A Desconstrução Do Valor Constitucional Do Trabalho Digno

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A desconstrução do valor constitucional do


trabalho digno

LOURIVAL JOSÉ OLIVEIRA


Doutor em Direito (PUC-SP). Mestre em Direito das Relações Sociais (UEL).
Professor de Direito Negocial (UEL).

Artigo recebido em 10/2/2023 e aprovado em 22/10/2023.

SUMÁRIO: 1 Introdução • 2 A precarização do valor trabalho enquanto direito fundamental • 3 As


várias estratégias utilizadas para o não cumprimento dos estatutos constitucionais • 4 Conclusão
• 5 Referências.

RESUMO: O presente estudo destina-se a examinar as alterações ocorridas e em


andamento nas relações de trabalho no Brasil, e a ausência da aplicação dos direitos
fundamentais constitucionais no que diz respeito ao valor trabalho. Iniciou-se por
uma análise do novo contexto em que está inserido o trabalhador, os processos de
reducionismo aplicados às novas formas de prestação de trabalho, por meio das
chamadas novas tecnologias. Em seguida, em uma análise jurídica por excelência,
foi demonstrado o não cumprimento na prática dos direitos fundamentais e sociais
declarados na Constituição federal, apresentando principalmente posicionamentos
do Supremo Tribunal Federal sobre a matéria, bem como a não sintonia com
a Constituição federal. Como resultado, ficou demonstrado que o Estado
brasileiro vem conduzindo suas ações no atendimento de interesses econômicos
desenvolvimentistas, desconstituindo finalisticamente o valor trabalho. Adotou-se o
método dedutivo, com a análise de casos concretos, em um estudo multidisciplinar,
de forma a construir uma análise crítica.

PALAVRAS-CHAVE: Descumprimento dos direitos fundamentais • Dignidade


no trabalho • Novas relações de trabalho • Valor constitucional do trabalho
• Precarização do trabalho.

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The deconstruction of the constitutional value of decent work

CONTENTS: 1 Introduction • 2 The precariousness of the value of the fundamental right of work
• 3 The various strategies used for non-compliance with constitutional statutes • 4 Conclusion
• 5 References.

ABSTRACT: The present study intends to examine changes that have occurred and
are ongoing in labor relations in Brazil and the lack of application of fundamental
constitutional rights with regard to work value. It starts with an analysis of the
new context in which the worker is inserted, the processes of reductionism
applied to new forms of work provision through the so-called new technologies.
Afterwards, in a legal analysis, non-compliance was demonstrated in the practice of
the fundamental and social rights declared in the federal constitution, presenting
mainly positions of the Federal Supreme Court on the matter, as well as the
lack of alignment with the federal constitution. As a result, it was demonstrated
that the Brazilian State, whether in the legislative process or when acting as
State-judge, has been conducting its actions to meet developmental economic
interests, finalistically deconstituting the value of work. The deductive method
was adopted, while analysing concrete cases, in a multidisciplinary study, in order
to build a critical analysis.

KEYWORDS: Non-compliance with fundamental rights • Dignity at work • New


working relationships • Constitutional value of work • Work Precarioussness.

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La deconstrucción del valor constitucional del trabajo digno

CONTENIDO: 1 Introducción • 2 La precariedad del valor trabajo como derecho fundamental


• 3 Las diversas estrategias utilizadas para el incumplimiento de los estatutos constitucionales
• 4 Conclusión • 5 Referencias.

RESUMEN: El presente estudio tiene como objetivo examinar los cambios ocurridos
y en curso en las relaciones laborales en Brasil, como la falta de aplicación de
los derechos constitucionales fundamentales en relación con el valor trabajo. Se
inició con un análisis del nuevo contexto en el que se inserta el trabajador, los
procesos de reduccionismo aplicados a las nuevas formas de prestación laboral, por
medio de las denominadas nuevas tecnologías. Posteriormente, en un análisis
jurídico por excelencia, se demostró el incumplimiento en la práctica de los derechos
fundamentales y sociales declarados en la constitución federal, presentando
principalmente posiciones del Supremo Tribunal Federal sobre la materia, así
como la falta de sintonía con la constitución federal. Como resultado, se demostró
que el Estado brasileño, ya sea en el proceso legislativo o en su actuación como
Estado-juez, viene conduciendo sus acciones al servicio de intereses económicos
desarrollistas, desconstituyendo de manera finalista el valor trabajo. Se adoptó el
método deductivo, con análisis de casos concretos, en un estudio multidisciplinario,
para construir un análisis crítico.

PALABRAS CLAVE: Incumplimiento de derechos fundamentales • Dignidad


en el trabajo • Nuevas relaciones laborales • Valor constitucional del trabajo
• Precariedad laboral.

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1 Introdução

F ica difícil nos dias atuais compreender o significado de trabalho ou do valor


trabalho humano, considerando que a forma de trabalhar, a divisão do trabalho,
o local da sua prática, a utilização de uma quantidade maior ou menor de tecnologia
e os variados mecanismos se transformam a uma velocidade não imaginada, e,
consequentemente vai se tornando mais difícil manter na prática o seu valor social.
Também é possível afirmar que para o trabalhador individualmente
considerado, está cada vez mais difícil localizar-se no contexto dos trabalhadores
(ter um agrupamento profissional que os identifique), ressaltando aqui as mudanças
organizacionais e de elaboração e realização do trabalho, principalmente por conta
da chamada modernidade tecnológica.
De maneira geral, os trabalhadores passaram a fazer parte de uma grande
multidão de trabalhadores. Não existe mais a possibilidade de diferenciar as variadas
modalidades na ordem globalizada. Os trabalhadores tornam-se uma massa única,
desprovidos de particularidades que antes faziam com que se reunissem em
grupos, produzissem coesões, principalmente em termos de reivindicações e ou
lutas profissionais.
No plano jurídico, a Constituição federal – CF possui o seu vetor principal na
proteção dos direitos sociais, aqui incluindo o direito ao trabalho ou o valor social
do trabalho, considerando a sua importância para o exercício da democracia.
Contudo, será que a produção legislativa infraconstitucional, citando como
exemplo o texto da reforma trabalhista de 2017 e/ou outras legislações esparsas
que buscaram modernizar as relações de trabalho no Brasil, estão em conformidade
com tal vetor constitucional de proteção à dignidade humana? Ou será que o valor
constitucionalmente atribuído ao trabalho está se refletindo na atuação do Estado,
enquanto obrigado a oferecer tal proteção?
Em um terceiro momento será possível também analisar o comportamento do
Estado-juiz, dando ênfase às decisões do Supremo Tribunal Federal em casos concretos,
onde se apresentam de um lado interesses econômicos e de outro as garantias e ou
finalidades constitucionais, sem perder de vista a própria produção legislativa.
Das respostas que serão obtidas a partir desses questionamentos
esperam-se ver como resultados parciais: analisar as principais produções
legislativas infraconstitucionais ocorridas no Brasil; em matéria normatização
das relações de trabalho: localizar os direcionamentos e ou desvirtuamentos
constitucionais que estão ocorrendo nas decisões tomadas principalmente pelo

