Fatores Que Afetam A Flotação
Fatores Que Afetam A Flotação
Fatores Que Afetam A Flotação
Para identificar mais facilmente os fatores que estão afetando negativamente o processo de flotação,
diagnosticar suas causas, prever efeitos e efetivamente propor soluções, é conveniente agrupar os prováveis
fatores que influenciam o processo em três classes distintas:
i. Fatores Relacionados às Características do Minério: São aqueles inerentes à sua composição
mineralógica e também às características físicas, químicas e tecnológicas dos minerais presentes;
ii. Fatores Relacionados à Preparação do Minério: Compreendem toda a história pregressa do
mesmo, começando pela lavra, passando pelo manuseio, britagem, peneiramento, homogeneização,
moagem, atrição, deslamagem, etc;
iii. Fatores Relacionados à Flotação: Compreendem as condições dos equipamentos, características da
água, pH, reagentes, tempos de condicionamento, tempos de flotação, altura da coluna de espuma, etc.
No decorrer deste capítulo, procurar-se-á dar uma visão detalhada de cada um dos principais fatores que
influenciam o processo, seguindo um conselho do filósofo alemão Goethe, de que “é através de uma visão
minuciosa das Partes que poderemos compreender o Todo”. Por outro lado, devemos sempre nos lembrar de
que o mais importante não é o conhecimento minucioso e detalhado das partes é que nos ajudará a resolver
problemas práticos do dia-a-dia de uma usina, mas a compreensão de como o sinergismo entre as Partes
afeta o desempenho do Todo. Para isto, bom-senso e experiência não ocupam lugar.
Variações no teor dos minerais úteis e também no teor dos minerais de ganga podem afetar de sobremaneira
tanto a preparação do minério (grau de moagem, geração de finos, eficiência da deslamagem, etc.) como o
processo de flotação em si (dosagem dos reagentes, tempos ótimos de condicionamento e flotação, etc. ).
Variações na natureza das associações mineralógicas entre minerais de minério e de ganga podem afetar
muito intensamente o processo de flotação. Citemos alguns exemplos:
i. É muito mais fácil a separação fluorita/quartzo que a separação fluorita/calcita;
ii. A separação entre sulfetos e não-sulfetos é sempre muito mais fácil que a separação dos sulfetos
entre si;
iii. Algumas associações mineralógicas podem ser nocivas quando existe a possibilidade de ativação (ou
depressão) de um mineral por íons oriundos da rede cristalina do outro. Por exemplo, em minérios de Cu e
++
Zn em que ocorre alguma oxidação, a ganga contém íons Cu em solução que poderão ativar a flotação da
esfalerita com tiocompostos, prejudicando a seletividade da flotação aniônica direta dos sulfetos de cobre
[1][2];
iv. Minerais de origem sedimentar podem se apresentar na forma de aglomerados cujo núcleo é
composto essencialmente de ganga (endoganga) e seu envoltório constituído de mineral-minério. Como
exemplo disto podemos citar alguns tipos de fosforita que exibem núcleos de pirita, quartzo ou impurezas
argilosas. Tal ocorrência sempre acarretará sérios problemas para obtenção de concentrados de alta pureza
[1].
Substituições isomórficas na rede cristalina tanto do mineral-minério como dos minerais de ganga
constituem impurezas que ocorrem a nível cristalográfico e, por isto, impossíveis de serem eliminadas por
processos convencionais de tratamento de minérios. Assim sendo, tais ocorrências podem afetar o
desempenho da flotação de duas maneiras:
i. Constituir fator decisivo na obtenção de concentrados com elevados graus de pureza. É da
experiência recente do autor ter participado de desenvolvimento de processo visando à obtenção de
concentrados de magnesita de alta pureza. A especificação de %MgO > 98% foi atingida através de
adequados procedimentos de flotação. Por outro lado, não se obtiveram teores de Fe2O3 inferiores a 1%
(mesmo após utilização de separação magnética de alto campo/gradiente) pois tal contaminante substituía o
magnésio na rede cristalina da magnesita. Esta constatação foi obtida através de estudos em
microscopia/microssonda eletrônicas. Deste modo, o ferro (apesar de existir em pequenas proporções ) era
constituinte permanente da estrutura cristalina do mineral-minério e, deste modo, acompanhava o mesmo
durante todo o beneficiamento;
ii. Alterar o comportamento do mineral frente a um determinado sistema de reagentes. Por exemplo, é
muito comum a esfalerita apresentar teores variáveis de Fe em substituição isomórfica ao Zn. Tais variações
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podem alterar radicalmente a depressão da esfalerita por cianeto: esfalerita com alto teor de Fe é muito mais
facilmente deprimida por cianeto que esfalerita pobre em Fe [2].
