Tutela Provisória Contra A FP

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Tema 04 - Antecipação de Tutela contra a

Fazenda Pública

No CPC/15, o livro V vai tratar de tutela provisória, ou seja, provimentos


jurisdicionais não definitivos. O título I traz as disposições gerais, o título II trata de
tutela de urgência e o título III de tutela de evidência.
No CPC/15, a tutela provisória pode ser de urgência ou de evidência. O
gênero é a tutela provisória que engloba duas espécies: urgência e evidência.
Tutela de urgência (art. 300): tutela de urgência cautelar (art. 301); tutela
antecipada em caráter antecedente (art. 303); tutela cautelar antecedente (art. 305-
310). É aquela tutela que é concedida quando estão presentes elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo do dano ou o risco ao resultado útil
do processo caso seja concedido o provimento somente ao final.
Há a tutela de urgência cautelar no art. 301 que são as cautelares nominadas
(arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto contra alienação de
bens) e as inominadas, mas também idôneas para assegurar um direito.
Art. 301. A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada
mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto
contra alienação de bem e qualquer outra medida idônea para
asseguração do direito.

Temos a tutela antecipada de caráter antecedente, ou seja, o pedido dela


antecede a propositura da ação. Ocorre quando a questão é tão grave e tão urgente
que a inicial pode falar só da necessidade da antecipação de tutela. Nessa petição
tem que haver exposição de toda a lide.
Há a tutela cautelar antecedente prevista nos artigos 305 a 310 do CPC.
Art. 305. A petição inicial da ação que visa à prestação de tutela
cautelar em caráter antecedente indicará a lide e seu fundamento, a
exposição sumária do direito que se objetiva assegurar e o perigo de
dano ou o risco ao resultado útil do processo.

Parágrafo único. Caso entenda que o pedido a que se refere o caput


tem natureza antecipada, o juiz observará o disposto no art. 303 .

Art. 306. O réu será citado para, no prazo de 5 (cinco) dias, contestar
o pedido e indicar as provas que pretende produzir.
Art. 307. Não sendo contestado o pedido, os fatos alegados pelo autor
presumir-se-ão aceitos pelo réu como ocorridos, caso em que o juiz
decidirá dentro de 5 (cinco) dias.

Parágrafo único. Contestado o pedido no prazo legal, observar-se-á o


procedimento comum.

Art. 308. Efetivada a tutela cautelar, o pedido principal terá de ser


formulado pelo autor no prazo de 30 (trinta) dias, caso em que será
apresentado nos mesmos autos em que deduzido o pedido de tutela
cautelar, não dependendo do adiantamento de novas custas
processuais.

§ 1º O pedido principal pode ser formulado conjuntamente com o


pedido de tutela cautelar.

§ 2º A causa de pedir poderá ser aditada no momento de formulação


do pedido principal.

§ 3º Apresentado o pedido principal, as partes serão intimadas para a


audiência de conciliação ou de mediação, na forma do art. 334 , por
seus advogados ou pessoalmente, sem necessidade de nova citação
do réu.

§ 4º Não havendo autocomposição, o prazo para contestação será


contado na forma do art. 335 .

Art. 309. Cessa a eficácia da tutela concedida em caráter antecedente,


se:

I - o autor não deduzir o pedido principal no prazo legal;

II - não for efetivada dentro de 30 (trinta) dias;

III - o juiz julgar improcedente o pedido principal formulado pelo autor


ou extinguir o processo sem resolução de mérito.

Parágrafo único. Se por qualquer motivo cessar a eficácia da tutela


cautelar, é vedado à parte renovar o pedido, salvo sob novo
fundamento.

Art. 310. O indeferimento da tutela cautelar não obsta a que a parte


formule o pedido principal, nem influi no julgamento desse, salvo se o
motivo do indeferimento for o reconhecimento de decadência ou de
prescrição.

Tutela de evidência, por sua vez, é prevista no art. 311.


Art. 311. A tutela da evidência será concedida, independentemente da
demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do
processo, quando:
I - ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto
propósito protelatório da parte;
II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas
documentalmente e houver tese firmada em julgamento de casos
repetitivos ou em súmula vinculante;
III - se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental
adequada do contrato de depósito, caso em que será decretada a
ordem de entrega do objeto custodiado, sob cominação de multa;
IV - a petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos
fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu não oponha prova
capaz de gerar dúvida razoável.
Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o juiz poderá decidir
liminarmente.