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Supremo Tribunal Federal (STF); em matéria de defesa do valor trabalho: construir


explicações a respeito das inconstitucionalidades que estão sendo cometidas
tanto no plano da produção legislativa como no julgamento de casos concretos
referentes ao valor trabalho.
Para tanto, adotou-se o método dedutivo, com pesquisas bibliográficas e
jurisprudenciais, incursionando em áreas afins, como por exemplo: a economia, a
sociologia e as ciências políticas, principalmente individualizando casos concretos,
no intuito de construir um estudo que possa mapear os pontos em conflito, sem se
apartar de um estudo de caso, especialmente no que se refere à obrigatoriedade de
aplicação da Constituição federal.

2 A precarização do valor trabalho enquanto direito fundamental


É importante ressaltar as mudanças contínuas no que se refere ao
gerenciamento empresarial e aos novos processos de realização do trabalho, que
dentro de um estudo baseado na sua centralidade, acabam alterando as relações
sociais como um todo, desde a forma de fabricação do produto ou prestação
de serviço até o modo de consumo e de inter-relacionamento humano.
Pode-se afirmar que o trabalho plataformizado é um exemplo marcante de tudo
isso que aqui se busca explicar, com ou sem gerenciamento da plataforma por parte
do tomador do serviço. A espécie de trabalho chamada de home office, na maioria
das vezes, possuirá a característica de um trabalho desconstituído, desprovido de
qualquer tipo de garantia social. Uma forma de trabalho cujo resultado se associa
a outros resultados, perdendo-se dentro de uma engenharia organizacional
empresarial complexa, capaz de encobrir qualquer possibilidade de detectar os
malefícios sociais resultantes principalmente para o trabalhador.
Diante desse caos social, como estabelecer uma importância ou um valor ao
trabalho, ou pensar que ele se constitua realmente em um valor fundamental, quer
dizer, em um direito humano? Como saber a que grau o capital está ganhando sobre
o trabalho, especialmente no trabalho digitalizado ou também no trabalho prestado
de forma virtual, como acontece, por exemplo, no caso do trabalho do professor na
forma de EAD (Ensino a Distância), que se desenvolve em um AVA (Ambiente Virtual)?
Similarmente, como saber a que grau isso acontece em relação aos trabalhos que
se restringem a poucas atividades, desenvolvidas por freelancers virtuais que na
maioria das vezes passam desapercebidas em relação ao resultado final?

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Contrapondo-se a tudo isso, na Constituição federal, artigo 1o, inciso IV, o


trabalho é um dos fundamentos da República, sendo que no seu artigo 6o foi elevado
a um direito social e mais adiante, no artigo 170, no primado da ordem econômica
(Brasil, 1988).
Contudo, toda essa construção parece não mais poder atingir o plano concreto,
permanecendo somente na abstração, como se fosse impossível criar meios e/ou
processos capazes de identificar e fazer prevalecer esse valor. Assim, haveria um
descompasso entre o trabalho constitucionalmente compreendido e o trabalho sob
o viés puramente econômico, muitas vezes inserido na legislação ordinária ou sendo
desenvolvido no campo da pura informalidade, assemelhando-se a uma espécie de
trabalho invisível.
Observa-se, por exemplo, o que vem acontecendo no Brasil, principalmente a
contar da reforma trabalhista de 2017 (Lei no 13.467, de 13 de julho de 2017), em
que o trabalho de vez tornou-se juridicamente uma mercadoria, que vem, na grande
maioria das vezes, a ser determinado por uma ordem econômica internacional
(Brasil, 2017). Partindo desse princípio, conclui-se que as variações do mercado irão
determinar o tipo de trabalho, como será realizado, por quem será realizado, quanto
o trabalhador receberá pelo resultado desse trabalho, e a quais condições ele se
submeterá, incluindo técnicas e práticas de produção.
É ponto pacífico que a Constituição federal se apresentou e se apresenta
como uma robusta força de proteção dos direitos sociais e direitos fundamentais,
especialmente no que se refere à valorização do trabalho, tanto no plano
individual como no plano coletivo, estabelecendo que a ordem econômica
deve obrigatoriamente produzir resultados sociais. Então, por que isso não
está acontecendo na prática? Como pode acontecer uma produção normativa
infraconstitucional em desacordo com o principal vetor constitucional?
Essa robustez constitucional na proteção do valor trabalho apresenta-se de forma
latente e expressiva no artigo 5o, parágrafo 1o, quando prevê a aplicação imediata
dos direitos fundamentais, ou quando estabelece limites ao poder reformador (artigo
60, parágrafo 4o), ou conforme foi dito acima, no âmago, na essência, nos princípios
e finalidades da atividade econômica (Brasil, 1988, artigo 170).
Não obstante, indaga-se novamente: como explicar no plano fático toda essa
precarização, corrosão do valor trabalho e condições não dignas que estão sendo
acolhidas normativamente, como se fosse uma maneira de contribuir com quem
precisa de trabalho?

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Sem querer simplificar demais o tema, que é bastante complexo, nota-se um


grande entusiasmo na construção de teorias econômicas que acabam por retirar a
força da Constituição, de tal modo a fazer com que os direitos sociais se relativizem
de tal sorte, fazendo deles meros acessórios que podem ser expungidos por leis
ordinárias ou até por acordos coletivos e individuais, de maneira a justificar a
derrota dos direitos sociais sob o fundamento de ser algo necessário para obter o
desenvolvimento econômico.
Segundo Fabiane K. Santos Machado e outras:

A precarização social e do trabalho, nesse contexto, se apresenta como


um processo multidimensional de institucionalização da instabilidade,
caracterizado pelo crescimento de diferentes formas de precariedade e
de exclusão. Ela se apoia na diminuição dos custos de produção a partir
da flexibilização do trabalho, que se instaura pela via da precarização
do trabalho. Esse processo atua diretamente na transformação e na
flexibilização do direito do trabalho, reduzindo as políticas de proteção
social e de cidadania da população nomeada "excluída" pelo discurso
político (Machado et al., 2016, p. 1).