Tanto películas como inclusões podem ocorrer disseminadas ao longo de toda a superfície das partículas ou
em "patches", isto é, regiões ou manchas localizadas. A última possibilidade resulta em menores danos ao
processo de flotação, pois sempre existirá probabilidade das regiões limpas dos grãos interagirem a contento
com os reagentes e permitir que a partícula apresente o comportamento esperado/desejado frente ao processo
de flotação [3][4].
No caso de minérios residuais, é muito comum minerais apresentarem superfícies recobertas por películas de
óxidos e/ou hidróxidos hidratados de ferro, o que afeta muito intensamenrte a sua flotabilidade. A Arafértil
S.A., nos anos '80, desenvolveu um trabalho de caracterização dos diferentes minérios que compõem a
jazida do Barreiro. Um dos mais interessantes resultados desta pesquisa foi a possibilidade de se prever o
desempenho da flotação de uma pilha de minério através do levantamento “a priori” do nível de
recobrimento das partículas de apatita por óxidos de ferro.
Minérios que exibiam grãos com alta percentagem de recobrimento apresentavam recuperações de P2 O5
muito inferiores aos minérios cujas apatitas exibiam superfícies mais isentas de recobrimentos.
Apesar do recobrimento por películas oxidadas ser uma característica de minérios residuais, esse fenômeno
também pode ocorrer em alguns tipos de minério que compõem jazidas de origem não resiual, como o
carbonatito de Jacupiranga-SP [5][6].
Os minerais sulfetados podem ser muito afetados por recobrimentos superficiais de óxidos devido à grande
facilidade com que sulfetos são passíveis de oxidaçao em condições de temperatura, umidade, Eh e pH
típicas de regiões tropicais e subtropicais. Assim, é prática comum à flotação de sulfetos a remoção de
películas oxidadas através de lavagem ácida (mais comumente com ácido sulfúrico) antes da adição dos
reagentes de flotação. Nos casos em que a película de óxidos é mais espessa, tal tratamento não é suficiente,
o que leva a grandes perdas de recuperação [1].
4
As condições de formação de um minério, assim como intemperismo também podem ocasionar formação de
películas de recobrimento superficial, por exemplo:
i. A formação de películas de calcosita sobre grãos de pirita em zonas de enriquecimento podem fazer
com que partículas de pirita se comportem como se fossem calcosita, o que pode ocasionar sérios problemas
de seletividade no processo de flotação [1];
ii. Silicatos podem apresentar películas de argilas ou serpentina como resultado da ação do
intemperismo. Em alguns pontos da jazida de Jacupiranga, por exemplo, encontram-se grãos de olivina que
exibem regiões onde nitidamente estaria ocorrendo a formação de serpentina.
Nos anos '80, o pessoal técnico da antiga Nuclebrás estava envolvido na definição de uma rota de processo
para concentrar a apatita da jazida de Itataia-CE. A flotação aniônica direta da apatita com ácidos graxos, tão
facilmente exeqüível no Processo Serrana, Processo Fosfértil, Processo Copebrás, etc. não funcionava a
contento. Em paralelo, uma pesquisa em cooperação com o Departamento de Engenharia de Minas da
UFMG, descobriu-se que a calcita de Itataia-CE apresentava superfícies mais lisas (como resultado de grãos
muito bem cristalizados), enquanto que a calcita de Jacupiranga apresentava superfícies mais rugosas (como
conseqüência de um menor grau de cristalinidade) [7][8].
