Texto 2-12-33
Texto 2-12-33
Texto 2-12-33
1. Este documento foi produzido por solicitação do Centro Regional para a Salvaguarda do Patrimônio Imaterial da América Latina (Crespial), que
coordenou, em outubro de 2007, levantamento sobre o estado da arte do patrimônio imaterial em dez países sul-americanos. A consultora também
realizou análises sobre os instrumentos legais estaduais de salvaguarda do patrimônio cultural, que serão consolidadas na Parte II desta publicação.
Contemplando as orientações então recebidas, o documento adequa-se à realidade do material brasileiro pesquisado. 11
patrimonio_imaterial:Layout 1 February/19/09 11:16 AM Page 12
Patrimônio Cultural Imaterial, entendendo por bem cultural de natureza imaterial “as
criações culturais de caráter dinâmico e processual, fundadas na tradição e manifestadas
por indivíduos ou grupos de indivíduos como expressão de sua identidade cultural e social”;
e ainda “toma-se tradição no seu sentido etimológico de ‘dizer através do tempo’, significando
práticas produtivas, rituais e simbólicas que são constantemente reiteradas, transformadas e
atualizadas, mantendo, para o grupo, um vínculo do presente com o seu passado”.
O conceito de patrimônio cultural imaterial é, portanto, amplo, dotado de forte viés
antropológico, e abarca potencialmente expressões de todos os grupos e camadas sociais.
Verifica-se no país a tendência ao seu entendimento e à sua aplicação aos ricos universos das
culturas tradicionais populares e indígenas. Tal tendência encontra sua base de apoio em
relevantes razões interligadas. Esses universos culturais abrigam circuitos de consumo, pro-
dução e difusão culturais organizados por meio de dinâmicas e lógicas próprias que diferem
em muito dos demais circuitos consagrados de produção cultural e, ao mesmo tempo, a eles
articulam-se importantes questões relativas ao desenvolvimento integrado e sustentável.
Esses processos culturais têm, também, larga história. Comportando inúmeras transformações
e re-significações, e derivando seus sentidos sempre da atualização em contextos do presente,
tais processos culturais podem evocar tanto a continuidade com o passado pré-colonial,
como no caso indígena, como a formação dinâmica da chamada cultura popular e do folclore
brasileiros configurados em especial desde o último quartel do século XVIII (ANDRADE,
1982).
A noção de patrimônio cultural imaterial vem, portanto, dar grande visibilidade ao
problema da incorporação de amplo e diverso conjunto de processos culturais – seus agentes,
suas criações, seus públicos, seus problemas e necessidades peculiares – nas políticas públicas
relacionadas à cultura e nas referências de memória e de identidade que o país produz para
si mesmo em diálogo com as demais nações. Trata-se de um instrumento de reconhecimento
da diversidade cultural que vive no território brasileiro e que traz consigo o relevante tema
da inclusão cultural e dos efeitos sociais dessa inclusão.
patrimonio_imaterial:Layout 1 February/19/09 11:16 AM Page 13
Vale observar que a própria noção de patrimônio cultural imaterial é, ela mesma, o
produto da significativa revisão das idéias relativas a concepções de desenvolvimento, a
programas educacionais e de democratização da cultura. Não se trata mais de garantir o acesso
a recursos, informações e instrumentos culturais às diferentes camadas e grupos sociais com
base em visões homogêneas e etnocêntricas de desenvolvimento, mas de favorecer não só
processos de desenvolvimento que integram as diferentes camadas e grupos sociais, como
também produtores de expressões culturais que importa a todos conhecer e valorizar. A noção
de patrimônio cultural imaterial é um sensível instrumento nessa direção.
As expressões patrimônio cultural intangível, ou mesmo cultura tradicional e popular e
patrimônio oral recobrem muitas vezes o mesmo universo de significados acima mencionados.
