Ensaio Seminário Avaliação Na Educação e Suas Interfaces

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AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO E SUAS INTERFACES.

Susana Bettú*

INTRODUÇÃO

A avaliação na educação é um processo sistemático e contínuo que visa


medir o desempenho dos estudantes, identificar suas necessidades e monitorar
o progresso em relação aos objetivos educacionais estabelecidos. Esse
processo envolve a utilização de diversas técnicas e instrumentos, como provas,
trabalhos, observações e auto avaliações, para coletar dados qualitativos e
quantitativos sobre o aprendizado. Além de servir como ferramenta para o
diagnóstico e o aprimoramento do ensino, a avaliação também desempenha um
papel crucial na motivação dos alunos, na orientação do planejamento
pedagógico e na tomada de decisões educacionais, promovendo uma educação
mais inclusiva e eficaz.

A avaliação formativa se destaca como um processo dinâmico e contínuo


na educação, acompanhando o ritmo singular de cada aluno em sua jornada de
aprendizado. Segundo Perrenoud (1998): “Proponho considerar como formativa
toda prática de avaliação contínua que pretenda contribuir para melhorar as
aprendizagens em curso, qualquer que seja o quadro e qualquer que seja a
extensão concreta da diferenciação do ensino.” Ao contrário da avaliação
somativa, que se concentra em um único momento para aferir o conhecimento
adquirido, a avaliação formativa atua como um farol, iluminando o caminho do
professor e do aluno. A avaliação formativa e a autorregulação da aprendizagem
se entrelaçam como peças essenciais do quebra-cabeça educacional,
promovendo uma aprendizagem autônoma, profunda e significativa. Através da
autorregulação, os alunos aprendem a definir metas de aprendizado, monitorar
seu progresso, ajustar estratégias de estudo e refletir sobre seus resultados.

*
Mestranda em Educação. Universidade de Caxias do Sul. E-mail: sbettu1@ucs.br 30/05/24
Loch (2000) nos diz que:

“Ninguém aprende pelo outro, ninguém dá do seu conhecimento a


outro, aprende-se por intermédio da ação, da atividade. O
conhecimento é construído pelo sujeito e, portanto, a sua avaliação
também. Ninguém melhor do que o próprio aluno para dizer o que está
aprendendo ou não.”

Assim, a avaliação formativa não só apoia o desenvolvimento acadêmico


imediato, mas também promove habilidades de autorregulação, incentivando os
alunos a serem mais independentes, responsáveis e conscientes de seu próprio
processo de aprendizagem. Essa interação fortalece a autonomia e a
capacidade crítica dos estudantes, essenciais para um aprendizado contínuo e
eficaz ao longo da vida. Nas palavras de Freire (1992a, p.83-84): “O trabalho de
avaliar a prática jamais deixa de acompanhá-la. [...] A prática precisa de
avaliação como os peixes precisam de água e a lavoura de chuva”.

Sendo a avaliação formativa um processo contínuo de monitoramento e


feedback, ajuda os alunos a identificar suas áreas de força e necessidade de
melhoria em tempo real. Isso, por sua vez, facilita o desenvolvimento de
habilidades metacognitivas, que envolvem a capacidade de refletir sobre o
próprio pensamento e aprendizagem. A metacognição se divide em duas
componentes principais: conhecimento metacognitivo e regulação
metacognitiva. O conhecimento metacognitivo refere-se à consciência e
compreensão das próprias capacidades cognitivas, enquanto a regulação
metacognitiva envolve o planejamento, monitoramento e avaliação das próprias
estratégias de aprendizagem.

DESENVOLVIMENTO

A adoção de práticas avaliativas formativas pode levar os docentes a


buscar desenvolvimento profissional contínuo, explorando novas metodologias
e ferramentas avaliativas. Isso também ativa o engajamento dos alunos,
incentivando uma participação mais ativa no processo de aprendizagem e
promovendo um ambiente de sala de aula mais dinâmico e colaborativo.

Durante o Seminário de Avaliação na Educação e suas Interfaces, nos foi


proposto o desenvolvimento de uma prática avaliativa na qual o foco seria
promover a regulação metacognitiva dos alunos e paralelamente do professor
envolvido. O contexto em qual se dá a prática escolhida e citada neste ensaio, é
de uma escola de idiomas (inglês), durante o período de uma hora em que os
alunos iriam praticar vocabulário e revisão gramatical do conteúdo visto
anteriormente no livro didático utilizado pela instituição. A tarefa criada
contemplou primeiramente o que está no calendário da escola, seguindo a
sequência do livro utilizado na aula e as propostas pedagógicas requeridas. A
atividade quando feita com um colega (crianças de 12 anos) trouxe ao aluno um
maior conforto em discutir suas dúvidas e expor suas opiniões somente com uma
pessoa, devido as dificuldades enfrentadas nos dias de hoje quando abordamos
a questão de exposição e socialização.