O novo código extinguiu o Livro III do CPC/73, que tratava sobre processo
cautelar e redistribuiu algumas medidas cautelas, de modo que foi criado um único
regramento para concessão de tutela provisória, disposto nos arts. 294 a 311 do Livro
V do CPC/2015.

Desse modo, foi estabelecido o gênero tutela provisória, que pode


fundamentar-se em urgência ou evidência, consoante art. 294, caput do NCPC.
Art. 294. A tutela provisória pode fundamentar-se em urgência ou
evidência.
Parágrafo único. A tutela provisória de urgência, cautelar ou
antecipada, pode ser concedida em caráter antecedente ou incidental.

Quanto à tutela de urgência, que será concedida quando houver probabilidade


do direito e perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo, observa-se que
pode ser cautelar ou antecipada, é concedida em caráter antecedente ou incidental.
A tutela de urgência cautelar destina-se a resguardar o resultado útil do
processo enquanto a tutela de urgência antecipada antecipa os efeitos da tutela em
razão do risco da demora da decisão comprometer sua efetividade.
Todavia, em ambos os casos é indispensável a probabilidade do direito
alegado e é possível a concessão liminarmente ou após justificação prévia.
Como visto, o Novo Código de Processo Civil generalizou os requisitos para
concessão da tutela de urgência cautelar, que pode ser requerida em caráter
antecedente (arts. 305 a 310 do CPC/15), caso em que se admite a fungibilidade caso
o pedido tenha natureza satisfativa, nos termos do parágrafo único do art. 305 do
CPC/15, ou incidental, na própria petição inicial.
Quanto à tutela de urgência satisfativa, também pode ser deferida em caráter
antecedente ou incidental. No primeiro caso há procedimento específico nos termos
dos arts. 303 e 304 do CPC/15.
Dentre as inovações trazidas, destaca-se a estabilização da decisão, que
ocorre quando concedida a tutela provisória satisfativa de urgência requerida em
caráter antecedente, e desde que observados todos os requisitos e não haja recurso
interposto pelo réu.
É possível a estabilização dos efeitos da decisão proferida contra a Fazenda
Pública, exceto nas hipóteses de vedação legal à sua concessão.
A tutela de evidência, por sua vez, não admite concessão em caráter
antecedente e será concedida independentemente de perigo de dano ou risco ao
resultado útil do processo, nas hipóteses do art. 311 do CPC/15.
Fica o alerta que deve ser ressalvado o inciso IV do art. 311 do CPC/15, caso
em que as vedações legais são aplicáveis, de modo que a concessão, nessa hipótese,
não pode acarretar pagamento ou expedição de precatório ou requisição de pequeno
valor.
Temos legislação extravagante que restringe determinadas liminares, tutelas
antecipadas contra a Fazenda Pública. São elas:
✔ Lei n.o 8.437/92, Dispõe sobre a concessão de medidas cautelares contra atos
do Poder Público e dá outras providências.
✔ Lei n.o 8.036/90– Dispõe sobre o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço e
dá outras providências.
✔ Lei n.o 9.494/97 – Disciplina a aplicação da tutela antecipada contra a Fazenda
Pública, altera a Lei n.o 7.347/85 e dá outras providências.
✔ Lei n.o 12.016/2009– Disciplina o mandado de segurança individual e coletivo
e dá outras providências.
A concessão de tutela provisória em face da Fazenda Pública encontra óbice
na legislação que rege a matéria, qual seja, a Lei 8.437/92, os arts. 1o e 2o-B da Lei
9.494/97, o art. 7o, §§2o e 5o da Lei 12.016/2009 e o art. 29-B da Lei 8.036/90.
Tais hipóteses geram controvérsias na doutrina quanto à sua
constitucionalidade, pois parte entende que seriam inconstitucionais porque
implicariam ofensa à inafastabilidade da tutela jurisdicional, enquanto outra entende
pela constitucionalidade, uma vez que nesses casos não existem requisitos para sua
concessão em razão da ausência de periculum in mora, ou em razão de sua
irreversibilidade da medida.
Art. 29-B da Lei 8.036/1990 (dispõe sobre o FGTS por tempo de serviço) -
Não será cabível medida liminar em mandado de segurança, no procedimento
cautelar ou em quaisquer outras ações de natureza cautelar ou preventiva, nem a
tutela antecipada prevista nos arts. 273 e 461 do Código de Processo Civil que
impliquem saque ou movimentação da conta vinculada do trabalhador no FGTS.
(Incluído pela Medida Provisória no 2.197-43, de 2001). Note que os dispositivos
mencionados se referem ao CPC anterior.
Lei no 8.437/92 (dispõe sobre a concessão de medidas cautelares contra atos
do Poder Público) - não serão cabíveis liminares contra atos do Poder Público em
ações de natureza cautelar ou preventiva quando providência semelhante não puder
ser concedida em mandados de segurança. Se ocorrer, é possível suspender a
execução de liminares contra o Poder Público.
Lei no 12.016/2009 (Mandado de Segurança): proíbe a concessão de
liminares que tenham por objeto a compensação de créditos tributários, a entrega de
mercadorias e bens provenientes do exterior, a reclassificação ou equiparação de
servidores públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou
pagamento de qualquer natureza.
Segundo o §1o do art. 1o da Lei no 8.437/92, é vedada a concessão em
primeiro grau de jurisdição de “medida cautelar inominada ou a sua liminar, quando
impugnado ato de autoridade sujeita, na via do mandado de segurança, à
competência originária de tribunal”