O Ministério da Cultura e o IPHAN optaram pela expressão patrimônio cultural imaterial,
tendo por fundamento o art. 216 da Constituição Federal de 1988, alertando, entretanto,
para a falsa dicotomia sugerida por esta expressão entre as dimensões materiais e imateriais
do patrimônio. As dimensões materiais e imateriais do patrimônio são conceitualmente 13
entendidas como complementares (IPHAN, 2006b, p. 18). Realça-se, todavia, o fato de que
a noção de patrimônio cultural imaterial permitiu destacar um conjunto de bens culturais
ANTECEDENTES HISTÓRICOS
em cada estado e promovendo amplo registro, estudo e difusão do folclore. De sua ampla
movimentação resulta, em 5 de fevereiro de 1958 (Decreto-Lei nº 43.178), a Campanha de
Defesa do Folclore Brasileiro, ligada ao então Ministério da Educação e Cultura. Essas
iniciativas pioneiras já se amparavam, de um lado, na própria trajetória do interesse pelo
folclore brasileiro que emerge desde as últimas décadas do século XIX e, de outro, no estímulo
trazido pelas recomendações da UNESCO, que viam também o folclore como um
instrumento a favorecer o entendimento e a compreensão entre os povos.
Na conformação do contexto atual do patrimônio cultural imaterial, destaca-se a
Constituição Federal promulgada em 1988, que, na seção acerca da Cultura, estabelece que
“o Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e
das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional” (art. 215). E já
considera tanto os bens de natureza material como imaterial como parte do patrimônio
cultural brasileiro:
14 Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza
material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores
de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores
Patrimônio Imaterial no Brasil: legislação e políticas estaduais
1958
• Criação da Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, vinculada ao Ministério
de Educação e Cultura.
1975
• Criação, por Aloísio Magalhães, do Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC)
no SPHAN, por convênio celebrado entre várias instituições, que se propunha a contemplar
prioritariamente os bens culturais não consagrados pelos critérios da SPHAN.
1976
• Transformação da Campanha em Instituto Nacional do Folclore, vinculado à Fundação
Nacional de Arte (Funarte).
1979
16 • Criação da Fundação Nacional Pró-Memória, instituição incumbida de implementar a
política de preservação da então Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,
incorporando o Programa de Cidades Históricas (PCH) e o Centro Nacional de Referências
Patrimônio Imaterial no Brasil: legislação e políticas estaduais
Culturais (CNRC).
1988
• Definição de patrimônio cultural de modo mais amplo pela Constituição Federal.
1991
• Instituição do Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac) pela Lei no 8.313, para
promover a captação e a canalização de recursos e, entre outros objetivos, fomentar a
preservação dos bens culturais materiais e imateriais.
1997
• Realização do seminário Patrimônio Imaterial: estratégias e formas de proteção, em
Fortaleza (Ceará), quando foram discutidos os instrumentos legais e administrativos de
preservação dos bens culturais de natureza imaterial.
• Transformação do Instituto Nacional de Folclore em Centro Nacional de Folclore e
Cultura Popular (CNFCP), vinculado à Funarte.
1998
• Criação de Comissão e Grupo de Trabalho para elaborar proposta de regulamentação
do instrumento do Registro do patrimônio cultural imaterial.
2000
• Desenvolvimento de metodologia denominada Inventário Nacional de Referências
Culturais (INRC), visando produzir, em perspectiva ampla, e de acordo com a definição de
patrimônio cultural expressa na Constituição Federal de 1988, conhecimentos que possam
subsidiar a formulação de políticas patrimoniais.
• Instituição do Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial e criação do Programa
Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI), pelo Decreto nº 3.551, de 4 de agosto de 2000.
patrimonio_imaterial:Layout 1 February/19/09 11:16 AM Page 17
2002
• Primeiro registro no Livro dos Saberes: o Ofício das Paneleiras de Goiabeiras (Vitória/ES).
2003
• Criação do Departamento do Patrimônio Imaterial e Documentação de Bens Culturais
no IPHAN, pelo Decreto nº 4.811, de 19 de agosto de 2003.
• Integração do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular na estrutura do IPHAN.
• Aprovação, na UNESCO, da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural
Imaterial.
• Inscrição das Expressões orais e gráficas dos Wajãpi (Amapá), por ocasião da 2ª Proclamação
das Obras-Primas do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade.
