(Lido) A Afinação Do Piano
(Lido) A Afinação Do Piano
(Lido) A Afinação Do Piano
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A Afinação do Piano
Características Musicais e Acústicas
Francisco Motta – Técnico-afinador de Pianos
12/2008 - Belo Horizonte –MG - www.piano.kit.net
Ainda nas fases iniciais da aprendizagem de qualquer instrumento musical cedo ou tarde
haverá alguma menção sobre sua afinação. Aprender a afinar seu próprio instrumento como
um trompete ou violão representa um bom passo na conquista de seu domínio.
É bem verdade que na maioria dos instrumentos, na verdade não se afina propriamente. Os
instrumentos, em geral, já foram fabricados para emitirem todas as notas da escala em sua
extensão. O fabricante predefiniu a afinação tendo o instrumentista apenas que ajustar uma
ou mais notas iniciais que são base daquele sistema tonal pré-estabelecido.
Em geral, pianistas (e aqui é bom que se alerte para as devidas exceções) vêem a frente de seu
instrumento um grande abismo. A visão do teclado e dos pedais muitas vezes encerra o que se
sabe sobre ele. Para muitos se é um instrumento misterioso.
Por ser complexa e exaustiva, a afinação é realizada por profissional específico. Paradoxal é a
contratação do um serviço profissional de afinação de pianos, realizado na maioria das vezes
por um técnico não-músico.
Neste segundo texto desta série “Anotações sobre Tecnologia Pianística” vamos enumerar as
questões acústicas e metodológicas da afinação do piano como base para detectar as
fundamentais diferenças entre um piano ideal e o real.
O Fenômeno Inarmonicidade
Inarmoni
Numa corda golpeada,, a quantidade de tensão a ela submetida será a medida da força
restauradora que a faz oscilar. Ou seja, quanto maior a tensão maior será o tempo de duração
do som.
Esta força restauradora recebe uma pequena, mas não desprezível contribuição da rigidez do
duro fio de aço carbono com os quais
q são trefiladas as cordas. Esta colaboração provoca
pequenos desvios inarmônicos alargando a série harmônica.
Em suma podemos dizer que a distorção inarmônica de um piano resulta dos fatores:
espessura, tensão e comprimento da corda. Quanto menores as cordas e mais altas as parciais
maiores os desvios, pois mais tensos serão aqueles seguimentos.
Este fenômeno dos inarmônicos incide principalmente no alargamento das sete oitavas do
teclado. Se medirmos as freqüências após uma hipotética afinação perfeita de um piano
acústico constataremos distorções possivelmente imensas em suas extremidades (até 50 cents
cen
ou digamos, ½ semitom). A região média em geral se aproxima das intenções teóricas. Os
desvios são a mais nos agudos
agudo a menos nos baixos (isto talvez explique porque tantos
contrabaixistas se mostram insatisfeitos com a afinação do piano nesta região).
Dois pianos iguais (mesmo modelo e idade) podem ter curvas de afinação diferentes. Mesmo
que hoje, com a moderna fabricação,
fabricação extremamente fiel aos projetos de pianos,
pianos se possa
encontrar instrumentos praticamente idênticos.
Inarmonicidade das suas cordas é considerada uma qualidade desejada, comumente associada
com a idéia de “calor”. Sob este ponto de vista, o instrumento tem na sua “imperfeição” um
caráter distintivo que o aproxima da natureza humana e valoriza o seu poder de comunicação
e expressão artística.”
No processo
so de fabricação do piano, os fabricantes dispõem de aparelhos especiais que já
foram projetados para imprimir na afinação a curva adequada a cada modelo (p. ex.
Strobetuner).
Os primeiros aparelhos que surgiram para uso profissional (Acctuner, Yamaha PT-100,
PT
Verituner etc.) tinham a opção de sugestão de curvas de afinação hipotéticas que poderiam
amenizar problemas de inamornicidade sobretudo em pequenos pianos (no que a maioria dos
técnicos experientes acabava por entender que era mais prático continuar de forma Aural).
O uso destes dispositivos vem se tornando extremamente comum na Europa e Estados Unidos.
Apesar do alto custo para um Afinador de Pianos profissional adquirir
dquirir um destes dispositivos
eles acabam por serem muito vantajosos.
vantajoso Veja alguns benefícios:
É importante que se diga que esta explanação feita acima sobre os softwares afinadores não
significa nenhuma diminuição do trabalho dos técnicos que utilizam a afinação Aural como
único recurso. Na verdade saber afinar qualquer piano apenas com o diapasão inicial é um pré
requisito para qualquer afinador profissional. Ainda, uma afinação fina (para recital) nunca
excluirá a necessidade de correções aurais.
