Dicas para Exame VD
Dicas para Exame VD
Dicas para Exame VD
2.ª fase – 6 818 – média de 11,2 (peso de 19,9 % relativamente à 1.ª fase)
Atualmente: No domínio da Educação Literária, “suportes textuais diferentes dos indicados nos
documentos de referência para trabalho em sala de aula (outros textos do mesmo autor,
outros excertos da mesma obra ou textos de outros autores, mas pertencentes ao mesmo
género textual), privilegiando-se, nestes casos, a interpretação do texto apresentado na prova.”
(Ministério da Educação, Informação-prova de Português, 2023)
Dados relativos à 1.ª fase (2010-2016 – Relatório IAVE, complementado com dados dos
autores – 2017-2022 – enfoque na Educação Literária)
1
Dados extraídos do mais recente Relatório do Júri Nacional de Exames (JNE e Direção-geral da Educação), 2021 e
do Relatório Nacional 2010-2016 – Exames Finais Nacionais – Ensino Secundário, do Instituto de Avaliação Educativa,
I. P. (IAVE).
Dificuldade associada aos aspetos de conteúdo, correlacionada com autores, modos
literários e complexidade dos processos cognitivos mobilizados.
Os Lusíadas
Tabela 1 – Excertos d’Os Lusíadas e de outras obras poéticas no Grupo I (2010-2022 – 1.ª fase)
Tabela 1 (continuação) – Excertos d’Os Lusíadas e de outras obras poéticas no Grupo I (2010-
2022 – 1.ª fase)
realização de inferências
Exemplos
GRUPO I – PARTES A e B
GRUPO I
Educação Literária
PARTE A
Lê o poema.
Sugestão de resposta
O sujeito poético descreve um espaço de sonho/espaço da imaginação – “Onde há
paisagens que não pode haver” (v. 2) / “Sei, sim, é belo, é longe, é impossível” (v. 13) /
“E, ainda que não haja” (v. 15). Além disso, este é um local belo, suave e acolhedor –
“Tão belas que são como que o veludo” (v. 3), que é perspetivado como promessa de
felicidade – “tudo o que é a vida / Tornado amor e luz” (vv. 6-7). Por fim, é, igualmente,
um espaço propiciador da ilusão do amor – “Passa de leve por meu pensamento / E o
pensamento julga que é amor” (vv. 11-12).
Dicas:
Neste item, deves adotar a seguinte estratégia:
1.º centrar a atenção apenas nas três estrofes iniciais;
2.º sublinhar no enunciado as características do espaço;
3.º associar as características do espaço a uma citação textual.
Sugestão de resposta
Nos versos 3 e 4, o “eu” estabelece uma comparação entre a beleza das ilhas e o
“veludo”, para sugerir a suavidade e a felicidade que o mundo pode proporcionar, se
existir harmonia e se a tessitura dos seus elementos for harmoniosa. Assim, estes
versos enquadram-se na temática do sonho e da realidade, na medida em que as ilhas
imaginadas permitem ao sujeito poético vislumbrar um mundo de plenitude a que, no
entanto, só pode aceder através do sonho.
Dicas:
Neste item é importante recordar o significado do verbo “explicitar” – expor uma
ideia de forma clara.
3. Explicita dois sentidos das anáforas e das suas variantes (versos 1, 5, 9, 13, 17 e 19),
tendo em conta o desenvolvimento temático do poema.
Sugestão de resposta
As anáforas, ao longo do poema, reforçam a ideia de que o espaço descrito existe
apenas no sonho, o qual é inerente à essência do sujeito poético. Além disso,
demonstram que este é um local de felicidade, mas também de que, sendo fruto do
sonho, é inacessível.
Dicas:
Neste item, é essencial:
1.º relembrar a definição de anáfora;
2.º centrar a atenção nos versos 1, 5, 9, 13, 17 e 19;
3.º explicar, de forma clara, duas ideias transmitidas pelas anáforas.
GRUPO I
Educação Literária
PARTE A
Lê o poema.
Ah, que maçada o piano
Eternamente a tocar
Lá em cima, no outro andar!
Sugestão de resposta:
Nas duas primeiras estrofes, o sujeito poético perceciona o som do piano de duas
formas completamente distintas e, aparentemente, contraditórias. Na primeira estrofe,
o “eu” manifesta desagrado e incómodo pelo contínuo som do piano que se revela uma
“maçada” (v. 1). Por sua vez, na segunda estrofe, o “eu” lamenta-se por ter deixado de
ouvir o som do piano (“Ah, que tristeza o cessar!”, v. 4). Assim, a música, ainda que
incómoda, era sinal de que o “eu” não estava sozinho, pois “sempre tinha companhia”,
v.6.
Dicas:
Neste item, é importante recordar o significado do verbo “explicar” – expor com
clareza. De seguida, deves adotar a seguinte estratégia:
1.º centrar a atenção apenas nas duas primeiras estrofes;
2.º localizar os vocábulos que remetem para os efeitos do som do piano no sujeito
poético.
2. Explicita o sentido dos versos “Sem ele penso e sou eu, / Com ele esqueço a
sonhar...” (vv. 11-12).
Sugestão de resposta:
Com o verso “Sem ele penso e sou eu” (v. 11), o sujeito poético revela a dolorosa
tomada de consciência de si mesmo, acentuada pela ausência do som do piano, o que
agudiza o seu sofrimento e a sua solidão.
Por seu lado, o verso “Com ele esqueço a sonhar” (v. 12) traduz o desejo de o sujeito
poético ouvir o som do piano, que o conduz ao devaneio, ao “esquecimento de si” e, por
conseguinte, ao apaziguamento da dor.
Deste modo, os versos 11 e 12 evidenciam a oposição pensar/sentir (ou a oposição
pensar/sonhar), característica temática da poesia de Pessoa ortónimo.
Dicas
Neste item é importante recordar o significado do verbo “explicitar” – extrair uma
ideia e expô-la de forma clara. De seguida, deves adotar a seguinte estratégia:
1.º centrar a atenção apenas nos versos 11 e 12;
2.º relembrar a dicotomia sentir/pensar;
3.º associar a ausência e presença do som do piano ao pensamento e
sentimento/sonho.