O resultado destas pesquisas levou a equipe da então Nuclebrás a adotar a flotação aniônica reversa da
calcita em lugar da tradicional flotação aniônica direta da apatita como possível rota de concentração para o
minério de Itataia-CE [8].
ação de coletores como os ácidos graxos e ainda alterar as propriedades elétricas interfaciais tanto dos
minerais de minério como dos de ganga, o que pode levar a consideráveis perdas de seletividade [9][10].
ii. Filossilicatos, por apresentarem carga negativa de origem estrutural, são portadores naturais de vários
cátions que são liberados para a polpa tão logo se inicia o beneficiamento a úmido do minério [11]. A
presença destes cátions pode levar a consideráveis perdas de seletividade devido ao fato de estes poderem
agir tanto como depressores dos minerais de minério como ativadores da flotação de minerais de ganga.
iii. Minerais em avançado processo de oxidação e/ou alteração podem ter sua solubilidade aumentada,
fazendo com que seus íons sejam liberados para polpa em quantidades muito maiores que seriam esperadas
caso os minerais não estivessem sofrendo semelhantes processos. Em minérios de Cu e Zn que já
experimentaram alguma oxidação, poderá ocorrer maior liberação de íons Cu++ para a polpa e tais íons
ativarem a flotaçao de esfalerita, prejudicando a seletividade do processo [1][2].
Endossando o sábio conselho de Taggart [12], poder-se-ia ainda acrescentar algumas considerações
importantes:
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A) Nenhuma jazida apresenta minério com mesmas características físicas, químicas, mineralógicas e
tecnológicas ao longo de toda a sua extensão e volume. Deste modo, é inevitável que a usina sofra não só
com oscilações de natureza química (teor do mineral útil e/ou contaminantes principais), mas também com
variações nas propriedades tecnológicas do material que alimenta a mesma usina (grau de liberação,
solubilidade, heterogeneidade química e física superficial, work index, etc.). Deste modo, é bastante comum
que engenheiros de processo se vejam constantemente frente a graves situações onde a usina sofre sérias
perdas de recuperação (comprometendo as metas de produção) ou simplesmente produzindo concentrados
fora de especificação. Tais problemas, embora complexos e de difícil solução, são passíveis de eficaz
gerenciamento, bastando conhecer:
i. Quais os tipos de minério que compõem a jazida, suas características físicas, químicas e tecnológicas
e ainda ...
ii. Qual comportamento da usina seria esperado para cada tipo de minério isoladamente. Para que tal
informação possa ser levantada, é necessário um acompanhamento sistemático do comportamento da usina
frente a pilhas de minério com diferentes composições.
Em jazidas onde a ocorrência de grandes volumes de minérios classificados como "problema" ameaçar a
viabilidade da lavra (estrangulamento de novas frentes, por exemplo) é aconselhável a montagem de
circuitos industriais de flotação especificamente desenvolvidos para viabilizarem o processamento dos
minérios considerados "problema", atendendo, assim, às suas peculiaridades.
Uma outra solução seria buscar novos reagentes de flotação capazes de atuar a contento independentemente
da natureza do minério alimentado na usina. É importante salientar que tais reagentes não se encontram à
disposição dos consumidores, como em prateleiras de supermercados. Pelo contrário, eles exigem paciente
pesquisa tecnológica que se inicia em laboratório e vai até a implantação do novo reagente em escala
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industrial. A experiência do autor sinaliza que tal pesquisa demandaria, no mínimo, 3 anos para o produto
ser criado pelo fabricante, testado em diferentes escalas (bancada, piloto e industrial) e, finalmente, ser
incorporado ao dia-a-dia de uma usina.