2004
17
• Criação do Departamento do Patrimônio Imaterial (DPI) no IPHAN, pelo Decreto nº
5.040, de 6 de abril de 2004. O DPI substitui o anterior Departamento de Patrimônio
Vale observar que, também em 2000, a Fundação Nacional do Índio (Funai) – que, em
1967, substituiu o Serviço de Proteção ao Índio (SPI), criado, por sua vez, em 1910 –
estabelecia a Portaria nº 693, instituindo o Cadastro de Patrimônio Cultural Indígena. Dados
os limites do presente trabalho e o amplo escopo do assunto em pauta no Brasil, esse aspecto
da atuação governamental acerca do patrimônio cultural imaterial não foi objeto de escrutínio.
Mencionam-se aqui apenas as atuações em áreas indígenas englobadas pela atuação do IPHAN.
O conjunto de políticas voltadas para o patrimônio cultural imaterial tem como principais
instrumentos o Registro, o Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), o Programa
Nacional de Patrimônio Imaterial (PNPI) e os Planos de Salvaguarda.
O registro
Em 4 de agosto de 2000, o Decreto nº 3.551, que institui o Registro de Bens Culturais
de Natureza Imaterial, define um programa voltado especialmente para estes bens. O decreto
rege o processo de reconhecimento de bens culturais como patrimônio imaterial, institui o
registro e, com ele, o compromisso do Estado em inventariar, documentar, produzir
conhecimento e apoiar a dinâmica dessas práticas socioculturais. Vem favorecer um amplo
processo de conhecimento, comunicação, expressão de aspirações e reivindicações entre
diversos grupos sociais.
O registro é, antes de tudo, uma forma de reconhecimento e busca a valorização desses
bens, sendo visto mesmo como um instrumento legal que, “resguardadas as suas
especificidades e alcance, equivale ao tombamento. Em síntese: tombam-se objetos,
edificações e sítios físicos; registram-se saberes e celebrações, rituais e formas de expressão e
os espaços onde essas práticas se desenvolvem” (IPHAN, 2006b, p. 22).
Na visão do IPHAN, o registro:
pode variar muito conforme as características, a situação e o contexto de cada bem. Foram
registrados até o momento 12 bens culturais, e quinze processos de registro encontram-se
em andamento (Anexo B) 2.
Indagações sobre quem tem legitimidade para selecionar o que deve ser
preservado, a partir de que valores, em nome de quais interesses e de quais
2. Dados apresentados em outubro de 2007. Em julho de 2008, foram identificados 14 bens culturais registrados e 15 processos de registro em andamento.
patrimonio_imaterial:Layout 1 February/19/09 11:16 AM Page 21
Chamava-se, assim, a atenção para outra dimensão do patrimônio que não apenas os
ambientes constituídos de natureza e de conjuntos de construções. Processos culturais de
grande complexidade e dinamismo, presentes na vida das camadas populares brasileiras,
deveriam, sob essa nova ótica, ser incluídos entre as preocupações de preservação do
patrimônio cultural.
“Falar em referências culturais significa dirigir o olhar para representações que configuram
uma ‘identidade’ da região para seus habitantes, e que remetem à paisagem, às edificações e 21
aos objetos, aos ‘fazeres’ e ‘saberes’, às crenças e hábitos” (FONSECA, 2000, p. 11). Esse é
o conceito utilizado atualmente pelo IPHAN.
3. Dados apresentados em outubro de 2007. Em julho de 2008, foram identificados 11 inventários concluídos e 26 em andamento.
patrimonio_imaterial:Layout 1 February/19/09 11:16 AM Page 24
Desde 2005, o PNPI lança editais anuais para fomento a projetos, encaminhados por
instituições públicas e organizações não-governamentais, de mapeamento de referências
culturais imateriais e de apoio às condições de existência de bens culturais imateriais em
diferentes regiões brasileiras.
Os planos de salvaguarda
As ações que contribuem para a melhoria das condições socioambientais de produção,
reprodução e transmissão de bens culturais imateriais são organizadas em iniciativas chamadas
planos de salvaguarda.