Refere três das marcas linguísticas que, a partir da terceira estrofe, sugerem a
existência de um diálogo e transcreve um exemplo de cada uma dessas marcas.
Tópicos de resposta:
Na resposta, devem ser abordadas três das marcas linguísticas seguintes, ou outras
igualmente relevantes, cada uma delas devidamente fundamentada com uma
transcrição pertinente:
o vocativo (usado para interpelar a interlocutora) – “Vizinha” (v. 8);
os determinantes e pronomes pessoais (em expressões que remetem para uma
relação “eu - você̂ ”) – por exemplo, “aquele piano seu” (v. 9); “Não deixe de me
maçar” (v. 18);
o presente do conjuntivo com valor de imperativo (nos pedidos dirigidos à
interlocutora) – por exemplo, “Volte de novo a maçar!” (v. 10);
a interrogação (que configura uma réplica a uma fala que se subentende) – “Má
música?” (v. 13);
o advérbio de afirmação (como resposta à interrogação) – “Sim” (v. 13).
Dicas
Neste item, é essencial:
1.º relembrar exemplos de marcas linguísticas;
2.º centrar a atenção a partir da 3.ª estrofe;
3.º recordar as marcas do diálogo;
4.º não esquecer de exemplificar com uma transcrição as marcas identificadas.
Exame Nacional de Português, 12.º ano, 2017, EE, IAVE)
Grupo I
Educação Literária
PARTE A
Lê o poema.
Às vezes, em sonho triste,
Nos meus desejos existe
Longinquamente um país
Onde ser feliz consiste
5 Apenas em ser feliz.
O sentir e o desejar
São banidos dessa terra.
O amor não é amor
Nesse país por onde erra
15 Meu longínquo divagar.
Sugestão de resposta:
O sujeito poético descreve um lugar imaginado, ou seja, irreal. Esse lugar é, na
realidade, um “país” (v.1) imaginado, “em sonho triste” (v.1), sendo vago e impreciso,
uma vez que só existe em sonhos (“Nesse país por onde erra / Meu longínquo divagar.”
(vv. 14-15). De facto, a imagem final que o sujeito poético transmite sobre esse país,
“um impossível jardim”, v. 20, reforça ainda mais o seu carácter irreal.
Dicas
Neste item, é essencial:
1.º centrar a atenção no poema todo;
2.º procurar vocábulos que remetem para um lugar imaginado, ou seja, irreal;
3.º clarificar o sentido dos vocábulos;
4.º não esquecer de transcrever os vocábulos identificados.
1. Explicita o modo como é vivida a passagem do tempo, tendo em conta a segunda
estrofe do poema.
Sugestão de resposta:
De acordo com a segunda estrofe, a experiência da passagem do tempo é marcada
pela espontaneidade ou inconsciência (“Vive-se como se nasce / Sem o querer nem
saber”, vv. 6-7) e pela renovação cíclica da vida (“O tempo morre e renasce / Sem que
o sintamos correr.”, vv. 9-10).
Deste modo, tratando-se de um tempo circular, não-linear, não há́ consciência da sua
passagem.
Dicas
Neste item é importante recordar o significado do verbo “explicitar” – expor uma
ideia de forma clara. De seguida, deves adotar a seguinte estratégia:
1.º centrar a atenção na segunda estrofe do poema.
2.º procurar os versos que caracterizam a passagem do tempo;
3.º esclarecer o sentido desses versos.
2. Relaciona o verso “É uma infância sem fim.” (v. 17) com o sentido global do poema.
Sugestão de resposta:
O verso “É uma infância sem fim.” (v. 17) representa para o sujeito poético, a
possibilidade de “ser feliz” (v. 5) no sonho, através da anulação do “sentir” (v. 11), do
“desejar” (v. 11) e do “amor” (v. 13). Assim, o “eu” mostra que é possível, através do
sonho, evitar o sofrimento, uma vez que não se tem consciência da passagem do tempo.
No entanto, também constata a impossibilidade dessa felicidade, pois é onírica.
Dicas:
Neste item é importante recordar o significado do verbo “relacionar” – estabelecer
uma ligação. De seguida, deves adotar a seguinte estratégia:
1.º centrar a atenção na globalidade do poema.
2.º esclarecer o sentido do verso 17, relembrando a temática da nostalgia da
infância na poesia do ortónimo;
3.º apresentar a relação entre o verso 17 e o sentido do poema.
Educação Literária
PARTE B
Lê o poema.
Sugestão de resposta:
Na primeira quadra, o sujeito poético encontra-se tanto num estado febril, a sonhar,
como pensativo, o que lhe causa perturbação, inquietação e delírio. Neste sentido, o
“eu” procura, através do sonho, anular o pensamento, uma vez que a “febre” (v. 1) faz
sonhar, como evidencia a conjunção coordenativa adversativa “Mas” (v. 3).
Dicas
Neste item é importante recordar o significado do verbo “caracterizar” – identificar
as características ou traços. De seguida, deves adotar a seguinte estratégia:
1.º centrar a atenção na primeira quadra;
2.º descrever o estado de espírito do “eu”;
3.º localizar a conjunção “Mas” e esclarece o seu sentido.
Interpreta o sentido do verso “Durmo desperto sem razão,” (v. 6), atendendo às
especificidades da poesia do ortónimo.
Sugestão de resposta:
O sujeito poético assume dormir desperto, ou seja, acordado, o que constitui uma
contradição que realça a divisão entre a consciência e a inconsciência. Neste sentido,
através deste verso, constata-se a presença da dicotomia pensar/sentir, sendo que o
pensamento, a consciência é a causa da angústia na poesia do ortónimo – dor de pensar
– e o sonho a tentativa de evasão do pensamento.