Diapasão e Temperamento
Os pianos são projetados para um diapasão e um temperamento pré-definidos. Mesmo que se
possa alterar minimamente a freqüência de afinação, as tensões desejadas são calculadas
através da interação entre esta freqüência, a “escala” de encordatura, as características físicas
do tipo de aço das cordas, associadas às dimensões das cordas e cavaletes (ainda com a
estrutura interna que irá suportar tal tensão). Alguns pianos, de alta performance, tem uma
tensão elevadíssima cujas cordas chegam a ficar a 5% do ponto de rompimento (quebra). (Isto
explica porque é comum se perderem cordas, sobretudo nos agudos, de um Steinway
moderno).
Tecnicamente, a decisão pela mudança do diapasão de um piano deve ser norteada pelas
seguintes orientações:
É importante ter como estratégia de conservação sempre exigir que o piano, em suas
manutenções periódicas, seja constantemente afinado num diapasão apropriado.
Temperamento Igual
Até agora tratamos da freqüência base (ou da nota inicial) para a afinação. Sobre como serão
organizados os 12 semitons da escala cromática (temperamento) exponho de maneira
manei bem
resumida a seguinte questão:
assim serem possíveis modulações e transposições com efeitos iguais (como pode ser
percebido no título dado por Bach ao “Cravo Bem Temperado”).
No Temperamento “Igual” todos os degraus da escala cromática têm uma rigorosa mesma
distância um do outro. Para tal as quintas são comprimidas e as quartas alargadas. As terças
então se tornam ásperas e vibrantes. Mas como esta “desafinação” é mínima, acaba passando
despercebida do ouvido musical que por outro lado pode usar qualquer tonalidade sem
preferência e realizar qualquer modulação sem nenhum prejuízo musical.
À distância entre dois semitons no Temperamento Igual se convencionou cem unidades (100
centésimos - cents).
A Afinação do Piano
As cravelhas do piano são extremamente duras. Cada corda reage diferentemente ao
tensionamento ou afrouxamento recebido. No entanto a afinação refere-se a micro ajustes
realizados num sistema que é ao mesmo tempo ultra sensível, instável e rude.
As ferramentas básicas são a chave de afinar, cunhas e tiras de borracha ou feltro para se
emudecer as cordas e o garfo diapasão.
A afinação é iniciada na região central onde se escolhe uma oitava para a divisão do
temperamento. Em seguida se expande as oitavas daquela seção, perfazendo os uníssonos e
enfim expandindo para todo o piano.
O tempo necessário para esta tarefa (se o piano estiver em boas condições e o ambiente for
propício) é de cerca de duas horas.
É bem verdade que muitos pianistas sabem aproveitar as atribuições de um afinador de pianos
com muita sabedoria. Recentemente atendi um renomado pianista brasileiro. Foram 8 horas
de serviço em um Steinway B Hamburgo semi-novo. Ele acompanhou e participou
profundamente de parte das correções da regulagem e da entonação. Deu opiniões altamente
relevantes e construtivas mostrando sua grande experiência nos pianos de alta performance
pelo mundo. Sugeriu modificações, inclusive aquelas que saíam do padrão do fabricante, mas
que poderiam ser posteriormente revertidas. Contentou-se quando não podia atender a seu
pedido. Eu, em minha vez, o ajudei a posicionar o piano, servi de “dublê” para regulagem da
luz, marquei a posição da banqueta e até “assassinei” Mozart para que ele ouvisse o piano.
Durante o recital me pediu que permanecesse no teatro e que no intervalo corrigisse alguma
nota eventualmente desafinada.
Fui imensamente retribuído, junto com todos os presentes, naquela memorável apresentação
cujo programa possuía apenas duas Sonatas de Beethoven e as quatro Baladas de Chopin.
Referências Bibliográficas
REBLITZ, Arthur A., Piano Servicing, Tuning & Rebuilding, Vestal, NY: The Vestal Press, 1976.
SKUBIC, Michael, “Instruction Manual for Peterson AutoStrobe 490-ST Strobe Tuner”, Alsip, IL,
2002. Disponível na Internet: <www.petersontuners.com/support/pdfmanuals>