Os planos de salvaguarda são compreendidos como uma forma de apoio aos bens culturais
de natureza imaterial, buscando garantir as condições de sustentação econômica e social.
Atuam, portanto, no sentido da melhoria das condições de vida materiais, sociais e
econômicas que favoreçam a vivência do grupo produtor, e a transmissão e a continuidade
24 de suas expressões culturais.
Os planos articulam-se aos processos de inventário e registro. Durante esses processos,
o conhecimento produzido sobre os modos de expressão e organização própria das
Patrimônio Imaterial no Brasil: legislação e políticas estaduais
também facilitar o acesso ao conhecimento dos organogramas jurídicos que, ainda que parcial
ou insatisfatoriamente, permitem reclamá-los e, por fim, ao desenvolvimento de estudos para
a criação de novos sistemas ou instrumentos legais mais adequados ao campo e à sua
problemática. Vale a pena ver a esse respeito o nº 32 da Revista do Patrimônio, intitulado
“Patrimônio Imaterial e biodiversidade” (2005), que fornece excelente panorama do assunto.
O DPI preocupa-se também com o desenvolvimento de trabalhos destinados ao
aprofundamento do conhecimento sobre os bens culturais registrados ou inventariados para
a elaboração de diagnósticos de avaliação de impactos econômicos, culturais ou sociais sobre
esses processos, entre eles, aqueles oriundos do curso do próprio processo de
“patrimonialização” e valorização, que visa apoiar e incentivar iniciativas e práticas de
preservação desenvolvidas pela sociedade. Como informa Sant’Anna, os bens culturais:
O Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), instituído pela “Lei Rouanet”, Lei
nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991, também apóia ações de salvaguarda. Em seu escopo
geral, tem, ainda, os seguintes objetivos:
1) captar e canalizar recursos para facilitar e democratizar o acesso às fontes de cultura;
2) estimular a regionalização da produção cultural;
3) preservar bens culturais materiais e imateriais.
Vale destacar que o Pronac atua por meio dos seguintes instrumentos de fomento: o
mecenato, mediante o qual as empresas privadas investem em projetos culturais e abatem
esse investimento do Imposto de Renda; e o Fundo Nacional da Cultura (FNC), para
financiamento de projetos culturais de governos estaduais e municipais e de instituições
públicas.
O FNC também atua com o objetivo de contemplar ações cujos proponentes não
encontram financiamentos no mercado da cultura. Por meio do Pronac, empresas estatais
têm fomentado diversos projetos de documentação e de apoio à continuidade de bens
culturais imateriais.
Em articulação com o processo de registro dos bens culturais, o PNPI implementou até
o momento os seguintes planos de salvaguarda:
se o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, que tem atuado em parceria com o DPI
nos processos de registro, inventário e salvaguarda.
O Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP) está instalado em quatro
prédios – três integram o conjunto arquitetônico do Palácio do Catete, tombado pelo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O Centro executa e
desenvolve programas e projetos de estudo, pesquisa, documentação e difusão de
manifestações dos saberes e fazeres de nosso povo. Nele funcionam o Museu de Folclore
Édison Carneiro, com acervo museológico de 14 mil objetos, a Biblioteca Amadeu Amaral,
com 130 mil documentos bibliográficos e cerca de 70 mil documentos audiovisuais, um
setor de pesquisa e difusão. A Galeria Mestre Vitalino, de exposições temporárias, e a Sala
do Artista Popular são também espaços para a exposição de obras de arte e artesanato popular
resultantes de pesquisas realizadas.
Sua história, como vimos, liga-se à recomendação da UNESCO de favorecimento e
necessidade de proteção das manifestações folclóricas que está na origem da criação da
Comissão Nacional de Folclore, em 1947. Desse processo resultou, em 1958, a instalação da
Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, vinculada ao então Ministério da Educação e
Cultura. Em 1976, a campanha foi incorporada à Fundação Nacional de Arte como Instituto
Nacional de Folclore. No ano de 1997, a denominação é novamente alterada, para Centro
Nacional de Folclore e Cultura Popular. Em dezembro de 2003, o Centro Nacional de
Folclore e Cultura Popular (CNFCP) passa a integrar a estrutura do IPHAN, como uma
unidade descentralizada vinculada ao Departamento de Patrimônio Imaterial.
