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Carmajúlia Da Nelma Brito Gove

Evolução do Constitucionalismo e o Constitucionalismo Moçambicano.


Introdução
CONCEITO

Esse movimento de ruptura foi conhecido como o constitucionalismo, tendo a seguinte


definição por Dirley da Cunha Júnior :

Um movimento político-constitucional que pregava a necessidade da elaboração de


Constituições escritas que regulassem o fenômeno político e o exercício do poder, em
benefício de um regime de liberdades públicas.

Já Manoel Gonçalves conceitua o constitucionalismo como um "movimento político e


jurídico [...] visa estabelecer em toda parte regimes constitucionais, quer dizer governos
moderados, limitados em seus poderes, submetidos a constituições escritas"

Para Ramos Tavares fica evidente que o constitucionalismo foi um movimento de cunho
jurídico mais também de forças sociais.

O aspecto jurídico revela-se pela pregação de um sistema dotado de um corpo normativo


máximo, que se encontra acima dos próprios governantes - a Constituição. O aspecto
sociológico está na movimentação social que confere a base de sustentação dessa limitação
do poder, impedindo que os governantes passem a fazer valer seus próprios interesses e
regras na condução do estado.

HISTÓRICO

Faz-se necessário diferenciar as duas fases do constitucionalismo: o constitucionalismo


antigo e o constitucionalismo moderno.

Canotilho traça um paralelo entre os dois constitucionalismos:

Fala-se em constitucionalismo moderno para designar o movimento político, social, cultural


que, sobretudo a partir de meados do século XVII, questiona nos planos político, filosófico e
jurídico os esquemas tradicionais de domínio político, sugerindo, ao mesmo tempo, a
invenção de uma forma de ordenação e fundamentação do poder político. Este
constitucionalismo, como o próprio nome indica, pretende opor-se ao chamado
constitucionalismo antigo, isto é, o conjunto de princípios escritos ou consuetudinários
alicerçadores da existência de direitos estamentais perante o monarca e simultaneamente
limitadores do seu poder. Estes princípios ter-se-iam sedimentado num tempo longo, desde os
fins da Idade Média até o século XVII
CONSTITUCIONALISMO ANTIGO
Exemplos de constitucionalismo antigo têm-se o constitucionalismo hebreu e grego, os quais
unicamente almejavam descentralizar a vida política, vez que não existiam leis escritas que
regulamentassem a ordem civil, nem as penalidades aplicáveis para quem as descumprissem.
Esse constitucionalismo apenas objetivava "limitar alguns órgãos do poder estatal como
reconhecimento de certos direitos fundamentais, cuja garantia se cingia no esperado respeito
espontâneo do governante, uma vez que inexistia sanção contra o príncipe que desrespeitasse
os direitos de seus súditos."

Os primórdios do movimento constitucionalismo surgiram entre os hebreus, através da lei do


Senhor, num Estado Teocrático, governado pela casta sacerdotal, logo existia um limite no
poder político, como bem afirma Ramos Tavares.

Posteriormente, teve-se o movimento do constitucionalismo nas cidades Gregas, onde os


cidadãos populares eram eleitos para cargos públicos, através de um regime de votação,
peculiar na época, ocorre que por mais primitiva que fosse essa votação, existia uma
participação do povo na vida política, consolidando assim uma real democracia.

CONSTITUCIONALISMO NA IDADE MÉDIA

A Idade Média é marcada pela época do despotismo, pela soberania dos governantes tratados
como deuses. Uma verdadeira forma absolutista de governar, vez que não existiam limitações
a suas condutas, aplicavam penalidades e impunham condutas desumanas não previstas em
leis, não havia um poder maior que o do próprio governante, logo esse estava imune de
qualquer sanção.

Todavia, foi durante a Idade Média, mas precisamente na Inglaterra, que culminou o anseio
por um luta de liberdades e garantias fundamentais ao individuo, objetivando romper com o
padrão absolutista e centralizador até então vigente.

Contudo, é ainda na Idade Média que o constitucionalismo reaparece como o movimento de


conquista de liberdades individuais, como bem o demonstra a aparição de uma Magna Carta.
Não se limitou a impor balizas para a atuação soberana, mas também representou o resgate de
certos valores, como garantir direitos individuais em contraposição à opressão estatal.