Dicas:
Neste item é importante recordar o significado do verbo “interpretar” – esclarecer a
causa. De seguida, deves adotar a seguinte estratégia:
1.º esclarecer o sentido do verso 6;
2.º relembrar a temática da dor de pensar e a tensão pensar/sentir,
consciência/inconsciência, na poesia do ortónimo.
Resposta: (A)
Dicas
Neste item de seleção é essencial:
1.º identificar o sentido que os vocábulos de cariz negativo adquirem;
2.º relembrar a temática da dor de pensar em ortónimo e a tensão pensar/sentir.
3.º anular as opções que contêm imprecisões face ao sentido da última quadra.
GRUPO I – PARTE C
Parte C
1. “É na poesia ortónima que o Pessoa ‘restante’, o que não cabe nos heterónimos
laboriosamente inventados, se afirma e ‘normaliza’: é então que ele ‘faz’ de si e
os seus poemas são ‘chaves’ para compreender o seu extraordinário universo
literário.”
António Mega Ferreira, Visão do Século – As Grandes Figuras do Mundo nos Últimos Cem Anos,
Linda-a-Velha, Visão, 1999
Tópicos de resposta:
teoria que apresenta o poeta como um fingidor, simulador da realidade –
“Autopsicografia”;
privilégio dado à razão no processo da criação poética – “Autopsicografia” ou “Isto”;
intelectualização / materialização do sentir – “Autopsicografia”;
poema: construção de sentido e de linguagem – “Autopsicografia” ou “Isto”;
distanciação do sentir no processo criativo – “Autopsicografia” ou “Isto”;
coração (sentir): entretenimento da razão (pensar) – “Autopsicografia”;
…
Dicas
Neste item, é essencial:
1.º responder aos verbos de comando do desenvolvimento;
2.º apresentar nomes de, pelo menos, dois poemas e explicar de que forma se
associam à temática sobre o fingimento poético: atenção – nestes itens há
penalização na cotação, se não houver uma associação entre o título do poema e a
temática em análise;
3.º respeitar a estrutura tripartida: a introdução e a conclusão devem ser parágrafos
mais pequenos, ao contrário do desenvolvimento que incluirá os tópicos essenciais
para que a resposta esteja completa.
Exercício-Tipo
1. Escreve uma breve exposição sobre a presença da oposição entre sonho e realidade,
na poesia de Fernando Pessoa, ortónimo.
Tópicos de resposta:
o sonho é apresentado como algo idealizado em que o poeta pode atingir a plenitude
e afastar-se da realidade, isto é, da dor de pensar:
o poeta evade-se, frequentemente, para o domínio onírico. Contudo, encontra-se
num estado de permanente alheamento, dividindo-se entre a realidade e o que
desejava ser, estando associado a dois mundos: o real e o sonho, como se verifica
no poema “Não sei se é sonho, se realidade”.
Dicas
Neste item, é essencial:
1.º responder aos verbos de comando do desenvolvimento;
2.º apresentar a referência a um poema e explicar de que forma se associa à
temática sobre a oposição sonho versus realidade: atenção – nestes itens há
penalização na cotação, se não houver uma associação entre o título do poema e a
temática em análise;
3.º respeitar a estrutura tripartida: a introdução e a conclusão devem ser parágrafos
mais pequenos, ao contrário do desenvolvimento que incluirá os tópicos essenciais
para que a resposta esteja completa.
Mensagem
GRUPO I – PARTES A e B
GRUPO I
Educação Literária
PARTE A
Lê o poema.
D. Sebastião
Sugestão de resposta
D. Sebastião dirige-se aos portugueses, incitando-os a aguardar pelo seu regresso
messiânico, acreditando que a morte física é um momento transitório em que os sonhos
“são Deus” – v. 4. Assim, D. Sebastião revela confiança na concretização dos seus
sonhos (apesar da sua morte) e, ao mesmo tempo, o seu apelo aos portugueses
demonstra que estes manifestam desânimo e descrença, o que leva o rei a incutir-lhes
um sentimento de esperança no seu regresso simbólico.
Dicas:
Neste item é importante recordar o significado dos verbos “explicitar” – extrair uma
ideia e expô-la de forma clara e inferir - concluir. De seguida, deves adotar a seguinte
estratégia:
1.º centrar a atenção na primeira estrofe;
2.º explicitar o apelo do “eu”;
3.º inferir os sentimentos do “eu” e do “vós”.
Sugestão de resposta
Na segunda estrofe do poema há a referência ao herói histórico, através da alusão ao
“areal” (v. 5) para identificar o local da batalha em Alcácer Quibir, no Norte de África.
Além disso, menciona-se a “morte” (v. 5) física de D. Sebastião no decurso da batalha,
a qual conduziu à “desventura” (v. 5) e, por consequência à morte do rei (e à desgraça
do país). Por outro lado, há a referência ao herói mítico através da alusão ao carácter
transcendente de D. Sebastião, enquanto figura guardada por Deus, a qual é
identificada pelo uso de maiúsculas em “O” (v. 7) e “Esse” (v. 8) e, ainda, pela
permanência do sonho do rei, que é aquilo que é “eterno” (v. 7).
‘Screvo meu livro à beira-mágoa.
Meu coração não tem que ter.
Tenho meus olhos quentes de água.
Só tu, Senhor, me dás viver.
Resposta: (D)
Dicas
Neste item de seleção é essencial:
1.º centrar a atenção na primeira estrofe;
2.º compreender o uso do vocábulo “intervalo”, no contexto em que se insere;
3.º anular as opções que contêm imprecisões face ao sentido da primeira estrofe e
do vocábulo “intervalo”.
(Exame Nacional de Português, 12.º ano, 2022, 1.ª fase, IAVE)
Grupo I
Educação Literária
PARTE A
Lê o poema.
Sugestão de resposta:
Nos seis primeiros versos, o sujeito poético revela disforia relativamente ao presente e
expectativa face ao futuro. De facto, o “eu” manifesta dor, amargura, mágoa e tristeza,
bem como desilusão e frustração pela decadência da pátria do presente. No entanto,
também sente esperança na vinda do “Senhor” (v. 4), o que preenche o seu vazio
interior.