Tal ocorre em razão da violação à regra de competência por prerrogativa de


foro prevista na Constituição Federal, quando, apesar da possibilidade de interposição
de mandado de segurança diretamente no Tribunal competente, opta-se pelo
ajuizamento em primeiro grau, caso em que, a concessão da tutela cautelar
significaria a imposição de obrigação por juiz incompetente.
Por outro lado, quando não couber mandado de segurança, é plenamente
possível a concessão dessa tutela em face do poder público por juiz de primeira
instância, bem como em ação civil pública e ação popular, por força do §2o do art. 1º
da Lei 8.437/92.
O §3o do art. 1o da Lei 8.437/92 dispõe que “não será cabível medida liminar
que esgote, no todo ou em qualquer parte, o objeto da ação”
A norma cuida da reversibilidade que deve nortear a concessão de tutela de
urgência.
O §3o do art. 300 do CPC/15 assevera que “a tutela de urgência de natureza
antecipada não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos
da decisão”.
Pela lei do Mandado de Segurança também não pode ter concessão de
liminar se a parte buscar compensação de créditos tributários e previdenciários. Essa
vedação também visa a proteger o Estado da irreversibilidade da medida, uma vez
que, efetuada a compensação, dificilmente o particular teria condição de
reestabelecer o status quo ante.
Art. 1o, §5o da Lei 8.437/92 - não será cabível medida liminar que defira
compensação de créditos tributários ou previdenciários.
Art. 7o, §2o da Lei 12.016/09 - Não será concedida medida liminar que tenha
por objeto a compensação de créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens
provenientes do exterior, a reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a
concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento de qualquer
natureza. Destaca- se, desde já, o entendimento da ADI 4296:
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
ARTS. 1º, §2º, 7º, III E §2º, 22, §2º, 23 E 25, DA LEI DO
MANDADO DE SEGURANÇA (LEI 12.016/2009). ALEGADAS
LIMITAÇÕES À UTILIZAÇÃO DESSA AÇÃO
CONSTITUCIONAL COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO
DE DIREITOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS. SUPOSTA
OFENSA AOS ARTS. 2º E 5º, XXXV E LXIX, DA
CONSTITUIÇÃO. NÃO CABIMENTO DO “WRIT” CONTRA
ATOS DE GESTÃO COMERCIAL DE ENTES PÚBLICOS,
PRATICADOS NA EXPLORAÇÃO DE ATIVIDADE
ECONÔMICA, ANTE A SUA NATUREZA ESSENCIALMENTE
PRIVADA. EXCEPCIONALIDADE QUE DECORRE DO
PRÓPRIO TEXTO CONSTITUCIONAL. POSSIBILIDADE DE O
JUIZ EXIGIR CONTRACAUTELA PARA A CONCESSÃO DE
MEDIDA LIMINAR. MERA FACULDADE INERENTE AO
PODER GERAL DE CAUTELA DO MAGISTRADO.
INOCORRÊNCIA, QUANTO A ESSE ASPECTO, DE
LIMITAÇÃO AO JUÍZO DE COGNIÇÃO SUMÁRIA.
CONSTITUCIONALIDADE DO PRAZO DECADENCIAL DO
DIREITO DE IMPETRAÇÃO E DA PREVISÃO DE
INVIABILIDADE DE CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DE
HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. JURISPRUDÊNCIA
CONSOLIDADA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
PROIBIÇÃO DE CONCESSÃO DE LIMINAR EM RELAÇÃO A