É possível afirmar que a Inglaterra, a despeito de ter sido inovadora no acabamento de u texto
constitucional, nunca criou uma Constituição escrita no modelo difundido a partir dos
Estados Unidos, sendo certo que seus institutos de natureza constitucional permanecem
assentados em tradições e costumes do povo.
Assim pode-se afirmar que o maior legado deixado pela Idade Média, em relação ao
constitucionalismo foi o fato de que todo poder político deve ser limitado em lei para que seja
justo e democrático, respeitando as garantias e direitos individuais. Porém Nicola Matteucci
assevera que, Contudo, na Idade média ele foi um simples principio, muitas vezes pouco
eficaz, porque faltava um instituto legitimo que controlasse, baseando-se no direito, o
exercício do poder político e garantisse aos cidadãos o respeito á leipor parte dos órgãos do
Governo.A descoberta e aplicação concreta desses meios é própria, pelo contrário, do
Constitucionalismo Moderno

CONSTITUCIONALISMO MODERNO

O constitucionalismo moderno eclodiu em meados do século XVII com características


próprias e com a ideologia de limitação do poder estatal preservando os direitos e garantias
fundamentais, transcrevendo os anseios populares, a lei do povo- A Constituição Escrita.
Foi um movimento cuja

Noção de Constituição envolve uma força capaz de limitar e vincular todos os órgãos do
poder político.Por isso mesmo, ela é concebida como um documento escrito e rígido,
manifestando-se como uma norma suprema e fundamental, porque hierarquicamente superior
a todas as outras, das quais constitui o fundamento de validade que só pode ser alterado por
procedimentos especiais e solenes previstos em seu próprio texto.Como decorrência disso,
institui um sistema de responsabilização jurídico-politica do poder que a desrespeitar,
inclusive por meio de controle de constitucionalidade dos atos do Parlamento.

O constitucionalismo moderno vem romper com as barreiras de garantias fundamentais


limitadas pelos Estados Absolutistas, destruindo o paradigma de soberania e supremacia das
forças estatais. Trouxe o ideal de justiça, de direito igualitário e acima de tudo de organização
na seara da política governamental, limitando o poder de atuação do Estado e
descentralizando os poderes-executivo, legislativo e judiciário, pautando em um documento
de lei-a Constituição.

A Constituição passa a ser o referencial de direito e justiça, vez que como menciona
Cunha uma força capaz de limitar e vincular todos os órgãos do aparelho estatal.

Para Canotilho a Constituição moderna é uma "[...] ordenação sistemática e racional da


comunidade política através de um documento escrito no qual se declaram as liberdades e os
direitos e se fixam os limites do pode político."

Portanto, "[...] a constituição deixa de ser concebida como simples manifesto político para ser
compreendida como uma norma jurídica fundamental e suprema, elaborada para exercer
dupla função: garantia do existente e programa ou linha de direção para o futuro"
É salutar esclarecer que a primeira constituição escrita, formalmente elaborada com as leis
que regulamentavam as condutas e determinavam a estrutura de poder, foi a Constituição da
França editada em 1791, o qual tinha como preâmbulo a Declaração Universal dos Direitos
Humanos promulgada em 1789.

Insta acentuar que na visão política o constitucionalismo moderno se amalgama com o


liberalismo, visto que esse pregava por uma doutrina econômica que privilegiasse o individuo
e a sua liberdade, a livre iniciativa, limitando o poder estatal em detrimento das liberdades
individuais, bem como galgava por uma maior independência entres os poderes estatais-
legislativo e o judiciário, os quais no Absolutismos eram controlados e exercidos pelo poder
executivo, por fim tinha-se uma política pela qual o Estado se submeteria ao direito, que por
sua vez garantiria aos cidadãos direitos e liberdades invioláveis.

Com Pós-1ª Guerra Mundial emergiu no constitucionalismo moderno uma nova cosmovisão
política, pois deixou de lado os idéias liberais de não intervenção do Estado (liberalismo
econômico), da livre iniciativa, ou seja aboliu o laissez-faire e priorizou um Estado do Bem
Estar Social.