A lição dada em aula contempla partes do corpo como vocabulário e a


aplicação do verbo Ser/Estar em suas formas afirmativa e negativa. Com esta
atividade os alunos praticaram leitura, pronúncia, audição e escrita e também
avaliaram juntamente com seus colegas seus erros e acertos. A atividade foi feita
em duplas e trio onde puderam tirar dúvidas e expor suas opiniões com o(s)
colega (s). Eles já eram colegas anteriormente e se conhecem, então a escolha
das duplas e um trio, pois 9 alunos estavam presentes, foi feita por mim. Em um
primeiro momento revisaram o verbo ‘Be’ para um melhor entendimento da
matéria e exposto que eles poderiam tirar dúvidas se necessário. A correção foi
feita no quadro e pedido que anotassem quais atividades tinham errado e que
escrevessem do lado qual foi o erro. Pedi aos alunos que respondessem as
seguintes frases: Qual a minha dificuldade nesta atividade? Entendi como utilizar
o verbo ‘BE’ em suas formas negativa e afirmativa e como eu executei a
atividade? Qual a minha avaliação do trabalho feito com a minha dupla?

Quando a atividade chegou ao fim, as folhas foram recolhidas e as


respostas dos alunos, analisadas. A maioria teve erros quando do uso de
singular e plural dos sujeitos das frases utilizadas na atividade. As respostas as
perguntas foram unânimes quanto a falta de atenção ao exercício proposto. A
maioria considerou a tarefa fácil, divertida e rápida. Percebe-se que talvez por
acharem que o assunto era repetido (pois já estudaram o verbo ‘BE’), fizeram de
maneira mais confiante porém sem atenção. Eles reconheceram a falta de
atenção e entenderam onde erraram. Na aula seguinte uma nova atividade foi
proposta onde eles puderam refazer o exercício, indo ao quadro e escrevendo
suas respostas. A turma reconheceu a falta de atenção na questão de singular
e plural dos sujeitos das frases e acertou toda a atividade proposta.

Esta prática avaliativa forneceu dados e informações para planejar novas


atividades onde os alunos desenvolvam habilidades e condutas de valor,
relacionadas a aprendizagem. Percebeu-se uma atividade de regulação
metacognitiva quando os próprios alunos reconheceram o erro e puderam
reescrever no quadro a resposta correta.

CONCLUSÃO

A autorregulação da aprendizagem é definida como o processo no qual o


aluno estrutura, monitora e avalia o seu próprio aprendizado. Esse processo
envolve fatores como autoconhecimento, autorreflexão, controle de
pensamentos e domínio emocional, além de uma mudança comportamental por
parte do estudante. Ser autorregulado não é uma qualidade inata do indivíduo,
mas, na verdade, é uma habilidade que se adquire ao longo da vida a partir de
suas próprias experiências, do ensinamento de outras pessoas e da interferência
do ambiente em que se está inserido. É a capacidade do sujeito em gerir ele
próprio seus projetos, seus progressos, suas estratégias diante das tarefas e
obstáculos. Essa atividade reverberou em minha atividade docente, fazendo com
que eu quebrasse alguns paradigmas e crie atividades ou avaliações numa
perspectiva mais ampla, utilizando estratégias para que o aluno construa seu
conhecimento de uma maneira mais acolhedora.

A principal característica avaliada na atividade proposta e citada neste


ensaio é compreender mais sobre a jornada do aluno e não apenas sobre o
conhecimento adquirido. Além da capacidade técnica, é preciso avaliar outros
elementos. A metacognição é uma atividade que envolve processos mentais –
como percepção, observação, atenção, memorização, pensamento, reflexão,
compreensão e apreensão, entre outros – que se constituem em objetos de
reflexão. Para Freire (1992):
Não é possível praticar sem avaliar a prática. Avaliar a prática é
analisar o que se faz, comparando os resultados obtidos com as
finalidades que procuramos alcançar com a prática. A avaliação da
prática revela acertos, erros e imprecisões. A avaliação corrige a
prática, melhora a prática, aumenta a nossa eficiência. (FREIRE,
1992a, p. 83).

O giro epistemológico necessário ao falarmos de avaliação formativa


implica uma transformação profunda na abordagem educacional, passando de
um foco tradicional em resultados finais e avaliação somativa para um processo
contínuo e dinâmico de aprendizagem. Esse novo paradigma valoriza o
desenvolvimento das habilidades metacognitivas dos alunos, incentivando-os a
refletir sobre seu próprio processo de aprendizagem, a planejar, monitorar e
ajustar suas estratégias de estudo de maneira autônoma. Ao promover a
autorregulação e oferecer feedback constante e personalizado, a avaliação
formativa não apenas melhora o desempenho acadêmico imediato, mas também
prepara os alunos para serem aprendizes independentes e críticos ao longo da
vida. Essa mudança epistemológica, portanto, cria um ambiente educacional
mais inclusivo, colaborativo e centrado no aluno, onde o aprendizado é visto
como um processo contínuo de crescimento e desenvolvimento.

REFERÊNCIAS

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 50. ed. São Paulo: Cortez, 1992a.

LOCH, Jussara Margareth de Paula. Avaliação: uma perspectiva


emancipatória. Revista Química Nova na Escola. São Paulo, n° 12, novembro
2000.

PERRENOUD, Phillipe. Avaliação: da excelência à regularização das


aprendizagens: entre duas lógicas. Porto Alegre, Artmed, 1998.

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