DETERMINADOS OBJETOS. CONDICIONAMENTO DO
PROVIMENTO CAUTELAR, NO ÂMBITO DO MANDADO DE
SEGURANÇA COLETIVO, À PRÉVIA OITIVA DA PARTE
CONTRÁRIA. IMPOSSIBILIDADE DE A LEI CRIAR ÓBICES OU
VEDAÇÕES ABSOLUTAS AO EXERCÍCIO DO PODER GERAL
DE CAUTELA. EVOLUÇÃO DO ENTENDIMENTO
JURISPRUDENCIAL. CAUTELARIDADE ÍNSITA À
PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL AO DIREITO LÍQUIDO E
CERTO. RESTRIÇÃO À PRÓPRIA EFICÁCIA DO REMÉDIO
CONSTITUCIONAL. PREVISÕES LEGAIS EIVADAS DE
INCONSTITUCIONALIDADE. PARCIAL PROCEDÊNCIA DA
AÇÃO. 1. O mandado de segurança é cabível apenas contra
atos praticados no desempenho de atribuições do Poder
Público, consoante expressamente estabelece o art. 5º, inciso
LXIX, da Constituição Federal. Atos de gestão puramente
comercial desempenhados por entes públicos na exploração de
atividade econômica se destinam à satisfação de seus
interesses privados, submetendo-os a regime jurídico próprio
das empresas privadas. 2. No exercício do poder geral de
cautela, tem o juiz a faculdade de exigir contracautela para o
deferimento de medida liminar, quando verificada a real
necessidade da garantia em juízo, de acordo com as
circunstâncias do caso concreto. Razoabilidade da medida que
não obsta o juízo de cognição sumária do magistrado. 3.
Jurisprudência pacífica da CORTE no sentido da
constitucionalidade de lei que fixa prazo decadencial para a
impetração de mandado de segurança (Súmula 632/STF) e que
estabelece o não cabimento de condenação em honorários de
sucumbência (Súmula 512/STF). 4. A cautelaridade do
mandado de segurança é ínsita à proteção constitucional ao
direito líquido e certo e encontra assento na própria Constituição
Federal. Em vista disso, não será possível a edição de lei ou ato
normativo que vede a concessão de medida liminar na via
mandamental, sob pena de violação à garantia de pleno acesso
à jurisdição e à própria defesa do direito líquido e certo protegida
pela Constituição. Proibições legais que representam óbices
absolutos ao poder geral de cautela. 5. Ação julgada
parcialmente procedente, apenas para declarar a
inconstitucionalidade dos arts. 7º, §2º, e 22º, §2º, da Lei
12.016/2009, reconhecendo-se a constitucionalidade dos
arts. 1º, § 2º; 7º, III; 23 e 25 dessa mesma lei. (ADI 4296,
Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão:
ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em
09/06/2021, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-202 DIVULG 08-
10-2021 PUBLIC 11-10-2021)

Artigos declarados inconstitucionais:


Art. 7o Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:
(...)
§ 2o Não será concedida medida liminar que tenha por objeto a
compensação de créditos tributários, a entrega de mercadorias
e bens provenientes do exterior, a reclassificação ou
equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento
ou a extensão de vantagens ou pagamento de qualquer
natureza. (Vide ADIN 4296)

Art. 22. No mandado de segurança coletivo, a sentença fará


coisa julgada limitadamente aos membros do grupo ou categoria
substituídos pelo impetrante. (Vide ADIN 4296)
(...)