Passaram, pois as constituições a configurar um novo modelo de Estado então liberal e


passivo agora social e intervencionista, conferindo-lhe tarefas diretivas, programas e fins a
serem executados através de prestações positivas oferecidas à sociedade. A história, portanto,
testemunha a passagem do Estado liberal ao Estado social e, consequentemente, a
metamorfose da Constituição, de Constituição Garantia, Defensiva ou Liberal para a
Constituição Social, Dirigente, Programática ou Constitutiva.

Tal movimento, segundo Manoel Gonçalves, ficou conhecido como a racionalização do


poder.

Por um lado, o após-guerra, ao mesmo tempo que gerava novos Estados que, todos adotaram
constituições escritas, o disassocia do liberalismo.Os partidos socialistas e cristãos, cujo peso
se faz então acentuadamente sentir, impõe, às novas constituições uma preocupação com o
econômico e com o social.Isso repercute especialmente nas declarações constitucionais de
direitos que combinam, de modo às vezes indigesto, as franquias liberais e os chamados
direitos econômicos e sociais.

Com o fim da Primeira Guerra Mundial os Estados perceberam a necessidade de intervir na


sociedade de forma a promover o bem estar social, a paz, a recondução a vida publica dos
cidadãos, por meio de oferecimento de serviços públicos, de saúde, alimentação, tratamentos
médicos, educação, com fulcro sempre na promoção do desenvolvimento econômico-social,
haja vista a barbárie social que eclodia no mundo.

Essa racionalização visou implantar em normas jurídicas condutas e assistências sociais que
promovessem o desenvolvimento social e econômico, ocorre que, segundo bem acentua
Manoel Gonçalves:
Em todos esses Estados faltavam as condições mínimas para que um poder democrático
pudesse subsistir. Crise econômica, minorias raciais em conflito, agitação extremista,
ausência de tradição liberal etc. conspiravam contra a sobre vivencia de suas constituições
democráticas. Ora, não é possível suprir por regras jurídicas a ausência do substrato
econômico e social próprio a cada regime. A racionalização tentou obviar essa lacuna mas,
empenhando-se em tarefa impossível, não podia ter êxito como não teve.

A Constituição Brasileira de 1988 elenca nos seus artigos 170 e 193 ideais de um
constitucionalismo moderno seja ele numa política democrática sócio-liberal, o conhecido
Estado Democrático de Direito, como pode ser observado na transcrição dos artigos acima
epífragados.

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre


iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social observados os seguintes princípios:

 Soberania nacional

 Propriedade privada

 Função social da propriedade

 Livre concorrência

 Defesa do consumidor

 Defesa do meio ambiente

 Redução das desigualdades regionais e sociais

 Busca do pleno emprego

 Tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte.

Art.193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem estar
social e a justiça social.

Por fim, Ramos Tavares afirma que a elaboração do texto constitucional teve a sua formação
e influência nos movimentos contratualistas que justificavam a agremiação do homem em
sociedade com base em um pacto, famoso contrato social de Rousseau. Não obstante o
mesmo elucida que:

Não mais se justificam, contudo, aquelas teorias, à luz do constitucionalismo moderno atual,
que atingiu um grau de maturidade e independência suficiente para se "legitimara si mesmo",
sem a necessidade de socorrer-se daquelas ficções contratuais anteriormente elaboradas. O
constitucionalismo, pois, exala uma energia, uma firmeza e uma estabilidade que o têm
sustentado até os dias de hoje.

CONSTITUCIONALISMO CONTEMPORÂNEO E GLOBALIZADO

Atualmente o constitucionalismo não se deu por pronto e acabado, está em constante


desenvolvimento, sempre observado as necessidades dos cidadãos e o desenvolvimento
socioeconômico.

Segundo Roberto Dromi o constitucionalismo deverá ser influenciado até se identificar com a
verdade, a solidariedade, o consenso, a continuidade, a participação, a integração e a
universalização.