Dicas:
Neste item é importante recordar o significado do verbo “caracterizar” – identificar
as características ou traços. De seguida, deves adotar a seguinte estratégia:
1.º centrar a atenção nos seis primeiros versos;
2.º descrever o estado de espírito do “eu”;
3.º localizar a conjunção “Mas” e esclarece o seu sentido.
. Justifica o recurso simultâneo à anáfora e à frase interrogativa a partir do sétimo verso
do poema.
Sugestão de resposta:
O recurso à anáfora e à frase interrogativa, a partir do sétimo verso do poema, realçam
a ansiedade do “eu” poético em saber quando virá o “Senhor”. Efetivamente, o “eu”
expressa a certeza da vinda do “Senhor”, porém, incerteza quanto ao momento desse
regresso. Assim, através destes recursos, o sujeito lírico sublinha insistentemente o
apelo para que o “Encoberto” volte para pôr fim ao “mal” e criar “A Nova Terra e os
Novos Céus”, vv. 11 e 12.
Dicas:
Neste item, deves adotar a seguinte estratégia:
1.º centrar a atenção a partir do sétimo verso do poema;
2.º localizar a anáfora e a frase interrogativa;
3.º referir a expressividade destes recursos no contexto em que ocorrem.
3. Explica, com base nas duas últimas estrofes, por que razão o sujeito poético pode
ser considerado um profeta.
Sugestão de resposta:
As duas últimas estrofes mostram que o sujeito poético pode ser considerado um
profeta. De facto, o “eu”, ao desejar a realização do “Sonho das eras português” (v. 14),
anuncia a vinda do “Encoberto” (D. Sebastião). Neste sentido, assume-se porta-voz de
um desejo e de um sonho coletivo, o “grande anseio que Deus fez” (v. 16), ou seja, a
construção do Quinto Império.
Dicas:
Neste item, é importante recordar o significado do verbo “explicar” – expor com
clareza. De seguida, deves adotar a seguinte estratégia:
1.º centrar a atenção apenas nas duas últimas estrofes;
2.º refletir sobre o significado do vocábulo “profeta”;
3.º identificar no poema os motivos por que o “eu” pode ser considerado um
profeta.
‒ recurso à primeira pessoa do singular: em formas verbais, como “Screvo” (v. 1) ou “Tenho” (v.
3); em determinantes possessivos, como “meu” (vv. 1 e 2); em pronomes pessoais, como “me”
(v. 4);
‒ visão subjetiva do destino nacional, evidenciada, por exemplo, nos versos “Quando virás, ó
Encoberto, / Sonho das eras português, / Tornar-me mais que o sopro incerto / De um grande
anseio que Deus fez?” (vv. 13-16);
‒ recurso à interjeição para expressar ansiedade ou desejo em “Ah, quando quererás, voltando,
/ Fazer minha esperança amor?” (vv. 17-18).
Dicas:
Exercício-Tipo
Grupo I
Educação Literária
PARTE A
Lê o poema.
O Mostrengo
1. Apresenta dois traços caracterizadores para cada uma das figuras: o “mostrengo” e
o “homem do leme”.
Sugestão de resposta:
Inicialmente, o monstro voa e chia em torno da nau, numa atitude intimidatória, tentando
defender os seus domínios, através de um discurso ameaçador (“Quem é que ousou” -
v. 5). Perante esta situação, o homem do leme mostra-se amedrontado, limitando-se a
tremer e a enunciar uma resposta breve (“El-Rei D. João Segundo!” - v. 9). Contudo, o
medo é substituído pela coragem e pelo sentido de missão, visíveis na resposta mais
longa e confiante dada ao monstro, que acaba, deste modo, por ser vencido.
Dicas:
Neste item, deves adotar a seguinte estratégia:
1.º colocar por tópicos as características do “mostrengo” e do “homem do leme”;
2.º identificar dois traços caracterizadores para cada uma das figuras.
Sugestão de resposta:
No verso transcrito, podemos encontrar uma metáfora, através da vontade que leva o
homem do leme a ser capaz de enfrentar o mostrengo e o medo do desconhecido que
ele representa. Assim, a expressão demonstra os valores morais do povo português,
como a determinação do homem do leme, que o definem como agente de uma vontade
superior - “El - Rei D. João Segundo!” - v. 9.
Dicas:
Neste item, deves adotar a seguinte estratégia:
1.º - centrar a atenção no verso vinte e seis do poema;
2.º - identificar a metáfora no verso em análise;
3.º - referir a expressividade deste recurso no contexto em que ocorre.
a) b) c)
1. narrativo 1. mítica 1. povo
2. lírico 2. coletiva 2. deus
3. épico 3. individual 3. rei
Resposta:
a) - 3; b) - 3; c) - 1
Dicas
Neste item de seleção é essencial:
1.º recordar as características do discurso lírico e épico de Mensagem;
2.º compreender a atuação do homem do leme.
Exercício-Tipo
PARTE B
Lê o poema.
Ocidente
Com duas mãos – o Ato e o Destino –
Desvendámos. No mesmo gesto, ao céu
Uma ergue o facho trémulo e divino
E a outra afasta o véu.
1. Explicita o sentido dos versos “Com duas mãos – o Ato e o Destino – / Desvendámos.”
(vv. 1-2), tendo em conta a dimensão simbólica do herói.
Sugestão de resposta:
Os versos 1 e 2 remetem para a conquista da descoberta dos mares. Assim, “Ato”
simboliza a ação do homem, a coragem e a ousadia necessárias para desvendar o
desconhecido, enquanto o “Destino” representa a mão divina, a intervenção de Deus na
ação do homem. Neste sentido, o herói age, assumindo uma dimensão mítica, um
exemplo no domínio espiritual ao ser inspirado por uma vontade divina para concretizar
uma missão transcendente.
Dicas
Neste item é importante recordar o significado do verbo “explicitar” – expor uma
ideia de forma clara. De seguida, deves adotar a seguinte estratégia:
1.º centrar a atenção nos versos 1 e 2.