§ 2o No mandado de segurança coletivo, a liminar só poderá


ser concedida após a audiência do representante judicial da
pessoa jurídica de direito público, que deverá se pronunciar no
prazo de 72 (setenta e duas) horas. (Vide ADIN 4296)

A lei do mandado de segurança também proíbe cautelar para determinar a


entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior. Essa previsão tem o objetivo
de evitar a irreversibilidade da decisão, uma vez que a liberação poderia inviabilizar
eventual cominação de perdimento.
Por outro lado, se não houver esse risco e a apreensão implicar em meio
indireto de cobrança de tributo, será possível a concessão da tutela de urgência, pois,
além da interpretação restritiva que deve ser dada à vedação de provimento de
urgência, o Supremo Tribunal Federal tem entendimento sumulado nesse sentido.
Súmula 70 - É inadmissível a interdição de estabelecimento como meio
coercitivo para cobrança de tributo.
Súmula 323 - É inadmissível a apreensão de mercadorias como meio
coercitivo para pagamento de tributos.
Súmula 547 - Não é lícito à autoridade proibir que o contribuinte em débito
adquira estampilhas, despache mercadorias nas alfândegas e exerça suas atividades
profissionais.
A lei do mandado de segurança também veda liminarmente questões
envolvendo o servidor público, como aumento de salário e concessão de vantagens.
Lei 12.016/09, art. 7o. § 2o
▪ a sentença final somente poderá ser executada após o trânsito em julgado,
pois o §3o do art. 14 da Lei 12.016/09 estabelece a proibição de execução provisória
nos casos em que a liminar não puder ser concedida, enquanto o art. 3o da Lei
8.437/92 dispõe que o recurso de apelação e o reexame necessário têm efeito
suspensivo.
Lembramos aqui a decisão da ADI 4296!

Ademais, a Lei 8.437/92, prevê:

Art. 3o - o recurso voluntário ou ex officio, interposto contra sentença


em processo cautelar, proferida contra pessoa jurídica de direito
público ou seus agentes, que importe em outorga ou adição de
vencimentos ou de reclassificação funcional, terá efeito suspensivo

Esta vedação deve ser interpretada estritamente, segundo entendimento


jurisprudencial consolidado, ou seja, não abrange ações de natureza previdenciária,
conforme Súmula 729 do STF: “A decisão na Ação Direta de Constitucionalidade 4
não se aplica à antecipação de tutela em causa de natureza previdenciária.”
Portanto, a decisão na Ação Direta de Constitucionalidade 04 não se aplica à
antecipação de tutela em causa de natureza previdenciária.
Observo, assim, que a decisão proferida pela Corte na ADC 4-MC/DF,
Rel. Min. Sidney Sanches, não veda toda e qualquer antecipação de
tutela contra a Fazenda Pública, mas somente as hipóteses
taxativamente previstas no art. 1º da Lei 9.494/1997. A preocupação
do Plenário desta Corte, no julgamento da ADC 4-MC/DF, foi
justamente preservar a Fazenda Pública contra o deferimento
generalizado de tutelas antecipatórias, em sede de cognição sumária,
sem a observância do contraditório e da ampla defesa. Ora,
diversamente do sustentando pelo reclamante, a decisão reclamada
não deferiu antecipação de tutela nas hipóteses vedadas pela lei, nem
considerou inconstitucional dispositivo da Lei 9.494/1997. (...) Além
disso, aplica-se ao caso a Súmula 729/STF, segundo a qual "a decisão
na Ação Direta de Constitucionalidade 4 não se aplica à antecipação
de tutela em causa de natureza previdenciária". [Rcl 8.335 AgR, rel.
min. Ricardo Lewandowski, 2ª T, j. 19-8-2014, DJE 167 de 29-8-2014.]