O autor acima assegura que no constitucionalismo da verdade existem duas categorias de


normas:

Uma parcela, que é constituída de normas que jamais passam de programáticas e são
praticamente inalcançáveis pela maioria dos Estados; e uma outra sorte de normas que não
são implementadas por simples falta de motivação política dos administradores e governantes
responsáveis. As primeiras precisam ser erradicadas dos corpos constitucionais, podendo
figurar, no máximo, apenas como objetivos a serem alcançados a longo prazo, e não como
declarações de realidades utópicas, como se bastasse a mera declaração jurídica para
transformar-se o férreo em ouro.As segundas precisam ser cobradas do Poder Público com
mais força, o que envolve, em muitos casos,a participação da sociedade na gestão das verbas
públicas e a atuação de organismos de controle e cobrança, como o Ministério público, na
preservação da ordem jurídica e consecução do interesse público vertido nas cláusulas
constitucionais.

O que Dromi quis evidenciar foi que numa norma jurídica posta não pode existir normas
mortas, sem eficácia concreta na sociedade, se a lei é posta é porque deve ser comprida, se
existem lei programáticas essas devem atender as necessidades dos indivíduos e não
permanecerem estáticas e cristalizadas como meras declarações utópicas.

Já em relação àquelas que não são implementadas pelo poder público deve haver uma
participação popular cobrando a presteza dos serviços públicos, pois se tratam de um direito
coletivo, o qual não está sendo respeitado pelo gestor responsável, somente a força popular é
capaz de mobilizar o aparelho estatal e fiscaliza-lo, para que o mesmo tenha consentimento
de suas obrigações, a fim de que o mesmo cumpra com deveres preestabelecidos em lei e
ofereça uma continuidade na prestação de serviços públicos e sociais.
Em contrapartida, quanto ao constitucionalismo da continuidade, Dromi assevera que "é
muito perigoso em nosso tempo conceber Constituições que produzam uma ruptura da lógica
dos antecedentes, uma descontinuidade com todo o sistema precedente"

O autor teme que as novas Constituições rompam com a continuidade histórica traçada pelo
constitucionalismo, haja vista a existência de todo um modelo ideológico do liberalismo, do
Estado do Bem-Estar Social, uma vez que esses ideais são um dos alicerces construtores do
atual constitucionalismo.

No tocante a globalização, é notória que a União Européia visa consolidar uma Constituição
única para os paises que integram o bloco econômico. Com a ocorrência de tal fato poder-se-
ia falar em um constitucionalismo globalizado com uma miscigenação de povos, culturas,
costumes, princípios, regras e condutas que acabariam por eclodir na formação de uma única
nação com uma única Constituição certamente como elucida Ramos Tavares propagaria pela
unificação dos ideais humanos que seriam consagrados juridicamente.

Art.193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem estar
social e a justiça social.

Por fim, Ramos Tavares afirma que a elaboração do texto constitucional teve a sua formação
e influência nos movimentos contratualistas que justificavam a agremiação do homem em
sociedade com base em um pacto, famoso contrato social de Rousseau. Não obstante o
mesmo elucida que:

Não mais se justificam, contudo, aquelas teorias, à luz do constitucionalismo moderno atual,
que atingiu um grau de maturidade e independência suficiente para se "legitimara si mesmo",
sem a necessidade de socorrer-se daquelas ficções contratuais anteriormente elaboradas. O
constitucionalismo, pois, exala uma energia, uma firmeza e uma estabilidade que o têm
sustentado até os dias de hoje.

CONSTITUCIONALISMO CONTEMPORÂNEO E GLOBALIZADO

Atualmente o constitucionalismo não se deu por pronto e acabado, está em constante


desenvolvimento, sempre observado as necessidades dos cidadãos e o desenvolvimento
socioeconômico.

Segundo Roberto Dromi o constitucionalismo deverá ser influenciado até se identificar com a
verdade, a solidariedade, o consenso, a continuidade, a participação, a integração e a
universalização.

O autor acima assegura que no constitucionalismo da verdade existem duas categorias de


normas:

Uma parcela, que é constituída de normas que jamais passam de programáticas e são
praticamente inalcançáveis pela maioria dos Estados; e uma outra sorte de normas que não
são implementadas por simples falta de motivação política dos administradores e governantes
responsáveis. As primeiras precisam ser erradicadas dos corpos constitucionais, podendo
figurar, no máximo, apenas como objetivos a serem alcançados a longo prazo, e não como
declarações de realidades utópicas, como se bastasse a mera declaração jurídica para
transformar-se o férreo em ouro.As segundas precisam ser cobradas do Poder Público com
mais força, o que envolve, em muitos casos,a participação da sociedade na gestão das verbas
públicas e a atuação de organismos de controle e cobrança, como o Ministério público, na
preservação da ordem jurídica e consecução do interesse público vertido nas cláusulas
constitucionais.