B) A crescente preocupação com o meio-ambiente tem levado muitas minas a adotar variados
procedimentos para rebatimento de poeiras geradas pela lavra e manuseio de sólidos granulares. Tal
rebatimento pode ser efetuado através do uso de reagentes químicos denominados "dust binders". Esses
reagentes são, via de regra, misturados com a água e, após o fogo ou durante o manuseio, a mistura é
aplicada sobre o minério em forma de "spray". Tais produtos contêm em sua formulação vários tipos de
agentes tensoativos que se espalham indiscriminadamente pelas frentes de lavra, podendo causar futuros
efeitos nocivos à flotação.
É do conhecimento do autor vários estudos executados por empresas multinacionais fabricantes de "dust
binders" com o intuito de avaliar a extensão do efeito nocivo de seus produtos aos processos subseqüentes
de beneficiamento de minerais. Tem-se constatado que a flotação é a operação unitária mais passível de
sofrer influência da ação de tais produtos.
C) Entre o desmonte/carregamento, passando pelo circuito de britagem/peneiramento e seguindo até as
pilhas de homogeneização que alimentam a usina, o minério pode ser contaminado por outras substâncias
estranhas ao mesmo, principalmente orgânicas. Segundo Taggart [12], os contaminantes mais comuns são
fragmentos de madeira e plantas em variados estágios de decomposição que podem liberar óleos, resinas e
fenóis. Eles ainda podem obstruir tubulações e vertedouros. Ainda segundo Taggart [12], a maior parte dos
óleos lubrificantes que são usados nas etapas anteriores à flotação contêm aditivos que são capazes de
interferir no processo e, se por acaso entrarem contato com o minério, certamente exercerão algum efeito
nocivo sobre as futuras operações de flotação.
5.2.2. Moagem.
“Whenever a flotable particle is broken, some nonflotable slime is formed".
Taggart(12)
Todo mineral, para responder adequadamente à flotação, deve apresentar distribuição granulométrica
compatível com as limitações do minério e do processo, que são:
i. Quanto ao minério, deve-se levar em consideração o tamanho máximo flotável do minerais que se
quer flotar e o grau de liberação mais adequado (compromisso entre fatores técnicos e econômicos) . Tais
parâmetros definem o tamanho abaixo do qual deverá o minério ser moído ("mesh of grinding");
ii. Deve-se levar em consideração os reagentes que serão utilizados (o desempenho de xantatos, por
exemplo, não é prejudicado pela presença de ultrafinos, mas o mesmo não ocorre com ácidos graxos,
aminas, hidroxamatos e sulfatos/sulfonatos de alquila) [13];
8
iii. A capacidade dos equipamentos de remover as partículas hidrofílicas que se sedimentam no fundo da
célula é muito importante porque, se forem muito grosseiras, poderão aterrar a célula;
iv. A capacidade das bolhas e espuma de transportarem as partículas hidrofóbicas e rejeitarem as
partículas hidrofílicas.
Com o objetivo de se conseguir uma liberação conveniente, Beraldo [1] faz as seguintes considerações:
i. Quanto à granulometria do mineral útil, quanto maior a finura deste, via de regra, mais fina deverá
ser executada a moagem;
ii. No processo de cominuição, as fraturas apresentam tendência de se localizar nos contatos
intergranulares; possibilitando, deste modo, uma boa liberação dos minerais úteis, mesmo para moagens
relativamente grosseiras;
iii. Diferenças de dureza entre os diversos minerais presentes em um minério podem facilitar ou
dificultar a flotação. Por exemplo, para uma mistura composta por quartzo/galena, há uma tendência para o
quartzo ser moído mais grosso. Deste modo, se realizarmos uma moagem de forma a termos a galena em
uma granulometria adequada para a flotação, o quartzo estará moído mais grosseiro, o que facilitará a
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flotação com grande economia de energia de moagem. Por outro lado, em uma mistura galena/sericita
haverá uma sobremoagem da sericita, acompanhada de intensa geração de lama que fatalmente irá
prejudicar o desempenho da flotação. Outro fator muito importante que ocorre sempre associado a
diferenças de dureza entre os minerais é o "smearing effect" ou "efeito giz" no qual um mineral de menor
dureza é riscado por outro de maior dureza dentro do moinho e, deste modo, a superfície do mineral de
maior dureza pode ficar contaminada por uma fina camada deixada pelo traço do mineral que foi riscado.