2.º esclarecer o sentido dos versos, refletindo sobre os vocábulos “Ato” e “Destino”;
3.º recordar a dimensão simbólica do herói em Mensagem.
Explica duas das atitudes do sujeito poético presentes no poema.
Tópicos de resposta:
– orgulho e admiração pela ação realizada, no passado, só́ possível pela conjugação
entre o homem e Deus;
– evocação do passado de glória e dos heróis que se destacaram na realização de
grandes feitos, ou seja, da matéria épica do passado, que permanece na memória como
inspiração;
– incentivo à mudança de atitude, no presente, que conduzirá à construção do Quinto
Império, de carácter espiritual.
Dicas:
Neste item, é importante recordar o significado do verbo “explicar” – expor com
clareza. De seguida, deves adotar a seguinte estratégia:
1.º refletir sobre o significado do vocábulo “atitudes”;
2.º localizar e no poema as atitudes do sujeito poético.
3.º clarificá-las.
Resposta: (C)
Dicas:
Neste item de seleção, é essencial:
1.º recordar as características do discurso épico-lírico de Mensagem;
2.º relembrar a definição de metáfora e metonímia;
3.º centrar a atenção no verso 10.
GRUPO I – PARTE C
PARTE C
Tópicos de resposta:
Relativamente a cada obra, deve ser abordado um dos tópicos seguintes, ou outro
igualmente relevante.
Mensagem
Séculos após a Batalha de Alcácer Quibir, não é mais a crença no regresso do rei
vivo que está em causa, mas o que ele representa – o mito, fecundador da
realidade/o Desejado, que surge como o Salvador.
D. Sebastião surge na obra como o mito que exprime o drama nacional de um país
decadente que precisa de acreditar nas suas capacidades para superar o presente
de “nevoeiro” (recusa do presente e crença no futuro).
O sebastianismo evidencia-se na crença no regresso messiânico do Salvador que
conduzirá Portugal a nova conquista – o império espiritual e civilizacional (“Senhor,
falta cumprir-se Portugal!”).
D. Sebastião é o símbolo da loucura positiva, da sede de infinito que caracteriza o
ser humano que pretende ultrapassar a sua própria natureza (“Louco, sim, louco,
porque quis grandeza”).
Dicas:
Neste item, é essencial:
1.º recordar as características do sebastianismo em Mensagem e em Frei Luís de
Sousa;
2.º relembrar exemplos de ambas as obras que provem a presença do
sebastianismo;
3.º respeitar a estrutura tripartida: a introdução e a conclusão devem ser parágrafos
mais pequenos, ao contrário do desenvolvimento que incluirá os tópicos essenciais
para que a resposta esteja completa.
Prova 639 | 1.ª Fase | 2018
PARTE C
Escreve uma breve exposição na qual distingas o herói em Os Lusíadas, de Luís Vaz
de Camões, do herói em Mensagem, de Fernando Pessoa.
Tópicos de resposta:
Em Os Lusíadas:
‒ os heróis são apresentados na sua dimensão humana e histórica, o que é patente, por
exemplo, nos protagonistas da viagem marítima até à Índia, nomeadamente Vasco da
Gama e os marinheiros, cujos feitos permitiram o desvendamento dos mares
desconhecidos;
‒ os heróis são os portugueses que, vencendo os seus medos e todos os perigos, foram
capazes de superar a própria condição humana e de ascender ao plano dos deuses,
como se comprova, por exemplo, quando são recompensados na Ilha dos Amores.
Em Mensagem:
‒ os heróis não se inscrevem num tempo nem num espaço determinados, assumindo
uma dimensão mítica/simbólica. É o caso de D. Sebastião, enquanto símbolo da
ambição que poderá́ fazer renascer a glória da pátria;
‒ os heróis situam-se na esfera da espiritualidade, como é o caso de D. Fernando, que
age como instrumento da vontade divina/de uma vontade superior.
Os Lusíadas
GRUPO I – PARTES A e B
Grupo I
Educação Literária
PARTE A
Contextualização
Após a chegada a Calecute, os portugueses são recebidos pelo Catual; entretanto, Baco
aparece em sonhos a um sacerdote, convencendo-o de que o objetivo dos portugueses
era subjugar os indianos. O Catual prende Vasco da Gama e só o liberta a troco de
mercadorias trazidas das naus. Finalmente, Vasco da Gama regressa a bordo, onde
“estar se deixa, vagaroso”.
VIII, 96
Nas naus estar se deixa, vagaroso,
Até ver o que o tempo lhe descobre;
Que não se fia já do cobiçoso
Regedor, corrompido e pouco nobre.
5 Veja agora o juízo curioso
Quanto no rico, assi como no pobre,
Pode o vil interesse e sede imiga
Do dinheiro, que a tudo nos obriga.
NOTAS
• Acriso (verso 12) – Rei de Argos que, para impedir o cumprimento da profecia de que seria morto por um
neto, prendeu a filha numa torre. Júpiter, porém, sob a forma de chuva de ouro, introduziu-se na torre e
tornou-a mãe de Perseu, que veio a assassinar Acriso.
• “A Polidoro mata o Rei Treício” (verso 9) – Quando a cidade de Troia estava prestes a cair em poder dos
Gregos, o soberano mandou o filho, Polidoro, com uma considerável riqueza em ouro, ao “Rei Treício”, para
que o protegesse; todavia, este apoderou-se do metal e matou o jovem.
• cor (verso 32) – aparência exterior.
• munidas (verso 17) – bem fortificadas.
• perjúrios (verso 27) – mentiras; juramentos falsos.
• Regedor (verso 4) – Catual.
• Tarpeia (verso 13) – jovem romana que, na esperança de obter anéis de ouro
dos Sabinos, que sitiavam Roma, lhes abriu as portas da cidade. Os inimigos, porém, não a pouparam.
• trédoros (verso 18) – traidores.
. Relaciona o conteúdo da estância 97 com a opinião formulada na estância anterior.