É possível a concessão de tutela de urgência para recomposição de vantagem


suprimida, promoção de servidor ou inclusão em curso de habilitação, ainda que gere
como efeito secundário a concessão de vantagem pecuniária, e concessão de tutela
de urgência em sentença de mérito (Reclamação 8902 AgR/MG)
Temos como regra de hermenêutica que toda norma que restringe direitos
tem que ser interpretada restritivamente.
No tocante a saque ou movimentação da conta vinculada do trabalhador no
FGTS, a Lei no 8.036/90, que dispõe sobre o FGTS, traz mais uma vedação à
concessão de tutela de urgência cautelar ou satisfativa.
Não poderá ser concedida tutela de urgência sempre que a hipótese se
enquadrar em uma das vedações à concessão em mandado de segurança.
Destaca-se que todas essas vedações foram ratificadas pelo Novo Código de
Processo Civil, nos termos do art. 1059 do CPC/15, que
dispõe que “à tutela provisória requerida contra a Fazenda Pública aplica-se
o disposto nos arts. 1o a 4º da Lei 8437, de 30 da junho de 1992, e no art.7o, §2o, da
Lei 12016, de 7 de agosto de 2009.”
Como impugnar se isso acontecer mesmo com as vedações da lei? Para o
caso de concessão de tutela provisória que viole alguma das vedações legais acima
expostas, tem o Poder Público três medidas cabíveis: a) a interposição de agravo de
instrumento, nos moldes do inciso I do art. 1015 do
CPC/15; b) ajuizamento de reclamação, conforme incisos III e IV do CPC/15 e c)
pedido de suspensão para o presidente do respectivo tribunal competente para
conhecer do recurso cabível.
Tais medidas podem ser ajuizadas separadas ou em conjunto, pois não há
vedação legal expressa para essa cumulação. Isso porque o agravo de instrumento
tem natureza jurídica de recurso (art. 1.015, I do CPC/15), enquanto o pedido de
suspensão tem natureza jurídica de incidente processual. Logo, não há violação ao
princípio da singularidade, que veda a interposição simultânea de mais de um recurso
contra a mesma decisão.
A reclamação, por sua vez, será cabível quando houver violação à decisão
proferida pelo Supremo Tribunal Federal na ADC 04, e ostenta natureza jurídica de
ação, destinando-se a garantir a autoridade da decisão
São medidas são concorrentes e podem ser ajuizadas em conjunto ou
separadamente em defesa do Poder Público.
Apesar das alterações substanciais das regras sobre concessão de tutela
provisória no Código de Processo Civil de 2015 e as vedações de legais à sua
concessão em face da Fazenda Pública, estas permaneceram integralmente em vigor
(confirmação pelo art. 1059 do CPC/15)
Conclui-se que tanto a tutela provisória de urgência cautelar e antecipada
quanto a tutela de evidência são cabíveis contra o Poder Público, desde que
observadas as exceções legais previstas e o entendimento jurisprudencial sobre a
matéria.
A ADI 4296 foi ajuizada pelo Conselho Federal da OAB e o STF entendeu
como INCONSTITUCIONAL o §2 do art. 7 da Lei do Mandado de Segurança. Trata
da proibição que versa sobre a compensação de créditos tributários, por exemplo.
Vejamos o dispositivo.
A exigência de a liminar somente ser concedida após audiência com o
representante legal também foi declarada INCONSTITUCIONAL. Art. 22, §2.
Artigos declarados inconstitucionais:
Art. 7o Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:
(...)
§ 2o Não será concedida medida liminar que tenha por objeto a
compensação de créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens
provenientes do exterior, a reclassificação ou equiparação de
servidores públicos e a concessão de aumento ou a extensão de
vantagens ou pagamento de qualquer natureza. (Vide ADIN 4296)

Art. 22. No mandado de segurança coletivo, a sentença fará coisa


julgada limitadamente aos membros do grupo ou categoria
substituídos pelo impetrante. (Vide ADIN 4296)
(...)

§ 2o No mandado de segurança coletivo, a liminar só poderá ser


concedida após a audiência do representante judicial da pessoa
jurídica de direito público, que deverá se pronunciar no prazo de 72
(setenta e duas) horas. (Vide ADIN 4296)

É possível ter vedações em benefício de determinada parte no processo sem


que isso venha a ferir preceitos ou princípios básicos (igualdade, jurisdição)? Vamos,
então, analisar a constitucionalidade das restrições legais.