As autoras acrescentam, seguindo os ensinamentos de Thébaud-Mony (2000),


que as mudanças ocorridas nas relações de trabalho, resultando em crescimento do
número de acidentes de trabalho, com o aumento considerável no mundo do número
de desempregados e ou subempregados, se justifica pelas práticas estabelecidas a
partir de um discurso econômico.
Segundo Ricardo Antunes e Giovanni Alves (2004), deve-se buscar entender
as mudanças (metamorfoses) pelas quais o trabalho tem passado diante do atual
modo de produção capitalista, que estabeleceu uma série de transformações, mas
que mantém em seu núcleo, ainda, o trabalho (centralidade do trabalho) enquanto
relacionado ao valor, embora esfacelado, perdendo as possibilidades de produzir
direitos sociais, tornando-se também cada dia mais vulnerável à vida, o que significa
uma perda de valor em razão das chamadas expectativas de mercado. Assim,
criam-se novos fetiches, dentre eles o conceito de moderno, que de imediato
apresenta-se acobertando toda a deterioração dos direitos sociais.
Um dos principais fundamentos que embalou os teóricos favoráveis à perda
dos direitos sociais, de forma imediata e contrária à própria Constituição, foi a
tese (neoliberal) de redução do Estado e que isso somente poderia acontecer por
meio da redução dos direitos sociais e fundamentais, como se tratasse de um

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interesse político necessário para estancar processos inflacionários e promover o


desenvolvimento econômico e social.
A reforma trabalhista de 2017, como dito, caracterizou-se no Brasil como a
continuidade dessa grande investida, que foi justificável ideologicamente, à época,
pela necessidade de geração de mais empregos e que somente seria possível na
medida em que se promovessem reformas na legislação trabalhista e previdenciária.
Para que isso acontecesse sem que houvessem amplas mudanças constitucionais,
que inclusive não estariam sequer ao alcance de um poder reformador derivado,
elaboraram-se várias estratégias políticas com efeitos jurídicos, de forma a criar um
novo olhar sobre os direitos sociais, afinado com os ideais neoliberais.
Deste modo, sob a proclamação de que os custos sociais são os grandes vilões
do não desenvolvimento econômico, conjugando-se com os novos processos e
formas de produção, onde a tecnologia aplicada às relações de trabalho produz uma
realidade não compreendida constitucionalmente, tornou-se possível dar uma visão
pseudo constitucional das mudanças e decisões que estavam sendo construídas
tanto no setor privado como no público.
Portanto, como primeira conclusão, pode-se afirmar que embora
constitucionalmente, isto é, no plano abstrato, o valor trabalho continue sendo
um direito fundamental; no plano concreto ele deixou há algum tempo de ser,
transformando-se em um simples custo de produção: um elemento econômico,
como é, por exemplo, a matéria prima.
Iniciando de trás para frente, como explicar esse novo entendimento sobre o
valor trabalho; ou melhor: que o valor trabalho, ainda que em uma era digital pode
ser mensurado e o trabalhador identificado? Posteriormente, estudando o Brasil,
em especifico, como explicar que as mudanças legislativas e as interpretações
relativistas apresentadas principalmente pelo Supremo Tribunal Federal, contrárias
à Constituição, podem ser combatidas? Esses são os principais pontos que adiante
pretende-se ver em debate.

3 As várias estratégias utilizadas para o não cumprimento dos


estatutos constitucionais

É sabido que, mesmo com as mudanças que diariamente ocorrem nas relações
de trabalho, é irrefutável a afirmativa de que constitucionalmente o direito ao
trabalho está relacionado à dignidade da pessoa humana enquanto um fim,
sendo vedado o retrocesso social, principalmente por considerar a necessária

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aplicabilidade imediata das regras de proteção ao trabalho, conforme artigo


5o, parágrafo 1o da Constituição federal.
Isso significa que o direito ao trabalho ou o valor trabalho, da forma como
está estabelecido constitucionalmente, constitui-se em uma obrigação de caráter
prestacional por parte do Estado, tratando-se de uma garantia para a redução da
desigualdade social e ao mesmo tempo liberdade material (Sarlet, 2007).
Na verdade, o direito ao trabalho é uma das formas para realizar na prática
os direitos fundamentais, tanto no aspecto individual como coletivo, e da mesma
maneira, fazer com que a propriedade esteja vinculada ao cumprimento de sua
função social (da valoração do trabalho), com o fim de alcançar a finalidade social
(Brasil, 1988, art. 3o e art. 170).
Por essa razão é possível concluir que o valor trabalho, da mesma forma que o
valor saúde, o valor educação e outros direitos sociais, foram erigidos ao primeiro
patamar constitucional em termos de valor, de maneira a se constituírem em
verdadeiros princípios da ordem democrática.
Diante dessa construção, não querendo ser repetitivo, o valor trabalho é essencial
e indispensável para fins de obter-se a dignidade, tratando-se de um requisito
indispensável para o cidadão e cidadã se expressar em sociedade; se exteriorizar
diante da sociedade (Antunes, 2000).
Portanto, essa característica de o direito ao trabalho ser um direito fundamental
coloca-o como centro do ordenamento jurídico protetivo, hierarquicamente superior,
alcançando a chamada supra legalidade, o que significa que está submetido a
limites de revisão, ainda que por conta de um poder constituinte originário (artigo
5o, parágrafo 1o da CF), o qual não poderá retirar o seu valor (Brasil, 1988).
Segundo Canotilho (1992), o ser fundamental não significa apenas estar assim
declarado constitucionalmente. Significa que existe também a fundamentalidade
no sentido material, constituindo-se na estrutura básica do Estado e da sociedade.
Quer dizer que, quando se tratar de um direito fundamental, não basta cumprir
o processo positivo jurídico revisional enquanto suficiente para sua alteração.
Quer dizer que a questão é mais profunda, significando que está ligado também à
sua finalidade.
Em palavras mais breves, os direitos fundamentais estão ligados, em termos de
finalidade, diante do sistema jurídico democrático constitucional, de forma que pelo
seus conteúdos e significados, encontram-se na esfera da não disponibilidade, não
podendo ser alcançados, ainda que se trate do legislador constituinte (Alexy, 2011).