O que Dromi quis evidenciar foi que numa norma jurídica posta não pode existir normas
mortas, sem eficácia concreta na sociedade, se a lei é posta é porque deve ser comprida, se
existem lei programáticas essas devem atender as necessidades dos indivíduos e não
permanecerem estáticas e cristalizadas como meras declarações utópicas.
Já em relação àquelas que não são implementadas pelo poder público deve haver uma
participação popular cobrando a presteza dos serviços públicos, pois se tratam de um direito
coletivo, o qual não está sendo respeitado pelo gestor responsável, somente a força popular é
capaz de mobilizar o aparelho estatal e fiscaliza-lo, para que o mesmo tenha consentimento
de suas obrigações, a fim de que o mesmo cumpra com deveres preestabelecidos em lei e
ofereça uma continuidade na prestação de serviços públicos e sociais.
Em contrapartida, quanto ao constitucionalismo da continuidade, Dromi assevera que "é
muito perigoso em nosso tempo conceber Constituições que produzam uma ruptura da lógica
dos antecedentes, uma descontinuidade com todo o sistema precedente"

O autor teme que as novas Constituições rompam com a continuidade histórica traçada pelo
constitucionalismo, haja vista a existência de todo um modelo ideológico do liberalismo, do
Estado do Bem-Estar Social, uma vez que esses ideais são um dos alicerces construtores do
atual constitucionalismo.

No tocante a globalização, é notória que a União Européia visa consolidar uma Constituição
única para os paises que integram o bloco econômico. Com a ocorrência de tal fato poder-se-
ia falar em um constitucionalismo globalizado com uma miscigenação de povos, culturas,
costumes, princípios, regras e condutas que acabariam por eclodir na formação de uma única
nação com uma única Constituição certamente como elucida Ramos Tavares propagaria pela
unificação dos ideais humanos que seriam consagrados juridicamente.

A Constituição da República Popular de Moçambique de 1975, as suas revisões e a I


República (1975-1990).

A proclamação da independência de Moçambique ocorreu às zero horas do dia 25 de junho


de 1975, altura em que passou a vigorar a sua primeira Constituição, com a designação de
“Constituição da República Popular de Moçambique” (CRPM), texto com 73 artigos e a
seguinte sistematização inicial:29

Título I – Princípios Gerais.

Título II – Direitos e Deveres Fundamentais dos Cidadãos.

Título III – Órgãos do Estado

Capítulo I – Assembleia Popular

Capítulo II – Comissão Permanente da Assembleia Popular


Capítulo III – Presidente da República

Capítulo IV – Conselho de Ministros

Capítulo V – Organização Administrativa e Órgãos locais do Estado

Capítulo VI – Organização Judiciária

Título IV – Símbolos da República Popular deMoçambique

Título V – Disposições Finais e Transitórias.

O primeiro texto constitucional moçambicano, no cotejo com os textos constitucionais


africanos lusófonos da sua geração, acusava a influência do constitucionalismo soviético,30
ainda que tivesse introduzido importantes alterações marcando alguma originalidade na
modelação do seu recém-criado Estado Constitucional.

Em relação à definição do novo Estado, assinalavam-se preocupações com a construção pós-


colonial da Nação Moçambicana: “A República Popular de Moçambique, fruto da resistência
secular e da luta heróica e vitoriosa do Povo Moçambicano, sob a direção da FRELIMO,
contra a dominação colonial portuguesa e o imperialismo, é um Estado soberano,
independente e democrático”.