Sugestão de resposta:
Na estância 97, o Poeta refere três situações protagonizadas por figuras da Antiguidade
que comprovam a tese por si defendida na estância anterior, na medida em que
evidenciam o modo como a avidez de dinheiro e de ouro pode levar o ser humano – rico
ou pobre – a adotar atitudes condenáveis, como a traição ou a deslealdade.
Dicas:
Neste item é importante recordar o significado do verbo “relacionar” – estabelecer
uma ligação. De seguida, deves adotar a seguinte estratégia:
1.º centrar a atenção nas estâncias 96 e 97;
2.º identificar a opinião formulada na estância 96;
3.º estabelecer uma ligação com o conteúdo da estância 97.
Sugestão de resposta:
Entre os versos 17 e 28, o Poeta mostra que o “metal luzente e louro” (v. 14) exerce tal
poder sobre o ser humano (“Quanto no rico, assi como no pobre” – v. 6) que o leva a
agir de forma indigna e em desconformidade com os princípios que, à partida,
defenderia.
Por um lado, podemos apontar a fidelidade à pátria como um dos valores não
respeitados, na medida em que são traídos os interesses superiores da nação, o que
se constata no verso “E entrega Capitães aos inimigos” (v. 20).
Por outro lado, também a dignidade do ser humano é corrompida, pois a ganância tem
a capacidade de transformar pessoas nobres de carácter em pessoas vis, como
comprova o verso “Este a mais nobres faz fazer vilezas” (v. 19).
Finalmente, observa-se que a mesma ganância promove a tirania, pondo em causa a
justiça social, o que é evidenciado em “E mil vezes tiranos torna os Reis” (v. 28).
Dicas:
Neste item é importante recordar o significado do verbo “explicitar” – expor uma
ideia de forma clara. De seguida, deves adotar a seguinte estratégia:
1.º centrar a atenção nos versos 17 a 28;
2.º identificar e clarifica três dos valores postos em causa pelo poder do “metal
luzente e louro”;
3.º apresentar uma citação textual para cada um dos valores postos em causa.
. Interpreta o sentido dos versos 29 a 32, enquanto crítica dirigida ao clero.
Sugestão de resposta:
Nos versos referidos, o poeta estende a sua crítica ao clero, classe social que, em
princípio, estaria imune ao poder de sedução do dinheiro – “este encantador” (v. 31);
todavia, o que se verifica é que, frequentemente – “mil vezes ouvireis” (v. 30) –, o “metal
luzente e louro” (v. 14) não só corrompe o clero como o leva a agir com hipocrisia,
escondendo a ganância sob uma aparência de virtude (v. 32).
Dicas:
Neste item é importante adotar a seguinte estratégia:
1.º centrar a atenção nos versos 29 a 32;
2.º identificar e clarifica a crítica dirigida aos membros do clero.
VII, 85
Nenhum que use de seu poder bastante
Pera servir a seu desejo feio,
E que, por comprazer ao vulgo errante,
Se muda em mais figuras que Proteio.
Nem, Camenas, também cuideis que cante
Quem, com hábito honesto e grave, veio,
Por contentar o Rei, no ofício novo,
A despir e roubar o pobre povo!
VII, 86
Nem quem acha que é justo e que é dereito
Guardá-se a lei do Rei severamente,
E não acha que é justo e bom respeito
Que se pague o suor da servil gente;
Nem quem sempre, com pouco experto peito,
Razões aprende, e cuida que é prudente,
Pera taxar, com mão rapace e escassa,
Os trabalhos alheios que não passa.
VII, 87
Aqueles sós direi que aventuraram
Por seu Deus, por seu Rei, a amada vida,
Onde, perdendo-a, em fama a dilataram,
Tão bem de suas obras merecida.
Apolo e as Musas, que me acompanharam,
Me dobrarão a fúria concedida,
Enquanto eu tomo alento, descansado,
Por tornar ao trabalho, mais folgado.
GLOSSÁRIO
Camenas (verso 13) – musas.
errante (verso 11) – inconstante.
experto (verso 21) – experiente.
fúria (verso 30) – inspiração.
hábito (verso 14) – aspeto, aparência.
Proteio (verso 12) – Proteu, deus que tinha a capacidade de se metamorfosear.
rapace (verso 23) – ávida de lucro.
taxar (verso 23) – cobrar taxa ou imposto.
torpes (verso 7) – interesseiros, sórdidos.
vulgo (verso 11) – povo.
Caracteriza, de acordo com as três primeiras estâncias transcritas, aqueles que o poeta
recusa cantar.
Sugestão de resposta:
O poeta, através do seu canto, irá perpetuar todos aqueles que são merecedores de
reconhecimento e glória. Deste modo, recusa imortalizar os interesseiros e ambiciosos
que colocam os interesses pessoais acima do bem comum, desrespeitando a lei de
Deus e a lei dos homens (vv. 2-4), e que ascendem ao poder para satisfazerem os seus
vícios (vv. 5-8). O poeta refere também que não irá perpetuar no seu canto os falsos ou
dissimulados que abusam do poder para servirem os seus desejos (vv. 9-12), bem como
os que oprimem e exploram o povo, roubando os mais pobres (vv. 14-16), pagando
salários injustos (vv. 17-20) e aplicando impostos excessivos (vv. 21-24).
Dicas:
Neste item é importante recordar o significado do verbo “caracterizar” – identificar
as características ou traços. De seguida, deves adotar a seguinte estratégia:
1.º centrar a atenção nas três primeiras estâncias;
2.º identificar as ações negativas feitas por aqueles que o poeta recusa cantar.
Sugestão de resposta:
De acordo com o conteúdo das estâncias 85 e 86, é reconhecido ao povo o direito a não
ser ludibriado ou enganado (vv. 9-12), a não ser explorado ou roubado (vv. 13-16).
Assim, este é merecedor de ver o seu trabalho devidamente remunerado (vv. 17-20) e
de ser tributado sem excessos (vv. 21-24).