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Concluindo essa primeira parte, defende-se que não é possível descaracterizar


ou desconstituir o valor trabalho humano, ainda que por meio do poder originário.
Em suma, o Estado deve fazer valer a presença efetiva, protegendo o trabalhador,
não se tratando apenas de relação de emprego e sim de todo o tipo de prestação de
trabalho, quer seja visível ou invisível.
Após todos esses estudos preliminares, é possível abordar a questão da eficácia
dos direitos fundamentais, isto é a sua atuação no mundo concreto. Isso significa,
academicamente falando, examinar dois vieses. O primeiro é relacionado à falta
de regulamentação dos direitos fundamentais, a ponto de ficarem na dependência de
legislação infraconstitucional para ganhar eficácia. E o segundo é a sua supressão
ou diminuição arbitrária por parte do próprio Estado, destacando-se aqui as decisões
do Poder Judiciário.
Sobre o primeiro aspecto, não menos importante, trata-se do contido no artigo
5 , parágrafo 1o da Constituição federal (Brasil, 1988). Contudo, para o presente
o

estudo, será dada maior relevância ao segundo aspecto, melhor dizendo, ao não
cumprimento do dever prestacional por parte do Estado, associado às variações
interpretativas reducionistas exaradas pelo Poder Judiciário (leia-se Supremo
Tribunal Federal principalmente).

3.1 As ações reducionistas dos Poderes Executivo e Legislativo


Conforme afirmado anteriormente, o Estado tem o dever de proteção dos
direitos fundamentais. Sendo assim, é importante destacar que na normatização
infraconstitucional, o valor trabalho deve sempre ser apresentado como direito
fundamental. Isso significa que tudo o que está ou estará relacionado a ele deve
ganhar a efetiva proteção, ou seja, deve basear-se em medidas positivas de proteção.
Para tanto, na elaboração de uma lei, o Estado deve estar atento à desigualdade
existente entre aquele que trabalha e a quem o trabalho é prestado, não importando
o tipo de relação de trabalho, e, incluindo as novas formas de prestação de trabalho,
como é o caso do chamado trabalho plataformizado, o qual, na sua maioria, está
sendo entendido como uma relação privada sem a necessidade de proteção (como
no caso da Uber, dos entregadores de lanches, dos prestadores de microtrabalhos,
entre outros). Frisa-se também que não importa se o trabalho é visível ou invisível
ao sistema de produção. Há uma espécie de convencimento sobre a desnecessidade
de qualquer proteção do Estado. Por exemplo, no Congresso Nacional, antes mesmo
da reforma trabalhista, foi aprovada a terceirização de prestação de serviços

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sem quaisquer limites, não importando se a atividade a ser desempenhada pelo


trabalhador terceirizado era meio ou fim. Desse modo, não exigindo da empresa
prestadora de serviços qualquer garantia minimamente suficiente para honrar
suas obrigações trabalhistas, concomitantemente ao esfacelamento de qualquer
possibilidade de organização coletiva dos trabalhadores, muitas vezes com
dificuldade de determinar o seu próprio empregador. Foram liberados não somente
a terceirização, como também a quarteirização, quinteirização e assim por diante.
Trata-se de um exemplo claro do exercício da função normativa em desacordo com
o valor trabalho.
Outras situações, resultantes da reforma trabalhista especialmente, também
poderão se juntar ao elenco, cabendo primeiramente citar em vários dos dispositivos
da reforma trabalhista o fator hiperssuficiência do empregado, que passa a ser tratado
estritamente no aspecto econômico, conforme artigo 444 da CLT (Consolidação das
Leis do Trabalho) (Brasil, 1943).
A afirmação é confirmada pelo propósito de se reduzir a incidência da proteção
ao trabalhador que não esteja em situação de inferioridade econômica. Esquece-se,
com isso, que a noção de hipossuficiência não se resume à condição financeira
do empregado, mas se complementa pelo seu estado de sujeição na relação de
emprego. O empregado se sujeita ao poder de quem detém o capital, o que justifica
a proteção e não a sua retirada.
Outro exemplo, no artigo 611-A da Lei no 13.467, de 2017, ampliou o campo da
negociação coletiva, para autorizar a sobreposição do que foi negociado sobre a lei
em vários pontos. Autorizou normativamente que a convenção coletiva e o acordo
coletivo prevaleçam sobre a lei quando dispuserem sobre questões que dizem
respeito à saúde e segurança no trabalho, por exemplo, jornada de trabalho, banco
de horas anual, intervalos intrajornadas com limite mínimo de trinta minutos para
jornada superior a seis horas, jornada de trabalho no sistema 12X36 (podendo ser
dispensado o intervalo), etc.
Oportunizou também a negociação do teletrabalho, regime de sobreaviso,
trabalho intermitente, remuneração por produtividade, prorrogação de jornada em
ambientes insalubres sem licença prévia das autoridades competentes do Ministério
do Trabalho, entre outras matérias (Oliveira; Figueiredo, 2017, p. 106).
Em outras passagens, dispôs a lei que, por meio de acordo individual, empregado
e empregador poderão ajustar banco de horas com compensação em até seis meses
(Brasil, 2017, art. 59, § 5o), o que vai na contramão do entendimento pacificado pelo

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TST na Súmula 85, item V (Brasil, 2016), enunciado segundo o qual a compensação de
jornada na modalidade banco de horas apenas poderia ser instituída via negociação
coletiva. Será lícita, do mesmo modo, a compensação mensal de jornada por acordo
individual, inclusive o tácito, em dissonância com o item I do enunciado da Súmula
85, que exige a forma escrita (Oliveira; Figueiredo, 2017, p. 107).
Servindo os casos acima como meramente exemplificativos, o legislador
infraconstitucional, na aprovação do texto da reforma trabalhista de 2017,
restringiu-se apenas a examinar se estaria ou não havendo um desacordo
literal, expresso entre o novo texto originário da reforma e a Constituição federal,
detendo-se a uma mera interpretação literal das propostas, sem ater-se que o que
estava sendo violado eram direitos fundamentais, em especial sob o ponto de
vista finalístico dos direitos fundamentais.
Concernente à questão do acordado sobre o legislado (artigo 444 da CLT) (Brasil,
1943), a Constituição federal de 1988 adotou os princípios justrabalhistas de paz social,
igualdade nas negociações, liberdade de organização, proteção dos hipossuficientes
e irrenunciabilidade de direitos, garantindo a base de atuação para o exercício da
autonomia coletiva (Brasil, 1988). Ao Estado, emanado pelos princípios descritos,
coube a presença institucional de garantia de tais parâmetros constitucionais.
Destarte, Araújo (2003, p. 187) aponta que, à medida que o Estado criou normas
de direitos sociais inabdicáveis, relacionados à saúde, segurança e dignidade do
trabalhador, manteve-se no ordenamento jurídico justrabalhista um parâmetro de
equilíbrio para evitar que o empregador prive o empregado de seus direitos.
Um dos encargos que cria efeito indispensável no conflito entre capital e
trabalho, e merece a devida ressalva como forma de análise mais profunda, é o
respeito à vedação do retrocesso social. Isso porque se deve ter em mente que
os direitos fundamentais garantidos minimamente ao trabalho convergem para a
valorização da dignidade da pessoa humana.
Nesse passo, nos ensinamentos de Sarlet (2008, p. 67-72), defende-se que os
direitos fundamentais se inserem nas Constituições não apenas formalmente, mas
atingem o núcleo da formação do Estado, direcionando as aspirações valorativas
que o Estado busca na sua legitimação de poder.
A vedação do retrocesso social impede que haja no ordenamento jurídico o
declínio de direitos já conquistados, garantindo-se uma segurança jurídica de
patamar civilizatório.