Este fenômeno é esperado ocorrer: na moagem de talco, agalmatolito, grafita e gipsita.
Em situações onde a liberação conveniente dos minerais exigiria uma moagem muito fina, a adoção de
remoagem de produtos intermediários da flotação poderia constituir alternativa viável tanto sob o ponto de
vista técnico como econômico. Neste caso, a solução a ser adotada dependerá da flotabilidade dos grãos
mistos [1]:
i. Quando os grãos mistos flotam facilmente e a liberação exige moagem muito fina, aconselha-se
remoer o concentrado "rougher" antes das operações "cleaner". Esta solução tem sido usada no
processamento de minérios de muito baixo teor, como é o caso dos minérios de cobre porfiríticos;
ii. Quando os grãos mistos flotam com alguma dificuldade, deve-se remoer o concentrado "scavenger"
e/ou o rejeito "cleaner". Tal procedimento tem sido usado para minérios de teor médio, como o minério de
zinco de Morro Agudo;
iii. Quando os grãos mistos não flotam, pode ser necessária uma remoagem dos rejeitos, após
classificação prévia, como é o caso da Arafértil;
iv. Quando a polpa é muito densa, como é o caso das salmouras de onde flotam partículas de silvita–
KCl, pode-se executar a flotação em granulometria mais grosseira (O tamanho máximo flotável da silvinita
é da ordem de 2-5 mm), com posterior remoagem do rejeito.
A figura 5.1. ilustra a dependência da recuperação de um mineral qualquer em função de sua granulometria.
Nota-se que tanto as frações granulométricas mais finas quanto as mais grossas respondem mal ao processo
de flotação se comparadas às faixas intermediárias. Alguns motivos para o mal comportamento das frações
granulométricas finas são apresentados na Seção 5.3.3.. O mau comportamento das frações granulométricas
mais grossas está sempre associado ao tamanho máximo flotável ou a deficiências na liberação.
i. LEJA [14] tece importantes considerações sobre a influência de resíduos sólidos oriundos do
consumo de corpos moedores durante o processo de cominuição sobre o desempenho da flotação de sulfetos.
Segundo esse autor [14], durante a moagem muito fina, minúsculas partículas de ferro metálico (aço) se
depositam na superfície das espécies minerais que estão sofrendo cominuição. Sempre que tal fenômeno
ocorre sobre partículas de sulfetos semimetálicos, minúsculos circuitos galvânicos são formados e, na
presença de eletrólitos (como é o caso da polpa de flotação), tornam-se tão altamente ativos que são capazes
de deixar o potencial galvânico dos sulfetos com caráter altamente redutor. Tais reações redutoras não
10
favorecem a adsorção dos tiocompostos na forma que é necessária para aumentar a hidrofobicidade da
interface mineral/solução;
ii. A moagem é uma etapa bastante crítica no que concerne à contaminação da polpa por íons oriundos
de diversos fenômenos que ocorrem dentro de um moinho. Para se ter uma noção da intensidade do
fenômeno, Taggart [12] reporta que uma simples moagem é capaz de, muito facilmente, adicionar 200 mg/l
de sais dissolvidos a uma água não recirculada. Com a contínua recirculação, reportam-se valores da ordem
de 5000 a 7000 mg/l. A interação dos minerais com o meio aquoso durante a moagem é catalisada pelo
contínuo aumento da área superficial dos mesmos, assim como da mais alta temperatura que ocorre no meio.