Restrições legais
I – Sempre que providência semelhante não puder ser obtida em mandado de
segurança
II – Compensação de créditos tributários ou previdenciários
III – Entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior
IV – Reclassificação ou equiparação de servidores públicos
V – Aumento ou extensão de vantagens
VI – Saque ou movimentação de conta vinculada ao trabalhador no FGTS
“Não há inconstitucionalidade na vedação. Nas hipóteses previstas em
lei, não é possível, em princípio, haver a tutela de urgência contra a
Fazenda Pública. Pode, porém, o juiz, demonstrando
fundamentadamente, que a hipótese reclama uma regra de exceção,
afastar a norma e conceder medida. O certo, e enfim, é que tais
restrições reclamam exegese restritiva, somente sendo vedada a
concessão da tutela de urgência nos casos expressamente indicados
no dispositivo legal.”(CUNHA, Leonardo Carneiro da. A fazenda
Pública em juízo. 13a ed.)

O STF já se manifestou pela constitucionalidade de leis que restringem a


concessão de tutelas antecipadas contra a Fazenda Pública. Vejamos:“o proibir-se,
em certos casos, por interesse público, a antecipação provisória da satisfação do
direito material lesado ou ameaçado não exclui, evidentemente, da apreciação do
poder judiciário, a lesão ou ameaça ao direito, pois ela se obtém normalmente na
satisfação definitiva que é proporcionada pela ação principal, que, esta sim, não pode
ser vedada para privar-se o lesado ou ameaçado de socorrer-se do poder judiciário”.
(ADI-MC 223/DF, Rel. p/ acórdão Min. Sepúlveda Pertence, j. dia 05.04.1990
O Supremo Tribunal Federal declarou a constitucionalidade do art. 1o da Lei
9494/97 na ADC n. 04, consolidando o entendimento de que tais restrições são
constitucionais, mas devem ser interpretadas estritamente, sendo possível a
concessão de tutela de urgência nas hipóteses não tipificadas nos artigos
supracitados.
O STF tem conferido interpretação restritiva a essas restrições:
I – É permitida a concessão de tutela antecipada determinando a promoção
do servidor ou a sua inclusão em curso de habilitação, ainda que isso gere, como
efeito secundário, a concessão de vantagem pecuniária (Rcl 8.902 AgR, Rel. Min.
Rosa Weber, D.J.: 5.8.2014).
II – “A concessão, em sentença de mérito, de antecipação dos efeitos da tutela
em face do Poder Público não afronta a autoridade da decisão proferida ao exame da
ADC 4/DF.” (mesmo julgado, Rcl 8.902 AgR, Rel. Min. Rosa Weber, D.J.: 5.8.2014).
III – Súmula 729 do STF – “A decisão ADC-4 não se aplica à antecipação de
tutela em causa de natureza previdenciária.”
Enunciado no 35 do Fórum Permanente de Processualistas Civis – FPPC: As
vedações à concessão de tutela antecipada contra a Fazenda Pública não se aplicam
aos casos de tutela de evidência.
A tutela de evidência não tem nada a ver com perigo. Encontra previsão no
art. 311 do CPC.
Embora o art. 1.059 do CPC/2015 se referida às tutelas provisórias, para a
doutrina majoritária o dispositivo deve ser interpretado restritivamente, de modo a
abranger apenas as tutelas de urgência.
Tutela provisória de urgência antecipada requerida em caráter antecedente:
✔ possibilidade de pleitear a concessão de uma tutela antecipada antes da
formulação do pedido principal, por uma petição inicial simplificada, em que se requer
somente a concessão do pedido urgente.
✔ Art. 303, CPC: Nos casos em que a urgência for contemporânea à propositura
da ação, a petição inicial pode limitar-se ao requerimento da tutela antecipada e à
indicação do pedido de tutela final, com a exposição da lide, do direito que se busca
realizar e do perigo de dano ou do risco ao resultado útil do processo.
Art. 303. Nos casos em que a urgência for contemporânea à
propositura da ação, a petição inicial pode limitar-se ao requerimento
da tutela antecipada e à indicação do pedido de tutela final, com a
exposição da lide, do direito que se busca realizar e do perigo de dano
ou do risco ao resultado útil do processo.
§ 1º Concedida a tutela antecipada a que se refere o caput deste
artigo:
I - o autor deverá aditar a petição inicial, com a complementação de
sua argumentação, a juntada de novos documentos e a confirmação
do pedido de tutela final, em 15 (quinze) dias ou em outro prazo maior
que o juiz fixar;
II - o réu será citado e intimado para a audiência de conciliação ou de
mediação na forma do art. 334 ;
III - não havendo autocomposição, o prazo para contestação será
contado na forma do art. 335 .
§ 2º Não realizado o aditamento a que se refere o inciso I do § 1º deste
artigo, o processo será extinto sem resolução do mérito.
§ 3º O aditamento a que se refere o inciso I do § 1º deste artigo dar-
se-á nos mesmos autos, sem incidência de novas custas processuais.
§ 4º Na petição inicial a que se refere o caput deste artigo, o autor terá
de indicar o valor da causa, que deve levar em consideração o pedido
de tutela final.
§ 5º O autor indicará na petição inicial, ainda, que pretende valer-se
do benefício previsto no caput deste artigo.
§ 6º Caso entenda que não há elementos para a concessão de tutela
antecipada, o órgão jurisdicional determinará a emenda da petição
inicial em até 5 (cinco) dias, sob pena de ser indeferida e de o
processo ser extinto sem resolução de mérito.