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Sobre o mesmo tema, para Ribeiro (2017, p. 114), a vedação do retrocesso social
se traduz pela eficiência criada pelas legitimidades de normas constitucionais, que
garantem mais vantagens e menos sacrifícios ao conjunto social.
Nesse sentido, o propósito é evitar que agendas políticas fragmentárias ou
ocasionais imponham, por circunstâncias particulares ou por atuação de maiorias
fortuitas, valores ao corpo social, em detrimento do avanço civilizacional alcançado
por essa mesma comunidade. A não ser assim, a própria atividade legiferante
poderia constituir-se em fator de instabilidade e de retrocesso social, ou
mesmo poderia converter-se em elemento de retirada de eficácia das prescrições
constitucionais que tutelam determinadas classes de direitos, ainda quando
as normas legais implementadas não incorressem em inconstitucionalidades
flagrantes (Ribeiro, 2017, p. 115).
Para que se evite o abuso ou transgressão dos preceitos constitucionais, Delgado
(2001, p. 97) academicamente construiu duas categorias de direitos indisponíveis: os
chamados de caráter absoluto e os de caráter relativo. A primeira categoria, possui
como base a dignidade da pessoa humana e a valorização do trabalho humano,
abarcando direitos garantidos que não possuem o condão de serem discutidos,
tendo condição de interesse público. Já a segunda classe, é descrita pelo autor como
garantias individualmente postas, sobre as quais é autorizada a discussão através de
lei heterônoma ou conveniência entre as partes, uma vez que não revestem o âmbito
do interesse público.
Não obstante, essa forma teoricamente encontrada de discussão indica um juízo
que pode caminhar para a subjetividade em sua distinção, capaz de ser modificado
ao sabor dos interesses políticos do momento, desprovido de uma consistência que
garanta ao valor trabalho humano a sua realização finalística.
Saber aquilo que é ou não disponível está ligado diretamente à garantia
de um patamar de igualdade nas discussões das negociações coletivas, que
deve ser acompanhada de limites estabelecidos pelo Estado Democrático de Direito,
tendo em vista que os conflitos entre capital e trabalho continuam ocorrendo,
porém, em uma maior intensidade do que a vivida no século passado, principalmente
em consequência das sucessivas mudanças operandas a partir das variadas formas
de prestação de trabalho.
Contudo, tais mudanças legislativas não são suficientes em si mesmas:
dependem da aprovação do Estado Juiz para que ganhem efetividade por meio de
uma interpretação reducionista da norma jurídica.

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166 A desconstrução do valor constitucional do trabalho digno

3.2 A interpretação reducionista do Poder Judiciário (STF)


Para atender os objetivos do presente estudo, considerando que o Estado
brasileiro está exercendo o seu poder de forma a desconstituir – no plano concreto
– o valor trabalho humano, passa-se a analisar alguns casos concretos, de cunho
meramente exemplificativo, em que a interpretação do Supremo Tribunal Federal
acabou por não fazer valer a Constituição federal, principalmente no que se refere à
primazia do valor trabalho.
O primeiro caso apresenta o tema terceirização, que foi julgado pelo Supremo,
de forma definitiva, em junho de 2020 (Ações Diretas de Inconstitucionalidade
– ADIs 5685, 5686, 5687, 5695 e 5735) (Brasil, 2020). Pelo julgamento da
Suprema Corte, passou a valer a terceirização de qualquer atividade, não mais
importando se tratava-se de atividade meio ou fim. Na verdade, outras decisões
anteriores já estavam trilhando o mesmo entendimento, inclusive antes da própria
reforma trabalhista de 2017, que estabeleceu normativamente a possibilidade da
terceirização de qualquer atividade.
Naquela época, para fins de julgamento, foram levantadas duas vertentes:
a primeira em que a permissão da terceirização em qualquer hipótese criaria a
chamada intermediação da mão de obra, constituindo-se em demonstração clara
da maior precarização das relações de trabalho, sendo inconcebível diante das
proteções constitucionais a favor do trabalho; e a segunda vertente, a vencedora,
tratou a permissão da terceirização como forma de flexibilização necessária
das relações de trabalho, com vistas até à geração de novos empregos.
Segundo a Ministra Rosa Weber, tratou-se de verdadeira mercantilização do
trabalho humano. Porém, seu voto foi vencido, baseando-se o voto vencedor no
argumento de que as relações de trabalho se tornaram complexas ao ponto de
exigirem flexibilidades.
Além disso, em outro caso, é tratada da violação à cláusula do não retrocesso
social, no qual o Supremo Tribunal Federal (STF), no julgamento do Recurso
Extraordinário no 693.456/RJ, em que a Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec),
tinha como objetivo evitar a suspensão do pagamento dos salários aos seus
servidores enquanto se encontravam em greve.
No entanto, de acordo com a decisão tomada pelo STF, determinou-se (cunho
obrigatório), o desconto das remunerações dos servidores em greve, ainda que
o exercício da greve seja considerado constitucionalmente como um direito
fundamental, retirando dos salários os dias de paralisação (Brasil, 2016).