Entre as muitas atividades de pesquisa, documentação, apoio a comunidades artesanais,
atuação educativa, o trabalho relativo ao patrimônio cultural imaterial consolidou-se na
parceria estabelecida com o IPHAN, entre 2001 e 2006, na realização do projeto Celebrações
e Saberes da Cultura Popular – uma experiência-piloto desenvolvida no âmbito do PNPI.
Desde o início, o projeto contou com recursos do Ministério da Cultura e várias parcerias e
patrimonio_imaterial:Layout 1 February/19/09 11:16 AM Page 27
apoios em projetos integrados. Em 2004 e 2005, o escopo das ações foi ampliado com o
patrocínio da Petrobras, que proporcionou pesquisas, exposições, discussões e publicações
sobre o patrimônio imaterial das culturas populares – ações estas integralmente articuladas
com o campo já constituído. Contou também, a partir de 2004, com o apoio da Fundação
de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj).
É importante ressaltar que os trabalhos de inventários realizados pelo CNFCP, com
exceção dos inventários do Jongo e da farinha de mandioca, integraram também o Programa
de Apoio a Comunidades Artesanais (Paca), desenvolvido em exercícios anteriores pelo
CNFCP, com recursos de diferentes patrocinadores – Petrobras, Petrobras Distribuidora,
Sudene, Eletrobrás, Ministério da Cultura. Por intermédio do Paca, os inventários estiveram
articulados a exposições com edição de catálogos, oficinas de repasse de saberes tradicionais
nas comunidades onde os bens culturais são produzidos e de melhoria das condições de
produção dos bens culturais (adequação de espaços e aquisição de matéria-prima). Dessa
forma, os inventários foram desenvolvidos simultaneamente a ações de salvaguarda. 27
De maneira geral, para estruturar ações prioritárias nos planos de salvaguarda, o CNFCP
pautou-se pelas questões observadas nos inventários, as quais foram amplamente levantadas
Por meio dessa rede e de outras como a ação Griô – Mestres de Saberes, o programa
Cultura Viva apóia projetos que incentivam a transmissão de saberes tradicionais, e apóia as
condições materiais de existência de bens culturais imateriais.
O Programa Identidade e Diversidade Cultural, da Secretaria da Identidade e da
Diversidade Cultural do Ministério da Cultura, recobre áreas de atuação abrangidas pelo
patrimônio cultural imaterial. Essa Secretaria, criada em 2006 pelo Decreto nº 5.711, tem,
entre outras atribuições, o dever de incentivar a diversidade e o intercâmbio cultural como
meio de favorecer a cidadania. O Programa Identidade e Diversidade Cultural tem por
objetivo garantir que grupos e redes de produtores culturais, responsáveis pelas manifestações
características da diversidade cultural brasileira, tenham acesso aos instrumentos de apoio,
promoção e intercâmbio, considerando características identitárias por gênero, orientação
sexual, grupos etários e étnicos e por vínculo com a cultura popular.
No âmbito da sociedade civil, um vasto conjunto de organizações – de fundações a
28 organizações não-governamentais – tem atuado nessa direção, em especial nas atividades de
documentação, divulgação e fomento, complementares ao decreto. A título de exemplo, de
modo apenas indicativo, são relacionadas abaixo as ações descritas a seguir.
Patrimônio Imaterial no Brasil: legislação e políticas estaduais
Duas das principais associações de cientistas sociais do país, a Associação Nacional de Pós-
graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs) e a Associação Brasileira de Antropologia
(ABA) têm promovido em suas reuniões, respectivamente anuais e bienais, grupos de
trabalho, mesas-redondas e publicações relevantes sobre o tema.