A tais fatores soma-se ainda o fato de que superfícies recém-criadas encontram-se no pico de sua reatividade
e a intensa agitação do meio faz com que reações controladas por difusão sejam aceleradas. Entre as reações
químicas mais comuns que ocorrem durante a moagem e que afetam consideravelmente a composição iônica
da polpa, destacam-se: oxidação dos sulfetos (ocasionando a formação de sulfatos que poderão afetar as
propriedades elétricas interfaciais de vários minerais presentes através de adsorção específica na interface
mineral/solução), solubilidade dos minerais, troca iônica entre íons da rede cristalina dos minerais e íons da
solução;
iii. A literatura corrente [15] reporta importantes modificações no grau de cristalinidade de minerais
após moagem por tempo prolongado, enquanto outros autores [16] reportam consideráveis alterações no
Nível de Fermi de alguns minerais semi-solúveis sob certas condições operacionais. Em ambas situações, o
resultado da flotação ficou substancialmente comprometido.
11
A água utilizada no processo já traz consigo vários íons e substâncias dissolvidas; todavia, quando esta água
entra em contato com o minério, sua composição química pode ser alterada em função da interação dos
minerais presentes com o meio aquoso. Conforme se estudou na seção 5.2.2., tal interação já se inicia na
etapa de moagem e muitos fenômenos que aí ocorrem podem afetar dramaticamente o desempenho do
futuro processo de flotação.
iv. Pequenas quantidades de íons Cu++ podem ativar a flotação de esfalerita com xantato;
v. Na flotação aniônica do quartzo, muito conhecida é a possibilidade de sua ativação por metais
pesados (na faixa de pH em que ocorre seu primeiro hidroxocomplexo) [19].
Outro fator de grande importância é o efeito dos íons oriundos da solubilidade de um mineral sobre a
flotabilidade de outros minerais presentes na mesma polpa. Minerais da família dos sais semi-solúveis
13
(apatita, calcita, dolomita, fluorita, barita, etc.) são grandes fornecedores de tais íons e este comportamento
faz com que se torne muito complicada (e difícil) a obtenção de boa seletividade na separação de tais
minerais entre si por flotação; mormente quando estes apresentam cátions ou ânions comuns [20].
Quando o desempenho da flotação estiver comprometido pela excessiva presença na água recirculada de
íons ou reagentes nocivos ao processo, deve-se procurar a diluição de tais componentes através da correta
proporção entre a água nova e a água recirculada no volume total de água que é admitido na usina. É
importante ressaltar que se deve sempre utilizar o máximo volume possível de água recirculada para
minimizar os custos de captação e bombeamento de água nova, assim como minimizar o volume de
efluentes líquidos que deverão ser descartados no meio-ambiente [1].
MS
% Sol p / p Expressão 5.1
MS MA
Onde:
MS = Massa de sólidos e MA = Massa de água.
ii. Não existe um valor ou faixa de valores de %Solp/p para os quais a flotação apresente melhor
desempenho. De acordo com a figura 5.2., tal variável é dependente da densidade do minério: quanto mais
denso o minério, maior a % de sólidos presentes na polpa, conforme sugere a reta A;
iii. A % sólidos em volume (%Solv/v) indica qual a fração do volume total da polpa é ocupado pelos
sólidos, de acordo com a expressão 5.2.
VS
% SolV / V Expressão 5.2
VS VA
Onde: VS = Volume de sólidos; VA = Volume de água.
iv. Como pode ser visto na figura 5.2., a %Solv/v praticamente não é influenciada pela densidade do
minério, haja visto que a curva B é paralela ao eixo das abscissas. De fato, a %Solv/v assume valores numa
faixa muito restrita (10-20%). O valor médio de um levantamento efetuado junto a 20 circuitos industriais de
flotação no Brasil apontou para 17% (tabela 5.2.);
14
v. Se pensarmos que durante o processo de flotação o ar ocupa 15% do volume da célula, então o valor
médio de 17% cai para 15%, o que significa que sólidos e ar devem estar presentes na polpa em volumes
iguais para execução do processo.