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Foi adotada a tese contrária à Constituição federal, em que a Administração


Pública deve (e não pode) descontar os dias em que o trabalho não foi prestado,
ainda que se tratando do exercício de um direito de greve, como se toda a
greve devesse ser considerada abusiva logo de início, e, como se somente após
submeter a greve a julgamento pelo Estado e em não sendo declarada abusiva,
ter-se-ia a decretação dos não descontos dos dias de greve com a devida reposição.
Questiona-se qual agrupamento de trabalhadores, independentemente de ser ou
não servidor público, conseguirá exercer de fato o seu direito de greve.
Nota-se que, nesse caso concreto, a decisão do STF considerou iguais o servidor
público e a Administração Pública, tornando praticamente impossível o exercício
de um direito fundamental, por ter praticamente invertido o ônus da prova sobre a
abusividade ou não da greve e/ou presumindo de início que toda greve é abusiva
(Brasil, 2016).
Outra questão que merece exame, sempre dentro de um estudo concreto, é o
caso da demissão em massa. Segundo o Recurso Extraordinário (RE) 999435, com
repercussão geral (Tema 638), julgado pelo STF, em decisão majoritária, quando
se tratar de demissão em massa, conclui-se pela intervenção prévia da entidade
sindical representativa da categoria prejudicada (Brasil, 2021).
Contudo, ficou esclarecido que não se trata de autorização do sindicato e sim
de intervenção, no sentido de estabelecer um diálogo para encontrar soluções
alternativas a fim de evitar a demissão em massa. A tese de repercussão geral
fixada foi a seguinte: “A intervenção sindical prévia é exigência procedimental
imprescindível para dispensa em massa de trabalhadores que não se confunde com
a autorização prévia por parte da entidade sindical ou celebração de convenção ou
acordo coletivo” (Brasil, 2021).
Em um primeiro momento, parece haver indicação de que a decisão da Corte foi
acertada, dando máxima importância ao diálogo social, para a busca de solução de
um grave problema. Contudo, em se comparando com o que existia antes, não foi
bem isso o que ocorreu.
Nesse sentido, vários Tribunais Regionais do Trabalho vinham decidindo (e
alguns ainda continuam) a favor da existência obrigatória da negociação coletiva,
diferente do que por último decidiu o STF, para poder haver a demissão em massa,
sob pena de nulidade. Cabe aqui a citação de algumas decisões:

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168 A desconstrução do valor constitucional do trabalho digno

TRT 10. DISPENSA EM MASSA. NECESSIDADE DE NEGOCIAÇÃO COLETIVA


PRÉVIA. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS. A dispensa em massa ocorre
em um mesmo momento, com base em uma única causa ou decisão, e
não possui vinculação com as condições pessoais dos trabalhadores
dispensados coletivamente. Porém, a jurisprudência tem visto com cautela
a dispensa em massa, considerando-se os efeitos danosos causados aos
trabalhadores e à própria comunidade. Neste sentido o TST tem firmado
entendimento acerca da necessidade de negociação prévia com o sindicato
dos empregados, sob pena de reversão dos desligamentos. Tal entendimento
tem sido pautado na integração dos princípios da dignidade da pessoa
humana (art. 1o, inciso III, da CF/88) e da valorização do trabalho (art. 1o,
inciso IV, e 170 da CR/88), que são fundamentos da República Federativa do
Brasil, bem como das Convenção da OIT ratificadas pelo Brasil (Convenções
OIT nos 11, 87, 98, 135, 141 e 151), que não autorizam a demissão em
massa de forma unilateral e potestativa. RO 0001236-15.2017.5.10.0801
DF. Partes SECETO - SINDICATO DOS EMPREGADOS NO COMÉRCIO DO
ESTADO DE TOCANTINS. Data de publicação: 08/08/2018.

TRT 3 DISPENSA EM MASSA. AUSÊNCIA PRÉVIA DE NEGOCIAÇÃO


COLETIVA. NULIDADE DA DISPENSA. Nos termos da jurisprudência da
Corte Superior, é obrigatória a intervenção do ente sindical da categoria
profissional na negociação da dispensa coletiva ("em massa"). No caso
dos autos, sendo incontroversa a dispensa em massa perpetrada pela ré,
sem prévia negociação coletiva, a declaração de nulidade da dispensa é
medida que se impõe. TRT-3 - RECURSO ORDINARIO TRABALHISTA RO
00111841920165030022 MG 0011184-19.2016.5.03.0022 (TRT-3). Data
de publicação: 22/02/2018.

TRT1.DISPENSA EM MASSA. IMPRESCINDIBILIDADE DA NEGOCIAÇÃO


COLETIVA. CONFIGURAÇÃO DO DANO À INTEGRIDADE MORAL DE CADA
TRABALHADOR. A questão social das dispensas em massa se agrava quando
a empresa, olvidando-se de sua função social, utiliza-se do subterfúgio de
não avisar, de não negociar, de não encontrar alternativas por meio da
negociação coletiva junto ao sindicato representante da categoria para
evitar as rupturas de tantos vínculos ou minorar os custos sociais destas,
o que, em verdade, não é uma opção da empresa, mas uma obrigação no
contexto de um Estado Democrático de Direito comprometido com os
ditames constitucionais e com os compromissos internacionais dos quais
é signatário o Estado Brasileiro, a exemplo das Convenções OIT n. 11, 87,
98, 135, 141 e 151. A dispensa em massa dos empregados implicou dano
à integridade moral de cada trabalhador envolvido que se viu privado
de regras objetivas e negociadas para a dispensa, caracterizando-se ato
ilícito do empregador que deixa de observar premissa já fixada, para casos
futuros, pelo TST no sentido de que "a negociação coletiva é imprescindível
para a dispensa em massa de trabalhadores". TRT-1 - RECURSO ORDINÁRIO
RO 01018305720165010046 RJ (TRT-1). Data de publicação: 15/05/2019.

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Ainda que não se tratem de decisões que de fato aplicaram no todo a Constituição
federal no que diz respeito à proteção do valor trabalho, aproximou-se mais de
uma interpretação segundo a Constituição, do que a última decisão do STF (Brasil,
2021) sobre a mesma matéria, que de forma direta, deu guarida ao texto da reforma
trabalhista de 2017 (artigo 477-A da CLT), que, em termos de dispensa, igualou a
demissão coletiva com as demissões individuais e/ou plúrimas (Brasil, 1943).
Nesse sentido é que se tornou possível afirmar que o STF validou a cláusula
inconstitucional da reforma trabalhista (artigo 477-A da CLT) no que se refere à
dispensa em massa, estabelecendo a desnecessidade de qualquer tipo de negociação
coletiva, mesmo em se tratando de uma demissão coletiva.
Da mesma forma, o STF contrariou o princípio da liberdade sindical, contido
no artigo 8o da Constituição federal, que é um direito fundamental, considerando
que por liberdade sindical entende-se o direito de representação sindical e o de
ação sindical, exteriorizados pela negociação coletiva. Ademais, houve violação à
Convenção no 98 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em seu artigo
4o, que resumidamente, estabeleceu o “pleno desenvolvimento e utilização de
mecanismos de negociação coletiva” (Brasil, 1949).
Um terceiro exemplo de exteriorização de decisões do STF contrárias à
Constituição federal, lembrando que não se trata de um elenco taxativo, diz respeito
à aplicação da norma do artigo 611-A da CLT, que se refere ao negociado sobre o
legislado. O Supremo Tribunal Federal (STF), na sessão do dia 2 de junho de 2022,
decidiu que acordos ou convenções coletivas de trabalho que limitam ou suprimem
direitos trabalhistas são válidas, desde que seja assegurado um patamar civilizatório
mínimo ao trabalhador. Por maioria de votos, o colegiado deu provimento ao Recurso
Extraordinário com Agravo (ARE) 1121633, com repercussão geral reconhecida
(Tema 1.046) (Brasil, 2018).
O Recurso Extraordinário questionava decisão do Tribunal Superior do Trabalho
(TST) que havia afastado a aplicação de norma coletiva que previa o fornecimento,
pela Mineração Serra Grande S.A., de Goiás, de transporte para deslocamento dos
empregados ao trabalho e a supressão do pagamento do tempo de percurso (Brasil,
2018). No recurso, a mineradora sustentava que, ao negar validade à cláusula, o TST
teria ultrapassado o princípio constitucional da prevalência da negociação coletiva
(Brasil, 2018).
Ficou mantido, no julgamento, o voto do ministro Gilmar Mendes (relator) pela
procedência do recurso, o qual “afirmou que a jurisprudência do STF reconhece a