Dicas:
Neste item é importante recordar o significado do verbo “explicitar” – expor uma
ideia de forma clara. De seguida, deves adotar a seguinte estratégia:
1.º centrar a atenção nas estâncias 85 e 86;
2.º identificar e clarifica os direitos reconhecidos ao povo.
Sugestão de resposta:
O poeta elege aqueles que morreram ao serviço de Deus e do rei como os únicos
homens que merecem ser cantados. Assim, devido ao sacrifício e provações
enfrentadas, estes são os heróis merecedores de reconhecimento e glória.
Dicas:
Neste item é importante recordar o significado do verbo “interpretar” – esclarecer o
a causa. De seguida, deves adotar a seguinte estratégia:
1.º centrar a atenção nos versos 25 a 28;
2.º localizar os vocábulos com conotação positiva;
3.º relembrar as características do herói n’ Os Lusíadas.
4. Relaciona o estado de espírito do poeta com a referência que faz a Apolo e às Musas
(versos 29 a 32).
Sugestão de resposta:
O cansaço do poeta leva-o a contar com o apoio de Apolo e das Musas, que sempre o
têm acompanhado, para que a sua inspiração seja reforçada e para que possa, com
nova energia, voltar ao seu trabalho (o engrandecimento dos que têm generosidade e
valor).
Dicas:
Neste item é importante recordar o significado do verbo “relacionar” – estabelecer
uma ligação. De seguida, deves adotar a seguinte estratégia:
1.º centrar a atenção nos versos 29 a 32.
2.º identificar os vocábulos que mostram o estado de espírito do poeta;
3.º refletir sobre o papel de Apolo e das Musas na epopeia;
4.º apresentar a relação entre o estado de espírito do poeta e a referência a Apolo
e às Musas.
Grupo I
Educação Literária
PARTE B
Lê o texto seguinte, constituído pelas estâncias 15 a 18 do Canto I de Os Lusíadas, e
as notas.
I, 15
E, enquanto eu estes canto – e a vós não posso,
Sublime Rei, que não me atrevo a tanto –,
Tomai as rédeas vós do Reino vosso:
Dareis matéria a nunca ouvido canto.
5 Comecem a sentir o peso grosso
(Que polo mundo todo faça espanto)
De exércitos e feitos singulares,
De África as terras e do Oriente os mares.
I, 16
Em vós os olhos tem o Mouro frio,
10 Em quem vê seu exício1 afigurado;
Só com vos ver, o bárbaro Gentio
Mostra o pescoço ao jugo2 já inclinado;
Tétis todo o cerúleo senhorio3
Tem pera vós por dote aparelhado4,
15 Que, afeiçoada ao gesto5 belo e tenro,
Deseja de comprar-vos pera genro.
I, 17
Em vós se vêm6, da Olímpica morada,
Dos dous avós7 as almas cá famosas;
Ũa, na paz angélica dourada,
20 Outra, pelas batalhas sanguinosas.
Em vós esperam ver-se renovada
Sua memória e obras valerosas;
E lá vos têm lugar, no fim da idade,
No templo da suprema Eternidade.
I, 18
25 Mas, enquanto este tempo passa lento
De regerdes os povos, que o desejam,
Dai vós favor ao novo atrevimento,
Pera que estes meus versos vossos sejam,
E vereis ir cortando o salso argento8
30 Os vossos Argonautas9, por que vejam
Luís de Camões, Os Lusíadas, edição de A. J. da Costa Pimpão, 5.ª ed.,
Lisboa, MNE/IC, 2003, pp. 4-5.
Notas
1 exício – destruição; ruína; mortandade.
2 jugo – peça de madeira que une os bois de uma junta; domínio; força repressiva; sujeição.
3 cerúleo senhorio – domínio do mar de cor azul-celeste.
4 aparelhado – preparado.
5 gesto – aspeto; aparência; rosto.
6 vêm – veem.
7 dous avós – D. João III, pai do príncipe D. João, e Carlos V, pai da princesa D. Joana.
8 salso argento – mar da cor da prata.
9 Os vossos Argonautas – referência aos navegadores portugueses.
. Relê a estância 15.
Explicita o modo como se desenvolve a estratégia argumentativa usada pelo poeta
nessa estância para incitar o rei D. Sebastião à ação gloriosa.
Sugestão de resposta:
Primeiramente, o poeta tece o elogio do rei – “Sublime Rei” –, dando a entender que ele
está predestinado a cometer tão grandes feitos que o poeta afirma não ousar cantá-los.
Seguidamente, o poeta aconselha o rei D. Sebastião a assumir o controlo e a
responsabilidade da governação e a dominar as terras de África e os mares do Oriente
(vitórias que serão exaltadas e admiradas por todos).
Dicas:
Neste item é importante recordar o significado do verbo “explicitar” – expor uma
ideia de forma clara. De seguida, deves adotar a seguinte estratégia:
1.º centrar a atenção na estância 15;
2.º identificar a estratégia argumentativa do poeta;
3.º demonstrar de forma clara o incitamento do poeta para que o rei desenvolva uma
ação gloriosa.
2. Nas estâncias 16 e 17, o poeta confere ao rei D. Sebastião uma dimensão excecional.
Comprova esta afirmação, recorrendo a dois exemplos pertinentes mencionados nessas
estâncias.
Sugestão de resposta:
D. Sebastião assusta de tal modo os Mouros e os Gentios que os primeiros o veem
como a causa da sua ruína futura e os segundos se mostram já predispostos a
submeter-se-lhe. Assim, a própria Tétis deseja oferecer a filha em casamento a D.
Sebastião e, como dote, o controlo dos mares. Além disso, os feitos de D. Sebastião
serão motivo de orgulho para os seus antepassados, que esperam dele a realização de
feitos tão grandiosos como os do passado que mereçam ser para sempre recordados.
Dicas:
Neste item é deves adotar a seguinte estratégia:
1.º centrar a atenção nas estâncias 16 e 17;
2.º identificar a dimensão excecional do rei D. Sebastião;
3.º apresentar dois exemplos que demonstrem a excecionalidade do rei D. Sebastião.