60
55
50
A
45
40
% Sólidos
35
30
25
20
15
10 B
5
2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
Densidade do Minério
% Peso/Peso % Volume/Volume
A prática industrial aconselha fazer o condicionamento da polpa com reagentes utilizando-se a maior % de
sólidos possível. No que diz respeito à influência da densidade de polpa (ou % de sólidos) na flotação,
Beraldo [1] chama atenção para os seguintes efeitos:
i. Polpa mais densa significa menor consumo de água e de reagentes;
ii. Polpa mais densa garante, para mesma tonelagem de minério, uma menor vazão para um
determinado número de células, ocasionando um maior tempo de flotação e, portanto, maior recuperação.
Por outro lado, polpas excessivamente densas podem levar a uma queda violenta na velocidade de flotação
por insuficiência de ar, o que resultaria em uma diminuição da recuperação;
iii. Polpa mais densa compreende maior arraste na espuma de minerais de ganga, tornando o
concentrado menos puro.
Taggart [12] acrescenta que em polpas espessas, as chances de colisão entre bolhas e partículas aumentam
bastante, o que contribui para aumento de recuperação e queda de teor de concentrado.
caixas de bombas, ou ao longo da tubulação que alimenta a flotação ou até mesmo nas cabeceiras dos
bancos.
x. Ditiofosfatos e xantatos exigem maiores tempos de condicionamento; sendo que, em algumas
situações, são adicionados na entrada dos moinhos. Este procedimento garante tempo de contato mais longo,
além de permitir pronta ação dos reagentes sobre superfícies recém-formadas. A tabela 5.3. ilustra a
dosagem estagiada de butilxantato em diversos pontos do circuito industrial de flotação de calcopirita da
Mount Isa Mines Limited [22].
Segundo Beraldo [1], a adição de reagentes é o fator isolado mais importante nos resultados da flotação e,
por isso, deve ser ajustada e controlada cuidadosamente. É importante contar-se com dosadores eficientes e
confiáveis.
ii. Para sistemas de flotação onde a estabilidade de adsorção do coletor na interface mineral/solução
depende consideravelmente de interações do tipo Van der Waals e atração eletrostática, a temperatura
normalmente exerce um efeito deletério sobre o desempenho do processo. Um exemplo muito interessante
deste fenômeno ocorreu na flotação do cloreto de potássio do Complexo Industrial de Taquari-Vassouras-SE
no final dos anos 80 e foi relatado por Monteiro e colaboradores [29]. Os autores verificaram que quando a
temperatura da polpa atingia valores acima de 32oC, o coletor catiônico (acetato de amina de sebo) se
tornava mais "fraco", isto é, perdia sua capacidade de adsorção na interface silvita/solução. O problema foi
resolvido quando se decidiu mudar as características da cadeia hidrocarbônica do agente coletor,
aumentando o seu grau de insaturação através de uma hidrogenação. Esta prática parece ser bastante
difundida em circuitos de flutuam cloreto de potássio.
Além da constância das condições de processo, algumas outras variáveis podem ser utilizadas visando
ajustes específicos:
A) Massa de minério alimentada: Para uma % de sólidos constante, aumentando-se a vazão que alimenta o
circuito de flotação, aumenta-se também a tonelagem de minério, assim como se diminui o tempo de
permanência da polpa tanto nos condicionadores (o que acarreta uma diminuição no tempo de
condicionamento) como nas células de flotação (ocasionando diminuição no tempo de flotação). Alterando-
se os tempos de condicionamento e flotação pode-se executar pequenos ajustes de teor e recuperação.
B) Dosagem de Reagentes: Mantendo-se constante as dosagens de depressor e pH, por exemplo, pequenos
aumentos na concentração do coletor podem levar a um aumento da recuperação e a uma diminuição de teor
do mineral útil no concentrado, vice-versa. Deve-se chamar atenção aqui para o fato de que dosagem é
diferente de concentração. Dosagem é definida em termos de gramas do reagente por tonelada de minério,
enquanto que a concentração é expressa em termos de gramas do reagente por litro de polpa (ou moles por
19
litro). Assim sendo, se a massa de minério que alimenta a flotação for aumentada, digamos de 15%; se
mantivermos a dosagem constante, estaremos trabalhando com uma maior concentração de reagente na
polpa, o que influenciará diretamente a cinética de flotação dos minerais, além de modificar as condições de
espumamento.