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170 A desconstrução do valor constitucional do trabalho digno

validade de acordo ou convenção coletiva de trabalho que disponha sobre a redução


de direitos trabalhistas” (Brasil, 2018).
Ao cabo, segue a tese firmada conforme certidão de julgamento:

O Tribunal, por maioria, apreciando o tema 1.046 da repercussão geral,


deu provimento ao recurso extraordinário, nos termos do voto do Relator,
vencidos os Ministros Edson Fachin e Rosa Weber. Em seguida, por
unanimidade, foi fixada a seguinte tese: "São constitucionais os acordos
e as convenções coletivos que, ao considerarem a adequação setorial
negociada, pactuam limitações ou afastamentos de direitos trabalhistas,
independentemente da explicitação especificada de vantagens
compensatórias, desde que respeitados os direitos absolutamente
indisponíveis". Ausentes, justificadamente, o Ministro Luiz Fux (Presidente),
impedido neste julgamento, e o Ministro Ricardo Lewandowski. Presidiu o
julgamento a Ministra Rosa Weber, Vice-Presidente. Plenário, 2.6.2022. (STF,
2022, grifo nosso).

Portanto, ficou comprovada na decisão do STF o posicionamento que passou a


prevalecer, cabendo estabelecer quais são os direitos absolutamente indisponíveis.
O Poder Judiciário determinará o que é ou não é indisponível, seguindo, o momento
político e econômico do momento da sua decisão.
No mesmo passo, observa-se uma contrariedade objetiva em relação ao que
estabelece o artigo 7o, caput, da Constituição federal: “São direitos dos trabalhadores
urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social”
(Brasil, 1988).
Portanto, constitucionalmente ficou firmado que as normas autônomas, como por
exemplo, as decorrentes de acordos e convenções coletivas, somente se constituem
validadas desde que elevem o patamar civilizatório mínimo, que é justamente o
que está fixado como piso social nos diversos incisos da mesma Constituição,
ressalvando-se os casos em que de forma expressa permita flexibilização, como é o
caso da redução salarial mediante negociação coletiva.
Dessa forma, nada do que está contido nesse rol, considerado piso social,
poderá ser reduzido. Ocorre que não se pode, como em um checklist, estabelecer
uma interpretação literal, e ainda, por se constituírem em direitos fundamentais,
deixarem de ter aplicação imediata. Apenas a título de lembrança do que já foi
aqui afirmado, trata-se da fundamentalidade no sentido material, constituindo-se na
estrutura básica do Estado e da sociedade.
Ainda, o significado de patamar civilizatório mínimo consiste em uma expressão
que traduz a necessidade de manutenção da dignidade da pessoa humana de forma

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concreta, real e não apenas abstrata. Apesar de ser uma expressão própria dos direitos
fundamentais, o STF difere na utilização dada à mesma expressão, considerando que
a Corte trilhou as linhas condutoras do neoliberalismo e não a proteção à dignidade
do trabalhador.
Com a recente decisão, o STF trouxe para si a legitimidade de dizer o que é ou não
absolutamente negociável, independente do vetor constitucional e especialmente
da condição de direito fundamental atribuído ao valor trabalho, contribuindo assim
o Estado Juiz para o não cumprimento da Constituição (Brasil, 2018).
Outra decisão do STF que pode ser citada nessa mesma linha refere-se ao tema
assistência judiciária. Em outubro de 2021, a Corte tomou, em síntese, a seguinte
decisão: declarou inconstitucional o artigo 790-B da CLT (caput e parágrafo 4o) (Brasil,
2002), que responsabilizava a parte vencida pelo pagamento de honorários periciais,
ainda que beneficiária da justiça gratuita. Similarmente, o artigo 791-A, parágrafo 4o,
da CLT, tornou devidos os honorários advocatícios de sucumbência ainda que a parte
vencida fosse beneficiário de justiça gratuita (ADI no 5766) (Brasil, 2022).
A reforma trabalhista de 2017 (Lei no 13.467, de 2017), criou regras próprias para
o processo trabalhista, em especial no que diz respeito à concessão da assistência
judiciária gratuita (Brasil, 2017). Quando concedida, diferentemente do processo
civil, condenava o beneficiário da gratuidade no pagamento de sucumbência e
honorários periciais, despontando como uma grave contrariedade ao princípio do
acesso à justiça, especialmente no que se refere ao processo trabalhista, que possui
como princípio da máxima importância, tratar no plano processual o empregado em
situação de inferioridade em relação ao empregador.
Quando da decisão tomada pelo STF, parecia que o erro havia sido sanado,
pelo menos no que dizia respeito aos efeitos que seriam produzidos ao beneficiário
da assistência judiciária gratuita. No entanto, quando da publicação da decisão, no
ano de 2022, após passar por realinhamento em face de embargos de declaração,
o Tribunal Superior do Trabalho traduziu de forma clara e objetiva a interpretação
dada pelo STF sobre os limites da decisão tomada na ADI no 5766, valendo aqui
transcrever como ficou a decisão após a propositura de embargos declaratórios
contra a mesma (Brasil, 2022):

RECURSO DE REVISTA. REGÊNCIA DA LEI No 13.467/2017. HONORÁRIOS


SUCUMBENCIAIS. HONORÁRIOS PERICIAIS. JUSTIÇA GRATUITA. ARTIGOS
791-A, §4o, E 790-B DA CLT. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
No 5. 766/DF. TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA.