O CONSTITUCIONALISMO DE MOÇAMBIQUE E A CONSTITUIÇÃO... 463

Esta obra está bajo una Licencia Creative Commons Atribución-NoComercial-SinDerivar 4.0
Internacional, IIJ-UNAM. Boletín Mexicano de Derecho Comparado, núm. 152, pp. 449-475.
2) Contrariamente ao sucedido no país irmão de Angola, em Moçambique passar-se-ia o
inverso no fim dessa guerra: primeiro fez-se uma nova lei constitucional, e só depois se
aprovou o Acordo de Paz. Foi assim que em 1990 se adotou a primeira Constituição da
República de Moçambique de uma nova fase (CRM1990),44 aprovada ainda pela Assembleia
Popular em 2 de novembro de 1990 e com início de vigência a 30 do mesmo mês, seguindo
no fundamental a sistematização estabelecida na CRPM, de 1975, com os seguintes títulos,
num total de 206 artigos:

Título I – Princípios fundamentais

Capítulo I – A República

Capítulo II – Nacionalidade

Capítulo III – Participação na vida política do Estado


Capítulo IV – Organização económica e social

Capítulo V – Defesa Nacional

Capítulo VI – Política externa

Título II – Direitos, deveres e liberdades fundamentais

Capítulo I – Princípios gerais

Capítulo II – Direitos, deveres e liberdades

Capítulo III – Direitos e deveres económicos e sociais

Capítulo IV – Garantias dos direitos e liberdades.

Título III – Órgãos do Estado

Capítulo I – Princípios gerais

Capítulo II – Presidente da República

Capítulo III – Assembleia da República

Capítulo IV – Conselho de Ministros.

Capítulo V – Conselho Nacional de Defesa e Segurança

Capítulo VI – Tribunais

Capítulo VII – Procuradoria-Geral da República

Capítulo VIII – Conselho Constitucional

Capítulo IX – Órgãos Locais do Estado

Capítulo X – Incompatibilidades

Título IV – Símbolos, moeda e capital da República

Título V – Revisão da Constituição.


Título VI – Disposições finais e transitórias.

Ao longo da sua vigência de 14 anos, a CRM de 1990 foi objeto de algumas revisões
constitucionais:

Lei nº 11/92, de 8 de outubro: alteração da norma sobre a iniciativa da revisão constitucional,


aditando-se o nº 3 do art. 204 da CRM de 1990, permitindo que a mesma ocorresse depois
das eleições multipartidárias previstas no Acordo Geral de Paz;

Lei nº 12/92, de 9 de outubro: alteração de vários preceitos constitucionais na sequência da


assinatura do Acordo Geral de Paz, designadamente em matéria de direito de sufrágio para os
órgãos do Presidente da República e Assembleia da República;

Lei nº 9/96, de 22 de novembro: reformulação da organização territorial do poder público,


esclarecendo a legitimidade e as funções dos órgãos locais do Estado e dos órgãos do Poder
Local, este passando a ser um novo Título IV na sistemática do texto constitucional,
acomodando a reforma profunda feita na instalação de uma administração autárquica.

A Constituição da República de Moçambique de 2004 (2004-….): II ou III República?

1) A atual Constituição da República de Moçambique foi elaborada no âmbito de um


procedimento constitucional democrático, de cariz parlamentar e presidencial, já em
ambiente de parlamento pluripartidário. Embora não se pudesse duvidar da introdução do
modelo de Estado de Direito Democrático que a CRM1990 operou, o certo é que deste modo
a legitimidade do texto constitucional surgiria reforçada por dimanar de um parlamento
sufragado por eleições pluripartidárias.

2) Tem sido discutido se o aparecimento de uma nova Constituição como sucede a partir de
novembro de 2004 com a CRM— não implica automaticamente a mudança de regime
constitucional a ponto de se impor uma III República de Moçambique, à semelhança do que
sucedeu com a periodificação da história político-constitucional portuguesa.

Assim acontece com o surgimento de novos textos constitucionais, seja por revolução, seja
por transição, pois que os mesmos, contrastando com o passado constitucional, estabelecem
um novo projeto de Direito, alterando substancialmente a identidade constitucional.
É esse o resultado na esmagadora maioria das experiências de mudança de Constituição por
esse mundo fora, sendo até os textos constitucionais os símbolos das alterações ocorridas na
forma política, no sistema social e no regime económico dos Estados. 3) A doutrina
moçambicana pouco se tem dedicado ao assunto, pelo que estão em aberto as opções quer
pela manutenção da II República inaugurada em 1990 com a nova CRM quer pela referência
à III República – correspondente ao novo texto constitucional de 2004.