Seleciona a opção de resposta adequada para completar a afirmação.
A par do louvor aos feitos dos navegadores cantados n’Os Lusíadas, na estância 18,
está subjacente
(A) a crítica à ambição desmesurada que o rei manifesta.
(B) a alusão à demora na ação heroica que se espera do rei.
(C) o reconhecimento pelo rei da força guerreira dos povos que há de dominar.
(D) o elogio que o rei tece ao valor artístico dos versos escritos pelo poeta.
Resposta: (B)
Dicas:
Neste item de seleção, é essencial:
1.º centrar a atenção na estância 18;
2.º analisar as críticas efetuadas pelo poeta ao rei D. Sebastião.
Exercício-Tipo
Grupo I
Educação Literária
PARTE B
Lê o texto seguinte, constituído pelas estâncias 95, 97 e 98 do Canto V de Os Lusíadas,
e as notas.
V, 95
Dá a terra lusitana Cipiões,
Césares, Alexandros, e dá Augustos;
Mas não lhe dá contudo aqueles dois
Cuja falta os faz duros e robustos.
5 Octávio, entre as maiores opressões,
Compunha versos doutos1 e venustos2.
Não dirá Fúlvia certo que é mentira,
Quando a deixava António por Glafira3,
V, 97
Enfim, não houve forte capitão,
10 Que não fosse também douto e ciente,
Da Lácia4, Grega, ou Bárbara nação,
Senão da Portuguesa tão somente.
Sem vergonha o não digo, que a razão
V, 95
Dá a terra lusitana Cipiões,
Césares, Alexandros, e dá Augustos;
Mas não lhe dá contudo aqueles dois
Cuja falta os faz duros e robustos.
5 Octávio, entre as maiores opressões,
Compunha versos doutos1 e venustos2.
Não dirá Fúlvia certo que é mentira,
Quando a deixava António por Glafira3,
V, 97
Enfim, não houve forte capitão,
10 Que não fosse também douto e ciente,
Da Lácia4, Grega, ou Bárbara nação,
Senão da Portuguesa tão somente.
Sem vergonha o não digo, que a razão
De algum não ser por versos excelente,
15 É não se ver prezado o verso e rima,
Porque, quem não sabe arte, não na estima.
V, 98
Por isso, e não por falta de natura,
Não há também Virgílios nem Homeros;
Nem haverá, se este costume dura,
20 Pios Eneias, nem Aquiles feros5.
Mas o pior de tudo é que a ventura
Tão ásperos os fez, e tão austeros,
Tão rudos, e de engenho tão remisso,
Que a muitos lhe dá pouco, ou nada disso.
5 feros – ferozes.
Sugestão de resposta:
A referência a “Octávio” é uma forma de o poeta mostrar que os heróis antigos
conciliavam as armas com as letras, pois o imperador referido, entre as guerras,
escrevia versos eruditos e belos.
Contudo, Camões lamenta-se de em Portugal haver falta o apreço pelas letras.
Dicas:
Neste item é importante recordar o significado dos verbos “explicitar” – extrair uma
ideia e expô-la de forma clara. De seguida, deves adotar a seguinte estratégia:
1.º centrar a atenção na estância 95;
2.º explicar a referência a Octávio;
3.º demonstrar o contraste com o povo português.
. Identifica a crítica presente nos versos 13 a 16, relacionando-a com o conteúdo da
estância 98.
Sugestão de resposta:
Na estância 97, o poeta destaca que não houve uma nação em que os heróis não
fossem cultos, excetuando os portugueses, pois estes não apreciam as letras.
Deste modo, na estância 98, Camões alerta para as consequências da desvalorização
das letras, que passarão por, no futuro, não haver escritores que imortalizem os heróis
e não haverá registo dos seus feitos.
Dicas:
Neste item é importante recordar o significado do verbo “relacionar” – estabelecer
uma ligação. De seguida, deves adotar a seguinte estratégia:
1.º centrar a atenção nos versos 13 a 16.
2.º identificar a crítica feita aos portugueses;
3.º estabelecer uma ligação com a estância 98 – consequências da desvalorização
das artes.
Sugestão de resposta:
A anáfora presente nos versos “Tão ásperos os fez, e tão austeros, / Tão rudos, e de
engenho tão remisso,” (vv. 22 e 23) reforça a rudeza dos guerreiros portugueses, que
não valorizam as artes.
Dicas:
Neste item de seleção, é essencial:
1.º recordar a anáfora enquanto recurso expressivo;
2.º explicar a intenção do poeta usar a anáfora no contexto em que se insere.
GRUPO I – PARTE C
Exercício-Tipo
PARTE C
Dicas:
Neste item, é essencial:
1.º recordar a invocação do poeta às Tágides.
2.º relembrar os momentos que provam que esta invocação é reveladora do seu
fervor patriótico;
3.º - respeitar a estrutura tripartida: a introdução e a conclusão devem ser parágrafos
mais pequenos, ao contrário do desenvolvimento que incluirá os tópicos essenciais para
que a resposta esteja completa.
PARTE C
Tópicos de resposta:
Reflexões do Poeta: críticas aos portugueses
– Canto V: o desprezo das artes e das letras e a consequência da falta de incentivo a
novos heróis;
– Canto VII: a falta de reconhecimento do seu trabalho e mérito, aspeto inviabilizador
do incentivo a futuros escritores;
– Canto VII: o poder corruptor do ouro que tudo compra, levando a traições e
atrocidades cometidas pelo ser humano;
– Canto X: a decadência moral do país e a falta de reconhecimento pátrio.
Dicas:
Neste item, é essencial:
1.º recordar as reflexões do Poeta que apresentam críticas aos portugueses.
2.º relembrar os cantos que provam as críticas e lamentos do Poeta face aos seus
contemporâneos;
3.º - respeitar a estrutura tripartida: a introdução e a conclusão devem ser
parágrafos mais pequenos, ao contrário do desenvolvimento que incluirá os tópicos
essenciais para que a resposta esteja completa.