Questão: É possível a estabilização da tutela antecedente contra a Fazenda


Pública? Como conciliar a estabilização da tutela com a indisponibilidade da coisa
pública, a supremacia do interesse coletivo, a impossibilidade de aplicação da revelia
material e a imprescindibilidade da remessa necessária nas demandas em desfavor
da Fazenda Pública?
Leonardo Carneiro da Cunha: “Nos casos em que se permite a tutela
de urgência contra o Poder Público, é possível haver a tutela satisfativa
antecedente, com a consequente estabilização. Não se permite estabilização para
antecipar condenação judicial e permitir a imediata expedição de precatório ou de
requisição de pequeno valor. Isso porque a expedição de precatório ou de requisição
de pequeno valor exige prévia coisa julgada.”
Há quem diga que a decisão que reconhece a estabilização e extingue o
processo deve ser submetida à remessa necessária e há, ainda, quem afirme que,
estabilizada a tutela de urgência, e transcorrido o prazo de 2 (dois) anos sem a
propositura da ação prevista nos §§ 2o e 5o do art. 304 do CPC, é preciso proceder à
remessa necessária, a fim de que o tribunal confirme a decisão e se possa,
efetivamente, ter a estabilização da tutela provisória de urgência satisfativa
antecedente.
Não é, porém, passível de remessa necessária a decisão que concede a tutela
de urgência contra a Fazenda Pública. A estabilização, para ocorrer, não depende de
remessa necessária. Isso porque a estabilização, como se viu, não se confunde com
a coisa julgada. A remessa necessária é imprescindível para que se produza a coisa
julgada.
Além do mais, não cabe tutela de urgência contra o Poder Público nos casos
vedados em lei e nos casos de pagamento de valores atrasados, que exija expedição
de precatório ou de requisição de pequeno valor. Não sendo possível tutela de
urgência com efeitos financeiros retroativos, a hipótese não alcança valor que exija a
remessa necessária, aplicando sua hipótese de dispensa prevista no § 3o do art. 496
do CPC” (A Fazenda Pública em Juízo, 17a edição, Rio de Janeiro, 2020, Capítulo
11.4.4.2.2.6).

Observações
✔ para fins de estabilização da tutela antecipada antecedente, há divergência no
Superior Tribunal de Justiça relativamente à interpretação da palavra “recurso”
prevista no art. 304 do CPC:
✔ interpretação restritiva da palavra “recurso”, não podendo a simples
contestação impedir os efeitos da estabilização da tutela deferida em caráter
antecedente. Logo, apenas a utilização do recurso próprio (agravo de instrumento)
impede a estabilização da tutela. (STJ, REsp 1.797.365-RS, Red. acórdão Min.
Regina Helena Costa, D.J. 3.10.2019, Info 658).
✔ interpretação sistemática e teleológica da palavra “recurso”, de modo que a
estabilização ocorrerá somente se não houver qualquer tipo de impugnação da parte
contrária. Logo, a apresentação de contestação impede a estabilização da tutela
deferida em caráter antecedente (STJ, REsp 1.760.966-SP, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, D.J.: 4.12.2018, Info 639).
✔ ENUNCIADO 35 do Fórum Permanente de Processualistas Civis“As vedações
à concessão de tutela antecipada contra a Fazenda Pública não se aplicam aos casos
de tutela de evidência.”

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