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1. Este Relator vinha entendendo pela inconstitucionalidade integral dos


dispositivos relativos à cobrança de honorários advocatícios do beneficiário
da gratuidade judiciária, com base na certidão de julgamento da ADI 5.766/
DF, julgada em 20/10/2021.

2. Contudo, advinda a publicação do acórdão, em 03/05/2022, restou claro


que o Supremo Tribunal Federal, no julgamento da referida ação, declarou
a inconstitucionalidade do trecho 'desde que não tenha obtido em juízo,
ainda que em outro processo' do artigo 791-A, §4o, e do trecho 'ainda que
beneficiária da justiça gratuita', constante do caput do artigo 790-B, e da
integralidade do §4o do mesmo dispositivo, todos da CLT.

3. Em sede de embargos de declaração o Supremo Tribunal Federal reafirmou


a extensão da declaração de inconstitucionalidade desses dispositivos, nos
termos em que fixada no acórdão embargado, em razão da existência de
congruência com o pedido formulado pelo Procurador-Geral da República.

4. A inteligência do precedente firmado pelo Supremo Tribunal Federal


não autoriza a exclusão da possibilidade de que, na Justiça do Trabalho,
com o advento da Lei no 13.467/17, o beneficiário da justiça gratuita
tenha obrigações decorrentes da sucumbência que restem sob condição
suspensiva de exigibilidade; o que o Supremo Tribunal Federal reputou
inconstitucional foi a presunção legal, iure et de iure, de que a obtenção
de créditos na mesma ou em outra ação, por si só, exclua a condição de
hipossuficiente do devedor.
5. Vedada, pois, é a compensação automática insculpida na redação original
dos dispositivos; prevalece, contudo, a possibilidade de que, no prazo
de suspensão de exigibilidade, o credor demonstre a alteração do estado de
insuficiência de recursos do devedor, por qualquer meio lícito, circunstância
que autorizará a execução das obrigações decorrentes da sucumbência.

6. Assim, os honorários de advogado sucumbenciais devidos pela parte


reclamante ficam sob condição suspensiva de exigibilidade e somente
poderão ser executados se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em
julgado da decisão que os certificou, o credor demonstrar que deixou de
existir a situação de insuficiência de recursos do devedor, que, contudo, não
poderá decorrer da mera obtenção de outros créditos na presente ação ou
em outras. Passado esse prazo, extingue-se essa obrigação do beneficiário.
7. Em relação aos honorários periciais, a seu turno, a supressão resulta em
que a União arque com a obrigação, quando sucumbente o beneficiário da
justiça gratuita, não mais se cogitando do aproveitamento de créditos.

8. A Corte de origem, ao aplicar a literalidade dos artigos 791-A, § 4o,


e 791-B, da CLT, decidiu em desconformidade com o entendimento
firmado pelo Supremo Tribunal Federal. Recurso de revista conhecido e
parcialmente provido.

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No que tange aos efeitos da concessão da assistência judiciária gratuita, o


STF decidiu pela suspensão da obrigação do beneficiário sucumbente de pagar os
honorários do advogado da parte contrária e não pela sua eliminação de pronto,
permanecendo assim a possibilidade, no prazo de até dois anos, de ser cobrado o
valor referente à sucumbência (Brasil, 2022).
Todavia, o que ocorreu foi a limitação da eficácia do acesso à justiça, considerando
os limites declarados na extensão dos efeitos produzidos quando da declaração de
apenas partes dos dispositivos celetários resultantes da reforma trabalhista de 2017.
Houve uma espécie de quebra da redação dos artigos mencionados, declarando
algumas expressões nele constantes como inconstitucionais e outras não.
Trata-se da prevalência, mais uma vez, de uma forte dose de subjetividade
política do STF, combinada com a relativização dos direitos sociais, em uma
verdadeira acrobacia interpretativa. Desse modo, separa-se partes do mesmo
dispositivo que foram declaradas constitucionais e outras não, mantendo-se
a possibilidade de obrigação do beneficiário da assistência gratuita de ter que
pagar sucumbência. Sob outro prisma, trata-se da negativa da existência da
hipossuficiência processual do empregado, como nos casos em que as partes são
tratadas em situação de igualdade material.
Nesse contexto, extrai-se que a política econômica do momento estabelecerá
o que é ou não negociável, o que é ou não constitucional, e, a partir desse
prisma, constrói-se o suporte jurídico necessário para criar uma maquiagem de
constitucionalidade em textos normativos que expressamente exibem o vício
da inconstitucionalidade.
Rigorosamente, tem-se ainda interpretações judiciais constitucionalmente
descabidas sobre dispositivos normativos inconstitucionais, em algumas vezes
alterando-os em parte, e em outras: declarando politicamente a constitucionalidade,
fortalecendo as suas aplicabilidades e, por consequência, fazendo prevalecer a
teoria econômica imposta às relações de trabalho, que passou a considerá-lo
apenas como um dos elementos que compõe a ordem econômica, isto é, sem
qualquer valor constitucional.

4 Conclusão
Do estudo apresentado, percebeu-se que é possível identificar nos novos
processos de produção, amparados em um forte emprego da moderna tecnologia,
uma perda material do valor trabalho, muito embora devesse ser mantido em face da

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Constituição federal, mesmo para esses novos processos. A nova estrutura em


que o trabalho é produzido, citando como exemplos: o sistema de plataformas,
microtrabalhos, trabalho invisível e tantos outros, faz com que o trabalho se torne
algo invisível, perdendo-se a sua própria localização espacial e desconstituindo os
agrupamentos de trabalhadores que estão diretamente realizando esse trabalho.
Em um outro processo, sob o prisma jurídico, tem-se um reposicionamento do
Estado, contrariando o vetor constitucional, tanto em sua responsabilidade legislativa
enquanto produção de normas de proteção ao trabalho, como na sua execução.
Pode-se citar um novo alinhamento por parte do STF no que se refere à solução de
casos concretos, em que os direitos fundamentais e sociais são desrespeitados quer
seja no seu aspecto material como finalístico.
Do conjunto de todo esse estudo focado no valor trabalho, concluiu-se pela
não concretude dos direitos fundamentais, o que se traduz em uma constante
precarização do Estado Democrático de Direito, pois um de seus pilares de
sustentação é o valor trabalho.
Dessa conjugação de fatores tem-se que mesmo diante do texto constitucional
em vigência, que teoricamente continua protegendo o valor trabalho, ocorreu uma
verdadeira perda de sua efetividade. Na prática, o valor trabalho torna-se um bem
que não mais se reconhece como direito fundamental.

5 Referências
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ANTUNES, Ricardo; ALVES, Giovanni. (2004). As mutações no mundo do trabalho na


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Lourival José Oliveira 175

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