C) Nível de polpa na célula: Trata-se de uma variável muito importante, pois determina a espessura da
camada de espuma. O efeito desta variável no desempenho da flotação é:
i. Em células mecânicas, níveis altos de polpa significam que a espumadeira estará recolhendo toda a
camada de espuma e, em alguns casos, pequenas quantidades de polpa. Tal prática é mais comum nos
estágios "rougher" e "scavenger"; estágios estes que visam principalmente à recuperação (ver seção 5.4).
ii. Níveis mais baixos de polpa se traduzem em camadas de espuma muito espessas. Como as espumadeiras
têm um comprimento fixo, elas penetram na camada de espuma somente até uma profundidade menor ou
igual ao seu comprimento. Daí que, dependendo da espessura da camada de espuma, as espumadeiras
somente recolhem a porção superior e mais rica da camada de espuma. Este procedimento favorece a
obtenção de teores mais ricos de concentrado. Estágios "cleaner" normalmente operam em níveis de polpa
mais baixos. A prática industrial de flotação em células mecânicas tem consagrado o controle de nível como
procedimento eficaz para pequenos ajustes de recuperação e teor.
D) Aeração: Esta variável controla a oferta de bolhas para coletar as partículas hidrofóbicas existentes na
polpa. Quando se aumenta a aeração, criam-se maiores oportunidades para a formação de agregados
partícula/bolha e, com isto, aumenta-se a recuperação. Uma maior oferta de bolhas fatalmente ocasionará
maior arraste de partículas hidrofílicas para o flutuado e, com isto, diminuir o teor do mineral hidrofóbico no
produto flotado. Outra possibilidade é da aeração excessiva aumentar a turbulência do sistema. Células de
coluna são muito sensíveis a este tipo de interferência.
Nos circuitos com células mecânicas, a flotação de recuperação é conduzida em dois estágios denominados
“rougher” (primeiro estágio), seguida do “scavenger”, ou segundo estágio. Via de regra, o rejeito do
primeiro estágio de recuperação (“rougher”), ao invés de ser descartado, é submetido a uma etapa
complementar de recuperação (“scavenger”). O concentrado obtido na etapa scavenger, todavia, pode ter
vários destinos que determinam novas configurações:
20
Alimentação Nova
Conc. Scav.
ROUGHER SCAVENGER
Rejeito Final
Cleaner-1
Concentrado Final
Figura 5.3 – Ilustração de circuito industrial de flotação com a configuração “rougher” + “cleaner” +
“scavenger”.
O concentrado rougher, via de regra, alimenta o primeiro estágio do circuito cleaner. Em alguns casos,
quando as partículas do mineral útil não se encontram suficientemente liberadas da ganga, pode-se executar
etapa de moagem complementar visando obter liberação adequada antes de alimentar a polpa numa etapa
cleaner.
ii. Em células mecânicas, normalmente utilizam-se 2 ou 3 etapas “cleaner”, embora existam algumas usinas
que fazem uso de 4 ou mais etapas de limpeza.
Obviamente, a recuperação total (RT) da flotação é função da recuperação individual de cada circuito
individual (“rougher”, “cleaner” e “scavenger”). Vejamos as situações abaixo, adequadas para flotação
direta do mineral útil:
A) Para circuitos com configuração “rougher + cleaner”, onde o rejeito “cleaner” é misturado à
alimentação nova para novamente ser submetido à etapa “rougher”, temos:
R1 R2
RT Expressão 5.2
1 R1 (1 R2 )
Onde:
R1= Recuperação na etapa “rougher”;
R2= Recuperação na etapa “cleaner”;
RT= Recuperação total.
Referências
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