenção de
aplasia medular causada pela
Se gestante em uso de SPAF por pirimetamina – também há risco de
soroconversão no 2-3º trimestre e o PCR anemia megaloblástica).
for negativo, trocamos por espiramicina.
É indicado USG mensal para avaliação.
TRATAMENTO DA INFECÇÃO FETAL

Em caso de confirmação de infecção fetal (PCR do


líquido amniótico), ou forte suspeita, utiliza-se a POLÍTICA DE USO
terapia tríplice: Este material é elaborado de forma colaborativa,
sendo vedadas práticas que caracterizem plágio ou
- SULFADIAZINA, PIRIMETAMINA, ÁCIDO violem direitos autorais e/ou de propriedade
FOLÍNICO (SPAF) (tratamento tríplice). intelectual. Qualquer prática dessa natureza ou
contrária aos Termos de Uso da Comunidade MedQ
É iniciada no 2º trimestre (>14 semanas) ou pode ser denunciada ao setor responsável pelo
>30º semana de gestação e é mantido até canal de suporte.
o parto. Evita-se utilizar no início, pois pode
ter efeito teratogênico.

Se paciente estiver em uso de espiramicina


e confirmar infecção fetal, nós trocamos
pelo esquema SPAF.

SEGUIMENTO PRÉ-NATAL

● Se IgG/IgM negativas faço prevenção –


sorologia mensal ou bimensal e evitar fatores
de risco (evitar consumo e manipulação de
alimentos crus e consumo de água não
filtrada, realizar higienização das frutas e
alimentos, evitar limpar a caixa de areia dos
gatos).
● Se IgG positivo/IgM negativo – gestante é
imune, dou seguimento na rotina pré-natal.
● Confirmação da infecção materna aguda
antes da 30º semana:

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