VII. Estrutura do articulado constitucional, influências recebidas e revisão pontual de 2007

1) O texto constitucional moçambicano é um dos mais extensos no conjunto das


Constituições de Língua Portuguesa,54 contando com 306 artigos, que se distribuem pelos
seguintes 17 títulos, antecedidos por um preâmbulo, e em muitos casos aqueles se
subdividindo em capítulos:

Título I – Princípios fundamentais

Capítulo I – República

Capítulo II –Política externa e Direito.

Internacional

Título II – Nacionalidade

Capítulo I – Nacionalidade originária

Capítulo II – Nacionalidade adquirida

Capítulo III – Perda e reaquisição da nacionalidade

Capítulo IV – Prevalência da nacionalidade e registo

Título III – Direitos, deveres e liberdades fundamentais

Capítulo I – Princípios gerais

Capítulo II – Direitos, deveres e liberdades

Capítulo III – Direitos, liberdades e garantias individuais


Capítulo IV – Direitos, liberdades e garantias de participação política

Capítulo V – Direitos e deveres económicos, sociais e culturais

Título IV – Organização económica, social, financeira e fiscal

Capítulo I – Princípios gerais

Capítulo II – Organização económica

Capítulo III – Organização social

Capítulo IV – Sistema financeiro e fiscal

Título V – Organização do poder político

Capítulo Único – Princípios gerais

TÍTULO VI – Presidente da República

Capítulo I – Estatuto e eleição

Capítulo II – Competências

Capítulo III – Conselho de Estado

Título VII – Assembleia da República

Capítulo I – Estatuto e eleição

Capítulo II – Competência

Capítulo III – Organização e funcionamento

Título VIII – Governo

Capítulo I – Definição e composição

Capítulo II – Competência e responsabilidade

Título IX – Tribunais
Capítulo I – Princípios gerais

Capítulo II – Estatuto dos juízes

Capítulo III – Organização dos tribunais

Título X – Ministério Público

Título XI – Conselho Constitucional

Título XII – Administração Pública, Polícia, Provedor de Justiça e Órgãos Locais do Estado

Capítulo I – Administração Pública

Capítulo II – Polícia

Capítulo III – Provedor de Justiça

Capítulo IV – Órgãos locais do Estado

Título XIII – Defesa Nacional e Conselho Nacional de Defesa e Segurança

Capítulo I – Defesa Nacional

Capítulo II – Conselho Nacional de Defesa e Segurança


Título XIV – Poder Local

Título XV – Garantias da Constituição

Capítulo I – Dos estados de sítio e de emergência

Capítulo II – Revisão da Constituição.

Título XVI – Símbolos, Moeda e Capital da República.

Título XVII – Disposições Finais e Transitórias.

No tocante às influências recebidas, ressalta a importância da Constituição da República


Portuguesa de 1976, não apenas nas opções substanciais, como paralelamente através dos
juristas que desempenharam um papel crucial na sua redação, o que se facilmente se
compreende por causa das ligações histórico-culturais de Moçambique a Portugal.
Mas é também justo assinalar a influência recebida de outros textos constitucionais de língua
portuguesa, como sucedeu com a Constituição Brasileira de 1988 em matéria de direitos
fundamentais e sistema de governo e com a Constituição de Timor-Leste de 2002 e a Lei
Constitucional da República de Angola de 1992 no tocante às regras sobre o pluralismo
jurídico e na relação do Direito Nacional com o Direito Internacional Público.

É verdade que hoje em que também se assiste a uma Globalização Constitucional, que
porventura terá sido uma das primeiras não se afigura fácil descortinar instituições
verdadeiramente marcantes dos sistemas jurídico-constitucionais: todos os sistemas se
interinfluenciam e os textos mais jovens recebem múltiplas e paralelas influências, algo que
pode ser triangularmente referenciado nos sistemas político-constitucionais de língua
portuguesa.

O texto constitucional moçambicano, aprovado em 2004, já teve uma pontual revisão


constitucional, levada a efeito pela Lei nº 26/2007, de 16 de novembro.

O sentido fundamental desta alteração foi o de permitir, com base em consenso partidário e
social, o adiamento das primeiras eleições das assembleias provinciais.

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