A ONG ArteSol – Artesanato Solidário: programas de apoio ao artesanato e à geração de
renda estabeleceu-se como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip)
em abril de 2002. Sediada em São Paulo, a ArteSol desenvolve cerca de 80 projetos em 17
estados brasileiros, envolvendo cerca de 4 mil artesãos e suas famílias. A ONG iniciou suas
atividades na década de 1990, com projeto-piloto para o combate à pobreza em regiões
castigadas pela seca, sobretudo no Nordeste e no norte de Minas Gerais. Entre 1998 e 2002,
como um programa social no âmbito do Conselho da Comunidade Solidária, a ONG
desenvolveu 42 projetos. Atualmente, além do desenvolvimento de projetos em campo para
a geração de trabalho e renda, a ArteSol também atua na comercialização de produtos,
enfocando o acesso dos artesãos ao mercado consumidor. 29
O Museu Casa do Pontal – localizado no Rio de Janeiro, no Recreio dos Bandeirantes –
desenvolve, desde 1996, programas de educação patrimonial mediante programas de
BIBLIOGRAFIA
_____. Divino toque do Maranhão. Rio de Janeiro: Centro Nacional de Folclore e Cultura
Popular, IPHAN, 2005. (Série encontros e estudos; 9).
CAVALCANTI, M. L. V. de C. et al. Os estudos de folclore no Brasil.In: SEMINÁRIO
FOLCLORE E CULTURA POPULAR. CAVALCANTI. Anais.... Rio de Janeiro: Centro
Nacional de Folclore e Cultura Popular, IPHAN, 1992. (Série encontros e estudos; 1).
CUNHA, M. C. da. Patrimônio imaterial e biodiversidade. Revista do IPHAN, v. 32, 2005.
FALCÃO, A. (Org.). Registro e políticas de salvaguarda para as culturas populares. Rio de
Janeiro: Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, IPHAN, 2005. (Série encontros e
estudos; 6).
FONSECA, M. C. L. O patrimônio em processo: trajetória da política federal de preservação
no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, IPHAN, 1997.
_____. Referências culturais: base para novas políticas de patrimônio. In: IPHAN. Manual
de aplicação do INRC. Brasília: MinC/IPHAN/Departamento de Documentação e
Identificação, 2000.
_____. Para além da pedra e cal: por uma ampla concepção de patrimônio cultural. In:
ABREU, R.; CHAGAS, M. (Org.). Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de
Janeiro: DP&A, 2003. p. 56-76.
_____ (Org.). Patrimônio imaterial. Revista Tempo Brasileiro , n. 147, out./dez. 2001.
GALLOIS, D. T.(Org.). Patrimônio cultural imaterial e povos indígenas: exemplos no Amapá
e norte do Pará. Macapá: Petrobrás, Instituto de Pesquisa e Formação em Educação Indígena,
2006. Disponível em: <http://www.institutoiepe.org.br/>.
IPHAN. Certidão [de registro de Kisuwa – linguagem e arte gráfica Wajãpi]. Brasília: Instituto
Patrimônio Histórico Nacional, [s.d.]. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/
portal/baixaFcdAnexo.do?id=348>. Acesso em: 31 maio de 2007.
patrimonio_imaterial:Layout 1 February/19/09 11:16 AM Page 31
_____. Certidão [de registro do Círio de Nossa Senhora de Nazaré]. Brasília: Instituto
Patrimônio Histórico Nacional, [s.d.]. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/portal/
baixaFcdAnexo.do?id=440>. Acesso em: 31 de maio 2007.
_____. Certidão [de registro do jongo do sudeste]. Brasília: Instituto Patrimônio Histórico
Nacional, [s.d.].Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?
id=549>. Acesso em: 31 de maio 2007.
_____. Certidão [de registro do ofício das baianas de acarajé]. Brasília: Instituto Patrimônio
Histórico Nacional, [s.d.]. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.
do?id=550 >. Acesso em: 31 de maio 2007.
_____. Certidão [de registro do ofício das paneleiras de Goiabeiras]. Brasília: Instituto
Patrimônio Histórico Nacional, [s.d.]. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/portal/
baixaFcdAnexo.do?id=352>. Acesso em: 31 de maio 2007.
_____. Certidão [de registro do samba de roda do recôncavo baiano]. Brasília: Instituto 31
Patrimônio Histórico Nacional, [s.d.]. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/portal/
baixaFcdAnexo.do?id=441>. Acesso em: 31 maio 2007.